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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIacuteBA
CENTRO DE CIEcircNCIAS HUMANAS LETRAS E
ARTES
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM
LINGUIacuteSTICA
NEXOS SEMAcircNTICOS EM CERTIFICADOS DE GARANTIA
JOAtildeO PESSOA
FEVEREIRO2015
KEcircNIO ANGELO DANTAS FREITAS ESTRELA
NEXOS SEMAcircNTICOS EM CERTIFICADOS DE GARANTIA
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de
Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica da
Universidade Federal da Paraiacuteba como
requisito parcial para obtenccedilatildeo do grau de
Mestre em Linguiacutestica
Aacuterea de Concentraccedilatildeo Teoria e Anaacutelise
Linguiacutestica
Linha de Pesquisa Linguagem Sentido e
Cogniccedilatildeo
Orientadora Profordf Dra Maria Leonor Maia
dos Santos
JOAtildeO PESSOA
FEVEREIRO2015
KEcircNIO ANGELO DANTAS FREITAS ESTRELA
NEXOS SEMAcircNTICOS EM CERTIFICADOS DE GARANTIA
Dissertaccedilatildeo submetida ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica da Universidade
Federal da Paraiacuteba em cumprimento agraves exigecircncias para obtenccedilatildeo do grau de Mestre em
Linguiacutestica Aacuterea de concentraccedilatildeo Teoria e Anaacutelise Linguiacutestica
Aprovada em ________
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________
Profa Dra Maria Leonor Maia dos Santos
Universidade Federal da Paraiacuteba - UFPB
(Orientadora)
____________________________________________
Profa Dra Mocircnica Mano Trindade Ferraz
Universidade Federal da Paraiacuteba ndash UFPB
(Examinadora)
____________________________________________
Prof Dr Giovanni da Silva de Queiroz
Universidade Federal da Paraiacuteba - UFPB
(Examinador)
AGRADECIMENTOS
Agradeccedilo primeiramente ao nosso Deus Todo Poderoso Mestre supremo de nossas
vidas e aos seus anjos de luz espiacuteritos elevados missionaacuterios da luz pela oportunidade de
realizar esta pesquisa por toda a inspiraccedilatildeo e pela sauacutede que natildeo me faltou em nenhum
momento desses 24 meses de estudos
Agrave minha orientadora Dra Maria Leonor Maia dos Santos por ter acreditado em meu
potencial e ter aceitado me auxiliar na elaboraccedilatildeo desta pesquisa A sua generosidade
comprometimento e sabedoria serviratildeo para mim como exemplo de profissionalismo
acadecircmico a ser seguido O peso do desafio de realizar essa pesquisa certamente foi muito
menor por ter uma mentora tatildeo precisa quanto ela
Ao prof Dr Giovanni da Silva de Queiroz por ter aceitado participar da banca de
avaliaccedilatildeo desta pesquisa o que eacute representa uma grande honra para mim Desde o iniacutecio do
ano de 2011 momento em que participei de um mini-curso sobre Loacutegica Claacutessica na UEPB
ministrado por ele muito tenho aprendido com suas indicaccedilotildees de bibliografias e orientaccedilotildees
sempre muito pertinentes
Agrave profa Dra Mocircnica Mano Trindade Ferraz pela generosidade apreccedilo e humanidade
para comigo ao me acolher em seu grupo de pesquisa junto aos seus orientandos
oportunizando que eu a cada encontro do grupo aprendesse um pouco mais sobre as diversas
semacircnticas Tambeacutem agradeccedilo pela honra de tecirc-la como integrante da banca de avaliaccedilatildeo
desta pesquisa e pelas saacutebias orientaccedilotildees ao longo destes dois anos de estudos no PROLING
Aos meus pais Geraldo e Silvacircnia Estrela por todo amor confianccedila e suporte
oferecidos a mim desde o princiacutepio desta minha vida Espero poder um dia retribuir ao menos
uma parcela de tudo o que eles fizeram e fazem por mim
Agrave minha irmatilde Karla Estrela pelo exemplo de determinaccedilatildeo e disciplina
Agrave minha noiva Maria Eduarda por toda dedicaccedilatildeo carinho amor companheirismo e
principalmente paciecircncia comigo vinte e quatro horas por dia sete dias na semana Eu
certamente natildeo conseguiria concluir com tanta serenidade esta pesquisa caso ela natildeo estivesse
ao meu lado
Agrave minha amiga Angeacutelica Vilar que me apresentou o PROLING e me deu todo o
suporte para que eu realizasse o processo de seleccedilatildeo de mestrado Haacute quem natildeo acredite em
anjos mas tenho a convicccedilatildeo de que pessoas desse calibre natildeo merecem um tiacutetulo menos
divino
Aos amigos Joseacute Wellisten e Alessandra Miranda pela disponibilidade e atenccedilatildeo para
lerem meu trabalho e fazerem criacuteticas construtivas
Ao amigo Thiago Magno que me ajudou em um dos momentos mais delicados no
periacuteodo poacutes-defesa Dedico minha amizade e minha eterna gratidatildeo por tudo
Agrave CAPES pelo apoio financeiro oferecido para essa pesquisa pelo periacuteodo de 17
meses
εἰδέναι δὲ χπὴ τὸν πόλεμον ἐόντα
ξυνόν καὶ δίκην ἔπιν καὶ γινόμενα
πάντα κατ ἔπιν καὶ χπεών
(Heraacuteclito frag 80)
RESUMO
O estudo das relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas eacute um campo bastante discutido e
pesquisado nos estudos linguiacutesticos A observaccedilatildeo de como se comportam os termos na
construccedilatildeo de significados em textos de diversos gecircneros e seus efeitos de interpretaccedilatildeo
tambeacutem satildeo temas muito difundidos entre as pesquisas das semacircnticas Nesta produccedilatildeo
discutiremos sobre as relaccedilotildees de significado e seus efeitos de sentido em um gecircnero
especiacutefico As relaccedilotildees que investigaremos satildeo os nexos semacircnticos ou nexos de significado
como proposto por Chierchia (2003) que satildeo respectivamente acarretamento equivalecircncia
semacircntica contraditoriedade e contrariedade O gecircnero que escolhemos para nossa anaacutelise eacute o
certificado de garantia e a escolha de tal gecircnero se deu pelo fato deste fazer parte do grupo de
textos injuntivos ou instrucionais que a nosso ver possui caracteriacutesticas que favorecem a
amostragem dos nexos semacircnticos Iremos analisar como os nexos semacircnticos satildeo utilizados
para restringir ou abranger as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos certificados de garantia O
corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de garantia de
produtos de diversos segmentos e decidimos escolher certificados de produtos de linhas
diversas para constituirmos um panorama sobre o gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes
da internet sem utilizar nenhuma metodologia especiacutefica apenas atentamos para buscar
certificados de produtos variados Buscamos nessa pesquisa instigar a reflexatildeo sobre as
relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e a observaccedilatildeo destas nos textos instrucionais que
lidamos no dia-a-dia e que por muitas vezes deixamos passar despercebido o seu conteuacutedo
O entendimento sobre os nexos de significado pode nos oferecer ferramentas para melhor
leitura de textos desse tipo
Palavras chave Nexos semacircnticos Certificado de garantia Semacircntica
ABSTRACT
The study of the meaning of relations between sentences is a much discussed and researched
field in linguistic studies The observation of how the terms behave in the construction of
meanings in texts of different genres and their interpretation effects are also widespread
themes among semantic research In this work we will discuss about the meaning of the
relations of meaning and their sense of purpose in a specific genre The relations that we will
investigate are semantic nexus or semantic links as proposed by Chierchia (2003) which are
respectively entailment semantic equivalence contradictoriness and contrariness The genre
we chose for our analysis is the warranty certificate and the choice of this genre was made
because it is part of the injunctive or instructional texts group that in our opinion has
characteristics that favor the sampling of semantic nexus We will analyze how the semantic
nexus are used to restrict or cover the possibilities of interpretation in the warranty
certificates The corpus of this research has 22 (twenty two) copies of warranty certificates
from different segments and we decided to choose certificates from separate lines to
constitute an overview of the genre The collection of the texts took place through the
internet without using any particular methodology of choice only we pay attention to seek
warranty certificates of diverse products We seek in this research instigate reflection on the
meaning relations between sentences and observance of these in instructional texts that we
have contact in daily life and that for many times let go unnoticed its contents The
understanding of the semantic nexus can offer us tools to better read texts of this type
Keywords Semantic nexus Warranty certificate Semantics
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 13
1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA 16
11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS 16 12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL 26
2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS 32
21 ACARRETAMENTO 35 22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA 42 23 CONTRADITORIEDADE 45 24 CONTRARIEDADE 48 25 JUSTIFICANDO O PERCURSO 51
3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA 53
31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL 55 32 USO DO CONDICIONAL 64 33 USO DO APENASSOMENTE 68 34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS 83
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 88
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 92
ANEXOS 95
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa 14
QUADRO 2 - Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia 83
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
ILUSTRACcedilAtildeO 1 - Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 27
ILUSTRACcedilAtildeO 2 - Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28
ILUSTRACcedilAtildeO 3 - Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28
ILUSTRACcedilAtildeO 4 - Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28
ILUSTRACcedilAtildeO 5 - Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 29
13
INTRODUCcedilAtildeO
A abordagem das relaccedilotildees de significado eacute algo bastante presente e discutido nos
estudos semacircnticos Observar como se comportam os termos na construccedilatildeo da significaccedilatildeo
em textos de diversos gecircneros distintos e seus efeitos interpretativos tambeacutem satildeo temas de
diversas produccedilotildees na aacuterea de linguiacutestica
Neste trabalho iremos discutir as relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e os efeitos
interpretativos dessas relaccedilotildees em textos Mais especificamente abordaremos os nexos
semacircnticos ou nexos de significado (Chierchia 2003) acarretamento equivalecircncia semacircntica
contrariedade (os quais podemos encontrar no referido trabalho de Chierchia) e
contraditoriedade (nexo semacircntico que geralmente eacute relacionado com a contrariedade e que
foi tratado por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado atraveacutes de seu quadrado loacutegico
ou taacutebua de oposiccedilotildees em seu texto Perieacutermeneas (1985) mais especificamente nos
capiacutetulos 6 e 7 sobre o qual faremos menccedilatildeo na seccedilatildeo sobre este nexo)
Este trabalho tem por objetivo observar alguns dos recursos linguiacutesticos utilizados
para favorecer a existecircncia de nexos semacircnticos e com isso restringir ou ampliar
possibilidades de interpretaccedilatildeo em um gecircnero textual especiacutefico Por este motivo o gecircnero
que escolhemos analisar foi o certificado de garantia ou termo de garantia que pertence agrave
categoria dos textos instrucionais (ou injuntivos) e a nosso ver possui caracteriacutesticas que
favorecem a amostragem das ocorrecircncias dos nexos
O gecircnero certificado de garantia possui como uma de suas caracteriacutesticas a
apresentaccedilatildeo organizada dos direitos e deveres do cliente e do fabricante com relaccedilatildeo a um
produto servindo tambeacutem para informar ao cliente os seus direitos referentes agrave validade
prazos e extensatildeo de cobertura da garantia Supotildee-se entatildeo que o texto deve por isso ser
objetivo e livre de ambiguidades e incoerecircncias
Nossa hipoacutetese eacute a de que recursos linguiacutesticos que favoreccedilam a existecircncia de nexos
semacircnticos nos textos dos certificados ndash como o emprego por exemplo de conectivos e
quantificadores (Chierchia 2003 PIRES DE OLIVEIRA 2001) ndash estatildeo presentes em textos
deste gecircnero e contribuem para que os textos alcancem o objetivo de informar ao cliente e ao
fabricante seus deveres e direitos
O corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de
garantia de produtos diversos para constituir um panorama ainda que reduzido de instacircncias
do gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes da internet sem utilizar nenhuma metodologia
14
especiacutefica de escolha atentando para buscar certificados de produtos variados Os textos
escolhidos para a anaacutelise de nosso trabalho incluem diversos produtos manufaturados como
moacuteveis veiacuteculos eletroeletrocircnicos entre outros equipamentos domeacutesticos como ilustrado no
quadro a seguir
Nordm Tipo de objeto Fabricante
1 Refrigerador Samsung
2 TV led Sony
3 Condicionador de ar LG
4 Tablet AOC
5 AudioMixer Oneal
6 Garantia para todos os produtos Elgin
7 Estabilizador de energia APC
8 Aquecedor de aacutegua Bosch
9 Fogatildeo Brastemp
10 Maacutequina de lavar Electrolux
11 Ventilador Cadence
12 GPS Positron
13 Umidificador de ar Springer
14 Certificado internacional de garantia Philips
15 Colchatildeo Ortobom
16 Caminhotildees Mercedes-Benz
17 Carro de passeio Hyundai
18 Moacuteveis Bartzen
19 Aquecedor de ar Fujitsu
20 Tv AOC
21 Aquecedor de aacutegua para piscina Rheem
22 Bicicleta Total Health
Quadro 1 ndash Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa Fonte elaborado pelo autor
Como nosso propoacutesito eacute analisar os textos observando as ocorrecircncias de termos que
restringem e abrangem interpretaccedilotildees natildeo temos a intenccedilatildeo de analisar se um fabricante
elaborou um texto melhor que outro
No primeiro capiacutetulo apresentamos num primeiro momento o que satildeo gecircneros
textuais e em seguida caracterizamos o certificado de garantia como um gecircnero textual Para
tanto utilizamos o aporte teoacuterico baseado na obra de Mikhail Bakhtin (2000) linguista do
iniacutecio do seacuteculo referecircncia nos estudos de gecircneros textuais e de Luiz Antocircnio Marcuschi
(2002 2005 2008) linguista contemporacircneo que desenvolveu importantes trabalhos nessa
disciplina Vale salientar que como o foco de nossa pesquisa natildeo eacute a discussatildeo de gecircneros
textuais o capiacutetulo que construiacutemos trata de conceitos gerais sobre gecircneros tendo como
15
objetivo observar que o certificado de garantia eacute um gecircnero textual e mostrando como se
estrutura em linhas gerais um texto deste gecircnero
No segundo capiacutetulo trataremos dos nexos semacircnticos dos quais consideraremos
para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e
contrariedade Atraveacutes de exemplos discutimos brevemente cada um deles mostrando
exemplos que funcionam e tambeacutem exemplos problemaacuteticos em relaccedilatildeo ao leacutexico
especialmente em casos de polissemia para que entatildeo seja possiacutevel a anaacutelise do capiacutetulo
seguinte
No terceiro capiacutetulo traremos a anaacutelise do corpus que se apresentaraacute organizado por
ocorrecircncias distribuiacutedas em tipos a saber uso do quantificador universal uso do condicional
e uso do apenassomente Apoacutes o exame das trecircs categorias citadas trataremos entatildeo das
relaccedilotildees entre o emprego dos recursos e a funccedilatildeo dos certficados Procuraremos tambeacutem
refletir se os recursos satildeo mais utilizados para favorecer o cliente ou mais utilizados para
favorecer o fabricante
Por uacuteltimo mostraremos as consideraccedilotildees finais do trabalho e em seguida as
referecircncias bibliograacuteficas utilizadas na elaboraccedilatildeo de nosso texto
16
1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA
Neste capiacutetulo tratamos dos gecircneros textuais e da caracterizaccedilatildeo dos certificados de
garantia como um gecircnero textual Em um primeiro momento traremos a perspectiva sobre
gecircneros textuais de Mikhail Bakhtin precursor dos estudos de gecircneros textuais na linguiacutestica
e em seguida apresentaremos a perspectiva de Luiz Antocircnio Marcuschi linguista brasileiro
que tambeacutem trabalha com o tema e compartilha em grande parte da perspectiva de Bakhtin
sobre o os gecircneros Eacute importante ressaltar que este capiacutetulo natildeo tem por objetivo o
aprofundamento nos estudos dos gecircneros e serve como um instrumento para contextualizar o
corpus desta pesquisa
11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS
Considerando a perspectiva apresentada por Mikhail Bakhtin na obra Esteacutetica da
criaccedilatildeo verbal (2000) o ato de se comunicar eacute indispensaacutevel para as relaccedilotildees humanas Aleacutem
disso ressaltamos que eacute por tal razatildeo que nas diversas situaccedilotildees de interaccedilatildeo que
vivenciamos em nosso cotidiano observamos a utilizaccedilatildeo da liacutengua em suas modalidades
oral eou escrita como instrumento principal de nossas trocas comunicativas
Eacute notoacuterio que a quantidade de atividades eacute enorme assim como satildeo os diferentes tipos
de situaccedilotildees em que a liacutengua eacute empregada Atraveacutes da formulaccedilatildeo de enunciados podemos
caracterizar quais as funccedilotildees dos discursos que escolhemos para os diversos tipos de
interaccedilatildeo
Nesse sentido eacute possiacutevel afirmarmos que todas as nossas construccedilotildees linguiacutesticas
organizam-se em gecircneros discursivos por meio dos quais conseguimos nos comunicar e
interagir socialmente
Em conformidade com a proposta de Bakhtin todo gecircnero discursivo se constitui a
partir das seguintes dimensotildees o conteuacutedo temaacutetico o estilo e a construccedilatildeo composicional
Esta descriccedilatildeo eacute claacutessica como ponto de partida para a descriccedilatildeo dos gecircneros textuais e nos
ofereceraacute a possibilidade de tanto descrever o que eacute um gecircnero textual quanto caracterizar
um texto como gecircnero que seraacute o nosso objetivo na segunda parte deste capiacutetulo
O conteuacutedo temaacutetico se refere ao tipo de assunto veiculado no texto Por tal razatildeo
Bakhtin (2000) afirma que o gecircnero eacute escolhido a partir do que o locutor decide falar Assim
17
eacute faacutecil compreender por que cada atividade comunicativa necessita de um tipo especiacutefico de
textodiscurso Por exemplo natildeo se responde (normalmente) uma carta informal com uma
bula de remeacutedio (a natildeo ser que na carta um texto desse gecircnero seja solicitado como
resposta) Nesse sentido percebe-se que para cada esfera de comunicaccedilatildeo o locutor e
interlocutor utilizam uma mesma forma de expressatildeo tendo em vista o assunto que
escolheram tratar Caso contraacuterio se locutor e interlocutor agregam formas distintas de
expressatildeo pode ser que a comunicaccedilatildeo natildeo seja efetivada com sucesso visto que eacute possiacutevel
natildeo haver o entendimento das partes uma vez que cada gecircnero abarca certo campo de uso
mesmo estando em constante desenvolvimento
O estilo se refere aos recursos linguiacutesticos desde gramaticais ateacute lexicais e eles
variam de acordo com o gecircnero Essa dimensatildeo abarca a seleccedilatildeo frasal lexical gramatical e
as formas de apresentar o discurso que satildeo inerentes ao gecircnero escolhido Bakhtin (2000)
afirma que o estilo eacute a primeira vista individual do gecircnero e ela reflete (ou natildeo) a
individualidade de quem escreve ou fala Isso porque dependendo do gecircnero o estilo
individual aparece com mais clareza Da mesma forma haacute gecircneros que natildeo possuem essa
caracteriacutestica a exemplo dos textos injuntivos sobre os quais trataremos mais agrave frente Ainda
a respeito do estilo Bakhtin assegura que
Quando escolhemos as palavras no processo de construccedilatildeo de um enunciado nem
de longe as tomamos sempre do sistema da liacutengua em sua forma neutra
lexicograacutefica Costumamos tiraacute-las de outros enunciados e antes de tudo de
enunciados congecircneres com o nosso isto eacute pelo tema pela composiccedilatildeo pelo estilo
consequentemente selecionamos as palavras segundo a sua especificaccedilatildeo de
gecircnero O gecircnero do discurso natildeo eacute uma forma da liacutengua mas uma forma tiacutepica do
enunciado como tal forma o gecircnero inclui certa expressatildeo tiacutepica a ele inerente
(BAKHTIN 2010 [1992] p 292 grifos do autor)
Nessa perspectiva podemos afirmar que tal criteacuterio se refere agraves propriedades das
unidades de linguagem e relaciona-se agrave posiccedilatildeo enunciativa do locutor agraves sequecircncias textuais
e aos tipos discursivos que estruturam o texto
Por fim Bakhtin (2000) afirma que cada gecircnero possui uma forma padratildeo que eacute a
estrutura composicional Eacute atraveacutes dessa forma que podemos identificar qual gecircnero estaacute
sendo empregado pois essa dimensatildeo se refere aos procedimentos utilizados na formulaccedilatildeo
dos textos com a estrutura e demais aspectos formais incluindo as partes envolvidas no
discurso Em suma para Bakhtin (2000)
18
Estes trecircs elementos (conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo composicional)
fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado e todos eles satildeo marcados pela
especificidade de uma esfera de comunicaccedilatildeo Qualquer enunciado considerado
isoladamente eacute claro individual mas cada esfera de utilizaccedilatildeo da liacutengua elabora
seus tipos relativamente estaacuteveis de enunciados sendo isso que denominamos
gecircneros do discurso (BAKHTIN 2000 p 279 Grifos do autor)
Ainda a respeito dos gecircneros do discurso conveacutem ressaltar que sua variedade eacute
proporcional agraves possibilidades de interaccedilotildees humanas pois as diversas esferas de interaccedilatildeo
satildeo compostas por classes de gecircneros que se desenvolvem tornando-se maiores e mais
complexas em consonacircncia com o desenvolvimento dessas esferas
Bakhtin (2000) utiliza o termo ―heterogeneidade para adjetivar os gecircneros do
discurso sejam eles orais ou escritos inferindo que estes incluem desde conversas informais
cartas relatos familiares ateacute produccedilotildees mais complexas como os documentos oficiais textos
cientiacuteficos e de escolas literaacuterias Natildeo haacute razatildeo para minimizar a extrema heterogeneidade
dos gecircneros do discurso e a consequente dificuldade quando se trata de definir o caraacuteter
geneacuterico do enunciadolsquo (BAKHTIN 2000 p 281) Dessa forma entendemos que a
variedade de gecircneros eacute muito grande se estendendo por exemplo dos romances mais
eruditos ateacute os bilhetes de recados do dia-a-dia e que tratar dos gecircneros admitindo suas
caracteriacutesticas estruturais particulares natildeo eacute uma tarefa faacutecil de realizar
Aleacutem de discorrer sobre as dimensotildees constitutivas de um gecircnero tendo em vista essa
heterogeneidade Bakhtin categoriza os gecircneros textuais em primaacuterios (simples) e
secundaacuterios (complexos) Assim os gecircneros primaacuterios satildeo aqueles referentes agraves reacuteplicas de
diaacutelogos cotidianos como cartas pessoais e demais gecircneros de comunicaccedilatildeo imediata Satildeo
chamados ―simples porque satildeo formados por discursos de baixa complexidade Jaacute os
gecircneros secundaacuterios satildeo aqueles referentes a romances textos cientiacuteficos sociopoliacuteticos e
afins Satildeo textos (escritos ou produzidos para serem encenados como os teatrais ndash exemplo
usado pelo proacuteprio Bakhtin) com maior carga de complexidade de produccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo
Surgem a partir de interaccedilotildees mais aprofundadas nas comunidades com maior grau de
imersatildeo em relaccedilatildeo aos padrotildees culturais e sociais
Ele ainda ressalta que os gecircneros secundaacuterios tambeacutem podem conter gecircneros
primaacuterios ―o romance em seu todo eacute um enunciado da mesma forma que a reacuteplica do
diaacutelogo cotidiano ou a carta pessoal (satildeo fenocircmenos da mesma natureza) o que diferencia o
romance eacute ser um enunciado secundaacuterio (complexo) (BAKHTIN 2000 p 281) Ao
discorrer sobre essa questatildeo o autor assevera que eacute de grande importacircncia teoacuterica a
19
diferenciaccedilatildeo entre esses tipos de gecircneros pois com isso e a partir disso podemos fazer
anaacutelises precisas dos enunciados que podem contrapor dois ou mais tipos de textos
Ignorar as caracteriacutesticas intriacutensecas a cada gecircnero a ―natureza dos enunciados - que
segundo Bakhtin eacute indispensaacutevel para qualquer estudo ndash eacute partir para a abstraccedilatildeo da liacutengua
desvalorizando o conteuacutedo histoacuterico imerso em cada tipo de gecircnero Eacute importante considerar
a relaccedilatildeo existente entre ―a liacutengua e a vida e natildeo restringir os enunciados a categorias
formais Haacute portanto uma relaccedilatildeo de complementaccedilatildeo entre a liacutengua a vida e os enunciados
pois ―a liacutengua penetra na vida atraveacutes dos enunciados concretos que a realizam e eacute tambeacutem
atraveacutes dos enunciados concretos que a vida penetra na liacutengua (BAKHTIN 2000 p 282)
Bakhtin (2000) tambeacutem se refere a questotildees da ―totalidade do enunciado que ele
define como aquilo que oportuniza a resposta em um discurso Bakhtin afirma que essa accedilatildeo
eacute definida por trecircs fatores diretamente associados ao ―todo orgacircnico do enunciado
primeiramente o tratamento exaustivo do objeto de sentido depois o querer-dizer do locutor
e por fim as formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do acabamento
O tratamento exaustivo do objeto de sentido ―varia profundamente conforme as
esferas da comunicaccedilatildeo verbal Em algumas esferas ele pode ser quase total como por
exemplo na vida praacutetica na vida profissional na vida militar basicamente em esferas que
natildeo possuem caracteriacutesticas de mutabilidade de discurso e pouca ―criatividade nas
formulaccedilotildees entre outras palavras onde os gecircneros do discurso satildeo padronizados Jaacute nas
esferas em que os gecircneros satildeo ―criativos o tratamento exaustivo eacute muito menos abrangente
como no caso das ciecircncias em particular onde Bakhtin infere que o tratamento exaustivo
―oferece exatamente um miacutenimo de acabamento capaz de suscitar uma atitude responsiva
(BAKHTIN 2000 p 300)
O querer-dizer do locutor estaacute ligado ao primeiro fator O filoacutesofo afirma que em todo
enunciado desde uma reacuteplica cotidiana ateacute complexas obras cientiacuteficas ou da literatura
compreendemos sentimos o ―intuito discursivo ou querer-dizer do locutor que eacute o que
determina o ―todo do enunciado sua amplitude suas fronteiras Noacutes identificamos o que o
locutor quer expressar e a partir dessa detecccedilatildeo medimos e definimos como se daraacute o
enunciado Isso eacute determinante para a escolha do objeto com seus limites e o tratamento
exaustivo do objeto adequado a este aleacutem de ser essencial para a escolha da forma do gecircnero
onde seraacute edificado
As formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do gecircnero do acabamento representam o fator mais
importante para Bakhtin que as descreve como ―formas estaacuteveis do gecircnero do enunciado
(BAKHTIN 2000 p 301)
20
As formas do gecircnero agraves quais modelamos nossa fala se distinguem
substancialmente das formas da liacutengua do ponto de vista de sua estabilidade e de
suas leis normativas para o locutor De um modo geral elas satildeo mais maleaacuteveis
mais plaacutesticas e mais livres do que as formas da liacutengua (BAKHTIN 2000 p 302)
Concluindo a discussatildeo sobre gecircneros a partir dos conceitos gerais propostos por
Bakhtin passamos agora para a discussatildeo sobre gecircneros realizada por Marcuschi (2008) Eacute
possiacutevel perceber ao longo da explanaccedilatildeo que este autor se identifica com a teoria
bakhtiniana de gecircneros textuais e foi essa identificaccedilatildeo uma das motivaccedilotildees que nos levou a
escolhecirc-los para a composiccedilatildeo deste capiacutetulo
De acordo com Marcuschi (2008 p 154) toda comunicaccedilatildeo soacute pode ser efetivada
por meio de um gecircnero pois ―eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum gecircnero
assim como eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum texto Partindo dessa
premissa podemos entender que qualquer manifestaccedilatildeo verbal se daacute dentro dos limites dos
gecircneros Eacute por esse motivo que a variedade de gecircneros eacute extensa mas natildeo infinita Atraveacutes
desse conceito observamos que Marcuschi compactua com o conceito bakhtiniano de que os
gecircneros possuem formas padronizadas e finitas
Os gecircneros textuais satildeo os textos que encontramos em nossa vida diaacuteria e que
apresentam padrotildees sociocomunicativos caracteriacutesticos definidos por composiccedilotildees
funcionais objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integraccedilatildeo
de forccedilas histoacutericas sociais institucionais e teacutecnicas (Marcuschi 2008 p 155)
Natildeo devemos considerar os gecircneros textuais como modelos imutaacuteveis e de ―estrutura
riacutegidas A apresentaccedilatildeo dos gecircneros se mostra ligada diretamente ao meio em que circulam
Satildeo formas culturais que tomam forma na liacutengua e que evoluem junto com ela Obviamente
que natildeo podemos deixar de considerar que os gecircneros possuem identidade e eacute atraveacutes dessa
identidade que escolhemos um tipo especiacutefico para cada esfera discursiva Dessa forma
admitimos que os gecircneros limitam nossa accedilatildeo na escrita
Em relaccedilatildeo agrave distinccedilatildeo entre gecircneros Marcuschi (2008) natildeo os distingue pelas formas
linguiacutesticas mas sim pelos seus campos de accedilatildeo Nesse sentido ele reafirma a perspectiva
bakhtiniana de que os gecircneros satildeo dinacircmicos e que por serem soacutecio-histoacutericos natildeo podem
ser contados de modo exaustivo o que dificulta sua classificaccedilatildeo Marcuschi (2008) afirma
que atualmente o objetivo maior nos estudos sobre gecircneros textuais eacute procurar identificar e
explicar como eles satildeo constituiacutedos e como circulam na sociedade
21
Eacute importante apresentar alguns conceitos referentes ao que estamos discutindo sobre
gecircneros do discurso dentre os quais destacamos os conceitos de tipo textual gecircnero textual e
domiacutenio discursivo segundo Marcuschi (2008) levando em consideraccedilatildeo a possibilidade de
se obter melhor entendimento no trato com o texto em si e seus fenocircmenos
O tipo textual eacute definido pelos aspectos linguiacutesticos ou seja por marcas lexicais
tempos verbais estilo relaccedilotildees loacutegicas e aspectos sintaacuteticos Logo relaciona-se mais agraves
sequecircncias linguiacutesticas do que a materializaccedilotildees textuais fazendo com que o conjunto
tipoloacutegico de textos seja limitado e natildeo apresente tendecircncias de aumentar Marcuschi (2002
p22) afirma que os tipos textuais compreendem categorias amplamente conhecidas como
narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo exposiccedilatildeo descriccedilatildeo e injunccedilatildeo que observaremos separadamente a
seguir
A narraccedilatildeo relata um fato que pode ser real ou imaginaacuterio em um tempo e lugar
definidos envolvendo personagens Nesse tipo de texto o tempo verbal predominante eacute o
passado ao menos nos exemplos mais tiacutepicos Eacute predominante em crocircnicas piadas
romances poemas faacutebulas entre outros Vejamos o exemplo a seguir
O cavalo e o burro
O cavalo e o burro seguiam juntos para a cidade O cavalo contente da vida
folgando com uma carga de quatro arrobas apenas e o burro mdash coitado gemendo
sob o peso de oito Em certo ponto o burro parou e disse
ndash Natildeo posso mais Esta carga excede agraves minhas forccedilas e o remeacutedio eacute repartirmos o
peso irmatildemente seis arrobas para cada um
O cavalo deu um pinote e relichou uma gargalhada
ndash Ingecircnuo Quer entatildeo que eu arque com seis arrobas quando posso tatildeo bem
continuar com as quatro Tenho cara de tolo
O burro gemeu
ndash Egoiacutesta Lembre-se que se eu morrer vocecirc teraacute que seguir com a carga de quatro
arrobas e mais a minha
O cavalo pilheriou de novo e a coisa ficou por isso Logo adiante poreacutem o burro
tropica vem ao chatildeo e rebenta
Chegam os tropeiros maldizem a sorte e sem demora arrumam com as oito arrobas
do burro sobre as quatro do cavalo egoiacutesta E como o cavalo refuga datildeo-lhe de
chicote em cima sem doacute nem piedade
ndash Bem feito exclamou o papagaio Quem mandou ser mais burro que o pobre burro
e natildeo compreender que o verdadeiro egoiacutesmo era aliviaacute-lo da carga em excesso
Tome Gema dobrado agorahellip
(LOBATO M 2010 p 85)
Acima podemos observar um exemplo de narraccedilatildeo que eacute uma das faacutebulas de
Monteiro Lobato escrita em grande parte em discurso direto Podemos observar na faacutebula
que o texto eacute conduzido pelo narrador intercalado pela interaccedilatildeo dos personagens A seguir
22
continuaremos a descriccedilatildeo dos tipos textuais e exemplos com o conceito do tipo textual
argumentativo
Jaacute a argumentaccedilatildeo tem por principal caracteriacutestica a construccedilatildeo do convencimento
acerca da validade ou invalidade de um ponto de vista por sobre outro Nesse tipo de texto haacute
a reflexatildeo sobre temas especiacuteficos confrontando perspectivas distintas predominante em
gecircneros como debates resenhas editoriais artigos de opiniatildeo e afins Vejamos o exemplo a
seguir
O povo brasileiro estaacute cansado de tanta corrupccedilatildeo desigualdade de renda serviccedilos
puacuteblicos precaacuterios sensaccedilatildeo de inseguranccedila nas ruas elevada carga tributaacuteria
ineficiecircncia nos gastos puacuteblicos e elevaccedilatildeo da inflaccedilatildeo aleacutem do estilo autoritaacuterio e
inflexiacutevel da presidente O estranho eacute pensar sobre as razotildees que levaram a
populaccedilatildeo agraves ruas no momento atual em que a economia apresentou uma
significativa evoluccedilatildeo em relaccedilatildeo aos anos 80 e 90 aleacutem de presenciar sensiacutevel
melhora na renda meacutedia e na sua distribuiccedilatildeo nos anos 2000
A minha impressatildeo eacute de que depois de sentir a possibilidade de que o paiacutes entraria
em uma rota segura de crescimento da renda e de desenvolvimento econocircmico
(semelhante agrave sensaccedilatildeo que a populaccedilatildeo brasileira presenciou nos anos 70) o
enfraquecimento econocircmico e os sinais cada vez mais claros de que ele eacute resultante
de problemas internos deixaram a populaccedilatildeo transtornada Mais uma vez somos
apenas o paiacutes do futuro (NAKABASHI 2013 Acesso
httpwwwgazetadopovocombropiniaoartigosmanifestacoes-e-governo-no-
brasil-bdcjgu3mm6ql5e18tqoj73c5q)
Observamos acima uma parte de um artigo de opiniatildeo publicado no jornal Gazeta do
Povo em 02072013 por Luciano Nakabashi que trata das manifestaccedilotildees e do governo no
Brasil O autor anuncia primeiro o problema que vai discutir e em seguida lanccedila sua opiniatildeo
sobre o tema o que faz com que esse tipo de texto seja distinto da exposiccedilatildeo que
abordaremos a seguir
A exposiccedilatildeo apresenta informaccedilotildees sobre acontecimentos materiais e objetos de
forma detalhada e especiacutefica e por isso costuma lanccedilar matildeo de recursos como a descriccedilatildeo
informaccedilatildeo enumeraccedilatildeo comparaccedilatildeo e contrastes O tipo expositivo eacute caracteriacutestico de
gecircneros como as aulas expositivas verbetes de dicionaacuterios notiacutecias jornaliacutesticas entre
outros Vejamos o exemplo
Dianoia Termo grego que pode ser traduzido por pensamento intelecto
espiacuterito A dianoia eacute o pensamento discursivo enquanto elaboraccedilatildeo explicitaccedilatildeo
ou desenvolvimento da noese ou nous isto eacute da razatildeo intuitiva que capta de
modo imediato o real (Aristoacuteteles Tratado da alma III) Neste sentido a dianoia eacute
inferior ao nous jaacute que depende deste (MARCONDES e JAPIASSUacute 2001 p54)
23
Tomamos como exemplo de exposiccedilatildeo um verbete de um dicionaacuterio de filosofia
Podemos observar que os autores apresentam a palavra ―dianoia e em seguida conceituam a
dianoia a partir da perspectiva de um filoacutesofo especiacutefico (neste caso Aristoacuteteles)
O tipo textual descriccedilatildeo por sua vez eacute o relato particular de eventos e entidades e se
relaciona comumente com outros tipos em inuacutemeros gecircneros textuais Eacute caracteriacutestico em
cartazes promocionais anuacutencio de classificados entre outros Vamos observar agora um
exemplo de descriccedilatildeo atraveacutes da anaacutelise de uma obra de arte de Salvador Dali de 1955
intitulada ―A uacuteltima ceia
―Sua cena estaacute contida num retacircngulo Uma imensa janela ao fundo representada
por um dodecaedro (figura geomeacutetrica de 12 lados que sua vez satildeo pentaacutegonos ou
seja possuem cinco acircngulos cada um) domina toda a composiccedilatildeo
Jesus Cristo e seus 12 apoacutestolos estatildeo reunidos numa sala moderna envidraccedilada
Ele ocupa o centro da mesa de pedra o centro da tela e o centro do pentaacutegono
frontal do dodecaedro Cristo estaacute de frente para o observador contudo seu corpo
transluacutecido permite ver o mar e um barco o que indica que ele natildeo mais eacute humano
mas divino A sensaccedilatildeo que temos eacute de que seu corpo emerge de dentro do mar
Diante de Cristo sobre a mesa estatildeo um copo com vinho e as duas bandas do patildeo
jaacute repartido o que nos permite concluir que Daliacute pintou o momento da Eucaristia A
presenccedila dos barcos no mar remete aos ―pescadores de homens
A mesa eacute formada por um bloco retangular Doze apoacutestolos debruccedilam-se sobre ela
sendo trecircs agrave esquerda de Cristo e trecircs agrave direita Nas suas extremidades estatildeo quatro
apoacutestolos sendo dois de cada lado De costa para o observador estatildeo mais dois
deles Todos estatildeo com as cabeccedilas baixas Um dos apoacutestolos diverge dos demais ao
usar uma toga amarela O pintor queria com certeza diferenciaacute-lo Portanto tanto
pode ser Pedro o fundador da Igreja ou Judas o traidor
No alto com a cabeccedila invisiacutevel e com parte do tronco visiacutevel e os braccedilos abertos
Deus Pai humanizado abraccedila toda a cena como se aguardasse a chegada do Filho
que se encontra entre os homens Ao fundo um mar tranquilo com rochas
espalhadas e um ceacuteu cheio de nuvens compotildeem o segundo plano da tela (Viacuterus da
arte amp cia ndash Site brasileiro especializado em arte e cultura Disponiacutevel em
httpvirusdaartenetdali-a-ultima-ceia)
Acima podemos observar a descriccedilatildeo de uma obra de arte do pintor catalatildeo Salvador
dali retirado de uma paacutegina sobre arte Como o nome do tipo textual sugere a descriccedilatildeo tem
por objetivo descrever fatos mas tambeacutem caracteriacutesticas para objetos paisagens e situaccedilotildees
diversas No exemplo que utilizamos para descriccedilatildeo observamos a descriccedilatildeo de uma obra de
arte por parte de um espectador demonstrando detalhes do que estaacute impresso na pintura
assim como uma interpretaccedilatildeo da cena
O uacuteltimo tipo textual que consideraremos aqui eacute o tipo injuntivo que tem por objetivo
instruir o leitor ou persuadi-lo a fazer algo ou adotar algum ponto de vista Tambeacutem tem
como caracteriacutestica a induccedilatildeo do interlocutor a proceder de uma ou outra forma Geralmente
24
eacute escrito no modo imperativo e eacute caracteriacutestico de gecircneros como a bula de remeacutedio os
manuais de instruccedilotildees receitas culinaacuterias e contratos Vale ressaltar que dentro dos textos
injuntivos podem-se encontrar outros tipos de texto como por exemplo descriccedilotildees de
objetos endereccedilos procedimentos etc Vejamos o exemplo a seguir
Bolo simples
Tempo de preparo 40 minutos
Rendimento 12 porccedilotildees
Ingredientes
2 xiacutecaras de accediluacutecar
3 xiacutecaras de farinha de trigo
4 colheres de margarina bem cheias
3 ovos
1 frac12 xiacutecara de leite aproximadamente
1 colher (sopa) de fermento bem cheia
Modo de preparo
1) Bata as claras em neve
2) Reserve
3) Bata bem as gemas com a margarina e o accediluacutecar
4) Acrescente o leite e a farinha aos poucos sem parar de bater
5) Por uacuteltimo agregue as claras em neve e o fermento
6) Coloque em forma grande de furo central untada e enfarinhada
7) Asse em forno meacutedio preacute-aquecido por aproximadamente 40 minutos
8) Quando espetar um palito e sair limpo estaraacute assado
(httpwwwtudogostosocombrreceita29124-bolo-simpleshtml Acesso em
20042014)
No exemplo uma receita culinaacuteria podemos observar que haacute descriccedilatildeo na primeira
parte (a lista de ingredientes) e na segunda parte (modo de preparo) que eacute a mais
nitidamente injuntiva encontramos instruccedilotildees de como proceder na execuccedilatildeo da receita
Aleacutem da classificaccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo dos tipos de texto eacute interessante observarmos
tambeacutem a definiccedilatildeo de gecircneros textuais e domiacutenio discursivo conforme Marcuschi (2008)
Os gecircneros textuais satildeo definidos como ―textos materializados em situaccedilotildees
comunicativas recorrentes (MARCUSCHI 2008 p155) que apresentam caracteriacutesticas
soacutecio-comunicativas marcadas pelos conteuacutedos e pelas propriedades referentes agraves funccedilotildees e
composiccedilatildeo Diferente dos tipos textuais que se restringem a cerca de meia duacutezia como
afirma Marcuschi (2008) ―os gecircneros satildeo inuacutemeros Tambeacutem haacute de ressaltar que satildeo
culturalmente e historicamente formados visto que evoluem no mesmo passo que as
comunidades
O domiacutenio discursivo por sua vez eacute a esfera de atividade humana em que os textos
circulam Ele natildeo eacute um texto em si mas proporciona o surgimento de discursos especiacuteficos
Para ilustrar podemos citar alguns domiacutenios como discurso religioso discurso juriacutedico etc
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O domiacutenio eacute constituiacutedo por praacuteticas do discurso nas quais podemos identificar uma seacuterie de
gecircneros que possuem a mesma proposta discursiva como o tema e as praacuteticas institucionais
ou informais
As definiccedilotildees aqui trazidas de gecircnero tipo domiacutenio discursivo satildeo muito mais
operacionais do que formais e seguem de perto a posiccedilatildeo bakhtiniana Assim para a
noccedilatildeo de tipo textual predomina a identificaccedilatildeo de sequecircncias linguiacutesticas como
norteadora e para a noccedilatildeo de gecircnero textual predominamos criteacuterios de padrotildees
comunicativos accedilotildees propoacutesitos e inserccedilatildeo sociohistoacuterica No caso dos domiacutenios
discursivos natildeo lidamos propriamente com textos e sim com formaccedilotildees histoacutericas e
sociais que originam os discursos Eles ainda natildeo se acham bem definidos e
oferecem alguma resistecircncia mas seguramente sua definiccedilatildeo deveria ser na base de
criteacuterios etnograacuteficos antropoloacutegicos e socioloacutegicos e histoacutericos (MARCUSCHI
2008 p 158 Grifos do autor)
Nessa perspectiva faz-se necessaacuterio apresentarmos o papel dos gecircneros textuais como
controle social Como jaacute vimos anteriormente segundo Bakhtin (2000) toda atividade
discursiva humana se daacute atraveacutes de algum gecircnero e eacute tambeacutem por esse motivo que haacute uma
consideraacutevel pluralidade de gecircneros Marcuschi (2008) afirma que os gecircneros satildeo
―necessaacuterios para a interlocuccedilatildeo humana Assim para cada esfera de atividade humana
certos gecircneros especiacuteficos satildeo considerados mais ou menos adequados Na esfera
empresarial por exemplo temos que nos adequar agraves formalidades dos gecircneros de redaccedilatildeo
oficial como os ofiacutecios atas circulares e relatoacuterios Na academia apresentamos nossas
produccedilotildees atraveacutes de dissertaccedilotildees artigos cientiacuteficos teses e relatoacuterios de projetos No meio
publicitaacuterio encontramos as propagandas anuacutencios de diversos tipos Enfim satildeo inuacutemeras as
esferas de discurso domiacutenios discursivos e gecircneros textuais atrelados a estes
Marcuschi (2008) enfatiza que o controle social por gecircneros discursivos eacute
incontornaacutevel mas natildeo determinista De acordo com o autor noacutes temos liberdade para nos
expressarmos em qualquer esfera discursiva Poreacutem temos que admitir que a sociedade eacute
constituiacuteda por uma ―maacutequina discursiva logo somos moldados a ela de forma intuitiva e
os gecircneros textuais constituem um poderoso instrumento desta maacutequina Quanto maior a
nossa inserccedilatildeo na sociedade maior o controle social Por exemplo natildeo satildeo todas as pessoas
que podem expedir um mandato de seguranccedila escrever uma dissertaccedilatildeo de mestrado
ministrar uma aula de fiacutesica quacircntica ou publicar uma coluna em um jornal Eacute nessa
perspectiva que Marcuschi (2008) afirma veemente o direcionamento dos gecircneros textuais
para com o envolvimento social e suas especificidades
26
A partir das consideraccedilotildees apresentadas a respeito dos gecircneros textuais dedicamos a
seccedilatildeo a seguir para a caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual
conforme relatamos na introduccedilatildeo deste capiacutetulo
12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL
O certificado de garantia ou termo de garantia eacute um documento oferecido por
prestadoras de serviccedilos fabricantes de produtos diversos ou de qualquer outro segmento que
envolva comercializaccedilatildeo de bens duraacuteveis com a funccedilatildeo de formalizar os direitos e deveres
do consumidor e do fabricante para com o estado fiacutesico e funcional do produto em vista de
problemas de qualquer natureza
Eacute tambeacutem uma espeacutecie de contrato visto que consiste fundamentalmente na
combinaccedilatildeo de interesses de partes sobre algo Aleacutem de ―certificado de garantia
utilizaremos tambeacutem a nomenclatura ―termo de garantia tendo em vista que o documento
do certificado de garantia e o termo em si estatildeo internamente ligados A expressatildeo ―termo de
garantia eacute usada no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20
de marccedilo de 1997
Art 50 A garantia contratual eacute complementar agrave legal e seraacute conferida mediante
termo escrito
Paraacutegrafo uacutenico O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e
esclarecer de maneira adequada em que consiste a mesma garantia bem como a
forma o prazo e o lugar em que pode ser exercitada e os ocircnus a cargo do
consumidor devendo ser-lhe entregue devidamente preenchido pelo fornecedor no
ato do fornecimento acompanhado de manual de instruccedilatildeo de instalaccedilatildeo e uso de
produto em linguagem didaacutetica com ilustraccedilotildees (Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do
Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20 de marccedilo de 1997 p 30)
Em linhas gerais o documento eacute composto por quatro partes garantia contratual
garantia legal condiccedilotildees para validade da garantia contratual e legal condiccedilotildees natildeo cobertas
pela garantia legal e contratual Vejamos um exemplo de certificado de garantia
27
ILUSTRACcedilAtildeO 1 Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario
_de_ar_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Observamos na primeira parte a disposiccedilatildeo da garantia contratual ou seja a garantia
oferecida pelo fabricante
28
ILUSTRACcedilAtildeO 2 Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar
_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Na segunda parte encontramos a disposiccedilatildeo da garantia legal ou seja a garantia
assegurada pelo Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do consumidor
ILUSTRACcedilAtildeO 3 Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c
ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Em seguida vemos as condiccedilotildees de validade da garantia legal e contratual composta
por uma lista exaustiva de itens a serem considerados
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ILUSTRACcedilAtildeO 4 Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c
ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
E por fim encontramos as condiccedilotildees natildeo cobertas pela garantia legal e contratual
assim como observaccedilotildees gerais
ILUSTRACcedilAtildeO 5 Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar
_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Em relaccedilatildeo agrave estrutura padratildeo dos certificados de garantia a partir do corpus
analisado nesta pesquisa observou-se que o texto que se refere agrave garantia em si corresponde a
menos da metade do documento Grande parte do documento se dedica agrave restriccedilatildeo de
possibilidades de cobertura assim como observaccedilotildees gerais quanto agraves responsabilidades do
fabricante diante de situaccedilotildees como despesas referentes agrave locomoccedilatildeo para depoacutesito do
produto para assistecircncia documentaccedilatildeo necessaacuteria para apresentaccedilatildeo na assistecircncia etc
30
O termo de garantia eacute vinculado diretamente ao Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do
consumidor O coacutedigo estabelece um padratildeo abrangente de formulaccedilatildeo do documento
constando recomendaccedilotildees como o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo necessidade do
acompanhamento do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto assim como clareza na
disposiccedilatildeo dos prazos de garantia legal e contratual
Como discutimos na primeira parte desse capiacutetulo Bakhtin (2000) propotildee que trecircs
dimensotildees constituem os gecircneros de discurso conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo
composicional Iremos a seguir apresentar como estas dimensotildees satildeo percebidas nesse
gecircnero textual
Como conteuacutedo temaacutetico do gecircnero certificado de garantia temos a veiculaccedilatildeo de
direitos e deveres do fabricante e do consumidor O documento apresenta listas exaustivas de
accedilotildees que possibilitam ou natildeo o uso do termo de garantia assim como instruccedilotildees gerais para
a realizaccedilatildeo desse ato Esse conteuacutedo pode variar em parte e apenas questotildees referentes agrave
garantia legal natildeo podem mudar pois estaacute prevista no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do
Consumidor
Em relaccedilatildeo ao estilo observamos nos certificados a utilizaccedilatildeo da norma padratildeo
Busca-se construir um texto claro e objetivo para que dessa forma natildeo haja problemas de
interpretaccedilatildeo para o consumidor Nesse gecircnero natildeo haacute identificaccedilatildeo de quem escreve de
maneira particular como observamos em gecircneros do tipo carta A identificaccedilatildeo do autor eacute
geralmente atribuiacuteda agrave empresa que oferece a garantia O estilo individual que eacute
caracteriacutestico em diversos gecircneros como o artigo de opiniatildeo e cartas pessoais natildeo cabe para
os certificados Como se trata de um texto instrucional esse gecircnero apresenta-se de forma
objetiva de modo que natildeo haacute a necessidade praacutetica da identificaccedilatildeo de quem escreve
Quanto agrave estrutura composicional em linhas gerais tal gecircnero segue uma sequecircncia
de apresentaccedilatildeo em duas etapas Em um primeiro momento apresenta-se o termo de garantia
em si no qual eacute descrito o direito do consumidor em relaccedilatildeo agrave garantia assim como sua
validade No segundo momento parte mais extensa do texto haacute a apresentaccedilatildeo de listas
supostamente exaustivas referentes aos casos que natildeo satildeo cobertos pela garantia assim como
as instruccedilotildees gerais para o reclame do direito Essa sequecircncia de apresentaccedilatildeo do documento
eacute variaacutevel Haacute certificados que satildeo inclusos no manual de instruccedilatildeo do produto (geralmente
na uacuteltima paacutegina) Haacute certificados que satildeo destacados o documento eacute apresentado agrave parte de
qualquer outro texto
Se retomarmos a classificaccedilatildeo dos gecircneros do discurso de Bakhtin (2000) entre
primaacuterios (simples) e secundaacuterios (complexos) podemos considerar que o certificado de
31
garantia estaacute inserido nos gecircneros complexos pois se trata de um documento elaborado de
forma sistemaacutetica no qual haacute necessidade de um aprofundamento social complexo com
caracterizaccedilotildees e descriccedilotildees bem delimitadas
Quanto ao tipo de texto dentro do que foi proposto por Marcuschi (2008) o
certificado de garantia se enquadra no tipo injuntivo porque eacute um texto instrucional com
predominacircncia do modo imperativo nas frases e eacute composto pela listagem de uma seacuterie de
procedimentos a serem observados e seguidos com listas exaustivas contendo direitos e
deveres do fabricante e do consumidor O objetivo do documento eacute oferecer ao cliente todas
as informaccedilotildees relacionadas agrave validade da garantia os casos em que haacute perda da validade e os
casos em que os problemas apresentados se enquadram como defeitos de fabricaccedilatildeo
O certificado de garantia se caracteriza como um gecircnero textual a partir da
perspectiva de Marcuschi (2008) pois eacute um texto que possui caracteriacutesticas soacutecio-discursivas
bem delimitadas com conteuacutedo padratildeo obedecendo a uma mesma linha temaacutetica e foi
constituiacutedo socialmente O gecircnero foi criado a partir da necessidade juriacutedica de resguardar os
fabricantes e consumidores de produtos industrializados e afins quanto agrave possibilidade de
apresentaccedilatildeo de defeitos ou falhas
De posse dos conhecimentos gerais sobre os gecircneros textuais que apresentamos e da
caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual partiremos no proacuteximo
capiacutetulo para a apresentaccedilatildeo das teorias que serviratildeo de aporte teoacuterico para a compreensatildeo
das anaacutelises realizadas no capiacutetulo 3
32
2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS
Neste capiacutetulo tratamos dos nexos semacircnticos ou ―nexos de significado dos quais
consideramos para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica
contraditoriedade e contrariedade Caracterizamos cada um deles utilizando exemplos em
linguagem natural com o intuito de demonstrar o funcionamento dessas relaccedilotildees assim como
mostrar quando tais exemplos deixam de apresentar o nexo Nosso intuito final eacute de oferecer
uma base para a compreensatildeo das anaacutelises que viratildeo no capiacutetulo posterior
Para entendermos melhor o que satildeo os nexos semacircnticos devemos compreender a
distinccedilatildeo entre a semacircntica e a pragmaacutetica que satildeo linhas de estudos linguiacutesticos inter-
relacionaacuteveis Uma definiccedilatildeo bastante difundida da semacircntica e tambeacutem bastante geral eacute
encontrada em Trask (2004 p 261) que diz que a semacircntica eacute o ramo da linguiacutestica que
estuda o significado e em Chierchia (2003 p 7) para quem a semacircntica eacute um estudo do
significado das expressotildees das liacutenguas naturais Podemos tambeacutem caracterizar a semacircntica
destacando a relaccedilatildeo do usuaacuterio da liacutengua e o significado que ele atribuiu agraves palavras que
compotildeem sentenccedilas como propotildee Pires de Oliveira (2001 p 42) Jaacute a pragmaacutetica por outro
lado tambeacutem estuda o significado das liacutenguas naturais mas trata das intenccedilotildees que os
falantes supostamente revelam a partir do uso de sentenccedilas
Para o termo ―pragmaacutetica haacute diversas possibilidades de definiccedilatildeo Levinson (2007)
procura mostrar as implicaccedilotildees que algumas definiccedilotildees podem ter em relaccedilatildeo a outros
estudos Assim podemos citar pelo menos dois conceitos de pragmaacutetica para Levinson
―pragmaacutetica eacute o estudo de todos os aspectos do significado natildeo capturados em uma teoria
semacircntica (Levinson 2007 p14) assim como ―pragmaacutetica eacute o estudo das relaccedilotildees entre
liacutengua e contexto que satildeo gramaticalizadas ou codificadas na estrutura de um liacutengua
(Levinson 2007 p 11) Podemos perceber que nessas duas definiccedilotildees Levinson tanto atribui
agrave pragmaacutetica a responsabilidade sobre aquilo que estaacute aleacutem da semacircntica quanto destaca a
relaccedilatildeo de liacutengua e contexto Jaacute em Wilson (2008) encontramos as definiccedilotildees que Yule
(1996) apresenta para a pragmaacutetica
a) pragmaacutetica eacute o estudo do significado sob o ponto de vista do falante b)
pragmaacutetica eacute o estudo do significado contextual (isto eacute leva em conta o modo como
os falantes organizam seus enunciados aquilo que eles querem dizer de acordo com
os seguintes fatores a quem vatildeo dizer como vatildeo dizer onde e quando vatildeo dizer e
sob que circunstacircncias) c) pragmaacutetica eacute o estudo do como se diz aleacutem daquilo que eacute
33
dito (isto eacute o estudo do significado subjacente do natildeo dito d) pragmaacutetica eacute o
estudo da expressatildeo da proximidadedistanciamento relativo (isto eacute de acordo com
o tipo de proximidade fiacutesica social ou conceitual em relaccedilatildeo aos ouvintes os
falantes determinam como e quanto precisam dizer) (WILSON 2008 p 89)
A discussatildeo sobre as definiccedilotildees de pragmaacutetica e semacircntica e suas distinccedilotildees vem
desde o iniacutecio do seacuteculo XX e muitos autores contribuiacuteram para a evoluccedilatildeo desses conceitos
Em vista desta histoacuterica discussatildeo apresentaremos os conceitos de Charles Morris e Rudolf
Carnap para estas disciplinas linguiacutesticas
Segundo a definiccedilatildeo de Charles Morris (1938) pragmaacutetica eacute o estudo da ―relaccedilatildeo dos
signos com seus inteacuterpretes Jaacute para Rudolf Carnap (1938) a pragmaacutetica eacute o estudo da
linguagem em relaccedilatildeo aos seus falantes Diante dos conceitos de semacircntica e pragmaacutetica que
apresentamos e da distinccedilatildeo entre as linhas de estudos linguiacutesticos Marcondes (2000) afirma
que ―tanto a definiccedilatildeo de Morris quanto a de Carnap fazem parte da jaacute consagrada distinccedilatildeo
geral do campo de estudos da linguagem entre pragmaacutetica que considera a linguagem em
seu uso concreto e semacircntica que examina os signos linguiacutesticos em sua relaccedilatildeo com os
objetos que designam ou a quem se refere Os nexos semacircnticos estatildeo inseridos no campo da
semacircntica e voltaremos a este ponto no final do capiacutetulo
Sobre as relaccedilotildees semacircnticas haacute diversas perspectivas nos estudos linguiacutesticos A
forma como combinamos as palavras e nossa tendecircncia em buscar um conceito fixo de um
termo satildeo complicaccedilotildees que podem dificultar o uso da liacutengua O significado linguiacutestico das
liacutenguas naturais segundo Basso (2009) possibilita nexos semacircnticos entre sentenccedilas E
ainda sobre o significado Basso propotildee
Quando perguntamos o significado de alguma palavra muitas vezes buscamos
aquele modelo significativo presente nos dicionaacuterios Poreacutem natildeo haacute no dicionaacuterio
maneiras preacute-estabelecidas de como uma palavra pode se combinar com outra em
busca da trama de significados dos nexos que favorecem infinitas interpretaccedilotildees
Essas combinaccedilotildees satildeo decorrentes do proacuteprio uso da liacutengua pelos seus falantes
mas natildeo estatildeo nem presentes nos dicionaacuterios nem tampouco algueacutem nos ensina satildeo
conhecimentos impliacutecitos Uma aacuterea da linguiacutestica moderna defende que o nosso
conhecimento semacircntico e um dote geneacutetico portanto os possiacuteveis nexos
semacircnticos satildeo decorrentes de uma capacidade inata de combinaccedilatildeo de palavras e
sentenccedilas parte do conhecimento semacircntico impliacutecito ou competecircncia semacircntica
(BASSO 2009 p 25)
Os nexos semacircnticos satildeo caracterizados na literatura da semacircntica como grupos de
relaccedilotildees de inferecircncia muito estaacuteveis direcionaacuteveis e fortemente dependentes do material
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linguiacutestico dos enunciados (SANTOS 2012) Essas relaccedilotildees diferem de perspectivas de
inferecircncias como a pressuposiccedilatildeo e a implicatura que dialogam diretamente com o natildeo-dito
Para contrastar os nexos com esses outros tipos de relaccedilatildeo vamos observar os exemplos a
seguir
(1) Carlos parou de beber refrigerante
(2) A tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio
Seguindo a mesma linha de exposiccedilatildeo de Moura (1999 p 12) a partir das duas
sentenccedilas acima observamos dois niacuteveis nas informaccedilotildees veiculadas No primeiro niacutevel
temos contato com o sentido literal das palavras Dessa forma em (1) temos a informaccedilatildeo de
Carlos natildeo toma mais refrigerantes e em (2) que Maacuterio escreveu uma tese sobre bolhas de
sabatildeo No segundo niacutevel atraveacutes da enunciaccedilatildeo das sentenccedilas somos levados a considerar
informaccedilotildees que natildeo estatildeo afirmadas literalmente nas sentenccedilas Dessa forma a partir de (1)
podemos inferir que Carlos bebia refrigerantes antes e em (2) que uma tese sobre bolhas de
sabatildeo jaacute foi escrita Ducrot (1987) denomina de conteuacutedo posto o primeiro niacutevel que
consiste no conteuacutedo literal das sentenccedilas e de conteuacutedo pressuposto ou pressuposiccedilatildeo o
segundo niacutevel que abarca as inferecircncias que podemos fazer a partir da enunciaccedilatildeo das
sentenccedilas Devemos entender que o conteuacutedo posto depende do conteuacutedo pressuposto pois a
aceitaccedilatildeo do primeiro leva a aceitaccedilatildeo do segundo Para que possamos aceitar a verdade do
posto (1) que diz que Carlos parou de beber refrigerante temos que aceitar a verdade
pressuposta de que Carlos jaacute tinha bebido refrigerante antes
Outra relaccedilatildeo semacircntica que dialoga diretamente com o natildeo-dito eacute a implicatura
Grice (1987) propotildee dois tipos de implicaturas as implicaturas convencionais que natildeo satildeo
sujeitas a condiccedilotildees de verdade e as implicaturas conversacionais que natildeo dependem
diretamente da significaccedilatildeo usual das palavras sendo determinadas por certos princiacutepios
baacutesicos do ato comunicativo
As implicaturas convencionais satildeo inferecircncias natildeo sujeitas a condiccedilotildees de verdade
natildeo satildeo derivadas de princiacutepios pragmaacuteticos mais gerais como as maacuteximas conversacionais
mas satildeo simplesmente ligadas pela convenccedilatildeo a itens ou expressotildees lexicais especiacuteficos
Levinson (2007) toma a implicatura conversacional como uma das ideias mais
importantes da pragmaacutetica e vamos considerar neste trabalho apenas as implicaturas do tipo
conversacional de forma que quando mencionarmos o termo implicatura devemos entender
que estamos falando das implicaturas conversacionais e natildeo das convencionais
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Para exemplificar uma implicatura vamos supor uma situaccedilatildeo entre dois amigos em
que ao dialogar sobre as uacuteltimas defesas de teses e dissertaccedilotildees do departamento de poacutes-
graduaccedilatildeo deparam-se com a notiacutecia de que um de seus colegas escreveu uma tese sobre um
tema muito irrelevante e nada original Diante desta situaccedilatildeo um amigo disse para o outro ―A
tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio A partir da situaccedilatildeo em que os dois amigos
estavam imersos nesse contexto e da sentenccedila utilizada por um dos amigos podemos inferir
que foi Maacuterio quem escreveu uma tese sobre um tema irrelevante Podemos perceber neste
exemplo que como descrito nas definiccedilotildees que trouxemos anteriormente a implicatura por
ser uma relaccedilatildeo puramente pragmaacutetica utiliza-se do natildeo-dito e de situaccedilotildees convencionadas
entre falantes para poder existir
Dessa forma podemos retomar o que foi exposto nos paraacutegrafos anteriores afirmando
que os nexos semacircnticos as pressuposiccedilotildees e as implicaturas satildeo inferecircncias de significado
sendo que os nexos estatildeo no campo da semacircntica e as pressuposiccedilotildees e implicaturas estatildeo no
campo da pragmaacutetica
A partir deste ponto iremos descrever os nexos semacircnticos com exemplos mostrando
como essas relaccedilotildees funcionam e tambeacutem casos em que a interpretaccedilatildeo natildeo acontece da
maneira esperada Em relaccedilatildeo aos casos em que a interpretaccedilatildeo eacute prejudicada trataremos de
casos relacionados com a ambiguidade lexical mais especificamente com vagueza e casos
relacionados com a polissemia (desconsiderando seus limites com a homoniacutemia)
21 ACARRETAMENTO
Em linhas gerais o acarretamento ocorre quando a verdade de um conjunto de
sentenccedilas1 que nomearemos de A garante a verdade de outra sentenccedila que nomearemos de
B Dessa forma a verdade da primeira sentenccedila ou do conjunto delas autoriza a verdade de B
(CHIERCHIA 2003) O acarretamento eacute uma inferecircncia que os falantes estatildeo autorizados a
fazer e o que os autoriza eacute o conhecimento linguiacutestico Vamos observar o exemplo a seguir
1 Em nosso trabalho utilizaremos os termo ldquosentenccedilardquo e ldquoproposiccedilatildeordquo intercambiavelmente Alguns autores
definem os dois termos de formas distintas Por exemplo na semacircntica contemporacircnea de mundos possiacuteveis desenvolvida por autores como por exemplo Kripke e Lewis define-se proposiccedilatildeo como a classe de todos os mundos possiacuteveis nas quais ela eacute verdadeira Murcho (2006) apresenta dois exemplos para distinguir proposiccedilotildees e sentenccedilas ldquoSoacutecrates era um filoacutesofordquo e ldquoSocrates was a philosopherrdquo Murcho afirma que os dois exemplos satildeo duas sentenccedilas que exprimem uma uacutenica proposiccedilatildeo Outros como Mortari (2001) natildeo distinguem proposiccedilotildees e sentenccedilas
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(3) alsquo Neymar eacute brasileiro
a Neymar eacute um jogador de futebol
b Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro
Podemos observar no exemplo acima que a sentenccedila (3b) tem a sua verdade garantida
pela verdade de (3alsquo) e (3a) Sendo assim (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Podemos observar
no exemplo que o acarretamento eacute bastante claro pois as informaccedilotildees que estatildeo presentes em
(3b) satildeo a soma das informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) Eacute interessante destacar
que para que a sentenccedila (3b) constitua um acarretamento de (3alsquo) e (3a) natildeo precisamos
conhecer a pessoa Neymar nem sua nacionalidade eou profissatildeo Como as informaccedilotildees
estatildeo postas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) a verdade de (3b) eacute inevitaacutevel Mesmo que no mundo
real Neymar natildeo fosse jogador de futebol e natildeo fosse brasileiro isso em nada modificaria o
acarretamento pois dentro da relaccedilatildeo estabelecida entre (3alsquo) (3a) e (3b) as informaccedilotildees
contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Vejamos o exemplo a seguir
(4) alsquo Todos os sacis tecircm apenas uma perna
a Denis Diderot eacute um saci
b Denis Diderot tem apenas uma perna
Observando o exemplo acima identificamos que em relaccedilatildeo ao conhecimento de
mundo a sentenccedila (4alsquo) eacute verdadeira jaacute que no folclore admitimos como uma caracteriacutestica
dos sacis ter apenas uma perna A sentenccedila (4a) eacute falsa pois Denis Diderot foi um filoacutesofo e
escritor francecircs e natildeo um saci Por fim a sentenccedila (4b) tambeacutem eacute falsa em relaccedilatildeo ao nosso
conhecimento de mundo pois Denis Diderot possuiu durante toda a sua vida as duas pernas
Podemos entatildeo admitir que as sentenccedilas do conjunto (4) em relaccedilatildeo ao nosso conhecimento
de mundo satildeo falsas Mesmo assim o conjunto eacute um acarretamento Diferente do exemplo
(3) em que trouxemos sentenccedilas que constituiacuteam um acarretamento com informaccedilotildees
verdadeiras em relaccedilatildeo ao mundo o exemplo (4) mostra que a relaccedilatildeo semacircntica que estamos
discutindo independe da verdade das informaccedilotildees das sentenccedilas no mundo O que o
acarretamento faz eacute concatenar as sentenccedilas de uma forma que se as premissas forem
verdadeiras a conclusatildeo tambeacutem seraacute verdadeira O acarretamento depende exclusivamente
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da forma em que as sentenccedilas se apresentam Tendo em vista que a relaccedilatildeo depende apenas
da forma podemos representar o acarretamento da seguinte maneira como propotildee Soares
(2003)
Em liacutengua natural
Se estudar entatildeo serei aprovado (1ordf premissa)
Ora estudei (2ordf premissa)
Logo fui aprovado (Conclusatildeo)
E simbolizando2
a rarr b (1ordf premissa)
a (2ordf premissa)
b (Conclusatildeo)
Vale ressaltar que ao utilizarmos o termo ―sentenccedila estamos nos referindo ao que os
gramaacuteticos costumam chamar de oraccedilatildeo Tambeacutem eacute interessante mencionar que o
acarretamento eacute chamado de consequecircncia semacircntica Iremos utilizar como representaccedilatildeo das
premissas sentenccedilas do tipo (Xalsquo) e (Xa) e para a conclusatildeo sentenccedilas do tipo (Xb)
Podemos entender que o acarretamento eacute um tipo de relaccedilatildeo estabelecida entre
premissas e a consequecircncia de forma que a verdade das premissas determina a verdade da
consequecircncia Tambeacutem devemos entender que natildeo eacute possiacutevel que as premissas sejam
verdadeiras junto da negaccedilatildeo da conclusatildeo pelo fato de que dessa forma estaria
descaracterizada a relaccedilatildeo de acarretamento
Como ressaltamos acima os acarretamentos satildeo dependentes da forma ou seja da
relaccedilatildeo que as sentenccedilas possuem entre si e natildeo da verdade ou falsidade no mundo das
informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas Diante disso traremos agrave tona exemplos de sentenccedilas que
2 O siacutembolo ldquorarrrdquo na loacutegica claacutessica representa um condicional assunto de que trataremos no terceiro capiacutetulo
deste trabalho e o siacutembolo ldquordquo representa um acarretamento
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natildeo possuem relaccedilatildeo semacircntica mas atraveacutes da verdade ou falsidade das informaccedilotildees nas
sentenccedilas podem nos confundir e nos induzir ao erro Para tal raciociacutenio errocircneo damos o
nome de falaacutecias
Soares (2003) distingue trecircs caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias (i) satildeo
argumentos parecidos com argumentos vaacutelidos (ii) estabelecem entre premissas e conclusotildees
uma relevacircncia puramente psicoloacutegica que tatildeo-soacute se dirige agraves emoccedilotildees da pessoa sem que as
premissas sejam logicamente relevantes para extrair a conclusatildeo (iii) apresentam-se com
intenccedilatildeo enganadora para que o argumento ainda que invaacutelido seja de todas as maneiras
aceito por todos Vejamos a seguir exemplos de falaacutecias
(5) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher
a Dilma Rousseff eacute mulher
b Dilma Rousseff eacute a presidente do Brasil
A partir do nosso conhecimento de mundo poderiacuteamos dizer que a sentenccedila (5b) eacute
verdadeira Na sentenccedila (5alsquo) temos que A presidente do Brasil eacute mulher De fato tambeacutem se
formos utilizar nosso conhecimento de mundo intuitivamente diremos que esta sentenccedila estaacute
correta considerando a eacutepoca em que este trabalho foi escrito Seguindo temos a sentenccedila
(5a) com a informaccedilatildeo Dilma Rousseff eacute mulher Assim como as sentenccedilas (5alsquo) e (5a) a
partir de nosso conhecimento de mundo podemos afirmar que esta sentenccedila tambeacutem eacute
verdadeira mas devemos entender que eacute preciso considerar a relaccedilatildeo que as sentenccedilas
estabelecem entre si A sentenccedila (5alsquo) natildeo estabelece nenhuma relaccedilatildeo com a sentenccedila (5a)
para que (5b) seja um acarretamento Para mostrar de forma mais clara que o exemplo (5) natildeo
eacute um acarretamento vamos comparaacute-lo com o exemplo a seguir
(6) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher
a Michelle Bachelet eacute mulher
b Michelle Bachelet eacute a presidente do Brasil
Observamos que (6alsquo) e (6a) satildeo verdadeiras (no momento da redaccedilatildeo deste
trabalho) mas (6b) nos parece estranho Sabemos que Michelle Bachelet atualmente eacute
presidente do Chile Mas nada disso interfere para caracterizar um acarretamento e o exemplo
acima foi para deixar claro que a partir das relaccedilotildees semacircnticas dispostas entre os grupos de
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sentenccedilas (5) e (6) natildeo podemos considerar que haacute acarretamento pelo fato acima
mencionado
Ateacute o momento tratamos do conceito de acarretamento seguido de exemplos em
liacutengua natural sua representaccedilatildeo na loacutegica claacutessica e exemplos de falaacutecias A partir deste
ponto trataremos dos fatores que interferem nas relaccedilotildees semacircnticas de uma forma diferente
das falaacutecias A compreensatildeo dos tipos de interferecircncias a seguir seraacute importante para a anaacutelise
do corpus deste trabalho pois se trata de interferecircncias lexicais
No exemplo a seguir trataremos de um problema que pode invalidar relaccedilotildees
semacircnticas a polissemia Quando um termo adquire mais de um sentido aleacutem daquele que eacute
originalmente atribuiacutevel temos um caso de polissemia Crystal (1985) conceitua polissemia
da seguinte maneira
Polissemia termo usado na anaacutelise semacircntica para caracterizar um item lexical com
uma variedade de significaccedilotildees diferentes como manga = ―parte da camisa ―parte
do abajur etc Uma grande parte do vocabulaacuterio da liacutengua eacute polissecircmica ()
(Crystal 1985 p 202)
Tendo em vista que a polissemia eacute uma caracteriacutestica de um item lexical que possui
diversos significados para diversos contextos vamos observar o exemplo a seguir
(7) a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito
b Joatildeo morreu
A sentenccedila (7a) pode ser interpretada pelo menos de duas formas distintas pelo fato da
expressatildeo ―perdeu a cabeccedila ser polissecircmica Se interpretarmos a sentenccedila (7a) considerando
―perder a cabeccedila como ter a cabeccedila desprendida do corpo haacute acarretamento de (7a) para
(7b) Mas esta natildeo eacute a uacutenica interpretaccedilatildeo possiacutevel para a expressatildeo em questatildeo Se
interpretarmos ―perder a cabeccedila como perder a paciecircncia ficar furioso estressado ou algo
parecido a sentenccedila (7a) natildeo acarreta (7b) numa mesma situaccedilatildeo pois o fato de Joatildeo ter
perdido a paciecircncia natildeo garante que ele venha a morrer Dessa forma para natildeo ter problemas
com a polissemia eacute preciso assegurar que se convencione um sentido uacutenico para cada
premissa para desta forma haver um acarretamento
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Outro aspecto que eacute preciso ser mencionado eacute que (7) do jeito que se apresenta natildeo eacute
um acarretamento mesmo que perder a cabeccedila tenha o sentido de ter a cabeccedila desprendida do
corpo Isso se daacute porque (7) eacute um acarretamento incompleto ou seja um entimema
Argumento com uma premissa natildeo-formulada sem a qual ele natildeo eacute vaacutelido Chama-
se muitas vezes de premissa impliacutecitalsquo agrave premissa natildeo formulada Na argumentaccedilatildeo
cotidiana omitem-se premissas oacutebvias A premissa impliacutecita do argumento Antocircnio
deveria ser despedido porque roubou dinheiro puacuteblicolsquo eacute Todas as pessoas que
roubam dinheiro puacuteblico devem ser despedidaslsquo (BRANQUINHO MURCHO
GOMES 2006 p 298)
Vamos observar o exemplo (7) de uma forma que o entimema seria evitado
(8) alsquo Todas as pessoas que perdem a cabeccedila morrem
a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito
b Joatildeo morreu
Podemos constatar no exemplo acima que ao incluirmos a sentenccedila (8alsquo) que eacute a
sentenccedila geral que estava impliacutecita no exemplo (7) resolvemos o problema do entimema
completando assim a relaccedilatildeo de acarretamento de (8alsquo) e (8a) para (8b)
A partir de agora vamos tratar de outro tipo de interferecircncia em relaccedilotildees sentencias
que estaacute tambeacutem no campo do leacutexico a vagueza
A vagueza eacute assim como a polissemia um tipo de ocorrecircncia que dificulta a
interpretaccedilatildeo dos nexos entre sentenccedilas Podemos considerar que haacute vagueza em uma
sentenccedila quando observamos que uma palavra ou expressatildeo causa sentido incompleto
impedindo o entendimento da sentenccedila como um todo Branquinho Murcho e Gomes
conceituam a vagueza de seguinte maneira
As liacutenguas naturais contecircm palavras (tipicamente predicados denotando
propriedades ou relaccedilotildees) cujo domiacutenio de aplicaccedilatildeo eacute parcialmente indeterminado
isto eacute em relaccedilatildeo agraves quais os falantes competentes natildeo estatildeo certos em todos os
casos de que determinado objeto (ou par ordenado de objetos) pertence ao conjunto
denotado por elas (ou agrave relaccedilatildeo) (BRANQUINHO MURCHO GOMES 2006 p
805)
De uma forma geral Allan (2010) caracteriza a vagueza como um tipo particular de
incerteza sobre a aplicaccedilatildeo de um predicado Podemos considerar como um exemplo padratildeo
de predicado vago a classe de adjetivos graduaacuteveis como altura Se uma determinada pessoa
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natildeo eacute suficientemente alta para ser claramente alta e natildeo eacute suficiente baixa para ser
claramente baixa entatildeo aiacute temos um caso de vagueza
Os adjetivos vagos satildeo sempre utilizados em relaccedilatildeo a uma classe de comparaccedilatildeo no
dia-a-dia Estar acima do peso por exemplo pode variar a partir do grau de comparaccedilatildeo Para
uma top model estar acima do peso eacute visto de forma diferente do que para um lutador de
sumocirc por exemplo
Ainda em relaccedilatildeo ao conceito de vagueza Kempson (1977) propotildee que existem
quatro tipos inter-relacionaacuteveis de vagueza vagueza referencial indeterminaccedilatildeo de
significado falta de especificaccedilatildeo no significado de um item disjunccedilatildeo na especificaccedilatildeo do
significado de um item em que o significado abarca uma ou qualquer declaraccedilatildeo de diversas
possibilidades de interpretaccedilatildeo Dentre estes quatro tipos propostos por Kempson iremos nos
dedicar a observar os casos relacionados agrave vagueza referencial Tendo em vista os conceitos
acima vamos observar um exemplo em que a vagueza pode prejudicar a interpretaccedilatildeo de um
acarretamento
(9) a Tobias eacute um gecircnio no xadrez
b Tobias eacute um bom jogador de xadrez
No exemplo acima podemos observar os termos vagos ―gecircnio na sentenccedila (9a) e
―bom na sentenccedila (9b) Para haver a relaccedilatildeo de acarretamento temos que admitir para (9a) e
(9b) o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe Por exemplo haacute acarretamento entre as
sentenccedilas (9a) e (9b) se Tobias for um garoto de oito anos e diante seus colegas da escola ele
se destacar como um exiacutemio conhecedor das regras e teacutecnicas do jogo de xadrez Dessa
forma a sentenccedila ―Tobias eacute um gecircnio no xadrez acarretaria que ―Tobias eacute um bom jogador
de xadrez Jaacute se natildeo utilizarmos o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas
(9a) e (9b) como por exemplo se em (9a) Tobias for um garoto de oito anos que diante de
seus colegas da escola se destaca como um exiacutemio jogador de xadrez mas comparando-o
com os competidores da categoria secircnior do campeonato mundial de xadrez e a partir disso
afirmando (9b) natildeo poderiacuteamos acarretar que Tobias eacute um bom jogador de xadrez Dessa
forma pudemos observar que a presenccedila de termos vagos em sentenccedilas dificulta a
interpretaccedilatildeo dos acarretamentos A seguir observaremos outros nexos que se relacionam com
o acarretamento
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22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA
Como discutimos anteriormente o acarretamento eacute uma relaccedilatildeo semacircntica que ocorre
em um uacutenico sentido ou seja das premissas para a conclusatildeo Quando uma conclusatildeo
acarreta as premissas chamamos essa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica
Para o termo ―equivalecircncia haacute diversas definiccedilotildees Segundo Branquinho Murcho e
Gomes (2006 p 281) podemos identificar dois sentidos distintos para este termo o primeiro
se refere ao que tratamos neste trabalho ou seja faz referecircncia a relaccedilatildeo entre as sentenccedilas de
certa liacutengua o segundo trata de determinados tipos de sentenccedilas declarativas agraves frases
bicondicionais ou declarativas Dentro desses dois sentidos diversos para o termo
―equivalecircncia no primeiro que eacute o que mais nos interessa os autores ainda distinguem trecircs
variedades centrais de equivalecircncia Satildeo elas equivalecircncia material equivalecircncia estrita e
equivalecircncia loacutegica
A equivalecircncia material eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q (por
exemplo) exatamente quando p e q possuem o mesmo valor de verdade ou seja quando ou
satildeo as duas verdadeiras juntas ou satildeo as duas falsas juntas
A equivalecircncia estrita eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q no caso em
que eacute necessaacuterio que p seja materialmente equivalente a q ou no caso de ser impossiacutevel tanto
que p seja verdadeira e q seja falsa quanto que p seja falsa e q seja verdadeira Branquinho
Murcho e Gomes (2006 p 281) afirmam que nesse caso diz-se que p eacute estritamente
equivalente a q
A equivalecircncia loacutegica eacute uma relaccedilatildeo que se estabelece entre duas sentenccedilas p e q
exatamente no caso de p e q serem duas sentenccedilas mutuamente dedutiacuteveis num dado sistema
loacutegico Diz-se nesse caso que p eacute logicamente equivalente a q
Em nosso trabalho iremos considerar para ―equivalecircncia o sentido apresentado por
Branquinho Murcho e Gomes (2006) para equivalecircncia material A partir deste conceito
vamos observar o exemplo a seguir
(10) a O gato matou o rato
b O rato foi morto pelo gato
Nas sentenccedilas acima podemos identificar uma relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica Eacute
impossiacutevel que o gato tenha matado o rato e que o rato natildeo tenha sido morto Claro que se
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considerarmos que estamos tratando sobre o mesmo gato e o mesmo rato Dessa forma
sempre que (10a) for verdadeira (10b) tambeacutem teraacute de ser Tambeacutem podemos observar uma
relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica no exemplo (3) Utilizamos o exemplo (3) para mostrar
uma relaccedilatildeo de acarretamento que eacute efetiva mas tambeacutem haacute a relaccedilatildeo de equivalecircncia pois
as premissas ―Neymar eacute brasileiro e ―Neymar eacute um jogador de futebol acarretam que
―Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro da mesma forma que esta uacuteltima sentenccedila
acarreta as duas anteriores Tal exemplo reafirma o conceito descrito acima de que uma
equivalecircncia semacircntica eacute um acarretamento duplo
Assim como acontece no acarretamento a equivalecircncia semacircntica tem problemas com
a polissemia Vamos observar exemplo a seguir
(11) a O Brasil ganhou o jogo contra o Chile
b O Chile perdeu o jogo contra o Brasil
No exemplo acima vemos que a sentenccedila (11a) acarreta a sentenccedila (11b) ao mesmo
tempo em que a sentenccedila (11b) acarreta a sentenccedila (11a) Natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (11a)
seja verdadeira ao mesmo tempo em que a (11b) seja falsa Se uma das sentenccedilas eacute falsa e a
outra eacute verdadeira natildeo haacute acarretamento em nenhum dos dois ―sentidos (em relaccedilatildeo agrave
direccedilatildeo de (11a) para (11b) e de (11b) para (11a)) Natildeo podemos considerar que o Brasil
ganhou o jogo contra o Chile e que o Chile ganhou o jogo contra o Brasil pois sabemos que
em uma partida de futebol haacute apenas um ganhador Haacute a possibilidade de algueacutem querer ir
mais aleacutem e inferir que eacute possiacutevel que os dois times ganharam mas em jogos diferentes Se
considerarmos a situaccedilatildeo de que o Chile jaacute ganhou outros jogos contra o Brasil assim como
que o Brasil jaacute ganhou outros jogos contra o Chile a relaccedilatildeo de equivalecircncia seria possiacutevel
escolhendo qualquer outro jogo como referecircncia mas natildeo eacute o que nos interessa pois
devemos considerar apenas uma situaccedilatildeo para as duas sentenccedilas
A partir deste ponto iremos tratar sobre como a polissemia pode interferir na
interpretaccedilatildeo numa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica da mesma forma que mostramos
anteriormente nas relaccedilotildees de acarretamento Vejamos o proacuteximo exemplo
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(12) a A lagosta estaacute mais salgada que o peixe
b O peixe estaacute menos salgado que a lagosta
Podemos observar que as sentenccedilas (12a) e (12b) satildeo equivalentes pelo fato de que
natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12a) seja verdadeira e a sentenccedila (12b) seja falsa assim como
natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12b) seja verdadeira e a sentenccedila (12a) seja falsa Poreacutem se
passarmos a admitir significados diferentes para expressotildees empregadas nas sentenccedilas por
exemplo para a palavra ―salgado encontraremos problemas Se admitirmos que sentenccedila
(12a) o conceito de ―salgado eacute de o alimento estar impregnado de sal salpicado de sal ou
com gosto de sal e se este conceito for tambeacutem considerado para a sentenccedila (12b) haacute
equivalecircncia semacircntica Mas tambeacutem podemos interpretar o termo ―salgado como uma
expressatildeo para se referir ao preccedilo alto do produto no mercado Soacute haacute equivalecircncia semacircntica
se admitirmos o mesmo conceito para ―salgado em ambas as sentenccedilas ou seja se
considerarmos o significado de ―salgado como sendo impregnado de sal para a sentenccedila
(12a) ou em (12b) como sendo relativo ao valor alto no mercado natildeo haacute equivalecircncia
semacircntica entre (12a) e (12b)
No proacuteximo exemplo trataremos de outro tipo de ocorrecircncia que dificulta a
interpretaccedilatildeo de nexos a vagueza Como jaacute apresentamos a definiccedilatildeo de vagueza na seccedilatildeo
anterior partiremos direto para o exemplo em que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo de uma
equivalecircncia semacircntica
(13) a Goacutergias eacute mais saacutebio que Hiacutepias
b Hiacutepias eacute menos saacutebio que Goacutergias
Na relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) haacute equivalecircncia semacircntica mas podemos identificar
que nas duas sentenccedilas foram utilizados termos vagos que tornam a interpretaccedilatildeo dificultosa
Em (13a) haacute o uso dos termos ―mais e ―saacutebio assim como em (13b) haacute o uso dos termos
―menos e ―saacutebio Esses termos satildeo vagos e dificultam a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo semacircntica
entre as sentenccedilas O que dificulta a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) eacute o fato de
que termos como ―mais e ―menos assim como ―saacutebio possuem significados diferentes de
acordo com as situaccedilotildees em que satildeo utilizadas Ou seja eacute necessaacuterio que admitamos o
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mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas (13a) e (13b) Dessa forma haveraacute a
relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica
A seguir trataremos sobre outro tipo de relaccedilatildeo semacircntica entre sentenccedilas a
contraditoriedade
23 CONTRADITORIEDADE
Diferente da relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica que consiste em sentenccedilas que satildeo
verdadeiras juntas ou falsas juntas as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias quando uma eacute oposta da
outra tipicamente quando uma sentenccedila B eacute a negaccedilatildeo de uma sentenccedila A Sobre a relaccedilatildeo de
contraditoriedade Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 229) afirmam que ―obteacutem-se a
contraditoacuteria de qualquer proposiccedilatildeo p prefixando-lhe o operador de negaccedilatildeo de modo a
obter notp3 Com base no conceito de contraditoriedade exposto vamos observar o exemplo a
seguir
(14) a O Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016
b O Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016
Podemos observar no exemplo acima que se a sentenccedila (14a) for verdadeira
obrigatoriamente a sentenccedila (14b) tem que ser falsa Se a informaccedilatildeo da sentenccedila (14a) que
diz que o Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas for verdadeira a informaccedilatildeo da sentenccedila
(14b) que diz que o Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas natildeo pode ser verdadeira
Em relaccedilotildees de contraditoriedade o uso de uma afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo eacute algo
tiacutepico mas natildeo determinante No exemplo (14) pudemos observar a relaccedilatildeo de
contraditoriedade caracterizada pelo uso da negaccedilatildeo mas tambeacutem podemos encontrar esse
tipo de relaccedilatildeo sem tal uso Vejamos a seguir
3 O siacutembolo not na loacutegica claacutessica eacute a representaccedilatildeo do operador de negaccedilatildeo ldquonatildeordquo
46
(15) a Mecircnon estaacute acordado
b Mecircnon estaacute dormindo
A partir das sentenccedilas acima podemos ver que a relaccedilatildeo entre estas sentenccedilas eacute de
contraditoriedade pois se a sentenccedila (15a) for verdadeira a sentenccedila (15b) tem que ser falsa
da mesma forma que se a sentenccedila (15b) for verdadeira a sentenccedila (15a) deveraacute ser falsa
Natildeo eacute possiacutevel que Mecircnon esteja acordado e dormindo ao mesmo tempo claro que
considerando o mesmo sentido para as palavras ―acordado e ―dormindo nas duas sentenccedilas
e em relaccedilatildeo ao mesmo Mecircnon
Assim como as demais relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos anteriormente a
contraditoriedade tambeacutem eacute sensiacutevel agrave polissemia Vamos observar como a polissemia se
apresenta no exemplo a seguir
(14) a A minha gata estaacute acordada
b A minha gata estaacute dormindo
No exemplo acima natildeo encontramos apenas a relaccedilatildeo de contraditoriedade sem
utilizaccedilatildeo da negaccedilatildeo mas tambeacutem um problema de polissemia que pode anular a relaccedilatildeo de
contraditoriedade Se numa determinada situaccedilatildeo escrevendo este texto me viro na cadeira e
vejo em cima de minha cama o meu animal de estimaccedilatildeo deitado olhando para mim e com
isso afirmo ―a minha gata estaacute acordada como na sentenccedila (14a) natildeo posso considerar
verdadeira a sentenccedila (14b) pois natildeo se pode estar dormindo e estar acordado ao mesmo
tempo tomando as definiccedilotildees de ―estar acordado e ―estar dormindo como oposiccedilotildees A
partir disso as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias Se em outra situaccedilatildeo me viro na cadeira e vejo
minha esposa deitada na cama dormindo e afirmo ―a minha gata estaacute dormindo como na
sentenccedila (14b) ela natildeo pode ser verdadeira ao mesmo tempo em que a sentenccedila (14a) pois
minha esposa natildeo poderia estar acordada e dormindo ao mesmo tempo Ateacute o momento
pudemos atribuir dois sentidos diferentes para o termo ―gata Se considerarmos para a
sentenccedila (14a) o sentido de que o meu animal de estimaccedilatildeo estaacute acordado e para a sentenccedila
(14b) o sentido de que a minha esposa estaacute dormindo essas sentenccedilas natildeo satildeo contraditoacuterias
No exemplo acima percebemos portanto dois aspectos da contradiccedilatildeo em sentenccedilas de uma
liacutengua natural como o portuguecircs Primeiro que natildeo haacute a obrigatoriedade de ter a negaccedilatildeo de
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uma sentenccedila para que a relaccedilatildeo de contraditoriedade exista e segundo que a polissemia
pode tornar problemaacutetica essa relaccedilatildeo
Podemos considerar uma relaccedilatildeo de contraditoriedade entre sentenccedilas sempre que A eacute
verdadeira B eacute falsa e sempre que a sentenccedila B eacute verdadeira A eacute falsa Ou seja as sentenccedilas
A e B nunca podem ser verdadeiras ou falsas juntas
O exemplo de contraditoriedade que mostramos anteriormente foi relacionando duas
sentenccedilas mas podemos encontrar a relaccedilatildeo de contraditoriedade dentro de uma sentenccedila
apenas Vamos observar o exemplo a seguir
(15) Herbert Vianna eacute cantor e natildeo eacute cantor
Se afirmamos que uma pessoa eacute e natildeo eacute cantora constatamos uma contraditoriedade
nesta sentenccedila Em (15) encontramos a apresentaccedilatildeo de um argumento e a negaccedilatildeo do mesmo
argumento em seguida Uma sentenccedila com esta forma natildeo pode ser verdadeira Se
consideramos numa mesma situaccedilatildeo que Herbert Vianna eacute cantor e em seguida afirmo que
Herbert Vianna natildeo eacute cantor esta sentenccedila eacute contraditoacuteria
Se partirmos para determinar sentidos diferentes para o termo ―cantor como por
exemplo que Herbert Vianna eacute um cantor pelo simples fato de que ele emite pelas cordas
vocais sons musicais que ―cantor eacute um termo que soacute pode ser utilizado para os profissionais
que trabalham com a voz na muacutesica ou que ―cantor se jaacute um termo utilizado para designar
algueacutem que canta muito bem natildeo haacute contraditoriedade efetivamente Mas se mantivermos o
mesmo sentido para o termo haveraacute relaccedilatildeo de contraditoriedade
Da mesma forma que a polissemia dificulta a interpretaccedilatildeo de nexos entre sentenccedilas
vamos observar um exemplo em que a vagueza ndash toacutepico que desenvolvemos na primeira
seccedilatildeo deste capiacutetulo - invalida uma relaccedilatildeo de contraditoriedade
(16) a O professor de loacutegica eacute muito alto
b O professor de loacutegica natildeo eacute muito alto
Na relaccedilatildeo entre (16a) e (16b) seguindo o conceito contraditoriedade haacute uma relaccedilatildeo
de contradiccedilatildeo entre as duas sentenccedilas poreacutem podemos identificar termos vagos nas duas
sentenccedilas o que pode dificultar a interpretaccedilatildeo Na sentenccedila (16a) e na sentenccedila (16b)
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identificamos dois termos vagos que satildeo ―muito e ―alto Eacute possiacutevel considerar as duas
sentenccedilas como falsas ou verdadeiras juntas invalidando a contraditoriedade pois os termos
―muito e ―alto satildeo variaacuteveis de acordo com o grau de comparaccedilatildeo adotado Por exemplo
em (16a) o professor de loacutegica pode ser considerado muito alto em comparaccedilatildeo agraves crianccedilas
para quem ele leciona poreacutem se compararmos o professor de loacutegica da sentenccedila (16a) com os
outros professores do departamento talvez o professor fosse considerado baixo Desta forma
podemos observar que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo das duas sentenccedilas
A seguir traremos o uacuteltimo nexo semacircntico que utilizaremos em nosso trabalho Este
tipo de relaccedilatildeo eacute um pouco parecido com a contraditoriedade
24 CONTRARIEDADE
A contrariedade ocorre quando duas sentenccedilas podem ser falsas juntas mas natildeo
podem ser verdadeiras juntas Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 234) definem
contrariedade da seguinte forma ―duas proposiccedilotildees satildeo contraacuterias se natildeo podem ser ambas
verdadeiras mas podem ser ambas falsas distinguindo-se assim das contraditoacuterias que natildeo
podem ser ambas verdadeiras nem ambas falsas e das subcontraacuterias que natildeo podem ser
ambas falsas mas podem ser ambas verdadeiras
Eacute importante enfatizar que mesmo estando tratanto dos nexos semacircnticos e sua
aplicaccedilatildeo em liacutengua natural os conceitos de sentenccedilas contraacuterias contraditoacuterias
equivalecircncias e acarretamentos tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica As relaccedilotildees de sentenccedilas
contraacuterias e contraditoacuterias satildeo tratadas por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado
atraveacutes de seu quadrado loacutegico ou taacutebua de oposiccedilotildees No Perieacutermeneas (1985) mais
especificamente nos capiacutetulos 6 e 7 Aristoacuteteles nos apresenta os conceitos de sentenccedilas
contraacuterias e contraditoacuterias afirmando que duas sentenccedilas satildeo contraacuterias quando natildeo podem
ser verdadeiras juntas ao mesmo tempo mas podem ser falsas juntas ao mesmo tempo Jaacute em
relaccedilatildeo agraves contraditoacuterias Aristoacuteteles propotildee que toda afirmaccedilatildeo possui sua exata negaccedilatildeo
correspondente e que toda afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo sem opotildeem sendo uma sempre
verdadeira e a outra sempre falsa Dessa forma para Aristoacuteteles um par formado por uma
afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo corresponde a uma contradiccedilatildeo
A partir do conceito de contrariedade vamos observar o exemplo a seguir Nele
encontraremos um caso de polissemia
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(17) a A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 20 de agosto de 1914
b A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 18 de julho de 1921
Se admitirmos que a seleccedilatildeo brasileira de futebol sobre a qual estamos falando na
sentenccedila (17a) eacute a mesma seleccedilatildeo que estamos falando na sentenccedila (17b) natildeo eacute possiacutevel que
a sentenccedila (17b) seja verdadeira pois algo natildeo pode ser fundado efetivamente em dois
momentos distintos Haacute a possibilidade de se afirmar que estamos falando de duas seleccedilotildees
brasileiras de futebol diferentes pois para ―seleccedilatildeo brasileira haacute diversos significados
aplicaacuteveis ou seja a expressatildeo ―seleccedilatildeo brasileira eacute polissecircmica Por exemplo podemos
definir uma seleccedilatildeo como sendo de futebol de campo e a outra de futebol de salatildeo A partir
dessa interpretaccedilatildeo as duas sentenccedilas poderiam ser verdadeiras juntas e com isso natildeo
haveria contrariedade Mas como devemos admitir apenas uma situaccedilatildeo para as duas
sentenccedilas (17a) e (17b) natildeo podem ser verdadeiras juntas mas podem ser falsas juntas
constituindo uma relaccedilatildeo de contrariedade Eacute possiacutevel que a seleccedilatildeo brasileira de futebol natildeo
tenha sido formada nem em 20 de agosto de 1914 e nem em 18 de julho de 1921 Em
contrapartida numa interpretaccedilatildeo usual a seleccedilatildeo de futebol de um paiacutes eacute formada pela
primeira vez uma soacute vez Algueacutem pode querer ir aleacutem e afirmar que foram empregados
sentidos diferentes para a expressatildeo ―foi formada nas sentenccedilas em questatildeo Poderia dizer
que na sentenccedila (17a) o sentido foi de que a seleccedilatildeo se reuniu pela primeira vez para jogarem
juntos de forma extraoficial e que na sentenccedila (17b) o sentido foi de que a seleccedilatildeo
efetivamente foi documentalmente formada Se admitiacutessemos essas interpretaccedilotildees as
sentenccedilas (17a) e (17b) poderiam ser verdadeiras juntas o que descaracterizaria a relaccedilatildeo de
contrariedade entre as sentenccedilas Assim como o fato de que se a sentenccedila (17a) for falsa a
sentenccedila (17b) pode ser verdadeira ou falsa A falsidade da sentenccedila (17a) natildeo assegura a
verdade da sentenccedila (17b) Podemos entender dessa forma que a polissemia afeta a
interpretaccedilatildeo do nexo
Vamos observar mais um exemplo desta relaccedilatildeo
(18) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado do Acre
b A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado de Santa Catarina
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Se considerarmos a sentenccedila (18a) verdadeira ou seja que a reitoria da UNISUL estaacute
localizada no estado do Acre e tambeacutem levando em conta que a UNISUL eacute uma universidade
que tem uma reitoria e que a reitoria de uma universidade soacute pode estar numa cidade a
sentenccedila (18b) deveraacute ser falsa A sentenccedila (18a) eacute falsa e a sentenccedila (18b) eacute verdadeira e as
duas estabelecem uma relaccedilatildeo de contrariedade A reitoria da UNISUL estaacute localizada no
estado de Santa Catarina e natildeo no estado do Acre A partir desse exemplo e da convenccedilatildeo que
admitimos para ele pudemos observar que se uma sentenccedila A for falsa uma sentenccedila B pode
ser falsa ou verdadeira natildeo podendo ser as duas verdadeiras juntas apenas falsas Ilustrando
mais uma vez veja a relaccedilatildeo a seguir
(19) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Paris
b A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Roma
No exemplo acima podemos afirmar que as sentenccedilas (19a) e (19b) podem ser falsas
pois como jaacute citamos no paraacutegrafo anterior a reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado
de Santa Catarina Dessa forma haacute relaccedilatildeo de contrariedade as duas sentenccedilas satildeo falsas
Jaacute tratamos de exemplos da relaccedilatildeo de contrariedade com problemas de polissemia
mas podemos tambeacutem identificar problemas de validade dos nexos por causa da vagueza A
seguir observe o exemplo
(20) a Este cafeacute estaacute forte
b Este cafeacute estaacute aguado
Observando as sentenccedilas acima identificamos que (20a) e (20b) possuem termos
vagos que podem dificultar a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre as sentenccedilas Em (20a) foi usado
o termo ―forte e em (20b) foi usado o termo ―aguado Como nas outras relaccedilotildees que
apresentamos anteriormente esses termos satildeo vagos pois dependendo da classe de
comparaccedilatildeo em que satildeo apresentados eles podem mudar de sentido Eacute possiacutevel que numa
determinada situaccedilatildeo consideremos que um cafeacute pode natildeo estar nem forte nem fraco
autorizando a possibilidade de (20a) e (20b) serem as duas falsas ao mesmo tempo
descaracterizando a relaccedilatildeo de contrariedade Dessa forma podemos observar que os termos
51
vagos dificultam a interpretaccedilatildeo das sentenccedilas consequentemente da relaccedilatildeo que as
sentenccedilas estabelecem entre si Concluindo a exposiccedilatildeo dos nexos que nos interessam neste
trabalho apresentaremos a seguir a justificativa de nosso percurso sobre estas relaccedilotildees
semacircnticas e os tipos de ocorrecircncias que podem dificultar a interpretaccedilatildeo destas
25 JUSTIFICANDO O PERCURSO
Neste capiacutetulo apresentamos inicialmente os conceitos de semacircntica e pragmaacutetica
com o objetivo de mostrar que os nexos semacircnticos que tratamos em nosso trabalho
(acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e contrariedade) satildeo tipos de
inferecircncias que pertencem ao campo da semacircntica Para isso tambeacutem apresentamos duas
inferecircncias que pertencem ao campo da pragmaacutetica (pressuposiccedilatildeo e implicatura)
Na exposiccedilatildeo de cada nexo trouxemos os conceitos seguidos de exemplos em que a
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees semacircnticas eacute clara Em seguida apresentamos exemplos de nexos
com dois tipos de ocorrecircncias que no campo do leacutexico dificultam a interpretaccedilatildeo das
relaccedilotildees semacircnticas a polissemia e a vagueza
Pode parecer confuso a princiacutepio o fato de tratarmos de tipos de inferecircncia que
dependem da forma para se concretizarem (os nexos semacircnticos) relacionando-as com
ocorrecircncias que dificultam o entendimento do conteuacutedo das sentenccedilas (a polissemia e a
vagueza) A confusatildeo se apresenta caso natildeo lembremos que estamos tratando das relaccedilotildees de
inferecircncias em liacutengua natural e natildeo numa liacutengua controlada como num sistema loacutegico por
exemplo
Quando afirmamos que as relaccedilotildees entre sentenccedilas que tratamos em nosso trabalho
dependem da forma falamos de uma ―dessemantificaccedilatildeo ou seja a existecircncia dos nexos vai
depender unicamente da semacircntica dos quantificadores e conectivos (e ou se) Os nexos natildeo
dependem da semacircntica restante do material linguiacutestico exposto na sentenccedila A semacircntica dos
conectivos e quantificadores numa linguagem formal eacute mantida estaacutevel por definiccedilatildeo Na
linguagem natural podemos observar que os tipos de ocorrecircncia que dificultam a
interpretaccedilatildeo dos nexos se fazem presentes justamente no restante do material linguiacutestico da
sentenccedila ou seja para aleacutem da estrutura da sentenccedila que eacute composta pelos quantificadores e
demais conectivos
52
A polissemia e a vagueza satildeo ocorrecircncias tiacutepicas de liacutengua natural e dessa forma
somos obrigados a admitir que ao nos depararmos com qualquer gecircnero textual (que
obviamente estaacute no campo das liacutenguas naturais) numa anaacutelise devemos considerar que o
significado das palavras vai naturalmente interferir nas relaccedilotildees semacircnticas Tambeacutem na
exposiccedilatildeo de tipos de ocorrecircncias que interferem nos nexos semacircnticos tratamos de falaacutecias
que satildeo argumentos invaacutelidos apresentados como vaacutelidos explorando justamente a
interpretaccedilatildeo do conteuacutedo das sentenccedilas
A partir dos nexos semacircnticos que tratamos neste capiacutetulo junto com os tipos de
inferecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees no capiacutetulo seguinte
apresentaremos a anaacutelise de certificados de garantia Como o nosso objetivo eacute analisar quais
satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados nos certificados para restringir possibilidades de
interpretaccedilatildeo decidimos realizar a anaacutelise de ocorrecircncias com conectivos e quantificadores
Consideramos pertinente a escolha desse tipo de anaacutelise pois entendemos que os
quantificadores como o ―todo satildeo tradicionalmente apresentados em relaccedilotildees semacircnticas de
restriccedilatildeo ou abrangecircncia assim como o condicional ―se ou ―somente se e o ―apenas e
―somente A partir desse raciociacutenio acreditamos que esta seria a forma mais correta para
identificarmos ocorrecircncias do tipo que precisamos para a realizaccedilatildeo de nossa anaacutelise Os
nexos semacircnticos natildeo satildeo propiacutecios para as liacutenguas naturais pois natildeo se apresentam de forma
controlada Ocorrecircncias lexicais como as que descrevemos anteriormente podem dificultar a
interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees e isso eacute algo que trataremos nas anaacutelises
Eacute nesta perspectiva que observaremos no capiacutetulo seguinte as anaacutelises de vinte e dois
certificados de garantia nos quais natildeo buscaremos relaccedilotildees bem marcadas e controladas entre
sentenccedilas pois natildeo encontrariacuteamos facilmente mas sim quais satildeo os recursos linguiacutesticos
utilizados pelos autores dos textos para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo
admitindo tambeacutem obviamente os nexos semacircnticos como possiacuteveis recursos
53
3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA
Os certificados de garantia satildeo textos muito presentes em nosso cotidiano e muitas das
vezes noacutes natildeo levamos em conta a sua importacircncia tanto por serem documentos que podem
resguardar nossos direitos sobre um determinado produto quanto pelo fato de natildeo sermos
treinados para ler e interpretar devidamente as informaccedilotildees dispostas nos textos Dessa
forma justificamos a escolha de tal gecircnero para analisarmos em nossa pesquisa Ateacute este
momento de nosso trabalho seguimos o seguinte percurso
1) Mostramos no primeiro capiacutetulo que na elaboraccedilatildeo de certificados de garantia o
autor deve se preocupar em construir o texto buscando restringir ao maacuteximo as
possibilidades de interpretaccedilatildeo para que ele se torne mais eficiente em passar as
informaccedilotildees desejadas e para evitar problemas de interpretaccedilatildeo por parte dos
clientes
2) Tendo em vista que os certificados de garantia satildeo textos instrucionais ou seja
que direcionam a leitura para um fim especiacutefico nossa anaacutelise tem por objetivo
verificar quais satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores destes textos
para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo e para alcanccedilar este objetivo nos
utilizaremos da teoria dos nexos semacircnticos apresentada no segundo capiacutetulo
Como anunciado na introduccedilatildeo o corpus dessa pesquisa eacute formado por 22
certificados de garantia de produtos de diversos segmentos Ele foi coletado utilizando a
internet e natildeo teve um meacutetodo definido de categorizaccedilatildeo na escolha dos textos Decidimos
escolher certificados de diversos segmentos para natildeo obtermos uma anaacutelise viciada e tambeacutem
para obtermos um panorama da estrutura textual
Como analisaremos os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores dos certificados
de garantia para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo elegemos trecircs categorias de
termos a serem analisadas quantificadores universais condicionais e uso do apenassomente
A escolha dessas categorias se deve ao fato delas possuiacuterem tradicionalmente funccedilotildees de
restriccedilatildeo ou abrangecircncia em inferecircncias
Assim como na loacutegica de predicados a silogiacutestica se caracteriza pelo uso dependente
em argumentos dos quantificadores ―alguns e ―todos Nomeamos de quantificador
existencial ou particular aqueles referentes a ―alguns e nomeamos de quantificador universal
aqueles referentes a ―todos (MURCHO 2006) Utilizaremos em nossa pesquisa agraves
ocorrecircncias com quantificadores do segundo tipo Vejamos um exemplo ilustrativo
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(21) TODO produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia
Possivelmente natildeo encontraremos em nossa anaacutelise nenhuma sentenccedila como esta pois
vemos que o quantificador universal destacado em letras maiuacutesculas abrange totalmente a
possibilidade de cobertura da garantia de um produto Da forma que estaacute expressa se compro
uma TV por exemplo e a mergulho na aacutegua causando defeito poderei receber outra nova do
fabricante pois ―todo produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia
Sobre os condicionais trataremos a anaacutelise na mesma linha de raciociacutenio pois eles
satildeo utilizados em proposiccedilotildees do tipo ―se X entatildeo Y oportunizando abrangecircncia ou
restriccedilatildeo de possibilidades de interpretaccedilatildeo como podemos ver ilustrado no exemplo a
seguir
(22) SE o produto apresentar defeito seraacute reparado gratuitamente
Da mesma forma como mostramos no exemplo anterior provavelmente natildeo
encontraremos sentenccedilas tatildeo abrangentes em nosso corpus como esta pois da forma como
estaacute posta ampliaria muito a possibilidade de cobertura da garantia de um produto Podemos
interpretar a partir da leitura da sentenccedila acima que o reparo do produto seraacute efetuado caso o
produto apresente qualquer defeito por qualquer motivo durante qualquer periacuteodo de tempo
sendo utilizado por qualquer pessoa e em qualquer circunstacircncia entre outras possibilidades
Para reparar tamanha abrangecircncia os autores dos textos podem utilizar listas exaustivas com
detalhes especiacuteficos apoacutes a apresentaccedilatildeo dos condicionais para direcionar efetivamente a
cobertura da garantia
Por fim em relaccedilatildeo ao uso dos termos ―apenas e ―somente analisaremos os termos
nos contextos que os autores buscam restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos textos
Vejamos o exemplo a seguir
(22) Estaratildeo cobertos pela garantia APENAS os produtos que natildeo estatildeo em
promoccedilatildeo
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No exemplo acima tambeacutem inventado vemos que o ―apenas aparece como um
restritor da garantia deixando claro que soacute os produtos que foram adquiridos pelos preccedilos
normais ou seja fora da promoccedilatildeo estaratildeo cobertos pela garantia Dessa forma produtos em
promoccedilatildeo ficam descobertos
Com os conceitos sobre as categorias de anaacutelise dispostos acima apresentaremos a
seguir a anaacutelise dos trechos coletados em nosso corpus separada por tipos de ocorrecircncia
Iremos observar como se apresentam os quantificadores condicionais ocorrecircncias com o
apenassomente assim como observaremos os tipos de ocorrecircncias no campo do leacutexico que
dificultam a interpretaccedilatildeo dos trechos (polissemia e vagueza)
31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL
Vejamos a seguir as ocorrecircncias4 em que o quantificador universal eacute utilizado
5
(1) Este produto e as peccedilas substituiacutedas seratildeo garantidos pelo restante do
prazo original TODAS as peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades
da SAMSUNG
Podemos observar na ocorrecircncia acima que o fabricante utiliza o quantificador para
fazer com que o leitor infera que absolutamente todas as peccedilas que forem substituiacutedas na
assistecircncia a algum aparelho defeituoso se tornaratildeo propriedade da fabricante Dessa forma o
cliente natildeo poderaacute em hipoacutetese alguma ficar com a peccedila trocada
Percebemos no trecho acima que o quantificador universal ―todas poderia ser
excluiacutedo da sentenccedila e com isso em nada alteraria o sentido da sentenccedila Forccedilando uma
possiacutevel interpretaccedilatildeo da sentenccedila o leitor poderia afirmar que se a sentenccedila fosse disposta
da seguinte maneira ―As peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades da SAMSUNG
poderia existir uma classe de peccedilas eletrocircnicas de produtos SAMSUNG que
4 Utilizaremos o termo ldquoocorrecircnciardquo tanto para se referir ao trecho completo do corpus quanto para a
sentenccedila em que o conectivo grifado se apresenta Natildeo faremos distinccedilatildeo para este uso 5 Para a exibiccedilatildeo das ocorrecircncias do nosso corpus reiniciaremos a numeraccedilatildeo natildeo seguindo a contagem
realizada para os exemplos dos capiacutetulos anteriores
56
tradicionalmente fossem substituiacutedas em manutenccedilotildees mas natildeo recolhidas pelo fabricante
Dessa forma o quantificador universal ―todas se mostraria como a soluccedilatildeo para esse
problema de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos
na ocorrecircncia6 (1)
(2) Esta garantia substitui TODAS as outras garantias expressas ou
taacutecitas incluindo sem limitaccedilatildeo garantias taacutecitas de comercializaccedilatildeo
e adequaccedilatildeo a um fim especiacutefico
(Certificado 1)
Nesta ocorrecircncia o fabricante utiliza o quantificador para abranger ao maacuteximo seu
texto no intuito de inferir que a garantia em anaacutelise se sobrepotildee a qualquer outro tipo de
garantia oferecida ao cliente
Podemos observar que se o quantificador universal ―todas natildeo fosse utilizado o
sentido da sentenccedila permaneceria o mesmo Se tiveacutessemos encontrado a sentenccedila da forma
―Esta garantia substitui as outras garantias o cliente iria interpretar a sentenccedila sem
dificuldades O uso do quantificador aparece como um termo para dar ecircnfase ao que jaacute estaacute
dito na sentenccedila acima Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos na
ocorrecircncia (2)
(3) TODO atendimento de reparo deve ser precedido de ligaccedilatildeo
telefocircnica ao Suporte Teacutecnico Telefocircnico da AOC (0800-10-9539)
para que seja feita uma avaliaccedilatildeo preacutevia do problema a fim de
constatar a existecircncia de defeito ou viacutecio do produto esgotando-se
TODAS as possibilidades de se tratar de uma falha de operaccedilatildeo ou
uso do produto por parte do consumidor
(Certificado 4)
No trecho acima podemos observar que na primeira ocorrecircncia do quantificador o
fabricante utiliza-o para inferir que o cliente em qualquer caso de submissatildeo do aparelho agrave
assistecircncia deve entrar em contato com o suporte teacutecnico telefocircnico da empresa e ainda
6 Decidimos pontuar no final de cada anaacutelise o fato de haver ou natildeo termos polissecircmicos ou vagos nas
ocorrecircncias porque consideramos estes tipos de ocorrecircncias como sendo os principais meios de dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos instrucionais Ao anunciar que natildeo haacute termos dessas categorias em cada anaacutelise por mais que se mostre repetitivo na leitura ao mesmo tempo invoca a importacircncia (e necessidade segundo nossa perspectiva) que depositamos nesses fatos em cada ocorrecircncia
57
reforccedila utilizando outra vez o quantificador ―todas inferindo que o produto soacute iraacute para a
assistecircncia efetivamente caso natildeo haja mais nenhuma possibilidade de resoluccedilatildeo do problema
atraveacutes do contato telefocircnico Ao utilizar esse reforccedilo o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo ao
fato de que por exemplo o problema possa ser resolvido atraveacutes de instruccedilotildees passadas pela
empresa via telefone ao cliente e o cliente natildeo aceitar e exigir que o produto seja reparado
somente na assistecircncia teacutecnica ou simplesmente para evitar que a assistecircncia teacutecnica receba
algum produto que natildeo estaacute defeituoso ou viciado
Diferente da ocorrecircncia (2) o uso do quantificador universal ―todo se faz necessaacuterio
para evitar que o cliente interprete a sentenccedila de uma forma indesejada por parte do
fabricante Por exemplo caso o autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todo na
primeira parte ―Todo atendimento de reparo deve o cliente poderia interpretar que ele
poderia obter atendimento de reparo sem passar pelo contato telefocircnico com o suporte teacutecnico
do fabricante Na utilizaccedilatildeo do quantificador universal ―todas no final da sentenccedila tambeacutem
observamos que se o autor do texto natildeo utilizasse esta estrateacutegia tambeacutem possibilitaria que o
texto fosse interpretado de outra maneira Se o cliente se deparasse com a sentenccedila
―esgotando-se as possibilidades de se tratar de uma falha poderia interpretar que se para
algum tipo de falha de operaccedilatildeo ou seja de utilizaccedilatildeo do produto haveria a possibilidade de
enviar o produto para assistecircncia teacutecnica Como o autor utilizou o quantificador nas duas
passagens que citamos ele direcionou a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha
duacutevidas sobre aquilo que o fabricante deseja expressar
Sobre tipos de ocorrecircncia que dificultam a interpretaccedilatildeo do texto pudemos identificar
a expressatildeo ―viacutecio do produto Esta expressatildeo eacute muito especiacutefica e estaacute presente no Coacutedigo
de defesa do consumidor Segundo Bruno Miragem (2008) ―Viacutecio do produto ou do serviccedilo
abrange o efeito decorrente da violaccedilatildeo aos deveres de qualidade quantidade ou informaccedilatildeo
impedindo com isso que o produto ou serviccedilo atenda aos fins que legitimamente dele se
esperam (dever da adequaccedilatildeo) O autor do certificado natildeo disponibilizou nenhum conceito
para a expressatildeo ―viacutecio do produto apresentando desta forma uma dificuldade a mais para
a interpretaccedilatildeo do texto por parte do cliente Caso o autor tenha elaborado o texto
considerando por exemplo que qualquer pessoa que leia um certificado de garantia deve ser
conhecedor de todos os termos e expressotildees descritas no CDC (a partir desse ponto iremos
utilizar esta sigla para ―coacutedigo de defesa do consumidor) natildeo haveria problema em
simplesmente usar o termo sem conceituar mas isso natildeo eacute pertinente Para evitar que esta
expressatildeo natildeo fosse polissecircmica o autor deveria ter elaborado um mini-glossaacuterio com os
termos que seriam usuais no texto e que possuem um sentido especiacutefico no ramo em que o
58
produto estaacute inserido (por exemplo peccedilas de carros ou peccedilas eletrocircnicas) e no CDC7
(4) A Garantia do Produto oferecida por este Termo abrange TODOS os
defeitos de material ou de fabricaccedilatildeo do aparelho constatados pela
Robert Bosch Ltda bem como a substituiccedilatildeo das peccedilas que
apresentarem viacutecios aleacutem da matildeo-de-obra utilizada no respectivo
reparo
(Certificado 8)
No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador ―todos para assegurar ao cliente
que em qualquer caso em que o produto possua defeito de material ou de fabricaccedilatildeo a
garantia estaraacute assegurada Aleacutem de assegurar isso tambeacutem garante a substituiccedilatildeo da peccedila do
aparelho que estiver com problema e a matildeo-de-obra tudo por conta do fabricante Caso o
autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todos ele poderia abrir margem para
outras interpretaccedilotildees como por exemplo que esta garantia natildeo abrange qualquer defeito do
produto constatado pelo fabricante Eacute interessante citar que a utilizaccedilatildeo do quantificador
―todos foi realizada beneficiando o fabricante pois mesmo afirmando que a ―garantia
abrange todos os defeitos o autor direciona para ―todos os casos que forem constatados
pelo fabricante Ou seja fica a criteacuterio do fabricante decidir o que eacute defeito e o que natildeo eacute
Assim como na ocorrecircncia (3) identificamos o uso do termo ―viacutecios que natildeo tem o
seu conceito descrito no texto do certificado O termo ―viacutecio natildeo eacute utilizado em nosso
cotidiano como algo vinculado a um objeto Geralmente conceituamos esse termo como
referente agrave dependecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica em relaccedilatildeo a uma substacircncia Tambeacutem podemos
conceituar como uma mania (costume de fazer sempre a mesma coisa) Enfim o termo
utilizado da forma em que foi descrita em (4) necessitaria que em alguma parte do texto
aparecesse o conceito para este termo que deve ser interpretado de forma especiacutefica pois eacute
um termo teacutecnico apresentado no CDC e muitas das vezes o cliente natildeo tem conhecimento
deste conceito favorecendo dificuldades a interpretaccedilatildeo do texto
(5) TODOS os eventuais danos ou demoras resultantes da natildeo
observacircncia dessas recomendaccedilotildees fogem agrave responsabilidade da APC
(Certificado 7)
7 Sobre esta estrateacutegia de eliminaccedilatildeo da polissemia e vagueza atraveacutes do uso de um glossaacuterio por autores de
textos instrucionais ver Estrela e Santos (2014)
59
Na ocorrecircncia acima a empresa APC se resguarda de qualquer responsabilidade sobre
o produto caso o cliente natildeo siga as recomendaccedilotildees dadas pelo fabricante Para isso utiliza o
quantificador universal para abranger ao maacuteximo as possibilidades de natildeo cobertura
favorecendo o fabricante Observamos que a utilizaccedilatildeo do quantificador na ocorrecircncia (5)
serviu para intensificar o que foi descrito na sentenccedila Caso natildeo fosse utilizado poderia
deixar margem para outras interpretaccedilotildees como por exemplo que poderia existir algum tipo
de dano eventual que fosse de responsabilidade do fabricante O quantificador ―todos
elimina esse tipo de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos
polissecircmicos na ocorrecircncia (5)
(6) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA garante e consequentemente
compromete-se a reparar ou substituir pelo prazo abaixo indicado
contado a partir da data indicada no documento fiscal representativo
de venda do veiacuteculo Hyundai TODAS as peccedilas que em serviccedilo
normal apresentem defeito de fabricaccedilatildeo ou de material desde que
observadas as respectivas condiccedilotildees sob pena de ser
automaticamente considerado cancelado o presente Certificado de
Garantia independentemente de qualquer aviso ou notificaccedilatildeo
(Certificado 17)
No trecho acima podemos observar que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se daacute
de forma bastante controlada Mesmo o termo ―todas sendo naturalmente utilizado para
abranger ou restringir ao maacuteximo inferecircncias na ocorrecircncia acima vemos sua utilizaccedilatildeo
dependendo de vaacuterios aspectos para se concretizar A Hyundai se compromete em reparar ou
substituir ―todas as peccedilas dos veiacuteculos que estiverem dentro de todas as caracteriacutesticas
descritas antes do termo ser usado como estar dentro do prazo estabelecido pelo fabricante
apresentarem defeito de fabricaccedilatildeo ou material e aleacutem disso observando os procedimentos
detalhados pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o quantificador universal eacute
utilizado de forma controlada pelo fabricante restringindo ao seu sabor as possibilidades de
validade da garantia
(7) TODA revisatildeo deveraacute ser registrada no quadro de registro de revisotildees
para assegurar a garantia de seu veiacuteculo
(Certificado 17)
60
Na ocorrecircncia acima observamos que o fabricante utilizou o quantificador universal
para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente da seguinte forma o
cliente que possui um veiacuteculo na garantia poderia interpretar por exemplo caso natildeo houvesse
a utilizaccedilatildeo do quantificador ―toda na sentenccedila (7) fazer as revisotildees do veiacuteculo em qualquer
oficina e natildeo registrar as mudanccedilas feitas no carro em lugar algum natildeo perdendo a garantia
do veiacuteculo O quantificador universal ―toda direciona a interpretaccedilatildeo da inferecircncia para que
o cliente efetue qualquer revisatildeo do veiacuteculo numa concessionaacuteria do fabricante e aleacutem disso
ter as revisotildees registradas no quadro de registro de revisotildees do fabricante Na ocorrecircncia (7)
natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos
(8) TODOS aparelhos da ONEAL saem da faacutebrica preacute-ajustados em
220V
(Certificado 5)
Nesta ocorrecircncia (8) o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para
abranger a informaccedilatildeo de que qualquer produto produzido por ele eacute ajustado em 220V
resguardando-se de por exemplo um questionamento de algum cliente sobre o
funcionamento de qualquer produto em outra voltagem ou utilizaccedilatildeo do produto em outra
voltagem ocasionando defeito no produto Caso isso ocorra o fabricante natildeo poderaacute ser
responsabilizado pois a partir da ocorrecircncia (8) ele explica a voltagem a ser utilizada natildeo
garantindo o funcionamento do produto em outras voltagens Na ocorrecircncia (8) observamos
que se o fabricante natildeo tivesse utilizado o quantificador universal ―todo natildeo alteraria a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila Podemos entender que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal na
ocorrecircncia (8) serviu apenas para intensificar a informaccedilatildeo da sentenccedila
(9) TODOS nossos produtos satildeo testados durante horas nos mais severos
regimes antes de serem aprovados para o mercado
(Certificado 5)
No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para abranger a
interpretaccedilatildeo da inferecircncia Dessa forma o fabricante tenta nos levar a interpretar a
61
ocorrecircncia (9) da seguinte forma qualquer produto produzido por este fabricante eacute testado de
forma rigorosa antes de ser despachado para comercializaccedilatildeo Essa interpretaccedilatildeo eacute dificultada
pela presenccedila de termos vagos Ao utilizar a expressatildeo ―durante horas nos mais severos
regimes o fabricante natildeo teve o cuidado de atrelar essa informaccedilatildeo agrave classe de comparaccedilatildeo
na qual o cliente deve se basear para interpretar a sentenccedila da forma como o fabricante
deseja Ao afirmar que os produtos satildeo testados ―durante horas o fabricante natildeo especificou
por quantas horas os produtos satildeo testados e o que isso representa Por exemplo para
produtos X identificados como em bom funcionamento deve-se testaacute-los durante Y horas
segundo o manual Z que regulamenta a qualidade dos produtos X Aleacutem disso o fabricante
ainda afirma sobre os testes que satildeo ―nos mais severos regimes cometendo a mesma falha
da expressatildeo anterior natildeo descrevendo o que eacute isso e o que isso representa A expressatildeo eacute
vaga pois esses regimes de testes satildeo severos em relaccedilatildeo a quecirc Como natildeo haacute um grau de
comparaccedilatildeo de classe o cliente pode interpretar a ocorrecircncia de formas diversas Se o
fabricante tivesse especificado em algum lugar do texto que a expressatildeo ―nos mais severos
regimes deveria ser comparada por exemplo a um tipo de teste que coloca os produtos em
condiccedilotildees extremas para averiguar a sua qualidade durabilidade e bom funcionamento que eacute
norma padratildeo de qualidade para os produtos que ele estaacute justificando em (9) natildeo haveria
vagueza Do modo como a ocorrecircncia se apresenta as informaccedilotildees ―durante horas e ―nos
mais severos regimes satildeo vagas e dificultam a interpretaccedilatildeo da sentenccedila
(10) A ONEAL garante TODOS os seus produtos por um periacuteodo de 01
(um) ano jaacute incluiacutedo o periacuteodo de garantia legal (os primeiros 90 dias)
a partir da data da compra para problemas mecacircnicos ou por falhas
industriais em montagem e pintura
(Certificado 5)
Podemos observar na ocorrecircncia (10) que o fabricante assegura a garantia para todos
os seus produtos utilizando o quantificador universal com algumas restriccedilotildees Se natildeo
houvesse a utilizaccedilatildeo do quantificador nesta inferecircncia o cliente poderia considerar que a
garantia de seu produto por exemplo teria validade vitaliacutecia e que o produto estaria coberto
pela garantia mesmo se for danificado por negligecircncia do cliente O fabricante restringe o
periacuteodo de validade especificando que o periacuteodo de um ano jaacute inclui o periacuteodo da garantia
legal que eacute de 90 dias Ainda enfatiza que se deve contar o periacuteodo a partir da data da compra
e ainda explica que a garantia cobriraacute somente produtos que apresentarem problemas
62
mecacircnicos ou aqueles que apresentarem problemas industriais em montagem e pintura Dessa
forma problemas de outra natureza natildeo seratildeo cobertos pela garantia assim como produtos
com mais de um ano de adquiridos tambeacutem natildeo estaratildeo cobertos Poderiacuteamos identificar a
expressatildeo ―garantia legal como polissecircmica caso o fabricante natildeo tivesse apresentado o
conceito para a expressatildeo logo apoacutes entre parecircnteses Eacute sabido que no CDC a garantia legal eacute
caracterizada como o periacuteodo de 90 dias apoacutes a aquisiccedilatildeo de um produto Para evitar que
houvesse uma interpretaccedilatildeo indevida o fabricante conceituou a expressatildeo imediatamente
apoacutes o aparecimento dela na sentenccedila
(11) Em vista das mudanccedilas de leis que poderatildeo ocorrer TODO
certificado seraacute regido pelas normas do cartatildeo de garantia mais
recentemente atualizado pela faacutebrica
(Certificado 5)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todo para afirmar
que qualquer certificado de garantia de seus produtos deveraacute seguir as normas dispostas no
cartatildeo de garantia mais recentemente atualizado pela faacutebrica ou seja caso algum cliente tente
solicitar a garantia atraveacutes de um cartatildeo de garantia desatualizado ele natildeo estaraacute autorizado
Dessa forma o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo agraves possiacuteveis atualizaccedilotildees de leis ou
informaccedilotildees nos cartotildees de garantia dos diversos lotes de produtos impossibilitando o cliente
de reclamar sobre qualquer tipo de alteraccedilatildeo no documento em questatildeo A utilizaccedilatildeo do
quantificador universal em (11) eacute importante para dar ecircnfase agrave informaccedilatildeo central da sentenccedila
e tambeacutem para evitar que por exemplo o cliente interpretasse que algum certificado poderia
ser regido pelas normas de outro cartatildeo de garantia que natildeo fosse o mais recente Natildeo
identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos em (11)
(12) A garantia incide sobre TODOS os componentes montados
originalmente em Veiacuteculo conforme descrito na Nota Fiscal de
venda quer fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER ou
por esta adquiridos de terceiros
(Certificado 16)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para
restringir a interpretaccedilatildeo da sentenccedila quando afirma que a garantia cobre qualquer
63
componente montado originalmente em veiacuteculo ou seja a garantia natildeo cobre componentes
avulsos Aleacutem disso os componentes montados devem estar descritos na Nota Fiscal de
venda sendo assim se natildeo estiverem lanccedilados invalidam a garantia e por fim os veiacuteculos
devem tem sido fabricados por alguma empresa do grupo DAIMLER ou fabricado por outra
empresa mas tendo sido adquirido pelo fabricante que estaacute oferecendo a garantia Dessa
forma podemos ver que o quantificador universal foi utilizado pelo fabricante de forma
restrita limitando a abrangecircncia de acordo com seus interesses Caso o quantificador
universal natildeo tivesse sido utilizado na sentenccedila haveria a possibilidade do cliente interpretar
(12) de vaacuterias maneiras Por exemplo admitir que a garantia pode ser vaacutelida para produtos
que foram fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER mas natildeo foram lanccedilados na
Nota Fiscal de venda Em vista disso a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela
necessidade do fabricante restringir a interpretaccedilatildeo do texto da garantia buscando direcionar
melhor a informaccedilatildeo que ele estaacute vinculando em seu texto Natildeo identificamos nem termos
vagos nem termos polissecircmicos em (12)
(13) Executar TODAS as revisotildees estabelecidas pela Mercedes-Benz do
Brasil Ltda
(Certificado 16)
(14) Executar TODAS as manutenccedilotildees reparaccedilotildees e regulagens em um
dos Concessionaacuterios ou Postos de Serviccedilos Autorizados Mercedes-
Benz no territoacuterio brasileiro
(Certificado 16)
Nas duas ocorrecircncias acima podemos observar que o fabricante utiliza o quantificador
universal ―todas para definir que a garantia do produto soacute seraacute vaacutelida caso o cliente realize
as funccedilotildees descritas Caso o cliente natildeo realize pelo menos uma delas a garantia seraacute
invalidada Se o cliente natildeo realizar pelo menos uma revisatildeo sugerida pela fabricante perderaacute
a validade Aleacutem disso se o cliente realizar algum tipo de manutenccedilatildeo no veiacuteculo em alguma
concessionaacuteria que natildeo seja autorizada da Mercedes-Benz e no territoacuterio brasileiro tambeacutem
perderaacute a garantia O fabricante mesmo utilizando o quantificador universal nas duas
ocorrecircncias natildeo deixa de condicionar a validade da garantia de acordo com seus interesses O
cumprimento das recomendaccedilotildees dispostas apoacutes o quantificador natildeo garantem efetivamente
que a garantia do produto estaacute assegurada Ou seja mesmo que o cliente execute todas as
manutenccedilotildees reparos e regulagens em um dos concessionaacuterios do fabricante natildeo impede que
64
a garantia seja invalidade por outro motivo O quantificador universal foi utilizado pelo
fabricante em (13) e (14) sem limites e em seu benefiacutecio Natildeo identificamos nem termos
vagos nem termos polissecircmicos em (13) e (14)
(15) TODA solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica durante o periacuteodo da
garantia deveraacute ser feita obrigatoriamente agrave faacutebrica via e-mail ou
fax descrevendo detalhadamente os problemas apresentados natildeo
excedendo o prazo de 30 dias apoacutes detectaacute-lo indicando o modelo do
equipamento e o nuacutemero de seacuterie descrito na placa de identificaccedilatildeo do
mesmo e constante neste certificado
(Certificado 22)
Na ocorrecircncia (15) o fabricante utiliza o quantificador universal ―toda de forma
abrangente determinando que todas as solicitaccedilotildees de assistecircncia teacutecnica para qualquer
produto deveraacute seguir as instruccedilotildees definidas em seguida Caso o cliente tente solicitar a
assistecircncia natildeo seguindo algum dos passos e prazos determinados pelo fabricante a garantia
seraacute invalidada O quantificador universal foi utilizado para evitar interpretaccedilotildees relativas
sobre os procedimentos descritos no texto Por exemplo se (15) natildeo tivesse o quantificador
universal ―toda uma possiacutevel interpretaccedilatildeo seria que uma solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica
durante o periacuteodo da garantia poderia ser realiza na loja em que o produto foi comprado e natildeo
apenas na faacutebrica Dessa forma a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela
necessidade do fabricante restringir o percurso da solicitaccedilatildeo da garantia para o procedimento
que ele deseja que seja seguido pelo cliente Natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos
em (15)
32 USO DO CONDICIONAL
Vejamos a seguir as ocorrecircncias em que o condicional eacute utilizado Quando as
ocorrecircncias apresentarem o mesmo sentido de interpretaccedilatildeo agruparemos numa mesma
anaacutelise como podemos observar a seguir nas ocorrecircncias (16) (17) e (18)
(16) A garantia fica automaticamente invalidada SE
(Certificado 2)
65
(17) A garantia legal e contratual perderaacute seu efeito SE
(Certificado 3)
(18) Esta garantia perderaacute a validade SE
(Certificado 11)
Podemos observar nas ocorrecircncias (16) (17) e (18) que o condicional tem a funccedilatildeo de
limitar a aplicaccedilatildeo da garantia Os usos do ―se natildeo excluem a possibilidade de haver outros
casos em que a garantia natildeo se aplica ou seja as listas que satildeo apresentadas apoacutes o
condicional natildeo satildeo exaustivas Vale mencionar que da mesma forma que o ―todo o ―se
foi utilizado para beneficiar o fabricante como afirmamos acima O ―se assegura que a
validade do produto seraacute perdida nos casos que satildeo listados apoacutes o condicional sem eliminar
a possibilidade de haverem outros casos abrangendo sem limites os casos em que a garantia
natildeo cobriraacute o produto e restringindo a validade da garantia para o cliente Natildeo identificamos
termos vagos ou polissecircmicos nas ocorrecircncias (16) (17) (18) Na ocorrecircncia (17) o autor
usou os termos ―garantia legal e ―contratual que poderiam ser considerados termos
polissecircmicos que dificultariam a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia mas foram apresentados no
certificado os conceitos para os dois termos Para ―garantia legal o autor definiu como
sendo o prazo inicial da garantia com duraccedilatildeo de 90 dias ( contados imediatamente apoacutes a
emissatildeo da Nota Fiscal de compra) e previsto no CDC por sua vez para ―garantia
contratual se refere ao periacuteodo de dois anos incluindo o periacuteodo da garantia legal para todo
equipamento (neste caso condicionador de ar) e cinco anos para o compressor Com a
apresentaccedilatildeo destas definiccedilotildees o autor evitou que os termos se apresentassem no texto como
polissecircmicos
(19) A garantia do produto natildeo se aplica
(Certificado 8)
Trouxemos para a anaacutelise a ocorrecircncia acima pois a expressatildeo ―natildeo se aplica desta
sentenccedila funciona como um condicional mesmo sem ter a forma das ocorrecircncias que
analisamos anteriormente O fabricante utiliza esse condicional precedendo uma lista de
possiacuteveis situaccedilotildees em que a garantia poderia ser reclamada pelo cliente dessa forma
impossibilitando o cliente de exigir qualquer direito sobre alguma das possiacuteveis situaccedilotildees
Natildeo identificamos termos polissecircmicos e vagos na ocorrecircncia (19)
66
(20) A garantia do produto extingue-se
(Certificado 8)
Assim como na ocorrecircncia anterior tambeacutem natildeo encontramos o condicional ―se de
forma expliacutecita mas o termo ―extingue-se se comporta como tal A sentenccedila acima foi
utilizada pelo fabricante antecedendo uma lista de possibilidades de situaccedilotildees em que o
cliente poderia reclamar a garantia do produto excluindo entatildeo qualquer direito do cliente
em relaccedilatildeo ao que foi listado abaixo da sentenccedila em questatildeo Natildeo identificamos termos vagos
e polissecircmicos na ocorrecircncia (20)
(21) O cliente perderaacute a garantia do seu veiacuteculo SE
(Certificado 17)
Na ocorrecircncia (21) o fabricante utiliza o condicional antecedendo uma lista de
situaccedilotildees que se concretizadas invalidaratildeo a garantia Dessa forma se o veiacuteculo do cliente
que deseja ser atendido pela garantia se enquadrar em algum dos itens dispostos apoacutes essa
sentenccedila a garantia natildeo seraacute concedida Assim como nas ocorrecircncias com o uso do
condicional apresentadas anteriormente o uso do ―se aparece sem limites Como afirmamos
na anaacutelise das ocorrecircncias (16) (17) e (18) o autor utiliza o condicional para em seguida
apresentar uma lista de situaccedilotildees em que se concretizadas o cliente perderaacute a garantia Mas
mesmo com a apresentaccedilatildeo dessa lista o cliente poderaacute perder a garantia caso ocorra outro
tipo de situaccedilatildeo natildeo listada Dessa forma o fabricante se favorece abrangendo ao maacuteximo as
possibilidades de perda da garantia e ―prejudica o cliente oferecendo-lhe restritas
possibilidades de validade da garantia do produto a que se refere o texto Natildeo identificamos
nem termos polissecircmicos nem vagos na ocorrecircncia (21) Apenas vale ressaltar que diferente
das ocorrecircncias apresentadas anteriormente o autor em vez de escrever ―a garantia do
produto ele utilizou ―a garantia do seu veiacuteculo que especifica ao que se refere o texto
diminuindo a possibilidade de o cliente interpretar a ocorrecircncia de uma forma diferente da
que o autor se propotildee a transmitir
(22) A garantia vigoraraacute SOMENTE SE o Veiacuteculo atender
cumulativamente as seguintes condiccedilotildees
67
(Certificado 16)
Eacute interessante observar a forma como o fabricante utiliza o condicional na ocorrecircncia
(22) que precede uma lista de condiccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso o fabricante
natildeo utilizasse esse condicional ―somente se na sentenccedila acima o cliente poderia interpretar
que se o seu produto atendesse pelo menos a uma das condiccedilotildees estaria coberto pela
garantia Mas o fabricante aleacutem de utilizar o condicional ―somente se tambeacutem utilizou o
termo ―cumulativamente explicitando que o produto deve obedecer a todas as condiccedilotildees
dispostas pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o autor utilizou o condicional
para restringir as possibilidades de validade da garantia com restriccedilotildees o que natildeo ocorre
quando o fabricante trata sobre as possibilidades de invalidade da garantia como na
ocorrecircncia (21) Comparando as ocorrecircncias (21) e (22) vemos claramente que o autor em
(21) utilizou o condicional para lhe favorecer sem limites quando tratou sobre as condiccedilotildees
pelas quais o cliente pode perder a garantia abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura natildeo
apenas para as situaccedilotildees que estatildeo listadas mas tambeacutem para qualquer outra possiacutevel Jaacute em
(22) o autor (mesmo essa comparaccedilatildeo sendo feita entre ocorrecircncias de certificados
diferentes) utiliza o condicional para restringir as possibilidades de validade da garantia para
as situaccedilotildees listadas apoacutes a apresentaccedilatildeo do condicional e aleacutem disso afirmou que todas as
situaccedilotildees listadas devem ser atendidas para que a garantia seja vaacutelida para o produto Dessa
forma ainda sobre a ocorrecircncia (22) caso uma das situaccedilotildees listadas natildeo seja atendida a
garantia automaticamente seraacute perdida Com isso podemos afirmar que tanto em (21) quanto
em (22) os autores utilizaram o condicional para se beneficiar Em (21) abrangendo as
possibilidades de invalidade da garantia e em (22) restringindo ao maacuteximo as possibilidades
de validade da garantia do produto Natildeo identificamos nem termos vagos nem polissecircmicos
na ocorrecircncia (22)
(23) A garantia Philips natildeo eacute aplicaacutevel SE
(Certificado 14)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o condicional ―se antecedendo uma lista de
informaccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso algum produto Philips se encaixar em
alguma das situaccedilotildees descritas apoacutes o condicional mesmo estando dentro do prazo de
garantia o cliente perderaacute a cobertura Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem
68
vagos na ocorrecircncia (23)
(24) Esta garantia natildeo se aplica
(Certificado 21)
Assim como nas ocorrecircncias (18) e (19) a ocorrecircncia acima natildeo possui o condicional
expliacutecito mas o termo ―natildeo se aplica se comporta como tal O fabricante utiliza o
condicional precedendo uma lista de condiccedilotildees de natildeo aplicaccedilatildeo da garantia Dessa forma
caso o produto se encaixe em alguma das condiccedilotildees a garantia seraacute invalidada
automaticamente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem vagos na sentenccedila (24)
33 USO DO APENASSOMENTE
Vejamos a seguir ocorrecircncias em que identificamos o uso do ―apenas ou ―somente
(25) Esta garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver
devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original
da Nota Fiscal de Compra
(Certificado 4)
Na ocorrecircncia (25) o fabricante utiliza o ―somente para restringir a validade da
garantia indicando que o cliente teraacute direito agrave garantia caso preencha de forma correta o
certificado e apresente a nota fiscal de compra Caso as instruccedilotildees natildeo sejam seguidas pelo
cliente a garantia natildeo seraacute vaacutelida Podemos identificar que o termo ―rasuras presente em
(25) pode ser considerado como vago e polissecircmico neste caso dificultando a interpretaccedilatildeo
do texto Uma rasura pode ser por exemplo desde um rabisco fora de lugar no formulaacuterio
ateacute o dano no documento por aacutegua amasso do papel em excesso etc O autor poderia evitar a
vagueza e a polissemia definindo o termo da forma como ele deseja que o leitor interprete
este termo e comparando-o a uma classe especiacutefica (por exemplo o que eacute considerado rasura
69
nos documentos instrucionais)
(26) Danos decorrentes de desgaste natural inclusive e natildeo SOMENTE
nas partes plaacutesticas que compotildeem o gabinete do produto
(Certificado 4)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o ―somente numa sentenccedila que trata sobre
uma das situaccedilotildees em que a garantia natildeo seraacute vaacutelida O fabricante deixa claro que qualquer
defeito no produto causado por desgaste natural natildeo seraacute coberto pela garantia Se o
fabricante natildeo utilizasse o ―somente nesta sentenccedila o cliente poderia interpretar por
exemplo que danos decorrentes de desgaste natural nas partes que natildeo satildeo de plaacutestico seriam
cobertas pela garantia O autor utiliza o ―somente para se resguardar sobre outras possiacuteveis
interpretaccedilotildees do trecho abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura da garantia para
qualquer peccedila do produto que for afetado por danos decorrentes de desgaste natural Na
ocorrecircncia (26) a expressatildeo ―desgaste natural eacute polissecircmica O autor em nenhuma parte do
certificado de garantia definiu a expressatildeo em questatildeo para que o cliente compreenda da
forma desejada pelo fabricante Dessa forma podemos interpretar ―desgaste natural de
muitas formas Podemos por exemplo interpretar como o desgaste do produto como um todo
ou suas peccedilas referentes ao uso em excesso ao longo do tempo e diretamente vinculado agrave
vida uacutetil tanto do produto em geral quanto de peccedilas especiacuteficas Mas tambeacutem podemos
interpretar como sendo um desgaste proveniente do contato do produto com a natureza como
a exposiccedilatildeo agrave chuva maresia sol em excesso Pode parecer um exagero esta uacuteltima
interpretaccedilatildeo mas ela eacute possiacutevel a partir da forma como (26) se apresenta O autor utilizou no
texto a expressatildeo sem dar-lhe a definiccedilatildeo que ele pensou para a utilizaccedilatildeo dela na ocorrecircncia
dificultando a interpretaccedilatildeo do texto
(27) Este termo de garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos
comercializados e utilizados em territoacuterio brasileiro
(Certificado 4)
(28) Este Certificado de Garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos
vendidos e utilizados no territoacuterio brasileiro
(Certificado 10)
(29) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro
70
(Certificado 2)
(30) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro
(Certificado 13)
(31) Esta garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o territoacuterio brasileiro
(Certificado 12)
Nas ocorrecircncias (27) (28) (29) e (30) observamos que os fabricantes utilizam o termo
―apenas para restringir a cobertura da garantia tanto em relaccedilatildeo ao local da compra quanto
em relaccedilatildeo ao local de uso do produto assim como o autor da ocorrecircncia (31) utiliza o termo
―somente com o mesmo sentido Caso o produto tenha sido comprado em outro paiacutes natildeo
haveraacute cobertura da garantia assim como mesmo que o produto tenha sido comprado no
Brasil mas tenha sido utilizado em outro paiacutes culminando em um defeito tambeacutem natildeo haveraacute
cobertura da garantia Mas para a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que aparece em (27) (28)
(29) (30) e (31) podemos tambeacutem interpretar como natildeo apenas a extensatildeo territorial do paiacutes
mas tambeacutem admitir territoacuterios brasileiros em outros paiacuteses a saber os consulados
honoraacuterios do Brasil nas diversas naccedilotildees ao redor do mundo Nesse caso por exemplo se o
produto for adquirido dentro dos limites geograacuteficos do Brasil e for utilizado em algum
consulado do Brasil em outro paiacutes a garantia deve ser vaacutelida Eacute possiacutevel que o fabricante natildeo
tenha pensado nessa possibilidade poreacutem da forma que estas ocorrecircncias se apresentam haacute
essa possibilidade de interpretaccedilatildeo Ao apresentar essa possiacutevel interpretaccedilatildeo para a
expressatildeo ―territoacuterio brasileiro noacutes quisemos mostrar que o fabricante deveria ter
especificado em alguma parte do certificado de garantia o conceito que ele deseja que o
cliente admita para esta expressatildeo para natildeo deixar que a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro seja
interpretada de outras formas ou seja para evitar a polissemia que dificulta a leitura do
texto Outra questatildeo que tambeacutem podemos considerar eacute que nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)
a afirmaccedilatildeo sobre a validade da garantia eacute apresentada de forma menos detalhada Os autores
apresentam a afirmaccedilatildeo de que a garantia eacute vaacutelida para o territoacuterio brasileiro sem informar se
eacute em relaccedilatildeo ao produto ser adquirido e utilizado no paiacutes Brasil ou se o produto pode ser
utilizado fora do Brasil mas para requerer a garantia do produto o consumidor caso resida no
exterior deva se dirigir ao Brasil para fazer jus a sua garantia Diferente das ocorrecircncias (27)
e (28) em que os autores enfatizam que a garantia dos produtos eacute vaacutelida unicamente para
produtos comercializados e utilizados dentro do Brasil restringindo a garantia mais do que
nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)
71
(32) A garantia SOMENTE eacute vaacutelida mediante a apresentaccedilatildeo de nota
fiscal de compra deste produto
(Certificado 3)
Podemos observar na ocorrecircncia (29) que o fabricante utiliza o termo ―somente para
restringir a validade da garantia Fica claro que caso o produto apresente algum defeito e o
cliente procure a assistecircncia teacutecnica sem estar de posse da nota fiscal natildeo haveraacute cobertura da
garantia Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em (29) o cliente poderia interpretar
por exemplo que a garantia do produto eacute vaacutelida com ou sem a apresentaccedilatildeo da nota fiscal de
compra do produto Neste caso a funccedilatildeo do ―somente eacute de restringir a interpretaccedilatildeo de
acordo com o que o fabricante deseja Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem
vagos em (29)
(33) A garantia oferecida por esse Certificado eacute de 36 (trinta e seis) meses
e SOMENTE teraacute validade se o presente documento for devidamente
preenchido no ato da venda do produto conforme acima e se a
instalaccedilatildeo for feita por uma pessoa ou empresa credenciada pela
Robert Bosch Ltda
(Certificado 8)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade
da garantia Caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees de forma cumulativa que seguem a
utilizaccedilatildeo do termo a garantia seraacute invalidada Por exemplo se o cliente preencher no ato da
venda do produto o certificado mas se a instalaccedilatildeo do produto natildeo tiver sido feita por algueacutem
credenciado pela Robert Bosch Ltda a garantia natildeo teraacute validade A importacircncia do uso do
―somente em (33) se daacute pelo fato de que caso o autor natildeo tivesse utilizado este termo
haveria a possibilidade do cliente interpretar por exemplo que a garantia teria validade caso
a instalaccedilatildeo do produto tenha sido feita por uma pessoa ou empresa natildeo credenciada pela
fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (33)
(34) Os consertos em Garantia do Produto SOMENTE seratildeo efetuados
72
por um Serviccedilo Autorizado devidamente nomeado pela Robert Bosch
Ltda em territoacuterio brasileiro
(Certificado 8)
Podemos observar que o fabricante utiliza o termo ―somente em (34) para restringir a
validade da garantia O fabricante define tanto quem efetuaraacute o conserto dos produtos quanto
os limites territoriais de cobertura Dessa forma fica expliacutecito para o cliente que o conserto
natildeo poderaacute ser efetuado por pessoas natildeo autorizadas pela Robert Bosch Ltda e tal conserto
natildeo pode ser realizado em outros paiacuteses Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em
(34) abriria a possibilidade de interpretar a sentenccedila de outras formas como por exemplo
que os consertos em garantia do produto poderiam ser realizados em territoacuterios de outros
paiacuteses ou que os consertos poderiam ser realizados por serviccedilos natildeo autorizados pelo
fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (34)
(35) O exame e reparo do produto soacute poderatildeo ser efetuados pelo
fabricante
(Certificado 7)
Na ocorrecircncia (36) o fabricante utiliza no lugar do termo ―somente o termo ―soacute
para restringir a interpretaccedilatildeo Nesse caso se o cliente procurar reparar eou examinar o
produto sozinho ou em assistecircncias teacutecnicas que natildeo sejam autorizadas pelo fabricante a
garantia seraacute invalidada A utilizaccedilatildeo do termo ―soacute tem grande importacircncia para o
direcionamento da interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia (35) pois caso natildeo tivesse sido utilizado pelo
autor a ocorrecircncia traria apenas uma informaccedilatildeo vaga dificultando a interpretaccedilatildeo do texto
Sem o ―soacute a partir de (35) poderiacuteamos interpretar que o exame e reparo do produto podem
ser efetuados pelo fabricante mas tambeacutem por qualquer outra pessoa ou empresa Utilizando
o ―soacute o autor restringe a inferecircncia evitando muacuteltiplas interpretaccedilotildees para a sentenccedila
(36) O presente ―Termo de Garantia Hyundai aplica-se uacutenica e
exclusivamente ao veiacuteculo da marca e fabricaccedilatildeo Hyundai
devidamente identificado no iniacutecio deste documento e que tenha sido
comercializado por um Revendedor Autorizado da CAOA Montadora
de Veiacuteculos SA
(Certificado 17)
73
Em (36) o fabricante natildeo utiliza os termos ―apenas ou ―somente mas
consideraremos em nossa anaacutelise a expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como um restritor de
mesmo sentido Observamos que o fabricante utiliza a expressatildeo para restringir a cobertura
da garantia Caso o cliente esteja por exemplo solicitando a garantia de um veiacuteculo Hyundai
que natildeo seja o mesmo que estaacute descrito no iniacutecio do documento de garantia e que natildeo tenha
sido comercializado por uma autorizada da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA a garantia
natildeo teraacute validade Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado a expressatildeo ―uacutenica e
exclusivamente em (36) haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia de outras
maneiras
(37) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA eou o Revendedor Autorizado
da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA APENAS substituiraacute as peccedilas
que forem por elas e a seu exclusivo criteacuterio julgadas como
defeituosas
(Certificado 17)
Na ocorrecircncia (37) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a interpretaccedilatildeo
da sentenccedila Dessa forma o fabricante fica resguardado tanto em relaccedilatildeo a substituiccedilatildeo de
peccedilas quanto em relaccedilatildeo ao meacutetodo utilizado para jugar se a peccedila estaacute defeituosa ou natildeo A
importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―apenas em (37) tambeacutem se daacute pelo fato de natildeo permitir outras
interpretaccedilotildees diferentes da definida pelo fabricante Caso o ―apenas natildeo tivesse sido
utilizado poderiacuteamos interpretar por exemplo que o fabricante poderia substituir peccedilas
julgadas por ela como defeituosas utilizando seus proacuteprios criteacuterios mas tambeacutem substituiria
em outros casos O ―apenas serviu para especificar e restringir a interpretaccedilatildeo dos criteacuterios
definidos pelo fabricante em relaccedilatildeo agrave substituiccedilatildeo de peccedilas do produto Natildeo identificamos
nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (37)
(38) Permita que SOMENTE teacutecnicos autorizados pela faacutebrica prestem
assistecircncia a seu aparelho pois se for aberto por teacutecnicos ou pessoas
natildeo autorizadas automaticamente vocecirc estaraacute perdendo sua garantia
(Certificado 5)
Na ocorrecircncia (38) o fabricante deixa expliacutecito ao utilizar o termo ―somente que
caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees dispostas nesta sentenccedila a garantia do produto seraacute
74
invalidada Dessa forma o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a informaccedilatildeo
veiculada pelo fabricante da mesma forma como vimos na ocorrecircncia (37) Natildeo
identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (38)
(39) A presente garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o Veiacuteculo
comercializado em territoacuterio brasileiro
(Certificado 16)
Na ocorrecircncia (39) um pouco parecida com as ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e
(31) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia do produto Nesse caso
se o veiacuteculo tiver sido adquirido em outro paiacutes sua garantia natildeo seraacute vaacutelida no Brasil Um
pouco diferente das ocorrecircncias (27) e (28) que especificam ao maacuteximo a possibilidade de
cobertura da garantia a ocorrecircncia (39) veicula que a garantia eacute vaacutelida para o produto
comercializado em territoacuterio brasileiro natildeo tratando sobre a possibilidade da perda da
garantia caso o veiacuteculo seja utilizado em outros paiacuteses Neste caso o cliente natildeo tem direito
a garantia do veiacuteculo caso ele seja adquirido em outros paiacuteses Sobre a expressatildeo ―territoacuterio
brasileiro assim como nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31) o autor natildeo definiu um
sentido para a expressatildeo que pode ser interpretada de outras maneiras como exemplificamos
nas anaacutelises anteriores
(40) Utilizar SOMENTE peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios genuiacutenos
Mercedes-Benz e comprovar sua aquisiccedilatildeo mediante e apresentaccedilatildeo
da Nota Fiscal quando adquiridos pelo consumidor final
(Certificado 16)
Na ocorrecircncia (40) que faz parte de uma lista de recomendaccedilotildees para o cliente natildeo
perder a garantia o fabricante utiliza o termo ―somente para delimitar a interpretaccedilatildeo da
sentenccedila Na passagem se o cliente natildeo seguir as instruccedilotildees descritas consequentemente
perderaacute a garantia do produto A importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente na ocorrecircncia (40) eacute
a de dificultar que o cliente interpreta a sentenccedila de outra maneira Sem o ―somente na
sentenccedila o cliente poderia interpretar que ele pode utilizar peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios
originais do fabricante mas tambeacutem estaacute autorizado a utilizar peccedilas de outros fabricantes
Com a presenccedila do ―somente na sentenccedila o cliente eacute levado a interpretar a sentenccedila da
75
forma direcionada pelo fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (40)
(41) A comprovaccedilatildeo de defeito de fabricaccedilatildeo do produto que provocaraacute a
execuccedilatildeo da troca do mesmo deveraacute ser feita exclusivamente por
funcionaacuterio credenciado da Ortobom
(Certificado 15)
Na ocorrecircncia (41) o fabricante natildeo utiliza explicitamente os termos ―apenas ou
―somente mas consideraremos em nossa anaacutelise que o termo ―exclusivamente possui a
mesma funccedilatildeo de restringir interpretaccedilotildees O fabricante utiliza o termo para restringir a
garantia do produto em questatildeo Natildeo haacute a possibilidade de o cliente comprovar um defeito de
fabricaccedilatildeo em seu produto atraveacutes de outro profissional que natildeo seja um funcionaacuterio
credenciado da Ortobom Haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia (41) caso o
fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―exclusivamente Sem tal uso o cliente poderia
interpretar que poderia comprovar algum defeito no produto para possiacutevel troca por
intermeacutedio de qualquer profissional natildeo obrigatoriamente por um funcionaacuterio do fabricante
Ortobom O termo ―exclusivamente especifica e destaca a informaccedilatildeo que o fabricante
veicula em (41) Natildeo identificamos em (41) nem termos polissecircmicos nem termos vagos
(42) A garantia cobre exclusivamente defeitos de materiais eou
fabricaccedilatildeo sendo que as despesas de deslocamento alimentaccedilatildeo e
hospedagem do teacutecnico para atendimento em garantia ou natildeo
referente agrave entrega montagem instruccedilatildeo de uso e reparo do
equipamento assim como o frete de retirada para conserto e retorno
do mesmo e de envio de peccedilas e retorno das substituiacutedas em garantia
ocorreratildeo por conta do cliente
(Certificado 22)
Assim como em (41) o fabricante utiliza o termo ―exclusivamente para restringir a
garantia do produto O fabricante ao utilizar esse termo se resguarda de possiacuteveis cobranccedilas
por parte do cliente ao solicitar a garantia como por exemplo ajuda de custo para custear a
iacuteda do teacutecnico para manutenccedilatildeo do produto envio de peccedilas para faacutebrica etc Fica expliacutecito
que em todas essas situaccedilotildees o cliente eacute responsaacutevel Caso o termo ―exclusivamente natildeo
76
tivesse sido utilizado o cliente poderia interpretar a ocorrecircncia de diferentes modos Uma
possibilidade de interpretaccedilatildeo seria a de entender que a garantia cobre outros tipos de
defeitos que natildeo fossem de peccedilas ou de fabricaccedilatildeo Com a utilizaccedilatildeo do termo
―exclusivamente o fabricante diminui as possibilidades de interpretaccedilatildeo tornando o texto
mais claro para o cliente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na
ocorrecircncia (42)
(43) A garantia natildeo cobre peccedilas ou componentes de desgaste normal de
uso dentre as quais selim pedais firma-peacutes natildeo se limitando
SOMENTE a estes mas incluindo rodas de transporte carenagens
adesivos elementos de acabamento de plaacutestico borracha e alumiacutenio
danos na pintura e quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa
exclusiva distribuiccedilatildeo devendo as reclamaccedilotildees ser encaminhadas aos
seus respectivos representantes ou fabricantes
(Certificado 22)
Em (43) o fabricante aleacutem de utilizar o termo ―somente para abranger a
interpretaccedilatildeo sobre as peccedilas que natildeo seratildeo cobertas pela garantia do produto utiliza outros
termos que alargam ainda mais sem restriccedilotildees a natildeo cobertura da garantia como ―quaisquer
acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo O fabricante se resguarda
especificando quais peccedilas que ele considera como de ―desgaste normal para evitar
problemas de interpretaccedilatildeo por parte do cliente O uso do ―somente na ocorrecircncia (43) se
apresenta de forma contraacuteria agraves outras ocorrecircncias que apresentamos anteriormente Enquanto
em ocorrecircncias como a (40) que o ―somente foi utilizado para restringir a interpretaccedilatildeo da
sentenccedila para as informaccedilotildees descritas depois do termo em (43) o fabricante utiliza o
―somente precedido da negaccedilatildeo ―natildeo se limitando direcionando o termo para o sentido de
abrangecircncia Ou seja a garantia que o fabricante oferece natildeo cobre peccedilas ou componentes de
desgaste natural como selim e pedais Para natildeo correr o risco de esquecer de citar algum dos
componentes de desgaste natural do produto e deixar brechas na interpretaccedilatildeo da garantia o
fabricante utiliza a expressatildeo ―natildeo se limitando seguida do ―somente para abranger ao
maacuteximo as possibilidades de interpretaccedilatildeo sobre os itens de desgaste natural que natildeo satildeo
cobertos pela garantia Depois do uso do ―somente e de apresentar mais uma lista de itens
que natildeo satildeo cobertos pela garantia o fabricante ainda abrange mais a interpretaccedilatildeo
utilizando a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo
Dessa forma pudemos perceber que o fabricante utilizou natildeo apenas o termo de restriccedilatildeo
77
―somente para limitar as possibilidades de interpretaccedilatildeo da sentenccedila mas tambeacutem utilizou
listas especificando itens e a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa
exclusiva distribuiccedilatildeo Todas essas estrateacutegias foram utilizadas com o objetivo de tornar a
interpretaccedilatildeo do texto clara sem oferecer a possibilidade de o cliente obter muacuteltiplas
interpretaccedilotildees do texto Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na
ocorrecircncia (43)
(44) A matildeo-de-obra em garantia limita-se SOMENTE ao horaacuterio normal
de expediente sendo de segunda a sexta-feira das 730 agraves 1800 horas
devendo o equipamento estar disponiacutevel para a assistecircncia teacutecnica
(Certificado 22)
Em (44) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o horaacuterio disponiacutevel
para reparos em produtos na garantia e aleacutem disso enfatizando que o produto deve estar
disponiacutevel para a assistecircncia Dessa forma o cliente fica impossibilitado de reclamar
assistecircncia fora do horaacuterio que estaacute descrito na sentenccedila assim como fica consciente de que
seu produto ficaraacute a disposiccedilatildeo da assistecircncia para conserto ou seja natildeo seraacute reparado
imediatamente A importacircncia do uso do ―somente na ocorrecircncia (44) se daacute pelo fato de que
caso natildeo fosse utilizado o cliente poderia interpretar por exemplo que a matildeo-de-obra em
garantia estaria disponiacutevel vinte e quatro horas por dia e sete dias por semana Como o
―somente foi utilizando precedendo as informaccedilotildees sobre dia e horaacuterio de atendimento natildeo
eacute possiacutevel interpretar a informaccedilatildeo de outra maneira que natildeo seja a descrita Haveria a
possibilidade de definir a expressatildeo ―horaacuterio normal de expediente como uma expressatildeo
polissecircmica caso ela natildeo estivesse acompanhada de uma definiccedilatildeo (―de segunda a sexta-feira
das 730 agraves 1800 horas) pois o horaacuterio de expediente pode variar de acordo com o trabalho
que vocecirc tem por exemplo Se vocecirc trabalha em um banco financeiro o seu horaacuterio de
expediente seraacute possivelmente diferente do horaacuterio de um feirante Para evitar a polissemia
o fabricante utilizou a expressatildeo e em seguida apresentou a definiccedilatildeo da expressatildeo de
acordo com o seu interesse
(45) A presente garantia limita-se SOMENTE ao produto fornecido natildeo
responsabilizando a TOTAL HEALTH por danos causados a pessoas
a terceiros a outros equipamentos ou instalaccedilotildees lucros cessantes ou
quaisquer outros danos emergentes ou consequumlentes
(Certificado 22)
78
Na ocorrecircncia (45) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da
garantia Nesse caso a garantia se limita unicamente ao produto descrito Se por exemplo o
produto em questatildeo apresentar defeito e tal defeito ocasionar dano fiacutesico ao dono do produto
ou a terceiros a garantia natildeo cobriraacute tais problemas Assim como nas ocorrecircncias anteriores
o uso do ―somente em (45) teve a funccedilatildeo de direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para uma
uacutenica possibilidade de interpretaccedilatildeo Caso o ―somente natildeo tivesse sido utilizado poderiacuteamos
interpretar (45) de outras maneiras Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (45)
(46) SOMENTE os profissionais indicados pela loja revendedora dos
produtos Bartzen estatildeo autorizados a prestar atendimento dentro do
prazo de garantia
(Certificado 18)
Na ocorrecircncia (46) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila Nesse caso o cliente soacute poderaacute usufruir de assistecircncia teacutecnica em
seu produto atraveacutes de profissionais indicados pela loja na qual ele adquiriu seu produto
Bartzen e dentro do prazo da garantia Caso o cliente realize algum serviccedilo em seu produto
com profissionais natildeo autorizados pela fabricante sua garantia seraacute invalidada A importacircncia
da utilizaccedilatildeo do termo ―somente na ocorrecircncia (46) eacute a de diminuir as possibilidades de
interpretaccedilatildeo da sentenccedila ao maacuteximo Dessa forma natildeo haacute como o cliente interpretar que por
exemplo ele pode realizar a manutenccedilatildeo ou reparo do seu produto com qualquer outro
funcionaacuterio que natildeo seja autorizado pela fabricante do produto Natildeo identificamos nem
termos polissecircmicos nem termos vagos em (46)
(47) A garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o consumidor que consta
identificado na nota fiscal de compra do produto (primeiro usuaacuterio) a
qual deveraacute ser apresentada junto com este Certificado de Garantia
devidamente preenchido com os dados do consumidor e do produto
para fins de cobertura para reparo ou substituiccedilatildeo do produto se
necessaacuterio
(Certificado 19)
79
Em (47) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia Nesse caso
o cliente fica ciente de que a garantia soacute seraacute vaacutelida para o primeiro proprietaacuterio do produto
assim como soacute seraacute aceito o pedido de garantia caso o cliente apresentar a nota fiscal
contendo tanto os dados do produto quanto os seus Todas as possibilidades fora das
descritas seratildeo desconsideradas e consequentemente a garantia seraacute invalidada A
importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente em (47) se daacute pelo fato de que haacute diversas
informaccedilotildees a serem consideradas pelo cliente na ocorrecircncia (47) e caso o autor do texto natildeo
tivesse utilizado o termo ―somente antes dessas informaccedilotildees o cliente poderia interpretar
que sua garantia poderia ser vaacutelida ao cumprir algumas das informaccedilotildees descritas na sentenccedila
e natildeo obrigatoriamente todas Por exemplo se natildeo houvesse o uso do ―somente em (47) o
cliente poderia interpretar que a garantia eacute vaacutelida para o consumidor que tem o nome
constando na nota fiscal mas tambeacutem para qualquer outro consumidor que esteja de posse da
nota fiscal mesmo que natildeo seja a pessoa que tem o nome na nota fiscal O ―somente possui
o papel de restringir a interpretaccedilatildeo de toda ocorrecircncia ao maacuteximo direcionando a leitura do
texto para evitar muacuteltiplas interpretaccedilotildees Com esse uso natildeo eacute possiacutevel que cliente interprete
que ele pode ter acesso a garantia caso natildeo cumpra alguma das recomendaccedilotildees Natildeo
identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (47)
(48) O Certificado de Garantia eacute vaacutelido SOMENTE para os
condicionadores vendidos e instalados no territoacuterio brasileiro
(Certificado 19)
Em (48) semelhante agraves ocorrecircncias (31) e (39) o fabricante utiliza o termo ―somente
para restringir o territoacuterio de cobertura da garantia Neste caso condicionadores adquiridos e
utilizados em outros paiacuteses natildeo seratildeo cobertos pela garantia descrita acima Ainda retomando
a discussatildeo sobre a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro consideramos que pelo fato do autor do
texto natildeo ter apresentado um conceito para esta expressatildeo em nenhum local do certificado de
garantia da forma como se apresenta ela pode ser interpretada de outras maneiras assim
como discutimos nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)
(49) Para o uso de condicionadores de ar em ambientes com alta
concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre
seraacute vaacutelida SOMENTE a garantia legal de 90 (noventa) dias contados
80
da data de emissatildeo da nota fiscal de compra do produto
(Certificado 19)
Na ocorrecircncia (49) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da
garantia do produto que seja utilizado em ambientes especiacuteficos como ―ambientes com alta
concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre Dessa forma o
fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a qualquer solicitaccedilatildeo de garantia ―normal ou seja prazo
de validade de garantia para condicionadores de ar que satildeo utilizados em ambientes
considerados ―normais por parte de um cliente que utilize o produto em ambientes como os
descritos acima Dessa forma o uso do ―somente se justifica pelo fato de que o fabricante
busca direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha duacutevidas de que como
descrito em (49) os produtos utilizados em ambientes atiacutepicos soacute estaratildeo cobertos pela
garantia legal Assim como jaacute discutimos em outras ocorrecircncias anteriormente o fabricante
utiliza a expressatildeo ―garantia legal que eacute uma expressatildeo teacutecnica do CDC e para que ela natildeo
se tornasse polissecircmica logo apoacutes seu uso o autor apresentou o conceito para o termo que eacute
o de um periacuteodo de 90 dias corridos compreendidos imediatamente apoacutes a expediccedilatildeo da nota
fiscal de compra do produto
(50) A partir do 91ordm (nonageacutesimo primeiro) dia tais despesas satildeo de
responsabilidade uacutenica e exclusiva do consumidor
(Certificado 19)
Em (50) o fabricante natildeo utilizou os termo ―somente e ―apenas mas
consideraremos em nossa anaacutelise a utilizaccedilatildeo da expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como
umas expressotildees utilizadas para restringir interpretaccedilotildees como discutimos anteriormente em
outras anaacutelises Na sentenccedila acima o fabricante utilizou a expressatildeo de restriccedilatildeo para
enfatizar que passados os trecircs meses de garantia as despesas referentes a qualquer
manutenccedilatildeo e garantia do produto seratildeo de responsabilidade do cliente Como apresentamos
na ocorrecircncia (49) a garantia legal para um produto cobre os primeiros 90 dias apoacutes a
emissatildeo da nota fiscal de compra do produto Ao informar em (50) que a partir do primeiro
dia apoacutes o teacutermino da garantia legal despesas referentes ao traslado do produto para
manutenccedilatildeo seraacute de responsabilidade do cliente o autor utiliza a expressatildeo ―uacutenica e
exclusiva para se resguardar de qualquer possibilidade de participaccedilatildeo em possiacuteveis gastos
81
Caso o fabricante natildeo tivesse enfatizado essa informaccedilatildeo utilizando esta expressatildeo o cliente
poderia interpretar por exemplo que poderia haver algum caso em que o fabricante se
responsabilizaria por tais gastos Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (50)
(51) A reposiccedilatildeo de peccedilas defeituosas e execuccedilatildeo dos serviccedilos decorrentes
desta Garantia SOMENTE seratildeo procedidas nas localidades do
territoacuterio brasileiro onde a ENVISION mantiver ―Centro de Serviccedilo
Autorizado de titularidade dela proacutepria ou de terceiro por ela
expressamente indicado onde deveraacute ser entregue o produto para
reparo
(Certificado 20)
Na ocorrecircncia (51) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir os locais de
execuccedilatildeo de serviccedilos da garantia Neste caso o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a por
exemplo natildeo haver assistecircncias teacutecnicas em todas as cidades do paiacutes Aleacutem de enfatizar que o
produto deveraacute ser entregue na assistecircncia pelo cliente ou seja o fabricante natildeo se
responsabiliza quanto ao recolhimento do produto para reparo A utilizaccedilatildeo do ―somente se
justifica pelo fato de que o fabricante busca restringir ao maacuteximo as possibilidades de
interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o ―somente o cliente
poderia por exemplo interpretar que se a cidade em que o cliente tenha adquirido o produto
natildeo tenha uma assistecircncia teacutecnica a fabricante se responsabilizaria pelo recolhimento do
produto para manutenccedilatildeo numa cidade que possua a assistecircncia teacutecnica Com a utilizaccedilatildeo do
―somente precedendo as demais informaccedilotildees natildeo eacute possiacutevel interpretar a ocorrecircncia dessa
maneira Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termo vagos na ocorrecircncia (51)
(52) Esta Garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver
devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original
da Nota Fiscal de Compra
(Certificado 20)
Na ocorrecircncia (52) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a forma
como o cliente deve solicitar a garantia do produto Caso o cliente deixe de apresentar o
certificado preenchido corretamente eou a nota fiscal de compra a garantia seraacute invalidada
82
Assim como na ocorrecircncia (51) o autor fabricante utiliza o ―somente para restringir ao
maacuteximo a interpretaccedilatildeo do texto Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente
haveria a possibilidade de o cliente interpretar que a garantia do produto seria vaacutelida caso o
certificado estivesse preenchido sem rasuras acompanhado da nota fiscal de compra mas
tambeacutem de qualquer outra forma A ocorrecircncia ficaria sem limites para interpretaccedilatildeo caso o
fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente Poreacutem como o termo foi utilizado natildeo
haacute outra forma de o cliente interpretar a ocorrecircncia sobre a validade da garantia do produto
Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (52)
(53) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS se o produto for reparado pela rede
autorizada Rheem ou por autorizaccedilatildeo preacutevia formalizada pelo
Departamento de Assistecircncia Teacutecnica
(Certificado 20)
Na ocorrecircncia (53) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a validade da
garantia quanto ao local de assistecircncia Caso o produto seja reparado por profissional natildeo
autorizado pela fabricante Rheem a garantia do produto seraacute perdida A importacircncia o uso do
termo ―apenas na ocorrecircncia (53) se daacute pelo fato de que o autor busca restringir a
interpretaccedilatildeo do texto ao maacuteximo Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―apenas o
cliente poderia por exemplo interpretar que a garantia do produto eacute vaacutelida em qualquer
situaccedilatildeo e natildeo unicamente se seguir as recomendaccedilotildees descritas apoacutes o uso do termo
―apenas Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (53)
(54) Os produtos SOMENTE poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para
anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes sua autorizaccedilatildeo por escrito
(Certificado 21)
Na ocorrecircncia (54) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o modo
como deve submeter o produto agrave garantia Caso natildeo haja uma autorizaccedilatildeo por escrito para
enviar o produto para a faacutebrica o produto natildeo poderaacute seguir para anaacutelise A importacircncia da
utilizaccedilatildeo do termo ―somente se daacute pelo fato de que caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o
termo na ocorrecircncia (54) a interpretaccedilatildeo do texto ficaria sem limites ou seja os produtos
poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes a autorizaccedilatildeo por
83
escrito ou de qualquer outra forma Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (54)
34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS
Em nossa pesquisa analisamos cinquenta e quatro ocorrecircncias selecionadas a partir
dos vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Dividimos a anaacutelise por tipos de
ocorrecircncias com quantificador universal com condicional e com o apenassomente Para
apresentar um panorama sobre os tipos de ocorrecircncia e a quantidade das anaacutelises de cada tipo
vamos observar o quadro a seguir
Tipo de ocorrecircncia Nuacutemero de ocorrecircncias
Quantificador universal 15
Condicional 9
ApenasSomente 30
TOTAL 54
Quadro 2 ndash Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia Fonte elaborado pelo autor
Antes de discorrer nossos comentaacuterios sobre as anaacutelises de nosso trabalho temos que
tratar sobre a primeira importante impressatildeo que tivemos diante do corpus e das consequentes
anaacutelises dos quatro nexos semacircnticos que invocamos em nosso trabalho somente
identificamos ocorrecircncias com acarretamentos Tratamos com muita naturalidade este fato
porque por mais que em algumas leituras uma parte do conteuacutedo do segundo capiacutetulo possa
ser vista como desnecessaacuteria ndash pelo fato de tais conceitos natildeo estarem presentes nas anaacutelises
dessa pesquisa ndash encontramos aiacute uma caracteriacutestica do gecircnero textual certificado de garantia
que eacute a presenccedila de diversos acarretamentos mesmo que natildeo-expliacutecitos como demonstramos
em nosso trabalho (porque o gecircnero textual certificado de garantia natildeo possui uma linguagem
tatildeo controlada quanto a linguagem encontrada nos exemplos que criamos para ilustrar os
conceitos dos nexos) Dessa maneira fica claro que natildeo encontramos ocorrecircncias com
equivalecircncias semacircnticas contrariedades ou contraditoriedades o que nos permite definir
estas ausecircncias como uma caracteriacutestica intriacutenseca do gecircnero
84
Na primeira parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o quantificador
universal Identificamos quinze ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia
utilizaram esse recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (1) e (15)
percebemos que o uso do quantificador universal em algumas ocorrecircncias serviu apenas para
reforccedilar a informaccedilatildeo que o fabricante quis veicular ou seja se natildeo tivesse sido utilizado natildeo
modificaria o sentido do texto Pudemos identificar esse sentido por exemplo nas
ocorrecircncias (1) e (2)
Aleacutem desse sentido para o uso do quantificador universal encontramos ocorrecircncias
em que caso o quantificador natildeo tivesse sido utilizado haveria a possibilidade de
interpretarmos a ocorrecircncia de vaacuterias maneiras Nesses casos os autores utilizaram o
quantificador para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo direcionando a leitura do texto
para que o cliente possa interpretar o certificado da forma que o fabricante deseja Pudemos
identificar esse sentido por exemplo nas ocorrecircncias (3) (4) e (8)
Pudemos observar que os autores dos certificados de garantia utilizam tambeacutem o
quantificador universal em seus textos para se resguardarem em relaccedilatildeo a deveres que
poderiam ser reclamados pelo cliente caso natildeo houvesse o uso deste recurso Dessa forma
podemos entender que os autores dos certificados utilizaram o quantificador universal para se
favorecerem Pudemos observar essa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (5) (11) (13) e
(14) Em relaccedilatildeo a ocorrecircncias com o uso do quantificador universal em que o cliente eacute
beneficiado natildeo identificamos nenhum caso em nossa anaacutelise
Sobre o aparecimento de termos vagos ou termos polissecircmicos nas ocorrecircncias com a
presenccedila do quantificador universal pudemos observar que o maior motivo da sensibilidade
dos textos a esses tipos de efeitos linguiacutesticos eacute o fato de os autores dos textos em muitos
casos natildeo conceituarem os termos teacutecnicos que eles utilizam nos certificados de garantia Ao
utilizar um termo teacutecnico como por exemplo na ocorrecircncia (3) em que o autor do
certificado de garantia utiliza o termo ―viacutecio do produto ndash termo teacutecnico do CDC ndash natildeo
apresentando o conceito em seu texto dificulta a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Tendo contato
com o termo de forma solta sem estar delimitada pelo conceito que o autor deseja que o
cliente interprete a ocorrecircncia se torna vaga e polissecircmica
Ainda sobre os termos vagos ou termos polissecircmicos encontramos tambeacutem
ocorrecircncias em que os autores buscaram evitaacute-las justamente apresentando apoacutes a utilizaccedilatildeo
de um termo teacutecnico o seu respectivo conceito desta forma natildeo oferecendo a possibilidade
de interpretaacute-lo de vaacuterias maneiras Pudemos observar este uso por exemplo na ocorrecircncia
(10) em que o autor do certificado usa o termo ―garantia legal e logo em seguida apresenta
85
o conceito para o termo que eacute ―os primeiros 90 dias Dessa forma o cliente natildeo eacute autorizado
a interpretar o termo ―garantia legal de nenhuma outra forma que natildeo seja a descrita pelo
fabricante
Na segunda parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o uso do condicional
Identificamos nove ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia utilizaram este
recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (16) e (24) pudemos identificar
que o condicional foi utilizado pelos autores dos textos precedendo listas instrucionais o que
era esperado devido a caracteriacutestica proacutepria desse recurso que eacute o de condicionar algo agrave
alguma coisa Assim como nas ocorrecircncias que os autores utilizaram o quantificador
universal o condicional foi utilizado em boa parte das ocorrecircncias analisadas para restringir
a interpretaccedilatildeo do texto Pudemos identificar este sentido por exemplo nas ocorrecircncias (16)
(17) e (18)
Identificamos em boa parte das ocorrecircncias que possuem o uso do condicional que
este uso natildeo impotildee um limite na interpretaccedilatildeo Pudemos observar em nossa anaacutelise que os
condicionais foram utilizados precedendo listas exaustivas que continham situaccedilotildees por
exemplo em que a garantia seria invalidada Ao apresentar tais listas os autores natildeo
especificavam que natildeo haveria outros casos fora da lista em que a garantia seria invalidada
Dessa forma observamos que assim como nas ocorrecircncias com quantificador universal os
autores utilizaram os condicionais para se favorecerem Identificamos na ocorrecircncia (22)
recursos que restringem ainda mais as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente e
que consequentemente favorecem o fabricante como o uso do termo ―cumulativamente
que obriga o cliente a natildeo apenas estar dentro de uma ou mais situaccedilotildees descritas pelo
fabricante apoacutes o condicional mas a seguir todas as situaccedilotildees descritas ao mesmo tempo
Quando os fabricantes utilizaram o condicional precedendo listas que constam as
situaccedilotildees em que o cliente poderia perder a garantia eles usaram o recurso sem limites como
pudemos observar na ocorrecircncia (21) Mas quando os fabricantes utilizaram o condicional
precedendo listas que constam as situaccedilotildees em que o cliente tem direito a garantia eles
usaram os recursos com limites e como mostramos na ocorrecircncia (22) ainda utilizaram
recursos que limitam mais ainda a garantia
Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem das ocorrecircncias em que o condicional apareceu
de forma expliacutecita ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o mesmo
sentido como em (19) (20) e (24)
Sobre a presenccedila de termos polissecircmicos ou termos vagos nas ocorrecircncias com o uso
do condicional pudemos identificar que diferente das ocorrecircncias com o uso do
86
quantificador universal natildeo encontramos casos de termos vagos ou termos polissecircmicos nas
ocorrecircncias analisadas Identificamos em muitas ocorrecircncias que os autores dos certificados
apresentaram os conceitos para termos teacutecnicos apoacutes uso geralmente entre parecircnteses para
evitar que o termo ou a expressatildeo fossem interpretados de formas indevidas Encontramos
este tipo de estrateacutegia por exemplo na ocorrecircncia (17) do certificado 3 em que o autor
utiliza os termos ―garantia legal e ―garantia contratual mas no texto do certificado haacute o
conceito para cada termo o que impossibilita que o cliente interprete os termos de diversas
maneiras Caso o fabricante tivesse utilizado os dois termos teacutecnicos e em lugar algum do
certificado de garantia ele apresentasse os conceitos para os termos oportunizaria por
conseguinte diversas possibilidades de interpretaccedilatildeo dificultando a leitura do texto por parte
do cliente
Na terceira parte da anaacutelise tratamos sobre as ocorrecircncias com o uso do ―apenas e do
―somente Identificamos trinta ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia
utilizaram esses recursos linguiacutesticos Apesar do nuacutemero elevado de ocorrecircncias os sentidos
em que o ―apenas e o ―somente foram utilizados natildeo variaram muito Em grande parte das
ocorrecircncias analisadas o ―apenas e o ―somente foram utilizados para restringir a validade
da garantia desde restriccedilotildees em relaccedilatildeo ao territoacuterio de vigecircncia ateacute tipos de ambientes em
que os produtos podem ser utilizados Um tipo de ocorrecircncia que foi bastante recorrente em
nosso corpus foi o que utilizou o ―apenas ou ―somente para delimitar o territoacuterio em que a
garantia pode ser vaacutelida como por exemplo nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)
Nestas ocorrecircncias haacute o uso da expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que levantamos na anaacutelise
uma discussatildeo sobre as possibilidades de interpretaccedilatildeo para tal expressatildeo pelo fato de natildeo
haver nos certificados de garantia analisados um conceito definido para ela A ausecircncia do
conceito para este termo nos certificados de garantia pode dificultar a interpretaccedilatildeo
Tambeacutem podemos afirmar que em grande parte das ocorrecircncias analisadas o uso do
―somente ou ―apenas serviu para impor limites agraves interpretaccedilotildees dos textos direcionando-
os para a interpretaccedilatildeo que o fabricante desejasse impor Ou seja em grande parte das
ocorrecircncias em que foi utilizado o ―somente precedendo uma situaccedilatildeo X caso natildeo houvesse
esse uso a garantia por exemplo seria vaacutelida na situaccedilatildeo X mas tambeacutem nas situaccedilotildees Y Z
W sem limites Sem o uso do ―somente nessas ocorrecircncias o texto da garantia natildeo teria
sentido definido Pudemos observar esse sentido em diversas ocorrecircncias analisadas como
por exemplo nas ocorrecircncias (27) e (28) Ilustrando caso natildeo houvesse o uso do ―apenas
nas ocorrecircncias (27) e (28) a garantia seria vaacutelida no territoacuterio brasileiro e em qualquer outro
Ainda sobre as ocorrecircncias usam o ―somente ou ―apenas para restringir o territoacuterio em que
87
a garantia seraacute vaacutelida observamos que algumas ocorrecircncias especificam mais a validade da
garantia como em (48) que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para produtos vendidos e
instalados em territoacuterio nacional e outras ocorrecircncias que especificam menos como em (39)
que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para o veiacuteculo comercializado em territoacuterio brasileiro
Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem de ocorrecircncias em que o ―apenas e ―somente
apareciam explicitamente ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o
mesmo sentido como em (35) (36) e (41)
Sobre o aparecimento de termos polissecircmicos ou termo vagos aleacutem da expressatildeo
―territoacuterio brasileiro que mencionamos nos paraacutegrafos anteriores pudemos identificar
outros casos de termos polissecircmicos como por exemplo nas ocorrecircncias (25) e (26) Os
termos teacutecnicos utilizados pelos autores dos certificados de garantia natildeo possuiacuteam em lugar
algum dos textos os conceitos para lhes definirem possibilitando que o cliente interprete
estes termos de diversas maneiras
Ainda sobre casos de termos polissecircmicos observamos em algumas ocorrecircncias que
os autores dos certificados procuraram utilizar os termos teacutecnicos e em seguida ou em
alguma parte dos textos apresentaram os conceitos para os termos evitando muacuteltiplas
interpretaccedilotildees Identificamos o uso dessa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (43) (44) e
(49)
Nos trecircs tipos de ocorrecircncias que definimos para nossa anaacutelise pudemos identificar
que nos usos do quantificador universal condicional e ―apenas e ―somente os autores dos
certificados de garantia usaram esses recursos para se favorecerem Como analisado nas
ocorrecircncias do corpus os fabricantes utilizaram essas estrateacutegias tanto pelo fato de que eacute
necessaacuterio utilizar esses recursos por ser caracteriacutestico de textos instrucionais quanto pelo
fato de que o direcionamento das interpretaccedilotildees dos textos que eles constroem a partir destes
recursos podem favorecer os proacuteprios fabricantes
88
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Na presente seccedilatildeo iremos pontuar o percurso de nossa pesquisa e apresentar nossas
impressotildees sobre o corpus as teorias apresentadas e os resultados obtidos com as anaacutelises
O primeiro capiacutetulo de nossa pesquisa foi subdividido em duas partes na primeira
buscamos apresentar os conceitos gerais sobre os gecircneros textuais com base na proposta de
Bakhtin (2000) reafirmada por Marcuschi (2008) com o intuito de fornecer aporte teoacuterico
para a segunda parte do capiacutetulo em que caracterizamos o certificado de garantia como um
gecircnero textual Tal caracterizaccedilatildeo se deu pelo fato do nosso corpus ser composto por vinte e
dois certificados de garantia Ficamos surpresos por tomar conhecimento do fato de que ateacute o
presente momento natildeo identificamos publicaccedilotildees acadecircmicas em nosso paiacutes referentes agrave
caracterizaccedilatildeo de certificados de garantia como gecircneros textuais e esta dificuldade nos levou
a construir atraveacutes de nossa leitura a caracterizaccedilatildeo tanto quanto ao conteuacutedo quanto agrave
estrutura do texto A uacutenica bibliografia que encontramos e utilizamos como base para a
estruturaccedilatildeo da segunda parte do capiacutetulo tratando diretamente sobre os certificados de
garantia foi o Coacutedigo de Defesa e Proteccedilatildeo do Consumidor (1997) em que pudemos extrair
alguns conceitos gerais e recomendaccedilotildees de como se deve construir o texto de um certificado
de garantia Um dos problemas que encontramos foi a carecircncia de detalhes apresentados pelo
CDC na seccedilatildeo em que sugerem um padratildeo de formulaccedilatildeo do documento O CDC apenas
enfatiza que se faz necessaacuterio o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo e por exemplo a
necessidade de ser acompanhado do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto Com base
nessas informaccedilotildees apresentamos os conceitos e tambeacutem um exemplo de certificado de
garantia ilustrando cada parte da estrutura do texto
Na introduccedilatildeo do segundo capiacutetulo apresentamos uma discussatildeo geral sobre a
distinccedilatildeo entre semacircntica e pragmaacutetica com o objetivo de caracterizar os nexos como
relaccedilotildees linguiacutesticas do campo da semacircntica Para isso apresentamos tambeacutem os conceitos e
exemplos de relaccedilotildees linguiacutesticas que satildeo consideradas como pertencentes ao campo da
pragmaacutetica como a implicatura e pressuposiccedilatildeo Para esta discussatildeo buscamos aporte teoacuterico
nas obras de autores como Trask (2004) Levinson (2007) Grice (1987) Basso (2009)
Moura (1999) e Santos (2012)
Apoacutes a introduccedilatildeo do capiacutetulo apresentamos a teoria dos nexos semacircnticos que
escolhemos tratar em nossa pesquisa Foram eles o acarretamento a equivalecircncia semacircntica
a contradiccedilatildeo e a contrariedade Utilizamos como referencial teoacuterico para a teoria dos nexos
89
semacircnticos autores como Aristoacuteteles (1985) Chierchia (2001) Branquinho Murcho e Gomes
(2006) Pires de Oliveira (2001) e Mortari (2001) A apresentaccedilatildeo de cada nexo se deu a
partir dos conceitos seguidos de exemplos e dentro de cada seccedilatildeo apresentamos tambeacutem
tipos de ocorrecircncias lexicais que podem dificultar a intepretaccedilatildeo dos nexos que satildeo a
polissemia e a vagueza Ao apresentar os conceitos dessas ocorrecircncias lexicais assim como
fizemos na apresentaccedilatildeo dos nexos tambeacutem ilustramos com exemplos Utilizamos como
aporte teoacuterico para os conceitos de polissemia e vagueza autores como Crystal (1985) Allan
(2010) e Kempson (1977) Aleacutem da polissemia e vagueza tratamos sobre outro problema
que dificulta a interpretaccedilatildeo dos nexos as falaacutecias Quando tratamos sobre as caracteriacutesticas
das falaacutecias utilizamos como base teoacuterica o texto de Soares (2003) em que o autor distingue
as caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias e com esse aporte apresentamos nossos
exemplos
Quando tratamos sobre a contradiccedilatildeo e contrariedade apresentamos o fato de que as
suas origens tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica A partir disso trouxemos uma breve apresentaccedilatildeo
sobre os conceitos de Aristoacuteteles presentes em seu texto Organon (1985) mais
especificamente no Perieacutermeneas capiacutetulos 6 e 7
No final do capiacutetulo dois fizemos uma retrospectiva de todos os pontos que foram
apresentados ao longo do capiacutetulo e justificamos a nossa escolha em pesquisar sobre os nexos
semacircnticos assim como a polissemia vagueza e falaacutecias Durante todo o capiacutetulo dois
apresentamos os nexos e outras relaccedilotildees lexicais dentro de uma linguagem controlada que eacute
diferente do que acontece nos textos dos diversos gecircneros inclusive naquele escolhido para
compor o nosso corpus que satildeo os certificados de garantia A importacircncia dos conceitos
apresentados em nosso segundo capiacutetulo se deu pelo fato de que ele oferece uma base para a
compreensatildeo do funcionamento dessas relaccedilotildees semacircnticas para que diante das anaacutelises que
realizamos no capiacutetulo trecircs tenhamos uma leitura mais refinada e atenciosa para perceber
como essas relaccedilotildees semacircnticas tiacutepicas de linguagens controladas se apresentam em textos
que satildeo suscetiacuteveis a diversas ocorrecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo Ficamos surpresos
pelo fato de que pouco se escreveu sobre nexos semacircnticos em nosso contexto nacional de
pesquisa o que tornou a construccedilatildeo do nosso segundo capiacutetulo bastante desafiadora Em
relaccedilatildeo a artigos que trataram diretamente sobre os nexos semacircnticos e os seus usos como
suporte para a anaacutelise de ocorrecircncias em gecircneros textuais tivemos contato apenas com Santos
(2012) e Estrela e Santos (2013 2014)
No terceiro capiacutetulo que foi dedicado para conter a anaacutelise desta pesquisa
inicialmente apresentamos nossa justificativa para a escolha do gecircnero certificado de garantia
90
para analisar assim como a justificativa para a escolha de procurar nesses textos as
estrateacutegias linguiacutesticas utilizadas para restringir a interpretaccedilatildeo de sentenccedilas Em seguida
tratamos sobre os tipos de ocorrecircncias que elegemos para nossa anaacutelise como quantificador
universalcondicional e o ―apenas e o ―somente Esta escolha se deu pelo fato de tais
termos possuem caracteriacutesticas propiacutecias para o uso em restriccedilotildees ou abrangecircncias de textos
Mesmo assim tiacutenhamos conhecimento de que dificilmente encontrariacuteamos ocorrecircncias com
as relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos no capiacutetulo dois de forma expliacutecita e controlada
pois como discutimos anteriormente os diversos gecircneros textuais satildeo suscetiacuteveis a
interferecircncias lexicais que podem dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos
Em seguida apresentamos a anaacutelise do nosso corpus que totalizou cinquenta e quatro
trechos de certificados nos trecircs tipos de ocorrecircncias escolhidas para serem investigadas
Como jaacute apresentamos no final do capiacutetulo anterior nossas impressotildees sobre como foram
utilizados os recursos linguiacutesticos para restriccedilatildeo de interpretaccedilotildees pelos autores dos
certificados gostariacuteamos de enfatizar que nas ocorrecircncias com quantificador universal com
condicional e com o ―apenas e ―somente os fabricantes utilizaram estes recursos em
grande parte dos certificados para se favorecerem ou seja para abranger as possibilidades de
invalidade da garantia do produto aumentando as situaccedilotildees em que a garantia eacute perdida e
diminuindo as situaccedilotildees em que a garantia eacute vaacutelida (principalmente nas listas exaustivas)
Sobre ocorrecircncias em que identificados termos vagos ou termos polissecircmicos
identificamos como o motivo principal do aparecimento dessas ocorrecircncias a falta de
definiccedilatildeo dos termos teacutecnicos Em muitos certificados identificamos que os autores utilizaram
termos teacutecnicos (a maioria deles provenientes do CDC) e natildeo apresentaram em nenhuma
parte do texto as definiccedilotildees para tais termos oportunizando que o leitor interprete de
diversas maneiras os termos ou expressotildees
Por fim pudemos perceber que os quantificadores os condicionais e termos como o
―apenas e o ―somente que satildeo responsaacuteveis por abranger ou restringir interpretaccedilotildees de
sentenccedilas satildeo proacuteprios do tipo de texto instrucional que abarca o gecircnero que escolhemos para
nossa pesquisa A utilizaccedilatildeo desses termos seguiu uma ordem de apresentaccedilatildeo similar nos
vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Os quantificadores universais
apareceram muitas vezes nas explicaccedilotildees em que os fabricantes apresentavam prazos deveres
e direitos do fabricante e cliente os condicionais apareceram na maioria das vezes
precedendo as listas exaustivas e o ―apenas e ―somente apareceram em grande parte nos
trechos em que os fabricantes apresentavam delimitaccedilotildees territoriais para cobertura da
91
garantia e explicaccedilotildees sobre as situaccedilotildees em que a garantia eacute invalidada e as situaccedilotildees em que
a garantia se assegura
Assim como justificamos no iniacutecio das consideraccedilotildees sobre os resultados obtidos em
nossa anaacutelise natildeo encontramos ocorrecircncias com trecircs dos quatro nexos semacircnticos
apresentados no segundo capiacutetulo O fato de natildeo termos identificado ocorrecircncias com
equivalecircncias semacircnticas contrariedades e contraditoriedades traacutes a tona uma interessante
caracteriacutestica do gecircnero certificado de garantia que eacute a constante presenccedila de acarretamentos
na redaccedilatildeo do texto mesmo que apresentados indiretamente diferente dos exemplos que
utilizamos para ilustrar os conceitos nos diversos textos sobre o assunto e a natildeo utilizaccedilatildeo de
equivalecircncias sentenccedilas contraacuterias e contraditoacuterias na redaccedilatildeo do texto
Atraveacutes dessa pesquisa em que tratamos sobre os nexos semacircnticos a polissemia a
vagueza e alguns outros tipos de relaccedilotildees semacircnticas desejamos que outros pesquisadores se
interessem por este tipo de trabalho e busquem explorar nas anaacutelises linguiacutesticas outros
gecircneros textuais pouco explorados como o que utilizamos no presente trabalho Apresentar
uma teoria que eacute tipicamente de linguagens controladas como a dos nexos semacircnticos (que
satildeo como jaacute discutimos dependentes unicamente da forma das sentenccedilas) e analisar como
essas estrateacutegias linguiacutesticas se comportam dentro de textos instrucionais (que ainda satildeo
pouco explorados nas anaacutelises semacircnticas) satildeo a nosso ver interessantes caminhos a serem
desbravados nos estudos da semacircntica assim como as suas aplicaccedilotildees nos diversos gecircneros
textuais que nos rodeiam
92
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ANEXOS
Certificado 1
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Certificado 2
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Certificado 3
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Certificado 4
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Certificado 5
100
Certificado 6
101
Certificado 7
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Certificado 8
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Certificado 9
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Certificado 10
106
Certificado 11
107
Certificado 12
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Certificado 13
110
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Certificado 18
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Certificado 19
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125
Certificado 20
126
Certificado 21
127
Certificado 22
KEcircNIO ANGELO DANTAS FREITAS ESTRELA
NEXOS SEMAcircNTICOS EM CERTIFICADOS DE GARANTIA
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de
Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica da
Universidade Federal da Paraiacuteba como
requisito parcial para obtenccedilatildeo do grau de
Mestre em Linguiacutestica
Aacuterea de Concentraccedilatildeo Teoria e Anaacutelise
Linguiacutestica
Linha de Pesquisa Linguagem Sentido e
Cogniccedilatildeo
Orientadora Profordf Dra Maria Leonor Maia
dos Santos
JOAtildeO PESSOA
FEVEREIRO2015
KEcircNIO ANGELO DANTAS FREITAS ESTRELA
NEXOS SEMAcircNTICOS EM CERTIFICADOS DE GARANTIA
Dissertaccedilatildeo submetida ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica da Universidade
Federal da Paraiacuteba em cumprimento agraves exigecircncias para obtenccedilatildeo do grau de Mestre em
Linguiacutestica Aacuterea de concentraccedilatildeo Teoria e Anaacutelise Linguiacutestica
Aprovada em ________
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________
Profa Dra Maria Leonor Maia dos Santos
Universidade Federal da Paraiacuteba - UFPB
(Orientadora)
____________________________________________
Profa Dra Mocircnica Mano Trindade Ferraz
Universidade Federal da Paraiacuteba ndash UFPB
(Examinadora)
____________________________________________
Prof Dr Giovanni da Silva de Queiroz
Universidade Federal da Paraiacuteba - UFPB
(Examinador)
AGRADECIMENTOS
Agradeccedilo primeiramente ao nosso Deus Todo Poderoso Mestre supremo de nossas
vidas e aos seus anjos de luz espiacuteritos elevados missionaacuterios da luz pela oportunidade de
realizar esta pesquisa por toda a inspiraccedilatildeo e pela sauacutede que natildeo me faltou em nenhum
momento desses 24 meses de estudos
Agrave minha orientadora Dra Maria Leonor Maia dos Santos por ter acreditado em meu
potencial e ter aceitado me auxiliar na elaboraccedilatildeo desta pesquisa A sua generosidade
comprometimento e sabedoria serviratildeo para mim como exemplo de profissionalismo
acadecircmico a ser seguido O peso do desafio de realizar essa pesquisa certamente foi muito
menor por ter uma mentora tatildeo precisa quanto ela
Ao prof Dr Giovanni da Silva de Queiroz por ter aceitado participar da banca de
avaliaccedilatildeo desta pesquisa o que eacute representa uma grande honra para mim Desde o iniacutecio do
ano de 2011 momento em que participei de um mini-curso sobre Loacutegica Claacutessica na UEPB
ministrado por ele muito tenho aprendido com suas indicaccedilotildees de bibliografias e orientaccedilotildees
sempre muito pertinentes
Agrave profa Dra Mocircnica Mano Trindade Ferraz pela generosidade apreccedilo e humanidade
para comigo ao me acolher em seu grupo de pesquisa junto aos seus orientandos
oportunizando que eu a cada encontro do grupo aprendesse um pouco mais sobre as diversas
semacircnticas Tambeacutem agradeccedilo pela honra de tecirc-la como integrante da banca de avaliaccedilatildeo
desta pesquisa e pelas saacutebias orientaccedilotildees ao longo destes dois anos de estudos no PROLING
Aos meus pais Geraldo e Silvacircnia Estrela por todo amor confianccedila e suporte
oferecidos a mim desde o princiacutepio desta minha vida Espero poder um dia retribuir ao menos
uma parcela de tudo o que eles fizeram e fazem por mim
Agrave minha irmatilde Karla Estrela pelo exemplo de determinaccedilatildeo e disciplina
Agrave minha noiva Maria Eduarda por toda dedicaccedilatildeo carinho amor companheirismo e
principalmente paciecircncia comigo vinte e quatro horas por dia sete dias na semana Eu
certamente natildeo conseguiria concluir com tanta serenidade esta pesquisa caso ela natildeo estivesse
ao meu lado
Agrave minha amiga Angeacutelica Vilar que me apresentou o PROLING e me deu todo o
suporte para que eu realizasse o processo de seleccedilatildeo de mestrado Haacute quem natildeo acredite em
anjos mas tenho a convicccedilatildeo de que pessoas desse calibre natildeo merecem um tiacutetulo menos
divino
Aos amigos Joseacute Wellisten e Alessandra Miranda pela disponibilidade e atenccedilatildeo para
lerem meu trabalho e fazerem criacuteticas construtivas
Ao amigo Thiago Magno que me ajudou em um dos momentos mais delicados no
periacuteodo poacutes-defesa Dedico minha amizade e minha eterna gratidatildeo por tudo
Agrave CAPES pelo apoio financeiro oferecido para essa pesquisa pelo periacuteodo de 17
meses
εἰδέναι δὲ χπὴ τὸν πόλεμον ἐόντα
ξυνόν καὶ δίκην ἔπιν καὶ γινόμενα
πάντα κατ ἔπιν καὶ χπεών
(Heraacuteclito frag 80)
RESUMO
O estudo das relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas eacute um campo bastante discutido e
pesquisado nos estudos linguiacutesticos A observaccedilatildeo de como se comportam os termos na
construccedilatildeo de significados em textos de diversos gecircneros e seus efeitos de interpretaccedilatildeo
tambeacutem satildeo temas muito difundidos entre as pesquisas das semacircnticas Nesta produccedilatildeo
discutiremos sobre as relaccedilotildees de significado e seus efeitos de sentido em um gecircnero
especiacutefico As relaccedilotildees que investigaremos satildeo os nexos semacircnticos ou nexos de significado
como proposto por Chierchia (2003) que satildeo respectivamente acarretamento equivalecircncia
semacircntica contraditoriedade e contrariedade O gecircnero que escolhemos para nossa anaacutelise eacute o
certificado de garantia e a escolha de tal gecircnero se deu pelo fato deste fazer parte do grupo de
textos injuntivos ou instrucionais que a nosso ver possui caracteriacutesticas que favorecem a
amostragem dos nexos semacircnticos Iremos analisar como os nexos semacircnticos satildeo utilizados
para restringir ou abranger as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos certificados de garantia O
corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de garantia de
produtos de diversos segmentos e decidimos escolher certificados de produtos de linhas
diversas para constituirmos um panorama sobre o gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes
da internet sem utilizar nenhuma metodologia especiacutefica apenas atentamos para buscar
certificados de produtos variados Buscamos nessa pesquisa instigar a reflexatildeo sobre as
relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e a observaccedilatildeo destas nos textos instrucionais que
lidamos no dia-a-dia e que por muitas vezes deixamos passar despercebido o seu conteuacutedo
O entendimento sobre os nexos de significado pode nos oferecer ferramentas para melhor
leitura de textos desse tipo
Palavras chave Nexos semacircnticos Certificado de garantia Semacircntica
ABSTRACT
The study of the meaning of relations between sentences is a much discussed and researched
field in linguistic studies The observation of how the terms behave in the construction of
meanings in texts of different genres and their interpretation effects are also widespread
themes among semantic research In this work we will discuss about the meaning of the
relations of meaning and their sense of purpose in a specific genre The relations that we will
investigate are semantic nexus or semantic links as proposed by Chierchia (2003) which are
respectively entailment semantic equivalence contradictoriness and contrariness The genre
we chose for our analysis is the warranty certificate and the choice of this genre was made
because it is part of the injunctive or instructional texts group that in our opinion has
characteristics that favor the sampling of semantic nexus We will analyze how the semantic
nexus are used to restrict or cover the possibilities of interpretation in the warranty
certificates The corpus of this research has 22 (twenty two) copies of warranty certificates
from different segments and we decided to choose certificates from separate lines to
constitute an overview of the genre The collection of the texts took place through the
internet without using any particular methodology of choice only we pay attention to seek
warranty certificates of diverse products We seek in this research instigate reflection on the
meaning relations between sentences and observance of these in instructional texts that we
have contact in daily life and that for many times let go unnoticed its contents The
understanding of the semantic nexus can offer us tools to better read texts of this type
Keywords Semantic nexus Warranty certificate Semantics
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 13
1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA 16
11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS 16 12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL 26
2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS 32
21 ACARRETAMENTO 35 22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA 42 23 CONTRADITORIEDADE 45 24 CONTRARIEDADE 48 25 JUSTIFICANDO O PERCURSO 51
3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA 53
31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL 55 32 USO DO CONDICIONAL 64 33 USO DO APENASSOMENTE 68 34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS 83
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 88
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 92
ANEXOS 95
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa 14
QUADRO 2 - Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia 83
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
ILUSTRACcedilAtildeO 1 - Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 27
ILUSTRACcedilAtildeO 2 - Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28
ILUSTRACcedilAtildeO 3 - Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28
ILUSTRACcedilAtildeO 4 - Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28
ILUSTRACcedilAtildeO 5 - Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 29
13
INTRODUCcedilAtildeO
A abordagem das relaccedilotildees de significado eacute algo bastante presente e discutido nos
estudos semacircnticos Observar como se comportam os termos na construccedilatildeo da significaccedilatildeo
em textos de diversos gecircneros distintos e seus efeitos interpretativos tambeacutem satildeo temas de
diversas produccedilotildees na aacuterea de linguiacutestica
Neste trabalho iremos discutir as relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e os efeitos
interpretativos dessas relaccedilotildees em textos Mais especificamente abordaremos os nexos
semacircnticos ou nexos de significado (Chierchia 2003) acarretamento equivalecircncia semacircntica
contrariedade (os quais podemos encontrar no referido trabalho de Chierchia) e
contraditoriedade (nexo semacircntico que geralmente eacute relacionado com a contrariedade e que
foi tratado por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado atraveacutes de seu quadrado loacutegico
ou taacutebua de oposiccedilotildees em seu texto Perieacutermeneas (1985) mais especificamente nos
capiacutetulos 6 e 7 sobre o qual faremos menccedilatildeo na seccedilatildeo sobre este nexo)
Este trabalho tem por objetivo observar alguns dos recursos linguiacutesticos utilizados
para favorecer a existecircncia de nexos semacircnticos e com isso restringir ou ampliar
possibilidades de interpretaccedilatildeo em um gecircnero textual especiacutefico Por este motivo o gecircnero
que escolhemos analisar foi o certificado de garantia ou termo de garantia que pertence agrave
categoria dos textos instrucionais (ou injuntivos) e a nosso ver possui caracteriacutesticas que
favorecem a amostragem das ocorrecircncias dos nexos
O gecircnero certificado de garantia possui como uma de suas caracteriacutesticas a
apresentaccedilatildeo organizada dos direitos e deveres do cliente e do fabricante com relaccedilatildeo a um
produto servindo tambeacutem para informar ao cliente os seus direitos referentes agrave validade
prazos e extensatildeo de cobertura da garantia Supotildee-se entatildeo que o texto deve por isso ser
objetivo e livre de ambiguidades e incoerecircncias
Nossa hipoacutetese eacute a de que recursos linguiacutesticos que favoreccedilam a existecircncia de nexos
semacircnticos nos textos dos certificados ndash como o emprego por exemplo de conectivos e
quantificadores (Chierchia 2003 PIRES DE OLIVEIRA 2001) ndash estatildeo presentes em textos
deste gecircnero e contribuem para que os textos alcancem o objetivo de informar ao cliente e ao
fabricante seus deveres e direitos
O corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de
garantia de produtos diversos para constituir um panorama ainda que reduzido de instacircncias
do gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes da internet sem utilizar nenhuma metodologia
14
especiacutefica de escolha atentando para buscar certificados de produtos variados Os textos
escolhidos para a anaacutelise de nosso trabalho incluem diversos produtos manufaturados como
moacuteveis veiacuteculos eletroeletrocircnicos entre outros equipamentos domeacutesticos como ilustrado no
quadro a seguir
Nordm Tipo de objeto Fabricante
1 Refrigerador Samsung
2 TV led Sony
3 Condicionador de ar LG
4 Tablet AOC
5 AudioMixer Oneal
6 Garantia para todos os produtos Elgin
7 Estabilizador de energia APC
8 Aquecedor de aacutegua Bosch
9 Fogatildeo Brastemp
10 Maacutequina de lavar Electrolux
11 Ventilador Cadence
12 GPS Positron
13 Umidificador de ar Springer
14 Certificado internacional de garantia Philips
15 Colchatildeo Ortobom
16 Caminhotildees Mercedes-Benz
17 Carro de passeio Hyundai
18 Moacuteveis Bartzen
19 Aquecedor de ar Fujitsu
20 Tv AOC
21 Aquecedor de aacutegua para piscina Rheem
22 Bicicleta Total Health
Quadro 1 ndash Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa Fonte elaborado pelo autor
Como nosso propoacutesito eacute analisar os textos observando as ocorrecircncias de termos que
restringem e abrangem interpretaccedilotildees natildeo temos a intenccedilatildeo de analisar se um fabricante
elaborou um texto melhor que outro
No primeiro capiacutetulo apresentamos num primeiro momento o que satildeo gecircneros
textuais e em seguida caracterizamos o certificado de garantia como um gecircnero textual Para
tanto utilizamos o aporte teoacuterico baseado na obra de Mikhail Bakhtin (2000) linguista do
iniacutecio do seacuteculo referecircncia nos estudos de gecircneros textuais e de Luiz Antocircnio Marcuschi
(2002 2005 2008) linguista contemporacircneo que desenvolveu importantes trabalhos nessa
disciplina Vale salientar que como o foco de nossa pesquisa natildeo eacute a discussatildeo de gecircneros
textuais o capiacutetulo que construiacutemos trata de conceitos gerais sobre gecircneros tendo como
15
objetivo observar que o certificado de garantia eacute um gecircnero textual e mostrando como se
estrutura em linhas gerais um texto deste gecircnero
No segundo capiacutetulo trataremos dos nexos semacircnticos dos quais consideraremos
para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e
contrariedade Atraveacutes de exemplos discutimos brevemente cada um deles mostrando
exemplos que funcionam e tambeacutem exemplos problemaacuteticos em relaccedilatildeo ao leacutexico
especialmente em casos de polissemia para que entatildeo seja possiacutevel a anaacutelise do capiacutetulo
seguinte
No terceiro capiacutetulo traremos a anaacutelise do corpus que se apresentaraacute organizado por
ocorrecircncias distribuiacutedas em tipos a saber uso do quantificador universal uso do condicional
e uso do apenassomente Apoacutes o exame das trecircs categorias citadas trataremos entatildeo das
relaccedilotildees entre o emprego dos recursos e a funccedilatildeo dos certficados Procuraremos tambeacutem
refletir se os recursos satildeo mais utilizados para favorecer o cliente ou mais utilizados para
favorecer o fabricante
Por uacuteltimo mostraremos as consideraccedilotildees finais do trabalho e em seguida as
referecircncias bibliograacuteficas utilizadas na elaboraccedilatildeo de nosso texto
16
1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA
Neste capiacutetulo tratamos dos gecircneros textuais e da caracterizaccedilatildeo dos certificados de
garantia como um gecircnero textual Em um primeiro momento traremos a perspectiva sobre
gecircneros textuais de Mikhail Bakhtin precursor dos estudos de gecircneros textuais na linguiacutestica
e em seguida apresentaremos a perspectiva de Luiz Antocircnio Marcuschi linguista brasileiro
que tambeacutem trabalha com o tema e compartilha em grande parte da perspectiva de Bakhtin
sobre o os gecircneros Eacute importante ressaltar que este capiacutetulo natildeo tem por objetivo o
aprofundamento nos estudos dos gecircneros e serve como um instrumento para contextualizar o
corpus desta pesquisa
11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS
Considerando a perspectiva apresentada por Mikhail Bakhtin na obra Esteacutetica da
criaccedilatildeo verbal (2000) o ato de se comunicar eacute indispensaacutevel para as relaccedilotildees humanas Aleacutem
disso ressaltamos que eacute por tal razatildeo que nas diversas situaccedilotildees de interaccedilatildeo que
vivenciamos em nosso cotidiano observamos a utilizaccedilatildeo da liacutengua em suas modalidades
oral eou escrita como instrumento principal de nossas trocas comunicativas
Eacute notoacuterio que a quantidade de atividades eacute enorme assim como satildeo os diferentes tipos
de situaccedilotildees em que a liacutengua eacute empregada Atraveacutes da formulaccedilatildeo de enunciados podemos
caracterizar quais as funccedilotildees dos discursos que escolhemos para os diversos tipos de
interaccedilatildeo
Nesse sentido eacute possiacutevel afirmarmos que todas as nossas construccedilotildees linguiacutesticas
organizam-se em gecircneros discursivos por meio dos quais conseguimos nos comunicar e
interagir socialmente
Em conformidade com a proposta de Bakhtin todo gecircnero discursivo se constitui a
partir das seguintes dimensotildees o conteuacutedo temaacutetico o estilo e a construccedilatildeo composicional
Esta descriccedilatildeo eacute claacutessica como ponto de partida para a descriccedilatildeo dos gecircneros textuais e nos
ofereceraacute a possibilidade de tanto descrever o que eacute um gecircnero textual quanto caracterizar
um texto como gecircnero que seraacute o nosso objetivo na segunda parte deste capiacutetulo
O conteuacutedo temaacutetico se refere ao tipo de assunto veiculado no texto Por tal razatildeo
Bakhtin (2000) afirma que o gecircnero eacute escolhido a partir do que o locutor decide falar Assim
17
eacute faacutecil compreender por que cada atividade comunicativa necessita de um tipo especiacutefico de
textodiscurso Por exemplo natildeo se responde (normalmente) uma carta informal com uma
bula de remeacutedio (a natildeo ser que na carta um texto desse gecircnero seja solicitado como
resposta) Nesse sentido percebe-se que para cada esfera de comunicaccedilatildeo o locutor e
interlocutor utilizam uma mesma forma de expressatildeo tendo em vista o assunto que
escolheram tratar Caso contraacuterio se locutor e interlocutor agregam formas distintas de
expressatildeo pode ser que a comunicaccedilatildeo natildeo seja efetivada com sucesso visto que eacute possiacutevel
natildeo haver o entendimento das partes uma vez que cada gecircnero abarca certo campo de uso
mesmo estando em constante desenvolvimento
O estilo se refere aos recursos linguiacutesticos desde gramaticais ateacute lexicais e eles
variam de acordo com o gecircnero Essa dimensatildeo abarca a seleccedilatildeo frasal lexical gramatical e
as formas de apresentar o discurso que satildeo inerentes ao gecircnero escolhido Bakhtin (2000)
afirma que o estilo eacute a primeira vista individual do gecircnero e ela reflete (ou natildeo) a
individualidade de quem escreve ou fala Isso porque dependendo do gecircnero o estilo
individual aparece com mais clareza Da mesma forma haacute gecircneros que natildeo possuem essa
caracteriacutestica a exemplo dos textos injuntivos sobre os quais trataremos mais agrave frente Ainda
a respeito do estilo Bakhtin assegura que
Quando escolhemos as palavras no processo de construccedilatildeo de um enunciado nem
de longe as tomamos sempre do sistema da liacutengua em sua forma neutra
lexicograacutefica Costumamos tiraacute-las de outros enunciados e antes de tudo de
enunciados congecircneres com o nosso isto eacute pelo tema pela composiccedilatildeo pelo estilo
consequentemente selecionamos as palavras segundo a sua especificaccedilatildeo de
gecircnero O gecircnero do discurso natildeo eacute uma forma da liacutengua mas uma forma tiacutepica do
enunciado como tal forma o gecircnero inclui certa expressatildeo tiacutepica a ele inerente
(BAKHTIN 2010 [1992] p 292 grifos do autor)
Nessa perspectiva podemos afirmar que tal criteacuterio se refere agraves propriedades das
unidades de linguagem e relaciona-se agrave posiccedilatildeo enunciativa do locutor agraves sequecircncias textuais
e aos tipos discursivos que estruturam o texto
Por fim Bakhtin (2000) afirma que cada gecircnero possui uma forma padratildeo que eacute a
estrutura composicional Eacute atraveacutes dessa forma que podemos identificar qual gecircnero estaacute
sendo empregado pois essa dimensatildeo se refere aos procedimentos utilizados na formulaccedilatildeo
dos textos com a estrutura e demais aspectos formais incluindo as partes envolvidas no
discurso Em suma para Bakhtin (2000)
18
Estes trecircs elementos (conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo composicional)
fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado e todos eles satildeo marcados pela
especificidade de uma esfera de comunicaccedilatildeo Qualquer enunciado considerado
isoladamente eacute claro individual mas cada esfera de utilizaccedilatildeo da liacutengua elabora
seus tipos relativamente estaacuteveis de enunciados sendo isso que denominamos
