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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA NEXOS SEMÂNTICOS EM CERTIFICADOS DE GARANTIA JOÃO PESSOA FEVEREIRO/2015

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE ......22 Bicicleta Total Health Quadro 1 – Certificados de garantia que compõem o corpus desta pesquisa. Fonte: elaborado pelo autor

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIacuteBA

CENTRO DE CIEcircNCIAS HUMANAS LETRAS E

ARTES

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM

LINGUIacuteSTICA

NEXOS SEMAcircNTICOS EM CERTIFICADOS DE GARANTIA

JOAtildeO PESSOA

FEVEREIRO2015

KEcircNIO ANGELO DANTAS FREITAS ESTRELA

NEXOS SEMAcircNTICOS EM CERTIFICADOS DE GARANTIA

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de

Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica da

Universidade Federal da Paraiacuteba como

requisito parcial para obtenccedilatildeo do grau de

Mestre em Linguiacutestica

Aacuterea de Concentraccedilatildeo Teoria e Anaacutelise

Linguiacutestica

Linha de Pesquisa Linguagem Sentido e

Cogniccedilatildeo

Orientadora Profordf Dra Maria Leonor Maia

dos Santos

JOAtildeO PESSOA

FEVEREIRO2015

KEcircNIO ANGELO DANTAS FREITAS ESTRELA

NEXOS SEMAcircNTICOS EM CERTIFICADOS DE GARANTIA

Dissertaccedilatildeo submetida ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica da Universidade

Federal da Paraiacuteba em cumprimento agraves exigecircncias para obtenccedilatildeo do grau de Mestre em

Linguiacutestica Aacuterea de concentraccedilatildeo Teoria e Anaacutelise Linguiacutestica

Aprovada em ________

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________

Profa Dra Maria Leonor Maia dos Santos

Universidade Federal da Paraiacuteba - UFPB

(Orientadora)

____________________________________________

Profa Dra Mocircnica Mano Trindade Ferraz

Universidade Federal da Paraiacuteba ndash UFPB

(Examinadora)

____________________________________________

Prof Dr Giovanni da Silva de Queiroz

Universidade Federal da Paraiacuteba - UFPB

(Examinador)

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo primeiramente ao nosso Deus Todo Poderoso Mestre supremo de nossas

vidas e aos seus anjos de luz espiacuteritos elevados missionaacuterios da luz pela oportunidade de

realizar esta pesquisa por toda a inspiraccedilatildeo e pela sauacutede que natildeo me faltou em nenhum

momento desses 24 meses de estudos

Agrave minha orientadora Dra Maria Leonor Maia dos Santos por ter acreditado em meu

potencial e ter aceitado me auxiliar na elaboraccedilatildeo desta pesquisa A sua generosidade

comprometimento e sabedoria serviratildeo para mim como exemplo de profissionalismo

acadecircmico a ser seguido O peso do desafio de realizar essa pesquisa certamente foi muito

menor por ter uma mentora tatildeo precisa quanto ela

Ao prof Dr Giovanni da Silva de Queiroz por ter aceitado participar da banca de

avaliaccedilatildeo desta pesquisa o que eacute representa uma grande honra para mim Desde o iniacutecio do

ano de 2011 momento em que participei de um mini-curso sobre Loacutegica Claacutessica na UEPB

ministrado por ele muito tenho aprendido com suas indicaccedilotildees de bibliografias e orientaccedilotildees

sempre muito pertinentes

Agrave profa Dra Mocircnica Mano Trindade Ferraz pela generosidade apreccedilo e humanidade

para comigo ao me acolher em seu grupo de pesquisa junto aos seus orientandos

oportunizando que eu a cada encontro do grupo aprendesse um pouco mais sobre as diversas

semacircnticas Tambeacutem agradeccedilo pela honra de tecirc-la como integrante da banca de avaliaccedilatildeo

desta pesquisa e pelas saacutebias orientaccedilotildees ao longo destes dois anos de estudos no PROLING