gecircneros do discurso (BAKHTIN 2000 p 279 Grifos do autor)
Ainda a respeito dos gecircneros do discurso conveacutem ressaltar que sua variedade eacute
proporcional agraves possibilidades de interaccedilotildees humanas pois as diversas esferas de interaccedilatildeo
satildeo compostas por classes de gecircneros que se desenvolvem tornando-se maiores e mais
complexas em consonacircncia com o desenvolvimento dessas esferas
Bakhtin (2000) utiliza o termo ―heterogeneidade para adjetivar os gecircneros do
discurso sejam eles orais ou escritos inferindo que estes incluem desde conversas informais
cartas relatos familiares ateacute produccedilotildees mais complexas como os documentos oficiais textos
cientiacuteficos e de escolas literaacuterias Natildeo haacute razatildeo para minimizar a extrema heterogeneidade
dos gecircneros do discurso e a consequente dificuldade quando se trata de definir o caraacuteter
geneacuterico do enunciadolsquo (BAKHTIN 2000 p 281) Dessa forma entendemos que a
variedade de gecircneros eacute muito grande se estendendo por exemplo dos romances mais
eruditos ateacute os bilhetes de recados do dia-a-dia e que tratar dos gecircneros admitindo suas
caracteriacutesticas estruturais particulares natildeo eacute uma tarefa faacutecil de realizar
Aleacutem de discorrer sobre as dimensotildees constitutivas de um gecircnero tendo em vista essa
heterogeneidade Bakhtin categoriza os gecircneros textuais em primaacuterios (simples) e
secundaacuterios (complexos) Assim os gecircneros primaacuterios satildeo aqueles referentes agraves reacuteplicas de
diaacutelogos cotidianos como cartas pessoais e demais gecircneros de comunicaccedilatildeo imediata Satildeo
chamados ―simples porque satildeo formados por discursos de baixa complexidade Jaacute os
gecircneros secundaacuterios satildeo aqueles referentes a romances textos cientiacuteficos sociopoliacuteticos e
afins Satildeo textos (escritos ou produzidos para serem encenados como os teatrais ndash exemplo
usado pelo proacuteprio Bakhtin) com maior carga de complexidade de produccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo
Surgem a partir de interaccedilotildees mais aprofundadas nas comunidades com maior grau de
imersatildeo em relaccedilatildeo aos padrotildees culturais e sociais
Ele ainda ressalta que os gecircneros secundaacuterios tambeacutem podem conter gecircneros
primaacuterios ―o romance em seu todo eacute um enunciado da mesma forma que a reacuteplica do
diaacutelogo cotidiano ou a carta pessoal (satildeo fenocircmenos da mesma natureza) o que diferencia o
romance eacute ser um enunciado secundaacuterio (complexo) (BAKHTIN 2000 p 281) Ao
discorrer sobre essa questatildeo o autor assevera que eacute de grande importacircncia teoacuterica a
19
diferenciaccedilatildeo entre esses tipos de gecircneros pois com isso e a partir disso podemos fazer
anaacutelises precisas dos enunciados que podem contrapor dois ou mais tipos de textos
Ignorar as caracteriacutesticas intriacutensecas a cada gecircnero a ―natureza dos enunciados - que
segundo Bakhtin eacute indispensaacutevel para qualquer estudo ndash eacute partir para a abstraccedilatildeo da liacutengua
desvalorizando o conteuacutedo histoacuterico imerso em cada tipo de gecircnero Eacute importante considerar
a relaccedilatildeo existente entre ―a liacutengua e a vida e natildeo restringir os enunciados a categorias
formais Haacute portanto uma relaccedilatildeo de complementaccedilatildeo entre a liacutengua a vida e os enunciados
pois ―a liacutengua penetra na vida atraveacutes dos enunciados concretos que a realizam e eacute tambeacutem
atraveacutes dos enunciados concretos que a vida penetra na liacutengua (BAKHTIN 2000 p 282)
Bakhtin (2000) tambeacutem se refere a questotildees da ―totalidade do enunciado que ele
define como aquilo que oportuniza a resposta em um discurso Bakhtin afirma que essa accedilatildeo
eacute definida por trecircs fatores diretamente associados ao ―todo orgacircnico do enunciado
primeiramente o tratamento exaustivo do objeto de sentido depois o querer-dizer do locutor
e por fim as formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do acabamento
O tratamento exaustivo do objeto de sentido ―varia profundamente conforme as
esferas da comunicaccedilatildeo verbal Em algumas esferas ele pode ser quase total como por
exemplo na vida praacutetica na vida profissional na vida militar basicamente em esferas que
natildeo possuem caracteriacutesticas de mutabilidade de discurso e pouca ―criatividade nas
formulaccedilotildees entre outras palavras onde os gecircneros do discurso satildeo padronizados Jaacute nas
esferas em que os gecircneros satildeo ―criativos o tratamento exaustivo eacute muito menos abrangente
como no caso das ciecircncias em particular onde Bakhtin infere que o tratamento exaustivo
―oferece exatamente um miacutenimo de acabamento capaz de suscitar uma atitude responsiva
(BAKHTIN 2000 p 300)
O querer-dizer do locutor estaacute ligado ao primeiro fator O filoacutesofo afirma que em todo
enunciado desde uma reacuteplica cotidiana ateacute complexas obras cientiacuteficas ou da literatura
compreendemos sentimos o ―intuito discursivo ou querer-dizer do locutor que eacute o que
determina o ―todo do enunciado sua amplitude suas fronteiras Noacutes identificamos o que o
locutor quer expressar e a partir dessa detecccedilatildeo medimos e definimos como se daraacute o
enunciado Isso eacute determinante para a escolha do objeto com seus limites e o tratamento
exaustivo do objeto adequado a este aleacutem de ser essencial para a escolha da forma do gecircnero
onde seraacute edificado
As formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do gecircnero do acabamento representam o fator mais
importante para Bakhtin que as descreve como ―formas estaacuteveis do gecircnero do enunciado
(BAKHTIN 2000 p 301)
20
As formas do gecircnero agraves quais modelamos nossa fala se distinguem
substancialmente das formas da liacutengua do ponto de vista de sua estabilidade e de
suas leis normativas para o locutor De um modo geral elas satildeo mais maleaacuteveis
mais plaacutesticas e mais livres do que as formas da liacutengua (BAKHTIN 2000 p 302)
Concluindo a discussatildeo sobre gecircneros a partir dos conceitos gerais propostos por
Bakhtin passamos agora para a discussatildeo sobre gecircneros realizada por Marcuschi (2008) Eacute
possiacutevel perceber ao longo da explanaccedilatildeo que este autor se identifica com a teoria
bakhtiniana de gecircneros textuais e foi essa identificaccedilatildeo uma das motivaccedilotildees que nos levou a
escolhecirc-los para a composiccedilatildeo deste capiacutetulo
De acordo com Marcuschi (2008 p 154) toda comunicaccedilatildeo soacute pode ser efetivada
por meio de um gecircnero pois ―eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum gecircnero
assim como eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum texto Partindo dessa
premissa podemos entender que qualquer manifestaccedilatildeo verbal se daacute dentro dos limites dos
gecircneros Eacute por esse motivo que a variedade de gecircneros eacute extensa mas natildeo infinita Atraveacutes
desse conceito observamos que Marcuschi compactua com o conceito bakhtiniano de que os
gecircneros possuem formas padronizadas e finitas
Os gecircneros textuais satildeo os textos que encontramos em nossa vida diaacuteria e que
apresentam padrotildees sociocomunicativos caracteriacutesticos definidos por composiccedilotildees
funcionais objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integraccedilatildeo
de forccedilas histoacutericas sociais institucionais e teacutecnicas (Marcuschi 2008 p 155)
Natildeo devemos considerar os gecircneros textuais como modelos imutaacuteveis e de ―estrutura
riacutegidas A apresentaccedilatildeo dos gecircneros se mostra ligada diretamente ao meio em que circulam
Satildeo formas culturais que tomam forma na liacutengua e que evoluem junto com ela Obviamente
que natildeo podemos deixar de considerar que os gecircneros possuem identidade e eacute atraveacutes dessa
identidade que escolhemos um tipo especiacutefico para cada esfera discursiva Dessa forma
admitimos que os gecircneros limitam nossa accedilatildeo na escrita
Em relaccedilatildeo agrave distinccedilatildeo entre gecircneros Marcuschi (2008) natildeo os distingue pelas formas
linguiacutesticas mas sim pelos seus campos de accedilatildeo Nesse sentido ele reafirma a perspectiva
bakhtiniana de que os gecircneros satildeo dinacircmicos e que por serem soacutecio-histoacutericos natildeo podem
ser contados de modo exaustivo o que dificulta sua classificaccedilatildeo Marcuschi (2008) afirma
que atualmente o objetivo maior nos estudos sobre gecircneros textuais eacute procurar identificar e
explicar como eles satildeo constituiacutedos e como circulam na sociedade
21
Eacute importante apresentar alguns conceitos referentes ao que estamos discutindo sobre
gecircneros do discurso dentre os quais destacamos os conceitos de tipo textual gecircnero textual e
domiacutenio discursivo segundo Marcuschi (2008) levando em consideraccedilatildeo a possibilidade de
se obter melhor entendimento no trato com o texto em si e seus fenocircmenos
O tipo textual eacute definido pelos aspectos linguiacutesticos ou seja por marcas lexicais
tempos verbais estilo relaccedilotildees loacutegicas e aspectos sintaacuteticos Logo relaciona-se mais agraves
sequecircncias linguiacutesticas do que a materializaccedilotildees textuais fazendo com que o conjunto
tipoloacutegico de textos seja limitado e natildeo apresente tendecircncias de aumentar Marcuschi (2002
p22) afirma que os tipos textuais compreendem categorias amplamente conhecidas como
narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo exposiccedilatildeo descriccedilatildeo e injunccedilatildeo que observaremos separadamente a
seguir
A narraccedilatildeo relata um fato que pode ser real ou imaginaacuterio em um tempo e lugar
definidos envolvendo personagens Nesse tipo de texto o tempo verbal predominante eacute o
passado ao menos nos exemplos mais tiacutepicos Eacute predominante em crocircnicas piadas
romances poemas faacutebulas entre outros Vejamos o exemplo a seguir
O cavalo e o burro
O cavalo e o burro seguiam juntos para a cidade O cavalo contente da vida
folgando com uma carga de quatro arrobas apenas e o burro mdash coitado gemendo
sob o peso de oito Em certo ponto o burro parou e disse
ndash Natildeo posso mais Esta carga excede agraves minhas forccedilas e o remeacutedio eacute repartirmos o
peso irmatildemente seis arrobas para cada um
O cavalo deu um pinote e relichou uma gargalhada
ndash Ingecircnuo Quer entatildeo que eu arque com seis arrobas quando posso tatildeo bem
continuar com as quatro Tenho cara de tolo
O burro gemeu
ndash Egoiacutesta Lembre-se que se eu morrer vocecirc teraacute que seguir com a carga de quatro
arrobas e mais a minha
O cavalo pilheriou de novo e a coisa ficou por isso Logo adiante poreacutem o burro
tropica vem ao chatildeo e rebenta
Chegam os tropeiros maldizem a sorte e sem demora arrumam com as oito arrobas
do burro sobre as quatro do cavalo egoiacutesta E como o cavalo refuga datildeo-lhe de
chicote em cima sem doacute nem piedade
ndash Bem feito exclamou o papagaio Quem mandou ser mais burro que o pobre burro
e natildeo compreender que o verdadeiro egoiacutesmo era aliviaacute-lo da carga em excesso
Tome Gema dobrado agorahellip
(LOBATO M 2010 p 85)
Acima podemos observar um exemplo de narraccedilatildeo que eacute uma das faacutebulas de
Monteiro Lobato escrita em grande parte em discurso direto Podemos observar na faacutebula
que o texto eacute conduzido pelo narrador intercalado pela interaccedilatildeo dos personagens A seguir
22
continuaremos a descriccedilatildeo dos tipos textuais e exemplos com o conceito do tipo textual
argumentativo
Jaacute a argumentaccedilatildeo tem por principal caracteriacutestica a construccedilatildeo do convencimento
acerca da validade ou invalidade de um ponto de vista por sobre outro Nesse tipo de texto haacute
a reflexatildeo sobre temas especiacuteficos confrontando perspectivas distintas predominante em
gecircneros como debates resenhas editoriais artigos de opiniatildeo e afins Vejamos o exemplo a
seguir
O povo brasileiro estaacute cansado de tanta corrupccedilatildeo desigualdade de renda serviccedilos
puacuteblicos precaacuterios sensaccedilatildeo de inseguranccedila nas ruas elevada carga tributaacuteria
ineficiecircncia nos gastos puacuteblicos e elevaccedilatildeo da inflaccedilatildeo aleacutem do estilo autoritaacuterio e
inflexiacutevel da presidente O estranho eacute pensar sobre as razotildees que levaram a
populaccedilatildeo agraves ruas no momento atual em que a economia apresentou uma
significativa evoluccedilatildeo em relaccedilatildeo aos anos 80 e 90 aleacutem de presenciar sensiacutevel
melhora na renda meacutedia e na sua distribuiccedilatildeo nos anos 2000
A minha impressatildeo eacute de que depois de sentir a possibilidade de que o paiacutes entraria
em uma rota segura de crescimento da renda e de desenvolvimento econocircmico
(semelhante agrave sensaccedilatildeo que a populaccedilatildeo brasileira presenciou nos anos 70) o
enfraquecimento econocircmico e os sinais cada vez mais claros de que ele eacute resultante
de problemas internos deixaram a populaccedilatildeo transtornada Mais uma vez somos
apenas o paiacutes do futuro (NAKABASHI 2013 Acesso
httpwwwgazetadopovocombropiniaoartigosmanifestacoes-e-governo-no-
brasil-bdcjgu3mm6ql5e18tqoj73c5q)
Observamos acima uma parte de um artigo de opiniatildeo publicado no jornal Gazeta do
Povo em 02072013 por Luciano Nakabashi que trata das manifestaccedilotildees e do governo no
Brasil O autor anuncia primeiro o problema que vai discutir e em seguida lanccedila sua opiniatildeo
sobre o tema o que faz com que esse tipo de texto seja distinto da exposiccedilatildeo que
abordaremos a seguir
A exposiccedilatildeo apresenta informaccedilotildees sobre acontecimentos materiais e objetos de
forma detalhada e especiacutefica e por isso costuma lanccedilar matildeo de recursos como a descriccedilatildeo
informaccedilatildeo enumeraccedilatildeo comparaccedilatildeo e contrastes O tipo expositivo eacute caracteriacutestico de
gecircneros como as aulas expositivas verbetes de dicionaacuterios notiacutecias jornaliacutesticas entre
outros Vejamos o exemplo
Dianoia Termo grego que pode ser traduzido por pensamento intelecto
espiacuterito A dianoia eacute o pensamento discursivo enquanto elaboraccedilatildeo explicitaccedilatildeo
ou desenvolvimento da noese ou nous isto eacute da razatildeo intuitiva que capta de
modo imediato o real (Aristoacuteteles Tratado da alma III) Neste sentido a dianoia eacute
inferior ao nous jaacute que depende deste (MARCONDES e JAPIASSUacute 2001 p54)
23
Tomamos como exemplo de exposiccedilatildeo um verbete de um dicionaacuterio de filosofia
Podemos observar que os autores apresentam a palavra ―dianoia e em seguida conceituam a
dianoia a partir da perspectiva de um filoacutesofo especiacutefico (neste caso Aristoacuteteles)
O tipo textual descriccedilatildeo por sua vez eacute o relato particular de eventos e entidades e se
relaciona comumente com outros tipos em inuacutemeros gecircneros textuais Eacute caracteriacutestico em
cartazes promocionais anuacutencio de classificados entre outros Vamos observar agora um
exemplo de descriccedilatildeo atraveacutes da anaacutelise de uma obra de arte de Salvador Dali de 1955
intitulada ―A uacuteltima ceia
―Sua cena estaacute contida num retacircngulo Uma imensa janela ao fundo representada
por um dodecaedro (figura geomeacutetrica de 12 lados que sua vez satildeo pentaacutegonos ou
seja possuem cinco acircngulos cada um) domina toda a composiccedilatildeo
Jesus Cristo e seus 12 apoacutestolos estatildeo reunidos numa sala moderna envidraccedilada
Ele ocupa o centro da mesa de pedra o centro da tela e o centro do pentaacutegono
frontal do dodecaedro Cristo estaacute de frente para o observador contudo seu corpo
transluacutecido permite ver o mar e um barco o que indica que ele natildeo mais eacute humano
mas divino A sensaccedilatildeo que temos eacute de que seu corpo emerge de dentro do mar
Diante de Cristo sobre a mesa estatildeo um copo com vinho e as duas bandas do patildeo
jaacute repartido o que nos permite concluir que Daliacute pintou o momento da Eucaristia A
presenccedila dos barcos no mar remete aos ―pescadores de homens
A mesa eacute formada por um bloco retangular Doze apoacutestolos debruccedilam-se sobre ela
sendo trecircs agrave esquerda de Cristo e trecircs agrave direita Nas suas extremidades estatildeo quatro
apoacutestolos sendo dois de cada lado De costa para o observador estatildeo mais dois
deles Todos estatildeo com as cabeccedilas baixas Um dos apoacutestolos diverge dos demais ao
usar uma toga amarela O pintor queria com certeza diferenciaacute-lo Portanto tanto
pode ser Pedro o fundador da Igreja ou Judas o traidor
No alto com a cabeccedila invisiacutevel e com parte do tronco visiacutevel e os braccedilos abertos
Deus Pai humanizado abraccedila toda a cena como se aguardasse a chegada do Filho
que se encontra entre os homens Ao fundo um mar tranquilo com rochas
espalhadas e um ceacuteu cheio de nuvens compotildeem o segundo plano da tela (Viacuterus da
arte amp cia ndash Site brasileiro especializado em arte e cultura Disponiacutevel em
httpvirusdaartenetdali-a-ultima-ceia)
Acima podemos observar a descriccedilatildeo de uma obra de arte do pintor catalatildeo Salvador
dali retirado de uma paacutegina sobre arte Como o nome do tipo textual sugere a descriccedilatildeo tem
por objetivo descrever fatos mas tambeacutem caracteriacutesticas para objetos paisagens e situaccedilotildees
diversas No exemplo que utilizamos para descriccedilatildeo observamos a descriccedilatildeo de uma obra de
arte por parte de um espectador demonstrando detalhes do que estaacute impresso na pintura
assim como uma interpretaccedilatildeo da cena
O uacuteltimo tipo textual que consideraremos aqui eacute o tipo injuntivo que tem por objetivo
instruir o leitor ou persuadi-lo a fazer algo ou adotar algum ponto de vista Tambeacutem tem
como caracteriacutestica a induccedilatildeo do interlocutor a proceder de uma ou outra forma Geralmente
24
eacute escrito no modo imperativo e eacute caracteriacutestico de gecircneros como a bula de remeacutedio os
manuais de instruccedilotildees receitas culinaacuterias e contratos Vale ressaltar que dentro dos textos
injuntivos podem-se encontrar outros tipos de texto como por exemplo descriccedilotildees de
objetos endereccedilos procedimentos etc Vejamos o exemplo a seguir
Bolo simples
Tempo de preparo 40 minutos
Rendimento 12 porccedilotildees
Ingredientes
2 xiacutecaras de accediluacutecar
3 xiacutecaras de farinha de trigo
4 colheres de margarina bem cheias
3 ovos
1 frac12 xiacutecara de leite aproximadamente
1 colher (sopa) de fermento bem cheia
Modo de preparo
1) Bata as claras em neve
2) Reserve
3) Bata bem as gemas com a margarina e o accediluacutecar
4) Acrescente o leite e a farinha aos poucos sem parar de bater
5) Por uacuteltimo agregue as claras em neve e o fermento
6) Coloque em forma grande de furo central untada e enfarinhada
7) Asse em forno meacutedio preacute-aquecido por aproximadamente 40 minutos
8) Quando espetar um palito e sair limpo estaraacute assado
(httpwwwtudogostosocombrreceita29124-bolo-simpleshtml Acesso em
20042014)
No exemplo uma receita culinaacuteria podemos observar que haacute descriccedilatildeo na primeira
parte (a lista de ingredientes) e na segunda parte (modo de preparo) que eacute a mais
nitidamente injuntiva encontramos instruccedilotildees de como proceder na execuccedilatildeo da receita
Aleacutem da classificaccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo dos tipos de texto eacute interessante observarmos
tambeacutem a definiccedilatildeo de gecircneros textuais e domiacutenio discursivo conforme Marcuschi (2008)
Os gecircneros textuais satildeo definidos como ―textos materializados em situaccedilotildees
comunicativas recorrentes (MARCUSCHI 2008 p155) que apresentam caracteriacutesticas
soacutecio-comunicativas marcadas pelos conteuacutedos e pelas propriedades referentes agraves funccedilotildees e
composiccedilatildeo Diferente dos tipos textuais que se restringem a cerca de meia duacutezia como
afirma Marcuschi (2008) ―os gecircneros satildeo inuacutemeros Tambeacutem haacute de ressaltar que satildeo
culturalmente e historicamente formados visto que evoluem no mesmo passo que as
comunidades
O domiacutenio discursivo por sua vez eacute a esfera de atividade humana em que os textos
circulam Ele natildeo eacute um texto em si mas proporciona o surgimento de discursos especiacuteficos
Para ilustrar podemos citar alguns domiacutenios como discurso religioso discurso juriacutedico etc
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O domiacutenio eacute constituiacutedo por praacuteticas do discurso nas quais podemos identificar uma seacuterie de
gecircneros que possuem a mesma proposta discursiva como o tema e as praacuteticas institucionais
ou informais
As definiccedilotildees aqui trazidas de gecircnero tipo domiacutenio discursivo satildeo muito mais
operacionais do que formais e seguem de perto a posiccedilatildeo bakhtiniana Assim para a
noccedilatildeo de tipo textual predomina a identificaccedilatildeo de sequecircncias linguiacutesticas como
norteadora e para a noccedilatildeo de gecircnero textual predominamos criteacuterios de padrotildees
comunicativos accedilotildees propoacutesitos e inserccedilatildeo sociohistoacuterica No caso dos domiacutenios
discursivos natildeo lidamos propriamente com textos e sim com formaccedilotildees histoacutericas e
sociais que originam os discursos Eles ainda natildeo se acham bem definidos e
oferecem alguma resistecircncia mas seguramente sua definiccedilatildeo deveria ser na base de
criteacuterios etnograacuteficos antropoloacutegicos e socioloacutegicos e histoacutericos (MARCUSCHI
2008 p 158 Grifos do autor)
Nessa perspectiva faz-se necessaacuterio apresentarmos o papel dos gecircneros textuais como
controle social Como jaacute vimos anteriormente segundo Bakhtin (2000) toda atividade
discursiva humana se daacute atraveacutes de algum gecircnero e eacute tambeacutem por esse motivo que haacute uma
consideraacutevel pluralidade de gecircneros Marcuschi (2008) afirma que os gecircneros satildeo
―necessaacuterios para a interlocuccedilatildeo humana Assim para cada esfera de atividade humana
certos gecircneros especiacuteficos satildeo considerados mais ou menos adequados Na esfera
empresarial por exemplo temos que nos adequar agraves formalidades dos gecircneros de redaccedilatildeo
oficial como os ofiacutecios atas circulares e relatoacuterios Na academia apresentamos nossas
produccedilotildees atraveacutes de dissertaccedilotildees artigos cientiacuteficos teses e relatoacuterios de projetos No meio
publicitaacuterio encontramos as propagandas anuacutencios de diversos tipos Enfim satildeo inuacutemeras as
esferas de discurso domiacutenios discursivos e gecircneros textuais atrelados a estes
Marcuschi (2008) enfatiza que o controle social por gecircneros discursivos eacute
incontornaacutevel mas natildeo determinista De acordo com o autor noacutes temos liberdade para nos
expressarmos em qualquer esfera discursiva Poreacutem temos que admitir que a sociedade eacute
constituiacuteda por uma ―maacutequina discursiva logo somos moldados a ela de forma intuitiva e
os gecircneros textuais constituem um poderoso instrumento desta maacutequina Quanto maior a
nossa inserccedilatildeo na sociedade maior o controle social Por exemplo natildeo satildeo todas as pessoas
que podem expedir um mandato de seguranccedila escrever uma dissertaccedilatildeo de mestrado
ministrar uma aula de fiacutesica quacircntica ou publicar uma coluna em um jornal Eacute nessa
perspectiva que Marcuschi (2008) afirma veemente o direcionamento dos gecircneros textuais
para com o envolvimento social e suas especificidades
26
A partir das consideraccedilotildees apresentadas a respeito dos gecircneros textuais dedicamos a
seccedilatildeo a seguir para a caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual
conforme relatamos na introduccedilatildeo deste capiacutetulo
12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL
O certificado de garantia ou termo de garantia eacute um documento oferecido por
prestadoras de serviccedilos fabricantes de produtos diversos ou de qualquer outro segmento que
envolva comercializaccedilatildeo de bens duraacuteveis com a funccedilatildeo de formalizar os direitos e deveres
do consumidor e do fabricante para com o estado fiacutesico e funcional do produto em vista de
problemas de qualquer natureza
Eacute tambeacutem uma espeacutecie de contrato visto que consiste fundamentalmente na
combinaccedilatildeo de interesses de partes sobre algo Aleacutem de ―certificado de garantia
utilizaremos tambeacutem a nomenclatura ―termo de garantia tendo em vista que o documento
do certificado de garantia e o termo em si estatildeo internamente ligados A expressatildeo ―termo de
garantia eacute usada no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20
de marccedilo de 1997
Art 50 A garantia contratual eacute complementar agrave legal e seraacute conferida mediante
termo escrito
Paraacutegrafo uacutenico O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e
esclarecer de maneira adequada em que consiste a mesma garantia bem como a
forma o prazo e o lugar em que pode ser exercitada e os ocircnus a cargo do
consumidor devendo ser-lhe entregue devidamente preenchido pelo fornecedor no
ato do fornecimento acompanhado de manual de instruccedilatildeo de instalaccedilatildeo e uso de
produto em linguagem didaacutetica com ilustraccedilotildees (Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do
Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20 de marccedilo de 1997 p 30)
Em linhas gerais o documento eacute composto por quatro partes garantia contratual
garantia legal condiccedilotildees para validade da garantia contratual e legal condiccedilotildees natildeo cobertas
pela garantia legal e contratual Vejamos um exemplo de certificado de garantia
27
ILUSTRACcedilAtildeO 1 Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario
_de_ar_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Observamos na primeira parte a disposiccedilatildeo da garantia contratual ou seja a garantia
oferecida pelo fabricante
28
ILUSTRACcedilAtildeO 2 Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar
_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Na segunda parte encontramos a disposiccedilatildeo da garantia legal ou seja a garantia
assegurada pelo Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do consumidor
ILUSTRACcedilAtildeO 3 Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c
ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Em seguida vemos as condiccedilotildees de validade da garantia legal e contratual composta
por uma lista exaustiva de itens a serem considerados
29
ILUSTRACcedilAtildeO 4 Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c
ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
E por fim encontramos as condiccedilotildees natildeo cobertas pela garantia legal e contratual
assim como observaccedilotildees gerais
ILUSTRACcedilAtildeO 5 Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar
_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Em relaccedilatildeo agrave estrutura padratildeo dos certificados de garantia a partir do corpus
analisado nesta pesquisa observou-se que o texto que se refere agrave garantia em si corresponde a
menos da metade do documento Grande parte do documento se dedica agrave restriccedilatildeo de
possibilidades de cobertura assim como observaccedilotildees gerais quanto agraves responsabilidades do
fabricante diante de situaccedilotildees como despesas referentes agrave locomoccedilatildeo para depoacutesito do
produto para assistecircncia documentaccedilatildeo necessaacuteria para apresentaccedilatildeo na assistecircncia etc
30
O termo de garantia eacute vinculado diretamente ao Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do
consumidor O coacutedigo estabelece um padratildeo abrangente de formulaccedilatildeo do documento
constando recomendaccedilotildees como o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo necessidade do
acompanhamento do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto assim como clareza na
disposiccedilatildeo dos prazos de garantia legal e contratual
Como discutimos na primeira parte desse capiacutetulo Bakhtin (2000) propotildee que trecircs
dimensotildees constituem os gecircneros de discurso conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo
composicional Iremos a seguir apresentar como estas dimensotildees satildeo percebidas nesse
gecircnero textual
Como conteuacutedo temaacutetico do gecircnero certificado de garantia temos a veiculaccedilatildeo de
direitos e deveres do fabricante e do consumidor O documento apresenta listas exaustivas de
accedilotildees que possibilitam ou natildeo o uso do termo de garantia assim como instruccedilotildees gerais para
a realizaccedilatildeo desse ato Esse conteuacutedo pode variar em parte e apenas questotildees referentes agrave
garantia legal natildeo podem mudar pois estaacute prevista no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do
Consumidor
Em relaccedilatildeo ao estilo observamos nos certificados a utilizaccedilatildeo da norma padratildeo
Busca-se construir um texto claro e objetivo para que dessa forma natildeo haja problemas de
interpretaccedilatildeo para o consumidor Nesse gecircnero natildeo haacute identificaccedilatildeo de quem escreve de
maneira particular como observamos em gecircneros do tipo carta A identificaccedilatildeo do autor eacute
geralmente atribuiacuteda agrave empresa que oferece a garantia O estilo individual que eacute
caracteriacutestico em diversos gecircneros como o artigo de opiniatildeo e cartas pessoais natildeo cabe para
os certificados Como se trata de um texto instrucional esse gecircnero apresenta-se de forma
objetiva de modo que natildeo haacute a necessidade praacutetica da identificaccedilatildeo de quem escreve
Quanto agrave estrutura composicional em linhas gerais tal gecircnero segue uma sequecircncia
de apresentaccedilatildeo em duas etapas Em um primeiro momento apresenta-se o termo de garantia
em si no qual eacute descrito o direito do consumidor em relaccedilatildeo agrave garantia assim como sua
validade No segundo momento parte mais extensa do texto haacute a apresentaccedilatildeo de listas
supostamente exaustivas referentes aos casos que natildeo satildeo cobertos pela garantia assim como
as instruccedilotildees gerais para o reclame do direito Essa sequecircncia de apresentaccedilatildeo do documento
eacute variaacutevel Haacute certificados que satildeo inclusos no manual de instruccedilatildeo do produto (geralmente
na uacuteltima paacutegina) Haacute certificados que satildeo destacados o documento eacute apresentado agrave parte de
qualquer outro texto
Se retomarmos a classificaccedilatildeo dos gecircneros do discurso de Bakhtin (2000) entre
primaacuterios (simples) e secundaacuterios (complexos) podemos considerar que o certificado de
31
garantia estaacute inserido nos gecircneros complexos pois se trata de um documento elaborado de
forma sistemaacutetica no qual haacute necessidade de um aprofundamento social complexo com
caracterizaccedilotildees e descriccedilotildees bem delimitadas
Quanto ao tipo de texto dentro do que foi proposto por Marcuschi (2008) o
certificado de garantia se enquadra no tipo injuntivo porque eacute um texto instrucional com
predominacircncia do modo imperativo nas frases e eacute composto pela listagem de uma seacuterie de
procedimentos a serem observados e seguidos com listas exaustivas contendo direitos e
deveres do fabricante e do consumidor O objetivo do documento eacute oferecer ao cliente todas
as informaccedilotildees relacionadas agrave validade da garantia os casos em que haacute perda da validade e os
casos em que os problemas apresentados se enquadram como defeitos de fabricaccedilatildeo
O certificado de garantia se caracteriza como um gecircnero textual a partir da
perspectiva de Marcuschi (2008) pois eacute um texto que possui caracteriacutesticas soacutecio-discursivas
bem delimitadas com conteuacutedo padratildeo obedecendo a uma mesma linha temaacutetica e foi
constituiacutedo socialmente O gecircnero foi criado a partir da necessidade juriacutedica de resguardar os
fabricantes e consumidores de produtos industrializados e afins quanto agrave possibilidade de
apresentaccedilatildeo de defeitos ou falhas
De posse dos conhecimentos gerais sobre os gecircneros textuais que apresentamos e da
caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual partiremos no proacuteximo
capiacutetulo para a apresentaccedilatildeo das teorias que serviratildeo de aporte teoacuterico para a compreensatildeo
das anaacutelises realizadas no capiacutetulo 3
32
2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS
Neste capiacutetulo tratamos dos nexos semacircnticos ou ―nexos de significado dos quais
consideramos para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica
contraditoriedade e contrariedade Caracterizamos cada um deles utilizando exemplos em
linguagem natural com o intuito de demonstrar o funcionamento dessas relaccedilotildees assim como
mostrar quando tais exemplos deixam de apresentar o nexo Nosso intuito final eacute de oferecer
uma base para a compreensatildeo das anaacutelises que viratildeo no capiacutetulo posterior
Para entendermos melhor o que satildeo os nexos semacircnticos devemos compreender a
distinccedilatildeo entre a semacircntica e a pragmaacutetica que satildeo linhas de estudos linguiacutesticos inter-
relacionaacuteveis Uma definiccedilatildeo bastante difundida da semacircntica e tambeacutem bastante geral eacute
encontrada em Trask (2004 p 261) que diz que a semacircntica eacute o ramo da linguiacutestica que
estuda o significado e em Chierchia (2003 p 7) para quem a semacircntica eacute um estudo do
significado das expressotildees das liacutenguas naturais Podemos tambeacutem caracterizar a semacircntica
destacando a relaccedilatildeo do usuaacuterio da liacutengua e o significado que ele atribuiu agraves palavras que
compotildeem sentenccedilas como propotildee Pires de Oliveira (2001 p 42) Jaacute a pragmaacutetica por outro
lado tambeacutem estuda o significado das liacutenguas naturais mas trata das intenccedilotildees que os
falantes supostamente revelam a partir do uso de sentenccedilas
Para o termo ―pragmaacutetica haacute diversas possibilidades de definiccedilatildeo Levinson (2007)
procura mostrar as implicaccedilotildees que algumas definiccedilotildees podem ter em relaccedilatildeo a outros
estudos Assim podemos citar pelo menos dois conceitos de pragmaacutetica para Levinson
―pragmaacutetica eacute o estudo de todos os aspectos do significado natildeo capturados em uma teoria
semacircntica (Levinson 2007 p14) assim como ―pragmaacutetica eacute o estudo das relaccedilotildees entre
liacutengua e contexto que satildeo gramaticalizadas ou codificadas na estrutura de um liacutengua
(Levinson 2007 p 11) Podemos perceber que nessas duas definiccedilotildees Levinson tanto atribui
agrave pragmaacutetica a responsabilidade sobre aquilo que estaacute aleacutem da semacircntica quanto destaca a
relaccedilatildeo de liacutengua e contexto Jaacute em Wilson (2008) encontramos as definiccedilotildees que Yule
(1996) apresenta para a pragmaacutetica
a) pragmaacutetica eacute o estudo do significado sob o ponto de vista do falante b)
pragmaacutetica eacute o estudo do significado contextual (isto eacute leva em conta o modo como
os falantes organizam seus enunciados aquilo que eles querem dizer de acordo com
os seguintes fatores a quem vatildeo dizer como vatildeo dizer onde e quando vatildeo dizer e
sob que circunstacircncias) c) pragmaacutetica eacute o estudo do como se diz aleacutem daquilo que eacute
33
dito (isto eacute o estudo do significado subjacente do natildeo dito d) pragmaacutetica eacute o
estudo da expressatildeo da proximidadedistanciamento relativo (isto eacute de acordo com
o tipo de proximidade fiacutesica social ou conceitual em relaccedilatildeo aos ouvintes os
falantes determinam como e quanto precisam dizer) (WILSON 2008 p 89)
A discussatildeo sobre as definiccedilotildees de pragmaacutetica e semacircntica e suas distinccedilotildees vem
desde o iniacutecio do seacuteculo XX e muitos autores contribuiacuteram para a evoluccedilatildeo desses conceitos
Em vista desta histoacuterica discussatildeo apresentaremos os conceitos de Charles Morris e Rudolf
Carnap para estas disciplinas linguiacutesticas
Segundo a definiccedilatildeo de Charles Morris (1938) pragmaacutetica eacute o estudo da ―relaccedilatildeo dos
signos com seus inteacuterpretes Jaacute para Rudolf Carnap (1938) a pragmaacutetica eacute o estudo da
linguagem em relaccedilatildeo aos seus falantes Diante dos conceitos de semacircntica e pragmaacutetica que
apresentamos e da distinccedilatildeo entre as linhas de estudos linguiacutesticos Marcondes (2000) afirma
que ―tanto a definiccedilatildeo de Morris quanto a de Carnap fazem parte da jaacute consagrada distinccedilatildeo
geral do campo de estudos da linguagem entre pragmaacutetica que considera a linguagem em
seu uso concreto e semacircntica que examina os signos linguiacutesticos em sua relaccedilatildeo com os
objetos que designam ou a quem se refere Os nexos semacircnticos estatildeo inseridos no campo da
semacircntica e voltaremos a este ponto no final do capiacutetulo
Sobre as relaccedilotildees semacircnticas haacute diversas perspectivas nos estudos linguiacutesticos A
forma como combinamos as palavras e nossa tendecircncia em buscar um conceito fixo de um
termo satildeo complicaccedilotildees que podem dificultar o uso da liacutengua O significado linguiacutestico das
liacutenguas naturais segundo Basso (2009) possibilita nexos semacircnticos entre sentenccedilas E
ainda sobre o significado Basso propotildee
Quando perguntamos o significado de alguma palavra muitas vezes buscamos
aquele modelo significativo presente nos dicionaacuterios Poreacutem natildeo haacute no dicionaacuterio
maneiras preacute-estabelecidas de como uma palavra pode se combinar com outra em
busca da trama de significados dos nexos que favorecem infinitas interpretaccedilotildees
Essas combinaccedilotildees satildeo decorrentes do proacuteprio uso da liacutengua pelos seus falantes
mas natildeo estatildeo nem presentes nos dicionaacuterios nem tampouco algueacutem nos ensina satildeo
conhecimentos impliacutecitos Uma aacuterea da linguiacutestica moderna defende que o nosso
conhecimento semacircntico e um dote geneacutetico portanto os possiacuteveis nexos
semacircnticos satildeo decorrentes de uma capacidade inata de combinaccedilatildeo de palavras e
sentenccedilas parte do conhecimento semacircntico impliacutecito ou competecircncia semacircntica
(BASSO 2009 p 25)
Os nexos semacircnticos satildeo caracterizados na literatura da semacircntica como grupos de
relaccedilotildees de inferecircncia muito estaacuteveis direcionaacuteveis e fortemente dependentes do material
34
linguiacutestico dos enunciados (SANTOS 2012) Essas relaccedilotildees diferem de perspectivas de
inferecircncias como a pressuposiccedilatildeo e a implicatura que dialogam diretamente com o natildeo-dito
Para contrastar os nexos com esses outros tipos de relaccedilatildeo vamos observar os exemplos a
seguir
(1) Carlos parou de beber refrigerante
(2) A tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio
Seguindo a mesma linha de exposiccedilatildeo de Moura (1999 p 12) a partir das duas
sentenccedilas acima observamos dois niacuteveis nas informaccedilotildees veiculadas No primeiro niacutevel
temos contato com o sentido literal das palavras Dessa forma em (1) temos a informaccedilatildeo de
Carlos natildeo toma mais refrigerantes e em (2) que Maacuterio escreveu uma tese sobre bolhas de
sabatildeo No segundo niacutevel atraveacutes da enunciaccedilatildeo das sentenccedilas somos levados a considerar
informaccedilotildees que natildeo estatildeo afirmadas literalmente nas sentenccedilas Dessa forma a partir de (1)
podemos inferir que Carlos bebia refrigerantes antes e em (2) que uma tese sobre bolhas de
sabatildeo jaacute foi escrita Ducrot (1987) denomina de conteuacutedo posto o primeiro niacutevel que
consiste no conteuacutedo literal das sentenccedilas e de conteuacutedo pressuposto ou pressuposiccedilatildeo o
segundo niacutevel que abarca as inferecircncias que podemos fazer a partir da enunciaccedilatildeo das
sentenccedilas Devemos entender que o conteuacutedo posto depende do conteuacutedo pressuposto pois a
aceitaccedilatildeo do primeiro leva a aceitaccedilatildeo do segundo Para que possamos aceitar a verdade do
posto (1) que diz que Carlos parou de beber refrigerante temos que aceitar a verdade
pressuposta de que Carlos jaacute tinha bebido refrigerante antes
Outra relaccedilatildeo semacircntica que dialoga diretamente com o natildeo-dito eacute a implicatura
Grice (1987) propotildee dois tipos de implicaturas as implicaturas convencionais que natildeo satildeo
sujeitas a condiccedilotildees de verdade e as implicaturas conversacionais que natildeo dependem
diretamente da significaccedilatildeo usual das palavras sendo determinadas por certos princiacutepios
baacutesicos do ato comunicativo
As implicaturas convencionais satildeo inferecircncias natildeo sujeitas a condiccedilotildees de verdade
natildeo satildeo derivadas de princiacutepios pragmaacuteticos mais gerais como as maacuteximas conversacionais
mas satildeo simplesmente ligadas pela convenccedilatildeo a itens ou expressotildees lexicais especiacuteficos
Levinson (2007) toma a implicatura conversacional como uma das ideias mais
importantes da pragmaacutetica e vamos considerar neste trabalho apenas as implicaturas do tipo
conversacional de forma que quando mencionarmos o termo implicatura devemos entender
que estamos falando das implicaturas conversacionais e natildeo das convencionais
35
Para exemplificar uma implicatura vamos supor uma situaccedilatildeo entre dois amigos em
que ao dialogar sobre as uacuteltimas defesas de teses e dissertaccedilotildees do departamento de poacutes-
graduaccedilatildeo deparam-se com a notiacutecia de que um de seus colegas escreveu uma tese sobre um
tema muito irrelevante e nada original Diante desta situaccedilatildeo um amigo disse para o outro ―A
tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio A partir da situaccedilatildeo em que os dois amigos
estavam imersos nesse contexto e da sentenccedila utilizada por um dos amigos podemos inferir
que foi Maacuterio quem escreveu uma tese sobre um tema irrelevante Podemos perceber neste
exemplo que como descrito nas definiccedilotildees que trouxemos anteriormente a implicatura por
ser uma relaccedilatildeo puramente pragmaacutetica utiliza-se do natildeo-dito e de situaccedilotildees convencionadas
entre falantes para poder existir
Dessa forma podemos retomar o que foi exposto nos paraacutegrafos anteriores afirmando
que os nexos semacircnticos as pressuposiccedilotildees e as implicaturas satildeo inferecircncias de significado
sendo que os nexos estatildeo no campo da semacircntica e as pressuposiccedilotildees e implicaturas estatildeo no
campo da pragmaacutetica
A partir deste ponto iremos descrever os nexos semacircnticos com exemplos mostrando
como essas relaccedilotildees funcionam e tambeacutem casos em que a interpretaccedilatildeo natildeo acontece da
maneira esperada Em relaccedilatildeo aos casos em que a interpretaccedilatildeo eacute prejudicada trataremos de
casos relacionados com a ambiguidade lexical mais especificamente com vagueza e casos
relacionados com a polissemia (desconsiderando seus limites com a homoniacutemia)
21 ACARRETAMENTO
Em linhas gerais o acarretamento ocorre quando a verdade de um conjunto de
sentenccedilas1 que nomearemos de A garante a verdade de outra sentenccedila que nomearemos de
B Dessa forma a verdade da primeira sentenccedila ou do conjunto delas autoriza a verdade de B
(CHIERCHIA 2003) O acarretamento eacute uma inferecircncia que os falantes estatildeo autorizados a
fazer e o que os autoriza eacute o conhecimento linguiacutestico Vamos observar o exemplo a seguir
1 Em nosso trabalho utilizaremos os termo ldquosentenccedilardquo e ldquoproposiccedilatildeordquo intercambiavelmente Alguns autores
definem os dois termos de formas distintas Por exemplo na semacircntica contemporacircnea de mundos possiacuteveis desenvolvida por autores como por exemplo Kripke e Lewis define-se proposiccedilatildeo como a classe de todos os mundos possiacuteveis nas quais ela eacute verdadeira Murcho (2006) apresenta dois exemplos para distinguir proposiccedilotildees e sentenccedilas ldquoSoacutecrates era um filoacutesofordquo e ldquoSocrates was a philosopherrdquo Murcho afirma que os dois exemplos satildeo duas sentenccedilas que exprimem uma uacutenica proposiccedilatildeo Outros como Mortari (2001) natildeo distinguem proposiccedilotildees e sentenccedilas
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(3) alsquo Neymar eacute brasileiro
a Neymar eacute um jogador de futebol
b Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro
Podemos observar no exemplo acima que a sentenccedila (3b) tem a sua verdade garantida
pela verdade de (3alsquo) e (3a) Sendo assim (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Podemos observar
no exemplo que o acarretamento eacute bastante claro pois as informaccedilotildees que estatildeo presentes em
(3b) satildeo a soma das informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) Eacute interessante destacar
que para que a sentenccedila (3b) constitua um acarretamento de (3alsquo) e (3a) natildeo precisamos
conhecer a pessoa Neymar nem sua nacionalidade eou profissatildeo Como as informaccedilotildees
estatildeo postas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) a verdade de (3b) eacute inevitaacutevel Mesmo que no mundo
real Neymar natildeo fosse jogador de futebol e natildeo fosse brasileiro isso em nada modificaria o
acarretamento pois dentro da relaccedilatildeo estabelecida entre (3alsquo) (3a) e (3b) as informaccedilotildees
contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Vejamos o exemplo a seguir
(4) alsquo Todos os sacis tecircm apenas uma perna
a Denis Diderot eacute um saci
b Denis Diderot tem apenas uma perna
Observando o exemplo acima identificamos que em relaccedilatildeo ao conhecimento de
mundo a sentenccedila (4alsquo) eacute verdadeira jaacute que no folclore admitimos como uma caracteriacutestica
dos sacis ter apenas uma perna A sentenccedila (4a) eacute falsa pois Denis Diderot foi um filoacutesofo e
escritor francecircs e natildeo um saci Por fim a sentenccedila (4b) tambeacutem eacute falsa em relaccedilatildeo ao nosso
conhecimento de mundo pois Denis Diderot possuiu durante toda a sua vida as duas pernas
Podemos entatildeo admitir que as sentenccedilas do conjunto (4) em relaccedilatildeo ao nosso conhecimento
de mundo satildeo falsas Mesmo assim o conjunto eacute um acarretamento Diferente do exemplo
(3) em que trouxemos sentenccedilas que constituiacuteam um acarretamento com informaccedilotildees
verdadeiras em relaccedilatildeo ao mundo o exemplo (4) mostra que a relaccedilatildeo semacircntica que estamos
discutindo independe da verdade das informaccedilotildees das sentenccedilas no mundo O que o
acarretamento faz eacute concatenar as sentenccedilas de uma forma que se as premissas forem
verdadeiras a conclusatildeo tambeacutem seraacute verdadeira O acarretamento depende exclusivamente
37
da forma em que as sentenccedilas se apresentam Tendo em vista que a relaccedilatildeo depende apenas
da forma podemos representar o acarretamento da seguinte maneira como propotildee Soares
(2003)
Em liacutengua natural
Se estudar entatildeo serei aprovado (1ordf premissa)
Ora estudei (2ordf premissa)
Logo fui aprovado (Conclusatildeo)
E simbolizando2
a rarr b (1ordf premissa)
a (2ordf premissa)
b (Conclusatildeo)
Vale ressaltar que ao utilizarmos o termo ―sentenccedila estamos nos referindo ao que os
gramaacuteticos costumam chamar de oraccedilatildeo Tambeacutem eacute interessante mencionar que o
acarretamento eacute chamado de consequecircncia semacircntica Iremos utilizar como representaccedilatildeo das
premissas sentenccedilas do tipo (Xalsquo) e (Xa) e para a conclusatildeo sentenccedilas do tipo (Xb)
Podemos entender que o acarretamento eacute um tipo de relaccedilatildeo estabelecida entre
premissas e a consequecircncia de forma que a verdade das premissas determina a verdade da
consequecircncia Tambeacutem devemos entender que natildeo eacute possiacutevel que as premissas sejam
verdadeiras junto da negaccedilatildeo da conclusatildeo pelo fato de que dessa forma estaria
descaracterizada a relaccedilatildeo de acarretamento
Como ressaltamos acima os acarretamentos satildeo dependentes da forma ou seja da
relaccedilatildeo que as sentenccedilas possuem entre si e natildeo da verdade ou falsidade no mundo das
informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas Diante disso traremos agrave tona exemplos de sentenccedilas que
2 O siacutembolo ldquorarrrdquo na loacutegica claacutessica representa um condicional assunto de que trataremos no terceiro capiacutetulo
deste trabalho e o siacutembolo ldquordquo representa um acarretamento
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natildeo possuem relaccedilatildeo semacircntica mas atraveacutes da verdade ou falsidade das informaccedilotildees nas
sentenccedilas podem nos confundir e nos induzir ao erro Para tal raciociacutenio errocircneo damos o
nome de falaacutecias
Soares (2003) distingue trecircs caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias (i) satildeo
argumentos parecidos com argumentos vaacutelidos (ii) estabelecem entre premissas e conclusotildees
uma relevacircncia puramente psicoloacutegica que tatildeo-soacute se dirige agraves emoccedilotildees da pessoa sem que as
premissas sejam logicamente relevantes para extrair a conclusatildeo (iii) apresentam-se com
intenccedilatildeo enganadora para que o argumento ainda que invaacutelido seja de todas as maneiras
aceito por todos Vejamos a seguir exemplos de falaacutecias
(5) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher
a Dilma Rousseff eacute mulher
b Dilma Rousseff eacute a presidente do Brasil
A partir do nosso conhecimento de mundo poderiacuteamos dizer que a sentenccedila (5b) eacute
verdadeira Na sentenccedila (5alsquo) temos que A presidente do Brasil eacute mulher De fato tambeacutem se
formos utilizar nosso conhecimento de mundo intuitivamente diremos que esta sentenccedila estaacute
correta considerando a eacutepoca em que este trabalho foi escrito Seguindo temos a sentenccedila
(5a) com a informaccedilatildeo Dilma Rousseff eacute mulher Assim como as sentenccedilas (5alsquo) e (5a) a
partir de nosso conhecimento de mundo podemos afirmar que esta sentenccedila tambeacutem eacute
verdadeira mas devemos entender que eacute preciso considerar a relaccedilatildeo que as sentenccedilas
estabelecem entre si A sentenccedila (5alsquo) natildeo estabelece nenhuma relaccedilatildeo com a sentenccedila (5a)
para que (5b) seja um acarretamento Para mostrar de forma mais clara que o exemplo (5) natildeo
eacute um acarretamento vamos comparaacute-lo com o exemplo a seguir
(6) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher
a Michelle Bachelet eacute mulher
b Michelle Bachelet eacute a presidente do Brasil
Observamos que (6alsquo) e (6a) satildeo verdadeiras (no momento da redaccedilatildeo deste
trabalho) mas (6b) nos parece estranho Sabemos que Michelle Bachelet atualmente eacute
presidente do Chile Mas nada disso interfere para caracterizar um acarretamento e o exemplo
acima foi para deixar claro que a partir das relaccedilotildees semacircnticas dispostas entre os grupos de
39
sentenccedilas (5) e (6) natildeo podemos considerar que haacute acarretamento pelo fato acima
mencionado
Ateacute o momento tratamos do conceito de acarretamento seguido de exemplos em
liacutengua natural sua representaccedilatildeo na loacutegica claacutessica e exemplos de falaacutecias A partir deste
ponto trataremos dos fatores que interferem nas relaccedilotildees semacircnticas de uma forma diferente
das falaacutecias A compreensatildeo dos tipos de interferecircncias a seguir seraacute importante para a anaacutelise
do corpus deste trabalho pois se trata de interferecircncias lexicais
No exemplo a seguir trataremos de um problema que pode invalidar relaccedilotildees
semacircnticas a polissemia Quando um termo adquire mais de um sentido aleacutem daquele que eacute
originalmente atribuiacutevel temos um caso de polissemia Crystal (1985) conceitua polissemia
da seguinte maneira
Polissemia termo usado na anaacutelise semacircntica para caracterizar um item lexical com
uma variedade de significaccedilotildees diferentes como manga = ―parte da camisa ―parte
do abajur etc Uma grande parte do vocabulaacuterio da liacutengua eacute polissecircmica ()
(Crystal 1985 p 202)
Tendo em vista que a polissemia eacute uma caracteriacutestica de um item lexical que possui
diversos significados para diversos contextos vamos observar o exemplo a seguir
(7) a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito
b Joatildeo morreu
A sentenccedila (7a) pode ser interpretada pelo menos de duas formas distintas pelo fato da
expressatildeo ―perdeu a cabeccedila ser polissecircmica Se interpretarmos a sentenccedila (7a) considerando
―perder a cabeccedila como ter a cabeccedila desprendida do corpo haacute acarretamento de (7a) para
(7b) Mas esta natildeo eacute a uacutenica interpretaccedilatildeo possiacutevel para a expressatildeo em questatildeo Se
interpretarmos ―perder a cabeccedila como perder a paciecircncia ficar furioso estressado ou algo
parecido a sentenccedila (7a) natildeo acarreta (7b) numa mesma situaccedilatildeo pois o fato de Joatildeo ter
perdido a paciecircncia natildeo garante que ele venha a morrer Dessa forma para natildeo ter problemas
com a polissemia eacute preciso assegurar que se convencione um sentido uacutenico para cada
premissa para desta forma haver um acarretamento
40
Outro aspecto que eacute preciso ser mencionado eacute que (7) do jeito que se apresenta natildeo eacute
um acarretamento mesmo que perder a cabeccedila tenha o sentido de ter a cabeccedila desprendida do
corpo Isso se daacute porque (7) eacute um acarretamento incompleto ou seja um entimema
Argumento com uma premissa natildeo-formulada sem a qual ele natildeo eacute vaacutelido Chama-
se muitas vezes de premissa impliacutecitalsquo agrave premissa natildeo formulada Na argumentaccedilatildeo
cotidiana omitem-se premissas oacutebvias A premissa impliacutecita do argumento Antocircnio
deveria ser despedido porque roubou dinheiro puacuteblicolsquo eacute Todas as pessoas que
roubam dinheiro puacuteblico devem ser despedidaslsquo (BRANQUINHO MURCHO
GOMES 2006 p 298)
Vamos observar o exemplo (7) de uma forma que o entimema seria evitado
(8) alsquo Todas as pessoas que perdem a cabeccedila morrem
a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito
b Joatildeo morreu
Podemos constatar no exemplo acima que ao incluirmos a sentenccedila (8alsquo) que eacute a
sentenccedila geral que estava impliacutecita no exemplo (7) resolvemos o problema do entimema
completando assim a relaccedilatildeo de acarretamento de (8alsquo) e (8a) para (8b)
A partir de agora vamos tratar de outro tipo de interferecircncia em relaccedilotildees sentencias
que estaacute tambeacutem no campo do leacutexico a vagueza
A vagueza eacute assim como a polissemia um tipo de ocorrecircncia que dificulta a
interpretaccedilatildeo dos nexos entre sentenccedilas Podemos considerar que haacute vagueza em uma
sentenccedila quando observamos que uma palavra ou expressatildeo causa sentido incompleto
impedindo o entendimento da sentenccedila como um todo Branquinho Murcho e Gomes
conceituam a vagueza de seguinte maneira
As liacutenguas naturais contecircm palavras (tipicamente predicados denotando
propriedades ou relaccedilotildees) cujo domiacutenio de aplicaccedilatildeo eacute parcialmente indeterminado
isto eacute em relaccedilatildeo agraves quais os falantes competentes natildeo estatildeo certos em todos os
casos de que determinado objeto (ou par ordenado de objetos) pertence ao conjunto
denotado por elas (ou agrave relaccedilatildeo) (BRANQUINHO MURCHO GOMES 2006 p
805)
De uma forma geral Allan (2010) caracteriza a vagueza como um tipo particular de
incerteza sobre a aplicaccedilatildeo de um predicado Podemos considerar como um exemplo padratildeo
de predicado vago a classe de adjetivos graduaacuteveis como altura Se uma determinada pessoa
41
natildeo eacute suficientemente alta para ser claramente alta e natildeo eacute suficiente baixa para ser
claramente baixa entatildeo aiacute temos um caso de vagueza
Os adjetivos vagos satildeo sempre utilizados em relaccedilatildeo a uma classe de comparaccedilatildeo no
dia-a-dia Estar acima do peso por exemplo pode variar a partir do grau de comparaccedilatildeo Para
uma top model estar acima do peso eacute visto de forma diferente do que para um lutador de
sumocirc por exemplo
Ainda em relaccedilatildeo ao conceito de vagueza Kempson (1977) propotildee que existem
quatro tipos inter-relacionaacuteveis de vagueza vagueza referencial indeterminaccedilatildeo de
significado falta de especificaccedilatildeo no significado de um item disjunccedilatildeo na especificaccedilatildeo do
significado de um item em que o significado abarca uma ou qualquer declaraccedilatildeo de diversas
possibilidades de interpretaccedilatildeo Dentre estes quatro tipos propostos por Kempson iremos nos
dedicar a observar os casos relacionados agrave vagueza referencial Tendo em vista os conceitos
acima vamos observar um exemplo em que a vagueza pode prejudicar a interpretaccedilatildeo de um
acarretamento
(9) a Tobias eacute um gecircnio no xadrez
b Tobias eacute um bom jogador de xadrez
No exemplo acima podemos observar os termos vagos ―gecircnio na sentenccedila (9a) e
―bom na sentenccedila (9b) Para haver a relaccedilatildeo de acarretamento temos que admitir para (9a) e
(9b) o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe Por exemplo haacute acarretamento entre as
sentenccedilas (9a) e (9b) se Tobias for um garoto de oito anos e diante seus colegas da escola ele
se destacar como um exiacutemio conhecedor das regras e teacutecnicas do jogo de xadrez Dessa
forma a sentenccedila ―Tobias eacute um gecircnio no xadrez acarretaria que ―Tobias eacute um bom jogador
de xadrez Jaacute se natildeo utilizarmos o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas
(9a) e (9b) como por exemplo se em (9a) Tobias for um garoto de oito anos que diante de
seus colegas da escola se destaca como um exiacutemio jogador de xadrez mas comparando-o
com os competidores da categoria secircnior do campeonato mundial de xadrez e a partir disso
afirmando (9b) natildeo poderiacuteamos acarretar que Tobias eacute um bom jogador de xadrez Dessa
forma pudemos observar que a presenccedila de termos vagos em sentenccedilas dificulta a
interpretaccedilatildeo dos acarretamentos A seguir observaremos outros nexos que se relacionam com
o acarretamento
42
22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA
Como discutimos anteriormente o acarretamento eacute uma relaccedilatildeo semacircntica que ocorre
em um uacutenico sentido ou seja das premissas para a conclusatildeo Quando uma conclusatildeo
acarreta as premissas chamamos essa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica
Para o termo ―equivalecircncia haacute diversas definiccedilotildees Segundo Branquinho Murcho e
Gomes (2006 p 281) podemos identificar dois sentidos distintos para este termo o primeiro
se refere ao que tratamos neste trabalho ou seja faz referecircncia a relaccedilatildeo entre as sentenccedilas de
certa liacutengua o segundo trata de determinados tipos de sentenccedilas declarativas agraves frases
bicondicionais ou declarativas Dentro desses dois sentidos diversos para o termo
―equivalecircncia no primeiro que eacute o que mais nos interessa os autores ainda distinguem trecircs
variedades centrais de equivalecircncia Satildeo elas equivalecircncia material equivalecircncia estrita e
equivalecircncia loacutegica
A equivalecircncia material eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q (por
exemplo) exatamente quando p e q possuem o mesmo valor de verdade ou seja quando ou
satildeo as duas verdadeiras juntas ou satildeo as duas falsas juntas
A equivalecircncia estrita eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q no caso em
que eacute necessaacuterio que p seja materialmente equivalente a q ou no caso de ser impossiacutevel tanto
que p seja verdadeira e q seja falsa quanto que p seja falsa e q seja verdadeira Branquinho
Murcho e Gomes (2006 p 281) afirmam que nesse caso diz-se que p eacute estritamente
equivalente a q
A equivalecircncia loacutegica eacute uma relaccedilatildeo que se estabelece entre duas sentenccedilas p e q
exatamente no caso de p e q serem duas sentenccedilas mutuamente dedutiacuteveis num dado sistema
loacutegico Diz-se nesse caso que p eacute logicamente equivalente a q
Em nosso trabalho iremos considerar para ―equivalecircncia o sentido apresentado por
Branquinho Murcho e Gomes (2006) para equivalecircncia material A partir deste conceito
vamos observar o exemplo a seguir
(10) a O gato matou o rato
b O rato foi morto pelo gato
Nas sentenccedilas acima podemos identificar uma relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica Eacute
impossiacutevel que o gato tenha matado o rato e que o rato natildeo tenha sido morto Claro que se
43
considerarmos que estamos tratando sobre o mesmo gato e o mesmo rato Dessa forma
sempre que (10a) for verdadeira (10b) tambeacutem teraacute de ser Tambeacutem podemos observar uma
relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica no exemplo (3) Utilizamos o exemplo (3) para mostrar
uma relaccedilatildeo de acarretamento que eacute efetiva mas tambeacutem haacute a relaccedilatildeo de equivalecircncia pois
as premissas ―Neymar eacute brasileiro e ―Neymar eacute um jogador de futebol acarretam que
―Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro da mesma forma que esta uacuteltima sentenccedila
acarreta as duas anteriores Tal exemplo reafirma o conceito descrito acima de que uma
equivalecircncia semacircntica eacute um acarretamento duplo
Assim como acontece no acarretamento a equivalecircncia semacircntica tem problemas com
a polissemia Vamos observar exemplo a seguir
(11) a O Brasil ganhou o jogo contra o Chile
b O Chile perdeu o jogo contra o Brasil
No exemplo acima vemos que a sentenccedila (11a) acarreta a sentenccedila (11b) ao mesmo
tempo em que a sentenccedila (11b) acarreta a sentenccedila (11a) Natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (11a)
seja verdadeira ao mesmo tempo em que a (11b) seja falsa Se uma das sentenccedilas eacute falsa e a
outra eacute verdadeira natildeo haacute acarretamento em nenhum dos dois ―sentidos (em relaccedilatildeo agrave
direccedilatildeo de (11a) para (11b) e de (11b) para (11a)) Natildeo podemos considerar que o Brasil
ganhou o jogo contra o Chile e que o Chile ganhou o jogo contra o Brasil pois sabemos que
em uma partida de futebol haacute apenas um ganhador Haacute a possibilidade de algueacutem querer ir
mais aleacutem e inferir que eacute possiacutevel que os dois times ganharam mas em jogos diferentes Se
considerarmos a situaccedilatildeo de que o Chile jaacute ganhou outros jogos contra o Brasil assim como
que o Brasil jaacute ganhou outros jogos contra o Chile a relaccedilatildeo de equivalecircncia seria possiacutevel
escolhendo qualquer outro jogo como referecircncia mas natildeo eacute o que nos interessa pois
devemos considerar apenas uma situaccedilatildeo para as duas sentenccedilas
A partir deste ponto iremos tratar sobre como a polissemia pode interferir na
interpretaccedilatildeo numa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica da mesma forma que mostramos
anteriormente nas relaccedilotildees de acarretamento Vejamos o proacuteximo exemplo
44
(12) a A lagosta estaacute mais salgada que o peixe
b O peixe estaacute menos salgado que a lagosta
Podemos observar que as sentenccedilas (12a) e (12b) satildeo equivalentes pelo fato de que
natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12a) seja verdadeira e a sentenccedila (12b) seja falsa assim como
natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12b) seja verdadeira e a sentenccedila (12a) seja falsa Poreacutem se
passarmos a admitir significados diferentes para expressotildees empregadas nas sentenccedilas por
exemplo para a palavra ―salgado encontraremos problemas Se admitirmos que sentenccedila
(12a) o conceito de ―salgado eacute de o alimento estar impregnado de sal salpicado de sal ou
com gosto de sal e se este conceito for tambeacutem considerado para a sentenccedila (12b) haacute
equivalecircncia semacircntica Mas tambeacutem podemos interpretar o termo ―salgado como uma
expressatildeo para se referir ao preccedilo alto do produto no mercado Soacute haacute equivalecircncia semacircntica
se admitirmos o mesmo conceito para ―salgado em ambas as sentenccedilas ou seja se
considerarmos o significado de ―salgado como sendo impregnado de sal para a sentenccedila
(12a) ou em (12b) como sendo relativo ao valor alto no mercado natildeo haacute equivalecircncia
semacircntica entre (12a) e (12b)
No proacuteximo exemplo trataremos de outro tipo de ocorrecircncia que dificulta a
interpretaccedilatildeo de nexos a vagueza Como jaacute apresentamos a definiccedilatildeo de vagueza na seccedilatildeo
anterior partiremos direto para o exemplo em que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo de uma
equivalecircncia semacircntica
(13) a Goacutergias eacute mais saacutebio que Hiacutepias
b Hiacutepias eacute menos saacutebio que Goacutergias
Na relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) haacute equivalecircncia semacircntica mas podemos identificar
que nas duas sentenccedilas foram utilizados termos vagos que tornam a interpretaccedilatildeo dificultosa
Em (13a) haacute o uso dos termos ―mais e ―saacutebio assim como em (13b) haacute o uso dos termos
―menos e ―saacutebio Esses termos satildeo vagos e dificultam a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo semacircntica
entre as sentenccedilas O que dificulta a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) eacute o fato de
que termos como ―mais e ―menos assim como ―saacutebio possuem significados diferentes de
acordo com as situaccedilotildees em que satildeo utilizadas Ou seja eacute necessaacuterio que admitamos o
45
mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas (13a) e (13b) Dessa forma haveraacute a
relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica
A seguir trataremos sobre outro tipo de relaccedilatildeo semacircntica entre sentenccedilas a
contraditoriedade
23 CONTRADITORIEDADE
Diferente da relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica que consiste em sentenccedilas que satildeo
verdadeiras juntas ou falsas juntas as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias quando uma eacute oposta da
outra tipicamente quando uma sentenccedila B eacute a negaccedilatildeo de uma sentenccedila A Sobre a relaccedilatildeo de
contraditoriedade Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 229) afirmam que ―obteacutem-se a
contraditoacuteria de qualquer proposiccedilatildeo p prefixando-lhe o operador de negaccedilatildeo de modo a
obter notp3 Com base no conceito de contraditoriedade exposto vamos observar o exemplo a
seguir
(14) a O Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016
b O Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016
Podemos observar no exemplo acima que se a sentenccedila (14a) for verdadeira
obrigatoriamente a sentenccedila (14b) tem que ser falsa Se a informaccedilatildeo da sentenccedila (14a) que
diz que o Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas for verdadeira a informaccedilatildeo da sentenccedila
(14b) que diz que o Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas natildeo pode ser verdadeira
Em relaccedilotildees de contraditoriedade o uso de uma afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo eacute algo
tiacutepico mas natildeo determinante No exemplo (14) pudemos observar a relaccedilatildeo de
contraditoriedade caracterizada pelo uso da negaccedilatildeo mas tambeacutem podemos encontrar esse
tipo de relaccedilatildeo sem tal uso Vejamos a seguir
3 O siacutembolo not na loacutegica claacutessica eacute a representaccedilatildeo do operador de negaccedilatildeo ldquonatildeordquo
46
(15) a Mecircnon estaacute acordado
b Mecircnon estaacute dormindo
A partir das sentenccedilas acima podemos ver que a relaccedilatildeo entre estas sentenccedilas eacute de
contraditoriedade pois se a sentenccedila (15a) for verdadeira a sentenccedila (15b) tem que ser falsa
da mesma forma que se a sentenccedila (15b) for verdadeira a sentenccedila (15a) deveraacute ser falsa
Natildeo eacute possiacutevel que Mecircnon esteja acordado e dormindo ao mesmo tempo claro que
considerando o mesmo sentido para as palavras ―acordado e ―dormindo nas duas sentenccedilas
e em relaccedilatildeo ao mesmo Mecircnon
Assim como as demais relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos anteriormente a
contraditoriedade tambeacutem eacute sensiacutevel agrave polissemia Vamos observar como a polissemia se
apresenta no exemplo a seguir
(14) a A minha gata estaacute acordada
b A minha gata estaacute dormindo
No exemplo acima natildeo encontramos apenas a relaccedilatildeo de contraditoriedade sem
utilizaccedilatildeo da negaccedilatildeo mas tambeacutem um problema de polissemia que pode anular a relaccedilatildeo de
contraditoriedade Se numa determinada situaccedilatildeo escrevendo este texto me viro na cadeira e
vejo em cima de minha cama o meu animal de estimaccedilatildeo deitado olhando para mim e com
isso afirmo ―a minha gata estaacute acordada como na sentenccedila (14a) natildeo posso considerar
verdadeira a sentenccedila (14b) pois natildeo se pode estar dormindo e estar acordado ao mesmo
tempo tomando as definiccedilotildees de ―estar acordado e ―estar dormindo como oposiccedilotildees A
partir disso as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias Se em outra situaccedilatildeo me viro na cadeira e vejo
minha esposa deitada na cama dormindo e afirmo ―a minha gata estaacute dormindo como na
sentenccedila (14b) ela natildeo pode ser verdadeira ao mesmo tempo em que a sentenccedila (14a) pois
minha esposa natildeo poderia estar acordada e dormindo ao mesmo tempo Ateacute o momento
pudemos atribuir dois sentidos diferentes para o termo ―gata Se considerarmos para a
sentenccedila (14a) o sentido de que o meu animal de estimaccedilatildeo estaacute acordado e para a sentenccedila
(14b) o sentido de que a minha esposa estaacute dormindo essas sentenccedilas natildeo satildeo contraditoacuterias
No exemplo acima percebemos portanto dois aspectos da contradiccedilatildeo em sentenccedilas de uma
liacutengua natural como o portuguecircs Primeiro que natildeo haacute a obrigatoriedade de ter a negaccedilatildeo de
47
uma sentenccedila para que a relaccedilatildeo de contraditoriedade exista e segundo que a polissemia
pode tornar problemaacutetica essa relaccedilatildeo
Podemos considerar uma relaccedilatildeo de contraditoriedade entre sentenccedilas sempre que A eacute
verdadeira B eacute falsa e sempre que a sentenccedila B eacute verdadeira A eacute falsa Ou seja as sentenccedilas
A e B nunca podem ser verdadeiras ou falsas juntas
O exemplo de contraditoriedade que mostramos anteriormente foi relacionando duas
sentenccedilas mas podemos encontrar a relaccedilatildeo de contraditoriedade dentro de uma sentenccedila
apenas Vamos observar o exemplo a seguir
(15) Herbert Vianna eacute cantor e natildeo eacute cantor
Se afirmamos que uma pessoa eacute e natildeo eacute cantora constatamos uma contraditoriedade
nesta sentenccedila Em (15) encontramos a apresentaccedilatildeo de um argumento e a negaccedilatildeo do mesmo
argumento em seguida Uma sentenccedila com esta forma natildeo pode ser verdadeira Se
consideramos numa mesma situaccedilatildeo que Herbert Vianna eacute cantor e em seguida afirmo que
Herbert Vianna natildeo eacute cantor esta sentenccedila eacute contraditoacuteria
Se partirmos para determinar sentidos diferentes para o termo ―cantor como por
exemplo que Herbert Vianna eacute um cantor pelo simples fato de que ele emite pelas cordas
vocais sons musicais que ―cantor eacute um termo que soacute pode ser utilizado para os profissionais
que trabalham com a voz na muacutesica ou que ―cantor se jaacute um termo utilizado para designar
algueacutem que canta muito bem natildeo haacute contraditoriedade efetivamente Mas se mantivermos o
mesmo sentido para o termo haveraacute relaccedilatildeo de contraditoriedade
Da mesma forma que a polissemia dificulta a interpretaccedilatildeo de nexos entre sentenccedilas
vamos observar um exemplo em que a vagueza ndash toacutepico que desenvolvemos na primeira
seccedilatildeo deste capiacutetulo - invalida uma relaccedilatildeo de contraditoriedade
(16) a O professor de loacutegica eacute muito alto
b O professor de loacutegica natildeo eacute muito alto
Na relaccedilatildeo entre (16a) e (16b) seguindo o conceito contraditoriedade haacute uma relaccedilatildeo
de contradiccedilatildeo entre as duas sentenccedilas poreacutem podemos identificar termos vagos nas duas
sentenccedilas o que pode dificultar a interpretaccedilatildeo Na sentenccedila (16a) e na sentenccedila (16b)
48
identificamos dois termos vagos que satildeo ―muito e ―alto Eacute possiacutevel considerar as duas
sentenccedilas como falsas ou verdadeiras juntas invalidando a contraditoriedade pois os termos
―muito e ―alto satildeo variaacuteveis de acordo com o grau de comparaccedilatildeo adotado Por exemplo
em (16a) o professor de loacutegica pode ser considerado muito alto em comparaccedilatildeo agraves crianccedilas
para quem ele leciona poreacutem se compararmos o professor de loacutegica da sentenccedila (16a) com os
outros professores do departamento talvez o professor fosse considerado baixo Desta forma
podemos observar que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo das duas sentenccedilas
A seguir traremos o uacuteltimo nexo semacircntico que utilizaremos em nosso trabalho Este
tipo de relaccedilatildeo eacute um pouco parecido com a contraditoriedade
24 CONTRARIEDADE
A contrariedade ocorre quando duas sentenccedilas podem ser falsas juntas mas natildeo
podem ser verdadeiras juntas Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 234) definem
contrariedade da seguinte forma ―duas proposiccedilotildees satildeo contraacuterias se natildeo podem ser ambas
verdadeiras mas podem ser ambas falsas distinguindo-se assim das contraditoacuterias que natildeo
podem ser ambas verdadeiras nem ambas falsas e das subcontraacuterias que natildeo podem ser
ambas falsas mas podem ser ambas verdadeiras
Eacute importante enfatizar que mesmo estando tratanto dos nexos semacircnticos e sua
aplicaccedilatildeo em liacutengua natural os conceitos de sentenccedilas contraacuterias contraditoacuterias
equivalecircncias e acarretamentos tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica As relaccedilotildees de sentenccedilas
contraacuterias e contraditoacuterias satildeo tratadas por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado
atraveacutes de seu quadrado loacutegico ou taacutebua de oposiccedilotildees No Perieacutermeneas (1985) mais
especificamente nos capiacutetulos 6 e 7 Aristoacuteteles nos apresenta os conceitos de sentenccedilas
contraacuterias e contraditoacuterias afirmando que duas sentenccedilas satildeo contraacuterias quando natildeo podem
ser verdadeiras juntas ao mesmo tempo mas podem ser falsas juntas ao mesmo tempo Jaacute em
relaccedilatildeo agraves contraditoacuterias Aristoacuteteles propotildee que toda afirmaccedilatildeo possui sua exata negaccedilatildeo
correspondente e que toda afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo sem opotildeem sendo uma sempre
verdadeira e a outra sempre falsa Dessa forma para Aristoacuteteles um par formado por uma
afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo corresponde a uma contradiccedilatildeo
A partir do conceito de contrariedade vamos observar o exemplo a seguir Nele
encontraremos um caso de polissemia
49
(17) a A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 20 de agosto de 1914
b A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 18 de julho de 1921
Se admitirmos que a seleccedilatildeo brasileira de futebol sobre a qual estamos falando na
sentenccedila (17a) eacute a mesma seleccedilatildeo que estamos falando na sentenccedila (17b) natildeo eacute possiacutevel que
a sentenccedila (17b) seja verdadeira pois algo natildeo pode ser fundado efetivamente em dois
momentos distintos Haacute a possibilidade de se afirmar que estamos falando de duas seleccedilotildees
brasileiras de futebol diferentes pois para ―seleccedilatildeo brasileira haacute diversos significados
aplicaacuteveis ou seja a expressatildeo ―seleccedilatildeo brasileira eacute polissecircmica Por exemplo podemos
definir uma seleccedilatildeo como sendo de futebol de campo e a outra de futebol de salatildeo A partir
dessa interpretaccedilatildeo as duas sentenccedilas poderiam ser verdadeiras juntas e com isso natildeo
haveria contrariedade Mas como devemos admitir apenas uma situaccedilatildeo para as duas
sentenccedilas (17a) e (17b) natildeo podem ser verdadeiras juntas mas podem ser falsas juntas
constituindo uma relaccedilatildeo de contrariedade Eacute possiacutevel que a seleccedilatildeo brasileira de futebol natildeo
tenha sido formada nem em 20 de agosto de 1914 e nem em 18 de julho de 1921 Em
contrapartida numa interpretaccedilatildeo usual a seleccedilatildeo de futebol de um paiacutes eacute formada pela
primeira vez uma soacute vez Algueacutem pode querer ir aleacutem e afirmar que foram empregados
sentidos diferentes para a expressatildeo ―foi formada nas sentenccedilas em questatildeo Poderia dizer
que na sentenccedila (17a) o sentido foi de que a seleccedilatildeo se reuniu pela primeira vez para jogarem
juntos de forma extraoficial e que na sentenccedila (17b) o sentido foi de que a seleccedilatildeo
efetivamente foi documentalmente formada Se admitiacutessemos essas interpretaccedilotildees as
sentenccedilas (17a) e (17b) poderiam ser verdadeiras juntas o que descaracterizaria a relaccedilatildeo de
contrariedade entre as sentenccedilas Assim como o fato de que se a sentenccedila (17a) for falsa a
sentenccedila (17b) pode ser verdadeira ou falsa A falsidade da sentenccedila (17a) natildeo assegura a
verdade da sentenccedila (17b) Podemos entender dessa forma que a polissemia afeta a
interpretaccedilatildeo do nexo
Vamos observar mais um exemplo desta relaccedilatildeo
(18) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado do Acre
b A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado de Santa Catarina
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Se considerarmos a sentenccedila (18a) verdadeira ou seja que a reitoria da UNISUL estaacute
localizada no estado do Acre e tambeacutem levando em conta que a UNISUL eacute uma universidade
que tem uma reitoria e que a reitoria de uma universidade soacute pode estar numa cidade a
sentenccedila (18b) deveraacute ser falsa A sentenccedila (18a) eacute falsa e a sentenccedila (18b) eacute verdadeira e as
duas estabelecem uma relaccedilatildeo de contrariedade A reitoria da UNISUL estaacute localizada no
estado de Santa Catarina e natildeo no estado do Acre A partir desse exemplo e da convenccedilatildeo que
admitimos para ele pudemos observar que se uma sentenccedila A for falsa uma sentenccedila B pode
ser falsa ou verdadeira natildeo podendo ser as duas verdadeiras juntas apenas falsas Ilustrando
mais uma vez veja a relaccedilatildeo a seguir
(19) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Paris
b A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Roma
No exemplo acima podemos afirmar que as sentenccedilas (19a) e (19b) podem ser falsas
pois como jaacute citamos no paraacutegrafo anterior a reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado
de Santa Catarina Dessa forma haacute relaccedilatildeo de contrariedade as duas sentenccedilas satildeo falsas
Jaacute tratamos de exemplos da relaccedilatildeo de contrariedade com problemas de polissemia
mas podemos tambeacutem identificar problemas de validade dos nexos por causa da vagueza A
seguir observe o exemplo
(20) a Este cafeacute estaacute forte
b Este cafeacute estaacute aguado
Observando as sentenccedilas acima identificamos que (20a) e (20b) possuem termos
vagos que podem dificultar a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre as sentenccedilas Em (20a) foi usado
o termo ―forte e em (20b) foi usado o termo ―aguado Como nas outras relaccedilotildees que
apresentamos anteriormente esses termos satildeo vagos pois dependendo da classe de
comparaccedilatildeo em que satildeo apresentados eles podem mudar de sentido Eacute possiacutevel que numa
determinada situaccedilatildeo consideremos que um cafeacute pode natildeo estar nem forte nem fraco
autorizando a possibilidade de (20a) e (20b) serem as duas falsas ao mesmo tempo
descaracterizando a relaccedilatildeo de contrariedade Dessa forma podemos observar que os termos
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vagos dificultam a interpretaccedilatildeo das sentenccedilas consequentemente da relaccedilatildeo que as
sentenccedilas estabelecem entre si Concluindo a exposiccedilatildeo dos nexos que nos interessam neste
trabalho apresentaremos a seguir a justificativa de nosso percurso sobre estas relaccedilotildees
semacircnticas e os tipos de ocorrecircncias que podem dificultar a interpretaccedilatildeo destas
25 JUSTIFICANDO O PERCURSO
Neste capiacutetulo apresentamos inicialmente os conceitos de semacircntica e pragmaacutetica
com o objetivo de mostrar que os nexos semacircnticos que tratamos em nosso trabalho
(acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e contrariedade) satildeo tipos de
inferecircncias que pertencem ao campo da semacircntica Para isso tambeacutem apresentamos duas
inferecircncias que pertencem ao campo da pragmaacutetica (pressuposiccedilatildeo e implicatura)
Na exposiccedilatildeo de cada nexo trouxemos os conceitos seguidos de exemplos em que a
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees semacircnticas eacute clara Em seguida apresentamos exemplos de nexos
com dois tipos de ocorrecircncias que no campo do leacutexico dificultam a interpretaccedilatildeo das
relaccedilotildees semacircnticas a polissemia e a vagueza
Pode parecer confuso a princiacutepio o fato de tratarmos de tipos de inferecircncia que
dependem da forma para se concretizarem (os nexos semacircnticos) relacionando-as com
ocorrecircncias que dificultam o entendimento do conteuacutedo das sentenccedilas (a polissemia e a
vagueza) A confusatildeo se apresenta caso natildeo lembremos que estamos tratando das relaccedilotildees de
inferecircncias em liacutengua natural e natildeo numa liacutengua controlada como num sistema loacutegico por
exemplo
Quando afirmamos que as relaccedilotildees entre sentenccedilas que tratamos em nosso trabalho
dependem da forma falamos de uma ―dessemantificaccedilatildeo ou seja a existecircncia dos nexos vai
depender unicamente da semacircntica dos quantificadores e conectivos (e ou se) Os nexos natildeo
dependem da semacircntica restante do material linguiacutestico exposto na sentenccedila A semacircntica dos
conectivos e quantificadores numa linguagem formal eacute mantida estaacutevel por definiccedilatildeo Na
linguagem natural podemos observar que os tipos de ocorrecircncia que dificultam a
interpretaccedilatildeo dos nexos se fazem presentes justamente no restante do material linguiacutestico da
sentenccedila ou seja para aleacutem da estrutura da sentenccedila que eacute composta pelos quantificadores e
demais conectivos
52
A polissemia e a vagueza satildeo ocorrecircncias tiacutepicas de liacutengua natural e dessa forma
somos obrigados a admitir que ao nos depararmos com qualquer gecircnero textual (que
obviamente estaacute no campo das liacutenguas naturais) numa anaacutelise devemos considerar que o
significado das palavras vai naturalmente interferir nas relaccedilotildees semacircnticas Tambeacutem na
exposiccedilatildeo de tipos de ocorrecircncias que interferem nos nexos semacircnticos tratamos de falaacutecias
que satildeo argumentos invaacutelidos apresentados como vaacutelidos explorando justamente a
interpretaccedilatildeo do conteuacutedo das sentenccedilas
A partir dos nexos semacircnticos que tratamos neste capiacutetulo junto com os tipos de
inferecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees no capiacutetulo seguinte
apresentaremos a anaacutelise de certificados de garantia Como o nosso objetivo eacute analisar quais
satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados nos certificados para restringir possibilidades de
interpretaccedilatildeo decidimos realizar a anaacutelise de ocorrecircncias com conectivos e quantificadores
Consideramos pertinente a escolha desse tipo de anaacutelise pois entendemos que os
quantificadores como o ―todo satildeo tradicionalmente apresentados em relaccedilotildees semacircnticas de
restriccedilatildeo ou abrangecircncia assim como o condicional ―se ou ―somente se e o ―apenas e
―somente A partir desse raciociacutenio acreditamos que esta seria a forma mais correta para
identificarmos ocorrecircncias do tipo que precisamos para a realizaccedilatildeo de nossa anaacutelise Os
nexos semacircnticos natildeo satildeo propiacutecios para as liacutenguas naturais pois natildeo se apresentam de forma
controlada Ocorrecircncias lexicais como as que descrevemos anteriormente podem dificultar a
interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees e isso eacute algo que trataremos nas anaacutelises
Eacute nesta perspectiva que observaremos no capiacutetulo seguinte as anaacutelises de vinte e dois
certificados de garantia nos quais natildeo buscaremos relaccedilotildees bem marcadas e controladas entre
sentenccedilas pois natildeo encontrariacuteamos facilmente mas sim quais satildeo os recursos linguiacutesticos
utilizados pelos autores dos textos para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo
admitindo tambeacutem obviamente os nexos semacircnticos como possiacuteveis recursos
53
3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA
Os certificados de garantia satildeo textos muito presentes em nosso cotidiano e muitas das
vezes noacutes natildeo levamos em conta a sua importacircncia tanto por serem documentos que podem
resguardar nossos direitos sobre um determinado produto quanto pelo fato de natildeo sermos
treinados para ler e interpretar devidamente as informaccedilotildees dispostas nos textos Dessa
forma justificamos a escolha de tal gecircnero para analisarmos em nossa pesquisa Ateacute este
momento de nosso trabalho seguimos o seguinte percurso
1) Mostramos no primeiro capiacutetulo que na elaboraccedilatildeo de certificados de garantia o
autor deve se preocupar em construir o texto buscando restringir ao maacuteximo as
possibilidades de interpretaccedilatildeo para que ele se torne mais eficiente em passar as
informaccedilotildees desejadas e para evitar problemas de interpretaccedilatildeo por parte dos
clientes
2) Tendo em vista que os certificados de garantia satildeo textos instrucionais ou seja
que direcionam a leitura para um fim especiacutefico nossa anaacutelise tem por objetivo
verificar quais satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores destes textos
para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo e para alcanccedilar este objetivo nos
utilizaremos da teoria dos nexos semacircnticos apresentada no segundo capiacutetulo
Como anunciado na introduccedilatildeo o corpus dessa pesquisa eacute formado por 22
certificados de garantia de produtos de diversos segmentos Ele foi coletado utilizando a
internet e natildeo teve um meacutetodo definido de categorizaccedilatildeo na escolha dos textos Decidimos
escolher certificados de diversos segmentos para natildeo obtermos uma anaacutelise viciada e tambeacutem
para obtermos um panorama da estrutura textual
Como analisaremos os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores dos certificados
de garantia para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo elegemos trecircs categorias de
termos a serem analisadas quantificadores universais condicionais e uso do apenassomente
A escolha dessas categorias se deve ao fato delas possuiacuterem tradicionalmente funccedilotildees de
restriccedilatildeo ou abrangecircncia em inferecircncias
Assim como na loacutegica de predicados a silogiacutestica se caracteriza pelo uso dependente
em argumentos dos quantificadores ―alguns e ―todos Nomeamos de quantificador
existencial ou particular aqueles referentes a ―alguns e nomeamos de quantificador universal
aqueles referentes a ―todos (MURCHO 2006) Utilizaremos em nossa pesquisa agraves
ocorrecircncias com quantificadores do segundo tipo Vejamos um exemplo ilustrativo
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(21) TODO produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia
Possivelmente natildeo encontraremos em nossa anaacutelise nenhuma sentenccedila como esta pois
vemos que o quantificador universal destacado em letras maiuacutesculas abrange totalmente a
possibilidade de cobertura da garantia de um produto Da forma que estaacute expressa se compro
uma TV por exemplo e a mergulho na aacutegua causando defeito poderei receber outra nova do
fabricante pois ―todo produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia
Sobre os condicionais trataremos a anaacutelise na mesma linha de raciociacutenio pois eles
satildeo utilizados em proposiccedilotildees do tipo ―se X entatildeo Y oportunizando abrangecircncia ou
restriccedilatildeo de possibilidades de interpretaccedilatildeo como podemos ver ilustrado no exemplo a
seguir
(22) SE o produto apresentar defeito seraacute reparado gratuitamente
Da mesma forma como mostramos no exemplo anterior provavelmente natildeo
encontraremos sentenccedilas tatildeo abrangentes em nosso corpus como esta pois da forma como
estaacute posta ampliaria muito a possibilidade de cobertura da garantia de um produto Podemos
interpretar a partir da leitura da sentenccedila acima que o reparo do produto seraacute efetuado caso o
produto apresente qualquer defeito por qualquer motivo durante qualquer periacuteodo de tempo
sendo utilizado por qualquer pessoa e em qualquer circunstacircncia entre outras possibilidades
Para reparar tamanha abrangecircncia os autores dos textos podem utilizar listas exaustivas com
detalhes especiacuteficos apoacutes a apresentaccedilatildeo dos condicionais para direcionar efetivamente a
cobertura da garantia
Por fim em relaccedilatildeo ao uso dos termos ―apenas e ―somente analisaremos os termos
nos contextos que os autores buscam restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos textos
Vejamos o exemplo a seguir
(22) Estaratildeo cobertos pela garantia APENAS os produtos que natildeo estatildeo em
promoccedilatildeo
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No exemplo acima tambeacutem inventado vemos que o ―apenas aparece como um
restritor da garantia deixando claro que soacute os produtos que foram adquiridos pelos preccedilos
normais ou seja fora da promoccedilatildeo estaratildeo cobertos pela garantia Dessa forma produtos em
promoccedilatildeo ficam descobertos
Com os conceitos sobre as categorias de anaacutelise dispostos acima apresentaremos a
seguir a anaacutelise dos trechos coletados em nosso corpus separada por tipos de ocorrecircncia
Iremos observar como se apresentam os quantificadores condicionais ocorrecircncias com o
apenassomente assim como observaremos os tipos de ocorrecircncias no campo do leacutexico que
dificultam a interpretaccedilatildeo dos trechos (polissemia e vagueza)
31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL
Vejamos a seguir as ocorrecircncias4 em que o quantificador universal eacute utilizado
5
(1) Este produto e as peccedilas substituiacutedas seratildeo garantidos pelo restante do
prazo original TODAS as peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades
da SAMSUNG
Podemos observar na ocorrecircncia acima que o fabricante utiliza o quantificador para
fazer com que o leitor infera que absolutamente todas as peccedilas que forem substituiacutedas na
assistecircncia a algum aparelho defeituoso se tornaratildeo propriedade da fabricante Dessa forma o
cliente natildeo poderaacute em hipoacutetese alguma ficar com a peccedila trocada
Percebemos no trecho acima que o quantificador universal ―todas poderia ser
excluiacutedo da sentenccedila e com isso em nada alteraria o sentido da sentenccedila Forccedilando uma
possiacutevel interpretaccedilatildeo da sentenccedila o leitor poderia afirmar que se a sentenccedila fosse disposta
da seguinte maneira ―As peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades da SAMSUNG
poderia existir uma classe de peccedilas eletrocircnicas de produtos SAMSUNG que
4 Utilizaremos o termo ldquoocorrecircnciardquo tanto para se referir ao trecho completo do corpus quanto para a
sentenccedila em que o conectivo grifado se apresenta Natildeo faremos distinccedilatildeo para este uso 5 Para a exibiccedilatildeo das ocorrecircncias do nosso corpus reiniciaremos a numeraccedilatildeo natildeo seguindo a contagem
realizada para os exemplos dos capiacutetulos anteriores
56
tradicionalmente fossem substituiacutedas em manutenccedilotildees mas natildeo recolhidas pelo fabricante
Dessa forma o quantificador universal ―todas se mostraria como a soluccedilatildeo para esse
problema de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos
na ocorrecircncia6 (1)
(2) Esta garantia substitui TODAS as outras garantias expressas ou
taacutecitas incluindo sem limitaccedilatildeo garantias taacutecitas de comercializaccedilatildeo
e adequaccedilatildeo a um fim especiacutefico
(Certificado 1)
Nesta ocorrecircncia o fabricante utiliza o quantificador para abranger ao maacuteximo seu
texto no intuito de inferir que a garantia em anaacutelise se sobrepotildee a qualquer outro tipo de
garantia oferecida ao cliente
Podemos observar que se o quantificador universal ―todas natildeo fosse utilizado o
sentido da sentenccedila permaneceria o mesmo Se tiveacutessemos encontrado a sentenccedila da forma
―Esta garantia substitui as outras garantias o cliente iria interpretar a sentenccedila sem
dificuldades O uso do quantificador aparece como um termo para dar ecircnfase ao que jaacute estaacute
dito na sentenccedila acima Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos na
ocorrecircncia (2)
(3) TODO atendimento de reparo deve ser precedido de ligaccedilatildeo
telefocircnica ao Suporte Teacutecnico Telefocircnico da AOC (0800-10-9539)
para que seja feita uma avaliaccedilatildeo preacutevia do problema a fim de
constatar a existecircncia de defeito ou viacutecio do produto esgotando-se
TODAS as possibilidades de se tratar de uma falha de operaccedilatildeo ou
uso do produto por parte do consumidor
(Certificado 4)
No trecho acima podemos observar que na primeira ocorrecircncia do quantificador o
fabricante utiliza-o para inferir que o cliente em qualquer caso de submissatildeo do aparelho agrave
assistecircncia deve entrar em contato com o suporte teacutecnico telefocircnico da empresa e ainda
6 Decidimos pontuar no final de cada anaacutelise o fato de haver ou natildeo termos polissecircmicos ou vagos nas
ocorrecircncias porque consideramos estes tipos de ocorrecircncias como sendo os principais meios de dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos instrucionais Ao anunciar que natildeo haacute termos dessas categorias em cada anaacutelise por mais que se mostre repetitivo na leitura ao mesmo tempo invoca a importacircncia (e necessidade segundo nossa perspectiva) que depositamos nesses fatos em cada ocorrecircncia
57
reforccedila utilizando outra vez o quantificador ―todas inferindo que o produto soacute iraacute para a
assistecircncia efetivamente caso natildeo haja mais nenhuma possibilidade de resoluccedilatildeo do problema
atraveacutes do contato telefocircnico Ao utilizar esse reforccedilo o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo ao
fato de que por exemplo o problema possa ser resolvido atraveacutes de instruccedilotildees passadas pela
empresa via telefone ao cliente e o cliente natildeo aceitar e exigir que o produto seja reparado
somente na assistecircncia teacutecnica ou simplesmente para evitar que a assistecircncia teacutecnica receba
algum produto que natildeo estaacute defeituoso ou viciado
Diferente da ocorrecircncia (2) o uso do quantificador universal ―todo se faz necessaacuterio
para evitar que o cliente interprete a sentenccedila de uma forma indesejada por parte do
fabricante Por exemplo caso o autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todo na
primeira parte ―Todo atendimento de reparo deve o cliente poderia interpretar que ele
poderia obter atendimento de reparo sem passar pelo contato telefocircnico com o suporte teacutecnico
do fabricante Na utilizaccedilatildeo do quantificador universal ―todas no final da sentenccedila tambeacutem
observamos que se o autor do texto natildeo utilizasse esta estrateacutegia tambeacutem possibilitaria que o
texto fosse interpretado de outra maneira Se o cliente se deparasse com a sentenccedila
―esgotando-se as possibilidades de se tratar de uma falha poderia interpretar que se para
algum tipo de falha de operaccedilatildeo ou seja de utilizaccedilatildeo do produto haveria a possibilidade de
enviar o produto para assistecircncia teacutecnica Como o autor utilizou o quantificador nas duas
passagens que citamos ele direcionou a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha
duacutevidas sobre aquilo que o fabricante deseja expressar
Sobre tipos de ocorrecircncia que dificultam a interpretaccedilatildeo do texto pudemos identificar
a expressatildeo ―viacutecio do produto Esta expressatildeo eacute muito especiacutefica e estaacute presente no Coacutedigo
de defesa do consumidor Segundo Bruno Miragem (2008) ―Viacutecio do produto ou do serviccedilo
abrange o efeito decorrente da violaccedilatildeo aos deveres de qualidade quantidade ou informaccedilatildeo
impedindo com isso que o produto ou serviccedilo atenda aos fins que legitimamente dele se
esperam (dever da adequaccedilatildeo) O autor do certificado natildeo disponibilizou nenhum conceito
para a expressatildeo ―viacutecio do produto apresentando desta forma uma dificuldade a mais para
a interpretaccedilatildeo do texto por parte do cliente Caso o autor tenha elaborado o texto
considerando por exemplo que qualquer pessoa que leia um certificado de garantia deve ser
conhecedor de todos os termos e expressotildees descritas no CDC (a partir desse ponto iremos
utilizar esta sigla para ―coacutedigo de defesa do consumidor) natildeo haveria problema em
simplesmente usar o termo sem conceituar mas isso natildeo eacute pertinente Para evitar que esta
expressatildeo natildeo fosse polissecircmica o autor deveria ter elaborado um mini-glossaacuterio com os
termos que seriam usuais no texto e que possuem um sentido especiacutefico no ramo em que o
58
produto estaacute inserido (por exemplo peccedilas de carros ou peccedilas eletrocircnicas) e no CDC7
(4) A Garantia do Produto oferecida por este Termo abrange TODOS os
defeitos de material ou de fabricaccedilatildeo do aparelho constatados pela
Robert Bosch Ltda bem como a substituiccedilatildeo das peccedilas que
apresentarem viacutecios aleacutem da matildeo-de-obra utilizada no respectivo
reparo
(Certificado 8)
No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador ―todos para assegurar ao cliente
que em qualquer caso em que o produto possua defeito de material ou de fabricaccedilatildeo a
garantia estaraacute assegurada Aleacutem de assegurar isso tambeacutem garante a substituiccedilatildeo da peccedila do
aparelho que estiver com problema e a matildeo-de-obra tudo por conta do fabricante Caso o
autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todos ele poderia abrir margem para
outras interpretaccedilotildees como por exemplo que esta garantia natildeo abrange qualquer defeito do
produto constatado pelo fabricante Eacute interessante citar que a utilizaccedilatildeo do quantificador
―todos foi realizada beneficiando o fabricante pois mesmo afirmando que a ―garantia
abrange todos os defeitos o autor direciona para ―todos os casos que forem constatados
pelo fabricante Ou seja fica a criteacuterio do fabricante decidir o que eacute defeito e o que natildeo eacute
Assim como na ocorrecircncia (3) identificamos o uso do termo ―viacutecios que natildeo tem o
seu conceito descrito no texto do certificado O termo ―viacutecio natildeo eacute utilizado em nosso
cotidiano como algo vinculado a um objeto Geralmente conceituamos esse termo como
referente agrave dependecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica em relaccedilatildeo a uma substacircncia Tambeacutem podemos
conceituar como uma mania (costume de fazer sempre a mesma coisa) Enfim o termo
utilizado da forma em que foi descrita em (4) necessitaria que em alguma parte do texto
aparecesse o conceito para este termo que deve ser interpretado de forma especiacutefica pois eacute
um termo teacutecnico apresentado no CDC e muitas das vezes o cliente natildeo tem conhecimento
deste conceito favorecendo dificuldades a interpretaccedilatildeo do texto
(5) TODOS os eventuais danos ou demoras resultantes da natildeo
observacircncia dessas recomendaccedilotildees fogem agrave responsabilidade da APC
(Certificado 7)
7 Sobre esta estrateacutegia de eliminaccedilatildeo da polissemia e vagueza atraveacutes do uso de um glossaacuterio por autores de
textos instrucionais ver Estrela e Santos (2014)
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Na ocorrecircncia acima a empresa APC se resguarda de qualquer responsabilidade sobre
o produto caso o cliente natildeo siga as recomendaccedilotildees dadas pelo fabricante Para isso utiliza o
quantificador universal para abranger ao maacuteximo as possibilidades de natildeo cobertura
favorecendo o fabricante Observamos que a utilizaccedilatildeo do quantificador na ocorrecircncia (5)
serviu para intensificar o que foi descrito na sentenccedila Caso natildeo fosse utilizado poderia
deixar margem para outras interpretaccedilotildees como por exemplo que poderia existir algum tipo
de dano eventual que fosse de responsabilidade do fabricante O quantificador ―todos
elimina esse tipo de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos
polissecircmicos na ocorrecircncia (5)
(6) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA garante e consequentemente
compromete-se a reparar ou substituir pelo prazo abaixo indicado
contado a partir da data indicada no documento fiscal representativo
de venda do veiacuteculo Hyundai TODAS as peccedilas que em serviccedilo
normal apresentem defeito de fabricaccedilatildeo ou de material desde que
observadas as respectivas condiccedilotildees sob pena de ser
automaticamente considerado cancelado o presente Certificado de
Garantia independentemente de qualquer aviso ou notificaccedilatildeo
(Certificado 17)
No trecho acima podemos observar que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se daacute
de forma bastante controlada Mesmo o termo ―todas sendo naturalmente utilizado para
abranger ou restringir ao maacuteximo inferecircncias na ocorrecircncia acima vemos sua utilizaccedilatildeo
dependendo de vaacuterios aspectos para se concretizar A Hyundai se compromete em reparar ou
substituir ―todas as peccedilas dos veiacuteculos que estiverem dentro de todas as caracteriacutesticas
descritas antes do termo ser usado como estar dentro do prazo estabelecido pelo fabricante
apresentarem defeito de fabricaccedilatildeo ou material e aleacutem disso observando os procedimentos
detalhados pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o quantificador universal eacute
utilizado de forma controlada pelo fabricante restringindo ao seu sabor as possibilidades de
validade da garantia
(7) TODA revisatildeo deveraacute ser registrada no quadro de registro de revisotildees
para assegurar a garantia de seu veiacuteculo
(Certificado 17)
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Na ocorrecircncia acima observamos que o fabricante utilizou o quantificador universal
para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente da seguinte forma o
cliente que possui um veiacuteculo na garantia poderia interpretar por exemplo caso natildeo houvesse
a utilizaccedilatildeo do quantificador ―toda na sentenccedila (7) fazer as revisotildees do veiacuteculo em qualquer
oficina e natildeo registrar as mudanccedilas feitas no carro em lugar algum natildeo perdendo a garantia
do veiacuteculo O quantificador universal ―toda direciona a interpretaccedilatildeo da inferecircncia para que
o cliente efetue qualquer revisatildeo do veiacuteculo numa concessionaacuteria do fabricante e aleacutem disso
ter as revisotildees registradas no quadro de registro de revisotildees do fabricante Na ocorrecircncia (7)
natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos
(8) TODOS aparelhos da ONEAL saem da faacutebrica preacute-ajustados em
220V
(Certificado 5)
Nesta ocorrecircncia (8) o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para
abranger a informaccedilatildeo de que qualquer produto produzido por ele eacute ajustado em 220V
resguardando-se de por exemplo um questionamento de algum cliente sobre o
funcionamento de qualquer produto em outra voltagem ou utilizaccedilatildeo do produto em outra
voltagem ocasionando defeito no produto Caso isso ocorra o fabricante natildeo poderaacute ser
responsabilizado pois a partir da ocorrecircncia (8) ele explica a voltagem a ser utilizada natildeo
garantindo o funcionamento do produto em outras voltagens Na ocorrecircncia (8) observamos
que se o fabricante natildeo tivesse utilizado o quantificador universal ―todo natildeo alteraria a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila Podemos entender que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal na
ocorrecircncia (8) serviu apenas para intensificar a informaccedilatildeo da sentenccedila
(9) TODOS nossos produtos satildeo testados durante horas nos mais severos
regimes antes de serem aprovados para o mercado
(Certificado 5)
No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para abranger a
interpretaccedilatildeo da inferecircncia Dessa forma o fabricante tenta nos levar a interpretar a
61
ocorrecircncia (9) da seguinte forma qualquer produto produzido por este fabricante eacute testado de
forma rigorosa antes de ser despachado para comercializaccedilatildeo Essa interpretaccedilatildeo eacute dificultada
pela presenccedila de termos vagos Ao utilizar a expressatildeo ―durante horas nos mais severos
regimes o fabricante natildeo teve o cuidado de atrelar essa informaccedilatildeo agrave classe de comparaccedilatildeo
na qual o cliente deve se basear para interpretar a sentenccedila da forma como o fabricante
deseja Ao afirmar que os produtos satildeo testados ―durante horas o fabricante natildeo especificou
por quantas horas os produtos satildeo testados e o que isso representa Por exemplo para
produtos X identificados como em bom funcionamento deve-se testaacute-los durante Y horas
segundo o manual Z que regulamenta a qualidade dos produtos X Aleacutem disso o fabricante
ainda afirma sobre os testes que satildeo ―nos mais severos regimes cometendo a mesma falha
da expressatildeo anterior natildeo descrevendo o que eacute isso e o que isso representa A expressatildeo eacute
vaga pois esses regimes de testes satildeo severos em relaccedilatildeo a quecirc Como natildeo haacute um grau de
comparaccedilatildeo de classe o cliente pode interpretar a ocorrecircncia de formas diversas Se o
fabricante tivesse especificado em algum lugar do texto que a expressatildeo ―nos mais severos
regimes deveria ser comparada por exemplo a um tipo de teste que coloca os produtos em
condiccedilotildees extremas para averiguar a sua qualidade durabilidade e bom funcionamento que eacute
norma padratildeo de qualidade para os produtos que ele estaacute justificando em (9) natildeo haveria
vagueza Do modo como a ocorrecircncia se apresenta as informaccedilotildees ―durante horas e ―nos
mais severos regimes satildeo vagas e dificultam a interpretaccedilatildeo da sentenccedila
(10) A ONEAL garante TODOS os seus produtos por um periacuteodo de 01
(um) ano jaacute incluiacutedo o periacuteodo de garantia legal (os primeiros 90 dias)
a partir da data da compra para problemas mecacircnicos ou por falhas
industriais em montagem e pintura
(Certificado 5)
Podemos observar na ocorrecircncia (10) que o fabricante assegura a garantia para todos
os seus produtos utilizando o quantificador universal com algumas restriccedilotildees Se natildeo
houvesse a utilizaccedilatildeo do quantificador nesta inferecircncia o cliente poderia considerar que a
garantia de seu produto por exemplo teria validade vitaliacutecia e que o produto estaria coberto
pela garantia mesmo se for danificado por negligecircncia do cliente O fabricante restringe o
periacuteodo de validade especificando que o periacuteodo de um ano jaacute inclui o periacuteodo da garantia
legal que eacute de 90 dias Ainda enfatiza que se deve contar o periacuteodo a partir da data da compra
e ainda explica que a garantia cobriraacute somente produtos que apresentarem problemas
62
mecacircnicos ou aqueles que apresentarem problemas industriais em montagem e pintura Dessa
forma problemas de outra natureza natildeo seratildeo cobertos pela garantia assim como produtos
com mais de um ano de adquiridos tambeacutem natildeo estaratildeo cobertos Poderiacuteamos identificar a
expressatildeo ―garantia legal como polissecircmica caso o fabricante natildeo tivesse apresentado o
conceito para a expressatildeo logo apoacutes entre parecircnteses Eacute sabido que no CDC a garantia legal eacute
caracterizada como o periacuteodo de 90 dias apoacutes a aquisiccedilatildeo de um produto Para evitar que
houvesse uma interpretaccedilatildeo indevida o fabricante conceituou a expressatildeo imediatamente
apoacutes o aparecimento dela na sentenccedila
(11) Em vista das mudanccedilas de leis que poderatildeo ocorrer TODO
certificado seraacute regido pelas normas do cartatildeo de garantia mais
recentemente atualizado pela faacutebrica
(Certificado 5)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todo para afirmar
que qualquer certificado de garantia de seus produtos deveraacute seguir as normas dispostas no
cartatildeo de garantia mais recentemente atualizado pela faacutebrica ou seja caso algum cliente tente
solicitar a garantia atraveacutes de um cartatildeo de garantia desatualizado ele natildeo estaraacute autorizado
Dessa forma o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo agraves possiacuteveis atualizaccedilotildees de leis ou
informaccedilotildees nos cartotildees de garantia dos diversos lotes de produtos impossibilitando o cliente
de reclamar sobre qualquer tipo de alteraccedilatildeo no documento em questatildeo A utilizaccedilatildeo do
quantificador universal em (11) eacute importante para dar ecircnfase agrave informaccedilatildeo central da sentenccedila
e tambeacutem para evitar que por exemplo o cliente interpretasse que algum certificado poderia
ser regido pelas normas de outro cartatildeo de garantia que natildeo fosse o mais recente Natildeo
identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos em (11)
(12) A garantia incide sobre TODOS os componentes montados
originalmente em Veiacuteculo conforme descrito na Nota Fiscal de
venda quer fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER ou
por esta adquiridos de terceiros
(Certificado 16)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para
restringir a interpretaccedilatildeo da sentenccedila quando afirma que a garantia cobre qualquer
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componente montado originalmente em veiacuteculo ou seja a garantia natildeo cobre componentes
avulsos Aleacutem disso os componentes montados devem estar descritos na Nota Fiscal de
venda sendo assim se natildeo estiverem lanccedilados invalidam a garantia e por fim os veiacuteculos
devem tem sido fabricados por alguma empresa do grupo DAIMLER ou fabricado por outra
empresa mas tendo sido adquirido pelo fabricante que estaacute oferecendo a garantia Dessa
forma podemos ver que o quantificador universal foi utilizado pelo fabricante de forma
restrita limitando a abrangecircncia de acordo com seus interesses Caso o quantificador
universal natildeo tivesse sido utilizado na sentenccedila haveria a possibilidade do cliente interpretar
(12) de vaacuterias maneiras Por exemplo admitir que a garantia pode ser vaacutelida para produtos
que foram fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER mas natildeo foram lanccedilados na
Nota Fiscal de venda Em vista disso a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela
necessidade do fabricante restringir a interpretaccedilatildeo do texto da garantia buscando direcionar
melhor a informaccedilatildeo que ele estaacute vinculando em seu texto Natildeo identificamos nem termos
vagos nem termos polissecircmicos em (12)
(13) Executar TODAS as revisotildees estabelecidas pela Mercedes-Benz do
Brasil Ltda
(Certificado 16)
(14) Executar TODAS as manutenccedilotildees reparaccedilotildees e regulagens em um
dos Concessionaacuterios ou Postos de Serviccedilos Autorizados Mercedes-
Benz no territoacuterio brasileiro
(Certificado 16)
Nas duas ocorrecircncias acima podemos observar que o fabricante utiliza o quantificador
universal ―todas para definir que a garantia do produto soacute seraacute vaacutelida caso o cliente realize
as funccedilotildees descritas Caso o cliente natildeo realize pelo menos uma delas a garantia seraacute
invalidada Se o cliente natildeo realizar pelo menos uma revisatildeo sugerida pela fabricante perderaacute
a validade Aleacutem disso se o cliente realizar algum tipo de manutenccedilatildeo no veiacuteculo em alguma
concessionaacuteria que natildeo seja autorizada da Mercedes-Benz e no territoacuterio brasileiro tambeacutem
perderaacute a garantia O fabricante mesmo utilizando o quantificador universal nas duas
ocorrecircncias natildeo deixa de condicionar a validade da garantia de acordo com seus interesses O
cumprimento das recomendaccedilotildees dispostas apoacutes o quantificador natildeo garantem efetivamente
que a garantia do produto estaacute assegurada Ou seja mesmo que o cliente execute todas as
manutenccedilotildees reparos e regulagens em um dos concessionaacuterios do fabricante natildeo impede que
64
a garantia seja invalidade por outro motivo O quantificador universal foi utilizado pelo
fabricante em (13) e (14) sem limites e em seu benefiacutecio Natildeo identificamos nem termos
vagos nem termos polissecircmicos em (13) e (14)
(15) TODA solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica durante o periacuteodo da
garantia deveraacute ser feita obrigatoriamente agrave faacutebrica via e-mail ou
fax descrevendo detalhadamente os problemas apresentados natildeo
excedendo o prazo de 30 dias apoacutes detectaacute-lo indicando o modelo do
equipamento e o nuacutemero de seacuterie descrito na placa de identificaccedilatildeo do
mesmo e constante neste certificado
(Certificado 22)
Na ocorrecircncia (15) o fabricante utiliza o quantificador universal ―toda de forma
abrangente determinando que todas as solicitaccedilotildees de assistecircncia teacutecnica para qualquer
produto deveraacute seguir as instruccedilotildees definidas em seguida Caso o cliente tente solicitar a
assistecircncia natildeo seguindo algum dos passos e prazos determinados pelo fabricante a garantia
seraacute invalidada O quantificador universal foi utilizado para evitar interpretaccedilotildees relativas
sobre os procedimentos descritos no texto Por exemplo se (15) natildeo tivesse o quantificador
universal ―toda uma possiacutevel interpretaccedilatildeo seria que uma solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica
durante o periacuteodo da garantia poderia ser realiza na loja em que o produto foi comprado e natildeo
apenas na faacutebrica Dessa forma a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela
necessidade do fabricante restringir o percurso da solicitaccedilatildeo da garantia para o procedimento
que ele deseja que seja seguido pelo cliente Natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos
em (15)
32 USO DO CONDICIONAL
Vejamos a seguir as ocorrecircncias em que o condicional eacute utilizado Quando as
ocorrecircncias apresentarem o mesmo sentido de interpretaccedilatildeo agruparemos numa mesma
anaacutelise como podemos observar a seguir nas ocorrecircncias (16) (17) e (18)
(16) A garantia fica automaticamente invalidada SE
(Certificado 2)
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(17) A garantia legal e contratual perderaacute seu efeito SE
(Certificado 3)
(18) Esta garantia perderaacute a validade SE
(Certificado 11)
Podemos observar nas ocorrecircncias (16) (17) e (18) que o condicional tem a funccedilatildeo de
limitar a aplicaccedilatildeo da garantia Os usos do ―se natildeo excluem a possibilidade de haver outros
casos em que a garantia natildeo se aplica ou seja as listas que satildeo apresentadas apoacutes o
condicional natildeo satildeo exaustivas Vale mencionar que da mesma forma que o ―todo o ―se
foi utilizado para beneficiar o fabricante como afirmamos acima O ―se assegura que a
validade do produto seraacute perdida nos casos que satildeo listados apoacutes o condicional sem eliminar
a possibilidade de haverem outros casos abrangendo sem limites os casos em que a garantia
natildeo cobriraacute o produto e restringindo a validade da garantia para o cliente Natildeo identificamos
termos vagos ou polissecircmicos nas ocorrecircncias (16) (17) (18) Na ocorrecircncia (17) o autor
usou os termos ―garantia legal e ―contratual que poderiam ser considerados termos
polissecircmicos que dificultariam a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia mas foram apresentados no
certificado os conceitos para os dois termos Para ―garantia legal o autor definiu como
sendo o prazo inicial da garantia com duraccedilatildeo de 90 dias ( contados imediatamente apoacutes a
emissatildeo da Nota Fiscal de compra) e previsto no CDC por sua vez para ―garantia
contratual se refere ao periacuteodo de dois anos incluindo o periacuteodo da garantia legal para todo
equipamento (neste caso condicionador de ar) e cinco anos para o compressor Com a
apresentaccedilatildeo destas definiccedilotildees o autor evitou que os termos se apresentassem no texto como
polissecircmicos
(19) A garantia do produto natildeo se aplica
(Certificado 8)
Trouxemos para a anaacutelise a ocorrecircncia acima pois a expressatildeo ―natildeo se aplica desta
sentenccedila funciona como um condicional mesmo sem ter a forma das ocorrecircncias que
analisamos anteriormente O fabricante utiliza esse condicional precedendo uma lista de
possiacuteveis situaccedilotildees em que a garantia poderia ser reclamada pelo cliente dessa forma
impossibilitando o cliente de exigir qualquer direito sobre alguma das possiacuteveis situaccedilotildees
Natildeo identificamos termos polissecircmicos e vagos na ocorrecircncia (19)
66
(20) A garantia do produto extingue-se
(Certificado 8)
Assim como na ocorrecircncia anterior tambeacutem natildeo encontramos o condicional ―se de
forma expliacutecita mas o termo ―extingue-se se comporta como tal A sentenccedila acima foi
utilizada pelo fabricante antecedendo uma lista de possibilidades de situaccedilotildees em que o
cliente poderia reclamar a garantia do produto excluindo entatildeo qualquer direito do cliente
em relaccedilatildeo ao que foi listado abaixo da sentenccedila em questatildeo Natildeo identificamos termos vagos
e polissecircmicos na ocorrecircncia (20)
(21) O cliente perderaacute a garantia do seu veiacuteculo SE
(Certificado 17)
Na ocorrecircncia (21) o fabricante utiliza o condicional antecedendo uma lista de
situaccedilotildees que se concretizadas invalidaratildeo a garantia Dessa forma se o veiacuteculo do cliente
que deseja ser atendido pela garantia se enquadrar em algum dos itens dispostos apoacutes essa
sentenccedila a garantia natildeo seraacute concedida Assim como nas ocorrecircncias com o uso do
condicional apresentadas anteriormente o uso do ―se aparece sem limites Como afirmamos
na anaacutelise das ocorrecircncias (16) (17) e (18) o autor utiliza o condicional para em seguida
apresentar uma lista de situaccedilotildees em que se concretizadas o cliente perderaacute a garantia Mas
mesmo com a apresentaccedilatildeo dessa lista o cliente poderaacute perder a garantia caso ocorra outro
tipo de situaccedilatildeo natildeo listada Dessa forma o fabricante se favorece abrangendo ao maacuteximo as
possibilidades de perda da garantia e ―prejudica o cliente oferecendo-lhe restritas
possibilidades de validade da garantia do produto a que se refere o texto Natildeo identificamos
nem termos polissecircmicos nem vagos na ocorrecircncia (21) Apenas vale ressaltar que diferente
das ocorrecircncias apresentadas anteriormente o autor em vez de escrever ―a garantia do
produto ele utilizou ―a garantia do seu veiacuteculo que especifica ao que se refere o texto
diminuindo a possibilidade de o cliente interpretar a ocorrecircncia de uma forma diferente da
que o autor se propotildee a transmitir
(22) A garantia vigoraraacute SOMENTE SE o Veiacuteculo atender
cumulativamente as seguintes condiccedilotildees
67
(Certificado 16)
Eacute interessante observar a forma como o fabricante utiliza o condicional na ocorrecircncia
(22) que precede uma lista de condiccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso o fabricante
natildeo utilizasse esse condicional ―somente se na sentenccedila acima o cliente poderia interpretar
que se o seu produto atendesse pelo menos a uma das condiccedilotildees estaria coberto pela
garantia Mas o fabricante aleacutem de utilizar o condicional ―somente se tambeacutem utilizou o
termo ―cumulativamente explicitando que o produto deve obedecer a todas as condiccedilotildees
dispostas pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o autor utilizou o condicional
para restringir as possibilidades de validade da garantia com restriccedilotildees o que natildeo ocorre
quando o fabricante trata sobre as possibilidades de invalidade da garantia como na
ocorrecircncia (21) Comparando as ocorrecircncias (21) e (22) vemos claramente que o autor em
(21) utilizou o condicional para lhe favorecer sem limites quando tratou sobre as condiccedilotildees
pelas quais o cliente pode perder a garantia abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura natildeo
apenas para as situaccedilotildees que estatildeo listadas mas tambeacutem para qualquer outra possiacutevel Jaacute em
(22) o autor (mesmo essa comparaccedilatildeo sendo feita entre ocorrecircncias de certificados
diferentes) utiliza o condicional para restringir as possibilidades de validade da garantia para
as situaccedilotildees listadas apoacutes a apresentaccedilatildeo do condicional e aleacutem disso afirmou que todas as
situaccedilotildees listadas devem ser atendidas para que a garantia seja vaacutelida para o produto Dessa
forma ainda sobre a ocorrecircncia (22) caso uma das situaccedilotildees listadas natildeo seja atendida a
garantia automaticamente seraacute perdida Com isso podemos afirmar que tanto em (21) quanto
em (22) os autores utilizaram o condicional para se beneficiar Em (21) abrangendo as
possibilidades de invalidade da garantia e em (22) restringindo ao maacuteximo as possibilidades
de validade da garantia do produto Natildeo identificamos nem termos vagos nem polissecircmicos
na ocorrecircncia (22)
(23) A garantia Philips natildeo eacute aplicaacutevel SE
(Certificado 14)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o condicional ―se antecedendo uma lista de
informaccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso algum produto Philips se encaixar em
alguma das situaccedilotildees descritas apoacutes o condicional mesmo estando dentro do prazo de
garantia o cliente perderaacute a cobertura Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem
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vagos na ocorrecircncia (23)
(24) Esta garantia natildeo se aplica
(Certificado 21)
Assim como nas ocorrecircncias (18) e (19) a ocorrecircncia acima natildeo possui o condicional
expliacutecito mas o termo ―natildeo se aplica se comporta como tal O fabricante utiliza o
condicional precedendo uma lista de condiccedilotildees de natildeo aplicaccedilatildeo da garantia Dessa forma
caso o produto se encaixe em alguma das condiccedilotildees a garantia seraacute invalidada
automaticamente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem vagos na sentenccedila (24)
33 USO DO APENASSOMENTE
Vejamos a seguir ocorrecircncias em que identificamos o uso do ―apenas ou ―somente
(25) Esta garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver
devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original
da Nota Fiscal de Compra
(Certificado 4)
Na ocorrecircncia (25) o fabricante utiliza o ―somente para restringir a validade da
garantia indicando que o cliente teraacute direito agrave garantia caso preencha de forma correta o
certificado e apresente a nota fiscal de compra Caso as instruccedilotildees natildeo sejam seguidas pelo
cliente a garantia natildeo seraacute vaacutelida Podemos identificar que o termo ―rasuras presente em
(25) pode ser considerado como vago e polissecircmico neste caso dificultando a interpretaccedilatildeo
do texto Uma rasura pode ser por exemplo desde um rabisco fora de lugar no formulaacuterio
ateacute o dano no documento por aacutegua amasso do papel em excesso etc O autor poderia evitar a
vagueza e a polissemia definindo o termo da forma como ele deseja que o leitor interprete
este termo e comparando-o a uma classe especiacutefica (por exemplo o que eacute considerado rasura
69
nos documentos instrucionais)
(26) Danos decorrentes de desgaste natural inclusive e natildeo SOMENTE
nas partes plaacutesticas que compotildeem o gabinete do produto
(Certificado 4)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o ―somente numa sentenccedila que trata sobre
uma das situaccedilotildees em que a garantia natildeo seraacute vaacutelida O fabricante deixa claro que qualquer
defeito no produto causado por desgaste natural natildeo seraacute coberto pela garantia Se o
fabricante natildeo utilizasse o ―somente nesta sentenccedila o cliente poderia interpretar por
exemplo que danos decorrentes de desgaste natural nas partes que natildeo satildeo de plaacutestico seriam
cobertas pela garantia O autor utiliza o ―somente para se resguardar sobre outras possiacuteveis
interpretaccedilotildees do trecho abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura da garantia para
qualquer peccedila do produto que for afetado por danos decorrentes de desgaste natural Na
ocorrecircncia (26) a expressatildeo ―desgaste natural eacute polissecircmica O autor em nenhuma parte do
certificado de garantia definiu a expressatildeo em questatildeo para que o cliente compreenda da
forma desejada pelo fabricante Dessa forma podemos interpretar ―desgaste natural de
muitas formas Podemos por exemplo interpretar como o desgaste do produto como um todo
ou suas peccedilas referentes ao uso em excesso ao longo do tempo e diretamente vinculado agrave
vida uacutetil tanto do produto em geral quanto de peccedilas especiacuteficas Mas tambeacutem podemos
interpretar como sendo um desgaste proveniente do contato do produto com a natureza como
a exposiccedilatildeo agrave chuva maresia sol em excesso Pode parecer um exagero esta uacuteltima
interpretaccedilatildeo mas ela eacute possiacutevel a partir da forma como (26) se apresenta O autor utilizou no
texto a expressatildeo sem dar-lhe a definiccedilatildeo que ele pensou para a utilizaccedilatildeo dela na ocorrecircncia
dificultando a interpretaccedilatildeo do texto
(27) Este termo de garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos
comercializados e utilizados em territoacuterio brasileiro
(Certificado 4)
(28) Este Certificado de Garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos
vendidos e utilizados no territoacuterio brasileiro
(Certificado 10)
(29) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro
70
(Certificado 2)
(30) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro
(Certificado 13)
(31) Esta garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o territoacuterio brasileiro
(Certificado 12)
Nas ocorrecircncias (27) (28) (29) e (30) observamos que os fabricantes utilizam o termo
―apenas para restringir a cobertura da garantia tanto em relaccedilatildeo ao local da compra quanto
em relaccedilatildeo ao local de uso do produto assim como o autor da ocorrecircncia (31) utiliza o termo
―somente com o mesmo sentido Caso o produto tenha sido comprado em outro paiacutes natildeo
haveraacute cobertura da garantia assim como mesmo que o produto tenha sido comprado no
Brasil mas tenha sido utilizado em outro paiacutes culminando em um defeito tambeacutem natildeo haveraacute
cobertura da garantia Mas para a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que aparece em (27) (28)
(29) (30) e (31) podemos tambeacutem interpretar como natildeo apenas a extensatildeo territorial do paiacutes
mas tambeacutem admitir territoacuterios brasileiros em outros paiacuteses a saber os consulados
honoraacuterios do Brasil nas diversas naccedilotildees ao redor do mundo Nesse caso por exemplo se o
produto for adquirido dentro dos limites geograacuteficos do Brasil e for utilizado em algum
consulado do Brasil em outro paiacutes a garantia deve ser vaacutelida Eacute possiacutevel que o fabricante natildeo
tenha pensado nessa possibilidade poreacutem da forma que estas ocorrecircncias se apresentam haacute
essa possibilidade de interpretaccedilatildeo Ao apresentar essa possiacutevel interpretaccedilatildeo para a
expressatildeo ―territoacuterio brasileiro noacutes quisemos mostrar que o fabricante deveria ter
especificado em alguma parte do certificado de garantia o conceito que ele deseja que o
cliente admita para esta expressatildeo para natildeo deixar que a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro seja
interpretada de outras formas ou seja para evitar a polissemia que dificulta a leitura do
texto Outra questatildeo que tambeacutem podemos considerar eacute que nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)
a afirmaccedilatildeo sobre a validade da garantia eacute apresentada de forma menos detalhada Os autores
apresentam a afirmaccedilatildeo de que a garantia eacute vaacutelida para o territoacuterio brasileiro sem informar se
eacute em relaccedilatildeo ao produto ser adquirido e utilizado no paiacutes Brasil ou se o produto pode ser
utilizado fora do Brasil mas para requerer a garantia do produto o consumidor caso resida no
exterior deva se dirigir ao Brasil para fazer jus a sua garantia Diferente das ocorrecircncias (27)
e (28) em que os autores enfatizam que a garantia dos produtos eacute vaacutelida unicamente para
produtos comercializados e utilizados dentro do Brasil restringindo a garantia mais do que
nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)
71
(32) A garantia SOMENTE eacute vaacutelida mediante a apresentaccedilatildeo de nota
fiscal de compra deste produto
(Certificado 3)
Podemos observar na ocorrecircncia (29) que o fabricante utiliza o termo ―somente para
restringir a validade da garantia Fica claro que caso o produto apresente algum defeito e o
cliente procure a assistecircncia teacutecnica sem estar de posse da nota fiscal natildeo haveraacute cobertura da
garantia Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em (29) o cliente poderia interpretar
por exemplo que a garantia do produto eacute vaacutelida com ou sem a apresentaccedilatildeo da nota fiscal de
compra do produto Neste caso a funccedilatildeo do ―somente eacute de restringir a interpretaccedilatildeo de
acordo com o que o fabricante deseja Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem
vagos em (29)
(33) A garantia oferecida por esse Certificado eacute de 36 (trinta e seis) meses
e SOMENTE teraacute validade se o presente documento for devidamente
preenchido no ato da venda do produto conforme acima e se a
instalaccedilatildeo for feita por uma pessoa ou empresa credenciada pela
Robert Bosch Ltda
(Certificado 8)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade
da garantia Caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees de forma cumulativa que seguem a
utilizaccedilatildeo do termo a garantia seraacute invalidada Por exemplo se o cliente preencher no ato da
venda do produto o certificado mas se a instalaccedilatildeo do produto natildeo tiver sido feita por algueacutem
credenciado pela Robert Bosch Ltda a garantia natildeo teraacute validade A importacircncia do uso do
―somente em (33) se daacute pelo fato de que caso o autor natildeo tivesse utilizado este termo
haveria a possibilidade do cliente interpretar por exemplo que a garantia teria validade caso
a instalaccedilatildeo do produto tenha sido feita por uma pessoa ou empresa natildeo credenciada pela
fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (33)
(34) Os consertos em Garantia do Produto SOMENTE seratildeo efetuados
72
por um Serviccedilo Autorizado devidamente nomeado pela Robert Bosch
Ltda em territoacuterio brasileiro
(Certificado 8)
Podemos observar que o fabricante utiliza o termo ―somente em (34) para restringir a
validade da garantia O fabricante define tanto quem efetuaraacute o conserto dos produtos quanto
os limites territoriais de cobertura Dessa forma fica expliacutecito para o cliente que o conserto
natildeo poderaacute ser efetuado por pessoas natildeo autorizadas pela Robert Bosch Ltda e tal conserto
natildeo pode ser realizado em outros paiacuteses Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em
(34) abriria a possibilidade de interpretar a sentenccedila de outras formas como por exemplo
que os consertos em garantia do produto poderiam ser realizados em territoacuterios de outros
paiacuteses ou que os consertos poderiam ser realizados por serviccedilos natildeo autorizados pelo
fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (34)
(35) O exame e reparo do produto soacute poderatildeo ser efetuados pelo
fabricante
(Certificado 7)
Na ocorrecircncia (36) o fabricante utiliza no lugar do termo ―somente o termo ―soacute
para restringir a interpretaccedilatildeo Nesse caso se o cliente procurar reparar eou examinar o
produto sozinho ou em assistecircncias teacutecnicas que natildeo sejam autorizadas pelo fabricante a
garantia seraacute invalidada A utilizaccedilatildeo do termo ―soacute tem grande importacircncia para o
direcionamento da interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia (35) pois caso natildeo tivesse sido utilizado pelo
autor a ocorrecircncia traria apenas uma informaccedilatildeo vaga dificultando a interpretaccedilatildeo do texto
Sem o ―soacute a partir de (35) poderiacuteamos interpretar que o exame e reparo do produto podem
ser efetuados pelo fabricante mas tambeacutem por qualquer outra pessoa ou empresa Utilizando
o ―soacute o autor restringe a inferecircncia evitando muacuteltiplas interpretaccedilotildees para a sentenccedila
(36) O presente ―Termo de Garantia Hyundai aplica-se uacutenica e
exclusivamente ao veiacuteculo da marca e fabricaccedilatildeo Hyundai
devidamente identificado no iniacutecio deste documento e que tenha sido
comercializado por um Revendedor Autorizado da CAOA Montadora
de Veiacuteculos SA
(Certificado 17)
73
Em (36) o fabricante natildeo utiliza os termos ―apenas ou ―somente mas
consideraremos em nossa anaacutelise a expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como um restritor de
mesmo sentido Observamos que o fabricante utiliza a expressatildeo para restringir a cobertura
da garantia Caso o cliente esteja por exemplo solicitando a garantia de um veiacuteculo Hyundai
que natildeo seja o mesmo que estaacute descrito no iniacutecio do documento de garantia e que natildeo tenha
sido comercializado por uma autorizada da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA a garantia
natildeo teraacute validade Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado a expressatildeo ―uacutenica e
exclusivamente em (36) haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia de outras
maneiras
(37) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA eou o Revendedor Autorizado
da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA APENAS substituiraacute as peccedilas
que forem por elas e a seu exclusivo criteacuterio julgadas como
defeituosas
(Certificado 17)
Na ocorrecircncia (37) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a interpretaccedilatildeo
da sentenccedila Dessa forma o fabricante fica resguardado tanto em relaccedilatildeo a substituiccedilatildeo de
peccedilas quanto em relaccedilatildeo ao meacutetodo utilizado para jugar se a peccedila estaacute defeituosa ou natildeo A
importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―apenas em (37) tambeacutem se daacute pelo fato de natildeo permitir outras
interpretaccedilotildees diferentes da definida pelo fabricante Caso o ―apenas natildeo tivesse sido
utilizado poderiacuteamos interpretar por exemplo que o fabricante poderia substituir peccedilas
julgadas por ela como defeituosas utilizando seus proacuteprios criteacuterios mas tambeacutem substituiria
em outros casos O ―apenas serviu para especificar e restringir a interpretaccedilatildeo dos criteacuterios
definidos pelo fabricante em relaccedilatildeo agrave substituiccedilatildeo de peccedilas do produto Natildeo identificamos
nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (37)
(38) Permita que SOMENTE teacutecnicos autorizados pela faacutebrica prestem
assistecircncia a seu aparelho pois se for aberto por teacutecnicos ou pessoas
natildeo autorizadas automaticamente vocecirc estaraacute perdendo sua garantia
(Certificado 5)
Na ocorrecircncia (38) o fabricante deixa expliacutecito ao utilizar o termo ―somente que
caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees dispostas nesta sentenccedila a garantia do produto seraacute
74
invalidada Dessa forma o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a informaccedilatildeo
veiculada pelo fabricante da mesma forma como vimos na ocorrecircncia (37) Natildeo
identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (38)
(39) A presente garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o Veiacuteculo
comercializado em territoacuterio brasileiro
(Certificado 16)
Na ocorrecircncia (39) um pouco parecida com as ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e
(31) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia do produto Nesse caso
se o veiacuteculo tiver sido adquirido em outro paiacutes sua garantia natildeo seraacute vaacutelida no Brasil Um
pouco diferente das ocorrecircncias (27) e (28) que especificam ao maacuteximo a possibilidade de
cobertura da garantia a ocorrecircncia (39) veicula que a garantia eacute vaacutelida para o produto
comercializado em territoacuterio brasileiro natildeo tratando sobre a possibilidade da perda da
garantia caso o veiacuteculo seja utilizado em outros paiacuteses Neste caso o cliente natildeo tem direito
a garantia do veiacuteculo caso ele seja adquirido em outros paiacuteses Sobre a expressatildeo ―territoacuterio
brasileiro assim como nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31) o autor natildeo definiu um
sentido para a expressatildeo que pode ser interpretada de outras maneiras como exemplificamos
nas anaacutelises anteriores
(40) Utilizar SOMENTE peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios genuiacutenos
Mercedes-Benz e comprovar sua aquisiccedilatildeo mediante e apresentaccedilatildeo
da Nota Fiscal quando adquiridos pelo consumidor final
(Certificado 16)
Na ocorrecircncia (40) que faz parte de uma lista de recomendaccedilotildees para o cliente natildeo
perder a garantia o fabricante utiliza o termo ―somente para delimitar a interpretaccedilatildeo da
sentenccedila Na passagem se o cliente natildeo seguir as instruccedilotildees descritas consequentemente
perderaacute a garantia do produto A importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente na ocorrecircncia (40) eacute
a de dificultar que o cliente interpreta a sentenccedila de outra maneira Sem o ―somente na
sentenccedila o cliente poderia interpretar que ele pode utilizar peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios
originais do fabricante mas tambeacutem estaacute autorizado a utilizar peccedilas de outros fabricantes
Com a presenccedila do ―somente na sentenccedila o cliente eacute levado a interpretar a sentenccedila da
75
forma direcionada pelo fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (40)
(41) A comprovaccedilatildeo de defeito de fabricaccedilatildeo do produto que provocaraacute a
execuccedilatildeo da troca do mesmo deveraacute ser feita exclusivamente por
funcionaacuterio credenciado da Ortobom
(Certificado 15)
Na ocorrecircncia (41) o fabricante natildeo utiliza explicitamente os termos ―apenas ou
―somente mas consideraremos em nossa anaacutelise que o termo ―exclusivamente possui a
mesma funccedilatildeo de restringir interpretaccedilotildees O fabricante utiliza o termo para restringir a
garantia do produto em questatildeo Natildeo haacute a possibilidade de o cliente comprovar um defeito de
fabricaccedilatildeo em seu produto atraveacutes de outro profissional que natildeo seja um funcionaacuterio
credenciado da Ortobom Haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia (41) caso o
fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―exclusivamente Sem tal uso o cliente poderia
interpretar que poderia comprovar algum defeito no produto para possiacutevel troca por
intermeacutedio de qualquer profissional natildeo obrigatoriamente por um funcionaacuterio do fabricante
Ortobom O termo ―exclusivamente especifica e destaca a informaccedilatildeo que o fabricante
veicula em (41) Natildeo identificamos em (41) nem termos polissecircmicos nem termos vagos
(42) A garantia cobre exclusivamente defeitos de materiais eou
fabricaccedilatildeo sendo que as despesas de deslocamento alimentaccedilatildeo e
hospedagem do teacutecnico para atendimento em garantia ou natildeo
referente agrave entrega montagem instruccedilatildeo de uso e reparo do
equipamento assim como o frete de retirada para conserto e retorno
do mesmo e de envio de peccedilas e retorno das substituiacutedas em garantia
ocorreratildeo por conta do cliente
(Certificado 22)
Assim como em (41) o fabricante utiliza o termo ―exclusivamente para restringir a
garantia do produto O fabricante ao utilizar esse termo se resguarda de possiacuteveis cobranccedilas
por parte do cliente ao solicitar a garantia como por exemplo ajuda de custo para custear a
iacuteda do teacutecnico para manutenccedilatildeo do produto envio de peccedilas para faacutebrica etc Fica expliacutecito
que em todas essas situaccedilotildees o cliente eacute responsaacutevel Caso o termo ―exclusivamente natildeo
76
tivesse sido utilizado o cliente poderia interpretar a ocorrecircncia de diferentes modos Uma
possibilidade de interpretaccedilatildeo seria a de entender que a garantia cobre outros tipos de
defeitos que natildeo fossem de peccedilas ou de fabricaccedilatildeo Com a utilizaccedilatildeo do termo
―exclusivamente o fabricante diminui as possibilidades de interpretaccedilatildeo tornando o texto
mais claro para o cliente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na
ocorrecircncia (42)
(43) A garantia natildeo cobre peccedilas ou componentes de desgaste normal de
uso dentre as quais selim pedais firma-peacutes natildeo se limitando
SOMENTE a estes mas incluindo rodas de transporte carenagens
adesivos elementos de acabamento de plaacutestico borracha e alumiacutenio
danos na pintura e quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa
exclusiva distribuiccedilatildeo devendo as reclamaccedilotildees ser encaminhadas aos
seus respectivos representantes ou fabricantes
(Certificado 22)
Em (43) o fabricante aleacutem de utilizar o termo ―somente para abranger a
interpretaccedilatildeo sobre as peccedilas que natildeo seratildeo cobertas pela garantia do produto utiliza outros
termos que alargam ainda mais sem restriccedilotildees a natildeo cobertura da garantia como ―quaisquer
acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo O fabricante se resguarda
especificando quais peccedilas que ele considera como de ―desgaste normal para evitar
problemas de interpretaccedilatildeo por parte do cliente O uso do ―somente na ocorrecircncia (43) se
apresenta de forma contraacuteria agraves outras ocorrecircncias que apresentamos anteriormente Enquanto
em ocorrecircncias como a (40) que o ―somente foi utilizado para restringir a interpretaccedilatildeo da
sentenccedila para as informaccedilotildees descritas depois do termo em (43) o fabricante utiliza o
―somente precedido da negaccedilatildeo ―natildeo se limitando direcionando o termo para o sentido de
abrangecircncia Ou seja a garantia que o fabricante oferece natildeo cobre peccedilas ou componentes de
desgaste natural como selim e pedais Para natildeo correr o risco de esquecer de citar algum dos
componentes de desgaste natural do produto e deixar brechas na interpretaccedilatildeo da garantia o
fabricante utiliza a expressatildeo ―natildeo se limitando seguida do ―somente para abranger ao
maacuteximo as possibilidades de interpretaccedilatildeo sobre os itens de desgaste natural que natildeo satildeo
cobertos pela garantia Depois do uso do ―somente e de apresentar mais uma lista de itens
que natildeo satildeo cobertos pela garantia o fabricante ainda abrange mais a interpretaccedilatildeo
utilizando a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo
Dessa forma pudemos perceber que o fabricante utilizou natildeo apenas o termo de restriccedilatildeo
77
―somente para limitar as possibilidades de interpretaccedilatildeo da sentenccedila mas tambeacutem utilizou
listas especificando itens e a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa
exclusiva distribuiccedilatildeo Todas essas estrateacutegias foram utilizadas com o objetivo de tornar a
interpretaccedilatildeo do texto clara sem oferecer a possibilidade de o cliente obter muacuteltiplas
interpretaccedilotildees do texto Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na
ocorrecircncia (43)
(44) A matildeo-de-obra em garantia limita-se SOMENTE ao horaacuterio normal
de expediente sendo de segunda a sexta-feira das 730 agraves 1800 horas
devendo o equipamento estar disponiacutevel para a assistecircncia teacutecnica
(Certificado 22)
Em (44) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o horaacuterio disponiacutevel
para reparos em produtos na garantia e aleacutem disso enfatizando que o produto deve estar
disponiacutevel para a assistecircncia Dessa forma o cliente fica impossibilitado de reclamar
assistecircncia fora do horaacuterio que estaacute descrito na sentenccedila assim como fica consciente de que
seu produto ficaraacute a disposiccedilatildeo da assistecircncia para conserto ou seja natildeo seraacute reparado
imediatamente A importacircncia do uso do ―somente na ocorrecircncia (44) se daacute pelo fato de que
caso natildeo fosse utilizado o cliente poderia interpretar por exemplo que a matildeo-de-obra em
garantia estaria disponiacutevel vinte e quatro horas por dia e sete dias por semana Como o
―somente foi utilizando precedendo as informaccedilotildees sobre dia e horaacuterio de atendimento natildeo
eacute possiacutevel interpretar a informaccedilatildeo de outra maneira que natildeo seja a descrita Haveria a
possibilidade de definir a expressatildeo ―horaacuterio normal de expediente como uma expressatildeo
polissecircmica caso ela natildeo estivesse acompanhada de uma definiccedilatildeo (―de segunda a sexta-feira
das 730 agraves 1800 horas) pois o horaacuterio de expediente pode variar de acordo com o trabalho
que vocecirc tem por exemplo Se vocecirc trabalha em um banco financeiro o seu horaacuterio de
expediente seraacute possivelmente diferente do horaacuterio de um feirante Para evitar a polissemia
o fabricante utilizou a expressatildeo e em seguida apresentou a definiccedilatildeo da expressatildeo de
acordo com o seu interesse
(45) A presente garantia limita-se SOMENTE ao produto fornecido natildeo
responsabilizando a TOTAL HEALTH por danos causados a pessoas
a terceiros a outros equipamentos ou instalaccedilotildees lucros cessantes ou
quaisquer outros danos emergentes ou consequumlentes
(Certificado 22)
78
Na ocorrecircncia (45) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da
garantia Nesse caso a garantia se limita unicamente ao produto descrito Se por exemplo o
produto em questatildeo apresentar defeito e tal defeito ocasionar dano fiacutesico ao dono do produto
ou a terceiros a garantia natildeo cobriraacute tais problemas Assim como nas ocorrecircncias anteriores
o uso do ―somente em (45) teve a funccedilatildeo de direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para uma
uacutenica possibilidade de interpretaccedilatildeo Caso o ―somente natildeo tivesse sido utilizado poderiacuteamos
interpretar (45) de outras maneiras Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (45)
(46) SOMENTE os profissionais indicados pela loja revendedora dos
produtos Bartzen estatildeo autorizados a prestar atendimento dentro do
prazo de garantia
(Certificado 18)
Na ocorrecircncia (46) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila Nesse caso o cliente soacute poderaacute usufruir de assistecircncia teacutecnica em
seu produto atraveacutes de profissionais indicados pela loja na qual ele adquiriu seu produto
Bartzen e dentro do prazo da garantia Caso o cliente realize algum serviccedilo em seu produto
com profissionais natildeo autorizados pela fabricante sua garantia seraacute invalidada A importacircncia
da utilizaccedilatildeo do termo ―somente na ocorrecircncia (46) eacute a de diminuir as possibilidades de
interpretaccedilatildeo da sentenccedila ao maacuteximo Dessa forma natildeo haacute como o cliente interpretar que por
exemplo ele pode realizar a manutenccedilatildeo ou reparo do seu produto com qualquer outro
funcionaacuterio que natildeo seja autorizado pela fabricante do produto Natildeo identificamos nem
termos polissecircmicos nem termos vagos em (46)
(47) A garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o consumidor que consta
identificado na nota fiscal de compra do produto (primeiro usuaacuterio) a
qual deveraacute ser apresentada junto com este Certificado de Garantia
devidamente preenchido com os dados do consumidor e do produto
para fins de cobertura para reparo ou substituiccedilatildeo do produto se
necessaacuterio
(Certificado 19)
79
Em (47) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia Nesse caso
o cliente fica ciente de que a garantia soacute seraacute vaacutelida para o primeiro proprietaacuterio do produto
assim como soacute seraacute aceito o pedido de garantia caso o cliente apresentar a nota fiscal
contendo tanto os dados do produto quanto os seus Todas as possibilidades fora das
descritas seratildeo desconsideradas e consequentemente a garantia seraacute invalidada A
importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente em (47) se daacute pelo fato de que haacute diversas
informaccedilotildees a serem consideradas pelo cliente na ocorrecircncia (47) e caso o autor do texto natildeo
tivesse utilizado o termo ―somente antes dessas informaccedilotildees o cliente poderia interpretar
que sua garantia poderia ser vaacutelida ao cumprir algumas das informaccedilotildees descritas na sentenccedila
e natildeo obrigatoriamente todas Por exemplo se natildeo houvesse o uso do ―somente em (47) o
cliente poderia interpretar que a garantia eacute vaacutelida para o consumidor que tem o nome
constando na nota fiscal mas tambeacutem para qualquer outro consumidor que esteja de posse da
nota fiscal mesmo que natildeo seja a pessoa que tem o nome na nota fiscal O ―somente possui
o papel de restringir a interpretaccedilatildeo de toda ocorrecircncia ao maacuteximo direcionando a leitura do
texto para evitar muacuteltiplas interpretaccedilotildees Com esse uso natildeo eacute possiacutevel que cliente interprete
que ele pode ter acesso a garantia caso natildeo cumpra alguma das recomendaccedilotildees Natildeo
identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (47)
(48) O Certificado de Garantia eacute vaacutelido SOMENTE para os
condicionadores vendidos e instalados no territoacuterio brasileiro
(Certificado 19)
Em (48) semelhante agraves ocorrecircncias (31) e (39) o fabricante utiliza o termo ―somente
para restringir o territoacuterio de cobertura da garantia Neste caso condicionadores adquiridos e
utilizados em outros paiacuteses natildeo seratildeo cobertos pela garantia descrita acima Ainda retomando
a discussatildeo sobre a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro consideramos que pelo fato do autor do
texto natildeo ter apresentado um conceito para esta expressatildeo em nenhum local do certificado de
garantia da forma como se apresenta ela pode ser interpretada de outras maneiras assim
como discutimos nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)
(49) Para o uso de condicionadores de ar em ambientes com alta
concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre
seraacute vaacutelida SOMENTE a garantia legal de 90 (noventa) dias contados
80
da data de emissatildeo da nota fiscal de compra do produto
(Certificado 19)
Na ocorrecircncia (49) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da
garantia do produto que seja utilizado em ambientes especiacuteficos como ―ambientes com alta
concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre Dessa forma o
fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a qualquer solicitaccedilatildeo de garantia ―normal ou seja prazo
de validade de garantia para condicionadores de ar que satildeo utilizados em ambientes
considerados ―normais por parte de um cliente que utilize o produto em ambientes como os
descritos acima Dessa forma o uso do ―somente se justifica pelo fato de que o fabricante
busca direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha duacutevidas de que como
descrito em (49) os produtos utilizados em ambientes atiacutepicos soacute estaratildeo cobertos pela
garantia legal Assim como jaacute discutimos em outras ocorrecircncias anteriormente o fabricante
utiliza a expressatildeo ―garantia legal que eacute uma expressatildeo teacutecnica do CDC e para que ela natildeo
se tornasse polissecircmica logo apoacutes seu uso o autor apresentou o conceito para o termo que eacute
o de um periacuteodo de 90 dias corridos compreendidos imediatamente apoacutes a expediccedilatildeo da nota
fiscal de compra do produto
(50) A partir do 91ordm (nonageacutesimo primeiro) dia tais despesas satildeo de
responsabilidade uacutenica e exclusiva do consumidor
(Certificado 19)
Em (50) o fabricante natildeo utilizou os termo ―somente e ―apenas mas
consideraremos em nossa anaacutelise a utilizaccedilatildeo da expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como
umas expressotildees utilizadas para restringir interpretaccedilotildees como discutimos anteriormente em
outras anaacutelises Na sentenccedila acima o fabricante utilizou a expressatildeo de restriccedilatildeo para
enfatizar que passados os trecircs meses de garantia as despesas referentes a qualquer
manutenccedilatildeo e garantia do produto seratildeo de responsabilidade do cliente Como apresentamos
na ocorrecircncia (49) a garantia legal para um produto cobre os primeiros 90 dias apoacutes a
emissatildeo da nota fiscal de compra do produto Ao informar em (50) que a partir do primeiro
dia apoacutes o teacutermino da garantia legal despesas referentes ao traslado do produto para
manutenccedilatildeo seraacute de responsabilidade do cliente o autor utiliza a expressatildeo ―uacutenica e
exclusiva para se resguardar de qualquer possibilidade de participaccedilatildeo em possiacuteveis gastos
81
Caso o fabricante natildeo tivesse enfatizado essa informaccedilatildeo utilizando esta expressatildeo o cliente
poderia interpretar por exemplo que poderia haver algum caso em que o fabricante se
responsabilizaria por tais gastos Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (50)
(51) A reposiccedilatildeo de peccedilas defeituosas e execuccedilatildeo dos serviccedilos decorrentes
desta Garantia SOMENTE seratildeo procedidas nas localidades do
territoacuterio brasileiro onde a ENVISION mantiver ―Centro de Serviccedilo
Autorizado de titularidade dela proacutepria ou de terceiro por ela
expressamente indicado onde deveraacute ser entregue o produto para
reparo
(Certificado 20)
Na ocorrecircncia (51) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir os locais de
execuccedilatildeo de serviccedilos da garantia Neste caso o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a por
exemplo natildeo haver assistecircncias teacutecnicas em todas as cidades do paiacutes Aleacutem de enfatizar que o
produto deveraacute ser entregue na assistecircncia pelo cliente ou seja o fabricante natildeo se
responsabiliza quanto ao recolhimento do produto para reparo A utilizaccedilatildeo do ―somente se
justifica pelo fato de que o fabricante busca restringir ao maacuteximo as possibilidades de
interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o ―somente o cliente
poderia por exemplo interpretar que se a cidade em que o cliente tenha adquirido o produto
natildeo tenha uma assistecircncia teacutecnica a fabricante se responsabilizaria pelo recolhimento do
produto para manutenccedilatildeo numa cidade que possua a assistecircncia teacutecnica Com a utilizaccedilatildeo do
―somente precedendo as demais informaccedilotildees natildeo eacute possiacutevel interpretar a ocorrecircncia dessa
maneira Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termo vagos na ocorrecircncia (51)
(52) Esta Garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver
devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original
da Nota Fiscal de Compra
(Certificado 20)
Na ocorrecircncia (52) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a forma
como o cliente deve solicitar a garantia do produto Caso o cliente deixe de apresentar o
certificado preenchido corretamente eou a nota fiscal de compra a garantia seraacute invalidada
82
Assim como na ocorrecircncia (51) o autor fabricante utiliza o ―somente para restringir ao
maacuteximo a interpretaccedilatildeo do texto Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente
haveria a possibilidade de o cliente interpretar que a garantia do produto seria vaacutelida caso o
certificado estivesse preenchido sem rasuras acompanhado da nota fiscal de compra mas
tambeacutem de qualquer outra forma A ocorrecircncia ficaria sem limites para interpretaccedilatildeo caso o
fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente Poreacutem como o termo foi utilizado natildeo
haacute outra forma de o cliente interpretar a ocorrecircncia sobre a validade da garantia do produto
Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (52)
(53) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS se o produto for reparado pela rede
autorizada Rheem ou por autorizaccedilatildeo preacutevia formalizada pelo
Departamento de Assistecircncia Teacutecnica
(Certificado 20)
Na ocorrecircncia (53) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a validade da
garantia quanto ao local de assistecircncia Caso o produto seja reparado por profissional natildeo
autorizado pela fabricante Rheem a garantia do produto seraacute perdida A importacircncia o uso do
termo ―apenas na ocorrecircncia (53) se daacute pelo fato de que o autor busca restringir a
interpretaccedilatildeo do texto ao maacuteximo Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―apenas o
cliente poderia por exemplo interpretar que a garantia do produto eacute vaacutelida em qualquer
situaccedilatildeo e natildeo unicamente se seguir as recomendaccedilotildees descritas apoacutes o uso do termo
―apenas Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (53)
(54) Os produtos SOMENTE poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para
anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes sua autorizaccedilatildeo por escrito
(Certificado 21)
Na ocorrecircncia (54) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o modo
como deve submeter o produto agrave garantia Caso natildeo haja uma autorizaccedilatildeo por escrito para
enviar o produto para a faacutebrica o produto natildeo poderaacute seguir para anaacutelise A importacircncia da
utilizaccedilatildeo do termo ―somente se daacute pelo fato de que caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o
termo na ocorrecircncia (54) a interpretaccedilatildeo do texto ficaria sem limites ou seja os produtos
poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes a autorizaccedilatildeo por
83
escrito ou de qualquer outra forma Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (54)
34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS
Em nossa pesquisa analisamos cinquenta e quatro ocorrecircncias selecionadas a partir
dos vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Dividimos a anaacutelise por tipos de
ocorrecircncias com quantificador universal com condicional e com o apenassomente Para
apresentar um panorama sobre os tipos de ocorrecircncia e a quantidade das anaacutelises de cada tipo
vamos observar o quadro a seguir
Tipo de ocorrecircncia Nuacutemero de ocorrecircncias
Quantificador universal 15
Condicional 9
ApenasSomente 30
TOTAL 54
Quadro 2 ndash Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia Fonte elaborado pelo autor
Antes de discorrer nossos comentaacuterios sobre as anaacutelises de nosso trabalho temos que
tratar sobre a primeira importante impressatildeo que tivemos diante do corpus e das consequentes
anaacutelises dos quatro nexos semacircnticos que invocamos em nosso trabalho somente
identificamos ocorrecircncias com acarretamentos Tratamos com muita naturalidade este fato
porque por mais que em algumas leituras uma parte do conteuacutedo do segundo capiacutetulo possa
ser vista como desnecessaacuteria ndash pelo fato de tais conceitos natildeo estarem presentes nas anaacutelises
dessa pesquisa ndash encontramos aiacute uma caracteriacutestica do gecircnero textual certificado de garantia
que eacute a presenccedila de diversos acarretamentos mesmo que natildeo-expliacutecitos como demonstramos
em nosso trabalho (porque o gecircnero textual certificado de garantia natildeo possui uma linguagem
tatildeo controlada quanto a linguagem encontrada nos exemplos que criamos para ilustrar os
conceitos dos nexos) Dessa maneira fica claro que natildeo encontramos ocorrecircncias com
equivalecircncias semacircnticas contrariedades ou contraditoriedades o que nos permite definir
estas ausecircncias como uma caracteriacutestica intriacutenseca do gecircnero
84
Na primeira parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o quantificador
universal Identificamos quinze ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia
utilizaram esse recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (1) e (15)
percebemos que o uso do quantificador universal em algumas ocorrecircncias serviu apenas para
reforccedilar a informaccedilatildeo que o fabricante quis veicular ou seja se natildeo tivesse sido utilizado natildeo
modificaria o sentido do texto Pudemos identificar esse sentido por exemplo nas
ocorrecircncias (1) e (2)
Aleacutem desse sentido para o uso do quantificador universal encontramos ocorrecircncias
em que caso o quantificador natildeo tivesse sido utilizado haveria a possibilidade de
interpretarmos a ocorrecircncia de vaacuterias maneiras Nesses casos os autores utilizaram o
quantificador para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo direcionando a leitura do texto
para que o cliente possa interpretar o certificado da forma que o fabricante deseja Pudemos
identificar esse sentido por exemplo nas ocorrecircncias (3) (4) e (8)
Pudemos observar que os autores dos certificados de garantia utilizam tambeacutem o
quantificador universal em seus textos para se resguardarem em relaccedilatildeo a deveres que
poderiam ser reclamados pelo cliente caso natildeo houvesse o uso deste recurso Dessa forma
podemos entender que os autores dos certificados utilizaram o quantificador universal para se
favorecerem Pudemos observar essa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (5) (11) (13) e
(14) Em relaccedilatildeo a ocorrecircncias com o uso do quantificador universal em que o cliente eacute
beneficiado natildeo identificamos nenhum caso em nossa anaacutelise
Sobre o aparecimento de termos vagos ou termos polissecircmicos nas ocorrecircncias com a
presenccedila do quantificador universal pudemos observar que o maior motivo da sensibilidade
dos textos a esses tipos de efeitos linguiacutesticos eacute o fato de os autores dos textos em muitos
casos natildeo conceituarem os termos teacutecnicos que eles utilizam nos certificados de garantia Ao
utilizar um termo teacutecnico como por exemplo na ocorrecircncia (3) em que o autor do
certificado de garantia utiliza o termo ―viacutecio do produto ndash termo teacutecnico do CDC ndash natildeo
apresentando o conceito em seu texto dificulta a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Tendo contato
com o termo de forma solta sem estar delimitada pelo conceito que o autor deseja que o
cliente interprete a ocorrecircncia se torna vaga e polissecircmica
Ainda sobre os termos vagos ou termos polissecircmicos encontramos tambeacutem
ocorrecircncias em que os autores buscaram evitaacute-las justamente apresentando apoacutes a utilizaccedilatildeo
de um termo teacutecnico o seu respectivo conceito desta forma natildeo oferecendo a possibilidade
de interpretaacute-lo de vaacuterias maneiras Pudemos observar este uso por exemplo na ocorrecircncia
(10) em que o autor do certificado usa o termo ―garantia legal e logo em seguida apresenta
85
o conceito para o termo que eacute ―os primeiros 90 dias Dessa forma o cliente natildeo eacute autorizado
a interpretar o termo ―garantia legal de nenhuma outra forma que natildeo seja a descrita pelo
fabricante
Na segunda parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o uso do condicional
Identificamos nove ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia utilizaram este
recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (16) e (24) pudemos identificar
que o condicional foi utilizado pelos autores dos textos precedendo listas instrucionais o que
era esperado devido a caracteriacutestica proacutepria desse recurso que eacute o de condicionar algo agrave
alguma coisa Assim como nas ocorrecircncias que os autores utilizaram o quantificador
universal o condicional foi utilizado em boa parte das ocorrecircncias analisadas para restringir
a interpretaccedilatildeo do texto Pudemos identificar este sentido por exemplo nas ocorrecircncias (16)
(17) e (18)
Identificamos em boa parte das ocorrecircncias que possuem o uso do condicional que
este uso natildeo impotildee um limite na interpretaccedilatildeo Pudemos observar em nossa anaacutelise que os
condicionais foram utilizados precedendo listas exaustivas que continham situaccedilotildees por
exemplo em que a garantia seria invalidada Ao apresentar tais listas os autores natildeo
especificavam que natildeo haveria outros casos fora da lista em que a garantia seria invalidada
Dessa forma observamos que assim como nas ocorrecircncias com quantificador universal os
autores utilizaram os condicionais para se favorecerem Identificamos na ocorrecircncia (22)
recursos que restringem ainda mais as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente e
que consequentemente favorecem o fabricante como o uso do termo ―cumulativamente
que obriga o cliente a natildeo apenas estar dentro de uma ou mais situaccedilotildees descritas pelo
fabricante apoacutes o condicional mas a seguir todas as situaccedilotildees descritas ao mesmo tempo
Quando os fabricantes utilizaram o condicional precedendo listas que constam as
situaccedilotildees em que o cliente poderia perder a garantia eles usaram o recurso sem limites como
pudemos observar na ocorrecircncia (21) Mas quando os fabricantes utilizaram o condicional
precedendo listas que constam as situaccedilotildees em que o cliente tem direito a garantia eles
usaram os recursos com limites e como mostramos na ocorrecircncia (22) ainda utilizaram
recursos que limitam mais ainda a garantia
Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem das ocorrecircncias em que o condicional apareceu
de forma expliacutecita ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o mesmo
sentido como em (19) (20) e (24)
Sobre a presenccedila de termos polissecircmicos ou termos vagos nas ocorrecircncias com o uso
do condicional pudemos identificar que diferente das ocorrecircncias com o uso do
86
quantificador universal natildeo encontramos casos de termos vagos ou termos polissecircmicos nas
ocorrecircncias analisadas Identificamos em muitas ocorrecircncias que os autores dos certificados
apresentaram os conceitos para termos teacutecnicos apoacutes uso geralmente entre parecircnteses para
evitar que o termo ou a expressatildeo fossem interpretados de formas indevidas Encontramos
este tipo de estrateacutegia por exemplo na ocorrecircncia (17) do certificado 3 em que o autor
utiliza os termos ―garantia legal e ―garantia contratual mas no texto do certificado haacute o
conceito para cada termo o que impossibilita que o cliente interprete os termos de diversas
maneiras Caso o fabricante tivesse utilizado os dois termos teacutecnicos e em lugar algum do
certificado de garantia ele apresentasse os conceitos para os termos oportunizaria por
conseguinte diversas possibilidades de interpretaccedilatildeo dificultando a leitura do texto por parte
do cliente
Na terceira parte da anaacutelise tratamos sobre as ocorrecircncias com o uso do ―apenas e do
―somente Identificamos trinta ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia
utilizaram esses recursos linguiacutesticos Apesar do nuacutemero elevado de ocorrecircncias os sentidos
em que o ―apenas e o ―somente foram utilizados natildeo variaram muito Em grande parte das
ocorrecircncias analisadas o ―apenas e o ―somente foram utilizados para restringir a validade
da garantia desde restriccedilotildees em relaccedilatildeo ao territoacuterio de vigecircncia ateacute tipos de ambientes em
que os produtos podem ser utilizados Um tipo de ocorrecircncia que foi bastante recorrente em
nosso corpus foi o que utilizou o ―apenas ou ―somente para delimitar o territoacuterio em que a
garantia pode ser vaacutelida como por exemplo nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)
Nestas ocorrecircncias haacute o uso da expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que levantamos na anaacutelise
uma discussatildeo sobre as possibilidades de interpretaccedilatildeo para tal expressatildeo pelo fato de natildeo
haver nos certificados de garantia analisados um conceito definido para ela A ausecircncia do
conceito para este termo nos certificados de garantia pode dificultar a interpretaccedilatildeo
Tambeacutem podemos afirmar que em grande parte das ocorrecircncias analisadas o uso do
―somente ou ―apenas serviu para impor limites agraves interpretaccedilotildees dos textos direcionando-
os para a interpretaccedilatildeo que o fabricante desejasse impor Ou seja em grande parte das
ocorrecircncias em que foi utilizado o ―somente precedendo uma situaccedilatildeo X caso natildeo houvesse
esse uso a garantia por exemplo seria vaacutelida na situaccedilatildeo X mas tambeacutem nas situaccedilotildees Y Z
W sem limites Sem o uso do ―somente nessas ocorrecircncias o texto da garantia natildeo teria
sentido definido Pudemos observar esse sentido em diversas ocorrecircncias analisadas como
por exemplo nas ocorrecircncias (27) e (28) Ilustrando caso natildeo houvesse o uso do ―apenas
nas ocorrecircncias (27) e (28) a garantia seria vaacutelida no territoacuterio brasileiro e em qualquer outro
Ainda sobre as ocorrecircncias usam o ―somente ou ―apenas para restringir o territoacuterio em que
87
a garantia seraacute vaacutelida observamos que algumas ocorrecircncias especificam mais a validade da
garantia como em (48) que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para produtos vendidos e
instalados em territoacuterio nacional e outras ocorrecircncias que especificam menos como em (39)
que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para o veiacuteculo comercializado em territoacuterio brasileiro
Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem de ocorrecircncias em que o ―apenas e ―somente
apareciam explicitamente ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o
mesmo sentido como em (35) (36) e (41)
Sobre o aparecimento de termos polissecircmicos ou termo vagos aleacutem da expressatildeo
―territoacuterio brasileiro que mencionamos nos paraacutegrafos anteriores pudemos identificar
outros casos de termos polissecircmicos como por exemplo nas ocorrecircncias (25) e (26) Os
termos teacutecnicos utilizados pelos autores dos certificados de garantia natildeo possuiacuteam em lugar
algum dos textos os conceitos para lhes definirem possibilitando que o cliente interprete
estes termos de diversas maneiras
Ainda sobre casos de termos polissecircmicos observamos em algumas ocorrecircncias que
os autores dos certificados procuraram utilizar os termos teacutecnicos e em seguida ou em
alguma parte dos textos apresentaram os conceitos para os termos evitando muacuteltiplas
interpretaccedilotildees Identificamos o uso dessa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (43) (44) e
(49)
Nos trecircs tipos de ocorrecircncias que definimos para nossa anaacutelise pudemos identificar
que nos usos do quantificador universal condicional e ―apenas e ―somente os autores dos
certificados de garantia usaram esses recursos para se favorecerem Como analisado nas
ocorrecircncias do corpus os fabricantes utilizaram essas estrateacutegias tanto pelo fato de que eacute
necessaacuterio utilizar esses recursos por ser caracteriacutestico de textos instrucionais quanto pelo
fato de que o direcionamento das interpretaccedilotildees dos textos que eles constroem a partir destes
recursos podem favorecer os proacuteprios fabricantes
88
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Na presente seccedilatildeo iremos pontuar o percurso de nossa pesquisa e apresentar nossas
impressotildees sobre o corpus as teorias apresentadas e os resultados obtidos com as anaacutelises
O primeiro capiacutetulo de nossa pesquisa foi subdividido em duas partes na primeira
buscamos apresentar os conceitos gerais sobre os gecircneros textuais com base na proposta de
Bakhtin (2000) reafirmada por Marcuschi (2008) com o intuito de fornecer aporte teoacuterico
para a segunda parte do capiacutetulo em que caracterizamos o certificado de garantia como um
gecircnero textual Tal caracterizaccedilatildeo se deu pelo fato do nosso corpus ser composto por vinte e
dois certificados de garantia Ficamos surpresos por tomar conhecimento do fato de que ateacute o
presente momento natildeo identificamos publicaccedilotildees acadecircmicas em nosso paiacutes referentes agrave
caracterizaccedilatildeo de certificados de garantia como gecircneros textuais e esta dificuldade nos levou
a construir atraveacutes de nossa leitura a caracterizaccedilatildeo tanto quanto ao conteuacutedo quanto agrave
estrutura do texto A uacutenica bibliografia que encontramos e utilizamos como base para a
estruturaccedilatildeo da segunda parte do capiacutetulo tratando diretamente sobre os certificados de
garantia foi o Coacutedigo de Defesa e Proteccedilatildeo do Consumidor (1997) em que pudemos extrair
alguns conceitos gerais e recomendaccedilotildees de como se deve construir o texto de um certificado
de garantia Um dos problemas que encontramos foi a carecircncia de detalhes apresentados pelo
CDC na seccedilatildeo em que sugerem um padratildeo de formulaccedilatildeo do documento O CDC apenas
enfatiza que se faz necessaacuterio o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo e por exemplo a
necessidade de ser acompanhado do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto Com base
nessas informaccedilotildees apresentamos os conceitos e tambeacutem um exemplo de certificado de
garantia ilustrando cada parte da estrutura do texto
Na introduccedilatildeo do segundo capiacutetulo apresentamos uma discussatildeo geral sobre a
distinccedilatildeo entre semacircntica e pragmaacutetica com o objetivo de caracterizar os nexos como
relaccedilotildees linguiacutesticas do campo da semacircntica Para isso apresentamos tambeacutem os conceitos e
exemplos de relaccedilotildees linguiacutesticas que satildeo consideradas como pertencentes ao campo da
pragmaacutetica como a implicatura e pressuposiccedilatildeo Para esta discussatildeo buscamos aporte teoacuterico
nas obras de autores como Trask (2004) Levinson (2007) Grice (1987) Basso (2009)
Moura (1999) e Santos (2012)
Apoacutes a introduccedilatildeo do capiacutetulo apresentamos a teoria dos nexos semacircnticos que
escolhemos tratar em nossa pesquisa Foram eles o acarretamento a equivalecircncia semacircntica
a contradiccedilatildeo e a contrariedade Utilizamos como referencial teoacuterico para a teoria dos nexos
89
semacircnticos autores como Aristoacuteteles (1985) Chierchia (2001) Branquinho Murcho e Gomes
(2006) Pires de Oliveira (2001) e Mortari (2001) A apresentaccedilatildeo de cada nexo se deu a
partir dos conceitos seguidos de exemplos e dentro de cada seccedilatildeo apresentamos tambeacutem
tipos de ocorrecircncias lexicais que podem dificultar a intepretaccedilatildeo dos nexos que satildeo a
polissemia e a vagueza Ao apresentar os conceitos dessas ocorrecircncias lexicais assim como
fizemos na apresentaccedilatildeo dos nexos tambeacutem ilustramos com exemplos Utilizamos como
aporte teoacuterico para os conceitos de polissemia e vagueza autores como Crystal (1985) Allan
(2010) e Kempson (1977) Aleacutem da polissemia e vagueza tratamos sobre outro problema
que dificulta a interpretaccedilatildeo dos nexos as falaacutecias Quando tratamos sobre as caracteriacutesticas
das falaacutecias utilizamos como base teoacuterica o texto de Soares (2003) em que o autor distingue
as caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias e com esse aporte apresentamos nossos
exemplos
Quando tratamos sobre a contradiccedilatildeo e contrariedade apresentamos o fato de que as
suas origens tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica A partir disso trouxemos uma breve apresentaccedilatildeo
sobre os conceitos de Aristoacuteteles presentes em seu texto Organon (1985) mais
especificamente no Perieacutermeneas capiacutetulos 6 e 7
No final do capiacutetulo dois fizemos uma retrospectiva de todos os pontos que foram
apresentados ao longo do capiacutetulo e justificamos a nossa escolha em pesquisar sobre os nexos
semacircnticos assim como a polissemia vagueza e falaacutecias Durante todo o capiacutetulo dois
apresentamos os nexos e outras relaccedilotildees lexicais dentro de uma linguagem controlada que eacute
diferente do que acontece nos textos dos diversos gecircneros inclusive naquele escolhido para
compor o nosso corpus que satildeo os certificados de garantia A importacircncia dos conceitos
apresentados em nosso segundo capiacutetulo se deu pelo fato de que ele oferece uma base para a
compreensatildeo do funcionamento dessas relaccedilotildees semacircnticas para que diante das anaacutelises que
realizamos no capiacutetulo trecircs tenhamos uma leitura mais refinada e atenciosa para perceber
como essas relaccedilotildees semacircnticas tiacutepicas de linguagens controladas se apresentam em textos
que satildeo suscetiacuteveis a diversas ocorrecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo Ficamos surpresos
pelo fato de que pouco se escreveu sobre nexos semacircnticos em nosso contexto nacional de
pesquisa o que tornou a construccedilatildeo do nosso segundo capiacutetulo bastante desafiadora Em
relaccedilatildeo a artigos que trataram diretamente sobre os nexos semacircnticos e os seus usos como
suporte para a anaacutelise de ocorrecircncias em gecircneros textuais tivemos contato apenas com Santos
(2012) e Estrela e Santos (2013 2014)
No terceiro capiacutetulo que foi dedicado para conter a anaacutelise desta pesquisa
inicialmente apresentamos nossa justificativa para a escolha do gecircnero certificado de garantia
90
para analisar assim como a justificativa para a escolha de procurar nesses textos as
estrateacutegias linguiacutesticas utilizadas para restringir a interpretaccedilatildeo de sentenccedilas Em seguida
tratamos sobre os tipos de ocorrecircncias que elegemos para nossa anaacutelise como quantificador
universalcondicional e o ―apenas e o ―somente Esta escolha se deu pelo fato de tais
termos possuem caracteriacutesticas propiacutecias para o uso em restriccedilotildees ou abrangecircncias de textos
Mesmo assim tiacutenhamos conhecimento de que dificilmente encontrariacuteamos ocorrecircncias com
as relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos no capiacutetulo dois de forma expliacutecita e controlada
pois como discutimos anteriormente os diversos gecircneros textuais satildeo suscetiacuteveis a
interferecircncias lexicais que podem dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos
Em seguida apresentamos a anaacutelise do nosso corpus que totalizou cinquenta e quatro
trechos de certificados nos trecircs tipos de ocorrecircncias escolhidas para serem investigadas
Como jaacute apresentamos no final do capiacutetulo anterior nossas impressotildees sobre como foram
utilizados os recursos linguiacutesticos para restriccedilatildeo de interpretaccedilotildees pelos autores dos
certificados gostariacuteamos de enfatizar que nas ocorrecircncias com quantificador universal com
condicional e com o ―apenas e ―somente os fabricantes utilizaram estes recursos em
grande parte dos certificados para se favorecerem ou seja para abranger as possibilidades de
invalidade da garantia do produto aumentando as situaccedilotildees em que a garantia eacute perdida e
diminuindo as situaccedilotildees em que a garantia eacute vaacutelida (principalmente nas listas exaustivas)
Sobre ocorrecircncias em que identificados termos vagos ou termos polissecircmicos
identificamos como o motivo principal do aparecimento dessas ocorrecircncias a falta de
definiccedilatildeo dos termos teacutecnicos Em muitos certificados identificamos que os autores utilizaram
termos teacutecnicos (a maioria deles provenientes do CDC) e natildeo apresentaram em nenhuma
parte do texto as definiccedilotildees para tais termos oportunizando que o leitor interprete de
diversas maneiras os termos ou expressotildees
Por fim pudemos perceber que os quantificadores os condicionais e termos como o
―apenas e o ―somente que satildeo responsaacuteveis por abranger ou restringir interpretaccedilotildees de
sentenccedilas satildeo proacuteprios do tipo de texto instrucional que abarca o gecircnero que escolhemos para
nossa pesquisa A utilizaccedilatildeo desses termos seguiu uma ordem de apresentaccedilatildeo similar nos
vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Os quantificadores universais
apareceram muitas vezes nas explicaccedilotildees em que os fabricantes apresentavam prazos deveres
e direitos do fabricante e cliente os condicionais apareceram na maioria das vezes
precedendo as listas exaustivas e o ―apenas e ―somente apareceram em grande parte nos
trechos em que os fabricantes apresentavam delimitaccedilotildees territoriais para cobertura da
91
garantia e explicaccedilotildees sobre as situaccedilotildees em que a garantia eacute invalidada e as situaccedilotildees em que
a garantia se assegura
Assim como justificamos no iniacutecio das consideraccedilotildees sobre os resultados obtidos em
nossa anaacutelise natildeo encontramos ocorrecircncias com trecircs dos quatro nexos semacircnticos
apresentados no segundo capiacutetulo O fato de natildeo termos identificado ocorrecircncias com
equivalecircncias semacircnticas contrariedades e contraditoriedades traacutes a tona uma interessante
caracteriacutestica do gecircnero certificado de garantia que eacute a constante presenccedila de acarretamentos
na redaccedilatildeo do texto mesmo que apresentados indiretamente diferente dos exemplos que
utilizamos para ilustrar os conceitos nos diversos textos sobre o assunto e a natildeo utilizaccedilatildeo de
equivalecircncias sentenccedilas contraacuterias e contraditoacuterias na redaccedilatildeo do texto
Atraveacutes dessa pesquisa em que tratamos sobre os nexos semacircnticos a polissemia a
vagueza e alguns outros tipos de relaccedilotildees semacircnticas desejamos que outros pesquisadores se
interessem por este tipo de trabalho e busquem explorar nas anaacutelises linguiacutesticas outros
gecircneros textuais pouco explorados como o que utilizamos no presente trabalho Apresentar
uma teoria que eacute tipicamente de linguagens controladas como a dos nexos semacircnticos (que
satildeo como jaacute discutimos dependentes unicamente da forma das sentenccedilas) e analisar como
essas estrateacutegias linguiacutesticas se comportam dentro de textos instrucionais (que ainda satildeo
pouco explorados nas anaacutelises semacircnticas) satildeo a nosso ver interessantes caminhos a serem
desbravados nos estudos da semacircntica assim como as suas aplicaccedilotildees nos diversos gecircneros
textuais que nos rodeiam
92
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Certificado 1
96
Certificado 2
97
Certificado 3
98
Certificado 4
99
Certificado 5
100
Certificado 6
101
Certificado 7
102
Certificado 8
103
Certificado 9
104
105
Certificado 10
106
Certificado 11
107
Certificado 12
108
109
Certificado 13
110
Certificado 14
111
112
Certificado 15
113
114
Certificado 16
115
116
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119
120
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Certificado 17
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Certificado 18
123
Certificado 19
124
125
Certificado 20
126
Certificado 21
127
Certificado 22
KEcircNIO ANGELO DANTAS FREITAS ESTRELA
NEXOS SEMAcircNTICOS EM CERTIFICADOS DE GARANTIA
Dissertaccedilatildeo submetida ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica da Universidade
Federal da Paraiacuteba em cumprimento agraves exigecircncias para obtenccedilatildeo do grau de Mestre em
Linguiacutestica Aacuterea de concentraccedilatildeo Teoria e Anaacutelise Linguiacutestica
Aprovada em ________
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________
Profa Dra Maria Leonor Maia dos Santos
Universidade Federal da Paraiacuteba - UFPB
(Orientadora)
____________________________________________
Profa Dra Mocircnica Mano Trindade Ferraz
Universidade Federal da Paraiacuteba ndash UFPB
(Examinadora)
____________________________________________
Prof Dr Giovanni da Silva de Queiroz
Universidade Federal da Paraiacuteba - UFPB
(Examinador)
AGRADECIMENTOS
Agradeccedilo primeiramente ao nosso Deus Todo Poderoso Mestre supremo de nossas
vidas e aos seus anjos de luz espiacuteritos elevados missionaacuterios da luz pela oportunidade de
realizar esta pesquisa por toda a inspiraccedilatildeo e pela sauacutede que natildeo me faltou em nenhum
momento desses 24 meses de estudos
Agrave minha orientadora Dra Maria Leonor Maia dos Santos por ter acreditado em meu
potencial e ter aceitado me auxiliar na elaboraccedilatildeo desta pesquisa A sua generosidade
comprometimento e sabedoria serviratildeo para mim como exemplo de profissionalismo
acadecircmico a ser seguido O peso do desafio de realizar essa pesquisa certamente foi muito
menor por ter uma mentora tatildeo precisa quanto ela
Ao prof Dr Giovanni da Silva de Queiroz por ter aceitado participar da banca de
avaliaccedilatildeo desta pesquisa o que eacute representa uma grande honra para mim Desde o iniacutecio do
ano de 2011 momento em que participei de um mini-curso sobre Loacutegica Claacutessica na UEPB
ministrado por ele muito tenho aprendido com suas indicaccedilotildees de bibliografias e orientaccedilotildees
sempre muito pertinentes
Agrave profa Dra Mocircnica Mano Trindade Ferraz pela generosidade apreccedilo e humanidade
para comigo ao me acolher em seu grupo de pesquisa junto aos seus orientandos
oportunizando que eu a cada encontro do grupo aprendesse um pouco mais sobre as diversas
semacircnticas Tambeacutem agradeccedilo pela honra de tecirc-la como integrante da banca de avaliaccedilatildeo
desta pesquisa e pelas saacutebias orientaccedilotildees ao longo destes dois anos de estudos no PROLING
Aos meus pais Geraldo e Silvacircnia Estrela por todo amor confianccedila e suporte
oferecidos a mim desde o princiacutepio desta minha vida Espero poder um dia retribuir ao menos
uma parcela de tudo o que eles fizeram e fazem por mim
Agrave minha irmatilde Karla Estrela pelo exemplo de determinaccedilatildeo e disciplina
Agrave minha noiva Maria Eduarda por toda dedicaccedilatildeo carinho amor companheirismo e
principalmente paciecircncia comigo vinte e quatro horas por dia sete dias na semana Eu
certamente natildeo conseguiria concluir com tanta serenidade esta pesquisa caso ela natildeo estivesse
ao meu lado
Agrave minha amiga Angeacutelica Vilar que me apresentou o PROLING e me deu todo o
suporte para que eu realizasse o processo de seleccedilatildeo de mestrado Haacute quem natildeo acredite em
anjos mas tenho a convicccedilatildeo de que pessoas desse calibre natildeo merecem um tiacutetulo menos
divino
Aos amigos Joseacute Wellisten e Alessandra Miranda pela disponibilidade e atenccedilatildeo para
lerem meu trabalho e fazerem criacuteticas construtivas
Ao amigo Thiago Magno que me ajudou em um dos momentos mais delicados no
periacuteodo poacutes-defesa Dedico minha amizade e minha eterna gratidatildeo por tudo
Agrave CAPES pelo apoio financeiro oferecido para essa pesquisa pelo periacuteodo de 17
meses
εἰδέναι δὲ χπὴ τὸν πόλεμον ἐόντα
ξυνόν καὶ δίκην ἔπιν καὶ γινόμενα
πάντα κατ ἔπιν καὶ χπεών
(Heraacuteclito frag 80)
RESUMO
O estudo das relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas eacute um campo bastante discutido e
pesquisado nos estudos linguiacutesticos A observaccedilatildeo de como se comportam os termos na
construccedilatildeo de significados em textos de diversos gecircneros e seus efeitos de interpretaccedilatildeo
tambeacutem satildeo temas muito difundidos entre as pesquisas das semacircnticas Nesta produccedilatildeo
discutiremos sobre as relaccedilotildees de significado e seus efeitos de sentido em um gecircnero
especiacutefico As relaccedilotildees que investigaremos satildeo os nexos semacircnticos ou nexos de significado
como proposto por Chierchia (2003) que satildeo respectivamente acarretamento equivalecircncia
semacircntica contraditoriedade e contrariedade O gecircnero que escolhemos para nossa anaacutelise eacute o
certificado de garantia e a escolha de tal gecircnero se deu pelo fato deste fazer parte do grupo de
textos injuntivos ou instrucionais que a nosso ver possui caracteriacutesticas que favorecem a
amostragem dos nexos semacircnticos Iremos analisar como os nexos semacircnticos satildeo utilizados
para restringir ou abranger as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos certificados de garantia O
corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de garantia de
produtos de diversos segmentos e decidimos escolher certificados de produtos de linhas
diversas para constituirmos um panorama sobre o gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes
da internet sem utilizar nenhuma metodologia especiacutefica apenas atentamos para buscar
certificados de produtos variados Buscamos nessa pesquisa instigar a reflexatildeo sobre as
relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e a observaccedilatildeo destas nos textos instrucionais que
lidamos no dia-a-dia e que por muitas vezes deixamos passar despercebido o seu conteuacutedo
O entendimento sobre os nexos de significado pode nos oferecer ferramentas para melhor
leitura de textos desse tipo
Palavras chave Nexos semacircnticos Certificado de garantia Semacircntica
ABSTRACT
The study of the meaning of relations between sentences is a much discussed and researched
field in linguistic studies The observation of how the terms behave in the construction of
meanings in texts of different genres and their interpretation effects are also widespread
themes among semantic research In this work we will discuss about the meaning of the
relations of meaning and their sense of purpose in a specific genre The relations that we will
investigate are semantic nexus or semantic links as proposed by Chierchia (2003) which are
respectively entailment semantic equivalence contradictoriness and contrariness The genre
we chose for our analysis is the warranty certificate and the choice of this genre was made
because it is part of the injunctive or instructional texts group that in our opinion has
characteristics that favor the sampling of semantic nexus We will analyze how the semantic
nexus are used to restrict or cover the possibilities of interpretation in the warranty
certificates The corpus of this research has 22 (twenty two) copies of warranty certificates
from different segments and we decided to choose certificates from separate lines to
constitute an overview of the genre The collection of the texts took place through the
internet without using any particular methodology of choice only we pay attention to seek
warranty certificates of diverse products We seek in this research instigate reflection on the
meaning relations between sentences and observance of these in instructional texts that we
have contact in daily life and that for many times let go unnoticed its contents The
understanding of the semantic nexus can offer us tools to better read texts of this type
Keywords Semantic nexus Warranty certificate Semantics
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 13
1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA 16
11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS 16 12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL 26
2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS 32
21 ACARRETAMENTO 35 22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA 42 23 CONTRADITORIEDADE 45 24 CONTRARIEDADE 48 25 JUSTIFICANDO O PERCURSO 51
3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA 53
31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL 55 32 USO DO CONDICIONAL 64 33 USO DO APENASSOMENTE 68 34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS 83
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 88
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 92
ANEXOS 95
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa 14
QUADRO 2 - Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia 83
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
ILUSTRACcedilAtildeO 1 - Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 27
ILUSTRACcedilAtildeO 2 - Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28
ILUSTRACcedilAtildeO 3 - Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28
ILUSTRACcedilAtildeO 4 - Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28
ILUSTRACcedilAtildeO 5 - Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 29
13
INTRODUCcedilAtildeO
A abordagem das relaccedilotildees de significado eacute algo bastante presente e discutido nos
estudos semacircnticos Observar como se comportam os termos na construccedilatildeo da significaccedilatildeo
em textos de diversos gecircneros distintos e seus efeitos interpretativos tambeacutem satildeo temas de
diversas produccedilotildees na aacuterea de linguiacutestica
Neste trabalho iremos discutir as relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e os efeitos
interpretativos dessas relaccedilotildees em textos Mais especificamente abordaremos os nexos
semacircnticos ou nexos de significado (Chierchia 2003) acarretamento equivalecircncia semacircntica
contrariedade (os quais podemos encontrar no referido trabalho de Chierchia) e
contraditoriedade (nexo semacircntico que geralmente eacute relacionado com a contrariedade e que
foi tratado por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado atraveacutes de seu quadrado loacutegico
ou taacutebua de oposiccedilotildees em seu texto Perieacutermeneas (1985) mais especificamente nos
capiacutetulos 6 e 7 sobre o qual faremos menccedilatildeo na seccedilatildeo sobre este nexo)
Este trabalho tem por objetivo observar alguns dos recursos linguiacutesticos utilizados
para favorecer a existecircncia de nexos semacircnticos e com isso restringir ou ampliar
possibilidades de interpretaccedilatildeo em um gecircnero textual especiacutefico Por este motivo o gecircnero
que escolhemos analisar foi o certificado de garantia ou termo de garantia que pertence agrave
categoria dos textos instrucionais (ou injuntivos) e a nosso ver possui caracteriacutesticas que
favorecem a amostragem das ocorrecircncias dos nexos
O gecircnero certificado de garantia possui como uma de suas caracteriacutesticas a
apresentaccedilatildeo organizada dos direitos e deveres do cliente e do fabricante com relaccedilatildeo a um
produto servindo tambeacutem para informar ao cliente os seus direitos referentes agrave validade
prazos e extensatildeo de cobertura da garantia Supotildee-se entatildeo que o texto deve por isso ser
objetivo e livre de ambiguidades e incoerecircncias
Nossa hipoacutetese eacute a de que recursos linguiacutesticos que favoreccedilam a existecircncia de nexos
semacircnticos nos textos dos certificados ndash como o emprego por exemplo de conectivos e
quantificadores (Chierchia 2003 PIRES DE OLIVEIRA 2001) ndash estatildeo presentes em textos
deste gecircnero e contribuem para que os textos alcancem o objetivo de informar ao cliente e ao
fabricante seus deveres e direitos
O corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de
garantia de produtos diversos para constituir um panorama ainda que reduzido de instacircncias
do gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes da internet sem utilizar nenhuma metodologia
14
especiacutefica de escolha atentando para buscar certificados de produtos variados Os textos
escolhidos para a anaacutelise de nosso trabalho incluem diversos produtos manufaturados como
moacuteveis veiacuteculos eletroeletrocircnicos entre outros equipamentos domeacutesticos como ilustrado no
quadro a seguir
Nordm Tipo de objeto Fabricante
1 Refrigerador Samsung
2 TV led Sony
3 Condicionador de ar LG
4 Tablet AOC
5 AudioMixer Oneal
6 Garantia para todos os produtos Elgin
7 Estabilizador de energia APC
8 Aquecedor de aacutegua Bosch
9 Fogatildeo Brastemp
10 Maacutequina de lavar Electrolux
11 Ventilador Cadence
12 GPS Positron
13 Umidificador de ar Springer
14 Certificado internacional de garantia Philips
15 Colchatildeo Ortobom
16 Caminhotildees Mercedes-Benz
17 Carro de passeio Hyundai
18 Moacuteveis Bartzen
19 Aquecedor de ar Fujitsu
20 Tv AOC
21 Aquecedor de aacutegua para piscina Rheem
22 Bicicleta Total Health
Quadro 1 ndash Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa Fonte elaborado pelo autor
Como nosso propoacutesito eacute analisar os textos observando as ocorrecircncias de termos que
restringem e abrangem interpretaccedilotildees natildeo temos a intenccedilatildeo de analisar se um fabricante
elaborou um texto melhor que outro
No primeiro capiacutetulo apresentamos num primeiro momento o que satildeo gecircneros
textuais e em seguida caracterizamos o certificado de garantia como um gecircnero textual Para
tanto utilizamos o aporte teoacuterico baseado na obra de Mikhail Bakhtin (2000) linguista do
iniacutecio do seacuteculo referecircncia nos estudos de gecircneros textuais e de Luiz Antocircnio Marcuschi
(2002 2005 2008) linguista contemporacircneo que desenvolveu importantes trabalhos nessa
disciplina Vale salientar que como o foco de nossa pesquisa natildeo eacute a discussatildeo de gecircneros
textuais o capiacutetulo que construiacutemos trata de conceitos gerais sobre gecircneros tendo como
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objetivo observar que o certificado de garantia eacute um gecircnero textual e mostrando como se
estrutura em linhas gerais um texto deste gecircnero
No segundo capiacutetulo trataremos dos nexos semacircnticos dos quais consideraremos
para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e
contrariedade Atraveacutes de exemplos discutimos brevemente cada um deles mostrando
exemplos que funcionam e tambeacutem exemplos problemaacuteticos em relaccedilatildeo ao leacutexico
especialmente em casos de polissemia para que entatildeo seja possiacutevel a anaacutelise do capiacutetulo
seguinte
No terceiro capiacutetulo traremos a anaacutelise do corpus que se apresentaraacute organizado por
ocorrecircncias distribuiacutedas em tipos a saber uso do quantificador universal uso do condicional
e uso do apenassomente Apoacutes o exame das trecircs categorias citadas trataremos entatildeo das
relaccedilotildees entre o emprego dos recursos e a funccedilatildeo dos certficados Procuraremos tambeacutem
refletir se os recursos satildeo mais utilizados para favorecer o cliente ou mais utilizados para
favorecer o fabricante
Por uacuteltimo mostraremos as consideraccedilotildees finais do trabalho e em seguida as
referecircncias bibliograacuteficas utilizadas na elaboraccedilatildeo de nosso texto
16
1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA
Neste capiacutetulo tratamos dos gecircneros textuais e da caracterizaccedilatildeo dos certificados de
garantia como um gecircnero textual Em um primeiro momento traremos a perspectiva sobre
gecircneros textuais de Mikhail Bakhtin precursor dos estudos de gecircneros textuais na linguiacutestica
e em seguida apresentaremos a perspectiva de Luiz Antocircnio Marcuschi linguista brasileiro
que tambeacutem trabalha com o tema e compartilha em grande parte da perspectiva de Bakhtin
sobre o os gecircneros Eacute importante ressaltar que este capiacutetulo natildeo tem por objetivo o
aprofundamento nos estudos dos gecircneros e serve como um instrumento para contextualizar o
corpus desta pesquisa
11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS
Considerando a perspectiva apresentada por Mikhail Bakhtin na obra Esteacutetica da
criaccedilatildeo verbal (2000) o ato de se comunicar eacute indispensaacutevel para as relaccedilotildees humanas Aleacutem
disso ressaltamos que eacute por tal razatildeo que nas diversas situaccedilotildees de interaccedilatildeo que
vivenciamos em nosso cotidiano observamos a utilizaccedilatildeo da liacutengua em suas modalidades
oral eou escrita como instrumento principal de nossas trocas comunicativas
Eacute notoacuterio que a quantidade de atividades eacute enorme assim como satildeo os diferentes tipos
de situaccedilotildees em que a liacutengua eacute empregada Atraveacutes da formulaccedilatildeo de enunciados podemos
caracterizar quais as funccedilotildees dos discursos que escolhemos para os diversos tipos de
interaccedilatildeo
Nesse sentido eacute possiacutevel afirmarmos que todas as nossas construccedilotildees linguiacutesticas
organizam-se em gecircneros discursivos por meio dos quais conseguimos nos comunicar e
interagir socialmente
Em conformidade com a proposta de Bakhtin todo gecircnero discursivo se constitui a
partir das seguintes dimensotildees o conteuacutedo temaacutetico o estilo e a construccedilatildeo composicional
Esta descriccedilatildeo eacute claacutessica como ponto de partida para a descriccedilatildeo dos gecircneros textuais e nos
ofereceraacute a possibilidade de tanto descrever o que eacute um gecircnero textual quanto caracterizar
um texto como gecircnero que seraacute o nosso objetivo na segunda parte deste capiacutetulo
O conteuacutedo temaacutetico se refere ao tipo de assunto veiculado no texto Por tal razatildeo
Bakhtin (2000) afirma que o gecircnero eacute escolhido a partir do que o locutor decide falar Assim
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eacute faacutecil compreender por que cada atividade comunicativa necessita de um tipo especiacutefico de
textodiscurso Por exemplo natildeo se responde (normalmente) uma carta informal com uma
bula de remeacutedio (a natildeo ser que na carta um texto desse gecircnero seja solicitado como
resposta) Nesse sentido percebe-se que para cada esfera de comunicaccedilatildeo o locutor e
interlocutor utilizam uma mesma forma de expressatildeo tendo em vista o assunto que
escolheram tratar Caso contraacuterio se locutor e interlocutor agregam formas distintas de
expressatildeo pode ser que a comunicaccedilatildeo natildeo seja efetivada com sucesso visto que eacute possiacutevel
natildeo haver o entendimento das partes uma vez que cada gecircnero abarca certo campo de uso
mesmo estando em constante desenvolvimento
O estilo se refere aos recursos linguiacutesticos desde gramaticais ateacute lexicais e eles
variam de acordo com o gecircnero Essa dimensatildeo abarca a seleccedilatildeo frasal lexical gramatical e
as formas de apresentar o discurso que satildeo inerentes ao gecircnero escolhido Bakhtin (2000)
afirma que o estilo eacute a primeira vista individual do gecircnero e ela reflete (ou natildeo) a
individualidade de quem escreve ou fala Isso porque dependendo do gecircnero o estilo
individual aparece com mais clareza Da mesma forma haacute gecircneros que natildeo possuem essa
caracteriacutestica a exemplo dos textos injuntivos sobre os quais trataremos mais agrave frente Ainda
a respeito do estilo Bakhtin assegura que
Quando escolhemos as palavras no processo de construccedilatildeo de um enunciado nem
de longe as tomamos sempre do sistema da liacutengua em sua forma neutra
lexicograacutefica Costumamos tiraacute-las de outros enunciados e antes de tudo de
enunciados congecircneres com o nosso isto eacute pelo tema pela composiccedilatildeo pelo estilo
consequentemente selecionamos as palavras segundo a sua especificaccedilatildeo de
gecircnero O gecircnero do discurso natildeo eacute uma forma da liacutengua mas uma forma tiacutepica do
enunciado como tal forma o gecircnero inclui certa expressatildeo tiacutepica a ele inerente
(BAKHTIN 2010 [1992] p 292 grifos do autor)
Nessa perspectiva podemos afirmar que tal criteacuterio se refere agraves propriedades das
unidades de linguagem e relaciona-se agrave posiccedilatildeo enunciativa do locutor agraves sequecircncias textuais
e aos tipos discursivos que estruturam o texto
Por fim Bakhtin (2000) afirma que cada gecircnero possui uma forma padratildeo que eacute a
estrutura composicional Eacute atraveacutes dessa forma que podemos identificar qual gecircnero estaacute
sendo empregado pois essa dimensatildeo se refere aos procedimentos utilizados na formulaccedilatildeo
dos textos com a estrutura e demais aspectos formais incluindo as partes envolvidas no
discurso Em suma para Bakhtin (2000)
18
Estes trecircs elementos (conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo composicional)
fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado e todos eles satildeo marcados pela
especificidade de uma esfera de comunicaccedilatildeo Qualquer enunciado considerado
isoladamente eacute claro individual mas cada esfera de utilizaccedilatildeo da liacutengua elabora
seus tipos relativamente estaacuteveis de enunciados sendo isso que denominamos
gecircneros do discurso (BAKHTIN 2000 p 279 Grifos do autor)
Ainda a respeito dos gecircneros do discurso conveacutem ressaltar que sua variedade eacute
proporcional agraves possibilidades de interaccedilotildees humanas pois as diversas esferas de interaccedilatildeo
satildeo compostas por classes de gecircneros que se desenvolvem tornando-se maiores e mais
complexas em consonacircncia com o desenvolvimento dessas esferas
Bakhtin (2000) utiliza o termo ―heterogeneidade para adjetivar os gecircneros do
discurso sejam eles orais ou escritos inferindo que estes incluem desde conversas informais
cartas relatos familiares ateacute produccedilotildees mais complexas como os documentos oficiais textos
cientiacuteficos e de escolas literaacuterias Natildeo haacute razatildeo para minimizar a extrema heterogeneidade
dos gecircneros do discurso e a consequente dificuldade quando se trata de definir o caraacuteter
geneacuterico do enunciadolsquo (BAKHTIN 2000 p 281) Dessa forma entendemos que a
variedade de gecircneros eacute muito grande se estendendo por exemplo dos romances mais
eruditos ateacute os bilhetes de recados do dia-a-dia e que tratar dos gecircneros admitindo suas
caracteriacutesticas estruturais particulares natildeo eacute uma tarefa faacutecil de realizar
Aleacutem de discorrer sobre as dimensotildees constitutivas de um gecircnero tendo em vista essa
heterogeneidade Bakhtin categoriza os gecircneros textuais em primaacuterios (simples) e
secundaacuterios (complexos) Assim os gecircneros primaacuterios satildeo aqueles referentes agraves reacuteplicas de
diaacutelogos cotidianos como cartas pessoais e demais gecircneros de comunicaccedilatildeo imediata Satildeo
chamados ―simples porque satildeo formados por discursos de baixa complexidade Jaacute os
gecircneros secundaacuterios satildeo aqueles referentes a romances textos cientiacuteficos sociopoliacuteticos e
afins Satildeo textos (escritos ou produzidos para serem encenados como os teatrais ndash exemplo
usado pelo proacuteprio Bakhtin) com maior carga de complexidade de produccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo
Surgem a partir de interaccedilotildees mais aprofundadas nas comunidades com maior grau de
imersatildeo em relaccedilatildeo aos padrotildees culturais e sociais
Ele ainda ressalta que os gecircneros secundaacuterios tambeacutem podem conter gecircneros
primaacuterios ―o romance em seu todo eacute um enunciado da mesma forma que a reacuteplica do
diaacutelogo cotidiano ou a carta pessoal (satildeo fenocircmenos da mesma natureza) o que diferencia o
romance eacute ser um enunciado secundaacuterio (complexo) (BAKHTIN 2000 p 281) Ao
discorrer sobre essa questatildeo o autor assevera que eacute de grande importacircncia teoacuterica a
19
diferenciaccedilatildeo entre esses tipos de gecircneros pois com isso e a partir disso podemos fazer
anaacutelises precisas dos enunciados que podem contrapor dois ou mais tipos de textos
Ignorar as caracteriacutesticas intriacutensecas a cada gecircnero a ―natureza dos enunciados - que
segundo Bakhtin eacute indispensaacutevel para qualquer estudo ndash eacute partir para a abstraccedilatildeo da liacutengua
desvalorizando o conteuacutedo histoacuterico imerso em cada tipo de gecircnero Eacute importante considerar
a relaccedilatildeo existente entre ―a liacutengua e a vida e natildeo restringir os enunciados a categorias
formais Haacute portanto uma relaccedilatildeo de complementaccedilatildeo entre a liacutengua a vida e os enunciados
pois ―a liacutengua penetra na vida atraveacutes dos enunciados concretos que a realizam e eacute tambeacutem
atraveacutes dos enunciados concretos que a vida penetra na liacutengua (BAKHTIN 2000 p 282)
Bakhtin (2000) tambeacutem se refere a questotildees da ―totalidade do enunciado que ele
define como aquilo que oportuniza a resposta em um discurso Bakhtin afirma que essa accedilatildeo
eacute definida por trecircs fatores diretamente associados ao ―todo orgacircnico do enunciado
primeiramente o tratamento exaustivo do objeto de sentido depois o querer-dizer do locutor
e por fim as formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do acabamento
O tratamento exaustivo do objeto de sentido ―varia profundamente conforme as
esferas da comunicaccedilatildeo verbal Em algumas esferas ele pode ser quase total como por
exemplo na vida praacutetica na vida profissional na vida militar basicamente em esferas que
natildeo possuem caracteriacutesticas de mutabilidade de discurso e pouca ―criatividade nas
formulaccedilotildees entre outras palavras onde os gecircneros do discurso satildeo padronizados Jaacute nas
esferas em que os gecircneros satildeo ―criativos o tratamento exaustivo eacute muito menos abrangente
como no caso das ciecircncias em particular onde Bakhtin infere que o tratamento exaustivo
―oferece exatamente um miacutenimo de acabamento capaz de suscitar uma atitude responsiva
(BAKHTIN 2000 p 300)
O querer-dizer do locutor estaacute ligado ao primeiro fator O filoacutesofo afirma que em todo
enunciado desde uma reacuteplica cotidiana ateacute complexas obras cientiacuteficas ou da literatura
compreendemos sentimos o ―intuito discursivo ou querer-dizer do locutor que eacute o que
determina o ―todo do enunciado sua amplitude suas fronteiras Noacutes identificamos o que o
locutor quer expressar e a partir dessa detecccedilatildeo medimos e definimos como se daraacute o
enunciado Isso eacute determinante para a escolha do objeto com seus limites e o tratamento
exaustivo do objeto adequado a este aleacutem de ser essencial para a escolha da forma do gecircnero
onde seraacute edificado
As formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do gecircnero do acabamento representam o fator mais
importante para Bakhtin que as descreve como ―formas estaacuteveis do gecircnero do enunciado
(BAKHTIN 2000 p 301)
20
As formas do gecircnero agraves quais modelamos nossa fala se distinguem
substancialmente das formas da liacutengua do ponto de vista de sua estabilidade e de
suas leis normativas para o locutor De um modo geral elas satildeo mais maleaacuteveis
mais plaacutesticas e mais livres do que as formas da liacutengua (BAKHTIN 2000 p 302)
Concluindo a discussatildeo sobre gecircneros a partir dos conceitos gerais propostos por
Bakhtin passamos agora para a discussatildeo sobre gecircneros realizada por Marcuschi (2008) Eacute
possiacutevel perceber ao longo da explanaccedilatildeo que este autor se identifica com a teoria
bakhtiniana de gecircneros textuais e foi essa identificaccedilatildeo uma das motivaccedilotildees que nos levou a
escolhecirc-los para a composiccedilatildeo deste capiacutetulo
De acordo com Marcuschi (2008 p 154) toda comunicaccedilatildeo soacute pode ser efetivada
por meio de um gecircnero pois ―eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum gecircnero
assim como eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum texto Partindo dessa
premissa podemos entender que qualquer manifestaccedilatildeo verbal se daacute dentro dos limites dos
gecircneros Eacute por esse motivo que a variedade de gecircneros eacute extensa mas natildeo infinita Atraveacutes
desse conceito observamos que Marcuschi compactua com o conceito bakhtiniano de que os
gecircneros possuem formas padronizadas e finitas
Os gecircneros textuais satildeo os textos que encontramos em nossa vida diaacuteria e que
apresentam padrotildees sociocomunicativos caracteriacutesticos definidos por composiccedilotildees
funcionais objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integraccedilatildeo
de forccedilas histoacutericas sociais institucionais e teacutecnicas (Marcuschi 2008 p 155)
Natildeo devemos considerar os gecircneros textuais como modelos imutaacuteveis e de ―estrutura
riacutegidas A apresentaccedilatildeo dos gecircneros se mostra ligada diretamente ao meio em que circulam
Satildeo formas culturais que tomam forma na liacutengua e que evoluem junto com ela Obviamente
que natildeo podemos deixar de considerar que os gecircneros possuem identidade e eacute atraveacutes dessa
identidade que escolhemos um tipo especiacutefico para cada esfera discursiva Dessa forma
admitimos que os gecircneros limitam nossa accedilatildeo na escrita
Em relaccedilatildeo agrave distinccedilatildeo entre gecircneros Marcuschi (2008) natildeo os distingue pelas formas
linguiacutesticas mas sim pelos seus campos de accedilatildeo Nesse sentido ele reafirma a perspectiva
bakhtiniana de que os gecircneros satildeo dinacircmicos e que por serem soacutecio-histoacutericos natildeo podem
ser contados de modo exaustivo o que dificulta sua classificaccedilatildeo Marcuschi (2008) afirma
que atualmente o objetivo maior nos estudos sobre gecircneros textuais eacute procurar identificar e
explicar como eles satildeo constituiacutedos e como circulam na sociedade
21
Eacute importante apresentar alguns conceitos referentes ao que estamos discutindo sobre
gecircneros do discurso dentre os quais destacamos os conceitos de tipo textual gecircnero textual e
domiacutenio discursivo segundo Marcuschi (2008) levando em consideraccedilatildeo a possibilidade de
se obter melhor entendimento no trato com o texto em si e seus fenocircmenos
O tipo textual eacute definido pelos aspectos linguiacutesticos ou seja por marcas lexicais
tempos verbais estilo relaccedilotildees loacutegicas e aspectos sintaacuteticos Logo relaciona-se mais agraves
sequecircncias linguiacutesticas do que a materializaccedilotildees textuais fazendo com que o conjunto
tipoloacutegico de textos seja limitado e natildeo apresente tendecircncias de aumentar Marcuschi (2002
p22) afirma que os tipos textuais compreendem categorias amplamente conhecidas como
narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo exposiccedilatildeo descriccedilatildeo e injunccedilatildeo que observaremos separadamente a
seguir
A narraccedilatildeo relata um fato que pode ser real ou imaginaacuterio em um tempo e lugar
definidos envolvendo personagens Nesse tipo de texto o tempo verbal predominante eacute o
passado ao menos nos exemplos mais tiacutepicos Eacute predominante em crocircnicas piadas
romances poemas faacutebulas entre outros Vejamos o exemplo a seguir
O cavalo e o burro
O cavalo e o burro seguiam juntos para a cidade O cavalo contente da vida
folgando com uma carga de quatro arrobas apenas e o burro mdash coitado gemendo
sob o peso de oito Em certo ponto o burro parou e disse
ndash Natildeo posso mais Esta carga excede agraves minhas forccedilas e o remeacutedio eacute repartirmos o
peso irmatildemente seis arrobas para cada um
O cavalo deu um pinote e relichou uma gargalhada
ndash Ingecircnuo Quer entatildeo que eu arque com seis arrobas quando posso tatildeo bem
continuar com as quatro Tenho cara de tolo
O burro gemeu
ndash Egoiacutesta Lembre-se que se eu morrer vocecirc teraacute que seguir com a carga de quatro
arrobas e mais a minha
O cavalo pilheriou de novo e a coisa ficou por isso Logo adiante poreacutem o burro
tropica vem ao chatildeo e rebenta
Chegam os tropeiros maldizem a sorte e sem demora arrumam com as oito arrobas
do burro sobre as quatro do cavalo egoiacutesta E como o cavalo refuga datildeo-lhe de
chicote em cima sem doacute nem piedade
ndash Bem feito exclamou o papagaio Quem mandou ser mais burro que o pobre burro
e natildeo compreender que o verdadeiro egoiacutesmo era aliviaacute-lo da carga em excesso
Tome Gema dobrado agorahellip
(LOBATO M 2010 p 85)
Acima podemos observar um exemplo de narraccedilatildeo que eacute uma das faacutebulas de
Monteiro Lobato escrita em grande parte em discurso direto Podemos observar na faacutebula
que o texto eacute conduzido pelo narrador intercalado pela interaccedilatildeo dos personagens A seguir
22
continuaremos a descriccedilatildeo dos tipos textuais e exemplos com o conceito do tipo textual
argumentativo
Jaacute a argumentaccedilatildeo tem por principal caracteriacutestica a construccedilatildeo do convencimento
acerca da validade ou invalidade de um ponto de vista por sobre outro Nesse tipo de texto haacute
a reflexatildeo sobre temas especiacuteficos confrontando perspectivas distintas predominante em
gecircneros como debates resenhas editoriais artigos de opiniatildeo e afins Vejamos o exemplo a
seguir
O povo brasileiro estaacute cansado de tanta corrupccedilatildeo desigualdade de renda serviccedilos
puacuteblicos precaacuterios sensaccedilatildeo de inseguranccedila nas ruas elevada carga tributaacuteria
ineficiecircncia nos gastos puacuteblicos e elevaccedilatildeo da inflaccedilatildeo aleacutem do estilo autoritaacuterio e
inflexiacutevel da presidente O estranho eacute pensar sobre as razotildees que levaram a
populaccedilatildeo agraves ruas no momento atual em que a economia apresentou uma
significativa evoluccedilatildeo em relaccedilatildeo aos anos 80 e 90 aleacutem de presenciar sensiacutevel
melhora na renda meacutedia e na sua distribuiccedilatildeo nos anos 2000
A minha impressatildeo eacute de que depois de sentir a possibilidade de que o paiacutes entraria
em uma rota segura de crescimento da renda e de desenvolvimento econocircmico
(semelhante agrave sensaccedilatildeo que a populaccedilatildeo brasileira presenciou nos anos 70) o
enfraquecimento econocircmico e os sinais cada vez mais claros de que ele eacute resultante
de problemas internos deixaram a populaccedilatildeo transtornada Mais uma vez somos
apenas o paiacutes do futuro (NAKABASHI 2013 Acesso
httpwwwgazetadopovocombropiniaoartigosmanifestacoes-e-governo-no-
brasil-bdcjgu3mm6ql5e18tqoj73c5q)
Observamos acima uma parte de um artigo de opiniatildeo publicado no jornal Gazeta do
Povo em 02072013 por Luciano Nakabashi que trata das manifestaccedilotildees e do governo no
Brasil O autor anuncia primeiro o problema que vai discutir e em seguida lanccedila sua opiniatildeo
sobre o tema o que faz com que esse tipo de texto seja distinto da exposiccedilatildeo que
abordaremos a seguir
A exposiccedilatildeo apresenta informaccedilotildees sobre acontecimentos materiais e objetos de
forma detalhada e especiacutefica e por isso costuma lanccedilar matildeo de recursos como a descriccedilatildeo
informaccedilatildeo enumeraccedilatildeo comparaccedilatildeo e contrastes O tipo expositivo eacute caracteriacutestico de
gecircneros como as aulas expositivas verbetes de dicionaacuterios notiacutecias jornaliacutesticas entre
outros Vejamos o exemplo
Dianoia Termo grego que pode ser traduzido por pensamento intelecto
espiacuterito A dianoia eacute o pensamento discursivo enquanto elaboraccedilatildeo explicitaccedilatildeo
ou desenvolvimento da noese ou nous isto eacute da razatildeo intuitiva que capta de
modo imediato o real (Aristoacuteteles Tratado da alma III) Neste sentido a dianoia eacute
inferior ao nous jaacute que depende deste (MARCONDES e JAPIASSUacute 2001 p54)
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Tomamos como exemplo de exposiccedilatildeo um verbete de um dicionaacuterio de filosofia
Podemos observar que os autores apresentam a palavra ―dianoia e em seguida conceituam a
dianoia a partir da perspectiva de um filoacutesofo especiacutefico (neste caso Aristoacuteteles)
O tipo textual descriccedilatildeo por sua vez eacute o relato particular de eventos e entidades e se
relaciona comumente com outros tipos em inuacutemeros gecircneros textuais Eacute caracteriacutestico em
cartazes promocionais anuacutencio de classificados entre outros Vamos observar agora um
exemplo de descriccedilatildeo atraveacutes da anaacutelise de uma obra de arte de Salvador Dali de 1955
intitulada ―A uacuteltima ceia
―Sua cena estaacute contida num retacircngulo Uma imensa janela ao fundo representada
por um dodecaedro (figura geomeacutetrica de 12 lados que sua vez satildeo pentaacutegonos ou
seja possuem cinco acircngulos cada um) domina toda a composiccedilatildeo
Jesus Cristo e seus 12 apoacutestolos estatildeo reunidos numa sala moderna envidraccedilada
Ele ocupa o centro da mesa de pedra o centro da tela e o centro do pentaacutegono
frontal do dodecaedro Cristo estaacute de frente para o observador contudo seu corpo
transluacutecido permite ver o mar e um barco o que indica que ele natildeo mais eacute humano
mas divino A sensaccedilatildeo que temos eacute de que seu corpo emerge de dentro do mar
Diante de Cristo sobre a mesa estatildeo um copo com vinho e as duas bandas do patildeo
jaacute repartido o que nos permite concluir que Daliacute pintou o momento da Eucaristia A
presenccedila dos barcos no mar remete aos ―pescadores de homens
A mesa eacute formada por um bloco retangular Doze apoacutestolos debruccedilam-se sobre ela
sendo trecircs agrave esquerda de Cristo e trecircs agrave direita Nas suas extremidades estatildeo quatro
apoacutestolos sendo dois de cada lado De costa para o observador estatildeo mais dois
deles Todos estatildeo com as cabeccedilas baixas Um dos apoacutestolos diverge dos demais ao
usar uma toga amarela O pintor queria com certeza diferenciaacute-lo Portanto tanto
pode ser Pedro o fundador da Igreja ou Judas o traidor
No alto com a cabeccedila invisiacutevel e com parte do tronco visiacutevel e os braccedilos abertos
Deus Pai humanizado abraccedila toda a cena como se aguardasse a chegada do Filho
que se encontra entre os homens Ao fundo um mar tranquilo com rochas
espalhadas e um ceacuteu cheio de nuvens compotildeem o segundo plano da tela (Viacuterus da
arte amp cia ndash Site brasileiro especializado em arte e cultura Disponiacutevel em
httpvirusdaartenetdali-a-ultima-ceia)
Acima podemos observar a descriccedilatildeo de uma obra de arte do pintor catalatildeo Salvador
dali retirado de uma paacutegina sobre arte Como o nome do tipo textual sugere a descriccedilatildeo tem
por objetivo descrever fatos mas tambeacutem caracteriacutesticas para objetos paisagens e situaccedilotildees
diversas No exemplo que utilizamos para descriccedilatildeo observamos a descriccedilatildeo de uma obra de
arte por parte de um espectador demonstrando detalhes do que estaacute impresso na pintura
assim como uma interpretaccedilatildeo da cena
O uacuteltimo tipo textual que consideraremos aqui eacute o tipo injuntivo que tem por objetivo
instruir o leitor ou persuadi-lo a fazer algo ou adotar algum ponto de vista Tambeacutem tem
como caracteriacutestica a induccedilatildeo do interlocutor a proceder de uma ou outra forma Geralmente
24
eacute escrito no modo imperativo e eacute caracteriacutestico de gecircneros como a bula de remeacutedio os
manuais de instruccedilotildees receitas culinaacuterias e contratos Vale ressaltar que dentro dos textos
injuntivos podem-se encontrar outros tipos de texto como por exemplo descriccedilotildees de
objetos endereccedilos procedimentos etc Vejamos o exemplo a seguir
Bolo simples
Tempo de preparo 40 minutos
Rendimento 12 porccedilotildees
Ingredientes
2 xiacutecaras de accediluacutecar
3 xiacutecaras de farinha de trigo
4 colheres de margarina bem cheias
3 ovos
1 frac12 xiacutecara de leite aproximadamente
1 colher (sopa) de fermento bem cheia
Modo de preparo
1) Bata as claras em neve
2) Reserve
3) Bata bem as gemas com a margarina e o accediluacutecar
4) Acrescente o leite e a farinha aos poucos sem parar de bater
5) Por uacuteltimo agregue as claras em neve e o fermento
6) Coloque em forma grande de furo central untada e enfarinhada
7) Asse em forno meacutedio preacute-aquecido por aproximadamente 40 minutos
8) Quando espetar um palito e sair limpo estaraacute assado
(httpwwwtudogostosocombrreceita29124-bolo-simpleshtml Acesso em
20042014)
No exemplo uma receita culinaacuteria podemos observar que haacute descriccedilatildeo na primeira
parte (a lista de ingredientes) e na segunda parte (modo de preparo) que eacute a mais
nitidamente injuntiva encontramos instruccedilotildees de como proceder na execuccedilatildeo da receita
Aleacutem da classificaccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo dos tipos de texto eacute interessante observarmos
tambeacutem a definiccedilatildeo de gecircneros textuais e domiacutenio discursivo conforme Marcuschi (2008)
Os gecircneros textuais satildeo definidos como ―textos materializados em situaccedilotildees
comunicativas recorrentes (MARCUSCHI 2008 p155) que apresentam caracteriacutesticas
soacutecio-comunicativas marcadas pelos conteuacutedos e pelas propriedades referentes agraves funccedilotildees e
composiccedilatildeo Diferente dos tipos textuais que se restringem a cerca de meia duacutezia como
afirma Marcuschi (2008) ―os gecircneros satildeo inuacutemeros Tambeacutem haacute de ressaltar que satildeo
culturalmente e historicamente formados visto que evoluem no mesmo passo que as
comunidades
O domiacutenio discursivo por sua vez eacute a esfera de atividade humana em que os textos
circulam Ele natildeo eacute um texto em si mas proporciona o surgimento de discursos especiacuteficos
Para ilustrar podemos citar alguns domiacutenios como discurso religioso discurso juriacutedico etc
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O domiacutenio eacute constituiacutedo por praacuteticas do discurso nas quais podemos identificar uma seacuterie de
gecircneros que possuem a mesma proposta discursiva como o tema e as praacuteticas institucionais
ou informais
As definiccedilotildees aqui trazidas de gecircnero tipo domiacutenio discursivo satildeo muito mais
operacionais do que formais e seguem de perto a posiccedilatildeo bakhtiniana Assim para a
noccedilatildeo de tipo textual predomina a identificaccedilatildeo de sequecircncias linguiacutesticas como
norteadora e para a noccedilatildeo de gecircnero textual predominamos criteacuterios de padrotildees
comunicativos accedilotildees propoacutesitos e inserccedilatildeo sociohistoacuterica No caso dos domiacutenios
discursivos natildeo lidamos propriamente com textos e sim com formaccedilotildees histoacutericas e
sociais que originam os discursos Eles ainda natildeo se acham bem definidos e
oferecem alguma resistecircncia mas seguramente sua definiccedilatildeo deveria ser na base de
criteacuterios etnograacuteficos antropoloacutegicos e socioloacutegicos e histoacutericos (MARCUSCHI
2008 p 158 Grifos do autor)
Nessa perspectiva faz-se necessaacuterio apresentarmos o papel dos gecircneros textuais como
controle social Como jaacute vimos anteriormente segundo Bakhtin (2000) toda atividade
discursiva humana se daacute atraveacutes de algum gecircnero e eacute tambeacutem por esse motivo que haacute uma
consideraacutevel pluralidade de gecircneros Marcuschi (2008) afirma que os gecircneros satildeo
―necessaacuterios para a interlocuccedilatildeo humana Assim para cada esfera de atividade humana
certos gecircneros especiacuteficos satildeo considerados mais ou menos adequados Na esfera
empresarial por exemplo temos que nos adequar agraves formalidades dos gecircneros de redaccedilatildeo
oficial como os ofiacutecios atas circulares e relatoacuterios Na academia apresentamos nossas
produccedilotildees atraveacutes de dissertaccedilotildees artigos cientiacuteficos teses e relatoacuterios de projetos No meio
publicitaacuterio encontramos as propagandas anuacutencios de diversos tipos Enfim satildeo inuacutemeras as
esferas de discurso domiacutenios discursivos e gecircneros textuais atrelados a estes
Marcuschi (2008) enfatiza que o controle social por gecircneros discursivos eacute
incontornaacutevel mas natildeo determinista De acordo com o autor noacutes temos liberdade para nos
expressarmos em qualquer esfera discursiva Poreacutem temos que admitir que a sociedade eacute
constituiacuteda por uma ―maacutequina discursiva logo somos moldados a ela de forma intuitiva e
os gecircneros textuais constituem um poderoso instrumento desta maacutequina Quanto maior a
nossa inserccedilatildeo na sociedade maior o controle social Por exemplo natildeo satildeo todas as pessoas
que podem expedir um mandato de seguranccedila escrever uma dissertaccedilatildeo de mestrado
ministrar uma aula de fiacutesica quacircntica ou publicar uma coluna em um jornal Eacute nessa
perspectiva que Marcuschi (2008) afirma veemente o direcionamento dos gecircneros textuais
para com o envolvimento social e suas especificidades
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A partir das consideraccedilotildees apresentadas a respeito dos gecircneros textuais dedicamos a
seccedilatildeo a seguir para a caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual
conforme relatamos na introduccedilatildeo deste capiacutetulo
12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL
O certificado de garantia ou termo de garantia eacute um documento oferecido por
prestadoras de serviccedilos fabricantes de produtos diversos ou de qualquer outro segmento que
envolva comercializaccedilatildeo de bens duraacuteveis com a funccedilatildeo de formalizar os direitos e deveres
do consumidor e do fabricante para com o estado fiacutesico e funcional do produto em vista de
problemas de qualquer natureza
Eacute tambeacutem uma espeacutecie de contrato visto que consiste fundamentalmente na
combinaccedilatildeo de interesses de partes sobre algo Aleacutem de ―certificado de garantia
utilizaremos tambeacutem a nomenclatura ―termo de garantia tendo em vista que o documento
do certificado de garantia e o termo em si estatildeo internamente ligados A expressatildeo ―termo de
garantia eacute usada no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20
de marccedilo de 1997
Art 50 A garantia contratual eacute complementar agrave legal e seraacute conferida mediante
termo escrito
Paraacutegrafo uacutenico O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e
esclarecer de maneira adequada em que consiste a mesma garantia bem como a
forma o prazo e o lugar em que pode ser exercitada e os ocircnus a cargo do
consumidor devendo ser-lhe entregue devidamente preenchido pelo fornecedor no
ato do fornecimento acompanhado de manual de instruccedilatildeo de instalaccedilatildeo e uso de
produto em linguagem didaacutetica com ilustraccedilotildees (Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do
Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20 de marccedilo de 1997 p 30)
Em linhas gerais o documento eacute composto por quatro partes garantia contratual
garantia legal condiccedilotildees para validade da garantia contratual e legal condiccedilotildees natildeo cobertas
pela garantia legal e contratual Vejamos um exemplo de certificado de garantia
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ILUSTRACcedilAtildeO 1 Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario
_de_ar_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Observamos na primeira parte a disposiccedilatildeo da garantia contratual ou seja a garantia
oferecida pelo fabricante
28
ILUSTRACcedilAtildeO 2 Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar
_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Na segunda parte encontramos a disposiccedilatildeo da garantia legal ou seja a garantia
assegurada pelo Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do consumidor
ILUSTRACcedilAtildeO 3 Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c
ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Em seguida vemos as condiccedilotildees de validade da garantia legal e contratual composta
por uma lista exaustiva de itens a serem considerados
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ILUSTRACcedilAtildeO 4 Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c
ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
E por fim encontramos as condiccedilotildees natildeo cobertas pela garantia legal e contratual
assim como observaccedilotildees gerais
ILUSTRACcedilAtildeO 5 Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar
_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Em relaccedilatildeo agrave estrutura padratildeo dos certificados de garantia a partir do corpus
analisado nesta pesquisa observou-se que o texto que se refere agrave garantia em si corresponde a
menos da metade do documento Grande parte do documento se dedica agrave restriccedilatildeo de
possibilidades de cobertura assim como observaccedilotildees gerais quanto agraves responsabilidades do
fabricante diante de situaccedilotildees como despesas referentes agrave locomoccedilatildeo para depoacutesito do
produto para assistecircncia documentaccedilatildeo necessaacuteria para apresentaccedilatildeo na assistecircncia etc
30
O termo de garantia eacute vinculado diretamente ao Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do
consumidor O coacutedigo estabelece um padratildeo abrangente de formulaccedilatildeo do documento
constando recomendaccedilotildees como o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo necessidade do
acompanhamento do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto assim como clareza na
disposiccedilatildeo dos prazos de garantia legal e contratual
Como discutimos na primeira parte desse capiacutetulo Bakhtin (2000) propotildee que trecircs
dimensotildees constituem os gecircneros de discurso conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo
composicional Iremos a seguir apresentar como estas dimensotildees satildeo percebidas nesse
gecircnero textual
Como conteuacutedo temaacutetico do gecircnero certificado de garantia temos a veiculaccedilatildeo de
direitos e deveres do fabricante e do consumidor O documento apresenta listas exaustivas de
accedilotildees que possibilitam ou natildeo o uso do termo de garantia assim como instruccedilotildees gerais para
a realizaccedilatildeo desse ato Esse conteuacutedo pode variar em parte e apenas questotildees referentes agrave
garantia legal natildeo podem mudar pois estaacute prevista no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do
Consumidor
Em relaccedilatildeo ao estilo observamos nos certificados a utilizaccedilatildeo da norma padratildeo
Busca-se construir um texto claro e objetivo para que dessa forma natildeo haja problemas de
interpretaccedilatildeo para o consumidor Nesse gecircnero natildeo haacute identificaccedilatildeo de quem escreve de
maneira particular como observamos em gecircneros do tipo carta A identificaccedilatildeo do autor eacute
geralmente atribuiacuteda agrave empresa que oferece a garantia O estilo individual que eacute
caracteriacutestico em diversos gecircneros como o artigo de opiniatildeo e cartas pessoais natildeo cabe para
os certificados Como se trata de um texto instrucional esse gecircnero apresenta-se de forma
objetiva de modo que natildeo haacute a necessidade praacutetica da identificaccedilatildeo de quem escreve
Quanto agrave estrutura composicional em linhas gerais tal gecircnero segue uma sequecircncia
de apresentaccedilatildeo em duas etapas Em um primeiro momento apresenta-se o termo de garantia
em si no qual eacute descrito o direito do consumidor em relaccedilatildeo agrave garantia assim como sua
validade No segundo momento parte mais extensa do texto haacute a apresentaccedilatildeo de listas
supostamente exaustivas referentes aos casos que natildeo satildeo cobertos pela garantia assim como
as instruccedilotildees gerais para o reclame do direito Essa sequecircncia de apresentaccedilatildeo do documento
eacute variaacutevel Haacute certificados que satildeo inclusos no manual de instruccedilatildeo do produto (geralmente
na uacuteltima paacutegina) Haacute certificados que satildeo destacados o documento eacute apresentado agrave parte de
qualquer outro texto
Se retomarmos a classificaccedilatildeo dos gecircneros do discurso de Bakhtin (2000) entre
primaacuterios (simples) e secundaacuterios (complexos) podemos considerar que o certificado de
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garantia estaacute inserido nos gecircneros complexos pois se trata de um documento elaborado de
forma sistemaacutetica no qual haacute necessidade de um aprofundamento social complexo com
caracterizaccedilotildees e descriccedilotildees bem delimitadas
Quanto ao tipo de texto dentro do que foi proposto por Marcuschi (2008) o
certificado de garantia se enquadra no tipo injuntivo porque eacute um texto instrucional com
predominacircncia do modo imperativo nas frases e eacute composto pela listagem de uma seacuterie de
procedimentos a serem observados e seguidos com listas exaustivas contendo direitos e
deveres do fabricante e do consumidor O objetivo do documento eacute oferecer ao cliente todas
as informaccedilotildees relacionadas agrave validade da garantia os casos em que haacute perda da validade e os
casos em que os problemas apresentados se enquadram como defeitos de fabricaccedilatildeo
O certificado de garantia se caracteriza como um gecircnero textual a partir da
perspectiva de Marcuschi (2008) pois eacute um texto que possui caracteriacutesticas soacutecio-discursivas
bem delimitadas com conteuacutedo padratildeo obedecendo a uma mesma linha temaacutetica e foi
constituiacutedo socialmente O gecircnero foi criado a partir da necessidade juriacutedica de resguardar os
fabricantes e consumidores de produtos industrializados e afins quanto agrave possibilidade de
apresentaccedilatildeo de defeitos ou falhas
De posse dos conhecimentos gerais sobre os gecircneros textuais que apresentamos e da
caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual partiremos no proacuteximo
capiacutetulo para a apresentaccedilatildeo das teorias que serviratildeo de aporte teoacuterico para a compreensatildeo
das anaacutelises realizadas no capiacutetulo 3
32
2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS
Neste capiacutetulo tratamos dos nexos semacircnticos ou ―nexos de significado dos quais
consideramos para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica
contraditoriedade e contrariedade Caracterizamos cada um deles utilizando exemplos em
linguagem natural com o intuito de demonstrar o funcionamento dessas relaccedilotildees assim como
mostrar quando tais exemplos deixam de apresentar o nexo Nosso intuito final eacute de oferecer
uma base para a compreensatildeo das anaacutelises que viratildeo no capiacutetulo posterior
Para entendermos melhor o que satildeo os nexos semacircnticos devemos compreender a
distinccedilatildeo entre a semacircntica e a pragmaacutetica que satildeo linhas de estudos linguiacutesticos inter-
relacionaacuteveis Uma definiccedilatildeo bastante difundida da semacircntica e tambeacutem bastante geral eacute
encontrada em Trask (2004 p 261) que diz que a semacircntica eacute o ramo da linguiacutestica que
estuda o significado e em Chierchia (2003 p 7) para quem a semacircntica eacute um estudo do
significado das expressotildees das liacutenguas naturais Podemos tambeacutem caracterizar a semacircntica
destacando a relaccedilatildeo do usuaacuterio da liacutengua e o significado que ele atribuiu agraves palavras que
compotildeem sentenccedilas como propotildee Pires de Oliveira (2001 p 42) Jaacute a pragmaacutetica por outro
lado tambeacutem estuda o significado das liacutenguas naturais mas trata das intenccedilotildees que os
falantes supostamente revelam a partir do uso de sentenccedilas
Para o termo ―pragmaacutetica haacute diversas possibilidades de definiccedilatildeo Levinson (2007)
procura mostrar as implicaccedilotildees que algumas definiccedilotildees podem ter em relaccedilatildeo a outros
estudos Assim podemos citar pelo menos dois conceitos de pragmaacutetica para Levinson
―pragmaacutetica eacute o estudo de todos os aspectos do significado natildeo capturados em uma teoria
semacircntica (Levinson 2007 p14) assim como ―pragmaacutetica eacute o estudo das relaccedilotildees entre
liacutengua e contexto que satildeo gramaticalizadas ou codificadas na estrutura de um liacutengua
(Levinson 2007 p 11) Podemos perceber que nessas duas definiccedilotildees Levinson tanto atribui
agrave pragmaacutetica a responsabilidade sobre aquilo que estaacute aleacutem da semacircntica quanto destaca a
relaccedilatildeo de liacutengua e contexto Jaacute em Wilson (2008) encontramos as definiccedilotildees que Yule
(1996) apresenta para a pragmaacutetica
a) pragmaacutetica eacute o estudo do significado sob o ponto de vista do falante b)
pragmaacutetica eacute o estudo do significado contextual (isto eacute leva em conta o modo como
os falantes organizam seus enunciados aquilo que eles querem dizer de acordo com
os seguintes fatores a quem vatildeo dizer como vatildeo dizer onde e quando vatildeo dizer e
sob que circunstacircncias) c) pragmaacutetica eacute o estudo do como se diz aleacutem daquilo que eacute
33
dito (isto eacute o estudo do significado subjacente do natildeo dito d) pragmaacutetica eacute o
estudo da expressatildeo da proximidadedistanciamento relativo (isto eacute de acordo com
o tipo de proximidade fiacutesica social ou conceitual em relaccedilatildeo aos ouvintes os
falantes determinam como e quanto precisam dizer) (WILSON 2008 p 89)
A discussatildeo sobre as definiccedilotildees de pragmaacutetica e semacircntica e suas distinccedilotildees vem
desde o iniacutecio do seacuteculo XX e muitos autores contribuiacuteram para a evoluccedilatildeo desses conceitos
Em vista desta histoacuterica discussatildeo apresentaremos os conceitos de Charles Morris e Rudolf
Carnap para estas disciplinas linguiacutesticas
Segundo a definiccedilatildeo de Charles Morris (1938) pragmaacutetica eacute o estudo da ―relaccedilatildeo dos
signos com seus inteacuterpretes Jaacute para Rudolf Carnap (1938) a pragmaacutetica eacute o estudo da
linguagem em relaccedilatildeo aos seus falantes Diante dos conceitos de semacircntica e pragmaacutetica que
apresentamos e da distinccedilatildeo entre as linhas de estudos linguiacutesticos Marcondes (2000) afirma
que ―tanto a definiccedilatildeo de Morris quanto a de Carnap fazem parte da jaacute consagrada distinccedilatildeo
geral do campo de estudos da linguagem entre pragmaacutetica que considera a linguagem em
seu uso concreto e semacircntica que examina os signos linguiacutesticos em sua relaccedilatildeo com os
objetos que designam ou a quem se refere Os nexos semacircnticos estatildeo inseridos no campo da
semacircntica e voltaremos a este ponto no final do capiacutetulo
Sobre as relaccedilotildees semacircnticas haacute diversas perspectivas nos estudos linguiacutesticos A
forma como combinamos as palavras e nossa tendecircncia em buscar um conceito fixo de um
termo satildeo complicaccedilotildees que podem dificultar o uso da liacutengua O significado linguiacutestico das
liacutenguas naturais segundo Basso (2009) possibilita nexos semacircnticos entre sentenccedilas E
ainda sobre o significado Basso propotildee
Quando perguntamos o significado de alguma palavra muitas vezes buscamos
aquele modelo significativo presente nos dicionaacuterios Poreacutem natildeo haacute no dicionaacuterio
maneiras preacute-estabelecidas de como uma palavra pode se combinar com outra em
busca da trama de significados dos nexos que favorecem infinitas interpretaccedilotildees
Essas combinaccedilotildees satildeo decorrentes do proacuteprio uso da liacutengua pelos seus falantes
mas natildeo estatildeo nem presentes nos dicionaacuterios nem tampouco algueacutem nos ensina satildeo
conhecimentos impliacutecitos Uma aacuterea da linguiacutestica moderna defende que o nosso
conhecimento semacircntico e um dote geneacutetico portanto os possiacuteveis nexos
semacircnticos satildeo decorrentes de uma capacidade inata de combinaccedilatildeo de palavras e
sentenccedilas parte do conhecimento semacircntico impliacutecito ou competecircncia semacircntica
(BASSO 2009 p 25)
Os nexos semacircnticos satildeo caracterizados na literatura da semacircntica como grupos de
relaccedilotildees de inferecircncia muito estaacuteveis direcionaacuteveis e fortemente dependentes do material
34
linguiacutestico dos enunciados (SANTOS 2012) Essas relaccedilotildees diferem de perspectivas de
inferecircncias como a pressuposiccedilatildeo e a implicatura que dialogam diretamente com o natildeo-dito
Para contrastar os nexos com esses outros tipos de relaccedilatildeo vamos observar os exemplos a
seguir
(1) Carlos parou de beber refrigerante
(2) A tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio
Seguindo a mesma linha de exposiccedilatildeo de Moura (1999 p 12) a partir das duas
sentenccedilas acima observamos dois niacuteveis nas informaccedilotildees veiculadas No primeiro niacutevel
temos contato com o sentido literal das palavras Dessa forma em (1) temos a informaccedilatildeo de
Carlos natildeo toma mais refrigerantes e em (2) que Maacuterio escreveu uma tese sobre bolhas de
sabatildeo No segundo niacutevel atraveacutes da enunciaccedilatildeo das sentenccedilas somos levados a considerar
informaccedilotildees que natildeo estatildeo afirmadas literalmente nas sentenccedilas Dessa forma a partir de (1)
podemos inferir que Carlos bebia refrigerantes antes e em (2) que uma tese sobre bolhas de
sabatildeo jaacute foi escrita Ducrot (1987) denomina de conteuacutedo posto o primeiro niacutevel que
consiste no conteuacutedo literal das sentenccedilas e de conteuacutedo pressuposto ou pressuposiccedilatildeo o
segundo niacutevel que abarca as inferecircncias que podemos fazer a partir da enunciaccedilatildeo das
sentenccedilas Devemos entender que o conteuacutedo posto depende do conteuacutedo pressuposto pois a
aceitaccedilatildeo do primeiro leva a aceitaccedilatildeo do segundo Para que possamos aceitar a verdade do
posto (1) que diz que Carlos parou de beber refrigerante temos que aceitar a verdade
pressuposta de que Carlos jaacute tinha bebido refrigerante antes
Outra relaccedilatildeo semacircntica que dialoga diretamente com o natildeo-dito eacute a implicatura
Grice (1987) propotildee dois tipos de implicaturas as implicaturas convencionais que natildeo satildeo
sujeitas a condiccedilotildees de verdade e as implicaturas conversacionais que natildeo dependem
diretamente da significaccedilatildeo usual das palavras sendo determinadas por certos princiacutepios
baacutesicos do ato comunicativo
As implicaturas convencionais satildeo inferecircncias natildeo sujeitas a condiccedilotildees de verdade
natildeo satildeo derivadas de princiacutepios pragmaacuteticos mais gerais como as maacuteximas conversacionais
mas satildeo simplesmente ligadas pela convenccedilatildeo a itens ou expressotildees lexicais especiacuteficos
Levinson (2007) toma a implicatura conversacional como uma das ideias mais
importantes da pragmaacutetica e vamos considerar neste trabalho apenas as implicaturas do tipo
conversacional de forma que quando mencionarmos o termo implicatura devemos entender
que estamos falando das implicaturas conversacionais e natildeo das convencionais
35
Para exemplificar uma implicatura vamos supor uma situaccedilatildeo entre dois amigos em
que ao dialogar sobre as uacuteltimas defesas de teses e dissertaccedilotildees do departamento de poacutes-
graduaccedilatildeo deparam-se com a notiacutecia de que um de seus colegas escreveu uma tese sobre um
tema muito irrelevante e nada original Diante desta situaccedilatildeo um amigo disse para o outro ―A
tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio A partir da situaccedilatildeo em que os dois amigos
estavam imersos nesse contexto e da sentenccedila utilizada por um dos amigos podemos inferir
que foi Maacuterio quem escreveu uma tese sobre um tema irrelevante Podemos perceber neste
exemplo que como descrito nas definiccedilotildees que trouxemos anteriormente a implicatura por
ser uma relaccedilatildeo puramente pragmaacutetica utiliza-se do natildeo-dito e de situaccedilotildees convencionadas
entre falantes para poder existir
Dessa forma podemos retomar o que foi exposto nos paraacutegrafos anteriores afirmando
que os nexos semacircnticos as pressuposiccedilotildees e as implicaturas satildeo inferecircncias de significado
sendo que os nexos estatildeo no campo da semacircntica e as pressuposiccedilotildees e implicaturas estatildeo no
campo da pragmaacutetica
A partir deste ponto iremos descrever os nexos semacircnticos com exemplos mostrando
como essas relaccedilotildees funcionam e tambeacutem casos em que a interpretaccedilatildeo natildeo acontece da
maneira esperada Em relaccedilatildeo aos casos em que a interpretaccedilatildeo eacute prejudicada trataremos de
casos relacionados com a ambiguidade lexical mais especificamente com vagueza e casos
relacionados com a polissemia (desconsiderando seus limites com a homoniacutemia)
21 ACARRETAMENTO
Em linhas gerais o acarretamento ocorre quando a verdade de um conjunto de
sentenccedilas1 que nomearemos de A garante a verdade de outra sentenccedila que nomearemos de
B Dessa forma a verdade da primeira sentenccedila ou do conjunto delas autoriza a verdade de B
(CHIERCHIA 2003) O acarretamento eacute uma inferecircncia que os falantes estatildeo autorizados a
fazer e o que os autoriza eacute o conhecimento linguiacutestico Vamos observar o exemplo a seguir
1 Em nosso trabalho utilizaremos os termo ldquosentenccedilardquo e ldquoproposiccedilatildeordquo intercambiavelmente Alguns autores
definem os dois termos de formas distintas Por exemplo na semacircntica contemporacircnea de mundos possiacuteveis desenvolvida por autores como por exemplo Kripke e Lewis define-se proposiccedilatildeo como a classe de todos os mundos possiacuteveis nas quais ela eacute verdadeira Murcho (2006) apresenta dois exemplos para distinguir proposiccedilotildees e sentenccedilas ldquoSoacutecrates era um filoacutesofordquo e ldquoSocrates was a philosopherrdquo Murcho afirma que os dois exemplos satildeo duas sentenccedilas que exprimem uma uacutenica proposiccedilatildeo Outros como Mortari (2001) natildeo distinguem proposiccedilotildees e sentenccedilas
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(3) alsquo Neymar eacute brasileiro
a Neymar eacute um jogador de futebol
b Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro
Podemos observar no exemplo acima que a sentenccedila (3b) tem a sua verdade garantida
pela verdade de (3alsquo) e (3a) Sendo assim (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Podemos observar
no exemplo que o acarretamento eacute bastante claro pois as informaccedilotildees que estatildeo presentes em
(3b) satildeo a soma das informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) Eacute interessante destacar
que para que a sentenccedila (3b) constitua um acarretamento de (3alsquo) e (3a) natildeo precisamos
conhecer a pessoa Neymar nem sua nacionalidade eou profissatildeo Como as informaccedilotildees
estatildeo postas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) a verdade de (3b) eacute inevitaacutevel Mesmo que no mundo
real Neymar natildeo fosse jogador de futebol e natildeo fosse brasileiro isso em nada modificaria o
acarretamento pois dentro da relaccedilatildeo estabelecida entre (3alsquo) (3a) e (3b) as informaccedilotildees
contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Vejamos o exemplo a seguir
(4) alsquo Todos os sacis tecircm apenas uma perna
a Denis Diderot eacute um saci
b Denis Diderot tem apenas uma perna
Observando o exemplo acima identificamos que em relaccedilatildeo ao conhecimento de
mundo a sentenccedila (4alsquo) eacute verdadeira jaacute que no folclore admitimos como uma caracteriacutestica
dos sacis ter apenas uma perna A sentenccedila (4a) eacute falsa pois Denis Diderot foi um filoacutesofo e
escritor francecircs e natildeo um saci Por fim a sentenccedila (4b) tambeacutem eacute falsa em relaccedilatildeo ao nosso
conhecimento de mundo pois Denis Diderot possuiu durante toda a sua vida as duas pernas
Podemos entatildeo admitir que as sentenccedilas do conjunto (4) em relaccedilatildeo ao nosso conhecimento
de mundo satildeo falsas Mesmo assim o conjunto eacute um acarretamento Diferente do exemplo
(3) em que trouxemos sentenccedilas que constituiacuteam um acarretamento com informaccedilotildees
verdadeiras em relaccedilatildeo ao mundo o exemplo (4) mostra que a relaccedilatildeo semacircntica que estamos
discutindo independe da verdade das informaccedilotildees das sentenccedilas no mundo O que o
acarretamento faz eacute concatenar as sentenccedilas de uma forma que se as premissas forem
verdadeiras a conclusatildeo tambeacutem seraacute verdadeira O acarretamento depende exclusivamente
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da forma em que as sentenccedilas se apresentam Tendo em vista que a relaccedilatildeo depende apenas
da forma podemos representar o acarretamento da seguinte maneira como propotildee Soares
(2003)
Em liacutengua natural
Se estudar entatildeo serei aprovado (1ordf premissa)
Ora estudei (2ordf premissa)
Logo fui aprovado (Conclusatildeo)
E simbolizando2
a rarr b (1ordf premissa)
a (2ordf premissa)
b (Conclusatildeo)
Vale ressaltar que ao utilizarmos o termo ―sentenccedila estamos nos referindo ao que os
gramaacuteticos costumam chamar de oraccedilatildeo Tambeacutem eacute interessante mencionar que o
acarretamento eacute chamado de consequecircncia semacircntica Iremos utilizar como representaccedilatildeo das
premissas sentenccedilas do tipo (Xalsquo) e (Xa) e para a conclusatildeo sentenccedilas do tipo (Xb)
Podemos entender que o acarretamento eacute um tipo de relaccedilatildeo estabelecida entre
premissas e a consequecircncia de forma que a verdade das premissas determina a verdade da
consequecircncia Tambeacutem devemos entender que natildeo eacute possiacutevel que as premissas sejam
verdadeiras junto da negaccedilatildeo da conclusatildeo pelo fato de que dessa forma estaria
descaracterizada a relaccedilatildeo de acarretamento
Como ressaltamos acima os acarretamentos satildeo dependentes da forma ou seja da
relaccedilatildeo que as sentenccedilas possuem entre si e natildeo da verdade ou falsidade no mundo das
informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas Diante disso traremos agrave tona exemplos de sentenccedilas que
2 O siacutembolo ldquorarrrdquo na loacutegica claacutessica representa um condicional assunto de que trataremos no terceiro capiacutetulo
deste trabalho e o siacutembolo ldquordquo representa um acarretamento
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natildeo possuem relaccedilatildeo semacircntica mas atraveacutes da verdade ou falsidade das informaccedilotildees nas
sentenccedilas podem nos confundir e nos induzir ao erro Para tal raciociacutenio errocircneo damos o
nome de falaacutecias
Soares (2003) distingue trecircs caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias (i) satildeo
argumentos parecidos com argumentos vaacutelidos (ii) estabelecem entre premissas e conclusotildees
uma relevacircncia puramente psicoloacutegica que tatildeo-soacute se dirige agraves emoccedilotildees da pessoa sem que as
premissas sejam logicamente relevantes para extrair a conclusatildeo (iii) apresentam-se com
intenccedilatildeo enganadora para que o argumento ainda que invaacutelido seja de todas as maneiras
aceito por todos Vejamos a seguir exemplos de falaacutecias
(5) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher
a Dilma Rousseff eacute mulher
b Dilma Rousseff eacute a presidente do Brasil
A partir do nosso conhecimento de mundo poderiacuteamos dizer que a sentenccedila (5b) eacute
verdadeira Na sentenccedila (5alsquo) temos que A presidente do Brasil eacute mulher De fato tambeacutem se
formos utilizar nosso conhecimento de mundo intuitivamente diremos que esta sentenccedila estaacute
correta considerando a eacutepoca em que este trabalho foi escrito Seguindo temos a sentenccedila
(5a) com a informaccedilatildeo Dilma Rousseff eacute mulher Assim como as sentenccedilas (5alsquo) e (5a) a
partir de nosso conhecimento de mundo podemos afirmar que esta sentenccedila tambeacutem eacute
verdadeira mas devemos entender que eacute preciso considerar a relaccedilatildeo que as sentenccedilas
estabelecem entre si A sentenccedila (5alsquo) natildeo estabelece nenhuma relaccedilatildeo com a sentenccedila (5a)
para que (5b) seja um acarretamento Para mostrar de forma mais clara que o exemplo (5) natildeo
eacute um acarretamento vamos comparaacute-lo com o exemplo a seguir
(6) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher
a Michelle Bachelet eacute mulher
b Michelle Bachelet eacute a presidente do Brasil
Observamos que (6alsquo) e (6a) satildeo verdadeiras (no momento da redaccedilatildeo deste
trabalho) mas (6b) nos parece estranho Sabemos que Michelle Bachelet atualmente eacute
presidente do Chile Mas nada disso interfere para caracterizar um acarretamento e o exemplo
acima foi para deixar claro que a partir das relaccedilotildees semacircnticas dispostas entre os grupos de
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sentenccedilas (5) e (6) natildeo podemos considerar que haacute acarretamento pelo fato acima
mencionado
Ateacute o momento tratamos do conceito de acarretamento seguido de exemplos em
liacutengua natural sua representaccedilatildeo na loacutegica claacutessica e exemplos de falaacutecias A partir deste
ponto trataremos dos fatores que interferem nas relaccedilotildees semacircnticas de uma forma diferente
das falaacutecias A compreensatildeo dos tipos de interferecircncias a seguir seraacute importante para a anaacutelise
do corpus deste trabalho pois se trata de interferecircncias lexicais
No exemplo a seguir trataremos de um problema que pode invalidar relaccedilotildees
semacircnticas a polissemia Quando um termo adquire mais de um sentido aleacutem daquele que eacute
originalmente atribuiacutevel temos um caso de polissemia Crystal (1985) conceitua polissemia
da seguinte maneira
Polissemia termo usado na anaacutelise semacircntica para caracterizar um item lexical com
uma variedade de significaccedilotildees diferentes como manga = ―parte da camisa ―parte
do abajur etc Uma grande parte do vocabulaacuterio da liacutengua eacute polissecircmica ()
(Crystal 1985 p 202)
Tendo em vista que a polissemia eacute uma caracteriacutestica de um item lexical que possui
diversos significados para diversos contextos vamos observar o exemplo a seguir
(7) a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito
b Joatildeo morreu
A sentenccedila (7a) pode ser interpretada pelo menos de duas formas distintas pelo fato da
expressatildeo ―perdeu a cabeccedila ser polissecircmica Se interpretarmos a sentenccedila (7a) considerando
―perder a cabeccedila como ter a cabeccedila desprendida do corpo haacute acarretamento de (7a) para
(7b) Mas esta natildeo eacute a uacutenica interpretaccedilatildeo possiacutevel para a expressatildeo em questatildeo Se
interpretarmos ―perder a cabeccedila como perder a paciecircncia ficar furioso estressado ou algo
parecido a sentenccedila (7a) natildeo acarreta (7b) numa mesma situaccedilatildeo pois o fato de Joatildeo ter
perdido a paciecircncia natildeo garante que ele venha a morrer Dessa forma para natildeo ter problemas
com a polissemia eacute preciso assegurar que se convencione um sentido uacutenico para cada
premissa para desta forma haver um acarretamento
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Outro aspecto que eacute preciso ser mencionado eacute que (7) do jeito que se apresenta natildeo eacute
um acarretamento mesmo que perder a cabeccedila tenha o sentido de ter a cabeccedila desprendida do
corpo Isso se daacute porque (7) eacute um acarretamento incompleto ou seja um entimema
Argumento com uma premissa natildeo-formulada sem a qual ele natildeo eacute vaacutelido Chama-
se muitas vezes de premissa impliacutecitalsquo agrave premissa natildeo formulada Na argumentaccedilatildeo
cotidiana omitem-se premissas oacutebvias A premissa impliacutecita do argumento Antocircnio
deveria ser despedido porque roubou dinheiro puacuteblicolsquo eacute Todas as pessoas que
roubam dinheiro puacuteblico devem ser despedidaslsquo (BRANQUINHO MURCHO
GOMES 2006 p 298)
Vamos observar o exemplo (7) de uma forma que o entimema seria evitado
(8) alsquo Todas as pessoas que perdem a cabeccedila morrem
a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito
b Joatildeo morreu
Podemos constatar no exemplo acima que ao incluirmos a sentenccedila (8alsquo) que eacute a
sentenccedila geral que estava impliacutecita no exemplo (7) resolvemos o problema do entimema
completando assim a relaccedilatildeo de acarretamento de (8alsquo) e (8a) para (8b)
A partir de agora vamos tratar de outro tipo de interferecircncia em relaccedilotildees sentencias
que estaacute tambeacutem no campo do leacutexico a vagueza
A vagueza eacute assim como a polissemia um tipo de ocorrecircncia que dificulta a
interpretaccedilatildeo dos nexos entre sentenccedilas Podemos considerar que haacute vagueza em uma
sentenccedila quando observamos que uma palavra ou expressatildeo causa sentido incompleto
impedindo o entendimento da sentenccedila como um todo Branquinho Murcho e Gomes
conceituam a vagueza de seguinte maneira
As liacutenguas naturais contecircm palavras (tipicamente predicados denotando
propriedades ou relaccedilotildees) cujo domiacutenio de aplicaccedilatildeo eacute parcialmente indeterminado
isto eacute em relaccedilatildeo agraves quais os falantes competentes natildeo estatildeo certos em todos os
casos de que determinado objeto (ou par ordenado de objetos) pertence ao conjunto
denotado por elas (ou agrave relaccedilatildeo) (BRANQUINHO MURCHO GOMES 2006 p
805)
De uma forma geral Allan (2010) caracteriza a vagueza como um tipo particular de
incerteza sobre a aplicaccedilatildeo de um predicado Podemos considerar como um exemplo padratildeo
de predicado vago a classe de adjetivos graduaacuteveis como altura Se uma determinada pessoa
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natildeo eacute suficientemente alta para ser claramente alta e natildeo eacute suficiente baixa para ser
claramente baixa entatildeo aiacute temos um caso de vagueza
Os adjetivos vagos satildeo sempre utilizados em relaccedilatildeo a uma classe de comparaccedilatildeo no
dia-a-dia Estar acima do peso por exemplo pode variar a partir do grau de comparaccedilatildeo Para
uma top model estar acima do peso eacute visto de forma diferente do que para um lutador de
sumocirc por exemplo
Ainda em relaccedilatildeo ao conceito de vagueza Kempson (1977) propotildee que existem
quatro tipos inter-relacionaacuteveis de vagueza vagueza referencial indeterminaccedilatildeo de
significado falta de especificaccedilatildeo no significado de um item disjunccedilatildeo na especificaccedilatildeo do
significado de um item em que o significado abarca uma ou qualquer declaraccedilatildeo de diversas
possibilidades de interpretaccedilatildeo Dentre estes quatro tipos propostos por Kempson iremos nos
dedicar a observar os casos relacionados agrave vagueza referencial Tendo em vista os conceitos
acima vamos observar um exemplo em que a vagueza pode prejudicar a interpretaccedilatildeo de um
acarretamento
(9) a Tobias eacute um gecircnio no xadrez
b Tobias eacute um bom jogador de xadrez
No exemplo acima podemos observar os termos vagos ―gecircnio na sentenccedila (9a) e
―bom na sentenccedila (9b) Para haver a relaccedilatildeo de acarretamento temos que admitir para (9a) e
(9b) o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe Por exemplo haacute acarretamento entre as
sentenccedilas (9a) e (9b) se Tobias for um garoto de oito anos e diante seus colegas da escola ele
se destacar como um exiacutemio conhecedor das regras e teacutecnicas do jogo de xadrez Dessa
forma a sentenccedila ―Tobias eacute um gecircnio no xadrez acarretaria que ―Tobias eacute um bom jogador
de xadrez Jaacute se natildeo utilizarmos o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas
(9a) e (9b) como por exemplo se em (9a) Tobias for um garoto de oito anos que diante de
seus colegas da escola se destaca como um exiacutemio jogador de xadrez mas comparando-o
com os competidores da categoria secircnior do campeonato mundial de xadrez e a partir disso
afirmando (9b) natildeo poderiacuteamos acarretar que Tobias eacute um bom jogador de xadrez Dessa
forma pudemos observar que a presenccedila de termos vagos em sentenccedilas dificulta a
interpretaccedilatildeo dos acarretamentos A seguir observaremos outros nexos que se relacionam com
o acarretamento
42
22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA
Como discutimos anteriormente o acarretamento eacute uma relaccedilatildeo semacircntica que ocorre
em um uacutenico sentido ou seja das premissas para a conclusatildeo Quando uma conclusatildeo
acarreta as premissas chamamos essa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica
Para o termo ―equivalecircncia haacute diversas definiccedilotildees Segundo Branquinho Murcho e
Gomes (2006 p 281) podemos identificar dois sentidos distintos para este termo o primeiro
se refere ao que tratamos neste trabalho ou seja faz referecircncia a relaccedilatildeo entre as sentenccedilas de
certa liacutengua o segundo trata de determinados tipos de sentenccedilas declarativas agraves frases
bicondicionais ou declarativas Dentro desses dois sentidos diversos para o termo
―equivalecircncia no primeiro que eacute o que mais nos interessa os autores ainda distinguem trecircs
variedades centrais de equivalecircncia Satildeo elas equivalecircncia material equivalecircncia estrita e
equivalecircncia loacutegica
A equivalecircncia material eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q (por
exemplo) exatamente quando p e q possuem o mesmo valor de verdade ou seja quando ou
satildeo as duas verdadeiras juntas ou satildeo as duas falsas juntas
A equivalecircncia estrita eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q no caso em
que eacute necessaacuterio que p seja materialmente equivalente a q ou no caso de ser impossiacutevel tanto
que p seja verdadeira e q seja falsa quanto que p seja falsa e q seja verdadeira Branquinho
Murcho e Gomes (2006 p 281) afirmam que nesse caso diz-se que p eacute estritamente
equivalente a q
A equivalecircncia loacutegica eacute uma relaccedilatildeo que se estabelece entre duas sentenccedilas p e q
exatamente no caso de p e q serem duas sentenccedilas mutuamente dedutiacuteveis num dado sistema
loacutegico Diz-se nesse caso que p eacute logicamente equivalente a q
Em nosso trabalho iremos considerar para ―equivalecircncia o sentido apresentado por
Branquinho Murcho e Gomes (2006) para equivalecircncia material A partir deste conceito
vamos observar o exemplo a seguir
(10) a O gato matou o rato
b O rato foi morto pelo gato
Nas sentenccedilas acima podemos identificar uma relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica Eacute
impossiacutevel que o gato tenha matado o rato e que o rato natildeo tenha sido morto Claro que se
43
considerarmos que estamos tratando sobre o mesmo gato e o mesmo rato Dessa forma
sempre que (10a) for verdadeira (10b) tambeacutem teraacute de ser Tambeacutem podemos observar uma
relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica no exemplo (3) Utilizamos o exemplo (3) para mostrar
uma relaccedilatildeo de acarretamento que eacute efetiva mas tambeacutem haacute a relaccedilatildeo de equivalecircncia pois
as premissas ―Neymar eacute brasileiro e ―Neymar eacute um jogador de futebol acarretam que
―Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro da mesma forma que esta uacuteltima sentenccedila
acarreta as duas anteriores Tal exemplo reafirma o conceito descrito acima de que uma
equivalecircncia semacircntica eacute um acarretamento duplo
Assim como acontece no acarretamento a equivalecircncia semacircntica tem problemas com
a polissemia Vamos observar exemplo a seguir
(11) a O Brasil ganhou o jogo contra o Chile
b O Chile perdeu o jogo contra o Brasil
No exemplo acima vemos que a sentenccedila (11a) acarreta a sentenccedila (11b) ao mesmo
tempo em que a sentenccedila (11b) acarreta a sentenccedila (11a) Natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (11a)
seja verdadeira ao mesmo tempo em que a (11b) seja falsa Se uma das sentenccedilas eacute falsa e a
outra eacute verdadeira natildeo haacute acarretamento em nenhum dos dois ―sentidos (em relaccedilatildeo agrave
direccedilatildeo de (11a) para (11b) e de (11b) para (11a)) Natildeo podemos considerar que o Brasil
ganhou o jogo contra o Chile e que o Chile ganhou o jogo contra o Brasil pois sabemos que
em uma partida de futebol haacute apenas um ganhador Haacute a possibilidade de algueacutem querer ir
mais aleacutem e inferir que eacute possiacutevel que os dois times ganharam mas em jogos diferentes Se
considerarmos a situaccedilatildeo de que o Chile jaacute ganhou outros jogos contra o Brasil assim como
que o Brasil jaacute ganhou outros jogos contra o Chile a relaccedilatildeo de equivalecircncia seria possiacutevel
escolhendo qualquer outro jogo como referecircncia mas natildeo eacute o que nos interessa pois
devemos considerar apenas uma situaccedilatildeo para as duas sentenccedilas
A partir deste ponto iremos tratar sobre como a polissemia pode interferir na
interpretaccedilatildeo numa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica da mesma forma que mostramos
anteriormente nas relaccedilotildees de acarretamento Vejamos o proacuteximo exemplo
44
(12) a A lagosta estaacute mais salgada que o peixe
b O peixe estaacute menos salgado que a lagosta
Podemos observar que as sentenccedilas (12a) e (12b) satildeo equivalentes pelo fato de que
natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12a) seja verdadeira e a sentenccedila (12b) seja falsa assim como
natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12b) seja verdadeira e a sentenccedila (12a) seja falsa Poreacutem se
passarmos a admitir significados diferentes para expressotildees empregadas nas sentenccedilas por
exemplo para a palavra ―salgado encontraremos problemas Se admitirmos que sentenccedila
(12a) o conceito de ―salgado eacute de o alimento estar impregnado de sal salpicado de sal ou
com gosto de sal e se este conceito for tambeacutem considerado para a sentenccedila (12b) haacute
equivalecircncia semacircntica Mas tambeacutem podemos interpretar o termo ―salgado como uma
expressatildeo para se referir ao preccedilo alto do produto no mercado Soacute haacute equivalecircncia semacircntica
se admitirmos o mesmo conceito para ―salgado em ambas as sentenccedilas ou seja se
considerarmos o significado de ―salgado como sendo impregnado de sal para a sentenccedila
(12a) ou em (12b) como sendo relativo ao valor alto no mercado natildeo haacute equivalecircncia
semacircntica entre (12a) e (12b)
No proacuteximo exemplo trataremos de outro tipo de ocorrecircncia que dificulta a
interpretaccedilatildeo de nexos a vagueza Como jaacute apresentamos a definiccedilatildeo de vagueza na seccedilatildeo
anterior partiremos direto para o exemplo em que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo de uma
equivalecircncia semacircntica
(13) a Goacutergias eacute mais saacutebio que Hiacutepias
b Hiacutepias eacute menos saacutebio que Goacutergias
Na relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) haacute equivalecircncia semacircntica mas podemos identificar
que nas duas sentenccedilas foram utilizados termos vagos que tornam a interpretaccedilatildeo dificultosa
Em (13a) haacute o uso dos termos ―mais e ―saacutebio assim como em (13b) haacute o uso dos termos
―menos e ―saacutebio Esses termos satildeo vagos e dificultam a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo semacircntica
entre as sentenccedilas O que dificulta a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) eacute o fato de
que termos como ―mais e ―menos assim como ―saacutebio possuem significados diferentes de
acordo com as situaccedilotildees em que satildeo utilizadas Ou seja eacute necessaacuterio que admitamos o
45
mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas (13a) e (13b) Dessa forma haveraacute a
relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica
A seguir trataremos sobre outro tipo de relaccedilatildeo semacircntica entre sentenccedilas a
contraditoriedade
23 CONTRADITORIEDADE
Diferente da relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica que consiste em sentenccedilas que satildeo
verdadeiras juntas ou falsas juntas as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias quando uma eacute oposta da
outra tipicamente quando uma sentenccedila B eacute a negaccedilatildeo de uma sentenccedila A Sobre a relaccedilatildeo de
contraditoriedade Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 229) afirmam que ―obteacutem-se a
contraditoacuteria de qualquer proposiccedilatildeo p prefixando-lhe o operador de negaccedilatildeo de modo a
obter notp3 Com base no conceito de contraditoriedade exposto vamos observar o exemplo a
seguir
(14) a O Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016
b O Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016
Podemos observar no exemplo acima que se a sentenccedila (14a) for verdadeira
obrigatoriamente a sentenccedila (14b) tem que ser falsa Se a informaccedilatildeo da sentenccedila (14a) que
diz que o Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas for verdadeira a informaccedilatildeo da sentenccedila
(14b) que diz que o Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas natildeo pode ser verdadeira
Em relaccedilotildees de contraditoriedade o uso de uma afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo eacute algo
tiacutepico mas natildeo determinante No exemplo (14) pudemos observar a relaccedilatildeo de
contraditoriedade caracterizada pelo uso da negaccedilatildeo mas tambeacutem podemos encontrar esse
tipo de relaccedilatildeo sem tal uso Vejamos a seguir
3 O siacutembolo not na loacutegica claacutessica eacute a representaccedilatildeo do operador de negaccedilatildeo ldquonatildeordquo
46
(15) a Mecircnon estaacute acordado
b Mecircnon estaacute dormindo
A partir das sentenccedilas acima podemos ver que a relaccedilatildeo entre estas sentenccedilas eacute de
contraditoriedade pois se a sentenccedila (15a) for verdadeira a sentenccedila (15b) tem que ser falsa
da mesma forma que se a sentenccedila (15b) for verdadeira a sentenccedila (15a) deveraacute ser falsa
Natildeo eacute possiacutevel que Mecircnon esteja acordado e dormindo ao mesmo tempo claro que
considerando o mesmo sentido para as palavras ―acordado e ―dormindo nas duas sentenccedilas
e em relaccedilatildeo ao mesmo Mecircnon
Assim como as demais relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos anteriormente a
contraditoriedade tambeacutem eacute sensiacutevel agrave polissemia Vamos observar como a polissemia se
apresenta no exemplo a seguir
(14) a A minha gata estaacute acordada
b A minha gata estaacute dormindo
No exemplo acima natildeo encontramos apenas a relaccedilatildeo de contraditoriedade sem
utilizaccedilatildeo da negaccedilatildeo mas tambeacutem um problema de polissemia que pode anular a relaccedilatildeo de
contraditoriedade Se numa determinada situaccedilatildeo escrevendo este texto me viro na cadeira e
vejo em cima de minha cama o meu animal de estimaccedilatildeo deitado olhando para mim e com
isso afirmo ―a minha gata estaacute acordada como na sentenccedila (14a) natildeo posso considerar
verdadeira a sentenccedila (14b) pois natildeo se pode estar dormindo e estar acordado ao mesmo
tempo tomando as definiccedilotildees de ―estar acordado e ―estar dormindo como oposiccedilotildees A
partir disso as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias Se em outra situaccedilatildeo me viro na cadeira e vejo
minha esposa deitada na cama dormindo e afirmo ―a minha gata estaacute dormindo como na
sentenccedila (14b) ela natildeo pode ser verdadeira ao mesmo tempo em que a sentenccedila (14a) pois
minha esposa natildeo poderia estar acordada e dormindo ao mesmo tempo Ateacute o momento
pudemos atribuir dois sentidos diferentes para o termo ―gata Se considerarmos para a
sentenccedila (14a) o sentido de que o meu animal de estimaccedilatildeo estaacute acordado e para a sentenccedila
(14b) o sentido de que a minha esposa estaacute dormindo essas sentenccedilas natildeo satildeo contraditoacuterias
No exemplo acima percebemos portanto dois aspectos da contradiccedilatildeo em sentenccedilas de uma
liacutengua natural como o portuguecircs Primeiro que natildeo haacute a obrigatoriedade de ter a negaccedilatildeo de
47
uma sentenccedila para que a relaccedilatildeo de contraditoriedade exista e segundo que a polissemia
pode tornar problemaacutetica essa relaccedilatildeo
Podemos considerar uma relaccedilatildeo de contraditoriedade entre sentenccedilas sempre que A eacute
verdadeira B eacute falsa e sempre que a sentenccedila B eacute verdadeira A eacute falsa Ou seja as sentenccedilas
A e B nunca podem ser verdadeiras ou falsas juntas
O exemplo de contraditoriedade que mostramos anteriormente foi relacionando duas
sentenccedilas mas podemos encontrar a relaccedilatildeo de contraditoriedade dentro de uma sentenccedila
apenas Vamos observar o exemplo a seguir
(15) Herbert Vianna eacute cantor e natildeo eacute cantor
Se afirmamos que uma pessoa eacute e natildeo eacute cantora constatamos uma contraditoriedade
nesta sentenccedila Em (15) encontramos a apresentaccedilatildeo de um argumento e a negaccedilatildeo do mesmo
argumento em seguida Uma sentenccedila com esta forma natildeo pode ser verdadeira Se
consideramos numa mesma situaccedilatildeo que Herbert Vianna eacute cantor e em seguida afirmo que
Herbert Vianna natildeo eacute cantor esta sentenccedila eacute contraditoacuteria
Se partirmos para determinar sentidos diferentes para o termo ―cantor como por
exemplo que Herbert Vianna eacute um cantor pelo simples fato de que ele emite pelas cordas
vocais sons musicais que ―cantor eacute um termo que soacute pode ser utilizado para os profissionais
que trabalham com a voz na muacutesica ou que ―cantor se jaacute um termo utilizado para designar
algueacutem que canta muito bem natildeo haacute contraditoriedade efetivamente Mas se mantivermos o
mesmo sentido para o termo haveraacute relaccedilatildeo de contraditoriedade
Da mesma forma que a polissemia dificulta a interpretaccedilatildeo de nexos entre sentenccedilas
vamos observar um exemplo em que a vagueza ndash toacutepico que desenvolvemos na primeira
seccedilatildeo deste capiacutetulo - invalida uma relaccedilatildeo de contraditoriedade
(16) a O professor de loacutegica eacute muito alto
b O professor de loacutegica natildeo eacute muito alto
Na relaccedilatildeo entre (16a) e (16b) seguindo o conceito contraditoriedade haacute uma relaccedilatildeo
de contradiccedilatildeo entre as duas sentenccedilas poreacutem podemos identificar termos vagos nas duas
sentenccedilas o que pode dificultar a interpretaccedilatildeo Na sentenccedila (16a) e na sentenccedila (16b)
48
identificamos dois termos vagos que satildeo ―muito e ―alto Eacute possiacutevel considerar as duas
sentenccedilas como falsas ou verdadeiras juntas invalidando a contraditoriedade pois os termos
―muito e ―alto satildeo variaacuteveis de acordo com o grau de comparaccedilatildeo adotado Por exemplo
em (16a) o professor de loacutegica pode ser considerado muito alto em comparaccedilatildeo agraves crianccedilas
para quem ele leciona poreacutem se compararmos o professor de loacutegica da sentenccedila (16a) com os
outros professores do departamento talvez o professor fosse considerado baixo Desta forma
podemos observar que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo das duas sentenccedilas
A seguir traremos o uacuteltimo nexo semacircntico que utilizaremos em nosso trabalho Este
tipo de relaccedilatildeo eacute um pouco parecido com a contraditoriedade
24 CONTRARIEDADE
A contrariedade ocorre quando duas sentenccedilas podem ser falsas juntas mas natildeo
podem ser verdadeiras juntas Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 234) definem
contrariedade da seguinte forma ―duas proposiccedilotildees satildeo contraacuterias se natildeo podem ser ambas
verdadeiras mas podem ser ambas falsas distinguindo-se assim das contraditoacuterias que natildeo
podem ser ambas verdadeiras nem ambas falsas e das subcontraacuterias que natildeo podem ser
ambas falsas mas podem ser ambas verdadeiras
Eacute importante enfatizar que mesmo estando tratanto dos nexos semacircnticos e sua
aplicaccedilatildeo em liacutengua natural os conceitos de sentenccedilas contraacuterias contraditoacuterias
equivalecircncias e acarretamentos tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica As relaccedilotildees de sentenccedilas
contraacuterias e contraditoacuterias satildeo tratadas por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado
atraveacutes de seu quadrado loacutegico ou taacutebua de oposiccedilotildees No Perieacutermeneas (1985) mais
especificamente nos capiacutetulos 6 e 7 Aristoacuteteles nos apresenta os conceitos de sentenccedilas
contraacuterias e contraditoacuterias afirmando que duas sentenccedilas satildeo contraacuterias quando natildeo podem
ser verdadeiras juntas ao mesmo tempo mas podem ser falsas juntas ao mesmo tempo Jaacute em
relaccedilatildeo agraves contraditoacuterias Aristoacuteteles propotildee que toda afirmaccedilatildeo possui sua exata negaccedilatildeo
correspondente e que toda afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo sem opotildeem sendo uma sempre
verdadeira e a outra sempre falsa Dessa forma para Aristoacuteteles um par formado por uma
afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo corresponde a uma contradiccedilatildeo
A partir do conceito de contrariedade vamos observar o exemplo a seguir Nele
encontraremos um caso de polissemia
49
(17) a A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 20 de agosto de 1914
b A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 18 de julho de 1921
Se admitirmos que a seleccedilatildeo brasileira de futebol sobre a qual estamos falando na
sentenccedila (17a) eacute a mesma seleccedilatildeo que estamos falando na sentenccedila (17b) natildeo eacute possiacutevel que
a sentenccedila (17b) seja verdadeira pois algo natildeo pode ser fundado efetivamente em dois
momentos distintos Haacute a possibilidade de se afirmar que estamos falando de duas seleccedilotildees
brasileiras de futebol diferentes pois para ―seleccedilatildeo brasileira haacute diversos significados
aplicaacuteveis ou seja a expressatildeo ―seleccedilatildeo brasileira eacute polissecircmica Por exemplo podemos
definir uma seleccedilatildeo como sendo de futebol de campo e a outra de futebol de salatildeo A partir
dessa interpretaccedilatildeo as duas sentenccedilas poderiam ser verdadeiras juntas e com isso natildeo
haveria contrariedade Mas como devemos admitir apenas uma situaccedilatildeo para as duas
sentenccedilas (17a) e (17b) natildeo podem ser verdadeiras juntas mas podem ser falsas juntas
constituindo uma relaccedilatildeo de contrariedade Eacute possiacutevel que a seleccedilatildeo brasileira de futebol natildeo
tenha sido formada nem em 20 de agosto de 1914 e nem em 18 de julho de 1921 Em
contrapartida numa interpretaccedilatildeo usual a seleccedilatildeo de futebol de um paiacutes eacute formada pela
primeira vez uma soacute vez Algueacutem pode querer ir aleacutem e afirmar que foram empregados
sentidos diferentes para a expressatildeo ―foi formada nas sentenccedilas em questatildeo Poderia dizer
que na sentenccedila (17a) o sentido foi de que a seleccedilatildeo se reuniu pela primeira vez para jogarem
juntos de forma extraoficial e que na sentenccedila (17b) o sentido foi de que a seleccedilatildeo
efetivamente foi documentalmente formada Se admitiacutessemos essas interpretaccedilotildees as
sentenccedilas (17a) e (17b) poderiam ser verdadeiras juntas o que descaracterizaria a relaccedilatildeo de
contrariedade entre as sentenccedilas Assim como o fato de que se a sentenccedila (17a) for falsa a
sentenccedila (17b) pode ser verdadeira ou falsa A falsidade da sentenccedila (17a) natildeo assegura a
verdade da sentenccedila (17b) Podemos entender dessa forma que a polissemia afeta a
interpretaccedilatildeo do nexo
Vamos observar mais um exemplo desta relaccedilatildeo
(18) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado do Acre
b A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado de Santa Catarina
50
Se considerarmos a sentenccedila (18a) verdadeira ou seja que a reitoria da UNISUL estaacute
localizada no estado do Acre e tambeacutem levando em conta que a UNISUL eacute uma universidade
que tem uma reitoria e que a reitoria de uma universidade soacute pode estar numa cidade a
sentenccedila (18b) deveraacute ser falsa A sentenccedila (18a) eacute falsa e a sentenccedila (18b) eacute verdadeira e as
duas estabelecem uma relaccedilatildeo de contrariedade A reitoria da UNISUL estaacute localizada no
estado de Santa Catarina e natildeo no estado do Acre A partir desse exemplo e da convenccedilatildeo que
admitimos para ele pudemos observar que se uma sentenccedila A for falsa uma sentenccedila B pode
ser falsa ou verdadeira natildeo podendo ser as duas verdadeiras juntas apenas falsas Ilustrando
mais uma vez veja a relaccedilatildeo a seguir
(19) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Paris
b A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Roma
No exemplo acima podemos afirmar que as sentenccedilas (19a) e (19b) podem ser falsas
pois como jaacute citamos no paraacutegrafo anterior a reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado
de Santa Catarina Dessa forma haacute relaccedilatildeo de contrariedade as duas sentenccedilas satildeo falsas
Jaacute tratamos de exemplos da relaccedilatildeo de contrariedade com problemas de polissemia
mas podemos tambeacutem identificar problemas de validade dos nexos por causa da vagueza A
seguir observe o exemplo
(20) a Este cafeacute estaacute forte
b Este cafeacute estaacute aguado
Observando as sentenccedilas acima identificamos que (20a) e (20b) possuem termos
vagos que podem dificultar a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre as sentenccedilas Em (20a) foi usado
o termo ―forte e em (20b) foi usado o termo ―aguado Como nas outras relaccedilotildees que
apresentamos anteriormente esses termos satildeo vagos pois dependendo da classe de
comparaccedilatildeo em que satildeo apresentados eles podem mudar de sentido Eacute possiacutevel que numa
determinada situaccedilatildeo consideremos que um cafeacute pode natildeo estar nem forte nem fraco
autorizando a possibilidade de (20a) e (20b) serem as duas falsas ao mesmo tempo
descaracterizando a relaccedilatildeo de contrariedade Dessa forma podemos observar que os termos
51
vagos dificultam a interpretaccedilatildeo das sentenccedilas consequentemente da relaccedilatildeo que as
sentenccedilas estabelecem entre si Concluindo a exposiccedilatildeo dos nexos que nos interessam neste
trabalho apresentaremos a seguir a justificativa de nosso percurso sobre estas relaccedilotildees
semacircnticas e os tipos de ocorrecircncias que podem dificultar a interpretaccedilatildeo destas
25 JUSTIFICANDO O PERCURSO
Neste capiacutetulo apresentamos inicialmente os conceitos de semacircntica e pragmaacutetica
com o objetivo de mostrar que os nexos semacircnticos que tratamos em nosso trabalho
(acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e contrariedade) satildeo tipos de
inferecircncias que pertencem ao campo da semacircntica Para isso tambeacutem apresentamos duas
inferecircncias que pertencem ao campo da pragmaacutetica (pressuposiccedilatildeo e implicatura)
Na exposiccedilatildeo de cada nexo trouxemos os conceitos seguidos de exemplos em que a
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees semacircnticas eacute clara Em seguida apresentamos exemplos de nexos
com dois tipos de ocorrecircncias que no campo do leacutexico dificultam a interpretaccedilatildeo das
relaccedilotildees semacircnticas a polissemia e a vagueza
Pode parecer confuso a princiacutepio o fato de tratarmos de tipos de inferecircncia que
dependem da forma para se concretizarem (os nexos semacircnticos) relacionando-as com
ocorrecircncias que dificultam o entendimento do conteuacutedo das sentenccedilas (a polissemia e a
vagueza) A confusatildeo se apresenta caso natildeo lembremos que estamos tratando das relaccedilotildees de
inferecircncias em liacutengua natural e natildeo numa liacutengua controlada como num sistema loacutegico por
exemplo
Quando afirmamos que as relaccedilotildees entre sentenccedilas que tratamos em nosso trabalho
dependem da forma falamos de uma ―dessemantificaccedilatildeo ou seja a existecircncia dos nexos vai
depender unicamente da semacircntica dos quantificadores e conectivos (e ou se) Os nexos natildeo
dependem da semacircntica restante do material linguiacutestico exposto na sentenccedila A semacircntica dos
conectivos e quantificadores numa linguagem formal eacute mantida estaacutevel por definiccedilatildeo Na
linguagem natural podemos observar que os tipos de ocorrecircncia que dificultam a
interpretaccedilatildeo dos nexos se fazem presentes justamente no restante do material linguiacutestico da
sentenccedila ou seja para aleacutem da estrutura da sentenccedila que eacute composta pelos quantificadores e
demais conectivos
52
A polissemia e a vagueza satildeo ocorrecircncias tiacutepicas de liacutengua natural e dessa forma
somos obrigados a admitir que ao nos depararmos com qualquer gecircnero textual (que
obviamente estaacute no campo das liacutenguas naturais) numa anaacutelise devemos considerar que o
significado das palavras vai naturalmente interferir nas relaccedilotildees semacircnticas Tambeacutem na
exposiccedilatildeo de tipos de ocorrecircncias que interferem nos nexos semacircnticos tratamos de falaacutecias
que satildeo argumentos invaacutelidos apresentados como vaacutelidos explorando justamente a
interpretaccedilatildeo do conteuacutedo das sentenccedilas
A partir dos nexos semacircnticos que tratamos neste capiacutetulo junto com os tipos de
inferecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees no capiacutetulo seguinte
apresentaremos a anaacutelise de certificados de garantia Como o nosso objetivo eacute analisar quais
satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados nos certificados para restringir possibilidades de
interpretaccedilatildeo decidimos realizar a anaacutelise de ocorrecircncias com conectivos e quantificadores
Consideramos pertinente a escolha desse tipo de anaacutelise pois entendemos que os
quantificadores como o ―todo satildeo tradicionalmente apresentados em relaccedilotildees semacircnticas de
restriccedilatildeo ou abrangecircncia assim como o condicional ―se ou ―somente se e o ―apenas e
―somente A partir desse raciociacutenio acreditamos que esta seria a forma mais correta para
identificarmos ocorrecircncias do tipo que precisamos para a realizaccedilatildeo de nossa anaacutelise Os
nexos semacircnticos natildeo satildeo propiacutecios para as liacutenguas naturais pois natildeo se apresentam de forma
controlada Ocorrecircncias lexicais como as que descrevemos anteriormente podem dificultar a
interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees e isso eacute algo que trataremos nas anaacutelises
Eacute nesta perspectiva que observaremos no capiacutetulo seguinte as anaacutelises de vinte e dois
certificados de garantia nos quais natildeo buscaremos relaccedilotildees bem marcadas e controladas entre
sentenccedilas pois natildeo encontrariacuteamos facilmente mas sim quais satildeo os recursos linguiacutesticos
utilizados pelos autores dos textos para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo
admitindo tambeacutem obviamente os nexos semacircnticos como possiacuteveis recursos
53
3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA
Os certificados de garantia satildeo textos muito presentes em nosso cotidiano e muitas das
vezes noacutes natildeo levamos em conta a sua importacircncia tanto por serem documentos que podem
resguardar nossos direitos sobre um determinado produto quanto pelo fato de natildeo sermos
treinados para ler e interpretar devidamente as informaccedilotildees dispostas nos textos Dessa
forma justificamos a escolha de tal gecircnero para analisarmos em nossa pesquisa Ateacute este
momento de nosso trabalho seguimos o seguinte percurso
1) Mostramos no primeiro capiacutetulo que na elaboraccedilatildeo de certificados de garantia o
autor deve se preocupar em construir o texto buscando restringir ao maacuteximo as
possibilidades de interpretaccedilatildeo para que ele se torne mais eficiente em passar as
informaccedilotildees desejadas e para evitar problemas de interpretaccedilatildeo por parte dos
clientes
2) Tendo em vista que os certificados de garantia satildeo textos instrucionais ou seja
que direcionam a leitura para um fim especiacutefico nossa anaacutelise tem por objetivo
verificar quais satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores destes textos
para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo e para alcanccedilar este objetivo nos
utilizaremos da teoria dos nexos semacircnticos apresentada no segundo capiacutetulo
Como anunciado na introduccedilatildeo o corpus dessa pesquisa eacute formado por 22
certificados de garantia de produtos de diversos segmentos Ele foi coletado utilizando a
internet e natildeo teve um meacutetodo definido de categorizaccedilatildeo na escolha dos textos Decidimos
escolher certificados de diversos segmentos para natildeo obtermos uma anaacutelise viciada e tambeacutem
para obtermos um panorama da estrutura textual
Como analisaremos os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores dos certificados
de garantia para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo elegemos trecircs categorias de
termos a serem analisadas quantificadores universais condicionais e uso do apenassomente
A escolha dessas categorias se deve ao fato delas possuiacuterem tradicionalmente funccedilotildees de
restriccedilatildeo ou abrangecircncia em inferecircncias
Assim como na loacutegica de predicados a silogiacutestica se caracteriza pelo uso dependente
em argumentos dos quantificadores ―alguns e ―todos Nomeamos de quantificador
existencial ou particular aqueles referentes a ―alguns e nomeamos de quantificador universal
aqueles referentes a ―todos (MURCHO 2006) Utilizaremos em nossa pesquisa agraves
ocorrecircncias com quantificadores do segundo tipo Vejamos um exemplo ilustrativo
54
(21) TODO produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia
Possivelmente natildeo encontraremos em nossa anaacutelise nenhuma sentenccedila como esta pois
vemos que o quantificador universal destacado em letras maiuacutesculas abrange totalmente a
possibilidade de cobertura da garantia de um produto Da forma que estaacute expressa se compro
uma TV por exemplo e a mergulho na aacutegua causando defeito poderei receber outra nova do
fabricante pois ―todo produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia
Sobre os condicionais trataremos a anaacutelise na mesma linha de raciociacutenio pois eles
satildeo utilizados em proposiccedilotildees do tipo ―se X entatildeo Y oportunizando abrangecircncia ou
restriccedilatildeo de possibilidades de interpretaccedilatildeo como podemos ver ilustrado no exemplo a
seguir
(22) SE o produto apresentar defeito seraacute reparado gratuitamente
Da mesma forma como mostramos no exemplo anterior provavelmente natildeo
encontraremos sentenccedilas tatildeo abrangentes em nosso corpus como esta pois da forma como
estaacute posta ampliaria muito a possibilidade de cobertura da garantia de um produto Podemos
interpretar a partir da leitura da sentenccedila acima que o reparo do produto seraacute efetuado caso o
produto apresente qualquer defeito por qualquer motivo durante qualquer periacuteodo de tempo
sendo utilizado por qualquer pessoa e em qualquer circunstacircncia entre outras possibilidades
Para reparar tamanha abrangecircncia os autores dos textos podem utilizar listas exaustivas com
detalhes especiacuteficos apoacutes a apresentaccedilatildeo dos condicionais para direcionar efetivamente a
cobertura da garantia
Por fim em relaccedilatildeo ao uso dos termos ―apenas e ―somente analisaremos os termos
nos contextos que os autores buscam restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos textos
Vejamos o exemplo a seguir
(22) Estaratildeo cobertos pela garantia APENAS os produtos que natildeo estatildeo em
promoccedilatildeo
55
No exemplo acima tambeacutem inventado vemos que o ―apenas aparece como um
restritor da garantia deixando claro que soacute os produtos que foram adquiridos pelos preccedilos
normais ou seja fora da promoccedilatildeo estaratildeo cobertos pela garantia Dessa forma produtos em
promoccedilatildeo ficam descobertos
Com os conceitos sobre as categorias de anaacutelise dispostos acima apresentaremos a
seguir a anaacutelise dos trechos coletados em nosso corpus separada por tipos de ocorrecircncia
Iremos observar como se apresentam os quantificadores condicionais ocorrecircncias com o
apenassomente assim como observaremos os tipos de ocorrecircncias no campo do leacutexico que
dificultam a interpretaccedilatildeo dos trechos (polissemia e vagueza)
31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL
Vejamos a seguir as ocorrecircncias4 em que o quantificador universal eacute utilizado
5
(1) Este produto e as peccedilas substituiacutedas seratildeo garantidos pelo restante do
prazo original TODAS as peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades
da SAMSUNG
Podemos observar na ocorrecircncia acima que o fabricante utiliza o quantificador para
fazer com que o leitor infera que absolutamente todas as peccedilas que forem substituiacutedas na
assistecircncia a algum aparelho defeituoso se tornaratildeo propriedade da fabricante Dessa forma o
cliente natildeo poderaacute em hipoacutetese alguma ficar com a peccedila trocada
Percebemos no trecho acima que o quantificador universal ―todas poderia ser
excluiacutedo da sentenccedila e com isso em nada alteraria o sentido da sentenccedila Forccedilando uma
possiacutevel interpretaccedilatildeo da sentenccedila o leitor poderia afirmar que se a sentenccedila fosse disposta
da seguinte maneira ―As peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades da SAMSUNG
poderia existir uma classe de peccedilas eletrocircnicas de produtos SAMSUNG que
4 Utilizaremos o termo ldquoocorrecircnciardquo tanto para se referir ao trecho completo do corpus quanto para a
sentenccedila em que o conectivo grifado se apresenta Natildeo faremos distinccedilatildeo para este uso 5 Para a exibiccedilatildeo das ocorrecircncias do nosso corpus reiniciaremos a numeraccedilatildeo natildeo seguindo a contagem
realizada para os exemplos dos capiacutetulos anteriores
56
tradicionalmente fossem substituiacutedas em manutenccedilotildees mas natildeo recolhidas pelo fabricante
Dessa forma o quantificador universal ―todas se mostraria como a soluccedilatildeo para esse
problema de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos
na ocorrecircncia6 (1)
(2) Esta garantia substitui TODAS as outras garantias expressas ou
taacutecitas incluindo sem limitaccedilatildeo garantias taacutecitas de comercializaccedilatildeo
e adequaccedilatildeo a um fim especiacutefico
(Certificado 1)
Nesta ocorrecircncia o fabricante utiliza o quantificador para abranger ao maacuteximo seu
texto no intuito de inferir que a garantia em anaacutelise se sobrepotildee a qualquer outro tipo de
garantia oferecida ao cliente
Podemos observar que se o quantificador universal ―todas natildeo fosse utilizado o
sentido da sentenccedila permaneceria o mesmo Se tiveacutessemos encontrado a sentenccedila da forma
―Esta garantia substitui as outras garantias o cliente iria interpretar a sentenccedila sem
dificuldades O uso do quantificador aparece como um termo para dar ecircnfase ao que jaacute estaacute
dito na sentenccedila acima Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos na
ocorrecircncia (2)
(3) TODO atendimento de reparo deve ser precedido de ligaccedilatildeo
telefocircnica ao Suporte Teacutecnico Telefocircnico da AOC (0800-10-9539)
para que seja feita uma avaliaccedilatildeo preacutevia do problema a fim de
constatar a existecircncia de defeito ou viacutecio do produto esgotando-se
TODAS as possibilidades de se tratar de uma falha de operaccedilatildeo ou
uso do produto por parte do consumidor
(Certificado 4)
No trecho acima podemos observar que na primeira ocorrecircncia do quantificador o
fabricante utiliza-o para inferir que o cliente em qualquer caso de submissatildeo do aparelho agrave
assistecircncia deve entrar em contato com o suporte teacutecnico telefocircnico da empresa e ainda
6 Decidimos pontuar no final de cada anaacutelise o fato de haver ou natildeo termos polissecircmicos ou vagos nas
ocorrecircncias porque consideramos estes tipos de ocorrecircncias como sendo os principais meios de dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos instrucionais Ao anunciar que natildeo haacute termos dessas categorias em cada anaacutelise por mais que se mostre repetitivo na leitura ao mesmo tempo invoca a importacircncia (e necessidade segundo nossa perspectiva) que depositamos nesses fatos em cada ocorrecircncia
57
reforccedila utilizando outra vez o quantificador ―todas inferindo que o produto soacute iraacute para a
assistecircncia efetivamente caso natildeo haja mais nenhuma possibilidade de resoluccedilatildeo do problema
atraveacutes do contato telefocircnico Ao utilizar esse reforccedilo o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo ao
fato de que por exemplo o problema possa ser resolvido atraveacutes de instruccedilotildees passadas pela
empresa via telefone ao cliente e o cliente natildeo aceitar e exigir que o produto seja reparado
somente na assistecircncia teacutecnica ou simplesmente para evitar que a assistecircncia teacutecnica receba
algum produto que natildeo estaacute defeituoso ou viciado
Diferente da ocorrecircncia (2) o uso do quantificador universal ―todo se faz necessaacuterio
para evitar que o cliente interprete a sentenccedila de uma forma indesejada por parte do
fabricante Por exemplo caso o autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todo na
primeira parte ―Todo atendimento de reparo deve o cliente poderia interpretar que ele
poderia obter atendimento de reparo sem passar pelo contato telefocircnico com o suporte teacutecnico
do fabricante Na utilizaccedilatildeo do quantificador universal ―todas no final da sentenccedila tambeacutem
observamos que se o autor do texto natildeo utilizasse esta estrateacutegia tambeacutem possibilitaria que o
texto fosse interpretado de outra maneira Se o cliente se deparasse com a sentenccedila
―esgotando-se as possibilidades de se tratar de uma falha poderia interpretar que se para
algum tipo de falha de operaccedilatildeo ou seja de utilizaccedilatildeo do produto haveria a possibilidade de
enviar o produto para assistecircncia teacutecnica Como o autor utilizou o quantificador nas duas
passagens que citamos ele direcionou a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha
duacutevidas sobre aquilo que o fabricante deseja expressar
Sobre tipos de ocorrecircncia que dificultam a interpretaccedilatildeo do texto pudemos identificar
a expressatildeo ―viacutecio do produto Esta expressatildeo eacute muito especiacutefica e estaacute presente no Coacutedigo
de defesa do consumidor Segundo Bruno Miragem (2008) ―Viacutecio do produto ou do serviccedilo
abrange o efeito decorrente da violaccedilatildeo aos deveres de qualidade quantidade ou informaccedilatildeo
impedindo com isso que o produto ou serviccedilo atenda aos fins que legitimamente dele se
esperam (dever da adequaccedilatildeo) O autor do certificado natildeo disponibilizou nenhum conceito
para a expressatildeo ―viacutecio do produto apresentando desta forma uma dificuldade a mais para
a interpretaccedilatildeo do texto por parte do cliente Caso o autor tenha elaborado o texto
considerando por exemplo que qualquer pessoa que leia um certificado de garantia deve ser
conhecedor de todos os termos e expressotildees descritas no CDC (a partir desse ponto iremos
utilizar esta sigla para ―coacutedigo de defesa do consumidor) natildeo haveria problema em
simplesmente usar o termo sem conceituar mas isso natildeo eacute pertinente Para evitar que esta
expressatildeo natildeo fosse polissecircmica o autor deveria ter elaborado um mini-glossaacuterio com os
termos que seriam usuais no texto e que possuem um sentido especiacutefico no ramo em que o
58
produto estaacute inserido (por exemplo peccedilas de carros ou peccedilas eletrocircnicas) e no CDC7
(4) A Garantia do Produto oferecida por este Termo abrange TODOS os
defeitos de material ou de fabricaccedilatildeo do aparelho constatados pela
Robert Bosch Ltda bem como a substituiccedilatildeo das peccedilas que
apresentarem viacutecios aleacutem da matildeo-de-obra utilizada no respectivo
reparo
(Certificado 8)
No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador ―todos para assegurar ao cliente
que em qualquer caso em que o produto possua defeito de material ou de fabricaccedilatildeo a
garantia estaraacute assegurada Aleacutem de assegurar isso tambeacutem garante a substituiccedilatildeo da peccedila do
aparelho que estiver com problema e a matildeo-de-obra tudo por conta do fabricante Caso o
autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todos ele poderia abrir margem para
outras interpretaccedilotildees como por exemplo que esta garantia natildeo abrange qualquer defeito do
produto constatado pelo fabricante Eacute interessante citar que a utilizaccedilatildeo do quantificador
―todos foi realizada beneficiando o fabricante pois mesmo afirmando que a ―garantia
abrange todos os defeitos o autor direciona para ―todos os casos que forem constatados
pelo fabricante Ou seja fica a criteacuterio do fabricante decidir o que eacute defeito e o que natildeo eacute
Assim como na ocorrecircncia (3) identificamos o uso do termo ―viacutecios que natildeo tem o
seu conceito descrito no texto do certificado O termo ―viacutecio natildeo eacute utilizado em nosso
cotidiano como algo vinculado a um objeto Geralmente conceituamos esse termo como
referente agrave dependecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica em relaccedilatildeo a uma substacircncia Tambeacutem podemos
conceituar como uma mania (costume de fazer sempre a mesma coisa) Enfim o termo
utilizado da forma em que foi descrita em (4) necessitaria que em alguma parte do texto
aparecesse o conceito para este termo que deve ser interpretado de forma especiacutefica pois eacute
um termo teacutecnico apresentado no CDC e muitas das vezes o cliente natildeo tem conhecimento
deste conceito favorecendo dificuldades a interpretaccedilatildeo do texto
(5) TODOS os eventuais danos ou demoras resultantes da natildeo
observacircncia dessas recomendaccedilotildees fogem agrave responsabilidade da APC
(Certificado 7)
7 Sobre esta estrateacutegia de eliminaccedilatildeo da polissemia e vagueza atraveacutes do uso de um glossaacuterio por autores de
textos instrucionais ver Estrela e Santos (2014)
59
Na ocorrecircncia acima a empresa APC se resguarda de qualquer responsabilidade sobre
o produto caso o cliente natildeo siga as recomendaccedilotildees dadas pelo fabricante Para isso utiliza o
quantificador universal para abranger ao maacuteximo as possibilidades de natildeo cobertura
favorecendo o fabricante Observamos que a utilizaccedilatildeo do quantificador na ocorrecircncia (5)
serviu para intensificar o que foi descrito na sentenccedila Caso natildeo fosse utilizado poderia
deixar margem para outras interpretaccedilotildees como por exemplo que poderia existir algum tipo
de dano eventual que fosse de responsabilidade do fabricante O quantificador ―todos
elimina esse tipo de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos
polissecircmicos na ocorrecircncia (5)
(6) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA garante e consequentemente
compromete-se a reparar ou substituir pelo prazo abaixo indicado
contado a partir da data indicada no documento fiscal representativo
de venda do veiacuteculo Hyundai TODAS as peccedilas que em serviccedilo
normal apresentem defeito de fabricaccedilatildeo ou de material desde que
observadas as respectivas condiccedilotildees sob pena de ser
automaticamente considerado cancelado o presente Certificado de
Garantia independentemente de qualquer aviso ou notificaccedilatildeo
(Certificado 17)
No trecho acima podemos observar que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se daacute
de forma bastante controlada Mesmo o termo ―todas sendo naturalmente utilizado para
abranger ou restringir ao maacuteximo inferecircncias na ocorrecircncia acima vemos sua utilizaccedilatildeo
dependendo de vaacuterios aspectos para se concretizar A Hyundai se compromete em reparar ou
substituir ―todas as peccedilas dos veiacuteculos que estiverem dentro de todas as caracteriacutesticas
descritas antes do termo ser usado como estar dentro do prazo estabelecido pelo fabricante
apresentarem defeito de fabricaccedilatildeo ou material e aleacutem disso observando os procedimentos
detalhados pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o quantificador universal eacute
utilizado de forma controlada pelo fabricante restringindo ao seu sabor as possibilidades de
validade da garantia
(7) TODA revisatildeo deveraacute ser registrada no quadro de registro de revisotildees
para assegurar a garantia de seu veiacuteculo
(Certificado 17)
60
Na ocorrecircncia acima observamos que o fabricante utilizou o quantificador universal
para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente da seguinte forma o
cliente que possui um veiacuteculo na garantia poderia interpretar por exemplo caso natildeo houvesse
a utilizaccedilatildeo do quantificador ―toda na sentenccedila (7) fazer as revisotildees do veiacuteculo em qualquer
oficina e natildeo registrar as mudanccedilas feitas no carro em lugar algum natildeo perdendo a garantia
do veiacuteculo O quantificador universal ―toda direciona a interpretaccedilatildeo da inferecircncia para que
o cliente efetue qualquer revisatildeo do veiacuteculo numa concessionaacuteria do fabricante e aleacutem disso
ter as revisotildees registradas no quadro de registro de revisotildees do fabricante Na ocorrecircncia (7)
natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos
(8) TODOS aparelhos da ONEAL saem da faacutebrica preacute-ajustados em
220V
(Certificado 5)
Nesta ocorrecircncia (8) o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para
abranger a informaccedilatildeo de que qualquer produto produzido por ele eacute ajustado em 220V
resguardando-se de por exemplo um questionamento de algum cliente sobre o
funcionamento de qualquer produto em outra voltagem ou utilizaccedilatildeo do produto em outra
voltagem ocasionando defeito no produto Caso isso ocorra o fabricante natildeo poderaacute ser
responsabilizado pois a partir da ocorrecircncia (8) ele explica a voltagem a ser utilizada natildeo
garantindo o funcionamento do produto em outras voltagens Na ocorrecircncia (8) observamos
que se o fabricante natildeo tivesse utilizado o quantificador universal ―todo natildeo alteraria a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila Podemos entender que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal na
ocorrecircncia (8) serviu apenas para intensificar a informaccedilatildeo da sentenccedila
(9) TODOS nossos produtos satildeo testados durante horas nos mais severos
regimes antes de serem aprovados para o mercado
(Certificado 5)
No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para abranger a
interpretaccedilatildeo da inferecircncia Dessa forma o fabricante tenta nos levar a interpretar a
61
ocorrecircncia (9) da seguinte forma qualquer produto produzido por este fabricante eacute testado de
forma rigorosa antes de ser despachado para comercializaccedilatildeo Essa interpretaccedilatildeo eacute dificultada
pela presenccedila de termos vagos Ao utilizar a expressatildeo ―durante horas nos mais severos
regimes o fabricante natildeo teve o cuidado de atrelar essa informaccedilatildeo agrave classe de comparaccedilatildeo
na qual o cliente deve se basear para interpretar a sentenccedila da forma como o fabricante
deseja Ao afirmar que os produtos satildeo testados ―durante horas o fabricante natildeo especificou
por quantas horas os produtos satildeo testados e o que isso representa Por exemplo para
produtos X identificados como em bom funcionamento deve-se testaacute-los durante Y horas
segundo o manual Z que regulamenta a qualidade dos produtos X Aleacutem disso o fabricante
ainda afirma sobre os testes que satildeo ―nos mais severos regimes cometendo a mesma falha
da expressatildeo anterior natildeo descrevendo o que eacute isso e o que isso representa A expressatildeo eacute
vaga pois esses regimes de testes satildeo severos em relaccedilatildeo a quecirc Como natildeo haacute um grau de
comparaccedilatildeo de classe o cliente pode interpretar a ocorrecircncia de formas diversas Se o
fabricante tivesse especificado em algum lugar do texto que a expressatildeo ―nos mais severos
regimes deveria ser comparada por exemplo a um tipo de teste que coloca os produtos em
condiccedilotildees extremas para averiguar a sua qualidade durabilidade e bom funcionamento que eacute
norma padratildeo de qualidade para os produtos que ele estaacute justificando em (9) natildeo haveria
vagueza Do modo como a ocorrecircncia se apresenta as informaccedilotildees ―durante horas e ―nos
mais severos regimes satildeo vagas e dificultam a interpretaccedilatildeo da sentenccedila
(10) A ONEAL garante TODOS os seus produtos por um periacuteodo de 01
(um) ano jaacute incluiacutedo o periacuteodo de garantia legal (os primeiros 90 dias)
a partir da data da compra para problemas mecacircnicos ou por falhas
industriais em montagem e pintura
(Certificado 5)
Podemos observar na ocorrecircncia (10) que o fabricante assegura a garantia para todos
os seus produtos utilizando o quantificador universal com algumas restriccedilotildees Se natildeo
houvesse a utilizaccedilatildeo do quantificador nesta inferecircncia o cliente poderia considerar que a
garantia de seu produto por exemplo teria validade vitaliacutecia e que o produto estaria coberto
pela garantia mesmo se for danificado por negligecircncia do cliente O fabricante restringe o
periacuteodo de validade especificando que o periacuteodo de um ano jaacute inclui o periacuteodo da garantia
legal que eacute de 90 dias Ainda enfatiza que se deve contar o periacuteodo a partir da data da compra
e ainda explica que a garantia cobriraacute somente produtos que apresentarem problemas
62
mecacircnicos ou aqueles que apresentarem problemas industriais em montagem e pintura Dessa
forma problemas de outra natureza natildeo seratildeo cobertos pela garantia assim como produtos
com mais de um ano de adquiridos tambeacutem natildeo estaratildeo cobertos Poderiacuteamos identificar a
expressatildeo ―garantia legal como polissecircmica caso o fabricante natildeo tivesse apresentado o
conceito para a expressatildeo logo apoacutes entre parecircnteses Eacute sabido que no CDC a garantia legal eacute
caracterizada como o periacuteodo de 90 dias apoacutes a aquisiccedilatildeo de um produto Para evitar que
houvesse uma interpretaccedilatildeo indevida o fabricante conceituou a expressatildeo imediatamente
apoacutes o aparecimento dela na sentenccedila
(11) Em vista das mudanccedilas de leis que poderatildeo ocorrer TODO
certificado seraacute regido pelas normas do cartatildeo de garantia mais
recentemente atualizado pela faacutebrica
(Certificado 5)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todo para afirmar
que qualquer certificado de garantia de seus produtos deveraacute seguir as normas dispostas no
cartatildeo de garantia mais recentemente atualizado pela faacutebrica ou seja caso algum cliente tente
solicitar a garantia atraveacutes de um cartatildeo de garantia desatualizado ele natildeo estaraacute autorizado
Dessa forma o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo agraves possiacuteveis atualizaccedilotildees de leis ou
informaccedilotildees nos cartotildees de garantia dos diversos lotes de produtos impossibilitando o cliente
de reclamar sobre qualquer tipo de alteraccedilatildeo no documento em questatildeo A utilizaccedilatildeo do
quantificador universal em (11) eacute importante para dar ecircnfase agrave informaccedilatildeo central da sentenccedila
e tambeacutem para evitar que por exemplo o cliente interpretasse que algum certificado poderia
ser regido pelas normas de outro cartatildeo de garantia que natildeo fosse o mais recente Natildeo
identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos em (11)
(12) A garantia incide sobre TODOS os componentes montados
originalmente em Veiacuteculo conforme descrito na Nota Fiscal de
venda quer fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER ou
por esta adquiridos de terceiros
(Certificado 16)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para
restringir a interpretaccedilatildeo da sentenccedila quando afirma que a garantia cobre qualquer
63
componente montado originalmente em veiacuteculo ou seja a garantia natildeo cobre componentes
avulsos Aleacutem disso os componentes montados devem estar descritos na Nota Fiscal de
venda sendo assim se natildeo estiverem lanccedilados invalidam a garantia e por fim os veiacuteculos
devem tem sido fabricados por alguma empresa do grupo DAIMLER ou fabricado por outra
empresa mas tendo sido adquirido pelo fabricante que estaacute oferecendo a garantia Dessa
forma podemos ver que o quantificador universal foi utilizado pelo fabricante de forma
restrita limitando a abrangecircncia de acordo com seus interesses Caso o quantificador
universal natildeo tivesse sido utilizado na sentenccedila haveria a possibilidade do cliente interpretar
(12) de vaacuterias maneiras Por exemplo admitir que a garantia pode ser vaacutelida para produtos
que foram fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER mas natildeo foram lanccedilados na
Nota Fiscal de venda Em vista disso a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela
necessidade do fabricante restringir a interpretaccedilatildeo do texto da garantia buscando direcionar
melhor a informaccedilatildeo que ele estaacute vinculando em seu texto Natildeo identificamos nem termos
vagos nem termos polissecircmicos em (12)
(13) Executar TODAS as revisotildees estabelecidas pela Mercedes-Benz do
Brasil Ltda
(Certificado 16)
(14) Executar TODAS as manutenccedilotildees reparaccedilotildees e regulagens em um
dos Concessionaacuterios ou Postos de Serviccedilos Autorizados Mercedes-
Benz no territoacuterio brasileiro
(Certificado 16)
Nas duas ocorrecircncias acima podemos observar que o fabricante utiliza o quantificador
universal ―todas para definir que a garantia do produto soacute seraacute vaacutelida caso o cliente realize
as funccedilotildees descritas Caso o cliente natildeo realize pelo menos uma delas a garantia seraacute
invalidada Se o cliente natildeo realizar pelo menos uma revisatildeo sugerida pela fabricante perderaacute
a validade Aleacutem disso se o cliente realizar algum tipo de manutenccedilatildeo no veiacuteculo em alguma
concessionaacuteria que natildeo seja autorizada da Mercedes-Benz e no territoacuterio brasileiro tambeacutem
perderaacute a garantia O fabricante mesmo utilizando o quantificador universal nas duas
ocorrecircncias natildeo deixa de condicionar a validade da garantia de acordo com seus interesses O
cumprimento das recomendaccedilotildees dispostas apoacutes o quantificador natildeo garantem efetivamente
que a garantia do produto estaacute assegurada Ou seja mesmo que o cliente execute todas as
manutenccedilotildees reparos e regulagens em um dos concessionaacuterios do fabricante natildeo impede que
64
a garantia seja invalidade por outro motivo O quantificador universal foi utilizado pelo
fabricante em (13) e (14) sem limites e em seu benefiacutecio Natildeo identificamos nem termos
vagos nem termos polissecircmicos em (13) e (14)
(15) TODA solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica durante o periacuteodo da
garantia deveraacute ser feita obrigatoriamente agrave faacutebrica via e-mail ou
fax descrevendo detalhadamente os problemas apresentados natildeo
excedendo o prazo de 30 dias apoacutes detectaacute-lo indicando o modelo do
equipamento e o nuacutemero de seacuterie descrito na placa de identificaccedilatildeo do
mesmo e constante neste certificado
(Certificado 22)
Na ocorrecircncia (15) o fabricante utiliza o quantificador universal ―toda de forma
abrangente determinando que todas as solicitaccedilotildees de assistecircncia teacutecnica para qualquer
produto deveraacute seguir as instruccedilotildees definidas em seguida Caso o cliente tente solicitar a
assistecircncia natildeo seguindo algum dos passos e prazos determinados pelo fabricante a garantia
seraacute invalidada O quantificador universal foi utilizado para evitar interpretaccedilotildees relativas
sobre os procedimentos descritos no texto Por exemplo se (15) natildeo tivesse o quantificador
universal ―toda uma possiacutevel interpretaccedilatildeo seria que uma solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica
durante o periacuteodo da garantia poderia ser realiza na loja em que o produto foi comprado e natildeo
apenas na faacutebrica Dessa forma a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela
necessidade do fabricante restringir o percurso da solicitaccedilatildeo da garantia para o procedimento
que ele deseja que seja seguido pelo cliente Natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos
em (15)
32 USO DO CONDICIONAL
Vejamos a seguir as ocorrecircncias em que o condicional eacute utilizado Quando as
ocorrecircncias apresentarem o mesmo sentido de interpretaccedilatildeo agruparemos numa mesma
anaacutelise como podemos observar a seguir nas ocorrecircncias (16) (17) e (18)
(16) A garantia fica automaticamente invalidada SE
(Certificado 2)
65
(17) A garantia legal e contratual perderaacute seu efeito SE
(Certificado 3)
(18) Esta garantia perderaacute a validade SE
(Certificado 11)
Podemos observar nas ocorrecircncias (16) (17) e (18) que o condicional tem a funccedilatildeo de
limitar a aplicaccedilatildeo da garantia Os usos do ―se natildeo excluem a possibilidade de haver outros
casos em que a garantia natildeo se aplica ou seja as listas que satildeo apresentadas apoacutes o
condicional natildeo satildeo exaustivas Vale mencionar que da mesma forma que o ―todo o ―se
foi utilizado para beneficiar o fabricante como afirmamos acima O ―se assegura que a
validade do produto seraacute perdida nos casos que satildeo listados apoacutes o condicional sem eliminar
a possibilidade de haverem outros casos abrangendo sem limites os casos em que a garantia
natildeo cobriraacute o produto e restringindo a validade da garantia para o cliente Natildeo identificamos
termos vagos ou polissecircmicos nas ocorrecircncias (16) (17) (18) Na ocorrecircncia (17) o autor
usou os termos ―garantia legal e ―contratual que poderiam ser considerados termos
polissecircmicos que dificultariam a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia mas foram apresentados no
certificado os conceitos para os dois termos Para ―garantia legal o autor definiu como
sendo o prazo inicial da garantia com duraccedilatildeo de 90 dias ( contados imediatamente apoacutes a
emissatildeo da Nota Fiscal de compra) e previsto no CDC por sua vez para ―garantia
contratual se refere ao periacuteodo de dois anos incluindo o periacuteodo da garantia legal para todo
equipamento (neste caso condicionador de ar) e cinco anos para o compressor Com a
apresentaccedilatildeo destas definiccedilotildees o autor evitou que os termos se apresentassem no texto como
polissecircmicos
(19) A garantia do produto natildeo se aplica
(Certificado 8)
Trouxemos para a anaacutelise a ocorrecircncia acima pois a expressatildeo ―natildeo se aplica desta
sentenccedila funciona como um condicional mesmo sem ter a forma das ocorrecircncias que
analisamos anteriormente O fabricante utiliza esse condicional precedendo uma lista de
possiacuteveis situaccedilotildees em que a garantia poderia ser reclamada pelo cliente dessa forma
impossibilitando o cliente de exigir qualquer direito sobre alguma das possiacuteveis situaccedilotildees
Natildeo identificamos termos polissecircmicos e vagos na ocorrecircncia (19)
66
(20) A garantia do produto extingue-se
(Certificado 8)
Assim como na ocorrecircncia anterior tambeacutem natildeo encontramos o condicional ―se de
forma expliacutecita mas o termo ―extingue-se se comporta como tal A sentenccedila acima foi
utilizada pelo fabricante antecedendo uma lista de possibilidades de situaccedilotildees em que o
cliente poderia reclamar a garantia do produto excluindo entatildeo qualquer direito do cliente
em relaccedilatildeo ao que foi listado abaixo da sentenccedila em questatildeo Natildeo identificamos termos vagos
e polissecircmicos na ocorrecircncia (20)
(21) O cliente perderaacute a garantia do seu veiacuteculo SE
(Certificado 17)
Na ocorrecircncia (21) o fabricante utiliza o condicional antecedendo uma lista de
situaccedilotildees que se concretizadas invalidaratildeo a garantia Dessa forma se o veiacuteculo do cliente
que deseja ser atendido pela garantia se enquadrar em algum dos itens dispostos apoacutes essa
sentenccedila a garantia natildeo seraacute concedida Assim como nas ocorrecircncias com o uso do
condicional apresentadas anteriormente o uso do ―se aparece sem limites Como afirmamos
na anaacutelise das ocorrecircncias (16) (17) e (18) o autor utiliza o condicional para em seguida
apresentar uma lista de situaccedilotildees em que se concretizadas o cliente perderaacute a garantia Mas
mesmo com a apresentaccedilatildeo dessa lista o cliente poderaacute perder a garantia caso ocorra outro
tipo de situaccedilatildeo natildeo listada Dessa forma o fabricante se favorece abrangendo ao maacuteximo as
possibilidades de perda da garantia e ―prejudica o cliente oferecendo-lhe restritas
possibilidades de validade da garantia do produto a que se refere o texto Natildeo identificamos
nem termos polissecircmicos nem vagos na ocorrecircncia (21) Apenas vale ressaltar que diferente
das ocorrecircncias apresentadas anteriormente o autor em vez de escrever ―a garantia do
produto ele utilizou ―a garantia do seu veiacuteculo que especifica ao que se refere o texto
diminuindo a possibilidade de o cliente interpretar a ocorrecircncia de uma forma diferente da
que o autor se propotildee a transmitir
(22) A garantia vigoraraacute SOMENTE SE o Veiacuteculo atender
cumulativamente as seguintes condiccedilotildees
67
(Certificado 16)
Eacute interessante observar a forma como o fabricante utiliza o condicional na ocorrecircncia
(22) que precede uma lista de condiccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso o fabricante
natildeo utilizasse esse condicional ―somente se na sentenccedila acima o cliente poderia interpretar
que se o seu produto atendesse pelo menos a uma das condiccedilotildees estaria coberto pela
garantia Mas o fabricante aleacutem de utilizar o condicional ―somente se tambeacutem utilizou o
termo ―cumulativamente explicitando que o produto deve obedecer a todas as condiccedilotildees
dispostas pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o autor utilizou o condicional
para restringir as possibilidades de validade da garantia com restriccedilotildees o que natildeo ocorre
quando o fabricante trata sobre as possibilidades de invalidade da garantia como na
ocorrecircncia (21) Comparando as ocorrecircncias (21) e (22) vemos claramente que o autor em
(21) utilizou o condicional para lhe favorecer sem limites quando tratou sobre as condiccedilotildees
pelas quais o cliente pode perder a garantia abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura natildeo
apenas para as situaccedilotildees que estatildeo listadas mas tambeacutem para qualquer outra possiacutevel Jaacute em
(22) o autor (mesmo essa comparaccedilatildeo sendo feita entre ocorrecircncias de certificados
diferentes) utiliza o condicional para restringir as possibilidades de validade da garantia para
as situaccedilotildees listadas apoacutes a apresentaccedilatildeo do condicional e aleacutem disso afirmou que todas as
situaccedilotildees listadas devem ser atendidas para que a garantia seja vaacutelida para o produto Dessa
forma ainda sobre a ocorrecircncia (22) caso uma das situaccedilotildees listadas natildeo seja atendida a
garantia automaticamente seraacute perdida Com isso podemos afirmar que tanto em (21) quanto
em (22) os autores utilizaram o condicional para se beneficiar Em (21) abrangendo as
possibilidades de invalidade da garantia e em (22) restringindo ao maacuteximo as possibilidades
de validade da garantia do produto Natildeo identificamos nem termos vagos nem polissecircmicos
na ocorrecircncia (22)
(23) A garantia Philips natildeo eacute aplicaacutevel SE
(Certificado 14)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o condicional ―se antecedendo uma lista de
informaccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso algum produto Philips se encaixar em
alguma das situaccedilotildees descritas apoacutes o condicional mesmo estando dentro do prazo de
garantia o cliente perderaacute a cobertura Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem
68
vagos na ocorrecircncia (23)
(24) Esta garantia natildeo se aplica
(Certificado 21)
Assim como nas ocorrecircncias (18) e (19) a ocorrecircncia acima natildeo possui o condicional
expliacutecito mas o termo ―natildeo se aplica se comporta como tal O fabricante utiliza o
condicional precedendo uma lista de condiccedilotildees de natildeo aplicaccedilatildeo da garantia Dessa forma
caso o produto se encaixe em alguma das condiccedilotildees a garantia seraacute invalidada
automaticamente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem vagos na sentenccedila (24)
33 USO DO APENASSOMENTE
Vejamos a seguir ocorrecircncias em que identificamos o uso do ―apenas ou ―somente
(25) Esta garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver
devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original
da Nota Fiscal de Compra
(Certificado 4)
Na ocorrecircncia (25) o fabricante utiliza o ―somente para restringir a validade da
garantia indicando que o cliente teraacute direito agrave garantia caso preencha de forma correta o
certificado e apresente a nota fiscal de compra Caso as instruccedilotildees natildeo sejam seguidas pelo
cliente a garantia natildeo seraacute vaacutelida Podemos identificar que o termo ―rasuras presente em
(25) pode ser considerado como vago e polissecircmico neste caso dificultando a interpretaccedilatildeo
do texto Uma rasura pode ser por exemplo desde um rabisco fora de lugar no formulaacuterio
ateacute o dano no documento por aacutegua amasso do papel em excesso etc O autor poderia evitar a
vagueza e a polissemia definindo o termo da forma como ele deseja que o leitor interprete
este termo e comparando-o a uma classe especiacutefica (por exemplo o que eacute considerado rasura
69
nos documentos instrucionais)
(26) Danos decorrentes de desgaste natural inclusive e natildeo SOMENTE
nas partes plaacutesticas que compotildeem o gabinete do produto
(Certificado 4)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o ―somente numa sentenccedila que trata sobre
uma das situaccedilotildees em que a garantia natildeo seraacute vaacutelida O fabricante deixa claro que qualquer
defeito no produto causado por desgaste natural natildeo seraacute coberto pela garantia Se o
fabricante natildeo utilizasse o ―somente nesta sentenccedila o cliente poderia interpretar por
exemplo que danos decorrentes de desgaste natural nas partes que natildeo satildeo de plaacutestico seriam
cobertas pela garantia O autor utiliza o ―somente para se resguardar sobre outras possiacuteveis
interpretaccedilotildees do trecho abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura da garantia para
qualquer peccedila do produto que for afetado por danos decorrentes de desgaste natural Na
ocorrecircncia (26) a expressatildeo ―desgaste natural eacute polissecircmica O autor em nenhuma parte do
certificado de garantia definiu a expressatildeo em questatildeo para que o cliente compreenda da
forma desejada pelo fabricante Dessa forma podemos interpretar ―desgaste natural de
muitas formas Podemos por exemplo interpretar como o desgaste do produto como um todo
ou suas peccedilas referentes ao uso em excesso ao longo do tempo e diretamente vinculado agrave
vida uacutetil tanto do produto em geral quanto de peccedilas especiacuteficas Mas tambeacutem podemos
interpretar como sendo um desgaste proveniente do contato do produto com a natureza como
a exposiccedilatildeo agrave chuva maresia sol em excesso Pode parecer um exagero esta uacuteltima
interpretaccedilatildeo mas ela eacute possiacutevel a partir da forma como (26) se apresenta O autor utilizou no
texto a expressatildeo sem dar-lhe a definiccedilatildeo que ele pensou para a utilizaccedilatildeo dela na ocorrecircncia
dificultando a interpretaccedilatildeo do texto
(27) Este termo de garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos
comercializados e utilizados em territoacuterio brasileiro
(Certificado 4)
(28) Este Certificado de Garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos
vendidos e utilizados no territoacuterio brasileiro
(Certificado 10)
(29) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro
70
(Certificado 2)
(30) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro
(Certificado 13)
(31) Esta garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o territoacuterio brasileiro
(Certificado 12)
Nas ocorrecircncias (27) (28) (29) e (30) observamos que os fabricantes utilizam o termo
―apenas para restringir a cobertura da garantia tanto em relaccedilatildeo ao local da compra quanto
em relaccedilatildeo ao local de uso do produto assim como o autor da ocorrecircncia (31) utiliza o termo
―somente com o mesmo sentido Caso o produto tenha sido comprado em outro paiacutes natildeo
haveraacute cobertura da garantia assim como mesmo que o produto tenha sido comprado no
Brasil mas tenha sido utilizado em outro paiacutes culminando em um defeito tambeacutem natildeo haveraacute
cobertura da garantia Mas para a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que aparece em (27) (28)
(29) (30) e (31) podemos tambeacutem interpretar como natildeo apenas a extensatildeo territorial do paiacutes
mas tambeacutem admitir territoacuterios brasileiros em outros paiacuteses a saber os consulados
honoraacuterios do Brasil nas diversas naccedilotildees ao redor do mundo Nesse caso por exemplo se o
produto for adquirido dentro dos limites geograacuteficos do Brasil e for utilizado em algum
consulado do Brasil em outro paiacutes a garantia deve ser vaacutelida Eacute possiacutevel que o fabricante natildeo
tenha pensado nessa possibilidade poreacutem da forma que estas ocorrecircncias se apresentam haacute
essa possibilidade de interpretaccedilatildeo Ao apresentar essa possiacutevel interpretaccedilatildeo para a
expressatildeo ―territoacuterio brasileiro noacutes quisemos mostrar que o fabricante deveria ter
especificado em alguma parte do certificado de garantia o conceito que ele deseja que o
cliente admita para esta expressatildeo para natildeo deixar que a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro seja
interpretada de outras formas ou seja para evitar a polissemia que dificulta a leitura do
texto Outra questatildeo que tambeacutem podemos considerar eacute que nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)
a afirmaccedilatildeo sobre a validade da garantia eacute apresentada de forma menos detalhada Os autores
apresentam a afirmaccedilatildeo de que a garantia eacute vaacutelida para o territoacuterio brasileiro sem informar se
eacute em relaccedilatildeo ao produto ser adquirido e utilizado no paiacutes Brasil ou se o produto pode ser
utilizado fora do Brasil mas para requerer a garantia do produto o consumidor caso resida no
exterior deva se dirigir ao Brasil para fazer jus a sua garantia Diferente das ocorrecircncias (27)
e (28) em que os autores enfatizam que a garantia dos produtos eacute vaacutelida unicamente para
produtos comercializados e utilizados dentro do Brasil restringindo a garantia mais do que
nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)
71
(32) A garantia SOMENTE eacute vaacutelida mediante a apresentaccedilatildeo de nota
fiscal de compra deste produto
(Certificado 3)
Podemos observar na ocorrecircncia (29) que o fabricante utiliza o termo ―somente para
restringir a validade da garantia Fica claro que caso o produto apresente algum defeito e o
cliente procure a assistecircncia teacutecnica sem estar de posse da nota fiscal natildeo haveraacute cobertura da
garantia Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em (29) o cliente poderia interpretar
por exemplo que a garantia do produto eacute vaacutelida com ou sem a apresentaccedilatildeo da nota fiscal de
compra do produto Neste caso a funccedilatildeo do ―somente eacute de restringir a interpretaccedilatildeo de
acordo com o que o fabricante deseja Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem
vagos em (29)
(33) A garantia oferecida por esse Certificado eacute de 36 (trinta e seis) meses
e SOMENTE teraacute validade se o presente documento for devidamente
preenchido no ato da venda do produto conforme acima e se a
instalaccedilatildeo for feita por uma pessoa ou empresa credenciada pela
Robert Bosch Ltda
(Certificado 8)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade
da garantia Caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees de forma cumulativa que seguem a
utilizaccedilatildeo do termo a garantia seraacute invalidada Por exemplo se o cliente preencher no ato da
venda do produto o certificado mas se a instalaccedilatildeo do produto natildeo tiver sido feita por algueacutem
credenciado pela Robert Bosch Ltda a garantia natildeo teraacute validade A importacircncia do uso do
―somente em (33) se daacute pelo fato de que caso o autor natildeo tivesse utilizado este termo
haveria a possibilidade do cliente interpretar por exemplo que a garantia teria validade caso
a instalaccedilatildeo do produto tenha sido feita por uma pessoa ou empresa natildeo credenciada pela
fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (33)
(34) Os consertos em Garantia do Produto SOMENTE seratildeo efetuados
72
por um Serviccedilo Autorizado devidamente nomeado pela Robert Bosch
Ltda em territoacuterio brasileiro
(Certificado 8)
Podemos observar que o fabricante utiliza o termo ―somente em (34) para restringir a
validade da garantia O fabricante define tanto quem efetuaraacute o conserto dos produtos quanto
os limites territoriais de cobertura Dessa forma fica expliacutecito para o cliente que o conserto
natildeo poderaacute ser efetuado por pessoas natildeo autorizadas pela Robert Bosch Ltda e tal conserto
natildeo pode ser realizado em outros paiacuteses Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em
(34) abriria a possibilidade de interpretar a sentenccedila de outras formas como por exemplo
que os consertos em garantia do produto poderiam ser realizados em territoacuterios de outros
paiacuteses ou que os consertos poderiam ser realizados por serviccedilos natildeo autorizados pelo
fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (34)
(35) O exame e reparo do produto soacute poderatildeo ser efetuados pelo
fabricante
(Certificado 7)
Na ocorrecircncia (36) o fabricante utiliza no lugar do termo ―somente o termo ―soacute
para restringir a interpretaccedilatildeo Nesse caso se o cliente procurar reparar eou examinar o
produto sozinho ou em assistecircncias teacutecnicas que natildeo sejam autorizadas pelo fabricante a
garantia seraacute invalidada A utilizaccedilatildeo do termo ―soacute tem grande importacircncia para o
direcionamento da interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia (35) pois caso natildeo tivesse sido utilizado pelo
autor a ocorrecircncia traria apenas uma informaccedilatildeo vaga dificultando a interpretaccedilatildeo do texto
Sem o ―soacute a partir de (35) poderiacuteamos interpretar que o exame e reparo do produto podem
ser efetuados pelo fabricante mas tambeacutem por qualquer outra pessoa ou empresa Utilizando
o ―soacute o autor restringe a inferecircncia evitando muacuteltiplas interpretaccedilotildees para a sentenccedila
(36) O presente ―Termo de Garantia Hyundai aplica-se uacutenica e
exclusivamente ao veiacuteculo da marca e fabricaccedilatildeo Hyundai
devidamente identificado no iniacutecio deste documento e que tenha sido
comercializado por um Revendedor Autorizado da CAOA Montadora
de Veiacuteculos SA
(Certificado 17)
73
Em (36) o fabricante natildeo utiliza os termos ―apenas ou ―somente mas
consideraremos em nossa anaacutelise a expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como um restritor de
mesmo sentido Observamos que o fabricante utiliza a expressatildeo para restringir a cobertura
da garantia Caso o cliente esteja por exemplo solicitando a garantia de um veiacuteculo Hyundai
que natildeo seja o mesmo que estaacute descrito no iniacutecio do documento de garantia e que natildeo tenha
sido comercializado por uma autorizada da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA a garantia
natildeo teraacute validade Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado a expressatildeo ―uacutenica e
exclusivamente em (36) haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia de outras
maneiras
(37) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA eou o Revendedor Autorizado
da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA APENAS substituiraacute as peccedilas
que forem por elas e a seu exclusivo criteacuterio julgadas como
defeituosas
(Certificado 17)
Na ocorrecircncia (37) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a interpretaccedilatildeo
da sentenccedila Dessa forma o fabricante fica resguardado tanto em relaccedilatildeo a substituiccedilatildeo de
peccedilas quanto em relaccedilatildeo ao meacutetodo utilizado para jugar se a peccedila estaacute defeituosa ou natildeo A
importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―apenas em (37) tambeacutem se daacute pelo fato de natildeo permitir outras
interpretaccedilotildees diferentes da definida pelo fabricante Caso o ―apenas natildeo tivesse sido
utilizado poderiacuteamos interpretar por exemplo que o fabricante poderia substituir peccedilas
julgadas por ela como defeituosas utilizando seus proacuteprios criteacuterios mas tambeacutem substituiria
em outros casos O ―apenas serviu para especificar e restringir a interpretaccedilatildeo dos criteacuterios
definidos pelo fabricante em relaccedilatildeo agrave substituiccedilatildeo de peccedilas do produto Natildeo identificamos
nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (37)
(38) Permita que SOMENTE teacutecnicos autorizados pela faacutebrica prestem
assistecircncia a seu aparelho pois se for aberto por teacutecnicos ou pessoas
natildeo autorizadas automaticamente vocecirc estaraacute perdendo sua garantia
(Certificado 5)
Na ocorrecircncia (38) o fabricante deixa expliacutecito ao utilizar o termo ―somente que
caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees dispostas nesta sentenccedila a garantia do produto seraacute
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invalidada Dessa forma o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a informaccedilatildeo
veiculada pelo fabricante da mesma forma como vimos na ocorrecircncia (37) Natildeo
identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (38)
(39) A presente garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o Veiacuteculo
comercializado em territoacuterio brasileiro
(Certificado 16)
Na ocorrecircncia (39) um pouco parecida com as ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e
(31) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia do produto Nesse caso
se o veiacuteculo tiver sido adquirido em outro paiacutes sua garantia natildeo seraacute vaacutelida no Brasil Um
pouco diferente das ocorrecircncias (27) e (28) que especificam ao maacuteximo a possibilidade de
cobertura da garantia a ocorrecircncia (39) veicula que a garantia eacute vaacutelida para o produto
comercializado em territoacuterio brasileiro natildeo tratando sobre a possibilidade da perda da
garantia caso o veiacuteculo seja utilizado em outros paiacuteses Neste caso o cliente natildeo tem direito
a garantia do veiacuteculo caso ele seja adquirido em outros paiacuteses Sobre a expressatildeo ―territoacuterio
brasileiro assim como nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31) o autor natildeo definiu um
sentido para a expressatildeo que pode ser interpretada de outras maneiras como exemplificamos
nas anaacutelises anteriores
(40) Utilizar SOMENTE peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios genuiacutenos
Mercedes-Benz e comprovar sua aquisiccedilatildeo mediante e apresentaccedilatildeo
da Nota Fiscal quando adquiridos pelo consumidor final
(Certificado 16)
Na ocorrecircncia (40) que faz parte de uma lista de recomendaccedilotildees para o cliente natildeo
perder a garantia o fabricante utiliza o termo ―somente para delimitar a interpretaccedilatildeo da
sentenccedila Na passagem se o cliente natildeo seguir as instruccedilotildees descritas consequentemente
perderaacute a garantia do produto A importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente na ocorrecircncia (40) eacute
a de dificultar que o cliente interpreta a sentenccedila de outra maneira Sem o ―somente na
sentenccedila o cliente poderia interpretar que ele pode utilizar peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios
originais do fabricante mas tambeacutem estaacute autorizado a utilizar peccedilas de outros fabricantes
Com a presenccedila do ―somente na sentenccedila o cliente eacute levado a interpretar a sentenccedila da
75
forma direcionada pelo fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (40)
(41) A comprovaccedilatildeo de defeito de fabricaccedilatildeo do produto que provocaraacute a
execuccedilatildeo da troca do mesmo deveraacute ser feita exclusivamente por
funcionaacuterio credenciado da Ortobom
(Certificado 15)
Na ocorrecircncia (41) o fabricante natildeo utiliza explicitamente os termos ―apenas ou
―somente mas consideraremos em nossa anaacutelise que o termo ―exclusivamente possui a
mesma funccedilatildeo de restringir interpretaccedilotildees O fabricante utiliza o termo para restringir a
garantia do produto em questatildeo Natildeo haacute a possibilidade de o cliente comprovar um defeito de
fabricaccedilatildeo em seu produto atraveacutes de outro profissional que natildeo seja um funcionaacuterio
credenciado da Ortobom Haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia (41) caso o
fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―exclusivamente Sem tal uso o cliente poderia
interpretar que poderia comprovar algum defeito no produto para possiacutevel troca por
intermeacutedio de qualquer profissional natildeo obrigatoriamente por um funcionaacuterio do fabricante
Ortobom O termo ―exclusivamente especifica e destaca a informaccedilatildeo que o fabricante
veicula em (41) Natildeo identificamos em (41) nem termos polissecircmicos nem termos vagos
(42) A garantia cobre exclusivamente defeitos de materiais eou
fabricaccedilatildeo sendo que as despesas de deslocamento alimentaccedilatildeo e
hospedagem do teacutecnico para atendimento em garantia ou natildeo
referente agrave entrega montagem instruccedilatildeo de uso e reparo do
equipamento assim como o frete de retirada para conserto e retorno
do mesmo e de envio de peccedilas e retorno das substituiacutedas em garantia
ocorreratildeo por conta do cliente
(Certificado 22)
Assim como em (41) o fabricante utiliza o termo ―exclusivamente para restringir a
garantia do produto O fabricante ao utilizar esse termo se resguarda de possiacuteveis cobranccedilas
por parte do cliente ao solicitar a garantia como por exemplo ajuda de custo para custear a
iacuteda do teacutecnico para manutenccedilatildeo do produto envio de peccedilas para faacutebrica etc Fica expliacutecito
que em todas essas situaccedilotildees o cliente eacute responsaacutevel Caso o termo ―exclusivamente natildeo
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tivesse sido utilizado o cliente poderia interpretar a ocorrecircncia de diferentes modos Uma
possibilidade de interpretaccedilatildeo seria a de entender que a garantia cobre outros tipos de
defeitos que natildeo fossem de peccedilas ou de fabricaccedilatildeo Com a utilizaccedilatildeo do termo
―exclusivamente o fabricante diminui as possibilidades de interpretaccedilatildeo tornando o texto
mais claro para o cliente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na
ocorrecircncia (42)
(43) A garantia natildeo cobre peccedilas ou componentes de desgaste normal de
uso dentre as quais selim pedais firma-peacutes natildeo se limitando
SOMENTE a estes mas incluindo rodas de transporte carenagens
adesivos elementos de acabamento de plaacutestico borracha e alumiacutenio
danos na pintura e quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa
exclusiva distribuiccedilatildeo devendo as reclamaccedilotildees ser encaminhadas aos
seus respectivos representantes ou fabricantes
(Certificado 22)
Em (43) o fabricante aleacutem de utilizar o termo ―somente para abranger a
interpretaccedilatildeo sobre as peccedilas que natildeo seratildeo cobertas pela garantia do produto utiliza outros
termos que alargam ainda mais sem restriccedilotildees a natildeo cobertura da garantia como ―quaisquer
acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo O fabricante se resguarda
especificando quais peccedilas que ele considera como de ―desgaste normal para evitar
problemas de interpretaccedilatildeo por parte do cliente O uso do ―somente na ocorrecircncia (43) se
apresenta de forma contraacuteria agraves outras ocorrecircncias que apresentamos anteriormente Enquanto
em ocorrecircncias como a (40) que o ―somente foi utilizado para restringir a interpretaccedilatildeo da
sentenccedila para as informaccedilotildees descritas depois do termo em (43) o fabricante utiliza o
―somente precedido da negaccedilatildeo ―natildeo se limitando direcionando o termo para o sentido de
abrangecircncia Ou seja a garantia que o fabricante oferece natildeo cobre peccedilas ou componentes de
desgaste natural como selim e pedais Para natildeo correr o risco de esquecer de citar algum dos
componentes de desgaste natural do produto e deixar brechas na interpretaccedilatildeo da garantia o
fabricante utiliza a expressatildeo ―natildeo se limitando seguida do ―somente para abranger ao
maacuteximo as possibilidades de interpretaccedilatildeo sobre os itens de desgaste natural que natildeo satildeo
cobertos pela garantia Depois do uso do ―somente e de apresentar mais uma lista de itens
que natildeo satildeo cobertos pela garantia o fabricante ainda abrange mais a interpretaccedilatildeo
utilizando a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo
Dessa forma pudemos perceber que o fabricante utilizou natildeo apenas o termo de restriccedilatildeo
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―somente para limitar as possibilidades de interpretaccedilatildeo da sentenccedila mas tambeacutem utilizou
listas especificando itens e a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa
exclusiva distribuiccedilatildeo Todas essas estrateacutegias foram utilizadas com o objetivo de tornar a
interpretaccedilatildeo do texto clara sem oferecer a possibilidade de o cliente obter muacuteltiplas
interpretaccedilotildees do texto Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na
ocorrecircncia (43)
(44) A matildeo-de-obra em garantia limita-se SOMENTE ao horaacuterio normal
de expediente sendo de segunda a sexta-feira das 730 agraves 1800 horas
devendo o equipamento estar disponiacutevel para a assistecircncia teacutecnica
(Certificado 22)
Em (44) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o horaacuterio disponiacutevel
para reparos em produtos na garantia e aleacutem disso enfatizando que o produto deve estar
disponiacutevel para a assistecircncia Dessa forma o cliente fica impossibilitado de reclamar
assistecircncia fora do horaacuterio que estaacute descrito na sentenccedila assim como fica consciente de que
seu produto ficaraacute a disposiccedilatildeo da assistecircncia para conserto ou seja natildeo seraacute reparado
imediatamente A importacircncia do uso do ―somente na ocorrecircncia (44) se daacute pelo fato de que
caso natildeo fosse utilizado o cliente poderia interpretar por exemplo que a matildeo-de-obra em
garantia estaria disponiacutevel vinte e quatro horas por dia e sete dias por semana Como o
―somente foi utilizando precedendo as informaccedilotildees sobre dia e horaacuterio de atendimento natildeo
eacute possiacutevel interpretar a informaccedilatildeo de outra maneira que natildeo seja a descrita Haveria a
possibilidade de definir a expressatildeo ―horaacuterio normal de expediente como uma expressatildeo
polissecircmica caso ela natildeo estivesse acompanhada de uma definiccedilatildeo (―de segunda a sexta-feira
das 730 agraves 1800 horas) pois o horaacuterio de expediente pode variar de acordo com o trabalho
que vocecirc tem por exemplo Se vocecirc trabalha em um banco financeiro o seu horaacuterio de
expediente seraacute possivelmente diferente do horaacuterio de um feirante Para evitar a polissemia
o fabricante utilizou a expressatildeo e em seguida apresentou a definiccedilatildeo da expressatildeo de
acordo com o seu interesse
(45) A presente garantia limita-se SOMENTE ao produto fornecido natildeo
responsabilizando a TOTAL HEALTH por danos causados a pessoas
a terceiros a outros equipamentos ou instalaccedilotildees lucros cessantes ou
quaisquer outros danos emergentes ou consequumlentes
(Certificado 22)
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Na ocorrecircncia (45) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da
garantia Nesse caso a garantia se limita unicamente ao produto descrito Se por exemplo o
produto em questatildeo apresentar defeito e tal defeito ocasionar dano fiacutesico ao dono do produto
ou a terceiros a garantia natildeo cobriraacute tais problemas Assim como nas ocorrecircncias anteriores
o uso do ―somente em (45) teve a funccedilatildeo de direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para uma
uacutenica possibilidade de interpretaccedilatildeo Caso o ―somente natildeo tivesse sido utilizado poderiacuteamos
interpretar (45) de outras maneiras Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (45)
(46) SOMENTE os profissionais indicados pela loja revendedora dos
produtos Bartzen estatildeo autorizados a prestar atendimento dentro do
prazo de garantia
(Certificado 18)
Na ocorrecircncia (46) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila Nesse caso o cliente soacute poderaacute usufruir de assistecircncia teacutecnica em
seu produto atraveacutes de profissionais indicados pela loja na qual ele adquiriu seu produto
Bartzen e dentro do prazo da garantia Caso o cliente realize algum serviccedilo em seu produto
com profissionais natildeo autorizados pela fabricante sua garantia seraacute invalidada A importacircncia
da utilizaccedilatildeo do termo ―somente na ocorrecircncia (46) eacute a de diminuir as possibilidades de
interpretaccedilatildeo da sentenccedila ao maacuteximo Dessa forma natildeo haacute como o cliente interpretar que por
exemplo ele pode realizar a manutenccedilatildeo ou reparo do seu produto com qualquer outro
funcionaacuterio que natildeo seja autorizado pela fabricante do produto Natildeo identificamos nem
termos polissecircmicos nem termos vagos em (46)
(47) A garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o consumidor que consta
identificado na nota fiscal de compra do produto (primeiro usuaacuterio) a
qual deveraacute ser apresentada junto com este Certificado de Garantia
devidamente preenchido com os dados do consumidor e do produto
para fins de cobertura para reparo ou substituiccedilatildeo do produto se
necessaacuterio
(Certificado 19)
79
Em (47) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia Nesse caso
o cliente fica ciente de que a garantia soacute seraacute vaacutelida para o primeiro proprietaacuterio do produto
assim como soacute seraacute aceito o pedido de garantia caso o cliente apresentar a nota fiscal
contendo tanto os dados do produto quanto os seus Todas as possibilidades fora das
descritas seratildeo desconsideradas e consequentemente a garantia seraacute invalidada A
importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente em (47) se daacute pelo fato de que haacute diversas
informaccedilotildees a serem consideradas pelo cliente na ocorrecircncia (47) e caso o autor do texto natildeo
tivesse utilizado o termo ―somente antes dessas informaccedilotildees o cliente poderia interpretar
que sua garantia poderia ser vaacutelida ao cumprir algumas das informaccedilotildees descritas na sentenccedila
e natildeo obrigatoriamente todas Por exemplo se natildeo houvesse o uso do ―somente em (47) o
cliente poderia interpretar que a garantia eacute vaacutelida para o consumidor que tem o nome
constando na nota fiscal mas tambeacutem para qualquer outro consumidor que esteja de posse da
nota fiscal mesmo que natildeo seja a pessoa que tem o nome na nota fiscal O ―somente possui
o papel de restringir a interpretaccedilatildeo de toda ocorrecircncia ao maacuteximo direcionando a leitura do
texto para evitar muacuteltiplas interpretaccedilotildees Com esse uso natildeo eacute possiacutevel que cliente interprete
que ele pode ter acesso a garantia caso natildeo cumpra alguma das recomendaccedilotildees Natildeo
identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (47)
(48) O Certificado de Garantia eacute vaacutelido SOMENTE para os
condicionadores vendidos e instalados no territoacuterio brasileiro
(Certificado 19)
Em (48) semelhante agraves ocorrecircncias (31) e (39) o fabricante utiliza o termo ―somente
para restringir o territoacuterio de cobertura da garantia Neste caso condicionadores adquiridos e
utilizados em outros paiacuteses natildeo seratildeo cobertos pela garantia descrita acima Ainda retomando
a discussatildeo sobre a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro consideramos que pelo fato do autor do
texto natildeo ter apresentado um conceito para esta expressatildeo em nenhum local do certificado de
garantia da forma como se apresenta ela pode ser interpretada de outras maneiras assim
como discutimos nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)
(49) Para o uso de condicionadores de ar em ambientes com alta
concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre
seraacute vaacutelida SOMENTE a garantia legal de 90 (noventa) dias contados
80
da data de emissatildeo da nota fiscal de compra do produto
(Certificado 19)
Na ocorrecircncia (49) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da
garantia do produto que seja utilizado em ambientes especiacuteficos como ―ambientes com alta
concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre Dessa forma o
fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a qualquer solicitaccedilatildeo de garantia ―normal ou seja prazo
de validade de garantia para condicionadores de ar que satildeo utilizados em ambientes
considerados ―normais por parte de um cliente que utilize o produto em ambientes como os
descritos acima Dessa forma o uso do ―somente se justifica pelo fato de que o fabricante
busca direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha duacutevidas de que como
descrito em (49) os produtos utilizados em ambientes atiacutepicos soacute estaratildeo cobertos pela
garantia legal Assim como jaacute discutimos em outras ocorrecircncias anteriormente o fabricante
utiliza a expressatildeo ―garantia legal que eacute uma expressatildeo teacutecnica do CDC e para que ela natildeo
se tornasse polissecircmica logo apoacutes seu uso o autor apresentou o conceito para o termo que eacute
o de um periacuteodo de 90 dias corridos compreendidos imediatamente apoacutes a expediccedilatildeo da nota
fiscal de compra do produto
(50) A partir do 91ordm (nonageacutesimo primeiro) dia tais despesas satildeo de
responsabilidade uacutenica e exclusiva do consumidor
(Certificado 19)
Em (50) o fabricante natildeo utilizou os termo ―somente e ―apenas mas
consideraremos em nossa anaacutelise a utilizaccedilatildeo da expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como
umas expressotildees utilizadas para restringir interpretaccedilotildees como discutimos anteriormente em
outras anaacutelises Na sentenccedila acima o fabricante utilizou a expressatildeo de restriccedilatildeo para
enfatizar que passados os trecircs meses de garantia as despesas referentes a qualquer
manutenccedilatildeo e garantia do produto seratildeo de responsabilidade do cliente Como apresentamos
na ocorrecircncia (49) a garantia legal para um produto cobre os primeiros 90 dias apoacutes a
emissatildeo da nota fiscal de compra do produto Ao informar em (50) que a partir do primeiro
dia apoacutes o teacutermino da garantia legal despesas referentes ao traslado do produto para
manutenccedilatildeo seraacute de responsabilidade do cliente o autor utiliza a expressatildeo ―uacutenica e
exclusiva para se resguardar de qualquer possibilidade de participaccedilatildeo em possiacuteveis gastos
81
Caso o fabricante natildeo tivesse enfatizado essa informaccedilatildeo utilizando esta expressatildeo o cliente
poderia interpretar por exemplo que poderia haver algum caso em que o fabricante se
responsabilizaria por tais gastos Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (50)
(51) A reposiccedilatildeo de peccedilas defeituosas e execuccedilatildeo dos serviccedilos decorrentes
desta Garantia SOMENTE seratildeo procedidas nas localidades do
territoacuterio brasileiro onde a ENVISION mantiver ―Centro de Serviccedilo
Autorizado de titularidade dela proacutepria ou de terceiro por ela
expressamente indicado onde deveraacute ser entregue o produto para
reparo
(Certificado 20)
Na ocorrecircncia (51) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir os locais de
execuccedilatildeo de serviccedilos da garantia Neste caso o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a por
exemplo natildeo haver assistecircncias teacutecnicas em todas as cidades do paiacutes Aleacutem de enfatizar que o
produto deveraacute ser entregue na assistecircncia pelo cliente ou seja o fabricante natildeo se
responsabiliza quanto ao recolhimento do produto para reparo A utilizaccedilatildeo do ―somente se
justifica pelo fato de que o fabricante busca restringir ao maacuteximo as possibilidades de
interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o ―somente o cliente
poderia por exemplo interpretar que se a cidade em que o cliente tenha adquirido o produto
natildeo tenha uma assistecircncia teacutecnica a fabricante se responsabilizaria pelo recolhimento do
produto para manutenccedilatildeo numa cidade que possua a assistecircncia teacutecnica Com a utilizaccedilatildeo do
―somente precedendo as demais informaccedilotildees natildeo eacute possiacutevel interpretar a ocorrecircncia dessa
maneira Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termo vagos na ocorrecircncia (51)
(52) Esta Garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver
devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original
da Nota Fiscal de Compra
(Certificado 20)
Na ocorrecircncia (52) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a forma
como o cliente deve solicitar a garantia do produto Caso o cliente deixe de apresentar o
certificado preenchido corretamente eou a nota fiscal de compra a garantia seraacute invalidada
82
Assim como na ocorrecircncia (51) o autor fabricante utiliza o ―somente para restringir ao
maacuteximo a interpretaccedilatildeo do texto Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente
haveria a possibilidade de o cliente interpretar que a garantia do produto seria vaacutelida caso o
certificado estivesse preenchido sem rasuras acompanhado da nota fiscal de compra mas
tambeacutem de qualquer outra forma A ocorrecircncia ficaria sem limites para interpretaccedilatildeo caso o
fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente Poreacutem como o termo foi utilizado natildeo
haacute outra forma de o cliente interpretar a ocorrecircncia sobre a validade da garantia do produto
Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (52)
(53) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS se o produto for reparado pela rede
autorizada Rheem ou por autorizaccedilatildeo preacutevia formalizada pelo
Departamento de Assistecircncia Teacutecnica
(Certificado 20)
Na ocorrecircncia (53) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a validade da
garantia quanto ao local de assistecircncia Caso o produto seja reparado por profissional natildeo
autorizado pela fabricante Rheem a garantia do produto seraacute perdida A importacircncia o uso do
termo ―apenas na ocorrecircncia (53) se daacute pelo fato de que o autor busca restringir a
interpretaccedilatildeo do texto ao maacuteximo Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―apenas o
cliente poderia por exemplo interpretar que a garantia do produto eacute vaacutelida em qualquer
situaccedilatildeo e natildeo unicamente se seguir as recomendaccedilotildees descritas apoacutes o uso do termo
―apenas Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (53)
(54) Os produtos SOMENTE poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para
anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes sua autorizaccedilatildeo por escrito
(Certificado 21)
Na ocorrecircncia (54) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o modo
como deve submeter o produto agrave garantia Caso natildeo haja uma autorizaccedilatildeo por escrito para
enviar o produto para a faacutebrica o produto natildeo poderaacute seguir para anaacutelise A importacircncia da
utilizaccedilatildeo do termo ―somente se daacute pelo fato de que caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o
termo na ocorrecircncia (54) a interpretaccedilatildeo do texto ficaria sem limites ou seja os produtos
poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes a autorizaccedilatildeo por
83
escrito ou de qualquer outra forma Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (54)
34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS
Em nossa pesquisa analisamos cinquenta e quatro ocorrecircncias selecionadas a partir
dos vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Dividimos a anaacutelise por tipos de
ocorrecircncias com quantificador universal com condicional e com o apenassomente Para
apresentar um panorama sobre os tipos de ocorrecircncia e a quantidade das anaacutelises de cada tipo
vamos observar o quadro a seguir
Tipo de ocorrecircncia Nuacutemero de ocorrecircncias
Quantificador universal 15
Condicional 9
ApenasSomente 30
TOTAL 54
Quadro 2 ndash Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia Fonte elaborado pelo autor
Antes de discorrer nossos comentaacuterios sobre as anaacutelises de nosso trabalho temos que
tratar sobre a primeira importante impressatildeo que tivemos diante do corpus e das consequentes
anaacutelises dos quatro nexos semacircnticos que invocamos em nosso trabalho somente
identificamos ocorrecircncias com acarretamentos Tratamos com muita naturalidade este fato
porque por mais que em algumas leituras uma parte do conteuacutedo do segundo capiacutetulo possa
ser vista como desnecessaacuteria ndash pelo fato de tais conceitos natildeo estarem presentes nas anaacutelises
dessa pesquisa ndash encontramos aiacute uma caracteriacutestica do gecircnero textual certificado de garantia
que eacute a presenccedila de diversos acarretamentos mesmo que natildeo-expliacutecitos como demonstramos
em nosso trabalho (porque o gecircnero textual certificado de garantia natildeo possui uma linguagem
tatildeo controlada quanto a linguagem encontrada nos exemplos que criamos para ilustrar os
conceitos dos nexos) Dessa maneira fica claro que natildeo encontramos ocorrecircncias com
equivalecircncias semacircnticas contrariedades ou contraditoriedades o que nos permite definir
estas ausecircncias como uma caracteriacutestica intriacutenseca do gecircnero
84
Na primeira parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o quantificador
universal Identificamos quinze ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia
utilizaram esse recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (1) e (15)
percebemos que o uso do quantificador universal em algumas ocorrecircncias serviu apenas para
reforccedilar a informaccedilatildeo que o fabricante quis veicular ou seja se natildeo tivesse sido utilizado natildeo
modificaria o sentido do texto Pudemos identificar esse sentido por exemplo nas
ocorrecircncias (1) e (2)
Aleacutem desse sentido para o uso do quantificador universal encontramos ocorrecircncias
em que caso o quantificador natildeo tivesse sido utilizado haveria a possibilidade de
interpretarmos a ocorrecircncia de vaacuterias maneiras Nesses casos os autores utilizaram o
quantificador para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo direcionando a leitura do texto
para que o cliente possa interpretar o certificado da forma que o fabricante deseja Pudemos
identificar esse sentido por exemplo nas ocorrecircncias (3) (4) e (8)
Pudemos observar que os autores dos certificados de garantia utilizam tambeacutem o
quantificador universal em seus textos para se resguardarem em relaccedilatildeo a deveres que
poderiam ser reclamados pelo cliente caso natildeo houvesse o uso deste recurso Dessa forma
podemos entender que os autores dos certificados utilizaram o quantificador universal para se
favorecerem Pudemos observar essa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (5) (11) (13) e
(14) Em relaccedilatildeo a ocorrecircncias com o uso do quantificador universal em que o cliente eacute
beneficiado natildeo identificamos nenhum caso em nossa anaacutelise
Sobre o aparecimento de termos vagos ou termos polissecircmicos nas ocorrecircncias com a
presenccedila do quantificador universal pudemos observar que o maior motivo da sensibilidade
dos textos a esses tipos de efeitos linguiacutesticos eacute o fato de os autores dos textos em muitos
casos natildeo conceituarem os termos teacutecnicos que eles utilizam nos certificados de garantia Ao
utilizar um termo teacutecnico como por exemplo na ocorrecircncia (3) em que o autor do
certificado de garantia utiliza o termo ―viacutecio do produto ndash termo teacutecnico do CDC ndash natildeo
apresentando o conceito em seu texto dificulta a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Tendo contato
com o termo de forma solta sem estar delimitada pelo conceito que o autor deseja que o
cliente interprete a ocorrecircncia se torna vaga e polissecircmica
Ainda sobre os termos vagos ou termos polissecircmicos encontramos tambeacutem
ocorrecircncias em que os autores buscaram evitaacute-las justamente apresentando apoacutes a utilizaccedilatildeo
de um termo teacutecnico o seu respectivo conceito desta forma natildeo oferecendo a possibilidade
de interpretaacute-lo de vaacuterias maneiras Pudemos observar este uso por exemplo na ocorrecircncia
(10) em que o autor do certificado usa o termo ―garantia legal e logo em seguida apresenta
85
o conceito para o termo que eacute ―os primeiros 90 dias Dessa forma o cliente natildeo eacute autorizado
a interpretar o termo ―garantia legal de nenhuma outra forma que natildeo seja a descrita pelo
fabricante
Na segunda parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o uso do condicional
Identificamos nove ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia utilizaram este
recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (16) e (24) pudemos identificar
que o condicional foi utilizado pelos autores dos textos precedendo listas instrucionais o que
era esperado devido a caracteriacutestica proacutepria desse recurso que eacute o de condicionar algo agrave
alguma coisa Assim como nas ocorrecircncias que os autores utilizaram o quantificador
universal o condicional foi utilizado em boa parte das ocorrecircncias analisadas para restringir
a interpretaccedilatildeo do texto Pudemos identificar este sentido por exemplo nas ocorrecircncias (16)
(17) e (18)
Identificamos em boa parte das ocorrecircncias que possuem o uso do condicional que
este uso natildeo impotildee um limite na interpretaccedilatildeo Pudemos observar em nossa anaacutelise que os
condicionais foram utilizados precedendo listas exaustivas que continham situaccedilotildees por
exemplo em que a garantia seria invalidada Ao apresentar tais listas os autores natildeo
especificavam que natildeo haveria outros casos fora da lista em que a garantia seria invalidada
Dessa forma observamos que assim como nas ocorrecircncias com quantificador universal os
autores utilizaram os condicionais para se favorecerem Identificamos na ocorrecircncia (22)
recursos que restringem ainda mais as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente e
que consequentemente favorecem o fabricante como o uso do termo ―cumulativamente
que obriga o cliente a natildeo apenas estar dentro de uma ou mais situaccedilotildees descritas pelo
fabricante apoacutes o condicional mas a seguir todas as situaccedilotildees descritas ao mesmo tempo
Quando os fabricantes utilizaram o condicional precedendo listas que constam as
situaccedilotildees em que o cliente poderia perder a garantia eles usaram o recurso sem limites como
pudemos observar na ocorrecircncia (21) Mas quando os fabricantes utilizaram o condicional
precedendo listas que constam as situaccedilotildees em que o cliente tem direito a garantia eles
usaram os recursos com limites e como mostramos na ocorrecircncia (22) ainda utilizaram
recursos que limitam mais ainda a garantia
Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem das ocorrecircncias em que o condicional apareceu
de forma expliacutecita ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o mesmo
sentido como em (19) (20) e (24)
Sobre a presenccedila de termos polissecircmicos ou termos vagos nas ocorrecircncias com o uso
do condicional pudemos identificar que diferente das ocorrecircncias com o uso do
86
quantificador universal natildeo encontramos casos de termos vagos ou termos polissecircmicos nas
ocorrecircncias analisadas Identificamos em muitas ocorrecircncias que os autores dos certificados
apresentaram os conceitos para termos teacutecnicos apoacutes uso geralmente entre parecircnteses para
evitar que o termo ou a expressatildeo fossem interpretados de formas indevidas Encontramos
este tipo de estrateacutegia por exemplo na ocorrecircncia (17) do certificado 3 em que o autor
utiliza os termos ―garantia legal e ―garantia contratual mas no texto do certificado haacute o
conceito para cada termo o que impossibilita que o cliente interprete os termos de diversas
maneiras Caso o fabricante tivesse utilizado os dois termos teacutecnicos e em lugar algum do
certificado de garantia ele apresentasse os conceitos para os termos oportunizaria por
conseguinte diversas possibilidades de interpretaccedilatildeo dificultando a leitura do texto por parte
do cliente
Na terceira parte da anaacutelise tratamos sobre as ocorrecircncias com o uso do ―apenas e do
―somente Identificamos trinta ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia
utilizaram esses recursos linguiacutesticos Apesar do nuacutemero elevado de ocorrecircncias os sentidos
em que o ―apenas e o ―somente foram utilizados natildeo variaram muito Em grande parte das
ocorrecircncias analisadas o ―apenas e o ―somente foram utilizados para restringir a validade
da garantia desde restriccedilotildees em relaccedilatildeo ao territoacuterio de vigecircncia ateacute tipos de ambientes em
que os produtos podem ser utilizados Um tipo de ocorrecircncia que foi bastante recorrente em
nosso corpus foi o que utilizou o ―apenas ou ―somente para delimitar o territoacuterio em que a
garantia pode ser vaacutelida como por exemplo nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)
Nestas ocorrecircncias haacute o uso da expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que levantamos na anaacutelise
uma discussatildeo sobre as possibilidades de interpretaccedilatildeo para tal expressatildeo pelo fato de natildeo
haver nos certificados de garantia analisados um conceito definido para ela A ausecircncia do
conceito para este termo nos certificados de garantia pode dificultar a interpretaccedilatildeo
Tambeacutem podemos afirmar que em grande parte das ocorrecircncias analisadas o uso do
―somente ou ―apenas serviu para impor limites agraves interpretaccedilotildees dos textos direcionando-
os para a interpretaccedilatildeo que o fabricante desejasse impor Ou seja em grande parte das
ocorrecircncias em que foi utilizado o ―somente precedendo uma situaccedilatildeo X caso natildeo houvesse
esse uso a garantia por exemplo seria vaacutelida na situaccedilatildeo X mas tambeacutem nas situaccedilotildees Y Z
W sem limites Sem o uso do ―somente nessas ocorrecircncias o texto da garantia natildeo teria
sentido definido Pudemos observar esse sentido em diversas ocorrecircncias analisadas como
por exemplo nas ocorrecircncias (27) e (28) Ilustrando caso natildeo houvesse o uso do ―apenas
nas ocorrecircncias (27) e (28) a garantia seria vaacutelida no territoacuterio brasileiro e em qualquer outro
Ainda sobre as ocorrecircncias usam o ―somente ou ―apenas para restringir o territoacuterio em que
87
a garantia seraacute vaacutelida observamos que algumas ocorrecircncias especificam mais a validade da
garantia como em (48) que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para produtos vendidos e
instalados em territoacuterio nacional e outras ocorrecircncias que especificam menos como em (39)
que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para o veiacuteculo comercializado em territoacuterio brasileiro
Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem de ocorrecircncias em que o ―apenas e ―somente
apareciam explicitamente ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o
mesmo sentido como em (35) (36) e (41)
Sobre o aparecimento de termos polissecircmicos ou termo vagos aleacutem da expressatildeo
―territoacuterio brasileiro que mencionamos nos paraacutegrafos anteriores pudemos identificar
outros casos de termos polissecircmicos como por exemplo nas ocorrecircncias (25) e (26) Os
termos teacutecnicos utilizados pelos autores dos certificados de garantia natildeo possuiacuteam em lugar
algum dos textos os conceitos para lhes definirem possibilitando que o cliente interprete
estes termos de diversas maneiras
Ainda sobre casos de termos polissecircmicos observamos em algumas ocorrecircncias que
os autores dos certificados procuraram utilizar os termos teacutecnicos e em seguida ou em
alguma parte dos textos apresentaram os conceitos para os termos evitando muacuteltiplas
interpretaccedilotildees Identificamos o uso dessa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (43) (44) e
(49)
Nos trecircs tipos de ocorrecircncias que definimos para nossa anaacutelise pudemos identificar
que nos usos do quantificador universal condicional e ―apenas e ―somente os autores dos
certificados de garantia usaram esses recursos para se favorecerem Como analisado nas
ocorrecircncias do corpus os fabricantes utilizaram essas estrateacutegias tanto pelo fato de que eacute
necessaacuterio utilizar esses recursos por ser caracteriacutestico de textos instrucionais quanto pelo
fato de que o direcionamento das interpretaccedilotildees dos textos que eles constroem a partir destes
recursos podem favorecer os proacuteprios fabricantes
88
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Na presente seccedilatildeo iremos pontuar o percurso de nossa pesquisa e apresentar nossas
impressotildees sobre o corpus as teorias apresentadas e os resultados obtidos com as anaacutelises
O primeiro capiacutetulo de nossa pesquisa foi subdividido em duas partes na primeira
buscamos apresentar os conceitos gerais sobre os gecircneros textuais com base na proposta de
Bakhtin (2000) reafirmada por Marcuschi (2008) com o intuito de fornecer aporte teoacuterico
para a segunda parte do capiacutetulo em que caracterizamos o certificado de garantia como um
gecircnero textual Tal caracterizaccedilatildeo se deu pelo fato do nosso corpus ser composto por vinte e
dois certificados de garantia Ficamos surpresos por tomar conhecimento do fato de que ateacute o
presente momento natildeo identificamos publicaccedilotildees acadecircmicas em nosso paiacutes referentes agrave
caracterizaccedilatildeo de certificados de garantia como gecircneros textuais e esta dificuldade nos levou
a construir atraveacutes de nossa leitura a caracterizaccedilatildeo tanto quanto ao conteuacutedo quanto agrave
estrutura do texto A uacutenica bibliografia que encontramos e utilizamos como base para a
estruturaccedilatildeo da segunda parte do capiacutetulo tratando diretamente sobre os certificados de
garantia foi o Coacutedigo de Defesa e Proteccedilatildeo do Consumidor (1997) em que pudemos extrair
alguns conceitos gerais e recomendaccedilotildees de como se deve construir o texto de um certificado
de garantia Um dos problemas que encontramos foi a carecircncia de detalhes apresentados pelo
CDC na seccedilatildeo em que sugerem um padratildeo de formulaccedilatildeo do documento O CDC apenas
enfatiza que se faz necessaacuterio o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo e por exemplo a
necessidade de ser acompanhado do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto Com base
nessas informaccedilotildees apresentamos os conceitos e tambeacutem um exemplo de certificado de
garantia ilustrando cada parte da estrutura do texto
Na introduccedilatildeo do segundo capiacutetulo apresentamos uma discussatildeo geral sobre a
distinccedilatildeo entre semacircntica e pragmaacutetica com o objetivo de caracterizar os nexos como
relaccedilotildees linguiacutesticas do campo da semacircntica Para isso apresentamos tambeacutem os conceitos e
exemplos de relaccedilotildees linguiacutesticas que satildeo consideradas como pertencentes ao campo da
pragmaacutetica como a implicatura e pressuposiccedilatildeo Para esta discussatildeo buscamos aporte teoacuterico
nas obras de autores como Trask (2004) Levinson (2007) Grice (1987) Basso (2009)
Moura (1999) e Santos (2012)
Apoacutes a introduccedilatildeo do capiacutetulo apresentamos a teoria dos nexos semacircnticos que
escolhemos tratar em nossa pesquisa Foram eles o acarretamento a equivalecircncia semacircntica
a contradiccedilatildeo e a contrariedade Utilizamos como referencial teoacuterico para a teoria dos nexos
89
semacircnticos autores como Aristoacuteteles (1985) Chierchia (2001) Branquinho Murcho e Gomes
(2006) Pires de Oliveira (2001) e Mortari (2001) A apresentaccedilatildeo de cada nexo se deu a
partir dos conceitos seguidos de exemplos e dentro de cada seccedilatildeo apresentamos tambeacutem
tipos de ocorrecircncias lexicais que podem dificultar a intepretaccedilatildeo dos nexos que satildeo a
polissemia e a vagueza Ao apresentar os conceitos dessas ocorrecircncias lexicais assim como
fizemos na apresentaccedilatildeo dos nexos tambeacutem ilustramos com exemplos Utilizamos como
aporte teoacuterico para os conceitos de polissemia e vagueza autores como Crystal (1985) Allan
(2010) e Kempson (1977) Aleacutem da polissemia e vagueza tratamos sobre outro problema
que dificulta a interpretaccedilatildeo dos nexos as falaacutecias Quando tratamos sobre as caracteriacutesticas
das falaacutecias utilizamos como base teoacuterica o texto de Soares (2003) em que o autor distingue
as caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias e com esse aporte apresentamos nossos
exemplos
Quando tratamos sobre a contradiccedilatildeo e contrariedade apresentamos o fato de que as
suas origens tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica A partir disso trouxemos uma breve apresentaccedilatildeo
sobre os conceitos de Aristoacuteteles presentes em seu texto Organon (1985) mais
especificamente no Perieacutermeneas capiacutetulos 6 e 7
No final do capiacutetulo dois fizemos uma retrospectiva de todos os pontos que foram
apresentados ao longo do capiacutetulo e justificamos a nossa escolha em pesquisar sobre os nexos
semacircnticos assim como a polissemia vagueza e falaacutecias Durante todo o capiacutetulo dois
apresentamos os nexos e outras relaccedilotildees lexicais dentro de uma linguagem controlada que eacute
diferente do que acontece nos textos dos diversos gecircneros inclusive naquele escolhido para
compor o nosso corpus que satildeo os certificados de garantia A importacircncia dos conceitos
apresentados em nosso segundo capiacutetulo se deu pelo fato de que ele oferece uma base para a
compreensatildeo do funcionamento dessas relaccedilotildees semacircnticas para que diante das anaacutelises que
realizamos no capiacutetulo trecircs tenhamos uma leitura mais refinada e atenciosa para perceber
como essas relaccedilotildees semacircnticas tiacutepicas de linguagens controladas se apresentam em textos
que satildeo suscetiacuteveis a diversas ocorrecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo Ficamos surpresos
pelo fato de que pouco se escreveu sobre nexos semacircnticos em nosso contexto nacional de
pesquisa o que tornou a construccedilatildeo do nosso segundo capiacutetulo bastante desafiadora Em
relaccedilatildeo a artigos que trataram diretamente sobre os nexos semacircnticos e os seus usos como
suporte para a anaacutelise de ocorrecircncias em gecircneros textuais tivemos contato apenas com Santos
(2012) e Estrela e Santos (2013 2014)
No terceiro capiacutetulo que foi dedicado para conter a anaacutelise desta pesquisa
inicialmente apresentamos nossa justificativa para a escolha do gecircnero certificado de garantia
90
para analisar assim como a justificativa para a escolha de procurar nesses textos as
estrateacutegias linguiacutesticas utilizadas para restringir a interpretaccedilatildeo de sentenccedilas Em seguida
tratamos sobre os tipos de ocorrecircncias que elegemos para nossa anaacutelise como quantificador
universalcondicional e o ―apenas e o ―somente Esta escolha se deu pelo fato de tais
termos possuem caracteriacutesticas propiacutecias para o uso em restriccedilotildees ou abrangecircncias de textos
Mesmo assim tiacutenhamos conhecimento de que dificilmente encontrariacuteamos ocorrecircncias com
as relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos no capiacutetulo dois de forma expliacutecita e controlada
pois como discutimos anteriormente os diversos gecircneros textuais satildeo suscetiacuteveis a
interferecircncias lexicais que podem dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos
Em seguida apresentamos a anaacutelise do nosso corpus que totalizou cinquenta e quatro
trechos de certificados nos trecircs tipos de ocorrecircncias escolhidas para serem investigadas
Como jaacute apresentamos no final do capiacutetulo anterior nossas impressotildees sobre como foram
utilizados os recursos linguiacutesticos para restriccedilatildeo de interpretaccedilotildees pelos autores dos
certificados gostariacuteamos de enfatizar que nas ocorrecircncias com quantificador universal com
condicional e com o ―apenas e ―somente os fabricantes utilizaram estes recursos em
grande parte dos certificados para se favorecerem ou seja para abranger as possibilidades de
invalidade da garantia do produto aumentando as situaccedilotildees em que a garantia eacute perdida e
diminuindo as situaccedilotildees em que a garantia eacute vaacutelida (principalmente nas listas exaustivas)
Sobre ocorrecircncias em que identificados termos vagos ou termos polissecircmicos
identificamos como o motivo principal do aparecimento dessas ocorrecircncias a falta de
definiccedilatildeo dos termos teacutecnicos Em muitos certificados identificamos que os autores utilizaram
termos teacutecnicos (a maioria deles provenientes do CDC) e natildeo apresentaram em nenhuma
parte do texto as definiccedilotildees para tais termos oportunizando que o leitor interprete de
diversas maneiras os termos ou expressotildees
Por fim pudemos perceber que os quantificadores os condicionais e termos como o
―apenas e o ―somente que satildeo responsaacuteveis por abranger ou restringir interpretaccedilotildees de
sentenccedilas satildeo proacuteprios do tipo de texto instrucional que abarca o gecircnero que escolhemos para
nossa pesquisa A utilizaccedilatildeo desses termos seguiu uma ordem de apresentaccedilatildeo similar nos
vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Os quantificadores universais
apareceram muitas vezes nas explicaccedilotildees em que os fabricantes apresentavam prazos deveres
e direitos do fabricante e cliente os condicionais apareceram na maioria das vezes
precedendo as listas exaustivas e o ―apenas e ―somente apareceram em grande parte nos
trechos em que os fabricantes apresentavam delimitaccedilotildees territoriais para cobertura da
91
garantia e explicaccedilotildees sobre as situaccedilotildees em que a garantia eacute invalidada e as situaccedilotildees em que
a garantia se assegura
Assim como justificamos no iniacutecio das consideraccedilotildees sobre os resultados obtidos em
nossa anaacutelise natildeo encontramos ocorrecircncias com trecircs dos quatro nexos semacircnticos
apresentados no segundo capiacutetulo O fato de natildeo termos identificado ocorrecircncias com
equivalecircncias semacircnticas contrariedades e contraditoriedades traacutes a tona uma interessante
caracteriacutestica do gecircnero certificado de garantia que eacute a constante presenccedila de acarretamentos
na redaccedilatildeo do texto mesmo que apresentados indiretamente diferente dos exemplos que
utilizamos para ilustrar os conceitos nos diversos textos sobre o assunto e a natildeo utilizaccedilatildeo de
equivalecircncias sentenccedilas contraacuterias e contraditoacuterias na redaccedilatildeo do texto
Atraveacutes dessa pesquisa em que tratamos sobre os nexos semacircnticos a polissemia a
vagueza e alguns outros tipos de relaccedilotildees semacircnticas desejamos que outros pesquisadores se
interessem por este tipo de trabalho e busquem explorar nas anaacutelises linguiacutesticas outros
gecircneros textuais pouco explorados como o que utilizamos no presente trabalho Apresentar
uma teoria que eacute tipicamente de linguagens controladas como a dos nexos semacircnticos (que
satildeo como jaacute discutimos dependentes unicamente da forma das sentenccedilas) e analisar como
essas estrateacutegias linguiacutesticas se comportam dentro de textos instrucionais (que ainda satildeo
pouco explorados nas anaacutelises semacircnticas) satildeo a nosso ver interessantes caminhos a serem
desbravados nos estudos da semacircntica assim como as suas aplicaccedilotildees nos diversos gecircneros
textuais que nos rodeiam
92
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95
ANEXOS
Certificado 1
96
Certificado 2
97
Certificado 3
98
Certificado 4
99
Certificado 5
100
Certificado 6
101
Certificado 7
102
Certificado 8
103
Certificado 9
104
105
Certificado 10
106
Certificado 11
107
Certificado 12
108
109
Certificado 13
110
Certificado 14
111
112
Certificado 15
113
114
Certificado 16
115
116
117
118
119
120
121
Certificado 17
122
Certificado 18
123
Certificado 19
124
125
Certificado 20
126
Certificado 21
127
Certificado 22
AGRADECIMENTOS
Agradeccedilo primeiramente ao nosso Deus Todo Poderoso Mestre supremo de nossas
vidas e aos seus anjos de luz espiacuteritos elevados missionaacuterios da luz pela oportunidade de
realizar esta pesquisa por toda a inspiraccedilatildeo e pela sauacutede que natildeo me faltou em nenhum
momento desses 24 meses de estudos
Agrave minha orientadora Dra Maria Leonor Maia dos Santos por ter acreditado em meu
potencial e ter aceitado me auxiliar na elaboraccedilatildeo desta pesquisa A sua generosidade
comprometimento e sabedoria serviratildeo para mim como exemplo de profissionalismo
acadecircmico a ser seguido O peso do desafio de realizar essa pesquisa certamente foi muito
menor por ter uma mentora tatildeo precisa quanto ela
Ao prof Dr Giovanni da Silva de Queiroz por ter aceitado participar da banca de
avaliaccedilatildeo desta pesquisa o que eacute representa uma grande honra para mim Desde o iniacutecio do
ano de 2011 momento em que participei de um mini-curso sobre Loacutegica Claacutessica na UEPB
ministrado por ele muito tenho aprendido com suas indicaccedilotildees de bibliografias e orientaccedilotildees
sempre muito pertinentes
Agrave profa Dra Mocircnica Mano Trindade Ferraz pela generosidade apreccedilo e humanidade
para comigo ao me acolher em seu grupo de pesquisa junto aos seus orientandos
oportunizando que eu a cada encontro do grupo aprendesse um pouco mais sobre as diversas
semacircnticas Tambeacutem agradeccedilo pela honra de tecirc-la como integrante da banca de avaliaccedilatildeo
desta pesquisa e pelas saacutebias orientaccedilotildees ao longo destes dois anos de estudos no PROLING
Aos meus pais Geraldo e Silvacircnia Estrela por todo amor confianccedila e suporte
oferecidos a mim desde o princiacutepio desta minha vida Espero poder um dia retribuir ao menos
uma parcela de tudo o que eles fizeram e fazem por mim
Agrave minha irmatilde Karla Estrela pelo exemplo de determinaccedilatildeo e disciplina
Agrave minha noiva Maria Eduarda por toda dedicaccedilatildeo carinho amor companheirismo e
principalmente paciecircncia comigo vinte e quatro horas por dia sete dias na semana Eu
certamente natildeo conseguiria concluir com tanta serenidade esta pesquisa caso ela natildeo estivesse
ao meu lado
Agrave minha amiga Angeacutelica Vilar que me apresentou o PROLING e me deu todo o
suporte para que eu realizasse o processo de seleccedilatildeo de mestrado Haacute quem natildeo acredite em
anjos mas tenho a convicccedilatildeo de que pessoas desse calibre natildeo merecem um tiacutetulo menos
divino
Aos amigos Joseacute Wellisten e Alessandra Miranda pela disponibilidade e atenccedilatildeo para
lerem meu trabalho e fazerem criacuteticas construtivas
Ao amigo Thiago Magno que me ajudou em um dos momentos mais delicados no
periacuteodo poacutes-defesa Dedico minha amizade e minha eterna gratidatildeo por tudo
Agrave CAPES pelo apoio financeiro oferecido para essa pesquisa pelo periacuteodo de 17
meses
εἰδέναι δὲ χπὴ τὸν πόλεμον ἐόντα
ξυνόν καὶ δίκην ἔπιν καὶ γινόμενα
πάντα κατ ἔπιν καὶ χπεών
(Heraacuteclito frag 80)
RESUMO
O estudo das relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas eacute um campo bastante discutido e
pesquisado nos estudos linguiacutesticos A observaccedilatildeo de como se comportam os termos na
construccedilatildeo de significados em textos de diversos gecircneros e seus efeitos de interpretaccedilatildeo
tambeacutem satildeo temas muito difundidos entre as pesquisas das semacircnticas Nesta produccedilatildeo
discutiremos sobre as relaccedilotildees de significado e seus efeitos de sentido em um gecircnero
especiacutefico As relaccedilotildees que investigaremos satildeo os nexos semacircnticos ou nexos de significado
como proposto por Chierchia (2003) que satildeo respectivamente acarretamento equivalecircncia
semacircntica contraditoriedade e contrariedade O gecircnero que escolhemos para nossa anaacutelise eacute o
certificado de garantia e a escolha de tal gecircnero se deu pelo fato deste fazer parte do grupo de
textos injuntivos ou instrucionais que a nosso ver possui caracteriacutesticas que favorecem a
amostragem dos nexos semacircnticos Iremos analisar como os nexos semacircnticos satildeo utilizados
para restringir ou abranger as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos certificados de garantia O
corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de garantia de
produtos de diversos segmentos e decidimos escolher certificados de produtos de linhas
diversas para constituirmos um panorama sobre o gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes
da internet sem utilizar nenhuma metodologia especiacutefica apenas atentamos para buscar
certificados de produtos variados Buscamos nessa pesquisa instigar a reflexatildeo sobre as
relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e a observaccedilatildeo destas nos textos instrucionais que
lidamos no dia-a-dia e que por muitas vezes deixamos passar despercebido o seu conteuacutedo
O entendimento sobre os nexos de significado pode nos oferecer ferramentas para melhor
leitura de textos desse tipo
Palavras chave Nexos semacircnticos Certificado de garantia Semacircntica
ABSTRACT
The study of the meaning of relations between sentences is a much discussed and researched
field in linguistic studies The observation of how the terms behave in the construction of
meanings in texts of different genres and their interpretation effects are also widespread
themes among semantic research In this work we will discuss about the meaning of the
relations of meaning and their sense of purpose in a specific genre The relations that we will
investigate are semantic nexus or semantic links as proposed by Chierchia (2003) which are
respectively entailment semantic equivalence contradictoriness and contrariness The genre
we chose for our analysis is the warranty certificate and the choice of this genre was made
because it is part of the injunctive or instructional texts group that in our opinion has
characteristics that favor the sampling of semantic nexus We will analyze how the semantic
nexus are used to restrict or cover the possibilities of interpretation in the warranty
certificates The corpus of this research has 22 (twenty two) copies of warranty certificates
from different segments and we decided to choose certificates from separate lines to
constitute an overview of the genre The collection of the texts took place through the
internet without using any particular methodology of choice only we pay attention to seek
warranty certificates of diverse products We seek in this research instigate reflection on the
meaning relations between sentences and observance of these in instructional texts that we
have contact in daily life and that for many times let go unnoticed its contents The
understanding of the semantic nexus can offer us tools to better read texts of this type
Keywords Semantic nexus Warranty certificate Semantics
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 13
1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA 16
11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS 16 12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL 26
2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS 32
21 ACARRETAMENTO 35 22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA 42 23 CONTRADITORIEDADE 45 24 CONTRARIEDADE 48 25 JUSTIFICANDO O PERCURSO 51
3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA 53
31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL 55 32 USO DO CONDICIONAL 64 33 USO DO APENASSOMENTE 68 34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS 83
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 88
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 92
ANEXOS 95
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa 14
QUADRO 2 - Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia 83
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
ILUSTRACcedilAtildeO 1 - Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 27
ILUSTRACcedilAtildeO 2 - Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28
ILUSTRACcedilAtildeO 3 - Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28
ILUSTRACcedilAtildeO 4 - Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28
ILUSTRACcedilAtildeO 5 - Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 29
13
INTRODUCcedilAtildeO
A abordagem das relaccedilotildees de significado eacute algo bastante presente e discutido nos
estudos semacircnticos Observar como se comportam os termos na construccedilatildeo da significaccedilatildeo
em textos de diversos gecircneros distintos e seus efeitos interpretativos tambeacutem satildeo temas de
diversas produccedilotildees na aacuterea de linguiacutestica
Neste trabalho iremos discutir as relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e os efeitos
interpretativos dessas relaccedilotildees em textos Mais especificamente abordaremos os nexos
semacircnticos ou nexos de significado (Chierchia 2003) acarretamento equivalecircncia semacircntica
contrariedade (os quais podemos encontrar no referido trabalho de Chierchia) e
contraditoriedade (nexo semacircntico que geralmente eacute relacionado com a contrariedade e que
foi tratado por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado atraveacutes de seu quadrado loacutegico
ou taacutebua de oposiccedilotildees em seu texto Perieacutermeneas (1985) mais especificamente nos
capiacutetulos 6 e 7 sobre o qual faremos menccedilatildeo na seccedilatildeo sobre este nexo)
Este trabalho tem por objetivo observar alguns dos recursos linguiacutesticos utilizados
para favorecer a existecircncia de nexos semacircnticos e com isso restringir ou ampliar
possibilidades de interpretaccedilatildeo em um gecircnero textual especiacutefico Por este motivo o gecircnero
que escolhemos analisar foi o certificado de garantia ou termo de garantia que pertence agrave
categoria dos textos instrucionais (ou injuntivos) e a nosso ver possui caracteriacutesticas que
favorecem a amostragem das ocorrecircncias dos nexos
O gecircnero certificado de garantia possui como uma de suas caracteriacutesticas a
apresentaccedilatildeo organizada dos direitos e deveres do cliente e do fabricante com relaccedilatildeo a um
produto servindo tambeacutem para informar ao cliente os seus direitos referentes agrave validade
prazos e extensatildeo de cobertura da garantia Supotildee-se entatildeo que o texto deve por isso ser
objetivo e livre de ambiguidades e incoerecircncias
Nossa hipoacutetese eacute a de que recursos linguiacutesticos que favoreccedilam a existecircncia de nexos
semacircnticos nos textos dos certificados ndash como o emprego por exemplo de conectivos e
quantificadores (Chierchia 2003 PIRES DE OLIVEIRA 2001) ndash estatildeo presentes em textos
deste gecircnero e contribuem para que os textos alcancem o objetivo de informar ao cliente e ao
fabricante seus deveres e direitos
O corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de
garantia de produtos diversos para constituir um panorama ainda que reduzido de instacircncias
do gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes da internet sem utilizar nenhuma metodologia
14
especiacutefica de escolha atentando para buscar certificados de produtos variados Os textos
escolhidos para a anaacutelise de nosso trabalho incluem diversos produtos manufaturados como
moacuteveis veiacuteculos eletroeletrocircnicos entre outros equipamentos domeacutesticos como ilustrado no
quadro a seguir
Nordm Tipo de objeto Fabricante
1 Refrigerador Samsung
2 TV led Sony
3 Condicionador de ar LG
4 Tablet AOC
5 AudioMixer Oneal
6 Garantia para todos os produtos Elgin
7 Estabilizador de energia APC
8 Aquecedor de aacutegua Bosch
9 Fogatildeo Brastemp
10 Maacutequina de lavar Electrolux
11 Ventilador Cadence
12 GPS Positron
13 Umidificador de ar Springer
14 Certificado internacional de garantia Philips
15 Colchatildeo Ortobom
16 Caminhotildees Mercedes-Benz
17 Carro de passeio Hyundai
18 Moacuteveis Bartzen
19 Aquecedor de ar Fujitsu
20 Tv AOC
21 Aquecedor de aacutegua para piscina Rheem
22 Bicicleta Total Health
Quadro 1 ndash Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa Fonte elaborado pelo autor
Como nosso propoacutesito eacute analisar os textos observando as ocorrecircncias de termos que
restringem e abrangem interpretaccedilotildees natildeo temos a intenccedilatildeo de analisar se um fabricante
elaborou um texto melhor que outro
No primeiro capiacutetulo apresentamos num primeiro momento o que satildeo gecircneros
textuais e em seguida caracterizamos o certificado de garantia como um gecircnero textual Para
tanto utilizamos o aporte teoacuterico baseado na obra de Mikhail Bakhtin (2000) linguista do
iniacutecio do seacuteculo referecircncia nos estudos de gecircneros textuais e de Luiz Antocircnio Marcuschi
(2002 2005 2008) linguista contemporacircneo que desenvolveu importantes trabalhos nessa
disciplina Vale salientar que como o foco de nossa pesquisa natildeo eacute a discussatildeo de gecircneros
textuais o capiacutetulo que construiacutemos trata de conceitos gerais sobre gecircneros tendo como
15
objetivo observar que o certificado de garantia eacute um gecircnero textual e mostrando como se
estrutura em linhas gerais um texto deste gecircnero
No segundo capiacutetulo trataremos dos nexos semacircnticos dos quais consideraremos
para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e
contrariedade Atraveacutes de exemplos discutimos brevemente cada um deles mostrando
exemplos que funcionam e tambeacutem exemplos problemaacuteticos em relaccedilatildeo ao leacutexico
especialmente em casos de polissemia para que entatildeo seja possiacutevel a anaacutelise do capiacutetulo
seguinte
No terceiro capiacutetulo traremos a anaacutelise do corpus que se apresentaraacute organizado por
ocorrecircncias distribuiacutedas em tipos a saber uso do quantificador universal uso do condicional
e uso do apenassomente Apoacutes o exame das trecircs categorias citadas trataremos entatildeo das
relaccedilotildees entre o emprego dos recursos e a funccedilatildeo dos certficados Procuraremos tambeacutem
refletir se os recursos satildeo mais utilizados para favorecer o cliente ou mais utilizados para
favorecer o fabricante
Por uacuteltimo mostraremos as consideraccedilotildees finais do trabalho e em seguida as
referecircncias bibliograacuteficas utilizadas na elaboraccedilatildeo de nosso texto
16
1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA
Neste capiacutetulo tratamos dos gecircneros textuais e da caracterizaccedilatildeo dos certificados de
garantia como um gecircnero textual Em um primeiro momento traremos a perspectiva sobre
gecircneros textuais de Mikhail Bakhtin precursor dos estudos de gecircneros textuais na linguiacutestica
e em seguida apresentaremos a perspectiva de Luiz Antocircnio Marcuschi linguista brasileiro
que tambeacutem trabalha com o tema e compartilha em grande parte da perspectiva de Bakhtin
sobre o os gecircneros Eacute importante ressaltar que este capiacutetulo natildeo tem por objetivo o
aprofundamento nos estudos dos gecircneros e serve como um instrumento para contextualizar o
corpus desta pesquisa
11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS
Considerando a perspectiva apresentada por Mikhail Bakhtin na obra Esteacutetica da
criaccedilatildeo verbal (2000) o ato de se comunicar eacute indispensaacutevel para as relaccedilotildees humanas Aleacutem
disso ressaltamos que eacute por tal razatildeo que nas diversas situaccedilotildees de interaccedilatildeo que
vivenciamos em nosso cotidiano observamos a utilizaccedilatildeo da liacutengua em suas modalidades
oral eou escrita como instrumento principal de nossas trocas comunicativas
Eacute notoacuterio que a quantidade de atividades eacute enorme assim como satildeo os diferentes tipos
de situaccedilotildees em que a liacutengua eacute empregada Atraveacutes da formulaccedilatildeo de enunciados podemos
caracterizar quais as funccedilotildees dos discursos que escolhemos para os diversos tipos de
interaccedilatildeo
Nesse sentido eacute possiacutevel afirmarmos que todas as nossas construccedilotildees linguiacutesticas
organizam-se em gecircneros discursivos por meio dos quais conseguimos nos comunicar e
interagir socialmente
Em conformidade com a proposta de Bakhtin todo gecircnero discursivo se constitui a
partir das seguintes dimensotildees o conteuacutedo temaacutetico o estilo e a construccedilatildeo composicional
Esta descriccedilatildeo eacute claacutessica como ponto de partida para a descriccedilatildeo dos gecircneros textuais e nos
ofereceraacute a possibilidade de tanto descrever o que eacute um gecircnero textual quanto caracterizar
um texto como gecircnero que seraacute o nosso objetivo na segunda parte deste capiacutetulo
O conteuacutedo temaacutetico se refere ao tipo de assunto veiculado no texto Por tal razatildeo
Bakhtin (2000) afirma que o gecircnero eacute escolhido a partir do que o locutor decide falar Assim
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eacute faacutecil compreender por que cada atividade comunicativa necessita de um tipo especiacutefico de
textodiscurso Por exemplo natildeo se responde (normalmente) uma carta informal com uma
bula de remeacutedio (a natildeo ser que na carta um texto desse gecircnero seja solicitado como
resposta) Nesse sentido percebe-se que para cada esfera de comunicaccedilatildeo o locutor e
interlocutor utilizam uma mesma forma de expressatildeo tendo em vista o assunto que
escolheram tratar Caso contraacuterio se locutor e interlocutor agregam formas distintas de
expressatildeo pode ser que a comunicaccedilatildeo natildeo seja efetivada com sucesso visto que eacute possiacutevel
natildeo haver o entendimento das partes uma vez que cada gecircnero abarca certo campo de uso
mesmo estando em constante desenvolvimento
O estilo se refere aos recursos linguiacutesticos desde gramaticais ateacute lexicais e eles
variam de acordo com o gecircnero Essa dimensatildeo abarca a seleccedilatildeo frasal lexical gramatical e
as formas de apresentar o discurso que satildeo inerentes ao gecircnero escolhido Bakhtin (2000)
afirma que o estilo eacute a primeira vista individual do gecircnero e ela reflete (ou natildeo) a
individualidade de quem escreve ou fala Isso porque dependendo do gecircnero o estilo
individual aparece com mais clareza Da mesma forma haacute gecircneros que natildeo possuem essa
caracteriacutestica a exemplo dos textos injuntivos sobre os quais trataremos mais agrave frente Ainda
a respeito do estilo Bakhtin assegura que
Quando escolhemos as palavras no processo de construccedilatildeo de um enunciado nem
de longe as tomamos sempre do sistema da liacutengua em sua forma neutra
lexicograacutefica Costumamos tiraacute-las de outros enunciados e antes de tudo de
enunciados congecircneres com o nosso isto eacute pelo tema pela composiccedilatildeo pelo estilo
consequentemente selecionamos as palavras segundo a sua especificaccedilatildeo de
gecircnero O gecircnero do discurso natildeo eacute uma forma da liacutengua mas uma forma tiacutepica do
enunciado como tal forma o gecircnero inclui certa expressatildeo tiacutepica a ele inerente
(BAKHTIN 2010 [1992] p 292 grifos do autor)
Nessa perspectiva podemos afirmar que tal criteacuterio se refere agraves propriedades das
unidades de linguagem e relaciona-se agrave posiccedilatildeo enunciativa do locutor agraves sequecircncias textuais
e aos tipos discursivos que estruturam o texto
Por fim Bakhtin (2000) afirma que cada gecircnero possui uma forma padratildeo que eacute a
estrutura composicional Eacute atraveacutes dessa forma que podemos identificar qual gecircnero estaacute
sendo empregado pois essa dimensatildeo se refere aos procedimentos utilizados na formulaccedilatildeo
dos textos com a estrutura e demais aspectos formais incluindo as partes envolvidas no
discurso Em suma para Bakhtin (2000)
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Estes trecircs elementos (conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo composicional)
fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado e todos eles satildeo marcados pela
especificidade de uma esfera de comunicaccedilatildeo Qualquer enunciado considerado
isoladamente eacute claro individual mas cada esfera de utilizaccedilatildeo da liacutengua elabora
seus tipos relativamente estaacuteveis de enunciados sendo isso que denominamos
gecircneros do discurso (BAKHTIN 2000 p 279 Grifos do autor)
Ainda a respeito dos gecircneros do discurso conveacutem ressaltar que sua variedade eacute
proporcional agraves possibilidades de interaccedilotildees humanas pois as diversas esferas de interaccedilatildeo
satildeo compostas por classes de gecircneros que se desenvolvem tornando-se maiores e mais
complexas em consonacircncia com o desenvolvimento dessas esferas
Bakhtin (2000) utiliza o termo ―heterogeneidade para adjetivar os gecircneros do
discurso sejam eles orais ou escritos inferindo que estes incluem desde conversas informais
cartas relatos familiares ateacute produccedilotildees mais complexas como os documentos oficiais textos
cientiacuteficos e de escolas literaacuterias Natildeo haacute razatildeo para minimizar a extrema heterogeneidade
dos gecircneros do discurso e a consequente dificuldade quando se trata de definir o caraacuteter
geneacuterico do enunciadolsquo (BAKHTIN 2000 p 281) Dessa forma entendemos que a
variedade de gecircneros eacute muito grande se estendendo por exemplo dos romances mais
eruditos ateacute os bilhetes de recados do dia-a-dia e que tratar dos gecircneros admitindo suas
caracteriacutesticas estruturais particulares natildeo eacute uma tarefa faacutecil de realizar
Aleacutem de discorrer sobre as dimensotildees constitutivas de um gecircnero tendo em vista essa
heterogeneidade Bakhtin categoriza os gecircneros textuais em primaacuterios (simples) e
secundaacuterios (complexos) Assim os gecircneros primaacuterios satildeo aqueles referentes agraves reacuteplicas de
diaacutelogos cotidianos como cartas pessoais e demais gecircneros de comunicaccedilatildeo imediata Satildeo
chamados ―simples porque satildeo formados por discursos de baixa complexidade Jaacute os
gecircneros secundaacuterios satildeo aqueles referentes a romances textos cientiacuteficos sociopoliacuteticos e
afins Satildeo textos (escritos ou produzidos para serem encenados como os teatrais ndash exemplo
usado pelo proacuteprio Bakhtin) com maior carga de complexidade de produccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo
Surgem a partir de interaccedilotildees mais aprofundadas nas comunidades com maior grau de
imersatildeo em relaccedilatildeo aos padrotildees culturais e sociais
Ele ainda ressalta que os gecircneros secundaacuterios tambeacutem podem conter gecircneros
primaacuterios ―o romance em seu todo eacute um enunciado da mesma forma que a reacuteplica do
diaacutelogo cotidiano ou a carta pessoal (satildeo fenocircmenos da mesma natureza) o que diferencia o
romance eacute ser um enunciado secundaacuterio (complexo) (BAKHTIN 2000 p 281) Ao
discorrer sobre essa questatildeo o autor assevera que eacute de grande importacircncia teoacuterica a
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diferenciaccedilatildeo entre esses tipos de gecircneros pois com isso e a partir disso podemos fazer
anaacutelises precisas dos enunciados que podem contrapor dois ou mais tipos de textos
Ignorar as caracteriacutesticas intriacutensecas a cada gecircnero a ―natureza dos enunciados - que
segundo Bakhtin eacute indispensaacutevel para qualquer estudo ndash eacute partir para a abstraccedilatildeo da liacutengua
desvalorizando o conteuacutedo histoacuterico imerso em cada tipo de gecircnero Eacute importante considerar
a relaccedilatildeo existente entre ―a liacutengua e a vida e natildeo restringir os enunciados a categorias
formais Haacute portanto uma relaccedilatildeo de complementaccedilatildeo entre a liacutengua a vida e os enunciados
pois ―a liacutengua penetra na vida atraveacutes dos enunciados concretos que a realizam e eacute tambeacutem
atraveacutes dos enunciados concretos que a vida penetra na liacutengua (BAKHTIN 2000 p 282)
Bakhtin (2000) tambeacutem se refere a questotildees da ―totalidade do enunciado que ele
define como aquilo que oportuniza a resposta em um discurso Bakhtin afirma que essa accedilatildeo
eacute definida por trecircs fatores diretamente associados ao ―todo orgacircnico do enunciado
primeiramente o tratamento exaustivo do objeto de sentido depois o querer-dizer do locutor
e por fim as formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do acabamento
O tratamento exaustivo do objeto de sentido ―varia profundamente conforme as
esferas da comunicaccedilatildeo verbal Em algumas esferas ele pode ser quase total como por
exemplo na vida praacutetica na vida profissional na vida militar basicamente em esferas que
natildeo possuem caracteriacutesticas de mutabilidade de discurso e pouca ―criatividade nas
formulaccedilotildees entre outras palavras onde os gecircneros do discurso satildeo padronizados Jaacute nas
esferas em que os gecircneros satildeo ―criativos o tratamento exaustivo eacute muito menos abrangente
como no caso das ciecircncias em particular onde Bakhtin infere que o tratamento exaustivo
―oferece exatamente um miacutenimo de acabamento capaz de suscitar uma atitude responsiva
(BAKHTIN 2000 p 300)
O querer-dizer do locutor estaacute ligado ao primeiro fator O filoacutesofo afirma que em todo
enunciado desde uma reacuteplica cotidiana ateacute complexas obras cientiacuteficas ou da literatura
compreendemos sentimos o ―intuito discursivo ou querer-dizer do locutor que eacute o que
determina o ―todo do enunciado sua amplitude suas fronteiras Noacutes identificamos o que o
locutor quer expressar e a partir dessa detecccedilatildeo medimos e definimos como se daraacute o
enunciado Isso eacute determinante para a escolha do objeto com seus limites e o tratamento
exaustivo do objeto adequado a este aleacutem de ser essencial para a escolha da forma do gecircnero
onde seraacute edificado
As formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do gecircnero do acabamento representam o fator mais
importante para Bakhtin que as descreve como ―formas estaacuteveis do gecircnero do enunciado
(BAKHTIN 2000 p 301)
20
As formas do gecircnero agraves quais modelamos nossa fala se distinguem
substancialmente das formas da liacutengua do ponto de vista de sua estabilidade e de
suas leis normativas para o locutor De um modo geral elas satildeo mais maleaacuteveis
mais plaacutesticas e mais livres do que as formas da liacutengua (BAKHTIN 2000 p 302)
Concluindo a discussatildeo sobre gecircneros a partir dos conceitos gerais propostos por
Bakhtin passamos agora para a discussatildeo sobre gecircneros realizada por Marcuschi (2008) Eacute
possiacutevel perceber ao longo da explanaccedilatildeo que este autor se identifica com a teoria
bakhtiniana de gecircneros textuais e foi essa identificaccedilatildeo uma das motivaccedilotildees que nos levou a
escolhecirc-los para a composiccedilatildeo deste capiacutetulo
De acordo com Marcuschi (2008 p 154) toda comunicaccedilatildeo soacute pode ser efetivada
por meio de um gecircnero pois ―eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum gecircnero
assim como eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum texto Partindo dessa
premissa podemos entender que qualquer manifestaccedilatildeo verbal se daacute dentro dos limites dos
gecircneros Eacute por esse motivo que a variedade de gecircneros eacute extensa mas natildeo infinita Atraveacutes
desse conceito observamos que Marcuschi compactua com o conceito bakhtiniano de que os
gecircneros possuem formas padronizadas e finitas
Os gecircneros textuais satildeo os textos que encontramos em nossa vida diaacuteria e que
apresentam padrotildees sociocomunicativos caracteriacutesticos definidos por composiccedilotildees
funcionais objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integraccedilatildeo
de forccedilas histoacutericas sociais institucionais e teacutecnicas (Marcuschi 2008 p 155)
Natildeo devemos considerar os gecircneros textuais como modelos imutaacuteveis e de ―estrutura
riacutegidas A apresentaccedilatildeo dos gecircneros se mostra ligada diretamente ao meio em que circulam
Satildeo formas culturais que tomam forma na liacutengua e que evoluem junto com ela Obviamente
que natildeo podemos deixar de considerar que os gecircneros possuem identidade e eacute atraveacutes dessa
identidade que escolhemos um tipo especiacutefico para cada esfera discursiva Dessa forma
admitimos que os gecircneros limitam nossa accedilatildeo na escrita
Em relaccedilatildeo agrave distinccedilatildeo entre gecircneros Marcuschi (2008) natildeo os distingue pelas formas
linguiacutesticas mas sim pelos seus campos de accedilatildeo Nesse sentido ele reafirma a perspectiva
bakhtiniana de que os gecircneros satildeo dinacircmicos e que por serem soacutecio-histoacutericos natildeo podem
ser contados de modo exaustivo o que dificulta sua classificaccedilatildeo Marcuschi (2008) afirma
que atualmente o objetivo maior nos estudos sobre gecircneros textuais eacute procurar identificar e
explicar como eles satildeo constituiacutedos e como circulam na sociedade
21
Eacute importante apresentar alguns conceitos referentes ao que estamos discutindo sobre
gecircneros do discurso dentre os quais destacamos os conceitos de tipo textual gecircnero textual e
domiacutenio discursivo segundo Marcuschi (2008) levando em consideraccedilatildeo a possibilidade de
se obter melhor entendimento no trato com o texto em si e seus fenocircmenos
O tipo textual eacute definido pelos aspectos linguiacutesticos ou seja por marcas lexicais
tempos verbais estilo relaccedilotildees loacutegicas e aspectos sintaacuteticos Logo relaciona-se mais agraves
sequecircncias linguiacutesticas do que a materializaccedilotildees textuais fazendo com que o conjunto
tipoloacutegico de textos seja limitado e natildeo apresente tendecircncias de aumentar Marcuschi (2002
p22) afirma que os tipos textuais compreendem categorias amplamente conhecidas como
narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo exposiccedilatildeo descriccedilatildeo e injunccedilatildeo que observaremos separadamente a
seguir
A narraccedilatildeo relata um fato que pode ser real ou imaginaacuterio em um tempo e lugar
definidos envolvendo personagens Nesse tipo de texto o tempo verbal predominante eacute o
passado ao menos nos exemplos mais tiacutepicos Eacute predominante em crocircnicas piadas
romances poemas faacutebulas entre outros Vejamos o exemplo a seguir
O cavalo e o burro
O cavalo e o burro seguiam juntos para a cidade O cavalo contente da vida
folgando com uma carga de quatro arrobas apenas e o burro mdash coitado gemendo
sob o peso de oito Em certo ponto o burro parou e disse
ndash Natildeo posso mais Esta carga excede agraves minhas forccedilas e o remeacutedio eacute repartirmos o
peso irmatildemente seis arrobas para cada um
O cavalo deu um pinote e relichou uma gargalhada
ndash Ingecircnuo Quer entatildeo que eu arque com seis arrobas quando posso tatildeo bem
continuar com as quatro Tenho cara de tolo
O burro gemeu
ndash Egoiacutesta Lembre-se que se eu morrer vocecirc teraacute que seguir com a carga de quatro
arrobas e mais a minha
O cavalo pilheriou de novo e a coisa ficou por isso Logo adiante poreacutem o burro
tropica vem ao chatildeo e rebenta
Chegam os tropeiros maldizem a sorte e sem demora arrumam com as oito arrobas
do burro sobre as quatro do cavalo egoiacutesta E como o cavalo refuga datildeo-lhe de
chicote em cima sem doacute nem piedade
ndash Bem feito exclamou o papagaio Quem mandou ser mais burro que o pobre burro
e natildeo compreender que o verdadeiro egoiacutesmo era aliviaacute-lo da carga em excesso
Tome Gema dobrado agorahellip
(LOBATO M 2010 p 85)
Acima podemos observar um exemplo de narraccedilatildeo que eacute uma das faacutebulas de
Monteiro Lobato escrita em grande parte em discurso direto Podemos observar na faacutebula
que o texto eacute conduzido pelo narrador intercalado pela interaccedilatildeo dos personagens A seguir
22
continuaremos a descriccedilatildeo dos tipos textuais e exemplos com o conceito do tipo textual
argumentativo
Jaacute a argumentaccedilatildeo tem por principal caracteriacutestica a construccedilatildeo do convencimento
acerca da validade ou invalidade de um ponto de vista por sobre outro Nesse tipo de texto haacute
a reflexatildeo sobre temas especiacuteficos confrontando perspectivas distintas predominante em
gecircneros como debates resenhas editoriais artigos de opiniatildeo e afins Vejamos o exemplo a
seguir
O povo brasileiro estaacute cansado de tanta corrupccedilatildeo desigualdade de renda serviccedilos
puacuteblicos precaacuterios sensaccedilatildeo de inseguranccedila nas ruas elevada carga tributaacuteria
ineficiecircncia nos gastos puacuteblicos e elevaccedilatildeo da inflaccedilatildeo aleacutem do estilo autoritaacuterio e
inflexiacutevel da presidente O estranho eacute pensar sobre as razotildees que levaram a
populaccedilatildeo agraves ruas no momento atual em que a economia apresentou uma
significativa evoluccedilatildeo em relaccedilatildeo aos anos 80 e 90 aleacutem de presenciar sensiacutevel
melhora na renda meacutedia e na sua distribuiccedilatildeo nos anos 2000
A minha impressatildeo eacute de que depois de sentir a possibilidade de que o paiacutes entraria
em uma rota segura de crescimento da renda e de desenvolvimento econocircmico
(semelhante agrave sensaccedilatildeo que a populaccedilatildeo brasileira presenciou nos anos 70) o
enfraquecimento econocircmico e os sinais cada vez mais claros de que ele eacute resultante
de problemas internos deixaram a populaccedilatildeo transtornada Mais uma vez somos
apenas o paiacutes do futuro (NAKABASHI 2013 Acesso
httpwwwgazetadopovocombropiniaoartigosmanifestacoes-e-governo-no-
brasil-bdcjgu3mm6ql5e18tqoj73c5q)
Observamos acima uma parte de um artigo de opiniatildeo publicado no jornal Gazeta do
Povo em 02072013 por Luciano Nakabashi que trata das manifestaccedilotildees e do governo no
Brasil O autor anuncia primeiro o problema que vai discutir e em seguida lanccedila sua opiniatildeo
sobre o tema o que faz com que esse tipo de texto seja distinto da exposiccedilatildeo que
abordaremos a seguir
A exposiccedilatildeo apresenta informaccedilotildees sobre acontecimentos materiais e objetos de
forma detalhada e especiacutefica e por isso costuma lanccedilar matildeo de recursos como a descriccedilatildeo
informaccedilatildeo enumeraccedilatildeo comparaccedilatildeo e contrastes O tipo expositivo eacute caracteriacutestico de
gecircneros como as aulas expositivas verbetes de dicionaacuterios notiacutecias jornaliacutesticas entre
outros Vejamos o exemplo
Dianoia Termo grego que pode ser traduzido por pensamento intelecto
espiacuterito A dianoia eacute o pensamento discursivo enquanto elaboraccedilatildeo explicitaccedilatildeo
ou desenvolvimento da noese ou nous isto eacute da razatildeo intuitiva que capta de
modo imediato o real (Aristoacuteteles Tratado da alma III) Neste sentido a dianoia eacute
inferior ao nous jaacute que depende deste (MARCONDES e JAPIASSUacute 2001 p54)
23
Tomamos como exemplo de exposiccedilatildeo um verbete de um dicionaacuterio de filosofia
Podemos observar que os autores apresentam a palavra ―dianoia e em seguida conceituam a
dianoia a partir da perspectiva de um filoacutesofo especiacutefico (neste caso Aristoacuteteles)
O tipo textual descriccedilatildeo por sua vez eacute o relato particular de eventos e entidades e se
relaciona comumente com outros tipos em inuacutemeros gecircneros textuais Eacute caracteriacutestico em
cartazes promocionais anuacutencio de classificados entre outros Vamos observar agora um
exemplo de descriccedilatildeo atraveacutes da anaacutelise de uma obra de arte de Salvador Dali de 1955
intitulada ―A uacuteltima ceia
―Sua cena estaacute contida num retacircngulo Uma imensa janela ao fundo representada
por um dodecaedro (figura geomeacutetrica de 12 lados que sua vez satildeo pentaacutegonos ou
seja possuem cinco acircngulos cada um) domina toda a composiccedilatildeo
Jesus Cristo e seus 12 apoacutestolos estatildeo reunidos numa sala moderna envidraccedilada
Ele ocupa o centro da mesa de pedra o centro da tela e o centro do pentaacutegono
frontal do dodecaedro Cristo estaacute de frente para o observador contudo seu corpo
transluacutecido permite ver o mar e um barco o que indica que ele natildeo mais eacute humano
mas divino A sensaccedilatildeo que temos eacute de que seu corpo emerge de dentro do mar
Diante de Cristo sobre a mesa estatildeo um copo com vinho e as duas bandas do patildeo
jaacute repartido o que nos permite concluir que Daliacute pintou o momento da Eucaristia A
presenccedila dos barcos no mar remete aos ―pescadores de homens
A mesa eacute formada por um bloco retangular Doze apoacutestolos debruccedilam-se sobre ela
sendo trecircs agrave esquerda de Cristo e trecircs agrave direita Nas suas extremidades estatildeo quatro
apoacutestolos sendo dois de cada lado De costa para o observador estatildeo mais dois
deles Todos estatildeo com as cabeccedilas baixas Um dos apoacutestolos diverge dos demais ao
usar uma toga amarela O pintor queria com certeza diferenciaacute-lo Portanto tanto
pode ser Pedro o fundador da Igreja ou Judas o traidor
No alto com a cabeccedila invisiacutevel e com parte do tronco visiacutevel e os braccedilos abertos
Deus Pai humanizado abraccedila toda a cena como se aguardasse a chegada do Filho
que se encontra entre os homens Ao fundo um mar tranquilo com rochas
espalhadas e um ceacuteu cheio de nuvens compotildeem o segundo plano da tela (Viacuterus da
arte amp cia ndash Site brasileiro especializado em arte e cultura Disponiacutevel em
httpvirusdaartenetdali-a-ultima-ceia)
Acima podemos observar a descriccedilatildeo de uma obra de arte do pintor catalatildeo Salvador
dali retirado de uma paacutegina sobre arte Como o nome do tipo textual sugere a descriccedilatildeo tem
por objetivo descrever fatos mas tambeacutem caracteriacutesticas para objetos paisagens e situaccedilotildees
diversas No exemplo que utilizamos para descriccedilatildeo observamos a descriccedilatildeo de uma obra de
arte por parte de um espectador demonstrando detalhes do que estaacute impresso na pintura
assim como uma interpretaccedilatildeo da cena
O uacuteltimo tipo textual que consideraremos aqui eacute o tipo injuntivo que tem por objetivo
instruir o leitor ou persuadi-lo a fazer algo ou adotar algum ponto de vista Tambeacutem tem
como caracteriacutestica a induccedilatildeo do interlocutor a proceder de uma ou outra forma Geralmente
24
eacute escrito no modo imperativo e eacute caracteriacutestico de gecircneros como a bula de remeacutedio os
manuais de instruccedilotildees receitas culinaacuterias e contratos Vale ressaltar que dentro dos textos
injuntivos podem-se encontrar outros tipos de texto como por exemplo descriccedilotildees de
objetos endereccedilos procedimentos etc Vejamos o exemplo a seguir
Bolo simples
Tempo de preparo 40 minutos
Rendimento 12 porccedilotildees
Ingredientes
2 xiacutecaras de accediluacutecar
3 xiacutecaras de farinha de trigo
4 colheres de margarina bem cheias
3 ovos
1 frac12 xiacutecara de leite aproximadamente
1 colher (sopa) de fermento bem cheia
Modo de preparo
1) Bata as claras em neve
2) Reserve
3) Bata bem as gemas com a margarina e o accediluacutecar
4) Acrescente o leite e a farinha aos poucos sem parar de bater
5) Por uacuteltimo agregue as claras em neve e o fermento
6) Coloque em forma grande de furo central untada e enfarinhada
7) Asse em forno meacutedio preacute-aquecido por aproximadamente 40 minutos
8) Quando espetar um palito e sair limpo estaraacute assado
(httpwwwtudogostosocombrreceita29124-bolo-simpleshtml Acesso em
20042014)
No exemplo uma receita culinaacuteria podemos observar que haacute descriccedilatildeo na primeira
parte (a lista de ingredientes) e na segunda parte (modo de preparo) que eacute a mais
nitidamente injuntiva encontramos instruccedilotildees de como proceder na execuccedilatildeo da receita
Aleacutem da classificaccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo dos tipos de texto eacute interessante observarmos
tambeacutem a definiccedilatildeo de gecircneros textuais e domiacutenio discursivo conforme Marcuschi (2008)
Os gecircneros textuais satildeo definidos como ―textos materializados em situaccedilotildees
comunicativas recorrentes (MARCUSCHI 2008 p155) que apresentam caracteriacutesticas
soacutecio-comunicativas marcadas pelos conteuacutedos e pelas propriedades referentes agraves funccedilotildees e
composiccedilatildeo Diferente dos tipos textuais que se restringem a cerca de meia duacutezia como
afirma Marcuschi (2008) ―os gecircneros satildeo inuacutemeros Tambeacutem haacute de ressaltar que satildeo
culturalmente e historicamente formados visto que evoluem no mesmo passo que as
comunidades
O domiacutenio discursivo por sua vez eacute a esfera de atividade humana em que os textos
circulam Ele natildeo eacute um texto em si mas proporciona o surgimento de discursos especiacuteficos
Para ilustrar podemos citar alguns domiacutenios como discurso religioso discurso juriacutedico etc
25
O domiacutenio eacute constituiacutedo por praacuteticas do discurso nas quais podemos identificar uma seacuterie de
gecircneros que possuem a mesma proposta discursiva como o tema e as praacuteticas institucionais
ou informais
As definiccedilotildees aqui trazidas de gecircnero tipo domiacutenio discursivo satildeo muito mais
operacionais do que formais e seguem de perto a posiccedilatildeo bakhtiniana Assim para a
noccedilatildeo de tipo textual predomina a identificaccedilatildeo de sequecircncias linguiacutesticas como
norteadora e para a noccedilatildeo de gecircnero textual predominamos criteacuterios de padrotildees
comunicativos accedilotildees propoacutesitos e inserccedilatildeo sociohistoacuterica No caso dos domiacutenios
discursivos natildeo lidamos propriamente com textos e sim com formaccedilotildees histoacutericas e
sociais que originam os discursos Eles ainda natildeo se acham bem definidos e
oferecem alguma resistecircncia mas seguramente sua definiccedilatildeo deveria ser na base de
criteacuterios etnograacuteficos antropoloacutegicos e socioloacutegicos e histoacutericos (MARCUSCHI
2008 p 158 Grifos do autor)
Nessa perspectiva faz-se necessaacuterio apresentarmos o papel dos gecircneros textuais como
controle social Como jaacute vimos anteriormente segundo Bakhtin (2000) toda atividade
discursiva humana se daacute atraveacutes de algum gecircnero e eacute tambeacutem por esse motivo que haacute uma
consideraacutevel pluralidade de gecircneros Marcuschi (2008) afirma que os gecircneros satildeo
―necessaacuterios para a interlocuccedilatildeo humana Assim para cada esfera de atividade humana
certos gecircneros especiacuteficos satildeo considerados mais ou menos adequados Na esfera
empresarial por exemplo temos que nos adequar agraves formalidades dos gecircneros de redaccedilatildeo
oficial como os ofiacutecios atas circulares e relatoacuterios Na academia apresentamos nossas
produccedilotildees atraveacutes de dissertaccedilotildees artigos cientiacuteficos teses e relatoacuterios de projetos No meio
publicitaacuterio encontramos as propagandas anuacutencios de diversos tipos Enfim satildeo inuacutemeras as
esferas de discurso domiacutenios discursivos e gecircneros textuais atrelados a estes
Marcuschi (2008) enfatiza que o controle social por gecircneros discursivos eacute
incontornaacutevel mas natildeo determinista De acordo com o autor noacutes temos liberdade para nos
expressarmos em qualquer esfera discursiva Poreacutem temos que admitir que a sociedade eacute
constituiacuteda por uma ―maacutequina discursiva logo somos moldados a ela de forma intuitiva e
os gecircneros textuais constituem um poderoso instrumento desta maacutequina Quanto maior a
nossa inserccedilatildeo na sociedade maior o controle social Por exemplo natildeo satildeo todas as pessoas
que podem expedir um mandato de seguranccedila escrever uma dissertaccedilatildeo de mestrado
ministrar uma aula de fiacutesica quacircntica ou publicar uma coluna em um jornal Eacute nessa
perspectiva que Marcuschi (2008) afirma veemente o direcionamento dos gecircneros textuais
para com o envolvimento social e suas especificidades
26
A partir das consideraccedilotildees apresentadas a respeito dos gecircneros textuais dedicamos a
seccedilatildeo a seguir para a caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual
conforme relatamos na introduccedilatildeo deste capiacutetulo
12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL
O certificado de garantia ou termo de garantia eacute um documento oferecido por
prestadoras de serviccedilos fabricantes de produtos diversos ou de qualquer outro segmento que
envolva comercializaccedilatildeo de bens duraacuteveis com a funccedilatildeo de formalizar os direitos e deveres
do consumidor e do fabricante para com o estado fiacutesico e funcional do produto em vista de
problemas de qualquer natureza
Eacute tambeacutem uma espeacutecie de contrato visto que consiste fundamentalmente na
combinaccedilatildeo de interesses de partes sobre algo Aleacutem de ―certificado de garantia
utilizaremos tambeacutem a nomenclatura ―termo de garantia tendo em vista que o documento
do certificado de garantia e o termo em si estatildeo internamente ligados A expressatildeo ―termo de
garantia eacute usada no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20
de marccedilo de 1997
Art 50 A garantia contratual eacute complementar agrave legal e seraacute conferida mediante
termo escrito
Paraacutegrafo uacutenico O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e
esclarecer de maneira adequada em que consiste a mesma garantia bem como a
forma o prazo e o lugar em que pode ser exercitada e os ocircnus a cargo do
consumidor devendo ser-lhe entregue devidamente preenchido pelo fornecedor no
ato do fornecimento acompanhado de manual de instruccedilatildeo de instalaccedilatildeo e uso de
produto em linguagem didaacutetica com ilustraccedilotildees (Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do
Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20 de marccedilo de 1997 p 30)
Em linhas gerais o documento eacute composto por quatro partes garantia contratual
garantia legal condiccedilotildees para validade da garantia contratual e legal condiccedilotildees natildeo cobertas
pela garantia legal e contratual Vejamos um exemplo de certificado de garantia
27
ILUSTRACcedilAtildeO 1 Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario
_de_ar_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Observamos na primeira parte a disposiccedilatildeo da garantia contratual ou seja a garantia
oferecida pelo fabricante
28
ILUSTRACcedilAtildeO 2 Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar
_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Na segunda parte encontramos a disposiccedilatildeo da garantia legal ou seja a garantia
assegurada pelo Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do consumidor
ILUSTRACcedilAtildeO 3 Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c
ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Em seguida vemos as condiccedilotildees de validade da garantia legal e contratual composta
por uma lista exaustiva de itens a serem considerados
29
ILUSTRACcedilAtildeO 4 Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c
ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
E por fim encontramos as condiccedilotildees natildeo cobertas pela garantia legal e contratual
assim como observaccedilotildees gerais
ILUSTRACcedilAtildeO 5 Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar
_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Em relaccedilatildeo agrave estrutura padratildeo dos certificados de garantia a partir do corpus
analisado nesta pesquisa observou-se que o texto que se refere agrave garantia em si corresponde a
menos da metade do documento Grande parte do documento se dedica agrave restriccedilatildeo de
possibilidades de cobertura assim como observaccedilotildees gerais quanto agraves responsabilidades do
fabricante diante de situaccedilotildees como despesas referentes agrave locomoccedilatildeo para depoacutesito do
produto para assistecircncia documentaccedilatildeo necessaacuteria para apresentaccedilatildeo na assistecircncia etc
30
O termo de garantia eacute vinculado diretamente ao Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do
consumidor O coacutedigo estabelece um padratildeo abrangente de formulaccedilatildeo do documento
constando recomendaccedilotildees como o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo necessidade do
acompanhamento do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto assim como clareza na
disposiccedilatildeo dos prazos de garantia legal e contratual
Como discutimos na primeira parte desse capiacutetulo Bakhtin (2000) propotildee que trecircs
dimensotildees constituem os gecircneros de discurso conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo
composicional Iremos a seguir apresentar como estas dimensotildees satildeo percebidas nesse
gecircnero textual
Como conteuacutedo temaacutetico do gecircnero certificado de garantia temos a veiculaccedilatildeo de
direitos e deveres do fabricante e do consumidor O documento apresenta listas exaustivas de
accedilotildees que possibilitam ou natildeo o uso do termo de garantia assim como instruccedilotildees gerais para
a realizaccedilatildeo desse ato Esse conteuacutedo pode variar em parte e apenas questotildees referentes agrave
garantia legal natildeo podem mudar pois estaacute prevista no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do
Consumidor
Em relaccedilatildeo ao estilo observamos nos certificados a utilizaccedilatildeo da norma padratildeo
Busca-se construir um texto claro e objetivo para que dessa forma natildeo haja problemas de
interpretaccedilatildeo para o consumidor Nesse gecircnero natildeo haacute identificaccedilatildeo de quem escreve de
maneira particular como observamos em gecircneros do tipo carta A identificaccedilatildeo do autor eacute
geralmente atribuiacuteda agrave empresa que oferece a garantia O estilo individual que eacute
caracteriacutestico em diversos gecircneros como o artigo de opiniatildeo e cartas pessoais natildeo cabe para
os certificados Como se trata de um texto instrucional esse gecircnero apresenta-se de forma
objetiva de modo que natildeo haacute a necessidade praacutetica da identificaccedilatildeo de quem escreve
Quanto agrave estrutura composicional em linhas gerais tal gecircnero segue uma sequecircncia
de apresentaccedilatildeo em duas etapas Em um primeiro momento apresenta-se o termo de garantia
em si no qual eacute descrito o direito do consumidor em relaccedilatildeo agrave garantia assim como sua
validade No segundo momento parte mais extensa do texto haacute a apresentaccedilatildeo de listas
supostamente exaustivas referentes aos casos que natildeo satildeo cobertos pela garantia assim como
as instruccedilotildees gerais para o reclame do direito Essa sequecircncia de apresentaccedilatildeo do documento
eacute variaacutevel Haacute certificados que satildeo inclusos no manual de instruccedilatildeo do produto (geralmente
na uacuteltima paacutegina) Haacute certificados que satildeo destacados o documento eacute apresentado agrave parte de
qualquer outro texto
Se retomarmos a classificaccedilatildeo dos gecircneros do discurso de Bakhtin (2000) entre
primaacuterios (simples) e secundaacuterios (complexos) podemos considerar que o certificado de
31
garantia estaacute inserido nos gecircneros complexos pois se trata de um documento elaborado de
forma sistemaacutetica no qual haacute necessidade de um aprofundamento social complexo com
caracterizaccedilotildees e descriccedilotildees bem delimitadas
Quanto ao tipo de texto dentro do que foi proposto por Marcuschi (2008) o
certificado de garantia se enquadra no tipo injuntivo porque eacute um texto instrucional com
predominacircncia do modo imperativo nas frases e eacute composto pela listagem de uma seacuterie de
procedimentos a serem observados e seguidos com listas exaustivas contendo direitos e
deveres do fabricante e do consumidor O objetivo do documento eacute oferecer ao cliente todas
as informaccedilotildees relacionadas agrave validade da garantia os casos em que haacute perda da validade e os
casos em que os problemas apresentados se enquadram como defeitos de fabricaccedilatildeo
O certificado de garantia se caracteriza como um gecircnero textual a partir da
perspectiva de Marcuschi (2008) pois eacute um texto que possui caracteriacutesticas soacutecio-discursivas
bem delimitadas com conteuacutedo padratildeo obedecendo a uma mesma linha temaacutetica e foi
constituiacutedo socialmente O gecircnero foi criado a partir da necessidade juriacutedica de resguardar os
fabricantes e consumidores de produtos industrializados e afins quanto agrave possibilidade de
apresentaccedilatildeo de defeitos ou falhas
De posse dos conhecimentos gerais sobre os gecircneros textuais que apresentamos e da
caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual partiremos no proacuteximo
capiacutetulo para a apresentaccedilatildeo das teorias que serviratildeo de aporte teoacuterico para a compreensatildeo
das anaacutelises realizadas no capiacutetulo 3
32
2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS
Neste capiacutetulo tratamos dos nexos semacircnticos ou ―nexos de significado dos quais
consideramos para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica
contraditoriedade e contrariedade Caracterizamos cada um deles utilizando exemplos em
linguagem natural com o intuito de demonstrar o funcionamento dessas relaccedilotildees assim como
mostrar quando tais exemplos deixam de apresentar o nexo Nosso intuito final eacute de oferecer
uma base para a compreensatildeo das anaacutelises que viratildeo no capiacutetulo posterior
Para entendermos melhor o que satildeo os nexos semacircnticos devemos compreender a
distinccedilatildeo entre a semacircntica e a pragmaacutetica que satildeo linhas de estudos linguiacutesticos inter-
relacionaacuteveis Uma definiccedilatildeo bastante difundida da semacircntica e tambeacutem bastante geral eacute
encontrada em Trask (2004 p 261) que diz que a semacircntica eacute o ramo da linguiacutestica que
estuda o significado e em Chierchia (2003 p 7) para quem a semacircntica eacute um estudo do
significado das expressotildees das liacutenguas naturais Podemos tambeacutem caracterizar a semacircntica
destacando a relaccedilatildeo do usuaacuterio da liacutengua e o significado que ele atribuiu agraves palavras que
compotildeem sentenccedilas como propotildee Pires de Oliveira (2001 p 42) Jaacute a pragmaacutetica por outro
lado tambeacutem estuda o significado das liacutenguas naturais mas trata das intenccedilotildees que os
falantes supostamente revelam a partir do uso de sentenccedilas
Para o termo ―pragmaacutetica haacute diversas possibilidades de definiccedilatildeo Levinson (2007)
procura mostrar as implicaccedilotildees que algumas definiccedilotildees podem ter em relaccedilatildeo a outros
estudos Assim podemos citar pelo menos dois conceitos de pragmaacutetica para Levinson
―pragmaacutetica eacute o estudo de todos os aspectos do significado natildeo capturados em uma teoria
semacircntica (Levinson 2007 p14) assim como ―pragmaacutetica eacute o estudo das relaccedilotildees entre
liacutengua e contexto que satildeo gramaticalizadas ou codificadas na estrutura de um liacutengua
(Levinson 2007 p 11) Podemos perceber que nessas duas definiccedilotildees Levinson tanto atribui
agrave pragmaacutetica a responsabilidade sobre aquilo que estaacute aleacutem da semacircntica quanto destaca a
relaccedilatildeo de liacutengua e contexto Jaacute em Wilson (2008) encontramos as definiccedilotildees que Yule
(1996) apresenta para a pragmaacutetica
a) pragmaacutetica eacute o estudo do significado sob o ponto de vista do falante b)
pragmaacutetica eacute o estudo do significado contextual (isto eacute leva em conta o modo como
os falantes organizam seus enunciados aquilo que eles querem dizer de acordo com
os seguintes fatores a quem vatildeo dizer como vatildeo dizer onde e quando vatildeo dizer e
sob que circunstacircncias) c) pragmaacutetica eacute o estudo do como se diz aleacutem daquilo que eacute
33
dito (isto eacute o estudo do significado subjacente do natildeo dito d) pragmaacutetica eacute o
estudo da expressatildeo da proximidadedistanciamento relativo (isto eacute de acordo com
o tipo de proximidade fiacutesica social ou conceitual em relaccedilatildeo aos ouvintes os
falantes determinam como e quanto precisam dizer) (WILSON 2008 p 89)
A discussatildeo sobre as definiccedilotildees de pragmaacutetica e semacircntica e suas distinccedilotildees vem
desde o iniacutecio do seacuteculo XX e muitos autores contribuiacuteram para a evoluccedilatildeo desses conceitos
Em vista desta histoacuterica discussatildeo apresentaremos os conceitos de Charles Morris e Rudolf
Carnap para estas disciplinas linguiacutesticas
Segundo a definiccedilatildeo de Charles Morris (1938) pragmaacutetica eacute o estudo da ―relaccedilatildeo dos
signos com seus inteacuterpretes Jaacute para Rudolf Carnap (1938) a pragmaacutetica eacute o estudo da
linguagem em relaccedilatildeo aos seus falantes Diante dos conceitos de semacircntica e pragmaacutetica que
apresentamos e da distinccedilatildeo entre as linhas de estudos linguiacutesticos Marcondes (2000) afirma
que ―tanto a definiccedilatildeo de Morris quanto a de Carnap fazem parte da jaacute consagrada distinccedilatildeo
geral do campo de estudos da linguagem entre pragmaacutetica que considera a linguagem em
seu uso concreto e semacircntica que examina os signos linguiacutesticos em sua relaccedilatildeo com os
objetos que designam ou a quem se refere Os nexos semacircnticos estatildeo inseridos no campo da
semacircntica e voltaremos a este ponto no final do capiacutetulo
Sobre as relaccedilotildees semacircnticas haacute diversas perspectivas nos estudos linguiacutesticos A
forma como combinamos as palavras e nossa tendecircncia em buscar um conceito fixo de um
termo satildeo complicaccedilotildees que podem dificultar o uso da liacutengua O significado linguiacutestico das
liacutenguas naturais segundo Basso (2009) possibilita nexos semacircnticos entre sentenccedilas E
ainda sobre o significado Basso propotildee
Quando perguntamos o significado de alguma palavra muitas vezes buscamos
aquele modelo significativo presente nos dicionaacuterios Poreacutem natildeo haacute no dicionaacuterio
maneiras preacute-estabelecidas de como uma palavra pode se combinar com outra em
busca da trama de significados dos nexos que favorecem infinitas interpretaccedilotildees
Essas combinaccedilotildees satildeo decorrentes do proacuteprio uso da liacutengua pelos seus falantes
mas natildeo estatildeo nem presentes nos dicionaacuterios nem tampouco algueacutem nos ensina satildeo
conhecimentos impliacutecitos Uma aacuterea da linguiacutestica moderna defende que o nosso
conhecimento semacircntico e um dote geneacutetico portanto os possiacuteveis nexos
semacircnticos satildeo decorrentes de uma capacidade inata de combinaccedilatildeo de palavras e
sentenccedilas parte do conhecimento semacircntico impliacutecito ou competecircncia semacircntica
(BASSO 2009 p 25)
Os nexos semacircnticos satildeo caracterizados na literatura da semacircntica como grupos de
relaccedilotildees de inferecircncia muito estaacuteveis direcionaacuteveis e fortemente dependentes do material
34
linguiacutestico dos enunciados (SANTOS 2012) Essas relaccedilotildees diferem de perspectivas de
inferecircncias como a pressuposiccedilatildeo e a implicatura que dialogam diretamente com o natildeo-dito
Para contrastar os nexos com esses outros tipos de relaccedilatildeo vamos observar os exemplos a
seguir
(1) Carlos parou de beber refrigerante
(2) A tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio
Seguindo a mesma linha de exposiccedilatildeo de Moura (1999 p 12) a partir das duas
sentenccedilas acima observamos dois niacuteveis nas informaccedilotildees veiculadas No primeiro niacutevel
temos contato com o sentido literal das palavras Dessa forma em (1) temos a informaccedilatildeo de
Carlos natildeo toma mais refrigerantes e em (2) que Maacuterio escreveu uma tese sobre bolhas de
sabatildeo No segundo niacutevel atraveacutes da enunciaccedilatildeo das sentenccedilas somos levados a considerar
informaccedilotildees que natildeo estatildeo afirmadas literalmente nas sentenccedilas Dessa forma a partir de (1)
podemos inferir que Carlos bebia refrigerantes antes e em (2) que uma tese sobre bolhas de
sabatildeo jaacute foi escrita Ducrot (1987) denomina de conteuacutedo posto o primeiro niacutevel que
consiste no conteuacutedo literal das sentenccedilas e de conteuacutedo pressuposto ou pressuposiccedilatildeo o
segundo niacutevel que abarca as inferecircncias que podemos fazer a partir da enunciaccedilatildeo das
sentenccedilas Devemos entender que o conteuacutedo posto depende do conteuacutedo pressuposto pois a
aceitaccedilatildeo do primeiro leva a aceitaccedilatildeo do segundo Para que possamos aceitar a verdade do
posto (1) que diz que Carlos parou de beber refrigerante temos que aceitar a verdade
pressuposta de que Carlos jaacute tinha bebido refrigerante antes
Outra relaccedilatildeo semacircntica que dialoga diretamente com o natildeo-dito eacute a implicatura
Grice (1987) propotildee dois tipos de implicaturas as implicaturas convencionais que natildeo satildeo
sujeitas a condiccedilotildees de verdade e as implicaturas conversacionais que natildeo dependem
diretamente da significaccedilatildeo usual das palavras sendo determinadas por certos princiacutepios
baacutesicos do ato comunicativo
As implicaturas convencionais satildeo inferecircncias natildeo sujeitas a condiccedilotildees de verdade
natildeo satildeo derivadas de princiacutepios pragmaacuteticos mais gerais como as maacuteximas conversacionais
mas satildeo simplesmente ligadas pela convenccedilatildeo a itens ou expressotildees lexicais especiacuteficos
Levinson (2007) toma a implicatura conversacional como uma das ideias mais
importantes da pragmaacutetica e vamos considerar neste trabalho apenas as implicaturas do tipo
conversacional de forma que quando mencionarmos o termo implicatura devemos entender
que estamos falando das implicaturas conversacionais e natildeo das convencionais
35
Para exemplificar uma implicatura vamos supor uma situaccedilatildeo entre dois amigos em
que ao dialogar sobre as uacuteltimas defesas de teses e dissertaccedilotildees do departamento de poacutes-
graduaccedilatildeo deparam-se com a notiacutecia de que um de seus colegas escreveu uma tese sobre um
tema muito irrelevante e nada original Diante desta situaccedilatildeo um amigo disse para o outro ―A
tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio A partir da situaccedilatildeo em que os dois amigos
estavam imersos nesse contexto e da sentenccedila utilizada por um dos amigos podemos inferir
que foi Maacuterio quem escreveu uma tese sobre um tema irrelevante Podemos perceber neste
exemplo que como descrito nas definiccedilotildees que trouxemos anteriormente a implicatura por
ser uma relaccedilatildeo puramente pragmaacutetica utiliza-se do natildeo-dito e de situaccedilotildees convencionadas
entre falantes para poder existir
Dessa forma podemos retomar o que foi exposto nos paraacutegrafos anteriores afirmando
que os nexos semacircnticos as pressuposiccedilotildees e as implicaturas satildeo inferecircncias de significado
sendo que os nexos estatildeo no campo da semacircntica e as pressuposiccedilotildees e implicaturas estatildeo no
campo da pragmaacutetica
A partir deste ponto iremos descrever os nexos semacircnticos com exemplos mostrando
como essas relaccedilotildees funcionam e tambeacutem casos em que a interpretaccedilatildeo natildeo acontece da
maneira esperada Em relaccedilatildeo aos casos em que a interpretaccedilatildeo eacute prejudicada trataremos de
casos relacionados com a ambiguidade lexical mais especificamente com vagueza e casos
relacionados com a polissemia (desconsiderando seus limites com a homoniacutemia)
21 ACARRETAMENTO
Em linhas gerais o acarretamento ocorre quando a verdade de um conjunto de
sentenccedilas1 que nomearemos de A garante a verdade de outra sentenccedila que nomearemos de
B Dessa forma a verdade da primeira sentenccedila ou do conjunto delas autoriza a verdade de B
(CHIERCHIA 2003) O acarretamento eacute uma inferecircncia que os falantes estatildeo autorizados a
fazer e o que os autoriza eacute o conhecimento linguiacutestico Vamos observar o exemplo a seguir
1 Em nosso trabalho utilizaremos os termo ldquosentenccedilardquo e ldquoproposiccedilatildeordquo intercambiavelmente Alguns autores
definem os dois termos de formas distintas Por exemplo na semacircntica contemporacircnea de mundos possiacuteveis desenvolvida por autores como por exemplo Kripke e Lewis define-se proposiccedilatildeo como a classe de todos os mundos possiacuteveis nas quais ela eacute verdadeira Murcho (2006) apresenta dois exemplos para distinguir proposiccedilotildees e sentenccedilas ldquoSoacutecrates era um filoacutesofordquo e ldquoSocrates was a philosopherrdquo Murcho afirma que os dois exemplos satildeo duas sentenccedilas que exprimem uma uacutenica proposiccedilatildeo Outros como Mortari (2001) natildeo distinguem proposiccedilotildees e sentenccedilas
36
(3) alsquo Neymar eacute brasileiro
a Neymar eacute um jogador de futebol
b Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro
Podemos observar no exemplo acima que a sentenccedila (3b) tem a sua verdade garantida
pela verdade de (3alsquo) e (3a) Sendo assim (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Podemos observar
no exemplo que o acarretamento eacute bastante claro pois as informaccedilotildees que estatildeo presentes em
(3b) satildeo a soma das informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) Eacute interessante destacar
que para que a sentenccedila (3b) constitua um acarretamento de (3alsquo) e (3a) natildeo precisamos
conhecer a pessoa Neymar nem sua nacionalidade eou profissatildeo Como as informaccedilotildees
estatildeo postas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) a verdade de (3b) eacute inevitaacutevel Mesmo que no mundo
real Neymar natildeo fosse jogador de futebol e natildeo fosse brasileiro isso em nada modificaria o
acarretamento pois dentro da relaccedilatildeo estabelecida entre (3alsquo) (3a) e (3b) as informaccedilotildees
contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Vejamos o exemplo a seguir
(4) alsquo Todos os sacis tecircm apenas uma perna
a Denis Diderot eacute um saci
b Denis Diderot tem apenas uma perna
Observando o exemplo acima identificamos que em relaccedilatildeo ao conhecimento de
mundo a sentenccedila (4alsquo) eacute verdadeira jaacute que no folclore admitimos como uma caracteriacutestica
dos sacis ter apenas uma perna A sentenccedila (4a) eacute falsa pois Denis Diderot foi um filoacutesofo e
escritor francecircs e natildeo um saci Por fim a sentenccedila (4b) tambeacutem eacute falsa em relaccedilatildeo ao nosso