Aos meus pais Geraldo e Silvacircnia Estrela por todo amor confianccedila e suporte

oferecidos a mim desde o princiacutepio desta minha vida Espero poder um dia retribuir ao menos

uma parcela de tudo o que eles fizeram e fazem por mim

Agrave minha irmatilde Karla Estrela pelo exemplo de determinaccedilatildeo e disciplina

Agrave minha noiva Maria Eduarda por toda dedicaccedilatildeo carinho amor companheirismo e

principalmente paciecircncia comigo vinte e quatro horas por dia sete dias na semana Eu

certamente natildeo conseguiria concluir com tanta serenidade esta pesquisa caso ela natildeo estivesse

ao meu lado

Agrave minha amiga Angeacutelica Vilar que me apresentou o PROLING e me deu todo o

suporte para que eu realizasse o processo de seleccedilatildeo de mestrado Haacute quem natildeo acredite em

anjos mas tenho a convicccedilatildeo de que pessoas desse calibre natildeo merecem um tiacutetulo menos

divino

Aos amigos Joseacute Wellisten e Alessandra Miranda pela disponibilidade e atenccedilatildeo para

lerem meu trabalho e fazerem criacuteticas construtivas

Ao amigo Thiago Magno que me ajudou em um dos momentos mais delicados no

periacuteodo poacutes-defesa Dedico minha amizade e minha eterna gratidatildeo por tudo

Agrave CAPES pelo apoio financeiro oferecido para essa pesquisa pelo periacuteodo de 17

meses

εἰδέναι δὲ χπὴ τὸν πόλεμον ἐόντα

ξυνόν καὶ δίκην ἔπιν καὶ γινόμενα

πάντα κατ ἔπιν καὶ χπεών

(Heraacuteclito frag 80)

RESUMO

O estudo das relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas eacute um campo bastante discutido e

pesquisado nos estudos linguiacutesticos A observaccedilatildeo de como se comportam os termos na

construccedilatildeo de significados em textos de diversos gecircneros e seus efeitos de interpretaccedilatildeo

tambeacutem satildeo temas muito difundidos entre as pesquisas das semacircnticas Nesta produccedilatildeo

discutiremos sobre as relaccedilotildees de significado e seus efeitos de sentido em um gecircnero

especiacutefico As relaccedilotildees que investigaremos satildeo os nexos semacircnticos ou nexos de significado

como proposto por Chierchia (2003) que satildeo respectivamente acarretamento equivalecircncia

semacircntica contraditoriedade e contrariedade O gecircnero que escolhemos para nossa anaacutelise eacute o

certificado de garantia e a escolha de tal gecircnero se deu pelo fato deste fazer parte do grupo de

textos injuntivos ou instrucionais que a nosso ver possui caracteriacutesticas que favorecem a

amostragem dos nexos semacircnticos Iremos analisar como os nexos semacircnticos satildeo utilizados

para restringir ou abranger as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos certificados de garantia O

corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de garantia de

produtos de diversos segmentos e decidimos escolher certificados de produtos de linhas

diversas para constituirmos um panorama sobre o gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes

da internet sem utilizar nenhuma metodologia especiacutefica apenas atentamos para buscar

certificados de produtos variados Buscamos nessa pesquisa instigar a reflexatildeo sobre as

relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e a observaccedilatildeo destas nos textos instrucionais que

lidamos no dia-a-dia e que por muitas vezes deixamos passar despercebido o seu conteuacutedo

O entendimento sobre os nexos de significado pode nos oferecer ferramentas para melhor

leitura de textos desse tipo

Palavras chave Nexos semacircnticos Certificado de garantia Semacircntica

ABSTRACT

The study of the meaning of relations between sentences is a much discussed and researched

field in linguistic studies The observation of how the terms behave in the construction of

meanings in texts of different genres and their interpretation effects are also widespread

themes among semantic research In this work we will discuss about the meaning of the

relations of meaning and their sense of purpose in a specific genre The relations that we will

investigate are semantic nexus or semantic links as proposed by Chierchia (2003) which are

respectively entailment semantic equivalence contradictoriness and contrariness The genre