conhecimento de mundo pois Denis Diderot possuiu durante toda a sua vida as duas pernas
Podemos entatildeo admitir que as sentenccedilas do conjunto (4) em relaccedilatildeo ao nosso conhecimento
de mundo satildeo falsas Mesmo assim o conjunto eacute um acarretamento Diferente do exemplo
(3) em que trouxemos sentenccedilas que constituiacuteam um acarretamento com informaccedilotildees
verdadeiras em relaccedilatildeo ao mundo o exemplo (4) mostra que a relaccedilatildeo semacircntica que estamos
discutindo independe da verdade das informaccedilotildees das sentenccedilas no mundo O que o
acarretamento faz eacute concatenar as sentenccedilas de uma forma que se as premissas forem
verdadeiras a conclusatildeo tambeacutem seraacute verdadeira O acarretamento depende exclusivamente
37
da forma em que as sentenccedilas se apresentam Tendo em vista que a relaccedilatildeo depende apenas
da forma podemos representar o acarretamento da seguinte maneira como propotildee Soares
(2003)
Em liacutengua natural
Se estudar entatildeo serei aprovado (1ordf premissa)
Ora estudei (2ordf premissa)
Logo fui aprovado (Conclusatildeo)
E simbolizando2
a rarr b (1ordf premissa)
a (2ordf premissa)
b (Conclusatildeo)
Vale ressaltar que ao utilizarmos o termo ―sentenccedila estamos nos referindo ao que os
gramaacuteticos costumam chamar de oraccedilatildeo Tambeacutem eacute interessante mencionar que o
acarretamento eacute chamado de consequecircncia semacircntica Iremos utilizar como representaccedilatildeo das
premissas sentenccedilas do tipo (Xalsquo) e (Xa) e para a conclusatildeo sentenccedilas do tipo (Xb)
Podemos entender que o acarretamento eacute um tipo de relaccedilatildeo estabelecida entre
premissas e a consequecircncia de forma que a verdade das premissas determina a verdade da
consequecircncia Tambeacutem devemos entender que natildeo eacute possiacutevel que as premissas sejam
verdadeiras junto da negaccedilatildeo da conclusatildeo pelo fato de que dessa forma estaria
descaracterizada a relaccedilatildeo de acarretamento
Como ressaltamos acima os acarretamentos satildeo dependentes da forma ou seja da
relaccedilatildeo que as sentenccedilas possuem entre si e natildeo da verdade ou falsidade no mundo das
informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas Diante disso traremos agrave tona exemplos de sentenccedilas que
2 O siacutembolo ldquorarrrdquo na loacutegica claacutessica representa um condicional assunto de que trataremos no terceiro capiacutetulo
deste trabalho e o siacutembolo ldquordquo representa um acarretamento
38
natildeo possuem relaccedilatildeo semacircntica mas atraveacutes da verdade ou falsidade das informaccedilotildees nas
sentenccedilas podem nos confundir e nos induzir ao erro Para tal raciociacutenio errocircneo damos o
nome de falaacutecias
Soares (2003) distingue trecircs caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias (i) satildeo
argumentos parecidos com argumentos vaacutelidos (ii) estabelecem entre premissas e conclusotildees
uma relevacircncia puramente psicoloacutegica que tatildeo-soacute se dirige agraves emoccedilotildees da pessoa sem que as
premissas sejam logicamente relevantes para extrair a conclusatildeo (iii) apresentam-se com
intenccedilatildeo enganadora para que o argumento ainda que invaacutelido seja de todas as maneiras
aceito por todos Vejamos a seguir exemplos de falaacutecias
(5) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher
a Dilma Rousseff eacute mulher
b Dilma Rousseff eacute a presidente do Brasil
A partir do nosso conhecimento de mundo poderiacuteamos dizer que a sentenccedila (5b) eacute
verdadeira Na sentenccedila (5alsquo) temos que A presidente do Brasil eacute mulher De fato tambeacutem se
formos utilizar nosso conhecimento de mundo intuitivamente diremos que esta sentenccedila estaacute
correta considerando a eacutepoca em que este trabalho foi escrito Seguindo temos a sentenccedila
(5a) com a informaccedilatildeo Dilma Rousseff eacute mulher Assim como as sentenccedilas (5alsquo) e (5a) a
partir de nosso conhecimento de mundo podemos afirmar que esta sentenccedila tambeacutem eacute
verdadeira mas devemos entender que eacute preciso considerar a relaccedilatildeo que as sentenccedilas
estabelecem entre si A sentenccedila (5alsquo) natildeo estabelece nenhuma relaccedilatildeo com a sentenccedila (5a)
para que (5b) seja um acarretamento Para mostrar de forma mais clara que o exemplo (5) natildeo
eacute um acarretamento vamos comparaacute-lo com o exemplo a seguir
(6) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher
a Michelle Bachelet eacute mulher
b Michelle Bachelet eacute a presidente do Brasil
Observamos que (6alsquo) e (6a) satildeo verdadeiras (no momento da redaccedilatildeo deste
trabalho) mas (6b) nos parece estranho Sabemos que Michelle Bachelet atualmente eacute
presidente do Chile Mas nada disso interfere para caracterizar um acarretamento e o exemplo
acima foi para deixar claro que a partir das relaccedilotildees semacircnticas dispostas entre os grupos de
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sentenccedilas (5) e (6) natildeo podemos considerar que haacute acarretamento pelo fato acima
mencionado
Ateacute o momento tratamos do conceito de acarretamento seguido de exemplos em
liacutengua natural sua representaccedilatildeo na loacutegica claacutessica e exemplos de falaacutecias A partir deste
ponto trataremos dos fatores que interferem nas relaccedilotildees semacircnticas de uma forma diferente
das falaacutecias A compreensatildeo dos tipos de interferecircncias a seguir seraacute importante para a anaacutelise
do corpus deste trabalho pois se trata de interferecircncias lexicais
No exemplo a seguir trataremos de um problema que pode invalidar relaccedilotildees
semacircnticas a polissemia Quando um termo adquire mais de um sentido aleacutem daquele que eacute
originalmente atribuiacutevel temos um caso de polissemia Crystal (1985) conceitua polissemia
da seguinte maneira
Polissemia termo usado na anaacutelise semacircntica para caracterizar um item lexical com
uma variedade de significaccedilotildees diferentes como manga = ―parte da camisa ―parte
do abajur etc Uma grande parte do vocabulaacuterio da liacutengua eacute polissecircmica ()
(Crystal 1985 p 202)
Tendo em vista que a polissemia eacute uma caracteriacutestica de um item lexical que possui
diversos significados para diversos contextos vamos observar o exemplo a seguir
(7) a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito
b Joatildeo morreu
A sentenccedila (7a) pode ser interpretada pelo menos de duas formas distintas pelo fato da
expressatildeo ―perdeu a cabeccedila ser polissecircmica Se interpretarmos a sentenccedila (7a) considerando
―perder a cabeccedila como ter a cabeccedila desprendida do corpo haacute acarretamento de (7a) para
(7b) Mas esta natildeo eacute a uacutenica interpretaccedilatildeo possiacutevel para a expressatildeo em questatildeo Se
interpretarmos ―perder a cabeccedila como perder a paciecircncia ficar furioso estressado ou algo
parecido a sentenccedila (7a) natildeo acarreta (7b) numa mesma situaccedilatildeo pois o fato de Joatildeo ter
perdido a paciecircncia natildeo garante que ele venha a morrer Dessa forma para natildeo ter problemas
com a polissemia eacute preciso assegurar que se convencione um sentido uacutenico para cada
premissa para desta forma haver um acarretamento
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Outro aspecto que eacute preciso ser mencionado eacute que (7) do jeito que se apresenta natildeo eacute
um acarretamento mesmo que perder a cabeccedila tenha o sentido de ter a cabeccedila desprendida do
corpo Isso se daacute porque (7) eacute um acarretamento incompleto ou seja um entimema
Argumento com uma premissa natildeo-formulada sem a qual ele natildeo eacute vaacutelido Chama-
se muitas vezes de premissa impliacutecitalsquo agrave premissa natildeo formulada Na argumentaccedilatildeo
cotidiana omitem-se premissas oacutebvias A premissa impliacutecita do argumento Antocircnio
deveria ser despedido porque roubou dinheiro puacuteblicolsquo eacute Todas as pessoas que
roubam dinheiro puacuteblico devem ser despedidaslsquo (BRANQUINHO MURCHO
GOMES 2006 p 298)
Vamos observar o exemplo (7) de uma forma que o entimema seria evitado
(8) alsquo Todas as pessoas que perdem a cabeccedila morrem
a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito
b Joatildeo morreu
Podemos constatar no exemplo acima que ao incluirmos a sentenccedila (8alsquo) que eacute a
sentenccedila geral que estava impliacutecita no exemplo (7) resolvemos o problema do entimema
completando assim a relaccedilatildeo de acarretamento de (8alsquo) e (8a) para (8b)
A partir de agora vamos tratar de outro tipo de interferecircncia em relaccedilotildees sentencias
que estaacute tambeacutem no campo do leacutexico a vagueza
A vagueza eacute assim como a polissemia um tipo de ocorrecircncia que dificulta a
interpretaccedilatildeo dos nexos entre sentenccedilas Podemos considerar que haacute vagueza em uma
sentenccedila quando observamos que uma palavra ou expressatildeo causa sentido incompleto
impedindo o entendimento da sentenccedila como um todo Branquinho Murcho e Gomes
conceituam a vagueza de seguinte maneira
As liacutenguas naturais contecircm palavras (tipicamente predicados denotando
propriedades ou relaccedilotildees) cujo domiacutenio de aplicaccedilatildeo eacute parcialmente indeterminado
isto eacute em relaccedilatildeo agraves quais os falantes competentes natildeo estatildeo certos em todos os
casos de que determinado objeto (ou par ordenado de objetos) pertence ao conjunto
denotado por elas (ou agrave relaccedilatildeo) (BRANQUINHO MURCHO GOMES 2006 p
805)
De uma forma geral Allan (2010) caracteriza a vagueza como um tipo particular de
incerteza sobre a aplicaccedilatildeo de um predicado Podemos considerar como um exemplo padratildeo
de predicado vago a classe de adjetivos graduaacuteveis como altura Se uma determinada pessoa
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natildeo eacute suficientemente alta para ser claramente alta e natildeo eacute suficiente baixa para ser
claramente baixa entatildeo aiacute temos um caso de vagueza
Os adjetivos vagos satildeo sempre utilizados em relaccedilatildeo a uma classe de comparaccedilatildeo no
dia-a-dia Estar acima do peso por exemplo pode variar a partir do grau de comparaccedilatildeo Para
uma top model estar acima do peso eacute visto de forma diferente do que para um lutador de
sumocirc por exemplo
Ainda em relaccedilatildeo ao conceito de vagueza Kempson (1977) propotildee que existem
quatro tipos inter-relacionaacuteveis de vagueza vagueza referencial indeterminaccedilatildeo de
significado falta de especificaccedilatildeo no significado de um item disjunccedilatildeo na especificaccedilatildeo do
significado de um item em que o significado abarca uma ou qualquer declaraccedilatildeo de diversas
possibilidades de interpretaccedilatildeo Dentre estes quatro tipos propostos por Kempson iremos nos
dedicar a observar os casos relacionados agrave vagueza referencial Tendo em vista os conceitos
acima vamos observar um exemplo em que a vagueza pode prejudicar a interpretaccedilatildeo de um
acarretamento
(9) a Tobias eacute um gecircnio no xadrez
b Tobias eacute um bom jogador de xadrez
No exemplo acima podemos observar os termos vagos ―gecircnio na sentenccedila (9a) e
―bom na sentenccedila (9b) Para haver a relaccedilatildeo de acarretamento temos que admitir para (9a) e
(9b) o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe Por exemplo haacute acarretamento entre as
sentenccedilas (9a) e (9b) se Tobias for um garoto de oito anos e diante seus colegas da escola ele
se destacar como um exiacutemio conhecedor das regras e teacutecnicas do jogo de xadrez Dessa
forma a sentenccedila ―Tobias eacute um gecircnio no xadrez acarretaria que ―Tobias eacute um bom jogador
de xadrez Jaacute se natildeo utilizarmos o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas
(9a) e (9b) como por exemplo se em (9a) Tobias for um garoto de oito anos que diante de
seus colegas da escola se destaca como um exiacutemio jogador de xadrez mas comparando-o
com os competidores da categoria secircnior do campeonato mundial de xadrez e a partir disso
afirmando (9b) natildeo poderiacuteamos acarretar que Tobias eacute um bom jogador de xadrez Dessa
forma pudemos observar que a presenccedila de termos vagos em sentenccedilas dificulta a
interpretaccedilatildeo dos acarretamentos A seguir observaremos outros nexos que se relacionam com
o acarretamento
42
22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA
Como discutimos anteriormente o acarretamento eacute uma relaccedilatildeo semacircntica que ocorre
em um uacutenico sentido ou seja das premissas para a conclusatildeo Quando uma conclusatildeo
acarreta as premissas chamamos essa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica
Para o termo ―equivalecircncia haacute diversas definiccedilotildees Segundo Branquinho Murcho e
Gomes (2006 p 281) podemos identificar dois sentidos distintos para este termo o primeiro
se refere ao que tratamos neste trabalho ou seja faz referecircncia a relaccedilatildeo entre as sentenccedilas de
certa liacutengua o segundo trata de determinados tipos de sentenccedilas declarativas agraves frases
bicondicionais ou declarativas Dentro desses dois sentidos diversos para o termo
―equivalecircncia no primeiro que eacute o que mais nos interessa os autores ainda distinguem trecircs
variedades centrais de equivalecircncia Satildeo elas equivalecircncia material equivalecircncia estrita e
equivalecircncia loacutegica
A equivalecircncia material eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q (por
exemplo) exatamente quando p e q possuem o mesmo valor de verdade ou seja quando ou
satildeo as duas verdadeiras juntas ou satildeo as duas falsas juntas
A equivalecircncia estrita eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q no caso em
que eacute necessaacuterio que p seja materialmente equivalente a q ou no caso de ser impossiacutevel tanto
que p seja verdadeira e q seja falsa quanto que p seja falsa e q seja verdadeira Branquinho
Murcho e Gomes (2006 p 281) afirmam que nesse caso diz-se que p eacute estritamente
equivalente a q
A equivalecircncia loacutegica eacute uma relaccedilatildeo que se estabelece entre duas sentenccedilas p e q
exatamente no caso de p e q serem duas sentenccedilas mutuamente dedutiacuteveis num dado sistema
loacutegico Diz-se nesse caso que p eacute logicamente equivalente a q
Em nosso trabalho iremos considerar para ―equivalecircncia o sentido apresentado por
Branquinho Murcho e Gomes (2006) para equivalecircncia material A partir deste conceito
vamos observar o exemplo a seguir
(10) a O gato matou o rato
b O rato foi morto pelo gato
Nas sentenccedilas acima podemos identificar uma relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica Eacute
impossiacutevel que o gato tenha matado o rato e que o rato natildeo tenha sido morto Claro que se
43
considerarmos que estamos tratando sobre o mesmo gato e o mesmo rato Dessa forma
sempre que (10a) for verdadeira (10b) tambeacutem teraacute de ser Tambeacutem podemos observar uma
relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica no exemplo (3) Utilizamos o exemplo (3) para mostrar
uma relaccedilatildeo de acarretamento que eacute efetiva mas tambeacutem haacute a relaccedilatildeo de equivalecircncia pois
as premissas ―Neymar eacute brasileiro e ―Neymar eacute um jogador de futebol acarretam que
―Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro da mesma forma que esta uacuteltima sentenccedila
acarreta as duas anteriores Tal exemplo reafirma o conceito descrito acima de que uma
equivalecircncia semacircntica eacute um acarretamento duplo
Assim como acontece no acarretamento a equivalecircncia semacircntica tem problemas com
a polissemia Vamos observar exemplo a seguir
(11) a O Brasil ganhou o jogo contra o Chile
b O Chile perdeu o jogo contra o Brasil
No exemplo acima vemos que a sentenccedila (11a) acarreta a sentenccedila (11b) ao mesmo
tempo em que a sentenccedila (11b) acarreta a sentenccedila (11a) Natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (11a)
seja verdadeira ao mesmo tempo em que a (11b) seja falsa Se uma das sentenccedilas eacute falsa e a
outra eacute verdadeira natildeo haacute acarretamento em nenhum dos dois ―sentidos (em relaccedilatildeo agrave
direccedilatildeo de (11a) para (11b) e de (11b) para (11a)) Natildeo podemos considerar que o Brasil
ganhou o jogo contra o Chile e que o Chile ganhou o jogo contra o Brasil pois sabemos que
em uma partida de futebol haacute apenas um ganhador Haacute a possibilidade de algueacutem querer ir
mais aleacutem e inferir que eacute possiacutevel que os dois times ganharam mas em jogos diferentes Se
considerarmos a situaccedilatildeo de que o Chile jaacute ganhou outros jogos contra o Brasil assim como
que o Brasil jaacute ganhou outros jogos contra o Chile a relaccedilatildeo de equivalecircncia seria possiacutevel
escolhendo qualquer outro jogo como referecircncia mas natildeo eacute o que nos interessa pois
devemos considerar apenas uma situaccedilatildeo para as duas sentenccedilas
A partir deste ponto iremos tratar sobre como a polissemia pode interferir na
interpretaccedilatildeo numa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica da mesma forma que mostramos
anteriormente nas relaccedilotildees de acarretamento Vejamos o proacuteximo exemplo
44
(12) a A lagosta estaacute mais salgada que o peixe
b O peixe estaacute menos salgado que a lagosta
Podemos observar que as sentenccedilas (12a) e (12b) satildeo equivalentes pelo fato de que
natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12a) seja verdadeira e a sentenccedila (12b) seja falsa assim como
natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12b) seja verdadeira e a sentenccedila (12a) seja falsa Poreacutem se
passarmos a admitir significados diferentes para expressotildees empregadas nas sentenccedilas por
exemplo para a palavra ―salgado encontraremos problemas Se admitirmos que sentenccedila
(12a) o conceito de ―salgado eacute de o alimento estar impregnado de sal salpicado de sal ou
com gosto de sal e se este conceito for tambeacutem considerado para a sentenccedila (12b) haacute
equivalecircncia semacircntica Mas tambeacutem podemos interpretar o termo ―salgado como uma
expressatildeo para se referir ao preccedilo alto do produto no mercado Soacute haacute equivalecircncia semacircntica
se admitirmos o mesmo conceito para ―salgado em ambas as sentenccedilas ou seja se
considerarmos o significado de ―salgado como sendo impregnado de sal para a sentenccedila
(12a) ou em (12b) como sendo relativo ao valor alto no mercado natildeo haacute equivalecircncia
semacircntica entre (12a) e (12b)
No proacuteximo exemplo trataremos de outro tipo de ocorrecircncia que dificulta a
interpretaccedilatildeo de nexos a vagueza Como jaacute apresentamos a definiccedilatildeo de vagueza na seccedilatildeo
anterior partiremos direto para o exemplo em que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo de uma
equivalecircncia semacircntica
(13) a Goacutergias eacute mais saacutebio que Hiacutepias
b Hiacutepias eacute menos saacutebio que Goacutergias
Na relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) haacute equivalecircncia semacircntica mas podemos identificar
que nas duas sentenccedilas foram utilizados termos vagos que tornam a interpretaccedilatildeo dificultosa
Em (13a) haacute o uso dos termos ―mais e ―saacutebio assim como em (13b) haacute o uso dos termos
―menos e ―saacutebio Esses termos satildeo vagos e dificultam a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo semacircntica
entre as sentenccedilas O que dificulta a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) eacute o fato de
que termos como ―mais e ―menos assim como ―saacutebio possuem significados diferentes de
acordo com as situaccedilotildees em que satildeo utilizadas Ou seja eacute necessaacuterio que admitamos o
45
mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas (13a) e (13b) Dessa forma haveraacute a
relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica
A seguir trataremos sobre outro tipo de relaccedilatildeo semacircntica entre sentenccedilas a
contraditoriedade
23 CONTRADITORIEDADE
Diferente da relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica que consiste em sentenccedilas que satildeo
verdadeiras juntas ou falsas juntas as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias quando uma eacute oposta da
outra tipicamente quando uma sentenccedila B eacute a negaccedilatildeo de uma sentenccedila A Sobre a relaccedilatildeo de
contraditoriedade Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 229) afirmam que ―obteacutem-se a
contraditoacuteria de qualquer proposiccedilatildeo p prefixando-lhe o operador de negaccedilatildeo de modo a
obter notp3 Com base no conceito de contraditoriedade exposto vamos observar o exemplo a
seguir
(14) a O Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016
b O Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016
Podemos observar no exemplo acima que se a sentenccedila (14a) for verdadeira
obrigatoriamente a sentenccedila (14b) tem que ser falsa Se a informaccedilatildeo da sentenccedila (14a) que
diz que o Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas for verdadeira a informaccedilatildeo da sentenccedila
(14b) que diz que o Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas natildeo pode ser verdadeira
Em relaccedilotildees de contraditoriedade o uso de uma afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo eacute algo
tiacutepico mas natildeo determinante No exemplo (14) pudemos observar a relaccedilatildeo de
contraditoriedade caracterizada pelo uso da negaccedilatildeo mas tambeacutem podemos encontrar esse
tipo de relaccedilatildeo sem tal uso Vejamos a seguir
3 O siacutembolo not na loacutegica claacutessica eacute a representaccedilatildeo do operador de negaccedilatildeo ldquonatildeordquo
46
(15) a Mecircnon estaacute acordado
b Mecircnon estaacute dormindo
A partir das sentenccedilas acima podemos ver que a relaccedilatildeo entre estas sentenccedilas eacute de
contraditoriedade pois se a sentenccedila (15a) for verdadeira a sentenccedila (15b) tem que ser falsa
da mesma forma que se a sentenccedila (15b) for verdadeira a sentenccedila (15a) deveraacute ser falsa
Natildeo eacute possiacutevel que Mecircnon esteja acordado e dormindo ao mesmo tempo claro que
considerando o mesmo sentido para as palavras ―acordado e ―dormindo nas duas sentenccedilas
e em relaccedilatildeo ao mesmo Mecircnon
Assim como as demais relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos anteriormente a
contraditoriedade tambeacutem eacute sensiacutevel agrave polissemia Vamos observar como a polissemia se
apresenta no exemplo a seguir
(14) a A minha gata estaacute acordada
b A minha gata estaacute dormindo
No exemplo acima natildeo encontramos apenas a relaccedilatildeo de contraditoriedade sem
utilizaccedilatildeo da negaccedilatildeo mas tambeacutem um problema de polissemia que pode anular a relaccedilatildeo de
contraditoriedade Se numa determinada situaccedilatildeo escrevendo este texto me viro na cadeira e
vejo em cima de minha cama o meu animal de estimaccedilatildeo deitado olhando para mim e com
isso afirmo ―a minha gata estaacute acordada como na sentenccedila (14a) natildeo posso considerar
verdadeira a sentenccedila (14b) pois natildeo se pode estar dormindo e estar acordado ao mesmo
tempo tomando as definiccedilotildees de ―estar acordado e ―estar dormindo como oposiccedilotildees A
partir disso as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias Se em outra situaccedilatildeo me viro na cadeira e vejo
minha esposa deitada na cama dormindo e afirmo ―a minha gata estaacute dormindo como na
sentenccedila (14b) ela natildeo pode ser verdadeira ao mesmo tempo em que a sentenccedila (14a) pois
minha esposa natildeo poderia estar acordada e dormindo ao mesmo tempo Ateacute o momento
pudemos atribuir dois sentidos diferentes para o termo ―gata Se considerarmos para a
sentenccedila (14a) o sentido de que o meu animal de estimaccedilatildeo estaacute acordado e para a sentenccedila
(14b) o sentido de que a minha esposa estaacute dormindo essas sentenccedilas natildeo satildeo contraditoacuterias
No exemplo acima percebemos portanto dois aspectos da contradiccedilatildeo em sentenccedilas de uma
liacutengua natural como o portuguecircs Primeiro que natildeo haacute a obrigatoriedade de ter a negaccedilatildeo de
47
uma sentenccedila para que a relaccedilatildeo de contraditoriedade exista e segundo que a polissemia
pode tornar problemaacutetica essa relaccedilatildeo
Podemos considerar uma relaccedilatildeo de contraditoriedade entre sentenccedilas sempre que A eacute
verdadeira B eacute falsa e sempre que a sentenccedila B eacute verdadeira A eacute falsa Ou seja as sentenccedilas
A e B nunca podem ser verdadeiras ou falsas juntas
O exemplo de contraditoriedade que mostramos anteriormente foi relacionando duas
sentenccedilas mas podemos encontrar a relaccedilatildeo de contraditoriedade dentro de uma sentenccedila
apenas Vamos observar o exemplo a seguir
(15) Herbert Vianna eacute cantor e natildeo eacute cantor
Se afirmamos que uma pessoa eacute e natildeo eacute cantora constatamos uma contraditoriedade
nesta sentenccedila Em (15) encontramos a apresentaccedilatildeo de um argumento e a negaccedilatildeo do mesmo
argumento em seguida Uma sentenccedila com esta forma natildeo pode ser verdadeira Se
consideramos numa mesma situaccedilatildeo que Herbert Vianna eacute cantor e em seguida afirmo que
Herbert Vianna natildeo eacute cantor esta sentenccedila eacute contraditoacuteria
Se partirmos para determinar sentidos diferentes para o termo ―cantor como por
exemplo que Herbert Vianna eacute um cantor pelo simples fato de que ele emite pelas cordas
vocais sons musicais que ―cantor eacute um termo que soacute pode ser utilizado para os profissionais
que trabalham com a voz na muacutesica ou que ―cantor se jaacute um termo utilizado para designar
algueacutem que canta muito bem natildeo haacute contraditoriedade efetivamente Mas se mantivermos o
mesmo sentido para o termo haveraacute relaccedilatildeo de contraditoriedade
Da mesma forma que a polissemia dificulta a interpretaccedilatildeo de nexos entre sentenccedilas
vamos observar um exemplo em que a vagueza ndash toacutepico que desenvolvemos na primeira
seccedilatildeo deste capiacutetulo - invalida uma relaccedilatildeo de contraditoriedade
(16) a O professor de loacutegica eacute muito alto
b O professor de loacutegica natildeo eacute muito alto
Na relaccedilatildeo entre (16a) e (16b) seguindo o conceito contraditoriedade haacute uma relaccedilatildeo
de contradiccedilatildeo entre as duas sentenccedilas poreacutem podemos identificar termos vagos nas duas
sentenccedilas o que pode dificultar a interpretaccedilatildeo Na sentenccedila (16a) e na sentenccedila (16b)
48
identificamos dois termos vagos que satildeo ―muito e ―alto Eacute possiacutevel considerar as duas
sentenccedilas como falsas ou verdadeiras juntas invalidando a contraditoriedade pois os termos
―muito e ―alto satildeo variaacuteveis de acordo com o grau de comparaccedilatildeo adotado Por exemplo
em (16a) o professor de loacutegica pode ser considerado muito alto em comparaccedilatildeo agraves crianccedilas
para quem ele leciona poreacutem se compararmos o professor de loacutegica da sentenccedila (16a) com os
outros professores do departamento talvez o professor fosse considerado baixo Desta forma
podemos observar que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo das duas sentenccedilas
A seguir traremos o uacuteltimo nexo semacircntico que utilizaremos em nosso trabalho Este
tipo de relaccedilatildeo eacute um pouco parecido com a contraditoriedade
24 CONTRARIEDADE
A contrariedade ocorre quando duas sentenccedilas podem ser falsas juntas mas natildeo
podem ser verdadeiras juntas Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 234) definem
contrariedade da seguinte forma ―duas proposiccedilotildees satildeo contraacuterias se natildeo podem ser ambas
verdadeiras mas podem ser ambas falsas distinguindo-se assim das contraditoacuterias que natildeo
podem ser ambas verdadeiras nem ambas falsas e das subcontraacuterias que natildeo podem ser
ambas falsas mas podem ser ambas verdadeiras
Eacute importante enfatizar que mesmo estando tratanto dos nexos semacircnticos e sua
aplicaccedilatildeo em liacutengua natural os conceitos de sentenccedilas contraacuterias contraditoacuterias
equivalecircncias e acarretamentos tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica As relaccedilotildees de sentenccedilas
contraacuterias e contraditoacuterias satildeo tratadas por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado
atraveacutes de seu quadrado loacutegico ou taacutebua de oposiccedilotildees No Perieacutermeneas (1985) mais
especificamente nos capiacutetulos 6 e 7 Aristoacuteteles nos apresenta os conceitos de sentenccedilas
contraacuterias e contraditoacuterias afirmando que duas sentenccedilas satildeo contraacuterias quando natildeo podem
ser verdadeiras juntas ao mesmo tempo mas podem ser falsas juntas ao mesmo tempo Jaacute em
relaccedilatildeo agraves contraditoacuterias Aristoacuteteles propotildee que toda afirmaccedilatildeo possui sua exata negaccedilatildeo
correspondente e que toda afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo sem opotildeem sendo uma sempre
verdadeira e a outra sempre falsa Dessa forma para Aristoacuteteles um par formado por uma
afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo corresponde a uma contradiccedilatildeo
A partir do conceito de contrariedade vamos observar o exemplo a seguir Nele
encontraremos um caso de polissemia
49
(17) a A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 20 de agosto de 1914
b A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 18 de julho de 1921
Se admitirmos que a seleccedilatildeo brasileira de futebol sobre a qual estamos falando na
sentenccedila (17a) eacute a mesma seleccedilatildeo que estamos falando na sentenccedila (17b) natildeo eacute possiacutevel que
a sentenccedila (17b) seja verdadeira pois algo natildeo pode ser fundado efetivamente em dois
momentos distintos Haacute a possibilidade de se afirmar que estamos falando de duas seleccedilotildees
brasileiras de futebol diferentes pois para ―seleccedilatildeo brasileira haacute diversos significados
aplicaacuteveis ou seja a expressatildeo ―seleccedilatildeo brasileira eacute polissecircmica Por exemplo podemos
definir uma seleccedilatildeo como sendo de futebol de campo e a outra de futebol de salatildeo A partir
dessa interpretaccedilatildeo as duas sentenccedilas poderiam ser verdadeiras juntas e com isso natildeo
haveria contrariedade Mas como devemos admitir apenas uma situaccedilatildeo para as duas
sentenccedilas (17a) e (17b) natildeo podem ser verdadeiras juntas mas podem ser falsas juntas
constituindo uma relaccedilatildeo de contrariedade Eacute possiacutevel que a seleccedilatildeo brasileira de futebol natildeo
tenha sido formada nem em 20 de agosto de 1914 e nem em 18 de julho de 1921 Em
contrapartida numa interpretaccedilatildeo usual a seleccedilatildeo de futebol de um paiacutes eacute formada pela
primeira vez uma soacute vez Algueacutem pode querer ir aleacutem e afirmar que foram empregados
sentidos diferentes para a expressatildeo ―foi formada nas sentenccedilas em questatildeo Poderia dizer
que na sentenccedila (17a) o sentido foi de que a seleccedilatildeo se reuniu pela primeira vez para jogarem
juntos de forma extraoficial e que na sentenccedila (17b) o sentido foi de que a seleccedilatildeo
efetivamente foi documentalmente formada Se admitiacutessemos essas interpretaccedilotildees as
sentenccedilas (17a) e (17b) poderiam ser verdadeiras juntas o que descaracterizaria a relaccedilatildeo de
contrariedade entre as sentenccedilas Assim como o fato de que se a sentenccedila (17a) for falsa a
sentenccedila (17b) pode ser verdadeira ou falsa A falsidade da sentenccedila (17a) natildeo assegura a
verdade da sentenccedila (17b) Podemos entender dessa forma que a polissemia afeta a
interpretaccedilatildeo do nexo
Vamos observar mais um exemplo desta relaccedilatildeo
(18) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado do Acre
b A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado de Santa Catarina
50
Se considerarmos a sentenccedila (18a) verdadeira ou seja que a reitoria da UNISUL estaacute
localizada no estado do Acre e tambeacutem levando em conta que a UNISUL eacute uma universidade
que tem uma reitoria e que a reitoria de uma universidade soacute pode estar numa cidade a
sentenccedila (18b) deveraacute ser falsa A sentenccedila (18a) eacute falsa e a sentenccedila (18b) eacute verdadeira e as
duas estabelecem uma relaccedilatildeo de contrariedade A reitoria da UNISUL estaacute localizada no
estado de Santa Catarina e natildeo no estado do Acre A partir desse exemplo e da convenccedilatildeo que
admitimos para ele pudemos observar que se uma sentenccedila A for falsa uma sentenccedila B pode
ser falsa ou verdadeira natildeo podendo ser as duas verdadeiras juntas apenas falsas Ilustrando
mais uma vez veja a relaccedilatildeo a seguir
(19) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Paris
b A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Roma
No exemplo acima podemos afirmar que as sentenccedilas (19a) e (19b) podem ser falsas
pois como jaacute citamos no paraacutegrafo anterior a reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado
de Santa Catarina Dessa forma haacute relaccedilatildeo de contrariedade as duas sentenccedilas satildeo falsas
Jaacute tratamos de exemplos da relaccedilatildeo de contrariedade com problemas de polissemia
mas podemos tambeacutem identificar problemas de validade dos nexos por causa da vagueza A
seguir observe o exemplo
(20) a Este cafeacute estaacute forte
b Este cafeacute estaacute aguado
Observando as sentenccedilas acima identificamos que (20a) e (20b) possuem termos
vagos que podem dificultar a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre as sentenccedilas Em (20a) foi usado
o termo ―forte e em (20b) foi usado o termo ―aguado Como nas outras relaccedilotildees que
apresentamos anteriormente esses termos satildeo vagos pois dependendo da classe de
comparaccedilatildeo em que satildeo apresentados eles podem mudar de sentido Eacute possiacutevel que numa
determinada situaccedilatildeo consideremos que um cafeacute pode natildeo estar nem forte nem fraco
autorizando a possibilidade de (20a) e (20b) serem as duas falsas ao mesmo tempo
descaracterizando a relaccedilatildeo de contrariedade Dessa forma podemos observar que os termos
51
vagos dificultam a interpretaccedilatildeo das sentenccedilas consequentemente da relaccedilatildeo que as
sentenccedilas estabelecem entre si Concluindo a exposiccedilatildeo dos nexos que nos interessam neste
trabalho apresentaremos a seguir a justificativa de nosso percurso sobre estas relaccedilotildees
semacircnticas e os tipos de ocorrecircncias que podem dificultar a interpretaccedilatildeo destas
25 JUSTIFICANDO O PERCURSO
Neste capiacutetulo apresentamos inicialmente os conceitos de semacircntica e pragmaacutetica
com o objetivo de mostrar que os nexos semacircnticos que tratamos em nosso trabalho
(acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e contrariedade) satildeo tipos de
inferecircncias que pertencem ao campo da semacircntica Para isso tambeacutem apresentamos duas
inferecircncias que pertencem ao campo da pragmaacutetica (pressuposiccedilatildeo e implicatura)
Na exposiccedilatildeo de cada nexo trouxemos os conceitos seguidos de exemplos em que a
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees semacircnticas eacute clara Em seguida apresentamos exemplos de nexos
com dois tipos de ocorrecircncias que no campo do leacutexico dificultam a interpretaccedilatildeo das
relaccedilotildees semacircnticas a polissemia e a vagueza
Pode parecer confuso a princiacutepio o fato de tratarmos de tipos de inferecircncia que
dependem da forma para se concretizarem (os nexos semacircnticos) relacionando-as com
ocorrecircncias que dificultam o entendimento do conteuacutedo das sentenccedilas (a polissemia e a
vagueza) A confusatildeo se apresenta caso natildeo lembremos que estamos tratando das relaccedilotildees de
inferecircncias em liacutengua natural e natildeo numa liacutengua controlada como num sistema loacutegico por
exemplo
Quando afirmamos que as relaccedilotildees entre sentenccedilas que tratamos em nosso trabalho
dependem da forma falamos de uma ―dessemantificaccedilatildeo ou seja a existecircncia dos nexos vai
depender unicamente da semacircntica dos quantificadores e conectivos (e ou se) Os nexos natildeo
dependem da semacircntica restante do material linguiacutestico exposto na sentenccedila A semacircntica dos
conectivos e quantificadores numa linguagem formal eacute mantida estaacutevel por definiccedilatildeo Na
linguagem natural podemos observar que os tipos de ocorrecircncia que dificultam a
interpretaccedilatildeo dos nexos se fazem presentes justamente no restante do material linguiacutestico da
sentenccedila ou seja para aleacutem da estrutura da sentenccedila que eacute composta pelos quantificadores e
demais conectivos
52
A polissemia e a vagueza satildeo ocorrecircncias tiacutepicas de liacutengua natural e dessa forma
somos obrigados a admitir que ao nos depararmos com qualquer gecircnero textual (que
obviamente estaacute no campo das liacutenguas naturais) numa anaacutelise devemos considerar que o
significado das palavras vai naturalmente interferir nas relaccedilotildees semacircnticas Tambeacutem na
exposiccedilatildeo de tipos de ocorrecircncias que interferem nos nexos semacircnticos tratamos de falaacutecias
que satildeo argumentos invaacutelidos apresentados como vaacutelidos explorando justamente a
interpretaccedilatildeo do conteuacutedo das sentenccedilas
A partir dos nexos semacircnticos que tratamos neste capiacutetulo junto com os tipos de
inferecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees no capiacutetulo seguinte
apresentaremos a anaacutelise de certificados de garantia Como o nosso objetivo eacute analisar quais
satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados nos certificados para restringir possibilidades de
interpretaccedilatildeo decidimos realizar a anaacutelise de ocorrecircncias com conectivos e quantificadores
Consideramos pertinente a escolha desse tipo de anaacutelise pois entendemos que os
quantificadores como o ―todo satildeo tradicionalmente apresentados em relaccedilotildees semacircnticas de
restriccedilatildeo ou abrangecircncia assim como o condicional ―se ou ―somente se e o ―apenas e
―somente A partir desse raciociacutenio acreditamos que esta seria a forma mais correta para
identificarmos ocorrecircncias do tipo que precisamos para a realizaccedilatildeo de nossa anaacutelise Os
nexos semacircnticos natildeo satildeo propiacutecios para as liacutenguas naturais pois natildeo se apresentam de forma
controlada Ocorrecircncias lexicais como as que descrevemos anteriormente podem dificultar a
interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees e isso eacute algo que trataremos nas anaacutelises
Eacute nesta perspectiva que observaremos no capiacutetulo seguinte as anaacutelises de vinte e dois
certificados de garantia nos quais natildeo buscaremos relaccedilotildees bem marcadas e controladas entre
sentenccedilas pois natildeo encontrariacuteamos facilmente mas sim quais satildeo os recursos linguiacutesticos
utilizados pelos autores dos textos para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo
admitindo tambeacutem obviamente os nexos semacircnticos como possiacuteveis recursos
53
3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA
Os certificados de garantia satildeo textos muito presentes em nosso cotidiano e muitas das
vezes noacutes natildeo levamos em conta a sua importacircncia tanto por serem documentos que podem
resguardar nossos direitos sobre um determinado produto quanto pelo fato de natildeo sermos
treinados para ler e interpretar devidamente as informaccedilotildees dispostas nos textos Dessa
forma justificamos a escolha de tal gecircnero para analisarmos em nossa pesquisa Ateacute este
momento de nosso trabalho seguimos o seguinte percurso
1) Mostramos no primeiro capiacutetulo que na elaboraccedilatildeo de certificados de garantia o
autor deve se preocupar em construir o texto buscando restringir ao maacuteximo as
possibilidades de interpretaccedilatildeo para que ele se torne mais eficiente em passar as
informaccedilotildees desejadas e para evitar problemas de interpretaccedilatildeo por parte dos
clientes
2) Tendo em vista que os certificados de garantia satildeo textos instrucionais ou seja
que direcionam a leitura para um fim especiacutefico nossa anaacutelise tem por objetivo
verificar quais satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores destes textos
para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo e para alcanccedilar este objetivo nos
utilizaremos da teoria dos nexos semacircnticos apresentada no segundo capiacutetulo
Como anunciado na introduccedilatildeo o corpus dessa pesquisa eacute formado por 22
certificados de garantia de produtos de diversos segmentos Ele foi coletado utilizando a
internet e natildeo teve um meacutetodo definido de categorizaccedilatildeo na escolha dos textos Decidimos
escolher certificados de diversos segmentos para natildeo obtermos uma anaacutelise viciada e tambeacutem
para obtermos um panorama da estrutura textual
Como analisaremos os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores dos certificados
de garantia para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo elegemos trecircs categorias de
termos a serem analisadas quantificadores universais condicionais e uso do apenassomente
A escolha dessas categorias se deve ao fato delas possuiacuterem tradicionalmente funccedilotildees de
restriccedilatildeo ou abrangecircncia em inferecircncias
Assim como na loacutegica de predicados a silogiacutestica se caracteriza pelo uso dependente
em argumentos dos quantificadores ―alguns e ―todos Nomeamos de quantificador
existencial ou particular aqueles referentes a ―alguns e nomeamos de quantificador universal
aqueles referentes a ―todos (MURCHO 2006) Utilizaremos em nossa pesquisa agraves
ocorrecircncias com quantificadores do segundo tipo Vejamos um exemplo ilustrativo
54
(21) TODO produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia
Possivelmente natildeo encontraremos em nossa anaacutelise nenhuma sentenccedila como esta pois
vemos que o quantificador universal destacado em letras maiuacutesculas abrange totalmente a
possibilidade de cobertura da garantia de um produto Da forma que estaacute expressa se compro
uma TV por exemplo e a mergulho na aacutegua causando defeito poderei receber outra nova do
fabricante pois ―todo produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia
Sobre os condicionais trataremos a anaacutelise na mesma linha de raciociacutenio pois eles
satildeo utilizados em proposiccedilotildees do tipo ―se X entatildeo Y oportunizando abrangecircncia ou
restriccedilatildeo de possibilidades de interpretaccedilatildeo como podemos ver ilustrado no exemplo a
seguir
(22) SE o produto apresentar defeito seraacute reparado gratuitamente
Da mesma forma como mostramos no exemplo anterior provavelmente natildeo
encontraremos sentenccedilas tatildeo abrangentes em nosso corpus como esta pois da forma como
estaacute posta ampliaria muito a possibilidade de cobertura da garantia de um produto Podemos
interpretar a partir da leitura da sentenccedila acima que o reparo do produto seraacute efetuado caso o
produto apresente qualquer defeito por qualquer motivo durante qualquer periacuteodo de tempo
sendo utilizado por qualquer pessoa e em qualquer circunstacircncia entre outras possibilidades
Para reparar tamanha abrangecircncia os autores dos textos podem utilizar listas exaustivas com
detalhes especiacuteficos apoacutes a apresentaccedilatildeo dos condicionais para direcionar efetivamente a
cobertura da garantia
Por fim em relaccedilatildeo ao uso dos termos ―apenas e ―somente analisaremos os termos
nos contextos que os autores buscam restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos textos
Vejamos o exemplo a seguir
(22) Estaratildeo cobertos pela garantia APENAS os produtos que natildeo estatildeo em
promoccedilatildeo
55
No exemplo acima tambeacutem inventado vemos que o ―apenas aparece como um
restritor da garantia deixando claro que soacute os produtos que foram adquiridos pelos preccedilos
normais ou seja fora da promoccedilatildeo estaratildeo cobertos pela garantia Dessa forma produtos em
promoccedilatildeo ficam descobertos
Com os conceitos sobre as categorias de anaacutelise dispostos acima apresentaremos a
seguir a anaacutelise dos trechos coletados em nosso corpus separada por tipos de ocorrecircncia
Iremos observar como se apresentam os quantificadores condicionais ocorrecircncias com o
apenassomente assim como observaremos os tipos de ocorrecircncias no campo do leacutexico que
dificultam a interpretaccedilatildeo dos trechos (polissemia e vagueza)
31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL
Vejamos a seguir as ocorrecircncias4 em que o quantificador universal eacute utilizado
5
(1) Este produto e as peccedilas substituiacutedas seratildeo garantidos pelo restante do
prazo original TODAS as peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades
da SAMSUNG
Podemos observar na ocorrecircncia acima que o fabricante utiliza o quantificador para
fazer com que o leitor infera que absolutamente todas as peccedilas que forem substituiacutedas na
assistecircncia a algum aparelho defeituoso se tornaratildeo propriedade da fabricante Dessa forma o
cliente natildeo poderaacute em hipoacutetese alguma ficar com a peccedila trocada
Percebemos no trecho acima que o quantificador universal ―todas poderia ser
excluiacutedo da sentenccedila e com isso em nada alteraria o sentido da sentenccedila Forccedilando uma
possiacutevel interpretaccedilatildeo da sentenccedila o leitor poderia afirmar que se a sentenccedila fosse disposta
da seguinte maneira ―As peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades da SAMSUNG
poderia existir uma classe de peccedilas eletrocircnicas de produtos SAMSUNG que
4 Utilizaremos o termo ldquoocorrecircnciardquo tanto para se referir ao trecho completo do corpus quanto para a
sentenccedila em que o conectivo grifado se apresenta Natildeo faremos distinccedilatildeo para este uso 5 Para a exibiccedilatildeo das ocorrecircncias do nosso corpus reiniciaremos a numeraccedilatildeo natildeo seguindo a contagem
realizada para os exemplos dos capiacutetulos anteriores
56
tradicionalmente fossem substituiacutedas em manutenccedilotildees mas natildeo recolhidas pelo fabricante
Dessa forma o quantificador universal ―todas se mostraria como a soluccedilatildeo para esse
problema de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos
na ocorrecircncia6 (1)
(2) Esta garantia substitui TODAS as outras garantias expressas ou
taacutecitas incluindo sem limitaccedilatildeo garantias taacutecitas de comercializaccedilatildeo
e adequaccedilatildeo a um fim especiacutefico
(Certificado 1)
Nesta ocorrecircncia o fabricante utiliza o quantificador para abranger ao maacuteximo seu
texto no intuito de inferir que a garantia em anaacutelise se sobrepotildee a qualquer outro tipo de
garantia oferecida ao cliente
Podemos observar que se o quantificador universal ―todas natildeo fosse utilizado o
sentido da sentenccedila permaneceria o mesmo Se tiveacutessemos encontrado a sentenccedila da forma
―Esta garantia substitui as outras garantias o cliente iria interpretar a sentenccedila sem
dificuldades O uso do quantificador aparece como um termo para dar ecircnfase ao que jaacute estaacute
dito na sentenccedila acima Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos na
ocorrecircncia (2)
(3) TODO atendimento de reparo deve ser precedido de ligaccedilatildeo
telefocircnica ao Suporte Teacutecnico Telefocircnico da AOC (0800-10-9539)
para que seja feita uma avaliaccedilatildeo preacutevia do problema a fim de
constatar a existecircncia de defeito ou viacutecio do produto esgotando-se
TODAS as possibilidades de se tratar de uma falha de operaccedilatildeo ou
uso do produto por parte do consumidor
(Certificado 4)
No trecho acima podemos observar que na primeira ocorrecircncia do quantificador o
fabricante utiliza-o para inferir que o cliente em qualquer caso de submissatildeo do aparelho agrave
assistecircncia deve entrar em contato com o suporte teacutecnico telefocircnico da empresa e ainda
6 Decidimos pontuar no final de cada anaacutelise o fato de haver ou natildeo termos polissecircmicos ou vagos nas
ocorrecircncias porque consideramos estes tipos de ocorrecircncias como sendo os principais meios de dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos instrucionais Ao anunciar que natildeo haacute termos dessas categorias em cada anaacutelise por mais que se mostre repetitivo na leitura ao mesmo tempo invoca a importacircncia (e necessidade segundo nossa perspectiva) que depositamos nesses fatos em cada ocorrecircncia
57
reforccedila utilizando outra vez o quantificador ―todas inferindo que o produto soacute iraacute para a
assistecircncia efetivamente caso natildeo haja mais nenhuma possibilidade de resoluccedilatildeo do problema
atraveacutes do contato telefocircnico Ao utilizar esse reforccedilo o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo ao
fato de que por exemplo o problema possa ser resolvido atraveacutes de instruccedilotildees passadas pela
empresa via telefone ao cliente e o cliente natildeo aceitar e exigir que o produto seja reparado
somente na assistecircncia teacutecnica ou simplesmente para evitar que a assistecircncia teacutecnica receba
algum produto que natildeo estaacute defeituoso ou viciado
Diferente da ocorrecircncia (2) o uso do quantificador universal ―todo se faz necessaacuterio
para evitar que o cliente interprete a sentenccedila de uma forma indesejada por parte do
fabricante Por exemplo caso o autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todo na
primeira parte ―Todo atendimento de reparo deve o cliente poderia interpretar que ele
poderia obter atendimento de reparo sem passar pelo contato telefocircnico com o suporte teacutecnico
do fabricante Na utilizaccedilatildeo do quantificador universal ―todas no final da sentenccedila tambeacutem
observamos que se o autor do texto natildeo utilizasse esta estrateacutegia tambeacutem possibilitaria que o
texto fosse interpretado de outra maneira Se o cliente se deparasse com a sentenccedila
―esgotando-se as possibilidades de se tratar de uma falha poderia interpretar que se para
algum tipo de falha de operaccedilatildeo ou seja de utilizaccedilatildeo do produto haveria a possibilidade de
enviar o produto para assistecircncia teacutecnica Como o autor utilizou o quantificador nas duas
passagens que citamos ele direcionou a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha
duacutevidas sobre aquilo que o fabricante deseja expressar
Sobre tipos de ocorrecircncia que dificultam a interpretaccedilatildeo do texto pudemos identificar
a expressatildeo ―viacutecio do produto Esta expressatildeo eacute muito especiacutefica e estaacute presente no Coacutedigo
de defesa do consumidor Segundo Bruno Miragem (2008) ―Viacutecio do produto ou do serviccedilo
abrange o efeito decorrente da violaccedilatildeo aos deveres de qualidade quantidade ou informaccedilatildeo
impedindo com isso que o produto ou serviccedilo atenda aos fins que legitimamente dele se
esperam (dever da adequaccedilatildeo) O autor do certificado natildeo disponibilizou nenhum conceito
para a expressatildeo ―viacutecio do produto apresentando desta forma uma dificuldade a mais para
a interpretaccedilatildeo do texto por parte do cliente Caso o autor tenha elaborado o texto
considerando por exemplo que qualquer pessoa que leia um certificado de garantia deve ser
conhecedor de todos os termos e expressotildees descritas no CDC (a partir desse ponto iremos
utilizar esta sigla para ―coacutedigo de defesa do consumidor) natildeo haveria problema em
simplesmente usar o termo sem conceituar mas isso natildeo eacute pertinente Para evitar que esta
expressatildeo natildeo fosse polissecircmica o autor deveria ter elaborado um mini-glossaacuterio com os
termos que seriam usuais no texto e que possuem um sentido especiacutefico no ramo em que o
58
produto estaacute inserido (por exemplo peccedilas de carros ou peccedilas eletrocircnicas) e no CDC7
(4) A Garantia do Produto oferecida por este Termo abrange TODOS os
defeitos de material ou de fabricaccedilatildeo do aparelho constatados pela
Robert Bosch Ltda bem como a substituiccedilatildeo das peccedilas que
apresentarem viacutecios aleacutem da matildeo-de-obra utilizada no respectivo
reparo
(Certificado 8)
No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador ―todos para assegurar ao cliente
que em qualquer caso em que o produto possua defeito de material ou de fabricaccedilatildeo a
garantia estaraacute assegurada Aleacutem de assegurar isso tambeacutem garante a substituiccedilatildeo da peccedila do
aparelho que estiver com problema e a matildeo-de-obra tudo por conta do fabricante Caso o
autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todos ele poderia abrir margem para
outras interpretaccedilotildees como por exemplo que esta garantia natildeo abrange qualquer defeito do
produto constatado pelo fabricante Eacute interessante citar que a utilizaccedilatildeo do quantificador
―todos foi realizada beneficiando o fabricante pois mesmo afirmando que a ―garantia
abrange todos os defeitos o autor direciona para ―todos os casos que forem constatados
pelo fabricante Ou seja fica a criteacuterio do fabricante decidir o que eacute defeito e o que natildeo eacute
Assim como na ocorrecircncia (3) identificamos o uso do termo ―viacutecios que natildeo tem o
seu conceito descrito no texto do certificado O termo ―viacutecio natildeo eacute utilizado em nosso
cotidiano como algo vinculado a um objeto Geralmente conceituamos esse termo como
referente agrave dependecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica em relaccedilatildeo a uma substacircncia Tambeacutem podemos
conceituar como uma mania (costume de fazer sempre a mesma coisa) Enfim o termo
utilizado da forma em que foi descrita em (4) necessitaria que em alguma parte do texto
aparecesse o conceito para este termo que deve ser interpretado de forma especiacutefica pois eacute
um termo teacutecnico apresentado no CDC e muitas das vezes o cliente natildeo tem conhecimento
deste conceito favorecendo dificuldades a interpretaccedilatildeo do texto
(5) TODOS os eventuais danos ou demoras resultantes da natildeo
observacircncia dessas recomendaccedilotildees fogem agrave responsabilidade da APC
(Certificado 7)
7 Sobre esta estrateacutegia de eliminaccedilatildeo da polissemia e vagueza atraveacutes do uso de um glossaacuterio por autores de
textos instrucionais ver Estrela e Santos (2014)
59
Na ocorrecircncia acima a empresa APC se resguarda de qualquer responsabilidade sobre
o produto caso o cliente natildeo siga as recomendaccedilotildees dadas pelo fabricante Para isso utiliza o
quantificador universal para abranger ao maacuteximo as possibilidades de natildeo cobertura
favorecendo o fabricante Observamos que a utilizaccedilatildeo do quantificador na ocorrecircncia (5)
serviu para intensificar o que foi descrito na sentenccedila Caso natildeo fosse utilizado poderia
deixar margem para outras interpretaccedilotildees como por exemplo que poderia existir algum tipo
de dano eventual que fosse de responsabilidade do fabricante O quantificador ―todos
elimina esse tipo de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos
polissecircmicos na ocorrecircncia (5)
(6) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA garante e consequentemente
compromete-se a reparar ou substituir pelo prazo abaixo indicado
contado a partir da data indicada no documento fiscal representativo
de venda do veiacuteculo Hyundai TODAS as peccedilas que em serviccedilo
normal apresentem defeito de fabricaccedilatildeo ou de material desde que
observadas as respectivas condiccedilotildees sob pena de ser
automaticamente considerado cancelado o presente Certificado de
Garantia independentemente de qualquer aviso ou notificaccedilatildeo
(Certificado 17)
No trecho acima podemos observar que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se daacute
de forma bastante controlada Mesmo o termo ―todas sendo naturalmente utilizado para
abranger ou restringir ao maacuteximo inferecircncias na ocorrecircncia acima vemos sua utilizaccedilatildeo
dependendo de vaacuterios aspectos para se concretizar A Hyundai se compromete em reparar ou
substituir ―todas as peccedilas dos veiacuteculos que estiverem dentro de todas as caracteriacutesticas
descritas antes do termo ser usado como estar dentro do prazo estabelecido pelo fabricante
apresentarem defeito de fabricaccedilatildeo ou material e aleacutem disso observando os procedimentos
detalhados pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o quantificador universal eacute
utilizado de forma controlada pelo fabricante restringindo ao seu sabor as possibilidades de
validade da garantia
(7) TODA revisatildeo deveraacute ser registrada no quadro de registro de revisotildees
para assegurar a garantia de seu veiacuteculo
(Certificado 17)
60
Na ocorrecircncia acima observamos que o fabricante utilizou o quantificador universal
para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente da seguinte forma o
cliente que possui um veiacuteculo na garantia poderia interpretar por exemplo caso natildeo houvesse
a utilizaccedilatildeo do quantificador ―toda na sentenccedila (7) fazer as revisotildees do veiacuteculo em qualquer
oficina e natildeo registrar as mudanccedilas feitas no carro em lugar algum natildeo perdendo a garantia
do veiacuteculo O quantificador universal ―toda direciona a interpretaccedilatildeo da inferecircncia para que
o cliente efetue qualquer revisatildeo do veiacuteculo numa concessionaacuteria do fabricante e aleacutem disso
ter as revisotildees registradas no quadro de registro de revisotildees do fabricante Na ocorrecircncia (7)
natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos
(8) TODOS aparelhos da ONEAL saem da faacutebrica preacute-ajustados em
220V
(Certificado 5)
Nesta ocorrecircncia (8) o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para
abranger a informaccedilatildeo de que qualquer produto produzido por ele eacute ajustado em 220V
resguardando-se de por exemplo um questionamento de algum cliente sobre o
funcionamento de qualquer produto em outra voltagem ou utilizaccedilatildeo do produto em outra
voltagem ocasionando defeito no produto Caso isso ocorra o fabricante natildeo poderaacute ser
responsabilizado pois a partir da ocorrecircncia (8) ele explica a voltagem a ser utilizada natildeo
garantindo o funcionamento do produto em outras voltagens Na ocorrecircncia (8) observamos
que se o fabricante natildeo tivesse utilizado o quantificador universal ―todo natildeo alteraria a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila Podemos entender que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal na
ocorrecircncia (8) serviu apenas para intensificar a informaccedilatildeo da sentenccedila
(9) TODOS nossos produtos satildeo testados durante horas nos mais severos
regimes antes de serem aprovados para o mercado
(Certificado 5)
No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para abranger a
interpretaccedilatildeo da inferecircncia Dessa forma o fabricante tenta nos levar a interpretar a
61
ocorrecircncia (9) da seguinte forma qualquer produto produzido por este fabricante eacute testado de
forma rigorosa antes de ser despachado para comercializaccedilatildeo Essa interpretaccedilatildeo eacute dificultada
pela presenccedila de termos vagos Ao utilizar a expressatildeo ―durante horas nos mais severos
regimes o fabricante natildeo teve o cuidado de atrelar essa informaccedilatildeo agrave classe de comparaccedilatildeo
na qual o cliente deve se basear para interpretar a sentenccedila da forma como o fabricante
deseja Ao afirmar que os produtos satildeo testados ―durante horas o fabricante natildeo especificou
por quantas horas os produtos satildeo testados e o que isso representa Por exemplo para
produtos X identificados como em bom funcionamento deve-se testaacute-los durante Y horas
segundo o manual Z que regulamenta a qualidade dos produtos X Aleacutem disso o fabricante
ainda afirma sobre os testes que satildeo ―nos mais severos regimes cometendo a mesma falha
da expressatildeo anterior natildeo descrevendo o que eacute isso e o que isso representa A expressatildeo eacute
vaga pois esses regimes de testes satildeo severos em relaccedilatildeo a quecirc Como natildeo haacute um grau de
comparaccedilatildeo de classe o cliente pode interpretar a ocorrecircncia de formas diversas Se o
fabricante tivesse especificado em algum lugar do texto que a expressatildeo ―nos mais severos
regimes deveria ser comparada por exemplo a um tipo de teste que coloca os produtos em
condiccedilotildees extremas para averiguar a sua qualidade durabilidade e bom funcionamento que eacute
norma padratildeo de qualidade para os produtos que ele estaacute justificando em (9) natildeo haveria
vagueza Do modo como a ocorrecircncia se apresenta as informaccedilotildees ―durante horas e ―nos
mais severos regimes satildeo vagas e dificultam a interpretaccedilatildeo da sentenccedila
(10) A ONEAL garante TODOS os seus produtos por um periacuteodo de 01
(um) ano jaacute incluiacutedo o periacuteodo de garantia legal (os primeiros 90 dias)
a partir da data da compra para problemas mecacircnicos ou por falhas
industriais em montagem e pintura
(Certificado 5)
Podemos observar na ocorrecircncia (10) que o fabricante assegura a garantia para todos
os seus produtos utilizando o quantificador universal com algumas restriccedilotildees Se natildeo
houvesse a utilizaccedilatildeo do quantificador nesta inferecircncia o cliente poderia considerar que a
garantia de seu produto por exemplo teria validade vitaliacutecia e que o produto estaria coberto
pela garantia mesmo se for danificado por negligecircncia do cliente O fabricante restringe o
periacuteodo de validade especificando que o periacuteodo de um ano jaacute inclui o periacuteodo da garantia
legal que eacute de 90 dias Ainda enfatiza que se deve contar o periacuteodo a partir da data da compra
e ainda explica que a garantia cobriraacute somente produtos que apresentarem problemas
62
mecacircnicos ou aqueles que apresentarem problemas industriais em montagem e pintura Dessa
forma problemas de outra natureza natildeo seratildeo cobertos pela garantia assim como produtos
com mais de um ano de adquiridos tambeacutem natildeo estaratildeo cobertos Poderiacuteamos identificar a
expressatildeo ―garantia legal como polissecircmica caso o fabricante natildeo tivesse apresentado o
conceito para a expressatildeo logo apoacutes entre parecircnteses Eacute sabido que no CDC a garantia legal eacute
caracterizada como o periacuteodo de 90 dias apoacutes a aquisiccedilatildeo de um produto Para evitar que
houvesse uma interpretaccedilatildeo indevida o fabricante conceituou a expressatildeo imediatamente
apoacutes o aparecimento dela na sentenccedila
(11) Em vista das mudanccedilas de leis que poderatildeo ocorrer TODO
certificado seraacute regido pelas normas do cartatildeo de garantia mais
recentemente atualizado pela faacutebrica
(Certificado 5)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todo para afirmar
que qualquer certificado de garantia de seus produtos deveraacute seguir as normas dispostas no
cartatildeo de garantia mais recentemente atualizado pela faacutebrica ou seja caso algum cliente tente
solicitar a garantia atraveacutes de um cartatildeo de garantia desatualizado ele natildeo estaraacute autorizado
Dessa forma o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo agraves possiacuteveis atualizaccedilotildees de leis ou
informaccedilotildees nos cartotildees de garantia dos diversos lotes de produtos impossibilitando o cliente
de reclamar sobre qualquer tipo de alteraccedilatildeo no documento em questatildeo A utilizaccedilatildeo do
quantificador universal em (11) eacute importante para dar ecircnfase agrave informaccedilatildeo central da sentenccedila
e tambeacutem para evitar que por exemplo o cliente interpretasse que algum certificado poderia
ser regido pelas normas de outro cartatildeo de garantia que natildeo fosse o mais recente Natildeo
identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos em (11)
(12) A garantia incide sobre TODOS os componentes montados
originalmente em Veiacuteculo conforme descrito na Nota Fiscal de
venda quer fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER ou
por esta adquiridos de terceiros
(Certificado 16)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para
restringir a interpretaccedilatildeo da sentenccedila quando afirma que a garantia cobre qualquer
63
componente montado originalmente em veiacuteculo ou seja a garantia natildeo cobre componentes
avulsos Aleacutem disso os componentes montados devem estar descritos na Nota Fiscal de
venda sendo assim se natildeo estiverem lanccedilados invalidam a garantia e por fim os veiacuteculos
devem tem sido fabricados por alguma empresa do grupo DAIMLER ou fabricado por outra
empresa mas tendo sido adquirido pelo fabricante que estaacute oferecendo a garantia Dessa
forma podemos ver que o quantificador universal foi utilizado pelo fabricante de forma
restrita limitando a abrangecircncia de acordo com seus interesses Caso o quantificador
universal natildeo tivesse sido utilizado na sentenccedila haveria a possibilidade do cliente interpretar
(12) de vaacuterias maneiras Por exemplo admitir que a garantia pode ser vaacutelida para produtos
que foram fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER mas natildeo foram lanccedilados na
Nota Fiscal de venda Em vista disso a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela
necessidade do fabricante restringir a interpretaccedilatildeo do texto da garantia buscando direcionar
melhor a informaccedilatildeo que ele estaacute vinculando em seu texto Natildeo identificamos nem termos
vagos nem termos polissecircmicos em (12)
(13) Executar TODAS as revisotildees estabelecidas pela Mercedes-Benz do
Brasil Ltda
(Certificado 16)
(14) Executar TODAS as manutenccedilotildees reparaccedilotildees e regulagens em um
dos Concessionaacuterios ou Postos de Serviccedilos Autorizados Mercedes-
Benz no territoacuterio brasileiro
(Certificado 16)
Nas duas ocorrecircncias acima podemos observar que o fabricante utiliza o quantificador
universal ―todas para definir que a garantia do produto soacute seraacute vaacutelida caso o cliente realize
as funccedilotildees descritas Caso o cliente natildeo realize pelo menos uma delas a garantia seraacute
invalidada Se o cliente natildeo realizar pelo menos uma revisatildeo sugerida pela fabricante perderaacute
a validade Aleacutem disso se o cliente realizar algum tipo de manutenccedilatildeo no veiacuteculo em alguma
concessionaacuteria que natildeo seja autorizada da Mercedes-Benz e no territoacuterio brasileiro tambeacutem
perderaacute a garantia O fabricante mesmo utilizando o quantificador universal nas duas
ocorrecircncias natildeo deixa de condicionar a validade da garantia de acordo com seus interesses O
cumprimento das recomendaccedilotildees dispostas apoacutes o quantificador natildeo garantem efetivamente
que a garantia do produto estaacute assegurada Ou seja mesmo que o cliente execute todas as
manutenccedilotildees reparos e regulagens em um dos concessionaacuterios do fabricante natildeo impede que
64
a garantia seja invalidade por outro motivo O quantificador universal foi utilizado pelo
fabricante em (13) e (14) sem limites e em seu benefiacutecio Natildeo identificamos nem termos
vagos nem termos polissecircmicos em (13) e (14)
(15) TODA solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica durante o periacuteodo da
garantia deveraacute ser feita obrigatoriamente agrave faacutebrica via e-mail ou
fax descrevendo detalhadamente os problemas apresentados natildeo
excedendo o prazo de 30 dias apoacutes detectaacute-lo indicando o modelo do
equipamento e o nuacutemero de seacuterie descrito na placa de identificaccedilatildeo do
mesmo e constante neste certificado
(Certificado 22)
Na ocorrecircncia (15) o fabricante utiliza o quantificador universal ―toda de forma
abrangente determinando que todas as solicitaccedilotildees de assistecircncia teacutecnica para qualquer
produto deveraacute seguir as instruccedilotildees definidas em seguida Caso o cliente tente solicitar a
assistecircncia natildeo seguindo algum dos passos e prazos determinados pelo fabricante a garantia
seraacute invalidada O quantificador universal foi utilizado para evitar interpretaccedilotildees relativas
sobre os procedimentos descritos no texto Por exemplo se (15) natildeo tivesse o quantificador
universal ―toda uma possiacutevel interpretaccedilatildeo seria que uma solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica
durante o periacuteodo da garantia poderia ser realiza na loja em que o produto foi comprado e natildeo
apenas na faacutebrica Dessa forma a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela
necessidade do fabricante restringir o percurso da solicitaccedilatildeo da garantia para o procedimento
que ele deseja que seja seguido pelo cliente Natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos
em (15)
32 USO DO CONDICIONAL
Vejamos a seguir as ocorrecircncias em que o condicional eacute utilizado Quando as
ocorrecircncias apresentarem o mesmo sentido de interpretaccedilatildeo agruparemos numa mesma
anaacutelise como podemos observar a seguir nas ocorrecircncias (16) (17) e (18)
(16) A garantia fica automaticamente invalidada SE
(Certificado 2)
65
(17) A garantia legal e contratual perderaacute seu efeito SE
(Certificado 3)
(18) Esta garantia perderaacute a validade SE
(Certificado 11)
Podemos observar nas ocorrecircncias (16) (17) e (18) que o condicional tem a funccedilatildeo de
limitar a aplicaccedilatildeo da garantia Os usos do ―se natildeo excluem a possibilidade de haver outros
casos em que a garantia natildeo se aplica ou seja as listas que satildeo apresentadas apoacutes o
condicional natildeo satildeo exaustivas Vale mencionar que da mesma forma que o ―todo o ―se
foi utilizado para beneficiar o fabricante como afirmamos acima O ―se assegura que a
validade do produto seraacute perdida nos casos que satildeo listados apoacutes o condicional sem eliminar
a possibilidade de haverem outros casos abrangendo sem limites os casos em que a garantia
natildeo cobriraacute o produto e restringindo a validade da garantia para o cliente Natildeo identificamos
termos vagos ou polissecircmicos nas ocorrecircncias (16) (17) (18) Na ocorrecircncia (17) o autor
usou os termos ―garantia legal e ―contratual que poderiam ser considerados termos
polissecircmicos que dificultariam a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia mas foram apresentados no
certificado os conceitos para os dois termos Para ―garantia legal o autor definiu como
sendo o prazo inicial da garantia com duraccedilatildeo de 90 dias ( contados imediatamente apoacutes a
emissatildeo da Nota Fiscal de compra) e previsto no CDC por sua vez para ―garantia
contratual se refere ao periacuteodo de dois anos incluindo o periacuteodo da garantia legal para todo
equipamento (neste caso condicionador de ar) e cinco anos para o compressor Com a
apresentaccedilatildeo destas definiccedilotildees o autor evitou que os termos se apresentassem no texto como
polissecircmicos
(19) A garantia do produto natildeo se aplica
(Certificado 8)
Trouxemos para a anaacutelise a ocorrecircncia acima pois a expressatildeo ―natildeo se aplica desta
sentenccedila funciona como um condicional mesmo sem ter a forma das ocorrecircncias que
analisamos anteriormente O fabricante utiliza esse condicional precedendo uma lista de
possiacuteveis situaccedilotildees em que a garantia poderia ser reclamada pelo cliente dessa forma
impossibilitando o cliente de exigir qualquer direito sobre alguma das possiacuteveis situaccedilotildees
Natildeo identificamos termos polissecircmicos e vagos na ocorrecircncia (19)
66
(20) A garantia do produto extingue-se
(Certificado 8)
Assim como na ocorrecircncia anterior tambeacutem natildeo encontramos o condicional ―se de
forma expliacutecita mas o termo ―extingue-se se comporta como tal A sentenccedila acima foi
utilizada pelo fabricante antecedendo uma lista de possibilidades de situaccedilotildees em que o
cliente poderia reclamar a garantia do produto excluindo entatildeo qualquer direito do cliente
em relaccedilatildeo ao que foi listado abaixo da sentenccedila em questatildeo Natildeo identificamos termos vagos
e polissecircmicos na ocorrecircncia (20)
(21) O cliente perderaacute a garantia do seu veiacuteculo SE
(Certificado 17)
Na ocorrecircncia (21) o fabricante utiliza o condicional antecedendo uma lista de
situaccedilotildees que se concretizadas invalidaratildeo a garantia Dessa forma se o veiacuteculo do cliente
que deseja ser atendido pela garantia se enquadrar em algum dos itens dispostos apoacutes essa
sentenccedila a garantia natildeo seraacute concedida Assim como nas ocorrecircncias com o uso do
condicional apresentadas anteriormente o uso do ―se aparece sem limites Como afirmamos
na anaacutelise das ocorrecircncias (16) (17) e (18) o autor utiliza o condicional para em seguida
apresentar uma lista de situaccedilotildees em que se concretizadas o cliente perderaacute a garantia Mas
mesmo com a apresentaccedilatildeo dessa lista o cliente poderaacute perder a garantia caso ocorra outro
tipo de situaccedilatildeo natildeo listada Dessa forma o fabricante se favorece abrangendo ao maacuteximo as
possibilidades de perda da garantia e ―prejudica o cliente oferecendo-lhe restritas
possibilidades de validade da garantia do produto a que se refere o texto Natildeo identificamos
nem termos polissecircmicos nem vagos na ocorrecircncia (21) Apenas vale ressaltar que diferente
das ocorrecircncias apresentadas anteriormente o autor em vez de escrever ―a garantia do
produto ele utilizou ―a garantia do seu veiacuteculo que especifica ao que se refere o texto
diminuindo a possibilidade de o cliente interpretar a ocorrecircncia de uma forma diferente da
que o autor se propotildee a transmitir
(22) A garantia vigoraraacute SOMENTE SE o Veiacuteculo atender
cumulativamente as seguintes condiccedilotildees
67
(Certificado 16)
Eacute interessante observar a forma como o fabricante utiliza o condicional na ocorrecircncia
(22) que precede uma lista de condiccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso o fabricante
natildeo utilizasse esse condicional ―somente se na sentenccedila acima o cliente poderia interpretar
que se o seu produto atendesse pelo menos a uma das condiccedilotildees estaria coberto pela
garantia Mas o fabricante aleacutem de utilizar o condicional ―somente se tambeacutem utilizou o
termo ―cumulativamente explicitando que o produto deve obedecer a todas as condiccedilotildees
dispostas pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o autor utilizou o condicional
para restringir as possibilidades de validade da garantia com restriccedilotildees o que natildeo ocorre
quando o fabricante trata sobre as possibilidades de invalidade da garantia como na
ocorrecircncia (21) Comparando as ocorrecircncias (21) e (22) vemos claramente que o autor em
(21) utilizou o condicional para lhe favorecer sem limites quando tratou sobre as condiccedilotildees
pelas quais o cliente pode perder a garantia abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura natildeo
apenas para as situaccedilotildees que estatildeo listadas mas tambeacutem para qualquer outra possiacutevel Jaacute em
(22) o autor (mesmo essa comparaccedilatildeo sendo feita entre ocorrecircncias de certificados
diferentes) utiliza o condicional para restringir as possibilidades de validade da garantia para
as situaccedilotildees listadas apoacutes a apresentaccedilatildeo do condicional e aleacutem disso afirmou que todas as
situaccedilotildees listadas devem ser atendidas para que a garantia seja vaacutelida para o produto Dessa
forma ainda sobre a ocorrecircncia (22) caso uma das situaccedilotildees listadas natildeo seja atendida a
garantia automaticamente seraacute perdida Com isso podemos afirmar que tanto em (21) quanto
em (22) os autores utilizaram o condicional para se beneficiar Em (21) abrangendo as
possibilidades de invalidade da garantia e em (22) restringindo ao maacuteximo as possibilidades
de validade da garantia do produto Natildeo identificamos nem termos vagos nem polissecircmicos
na ocorrecircncia (22)
(23) A garantia Philips natildeo eacute aplicaacutevel SE
(Certificado 14)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o condicional ―se antecedendo uma lista de
informaccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso algum produto Philips se encaixar em
alguma das situaccedilotildees descritas apoacutes o condicional mesmo estando dentro do prazo de
garantia o cliente perderaacute a cobertura Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem
68
vagos na ocorrecircncia (23)
(24) Esta garantia natildeo se aplica
(Certificado 21)
Assim como nas ocorrecircncias (18) e (19) a ocorrecircncia acima natildeo possui o condicional
expliacutecito mas o termo ―natildeo se aplica se comporta como tal O fabricante utiliza o
condicional precedendo uma lista de condiccedilotildees de natildeo aplicaccedilatildeo da garantia Dessa forma
caso o produto se encaixe em alguma das condiccedilotildees a garantia seraacute invalidada
automaticamente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem vagos na sentenccedila (24)
33 USO DO APENASSOMENTE
Vejamos a seguir ocorrecircncias em que identificamos o uso do ―apenas ou ―somente
(25) Esta garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver
devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original
da Nota Fiscal de Compra
(Certificado 4)
Na ocorrecircncia (25) o fabricante utiliza o ―somente para restringir a validade da
garantia indicando que o cliente teraacute direito agrave garantia caso preencha de forma correta o
certificado e apresente a nota fiscal de compra Caso as instruccedilotildees natildeo sejam seguidas pelo
cliente a garantia natildeo seraacute vaacutelida Podemos identificar que o termo ―rasuras presente em
(25) pode ser considerado como vago e polissecircmico neste caso dificultando a interpretaccedilatildeo
do texto Uma rasura pode ser por exemplo desde um rabisco fora de lugar no formulaacuterio
ateacute o dano no documento por aacutegua amasso do papel em excesso etc O autor poderia evitar a
vagueza e a polissemia definindo o termo da forma como ele deseja que o leitor interprete
este termo e comparando-o a uma classe especiacutefica (por exemplo o que eacute considerado rasura
69
nos documentos instrucionais)
(26) Danos decorrentes de desgaste natural inclusive e natildeo SOMENTE
nas partes plaacutesticas que compotildeem o gabinete do produto
(Certificado 4)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o ―somente numa sentenccedila que trata sobre
uma das situaccedilotildees em que a garantia natildeo seraacute vaacutelida O fabricante deixa claro que qualquer
defeito no produto causado por desgaste natural natildeo seraacute coberto pela garantia Se o
fabricante natildeo utilizasse o ―somente nesta sentenccedila o cliente poderia interpretar por
exemplo que danos decorrentes de desgaste natural nas partes que natildeo satildeo de plaacutestico seriam
cobertas pela garantia O autor utiliza o ―somente para se resguardar sobre outras possiacuteveis
interpretaccedilotildees do trecho abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura da garantia para
qualquer peccedila do produto que for afetado por danos decorrentes de desgaste natural Na
ocorrecircncia (26) a expressatildeo ―desgaste natural eacute polissecircmica O autor em nenhuma parte do
certificado de garantia definiu a expressatildeo em questatildeo para que o cliente compreenda da
forma desejada pelo fabricante Dessa forma podemos interpretar ―desgaste natural de
muitas formas Podemos por exemplo interpretar como o desgaste do produto como um todo
ou suas peccedilas referentes ao uso em excesso ao longo do tempo e diretamente vinculado agrave
vida uacutetil tanto do produto em geral quanto de peccedilas especiacuteficas Mas tambeacutem podemos
interpretar como sendo um desgaste proveniente do contato do produto com a natureza como
a exposiccedilatildeo agrave chuva maresia sol em excesso Pode parecer um exagero esta uacuteltima
interpretaccedilatildeo mas ela eacute possiacutevel a partir da forma como (26) se apresenta O autor utilizou no
texto a expressatildeo sem dar-lhe a definiccedilatildeo que ele pensou para a utilizaccedilatildeo dela na ocorrecircncia
dificultando a interpretaccedilatildeo do texto
(27) Este termo de garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos
comercializados e utilizados em territoacuterio brasileiro
(Certificado 4)
(28) Este Certificado de Garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos
vendidos e utilizados no territoacuterio brasileiro
(Certificado 10)
(29) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro
70
(Certificado 2)
(30) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro
(Certificado 13)
(31) Esta garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o territoacuterio brasileiro
(Certificado 12)
Nas ocorrecircncias (27) (28) (29) e (30) observamos que os fabricantes utilizam o termo
―apenas para restringir a cobertura da garantia tanto em relaccedilatildeo ao local da compra quanto
em relaccedilatildeo ao local de uso do produto assim como o autor da ocorrecircncia (31) utiliza o termo
―somente com o mesmo sentido Caso o produto tenha sido comprado em outro paiacutes natildeo
haveraacute cobertura da garantia assim como mesmo que o produto tenha sido comprado no
Brasil mas tenha sido utilizado em outro paiacutes culminando em um defeito tambeacutem natildeo haveraacute
cobertura da garantia Mas para a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que aparece em (27) (28)
(29) (30) e (31) podemos tambeacutem interpretar como natildeo apenas a extensatildeo territorial do paiacutes
mas tambeacutem admitir territoacuterios brasileiros em outros paiacuteses a saber os consulados
honoraacuterios do Brasil nas diversas naccedilotildees ao redor do mundo Nesse caso por exemplo se o
produto for adquirido dentro dos limites geograacuteficos do Brasil e for utilizado em algum
consulado do Brasil em outro paiacutes a garantia deve ser vaacutelida Eacute possiacutevel que o fabricante natildeo
tenha pensado nessa possibilidade poreacutem da forma que estas ocorrecircncias se apresentam haacute
essa possibilidade de interpretaccedilatildeo Ao apresentar essa possiacutevel interpretaccedilatildeo para a
expressatildeo ―territoacuterio brasileiro noacutes quisemos mostrar que o fabricante deveria ter
especificado em alguma parte do certificado de garantia o conceito que ele deseja que o
cliente admita para esta expressatildeo para natildeo deixar que a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro seja
interpretada de outras formas ou seja para evitar a polissemia que dificulta a leitura do
texto Outra questatildeo que tambeacutem podemos considerar eacute que nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)
a afirmaccedilatildeo sobre a validade da garantia eacute apresentada de forma menos detalhada Os autores
apresentam a afirmaccedilatildeo de que a garantia eacute vaacutelida para o territoacuterio brasileiro sem informar se
eacute em relaccedilatildeo ao produto ser adquirido e utilizado no paiacutes Brasil ou se o produto pode ser
utilizado fora do Brasil mas para requerer a garantia do produto o consumidor caso resida no
exterior deva se dirigir ao Brasil para fazer jus a sua garantia Diferente das ocorrecircncias (27)
e (28) em que os autores enfatizam que a garantia dos produtos eacute vaacutelida unicamente para
produtos comercializados e utilizados dentro do Brasil restringindo a garantia mais do que
nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)
71
(32) A garantia SOMENTE eacute vaacutelida mediante a apresentaccedilatildeo de nota
fiscal de compra deste produto
(Certificado 3)
Podemos observar na ocorrecircncia (29) que o fabricante utiliza o termo ―somente para
restringir a validade da garantia Fica claro que caso o produto apresente algum defeito e o
cliente procure a assistecircncia teacutecnica sem estar de posse da nota fiscal natildeo haveraacute cobertura da
garantia Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em (29) o cliente poderia interpretar
por exemplo que a garantia do produto eacute vaacutelida com ou sem a apresentaccedilatildeo da nota fiscal de
compra do produto Neste caso a funccedilatildeo do ―somente eacute de restringir a interpretaccedilatildeo de
acordo com o que o fabricante deseja Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem
vagos em (29)
(33) A garantia oferecida por esse Certificado eacute de 36 (trinta e seis) meses
e SOMENTE teraacute validade se o presente documento for devidamente
preenchido no ato da venda do produto conforme acima e se a
instalaccedilatildeo for feita por uma pessoa ou empresa credenciada pela
Robert Bosch Ltda
(Certificado 8)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade
da garantia Caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees de forma cumulativa que seguem a
utilizaccedilatildeo do termo a garantia seraacute invalidada Por exemplo se o cliente preencher no ato da
venda do produto o certificado mas se a instalaccedilatildeo do produto natildeo tiver sido feita por algueacutem
credenciado pela Robert Bosch Ltda a garantia natildeo teraacute validade A importacircncia do uso do
―somente em (33) se daacute pelo fato de que caso o autor natildeo tivesse utilizado este termo
haveria a possibilidade do cliente interpretar por exemplo que a garantia teria validade caso
a instalaccedilatildeo do produto tenha sido feita por uma pessoa ou empresa natildeo credenciada pela
fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (33)
(34) Os consertos em Garantia do Produto SOMENTE seratildeo efetuados
72
por um Serviccedilo Autorizado devidamente nomeado pela Robert Bosch
Ltda em territoacuterio brasileiro
(Certificado 8)
Podemos observar que o fabricante utiliza o termo ―somente em (34) para restringir a
validade da garantia O fabricante define tanto quem efetuaraacute o conserto dos produtos quanto
os limites territoriais de cobertura Dessa forma fica expliacutecito para o cliente que o conserto
natildeo poderaacute ser efetuado por pessoas natildeo autorizadas pela Robert Bosch Ltda e tal conserto
natildeo pode ser realizado em outros paiacuteses Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em
(34) abriria a possibilidade de interpretar a sentenccedila de outras formas como por exemplo
que os consertos em garantia do produto poderiam ser realizados em territoacuterios de outros
paiacuteses ou que os consertos poderiam ser realizados por serviccedilos natildeo autorizados pelo
fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (34)
(35) O exame e reparo do produto soacute poderatildeo ser efetuados pelo
fabricante
(Certificado 7)
Na ocorrecircncia (36) o fabricante utiliza no lugar do termo ―somente o termo ―soacute
para restringir a interpretaccedilatildeo Nesse caso se o cliente procurar reparar eou examinar o
produto sozinho ou em assistecircncias teacutecnicas que natildeo sejam autorizadas pelo fabricante a
garantia seraacute invalidada A utilizaccedilatildeo do termo ―soacute tem grande importacircncia para o
direcionamento da interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia (35) pois caso natildeo tivesse sido utilizado pelo
autor a ocorrecircncia traria apenas uma informaccedilatildeo vaga dificultando a interpretaccedilatildeo do texto
Sem o ―soacute a partir de (35) poderiacuteamos interpretar que o exame e reparo do produto podem
ser efetuados pelo fabricante mas tambeacutem por qualquer outra pessoa ou empresa Utilizando
o ―soacute o autor restringe a inferecircncia evitando muacuteltiplas interpretaccedilotildees para a sentenccedila
(36) O presente ―Termo de Garantia Hyundai aplica-se uacutenica e
exclusivamente ao veiacuteculo da marca e fabricaccedilatildeo Hyundai
devidamente identificado no iniacutecio deste documento e que tenha sido
comercializado por um Revendedor Autorizado da CAOA Montadora
de Veiacuteculos SA
(Certificado 17)
73
Em (36) o fabricante natildeo utiliza os termos ―apenas ou ―somente mas
consideraremos em nossa anaacutelise a expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como um restritor de
mesmo sentido Observamos que o fabricante utiliza a expressatildeo para restringir a cobertura
da garantia Caso o cliente esteja por exemplo solicitando a garantia de um veiacuteculo Hyundai
que natildeo seja o mesmo que estaacute descrito no iniacutecio do documento de garantia e que natildeo tenha
sido comercializado por uma autorizada da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA a garantia
natildeo teraacute validade Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado a expressatildeo ―uacutenica e
exclusivamente em (36) haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia de outras
maneiras
(37) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA eou o Revendedor Autorizado
da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA APENAS substituiraacute as peccedilas
que forem por elas e a seu exclusivo criteacuterio julgadas como
defeituosas
(Certificado 17)
Na ocorrecircncia (37) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a interpretaccedilatildeo
da sentenccedila Dessa forma o fabricante fica resguardado tanto em relaccedilatildeo a substituiccedilatildeo de
peccedilas quanto em relaccedilatildeo ao meacutetodo utilizado para jugar se a peccedila estaacute defeituosa ou natildeo A
importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―apenas em (37) tambeacutem se daacute pelo fato de natildeo permitir outras
interpretaccedilotildees diferentes da definida pelo fabricante Caso o ―apenas natildeo tivesse sido
utilizado poderiacuteamos interpretar por exemplo que o fabricante poderia substituir peccedilas
julgadas por ela como defeituosas utilizando seus proacuteprios criteacuterios mas tambeacutem substituiria
em outros casos O ―apenas serviu para especificar e restringir a interpretaccedilatildeo dos criteacuterios
definidos pelo fabricante em relaccedilatildeo agrave substituiccedilatildeo de peccedilas do produto Natildeo identificamos
nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (37)
(38) Permita que SOMENTE teacutecnicos autorizados pela faacutebrica prestem
assistecircncia a seu aparelho pois se for aberto por teacutecnicos ou pessoas
natildeo autorizadas automaticamente vocecirc estaraacute perdendo sua garantia
(Certificado 5)
Na ocorrecircncia (38) o fabricante deixa expliacutecito ao utilizar o termo ―somente que
caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees dispostas nesta sentenccedila a garantia do produto seraacute
74
invalidada Dessa forma o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a informaccedilatildeo
veiculada pelo fabricante da mesma forma como vimos na ocorrecircncia (37) Natildeo
identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (38)
(39) A presente garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o Veiacuteculo
comercializado em territoacuterio brasileiro
(Certificado 16)
Na ocorrecircncia (39) um pouco parecida com as ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e
(31) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia do produto Nesse caso
se o veiacuteculo tiver sido adquirido em outro paiacutes sua garantia natildeo seraacute vaacutelida no Brasil Um
pouco diferente das ocorrecircncias (27) e (28) que especificam ao maacuteximo a possibilidade de
cobertura da garantia a ocorrecircncia (39) veicula que a garantia eacute vaacutelida para o produto
comercializado em territoacuterio brasileiro natildeo tratando sobre a possibilidade da perda da
garantia caso o veiacuteculo seja utilizado em outros paiacuteses Neste caso o cliente natildeo tem direito
a garantia do veiacuteculo caso ele seja adquirido em outros paiacuteses Sobre a expressatildeo ―territoacuterio
brasileiro assim como nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31) o autor natildeo definiu um
sentido para a expressatildeo que pode ser interpretada de outras maneiras como exemplificamos
nas anaacutelises anteriores
(40) Utilizar SOMENTE peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios genuiacutenos
Mercedes-Benz e comprovar sua aquisiccedilatildeo mediante e apresentaccedilatildeo
da Nota Fiscal quando adquiridos pelo consumidor final
(Certificado 16)
Na ocorrecircncia (40) que faz parte de uma lista de recomendaccedilotildees para o cliente natildeo
perder a garantia o fabricante utiliza o termo ―somente para delimitar a interpretaccedilatildeo da
sentenccedila Na passagem se o cliente natildeo seguir as instruccedilotildees descritas consequentemente
perderaacute a garantia do produto A importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente na ocorrecircncia (40) eacute
a de dificultar que o cliente interpreta a sentenccedila de outra maneira Sem o ―somente na
sentenccedila o cliente poderia interpretar que ele pode utilizar peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios
originais do fabricante mas tambeacutem estaacute autorizado a utilizar peccedilas de outros fabricantes
Com a presenccedila do ―somente na sentenccedila o cliente eacute levado a interpretar a sentenccedila da
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forma direcionada pelo fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (40)
(41) A comprovaccedilatildeo de defeito de fabricaccedilatildeo do produto que provocaraacute a
execuccedilatildeo da troca do mesmo deveraacute ser feita exclusivamente por
funcionaacuterio credenciado da Ortobom
(Certificado 15)
Na ocorrecircncia (41) o fabricante natildeo utiliza explicitamente os termos ―apenas ou
―somente mas consideraremos em nossa anaacutelise que o termo ―exclusivamente possui a
mesma funccedilatildeo de restringir interpretaccedilotildees O fabricante utiliza o termo para restringir a
garantia do produto em questatildeo Natildeo haacute a possibilidade de o cliente comprovar um defeito de
fabricaccedilatildeo em seu produto atraveacutes de outro profissional que natildeo seja um funcionaacuterio
credenciado da Ortobom Haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia (41) caso o
fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―exclusivamente Sem tal uso o cliente poderia
interpretar que poderia comprovar algum defeito no produto para possiacutevel troca por
intermeacutedio de qualquer profissional natildeo obrigatoriamente por um funcionaacuterio do fabricante
Ortobom O termo ―exclusivamente especifica e destaca a informaccedilatildeo que o fabricante
veicula em (41) Natildeo identificamos em (41) nem termos polissecircmicos nem termos vagos
(42) A garantia cobre exclusivamente defeitos de materiais eou
fabricaccedilatildeo sendo que as despesas de deslocamento alimentaccedilatildeo e
hospedagem do teacutecnico para atendimento em garantia ou natildeo
referente agrave entrega montagem instruccedilatildeo de uso e reparo do
equipamento assim como o frete de retirada para conserto e retorno
do mesmo e de envio de peccedilas e retorno das substituiacutedas em garantia
ocorreratildeo por conta do cliente
(Certificado 22)
Assim como em (41) o fabricante utiliza o termo ―exclusivamente para restringir a
garantia do produto O fabricante ao utilizar esse termo se resguarda de possiacuteveis cobranccedilas
por parte do cliente ao solicitar a garantia como por exemplo ajuda de custo para custear a
iacuteda do teacutecnico para manutenccedilatildeo do produto envio de peccedilas para faacutebrica etc Fica expliacutecito
que em todas essas situaccedilotildees o cliente eacute responsaacutevel Caso o termo ―exclusivamente natildeo
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tivesse sido utilizado o cliente poderia interpretar a ocorrecircncia de diferentes modos Uma
possibilidade de interpretaccedilatildeo seria a de entender que a garantia cobre outros tipos de
defeitos que natildeo fossem de peccedilas ou de fabricaccedilatildeo Com a utilizaccedilatildeo do termo
―exclusivamente o fabricante diminui as possibilidades de interpretaccedilatildeo tornando o texto
mais claro para o cliente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na
ocorrecircncia (42)
(43) A garantia natildeo cobre peccedilas ou componentes de desgaste normal de
uso dentre as quais selim pedais firma-peacutes natildeo se limitando
SOMENTE a estes mas incluindo rodas de transporte carenagens
adesivos elementos de acabamento de plaacutestico borracha e alumiacutenio
danos na pintura e quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa
exclusiva distribuiccedilatildeo devendo as reclamaccedilotildees ser encaminhadas aos
seus respectivos representantes ou fabricantes
(Certificado 22)
Em (43) o fabricante aleacutem de utilizar o termo ―somente para abranger a
interpretaccedilatildeo sobre as peccedilas que natildeo seratildeo cobertas pela garantia do produto utiliza outros
termos que alargam ainda mais sem restriccedilotildees a natildeo cobertura da garantia como ―quaisquer
acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo O fabricante se resguarda
especificando quais peccedilas que ele considera como de ―desgaste normal para evitar
problemas de interpretaccedilatildeo por parte do cliente O uso do ―somente na ocorrecircncia (43) se
apresenta de forma contraacuteria agraves outras ocorrecircncias que apresentamos anteriormente Enquanto
em ocorrecircncias como a (40) que o ―somente foi utilizado para restringir a interpretaccedilatildeo da
sentenccedila para as informaccedilotildees descritas depois do termo em (43) o fabricante utiliza o
―somente precedido da negaccedilatildeo ―natildeo se limitando direcionando o termo para o sentido de
abrangecircncia Ou seja a garantia que o fabricante oferece natildeo cobre peccedilas ou componentes de
desgaste natural como selim e pedais Para natildeo correr o risco de esquecer de citar algum dos
componentes de desgaste natural do produto e deixar brechas na interpretaccedilatildeo da garantia o
fabricante utiliza a expressatildeo ―natildeo se limitando seguida do ―somente para abranger ao
maacuteximo as possibilidades de interpretaccedilatildeo sobre os itens de desgaste natural que natildeo satildeo
cobertos pela garantia Depois do uso do ―somente e de apresentar mais uma lista de itens
que natildeo satildeo cobertos pela garantia o fabricante ainda abrange mais a interpretaccedilatildeo
utilizando a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo
Dessa forma pudemos perceber que o fabricante utilizou natildeo apenas o termo de restriccedilatildeo
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―somente para limitar as possibilidades de interpretaccedilatildeo da sentenccedila mas tambeacutem utilizou
listas especificando itens e a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa
exclusiva distribuiccedilatildeo Todas essas estrateacutegias foram utilizadas com o objetivo de tornar a
interpretaccedilatildeo do texto clara sem oferecer a possibilidade de o cliente obter muacuteltiplas
interpretaccedilotildees do texto Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na
ocorrecircncia (43)
(44) A matildeo-de-obra em garantia limita-se SOMENTE ao horaacuterio normal
de expediente sendo de segunda a sexta-feira das 730 agraves 1800 horas
devendo o equipamento estar disponiacutevel para a assistecircncia teacutecnica
(Certificado 22)
Em (44) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o horaacuterio disponiacutevel
para reparos em produtos na garantia e aleacutem disso enfatizando que o produto deve estar
disponiacutevel para a assistecircncia Dessa forma o cliente fica impossibilitado de reclamar
assistecircncia fora do horaacuterio que estaacute descrito na sentenccedila assim como fica consciente de que
seu produto ficaraacute a disposiccedilatildeo da assistecircncia para conserto ou seja natildeo seraacute reparado
imediatamente A importacircncia do uso do ―somente na ocorrecircncia (44) se daacute pelo fato de que
caso natildeo fosse utilizado o cliente poderia interpretar por exemplo que a matildeo-de-obra em
garantia estaria disponiacutevel vinte e quatro horas por dia e sete dias por semana Como o
―somente foi utilizando precedendo as informaccedilotildees sobre dia e horaacuterio de atendimento natildeo
eacute possiacutevel interpretar a informaccedilatildeo de outra maneira que natildeo seja a descrita Haveria a
possibilidade de definir a expressatildeo ―horaacuterio normal de expediente como uma expressatildeo
polissecircmica caso ela natildeo estivesse acompanhada de uma definiccedilatildeo (―de segunda a sexta-feira
das 730 agraves 1800 horas) pois o horaacuterio de expediente pode variar de acordo com o trabalho
que vocecirc tem por exemplo Se vocecirc trabalha em um banco financeiro o seu horaacuterio de
expediente seraacute possivelmente diferente do horaacuterio de um feirante Para evitar a polissemia
o fabricante utilizou a expressatildeo e em seguida apresentou a definiccedilatildeo da expressatildeo de
acordo com o seu interesse
(45) A presente garantia limita-se SOMENTE ao produto fornecido natildeo
responsabilizando a TOTAL HEALTH por danos causados a pessoas
a terceiros a outros equipamentos ou instalaccedilotildees lucros cessantes ou
quaisquer outros danos emergentes ou consequumlentes
(Certificado 22)
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Na ocorrecircncia (45) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da
garantia Nesse caso a garantia se limita unicamente ao produto descrito Se por exemplo o
produto em questatildeo apresentar defeito e tal defeito ocasionar dano fiacutesico ao dono do produto
ou a terceiros a garantia natildeo cobriraacute tais problemas Assim como nas ocorrecircncias anteriores
o uso do ―somente em (45) teve a funccedilatildeo de direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para uma
uacutenica possibilidade de interpretaccedilatildeo Caso o ―somente natildeo tivesse sido utilizado poderiacuteamos
interpretar (45) de outras maneiras Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (45)
(46) SOMENTE os profissionais indicados pela loja revendedora dos
produtos Bartzen estatildeo autorizados a prestar atendimento dentro do
prazo de garantia
(Certificado 18)
Na ocorrecircncia (46) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila Nesse caso o cliente soacute poderaacute usufruir de assistecircncia teacutecnica em
seu produto atraveacutes de profissionais indicados pela loja na qual ele adquiriu seu produto
Bartzen e dentro do prazo da garantia Caso o cliente realize algum serviccedilo em seu produto
com profissionais natildeo autorizados pela fabricante sua garantia seraacute invalidada A importacircncia
da utilizaccedilatildeo do termo ―somente na ocorrecircncia (46) eacute a de diminuir as possibilidades de
interpretaccedilatildeo da sentenccedila ao maacuteximo Dessa forma natildeo haacute como o cliente interpretar que por
exemplo ele pode realizar a manutenccedilatildeo ou reparo do seu produto com qualquer outro
funcionaacuterio que natildeo seja autorizado pela fabricante do produto Natildeo identificamos nem
termos polissecircmicos nem termos vagos em (46)
(47) A garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o consumidor que consta
identificado na nota fiscal de compra do produto (primeiro usuaacuterio) a
qual deveraacute ser apresentada junto com este Certificado de Garantia
devidamente preenchido com os dados do consumidor e do produto
para fins de cobertura para reparo ou substituiccedilatildeo do produto se
necessaacuterio
(Certificado 19)
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Em (47) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia Nesse caso
o cliente fica ciente de que a garantia soacute seraacute vaacutelida para o primeiro proprietaacuterio do produto
assim como soacute seraacute aceito o pedido de garantia caso o cliente apresentar a nota fiscal
contendo tanto os dados do produto quanto os seus Todas as possibilidades fora das
descritas seratildeo desconsideradas e consequentemente a garantia seraacute invalidada A
importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente em (47) se daacute pelo fato de que haacute diversas
informaccedilotildees a serem consideradas pelo cliente na ocorrecircncia (47) e caso o autor do texto natildeo
tivesse utilizado o termo ―somente antes dessas informaccedilotildees o cliente poderia interpretar
que sua garantia poderia ser vaacutelida ao cumprir algumas das informaccedilotildees descritas na sentenccedila
e natildeo obrigatoriamente todas Por exemplo se natildeo houvesse o uso do ―somente em (47) o
cliente poderia interpretar que a garantia eacute vaacutelida para o consumidor que tem o nome
constando na nota fiscal mas tambeacutem para qualquer outro consumidor que esteja de posse da
nota fiscal mesmo que natildeo seja a pessoa que tem o nome na nota fiscal O ―somente possui
o papel de restringir a interpretaccedilatildeo de toda ocorrecircncia ao maacuteximo direcionando a leitura do
texto para evitar muacuteltiplas interpretaccedilotildees Com esse uso natildeo eacute possiacutevel que cliente interprete
que ele pode ter acesso a garantia caso natildeo cumpra alguma das recomendaccedilotildees Natildeo
identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (47)
(48) O Certificado de Garantia eacute vaacutelido SOMENTE para os
condicionadores vendidos e instalados no territoacuterio brasileiro
(Certificado 19)
Em (48) semelhante agraves ocorrecircncias (31) e (39) o fabricante utiliza o termo ―somente
para restringir o territoacuterio de cobertura da garantia Neste caso condicionadores adquiridos e
utilizados em outros paiacuteses natildeo seratildeo cobertos pela garantia descrita acima Ainda retomando
a discussatildeo sobre a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro consideramos que pelo fato do autor do
texto natildeo ter apresentado um conceito para esta expressatildeo em nenhum local do certificado de
garantia da forma como se apresenta ela pode ser interpretada de outras maneiras assim
como discutimos nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)
(49) Para o uso de condicionadores de ar em ambientes com alta
concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre
seraacute vaacutelida SOMENTE a garantia legal de 90 (noventa) dias contados
80
da data de emissatildeo da nota fiscal de compra do produto
(Certificado 19)
Na ocorrecircncia (49) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da
garantia do produto que seja utilizado em ambientes especiacuteficos como ―ambientes com alta
concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre Dessa forma o
fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a qualquer solicitaccedilatildeo de garantia ―normal ou seja prazo
de validade de garantia para condicionadores de ar que satildeo utilizados em ambientes
considerados ―normais por parte de um cliente que utilize o produto em ambientes como os
descritos acima Dessa forma o uso do ―somente se justifica pelo fato de que o fabricante
busca direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha duacutevidas de que como
descrito em (49) os produtos utilizados em ambientes atiacutepicos soacute estaratildeo cobertos pela
garantia legal Assim como jaacute discutimos em outras ocorrecircncias anteriormente o fabricante
utiliza a expressatildeo ―garantia legal que eacute uma expressatildeo teacutecnica do CDC e para que ela natildeo
se tornasse polissecircmica logo apoacutes seu uso o autor apresentou o conceito para o termo que eacute
o de um periacuteodo de 90 dias corridos compreendidos imediatamente apoacutes a expediccedilatildeo da nota
fiscal de compra do produto
(50) A partir do 91ordm (nonageacutesimo primeiro) dia tais despesas satildeo de
responsabilidade uacutenica e exclusiva do consumidor
(Certificado 19)
Em (50) o fabricante natildeo utilizou os termo ―somente e ―apenas mas
consideraremos em nossa anaacutelise a utilizaccedilatildeo da expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como
umas expressotildees utilizadas para restringir interpretaccedilotildees como discutimos anteriormente em
outras anaacutelises Na sentenccedila acima o fabricante utilizou a expressatildeo de restriccedilatildeo para
enfatizar que passados os trecircs meses de garantia as despesas referentes a qualquer
manutenccedilatildeo e garantia do produto seratildeo de responsabilidade do cliente Como apresentamos
na ocorrecircncia (49) a garantia legal para um produto cobre os primeiros 90 dias apoacutes a
emissatildeo da nota fiscal de compra do produto Ao informar em (50) que a partir do primeiro
dia apoacutes o teacutermino da garantia legal despesas referentes ao traslado do produto para
manutenccedilatildeo seraacute de responsabilidade do cliente o autor utiliza a expressatildeo ―uacutenica e
exclusiva para se resguardar de qualquer possibilidade de participaccedilatildeo em possiacuteveis gastos
81
Caso o fabricante natildeo tivesse enfatizado essa informaccedilatildeo utilizando esta expressatildeo o cliente
poderia interpretar por exemplo que poderia haver algum caso em que o fabricante se
responsabilizaria por tais gastos Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (50)
(51) A reposiccedilatildeo de peccedilas defeituosas e execuccedilatildeo dos serviccedilos decorrentes
desta Garantia SOMENTE seratildeo procedidas nas localidades do
territoacuterio brasileiro onde a ENVISION mantiver ―Centro de Serviccedilo
Autorizado de titularidade dela proacutepria ou de terceiro por ela
expressamente indicado onde deveraacute ser entregue o produto para
reparo
(Certificado 20)
Na ocorrecircncia (51) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir os locais de
execuccedilatildeo de serviccedilos da garantia Neste caso o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a por
exemplo natildeo haver assistecircncias teacutecnicas em todas as cidades do paiacutes Aleacutem de enfatizar que o
produto deveraacute ser entregue na assistecircncia pelo cliente ou seja o fabricante natildeo se
responsabiliza quanto ao recolhimento do produto para reparo A utilizaccedilatildeo do ―somente se
justifica pelo fato de que o fabricante busca restringir ao maacuteximo as possibilidades de
interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o ―somente o cliente
poderia por exemplo interpretar que se a cidade em que o cliente tenha adquirido o produto
natildeo tenha uma assistecircncia teacutecnica a fabricante se responsabilizaria pelo recolhimento do
produto para manutenccedilatildeo numa cidade que possua a assistecircncia teacutecnica Com a utilizaccedilatildeo do
―somente precedendo as demais informaccedilotildees natildeo eacute possiacutevel interpretar a ocorrecircncia dessa
maneira Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termo vagos na ocorrecircncia (51)
(52) Esta Garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver
devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original
da Nota Fiscal de Compra
(Certificado 20)
Na ocorrecircncia (52) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a forma
como o cliente deve solicitar a garantia do produto Caso o cliente deixe de apresentar o
certificado preenchido corretamente eou a nota fiscal de compra a garantia seraacute invalidada
82
Assim como na ocorrecircncia (51) o autor fabricante utiliza o ―somente para restringir ao
maacuteximo a interpretaccedilatildeo do texto Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente
haveria a possibilidade de o cliente interpretar que a garantia do produto seria vaacutelida caso o
certificado estivesse preenchido sem rasuras acompanhado da nota fiscal de compra mas
tambeacutem de qualquer outra forma A ocorrecircncia ficaria sem limites para interpretaccedilatildeo caso o
fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente Poreacutem como o termo foi utilizado natildeo
haacute outra forma de o cliente interpretar a ocorrecircncia sobre a validade da garantia do produto
Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (52)
(53) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS se o produto for reparado pela rede
autorizada Rheem ou por autorizaccedilatildeo preacutevia formalizada pelo
Departamento de Assistecircncia Teacutecnica
(Certificado 20)
Na ocorrecircncia (53) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a validade da
garantia quanto ao local de assistecircncia Caso o produto seja reparado por profissional natildeo
autorizado pela fabricante Rheem a garantia do produto seraacute perdida A importacircncia o uso do
termo ―apenas na ocorrecircncia (53) se daacute pelo fato de que o autor busca restringir a
interpretaccedilatildeo do texto ao maacuteximo Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―apenas o
cliente poderia por exemplo interpretar que a garantia do produto eacute vaacutelida em qualquer
situaccedilatildeo e natildeo unicamente se seguir as recomendaccedilotildees descritas apoacutes o uso do termo
―apenas Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (53)
(54) Os produtos SOMENTE poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para
anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes sua autorizaccedilatildeo por escrito
(Certificado 21)
Na ocorrecircncia (54) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o modo
como deve submeter o produto agrave garantia Caso natildeo haja uma autorizaccedilatildeo por escrito para
enviar o produto para a faacutebrica o produto natildeo poderaacute seguir para anaacutelise A importacircncia da
utilizaccedilatildeo do termo ―somente se daacute pelo fato de que caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o
termo na ocorrecircncia (54) a interpretaccedilatildeo do texto ficaria sem limites ou seja os produtos
poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes a autorizaccedilatildeo por
83
escrito ou de qualquer outra forma Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (54)
34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS
Em nossa pesquisa analisamos cinquenta e quatro ocorrecircncias selecionadas a partir
dos vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Dividimos a anaacutelise por tipos de
ocorrecircncias com quantificador universal com condicional e com o apenassomente Para
apresentar um panorama sobre os tipos de ocorrecircncia e a quantidade das anaacutelises de cada tipo
vamos observar o quadro a seguir
Tipo de ocorrecircncia Nuacutemero de ocorrecircncias
Quantificador universal 15
Condicional 9
ApenasSomente 30
TOTAL 54
Quadro 2 ndash Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia Fonte elaborado pelo autor
Antes de discorrer nossos comentaacuterios sobre as anaacutelises de nosso trabalho temos que
tratar sobre a primeira importante impressatildeo que tivemos diante do corpus e das consequentes
anaacutelises dos quatro nexos semacircnticos que invocamos em nosso trabalho somente
identificamos ocorrecircncias com acarretamentos Tratamos com muita naturalidade este fato
porque por mais que em algumas leituras uma parte do conteuacutedo do segundo capiacutetulo possa
ser vista como desnecessaacuteria ndash pelo fato de tais conceitos natildeo estarem presentes nas anaacutelises
dessa pesquisa ndash encontramos aiacute uma caracteriacutestica do gecircnero textual certificado de garantia
que eacute a presenccedila de diversos acarretamentos mesmo que natildeo-expliacutecitos como demonstramos
em nosso trabalho (porque o gecircnero textual certificado de garantia natildeo possui uma linguagem
tatildeo controlada quanto a linguagem encontrada nos exemplos que criamos para ilustrar os
conceitos dos nexos) Dessa maneira fica claro que natildeo encontramos ocorrecircncias com
equivalecircncias semacircnticas contrariedades ou contraditoriedades o que nos permite definir
estas ausecircncias como uma caracteriacutestica intriacutenseca do gecircnero
84
Na primeira parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o quantificador
universal Identificamos quinze ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia
utilizaram esse recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (1) e (15)
percebemos que o uso do quantificador universal em algumas ocorrecircncias serviu apenas para
reforccedilar a informaccedilatildeo que o fabricante quis veicular ou seja se natildeo tivesse sido utilizado natildeo
modificaria o sentido do texto Pudemos identificar esse sentido por exemplo nas
ocorrecircncias (1) e (2)
Aleacutem desse sentido para o uso do quantificador universal encontramos ocorrecircncias
em que caso o quantificador natildeo tivesse sido utilizado haveria a possibilidade de
interpretarmos a ocorrecircncia de vaacuterias maneiras Nesses casos os autores utilizaram o
quantificador para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo direcionando a leitura do texto
para que o cliente possa interpretar o certificado da forma que o fabricante deseja Pudemos
identificar esse sentido por exemplo nas ocorrecircncias (3) (4) e (8)
Pudemos observar que os autores dos certificados de garantia utilizam tambeacutem o
quantificador universal em seus textos para se resguardarem em relaccedilatildeo a deveres que
poderiam ser reclamados pelo cliente caso natildeo houvesse o uso deste recurso Dessa forma
podemos entender que os autores dos certificados utilizaram o quantificador universal para se
favorecerem Pudemos observar essa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (5) (11) (13) e
(14) Em relaccedilatildeo a ocorrecircncias com o uso do quantificador universal em que o cliente eacute
beneficiado natildeo identificamos nenhum caso em nossa anaacutelise
Sobre o aparecimento de termos vagos ou termos polissecircmicos nas ocorrecircncias com a
presenccedila do quantificador universal pudemos observar que o maior motivo da sensibilidade
dos textos a esses tipos de efeitos linguiacutesticos eacute o fato de os autores dos textos em muitos
casos natildeo conceituarem os termos teacutecnicos que eles utilizam nos certificados de garantia Ao
utilizar um termo teacutecnico como por exemplo na ocorrecircncia (3) em que o autor do
certificado de garantia utiliza o termo ―viacutecio do produto ndash termo teacutecnico do CDC ndash natildeo
apresentando o conceito em seu texto dificulta a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Tendo contato
com o termo de forma solta sem estar delimitada pelo conceito que o autor deseja que o
cliente interprete a ocorrecircncia se torna vaga e polissecircmica
Ainda sobre os termos vagos ou termos polissecircmicos encontramos tambeacutem
ocorrecircncias em que os autores buscaram evitaacute-las justamente apresentando apoacutes a utilizaccedilatildeo
de um termo teacutecnico o seu respectivo conceito desta forma natildeo oferecendo a possibilidade
de interpretaacute-lo de vaacuterias maneiras Pudemos observar este uso por exemplo na ocorrecircncia
(10) em que o autor do certificado usa o termo ―garantia legal e logo em seguida apresenta
85
o conceito para o termo que eacute ―os primeiros 90 dias Dessa forma o cliente natildeo eacute autorizado
a interpretar o termo ―garantia legal de nenhuma outra forma que natildeo seja a descrita pelo
fabricante
Na segunda parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o uso do condicional
Identificamos nove ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia utilizaram este
recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (16) e (24) pudemos identificar
que o condicional foi utilizado pelos autores dos textos precedendo listas instrucionais o que
era esperado devido a caracteriacutestica proacutepria desse recurso que eacute o de condicionar algo agrave
alguma coisa Assim como nas ocorrecircncias que os autores utilizaram o quantificador
universal o condicional foi utilizado em boa parte das ocorrecircncias analisadas para restringir
a interpretaccedilatildeo do texto Pudemos identificar este sentido por exemplo nas ocorrecircncias (16)
(17) e (18)
Identificamos em boa parte das ocorrecircncias que possuem o uso do condicional que
este uso natildeo impotildee um limite na interpretaccedilatildeo Pudemos observar em nossa anaacutelise que os
condicionais foram utilizados precedendo listas exaustivas que continham situaccedilotildees por
exemplo em que a garantia seria invalidada Ao apresentar tais listas os autores natildeo
especificavam que natildeo haveria outros casos fora da lista em que a garantia seria invalidada
Dessa forma observamos que assim como nas ocorrecircncias com quantificador universal os
autores utilizaram os condicionais para se favorecerem Identificamos na ocorrecircncia (22)
recursos que restringem ainda mais as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente e
que consequentemente favorecem o fabricante como o uso do termo ―cumulativamente
que obriga o cliente a natildeo apenas estar dentro de uma ou mais situaccedilotildees descritas pelo
fabricante apoacutes o condicional mas a seguir todas as situaccedilotildees descritas ao mesmo tempo
Quando os fabricantes utilizaram o condicional precedendo listas que constam as
situaccedilotildees em que o cliente poderia perder a garantia eles usaram o recurso sem limites como
pudemos observar na ocorrecircncia (21) Mas quando os fabricantes utilizaram o condicional
precedendo listas que constam as situaccedilotildees em que o cliente tem direito a garantia eles
usaram os recursos com limites e como mostramos na ocorrecircncia (22) ainda utilizaram
recursos que limitam mais ainda a garantia
Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem das ocorrecircncias em que o condicional apareceu
de forma expliacutecita ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o mesmo
sentido como em (19) (20) e (24)
Sobre a presenccedila de termos polissecircmicos ou termos vagos nas ocorrecircncias com o uso
do condicional pudemos identificar que diferente das ocorrecircncias com o uso do
86
quantificador universal natildeo encontramos casos de termos vagos ou termos polissecircmicos nas
ocorrecircncias analisadas Identificamos em muitas ocorrecircncias que os autores dos certificados
apresentaram os conceitos para termos teacutecnicos apoacutes uso geralmente entre parecircnteses para
evitar que o termo ou a expressatildeo fossem interpretados de formas indevidas Encontramos
este tipo de estrateacutegia por exemplo na ocorrecircncia (17) do certificado 3 em que o autor
utiliza os termos ―garantia legal e ―garantia contratual mas no texto do certificado haacute o
conceito para cada termo o que impossibilita que o cliente interprete os termos de diversas
maneiras Caso o fabricante tivesse utilizado os dois termos teacutecnicos e em lugar algum do
certificado de garantia ele apresentasse os conceitos para os termos oportunizaria por
conseguinte diversas possibilidades de interpretaccedilatildeo dificultando a leitura do texto por parte
do cliente
Na terceira parte da anaacutelise tratamos sobre as ocorrecircncias com o uso do ―apenas e do
―somente Identificamos trinta ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia
utilizaram esses recursos linguiacutesticos Apesar do nuacutemero elevado de ocorrecircncias os sentidos
em que o ―apenas e o ―somente foram utilizados natildeo variaram muito Em grande parte das
ocorrecircncias analisadas o ―apenas e o ―somente foram utilizados para restringir a validade
da garantia desde restriccedilotildees em relaccedilatildeo ao territoacuterio de vigecircncia ateacute tipos de ambientes em
que os produtos podem ser utilizados Um tipo de ocorrecircncia que foi bastante recorrente em
nosso corpus foi o que utilizou o ―apenas ou ―somente para delimitar o territoacuterio em que a
garantia pode ser vaacutelida como por exemplo nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)
Nestas ocorrecircncias haacute o uso da expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que levantamos na anaacutelise
uma discussatildeo sobre as possibilidades de interpretaccedilatildeo para tal expressatildeo pelo fato de natildeo
haver nos certificados de garantia analisados um conceito definido para ela A ausecircncia do
conceito para este termo nos certificados de garantia pode dificultar a interpretaccedilatildeo
Tambeacutem podemos afirmar que em grande parte das ocorrecircncias analisadas o uso do
―somente ou ―apenas serviu para impor limites agraves interpretaccedilotildees dos textos direcionando-
os para a interpretaccedilatildeo que o fabricante desejasse impor Ou seja em grande parte das
ocorrecircncias em que foi utilizado o ―somente precedendo uma situaccedilatildeo X caso natildeo houvesse
esse uso a garantia por exemplo seria vaacutelida na situaccedilatildeo X mas tambeacutem nas situaccedilotildees Y Z
W sem limites Sem o uso do ―somente nessas ocorrecircncias o texto da garantia natildeo teria
sentido definido Pudemos observar esse sentido em diversas ocorrecircncias analisadas como
por exemplo nas ocorrecircncias (27) e (28) Ilustrando caso natildeo houvesse o uso do ―apenas
nas ocorrecircncias (27) e (28) a garantia seria vaacutelida no territoacuterio brasileiro e em qualquer outro
Ainda sobre as ocorrecircncias usam o ―somente ou ―apenas para restringir o territoacuterio em que
87
a garantia seraacute vaacutelida observamos que algumas ocorrecircncias especificam mais a validade da
garantia como em (48) que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para produtos vendidos e
instalados em territoacuterio nacional e outras ocorrecircncias que especificam menos como em (39)
que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para o veiacuteculo comercializado em territoacuterio brasileiro
Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem de ocorrecircncias em que o ―apenas e ―somente
apareciam explicitamente ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o
mesmo sentido como em (35) (36) e (41)
Sobre o aparecimento de termos polissecircmicos ou termo vagos aleacutem da expressatildeo
―territoacuterio brasileiro que mencionamos nos paraacutegrafos anteriores pudemos identificar
outros casos de termos polissecircmicos como por exemplo nas ocorrecircncias (25) e (26) Os
termos teacutecnicos utilizados pelos autores dos certificados de garantia natildeo possuiacuteam em lugar
algum dos textos os conceitos para lhes definirem possibilitando que o cliente interprete
estes termos de diversas maneiras
Ainda sobre casos de termos polissecircmicos observamos em algumas ocorrecircncias que
os autores dos certificados procuraram utilizar os termos teacutecnicos e em seguida ou em
alguma parte dos textos apresentaram os conceitos para os termos evitando muacuteltiplas
interpretaccedilotildees Identificamos o uso dessa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (43) (44) e
(49)
Nos trecircs tipos de ocorrecircncias que definimos para nossa anaacutelise pudemos identificar
que nos usos do quantificador universal condicional e ―apenas e ―somente os autores dos
certificados de garantia usaram esses recursos para se favorecerem Como analisado nas
ocorrecircncias do corpus os fabricantes utilizaram essas estrateacutegias tanto pelo fato de que eacute
necessaacuterio utilizar esses recursos por ser caracteriacutestico de textos instrucionais quanto pelo
fato de que o direcionamento das interpretaccedilotildees dos textos que eles constroem a partir destes
recursos podem favorecer os proacuteprios fabricantes
88
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Na presente seccedilatildeo iremos pontuar o percurso de nossa pesquisa e apresentar nossas
impressotildees sobre o corpus as teorias apresentadas e os resultados obtidos com as anaacutelises
O primeiro capiacutetulo de nossa pesquisa foi subdividido em duas partes na primeira
buscamos apresentar os conceitos gerais sobre os gecircneros textuais com base na proposta de
Bakhtin (2000) reafirmada por Marcuschi (2008) com o intuito de fornecer aporte teoacuterico
para a segunda parte do capiacutetulo em que caracterizamos o certificado de garantia como um
gecircnero textual Tal caracterizaccedilatildeo se deu pelo fato do nosso corpus ser composto por vinte e
dois certificados de garantia Ficamos surpresos por tomar conhecimento do fato de que ateacute o
presente momento natildeo identificamos publicaccedilotildees acadecircmicas em nosso paiacutes referentes agrave
caracterizaccedilatildeo de certificados de garantia como gecircneros textuais e esta dificuldade nos levou
a construir atraveacutes de nossa leitura a caracterizaccedilatildeo tanto quanto ao conteuacutedo quanto agrave
estrutura do texto A uacutenica bibliografia que encontramos e utilizamos como base para a
estruturaccedilatildeo da segunda parte do capiacutetulo tratando diretamente sobre os certificados de
garantia foi o Coacutedigo de Defesa e Proteccedilatildeo do Consumidor (1997) em que pudemos extrair
alguns conceitos gerais e recomendaccedilotildees de como se deve construir o texto de um certificado
de garantia Um dos problemas que encontramos foi a carecircncia de detalhes apresentados pelo
CDC na seccedilatildeo em que sugerem um padratildeo de formulaccedilatildeo do documento O CDC apenas
enfatiza que se faz necessaacuterio o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo e por exemplo a
necessidade de ser acompanhado do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto Com base
nessas informaccedilotildees apresentamos os conceitos e tambeacutem um exemplo de certificado de
garantia ilustrando cada parte da estrutura do texto
Na introduccedilatildeo do segundo capiacutetulo apresentamos uma discussatildeo geral sobre a
distinccedilatildeo entre semacircntica e pragmaacutetica com o objetivo de caracterizar os nexos como
relaccedilotildees linguiacutesticas do campo da semacircntica Para isso apresentamos tambeacutem os conceitos e
exemplos de relaccedilotildees linguiacutesticas que satildeo consideradas como pertencentes ao campo da
pragmaacutetica como a implicatura e pressuposiccedilatildeo Para esta discussatildeo buscamos aporte teoacuterico
nas obras de autores como Trask (2004) Levinson (2007) Grice (1987) Basso (2009)
Moura (1999) e Santos (2012)
Apoacutes a introduccedilatildeo do capiacutetulo apresentamos a teoria dos nexos semacircnticos que
escolhemos tratar em nossa pesquisa Foram eles o acarretamento a equivalecircncia semacircntica
a contradiccedilatildeo e a contrariedade Utilizamos como referencial teoacuterico para a teoria dos nexos
89
semacircnticos autores como Aristoacuteteles (1985) Chierchia (2001) Branquinho Murcho e Gomes
(2006) Pires de Oliveira (2001) e Mortari (2001) A apresentaccedilatildeo de cada nexo se deu a
partir dos conceitos seguidos de exemplos e dentro de cada seccedilatildeo apresentamos tambeacutem
tipos de ocorrecircncias lexicais que podem dificultar a intepretaccedilatildeo dos nexos que satildeo a
polissemia e a vagueza Ao apresentar os conceitos dessas ocorrecircncias lexicais assim como
fizemos na apresentaccedilatildeo dos nexos tambeacutem ilustramos com exemplos Utilizamos como
aporte teoacuterico para os conceitos de polissemia e vagueza autores como Crystal (1985) Allan
(2010) e Kempson (1977) Aleacutem da polissemia e vagueza tratamos sobre outro problema
que dificulta a interpretaccedilatildeo dos nexos as falaacutecias Quando tratamos sobre as caracteriacutesticas
das falaacutecias utilizamos como base teoacuterica o texto de Soares (2003) em que o autor distingue
as caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias e com esse aporte apresentamos nossos
exemplos
Quando tratamos sobre a contradiccedilatildeo e contrariedade apresentamos o fato de que as
suas origens tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica A partir disso trouxemos uma breve apresentaccedilatildeo
sobre os conceitos de Aristoacuteteles presentes em seu texto Organon (1985) mais
especificamente no Perieacutermeneas capiacutetulos 6 e 7
No final do capiacutetulo dois fizemos uma retrospectiva de todos os pontos que foram
apresentados ao longo do capiacutetulo e justificamos a nossa escolha em pesquisar sobre os nexos
semacircnticos assim como a polissemia vagueza e falaacutecias Durante todo o capiacutetulo dois
apresentamos os nexos e outras relaccedilotildees lexicais dentro de uma linguagem controlada que eacute
diferente do que acontece nos textos dos diversos gecircneros inclusive naquele escolhido para
compor o nosso corpus que satildeo os certificados de garantia A importacircncia dos conceitos
apresentados em nosso segundo capiacutetulo se deu pelo fato de que ele oferece uma base para a
compreensatildeo do funcionamento dessas relaccedilotildees semacircnticas para que diante das anaacutelises que
realizamos no capiacutetulo trecircs tenhamos uma leitura mais refinada e atenciosa para perceber
como essas relaccedilotildees semacircnticas tiacutepicas de linguagens controladas se apresentam em textos
que satildeo suscetiacuteveis a diversas ocorrecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo Ficamos surpresos
pelo fato de que pouco se escreveu sobre nexos semacircnticos em nosso contexto nacional de
pesquisa o que tornou a construccedilatildeo do nosso segundo capiacutetulo bastante desafiadora Em
relaccedilatildeo a artigos que trataram diretamente sobre os nexos semacircnticos e os seus usos como
suporte para a anaacutelise de ocorrecircncias em gecircneros textuais tivemos contato apenas com Santos
(2012) e Estrela e Santos (2013 2014)
No terceiro capiacutetulo que foi dedicado para conter a anaacutelise desta pesquisa
inicialmente apresentamos nossa justificativa para a escolha do gecircnero certificado de garantia
90
para analisar assim como a justificativa para a escolha de procurar nesses textos as
estrateacutegias linguiacutesticas utilizadas para restringir a interpretaccedilatildeo de sentenccedilas Em seguida
tratamos sobre os tipos de ocorrecircncias que elegemos para nossa anaacutelise como quantificador
universalcondicional e o ―apenas e o ―somente Esta escolha se deu pelo fato de tais
termos possuem caracteriacutesticas propiacutecias para o uso em restriccedilotildees ou abrangecircncias de textos
Mesmo assim tiacutenhamos conhecimento de que dificilmente encontrariacuteamos ocorrecircncias com
as relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos no capiacutetulo dois de forma expliacutecita e controlada
pois como discutimos anteriormente os diversos gecircneros textuais satildeo suscetiacuteveis a
interferecircncias lexicais que podem dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos
Em seguida apresentamos a anaacutelise do nosso corpus que totalizou cinquenta e quatro
trechos de certificados nos trecircs tipos de ocorrecircncias escolhidas para serem investigadas
Como jaacute apresentamos no final do capiacutetulo anterior nossas impressotildees sobre como foram
utilizados os recursos linguiacutesticos para restriccedilatildeo de interpretaccedilotildees pelos autores dos
certificados gostariacuteamos de enfatizar que nas ocorrecircncias com quantificador universal com
condicional e com o ―apenas e ―somente os fabricantes utilizaram estes recursos em
grande parte dos certificados para se favorecerem ou seja para abranger as possibilidades de
invalidade da garantia do produto aumentando as situaccedilotildees em que a garantia eacute perdida e
diminuindo as situaccedilotildees em que a garantia eacute vaacutelida (principalmente nas listas exaustivas)
Sobre ocorrecircncias em que identificados termos vagos ou termos polissecircmicos
identificamos como o motivo principal do aparecimento dessas ocorrecircncias a falta de
definiccedilatildeo dos termos teacutecnicos Em muitos certificados identificamos que os autores utilizaram
termos teacutecnicos (a maioria deles provenientes do CDC) e natildeo apresentaram em nenhuma
parte do texto as definiccedilotildees para tais termos oportunizando que o leitor interprete de
diversas maneiras os termos ou expressotildees
Por fim pudemos perceber que os quantificadores os condicionais e termos como o
―apenas e o ―somente que satildeo responsaacuteveis por abranger ou restringir interpretaccedilotildees de
sentenccedilas satildeo proacuteprios do tipo de texto instrucional que abarca o gecircnero que escolhemos para
nossa pesquisa A utilizaccedilatildeo desses termos seguiu uma ordem de apresentaccedilatildeo similar nos
vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Os quantificadores universais
apareceram muitas vezes nas explicaccedilotildees em que os fabricantes apresentavam prazos deveres
e direitos do fabricante e cliente os condicionais apareceram na maioria das vezes
precedendo as listas exaustivas e o ―apenas e ―somente apareceram em grande parte nos
trechos em que os fabricantes apresentavam delimitaccedilotildees territoriais para cobertura da
91
garantia e explicaccedilotildees sobre as situaccedilotildees em que a garantia eacute invalidada e as situaccedilotildees em que
a garantia se assegura
Assim como justificamos no iniacutecio das consideraccedilotildees sobre os resultados obtidos em
nossa anaacutelise natildeo encontramos ocorrecircncias com trecircs dos quatro nexos semacircnticos
apresentados no segundo capiacutetulo O fato de natildeo termos identificado ocorrecircncias com
equivalecircncias semacircnticas contrariedades e contraditoriedades traacutes a tona uma interessante
caracteriacutestica do gecircnero certificado de garantia que eacute a constante presenccedila de acarretamentos
na redaccedilatildeo do texto mesmo que apresentados indiretamente diferente dos exemplos que
utilizamos para ilustrar os conceitos nos diversos textos sobre o assunto e a natildeo utilizaccedilatildeo de
equivalecircncias sentenccedilas contraacuterias e contraditoacuterias na redaccedilatildeo do texto
Atraveacutes dessa pesquisa em que tratamos sobre os nexos semacircnticos a polissemia a
vagueza e alguns outros tipos de relaccedilotildees semacircnticas desejamos que outros pesquisadores se
interessem por este tipo de trabalho e busquem explorar nas anaacutelises linguiacutesticas outros
gecircneros textuais pouco explorados como o que utilizamos no presente trabalho Apresentar
uma teoria que eacute tipicamente de linguagens controladas como a dos nexos semacircnticos (que
satildeo como jaacute discutimos dependentes unicamente da forma das sentenccedilas) e analisar como
essas estrateacutegias linguiacutesticas se comportam dentro de textos instrucionais (que ainda satildeo
pouco explorados nas anaacutelises semacircnticas) satildeo a nosso ver interessantes caminhos a serem
desbravados nos estudos da semacircntica assim como as suas aplicaccedilotildees nos diversos gecircneros
textuais que nos rodeiam
92
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95
ANEXOS
Certificado 1
96
Certificado 2
97
Certificado 3
98
Certificado 4
99
Certificado 5
100
Certificado 6
101
Certificado 7
102
Certificado 8
103
Certificado 9
104
105
Certificado 10
106
Certificado 11
107
Certificado 12
108
109
Certificado 13
110
Certificado 14
111
112
Certificado 15
113
114
Certificado 16
115
116
117
118
119
120
121
Certificado 17
122
Certificado 18
123
Certificado 19
124
125
Certificado 20
126
Certificado 21
127
Certificado 22
Aos amigos Joseacute Wellisten e Alessandra Miranda pela disponibilidade e atenccedilatildeo para
lerem meu trabalho e fazerem criacuteticas construtivas
Ao amigo Thiago Magno que me ajudou em um dos momentos mais delicados no
periacuteodo poacutes-defesa Dedico minha amizade e minha eterna gratidatildeo por tudo
Agrave CAPES pelo apoio financeiro oferecido para essa pesquisa pelo periacuteodo de 17
meses
εἰδέναι δὲ χπὴ τὸν πόλεμον ἐόντα
ξυνόν καὶ δίκην ἔπιν καὶ γινόμενα
πάντα κατ ἔπιν καὶ χπεών
(Heraacuteclito frag 80)
RESUMO
O estudo das relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas eacute um campo bastante discutido e
pesquisado nos estudos linguiacutesticos A observaccedilatildeo de como se comportam os termos na
construccedilatildeo de significados em textos de diversos gecircneros e seus efeitos de interpretaccedilatildeo
tambeacutem satildeo temas muito difundidos entre as pesquisas das semacircnticas Nesta produccedilatildeo
discutiremos sobre as relaccedilotildees de significado e seus efeitos de sentido em um gecircnero
especiacutefico As relaccedilotildees que investigaremos satildeo os nexos semacircnticos ou nexos de significado
como proposto por Chierchia (2003) que satildeo respectivamente acarretamento equivalecircncia
semacircntica contraditoriedade e contrariedade O gecircnero que escolhemos para nossa anaacutelise eacute o
certificado de garantia e a escolha de tal gecircnero se deu pelo fato deste fazer parte do grupo de
textos injuntivos ou instrucionais que a nosso ver possui caracteriacutesticas que favorecem a
amostragem dos nexos semacircnticos Iremos analisar como os nexos semacircnticos satildeo utilizados
para restringir ou abranger as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos certificados de garantia O
corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de garantia de
produtos de diversos segmentos e decidimos escolher certificados de produtos de linhas
diversas para constituirmos um panorama sobre o gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes
da internet sem utilizar nenhuma metodologia especiacutefica apenas atentamos para buscar
certificados de produtos variados Buscamos nessa pesquisa instigar a reflexatildeo sobre as
relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e a observaccedilatildeo destas nos textos instrucionais que
lidamos no dia-a-dia e que por muitas vezes deixamos passar despercebido o seu conteuacutedo
O entendimento sobre os nexos de significado pode nos oferecer ferramentas para melhor
leitura de textos desse tipo
Palavras chave Nexos semacircnticos Certificado de garantia Semacircntica
ABSTRACT
The study of the meaning of relations between sentences is a much discussed and researched
field in linguistic studies The observation of how the terms behave in the construction of
meanings in texts of different genres and their interpretation effects are also widespread
themes among semantic research In this work we will discuss about the meaning of the
relations of meaning and their sense of purpose in a specific genre The relations that we will
investigate are semantic nexus or semantic links as proposed by Chierchia (2003) which are
respectively entailment semantic equivalence contradictoriness and contrariness The genre
we chose for our analysis is the warranty certificate and the choice of this genre was made
because it is part of the injunctive or instructional texts group that in our opinion has
characteristics that favor the sampling of semantic nexus We will analyze how the semantic
nexus are used to restrict or cover the possibilities of interpretation in the warranty
certificates The corpus of this research has 22 (twenty two) copies of warranty certificates
from different segments and we decided to choose certificates from separate lines to
constitute an overview of the genre The collection of the texts took place through the
internet without using any particular methodology of choice only we pay attention to seek
warranty certificates of diverse products We seek in this research instigate reflection on the
meaning relations between sentences and observance of these in instructional texts that we
have contact in daily life and that for many times let go unnoticed its contents The
understanding of the semantic nexus can offer us tools to better read texts of this type
Keywords Semantic nexus Warranty certificate Semantics
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 13
1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA 16
11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS 16 12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL 26
2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS 32
21 ACARRETAMENTO 35 22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA 42 23 CONTRADITORIEDADE 45 24 CONTRARIEDADE 48 25 JUSTIFICANDO O PERCURSO 51
3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA 53
31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL 55 32 USO DO CONDICIONAL 64 33 USO DO APENASSOMENTE 68 34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS 83
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 88
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 92
ANEXOS 95
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa 14
QUADRO 2 - Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia 83
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
ILUSTRACcedilAtildeO 1 - Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 27
ILUSTRACcedilAtildeO 2 - Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28
ILUSTRACcedilAtildeO 3 - Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28
ILUSTRACcedilAtildeO 4 - Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28
ILUSTRACcedilAtildeO 5 - Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 29
13
INTRODUCcedilAtildeO
A abordagem das relaccedilotildees de significado eacute algo bastante presente e discutido nos
estudos semacircnticos Observar como se comportam os termos na construccedilatildeo da significaccedilatildeo
em textos de diversos gecircneros distintos e seus efeitos interpretativos tambeacutem satildeo temas de
diversas produccedilotildees na aacuterea de linguiacutestica
Neste trabalho iremos discutir as relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e os efeitos
interpretativos dessas relaccedilotildees em textos Mais especificamente abordaremos os nexos
semacircnticos ou nexos de significado (Chierchia 2003) acarretamento equivalecircncia semacircntica
contrariedade (os quais podemos encontrar no referido trabalho de Chierchia) e
contraditoriedade (nexo semacircntico que geralmente eacute relacionado com a contrariedade e que
foi tratado por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado atraveacutes de seu quadrado loacutegico
ou taacutebua de oposiccedilotildees em seu texto Perieacutermeneas (1985) mais especificamente nos
capiacutetulos 6 e 7 sobre o qual faremos menccedilatildeo na seccedilatildeo sobre este nexo)
Este trabalho tem por objetivo observar alguns dos recursos linguiacutesticos utilizados
para favorecer a existecircncia de nexos semacircnticos e com isso restringir ou ampliar
possibilidades de interpretaccedilatildeo em um gecircnero textual especiacutefico Por este motivo o gecircnero
que escolhemos analisar foi o certificado de garantia ou termo de garantia que pertence agrave
categoria dos textos instrucionais (ou injuntivos) e a nosso ver possui caracteriacutesticas que
favorecem a amostragem das ocorrecircncias dos nexos
O gecircnero certificado de garantia possui como uma de suas caracteriacutesticas a
apresentaccedilatildeo organizada dos direitos e deveres do cliente e do fabricante com relaccedilatildeo a um
produto servindo tambeacutem para informar ao cliente os seus direitos referentes agrave validade
prazos e extensatildeo de cobertura da garantia Supotildee-se entatildeo que o texto deve por isso ser
objetivo e livre de ambiguidades e incoerecircncias
Nossa hipoacutetese eacute a de que recursos linguiacutesticos que favoreccedilam a existecircncia de nexos
semacircnticos nos textos dos certificados ndash como o emprego por exemplo de conectivos e
quantificadores (Chierchia 2003 PIRES DE OLIVEIRA 2001) ndash estatildeo presentes em textos
deste gecircnero e contribuem para que os textos alcancem o objetivo de informar ao cliente e ao
fabricante seus deveres e direitos
O corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de
garantia de produtos diversos para constituir um panorama ainda que reduzido de instacircncias
do gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes da internet sem utilizar nenhuma metodologia
14
especiacutefica de escolha atentando para buscar certificados de produtos variados Os textos
escolhidos para a anaacutelise de nosso trabalho incluem diversos produtos manufaturados como
moacuteveis veiacuteculos eletroeletrocircnicos entre outros equipamentos domeacutesticos como ilustrado no
quadro a seguir
Nordm Tipo de objeto Fabricante
1 Refrigerador Samsung
2 TV led Sony
3 Condicionador de ar LG
4 Tablet AOC
5 AudioMixer Oneal
6 Garantia para todos os produtos Elgin
7 Estabilizador de energia APC
8 Aquecedor de aacutegua Bosch
9 Fogatildeo Brastemp
10 Maacutequina de lavar Electrolux
11 Ventilador Cadence
12 GPS Positron
13 Umidificador de ar Springer
14 Certificado internacional de garantia Philips
15 Colchatildeo Ortobom
16 Caminhotildees Mercedes-Benz
17 Carro de passeio Hyundai
18 Moacuteveis Bartzen
19 Aquecedor de ar Fujitsu
20 Tv AOC
21 Aquecedor de aacutegua para piscina Rheem
22 Bicicleta Total Health
Quadro 1 ndash Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa Fonte elaborado pelo autor
Como nosso propoacutesito eacute analisar os textos observando as ocorrecircncias de termos que
restringem e abrangem interpretaccedilotildees natildeo temos a intenccedilatildeo de analisar se um fabricante
elaborou um texto melhor que outro
No primeiro capiacutetulo apresentamos num primeiro momento o que satildeo gecircneros
textuais e em seguida caracterizamos o certificado de garantia como um gecircnero textual Para
tanto utilizamos o aporte teoacuterico baseado na obra de Mikhail Bakhtin (2000) linguista do
iniacutecio do seacuteculo referecircncia nos estudos de gecircneros textuais e de Luiz Antocircnio Marcuschi
(2002 2005 2008) linguista contemporacircneo que desenvolveu importantes trabalhos nessa
disciplina Vale salientar que como o foco de nossa pesquisa natildeo eacute a discussatildeo de gecircneros
textuais o capiacutetulo que construiacutemos trata de conceitos gerais sobre gecircneros tendo como
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objetivo observar que o certificado de garantia eacute um gecircnero textual e mostrando como se
estrutura em linhas gerais um texto deste gecircnero
No segundo capiacutetulo trataremos dos nexos semacircnticos dos quais consideraremos
para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e
contrariedade Atraveacutes de exemplos discutimos brevemente cada um deles mostrando
exemplos que funcionam e tambeacutem exemplos problemaacuteticos em relaccedilatildeo ao leacutexico
especialmente em casos de polissemia para que entatildeo seja possiacutevel a anaacutelise do capiacutetulo
seguinte
No terceiro capiacutetulo traremos a anaacutelise do corpus que se apresentaraacute organizado por
ocorrecircncias distribuiacutedas em tipos a saber uso do quantificador universal uso do condicional
e uso do apenassomente Apoacutes o exame das trecircs categorias citadas trataremos entatildeo das
relaccedilotildees entre o emprego dos recursos e a funccedilatildeo dos certficados Procuraremos tambeacutem
refletir se os recursos satildeo mais utilizados para favorecer o cliente ou mais utilizados para
favorecer o fabricante
Por uacuteltimo mostraremos as consideraccedilotildees finais do trabalho e em seguida as
referecircncias bibliograacuteficas utilizadas na elaboraccedilatildeo de nosso texto
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1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA
Neste capiacutetulo tratamos dos gecircneros textuais e da caracterizaccedilatildeo dos certificados de
garantia como um gecircnero textual Em um primeiro momento traremos a perspectiva sobre
gecircneros textuais de Mikhail Bakhtin precursor dos estudos de gecircneros textuais na linguiacutestica
e em seguida apresentaremos a perspectiva de Luiz Antocircnio Marcuschi linguista brasileiro
que tambeacutem trabalha com o tema e compartilha em grande parte da perspectiva de Bakhtin
sobre o os gecircneros Eacute importante ressaltar que este capiacutetulo natildeo tem por objetivo o
aprofundamento nos estudos dos gecircneros e serve como um instrumento para contextualizar o
corpus desta pesquisa
11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS
Considerando a perspectiva apresentada por Mikhail Bakhtin na obra Esteacutetica da
criaccedilatildeo verbal (2000) o ato de se comunicar eacute indispensaacutevel para as relaccedilotildees humanas Aleacutem
disso ressaltamos que eacute por tal razatildeo que nas diversas situaccedilotildees de interaccedilatildeo que
vivenciamos em nosso cotidiano observamos a utilizaccedilatildeo da liacutengua em suas modalidades
oral eou escrita como instrumento principal de nossas trocas comunicativas
Eacute notoacuterio que a quantidade de atividades eacute enorme assim como satildeo os diferentes tipos
de situaccedilotildees em que a liacutengua eacute empregada Atraveacutes da formulaccedilatildeo de enunciados podemos
caracterizar quais as funccedilotildees dos discursos que escolhemos para os diversos tipos de
interaccedilatildeo
Nesse sentido eacute possiacutevel afirmarmos que todas as nossas construccedilotildees linguiacutesticas
organizam-se em gecircneros discursivos por meio dos quais conseguimos nos comunicar e
interagir socialmente
Em conformidade com a proposta de Bakhtin todo gecircnero discursivo se constitui a
partir das seguintes dimensotildees o conteuacutedo temaacutetico o estilo e a construccedilatildeo composicional
Esta descriccedilatildeo eacute claacutessica como ponto de partida para a descriccedilatildeo dos gecircneros textuais e nos
ofereceraacute a possibilidade de tanto descrever o que eacute um gecircnero textual quanto caracterizar
um texto como gecircnero que seraacute o nosso objetivo na segunda parte deste capiacutetulo
O conteuacutedo temaacutetico se refere ao tipo de assunto veiculado no texto Por tal razatildeo
Bakhtin (2000) afirma que o gecircnero eacute escolhido a partir do que o locutor decide falar Assim
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eacute faacutecil compreender por que cada atividade comunicativa necessita de um tipo especiacutefico de
textodiscurso Por exemplo natildeo se responde (normalmente) uma carta informal com uma
bula de remeacutedio (a natildeo ser que na carta um texto desse gecircnero seja solicitado como
resposta) Nesse sentido percebe-se que para cada esfera de comunicaccedilatildeo o locutor e
interlocutor utilizam uma mesma forma de expressatildeo tendo em vista o assunto que
escolheram tratar Caso contraacuterio se locutor e interlocutor agregam formas distintas de
expressatildeo pode ser que a comunicaccedilatildeo natildeo seja efetivada com sucesso visto que eacute possiacutevel
natildeo haver o entendimento das partes uma vez que cada gecircnero abarca certo campo de uso
mesmo estando em constante desenvolvimento
O estilo se refere aos recursos linguiacutesticos desde gramaticais ateacute lexicais e eles
variam de acordo com o gecircnero Essa dimensatildeo abarca a seleccedilatildeo frasal lexical gramatical e
as formas de apresentar o discurso que satildeo inerentes ao gecircnero escolhido Bakhtin (2000)
afirma que o estilo eacute a primeira vista individual do gecircnero e ela reflete (ou natildeo) a
individualidade de quem escreve ou fala Isso porque dependendo do gecircnero o estilo
individual aparece com mais clareza Da mesma forma haacute gecircneros que natildeo possuem essa
caracteriacutestica a exemplo dos textos injuntivos sobre os quais trataremos mais agrave frente Ainda
a respeito do estilo Bakhtin assegura que
Quando escolhemos as palavras no processo de construccedilatildeo de um enunciado nem
de longe as tomamos sempre do sistema da liacutengua em sua forma neutra
lexicograacutefica Costumamos tiraacute-las de outros enunciados e antes de tudo de
enunciados congecircneres com o nosso isto eacute pelo tema pela composiccedilatildeo pelo estilo
consequentemente selecionamos as palavras segundo a sua especificaccedilatildeo de
gecircnero O gecircnero do discurso natildeo eacute uma forma da liacutengua mas uma forma tiacutepica do
enunciado como tal forma o gecircnero inclui certa expressatildeo tiacutepica a ele inerente
(BAKHTIN 2010 [1992] p 292 grifos do autor)
Nessa perspectiva podemos afirmar que tal criteacuterio se refere agraves propriedades das
unidades de linguagem e relaciona-se agrave posiccedilatildeo enunciativa do locutor agraves sequecircncias textuais
e aos tipos discursivos que estruturam o texto
Por fim Bakhtin (2000) afirma que cada gecircnero possui uma forma padratildeo que eacute a
estrutura composicional Eacute atraveacutes dessa forma que podemos identificar qual gecircnero estaacute
sendo empregado pois essa dimensatildeo se refere aos procedimentos utilizados na formulaccedilatildeo
dos textos com a estrutura e demais aspectos formais incluindo as partes envolvidas no
discurso Em suma para Bakhtin (2000)
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Estes trecircs elementos (conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo composicional)
fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado e todos eles satildeo marcados pela
especificidade de uma esfera de comunicaccedilatildeo Qualquer enunciado considerado
isoladamente eacute claro individual mas cada esfera de utilizaccedilatildeo da liacutengua elabora
seus tipos relativamente estaacuteveis de enunciados sendo isso que denominamos
gecircneros do discurso (BAKHTIN 2000 p 279 Grifos do autor)
Ainda a respeito dos gecircneros do discurso conveacutem ressaltar que sua variedade eacute
proporcional agraves possibilidades de interaccedilotildees humanas pois as diversas esferas de interaccedilatildeo
satildeo compostas por classes de gecircneros que se desenvolvem tornando-se maiores e mais
complexas em consonacircncia com o desenvolvimento dessas esferas
Bakhtin (2000) utiliza o termo ―heterogeneidade para adjetivar os gecircneros do
discurso sejam eles orais ou escritos inferindo que estes incluem desde conversas informais
cartas relatos familiares ateacute produccedilotildees mais complexas como os documentos oficiais textos
cientiacuteficos e de escolas literaacuterias Natildeo haacute razatildeo para minimizar a extrema heterogeneidade
dos gecircneros do discurso e a consequente dificuldade quando se trata de definir o caraacuteter
geneacuterico do enunciadolsquo (BAKHTIN 2000 p 281) Dessa forma entendemos que a
variedade de gecircneros eacute muito grande se estendendo por exemplo dos romances mais
eruditos ateacute os bilhetes de recados do dia-a-dia e que tratar dos gecircneros admitindo suas
caracteriacutesticas estruturais particulares natildeo eacute uma tarefa faacutecil de realizar
Aleacutem de discorrer sobre as dimensotildees constitutivas de um gecircnero tendo em vista essa
heterogeneidade Bakhtin categoriza os gecircneros textuais em primaacuterios (simples) e
secundaacuterios (complexos) Assim os gecircneros primaacuterios satildeo aqueles referentes agraves reacuteplicas de
diaacutelogos cotidianos como cartas pessoais e demais gecircneros de comunicaccedilatildeo imediata Satildeo
chamados ―simples porque satildeo formados por discursos de baixa complexidade Jaacute os
gecircneros secundaacuterios satildeo aqueles referentes a romances textos cientiacuteficos sociopoliacuteticos e
afins Satildeo textos (escritos ou produzidos para serem encenados como os teatrais ndash exemplo
usado pelo proacuteprio Bakhtin) com maior carga de complexidade de produccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo
Surgem a partir de interaccedilotildees mais aprofundadas nas comunidades com maior grau de
imersatildeo em relaccedilatildeo aos padrotildees culturais e sociais
Ele ainda ressalta que os gecircneros secundaacuterios tambeacutem podem conter gecircneros
primaacuterios ―o romance em seu todo eacute um enunciado da mesma forma que a reacuteplica do
diaacutelogo cotidiano ou a carta pessoal (satildeo fenocircmenos da mesma natureza) o que diferencia o
romance eacute ser um enunciado secundaacuterio (complexo) (BAKHTIN 2000 p 281) Ao
discorrer sobre essa questatildeo o autor assevera que eacute de grande importacircncia teoacuterica a
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diferenciaccedilatildeo entre esses tipos de gecircneros pois com isso e a partir disso podemos fazer
anaacutelises precisas dos enunciados que podem contrapor dois ou mais tipos de textos
Ignorar as caracteriacutesticas intriacutensecas a cada gecircnero a ―natureza dos enunciados - que
segundo Bakhtin eacute indispensaacutevel para qualquer estudo ndash eacute partir para a abstraccedilatildeo da liacutengua
desvalorizando o conteuacutedo histoacuterico imerso em cada tipo de gecircnero Eacute importante considerar
a relaccedilatildeo existente entre ―a liacutengua e a vida e natildeo restringir os enunciados a categorias
formais Haacute portanto uma relaccedilatildeo de complementaccedilatildeo entre a liacutengua a vida e os enunciados
pois ―a liacutengua penetra na vida atraveacutes dos enunciados concretos que a realizam e eacute tambeacutem
atraveacutes dos enunciados concretos que a vida penetra na liacutengua (BAKHTIN 2000 p 282)
Bakhtin (2000) tambeacutem se refere a questotildees da ―totalidade do enunciado que ele
define como aquilo que oportuniza a resposta em um discurso Bakhtin afirma que essa accedilatildeo
eacute definida por trecircs fatores diretamente associados ao ―todo orgacircnico do enunciado
primeiramente o tratamento exaustivo do objeto de sentido depois o querer-dizer do locutor
e por fim as formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do acabamento
O tratamento exaustivo do objeto de sentido ―varia profundamente conforme as
esferas da comunicaccedilatildeo verbal Em algumas esferas ele pode ser quase total como por
exemplo na vida praacutetica na vida profissional na vida militar basicamente em esferas que
natildeo possuem caracteriacutesticas de mutabilidade de discurso e pouca ―criatividade nas
formulaccedilotildees entre outras palavras onde os gecircneros do discurso satildeo padronizados Jaacute nas
esferas em que os gecircneros satildeo ―criativos o tratamento exaustivo eacute muito menos abrangente
como no caso das ciecircncias em particular onde Bakhtin infere que o tratamento exaustivo
―oferece exatamente um miacutenimo de acabamento capaz de suscitar uma atitude responsiva
(BAKHTIN 2000 p 300)
O querer-dizer do locutor estaacute ligado ao primeiro fator O filoacutesofo afirma que em todo
enunciado desde uma reacuteplica cotidiana ateacute complexas obras cientiacuteficas ou da literatura
compreendemos sentimos o ―intuito discursivo ou querer-dizer do locutor que eacute o que
determina o ―todo do enunciado sua amplitude suas fronteiras Noacutes identificamos o que o
locutor quer expressar e a partir dessa detecccedilatildeo medimos e definimos como se daraacute o
enunciado Isso eacute determinante para a escolha do objeto com seus limites e o tratamento
exaustivo do objeto adequado a este aleacutem de ser essencial para a escolha da forma do gecircnero
onde seraacute edificado
As formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do gecircnero do acabamento representam o fator mais
importante para Bakhtin que as descreve como ―formas estaacuteveis do gecircnero do enunciado
(BAKHTIN 2000 p 301)
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As formas do gecircnero agraves quais modelamos nossa fala se distinguem
substancialmente das formas da liacutengua do ponto de vista de sua estabilidade e de
suas leis normativas para o locutor De um modo geral elas satildeo mais maleaacuteveis
mais plaacutesticas e mais livres do que as formas da liacutengua (BAKHTIN 2000 p 302)
Concluindo a discussatildeo sobre gecircneros a partir dos conceitos gerais propostos por
Bakhtin passamos agora para a discussatildeo sobre gecircneros realizada por Marcuschi (2008) Eacute
possiacutevel perceber ao longo da explanaccedilatildeo que este autor se identifica com a teoria
bakhtiniana de gecircneros textuais e foi essa identificaccedilatildeo uma das motivaccedilotildees que nos levou a
escolhecirc-los para a composiccedilatildeo deste capiacutetulo
De acordo com Marcuschi (2008 p 154) toda comunicaccedilatildeo soacute pode ser efetivada
por meio de um gecircnero pois ―eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum gecircnero
assim como eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum texto Partindo dessa
premissa podemos entender que qualquer manifestaccedilatildeo verbal se daacute dentro dos limites dos
gecircneros Eacute por esse motivo que a variedade de gecircneros eacute extensa mas natildeo infinita Atraveacutes
desse conceito observamos que Marcuschi compactua com o conceito bakhtiniano de que os
gecircneros possuem formas padronizadas e finitas
Os gecircneros textuais satildeo os textos que encontramos em nossa vida diaacuteria e que
apresentam padrotildees sociocomunicativos caracteriacutesticos definidos por composiccedilotildees
funcionais objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integraccedilatildeo
de forccedilas histoacutericas sociais institucionais e teacutecnicas (Marcuschi 2008 p 155)
Natildeo devemos considerar os gecircneros textuais como modelos imutaacuteveis e de ―estrutura
riacutegidas A apresentaccedilatildeo dos gecircneros se mostra ligada diretamente ao meio em que circulam
Satildeo formas culturais que tomam forma na liacutengua e que evoluem junto com ela Obviamente
que natildeo podemos deixar de considerar que os gecircneros possuem identidade e eacute atraveacutes dessa
identidade que escolhemos um tipo especiacutefico para cada esfera discursiva Dessa forma
admitimos que os gecircneros limitam nossa accedilatildeo na escrita
Em relaccedilatildeo agrave distinccedilatildeo entre gecircneros Marcuschi (2008) natildeo os distingue pelas formas
linguiacutesticas mas sim pelos seus campos de accedilatildeo Nesse sentido ele reafirma a perspectiva
bakhtiniana de que os gecircneros satildeo dinacircmicos e que por serem soacutecio-histoacutericos natildeo podem
ser contados de modo exaustivo o que dificulta sua classificaccedilatildeo Marcuschi (2008) afirma
que atualmente o objetivo maior nos estudos sobre gecircneros textuais eacute procurar identificar e
explicar como eles satildeo constituiacutedos e como circulam na sociedade
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Eacute importante apresentar alguns conceitos referentes ao que estamos discutindo sobre
gecircneros do discurso dentre os quais destacamos os conceitos de tipo textual gecircnero textual e
domiacutenio discursivo segundo Marcuschi (2008) levando em consideraccedilatildeo a possibilidade de
se obter melhor entendimento no trato com o texto em si e seus fenocircmenos
O tipo textual eacute definido pelos aspectos linguiacutesticos ou seja por marcas lexicais
tempos verbais estilo relaccedilotildees loacutegicas e aspectos sintaacuteticos Logo relaciona-se mais agraves
sequecircncias linguiacutesticas do que a materializaccedilotildees textuais fazendo com que o conjunto
tipoloacutegico de textos seja limitado e natildeo apresente tendecircncias de aumentar Marcuschi (2002
p22) afirma que os tipos textuais compreendem categorias amplamente conhecidas como
narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo exposiccedilatildeo descriccedilatildeo e injunccedilatildeo que observaremos separadamente a
seguir
A narraccedilatildeo relata um fato que pode ser real ou imaginaacuterio em um tempo e lugar
definidos envolvendo personagens Nesse tipo de texto o tempo verbal predominante eacute o
passado ao menos nos exemplos mais tiacutepicos Eacute predominante em crocircnicas piadas
romances poemas faacutebulas entre outros Vejamos o exemplo a seguir
O cavalo e o burro
O cavalo e o burro seguiam juntos para a cidade O cavalo contente da vida
folgando com uma carga de quatro arrobas apenas e o burro mdash coitado gemendo
sob o peso de oito Em certo ponto o burro parou e disse
ndash Natildeo posso mais Esta carga excede agraves minhas forccedilas e o remeacutedio eacute repartirmos o
peso irmatildemente seis arrobas para cada um
O cavalo deu um pinote e relichou uma gargalhada
ndash Ingecircnuo Quer entatildeo que eu arque com seis arrobas quando posso tatildeo bem
continuar com as quatro Tenho cara de tolo
O burro gemeu
ndash Egoiacutesta Lembre-se que se eu morrer vocecirc teraacute que seguir com a carga de quatro
arrobas e mais a minha
O cavalo pilheriou de novo e a coisa ficou por isso Logo adiante poreacutem o burro
tropica vem ao chatildeo e rebenta
Chegam os tropeiros maldizem a sorte e sem demora arrumam com as oito arrobas
do burro sobre as quatro do cavalo egoiacutesta E como o cavalo refuga datildeo-lhe de
chicote em cima sem doacute nem piedade
ndash Bem feito exclamou o papagaio Quem mandou ser mais burro que o pobre burro
e natildeo compreender que o verdadeiro egoiacutesmo era aliviaacute-lo da carga em excesso
Tome Gema dobrado agorahellip
(LOBATO M 2010 p 85)
Acima podemos observar um exemplo de narraccedilatildeo que eacute uma das faacutebulas de
Monteiro Lobato escrita em grande parte em discurso direto Podemos observar na faacutebula
que o texto eacute conduzido pelo narrador intercalado pela interaccedilatildeo dos personagens A seguir
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continuaremos a descriccedilatildeo dos tipos textuais e exemplos com o conceito do tipo textual
argumentativo
Jaacute a argumentaccedilatildeo tem por principal caracteriacutestica a construccedilatildeo do convencimento
acerca da validade ou invalidade de um ponto de vista por sobre outro Nesse tipo de texto haacute
a reflexatildeo sobre temas especiacuteficos confrontando perspectivas distintas predominante em
gecircneros como debates resenhas editoriais artigos de opiniatildeo e afins Vejamos o exemplo a
seguir
O povo brasileiro estaacute cansado de tanta corrupccedilatildeo desigualdade de renda serviccedilos
puacuteblicos precaacuterios sensaccedilatildeo de inseguranccedila nas ruas elevada carga tributaacuteria
ineficiecircncia nos gastos puacuteblicos e elevaccedilatildeo da inflaccedilatildeo aleacutem do estilo autoritaacuterio e
inflexiacutevel da presidente O estranho eacute pensar sobre as razotildees que levaram a
populaccedilatildeo agraves ruas no momento atual em que a economia apresentou uma
significativa evoluccedilatildeo em relaccedilatildeo aos anos 80 e 90 aleacutem de presenciar sensiacutevel
melhora na renda meacutedia e na sua distribuiccedilatildeo nos anos 2000
A minha impressatildeo eacute de que depois de sentir a possibilidade de que o paiacutes entraria
em uma rota segura de crescimento da renda e de desenvolvimento econocircmico
(semelhante agrave sensaccedilatildeo que a populaccedilatildeo brasileira presenciou nos anos 70) o
enfraquecimento econocircmico e os sinais cada vez mais claros de que ele eacute resultante
de problemas internos deixaram a populaccedilatildeo transtornada Mais uma vez somos
apenas o paiacutes do futuro (NAKABASHI 2013 Acesso
httpwwwgazetadopovocombropiniaoartigosmanifestacoes-e-governo-no-
brasil-bdcjgu3mm6ql5e18tqoj73c5q)
Observamos acima uma parte de um artigo de opiniatildeo publicado no jornal Gazeta do
Povo em 02072013 por Luciano Nakabashi que trata das manifestaccedilotildees e do governo no
Brasil O autor anuncia primeiro o problema que vai discutir e em seguida lanccedila sua opiniatildeo
sobre o tema o que faz com que esse tipo de texto seja distinto da exposiccedilatildeo que
abordaremos a seguir
A exposiccedilatildeo apresenta informaccedilotildees sobre acontecimentos materiais e objetos de
forma detalhada e especiacutefica e por isso costuma lanccedilar matildeo de recursos como a descriccedilatildeo
informaccedilatildeo enumeraccedilatildeo comparaccedilatildeo e contrastes O tipo expositivo eacute caracteriacutestico de
gecircneros como as aulas expositivas verbetes de dicionaacuterios notiacutecias jornaliacutesticas entre
outros Vejamos o exemplo
Dianoia Termo grego que pode ser traduzido por pensamento intelecto
espiacuterito A dianoia eacute o pensamento discursivo enquanto elaboraccedilatildeo explicitaccedilatildeo
ou desenvolvimento da noese ou nous isto eacute da razatildeo intuitiva que capta de
modo imediato o real (Aristoacuteteles Tratado da alma III) Neste sentido a dianoia eacute
inferior ao nous jaacute que depende deste (MARCONDES e JAPIASSUacute 2001 p54)
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Tomamos como exemplo de exposiccedilatildeo um verbete de um dicionaacuterio de filosofia
Podemos observar que os autores apresentam a palavra ―dianoia e em seguida conceituam a
dianoia a partir da perspectiva de um filoacutesofo especiacutefico (neste caso Aristoacuteteles)
O tipo textual descriccedilatildeo por sua vez eacute o relato particular de eventos e entidades e se
relaciona comumente com outros tipos em inuacutemeros gecircneros textuais Eacute caracteriacutestico em
cartazes promocionais anuacutencio de classificados entre outros Vamos observar agora um
exemplo de descriccedilatildeo atraveacutes da anaacutelise de uma obra de arte de Salvador Dali de 1955
intitulada ―A uacuteltima ceia
―Sua cena estaacute contida num retacircngulo Uma imensa janela ao fundo representada
por um dodecaedro (figura geomeacutetrica de 12 lados que sua vez satildeo pentaacutegonos ou
seja possuem cinco acircngulos cada um) domina toda a composiccedilatildeo
Jesus Cristo e seus 12 apoacutestolos estatildeo reunidos numa sala moderna envidraccedilada
Ele ocupa o centro da mesa de pedra o centro da tela e o centro do pentaacutegono
frontal do dodecaedro Cristo estaacute de frente para o observador contudo seu corpo
transluacutecido permite ver o mar e um barco o que indica que ele natildeo mais eacute humano
mas divino A sensaccedilatildeo que temos eacute de que seu corpo emerge de dentro do mar
Diante de Cristo sobre a mesa estatildeo um copo com vinho e as duas bandas do patildeo
jaacute repartido o que nos permite concluir que Daliacute pintou o momento da Eucaristia A
presenccedila dos barcos no mar remete aos ―pescadores de homens
A mesa eacute formada por um bloco retangular Doze apoacutestolos debruccedilam-se sobre ela
sendo trecircs agrave esquerda de Cristo e trecircs agrave direita Nas suas extremidades estatildeo quatro
apoacutestolos sendo dois de cada lado De costa para o observador estatildeo mais dois
deles Todos estatildeo com as cabeccedilas baixas Um dos apoacutestolos diverge dos demais ao
usar uma toga amarela O pintor queria com certeza diferenciaacute-lo Portanto tanto
pode ser Pedro o fundador da Igreja ou Judas o traidor
No alto com a cabeccedila invisiacutevel e com parte do tronco visiacutevel e os braccedilos abertos
Deus Pai humanizado abraccedila toda a cena como se aguardasse a chegada do Filho
que se encontra entre os homens Ao fundo um mar tranquilo com rochas
espalhadas e um ceacuteu cheio de nuvens compotildeem o segundo plano da tela (Viacuterus da
arte amp cia ndash Site brasileiro especializado em arte e cultura Disponiacutevel em
httpvirusdaartenetdali-a-ultima-ceia)
Acima podemos observar a descriccedilatildeo de uma obra de arte do pintor catalatildeo Salvador
dali retirado de uma paacutegina sobre arte Como o nome do tipo textual sugere a descriccedilatildeo tem
por objetivo descrever fatos mas tambeacutem caracteriacutesticas para objetos paisagens e situaccedilotildees
diversas No exemplo que utilizamos para descriccedilatildeo observamos a descriccedilatildeo de uma obra de
arte por parte de um espectador demonstrando detalhes do que estaacute impresso na pintura
assim como uma interpretaccedilatildeo da cena
O uacuteltimo tipo textual que consideraremos aqui eacute o tipo injuntivo que tem por objetivo
instruir o leitor ou persuadi-lo a fazer algo ou adotar algum ponto de vista Tambeacutem tem
como caracteriacutestica a induccedilatildeo do interlocutor a proceder de uma ou outra forma Geralmente
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eacute escrito no modo imperativo e eacute caracteriacutestico de gecircneros como a bula de remeacutedio os
manuais de instruccedilotildees receitas culinaacuterias e contratos Vale ressaltar que dentro dos textos
injuntivos podem-se encontrar outros tipos de texto como por exemplo descriccedilotildees de
objetos endereccedilos procedimentos etc Vejamos o exemplo a seguir
Bolo simples
Tempo de preparo 40 minutos
Rendimento 12 porccedilotildees
Ingredientes
2 xiacutecaras de accediluacutecar
3 xiacutecaras de farinha de trigo
4 colheres de margarina bem cheias
3 ovos
1 frac12 xiacutecara de leite aproximadamente
1 colher (sopa) de fermento bem cheia
Modo de preparo
1) Bata as claras em neve
2) Reserve
3) Bata bem as gemas com a margarina e o accediluacutecar
4) Acrescente o leite e a farinha aos poucos sem parar de bater
5) Por uacuteltimo agregue as claras em neve e o fermento
6) Coloque em forma grande de furo central untada e enfarinhada
7) Asse em forno meacutedio preacute-aquecido por aproximadamente 40 minutos
8) Quando espetar um palito e sair limpo estaraacute assado
(httpwwwtudogostosocombrreceita29124-bolo-simpleshtml Acesso em
20042014)
No exemplo uma receita culinaacuteria podemos observar que haacute descriccedilatildeo na primeira
parte (a lista de ingredientes) e na segunda parte (modo de preparo) que eacute a mais
nitidamente injuntiva encontramos instruccedilotildees de como proceder na execuccedilatildeo da receita
Aleacutem da classificaccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo dos tipos de texto eacute interessante observarmos
tambeacutem a definiccedilatildeo de gecircneros textuais e domiacutenio discursivo conforme Marcuschi (2008)
Os gecircneros textuais satildeo definidos como ―textos materializados em situaccedilotildees
comunicativas recorrentes (MARCUSCHI 2008 p155) que apresentam caracteriacutesticas
soacutecio-comunicativas marcadas pelos conteuacutedos e pelas propriedades referentes agraves funccedilotildees e
composiccedilatildeo Diferente dos tipos textuais que se restringem a cerca de meia duacutezia como
afirma Marcuschi (2008) ―os gecircneros satildeo inuacutemeros Tambeacutem haacute de ressaltar que satildeo
culturalmente e historicamente formados visto que evoluem no mesmo passo que as
comunidades
O domiacutenio discursivo por sua vez eacute a esfera de atividade humana em que os textos
circulam Ele natildeo eacute um texto em si mas proporciona o surgimento de discursos especiacuteficos
Para ilustrar podemos citar alguns domiacutenios como discurso religioso discurso juriacutedico etc
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O domiacutenio eacute constituiacutedo por praacuteticas do discurso nas quais podemos identificar uma seacuterie de
gecircneros que possuem a mesma proposta discursiva como o tema e as praacuteticas institucionais
ou informais
As definiccedilotildees aqui trazidas de gecircnero tipo domiacutenio discursivo satildeo muito mais
operacionais do que formais e seguem de perto a posiccedilatildeo bakhtiniana Assim para a
noccedilatildeo de tipo textual predomina a identificaccedilatildeo de sequecircncias linguiacutesticas como
norteadora e para a noccedilatildeo de gecircnero textual predominamos criteacuterios de padrotildees
comunicativos accedilotildees propoacutesitos e inserccedilatildeo sociohistoacuterica No caso dos domiacutenios
discursivos natildeo lidamos propriamente com textos e sim com formaccedilotildees histoacutericas e
sociais que originam os discursos Eles ainda natildeo se acham bem definidos e
oferecem alguma resistecircncia mas seguramente sua definiccedilatildeo deveria ser na base de
criteacuterios etnograacuteficos antropoloacutegicos e socioloacutegicos e histoacutericos (MARCUSCHI
2008 p 158 Grifos do autor)
Nessa perspectiva faz-se necessaacuterio apresentarmos o papel dos gecircneros textuais como
controle social Como jaacute vimos anteriormente segundo Bakhtin (2000) toda atividade
discursiva humana se daacute atraveacutes de algum gecircnero e eacute tambeacutem por esse motivo que haacute uma
consideraacutevel pluralidade de gecircneros Marcuschi (2008) afirma que os gecircneros satildeo
―necessaacuterios para a interlocuccedilatildeo humana Assim para cada esfera de atividade humana
certos gecircneros especiacuteficos satildeo considerados mais ou menos adequados Na esfera
empresarial por exemplo temos que nos adequar agraves formalidades dos gecircneros de redaccedilatildeo
oficial como os ofiacutecios atas circulares e relatoacuterios Na academia apresentamos nossas
produccedilotildees atraveacutes de dissertaccedilotildees artigos cientiacuteficos teses e relatoacuterios de projetos No meio
publicitaacuterio encontramos as propagandas anuacutencios de diversos tipos Enfim satildeo inuacutemeras as
esferas de discurso domiacutenios discursivos e gecircneros textuais atrelados a estes
Marcuschi (2008) enfatiza que o controle social por gecircneros discursivos eacute
incontornaacutevel mas natildeo determinista De acordo com o autor noacutes temos liberdade para nos
expressarmos em qualquer esfera discursiva Poreacutem temos que admitir que a sociedade eacute
constituiacuteda por uma ―maacutequina discursiva logo somos moldados a ela de forma intuitiva e
os gecircneros textuais constituem um poderoso instrumento desta maacutequina Quanto maior a
nossa inserccedilatildeo na sociedade maior o controle social Por exemplo natildeo satildeo todas as pessoas
que podem expedir um mandato de seguranccedila escrever uma dissertaccedilatildeo de mestrado
ministrar uma aula de fiacutesica quacircntica ou publicar uma coluna em um jornal Eacute nessa
perspectiva que Marcuschi (2008) afirma veemente o direcionamento dos gecircneros textuais
para com o envolvimento social e suas especificidades
26
A partir das consideraccedilotildees apresentadas a respeito dos gecircneros textuais dedicamos a
seccedilatildeo a seguir para a caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual
conforme relatamos na introduccedilatildeo deste capiacutetulo
12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL
O certificado de garantia ou termo de garantia eacute um documento oferecido por
prestadoras de serviccedilos fabricantes de produtos diversos ou de qualquer outro segmento que
envolva comercializaccedilatildeo de bens duraacuteveis com a funccedilatildeo de formalizar os direitos e deveres
do consumidor e do fabricante para com o estado fiacutesico e funcional do produto em vista de
problemas de qualquer natureza
Eacute tambeacutem uma espeacutecie de contrato visto que consiste fundamentalmente na
combinaccedilatildeo de interesses de partes sobre algo Aleacutem de ―certificado de garantia
utilizaremos tambeacutem a nomenclatura ―termo de garantia tendo em vista que o documento
do certificado de garantia e o termo em si estatildeo internamente ligados A expressatildeo ―termo de
garantia eacute usada no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20
de marccedilo de 1997
Art 50 A garantia contratual eacute complementar agrave legal e seraacute conferida mediante
termo escrito
Paraacutegrafo uacutenico O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e
esclarecer de maneira adequada em que consiste a mesma garantia bem como a
forma o prazo e o lugar em que pode ser exercitada e os ocircnus a cargo do
consumidor devendo ser-lhe entregue devidamente preenchido pelo fornecedor no
ato do fornecimento acompanhado de manual de instruccedilatildeo de instalaccedilatildeo e uso de
produto em linguagem didaacutetica com ilustraccedilotildees (Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do
Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20 de marccedilo de 1997 p 30)
Em linhas gerais o documento eacute composto por quatro partes garantia contratual
garantia legal condiccedilotildees para validade da garantia contratual e legal condiccedilotildees natildeo cobertas
pela garantia legal e contratual Vejamos um exemplo de certificado de garantia
27
ILUSTRACcedilAtildeO 1 Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario
_de_ar_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Observamos na primeira parte a disposiccedilatildeo da garantia contratual ou seja a garantia
oferecida pelo fabricante
28
ILUSTRACcedilAtildeO 2 Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar
_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Na segunda parte encontramos a disposiccedilatildeo da garantia legal ou seja a garantia
assegurada pelo Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do consumidor
ILUSTRACcedilAtildeO 3 Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c
ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Em seguida vemos as condiccedilotildees de validade da garantia legal e contratual composta
por uma lista exaustiva de itens a serem considerados
29
ILUSTRACcedilAtildeO 4 Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c
ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
E por fim encontramos as condiccedilotildees natildeo cobertas pela garantia legal e contratual
assim como observaccedilotildees gerais
ILUSTRACcedilAtildeO 5 Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar
_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Em relaccedilatildeo agrave estrutura padratildeo dos certificados de garantia a partir do corpus
analisado nesta pesquisa observou-se que o texto que se refere agrave garantia em si corresponde a
menos da metade do documento Grande parte do documento se dedica agrave restriccedilatildeo de
possibilidades de cobertura assim como observaccedilotildees gerais quanto agraves responsabilidades do
fabricante diante de situaccedilotildees como despesas referentes agrave locomoccedilatildeo para depoacutesito do
produto para assistecircncia documentaccedilatildeo necessaacuteria para apresentaccedilatildeo na assistecircncia etc
30
O termo de garantia eacute vinculado diretamente ao Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do
consumidor O coacutedigo estabelece um padratildeo abrangente de formulaccedilatildeo do documento
constando recomendaccedilotildees como o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo necessidade do
acompanhamento do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto assim como clareza na
disposiccedilatildeo dos prazos de garantia legal e contratual
Como discutimos na primeira parte desse capiacutetulo Bakhtin (2000) propotildee que trecircs
dimensotildees constituem os gecircneros de discurso conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo
composicional Iremos a seguir apresentar como estas dimensotildees satildeo percebidas nesse
gecircnero textual
Como conteuacutedo temaacutetico do gecircnero certificado de garantia temos a veiculaccedilatildeo de
direitos e deveres do fabricante e do consumidor O documento apresenta listas exaustivas de
accedilotildees que possibilitam ou natildeo o uso do termo de garantia assim como instruccedilotildees gerais para
a realizaccedilatildeo desse ato Esse conteuacutedo pode variar em parte e apenas questotildees referentes agrave
garantia legal natildeo podem mudar pois estaacute prevista no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do
Consumidor
Em relaccedilatildeo ao estilo observamos nos certificados a utilizaccedilatildeo da norma padratildeo
Busca-se construir um texto claro e objetivo para que dessa forma natildeo haja problemas de
interpretaccedilatildeo para o consumidor Nesse gecircnero natildeo haacute identificaccedilatildeo de quem escreve de
maneira particular como observamos em gecircneros do tipo carta A identificaccedilatildeo do autor eacute
geralmente atribuiacuteda agrave empresa que oferece a garantia O estilo individual que eacute
caracteriacutestico em diversos gecircneros como o artigo de opiniatildeo e cartas pessoais natildeo cabe para
os certificados Como se trata de um texto instrucional esse gecircnero apresenta-se de forma
objetiva de modo que natildeo haacute a necessidade praacutetica da identificaccedilatildeo de quem escreve
Quanto agrave estrutura composicional em linhas gerais tal gecircnero segue uma sequecircncia
de apresentaccedilatildeo em duas etapas Em um primeiro momento apresenta-se o termo de garantia
em si no qual eacute descrito o direito do consumidor em relaccedilatildeo agrave garantia assim como sua
validade No segundo momento parte mais extensa do texto haacute a apresentaccedilatildeo de listas
supostamente exaustivas referentes aos casos que natildeo satildeo cobertos pela garantia assim como
as instruccedilotildees gerais para o reclame do direito Essa sequecircncia de apresentaccedilatildeo do documento
eacute variaacutevel Haacute certificados que satildeo inclusos no manual de instruccedilatildeo do produto (geralmente
na uacuteltima paacutegina) Haacute certificados que satildeo destacados o documento eacute apresentado agrave parte de
qualquer outro texto
Se retomarmos a classificaccedilatildeo dos gecircneros do discurso de Bakhtin (2000) entre
primaacuterios (simples) e secundaacuterios (complexos) podemos considerar que o certificado de
31
garantia estaacute inserido nos gecircneros complexos pois se trata de um documento elaborado de
forma sistemaacutetica no qual haacute necessidade de um aprofundamento social complexo com
caracterizaccedilotildees e descriccedilotildees bem delimitadas
Quanto ao tipo de texto dentro do que foi proposto por Marcuschi (2008) o
certificado de garantia se enquadra no tipo injuntivo porque eacute um texto instrucional com
predominacircncia do modo imperativo nas frases e eacute composto pela listagem de uma seacuterie de
procedimentos a serem observados e seguidos com listas exaustivas contendo direitos e
deveres do fabricante e do consumidor O objetivo do documento eacute oferecer ao cliente todas
as informaccedilotildees relacionadas agrave validade da garantia os casos em que haacute perda da validade e os
casos em que os problemas apresentados se enquadram como defeitos de fabricaccedilatildeo
O certificado de garantia se caracteriza como um gecircnero textual a partir da
perspectiva de Marcuschi (2008) pois eacute um texto que possui caracteriacutesticas soacutecio-discursivas
bem delimitadas com conteuacutedo padratildeo obedecendo a uma mesma linha temaacutetica e foi
constituiacutedo socialmente O gecircnero foi criado a partir da necessidade juriacutedica de resguardar os
fabricantes e consumidores de produtos industrializados e afins quanto agrave possibilidade de
apresentaccedilatildeo de defeitos ou falhas
De posse dos conhecimentos gerais sobre os gecircneros textuais que apresentamos e da
caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual partiremos no proacuteximo
capiacutetulo para a apresentaccedilatildeo das teorias que serviratildeo de aporte teoacuterico para a compreensatildeo
das anaacutelises realizadas no capiacutetulo 3
32
2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS
Neste capiacutetulo tratamos dos nexos semacircnticos ou ―nexos de significado dos quais
consideramos para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica
contraditoriedade e contrariedade Caracterizamos cada um deles utilizando exemplos em
linguagem natural com o intuito de demonstrar o funcionamento dessas relaccedilotildees assim como
mostrar quando tais exemplos deixam de apresentar o nexo Nosso intuito final eacute de oferecer
uma base para a compreensatildeo das anaacutelises que viratildeo no capiacutetulo posterior
Para entendermos melhor o que satildeo os nexos semacircnticos devemos compreender a
distinccedilatildeo entre a semacircntica e a pragmaacutetica que satildeo linhas de estudos linguiacutesticos inter-
relacionaacuteveis Uma definiccedilatildeo bastante difundida da semacircntica e tambeacutem bastante geral eacute
encontrada em Trask (2004 p 261) que diz que a semacircntica eacute o ramo da linguiacutestica que
estuda o significado e em Chierchia (2003 p 7) para quem a semacircntica eacute um estudo do
significado das expressotildees das liacutenguas naturais Podemos tambeacutem caracterizar a semacircntica
destacando a relaccedilatildeo do usuaacuterio da liacutengua e o significado que ele atribuiu agraves palavras que
compotildeem sentenccedilas como propotildee Pires de Oliveira (2001 p 42) Jaacute a pragmaacutetica por outro
lado tambeacutem estuda o significado das liacutenguas naturais mas trata das intenccedilotildees que os
falantes supostamente revelam a partir do uso de sentenccedilas
Para o termo ―pragmaacutetica haacute diversas possibilidades de definiccedilatildeo Levinson (2007)
procura mostrar as implicaccedilotildees que algumas definiccedilotildees podem ter em relaccedilatildeo a outros
estudos Assim podemos citar pelo menos dois conceitos de pragmaacutetica para Levinson
―pragmaacutetica eacute o estudo de todos os aspectos do significado natildeo capturados em uma teoria
semacircntica (Levinson 2007 p14) assim como ―pragmaacutetica eacute o estudo das relaccedilotildees entre
liacutengua e contexto que satildeo gramaticalizadas ou codificadas na estrutura de um liacutengua
(Levinson 2007 p 11) Podemos perceber que nessas duas definiccedilotildees Levinson tanto atribui
agrave pragmaacutetica a responsabilidade sobre aquilo que estaacute aleacutem da semacircntica quanto destaca a
relaccedilatildeo de liacutengua e contexto Jaacute em Wilson (2008) encontramos as definiccedilotildees que Yule
(1996) apresenta para a pragmaacutetica
a) pragmaacutetica eacute o estudo do significado sob o ponto de vista do falante b)
pragmaacutetica eacute o estudo do significado contextual (isto eacute leva em conta o modo como
os falantes organizam seus enunciados aquilo que eles querem dizer de acordo com
os seguintes fatores a quem vatildeo dizer como vatildeo dizer onde e quando vatildeo dizer e
sob que circunstacircncias) c) pragmaacutetica eacute o estudo do como se diz aleacutem daquilo que eacute
33
dito (isto eacute o estudo do significado subjacente do natildeo dito d) pragmaacutetica eacute o
estudo da expressatildeo da proximidadedistanciamento relativo (isto eacute de acordo com
o tipo de proximidade fiacutesica social ou conceitual em relaccedilatildeo aos ouvintes os
falantes determinam como e quanto precisam dizer) (WILSON 2008 p 89)
A discussatildeo sobre as definiccedilotildees de pragmaacutetica e semacircntica e suas distinccedilotildees vem
desde o iniacutecio do seacuteculo XX e muitos autores contribuiacuteram para a evoluccedilatildeo desses conceitos
Em vista desta histoacuterica discussatildeo apresentaremos os conceitos de Charles Morris e Rudolf
Carnap para estas disciplinas linguiacutesticas
Segundo a definiccedilatildeo de Charles Morris (1938) pragmaacutetica eacute o estudo da ―relaccedilatildeo dos
signos com seus inteacuterpretes Jaacute para Rudolf Carnap (1938) a pragmaacutetica eacute o estudo da
linguagem em relaccedilatildeo aos seus falantes Diante dos conceitos de semacircntica e pragmaacutetica que
apresentamos e da distinccedilatildeo entre as linhas de estudos linguiacutesticos Marcondes (2000) afirma
que ―tanto a definiccedilatildeo de Morris quanto a de Carnap fazem parte da jaacute consagrada distinccedilatildeo
geral do campo de estudos da linguagem entre pragmaacutetica que considera a linguagem em
seu uso concreto e semacircntica que examina os signos linguiacutesticos em sua relaccedilatildeo com os
objetos que designam ou a quem se refere Os nexos semacircnticos estatildeo inseridos no campo da
semacircntica e voltaremos a este ponto no final do capiacutetulo
Sobre as relaccedilotildees semacircnticas haacute diversas perspectivas nos estudos linguiacutesticos A
forma como combinamos as palavras e nossa tendecircncia em buscar um conceito fixo de um
termo satildeo complicaccedilotildees que podem dificultar o uso da liacutengua O significado linguiacutestico das
liacutenguas naturais segundo Basso (2009) possibilita nexos semacircnticos entre sentenccedilas E
ainda sobre o significado Basso propotildee
Quando perguntamos o significado de alguma palavra muitas vezes buscamos
aquele modelo significativo presente nos dicionaacuterios Poreacutem natildeo haacute no dicionaacuterio
maneiras preacute-estabelecidas de como uma palavra pode se combinar com outra em
busca da trama de significados dos nexos que favorecem infinitas interpretaccedilotildees
Essas combinaccedilotildees satildeo decorrentes do proacuteprio uso da liacutengua pelos seus falantes
mas natildeo estatildeo nem presentes nos dicionaacuterios nem tampouco algueacutem nos ensina satildeo
conhecimentos impliacutecitos Uma aacuterea da linguiacutestica moderna defende que o nosso
conhecimento semacircntico e um dote geneacutetico portanto os possiacuteveis nexos
semacircnticos satildeo decorrentes de uma capacidade inata de combinaccedilatildeo de palavras e
sentenccedilas parte do conhecimento semacircntico impliacutecito ou competecircncia semacircntica
(BASSO 2009 p 25)
Os nexos semacircnticos satildeo caracterizados na literatura da semacircntica como grupos de
relaccedilotildees de inferecircncia muito estaacuteveis direcionaacuteveis e fortemente dependentes do material
34
linguiacutestico dos enunciados (SANTOS 2012) Essas relaccedilotildees diferem de perspectivas de
inferecircncias como a pressuposiccedilatildeo e a implicatura que dialogam diretamente com o natildeo-dito
Para contrastar os nexos com esses outros tipos de relaccedilatildeo vamos observar os exemplos a
seguir
(1) Carlos parou de beber refrigerante
(2) A tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio
Seguindo a mesma linha de exposiccedilatildeo de Moura (1999 p 12) a partir das duas
sentenccedilas acima observamos dois niacuteveis nas informaccedilotildees veiculadas No primeiro niacutevel
temos contato com o sentido literal das palavras Dessa forma em (1) temos a informaccedilatildeo de
Carlos natildeo toma mais refrigerantes e em (2) que Maacuterio escreveu uma tese sobre bolhas de
sabatildeo No segundo niacutevel atraveacutes da enunciaccedilatildeo das sentenccedilas somos levados a considerar
informaccedilotildees que natildeo estatildeo afirmadas literalmente nas sentenccedilas Dessa forma a partir de (1)
podemos inferir que Carlos bebia refrigerantes antes e em (2) que uma tese sobre bolhas de
sabatildeo jaacute foi escrita Ducrot (1987) denomina de conteuacutedo posto o primeiro niacutevel que
consiste no conteuacutedo literal das sentenccedilas e de conteuacutedo pressuposto ou pressuposiccedilatildeo o
segundo niacutevel que abarca as inferecircncias que podemos fazer a partir da enunciaccedilatildeo das
sentenccedilas Devemos entender que o conteuacutedo posto depende do conteuacutedo pressuposto pois a
aceitaccedilatildeo do primeiro leva a aceitaccedilatildeo do segundo Para que possamos aceitar a verdade do
posto (1) que diz que Carlos parou de beber refrigerante temos que aceitar a verdade
pressuposta de que Carlos jaacute tinha bebido refrigerante antes
Outra relaccedilatildeo semacircntica que dialoga diretamente com o natildeo-dito eacute a implicatura
Grice (1987) propotildee dois tipos de implicaturas as implicaturas convencionais que natildeo satildeo
sujeitas a condiccedilotildees de verdade e as implicaturas conversacionais que natildeo dependem
diretamente da significaccedilatildeo usual das palavras sendo determinadas por certos princiacutepios
baacutesicos do ato comunicativo
As implicaturas convencionais satildeo inferecircncias natildeo sujeitas a condiccedilotildees de verdade
natildeo satildeo derivadas de princiacutepios pragmaacuteticos mais gerais como as maacuteximas conversacionais
mas satildeo simplesmente ligadas pela convenccedilatildeo a itens ou expressotildees lexicais especiacuteficos
Levinson (2007) toma a implicatura conversacional como uma das ideias mais
importantes da pragmaacutetica e vamos considerar neste trabalho apenas as implicaturas do tipo
conversacional de forma que quando mencionarmos o termo implicatura devemos entender
que estamos falando das implicaturas conversacionais e natildeo das convencionais
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Para exemplificar uma implicatura vamos supor uma situaccedilatildeo entre dois amigos em
que ao dialogar sobre as uacuteltimas defesas de teses e dissertaccedilotildees do departamento de poacutes-
graduaccedilatildeo deparam-se com a notiacutecia de que um de seus colegas escreveu uma tese sobre um
tema muito irrelevante e nada original Diante desta situaccedilatildeo um amigo disse para o outro ―A
tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio A partir da situaccedilatildeo em que os dois amigos
estavam imersos nesse contexto e da sentenccedila utilizada por um dos amigos podemos inferir
que foi Maacuterio quem escreveu uma tese sobre um tema irrelevante Podemos perceber neste
exemplo que como descrito nas definiccedilotildees que trouxemos anteriormente a implicatura por
ser uma relaccedilatildeo puramente pragmaacutetica utiliza-se do natildeo-dito e de situaccedilotildees convencionadas
entre falantes para poder existir
Dessa forma podemos retomar o que foi exposto nos paraacutegrafos anteriores afirmando
que os nexos semacircnticos as pressuposiccedilotildees e as implicaturas satildeo inferecircncias de significado
sendo que os nexos estatildeo no campo da semacircntica e as pressuposiccedilotildees e implicaturas estatildeo no
campo da pragmaacutetica
A partir deste ponto iremos descrever os nexos semacircnticos com exemplos mostrando
como essas relaccedilotildees funcionam e tambeacutem casos em que a interpretaccedilatildeo natildeo acontece da
maneira esperada Em relaccedilatildeo aos casos em que a interpretaccedilatildeo eacute prejudicada trataremos de
casos relacionados com a ambiguidade lexical mais especificamente com vagueza e casos
relacionados com a polissemia (desconsiderando seus limites com a homoniacutemia)
21 ACARRETAMENTO
Em linhas gerais o acarretamento ocorre quando a verdade de um conjunto de
sentenccedilas1 que nomearemos de A garante a verdade de outra sentenccedila que nomearemos de
B Dessa forma a verdade da primeira sentenccedila ou do conjunto delas autoriza a verdade de B
(CHIERCHIA 2003) O acarretamento eacute uma inferecircncia que os falantes estatildeo autorizados a
fazer e o que os autoriza eacute o conhecimento linguiacutestico Vamos observar o exemplo a seguir
1 Em nosso trabalho utilizaremos os termo ldquosentenccedilardquo e ldquoproposiccedilatildeordquo intercambiavelmente Alguns autores
definem os dois termos de formas distintas Por exemplo na semacircntica contemporacircnea de mundos possiacuteveis desenvolvida por autores como por exemplo Kripke e Lewis define-se proposiccedilatildeo como a classe de todos os mundos possiacuteveis nas quais ela eacute verdadeira Murcho (2006) apresenta dois exemplos para distinguir proposiccedilotildees e sentenccedilas ldquoSoacutecrates era um filoacutesofordquo e ldquoSocrates was a philosopherrdquo Murcho afirma que os dois exemplos satildeo duas sentenccedilas que exprimem uma uacutenica proposiccedilatildeo Outros como Mortari (2001) natildeo distinguem proposiccedilotildees e sentenccedilas
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(3) alsquo Neymar eacute brasileiro
a Neymar eacute um jogador de futebol
b Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro
Podemos observar no exemplo acima que a sentenccedila (3b) tem a sua verdade garantida
pela verdade de (3alsquo) e (3a) Sendo assim (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Podemos observar
no exemplo que o acarretamento eacute bastante claro pois as informaccedilotildees que estatildeo presentes em
(3b) satildeo a soma das informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) Eacute interessante destacar
que para que a sentenccedila (3b) constitua um acarretamento de (3alsquo) e (3a) natildeo precisamos
conhecer a pessoa Neymar nem sua nacionalidade eou profissatildeo Como as informaccedilotildees
estatildeo postas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) a verdade de (3b) eacute inevitaacutevel Mesmo que no mundo
real Neymar natildeo fosse jogador de futebol e natildeo fosse brasileiro isso em nada modificaria o
acarretamento pois dentro da relaccedilatildeo estabelecida entre (3alsquo) (3a) e (3b) as informaccedilotildees
contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Vejamos o exemplo a seguir
(4) alsquo Todos os sacis tecircm apenas uma perna
a Denis Diderot eacute um saci
b Denis Diderot tem apenas uma perna
Observando o exemplo acima identificamos que em relaccedilatildeo ao conhecimento de
mundo a sentenccedila (4alsquo) eacute verdadeira jaacute que no folclore admitimos como uma caracteriacutestica
dos sacis ter apenas uma perna A sentenccedila (4a) eacute falsa pois Denis Diderot foi um filoacutesofo e
escritor francecircs e natildeo um saci Por fim a sentenccedila (4b) tambeacutem eacute falsa em relaccedilatildeo ao nosso
conhecimento de mundo pois Denis Diderot possuiu durante toda a sua vida as duas pernas
Podemos entatildeo admitir que as sentenccedilas do conjunto (4) em relaccedilatildeo ao nosso conhecimento
de mundo satildeo falsas Mesmo assim o conjunto eacute um acarretamento Diferente do exemplo
(3) em que trouxemos sentenccedilas que constituiacuteam um acarretamento com informaccedilotildees
verdadeiras em relaccedilatildeo ao mundo o exemplo (4) mostra que a relaccedilatildeo semacircntica que estamos
discutindo independe da verdade das informaccedilotildees das sentenccedilas no mundo O que o
acarretamento faz eacute concatenar as sentenccedilas de uma forma que se as premissas forem
verdadeiras a conclusatildeo tambeacutem seraacute verdadeira O acarretamento depende exclusivamente
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da forma em que as sentenccedilas se apresentam Tendo em vista que a relaccedilatildeo depende apenas
da forma podemos representar o acarretamento da seguinte maneira como propotildee Soares
(2003)
Em liacutengua natural
Se estudar entatildeo serei aprovado (1ordf premissa)
Ora estudei (2ordf premissa)
Logo fui aprovado (Conclusatildeo)
E simbolizando2
a rarr b (1ordf premissa)
a (2ordf premissa)
b (Conclusatildeo)
Vale ressaltar que ao utilizarmos o termo ―sentenccedila estamos nos referindo ao que os
gramaacuteticos costumam chamar de oraccedilatildeo Tambeacutem eacute interessante mencionar que o
acarretamento eacute chamado de consequecircncia semacircntica Iremos utilizar como representaccedilatildeo das
premissas sentenccedilas do tipo (Xalsquo) e (Xa) e para a conclusatildeo sentenccedilas do tipo (Xb)
Podemos entender que o acarretamento eacute um tipo de relaccedilatildeo estabelecida entre
premissas e a consequecircncia de forma que a verdade das premissas determina a verdade da
consequecircncia Tambeacutem devemos entender que natildeo eacute possiacutevel que as premissas sejam
verdadeiras junto da negaccedilatildeo da conclusatildeo pelo fato de que dessa forma estaria
descaracterizada a relaccedilatildeo de acarretamento
Como ressaltamos acima os acarretamentos satildeo dependentes da forma ou seja da
relaccedilatildeo que as sentenccedilas possuem entre si e natildeo da verdade ou falsidade no mundo das
informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas Diante disso traremos agrave tona exemplos de sentenccedilas que
2 O siacutembolo ldquorarrrdquo na loacutegica claacutessica representa um condicional assunto de que trataremos no terceiro capiacutetulo
deste trabalho e o siacutembolo ldquordquo representa um acarretamento
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natildeo possuem relaccedilatildeo semacircntica mas atraveacutes da verdade ou falsidade das informaccedilotildees nas
sentenccedilas podem nos confundir e nos induzir ao erro Para tal raciociacutenio errocircneo damos o
nome de falaacutecias
Soares (2003) distingue trecircs caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias (i) satildeo
argumentos parecidos com argumentos vaacutelidos (ii) estabelecem entre premissas e conclusotildees
uma relevacircncia puramente psicoloacutegica que tatildeo-soacute se dirige agraves emoccedilotildees da pessoa sem que as
premissas sejam logicamente relevantes para extrair a conclusatildeo (iii) apresentam-se com
intenccedilatildeo enganadora para que o argumento ainda que invaacutelido seja de todas as maneiras
aceito por todos Vejamos a seguir exemplos de falaacutecias
(5) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher
a Dilma Rousseff eacute mulher
b Dilma Rousseff eacute a presidente do Brasil
A partir do nosso conhecimento de mundo poderiacuteamos dizer que a sentenccedila (5b) eacute
verdadeira Na sentenccedila (5alsquo) temos que A presidente do Brasil eacute mulher De fato tambeacutem se
formos utilizar nosso conhecimento de mundo intuitivamente diremos que esta sentenccedila estaacute
correta considerando a eacutepoca em que este trabalho foi escrito Seguindo temos a sentenccedila
(5a) com a informaccedilatildeo Dilma Rousseff eacute mulher Assim como as sentenccedilas (5alsquo) e (5a) a
partir de nosso conhecimento de mundo podemos afirmar que esta sentenccedila tambeacutem eacute
verdadeira mas devemos entender que eacute preciso considerar a relaccedilatildeo que as sentenccedilas
estabelecem entre si A sentenccedila (5alsquo) natildeo estabelece nenhuma relaccedilatildeo com a sentenccedila (5a)
para que (5b) seja um acarretamento Para mostrar de forma mais clara que o exemplo (5) natildeo
eacute um acarretamento vamos comparaacute-lo com o exemplo a seguir
(6) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher
a Michelle Bachelet eacute mulher
b Michelle Bachelet eacute a presidente do Brasil
Observamos que (6alsquo) e (6a) satildeo verdadeiras (no momento da redaccedilatildeo deste
trabalho) mas (6b) nos parece estranho Sabemos que Michelle Bachelet atualmente eacute
presidente do Chile Mas nada disso interfere para caracterizar um acarretamento e o exemplo
acima foi para deixar claro que a partir das relaccedilotildees semacircnticas dispostas entre os grupos de
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sentenccedilas (5) e (6) natildeo podemos considerar que haacute acarretamento pelo fato acima
mencionado
Ateacute o momento tratamos do conceito de acarretamento seguido de exemplos em
liacutengua natural sua representaccedilatildeo na loacutegica claacutessica e exemplos de falaacutecias A partir deste
ponto trataremos dos fatores que interferem nas relaccedilotildees semacircnticas de uma forma diferente
das falaacutecias A compreensatildeo dos tipos de interferecircncias a seguir seraacute importante para a anaacutelise
do corpus deste trabalho pois se trata de interferecircncias lexicais
No exemplo a seguir trataremos de um problema que pode invalidar relaccedilotildees
semacircnticas a polissemia Quando um termo adquire mais de um sentido aleacutem daquele que eacute
originalmente atribuiacutevel temos um caso de polissemia Crystal (1985) conceitua polissemia
da seguinte maneira
Polissemia termo usado na anaacutelise semacircntica para caracterizar um item lexical com
uma variedade de significaccedilotildees diferentes como manga = ―parte da camisa ―parte
do abajur etc Uma grande parte do vocabulaacuterio da liacutengua eacute polissecircmica ()
(Crystal 1985 p 202)
Tendo em vista que a polissemia eacute uma caracteriacutestica de um item lexical que possui
diversos significados para diversos contextos vamos observar o exemplo a seguir
(7) a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito
b Joatildeo morreu
A sentenccedila (7a) pode ser interpretada pelo menos de duas formas distintas pelo fato da
expressatildeo ―perdeu a cabeccedila ser polissecircmica Se interpretarmos a sentenccedila (7a) considerando
―perder a cabeccedila como ter a cabeccedila desprendida do corpo haacute acarretamento de (7a) para
(7b) Mas esta natildeo eacute a uacutenica interpretaccedilatildeo possiacutevel para a expressatildeo em questatildeo Se
interpretarmos ―perder a cabeccedila como perder a paciecircncia ficar furioso estressado ou algo
parecido a sentenccedila (7a) natildeo acarreta (7b) numa mesma situaccedilatildeo pois o fato de Joatildeo ter
perdido a paciecircncia natildeo garante que ele venha a morrer Dessa forma para natildeo ter problemas
com a polissemia eacute preciso assegurar que se convencione um sentido uacutenico para cada
premissa para desta forma haver um acarretamento
40
Outro aspecto que eacute preciso ser mencionado eacute que (7) do jeito que se apresenta natildeo eacute
um acarretamento mesmo que perder a cabeccedila tenha o sentido de ter a cabeccedila desprendida do
corpo Isso se daacute porque (7) eacute um acarretamento incompleto ou seja um entimema
Argumento com uma premissa natildeo-formulada sem a qual ele natildeo eacute vaacutelido Chama-
se muitas vezes de premissa impliacutecitalsquo agrave premissa natildeo formulada Na argumentaccedilatildeo
cotidiana omitem-se premissas oacutebvias A premissa impliacutecita do argumento Antocircnio
deveria ser despedido porque roubou dinheiro puacuteblicolsquo eacute Todas as pessoas que
roubam dinheiro puacuteblico devem ser despedidaslsquo (BRANQUINHO MURCHO
GOMES 2006 p 298)
Vamos observar o exemplo (7) de uma forma que o entimema seria evitado
(8) alsquo Todas as pessoas que perdem a cabeccedila morrem
a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito
b Joatildeo morreu
Podemos constatar no exemplo acima que ao incluirmos a sentenccedila (8alsquo) que eacute a
sentenccedila geral que estava impliacutecita no exemplo (7) resolvemos o problema do entimema
completando assim a relaccedilatildeo de acarretamento de (8alsquo) e (8a) para (8b)
A partir de agora vamos tratar de outro tipo de interferecircncia em relaccedilotildees sentencias
que estaacute tambeacutem no campo do leacutexico a vagueza
A vagueza eacute assim como a polissemia um tipo de ocorrecircncia que dificulta a
interpretaccedilatildeo dos nexos entre sentenccedilas Podemos considerar que haacute vagueza em uma
sentenccedila quando observamos que uma palavra ou expressatildeo causa sentido incompleto
impedindo o entendimento da sentenccedila como um todo Branquinho Murcho e Gomes
conceituam a vagueza de seguinte maneira
As liacutenguas naturais contecircm palavras (tipicamente predicados denotando
propriedades ou relaccedilotildees) cujo domiacutenio de aplicaccedilatildeo eacute parcialmente indeterminado
isto eacute em relaccedilatildeo agraves quais os falantes competentes natildeo estatildeo certos em todos os
casos de que determinado objeto (ou par ordenado de objetos) pertence ao conjunto
denotado por elas (ou agrave relaccedilatildeo) (BRANQUINHO MURCHO GOMES 2006 p
805)
De uma forma geral Allan (2010) caracteriza a vagueza como um tipo particular de
incerteza sobre a aplicaccedilatildeo de um predicado Podemos considerar como um exemplo padratildeo
de predicado vago a classe de adjetivos graduaacuteveis como altura Se uma determinada pessoa
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natildeo eacute suficientemente alta para ser claramente alta e natildeo eacute suficiente baixa para ser
claramente baixa entatildeo aiacute temos um caso de vagueza
Os adjetivos vagos satildeo sempre utilizados em relaccedilatildeo a uma classe de comparaccedilatildeo no
dia-a-dia Estar acima do peso por exemplo pode variar a partir do grau de comparaccedilatildeo Para
uma top model estar acima do peso eacute visto de forma diferente do que para um lutador de
sumocirc por exemplo
Ainda em relaccedilatildeo ao conceito de vagueza Kempson (1977) propotildee que existem
quatro tipos inter-relacionaacuteveis de vagueza vagueza referencial indeterminaccedilatildeo de
significado falta de especificaccedilatildeo no significado de um item disjunccedilatildeo na especificaccedilatildeo do
significado de um item em que o significado abarca uma ou qualquer declaraccedilatildeo de diversas
possibilidades de interpretaccedilatildeo Dentre estes quatro tipos propostos por Kempson iremos nos
dedicar a observar os casos relacionados agrave vagueza referencial Tendo em vista os conceitos
acima vamos observar um exemplo em que a vagueza pode prejudicar a interpretaccedilatildeo de um
acarretamento
(9) a Tobias eacute um gecircnio no xadrez
b Tobias eacute um bom jogador de xadrez
No exemplo acima podemos observar os termos vagos ―gecircnio na sentenccedila (9a) e
―bom na sentenccedila (9b) Para haver a relaccedilatildeo de acarretamento temos que admitir para (9a) e
(9b) o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe Por exemplo haacute acarretamento entre as
sentenccedilas (9a) e (9b) se Tobias for um garoto de oito anos e diante seus colegas da escola ele
se destacar como um exiacutemio conhecedor das regras e teacutecnicas do jogo de xadrez Dessa
forma a sentenccedila ―Tobias eacute um gecircnio no xadrez acarretaria que ―Tobias eacute um bom jogador
de xadrez Jaacute se natildeo utilizarmos o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas
(9a) e (9b) como por exemplo se em (9a) Tobias for um garoto de oito anos que diante de
seus colegas da escola se destaca como um exiacutemio jogador de xadrez mas comparando-o
com os competidores da categoria secircnior do campeonato mundial de xadrez e a partir disso
afirmando (9b) natildeo poderiacuteamos acarretar que Tobias eacute um bom jogador de xadrez Dessa
forma pudemos observar que a presenccedila de termos vagos em sentenccedilas dificulta a
interpretaccedilatildeo dos acarretamentos A seguir observaremos outros nexos que se relacionam com
o acarretamento
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22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA
Como discutimos anteriormente o acarretamento eacute uma relaccedilatildeo semacircntica que ocorre
em um uacutenico sentido ou seja das premissas para a conclusatildeo Quando uma conclusatildeo
acarreta as premissas chamamos essa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica
Para o termo ―equivalecircncia haacute diversas definiccedilotildees Segundo Branquinho Murcho e
Gomes (2006 p 281) podemos identificar dois sentidos distintos para este termo o primeiro
se refere ao que tratamos neste trabalho ou seja faz referecircncia a relaccedilatildeo entre as sentenccedilas de
certa liacutengua o segundo trata de determinados tipos de sentenccedilas declarativas agraves frases
bicondicionais ou declarativas Dentro desses dois sentidos diversos para o termo
―equivalecircncia no primeiro que eacute o que mais nos interessa os autores ainda distinguem trecircs
variedades centrais de equivalecircncia Satildeo elas equivalecircncia material equivalecircncia estrita e
equivalecircncia loacutegica
A equivalecircncia material eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q (por
exemplo) exatamente quando p e q possuem o mesmo valor de verdade ou seja quando ou
satildeo as duas verdadeiras juntas ou satildeo as duas falsas juntas
A equivalecircncia estrita eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q no caso em
que eacute necessaacuterio que p seja materialmente equivalente a q ou no caso de ser impossiacutevel tanto
que p seja verdadeira e q seja falsa quanto que p seja falsa e q seja verdadeira Branquinho
Murcho e Gomes (2006 p 281) afirmam que nesse caso diz-se que p eacute estritamente
equivalente a q
A equivalecircncia loacutegica eacute uma relaccedilatildeo que se estabelece entre duas sentenccedilas p e q
exatamente no caso de p e q serem duas sentenccedilas mutuamente dedutiacuteveis num dado sistema
loacutegico Diz-se nesse caso que p eacute logicamente equivalente a q
Em nosso trabalho iremos considerar para ―equivalecircncia o sentido apresentado por
Branquinho Murcho e Gomes (2006) para equivalecircncia material A partir deste conceito
vamos observar o exemplo a seguir
(10) a O gato matou o rato
b O rato foi morto pelo gato
Nas sentenccedilas acima podemos identificar uma relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica Eacute
impossiacutevel que o gato tenha matado o rato e que o rato natildeo tenha sido morto Claro que se
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considerarmos que estamos tratando sobre o mesmo gato e o mesmo rato Dessa forma
sempre que (10a) for verdadeira (10b) tambeacutem teraacute de ser Tambeacutem podemos observar uma
relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica no exemplo (3) Utilizamos o exemplo (3) para mostrar
uma relaccedilatildeo de acarretamento que eacute efetiva mas tambeacutem haacute a relaccedilatildeo de equivalecircncia pois
as premissas ―Neymar eacute brasileiro e ―Neymar eacute um jogador de futebol acarretam que
―Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro da mesma forma que esta uacuteltima sentenccedila
acarreta as duas anteriores Tal exemplo reafirma o conceito descrito acima de que uma
equivalecircncia semacircntica eacute um acarretamento duplo
Assim como acontece no acarretamento a equivalecircncia semacircntica tem problemas com
a polissemia Vamos observar exemplo a seguir
(11) a O Brasil ganhou o jogo contra o Chile
b O Chile perdeu o jogo contra o Brasil
No exemplo acima vemos que a sentenccedila (11a) acarreta a sentenccedila (11b) ao mesmo
tempo em que a sentenccedila (11b) acarreta a sentenccedila (11a) Natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (11a)
seja verdadeira ao mesmo tempo em que a (11b) seja falsa Se uma das sentenccedilas eacute falsa e a
outra eacute verdadeira natildeo haacute acarretamento em nenhum dos dois ―sentidos (em relaccedilatildeo agrave
direccedilatildeo de (11a) para (11b) e de (11b) para (11a)) Natildeo podemos considerar que o Brasil
ganhou o jogo contra o Chile e que o Chile ganhou o jogo contra o Brasil pois sabemos que
em uma partida de futebol haacute apenas um ganhador Haacute a possibilidade de algueacutem querer ir
mais aleacutem e inferir que eacute possiacutevel que os dois times ganharam mas em jogos diferentes Se
considerarmos a situaccedilatildeo de que o Chile jaacute ganhou outros jogos contra o Brasil assim como
que o Brasil jaacute ganhou outros jogos contra o Chile a relaccedilatildeo de equivalecircncia seria possiacutevel
escolhendo qualquer outro jogo como referecircncia mas natildeo eacute o que nos interessa pois
devemos considerar apenas uma situaccedilatildeo para as duas sentenccedilas
A partir deste ponto iremos tratar sobre como a polissemia pode interferir na
interpretaccedilatildeo numa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica da mesma forma que mostramos
anteriormente nas relaccedilotildees de acarretamento Vejamos o proacuteximo exemplo
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(12) a A lagosta estaacute mais salgada que o peixe
b O peixe estaacute menos salgado que a lagosta
Podemos observar que as sentenccedilas (12a) e (12b) satildeo equivalentes pelo fato de que
natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12a) seja verdadeira e a sentenccedila (12b) seja falsa assim como
natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12b) seja verdadeira e a sentenccedila (12a) seja falsa Poreacutem se
passarmos a admitir significados diferentes para expressotildees empregadas nas sentenccedilas por
exemplo para a palavra ―salgado encontraremos problemas Se admitirmos que sentenccedila
(12a) o conceito de ―salgado eacute de o alimento estar impregnado de sal salpicado de sal ou
com gosto de sal e se este conceito for tambeacutem considerado para a sentenccedila (12b) haacute
equivalecircncia semacircntica Mas tambeacutem podemos interpretar o termo ―salgado como uma
expressatildeo para se referir ao preccedilo alto do produto no mercado Soacute haacute equivalecircncia semacircntica
se admitirmos o mesmo conceito para ―salgado em ambas as sentenccedilas ou seja se
considerarmos o significado de ―salgado como sendo impregnado de sal para a sentenccedila
(12a) ou em (12b) como sendo relativo ao valor alto no mercado natildeo haacute equivalecircncia
semacircntica entre (12a) e (12b)
No proacuteximo exemplo trataremos de outro tipo de ocorrecircncia que dificulta a
interpretaccedilatildeo de nexos a vagueza Como jaacute apresentamos a definiccedilatildeo de vagueza na seccedilatildeo
anterior partiremos direto para o exemplo em que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo de uma
equivalecircncia semacircntica
(13) a Goacutergias eacute mais saacutebio que Hiacutepias
b Hiacutepias eacute menos saacutebio que Goacutergias
Na relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) haacute equivalecircncia semacircntica mas podemos identificar
que nas duas sentenccedilas foram utilizados termos vagos que tornam a interpretaccedilatildeo dificultosa
Em (13a) haacute o uso dos termos ―mais e ―saacutebio assim como em (13b) haacute o uso dos termos
―menos e ―saacutebio Esses termos satildeo vagos e dificultam a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo semacircntica
entre as sentenccedilas O que dificulta a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) eacute o fato de
que termos como ―mais e ―menos assim como ―saacutebio possuem significados diferentes de
acordo com as situaccedilotildees em que satildeo utilizadas Ou seja eacute necessaacuterio que admitamos o
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mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas (13a) e (13b) Dessa forma haveraacute a
relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica
A seguir trataremos sobre outro tipo de relaccedilatildeo semacircntica entre sentenccedilas a
contraditoriedade
23 CONTRADITORIEDADE
Diferente da relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica que consiste em sentenccedilas que satildeo
verdadeiras juntas ou falsas juntas as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias quando uma eacute oposta da
outra tipicamente quando uma sentenccedila B eacute a negaccedilatildeo de uma sentenccedila A Sobre a relaccedilatildeo de
contraditoriedade Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 229) afirmam que ―obteacutem-se a
contraditoacuteria de qualquer proposiccedilatildeo p prefixando-lhe o operador de negaccedilatildeo de modo a
obter notp3 Com base no conceito de contraditoriedade exposto vamos observar o exemplo a
seguir
(14) a O Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016
b O Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016
Podemos observar no exemplo acima que se a sentenccedila (14a) for verdadeira
obrigatoriamente a sentenccedila (14b) tem que ser falsa Se a informaccedilatildeo da sentenccedila (14a) que
diz que o Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas for verdadeira a informaccedilatildeo da sentenccedila
(14b) que diz que o Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas natildeo pode ser verdadeira
Em relaccedilotildees de contraditoriedade o uso de uma afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo eacute algo
tiacutepico mas natildeo determinante No exemplo (14) pudemos observar a relaccedilatildeo de
contraditoriedade caracterizada pelo uso da negaccedilatildeo mas tambeacutem podemos encontrar esse
tipo de relaccedilatildeo sem tal uso Vejamos a seguir
3 O siacutembolo not na loacutegica claacutessica eacute a representaccedilatildeo do operador de negaccedilatildeo ldquonatildeordquo
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(15) a Mecircnon estaacute acordado
b Mecircnon estaacute dormindo
A partir das sentenccedilas acima podemos ver que a relaccedilatildeo entre estas sentenccedilas eacute de
contraditoriedade pois se a sentenccedila (15a) for verdadeira a sentenccedila (15b) tem que ser falsa
da mesma forma que se a sentenccedila (15b) for verdadeira a sentenccedila (15a) deveraacute ser falsa
Natildeo eacute possiacutevel que Mecircnon esteja acordado e dormindo ao mesmo tempo claro que
considerando o mesmo sentido para as palavras ―acordado e ―dormindo nas duas sentenccedilas
e em relaccedilatildeo ao mesmo Mecircnon
Assim como as demais relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos anteriormente a
contraditoriedade tambeacutem eacute sensiacutevel agrave polissemia Vamos observar como a polissemia se
apresenta no exemplo a seguir
(14) a A minha gata estaacute acordada
b A minha gata estaacute dormindo
No exemplo acima natildeo encontramos apenas a relaccedilatildeo de contraditoriedade sem
utilizaccedilatildeo da negaccedilatildeo mas tambeacutem um problema de polissemia que pode anular a relaccedilatildeo de
contraditoriedade Se numa determinada situaccedilatildeo escrevendo este texto me viro na cadeira e
vejo em cima de minha cama o meu animal de estimaccedilatildeo deitado olhando para mim e com
isso afirmo ―a minha gata estaacute acordada como na sentenccedila (14a) natildeo posso considerar
verdadeira a sentenccedila (14b) pois natildeo se pode estar dormindo e estar acordado ao mesmo
tempo tomando as definiccedilotildees de ―estar acordado e ―estar dormindo como oposiccedilotildees A
partir disso as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias Se em outra situaccedilatildeo me viro na cadeira e vejo
minha esposa deitada na cama dormindo e afirmo ―a minha gata estaacute dormindo como na
sentenccedila (14b) ela natildeo pode ser verdadeira ao mesmo tempo em que a sentenccedila (14a) pois
minha esposa natildeo poderia estar acordada e dormindo ao mesmo tempo Ateacute o momento
pudemos atribuir dois sentidos diferentes para o termo ―gata Se considerarmos para a
sentenccedila (14a) o sentido de que o meu animal de estimaccedilatildeo estaacute acordado e para a sentenccedila
(14b) o sentido de que a minha esposa estaacute dormindo essas sentenccedilas natildeo satildeo contraditoacuterias
No exemplo acima percebemos portanto dois aspectos da contradiccedilatildeo em sentenccedilas de uma
liacutengua natural como o portuguecircs Primeiro que natildeo haacute a obrigatoriedade de ter a negaccedilatildeo de
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uma sentenccedila para que a relaccedilatildeo de contraditoriedade exista e segundo que a polissemia
pode tornar problemaacutetica essa relaccedilatildeo
Podemos considerar uma relaccedilatildeo de contraditoriedade entre sentenccedilas sempre que A eacute
verdadeira B eacute falsa e sempre que a sentenccedila B eacute verdadeira A eacute falsa Ou seja as sentenccedilas
A e B nunca podem ser verdadeiras ou falsas juntas
O exemplo de contraditoriedade que mostramos anteriormente foi relacionando duas
sentenccedilas mas podemos encontrar a relaccedilatildeo de contraditoriedade dentro de uma sentenccedila
apenas Vamos observar o exemplo a seguir
(15) Herbert Vianna eacute cantor e natildeo eacute cantor
Se afirmamos que uma pessoa eacute e natildeo eacute cantora constatamos uma contraditoriedade
nesta sentenccedila Em (15) encontramos a apresentaccedilatildeo de um argumento e a negaccedilatildeo do mesmo
argumento em seguida Uma sentenccedila com esta forma natildeo pode ser verdadeira Se
consideramos numa mesma situaccedilatildeo que Herbert Vianna eacute cantor e em seguida afirmo que
Herbert Vianna natildeo eacute cantor esta sentenccedila eacute contraditoacuteria
Se partirmos para determinar sentidos diferentes para o termo ―cantor como por
exemplo que Herbert Vianna eacute um cantor pelo simples fato de que ele emite pelas cordas
vocais sons musicais que ―cantor eacute um termo que soacute pode ser utilizado para os profissionais
que trabalham com a voz na muacutesica ou que ―cantor se jaacute um termo utilizado para designar
algueacutem que canta muito bem natildeo haacute contraditoriedade efetivamente Mas se mantivermos o
mesmo sentido para o termo haveraacute relaccedilatildeo de contraditoriedade
Da mesma forma que a polissemia dificulta a interpretaccedilatildeo de nexos entre sentenccedilas
vamos observar um exemplo em que a vagueza ndash toacutepico que desenvolvemos na primeira
seccedilatildeo deste capiacutetulo - invalida uma relaccedilatildeo de contraditoriedade
(16) a O professor de loacutegica eacute muito alto
b O professor de loacutegica natildeo eacute muito alto
Na relaccedilatildeo entre (16a) e (16b) seguindo o conceito contraditoriedade haacute uma relaccedilatildeo
de contradiccedilatildeo entre as duas sentenccedilas poreacutem podemos identificar termos vagos nas duas
sentenccedilas o que pode dificultar a interpretaccedilatildeo Na sentenccedila (16a) e na sentenccedila (16b)
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identificamos dois termos vagos que satildeo ―muito e ―alto Eacute possiacutevel considerar as duas
sentenccedilas como falsas ou verdadeiras juntas invalidando a contraditoriedade pois os termos
―muito e ―alto satildeo variaacuteveis de acordo com o grau de comparaccedilatildeo adotado Por exemplo
em (16a) o professor de loacutegica pode ser considerado muito alto em comparaccedilatildeo agraves crianccedilas
para quem ele leciona poreacutem se compararmos o professor de loacutegica da sentenccedila (16a) com os
outros professores do departamento talvez o professor fosse considerado baixo Desta forma
podemos observar que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo das duas sentenccedilas
A seguir traremos o uacuteltimo nexo semacircntico que utilizaremos em nosso trabalho Este
tipo de relaccedilatildeo eacute um pouco parecido com a contraditoriedade
24 CONTRARIEDADE
A contrariedade ocorre quando duas sentenccedilas podem ser falsas juntas mas natildeo
podem ser verdadeiras juntas Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 234) definem
contrariedade da seguinte forma ―duas proposiccedilotildees satildeo contraacuterias se natildeo podem ser ambas
verdadeiras mas podem ser ambas falsas distinguindo-se assim das contraditoacuterias que natildeo
podem ser ambas verdadeiras nem ambas falsas e das subcontraacuterias que natildeo podem ser
ambas falsas mas podem ser ambas verdadeiras
Eacute importante enfatizar que mesmo estando tratanto dos nexos semacircnticos e sua
aplicaccedilatildeo em liacutengua natural os conceitos de sentenccedilas contraacuterias contraditoacuterias
equivalecircncias e acarretamentos tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica As relaccedilotildees de sentenccedilas
contraacuterias e contraditoacuterias satildeo tratadas por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado
atraveacutes de seu quadrado loacutegico ou taacutebua de oposiccedilotildees No Perieacutermeneas (1985) mais
especificamente nos capiacutetulos 6 e 7 Aristoacuteteles nos apresenta os conceitos de sentenccedilas
contraacuterias e contraditoacuterias afirmando que duas sentenccedilas satildeo contraacuterias quando natildeo podem
ser verdadeiras juntas ao mesmo tempo mas podem ser falsas juntas ao mesmo tempo Jaacute em
relaccedilatildeo agraves contraditoacuterias Aristoacuteteles propotildee que toda afirmaccedilatildeo possui sua exata negaccedilatildeo
correspondente e que toda afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo sem opotildeem sendo uma sempre
verdadeira e a outra sempre falsa Dessa forma para Aristoacuteteles um par formado por uma
afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo corresponde a uma contradiccedilatildeo
A partir do conceito de contrariedade vamos observar o exemplo a seguir Nele
encontraremos um caso de polissemia
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(17) a A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 20 de agosto de 1914
b A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 18 de julho de 1921
Se admitirmos que a seleccedilatildeo brasileira de futebol sobre a qual estamos falando na
sentenccedila (17a) eacute a mesma seleccedilatildeo que estamos falando na sentenccedila (17b) natildeo eacute possiacutevel que
a sentenccedila (17b) seja verdadeira pois algo natildeo pode ser fundado efetivamente em dois
momentos distintos Haacute a possibilidade de se afirmar que estamos falando de duas seleccedilotildees
brasileiras de futebol diferentes pois para ―seleccedilatildeo brasileira haacute diversos significados
aplicaacuteveis ou seja a expressatildeo ―seleccedilatildeo brasileira eacute polissecircmica Por exemplo podemos
definir uma seleccedilatildeo como sendo de futebol de campo e a outra de futebol de salatildeo A partir
dessa interpretaccedilatildeo as duas sentenccedilas poderiam ser verdadeiras juntas e com isso natildeo
haveria contrariedade Mas como devemos admitir apenas uma situaccedilatildeo para as duas
sentenccedilas (17a) e (17b) natildeo podem ser verdadeiras juntas mas podem ser falsas juntas
constituindo uma relaccedilatildeo de contrariedade Eacute possiacutevel que a seleccedilatildeo brasileira de futebol natildeo
tenha sido formada nem em 20 de agosto de 1914 e nem em 18 de julho de 1921 Em
contrapartida numa interpretaccedilatildeo usual a seleccedilatildeo de futebol de um paiacutes eacute formada pela
primeira vez uma soacute vez Algueacutem pode querer ir aleacutem e afirmar que foram empregados
sentidos diferentes para a expressatildeo ―foi formada nas sentenccedilas em questatildeo Poderia dizer
que na sentenccedila (17a) o sentido foi de que a seleccedilatildeo se reuniu pela primeira vez para jogarem
juntos de forma extraoficial e que na sentenccedila (17b) o sentido foi de que a seleccedilatildeo
efetivamente foi documentalmente formada Se admitiacutessemos essas interpretaccedilotildees as
sentenccedilas (17a) e (17b) poderiam ser verdadeiras juntas o que descaracterizaria a relaccedilatildeo de
contrariedade entre as sentenccedilas Assim como o fato de que se a sentenccedila (17a) for falsa a
sentenccedila (17b) pode ser verdadeira ou falsa A falsidade da sentenccedila (17a) natildeo assegura a
verdade da sentenccedila (17b) Podemos entender dessa forma que a polissemia afeta a
interpretaccedilatildeo do nexo
Vamos observar mais um exemplo desta relaccedilatildeo
(18) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado do Acre
b A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado de Santa Catarina
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Se considerarmos a sentenccedila (18a) verdadeira ou seja que a reitoria da UNISUL estaacute
localizada no estado do Acre e tambeacutem levando em conta que a UNISUL eacute uma universidade
que tem uma reitoria e que a reitoria de uma universidade soacute pode estar numa cidade a
sentenccedila (18b) deveraacute ser falsa A sentenccedila (18a) eacute falsa e a sentenccedila (18b) eacute verdadeira e as
duas estabelecem uma relaccedilatildeo de contrariedade A reitoria da UNISUL estaacute localizada no
estado de Santa Catarina e natildeo no estado do Acre A partir desse exemplo e da convenccedilatildeo que
admitimos para ele pudemos observar que se uma sentenccedila A for falsa uma sentenccedila B pode
ser falsa ou verdadeira natildeo podendo ser as duas verdadeiras juntas apenas falsas Ilustrando
mais uma vez veja a relaccedilatildeo a seguir
(19) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Paris
b A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Roma
No exemplo acima podemos afirmar que as sentenccedilas (19a) e (19b) podem ser falsas
pois como jaacute citamos no paraacutegrafo anterior a reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado
de Santa Catarina Dessa forma haacute relaccedilatildeo de contrariedade as duas sentenccedilas satildeo falsas
Jaacute tratamos de exemplos da relaccedilatildeo de contrariedade com problemas de polissemia
mas podemos tambeacutem identificar problemas de validade dos nexos por causa da vagueza A
seguir observe o exemplo
(20) a Este cafeacute estaacute forte
b Este cafeacute estaacute aguado
Observando as sentenccedilas acima identificamos que (20a) e (20b) possuem termos
vagos que podem dificultar a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre as sentenccedilas Em (20a) foi usado
o termo ―forte e em (20b) foi usado o termo ―aguado Como nas outras relaccedilotildees que
apresentamos anteriormente esses termos satildeo vagos pois dependendo da classe de
comparaccedilatildeo em que satildeo apresentados eles podem mudar de sentido Eacute possiacutevel que numa
determinada situaccedilatildeo consideremos que um cafeacute pode natildeo estar nem forte nem fraco
autorizando a possibilidade de (20a) e (20b) serem as duas falsas ao mesmo tempo
descaracterizando a relaccedilatildeo de contrariedade Dessa forma podemos observar que os termos
51
vagos dificultam a interpretaccedilatildeo das sentenccedilas consequentemente da relaccedilatildeo que as
sentenccedilas estabelecem entre si Concluindo a exposiccedilatildeo dos nexos que nos interessam neste
trabalho apresentaremos a seguir a justificativa de nosso percurso sobre estas relaccedilotildees
semacircnticas e os tipos de ocorrecircncias que podem dificultar a interpretaccedilatildeo destas
25 JUSTIFICANDO O PERCURSO
Neste capiacutetulo apresentamos inicialmente os conceitos de semacircntica e pragmaacutetica
com o objetivo de mostrar que os nexos semacircnticos que tratamos em nosso trabalho
(acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e contrariedade) satildeo tipos de
inferecircncias que pertencem ao campo da semacircntica Para isso tambeacutem apresentamos duas
inferecircncias que pertencem ao campo da pragmaacutetica (pressuposiccedilatildeo e implicatura)
Na exposiccedilatildeo de cada nexo trouxemos os conceitos seguidos de exemplos em que a
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees semacircnticas eacute clara Em seguida apresentamos exemplos de nexos
com dois tipos de ocorrecircncias que no campo do leacutexico dificultam a interpretaccedilatildeo das
relaccedilotildees semacircnticas a polissemia e a vagueza
Pode parecer confuso a princiacutepio o fato de tratarmos de tipos de inferecircncia que
dependem da forma para se concretizarem (os nexos semacircnticos) relacionando-as com
ocorrecircncias que dificultam o entendimento do conteuacutedo das sentenccedilas (a polissemia e a
vagueza) A confusatildeo se apresenta caso natildeo lembremos que estamos tratando das relaccedilotildees de
inferecircncias em liacutengua natural e natildeo numa liacutengua controlada como num sistema loacutegico por
exemplo
Quando afirmamos que as relaccedilotildees entre sentenccedilas que tratamos em nosso trabalho
dependem da forma falamos de uma ―dessemantificaccedilatildeo ou seja a existecircncia dos nexos vai
depender unicamente da semacircntica dos quantificadores e conectivos (e ou se) Os nexos natildeo
dependem da semacircntica restante do material linguiacutestico exposto na sentenccedila A semacircntica dos
conectivos e quantificadores numa linguagem formal eacute mantida estaacutevel por definiccedilatildeo Na
linguagem natural podemos observar que os tipos de ocorrecircncia que dificultam a
interpretaccedilatildeo dos nexos se fazem presentes justamente no restante do material linguiacutestico da
sentenccedila ou seja para aleacutem da estrutura da sentenccedila que eacute composta pelos quantificadores e
demais conectivos
52
A polissemia e a vagueza satildeo ocorrecircncias tiacutepicas de liacutengua natural e dessa forma
somos obrigados a admitir que ao nos depararmos com qualquer gecircnero textual (que
obviamente estaacute no campo das liacutenguas naturais) numa anaacutelise devemos considerar que o
significado das palavras vai naturalmente interferir nas relaccedilotildees semacircnticas Tambeacutem na
exposiccedilatildeo de tipos de ocorrecircncias que interferem nos nexos semacircnticos tratamos de falaacutecias
que satildeo argumentos invaacutelidos apresentados como vaacutelidos explorando justamente a
interpretaccedilatildeo do conteuacutedo das sentenccedilas
A partir dos nexos semacircnticos que tratamos neste capiacutetulo junto com os tipos de
inferecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees no capiacutetulo seguinte
apresentaremos a anaacutelise de certificados de garantia Como o nosso objetivo eacute analisar quais
satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados nos certificados para restringir possibilidades de
interpretaccedilatildeo decidimos realizar a anaacutelise de ocorrecircncias com conectivos e quantificadores
Consideramos pertinente a escolha desse tipo de anaacutelise pois entendemos que os
quantificadores como o ―todo satildeo tradicionalmente apresentados em relaccedilotildees semacircnticas de
restriccedilatildeo ou abrangecircncia assim como o condicional ―se ou ―somente se e o ―apenas e
―somente A partir desse raciociacutenio acreditamos que esta seria a forma mais correta para
identificarmos ocorrecircncias do tipo que precisamos para a realizaccedilatildeo de nossa anaacutelise Os
nexos semacircnticos natildeo satildeo propiacutecios para as liacutenguas naturais pois natildeo se apresentam de forma
controlada Ocorrecircncias lexicais como as que descrevemos anteriormente podem dificultar a
interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees e isso eacute algo que trataremos nas anaacutelises
Eacute nesta perspectiva que observaremos no capiacutetulo seguinte as anaacutelises de vinte e dois
certificados de garantia nos quais natildeo buscaremos relaccedilotildees bem marcadas e controladas entre
sentenccedilas pois natildeo encontrariacuteamos facilmente mas sim quais satildeo os recursos linguiacutesticos
utilizados pelos autores dos textos para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo
admitindo tambeacutem obviamente os nexos semacircnticos como possiacuteveis recursos
53
3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA
Os certificados de garantia satildeo textos muito presentes em nosso cotidiano e muitas das
vezes noacutes natildeo levamos em conta a sua importacircncia tanto por serem documentos que podem
resguardar nossos direitos sobre um determinado produto quanto pelo fato de natildeo sermos
treinados para ler e interpretar devidamente as informaccedilotildees dispostas nos textos Dessa
forma justificamos a escolha de tal gecircnero para analisarmos em nossa pesquisa Ateacute este
momento de nosso trabalho seguimos o seguinte percurso
1) Mostramos no primeiro capiacutetulo que na elaboraccedilatildeo de certificados de garantia o
autor deve se preocupar em construir o texto buscando restringir ao maacuteximo as
possibilidades de interpretaccedilatildeo para que ele se torne mais eficiente em passar as
informaccedilotildees desejadas e para evitar problemas de interpretaccedilatildeo por parte dos
clientes
2) Tendo em vista que os certificados de garantia satildeo textos instrucionais ou seja
que direcionam a leitura para um fim especiacutefico nossa anaacutelise tem por objetivo
verificar quais satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores destes textos
para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo e para alcanccedilar este objetivo nos
utilizaremos da teoria dos nexos semacircnticos apresentada no segundo capiacutetulo
Como anunciado na introduccedilatildeo o corpus dessa pesquisa eacute formado por 22
certificados de garantia de produtos de diversos segmentos Ele foi coletado utilizando a
internet e natildeo teve um meacutetodo definido de categorizaccedilatildeo na escolha dos textos Decidimos
escolher certificados de diversos segmentos para natildeo obtermos uma anaacutelise viciada e tambeacutem
para obtermos um panorama da estrutura textual
Como analisaremos os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores dos certificados
de garantia para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo elegemos trecircs categorias de
termos a serem analisadas quantificadores universais condicionais e uso do apenassomente
A escolha dessas categorias se deve ao fato delas possuiacuterem tradicionalmente funccedilotildees de
restriccedilatildeo ou abrangecircncia em inferecircncias
Assim como na loacutegica de predicados a silogiacutestica se caracteriza pelo uso dependente
em argumentos dos quantificadores ―alguns e ―todos Nomeamos de quantificador
existencial ou particular aqueles referentes a ―alguns e nomeamos de quantificador universal
aqueles referentes a ―todos (MURCHO 2006) Utilizaremos em nossa pesquisa agraves
ocorrecircncias com quantificadores do segundo tipo Vejamos um exemplo ilustrativo
54
(21) TODO produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia
Possivelmente natildeo encontraremos em nossa anaacutelise nenhuma sentenccedila como esta pois
vemos que o quantificador universal destacado em letras maiuacutesculas abrange totalmente a
possibilidade de cobertura da garantia de um produto Da forma que estaacute expressa se compro
uma TV por exemplo e a mergulho na aacutegua causando defeito poderei receber outra nova do
fabricante pois ―todo produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia
Sobre os condicionais trataremos a anaacutelise na mesma linha de raciociacutenio pois eles
satildeo utilizados em proposiccedilotildees do tipo ―se X entatildeo Y oportunizando abrangecircncia ou
restriccedilatildeo de possibilidades de interpretaccedilatildeo como podemos ver ilustrado no exemplo a
seguir
(22) SE o produto apresentar defeito seraacute reparado gratuitamente
Da mesma forma como mostramos no exemplo anterior provavelmente natildeo
encontraremos sentenccedilas tatildeo abrangentes em nosso corpus como esta pois da forma como
estaacute posta ampliaria muito a possibilidade de cobertura da garantia de um produto Podemos
interpretar a partir da leitura da sentenccedila acima que o reparo do produto seraacute efetuado caso o
produto apresente qualquer defeito por qualquer motivo durante qualquer periacuteodo de tempo
sendo utilizado por qualquer pessoa e em qualquer circunstacircncia entre outras possibilidades
Para reparar tamanha abrangecircncia os autores dos textos podem utilizar listas exaustivas com
detalhes especiacuteficos apoacutes a apresentaccedilatildeo dos condicionais para direcionar efetivamente a
cobertura da garantia
Por fim em relaccedilatildeo ao uso dos termos ―apenas e ―somente analisaremos os termos
nos contextos que os autores buscam restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos textos
Vejamos o exemplo a seguir
(22) Estaratildeo cobertos pela garantia APENAS os produtos que natildeo estatildeo em
promoccedilatildeo
55
No exemplo acima tambeacutem inventado vemos que o ―apenas aparece como um
restritor da garantia deixando claro que soacute os produtos que foram adquiridos pelos preccedilos
normais ou seja fora da promoccedilatildeo estaratildeo cobertos pela garantia Dessa forma produtos em
promoccedilatildeo ficam descobertos
Com os conceitos sobre as categorias de anaacutelise dispostos acima apresentaremos a
seguir a anaacutelise dos trechos coletados em nosso corpus separada por tipos de ocorrecircncia
Iremos observar como se apresentam os quantificadores condicionais ocorrecircncias com o
apenassomente assim como observaremos os tipos de ocorrecircncias no campo do leacutexico que
dificultam a interpretaccedilatildeo dos trechos (polissemia e vagueza)
31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL
Vejamos a seguir as ocorrecircncias4 em que o quantificador universal eacute utilizado
5
(1) Este produto e as peccedilas substituiacutedas seratildeo garantidos pelo restante do
prazo original TODAS as peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades
da SAMSUNG
Podemos observar na ocorrecircncia acima que o fabricante utiliza o quantificador para
fazer com que o leitor infera que absolutamente todas as peccedilas que forem substituiacutedas na
assistecircncia a algum aparelho defeituoso se tornaratildeo propriedade da fabricante Dessa forma o
cliente natildeo poderaacute em hipoacutetese alguma ficar com a peccedila trocada
Percebemos no trecho acima que o quantificador universal ―todas poderia ser
excluiacutedo da sentenccedila e com isso em nada alteraria o sentido da sentenccedila Forccedilando uma
possiacutevel interpretaccedilatildeo da sentenccedila o leitor poderia afirmar que se a sentenccedila fosse disposta
da seguinte maneira ―As peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades da SAMSUNG
poderia existir uma classe de peccedilas eletrocircnicas de produtos SAMSUNG que
4 Utilizaremos o termo ldquoocorrecircnciardquo tanto para se referir ao trecho completo do corpus quanto para a
sentenccedila em que o conectivo grifado se apresenta Natildeo faremos distinccedilatildeo para este uso 5 Para a exibiccedilatildeo das ocorrecircncias do nosso corpus reiniciaremos a numeraccedilatildeo natildeo seguindo a contagem
realizada para os exemplos dos capiacutetulos anteriores
56
tradicionalmente fossem substituiacutedas em manutenccedilotildees mas natildeo recolhidas pelo fabricante
Dessa forma o quantificador universal ―todas se mostraria como a soluccedilatildeo para esse
problema de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos
na ocorrecircncia6 (1)
(2) Esta garantia substitui TODAS as outras garantias expressas ou
taacutecitas incluindo sem limitaccedilatildeo garantias taacutecitas de comercializaccedilatildeo
e adequaccedilatildeo a um fim especiacutefico
(Certificado 1)
Nesta ocorrecircncia o fabricante utiliza o quantificador para abranger ao maacuteximo seu
texto no intuito de inferir que a garantia em anaacutelise se sobrepotildee a qualquer outro tipo de
garantia oferecida ao cliente
Podemos observar que se o quantificador universal ―todas natildeo fosse utilizado o
sentido da sentenccedila permaneceria o mesmo Se tiveacutessemos encontrado a sentenccedila da forma
―Esta garantia substitui as outras garantias o cliente iria interpretar a sentenccedila sem
dificuldades O uso do quantificador aparece como um termo para dar ecircnfase ao que jaacute estaacute
dito na sentenccedila acima Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos na
ocorrecircncia (2)
(3) TODO atendimento de reparo deve ser precedido de ligaccedilatildeo
telefocircnica ao Suporte Teacutecnico Telefocircnico da AOC (0800-10-9539)
para que seja feita uma avaliaccedilatildeo preacutevia do problema a fim de
constatar a existecircncia de defeito ou viacutecio do produto esgotando-se
TODAS as possibilidades de se tratar de uma falha de operaccedilatildeo ou
uso do produto por parte do consumidor
(Certificado 4)
No trecho acima podemos observar que na primeira ocorrecircncia do quantificador o
fabricante utiliza-o para inferir que o cliente em qualquer caso de submissatildeo do aparelho agrave
assistecircncia deve entrar em contato com o suporte teacutecnico telefocircnico da empresa e ainda
6 Decidimos pontuar no final de cada anaacutelise o fato de haver ou natildeo termos polissecircmicos ou vagos nas
ocorrecircncias porque consideramos estes tipos de ocorrecircncias como sendo os principais meios de dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos instrucionais Ao anunciar que natildeo haacute termos dessas categorias em cada anaacutelise por mais que se mostre repetitivo na leitura ao mesmo tempo invoca a importacircncia (e necessidade segundo nossa perspectiva) que depositamos nesses fatos em cada ocorrecircncia
57
reforccedila utilizando outra vez o quantificador ―todas inferindo que o produto soacute iraacute para a
assistecircncia efetivamente caso natildeo haja mais nenhuma possibilidade de resoluccedilatildeo do problema
atraveacutes do contato telefocircnico Ao utilizar esse reforccedilo o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo ao
fato de que por exemplo o problema possa ser resolvido atraveacutes de instruccedilotildees passadas pela
empresa via telefone ao cliente e o cliente natildeo aceitar e exigir que o produto seja reparado
somente na assistecircncia teacutecnica ou simplesmente para evitar que a assistecircncia teacutecnica receba
algum produto que natildeo estaacute defeituoso ou viciado
Diferente da ocorrecircncia (2) o uso do quantificador universal ―todo se faz necessaacuterio
para evitar que o cliente interprete a sentenccedila de uma forma indesejada por parte do
fabricante Por exemplo caso o autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todo na
primeira parte ―Todo atendimento de reparo deve o cliente poderia interpretar que ele
poderia obter atendimento de reparo sem passar pelo contato telefocircnico com o suporte teacutecnico
do fabricante Na utilizaccedilatildeo do quantificador universal ―todas no final da sentenccedila tambeacutem
observamos que se o autor do texto natildeo utilizasse esta estrateacutegia tambeacutem possibilitaria que o
texto fosse interpretado de outra maneira Se o cliente se deparasse com a sentenccedila
―esgotando-se as possibilidades de se tratar de uma falha poderia interpretar que se para
algum tipo de falha de operaccedilatildeo ou seja de utilizaccedilatildeo do produto haveria a possibilidade de
enviar o produto para assistecircncia teacutecnica Como o autor utilizou o quantificador nas duas
passagens que citamos ele direcionou a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha
duacutevidas sobre aquilo que o fabricante deseja expressar
Sobre tipos de ocorrecircncia que dificultam a interpretaccedilatildeo do texto pudemos identificar
a expressatildeo ―viacutecio do produto Esta expressatildeo eacute muito especiacutefica e estaacute presente no Coacutedigo
de defesa do consumidor Segundo Bruno Miragem (2008) ―Viacutecio do produto ou do serviccedilo
abrange o efeito decorrente da violaccedilatildeo aos deveres de qualidade quantidade ou informaccedilatildeo
impedindo com isso que o produto ou serviccedilo atenda aos fins que legitimamente dele se
esperam (dever da adequaccedilatildeo) O autor do certificado natildeo disponibilizou nenhum conceito
para a expressatildeo ―viacutecio do produto apresentando desta forma uma dificuldade a mais para
a interpretaccedilatildeo do texto por parte do cliente Caso o autor tenha elaborado o texto
considerando por exemplo que qualquer pessoa que leia um certificado de garantia deve ser
conhecedor de todos os termos e expressotildees descritas no CDC (a partir desse ponto iremos
utilizar esta sigla para ―coacutedigo de defesa do consumidor) natildeo haveria problema em
simplesmente usar o termo sem conceituar mas isso natildeo eacute pertinente Para evitar que esta
expressatildeo natildeo fosse polissecircmica o autor deveria ter elaborado um mini-glossaacuterio com os
termos que seriam usuais no texto e que possuem um sentido especiacutefico no ramo em que o
58
produto estaacute inserido (por exemplo peccedilas de carros ou peccedilas eletrocircnicas) e no CDC7
(4) A Garantia do Produto oferecida por este Termo abrange TODOS os
defeitos de material ou de fabricaccedilatildeo do aparelho constatados pela
Robert Bosch Ltda bem como a substituiccedilatildeo das peccedilas que
apresentarem viacutecios aleacutem da matildeo-de-obra utilizada no respectivo
reparo
(Certificado 8)
No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador ―todos para assegurar ao cliente
que em qualquer caso em que o produto possua defeito de material ou de fabricaccedilatildeo a
garantia estaraacute assegurada Aleacutem de assegurar isso tambeacutem garante a substituiccedilatildeo da peccedila do
aparelho que estiver com problema e a matildeo-de-obra tudo por conta do fabricante Caso o
autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todos ele poderia abrir margem para
outras interpretaccedilotildees como por exemplo que esta garantia natildeo abrange qualquer defeito do
produto constatado pelo fabricante Eacute interessante citar que a utilizaccedilatildeo do quantificador
―todos foi realizada beneficiando o fabricante pois mesmo afirmando que a ―garantia
abrange todos os defeitos o autor direciona para ―todos os casos que forem constatados
pelo fabricante Ou seja fica a criteacuterio do fabricante decidir o que eacute defeito e o que natildeo eacute
Assim como na ocorrecircncia (3) identificamos o uso do termo ―viacutecios que natildeo tem o
seu conceito descrito no texto do certificado O termo ―viacutecio natildeo eacute utilizado em nosso
cotidiano como algo vinculado a um objeto Geralmente conceituamos esse termo como
referente agrave dependecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica em relaccedilatildeo a uma substacircncia Tambeacutem podemos
conceituar como uma mania (costume de fazer sempre a mesma coisa) Enfim o termo
utilizado da forma em que foi descrita em (4) necessitaria que em alguma parte do texto
aparecesse o conceito para este termo que deve ser interpretado de forma especiacutefica pois eacute
um termo teacutecnico apresentado no CDC e muitas das vezes o cliente natildeo tem conhecimento
deste conceito favorecendo dificuldades a interpretaccedilatildeo do texto
(5) TODOS os eventuais danos ou demoras resultantes da natildeo
observacircncia dessas recomendaccedilotildees fogem agrave responsabilidade da APC
(Certificado 7)
7 Sobre esta estrateacutegia de eliminaccedilatildeo da polissemia e vagueza atraveacutes do uso de um glossaacuterio por autores de
textos instrucionais ver Estrela e Santos (2014)
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Na ocorrecircncia acima a empresa APC se resguarda de qualquer responsabilidade sobre
o produto caso o cliente natildeo siga as recomendaccedilotildees dadas pelo fabricante Para isso utiliza o
quantificador universal para abranger ao maacuteximo as possibilidades de natildeo cobertura
favorecendo o fabricante Observamos que a utilizaccedilatildeo do quantificador na ocorrecircncia (5)
serviu para intensificar o que foi descrito na sentenccedila Caso natildeo fosse utilizado poderia
deixar margem para outras interpretaccedilotildees como por exemplo que poderia existir algum tipo
de dano eventual que fosse de responsabilidade do fabricante O quantificador ―todos
elimina esse tipo de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos
polissecircmicos na ocorrecircncia (5)
(6) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA garante e consequentemente
compromete-se a reparar ou substituir pelo prazo abaixo indicado
contado a partir da data indicada no documento fiscal representativo
de venda do veiacuteculo Hyundai TODAS as peccedilas que em serviccedilo
normal apresentem defeito de fabricaccedilatildeo ou de material desde que
observadas as respectivas condiccedilotildees sob pena de ser
automaticamente considerado cancelado o presente Certificado de
Garantia independentemente de qualquer aviso ou notificaccedilatildeo
(Certificado 17)
No trecho acima podemos observar que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se daacute
de forma bastante controlada Mesmo o termo ―todas sendo naturalmente utilizado para
abranger ou restringir ao maacuteximo inferecircncias na ocorrecircncia acima vemos sua utilizaccedilatildeo
dependendo de vaacuterios aspectos para se concretizar A Hyundai se compromete em reparar ou
substituir ―todas as peccedilas dos veiacuteculos que estiverem dentro de todas as caracteriacutesticas
descritas antes do termo ser usado como estar dentro do prazo estabelecido pelo fabricante
apresentarem defeito de fabricaccedilatildeo ou material e aleacutem disso observando os procedimentos
detalhados pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o quantificador universal eacute
utilizado de forma controlada pelo fabricante restringindo ao seu sabor as possibilidades de
validade da garantia
(7) TODA revisatildeo deveraacute ser registrada no quadro de registro de revisotildees
para assegurar a garantia de seu veiacuteculo
(Certificado 17)
60
Na ocorrecircncia acima observamos que o fabricante utilizou o quantificador universal
para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente da seguinte forma o
cliente que possui um veiacuteculo na garantia poderia interpretar por exemplo caso natildeo houvesse
a utilizaccedilatildeo do quantificador ―toda na sentenccedila (7) fazer as revisotildees do veiacuteculo em qualquer
oficina e natildeo registrar as mudanccedilas feitas no carro em lugar algum natildeo perdendo a garantia
do veiacuteculo O quantificador universal ―toda direciona a interpretaccedilatildeo da inferecircncia para que
o cliente efetue qualquer revisatildeo do veiacuteculo numa concessionaacuteria do fabricante e aleacutem disso
ter as revisotildees registradas no quadro de registro de revisotildees do fabricante Na ocorrecircncia (7)
natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos
(8) TODOS aparelhos da ONEAL saem da faacutebrica preacute-ajustados em
220V
(Certificado 5)
Nesta ocorrecircncia (8) o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para
abranger a informaccedilatildeo de que qualquer produto produzido por ele eacute ajustado em 220V
resguardando-se de por exemplo um questionamento de algum cliente sobre o
funcionamento de qualquer produto em outra voltagem ou utilizaccedilatildeo do produto em outra
voltagem ocasionando defeito no produto Caso isso ocorra o fabricante natildeo poderaacute ser
responsabilizado pois a partir da ocorrecircncia (8) ele explica a voltagem a ser utilizada natildeo
garantindo o funcionamento do produto em outras voltagens Na ocorrecircncia (8) observamos
que se o fabricante natildeo tivesse utilizado o quantificador universal ―todo natildeo alteraria a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila Podemos entender que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal na
ocorrecircncia (8) serviu apenas para intensificar a informaccedilatildeo da sentenccedila
(9) TODOS nossos produtos satildeo testados durante horas nos mais severos
regimes antes de serem aprovados para o mercado
(Certificado 5)
No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para abranger a
interpretaccedilatildeo da inferecircncia Dessa forma o fabricante tenta nos levar a interpretar a
61
ocorrecircncia (9) da seguinte forma qualquer produto produzido por este fabricante eacute testado de
forma rigorosa antes de ser despachado para comercializaccedilatildeo Essa interpretaccedilatildeo eacute dificultada
pela presenccedila de termos vagos Ao utilizar a expressatildeo ―durante horas nos mais severos
regimes o fabricante natildeo teve o cuidado de atrelar essa informaccedilatildeo agrave classe de comparaccedilatildeo
na qual o cliente deve se basear para interpretar a sentenccedila da forma como o fabricante
deseja Ao afirmar que os produtos satildeo testados ―durante horas o fabricante natildeo especificou
por quantas horas os produtos satildeo testados e o que isso representa Por exemplo para
produtos X identificados como em bom funcionamento deve-se testaacute-los durante Y horas
segundo o manual Z que regulamenta a qualidade dos produtos X Aleacutem disso o fabricante
ainda afirma sobre os testes que satildeo ―nos mais severos regimes cometendo a mesma falha
da expressatildeo anterior natildeo descrevendo o que eacute isso e o que isso representa A expressatildeo eacute
vaga pois esses regimes de testes satildeo severos em relaccedilatildeo a quecirc Como natildeo haacute um grau de
comparaccedilatildeo de classe o cliente pode interpretar a ocorrecircncia de formas diversas Se o
fabricante tivesse especificado em algum lugar do texto que a expressatildeo ―nos mais severos
regimes deveria ser comparada por exemplo a um tipo de teste que coloca os produtos em
condiccedilotildees extremas para averiguar a sua qualidade durabilidade e bom funcionamento que eacute
norma padratildeo de qualidade para os produtos que ele estaacute justificando em (9) natildeo haveria
vagueza Do modo como a ocorrecircncia se apresenta as informaccedilotildees ―durante horas e ―nos
mais severos regimes satildeo vagas e dificultam a interpretaccedilatildeo da sentenccedila
(10) A ONEAL garante TODOS os seus produtos por um periacuteodo de 01
(um) ano jaacute incluiacutedo o periacuteodo de garantia legal (os primeiros 90 dias)
a partir da data da compra para problemas mecacircnicos ou por falhas
industriais em montagem e pintura
(Certificado 5)
Podemos observar na ocorrecircncia (10) que o fabricante assegura a garantia para todos
os seus produtos utilizando o quantificador universal com algumas restriccedilotildees Se natildeo
houvesse a utilizaccedilatildeo do quantificador nesta inferecircncia o cliente poderia considerar que a
garantia de seu produto por exemplo teria validade vitaliacutecia e que o produto estaria coberto
pela garantia mesmo se for danificado por negligecircncia do cliente O fabricante restringe o
periacuteodo de validade especificando que o periacuteodo de um ano jaacute inclui o periacuteodo da garantia
legal que eacute de 90 dias Ainda enfatiza que se deve contar o periacuteodo a partir da data da compra
e ainda explica que a garantia cobriraacute somente produtos que apresentarem problemas
62
mecacircnicos ou aqueles que apresentarem problemas industriais em montagem e pintura Dessa
forma problemas de outra natureza natildeo seratildeo cobertos pela garantia assim como produtos
com mais de um ano de adquiridos tambeacutem natildeo estaratildeo cobertos Poderiacuteamos identificar a
expressatildeo ―garantia legal como polissecircmica caso o fabricante natildeo tivesse apresentado o
conceito para a expressatildeo logo apoacutes entre parecircnteses Eacute sabido que no CDC a garantia legal eacute
caracterizada como o periacuteodo de 90 dias apoacutes a aquisiccedilatildeo de um produto Para evitar que
houvesse uma interpretaccedilatildeo indevida o fabricante conceituou a expressatildeo imediatamente
apoacutes o aparecimento dela na sentenccedila
(11) Em vista das mudanccedilas de leis que poderatildeo ocorrer TODO
certificado seraacute regido pelas normas do cartatildeo de garantia mais
recentemente atualizado pela faacutebrica
(Certificado 5)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todo para afirmar
que qualquer certificado de garantia de seus produtos deveraacute seguir as normas dispostas no
cartatildeo de garantia mais recentemente atualizado pela faacutebrica ou seja caso algum cliente tente
solicitar a garantia atraveacutes de um cartatildeo de garantia desatualizado ele natildeo estaraacute autorizado
Dessa forma o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo agraves possiacuteveis atualizaccedilotildees de leis ou
informaccedilotildees nos cartotildees de garantia dos diversos lotes de produtos impossibilitando o cliente
de reclamar sobre qualquer tipo de alteraccedilatildeo no documento em questatildeo A utilizaccedilatildeo do
quantificador universal em (11) eacute importante para dar ecircnfase agrave informaccedilatildeo central da sentenccedila
e tambeacutem para evitar que por exemplo o cliente interpretasse que algum certificado poderia
ser regido pelas normas de outro cartatildeo de garantia que natildeo fosse o mais recente Natildeo
identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos em (11)
(12) A garantia incide sobre TODOS os componentes montados
originalmente em Veiacuteculo conforme descrito na Nota Fiscal de
venda quer fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER ou
por esta adquiridos de terceiros
(Certificado 16)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para
restringir a interpretaccedilatildeo da sentenccedila quando afirma que a garantia cobre qualquer
63
componente montado originalmente em veiacuteculo ou seja a garantia natildeo cobre componentes
avulsos Aleacutem disso os componentes montados devem estar descritos na Nota Fiscal de
venda sendo assim se natildeo estiverem lanccedilados invalidam a garantia e por fim os veiacuteculos
devem tem sido fabricados por alguma empresa do grupo DAIMLER ou fabricado por outra
empresa mas tendo sido adquirido pelo fabricante que estaacute oferecendo a garantia Dessa
forma podemos ver que o quantificador universal foi utilizado pelo fabricante de forma
restrita limitando a abrangecircncia de acordo com seus interesses Caso o quantificador
universal natildeo tivesse sido utilizado na sentenccedila haveria a possibilidade do cliente interpretar
(12) de vaacuterias maneiras Por exemplo admitir que a garantia pode ser vaacutelida para produtos
que foram fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER mas natildeo foram lanccedilados na
Nota Fiscal de venda Em vista disso a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela
necessidade do fabricante restringir a interpretaccedilatildeo do texto da garantia buscando direcionar
melhor a informaccedilatildeo que ele estaacute vinculando em seu texto Natildeo identificamos nem termos
vagos nem termos polissecircmicos em (12)
(13) Executar TODAS as revisotildees estabelecidas pela Mercedes-Benz do
Brasil Ltda
(Certificado 16)
(14) Executar TODAS as manutenccedilotildees reparaccedilotildees e regulagens em um
dos Concessionaacuterios ou Postos de Serviccedilos Autorizados Mercedes-
Benz no territoacuterio brasileiro
(Certificado 16)
Nas duas ocorrecircncias acima podemos observar que o fabricante utiliza o quantificador
universal ―todas para definir que a garantia do produto soacute seraacute vaacutelida caso o cliente realize
as funccedilotildees descritas Caso o cliente natildeo realize pelo menos uma delas a garantia seraacute
invalidada Se o cliente natildeo realizar pelo menos uma revisatildeo sugerida pela fabricante perderaacute
a validade Aleacutem disso se o cliente realizar algum tipo de manutenccedilatildeo no veiacuteculo em alguma
concessionaacuteria que natildeo seja autorizada da Mercedes-Benz e no territoacuterio brasileiro tambeacutem
perderaacute a garantia O fabricante mesmo utilizando o quantificador universal nas duas
ocorrecircncias natildeo deixa de condicionar a validade da garantia de acordo com seus interesses O
cumprimento das recomendaccedilotildees dispostas apoacutes o quantificador natildeo garantem efetivamente
que a garantia do produto estaacute assegurada Ou seja mesmo que o cliente execute todas as
manutenccedilotildees reparos e regulagens em um dos concessionaacuterios do fabricante natildeo impede que
64
a garantia seja invalidade por outro motivo O quantificador universal foi utilizado pelo
fabricante em (13) e (14) sem limites e em seu benefiacutecio Natildeo identificamos nem termos
vagos nem termos polissecircmicos em (13) e (14)
(15) TODA solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica durante o periacuteodo da
garantia deveraacute ser feita obrigatoriamente agrave faacutebrica via e-mail ou
fax descrevendo detalhadamente os problemas apresentados natildeo
excedendo o prazo de 30 dias apoacutes detectaacute-lo indicando o modelo do
equipamento e o nuacutemero de seacuterie descrito na placa de identificaccedilatildeo do
mesmo e constante neste certificado
(Certificado 22)
Na ocorrecircncia (15) o fabricante utiliza o quantificador universal ―toda de forma
abrangente determinando que todas as solicitaccedilotildees de assistecircncia teacutecnica para qualquer
produto deveraacute seguir as instruccedilotildees definidas em seguida Caso o cliente tente solicitar a
assistecircncia natildeo seguindo algum dos passos e prazos determinados pelo fabricante a garantia
seraacute invalidada O quantificador universal foi utilizado para evitar interpretaccedilotildees relativas
sobre os procedimentos descritos no texto Por exemplo se (15) natildeo tivesse o quantificador
universal ―toda uma possiacutevel interpretaccedilatildeo seria que uma solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica
durante o periacuteodo da garantia poderia ser realiza na loja em que o produto foi comprado e natildeo
apenas na faacutebrica Dessa forma a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela
necessidade do fabricante restringir o percurso da solicitaccedilatildeo da garantia para o procedimento
que ele deseja que seja seguido pelo cliente Natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos
em (15)
32 USO DO CONDICIONAL
Vejamos a seguir as ocorrecircncias em que o condicional eacute utilizado Quando as
ocorrecircncias apresentarem o mesmo sentido de interpretaccedilatildeo agruparemos numa mesma
anaacutelise como podemos observar a seguir nas ocorrecircncias (16) (17) e (18)
(16) A garantia fica automaticamente invalidada SE
(Certificado 2)
65
(17) A garantia legal e contratual perderaacute seu efeito SE
(Certificado 3)
(18) Esta garantia perderaacute a validade SE
(Certificado 11)
Podemos observar nas ocorrecircncias (16) (17) e (18) que o condicional tem a funccedilatildeo de
limitar a aplicaccedilatildeo da garantia Os usos do ―se natildeo excluem a possibilidade de haver outros
casos em que a garantia natildeo se aplica ou seja as listas que satildeo apresentadas apoacutes o
condicional natildeo satildeo exaustivas Vale mencionar que da mesma forma que o ―todo o ―se
foi utilizado para beneficiar o fabricante como afirmamos acima O ―se assegura que a
validade do produto seraacute perdida nos casos que satildeo listados apoacutes o condicional sem eliminar
a possibilidade de haverem outros casos abrangendo sem limites os casos em que a garantia
natildeo cobriraacute o produto e restringindo a validade da garantia para o cliente Natildeo identificamos
termos vagos ou polissecircmicos nas ocorrecircncias (16) (17) (18) Na ocorrecircncia (17) o autor
usou os termos ―garantia legal e ―contratual que poderiam ser considerados termos
polissecircmicos que dificultariam a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia mas foram apresentados no
certificado os conceitos para os dois termos Para ―garantia legal o autor definiu como
sendo o prazo inicial da garantia com duraccedilatildeo de 90 dias ( contados imediatamente apoacutes a
emissatildeo da Nota Fiscal de compra) e previsto no CDC por sua vez para ―garantia
contratual se refere ao periacuteodo de dois anos incluindo o periacuteodo da garantia legal para todo
equipamento (neste caso condicionador de ar) e cinco anos para o compressor Com a
apresentaccedilatildeo destas definiccedilotildees o autor evitou que os termos se apresentassem no texto como
polissecircmicos
(19) A garantia do produto natildeo se aplica
(Certificado 8)
Trouxemos para a anaacutelise a ocorrecircncia acima pois a expressatildeo ―natildeo se aplica desta
sentenccedila funciona como um condicional mesmo sem ter a forma das ocorrecircncias que
analisamos anteriormente O fabricante utiliza esse condicional precedendo uma lista de
possiacuteveis situaccedilotildees em que a garantia poderia ser reclamada pelo cliente dessa forma
impossibilitando o cliente de exigir qualquer direito sobre alguma das possiacuteveis situaccedilotildees
Natildeo identificamos termos polissecircmicos e vagos na ocorrecircncia (19)
66
(20) A garantia do produto extingue-se
(Certificado 8)
Assim como na ocorrecircncia anterior tambeacutem natildeo encontramos o condicional ―se de
forma expliacutecita mas o termo ―extingue-se se comporta como tal A sentenccedila acima foi
utilizada pelo fabricante antecedendo uma lista de possibilidades de situaccedilotildees em que o
cliente poderia reclamar a garantia do produto excluindo entatildeo qualquer direito do cliente
em relaccedilatildeo ao que foi listado abaixo da sentenccedila em questatildeo Natildeo identificamos termos vagos
e polissecircmicos na ocorrecircncia (20)
(21) O cliente perderaacute a garantia do seu veiacuteculo SE
(Certificado 17)
Na ocorrecircncia (21) o fabricante utiliza o condicional antecedendo uma lista de
situaccedilotildees que se concretizadas invalidaratildeo a garantia Dessa forma se o veiacuteculo do cliente
que deseja ser atendido pela garantia se enquadrar em algum dos itens dispostos apoacutes essa
sentenccedila a garantia natildeo seraacute concedida Assim como nas ocorrecircncias com o uso do
condicional apresentadas anteriormente o uso do ―se aparece sem limites Como afirmamos
na anaacutelise das ocorrecircncias (16) (17) e (18) o autor utiliza o condicional para em seguida
apresentar uma lista de situaccedilotildees em que se concretizadas o cliente perderaacute a garantia Mas
mesmo com a apresentaccedilatildeo dessa lista o cliente poderaacute perder a garantia caso ocorra outro
tipo de situaccedilatildeo natildeo listada Dessa forma o fabricante se favorece abrangendo ao maacuteximo as
possibilidades de perda da garantia e ―prejudica o cliente oferecendo-lhe restritas
possibilidades de validade da garantia do produto a que se refere o texto Natildeo identificamos
nem termos polissecircmicos nem vagos na ocorrecircncia (21) Apenas vale ressaltar que diferente
das ocorrecircncias apresentadas anteriormente o autor em vez de escrever ―a garantia do
produto ele utilizou ―a garantia do seu veiacuteculo que especifica ao que se refere o texto
diminuindo a possibilidade de o cliente interpretar a ocorrecircncia de uma forma diferente da
que o autor se propotildee a transmitir
(22) A garantia vigoraraacute SOMENTE SE o Veiacuteculo atender
cumulativamente as seguintes condiccedilotildees
67
(Certificado 16)
Eacute interessante observar a forma como o fabricante utiliza o condicional na ocorrecircncia
(22) que precede uma lista de condiccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso o fabricante
natildeo utilizasse esse condicional ―somente se na sentenccedila acima o cliente poderia interpretar
que se o seu produto atendesse pelo menos a uma das condiccedilotildees estaria coberto pela
garantia Mas o fabricante aleacutem de utilizar o condicional ―somente se tambeacutem utilizou o
termo ―cumulativamente explicitando que o produto deve obedecer a todas as condiccedilotildees
dispostas pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o autor utilizou o condicional
para restringir as possibilidades de validade da garantia com restriccedilotildees o que natildeo ocorre
quando o fabricante trata sobre as possibilidades de invalidade da garantia como na
ocorrecircncia (21) Comparando as ocorrecircncias (21) e (22) vemos claramente que o autor em
(21) utilizou o condicional para lhe favorecer sem limites quando tratou sobre as condiccedilotildees
pelas quais o cliente pode perder a garantia abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura natildeo
apenas para as situaccedilotildees que estatildeo listadas mas tambeacutem para qualquer outra possiacutevel Jaacute em
(22) o autor (mesmo essa comparaccedilatildeo sendo feita entre ocorrecircncias de certificados
diferentes) utiliza o condicional para restringir as possibilidades de validade da garantia para
as situaccedilotildees listadas apoacutes a apresentaccedilatildeo do condicional e aleacutem disso afirmou que todas as
situaccedilotildees listadas devem ser atendidas para que a garantia seja vaacutelida para o produto Dessa
forma ainda sobre a ocorrecircncia (22) caso uma das situaccedilotildees listadas natildeo seja atendida a
garantia automaticamente seraacute perdida Com isso podemos afirmar que tanto em (21) quanto
em (22) os autores utilizaram o condicional para se beneficiar Em (21) abrangendo as
possibilidades de invalidade da garantia e em (22) restringindo ao maacuteximo as possibilidades
de validade da garantia do produto Natildeo identificamos nem termos vagos nem polissecircmicos
na ocorrecircncia (22)
(23) A garantia Philips natildeo eacute aplicaacutevel SE
(Certificado 14)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o condicional ―se antecedendo uma lista de
informaccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso algum produto Philips se encaixar em
alguma das situaccedilotildees descritas apoacutes o condicional mesmo estando dentro do prazo de
garantia o cliente perderaacute a cobertura Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem
68
vagos na ocorrecircncia (23)
(24) Esta garantia natildeo se aplica
(Certificado 21)
Assim como nas ocorrecircncias (18) e (19) a ocorrecircncia acima natildeo possui o condicional
expliacutecito mas o termo ―natildeo se aplica se comporta como tal O fabricante utiliza o
condicional precedendo uma lista de condiccedilotildees de natildeo aplicaccedilatildeo da garantia Dessa forma
caso o produto se encaixe em alguma das condiccedilotildees a garantia seraacute invalidada
automaticamente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem vagos na sentenccedila (24)
33 USO DO APENASSOMENTE
Vejamos a seguir ocorrecircncias em que identificamos o uso do ―apenas ou ―somente
(25) Esta garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver
devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original
da Nota Fiscal de Compra
(Certificado 4)
Na ocorrecircncia (25) o fabricante utiliza o ―somente para restringir a validade da
garantia indicando que o cliente teraacute direito agrave garantia caso preencha de forma correta o
certificado e apresente a nota fiscal de compra Caso as instruccedilotildees natildeo sejam seguidas pelo
cliente a garantia natildeo seraacute vaacutelida Podemos identificar que o termo ―rasuras presente em
(25) pode ser considerado como vago e polissecircmico neste caso dificultando a interpretaccedilatildeo
do texto Uma rasura pode ser por exemplo desde um rabisco fora de lugar no formulaacuterio
ateacute o dano no documento por aacutegua amasso do papel em excesso etc O autor poderia evitar a
vagueza e a polissemia definindo o termo da forma como ele deseja que o leitor interprete
este termo e comparando-o a uma classe especiacutefica (por exemplo o que eacute considerado rasura
69
nos documentos instrucionais)
(26) Danos decorrentes de desgaste natural inclusive e natildeo SOMENTE
nas partes plaacutesticas que compotildeem o gabinete do produto
(Certificado 4)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o ―somente numa sentenccedila que trata sobre
uma das situaccedilotildees em que a garantia natildeo seraacute vaacutelida O fabricante deixa claro que qualquer
defeito no produto causado por desgaste natural natildeo seraacute coberto pela garantia Se o
fabricante natildeo utilizasse o ―somente nesta sentenccedila o cliente poderia interpretar por
exemplo que danos decorrentes de desgaste natural nas partes que natildeo satildeo de plaacutestico seriam
cobertas pela garantia O autor utiliza o ―somente para se resguardar sobre outras possiacuteveis
interpretaccedilotildees do trecho abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura da garantia para
qualquer peccedila do produto que for afetado por danos decorrentes de desgaste natural Na
ocorrecircncia (26) a expressatildeo ―desgaste natural eacute polissecircmica O autor em nenhuma parte do
certificado de garantia definiu a expressatildeo em questatildeo para que o cliente compreenda da
forma desejada pelo fabricante Dessa forma podemos interpretar ―desgaste natural de
muitas formas Podemos por exemplo interpretar como o desgaste do produto como um todo
ou suas peccedilas referentes ao uso em excesso ao longo do tempo e diretamente vinculado agrave
vida uacutetil tanto do produto em geral quanto de peccedilas especiacuteficas Mas tambeacutem podemos
interpretar como sendo um desgaste proveniente do contato do produto com a natureza como
a exposiccedilatildeo agrave chuva maresia sol em excesso Pode parecer um exagero esta uacuteltima
interpretaccedilatildeo mas ela eacute possiacutevel a partir da forma como (26) se apresenta O autor utilizou no
texto a expressatildeo sem dar-lhe a definiccedilatildeo que ele pensou para a utilizaccedilatildeo dela na ocorrecircncia
dificultando a interpretaccedilatildeo do texto
(27) Este termo de garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos
comercializados e utilizados em territoacuterio brasileiro
(Certificado 4)
(28) Este Certificado de Garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos
vendidos e utilizados no territoacuterio brasileiro
(Certificado 10)
(29) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro
70
(Certificado 2)
(30) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro
(Certificado 13)
(31) Esta garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o territoacuterio brasileiro
(Certificado 12)
Nas ocorrecircncias (27) (28) (29) e (30) observamos que os fabricantes utilizam o termo
―apenas para restringir a cobertura da garantia tanto em relaccedilatildeo ao local da compra quanto
em relaccedilatildeo ao local de uso do produto assim como o autor da ocorrecircncia (31) utiliza o termo
―somente com o mesmo sentido Caso o produto tenha sido comprado em outro paiacutes natildeo
haveraacute cobertura da garantia assim como mesmo que o produto tenha sido comprado no
Brasil mas tenha sido utilizado em outro paiacutes culminando em um defeito tambeacutem natildeo haveraacute
cobertura da garantia Mas para a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que aparece em (27) (28)
(29) (30) e (31) podemos tambeacutem interpretar como natildeo apenas a extensatildeo territorial do paiacutes
mas tambeacutem admitir territoacuterios brasileiros em outros paiacuteses a saber os consulados
honoraacuterios do Brasil nas diversas naccedilotildees ao redor do mundo Nesse caso por exemplo se o
produto for adquirido dentro dos limites geograacuteficos do Brasil e for utilizado em algum
consulado do Brasil em outro paiacutes a garantia deve ser vaacutelida Eacute possiacutevel que o fabricante natildeo
tenha pensado nessa possibilidade poreacutem da forma que estas ocorrecircncias se apresentam haacute
essa possibilidade de interpretaccedilatildeo Ao apresentar essa possiacutevel interpretaccedilatildeo para a
expressatildeo ―territoacuterio brasileiro noacutes quisemos mostrar que o fabricante deveria ter
especificado em alguma parte do certificado de garantia o conceito que ele deseja que o
cliente admita para esta expressatildeo para natildeo deixar que a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro seja
interpretada de outras formas ou seja para evitar a polissemia que dificulta a leitura do
texto Outra questatildeo que tambeacutem podemos considerar eacute que nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)
a afirmaccedilatildeo sobre a validade da garantia eacute apresentada de forma menos detalhada Os autores
apresentam a afirmaccedilatildeo de que a garantia eacute vaacutelida para o territoacuterio brasileiro sem informar se
eacute em relaccedilatildeo ao produto ser adquirido e utilizado no paiacutes Brasil ou se o produto pode ser
utilizado fora do Brasil mas para requerer a garantia do produto o consumidor caso resida no
exterior deva se dirigir ao Brasil para fazer jus a sua garantia Diferente das ocorrecircncias (27)
e (28) em que os autores enfatizam que a garantia dos produtos eacute vaacutelida unicamente para
produtos comercializados e utilizados dentro do Brasil restringindo a garantia mais do que
nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)
71
(32) A garantia SOMENTE eacute vaacutelida mediante a apresentaccedilatildeo de nota
fiscal de compra deste produto
(Certificado 3)
Podemos observar na ocorrecircncia (29) que o fabricante utiliza o termo ―somente para
restringir a validade da garantia Fica claro que caso o produto apresente algum defeito e o
cliente procure a assistecircncia teacutecnica sem estar de posse da nota fiscal natildeo haveraacute cobertura da
garantia Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em (29) o cliente poderia interpretar
por exemplo que a garantia do produto eacute vaacutelida com ou sem a apresentaccedilatildeo da nota fiscal de
compra do produto Neste caso a funccedilatildeo do ―somente eacute de restringir a interpretaccedilatildeo de
acordo com o que o fabricante deseja Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem
vagos em (29)
(33) A garantia oferecida por esse Certificado eacute de 36 (trinta e seis) meses
e SOMENTE teraacute validade se o presente documento for devidamente
preenchido no ato da venda do produto conforme acima e se a
instalaccedilatildeo for feita por uma pessoa ou empresa credenciada pela
Robert Bosch Ltda
(Certificado 8)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade
da garantia Caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees de forma cumulativa que seguem a
utilizaccedilatildeo do termo a garantia seraacute invalidada Por exemplo se o cliente preencher no ato da
venda do produto o certificado mas se a instalaccedilatildeo do produto natildeo tiver sido feita por algueacutem
credenciado pela Robert Bosch Ltda a garantia natildeo teraacute validade A importacircncia do uso do
―somente em (33) se daacute pelo fato de que caso o autor natildeo tivesse utilizado este termo
haveria a possibilidade do cliente interpretar por exemplo que a garantia teria validade caso
a instalaccedilatildeo do produto tenha sido feita por uma pessoa ou empresa natildeo credenciada pela
fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (33)
(34) Os consertos em Garantia do Produto SOMENTE seratildeo efetuados
72
por um Serviccedilo Autorizado devidamente nomeado pela Robert Bosch
Ltda em territoacuterio brasileiro
(Certificado 8)
Podemos observar que o fabricante utiliza o termo ―somente em (34) para restringir a
validade da garantia O fabricante define tanto quem efetuaraacute o conserto dos produtos quanto
os limites territoriais de cobertura Dessa forma fica expliacutecito para o cliente que o conserto
natildeo poderaacute ser efetuado por pessoas natildeo autorizadas pela Robert Bosch Ltda e tal conserto
natildeo pode ser realizado em outros paiacuteses Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em
(34) abriria a possibilidade de interpretar a sentenccedila de outras formas como por exemplo
que os consertos em garantia do produto poderiam ser realizados em territoacuterios de outros
paiacuteses ou que os consertos poderiam ser realizados por serviccedilos natildeo autorizados pelo
fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (34)
(35) O exame e reparo do produto soacute poderatildeo ser efetuados pelo
fabricante
(Certificado 7)
Na ocorrecircncia (36) o fabricante utiliza no lugar do termo ―somente o termo ―soacute
para restringir a interpretaccedilatildeo Nesse caso se o cliente procurar reparar eou examinar o
produto sozinho ou em assistecircncias teacutecnicas que natildeo sejam autorizadas pelo fabricante a
garantia seraacute invalidada A utilizaccedilatildeo do termo ―soacute tem grande importacircncia para o
direcionamento da interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia (35) pois caso natildeo tivesse sido utilizado pelo
autor a ocorrecircncia traria apenas uma informaccedilatildeo vaga dificultando a interpretaccedilatildeo do texto
Sem o ―soacute a partir de (35) poderiacuteamos interpretar que o exame e reparo do produto podem
ser efetuados pelo fabricante mas tambeacutem por qualquer outra pessoa ou empresa Utilizando
o ―soacute o autor restringe a inferecircncia evitando muacuteltiplas interpretaccedilotildees para a sentenccedila
(36) O presente ―Termo de Garantia Hyundai aplica-se uacutenica e
exclusivamente ao veiacuteculo da marca e fabricaccedilatildeo Hyundai
devidamente identificado no iniacutecio deste documento e que tenha sido
comercializado por um Revendedor Autorizado da CAOA Montadora
de Veiacuteculos SA
(Certificado 17)
73
Em (36) o fabricante natildeo utiliza os termos ―apenas ou ―somente mas
consideraremos em nossa anaacutelise a expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como um restritor de
mesmo sentido Observamos que o fabricante utiliza a expressatildeo para restringir a cobertura
da garantia Caso o cliente esteja por exemplo solicitando a garantia de um veiacuteculo Hyundai
que natildeo seja o mesmo que estaacute descrito no iniacutecio do documento de garantia e que natildeo tenha
sido comercializado por uma autorizada da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA a garantia
natildeo teraacute validade Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado a expressatildeo ―uacutenica e
exclusivamente em (36) haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia de outras
maneiras
(37) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA eou o Revendedor Autorizado
da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA APENAS substituiraacute as peccedilas
que forem por elas e a seu exclusivo criteacuterio julgadas como
defeituosas
(Certificado 17)
Na ocorrecircncia (37) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a interpretaccedilatildeo
da sentenccedila Dessa forma o fabricante fica resguardado tanto em relaccedilatildeo a substituiccedilatildeo de
peccedilas quanto em relaccedilatildeo ao meacutetodo utilizado para jugar se a peccedila estaacute defeituosa ou natildeo A
importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―apenas em (37) tambeacutem se daacute pelo fato de natildeo permitir outras
interpretaccedilotildees diferentes da definida pelo fabricante Caso o ―apenas natildeo tivesse sido
utilizado poderiacuteamos interpretar por exemplo que o fabricante poderia substituir peccedilas
julgadas por ela como defeituosas utilizando seus proacuteprios criteacuterios mas tambeacutem substituiria
em outros casos O ―apenas serviu para especificar e restringir a interpretaccedilatildeo dos criteacuterios
definidos pelo fabricante em relaccedilatildeo agrave substituiccedilatildeo de peccedilas do produto Natildeo identificamos
nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (37)
(38) Permita que SOMENTE teacutecnicos autorizados pela faacutebrica prestem
assistecircncia a seu aparelho pois se for aberto por teacutecnicos ou pessoas
natildeo autorizadas automaticamente vocecirc estaraacute perdendo sua garantia
(Certificado 5)
Na ocorrecircncia (38) o fabricante deixa expliacutecito ao utilizar o termo ―somente que
caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees dispostas nesta sentenccedila a garantia do produto seraacute
74
invalidada Dessa forma o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a informaccedilatildeo
veiculada pelo fabricante da mesma forma como vimos na ocorrecircncia (37) Natildeo
identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (38)
(39) A presente garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o Veiacuteculo
comercializado em territoacuterio brasileiro
(Certificado 16)
Na ocorrecircncia (39) um pouco parecida com as ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e
(31) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia do produto Nesse caso
se o veiacuteculo tiver sido adquirido em outro paiacutes sua garantia natildeo seraacute vaacutelida no Brasil Um
pouco diferente das ocorrecircncias (27) e (28) que especificam ao maacuteximo a possibilidade de
cobertura da garantia a ocorrecircncia (39) veicula que a garantia eacute vaacutelida para o produto
comercializado em territoacuterio brasileiro natildeo tratando sobre a possibilidade da perda da
garantia caso o veiacuteculo seja utilizado em outros paiacuteses Neste caso o cliente natildeo tem direito
a garantia do veiacuteculo caso ele seja adquirido em outros paiacuteses Sobre a expressatildeo ―territoacuterio
brasileiro assim como nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31) o autor natildeo definiu um
sentido para a expressatildeo que pode ser interpretada de outras maneiras como exemplificamos
nas anaacutelises anteriores
(40) Utilizar SOMENTE peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios genuiacutenos
Mercedes-Benz e comprovar sua aquisiccedilatildeo mediante e apresentaccedilatildeo
da Nota Fiscal quando adquiridos pelo consumidor final
(Certificado 16)
Na ocorrecircncia (40) que faz parte de uma lista de recomendaccedilotildees para o cliente natildeo
perder a garantia o fabricante utiliza o termo ―somente para delimitar a interpretaccedilatildeo da
sentenccedila Na passagem se o cliente natildeo seguir as instruccedilotildees descritas consequentemente
perderaacute a garantia do produto A importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente na ocorrecircncia (40) eacute
a de dificultar que o cliente interpreta a sentenccedila de outra maneira Sem o ―somente na
sentenccedila o cliente poderia interpretar que ele pode utilizar peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios
originais do fabricante mas tambeacutem estaacute autorizado a utilizar peccedilas de outros fabricantes
Com a presenccedila do ―somente na sentenccedila o cliente eacute levado a interpretar a sentenccedila da
75
forma direcionada pelo fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (40)
(41) A comprovaccedilatildeo de defeito de fabricaccedilatildeo do produto que provocaraacute a
execuccedilatildeo da troca do mesmo deveraacute ser feita exclusivamente por
funcionaacuterio credenciado da Ortobom
(Certificado 15)
Na ocorrecircncia (41) o fabricante natildeo utiliza explicitamente os termos ―apenas ou
―somente mas consideraremos em nossa anaacutelise que o termo ―exclusivamente possui a
mesma funccedilatildeo de restringir interpretaccedilotildees O fabricante utiliza o termo para restringir a
garantia do produto em questatildeo Natildeo haacute a possibilidade de o cliente comprovar um defeito de
fabricaccedilatildeo em seu produto atraveacutes de outro profissional que natildeo seja um funcionaacuterio
credenciado da Ortobom Haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia (41) caso o
fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―exclusivamente Sem tal uso o cliente poderia
interpretar que poderia comprovar algum defeito no produto para possiacutevel troca por
intermeacutedio de qualquer profissional natildeo obrigatoriamente por um funcionaacuterio do fabricante
Ortobom O termo ―exclusivamente especifica e destaca a informaccedilatildeo que o fabricante
veicula em (41) Natildeo identificamos em (41) nem termos polissecircmicos nem termos vagos
(42) A garantia cobre exclusivamente defeitos de materiais eou
fabricaccedilatildeo sendo que as despesas de deslocamento alimentaccedilatildeo e
hospedagem do teacutecnico para atendimento em garantia ou natildeo
referente agrave entrega montagem instruccedilatildeo de uso e reparo do
equipamento assim como o frete de retirada para conserto e retorno
do mesmo e de envio de peccedilas e retorno das substituiacutedas em garantia
ocorreratildeo por conta do cliente
(Certificado 22)
Assim como em (41) o fabricante utiliza o termo ―exclusivamente para restringir a
garantia do produto O fabricante ao utilizar esse termo se resguarda de possiacuteveis cobranccedilas
por parte do cliente ao solicitar a garantia como por exemplo ajuda de custo para custear a
iacuteda do teacutecnico para manutenccedilatildeo do produto envio de peccedilas para faacutebrica etc Fica expliacutecito
que em todas essas situaccedilotildees o cliente eacute responsaacutevel Caso o termo ―exclusivamente natildeo
76
tivesse sido utilizado o cliente poderia interpretar a ocorrecircncia de diferentes modos Uma
possibilidade de interpretaccedilatildeo seria a de entender que a garantia cobre outros tipos de
defeitos que natildeo fossem de peccedilas ou de fabricaccedilatildeo Com a utilizaccedilatildeo do termo
―exclusivamente o fabricante diminui as possibilidades de interpretaccedilatildeo tornando o texto
mais claro para o cliente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na
ocorrecircncia (42)
(43) A garantia natildeo cobre peccedilas ou componentes de desgaste normal de
uso dentre as quais selim pedais firma-peacutes natildeo se limitando
SOMENTE a estes mas incluindo rodas de transporte carenagens
adesivos elementos de acabamento de plaacutestico borracha e alumiacutenio
danos na pintura e quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa
exclusiva distribuiccedilatildeo devendo as reclamaccedilotildees ser encaminhadas aos
seus respectivos representantes ou fabricantes
(Certificado 22)
Em (43) o fabricante aleacutem de utilizar o termo ―somente para abranger a
interpretaccedilatildeo sobre as peccedilas que natildeo seratildeo cobertas pela garantia do produto utiliza outros
termos que alargam ainda mais sem restriccedilotildees a natildeo cobertura da garantia como ―quaisquer
acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo O fabricante se resguarda
especificando quais peccedilas que ele considera como de ―desgaste normal para evitar
problemas de interpretaccedilatildeo por parte do cliente O uso do ―somente na ocorrecircncia (43) se
apresenta de forma contraacuteria agraves outras ocorrecircncias que apresentamos anteriormente Enquanto
em ocorrecircncias como a (40) que o ―somente foi utilizado para restringir a interpretaccedilatildeo da
sentenccedila para as informaccedilotildees descritas depois do termo em (43) o fabricante utiliza o
―somente precedido da negaccedilatildeo ―natildeo se limitando direcionando o termo para o sentido de
abrangecircncia Ou seja a garantia que o fabricante oferece natildeo cobre peccedilas ou componentes de
desgaste natural como selim e pedais Para natildeo correr o risco de esquecer de citar algum dos
componentes de desgaste natural do produto e deixar brechas na interpretaccedilatildeo da garantia o
fabricante utiliza a expressatildeo ―natildeo se limitando seguida do ―somente para abranger ao
maacuteximo as possibilidades de interpretaccedilatildeo sobre os itens de desgaste natural que natildeo satildeo
cobertos pela garantia Depois do uso do ―somente e de apresentar mais uma lista de itens
que natildeo satildeo cobertos pela garantia o fabricante ainda abrange mais a interpretaccedilatildeo
utilizando a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo
Dessa forma pudemos perceber que o fabricante utilizou natildeo apenas o termo de restriccedilatildeo
77
―somente para limitar as possibilidades de interpretaccedilatildeo da sentenccedila mas tambeacutem utilizou
listas especificando itens e a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa
exclusiva distribuiccedilatildeo Todas essas estrateacutegias foram utilizadas com o objetivo de tornar a
interpretaccedilatildeo do texto clara sem oferecer a possibilidade de o cliente obter muacuteltiplas
interpretaccedilotildees do texto Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na
ocorrecircncia (43)
(44) A matildeo-de-obra em garantia limita-se SOMENTE ao horaacuterio normal
de expediente sendo de segunda a sexta-feira das 730 agraves 1800 horas
devendo o equipamento estar disponiacutevel para a assistecircncia teacutecnica
(Certificado 22)
Em (44) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o horaacuterio disponiacutevel
para reparos em produtos na garantia e aleacutem disso enfatizando que o produto deve estar
disponiacutevel para a assistecircncia Dessa forma o cliente fica impossibilitado de reclamar
assistecircncia fora do horaacuterio que estaacute descrito na sentenccedila assim como fica consciente de que
seu produto ficaraacute a disposiccedilatildeo da assistecircncia para conserto ou seja natildeo seraacute reparado
imediatamente A importacircncia do uso do ―somente na ocorrecircncia (44) se daacute pelo fato de que
caso natildeo fosse utilizado o cliente poderia interpretar por exemplo que a matildeo-de-obra em
garantia estaria disponiacutevel vinte e quatro horas por dia e sete dias por semana Como o
―somente foi utilizando precedendo as informaccedilotildees sobre dia e horaacuterio de atendimento natildeo
eacute possiacutevel interpretar a informaccedilatildeo de outra maneira que natildeo seja a descrita Haveria a
possibilidade de definir a expressatildeo ―horaacuterio normal de expediente como uma expressatildeo
polissecircmica caso ela natildeo estivesse acompanhada de uma definiccedilatildeo (―de segunda a sexta-feira
das 730 agraves 1800 horas) pois o horaacuterio de expediente pode variar de acordo com o trabalho
que vocecirc tem por exemplo Se vocecirc trabalha em um banco financeiro o seu horaacuterio de
expediente seraacute possivelmente diferente do horaacuterio de um feirante Para evitar a polissemia
o fabricante utilizou a expressatildeo e em seguida apresentou a definiccedilatildeo da expressatildeo de
acordo com o seu interesse
(45) A presente garantia limita-se SOMENTE ao produto fornecido natildeo
responsabilizando a TOTAL HEALTH por danos causados a pessoas
a terceiros a outros equipamentos ou instalaccedilotildees lucros cessantes ou
quaisquer outros danos emergentes ou consequumlentes
(Certificado 22)
78
Na ocorrecircncia (45) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da
garantia Nesse caso a garantia se limita unicamente ao produto descrito Se por exemplo o
produto em questatildeo apresentar defeito e tal defeito ocasionar dano fiacutesico ao dono do produto
ou a terceiros a garantia natildeo cobriraacute tais problemas Assim como nas ocorrecircncias anteriores
o uso do ―somente em (45) teve a funccedilatildeo de direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para uma
uacutenica possibilidade de interpretaccedilatildeo Caso o ―somente natildeo tivesse sido utilizado poderiacuteamos
interpretar (45) de outras maneiras Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (45)
(46) SOMENTE os profissionais indicados pela loja revendedora dos
produtos Bartzen estatildeo autorizados a prestar atendimento dentro do
prazo de garantia
(Certificado 18)
Na ocorrecircncia (46) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila Nesse caso o cliente soacute poderaacute usufruir de assistecircncia teacutecnica em
seu produto atraveacutes de profissionais indicados pela loja na qual ele adquiriu seu produto
Bartzen e dentro do prazo da garantia Caso o cliente realize algum serviccedilo em seu produto
com profissionais natildeo autorizados pela fabricante sua garantia seraacute invalidada A importacircncia
da utilizaccedilatildeo do termo ―somente na ocorrecircncia (46) eacute a de diminuir as possibilidades de
interpretaccedilatildeo da sentenccedila ao maacuteximo Dessa forma natildeo haacute como o cliente interpretar que por
exemplo ele pode realizar a manutenccedilatildeo ou reparo do seu produto com qualquer outro
funcionaacuterio que natildeo seja autorizado pela fabricante do produto Natildeo identificamos nem
termos polissecircmicos nem termos vagos em (46)
(47) A garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o consumidor que consta
identificado na nota fiscal de compra do produto (primeiro usuaacuterio) a
qual deveraacute ser apresentada junto com este Certificado de Garantia
devidamente preenchido com os dados do consumidor e do produto
para fins de cobertura para reparo ou substituiccedilatildeo do produto se
necessaacuterio
(Certificado 19)
79
Em (47) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia Nesse caso
o cliente fica ciente de que a garantia soacute seraacute vaacutelida para o primeiro proprietaacuterio do produto
assim como soacute seraacute aceito o pedido de garantia caso o cliente apresentar a nota fiscal
contendo tanto os dados do produto quanto os seus Todas as possibilidades fora das
descritas seratildeo desconsideradas e consequentemente a garantia seraacute invalidada A
importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente em (47) se daacute pelo fato de que haacute diversas
informaccedilotildees a serem consideradas pelo cliente na ocorrecircncia (47) e caso o autor do texto natildeo
tivesse utilizado o termo ―somente antes dessas informaccedilotildees o cliente poderia interpretar
que sua garantia poderia ser vaacutelida ao cumprir algumas das informaccedilotildees descritas na sentenccedila
e natildeo obrigatoriamente todas Por exemplo se natildeo houvesse o uso do ―somente em (47) o
cliente poderia interpretar que a garantia eacute vaacutelida para o consumidor que tem o nome
constando na nota fiscal mas tambeacutem para qualquer outro consumidor que esteja de posse da
nota fiscal mesmo que natildeo seja a pessoa que tem o nome na nota fiscal O ―somente possui
o papel de restringir a interpretaccedilatildeo de toda ocorrecircncia ao maacuteximo direcionando a leitura do
texto para evitar muacuteltiplas interpretaccedilotildees Com esse uso natildeo eacute possiacutevel que cliente interprete
que ele pode ter acesso a garantia caso natildeo cumpra alguma das recomendaccedilotildees Natildeo
identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (47)
(48) O Certificado de Garantia eacute vaacutelido SOMENTE para os
condicionadores vendidos e instalados no territoacuterio brasileiro
(Certificado 19)
Em (48) semelhante agraves ocorrecircncias (31) e (39) o fabricante utiliza o termo ―somente
para restringir o territoacuterio de cobertura da garantia Neste caso condicionadores adquiridos e
utilizados em outros paiacuteses natildeo seratildeo cobertos pela garantia descrita acima Ainda retomando
a discussatildeo sobre a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro consideramos que pelo fato do autor do
texto natildeo ter apresentado um conceito para esta expressatildeo em nenhum local do certificado de
garantia da forma como se apresenta ela pode ser interpretada de outras maneiras assim
como discutimos nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)
(49) Para o uso de condicionadores de ar em ambientes com alta
concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre
seraacute vaacutelida SOMENTE a garantia legal de 90 (noventa) dias contados
80
da data de emissatildeo da nota fiscal de compra do produto
(Certificado 19)
Na ocorrecircncia (49) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da
garantia do produto que seja utilizado em ambientes especiacuteficos como ―ambientes com alta
concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre Dessa forma o
fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a qualquer solicitaccedilatildeo de garantia ―normal ou seja prazo
de validade de garantia para condicionadores de ar que satildeo utilizados em ambientes
considerados ―normais por parte de um cliente que utilize o produto em ambientes como os
descritos acima Dessa forma o uso do ―somente se justifica pelo fato de que o fabricante
busca direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha duacutevidas de que como
descrito em (49) os produtos utilizados em ambientes atiacutepicos soacute estaratildeo cobertos pela
garantia legal Assim como jaacute discutimos em outras ocorrecircncias anteriormente o fabricante
utiliza a expressatildeo ―garantia legal que eacute uma expressatildeo teacutecnica do CDC e para que ela natildeo
se tornasse polissecircmica logo apoacutes seu uso o autor apresentou o conceito para o termo que eacute
o de um periacuteodo de 90 dias corridos compreendidos imediatamente apoacutes a expediccedilatildeo da nota
fiscal de compra do produto
(50) A partir do 91ordm (nonageacutesimo primeiro) dia tais despesas satildeo de
responsabilidade uacutenica e exclusiva do consumidor
(Certificado 19)
Em (50) o fabricante natildeo utilizou os termo ―somente e ―apenas mas
consideraremos em nossa anaacutelise a utilizaccedilatildeo da expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como
umas expressotildees utilizadas para restringir interpretaccedilotildees como discutimos anteriormente em
outras anaacutelises Na sentenccedila acima o fabricante utilizou a expressatildeo de restriccedilatildeo para
enfatizar que passados os trecircs meses de garantia as despesas referentes a qualquer
manutenccedilatildeo e garantia do produto seratildeo de responsabilidade do cliente Como apresentamos
na ocorrecircncia (49) a garantia legal para um produto cobre os primeiros 90 dias apoacutes a
emissatildeo da nota fiscal de compra do produto Ao informar em (50) que a partir do primeiro
dia apoacutes o teacutermino da garantia legal despesas referentes ao traslado do produto para
manutenccedilatildeo seraacute de responsabilidade do cliente o autor utiliza a expressatildeo ―uacutenica e
exclusiva para se resguardar de qualquer possibilidade de participaccedilatildeo em possiacuteveis gastos
81
Caso o fabricante natildeo tivesse enfatizado essa informaccedilatildeo utilizando esta expressatildeo o cliente
poderia interpretar por exemplo que poderia haver algum caso em que o fabricante se
responsabilizaria por tais gastos Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (50)
(51) A reposiccedilatildeo de peccedilas defeituosas e execuccedilatildeo dos serviccedilos decorrentes
desta Garantia SOMENTE seratildeo procedidas nas localidades do
territoacuterio brasileiro onde a ENVISION mantiver ―Centro de Serviccedilo
Autorizado de titularidade dela proacutepria ou de terceiro por ela
expressamente indicado onde deveraacute ser entregue o produto para
reparo
(Certificado 20)
Na ocorrecircncia (51) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir os locais de
execuccedilatildeo de serviccedilos da garantia Neste caso o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a por
exemplo natildeo haver assistecircncias teacutecnicas em todas as cidades do paiacutes Aleacutem de enfatizar que o
produto deveraacute ser entregue na assistecircncia pelo cliente ou seja o fabricante natildeo se
responsabiliza quanto ao recolhimento do produto para reparo A utilizaccedilatildeo do ―somente se
justifica pelo fato de que o fabricante busca restringir ao maacuteximo as possibilidades de
interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o ―somente o cliente
poderia por exemplo interpretar que se a cidade em que o cliente tenha adquirido o produto
natildeo tenha uma assistecircncia teacutecnica a fabricante se responsabilizaria pelo recolhimento do
produto para manutenccedilatildeo numa cidade que possua a assistecircncia teacutecnica Com a utilizaccedilatildeo do
―somente precedendo as demais informaccedilotildees natildeo eacute possiacutevel interpretar a ocorrecircncia dessa
maneira Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termo vagos na ocorrecircncia (51)
(52) Esta Garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver
devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original
da Nota Fiscal de Compra
(Certificado 20)
Na ocorrecircncia (52) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a forma
como o cliente deve solicitar a garantia do produto Caso o cliente deixe de apresentar o
certificado preenchido corretamente eou a nota fiscal de compra a garantia seraacute invalidada
82
Assim como na ocorrecircncia (51) o autor fabricante utiliza o ―somente para restringir ao
maacuteximo a interpretaccedilatildeo do texto Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente
haveria a possibilidade de o cliente interpretar que a garantia do produto seria vaacutelida caso o
certificado estivesse preenchido sem rasuras acompanhado da nota fiscal de compra mas
tambeacutem de qualquer outra forma A ocorrecircncia ficaria sem limites para interpretaccedilatildeo caso o
fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente Poreacutem como o termo foi utilizado natildeo
haacute outra forma de o cliente interpretar a ocorrecircncia sobre a validade da garantia do produto
Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (52)
(53) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS se o produto for reparado pela rede
autorizada Rheem ou por autorizaccedilatildeo preacutevia formalizada pelo
Departamento de Assistecircncia Teacutecnica
(Certificado 20)
Na ocorrecircncia (53) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a validade da
garantia quanto ao local de assistecircncia Caso o produto seja reparado por profissional natildeo
autorizado pela fabricante Rheem a garantia do produto seraacute perdida A importacircncia o uso do
termo ―apenas na ocorrecircncia (53) se daacute pelo fato de que o autor busca restringir a
interpretaccedilatildeo do texto ao maacuteximo Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―apenas o
cliente poderia por exemplo interpretar que a garantia do produto eacute vaacutelida em qualquer
situaccedilatildeo e natildeo unicamente se seguir as recomendaccedilotildees descritas apoacutes o uso do termo
―apenas Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (53)
(54) Os produtos SOMENTE poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para
anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes sua autorizaccedilatildeo por escrito
(Certificado 21)
Na ocorrecircncia (54) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o modo
como deve submeter o produto agrave garantia Caso natildeo haja uma autorizaccedilatildeo por escrito para
enviar o produto para a faacutebrica o produto natildeo poderaacute seguir para anaacutelise A importacircncia da
utilizaccedilatildeo do termo ―somente se daacute pelo fato de que caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o
termo na ocorrecircncia (54) a interpretaccedilatildeo do texto ficaria sem limites ou seja os produtos
poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes a autorizaccedilatildeo por
83
escrito ou de qualquer outra forma Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (54)
34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS
Em nossa pesquisa analisamos cinquenta e quatro ocorrecircncias selecionadas a partir
dos vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Dividimos a anaacutelise por tipos de
ocorrecircncias com quantificador universal com condicional e com o apenassomente Para
apresentar um panorama sobre os tipos de ocorrecircncia e a quantidade das anaacutelises de cada tipo
vamos observar o quadro a seguir
Tipo de ocorrecircncia Nuacutemero de ocorrecircncias
Quantificador universal 15
Condicional 9
ApenasSomente 30
TOTAL 54
Quadro 2 ndash Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia Fonte elaborado pelo autor
Antes de discorrer nossos comentaacuterios sobre as anaacutelises de nosso trabalho temos que
tratar sobre a primeira importante impressatildeo que tivemos diante do corpus e das consequentes
anaacutelises dos quatro nexos semacircnticos que invocamos em nosso trabalho somente
identificamos ocorrecircncias com acarretamentos Tratamos com muita naturalidade este fato
porque por mais que em algumas leituras uma parte do conteuacutedo do segundo capiacutetulo possa
ser vista como desnecessaacuteria ndash pelo fato de tais conceitos natildeo estarem presentes nas anaacutelises
dessa pesquisa ndash encontramos aiacute uma caracteriacutestica do gecircnero textual certificado de garantia
que eacute a presenccedila de diversos acarretamentos mesmo que natildeo-expliacutecitos como demonstramos
em nosso trabalho (porque o gecircnero textual certificado de garantia natildeo possui uma linguagem
tatildeo controlada quanto a linguagem encontrada nos exemplos que criamos para ilustrar os
conceitos dos nexos) Dessa maneira fica claro que natildeo encontramos ocorrecircncias com
equivalecircncias semacircnticas contrariedades ou contraditoriedades o que nos permite definir
estas ausecircncias como uma caracteriacutestica intriacutenseca do gecircnero
84
Na primeira parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o quantificador
universal Identificamos quinze ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia
utilizaram esse recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (1) e (15)
percebemos que o uso do quantificador universal em algumas ocorrecircncias serviu apenas para
reforccedilar a informaccedilatildeo que o fabricante quis veicular ou seja se natildeo tivesse sido utilizado natildeo
modificaria o sentido do texto Pudemos identificar esse sentido por exemplo nas
ocorrecircncias (1) e (2)
Aleacutem desse sentido para o uso do quantificador universal encontramos ocorrecircncias
em que caso o quantificador natildeo tivesse sido utilizado haveria a possibilidade de
interpretarmos a ocorrecircncia de vaacuterias maneiras Nesses casos os autores utilizaram o
quantificador para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo direcionando a leitura do texto
para que o cliente possa interpretar o certificado da forma que o fabricante deseja Pudemos
identificar esse sentido por exemplo nas ocorrecircncias (3) (4) e (8)
Pudemos observar que os autores dos certificados de garantia utilizam tambeacutem o
quantificador universal em seus textos para se resguardarem em relaccedilatildeo a deveres que
poderiam ser reclamados pelo cliente caso natildeo houvesse o uso deste recurso Dessa forma
podemos entender que os autores dos certificados utilizaram o quantificador universal para se
favorecerem Pudemos observar essa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (5) (11) (13) e
(14) Em relaccedilatildeo a ocorrecircncias com o uso do quantificador universal em que o cliente eacute
beneficiado natildeo identificamos nenhum caso em nossa anaacutelise
Sobre o aparecimento de termos vagos ou termos polissecircmicos nas ocorrecircncias com a
presenccedila do quantificador universal pudemos observar que o maior motivo da sensibilidade
dos textos a esses tipos de efeitos linguiacutesticos eacute o fato de os autores dos textos em muitos
casos natildeo conceituarem os termos teacutecnicos que eles utilizam nos certificados de garantia Ao
utilizar um termo teacutecnico como por exemplo na ocorrecircncia (3) em que o autor do
certificado de garantia utiliza o termo ―viacutecio do produto ndash termo teacutecnico do CDC ndash natildeo
apresentando o conceito em seu texto dificulta a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Tendo contato
com o termo de forma solta sem estar delimitada pelo conceito que o autor deseja que o
cliente interprete a ocorrecircncia se torna vaga e polissecircmica
Ainda sobre os termos vagos ou termos polissecircmicos encontramos tambeacutem
ocorrecircncias em que os autores buscaram evitaacute-las justamente apresentando apoacutes a utilizaccedilatildeo
de um termo teacutecnico o seu respectivo conceito desta forma natildeo oferecendo a possibilidade
de interpretaacute-lo de vaacuterias maneiras Pudemos observar este uso por exemplo na ocorrecircncia
(10) em que o autor do certificado usa o termo ―garantia legal e logo em seguida apresenta
85
o conceito para o termo que eacute ―os primeiros 90 dias Dessa forma o cliente natildeo eacute autorizado
a interpretar o termo ―garantia legal de nenhuma outra forma que natildeo seja a descrita pelo
fabricante
Na segunda parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o uso do condicional
Identificamos nove ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia utilizaram este
recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (16) e (24) pudemos identificar
que o condicional foi utilizado pelos autores dos textos precedendo listas instrucionais o que
era esperado devido a caracteriacutestica proacutepria desse recurso que eacute o de condicionar algo agrave
alguma coisa Assim como nas ocorrecircncias que os autores utilizaram o quantificador
universal o condicional foi utilizado em boa parte das ocorrecircncias analisadas para restringir
a interpretaccedilatildeo do texto Pudemos identificar este sentido por exemplo nas ocorrecircncias (16)
(17) e (18)
Identificamos em boa parte das ocorrecircncias que possuem o uso do condicional que
este uso natildeo impotildee um limite na interpretaccedilatildeo Pudemos observar em nossa anaacutelise que os
condicionais foram utilizados precedendo listas exaustivas que continham situaccedilotildees por
exemplo em que a garantia seria invalidada Ao apresentar tais listas os autores natildeo
especificavam que natildeo haveria outros casos fora da lista em que a garantia seria invalidada
Dessa forma observamos que assim como nas ocorrecircncias com quantificador universal os
autores utilizaram os condicionais para se favorecerem Identificamos na ocorrecircncia (22)
recursos que restringem ainda mais as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente e
que consequentemente favorecem o fabricante como o uso do termo ―cumulativamente
que obriga o cliente a natildeo apenas estar dentro de uma ou mais situaccedilotildees descritas pelo
fabricante apoacutes o condicional mas a seguir todas as situaccedilotildees descritas ao mesmo tempo
Quando os fabricantes utilizaram o condicional precedendo listas que constam as
situaccedilotildees em que o cliente poderia perder a garantia eles usaram o recurso sem limites como
pudemos observar na ocorrecircncia (21) Mas quando os fabricantes utilizaram o condicional
precedendo listas que constam as situaccedilotildees em que o cliente tem direito a garantia eles
usaram os recursos com limites e como mostramos na ocorrecircncia (22) ainda utilizaram
recursos que limitam mais ainda a garantia
Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem das ocorrecircncias em que o condicional apareceu
de forma expliacutecita ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o mesmo
sentido como em (19) (20) e (24)
Sobre a presenccedila de termos polissecircmicos ou termos vagos nas ocorrecircncias com o uso
do condicional pudemos identificar que diferente das ocorrecircncias com o uso do
86
quantificador universal natildeo encontramos casos de termos vagos ou termos polissecircmicos nas
ocorrecircncias analisadas Identificamos em muitas ocorrecircncias que os autores dos certificados
apresentaram os conceitos para termos teacutecnicos apoacutes uso geralmente entre parecircnteses para
evitar que o termo ou a expressatildeo fossem interpretados de formas indevidas Encontramos
este tipo de estrateacutegia por exemplo na ocorrecircncia (17) do certificado 3 em que o autor
utiliza os termos ―garantia legal e ―garantia contratual mas no texto do certificado haacute o
conceito para cada termo o que impossibilita que o cliente interprete os termos de diversas
maneiras Caso o fabricante tivesse utilizado os dois termos teacutecnicos e em lugar algum do
certificado de garantia ele apresentasse os conceitos para os termos oportunizaria por
conseguinte diversas possibilidades de interpretaccedilatildeo dificultando a leitura do texto por parte
do cliente
Na terceira parte da anaacutelise tratamos sobre as ocorrecircncias com o uso do ―apenas e do
―somente Identificamos trinta ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia
utilizaram esses recursos linguiacutesticos Apesar do nuacutemero elevado de ocorrecircncias os sentidos
em que o ―apenas e o ―somente foram utilizados natildeo variaram muito Em grande parte das
ocorrecircncias analisadas o ―apenas e o ―somente foram utilizados para restringir a validade
da garantia desde restriccedilotildees em relaccedilatildeo ao territoacuterio de vigecircncia ateacute tipos de ambientes em
que os produtos podem ser utilizados Um tipo de ocorrecircncia que foi bastante recorrente em
nosso corpus foi o que utilizou o ―apenas ou ―somente para delimitar o territoacuterio em que a
garantia pode ser vaacutelida como por exemplo nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)
Nestas ocorrecircncias haacute o uso da expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que levantamos na anaacutelise
uma discussatildeo sobre as possibilidades de interpretaccedilatildeo para tal expressatildeo pelo fato de natildeo
haver nos certificados de garantia analisados um conceito definido para ela A ausecircncia do
conceito para este termo nos certificados de garantia pode dificultar a interpretaccedilatildeo
Tambeacutem podemos afirmar que em grande parte das ocorrecircncias analisadas o uso do
―somente ou ―apenas serviu para impor limites agraves interpretaccedilotildees dos textos direcionando-
os para a interpretaccedilatildeo que o fabricante desejasse impor Ou seja em grande parte das
ocorrecircncias em que foi utilizado o ―somente precedendo uma situaccedilatildeo X caso natildeo houvesse
esse uso a garantia por exemplo seria vaacutelida na situaccedilatildeo X mas tambeacutem nas situaccedilotildees Y Z
W sem limites Sem o uso do ―somente nessas ocorrecircncias o texto da garantia natildeo teria
sentido definido Pudemos observar esse sentido em diversas ocorrecircncias analisadas como
por exemplo nas ocorrecircncias (27) e (28) Ilustrando caso natildeo houvesse o uso do ―apenas
nas ocorrecircncias (27) e (28) a garantia seria vaacutelida no territoacuterio brasileiro e em qualquer outro
Ainda sobre as ocorrecircncias usam o ―somente ou ―apenas para restringir o territoacuterio em que
87
a garantia seraacute vaacutelida observamos que algumas ocorrecircncias especificam mais a validade da
garantia como em (48) que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para produtos vendidos e
instalados em territoacuterio nacional e outras ocorrecircncias que especificam menos como em (39)
que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para o veiacuteculo comercializado em territoacuterio brasileiro
Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem de ocorrecircncias em que o ―apenas e ―somente
apareciam explicitamente ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o
mesmo sentido como em (35) (36) e (41)
Sobre o aparecimento de termos polissecircmicos ou termo vagos aleacutem da expressatildeo
―territoacuterio brasileiro que mencionamos nos paraacutegrafos anteriores pudemos identificar
outros casos de termos polissecircmicos como por exemplo nas ocorrecircncias (25) e (26) Os
termos teacutecnicos utilizados pelos autores dos certificados de garantia natildeo possuiacuteam em lugar
algum dos textos os conceitos para lhes definirem possibilitando que o cliente interprete
estes termos de diversas maneiras
Ainda sobre casos de termos polissecircmicos observamos em algumas ocorrecircncias que
os autores dos certificados procuraram utilizar os termos teacutecnicos e em seguida ou em
alguma parte dos textos apresentaram os conceitos para os termos evitando muacuteltiplas
interpretaccedilotildees Identificamos o uso dessa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (43) (44) e
(49)
Nos trecircs tipos de ocorrecircncias que definimos para nossa anaacutelise pudemos identificar
que nos usos do quantificador universal condicional e ―apenas e ―somente os autores dos
certificados de garantia usaram esses recursos para se favorecerem Como analisado nas
ocorrecircncias do corpus os fabricantes utilizaram essas estrateacutegias tanto pelo fato de que eacute
necessaacuterio utilizar esses recursos por ser caracteriacutestico de textos instrucionais quanto pelo
fato de que o direcionamento das interpretaccedilotildees dos textos que eles constroem a partir destes
recursos podem favorecer os proacuteprios fabricantes
88
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Na presente seccedilatildeo iremos pontuar o percurso de nossa pesquisa e apresentar nossas
impressotildees sobre o corpus as teorias apresentadas e os resultados obtidos com as anaacutelises
O primeiro capiacutetulo de nossa pesquisa foi subdividido em duas partes na primeira
buscamos apresentar os conceitos gerais sobre os gecircneros textuais com base na proposta de
Bakhtin (2000) reafirmada por Marcuschi (2008) com o intuito de fornecer aporte teoacuterico
para a segunda parte do capiacutetulo em que caracterizamos o certificado de garantia como um
gecircnero textual Tal caracterizaccedilatildeo se deu pelo fato do nosso corpus ser composto por vinte e
dois certificados de garantia Ficamos surpresos por tomar conhecimento do fato de que ateacute o
presente momento natildeo identificamos publicaccedilotildees acadecircmicas em nosso paiacutes referentes agrave
caracterizaccedilatildeo de certificados de garantia como gecircneros textuais e esta dificuldade nos levou
a construir atraveacutes de nossa leitura a caracterizaccedilatildeo tanto quanto ao conteuacutedo quanto agrave
estrutura do texto A uacutenica bibliografia que encontramos e utilizamos como base para a
estruturaccedilatildeo da segunda parte do capiacutetulo tratando diretamente sobre os certificados de
garantia foi o Coacutedigo de Defesa e Proteccedilatildeo do Consumidor (1997) em que pudemos extrair
alguns conceitos gerais e recomendaccedilotildees de como se deve construir o texto de um certificado
de garantia Um dos problemas que encontramos foi a carecircncia de detalhes apresentados pelo
CDC na seccedilatildeo em que sugerem um padratildeo de formulaccedilatildeo do documento O CDC apenas
enfatiza que se faz necessaacuterio o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo e por exemplo a
necessidade de ser acompanhado do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto Com base
nessas informaccedilotildees apresentamos os conceitos e tambeacutem um exemplo de certificado de
garantia ilustrando cada parte da estrutura do texto
Na introduccedilatildeo do segundo capiacutetulo apresentamos uma discussatildeo geral sobre a
distinccedilatildeo entre semacircntica e pragmaacutetica com o objetivo de caracterizar os nexos como
relaccedilotildees linguiacutesticas do campo da semacircntica Para isso apresentamos tambeacutem os conceitos e
exemplos de relaccedilotildees linguiacutesticas que satildeo consideradas como pertencentes ao campo da
pragmaacutetica como a implicatura e pressuposiccedilatildeo Para esta discussatildeo buscamos aporte teoacuterico
nas obras de autores como Trask (2004) Levinson (2007) Grice (1987) Basso (2009)
Moura (1999) e Santos (2012)
Apoacutes a introduccedilatildeo do capiacutetulo apresentamos a teoria dos nexos semacircnticos que
escolhemos tratar em nossa pesquisa Foram eles o acarretamento a equivalecircncia semacircntica
a contradiccedilatildeo e a contrariedade Utilizamos como referencial teoacuterico para a teoria dos nexos
89
semacircnticos autores como Aristoacuteteles (1985) Chierchia (2001) Branquinho Murcho e Gomes
(2006) Pires de Oliveira (2001) e Mortari (2001) A apresentaccedilatildeo de cada nexo se deu a
partir dos conceitos seguidos de exemplos e dentro de cada seccedilatildeo apresentamos tambeacutem
tipos de ocorrecircncias lexicais que podem dificultar a intepretaccedilatildeo dos nexos que satildeo a
polissemia e a vagueza Ao apresentar os conceitos dessas ocorrecircncias lexicais assim como
fizemos na apresentaccedilatildeo dos nexos tambeacutem ilustramos com exemplos Utilizamos como
aporte teoacuterico para os conceitos de polissemia e vagueza autores como Crystal (1985) Allan
(2010) e Kempson (1977) Aleacutem da polissemia e vagueza tratamos sobre outro problema
que dificulta a interpretaccedilatildeo dos nexos as falaacutecias Quando tratamos sobre as caracteriacutesticas
das falaacutecias utilizamos como base teoacuterica o texto de Soares (2003) em que o autor distingue
as caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias e com esse aporte apresentamos nossos
exemplos
Quando tratamos sobre a contradiccedilatildeo e contrariedade apresentamos o fato de que as
suas origens tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica A partir disso trouxemos uma breve apresentaccedilatildeo
sobre os conceitos de Aristoacuteteles presentes em seu texto Organon (1985) mais
especificamente no Perieacutermeneas capiacutetulos 6 e 7
No final do capiacutetulo dois fizemos uma retrospectiva de todos os pontos que foram
apresentados ao longo do capiacutetulo e justificamos a nossa escolha em pesquisar sobre os nexos
semacircnticos assim como a polissemia vagueza e falaacutecias Durante todo o capiacutetulo dois
apresentamos os nexos e outras relaccedilotildees lexicais dentro de uma linguagem controlada que eacute
diferente do que acontece nos textos dos diversos gecircneros inclusive naquele escolhido para
compor o nosso corpus que satildeo os certificados de garantia A importacircncia dos conceitos
apresentados em nosso segundo capiacutetulo se deu pelo fato de que ele oferece uma base para a
compreensatildeo do funcionamento dessas relaccedilotildees semacircnticas para que diante das anaacutelises que
realizamos no capiacutetulo trecircs tenhamos uma leitura mais refinada e atenciosa para perceber
como essas relaccedilotildees semacircnticas tiacutepicas de linguagens controladas se apresentam em textos
que satildeo suscetiacuteveis a diversas ocorrecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo Ficamos surpresos
pelo fato de que pouco se escreveu sobre nexos semacircnticos em nosso contexto nacional de
pesquisa o que tornou a construccedilatildeo do nosso segundo capiacutetulo bastante desafiadora Em
relaccedilatildeo a artigos que trataram diretamente sobre os nexos semacircnticos e os seus usos como
suporte para a anaacutelise de ocorrecircncias em gecircneros textuais tivemos contato apenas com Santos
(2012) e Estrela e Santos (2013 2014)
No terceiro capiacutetulo que foi dedicado para conter a anaacutelise desta pesquisa
inicialmente apresentamos nossa justificativa para a escolha do gecircnero certificado de garantia
90
para analisar assim como a justificativa para a escolha de procurar nesses textos as
estrateacutegias linguiacutesticas utilizadas para restringir a interpretaccedilatildeo de sentenccedilas Em seguida
tratamos sobre os tipos de ocorrecircncias que elegemos para nossa anaacutelise como quantificador
universalcondicional e o ―apenas e o ―somente Esta escolha se deu pelo fato de tais
termos possuem caracteriacutesticas propiacutecias para o uso em restriccedilotildees ou abrangecircncias de textos
Mesmo assim tiacutenhamos conhecimento de que dificilmente encontrariacuteamos ocorrecircncias com
as relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos no capiacutetulo dois de forma expliacutecita e controlada
pois como discutimos anteriormente os diversos gecircneros textuais satildeo suscetiacuteveis a
interferecircncias lexicais que podem dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos
Em seguida apresentamos a anaacutelise do nosso corpus que totalizou cinquenta e quatro
trechos de certificados nos trecircs tipos de ocorrecircncias escolhidas para serem investigadas
Como jaacute apresentamos no final do capiacutetulo anterior nossas impressotildees sobre como foram
utilizados os recursos linguiacutesticos para restriccedilatildeo de interpretaccedilotildees pelos autores dos
certificados gostariacuteamos de enfatizar que nas ocorrecircncias com quantificador universal com
condicional e com o ―apenas e ―somente os fabricantes utilizaram estes recursos em
grande parte dos certificados para se favorecerem ou seja para abranger as possibilidades de
invalidade da garantia do produto aumentando as situaccedilotildees em que a garantia eacute perdida e
diminuindo as situaccedilotildees em que a garantia eacute vaacutelida (principalmente nas listas exaustivas)
Sobre ocorrecircncias em que identificados termos vagos ou termos polissecircmicos
identificamos como o motivo principal do aparecimento dessas ocorrecircncias a falta de
definiccedilatildeo dos termos teacutecnicos Em muitos certificados identificamos que os autores utilizaram
termos teacutecnicos (a maioria deles provenientes do CDC) e natildeo apresentaram em nenhuma
parte do texto as definiccedilotildees para tais termos oportunizando que o leitor interprete de
diversas maneiras os termos ou expressotildees
Por fim pudemos perceber que os quantificadores os condicionais e termos como o
―apenas e o ―somente que satildeo responsaacuteveis por abranger ou restringir interpretaccedilotildees de
sentenccedilas satildeo proacuteprios do tipo de texto instrucional que abarca o gecircnero que escolhemos para
nossa pesquisa A utilizaccedilatildeo desses termos seguiu uma ordem de apresentaccedilatildeo similar nos
vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Os quantificadores universais
apareceram muitas vezes nas explicaccedilotildees em que os fabricantes apresentavam prazos deveres
e direitos do fabricante e cliente os condicionais apareceram na maioria das vezes
precedendo as listas exaustivas e o ―apenas e ―somente apareceram em grande parte nos
trechos em que os fabricantes apresentavam delimitaccedilotildees territoriais para cobertura da
91
garantia e explicaccedilotildees sobre as situaccedilotildees em que a garantia eacute invalidada e as situaccedilotildees em que
a garantia se assegura
Assim como justificamos no iniacutecio das consideraccedilotildees sobre os resultados obtidos em
nossa anaacutelise natildeo encontramos ocorrecircncias com trecircs dos quatro nexos semacircnticos
apresentados no segundo capiacutetulo O fato de natildeo termos identificado ocorrecircncias com
equivalecircncias semacircnticas contrariedades e contraditoriedades traacutes a tona uma interessante
caracteriacutestica do gecircnero certificado de garantia que eacute a constante presenccedila de acarretamentos
na redaccedilatildeo do texto mesmo que apresentados indiretamente diferente dos exemplos que
utilizamos para ilustrar os conceitos nos diversos textos sobre o assunto e a natildeo utilizaccedilatildeo de
equivalecircncias sentenccedilas contraacuterias e contraditoacuterias na redaccedilatildeo do texto
Atraveacutes dessa pesquisa em que tratamos sobre os nexos semacircnticos a polissemia a
vagueza e alguns outros tipos de relaccedilotildees semacircnticas desejamos que outros pesquisadores se
interessem por este tipo de trabalho e busquem explorar nas anaacutelises linguiacutesticas outros
gecircneros textuais pouco explorados como o que utilizamos no presente trabalho Apresentar
uma teoria que eacute tipicamente de linguagens controladas como a dos nexos semacircnticos (que
satildeo como jaacute discutimos dependentes unicamente da forma das sentenccedilas) e analisar como
essas estrateacutegias linguiacutesticas se comportam dentro de textos instrucionais (que ainda satildeo
pouco explorados nas anaacutelises semacircnticas) satildeo a nosso ver interessantes caminhos a serem
desbravados nos estudos da semacircntica assim como as suas aplicaccedilotildees nos diversos gecircneros
textuais que nos rodeiam
92
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95
ANEXOS
Certificado 1
96
Certificado 2
97
Certificado 3
98
Certificado 4
99
Certificado 5
100
Certificado 6
101
Certificado 7
102
Certificado 8
103
Certificado 9
104
105
Certificado 10
106
Certificado 11
107
Certificado 12
108
109
Certificado 13
110
Certificado 14
111
112
Certificado 15
113
114
Certificado 16
115
116
117
118
119
120
121
Certificado 17
122
Certificado 18
123
Certificado 19
124
125
Certificado 20
126
Certificado 21
127
Certificado 22
εἰδέναι δὲ χπὴ τὸν πόλεμον ἐόντα
ξυνόν καὶ δίκην ἔπιν καὶ γινόμενα
πάντα κατ ἔπιν καὶ χπεών
(Heraacuteclito frag 80)
RESUMO
O estudo das relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas eacute um campo bastante discutido e
pesquisado nos estudos linguiacutesticos A observaccedilatildeo de como se comportam os termos na
construccedilatildeo de significados em textos de diversos gecircneros e seus efeitos de interpretaccedilatildeo
tambeacutem satildeo temas muito difundidos entre as pesquisas das semacircnticas Nesta produccedilatildeo
discutiremos sobre as relaccedilotildees de significado e seus efeitos de sentido em um gecircnero
especiacutefico As relaccedilotildees que investigaremos satildeo os nexos semacircnticos ou nexos de significado
como proposto por Chierchia (2003) que satildeo respectivamente acarretamento equivalecircncia
semacircntica contraditoriedade e contrariedade O gecircnero que escolhemos para nossa anaacutelise eacute o
certificado de garantia e a escolha de tal gecircnero se deu pelo fato deste fazer parte do grupo de
textos injuntivos ou instrucionais que a nosso ver possui caracteriacutesticas que favorecem a
amostragem dos nexos semacircnticos Iremos analisar como os nexos semacircnticos satildeo utilizados
para restringir ou abranger as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos certificados de garantia O
corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de garantia de
produtos de diversos segmentos e decidimos escolher certificados de produtos de linhas
diversas para constituirmos um panorama sobre o gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes
da internet sem utilizar nenhuma metodologia especiacutefica apenas atentamos para buscar
certificados de produtos variados Buscamos nessa pesquisa instigar a reflexatildeo sobre as
relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e a observaccedilatildeo destas nos textos instrucionais que
lidamos no dia-a-dia e que por muitas vezes deixamos passar despercebido o seu conteuacutedo
O entendimento sobre os nexos de significado pode nos oferecer ferramentas para melhor
leitura de textos desse tipo
Palavras chave Nexos semacircnticos Certificado de garantia Semacircntica
ABSTRACT
The study of the meaning of relations between sentences is a much discussed and researched
field in linguistic studies The observation of how the terms behave in the construction of
meanings in texts of different genres and their interpretation effects are also widespread
themes among semantic research In this work we will discuss about the meaning of the
relations of meaning and their sense of purpose in a specific genre The relations that we will
investigate are semantic nexus or semantic links as proposed by Chierchia (2003) which are
respectively entailment semantic equivalence contradictoriness and contrariness The genre
we chose for our analysis is the warranty certificate and the choice of this genre was made
because it is part of the injunctive or instructional texts group that in our opinion has
characteristics that favor the sampling of semantic nexus We will analyze how the semantic
nexus are used to restrict or cover the possibilities of interpretation in the warranty
certificates The corpus of this research has 22 (twenty two) copies of warranty certificates
from different segments and we decided to choose certificates from separate lines to
constitute an overview of the genre The collection of the texts took place through the
internet without using any particular methodology of choice only we pay attention to seek
warranty certificates of diverse products We seek in this research instigate reflection on the
meaning relations between sentences and observance of these in instructional texts that we
have contact in daily life and that for many times let go unnoticed its contents The
understanding of the semantic nexus can offer us tools to better read texts of this type
Keywords Semantic nexus Warranty certificate Semantics
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 13
1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA 16
11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS 16 12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL 26
2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS 32
21 ACARRETAMENTO 35 22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA 42 23 CONTRADITORIEDADE 45 24 CONTRARIEDADE 48 25 JUSTIFICANDO O PERCURSO 51
3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA 53
31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL 55 32 USO DO CONDICIONAL 64 33 USO DO APENASSOMENTE 68 34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS 83
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 88
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 92
ANEXOS 95
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa 14
QUADRO 2 - Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia 83
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
ILUSTRACcedilAtildeO 1 - Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 27
ILUSTRACcedilAtildeO 2 - Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28
ILUSTRACcedilAtildeO 3 - Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28
ILUSTRACcedilAtildeO 4 - Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28
ILUSTRACcedilAtildeO 5 - Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 29
13
INTRODUCcedilAtildeO
A abordagem das relaccedilotildees de significado eacute algo bastante presente e discutido nos
estudos semacircnticos Observar como se comportam os termos na construccedilatildeo da significaccedilatildeo
em textos de diversos gecircneros distintos e seus efeitos interpretativos tambeacutem satildeo temas de
diversas produccedilotildees na aacuterea de linguiacutestica
Neste trabalho iremos discutir as relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e os efeitos
interpretativos dessas relaccedilotildees em textos Mais especificamente abordaremos os nexos
semacircnticos ou nexos de significado (Chierchia 2003) acarretamento equivalecircncia semacircntica
contrariedade (os quais podemos encontrar no referido trabalho de Chierchia) e
contraditoriedade (nexo semacircntico que geralmente eacute relacionado com a contrariedade e que
foi tratado por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado atraveacutes de seu quadrado loacutegico
ou taacutebua de oposiccedilotildees em seu texto Perieacutermeneas (1985) mais especificamente nos
capiacutetulos 6 e 7 sobre o qual faremos menccedilatildeo na seccedilatildeo sobre este nexo)
Este trabalho tem por objetivo observar alguns dos recursos linguiacutesticos utilizados
para favorecer a existecircncia de nexos semacircnticos e com isso restringir ou ampliar
possibilidades de interpretaccedilatildeo em um gecircnero textual especiacutefico Por este motivo o gecircnero
que escolhemos analisar foi o certificado de garantia ou termo de garantia que pertence agrave
categoria dos textos instrucionais (ou injuntivos) e a nosso ver possui caracteriacutesticas que
favorecem a amostragem das ocorrecircncias dos nexos
O gecircnero certificado de garantia possui como uma de suas caracteriacutesticas a
apresentaccedilatildeo organizada dos direitos e deveres do cliente e do fabricante com relaccedilatildeo a um
produto servindo tambeacutem para informar ao cliente os seus direitos referentes agrave validade
prazos e extensatildeo de cobertura da garantia Supotildee-se entatildeo que o texto deve por isso ser
objetivo e livre de ambiguidades e incoerecircncias
Nossa hipoacutetese eacute a de que recursos linguiacutesticos que favoreccedilam a existecircncia de nexos
semacircnticos nos textos dos certificados ndash como o emprego por exemplo de conectivos e
quantificadores (Chierchia 2003 PIRES DE OLIVEIRA 2001) ndash estatildeo presentes em textos
deste gecircnero e contribuem para que os textos alcancem o objetivo de informar ao cliente e ao
fabricante seus deveres e direitos
O corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de
garantia de produtos diversos para constituir um panorama ainda que reduzido de instacircncias
do gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes da internet sem utilizar nenhuma metodologia
14
especiacutefica de escolha atentando para buscar certificados de produtos variados Os textos
escolhidos para a anaacutelise de nosso trabalho incluem diversos produtos manufaturados como
moacuteveis veiacuteculos eletroeletrocircnicos entre outros equipamentos domeacutesticos como ilustrado no
quadro a seguir
Nordm Tipo de objeto Fabricante
1 Refrigerador Samsung
2 TV led Sony
3 Condicionador de ar LG
4 Tablet AOC
5 AudioMixer Oneal
6 Garantia para todos os produtos Elgin
7 Estabilizador de energia APC
8 Aquecedor de aacutegua Bosch
9 Fogatildeo Brastemp
10 Maacutequina de lavar Electrolux
11 Ventilador Cadence
12 GPS Positron
13 Umidificador de ar Springer
14 Certificado internacional de garantia Philips
15 Colchatildeo Ortobom
16 Caminhotildees Mercedes-Benz
17 Carro de passeio Hyundai
18 Moacuteveis Bartzen
19 Aquecedor de ar Fujitsu
20 Tv AOC
21 Aquecedor de aacutegua para piscina Rheem
22 Bicicleta Total Health
Quadro 1 ndash Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa Fonte elaborado pelo autor
Como nosso propoacutesito eacute analisar os textos observando as ocorrecircncias de termos que
restringem e abrangem interpretaccedilotildees natildeo temos a intenccedilatildeo de analisar se um fabricante
elaborou um texto melhor que outro
No primeiro capiacutetulo apresentamos num primeiro momento o que satildeo gecircneros
textuais e em seguida caracterizamos o certificado de garantia como um gecircnero textual Para
tanto utilizamos o aporte teoacuterico baseado na obra de Mikhail Bakhtin (2000) linguista do
iniacutecio do seacuteculo referecircncia nos estudos de gecircneros textuais e de Luiz Antocircnio Marcuschi
(2002 2005 2008) linguista contemporacircneo que desenvolveu importantes trabalhos nessa
disciplina Vale salientar que como o foco de nossa pesquisa natildeo eacute a discussatildeo de gecircneros
textuais o capiacutetulo que construiacutemos trata de conceitos gerais sobre gecircneros tendo como
15
objetivo observar que o certificado de garantia eacute um gecircnero textual e mostrando como se
estrutura em linhas gerais um texto deste gecircnero
No segundo capiacutetulo trataremos dos nexos semacircnticos dos quais consideraremos
para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e
contrariedade Atraveacutes de exemplos discutimos brevemente cada um deles mostrando
exemplos que funcionam e tambeacutem exemplos problemaacuteticos em relaccedilatildeo ao leacutexico
especialmente em casos de polissemia para que entatildeo seja possiacutevel a anaacutelise do capiacutetulo
seguinte
No terceiro capiacutetulo traremos a anaacutelise do corpus que se apresentaraacute organizado por
ocorrecircncias distribuiacutedas em tipos a saber uso do quantificador universal uso do condicional
e uso do apenassomente Apoacutes o exame das trecircs categorias citadas trataremos entatildeo das
relaccedilotildees entre o emprego dos recursos e a funccedilatildeo dos certficados Procuraremos tambeacutem
refletir se os recursos satildeo mais utilizados para favorecer o cliente ou mais utilizados para
favorecer o fabricante
Por uacuteltimo mostraremos as consideraccedilotildees finais do trabalho e em seguida as
referecircncias bibliograacuteficas utilizadas na elaboraccedilatildeo de nosso texto
16
1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA
Neste capiacutetulo tratamos dos gecircneros textuais e da caracterizaccedilatildeo dos certificados de
garantia como um gecircnero textual Em um primeiro momento traremos a perspectiva sobre
gecircneros textuais de Mikhail Bakhtin precursor dos estudos de gecircneros textuais na linguiacutestica
e em seguida apresentaremos a perspectiva de Luiz Antocircnio Marcuschi linguista brasileiro
que tambeacutem trabalha com o tema e compartilha em grande parte da perspectiva de Bakhtin
sobre o os gecircneros Eacute importante ressaltar que este capiacutetulo natildeo tem por objetivo o
aprofundamento nos estudos dos gecircneros e serve como um instrumento para contextualizar o
corpus desta pesquisa
11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS
Considerando a perspectiva apresentada por Mikhail Bakhtin na obra Esteacutetica da
criaccedilatildeo verbal (2000) o ato de se comunicar eacute indispensaacutevel para as relaccedilotildees humanas Aleacutem
disso ressaltamos que eacute por tal razatildeo que nas diversas situaccedilotildees de interaccedilatildeo que
vivenciamos em nosso cotidiano observamos a utilizaccedilatildeo da liacutengua em suas modalidades
oral eou escrita como instrumento principal de nossas trocas comunicativas
Eacute notoacuterio que a quantidade de atividades eacute enorme assim como satildeo os diferentes tipos
de situaccedilotildees em que a liacutengua eacute empregada Atraveacutes da formulaccedilatildeo de enunciados podemos
caracterizar quais as funccedilotildees dos discursos que escolhemos para os diversos tipos de
interaccedilatildeo
Nesse sentido eacute possiacutevel afirmarmos que todas as nossas construccedilotildees linguiacutesticas
organizam-se em gecircneros discursivos por meio dos quais conseguimos nos comunicar e
interagir socialmente
Em conformidade com a proposta de Bakhtin todo gecircnero discursivo se constitui a
partir das seguintes dimensotildees o conteuacutedo temaacutetico o estilo e a construccedilatildeo composicional
Esta descriccedilatildeo eacute claacutessica como ponto de partida para a descriccedilatildeo dos gecircneros textuais e nos
ofereceraacute a possibilidade de tanto descrever o que eacute um gecircnero textual quanto caracterizar
um texto como gecircnero que seraacute o nosso objetivo na segunda parte deste capiacutetulo
O conteuacutedo temaacutetico se refere ao tipo de assunto veiculado no texto Por tal razatildeo
Bakhtin (2000) afirma que o gecircnero eacute escolhido a partir do que o locutor decide falar Assim
17
eacute faacutecil compreender por que cada atividade comunicativa necessita de um tipo especiacutefico de
textodiscurso Por exemplo natildeo se responde (normalmente) uma carta informal com uma
bula de remeacutedio (a natildeo ser que na carta um texto desse gecircnero seja solicitado como
resposta) Nesse sentido percebe-se que para cada esfera de comunicaccedilatildeo o locutor e
interlocutor utilizam uma mesma forma de expressatildeo tendo em vista o assunto que
escolheram tratar Caso contraacuterio se locutor e interlocutor agregam formas distintas de
expressatildeo pode ser que a comunicaccedilatildeo natildeo seja efetivada com sucesso visto que eacute possiacutevel
natildeo haver o entendimento das partes uma vez que cada gecircnero abarca certo campo de uso
mesmo estando em constante desenvolvimento
O estilo se refere aos recursos linguiacutesticos desde gramaticais ateacute lexicais e eles
variam de acordo com o gecircnero Essa dimensatildeo abarca a seleccedilatildeo frasal lexical gramatical e
as formas de apresentar o discurso que satildeo inerentes ao gecircnero escolhido Bakhtin (2000)
afirma que o estilo eacute a primeira vista individual do gecircnero e ela reflete (ou natildeo) a
individualidade de quem escreve ou fala Isso porque dependendo do gecircnero o estilo
individual aparece com mais clareza Da mesma forma haacute gecircneros que natildeo possuem essa
caracteriacutestica a exemplo dos textos injuntivos sobre os quais trataremos mais agrave frente Ainda
a respeito do estilo Bakhtin assegura que
Quando escolhemos as palavras no processo de construccedilatildeo de um enunciado nem
de longe as tomamos sempre do sistema da liacutengua em sua forma neutra
lexicograacutefica Costumamos tiraacute-las de outros enunciados e antes de tudo de
enunciados congecircneres com o nosso isto eacute pelo tema pela composiccedilatildeo pelo estilo
consequentemente selecionamos as palavras segundo a sua especificaccedilatildeo de
gecircnero O gecircnero do discurso natildeo eacute uma forma da liacutengua mas uma forma tiacutepica do
enunciado como tal forma o gecircnero inclui certa expressatildeo tiacutepica a ele inerente
(BAKHTIN 2010 [1992] p 292 grifos do autor)
Nessa perspectiva podemos afirmar que tal criteacuterio se refere agraves propriedades das
unidades de linguagem e relaciona-se agrave posiccedilatildeo enunciativa do locutor agraves sequecircncias textuais
e aos tipos discursivos que estruturam o texto
Por fim Bakhtin (2000) afirma que cada gecircnero possui uma forma padratildeo que eacute a
estrutura composicional Eacute atraveacutes dessa forma que podemos identificar qual gecircnero estaacute
sendo empregado pois essa dimensatildeo se refere aos procedimentos utilizados na formulaccedilatildeo
dos textos com a estrutura e demais aspectos formais incluindo as partes envolvidas no
discurso Em suma para Bakhtin (2000)
18
Estes trecircs elementos (conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo composicional)
fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado e todos eles satildeo marcados pela
especificidade de uma esfera de comunicaccedilatildeo Qualquer enunciado considerado
isoladamente eacute claro individual mas cada esfera de utilizaccedilatildeo da liacutengua elabora
seus tipos relativamente estaacuteveis de enunciados sendo isso que denominamos
gecircneros do discurso (BAKHTIN 2000 p 279 Grifos do autor)
Ainda a respeito dos gecircneros do discurso conveacutem ressaltar que sua variedade eacute
proporcional agraves possibilidades de interaccedilotildees humanas pois as diversas esferas de interaccedilatildeo
satildeo compostas por classes de gecircneros que se desenvolvem tornando-se maiores e mais
complexas em consonacircncia com o desenvolvimento dessas esferas
Bakhtin (2000) utiliza o termo ―heterogeneidade para adjetivar os gecircneros do
discurso sejam eles orais ou escritos inferindo que estes incluem desde conversas informais
cartas relatos familiares ateacute produccedilotildees mais complexas como os documentos oficiais textos
cientiacuteficos e de escolas literaacuterias Natildeo haacute razatildeo para minimizar a extrema heterogeneidade
dos gecircneros do discurso e a consequente dificuldade quando se trata de definir o caraacuteter
geneacuterico do enunciadolsquo (BAKHTIN 2000 p 281) Dessa forma entendemos que a
variedade de gecircneros eacute muito grande se estendendo por exemplo dos romances mais
eruditos ateacute os bilhetes de recados do dia-a-dia e que tratar dos gecircneros admitindo suas
caracteriacutesticas estruturais particulares natildeo eacute uma tarefa faacutecil de realizar
Aleacutem de discorrer sobre as dimensotildees constitutivas de um gecircnero tendo em vista essa
heterogeneidade Bakhtin categoriza os gecircneros textuais em primaacuterios (simples) e
secundaacuterios (complexos) Assim os gecircneros primaacuterios satildeo aqueles referentes agraves reacuteplicas de
diaacutelogos cotidianos como cartas pessoais e demais gecircneros de comunicaccedilatildeo imediata Satildeo
chamados ―simples porque satildeo formados por discursos de baixa complexidade Jaacute os
gecircneros secundaacuterios satildeo aqueles referentes a romances textos cientiacuteficos sociopoliacuteticos e
afins Satildeo textos (escritos ou produzidos para serem encenados como os teatrais ndash exemplo
usado pelo proacuteprio Bakhtin) com maior carga de complexidade de produccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo
Surgem a partir de interaccedilotildees mais aprofundadas nas comunidades com maior grau de
imersatildeo em relaccedilatildeo aos padrotildees culturais e sociais
Ele ainda ressalta que os gecircneros secundaacuterios tambeacutem podem conter gecircneros
primaacuterios ―o romance em seu todo eacute um enunciado da mesma forma que a reacuteplica do
diaacutelogo cotidiano ou a carta pessoal (satildeo fenocircmenos da mesma natureza) o que diferencia o
romance eacute ser um enunciado secundaacuterio (complexo) (BAKHTIN 2000 p 281) Ao
discorrer sobre essa questatildeo o autor assevera que eacute de grande importacircncia teoacuterica a
19
diferenciaccedilatildeo entre esses tipos de gecircneros pois com isso e a partir disso podemos fazer
anaacutelises precisas dos enunciados que podem contrapor dois ou mais tipos de textos
Ignorar as caracteriacutesticas intriacutensecas a cada gecircnero a ―natureza dos enunciados - que
segundo Bakhtin eacute indispensaacutevel para qualquer estudo ndash eacute partir para a abstraccedilatildeo da liacutengua
desvalorizando o conteuacutedo histoacuterico imerso em cada tipo de gecircnero Eacute importante considerar
a relaccedilatildeo existente entre ―a liacutengua e a vida e natildeo restringir os enunciados a categorias
formais Haacute portanto uma relaccedilatildeo de complementaccedilatildeo entre a liacutengua a vida e os enunciados
pois ―a liacutengua penetra na vida atraveacutes dos enunciados concretos que a realizam e eacute tambeacutem
atraveacutes dos enunciados concretos que a vida penetra na liacutengua (BAKHTIN 2000 p 282)
Bakhtin (2000) tambeacutem se refere a questotildees da ―totalidade do enunciado que ele
define como aquilo que oportuniza a resposta em um discurso Bakhtin afirma que essa accedilatildeo
eacute definida por trecircs fatores diretamente associados ao ―todo orgacircnico do enunciado
primeiramente o tratamento exaustivo do objeto de sentido depois o querer-dizer do locutor
e por fim as formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do acabamento
O tratamento exaustivo do objeto de sentido ―varia profundamente conforme as
esferas da comunicaccedilatildeo verbal Em algumas esferas ele pode ser quase total como por
exemplo na vida praacutetica na vida profissional na vida militar basicamente em esferas que
natildeo possuem caracteriacutesticas de mutabilidade de discurso e pouca ―criatividade nas
formulaccedilotildees entre outras palavras onde os gecircneros do discurso satildeo padronizados Jaacute nas
esferas em que os gecircneros satildeo ―criativos o tratamento exaustivo eacute muito menos abrangente
como no caso das ciecircncias em particular onde Bakhtin infere que o tratamento exaustivo
―oferece exatamente um miacutenimo de acabamento capaz de suscitar uma atitude responsiva
(BAKHTIN 2000 p 300)
O querer-dizer do locutor estaacute ligado ao primeiro fator O filoacutesofo afirma que em todo
enunciado desde uma reacuteplica cotidiana ateacute complexas obras cientiacuteficas ou da literatura
compreendemos sentimos o ―intuito discursivo ou querer-dizer do locutor que eacute o que
determina o ―todo do enunciado sua amplitude suas fronteiras Noacutes identificamos o que o
locutor quer expressar e a partir dessa detecccedilatildeo medimos e definimos como se daraacute o
enunciado Isso eacute determinante para a escolha do objeto com seus limites e o tratamento
exaustivo do objeto adequado a este aleacutem de ser essencial para a escolha da forma do gecircnero
onde seraacute edificado
As formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do gecircnero do acabamento representam o fator mais
importante para Bakhtin que as descreve como ―formas estaacuteveis do gecircnero do enunciado
(BAKHTIN 2000 p 301)
20
As formas do gecircnero agraves quais modelamos nossa fala se distinguem
substancialmente das formas da liacutengua do ponto de vista de sua estabilidade e de
suas leis normativas para o locutor De um modo geral elas satildeo mais maleaacuteveis
mais plaacutesticas e mais livres do que as formas da liacutengua (BAKHTIN 2000 p 302)
Concluindo a discussatildeo sobre gecircneros a partir dos conceitos gerais propostos por
Bakhtin passamos agora para a discussatildeo sobre gecircneros realizada por Marcuschi (2008) Eacute
possiacutevel perceber ao longo da explanaccedilatildeo que este autor se identifica com a teoria
bakhtiniana de gecircneros textuais e foi essa identificaccedilatildeo uma das motivaccedilotildees que nos levou a
escolhecirc-los para a composiccedilatildeo deste capiacutetulo
De acordo com Marcuschi (2008 p 154) toda comunicaccedilatildeo soacute pode ser efetivada
por meio de um gecircnero pois ―eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum gecircnero
assim como eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum texto Partindo dessa
premissa podemos entender que qualquer manifestaccedilatildeo verbal se daacute dentro dos limites dos
gecircneros Eacute por esse motivo que a variedade de gecircneros eacute extensa mas natildeo infinita Atraveacutes
desse conceito observamos que Marcuschi compactua com o conceito bakhtiniano de que os
gecircneros possuem formas padronizadas e finitas
Os gecircneros textuais satildeo os textos que encontramos em nossa vida diaacuteria e que
apresentam padrotildees sociocomunicativos caracteriacutesticos definidos por composiccedilotildees
funcionais objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integraccedilatildeo
de forccedilas histoacutericas sociais institucionais e teacutecnicas (Marcuschi 2008 p 155)
Natildeo devemos considerar os gecircneros textuais como modelos imutaacuteveis e de ―estrutura
riacutegidas A apresentaccedilatildeo dos gecircneros se mostra ligada diretamente ao meio em que circulam
Satildeo formas culturais que tomam forma na liacutengua e que evoluem junto com ela Obviamente
que natildeo podemos deixar de considerar que os gecircneros possuem identidade e eacute atraveacutes dessa
identidade que escolhemos um tipo especiacutefico para cada esfera discursiva Dessa forma
admitimos que os gecircneros limitam nossa accedilatildeo na escrita
Em relaccedilatildeo agrave distinccedilatildeo entre gecircneros Marcuschi (2008) natildeo os distingue pelas formas
linguiacutesticas mas sim pelos seus campos de accedilatildeo Nesse sentido ele reafirma a perspectiva
bakhtiniana de que os gecircneros satildeo dinacircmicos e que por serem soacutecio-histoacutericos natildeo podem
ser contados de modo exaustivo o que dificulta sua classificaccedilatildeo Marcuschi (2008) afirma
que atualmente o objetivo maior nos estudos sobre gecircneros textuais eacute procurar identificar e
explicar como eles satildeo constituiacutedos e como circulam na sociedade
21
Eacute importante apresentar alguns conceitos referentes ao que estamos discutindo sobre
gecircneros do discurso dentre os quais destacamos os conceitos de tipo textual gecircnero textual e
domiacutenio discursivo segundo Marcuschi (2008) levando em consideraccedilatildeo a possibilidade de
se obter melhor entendimento no trato com o texto em si e seus fenocircmenos
O tipo textual eacute definido pelos aspectos linguiacutesticos ou seja por marcas lexicais
tempos verbais estilo relaccedilotildees loacutegicas e aspectos sintaacuteticos Logo relaciona-se mais agraves
sequecircncias linguiacutesticas do que a materializaccedilotildees textuais fazendo com que o conjunto
tipoloacutegico de textos seja limitado e natildeo apresente tendecircncias de aumentar Marcuschi (2002
p22) afirma que os tipos textuais compreendem categorias amplamente conhecidas como
narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo exposiccedilatildeo descriccedilatildeo e injunccedilatildeo que observaremos separadamente a
seguir
A narraccedilatildeo relata um fato que pode ser real ou imaginaacuterio em um tempo e lugar
definidos envolvendo personagens Nesse tipo de texto o tempo verbal predominante eacute o
passado ao menos nos exemplos mais tiacutepicos Eacute predominante em crocircnicas piadas
romances poemas faacutebulas entre outros Vejamos o exemplo a seguir
O cavalo e o burro
O cavalo e o burro seguiam juntos para a cidade O cavalo contente da vida
folgando com uma carga de quatro arrobas apenas e o burro mdash coitado gemendo
sob o peso de oito Em certo ponto o burro parou e disse
ndash Natildeo posso mais Esta carga excede agraves minhas forccedilas e o remeacutedio eacute repartirmos o
peso irmatildemente seis arrobas para cada um
O cavalo deu um pinote e relichou uma gargalhada
ndash Ingecircnuo Quer entatildeo que eu arque com seis arrobas quando posso tatildeo bem
continuar com as quatro Tenho cara de tolo
O burro gemeu
ndash Egoiacutesta Lembre-se que se eu morrer vocecirc teraacute que seguir com a carga de quatro
arrobas e mais a minha
O cavalo pilheriou de novo e a coisa ficou por isso Logo adiante poreacutem o burro
tropica vem ao chatildeo e rebenta
Chegam os tropeiros maldizem a sorte e sem demora arrumam com as oito arrobas
do burro sobre as quatro do cavalo egoiacutesta E como o cavalo refuga datildeo-lhe de
chicote em cima sem doacute nem piedade
ndash Bem feito exclamou o papagaio Quem mandou ser mais burro que o pobre burro
e natildeo compreender que o verdadeiro egoiacutesmo era aliviaacute-lo da carga em excesso
Tome Gema dobrado agorahellip
(LOBATO M 2010 p 85)
Acima podemos observar um exemplo de narraccedilatildeo que eacute uma das faacutebulas de
Monteiro Lobato escrita em grande parte em discurso direto Podemos observar na faacutebula
que o texto eacute conduzido pelo narrador intercalado pela interaccedilatildeo dos personagens A seguir
22
continuaremos a descriccedilatildeo dos tipos textuais e exemplos com o conceito do tipo textual
argumentativo
Jaacute a argumentaccedilatildeo tem por principal caracteriacutestica a construccedilatildeo do convencimento
acerca da validade ou invalidade de um ponto de vista por sobre outro Nesse tipo de texto haacute
a reflexatildeo sobre temas especiacuteficos confrontando perspectivas distintas predominante em
gecircneros como debates resenhas editoriais artigos de opiniatildeo e afins Vejamos o exemplo a
seguir
O povo brasileiro estaacute cansado de tanta corrupccedilatildeo desigualdade de renda serviccedilos
puacuteblicos precaacuterios sensaccedilatildeo de inseguranccedila nas ruas elevada carga tributaacuteria
ineficiecircncia nos gastos puacuteblicos e elevaccedilatildeo da inflaccedilatildeo aleacutem do estilo autoritaacuterio e
inflexiacutevel da presidente O estranho eacute pensar sobre as razotildees que levaram a
populaccedilatildeo agraves ruas no momento atual em que a economia apresentou uma
significativa evoluccedilatildeo em relaccedilatildeo aos anos 80 e 90 aleacutem de presenciar sensiacutevel
melhora na renda meacutedia e na sua distribuiccedilatildeo nos anos 2000
A minha impressatildeo eacute de que depois de sentir a possibilidade de que o paiacutes entraria
em uma rota segura de crescimento da renda e de desenvolvimento econocircmico
(semelhante agrave sensaccedilatildeo que a populaccedilatildeo brasileira presenciou nos anos 70) o
enfraquecimento econocircmico e os sinais cada vez mais claros de que ele eacute resultante
de problemas internos deixaram a populaccedilatildeo transtornada Mais uma vez somos
apenas o paiacutes do futuro (NAKABASHI 2013 Acesso
httpwwwgazetadopovocombropiniaoartigosmanifestacoes-e-governo-no-
brasil-bdcjgu3mm6ql5e18tqoj73c5q)
Observamos acima uma parte de um artigo de opiniatildeo publicado no jornal Gazeta do
Povo em 02072013 por Luciano Nakabashi que trata das manifestaccedilotildees e do governo no
Brasil O autor anuncia primeiro o problema que vai discutir e em seguida lanccedila sua opiniatildeo
sobre o tema o que faz com que esse tipo de texto seja distinto da exposiccedilatildeo que
abordaremos a seguir
A exposiccedilatildeo apresenta informaccedilotildees sobre acontecimentos materiais e objetos de
forma detalhada e especiacutefica e por isso costuma lanccedilar matildeo de recursos como a descriccedilatildeo
informaccedilatildeo enumeraccedilatildeo comparaccedilatildeo e contrastes O tipo expositivo eacute caracteriacutestico de
gecircneros como as aulas expositivas verbetes de dicionaacuterios notiacutecias jornaliacutesticas entre
outros Vejamos o exemplo
Dianoia Termo grego que pode ser traduzido por pensamento intelecto
espiacuterito A dianoia eacute o pensamento discursivo enquanto elaboraccedilatildeo explicitaccedilatildeo
ou desenvolvimento da noese ou nous isto eacute da razatildeo intuitiva que capta de
modo imediato o real (Aristoacuteteles Tratado da alma III) Neste sentido a dianoia eacute
inferior ao nous jaacute que depende deste (MARCONDES e JAPIASSUacute 2001 p54)
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Tomamos como exemplo de exposiccedilatildeo um verbete de um dicionaacuterio de filosofia
Podemos observar que os autores apresentam a palavra ―dianoia e em seguida conceituam a
dianoia a partir da perspectiva de um filoacutesofo especiacutefico (neste caso Aristoacuteteles)
O tipo textual descriccedilatildeo por sua vez eacute o relato particular de eventos e entidades e se
relaciona comumente com outros tipos em inuacutemeros gecircneros textuais Eacute caracteriacutestico em
cartazes promocionais anuacutencio de classificados entre outros Vamos observar agora um
exemplo de descriccedilatildeo atraveacutes da anaacutelise de uma obra de arte de Salvador Dali de 1955
intitulada ―A uacuteltima ceia
―Sua cena estaacute contida num retacircngulo Uma imensa janela ao fundo representada
por um dodecaedro (figura geomeacutetrica de 12 lados que sua vez satildeo pentaacutegonos ou
seja possuem cinco acircngulos cada um) domina toda a composiccedilatildeo
Jesus Cristo e seus 12 apoacutestolos estatildeo reunidos numa sala moderna envidraccedilada
Ele ocupa o centro da mesa de pedra o centro da tela e o centro do pentaacutegono
frontal do dodecaedro Cristo estaacute de frente para o observador contudo seu corpo
transluacutecido permite ver o mar e um barco o que indica que ele natildeo mais eacute humano
mas divino A sensaccedilatildeo que temos eacute de que seu corpo emerge de dentro do mar
Diante de Cristo sobre a mesa estatildeo um copo com vinho e as duas bandas do patildeo
jaacute repartido o que nos permite concluir que Daliacute pintou o momento da Eucaristia A
presenccedila dos barcos no mar remete aos ―pescadores de homens
A mesa eacute formada por um bloco retangular Doze apoacutestolos debruccedilam-se sobre ela
sendo trecircs agrave esquerda de Cristo e trecircs agrave direita Nas suas extremidades estatildeo quatro
apoacutestolos sendo dois de cada lado De costa para o observador estatildeo mais dois
deles Todos estatildeo com as cabeccedilas baixas Um dos apoacutestolos diverge dos demais ao
usar uma toga amarela O pintor queria com certeza diferenciaacute-lo Portanto tanto
pode ser Pedro o fundador da Igreja ou Judas o traidor
No alto com a cabeccedila invisiacutevel e com parte do tronco visiacutevel e os braccedilos abertos
Deus Pai humanizado abraccedila toda a cena como se aguardasse a chegada do Filho
que se encontra entre os homens Ao fundo um mar tranquilo com rochas
espalhadas e um ceacuteu cheio de nuvens compotildeem o segundo plano da tela (Viacuterus da
arte amp cia ndash Site brasileiro especializado em arte e cultura Disponiacutevel em
httpvirusdaartenetdali-a-ultima-ceia)
Acima podemos observar a descriccedilatildeo de uma obra de arte do pintor catalatildeo Salvador
dali retirado de uma paacutegina sobre arte Como o nome do tipo textual sugere a descriccedilatildeo tem
por objetivo descrever fatos mas tambeacutem caracteriacutesticas para objetos paisagens e situaccedilotildees
diversas No exemplo que utilizamos para descriccedilatildeo observamos a descriccedilatildeo de uma obra de
arte por parte de um espectador demonstrando detalhes do que estaacute impresso na pintura
assim como uma interpretaccedilatildeo da cena
O uacuteltimo tipo textual que consideraremos aqui eacute o tipo injuntivo que tem por objetivo
instruir o leitor ou persuadi-lo a fazer algo ou adotar algum ponto de vista Tambeacutem tem
como caracteriacutestica a induccedilatildeo do interlocutor a proceder de uma ou outra forma Geralmente
24
eacute escrito no modo imperativo e eacute caracteriacutestico de gecircneros como a bula de remeacutedio os
manuais de instruccedilotildees receitas culinaacuterias e contratos Vale ressaltar que dentro dos textos
injuntivos podem-se encontrar outros tipos de texto como por exemplo descriccedilotildees de
objetos endereccedilos procedimentos etc Vejamos o exemplo a seguir
Bolo simples
Tempo de preparo 40 minutos
Rendimento 12 porccedilotildees
Ingredientes
2 xiacutecaras de accediluacutecar
3 xiacutecaras de farinha de trigo
4 colheres de margarina bem cheias
3 ovos
1 frac12 xiacutecara de leite aproximadamente
1 colher (sopa) de fermento bem cheia
Modo de preparo
1) Bata as claras em neve
2) Reserve
3) Bata bem as gemas com a margarina e o accediluacutecar
4) Acrescente o leite e a farinha aos poucos sem parar de bater
5) Por uacuteltimo agregue as claras em neve e o fermento
6) Coloque em forma grande de furo central untada e enfarinhada
7) Asse em forno meacutedio preacute-aquecido por aproximadamente 40 minutos
8) Quando espetar um palito e sair limpo estaraacute assado
(httpwwwtudogostosocombrreceita29124-bolo-simpleshtml Acesso em
20042014)
No exemplo uma receita culinaacuteria podemos observar que haacute descriccedilatildeo na primeira
parte (a lista de ingredientes) e na segunda parte (modo de preparo) que eacute a mais
nitidamente injuntiva encontramos instruccedilotildees de como proceder na execuccedilatildeo da receita
Aleacutem da classificaccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo dos tipos de texto eacute interessante observarmos
tambeacutem a definiccedilatildeo de gecircneros textuais e domiacutenio discursivo conforme Marcuschi (2008)
Os gecircneros textuais satildeo definidos como ―textos materializados em situaccedilotildees
comunicativas recorrentes (MARCUSCHI 2008 p155) que apresentam caracteriacutesticas
soacutecio-comunicativas marcadas pelos conteuacutedos e pelas propriedades referentes agraves funccedilotildees e
composiccedilatildeo Diferente dos tipos textuais que se restringem a cerca de meia duacutezia como
afirma Marcuschi (2008) ―os gecircneros satildeo inuacutemeros Tambeacutem haacute de ressaltar que satildeo
culturalmente e historicamente formados visto que evoluem no mesmo passo que as
comunidades
O domiacutenio discursivo por sua vez eacute a esfera de atividade humana em que os textos
circulam Ele natildeo eacute um texto em si mas proporciona o surgimento de discursos especiacuteficos
Para ilustrar podemos citar alguns domiacutenios como discurso religioso discurso juriacutedico etc
25
O domiacutenio eacute constituiacutedo por praacuteticas do discurso nas quais podemos identificar uma seacuterie de
gecircneros que possuem a mesma proposta discursiva como o tema e as praacuteticas institucionais
ou informais
As definiccedilotildees aqui trazidas de gecircnero tipo domiacutenio discursivo satildeo muito mais
operacionais do que formais e seguem de perto a posiccedilatildeo bakhtiniana Assim para a
noccedilatildeo de tipo textual predomina a identificaccedilatildeo de sequecircncias linguiacutesticas como
norteadora e para a noccedilatildeo de gecircnero textual predominamos criteacuterios de padrotildees
comunicativos accedilotildees propoacutesitos e inserccedilatildeo sociohistoacuterica No caso dos domiacutenios
discursivos natildeo lidamos propriamente com textos e sim com formaccedilotildees histoacutericas e
sociais que originam os discursos Eles ainda natildeo se acham bem definidos e
oferecem alguma resistecircncia mas seguramente sua definiccedilatildeo deveria ser na base de
criteacuterios etnograacuteficos antropoloacutegicos e socioloacutegicos e histoacutericos (MARCUSCHI
2008 p 158 Grifos do autor)
Nessa perspectiva faz-se necessaacuterio apresentarmos o papel dos gecircneros textuais como
controle social Como jaacute vimos anteriormente segundo Bakhtin (2000) toda atividade
discursiva humana se daacute atraveacutes de algum gecircnero e eacute tambeacutem por esse motivo que haacute uma
consideraacutevel pluralidade de gecircneros Marcuschi (2008) afirma que os gecircneros satildeo
―necessaacuterios para a interlocuccedilatildeo humana Assim para cada esfera de atividade humana
certos gecircneros especiacuteficos satildeo considerados mais ou menos adequados Na esfera
empresarial por exemplo temos que nos adequar agraves formalidades dos gecircneros de redaccedilatildeo
oficial como os ofiacutecios atas circulares e relatoacuterios Na academia apresentamos nossas
produccedilotildees atraveacutes de dissertaccedilotildees artigos cientiacuteficos teses e relatoacuterios de projetos No meio
publicitaacuterio encontramos as propagandas anuacutencios de diversos tipos Enfim satildeo inuacutemeras as
esferas de discurso domiacutenios discursivos e gecircneros textuais atrelados a estes
Marcuschi (2008) enfatiza que o controle social por gecircneros discursivos eacute
incontornaacutevel mas natildeo determinista De acordo com o autor noacutes temos liberdade para nos
expressarmos em qualquer esfera discursiva Poreacutem temos que admitir que a sociedade eacute
constituiacuteda por uma ―maacutequina discursiva logo somos moldados a ela de forma intuitiva e
os gecircneros textuais constituem um poderoso instrumento desta maacutequina Quanto maior a
nossa inserccedilatildeo na sociedade maior o controle social Por exemplo natildeo satildeo todas as pessoas
que podem expedir um mandato de seguranccedila escrever uma dissertaccedilatildeo de mestrado
ministrar uma aula de fiacutesica quacircntica ou publicar uma coluna em um jornal Eacute nessa
perspectiva que Marcuschi (2008) afirma veemente o direcionamento dos gecircneros textuais
para com o envolvimento social e suas especificidades
26
A partir das consideraccedilotildees apresentadas a respeito dos gecircneros textuais dedicamos a
seccedilatildeo a seguir para a caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual
conforme relatamos na introduccedilatildeo deste capiacutetulo
12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL
O certificado de garantia ou termo de garantia eacute um documento oferecido por
prestadoras de serviccedilos fabricantes de produtos diversos ou de qualquer outro segmento que
envolva comercializaccedilatildeo de bens duraacuteveis com a funccedilatildeo de formalizar os direitos e deveres
do consumidor e do fabricante para com o estado fiacutesico e funcional do produto em vista de
problemas de qualquer natureza
Eacute tambeacutem uma espeacutecie de contrato visto que consiste fundamentalmente na
combinaccedilatildeo de interesses de partes sobre algo Aleacutem de ―certificado de garantia
utilizaremos tambeacutem a nomenclatura ―termo de garantia tendo em vista que o documento
do certificado de garantia e o termo em si estatildeo internamente ligados A expressatildeo ―termo de
garantia eacute usada no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20
de marccedilo de 1997
Art 50 A garantia contratual eacute complementar agrave legal e seraacute conferida mediante
termo escrito
Paraacutegrafo uacutenico O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e
esclarecer de maneira adequada em que consiste a mesma garantia bem como a
forma o prazo e o lugar em que pode ser exercitada e os ocircnus a cargo do
consumidor devendo ser-lhe entregue devidamente preenchido pelo fornecedor no
ato do fornecimento acompanhado de manual de instruccedilatildeo de instalaccedilatildeo e uso de
produto em linguagem didaacutetica com ilustraccedilotildees (Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do
Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20 de marccedilo de 1997 p 30)
Em linhas gerais o documento eacute composto por quatro partes garantia contratual
garantia legal condiccedilotildees para validade da garantia contratual e legal condiccedilotildees natildeo cobertas
pela garantia legal e contratual Vejamos um exemplo de certificado de garantia
27
ILUSTRACcedilAtildeO 1 Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario
_de_ar_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Observamos na primeira parte a disposiccedilatildeo da garantia contratual ou seja a garantia
oferecida pelo fabricante
28
ILUSTRACcedilAtildeO 2 Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar
_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Na segunda parte encontramos a disposiccedilatildeo da garantia legal ou seja a garantia
assegurada pelo Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do consumidor
ILUSTRACcedilAtildeO 3 Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c
ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Em seguida vemos as condiccedilotildees de validade da garantia legal e contratual composta
por uma lista exaustiva de itens a serem considerados
29
ILUSTRACcedilAtildeO 4 Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c
ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
E por fim encontramos as condiccedilotildees natildeo cobertas pela garantia legal e contratual
assim como observaccedilotildees gerais
ILUSTRACcedilAtildeO 5 Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar
_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Em relaccedilatildeo agrave estrutura padratildeo dos certificados de garantia a partir do corpus
analisado nesta pesquisa observou-se que o texto que se refere agrave garantia em si corresponde a
menos da metade do documento Grande parte do documento se dedica agrave restriccedilatildeo de
possibilidades de cobertura assim como observaccedilotildees gerais quanto agraves responsabilidades do
fabricante diante de situaccedilotildees como despesas referentes agrave locomoccedilatildeo para depoacutesito do
produto para assistecircncia documentaccedilatildeo necessaacuteria para apresentaccedilatildeo na assistecircncia etc
30
O termo de garantia eacute vinculado diretamente ao Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do
consumidor O coacutedigo estabelece um padratildeo abrangente de formulaccedilatildeo do documento
constando recomendaccedilotildees como o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo necessidade do
acompanhamento do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto assim como clareza na
disposiccedilatildeo dos prazos de garantia legal e contratual
Como discutimos na primeira parte desse capiacutetulo Bakhtin (2000) propotildee que trecircs
dimensotildees constituem os gecircneros de discurso conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo
composicional Iremos a seguir apresentar como estas dimensotildees satildeo percebidas nesse
gecircnero textual
Como conteuacutedo temaacutetico do gecircnero certificado de garantia temos a veiculaccedilatildeo de
direitos e deveres do fabricante e do consumidor O documento apresenta listas exaustivas de
accedilotildees que possibilitam ou natildeo o uso do termo de garantia assim como instruccedilotildees gerais para
a realizaccedilatildeo desse ato Esse conteuacutedo pode variar em parte e apenas questotildees referentes agrave
garantia legal natildeo podem mudar pois estaacute prevista no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do
Consumidor
Em relaccedilatildeo ao estilo observamos nos certificados a utilizaccedilatildeo da norma padratildeo
Busca-se construir um texto claro e objetivo para que dessa forma natildeo haja problemas de
interpretaccedilatildeo para o consumidor Nesse gecircnero natildeo haacute identificaccedilatildeo de quem escreve de
maneira particular como observamos em gecircneros do tipo carta A identificaccedilatildeo do autor eacute
geralmente atribuiacuteda agrave empresa que oferece a garantia O estilo individual que eacute
caracteriacutestico em diversos gecircneros como o artigo de opiniatildeo e cartas pessoais natildeo cabe para
os certificados Como se trata de um texto instrucional esse gecircnero apresenta-se de forma
objetiva de modo que natildeo haacute a necessidade praacutetica da identificaccedilatildeo de quem escreve
Quanto agrave estrutura composicional em linhas gerais tal gecircnero segue uma sequecircncia
de apresentaccedilatildeo em duas etapas Em um primeiro momento apresenta-se o termo de garantia
em si no qual eacute descrito o direito do consumidor em relaccedilatildeo agrave garantia assim como sua
validade No segundo momento parte mais extensa do texto haacute a apresentaccedilatildeo de listas
supostamente exaustivas referentes aos casos que natildeo satildeo cobertos pela garantia assim como
as instruccedilotildees gerais para o reclame do direito Essa sequecircncia de apresentaccedilatildeo do documento
eacute variaacutevel Haacute certificados que satildeo inclusos no manual de instruccedilatildeo do produto (geralmente
na uacuteltima paacutegina) Haacute certificados que satildeo destacados o documento eacute apresentado agrave parte de
qualquer outro texto
Se retomarmos a classificaccedilatildeo dos gecircneros do discurso de Bakhtin (2000) entre
primaacuterios (simples) e secundaacuterios (complexos) podemos considerar que o certificado de
31
garantia estaacute inserido nos gecircneros complexos pois se trata de um documento elaborado de
forma sistemaacutetica no qual haacute necessidade de um aprofundamento social complexo com
caracterizaccedilotildees e descriccedilotildees bem delimitadas
Quanto ao tipo de texto dentro do que foi proposto por Marcuschi (2008) o
certificado de garantia se enquadra no tipo injuntivo porque eacute um texto instrucional com
predominacircncia do modo imperativo nas frases e eacute composto pela listagem de uma seacuterie de
procedimentos a serem observados e seguidos com listas exaustivas contendo direitos e
deveres do fabricante e do consumidor O objetivo do documento eacute oferecer ao cliente todas
as informaccedilotildees relacionadas agrave validade da garantia os casos em que haacute perda da validade e os
casos em que os problemas apresentados se enquadram como defeitos de fabricaccedilatildeo
O certificado de garantia se caracteriza como um gecircnero textual a partir da
perspectiva de Marcuschi (2008) pois eacute um texto que possui caracteriacutesticas soacutecio-discursivas
bem delimitadas com conteuacutedo padratildeo obedecendo a uma mesma linha temaacutetica e foi
constituiacutedo socialmente O gecircnero foi criado a partir da necessidade juriacutedica de resguardar os
fabricantes e consumidores de produtos industrializados e afins quanto agrave possibilidade de
apresentaccedilatildeo de defeitos ou falhas
De posse dos conhecimentos gerais sobre os gecircneros textuais que apresentamos e da
caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual partiremos no proacuteximo
capiacutetulo para a apresentaccedilatildeo das teorias que serviratildeo de aporte teoacuterico para a compreensatildeo
das anaacutelises realizadas no capiacutetulo 3
32
2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS
Neste capiacutetulo tratamos dos nexos semacircnticos ou ―nexos de significado dos quais
consideramos para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica
contraditoriedade e contrariedade Caracterizamos cada um deles utilizando exemplos em
linguagem natural com o intuito de demonstrar o funcionamento dessas relaccedilotildees assim como
mostrar quando tais exemplos deixam de apresentar o nexo Nosso intuito final eacute de oferecer
uma base para a compreensatildeo das anaacutelises que viratildeo no capiacutetulo posterior
Para entendermos melhor o que satildeo os nexos semacircnticos devemos compreender a
distinccedilatildeo entre a semacircntica e a pragmaacutetica que satildeo linhas de estudos linguiacutesticos inter-
relacionaacuteveis Uma definiccedilatildeo bastante difundida da semacircntica e tambeacutem bastante geral eacute
encontrada em Trask (2004 p 261) que diz que a semacircntica eacute o ramo da linguiacutestica que
estuda o significado e em Chierchia (2003 p 7) para quem a semacircntica eacute um estudo do
significado das expressotildees das liacutenguas naturais Podemos tambeacutem caracterizar a semacircntica
destacando a relaccedilatildeo do usuaacuterio da liacutengua e o significado que ele atribuiu agraves palavras que
compotildeem sentenccedilas como propotildee Pires de Oliveira (2001 p 42) Jaacute a pragmaacutetica por outro
lado tambeacutem estuda o significado das liacutenguas naturais mas trata das intenccedilotildees que os
falantes supostamente revelam a partir do uso de sentenccedilas
Para o termo ―pragmaacutetica haacute diversas possibilidades de definiccedilatildeo Levinson (2007)
procura mostrar as implicaccedilotildees que algumas definiccedilotildees podem ter em relaccedilatildeo a outros
estudos Assim podemos citar pelo menos dois conceitos de pragmaacutetica para Levinson
―pragmaacutetica eacute o estudo de todos os aspectos do significado natildeo capturados em uma teoria
semacircntica (Levinson 2007 p14) assim como ―pragmaacutetica eacute o estudo das relaccedilotildees entre
liacutengua e contexto que satildeo gramaticalizadas ou codificadas na estrutura de um liacutengua
(Levinson 2007 p 11) Podemos perceber que nessas duas definiccedilotildees Levinson tanto atribui
agrave pragmaacutetica a responsabilidade sobre aquilo que estaacute aleacutem da semacircntica quanto destaca a
relaccedilatildeo de liacutengua e contexto Jaacute em Wilson (2008) encontramos as definiccedilotildees que Yule
(1996) apresenta para a pragmaacutetica
a) pragmaacutetica eacute o estudo do significado sob o ponto de vista do falante b)
pragmaacutetica eacute o estudo do significado contextual (isto eacute leva em conta o modo como
os falantes organizam seus enunciados aquilo que eles querem dizer de acordo com
os seguintes fatores a quem vatildeo dizer como vatildeo dizer onde e quando vatildeo dizer e
sob que circunstacircncias) c) pragmaacutetica eacute o estudo do como se diz aleacutem daquilo que eacute
33
dito (isto eacute o estudo do significado subjacente do natildeo dito d) pragmaacutetica eacute o
estudo da expressatildeo da proximidadedistanciamento relativo (isto eacute de acordo com
o tipo de proximidade fiacutesica social ou conceitual em relaccedilatildeo aos ouvintes os
falantes determinam como e quanto precisam dizer) (WILSON 2008 p 89)
A discussatildeo sobre as definiccedilotildees de pragmaacutetica e semacircntica e suas distinccedilotildees vem
desde o iniacutecio do seacuteculo XX e muitos autores contribuiacuteram para a evoluccedilatildeo desses conceitos
Em vista desta histoacuterica discussatildeo apresentaremos os conceitos de Charles Morris e Rudolf
Carnap para estas disciplinas linguiacutesticas
Segundo a definiccedilatildeo de Charles Morris (1938) pragmaacutetica eacute o estudo da ―relaccedilatildeo dos
signos com seus inteacuterpretes Jaacute para Rudolf Carnap (1938) a pragmaacutetica eacute o estudo da
linguagem em relaccedilatildeo aos seus falantes Diante dos conceitos de semacircntica e pragmaacutetica que
apresentamos e da distinccedilatildeo entre as linhas de estudos linguiacutesticos Marcondes (2000) afirma
que ―tanto a definiccedilatildeo de Morris quanto a de Carnap fazem parte da jaacute consagrada distinccedilatildeo
geral do campo de estudos da linguagem entre pragmaacutetica que considera a linguagem em
seu uso concreto e semacircntica que examina os signos linguiacutesticos em sua relaccedilatildeo com os
objetos que designam ou a quem se refere Os nexos semacircnticos estatildeo inseridos no campo da
semacircntica e voltaremos a este ponto no final do capiacutetulo
Sobre as relaccedilotildees semacircnticas haacute diversas perspectivas nos estudos linguiacutesticos A
forma como combinamos as palavras e nossa tendecircncia em buscar um conceito fixo de um
termo satildeo complicaccedilotildees que podem dificultar o uso da liacutengua O significado linguiacutestico das
liacutenguas naturais segundo Basso (2009) possibilita nexos semacircnticos entre sentenccedilas E
ainda sobre o significado Basso propotildee
Quando perguntamos o significado de alguma palavra muitas vezes buscamos
aquele modelo significativo presente nos dicionaacuterios Poreacutem natildeo haacute no dicionaacuterio
maneiras preacute-estabelecidas de como uma palavra pode se combinar com outra em
busca da trama de significados dos nexos que favorecem infinitas interpretaccedilotildees
Essas combinaccedilotildees satildeo decorrentes do proacuteprio uso da liacutengua pelos seus falantes
mas natildeo estatildeo nem presentes nos dicionaacuterios nem tampouco algueacutem nos ensina satildeo
conhecimentos impliacutecitos Uma aacuterea da linguiacutestica moderna defende que o nosso
conhecimento semacircntico e um dote geneacutetico portanto os possiacuteveis nexos
semacircnticos satildeo decorrentes de uma capacidade inata de combinaccedilatildeo de palavras e
sentenccedilas parte do conhecimento semacircntico impliacutecito ou competecircncia semacircntica
(BASSO 2009 p 25)
Os nexos semacircnticos satildeo caracterizados na literatura da semacircntica como grupos de
relaccedilotildees de inferecircncia muito estaacuteveis direcionaacuteveis e fortemente dependentes do material
34
linguiacutestico dos enunciados (SANTOS 2012) Essas relaccedilotildees diferem de perspectivas de
inferecircncias como a pressuposiccedilatildeo e a implicatura que dialogam diretamente com o natildeo-dito
Para contrastar os nexos com esses outros tipos de relaccedilatildeo vamos observar os exemplos a
seguir
(1) Carlos parou de beber refrigerante
(2) A tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio
Seguindo a mesma linha de exposiccedilatildeo de Moura (1999 p 12) a partir das duas
sentenccedilas acima observamos dois niacuteveis nas informaccedilotildees veiculadas No primeiro niacutevel
temos contato com o sentido literal das palavras Dessa forma em (1) temos a informaccedilatildeo de
Carlos natildeo toma mais refrigerantes e em (2) que Maacuterio escreveu uma tese sobre bolhas de
sabatildeo No segundo niacutevel atraveacutes da enunciaccedilatildeo das sentenccedilas somos levados a considerar
informaccedilotildees que natildeo estatildeo afirmadas literalmente nas sentenccedilas Dessa forma a partir de (1)
podemos inferir que Carlos bebia refrigerantes antes e em (2) que uma tese sobre bolhas de
sabatildeo jaacute foi escrita Ducrot (1987) denomina de conteuacutedo posto o primeiro niacutevel que
consiste no conteuacutedo literal das sentenccedilas e de conteuacutedo pressuposto ou pressuposiccedilatildeo o
segundo niacutevel que abarca as inferecircncias que podemos fazer a partir da enunciaccedilatildeo das
sentenccedilas Devemos entender que o conteuacutedo posto depende do conteuacutedo pressuposto pois a
aceitaccedilatildeo do primeiro leva a aceitaccedilatildeo do segundo Para que possamos aceitar a verdade do
posto (1) que diz que Carlos parou de beber refrigerante temos que aceitar a verdade
pressuposta de que Carlos jaacute tinha bebido refrigerante antes
Outra relaccedilatildeo semacircntica que dialoga diretamente com o natildeo-dito eacute a implicatura
Grice (1987) propotildee dois tipos de implicaturas as implicaturas convencionais que natildeo satildeo
sujeitas a condiccedilotildees de verdade e as implicaturas conversacionais que natildeo dependem
diretamente da significaccedilatildeo usual das palavras sendo determinadas por certos princiacutepios
baacutesicos do ato comunicativo
As implicaturas convencionais satildeo inferecircncias natildeo sujeitas a condiccedilotildees de verdade
natildeo satildeo derivadas de princiacutepios pragmaacuteticos mais gerais como as maacuteximas conversacionais
mas satildeo simplesmente ligadas pela convenccedilatildeo a itens ou expressotildees lexicais especiacuteficos
Levinson (2007) toma a implicatura conversacional como uma das ideias mais
importantes da pragmaacutetica e vamos considerar neste trabalho apenas as implicaturas do tipo
conversacional de forma que quando mencionarmos o termo implicatura devemos entender
que estamos falando das implicaturas conversacionais e natildeo das convencionais
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Para exemplificar uma implicatura vamos supor uma situaccedilatildeo entre dois amigos em
que ao dialogar sobre as uacuteltimas defesas de teses e dissertaccedilotildees do departamento de poacutes-
graduaccedilatildeo deparam-se com a notiacutecia de que um de seus colegas escreveu uma tese sobre um
tema muito irrelevante e nada original Diante desta situaccedilatildeo um amigo disse para o outro ―A
tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio A partir da situaccedilatildeo em que os dois amigos
estavam imersos nesse contexto e da sentenccedila utilizada por um dos amigos podemos inferir
que foi Maacuterio quem escreveu uma tese sobre um tema irrelevante Podemos perceber neste
exemplo que como descrito nas definiccedilotildees que trouxemos anteriormente a implicatura por
ser uma relaccedilatildeo puramente pragmaacutetica utiliza-se do natildeo-dito e de situaccedilotildees convencionadas
entre falantes para poder existir
Dessa forma podemos retomar o que foi exposto nos paraacutegrafos anteriores afirmando
que os nexos semacircnticos as pressuposiccedilotildees e as implicaturas satildeo inferecircncias de significado
sendo que os nexos estatildeo no campo da semacircntica e as pressuposiccedilotildees e implicaturas estatildeo no
campo da pragmaacutetica
A partir deste ponto iremos descrever os nexos semacircnticos com exemplos mostrando
como essas relaccedilotildees funcionam e tambeacutem casos em que a interpretaccedilatildeo natildeo acontece da
maneira esperada Em relaccedilatildeo aos casos em que a interpretaccedilatildeo eacute prejudicada trataremos de
casos relacionados com a ambiguidade lexical mais especificamente com vagueza e casos
relacionados com a polissemia (desconsiderando seus limites com a homoniacutemia)
21 ACARRETAMENTO
Em linhas gerais o acarretamento ocorre quando a verdade de um conjunto de
sentenccedilas1 que nomearemos de A garante a verdade de outra sentenccedila que nomearemos de
B Dessa forma a verdade da primeira sentenccedila ou do conjunto delas autoriza a verdade de B
(CHIERCHIA 2003) O acarretamento eacute uma inferecircncia que os falantes estatildeo autorizados a
fazer e o que os autoriza eacute o conhecimento linguiacutestico Vamos observar o exemplo a seguir
1 Em nosso trabalho utilizaremos os termo ldquosentenccedilardquo e ldquoproposiccedilatildeordquo intercambiavelmente Alguns autores
definem os dois termos de formas distintas Por exemplo na semacircntica contemporacircnea de mundos possiacuteveis desenvolvida por autores como por exemplo Kripke e Lewis define-se proposiccedilatildeo como a classe de todos os mundos possiacuteveis nas quais ela eacute verdadeira Murcho (2006) apresenta dois exemplos para distinguir proposiccedilotildees e sentenccedilas ldquoSoacutecrates era um filoacutesofordquo e ldquoSocrates was a philosopherrdquo Murcho afirma que os dois exemplos satildeo duas sentenccedilas que exprimem uma uacutenica proposiccedilatildeo Outros como Mortari (2001) natildeo distinguem proposiccedilotildees e sentenccedilas
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(3) alsquo Neymar eacute brasileiro
a Neymar eacute um jogador de futebol
b Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro
Podemos observar no exemplo acima que a sentenccedila (3b) tem a sua verdade garantida
pela verdade de (3alsquo) e (3a) Sendo assim (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Podemos observar
no exemplo que o acarretamento eacute bastante claro pois as informaccedilotildees que estatildeo presentes em
(3b) satildeo a soma das informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) Eacute interessante destacar
que para que a sentenccedila (3b) constitua um acarretamento de (3alsquo) e (3a) natildeo precisamos
conhecer a pessoa Neymar nem sua nacionalidade eou profissatildeo Como as informaccedilotildees
estatildeo postas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) a verdade de (3b) eacute inevitaacutevel Mesmo que no mundo
real Neymar natildeo fosse jogador de futebol e natildeo fosse brasileiro isso em nada modificaria o
acarretamento pois dentro da relaccedilatildeo estabelecida entre (3alsquo) (3a) e (3b) as informaccedilotildees
contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Vejamos o exemplo a seguir
(4) alsquo Todos os sacis tecircm apenas uma perna
a Denis Diderot eacute um saci
b Denis Diderot tem apenas uma perna
Observando o exemplo acima identificamos que em relaccedilatildeo ao conhecimento de
mundo a sentenccedila (4alsquo) eacute verdadeira jaacute que no folclore admitimos como uma caracteriacutestica
dos sacis ter apenas uma perna A sentenccedila (4a) eacute falsa pois Denis Diderot foi um filoacutesofo e
escritor francecircs e natildeo um saci Por fim a sentenccedila (4b) tambeacutem eacute falsa em relaccedilatildeo ao nosso
conhecimento de mundo pois Denis Diderot possuiu durante toda a sua vida as duas pernas
Podemos entatildeo admitir que as sentenccedilas do conjunto (4) em relaccedilatildeo ao nosso conhecimento
de mundo satildeo falsas Mesmo assim o conjunto eacute um acarretamento Diferente do exemplo
(3) em que trouxemos sentenccedilas que constituiacuteam um acarretamento com informaccedilotildees
verdadeiras em relaccedilatildeo ao mundo o exemplo (4) mostra que a relaccedilatildeo semacircntica que estamos
discutindo independe da verdade das informaccedilotildees das sentenccedilas no mundo O que o
acarretamento faz eacute concatenar as sentenccedilas de uma forma que se as premissas forem
verdadeiras a conclusatildeo tambeacutem seraacute verdadeira O acarretamento depende exclusivamente
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da forma em que as sentenccedilas se apresentam Tendo em vista que a relaccedilatildeo depende apenas
da forma podemos representar o acarretamento da seguinte maneira como propotildee Soares
(2003)
Em liacutengua natural
Se estudar entatildeo serei aprovado (1ordf premissa)
Ora estudei (2ordf premissa)
Logo fui aprovado (Conclusatildeo)
E simbolizando2
a rarr b (1ordf premissa)
a (2ordf premissa)
b (Conclusatildeo)
Vale ressaltar que ao utilizarmos o termo ―sentenccedila estamos nos referindo ao que os
gramaacuteticos costumam chamar de oraccedilatildeo Tambeacutem eacute interessante mencionar que o
acarretamento eacute chamado de consequecircncia semacircntica Iremos utilizar como representaccedilatildeo das
premissas sentenccedilas do tipo (Xalsquo) e (Xa) e para a conclusatildeo sentenccedilas do tipo (Xb)
Podemos entender que o acarretamento eacute um tipo de relaccedilatildeo estabelecida entre
premissas e a consequecircncia de forma que a verdade das premissas determina a verdade da
consequecircncia Tambeacutem devemos entender que natildeo eacute possiacutevel que as premissas sejam
verdadeiras junto da negaccedilatildeo da conclusatildeo pelo fato de que dessa forma estaria
descaracterizada a relaccedilatildeo de acarretamento
Como ressaltamos acima os acarretamentos satildeo dependentes da forma ou seja da
relaccedilatildeo que as sentenccedilas possuem entre si e natildeo da verdade ou falsidade no mundo das
informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas Diante disso traremos agrave tona exemplos de sentenccedilas que
2 O siacutembolo ldquorarrrdquo na loacutegica claacutessica representa um condicional assunto de que trataremos no terceiro capiacutetulo
deste trabalho e o siacutembolo ldquordquo representa um acarretamento
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natildeo possuem relaccedilatildeo semacircntica mas atraveacutes da verdade ou falsidade das informaccedilotildees nas
sentenccedilas podem nos confundir e nos induzir ao erro Para tal raciociacutenio errocircneo damos o
nome de falaacutecias
Soares (2003) distingue trecircs caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias (i) satildeo
argumentos parecidos com argumentos vaacutelidos (ii) estabelecem entre premissas e conclusotildees
uma relevacircncia puramente psicoloacutegica que tatildeo-soacute se dirige agraves emoccedilotildees da pessoa sem que as
premissas sejam logicamente relevantes para extrair a conclusatildeo (iii) apresentam-se com
intenccedilatildeo enganadora para que o argumento ainda que invaacutelido seja de todas as maneiras
aceito por todos Vejamos a seguir exemplos de falaacutecias
(5) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher
a Dilma Rousseff eacute mulher
b Dilma Rousseff eacute a presidente do Brasil
A partir do nosso conhecimento de mundo poderiacuteamos dizer que a sentenccedila (5b) eacute
verdadeira Na sentenccedila (5alsquo) temos que A presidente do Brasil eacute mulher De fato tambeacutem se
formos utilizar nosso conhecimento de mundo intuitivamente diremos que esta sentenccedila estaacute
correta considerando a eacutepoca em que este trabalho foi escrito Seguindo temos a sentenccedila
(5a) com a informaccedilatildeo Dilma Rousseff eacute mulher Assim como as sentenccedilas (5alsquo) e (5a) a
partir de nosso conhecimento de mundo podemos afirmar que esta sentenccedila tambeacutem eacute
verdadeira mas devemos entender que eacute preciso considerar a relaccedilatildeo que as sentenccedilas
estabelecem entre si A sentenccedila (5alsquo) natildeo estabelece nenhuma relaccedilatildeo com a sentenccedila (5a)
para que (5b) seja um acarretamento Para mostrar de forma mais clara que o exemplo (5) natildeo
eacute um acarretamento vamos comparaacute-lo com o exemplo a seguir
(6) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher
a Michelle Bachelet eacute mulher
b Michelle Bachelet eacute a presidente do Brasil
Observamos que (6alsquo) e (6a) satildeo verdadeiras (no momento da redaccedilatildeo deste
trabalho) mas (6b) nos parece estranho Sabemos que Michelle Bachelet atualmente eacute
presidente do Chile Mas nada disso interfere para caracterizar um acarretamento e o exemplo
acima foi para deixar claro que a partir das relaccedilotildees semacircnticas dispostas entre os grupos de
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sentenccedilas (5) e (6) natildeo podemos considerar que haacute acarretamento pelo fato acima
mencionado
Ateacute o momento tratamos do conceito de acarretamento seguido de exemplos em
liacutengua natural sua representaccedilatildeo na loacutegica claacutessica e exemplos de falaacutecias A partir deste
ponto trataremos dos fatores que interferem nas relaccedilotildees semacircnticas de uma forma diferente
das falaacutecias A compreensatildeo dos tipos de interferecircncias a seguir seraacute importante para a anaacutelise
do corpus deste trabalho pois se trata de interferecircncias lexicais
No exemplo a seguir trataremos de um problema que pode invalidar relaccedilotildees
semacircnticas a polissemia Quando um termo adquire mais de um sentido aleacutem daquele que eacute
originalmente atribuiacutevel temos um caso de polissemia Crystal (1985) conceitua polissemia
da seguinte maneira
Polissemia termo usado na anaacutelise semacircntica para caracterizar um item lexical com
uma variedade de significaccedilotildees diferentes como manga = ―parte da camisa ―parte
do abajur etc Uma grande parte do vocabulaacuterio da liacutengua eacute polissecircmica ()
(Crystal 1985 p 202)
Tendo em vista que a polissemia eacute uma caracteriacutestica de um item lexical que possui
diversos significados para diversos contextos vamos observar o exemplo a seguir
(7) a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito
b Joatildeo morreu
A sentenccedila (7a) pode ser interpretada pelo menos de duas formas distintas pelo fato da
expressatildeo ―perdeu a cabeccedila ser polissecircmica Se interpretarmos a sentenccedila (7a) considerando
―perder a cabeccedila como ter a cabeccedila desprendida do corpo haacute acarretamento de (7a) para
(7b) Mas esta natildeo eacute a uacutenica interpretaccedilatildeo possiacutevel para a expressatildeo em questatildeo Se
interpretarmos ―perder a cabeccedila como perder a paciecircncia ficar furioso estressado ou algo
parecido a sentenccedila (7a) natildeo acarreta (7b) numa mesma situaccedilatildeo pois o fato de Joatildeo ter
perdido a paciecircncia natildeo garante que ele venha a morrer Dessa forma para natildeo ter problemas
com a polissemia eacute preciso assegurar que se convencione um sentido uacutenico para cada
premissa para desta forma haver um acarretamento
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Outro aspecto que eacute preciso ser mencionado eacute que (7) do jeito que se apresenta natildeo eacute
um acarretamento mesmo que perder a cabeccedila tenha o sentido de ter a cabeccedila desprendida do
corpo Isso se daacute porque (7) eacute um acarretamento incompleto ou seja um entimema
Argumento com uma premissa natildeo-formulada sem a qual ele natildeo eacute vaacutelido Chama-
se muitas vezes de premissa impliacutecitalsquo agrave premissa natildeo formulada Na argumentaccedilatildeo
cotidiana omitem-se premissas oacutebvias A premissa impliacutecita do argumento Antocircnio
deveria ser despedido porque roubou dinheiro puacuteblicolsquo eacute Todas as pessoas que
roubam dinheiro puacuteblico devem ser despedidaslsquo (BRANQUINHO MURCHO
GOMES 2006 p 298)
Vamos observar o exemplo (7) de uma forma que o entimema seria evitado
(8) alsquo Todas as pessoas que perdem a cabeccedila morrem
a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito
b Joatildeo morreu
Podemos constatar no exemplo acima que ao incluirmos a sentenccedila (8alsquo) que eacute a
sentenccedila geral que estava impliacutecita no exemplo (7) resolvemos o problema do entimema
completando assim a relaccedilatildeo de acarretamento de (8alsquo) e (8a) para (8b)
A partir de agora vamos tratar de outro tipo de interferecircncia em relaccedilotildees sentencias
que estaacute tambeacutem no campo do leacutexico a vagueza
A vagueza eacute assim como a polissemia um tipo de ocorrecircncia que dificulta a
interpretaccedilatildeo dos nexos entre sentenccedilas Podemos considerar que haacute vagueza em uma
sentenccedila quando observamos que uma palavra ou expressatildeo causa sentido incompleto
impedindo o entendimento da sentenccedila como um todo Branquinho Murcho e Gomes
conceituam a vagueza de seguinte maneira
As liacutenguas naturais contecircm palavras (tipicamente predicados denotando
propriedades ou relaccedilotildees) cujo domiacutenio de aplicaccedilatildeo eacute parcialmente indeterminado
isto eacute em relaccedilatildeo agraves quais os falantes competentes natildeo estatildeo certos em todos os
casos de que determinado objeto (ou par ordenado de objetos) pertence ao conjunto
denotado por elas (ou agrave relaccedilatildeo) (BRANQUINHO MURCHO GOMES 2006 p
805)
De uma forma geral Allan (2010) caracteriza a vagueza como um tipo particular de
incerteza sobre a aplicaccedilatildeo de um predicado Podemos considerar como um exemplo padratildeo
de predicado vago a classe de adjetivos graduaacuteveis como altura Se uma determinada pessoa
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natildeo eacute suficientemente alta para ser claramente alta e natildeo eacute suficiente baixa para ser
claramente baixa entatildeo aiacute temos um caso de vagueza
Os adjetivos vagos satildeo sempre utilizados em relaccedilatildeo a uma classe de comparaccedilatildeo no
dia-a-dia Estar acima do peso por exemplo pode variar a partir do grau de comparaccedilatildeo Para
uma top model estar acima do peso eacute visto de forma diferente do que para um lutador de
sumocirc por exemplo
Ainda em relaccedilatildeo ao conceito de vagueza Kempson (1977) propotildee que existem
quatro tipos inter-relacionaacuteveis de vagueza vagueza referencial indeterminaccedilatildeo de
significado falta de especificaccedilatildeo no significado de um item disjunccedilatildeo na especificaccedilatildeo do
significado de um item em que o significado abarca uma ou qualquer declaraccedilatildeo de diversas
possibilidades de interpretaccedilatildeo Dentre estes quatro tipos propostos por Kempson iremos nos
dedicar a observar os casos relacionados agrave vagueza referencial Tendo em vista os conceitos
acima vamos observar um exemplo em que a vagueza pode prejudicar a interpretaccedilatildeo de um
acarretamento
(9) a Tobias eacute um gecircnio no xadrez
b Tobias eacute um bom jogador de xadrez
No exemplo acima podemos observar os termos vagos ―gecircnio na sentenccedila (9a) e
―bom na sentenccedila (9b) Para haver a relaccedilatildeo de acarretamento temos que admitir para (9a) e
(9b) o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe Por exemplo haacute acarretamento entre as
sentenccedilas (9a) e (9b) se Tobias for um garoto de oito anos e diante seus colegas da escola ele
se destacar como um exiacutemio conhecedor das regras e teacutecnicas do jogo de xadrez Dessa
forma a sentenccedila ―Tobias eacute um gecircnio no xadrez acarretaria que ―Tobias eacute um bom jogador
de xadrez Jaacute se natildeo utilizarmos o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas
(9a) e (9b) como por exemplo se em (9a) Tobias for um garoto de oito anos que diante de
seus colegas da escola se destaca como um exiacutemio jogador de xadrez mas comparando-o
com os competidores da categoria secircnior do campeonato mundial de xadrez e a partir disso
afirmando (9b) natildeo poderiacuteamos acarretar que Tobias eacute um bom jogador de xadrez Dessa
forma pudemos observar que a presenccedila de termos vagos em sentenccedilas dificulta a
interpretaccedilatildeo dos acarretamentos A seguir observaremos outros nexos que se relacionam com
o acarretamento
42
22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA
Como discutimos anteriormente o acarretamento eacute uma relaccedilatildeo semacircntica que ocorre
em um uacutenico sentido ou seja das premissas para a conclusatildeo Quando uma conclusatildeo
acarreta as premissas chamamos essa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica
Para o termo ―equivalecircncia haacute diversas definiccedilotildees Segundo Branquinho Murcho e
Gomes (2006 p 281) podemos identificar dois sentidos distintos para este termo o primeiro
se refere ao que tratamos neste trabalho ou seja faz referecircncia a relaccedilatildeo entre as sentenccedilas de
certa liacutengua o segundo trata de determinados tipos de sentenccedilas declarativas agraves frases
bicondicionais ou declarativas Dentro desses dois sentidos diversos para o termo
―equivalecircncia no primeiro que eacute o que mais nos interessa os autores ainda distinguem trecircs
variedades centrais de equivalecircncia Satildeo elas equivalecircncia material equivalecircncia estrita e
equivalecircncia loacutegica
A equivalecircncia material eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q (por
exemplo) exatamente quando p e q possuem o mesmo valor de verdade ou seja quando ou
satildeo as duas verdadeiras juntas ou satildeo as duas falsas juntas
A equivalecircncia estrita eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q no caso em
que eacute necessaacuterio que p seja materialmente equivalente a q ou no caso de ser impossiacutevel tanto
que p seja verdadeira e q seja falsa quanto que p seja falsa e q seja verdadeira Branquinho
Murcho e Gomes (2006 p 281) afirmam que nesse caso diz-se que p eacute estritamente
equivalente a q
A equivalecircncia loacutegica eacute uma relaccedilatildeo que se estabelece entre duas sentenccedilas p e q
exatamente no caso de p e q serem duas sentenccedilas mutuamente dedutiacuteveis num dado sistema
loacutegico Diz-se nesse caso que p eacute logicamente equivalente a q
Em nosso trabalho iremos considerar para ―equivalecircncia o sentido apresentado por
Branquinho Murcho e Gomes (2006) para equivalecircncia material A partir deste conceito
vamos observar o exemplo a seguir
(10) a O gato matou o rato
b O rato foi morto pelo gato
Nas sentenccedilas acima podemos identificar uma relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica Eacute
impossiacutevel que o gato tenha matado o rato e que o rato natildeo tenha sido morto Claro que se
43
considerarmos que estamos tratando sobre o mesmo gato e o mesmo rato Dessa forma
sempre que (10a) for verdadeira (10b) tambeacutem teraacute de ser Tambeacutem podemos observar uma
relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica no exemplo (3) Utilizamos o exemplo (3) para mostrar
uma relaccedilatildeo de acarretamento que eacute efetiva mas tambeacutem haacute a relaccedilatildeo de equivalecircncia pois
as premissas ―Neymar eacute brasileiro e ―Neymar eacute um jogador de futebol acarretam que
―Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro da mesma forma que esta uacuteltima sentenccedila
acarreta as duas anteriores Tal exemplo reafirma o conceito descrito acima de que uma
equivalecircncia semacircntica eacute um acarretamento duplo
Assim como acontece no acarretamento a equivalecircncia semacircntica tem problemas com
a polissemia Vamos observar exemplo a seguir
(11) a O Brasil ganhou o jogo contra o Chile
b O Chile perdeu o jogo contra o Brasil
No exemplo acima vemos que a sentenccedila (11a) acarreta a sentenccedila (11b) ao mesmo
tempo em que a sentenccedila (11b) acarreta a sentenccedila (11a) Natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (11a)
seja verdadeira ao mesmo tempo em que a (11b) seja falsa Se uma das sentenccedilas eacute falsa e a
outra eacute verdadeira natildeo haacute acarretamento em nenhum dos dois ―sentidos (em relaccedilatildeo agrave
direccedilatildeo de (11a) para (11b) e de (11b) para (11a)) Natildeo podemos considerar que o Brasil
ganhou o jogo contra o Chile e que o Chile ganhou o jogo contra o Brasil pois sabemos que
em uma partida de futebol haacute apenas um ganhador Haacute a possibilidade de algueacutem querer ir
mais aleacutem e inferir que eacute possiacutevel que os dois times ganharam mas em jogos diferentes Se
considerarmos a situaccedilatildeo de que o Chile jaacute ganhou outros jogos contra o Brasil assim como
que o Brasil jaacute ganhou outros jogos contra o Chile a relaccedilatildeo de equivalecircncia seria possiacutevel
escolhendo qualquer outro jogo como referecircncia mas natildeo eacute o que nos interessa pois
devemos considerar apenas uma situaccedilatildeo para as duas sentenccedilas
A partir deste ponto iremos tratar sobre como a polissemia pode interferir na
interpretaccedilatildeo numa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica da mesma forma que mostramos
anteriormente nas relaccedilotildees de acarretamento Vejamos o proacuteximo exemplo
44
(12) a A lagosta estaacute mais salgada que o peixe
b O peixe estaacute menos salgado que a lagosta
Podemos observar que as sentenccedilas (12a) e (12b) satildeo equivalentes pelo fato de que
natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12a) seja verdadeira e a sentenccedila (12b) seja falsa assim como
natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12b) seja verdadeira e a sentenccedila (12a) seja falsa Poreacutem se
passarmos a admitir significados diferentes para expressotildees empregadas nas sentenccedilas por
exemplo para a palavra ―salgado encontraremos problemas Se admitirmos que sentenccedila
(12a) o conceito de ―salgado eacute de o alimento estar impregnado de sal salpicado de sal ou
com gosto de sal e se este conceito for tambeacutem considerado para a sentenccedila (12b) haacute
equivalecircncia semacircntica Mas tambeacutem podemos interpretar o termo ―salgado como uma
expressatildeo para se referir ao preccedilo alto do produto no mercado Soacute haacute equivalecircncia semacircntica
se admitirmos o mesmo conceito para ―salgado em ambas as sentenccedilas ou seja se
considerarmos o significado de ―salgado como sendo impregnado de sal para a sentenccedila
(12a) ou em (12b) como sendo relativo ao valor alto no mercado natildeo haacute equivalecircncia
semacircntica entre (12a) e (12b)
No proacuteximo exemplo trataremos de outro tipo de ocorrecircncia que dificulta a
interpretaccedilatildeo de nexos a vagueza Como jaacute apresentamos a definiccedilatildeo de vagueza na seccedilatildeo
anterior partiremos direto para o exemplo em que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo de uma
equivalecircncia semacircntica
(13) a Goacutergias eacute mais saacutebio que Hiacutepias
b Hiacutepias eacute menos saacutebio que Goacutergias
Na relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) haacute equivalecircncia semacircntica mas podemos identificar
que nas duas sentenccedilas foram utilizados termos vagos que tornam a interpretaccedilatildeo dificultosa
Em (13a) haacute o uso dos termos ―mais e ―saacutebio assim como em (13b) haacute o uso dos termos
―menos e ―saacutebio Esses termos satildeo vagos e dificultam a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo semacircntica
entre as sentenccedilas O que dificulta a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) eacute o fato de
que termos como ―mais e ―menos assim como ―saacutebio possuem significados diferentes de
acordo com as situaccedilotildees em que satildeo utilizadas Ou seja eacute necessaacuterio que admitamos o
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mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas (13a) e (13b) Dessa forma haveraacute a
relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica
A seguir trataremos sobre outro tipo de relaccedilatildeo semacircntica entre sentenccedilas a
contraditoriedade
23 CONTRADITORIEDADE
Diferente da relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica que consiste em sentenccedilas que satildeo
verdadeiras juntas ou falsas juntas as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias quando uma eacute oposta da
outra tipicamente quando uma sentenccedila B eacute a negaccedilatildeo de uma sentenccedila A Sobre a relaccedilatildeo de
contraditoriedade Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 229) afirmam que ―obteacutem-se a
contraditoacuteria de qualquer proposiccedilatildeo p prefixando-lhe o operador de negaccedilatildeo de modo a
obter notp3 Com base no conceito de contraditoriedade exposto vamos observar o exemplo a
seguir
(14) a O Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016
b O Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016
Podemos observar no exemplo acima que se a sentenccedila (14a) for verdadeira
obrigatoriamente a sentenccedila (14b) tem que ser falsa Se a informaccedilatildeo da sentenccedila (14a) que
diz que o Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas for verdadeira a informaccedilatildeo da sentenccedila
(14b) que diz que o Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas natildeo pode ser verdadeira
Em relaccedilotildees de contraditoriedade o uso de uma afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo eacute algo
tiacutepico mas natildeo determinante No exemplo (14) pudemos observar a relaccedilatildeo de
contraditoriedade caracterizada pelo uso da negaccedilatildeo mas tambeacutem podemos encontrar esse
tipo de relaccedilatildeo sem tal uso Vejamos a seguir
3 O siacutembolo not na loacutegica claacutessica eacute a representaccedilatildeo do operador de negaccedilatildeo ldquonatildeordquo
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(15) a Mecircnon estaacute acordado
b Mecircnon estaacute dormindo
A partir das sentenccedilas acima podemos ver que a relaccedilatildeo entre estas sentenccedilas eacute de
contraditoriedade pois se a sentenccedila (15a) for verdadeira a sentenccedila (15b) tem que ser falsa
da mesma forma que se a sentenccedila (15b) for verdadeira a sentenccedila (15a) deveraacute ser falsa
Natildeo eacute possiacutevel que Mecircnon esteja acordado e dormindo ao mesmo tempo claro que
considerando o mesmo sentido para as palavras ―acordado e ―dormindo nas duas sentenccedilas
e em relaccedilatildeo ao mesmo Mecircnon
Assim como as demais relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos anteriormente a
contraditoriedade tambeacutem eacute sensiacutevel agrave polissemia Vamos observar como a polissemia se
apresenta no exemplo a seguir
(14) a A minha gata estaacute acordada
b A minha gata estaacute dormindo
No exemplo acima natildeo encontramos apenas a relaccedilatildeo de contraditoriedade sem
utilizaccedilatildeo da negaccedilatildeo mas tambeacutem um problema de polissemia que pode anular a relaccedilatildeo de
contraditoriedade Se numa determinada situaccedilatildeo escrevendo este texto me viro na cadeira e
vejo em cima de minha cama o meu animal de estimaccedilatildeo deitado olhando para mim e com
isso afirmo ―a minha gata estaacute acordada como na sentenccedila (14a) natildeo posso considerar
verdadeira a sentenccedila (14b) pois natildeo se pode estar dormindo e estar acordado ao mesmo
tempo tomando as definiccedilotildees de ―estar acordado e ―estar dormindo como oposiccedilotildees A
partir disso as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias Se em outra situaccedilatildeo me viro na cadeira e vejo
minha esposa deitada na cama dormindo e afirmo ―a minha gata estaacute dormindo como na
sentenccedila (14b) ela natildeo pode ser verdadeira ao mesmo tempo em que a sentenccedila (14a) pois
minha esposa natildeo poderia estar acordada e dormindo ao mesmo tempo Ateacute o momento
pudemos atribuir dois sentidos diferentes para o termo ―gata Se considerarmos para a
sentenccedila (14a) o sentido de que o meu animal de estimaccedilatildeo estaacute acordado e para a sentenccedila
(14b) o sentido de que a minha esposa estaacute dormindo essas sentenccedilas natildeo satildeo contraditoacuterias
No exemplo acima percebemos portanto dois aspectos da contradiccedilatildeo em sentenccedilas de uma
liacutengua natural como o portuguecircs Primeiro que natildeo haacute a obrigatoriedade de ter a negaccedilatildeo de
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uma sentenccedila para que a relaccedilatildeo de contraditoriedade exista e segundo que a polissemia
pode tornar problemaacutetica essa relaccedilatildeo
Podemos considerar uma relaccedilatildeo de contraditoriedade entre sentenccedilas sempre que A eacute
verdadeira B eacute falsa e sempre que a sentenccedila B eacute verdadeira A eacute falsa Ou seja as sentenccedilas
A e B nunca podem ser verdadeiras ou falsas juntas
O exemplo de contraditoriedade que mostramos anteriormente foi relacionando duas
sentenccedilas mas podemos encontrar a relaccedilatildeo de contraditoriedade dentro de uma sentenccedila
apenas Vamos observar o exemplo a seguir
(15) Herbert Vianna eacute cantor e natildeo eacute cantor
Se afirmamos que uma pessoa eacute e natildeo eacute cantora constatamos uma contraditoriedade
nesta sentenccedila Em (15) encontramos a apresentaccedilatildeo de um argumento e a negaccedilatildeo do mesmo
argumento em seguida Uma sentenccedila com esta forma natildeo pode ser verdadeira Se
consideramos numa mesma situaccedilatildeo que Herbert Vianna eacute cantor e em seguida afirmo que
Herbert Vianna natildeo eacute cantor esta sentenccedila eacute contraditoacuteria
Se partirmos para determinar sentidos diferentes para o termo ―cantor como por
exemplo que Herbert Vianna eacute um cantor pelo simples fato de que ele emite pelas cordas
vocais sons musicais que ―cantor eacute um termo que soacute pode ser utilizado para os profissionais
que trabalham com a voz na muacutesica ou que ―cantor se jaacute um termo utilizado para designar
algueacutem que canta muito bem natildeo haacute contraditoriedade efetivamente Mas se mantivermos o
mesmo sentido para o termo haveraacute relaccedilatildeo de contraditoriedade
Da mesma forma que a polissemia dificulta a interpretaccedilatildeo de nexos entre sentenccedilas
vamos observar um exemplo em que a vagueza ndash toacutepico que desenvolvemos na primeira
seccedilatildeo deste capiacutetulo - invalida uma relaccedilatildeo de contraditoriedade
(16) a O professor de loacutegica eacute muito alto
b O professor de loacutegica natildeo eacute muito alto
Na relaccedilatildeo entre (16a) e (16b) seguindo o conceito contraditoriedade haacute uma relaccedilatildeo
de contradiccedilatildeo entre as duas sentenccedilas poreacutem podemos identificar termos vagos nas duas
sentenccedilas o que pode dificultar a interpretaccedilatildeo Na sentenccedila (16a) e na sentenccedila (16b)
48
identificamos dois termos vagos que satildeo ―muito e ―alto Eacute possiacutevel considerar as duas
sentenccedilas como falsas ou verdadeiras juntas invalidando a contraditoriedade pois os termos
―muito e ―alto satildeo variaacuteveis de acordo com o grau de comparaccedilatildeo adotado Por exemplo
em (16a) o professor de loacutegica pode ser considerado muito alto em comparaccedilatildeo agraves crianccedilas
para quem ele leciona poreacutem se compararmos o professor de loacutegica da sentenccedila (16a) com os
outros professores do departamento talvez o professor fosse considerado baixo Desta forma
podemos observar que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo das duas sentenccedilas
A seguir traremos o uacuteltimo nexo semacircntico que utilizaremos em nosso trabalho Este
tipo de relaccedilatildeo eacute um pouco parecido com a contraditoriedade
24 CONTRARIEDADE
A contrariedade ocorre quando duas sentenccedilas podem ser falsas juntas mas natildeo
podem ser verdadeiras juntas Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 234) definem
contrariedade da seguinte forma ―duas proposiccedilotildees satildeo contraacuterias se natildeo podem ser ambas
verdadeiras mas podem ser ambas falsas distinguindo-se assim das contraditoacuterias que natildeo
podem ser ambas verdadeiras nem ambas falsas e das subcontraacuterias que natildeo podem ser
ambas falsas mas podem ser ambas verdadeiras
Eacute importante enfatizar que mesmo estando tratanto dos nexos semacircnticos e sua
aplicaccedilatildeo em liacutengua natural os conceitos de sentenccedilas contraacuterias contraditoacuterias
equivalecircncias e acarretamentos tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica As relaccedilotildees de sentenccedilas
contraacuterias e contraditoacuterias satildeo tratadas por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado
atraveacutes de seu quadrado loacutegico ou taacutebua de oposiccedilotildees No Perieacutermeneas (1985) mais
especificamente nos capiacutetulos 6 e 7 Aristoacuteteles nos apresenta os conceitos de sentenccedilas
contraacuterias e contraditoacuterias afirmando que duas sentenccedilas satildeo contraacuterias quando natildeo podem
ser verdadeiras juntas ao mesmo tempo mas podem ser falsas juntas ao mesmo tempo Jaacute em
relaccedilatildeo agraves contraditoacuterias Aristoacuteteles propotildee que toda afirmaccedilatildeo possui sua exata negaccedilatildeo
correspondente e que toda afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo sem opotildeem sendo uma sempre
verdadeira e a outra sempre falsa Dessa forma para Aristoacuteteles um par formado por uma
afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo corresponde a uma contradiccedilatildeo
A partir do conceito de contrariedade vamos observar o exemplo a seguir Nele
encontraremos um caso de polissemia
49
(17) a A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 20 de agosto de 1914
b A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 18 de julho de 1921
Se admitirmos que a seleccedilatildeo brasileira de futebol sobre a qual estamos falando na
sentenccedila (17a) eacute a mesma seleccedilatildeo que estamos falando na sentenccedila (17b) natildeo eacute possiacutevel que
a sentenccedila (17b) seja verdadeira pois algo natildeo pode ser fundado efetivamente em dois
momentos distintos Haacute a possibilidade de se afirmar que estamos falando de duas seleccedilotildees
brasileiras de futebol diferentes pois para ―seleccedilatildeo brasileira haacute diversos significados
aplicaacuteveis ou seja a expressatildeo ―seleccedilatildeo brasileira eacute polissecircmica Por exemplo podemos
definir uma seleccedilatildeo como sendo de futebol de campo e a outra de futebol de salatildeo A partir
dessa interpretaccedilatildeo as duas sentenccedilas poderiam ser verdadeiras juntas e com isso natildeo
haveria contrariedade Mas como devemos admitir apenas uma situaccedilatildeo para as duas
sentenccedilas (17a) e (17b) natildeo podem ser verdadeiras juntas mas podem ser falsas juntas
constituindo uma relaccedilatildeo de contrariedade Eacute possiacutevel que a seleccedilatildeo brasileira de futebol natildeo
tenha sido formada nem em 20 de agosto de 1914 e nem em 18 de julho de 1921 Em
contrapartida numa interpretaccedilatildeo usual a seleccedilatildeo de futebol de um paiacutes eacute formada pela
primeira vez uma soacute vez Algueacutem pode querer ir aleacutem e afirmar que foram empregados
sentidos diferentes para a expressatildeo ―foi formada nas sentenccedilas em questatildeo Poderia dizer
que na sentenccedila (17a) o sentido foi de que a seleccedilatildeo se reuniu pela primeira vez para jogarem
juntos de forma extraoficial e que na sentenccedila (17b) o sentido foi de que a seleccedilatildeo
efetivamente foi documentalmente formada Se admitiacutessemos essas interpretaccedilotildees as
sentenccedilas (17a) e (17b) poderiam ser verdadeiras juntas o que descaracterizaria a relaccedilatildeo de
contrariedade entre as sentenccedilas Assim como o fato de que se a sentenccedila (17a) for falsa a
sentenccedila (17b) pode ser verdadeira ou falsa A falsidade da sentenccedila (17a) natildeo assegura a
verdade da sentenccedila (17b) Podemos entender dessa forma que a polissemia afeta a
interpretaccedilatildeo do nexo
Vamos observar mais um exemplo desta relaccedilatildeo
(18) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado do Acre
b A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado de Santa Catarina
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Se considerarmos a sentenccedila (18a) verdadeira ou seja que a reitoria da UNISUL estaacute
localizada no estado do Acre e tambeacutem levando em conta que a UNISUL eacute uma universidade
que tem uma reitoria e que a reitoria de uma universidade soacute pode estar numa cidade a
sentenccedila (18b) deveraacute ser falsa A sentenccedila (18a) eacute falsa e a sentenccedila (18b) eacute verdadeira e as
duas estabelecem uma relaccedilatildeo de contrariedade A reitoria da UNISUL estaacute localizada no
estado de Santa Catarina e natildeo no estado do Acre A partir desse exemplo e da convenccedilatildeo que
admitimos para ele pudemos observar que se uma sentenccedila A for falsa uma sentenccedila B pode
ser falsa ou verdadeira natildeo podendo ser as duas verdadeiras juntas apenas falsas Ilustrando
mais uma vez veja a relaccedilatildeo a seguir
(19) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Paris
b A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Roma
No exemplo acima podemos afirmar que as sentenccedilas (19a) e (19b) podem ser falsas
pois como jaacute citamos no paraacutegrafo anterior a reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado
de Santa Catarina Dessa forma haacute relaccedilatildeo de contrariedade as duas sentenccedilas satildeo falsas
Jaacute tratamos de exemplos da relaccedilatildeo de contrariedade com problemas de polissemia
mas podemos tambeacutem identificar problemas de validade dos nexos por causa da vagueza A
seguir observe o exemplo
(20) a Este cafeacute estaacute forte
b Este cafeacute estaacute aguado
Observando as sentenccedilas acima identificamos que (20a) e (20b) possuem termos
vagos que podem dificultar a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre as sentenccedilas Em (20a) foi usado
o termo ―forte e em (20b) foi usado o termo ―aguado Como nas outras relaccedilotildees que
apresentamos anteriormente esses termos satildeo vagos pois dependendo da classe de
comparaccedilatildeo em que satildeo apresentados eles podem mudar de sentido Eacute possiacutevel que numa
determinada situaccedilatildeo consideremos que um cafeacute pode natildeo estar nem forte nem fraco
autorizando a possibilidade de (20a) e (20b) serem as duas falsas ao mesmo tempo
descaracterizando a relaccedilatildeo de contrariedade Dessa forma podemos observar que os termos
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vagos dificultam a interpretaccedilatildeo das sentenccedilas consequentemente da relaccedilatildeo que as
sentenccedilas estabelecem entre si Concluindo a exposiccedilatildeo dos nexos que nos interessam neste
trabalho apresentaremos a seguir a justificativa de nosso percurso sobre estas relaccedilotildees
semacircnticas e os tipos de ocorrecircncias que podem dificultar a interpretaccedilatildeo destas
25 JUSTIFICANDO O PERCURSO
Neste capiacutetulo apresentamos inicialmente os conceitos de semacircntica e pragmaacutetica
com o objetivo de mostrar que os nexos semacircnticos que tratamos em nosso trabalho
(acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e contrariedade) satildeo tipos de
inferecircncias que pertencem ao campo da semacircntica Para isso tambeacutem apresentamos duas
inferecircncias que pertencem ao campo da pragmaacutetica (pressuposiccedilatildeo e implicatura)
Na exposiccedilatildeo de cada nexo trouxemos os conceitos seguidos de exemplos em que a
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees semacircnticas eacute clara Em seguida apresentamos exemplos de nexos
com dois tipos de ocorrecircncias que no campo do leacutexico dificultam a interpretaccedilatildeo das
relaccedilotildees semacircnticas a polissemia e a vagueza
Pode parecer confuso a princiacutepio o fato de tratarmos de tipos de inferecircncia que
dependem da forma para se concretizarem (os nexos semacircnticos) relacionando-as com
ocorrecircncias que dificultam o entendimento do conteuacutedo das sentenccedilas (a polissemia e a
vagueza) A confusatildeo se apresenta caso natildeo lembremos que estamos tratando das relaccedilotildees de
inferecircncias em liacutengua natural e natildeo numa liacutengua controlada como num sistema loacutegico por
exemplo
Quando afirmamos que as relaccedilotildees entre sentenccedilas que tratamos em nosso trabalho
dependem da forma falamos de uma ―dessemantificaccedilatildeo ou seja a existecircncia dos nexos vai
depender unicamente da semacircntica dos quantificadores e conectivos (e ou se) Os nexos natildeo
dependem da semacircntica restante do material linguiacutestico exposto na sentenccedila A semacircntica dos
conectivos e quantificadores numa linguagem formal eacute mantida estaacutevel por definiccedilatildeo Na
linguagem natural podemos observar que os tipos de ocorrecircncia que dificultam a
interpretaccedilatildeo dos nexos se fazem presentes justamente no restante do material linguiacutestico da
sentenccedila ou seja para aleacutem da estrutura da sentenccedila que eacute composta pelos quantificadores e
demais conectivos
52
A polissemia e a vagueza satildeo ocorrecircncias tiacutepicas de liacutengua natural e dessa forma
somos obrigados a admitir que ao nos depararmos com qualquer gecircnero textual (que
obviamente estaacute no campo das liacutenguas naturais) numa anaacutelise devemos considerar que o
significado das palavras vai naturalmente interferir nas relaccedilotildees semacircnticas Tambeacutem na
exposiccedilatildeo de tipos de ocorrecircncias que interferem nos nexos semacircnticos tratamos de falaacutecias
que satildeo argumentos invaacutelidos apresentados como vaacutelidos explorando justamente a
interpretaccedilatildeo do conteuacutedo das sentenccedilas
A partir dos nexos semacircnticos que tratamos neste capiacutetulo junto com os tipos de
inferecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees no capiacutetulo seguinte
apresentaremos a anaacutelise de certificados de garantia Como o nosso objetivo eacute analisar quais
satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados nos certificados para restringir possibilidades de
interpretaccedilatildeo decidimos realizar a anaacutelise de ocorrecircncias com conectivos e quantificadores
Consideramos pertinente a escolha desse tipo de anaacutelise pois entendemos que os
quantificadores como o ―todo satildeo tradicionalmente apresentados em relaccedilotildees semacircnticas de
restriccedilatildeo ou abrangecircncia assim como o condicional ―se ou ―somente se e o ―apenas e
―somente A partir desse raciociacutenio acreditamos que esta seria a forma mais correta para
identificarmos ocorrecircncias do tipo que precisamos para a realizaccedilatildeo de nossa anaacutelise Os
nexos semacircnticos natildeo satildeo propiacutecios para as liacutenguas naturais pois natildeo se apresentam de forma
controlada Ocorrecircncias lexicais como as que descrevemos anteriormente podem dificultar a
interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees e isso eacute algo que trataremos nas anaacutelises
Eacute nesta perspectiva que observaremos no capiacutetulo seguinte as anaacutelises de vinte e dois
certificados de garantia nos quais natildeo buscaremos relaccedilotildees bem marcadas e controladas entre
sentenccedilas pois natildeo encontrariacuteamos facilmente mas sim quais satildeo os recursos linguiacutesticos
utilizados pelos autores dos textos para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo
admitindo tambeacutem obviamente os nexos semacircnticos como possiacuteveis recursos
53
3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA
Os certificados de garantia satildeo textos muito presentes em nosso cotidiano e muitas das
vezes noacutes natildeo levamos em conta a sua importacircncia tanto por serem documentos que podem
resguardar nossos direitos sobre um determinado produto quanto pelo fato de natildeo sermos
treinados para ler e interpretar devidamente as informaccedilotildees dispostas nos textos Dessa
forma justificamos a escolha de tal gecircnero para analisarmos em nossa pesquisa Ateacute este
momento de nosso trabalho seguimos o seguinte percurso
1) Mostramos no primeiro capiacutetulo que na elaboraccedilatildeo de certificados de garantia o
autor deve se preocupar em construir o texto buscando restringir ao maacuteximo as
possibilidades de interpretaccedilatildeo para que ele se torne mais eficiente em passar as
informaccedilotildees desejadas e para evitar problemas de interpretaccedilatildeo por parte dos
clientes
2) Tendo em vista que os certificados de garantia satildeo textos instrucionais ou seja
que direcionam a leitura para um fim especiacutefico nossa anaacutelise tem por objetivo
verificar quais satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores destes textos
para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo e para alcanccedilar este objetivo nos
utilizaremos da teoria dos nexos semacircnticos apresentada no segundo capiacutetulo
Como anunciado na introduccedilatildeo o corpus dessa pesquisa eacute formado por 22
certificados de garantia de produtos de diversos segmentos Ele foi coletado utilizando a
internet e natildeo teve um meacutetodo definido de categorizaccedilatildeo na escolha dos textos Decidimos
escolher certificados de diversos segmentos para natildeo obtermos uma anaacutelise viciada e tambeacutem
para obtermos um panorama da estrutura textual
Como analisaremos os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores dos certificados
de garantia para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo elegemos trecircs categorias de
termos a serem analisadas quantificadores universais condicionais e uso do apenassomente
A escolha dessas categorias se deve ao fato delas possuiacuterem tradicionalmente funccedilotildees de
restriccedilatildeo ou abrangecircncia em inferecircncias
Assim como na loacutegica de predicados a silogiacutestica se caracteriza pelo uso dependente
em argumentos dos quantificadores ―alguns e ―todos Nomeamos de quantificador
existencial ou particular aqueles referentes a ―alguns e nomeamos de quantificador universal
aqueles referentes a ―todos (MURCHO 2006) Utilizaremos em nossa pesquisa agraves
ocorrecircncias com quantificadores do segundo tipo Vejamos um exemplo ilustrativo
54
(21) TODO produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia
Possivelmente natildeo encontraremos em nossa anaacutelise nenhuma sentenccedila como esta pois
vemos que o quantificador universal destacado em letras maiuacutesculas abrange totalmente a
possibilidade de cobertura da garantia de um produto Da forma que estaacute expressa se compro
uma TV por exemplo e a mergulho na aacutegua causando defeito poderei receber outra nova do
fabricante pois ―todo produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia
Sobre os condicionais trataremos a anaacutelise na mesma linha de raciociacutenio pois eles
satildeo utilizados em proposiccedilotildees do tipo ―se X entatildeo Y oportunizando abrangecircncia ou
restriccedilatildeo de possibilidades de interpretaccedilatildeo como podemos ver ilustrado no exemplo a
seguir
(22) SE o produto apresentar defeito seraacute reparado gratuitamente
Da mesma forma como mostramos no exemplo anterior provavelmente natildeo
encontraremos sentenccedilas tatildeo abrangentes em nosso corpus como esta pois da forma como
estaacute posta ampliaria muito a possibilidade de cobertura da garantia de um produto Podemos
interpretar a partir da leitura da sentenccedila acima que o reparo do produto seraacute efetuado caso o
produto apresente qualquer defeito por qualquer motivo durante qualquer periacuteodo de tempo
sendo utilizado por qualquer pessoa e em qualquer circunstacircncia entre outras possibilidades
Para reparar tamanha abrangecircncia os autores dos textos podem utilizar listas exaustivas com
detalhes especiacuteficos apoacutes a apresentaccedilatildeo dos condicionais para direcionar efetivamente a
cobertura da garantia
Por fim em relaccedilatildeo ao uso dos termos ―apenas e ―somente analisaremos os termos
nos contextos que os autores buscam restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos textos
Vejamos o exemplo a seguir
(22) Estaratildeo cobertos pela garantia APENAS os produtos que natildeo estatildeo em
promoccedilatildeo
55
No exemplo acima tambeacutem inventado vemos que o ―apenas aparece como um
restritor da garantia deixando claro que soacute os produtos que foram adquiridos pelos preccedilos
normais ou seja fora da promoccedilatildeo estaratildeo cobertos pela garantia Dessa forma produtos em
promoccedilatildeo ficam descobertos
Com os conceitos sobre as categorias de anaacutelise dispostos acima apresentaremos a
seguir a anaacutelise dos trechos coletados em nosso corpus separada por tipos de ocorrecircncia
Iremos observar como se apresentam os quantificadores condicionais ocorrecircncias com o
apenassomente assim como observaremos os tipos de ocorrecircncias no campo do leacutexico que
dificultam a interpretaccedilatildeo dos trechos (polissemia e vagueza)
31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL
Vejamos a seguir as ocorrecircncias4 em que o quantificador universal eacute utilizado
5
(1) Este produto e as peccedilas substituiacutedas seratildeo garantidos pelo restante do
prazo original TODAS as peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades
da SAMSUNG
Podemos observar na ocorrecircncia acima que o fabricante utiliza o quantificador para
fazer com que o leitor infera que absolutamente todas as peccedilas que forem substituiacutedas na
assistecircncia a algum aparelho defeituoso se tornaratildeo propriedade da fabricante Dessa forma o
cliente natildeo poderaacute em hipoacutetese alguma ficar com a peccedila trocada
Percebemos no trecho acima que o quantificador universal ―todas poderia ser
excluiacutedo da sentenccedila e com isso em nada alteraria o sentido da sentenccedila Forccedilando uma
possiacutevel interpretaccedilatildeo da sentenccedila o leitor poderia afirmar que se a sentenccedila fosse disposta
da seguinte maneira ―As peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades da SAMSUNG
poderia existir uma classe de peccedilas eletrocircnicas de produtos SAMSUNG que
4 Utilizaremos o termo ldquoocorrecircnciardquo tanto para se referir ao trecho completo do corpus quanto para a
sentenccedila em que o conectivo grifado se apresenta Natildeo faremos distinccedilatildeo para este uso 5 Para a exibiccedilatildeo das ocorrecircncias do nosso corpus reiniciaremos a numeraccedilatildeo natildeo seguindo a contagem
realizada para os exemplos dos capiacutetulos anteriores
56
tradicionalmente fossem substituiacutedas em manutenccedilotildees mas natildeo recolhidas pelo fabricante
Dessa forma o quantificador universal ―todas se mostraria como a soluccedilatildeo para esse
problema de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos
na ocorrecircncia6 (1)
(2) Esta garantia substitui TODAS as outras garantias expressas ou
taacutecitas incluindo sem limitaccedilatildeo garantias taacutecitas de comercializaccedilatildeo
e adequaccedilatildeo a um fim especiacutefico
(Certificado 1)
Nesta ocorrecircncia o fabricante utiliza o quantificador para abranger ao maacuteximo seu
texto no intuito de inferir que a garantia em anaacutelise se sobrepotildee a qualquer outro tipo de
garantia oferecida ao cliente
Podemos observar que se o quantificador universal ―todas natildeo fosse utilizado o
sentido da sentenccedila permaneceria o mesmo Se tiveacutessemos encontrado a sentenccedila da forma
―Esta garantia substitui as outras garantias o cliente iria interpretar a sentenccedila sem
dificuldades O uso do quantificador aparece como um termo para dar ecircnfase ao que jaacute estaacute
dito na sentenccedila acima Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos na
ocorrecircncia (2)
(3) TODO atendimento de reparo deve ser precedido de ligaccedilatildeo
telefocircnica ao Suporte Teacutecnico Telefocircnico da AOC (0800-10-9539)
para que seja feita uma avaliaccedilatildeo preacutevia do problema a fim de
constatar a existecircncia de defeito ou viacutecio do produto esgotando-se
TODAS as possibilidades de se tratar de uma falha de operaccedilatildeo ou
uso do produto por parte do consumidor
(Certificado 4)
No trecho acima podemos observar que na primeira ocorrecircncia do quantificador o
fabricante utiliza-o para inferir que o cliente em qualquer caso de submissatildeo do aparelho agrave
assistecircncia deve entrar em contato com o suporte teacutecnico telefocircnico da empresa e ainda
6 Decidimos pontuar no final de cada anaacutelise o fato de haver ou natildeo termos polissecircmicos ou vagos nas
ocorrecircncias porque consideramos estes tipos de ocorrecircncias como sendo os principais meios de dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos instrucionais Ao anunciar que natildeo haacute termos dessas categorias em cada anaacutelise por mais que se mostre repetitivo na leitura ao mesmo tempo invoca a importacircncia (e necessidade segundo nossa perspectiva) que depositamos nesses fatos em cada ocorrecircncia
57
reforccedila utilizando outra vez o quantificador ―todas inferindo que o produto soacute iraacute para a
assistecircncia efetivamente caso natildeo haja mais nenhuma possibilidade de resoluccedilatildeo do problema
atraveacutes do contato telefocircnico Ao utilizar esse reforccedilo o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo ao
fato de que por exemplo o problema possa ser resolvido atraveacutes de instruccedilotildees passadas pela
empresa via telefone ao cliente e o cliente natildeo aceitar e exigir que o produto seja reparado
somente na assistecircncia teacutecnica ou simplesmente para evitar que a assistecircncia teacutecnica receba
algum produto que natildeo estaacute defeituoso ou viciado
Diferente da ocorrecircncia (2) o uso do quantificador universal ―todo se faz necessaacuterio
para evitar que o cliente interprete a sentenccedila de uma forma indesejada por parte do
fabricante Por exemplo caso o autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todo na
primeira parte ―Todo atendimento de reparo deve o cliente poderia interpretar que ele
poderia obter atendimento de reparo sem passar pelo contato telefocircnico com o suporte teacutecnico
do fabricante Na utilizaccedilatildeo do quantificador universal ―todas no final da sentenccedila tambeacutem
observamos que se o autor do texto natildeo utilizasse esta estrateacutegia tambeacutem possibilitaria que o
texto fosse interpretado de outra maneira Se o cliente se deparasse com a sentenccedila
―esgotando-se as possibilidades de se tratar de uma falha poderia interpretar que se para
algum tipo de falha de operaccedilatildeo ou seja de utilizaccedilatildeo do produto haveria a possibilidade de
enviar o produto para assistecircncia teacutecnica Como o autor utilizou o quantificador nas duas
passagens que citamos ele direcionou a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha
duacutevidas sobre aquilo que o fabricante deseja expressar
Sobre tipos de ocorrecircncia que dificultam a interpretaccedilatildeo do texto pudemos identificar
a expressatildeo ―viacutecio do produto Esta expressatildeo eacute muito especiacutefica e estaacute presente no Coacutedigo
de defesa do consumidor Segundo Bruno Miragem (2008) ―Viacutecio do produto ou do serviccedilo
abrange o efeito decorrente da violaccedilatildeo aos deveres de qualidade quantidade ou informaccedilatildeo
impedindo com isso que o produto ou serviccedilo atenda aos fins que legitimamente dele se
esperam (dever da adequaccedilatildeo) O autor do certificado natildeo disponibilizou nenhum conceito
para a expressatildeo ―viacutecio do produto apresentando desta forma uma dificuldade a mais para
a interpretaccedilatildeo do texto por parte do cliente Caso o autor tenha elaborado o texto
considerando por exemplo que qualquer pessoa que leia um certificado de garantia deve ser
conhecedor de todos os termos e expressotildees descritas no CDC (a partir desse ponto iremos
utilizar esta sigla para ―coacutedigo de defesa do consumidor) natildeo haveria problema em
simplesmente usar o termo sem conceituar mas isso natildeo eacute pertinente Para evitar que esta
expressatildeo natildeo fosse polissecircmica o autor deveria ter elaborado um mini-glossaacuterio com os
termos que seriam usuais no texto e que possuem um sentido especiacutefico no ramo em que o
58
produto estaacute inserido (por exemplo peccedilas de carros ou peccedilas eletrocircnicas) e no CDC7
(4) A Garantia do Produto oferecida por este Termo abrange TODOS os
defeitos de material ou de fabricaccedilatildeo do aparelho constatados pela
Robert Bosch Ltda bem como a substituiccedilatildeo das peccedilas que
apresentarem viacutecios aleacutem da matildeo-de-obra utilizada no respectivo
reparo
(Certificado 8)
No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador ―todos para assegurar ao cliente
que em qualquer caso em que o produto possua defeito de material ou de fabricaccedilatildeo a
garantia estaraacute assegurada Aleacutem de assegurar isso tambeacutem garante a substituiccedilatildeo da peccedila do
aparelho que estiver com problema e a matildeo-de-obra tudo por conta do fabricante Caso o
autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todos ele poderia abrir margem para
outras interpretaccedilotildees como por exemplo que esta garantia natildeo abrange qualquer defeito do
produto constatado pelo fabricante Eacute interessante citar que a utilizaccedilatildeo do quantificador
―todos foi realizada beneficiando o fabricante pois mesmo afirmando que a ―garantia
abrange todos os defeitos o autor direciona para ―todos os casos que forem constatados
pelo fabricante Ou seja fica a criteacuterio do fabricante decidir o que eacute defeito e o que natildeo eacute
Assim como na ocorrecircncia (3) identificamos o uso do termo ―viacutecios que natildeo tem o
seu conceito descrito no texto do certificado O termo ―viacutecio natildeo eacute utilizado em nosso
cotidiano como algo vinculado a um objeto Geralmente conceituamos esse termo como
referente agrave dependecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica em relaccedilatildeo a uma substacircncia Tambeacutem podemos
conceituar como uma mania (costume de fazer sempre a mesma coisa) Enfim o termo
utilizado da forma em que foi descrita em (4) necessitaria que em alguma parte do texto
aparecesse o conceito para este termo que deve ser interpretado de forma especiacutefica pois eacute
um termo teacutecnico apresentado no CDC e muitas das vezes o cliente natildeo tem conhecimento
deste conceito favorecendo dificuldades a interpretaccedilatildeo do texto
(5) TODOS os eventuais danos ou demoras resultantes da natildeo
observacircncia dessas recomendaccedilotildees fogem agrave responsabilidade da APC
(Certificado 7)
7 Sobre esta estrateacutegia de eliminaccedilatildeo da polissemia e vagueza atraveacutes do uso de um glossaacuterio por autores de
textos instrucionais ver Estrela e Santos (2014)
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Na ocorrecircncia acima a empresa APC se resguarda de qualquer responsabilidade sobre
o produto caso o cliente natildeo siga as recomendaccedilotildees dadas pelo fabricante Para isso utiliza o
quantificador universal para abranger ao maacuteximo as possibilidades de natildeo cobertura
favorecendo o fabricante Observamos que a utilizaccedilatildeo do quantificador na ocorrecircncia (5)
serviu para intensificar o que foi descrito na sentenccedila Caso natildeo fosse utilizado poderia
deixar margem para outras interpretaccedilotildees como por exemplo que poderia existir algum tipo
de dano eventual que fosse de responsabilidade do fabricante O quantificador ―todos
elimina esse tipo de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos
polissecircmicos na ocorrecircncia (5)
(6) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA garante e consequentemente
compromete-se a reparar ou substituir pelo prazo abaixo indicado
contado a partir da data indicada no documento fiscal representativo
de venda do veiacuteculo Hyundai TODAS as peccedilas que em serviccedilo
normal apresentem defeito de fabricaccedilatildeo ou de material desde que
observadas as respectivas condiccedilotildees sob pena de ser
automaticamente considerado cancelado o presente Certificado de
Garantia independentemente de qualquer aviso ou notificaccedilatildeo
(Certificado 17)
No trecho acima podemos observar que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se daacute
de forma bastante controlada Mesmo o termo ―todas sendo naturalmente utilizado para
abranger ou restringir ao maacuteximo inferecircncias na ocorrecircncia acima vemos sua utilizaccedilatildeo
dependendo de vaacuterios aspectos para se concretizar A Hyundai se compromete em reparar ou
substituir ―todas as peccedilas dos veiacuteculos que estiverem dentro de todas as caracteriacutesticas
descritas antes do termo ser usado como estar dentro do prazo estabelecido pelo fabricante
apresentarem defeito de fabricaccedilatildeo ou material e aleacutem disso observando os procedimentos
detalhados pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o quantificador universal eacute
utilizado de forma controlada pelo fabricante restringindo ao seu sabor as possibilidades de
validade da garantia
(7) TODA revisatildeo deveraacute ser registrada no quadro de registro de revisotildees
para assegurar a garantia de seu veiacuteculo
(Certificado 17)
60
Na ocorrecircncia acima observamos que o fabricante utilizou o quantificador universal
para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente da seguinte forma o
cliente que possui um veiacuteculo na garantia poderia interpretar por exemplo caso natildeo houvesse
a utilizaccedilatildeo do quantificador ―toda na sentenccedila (7) fazer as revisotildees do veiacuteculo em qualquer
oficina e natildeo registrar as mudanccedilas feitas no carro em lugar algum natildeo perdendo a garantia
do veiacuteculo O quantificador universal ―toda direciona a interpretaccedilatildeo da inferecircncia para que
o cliente efetue qualquer revisatildeo do veiacuteculo numa concessionaacuteria do fabricante e aleacutem disso
ter as revisotildees registradas no quadro de registro de revisotildees do fabricante Na ocorrecircncia (7)
natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos
(8) TODOS aparelhos da ONEAL saem da faacutebrica preacute-ajustados em
220V
(Certificado 5)
Nesta ocorrecircncia (8) o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para
abranger a informaccedilatildeo de que qualquer produto produzido por ele eacute ajustado em 220V
resguardando-se de por exemplo um questionamento de algum cliente sobre o
funcionamento de qualquer produto em outra voltagem ou utilizaccedilatildeo do produto em outra
voltagem ocasionando defeito no produto Caso isso ocorra o fabricante natildeo poderaacute ser
responsabilizado pois a partir da ocorrecircncia (8) ele explica a voltagem a ser utilizada natildeo
garantindo o funcionamento do produto em outras voltagens Na ocorrecircncia (8) observamos
que se o fabricante natildeo tivesse utilizado o quantificador universal ―todo natildeo alteraria a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila Podemos entender que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal na
ocorrecircncia (8) serviu apenas para intensificar a informaccedilatildeo da sentenccedila
(9) TODOS nossos produtos satildeo testados durante horas nos mais severos
regimes antes de serem aprovados para o mercado
(Certificado 5)
No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para abranger a
interpretaccedilatildeo da inferecircncia Dessa forma o fabricante tenta nos levar a interpretar a
61
ocorrecircncia (9) da seguinte forma qualquer produto produzido por este fabricante eacute testado de
forma rigorosa antes de ser despachado para comercializaccedilatildeo Essa interpretaccedilatildeo eacute dificultada
pela presenccedila de termos vagos Ao utilizar a expressatildeo ―durante horas nos mais severos
regimes o fabricante natildeo teve o cuidado de atrelar essa informaccedilatildeo agrave classe de comparaccedilatildeo
na qual o cliente deve se basear para interpretar a sentenccedila da forma como o fabricante
deseja Ao afirmar que os produtos satildeo testados ―durante horas o fabricante natildeo especificou
por quantas horas os produtos satildeo testados e o que isso representa Por exemplo para
produtos X identificados como em bom funcionamento deve-se testaacute-los durante Y horas
segundo o manual Z que regulamenta a qualidade dos produtos X Aleacutem disso o fabricante
ainda afirma sobre os testes que satildeo ―nos mais severos regimes cometendo a mesma falha
da expressatildeo anterior natildeo descrevendo o que eacute isso e o que isso representa A expressatildeo eacute
vaga pois esses regimes de testes satildeo severos em relaccedilatildeo a quecirc Como natildeo haacute um grau de
comparaccedilatildeo de classe o cliente pode interpretar a ocorrecircncia de formas diversas Se o
fabricante tivesse especificado em algum lugar do texto que a expressatildeo ―nos mais severos
regimes deveria ser comparada por exemplo a um tipo de teste que coloca os produtos em
condiccedilotildees extremas para averiguar a sua qualidade durabilidade e bom funcionamento que eacute
norma padratildeo de qualidade para os produtos que ele estaacute justificando em (9) natildeo haveria
vagueza Do modo como a ocorrecircncia se apresenta as informaccedilotildees ―durante horas e ―nos
mais severos regimes satildeo vagas e dificultam a interpretaccedilatildeo da sentenccedila
(10) A ONEAL garante TODOS os seus produtos por um periacuteodo de 01
(um) ano jaacute incluiacutedo o periacuteodo de garantia legal (os primeiros 90 dias)
a partir da data da compra para problemas mecacircnicos ou por falhas
industriais em montagem e pintura
(Certificado 5)
Podemos observar na ocorrecircncia (10) que o fabricante assegura a garantia para todos
os seus produtos utilizando o quantificador universal com algumas restriccedilotildees Se natildeo
houvesse a utilizaccedilatildeo do quantificador nesta inferecircncia o cliente poderia considerar que a
garantia de seu produto por exemplo teria validade vitaliacutecia e que o produto estaria coberto
pela garantia mesmo se for danificado por negligecircncia do cliente O fabricante restringe o
periacuteodo de validade especificando que o periacuteodo de um ano jaacute inclui o periacuteodo da garantia
legal que eacute de 90 dias Ainda enfatiza que se deve contar o periacuteodo a partir da data da compra
e ainda explica que a garantia cobriraacute somente produtos que apresentarem problemas
62
mecacircnicos ou aqueles que apresentarem problemas industriais em montagem e pintura Dessa
forma problemas de outra natureza natildeo seratildeo cobertos pela garantia assim como produtos
com mais de um ano de adquiridos tambeacutem natildeo estaratildeo cobertos Poderiacuteamos identificar a
expressatildeo ―garantia legal como polissecircmica caso o fabricante natildeo tivesse apresentado o
conceito para a expressatildeo logo apoacutes entre parecircnteses Eacute sabido que no CDC a garantia legal eacute
caracterizada como o periacuteodo de 90 dias apoacutes a aquisiccedilatildeo de um produto Para evitar que
houvesse uma interpretaccedilatildeo indevida o fabricante conceituou a expressatildeo imediatamente
apoacutes o aparecimento dela na sentenccedila
(11) Em vista das mudanccedilas de leis que poderatildeo ocorrer TODO
certificado seraacute regido pelas normas do cartatildeo de garantia mais
recentemente atualizado pela faacutebrica
(Certificado 5)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todo para afirmar
que qualquer certificado de garantia de seus produtos deveraacute seguir as normas dispostas no
cartatildeo de garantia mais recentemente atualizado pela faacutebrica ou seja caso algum cliente tente
solicitar a garantia atraveacutes de um cartatildeo de garantia desatualizado ele natildeo estaraacute autorizado
Dessa forma o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo agraves possiacuteveis atualizaccedilotildees de leis ou
informaccedilotildees nos cartotildees de garantia dos diversos lotes de produtos impossibilitando o cliente
de reclamar sobre qualquer tipo de alteraccedilatildeo no documento em questatildeo A utilizaccedilatildeo do
quantificador universal em (11) eacute importante para dar ecircnfase agrave informaccedilatildeo central da sentenccedila
e tambeacutem para evitar que por exemplo o cliente interpretasse que algum certificado poderia
ser regido pelas normas de outro cartatildeo de garantia que natildeo fosse o mais recente Natildeo
identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos em (11)
(12) A garantia incide sobre TODOS os componentes montados
originalmente em Veiacuteculo conforme descrito na Nota Fiscal de
venda quer fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER ou
por esta adquiridos de terceiros
(Certificado 16)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para
restringir a interpretaccedilatildeo da sentenccedila quando afirma que a garantia cobre qualquer
63
componente montado originalmente em veiacuteculo ou seja a garantia natildeo cobre componentes
avulsos Aleacutem disso os componentes montados devem estar descritos na Nota Fiscal de
venda sendo assim se natildeo estiverem lanccedilados invalidam a garantia e por fim os veiacuteculos
devem tem sido fabricados por alguma empresa do grupo DAIMLER ou fabricado por outra
empresa mas tendo sido adquirido pelo fabricante que estaacute oferecendo a garantia Dessa
forma podemos ver que o quantificador universal foi utilizado pelo fabricante de forma
restrita limitando a abrangecircncia de acordo com seus interesses Caso o quantificador
universal natildeo tivesse sido utilizado na sentenccedila haveria a possibilidade do cliente interpretar
(12) de vaacuterias maneiras Por exemplo admitir que a garantia pode ser vaacutelida para produtos
que foram fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER mas natildeo foram lanccedilados na
Nota Fiscal de venda Em vista disso a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela
necessidade do fabricante restringir a interpretaccedilatildeo do texto da garantia buscando direcionar
melhor a informaccedilatildeo que ele estaacute vinculando em seu texto Natildeo identificamos nem termos
vagos nem termos polissecircmicos em (12)
(13) Executar TODAS as revisotildees estabelecidas pela Mercedes-Benz do
Brasil Ltda
(Certificado 16)
(14) Executar TODAS as manutenccedilotildees reparaccedilotildees e regulagens em um
dos Concessionaacuterios ou Postos de Serviccedilos Autorizados Mercedes-
Benz no territoacuterio brasileiro
(Certificado 16)
Nas duas ocorrecircncias acima podemos observar que o fabricante utiliza o quantificador
universal ―todas para definir que a garantia do produto soacute seraacute vaacutelida caso o cliente realize
as funccedilotildees descritas Caso o cliente natildeo realize pelo menos uma delas a garantia seraacute
invalidada Se o cliente natildeo realizar pelo menos uma revisatildeo sugerida pela fabricante perderaacute
a validade Aleacutem disso se o cliente realizar algum tipo de manutenccedilatildeo no veiacuteculo em alguma
concessionaacuteria que natildeo seja autorizada da Mercedes-Benz e no territoacuterio brasileiro tambeacutem
perderaacute a garantia O fabricante mesmo utilizando o quantificador universal nas duas
ocorrecircncias natildeo deixa de condicionar a validade da garantia de acordo com seus interesses O
cumprimento das recomendaccedilotildees dispostas apoacutes o quantificador natildeo garantem efetivamente
que a garantia do produto estaacute assegurada Ou seja mesmo que o cliente execute todas as
manutenccedilotildees reparos e regulagens em um dos concessionaacuterios do fabricante natildeo impede que
64
a garantia seja invalidade por outro motivo O quantificador universal foi utilizado pelo
fabricante em (13) e (14) sem limites e em seu benefiacutecio Natildeo identificamos nem termos
vagos nem termos polissecircmicos em (13) e (14)
(15) TODA solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica durante o periacuteodo da
garantia deveraacute ser feita obrigatoriamente agrave faacutebrica via e-mail ou
fax descrevendo detalhadamente os problemas apresentados natildeo
excedendo o prazo de 30 dias apoacutes detectaacute-lo indicando o modelo do
equipamento e o nuacutemero de seacuterie descrito na placa de identificaccedilatildeo do
mesmo e constante neste certificado
(Certificado 22)
Na ocorrecircncia (15) o fabricante utiliza o quantificador universal ―toda de forma
abrangente determinando que todas as solicitaccedilotildees de assistecircncia teacutecnica para qualquer
produto deveraacute seguir as instruccedilotildees definidas em seguida Caso o cliente tente solicitar a
assistecircncia natildeo seguindo algum dos passos e prazos determinados pelo fabricante a garantia
seraacute invalidada O quantificador universal foi utilizado para evitar interpretaccedilotildees relativas
sobre os procedimentos descritos no texto Por exemplo se (15) natildeo tivesse o quantificador
universal ―toda uma possiacutevel interpretaccedilatildeo seria que uma solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica
durante o periacuteodo da garantia poderia ser realiza na loja em que o produto foi comprado e natildeo
apenas na faacutebrica Dessa forma a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela
necessidade do fabricante restringir o percurso da solicitaccedilatildeo da garantia para o procedimento
que ele deseja que seja seguido pelo cliente Natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos
em (15)
32 USO DO CONDICIONAL
Vejamos a seguir as ocorrecircncias em que o condicional eacute utilizado Quando as
ocorrecircncias apresentarem o mesmo sentido de interpretaccedilatildeo agruparemos numa mesma
anaacutelise como podemos observar a seguir nas ocorrecircncias (16) (17) e (18)
(16) A garantia fica automaticamente invalidada SE
(Certificado 2)
65
(17) A garantia legal e contratual perderaacute seu efeito SE
(Certificado 3)
(18) Esta garantia perderaacute a validade SE
(Certificado 11)
Podemos observar nas ocorrecircncias (16) (17) e (18) que o condicional tem a funccedilatildeo de
limitar a aplicaccedilatildeo da garantia Os usos do ―se natildeo excluem a possibilidade de haver outros
casos em que a garantia natildeo se aplica ou seja as listas que satildeo apresentadas apoacutes o
condicional natildeo satildeo exaustivas Vale mencionar que da mesma forma que o ―todo o ―se
foi utilizado para beneficiar o fabricante como afirmamos acima O ―se assegura que a
validade do produto seraacute perdida nos casos que satildeo listados apoacutes o condicional sem eliminar
a possibilidade de haverem outros casos abrangendo sem limites os casos em que a garantia
natildeo cobriraacute o produto e restringindo a validade da garantia para o cliente Natildeo identificamos
termos vagos ou polissecircmicos nas ocorrecircncias (16) (17) (18) Na ocorrecircncia (17) o autor
usou os termos ―garantia legal e ―contratual que poderiam ser considerados termos
polissecircmicos que dificultariam a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia mas foram apresentados no
certificado os conceitos para os dois termos Para ―garantia legal o autor definiu como
sendo o prazo inicial da garantia com duraccedilatildeo de 90 dias ( contados imediatamente apoacutes a
emissatildeo da Nota Fiscal de compra) e previsto no CDC por sua vez para ―garantia
contratual se refere ao periacuteodo de dois anos incluindo o periacuteodo da garantia legal para todo
equipamento (neste caso condicionador de ar) e cinco anos para o compressor Com a
apresentaccedilatildeo destas definiccedilotildees o autor evitou que os termos se apresentassem no texto como
polissecircmicos
(19) A garantia do produto natildeo se aplica
(Certificado 8)
Trouxemos para a anaacutelise a ocorrecircncia acima pois a expressatildeo ―natildeo se aplica desta
sentenccedila funciona como um condicional mesmo sem ter a forma das ocorrecircncias que
analisamos anteriormente O fabricante utiliza esse condicional precedendo uma lista de
possiacuteveis situaccedilotildees em que a garantia poderia ser reclamada pelo cliente dessa forma
impossibilitando o cliente de exigir qualquer direito sobre alguma das possiacuteveis situaccedilotildees
Natildeo identificamos termos polissecircmicos e vagos na ocorrecircncia (19)
66
(20) A garantia do produto extingue-se
(Certificado 8)
Assim como na ocorrecircncia anterior tambeacutem natildeo encontramos o condicional ―se de
forma expliacutecita mas o termo ―extingue-se se comporta como tal A sentenccedila acima foi
utilizada pelo fabricante antecedendo uma lista de possibilidades de situaccedilotildees em que o
cliente poderia reclamar a garantia do produto excluindo entatildeo qualquer direito do cliente
em relaccedilatildeo ao que foi listado abaixo da sentenccedila em questatildeo Natildeo identificamos termos vagos
e polissecircmicos na ocorrecircncia (20)
(21) O cliente perderaacute a garantia do seu veiacuteculo SE
(Certificado 17)
Na ocorrecircncia (21) o fabricante utiliza o condicional antecedendo uma lista de
situaccedilotildees que se concretizadas invalidaratildeo a garantia Dessa forma se o veiacuteculo do cliente
que deseja ser atendido pela garantia se enquadrar em algum dos itens dispostos apoacutes essa
sentenccedila a garantia natildeo seraacute concedida Assim como nas ocorrecircncias com o uso do
condicional apresentadas anteriormente o uso do ―se aparece sem limites Como afirmamos
na anaacutelise das ocorrecircncias (16) (17) e (18) o autor utiliza o condicional para em seguida
apresentar uma lista de situaccedilotildees em que se concretizadas o cliente perderaacute a garantia Mas
mesmo com a apresentaccedilatildeo dessa lista o cliente poderaacute perder a garantia caso ocorra outro
tipo de situaccedilatildeo natildeo listada Dessa forma o fabricante se favorece abrangendo ao maacuteximo as
possibilidades de perda da garantia e ―prejudica o cliente oferecendo-lhe restritas
possibilidades de validade da garantia do produto a que se refere o texto Natildeo identificamos
nem termos polissecircmicos nem vagos na ocorrecircncia (21) Apenas vale ressaltar que diferente
das ocorrecircncias apresentadas anteriormente o autor em vez de escrever ―a garantia do
produto ele utilizou ―a garantia do seu veiacuteculo que especifica ao que se refere o texto
diminuindo a possibilidade de o cliente interpretar a ocorrecircncia de uma forma diferente da
que o autor se propotildee a transmitir
(22) A garantia vigoraraacute SOMENTE SE o Veiacuteculo atender
cumulativamente as seguintes condiccedilotildees
67
(Certificado 16)
Eacute interessante observar a forma como o fabricante utiliza o condicional na ocorrecircncia
(22) que precede uma lista de condiccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso o fabricante
natildeo utilizasse esse condicional ―somente se na sentenccedila acima o cliente poderia interpretar
que se o seu produto atendesse pelo menos a uma das condiccedilotildees estaria coberto pela
garantia Mas o fabricante aleacutem de utilizar o condicional ―somente se tambeacutem utilizou o
termo ―cumulativamente explicitando que o produto deve obedecer a todas as condiccedilotildees
dispostas pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o autor utilizou o condicional
para restringir as possibilidades de validade da garantia com restriccedilotildees o que natildeo ocorre
quando o fabricante trata sobre as possibilidades de invalidade da garantia como na
ocorrecircncia (21) Comparando as ocorrecircncias (21) e (22) vemos claramente que o autor em
(21) utilizou o condicional para lhe favorecer sem limites quando tratou sobre as condiccedilotildees
pelas quais o cliente pode perder a garantia abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura natildeo
apenas para as situaccedilotildees que estatildeo listadas mas tambeacutem para qualquer outra possiacutevel Jaacute em
(22) o autor (mesmo essa comparaccedilatildeo sendo feita entre ocorrecircncias de certificados
diferentes) utiliza o condicional para restringir as possibilidades de validade da garantia para
as situaccedilotildees listadas apoacutes a apresentaccedilatildeo do condicional e aleacutem disso afirmou que todas as
situaccedilotildees listadas devem ser atendidas para que a garantia seja vaacutelida para o produto Dessa
forma ainda sobre a ocorrecircncia (22) caso uma das situaccedilotildees listadas natildeo seja atendida a
garantia automaticamente seraacute perdida Com isso podemos afirmar que tanto em (21) quanto
em (22) os autores utilizaram o condicional para se beneficiar Em (21) abrangendo as
possibilidades de invalidade da garantia e em (22) restringindo ao maacuteximo as possibilidades
de validade da garantia do produto Natildeo identificamos nem termos vagos nem polissecircmicos
na ocorrecircncia (22)
(23) A garantia Philips natildeo eacute aplicaacutevel SE
(Certificado 14)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o condicional ―se antecedendo uma lista de
informaccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso algum produto Philips se encaixar em
alguma das situaccedilotildees descritas apoacutes o condicional mesmo estando dentro do prazo de
garantia o cliente perderaacute a cobertura Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem
68
vagos na ocorrecircncia (23)
(24) Esta garantia natildeo se aplica
(Certificado 21)
Assim como nas ocorrecircncias (18) e (19) a ocorrecircncia acima natildeo possui o condicional
expliacutecito mas o termo ―natildeo se aplica se comporta como tal O fabricante utiliza o
condicional precedendo uma lista de condiccedilotildees de natildeo aplicaccedilatildeo da garantia Dessa forma
caso o produto se encaixe em alguma das condiccedilotildees a garantia seraacute invalidada
automaticamente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem vagos na sentenccedila (24)
33 USO DO APENASSOMENTE
Vejamos a seguir ocorrecircncias em que identificamos o uso do ―apenas ou ―somente
(25) Esta garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver
devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original
da Nota Fiscal de Compra
(Certificado 4)
Na ocorrecircncia (25) o fabricante utiliza o ―somente para restringir a validade da
garantia indicando que o cliente teraacute direito agrave garantia caso preencha de forma correta o
certificado e apresente a nota fiscal de compra Caso as instruccedilotildees natildeo sejam seguidas pelo
cliente a garantia natildeo seraacute vaacutelida Podemos identificar que o termo ―rasuras presente em
(25) pode ser considerado como vago e polissecircmico neste caso dificultando a interpretaccedilatildeo
do texto Uma rasura pode ser por exemplo desde um rabisco fora de lugar no formulaacuterio
ateacute o dano no documento por aacutegua amasso do papel em excesso etc O autor poderia evitar a
vagueza e a polissemia definindo o termo da forma como ele deseja que o leitor interprete
este termo e comparando-o a uma classe especiacutefica (por exemplo o que eacute considerado rasura
69
nos documentos instrucionais)
(26) Danos decorrentes de desgaste natural inclusive e natildeo SOMENTE
nas partes plaacutesticas que compotildeem o gabinete do produto
(Certificado 4)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o ―somente numa sentenccedila que trata sobre
uma das situaccedilotildees em que a garantia natildeo seraacute vaacutelida O fabricante deixa claro que qualquer
defeito no produto causado por desgaste natural natildeo seraacute coberto pela garantia Se o
fabricante natildeo utilizasse o ―somente nesta sentenccedila o cliente poderia interpretar por
exemplo que danos decorrentes de desgaste natural nas partes que natildeo satildeo de plaacutestico seriam
cobertas pela garantia O autor utiliza o ―somente para se resguardar sobre outras possiacuteveis
interpretaccedilotildees do trecho abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura da garantia para
qualquer peccedila do produto que for afetado por danos decorrentes de desgaste natural Na
ocorrecircncia (26) a expressatildeo ―desgaste natural eacute polissecircmica O autor em nenhuma parte do
certificado de garantia definiu a expressatildeo em questatildeo para que o cliente compreenda da
forma desejada pelo fabricante Dessa forma podemos interpretar ―desgaste natural de
muitas formas Podemos por exemplo interpretar como o desgaste do produto como um todo
ou suas peccedilas referentes ao uso em excesso ao longo do tempo e diretamente vinculado agrave
vida uacutetil tanto do produto em geral quanto de peccedilas especiacuteficas Mas tambeacutem podemos
interpretar como sendo um desgaste proveniente do contato do produto com a natureza como
a exposiccedilatildeo agrave chuva maresia sol em excesso Pode parecer um exagero esta uacuteltima
interpretaccedilatildeo mas ela eacute possiacutevel a partir da forma como (26) se apresenta O autor utilizou no
texto a expressatildeo sem dar-lhe a definiccedilatildeo que ele pensou para a utilizaccedilatildeo dela na ocorrecircncia
dificultando a interpretaccedilatildeo do texto
(27) Este termo de garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos
comercializados e utilizados em territoacuterio brasileiro
(Certificado 4)
(28) Este Certificado de Garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos
vendidos e utilizados no territoacuterio brasileiro
(Certificado 10)
(29) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro
70
(Certificado 2)
(30) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro
(Certificado 13)
(31) Esta garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o territoacuterio brasileiro
(Certificado 12)
Nas ocorrecircncias (27) (28) (29) e (30) observamos que os fabricantes utilizam o termo
―apenas para restringir a cobertura da garantia tanto em relaccedilatildeo ao local da compra quanto
em relaccedilatildeo ao local de uso do produto assim como o autor da ocorrecircncia (31) utiliza o termo
―somente com o mesmo sentido Caso o produto tenha sido comprado em outro paiacutes natildeo
haveraacute cobertura da garantia assim como mesmo que o produto tenha sido comprado no
Brasil mas tenha sido utilizado em outro paiacutes culminando em um defeito tambeacutem natildeo haveraacute
cobertura da garantia Mas para a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que aparece em (27) (28)
(29) (30) e (31) podemos tambeacutem interpretar como natildeo apenas a extensatildeo territorial do paiacutes
mas tambeacutem admitir territoacuterios brasileiros em outros paiacuteses a saber os consulados
honoraacuterios do Brasil nas diversas naccedilotildees ao redor do mundo Nesse caso por exemplo se o
produto for adquirido dentro dos limites geograacuteficos do Brasil e for utilizado em algum
consulado do Brasil em outro paiacutes a garantia deve ser vaacutelida Eacute possiacutevel que o fabricante natildeo
tenha pensado nessa possibilidade poreacutem da forma que estas ocorrecircncias se apresentam haacute
essa possibilidade de interpretaccedilatildeo Ao apresentar essa possiacutevel interpretaccedilatildeo para a
expressatildeo ―territoacuterio brasileiro noacutes quisemos mostrar que o fabricante deveria ter
especificado em alguma parte do certificado de garantia o conceito que ele deseja que o
cliente admita para esta expressatildeo para natildeo deixar que a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro seja
interpretada de outras formas ou seja para evitar a polissemia que dificulta a leitura do
texto Outra questatildeo que tambeacutem podemos considerar eacute que nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)
a afirmaccedilatildeo sobre a validade da garantia eacute apresentada de forma menos detalhada Os autores
apresentam a afirmaccedilatildeo de que a garantia eacute vaacutelida para o territoacuterio brasileiro sem informar se
eacute em relaccedilatildeo ao produto ser adquirido e utilizado no paiacutes Brasil ou se o produto pode ser
utilizado fora do Brasil mas para requerer a garantia do produto o consumidor caso resida no
exterior deva se dirigir ao Brasil para fazer jus a sua garantia Diferente das ocorrecircncias (27)
e (28) em que os autores enfatizam que a garantia dos produtos eacute vaacutelida unicamente para
produtos comercializados e utilizados dentro do Brasil restringindo a garantia mais do que
nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)
71
(32) A garantia SOMENTE eacute vaacutelida mediante a apresentaccedilatildeo de nota
fiscal de compra deste produto
(Certificado 3)
Podemos observar na ocorrecircncia (29) que o fabricante utiliza o termo ―somente para
restringir a validade da garantia Fica claro que caso o produto apresente algum defeito e o
cliente procure a assistecircncia teacutecnica sem estar de posse da nota fiscal natildeo haveraacute cobertura da
garantia Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em (29) o cliente poderia interpretar
por exemplo que a garantia do produto eacute vaacutelida com ou sem a apresentaccedilatildeo da nota fiscal de
compra do produto Neste caso a funccedilatildeo do ―somente eacute de restringir a interpretaccedilatildeo de
acordo com o que o fabricante deseja Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem
vagos em (29)
(33) A garantia oferecida por esse Certificado eacute de 36 (trinta e seis) meses
e SOMENTE teraacute validade se o presente documento for devidamente
preenchido no ato da venda do produto conforme acima e se a
instalaccedilatildeo for feita por uma pessoa ou empresa credenciada pela
Robert Bosch Ltda
(Certificado 8)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade
da garantia Caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees de forma cumulativa que seguem a
utilizaccedilatildeo do termo a garantia seraacute invalidada Por exemplo se o cliente preencher no ato da
venda do produto o certificado mas se a instalaccedilatildeo do produto natildeo tiver sido feita por algueacutem
credenciado pela Robert Bosch Ltda a garantia natildeo teraacute validade A importacircncia do uso do
―somente em (33) se daacute pelo fato de que caso o autor natildeo tivesse utilizado este termo
haveria a possibilidade do cliente interpretar por exemplo que a garantia teria validade caso
a instalaccedilatildeo do produto tenha sido feita por uma pessoa ou empresa natildeo credenciada pela
fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (33)
(34) Os consertos em Garantia do Produto SOMENTE seratildeo efetuados
72
por um Serviccedilo Autorizado devidamente nomeado pela Robert Bosch
Ltda em territoacuterio brasileiro
(Certificado 8)
Podemos observar que o fabricante utiliza o termo ―somente em (34) para restringir a
validade da garantia O fabricante define tanto quem efetuaraacute o conserto dos produtos quanto
os limites territoriais de cobertura Dessa forma fica expliacutecito para o cliente que o conserto
natildeo poderaacute ser efetuado por pessoas natildeo autorizadas pela Robert Bosch Ltda e tal conserto
natildeo pode ser realizado em outros paiacuteses Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em
(34) abriria a possibilidade de interpretar a sentenccedila de outras formas como por exemplo
que os consertos em garantia do produto poderiam ser realizados em territoacuterios de outros
paiacuteses ou que os consertos poderiam ser realizados por serviccedilos natildeo autorizados pelo
fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (34)
(35) O exame e reparo do produto soacute poderatildeo ser efetuados pelo
fabricante
(Certificado 7)
Na ocorrecircncia (36) o fabricante utiliza no lugar do termo ―somente o termo ―soacute
para restringir a interpretaccedilatildeo Nesse caso se o cliente procurar reparar eou examinar o
produto sozinho ou em assistecircncias teacutecnicas que natildeo sejam autorizadas pelo fabricante a
garantia seraacute invalidada A utilizaccedilatildeo do termo ―soacute tem grande importacircncia para o
direcionamento da interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia (35) pois caso natildeo tivesse sido utilizado pelo
autor a ocorrecircncia traria apenas uma informaccedilatildeo vaga dificultando a interpretaccedilatildeo do texto
Sem o ―soacute a partir de (35) poderiacuteamos interpretar que o exame e reparo do produto podem
ser efetuados pelo fabricante mas tambeacutem por qualquer outra pessoa ou empresa Utilizando
o ―soacute o autor restringe a inferecircncia evitando muacuteltiplas interpretaccedilotildees para a sentenccedila
(36) O presente ―Termo de Garantia Hyundai aplica-se uacutenica e
exclusivamente ao veiacuteculo da marca e fabricaccedilatildeo Hyundai
devidamente identificado no iniacutecio deste documento e que tenha sido
comercializado por um Revendedor Autorizado da CAOA Montadora
de Veiacuteculos SA
(Certificado 17)
73
Em (36) o fabricante natildeo utiliza os termos ―apenas ou ―somente mas
consideraremos em nossa anaacutelise a expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como um restritor de
mesmo sentido Observamos que o fabricante utiliza a expressatildeo para restringir a cobertura
da garantia Caso o cliente esteja por exemplo solicitando a garantia de um veiacuteculo Hyundai
que natildeo seja o mesmo que estaacute descrito no iniacutecio do documento de garantia e que natildeo tenha
sido comercializado por uma autorizada da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA a garantia
natildeo teraacute validade Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado a expressatildeo ―uacutenica e
exclusivamente em (36) haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia de outras
maneiras
(37) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA eou o Revendedor Autorizado
da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA APENAS substituiraacute as peccedilas
que forem por elas e a seu exclusivo criteacuterio julgadas como
defeituosas
(Certificado 17)
Na ocorrecircncia (37) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a interpretaccedilatildeo
da sentenccedila Dessa forma o fabricante fica resguardado tanto em relaccedilatildeo a substituiccedilatildeo de
peccedilas quanto em relaccedilatildeo ao meacutetodo utilizado para jugar se a peccedila estaacute defeituosa ou natildeo A
importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―apenas em (37) tambeacutem se daacute pelo fato de natildeo permitir outras
interpretaccedilotildees diferentes da definida pelo fabricante Caso o ―apenas natildeo tivesse sido
utilizado poderiacuteamos interpretar por exemplo que o fabricante poderia substituir peccedilas
julgadas por ela como defeituosas utilizando seus proacuteprios criteacuterios mas tambeacutem substituiria
em outros casos O ―apenas serviu para especificar e restringir a interpretaccedilatildeo dos criteacuterios
definidos pelo fabricante em relaccedilatildeo agrave substituiccedilatildeo de peccedilas do produto Natildeo identificamos
nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (37)
(38) Permita que SOMENTE teacutecnicos autorizados pela faacutebrica prestem
assistecircncia a seu aparelho pois se for aberto por teacutecnicos ou pessoas
natildeo autorizadas automaticamente vocecirc estaraacute perdendo sua garantia
(Certificado 5)
Na ocorrecircncia (38) o fabricante deixa expliacutecito ao utilizar o termo ―somente que
caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees dispostas nesta sentenccedila a garantia do produto seraacute
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invalidada Dessa forma o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a informaccedilatildeo
veiculada pelo fabricante da mesma forma como vimos na ocorrecircncia (37) Natildeo
identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (38)
(39) A presente garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o Veiacuteculo
comercializado em territoacuterio brasileiro
(Certificado 16)
Na ocorrecircncia (39) um pouco parecida com as ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e
(31) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia do produto Nesse caso
se o veiacuteculo tiver sido adquirido em outro paiacutes sua garantia natildeo seraacute vaacutelida no Brasil Um
pouco diferente das ocorrecircncias (27) e (28) que especificam ao maacuteximo a possibilidade de
cobertura da garantia a ocorrecircncia (39) veicula que a garantia eacute vaacutelida para o produto
comercializado em territoacuterio brasileiro natildeo tratando sobre a possibilidade da perda da
garantia caso o veiacuteculo seja utilizado em outros paiacuteses Neste caso o cliente natildeo tem direito
a garantia do veiacuteculo caso ele seja adquirido em outros paiacuteses Sobre a expressatildeo ―territoacuterio
brasileiro assim como nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31) o autor natildeo definiu um
sentido para a expressatildeo que pode ser interpretada de outras maneiras como exemplificamos
nas anaacutelises anteriores
(40) Utilizar SOMENTE peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios genuiacutenos
Mercedes-Benz e comprovar sua aquisiccedilatildeo mediante e apresentaccedilatildeo
da Nota Fiscal quando adquiridos pelo consumidor final
(Certificado 16)
Na ocorrecircncia (40) que faz parte de uma lista de recomendaccedilotildees para o cliente natildeo
perder a garantia o fabricante utiliza o termo ―somente para delimitar a interpretaccedilatildeo da
sentenccedila Na passagem se o cliente natildeo seguir as instruccedilotildees descritas consequentemente
perderaacute a garantia do produto A importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente na ocorrecircncia (40) eacute
a de dificultar que o cliente interpreta a sentenccedila de outra maneira Sem o ―somente na
sentenccedila o cliente poderia interpretar que ele pode utilizar peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios
originais do fabricante mas tambeacutem estaacute autorizado a utilizar peccedilas de outros fabricantes
Com a presenccedila do ―somente na sentenccedila o cliente eacute levado a interpretar a sentenccedila da
75
forma direcionada pelo fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (40)
(41) A comprovaccedilatildeo de defeito de fabricaccedilatildeo do produto que provocaraacute a
execuccedilatildeo da troca do mesmo deveraacute ser feita exclusivamente por
funcionaacuterio credenciado da Ortobom
(Certificado 15)
Na ocorrecircncia (41) o fabricante natildeo utiliza explicitamente os termos ―apenas ou
―somente mas consideraremos em nossa anaacutelise que o termo ―exclusivamente possui a
mesma funccedilatildeo de restringir interpretaccedilotildees O fabricante utiliza o termo para restringir a
garantia do produto em questatildeo Natildeo haacute a possibilidade de o cliente comprovar um defeito de
fabricaccedilatildeo em seu produto atraveacutes de outro profissional que natildeo seja um funcionaacuterio
credenciado da Ortobom Haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia (41) caso o
fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―exclusivamente Sem tal uso o cliente poderia
interpretar que poderia comprovar algum defeito no produto para possiacutevel troca por
intermeacutedio de qualquer profissional natildeo obrigatoriamente por um funcionaacuterio do fabricante
Ortobom O termo ―exclusivamente especifica e destaca a informaccedilatildeo que o fabricante
veicula em (41) Natildeo identificamos em (41) nem termos polissecircmicos nem termos vagos
(42) A garantia cobre exclusivamente defeitos de materiais eou
fabricaccedilatildeo sendo que as despesas de deslocamento alimentaccedilatildeo e
hospedagem do teacutecnico para atendimento em garantia ou natildeo
referente agrave entrega montagem instruccedilatildeo de uso e reparo do
equipamento assim como o frete de retirada para conserto e retorno
do mesmo e de envio de peccedilas e retorno das substituiacutedas em garantia
ocorreratildeo por conta do cliente
(Certificado 22)
Assim como em (41) o fabricante utiliza o termo ―exclusivamente para restringir a
garantia do produto O fabricante ao utilizar esse termo se resguarda de possiacuteveis cobranccedilas
por parte do cliente ao solicitar a garantia como por exemplo ajuda de custo para custear a
iacuteda do teacutecnico para manutenccedilatildeo do produto envio de peccedilas para faacutebrica etc Fica expliacutecito
que em todas essas situaccedilotildees o cliente eacute responsaacutevel Caso o termo ―exclusivamente natildeo
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tivesse sido utilizado o cliente poderia interpretar a ocorrecircncia de diferentes modos Uma
possibilidade de interpretaccedilatildeo seria a de entender que a garantia cobre outros tipos de
defeitos que natildeo fossem de peccedilas ou de fabricaccedilatildeo Com a utilizaccedilatildeo do termo
―exclusivamente o fabricante diminui as possibilidades de interpretaccedilatildeo tornando o texto
mais claro para o cliente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na
ocorrecircncia (42)
(43) A garantia natildeo cobre peccedilas ou componentes de desgaste normal de
uso dentre as quais selim pedais firma-peacutes natildeo se limitando
SOMENTE a estes mas incluindo rodas de transporte carenagens
adesivos elementos de acabamento de plaacutestico borracha e alumiacutenio
danos na pintura e quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa
exclusiva distribuiccedilatildeo devendo as reclamaccedilotildees ser encaminhadas aos
seus respectivos representantes ou fabricantes
(Certificado 22)
Em (43) o fabricante aleacutem de utilizar o termo ―somente para abranger a
interpretaccedilatildeo sobre as peccedilas que natildeo seratildeo cobertas pela garantia do produto utiliza outros
termos que alargam ainda mais sem restriccedilotildees a natildeo cobertura da garantia como ―quaisquer
acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo O fabricante se resguarda
especificando quais peccedilas que ele considera como de ―desgaste normal para evitar
problemas de interpretaccedilatildeo por parte do cliente O uso do ―somente na ocorrecircncia (43) se
apresenta de forma contraacuteria agraves outras ocorrecircncias que apresentamos anteriormente Enquanto
em ocorrecircncias como a (40) que o ―somente foi utilizado para restringir a interpretaccedilatildeo da
sentenccedila para as informaccedilotildees descritas depois do termo em (43) o fabricante utiliza o
―somente precedido da negaccedilatildeo ―natildeo se limitando direcionando o termo para o sentido de
abrangecircncia Ou seja a garantia que o fabricante oferece natildeo cobre peccedilas ou componentes de
desgaste natural como selim e pedais Para natildeo correr o risco de esquecer de citar algum dos
componentes de desgaste natural do produto e deixar brechas na interpretaccedilatildeo da garantia o
fabricante utiliza a expressatildeo ―natildeo se limitando seguida do ―somente para abranger ao
maacuteximo as possibilidades de interpretaccedilatildeo sobre os itens de desgaste natural que natildeo satildeo
cobertos pela garantia Depois do uso do ―somente e de apresentar mais uma lista de itens
que natildeo satildeo cobertos pela garantia o fabricante ainda abrange mais a interpretaccedilatildeo
utilizando a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo
Dessa forma pudemos perceber que o fabricante utilizou natildeo apenas o termo de restriccedilatildeo
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―somente para limitar as possibilidades de interpretaccedilatildeo da sentenccedila mas tambeacutem utilizou
listas especificando itens e a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa
exclusiva distribuiccedilatildeo Todas essas estrateacutegias foram utilizadas com o objetivo de tornar a
interpretaccedilatildeo do texto clara sem oferecer a possibilidade de o cliente obter muacuteltiplas
interpretaccedilotildees do texto Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na
ocorrecircncia (43)
(44) A matildeo-de-obra em garantia limita-se SOMENTE ao horaacuterio normal
de expediente sendo de segunda a sexta-feira das 730 agraves 1800 horas
devendo o equipamento estar disponiacutevel para a assistecircncia teacutecnica
(Certificado 22)
Em (44) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o horaacuterio disponiacutevel
para reparos em produtos na garantia e aleacutem disso enfatizando que o produto deve estar
disponiacutevel para a assistecircncia Dessa forma o cliente fica impossibilitado de reclamar
assistecircncia fora do horaacuterio que estaacute descrito na sentenccedila assim como fica consciente de que
seu produto ficaraacute a disposiccedilatildeo da assistecircncia para conserto ou seja natildeo seraacute reparado
imediatamente A importacircncia do uso do ―somente na ocorrecircncia (44) se daacute pelo fato de que
caso natildeo fosse utilizado o cliente poderia interpretar por exemplo que a matildeo-de-obra em
garantia estaria disponiacutevel vinte e quatro horas por dia e sete dias por semana Como o
―somente foi utilizando precedendo as informaccedilotildees sobre dia e horaacuterio de atendimento natildeo
eacute possiacutevel interpretar a informaccedilatildeo de outra maneira que natildeo seja a descrita Haveria a
possibilidade de definir a expressatildeo ―horaacuterio normal de expediente como uma expressatildeo
polissecircmica caso ela natildeo estivesse acompanhada de uma definiccedilatildeo (―de segunda a sexta-feira
das 730 agraves 1800 horas) pois o horaacuterio de expediente pode variar de acordo com o trabalho
que vocecirc tem por exemplo Se vocecirc trabalha em um banco financeiro o seu horaacuterio de
expediente seraacute possivelmente diferente do horaacuterio de um feirante Para evitar a polissemia
o fabricante utilizou a expressatildeo e em seguida apresentou a definiccedilatildeo da expressatildeo de
acordo com o seu interesse
(45) A presente garantia limita-se SOMENTE ao produto fornecido natildeo
responsabilizando a TOTAL HEALTH por danos causados a pessoas
a terceiros a outros equipamentos ou instalaccedilotildees lucros cessantes ou
quaisquer outros danos emergentes ou consequumlentes
(Certificado 22)
78
Na ocorrecircncia (45) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da
garantia Nesse caso a garantia se limita unicamente ao produto descrito Se por exemplo o
produto em questatildeo apresentar defeito e tal defeito ocasionar dano fiacutesico ao dono do produto
ou a terceiros a garantia natildeo cobriraacute tais problemas Assim como nas ocorrecircncias anteriores
o uso do ―somente em (45) teve a funccedilatildeo de direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para uma
uacutenica possibilidade de interpretaccedilatildeo Caso o ―somente natildeo tivesse sido utilizado poderiacuteamos
interpretar (45) de outras maneiras Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (45)
(46) SOMENTE os profissionais indicados pela loja revendedora dos
produtos Bartzen estatildeo autorizados a prestar atendimento dentro do
prazo de garantia
(Certificado 18)
Na ocorrecircncia (46) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila Nesse caso o cliente soacute poderaacute usufruir de assistecircncia teacutecnica em
seu produto atraveacutes de profissionais indicados pela loja na qual ele adquiriu seu produto
Bartzen e dentro do prazo da garantia Caso o cliente realize algum serviccedilo em seu produto
com profissionais natildeo autorizados pela fabricante sua garantia seraacute invalidada A importacircncia
da utilizaccedilatildeo do termo ―somente na ocorrecircncia (46) eacute a de diminuir as possibilidades de
interpretaccedilatildeo da sentenccedila ao maacuteximo Dessa forma natildeo haacute como o cliente interpretar que por
exemplo ele pode realizar a manutenccedilatildeo ou reparo do seu produto com qualquer outro
funcionaacuterio que natildeo seja autorizado pela fabricante do produto Natildeo identificamos nem
termos polissecircmicos nem termos vagos em (46)
(47) A garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o consumidor que consta
identificado na nota fiscal de compra do produto (primeiro usuaacuterio) a
qual deveraacute ser apresentada junto com este Certificado de Garantia
devidamente preenchido com os dados do consumidor e do produto
para fins de cobertura para reparo ou substituiccedilatildeo do produto se
necessaacuterio
(Certificado 19)
79
Em (47) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia Nesse caso
o cliente fica ciente de que a garantia soacute seraacute vaacutelida para o primeiro proprietaacuterio do produto
assim como soacute seraacute aceito o pedido de garantia caso o cliente apresentar a nota fiscal
contendo tanto os dados do produto quanto os seus Todas as possibilidades fora das
descritas seratildeo desconsideradas e consequentemente a garantia seraacute invalidada A
importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente em (47) se daacute pelo fato de que haacute diversas
informaccedilotildees a serem consideradas pelo cliente na ocorrecircncia (47) e caso o autor do texto natildeo
tivesse utilizado o termo ―somente antes dessas informaccedilotildees o cliente poderia interpretar
que sua garantia poderia ser vaacutelida ao cumprir algumas das informaccedilotildees descritas na sentenccedila
e natildeo obrigatoriamente todas Por exemplo se natildeo houvesse o uso do ―somente em (47) o
cliente poderia interpretar que a garantia eacute vaacutelida para o consumidor que tem o nome
constando na nota fiscal mas tambeacutem para qualquer outro consumidor que esteja de posse da
nota fiscal mesmo que natildeo seja a pessoa que tem o nome na nota fiscal O ―somente possui
o papel de restringir a interpretaccedilatildeo de toda ocorrecircncia ao maacuteximo direcionando a leitura do
texto para evitar muacuteltiplas interpretaccedilotildees Com esse uso natildeo eacute possiacutevel que cliente interprete
que ele pode ter acesso a garantia caso natildeo cumpra alguma das recomendaccedilotildees Natildeo
identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (47)
(48) O Certificado de Garantia eacute vaacutelido SOMENTE para os
condicionadores vendidos e instalados no territoacuterio brasileiro
(Certificado 19)
Em (48) semelhante agraves ocorrecircncias (31) e (39) o fabricante utiliza o termo ―somente
para restringir o territoacuterio de cobertura da garantia Neste caso condicionadores adquiridos e
utilizados em outros paiacuteses natildeo seratildeo cobertos pela garantia descrita acima Ainda retomando
a discussatildeo sobre a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro consideramos que pelo fato do autor do
texto natildeo ter apresentado um conceito para esta expressatildeo em nenhum local do certificado de
garantia da forma como se apresenta ela pode ser interpretada de outras maneiras assim
como discutimos nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)
(49) Para o uso de condicionadores de ar em ambientes com alta
concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre
seraacute vaacutelida SOMENTE a garantia legal de 90 (noventa) dias contados
80
da data de emissatildeo da nota fiscal de compra do produto
(Certificado 19)
Na ocorrecircncia (49) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da
garantia do produto que seja utilizado em ambientes especiacuteficos como ―ambientes com alta
concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre Dessa forma o
fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a qualquer solicitaccedilatildeo de garantia ―normal ou seja prazo
de validade de garantia para condicionadores de ar que satildeo utilizados em ambientes
considerados ―normais por parte de um cliente que utilize o produto em ambientes como os
descritos acima Dessa forma o uso do ―somente se justifica pelo fato de que o fabricante
busca direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha duacutevidas de que como
descrito em (49) os produtos utilizados em ambientes atiacutepicos soacute estaratildeo cobertos pela
garantia legal Assim como jaacute discutimos em outras ocorrecircncias anteriormente o fabricante
utiliza a expressatildeo ―garantia legal que eacute uma expressatildeo teacutecnica do CDC e para que ela natildeo
se tornasse polissecircmica logo apoacutes seu uso o autor apresentou o conceito para o termo que eacute
o de um periacuteodo de 90 dias corridos compreendidos imediatamente apoacutes a expediccedilatildeo da nota
fiscal de compra do produto
(50) A partir do 91ordm (nonageacutesimo primeiro) dia tais despesas satildeo de
responsabilidade uacutenica e exclusiva do consumidor
(Certificado 19)
Em (50) o fabricante natildeo utilizou os termo ―somente e ―apenas mas
consideraremos em nossa anaacutelise a utilizaccedilatildeo da expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como
umas expressotildees utilizadas para restringir interpretaccedilotildees como discutimos anteriormente em
outras anaacutelises Na sentenccedila acima o fabricante utilizou a expressatildeo de restriccedilatildeo para
enfatizar que passados os trecircs meses de garantia as despesas referentes a qualquer
manutenccedilatildeo e garantia do produto seratildeo de responsabilidade do cliente Como apresentamos
na ocorrecircncia (49) a garantia legal para um produto cobre os primeiros 90 dias apoacutes a
emissatildeo da nota fiscal de compra do produto Ao informar em (50) que a partir do primeiro
dia apoacutes o teacutermino da garantia legal despesas referentes ao traslado do produto para
manutenccedilatildeo seraacute de responsabilidade do cliente o autor utiliza a expressatildeo ―uacutenica e
exclusiva para se resguardar de qualquer possibilidade de participaccedilatildeo em possiacuteveis gastos
81
Caso o fabricante natildeo tivesse enfatizado essa informaccedilatildeo utilizando esta expressatildeo o cliente
poderia interpretar por exemplo que poderia haver algum caso em que o fabricante se
responsabilizaria por tais gastos Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (50)
(51) A reposiccedilatildeo de peccedilas defeituosas e execuccedilatildeo dos serviccedilos decorrentes
desta Garantia SOMENTE seratildeo procedidas nas localidades do
territoacuterio brasileiro onde a ENVISION mantiver ―Centro de Serviccedilo
Autorizado de titularidade dela proacutepria ou de terceiro por ela
expressamente indicado onde deveraacute ser entregue o produto para
reparo
(Certificado 20)
Na ocorrecircncia (51) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir os locais de
execuccedilatildeo de serviccedilos da garantia Neste caso o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a por
exemplo natildeo haver assistecircncias teacutecnicas em todas as cidades do paiacutes Aleacutem de enfatizar que o
produto deveraacute ser entregue na assistecircncia pelo cliente ou seja o fabricante natildeo se
responsabiliza quanto ao recolhimento do produto para reparo A utilizaccedilatildeo do ―somente se
justifica pelo fato de que o fabricante busca restringir ao maacuteximo as possibilidades de
interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o ―somente o cliente
poderia por exemplo interpretar que se a cidade em que o cliente tenha adquirido o produto
natildeo tenha uma assistecircncia teacutecnica a fabricante se responsabilizaria pelo recolhimento do
produto para manutenccedilatildeo numa cidade que possua a assistecircncia teacutecnica Com a utilizaccedilatildeo do
―somente precedendo as demais informaccedilotildees natildeo eacute possiacutevel interpretar a ocorrecircncia dessa
maneira Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termo vagos na ocorrecircncia (51)
(52) Esta Garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver
devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original
da Nota Fiscal de Compra
(Certificado 20)
Na ocorrecircncia (52) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a forma
como o cliente deve solicitar a garantia do produto Caso o cliente deixe de apresentar o
certificado preenchido corretamente eou a nota fiscal de compra a garantia seraacute invalidada
82
Assim como na ocorrecircncia (51) o autor fabricante utiliza o ―somente para restringir ao
maacuteximo a interpretaccedilatildeo do texto Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente
haveria a possibilidade de o cliente interpretar que a garantia do produto seria vaacutelida caso o
certificado estivesse preenchido sem rasuras acompanhado da nota fiscal de compra mas
tambeacutem de qualquer outra forma A ocorrecircncia ficaria sem limites para interpretaccedilatildeo caso o
fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente Poreacutem como o termo foi utilizado natildeo
haacute outra forma de o cliente interpretar a ocorrecircncia sobre a validade da garantia do produto
Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (52)
(53) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS se o produto for reparado pela rede
autorizada Rheem ou por autorizaccedilatildeo preacutevia formalizada pelo
Departamento de Assistecircncia Teacutecnica
(Certificado 20)
Na ocorrecircncia (53) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a validade da
garantia quanto ao local de assistecircncia Caso o produto seja reparado por profissional natildeo
autorizado pela fabricante Rheem a garantia do produto seraacute perdida A importacircncia o uso do
termo ―apenas na ocorrecircncia (53) se daacute pelo fato de que o autor busca restringir a
interpretaccedilatildeo do texto ao maacuteximo Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―apenas o
cliente poderia por exemplo interpretar que a garantia do produto eacute vaacutelida em qualquer
situaccedilatildeo e natildeo unicamente se seguir as recomendaccedilotildees descritas apoacutes o uso do termo
―apenas Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (53)
(54) Os produtos SOMENTE poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para
anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes sua autorizaccedilatildeo por escrito
(Certificado 21)
Na ocorrecircncia (54) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o modo
como deve submeter o produto agrave garantia Caso natildeo haja uma autorizaccedilatildeo por escrito para
enviar o produto para a faacutebrica o produto natildeo poderaacute seguir para anaacutelise A importacircncia da
utilizaccedilatildeo do termo ―somente se daacute pelo fato de que caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o
termo na ocorrecircncia (54) a interpretaccedilatildeo do texto ficaria sem limites ou seja os produtos
poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes a autorizaccedilatildeo por
83
escrito ou de qualquer outra forma Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (54)
34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS
Em nossa pesquisa analisamos cinquenta e quatro ocorrecircncias selecionadas a partir
dos vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Dividimos a anaacutelise por tipos de
ocorrecircncias com quantificador universal com condicional e com o apenassomente Para
apresentar um panorama sobre os tipos de ocorrecircncia e a quantidade das anaacutelises de cada tipo
vamos observar o quadro a seguir
Tipo de ocorrecircncia Nuacutemero de ocorrecircncias
Quantificador universal 15
Condicional 9
ApenasSomente 30
TOTAL 54
Quadro 2 ndash Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia Fonte elaborado pelo autor
Antes de discorrer nossos comentaacuterios sobre as anaacutelises de nosso trabalho temos que
tratar sobre a primeira importante impressatildeo que tivemos diante do corpus e das consequentes
anaacutelises dos quatro nexos semacircnticos que invocamos em nosso trabalho somente
identificamos ocorrecircncias com acarretamentos Tratamos com muita naturalidade este fato
porque por mais que em algumas leituras uma parte do conteuacutedo do segundo capiacutetulo possa
ser vista como desnecessaacuteria ndash pelo fato de tais conceitos natildeo estarem presentes nas anaacutelises
dessa pesquisa ndash encontramos aiacute uma caracteriacutestica do gecircnero textual certificado de garantia
que eacute a presenccedila de diversos acarretamentos mesmo que natildeo-expliacutecitos como demonstramos
em nosso trabalho (porque o gecircnero textual certificado de garantia natildeo possui uma linguagem
tatildeo controlada quanto a linguagem encontrada nos exemplos que criamos para ilustrar os
conceitos dos nexos) Dessa maneira fica claro que natildeo encontramos ocorrecircncias com
equivalecircncias semacircnticas contrariedades ou contraditoriedades o que nos permite definir
estas ausecircncias como uma caracteriacutestica intriacutenseca do gecircnero
84
Na primeira parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o quantificador
universal Identificamos quinze ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia
utilizaram esse recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (1) e (15)
percebemos que o uso do quantificador universal em algumas ocorrecircncias serviu apenas para
reforccedilar a informaccedilatildeo que o fabricante quis veicular ou seja se natildeo tivesse sido utilizado natildeo
modificaria o sentido do texto Pudemos identificar esse sentido por exemplo nas
ocorrecircncias (1) e (2)
Aleacutem desse sentido para o uso do quantificador universal encontramos ocorrecircncias
em que caso o quantificador natildeo tivesse sido utilizado haveria a possibilidade de
interpretarmos a ocorrecircncia de vaacuterias maneiras Nesses casos os autores utilizaram o
quantificador para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo direcionando a leitura do texto
para que o cliente possa interpretar o certificado da forma que o fabricante deseja Pudemos
identificar esse sentido por exemplo nas ocorrecircncias (3) (4) e (8)
Pudemos observar que os autores dos certificados de garantia utilizam tambeacutem o
quantificador universal em seus textos para se resguardarem em relaccedilatildeo a deveres que
poderiam ser reclamados pelo cliente caso natildeo houvesse o uso deste recurso Dessa forma
podemos entender que os autores dos certificados utilizaram o quantificador universal para se
favorecerem Pudemos observar essa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (5) (11) (13) e
(14) Em relaccedilatildeo a ocorrecircncias com o uso do quantificador universal em que o cliente eacute
beneficiado natildeo identificamos nenhum caso em nossa anaacutelise
Sobre o aparecimento de termos vagos ou termos polissecircmicos nas ocorrecircncias com a
presenccedila do quantificador universal pudemos observar que o maior motivo da sensibilidade
dos textos a esses tipos de efeitos linguiacutesticos eacute o fato de os autores dos textos em muitos
casos natildeo conceituarem os termos teacutecnicos que eles utilizam nos certificados de garantia Ao
utilizar um termo teacutecnico como por exemplo na ocorrecircncia (3) em que o autor do
certificado de garantia utiliza o termo ―viacutecio do produto ndash termo teacutecnico do CDC ndash natildeo
apresentando o conceito em seu texto dificulta a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Tendo contato
com o termo de forma solta sem estar delimitada pelo conceito que o autor deseja que o
cliente interprete a ocorrecircncia se torna vaga e polissecircmica
Ainda sobre os termos vagos ou termos polissecircmicos encontramos tambeacutem
ocorrecircncias em que os autores buscaram evitaacute-las justamente apresentando apoacutes a utilizaccedilatildeo
de um termo teacutecnico o seu respectivo conceito desta forma natildeo oferecendo a possibilidade
de interpretaacute-lo de vaacuterias maneiras Pudemos observar este uso por exemplo na ocorrecircncia
(10) em que o autor do certificado usa o termo ―garantia legal e logo em seguida apresenta
85
o conceito para o termo que eacute ―os primeiros 90 dias Dessa forma o cliente natildeo eacute autorizado
a interpretar o termo ―garantia legal de nenhuma outra forma que natildeo seja a descrita pelo
fabricante
Na segunda parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o uso do condicional
Identificamos nove ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia utilizaram este
recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (16) e (24) pudemos identificar
que o condicional foi utilizado pelos autores dos textos precedendo listas instrucionais o que
era esperado devido a caracteriacutestica proacutepria desse recurso que eacute o de condicionar algo agrave
alguma coisa Assim como nas ocorrecircncias que os autores utilizaram o quantificador
universal o condicional foi utilizado em boa parte das ocorrecircncias analisadas para restringir
a interpretaccedilatildeo do texto Pudemos identificar este sentido por exemplo nas ocorrecircncias (16)
(17) e (18)
Identificamos em boa parte das ocorrecircncias que possuem o uso do condicional que
este uso natildeo impotildee um limite na interpretaccedilatildeo Pudemos observar em nossa anaacutelise que os
condicionais foram utilizados precedendo listas exaustivas que continham situaccedilotildees por
exemplo em que a garantia seria invalidada Ao apresentar tais listas os autores natildeo
especificavam que natildeo haveria outros casos fora da lista em que a garantia seria invalidada
Dessa forma observamos que assim como nas ocorrecircncias com quantificador universal os
autores utilizaram os condicionais para se favorecerem Identificamos na ocorrecircncia (22)
recursos que restringem ainda mais as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente e
que consequentemente favorecem o fabricante como o uso do termo ―cumulativamente
que obriga o cliente a natildeo apenas estar dentro de uma ou mais situaccedilotildees descritas pelo
fabricante apoacutes o condicional mas a seguir todas as situaccedilotildees descritas ao mesmo tempo
Quando os fabricantes utilizaram o condicional precedendo listas que constam as
situaccedilotildees em que o cliente poderia perder a garantia eles usaram o recurso sem limites como
pudemos observar na ocorrecircncia (21) Mas quando os fabricantes utilizaram o condicional
precedendo listas que constam as situaccedilotildees em que o cliente tem direito a garantia eles
usaram os recursos com limites e como mostramos na ocorrecircncia (22) ainda utilizaram
recursos que limitam mais ainda a garantia
Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem das ocorrecircncias em que o condicional apareceu
de forma expliacutecita ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o mesmo
sentido como em (19) (20) e (24)
Sobre a presenccedila de termos polissecircmicos ou termos vagos nas ocorrecircncias com o uso
do condicional pudemos identificar que diferente das ocorrecircncias com o uso do
86
quantificador universal natildeo encontramos casos de termos vagos ou termos polissecircmicos nas
ocorrecircncias analisadas Identificamos em muitas ocorrecircncias que os autores dos certificados
apresentaram os conceitos para termos teacutecnicos apoacutes uso geralmente entre parecircnteses para
evitar que o termo ou a expressatildeo fossem interpretados de formas indevidas Encontramos
este tipo de estrateacutegia por exemplo na ocorrecircncia (17) do certificado 3 em que o autor
utiliza os termos ―garantia legal e ―garantia contratual mas no texto do certificado haacute o
conceito para cada termo o que impossibilita que o cliente interprete os termos de diversas
maneiras Caso o fabricante tivesse utilizado os dois termos teacutecnicos e em lugar algum do
certificado de garantia ele apresentasse os conceitos para os termos oportunizaria por
conseguinte diversas possibilidades de interpretaccedilatildeo dificultando a leitura do texto por parte
do cliente
Na terceira parte da anaacutelise tratamos sobre as ocorrecircncias com o uso do ―apenas e do
―somente Identificamos trinta ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia
utilizaram esses recursos linguiacutesticos Apesar do nuacutemero elevado de ocorrecircncias os sentidos
em que o ―apenas e o ―somente foram utilizados natildeo variaram muito Em grande parte das
ocorrecircncias analisadas o ―apenas e o ―somente foram utilizados para restringir a validade
da garantia desde restriccedilotildees em relaccedilatildeo ao territoacuterio de vigecircncia ateacute tipos de ambientes em
que os produtos podem ser utilizados Um tipo de ocorrecircncia que foi bastante recorrente em
nosso corpus foi o que utilizou o ―apenas ou ―somente para delimitar o territoacuterio em que a
garantia pode ser vaacutelida como por exemplo nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)
Nestas ocorrecircncias haacute o uso da expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que levantamos na anaacutelise
uma discussatildeo sobre as possibilidades de interpretaccedilatildeo para tal expressatildeo pelo fato de natildeo
haver nos certificados de garantia analisados um conceito definido para ela A ausecircncia do
conceito para este termo nos certificados de garantia pode dificultar a interpretaccedilatildeo
Tambeacutem podemos afirmar que em grande parte das ocorrecircncias analisadas o uso do
―somente ou ―apenas serviu para impor limites agraves interpretaccedilotildees dos textos direcionando-
os para a interpretaccedilatildeo que o fabricante desejasse impor Ou seja em grande parte das
ocorrecircncias em que foi utilizado o ―somente precedendo uma situaccedilatildeo X caso natildeo houvesse
esse uso a garantia por exemplo seria vaacutelida na situaccedilatildeo X mas tambeacutem nas situaccedilotildees Y Z
W sem limites Sem o uso do ―somente nessas ocorrecircncias o texto da garantia natildeo teria
sentido definido Pudemos observar esse sentido em diversas ocorrecircncias analisadas como
por exemplo nas ocorrecircncias (27) e (28) Ilustrando caso natildeo houvesse o uso do ―apenas
nas ocorrecircncias (27) e (28) a garantia seria vaacutelida no territoacuterio brasileiro e em qualquer outro
Ainda sobre as ocorrecircncias usam o ―somente ou ―apenas para restringir o territoacuterio em que
87
a garantia seraacute vaacutelida observamos que algumas ocorrecircncias especificam mais a validade da
garantia como em (48) que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para produtos vendidos e
instalados em territoacuterio nacional e outras ocorrecircncias que especificam menos como em (39)
que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para o veiacuteculo comercializado em territoacuterio brasileiro
Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem de ocorrecircncias em que o ―apenas e ―somente
apareciam explicitamente ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o
mesmo sentido como em (35) (36) e (41)
Sobre o aparecimento de termos polissecircmicos ou termo vagos aleacutem da expressatildeo
―territoacuterio brasileiro que mencionamos nos paraacutegrafos anteriores pudemos identificar
outros casos de termos polissecircmicos como por exemplo nas ocorrecircncias (25) e (26) Os
termos teacutecnicos utilizados pelos autores dos certificados de garantia natildeo possuiacuteam em lugar
algum dos textos os conceitos para lhes definirem possibilitando que o cliente interprete
estes termos de diversas maneiras
Ainda sobre casos de termos polissecircmicos observamos em algumas ocorrecircncias que
os autores dos certificados procuraram utilizar os termos teacutecnicos e em seguida ou em
alguma parte dos textos apresentaram os conceitos para os termos evitando muacuteltiplas
interpretaccedilotildees Identificamos o uso dessa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (43) (44) e
(49)
Nos trecircs tipos de ocorrecircncias que definimos para nossa anaacutelise pudemos identificar
que nos usos do quantificador universal condicional e ―apenas e ―somente os autores dos
certificados de garantia usaram esses recursos para se favorecerem Como analisado nas
ocorrecircncias do corpus os fabricantes utilizaram essas estrateacutegias tanto pelo fato de que eacute
necessaacuterio utilizar esses recursos por ser caracteriacutestico de textos instrucionais quanto pelo
fato de que o direcionamento das interpretaccedilotildees dos textos que eles constroem a partir destes
recursos podem favorecer os proacuteprios fabricantes
88
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Na presente seccedilatildeo iremos pontuar o percurso de nossa pesquisa e apresentar nossas
impressotildees sobre o corpus as teorias apresentadas e os resultados obtidos com as anaacutelises
O primeiro capiacutetulo de nossa pesquisa foi subdividido em duas partes na primeira
buscamos apresentar os conceitos gerais sobre os gecircneros textuais com base na proposta de
Bakhtin (2000) reafirmada por Marcuschi (2008) com o intuito de fornecer aporte teoacuterico
para a segunda parte do capiacutetulo em que caracterizamos o certificado de garantia como um
gecircnero textual Tal caracterizaccedilatildeo se deu pelo fato do nosso corpus ser composto por vinte e
dois certificados de garantia Ficamos surpresos por tomar conhecimento do fato de que ateacute o
presente momento natildeo identificamos publicaccedilotildees acadecircmicas em nosso paiacutes referentes agrave
caracterizaccedilatildeo de certificados de garantia como gecircneros textuais e esta dificuldade nos levou
a construir atraveacutes de nossa leitura a caracterizaccedilatildeo tanto quanto ao conteuacutedo quanto agrave
estrutura do texto A uacutenica bibliografia que encontramos e utilizamos como base para a
estruturaccedilatildeo da segunda parte do capiacutetulo tratando diretamente sobre os certificados de
garantia foi o Coacutedigo de Defesa e Proteccedilatildeo do Consumidor (1997) em que pudemos extrair
alguns conceitos gerais e recomendaccedilotildees de como se deve construir o texto de um certificado
de garantia Um dos problemas que encontramos foi a carecircncia de detalhes apresentados pelo
CDC na seccedilatildeo em que sugerem um padratildeo de formulaccedilatildeo do documento O CDC apenas
enfatiza que se faz necessaacuterio o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo e por exemplo a
necessidade de ser acompanhado do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto Com base
nessas informaccedilotildees apresentamos os conceitos e tambeacutem um exemplo de certificado de
garantia ilustrando cada parte da estrutura do texto
Na introduccedilatildeo do segundo capiacutetulo apresentamos uma discussatildeo geral sobre a
distinccedilatildeo entre semacircntica e pragmaacutetica com o objetivo de caracterizar os nexos como
relaccedilotildees linguiacutesticas do campo da semacircntica Para isso apresentamos tambeacutem os conceitos e
exemplos de relaccedilotildees linguiacutesticas que satildeo consideradas como pertencentes ao campo da
pragmaacutetica como a implicatura e pressuposiccedilatildeo Para esta discussatildeo buscamos aporte teoacuterico
nas obras de autores como Trask (2004) Levinson (2007) Grice (1987) Basso (2009)
Moura (1999) e Santos (2012)
Apoacutes a introduccedilatildeo do capiacutetulo apresentamos a teoria dos nexos semacircnticos que
escolhemos tratar em nossa pesquisa Foram eles o acarretamento a equivalecircncia semacircntica
a contradiccedilatildeo e a contrariedade Utilizamos como referencial teoacuterico para a teoria dos nexos
89
semacircnticos autores como Aristoacuteteles (1985) Chierchia (2001) Branquinho Murcho e Gomes
(2006) Pires de Oliveira (2001) e Mortari (2001) A apresentaccedilatildeo de cada nexo se deu a
partir dos conceitos seguidos de exemplos e dentro de cada seccedilatildeo apresentamos tambeacutem
tipos de ocorrecircncias lexicais que podem dificultar a intepretaccedilatildeo dos nexos que satildeo a
polissemia e a vagueza Ao apresentar os conceitos dessas ocorrecircncias lexicais assim como
fizemos na apresentaccedilatildeo dos nexos tambeacutem ilustramos com exemplos Utilizamos como
aporte teoacuterico para os conceitos de polissemia e vagueza autores como Crystal (1985) Allan
(2010) e Kempson (1977) Aleacutem da polissemia e vagueza tratamos sobre outro problema
que dificulta a interpretaccedilatildeo dos nexos as falaacutecias Quando tratamos sobre as caracteriacutesticas
das falaacutecias utilizamos como base teoacuterica o texto de Soares (2003) em que o autor distingue
as caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias e com esse aporte apresentamos nossos
exemplos
Quando tratamos sobre a contradiccedilatildeo e contrariedade apresentamos o fato de que as
suas origens tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica A partir disso trouxemos uma breve apresentaccedilatildeo
sobre os conceitos de Aristoacuteteles presentes em seu texto Organon (1985) mais
especificamente no Perieacutermeneas capiacutetulos 6 e 7
No final do capiacutetulo dois fizemos uma retrospectiva de todos os pontos que foram
apresentados ao longo do capiacutetulo e justificamos a nossa escolha em pesquisar sobre os nexos
semacircnticos assim como a polissemia vagueza e falaacutecias Durante todo o capiacutetulo dois
apresentamos os nexos e outras relaccedilotildees lexicais dentro de uma linguagem controlada que eacute
diferente do que acontece nos textos dos diversos gecircneros inclusive naquele escolhido para
compor o nosso corpus que satildeo os certificados de garantia A importacircncia dos conceitos
apresentados em nosso segundo capiacutetulo se deu pelo fato de que ele oferece uma base para a
compreensatildeo do funcionamento dessas relaccedilotildees semacircnticas para que diante das anaacutelises que
realizamos no capiacutetulo trecircs tenhamos uma leitura mais refinada e atenciosa para perceber
como essas relaccedilotildees semacircnticas tiacutepicas de linguagens controladas se apresentam em textos
que satildeo suscetiacuteveis a diversas ocorrecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo Ficamos surpresos
pelo fato de que pouco se escreveu sobre nexos semacircnticos em nosso contexto nacional de
pesquisa o que tornou a construccedilatildeo do nosso segundo capiacutetulo bastante desafiadora Em
relaccedilatildeo a artigos que trataram diretamente sobre os nexos semacircnticos e os seus usos como
suporte para a anaacutelise de ocorrecircncias em gecircneros textuais tivemos contato apenas com Santos
(2012) e Estrela e Santos (2013 2014)
No terceiro capiacutetulo que foi dedicado para conter a anaacutelise desta pesquisa
inicialmente apresentamos nossa justificativa para a escolha do gecircnero certificado de garantia
90
para analisar assim como a justificativa para a escolha de procurar nesses textos as
estrateacutegias linguiacutesticas utilizadas para restringir a interpretaccedilatildeo de sentenccedilas Em seguida
tratamos sobre os tipos de ocorrecircncias que elegemos para nossa anaacutelise como quantificador
universalcondicional e o ―apenas e o ―somente Esta escolha se deu pelo fato de tais
termos possuem caracteriacutesticas propiacutecias para o uso em restriccedilotildees ou abrangecircncias de textos
Mesmo assim tiacutenhamos conhecimento de que dificilmente encontrariacuteamos ocorrecircncias com
as relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos no capiacutetulo dois de forma expliacutecita e controlada
pois como discutimos anteriormente os diversos gecircneros textuais satildeo suscetiacuteveis a
interferecircncias lexicais que podem dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos
Em seguida apresentamos a anaacutelise do nosso corpus que totalizou cinquenta e quatro
trechos de certificados nos trecircs tipos de ocorrecircncias escolhidas para serem investigadas
Como jaacute apresentamos no final do capiacutetulo anterior nossas impressotildees sobre como foram
utilizados os recursos linguiacutesticos para restriccedilatildeo de interpretaccedilotildees pelos autores dos
certificados gostariacuteamos de enfatizar que nas ocorrecircncias com quantificador universal com
condicional e com o ―apenas e ―somente os fabricantes utilizaram estes recursos em
grande parte dos certificados para se favorecerem ou seja para abranger as possibilidades de
invalidade da garantia do produto aumentando as situaccedilotildees em que a garantia eacute perdida e
diminuindo as situaccedilotildees em que a garantia eacute vaacutelida (principalmente nas listas exaustivas)
Sobre ocorrecircncias em que identificados termos vagos ou termos polissecircmicos
identificamos como o motivo principal do aparecimento dessas ocorrecircncias a falta de
definiccedilatildeo dos termos teacutecnicos Em muitos certificados identificamos que os autores utilizaram
termos teacutecnicos (a maioria deles provenientes do CDC) e natildeo apresentaram em nenhuma
parte do texto as definiccedilotildees para tais termos oportunizando que o leitor interprete de
diversas maneiras os termos ou expressotildees
Por fim pudemos perceber que os quantificadores os condicionais e termos como o
―apenas e o ―somente que satildeo responsaacuteveis por abranger ou restringir interpretaccedilotildees de
sentenccedilas satildeo proacuteprios do tipo de texto instrucional que abarca o gecircnero que escolhemos para
nossa pesquisa A utilizaccedilatildeo desses termos seguiu uma ordem de apresentaccedilatildeo similar nos
vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Os quantificadores universais
apareceram muitas vezes nas explicaccedilotildees em que os fabricantes apresentavam prazos deveres
e direitos do fabricante e cliente os condicionais apareceram na maioria das vezes
precedendo as listas exaustivas e o ―apenas e ―somente apareceram em grande parte nos
trechos em que os fabricantes apresentavam delimitaccedilotildees territoriais para cobertura da
91
garantia e explicaccedilotildees sobre as situaccedilotildees em que a garantia eacute invalidada e as situaccedilotildees em que
a garantia se assegura
Assim como justificamos no iniacutecio das consideraccedilotildees sobre os resultados obtidos em
nossa anaacutelise natildeo encontramos ocorrecircncias com trecircs dos quatro nexos semacircnticos
apresentados no segundo capiacutetulo O fato de natildeo termos identificado ocorrecircncias com
equivalecircncias semacircnticas contrariedades e contraditoriedades traacutes a tona uma interessante
caracteriacutestica do gecircnero certificado de garantia que eacute a constante presenccedila de acarretamentos
na redaccedilatildeo do texto mesmo que apresentados indiretamente diferente dos exemplos que
utilizamos para ilustrar os conceitos nos diversos textos sobre o assunto e a natildeo utilizaccedilatildeo de
equivalecircncias sentenccedilas contraacuterias e contraditoacuterias na redaccedilatildeo do texto
Atraveacutes dessa pesquisa em que tratamos sobre os nexos semacircnticos a polissemia a
vagueza e alguns outros tipos de relaccedilotildees semacircnticas desejamos que outros pesquisadores se
interessem por este tipo de trabalho e busquem explorar nas anaacutelises linguiacutesticas outros
gecircneros textuais pouco explorados como o que utilizamos no presente trabalho Apresentar
uma teoria que eacute tipicamente de linguagens controladas como a dos nexos semacircnticos (que
satildeo como jaacute discutimos dependentes unicamente da forma das sentenccedilas) e analisar como
essas estrateacutegias linguiacutesticas se comportam dentro de textos instrucionais (que ainda satildeo
pouco explorados nas anaacutelises semacircnticas) satildeo a nosso ver interessantes caminhos a serem
desbravados nos estudos da semacircntica assim como as suas aplicaccedilotildees nos diversos gecircneros
textuais que nos rodeiam
92
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95
ANEXOS
Certificado 1
96
Certificado 2
97
Certificado 3
98
Certificado 4
99
Certificado 5
100
Certificado 6
101
Certificado 7
102
Certificado 8
103
Certificado 9
104
105
Certificado 10
106
Certificado 11
107
Certificado 12
108
109
Certificado 13
110
Certificado 14
111
112
Certificado 15
113
114
Certificado 16
115
116
117
118
119
120
121
Certificado 17
122
Certificado 18
123
Certificado 19
124
125
Certificado 20
126
Certificado 21
127
Certificado 22
RESUMO
O estudo das relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas eacute um campo bastante discutido e
pesquisado nos estudos linguiacutesticos A observaccedilatildeo de como se comportam os termos na
construccedilatildeo de significados em textos de diversos gecircneros e seus efeitos de interpretaccedilatildeo
tambeacutem satildeo temas muito difundidos entre as pesquisas das semacircnticas Nesta produccedilatildeo
discutiremos sobre as relaccedilotildees de significado e seus efeitos de sentido em um gecircnero
especiacutefico As relaccedilotildees que investigaremos satildeo os nexos semacircnticos ou nexos de significado
como proposto por Chierchia (2003) que satildeo respectivamente acarretamento equivalecircncia
semacircntica contraditoriedade e contrariedade O gecircnero que escolhemos para nossa anaacutelise eacute o
certificado de garantia e a escolha de tal gecircnero se deu pelo fato deste fazer parte do grupo de
textos injuntivos ou instrucionais que a nosso ver possui caracteriacutesticas que favorecem a
amostragem dos nexos semacircnticos Iremos analisar como os nexos semacircnticos satildeo utilizados
para restringir ou abranger as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos certificados de garantia O
corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de garantia de
produtos de diversos segmentos e decidimos escolher certificados de produtos de linhas
diversas para constituirmos um panorama sobre o gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes
da internet sem utilizar nenhuma metodologia especiacutefica apenas atentamos para buscar
certificados de produtos variados Buscamos nessa pesquisa instigar a reflexatildeo sobre as
relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e a observaccedilatildeo destas nos textos instrucionais que
lidamos no dia-a-dia e que por muitas vezes deixamos passar despercebido o seu conteuacutedo
O entendimento sobre os nexos de significado pode nos oferecer ferramentas para melhor
leitura de textos desse tipo
Palavras chave Nexos semacircnticos Certificado de garantia Semacircntica
ABSTRACT
The study of the meaning of relations between sentences is a much discussed and researched
field in linguistic studies The observation of how the terms behave in the construction of
meanings in texts of different genres and their interpretation effects are also widespread
themes among semantic research In this work we will discuss about the meaning of the
relations of meaning and their sense of purpose in a specific genre The relations that we will
investigate are semantic nexus or semantic links as proposed by Chierchia (2003) which are
respectively entailment semantic equivalence contradictoriness and contrariness The genre
we chose for our analysis is the warranty certificate and the choice of this genre was made
because it is part of the injunctive or instructional texts group that in our opinion has
characteristics that favor the sampling of semantic nexus We will analyze how the semantic
nexus are used to restrict or cover the possibilities of interpretation in the warranty
certificates The corpus of this research has 22 (twenty two) copies of warranty certificates
from different segments and we decided to choose certificates from separate lines to
constitute an overview of the genre The collection of the texts took place through the
internet without using any particular methodology of choice only we pay attention to seek
warranty certificates of diverse products We seek in this research instigate reflection on the
meaning relations between sentences and observance of these in instructional texts that we
have contact in daily life and that for many times let go unnoticed its contents The
understanding of the semantic nexus can offer us tools to better read texts of this type
Keywords Semantic nexus Warranty certificate Semantics
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 13
1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA 16
11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS 16 12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL 26
2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS 32
21 ACARRETAMENTO 35 22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA 42 23 CONTRADITORIEDADE 45 24 CONTRARIEDADE 48 25 JUSTIFICANDO O PERCURSO 51
3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA 53
31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL 55 32 USO DO CONDICIONAL 64 33 USO DO APENASSOMENTE 68 34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS 83
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 88
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 92
ANEXOS 95
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa 14
QUADRO 2 - Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia 83
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
ILUSTRACcedilAtildeO 1 - Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 27
ILUSTRACcedilAtildeO 2 - Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28
ILUSTRACcedilAtildeO 3 - Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28
ILUSTRACcedilAtildeO 4 - Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28
ILUSTRACcedilAtildeO 5 - Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 29
13
INTRODUCcedilAtildeO
A abordagem das relaccedilotildees de significado eacute algo bastante presente e discutido nos
estudos semacircnticos Observar como se comportam os termos na construccedilatildeo da significaccedilatildeo
em textos de diversos gecircneros distintos e seus efeitos interpretativos tambeacutem satildeo temas de
diversas produccedilotildees na aacuterea de linguiacutestica
Neste trabalho iremos discutir as relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e os efeitos
interpretativos dessas relaccedilotildees em textos Mais especificamente abordaremos os nexos
semacircnticos ou nexos de significado (Chierchia 2003) acarretamento equivalecircncia semacircntica
contrariedade (os quais podemos encontrar no referido trabalho de Chierchia) e
contraditoriedade (nexo semacircntico que geralmente eacute relacionado com a contrariedade e que
foi tratado por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado atraveacutes de seu quadrado loacutegico
ou taacutebua de oposiccedilotildees em seu texto Perieacutermeneas (1985) mais especificamente nos
capiacutetulos 6 e 7 sobre o qual faremos menccedilatildeo na seccedilatildeo sobre este nexo)
Este trabalho tem por objetivo observar alguns dos recursos linguiacutesticos utilizados
para favorecer a existecircncia de nexos semacircnticos e com isso restringir ou ampliar
possibilidades de interpretaccedilatildeo em um gecircnero textual especiacutefico Por este motivo o gecircnero
que escolhemos analisar foi o certificado de garantia ou termo de garantia que pertence agrave
categoria dos textos instrucionais (ou injuntivos) e a nosso ver possui caracteriacutesticas que
favorecem a amostragem das ocorrecircncias dos nexos
O gecircnero certificado de garantia possui como uma de suas caracteriacutesticas a
apresentaccedilatildeo organizada dos direitos e deveres do cliente e do fabricante com relaccedilatildeo a um
produto servindo tambeacutem para informar ao cliente os seus direitos referentes agrave validade
prazos e extensatildeo de cobertura da garantia Supotildee-se entatildeo que o texto deve por isso ser
objetivo e livre de ambiguidades e incoerecircncias
Nossa hipoacutetese eacute a de que recursos linguiacutesticos que favoreccedilam a existecircncia de nexos
semacircnticos nos textos dos certificados ndash como o emprego por exemplo de conectivos e
quantificadores (Chierchia 2003 PIRES DE OLIVEIRA 2001) ndash estatildeo presentes em textos
deste gecircnero e contribuem para que os textos alcancem o objetivo de informar ao cliente e ao
fabricante seus deveres e direitos
O corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de
garantia de produtos diversos para constituir um panorama ainda que reduzido de instacircncias
do gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes da internet sem utilizar nenhuma metodologia
14
especiacutefica de escolha atentando para buscar certificados de produtos variados Os textos
escolhidos para a anaacutelise de nosso trabalho incluem diversos produtos manufaturados como
moacuteveis veiacuteculos eletroeletrocircnicos entre outros equipamentos domeacutesticos como ilustrado no
quadro a seguir
Nordm Tipo de objeto Fabricante
1 Refrigerador Samsung
2 TV led Sony
3 Condicionador de ar LG
4 Tablet AOC
5 AudioMixer Oneal
6 Garantia para todos os produtos Elgin
7 Estabilizador de energia APC
8 Aquecedor de aacutegua Bosch
9 Fogatildeo Brastemp
10 Maacutequina de lavar Electrolux
11 Ventilador Cadence
12 GPS Positron
13 Umidificador de ar Springer
14 Certificado internacional de garantia Philips
15 Colchatildeo Ortobom
16 Caminhotildees Mercedes-Benz
17 Carro de passeio Hyundai
18 Moacuteveis Bartzen
19 Aquecedor de ar Fujitsu
20 Tv AOC
21 Aquecedor de aacutegua para piscina Rheem
22 Bicicleta Total Health
Quadro 1 ndash Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa Fonte elaborado pelo autor
Como nosso propoacutesito eacute analisar os textos observando as ocorrecircncias de termos que
restringem e abrangem interpretaccedilotildees natildeo temos a intenccedilatildeo de analisar se um fabricante
elaborou um texto melhor que outro
No primeiro capiacutetulo apresentamos num primeiro momento o que satildeo gecircneros
textuais e em seguida caracterizamos o certificado de garantia como um gecircnero textual Para
tanto utilizamos o aporte teoacuterico baseado na obra de Mikhail Bakhtin (2000) linguista do
iniacutecio do seacuteculo referecircncia nos estudos de gecircneros textuais e de Luiz Antocircnio Marcuschi
(2002 2005 2008) linguista contemporacircneo que desenvolveu importantes trabalhos nessa
disciplina Vale salientar que como o foco de nossa pesquisa natildeo eacute a discussatildeo de gecircneros
textuais o capiacutetulo que construiacutemos trata de conceitos gerais sobre gecircneros tendo como
15
objetivo observar que o certificado de garantia eacute um gecircnero textual e mostrando como se
estrutura em linhas gerais um texto deste gecircnero
No segundo capiacutetulo trataremos dos nexos semacircnticos dos quais consideraremos
para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e
contrariedade Atraveacutes de exemplos discutimos brevemente cada um deles mostrando
exemplos que funcionam e tambeacutem exemplos problemaacuteticos em relaccedilatildeo ao leacutexico
especialmente em casos de polissemia para que entatildeo seja possiacutevel a anaacutelise do capiacutetulo
seguinte
No terceiro capiacutetulo traremos a anaacutelise do corpus que se apresentaraacute organizado por
ocorrecircncias distribuiacutedas em tipos a saber uso do quantificador universal uso do condicional
e uso do apenassomente Apoacutes o exame das trecircs categorias citadas trataremos entatildeo das
relaccedilotildees entre o emprego dos recursos e a funccedilatildeo dos certficados Procuraremos tambeacutem
refletir se os recursos satildeo mais utilizados para favorecer o cliente ou mais utilizados para
favorecer o fabricante
Por uacuteltimo mostraremos as consideraccedilotildees finais do trabalho e em seguida as
referecircncias bibliograacuteficas utilizadas na elaboraccedilatildeo de nosso texto
16
1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA
Neste capiacutetulo tratamos dos gecircneros textuais e da caracterizaccedilatildeo dos certificados de
garantia como um gecircnero textual Em um primeiro momento traremos a perspectiva sobre
gecircneros textuais de Mikhail Bakhtin precursor dos estudos de gecircneros textuais na linguiacutestica
e em seguida apresentaremos a perspectiva de Luiz Antocircnio Marcuschi linguista brasileiro
que tambeacutem trabalha com o tema e compartilha em grande parte da perspectiva de Bakhtin
sobre o os gecircneros Eacute importante ressaltar que este capiacutetulo natildeo tem por objetivo o
aprofundamento nos estudos dos gecircneros e serve como um instrumento para contextualizar o
corpus desta pesquisa
11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS
Considerando a perspectiva apresentada por Mikhail Bakhtin na obra Esteacutetica da
criaccedilatildeo verbal (2000) o ato de se comunicar eacute indispensaacutevel para as relaccedilotildees humanas Aleacutem
disso ressaltamos que eacute por tal razatildeo que nas diversas situaccedilotildees de interaccedilatildeo que
vivenciamos em nosso cotidiano observamos a utilizaccedilatildeo da liacutengua em suas modalidades
oral eou escrita como instrumento principal de nossas trocas comunicativas
Eacute notoacuterio que a quantidade de atividades eacute enorme assim como satildeo os diferentes tipos
de situaccedilotildees em que a liacutengua eacute empregada Atraveacutes da formulaccedilatildeo de enunciados podemos
caracterizar quais as funccedilotildees dos discursos que escolhemos para os diversos tipos de
interaccedilatildeo
Nesse sentido eacute possiacutevel afirmarmos que todas as nossas construccedilotildees linguiacutesticas
organizam-se em gecircneros discursivos por meio dos quais conseguimos nos comunicar e
interagir socialmente
Em conformidade com a proposta de Bakhtin todo gecircnero discursivo se constitui a
partir das seguintes dimensotildees o conteuacutedo temaacutetico o estilo e a construccedilatildeo composicional
Esta descriccedilatildeo eacute claacutessica como ponto de partida para a descriccedilatildeo dos gecircneros textuais e nos
ofereceraacute a possibilidade de tanto descrever o que eacute um gecircnero textual quanto caracterizar
um texto como gecircnero que seraacute o nosso objetivo na segunda parte deste capiacutetulo
O conteuacutedo temaacutetico se refere ao tipo de assunto veiculado no texto Por tal razatildeo
Bakhtin (2000) afirma que o gecircnero eacute escolhido a partir do que o locutor decide falar Assim
17
eacute faacutecil compreender por que cada atividade comunicativa necessita de um tipo especiacutefico de
textodiscurso Por exemplo natildeo se responde (normalmente) uma carta informal com uma
bula de remeacutedio (a natildeo ser que na carta um texto desse gecircnero seja solicitado como
resposta) Nesse sentido percebe-se que para cada esfera de comunicaccedilatildeo o locutor e
interlocutor utilizam uma mesma forma de expressatildeo tendo em vista o assunto que
escolheram tratar Caso contraacuterio se locutor e interlocutor agregam formas distintas de
expressatildeo pode ser que a comunicaccedilatildeo natildeo seja efetivada com sucesso visto que eacute possiacutevel
natildeo haver o entendimento das partes uma vez que cada gecircnero abarca certo campo de uso
mesmo estando em constante desenvolvimento
O estilo se refere aos recursos linguiacutesticos desde gramaticais ateacute lexicais e eles
variam de acordo com o gecircnero Essa dimensatildeo abarca a seleccedilatildeo frasal lexical gramatical e
as formas de apresentar o discurso que satildeo inerentes ao gecircnero escolhido Bakhtin (2000)
afirma que o estilo eacute a primeira vista individual do gecircnero e ela reflete (ou natildeo) a
individualidade de quem escreve ou fala Isso porque dependendo do gecircnero o estilo
individual aparece com mais clareza Da mesma forma haacute gecircneros que natildeo possuem essa
caracteriacutestica a exemplo dos textos injuntivos sobre os quais trataremos mais agrave frente Ainda
a respeito do estilo Bakhtin assegura que
Quando escolhemos as palavras no processo de construccedilatildeo de um enunciado nem
de longe as tomamos sempre do sistema da liacutengua em sua forma neutra
lexicograacutefica Costumamos tiraacute-las de outros enunciados e antes de tudo de
enunciados congecircneres com o nosso isto eacute pelo tema pela composiccedilatildeo pelo estilo
consequentemente selecionamos as palavras segundo a sua especificaccedilatildeo de
gecircnero O gecircnero do discurso natildeo eacute uma forma da liacutengua mas uma forma tiacutepica do
enunciado como tal forma o gecircnero inclui certa expressatildeo tiacutepica a ele inerente
(BAKHTIN 2010 [1992] p 292 grifos do autor)
Nessa perspectiva podemos afirmar que tal criteacuterio se refere agraves propriedades das
unidades de linguagem e relaciona-se agrave posiccedilatildeo enunciativa do locutor agraves sequecircncias textuais
e aos tipos discursivos que estruturam o texto
Por fim Bakhtin (2000) afirma que cada gecircnero possui uma forma padratildeo que eacute a
estrutura composicional Eacute atraveacutes dessa forma que podemos identificar qual gecircnero estaacute
sendo empregado pois essa dimensatildeo se refere aos procedimentos utilizados na formulaccedilatildeo
dos textos com a estrutura e demais aspectos formais incluindo as partes envolvidas no
discurso Em suma para Bakhtin (2000)
18
Estes trecircs elementos (conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo composicional)
fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado e todos eles satildeo marcados pela
especificidade de uma esfera de comunicaccedilatildeo Qualquer enunciado considerado
isoladamente eacute claro individual mas cada esfera de utilizaccedilatildeo da liacutengua elabora
seus tipos relativamente estaacuteveis de enunciados sendo isso que denominamos
gecircneros do discurso (BAKHTIN 2000 p 279 Grifos do autor)
Ainda a respeito dos gecircneros do discurso conveacutem ressaltar que sua variedade eacute
proporcional agraves possibilidades de interaccedilotildees humanas pois as diversas esferas de interaccedilatildeo
satildeo compostas por classes de gecircneros que se desenvolvem tornando-se maiores e mais
complexas em consonacircncia com o desenvolvimento dessas esferas
Bakhtin (2000) utiliza o termo ―heterogeneidade para adjetivar os gecircneros do
discurso sejam eles orais ou escritos inferindo que estes incluem desde conversas informais
cartas relatos familiares ateacute produccedilotildees mais complexas como os documentos oficiais textos
cientiacuteficos e de escolas literaacuterias Natildeo haacute razatildeo para minimizar a extrema heterogeneidade
dos gecircneros do discurso e a consequente dificuldade quando se trata de definir o caraacuteter
geneacuterico do enunciadolsquo (BAKHTIN 2000 p 281) Dessa forma entendemos que a
variedade de gecircneros eacute muito grande se estendendo por exemplo dos romances mais
eruditos ateacute os bilhetes de recados do dia-a-dia e que tratar dos gecircneros admitindo suas
caracteriacutesticas estruturais particulares natildeo eacute uma tarefa faacutecil de realizar
Aleacutem de discorrer sobre as dimensotildees constitutivas de um gecircnero tendo em vista essa
heterogeneidade Bakhtin categoriza os gecircneros textuais em primaacuterios (simples) e
secundaacuterios (complexos) Assim os gecircneros primaacuterios satildeo aqueles referentes agraves reacuteplicas de
diaacutelogos cotidianos como cartas pessoais e demais gecircneros de comunicaccedilatildeo imediata Satildeo
chamados ―simples porque satildeo formados por discursos de baixa complexidade Jaacute os
gecircneros secundaacuterios satildeo aqueles referentes a romances textos cientiacuteficos sociopoliacuteticos e
afins Satildeo textos (escritos ou produzidos para serem encenados como os teatrais ndash exemplo
usado pelo proacuteprio Bakhtin) com maior carga de complexidade de produccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo
Surgem a partir de interaccedilotildees mais aprofundadas nas comunidades com maior grau de
imersatildeo em relaccedilatildeo aos padrotildees culturais e sociais
Ele ainda ressalta que os gecircneros secundaacuterios tambeacutem podem conter gecircneros
primaacuterios ―o romance em seu todo eacute um enunciado da mesma forma que a reacuteplica do
diaacutelogo cotidiano ou a carta pessoal (satildeo fenocircmenos da mesma natureza) o que diferencia o
romance eacute ser um enunciado secundaacuterio (complexo) (BAKHTIN 2000 p 281) Ao
discorrer sobre essa questatildeo o autor assevera que eacute de grande importacircncia teoacuterica a
19
diferenciaccedilatildeo entre esses tipos de gecircneros pois com isso e a partir disso podemos fazer
anaacutelises precisas dos enunciados que podem contrapor dois ou mais tipos de textos
Ignorar as caracteriacutesticas intriacutensecas a cada gecircnero a ―natureza dos enunciados - que
segundo Bakhtin eacute indispensaacutevel para qualquer estudo ndash eacute partir para a abstraccedilatildeo da liacutengua
desvalorizando o conteuacutedo histoacuterico imerso em cada tipo de gecircnero Eacute importante considerar
a relaccedilatildeo existente entre ―a liacutengua e a vida e natildeo restringir os enunciados a categorias
formais Haacute portanto uma relaccedilatildeo de complementaccedilatildeo entre a liacutengua a vida e os enunciados
pois ―a liacutengua penetra na vida atraveacutes dos enunciados concretos que a realizam e eacute tambeacutem
atraveacutes dos enunciados concretos que a vida penetra na liacutengua (BAKHTIN 2000 p 282)
Bakhtin (2000) tambeacutem se refere a questotildees da ―totalidade do enunciado que ele
define como aquilo que oportuniza a resposta em um discurso Bakhtin afirma que essa accedilatildeo
eacute definida por trecircs fatores diretamente associados ao ―todo orgacircnico do enunciado
primeiramente o tratamento exaustivo do objeto de sentido depois o querer-dizer do locutor
e por fim as formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do acabamento
O tratamento exaustivo do objeto de sentido ―varia profundamente conforme as
esferas da comunicaccedilatildeo verbal Em algumas esferas ele pode ser quase total como por
exemplo na vida praacutetica na vida profissional na vida militar basicamente em esferas que
natildeo possuem caracteriacutesticas de mutabilidade de discurso e pouca ―criatividade nas
formulaccedilotildees entre outras palavras onde os gecircneros do discurso satildeo padronizados Jaacute nas
esferas em que os gecircneros satildeo ―criativos o tratamento exaustivo eacute muito menos abrangente
como no caso das ciecircncias em particular onde Bakhtin infere que o tratamento exaustivo
―oferece exatamente um miacutenimo de acabamento capaz de suscitar uma atitude responsiva
(BAKHTIN 2000 p 300)
O querer-dizer do locutor estaacute ligado ao primeiro fator O filoacutesofo afirma que em todo
enunciado desde uma reacuteplica cotidiana ateacute complexas obras cientiacuteficas ou da literatura
compreendemos sentimos o ―intuito discursivo ou querer-dizer do locutor que eacute o que
determina o ―todo do enunciado sua amplitude suas fronteiras Noacutes identificamos o que o
locutor quer expressar e a partir dessa detecccedilatildeo medimos e definimos como se daraacute o
enunciado Isso eacute determinante para a escolha do objeto com seus limites e o tratamento
exaustivo do objeto adequado a este aleacutem de ser essencial para a escolha da forma do gecircnero
onde seraacute edificado
As formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do gecircnero do acabamento representam o fator mais
importante para Bakhtin que as descreve como ―formas estaacuteveis do gecircnero do enunciado
(BAKHTIN 2000 p 301)
20
As formas do gecircnero agraves quais modelamos nossa fala se distinguem
substancialmente das formas da liacutengua do ponto de vista de sua estabilidade e de
suas leis normativas para o locutor De um modo geral elas satildeo mais maleaacuteveis
mais plaacutesticas e mais livres do que as formas da liacutengua (BAKHTIN 2000 p 302)
Concluindo a discussatildeo sobre gecircneros a partir dos conceitos gerais propostos por
Bakhtin passamos agora para a discussatildeo sobre gecircneros realizada por Marcuschi (2008) Eacute
possiacutevel perceber ao longo da explanaccedilatildeo que este autor se identifica com a teoria
bakhtiniana de gecircneros textuais e foi essa identificaccedilatildeo uma das motivaccedilotildees que nos levou a
escolhecirc-los para a composiccedilatildeo deste capiacutetulo
De acordo com Marcuschi (2008 p 154) toda comunicaccedilatildeo soacute pode ser efetivada
por meio de um gecircnero pois ―eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum gecircnero
assim como eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum texto Partindo dessa
premissa podemos entender que qualquer manifestaccedilatildeo verbal se daacute dentro dos limites dos
gecircneros Eacute por esse motivo que a variedade de gecircneros eacute extensa mas natildeo infinita Atraveacutes
desse conceito observamos que Marcuschi compactua com o conceito bakhtiniano de que os
gecircneros possuem formas padronizadas e finitas
Os gecircneros textuais satildeo os textos que encontramos em nossa vida diaacuteria e que
apresentam padrotildees sociocomunicativos caracteriacutesticos definidos por composiccedilotildees
funcionais objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integraccedilatildeo
de forccedilas histoacutericas sociais institucionais e teacutecnicas (Marcuschi 2008 p 155)
Natildeo devemos considerar os gecircneros textuais como modelos imutaacuteveis e de ―estrutura
riacutegidas A apresentaccedilatildeo dos gecircneros se mostra ligada diretamente ao meio em que circulam
Satildeo formas culturais que tomam forma na liacutengua e que evoluem junto com ela Obviamente
que natildeo podemos deixar de considerar que os gecircneros possuem identidade e eacute atraveacutes dessa
identidade que escolhemos um tipo especiacutefico para cada esfera discursiva Dessa forma
admitimos que os gecircneros limitam nossa accedilatildeo na escrita
Em relaccedilatildeo agrave distinccedilatildeo entre gecircneros Marcuschi (2008) natildeo os distingue pelas formas
linguiacutesticas mas sim pelos seus campos de accedilatildeo Nesse sentido ele reafirma a perspectiva
bakhtiniana de que os gecircneros satildeo dinacircmicos e que por serem soacutecio-histoacutericos natildeo podem
ser contados de modo exaustivo o que dificulta sua classificaccedilatildeo Marcuschi (2008) afirma
que atualmente o objetivo maior nos estudos sobre gecircneros textuais eacute procurar identificar e
explicar como eles satildeo constituiacutedos e como circulam na sociedade
21
Eacute importante apresentar alguns conceitos referentes ao que estamos discutindo sobre
gecircneros do discurso dentre os quais destacamos os conceitos de tipo textual gecircnero textual e
domiacutenio discursivo segundo Marcuschi (2008) levando em consideraccedilatildeo a possibilidade de
se obter melhor entendimento no trato com o texto em si e seus fenocircmenos
O tipo textual eacute definido pelos aspectos linguiacutesticos ou seja por marcas lexicais
tempos verbais estilo relaccedilotildees loacutegicas e aspectos sintaacuteticos Logo relaciona-se mais agraves
sequecircncias linguiacutesticas do que a materializaccedilotildees textuais fazendo com que o conjunto
tipoloacutegico de textos seja limitado e natildeo apresente tendecircncias de aumentar Marcuschi (2002
p22) afirma que os tipos textuais compreendem categorias amplamente conhecidas como
narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo exposiccedilatildeo descriccedilatildeo e injunccedilatildeo que observaremos separadamente a
seguir
A narraccedilatildeo relata um fato que pode ser real ou imaginaacuterio em um tempo e lugar
definidos envolvendo personagens Nesse tipo de texto o tempo verbal predominante eacute o
passado ao menos nos exemplos mais tiacutepicos Eacute predominante em crocircnicas piadas
romances poemas faacutebulas entre outros Vejamos o exemplo a seguir
O cavalo e o burro
O cavalo e o burro seguiam juntos para a cidade O cavalo contente da vida
folgando com uma carga de quatro arrobas apenas e o burro mdash coitado gemendo
sob o peso de oito Em certo ponto o burro parou e disse
ndash Natildeo posso mais Esta carga excede agraves minhas forccedilas e o remeacutedio eacute repartirmos o
peso irmatildemente seis arrobas para cada um
O cavalo deu um pinote e relichou uma gargalhada
ndash Ingecircnuo Quer entatildeo que eu arque com seis arrobas quando posso tatildeo bem
continuar com as quatro Tenho cara de tolo
O burro gemeu
ndash Egoiacutesta Lembre-se que se eu morrer vocecirc teraacute que seguir com a carga de quatro
arrobas e mais a minha
O cavalo pilheriou de novo e a coisa ficou por isso Logo adiante poreacutem o burro
tropica vem ao chatildeo e rebenta
Chegam os tropeiros maldizem a sorte e sem demora arrumam com as oito arrobas
do burro sobre as quatro do cavalo egoiacutesta E como o cavalo refuga datildeo-lhe de
chicote em cima sem doacute nem piedade
ndash Bem feito exclamou o papagaio Quem mandou ser mais burro que o pobre burro
e natildeo compreender que o verdadeiro egoiacutesmo era aliviaacute-lo da carga em excesso
Tome Gema dobrado agorahellip
(LOBATO M 2010 p 85)
Acima podemos observar um exemplo de narraccedilatildeo que eacute uma das faacutebulas de
Monteiro Lobato escrita em grande parte em discurso direto Podemos observar na faacutebula
que o texto eacute conduzido pelo narrador intercalado pela interaccedilatildeo dos personagens A seguir
22
continuaremos a descriccedilatildeo dos tipos textuais e exemplos com o conceito do tipo textual
argumentativo
Jaacute a argumentaccedilatildeo tem por principal caracteriacutestica a construccedilatildeo do convencimento
acerca da validade ou invalidade de um ponto de vista por sobre outro Nesse tipo de texto haacute
a reflexatildeo sobre temas especiacuteficos confrontando perspectivas distintas predominante em
gecircneros como debates resenhas editoriais artigos de opiniatildeo e afins Vejamos o exemplo a
seguir
O povo brasileiro estaacute cansado de tanta corrupccedilatildeo desigualdade de renda serviccedilos
puacuteblicos precaacuterios sensaccedilatildeo de inseguranccedila nas ruas elevada carga tributaacuteria
ineficiecircncia nos gastos puacuteblicos e elevaccedilatildeo da inflaccedilatildeo aleacutem do estilo autoritaacuterio e
inflexiacutevel da presidente O estranho eacute pensar sobre as razotildees que levaram a
populaccedilatildeo agraves ruas no momento atual em que a economia apresentou uma
significativa evoluccedilatildeo em relaccedilatildeo aos anos 80 e 90 aleacutem de presenciar sensiacutevel
melhora na renda meacutedia e na sua distribuiccedilatildeo nos anos 2000
A minha impressatildeo eacute de que depois de sentir a possibilidade de que o paiacutes entraria
em uma rota segura de crescimento da renda e de desenvolvimento econocircmico
(semelhante agrave sensaccedilatildeo que a populaccedilatildeo brasileira presenciou nos anos 70) o
enfraquecimento econocircmico e os sinais cada vez mais claros de que ele eacute resultante
de problemas internos deixaram a populaccedilatildeo transtornada Mais uma vez somos
apenas o paiacutes do futuro (NAKABASHI 2013 Acesso
httpwwwgazetadopovocombropiniaoartigosmanifestacoes-e-governo-no-
brasil-bdcjgu3mm6ql5e18tqoj73c5q)
Observamos acima uma parte de um artigo de opiniatildeo publicado no jornal Gazeta do
Povo em 02072013 por Luciano Nakabashi que trata das manifestaccedilotildees e do governo no
Brasil O autor anuncia primeiro o problema que vai discutir e em seguida lanccedila sua opiniatildeo
sobre o tema o que faz com que esse tipo de texto seja distinto da exposiccedilatildeo que
abordaremos a seguir
A exposiccedilatildeo apresenta informaccedilotildees sobre acontecimentos materiais e objetos de
forma detalhada e especiacutefica e por isso costuma lanccedilar matildeo de recursos como a descriccedilatildeo
informaccedilatildeo enumeraccedilatildeo comparaccedilatildeo e contrastes O tipo expositivo eacute caracteriacutestico de
gecircneros como as aulas expositivas verbetes de dicionaacuterios notiacutecias jornaliacutesticas entre
outros Vejamos o exemplo
Dianoia Termo grego que pode ser traduzido por pensamento intelecto
espiacuterito A dianoia eacute o pensamento discursivo enquanto elaboraccedilatildeo explicitaccedilatildeo
ou desenvolvimento da noese ou nous isto eacute da razatildeo intuitiva que capta de
modo imediato o real (Aristoacuteteles Tratado da alma III) Neste sentido a dianoia eacute
inferior ao nous jaacute que depende deste (MARCONDES e JAPIASSUacute 2001 p54)
23
Tomamos como exemplo de exposiccedilatildeo um verbete de um dicionaacuterio de filosofia
Podemos observar que os autores apresentam a palavra ―dianoia e em seguida conceituam a
dianoia a partir da perspectiva de um filoacutesofo especiacutefico (neste caso Aristoacuteteles)
O tipo textual descriccedilatildeo por sua vez eacute o relato particular de eventos e entidades e se
relaciona comumente com outros tipos em inuacutemeros gecircneros textuais Eacute caracteriacutestico em
cartazes promocionais anuacutencio de classificados entre outros Vamos observar agora um
exemplo de descriccedilatildeo atraveacutes da anaacutelise de uma obra de arte de Salvador Dali de 1955
intitulada ―A uacuteltima ceia
―Sua cena estaacute contida num retacircngulo Uma imensa janela ao fundo representada
por um dodecaedro (figura geomeacutetrica de 12 lados que sua vez satildeo pentaacutegonos ou
seja possuem cinco acircngulos cada um) domina toda a composiccedilatildeo
Jesus Cristo e seus 12 apoacutestolos estatildeo reunidos numa sala moderna envidraccedilada
Ele ocupa o centro da mesa de pedra o centro da tela e o centro do pentaacutegono
frontal do dodecaedro Cristo estaacute de frente para o observador contudo seu corpo
transluacutecido permite ver o mar e um barco o que indica que ele natildeo mais eacute humano
mas divino A sensaccedilatildeo que temos eacute de que seu corpo emerge de dentro do mar
Diante de Cristo sobre a mesa estatildeo um copo com vinho e as duas bandas do patildeo
jaacute repartido o que nos permite concluir que Daliacute pintou o momento da Eucaristia A
presenccedila dos barcos no mar remete aos ―pescadores de homens
A mesa eacute formada por um bloco retangular Doze apoacutestolos debruccedilam-se sobre ela
sendo trecircs agrave esquerda de Cristo e trecircs agrave direita Nas suas extremidades estatildeo quatro
apoacutestolos sendo dois de cada lado De costa para o observador estatildeo mais dois
deles Todos estatildeo com as cabeccedilas baixas Um dos apoacutestolos diverge dos demais ao
usar uma toga amarela O pintor queria com certeza diferenciaacute-lo Portanto tanto
pode ser Pedro o fundador da Igreja ou Judas o traidor
No alto com a cabeccedila invisiacutevel e com parte do tronco visiacutevel e os braccedilos abertos
Deus Pai humanizado abraccedila toda a cena como se aguardasse a chegada do Filho
que se encontra entre os homens Ao fundo um mar tranquilo com rochas
espalhadas e um ceacuteu cheio de nuvens compotildeem o segundo plano da tela (Viacuterus da
arte amp cia ndash Site brasileiro especializado em arte e cultura Disponiacutevel em
httpvirusdaartenetdali-a-ultima-ceia)
Acima podemos observar a descriccedilatildeo de uma obra de arte do pintor catalatildeo Salvador
dali retirado de uma paacutegina sobre arte Como o nome do tipo textual sugere a descriccedilatildeo tem
por objetivo descrever fatos mas tambeacutem caracteriacutesticas para objetos paisagens e situaccedilotildees
diversas No exemplo que utilizamos para descriccedilatildeo observamos a descriccedilatildeo de uma obra de
arte por parte de um espectador demonstrando detalhes do que estaacute impresso na pintura
assim como uma interpretaccedilatildeo da cena
O uacuteltimo tipo textual que consideraremos aqui eacute o tipo injuntivo que tem por objetivo
instruir o leitor ou persuadi-lo a fazer algo ou adotar algum ponto de vista Tambeacutem tem
como caracteriacutestica a induccedilatildeo do interlocutor a proceder de uma ou outra forma Geralmente
24
eacute escrito no modo imperativo e eacute caracteriacutestico de gecircneros como a bula de remeacutedio os
manuais de instruccedilotildees receitas culinaacuterias e contratos Vale ressaltar que dentro dos textos
injuntivos podem-se encontrar outros tipos de texto como por exemplo descriccedilotildees de
objetos endereccedilos procedimentos etc Vejamos o exemplo a seguir
Bolo simples
Tempo de preparo 40 minutos
Rendimento 12 porccedilotildees
Ingredientes
2 xiacutecaras de accediluacutecar
3 xiacutecaras de farinha de trigo
4 colheres de margarina bem cheias
3 ovos
1 frac12 xiacutecara de leite aproximadamente
1 colher (sopa) de fermento bem cheia
Modo de preparo
1) Bata as claras em neve
2) Reserve
3) Bata bem as gemas com a margarina e o accediluacutecar
4) Acrescente o leite e a farinha aos poucos sem parar de bater
5) Por uacuteltimo agregue as claras em neve e o fermento
6) Coloque em forma grande de furo central untada e enfarinhada
7) Asse em forno meacutedio preacute-aquecido por aproximadamente 40 minutos
8) Quando espetar um palito e sair limpo estaraacute assado
(httpwwwtudogostosocombrreceita29124-bolo-simpleshtml Acesso em
20042014)
No exemplo uma receita culinaacuteria podemos observar que haacute descriccedilatildeo na primeira
parte (a lista de ingredientes) e na segunda parte (modo de preparo) que eacute a mais
nitidamente injuntiva encontramos instruccedilotildees de como proceder na execuccedilatildeo da receita
Aleacutem da classificaccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo dos tipos de texto eacute interessante observarmos
tambeacutem a definiccedilatildeo de gecircneros textuais e domiacutenio discursivo conforme Marcuschi (2008)
Os gecircneros textuais satildeo definidos como ―textos materializados em situaccedilotildees
comunicativas recorrentes (MARCUSCHI 2008 p155) que apresentam caracteriacutesticas
soacutecio-comunicativas marcadas pelos conteuacutedos e pelas propriedades referentes agraves funccedilotildees e
composiccedilatildeo Diferente dos tipos textuais que se restringem a cerca de meia duacutezia como
afirma Marcuschi (2008) ―os gecircneros satildeo inuacutemeros Tambeacutem haacute de ressaltar que satildeo
culturalmente e historicamente formados visto que evoluem no mesmo passo que as
comunidades
O domiacutenio discursivo por sua vez eacute a esfera de atividade humana em que os textos
circulam Ele natildeo eacute um texto em si mas proporciona o surgimento de discursos especiacuteficos
Para ilustrar podemos citar alguns domiacutenios como discurso religioso discurso juriacutedico etc
25
O domiacutenio eacute constituiacutedo por praacuteticas do discurso nas quais podemos identificar uma seacuterie de
gecircneros que possuem a mesma proposta discursiva como o tema e as praacuteticas institucionais
ou informais
As definiccedilotildees aqui trazidas de gecircnero tipo domiacutenio discursivo satildeo muito mais
operacionais do que formais e seguem de perto a posiccedilatildeo bakhtiniana Assim para a
noccedilatildeo de tipo textual predomina a identificaccedilatildeo de sequecircncias linguiacutesticas como
norteadora e para a noccedilatildeo de gecircnero textual predominamos criteacuterios de padrotildees
comunicativos accedilotildees propoacutesitos e inserccedilatildeo sociohistoacuterica No caso dos domiacutenios
discursivos natildeo lidamos propriamente com textos e sim com formaccedilotildees histoacutericas e
sociais que originam os discursos Eles ainda natildeo se acham bem definidos e
oferecem alguma resistecircncia mas seguramente sua definiccedilatildeo deveria ser na base de
criteacuterios etnograacuteficos antropoloacutegicos e socioloacutegicos e histoacutericos (MARCUSCHI
2008 p 158 Grifos do autor)
Nessa perspectiva faz-se necessaacuterio apresentarmos o papel dos gecircneros textuais como
controle social Como jaacute vimos anteriormente segundo Bakhtin (2000) toda atividade
discursiva humana se daacute atraveacutes de algum gecircnero e eacute tambeacutem por esse motivo que haacute uma
consideraacutevel pluralidade de gecircneros Marcuschi (2008) afirma que os gecircneros satildeo
―necessaacuterios para a interlocuccedilatildeo humana Assim para cada esfera de atividade humana
certos gecircneros especiacuteficos satildeo considerados mais ou menos adequados Na esfera
empresarial por exemplo temos que nos adequar agraves formalidades dos gecircneros de redaccedilatildeo
oficial como os ofiacutecios atas circulares e relatoacuterios Na academia apresentamos nossas
produccedilotildees atraveacutes de dissertaccedilotildees artigos cientiacuteficos teses e relatoacuterios de projetos No meio
publicitaacuterio encontramos as propagandas anuacutencios de diversos tipos Enfim satildeo inuacutemeras as
esferas de discurso domiacutenios discursivos e gecircneros textuais atrelados a estes
Marcuschi (2008) enfatiza que o controle social por gecircneros discursivos eacute
incontornaacutevel mas natildeo determinista De acordo com o autor noacutes temos liberdade para nos
expressarmos em qualquer esfera discursiva Poreacutem temos que admitir que a sociedade eacute
constituiacuteda por uma ―maacutequina discursiva logo somos moldados a ela de forma intuitiva e
os gecircneros textuais constituem um poderoso instrumento desta maacutequina Quanto maior a
nossa inserccedilatildeo na sociedade maior o controle social Por exemplo natildeo satildeo todas as pessoas
que podem expedir um mandato de seguranccedila escrever uma dissertaccedilatildeo de mestrado
ministrar uma aula de fiacutesica quacircntica ou publicar uma coluna em um jornal Eacute nessa
perspectiva que Marcuschi (2008) afirma veemente o direcionamento dos gecircneros textuais
para com o envolvimento social e suas especificidades
26
A partir das consideraccedilotildees apresentadas a respeito dos gecircneros textuais dedicamos a
seccedilatildeo a seguir para a caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual
conforme relatamos na introduccedilatildeo deste capiacutetulo
12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL
O certificado de garantia ou termo de garantia eacute um documento oferecido por
prestadoras de serviccedilos fabricantes de produtos diversos ou de qualquer outro segmento que
envolva comercializaccedilatildeo de bens duraacuteveis com a funccedilatildeo de formalizar os direitos e deveres
do consumidor e do fabricante para com o estado fiacutesico e funcional do produto em vista de
problemas de qualquer natureza
Eacute tambeacutem uma espeacutecie de contrato visto que consiste fundamentalmente na
combinaccedilatildeo de interesses de partes sobre algo Aleacutem de ―certificado de garantia
utilizaremos tambeacutem a nomenclatura ―termo de garantia tendo em vista que o documento
do certificado de garantia e o termo em si estatildeo internamente ligados A expressatildeo ―termo de
garantia eacute usada no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20
de marccedilo de 1997
Art 50 A garantia contratual eacute complementar agrave legal e seraacute conferida mediante
termo escrito
Paraacutegrafo uacutenico O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e
esclarecer de maneira adequada em que consiste a mesma garantia bem como a
forma o prazo e o lugar em que pode ser exercitada e os ocircnus a cargo do
consumidor devendo ser-lhe entregue devidamente preenchido pelo fornecedor no
ato do fornecimento acompanhado de manual de instruccedilatildeo de instalaccedilatildeo e uso de
produto em linguagem didaacutetica com ilustraccedilotildees (Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do
Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20 de marccedilo de 1997 p 30)
Em linhas gerais o documento eacute composto por quatro partes garantia contratual
garantia legal condiccedilotildees para validade da garantia contratual e legal condiccedilotildees natildeo cobertas
pela garantia legal e contratual Vejamos um exemplo de certificado de garantia
27
ILUSTRACcedilAtildeO 1 Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario
_de_ar_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Observamos na primeira parte a disposiccedilatildeo da garantia contratual ou seja a garantia
oferecida pelo fabricante
28
ILUSTRACcedilAtildeO 2 Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar
_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Na segunda parte encontramos a disposiccedilatildeo da garantia legal ou seja a garantia
assegurada pelo Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do consumidor
ILUSTRACcedilAtildeO 3 Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c
ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Em seguida vemos as condiccedilotildees de validade da garantia legal e contratual composta
por uma lista exaustiva de itens a serem considerados
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ILUSTRACcedilAtildeO 4 Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c
ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
E por fim encontramos as condiccedilotildees natildeo cobertas pela garantia legal e contratual
assim como observaccedilotildees gerais
ILUSTRACcedilAtildeO 5 Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar
_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Em relaccedilatildeo agrave estrutura padratildeo dos certificados de garantia a partir do corpus
analisado nesta pesquisa observou-se que o texto que se refere agrave garantia em si corresponde a
menos da metade do documento Grande parte do documento se dedica agrave restriccedilatildeo de
possibilidades de cobertura assim como observaccedilotildees gerais quanto agraves responsabilidades do
fabricante diante de situaccedilotildees como despesas referentes agrave locomoccedilatildeo para depoacutesito do
produto para assistecircncia documentaccedilatildeo necessaacuteria para apresentaccedilatildeo na assistecircncia etc
30
O termo de garantia eacute vinculado diretamente ao Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do
consumidor O coacutedigo estabelece um padratildeo abrangente de formulaccedilatildeo do documento
constando recomendaccedilotildees como o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo necessidade do
acompanhamento do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto assim como clareza na
disposiccedilatildeo dos prazos de garantia legal e contratual
Como discutimos na primeira parte desse capiacutetulo Bakhtin (2000) propotildee que trecircs
dimensotildees constituem os gecircneros de discurso conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo
composicional Iremos a seguir apresentar como estas dimensotildees satildeo percebidas nesse
gecircnero textual
Como conteuacutedo temaacutetico do gecircnero certificado de garantia temos a veiculaccedilatildeo de
direitos e deveres do fabricante e do consumidor O documento apresenta listas exaustivas de
accedilotildees que possibilitam ou natildeo o uso do termo de garantia assim como instruccedilotildees gerais para
a realizaccedilatildeo desse ato Esse conteuacutedo pode variar em parte e apenas questotildees referentes agrave
garantia legal natildeo podem mudar pois estaacute prevista no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do
Consumidor
Em relaccedilatildeo ao estilo observamos nos certificados a utilizaccedilatildeo da norma padratildeo
Busca-se construir um texto claro e objetivo para que dessa forma natildeo haja problemas de
interpretaccedilatildeo para o consumidor Nesse gecircnero natildeo haacute identificaccedilatildeo de quem escreve de
maneira particular como observamos em gecircneros do tipo carta A identificaccedilatildeo do autor eacute
geralmente atribuiacuteda agrave empresa que oferece a garantia O estilo individual que eacute
caracteriacutestico em diversos gecircneros como o artigo de opiniatildeo e cartas pessoais natildeo cabe para
os certificados Como se trata de um texto instrucional esse gecircnero apresenta-se de forma
objetiva de modo que natildeo haacute a necessidade praacutetica da identificaccedilatildeo de quem escreve
Quanto agrave estrutura composicional em linhas gerais tal gecircnero segue uma sequecircncia
de apresentaccedilatildeo em duas etapas Em um primeiro momento apresenta-se o termo de garantia
em si no qual eacute descrito o direito do consumidor em relaccedilatildeo agrave garantia assim como sua
validade No segundo momento parte mais extensa do texto haacute a apresentaccedilatildeo de listas
supostamente exaustivas referentes aos casos que natildeo satildeo cobertos pela garantia assim como
as instruccedilotildees gerais para o reclame do direito Essa sequecircncia de apresentaccedilatildeo do documento
eacute variaacutevel Haacute certificados que satildeo inclusos no manual de instruccedilatildeo do produto (geralmente
na uacuteltima paacutegina) Haacute certificados que satildeo destacados o documento eacute apresentado agrave parte de
qualquer outro texto
Se retomarmos a classificaccedilatildeo dos gecircneros do discurso de Bakhtin (2000) entre
primaacuterios (simples) e secundaacuterios (complexos) podemos considerar que o certificado de
31
garantia estaacute inserido nos gecircneros complexos pois se trata de um documento elaborado de
forma sistemaacutetica no qual haacute necessidade de um aprofundamento social complexo com
caracterizaccedilotildees e descriccedilotildees bem delimitadas
Quanto ao tipo de texto dentro do que foi proposto por Marcuschi (2008) o
certificado de garantia se enquadra no tipo injuntivo porque eacute um texto instrucional com
predominacircncia do modo imperativo nas frases e eacute composto pela listagem de uma seacuterie de
procedimentos a serem observados e seguidos com listas exaustivas contendo direitos e
deveres do fabricante e do consumidor O objetivo do documento eacute oferecer ao cliente todas
as informaccedilotildees relacionadas agrave validade da garantia os casos em que haacute perda da validade e os
casos em que os problemas apresentados se enquadram como defeitos de fabricaccedilatildeo
O certificado de garantia se caracteriza como um gecircnero textual a partir da
perspectiva de Marcuschi (2008) pois eacute um texto que possui caracteriacutesticas soacutecio-discursivas
bem delimitadas com conteuacutedo padratildeo obedecendo a uma mesma linha temaacutetica e foi
constituiacutedo socialmente O gecircnero foi criado a partir da necessidade juriacutedica de resguardar os
fabricantes e consumidores de produtos industrializados e afins quanto agrave possibilidade de
apresentaccedilatildeo de defeitos ou falhas
De posse dos conhecimentos gerais sobre os gecircneros textuais que apresentamos e da
caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual partiremos no proacuteximo
capiacutetulo para a apresentaccedilatildeo das teorias que serviratildeo de aporte teoacuterico para a compreensatildeo
das anaacutelises realizadas no capiacutetulo 3
32
2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS
Neste capiacutetulo tratamos dos nexos semacircnticos ou ―nexos de significado dos quais
consideramos para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica
contraditoriedade e contrariedade Caracterizamos cada um deles utilizando exemplos em
linguagem natural com o intuito de demonstrar o funcionamento dessas relaccedilotildees assim como
mostrar quando tais exemplos deixam de apresentar o nexo Nosso intuito final eacute de oferecer
uma base para a compreensatildeo das anaacutelises que viratildeo no capiacutetulo posterior
Para entendermos melhor o que satildeo os nexos semacircnticos devemos compreender a
distinccedilatildeo entre a semacircntica e a pragmaacutetica que satildeo linhas de estudos linguiacutesticos inter-
relacionaacuteveis Uma definiccedilatildeo bastante difundida da semacircntica e tambeacutem bastante geral eacute
encontrada em Trask (2004 p 261) que diz que a semacircntica eacute o ramo da linguiacutestica que
estuda o significado e em Chierchia (2003 p 7) para quem a semacircntica eacute um estudo do
significado das expressotildees das liacutenguas naturais Podemos tambeacutem caracterizar a semacircntica
destacando a relaccedilatildeo do usuaacuterio da liacutengua e o significado que ele atribuiu agraves palavras que
compotildeem sentenccedilas como propotildee Pires de Oliveira (2001 p 42) Jaacute a pragmaacutetica por outro
lado tambeacutem estuda o significado das liacutenguas naturais mas trata das intenccedilotildees que os
falantes supostamente revelam a partir do uso de sentenccedilas
Para o termo ―pragmaacutetica haacute diversas possibilidades de definiccedilatildeo Levinson (2007)
procura mostrar as implicaccedilotildees que algumas definiccedilotildees podem ter em relaccedilatildeo a outros
estudos Assim podemos citar pelo menos dois conceitos de pragmaacutetica para Levinson
―pragmaacutetica eacute o estudo de todos os aspectos do significado natildeo capturados em uma teoria
semacircntica (Levinson 2007 p14) assim como ―pragmaacutetica eacute o estudo das relaccedilotildees entre
liacutengua e contexto que satildeo gramaticalizadas ou codificadas na estrutura de um liacutengua
(Levinson 2007 p 11) Podemos perceber que nessas duas definiccedilotildees Levinson tanto atribui
agrave pragmaacutetica a responsabilidade sobre aquilo que estaacute aleacutem da semacircntica quanto destaca a
relaccedilatildeo de liacutengua e contexto Jaacute em Wilson (2008) encontramos as definiccedilotildees que Yule
(1996) apresenta para a pragmaacutetica
a) pragmaacutetica eacute o estudo do significado sob o ponto de vista do falante b)
pragmaacutetica eacute o estudo do significado contextual (isto eacute leva em conta o modo como
os falantes organizam seus enunciados aquilo que eles querem dizer de acordo com
os seguintes fatores a quem vatildeo dizer como vatildeo dizer onde e quando vatildeo dizer e
sob que circunstacircncias) c) pragmaacutetica eacute o estudo do como se diz aleacutem daquilo que eacute
33
dito (isto eacute o estudo do significado subjacente do natildeo dito d) pragmaacutetica eacute o
estudo da expressatildeo da proximidadedistanciamento relativo (isto eacute de acordo com
o tipo de proximidade fiacutesica social ou conceitual em relaccedilatildeo aos ouvintes os
falantes determinam como e quanto precisam dizer) (WILSON 2008 p 89)
A discussatildeo sobre as definiccedilotildees de pragmaacutetica e semacircntica e suas distinccedilotildees vem
desde o iniacutecio do seacuteculo XX e muitos autores contribuiacuteram para a evoluccedilatildeo desses conceitos
Em vista desta histoacuterica discussatildeo apresentaremos os conceitos de Charles Morris e Rudolf
Carnap para estas disciplinas linguiacutesticas
Segundo a definiccedilatildeo de Charles Morris (1938) pragmaacutetica eacute o estudo da ―relaccedilatildeo dos
signos com seus inteacuterpretes Jaacute para Rudolf Carnap (1938) a pragmaacutetica eacute o estudo da
linguagem em relaccedilatildeo aos seus falantes Diante dos conceitos de semacircntica e pragmaacutetica que
apresentamos e da distinccedilatildeo entre as linhas de estudos linguiacutesticos Marcondes (2000) afirma
que ―tanto a definiccedilatildeo de Morris quanto a de Carnap fazem parte da jaacute consagrada distinccedilatildeo
geral do campo de estudos da linguagem entre pragmaacutetica que considera a linguagem em
seu uso concreto e semacircntica que examina os signos linguiacutesticos em sua relaccedilatildeo com os
objetos que designam ou a quem se refere Os nexos semacircnticos estatildeo inseridos no campo da
semacircntica e voltaremos a este ponto no final do capiacutetulo
Sobre as relaccedilotildees semacircnticas haacute diversas perspectivas nos estudos linguiacutesticos A
forma como combinamos as palavras e nossa tendecircncia em buscar um conceito fixo de um
termo satildeo complicaccedilotildees que podem dificultar o uso da liacutengua O significado linguiacutestico das
liacutenguas naturais segundo Basso (2009) possibilita nexos semacircnticos entre sentenccedilas E
ainda sobre o significado Basso propotildee
Quando perguntamos o significado de alguma palavra muitas vezes buscamos
aquele modelo significativo presente nos dicionaacuterios Poreacutem natildeo haacute no dicionaacuterio
maneiras preacute-estabelecidas de como uma palavra pode se combinar com outra em
busca da trama de significados dos nexos que favorecem infinitas interpretaccedilotildees
Essas combinaccedilotildees satildeo decorrentes do proacuteprio uso da liacutengua pelos seus falantes
mas natildeo estatildeo nem presentes nos dicionaacuterios nem tampouco algueacutem nos ensina satildeo
conhecimentos impliacutecitos Uma aacuterea da linguiacutestica moderna defende que o nosso
conhecimento semacircntico e um dote geneacutetico portanto os possiacuteveis nexos
semacircnticos satildeo decorrentes de uma capacidade inata de combinaccedilatildeo de palavras e
sentenccedilas parte do conhecimento semacircntico impliacutecito ou competecircncia semacircntica
(BASSO 2009 p 25)
Os nexos semacircnticos satildeo caracterizados na literatura da semacircntica como grupos de
relaccedilotildees de inferecircncia muito estaacuteveis direcionaacuteveis e fortemente dependentes do material
34
linguiacutestico dos enunciados (SANTOS 2012) Essas relaccedilotildees diferem de perspectivas de
inferecircncias como a pressuposiccedilatildeo e a implicatura que dialogam diretamente com o natildeo-dito
Para contrastar os nexos com esses outros tipos de relaccedilatildeo vamos observar os exemplos a
seguir
(1) Carlos parou de beber refrigerante
(2) A tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio
Seguindo a mesma linha de exposiccedilatildeo de Moura (1999 p 12) a partir das duas
sentenccedilas acima observamos dois niacuteveis nas informaccedilotildees veiculadas No primeiro niacutevel
temos contato com o sentido literal das palavras Dessa forma em (1) temos a informaccedilatildeo de
Carlos natildeo toma mais refrigerantes e em (2) que Maacuterio escreveu uma tese sobre bolhas de
sabatildeo No segundo niacutevel atraveacutes da enunciaccedilatildeo das sentenccedilas somos levados a considerar
informaccedilotildees que natildeo estatildeo afirmadas literalmente nas sentenccedilas Dessa forma a partir de (1)
podemos inferir que Carlos bebia refrigerantes antes e em (2) que uma tese sobre bolhas de
sabatildeo jaacute foi escrita Ducrot (1987) denomina de conteuacutedo posto o primeiro niacutevel que
consiste no conteuacutedo literal das sentenccedilas e de conteuacutedo pressuposto ou pressuposiccedilatildeo o
segundo niacutevel que abarca as inferecircncias que podemos fazer a partir da enunciaccedilatildeo das
sentenccedilas Devemos entender que o conteuacutedo posto depende do conteuacutedo pressuposto pois a
aceitaccedilatildeo do primeiro leva a aceitaccedilatildeo do segundo Para que possamos aceitar a verdade do
posto (1) que diz que Carlos parou de beber refrigerante temos que aceitar a verdade
pressuposta de que Carlos jaacute tinha bebido refrigerante antes
Outra relaccedilatildeo semacircntica que dialoga diretamente com o natildeo-dito eacute a implicatura
Grice (1987) propotildee dois tipos de implicaturas as implicaturas convencionais que natildeo satildeo
sujeitas a condiccedilotildees de verdade e as implicaturas conversacionais que natildeo dependem
diretamente da significaccedilatildeo usual das palavras sendo determinadas por certos princiacutepios
baacutesicos do ato comunicativo
As implicaturas convencionais satildeo inferecircncias natildeo sujeitas a condiccedilotildees de verdade
natildeo satildeo derivadas de princiacutepios pragmaacuteticos mais gerais como as maacuteximas conversacionais
mas satildeo simplesmente ligadas pela convenccedilatildeo a itens ou expressotildees lexicais especiacuteficos
Levinson (2007) toma a implicatura conversacional como uma das ideias mais
importantes da pragmaacutetica e vamos considerar neste trabalho apenas as implicaturas do tipo
conversacional de forma que quando mencionarmos o termo implicatura devemos entender
que estamos falando das implicaturas conversacionais e natildeo das convencionais
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Para exemplificar uma implicatura vamos supor uma situaccedilatildeo entre dois amigos em
que ao dialogar sobre as uacuteltimas defesas de teses e dissertaccedilotildees do departamento de poacutes-
graduaccedilatildeo deparam-se com a notiacutecia de que um de seus colegas escreveu uma tese sobre um
tema muito irrelevante e nada original Diante desta situaccedilatildeo um amigo disse para o outro ―A
tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio A partir da situaccedilatildeo em que os dois amigos
estavam imersos nesse contexto e da sentenccedila utilizada por um dos amigos podemos inferir
que foi Maacuterio quem escreveu uma tese sobre um tema irrelevante Podemos perceber neste
exemplo que como descrito nas definiccedilotildees que trouxemos anteriormente a implicatura por
ser uma relaccedilatildeo puramente pragmaacutetica utiliza-se do natildeo-dito e de situaccedilotildees convencionadas
entre falantes para poder existir
Dessa forma podemos retomar o que foi exposto nos paraacutegrafos anteriores afirmando
que os nexos semacircnticos as pressuposiccedilotildees e as implicaturas satildeo inferecircncias de significado
sendo que os nexos estatildeo no campo da semacircntica e as pressuposiccedilotildees e implicaturas estatildeo no
campo da pragmaacutetica
A partir deste ponto iremos descrever os nexos semacircnticos com exemplos mostrando
como essas relaccedilotildees funcionam e tambeacutem casos em que a interpretaccedilatildeo natildeo acontece da
maneira esperada Em relaccedilatildeo aos casos em que a interpretaccedilatildeo eacute prejudicada trataremos de
casos relacionados com a ambiguidade lexical mais especificamente com vagueza e casos
relacionados com a polissemia (desconsiderando seus limites com a homoniacutemia)
21 ACARRETAMENTO
Em linhas gerais o acarretamento ocorre quando a verdade de um conjunto de
sentenccedilas1 que nomearemos de A garante a verdade de outra sentenccedila que nomearemos de
B Dessa forma a verdade da primeira sentenccedila ou do conjunto delas autoriza a verdade de B
(CHIERCHIA 2003) O acarretamento eacute uma inferecircncia que os falantes estatildeo autorizados a
fazer e o que os autoriza eacute o conhecimento linguiacutestico Vamos observar o exemplo a seguir
1 Em nosso trabalho utilizaremos os termo ldquosentenccedilardquo e ldquoproposiccedilatildeordquo intercambiavelmente Alguns autores
definem os dois termos de formas distintas Por exemplo na semacircntica contemporacircnea de mundos possiacuteveis desenvolvida por autores como por exemplo Kripke e Lewis define-se proposiccedilatildeo como a classe de todos os mundos possiacuteveis nas quais ela eacute verdadeira Murcho (2006) apresenta dois exemplos para distinguir proposiccedilotildees e sentenccedilas ldquoSoacutecrates era um filoacutesofordquo e ldquoSocrates was a philosopherrdquo Murcho afirma que os dois exemplos satildeo duas sentenccedilas que exprimem uma uacutenica proposiccedilatildeo Outros como Mortari (2001) natildeo distinguem proposiccedilotildees e sentenccedilas
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(3) alsquo Neymar eacute brasileiro
a Neymar eacute um jogador de futebol
b Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro
Podemos observar no exemplo acima que a sentenccedila (3b) tem a sua verdade garantida
pela verdade de (3alsquo) e (3a) Sendo assim (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Podemos observar
no exemplo que o acarretamento eacute bastante claro pois as informaccedilotildees que estatildeo presentes em
(3b) satildeo a soma das informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) Eacute interessante destacar
que para que a sentenccedila (3b) constitua um acarretamento de (3alsquo) e (3a) natildeo precisamos
conhecer a pessoa Neymar nem sua nacionalidade eou profissatildeo Como as informaccedilotildees
estatildeo postas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) a verdade de (3b) eacute inevitaacutevel Mesmo que no mundo
real Neymar natildeo fosse jogador de futebol e natildeo fosse brasileiro isso em nada modificaria o
acarretamento pois dentro da relaccedilatildeo estabelecida entre (3alsquo) (3a) e (3b) as informaccedilotildees
contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Vejamos o exemplo a seguir
(4) alsquo Todos os sacis tecircm apenas uma perna
a Denis Diderot eacute um saci
b Denis Diderot tem apenas uma perna
Observando o exemplo acima identificamos que em relaccedilatildeo ao conhecimento de
mundo a sentenccedila (4alsquo) eacute verdadeira jaacute que no folclore admitimos como uma caracteriacutestica
dos sacis ter apenas uma perna A sentenccedila (4a) eacute falsa pois Denis Diderot foi um filoacutesofo e
escritor francecircs e natildeo um saci Por fim a sentenccedila (4b) tambeacutem eacute falsa em relaccedilatildeo ao nosso
conhecimento de mundo pois Denis Diderot possuiu durante toda a sua vida as duas pernas
Podemos entatildeo admitir que as sentenccedilas do conjunto (4) em relaccedilatildeo ao nosso conhecimento
de mundo satildeo falsas Mesmo assim o conjunto eacute um acarretamento Diferente do exemplo
(3) em que trouxemos sentenccedilas que constituiacuteam um acarretamento com informaccedilotildees
verdadeiras em relaccedilatildeo ao mundo o exemplo (4) mostra que a relaccedilatildeo semacircntica que estamos
discutindo independe da verdade das informaccedilotildees das sentenccedilas no mundo O que o
acarretamento faz eacute concatenar as sentenccedilas de uma forma que se as premissas forem
verdadeiras a conclusatildeo tambeacutem seraacute verdadeira O acarretamento depende exclusivamente
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da forma em que as sentenccedilas se apresentam Tendo em vista que a relaccedilatildeo depende apenas
da forma podemos representar o acarretamento da seguinte maneira como propotildee Soares
(2003)
Em liacutengua natural
Se estudar entatildeo serei aprovado (1ordf premissa)
Ora estudei (2ordf premissa)
Logo fui aprovado (Conclusatildeo)
E simbolizando2
a rarr b (1ordf premissa)
a (2ordf premissa)
b (Conclusatildeo)
Vale ressaltar que ao utilizarmos o termo ―sentenccedila estamos nos referindo ao que os
gramaacuteticos costumam chamar de oraccedilatildeo Tambeacutem eacute interessante mencionar que o
acarretamento eacute chamado de consequecircncia semacircntica Iremos utilizar como representaccedilatildeo das
premissas sentenccedilas do tipo (Xalsquo) e (Xa) e para a conclusatildeo sentenccedilas do tipo (Xb)
Podemos entender que o acarretamento eacute um tipo de relaccedilatildeo estabelecida entre
premissas e a consequecircncia de forma que a verdade das premissas determina a verdade da
consequecircncia Tambeacutem devemos entender que natildeo eacute possiacutevel que as premissas sejam
verdadeiras junto da negaccedilatildeo da conclusatildeo pelo fato de que dessa forma estaria
descaracterizada a relaccedilatildeo de acarretamento
Como ressaltamos acima os acarretamentos satildeo dependentes da forma ou seja da
relaccedilatildeo que as sentenccedilas possuem entre si e natildeo da verdade ou falsidade no mundo das
informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas Diante disso traremos agrave tona exemplos de sentenccedilas que
2 O siacutembolo ldquorarrrdquo na loacutegica claacutessica representa um condicional assunto de que trataremos no terceiro capiacutetulo
deste trabalho e o siacutembolo ldquordquo representa um acarretamento
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natildeo possuem relaccedilatildeo semacircntica mas atraveacutes da verdade ou falsidade das informaccedilotildees nas
sentenccedilas podem nos confundir e nos induzir ao erro Para tal raciociacutenio errocircneo damos o
nome de falaacutecias
Soares (2003) distingue trecircs caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias (i) satildeo
argumentos parecidos com argumentos vaacutelidos (ii) estabelecem entre premissas e conclusotildees
uma relevacircncia puramente psicoloacutegica que tatildeo-soacute se dirige agraves emoccedilotildees da pessoa sem que as
premissas sejam logicamente relevantes para extrair a conclusatildeo (iii) apresentam-se com
intenccedilatildeo enganadora para que o argumento ainda que invaacutelido seja de todas as maneiras
aceito por todos Vejamos a seguir exemplos de falaacutecias
(5) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher
a Dilma Rousseff eacute mulher
b Dilma Rousseff eacute a presidente do Brasil
A partir do nosso conhecimento de mundo poderiacuteamos dizer que a sentenccedila (5b) eacute
verdadeira Na sentenccedila (5alsquo) temos que A presidente do Brasil eacute mulher De fato tambeacutem se
formos utilizar nosso conhecimento de mundo intuitivamente diremos que esta sentenccedila estaacute
correta considerando a eacutepoca em que este trabalho foi escrito Seguindo temos a sentenccedila
(5a) com a informaccedilatildeo Dilma Rousseff eacute mulher Assim como as sentenccedilas (5alsquo) e (5a) a
partir de nosso conhecimento de mundo podemos afirmar que esta sentenccedila tambeacutem eacute
verdadeira mas devemos entender que eacute preciso considerar a relaccedilatildeo que as sentenccedilas
estabelecem entre si A sentenccedila (5alsquo) natildeo estabelece nenhuma relaccedilatildeo com a sentenccedila (5a)
para que (5b) seja um acarretamento Para mostrar de forma mais clara que o exemplo (5) natildeo
eacute um acarretamento vamos comparaacute-lo com o exemplo a seguir
(6) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher
a Michelle Bachelet eacute mulher
b Michelle Bachelet eacute a presidente do Brasil
Observamos que (6alsquo) e (6a) satildeo verdadeiras (no momento da redaccedilatildeo deste
trabalho) mas (6b) nos parece estranho Sabemos que Michelle Bachelet atualmente eacute
presidente do Chile Mas nada disso interfere para caracterizar um acarretamento e o exemplo
acima foi para deixar claro que a partir das relaccedilotildees semacircnticas dispostas entre os grupos de
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sentenccedilas (5) e (6) natildeo podemos considerar que haacute acarretamento pelo fato acima
mencionado
Ateacute o momento tratamos do conceito de acarretamento seguido de exemplos em
liacutengua natural sua representaccedilatildeo na loacutegica claacutessica e exemplos de falaacutecias A partir deste
ponto trataremos dos fatores que interferem nas relaccedilotildees semacircnticas de uma forma diferente
das falaacutecias A compreensatildeo dos tipos de interferecircncias a seguir seraacute importante para a anaacutelise
do corpus deste trabalho pois se trata de interferecircncias lexicais
No exemplo a seguir trataremos de um problema que pode invalidar relaccedilotildees
semacircnticas a polissemia Quando um termo adquire mais de um sentido aleacutem daquele que eacute
originalmente atribuiacutevel temos um caso de polissemia Crystal (1985) conceitua polissemia
da seguinte maneira
Polissemia termo usado na anaacutelise semacircntica para caracterizar um item lexical com
uma variedade de significaccedilotildees diferentes como manga = ―parte da camisa ―parte
do abajur etc Uma grande parte do vocabulaacuterio da liacutengua eacute polissecircmica ()
(Crystal 1985 p 202)
Tendo em vista que a polissemia eacute uma caracteriacutestica de um item lexical que possui
diversos significados para diversos contextos vamos observar o exemplo a seguir
(7) a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito
b Joatildeo morreu
A sentenccedila (7a) pode ser interpretada pelo menos de duas formas distintas pelo fato da
expressatildeo ―perdeu a cabeccedila ser polissecircmica Se interpretarmos a sentenccedila (7a) considerando
―perder a cabeccedila como ter a cabeccedila desprendida do corpo haacute acarretamento de (7a) para
(7b) Mas esta natildeo eacute a uacutenica interpretaccedilatildeo possiacutevel para a expressatildeo em questatildeo Se
interpretarmos ―perder a cabeccedila como perder a paciecircncia ficar furioso estressado ou algo
parecido a sentenccedila (7a) natildeo acarreta (7b) numa mesma situaccedilatildeo pois o fato de Joatildeo ter
perdido a paciecircncia natildeo garante que ele venha a morrer Dessa forma para natildeo ter problemas
com a polissemia eacute preciso assegurar que se convencione um sentido uacutenico para cada
premissa para desta forma haver um acarretamento
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Outro aspecto que eacute preciso ser mencionado eacute que (7) do jeito que se apresenta natildeo eacute
um acarretamento mesmo que perder a cabeccedila tenha o sentido de ter a cabeccedila desprendida do
corpo Isso se daacute porque (7) eacute um acarretamento incompleto ou seja um entimema
Argumento com uma premissa natildeo-formulada sem a qual ele natildeo eacute vaacutelido Chama-
se muitas vezes de premissa impliacutecitalsquo agrave premissa natildeo formulada Na argumentaccedilatildeo
cotidiana omitem-se premissas oacutebvias A premissa impliacutecita do argumento Antocircnio
deveria ser despedido porque roubou dinheiro puacuteblicolsquo eacute Todas as pessoas que
roubam dinheiro puacuteblico devem ser despedidaslsquo (BRANQUINHO MURCHO
GOMES 2006 p 298)
Vamos observar o exemplo (7) de uma forma que o entimema seria evitado
(8) alsquo Todas as pessoas que perdem a cabeccedila morrem
a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito
b Joatildeo morreu
Podemos constatar no exemplo acima que ao incluirmos a sentenccedila (8alsquo) que eacute a
sentenccedila geral que estava impliacutecita no exemplo (7) resolvemos o problema do entimema
completando assim a relaccedilatildeo de acarretamento de (8alsquo) e (8a) para (8b)
A partir de agora vamos tratar de outro tipo de interferecircncia em relaccedilotildees sentencias
que estaacute tambeacutem no campo do leacutexico a vagueza
A vagueza eacute assim como a polissemia um tipo de ocorrecircncia que dificulta a
interpretaccedilatildeo dos nexos entre sentenccedilas Podemos considerar que haacute vagueza em uma
sentenccedila quando observamos que uma palavra ou expressatildeo causa sentido incompleto
impedindo o entendimento da sentenccedila como um todo Branquinho Murcho e Gomes
conceituam a vagueza de seguinte maneira
As liacutenguas naturais contecircm palavras (tipicamente predicados denotando
propriedades ou relaccedilotildees) cujo domiacutenio de aplicaccedilatildeo eacute parcialmente indeterminado
isto eacute em relaccedilatildeo agraves quais os falantes competentes natildeo estatildeo certos em todos os
casos de que determinado objeto (ou par ordenado de objetos) pertence ao conjunto
denotado por elas (ou agrave relaccedilatildeo) (BRANQUINHO MURCHO GOMES 2006 p
805)
De uma forma geral Allan (2010) caracteriza a vagueza como um tipo particular de
incerteza sobre a aplicaccedilatildeo de um predicado Podemos considerar como um exemplo padratildeo
de predicado vago a classe de adjetivos graduaacuteveis como altura Se uma determinada pessoa
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natildeo eacute suficientemente alta para ser claramente alta e natildeo eacute suficiente baixa para ser
claramente baixa entatildeo aiacute temos um caso de vagueza
Os adjetivos vagos satildeo sempre utilizados em relaccedilatildeo a uma classe de comparaccedilatildeo no
dia-a-dia Estar acima do peso por exemplo pode variar a partir do grau de comparaccedilatildeo Para
uma top model estar acima do peso eacute visto de forma diferente do que para um lutador de
sumocirc por exemplo
Ainda em relaccedilatildeo ao conceito de vagueza Kempson (1977) propotildee que existem
quatro tipos inter-relacionaacuteveis de vagueza vagueza referencial indeterminaccedilatildeo de
significado falta de especificaccedilatildeo no significado de um item disjunccedilatildeo na especificaccedilatildeo do
significado de um item em que o significado abarca uma ou qualquer declaraccedilatildeo de diversas
possibilidades de interpretaccedilatildeo Dentre estes quatro tipos propostos por Kempson iremos nos
dedicar a observar os casos relacionados agrave vagueza referencial Tendo em vista os conceitos
acima vamos observar um exemplo em que a vagueza pode prejudicar a interpretaccedilatildeo de um
acarretamento
(9) a Tobias eacute um gecircnio no xadrez
b Tobias eacute um bom jogador de xadrez
No exemplo acima podemos observar os termos vagos ―gecircnio na sentenccedila (9a) e
―bom na sentenccedila (9b) Para haver a relaccedilatildeo de acarretamento temos que admitir para (9a) e
(9b) o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe Por exemplo haacute acarretamento entre as
sentenccedilas (9a) e (9b) se Tobias for um garoto de oito anos e diante seus colegas da escola ele
se destacar como um exiacutemio conhecedor das regras e teacutecnicas do jogo de xadrez Dessa
forma a sentenccedila ―Tobias eacute um gecircnio no xadrez acarretaria que ―Tobias eacute um bom jogador
de xadrez Jaacute se natildeo utilizarmos o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas
(9a) e (9b) como por exemplo se em (9a) Tobias for um garoto de oito anos que diante de
seus colegas da escola se destaca como um exiacutemio jogador de xadrez mas comparando-o
com os competidores da categoria secircnior do campeonato mundial de xadrez e a partir disso
afirmando (9b) natildeo poderiacuteamos acarretar que Tobias eacute um bom jogador de xadrez Dessa
forma pudemos observar que a presenccedila de termos vagos em sentenccedilas dificulta a
interpretaccedilatildeo dos acarretamentos A seguir observaremos outros nexos que se relacionam com
o acarretamento
42
22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA
Como discutimos anteriormente o acarretamento eacute uma relaccedilatildeo semacircntica que ocorre
em um uacutenico sentido ou seja das premissas para a conclusatildeo Quando uma conclusatildeo
acarreta as premissas chamamos essa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica
Para o termo ―equivalecircncia haacute diversas definiccedilotildees Segundo Branquinho Murcho e
Gomes (2006 p 281) podemos identificar dois sentidos distintos para este termo o primeiro
se refere ao que tratamos neste trabalho ou seja faz referecircncia a relaccedilatildeo entre as sentenccedilas de
certa liacutengua o segundo trata de determinados tipos de sentenccedilas declarativas agraves frases
bicondicionais ou declarativas Dentro desses dois sentidos diversos para o termo
―equivalecircncia no primeiro que eacute o que mais nos interessa os autores ainda distinguem trecircs
variedades centrais de equivalecircncia Satildeo elas equivalecircncia material equivalecircncia estrita e
equivalecircncia loacutegica
A equivalecircncia material eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q (por
exemplo) exatamente quando p e q possuem o mesmo valor de verdade ou seja quando ou
satildeo as duas verdadeiras juntas ou satildeo as duas falsas juntas
A equivalecircncia estrita eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q no caso em
que eacute necessaacuterio que p seja materialmente equivalente a q ou no caso de ser impossiacutevel tanto
que p seja verdadeira e q seja falsa quanto que p seja falsa e q seja verdadeira Branquinho
Murcho e Gomes (2006 p 281) afirmam que nesse caso diz-se que p eacute estritamente
equivalente a q
A equivalecircncia loacutegica eacute uma relaccedilatildeo que se estabelece entre duas sentenccedilas p e q
exatamente no caso de p e q serem duas sentenccedilas mutuamente dedutiacuteveis num dado sistema
loacutegico Diz-se nesse caso que p eacute logicamente equivalente a q
Em nosso trabalho iremos considerar para ―equivalecircncia o sentido apresentado por
Branquinho Murcho e Gomes (2006) para equivalecircncia material A partir deste conceito
vamos observar o exemplo a seguir
(10) a O gato matou o rato
b O rato foi morto pelo gato
Nas sentenccedilas acima podemos identificar uma relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica Eacute
impossiacutevel que o gato tenha matado o rato e que o rato natildeo tenha sido morto Claro que se
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considerarmos que estamos tratando sobre o mesmo gato e o mesmo rato Dessa forma
sempre que (10a) for verdadeira (10b) tambeacutem teraacute de ser Tambeacutem podemos observar uma
relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica no exemplo (3) Utilizamos o exemplo (3) para mostrar
uma relaccedilatildeo de acarretamento que eacute efetiva mas tambeacutem haacute a relaccedilatildeo de equivalecircncia pois
as premissas ―Neymar eacute brasileiro e ―Neymar eacute um jogador de futebol acarretam que
―Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro da mesma forma que esta uacuteltima sentenccedila
acarreta as duas anteriores Tal exemplo reafirma o conceito descrito acima de que uma
equivalecircncia semacircntica eacute um acarretamento duplo
Assim como acontece no acarretamento a equivalecircncia semacircntica tem problemas com
a polissemia Vamos observar exemplo a seguir
(11) a O Brasil ganhou o jogo contra o Chile
b O Chile perdeu o jogo contra o Brasil
No exemplo acima vemos que a sentenccedila (11a) acarreta a sentenccedila (11b) ao mesmo
tempo em que a sentenccedila (11b) acarreta a sentenccedila (11a) Natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (11a)
seja verdadeira ao mesmo tempo em que a (11b) seja falsa Se uma das sentenccedilas eacute falsa e a
outra eacute verdadeira natildeo haacute acarretamento em nenhum dos dois ―sentidos (em relaccedilatildeo agrave
direccedilatildeo de (11a) para (11b) e de (11b) para (11a)) Natildeo podemos considerar que o Brasil
ganhou o jogo contra o Chile e que o Chile ganhou o jogo contra o Brasil pois sabemos que
em uma partida de futebol haacute apenas um ganhador Haacute a possibilidade de algueacutem querer ir
mais aleacutem e inferir que eacute possiacutevel que os dois times ganharam mas em jogos diferentes Se
considerarmos a situaccedilatildeo de que o Chile jaacute ganhou outros jogos contra o Brasil assim como
que o Brasil jaacute ganhou outros jogos contra o Chile a relaccedilatildeo de equivalecircncia seria possiacutevel
escolhendo qualquer outro jogo como referecircncia mas natildeo eacute o que nos interessa pois
devemos considerar apenas uma situaccedilatildeo para as duas sentenccedilas
A partir deste ponto iremos tratar sobre como a polissemia pode interferir na
interpretaccedilatildeo numa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica da mesma forma que mostramos
anteriormente nas relaccedilotildees de acarretamento Vejamos o proacuteximo exemplo
44
(12) a A lagosta estaacute mais salgada que o peixe
b O peixe estaacute menos salgado que a lagosta
Podemos observar que as sentenccedilas (12a) e (12b) satildeo equivalentes pelo fato de que
natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12a) seja verdadeira e a sentenccedila (12b) seja falsa assim como
natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12b) seja verdadeira e a sentenccedila (12a) seja falsa Poreacutem se
passarmos a admitir significados diferentes para expressotildees empregadas nas sentenccedilas por
exemplo para a palavra ―salgado encontraremos problemas Se admitirmos que sentenccedila
(12a) o conceito de ―salgado eacute de o alimento estar impregnado de sal salpicado de sal ou
com gosto de sal e se este conceito for tambeacutem considerado para a sentenccedila (12b) haacute
equivalecircncia semacircntica Mas tambeacutem podemos interpretar o termo ―salgado como uma
expressatildeo para se referir ao preccedilo alto do produto no mercado Soacute haacute equivalecircncia semacircntica
se admitirmos o mesmo conceito para ―salgado em ambas as sentenccedilas ou seja se
considerarmos o significado de ―salgado como sendo impregnado de sal para a sentenccedila
(12a) ou em (12b) como sendo relativo ao valor alto no mercado natildeo haacute equivalecircncia
semacircntica entre (12a) e (12b)
No proacuteximo exemplo trataremos de outro tipo de ocorrecircncia que dificulta a
interpretaccedilatildeo de nexos a vagueza Como jaacute apresentamos a definiccedilatildeo de vagueza na seccedilatildeo
anterior partiremos direto para o exemplo em que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo de uma
equivalecircncia semacircntica
(13) a Goacutergias eacute mais saacutebio que Hiacutepias
b Hiacutepias eacute menos saacutebio que Goacutergias
Na relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) haacute equivalecircncia semacircntica mas podemos identificar
que nas duas sentenccedilas foram utilizados termos vagos que tornam a interpretaccedilatildeo dificultosa
Em (13a) haacute o uso dos termos ―mais e ―saacutebio assim como em (13b) haacute o uso dos termos
―menos e ―saacutebio Esses termos satildeo vagos e dificultam a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo semacircntica
entre as sentenccedilas O que dificulta a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) eacute o fato de
que termos como ―mais e ―menos assim como ―saacutebio possuem significados diferentes de
acordo com as situaccedilotildees em que satildeo utilizadas Ou seja eacute necessaacuterio que admitamos o
45
mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas (13a) e (13b) Dessa forma haveraacute a
relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica
A seguir trataremos sobre outro tipo de relaccedilatildeo semacircntica entre sentenccedilas a
contraditoriedade
23 CONTRADITORIEDADE
Diferente da relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica que consiste em sentenccedilas que satildeo
verdadeiras juntas ou falsas juntas as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias quando uma eacute oposta da
outra tipicamente quando uma sentenccedila B eacute a negaccedilatildeo de uma sentenccedila A Sobre a relaccedilatildeo de
contraditoriedade Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 229) afirmam que ―obteacutem-se a
contraditoacuteria de qualquer proposiccedilatildeo p prefixando-lhe o operador de negaccedilatildeo de modo a
obter notp3 Com base no conceito de contraditoriedade exposto vamos observar o exemplo a
seguir
(14) a O Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016
b O Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016
Podemos observar no exemplo acima que se a sentenccedila (14a) for verdadeira
obrigatoriamente a sentenccedila (14b) tem que ser falsa Se a informaccedilatildeo da sentenccedila (14a) que
diz que o Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas for verdadeira a informaccedilatildeo da sentenccedila
(14b) que diz que o Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas natildeo pode ser verdadeira
Em relaccedilotildees de contraditoriedade o uso de uma afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo eacute algo
tiacutepico mas natildeo determinante No exemplo (14) pudemos observar a relaccedilatildeo de
contraditoriedade caracterizada pelo uso da negaccedilatildeo mas tambeacutem podemos encontrar esse
tipo de relaccedilatildeo sem tal uso Vejamos a seguir
3 O siacutembolo not na loacutegica claacutessica eacute a representaccedilatildeo do operador de negaccedilatildeo ldquonatildeordquo
46
(15) a Mecircnon estaacute acordado
b Mecircnon estaacute dormindo
A partir das sentenccedilas acima podemos ver que a relaccedilatildeo entre estas sentenccedilas eacute de
contraditoriedade pois se a sentenccedila (15a) for verdadeira a sentenccedila (15b) tem que ser falsa
da mesma forma que se a sentenccedila (15b) for verdadeira a sentenccedila (15a) deveraacute ser falsa
Natildeo eacute possiacutevel que Mecircnon esteja acordado e dormindo ao mesmo tempo claro que
considerando o mesmo sentido para as palavras ―acordado e ―dormindo nas duas sentenccedilas
e em relaccedilatildeo ao mesmo Mecircnon
Assim como as demais relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos anteriormente a
contraditoriedade tambeacutem eacute sensiacutevel agrave polissemia Vamos observar como a polissemia se
apresenta no exemplo a seguir
(14) a A minha gata estaacute acordada
b A minha gata estaacute dormindo
No exemplo acima natildeo encontramos apenas a relaccedilatildeo de contraditoriedade sem
utilizaccedilatildeo da negaccedilatildeo mas tambeacutem um problema de polissemia que pode anular a relaccedilatildeo de
contraditoriedade Se numa determinada situaccedilatildeo escrevendo este texto me viro na cadeira e
vejo em cima de minha cama o meu animal de estimaccedilatildeo deitado olhando para mim e com
isso afirmo ―a minha gata estaacute acordada como na sentenccedila (14a) natildeo posso considerar
verdadeira a sentenccedila (14b) pois natildeo se pode estar dormindo e estar acordado ao mesmo
tempo tomando as definiccedilotildees de ―estar acordado e ―estar dormindo como oposiccedilotildees A
partir disso as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias Se em outra situaccedilatildeo me viro na cadeira e vejo
minha esposa deitada na cama dormindo e afirmo ―a minha gata estaacute dormindo como na
sentenccedila (14b) ela natildeo pode ser verdadeira ao mesmo tempo em que a sentenccedila (14a) pois
minha esposa natildeo poderia estar acordada e dormindo ao mesmo tempo Ateacute o momento
pudemos atribuir dois sentidos diferentes para o termo ―gata Se considerarmos para a
sentenccedila (14a) o sentido de que o meu animal de estimaccedilatildeo estaacute acordado e para a sentenccedila
(14b) o sentido de que a minha esposa estaacute dormindo essas sentenccedilas natildeo satildeo contraditoacuterias
No exemplo acima percebemos portanto dois aspectos da contradiccedilatildeo em sentenccedilas de uma
liacutengua natural como o portuguecircs Primeiro que natildeo haacute a obrigatoriedade de ter a negaccedilatildeo de
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uma sentenccedila para que a relaccedilatildeo de contraditoriedade exista e segundo que a polissemia
pode tornar problemaacutetica essa relaccedilatildeo
Podemos considerar uma relaccedilatildeo de contraditoriedade entre sentenccedilas sempre que A eacute
verdadeira B eacute falsa e sempre que a sentenccedila B eacute verdadeira A eacute falsa Ou seja as sentenccedilas
A e B nunca podem ser verdadeiras ou falsas juntas
O exemplo de contraditoriedade que mostramos anteriormente foi relacionando duas
sentenccedilas mas podemos encontrar a relaccedilatildeo de contraditoriedade dentro de uma sentenccedila
apenas Vamos observar o exemplo a seguir
(15) Herbert Vianna eacute cantor e natildeo eacute cantor
Se afirmamos que uma pessoa eacute e natildeo eacute cantora constatamos uma contraditoriedade
nesta sentenccedila Em (15) encontramos a apresentaccedilatildeo de um argumento e a negaccedilatildeo do mesmo
argumento em seguida Uma sentenccedila com esta forma natildeo pode ser verdadeira Se
consideramos numa mesma situaccedilatildeo que Herbert Vianna eacute cantor e em seguida afirmo que
Herbert Vianna natildeo eacute cantor esta sentenccedila eacute contraditoacuteria
Se partirmos para determinar sentidos diferentes para o termo ―cantor como por
exemplo que Herbert Vianna eacute um cantor pelo simples fato de que ele emite pelas cordas
vocais sons musicais que ―cantor eacute um termo que soacute pode ser utilizado para os profissionais
que trabalham com a voz na muacutesica ou que ―cantor se jaacute um termo utilizado para designar
algueacutem que canta muito bem natildeo haacute contraditoriedade efetivamente Mas se mantivermos o
mesmo sentido para o termo haveraacute relaccedilatildeo de contraditoriedade
Da mesma forma que a polissemia dificulta a interpretaccedilatildeo de nexos entre sentenccedilas
vamos observar um exemplo em que a vagueza ndash toacutepico que desenvolvemos na primeira
seccedilatildeo deste capiacutetulo - invalida uma relaccedilatildeo de contraditoriedade
(16) a O professor de loacutegica eacute muito alto
b O professor de loacutegica natildeo eacute muito alto
Na relaccedilatildeo entre (16a) e (16b) seguindo o conceito contraditoriedade haacute uma relaccedilatildeo
de contradiccedilatildeo entre as duas sentenccedilas poreacutem podemos identificar termos vagos nas duas
sentenccedilas o que pode dificultar a interpretaccedilatildeo Na sentenccedila (16a) e na sentenccedila (16b)
48
identificamos dois termos vagos que satildeo ―muito e ―alto Eacute possiacutevel considerar as duas
sentenccedilas como falsas ou verdadeiras juntas invalidando a contraditoriedade pois os termos
―muito e ―alto satildeo variaacuteveis de acordo com o grau de comparaccedilatildeo adotado Por exemplo
em (16a) o professor de loacutegica pode ser considerado muito alto em comparaccedilatildeo agraves crianccedilas
para quem ele leciona poreacutem se compararmos o professor de loacutegica da sentenccedila (16a) com os
outros professores do departamento talvez o professor fosse considerado baixo Desta forma
podemos observar que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo das duas sentenccedilas
A seguir traremos o uacuteltimo nexo semacircntico que utilizaremos em nosso trabalho Este
tipo de relaccedilatildeo eacute um pouco parecido com a contraditoriedade
24 CONTRARIEDADE
A contrariedade ocorre quando duas sentenccedilas podem ser falsas juntas mas natildeo
podem ser verdadeiras juntas Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 234) definem
contrariedade da seguinte forma ―duas proposiccedilotildees satildeo contraacuterias se natildeo podem ser ambas
verdadeiras mas podem ser ambas falsas distinguindo-se assim das contraditoacuterias que natildeo
podem ser ambas verdadeiras nem ambas falsas e das subcontraacuterias que natildeo podem ser
ambas falsas mas podem ser ambas verdadeiras
Eacute importante enfatizar que mesmo estando tratanto dos nexos semacircnticos e sua
aplicaccedilatildeo em liacutengua natural os conceitos de sentenccedilas contraacuterias contraditoacuterias
equivalecircncias e acarretamentos tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica As relaccedilotildees de sentenccedilas
contraacuterias e contraditoacuterias satildeo tratadas por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado
atraveacutes de seu quadrado loacutegico ou taacutebua de oposiccedilotildees No Perieacutermeneas (1985) mais
especificamente nos capiacutetulos 6 e 7 Aristoacuteteles nos apresenta os conceitos de sentenccedilas
contraacuterias e contraditoacuterias afirmando que duas sentenccedilas satildeo contraacuterias quando natildeo podem
ser verdadeiras juntas ao mesmo tempo mas podem ser falsas juntas ao mesmo tempo Jaacute em
relaccedilatildeo agraves contraditoacuterias Aristoacuteteles propotildee que toda afirmaccedilatildeo possui sua exata negaccedilatildeo
correspondente e que toda afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo sem opotildeem sendo uma sempre
verdadeira e a outra sempre falsa Dessa forma para Aristoacuteteles um par formado por uma
afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo corresponde a uma contradiccedilatildeo
A partir do conceito de contrariedade vamos observar o exemplo a seguir Nele
encontraremos um caso de polissemia
49
(17) a A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 20 de agosto de 1914
b A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 18 de julho de 1921
Se admitirmos que a seleccedilatildeo brasileira de futebol sobre a qual estamos falando na
sentenccedila (17a) eacute a mesma seleccedilatildeo que estamos falando na sentenccedila (17b) natildeo eacute possiacutevel que
a sentenccedila (17b) seja verdadeira pois algo natildeo pode ser fundado efetivamente em dois
momentos distintos Haacute a possibilidade de se afirmar que estamos falando de duas seleccedilotildees
brasileiras de futebol diferentes pois para ―seleccedilatildeo brasileira haacute diversos significados
aplicaacuteveis ou seja a expressatildeo ―seleccedilatildeo brasileira eacute polissecircmica Por exemplo podemos
definir uma seleccedilatildeo como sendo de futebol de campo e a outra de futebol de salatildeo A partir
dessa interpretaccedilatildeo as duas sentenccedilas poderiam ser verdadeiras juntas e com isso natildeo
haveria contrariedade Mas como devemos admitir apenas uma situaccedilatildeo para as duas
sentenccedilas (17a) e (17b) natildeo podem ser verdadeiras juntas mas podem ser falsas juntas
constituindo uma relaccedilatildeo de contrariedade Eacute possiacutevel que a seleccedilatildeo brasileira de futebol natildeo
tenha sido formada nem em 20 de agosto de 1914 e nem em 18 de julho de 1921 Em
contrapartida numa interpretaccedilatildeo usual a seleccedilatildeo de futebol de um paiacutes eacute formada pela
primeira vez uma soacute vez Algueacutem pode querer ir aleacutem e afirmar que foram empregados
sentidos diferentes para a expressatildeo ―foi formada nas sentenccedilas em questatildeo Poderia dizer
que na sentenccedila (17a) o sentido foi de que a seleccedilatildeo se reuniu pela primeira vez para jogarem
juntos de forma extraoficial e que na sentenccedila (17b) o sentido foi de que a seleccedilatildeo
efetivamente foi documentalmente formada Se admitiacutessemos essas interpretaccedilotildees as
sentenccedilas (17a) e (17b) poderiam ser verdadeiras juntas o que descaracterizaria a relaccedilatildeo de
contrariedade entre as sentenccedilas Assim como o fato de que se a sentenccedila (17a) for falsa a
sentenccedila (17b) pode ser verdadeira ou falsa A falsidade da sentenccedila (17a) natildeo assegura a
verdade da sentenccedila (17b) Podemos entender dessa forma que a polissemia afeta a
interpretaccedilatildeo do nexo
Vamos observar mais um exemplo desta relaccedilatildeo
(18) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado do Acre
b A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado de Santa Catarina
50
Se considerarmos a sentenccedila (18a) verdadeira ou seja que a reitoria da UNISUL estaacute
localizada no estado do Acre e tambeacutem levando em conta que a UNISUL eacute uma universidade
que tem uma reitoria e que a reitoria de uma universidade soacute pode estar numa cidade a
sentenccedila (18b) deveraacute ser falsa A sentenccedila (18a) eacute falsa e a sentenccedila (18b) eacute verdadeira e as
duas estabelecem uma relaccedilatildeo de contrariedade A reitoria da UNISUL estaacute localizada no
estado de Santa Catarina e natildeo no estado do Acre A partir desse exemplo e da convenccedilatildeo que
admitimos para ele pudemos observar que se uma sentenccedila A for falsa uma sentenccedila B pode
ser falsa ou verdadeira natildeo podendo ser as duas verdadeiras juntas apenas falsas Ilustrando
mais uma vez veja a relaccedilatildeo a seguir
(19) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Paris
b A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Roma
No exemplo acima podemos afirmar que as sentenccedilas (19a) e (19b) podem ser falsas
pois como jaacute citamos no paraacutegrafo anterior a reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado
de Santa Catarina Dessa forma haacute relaccedilatildeo de contrariedade as duas sentenccedilas satildeo falsas
Jaacute tratamos de exemplos da relaccedilatildeo de contrariedade com problemas de polissemia
mas podemos tambeacutem identificar problemas de validade dos nexos por causa da vagueza A
seguir observe o exemplo
(20) a Este cafeacute estaacute forte
b Este cafeacute estaacute aguado
Observando as sentenccedilas acima identificamos que (20a) e (20b) possuem termos
vagos que podem dificultar a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre as sentenccedilas Em (20a) foi usado
o termo ―forte e em (20b) foi usado o termo ―aguado Como nas outras relaccedilotildees que
apresentamos anteriormente esses termos satildeo vagos pois dependendo da classe de
comparaccedilatildeo em que satildeo apresentados eles podem mudar de sentido Eacute possiacutevel que numa
determinada situaccedilatildeo consideremos que um cafeacute pode natildeo estar nem forte nem fraco
autorizando a possibilidade de (20a) e (20b) serem as duas falsas ao mesmo tempo
descaracterizando a relaccedilatildeo de contrariedade Dessa forma podemos observar que os termos
51
vagos dificultam a interpretaccedilatildeo das sentenccedilas consequentemente da relaccedilatildeo que as
sentenccedilas estabelecem entre si Concluindo a exposiccedilatildeo dos nexos que nos interessam neste
trabalho apresentaremos a seguir a justificativa de nosso percurso sobre estas relaccedilotildees
semacircnticas e os tipos de ocorrecircncias que podem dificultar a interpretaccedilatildeo destas
25 JUSTIFICANDO O PERCURSO
Neste capiacutetulo apresentamos inicialmente os conceitos de semacircntica e pragmaacutetica
com o objetivo de mostrar que os nexos semacircnticos que tratamos em nosso trabalho
(acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e contrariedade) satildeo tipos de
inferecircncias que pertencem ao campo da semacircntica Para isso tambeacutem apresentamos duas
inferecircncias que pertencem ao campo da pragmaacutetica (pressuposiccedilatildeo e implicatura)
Na exposiccedilatildeo de cada nexo trouxemos os conceitos seguidos de exemplos em que a
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees semacircnticas eacute clara Em seguida apresentamos exemplos de nexos
com dois tipos de ocorrecircncias que no campo do leacutexico dificultam a interpretaccedilatildeo das
relaccedilotildees semacircnticas a polissemia e a vagueza
Pode parecer confuso a princiacutepio o fato de tratarmos de tipos de inferecircncia que
dependem da forma para se concretizarem (os nexos semacircnticos) relacionando-as com
ocorrecircncias que dificultam o entendimento do conteuacutedo das sentenccedilas (a polissemia e a
vagueza) A confusatildeo se apresenta caso natildeo lembremos que estamos tratando das relaccedilotildees de
inferecircncias em liacutengua natural e natildeo numa liacutengua controlada como num sistema loacutegico por
exemplo
Quando afirmamos que as relaccedilotildees entre sentenccedilas que tratamos em nosso trabalho
dependem da forma falamos de uma ―dessemantificaccedilatildeo ou seja a existecircncia dos nexos vai
depender unicamente da semacircntica dos quantificadores e conectivos (e ou se) Os nexos natildeo
dependem da semacircntica restante do material linguiacutestico exposto na sentenccedila A semacircntica dos
conectivos e quantificadores numa linguagem formal eacute mantida estaacutevel por definiccedilatildeo Na
linguagem natural podemos observar que os tipos de ocorrecircncia que dificultam a
interpretaccedilatildeo dos nexos se fazem presentes justamente no restante do material linguiacutestico da
sentenccedila ou seja para aleacutem da estrutura da sentenccedila que eacute composta pelos quantificadores e
demais conectivos
52
A polissemia e a vagueza satildeo ocorrecircncias tiacutepicas de liacutengua natural e dessa forma
somos obrigados a admitir que ao nos depararmos com qualquer gecircnero textual (que
obviamente estaacute no campo das liacutenguas naturais) numa anaacutelise devemos considerar que o
significado das palavras vai naturalmente interferir nas relaccedilotildees semacircnticas Tambeacutem na
exposiccedilatildeo de tipos de ocorrecircncias que interferem nos nexos semacircnticos tratamos de falaacutecias
que satildeo argumentos invaacutelidos apresentados como vaacutelidos explorando justamente a
interpretaccedilatildeo do conteuacutedo das sentenccedilas
A partir dos nexos semacircnticos que tratamos neste capiacutetulo junto com os tipos de
inferecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees no capiacutetulo seguinte
apresentaremos a anaacutelise de certificados de garantia Como o nosso objetivo eacute analisar quais
satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados nos certificados para restringir possibilidades de
interpretaccedilatildeo decidimos realizar a anaacutelise de ocorrecircncias com conectivos e quantificadores
Consideramos pertinente a escolha desse tipo de anaacutelise pois entendemos que os
quantificadores como o ―todo satildeo tradicionalmente apresentados em relaccedilotildees semacircnticas de
restriccedilatildeo ou abrangecircncia assim como o condicional ―se ou ―somente se e o ―apenas e
―somente A partir desse raciociacutenio acreditamos que esta seria a forma mais correta para
identificarmos ocorrecircncias do tipo que precisamos para a realizaccedilatildeo de nossa anaacutelise Os
nexos semacircnticos natildeo satildeo propiacutecios para as liacutenguas naturais pois natildeo se apresentam de forma
controlada Ocorrecircncias lexicais como as que descrevemos anteriormente podem dificultar a
interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees e isso eacute algo que trataremos nas anaacutelises
Eacute nesta perspectiva que observaremos no capiacutetulo seguinte as anaacutelises de vinte e dois
certificados de garantia nos quais natildeo buscaremos relaccedilotildees bem marcadas e controladas entre
sentenccedilas pois natildeo encontrariacuteamos facilmente mas sim quais satildeo os recursos linguiacutesticos
utilizados pelos autores dos textos para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo
admitindo tambeacutem obviamente os nexos semacircnticos como possiacuteveis recursos
53
3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA
Os certificados de garantia satildeo textos muito presentes em nosso cotidiano e muitas das
vezes noacutes natildeo levamos em conta a sua importacircncia tanto por serem documentos que podem
resguardar nossos direitos sobre um determinado produto quanto pelo fato de natildeo sermos
treinados para ler e interpretar devidamente as informaccedilotildees dispostas nos textos Dessa
forma justificamos a escolha de tal gecircnero para analisarmos em nossa pesquisa Ateacute este
momento de nosso trabalho seguimos o seguinte percurso
1) Mostramos no primeiro capiacutetulo que na elaboraccedilatildeo de certificados de garantia o
autor deve se preocupar em construir o texto buscando restringir ao maacuteximo as
possibilidades de interpretaccedilatildeo para que ele se torne mais eficiente em passar as
informaccedilotildees desejadas e para evitar problemas de interpretaccedilatildeo por parte dos
clientes
2) Tendo em vista que os certificados de garantia satildeo textos instrucionais ou seja
que direcionam a leitura para um fim especiacutefico nossa anaacutelise tem por objetivo
verificar quais satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores destes textos
para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo e para alcanccedilar este objetivo nos
utilizaremos da teoria dos nexos semacircnticos apresentada no segundo capiacutetulo
Como anunciado na introduccedilatildeo o corpus dessa pesquisa eacute formado por 22
certificados de garantia de produtos de diversos segmentos Ele foi coletado utilizando a
internet e natildeo teve um meacutetodo definido de categorizaccedilatildeo na escolha dos textos Decidimos
escolher certificados de diversos segmentos para natildeo obtermos uma anaacutelise viciada e tambeacutem
para obtermos um panorama da estrutura textual
Como analisaremos os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores dos certificados
de garantia para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo elegemos trecircs categorias de
termos a serem analisadas quantificadores universais condicionais e uso do apenassomente
A escolha dessas categorias se deve ao fato delas possuiacuterem tradicionalmente funccedilotildees de
restriccedilatildeo ou abrangecircncia em inferecircncias
Assim como na loacutegica de predicados a silogiacutestica se caracteriza pelo uso dependente
em argumentos dos quantificadores ―alguns e ―todos Nomeamos de quantificador
existencial ou particular aqueles referentes a ―alguns e nomeamos de quantificador universal
aqueles referentes a ―todos (MURCHO 2006) Utilizaremos em nossa pesquisa agraves
ocorrecircncias com quantificadores do segundo tipo Vejamos um exemplo ilustrativo
54
(21) TODO produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia
Possivelmente natildeo encontraremos em nossa anaacutelise nenhuma sentenccedila como esta pois
vemos que o quantificador universal destacado em letras maiuacutesculas abrange totalmente a
possibilidade de cobertura da garantia de um produto Da forma que estaacute expressa se compro
uma TV por exemplo e a mergulho na aacutegua causando defeito poderei receber outra nova do
fabricante pois ―todo produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia
Sobre os condicionais trataremos a anaacutelise na mesma linha de raciociacutenio pois eles
satildeo utilizados em proposiccedilotildees do tipo ―se X entatildeo Y oportunizando abrangecircncia ou
restriccedilatildeo de possibilidades de interpretaccedilatildeo como podemos ver ilustrado no exemplo a
seguir
(22) SE o produto apresentar defeito seraacute reparado gratuitamente
Da mesma forma como mostramos no exemplo anterior provavelmente natildeo
encontraremos sentenccedilas tatildeo abrangentes em nosso corpus como esta pois da forma como
estaacute posta ampliaria muito a possibilidade de cobertura da garantia de um produto Podemos
interpretar a partir da leitura da sentenccedila acima que o reparo do produto seraacute efetuado caso o
produto apresente qualquer defeito por qualquer motivo durante qualquer periacuteodo de tempo
sendo utilizado por qualquer pessoa e em qualquer circunstacircncia entre outras possibilidades
Para reparar tamanha abrangecircncia os autores dos textos podem utilizar listas exaustivas com
detalhes especiacuteficos apoacutes a apresentaccedilatildeo dos condicionais para direcionar efetivamente a
cobertura da garantia
Por fim em relaccedilatildeo ao uso dos termos ―apenas e ―somente analisaremos os termos
nos contextos que os autores buscam restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos textos
Vejamos o exemplo a seguir
(22) Estaratildeo cobertos pela garantia APENAS os produtos que natildeo estatildeo em
promoccedilatildeo
55
No exemplo acima tambeacutem inventado vemos que o ―apenas aparece como um
restritor da garantia deixando claro que soacute os produtos que foram adquiridos pelos preccedilos
normais ou seja fora da promoccedilatildeo estaratildeo cobertos pela garantia Dessa forma produtos em
promoccedilatildeo ficam descobertos
Com os conceitos sobre as categorias de anaacutelise dispostos acima apresentaremos a
seguir a anaacutelise dos trechos coletados em nosso corpus separada por tipos de ocorrecircncia
Iremos observar como se apresentam os quantificadores condicionais ocorrecircncias com o
apenassomente assim como observaremos os tipos de ocorrecircncias no campo do leacutexico que
dificultam a interpretaccedilatildeo dos trechos (polissemia e vagueza)
31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL
Vejamos a seguir as ocorrecircncias4 em que o quantificador universal eacute utilizado
5
(1) Este produto e as peccedilas substituiacutedas seratildeo garantidos pelo restante do
prazo original TODAS as peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades
da SAMSUNG
Podemos observar na ocorrecircncia acima que o fabricante utiliza o quantificador para
fazer com que o leitor infera que absolutamente todas as peccedilas que forem substituiacutedas na
assistecircncia a algum aparelho defeituoso se tornaratildeo propriedade da fabricante Dessa forma o
cliente natildeo poderaacute em hipoacutetese alguma ficar com a peccedila trocada
Percebemos no trecho acima que o quantificador universal ―todas poderia ser
excluiacutedo da sentenccedila e com isso em nada alteraria o sentido da sentenccedila Forccedilando uma
possiacutevel interpretaccedilatildeo da sentenccedila o leitor poderia afirmar que se a sentenccedila fosse disposta
da seguinte maneira ―As peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades da SAMSUNG
poderia existir uma classe de peccedilas eletrocircnicas de produtos SAMSUNG que
4 Utilizaremos o termo ldquoocorrecircnciardquo tanto para se referir ao trecho completo do corpus quanto para a
sentenccedila em que o conectivo grifado se apresenta Natildeo faremos distinccedilatildeo para este uso 5 Para a exibiccedilatildeo das ocorrecircncias do nosso corpus reiniciaremos a numeraccedilatildeo natildeo seguindo a contagem
realizada para os exemplos dos capiacutetulos anteriores
56
tradicionalmente fossem substituiacutedas em manutenccedilotildees mas natildeo recolhidas pelo fabricante
Dessa forma o quantificador universal ―todas se mostraria como a soluccedilatildeo para esse
problema de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos
na ocorrecircncia6 (1)
(2) Esta garantia substitui TODAS as outras garantias expressas ou
taacutecitas incluindo sem limitaccedilatildeo garantias taacutecitas de comercializaccedilatildeo
e adequaccedilatildeo a um fim especiacutefico
(Certificado 1)
Nesta ocorrecircncia o fabricante utiliza o quantificador para abranger ao maacuteximo seu
texto no intuito de inferir que a garantia em anaacutelise se sobrepotildee a qualquer outro tipo de
garantia oferecida ao cliente
Podemos observar que se o quantificador universal ―todas natildeo fosse utilizado o
sentido da sentenccedila permaneceria o mesmo Se tiveacutessemos encontrado a sentenccedila da forma
―Esta garantia substitui as outras garantias o cliente iria interpretar a sentenccedila sem
dificuldades O uso do quantificador aparece como um termo para dar ecircnfase ao que jaacute estaacute
dito na sentenccedila acima Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos na
ocorrecircncia (2)
(3) TODO atendimento de reparo deve ser precedido de ligaccedilatildeo
telefocircnica ao Suporte Teacutecnico Telefocircnico da AOC (0800-10-9539)
para que seja feita uma avaliaccedilatildeo preacutevia do problema a fim de
constatar a existecircncia de defeito ou viacutecio do produto esgotando-se
TODAS as possibilidades de se tratar de uma falha de operaccedilatildeo ou
uso do produto por parte do consumidor
(Certificado 4)
No trecho acima podemos observar que na primeira ocorrecircncia do quantificador o
fabricante utiliza-o para inferir que o cliente em qualquer caso de submissatildeo do aparelho agrave
assistecircncia deve entrar em contato com o suporte teacutecnico telefocircnico da empresa e ainda
6 Decidimos pontuar no final de cada anaacutelise o fato de haver ou natildeo termos polissecircmicos ou vagos nas
ocorrecircncias porque consideramos estes tipos de ocorrecircncias como sendo os principais meios de dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos instrucionais Ao anunciar que natildeo haacute termos dessas categorias em cada anaacutelise por mais que se mostre repetitivo na leitura ao mesmo tempo invoca a importacircncia (e necessidade segundo nossa perspectiva) que depositamos nesses fatos em cada ocorrecircncia
57
reforccedila utilizando outra vez o quantificador ―todas inferindo que o produto soacute iraacute para a
assistecircncia efetivamente caso natildeo haja mais nenhuma possibilidade de resoluccedilatildeo do problema
atraveacutes do contato telefocircnico Ao utilizar esse reforccedilo o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo ao
fato de que por exemplo o problema possa ser resolvido atraveacutes de instruccedilotildees passadas pela
empresa via telefone ao cliente e o cliente natildeo aceitar e exigir que o produto seja reparado
somente na assistecircncia teacutecnica ou simplesmente para evitar que a assistecircncia teacutecnica receba
algum produto que natildeo estaacute defeituoso ou viciado
Diferente da ocorrecircncia (2) o uso do quantificador universal ―todo se faz necessaacuterio
para evitar que o cliente interprete a sentenccedila de uma forma indesejada por parte do
fabricante Por exemplo caso o autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todo na
primeira parte ―Todo atendimento de reparo deve o cliente poderia interpretar que ele
poderia obter atendimento de reparo sem passar pelo contato telefocircnico com o suporte teacutecnico
do fabricante Na utilizaccedilatildeo do quantificador universal ―todas no final da sentenccedila tambeacutem
observamos que se o autor do texto natildeo utilizasse esta estrateacutegia tambeacutem possibilitaria que o
texto fosse interpretado de outra maneira Se o cliente se deparasse com a sentenccedila
―esgotando-se as possibilidades de se tratar de uma falha poderia interpretar que se para
algum tipo de falha de operaccedilatildeo ou seja de utilizaccedilatildeo do produto haveria a possibilidade de
enviar o produto para assistecircncia teacutecnica Como o autor utilizou o quantificador nas duas
passagens que citamos ele direcionou a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha
duacutevidas sobre aquilo que o fabricante deseja expressar
Sobre tipos de ocorrecircncia que dificultam a interpretaccedilatildeo do texto pudemos identificar
a expressatildeo ―viacutecio do produto Esta expressatildeo eacute muito especiacutefica e estaacute presente no Coacutedigo
de defesa do consumidor Segundo Bruno Miragem (2008) ―Viacutecio do produto ou do serviccedilo
abrange o efeito decorrente da violaccedilatildeo aos deveres de qualidade quantidade ou informaccedilatildeo
impedindo com isso que o produto ou serviccedilo atenda aos fins que legitimamente dele se
esperam (dever da adequaccedilatildeo) O autor do certificado natildeo disponibilizou nenhum conceito
para a expressatildeo ―viacutecio do produto apresentando desta forma uma dificuldade a mais para
a interpretaccedilatildeo do texto por parte do cliente Caso o autor tenha elaborado o texto
considerando por exemplo que qualquer pessoa que leia um certificado de garantia deve ser
conhecedor de todos os termos e expressotildees descritas no CDC (a partir desse ponto iremos
utilizar esta sigla para ―coacutedigo de defesa do consumidor) natildeo haveria problema em
simplesmente usar o termo sem conceituar mas isso natildeo eacute pertinente Para evitar que esta
expressatildeo natildeo fosse polissecircmica o autor deveria ter elaborado um mini-glossaacuterio com os
termos que seriam usuais no texto e que possuem um sentido especiacutefico no ramo em que o
58
produto estaacute inserido (por exemplo peccedilas de carros ou peccedilas eletrocircnicas) e no CDC7
(4) A Garantia do Produto oferecida por este Termo abrange TODOS os
defeitos de material ou de fabricaccedilatildeo do aparelho constatados pela
Robert Bosch Ltda bem como a substituiccedilatildeo das peccedilas que
apresentarem viacutecios aleacutem da matildeo-de-obra utilizada no respectivo
reparo
(Certificado 8)
No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador ―todos para assegurar ao cliente
que em qualquer caso em que o produto possua defeito de material ou de fabricaccedilatildeo a
garantia estaraacute assegurada Aleacutem de assegurar isso tambeacutem garante a substituiccedilatildeo da peccedila do
aparelho que estiver com problema e a matildeo-de-obra tudo por conta do fabricante Caso o
autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todos ele poderia abrir margem para
outras interpretaccedilotildees como por exemplo que esta garantia natildeo abrange qualquer defeito do
produto constatado pelo fabricante Eacute interessante citar que a utilizaccedilatildeo do quantificador
―todos foi realizada beneficiando o fabricante pois mesmo afirmando que a ―garantia
abrange todos os defeitos o autor direciona para ―todos os casos que forem constatados
pelo fabricante Ou seja fica a criteacuterio do fabricante decidir o que eacute defeito e o que natildeo eacute
Assim como na ocorrecircncia (3) identificamos o uso do termo ―viacutecios que natildeo tem o
seu conceito descrito no texto do certificado O termo ―viacutecio natildeo eacute utilizado em nosso
cotidiano como algo vinculado a um objeto Geralmente conceituamos esse termo como
referente agrave dependecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica em relaccedilatildeo a uma substacircncia Tambeacutem podemos
conceituar como uma mania (costume de fazer sempre a mesma coisa) Enfim o termo
utilizado da forma em que foi descrita em (4) necessitaria que em alguma parte do texto
aparecesse o conceito para este termo que deve ser interpretado de forma especiacutefica pois eacute
um termo teacutecnico apresentado no CDC e muitas das vezes o cliente natildeo tem conhecimento
deste conceito favorecendo dificuldades a interpretaccedilatildeo do texto
(5) TODOS os eventuais danos ou demoras resultantes da natildeo
observacircncia dessas recomendaccedilotildees fogem agrave responsabilidade da APC
(Certificado 7)
7 Sobre esta estrateacutegia de eliminaccedilatildeo da polissemia e vagueza atraveacutes do uso de um glossaacuterio por autores de
textos instrucionais ver Estrela e Santos (2014)
59
Na ocorrecircncia acima a empresa APC se resguarda de qualquer responsabilidade sobre
o produto caso o cliente natildeo siga as recomendaccedilotildees dadas pelo fabricante Para isso utiliza o
quantificador universal para abranger ao maacuteximo as possibilidades de natildeo cobertura
favorecendo o fabricante Observamos que a utilizaccedilatildeo do quantificador na ocorrecircncia (5)
serviu para intensificar o que foi descrito na sentenccedila Caso natildeo fosse utilizado poderia
deixar margem para outras interpretaccedilotildees como por exemplo que poderia existir algum tipo
de dano eventual que fosse de responsabilidade do fabricante O quantificador ―todos
elimina esse tipo de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos
polissecircmicos na ocorrecircncia (5)
(6) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA garante e consequentemente
compromete-se a reparar ou substituir pelo prazo abaixo indicado
contado a partir da data indicada no documento fiscal representativo
de venda do veiacuteculo Hyundai TODAS as peccedilas que em serviccedilo
normal apresentem defeito de fabricaccedilatildeo ou de material desde que
observadas as respectivas condiccedilotildees sob pena de ser
automaticamente considerado cancelado o presente Certificado de
Garantia independentemente de qualquer aviso ou notificaccedilatildeo
(Certificado 17)
No trecho acima podemos observar que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se daacute
de forma bastante controlada Mesmo o termo ―todas sendo naturalmente utilizado para
abranger ou restringir ao maacuteximo inferecircncias na ocorrecircncia acima vemos sua utilizaccedilatildeo
dependendo de vaacuterios aspectos para se concretizar A Hyundai se compromete em reparar ou
substituir ―todas as peccedilas dos veiacuteculos que estiverem dentro de todas as caracteriacutesticas
descritas antes do termo ser usado como estar dentro do prazo estabelecido pelo fabricante
apresentarem defeito de fabricaccedilatildeo ou material e aleacutem disso observando os procedimentos
detalhados pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o quantificador universal eacute
utilizado de forma controlada pelo fabricante restringindo ao seu sabor as possibilidades de
validade da garantia
(7) TODA revisatildeo deveraacute ser registrada no quadro de registro de revisotildees
para assegurar a garantia de seu veiacuteculo
(Certificado 17)
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Na ocorrecircncia acima observamos que o fabricante utilizou o quantificador universal
para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente da seguinte forma o
cliente que possui um veiacuteculo na garantia poderia interpretar por exemplo caso natildeo houvesse
a utilizaccedilatildeo do quantificador ―toda na sentenccedila (7) fazer as revisotildees do veiacuteculo em qualquer
oficina e natildeo registrar as mudanccedilas feitas no carro em lugar algum natildeo perdendo a garantia
do veiacuteculo O quantificador universal ―toda direciona a interpretaccedilatildeo da inferecircncia para que
o cliente efetue qualquer revisatildeo do veiacuteculo numa concessionaacuteria do fabricante e aleacutem disso
ter as revisotildees registradas no quadro de registro de revisotildees do fabricante Na ocorrecircncia (7)
natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos
(8) TODOS aparelhos da ONEAL saem da faacutebrica preacute-ajustados em
220V
(Certificado 5)
Nesta ocorrecircncia (8) o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para
abranger a informaccedilatildeo de que qualquer produto produzido por ele eacute ajustado em 220V
resguardando-se de por exemplo um questionamento de algum cliente sobre o
funcionamento de qualquer produto em outra voltagem ou utilizaccedilatildeo do produto em outra
voltagem ocasionando defeito no produto Caso isso ocorra o fabricante natildeo poderaacute ser
responsabilizado pois a partir da ocorrecircncia (8) ele explica a voltagem a ser utilizada natildeo
garantindo o funcionamento do produto em outras voltagens Na ocorrecircncia (8) observamos
que se o fabricante natildeo tivesse utilizado o quantificador universal ―todo natildeo alteraria a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila Podemos entender que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal na
ocorrecircncia (8) serviu apenas para intensificar a informaccedilatildeo da sentenccedila
(9) TODOS nossos produtos satildeo testados durante horas nos mais severos
regimes antes de serem aprovados para o mercado
(Certificado 5)
No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para abranger a
interpretaccedilatildeo da inferecircncia Dessa forma o fabricante tenta nos levar a interpretar a
61
ocorrecircncia (9) da seguinte forma qualquer produto produzido por este fabricante eacute testado de
forma rigorosa antes de ser despachado para comercializaccedilatildeo Essa interpretaccedilatildeo eacute dificultada
pela presenccedila de termos vagos Ao utilizar a expressatildeo ―durante horas nos mais severos
regimes o fabricante natildeo teve o cuidado de atrelar essa informaccedilatildeo agrave classe de comparaccedilatildeo
na qual o cliente deve se basear para interpretar a sentenccedila da forma como o fabricante
deseja Ao afirmar que os produtos satildeo testados ―durante horas o fabricante natildeo especificou
por quantas horas os produtos satildeo testados e o que isso representa Por exemplo para
produtos X identificados como em bom funcionamento deve-se testaacute-los durante Y horas
segundo o manual Z que regulamenta a qualidade dos produtos X Aleacutem disso o fabricante
ainda afirma sobre os testes que satildeo ―nos mais severos regimes cometendo a mesma falha
da expressatildeo anterior natildeo descrevendo o que eacute isso e o que isso representa A expressatildeo eacute
vaga pois esses regimes de testes satildeo severos em relaccedilatildeo a quecirc Como natildeo haacute um grau de
comparaccedilatildeo de classe o cliente pode interpretar a ocorrecircncia de formas diversas Se o
fabricante tivesse especificado em algum lugar do texto que a expressatildeo ―nos mais severos
regimes deveria ser comparada por exemplo a um tipo de teste que coloca os produtos em
condiccedilotildees extremas para averiguar a sua qualidade durabilidade e bom funcionamento que eacute
norma padratildeo de qualidade para os produtos que ele estaacute justificando em (9) natildeo haveria
vagueza Do modo como a ocorrecircncia se apresenta as informaccedilotildees ―durante horas e ―nos
mais severos regimes satildeo vagas e dificultam a interpretaccedilatildeo da sentenccedila
(10) A ONEAL garante TODOS os seus produtos por um periacuteodo de 01
(um) ano jaacute incluiacutedo o periacuteodo de garantia legal (os primeiros 90 dias)
a partir da data da compra para problemas mecacircnicos ou por falhas
industriais em montagem e pintura
(Certificado 5)
Podemos observar na ocorrecircncia (10) que o fabricante assegura a garantia para todos
os seus produtos utilizando o quantificador universal com algumas restriccedilotildees Se natildeo
houvesse a utilizaccedilatildeo do quantificador nesta inferecircncia o cliente poderia considerar que a
garantia de seu produto por exemplo teria validade vitaliacutecia e que o produto estaria coberto
pela garantia mesmo se for danificado por negligecircncia do cliente O fabricante restringe o
periacuteodo de validade especificando que o periacuteodo de um ano jaacute inclui o periacuteodo da garantia
legal que eacute de 90 dias Ainda enfatiza que se deve contar o periacuteodo a partir da data da compra
e ainda explica que a garantia cobriraacute somente produtos que apresentarem problemas
62
mecacircnicos ou aqueles que apresentarem problemas industriais em montagem e pintura Dessa
forma problemas de outra natureza natildeo seratildeo cobertos pela garantia assim como produtos
com mais de um ano de adquiridos tambeacutem natildeo estaratildeo cobertos Poderiacuteamos identificar a
expressatildeo ―garantia legal como polissecircmica caso o fabricante natildeo tivesse apresentado o
conceito para a expressatildeo logo apoacutes entre parecircnteses Eacute sabido que no CDC a garantia legal eacute
caracterizada como o periacuteodo de 90 dias apoacutes a aquisiccedilatildeo de um produto Para evitar que
houvesse uma interpretaccedilatildeo indevida o fabricante conceituou a expressatildeo imediatamente
apoacutes o aparecimento dela na sentenccedila
(11) Em vista das mudanccedilas de leis que poderatildeo ocorrer TODO
certificado seraacute regido pelas normas do cartatildeo de garantia mais
recentemente atualizado pela faacutebrica
(Certificado 5)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todo para afirmar
que qualquer certificado de garantia de seus produtos deveraacute seguir as normas dispostas no
cartatildeo de garantia mais recentemente atualizado pela faacutebrica ou seja caso algum cliente tente
solicitar a garantia atraveacutes de um cartatildeo de garantia desatualizado ele natildeo estaraacute autorizado
Dessa forma o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo agraves possiacuteveis atualizaccedilotildees de leis ou
informaccedilotildees nos cartotildees de garantia dos diversos lotes de produtos impossibilitando o cliente
de reclamar sobre qualquer tipo de alteraccedilatildeo no documento em questatildeo A utilizaccedilatildeo do
quantificador universal em (11) eacute importante para dar ecircnfase agrave informaccedilatildeo central da sentenccedila
e tambeacutem para evitar que por exemplo o cliente interpretasse que algum certificado poderia
ser regido pelas normas de outro cartatildeo de garantia que natildeo fosse o mais recente Natildeo
identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos em (11)
(12) A garantia incide sobre TODOS os componentes montados
originalmente em Veiacuteculo conforme descrito na Nota Fiscal de
venda quer fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER ou
por esta adquiridos de terceiros
(Certificado 16)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para
restringir a interpretaccedilatildeo da sentenccedila quando afirma que a garantia cobre qualquer
63
componente montado originalmente em veiacuteculo ou seja a garantia natildeo cobre componentes
avulsos Aleacutem disso os componentes montados devem estar descritos na Nota Fiscal de
venda sendo assim se natildeo estiverem lanccedilados invalidam a garantia e por fim os veiacuteculos
devem tem sido fabricados por alguma empresa do grupo DAIMLER ou fabricado por outra
empresa mas tendo sido adquirido pelo fabricante que estaacute oferecendo a garantia Dessa
forma podemos ver que o quantificador universal foi utilizado pelo fabricante de forma
restrita limitando a abrangecircncia de acordo com seus interesses Caso o quantificador
universal natildeo tivesse sido utilizado na sentenccedila haveria a possibilidade do cliente interpretar
(12) de vaacuterias maneiras Por exemplo admitir que a garantia pode ser vaacutelida para produtos
que foram fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER mas natildeo foram lanccedilados na
Nota Fiscal de venda Em vista disso a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela
necessidade do fabricante restringir a interpretaccedilatildeo do texto da garantia buscando direcionar
melhor a informaccedilatildeo que ele estaacute vinculando em seu texto Natildeo identificamos nem termos
vagos nem termos polissecircmicos em (12)
(13) Executar TODAS as revisotildees estabelecidas pela Mercedes-Benz do
Brasil Ltda
(Certificado 16)
(14) Executar TODAS as manutenccedilotildees reparaccedilotildees e regulagens em um
dos Concessionaacuterios ou Postos de Serviccedilos Autorizados Mercedes-
Benz no territoacuterio brasileiro
(Certificado 16)
Nas duas ocorrecircncias acima podemos observar que o fabricante utiliza o quantificador
universal ―todas para definir que a garantia do produto soacute seraacute vaacutelida caso o cliente realize
as funccedilotildees descritas Caso o cliente natildeo realize pelo menos uma delas a garantia seraacute
invalidada Se o cliente natildeo realizar pelo menos uma revisatildeo sugerida pela fabricante perderaacute
a validade Aleacutem disso se o cliente realizar algum tipo de manutenccedilatildeo no veiacuteculo em alguma
concessionaacuteria que natildeo seja autorizada da Mercedes-Benz e no territoacuterio brasileiro tambeacutem
perderaacute a garantia O fabricante mesmo utilizando o quantificador universal nas duas
ocorrecircncias natildeo deixa de condicionar a validade da garantia de acordo com seus interesses O
cumprimento das recomendaccedilotildees dispostas apoacutes o quantificador natildeo garantem efetivamente
que a garantia do produto estaacute assegurada Ou seja mesmo que o cliente execute todas as
manutenccedilotildees reparos e regulagens em um dos concessionaacuterios do fabricante natildeo impede que
64
a garantia seja invalidade por outro motivo O quantificador universal foi utilizado pelo
fabricante em (13) e (14) sem limites e em seu benefiacutecio Natildeo identificamos nem termos
vagos nem termos polissecircmicos em (13) e (14)
(15) TODA solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica durante o periacuteodo da
garantia deveraacute ser feita obrigatoriamente agrave faacutebrica via e-mail ou
fax descrevendo detalhadamente os problemas apresentados natildeo
excedendo o prazo de 30 dias apoacutes detectaacute-lo indicando o modelo do
equipamento e o nuacutemero de seacuterie descrito na placa de identificaccedilatildeo do
mesmo e constante neste certificado
(Certificado 22)
Na ocorrecircncia (15) o fabricante utiliza o quantificador universal ―toda de forma
abrangente determinando que todas as solicitaccedilotildees de assistecircncia teacutecnica para qualquer
produto deveraacute seguir as instruccedilotildees definidas em seguida Caso o cliente tente solicitar a
assistecircncia natildeo seguindo algum dos passos e prazos determinados pelo fabricante a garantia
seraacute invalidada O quantificador universal foi utilizado para evitar interpretaccedilotildees relativas
sobre os procedimentos descritos no texto Por exemplo se (15) natildeo tivesse o quantificador
universal ―toda uma possiacutevel interpretaccedilatildeo seria que uma solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica
durante o periacuteodo da garantia poderia ser realiza na loja em que o produto foi comprado e natildeo
apenas na faacutebrica Dessa forma a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela
necessidade do fabricante restringir o percurso da solicitaccedilatildeo da garantia para o procedimento
que ele deseja que seja seguido pelo cliente Natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos
em (15)
32 USO DO CONDICIONAL
Vejamos a seguir as ocorrecircncias em que o condicional eacute utilizado Quando as
ocorrecircncias apresentarem o mesmo sentido de interpretaccedilatildeo agruparemos numa mesma
anaacutelise como podemos observar a seguir nas ocorrecircncias (16) (17) e (18)
(16) A garantia fica automaticamente invalidada SE
(Certificado 2)
65
(17) A garantia legal e contratual perderaacute seu efeito SE
(Certificado 3)
(18) Esta garantia perderaacute a validade SE
(Certificado 11)
Podemos observar nas ocorrecircncias (16) (17) e (18) que o condicional tem a funccedilatildeo de
limitar a aplicaccedilatildeo da garantia Os usos do ―se natildeo excluem a possibilidade de haver outros
casos em que a garantia natildeo se aplica ou seja as listas que satildeo apresentadas apoacutes o
condicional natildeo satildeo exaustivas Vale mencionar que da mesma forma que o ―todo o ―se
foi utilizado para beneficiar o fabricante como afirmamos acima O ―se assegura que a
validade do produto seraacute perdida nos casos que satildeo listados apoacutes o condicional sem eliminar
a possibilidade de haverem outros casos abrangendo sem limites os casos em que a garantia
natildeo cobriraacute o produto e restringindo a validade da garantia para o cliente Natildeo identificamos
termos vagos ou polissecircmicos nas ocorrecircncias (16) (17) (18) Na ocorrecircncia (17) o autor
usou os termos ―garantia legal e ―contratual que poderiam ser considerados termos
polissecircmicos que dificultariam a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia mas foram apresentados no
certificado os conceitos para os dois termos Para ―garantia legal o autor definiu como
sendo o prazo inicial da garantia com duraccedilatildeo de 90 dias ( contados imediatamente apoacutes a
emissatildeo da Nota Fiscal de compra) e previsto no CDC por sua vez para ―garantia
contratual se refere ao periacuteodo de dois anos incluindo o periacuteodo da garantia legal para todo
equipamento (neste caso condicionador de ar) e cinco anos para o compressor Com a
apresentaccedilatildeo destas definiccedilotildees o autor evitou que os termos se apresentassem no texto como
polissecircmicos
(19) A garantia do produto natildeo se aplica
(Certificado 8)
Trouxemos para a anaacutelise a ocorrecircncia acima pois a expressatildeo ―natildeo se aplica desta
sentenccedila funciona como um condicional mesmo sem ter a forma das ocorrecircncias que
analisamos anteriormente O fabricante utiliza esse condicional precedendo uma lista de
possiacuteveis situaccedilotildees em que a garantia poderia ser reclamada pelo cliente dessa forma
impossibilitando o cliente de exigir qualquer direito sobre alguma das possiacuteveis situaccedilotildees
Natildeo identificamos termos polissecircmicos e vagos na ocorrecircncia (19)
66
(20) A garantia do produto extingue-se
(Certificado 8)
Assim como na ocorrecircncia anterior tambeacutem natildeo encontramos o condicional ―se de
forma expliacutecita mas o termo ―extingue-se se comporta como tal A sentenccedila acima foi
utilizada pelo fabricante antecedendo uma lista de possibilidades de situaccedilotildees em que o
cliente poderia reclamar a garantia do produto excluindo entatildeo qualquer direito do cliente
em relaccedilatildeo ao que foi listado abaixo da sentenccedila em questatildeo Natildeo identificamos termos vagos
e polissecircmicos na ocorrecircncia (20)
(21) O cliente perderaacute a garantia do seu veiacuteculo SE
(Certificado 17)
Na ocorrecircncia (21) o fabricante utiliza o condicional antecedendo uma lista de
situaccedilotildees que se concretizadas invalidaratildeo a garantia Dessa forma se o veiacuteculo do cliente
que deseja ser atendido pela garantia se enquadrar em algum dos itens dispostos apoacutes essa
sentenccedila a garantia natildeo seraacute concedida Assim como nas ocorrecircncias com o uso do
condicional apresentadas anteriormente o uso do ―se aparece sem limites Como afirmamos
na anaacutelise das ocorrecircncias (16) (17) e (18) o autor utiliza o condicional para em seguida
apresentar uma lista de situaccedilotildees em que se concretizadas o cliente perderaacute a garantia Mas
mesmo com a apresentaccedilatildeo dessa lista o cliente poderaacute perder a garantia caso ocorra outro
tipo de situaccedilatildeo natildeo listada Dessa forma o fabricante se favorece abrangendo ao maacuteximo as
possibilidades de perda da garantia e ―prejudica o cliente oferecendo-lhe restritas
possibilidades de validade da garantia do produto a que se refere o texto Natildeo identificamos
nem termos polissecircmicos nem vagos na ocorrecircncia (21) Apenas vale ressaltar que diferente
das ocorrecircncias apresentadas anteriormente o autor em vez de escrever ―a garantia do
produto ele utilizou ―a garantia do seu veiacuteculo que especifica ao que se refere o texto
diminuindo a possibilidade de o cliente interpretar a ocorrecircncia de uma forma diferente da
que o autor se propotildee a transmitir
(22) A garantia vigoraraacute SOMENTE SE o Veiacuteculo atender
cumulativamente as seguintes condiccedilotildees
67
(Certificado 16)
Eacute interessante observar a forma como o fabricante utiliza o condicional na ocorrecircncia
(22) que precede uma lista de condiccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso o fabricante
natildeo utilizasse esse condicional ―somente se na sentenccedila acima o cliente poderia interpretar
que se o seu produto atendesse pelo menos a uma das condiccedilotildees estaria coberto pela
garantia Mas o fabricante aleacutem de utilizar o condicional ―somente se tambeacutem utilizou o
termo ―cumulativamente explicitando que o produto deve obedecer a todas as condiccedilotildees
dispostas pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o autor utilizou o condicional
para restringir as possibilidades de validade da garantia com restriccedilotildees o que natildeo ocorre
quando o fabricante trata sobre as possibilidades de invalidade da garantia como na
ocorrecircncia (21) Comparando as ocorrecircncias (21) e (22) vemos claramente que o autor em
(21) utilizou o condicional para lhe favorecer sem limites quando tratou sobre as condiccedilotildees
pelas quais o cliente pode perder a garantia abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura natildeo
apenas para as situaccedilotildees que estatildeo listadas mas tambeacutem para qualquer outra possiacutevel Jaacute em
(22) o autor (mesmo essa comparaccedilatildeo sendo feita entre ocorrecircncias de certificados
diferentes) utiliza o condicional para restringir as possibilidades de validade da garantia para
as situaccedilotildees listadas apoacutes a apresentaccedilatildeo do condicional e aleacutem disso afirmou que todas as
situaccedilotildees listadas devem ser atendidas para que a garantia seja vaacutelida para o produto Dessa
forma ainda sobre a ocorrecircncia (22) caso uma das situaccedilotildees listadas natildeo seja atendida a
garantia automaticamente seraacute perdida Com isso podemos afirmar que tanto em (21) quanto
em (22) os autores utilizaram o condicional para se beneficiar Em (21) abrangendo as
possibilidades de invalidade da garantia e em (22) restringindo ao maacuteximo as possibilidades
de validade da garantia do produto Natildeo identificamos nem termos vagos nem polissecircmicos
na ocorrecircncia (22)
(23) A garantia Philips natildeo eacute aplicaacutevel SE
(Certificado 14)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o condicional ―se antecedendo uma lista de
informaccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso algum produto Philips se encaixar em
alguma das situaccedilotildees descritas apoacutes o condicional mesmo estando dentro do prazo de
garantia o cliente perderaacute a cobertura Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem
68
vagos na ocorrecircncia (23)
(24) Esta garantia natildeo se aplica
(Certificado 21)
Assim como nas ocorrecircncias (18) e (19) a ocorrecircncia acima natildeo possui o condicional
expliacutecito mas o termo ―natildeo se aplica se comporta como tal O fabricante utiliza o
condicional precedendo uma lista de condiccedilotildees de natildeo aplicaccedilatildeo da garantia Dessa forma
caso o produto se encaixe em alguma das condiccedilotildees a garantia seraacute invalidada
automaticamente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem vagos na sentenccedila (24)
33 USO DO APENASSOMENTE
Vejamos a seguir ocorrecircncias em que identificamos o uso do ―apenas ou ―somente
(25) Esta garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver
devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original
da Nota Fiscal de Compra
(Certificado 4)
Na ocorrecircncia (25) o fabricante utiliza o ―somente para restringir a validade da
garantia indicando que o cliente teraacute direito agrave garantia caso preencha de forma correta o
certificado e apresente a nota fiscal de compra Caso as instruccedilotildees natildeo sejam seguidas pelo
cliente a garantia natildeo seraacute vaacutelida Podemos identificar que o termo ―rasuras presente em
(25) pode ser considerado como vago e polissecircmico neste caso dificultando a interpretaccedilatildeo
do texto Uma rasura pode ser por exemplo desde um rabisco fora de lugar no formulaacuterio
ateacute o dano no documento por aacutegua amasso do papel em excesso etc O autor poderia evitar a
vagueza e a polissemia definindo o termo da forma como ele deseja que o leitor interprete
este termo e comparando-o a uma classe especiacutefica (por exemplo o que eacute considerado rasura
69
nos documentos instrucionais)
(26) Danos decorrentes de desgaste natural inclusive e natildeo SOMENTE
nas partes plaacutesticas que compotildeem o gabinete do produto
(Certificado 4)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o ―somente numa sentenccedila que trata sobre
uma das situaccedilotildees em que a garantia natildeo seraacute vaacutelida O fabricante deixa claro que qualquer
defeito no produto causado por desgaste natural natildeo seraacute coberto pela garantia Se o
fabricante natildeo utilizasse o ―somente nesta sentenccedila o cliente poderia interpretar por
exemplo que danos decorrentes de desgaste natural nas partes que natildeo satildeo de plaacutestico seriam
cobertas pela garantia O autor utiliza o ―somente para se resguardar sobre outras possiacuteveis
interpretaccedilotildees do trecho abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura da garantia para
qualquer peccedila do produto que for afetado por danos decorrentes de desgaste natural Na
ocorrecircncia (26) a expressatildeo ―desgaste natural eacute polissecircmica O autor em nenhuma parte do
certificado de garantia definiu a expressatildeo em questatildeo para que o cliente compreenda da
forma desejada pelo fabricante Dessa forma podemos interpretar ―desgaste natural de
muitas formas Podemos por exemplo interpretar como o desgaste do produto como um todo
ou suas peccedilas referentes ao uso em excesso ao longo do tempo e diretamente vinculado agrave
vida uacutetil tanto do produto em geral quanto de peccedilas especiacuteficas Mas tambeacutem podemos
interpretar como sendo um desgaste proveniente do contato do produto com a natureza como
a exposiccedilatildeo agrave chuva maresia sol em excesso Pode parecer um exagero esta uacuteltima
interpretaccedilatildeo mas ela eacute possiacutevel a partir da forma como (26) se apresenta O autor utilizou no
texto a expressatildeo sem dar-lhe a definiccedilatildeo que ele pensou para a utilizaccedilatildeo dela na ocorrecircncia
dificultando a interpretaccedilatildeo do texto
(27) Este termo de garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos
comercializados e utilizados em territoacuterio brasileiro
(Certificado 4)
(28) Este Certificado de Garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos
vendidos e utilizados no territoacuterio brasileiro
(Certificado 10)
(29) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro
70
(Certificado 2)
(30) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro
(Certificado 13)
(31) Esta garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o territoacuterio brasileiro
(Certificado 12)
Nas ocorrecircncias (27) (28) (29) e (30) observamos que os fabricantes utilizam o termo
―apenas para restringir a cobertura da garantia tanto em relaccedilatildeo ao local da compra quanto
em relaccedilatildeo ao local de uso do produto assim como o autor da ocorrecircncia (31) utiliza o termo
―somente com o mesmo sentido Caso o produto tenha sido comprado em outro paiacutes natildeo
haveraacute cobertura da garantia assim como mesmo que o produto tenha sido comprado no
Brasil mas tenha sido utilizado em outro paiacutes culminando em um defeito tambeacutem natildeo haveraacute
cobertura da garantia Mas para a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que aparece em (27) (28)
(29) (30) e (31) podemos tambeacutem interpretar como natildeo apenas a extensatildeo territorial do paiacutes
mas tambeacutem admitir territoacuterios brasileiros em outros paiacuteses a saber os consulados
honoraacuterios do Brasil nas diversas naccedilotildees ao redor do mundo Nesse caso por exemplo se o
produto for adquirido dentro dos limites geograacuteficos do Brasil e for utilizado em algum
consulado do Brasil em outro paiacutes a garantia deve ser vaacutelida Eacute possiacutevel que o fabricante natildeo
tenha pensado nessa possibilidade poreacutem da forma que estas ocorrecircncias se apresentam haacute
essa possibilidade de interpretaccedilatildeo Ao apresentar essa possiacutevel interpretaccedilatildeo para a
expressatildeo ―territoacuterio brasileiro noacutes quisemos mostrar que o fabricante deveria ter
especificado em alguma parte do certificado de garantia o conceito que ele deseja que o
cliente admita para esta expressatildeo para natildeo deixar que a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro seja
interpretada de outras formas ou seja para evitar a polissemia que dificulta a leitura do
texto Outra questatildeo que tambeacutem podemos considerar eacute que nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)
a afirmaccedilatildeo sobre a validade da garantia eacute apresentada de forma menos detalhada Os autores
apresentam a afirmaccedilatildeo de que a garantia eacute vaacutelida para o territoacuterio brasileiro sem informar se
eacute em relaccedilatildeo ao produto ser adquirido e utilizado no paiacutes Brasil ou se o produto pode ser
utilizado fora do Brasil mas para requerer a garantia do produto o consumidor caso resida no
exterior deva se dirigir ao Brasil para fazer jus a sua garantia Diferente das ocorrecircncias (27)
e (28) em que os autores enfatizam que a garantia dos produtos eacute vaacutelida unicamente para
produtos comercializados e utilizados dentro do Brasil restringindo a garantia mais do que
nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)
71
(32) A garantia SOMENTE eacute vaacutelida mediante a apresentaccedilatildeo de nota
fiscal de compra deste produto
(Certificado 3)
Podemos observar na ocorrecircncia (29) que o fabricante utiliza o termo ―somente para
restringir a validade da garantia Fica claro que caso o produto apresente algum defeito e o
cliente procure a assistecircncia teacutecnica sem estar de posse da nota fiscal natildeo haveraacute cobertura da
garantia Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em (29) o cliente poderia interpretar
por exemplo que a garantia do produto eacute vaacutelida com ou sem a apresentaccedilatildeo da nota fiscal de
compra do produto Neste caso a funccedilatildeo do ―somente eacute de restringir a interpretaccedilatildeo de
acordo com o que o fabricante deseja Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem
vagos em (29)
(33) A garantia oferecida por esse Certificado eacute de 36 (trinta e seis) meses
e SOMENTE teraacute validade se o presente documento for devidamente
preenchido no ato da venda do produto conforme acima e se a
instalaccedilatildeo for feita por uma pessoa ou empresa credenciada pela
Robert Bosch Ltda
(Certificado 8)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade
da garantia Caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees de forma cumulativa que seguem a
utilizaccedilatildeo do termo a garantia seraacute invalidada Por exemplo se o cliente preencher no ato da
venda do produto o certificado mas se a instalaccedilatildeo do produto natildeo tiver sido feita por algueacutem
credenciado pela Robert Bosch Ltda a garantia natildeo teraacute validade A importacircncia do uso do
―somente em (33) se daacute pelo fato de que caso o autor natildeo tivesse utilizado este termo
haveria a possibilidade do cliente interpretar por exemplo que a garantia teria validade caso
a instalaccedilatildeo do produto tenha sido feita por uma pessoa ou empresa natildeo credenciada pela
fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (33)
(34) Os consertos em Garantia do Produto SOMENTE seratildeo efetuados
72
por um Serviccedilo Autorizado devidamente nomeado pela Robert Bosch
Ltda em territoacuterio brasileiro
(Certificado 8)
Podemos observar que o fabricante utiliza o termo ―somente em (34) para restringir a
validade da garantia O fabricante define tanto quem efetuaraacute o conserto dos produtos quanto
os limites territoriais de cobertura Dessa forma fica expliacutecito para o cliente que o conserto
natildeo poderaacute ser efetuado por pessoas natildeo autorizadas pela Robert Bosch Ltda e tal conserto
natildeo pode ser realizado em outros paiacuteses Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em
(34) abriria a possibilidade de interpretar a sentenccedila de outras formas como por exemplo
que os consertos em garantia do produto poderiam ser realizados em territoacuterios de outros
paiacuteses ou que os consertos poderiam ser realizados por serviccedilos natildeo autorizados pelo
fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (34)
(35) O exame e reparo do produto soacute poderatildeo ser efetuados pelo
fabricante
(Certificado 7)
Na ocorrecircncia (36) o fabricante utiliza no lugar do termo ―somente o termo ―soacute
para restringir a interpretaccedilatildeo Nesse caso se o cliente procurar reparar eou examinar o
produto sozinho ou em assistecircncias teacutecnicas que natildeo sejam autorizadas pelo fabricante a
garantia seraacute invalidada A utilizaccedilatildeo do termo ―soacute tem grande importacircncia para o
direcionamento da interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia (35) pois caso natildeo tivesse sido utilizado pelo
autor a ocorrecircncia traria apenas uma informaccedilatildeo vaga dificultando a interpretaccedilatildeo do texto
Sem o ―soacute a partir de (35) poderiacuteamos interpretar que o exame e reparo do produto podem
ser efetuados pelo fabricante mas tambeacutem por qualquer outra pessoa ou empresa Utilizando
o ―soacute o autor restringe a inferecircncia evitando muacuteltiplas interpretaccedilotildees para a sentenccedila
(36) O presente ―Termo de Garantia Hyundai aplica-se uacutenica e
exclusivamente ao veiacuteculo da marca e fabricaccedilatildeo Hyundai
devidamente identificado no iniacutecio deste documento e que tenha sido
comercializado por um Revendedor Autorizado da CAOA Montadora
de Veiacuteculos SA
(Certificado 17)
73
Em (36) o fabricante natildeo utiliza os termos ―apenas ou ―somente mas
consideraremos em nossa anaacutelise a expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como um restritor de
mesmo sentido Observamos que o fabricante utiliza a expressatildeo para restringir a cobertura
da garantia Caso o cliente esteja por exemplo solicitando a garantia de um veiacuteculo Hyundai
que natildeo seja o mesmo que estaacute descrito no iniacutecio do documento de garantia e que natildeo tenha
sido comercializado por uma autorizada da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA a garantia
natildeo teraacute validade Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado a expressatildeo ―uacutenica e
exclusivamente em (36) haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia de outras
maneiras
(37) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA eou o Revendedor Autorizado
da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA APENAS substituiraacute as peccedilas
que forem por elas e a seu exclusivo criteacuterio julgadas como
defeituosas
(Certificado 17)
Na ocorrecircncia (37) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a interpretaccedilatildeo
da sentenccedila Dessa forma o fabricante fica resguardado tanto em relaccedilatildeo a substituiccedilatildeo de
peccedilas quanto em relaccedilatildeo ao meacutetodo utilizado para jugar se a peccedila estaacute defeituosa ou natildeo A
importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―apenas em (37) tambeacutem se daacute pelo fato de natildeo permitir outras
interpretaccedilotildees diferentes da definida pelo fabricante Caso o ―apenas natildeo tivesse sido
utilizado poderiacuteamos interpretar por exemplo que o fabricante poderia substituir peccedilas
julgadas por ela como defeituosas utilizando seus proacuteprios criteacuterios mas tambeacutem substituiria
em outros casos O ―apenas serviu para especificar e restringir a interpretaccedilatildeo dos criteacuterios
definidos pelo fabricante em relaccedilatildeo agrave substituiccedilatildeo de peccedilas do produto Natildeo identificamos
nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (37)
(38) Permita que SOMENTE teacutecnicos autorizados pela faacutebrica prestem
assistecircncia a seu aparelho pois se for aberto por teacutecnicos ou pessoas
natildeo autorizadas automaticamente vocecirc estaraacute perdendo sua garantia
(Certificado 5)
Na ocorrecircncia (38) o fabricante deixa expliacutecito ao utilizar o termo ―somente que
caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees dispostas nesta sentenccedila a garantia do produto seraacute
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invalidada Dessa forma o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a informaccedilatildeo
veiculada pelo fabricante da mesma forma como vimos na ocorrecircncia (37) Natildeo
identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (38)
(39) A presente garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o Veiacuteculo
comercializado em territoacuterio brasileiro
(Certificado 16)
Na ocorrecircncia (39) um pouco parecida com as ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e
(31) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia do produto Nesse caso
se o veiacuteculo tiver sido adquirido em outro paiacutes sua garantia natildeo seraacute vaacutelida no Brasil Um
pouco diferente das ocorrecircncias (27) e (28) que especificam ao maacuteximo a possibilidade de
cobertura da garantia a ocorrecircncia (39) veicula que a garantia eacute vaacutelida para o produto
comercializado em territoacuterio brasileiro natildeo tratando sobre a possibilidade da perda da
garantia caso o veiacuteculo seja utilizado em outros paiacuteses Neste caso o cliente natildeo tem direito
a garantia do veiacuteculo caso ele seja adquirido em outros paiacuteses Sobre a expressatildeo ―territoacuterio
brasileiro assim como nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31) o autor natildeo definiu um
sentido para a expressatildeo que pode ser interpretada de outras maneiras como exemplificamos
nas anaacutelises anteriores
(40) Utilizar SOMENTE peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios genuiacutenos
Mercedes-Benz e comprovar sua aquisiccedilatildeo mediante e apresentaccedilatildeo
da Nota Fiscal quando adquiridos pelo consumidor final
(Certificado 16)
Na ocorrecircncia (40) que faz parte de uma lista de recomendaccedilotildees para o cliente natildeo
perder a garantia o fabricante utiliza o termo ―somente para delimitar a interpretaccedilatildeo da
sentenccedila Na passagem se o cliente natildeo seguir as instruccedilotildees descritas consequentemente
perderaacute a garantia do produto A importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente na ocorrecircncia (40) eacute
a de dificultar que o cliente interpreta a sentenccedila de outra maneira Sem o ―somente na
sentenccedila o cliente poderia interpretar que ele pode utilizar peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios
originais do fabricante mas tambeacutem estaacute autorizado a utilizar peccedilas de outros fabricantes
Com a presenccedila do ―somente na sentenccedila o cliente eacute levado a interpretar a sentenccedila da
75
forma direcionada pelo fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (40)
(41) A comprovaccedilatildeo de defeito de fabricaccedilatildeo do produto que provocaraacute a
execuccedilatildeo da troca do mesmo deveraacute ser feita exclusivamente por
funcionaacuterio credenciado da Ortobom
(Certificado 15)
Na ocorrecircncia (41) o fabricante natildeo utiliza explicitamente os termos ―apenas ou
―somente mas consideraremos em nossa anaacutelise que o termo ―exclusivamente possui a
mesma funccedilatildeo de restringir interpretaccedilotildees O fabricante utiliza o termo para restringir a
garantia do produto em questatildeo Natildeo haacute a possibilidade de o cliente comprovar um defeito de
fabricaccedilatildeo em seu produto atraveacutes de outro profissional que natildeo seja um funcionaacuterio
credenciado da Ortobom Haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia (41) caso o
fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―exclusivamente Sem tal uso o cliente poderia
interpretar que poderia comprovar algum defeito no produto para possiacutevel troca por
intermeacutedio de qualquer profissional natildeo obrigatoriamente por um funcionaacuterio do fabricante
Ortobom O termo ―exclusivamente especifica e destaca a informaccedilatildeo que o fabricante
veicula em (41) Natildeo identificamos em (41) nem termos polissecircmicos nem termos vagos
(42) A garantia cobre exclusivamente defeitos de materiais eou
fabricaccedilatildeo sendo que as despesas de deslocamento alimentaccedilatildeo e
hospedagem do teacutecnico para atendimento em garantia ou natildeo
referente agrave entrega montagem instruccedilatildeo de uso e reparo do
equipamento assim como o frete de retirada para conserto e retorno
do mesmo e de envio de peccedilas e retorno das substituiacutedas em garantia
ocorreratildeo por conta do cliente
(Certificado 22)
Assim como em (41) o fabricante utiliza o termo ―exclusivamente para restringir a
garantia do produto O fabricante ao utilizar esse termo se resguarda de possiacuteveis cobranccedilas
por parte do cliente ao solicitar a garantia como por exemplo ajuda de custo para custear a
iacuteda do teacutecnico para manutenccedilatildeo do produto envio de peccedilas para faacutebrica etc Fica expliacutecito
que em todas essas situaccedilotildees o cliente eacute responsaacutevel Caso o termo ―exclusivamente natildeo
76
tivesse sido utilizado o cliente poderia interpretar a ocorrecircncia de diferentes modos Uma
possibilidade de interpretaccedilatildeo seria a de entender que a garantia cobre outros tipos de
defeitos que natildeo fossem de peccedilas ou de fabricaccedilatildeo Com a utilizaccedilatildeo do termo
―exclusivamente o fabricante diminui as possibilidades de interpretaccedilatildeo tornando o texto
mais claro para o cliente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na
ocorrecircncia (42)
(43) A garantia natildeo cobre peccedilas ou componentes de desgaste normal de
uso dentre as quais selim pedais firma-peacutes natildeo se limitando
SOMENTE a estes mas incluindo rodas de transporte carenagens
adesivos elementos de acabamento de plaacutestico borracha e alumiacutenio
danos na pintura e quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa
exclusiva distribuiccedilatildeo devendo as reclamaccedilotildees ser encaminhadas aos
seus respectivos representantes ou fabricantes
(Certificado 22)
Em (43) o fabricante aleacutem de utilizar o termo ―somente para abranger a
interpretaccedilatildeo sobre as peccedilas que natildeo seratildeo cobertas pela garantia do produto utiliza outros
termos que alargam ainda mais sem restriccedilotildees a natildeo cobertura da garantia como ―quaisquer
acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo O fabricante se resguarda
especificando quais peccedilas que ele considera como de ―desgaste normal para evitar
problemas de interpretaccedilatildeo por parte do cliente O uso do ―somente na ocorrecircncia (43) se
apresenta de forma contraacuteria agraves outras ocorrecircncias que apresentamos anteriormente Enquanto
em ocorrecircncias como a (40) que o ―somente foi utilizado para restringir a interpretaccedilatildeo da
sentenccedila para as informaccedilotildees descritas depois do termo em (43) o fabricante utiliza o
―somente precedido da negaccedilatildeo ―natildeo se limitando direcionando o termo para o sentido de
abrangecircncia Ou seja a garantia que o fabricante oferece natildeo cobre peccedilas ou componentes de
desgaste natural como selim e pedais Para natildeo correr o risco de esquecer de citar algum dos
componentes de desgaste natural do produto e deixar brechas na interpretaccedilatildeo da garantia o
fabricante utiliza a expressatildeo ―natildeo se limitando seguida do ―somente para abranger ao
maacuteximo as possibilidades de interpretaccedilatildeo sobre os itens de desgaste natural que natildeo satildeo
cobertos pela garantia Depois do uso do ―somente e de apresentar mais uma lista de itens
que natildeo satildeo cobertos pela garantia o fabricante ainda abrange mais a interpretaccedilatildeo
utilizando a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo
Dessa forma pudemos perceber que o fabricante utilizou natildeo apenas o termo de restriccedilatildeo
77
―somente para limitar as possibilidades de interpretaccedilatildeo da sentenccedila mas tambeacutem utilizou
listas especificando itens e a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa
exclusiva distribuiccedilatildeo Todas essas estrateacutegias foram utilizadas com o objetivo de tornar a
interpretaccedilatildeo do texto clara sem oferecer a possibilidade de o cliente obter muacuteltiplas
interpretaccedilotildees do texto Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na
ocorrecircncia (43)
(44) A matildeo-de-obra em garantia limita-se SOMENTE ao horaacuterio normal
de expediente sendo de segunda a sexta-feira das 730 agraves 1800 horas
devendo o equipamento estar disponiacutevel para a assistecircncia teacutecnica
(Certificado 22)
Em (44) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o horaacuterio disponiacutevel
para reparos em produtos na garantia e aleacutem disso enfatizando que o produto deve estar
disponiacutevel para a assistecircncia Dessa forma o cliente fica impossibilitado de reclamar
assistecircncia fora do horaacuterio que estaacute descrito na sentenccedila assim como fica consciente de que
seu produto ficaraacute a disposiccedilatildeo da assistecircncia para conserto ou seja natildeo seraacute reparado
imediatamente A importacircncia do uso do ―somente na ocorrecircncia (44) se daacute pelo fato de que
caso natildeo fosse utilizado o cliente poderia interpretar por exemplo que a matildeo-de-obra em
garantia estaria disponiacutevel vinte e quatro horas por dia e sete dias por semana Como o
―somente foi utilizando precedendo as informaccedilotildees sobre dia e horaacuterio de atendimento natildeo
eacute possiacutevel interpretar a informaccedilatildeo de outra maneira que natildeo seja a descrita Haveria a
possibilidade de definir a expressatildeo ―horaacuterio normal de expediente como uma expressatildeo
polissecircmica caso ela natildeo estivesse acompanhada de uma definiccedilatildeo (―de segunda a sexta-feira
das 730 agraves 1800 horas) pois o horaacuterio de expediente pode variar de acordo com o trabalho
que vocecirc tem por exemplo Se vocecirc trabalha em um banco financeiro o seu horaacuterio de
expediente seraacute possivelmente diferente do horaacuterio de um feirante Para evitar a polissemia
o fabricante utilizou a expressatildeo e em seguida apresentou a definiccedilatildeo da expressatildeo de
acordo com o seu interesse
(45) A presente garantia limita-se SOMENTE ao produto fornecido natildeo
responsabilizando a TOTAL HEALTH por danos causados a pessoas
a terceiros a outros equipamentos ou instalaccedilotildees lucros cessantes ou
quaisquer outros danos emergentes ou consequumlentes
(Certificado 22)
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Na ocorrecircncia (45) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da
garantia Nesse caso a garantia se limita unicamente ao produto descrito Se por exemplo o
produto em questatildeo apresentar defeito e tal defeito ocasionar dano fiacutesico ao dono do produto
ou a terceiros a garantia natildeo cobriraacute tais problemas Assim como nas ocorrecircncias anteriores
o uso do ―somente em (45) teve a funccedilatildeo de direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para uma
uacutenica possibilidade de interpretaccedilatildeo Caso o ―somente natildeo tivesse sido utilizado poderiacuteamos
interpretar (45) de outras maneiras Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (45)
(46) SOMENTE os profissionais indicados pela loja revendedora dos
produtos Bartzen estatildeo autorizados a prestar atendimento dentro do
prazo de garantia
(Certificado 18)
Na ocorrecircncia (46) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila Nesse caso o cliente soacute poderaacute usufruir de assistecircncia teacutecnica em
seu produto atraveacutes de profissionais indicados pela loja na qual ele adquiriu seu produto
Bartzen e dentro do prazo da garantia Caso o cliente realize algum serviccedilo em seu produto
com profissionais natildeo autorizados pela fabricante sua garantia seraacute invalidada A importacircncia
da utilizaccedilatildeo do termo ―somente na ocorrecircncia (46) eacute a de diminuir as possibilidades de
interpretaccedilatildeo da sentenccedila ao maacuteximo Dessa forma natildeo haacute como o cliente interpretar que por
exemplo ele pode realizar a manutenccedilatildeo ou reparo do seu produto com qualquer outro
funcionaacuterio que natildeo seja autorizado pela fabricante do produto Natildeo identificamos nem
termos polissecircmicos nem termos vagos em (46)
(47) A garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o consumidor que consta
identificado na nota fiscal de compra do produto (primeiro usuaacuterio) a
qual deveraacute ser apresentada junto com este Certificado de Garantia
devidamente preenchido com os dados do consumidor e do produto
para fins de cobertura para reparo ou substituiccedilatildeo do produto se
necessaacuterio
(Certificado 19)
79
Em (47) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia Nesse caso
o cliente fica ciente de que a garantia soacute seraacute vaacutelida para o primeiro proprietaacuterio do produto
assim como soacute seraacute aceito o pedido de garantia caso o cliente apresentar a nota fiscal
contendo tanto os dados do produto quanto os seus Todas as possibilidades fora das
descritas seratildeo desconsideradas e consequentemente a garantia seraacute invalidada A
importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente em (47) se daacute pelo fato de que haacute diversas
informaccedilotildees a serem consideradas pelo cliente na ocorrecircncia (47) e caso o autor do texto natildeo
tivesse utilizado o termo ―somente antes dessas informaccedilotildees o cliente poderia interpretar
que sua garantia poderia ser vaacutelida ao cumprir algumas das informaccedilotildees descritas na sentenccedila
e natildeo obrigatoriamente todas Por exemplo se natildeo houvesse o uso do ―somente em (47) o
cliente poderia interpretar que a garantia eacute vaacutelida para o consumidor que tem o nome
constando na nota fiscal mas tambeacutem para qualquer outro consumidor que esteja de posse da
nota fiscal mesmo que natildeo seja a pessoa que tem o nome na nota fiscal O ―somente possui
o papel de restringir a interpretaccedilatildeo de toda ocorrecircncia ao maacuteximo direcionando a leitura do
texto para evitar muacuteltiplas interpretaccedilotildees Com esse uso natildeo eacute possiacutevel que cliente interprete
que ele pode ter acesso a garantia caso natildeo cumpra alguma das recomendaccedilotildees Natildeo
identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (47)
(48) O Certificado de Garantia eacute vaacutelido SOMENTE para os
condicionadores vendidos e instalados no territoacuterio brasileiro
(Certificado 19)
Em (48) semelhante agraves ocorrecircncias (31) e (39) o fabricante utiliza o termo ―somente
para restringir o territoacuterio de cobertura da garantia Neste caso condicionadores adquiridos e
utilizados em outros paiacuteses natildeo seratildeo cobertos pela garantia descrita acima Ainda retomando
a discussatildeo sobre a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro consideramos que pelo fato do autor do
texto natildeo ter apresentado um conceito para esta expressatildeo em nenhum local do certificado de
garantia da forma como se apresenta ela pode ser interpretada de outras maneiras assim
como discutimos nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)
(49) Para o uso de condicionadores de ar em ambientes com alta
concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre
seraacute vaacutelida SOMENTE a garantia legal de 90 (noventa) dias contados
80
da data de emissatildeo da nota fiscal de compra do produto
(Certificado 19)
Na ocorrecircncia (49) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da
garantia do produto que seja utilizado em ambientes especiacuteficos como ―ambientes com alta
concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre Dessa forma o
fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a qualquer solicitaccedilatildeo de garantia ―normal ou seja prazo
de validade de garantia para condicionadores de ar que satildeo utilizados em ambientes
considerados ―normais por parte de um cliente que utilize o produto em ambientes como os
descritos acima Dessa forma o uso do ―somente se justifica pelo fato de que o fabricante
busca direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha duacutevidas de que como
descrito em (49) os produtos utilizados em ambientes atiacutepicos soacute estaratildeo cobertos pela
garantia legal Assim como jaacute discutimos em outras ocorrecircncias anteriormente o fabricante
utiliza a expressatildeo ―garantia legal que eacute uma expressatildeo teacutecnica do CDC e para que ela natildeo
se tornasse polissecircmica logo apoacutes seu uso o autor apresentou o conceito para o termo que eacute
o de um periacuteodo de 90 dias corridos compreendidos imediatamente apoacutes a expediccedilatildeo da nota
fiscal de compra do produto
(50) A partir do 91ordm (nonageacutesimo primeiro) dia tais despesas satildeo de
responsabilidade uacutenica e exclusiva do consumidor
(Certificado 19)
Em (50) o fabricante natildeo utilizou os termo ―somente e ―apenas mas
consideraremos em nossa anaacutelise a utilizaccedilatildeo da expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como
umas expressotildees utilizadas para restringir interpretaccedilotildees como discutimos anteriormente em
outras anaacutelises Na sentenccedila acima o fabricante utilizou a expressatildeo de restriccedilatildeo para
enfatizar que passados os trecircs meses de garantia as despesas referentes a qualquer
manutenccedilatildeo e garantia do produto seratildeo de responsabilidade do cliente Como apresentamos
na ocorrecircncia (49) a garantia legal para um produto cobre os primeiros 90 dias apoacutes a
emissatildeo da nota fiscal de compra do produto Ao informar em (50) que a partir do primeiro
dia apoacutes o teacutermino da garantia legal despesas referentes ao traslado do produto para
manutenccedilatildeo seraacute de responsabilidade do cliente o autor utiliza a expressatildeo ―uacutenica e
exclusiva para se resguardar de qualquer possibilidade de participaccedilatildeo em possiacuteveis gastos
81
Caso o fabricante natildeo tivesse enfatizado essa informaccedilatildeo utilizando esta expressatildeo o cliente
poderia interpretar por exemplo que poderia haver algum caso em que o fabricante se
responsabilizaria por tais gastos Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (50)
(51) A reposiccedilatildeo de peccedilas defeituosas e execuccedilatildeo dos serviccedilos decorrentes
desta Garantia SOMENTE seratildeo procedidas nas localidades do
territoacuterio brasileiro onde a ENVISION mantiver ―Centro de Serviccedilo
Autorizado de titularidade dela proacutepria ou de terceiro por ela
expressamente indicado onde deveraacute ser entregue o produto para
reparo
(Certificado 20)
Na ocorrecircncia (51) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir os locais de
execuccedilatildeo de serviccedilos da garantia Neste caso o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a por
exemplo natildeo haver assistecircncias teacutecnicas em todas as cidades do paiacutes Aleacutem de enfatizar que o
produto deveraacute ser entregue na assistecircncia pelo cliente ou seja o fabricante natildeo se
responsabiliza quanto ao recolhimento do produto para reparo A utilizaccedilatildeo do ―somente se
justifica pelo fato de que o fabricante busca restringir ao maacuteximo as possibilidades de
interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o ―somente o cliente
poderia por exemplo interpretar que se a cidade em que o cliente tenha adquirido o produto
natildeo tenha uma assistecircncia teacutecnica a fabricante se responsabilizaria pelo recolhimento do
produto para manutenccedilatildeo numa cidade que possua a assistecircncia teacutecnica Com a utilizaccedilatildeo do
―somente precedendo as demais informaccedilotildees natildeo eacute possiacutevel interpretar a ocorrecircncia dessa
maneira Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termo vagos na ocorrecircncia (51)
(52) Esta Garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver
devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original
da Nota Fiscal de Compra
(Certificado 20)
Na ocorrecircncia (52) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a forma
como o cliente deve solicitar a garantia do produto Caso o cliente deixe de apresentar o
certificado preenchido corretamente eou a nota fiscal de compra a garantia seraacute invalidada
82
Assim como na ocorrecircncia (51) o autor fabricante utiliza o ―somente para restringir ao
maacuteximo a interpretaccedilatildeo do texto Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente
haveria a possibilidade de o cliente interpretar que a garantia do produto seria vaacutelida caso o
certificado estivesse preenchido sem rasuras acompanhado da nota fiscal de compra mas
tambeacutem de qualquer outra forma A ocorrecircncia ficaria sem limites para interpretaccedilatildeo caso o
fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente Poreacutem como o termo foi utilizado natildeo
haacute outra forma de o cliente interpretar a ocorrecircncia sobre a validade da garantia do produto
Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (52)
(53) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS se o produto for reparado pela rede
autorizada Rheem ou por autorizaccedilatildeo preacutevia formalizada pelo
Departamento de Assistecircncia Teacutecnica
(Certificado 20)
Na ocorrecircncia (53) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a validade da
garantia quanto ao local de assistecircncia Caso o produto seja reparado por profissional natildeo
autorizado pela fabricante Rheem a garantia do produto seraacute perdida A importacircncia o uso do
termo ―apenas na ocorrecircncia (53) se daacute pelo fato de que o autor busca restringir a
interpretaccedilatildeo do texto ao maacuteximo Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―apenas o
cliente poderia por exemplo interpretar que a garantia do produto eacute vaacutelida em qualquer
situaccedilatildeo e natildeo unicamente se seguir as recomendaccedilotildees descritas apoacutes o uso do termo
―apenas Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (53)
(54) Os produtos SOMENTE poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para
anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes sua autorizaccedilatildeo por escrito
(Certificado 21)
Na ocorrecircncia (54) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o modo
como deve submeter o produto agrave garantia Caso natildeo haja uma autorizaccedilatildeo por escrito para
enviar o produto para a faacutebrica o produto natildeo poderaacute seguir para anaacutelise A importacircncia da
utilizaccedilatildeo do termo ―somente se daacute pelo fato de que caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o
termo na ocorrecircncia (54) a interpretaccedilatildeo do texto ficaria sem limites ou seja os produtos
poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes a autorizaccedilatildeo por
83
escrito ou de qualquer outra forma Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (54)
34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS
Em nossa pesquisa analisamos cinquenta e quatro ocorrecircncias selecionadas a partir
dos vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Dividimos a anaacutelise por tipos de
ocorrecircncias com quantificador universal com condicional e com o apenassomente Para
apresentar um panorama sobre os tipos de ocorrecircncia e a quantidade das anaacutelises de cada tipo
vamos observar o quadro a seguir
Tipo de ocorrecircncia Nuacutemero de ocorrecircncias
Quantificador universal 15
Condicional 9
ApenasSomente 30
TOTAL 54
Quadro 2 ndash Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia Fonte elaborado pelo autor
Antes de discorrer nossos comentaacuterios sobre as anaacutelises de nosso trabalho temos que
tratar sobre a primeira importante impressatildeo que tivemos diante do corpus e das consequentes
anaacutelises dos quatro nexos semacircnticos que invocamos em nosso trabalho somente
identificamos ocorrecircncias com acarretamentos Tratamos com muita naturalidade este fato
porque por mais que em algumas leituras uma parte do conteuacutedo do segundo capiacutetulo possa
ser vista como desnecessaacuteria ndash pelo fato de tais conceitos natildeo estarem presentes nas anaacutelises
dessa pesquisa ndash encontramos aiacute uma caracteriacutestica do gecircnero textual certificado de garantia
que eacute a presenccedila de diversos acarretamentos mesmo que natildeo-expliacutecitos como demonstramos
em nosso trabalho (porque o gecircnero textual certificado de garantia natildeo possui uma linguagem
tatildeo controlada quanto a linguagem encontrada nos exemplos que criamos para ilustrar os
conceitos dos nexos) Dessa maneira fica claro que natildeo encontramos ocorrecircncias com
equivalecircncias semacircnticas contrariedades ou contraditoriedades o que nos permite definir
estas ausecircncias como uma caracteriacutestica intriacutenseca do gecircnero
84
Na primeira parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o quantificador
universal Identificamos quinze ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia
utilizaram esse recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (1) e (15)
percebemos que o uso do quantificador universal em algumas ocorrecircncias serviu apenas para
reforccedilar a informaccedilatildeo que o fabricante quis veicular ou seja se natildeo tivesse sido utilizado natildeo
modificaria o sentido do texto Pudemos identificar esse sentido por exemplo nas
ocorrecircncias (1) e (2)
Aleacutem desse sentido para o uso do quantificador universal encontramos ocorrecircncias
em que caso o quantificador natildeo tivesse sido utilizado haveria a possibilidade de
interpretarmos a ocorrecircncia de vaacuterias maneiras Nesses casos os autores utilizaram o
quantificador para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo direcionando a leitura do texto
para que o cliente possa interpretar o certificado da forma que o fabricante deseja Pudemos
identificar esse sentido por exemplo nas ocorrecircncias (3) (4) e (8)
Pudemos observar que os autores dos certificados de garantia utilizam tambeacutem o
quantificador universal em seus textos para se resguardarem em relaccedilatildeo a deveres que
poderiam ser reclamados pelo cliente caso natildeo houvesse o uso deste recurso Dessa forma
podemos entender que os autores dos certificados utilizaram o quantificador universal para se
favorecerem Pudemos observar essa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (5) (11) (13) e
(14) Em relaccedilatildeo a ocorrecircncias com o uso do quantificador universal em que o cliente eacute
beneficiado natildeo identificamos nenhum caso em nossa anaacutelise
Sobre o aparecimento de termos vagos ou termos polissecircmicos nas ocorrecircncias com a
presenccedila do quantificador universal pudemos observar que o maior motivo da sensibilidade
dos textos a esses tipos de efeitos linguiacutesticos eacute o fato de os autores dos textos em muitos
casos natildeo conceituarem os termos teacutecnicos que eles utilizam nos certificados de garantia Ao
utilizar um termo teacutecnico como por exemplo na ocorrecircncia (3) em que o autor do
certificado de garantia utiliza o termo ―viacutecio do produto ndash termo teacutecnico do CDC ndash natildeo
apresentando o conceito em seu texto dificulta a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Tendo contato
com o termo de forma solta sem estar delimitada pelo conceito que o autor deseja que o
cliente interprete a ocorrecircncia se torna vaga e polissecircmica
Ainda sobre os termos vagos ou termos polissecircmicos encontramos tambeacutem
ocorrecircncias em que os autores buscaram evitaacute-las justamente apresentando apoacutes a utilizaccedilatildeo
de um termo teacutecnico o seu respectivo conceito desta forma natildeo oferecendo a possibilidade
de interpretaacute-lo de vaacuterias maneiras Pudemos observar este uso por exemplo na ocorrecircncia
(10) em que o autor do certificado usa o termo ―garantia legal e logo em seguida apresenta
85
o conceito para o termo que eacute ―os primeiros 90 dias Dessa forma o cliente natildeo eacute autorizado
a interpretar o termo ―garantia legal de nenhuma outra forma que natildeo seja a descrita pelo
fabricante
Na segunda parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o uso do condicional
Identificamos nove ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia utilizaram este
recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (16) e (24) pudemos identificar
que o condicional foi utilizado pelos autores dos textos precedendo listas instrucionais o que
era esperado devido a caracteriacutestica proacutepria desse recurso que eacute o de condicionar algo agrave
alguma coisa Assim como nas ocorrecircncias que os autores utilizaram o quantificador
universal o condicional foi utilizado em boa parte das ocorrecircncias analisadas para restringir
a interpretaccedilatildeo do texto Pudemos identificar este sentido por exemplo nas ocorrecircncias (16)
(17) e (18)
Identificamos em boa parte das ocorrecircncias que possuem o uso do condicional que
este uso natildeo impotildee um limite na interpretaccedilatildeo Pudemos observar em nossa anaacutelise que os
condicionais foram utilizados precedendo listas exaustivas que continham situaccedilotildees por
exemplo em que a garantia seria invalidada Ao apresentar tais listas os autores natildeo
especificavam que natildeo haveria outros casos fora da lista em que a garantia seria invalidada
Dessa forma observamos que assim como nas ocorrecircncias com quantificador universal os
autores utilizaram os condicionais para se favorecerem Identificamos na ocorrecircncia (22)
recursos que restringem ainda mais as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente e
que consequentemente favorecem o fabricante como o uso do termo ―cumulativamente
que obriga o cliente a natildeo apenas estar dentro de uma ou mais situaccedilotildees descritas pelo
fabricante apoacutes o condicional mas a seguir todas as situaccedilotildees descritas ao mesmo tempo
Quando os fabricantes utilizaram o condicional precedendo listas que constam as
situaccedilotildees em que o cliente poderia perder a garantia eles usaram o recurso sem limites como
pudemos observar na ocorrecircncia (21) Mas quando os fabricantes utilizaram o condicional
precedendo listas que constam as situaccedilotildees em que o cliente tem direito a garantia eles
usaram os recursos com limites e como mostramos na ocorrecircncia (22) ainda utilizaram
recursos que limitam mais ainda a garantia
Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem das ocorrecircncias em que o condicional apareceu
de forma expliacutecita ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o mesmo
sentido como em (19) (20) e (24)
Sobre a presenccedila de termos polissecircmicos ou termos vagos nas ocorrecircncias com o uso
do condicional pudemos identificar que diferente das ocorrecircncias com o uso do
86
quantificador universal natildeo encontramos casos de termos vagos ou termos polissecircmicos nas
ocorrecircncias analisadas Identificamos em muitas ocorrecircncias que os autores dos certificados
apresentaram os conceitos para termos teacutecnicos apoacutes uso geralmente entre parecircnteses para
evitar que o termo ou a expressatildeo fossem interpretados de formas indevidas Encontramos
este tipo de estrateacutegia por exemplo na ocorrecircncia (17) do certificado 3 em que o autor
utiliza os termos ―garantia legal e ―garantia contratual mas no texto do certificado haacute o
conceito para cada termo o que impossibilita que o cliente interprete os termos de diversas
maneiras Caso o fabricante tivesse utilizado os dois termos teacutecnicos e em lugar algum do
certificado de garantia ele apresentasse os conceitos para os termos oportunizaria por
conseguinte diversas possibilidades de interpretaccedilatildeo dificultando a leitura do texto por parte
do cliente
Na terceira parte da anaacutelise tratamos sobre as ocorrecircncias com o uso do ―apenas e do
―somente Identificamos trinta ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia
utilizaram esses recursos linguiacutesticos Apesar do nuacutemero elevado de ocorrecircncias os sentidos
em que o ―apenas e o ―somente foram utilizados natildeo variaram muito Em grande parte das
ocorrecircncias analisadas o ―apenas e o ―somente foram utilizados para restringir a validade
da garantia desde restriccedilotildees em relaccedilatildeo ao territoacuterio de vigecircncia ateacute tipos de ambientes em
que os produtos podem ser utilizados Um tipo de ocorrecircncia que foi bastante recorrente em
nosso corpus foi o que utilizou o ―apenas ou ―somente para delimitar o territoacuterio em que a
garantia pode ser vaacutelida como por exemplo nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)
Nestas ocorrecircncias haacute o uso da expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que levantamos na anaacutelise
uma discussatildeo sobre as possibilidades de interpretaccedilatildeo para tal expressatildeo pelo fato de natildeo
haver nos certificados de garantia analisados um conceito definido para ela A ausecircncia do
conceito para este termo nos certificados de garantia pode dificultar a interpretaccedilatildeo
Tambeacutem podemos afirmar que em grande parte das ocorrecircncias analisadas o uso do
―somente ou ―apenas serviu para impor limites agraves interpretaccedilotildees dos textos direcionando-
os para a interpretaccedilatildeo que o fabricante desejasse impor Ou seja em grande parte das
ocorrecircncias em que foi utilizado o ―somente precedendo uma situaccedilatildeo X caso natildeo houvesse
esse uso a garantia por exemplo seria vaacutelida na situaccedilatildeo X mas tambeacutem nas situaccedilotildees Y Z
W sem limites Sem o uso do ―somente nessas ocorrecircncias o texto da garantia natildeo teria
sentido definido Pudemos observar esse sentido em diversas ocorrecircncias analisadas como
por exemplo nas ocorrecircncias (27) e (28) Ilustrando caso natildeo houvesse o uso do ―apenas
nas ocorrecircncias (27) e (28) a garantia seria vaacutelida no territoacuterio brasileiro e em qualquer outro
Ainda sobre as ocorrecircncias usam o ―somente ou ―apenas para restringir o territoacuterio em que
87
a garantia seraacute vaacutelida observamos que algumas ocorrecircncias especificam mais a validade da
garantia como em (48) que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para produtos vendidos e
instalados em territoacuterio nacional e outras ocorrecircncias que especificam menos como em (39)
que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para o veiacuteculo comercializado em territoacuterio brasileiro
Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem de ocorrecircncias em que o ―apenas e ―somente
apareciam explicitamente ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o
mesmo sentido como em (35) (36) e (41)
Sobre o aparecimento de termos polissecircmicos ou termo vagos aleacutem da expressatildeo
―territoacuterio brasileiro que mencionamos nos paraacutegrafos anteriores pudemos identificar
outros casos de termos polissecircmicos como por exemplo nas ocorrecircncias (25) e (26) Os
termos teacutecnicos utilizados pelos autores dos certificados de garantia natildeo possuiacuteam em lugar
algum dos textos os conceitos para lhes definirem possibilitando que o cliente interprete
estes termos de diversas maneiras
Ainda sobre casos de termos polissecircmicos observamos em algumas ocorrecircncias que
os autores dos certificados procuraram utilizar os termos teacutecnicos e em seguida ou em
alguma parte dos textos apresentaram os conceitos para os termos evitando muacuteltiplas
interpretaccedilotildees Identificamos o uso dessa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (43) (44) e
(49)
Nos trecircs tipos de ocorrecircncias que definimos para nossa anaacutelise pudemos identificar
que nos usos do quantificador universal condicional e ―apenas e ―somente os autores dos
certificados de garantia usaram esses recursos para se favorecerem Como analisado nas
ocorrecircncias do corpus os fabricantes utilizaram essas estrateacutegias tanto pelo fato de que eacute
necessaacuterio utilizar esses recursos por ser caracteriacutestico de textos instrucionais quanto pelo
fato de que o direcionamento das interpretaccedilotildees dos textos que eles constroem a partir destes
recursos podem favorecer os proacuteprios fabricantes
88
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Na presente seccedilatildeo iremos pontuar o percurso de nossa pesquisa e apresentar nossas
impressotildees sobre o corpus as teorias apresentadas e os resultados obtidos com as anaacutelises
O primeiro capiacutetulo de nossa pesquisa foi subdividido em duas partes na primeira
buscamos apresentar os conceitos gerais sobre os gecircneros textuais com base na proposta de
Bakhtin (2000) reafirmada por Marcuschi (2008) com o intuito de fornecer aporte teoacuterico
para a segunda parte do capiacutetulo em que caracterizamos o certificado de garantia como um
gecircnero textual Tal caracterizaccedilatildeo se deu pelo fato do nosso corpus ser composto por vinte e
dois certificados de garantia Ficamos surpresos por tomar conhecimento do fato de que ateacute o
presente momento natildeo identificamos publicaccedilotildees acadecircmicas em nosso paiacutes referentes agrave
caracterizaccedilatildeo de certificados de garantia como gecircneros textuais e esta dificuldade nos levou
a construir atraveacutes de nossa leitura a caracterizaccedilatildeo tanto quanto ao conteuacutedo quanto agrave
estrutura do texto A uacutenica bibliografia que encontramos e utilizamos como base para a
estruturaccedilatildeo da segunda parte do capiacutetulo tratando diretamente sobre os certificados de
garantia foi o Coacutedigo de Defesa e Proteccedilatildeo do Consumidor (1997) em que pudemos extrair
alguns conceitos gerais e recomendaccedilotildees de como se deve construir o texto de um certificado
de garantia Um dos problemas que encontramos foi a carecircncia de detalhes apresentados pelo
CDC na seccedilatildeo em que sugerem um padratildeo de formulaccedilatildeo do documento O CDC apenas
enfatiza que se faz necessaacuterio o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo e por exemplo a
necessidade de ser acompanhado do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto Com base
nessas informaccedilotildees apresentamos os conceitos e tambeacutem um exemplo de certificado de
garantia ilustrando cada parte da estrutura do texto
Na introduccedilatildeo do segundo capiacutetulo apresentamos uma discussatildeo geral sobre a
distinccedilatildeo entre semacircntica e pragmaacutetica com o objetivo de caracterizar os nexos como
relaccedilotildees linguiacutesticas do campo da semacircntica Para isso apresentamos tambeacutem os conceitos e
exemplos de relaccedilotildees linguiacutesticas que satildeo consideradas como pertencentes ao campo da
pragmaacutetica como a implicatura e pressuposiccedilatildeo Para esta discussatildeo buscamos aporte teoacuterico
nas obras de autores como Trask (2004) Levinson (2007) Grice (1987) Basso (2009)
Moura (1999) e Santos (2012)
Apoacutes a introduccedilatildeo do capiacutetulo apresentamos a teoria dos nexos semacircnticos que
escolhemos tratar em nossa pesquisa Foram eles o acarretamento a equivalecircncia semacircntica
a contradiccedilatildeo e a contrariedade Utilizamos como referencial teoacuterico para a teoria dos nexos
89
semacircnticos autores como Aristoacuteteles (1985) Chierchia (2001) Branquinho Murcho e Gomes
(2006) Pires de Oliveira (2001) e Mortari (2001) A apresentaccedilatildeo de cada nexo se deu a
partir dos conceitos seguidos de exemplos e dentro de cada seccedilatildeo apresentamos tambeacutem
tipos de ocorrecircncias lexicais que podem dificultar a intepretaccedilatildeo dos nexos que satildeo a
polissemia e a vagueza Ao apresentar os conceitos dessas ocorrecircncias lexicais assim como
fizemos na apresentaccedilatildeo dos nexos tambeacutem ilustramos com exemplos Utilizamos como
aporte teoacuterico para os conceitos de polissemia e vagueza autores como Crystal (1985) Allan
(2010) e Kempson (1977) Aleacutem da polissemia e vagueza tratamos sobre outro problema
que dificulta a interpretaccedilatildeo dos nexos as falaacutecias Quando tratamos sobre as caracteriacutesticas
das falaacutecias utilizamos como base teoacuterica o texto de Soares (2003) em que o autor distingue
as caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias e com esse aporte apresentamos nossos
exemplos
Quando tratamos sobre a contradiccedilatildeo e contrariedade apresentamos o fato de que as
suas origens tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica A partir disso trouxemos uma breve apresentaccedilatildeo
sobre os conceitos de Aristoacuteteles presentes em seu texto Organon (1985) mais
especificamente no Perieacutermeneas capiacutetulos 6 e 7
No final do capiacutetulo dois fizemos uma retrospectiva de todos os pontos que foram
apresentados ao longo do capiacutetulo e justificamos a nossa escolha em pesquisar sobre os nexos
semacircnticos assim como a polissemia vagueza e falaacutecias Durante todo o capiacutetulo dois
apresentamos os nexos e outras relaccedilotildees lexicais dentro de uma linguagem controlada que eacute
diferente do que acontece nos textos dos diversos gecircneros inclusive naquele escolhido para
compor o nosso corpus que satildeo os certificados de garantia A importacircncia dos conceitos
apresentados em nosso segundo capiacutetulo se deu pelo fato de que ele oferece uma base para a
compreensatildeo do funcionamento dessas relaccedilotildees semacircnticas para que diante das anaacutelises que
realizamos no capiacutetulo trecircs tenhamos uma leitura mais refinada e atenciosa para perceber
como essas relaccedilotildees semacircnticas tiacutepicas de linguagens controladas se apresentam em textos
que satildeo suscetiacuteveis a diversas ocorrecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo Ficamos surpresos
pelo fato de que pouco se escreveu sobre nexos semacircnticos em nosso contexto nacional de
pesquisa o que tornou a construccedilatildeo do nosso segundo capiacutetulo bastante desafiadora Em
relaccedilatildeo a artigos que trataram diretamente sobre os nexos semacircnticos e os seus usos como
suporte para a anaacutelise de ocorrecircncias em gecircneros textuais tivemos contato apenas com Santos
(2012) e Estrela e Santos (2013 2014)
No terceiro capiacutetulo que foi dedicado para conter a anaacutelise desta pesquisa
inicialmente apresentamos nossa justificativa para a escolha do gecircnero certificado de garantia
90
para analisar assim como a justificativa para a escolha de procurar nesses textos as
estrateacutegias linguiacutesticas utilizadas para restringir a interpretaccedilatildeo de sentenccedilas Em seguida
tratamos sobre os tipos de ocorrecircncias que elegemos para nossa anaacutelise como quantificador
universalcondicional e o ―apenas e o ―somente Esta escolha se deu pelo fato de tais
termos possuem caracteriacutesticas propiacutecias para o uso em restriccedilotildees ou abrangecircncias de textos
Mesmo assim tiacutenhamos conhecimento de que dificilmente encontrariacuteamos ocorrecircncias com
as relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos no capiacutetulo dois de forma expliacutecita e controlada
pois como discutimos anteriormente os diversos gecircneros textuais satildeo suscetiacuteveis a
interferecircncias lexicais que podem dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos
Em seguida apresentamos a anaacutelise do nosso corpus que totalizou cinquenta e quatro
trechos de certificados nos trecircs tipos de ocorrecircncias escolhidas para serem investigadas
Como jaacute apresentamos no final do capiacutetulo anterior nossas impressotildees sobre como foram
utilizados os recursos linguiacutesticos para restriccedilatildeo de interpretaccedilotildees pelos autores dos
certificados gostariacuteamos de enfatizar que nas ocorrecircncias com quantificador universal com
condicional e com o ―apenas e ―somente os fabricantes utilizaram estes recursos em
grande parte dos certificados para se favorecerem ou seja para abranger as possibilidades de
invalidade da garantia do produto aumentando as situaccedilotildees em que a garantia eacute perdida e
diminuindo as situaccedilotildees em que a garantia eacute vaacutelida (principalmente nas listas exaustivas)
Sobre ocorrecircncias em que identificados termos vagos ou termos polissecircmicos
identificamos como o motivo principal do aparecimento dessas ocorrecircncias a falta de
definiccedilatildeo dos termos teacutecnicos Em muitos certificados identificamos que os autores utilizaram
termos teacutecnicos (a maioria deles provenientes do CDC) e natildeo apresentaram em nenhuma
parte do texto as definiccedilotildees para tais termos oportunizando que o leitor interprete de
diversas maneiras os termos ou expressotildees
Por fim pudemos perceber que os quantificadores os condicionais e termos como o
―apenas e o ―somente que satildeo responsaacuteveis por abranger ou restringir interpretaccedilotildees de
sentenccedilas satildeo proacuteprios do tipo de texto instrucional que abarca o gecircnero que escolhemos para
nossa pesquisa A utilizaccedilatildeo desses termos seguiu uma ordem de apresentaccedilatildeo similar nos
vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Os quantificadores universais
apareceram muitas vezes nas explicaccedilotildees em que os fabricantes apresentavam prazos deveres
e direitos do fabricante e cliente os condicionais apareceram na maioria das vezes
precedendo as listas exaustivas e o ―apenas e ―somente apareceram em grande parte nos
trechos em que os fabricantes apresentavam delimitaccedilotildees territoriais para cobertura da
91
garantia e explicaccedilotildees sobre as situaccedilotildees em que a garantia eacute invalidada e as situaccedilotildees em que
a garantia se assegura
Assim como justificamos no iniacutecio das consideraccedilotildees sobre os resultados obtidos em
nossa anaacutelise natildeo encontramos ocorrecircncias com trecircs dos quatro nexos semacircnticos
apresentados no segundo capiacutetulo O fato de natildeo termos identificado ocorrecircncias com
equivalecircncias semacircnticas contrariedades e contraditoriedades traacutes a tona uma interessante
caracteriacutestica do gecircnero certificado de garantia que eacute a constante presenccedila de acarretamentos
na redaccedilatildeo do texto mesmo que apresentados indiretamente diferente dos exemplos que
utilizamos para ilustrar os conceitos nos diversos textos sobre o assunto e a natildeo utilizaccedilatildeo de
equivalecircncias sentenccedilas contraacuterias e contraditoacuterias na redaccedilatildeo do texto
Atraveacutes dessa pesquisa em que tratamos sobre os nexos semacircnticos a polissemia a
vagueza e alguns outros tipos de relaccedilotildees semacircnticas desejamos que outros pesquisadores se
interessem por este tipo de trabalho e busquem explorar nas anaacutelises linguiacutesticas outros
gecircneros textuais pouco explorados como o que utilizamos no presente trabalho Apresentar
uma teoria que eacute tipicamente de linguagens controladas como a dos nexos semacircnticos (que
satildeo como jaacute discutimos dependentes unicamente da forma das sentenccedilas) e analisar como
essas estrateacutegias linguiacutesticas se comportam dentro de textos instrucionais (que ainda satildeo
pouco explorados nas anaacutelises semacircnticas) satildeo a nosso ver interessantes caminhos a serem
desbravados nos estudos da semacircntica assim como as suas aplicaccedilotildees nos diversos gecircneros
textuais que nos rodeiam
92
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100
Certificado 6
101
Certificado 7
102
Certificado 8
103
Certificado 9
104
105
Certificado 10
106
Certificado 11
107
Certificado 12
108
109
Certificado 13
110
Certificado 14
111
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Certificado 15
113
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Certificado 16
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Certificado 17
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Certificado 18
123
Certificado 19
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125
Certificado 20
126
Certificado 21
127
Certificado 22
ABSTRACT
The study of the meaning of relations between sentences is a much discussed and researched
field in linguistic studies The observation of how the terms behave in the construction of
meanings in texts of different genres and their interpretation effects are also widespread
themes among semantic research In this work we will discuss about the meaning of the
relations of meaning and their sense of purpose in a specific genre The relations that we will
investigate are semantic nexus or semantic links as proposed by Chierchia (2003) which are
respectively entailment semantic equivalence contradictoriness and contrariness The genre
we chose for our analysis is the warranty certificate and the choice of this genre was made
because it is part of the injunctive or instructional texts group that in our opinion has
characteristics that favor the sampling of semantic nexus We will analyze how the semantic
nexus are used to restrict or cover the possibilities of interpretation in the warranty
certificates The corpus of this research has 22 (twenty two) copies of warranty certificates
from different segments and we decided to choose certificates from separate lines to
constitute an overview of the genre The collection of the texts took place through the
internet without using any particular methodology of choice only we pay attention to seek
warranty certificates of diverse products We seek in this research instigate reflection on the
meaning relations between sentences and observance of these in instructional texts that we
have contact in daily life and that for many times let go unnoticed its contents The
understanding of the semantic nexus can offer us tools to better read texts of this type
Keywords Semantic nexus Warranty certificate Semantics
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 13
1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA 16
11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS 16 12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL 26
2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS 32
21 ACARRETAMENTO 35 22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA 42 23 CONTRADITORIEDADE 45 24 CONTRARIEDADE 48 25 JUSTIFICANDO O PERCURSO 51
3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA 53
31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL 55 32 USO DO CONDICIONAL 64 33 USO DO APENASSOMENTE 68 34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS 83
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 88
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 92
ANEXOS 95
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa 14
QUADRO 2 - Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia 83
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
ILUSTRACcedilAtildeO 1 - Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 27
ILUSTRACcedilAtildeO 2 - Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28
ILUSTRACcedilAtildeO 3 - Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28
ILUSTRACcedilAtildeO 4 - Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28
ILUSTRACcedilAtildeO 5 - Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 29
13
INTRODUCcedilAtildeO
A abordagem das relaccedilotildees de significado eacute algo bastante presente e discutido nos
estudos semacircnticos Observar como se comportam os termos na construccedilatildeo da significaccedilatildeo
em textos de diversos gecircneros distintos e seus efeitos interpretativos tambeacutem satildeo temas de
diversas produccedilotildees na aacuterea de linguiacutestica
Neste trabalho iremos discutir as relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e os efeitos
interpretativos dessas relaccedilotildees em textos Mais especificamente abordaremos os nexos
semacircnticos ou nexos de significado (Chierchia 2003) acarretamento equivalecircncia semacircntica
contrariedade (os quais podemos encontrar no referido trabalho de Chierchia) e
contraditoriedade (nexo semacircntico que geralmente eacute relacionado com a contrariedade e que
foi tratado por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado atraveacutes de seu quadrado loacutegico
ou taacutebua de oposiccedilotildees em seu texto Perieacutermeneas (1985) mais especificamente nos
capiacutetulos 6 e 7 sobre o qual faremos menccedilatildeo na seccedilatildeo sobre este nexo)
Este trabalho tem por objetivo observar alguns dos recursos linguiacutesticos utilizados
para favorecer a existecircncia de nexos semacircnticos e com isso restringir ou ampliar
possibilidades de interpretaccedilatildeo em um gecircnero textual especiacutefico Por este motivo o gecircnero
que escolhemos analisar foi o certificado de garantia ou termo de garantia que pertence agrave
categoria dos textos instrucionais (ou injuntivos) e a nosso ver possui caracteriacutesticas que
favorecem a amostragem das ocorrecircncias dos nexos
O gecircnero certificado de garantia possui como uma de suas caracteriacutesticas a
apresentaccedilatildeo organizada dos direitos e deveres do cliente e do fabricante com relaccedilatildeo a um
produto servindo tambeacutem para informar ao cliente os seus direitos referentes agrave validade
prazos e extensatildeo de cobertura da garantia Supotildee-se entatildeo que o texto deve por isso ser
objetivo e livre de ambiguidades e incoerecircncias
Nossa hipoacutetese eacute a de que recursos linguiacutesticos que favoreccedilam a existecircncia de nexos
semacircnticos nos textos dos certificados ndash como o emprego por exemplo de conectivos e
quantificadores (Chierchia 2003 PIRES DE OLIVEIRA 2001) ndash estatildeo presentes em textos
deste gecircnero e contribuem para que os textos alcancem o objetivo de informar ao cliente e ao
fabricante seus deveres e direitos
O corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de
garantia de produtos diversos para constituir um panorama ainda que reduzido de instacircncias
do gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes da internet sem utilizar nenhuma metodologia
14
especiacutefica de escolha atentando para buscar certificados de produtos variados Os textos
escolhidos para a anaacutelise de nosso trabalho incluem diversos produtos manufaturados como
moacuteveis veiacuteculos eletroeletrocircnicos entre outros equipamentos domeacutesticos como ilustrado no
quadro a seguir
Nordm Tipo de objeto Fabricante
1 Refrigerador Samsung
2 TV led Sony
3 Condicionador de ar LG
4 Tablet AOC
5 AudioMixer Oneal
6 Garantia para todos os produtos Elgin
7 Estabilizador de energia APC
8 Aquecedor de aacutegua Bosch
9 Fogatildeo Brastemp
10 Maacutequina de lavar Electrolux
11 Ventilador Cadence
12 GPS Positron
13 Umidificador de ar Springer
14 Certificado internacional de garantia Philips
15 Colchatildeo Ortobom
16 Caminhotildees Mercedes-Benz
17 Carro de passeio Hyundai
18 Moacuteveis Bartzen
19 Aquecedor de ar Fujitsu
20 Tv AOC
21 Aquecedor de aacutegua para piscina Rheem
22 Bicicleta Total Health
Quadro 1 ndash Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa Fonte elaborado pelo autor
Como nosso propoacutesito eacute analisar os textos observando as ocorrecircncias de termos que
restringem e abrangem interpretaccedilotildees natildeo temos a intenccedilatildeo de analisar se um fabricante
elaborou um texto melhor que outro
No primeiro capiacutetulo apresentamos num primeiro momento o que satildeo gecircneros
textuais e em seguida caracterizamos o certificado de garantia como um gecircnero textual Para
tanto utilizamos o aporte teoacuterico baseado na obra de Mikhail Bakhtin (2000) linguista do
iniacutecio do seacuteculo referecircncia nos estudos de gecircneros textuais e de Luiz Antocircnio Marcuschi
(2002 2005 2008) linguista contemporacircneo que desenvolveu importantes trabalhos nessa
disciplina Vale salientar que como o foco de nossa pesquisa natildeo eacute a discussatildeo de gecircneros
textuais o capiacutetulo que construiacutemos trata de conceitos gerais sobre gecircneros tendo como
15
objetivo observar que o certificado de garantia eacute um gecircnero textual e mostrando como se
estrutura em linhas gerais um texto deste gecircnero
No segundo capiacutetulo trataremos dos nexos semacircnticos dos quais consideraremos
para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e
contrariedade Atraveacutes de exemplos discutimos brevemente cada um deles mostrando
exemplos que funcionam e tambeacutem exemplos problemaacuteticos em relaccedilatildeo ao leacutexico
especialmente em casos de polissemia para que entatildeo seja possiacutevel a anaacutelise do capiacutetulo
seguinte
No terceiro capiacutetulo traremos a anaacutelise do corpus que se apresentaraacute organizado por
ocorrecircncias distribuiacutedas em tipos a saber uso do quantificador universal uso do condicional
e uso do apenassomente Apoacutes o exame das trecircs categorias citadas trataremos entatildeo das
relaccedilotildees entre o emprego dos recursos e a funccedilatildeo dos certficados Procuraremos tambeacutem
refletir se os recursos satildeo mais utilizados para favorecer o cliente ou mais utilizados para
favorecer o fabricante
Por uacuteltimo mostraremos as consideraccedilotildees finais do trabalho e em seguida as
referecircncias bibliograacuteficas utilizadas na elaboraccedilatildeo de nosso texto
16
1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA
Neste capiacutetulo tratamos dos gecircneros textuais e da caracterizaccedilatildeo dos certificados de
garantia como um gecircnero textual Em um primeiro momento traremos a perspectiva sobre
gecircneros textuais de Mikhail Bakhtin precursor dos estudos de gecircneros textuais na linguiacutestica
e em seguida apresentaremos a perspectiva de Luiz Antocircnio Marcuschi linguista brasileiro
que tambeacutem trabalha com o tema e compartilha em grande parte da perspectiva de Bakhtin
sobre o os gecircneros Eacute importante ressaltar que este capiacutetulo natildeo tem por objetivo o
aprofundamento nos estudos dos gecircneros e serve como um instrumento para contextualizar o
corpus desta pesquisa
11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS
Considerando a perspectiva apresentada por Mikhail Bakhtin na obra Esteacutetica da
criaccedilatildeo verbal (2000) o ato de se comunicar eacute indispensaacutevel para as relaccedilotildees humanas Aleacutem
disso ressaltamos que eacute por tal razatildeo que nas diversas situaccedilotildees de interaccedilatildeo que
vivenciamos em nosso cotidiano observamos a utilizaccedilatildeo da liacutengua em suas modalidades
oral eou escrita como instrumento principal de nossas trocas comunicativas
Eacute notoacuterio que a quantidade de atividades eacute enorme assim como satildeo os diferentes tipos
de situaccedilotildees em que a liacutengua eacute empregada Atraveacutes da formulaccedilatildeo de enunciados podemos
caracterizar quais as funccedilotildees dos discursos que escolhemos para os diversos tipos de
interaccedilatildeo
Nesse sentido eacute possiacutevel afirmarmos que todas as nossas construccedilotildees linguiacutesticas
organizam-se em gecircneros discursivos por meio dos quais conseguimos nos comunicar e
interagir socialmente
Em conformidade com a proposta de Bakhtin todo gecircnero discursivo se constitui a
partir das seguintes dimensotildees o conteuacutedo temaacutetico o estilo e a construccedilatildeo composicional
Esta descriccedilatildeo eacute claacutessica como ponto de partida para a descriccedilatildeo dos gecircneros textuais e nos
ofereceraacute a possibilidade de tanto descrever o que eacute um gecircnero textual quanto caracterizar
um texto como gecircnero que seraacute o nosso objetivo na segunda parte deste capiacutetulo
O conteuacutedo temaacutetico se refere ao tipo de assunto veiculado no texto Por tal razatildeo
Bakhtin (2000) afirma que o gecircnero eacute escolhido a partir do que o locutor decide falar Assim
17
eacute faacutecil compreender por que cada atividade comunicativa necessita de um tipo especiacutefico de
textodiscurso Por exemplo natildeo se responde (normalmente) uma carta informal com uma
bula de remeacutedio (a natildeo ser que na carta um texto desse gecircnero seja solicitado como
resposta) Nesse sentido percebe-se que para cada esfera de comunicaccedilatildeo o locutor e
interlocutor utilizam uma mesma forma de expressatildeo tendo em vista o assunto que
escolheram tratar Caso contraacuterio se locutor e interlocutor agregam formas distintas de
expressatildeo pode ser que a comunicaccedilatildeo natildeo seja efetivada com sucesso visto que eacute possiacutevel
natildeo haver o entendimento das partes uma vez que cada gecircnero abarca certo campo de uso
mesmo estando em constante desenvolvimento
O estilo se refere aos recursos linguiacutesticos desde gramaticais ateacute lexicais e eles
variam de acordo com o gecircnero Essa dimensatildeo abarca a seleccedilatildeo frasal lexical gramatical e
as formas de apresentar o discurso que satildeo inerentes ao gecircnero escolhido Bakhtin (2000)
afirma que o estilo eacute a primeira vista individual do gecircnero e ela reflete (ou natildeo) a
individualidade de quem escreve ou fala Isso porque dependendo do gecircnero o estilo
individual aparece com mais clareza Da mesma forma haacute gecircneros que natildeo possuem essa
caracteriacutestica a exemplo dos textos injuntivos sobre os quais trataremos mais agrave frente Ainda
a respeito do estilo Bakhtin assegura que
Quando escolhemos as palavras no processo de construccedilatildeo de um enunciado nem
de longe as tomamos sempre do sistema da liacutengua em sua forma neutra
lexicograacutefica Costumamos tiraacute-las de outros enunciados e antes de tudo de
enunciados congecircneres com o nosso isto eacute pelo tema pela composiccedilatildeo pelo estilo
consequentemente selecionamos as palavras segundo a sua especificaccedilatildeo de
gecircnero O gecircnero do discurso natildeo eacute uma forma da liacutengua mas uma forma tiacutepica do
enunciado como tal forma o gecircnero inclui certa expressatildeo tiacutepica a ele inerente
(BAKHTIN 2010 [1992] p 292 grifos do autor)
Nessa perspectiva podemos afirmar que tal criteacuterio se refere agraves propriedades das
unidades de linguagem e relaciona-se agrave posiccedilatildeo enunciativa do locutor agraves sequecircncias textuais
e aos tipos discursivos que estruturam o texto
Por fim Bakhtin (2000) afirma que cada gecircnero possui uma forma padratildeo que eacute a
estrutura composicional Eacute atraveacutes dessa forma que podemos identificar qual gecircnero estaacute
sendo empregado pois essa dimensatildeo se refere aos procedimentos utilizados na formulaccedilatildeo
dos textos com a estrutura e demais aspectos formais incluindo as partes envolvidas no
discurso Em suma para Bakhtin (2000)
18
Estes trecircs elementos (conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo composicional)
fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado e todos eles satildeo marcados pela
especificidade de uma esfera de comunicaccedilatildeo Qualquer enunciado considerado
isoladamente eacute claro individual mas cada esfera de utilizaccedilatildeo da liacutengua elabora
seus tipos relativamente estaacuteveis de enunciados sendo isso que denominamos
gecircneros do discurso (BAKHTIN 2000 p 279 Grifos do autor)
Ainda a respeito dos gecircneros do discurso conveacutem ressaltar que sua variedade eacute
proporcional agraves possibilidades de interaccedilotildees humanas pois as diversas esferas de interaccedilatildeo
satildeo compostas por classes de gecircneros que se desenvolvem tornando-se maiores e mais
complexas em consonacircncia com o desenvolvimento dessas esferas
Bakhtin (2000) utiliza o termo ―heterogeneidade para adjetivar os gecircneros do
discurso sejam eles orais ou escritos inferindo que estes incluem desde conversas informais
cartas relatos familiares ateacute produccedilotildees mais complexas como os documentos oficiais textos
cientiacuteficos e de escolas literaacuterias Natildeo haacute razatildeo para minimizar a extrema heterogeneidade
dos gecircneros do discurso e a consequente dificuldade quando se trata de definir o caraacuteter
geneacuterico do enunciadolsquo (BAKHTIN 2000 p 281) Dessa forma entendemos que a
variedade de gecircneros eacute muito grande se estendendo por exemplo dos romances mais
eruditos ateacute os bilhetes de recados do dia-a-dia e que tratar dos gecircneros admitindo suas
caracteriacutesticas estruturais particulares natildeo eacute uma tarefa faacutecil de realizar
Aleacutem de discorrer sobre as dimensotildees constitutivas de um gecircnero tendo em vista essa
heterogeneidade Bakhtin categoriza os gecircneros textuais em primaacuterios (simples) e
secundaacuterios (complexos) Assim os gecircneros primaacuterios satildeo aqueles referentes agraves reacuteplicas de
diaacutelogos cotidianos como cartas pessoais e demais gecircneros de comunicaccedilatildeo imediata Satildeo
chamados ―simples porque satildeo formados por discursos de baixa complexidade Jaacute os
gecircneros secundaacuterios satildeo aqueles referentes a romances textos cientiacuteficos sociopoliacuteticos e
afins Satildeo textos (escritos ou produzidos para serem encenados como os teatrais ndash exemplo
usado pelo proacuteprio Bakhtin) com maior carga de complexidade de produccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo
Surgem a partir de interaccedilotildees mais aprofundadas nas comunidades com maior grau de
imersatildeo em relaccedilatildeo aos padrotildees culturais e sociais
Ele ainda ressalta que os gecircneros secundaacuterios tambeacutem podem conter gecircneros
primaacuterios ―o romance em seu todo eacute um enunciado da mesma forma que a reacuteplica do
diaacutelogo cotidiano ou a carta pessoal (satildeo fenocircmenos da mesma natureza) o que diferencia o
romance eacute ser um enunciado secundaacuterio (complexo) (BAKHTIN 2000 p 281) Ao
discorrer sobre essa questatildeo o autor assevera que eacute de grande importacircncia teoacuterica a
19
diferenciaccedilatildeo entre esses tipos de gecircneros pois com isso e a partir disso podemos fazer
anaacutelises precisas dos enunciados que podem contrapor dois ou mais tipos de textos
Ignorar as caracteriacutesticas intriacutensecas a cada gecircnero a ―natureza dos enunciados - que
segundo Bakhtin eacute indispensaacutevel para qualquer estudo ndash eacute partir para a abstraccedilatildeo da liacutengua
desvalorizando o conteuacutedo histoacuterico imerso em cada tipo de gecircnero Eacute importante considerar
a relaccedilatildeo existente entre ―a liacutengua e a vida e natildeo restringir os enunciados a categorias
formais Haacute portanto uma relaccedilatildeo de complementaccedilatildeo entre a liacutengua a vida e os enunciados
pois ―a liacutengua penetra na vida atraveacutes dos enunciados concretos que a realizam e eacute tambeacutem
atraveacutes dos enunciados concretos que a vida penetra na liacutengua (BAKHTIN 2000 p 282)
Bakhtin (2000) tambeacutem se refere a questotildees da ―totalidade do enunciado que ele
define como aquilo que oportuniza a resposta em um discurso Bakhtin afirma que essa accedilatildeo
eacute definida por trecircs fatores diretamente associados ao ―todo orgacircnico do enunciado
primeiramente o tratamento exaustivo do objeto de sentido depois o querer-dizer do locutor
e por fim as formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do acabamento
O tratamento exaustivo do objeto de sentido ―varia profundamente conforme as
esferas da comunicaccedilatildeo verbal Em algumas esferas ele pode ser quase total como por
exemplo na vida praacutetica na vida profissional na vida militar basicamente em esferas que
natildeo possuem caracteriacutesticas de mutabilidade de discurso e pouca ―criatividade nas
formulaccedilotildees entre outras palavras onde os gecircneros do discurso satildeo padronizados Jaacute nas
esferas em que os gecircneros satildeo ―criativos o tratamento exaustivo eacute muito menos abrangente
como no caso das ciecircncias em particular onde Bakhtin infere que o tratamento exaustivo
―oferece exatamente um miacutenimo de acabamento capaz de suscitar uma atitude responsiva
(BAKHTIN 2000 p 300)
O querer-dizer do locutor estaacute ligado ao primeiro fator O filoacutesofo afirma que em todo
enunciado desde uma reacuteplica cotidiana ateacute complexas obras cientiacuteficas ou da literatura
compreendemos sentimos o ―intuito discursivo ou querer-dizer do locutor que eacute o que
determina o ―todo do enunciado sua amplitude suas fronteiras Noacutes identificamos o que o
locutor quer expressar e a partir dessa detecccedilatildeo medimos e definimos como se daraacute o
enunciado Isso eacute determinante para a escolha do objeto com seus limites e o tratamento
exaustivo do objeto adequado a este aleacutem de ser essencial para a escolha da forma do gecircnero
onde seraacute edificado
As formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do gecircnero do acabamento representam o fator mais
importante para Bakhtin que as descreve como ―formas estaacuteveis do gecircnero do enunciado
(BAKHTIN 2000 p 301)
20
As formas do gecircnero agraves quais modelamos nossa fala se distinguem
substancialmente das formas da liacutengua do ponto de vista de sua estabilidade e de
suas leis normativas para o locutor De um modo geral elas satildeo mais maleaacuteveis
mais plaacutesticas e mais livres do que as formas da liacutengua (BAKHTIN 2000 p 302)
Concluindo a discussatildeo sobre gecircneros a partir dos conceitos gerais propostos por
Bakhtin passamos agora para a discussatildeo sobre gecircneros realizada por Marcuschi (2008) Eacute
possiacutevel perceber ao longo da explanaccedilatildeo que este autor se identifica com a teoria
bakhtiniana de gecircneros textuais e foi essa identificaccedilatildeo uma das motivaccedilotildees que nos levou a
escolhecirc-los para a composiccedilatildeo deste capiacutetulo
De acordo com Marcuschi (2008 p 154) toda comunicaccedilatildeo soacute pode ser efetivada
por meio de um gecircnero pois ―eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum gecircnero
assim como eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum texto Partindo dessa
premissa podemos entender que qualquer manifestaccedilatildeo verbal se daacute dentro dos limites dos
gecircneros Eacute por esse motivo que a variedade de gecircneros eacute extensa mas natildeo infinita Atraveacutes
desse conceito observamos que Marcuschi compactua com o conceito bakhtiniano de que os
gecircneros possuem formas padronizadas e finitas
Os gecircneros textuais satildeo os textos que encontramos em nossa vida diaacuteria e que
apresentam padrotildees sociocomunicativos caracteriacutesticos definidos por composiccedilotildees
funcionais objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integraccedilatildeo
de forccedilas histoacutericas sociais institucionais e teacutecnicas (Marcuschi 2008 p 155)
Natildeo devemos considerar os gecircneros textuais como modelos imutaacuteveis e de ―estrutura
riacutegidas A apresentaccedilatildeo dos gecircneros se mostra ligada diretamente ao meio em que circulam
Satildeo formas culturais que tomam forma na liacutengua e que evoluem junto com ela Obviamente
que natildeo podemos deixar de considerar que os gecircneros possuem identidade e eacute atraveacutes dessa
identidade que escolhemos um tipo especiacutefico para cada esfera discursiva Dessa forma
admitimos que os gecircneros limitam nossa accedilatildeo na escrita
Em relaccedilatildeo agrave distinccedilatildeo entre gecircneros Marcuschi (2008) natildeo os distingue pelas formas
linguiacutesticas mas sim pelos seus campos de accedilatildeo Nesse sentido ele reafirma a perspectiva
bakhtiniana de que os gecircneros satildeo dinacircmicos e que por serem soacutecio-histoacutericos natildeo podem
ser contados de modo exaustivo o que dificulta sua classificaccedilatildeo Marcuschi (2008) afirma
que atualmente o objetivo maior nos estudos sobre gecircneros textuais eacute procurar identificar e
explicar como eles satildeo constituiacutedos e como circulam na sociedade
21
Eacute importante apresentar alguns conceitos referentes ao que estamos discutindo sobre
gecircneros do discurso dentre os quais destacamos os conceitos de tipo textual gecircnero textual e
domiacutenio discursivo segundo Marcuschi (2008) levando em consideraccedilatildeo a possibilidade de
se obter melhor entendimento no trato com o texto em si e seus fenocircmenos
O tipo textual eacute definido pelos aspectos linguiacutesticos ou seja por marcas lexicais
tempos verbais estilo relaccedilotildees loacutegicas e aspectos sintaacuteticos Logo relaciona-se mais agraves
sequecircncias linguiacutesticas do que a materializaccedilotildees textuais fazendo com que o conjunto
tipoloacutegico de textos seja limitado e natildeo apresente tendecircncias de aumentar Marcuschi (2002
p22) afirma que os tipos textuais compreendem categorias amplamente conhecidas como
narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo exposiccedilatildeo descriccedilatildeo e injunccedilatildeo que observaremos separadamente a
seguir
A narraccedilatildeo relata um fato que pode ser real ou imaginaacuterio em um tempo e lugar
definidos envolvendo personagens Nesse tipo de texto o tempo verbal predominante eacute o
passado ao menos nos exemplos mais tiacutepicos Eacute predominante em crocircnicas piadas
romances poemas faacutebulas entre outros Vejamos o exemplo a seguir
O cavalo e o burro
O cavalo e o burro seguiam juntos para a cidade O cavalo contente da vida
folgando com uma carga de quatro arrobas apenas e o burro mdash coitado gemendo
sob o peso de oito Em certo ponto o burro parou e disse
ndash Natildeo posso mais Esta carga excede agraves minhas forccedilas e o remeacutedio eacute repartirmos o
peso irmatildemente seis arrobas para cada um
O cavalo deu um pinote e relichou uma gargalhada
ndash Ingecircnuo Quer entatildeo que eu arque com seis arrobas quando posso tatildeo bem
continuar com as quatro Tenho cara de tolo
O burro gemeu
ndash Egoiacutesta Lembre-se que se eu morrer vocecirc teraacute que seguir com a carga de quatro
arrobas e mais a minha
O cavalo pilheriou de novo e a coisa ficou por isso Logo adiante poreacutem o burro
tropica vem ao chatildeo e rebenta
Chegam os tropeiros maldizem a sorte e sem demora arrumam com as oito arrobas
do burro sobre as quatro do cavalo egoiacutesta E como o cavalo refuga datildeo-lhe de
chicote em cima sem doacute nem piedade
ndash Bem feito exclamou o papagaio Quem mandou ser mais burro que o pobre burro
e natildeo compreender que o verdadeiro egoiacutesmo era aliviaacute-lo da carga em excesso
Tome Gema dobrado agorahellip
(LOBATO M 2010 p 85)
Acima podemos observar um exemplo de narraccedilatildeo que eacute uma das faacutebulas de
Monteiro Lobato escrita em grande parte em discurso direto Podemos observar na faacutebula
que o texto eacute conduzido pelo narrador intercalado pela interaccedilatildeo dos personagens A seguir
22
continuaremos a descriccedilatildeo dos tipos textuais e exemplos com o conceito do tipo textual
argumentativo
Jaacute a argumentaccedilatildeo tem por principal caracteriacutestica a construccedilatildeo do convencimento
acerca da validade ou invalidade de um ponto de vista por sobre outro Nesse tipo de texto haacute
a reflexatildeo sobre temas especiacuteficos confrontando perspectivas distintas predominante em
gecircneros como debates resenhas editoriais artigos de opiniatildeo e afins Vejamos o exemplo a
seguir
O povo brasileiro estaacute cansado de tanta corrupccedilatildeo desigualdade de renda serviccedilos
puacuteblicos precaacuterios sensaccedilatildeo de inseguranccedila nas ruas elevada carga tributaacuteria
ineficiecircncia nos gastos puacuteblicos e elevaccedilatildeo da inflaccedilatildeo aleacutem do estilo autoritaacuterio e
inflexiacutevel da presidente O estranho eacute pensar sobre as razotildees que levaram a
populaccedilatildeo agraves ruas no momento atual em que a economia apresentou uma
significativa evoluccedilatildeo em relaccedilatildeo aos anos 80 e 90 aleacutem de presenciar sensiacutevel
melhora na renda meacutedia e na sua distribuiccedilatildeo nos anos 2000
A minha impressatildeo eacute de que depois de sentir a possibilidade de que o paiacutes entraria
em uma rota segura de crescimento da renda e de desenvolvimento econocircmico
(semelhante agrave sensaccedilatildeo que a populaccedilatildeo brasileira presenciou nos anos 70) o
enfraquecimento econocircmico e os sinais cada vez mais claros de que ele eacute resultante
de problemas internos deixaram a populaccedilatildeo transtornada Mais uma vez somos
apenas o paiacutes do futuro (NAKABASHI 2013 Acesso
httpwwwgazetadopovocombropiniaoartigosmanifestacoes-e-governo-no-
brasil-bdcjgu3mm6ql5e18tqoj73c5q)
Observamos acima uma parte de um artigo de opiniatildeo publicado no jornal Gazeta do
Povo em 02072013 por Luciano Nakabashi que trata das manifestaccedilotildees e do governo no
Brasil O autor anuncia primeiro o problema que vai discutir e em seguida lanccedila sua opiniatildeo
sobre o tema o que faz com que esse tipo de texto seja distinto da exposiccedilatildeo que
abordaremos a seguir
A exposiccedilatildeo apresenta informaccedilotildees sobre acontecimentos materiais e objetos de
forma detalhada e especiacutefica e por isso costuma lanccedilar matildeo de recursos como a descriccedilatildeo
informaccedilatildeo enumeraccedilatildeo comparaccedilatildeo e contrastes O tipo expositivo eacute caracteriacutestico de
gecircneros como as aulas expositivas verbetes de dicionaacuterios notiacutecias jornaliacutesticas entre
outros Vejamos o exemplo
Dianoia Termo grego que pode ser traduzido por pensamento intelecto
espiacuterito A dianoia eacute o pensamento discursivo enquanto elaboraccedilatildeo explicitaccedilatildeo
ou desenvolvimento da noese ou nous isto eacute da razatildeo intuitiva que capta de
modo imediato o real (Aristoacuteteles Tratado da alma III) Neste sentido a dianoia eacute
inferior ao nous jaacute que depende deste (MARCONDES e JAPIASSUacute 2001 p54)
23
Tomamos como exemplo de exposiccedilatildeo um verbete de um dicionaacuterio de filosofia
Podemos observar que os autores apresentam a palavra ―dianoia e em seguida conceituam a
dianoia a partir da perspectiva de um filoacutesofo especiacutefico (neste caso Aristoacuteteles)
O tipo textual descriccedilatildeo por sua vez eacute o relato particular de eventos e entidades e se
relaciona comumente com outros tipos em inuacutemeros gecircneros textuais Eacute caracteriacutestico em
cartazes promocionais anuacutencio de classificados entre outros Vamos observar agora um
exemplo de descriccedilatildeo atraveacutes da anaacutelise de uma obra de arte de Salvador Dali de 1955
intitulada ―A uacuteltima ceia
―Sua cena estaacute contida num retacircngulo Uma imensa janela ao fundo representada
por um dodecaedro (figura geomeacutetrica de 12 lados que sua vez satildeo pentaacutegonos ou
seja possuem cinco acircngulos cada um) domina toda a composiccedilatildeo
Jesus Cristo e seus 12 apoacutestolos estatildeo reunidos numa sala moderna envidraccedilada
Ele ocupa o centro da mesa de pedra o centro da tela e o centro do pentaacutegono
frontal do dodecaedro Cristo estaacute de frente para o observador contudo seu corpo
transluacutecido permite ver o mar e um barco o que indica que ele natildeo mais eacute humano
mas divino A sensaccedilatildeo que temos eacute de que seu corpo emerge de dentro do mar
Diante de Cristo sobre a mesa estatildeo um copo com vinho e as duas bandas do patildeo
jaacute repartido o que nos permite concluir que Daliacute pintou o momento da Eucaristia A
presenccedila dos barcos no mar remete aos ―pescadores de homens
A mesa eacute formada por um bloco retangular Doze apoacutestolos debruccedilam-se sobre ela
sendo trecircs agrave esquerda de Cristo e trecircs agrave direita Nas suas extremidades estatildeo quatro
apoacutestolos sendo dois de cada lado De costa para o observador estatildeo mais dois
deles Todos estatildeo com as cabeccedilas baixas Um dos apoacutestolos diverge dos demais ao
usar uma toga amarela O pintor queria com certeza diferenciaacute-lo Portanto tanto
pode ser Pedro o fundador da Igreja ou Judas o traidor
No alto com a cabeccedila invisiacutevel e com parte do tronco visiacutevel e os braccedilos abertos
Deus Pai humanizado abraccedila toda a cena como se aguardasse a chegada do Filho
que se encontra entre os homens Ao fundo um mar tranquilo com rochas
espalhadas e um ceacuteu cheio de nuvens compotildeem o segundo plano da tela (Viacuterus da
arte amp cia ndash Site brasileiro especializado em arte e cultura Disponiacutevel em
httpvirusdaartenetdali-a-ultima-ceia)
Acima podemos observar a descriccedilatildeo de uma obra de arte do pintor catalatildeo Salvador
dali retirado de uma paacutegina sobre arte Como o nome do tipo textual sugere a descriccedilatildeo tem
por objetivo descrever fatos mas tambeacutem caracteriacutesticas para objetos paisagens e situaccedilotildees
diversas No exemplo que utilizamos para descriccedilatildeo observamos a descriccedilatildeo de uma obra de
arte por parte de um espectador demonstrando detalhes do que estaacute impresso na pintura
assim como uma interpretaccedilatildeo da cena
O uacuteltimo tipo textual que consideraremos aqui eacute o tipo injuntivo que tem por objetivo
instruir o leitor ou persuadi-lo a fazer algo ou adotar algum ponto de vista Tambeacutem tem
como caracteriacutestica a induccedilatildeo do interlocutor a proceder de uma ou outra forma Geralmente
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eacute escrito no modo imperativo e eacute caracteriacutestico de gecircneros como a bula de remeacutedio os
manuais de instruccedilotildees receitas culinaacuterias e contratos Vale ressaltar que dentro dos textos
injuntivos podem-se encontrar outros tipos de texto como por exemplo descriccedilotildees de
objetos endereccedilos procedimentos etc Vejamos o exemplo a seguir
Bolo simples
Tempo de preparo 40 minutos
Rendimento 12 porccedilotildees
Ingredientes
2 xiacutecaras de accediluacutecar
3 xiacutecaras de farinha de trigo
4 colheres de margarina bem cheias
3 ovos
1 frac12 xiacutecara de leite aproximadamente
1 colher (sopa) de fermento bem cheia
Modo de preparo
1) Bata as claras em neve
2) Reserve
3) Bata bem as gemas com a margarina e o accediluacutecar
4) Acrescente o leite e a farinha aos poucos sem parar de bater
5) Por uacuteltimo agregue as claras em neve e o fermento
6) Coloque em forma grande de furo central untada e enfarinhada
7) Asse em forno meacutedio preacute-aquecido por aproximadamente 40 minutos
8) Quando espetar um palito e sair limpo estaraacute assado
(httpwwwtudogostosocombrreceita29124-bolo-simpleshtml Acesso em
20042014)
No exemplo uma receita culinaacuteria podemos observar que haacute descriccedilatildeo na primeira
parte (a lista de ingredientes) e na segunda parte (modo de preparo) que eacute a mais
nitidamente injuntiva encontramos instruccedilotildees de como proceder na execuccedilatildeo da receita
Aleacutem da classificaccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo dos tipos de texto eacute interessante observarmos
tambeacutem a definiccedilatildeo de gecircneros textuais e domiacutenio discursivo conforme Marcuschi (2008)
Os gecircneros textuais satildeo definidos como ―textos materializados em situaccedilotildees
comunicativas recorrentes (MARCUSCHI 2008 p155) que apresentam caracteriacutesticas
soacutecio-comunicativas marcadas pelos conteuacutedos e pelas propriedades referentes agraves funccedilotildees e
composiccedilatildeo Diferente dos tipos textuais que se restringem a cerca de meia duacutezia como
afirma Marcuschi (2008) ―os gecircneros satildeo inuacutemeros Tambeacutem haacute de ressaltar que satildeo
culturalmente e historicamente formados visto que evoluem no mesmo passo que as
comunidades
O domiacutenio discursivo por sua vez eacute a esfera de atividade humana em que os textos
circulam Ele natildeo eacute um texto em si mas proporciona o surgimento de discursos especiacuteficos
Para ilustrar podemos citar alguns domiacutenios como discurso religioso discurso juriacutedico etc
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O domiacutenio eacute constituiacutedo por praacuteticas do discurso nas quais podemos identificar uma seacuterie de
gecircneros que possuem a mesma proposta discursiva como o tema e as praacuteticas institucionais
ou informais
As definiccedilotildees aqui trazidas de gecircnero tipo domiacutenio discursivo satildeo muito mais
operacionais do que formais e seguem de perto a posiccedilatildeo bakhtiniana Assim para a
noccedilatildeo de tipo textual predomina a identificaccedilatildeo de sequecircncias linguiacutesticas como
norteadora e para a noccedilatildeo de gecircnero textual predominamos criteacuterios de padrotildees
comunicativos accedilotildees propoacutesitos e inserccedilatildeo sociohistoacuterica No caso dos domiacutenios
discursivos natildeo lidamos propriamente com textos e sim com formaccedilotildees histoacutericas e
sociais que originam os discursos Eles ainda natildeo se acham bem definidos e
oferecem alguma resistecircncia mas seguramente sua definiccedilatildeo deveria ser na base de
criteacuterios etnograacuteficos antropoloacutegicos e socioloacutegicos e histoacutericos (MARCUSCHI
2008 p 158 Grifos do autor)
Nessa perspectiva faz-se necessaacuterio apresentarmos o papel dos gecircneros textuais como
controle social Como jaacute vimos anteriormente segundo Bakhtin (2000) toda atividade
discursiva humana se daacute atraveacutes de algum gecircnero e eacute tambeacutem por esse motivo que haacute uma
consideraacutevel pluralidade de gecircneros Marcuschi (2008) afirma que os gecircneros satildeo
―necessaacuterios para a interlocuccedilatildeo humana Assim para cada esfera de atividade humana
certos gecircneros especiacuteficos satildeo considerados mais ou menos adequados Na esfera
empresarial por exemplo temos que nos adequar agraves formalidades dos gecircneros de redaccedilatildeo
oficial como os ofiacutecios atas circulares e relatoacuterios Na academia apresentamos nossas
produccedilotildees atraveacutes de dissertaccedilotildees artigos cientiacuteficos teses e relatoacuterios de projetos No meio
publicitaacuterio encontramos as propagandas anuacutencios de diversos tipos Enfim satildeo inuacutemeras as
esferas de discurso domiacutenios discursivos e gecircneros textuais atrelados a estes
Marcuschi (2008) enfatiza que o controle social por gecircneros discursivos eacute
incontornaacutevel mas natildeo determinista De acordo com o autor noacutes temos liberdade para nos
expressarmos em qualquer esfera discursiva Poreacutem temos que admitir que a sociedade eacute
constituiacuteda por uma ―maacutequina discursiva logo somos moldados a ela de forma intuitiva e
os gecircneros textuais constituem um poderoso instrumento desta maacutequina Quanto maior a
nossa inserccedilatildeo na sociedade maior o controle social Por exemplo natildeo satildeo todas as pessoas
que podem expedir um mandato de seguranccedila escrever uma dissertaccedilatildeo de mestrado
ministrar uma aula de fiacutesica quacircntica ou publicar uma coluna em um jornal Eacute nessa
perspectiva que Marcuschi (2008) afirma veemente o direcionamento dos gecircneros textuais
para com o envolvimento social e suas especificidades
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A partir das consideraccedilotildees apresentadas a respeito dos gecircneros textuais dedicamos a
seccedilatildeo a seguir para a caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual
conforme relatamos na introduccedilatildeo deste capiacutetulo
12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL
O certificado de garantia ou termo de garantia eacute um documento oferecido por
prestadoras de serviccedilos fabricantes de produtos diversos ou de qualquer outro segmento que
envolva comercializaccedilatildeo de bens duraacuteveis com a funccedilatildeo de formalizar os direitos e deveres
do consumidor e do fabricante para com o estado fiacutesico e funcional do produto em vista de
problemas de qualquer natureza
Eacute tambeacutem uma espeacutecie de contrato visto que consiste fundamentalmente na
combinaccedilatildeo de interesses de partes sobre algo Aleacutem de ―certificado de garantia
utilizaremos tambeacutem a nomenclatura ―termo de garantia tendo em vista que o documento
do certificado de garantia e o termo em si estatildeo internamente ligados A expressatildeo ―termo de
garantia eacute usada no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20
de marccedilo de 1997
Art 50 A garantia contratual eacute complementar agrave legal e seraacute conferida mediante
termo escrito
Paraacutegrafo uacutenico O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e
esclarecer de maneira adequada em que consiste a mesma garantia bem como a
forma o prazo e o lugar em que pode ser exercitada e os ocircnus a cargo do
consumidor devendo ser-lhe entregue devidamente preenchido pelo fornecedor no
ato do fornecimento acompanhado de manual de instruccedilatildeo de instalaccedilatildeo e uso de
produto em linguagem didaacutetica com ilustraccedilotildees (Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do
Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20 de marccedilo de 1997 p 30)
Em linhas gerais o documento eacute composto por quatro partes garantia contratual
garantia legal condiccedilotildees para validade da garantia contratual e legal condiccedilotildees natildeo cobertas
pela garantia legal e contratual Vejamos um exemplo de certificado de garantia
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ILUSTRACcedilAtildeO 1 Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario
_de_ar_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Observamos na primeira parte a disposiccedilatildeo da garantia contratual ou seja a garantia
oferecida pelo fabricante
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ILUSTRACcedilAtildeO 2 Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar
_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Na segunda parte encontramos a disposiccedilatildeo da garantia legal ou seja a garantia
assegurada pelo Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do consumidor
ILUSTRACcedilAtildeO 3 Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c
ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Em seguida vemos as condiccedilotildees de validade da garantia legal e contratual composta
por uma lista exaustiva de itens a serem considerados
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ILUSTRACcedilAtildeO 4 Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c
ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
E por fim encontramos as condiccedilotildees natildeo cobertas pela garantia legal e contratual
assim como observaccedilotildees gerais
ILUSTRACcedilAtildeO 5 Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar
_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Em relaccedilatildeo agrave estrutura padratildeo dos certificados de garantia a partir do corpus
analisado nesta pesquisa observou-se que o texto que se refere agrave garantia em si corresponde a
menos da metade do documento Grande parte do documento se dedica agrave restriccedilatildeo de
possibilidades de cobertura assim como observaccedilotildees gerais quanto agraves responsabilidades do
fabricante diante de situaccedilotildees como despesas referentes agrave locomoccedilatildeo para depoacutesito do
produto para assistecircncia documentaccedilatildeo necessaacuteria para apresentaccedilatildeo na assistecircncia etc
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O termo de garantia eacute vinculado diretamente ao Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do
consumidor O coacutedigo estabelece um padratildeo abrangente de formulaccedilatildeo do documento
constando recomendaccedilotildees como o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo necessidade do
acompanhamento do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto assim como clareza na
disposiccedilatildeo dos prazos de garantia legal e contratual
Como discutimos na primeira parte desse capiacutetulo Bakhtin (2000) propotildee que trecircs
dimensotildees constituem os gecircneros de discurso conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo
composicional Iremos a seguir apresentar como estas dimensotildees satildeo percebidas nesse
gecircnero textual
Como conteuacutedo temaacutetico do gecircnero certificado de garantia temos a veiculaccedilatildeo de
direitos e deveres do fabricante e do consumidor O documento apresenta listas exaustivas de
accedilotildees que possibilitam ou natildeo o uso do termo de garantia assim como instruccedilotildees gerais para
a realizaccedilatildeo desse ato Esse conteuacutedo pode variar em parte e apenas questotildees referentes agrave
garantia legal natildeo podem mudar pois estaacute prevista no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do
Consumidor
Em relaccedilatildeo ao estilo observamos nos certificados a utilizaccedilatildeo da norma padratildeo
Busca-se construir um texto claro e objetivo para que dessa forma natildeo haja problemas de
interpretaccedilatildeo para o consumidor Nesse gecircnero natildeo haacute identificaccedilatildeo de quem escreve de
maneira particular como observamos em gecircneros do tipo carta A identificaccedilatildeo do autor eacute
geralmente atribuiacuteda agrave empresa que oferece a garantia O estilo individual que eacute
caracteriacutestico em diversos gecircneros como o artigo de opiniatildeo e cartas pessoais natildeo cabe para
os certificados Como se trata de um texto instrucional esse gecircnero apresenta-se de forma
objetiva de modo que natildeo haacute a necessidade praacutetica da identificaccedilatildeo de quem escreve
Quanto agrave estrutura composicional em linhas gerais tal gecircnero segue uma sequecircncia
de apresentaccedilatildeo em duas etapas Em um primeiro momento apresenta-se o termo de garantia
em si no qual eacute descrito o direito do consumidor em relaccedilatildeo agrave garantia assim como sua
validade No segundo momento parte mais extensa do texto haacute a apresentaccedilatildeo de listas
supostamente exaustivas referentes aos casos que natildeo satildeo cobertos pela garantia assim como
as instruccedilotildees gerais para o reclame do direito Essa sequecircncia de apresentaccedilatildeo do documento
eacute variaacutevel Haacute certificados que satildeo inclusos no manual de instruccedilatildeo do produto (geralmente
na uacuteltima paacutegina) Haacute certificados que satildeo destacados o documento eacute apresentado agrave parte de
qualquer outro texto
Se retomarmos a classificaccedilatildeo dos gecircneros do discurso de Bakhtin (2000) entre
primaacuterios (simples) e secundaacuterios (complexos) podemos considerar que o certificado de
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garantia estaacute inserido nos gecircneros complexos pois se trata de um documento elaborado de
forma sistemaacutetica no qual haacute necessidade de um aprofundamento social complexo com
caracterizaccedilotildees e descriccedilotildees bem delimitadas
Quanto ao tipo de texto dentro do que foi proposto por Marcuschi (2008) o
certificado de garantia se enquadra no tipo injuntivo porque eacute um texto instrucional com
predominacircncia do modo imperativo nas frases e eacute composto pela listagem de uma seacuterie de
procedimentos a serem observados e seguidos com listas exaustivas contendo direitos e
deveres do fabricante e do consumidor O objetivo do documento eacute oferecer ao cliente todas
as informaccedilotildees relacionadas agrave validade da garantia os casos em que haacute perda da validade e os
casos em que os problemas apresentados se enquadram como defeitos de fabricaccedilatildeo
O certificado de garantia se caracteriza como um gecircnero textual a partir da
perspectiva de Marcuschi (2008) pois eacute um texto que possui caracteriacutesticas soacutecio-discursivas
bem delimitadas com conteuacutedo padratildeo obedecendo a uma mesma linha temaacutetica e foi
constituiacutedo socialmente O gecircnero foi criado a partir da necessidade juriacutedica de resguardar os
fabricantes e consumidores de produtos industrializados e afins quanto agrave possibilidade de
apresentaccedilatildeo de defeitos ou falhas
De posse dos conhecimentos gerais sobre os gecircneros textuais que apresentamos e da
caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual partiremos no proacuteximo
capiacutetulo para a apresentaccedilatildeo das teorias que serviratildeo de aporte teoacuterico para a compreensatildeo
das anaacutelises realizadas no capiacutetulo 3
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2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS
Neste capiacutetulo tratamos dos nexos semacircnticos ou ―nexos de significado dos quais
consideramos para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica
contraditoriedade e contrariedade Caracterizamos cada um deles utilizando exemplos em
linguagem natural com o intuito de demonstrar o funcionamento dessas relaccedilotildees assim como
mostrar quando tais exemplos deixam de apresentar o nexo Nosso intuito final eacute de oferecer
uma base para a compreensatildeo das anaacutelises que viratildeo no capiacutetulo posterior
Para entendermos melhor o que satildeo os nexos semacircnticos devemos compreender a
distinccedilatildeo entre a semacircntica e a pragmaacutetica que satildeo linhas de estudos linguiacutesticos inter-
relacionaacuteveis Uma definiccedilatildeo bastante difundida da semacircntica e tambeacutem bastante geral eacute
encontrada em Trask (2004 p 261) que diz que a semacircntica eacute o ramo da linguiacutestica que
estuda o significado e em Chierchia (2003 p 7) para quem a semacircntica eacute um estudo do
significado das expressotildees das liacutenguas naturais Podemos tambeacutem caracterizar a semacircntica
destacando a relaccedilatildeo do usuaacuterio da liacutengua e o significado que ele atribuiu agraves palavras que
compotildeem sentenccedilas como propotildee Pires de Oliveira (2001 p 42) Jaacute a pragmaacutetica por outro
lado tambeacutem estuda o significado das liacutenguas naturais mas trata das intenccedilotildees que os
falantes supostamente revelam a partir do uso de sentenccedilas
Para o termo ―pragmaacutetica haacute diversas possibilidades de definiccedilatildeo Levinson (2007)
procura mostrar as implicaccedilotildees que algumas definiccedilotildees podem ter em relaccedilatildeo a outros
estudos Assim podemos citar pelo menos dois conceitos de pragmaacutetica para Levinson
―pragmaacutetica eacute o estudo de todos os aspectos do significado natildeo capturados em uma teoria
semacircntica (Levinson 2007 p14) assim como ―pragmaacutetica eacute o estudo das relaccedilotildees entre
liacutengua e contexto que satildeo gramaticalizadas ou codificadas na estrutura de um liacutengua
(Levinson 2007 p 11) Podemos perceber que nessas duas definiccedilotildees Levinson tanto atribui
agrave pragmaacutetica a responsabilidade sobre aquilo que estaacute aleacutem da semacircntica quanto destaca a
relaccedilatildeo de liacutengua e contexto Jaacute em Wilson (2008) encontramos as definiccedilotildees que Yule
(1996) apresenta para a pragmaacutetica
a) pragmaacutetica eacute o estudo do significado sob o ponto de vista do falante b)
pragmaacutetica eacute o estudo do significado contextual (isto eacute leva em conta o modo como
os falantes organizam seus enunciados aquilo que eles querem dizer de acordo com
os seguintes fatores a quem vatildeo dizer como vatildeo dizer onde e quando vatildeo dizer e
sob que circunstacircncias) c) pragmaacutetica eacute o estudo do como se diz aleacutem daquilo que eacute
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dito (isto eacute o estudo do significado subjacente do natildeo dito d) pragmaacutetica eacute o
estudo da expressatildeo da proximidadedistanciamento relativo (isto eacute de acordo com
o tipo de proximidade fiacutesica social ou conceitual em relaccedilatildeo aos ouvintes os
falantes determinam como e quanto precisam dizer) (WILSON 2008 p 89)
A discussatildeo sobre as definiccedilotildees de pragmaacutetica e semacircntica e suas distinccedilotildees vem
desde o iniacutecio do seacuteculo XX e muitos autores contribuiacuteram para a evoluccedilatildeo desses conceitos
Em vista desta histoacuterica discussatildeo apresentaremos os conceitos de Charles Morris e Rudolf
Carnap para estas disciplinas linguiacutesticas
Segundo a definiccedilatildeo de Charles Morris (1938) pragmaacutetica eacute o estudo da ―relaccedilatildeo dos
signos com seus inteacuterpretes Jaacute para Rudolf Carnap (1938) a pragmaacutetica eacute o estudo da
linguagem em relaccedilatildeo aos seus falantes Diante dos conceitos de semacircntica e pragmaacutetica que
apresentamos e da distinccedilatildeo entre as linhas de estudos linguiacutesticos Marcondes (2000) afirma
que ―tanto a definiccedilatildeo de Morris quanto a de Carnap fazem parte da jaacute consagrada distinccedilatildeo
geral do campo de estudos da linguagem entre pragmaacutetica que considera a linguagem em
seu uso concreto e semacircntica que examina os signos linguiacutesticos em sua relaccedilatildeo com os
objetos que designam ou a quem se refere Os nexos semacircnticos estatildeo inseridos no campo da
semacircntica e voltaremos a este ponto no final do capiacutetulo
Sobre as relaccedilotildees semacircnticas haacute diversas perspectivas nos estudos linguiacutesticos A
forma como combinamos as palavras e nossa tendecircncia em buscar um conceito fixo de um
termo satildeo complicaccedilotildees que podem dificultar o uso da liacutengua O significado linguiacutestico das
liacutenguas naturais segundo Basso (2009) possibilita nexos semacircnticos entre sentenccedilas E
ainda sobre o significado Basso propotildee
Quando perguntamos o significado de alguma palavra muitas vezes buscamos
aquele modelo significativo presente nos dicionaacuterios Poreacutem natildeo haacute no dicionaacuterio
maneiras preacute-estabelecidas de como uma palavra pode se combinar com outra em
busca da trama de significados dos nexos que favorecem infinitas interpretaccedilotildees
Essas combinaccedilotildees satildeo decorrentes do proacuteprio uso da liacutengua pelos seus falantes
mas natildeo estatildeo nem presentes nos dicionaacuterios nem tampouco algueacutem nos ensina satildeo
conhecimentos impliacutecitos Uma aacuterea da linguiacutestica moderna defende que o nosso
conhecimento semacircntico e um dote geneacutetico portanto os possiacuteveis nexos
semacircnticos satildeo decorrentes de uma capacidade inata de combinaccedilatildeo de palavras e
sentenccedilas parte do conhecimento semacircntico impliacutecito ou competecircncia semacircntica
(BASSO 2009 p 25)
Os nexos semacircnticos satildeo caracterizados na literatura da semacircntica como grupos de
relaccedilotildees de inferecircncia muito estaacuteveis direcionaacuteveis e fortemente dependentes do material
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linguiacutestico dos enunciados (SANTOS 2012) Essas relaccedilotildees diferem de perspectivas de
inferecircncias como a pressuposiccedilatildeo e a implicatura que dialogam diretamente com o natildeo-dito
Para contrastar os nexos com esses outros tipos de relaccedilatildeo vamos observar os exemplos a
seguir
(1) Carlos parou de beber refrigerante
(2) A tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio
Seguindo a mesma linha de exposiccedilatildeo de Moura (1999 p 12) a partir das duas
sentenccedilas acima observamos dois niacuteveis nas informaccedilotildees veiculadas No primeiro niacutevel
temos contato com o sentido literal das palavras Dessa forma em (1) temos a informaccedilatildeo de
Carlos natildeo toma mais refrigerantes e em (2) que Maacuterio escreveu uma tese sobre bolhas de
sabatildeo No segundo niacutevel atraveacutes da enunciaccedilatildeo das sentenccedilas somos levados a considerar
informaccedilotildees que natildeo estatildeo afirmadas literalmente nas sentenccedilas Dessa forma a partir de (1)
podemos inferir que Carlos bebia refrigerantes antes e em (2) que uma tese sobre bolhas de
sabatildeo jaacute foi escrita Ducrot (1987) denomina de conteuacutedo posto o primeiro niacutevel que
consiste no conteuacutedo literal das sentenccedilas e de conteuacutedo pressuposto ou pressuposiccedilatildeo o
segundo niacutevel que abarca as inferecircncias que podemos fazer a partir da enunciaccedilatildeo das
sentenccedilas Devemos entender que o conteuacutedo posto depende do conteuacutedo pressuposto pois a
aceitaccedilatildeo do primeiro leva a aceitaccedilatildeo do segundo Para que possamos aceitar a verdade do
posto (1) que diz que Carlos parou de beber refrigerante temos que aceitar a verdade
pressuposta de que Carlos jaacute tinha bebido refrigerante antes
Outra relaccedilatildeo semacircntica que dialoga diretamente com o natildeo-dito eacute a implicatura
Grice (1987) propotildee dois tipos de implicaturas as implicaturas convencionais que natildeo satildeo
sujeitas a condiccedilotildees de verdade e as implicaturas conversacionais que natildeo dependem
diretamente da significaccedilatildeo usual das palavras sendo determinadas por certos princiacutepios
baacutesicos do ato comunicativo
As implicaturas convencionais satildeo inferecircncias natildeo sujeitas a condiccedilotildees de verdade
natildeo satildeo derivadas de princiacutepios pragmaacuteticos mais gerais como as maacuteximas conversacionais
mas satildeo simplesmente ligadas pela convenccedilatildeo a itens ou expressotildees lexicais especiacuteficos
Levinson (2007) toma a implicatura conversacional como uma das ideias mais
importantes da pragmaacutetica e vamos considerar neste trabalho apenas as implicaturas do tipo
conversacional de forma que quando mencionarmos o termo implicatura devemos entender
que estamos falando das implicaturas conversacionais e natildeo das convencionais
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Para exemplificar uma implicatura vamos supor uma situaccedilatildeo entre dois amigos em
que ao dialogar sobre as uacuteltimas defesas de teses e dissertaccedilotildees do departamento de poacutes-
graduaccedilatildeo deparam-se com a notiacutecia de que um de seus colegas escreveu uma tese sobre um
tema muito irrelevante e nada original Diante desta situaccedilatildeo um amigo disse para o outro ―A
tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio A partir da situaccedilatildeo em que os dois amigos
estavam imersos nesse contexto e da sentenccedila utilizada por um dos amigos podemos inferir
que foi Maacuterio quem escreveu uma tese sobre um tema irrelevante Podemos perceber neste
exemplo que como descrito nas definiccedilotildees que trouxemos anteriormente a implicatura por
ser uma relaccedilatildeo puramente pragmaacutetica utiliza-se do natildeo-dito e de situaccedilotildees convencionadas
entre falantes para poder existir
Dessa forma podemos retomar o que foi exposto nos paraacutegrafos anteriores afirmando
que os nexos semacircnticos as pressuposiccedilotildees e as implicaturas satildeo inferecircncias de significado
sendo que os nexos estatildeo no campo da semacircntica e as pressuposiccedilotildees e implicaturas estatildeo no
campo da pragmaacutetica
A partir deste ponto iremos descrever os nexos semacircnticos com exemplos mostrando
como essas relaccedilotildees funcionam e tambeacutem casos em que a interpretaccedilatildeo natildeo acontece da
maneira esperada Em relaccedilatildeo aos casos em que a interpretaccedilatildeo eacute prejudicada trataremos de
casos relacionados com a ambiguidade lexical mais especificamente com vagueza e casos
relacionados com a polissemia (desconsiderando seus limites com a homoniacutemia)
21 ACARRETAMENTO
Em linhas gerais o acarretamento ocorre quando a verdade de um conjunto de
sentenccedilas1 que nomearemos de A garante a verdade de outra sentenccedila que nomearemos de
B Dessa forma a verdade da primeira sentenccedila ou do conjunto delas autoriza a verdade de B
(CHIERCHIA 2003) O acarretamento eacute uma inferecircncia que os falantes estatildeo autorizados a
fazer e o que os autoriza eacute o conhecimento linguiacutestico Vamos observar o exemplo a seguir
1 Em nosso trabalho utilizaremos os termo ldquosentenccedilardquo e ldquoproposiccedilatildeordquo intercambiavelmente Alguns autores
definem os dois termos de formas distintas Por exemplo na semacircntica contemporacircnea de mundos possiacuteveis desenvolvida por autores como por exemplo Kripke e Lewis define-se proposiccedilatildeo como a classe de todos os mundos possiacuteveis nas quais ela eacute verdadeira Murcho (2006) apresenta dois exemplos para distinguir proposiccedilotildees e sentenccedilas ldquoSoacutecrates era um filoacutesofordquo e ldquoSocrates was a philosopherrdquo Murcho afirma que os dois exemplos satildeo duas sentenccedilas que exprimem uma uacutenica proposiccedilatildeo Outros como Mortari (2001) natildeo distinguem proposiccedilotildees e sentenccedilas
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(3) alsquo Neymar eacute brasileiro
a Neymar eacute um jogador de futebol
b Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro
Podemos observar no exemplo acima que a sentenccedila (3b) tem a sua verdade garantida
pela verdade de (3alsquo) e (3a) Sendo assim (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Podemos observar
no exemplo que o acarretamento eacute bastante claro pois as informaccedilotildees que estatildeo presentes em
(3b) satildeo a soma das informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) Eacute interessante destacar
que para que a sentenccedila (3b) constitua um acarretamento de (3alsquo) e (3a) natildeo precisamos
conhecer a pessoa Neymar nem sua nacionalidade eou profissatildeo Como as informaccedilotildees
estatildeo postas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) a verdade de (3b) eacute inevitaacutevel Mesmo que no mundo
real Neymar natildeo fosse jogador de futebol e natildeo fosse brasileiro isso em nada modificaria o
acarretamento pois dentro da relaccedilatildeo estabelecida entre (3alsquo) (3a) e (3b) as informaccedilotildees
contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Vejamos o exemplo a seguir
(4) alsquo Todos os sacis tecircm apenas uma perna
a Denis Diderot eacute um saci
b Denis Diderot tem apenas uma perna
Observando o exemplo acima identificamos que em relaccedilatildeo ao conhecimento de
mundo a sentenccedila (4alsquo) eacute verdadeira jaacute que no folclore admitimos como uma caracteriacutestica
dos sacis ter apenas uma perna A sentenccedila (4a) eacute falsa pois Denis Diderot foi um filoacutesofo e
escritor francecircs e natildeo um saci Por fim a sentenccedila (4b) tambeacutem eacute falsa em relaccedilatildeo ao nosso
conhecimento de mundo pois Denis Diderot possuiu durante toda a sua vida as duas pernas
Podemos entatildeo admitir que as sentenccedilas do conjunto (4) em relaccedilatildeo ao nosso conhecimento
de mundo satildeo falsas Mesmo assim o conjunto eacute um acarretamento Diferente do exemplo
(3) em que trouxemos sentenccedilas que constituiacuteam um acarretamento com informaccedilotildees
verdadeiras em relaccedilatildeo ao mundo o exemplo (4) mostra que a relaccedilatildeo semacircntica que estamos
discutindo independe da verdade das informaccedilotildees das sentenccedilas no mundo O que o
acarretamento faz eacute concatenar as sentenccedilas de uma forma que se as premissas forem
verdadeiras a conclusatildeo tambeacutem seraacute verdadeira O acarretamento depende exclusivamente
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da forma em que as sentenccedilas se apresentam Tendo em vista que a relaccedilatildeo depende apenas
da forma podemos representar o acarretamento da seguinte maneira como propotildee Soares
(2003)
Em liacutengua natural
Se estudar entatildeo serei aprovado (1ordf premissa)
Ora estudei (2ordf premissa)
Logo fui aprovado (Conclusatildeo)
E simbolizando2
a rarr b (1ordf premissa)
a (2ordf premissa)
b (Conclusatildeo)
Vale ressaltar que ao utilizarmos o termo ―sentenccedila estamos nos referindo ao que os
gramaacuteticos costumam chamar de oraccedilatildeo Tambeacutem eacute interessante mencionar que o
acarretamento eacute chamado de consequecircncia semacircntica Iremos utilizar como representaccedilatildeo das
premissas sentenccedilas do tipo (Xalsquo) e (Xa) e para a conclusatildeo sentenccedilas do tipo (Xb)
Podemos entender que o acarretamento eacute um tipo de relaccedilatildeo estabelecida entre
premissas e a consequecircncia de forma que a verdade das premissas determina a verdade da
consequecircncia Tambeacutem devemos entender que natildeo eacute possiacutevel que as premissas sejam
verdadeiras junto da negaccedilatildeo da conclusatildeo pelo fato de que dessa forma estaria
descaracterizada a relaccedilatildeo de acarretamento
Como ressaltamos acima os acarretamentos satildeo dependentes da forma ou seja da
relaccedilatildeo que as sentenccedilas possuem entre si e natildeo da verdade ou falsidade no mundo das
informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas Diante disso traremos agrave tona exemplos de sentenccedilas que
2 O siacutembolo ldquorarrrdquo na loacutegica claacutessica representa um condicional assunto de que trataremos no terceiro capiacutetulo
deste trabalho e o siacutembolo ldquordquo representa um acarretamento
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natildeo possuem relaccedilatildeo semacircntica mas atraveacutes da verdade ou falsidade das informaccedilotildees nas
sentenccedilas podem nos confundir e nos induzir ao erro Para tal raciociacutenio errocircneo damos o
nome de falaacutecias
Soares (2003) distingue trecircs caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias (i) satildeo
argumentos parecidos com argumentos vaacutelidos (ii) estabelecem entre premissas e conclusotildees
uma relevacircncia puramente psicoloacutegica que tatildeo-soacute se dirige agraves emoccedilotildees da pessoa sem que as
premissas sejam logicamente relevantes para extrair a conclusatildeo (iii) apresentam-se com
intenccedilatildeo enganadora para que o argumento ainda que invaacutelido seja de todas as maneiras
aceito por todos Vejamos a seguir exemplos de falaacutecias
(5) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher
a Dilma Rousseff eacute mulher
b Dilma Rousseff eacute a presidente do Brasil
A partir do nosso conhecimento de mundo poderiacuteamos dizer que a sentenccedila (5b) eacute
verdadeira Na sentenccedila (5alsquo) temos que A presidente do Brasil eacute mulher De fato tambeacutem se
formos utilizar nosso conhecimento de mundo intuitivamente diremos que esta sentenccedila estaacute
correta considerando a eacutepoca em que este trabalho foi escrito Seguindo temos a sentenccedila
(5a) com a informaccedilatildeo Dilma Rousseff eacute mulher Assim como as sentenccedilas (5alsquo) e (5a) a
partir de nosso conhecimento de mundo podemos afirmar que esta sentenccedila tambeacutem eacute
verdadeira mas devemos entender que eacute preciso considerar a relaccedilatildeo que as sentenccedilas
estabelecem entre si A sentenccedila (5alsquo) natildeo estabelece nenhuma relaccedilatildeo com a sentenccedila (5a)
para que (5b) seja um acarretamento Para mostrar de forma mais clara que o exemplo (5) natildeo
eacute um acarretamento vamos comparaacute-lo com o exemplo a seguir
(6) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher
a Michelle Bachelet eacute mulher
b Michelle Bachelet eacute a presidente do Brasil
Observamos que (6alsquo) e (6a) satildeo verdadeiras (no momento da redaccedilatildeo deste
trabalho) mas (6b) nos parece estranho Sabemos que Michelle Bachelet atualmente eacute
presidente do Chile Mas nada disso interfere para caracterizar um acarretamento e o exemplo
acima foi para deixar claro que a partir das relaccedilotildees semacircnticas dispostas entre os grupos de
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sentenccedilas (5) e (6) natildeo podemos considerar que haacute acarretamento pelo fato acima
mencionado
Ateacute o momento tratamos do conceito de acarretamento seguido de exemplos em
liacutengua natural sua representaccedilatildeo na loacutegica claacutessica e exemplos de falaacutecias A partir deste
ponto trataremos dos fatores que interferem nas relaccedilotildees semacircnticas de uma forma diferente
das falaacutecias A compreensatildeo dos tipos de interferecircncias a seguir seraacute importante para a anaacutelise
do corpus deste trabalho pois se trata de interferecircncias lexicais
No exemplo a seguir trataremos de um problema que pode invalidar relaccedilotildees
semacircnticas a polissemia Quando um termo adquire mais de um sentido aleacutem daquele que eacute
originalmente atribuiacutevel temos um caso de polissemia Crystal (1985) conceitua polissemia
da seguinte maneira
Polissemia termo usado na anaacutelise semacircntica para caracterizar um item lexical com
uma variedade de significaccedilotildees diferentes como manga = ―parte da camisa ―parte
do abajur etc Uma grande parte do vocabulaacuterio da liacutengua eacute polissecircmica ()
(Crystal 1985 p 202)
Tendo em vista que a polissemia eacute uma caracteriacutestica de um item lexical que possui
diversos significados para diversos contextos vamos observar o exemplo a seguir
(7) a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito
b Joatildeo morreu
A sentenccedila (7a) pode ser interpretada pelo menos de duas formas distintas pelo fato da
expressatildeo ―perdeu a cabeccedila ser polissecircmica Se interpretarmos a sentenccedila (7a) considerando
―perder a cabeccedila como ter a cabeccedila desprendida do corpo haacute acarretamento de (7a) para
(7b) Mas esta natildeo eacute a uacutenica interpretaccedilatildeo possiacutevel para a expressatildeo em questatildeo Se
interpretarmos ―perder a cabeccedila como perder a paciecircncia ficar furioso estressado ou algo
parecido a sentenccedila (7a) natildeo acarreta (7b) numa mesma situaccedilatildeo pois o fato de Joatildeo ter
perdido a paciecircncia natildeo garante que ele venha a morrer Dessa forma para natildeo ter problemas
com a polissemia eacute preciso assegurar que se convencione um sentido uacutenico para cada
premissa para desta forma haver um acarretamento
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Outro aspecto que eacute preciso ser mencionado eacute que (7) do jeito que se apresenta natildeo eacute
um acarretamento mesmo que perder a cabeccedila tenha o sentido de ter a cabeccedila desprendida do
corpo Isso se daacute porque (7) eacute um acarretamento incompleto ou seja um entimema
Argumento com uma premissa natildeo-formulada sem a qual ele natildeo eacute vaacutelido Chama-
se muitas vezes de premissa impliacutecitalsquo agrave premissa natildeo formulada Na argumentaccedilatildeo
cotidiana omitem-se premissas oacutebvias A premissa impliacutecita do argumento Antocircnio
deveria ser despedido porque roubou dinheiro puacuteblicolsquo eacute Todas as pessoas que
roubam dinheiro puacuteblico devem ser despedidaslsquo (BRANQUINHO MURCHO
GOMES 2006 p 298)
Vamos observar o exemplo (7) de uma forma que o entimema seria evitado
(8) alsquo Todas as pessoas que perdem a cabeccedila morrem
a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito
b Joatildeo morreu
Podemos constatar no exemplo acima que ao incluirmos a sentenccedila (8alsquo) que eacute a
sentenccedila geral que estava impliacutecita no exemplo (7) resolvemos o problema do entimema
completando assim a relaccedilatildeo de acarretamento de (8alsquo) e (8a) para (8b)
A partir de agora vamos tratar de outro tipo de interferecircncia em relaccedilotildees sentencias
que estaacute tambeacutem no campo do leacutexico a vagueza
A vagueza eacute assim como a polissemia um tipo de ocorrecircncia que dificulta a
interpretaccedilatildeo dos nexos entre sentenccedilas Podemos considerar que haacute vagueza em uma
sentenccedila quando observamos que uma palavra ou expressatildeo causa sentido incompleto
impedindo o entendimento da sentenccedila como um todo Branquinho Murcho e Gomes
conceituam a vagueza de seguinte maneira
As liacutenguas naturais contecircm palavras (tipicamente predicados denotando
propriedades ou relaccedilotildees) cujo domiacutenio de aplicaccedilatildeo eacute parcialmente indeterminado
isto eacute em relaccedilatildeo agraves quais os falantes competentes natildeo estatildeo certos em todos os
casos de que determinado objeto (ou par ordenado de objetos) pertence ao conjunto
denotado por elas (ou agrave relaccedilatildeo) (BRANQUINHO MURCHO GOMES 2006 p
805)
De uma forma geral Allan (2010) caracteriza a vagueza como um tipo particular de
incerteza sobre a aplicaccedilatildeo de um predicado Podemos considerar como um exemplo padratildeo
de predicado vago a classe de adjetivos graduaacuteveis como altura Se uma determinada pessoa
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natildeo eacute suficientemente alta para ser claramente alta e natildeo eacute suficiente baixa para ser
claramente baixa entatildeo aiacute temos um caso de vagueza
Os adjetivos vagos satildeo sempre utilizados em relaccedilatildeo a uma classe de comparaccedilatildeo no
dia-a-dia Estar acima do peso por exemplo pode variar a partir do grau de comparaccedilatildeo Para
uma top model estar acima do peso eacute visto de forma diferente do que para um lutador de
sumocirc por exemplo
Ainda em relaccedilatildeo ao conceito de vagueza Kempson (1977) propotildee que existem
quatro tipos inter-relacionaacuteveis de vagueza vagueza referencial indeterminaccedilatildeo de
significado falta de especificaccedilatildeo no significado de um item disjunccedilatildeo na especificaccedilatildeo do
significado de um item em que o significado abarca uma ou qualquer declaraccedilatildeo de diversas
possibilidades de interpretaccedilatildeo Dentre estes quatro tipos propostos por Kempson iremos nos
dedicar a observar os casos relacionados agrave vagueza referencial Tendo em vista os conceitos
acima vamos observar um exemplo em que a vagueza pode prejudicar a interpretaccedilatildeo de um
acarretamento
(9) a Tobias eacute um gecircnio no xadrez
b Tobias eacute um bom jogador de xadrez
No exemplo acima podemos observar os termos vagos ―gecircnio na sentenccedila (9a) e
―bom na sentenccedila (9b) Para haver a relaccedilatildeo de acarretamento temos que admitir para (9a) e
(9b) o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe Por exemplo haacute acarretamento entre as
sentenccedilas (9a) e (9b) se Tobias for um garoto de oito anos e diante seus colegas da escola ele
se destacar como um exiacutemio conhecedor das regras e teacutecnicas do jogo de xadrez Dessa
forma a sentenccedila ―Tobias eacute um gecircnio no xadrez acarretaria que ―Tobias eacute um bom jogador
de xadrez Jaacute se natildeo utilizarmos o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas
(9a) e (9b) como por exemplo se em (9a) Tobias for um garoto de oito anos que diante de
seus colegas da escola se destaca como um exiacutemio jogador de xadrez mas comparando-o
com os competidores da categoria secircnior do campeonato mundial de xadrez e a partir disso
afirmando (9b) natildeo poderiacuteamos acarretar que Tobias eacute um bom jogador de xadrez Dessa
forma pudemos observar que a presenccedila de termos vagos em sentenccedilas dificulta a
interpretaccedilatildeo dos acarretamentos A seguir observaremos outros nexos que se relacionam com
o acarretamento
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22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA
Como discutimos anteriormente o acarretamento eacute uma relaccedilatildeo semacircntica que ocorre
em um uacutenico sentido ou seja das premissas para a conclusatildeo Quando uma conclusatildeo
acarreta as premissas chamamos essa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica
Para o termo ―equivalecircncia haacute diversas definiccedilotildees Segundo Branquinho Murcho e
Gomes (2006 p 281) podemos identificar dois sentidos distintos para este termo o primeiro
se refere ao que tratamos neste trabalho ou seja faz referecircncia a relaccedilatildeo entre as sentenccedilas de
certa liacutengua o segundo trata de determinados tipos de sentenccedilas declarativas agraves frases
bicondicionais ou declarativas Dentro desses dois sentidos diversos para o termo
―equivalecircncia no primeiro que eacute o que mais nos interessa os autores ainda distinguem trecircs
variedades centrais de equivalecircncia Satildeo elas equivalecircncia material equivalecircncia estrita e
equivalecircncia loacutegica
A equivalecircncia material eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q (por
exemplo) exatamente quando p e q possuem o mesmo valor de verdade ou seja quando ou
satildeo as duas verdadeiras juntas ou satildeo as duas falsas juntas
A equivalecircncia estrita eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q no caso em
que eacute necessaacuterio que p seja materialmente equivalente a q ou no caso de ser impossiacutevel tanto
que p seja verdadeira e q seja falsa quanto que p seja falsa e q seja verdadeira Branquinho
Murcho e Gomes (2006 p 281) afirmam que nesse caso diz-se que p eacute estritamente
equivalente a q
A equivalecircncia loacutegica eacute uma relaccedilatildeo que se estabelece entre duas sentenccedilas p e q
exatamente no caso de p e q serem duas sentenccedilas mutuamente dedutiacuteveis num dado sistema
loacutegico Diz-se nesse caso que p eacute logicamente equivalente a q
Em nosso trabalho iremos considerar para ―equivalecircncia o sentido apresentado por
Branquinho Murcho e Gomes (2006) para equivalecircncia material A partir deste conceito
vamos observar o exemplo a seguir
(10) a O gato matou o rato
b O rato foi morto pelo gato
Nas sentenccedilas acima podemos identificar uma relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica Eacute
impossiacutevel que o gato tenha matado o rato e que o rato natildeo tenha sido morto Claro que se
43
considerarmos que estamos tratando sobre o mesmo gato e o mesmo rato Dessa forma
sempre que (10a) for verdadeira (10b) tambeacutem teraacute de ser Tambeacutem podemos observar uma
relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica no exemplo (3) Utilizamos o exemplo (3) para mostrar
uma relaccedilatildeo de acarretamento que eacute efetiva mas tambeacutem haacute a relaccedilatildeo de equivalecircncia pois
as premissas ―Neymar eacute brasileiro e ―Neymar eacute um jogador de futebol acarretam que
―Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro da mesma forma que esta uacuteltima sentenccedila
acarreta as duas anteriores Tal exemplo reafirma o conceito descrito acima de que uma
equivalecircncia semacircntica eacute um acarretamento duplo
Assim como acontece no acarretamento a equivalecircncia semacircntica tem problemas com
a polissemia Vamos observar exemplo a seguir
(11) a O Brasil ganhou o jogo contra o Chile
b O Chile perdeu o jogo contra o Brasil
No exemplo acima vemos que a sentenccedila (11a) acarreta a sentenccedila (11b) ao mesmo
tempo em que a sentenccedila (11b) acarreta a sentenccedila (11a) Natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (11a)
seja verdadeira ao mesmo tempo em que a (11b) seja falsa Se uma das sentenccedilas eacute falsa e a
outra eacute verdadeira natildeo haacute acarretamento em nenhum dos dois ―sentidos (em relaccedilatildeo agrave
direccedilatildeo de (11a) para (11b) e de (11b) para (11a)) Natildeo podemos considerar que o Brasil
ganhou o jogo contra o Chile e que o Chile ganhou o jogo contra o Brasil pois sabemos que
em uma partida de futebol haacute apenas um ganhador Haacute a possibilidade de algueacutem querer ir
mais aleacutem e inferir que eacute possiacutevel que os dois times ganharam mas em jogos diferentes Se
considerarmos a situaccedilatildeo de que o Chile jaacute ganhou outros jogos contra o Brasil assim como
que o Brasil jaacute ganhou outros jogos contra o Chile a relaccedilatildeo de equivalecircncia seria possiacutevel
escolhendo qualquer outro jogo como referecircncia mas natildeo eacute o que nos interessa pois
devemos considerar apenas uma situaccedilatildeo para as duas sentenccedilas
A partir deste ponto iremos tratar sobre como a polissemia pode interferir na
interpretaccedilatildeo numa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica da mesma forma que mostramos
anteriormente nas relaccedilotildees de acarretamento Vejamos o proacuteximo exemplo
44
(12) a A lagosta estaacute mais salgada que o peixe
b O peixe estaacute menos salgado que a lagosta
Podemos observar que as sentenccedilas (12a) e (12b) satildeo equivalentes pelo fato de que
natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12a) seja verdadeira e a sentenccedila (12b) seja falsa assim como
natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12b) seja verdadeira e a sentenccedila (12a) seja falsa Poreacutem se
passarmos a admitir significados diferentes para expressotildees empregadas nas sentenccedilas por
exemplo para a palavra ―salgado encontraremos problemas Se admitirmos que sentenccedila
(12a) o conceito de ―salgado eacute de o alimento estar impregnado de sal salpicado de sal ou
com gosto de sal e se este conceito for tambeacutem considerado para a sentenccedila (12b) haacute
equivalecircncia semacircntica Mas tambeacutem podemos interpretar o termo ―salgado como uma
expressatildeo para se referir ao preccedilo alto do produto no mercado Soacute haacute equivalecircncia semacircntica
se admitirmos o mesmo conceito para ―salgado em ambas as sentenccedilas ou seja se
considerarmos o significado de ―salgado como sendo impregnado de sal para a sentenccedila
(12a) ou em (12b) como sendo relativo ao valor alto no mercado natildeo haacute equivalecircncia
semacircntica entre (12a) e (12b)
No proacuteximo exemplo trataremos de outro tipo de ocorrecircncia que dificulta a
interpretaccedilatildeo de nexos a vagueza Como jaacute apresentamos a definiccedilatildeo de vagueza na seccedilatildeo
anterior partiremos direto para o exemplo em que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo de uma
equivalecircncia semacircntica
(13) a Goacutergias eacute mais saacutebio que Hiacutepias
b Hiacutepias eacute menos saacutebio que Goacutergias
Na relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) haacute equivalecircncia semacircntica mas podemos identificar
que nas duas sentenccedilas foram utilizados termos vagos que tornam a interpretaccedilatildeo dificultosa
Em (13a) haacute o uso dos termos ―mais e ―saacutebio assim como em (13b) haacute o uso dos termos
―menos e ―saacutebio Esses termos satildeo vagos e dificultam a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo semacircntica
entre as sentenccedilas O que dificulta a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) eacute o fato de
que termos como ―mais e ―menos assim como ―saacutebio possuem significados diferentes de
acordo com as situaccedilotildees em que satildeo utilizadas Ou seja eacute necessaacuterio que admitamos o
45
mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas (13a) e (13b) Dessa forma haveraacute a
relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica
A seguir trataremos sobre outro tipo de relaccedilatildeo semacircntica entre sentenccedilas a
contraditoriedade
23 CONTRADITORIEDADE
Diferente da relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica que consiste em sentenccedilas que satildeo
verdadeiras juntas ou falsas juntas as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias quando uma eacute oposta da
outra tipicamente quando uma sentenccedila B eacute a negaccedilatildeo de uma sentenccedila A Sobre a relaccedilatildeo de
contraditoriedade Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 229) afirmam que ―obteacutem-se a
contraditoacuteria de qualquer proposiccedilatildeo p prefixando-lhe o operador de negaccedilatildeo de modo a
obter notp3 Com base no conceito de contraditoriedade exposto vamos observar o exemplo a
seguir
(14) a O Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016
b O Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016
Podemos observar no exemplo acima que se a sentenccedila (14a) for verdadeira
obrigatoriamente a sentenccedila (14b) tem que ser falsa Se a informaccedilatildeo da sentenccedila (14a) que
diz que o Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas for verdadeira a informaccedilatildeo da sentenccedila
(14b) que diz que o Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas natildeo pode ser verdadeira
Em relaccedilotildees de contraditoriedade o uso de uma afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo eacute algo
tiacutepico mas natildeo determinante No exemplo (14) pudemos observar a relaccedilatildeo de
contraditoriedade caracterizada pelo uso da negaccedilatildeo mas tambeacutem podemos encontrar esse
tipo de relaccedilatildeo sem tal uso Vejamos a seguir
3 O siacutembolo not na loacutegica claacutessica eacute a representaccedilatildeo do operador de negaccedilatildeo ldquonatildeordquo
46
(15) a Mecircnon estaacute acordado
b Mecircnon estaacute dormindo
A partir das sentenccedilas acima podemos ver que a relaccedilatildeo entre estas sentenccedilas eacute de
contraditoriedade pois se a sentenccedila (15a) for verdadeira a sentenccedila (15b) tem que ser falsa
da mesma forma que se a sentenccedila (15b) for verdadeira a sentenccedila (15a) deveraacute ser falsa
Natildeo eacute possiacutevel que Mecircnon esteja acordado e dormindo ao mesmo tempo claro que
considerando o mesmo sentido para as palavras ―acordado e ―dormindo nas duas sentenccedilas
e em relaccedilatildeo ao mesmo Mecircnon
Assim como as demais relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos anteriormente a
contraditoriedade tambeacutem eacute sensiacutevel agrave polissemia Vamos observar como a polissemia se
apresenta no exemplo a seguir
(14) a A minha gata estaacute acordada
b A minha gata estaacute dormindo
No exemplo acima natildeo encontramos apenas a relaccedilatildeo de contraditoriedade sem
utilizaccedilatildeo da negaccedilatildeo mas tambeacutem um problema de polissemia que pode anular a relaccedilatildeo de
contraditoriedade Se numa determinada situaccedilatildeo escrevendo este texto me viro na cadeira e
vejo em cima de minha cama o meu animal de estimaccedilatildeo deitado olhando para mim e com
isso afirmo ―a minha gata estaacute acordada como na sentenccedila (14a) natildeo posso considerar
verdadeira a sentenccedila (14b) pois natildeo se pode estar dormindo e estar acordado ao mesmo
tempo tomando as definiccedilotildees de ―estar acordado e ―estar dormindo como oposiccedilotildees A
partir disso as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias Se em outra situaccedilatildeo me viro na cadeira e vejo
minha esposa deitada na cama dormindo e afirmo ―a minha gata estaacute dormindo como na
sentenccedila (14b) ela natildeo pode ser verdadeira ao mesmo tempo em que a sentenccedila (14a) pois
minha esposa natildeo poderia estar acordada e dormindo ao mesmo tempo Ateacute o momento
pudemos atribuir dois sentidos diferentes para o termo ―gata Se considerarmos para a
sentenccedila (14a) o sentido de que o meu animal de estimaccedilatildeo estaacute acordado e para a sentenccedila
(14b) o sentido de que a minha esposa estaacute dormindo essas sentenccedilas natildeo satildeo contraditoacuterias
No exemplo acima percebemos portanto dois aspectos da contradiccedilatildeo em sentenccedilas de uma
liacutengua natural como o portuguecircs Primeiro que natildeo haacute a obrigatoriedade de ter a negaccedilatildeo de
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uma sentenccedila para que a relaccedilatildeo de contraditoriedade exista e segundo que a polissemia
pode tornar problemaacutetica essa relaccedilatildeo
Podemos considerar uma relaccedilatildeo de contraditoriedade entre sentenccedilas sempre que A eacute
verdadeira B eacute falsa e sempre que a sentenccedila B eacute verdadeira A eacute falsa Ou seja as sentenccedilas
A e B nunca podem ser verdadeiras ou falsas juntas
O exemplo de contraditoriedade que mostramos anteriormente foi relacionando duas
sentenccedilas mas podemos encontrar a relaccedilatildeo de contraditoriedade dentro de uma sentenccedila
apenas Vamos observar o exemplo a seguir
(15) Herbert Vianna eacute cantor e natildeo eacute cantor
Se afirmamos que uma pessoa eacute e natildeo eacute cantora constatamos uma contraditoriedade
nesta sentenccedila Em (15) encontramos a apresentaccedilatildeo de um argumento e a negaccedilatildeo do mesmo
argumento em seguida Uma sentenccedila com esta forma natildeo pode ser verdadeira Se
consideramos numa mesma situaccedilatildeo que Herbert Vianna eacute cantor e em seguida afirmo que
Herbert Vianna natildeo eacute cantor esta sentenccedila eacute contraditoacuteria
Se partirmos para determinar sentidos diferentes para o termo ―cantor como por
exemplo que Herbert Vianna eacute um cantor pelo simples fato de que ele emite pelas cordas
vocais sons musicais que ―cantor eacute um termo que soacute pode ser utilizado para os profissionais
que trabalham com a voz na muacutesica ou que ―cantor se jaacute um termo utilizado para designar
algueacutem que canta muito bem natildeo haacute contraditoriedade efetivamente Mas se mantivermos o
mesmo sentido para o termo haveraacute relaccedilatildeo de contraditoriedade
Da mesma forma que a polissemia dificulta a interpretaccedilatildeo de nexos entre sentenccedilas
vamos observar um exemplo em que a vagueza ndash toacutepico que desenvolvemos na primeira
seccedilatildeo deste capiacutetulo - invalida uma relaccedilatildeo de contraditoriedade
(16) a O professor de loacutegica eacute muito alto
b O professor de loacutegica natildeo eacute muito alto
Na relaccedilatildeo entre (16a) e (16b) seguindo o conceito contraditoriedade haacute uma relaccedilatildeo
de contradiccedilatildeo entre as duas sentenccedilas poreacutem podemos identificar termos vagos nas duas
sentenccedilas o que pode dificultar a interpretaccedilatildeo Na sentenccedila (16a) e na sentenccedila (16b)
48
identificamos dois termos vagos que satildeo ―muito e ―alto Eacute possiacutevel considerar as duas
sentenccedilas como falsas ou verdadeiras juntas invalidando a contraditoriedade pois os termos
―muito e ―alto satildeo variaacuteveis de acordo com o grau de comparaccedilatildeo adotado Por exemplo
em (16a) o professor de loacutegica pode ser considerado muito alto em comparaccedilatildeo agraves crianccedilas
para quem ele leciona poreacutem se compararmos o professor de loacutegica da sentenccedila (16a) com os
outros professores do departamento talvez o professor fosse considerado baixo Desta forma
podemos observar que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo das duas sentenccedilas
A seguir traremos o uacuteltimo nexo semacircntico que utilizaremos em nosso trabalho Este
tipo de relaccedilatildeo eacute um pouco parecido com a contraditoriedade
24 CONTRARIEDADE
A contrariedade ocorre quando duas sentenccedilas podem ser falsas juntas mas natildeo
podem ser verdadeiras juntas Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 234) definem
contrariedade da seguinte forma ―duas proposiccedilotildees satildeo contraacuterias se natildeo podem ser ambas
verdadeiras mas podem ser ambas falsas distinguindo-se assim das contraditoacuterias que natildeo
podem ser ambas verdadeiras nem ambas falsas e das subcontraacuterias que natildeo podem ser
ambas falsas mas podem ser ambas verdadeiras
Eacute importante enfatizar que mesmo estando tratanto dos nexos semacircnticos e sua
aplicaccedilatildeo em liacutengua natural os conceitos de sentenccedilas contraacuterias contraditoacuterias
equivalecircncias e acarretamentos tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica As relaccedilotildees de sentenccedilas
contraacuterias e contraditoacuterias satildeo tratadas por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado
atraveacutes de seu quadrado loacutegico ou taacutebua de oposiccedilotildees No Perieacutermeneas (1985) mais
especificamente nos capiacutetulos 6 e 7 Aristoacuteteles nos apresenta os conceitos de sentenccedilas
contraacuterias e contraditoacuterias afirmando que duas sentenccedilas satildeo contraacuterias quando natildeo podem
ser verdadeiras juntas ao mesmo tempo mas podem ser falsas juntas ao mesmo tempo Jaacute em
relaccedilatildeo agraves contraditoacuterias Aristoacuteteles propotildee que toda afirmaccedilatildeo possui sua exata negaccedilatildeo
correspondente e que toda afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo sem opotildeem sendo uma sempre
verdadeira e a outra sempre falsa Dessa forma para Aristoacuteteles um par formado por uma
afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo corresponde a uma contradiccedilatildeo
A partir do conceito de contrariedade vamos observar o exemplo a seguir Nele
encontraremos um caso de polissemia
49
(17) a A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 20 de agosto de 1914
b A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 18 de julho de 1921
Se admitirmos que a seleccedilatildeo brasileira de futebol sobre a qual estamos falando na
sentenccedila (17a) eacute a mesma seleccedilatildeo que estamos falando na sentenccedila (17b) natildeo eacute possiacutevel que
a sentenccedila (17b) seja verdadeira pois algo natildeo pode ser fundado efetivamente em dois
momentos distintos Haacute a possibilidade de se afirmar que estamos falando de duas seleccedilotildees
brasileiras de futebol diferentes pois para ―seleccedilatildeo brasileira haacute diversos significados
aplicaacuteveis ou seja a expressatildeo ―seleccedilatildeo brasileira eacute polissecircmica Por exemplo podemos
definir uma seleccedilatildeo como sendo de futebol de campo e a outra de futebol de salatildeo A partir
dessa interpretaccedilatildeo as duas sentenccedilas poderiam ser verdadeiras juntas e com isso natildeo
haveria contrariedade Mas como devemos admitir apenas uma situaccedilatildeo para as duas
sentenccedilas (17a) e (17b) natildeo podem ser verdadeiras juntas mas podem ser falsas juntas
constituindo uma relaccedilatildeo de contrariedade Eacute possiacutevel que a seleccedilatildeo brasileira de futebol natildeo
tenha sido formada nem em 20 de agosto de 1914 e nem em 18 de julho de 1921 Em
contrapartida numa interpretaccedilatildeo usual a seleccedilatildeo de futebol de um paiacutes eacute formada pela
primeira vez uma soacute vez Algueacutem pode querer ir aleacutem e afirmar que foram empregados
sentidos diferentes para a expressatildeo ―foi formada nas sentenccedilas em questatildeo Poderia dizer
que na sentenccedila (17a) o sentido foi de que a seleccedilatildeo se reuniu pela primeira vez para jogarem
juntos de forma extraoficial e que na sentenccedila (17b) o sentido foi de que a seleccedilatildeo
efetivamente foi documentalmente formada Se admitiacutessemos essas interpretaccedilotildees as
sentenccedilas (17a) e (17b) poderiam ser verdadeiras juntas o que descaracterizaria a relaccedilatildeo de
contrariedade entre as sentenccedilas Assim como o fato de que se a sentenccedila (17a) for falsa a
sentenccedila (17b) pode ser verdadeira ou falsa A falsidade da sentenccedila (17a) natildeo assegura a
verdade da sentenccedila (17b) Podemos entender dessa forma que a polissemia afeta a
interpretaccedilatildeo do nexo
Vamos observar mais um exemplo desta relaccedilatildeo
(18) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado do Acre
b A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado de Santa Catarina
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Se considerarmos a sentenccedila (18a) verdadeira ou seja que a reitoria da UNISUL estaacute
localizada no estado do Acre e tambeacutem levando em conta que a UNISUL eacute uma universidade
que tem uma reitoria e que a reitoria de uma universidade soacute pode estar numa cidade a
sentenccedila (18b) deveraacute ser falsa A sentenccedila (18a) eacute falsa e a sentenccedila (18b) eacute verdadeira e as
duas estabelecem uma relaccedilatildeo de contrariedade A reitoria da UNISUL estaacute localizada no
estado de Santa Catarina e natildeo no estado do Acre A partir desse exemplo e da convenccedilatildeo que
admitimos para ele pudemos observar que se uma sentenccedila A for falsa uma sentenccedila B pode
ser falsa ou verdadeira natildeo podendo ser as duas verdadeiras juntas apenas falsas Ilustrando
mais uma vez veja a relaccedilatildeo a seguir
(19) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Paris
b A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Roma
No exemplo acima podemos afirmar que as sentenccedilas (19a) e (19b) podem ser falsas
pois como jaacute citamos no paraacutegrafo anterior a reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado
de Santa Catarina Dessa forma haacute relaccedilatildeo de contrariedade as duas sentenccedilas satildeo falsas
Jaacute tratamos de exemplos da relaccedilatildeo de contrariedade com problemas de polissemia
mas podemos tambeacutem identificar problemas de validade dos nexos por causa da vagueza A
seguir observe o exemplo
(20) a Este cafeacute estaacute forte
b Este cafeacute estaacute aguado
Observando as sentenccedilas acima identificamos que (20a) e (20b) possuem termos
vagos que podem dificultar a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre as sentenccedilas Em (20a) foi usado
o termo ―forte e em (20b) foi usado o termo ―aguado Como nas outras relaccedilotildees que
apresentamos anteriormente esses termos satildeo vagos pois dependendo da classe de
comparaccedilatildeo em que satildeo apresentados eles podem mudar de sentido Eacute possiacutevel que numa
determinada situaccedilatildeo consideremos que um cafeacute pode natildeo estar nem forte nem fraco
autorizando a possibilidade de (20a) e (20b) serem as duas falsas ao mesmo tempo
descaracterizando a relaccedilatildeo de contrariedade Dessa forma podemos observar que os termos
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vagos dificultam a interpretaccedilatildeo das sentenccedilas consequentemente da relaccedilatildeo que as
sentenccedilas estabelecem entre si Concluindo a exposiccedilatildeo dos nexos que nos interessam neste
trabalho apresentaremos a seguir a justificativa de nosso percurso sobre estas relaccedilotildees
semacircnticas e os tipos de ocorrecircncias que podem dificultar a interpretaccedilatildeo destas
25 JUSTIFICANDO O PERCURSO
Neste capiacutetulo apresentamos inicialmente os conceitos de semacircntica e pragmaacutetica
com o objetivo de mostrar que os nexos semacircnticos que tratamos em nosso trabalho
(acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e contrariedade) satildeo tipos de
inferecircncias que pertencem ao campo da semacircntica Para isso tambeacutem apresentamos duas
inferecircncias que pertencem ao campo da pragmaacutetica (pressuposiccedilatildeo e implicatura)
Na exposiccedilatildeo de cada nexo trouxemos os conceitos seguidos de exemplos em que a
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees semacircnticas eacute clara Em seguida apresentamos exemplos de nexos
com dois tipos de ocorrecircncias que no campo do leacutexico dificultam a interpretaccedilatildeo das
relaccedilotildees semacircnticas a polissemia e a vagueza
Pode parecer confuso a princiacutepio o fato de tratarmos de tipos de inferecircncia que
dependem da forma para se concretizarem (os nexos semacircnticos) relacionando-as com
ocorrecircncias que dificultam o entendimento do conteuacutedo das sentenccedilas (a polissemia e a
vagueza) A confusatildeo se apresenta caso natildeo lembremos que estamos tratando das relaccedilotildees de
inferecircncias em liacutengua natural e natildeo numa liacutengua controlada como num sistema loacutegico por
exemplo
Quando afirmamos que as relaccedilotildees entre sentenccedilas que tratamos em nosso trabalho
dependem da forma falamos de uma ―dessemantificaccedilatildeo ou seja a existecircncia dos nexos vai
depender unicamente da semacircntica dos quantificadores e conectivos (e ou se) Os nexos natildeo
dependem da semacircntica restante do material linguiacutestico exposto na sentenccedila A semacircntica dos
conectivos e quantificadores numa linguagem formal eacute mantida estaacutevel por definiccedilatildeo Na
linguagem natural podemos observar que os tipos de ocorrecircncia que dificultam a
interpretaccedilatildeo dos nexos se fazem presentes justamente no restante do material linguiacutestico da
sentenccedila ou seja para aleacutem da estrutura da sentenccedila que eacute composta pelos quantificadores e
demais conectivos
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A polissemia e a vagueza satildeo ocorrecircncias tiacutepicas de liacutengua natural e dessa forma
somos obrigados a admitir que ao nos depararmos com qualquer gecircnero textual (que
obviamente estaacute no campo das liacutenguas naturais) numa anaacutelise devemos considerar que o
significado das palavras vai naturalmente interferir nas relaccedilotildees semacircnticas Tambeacutem na
exposiccedilatildeo de tipos de ocorrecircncias que interferem nos nexos semacircnticos tratamos de falaacutecias
que satildeo argumentos invaacutelidos apresentados como vaacutelidos explorando justamente a
interpretaccedilatildeo do conteuacutedo das sentenccedilas
A partir dos nexos semacircnticos que tratamos neste capiacutetulo junto com os tipos de
inferecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees no capiacutetulo seguinte
apresentaremos a anaacutelise de certificados de garantia Como o nosso objetivo eacute analisar quais
satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados nos certificados para restringir possibilidades de
interpretaccedilatildeo decidimos realizar a anaacutelise de ocorrecircncias com conectivos e quantificadores
Consideramos pertinente a escolha desse tipo de anaacutelise pois entendemos que os
quantificadores como o ―todo satildeo tradicionalmente apresentados em relaccedilotildees semacircnticas de
restriccedilatildeo ou abrangecircncia assim como o condicional ―se ou ―somente se e o ―apenas e
―somente A partir desse raciociacutenio acreditamos que esta seria a forma mais correta para
identificarmos ocorrecircncias do tipo que precisamos para a realizaccedilatildeo de nossa anaacutelise Os
nexos semacircnticos natildeo satildeo propiacutecios para as liacutenguas naturais pois natildeo se apresentam de forma
controlada Ocorrecircncias lexicais como as que descrevemos anteriormente podem dificultar a
interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees e isso eacute algo que trataremos nas anaacutelises
Eacute nesta perspectiva que observaremos no capiacutetulo seguinte as anaacutelises de vinte e dois
certificados de garantia nos quais natildeo buscaremos relaccedilotildees bem marcadas e controladas entre
sentenccedilas pois natildeo encontrariacuteamos facilmente mas sim quais satildeo os recursos linguiacutesticos
utilizados pelos autores dos textos para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo
admitindo tambeacutem obviamente os nexos semacircnticos como possiacuteveis recursos
53
3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA
Os certificados de garantia satildeo textos muito presentes em nosso cotidiano e muitas das
vezes noacutes natildeo levamos em conta a sua importacircncia tanto por serem documentos que podem
resguardar nossos direitos sobre um determinado produto quanto pelo fato de natildeo sermos
treinados para ler e interpretar devidamente as informaccedilotildees dispostas nos textos Dessa
forma justificamos a escolha de tal gecircnero para analisarmos em nossa pesquisa Ateacute este
momento de nosso trabalho seguimos o seguinte percurso
1) Mostramos no primeiro capiacutetulo que na elaboraccedilatildeo de certificados de garantia o
autor deve se preocupar em construir o texto buscando restringir ao maacuteximo as
possibilidades de interpretaccedilatildeo para que ele se torne mais eficiente em passar as
informaccedilotildees desejadas e para evitar problemas de interpretaccedilatildeo por parte dos
clientes
2) Tendo em vista que os certificados de garantia satildeo textos instrucionais ou seja
que direcionam a leitura para um fim especiacutefico nossa anaacutelise tem por objetivo
verificar quais satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores destes textos
para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo e para alcanccedilar este objetivo nos
utilizaremos da teoria dos nexos semacircnticos apresentada no segundo capiacutetulo
Como anunciado na introduccedilatildeo o corpus dessa pesquisa eacute formado por 22
certificados de garantia de produtos de diversos segmentos Ele foi coletado utilizando a
internet e natildeo teve um meacutetodo definido de categorizaccedilatildeo na escolha dos textos Decidimos
escolher certificados de diversos segmentos para natildeo obtermos uma anaacutelise viciada e tambeacutem
para obtermos um panorama da estrutura textual
Como analisaremos os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores dos certificados
de garantia para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo elegemos trecircs categorias de
termos a serem analisadas quantificadores universais condicionais e uso do apenassomente
A escolha dessas categorias se deve ao fato delas possuiacuterem tradicionalmente funccedilotildees de
restriccedilatildeo ou abrangecircncia em inferecircncias
Assim como na loacutegica de predicados a silogiacutestica se caracteriza pelo uso dependente
em argumentos dos quantificadores ―alguns e ―todos Nomeamos de quantificador
existencial ou particular aqueles referentes a ―alguns e nomeamos de quantificador universal
aqueles referentes a ―todos (MURCHO 2006) Utilizaremos em nossa pesquisa agraves
ocorrecircncias com quantificadores do segundo tipo Vejamos um exemplo ilustrativo
54
(21) TODO produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia
Possivelmente natildeo encontraremos em nossa anaacutelise nenhuma sentenccedila como esta pois
vemos que o quantificador universal destacado em letras maiuacutesculas abrange totalmente a
possibilidade de cobertura da garantia de um produto Da forma que estaacute expressa se compro
uma TV por exemplo e a mergulho na aacutegua causando defeito poderei receber outra nova do
fabricante pois ―todo produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia
Sobre os condicionais trataremos a anaacutelise na mesma linha de raciociacutenio pois eles
satildeo utilizados em proposiccedilotildees do tipo ―se X entatildeo Y oportunizando abrangecircncia ou
restriccedilatildeo de possibilidades de interpretaccedilatildeo como podemos ver ilustrado no exemplo a
seguir
(22) SE o produto apresentar defeito seraacute reparado gratuitamente
Da mesma forma como mostramos no exemplo anterior provavelmente natildeo
encontraremos sentenccedilas tatildeo abrangentes em nosso corpus como esta pois da forma como
estaacute posta ampliaria muito a possibilidade de cobertura da garantia de um produto Podemos
interpretar a partir da leitura da sentenccedila acima que o reparo do produto seraacute efetuado caso o
produto apresente qualquer defeito por qualquer motivo durante qualquer periacuteodo de tempo
sendo utilizado por qualquer pessoa e em qualquer circunstacircncia entre outras possibilidades
Para reparar tamanha abrangecircncia os autores dos textos podem utilizar listas exaustivas com
detalhes especiacuteficos apoacutes a apresentaccedilatildeo dos condicionais para direcionar efetivamente a
cobertura da garantia
Por fim em relaccedilatildeo ao uso dos termos ―apenas e ―somente analisaremos os termos
nos contextos que os autores buscam restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos textos
Vejamos o exemplo a seguir
(22) Estaratildeo cobertos pela garantia APENAS os produtos que natildeo estatildeo em
promoccedilatildeo
55
No exemplo acima tambeacutem inventado vemos que o ―apenas aparece como um
restritor da garantia deixando claro que soacute os produtos que foram adquiridos pelos preccedilos
normais ou seja fora da promoccedilatildeo estaratildeo cobertos pela garantia Dessa forma produtos em
promoccedilatildeo ficam descobertos
Com os conceitos sobre as categorias de anaacutelise dispostos acima apresentaremos a
seguir a anaacutelise dos trechos coletados em nosso corpus separada por tipos de ocorrecircncia
Iremos observar como se apresentam os quantificadores condicionais ocorrecircncias com o
apenassomente assim como observaremos os tipos de ocorrecircncias no campo do leacutexico que
dificultam a interpretaccedilatildeo dos trechos (polissemia e vagueza)
31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL
Vejamos a seguir as ocorrecircncias4 em que o quantificador universal eacute utilizado
5
(1) Este produto e as peccedilas substituiacutedas seratildeo garantidos pelo restante do
prazo original TODAS as peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades
da SAMSUNG
Podemos observar na ocorrecircncia acima que o fabricante utiliza o quantificador para
fazer com que o leitor infera que absolutamente todas as peccedilas que forem substituiacutedas na
assistecircncia a algum aparelho defeituoso se tornaratildeo propriedade da fabricante Dessa forma o
cliente natildeo poderaacute em hipoacutetese alguma ficar com a peccedila trocada
Percebemos no trecho acima que o quantificador universal ―todas poderia ser
excluiacutedo da sentenccedila e com isso em nada alteraria o sentido da sentenccedila Forccedilando uma
possiacutevel interpretaccedilatildeo da sentenccedila o leitor poderia afirmar que se a sentenccedila fosse disposta
da seguinte maneira ―As peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades da SAMSUNG
poderia existir uma classe de peccedilas eletrocircnicas de produtos SAMSUNG que
4 Utilizaremos o termo ldquoocorrecircnciardquo tanto para se referir ao trecho completo do corpus quanto para a
sentenccedila em que o conectivo grifado se apresenta Natildeo faremos distinccedilatildeo para este uso 5 Para a exibiccedilatildeo das ocorrecircncias do nosso corpus reiniciaremos a numeraccedilatildeo natildeo seguindo a contagem
realizada para os exemplos dos capiacutetulos anteriores
56
tradicionalmente fossem substituiacutedas em manutenccedilotildees mas natildeo recolhidas pelo fabricante
Dessa forma o quantificador universal ―todas se mostraria como a soluccedilatildeo para esse
problema de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos
na ocorrecircncia6 (1)
(2) Esta garantia substitui TODAS as outras garantias expressas ou
taacutecitas incluindo sem limitaccedilatildeo garantias taacutecitas de comercializaccedilatildeo
e adequaccedilatildeo a um fim especiacutefico
(Certificado 1)
Nesta ocorrecircncia o fabricante utiliza o quantificador para abranger ao maacuteximo seu
texto no intuito de inferir que a garantia em anaacutelise se sobrepotildee a qualquer outro tipo de
garantia oferecida ao cliente
Podemos observar que se o quantificador universal ―todas natildeo fosse utilizado o
sentido da sentenccedila permaneceria o mesmo Se tiveacutessemos encontrado a sentenccedila da forma
―Esta garantia substitui as outras garantias o cliente iria interpretar a sentenccedila sem
dificuldades O uso do quantificador aparece como um termo para dar ecircnfase ao que jaacute estaacute
dito na sentenccedila acima Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos na
ocorrecircncia (2)
(3) TODO atendimento de reparo deve ser precedido de ligaccedilatildeo
telefocircnica ao Suporte Teacutecnico Telefocircnico da AOC (0800-10-9539)
para que seja feita uma avaliaccedilatildeo preacutevia do problema a fim de
constatar a existecircncia de defeito ou viacutecio do produto esgotando-se
TODAS as possibilidades de se tratar de uma falha de operaccedilatildeo ou
uso do produto por parte do consumidor
(Certificado 4)
No trecho acima podemos observar que na primeira ocorrecircncia do quantificador o
fabricante utiliza-o para inferir que o cliente em qualquer caso de submissatildeo do aparelho agrave
assistecircncia deve entrar em contato com o suporte teacutecnico telefocircnico da empresa e ainda
6 Decidimos pontuar no final de cada anaacutelise o fato de haver ou natildeo termos polissecircmicos ou vagos nas
ocorrecircncias porque consideramos estes tipos de ocorrecircncias como sendo os principais meios de dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos instrucionais Ao anunciar que natildeo haacute termos dessas categorias em cada anaacutelise por mais que se mostre repetitivo na leitura ao mesmo tempo invoca a importacircncia (e necessidade segundo nossa perspectiva) que depositamos nesses fatos em cada ocorrecircncia
57
reforccedila utilizando outra vez o quantificador ―todas inferindo que o produto soacute iraacute para a
assistecircncia efetivamente caso natildeo haja mais nenhuma possibilidade de resoluccedilatildeo do problema
atraveacutes do contato telefocircnico Ao utilizar esse reforccedilo o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo ao
fato de que por exemplo o problema possa ser resolvido atraveacutes de instruccedilotildees passadas pela
empresa via telefone ao cliente e o cliente natildeo aceitar e exigir que o produto seja reparado
somente na assistecircncia teacutecnica ou simplesmente para evitar que a assistecircncia teacutecnica receba
algum produto que natildeo estaacute defeituoso ou viciado
Diferente da ocorrecircncia (2) o uso do quantificador universal ―todo se faz necessaacuterio
para evitar que o cliente interprete a sentenccedila de uma forma indesejada por parte do
fabricante Por exemplo caso o autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todo na
primeira parte ―Todo atendimento de reparo deve o cliente poderia interpretar que ele
poderia obter atendimento de reparo sem passar pelo contato telefocircnico com o suporte teacutecnico
do fabricante Na utilizaccedilatildeo do quantificador universal ―todas no final da sentenccedila tambeacutem
observamos que se o autor do texto natildeo utilizasse esta estrateacutegia tambeacutem possibilitaria que o
texto fosse interpretado de outra maneira Se o cliente se deparasse com a sentenccedila
―esgotando-se as possibilidades de se tratar de uma falha poderia interpretar que se para
algum tipo de falha de operaccedilatildeo ou seja de utilizaccedilatildeo do produto haveria a possibilidade de
enviar o produto para assistecircncia teacutecnica Como o autor utilizou o quantificador nas duas
passagens que citamos ele direcionou a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha
duacutevidas sobre aquilo que o fabricante deseja expressar
Sobre tipos de ocorrecircncia que dificultam a interpretaccedilatildeo do texto pudemos identificar
a expressatildeo ―viacutecio do produto Esta expressatildeo eacute muito especiacutefica e estaacute presente no Coacutedigo
de defesa do consumidor Segundo Bruno Miragem (2008) ―Viacutecio do produto ou do serviccedilo
abrange o efeito decorrente da violaccedilatildeo aos deveres de qualidade quantidade ou informaccedilatildeo
impedindo com isso que o produto ou serviccedilo atenda aos fins que legitimamente dele se
esperam (dever da adequaccedilatildeo) O autor do certificado natildeo disponibilizou nenhum conceito
para a expressatildeo ―viacutecio do produto apresentando desta forma uma dificuldade a mais para
a interpretaccedilatildeo do texto por parte do cliente Caso o autor tenha elaborado o texto
considerando por exemplo que qualquer pessoa que leia um certificado de garantia deve ser
conhecedor de todos os termos e expressotildees descritas no CDC (a partir desse ponto iremos
utilizar esta sigla para ―coacutedigo de defesa do consumidor) natildeo haveria problema em
simplesmente usar o termo sem conceituar mas isso natildeo eacute pertinente Para evitar que esta
expressatildeo natildeo fosse polissecircmica o autor deveria ter elaborado um mini-glossaacuterio com os
termos que seriam usuais no texto e que possuem um sentido especiacutefico no ramo em que o
58
produto estaacute inserido (por exemplo peccedilas de carros ou peccedilas eletrocircnicas) e no CDC7
(4) A Garantia do Produto oferecida por este Termo abrange TODOS os
defeitos de material ou de fabricaccedilatildeo do aparelho constatados pela
Robert Bosch Ltda bem como a substituiccedilatildeo das peccedilas que
apresentarem viacutecios aleacutem da matildeo-de-obra utilizada no respectivo
reparo
(Certificado 8)
No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador ―todos para assegurar ao cliente
que em qualquer caso em que o produto possua defeito de material ou de fabricaccedilatildeo a
garantia estaraacute assegurada Aleacutem de assegurar isso tambeacutem garante a substituiccedilatildeo da peccedila do
aparelho que estiver com problema e a matildeo-de-obra tudo por conta do fabricante Caso o
autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todos ele poderia abrir margem para
outras interpretaccedilotildees como por exemplo que esta garantia natildeo abrange qualquer defeito do
produto constatado pelo fabricante Eacute interessante citar que a utilizaccedilatildeo do quantificador
―todos foi realizada beneficiando o fabricante pois mesmo afirmando que a ―garantia
abrange todos os defeitos o autor direciona para ―todos os casos que forem constatados
pelo fabricante Ou seja fica a criteacuterio do fabricante decidir o que eacute defeito e o que natildeo eacute
Assim como na ocorrecircncia (3) identificamos o uso do termo ―viacutecios que natildeo tem o
seu conceito descrito no texto do certificado O termo ―viacutecio natildeo eacute utilizado em nosso
cotidiano como algo vinculado a um objeto Geralmente conceituamos esse termo como
referente agrave dependecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica em relaccedilatildeo a uma substacircncia Tambeacutem podemos
conceituar como uma mania (costume de fazer sempre a mesma coisa) Enfim o termo
utilizado da forma em que foi descrita em (4) necessitaria que em alguma parte do texto
aparecesse o conceito para este termo que deve ser interpretado de forma especiacutefica pois eacute
um termo teacutecnico apresentado no CDC e muitas das vezes o cliente natildeo tem conhecimento
deste conceito favorecendo dificuldades a interpretaccedilatildeo do texto
(5) TODOS os eventuais danos ou demoras resultantes da natildeo
observacircncia dessas recomendaccedilotildees fogem agrave responsabilidade da APC
(Certificado 7)
7 Sobre esta estrateacutegia de eliminaccedilatildeo da polissemia e vagueza atraveacutes do uso de um glossaacuterio por autores de
textos instrucionais ver Estrela e Santos (2014)
59
Na ocorrecircncia acima a empresa APC se resguarda de qualquer responsabilidade sobre
o produto caso o cliente natildeo siga as recomendaccedilotildees dadas pelo fabricante Para isso utiliza o
quantificador universal para abranger ao maacuteximo as possibilidades de natildeo cobertura
favorecendo o fabricante Observamos que a utilizaccedilatildeo do quantificador na ocorrecircncia (5)
serviu para intensificar o que foi descrito na sentenccedila Caso natildeo fosse utilizado poderia
deixar margem para outras interpretaccedilotildees como por exemplo que poderia existir algum tipo
de dano eventual que fosse de responsabilidade do fabricante O quantificador ―todos
elimina esse tipo de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos
polissecircmicos na ocorrecircncia (5)
(6) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA garante e consequentemente
compromete-se a reparar ou substituir pelo prazo abaixo indicado
contado a partir da data indicada no documento fiscal representativo
de venda do veiacuteculo Hyundai TODAS as peccedilas que em serviccedilo
normal apresentem defeito de fabricaccedilatildeo ou de material desde que
observadas as respectivas condiccedilotildees sob pena de ser
automaticamente considerado cancelado o presente Certificado de
Garantia independentemente de qualquer aviso ou notificaccedilatildeo
(Certificado 17)
No trecho acima podemos observar que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se daacute
de forma bastante controlada Mesmo o termo ―todas sendo naturalmente utilizado para
abranger ou restringir ao maacuteximo inferecircncias na ocorrecircncia acima vemos sua utilizaccedilatildeo
dependendo de vaacuterios aspectos para se concretizar A Hyundai se compromete em reparar ou
substituir ―todas as peccedilas dos veiacuteculos que estiverem dentro de todas as caracteriacutesticas
descritas antes do termo ser usado como estar dentro do prazo estabelecido pelo fabricante
apresentarem defeito de fabricaccedilatildeo ou material e aleacutem disso observando os procedimentos
detalhados pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o quantificador universal eacute
utilizado de forma controlada pelo fabricante restringindo ao seu sabor as possibilidades de
validade da garantia
(7) TODA revisatildeo deveraacute ser registrada no quadro de registro de revisotildees
para assegurar a garantia de seu veiacuteculo
(Certificado 17)
60
Na ocorrecircncia acima observamos que o fabricante utilizou o quantificador universal
para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente da seguinte forma o
cliente que possui um veiacuteculo na garantia poderia interpretar por exemplo caso natildeo houvesse
a utilizaccedilatildeo do quantificador ―toda na sentenccedila (7) fazer as revisotildees do veiacuteculo em qualquer
oficina e natildeo registrar as mudanccedilas feitas no carro em lugar algum natildeo perdendo a garantia
do veiacuteculo O quantificador universal ―toda direciona a interpretaccedilatildeo da inferecircncia para que
o cliente efetue qualquer revisatildeo do veiacuteculo numa concessionaacuteria do fabricante e aleacutem disso
ter as revisotildees registradas no quadro de registro de revisotildees do fabricante Na ocorrecircncia (7)
natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos
(8) TODOS aparelhos da ONEAL saem da faacutebrica preacute-ajustados em
220V
(Certificado 5)
Nesta ocorrecircncia (8) o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para
abranger a informaccedilatildeo de que qualquer produto produzido por ele eacute ajustado em 220V
resguardando-se de por exemplo um questionamento de algum cliente sobre o
funcionamento de qualquer produto em outra voltagem ou utilizaccedilatildeo do produto em outra
voltagem ocasionando defeito no produto Caso isso ocorra o fabricante natildeo poderaacute ser
responsabilizado pois a partir da ocorrecircncia (8) ele explica a voltagem a ser utilizada natildeo
garantindo o funcionamento do produto em outras voltagens Na ocorrecircncia (8) observamos
que se o fabricante natildeo tivesse utilizado o quantificador universal ―todo natildeo alteraria a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila Podemos entender que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal na
ocorrecircncia (8) serviu apenas para intensificar a informaccedilatildeo da sentenccedila
(9) TODOS nossos produtos satildeo testados durante horas nos mais severos
regimes antes de serem aprovados para o mercado
(Certificado 5)
No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para abranger a
interpretaccedilatildeo da inferecircncia Dessa forma o fabricante tenta nos levar a interpretar a
61
ocorrecircncia (9) da seguinte forma qualquer produto produzido por este fabricante eacute testado de
forma rigorosa antes de ser despachado para comercializaccedilatildeo Essa interpretaccedilatildeo eacute dificultada
pela presenccedila de termos vagos Ao utilizar a expressatildeo ―durante horas nos mais severos
regimes o fabricante natildeo teve o cuidado de atrelar essa informaccedilatildeo agrave classe de comparaccedilatildeo
na qual o cliente deve se basear para interpretar a sentenccedila da forma como o fabricante
deseja Ao afirmar que os produtos satildeo testados ―durante horas o fabricante natildeo especificou
por quantas horas os produtos satildeo testados e o que isso representa Por exemplo para
produtos X identificados como em bom funcionamento deve-se testaacute-los durante Y horas
segundo o manual Z que regulamenta a qualidade dos produtos X Aleacutem disso o fabricante
ainda afirma sobre os testes que satildeo ―nos mais severos regimes cometendo a mesma falha
da expressatildeo anterior natildeo descrevendo o que eacute isso e o que isso representa A expressatildeo eacute
vaga pois esses regimes de testes satildeo severos em relaccedilatildeo a quecirc Como natildeo haacute um grau de
comparaccedilatildeo de classe o cliente pode interpretar a ocorrecircncia de formas diversas Se o
fabricante tivesse especificado em algum lugar do texto que a expressatildeo ―nos mais severos
regimes deveria ser comparada por exemplo a um tipo de teste que coloca os produtos em
condiccedilotildees extremas para averiguar a sua qualidade durabilidade e bom funcionamento que eacute
norma padratildeo de qualidade para os produtos que ele estaacute justificando em (9) natildeo haveria
vagueza Do modo como a ocorrecircncia se apresenta as informaccedilotildees ―durante horas e ―nos
mais severos regimes satildeo vagas e dificultam a interpretaccedilatildeo da sentenccedila
(10) A ONEAL garante TODOS os seus produtos por um periacuteodo de 01
(um) ano jaacute incluiacutedo o periacuteodo de garantia legal (os primeiros 90 dias)
a partir da data da compra para problemas mecacircnicos ou por falhas
industriais em montagem e pintura
(Certificado 5)
Podemos observar na ocorrecircncia (10) que o fabricante assegura a garantia para todos
os seus produtos utilizando o quantificador universal com algumas restriccedilotildees Se natildeo
houvesse a utilizaccedilatildeo do quantificador nesta inferecircncia o cliente poderia considerar que a
garantia de seu produto por exemplo teria validade vitaliacutecia e que o produto estaria coberto
pela garantia mesmo se for danificado por negligecircncia do cliente O fabricante restringe o
periacuteodo de validade especificando que o periacuteodo de um ano jaacute inclui o periacuteodo da garantia
legal que eacute de 90 dias Ainda enfatiza que se deve contar o periacuteodo a partir da data da compra
e ainda explica que a garantia cobriraacute somente produtos que apresentarem problemas
62
mecacircnicos ou aqueles que apresentarem problemas industriais em montagem e pintura Dessa
forma problemas de outra natureza natildeo seratildeo cobertos pela garantia assim como produtos
com mais de um ano de adquiridos tambeacutem natildeo estaratildeo cobertos Poderiacuteamos identificar a
expressatildeo ―garantia legal como polissecircmica caso o fabricante natildeo tivesse apresentado o
conceito para a expressatildeo logo apoacutes entre parecircnteses Eacute sabido que no CDC a garantia legal eacute
caracterizada como o periacuteodo de 90 dias apoacutes a aquisiccedilatildeo de um produto Para evitar que
houvesse uma interpretaccedilatildeo indevida o fabricante conceituou a expressatildeo imediatamente
apoacutes o aparecimento dela na sentenccedila
(11) Em vista das mudanccedilas de leis que poderatildeo ocorrer TODO
certificado seraacute regido pelas normas do cartatildeo de garantia mais
recentemente atualizado pela faacutebrica
(Certificado 5)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todo para afirmar
que qualquer certificado de garantia de seus produtos deveraacute seguir as normas dispostas no
cartatildeo de garantia mais recentemente atualizado pela faacutebrica ou seja caso algum cliente tente
solicitar a garantia atraveacutes de um cartatildeo de garantia desatualizado ele natildeo estaraacute autorizado
Dessa forma o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo agraves possiacuteveis atualizaccedilotildees de leis ou
informaccedilotildees nos cartotildees de garantia dos diversos lotes de produtos impossibilitando o cliente
de reclamar sobre qualquer tipo de alteraccedilatildeo no documento em questatildeo A utilizaccedilatildeo do
quantificador universal em (11) eacute importante para dar ecircnfase agrave informaccedilatildeo central da sentenccedila
e tambeacutem para evitar que por exemplo o cliente interpretasse que algum certificado poderia
ser regido pelas normas de outro cartatildeo de garantia que natildeo fosse o mais recente Natildeo
identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos em (11)
(12) A garantia incide sobre TODOS os componentes montados
originalmente em Veiacuteculo conforme descrito na Nota Fiscal de
venda quer fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER ou
por esta adquiridos de terceiros
(Certificado 16)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para
restringir a interpretaccedilatildeo da sentenccedila quando afirma que a garantia cobre qualquer
63
componente montado originalmente em veiacuteculo ou seja a garantia natildeo cobre componentes
avulsos Aleacutem disso os componentes montados devem estar descritos na Nota Fiscal de
venda sendo assim se natildeo estiverem lanccedilados invalidam a garantia e por fim os veiacuteculos
devem tem sido fabricados por alguma empresa do grupo DAIMLER ou fabricado por outra
empresa mas tendo sido adquirido pelo fabricante que estaacute oferecendo a garantia Dessa
forma podemos ver que o quantificador universal foi utilizado pelo fabricante de forma
restrita limitando a abrangecircncia de acordo com seus interesses Caso o quantificador
universal natildeo tivesse sido utilizado na sentenccedila haveria a possibilidade do cliente interpretar
(12) de vaacuterias maneiras Por exemplo admitir que a garantia pode ser vaacutelida para produtos
que foram fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER mas natildeo foram lanccedilados na
Nota Fiscal de venda Em vista disso a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela
necessidade do fabricante restringir a interpretaccedilatildeo do texto da garantia buscando direcionar
melhor a informaccedilatildeo que ele estaacute vinculando em seu texto Natildeo identificamos nem termos
vagos nem termos polissecircmicos em (12)
(13) Executar TODAS as revisotildees estabelecidas pela Mercedes-Benz do
Brasil Ltda
(Certificado 16)
(14) Executar TODAS as manutenccedilotildees reparaccedilotildees e regulagens em um
dos Concessionaacuterios ou Postos de Serviccedilos Autorizados Mercedes-
Benz no territoacuterio brasileiro
(Certificado 16)
Nas duas ocorrecircncias acima podemos observar que o fabricante utiliza o quantificador
universal ―todas para definir que a garantia do produto soacute seraacute vaacutelida caso o cliente realize
as funccedilotildees descritas Caso o cliente natildeo realize pelo menos uma delas a garantia seraacute
invalidada Se o cliente natildeo realizar pelo menos uma revisatildeo sugerida pela fabricante perderaacute
a validade Aleacutem disso se o cliente realizar algum tipo de manutenccedilatildeo no veiacuteculo em alguma
concessionaacuteria que natildeo seja autorizada da Mercedes-Benz e no territoacuterio brasileiro tambeacutem
perderaacute a garantia O fabricante mesmo utilizando o quantificador universal nas duas
ocorrecircncias natildeo deixa de condicionar a validade da garantia de acordo com seus interesses O
cumprimento das recomendaccedilotildees dispostas apoacutes o quantificador natildeo garantem efetivamente
que a garantia do produto estaacute assegurada Ou seja mesmo que o cliente execute todas as
manutenccedilotildees reparos e regulagens em um dos concessionaacuterios do fabricante natildeo impede que
64
a garantia seja invalidade por outro motivo O quantificador universal foi utilizado pelo
fabricante em (13) e (14) sem limites e em seu benefiacutecio Natildeo identificamos nem termos
vagos nem termos polissecircmicos em (13) e (14)
(15) TODA solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica durante o periacuteodo da
garantia deveraacute ser feita obrigatoriamente agrave faacutebrica via e-mail ou
fax descrevendo detalhadamente os problemas apresentados natildeo
excedendo o prazo de 30 dias apoacutes detectaacute-lo indicando o modelo do
equipamento e o nuacutemero de seacuterie descrito na placa de identificaccedilatildeo do
mesmo e constante neste certificado
(Certificado 22)
Na ocorrecircncia (15) o fabricante utiliza o quantificador universal ―toda de forma
abrangente determinando que todas as solicitaccedilotildees de assistecircncia teacutecnica para qualquer
produto deveraacute seguir as instruccedilotildees definidas em seguida Caso o cliente tente solicitar a
assistecircncia natildeo seguindo algum dos passos e prazos determinados pelo fabricante a garantia
seraacute invalidada O quantificador universal foi utilizado para evitar interpretaccedilotildees relativas
sobre os procedimentos descritos no texto Por exemplo se (15) natildeo tivesse o quantificador
universal ―toda uma possiacutevel interpretaccedilatildeo seria que uma solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica
durante o periacuteodo da garantia poderia ser realiza na loja em que o produto foi comprado e natildeo
apenas na faacutebrica Dessa forma a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela
necessidade do fabricante restringir o percurso da solicitaccedilatildeo da garantia para o procedimento
que ele deseja que seja seguido pelo cliente Natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos
em (15)
32 USO DO CONDICIONAL
Vejamos a seguir as ocorrecircncias em que o condicional eacute utilizado Quando as
ocorrecircncias apresentarem o mesmo sentido de interpretaccedilatildeo agruparemos numa mesma
anaacutelise como podemos observar a seguir nas ocorrecircncias (16) (17) e (18)
(16) A garantia fica automaticamente invalidada SE
(Certificado 2)
65
(17) A garantia legal e contratual perderaacute seu efeito SE
(Certificado 3)
(18) Esta garantia perderaacute a validade SE
(Certificado 11)
Podemos observar nas ocorrecircncias (16) (17) e (18) que o condicional tem a funccedilatildeo de
limitar a aplicaccedilatildeo da garantia Os usos do ―se natildeo excluem a possibilidade de haver outros
casos em que a garantia natildeo se aplica ou seja as listas que satildeo apresentadas apoacutes o
condicional natildeo satildeo exaustivas Vale mencionar que da mesma forma que o ―todo o ―se
foi utilizado para beneficiar o fabricante como afirmamos acima O ―se assegura que a
validade do produto seraacute perdida nos casos que satildeo listados apoacutes o condicional sem eliminar
a possibilidade de haverem outros casos abrangendo sem limites os casos em que a garantia
natildeo cobriraacute o produto e restringindo a validade da garantia para o cliente Natildeo identificamos
termos vagos ou polissecircmicos nas ocorrecircncias (16) (17) (18) Na ocorrecircncia (17) o autor
usou os termos ―garantia legal e ―contratual que poderiam ser considerados termos
polissecircmicos que dificultariam a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia mas foram apresentados no
certificado os conceitos para os dois termos Para ―garantia legal o autor definiu como
sendo o prazo inicial da garantia com duraccedilatildeo de 90 dias ( contados imediatamente apoacutes a
emissatildeo da Nota Fiscal de compra) e previsto no CDC por sua vez para ―garantia
contratual se refere ao periacuteodo de dois anos incluindo o periacuteodo da garantia legal para todo
equipamento (neste caso condicionador de ar) e cinco anos para o compressor Com a
apresentaccedilatildeo destas definiccedilotildees o autor evitou que os termos se apresentassem no texto como
polissecircmicos
(19) A garantia do produto natildeo se aplica
(Certificado 8)
Trouxemos para a anaacutelise a ocorrecircncia acima pois a expressatildeo ―natildeo se aplica desta
sentenccedila funciona como um condicional mesmo sem ter a forma das ocorrecircncias que
analisamos anteriormente O fabricante utiliza esse condicional precedendo uma lista de
possiacuteveis situaccedilotildees em que a garantia poderia ser reclamada pelo cliente dessa forma
impossibilitando o cliente de exigir qualquer direito sobre alguma das possiacuteveis situaccedilotildees
Natildeo identificamos termos polissecircmicos e vagos na ocorrecircncia (19)
66
(20) A garantia do produto extingue-se
(Certificado 8)
Assim como na ocorrecircncia anterior tambeacutem natildeo encontramos o condicional ―se de
forma expliacutecita mas o termo ―extingue-se se comporta como tal A sentenccedila acima foi
utilizada pelo fabricante antecedendo uma lista de possibilidades de situaccedilotildees em que o
cliente poderia reclamar a garantia do produto excluindo entatildeo qualquer direito do cliente
em relaccedilatildeo ao que foi listado abaixo da sentenccedila em questatildeo Natildeo identificamos termos vagos
e polissecircmicos na ocorrecircncia (20)
(21) O cliente perderaacute a garantia do seu veiacuteculo SE
(Certificado 17)
Na ocorrecircncia (21) o fabricante utiliza o condicional antecedendo uma lista de
situaccedilotildees que se concretizadas invalidaratildeo a garantia Dessa forma se o veiacuteculo do cliente
que deseja ser atendido pela garantia se enquadrar em algum dos itens dispostos apoacutes essa
sentenccedila a garantia natildeo seraacute concedida Assim como nas ocorrecircncias com o uso do
condicional apresentadas anteriormente o uso do ―se aparece sem limites Como afirmamos
na anaacutelise das ocorrecircncias (16) (17) e (18) o autor utiliza o condicional para em seguida
apresentar uma lista de situaccedilotildees em que se concretizadas o cliente perderaacute a garantia Mas
mesmo com a apresentaccedilatildeo dessa lista o cliente poderaacute perder a garantia caso ocorra outro
tipo de situaccedilatildeo natildeo listada Dessa forma o fabricante se favorece abrangendo ao maacuteximo as
possibilidades de perda da garantia e ―prejudica o cliente oferecendo-lhe restritas
possibilidades de validade da garantia do produto a que se refere o texto Natildeo identificamos
nem termos polissecircmicos nem vagos na ocorrecircncia (21) Apenas vale ressaltar que diferente
das ocorrecircncias apresentadas anteriormente o autor em vez de escrever ―a garantia do
produto ele utilizou ―a garantia do seu veiacuteculo que especifica ao que se refere o texto
diminuindo a possibilidade de o cliente interpretar a ocorrecircncia de uma forma diferente da
que o autor se propotildee a transmitir
(22) A garantia vigoraraacute SOMENTE SE o Veiacuteculo atender
cumulativamente as seguintes condiccedilotildees
67
(Certificado 16)
Eacute interessante observar a forma como o fabricante utiliza o condicional na ocorrecircncia
(22) que precede uma lista de condiccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso o fabricante
natildeo utilizasse esse condicional ―somente se na sentenccedila acima o cliente poderia interpretar
que se o seu produto atendesse pelo menos a uma das condiccedilotildees estaria coberto pela
garantia Mas o fabricante aleacutem de utilizar o condicional ―somente se tambeacutem utilizou o
termo ―cumulativamente explicitando que o produto deve obedecer a todas as condiccedilotildees
dispostas pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o autor utilizou o condicional
para restringir as possibilidades de validade da garantia com restriccedilotildees o que natildeo ocorre
quando o fabricante trata sobre as possibilidades de invalidade da garantia como na
ocorrecircncia (21) Comparando as ocorrecircncias (21) e (22) vemos claramente que o autor em
(21) utilizou o condicional para lhe favorecer sem limites quando tratou sobre as condiccedilotildees
pelas quais o cliente pode perder a garantia abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura natildeo
apenas para as situaccedilotildees que estatildeo listadas mas tambeacutem para qualquer outra possiacutevel Jaacute em
(22) o autor (mesmo essa comparaccedilatildeo sendo feita entre ocorrecircncias de certificados
diferentes) utiliza o condicional para restringir as possibilidades de validade da garantia para
as situaccedilotildees listadas apoacutes a apresentaccedilatildeo do condicional e aleacutem disso afirmou que todas as
situaccedilotildees listadas devem ser atendidas para que a garantia seja vaacutelida para o produto Dessa
forma ainda sobre a ocorrecircncia (22) caso uma das situaccedilotildees listadas natildeo seja atendida a
garantia automaticamente seraacute perdida Com isso podemos afirmar que tanto em (21) quanto
em (22) os autores utilizaram o condicional para se beneficiar Em (21) abrangendo as
possibilidades de invalidade da garantia e em (22) restringindo ao maacuteximo as possibilidades
de validade da garantia do produto Natildeo identificamos nem termos vagos nem polissecircmicos
na ocorrecircncia (22)
(23) A garantia Philips natildeo eacute aplicaacutevel SE
(Certificado 14)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o condicional ―se antecedendo uma lista de
informaccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso algum produto Philips se encaixar em
alguma das situaccedilotildees descritas apoacutes o condicional mesmo estando dentro do prazo de
garantia o cliente perderaacute a cobertura Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem
68
vagos na ocorrecircncia (23)
(24) Esta garantia natildeo se aplica
(Certificado 21)
Assim como nas ocorrecircncias (18) e (19) a ocorrecircncia acima natildeo possui o condicional
expliacutecito mas o termo ―natildeo se aplica se comporta como tal O fabricante utiliza o
condicional precedendo uma lista de condiccedilotildees de natildeo aplicaccedilatildeo da garantia Dessa forma
caso o produto se encaixe em alguma das condiccedilotildees a garantia seraacute invalidada
automaticamente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem vagos na sentenccedila (24)
33 USO DO APENASSOMENTE
Vejamos a seguir ocorrecircncias em que identificamos o uso do ―apenas ou ―somente
(25) Esta garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver
devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original
da Nota Fiscal de Compra
(Certificado 4)
Na ocorrecircncia (25) o fabricante utiliza o ―somente para restringir a validade da
garantia indicando que o cliente teraacute direito agrave garantia caso preencha de forma correta o
certificado e apresente a nota fiscal de compra Caso as instruccedilotildees natildeo sejam seguidas pelo
cliente a garantia natildeo seraacute vaacutelida Podemos identificar que o termo ―rasuras presente em
(25) pode ser considerado como vago e polissecircmico neste caso dificultando a interpretaccedilatildeo
do texto Uma rasura pode ser por exemplo desde um rabisco fora de lugar no formulaacuterio
ateacute o dano no documento por aacutegua amasso do papel em excesso etc O autor poderia evitar a
vagueza e a polissemia definindo o termo da forma como ele deseja que o leitor interprete
este termo e comparando-o a uma classe especiacutefica (por exemplo o que eacute considerado rasura
69
nos documentos instrucionais)
(26) Danos decorrentes de desgaste natural inclusive e natildeo SOMENTE
nas partes plaacutesticas que compotildeem o gabinete do produto
(Certificado 4)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o ―somente numa sentenccedila que trata sobre
uma das situaccedilotildees em que a garantia natildeo seraacute vaacutelida O fabricante deixa claro que qualquer
defeito no produto causado por desgaste natural natildeo seraacute coberto pela garantia Se o
fabricante natildeo utilizasse o ―somente nesta sentenccedila o cliente poderia interpretar por
exemplo que danos decorrentes de desgaste natural nas partes que natildeo satildeo de plaacutestico seriam
cobertas pela garantia O autor utiliza o ―somente para se resguardar sobre outras possiacuteveis
interpretaccedilotildees do trecho abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura da garantia para
qualquer peccedila do produto que for afetado por danos decorrentes de desgaste natural Na
ocorrecircncia (26) a expressatildeo ―desgaste natural eacute polissecircmica O autor em nenhuma parte do
certificado de garantia definiu a expressatildeo em questatildeo para que o cliente compreenda da
forma desejada pelo fabricante Dessa forma podemos interpretar ―desgaste natural de
muitas formas Podemos por exemplo interpretar como o desgaste do produto como um todo
ou suas peccedilas referentes ao uso em excesso ao longo do tempo e diretamente vinculado agrave
vida uacutetil tanto do produto em geral quanto de peccedilas especiacuteficas Mas tambeacutem podemos
interpretar como sendo um desgaste proveniente do contato do produto com a natureza como
a exposiccedilatildeo agrave chuva maresia sol em excesso Pode parecer um exagero esta uacuteltima
interpretaccedilatildeo mas ela eacute possiacutevel a partir da forma como (26) se apresenta O autor utilizou no
texto a expressatildeo sem dar-lhe a definiccedilatildeo que ele pensou para a utilizaccedilatildeo dela na ocorrecircncia
dificultando a interpretaccedilatildeo do texto
(27) Este termo de garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos
comercializados e utilizados em territoacuterio brasileiro
(Certificado 4)
(28) Este Certificado de Garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos
vendidos e utilizados no territoacuterio brasileiro
(Certificado 10)
(29) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro
70
(Certificado 2)
(30) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro
(Certificado 13)
(31) Esta garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o territoacuterio brasileiro
(Certificado 12)
Nas ocorrecircncias (27) (28) (29) e (30) observamos que os fabricantes utilizam o termo
―apenas para restringir a cobertura da garantia tanto em relaccedilatildeo ao local da compra quanto
em relaccedilatildeo ao local de uso do produto assim como o autor da ocorrecircncia (31) utiliza o termo
―somente com o mesmo sentido Caso o produto tenha sido comprado em outro paiacutes natildeo
haveraacute cobertura da garantia assim como mesmo que o produto tenha sido comprado no
Brasil mas tenha sido utilizado em outro paiacutes culminando em um defeito tambeacutem natildeo haveraacute
cobertura da garantia Mas para a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que aparece em (27) (28)
(29) (30) e (31) podemos tambeacutem interpretar como natildeo apenas a extensatildeo territorial do paiacutes
mas tambeacutem admitir territoacuterios brasileiros em outros paiacuteses a saber os consulados
honoraacuterios do Brasil nas diversas naccedilotildees ao redor do mundo Nesse caso por exemplo se o
produto for adquirido dentro dos limites geograacuteficos do Brasil e for utilizado em algum
consulado do Brasil em outro paiacutes a garantia deve ser vaacutelida Eacute possiacutevel que o fabricante natildeo
tenha pensado nessa possibilidade poreacutem da forma que estas ocorrecircncias se apresentam haacute
essa possibilidade de interpretaccedilatildeo Ao apresentar essa possiacutevel interpretaccedilatildeo para a
expressatildeo ―territoacuterio brasileiro noacutes quisemos mostrar que o fabricante deveria ter
especificado em alguma parte do certificado de garantia o conceito que ele deseja que o
cliente admita para esta expressatildeo para natildeo deixar que a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro seja
interpretada de outras formas ou seja para evitar a polissemia que dificulta a leitura do
texto Outra questatildeo que tambeacutem podemos considerar eacute que nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)
a afirmaccedilatildeo sobre a validade da garantia eacute apresentada de forma menos detalhada Os autores
apresentam a afirmaccedilatildeo de que a garantia eacute vaacutelida para o territoacuterio brasileiro sem informar se
eacute em relaccedilatildeo ao produto ser adquirido e utilizado no paiacutes Brasil ou se o produto pode ser
utilizado fora do Brasil mas para requerer a garantia do produto o consumidor caso resida no
exterior deva se dirigir ao Brasil para fazer jus a sua garantia Diferente das ocorrecircncias (27)
e (28) em que os autores enfatizam que a garantia dos produtos eacute vaacutelida unicamente para
produtos comercializados e utilizados dentro do Brasil restringindo a garantia mais do que
nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)
71
(32) A garantia SOMENTE eacute vaacutelida mediante a apresentaccedilatildeo de nota
fiscal de compra deste produto
(Certificado 3)
Podemos observar na ocorrecircncia (29) que o fabricante utiliza o termo ―somente para
restringir a validade da garantia Fica claro que caso o produto apresente algum defeito e o
cliente procure a assistecircncia teacutecnica sem estar de posse da nota fiscal natildeo haveraacute cobertura da
garantia Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em (29) o cliente poderia interpretar
por exemplo que a garantia do produto eacute vaacutelida com ou sem a apresentaccedilatildeo da nota fiscal de
compra do produto Neste caso a funccedilatildeo do ―somente eacute de restringir a interpretaccedilatildeo de
acordo com o que o fabricante deseja Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem
vagos em (29)
(33) A garantia oferecida por esse Certificado eacute de 36 (trinta e seis) meses
e SOMENTE teraacute validade se o presente documento for devidamente
preenchido no ato da venda do produto conforme acima e se a
instalaccedilatildeo for feita por uma pessoa ou empresa credenciada pela
Robert Bosch Ltda
(Certificado 8)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade
da garantia Caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees de forma cumulativa que seguem a
utilizaccedilatildeo do termo a garantia seraacute invalidada Por exemplo se o cliente preencher no ato da
venda do produto o certificado mas se a instalaccedilatildeo do produto natildeo tiver sido feita por algueacutem
credenciado pela Robert Bosch Ltda a garantia natildeo teraacute validade A importacircncia do uso do
―somente em (33) se daacute pelo fato de que caso o autor natildeo tivesse utilizado este termo
haveria a possibilidade do cliente interpretar por exemplo que a garantia teria validade caso
a instalaccedilatildeo do produto tenha sido feita por uma pessoa ou empresa natildeo credenciada pela
fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (33)
(34) Os consertos em Garantia do Produto SOMENTE seratildeo efetuados
72
por um Serviccedilo Autorizado devidamente nomeado pela Robert Bosch
Ltda em territoacuterio brasileiro
(Certificado 8)
Podemos observar que o fabricante utiliza o termo ―somente em (34) para restringir a
validade da garantia O fabricante define tanto quem efetuaraacute o conserto dos produtos quanto
os limites territoriais de cobertura Dessa forma fica expliacutecito para o cliente que o conserto
natildeo poderaacute ser efetuado por pessoas natildeo autorizadas pela Robert Bosch Ltda e tal conserto
natildeo pode ser realizado em outros paiacuteses Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em
(34) abriria a possibilidade de interpretar a sentenccedila de outras formas como por exemplo
que os consertos em garantia do produto poderiam ser realizados em territoacuterios de outros
paiacuteses ou que os consertos poderiam ser realizados por serviccedilos natildeo autorizados pelo
fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (34)
(35) O exame e reparo do produto soacute poderatildeo ser efetuados pelo
fabricante
(Certificado 7)
Na ocorrecircncia (36) o fabricante utiliza no lugar do termo ―somente o termo ―soacute
para restringir a interpretaccedilatildeo Nesse caso se o cliente procurar reparar eou examinar o
produto sozinho ou em assistecircncias teacutecnicas que natildeo sejam autorizadas pelo fabricante a
garantia seraacute invalidada A utilizaccedilatildeo do termo ―soacute tem grande importacircncia para o
direcionamento da interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia (35) pois caso natildeo tivesse sido utilizado pelo
autor a ocorrecircncia traria apenas uma informaccedilatildeo vaga dificultando a interpretaccedilatildeo do texto
Sem o ―soacute a partir de (35) poderiacuteamos interpretar que o exame e reparo do produto podem
ser efetuados pelo fabricante mas tambeacutem por qualquer outra pessoa ou empresa Utilizando
o ―soacute o autor restringe a inferecircncia evitando muacuteltiplas interpretaccedilotildees para a sentenccedila
(36) O presente ―Termo de Garantia Hyundai aplica-se uacutenica e
exclusivamente ao veiacuteculo da marca e fabricaccedilatildeo Hyundai
devidamente identificado no iniacutecio deste documento e que tenha sido
comercializado por um Revendedor Autorizado da CAOA Montadora
de Veiacuteculos SA
(Certificado 17)
73
Em (36) o fabricante natildeo utiliza os termos ―apenas ou ―somente mas
consideraremos em nossa anaacutelise a expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como um restritor de
mesmo sentido Observamos que o fabricante utiliza a expressatildeo para restringir a cobertura
da garantia Caso o cliente esteja por exemplo solicitando a garantia de um veiacuteculo Hyundai
que natildeo seja o mesmo que estaacute descrito no iniacutecio do documento de garantia e que natildeo tenha
sido comercializado por uma autorizada da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA a garantia
natildeo teraacute validade Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado a expressatildeo ―uacutenica e
exclusivamente em (36) haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia de outras
maneiras
(37) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA eou o Revendedor Autorizado
da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA APENAS substituiraacute as peccedilas
que forem por elas e a seu exclusivo criteacuterio julgadas como
defeituosas
(Certificado 17)
Na ocorrecircncia (37) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a interpretaccedilatildeo
da sentenccedila Dessa forma o fabricante fica resguardado tanto em relaccedilatildeo a substituiccedilatildeo de
peccedilas quanto em relaccedilatildeo ao meacutetodo utilizado para jugar se a peccedila estaacute defeituosa ou natildeo A
importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―apenas em (37) tambeacutem se daacute pelo fato de natildeo permitir outras
interpretaccedilotildees diferentes da definida pelo fabricante Caso o ―apenas natildeo tivesse sido
utilizado poderiacuteamos interpretar por exemplo que o fabricante poderia substituir peccedilas
julgadas por ela como defeituosas utilizando seus proacuteprios criteacuterios mas tambeacutem substituiria
em outros casos O ―apenas serviu para especificar e restringir a interpretaccedilatildeo dos criteacuterios
definidos pelo fabricante em relaccedilatildeo agrave substituiccedilatildeo de peccedilas do produto Natildeo identificamos
nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (37)
(38) Permita que SOMENTE teacutecnicos autorizados pela faacutebrica prestem
assistecircncia a seu aparelho pois se for aberto por teacutecnicos ou pessoas
natildeo autorizadas automaticamente vocecirc estaraacute perdendo sua garantia
(Certificado 5)
Na ocorrecircncia (38) o fabricante deixa expliacutecito ao utilizar o termo ―somente que
caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees dispostas nesta sentenccedila a garantia do produto seraacute
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invalidada Dessa forma o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a informaccedilatildeo
veiculada pelo fabricante da mesma forma como vimos na ocorrecircncia (37) Natildeo
identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (38)
(39) A presente garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o Veiacuteculo
comercializado em territoacuterio brasileiro
(Certificado 16)
Na ocorrecircncia (39) um pouco parecida com as ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e
(31) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia do produto Nesse caso
se o veiacuteculo tiver sido adquirido em outro paiacutes sua garantia natildeo seraacute vaacutelida no Brasil Um
pouco diferente das ocorrecircncias (27) e (28) que especificam ao maacuteximo a possibilidade de
cobertura da garantia a ocorrecircncia (39) veicula que a garantia eacute vaacutelida para o produto
comercializado em territoacuterio brasileiro natildeo tratando sobre a possibilidade da perda da
garantia caso o veiacuteculo seja utilizado em outros paiacuteses Neste caso o cliente natildeo tem direito
a garantia do veiacuteculo caso ele seja adquirido em outros paiacuteses Sobre a expressatildeo ―territoacuterio
brasileiro assim como nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31) o autor natildeo definiu um
sentido para a expressatildeo que pode ser interpretada de outras maneiras como exemplificamos
nas anaacutelises anteriores
(40) Utilizar SOMENTE peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios genuiacutenos
Mercedes-Benz e comprovar sua aquisiccedilatildeo mediante e apresentaccedilatildeo
da Nota Fiscal quando adquiridos pelo consumidor final
(Certificado 16)
Na ocorrecircncia (40) que faz parte de uma lista de recomendaccedilotildees para o cliente natildeo
perder a garantia o fabricante utiliza o termo ―somente para delimitar a interpretaccedilatildeo da
sentenccedila Na passagem se o cliente natildeo seguir as instruccedilotildees descritas consequentemente
perderaacute a garantia do produto A importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente na ocorrecircncia (40) eacute
a de dificultar que o cliente interpreta a sentenccedila de outra maneira Sem o ―somente na
sentenccedila o cliente poderia interpretar que ele pode utilizar peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios
originais do fabricante mas tambeacutem estaacute autorizado a utilizar peccedilas de outros fabricantes
Com a presenccedila do ―somente na sentenccedila o cliente eacute levado a interpretar a sentenccedila da
75
forma direcionada pelo fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (40)
(41) A comprovaccedilatildeo de defeito de fabricaccedilatildeo do produto que provocaraacute a
execuccedilatildeo da troca do mesmo deveraacute ser feita exclusivamente por
funcionaacuterio credenciado da Ortobom
(Certificado 15)
Na ocorrecircncia (41) o fabricante natildeo utiliza explicitamente os termos ―apenas ou
―somente mas consideraremos em nossa anaacutelise que o termo ―exclusivamente possui a
mesma funccedilatildeo de restringir interpretaccedilotildees O fabricante utiliza o termo para restringir a
garantia do produto em questatildeo Natildeo haacute a possibilidade de o cliente comprovar um defeito de
fabricaccedilatildeo em seu produto atraveacutes de outro profissional que natildeo seja um funcionaacuterio
credenciado da Ortobom Haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia (41) caso o
fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―exclusivamente Sem tal uso o cliente poderia
interpretar que poderia comprovar algum defeito no produto para possiacutevel troca por
intermeacutedio de qualquer profissional natildeo obrigatoriamente por um funcionaacuterio do fabricante
Ortobom O termo ―exclusivamente especifica e destaca a informaccedilatildeo que o fabricante
veicula em (41) Natildeo identificamos em (41) nem termos polissecircmicos nem termos vagos
(42) A garantia cobre exclusivamente defeitos de materiais eou
fabricaccedilatildeo sendo que as despesas de deslocamento alimentaccedilatildeo e
hospedagem do teacutecnico para atendimento em garantia ou natildeo
referente agrave entrega montagem instruccedilatildeo de uso e reparo do
equipamento assim como o frete de retirada para conserto e retorno
do mesmo e de envio de peccedilas e retorno das substituiacutedas em garantia
ocorreratildeo por conta do cliente
(Certificado 22)
Assim como em (41) o fabricante utiliza o termo ―exclusivamente para restringir a
garantia do produto O fabricante ao utilizar esse termo se resguarda de possiacuteveis cobranccedilas
por parte do cliente ao solicitar a garantia como por exemplo ajuda de custo para custear a
iacuteda do teacutecnico para manutenccedilatildeo do produto envio de peccedilas para faacutebrica etc Fica expliacutecito
que em todas essas situaccedilotildees o cliente eacute responsaacutevel Caso o termo ―exclusivamente natildeo
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tivesse sido utilizado o cliente poderia interpretar a ocorrecircncia de diferentes modos Uma
possibilidade de interpretaccedilatildeo seria a de entender que a garantia cobre outros tipos de
defeitos que natildeo fossem de peccedilas ou de fabricaccedilatildeo Com a utilizaccedilatildeo do termo
―exclusivamente o fabricante diminui as possibilidades de interpretaccedilatildeo tornando o texto
mais claro para o cliente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na
ocorrecircncia (42)
(43) A garantia natildeo cobre peccedilas ou componentes de desgaste normal de
uso dentre as quais selim pedais firma-peacutes natildeo se limitando
SOMENTE a estes mas incluindo rodas de transporte carenagens
adesivos elementos de acabamento de plaacutestico borracha e alumiacutenio
danos na pintura e quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa
exclusiva distribuiccedilatildeo devendo as reclamaccedilotildees ser encaminhadas aos
seus respectivos representantes ou fabricantes
(Certificado 22)
Em (43) o fabricante aleacutem de utilizar o termo ―somente para abranger a
interpretaccedilatildeo sobre as peccedilas que natildeo seratildeo cobertas pela garantia do produto utiliza outros
termos que alargam ainda mais sem restriccedilotildees a natildeo cobertura da garantia como ―quaisquer
acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo O fabricante se resguarda
especificando quais peccedilas que ele considera como de ―desgaste normal para evitar
problemas de interpretaccedilatildeo por parte do cliente O uso do ―somente na ocorrecircncia (43) se
apresenta de forma contraacuteria agraves outras ocorrecircncias que apresentamos anteriormente Enquanto
em ocorrecircncias como a (40) que o ―somente foi utilizado para restringir a interpretaccedilatildeo da
sentenccedila para as informaccedilotildees descritas depois do termo em (43) o fabricante utiliza o
―somente precedido da negaccedilatildeo ―natildeo se limitando direcionando o termo para o sentido de
abrangecircncia Ou seja a garantia que o fabricante oferece natildeo cobre peccedilas ou componentes de
desgaste natural como selim e pedais Para natildeo correr o risco de esquecer de citar algum dos
componentes de desgaste natural do produto e deixar brechas na interpretaccedilatildeo da garantia o
fabricante utiliza a expressatildeo ―natildeo se limitando seguida do ―somente para abranger ao
maacuteximo as possibilidades de interpretaccedilatildeo sobre os itens de desgaste natural que natildeo satildeo
cobertos pela garantia Depois do uso do ―somente e de apresentar mais uma lista de itens
que natildeo satildeo cobertos pela garantia o fabricante ainda abrange mais a interpretaccedilatildeo
utilizando a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo
Dessa forma pudemos perceber que o fabricante utilizou natildeo apenas o termo de restriccedilatildeo
77
―somente para limitar as possibilidades de interpretaccedilatildeo da sentenccedila mas tambeacutem utilizou
listas especificando itens e a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa
exclusiva distribuiccedilatildeo Todas essas estrateacutegias foram utilizadas com o objetivo de tornar a
interpretaccedilatildeo do texto clara sem oferecer a possibilidade de o cliente obter muacuteltiplas
interpretaccedilotildees do texto Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na
ocorrecircncia (43)
(44) A matildeo-de-obra em garantia limita-se SOMENTE ao horaacuterio normal
de expediente sendo de segunda a sexta-feira das 730 agraves 1800 horas
devendo o equipamento estar disponiacutevel para a assistecircncia teacutecnica
(Certificado 22)
Em (44) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o horaacuterio disponiacutevel
para reparos em produtos na garantia e aleacutem disso enfatizando que o produto deve estar
disponiacutevel para a assistecircncia Dessa forma o cliente fica impossibilitado de reclamar
assistecircncia fora do horaacuterio que estaacute descrito na sentenccedila assim como fica consciente de que
seu produto ficaraacute a disposiccedilatildeo da assistecircncia para conserto ou seja natildeo seraacute reparado
imediatamente A importacircncia do uso do ―somente na ocorrecircncia (44) se daacute pelo fato de que
caso natildeo fosse utilizado o cliente poderia interpretar por exemplo que a matildeo-de-obra em
garantia estaria disponiacutevel vinte e quatro horas por dia e sete dias por semana Como o
―somente foi utilizando precedendo as informaccedilotildees sobre dia e horaacuterio de atendimento natildeo
eacute possiacutevel interpretar a informaccedilatildeo de outra maneira que natildeo seja a descrita Haveria a
possibilidade de definir a expressatildeo ―horaacuterio normal de expediente como uma expressatildeo
polissecircmica caso ela natildeo estivesse acompanhada de uma definiccedilatildeo (―de segunda a sexta-feira
das 730 agraves 1800 horas) pois o horaacuterio de expediente pode variar de acordo com o trabalho
que vocecirc tem por exemplo Se vocecirc trabalha em um banco financeiro o seu horaacuterio de
expediente seraacute possivelmente diferente do horaacuterio de um feirante Para evitar a polissemia
o fabricante utilizou a expressatildeo e em seguida apresentou a definiccedilatildeo da expressatildeo de
acordo com o seu interesse
(45) A presente garantia limita-se SOMENTE ao produto fornecido natildeo
responsabilizando a TOTAL HEALTH por danos causados a pessoas
a terceiros a outros equipamentos ou instalaccedilotildees lucros cessantes ou
quaisquer outros danos emergentes ou consequumlentes
(Certificado 22)
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Na ocorrecircncia (45) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da
garantia Nesse caso a garantia se limita unicamente ao produto descrito Se por exemplo o
produto em questatildeo apresentar defeito e tal defeito ocasionar dano fiacutesico ao dono do produto
ou a terceiros a garantia natildeo cobriraacute tais problemas Assim como nas ocorrecircncias anteriores
o uso do ―somente em (45) teve a funccedilatildeo de direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para uma
uacutenica possibilidade de interpretaccedilatildeo Caso o ―somente natildeo tivesse sido utilizado poderiacuteamos
interpretar (45) de outras maneiras Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (45)
(46) SOMENTE os profissionais indicados pela loja revendedora dos
produtos Bartzen estatildeo autorizados a prestar atendimento dentro do
prazo de garantia
(Certificado 18)
Na ocorrecircncia (46) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila Nesse caso o cliente soacute poderaacute usufruir de assistecircncia teacutecnica em
seu produto atraveacutes de profissionais indicados pela loja na qual ele adquiriu seu produto
Bartzen e dentro do prazo da garantia Caso o cliente realize algum serviccedilo em seu produto
com profissionais natildeo autorizados pela fabricante sua garantia seraacute invalidada A importacircncia
da utilizaccedilatildeo do termo ―somente na ocorrecircncia (46) eacute a de diminuir as possibilidades de
interpretaccedilatildeo da sentenccedila ao maacuteximo Dessa forma natildeo haacute como o cliente interpretar que por
exemplo ele pode realizar a manutenccedilatildeo ou reparo do seu produto com qualquer outro
funcionaacuterio que natildeo seja autorizado pela fabricante do produto Natildeo identificamos nem
termos polissecircmicos nem termos vagos em (46)
(47) A garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o consumidor que consta
identificado na nota fiscal de compra do produto (primeiro usuaacuterio) a
qual deveraacute ser apresentada junto com este Certificado de Garantia
devidamente preenchido com os dados do consumidor e do produto
para fins de cobertura para reparo ou substituiccedilatildeo do produto se
necessaacuterio
(Certificado 19)
79
Em (47) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia Nesse caso
o cliente fica ciente de que a garantia soacute seraacute vaacutelida para o primeiro proprietaacuterio do produto
assim como soacute seraacute aceito o pedido de garantia caso o cliente apresentar a nota fiscal
contendo tanto os dados do produto quanto os seus Todas as possibilidades fora das
descritas seratildeo desconsideradas e consequentemente a garantia seraacute invalidada A
importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente em (47) se daacute pelo fato de que haacute diversas
informaccedilotildees a serem consideradas pelo cliente na ocorrecircncia (47) e caso o autor do texto natildeo
tivesse utilizado o termo ―somente antes dessas informaccedilotildees o cliente poderia interpretar
que sua garantia poderia ser vaacutelida ao cumprir algumas das informaccedilotildees descritas na sentenccedila
e natildeo obrigatoriamente todas Por exemplo se natildeo houvesse o uso do ―somente em (47) o
cliente poderia interpretar que a garantia eacute vaacutelida para o consumidor que tem o nome
constando na nota fiscal mas tambeacutem para qualquer outro consumidor que esteja de posse da
nota fiscal mesmo que natildeo seja a pessoa que tem o nome na nota fiscal O ―somente possui
o papel de restringir a interpretaccedilatildeo de toda ocorrecircncia ao maacuteximo direcionando a leitura do
texto para evitar muacuteltiplas interpretaccedilotildees Com esse uso natildeo eacute possiacutevel que cliente interprete
que ele pode ter acesso a garantia caso natildeo cumpra alguma das recomendaccedilotildees Natildeo
identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (47)
(48) O Certificado de Garantia eacute vaacutelido SOMENTE para os
condicionadores vendidos e instalados no territoacuterio brasileiro
(Certificado 19)
Em (48) semelhante agraves ocorrecircncias (31) e (39) o fabricante utiliza o termo ―somente
para restringir o territoacuterio de cobertura da garantia Neste caso condicionadores adquiridos e
utilizados em outros paiacuteses natildeo seratildeo cobertos pela garantia descrita acima Ainda retomando
a discussatildeo sobre a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro consideramos que pelo fato do autor do
texto natildeo ter apresentado um conceito para esta expressatildeo em nenhum local do certificado de
garantia da forma como se apresenta ela pode ser interpretada de outras maneiras assim
como discutimos nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)
(49) Para o uso de condicionadores de ar em ambientes com alta
concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre
seraacute vaacutelida SOMENTE a garantia legal de 90 (noventa) dias contados
80
da data de emissatildeo da nota fiscal de compra do produto
(Certificado 19)
Na ocorrecircncia (49) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da
garantia do produto que seja utilizado em ambientes especiacuteficos como ―ambientes com alta
concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre Dessa forma o
fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a qualquer solicitaccedilatildeo de garantia ―normal ou seja prazo
de validade de garantia para condicionadores de ar que satildeo utilizados em ambientes
considerados ―normais por parte de um cliente que utilize o produto em ambientes como os
descritos acima Dessa forma o uso do ―somente se justifica pelo fato de que o fabricante
busca direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha duacutevidas de que como
descrito em (49) os produtos utilizados em ambientes atiacutepicos soacute estaratildeo cobertos pela
garantia legal Assim como jaacute discutimos em outras ocorrecircncias anteriormente o fabricante
utiliza a expressatildeo ―garantia legal que eacute uma expressatildeo teacutecnica do CDC e para que ela natildeo
se tornasse polissecircmica logo apoacutes seu uso o autor apresentou o conceito para o termo que eacute
o de um periacuteodo de 90 dias corridos compreendidos imediatamente apoacutes a expediccedilatildeo da nota
fiscal de compra do produto
(50) A partir do 91ordm (nonageacutesimo primeiro) dia tais despesas satildeo de
responsabilidade uacutenica e exclusiva do consumidor
(Certificado 19)
Em (50) o fabricante natildeo utilizou os termo ―somente e ―apenas mas
consideraremos em nossa anaacutelise a utilizaccedilatildeo da expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como
umas expressotildees utilizadas para restringir interpretaccedilotildees como discutimos anteriormente em
outras anaacutelises Na sentenccedila acima o fabricante utilizou a expressatildeo de restriccedilatildeo para
enfatizar que passados os trecircs meses de garantia as despesas referentes a qualquer
manutenccedilatildeo e garantia do produto seratildeo de responsabilidade do cliente Como apresentamos
na ocorrecircncia (49) a garantia legal para um produto cobre os primeiros 90 dias apoacutes a
emissatildeo da nota fiscal de compra do produto Ao informar em (50) que a partir do primeiro
dia apoacutes o teacutermino da garantia legal despesas referentes ao traslado do produto para
manutenccedilatildeo seraacute de responsabilidade do cliente o autor utiliza a expressatildeo ―uacutenica e
exclusiva para se resguardar de qualquer possibilidade de participaccedilatildeo em possiacuteveis gastos
81
Caso o fabricante natildeo tivesse enfatizado essa informaccedilatildeo utilizando esta expressatildeo o cliente
poderia interpretar por exemplo que poderia haver algum caso em que o fabricante se
responsabilizaria por tais gastos Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (50)
(51) A reposiccedilatildeo de peccedilas defeituosas e execuccedilatildeo dos serviccedilos decorrentes
desta Garantia SOMENTE seratildeo procedidas nas localidades do
territoacuterio brasileiro onde a ENVISION mantiver ―Centro de Serviccedilo
Autorizado de titularidade dela proacutepria ou de terceiro por ela
expressamente indicado onde deveraacute ser entregue o produto para
reparo
(Certificado 20)
Na ocorrecircncia (51) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir os locais de
execuccedilatildeo de serviccedilos da garantia Neste caso o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a por
exemplo natildeo haver assistecircncias teacutecnicas em todas as cidades do paiacutes Aleacutem de enfatizar que o
produto deveraacute ser entregue na assistecircncia pelo cliente ou seja o fabricante natildeo se
responsabiliza quanto ao recolhimento do produto para reparo A utilizaccedilatildeo do ―somente se
justifica pelo fato de que o fabricante busca restringir ao maacuteximo as possibilidades de
interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o ―somente o cliente
poderia por exemplo interpretar que se a cidade em que o cliente tenha adquirido o produto
natildeo tenha uma assistecircncia teacutecnica a fabricante se responsabilizaria pelo recolhimento do
produto para manutenccedilatildeo numa cidade que possua a assistecircncia teacutecnica Com a utilizaccedilatildeo do
―somente precedendo as demais informaccedilotildees natildeo eacute possiacutevel interpretar a ocorrecircncia dessa
maneira Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termo vagos na ocorrecircncia (51)
(52) Esta Garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver
devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original
da Nota Fiscal de Compra
(Certificado 20)
Na ocorrecircncia (52) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a forma
como o cliente deve solicitar a garantia do produto Caso o cliente deixe de apresentar o
certificado preenchido corretamente eou a nota fiscal de compra a garantia seraacute invalidada
82
Assim como na ocorrecircncia (51) o autor fabricante utiliza o ―somente para restringir ao
maacuteximo a interpretaccedilatildeo do texto Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente
haveria a possibilidade de o cliente interpretar que a garantia do produto seria vaacutelida caso o
certificado estivesse preenchido sem rasuras acompanhado da nota fiscal de compra mas
tambeacutem de qualquer outra forma A ocorrecircncia ficaria sem limites para interpretaccedilatildeo caso o
fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente Poreacutem como o termo foi utilizado natildeo
haacute outra forma de o cliente interpretar a ocorrecircncia sobre a validade da garantia do produto
Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (52)
(53) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS se o produto for reparado pela rede
autorizada Rheem ou por autorizaccedilatildeo preacutevia formalizada pelo
Departamento de Assistecircncia Teacutecnica
(Certificado 20)
Na ocorrecircncia (53) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a validade da
garantia quanto ao local de assistecircncia Caso o produto seja reparado por profissional natildeo
autorizado pela fabricante Rheem a garantia do produto seraacute perdida A importacircncia o uso do
termo ―apenas na ocorrecircncia (53) se daacute pelo fato de que o autor busca restringir a
interpretaccedilatildeo do texto ao maacuteximo Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―apenas o
cliente poderia por exemplo interpretar que a garantia do produto eacute vaacutelida em qualquer
situaccedilatildeo e natildeo unicamente se seguir as recomendaccedilotildees descritas apoacutes o uso do termo
―apenas Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (53)
(54) Os produtos SOMENTE poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para
anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes sua autorizaccedilatildeo por escrito
(Certificado 21)
Na ocorrecircncia (54) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o modo
como deve submeter o produto agrave garantia Caso natildeo haja uma autorizaccedilatildeo por escrito para
enviar o produto para a faacutebrica o produto natildeo poderaacute seguir para anaacutelise A importacircncia da
utilizaccedilatildeo do termo ―somente se daacute pelo fato de que caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o
termo na ocorrecircncia (54) a interpretaccedilatildeo do texto ficaria sem limites ou seja os produtos
poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes a autorizaccedilatildeo por
83
escrito ou de qualquer outra forma Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (54)
34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS
Em nossa pesquisa analisamos cinquenta e quatro ocorrecircncias selecionadas a partir
dos vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Dividimos a anaacutelise por tipos de
ocorrecircncias com quantificador universal com condicional e com o apenassomente Para
apresentar um panorama sobre os tipos de ocorrecircncia e a quantidade das anaacutelises de cada tipo
vamos observar o quadro a seguir
Tipo de ocorrecircncia Nuacutemero de ocorrecircncias
Quantificador universal 15
Condicional 9
ApenasSomente 30
TOTAL 54
Quadro 2 ndash Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia Fonte elaborado pelo autor
Antes de discorrer nossos comentaacuterios sobre as anaacutelises de nosso trabalho temos que
tratar sobre a primeira importante impressatildeo que tivemos diante do corpus e das consequentes
anaacutelises dos quatro nexos semacircnticos que invocamos em nosso trabalho somente
identificamos ocorrecircncias com acarretamentos Tratamos com muita naturalidade este fato
porque por mais que em algumas leituras uma parte do conteuacutedo do segundo capiacutetulo possa
ser vista como desnecessaacuteria ndash pelo fato de tais conceitos natildeo estarem presentes nas anaacutelises
dessa pesquisa ndash encontramos aiacute uma caracteriacutestica do gecircnero textual certificado de garantia
que eacute a presenccedila de diversos acarretamentos mesmo que natildeo-expliacutecitos como demonstramos
em nosso trabalho (porque o gecircnero textual certificado de garantia natildeo possui uma linguagem
tatildeo controlada quanto a linguagem encontrada nos exemplos que criamos para ilustrar os
conceitos dos nexos) Dessa maneira fica claro que natildeo encontramos ocorrecircncias com
equivalecircncias semacircnticas contrariedades ou contraditoriedades o que nos permite definir
estas ausecircncias como uma caracteriacutestica intriacutenseca do gecircnero
84
Na primeira parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o quantificador
universal Identificamos quinze ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia
utilizaram esse recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (1) e (15)
percebemos que o uso do quantificador universal em algumas ocorrecircncias serviu apenas para
reforccedilar a informaccedilatildeo que o fabricante quis veicular ou seja se natildeo tivesse sido utilizado natildeo
modificaria o sentido do texto Pudemos identificar esse sentido por exemplo nas
ocorrecircncias (1) e (2)
Aleacutem desse sentido para o uso do quantificador universal encontramos ocorrecircncias
em que caso o quantificador natildeo tivesse sido utilizado haveria a possibilidade de
interpretarmos a ocorrecircncia de vaacuterias maneiras Nesses casos os autores utilizaram o
quantificador para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo direcionando a leitura do texto
para que o cliente possa interpretar o certificado da forma que o fabricante deseja Pudemos
identificar esse sentido por exemplo nas ocorrecircncias (3) (4) e (8)
Pudemos observar que os autores dos certificados de garantia utilizam tambeacutem o
quantificador universal em seus textos para se resguardarem em relaccedilatildeo a deveres que
poderiam ser reclamados pelo cliente caso natildeo houvesse o uso deste recurso Dessa forma
podemos entender que os autores dos certificados utilizaram o quantificador universal para se
favorecerem Pudemos observar essa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (5) (11) (13) e
(14) Em relaccedilatildeo a ocorrecircncias com o uso do quantificador universal em que o cliente eacute
beneficiado natildeo identificamos nenhum caso em nossa anaacutelise
Sobre o aparecimento de termos vagos ou termos polissecircmicos nas ocorrecircncias com a
presenccedila do quantificador universal pudemos observar que o maior motivo da sensibilidade
dos textos a esses tipos de efeitos linguiacutesticos eacute o fato de os autores dos textos em muitos
casos natildeo conceituarem os termos teacutecnicos que eles utilizam nos certificados de garantia Ao
utilizar um termo teacutecnico como por exemplo na ocorrecircncia (3) em que o autor do
certificado de garantia utiliza o termo ―viacutecio do produto ndash termo teacutecnico do CDC ndash natildeo
apresentando o conceito em seu texto dificulta a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Tendo contato
com o termo de forma solta sem estar delimitada pelo conceito que o autor deseja que o
cliente interprete a ocorrecircncia se torna vaga e polissecircmica
Ainda sobre os termos vagos ou termos polissecircmicos encontramos tambeacutem
ocorrecircncias em que os autores buscaram evitaacute-las justamente apresentando apoacutes a utilizaccedilatildeo
de um termo teacutecnico o seu respectivo conceito desta forma natildeo oferecendo a possibilidade
de interpretaacute-lo de vaacuterias maneiras Pudemos observar este uso por exemplo na ocorrecircncia
(10) em que o autor do certificado usa o termo ―garantia legal e logo em seguida apresenta
85
o conceito para o termo que eacute ―os primeiros 90 dias Dessa forma o cliente natildeo eacute autorizado
a interpretar o termo ―garantia legal de nenhuma outra forma que natildeo seja a descrita pelo
fabricante
Na segunda parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o uso do condicional
Identificamos nove ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia utilizaram este
recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (16) e (24) pudemos identificar
que o condicional foi utilizado pelos autores dos textos precedendo listas instrucionais o que
era esperado devido a caracteriacutestica proacutepria desse recurso que eacute o de condicionar algo agrave
alguma coisa Assim como nas ocorrecircncias que os autores utilizaram o quantificador
universal o condicional foi utilizado em boa parte das ocorrecircncias analisadas para restringir
a interpretaccedilatildeo do texto Pudemos identificar este sentido por exemplo nas ocorrecircncias (16)
(17) e (18)
Identificamos em boa parte das ocorrecircncias que possuem o uso do condicional que
este uso natildeo impotildee um limite na interpretaccedilatildeo Pudemos observar em nossa anaacutelise que os
condicionais foram utilizados precedendo listas exaustivas que continham situaccedilotildees por
exemplo em que a garantia seria invalidada Ao apresentar tais listas os autores natildeo
especificavam que natildeo haveria outros casos fora da lista em que a garantia seria invalidada
Dessa forma observamos que assim como nas ocorrecircncias com quantificador universal os
autores utilizaram os condicionais para se favorecerem Identificamos na ocorrecircncia (22)
recursos que restringem ainda mais as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente e
que consequentemente favorecem o fabricante como o uso do termo ―cumulativamente
que obriga o cliente a natildeo apenas estar dentro de uma ou mais situaccedilotildees descritas pelo
fabricante apoacutes o condicional mas a seguir todas as situaccedilotildees descritas ao mesmo tempo
Quando os fabricantes utilizaram o condicional precedendo listas que constam as
situaccedilotildees em que o cliente poderia perder a garantia eles usaram o recurso sem limites como
pudemos observar na ocorrecircncia (21) Mas quando os fabricantes utilizaram o condicional
precedendo listas que constam as situaccedilotildees em que o cliente tem direito a garantia eles
usaram os recursos com limites e como mostramos na ocorrecircncia (22) ainda utilizaram
recursos que limitam mais ainda a garantia
Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem das ocorrecircncias em que o condicional apareceu
de forma expliacutecita ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o mesmo
sentido como em (19) (20) e (24)
Sobre a presenccedila de termos polissecircmicos ou termos vagos nas ocorrecircncias com o uso
do condicional pudemos identificar que diferente das ocorrecircncias com o uso do
86
quantificador universal natildeo encontramos casos de termos vagos ou termos polissecircmicos nas
ocorrecircncias analisadas Identificamos em muitas ocorrecircncias que os autores dos certificados
apresentaram os conceitos para termos teacutecnicos apoacutes uso geralmente entre parecircnteses para
evitar que o termo ou a expressatildeo fossem interpretados de formas indevidas Encontramos
este tipo de estrateacutegia por exemplo na ocorrecircncia (17) do certificado 3 em que o autor
utiliza os termos ―garantia legal e ―garantia contratual mas no texto do certificado haacute o
conceito para cada termo o que impossibilita que o cliente interprete os termos de diversas
maneiras Caso o fabricante tivesse utilizado os dois termos teacutecnicos e em lugar algum do
certificado de garantia ele apresentasse os conceitos para os termos oportunizaria por
conseguinte diversas possibilidades de interpretaccedilatildeo dificultando a leitura do texto por parte
do cliente
Na terceira parte da anaacutelise tratamos sobre as ocorrecircncias com o uso do ―apenas e do
―somente Identificamos trinta ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia
utilizaram esses recursos linguiacutesticos Apesar do nuacutemero elevado de ocorrecircncias os sentidos
em que o ―apenas e o ―somente foram utilizados natildeo variaram muito Em grande parte das
ocorrecircncias analisadas o ―apenas e o ―somente foram utilizados para restringir a validade
da garantia desde restriccedilotildees em relaccedilatildeo ao territoacuterio de vigecircncia ateacute tipos de ambientes em
que os produtos podem ser utilizados Um tipo de ocorrecircncia que foi bastante recorrente em
nosso corpus foi o que utilizou o ―apenas ou ―somente para delimitar o territoacuterio em que a
garantia pode ser vaacutelida como por exemplo nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)
Nestas ocorrecircncias haacute o uso da expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que levantamos na anaacutelise
uma discussatildeo sobre as possibilidades de interpretaccedilatildeo para tal expressatildeo pelo fato de natildeo
haver nos certificados de garantia analisados um conceito definido para ela A ausecircncia do
conceito para este termo nos certificados de garantia pode dificultar a interpretaccedilatildeo
Tambeacutem podemos afirmar que em grande parte das ocorrecircncias analisadas o uso do
―somente ou ―apenas serviu para impor limites agraves interpretaccedilotildees dos textos direcionando-
os para a interpretaccedilatildeo que o fabricante desejasse impor Ou seja em grande parte das
ocorrecircncias em que foi utilizado o ―somente precedendo uma situaccedilatildeo X caso natildeo houvesse
esse uso a garantia por exemplo seria vaacutelida na situaccedilatildeo X mas tambeacutem nas situaccedilotildees Y Z
W sem limites Sem o uso do ―somente nessas ocorrecircncias o texto da garantia natildeo teria
sentido definido Pudemos observar esse sentido em diversas ocorrecircncias analisadas como
por exemplo nas ocorrecircncias (27) e (28) Ilustrando caso natildeo houvesse o uso do ―apenas
nas ocorrecircncias (27) e (28) a garantia seria vaacutelida no territoacuterio brasileiro e em qualquer outro
Ainda sobre as ocorrecircncias usam o ―somente ou ―apenas para restringir o territoacuterio em que
87
a garantia seraacute vaacutelida observamos que algumas ocorrecircncias especificam mais a validade da
garantia como em (48) que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para produtos vendidos e
instalados em territoacuterio nacional e outras ocorrecircncias que especificam menos como em (39)
que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para o veiacuteculo comercializado em territoacuterio brasileiro
Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem de ocorrecircncias em que o ―apenas e ―somente
apareciam explicitamente ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o
mesmo sentido como em (35) (36) e (41)
Sobre o aparecimento de termos polissecircmicos ou termo vagos aleacutem da expressatildeo
―territoacuterio brasileiro que mencionamos nos paraacutegrafos anteriores pudemos identificar
outros casos de termos polissecircmicos como por exemplo nas ocorrecircncias (25) e (26) Os
termos teacutecnicos utilizados pelos autores dos certificados de garantia natildeo possuiacuteam em lugar
algum dos textos os conceitos para lhes definirem possibilitando que o cliente interprete
estes termos de diversas maneiras
Ainda sobre casos de termos polissecircmicos observamos em algumas ocorrecircncias que
os autores dos certificados procuraram utilizar os termos teacutecnicos e em seguida ou em
alguma parte dos textos apresentaram os conceitos para os termos evitando muacuteltiplas
interpretaccedilotildees Identificamos o uso dessa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (43) (44) e
(49)
Nos trecircs tipos de ocorrecircncias que definimos para nossa anaacutelise pudemos identificar
que nos usos do quantificador universal condicional e ―apenas e ―somente os autores dos
certificados de garantia usaram esses recursos para se favorecerem Como analisado nas
ocorrecircncias do corpus os fabricantes utilizaram essas estrateacutegias tanto pelo fato de que eacute
necessaacuterio utilizar esses recursos por ser caracteriacutestico de textos instrucionais quanto pelo
fato de que o direcionamento das interpretaccedilotildees dos textos que eles constroem a partir destes
recursos podem favorecer os proacuteprios fabricantes
88
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Na presente seccedilatildeo iremos pontuar o percurso de nossa pesquisa e apresentar nossas
impressotildees sobre o corpus as teorias apresentadas e os resultados obtidos com as anaacutelises
O primeiro capiacutetulo de nossa pesquisa foi subdividido em duas partes na primeira
buscamos apresentar os conceitos gerais sobre os gecircneros textuais com base na proposta de
Bakhtin (2000) reafirmada por Marcuschi (2008) com o intuito de fornecer aporte teoacuterico
para a segunda parte do capiacutetulo em que caracterizamos o certificado de garantia como um
gecircnero textual Tal caracterizaccedilatildeo se deu pelo fato do nosso corpus ser composto por vinte e
dois certificados de garantia Ficamos surpresos por tomar conhecimento do fato de que ateacute o
presente momento natildeo identificamos publicaccedilotildees acadecircmicas em nosso paiacutes referentes agrave
caracterizaccedilatildeo de certificados de garantia como gecircneros textuais e esta dificuldade nos levou
a construir atraveacutes de nossa leitura a caracterizaccedilatildeo tanto quanto ao conteuacutedo quanto agrave
estrutura do texto A uacutenica bibliografia que encontramos e utilizamos como base para a
estruturaccedilatildeo da segunda parte do capiacutetulo tratando diretamente sobre os certificados de
garantia foi o Coacutedigo de Defesa e Proteccedilatildeo do Consumidor (1997) em que pudemos extrair
alguns conceitos gerais e recomendaccedilotildees de como se deve construir o texto de um certificado
de garantia Um dos problemas que encontramos foi a carecircncia de detalhes apresentados pelo
CDC na seccedilatildeo em que sugerem um padratildeo de formulaccedilatildeo do documento O CDC apenas
enfatiza que se faz necessaacuterio o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo e por exemplo a
necessidade de ser acompanhado do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto Com base
nessas informaccedilotildees apresentamos os conceitos e tambeacutem um exemplo de certificado de
garantia ilustrando cada parte da estrutura do texto
Na introduccedilatildeo do segundo capiacutetulo apresentamos uma discussatildeo geral sobre a
distinccedilatildeo entre semacircntica e pragmaacutetica com o objetivo de caracterizar os nexos como
relaccedilotildees linguiacutesticas do campo da semacircntica Para isso apresentamos tambeacutem os conceitos e
exemplos de relaccedilotildees linguiacutesticas que satildeo consideradas como pertencentes ao campo da
pragmaacutetica como a implicatura e pressuposiccedilatildeo Para esta discussatildeo buscamos aporte teoacuterico
nas obras de autores como Trask (2004) Levinson (2007) Grice (1987) Basso (2009)
Moura (1999) e Santos (2012)
Apoacutes a introduccedilatildeo do capiacutetulo apresentamos a teoria dos nexos semacircnticos que
escolhemos tratar em nossa pesquisa Foram eles o acarretamento a equivalecircncia semacircntica
a contradiccedilatildeo e a contrariedade Utilizamos como referencial teoacuterico para a teoria dos nexos
89
semacircnticos autores como Aristoacuteteles (1985) Chierchia (2001) Branquinho Murcho e Gomes
(2006) Pires de Oliveira (2001) e Mortari (2001) A apresentaccedilatildeo de cada nexo se deu a
partir dos conceitos seguidos de exemplos e dentro de cada seccedilatildeo apresentamos tambeacutem
tipos de ocorrecircncias lexicais que podem dificultar a intepretaccedilatildeo dos nexos que satildeo a
polissemia e a vagueza Ao apresentar os conceitos dessas ocorrecircncias lexicais assim como
fizemos na apresentaccedilatildeo dos nexos tambeacutem ilustramos com exemplos Utilizamos como
aporte teoacuterico para os conceitos de polissemia e vagueza autores como Crystal (1985) Allan
(2010) e Kempson (1977) Aleacutem da polissemia e vagueza tratamos sobre outro problema
que dificulta a interpretaccedilatildeo dos nexos as falaacutecias Quando tratamos sobre as caracteriacutesticas
das falaacutecias utilizamos como base teoacuterica o texto de Soares (2003) em que o autor distingue
as caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias e com esse aporte apresentamos nossos
exemplos
Quando tratamos sobre a contradiccedilatildeo e contrariedade apresentamos o fato de que as
suas origens tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica A partir disso trouxemos uma breve apresentaccedilatildeo
sobre os conceitos de Aristoacuteteles presentes em seu texto Organon (1985) mais
especificamente no Perieacutermeneas capiacutetulos 6 e 7
No final do capiacutetulo dois fizemos uma retrospectiva de todos os pontos que foram
apresentados ao longo do capiacutetulo e justificamos a nossa escolha em pesquisar sobre os nexos
semacircnticos assim como a polissemia vagueza e falaacutecias Durante todo o capiacutetulo dois
apresentamos os nexos e outras relaccedilotildees lexicais dentro de uma linguagem controlada que eacute
diferente do que acontece nos textos dos diversos gecircneros inclusive naquele escolhido para
compor o nosso corpus que satildeo os certificados de garantia A importacircncia dos conceitos
apresentados em nosso segundo capiacutetulo se deu pelo fato de que ele oferece uma base para a
compreensatildeo do funcionamento dessas relaccedilotildees semacircnticas para que diante das anaacutelises que
realizamos no capiacutetulo trecircs tenhamos uma leitura mais refinada e atenciosa para perceber
como essas relaccedilotildees semacircnticas tiacutepicas de linguagens controladas se apresentam em textos
que satildeo suscetiacuteveis a diversas ocorrecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo Ficamos surpresos
pelo fato de que pouco se escreveu sobre nexos semacircnticos em nosso contexto nacional de
pesquisa o que tornou a construccedilatildeo do nosso segundo capiacutetulo bastante desafiadora Em
relaccedilatildeo a artigos que trataram diretamente sobre os nexos semacircnticos e os seus usos como
suporte para a anaacutelise de ocorrecircncias em gecircneros textuais tivemos contato apenas com Santos
(2012) e Estrela e Santos (2013 2014)
No terceiro capiacutetulo que foi dedicado para conter a anaacutelise desta pesquisa
inicialmente apresentamos nossa justificativa para a escolha do gecircnero certificado de garantia
90
para analisar assim como a justificativa para a escolha de procurar nesses textos as
estrateacutegias linguiacutesticas utilizadas para restringir a interpretaccedilatildeo de sentenccedilas Em seguida
tratamos sobre os tipos de ocorrecircncias que elegemos para nossa anaacutelise como quantificador
universalcondicional e o ―apenas e o ―somente Esta escolha se deu pelo fato de tais
termos possuem caracteriacutesticas propiacutecias para o uso em restriccedilotildees ou abrangecircncias de textos
Mesmo assim tiacutenhamos conhecimento de que dificilmente encontrariacuteamos ocorrecircncias com
as relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos no capiacutetulo dois de forma expliacutecita e controlada
pois como discutimos anteriormente os diversos gecircneros textuais satildeo suscetiacuteveis a
interferecircncias lexicais que podem dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos
Em seguida apresentamos a anaacutelise do nosso corpus que totalizou cinquenta e quatro
trechos de certificados nos trecircs tipos de ocorrecircncias escolhidas para serem investigadas
Como jaacute apresentamos no final do capiacutetulo anterior nossas impressotildees sobre como foram
utilizados os recursos linguiacutesticos para restriccedilatildeo de interpretaccedilotildees pelos autores dos
certificados gostariacuteamos de enfatizar que nas ocorrecircncias com quantificador universal com
condicional e com o ―apenas e ―somente os fabricantes utilizaram estes recursos em
grande parte dos certificados para se favorecerem ou seja para abranger as possibilidades de
invalidade da garantia do produto aumentando as situaccedilotildees em que a garantia eacute perdida e
diminuindo as situaccedilotildees em que a garantia eacute vaacutelida (principalmente nas listas exaustivas)
Sobre ocorrecircncias em que identificados termos vagos ou termos polissecircmicos
identificamos como o motivo principal do aparecimento dessas ocorrecircncias a falta de
definiccedilatildeo dos termos teacutecnicos Em muitos certificados identificamos que os autores utilizaram
termos teacutecnicos (a maioria deles provenientes do CDC) e natildeo apresentaram em nenhuma
parte do texto as definiccedilotildees para tais termos oportunizando que o leitor interprete de
diversas maneiras os termos ou expressotildees
Por fim pudemos perceber que os quantificadores os condicionais e termos como o
―apenas e o ―somente que satildeo responsaacuteveis por abranger ou restringir interpretaccedilotildees de
sentenccedilas satildeo proacuteprios do tipo de texto instrucional que abarca o gecircnero que escolhemos para
nossa pesquisa A utilizaccedilatildeo desses termos seguiu uma ordem de apresentaccedilatildeo similar nos
vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Os quantificadores universais
apareceram muitas vezes nas explicaccedilotildees em que os fabricantes apresentavam prazos deveres
e direitos do fabricante e cliente os condicionais apareceram na maioria das vezes
precedendo as listas exaustivas e o ―apenas e ―somente apareceram em grande parte nos
trechos em que os fabricantes apresentavam delimitaccedilotildees territoriais para cobertura da
91
garantia e explicaccedilotildees sobre as situaccedilotildees em que a garantia eacute invalidada e as situaccedilotildees em que
a garantia se assegura
Assim como justificamos no iniacutecio das consideraccedilotildees sobre os resultados obtidos em
nossa anaacutelise natildeo encontramos ocorrecircncias com trecircs dos quatro nexos semacircnticos
apresentados no segundo capiacutetulo O fato de natildeo termos identificado ocorrecircncias com
equivalecircncias semacircnticas contrariedades e contraditoriedades traacutes a tona uma interessante
caracteriacutestica do gecircnero certificado de garantia que eacute a constante presenccedila de acarretamentos
na redaccedilatildeo do texto mesmo que apresentados indiretamente diferente dos exemplos que
utilizamos para ilustrar os conceitos nos diversos textos sobre o assunto e a natildeo utilizaccedilatildeo de
equivalecircncias sentenccedilas contraacuterias e contraditoacuterias na redaccedilatildeo do texto
Atraveacutes dessa pesquisa em que tratamos sobre os nexos semacircnticos a polissemia a
vagueza e alguns outros tipos de relaccedilotildees semacircnticas desejamos que outros pesquisadores se
interessem por este tipo de trabalho e busquem explorar nas anaacutelises linguiacutesticas outros
gecircneros textuais pouco explorados como o que utilizamos no presente trabalho Apresentar
uma teoria que eacute tipicamente de linguagens controladas como a dos nexos semacircnticos (que
satildeo como jaacute discutimos dependentes unicamente da forma das sentenccedilas) e analisar como
essas estrateacutegias linguiacutesticas se comportam dentro de textos instrucionais (que ainda satildeo
pouco explorados nas anaacutelises semacircnticas) satildeo a nosso ver interessantes caminhos a serem
desbravados nos estudos da semacircntica assim como as suas aplicaccedilotildees nos diversos gecircneros
textuais que nos rodeiam
92
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95
ANEXOS
Certificado 1
96
Certificado 2
97
Certificado 3
98
Certificado 4
99
Certificado 5
100
Certificado 6
101
Certificado 7
102
Certificado 8
103
Certificado 9
104
105
Certificado 10
106
Certificado 11
107
Certificado 12
108
109
Certificado 13
110
Certificado 14
111
112
Certificado 15
113
114
Certificado 16
115
116
117
118
119
120
121
Certificado 17
122
Certificado 18
123
Certificado 19
124
125
Certificado 20
126
Certificado 21
127
Certificado 22
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 13
1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA 16
11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS 16 12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL 26
2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS 32
21 ACARRETAMENTO 35 22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA 42 23 CONTRADITORIEDADE 45 24 CONTRARIEDADE 48 25 JUSTIFICANDO O PERCURSO 51
3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA 53
31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL 55 32 USO DO CONDICIONAL 64 33 USO DO APENASSOMENTE 68 34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS 83
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 88
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 92
ANEXOS 95
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa 14
QUADRO 2 - Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia 83
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
ILUSTRACcedilAtildeO 1 - Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 27
ILUSTRACcedilAtildeO 2 - Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28
ILUSTRACcedilAtildeO 3 - Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28
ILUSTRACcedilAtildeO 4 - Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28
ILUSTRACcedilAtildeO 5 - Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 29
13
INTRODUCcedilAtildeO
A abordagem das relaccedilotildees de significado eacute algo bastante presente e discutido nos
estudos semacircnticos Observar como se comportam os termos na construccedilatildeo da significaccedilatildeo
em textos de diversos gecircneros distintos e seus efeitos interpretativos tambeacutem satildeo temas de
diversas produccedilotildees na aacuterea de linguiacutestica
Neste trabalho iremos discutir as relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e os efeitos
interpretativos dessas relaccedilotildees em textos Mais especificamente abordaremos os nexos
semacircnticos ou nexos de significado (Chierchia 2003) acarretamento equivalecircncia semacircntica
contrariedade (os quais podemos encontrar no referido trabalho de Chierchia) e
contraditoriedade (nexo semacircntico que geralmente eacute relacionado com a contrariedade e que
foi tratado por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado atraveacutes de seu quadrado loacutegico
ou taacutebua de oposiccedilotildees em seu texto Perieacutermeneas (1985) mais especificamente nos
capiacutetulos 6 e 7 sobre o qual faremos menccedilatildeo na seccedilatildeo sobre este nexo)
Este trabalho tem por objetivo observar alguns dos recursos linguiacutesticos utilizados
para favorecer a existecircncia de nexos semacircnticos e com isso restringir ou ampliar
possibilidades de interpretaccedilatildeo em um gecircnero textual especiacutefico Por este motivo o gecircnero
que escolhemos analisar foi o certificado de garantia ou termo de garantia que pertence agrave
categoria dos textos instrucionais (ou injuntivos) e a nosso ver possui caracteriacutesticas que
favorecem a amostragem das ocorrecircncias dos nexos
O gecircnero certificado de garantia possui como uma de suas caracteriacutesticas a
apresentaccedilatildeo organizada dos direitos e deveres do cliente e do fabricante com relaccedilatildeo a um
produto servindo tambeacutem para informar ao cliente os seus direitos referentes agrave validade
prazos e extensatildeo de cobertura da garantia Supotildee-se entatildeo que o texto deve por isso ser
objetivo e livre de ambiguidades e incoerecircncias
Nossa hipoacutetese eacute a de que recursos linguiacutesticos que favoreccedilam a existecircncia de nexos
semacircnticos nos textos dos certificados ndash como o emprego por exemplo de conectivos e
quantificadores (Chierchia 2003 PIRES DE OLIVEIRA 2001) ndash estatildeo presentes em textos
deste gecircnero e contribuem para que os textos alcancem o objetivo de informar ao cliente e ao
fabricante seus deveres e direitos
O corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de
garantia de produtos diversos para constituir um panorama ainda que reduzido de instacircncias
do gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes da internet sem utilizar nenhuma metodologia
14
especiacutefica de escolha atentando para buscar certificados de produtos variados Os textos
escolhidos para a anaacutelise de nosso trabalho incluem diversos produtos manufaturados como
moacuteveis veiacuteculos eletroeletrocircnicos entre outros equipamentos domeacutesticos como ilustrado no
quadro a seguir
Nordm Tipo de objeto Fabricante
1 Refrigerador Samsung
2 TV led Sony
3 Condicionador de ar LG
4 Tablet AOC
5 AudioMixer Oneal
6 Garantia para todos os produtos Elgin
7 Estabilizador de energia APC
8 Aquecedor de aacutegua Bosch
9 Fogatildeo Brastemp
10 Maacutequina de lavar Electrolux
11 Ventilador Cadence
12 GPS Positron
13 Umidificador de ar Springer
14 Certificado internacional de garantia Philips
15 Colchatildeo Ortobom
16 Caminhotildees Mercedes-Benz
17 Carro de passeio Hyundai
18 Moacuteveis Bartzen
19 Aquecedor de ar Fujitsu
20 Tv AOC
21 Aquecedor de aacutegua para piscina Rheem
22 Bicicleta Total Health
Quadro 1 ndash Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa Fonte elaborado pelo autor
Como nosso propoacutesito eacute analisar os textos observando as ocorrecircncias de termos que
restringem e abrangem interpretaccedilotildees natildeo temos a intenccedilatildeo de analisar se um fabricante
elaborou um texto melhor que outro
No primeiro capiacutetulo apresentamos num primeiro momento o que satildeo gecircneros
textuais e em seguida caracterizamos o certificado de garantia como um gecircnero textual Para
tanto utilizamos o aporte teoacuterico baseado na obra de Mikhail Bakhtin (2000) linguista do
iniacutecio do seacuteculo referecircncia nos estudos de gecircneros textuais e de Luiz Antocircnio Marcuschi
(2002 2005 2008) linguista contemporacircneo que desenvolveu importantes trabalhos nessa
disciplina Vale salientar que como o foco de nossa pesquisa natildeo eacute a discussatildeo de gecircneros
textuais o capiacutetulo que construiacutemos trata de conceitos gerais sobre gecircneros tendo como
15
objetivo observar que o certificado de garantia eacute um gecircnero textual e mostrando como se
estrutura em linhas gerais um texto deste gecircnero
No segundo capiacutetulo trataremos dos nexos semacircnticos dos quais consideraremos
para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e
contrariedade Atraveacutes de exemplos discutimos brevemente cada um deles mostrando
exemplos que funcionam e tambeacutem exemplos problemaacuteticos em relaccedilatildeo ao leacutexico
especialmente em casos de polissemia para que entatildeo seja possiacutevel a anaacutelise do capiacutetulo
seguinte
No terceiro capiacutetulo traremos a anaacutelise do corpus que se apresentaraacute organizado por
ocorrecircncias distribuiacutedas em tipos a saber uso do quantificador universal uso do condicional
e uso do apenassomente Apoacutes o exame das trecircs categorias citadas trataremos entatildeo das
relaccedilotildees entre o emprego dos recursos e a funccedilatildeo dos certficados Procuraremos tambeacutem
refletir se os recursos satildeo mais utilizados para favorecer o cliente ou mais utilizados para
favorecer o fabricante
Por uacuteltimo mostraremos as consideraccedilotildees finais do trabalho e em seguida as
referecircncias bibliograacuteficas utilizadas na elaboraccedilatildeo de nosso texto
16
1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA
Neste capiacutetulo tratamos dos gecircneros textuais e da caracterizaccedilatildeo dos certificados de
garantia como um gecircnero textual Em um primeiro momento traremos a perspectiva sobre
gecircneros textuais de Mikhail Bakhtin precursor dos estudos de gecircneros textuais na linguiacutestica
e em seguida apresentaremos a perspectiva de Luiz Antocircnio Marcuschi linguista brasileiro
que tambeacutem trabalha com o tema e compartilha em grande parte da perspectiva de Bakhtin
sobre o os gecircneros Eacute importante ressaltar que este capiacutetulo natildeo tem por objetivo o
aprofundamento nos estudos dos gecircneros e serve como um instrumento para contextualizar o
corpus desta pesquisa
11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS
Considerando a perspectiva apresentada por Mikhail Bakhtin na obra Esteacutetica da
criaccedilatildeo verbal (2000) o ato de se comunicar eacute indispensaacutevel para as relaccedilotildees humanas Aleacutem
disso ressaltamos que eacute por tal razatildeo que nas diversas situaccedilotildees de interaccedilatildeo que
vivenciamos em nosso cotidiano observamos a utilizaccedilatildeo da liacutengua em suas modalidades
oral eou escrita como instrumento principal de nossas trocas comunicativas
Eacute notoacuterio que a quantidade de atividades eacute enorme assim como satildeo os diferentes tipos
de situaccedilotildees em que a liacutengua eacute empregada Atraveacutes da formulaccedilatildeo de enunciados podemos
caracterizar quais as funccedilotildees dos discursos que escolhemos para os diversos tipos de
interaccedilatildeo
Nesse sentido eacute possiacutevel afirmarmos que todas as nossas construccedilotildees linguiacutesticas
organizam-se em gecircneros discursivos por meio dos quais conseguimos nos comunicar e
interagir socialmente
Em conformidade com a proposta de Bakhtin todo gecircnero discursivo se constitui a
partir das seguintes dimensotildees o conteuacutedo temaacutetico o estilo e a construccedilatildeo composicional
Esta descriccedilatildeo eacute claacutessica como ponto de partida para a descriccedilatildeo dos gecircneros textuais e nos
ofereceraacute a possibilidade de tanto descrever o que eacute um gecircnero textual quanto caracterizar
um texto como gecircnero que seraacute o nosso objetivo na segunda parte deste capiacutetulo
O conteuacutedo temaacutetico se refere ao tipo de assunto veiculado no texto Por tal razatildeo
Bakhtin (2000) afirma que o gecircnero eacute escolhido a partir do que o locutor decide falar Assim
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eacute faacutecil compreender por que cada atividade comunicativa necessita de um tipo especiacutefico de
textodiscurso Por exemplo natildeo se responde (normalmente) uma carta informal com uma
bula de remeacutedio (a natildeo ser que na carta um texto desse gecircnero seja solicitado como
resposta) Nesse sentido percebe-se que para cada esfera de comunicaccedilatildeo o locutor e
interlocutor utilizam uma mesma forma de expressatildeo tendo em vista o assunto que
escolheram tratar Caso contraacuterio se locutor e interlocutor agregam formas distintas de
expressatildeo pode ser que a comunicaccedilatildeo natildeo seja efetivada com sucesso visto que eacute possiacutevel
natildeo haver o entendimento das partes uma vez que cada gecircnero abarca certo campo de uso
mesmo estando em constante desenvolvimento
O estilo se refere aos recursos linguiacutesticos desde gramaticais ateacute lexicais e eles
variam de acordo com o gecircnero Essa dimensatildeo abarca a seleccedilatildeo frasal lexical gramatical e
as formas de apresentar o discurso que satildeo inerentes ao gecircnero escolhido Bakhtin (2000)
afirma que o estilo eacute a primeira vista individual do gecircnero e ela reflete (ou natildeo) a
individualidade de quem escreve ou fala Isso porque dependendo do gecircnero o estilo
individual aparece com mais clareza Da mesma forma haacute gecircneros que natildeo possuem essa
caracteriacutestica a exemplo dos textos injuntivos sobre os quais trataremos mais agrave frente Ainda
a respeito do estilo Bakhtin assegura que
Quando escolhemos as palavras no processo de construccedilatildeo de um enunciado nem
de longe as tomamos sempre do sistema da liacutengua em sua forma neutra
lexicograacutefica Costumamos tiraacute-las de outros enunciados e antes de tudo de
enunciados congecircneres com o nosso isto eacute pelo tema pela composiccedilatildeo pelo estilo
consequentemente selecionamos as palavras segundo a sua especificaccedilatildeo de
gecircnero O gecircnero do discurso natildeo eacute uma forma da liacutengua mas uma forma tiacutepica do
enunciado como tal forma o gecircnero inclui certa expressatildeo tiacutepica a ele inerente
(BAKHTIN 2010 [1992] p 292 grifos do autor)
Nessa perspectiva podemos afirmar que tal criteacuterio se refere agraves propriedades das
unidades de linguagem e relaciona-se agrave posiccedilatildeo enunciativa do locutor agraves sequecircncias textuais
e aos tipos discursivos que estruturam o texto
Por fim Bakhtin (2000) afirma que cada gecircnero possui uma forma padratildeo que eacute a
estrutura composicional Eacute atraveacutes dessa forma que podemos identificar qual gecircnero estaacute
sendo empregado pois essa dimensatildeo se refere aos procedimentos utilizados na formulaccedilatildeo
dos textos com a estrutura e demais aspectos formais incluindo as partes envolvidas no
discurso Em suma para Bakhtin (2000)
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Estes trecircs elementos (conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo composicional)
fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado e todos eles satildeo marcados pela
especificidade de uma esfera de comunicaccedilatildeo Qualquer enunciado considerado
isoladamente eacute claro individual mas cada esfera de utilizaccedilatildeo da liacutengua elabora
seus tipos relativamente estaacuteveis de enunciados sendo isso que denominamos
gecircneros do discurso (BAKHTIN 2000 p 279 Grifos do autor)
Ainda a respeito dos gecircneros do discurso conveacutem ressaltar que sua variedade eacute
proporcional agraves possibilidades de interaccedilotildees humanas pois as diversas esferas de interaccedilatildeo
satildeo compostas por classes de gecircneros que se desenvolvem tornando-se maiores e mais
complexas em consonacircncia com o desenvolvimento dessas esferas
Bakhtin (2000) utiliza o termo ―heterogeneidade para adjetivar os gecircneros do
discurso sejam eles orais ou escritos inferindo que estes incluem desde conversas informais
cartas relatos familiares ateacute produccedilotildees mais complexas como os documentos oficiais textos
cientiacuteficos e de escolas literaacuterias Natildeo haacute razatildeo para minimizar a extrema heterogeneidade
dos gecircneros do discurso e a consequente dificuldade quando se trata de definir o caraacuteter
geneacuterico do enunciadolsquo (BAKHTIN 2000 p 281) Dessa forma entendemos que a
variedade de gecircneros eacute muito grande se estendendo por exemplo dos romances mais
eruditos ateacute os bilhetes de recados do dia-a-dia e que tratar dos gecircneros admitindo suas
caracteriacutesticas estruturais particulares natildeo eacute uma tarefa faacutecil de realizar
Aleacutem de discorrer sobre as dimensotildees constitutivas de um gecircnero tendo em vista essa
heterogeneidade Bakhtin categoriza os gecircneros textuais em primaacuterios (simples) e
secundaacuterios (complexos) Assim os gecircneros primaacuterios satildeo aqueles referentes agraves reacuteplicas de
diaacutelogos cotidianos como cartas pessoais e demais gecircneros de comunicaccedilatildeo imediata Satildeo
chamados ―simples porque satildeo formados por discursos de baixa complexidade Jaacute os
gecircneros secundaacuterios satildeo aqueles referentes a romances textos cientiacuteficos sociopoliacuteticos e
afins Satildeo textos (escritos ou produzidos para serem encenados como os teatrais ndash exemplo
usado pelo proacuteprio Bakhtin) com maior carga de complexidade de produccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo
Surgem a partir de interaccedilotildees mais aprofundadas nas comunidades com maior grau de
imersatildeo em relaccedilatildeo aos padrotildees culturais e sociais
Ele ainda ressalta que os gecircneros secundaacuterios tambeacutem podem conter gecircneros
primaacuterios ―o romance em seu todo eacute um enunciado da mesma forma que a reacuteplica do
diaacutelogo cotidiano ou a carta pessoal (satildeo fenocircmenos da mesma natureza) o que diferencia o
romance eacute ser um enunciado secundaacuterio (complexo) (BAKHTIN 2000 p 281) Ao
discorrer sobre essa questatildeo o autor assevera que eacute de grande importacircncia teoacuterica a
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diferenciaccedilatildeo entre esses tipos de gecircneros pois com isso e a partir disso podemos fazer
anaacutelises precisas dos enunciados que podem contrapor dois ou mais tipos de textos
Ignorar as caracteriacutesticas intriacutensecas a cada gecircnero a ―natureza dos enunciados - que
segundo Bakhtin eacute indispensaacutevel para qualquer estudo ndash eacute partir para a abstraccedilatildeo da liacutengua
desvalorizando o conteuacutedo histoacuterico imerso em cada tipo de gecircnero Eacute importante considerar
a relaccedilatildeo existente entre ―a liacutengua e a vida e natildeo restringir os enunciados a categorias
formais Haacute portanto uma relaccedilatildeo de complementaccedilatildeo entre a liacutengua a vida e os enunciados
pois ―a liacutengua penetra na vida atraveacutes dos enunciados concretos que a realizam e eacute tambeacutem
atraveacutes dos enunciados concretos que a vida penetra na liacutengua (BAKHTIN 2000 p 282)
Bakhtin (2000) tambeacutem se refere a questotildees da ―totalidade do enunciado que ele
define como aquilo que oportuniza a resposta em um discurso Bakhtin afirma que essa accedilatildeo
eacute definida por trecircs fatores diretamente associados ao ―todo orgacircnico do enunciado
primeiramente o tratamento exaustivo do objeto de sentido depois o querer-dizer do locutor
e por fim as formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do acabamento
O tratamento exaustivo do objeto de sentido ―varia profundamente conforme as
esferas da comunicaccedilatildeo verbal Em algumas esferas ele pode ser quase total como por
exemplo na vida praacutetica na vida profissional na vida militar basicamente em esferas que
natildeo possuem caracteriacutesticas de mutabilidade de discurso e pouca ―criatividade nas
formulaccedilotildees entre outras palavras onde os gecircneros do discurso satildeo padronizados Jaacute nas
esferas em que os gecircneros satildeo ―criativos o tratamento exaustivo eacute muito menos abrangente
como no caso das ciecircncias em particular onde Bakhtin infere que o tratamento exaustivo
―oferece exatamente um miacutenimo de acabamento capaz de suscitar uma atitude responsiva
(BAKHTIN 2000 p 300)
O querer-dizer do locutor estaacute ligado ao primeiro fator O filoacutesofo afirma que em todo
enunciado desde uma reacuteplica cotidiana ateacute complexas obras cientiacuteficas ou da literatura
compreendemos sentimos o ―intuito discursivo ou querer-dizer do locutor que eacute o que
determina o ―todo do enunciado sua amplitude suas fronteiras Noacutes identificamos o que o
locutor quer expressar e a partir dessa detecccedilatildeo medimos e definimos como se daraacute o
enunciado Isso eacute determinante para a escolha do objeto com seus limites e o tratamento
exaustivo do objeto adequado a este aleacutem de ser essencial para a escolha da forma do gecircnero
onde seraacute edificado
As formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do gecircnero do acabamento representam o fator mais
importante para Bakhtin que as descreve como ―formas estaacuteveis do gecircnero do enunciado
(BAKHTIN 2000 p 301)
20
As formas do gecircnero agraves quais modelamos nossa fala se distinguem
substancialmente das formas da liacutengua do ponto de vista de sua estabilidade e de
suas leis normativas para o locutor De um modo geral elas satildeo mais maleaacuteveis
mais plaacutesticas e mais livres do que as formas da liacutengua (BAKHTIN 2000 p 302)
Concluindo a discussatildeo sobre gecircneros a partir dos conceitos gerais propostos por
Bakhtin passamos agora para a discussatildeo sobre gecircneros realizada por Marcuschi (2008) Eacute
possiacutevel perceber ao longo da explanaccedilatildeo que este autor se identifica com a teoria
bakhtiniana de gecircneros textuais e foi essa identificaccedilatildeo uma das motivaccedilotildees que nos levou a
escolhecirc-los para a composiccedilatildeo deste capiacutetulo
De acordo com Marcuschi (2008 p 154) toda comunicaccedilatildeo soacute pode ser efetivada
por meio de um gecircnero pois ―eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum gecircnero
assim como eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum texto Partindo dessa
premissa podemos entender que qualquer manifestaccedilatildeo verbal se daacute dentro dos limites dos
gecircneros Eacute por esse motivo que a variedade de gecircneros eacute extensa mas natildeo infinita Atraveacutes
desse conceito observamos que Marcuschi compactua com o conceito bakhtiniano de que os
gecircneros possuem formas padronizadas e finitas
Os gecircneros textuais satildeo os textos que encontramos em nossa vida diaacuteria e que
apresentam padrotildees sociocomunicativos caracteriacutesticos definidos por composiccedilotildees
funcionais objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integraccedilatildeo
de forccedilas histoacutericas sociais institucionais e teacutecnicas (Marcuschi 2008 p 155)
Natildeo devemos considerar os gecircneros textuais como modelos imutaacuteveis e de ―estrutura
riacutegidas A apresentaccedilatildeo dos gecircneros se mostra ligada diretamente ao meio em que circulam
Satildeo formas culturais que tomam forma na liacutengua e que evoluem junto com ela Obviamente
que natildeo podemos deixar de considerar que os gecircneros possuem identidade e eacute atraveacutes dessa
identidade que escolhemos um tipo especiacutefico para cada esfera discursiva Dessa forma
admitimos que os gecircneros limitam nossa accedilatildeo na escrita
Em relaccedilatildeo agrave distinccedilatildeo entre gecircneros Marcuschi (2008) natildeo os distingue pelas formas
linguiacutesticas mas sim pelos seus campos de accedilatildeo Nesse sentido ele reafirma a perspectiva
bakhtiniana de que os gecircneros satildeo dinacircmicos e que por serem soacutecio-histoacutericos natildeo podem
ser contados de modo exaustivo o que dificulta sua classificaccedilatildeo Marcuschi (2008) afirma
que atualmente o objetivo maior nos estudos sobre gecircneros textuais eacute procurar identificar e
explicar como eles satildeo constituiacutedos e como circulam na sociedade
21
Eacute importante apresentar alguns conceitos referentes ao que estamos discutindo sobre
gecircneros do discurso dentre os quais destacamos os conceitos de tipo textual gecircnero textual e
domiacutenio discursivo segundo Marcuschi (2008) levando em consideraccedilatildeo a possibilidade de
se obter melhor entendimento no trato com o texto em si e seus fenocircmenos
O tipo textual eacute definido pelos aspectos linguiacutesticos ou seja por marcas lexicais
tempos verbais estilo relaccedilotildees loacutegicas e aspectos sintaacuteticos Logo relaciona-se mais agraves
sequecircncias linguiacutesticas do que a materializaccedilotildees textuais fazendo com que o conjunto
tipoloacutegico de textos seja limitado e natildeo apresente tendecircncias de aumentar Marcuschi (2002
p22) afirma que os tipos textuais compreendem categorias amplamente conhecidas como
narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo exposiccedilatildeo descriccedilatildeo e injunccedilatildeo que observaremos separadamente a
seguir
A narraccedilatildeo relata um fato que pode ser real ou imaginaacuterio em um tempo e lugar
definidos envolvendo personagens Nesse tipo de texto o tempo verbal predominante eacute o
passado ao menos nos exemplos mais tiacutepicos Eacute predominante em crocircnicas piadas
romances poemas faacutebulas entre outros Vejamos o exemplo a seguir
O cavalo e o burro
O cavalo e o burro seguiam juntos para a cidade O cavalo contente da vida
folgando com uma carga de quatro arrobas apenas e o burro mdash coitado gemendo
sob o peso de oito Em certo ponto o burro parou e disse
ndash Natildeo posso mais Esta carga excede agraves minhas forccedilas e o remeacutedio eacute repartirmos o
peso irmatildemente seis arrobas para cada um
O cavalo deu um pinote e relichou uma gargalhada
ndash Ingecircnuo Quer entatildeo que eu arque com seis arrobas quando posso tatildeo bem
continuar com as quatro Tenho cara de tolo
O burro gemeu
ndash Egoiacutesta Lembre-se que se eu morrer vocecirc teraacute que seguir com a carga de quatro
arrobas e mais a minha
O cavalo pilheriou de novo e a coisa ficou por isso Logo adiante poreacutem o burro
tropica vem ao chatildeo e rebenta
Chegam os tropeiros maldizem a sorte e sem demora arrumam com as oito arrobas
do burro sobre as quatro do cavalo egoiacutesta E como o cavalo refuga datildeo-lhe de
chicote em cima sem doacute nem piedade
ndash Bem feito exclamou o papagaio Quem mandou ser mais burro que o pobre burro
e natildeo compreender que o verdadeiro egoiacutesmo era aliviaacute-lo da carga em excesso
Tome Gema dobrado agorahellip
(LOBATO M 2010 p 85)
Acima podemos observar um exemplo de narraccedilatildeo que eacute uma das faacutebulas de
Monteiro Lobato escrita em grande parte em discurso direto Podemos observar na faacutebula
que o texto eacute conduzido pelo narrador intercalado pela interaccedilatildeo dos personagens A seguir
22
continuaremos a descriccedilatildeo dos tipos textuais e exemplos com o conceito do tipo textual
argumentativo
Jaacute a argumentaccedilatildeo tem por principal caracteriacutestica a construccedilatildeo do convencimento
acerca da validade ou invalidade de um ponto de vista por sobre outro Nesse tipo de texto haacute
a reflexatildeo sobre temas especiacuteficos confrontando perspectivas distintas predominante em
gecircneros como debates resenhas editoriais artigos de opiniatildeo e afins Vejamos o exemplo a
seguir
O povo brasileiro estaacute cansado de tanta corrupccedilatildeo desigualdade de renda serviccedilos
puacuteblicos precaacuterios sensaccedilatildeo de inseguranccedila nas ruas elevada carga tributaacuteria
ineficiecircncia nos gastos puacuteblicos e elevaccedilatildeo da inflaccedilatildeo aleacutem do estilo autoritaacuterio e
inflexiacutevel da presidente O estranho eacute pensar sobre as razotildees que levaram a
populaccedilatildeo agraves ruas no momento atual em que a economia apresentou uma
significativa evoluccedilatildeo em relaccedilatildeo aos anos 80 e 90 aleacutem de presenciar sensiacutevel
melhora na renda meacutedia e na sua distribuiccedilatildeo nos anos 2000
A minha impressatildeo eacute de que depois de sentir a possibilidade de que o paiacutes entraria
em uma rota segura de crescimento da renda e de desenvolvimento econocircmico
(semelhante agrave sensaccedilatildeo que a populaccedilatildeo brasileira presenciou nos anos 70) o
enfraquecimento econocircmico e os sinais cada vez mais claros de que ele eacute resultante
de problemas internos deixaram a populaccedilatildeo transtornada Mais uma vez somos
apenas o paiacutes do futuro (NAKABASHI 2013 Acesso
httpwwwgazetadopovocombropiniaoartigosmanifestacoes-e-governo-no-
brasil-bdcjgu3mm6ql5e18tqoj73c5q)
Observamos acima uma parte de um artigo de opiniatildeo publicado no jornal Gazeta do
Povo em 02072013 por Luciano Nakabashi que trata das manifestaccedilotildees e do governo no
Brasil O autor anuncia primeiro o problema que vai discutir e em seguida lanccedila sua opiniatildeo
sobre o tema o que faz com que esse tipo de texto seja distinto da exposiccedilatildeo que
abordaremos a seguir
A exposiccedilatildeo apresenta informaccedilotildees sobre acontecimentos materiais e objetos de
forma detalhada e especiacutefica e por isso costuma lanccedilar matildeo de recursos como a descriccedilatildeo
informaccedilatildeo enumeraccedilatildeo comparaccedilatildeo e contrastes O tipo expositivo eacute caracteriacutestico de
gecircneros como as aulas expositivas verbetes de dicionaacuterios notiacutecias jornaliacutesticas entre
outros Vejamos o exemplo
Dianoia Termo grego que pode ser traduzido por pensamento intelecto
espiacuterito A dianoia eacute o pensamento discursivo enquanto elaboraccedilatildeo explicitaccedilatildeo
ou desenvolvimento da noese ou nous isto eacute da razatildeo intuitiva que capta de
modo imediato o real (Aristoacuteteles Tratado da alma III) Neste sentido a dianoia eacute
inferior ao nous jaacute que depende deste (MARCONDES e JAPIASSUacute 2001 p54)
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Tomamos como exemplo de exposiccedilatildeo um verbete de um dicionaacuterio de filosofia
Podemos observar que os autores apresentam a palavra ―dianoia e em seguida conceituam a
dianoia a partir da perspectiva de um filoacutesofo especiacutefico (neste caso Aristoacuteteles)
O tipo textual descriccedilatildeo por sua vez eacute o relato particular de eventos e entidades e se
relaciona comumente com outros tipos em inuacutemeros gecircneros textuais Eacute caracteriacutestico em
cartazes promocionais anuacutencio de classificados entre outros Vamos observar agora um
exemplo de descriccedilatildeo atraveacutes da anaacutelise de uma obra de arte de Salvador Dali de 1955
intitulada ―A uacuteltima ceia
―Sua cena estaacute contida num retacircngulo Uma imensa janela ao fundo representada
por um dodecaedro (figura geomeacutetrica de 12 lados que sua vez satildeo pentaacutegonos ou
seja possuem cinco acircngulos cada um) domina toda a composiccedilatildeo
Jesus Cristo e seus 12 apoacutestolos estatildeo reunidos numa sala moderna envidraccedilada
Ele ocupa o centro da mesa de pedra o centro da tela e o centro do pentaacutegono
frontal do dodecaedro Cristo estaacute de frente para o observador contudo seu corpo
transluacutecido permite ver o mar e um barco o que indica que ele natildeo mais eacute humano
mas divino A sensaccedilatildeo que temos eacute de que seu corpo emerge de dentro do mar
Diante de Cristo sobre a mesa estatildeo um copo com vinho e as duas bandas do patildeo
jaacute repartido o que nos permite concluir que Daliacute pintou o momento da Eucaristia A
presenccedila dos barcos no mar remete aos ―pescadores de homens
A mesa eacute formada por um bloco retangular Doze apoacutestolos debruccedilam-se sobre ela
sendo trecircs agrave esquerda de Cristo e trecircs agrave direita Nas suas extremidades estatildeo quatro
apoacutestolos sendo dois de cada lado De costa para o observador estatildeo mais dois
deles Todos estatildeo com as cabeccedilas baixas Um dos apoacutestolos diverge dos demais ao
usar uma toga amarela O pintor queria com certeza diferenciaacute-lo Portanto tanto
pode ser Pedro o fundador da Igreja ou Judas o traidor
No alto com a cabeccedila invisiacutevel e com parte do tronco visiacutevel e os braccedilos abertos
Deus Pai humanizado abraccedila toda a cena como se aguardasse a chegada do Filho
que se encontra entre os homens Ao fundo um mar tranquilo com rochas
espalhadas e um ceacuteu cheio de nuvens compotildeem o segundo plano da tela (Viacuterus da
arte amp cia ndash Site brasileiro especializado em arte e cultura Disponiacutevel em
httpvirusdaartenetdali-a-ultima-ceia)
Acima podemos observar a descriccedilatildeo de uma obra de arte do pintor catalatildeo Salvador
dali retirado de uma paacutegina sobre arte Como o nome do tipo textual sugere a descriccedilatildeo tem
por objetivo descrever fatos mas tambeacutem caracteriacutesticas para objetos paisagens e situaccedilotildees
diversas No exemplo que utilizamos para descriccedilatildeo observamos a descriccedilatildeo de uma obra de
arte por parte de um espectador demonstrando detalhes do que estaacute impresso na pintura
assim como uma interpretaccedilatildeo da cena
O uacuteltimo tipo textual que consideraremos aqui eacute o tipo injuntivo que tem por objetivo
instruir o leitor ou persuadi-lo a fazer algo ou adotar algum ponto de vista Tambeacutem tem
como caracteriacutestica a induccedilatildeo do interlocutor a proceder de uma ou outra forma Geralmente
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eacute escrito no modo imperativo e eacute caracteriacutestico de gecircneros como a bula de remeacutedio os
manuais de instruccedilotildees receitas culinaacuterias e contratos Vale ressaltar que dentro dos textos
injuntivos podem-se encontrar outros tipos de texto como por exemplo descriccedilotildees de
objetos endereccedilos procedimentos etc Vejamos o exemplo a seguir
Bolo simples
Tempo de preparo 40 minutos
Rendimento 12 porccedilotildees
Ingredientes
2 xiacutecaras de accediluacutecar
3 xiacutecaras de farinha de trigo
4 colheres de margarina bem cheias
3 ovos
1 frac12 xiacutecara de leite aproximadamente
1 colher (sopa) de fermento bem cheia
Modo de preparo
1) Bata as claras em neve
2) Reserve
3) Bata bem as gemas com a margarina e o accediluacutecar
4) Acrescente o leite e a farinha aos poucos sem parar de bater
5) Por uacuteltimo agregue as claras em neve e o fermento
6) Coloque em forma grande de furo central untada e enfarinhada
7) Asse em forno meacutedio preacute-aquecido por aproximadamente 40 minutos
8) Quando espetar um palito e sair limpo estaraacute assado
(httpwwwtudogostosocombrreceita29124-bolo-simpleshtml Acesso em
20042014)
No exemplo uma receita culinaacuteria podemos observar que haacute descriccedilatildeo na primeira
parte (a lista de ingredientes) e na segunda parte (modo de preparo) que eacute a mais
nitidamente injuntiva encontramos instruccedilotildees de como proceder na execuccedilatildeo da receita
Aleacutem da classificaccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo dos tipos de texto eacute interessante observarmos
tambeacutem a definiccedilatildeo de gecircneros textuais e domiacutenio discursivo conforme Marcuschi (2008)
Os gecircneros textuais satildeo definidos como ―textos materializados em situaccedilotildees
comunicativas recorrentes (MARCUSCHI 2008 p155) que apresentam caracteriacutesticas
soacutecio-comunicativas marcadas pelos conteuacutedos e pelas propriedades referentes agraves funccedilotildees e
composiccedilatildeo Diferente dos tipos textuais que se restringem a cerca de meia duacutezia como
afirma Marcuschi (2008) ―os gecircneros satildeo inuacutemeros Tambeacutem haacute de ressaltar que satildeo
culturalmente e historicamente formados visto que evoluem no mesmo passo que as
comunidades
O domiacutenio discursivo por sua vez eacute a esfera de atividade humana em que os textos
circulam Ele natildeo eacute um texto em si mas proporciona o surgimento de discursos especiacuteficos
Para ilustrar podemos citar alguns domiacutenios como discurso religioso discurso juriacutedico etc
25
O domiacutenio eacute constituiacutedo por praacuteticas do discurso nas quais podemos identificar uma seacuterie de
gecircneros que possuem a mesma proposta discursiva como o tema e as praacuteticas institucionais
ou informais
As definiccedilotildees aqui trazidas de gecircnero tipo domiacutenio discursivo satildeo muito mais
operacionais do que formais e seguem de perto a posiccedilatildeo bakhtiniana Assim para a
noccedilatildeo de tipo textual predomina a identificaccedilatildeo de sequecircncias linguiacutesticas como
norteadora e para a noccedilatildeo de gecircnero textual predominamos criteacuterios de padrotildees
comunicativos accedilotildees propoacutesitos e inserccedilatildeo sociohistoacuterica No caso dos domiacutenios
discursivos natildeo lidamos propriamente com textos e sim com formaccedilotildees histoacutericas e
sociais que originam os discursos Eles ainda natildeo se acham bem definidos e
oferecem alguma resistecircncia mas seguramente sua definiccedilatildeo deveria ser na base de
criteacuterios etnograacuteficos antropoloacutegicos e socioloacutegicos e histoacutericos (MARCUSCHI
2008 p 158 Grifos do autor)
Nessa perspectiva faz-se necessaacuterio apresentarmos o papel dos gecircneros textuais como
controle social Como jaacute vimos anteriormente segundo Bakhtin (2000) toda atividade
discursiva humana se daacute atraveacutes de algum gecircnero e eacute tambeacutem por esse motivo que haacute uma
consideraacutevel pluralidade de gecircneros Marcuschi (2008) afirma que os gecircneros satildeo
―necessaacuterios para a interlocuccedilatildeo humana Assim para cada esfera de atividade humana
certos gecircneros especiacuteficos satildeo considerados mais ou menos adequados Na esfera
empresarial por exemplo temos que nos adequar agraves formalidades dos gecircneros de redaccedilatildeo
oficial como os ofiacutecios atas circulares e relatoacuterios Na academia apresentamos nossas
produccedilotildees atraveacutes de dissertaccedilotildees artigos cientiacuteficos teses e relatoacuterios de projetos No meio
publicitaacuterio encontramos as propagandas anuacutencios de diversos tipos Enfim satildeo inuacutemeras as
esferas de discurso domiacutenios discursivos e gecircneros textuais atrelados a estes
Marcuschi (2008) enfatiza que o controle social por gecircneros discursivos eacute
incontornaacutevel mas natildeo determinista De acordo com o autor noacutes temos liberdade para nos
expressarmos em qualquer esfera discursiva Poreacutem temos que admitir que a sociedade eacute
constituiacuteda por uma ―maacutequina discursiva logo somos moldados a ela de forma intuitiva e
os gecircneros textuais constituem um poderoso instrumento desta maacutequina Quanto maior a
nossa inserccedilatildeo na sociedade maior o controle social Por exemplo natildeo satildeo todas as pessoas
que podem expedir um mandato de seguranccedila escrever uma dissertaccedilatildeo de mestrado
ministrar uma aula de fiacutesica quacircntica ou publicar uma coluna em um jornal Eacute nessa
perspectiva que Marcuschi (2008) afirma veemente o direcionamento dos gecircneros textuais
para com o envolvimento social e suas especificidades
26
A partir das consideraccedilotildees apresentadas a respeito dos gecircneros textuais dedicamos a
seccedilatildeo a seguir para a caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual
conforme relatamos na introduccedilatildeo deste capiacutetulo
12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL
O certificado de garantia ou termo de garantia eacute um documento oferecido por
prestadoras de serviccedilos fabricantes de produtos diversos ou de qualquer outro segmento que
envolva comercializaccedilatildeo de bens duraacuteveis com a funccedilatildeo de formalizar os direitos e deveres
do consumidor e do fabricante para com o estado fiacutesico e funcional do produto em vista de
problemas de qualquer natureza
Eacute tambeacutem uma espeacutecie de contrato visto que consiste fundamentalmente na
combinaccedilatildeo de interesses de partes sobre algo Aleacutem de ―certificado de garantia
utilizaremos tambeacutem a nomenclatura ―termo de garantia tendo em vista que o documento
do certificado de garantia e o termo em si estatildeo internamente ligados A expressatildeo ―termo de
garantia eacute usada no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20
de marccedilo de 1997
Art 50 A garantia contratual eacute complementar agrave legal e seraacute conferida mediante
termo escrito
Paraacutegrafo uacutenico O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e
esclarecer de maneira adequada em que consiste a mesma garantia bem como a
forma o prazo e o lugar em que pode ser exercitada e os ocircnus a cargo do
consumidor devendo ser-lhe entregue devidamente preenchido pelo fornecedor no
ato do fornecimento acompanhado de manual de instruccedilatildeo de instalaccedilatildeo e uso de
produto em linguagem didaacutetica com ilustraccedilotildees (Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do
Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20 de marccedilo de 1997 p 30)
Em linhas gerais o documento eacute composto por quatro partes garantia contratual
garantia legal condiccedilotildees para validade da garantia contratual e legal condiccedilotildees natildeo cobertas
pela garantia legal e contratual Vejamos um exemplo de certificado de garantia
27
ILUSTRACcedilAtildeO 1 Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario
_de_ar_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Observamos na primeira parte a disposiccedilatildeo da garantia contratual ou seja a garantia
oferecida pelo fabricante
28
ILUSTRACcedilAtildeO 2 Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar
_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Na segunda parte encontramos a disposiccedilatildeo da garantia legal ou seja a garantia
assegurada pelo Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do consumidor
ILUSTRACcedilAtildeO 3 Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c
ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Em seguida vemos as condiccedilotildees de validade da garantia legal e contratual composta
por uma lista exaustiva de itens a serem considerados
29
ILUSTRACcedilAtildeO 4 Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c
ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
E por fim encontramos as condiccedilotildees natildeo cobertas pela garantia legal e contratual
assim como observaccedilotildees gerais
ILUSTRACcedilAtildeO 5 Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte
httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar
_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014
Em relaccedilatildeo agrave estrutura padratildeo dos certificados de garantia a partir do corpus
analisado nesta pesquisa observou-se que o texto que se refere agrave garantia em si corresponde a
menos da metade do documento Grande parte do documento se dedica agrave restriccedilatildeo de
possibilidades de cobertura assim como observaccedilotildees gerais quanto agraves responsabilidades do
fabricante diante de situaccedilotildees como despesas referentes agrave locomoccedilatildeo para depoacutesito do
produto para assistecircncia documentaccedilatildeo necessaacuteria para apresentaccedilatildeo na assistecircncia etc
30
O termo de garantia eacute vinculado diretamente ao Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do
consumidor O coacutedigo estabelece um padratildeo abrangente de formulaccedilatildeo do documento
constando recomendaccedilotildees como o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo necessidade do
acompanhamento do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto assim como clareza na
disposiccedilatildeo dos prazos de garantia legal e contratual
Como discutimos na primeira parte desse capiacutetulo Bakhtin (2000) propotildee que trecircs
dimensotildees constituem os gecircneros de discurso conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo
composicional Iremos a seguir apresentar como estas dimensotildees satildeo percebidas nesse
gecircnero textual
Como conteuacutedo temaacutetico do gecircnero certificado de garantia temos a veiculaccedilatildeo de
direitos e deveres do fabricante e do consumidor O documento apresenta listas exaustivas de
accedilotildees que possibilitam ou natildeo o uso do termo de garantia assim como instruccedilotildees gerais para
a realizaccedilatildeo desse ato Esse conteuacutedo pode variar em parte e apenas questotildees referentes agrave
garantia legal natildeo podem mudar pois estaacute prevista no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do
Consumidor
Em relaccedilatildeo ao estilo observamos nos certificados a utilizaccedilatildeo da norma padratildeo
Busca-se construir um texto claro e objetivo para que dessa forma natildeo haja problemas de
interpretaccedilatildeo para o consumidor Nesse gecircnero natildeo haacute identificaccedilatildeo de quem escreve de
maneira particular como observamos em gecircneros do tipo carta A identificaccedilatildeo do autor eacute
geralmente atribuiacuteda agrave empresa que oferece a garantia O estilo individual que eacute
caracteriacutestico em diversos gecircneros como o artigo de opiniatildeo e cartas pessoais natildeo cabe para
os certificados Como se trata de um texto instrucional esse gecircnero apresenta-se de forma
objetiva de modo que natildeo haacute a necessidade praacutetica da identificaccedilatildeo de quem escreve
Quanto agrave estrutura composicional em linhas gerais tal gecircnero segue uma sequecircncia
de apresentaccedilatildeo em duas etapas Em um primeiro momento apresenta-se o termo de garantia
em si no qual eacute descrito o direito do consumidor em relaccedilatildeo agrave garantia assim como sua
validade No segundo momento parte mais extensa do texto haacute a apresentaccedilatildeo de listas
supostamente exaustivas referentes aos casos que natildeo satildeo cobertos pela garantia assim como
as instruccedilotildees gerais para o reclame do direito Essa sequecircncia de apresentaccedilatildeo do documento
eacute variaacutevel Haacute certificados que satildeo inclusos no manual de instruccedilatildeo do produto (geralmente
na uacuteltima paacutegina) Haacute certificados que satildeo destacados o documento eacute apresentado agrave parte de
qualquer outro texto
Se retomarmos a classificaccedilatildeo dos gecircneros do discurso de Bakhtin (2000) entre
primaacuterios (simples) e secundaacuterios (complexos) podemos considerar que o certificado de
31
garantia estaacute inserido nos gecircneros complexos pois se trata de um documento elaborado de
forma sistemaacutetica no qual haacute necessidade de um aprofundamento social complexo com
caracterizaccedilotildees e descriccedilotildees bem delimitadas
Quanto ao tipo de texto dentro do que foi proposto por Marcuschi (2008) o
certificado de garantia se enquadra no tipo injuntivo porque eacute um texto instrucional com
predominacircncia do modo imperativo nas frases e eacute composto pela listagem de uma seacuterie de
procedimentos a serem observados e seguidos com listas exaustivas contendo direitos e
deveres do fabricante e do consumidor O objetivo do documento eacute oferecer ao cliente todas
as informaccedilotildees relacionadas agrave validade da garantia os casos em que haacute perda da validade e os
casos em que os problemas apresentados se enquadram como defeitos de fabricaccedilatildeo
O certificado de garantia se caracteriza como um gecircnero textual a partir da
perspectiva de Marcuschi (2008) pois eacute um texto que possui caracteriacutesticas soacutecio-discursivas
bem delimitadas com conteuacutedo padratildeo obedecendo a uma mesma linha temaacutetica e foi
constituiacutedo socialmente O gecircnero foi criado a partir da necessidade juriacutedica de resguardar os
fabricantes e consumidores de produtos industrializados e afins quanto agrave possibilidade de
apresentaccedilatildeo de defeitos ou falhas
De posse dos conhecimentos gerais sobre os gecircneros textuais que apresentamos e da
caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual partiremos no proacuteximo
capiacutetulo para a apresentaccedilatildeo das teorias que serviratildeo de aporte teoacuterico para a compreensatildeo
das anaacutelises realizadas no capiacutetulo 3
32
2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS
Neste capiacutetulo tratamos dos nexos semacircnticos ou ―nexos de significado dos quais
consideramos para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica
contraditoriedade e contrariedade Caracterizamos cada um deles utilizando exemplos em
linguagem natural com o intuito de demonstrar o funcionamento dessas relaccedilotildees assim como
mostrar quando tais exemplos deixam de apresentar o nexo Nosso intuito final eacute de oferecer
uma base para a compreensatildeo das anaacutelises que viratildeo no capiacutetulo posterior
Para entendermos melhor o que satildeo os nexos semacircnticos devemos compreender a
distinccedilatildeo entre a semacircntica e a pragmaacutetica que satildeo linhas de estudos linguiacutesticos inter-
relacionaacuteveis Uma definiccedilatildeo bastante difundida da semacircntica e tambeacutem bastante geral eacute
encontrada em Trask (2004 p 261) que diz que a semacircntica eacute o ramo da linguiacutestica que
estuda o significado e em Chierchia (2003 p 7) para quem a semacircntica eacute um estudo do
significado das expressotildees das liacutenguas naturais Podemos tambeacutem caracterizar a semacircntica
destacando a relaccedilatildeo do usuaacuterio da liacutengua e o significado que ele atribuiu agraves palavras que
compotildeem sentenccedilas como propotildee Pires de Oliveira (2001 p 42) Jaacute a pragmaacutetica por outro
lado tambeacutem estuda o significado das liacutenguas naturais mas trata das intenccedilotildees que os
falantes supostamente revelam a partir do uso de sentenccedilas
Para o termo ―pragmaacutetica haacute diversas possibilidades de definiccedilatildeo Levinson (2007)
procura mostrar as implicaccedilotildees que algumas definiccedilotildees podem ter em relaccedilatildeo a outros
estudos Assim podemos citar pelo menos dois conceitos de pragmaacutetica para Levinson
―pragmaacutetica eacute o estudo de todos os aspectos do significado natildeo capturados em uma teoria
semacircntica (Levinson 2007 p14) assim como ―pragmaacutetica eacute o estudo das relaccedilotildees entre
liacutengua e contexto que satildeo gramaticalizadas ou codificadas na estrutura de um liacutengua
(Levinson 2007 p 11) Podemos perceber que nessas duas definiccedilotildees Levinson tanto atribui
agrave pragmaacutetica a responsabilidade sobre aquilo que estaacute aleacutem da semacircntica quanto destaca a
relaccedilatildeo de liacutengua e contexto Jaacute em Wilson (2008) encontramos as definiccedilotildees que Yule
(1996) apresenta para a pragmaacutetica
a) pragmaacutetica eacute o estudo do significado sob o ponto de vista do falante b)
pragmaacutetica eacute o estudo do significado contextual (isto eacute leva em conta o modo como
os falantes organizam seus enunciados aquilo que eles querem dizer de acordo com
os seguintes fatores a quem vatildeo dizer como vatildeo dizer onde e quando vatildeo dizer e
sob que circunstacircncias) c) pragmaacutetica eacute o estudo do como se diz aleacutem daquilo que eacute
33
dito (isto eacute o estudo do significado subjacente do natildeo dito d) pragmaacutetica eacute o
estudo da expressatildeo da proximidadedistanciamento relativo (isto eacute de acordo com
o tipo de proximidade fiacutesica social ou conceitual em relaccedilatildeo aos ouvintes os
falantes determinam como e quanto precisam dizer) (WILSON 2008 p 89)
A discussatildeo sobre as definiccedilotildees de pragmaacutetica e semacircntica e suas distinccedilotildees vem
desde o iniacutecio do seacuteculo XX e muitos autores contribuiacuteram para a evoluccedilatildeo desses conceitos
Em vista desta histoacuterica discussatildeo apresentaremos os conceitos de Charles Morris e Rudolf
Carnap para estas disciplinas linguiacutesticas
Segundo a definiccedilatildeo de Charles Morris (1938) pragmaacutetica eacute o estudo da ―relaccedilatildeo dos
signos com seus inteacuterpretes Jaacute para Rudolf Carnap (1938) a pragmaacutetica eacute o estudo da
linguagem em relaccedilatildeo aos seus falantes Diante dos conceitos de semacircntica e pragmaacutetica que
apresentamos e da distinccedilatildeo entre as linhas de estudos linguiacutesticos Marcondes (2000) afirma
que ―tanto a definiccedilatildeo de Morris quanto a de Carnap fazem parte da jaacute consagrada distinccedilatildeo
geral do campo de estudos da linguagem entre pragmaacutetica que considera a linguagem em
seu uso concreto e semacircntica que examina os signos linguiacutesticos em sua relaccedilatildeo com os
objetos que designam ou a quem se refere Os nexos semacircnticos estatildeo inseridos no campo da
semacircntica e voltaremos a este ponto no final do capiacutetulo
Sobre as relaccedilotildees semacircnticas haacute diversas perspectivas nos estudos linguiacutesticos A
forma como combinamos as palavras e nossa tendecircncia em buscar um conceito fixo de um
termo satildeo complicaccedilotildees que podem dificultar o uso da liacutengua O significado linguiacutestico das
liacutenguas naturais segundo Basso (2009) possibilita nexos semacircnticos entre sentenccedilas E
ainda sobre o significado Basso propotildee
Quando perguntamos o significado de alguma palavra muitas vezes buscamos
aquele modelo significativo presente nos dicionaacuterios Poreacutem natildeo haacute no dicionaacuterio
maneiras preacute-estabelecidas de como uma palavra pode se combinar com outra em
busca da trama de significados dos nexos que favorecem infinitas interpretaccedilotildees
Essas combinaccedilotildees satildeo decorrentes do proacuteprio uso da liacutengua pelos seus falantes
mas natildeo estatildeo nem presentes nos dicionaacuterios nem tampouco algueacutem nos ensina satildeo
conhecimentos impliacutecitos Uma aacuterea da linguiacutestica moderna defende que o nosso
conhecimento semacircntico e um dote geneacutetico portanto os possiacuteveis nexos
semacircnticos satildeo decorrentes de uma capacidade inata de combinaccedilatildeo de palavras e
sentenccedilas parte do conhecimento semacircntico impliacutecito ou competecircncia semacircntica
(BASSO 2009 p 25)
Os nexos semacircnticos satildeo caracterizados na literatura da semacircntica como grupos de
relaccedilotildees de inferecircncia muito estaacuteveis direcionaacuteveis e fortemente dependentes do material
34
linguiacutestico dos enunciados (SANTOS 2012) Essas relaccedilotildees diferem de perspectivas de
inferecircncias como a pressuposiccedilatildeo e a implicatura que dialogam diretamente com o natildeo-dito
Para contrastar os nexos com esses outros tipos de relaccedilatildeo vamos observar os exemplos a
seguir
(1) Carlos parou de beber refrigerante
(2) A tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio
Seguindo a mesma linha de exposiccedilatildeo de Moura (1999 p 12) a partir das duas
sentenccedilas acima observamos dois niacuteveis nas informaccedilotildees veiculadas No primeiro niacutevel
temos contato com o sentido literal das palavras Dessa forma em (1) temos a informaccedilatildeo de
Carlos natildeo toma mais refrigerantes e em (2) que Maacuterio escreveu uma tese sobre bolhas de
sabatildeo No segundo niacutevel atraveacutes da enunciaccedilatildeo das sentenccedilas somos levados a considerar
informaccedilotildees que natildeo estatildeo afirmadas literalmente nas sentenccedilas Dessa forma a partir de (1)
podemos inferir que Carlos bebia refrigerantes antes e em (2) que uma tese sobre bolhas de
sabatildeo jaacute foi escrita Ducrot (1987) denomina de conteuacutedo posto o primeiro niacutevel que
consiste no conteuacutedo literal das sentenccedilas e de conteuacutedo pressuposto ou pressuposiccedilatildeo o
segundo niacutevel que abarca as inferecircncias que podemos fazer a partir da enunciaccedilatildeo das
sentenccedilas Devemos entender que o conteuacutedo posto depende do conteuacutedo pressuposto pois a
aceitaccedilatildeo do primeiro leva a aceitaccedilatildeo do segundo Para que possamos aceitar a verdade do
posto (1) que diz que Carlos parou de beber refrigerante temos que aceitar a verdade
pressuposta de que Carlos jaacute tinha bebido refrigerante antes
Outra relaccedilatildeo semacircntica que dialoga diretamente com o natildeo-dito eacute a implicatura
Grice (1987) propotildee dois tipos de implicaturas as implicaturas convencionais que natildeo satildeo
sujeitas a condiccedilotildees de verdade e as implicaturas conversacionais que natildeo dependem
diretamente da significaccedilatildeo usual das palavras sendo determinadas por certos princiacutepios
baacutesicos do ato comunicativo
As implicaturas convencionais satildeo inferecircncias natildeo sujeitas a condiccedilotildees de verdade
natildeo satildeo derivadas de princiacutepios pragmaacuteticos mais gerais como as maacuteximas conversacionais
mas satildeo simplesmente ligadas pela convenccedilatildeo a itens ou expressotildees lexicais especiacuteficos
Levinson (2007) toma a implicatura conversacional como uma das ideias mais
importantes da pragmaacutetica e vamos considerar neste trabalho apenas as implicaturas do tipo
conversacional de forma que quando mencionarmos o termo implicatura devemos entender
que estamos falando das implicaturas conversacionais e natildeo das convencionais
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Para exemplificar uma implicatura vamos supor uma situaccedilatildeo entre dois amigos em
que ao dialogar sobre as uacuteltimas defesas de teses e dissertaccedilotildees do departamento de poacutes-
graduaccedilatildeo deparam-se com a notiacutecia de que um de seus colegas escreveu uma tese sobre um
tema muito irrelevante e nada original Diante desta situaccedilatildeo um amigo disse para o outro ―A
tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio A partir da situaccedilatildeo em que os dois amigos
estavam imersos nesse contexto e da sentenccedila utilizada por um dos amigos podemos inferir
que foi Maacuterio quem escreveu uma tese sobre um tema irrelevante Podemos perceber neste
exemplo que como descrito nas definiccedilotildees que trouxemos anteriormente a implicatura por
ser uma relaccedilatildeo puramente pragmaacutetica utiliza-se do natildeo-dito e de situaccedilotildees convencionadas
entre falantes para poder existir
Dessa forma podemos retomar o que foi exposto nos paraacutegrafos anteriores afirmando
que os nexos semacircnticos as pressuposiccedilotildees e as implicaturas satildeo inferecircncias de significado
sendo que os nexos estatildeo no campo da semacircntica e as pressuposiccedilotildees e implicaturas estatildeo no
campo da pragmaacutetica
A partir deste ponto iremos descrever os nexos semacircnticos com exemplos mostrando
como essas relaccedilotildees funcionam e tambeacutem casos em que a interpretaccedilatildeo natildeo acontece da
maneira esperada Em relaccedilatildeo aos casos em que a interpretaccedilatildeo eacute prejudicada trataremos de
casos relacionados com a ambiguidade lexical mais especificamente com vagueza e casos
relacionados com a polissemia (desconsiderando seus limites com a homoniacutemia)
21 ACARRETAMENTO
Em linhas gerais o acarretamento ocorre quando a verdade de um conjunto de
sentenccedilas1 que nomearemos de A garante a verdade de outra sentenccedila que nomearemos de
B Dessa forma a verdade da primeira sentenccedila ou do conjunto delas autoriza a verdade de B
(CHIERCHIA 2003) O acarretamento eacute uma inferecircncia que os falantes estatildeo autorizados a
fazer e o que os autoriza eacute o conhecimento linguiacutestico Vamos observar o exemplo a seguir
1 Em nosso trabalho utilizaremos os termo ldquosentenccedilardquo e ldquoproposiccedilatildeordquo intercambiavelmente Alguns autores
definem os dois termos de formas distintas Por exemplo na semacircntica contemporacircnea de mundos possiacuteveis desenvolvida por autores como por exemplo Kripke e Lewis define-se proposiccedilatildeo como a classe de todos os mundos possiacuteveis nas quais ela eacute verdadeira Murcho (2006) apresenta dois exemplos para distinguir proposiccedilotildees e sentenccedilas ldquoSoacutecrates era um filoacutesofordquo e ldquoSocrates was a philosopherrdquo Murcho afirma que os dois exemplos satildeo duas sentenccedilas que exprimem uma uacutenica proposiccedilatildeo Outros como Mortari (2001) natildeo distinguem proposiccedilotildees e sentenccedilas
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(3) alsquo Neymar eacute brasileiro
a Neymar eacute um jogador de futebol
b Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro
Podemos observar no exemplo acima que a sentenccedila (3b) tem a sua verdade garantida
pela verdade de (3alsquo) e (3a) Sendo assim (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Podemos observar
no exemplo que o acarretamento eacute bastante claro pois as informaccedilotildees que estatildeo presentes em
(3b) satildeo a soma das informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) Eacute interessante destacar
que para que a sentenccedila (3b) constitua um acarretamento de (3alsquo) e (3a) natildeo precisamos
conhecer a pessoa Neymar nem sua nacionalidade eou profissatildeo Como as informaccedilotildees
estatildeo postas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) a verdade de (3b) eacute inevitaacutevel Mesmo que no mundo
real Neymar natildeo fosse jogador de futebol e natildeo fosse brasileiro isso em nada modificaria o
acarretamento pois dentro da relaccedilatildeo estabelecida entre (3alsquo) (3a) e (3b) as informaccedilotildees
contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Vejamos o exemplo a seguir
(4) alsquo Todos os sacis tecircm apenas uma perna
a Denis Diderot eacute um saci
b Denis Diderot tem apenas uma perna
Observando o exemplo acima identificamos que em relaccedilatildeo ao conhecimento de
mundo a sentenccedila (4alsquo) eacute verdadeira jaacute que no folclore admitimos como uma caracteriacutestica
dos sacis ter apenas uma perna A sentenccedila (4a) eacute falsa pois Denis Diderot foi um filoacutesofo e
escritor francecircs e natildeo um saci Por fim a sentenccedila (4b) tambeacutem eacute falsa em relaccedilatildeo ao nosso
conhecimento de mundo pois Denis Diderot possuiu durante toda a sua vida as duas pernas
Podemos entatildeo admitir que as sentenccedilas do conjunto (4) em relaccedilatildeo ao nosso conhecimento
de mundo satildeo falsas Mesmo assim o conjunto eacute um acarretamento Diferente do exemplo
(3) em que trouxemos sentenccedilas que constituiacuteam um acarretamento com informaccedilotildees
verdadeiras em relaccedilatildeo ao mundo o exemplo (4) mostra que a relaccedilatildeo semacircntica que estamos
discutindo independe da verdade das informaccedilotildees das sentenccedilas no mundo O que o
acarretamento faz eacute concatenar as sentenccedilas de uma forma que se as premissas forem
verdadeiras a conclusatildeo tambeacutem seraacute verdadeira O acarretamento depende exclusivamente
37
da forma em que as sentenccedilas se apresentam Tendo em vista que a relaccedilatildeo depende apenas
da forma podemos representar o acarretamento da seguinte maneira como propotildee Soares
(2003)
Em liacutengua natural
Se estudar entatildeo serei aprovado (1ordf premissa)
Ora estudei (2ordf premissa)
Logo fui aprovado (Conclusatildeo)
E simbolizando2
a rarr b (1ordf premissa)
a (2ordf premissa)
b (Conclusatildeo)
Vale ressaltar que ao utilizarmos o termo ―sentenccedila estamos nos referindo ao que os
gramaacuteticos costumam chamar de oraccedilatildeo Tambeacutem eacute interessante mencionar que o
acarretamento eacute chamado de consequecircncia semacircntica Iremos utilizar como representaccedilatildeo das
premissas sentenccedilas do tipo (Xalsquo) e (Xa) e para a conclusatildeo sentenccedilas do tipo (Xb)
Podemos entender que o acarretamento eacute um tipo de relaccedilatildeo estabelecida entre
premissas e a consequecircncia de forma que a verdade das premissas determina a verdade da
consequecircncia Tambeacutem devemos entender que natildeo eacute possiacutevel que as premissas sejam
verdadeiras junto da negaccedilatildeo da conclusatildeo pelo fato de que dessa forma estaria
descaracterizada a relaccedilatildeo de acarretamento
Como ressaltamos acima os acarretamentos satildeo dependentes da forma ou seja da
relaccedilatildeo que as sentenccedilas possuem entre si e natildeo da verdade ou falsidade no mundo das
informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas Diante disso traremos agrave tona exemplos de sentenccedilas que
2 O siacutembolo ldquorarrrdquo na loacutegica claacutessica representa um condicional assunto de que trataremos no terceiro capiacutetulo
deste trabalho e o siacutembolo ldquordquo representa um acarretamento
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natildeo possuem relaccedilatildeo semacircntica mas atraveacutes da verdade ou falsidade das informaccedilotildees nas
sentenccedilas podem nos confundir e nos induzir ao erro Para tal raciociacutenio errocircneo damos o
nome de falaacutecias
Soares (2003) distingue trecircs caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias (i) satildeo
argumentos parecidos com argumentos vaacutelidos (ii) estabelecem entre premissas e conclusotildees
uma relevacircncia puramente psicoloacutegica que tatildeo-soacute se dirige agraves emoccedilotildees da pessoa sem que as
premissas sejam logicamente relevantes para extrair a conclusatildeo (iii) apresentam-se com
intenccedilatildeo enganadora para que o argumento ainda que invaacutelido seja de todas as maneiras
aceito por todos Vejamos a seguir exemplos de falaacutecias
(5) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher
a Dilma Rousseff eacute mulher
b Dilma Rousseff eacute a presidente do Brasil
A partir do nosso conhecimento de mundo poderiacuteamos dizer que a sentenccedila (5b) eacute
verdadeira Na sentenccedila (5alsquo) temos que A presidente do Brasil eacute mulher De fato tambeacutem se
formos utilizar nosso conhecimento de mundo intuitivamente diremos que esta sentenccedila estaacute
correta considerando a eacutepoca em que este trabalho foi escrito Seguindo temos a sentenccedila
(5a) com a informaccedilatildeo Dilma Rousseff eacute mulher Assim como as sentenccedilas (5alsquo) e (5a) a
partir de nosso conhecimento de mundo podemos afirmar que esta sentenccedila tambeacutem eacute
verdadeira mas devemos entender que eacute preciso considerar a relaccedilatildeo que as sentenccedilas
estabelecem entre si A sentenccedila (5alsquo) natildeo estabelece nenhuma relaccedilatildeo com a sentenccedila (5a)
para que (5b) seja um acarretamento Para mostrar de forma mais clara que o exemplo (5) natildeo
eacute um acarretamento vamos comparaacute-lo com o exemplo a seguir
(6) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher
a Michelle Bachelet eacute mulher
b Michelle Bachelet eacute a presidente do Brasil
Observamos que (6alsquo) e (6a) satildeo verdadeiras (no momento da redaccedilatildeo deste
trabalho) mas (6b) nos parece estranho Sabemos que Michelle Bachelet atualmente eacute
presidente do Chile Mas nada disso interfere para caracterizar um acarretamento e o exemplo
acima foi para deixar claro que a partir das relaccedilotildees semacircnticas dispostas entre os grupos de
39
sentenccedilas (5) e (6) natildeo podemos considerar que haacute acarretamento pelo fato acima
mencionado
Ateacute o momento tratamos do conceito de acarretamento seguido de exemplos em
liacutengua natural sua representaccedilatildeo na loacutegica claacutessica e exemplos de falaacutecias A partir deste
ponto trataremos dos fatores que interferem nas relaccedilotildees semacircnticas de uma forma diferente
das falaacutecias A compreensatildeo dos tipos de interferecircncias a seguir seraacute importante para a anaacutelise
do corpus deste trabalho pois se trata de interferecircncias lexicais
No exemplo a seguir trataremos de um problema que pode invalidar relaccedilotildees
semacircnticas a polissemia Quando um termo adquire mais de um sentido aleacutem daquele que eacute
originalmente atribuiacutevel temos um caso de polissemia Crystal (1985) conceitua polissemia
da seguinte maneira
Polissemia termo usado na anaacutelise semacircntica para caracterizar um item lexical com
uma variedade de significaccedilotildees diferentes como manga = ―parte da camisa ―parte
do abajur etc Uma grande parte do vocabulaacuterio da liacutengua eacute polissecircmica ()
(Crystal 1985 p 202)
Tendo em vista que a polissemia eacute uma caracteriacutestica de um item lexical que possui
diversos significados para diversos contextos vamos observar o exemplo a seguir
(7) a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito
b Joatildeo morreu
A sentenccedila (7a) pode ser interpretada pelo menos de duas formas distintas pelo fato da
expressatildeo ―perdeu a cabeccedila ser polissecircmica Se interpretarmos a sentenccedila (7a) considerando
―perder a cabeccedila como ter a cabeccedila desprendida do corpo haacute acarretamento de (7a) para
(7b) Mas esta natildeo eacute a uacutenica interpretaccedilatildeo possiacutevel para a expressatildeo em questatildeo Se
interpretarmos ―perder a cabeccedila como perder a paciecircncia ficar furioso estressado ou algo
parecido a sentenccedila (7a) natildeo acarreta (7b) numa mesma situaccedilatildeo pois o fato de Joatildeo ter
perdido a paciecircncia natildeo garante que ele venha a morrer Dessa forma para natildeo ter problemas
com a polissemia eacute preciso assegurar que se convencione um sentido uacutenico para cada
premissa para desta forma haver um acarretamento
40
Outro aspecto que eacute preciso ser mencionado eacute que (7) do jeito que se apresenta natildeo eacute
um acarretamento mesmo que perder a cabeccedila tenha o sentido de ter a cabeccedila desprendida do
corpo Isso se daacute porque (7) eacute um acarretamento incompleto ou seja um entimema
Argumento com uma premissa natildeo-formulada sem a qual ele natildeo eacute vaacutelido Chama-
se muitas vezes de premissa impliacutecitalsquo agrave premissa natildeo formulada Na argumentaccedilatildeo
cotidiana omitem-se premissas oacutebvias A premissa impliacutecita do argumento Antocircnio
deveria ser despedido porque roubou dinheiro puacuteblicolsquo eacute Todas as pessoas que
roubam dinheiro puacuteblico devem ser despedidaslsquo (BRANQUINHO MURCHO
GOMES 2006 p 298)
Vamos observar o exemplo (7) de uma forma que o entimema seria evitado
(8) alsquo Todas as pessoas que perdem a cabeccedila morrem
a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito
b Joatildeo morreu
Podemos constatar no exemplo acima que ao incluirmos a sentenccedila (8alsquo) que eacute a
sentenccedila geral que estava impliacutecita no exemplo (7) resolvemos o problema do entimema
completando assim a relaccedilatildeo de acarretamento de (8alsquo) e (8a) para (8b)
A partir de agora vamos tratar de outro tipo de interferecircncia em relaccedilotildees sentencias
que estaacute tambeacutem no campo do leacutexico a vagueza
A vagueza eacute assim como a polissemia um tipo de ocorrecircncia que dificulta a
interpretaccedilatildeo dos nexos entre sentenccedilas Podemos considerar que haacute vagueza em uma
sentenccedila quando observamos que uma palavra ou expressatildeo causa sentido incompleto
impedindo o entendimento da sentenccedila como um todo Branquinho Murcho e Gomes
conceituam a vagueza de seguinte maneira
As liacutenguas naturais contecircm palavras (tipicamente predicados denotando
propriedades ou relaccedilotildees) cujo domiacutenio de aplicaccedilatildeo eacute parcialmente indeterminado
isto eacute em relaccedilatildeo agraves quais os falantes competentes natildeo estatildeo certos em todos os
casos de que determinado objeto (ou par ordenado de objetos) pertence ao conjunto
denotado por elas (ou agrave relaccedilatildeo) (BRANQUINHO MURCHO GOMES 2006 p
805)
De uma forma geral Allan (2010) caracteriza a vagueza como um tipo particular de
incerteza sobre a aplicaccedilatildeo de um predicado Podemos considerar como um exemplo padratildeo
de predicado vago a classe de adjetivos graduaacuteveis como altura Se uma determinada pessoa
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natildeo eacute suficientemente alta para ser claramente alta e natildeo eacute suficiente baixa para ser
claramente baixa entatildeo aiacute temos um caso de vagueza
Os adjetivos vagos satildeo sempre utilizados em relaccedilatildeo a uma classe de comparaccedilatildeo no
dia-a-dia Estar acima do peso por exemplo pode variar a partir do grau de comparaccedilatildeo Para
uma top model estar acima do peso eacute visto de forma diferente do que para um lutador de
sumocirc por exemplo
Ainda em relaccedilatildeo ao conceito de vagueza Kempson (1977) propotildee que existem
quatro tipos inter-relacionaacuteveis de vagueza vagueza referencial indeterminaccedilatildeo de
significado falta de especificaccedilatildeo no significado de um item disjunccedilatildeo na especificaccedilatildeo do
significado de um item em que o significado abarca uma ou qualquer declaraccedilatildeo de diversas
possibilidades de interpretaccedilatildeo Dentre estes quatro tipos propostos por Kempson iremos nos
dedicar a observar os casos relacionados agrave vagueza referencial Tendo em vista os conceitos
acima vamos observar um exemplo em que a vagueza pode prejudicar a interpretaccedilatildeo de um
acarretamento
(9) a Tobias eacute um gecircnio no xadrez
b Tobias eacute um bom jogador de xadrez
No exemplo acima podemos observar os termos vagos ―gecircnio na sentenccedila (9a) e
―bom na sentenccedila (9b) Para haver a relaccedilatildeo de acarretamento temos que admitir para (9a) e
(9b) o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe Por exemplo haacute acarretamento entre as
sentenccedilas (9a) e (9b) se Tobias for um garoto de oito anos e diante seus colegas da escola ele
se destacar como um exiacutemio conhecedor das regras e teacutecnicas do jogo de xadrez Dessa
forma a sentenccedila ―Tobias eacute um gecircnio no xadrez acarretaria que ―Tobias eacute um bom jogador
de xadrez Jaacute se natildeo utilizarmos o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas
(9a) e (9b) como por exemplo se em (9a) Tobias for um garoto de oito anos que diante de
seus colegas da escola se destaca como um exiacutemio jogador de xadrez mas comparando-o
com os competidores da categoria secircnior do campeonato mundial de xadrez e a partir disso
afirmando (9b) natildeo poderiacuteamos acarretar que Tobias eacute um bom jogador de xadrez Dessa
forma pudemos observar que a presenccedila de termos vagos em sentenccedilas dificulta a
interpretaccedilatildeo dos acarretamentos A seguir observaremos outros nexos que se relacionam com
o acarretamento
42
22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA
Como discutimos anteriormente o acarretamento eacute uma relaccedilatildeo semacircntica que ocorre
em um uacutenico sentido ou seja das premissas para a conclusatildeo Quando uma conclusatildeo
acarreta as premissas chamamos essa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica
Para o termo ―equivalecircncia haacute diversas definiccedilotildees Segundo Branquinho Murcho e
Gomes (2006 p 281) podemos identificar dois sentidos distintos para este termo o primeiro
se refere ao que tratamos neste trabalho ou seja faz referecircncia a relaccedilatildeo entre as sentenccedilas de
certa liacutengua o segundo trata de determinados tipos de sentenccedilas declarativas agraves frases
bicondicionais ou declarativas Dentro desses dois sentidos diversos para o termo
―equivalecircncia no primeiro que eacute o que mais nos interessa os autores ainda distinguem trecircs
variedades centrais de equivalecircncia Satildeo elas equivalecircncia material equivalecircncia estrita e
equivalecircncia loacutegica
A equivalecircncia material eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q (por
exemplo) exatamente quando p e q possuem o mesmo valor de verdade ou seja quando ou
satildeo as duas verdadeiras juntas ou satildeo as duas falsas juntas
A equivalecircncia estrita eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q no caso em
que eacute necessaacuterio que p seja materialmente equivalente a q ou no caso de ser impossiacutevel tanto
que p seja verdadeira e q seja falsa quanto que p seja falsa e q seja verdadeira Branquinho
Murcho e Gomes (2006 p 281) afirmam que nesse caso diz-se que p eacute estritamente
equivalente a q
A equivalecircncia loacutegica eacute uma relaccedilatildeo que se estabelece entre duas sentenccedilas p e q
exatamente no caso de p e q serem duas sentenccedilas mutuamente dedutiacuteveis num dado sistema
loacutegico Diz-se nesse caso que p eacute logicamente equivalente a q
Em nosso trabalho iremos considerar para ―equivalecircncia o sentido apresentado por
Branquinho Murcho e Gomes (2006) para equivalecircncia material A partir deste conceito
vamos observar o exemplo a seguir
(10) a O gato matou o rato
b O rato foi morto pelo gato
Nas sentenccedilas acima podemos identificar uma relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica Eacute
impossiacutevel que o gato tenha matado o rato e que o rato natildeo tenha sido morto Claro que se
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considerarmos que estamos tratando sobre o mesmo gato e o mesmo rato Dessa forma
sempre que (10a) for verdadeira (10b) tambeacutem teraacute de ser Tambeacutem podemos observar uma
relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica no exemplo (3) Utilizamos o exemplo (3) para mostrar
uma relaccedilatildeo de acarretamento que eacute efetiva mas tambeacutem haacute a relaccedilatildeo de equivalecircncia pois
as premissas ―Neymar eacute brasileiro e ―Neymar eacute um jogador de futebol acarretam que
―Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro da mesma forma que esta uacuteltima sentenccedila
acarreta as duas anteriores Tal exemplo reafirma o conceito descrito acima de que uma
equivalecircncia semacircntica eacute um acarretamento duplo
Assim como acontece no acarretamento a equivalecircncia semacircntica tem problemas com
a polissemia Vamos observar exemplo a seguir
(11) a O Brasil ganhou o jogo contra o Chile
b O Chile perdeu o jogo contra o Brasil
No exemplo acima vemos que a sentenccedila (11a) acarreta a sentenccedila (11b) ao mesmo
tempo em que a sentenccedila (11b) acarreta a sentenccedila (11a) Natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (11a)
seja verdadeira ao mesmo tempo em que a (11b) seja falsa Se uma das sentenccedilas eacute falsa e a
outra eacute verdadeira natildeo haacute acarretamento em nenhum dos dois ―sentidos (em relaccedilatildeo agrave
direccedilatildeo de (11a) para (11b) e de (11b) para (11a)) Natildeo podemos considerar que o Brasil
ganhou o jogo contra o Chile e que o Chile ganhou o jogo contra o Brasil pois sabemos que
em uma partida de futebol haacute apenas um ganhador Haacute a possibilidade de algueacutem querer ir
mais aleacutem e inferir que eacute possiacutevel que os dois times ganharam mas em jogos diferentes Se
considerarmos a situaccedilatildeo de que o Chile jaacute ganhou outros jogos contra o Brasil assim como
que o Brasil jaacute ganhou outros jogos contra o Chile a relaccedilatildeo de equivalecircncia seria possiacutevel
escolhendo qualquer outro jogo como referecircncia mas natildeo eacute o que nos interessa pois
devemos considerar apenas uma situaccedilatildeo para as duas sentenccedilas
A partir deste ponto iremos tratar sobre como a polissemia pode interferir na
interpretaccedilatildeo numa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica da mesma forma que mostramos
anteriormente nas relaccedilotildees de acarretamento Vejamos o proacuteximo exemplo
44
(12) a A lagosta estaacute mais salgada que o peixe
b O peixe estaacute menos salgado que a lagosta
Podemos observar que as sentenccedilas (12a) e (12b) satildeo equivalentes pelo fato de que
natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12a) seja verdadeira e a sentenccedila (12b) seja falsa assim como
natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12b) seja verdadeira e a sentenccedila (12a) seja falsa Poreacutem se
passarmos a admitir significados diferentes para expressotildees empregadas nas sentenccedilas por
exemplo para a palavra ―salgado encontraremos problemas Se admitirmos que sentenccedila
(12a) o conceito de ―salgado eacute de o alimento estar impregnado de sal salpicado de sal ou
com gosto de sal e se este conceito for tambeacutem considerado para a sentenccedila (12b) haacute
equivalecircncia semacircntica Mas tambeacutem podemos interpretar o termo ―salgado como uma
expressatildeo para se referir ao preccedilo alto do produto no mercado Soacute haacute equivalecircncia semacircntica
se admitirmos o mesmo conceito para ―salgado em ambas as sentenccedilas ou seja se
considerarmos o significado de ―salgado como sendo impregnado de sal para a sentenccedila
(12a) ou em (12b) como sendo relativo ao valor alto no mercado natildeo haacute equivalecircncia
semacircntica entre (12a) e (12b)
No proacuteximo exemplo trataremos de outro tipo de ocorrecircncia que dificulta a
interpretaccedilatildeo de nexos a vagueza Como jaacute apresentamos a definiccedilatildeo de vagueza na seccedilatildeo
anterior partiremos direto para o exemplo em que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo de uma
equivalecircncia semacircntica
(13) a Goacutergias eacute mais saacutebio que Hiacutepias
b Hiacutepias eacute menos saacutebio que Goacutergias
Na relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) haacute equivalecircncia semacircntica mas podemos identificar
que nas duas sentenccedilas foram utilizados termos vagos que tornam a interpretaccedilatildeo dificultosa
Em (13a) haacute o uso dos termos ―mais e ―saacutebio assim como em (13b) haacute o uso dos termos
―menos e ―saacutebio Esses termos satildeo vagos e dificultam a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo semacircntica
entre as sentenccedilas O que dificulta a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) eacute o fato de
que termos como ―mais e ―menos assim como ―saacutebio possuem significados diferentes de
acordo com as situaccedilotildees em que satildeo utilizadas Ou seja eacute necessaacuterio que admitamos o
45
mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas (13a) e (13b) Dessa forma haveraacute a
relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica
A seguir trataremos sobre outro tipo de relaccedilatildeo semacircntica entre sentenccedilas a
contraditoriedade
23 CONTRADITORIEDADE
Diferente da relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica que consiste em sentenccedilas que satildeo
verdadeiras juntas ou falsas juntas as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias quando uma eacute oposta da
outra tipicamente quando uma sentenccedila B eacute a negaccedilatildeo de uma sentenccedila A Sobre a relaccedilatildeo de
contraditoriedade Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 229) afirmam que ―obteacutem-se a
contraditoacuteria de qualquer proposiccedilatildeo p prefixando-lhe o operador de negaccedilatildeo de modo a
obter notp3 Com base no conceito de contraditoriedade exposto vamos observar o exemplo a
seguir
(14) a O Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016
b O Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016
Podemos observar no exemplo acima que se a sentenccedila (14a) for verdadeira
obrigatoriamente a sentenccedila (14b) tem que ser falsa Se a informaccedilatildeo da sentenccedila (14a) que
diz que o Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas for verdadeira a informaccedilatildeo da sentenccedila
(14b) que diz que o Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas natildeo pode ser verdadeira
Em relaccedilotildees de contraditoriedade o uso de uma afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo eacute algo
tiacutepico mas natildeo determinante No exemplo (14) pudemos observar a relaccedilatildeo de
contraditoriedade caracterizada pelo uso da negaccedilatildeo mas tambeacutem podemos encontrar esse
tipo de relaccedilatildeo sem tal uso Vejamos a seguir
3 O siacutembolo not na loacutegica claacutessica eacute a representaccedilatildeo do operador de negaccedilatildeo ldquonatildeordquo
46
(15) a Mecircnon estaacute acordado
b Mecircnon estaacute dormindo
A partir das sentenccedilas acima podemos ver que a relaccedilatildeo entre estas sentenccedilas eacute de
contraditoriedade pois se a sentenccedila (15a) for verdadeira a sentenccedila (15b) tem que ser falsa
da mesma forma que se a sentenccedila (15b) for verdadeira a sentenccedila (15a) deveraacute ser falsa
Natildeo eacute possiacutevel que Mecircnon esteja acordado e dormindo ao mesmo tempo claro que
considerando o mesmo sentido para as palavras ―acordado e ―dormindo nas duas sentenccedilas
e em relaccedilatildeo ao mesmo Mecircnon
Assim como as demais relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos anteriormente a
contraditoriedade tambeacutem eacute sensiacutevel agrave polissemia Vamos observar como a polissemia se
apresenta no exemplo a seguir
(14) a A minha gata estaacute acordada
b A minha gata estaacute dormindo
No exemplo acima natildeo encontramos apenas a relaccedilatildeo de contraditoriedade sem
utilizaccedilatildeo da negaccedilatildeo mas tambeacutem um problema de polissemia que pode anular a relaccedilatildeo de
contraditoriedade Se numa determinada situaccedilatildeo escrevendo este texto me viro na cadeira e
vejo em cima de minha cama o meu animal de estimaccedilatildeo deitado olhando para mim e com
isso afirmo ―a minha gata estaacute acordada como na sentenccedila (14a) natildeo posso considerar
verdadeira a sentenccedila (14b) pois natildeo se pode estar dormindo e estar acordado ao mesmo
tempo tomando as definiccedilotildees de ―estar acordado e ―estar dormindo como oposiccedilotildees A
partir disso as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias Se em outra situaccedilatildeo me viro na cadeira e vejo
minha esposa deitada na cama dormindo e afirmo ―a minha gata estaacute dormindo como na
sentenccedila (14b) ela natildeo pode ser verdadeira ao mesmo tempo em que a sentenccedila (14a) pois
minha esposa natildeo poderia estar acordada e dormindo ao mesmo tempo Ateacute o momento
pudemos atribuir dois sentidos diferentes para o termo ―gata Se considerarmos para a
sentenccedila (14a) o sentido de que o meu animal de estimaccedilatildeo estaacute acordado e para a sentenccedila
(14b) o sentido de que a minha esposa estaacute dormindo essas sentenccedilas natildeo satildeo contraditoacuterias
No exemplo acima percebemos portanto dois aspectos da contradiccedilatildeo em sentenccedilas de uma
liacutengua natural como o portuguecircs Primeiro que natildeo haacute a obrigatoriedade de ter a negaccedilatildeo de
47
uma sentenccedila para que a relaccedilatildeo de contraditoriedade exista e segundo que a polissemia
pode tornar problemaacutetica essa relaccedilatildeo
Podemos considerar uma relaccedilatildeo de contraditoriedade entre sentenccedilas sempre que A eacute
verdadeira B eacute falsa e sempre que a sentenccedila B eacute verdadeira A eacute falsa Ou seja as sentenccedilas
A e B nunca podem ser verdadeiras ou falsas juntas
O exemplo de contraditoriedade que mostramos anteriormente foi relacionando duas
sentenccedilas mas podemos encontrar a relaccedilatildeo de contraditoriedade dentro de uma sentenccedila
apenas Vamos observar o exemplo a seguir
(15) Herbert Vianna eacute cantor e natildeo eacute cantor
Se afirmamos que uma pessoa eacute e natildeo eacute cantora constatamos uma contraditoriedade
nesta sentenccedila Em (15) encontramos a apresentaccedilatildeo de um argumento e a negaccedilatildeo do mesmo
argumento em seguida Uma sentenccedila com esta forma natildeo pode ser verdadeira Se
consideramos numa mesma situaccedilatildeo que Herbert Vianna eacute cantor e em seguida afirmo que
Herbert Vianna natildeo eacute cantor esta sentenccedila eacute contraditoacuteria
Se partirmos para determinar sentidos diferentes para o termo ―cantor como por
exemplo que Herbert Vianna eacute um cantor pelo simples fato de que ele emite pelas cordas
vocais sons musicais que ―cantor eacute um termo que soacute pode ser utilizado para os profissionais
que trabalham com a voz na muacutesica ou que ―cantor se jaacute um termo utilizado para designar
algueacutem que canta muito bem natildeo haacute contraditoriedade efetivamente Mas se mantivermos o
mesmo sentido para o termo haveraacute relaccedilatildeo de contraditoriedade
Da mesma forma que a polissemia dificulta a interpretaccedilatildeo de nexos entre sentenccedilas
vamos observar um exemplo em que a vagueza ndash toacutepico que desenvolvemos na primeira
seccedilatildeo deste capiacutetulo - invalida uma relaccedilatildeo de contraditoriedade
(16) a O professor de loacutegica eacute muito alto
b O professor de loacutegica natildeo eacute muito alto
Na relaccedilatildeo entre (16a) e (16b) seguindo o conceito contraditoriedade haacute uma relaccedilatildeo
de contradiccedilatildeo entre as duas sentenccedilas poreacutem podemos identificar termos vagos nas duas
sentenccedilas o que pode dificultar a interpretaccedilatildeo Na sentenccedila (16a) e na sentenccedila (16b)
48
identificamos dois termos vagos que satildeo ―muito e ―alto Eacute possiacutevel considerar as duas
sentenccedilas como falsas ou verdadeiras juntas invalidando a contraditoriedade pois os termos
―muito e ―alto satildeo variaacuteveis de acordo com o grau de comparaccedilatildeo adotado Por exemplo
em (16a) o professor de loacutegica pode ser considerado muito alto em comparaccedilatildeo agraves crianccedilas
para quem ele leciona poreacutem se compararmos o professor de loacutegica da sentenccedila (16a) com os
outros professores do departamento talvez o professor fosse considerado baixo Desta forma
podemos observar que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo das duas sentenccedilas
A seguir traremos o uacuteltimo nexo semacircntico que utilizaremos em nosso trabalho Este
tipo de relaccedilatildeo eacute um pouco parecido com a contraditoriedade
24 CONTRARIEDADE
A contrariedade ocorre quando duas sentenccedilas podem ser falsas juntas mas natildeo
podem ser verdadeiras juntas Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 234) definem
contrariedade da seguinte forma ―duas proposiccedilotildees satildeo contraacuterias se natildeo podem ser ambas
verdadeiras mas podem ser ambas falsas distinguindo-se assim das contraditoacuterias que natildeo
podem ser ambas verdadeiras nem ambas falsas e das subcontraacuterias que natildeo podem ser
ambas falsas mas podem ser ambas verdadeiras
Eacute importante enfatizar que mesmo estando tratanto dos nexos semacircnticos e sua
aplicaccedilatildeo em liacutengua natural os conceitos de sentenccedilas contraacuterias contraditoacuterias
equivalecircncias e acarretamentos tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica As relaccedilotildees de sentenccedilas
contraacuterias e contraditoacuterias satildeo tratadas por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado
atraveacutes de seu quadrado loacutegico ou taacutebua de oposiccedilotildees No Perieacutermeneas (1985) mais
especificamente nos capiacutetulos 6 e 7 Aristoacuteteles nos apresenta os conceitos de sentenccedilas
contraacuterias e contraditoacuterias afirmando que duas sentenccedilas satildeo contraacuterias quando natildeo podem
ser verdadeiras juntas ao mesmo tempo mas podem ser falsas juntas ao mesmo tempo Jaacute em
relaccedilatildeo agraves contraditoacuterias Aristoacuteteles propotildee que toda afirmaccedilatildeo possui sua exata negaccedilatildeo
correspondente e que toda afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo sem opotildeem sendo uma sempre
verdadeira e a outra sempre falsa Dessa forma para Aristoacuteteles um par formado por uma
afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo corresponde a uma contradiccedilatildeo
A partir do conceito de contrariedade vamos observar o exemplo a seguir Nele
encontraremos um caso de polissemia
49
(17) a A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 20 de agosto de 1914
b A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 18 de julho de 1921
Se admitirmos que a seleccedilatildeo brasileira de futebol sobre a qual estamos falando na
sentenccedila (17a) eacute a mesma seleccedilatildeo que estamos falando na sentenccedila (17b) natildeo eacute possiacutevel que
a sentenccedila (17b) seja verdadeira pois algo natildeo pode ser fundado efetivamente em dois
momentos distintos Haacute a possibilidade de se afirmar que estamos falando de duas seleccedilotildees
brasileiras de futebol diferentes pois para ―seleccedilatildeo brasileira haacute diversos significados
aplicaacuteveis ou seja a expressatildeo ―seleccedilatildeo brasileira eacute polissecircmica Por exemplo podemos
definir uma seleccedilatildeo como sendo de futebol de campo e a outra de futebol de salatildeo A partir
dessa interpretaccedilatildeo as duas sentenccedilas poderiam ser verdadeiras juntas e com isso natildeo
haveria contrariedade Mas como devemos admitir apenas uma situaccedilatildeo para as duas
sentenccedilas (17a) e (17b) natildeo podem ser verdadeiras juntas mas podem ser falsas juntas
constituindo uma relaccedilatildeo de contrariedade Eacute possiacutevel que a seleccedilatildeo brasileira de futebol natildeo
tenha sido formada nem em 20 de agosto de 1914 e nem em 18 de julho de 1921 Em
contrapartida numa interpretaccedilatildeo usual a seleccedilatildeo de futebol de um paiacutes eacute formada pela
primeira vez uma soacute vez Algueacutem pode querer ir aleacutem e afirmar que foram empregados
sentidos diferentes para a expressatildeo ―foi formada nas sentenccedilas em questatildeo Poderia dizer
que na sentenccedila (17a) o sentido foi de que a seleccedilatildeo se reuniu pela primeira vez para jogarem
juntos de forma extraoficial e que na sentenccedila (17b) o sentido foi de que a seleccedilatildeo
efetivamente foi documentalmente formada Se admitiacutessemos essas interpretaccedilotildees as
sentenccedilas (17a) e (17b) poderiam ser verdadeiras juntas o que descaracterizaria a relaccedilatildeo de
contrariedade entre as sentenccedilas Assim como o fato de que se a sentenccedila (17a) for falsa a
sentenccedila (17b) pode ser verdadeira ou falsa A falsidade da sentenccedila (17a) natildeo assegura a
verdade da sentenccedila (17b) Podemos entender dessa forma que a polissemia afeta a
interpretaccedilatildeo do nexo
Vamos observar mais um exemplo desta relaccedilatildeo
(18) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado do Acre
b A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado de Santa Catarina
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Se considerarmos a sentenccedila (18a) verdadeira ou seja que a reitoria da UNISUL estaacute
localizada no estado do Acre e tambeacutem levando em conta que a UNISUL eacute uma universidade
que tem uma reitoria e que a reitoria de uma universidade soacute pode estar numa cidade a
sentenccedila (18b) deveraacute ser falsa A sentenccedila (18a) eacute falsa e a sentenccedila (18b) eacute verdadeira e as
duas estabelecem uma relaccedilatildeo de contrariedade A reitoria da UNISUL estaacute localizada no
estado de Santa Catarina e natildeo no estado do Acre A partir desse exemplo e da convenccedilatildeo que
admitimos para ele pudemos observar que se uma sentenccedila A for falsa uma sentenccedila B pode
ser falsa ou verdadeira natildeo podendo ser as duas verdadeiras juntas apenas falsas Ilustrando
mais uma vez veja a relaccedilatildeo a seguir
(19) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Paris
b A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Roma
No exemplo acima podemos afirmar que as sentenccedilas (19a) e (19b) podem ser falsas
pois como jaacute citamos no paraacutegrafo anterior a reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado
de Santa Catarina Dessa forma haacute relaccedilatildeo de contrariedade as duas sentenccedilas satildeo falsas
Jaacute tratamos de exemplos da relaccedilatildeo de contrariedade com problemas de polissemia
mas podemos tambeacutem identificar problemas de validade dos nexos por causa da vagueza A
seguir observe o exemplo
(20) a Este cafeacute estaacute forte
b Este cafeacute estaacute aguado
Observando as sentenccedilas acima identificamos que (20a) e (20b) possuem termos
vagos que podem dificultar a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre as sentenccedilas Em (20a) foi usado
o termo ―forte e em (20b) foi usado o termo ―aguado Como nas outras relaccedilotildees que
apresentamos anteriormente esses termos satildeo vagos pois dependendo da classe de
comparaccedilatildeo em que satildeo apresentados eles podem mudar de sentido Eacute possiacutevel que numa
determinada situaccedilatildeo consideremos que um cafeacute pode natildeo estar nem forte nem fraco
autorizando a possibilidade de (20a) e (20b) serem as duas falsas ao mesmo tempo
descaracterizando a relaccedilatildeo de contrariedade Dessa forma podemos observar que os termos
51
vagos dificultam a interpretaccedilatildeo das sentenccedilas consequentemente da relaccedilatildeo que as
sentenccedilas estabelecem entre si Concluindo a exposiccedilatildeo dos nexos que nos interessam neste
trabalho apresentaremos a seguir a justificativa de nosso percurso sobre estas relaccedilotildees
semacircnticas e os tipos de ocorrecircncias que podem dificultar a interpretaccedilatildeo destas
25 JUSTIFICANDO O PERCURSO
Neste capiacutetulo apresentamos inicialmente os conceitos de semacircntica e pragmaacutetica
com o objetivo de mostrar que os nexos semacircnticos que tratamos em nosso trabalho
(acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e contrariedade) satildeo tipos de
inferecircncias que pertencem ao campo da semacircntica Para isso tambeacutem apresentamos duas
inferecircncias que pertencem ao campo da pragmaacutetica (pressuposiccedilatildeo e implicatura)
Na exposiccedilatildeo de cada nexo trouxemos os conceitos seguidos de exemplos em que a
interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees semacircnticas eacute clara Em seguida apresentamos exemplos de nexos
com dois tipos de ocorrecircncias que no campo do leacutexico dificultam a interpretaccedilatildeo das
relaccedilotildees semacircnticas a polissemia e a vagueza
Pode parecer confuso a princiacutepio o fato de tratarmos de tipos de inferecircncia que
dependem da forma para se concretizarem (os nexos semacircnticos) relacionando-as com
ocorrecircncias que dificultam o entendimento do conteuacutedo das sentenccedilas (a polissemia e a
vagueza) A confusatildeo se apresenta caso natildeo lembremos que estamos tratando das relaccedilotildees de
inferecircncias em liacutengua natural e natildeo numa liacutengua controlada como num sistema loacutegico por
exemplo
Quando afirmamos que as relaccedilotildees entre sentenccedilas que tratamos em nosso trabalho
dependem da forma falamos de uma ―dessemantificaccedilatildeo ou seja a existecircncia dos nexos vai
depender unicamente da semacircntica dos quantificadores e conectivos (e ou se) Os nexos natildeo
dependem da semacircntica restante do material linguiacutestico exposto na sentenccedila A semacircntica dos
conectivos e quantificadores numa linguagem formal eacute mantida estaacutevel por definiccedilatildeo Na
linguagem natural podemos observar que os tipos de ocorrecircncia que dificultam a
interpretaccedilatildeo dos nexos se fazem presentes justamente no restante do material linguiacutestico da
sentenccedila ou seja para aleacutem da estrutura da sentenccedila que eacute composta pelos quantificadores e
demais conectivos
52
A polissemia e a vagueza satildeo ocorrecircncias tiacutepicas de liacutengua natural e dessa forma
somos obrigados a admitir que ao nos depararmos com qualquer gecircnero textual (que
obviamente estaacute no campo das liacutenguas naturais) numa anaacutelise devemos considerar que o
significado das palavras vai naturalmente interferir nas relaccedilotildees semacircnticas Tambeacutem na
exposiccedilatildeo de tipos de ocorrecircncias que interferem nos nexos semacircnticos tratamos de falaacutecias
que satildeo argumentos invaacutelidos apresentados como vaacutelidos explorando justamente a
interpretaccedilatildeo do conteuacutedo das sentenccedilas
A partir dos nexos semacircnticos que tratamos neste capiacutetulo junto com os tipos de
inferecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees no capiacutetulo seguinte
apresentaremos a anaacutelise de certificados de garantia Como o nosso objetivo eacute analisar quais
satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados nos certificados para restringir possibilidades de
interpretaccedilatildeo decidimos realizar a anaacutelise de ocorrecircncias com conectivos e quantificadores
Consideramos pertinente a escolha desse tipo de anaacutelise pois entendemos que os
quantificadores como o ―todo satildeo tradicionalmente apresentados em relaccedilotildees semacircnticas de
restriccedilatildeo ou abrangecircncia assim como o condicional ―se ou ―somente se e o ―apenas e
―somente A partir desse raciociacutenio acreditamos que esta seria a forma mais correta para
identificarmos ocorrecircncias do tipo que precisamos para a realizaccedilatildeo de nossa anaacutelise Os
nexos semacircnticos natildeo satildeo propiacutecios para as liacutenguas naturais pois natildeo se apresentam de forma
controlada Ocorrecircncias lexicais como as que descrevemos anteriormente podem dificultar a
interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees e isso eacute algo que trataremos nas anaacutelises
Eacute nesta perspectiva que observaremos no capiacutetulo seguinte as anaacutelises de vinte e dois
certificados de garantia nos quais natildeo buscaremos relaccedilotildees bem marcadas e controladas entre
sentenccedilas pois natildeo encontrariacuteamos facilmente mas sim quais satildeo os recursos linguiacutesticos
utilizados pelos autores dos textos para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo
admitindo tambeacutem obviamente os nexos semacircnticos como possiacuteveis recursos
53
3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA
Os certificados de garantia satildeo textos muito presentes em nosso cotidiano e muitas das
vezes noacutes natildeo levamos em conta a sua importacircncia tanto por serem documentos que podem
resguardar nossos direitos sobre um determinado produto quanto pelo fato de natildeo sermos
treinados para ler e interpretar devidamente as informaccedilotildees dispostas nos textos Dessa
forma justificamos a escolha de tal gecircnero para analisarmos em nossa pesquisa Ateacute este
momento de nosso trabalho seguimos o seguinte percurso
1) Mostramos no primeiro capiacutetulo que na elaboraccedilatildeo de certificados de garantia o
autor deve se preocupar em construir o texto buscando restringir ao maacuteximo as
possibilidades de interpretaccedilatildeo para que ele se torne mais eficiente em passar as
informaccedilotildees desejadas e para evitar problemas de interpretaccedilatildeo por parte dos
clientes
2) Tendo em vista que os certificados de garantia satildeo textos instrucionais ou seja
que direcionam a leitura para um fim especiacutefico nossa anaacutelise tem por objetivo
verificar quais satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores destes textos
para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo e para alcanccedilar este objetivo nos
utilizaremos da teoria dos nexos semacircnticos apresentada no segundo capiacutetulo
Como anunciado na introduccedilatildeo o corpus dessa pesquisa eacute formado por 22
certificados de garantia de produtos de diversos segmentos Ele foi coletado utilizando a
internet e natildeo teve um meacutetodo definido de categorizaccedilatildeo na escolha dos textos Decidimos
escolher certificados de diversos segmentos para natildeo obtermos uma anaacutelise viciada e tambeacutem
para obtermos um panorama da estrutura textual
Como analisaremos os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores dos certificados
de garantia para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo elegemos trecircs categorias de
termos a serem analisadas quantificadores universais condicionais e uso do apenassomente
A escolha dessas categorias se deve ao fato delas possuiacuterem tradicionalmente funccedilotildees de
restriccedilatildeo ou abrangecircncia em inferecircncias
Assim como na loacutegica de predicados a silogiacutestica se caracteriza pelo uso dependente
em argumentos dos quantificadores ―alguns e ―todos Nomeamos de quantificador
existencial ou particular aqueles referentes a ―alguns e nomeamos de quantificador universal
aqueles referentes a ―todos (MURCHO 2006) Utilizaremos em nossa pesquisa agraves
ocorrecircncias com quantificadores do segundo tipo Vejamos um exemplo ilustrativo
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(21) TODO produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia
Possivelmente natildeo encontraremos em nossa anaacutelise nenhuma sentenccedila como esta pois
vemos que o quantificador universal destacado em letras maiuacutesculas abrange totalmente a
possibilidade de cobertura da garantia de um produto Da forma que estaacute expressa se compro
uma TV por exemplo e a mergulho na aacutegua causando defeito poderei receber outra nova do
fabricante pois ―todo produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia
Sobre os condicionais trataremos a anaacutelise na mesma linha de raciociacutenio pois eles
satildeo utilizados em proposiccedilotildees do tipo ―se X entatildeo Y oportunizando abrangecircncia ou
restriccedilatildeo de possibilidades de interpretaccedilatildeo como podemos ver ilustrado no exemplo a
seguir
(22) SE o produto apresentar defeito seraacute reparado gratuitamente
Da mesma forma como mostramos no exemplo anterior provavelmente natildeo
encontraremos sentenccedilas tatildeo abrangentes em nosso corpus como esta pois da forma como
estaacute posta ampliaria muito a possibilidade de cobertura da garantia de um produto Podemos
interpretar a partir da leitura da sentenccedila acima que o reparo do produto seraacute efetuado caso o
produto apresente qualquer defeito por qualquer motivo durante qualquer periacuteodo de tempo
sendo utilizado por qualquer pessoa e em qualquer circunstacircncia entre outras possibilidades
Para reparar tamanha abrangecircncia os autores dos textos podem utilizar listas exaustivas com
detalhes especiacuteficos apoacutes a apresentaccedilatildeo dos condicionais para direcionar efetivamente a
cobertura da garantia
Por fim em relaccedilatildeo ao uso dos termos ―apenas e ―somente analisaremos os termos
nos contextos que os autores buscam restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos textos
Vejamos o exemplo a seguir
(22) Estaratildeo cobertos pela garantia APENAS os produtos que natildeo estatildeo em
promoccedilatildeo
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No exemplo acima tambeacutem inventado vemos que o ―apenas aparece como um
restritor da garantia deixando claro que soacute os produtos que foram adquiridos pelos preccedilos
normais ou seja fora da promoccedilatildeo estaratildeo cobertos pela garantia Dessa forma produtos em
promoccedilatildeo ficam descobertos
Com os conceitos sobre as categorias de anaacutelise dispostos acima apresentaremos a
seguir a anaacutelise dos trechos coletados em nosso corpus separada por tipos de ocorrecircncia
Iremos observar como se apresentam os quantificadores condicionais ocorrecircncias com o
apenassomente assim como observaremos os tipos de ocorrecircncias no campo do leacutexico que
dificultam a interpretaccedilatildeo dos trechos (polissemia e vagueza)
31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL
Vejamos a seguir as ocorrecircncias4 em que o quantificador universal eacute utilizado
5
(1) Este produto e as peccedilas substituiacutedas seratildeo garantidos pelo restante do
prazo original TODAS as peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades
da SAMSUNG
Podemos observar na ocorrecircncia acima que o fabricante utiliza o quantificador para
fazer com que o leitor infera que absolutamente todas as peccedilas que forem substituiacutedas na
assistecircncia a algum aparelho defeituoso se tornaratildeo propriedade da fabricante Dessa forma o
cliente natildeo poderaacute em hipoacutetese alguma ficar com a peccedila trocada
Percebemos no trecho acima que o quantificador universal ―todas poderia ser
excluiacutedo da sentenccedila e com isso em nada alteraria o sentido da sentenccedila Forccedilando uma
possiacutevel interpretaccedilatildeo da sentenccedila o leitor poderia afirmar que se a sentenccedila fosse disposta
da seguinte maneira ―As peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades da SAMSUNG
poderia existir uma classe de peccedilas eletrocircnicas de produtos SAMSUNG que
4 Utilizaremos o termo ldquoocorrecircnciardquo tanto para se referir ao trecho completo do corpus quanto para a
sentenccedila em que o conectivo grifado se apresenta Natildeo faremos distinccedilatildeo para este uso 5 Para a exibiccedilatildeo das ocorrecircncias do nosso corpus reiniciaremos a numeraccedilatildeo natildeo seguindo a contagem
realizada para os exemplos dos capiacutetulos anteriores
56
tradicionalmente fossem substituiacutedas em manutenccedilotildees mas natildeo recolhidas pelo fabricante
Dessa forma o quantificador universal ―todas se mostraria como a soluccedilatildeo para esse
problema de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos
na ocorrecircncia6 (1)
(2) Esta garantia substitui TODAS as outras garantias expressas ou
taacutecitas incluindo sem limitaccedilatildeo garantias taacutecitas de comercializaccedilatildeo
e adequaccedilatildeo a um fim especiacutefico
(Certificado 1)
Nesta ocorrecircncia o fabricante utiliza o quantificador para abranger ao maacuteximo seu
texto no intuito de inferir que a garantia em anaacutelise se sobrepotildee a qualquer outro tipo de
garantia oferecida ao cliente
Podemos observar que se o quantificador universal ―todas natildeo fosse utilizado o
sentido da sentenccedila permaneceria o mesmo Se tiveacutessemos encontrado a sentenccedila da forma
―Esta garantia substitui as outras garantias o cliente iria interpretar a sentenccedila sem
dificuldades O uso do quantificador aparece como um termo para dar ecircnfase ao que jaacute estaacute
dito na sentenccedila acima Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos na
ocorrecircncia (2)
(3) TODO atendimento de reparo deve ser precedido de ligaccedilatildeo
telefocircnica ao Suporte Teacutecnico Telefocircnico da AOC (0800-10-9539)
para que seja feita uma avaliaccedilatildeo preacutevia do problema a fim de
constatar a existecircncia de defeito ou viacutecio do produto esgotando-se
TODAS as possibilidades de se tratar de uma falha de operaccedilatildeo ou
uso do produto por parte do consumidor
(Certificado 4)
No trecho acima podemos observar que na primeira ocorrecircncia do quantificador o
fabricante utiliza-o para inferir que o cliente em qualquer caso de submissatildeo do aparelho agrave
assistecircncia deve entrar em contato com o suporte teacutecnico telefocircnico da empresa e ainda
6 Decidimos pontuar no final de cada anaacutelise o fato de haver ou natildeo termos polissecircmicos ou vagos nas
ocorrecircncias porque consideramos estes tipos de ocorrecircncias como sendo os principais meios de dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos instrucionais Ao anunciar que natildeo haacute termos dessas categorias em cada anaacutelise por mais que se mostre repetitivo na leitura ao mesmo tempo invoca a importacircncia (e necessidade segundo nossa perspectiva) que depositamos nesses fatos em cada ocorrecircncia
57
reforccedila utilizando outra vez o quantificador ―todas inferindo que o produto soacute iraacute para a
assistecircncia efetivamente caso natildeo haja mais nenhuma possibilidade de resoluccedilatildeo do problema
atraveacutes do contato telefocircnico Ao utilizar esse reforccedilo o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo ao
fato de que por exemplo o problema possa ser resolvido atraveacutes de instruccedilotildees passadas pela
empresa via telefone ao cliente e o cliente natildeo aceitar e exigir que o produto seja reparado
somente na assistecircncia teacutecnica ou simplesmente para evitar que a assistecircncia teacutecnica receba
algum produto que natildeo estaacute defeituoso ou viciado
Diferente da ocorrecircncia (2) o uso do quantificador universal ―todo se faz necessaacuterio
para evitar que o cliente interprete a sentenccedila de uma forma indesejada por parte do
fabricante Por exemplo caso o autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todo na
primeira parte ―Todo atendimento de reparo deve o cliente poderia interpretar que ele
poderia obter atendimento de reparo sem passar pelo contato telefocircnico com o suporte teacutecnico
do fabricante Na utilizaccedilatildeo do quantificador universal ―todas no final da sentenccedila tambeacutem
observamos que se o autor do texto natildeo utilizasse esta estrateacutegia tambeacutem possibilitaria que o
texto fosse interpretado de outra maneira Se o cliente se deparasse com a sentenccedila
―esgotando-se as possibilidades de se tratar de uma falha poderia interpretar que se para
algum tipo de falha de operaccedilatildeo ou seja de utilizaccedilatildeo do produto haveria a possibilidade de
enviar o produto para assistecircncia teacutecnica Como o autor utilizou o quantificador nas duas
passagens que citamos ele direcionou a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha
duacutevidas sobre aquilo que o fabricante deseja expressar
Sobre tipos de ocorrecircncia que dificultam a interpretaccedilatildeo do texto pudemos identificar
a expressatildeo ―viacutecio do produto Esta expressatildeo eacute muito especiacutefica e estaacute presente no Coacutedigo
de defesa do consumidor Segundo Bruno Miragem (2008) ―Viacutecio do produto ou do serviccedilo
abrange o efeito decorrente da violaccedilatildeo aos deveres de qualidade quantidade ou informaccedilatildeo
impedindo com isso que o produto ou serviccedilo atenda aos fins que legitimamente dele se
esperam (dever da adequaccedilatildeo) O autor do certificado natildeo disponibilizou nenhum conceito
para a expressatildeo ―viacutecio do produto apresentando desta forma uma dificuldade a mais para
a interpretaccedilatildeo do texto por parte do cliente Caso o autor tenha elaborado o texto
considerando por exemplo que qualquer pessoa que leia um certificado de garantia deve ser
conhecedor de todos os termos e expressotildees descritas no CDC (a partir desse ponto iremos
utilizar esta sigla para ―coacutedigo de defesa do consumidor) natildeo haveria problema em
simplesmente usar o termo sem conceituar mas isso natildeo eacute pertinente Para evitar que esta
expressatildeo natildeo fosse polissecircmica o autor deveria ter elaborado um mini-glossaacuterio com os
termos que seriam usuais no texto e que possuem um sentido especiacutefico no ramo em que o
58
produto estaacute inserido (por exemplo peccedilas de carros ou peccedilas eletrocircnicas) e no CDC7
(4) A Garantia do Produto oferecida por este Termo abrange TODOS os
defeitos de material ou de fabricaccedilatildeo do aparelho constatados pela
Robert Bosch Ltda bem como a substituiccedilatildeo das peccedilas que
apresentarem viacutecios aleacutem da matildeo-de-obra utilizada no respectivo
reparo
(Certificado 8)
No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador ―todos para assegurar ao cliente
que em qualquer caso em que o produto possua defeito de material ou de fabricaccedilatildeo a
garantia estaraacute assegurada Aleacutem de assegurar isso tambeacutem garante a substituiccedilatildeo da peccedila do
aparelho que estiver com problema e a matildeo-de-obra tudo por conta do fabricante Caso o
autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todos ele poderia abrir margem para
outras interpretaccedilotildees como por exemplo que esta garantia natildeo abrange qualquer defeito do
produto constatado pelo fabricante Eacute interessante citar que a utilizaccedilatildeo do quantificador
―todos foi realizada beneficiando o fabricante pois mesmo afirmando que a ―garantia
abrange todos os defeitos o autor direciona para ―todos os casos que forem constatados
pelo fabricante Ou seja fica a criteacuterio do fabricante decidir o que eacute defeito e o que natildeo eacute
Assim como na ocorrecircncia (3) identificamos o uso do termo ―viacutecios que natildeo tem o
seu conceito descrito no texto do certificado O termo ―viacutecio natildeo eacute utilizado em nosso
cotidiano como algo vinculado a um objeto Geralmente conceituamos esse termo como
referente agrave dependecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica em relaccedilatildeo a uma substacircncia Tambeacutem podemos
conceituar como uma mania (costume de fazer sempre a mesma coisa) Enfim o termo
utilizado da forma em que foi descrita em (4) necessitaria que em alguma parte do texto
aparecesse o conceito para este termo que deve ser interpretado de forma especiacutefica pois eacute
um termo teacutecnico apresentado no CDC e muitas das vezes o cliente natildeo tem conhecimento
deste conceito favorecendo dificuldades a interpretaccedilatildeo do texto
(5) TODOS os eventuais danos ou demoras resultantes da natildeo
observacircncia dessas recomendaccedilotildees fogem agrave responsabilidade da APC
(Certificado 7)
7 Sobre esta estrateacutegia de eliminaccedilatildeo da polissemia e vagueza atraveacutes do uso de um glossaacuterio por autores de
textos instrucionais ver Estrela e Santos (2014)
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Na ocorrecircncia acima a empresa APC se resguarda de qualquer responsabilidade sobre
o produto caso o cliente natildeo siga as recomendaccedilotildees dadas pelo fabricante Para isso utiliza o
quantificador universal para abranger ao maacuteximo as possibilidades de natildeo cobertura
favorecendo o fabricante Observamos que a utilizaccedilatildeo do quantificador na ocorrecircncia (5)
serviu para intensificar o que foi descrito na sentenccedila Caso natildeo fosse utilizado poderia
deixar margem para outras interpretaccedilotildees como por exemplo que poderia existir algum tipo
de dano eventual que fosse de responsabilidade do fabricante O quantificador ―todos
elimina esse tipo de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos
polissecircmicos na ocorrecircncia (5)
(6) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA garante e consequentemente
compromete-se a reparar ou substituir pelo prazo abaixo indicado
contado a partir da data indicada no documento fiscal representativo
de venda do veiacuteculo Hyundai TODAS as peccedilas que em serviccedilo
normal apresentem defeito de fabricaccedilatildeo ou de material desde que
observadas as respectivas condiccedilotildees sob pena de ser
automaticamente considerado cancelado o presente Certificado de
Garantia independentemente de qualquer aviso ou notificaccedilatildeo
(Certificado 17)
No trecho acima podemos observar que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se daacute
de forma bastante controlada Mesmo o termo ―todas sendo naturalmente utilizado para
abranger ou restringir ao maacuteximo inferecircncias na ocorrecircncia acima vemos sua utilizaccedilatildeo
dependendo de vaacuterios aspectos para se concretizar A Hyundai se compromete em reparar ou
substituir ―todas as peccedilas dos veiacuteculos que estiverem dentro de todas as caracteriacutesticas
descritas antes do termo ser usado como estar dentro do prazo estabelecido pelo fabricante
apresentarem defeito de fabricaccedilatildeo ou material e aleacutem disso observando os procedimentos
detalhados pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o quantificador universal eacute
utilizado de forma controlada pelo fabricante restringindo ao seu sabor as possibilidades de
validade da garantia
(7) TODA revisatildeo deveraacute ser registrada no quadro de registro de revisotildees
para assegurar a garantia de seu veiacuteculo
(Certificado 17)
60
Na ocorrecircncia acima observamos que o fabricante utilizou o quantificador universal
para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente da seguinte forma o
cliente que possui um veiacuteculo na garantia poderia interpretar por exemplo caso natildeo houvesse
a utilizaccedilatildeo do quantificador ―toda na sentenccedila (7) fazer as revisotildees do veiacuteculo em qualquer
oficina e natildeo registrar as mudanccedilas feitas no carro em lugar algum natildeo perdendo a garantia
do veiacuteculo O quantificador universal ―toda direciona a interpretaccedilatildeo da inferecircncia para que
o cliente efetue qualquer revisatildeo do veiacuteculo numa concessionaacuteria do fabricante e aleacutem disso
ter as revisotildees registradas no quadro de registro de revisotildees do fabricante Na ocorrecircncia (7)
natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos
(8) TODOS aparelhos da ONEAL saem da faacutebrica preacute-ajustados em
220V
(Certificado 5)
Nesta ocorrecircncia (8) o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para
abranger a informaccedilatildeo de que qualquer produto produzido por ele eacute ajustado em 220V
resguardando-se de por exemplo um questionamento de algum cliente sobre o
funcionamento de qualquer produto em outra voltagem ou utilizaccedilatildeo do produto em outra
voltagem ocasionando defeito no produto Caso isso ocorra o fabricante natildeo poderaacute ser
responsabilizado pois a partir da ocorrecircncia (8) ele explica a voltagem a ser utilizada natildeo
garantindo o funcionamento do produto em outras voltagens Na ocorrecircncia (8) observamos
que se o fabricante natildeo tivesse utilizado o quantificador universal ―todo natildeo alteraria a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila Podemos entender que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal na
ocorrecircncia (8) serviu apenas para intensificar a informaccedilatildeo da sentenccedila
(9) TODOS nossos produtos satildeo testados durante horas nos mais severos
regimes antes de serem aprovados para o mercado
(Certificado 5)
No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para abranger a
interpretaccedilatildeo da inferecircncia Dessa forma o fabricante tenta nos levar a interpretar a
61
ocorrecircncia (9) da seguinte forma qualquer produto produzido por este fabricante eacute testado de
forma rigorosa antes de ser despachado para comercializaccedilatildeo Essa interpretaccedilatildeo eacute dificultada
pela presenccedila de termos vagos Ao utilizar a expressatildeo ―durante horas nos mais severos
regimes o fabricante natildeo teve o cuidado de atrelar essa informaccedilatildeo agrave classe de comparaccedilatildeo
na qual o cliente deve se basear para interpretar a sentenccedila da forma como o fabricante
deseja Ao afirmar que os produtos satildeo testados ―durante horas o fabricante natildeo especificou
por quantas horas os produtos satildeo testados e o que isso representa Por exemplo para
produtos X identificados como em bom funcionamento deve-se testaacute-los durante Y horas
segundo o manual Z que regulamenta a qualidade dos produtos X Aleacutem disso o fabricante
ainda afirma sobre os testes que satildeo ―nos mais severos regimes cometendo a mesma falha
da expressatildeo anterior natildeo descrevendo o que eacute isso e o que isso representa A expressatildeo eacute
vaga pois esses regimes de testes satildeo severos em relaccedilatildeo a quecirc Como natildeo haacute um grau de
comparaccedilatildeo de classe o cliente pode interpretar a ocorrecircncia de formas diversas Se o
fabricante tivesse especificado em algum lugar do texto que a expressatildeo ―nos mais severos
regimes deveria ser comparada por exemplo a um tipo de teste que coloca os produtos em
condiccedilotildees extremas para averiguar a sua qualidade durabilidade e bom funcionamento que eacute
norma padratildeo de qualidade para os produtos que ele estaacute justificando em (9) natildeo haveria
vagueza Do modo como a ocorrecircncia se apresenta as informaccedilotildees ―durante horas e ―nos
mais severos regimes satildeo vagas e dificultam a interpretaccedilatildeo da sentenccedila
(10) A ONEAL garante TODOS os seus produtos por um periacuteodo de 01
(um) ano jaacute incluiacutedo o periacuteodo de garantia legal (os primeiros 90 dias)
a partir da data da compra para problemas mecacircnicos ou por falhas
industriais em montagem e pintura
(Certificado 5)
Podemos observar na ocorrecircncia (10) que o fabricante assegura a garantia para todos
os seus produtos utilizando o quantificador universal com algumas restriccedilotildees Se natildeo
houvesse a utilizaccedilatildeo do quantificador nesta inferecircncia o cliente poderia considerar que a
garantia de seu produto por exemplo teria validade vitaliacutecia e que o produto estaria coberto
pela garantia mesmo se for danificado por negligecircncia do cliente O fabricante restringe o
periacuteodo de validade especificando que o periacuteodo de um ano jaacute inclui o periacuteodo da garantia
legal que eacute de 90 dias Ainda enfatiza que se deve contar o periacuteodo a partir da data da compra
e ainda explica que a garantia cobriraacute somente produtos que apresentarem problemas
62
mecacircnicos ou aqueles que apresentarem problemas industriais em montagem e pintura Dessa
forma problemas de outra natureza natildeo seratildeo cobertos pela garantia assim como produtos
com mais de um ano de adquiridos tambeacutem natildeo estaratildeo cobertos Poderiacuteamos identificar a
expressatildeo ―garantia legal como polissecircmica caso o fabricante natildeo tivesse apresentado o
conceito para a expressatildeo logo apoacutes entre parecircnteses Eacute sabido que no CDC a garantia legal eacute
caracterizada como o periacuteodo de 90 dias apoacutes a aquisiccedilatildeo de um produto Para evitar que
houvesse uma interpretaccedilatildeo indevida o fabricante conceituou a expressatildeo imediatamente
apoacutes o aparecimento dela na sentenccedila
(11) Em vista das mudanccedilas de leis que poderatildeo ocorrer TODO
certificado seraacute regido pelas normas do cartatildeo de garantia mais
recentemente atualizado pela faacutebrica
(Certificado 5)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todo para afirmar
que qualquer certificado de garantia de seus produtos deveraacute seguir as normas dispostas no
cartatildeo de garantia mais recentemente atualizado pela faacutebrica ou seja caso algum cliente tente
solicitar a garantia atraveacutes de um cartatildeo de garantia desatualizado ele natildeo estaraacute autorizado
Dessa forma o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo agraves possiacuteveis atualizaccedilotildees de leis ou
informaccedilotildees nos cartotildees de garantia dos diversos lotes de produtos impossibilitando o cliente
de reclamar sobre qualquer tipo de alteraccedilatildeo no documento em questatildeo A utilizaccedilatildeo do
quantificador universal em (11) eacute importante para dar ecircnfase agrave informaccedilatildeo central da sentenccedila
e tambeacutem para evitar que por exemplo o cliente interpretasse que algum certificado poderia
ser regido pelas normas de outro cartatildeo de garantia que natildeo fosse o mais recente Natildeo
identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos em (11)
(12) A garantia incide sobre TODOS os componentes montados
originalmente em Veiacuteculo conforme descrito na Nota Fiscal de
venda quer fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER ou
por esta adquiridos de terceiros
(Certificado 16)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para
restringir a interpretaccedilatildeo da sentenccedila quando afirma que a garantia cobre qualquer
63
componente montado originalmente em veiacuteculo ou seja a garantia natildeo cobre componentes
avulsos Aleacutem disso os componentes montados devem estar descritos na Nota Fiscal de
venda sendo assim se natildeo estiverem lanccedilados invalidam a garantia e por fim os veiacuteculos
devem tem sido fabricados por alguma empresa do grupo DAIMLER ou fabricado por outra
empresa mas tendo sido adquirido pelo fabricante que estaacute oferecendo a garantia Dessa
forma podemos ver que o quantificador universal foi utilizado pelo fabricante de forma
restrita limitando a abrangecircncia de acordo com seus interesses Caso o quantificador
universal natildeo tivesse sido utilizado na sentenccedila haveria a possibilidade do cliente interpretar
(12) de vaacuterias maneiras Por exemplo admitir que a garantia pode ser vaacutelida para produtos
que foram fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER mas natildeo foram lanccedilados na
Nota Fiscal de venda Em vista disso a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela
necessidade do fabricante restringir a interpretaccedilatildeo do texto da garantia buscando direcionar
melhor a informaccedilatildeo que ele estaacute vinculando em seu texto Natildeo identificamos nem termos
vagos nem termos polissecircmicos em (12)
(13) Executar TODAS as revisotildees estabelecidas pela Mercedes-Benz do
Brasil Ltda
(Certificado 16)
(14) Executar TODAS as manutenccedilotildees reparaccedilotildees e regulagens em um
dos Concessionaacuterios ou Postos de Serviccedilos Autorizados Mercedes-
Benz no territoacuterio brasileiro
(Certificado 16)
Nas duas ocorrecircncias acima podemos observar que o fabricante utiliza o quantificador
universal ―todas para definir que a garantia do produto soacute seraacute vaacutelida caso o cliente realize
as funccedilotildees descritas Caso o cliente natildeo realize pelo menos uma delas a garantia seraacute
invalidada Se o cliente natildeo realizar pelo menos uma revisatildeo sugerida pela fabricante perderaacute
a validade Aleacutem disso se o cliente realizar algum tipo de manutenccedilatildeo no veiacuteculo em alguma
concessionaacuteria que natildeo seja autorizada da Mercedes-Benz e no territoacuterio brasileiro tambeacutem
perderaacute a garantia O fabricante mesmo utilizando o quantificador universal nas duas
ocorrecircncias natildeo deixa de condicionar a validade da garantia de acordo com seus interesses O
cumprimento das recomendaccedilotildees dispostas apoacutes o quantificador natildeo garantem efetivamente
que a garantia do produto estaacute assegurada Ou seja mesmo que o cliente execute todas as
manutenccedilotildees reparos e regulagens em um dos concessionaacuterios do fabricante natildeo impede que
64
a garantia seja invalidade por outro motivo O quantificador universal foi utilizado pelo
fabricante em (13) e (14) sem limites e em seu benefiacutecio Natildeo identificamos nem termos
vagos nem termos polissecircmicos em (13) e (14)
(15) TODA solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica durante o periacuteodo da
garantia deveraacute ser feita obrigatoriamente agrave faacutebrica via e-mail ou
fax descrevendo detalhadamente os problemas apresentados natildeo
excedendo o prazo de 30 dias apoacutes detectaacute-lo indicando o modelo do
equipamento e o nuacutemero de seacuterie descrito na placa de identificaccedilatildeo do
mesmo e constante neste certificado
(Certificado 22)
Na ocorrecircncia (15) o fabricante utiliza o quantificador universal ―toda de forma
abrangente determinando que todas as solicitaccedilotildees de assistecircncia teacutecnica para qualquer
produto deveraacute seguir as instruccedilotildees definidas em seguida Caso o cliente tente solicitar a
assistecircncia natildeo seguindo algum dos passos e prazos determinados pelo fabricante a garantia
seraacute invalidada O quantificador universal foi utilizado para evitar interpretaccedilotildees relativas
sobre os procedimentos descritos no texto Por exemplo se (15) natildeo tivesse o quantificador
universal ―toda uma possiacutevel interpretaccedilatildeo seria que uma solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica
durante o periacuteodo da garantia poderia ser realiza na loja em que o produto foi comprado e natildeo
apenas na faacutebrica Dessa forma a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela
necessidade do fabricante restringir o percurso da solicitaccedilatildeo da garantia para o procedimento
que ele deseja que seja seguido pelo cliente Natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos
em (15)
32 USO DO CONDICIONAL
Vejamos a seguir as ocorrecircncias em que o condicional eacute utilizado Quando as
ocorrecircncias apresentarem o mesmo sentido de interpretaccedilatildeo agruparemos numa mesma
anaacutelise como podemos observar a seguir nas ocorrecircncias (16) (17) e (18)
(16) A garantia fica automaticamente invalidada SE
(Certificado 2)
65
(17) A garantia legal e contratual perderaacute seu efeito SE
(Certificado 3)
(18) Esta garantia perderaacute a validade SE
(Certificado 11)
Podemos observar nas ocorrecircncias (16) (17) e (18) que o condicional tem a funccedilatildeo de
limitar a aplicaccedilatildeo da garantia Os usos do ―se natildeo excluem a possibilidade de haver outros
casos em que a garantia natildeo se aplica ou seja as listas que satildeo apresentadas apoacutes o
condicional natildeo satildeo exaustivas Vale mencionar que da mesma forma que o ―todo o ―se
foi utilizado para beneficiar o fabricante como afirmamos acima O ―se assegura que a
validade do produto seraacute perdida nos casos que satildeo listados apoacutes o condicional sem eliminar
a possibilidade de haverem outros casos abrangendo sem limites os casos em que a garantia
natildeo cobriraacute o produto e restringindo a validade da garantia para o cliente Natildeo identificamos
termos vagos ou polissecircmicos nas ocorrecircncias (16) (17) (18) Na ocorrecircncia (17) o autor
usou os termos ―garantia legal e ―contratual que poderiam ser considerados termos
polissecircmicos que dificultariam a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia mas foram apresentados no
certificado os conceitos para os dois termos Para ―garantia legal o autor definiu como
sendo o prazo inicial da garantia com duraccedilatildeo de 90 dias ( contados imediatamente apoacutes a
emissatildeo da Nota Fiscal de compra) e previsto no CDC por sua vez para ―garantia
contratual se refere ao periacuteodo de dois anos incluindo o periacuteodo da garantia legal para todo
equipamento (neste caso condicionador de ar) e cinco anos para o compressor Com a
apresentaccedilatildeo destas definiccedilotildees o autor evitou que os termos se apresentassem no texto como
polissecircmicos
(19) A garantia do produto natildeo se aplica
(Certificado 8)
Trouxemos para a anaacutelise a ocorrecircncia acima pois a expressatildeo ―natildeo se aplica desta
sentenccedila funciona como um condicional mesmo sem ter a forma das ocorrecircncias que
analisamos anteriormente O fabricante utiliza esse condicional precedendo uma lista de
possiacuteveis situaccedilotildees em que a garantia poderia ser reclamada pelo cliente dessa forma
impossibilitando o cliente de exigir qualquer direito sobre alguma das possiacuteveis situaccedilotildees
Natildeo identificamos termos polissecircmicos e vagos na ocorrecircncia (19)
66
(20) A garantia do produto extingue-se
(Certificado 8)
Assim como na ocorrecircncia anterior tambeacutem natildeo encontramos o condicional ―se de
forma expliacutecita mas o termo ―extingue-se se comporta como tal A sentenccedila acima foi
utilizada pelo fabricante antecedendo uma lista de possibilidades de situaccedilotildees em que o
cliente poderia reclamar a garantia do produto excluindo entatildeo qualquer direito do cliente
em relaccedilatildeo ao que foi listado abaixo da sentenccedila em questatildeo Natildeo identificamos termos vagos
e polissecircmicos na ocorrecircncia (20)
(21) O cliente perderaacute a garantia do seu veiacuteculo SE
(Certificado 17)
Na ocorrecircncia (21) o fabricante utiliza o condicional antecedendo uma lista de
situaccedilotildees que se concretizadas invalidaratildeo a garantia Dessa forma se o veiacuteculo do cliente
que deseja ser atendido pela garantia se enquadrar em algum dos itens dispostos apoacutes essa
sentenccedila a garantia natildeo seraacute concedida Assim como nas ocorrecircncias com o uso do
condicional apresentadas anteriormente o uso do ―se aparece sem limites Como afirmamos
na anaacutelise das ocorrecircncias (16) (17) e (18) o autor utiliza o condicional para em seguida
apresentar uma lista de situaccedilotildees em que se concretizadas o cliente perderaacute a garantia Mas
mesmo com a apresentaccedilatildeo dessa lista o cliente poderaacute perder a garantia caso ocorra outro
tipo de situaccedilatildeo natildeo listada Dessa forma o fabricante se favorece abrangendo ao maacuteximo as
possibilidades de perda da garantia e ―prejudica o cliente oferecendo-lhe restritas
possibilidades de validade da garantia do produto a que se refere o texto Natildeo identificamos
nem termos polissecircmicos nem vagos na ocorrecircncia (21) Apenas vale ressaltar que diferente
das ocorrecircncias apresentadas anteriormente o autor em vez de escrever ―a garantia do
produto ele utilizou ―a garantia do seu veiacuteculo que especifica ao que se refere o texto
diminuindo a possibilidade de o cliente interpretar a ocorrecircncia de uma forma diferente da
que o autor se propotildee a transmitir
(22) A garantia vigoraraacute SOMENTE SE o Veiacuteculo atender
cumulativamente as seguintes condiccedilotildees
67
(Certificado 16)
Eacute interessante observar a forma como o fabricante utiliza o condicional na ocorrecircncia
(22) que precede uma lista de condiccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso o fabricante
natildeo utilizasse esse condicional ―somente se na sentenccedila acima o cliente poderia interpretar
que se o seu produto atendesse pelo menos a uma das condiccedilotildees estaria coberto pela
garantia Mas o fabricante aleacutem de utilizar o condicional ―somente se tambeacutem utilizou o
termo ―cumulativamente explicitando que o produto deve obedecer a todas as condiccedilotildees
dispostas pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o autor utilizou o condicional
para restringir as possibilidades de validade da garantia com restriccedilotildees o que natildeo ocorre
quando o fabricante trata sobre as possibilidades de invalidade da garantia como na
ocorrecircncia (21) Comparando as ocorrecircncias (21) e (22) vemos claramente que o autor em
(21) utilizou o condicional para lhe favorecer sem limites quando tratou sobre as condiccedilotildees
pelas quais o cliente pode perder a garantia abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura natildeo
apenas para as situaccedilotildees que estatildeo listadas mas tambeacutem para qualquer outra possiacutevel Jaacute em
(22) o autor (mesmo essa comparaccedilatildeo sendo feita entre ocorrecircncias de certificados
diferentes) utiliza o condicional para restringir as possibilidades de validade da garantia para
as situaccedilotildees listadas apoacutes a apresentaccedilatildeo do condicional e aleacutem disso afirmou que todas as
situaccedilotildees listadas devem ser atendidas para que a garantia seja vaacutelida para o produto Dessa
forma ainda sobre a ocorrecircncia (22) caso uma das situaccedilotildees listadas natildeo seja atendida a
garantia automaticamente seraacute perdida Com isso podemos afirmar que tanto em (21) quanto
em (22) os autores utilizaram o condicional para se beneficiar Em (21) abrangendo as
possibilidades de invalidade da garantia e em (22) restringindo ao maacuteximo as possibilidades
de validade da garantia do produto Natildeo identificamos nem termos vagos nem polissecircmicos
na ocorrecircncia (22)
(23) A garantia Philips natildeo eacute aplicaacutevel SE
(Certificado 14)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o condicional ―se antecedendo uma lista de
informaccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso algum produto Philips se encaixar em
alguma das situaccedilotildees descritas apoacutes o condicional mesmo estando dentro do prazo de
garantia o cliente perderaacute a cobertura Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem
68
vagos na ocorrecircncia (23)
(24) Esta garantia natildeo se aplica
(Certificado 21)
Assim como nas ocorrecircncias (18) e (19) a ocorrecircncia acima natildeo possui o condicional
expliacutecito mas o termo ―natildeo se aplica se comporta como tal O fabricante utiliza o
condicional precedendo uma lista de condiccedilotildees de natildeo aplicaccedilatildeo da garantia Dessa forma
caso o produto se encaixe em alguma das condiccedilotildees a garantia seraacute invalidada
automaticamente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem vagos na sentenccedila (24)
33 USO DO APENASSOMENTE
Vejamos a seguir ocorrecircncias em que identificamos o uso do ―apenas ou ―somente
(25) Esta garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver
devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original
da Nota Fiscal de Compra
(Certificado 4)
Na ocorrecircncia (25) o fabricante utiliza o ―somente para restringir a validade da
garantia indicando que o cliente teraacute direito agrave garantia caso preencha de forma correta o
certificado e apresente a nota fiscal de compra Caso as instruccedilotildees natildeo sejam seguidas pelo
cliente a garantia natildeo seraacute vaacutelida Podemos identificar que o termo ―rasuras presente em
(25) pode ser considerado como vago e polissecircmico neste caso dificultando a interpretaccedilatildeo
do texto Uma rasura pode ser por exemplo desde um rabisco fora de lugar no formulaacuterio
ateacute o dano no documento por aacutegua amasso do papel em excesso etc O autor poderia evitar a
vagueza e a polissemia definindo o termo da forma como ele deseja que o leitor interprete
este termo e comparando-o a uma classe especiacutefica (por exemplo o que eacute considerado rasura
69
nos documentos instrucionais)
(26) Danos decorrentes de desgaste natural inclusive e natildeo SOMENTE
nas partes plaacutesticas que compotildeem o gabinete do produto
(Certificado 4)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o ―somente numa sentenccedila que trata sobre
uma das situaccedilotildees em que a garantia natildeo seraacute vaacutelida O fabricante deixa claro que qualquer
defeito no produto causado por desgaste natural natildeo seraacute coberto pela garantia Se o
fabricante natildeo utilizasse o ―somente nesta sentenccedila o cliente poderia interpretar por
exemplo que danos decorrentes de desgaste natural nas partes que natildeo satildeo de plaacutestico seriam
cobertas pela garantia O autor utiliza o ―somente para se resguardar sobre outras possiacuteveis
interpretaccedilotildees do trecho abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura da garantia para
qualquer peccedila do produto que for afetado por danos decorrentes de desgaste natural Na
ocorrecircncia (26) a expressatildeo ―desgaste natural eacute polissecircmica O autor em nenhuma parte do
certificado de garantia definiu a expressatildeo em questatildeo para que o cliente compreenda da
forma desejada pelo fabricante Dessa forma podemos interpretar ―desgaste natural de
muitas formas Podemos por exemplo interpretar como o desgaste do produto como um todo
ou suas peccedilas referentes ao uso em excesso ao longo do tempo e diretamente vinculado agrave
vida uacutetil tanto do produto em geral quanto de peccedilas especiacuteficas Mas tambeacutem podemos
interpretar como sendo um desgaste proveniente do contato do produto com a natureza como
a exposiccedilatildeo agrave chuva maresia sol em excesso Pode parecer um exagero esta uacuteltima
interpretaccedilatildeo mas ela eacute possiacutevel a partir da forma como (26) se apresenta O autor utilizou no
texto a expressatildeo sem dar-lhe a definiccedilatildeo que ele pensou para a utilizaccedilatildeo dela na ocorrecircncia
dificultando a interpretaccedilatildeo do texto
(27) Este termo de garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos
comercializados e utilizados em territoacuterio brasileiro
(Certificado 4)
(28) Este Certificado de Garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos
vendidos e utilizados no territoacuterio brasileiro
(Certificado 10)
(29) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro
70
(Certificado 2)
(30) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro
(Certificado 13)
(31) Esta garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o territoacuterio brasileiro
(Certificado 12)
Nas ocorrecircncias (27) (28) (29) e (30) observamos que os fabricantes utilizam o termo
―apenas para restringir a cobertura da garantia tanto em relaccedilatildeo ao local da compra quanto
em relaccedilatildeo ao local de uso do produto assim como o autor da ocorrecircncia (31) utiliza o termo
―somente com o mesmo sentido Caso o produto tenha sido comprado em outro paiacutes natildeo
haveraacute cobertura da garantia assim como mesmo que o produto tenha sido comprado no
Brasil mas tenha sido utilizado em outro paiacutes culminando em um defeito tambeacutem natildeo haveraacute
cobertura da garantia Mas para a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que aparece em (27) (28)
(29) (30) e (31) podemos tambeacutem interpretar como natildeo apenas a extensatildeo territorial do paiacutes
mas tambeacutem admitir territoacuterios brasileiros em outros paiacuteses a saber os consulados
honoraacuterios do Brasil nas diversas naccedilotildees ao redor do mundo Nesse caso por exemplo se o
produto for adquirido dentro dos limites geograacuteficos do Brasil e for utilizado em algum
consulado do Brasil em outro paiacutes a garantia deve ser vaacutelida Eacute possiacutevel que o fabricante natildeo
tenha pensado nessa possibilidade poreacutem da forma que estas ocorrecircncias se apresentam haacute
essa possibilidade de interpretaccedilatildeo Ao apresentar essa possiacutevel interpretaccedilatildeo para a
expressatildeo ―territoacuterio brasileiro noacutes quisemos mostrar que o fabricante deveria ter
especificado em alguma parte do certificado de garantia o conceito que ele deseja que o
cliente admita para esta expressatildeo para natildeo deixar que a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro seja
interpretada de outras formas ou seja para evitar a polissemia que dificulta a leitura do
texto Outra questatildeo que tambeacutem podemos considerar eacute que nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)
a afirmaccedilatildeo sobre a validade da garantia eacute apresentada de forma menos detalhada Os autores
apresentam a afirmaccedilatildeo de que a garantia eacute vaacutelida para o territoacuterio brasileiro sem informar se
eacute em relaccedilatildeo ao produto ser adquirido e utilizado no paiacutes Brasil ou se o produto pode ser
utilizado fora do Brasil mas para requerer a garantia do produto o consumidor caso resida no
exterior deva se dirigir ao Brasil para fazer jus a sua garantia Diferente das ocorrecircncias (27)
e (28) em que os autores enfatizam que a garantia dos produtos eacute vaacutelida unicamente para
produtos comercializados e utilizados dentro do Brasil restringindo a garantia mais do que
nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)
71
(32) A garantia SOMENTE eacute vaacutelida mediante a apresentaccedilatildeo de nota
fiscal de compra deste produto
(Certificado 3)
Podemos observar na ocorrecircncia (29) que o fabricante utiliza o termo ―somente para
restringir a validade da garantia Fica claro que caso o produto apresente algum defeito e o
cliente procure a assistecircncia teacutecnica sem estar de posse da nota fiscal natildeo haveraacute cobertura da
garantia Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em (29) o cliente poderia interpretar
por exemplo que a garantia do produto eacute vaacutelida com ou sem a apresentaccedilatildeo da nota fiscal de
compra do produto Neste caso a funccedilatildeo do ―somente eacute de restringir a interpretaccedilatildeo de
acordo com o que o fabricante deseja Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem
vagos em (29)
(33) A garantia oferecida por esse Certificado eacute de 36 (trinta e seis) meses
e SOMENTE teraacute validade se o presente documento for devidamente
preenchido no ato da venda do produto conforme acima e se a
instalaccedilatildeo for feita por uma pessoa ou empresa credenciada pela
Robert Bosch Ltda
(Certificado 8)
Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade
da garantia Caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees de forma cumulativa que seguem a
utilizaccedilatildeo do termo a garantia seraacute invalidada Por exemplo se o cliente preencher no ato da
venda do produto o certificado mas se a instalaccedilatildeo do produto natildeo tiver sido feita por algueacutem
credenciado pela Robert Bosch Ltda a garantia natildeo teraacute validade A importacircncia do uso do
―somente em (33) se daacute pelo fato de que caso o autor natildeo tivesse utilizado este termo
haveria a possibilidade do cliente interpretar por exemplo que a garantia teria validade caso
a instalaccedilatildeo do produto tenha sido feita por uma pessoa ou empresa natildeo credenciada pela
fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (33)
(34) Os consertos em Garantia do Produto SOMENTE seratildeo efetuados
72
por um Serviccedilo Autorizado devidamente nomeado pela Robert Bosch
Ltda em territoacuterio brasileiro
(Certificado 8)
Podemos observar que o fabricante utiliza o termo ―somente em (34) para restringir a
validade da garantia O fabricante define tanto quem efetuaraacute o conserto dos produtos quanto
os limites territoriais de cobertura Dessa forma fica expliacutecito para o cliente que o conserto
natildeo poderaacute ser efetuado por pessoas natildeo autorizadas pela Robert Bosch Ltda e tal conserto
natildeo pode ser realizado em outros paiacuteses Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em
(34) abriria a possibilidade de interpretar a sentenccedila de outras formas como por exemplo
que os consertos em garantia do produto poderiam ser realizados em territoacuterios de outros
paiacuteses ou que os consertos poderiam ser realizados por serviccedilos natildeo autorizados pelo
fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (34)
(35) O exame e reparo do produto soacute poderatildeo ser efetuados pelo
fabricante
(Certificado 7)
Na ocorrecircncia (36) o fabricante utiliza no lugar do termo ―somente o termo ―soacute
para restringir a interpretaccedilatildeo Nesse caso se o cliente procurar reparar eou examinar o
produto sozinho ou em assistecircncias teacutecnicas que natildeo sejam autorizadas pelo fabricante a
garantia seraacute invalidada A utilizaccedilatildeo do termo ―soacute tem grande importacircncia para o
direcionamento da interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia (35) pois caso natildeo tivesse sido utilizado pelo
autor a ocorrecircncia traria apenas uma informaccedilatildeo vaga dificultando a interpretaccedilatildeo do texto
Sem o ―soacute a partir de (35) poderiacuteamos interpretar que o exame e reparo do produto podem
ser efetuados pelo fabricante mas tambeacutem por qualquer outra pessoa ou empresa Utilizando
o ―soacute o autor restringe a inferecircncia evitando muacuteltiplas interpretaccedilotildees para a sentenccedila
(36) O presente ―Termo de Garantia Hyundai aplica-se uacutenica e
exclusivamente ao veiacuteculo da marca e fabricaccedilatildeo Hyundai
devidamente identificado no iniacutecio deste documento e que tenha sido
comercializado por um Revendedor Autorizado da CAOA Montadora
de Veiacuteculos SA
(Certificado 17)
73
Em (36) o fabricante natildeo utiliza os termos ―apenas ou ―somente mas
consideraremos em nossa anaacutelise a expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como um restritor de
mesmo sentido Observamos que o fabricante utiliza a expressatildeo para restringir a cobertura
da garantia Caso o cliente esteja por exemplo solicitando a garantia de um veiacuteculo Hyundai
que natildeo seja o mesmo que estaacute descrito no iniacutecio do documento de garantia e que natildeo tenha
sido comercializado por uma autorizada da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA a garantia
natildeo teraacute validade Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado a expressatildeo ―uacutenica e
exclusivamente em (36) haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia de outras
maneiras
(37) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA eou o Revendedor Autorizado
da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA APENAS substituiraacute as peccedilas
que forem por elas e a seu exclusivo criteacuterio julgadas como
defeituosas
(Certificado 17)
Na ocorrecircncia (37) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a interpretaccedilatildeo
da sentenccedila Dessa forma o fabricante fica resguardado tanto em relaccedilatildeo a substituiccedilatildeo de
peccedilas quanto em relaccedilatildeo ao meacutetodo utilizado para jugar se a peccedila estaacute defeituosa ou natildeo A
importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―apenas em (37) tambeacutem se daacute pelo fato de natildeo permitir outras
interpretaccedilotildees diferentes da definida pelo fabricante Caso o ―apenas natildeo tivesse sido
utilizado poderiacuteamos interpretar por exemplo que o fabricante poderia substituir peccedilas
julgadas por ela como defeituosas utilizando seus proacuteprios criteacuterios mas tambeacutem substituiria
em outros casos O ―apenas serviu para especificar e restringir a interpretaccedilatildeo dos criteacuterios
definidos pelo fabricante em relaccedilatildeo agrave substituiccedilatildeo de peccedilas do produto Natildeo identificamos
nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (37)
(38) Permita que SOMENTE teacutecnicos autorizados pela faacutebrica prestem
assistecircncia a seu aparelho pois se for aberto por teacutecnicos ou pessoas
natildeo autorizadas automaticamente vocecirc estaraacute perdendo sua garantia
(Certificado 5)
Na ocorrecircncia (38) o fabricante deixa expliacutecito ao utilizar o termo ―somente que
caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees dispostas nesta sentenccedila a garantia do produto seraacute
74
invalidada Dessa forma o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a informaccedilatildeo
veiculada pelo fabricante da mesma forma como vimos na ocorrecircncia (37) Natildeo
identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (38)
(39) A presente garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o Veiacuteculo
comercializado em territoacuterio brasileiro
(Certificado 16)
Na ocorrecircncia (39) um pouco parecida com as ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e
(31) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia do produto Nesse caso
se o veiacuteculo tiver sido adquirido em outro paiacutes sua garantia natildeo seraacute vaacutelida no Brasil Um
pouco diferente das ocorrecircncias (27) e (28) que especificam ao maacuteximo a possibilidade de
cobertura da garantia a ocorrecircncia (39) veicula que a garantia eacute vaacutelida para o produto
comercializado em territoacuterio brasileiro natildeo tratando sobre a possibilidade da perda da
garantia caso o veiacuteculo seja utilizado em outros paiacuteses Neste caso o cliente natildeo tem direito
a garantia do veiacuteculo caso ele seja adquirido em outros paiacuteses Sobre a expressatildeo ―territoacuterio
brasileiro assim como nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31) o autor natildeo definiu um
sentido para a expressatildeo que pode ser interpretada de outras maneiras como exemplificamos
nas anaacutelises anteriores
(40) Utilizar SOMENTE peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios genuiacutenos
Mercedes-Benz e comprovar sua aquisiccedilatildeo mediante e apresentaccedilatildeo
da Nota Fiscal quando adquiridos pelo consumidor final
(Certificado 16)
Na ocorrecircncia (40) que faz parte de uma lista de recomendaccedilotildees para o cliente natildeo
perder a garantia o fabricante utiliza o termo ―somente para delimitar a interpretaccedilatildeo da
sentenccedila Na passagem se o cliente natildeo seguir as instruccedilotildees descritas consequentemente
perderaacute a garantia do produto A importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente na ocorrecircncia (40) eacute
a de dificultar que o cliente interpreta a sentenccedila de outra maneira Sem o ―somente na
sentenccedila o cliente poderia interpretar que ele pode utilizar peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios
originais do fabricante mas tambeacutem estaacute autorizado a utilizar peccedilas de outros fabricantes
Com a presenccedila do ―somente na sentenccedila o cliente eacute levado a interpretar a sentenccedila da
75
forma direcionada pelo fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (40)
(41) A comprovaccedilatildeo de defeito de fabricaccedilatildeo do produto que provocaraacute a
execuccedilatildeo da troca do mesmo deveraacute ser feita exclusivamente por
funcionaacuterio credenciado da Ortobom
(Certificado 15)
Na ocorrecircncia (41) o fabricante natildeo utiliza explicitamente os termos ―apenas ou
―somente mas consideraremos em nossa anaacutelise que o termo ―exclusivamente possui a
mesma funccedilatildeo de restringir interpretaccedilotildees O fabricante utiliza o termo para restringir a
garantia do produto em questatildeo Natildeo haacute a possibilidade de o cliente comprovar um defeito de
fabricaccedilatildeo em seu produto atraveacutes de outro profissional que natildeo seja um funcionaacuterio
credenciado da Ortobom Haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia (41) caso o
fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―exclusivamente Sem tal uso o cliente poderia
interpretar que poderia comprovar algum defeito no produto para possiacutevel troca por
intermeacutedio de qualquer profissional natildeo obrigatoriamente por um funcionaacuterio do fabricante
Ortobom O termo ―exclusivamente especifica e destaca a informaccedilatildeo que o fabricante
veicula em (41) Natildeo identificamos em (41) nem termos polissecircmicos nem termos vagos
(42) A garantia cobre exclusivamente defeitos de materiais eou
fabricaccedilatildeo sendo que as despesas de deslocamento alimentaccedilatildeo e
hospedagem do teacutecnico para atendimento em garantia ou natildeo
referente agrave entrega montagem instruccedilatildeo de uso e reparo do
equipamento assim como o frete de retirada para conserto e retorno
do mesmo e de envio de peccedilas e retorno das substituiacutedas em garantia
ocorreratildeo por conta do cliente
(Certificado 22)
Assim como em (41) o fabricante utiliza o termo ―exclusivamente para restringir a
garantia do produto O fabricante ao utilizar esse termo se resguarda de possiacuteveis cobranccedilas
por parte do cliente ao solicitar a garantia como por exemplo ajuda de custo para custear a
iacuteda do teacutecnico para manutenccedilatildeo do produto envio de peccedilas para faacutebrica etc Fica expliacutecito
que em todas essas situaccedilotildees o cliente eacute responsaacutevel Caso o termo ―exclusivamente natildeo
76
tivesse sido utilizado o cliente poderia interpretar a ocorrecircncia de diferentes modos Uma
possibilidade de interpretaccedilatildeo seria a de entender que a garantia cobre outros tipos de
defeitos que natildeo fossem de peccedilas ou de fabricaccedilatildeo Com a utilizaccedilatildeo do termo
―exclusivamente o fabricante diminui as possibilidades de interpretaccedilatildeo tornando o texto
mais claro para o cliente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na
ocorrecircncia (42)
(43) A garantia natildeo cobre peccedilas ou componentes de desgaste normal de
uso dentre as quais selim pedais firma-peacutes natildeo se limitando
SOMENTE a estes mas incluindo rodas de transporte carenagens
adesivos elementos de acabamento de plaacutestico borracha e alumiacutenio
danos na pintura e quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa
exclusiva distribuiccedilatildeo devendo as reclamaccedilotildees ser encaminhadas aos
seus respectivos representantes ou fabricantes
(Certificado 22)
Em (43) o fabricante aleacutem de utilizar o termo ―somente para abranger a
interpretaccedilatildeo sobre as peccedilas que natildeo seratildeo cobertas pela garantia do produto utiliza outros
termos que alargam ainda mais sem restriccedilotildees a natildeo cobertura da garantia como ―quaisquer
acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo O fabricante se resguarda
especificando quais peccedilas que ele considera como de ―desgaste normal para evitar
problemas de interpretaccedilatildeo por parte do cliente O uso do ―somente na ocorrecircncia (43) se
apresenta de forma contraacuteria agraves outras ocorrecircncias que apresentamos anteriormente Enquanto
em ocorrecircncias como a (40) que o ―somente foi utilizado para restringir a interpretaccedilatildeo da
sentenccedila para as informaccedilotildees descritas depois do termo em (43) o fabricante utiliza o
―somente precedido da negaccedilatildeo ―natildeo se limitando direcionando o termo para o sentido de
abrangecircncia Ou seja a garantia que o fabricante oferece natildeo cobre peccedilas ou componentes de
desgaste natural como selim e pedais Para natildeo correr o risco de esquecer de citar algum dos
componentes de desgaste natural do produto e deixar brechas na interpretaccedilatildeo da garantia o
fabricante utiliza a expressatildeo ―natildeo se limitando seguida do ―somente para abranger ao
maacuteximo as possibilidades de interpretaccedilatildeo sobre os itens de desgaste natural que natildeo satildeo
cobertos pela garantia Depois do uso do ―somente e de apresentar mais uma lista de itens
que natildeo satildeo cobertos pela garantia o fabricante ainda abrange mais a interpretaccedilatildeo
utilizando a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo
Dessa forma pudemos perceber que o fabricante utilizou natildeo apenas o termo de restriccedilatildeo
77
―somente para limitar as possibilidades de interpretaccedilatildeo da sentenccedila mas tambeacutem utilizou
listas especificando itens e a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa
exclusiva distribuiccedilatildeo Todas essas estrateacutegias foram utilizadas com o objetivo de tornar a
interpretaccedilatildeo do texto clara sem oferecer a possibilidade de o cliente obter muacuteltiplas
interpretaccedilotildees do texto Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na
ocorrecircncia (43)
(44) A matildeo-de-obra em garantia limita-se SOMENTE ao horaacuterio normal
de expediente sendo de segunda a sexta-feira das 730 agraves 1800 horas
devendo o equipamento estar disponiacutevel para a assistecircncia teacutecnica
(Certificado 22)
Em (44) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o horaacuterio disponiacutevel
para reparos em produtos na garantia e aleacutem disso enfatizando que o produto deve estar
disponiacutevel para a assistecircncia Dessa forma o cliente fica impossibilitado de reclamar
assistecircncia fora do horaacuterio que estaacute descrito na sentenccedila assim como fica consciente de que
seu produto ficaraacute a disposiccedilatildeo da assistecircncia para conserto ou seja natildeo seraacute reparado
imediatamente A importacircncia do uso do ―somente na ocorrecircncia (44) se daacute pelo fato de que
caso natildeo fosse utilizado o cliente poderia interpretar por exemplo que a matildeo-de-obra em
garantia estaria disponiacutevel vinte e quatro horas por dia e sete dias por semana Como o
―somente foi utilizando precedendo as informaccedilotildees sobre dia e horaacuterio de atendimento natildeo
eacute possiacutevel interpretar a informaccedilatildeo de outra maneira que natildeo seja a descrita Haveria a
possibilidade de definir a expressatildeo ―horaacuterio normal de expediente como uma expressatildeo
polissecircmica caso ela natildeo estivesse acompanhada de uma definiccedilatildeo (―de segunda a sexta-feira
das 730 agraves 1800 horas) pois o horaacuterio de expediente pode variar de acordo com o trabalho
que vocecirc tem por exemplo Se vocecirc trabalha em um banco financeiro o seu horaacuterio de
expediente seraacute possivelmente diferente do horaacuterio de um feirante Para evitar a polissemia
o fabricante utilizou a expressatildeo e em seguida apresentou a definiccedilatildeo da expressatildeo de
acordo com o seu interesse
(45) A presente garantia limita-se SOMENTE ao produto fornecido natildeo
responsabilizando a TOTAL HEALTH por danos causados a pessoas
a terceiros a outros equipamentos ou instalaccedilotildees lucros cessantes ou
quaisquer outros danos emergentes ou consequumlentes
(Certificado 22)
78
Na ocorrecircncia (45) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da
garantia Nesse caso a garantia se limita unicamente ao produto descrito Se por exemplo o
produto em questatildeo apresentar defeito e tal defeito ocasionar dano fiacutesico ao dono do produto
ou a terceiros a garantia natildeo cobriraacute tais problemas Assim como nas ocorrecircncias anteriores
o uso do ―somente em (45) teve a funccedilatildeo de direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para uma
uacutenica possibilidade de interpretaccedilatildeo Caso o ―somente natildeo tivesse sido utilizado poderiacuteamos
interpretar (45) de outras maneiras Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (45)
(46) SOMENTE os profissionais indicados pela loja revendedora dos
produtos Bartzen estatildeo autorizados a prestar atendimento dentro do
prazo de garantia
(Certificado 18)
Na ocorrecircncia (46) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a
interpretaccedilatildeo da sentenccedila Nesse caso o cliente soacute poderaacute usufruir de assistecircncia teacutecnica em
seu produto atraveacutes de profissionais indicados pela loja na qual ele adquiriu seu produto
Bartzen e dentro do prazo da garantia Caso o cliente realize algum serviccedilo em seu produto
com profissionais natildeo autorizados pela fabricante sua garantia seraacute invalidada A importacircncia
da utilizaccedilatildeo do termo ―somente na ocorrecircncia (46) eacute a de diminuir as possibilidades de
interpretaccedilatildeo da sentenccedila ao maacuteximo Dessa forma natildeo haacute como o cliente interpretar que por
exemplo ele pode realizar a manutenccedilatildeo ou reparo do seu produto com qualquer outro
funcionaacuterio que natildeo seja autorizado pela fabricante do produto Natildeo identificamos nem
termos polissecircmicos nem termos vagos em (46)
(47) A garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o consumidor que consta
identificado na nota fiscal de compra do produto (primeiro usuaacuterio) a
qual deveraacute ser apresentada junto com este Certificado de Garantia
devidamente preenchido com os dados do consumidor e do produto
para fins de cobertura para reparo ou substituiccedilatildeo do produto se
necessaacuterio
(Certificado 19)
79
Em (47) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia Nesse caso
o cliente fica ciente de que a garantia soacute seraacute vaacutelida para o primeiro proprietaacuterio do produto
assim como soacute seraacute aceito o pedido de garantia caso o cliente apresentar a nota fiscal
contendo tanto os dados do produto quanto os seus Todas as possibilidades fora das
descritas seratildeo desconsideradas e consequentemente a garantia seraacute invalidada A
importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente em (47) se daacute pelo fato de que haacute diversas
informaccedilotildees a serem consideradas pelo cliente na ocorrecircncia (47) e caso o autor do texto natildeo
tivesse utilizado o termo ―somente antes dessas informaccedilotildees o cliente poderia interpretar
que sua garantia poderia ser vaacutelida ao cumprir algumas das informaccedilotildees descritas na sentenccedila
e natildeo obrigatoriamente todas Por exemplo se natildeo houvesse o uso do ―somente em (47) o
cliente poderia interpretar que a garantia eacute vaacutelida para o consumidor que tem o nome
constando na nota fiscal mas tambeacutem para qualquer outro consumidor que esteja de posse da
nota fiscal mesmo que natildeo seja a pessoa que tem o nome na nota fiscal O ―somente possui
o papel de restringir a interpretaccedilatildeo de toda ocorrecircncia ao maacuteximo direcionando a leitura do
texto para evitar muacuteltiplas interpretaccedilotildees Com esse uso natildeo eacute possiacutevel que cliente interprete
que ele pode ter acesso a garantia caso natildeo cumpra alguma das recomendaccedilotildees Natildeo
identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (47)
(48) O Certificado de Garantia eacute vaacutelido SOMENTE para os
condicionadores vendidos e instalados no territoacuterio brasileiro
(Certificado 19)
Em (48) semelhante agraves ocorrecircncias (31) e (39) o fabricante utiliza o termo ―somente
para restringir o territoacuterio de cobertura da garantia Neste caso condicionadores adquiridos e
utilizados em outros paiacuteses natildeo seratildeo cobertos pela garantia descrita acima Ainda retomando
a discussatildeo sobre a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro consideramos que pelo fato do autor do
texto natildeo ter apresentado um conceito para esta expressatildeo em nenhum local do certificado de
garantia da forma como se apresenta ela pode ser interpretada de outras maneiras assim
como discutimos nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)
(49) Para o uso de condicionadores de ar em ambientes com alta
concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre
seraacute vaacutelida SOMENTE a garantia legal de 90 (noventa) dias contados
80
da data de emissatildeo da nota fiscal de compra do produto
(Certificado 19)
Na ocorrecircncia (49) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da
garantia do produto que seja utilizado em ambientes especiacuteficos como ―ambientes com alta
concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre Dessa forma o
fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a qualquer solicitaccedilatildeo de garantia ―normal ou seja prazo
de validade de garantia para condicionadores de ar que satildeo utilizados em ambientes
considerados ―normais por parte de um cliente que utilize o produto em ambientes como os
descritos acima Dessa forma o uso do ―somente se justifica pelo fato de que o fabricante
busca direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha duacutevidas de que como
descrito em (49) os produtos utilizados em ambientes atiacutepicos soacute estaratildeo cobertos pela
garantia legal Assim como jaacute discutimos em outras ocorrecircncias anteriormente o fabricante
utiliza a expressatildeo ―garantia legal que eacute uma expressatildeo teacutecnica do CDC e para que ela natildeo
se tornasse polissecircmica logo apoacutes seu uso o autor apresentou o conceito para o termo que eacute
o de um periacuteodo de 90 dias corridos compreendidos imediatamente apoacutes a expediccedilatildeo da nota
fiscal de compra do produto
(50) A partir do 91ordm (nonageacutesimo primeiro) dia tais despesas satildeo de
responsabilidade uacutenica e exclusiva do consumidor
(Certificado 19)
Em (50) o fabricante natildeo utilizou os termo ―somente e ―apenas mas
consideraremos em nossa anaacutelise a utilizaccedilatildeo da expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como
umas expressotildees utilizadas para restringir interpretaccedilotildees como discutimos anteriormente em
outras anaacutelises Na sentenccedila acima o fabricante utilizou a expressatildeo de restriccedilatildeo para
enfatizar que passados os trecircs meses de garantia as despesas referentes a qualquer
manutenccedilatildeo e garantia do produto seratildeo de responsabilidade do cliente Como apresentamos
na ocorrecircncia (49) a garantia legal para um produto cobre os primeiros 90 dias apoacutes a
emissatildeo da nota fiscal de compra do produto Ao informar em (50) que a partir do primeiro
dia apoacutes o teacutermino da garantia legal despesas referentes ao traslado do produto para
manutenccedilatildeo seraacute de responsabilidade do cliente o autor utiliza a expressatildeo ―uacutenica e
exclusiva para se resguardar de qualquer possibilidade de participaccedilatildeo em possiacuteveis gastos
81
Caso o fabricante natildeo tivesse enfatizado essa informaccedilatildeo utilizando esta expressatildeo o cliente
poderia interpretar por exemplo que poderia haver algum caso em que o fabricante se
responsabilizaria por tais gastos Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (50)
(51) A reposiccedilatildeo de peccedilas defeituosas e execuccedilatildeo dos serviccedilos decorrentes
desta Garantia SOMENTE seratildeo procedidas nas localidades do
territoacuterio brasileiro onde a ENVISION mantiver ―Centro de Serviccedilo
Autorizado de titularidade dela proacutepria ou de terceiro por ela
expressamente indicado onde deveraacute ser entregue o produto para
reparo
(Certificado 20)
Na ocorrecircncia (51) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir os locais de
execuccedilatildeo de serviccedilos da garantia Neste caso o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a por
exemplo natildeo haver assistecircncias teacutecnicas em todas as cidades do paiacutes Aleacutem de enfatizar que o
produto deveraacute ser entregue na assistecircncia pelo cliente ou seja o fabricante natildeo se
responsabiliza quanto ao recolhimento do produto para reparo A utilizaccedilatildeo do ―somente se
justifica pelo fato de que o fabricante busca restringir ao maacuteximo as possibilidades de
interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o ―somente o cliente
poderia por exemplo interpretar que se a cidade em que o cliente tenha adquirido o produto
natildeo tenha uma assistecircncia teacutecnica a fabricante se responsabilizaria pelo recolhimento do
produto para manutenccedilatildeo numa cidade que possua a assistecircncia teacutecnica Com a utilizaccedilatildeo do
―somente precedendo as demais informaccedilotildees natildeo eacute possiacutevel interpretar a ocorrecircncia dessa
maneira Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termo vagos na ocorrecircncia (51)
(52) Esta Garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver
devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original
da Nota Fiscal de Compra
(Certificado 20)
Na ocorrecircncia (52) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a forma
como o cliente deve solicitar a garantia do produto Caso o cliente deixe de apresentar o
certificado preenchido corretamente eou a nota fiscal de compra a garantia seraacute invalidada
82
Assim como na ocorrecircncia (51) o autor fabricante utiliza o ―somente para restringir ao
maacuteximo a interpretaccedilatildeo do texto Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente
haveria a possibilidade de o cliente interpretar que a garantia do produto seria vaacutelida caso o
certificado estivesse preenchido sem rasuras acompanhado da nota fiscal de compra mas
tambeacutem de qualquer outra forma A ocorrecircncia ficaria sem limites para interpretaccedilatildeo caso o
fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente Poreacutem como o termo foi utilizado natildeo
haacute outra forma de o cliente interpretar a ocorrecircncia sobre a validade da garantia do produto
Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (52)
(53) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS se o produto for reparado pela rede
autorizada Rheem ou por autorizaccedilatildeo preacutevia formalizada pelo
Departamento de Assistecircncia Teacutecnica
(Certificado 20)
Na ocorrecircncia (53) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a validade da
garantia quanto ao local de assistecircncia Caso o produto seja reparado por profissional natildeo
autorizado pela fabricante Rheem a garantia do produto seraacute perdida A importacircncia o uso do
termo ―apenas na ocorrecircncia (53) se daacute pelo fato de que o autor busca restringir a
interpretaccedilatildeo do texto ao maacuteximo Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―apenas o
cliente poderia por exemplo interpretar que a garantia do produto eacute vaacutelida em qualquer
situaccedilatildeo e natildeo unicamente se seguir as recomendaccedilotildees descritas apoacutes o uso do termo
―apenas Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (53)
(54) Os produtos SOMENTE poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para
anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes sua autorizaccedilatildeo por escrito
(Certificado 21)
Na ocorrecircncia (54) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o modo
como deve submeter o produto agrave garantia Caso natildeo haja uma autorizaccedilatildeo por escrito para
enviar o produto para a faacutebrica o produto natildeo poderaacute seguir para anaacutelise A importacircncia da
utilizaccedilatildeo do termo ―somente se daacute pelo fato de que caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o
termo na ocorrecircncia (54) a interpretaccedilatildeo do texto ficaria sem limites ou seja os produtos
poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes a autorizaccedilatildeo por
83
escrito ou de qualquer outra forma Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos
vagos na ocorrecircncia (54)
34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS
Em nossa pesquisa analisamos cinquenta e quatro ocorrecircncias selecionadas a partir
dos vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Dividimos a anaacutelise por tipos de
ocorrecircncias com quantificador universal com condicional e com o apenassomente Para
apresentar um panorama sobre os tipos de ocorrecircncia e a quantidade das anaacutelises de cada tipo
vamos observar o quadro a seguir
Tipo de ocorrecircncia Nuacutemero de ocorrecircncias
Quantificador universal 15
Condicional 9
ApenasSomente 30
TOTAL 54
Quadro 2 ndash Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia Fonte elaborado pelo autor
Antes de discorrer nossos comentaacuterios sobre as anaacutelises de nosso trabalho temos que
tratar sobre a primeira importante impressatildeo que tivemos diante do corpus e das consequentes
anaacutelises dos quatro nexos semacircnticos que invocamos em nosso trabalho somente
identificamos ocorrecircncias com acarretamentos Tratamos com muita naturalidade este fato
porque por mais que em algumas leituras uma parte do conteuacutedo do segundo capiacutetulo possa
ser vista como desnecessaacuteria ndash pelo fato de tais conceitos natildeo estarem presentes nas anaacutelises
dessa pesquisa ndash encontramos aiacute uma caracteriacutestica do gecircnero textual certificado de garantia
que eacute a presenccedila de diversos acarretamentos mesmo que natildeo-expliacutecitos como demonstramos
em nosso trabalho (porque o gecircnero textual certificado de garantia natildeo possui uma linguagem
tatildeo controlada quanto a linguagem encontrada nos exemplos que criamos para ilustrar os
conceitos dos nexos) Dessa maneira fica claro que natildeo encontramos ocorrecircncias com
equivalecircncias semacircnticas contrariedades ou contraditoriedades o que nos permite definir
estas ausecircncias como uma caracteriacutestica intriacutenseca do gecircnero
84
Na primeira parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o quantificador
universal Identificamos quinze ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia
utilizaram esse recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (1) e (15)
percebemos que o uso do quantificador universal em algumas ocorrecircncias serviu apenas para
reforccedilar a informaccedilatildeo que o fabricante quis veicular ou seja se natildeo tivesse sido utilizado natildeo
modificaria o sentido do texto Pudemos identificar esse sentido por exemplo nas
ocorrecircncias (1) e (2)
Aleacutem desse sentido para o uso do quantificador universal encontramos ocorrecircncias
em que caso o quantificador natildeo tivesse sido utilizado haveria a possibilidade de
interpretarmos a ocorrecircncia de vaacuterias maneiras Nesses casos os autores utilizaram o
quantificador para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo direcionando a leitura do texto
para que o cliente possa interpretar o certificado da forma que o fabricante deseja Pudemos
identificar esse sentido por exemplo nas ocorrecircncias (3) (4) e (8)
Pudemos observar que os autores dos certificados de garantia utilizam tambeacutem o
quantificador universal em seus textos para se resguardarem em relaccedilatildeo a deveres que
poderiam ser reclamados pelo cliente caso natildeo houvesse o uso deste recurso Dessa forma
podemos entender que os autores dos certificados utilizaram o quantificador universal para se
favorecerem Pudemos observar essa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (5) (11) (13) e
(14) Em relaccedilatildeo a ocorrecircncias com o uso do quantificador universal em que o cliente eacute
beneficiado natildeo identificamos nenhum caso em nossa anaacutelise
Sobre o aparecimento de termos vagos ou termos polissecircmicos nas ocorrecircncias com a
presenccedila do quantificador universal pudemos observar que o maior motivo da sensibilidade
dos textos a esses tipos de efeitos linguiacutesticos eacute o fato de os autores dos textos em muitos
casos natildeo conceituarem os termos teacutecnicos que eles utilizam nos certificados de garantia Ao
utilizar um termo teacutecnico como por exemplo na ocorrecircncia (3) em que o autor do
certificado de garantia utiliza o termo ―viacutecio do produto ndash termo teacutecnico do CDC ndash natildeo
apresentando o conceito em seu texto dificulta a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Tendo contato
com o termo de forma solta sem estar delimitada pelo conceito que o autor deseja que o
cliente interprete a ocorrecircncia se torna vaga e polissecircmica
Ainda sobre os termos vagos ou termos polissecircmicos encontramos tambeacutem
ocorrecircncias em que os autores buscaram evitaacute-las justamente apresentando apoacutes a utilizaccedilatildeo
de um termo teacutecnico o seu respectivo conceito desta forma natildeo oferecendo a possibilidade
de interpretaacute-lo de vaacuterias maneiras Pudemos observar este uso por exemplo na ocorrecircncia
(10) em que o autor do certificado usa o termo ―garantia legal e logo em seguida apresenta
85
o conceito para o termo que eacute ―os primeiros 90 dias Dessa forma o cliente natildeo eacute autorizado
a interpretar o termo ―garantia legal de nenhuma outra forma que natildeo seja a descrita pelo
fabricante
Na segunda parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o uso do condicional
Identificamos nove ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia utilizaram este
recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (16) e (24) pudemos identificar
que o condicional foi utilizado pelos autores dos textos precedendo listas instrucionais o que
era esperado devido a caracteriacutestica proacutepria desse recurso que eacute o de condicionar algo agrave
alguma coisa Assim como nas ocorrecircncias que os autores utilizaram o quantificador
universal o condicional foi utilizado em boa parte das ocorrecircncias analisadas para restringir
a interpretaccedilatildeo do texto Pudemos identificar este sentido por exemplo nas ocorrecircncias (16)
(17) e (18)
Identificamos em boa parte das ocorrecircncias que possuem o uso do condicional que
este uso natildeo impotildee um limite na interpretaccedilatildeo Pudemos observar em nossa anaacutelise que os
condicionais foram utilizados precedendo listas exaustivas que continham situaccedilotildees por
exemplo em que a garantia seria invalidada Ao apresentar tais listas os autores natildeo
especificavam que natildeo haveria outros casos fora da lista em que a garantia seria invalidada
Dessa forma observamos que assim como nas ocorrecircncias com quantificador universal os
autores utilizaram os condicionais para se favorecerem Identificamos na ocorrecircncia (22)
recursos que restringem ainda mais as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente e
que consequentemente favorecem o fabricante como o uso do termo ―cumulativamente
que obriga o cliente a natildeo apenas estar dentro de uma ou mais situaccedilotildees descritas pelo
fabricante apoacutes o condicional mas a seguir todas as situaccedilotildees descritas ao mesmo tempo
Quando os fabricantes utilizaram o condicional precedendo listas que constam as
situaccedilotildees em que o cliente poderia perder a garantia eles usaram o recurso sem limites como
pudemos observar na ocorrecircncia (21) Mas quando os fabricantes utilizaram o condicional
precedendo listas que constam as situaccedilotildees em que o cliente tem direito a garantia eles
usaram os recursos com limites e como mostramos na ocorrecircncia (22) ainda utilizaram
recursos que limitam mais ainda a garantia
Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem das ocorrecircncias em que o condicional apareceu
de forma expliacutecita ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o mesmo
sentido como em (19) (20) e (24)
Sobre a presenccedila de termos polissecircmicos ou termos vagos nas ocorrecircncias com o uso
do condicional pudemos identificar que diferente das ocorrecircncias com o uso do
86
quantificador universal natildeo encontramos casos de termos vagos ou termos polissecircmicos nas
ocorrecircncias analisadas Identificamos em muitas ocorrecircncias que os autores dos certificados
apresentaram os conceitos para termos teacutecnicos apoacutes uso geralmente entre parecircnteses para
evitar que o termo ou a expressatildeo fossem interpretados de formas indevidas Encontramos
este tipo de estrateacutegia por exemplo na ocorrecircncia (17) do certificado 3 em que o autor
utiliza os termos ―garantia legal e ―garantia contratual mas no texto do certificado haacute o
conceito para cada termo o que impossibilita que o cliente interprete os termos de diversas
maneiras Caso o fabricante tivesse utilizado os dois termos teacutecnicos e em lugar algum do
certificado de garantia ele apresentasse os conceitos para os termos oportunizaria por
conseguinte diversas possibilidades de interpretaccedilatildeo dificultando a leitura do texto por parte
do cliente
Na terceira parte da anaacutelise tratamos sobre as ocorrecircncias com o uso do ―apenas e do
―somente Identificamos trinta ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia
utilizaram esses recursos linguiacutesticos Apesar do nuacutemero elevado de ocorrecircncias os sentidos
em que o ―apenas e o ―somente foram utilizados natildeo variaram muito Em grande parte das
ocorrecircncias analisadas o ―apenas e o ―somente foram utilizados para restringir a validade
da garantia desde restriccedilotildees em relaccedilatildeo ao territoacuterio de vigecircncia ateacute tipos de ambientes em
que os produtos podem ser utilizados Um tipo de ocorrecircncia que foi bastante recorrente em
nosso corpus foi o que utilizou o ―apenas ou ―somente para delimitar o territoacuterio em que a
garantia pode ser vaacutelida como por exemplo nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)
Nestas ocorrecircncias haacute o uso da expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que levantamos na anaacutelise
uma discussatildeo sobre as possibilidades de interpretaccedilatildeo para tal expressatildeo pelo fato de natildeo
haver nos certificados de garantia analisados um conceito definido para ela A ausecircncia do
conceito para este termo nos certificados de garantia pode dificultar a interpretaccedilatildeo
Tambeacutem podemos afirmar que em grande parte das ocorrecircncias analisadas o uso do
―somente ou ―apenas serviu para impor limites agraves interpretaccedilotildees dos textos direcionando-
os para a interpretaccedilatildeo que o fabricante desejasse impor Ou seja em grande parte das
ocorrecircncias em que foi utilizado o ―somente precedendo uma situaccedilatildeo X caso natildeo houvesse
esse uso a garantia por exemplo seria vaacutelida na situaccedilatildeo X mas tambeacutem nas situaccedilotildees Y Z
W sem limites Sem o uso do ―somente nessas ocorrecircncias o texto da garantia natildeo teria
sentido definido Pudemos observar esse sentido em diversas ocorrecircncias analisadas como
por exemplo nas ocorrecircncias (27) e (28) Ilustrando caso natildeo houvesse o uso do ―apenas
nas ocorrecircncias (27) e (28) a garantia seria vaacutelida no territoacuterio brasileiro e em qualquer outro
Ainda sobre as ocorrecircncias usam o ―somente ou ―apenas para restringir o territoacuterio em que
87
a garantia seraacute vaacutelida observamos que algumas ocorrecircncias especificam mais a validade da
garantia como em (48) que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para produtos vendidos e
instalados em territoacuterio nacional e outras ocorrecircncias que especificam menos como em (39)
que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para o veiacuteculo comercializado em territoacuterio brasileiro
Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem de ocorrecircncias em que o ―apenas e ―somente
apareciam explicitamente ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o
mesmo sentido como em (35) (36) e (41)
Sobre o aparecimento de termos polissecircmicos ou termo vagos aleacutem da expressatildeo
―territoacuterio brasileiro que mencionamos nos paraacutegrafos anteriores pudemos identificar
outros casos de termos polissecircmicos como por exemplo nas ocorrecircncias (25) e (26) Os
termos teacutecnicos utilizados pelos autores dos certificados de garantia natildeo possuiacuteam em lugar
algum dos textos os conceitos para lhes definirem possibilitando que o cliente interprete
estes termos de diversas maneiras
Ainda sobre casos de termos polissecircmicos observamos em algumas ocorrecircncias que
os autores dos certificados procuraram utilizar os termos teacutecnicos e em seguida ou em
alguma parte dos textos apresentaram os conceitos para os termos evitando muacuteltiplas
interpretaccedilotildees Identificamos o uso dessa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (43) (44) e
(49)
Nos trecircs tipos de ocorrecircncias que definimos para nossa anaacutelise pudemos identificar
que nos usos do quantificador universal condicional e ―apenas e ―somente os autores dos
certificados de garantia usaram esses recursos para se favorecerem Como analisado nas
ocorrecircncias do corpus os fabricantes utilizaram essas estrateacutegias tanto pelo fato de que eacute
necessaacuterio utilizar esses recursos por ser caracteriacutestico de textos instrucionais quanto pelo
fato de que o direcionamento das interpretaccedilotildees dos textos que eles constroem a partir destes
recursos podem favorecer os proacuteprios fabricantes
88
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Na presente seccedilatildeo iremos pontuar o percurso de nossa pesquisa e apresentar nossas
impressotildees sobre o corpus as teorias apresentadas e os resultados obtidos com as anaacutelises
O primeiro capiacutetulo de nossa pesquisa foi subdividido em duas partes na primeira
buscamos apresentar os conceitos gerais sobre os gecircneros textuais com base na proposta de
Bakhtin (2000) reafirmada por Marcuschi (2008) com o intuito de fornecer aporte teoacuterico
para a segunda parte do capiacutetulo em que caracterizamos o certificado de garantia como um
gecircnero textual Tal caracterizaccedilatildeo se deu pelo fato do nosso corpus ser composto por vinte e
dois certificados de garantia Ficamos surpresos por tomar conhecimento do fato de que ateacute o
presente momento natildeo identificamos publicaccedilotildees acadecircmicas em nosso paiacutes referentes agrave
caracterizaccedilatildeo de certificados de garantia como gecircneros textuais e esta dificuldade nos levou
a construir atraveacutes de nossa leitura a caracterizaccedilatildeo tanto quanto ao conteuacutedo quanto agrave
estrutura do texto A uacutenica bibliografia que encontramos e utilizamos como base para a
estruturaccedilatildeo da segunda parte do capiacutetulo tratando diretamente sobre os certificados de
garantia foi o Coacutedigo de Defesa e Proteccedilatildeo do Consumidor (1997) em que pudemos extrair
alguns conceitos gerais e recomendaccedilotildees de como se deve construir o texto de um certificado
de garantia Um dos problemas que encontramos foi a carecircncia de detalhes apresentados pelo
CDC na seccedilatildeo em que sugerem um padratildeo de formulaccedilatildeo do documento O CDC apenas
enfatiza que se faz necessaacuterio o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo e por exemplo a
necessidade de ser acompanhado do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto Com base
nessas informaccedilotildees apresentamos os conceitos e tambeacutem um exemplo de certificado de
garantia ilustrando cada parte da estrutura do texto
Na introduccedilatildeo do segundo capiacutetulo apresentamos uma discussatildeo geral sobre a
distinccedilatildeo entre semacircntica e pragmaacutetica com o objetivo de caracterizar os nexos como
relaccedilotildees linguiacutesticas do campo da semacircntica Para isso apresentamos tambeacutem os conceitos e
exemplos de relaccedilotildees linguiacutesticas que satildeo consideradas como pertencentes ao campo da
pragmaacutetica como a implicatura e pressuposiccedilatildeo Para esta discussatildeo buscamos aporte teoacuterico
nas obras de autores como Trask (2004) Levinson (2007) Grice (1987) Basso (2009)
Moura (1999) e Santos (2012)
Apoacutes a introduccedilatildeo do capiacutetulo apresentamos a teoria dos nexos semacircnticos que
escolhemos tratar em nossa pesquisa Foram eles o acarretamento a equivalecircncia semacircntica
a contradiccedilatildeo e a contrariedade Utilizamos como referencial teoacuterico para a teoria dos nexos
89
semacircnticos autores como Aristoacuteteles (1985) Chierchia (2001) Branquinho Murcho e Gomes
(2006) Pires de Oliveira (2001) e Mortari (2001) A apresentaccedilatildeo de cada nexo se deu a
partir dos conceitos seguidos de exemplos e dentro de cada seccedilatildeo apresentamos tambeacutem
tipos de ocorrecircncias lexicais que podem dificultar a intepretaccedilatildeo dos nexos que satildeo a
polissemia e a vagueza Ao apresentar os conceitos dessas ocorrecircncias lexicais assim como
fizemos na apresentaccedilatildeo dos nexos tambeacutem ilustramos com exemplos Utilizamos como
aporte teoacuterico para os conceitos de polissemia e vagueza autores como Crystal (1985) Allan
(2010) e Kempson (1977) Aleacutem da polissemia e vagueza tratamos sobre outro problema
que dificulta a interpretaccedilatildeo dos nexos as falaacutecias Quando tratamos sobre as caracteriacutesticas
das falaacutecias utilizamos como base teoacuterica o texto de Soares (2003) em que o autor distingue
as caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias e com esse aporte apresentamos nossos
exemplos
Quando tratamos sobre a contradiccedilatildeo e contrariedade apresentamos o fato de que as
suas origens tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica A partir disso trouxemos uma breve apresentaccedilatildeo
sobre os conceitos de Aristoacuteteles presentes em seu texto Organon (1985) mais
especificamente no Perieacutermeneas capiacutetulos 6 e 7
No final do capiacutetulo dois fizemos uma retrospectiva de todos os pontos que foram
apresentados ao longo do capiacutetulo e justificamos a nossa escolha em pesquisar sobre os nexos
semacircnticos assim como a polissemia vagueza e falaacutecias Durante todo o capiacutetulo dois
apresentamos os nexos e outras relaccedilotildees lexicais dentro de uma linguagem controlada que eacute
diferente do que acontece nos textos dos diversos gecircneros inclusive naquele escolhido para
compor o nosso corpus que satildeo os certificados de garantia A importacircncia dos conceitos
apresentados em nosso segundo capiacutetulo se deu pelo fato de que ele oferece uma base para a
compreensatildeo do funcionamento dessas relaccedilotildees semacircnticas para que diante das anaacutelises que
realizamos no capiacutetulo trecircs tenhamos uma leitura mais refinada e atenciosa para perceber
como essas relaccedilotildees semacircnticas tiacutepicas de linguagens controladas se apresentam em textos
que satildeo suscetiacuteveis a diversas ocorrecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo Ficamos surpresos
pelo fato de que pouco se escreveu sobre nexos semacircnticos em nosso contexto nacional de
pesquisa o que tornou a construccedilatildeo do nosso segundo capiacutetulo bastante desafiadora Em
relaccedilatildeo a artigos que trataram diretamente sobre os nexos semacircnticos e os seus usos como
suporte para a anaacutelise de ocorrecircncias em gecircneros textuais tivemos contato apenas com Santos
(2012) e Estrela e Santos (2013 2014)
No terceiro capiacutetulo que foi dedicado para conter a anaacutelise desta pesquisa
inicialmente apresentamos nossa justificativa para a escolha do gecircnero certificado de garantia
90
para analisar assim como a justificativa para a escolha de procurar nesses textos as
estrateacutegias linguiacutesticas utilizadas para restringir a interpretaccedilatildeo de sentenccedilas Em seguida
tratamos sobre os tipos de ocorrecircncias que elegemos para nossa anaacutelise como quantificador
universalcondicional e o ―apenas e o ―somente Esta escolha se deu pelo fato de tais
termos possuem caracteriacutesticas propiacutecias para o uso em restriccedilotildees ou abrangecircncias de textos
Mesmo assim tiacutenhamos conhecimento de que dificilmente encontrariacuteamos ocorrecircncias com
as relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos no capiacutetulo dois de forma expliacutecita e controlada
pois como discutimos anteriormente os diversos gecircneros textuais satildeo suscetiacuteveis a
interferecircncias lexicais que podem dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos
Em seguida apresentamos a anaacutelise do nosso corpus que totalizou cinquenta e quatro
trechos de certificados nos trecircs tipos de ocorrecircncias escolhidas para serem investigadas
Como jaacute apresentamos no final do capiacutetulo anterior nossas impressotildees sobre como foram
utilizados os recursos linguiacutesticos para restriccedilatildeo de interpretaccedilotildees pelos autores dos
certificados gostariacuteamos de enfatizar que nas ocorrecircncias com quantificador universal com
condicional e com o ―apenas e ―somente os fabricantes utilizaram estes recursos em
grande parte dos certificados para se favorecerem ou seja para abranger as possibilidades de
invalidade da garantia do produto aumentando as situaccedilotildees em que a garantia eacute perdida e
diminuindo as situaccedilotildees em que a garantia eacute vaacutelida (principalmente nas listas exaustivas)
Sobre ocorrecircncias em que identificados termos vagos ou termos polissecircmicos
identificamos como o motivo principal do aparecimento dessas ocorrecircncias a falta de
definiccedilatildeo dos termos teacutecnicos Em muitos certificados identificamos que os autores utilizaram
termos teacutecnicos (a maioria deles provenientes do CDC) e natildeo apresentaram em nenhuma
parte do texto as definiccedilotildees para tais termos oportunizando que o leitor interprete de
diversas maneiras os termos ou expressotildees
Por fim pudemos perceber que os quantificadores os condicionais e termos como o
―apenas e o ―somente que satildeo responsaacuteveis por abranger ou restringir interpretaccedilotildees de
sentenccedilas satildeo proacuteprios do tipo de texto instrucional que abarca o gecircnero que escolhemos para
nossa pesquisa A utilizaccedilatildeo desses termos seguiu uma ordem de apresentaccedilatildeo similar nos
vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Os quantificadores universais
apareceram muitas vezes nas explicaccedilotildees em que os fabricantes apresentavam prazos deveres
e direitos do fabricante e cliente os condicionais apareceram na maioria das vezes
precedendo as listas exaustivas e o ―apenas e ―somente apareceram em grande parte nos
trechos em que os fabricantes apresentavam delimitaccedilotildees territoriais para cobertura da
91
garantia e explicaccedilotildees sobre as situaccedilotildees em que a garantia eacute invalidada e as situaccedilotildees em que
a garantia se assegura
Assim como justificamos no iniacutecio das consideraccedilotildees sobre os resultados obtidos em
nossa anaacutelise natildeo encontramos ocorrecircncias com trecircs dos quatro nexos semacircnticos
apresentados no segundo capiacutetulo O fato de natildeo termos identificado ocorrecircncias com
equivalecircncias semacircnticas contrariedades e contraditoriedades traacutes a tona uma interessante
caracteriacutestica do gecircnero certificado de garantia que eacute a constante presenccedila de acarretamentos
na redaccedilatildeo do texto mesmo que apresentados indiretamente diferente dos exemplos que
utilizamos para ilustrar os conceitos nos diversos textos sobre o assunto e a natildeo utilizaccedilatildeo de
equivalecircncias sentenccedilas contraacuterias e contraditoacuterias na redaccedilatildeo do texto
Atraveacutes dessa pesquisa em que tratamos sobre os nexos semacircnticos a polissemia a
vagueza e alguns outros tipos de relaccedilotildees semacircnticas desejamos que outros pesquisadores se
interessem por este tipo de trabalho e busquem explorar nas anaacutelises linguiacutesticas outros
gecircneros textuais pouco explorados como o que utilizamos no presente trabalho Apresentar
uma teoria que eacute tipicamente de linguagens controladas como a dos nexos semacircnticos (que
satildeo como jaacute discutimos dependentes unicamente da forma das sentenccedilas) e analisar como
essas estrateacutegias linguiacutesticas se comportam dentro de textos instrucionais (que ainda satildeo
pouco explorados nas anaacutelises semacircnticas) satildeo a nosso ver interessantes caminhos a serem
desbravados nos estudos da semacircntica assim como as suas aplicaccedilotildees nos diversos gecircneros
textuais que nos rodeiam
92
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ANEXOS
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