we chose for our analysis is the warranty certificate and the choice of this genre was made

because it is part of the injunctive or instructional texts group that in our opinion has

characteristics that favor the sampling of semantic nexus We will analyze how the semantic

nexus are used to restrict or cover the possibilities of interpretation in the warranty

certificates The corpus of this research has 22 (twenty two) copies of warranty certificates

from different segments and we decided to choose certificates from separate lines to

constitute an overview of the genre The collection of the texts took place through the

internet without using any particular methodology of choice only we pay attention to seek

warranty certificates of diverse products We seek in this research instigate reflection on the

meaning relations between sentences and observance of these in instructional texts that we

have contact in daily life and that for many times let go unnoticed its contents The

understanding of the semantic nexus can offer us tools to better read texts of this type

Keywords Semantic nexus Warranty certificate Semantics

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 13

1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA 16

11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS 16 12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL 26

2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS 32

21 ACARRETAMENTO 35 22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA 42 23 CONTRADITORIEDADE 45 24 CONTRARIEDADE 48 25 JUSTIFICANDO O PERCURSO 51

3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA 53

31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL 55 32 USO DO CONDICIONAL 64 33 USO DO APENASSOMENTE 68 34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS 83

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 88

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 92

ANEXOS 95

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa 14

QUADRO 2 - Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia 83

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

ILUSTRACcedilAtildeO 1 - Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 27

ILUSTRACcedilAtildeO 2 - Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28

ILUSTRACcedilAtildeO 3 - Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28

ILUSTRACcedilAtildeO 4 - Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28

ILUSTRACcedilAtildeO 5 - Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 29

13

INTRODUCcedilAtildeO

A abordagem das relaccedilotildees de significado eacute algo bastante presente e discutido nos

estudos semacircnticos Observar como se comportam os termos na construccedilatildeo da significaccedilatildeo

em textos de diversos gecircneros distintos e seus efeitos interpretativos tambeacutem satildeo temas de

diversas produccedilotildees na aacuterea de linguiacutestica

Neste trabalho iremos discutir as relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e os efeitos

interpretativos dessas relaccedilotildees em textos Mais especificamente abordaremos os nexos

semacircnticos ou nexos de significado (Chierchia 2003) acarretamento equivalecircncia semacircntica

contrariedade (os quais podemos encontrar no referido trabalho de Chierchia) e

contraditoriedade (nexo semacircntico que geralmente eacute relacionado com a contrariedade e que

foi tratado por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado atraveacutes de seu quadrado loacutegico

ou taacutebua de oposiccedilotildees em seu texto Perieacutermeneas (1985) mais especificamente nos

capiacutetulos 6 e 7 sobre o qual faremos menccedilatildeo na seccedilatildeo sobre este nexo)

Este trabalho tem por objetivo observar alguns dos recursos linguiacutesticos utilizados

para favorecer a existecircncia de nexos semacircnticos e com isso restringir ou ampliar

possibilidades de interpretaccedilatildeo em um gecircnero textual especiacutefico Por este motivo o gecircnero

que escolhemos analisar foi o certificado de garantia ou termo de garantia que pertence agrave

categoria dos textos instrucionais (ou injuntivos) e a nosso ver possui caracteriacutesticas que

favorecem a amostragem das ocorrecircncias dos nexos

O gecircnero certificado de garantia possui como uma de suas caracteriacutesticas a

apresentaccedilatildeo organizada dos direitos e deveres do cliente e do fabricante com relaccedilatildeo a um

produto servindo tambeacutem para informar ao cliente os seus direitos referentes agrave validade

prazos e extensatildeo de cobertura da garantia Supotildee-se entatildeo que o texto deve por isso ser

objetivo e livre de ambiguidades e incoerecircncias

Nossa hipoacutetese eacute a de que recursos linguiacutesticos que favoreccedilam a existecircncia de nexos

semacircnticos nos textos dos certificados ndash como o emprego por exemplo de conectivos e

quantificadores (Chierchia 2003 PIRES DE OLIVEIRA 2001) ndash estatildeo presentes em textos

deste gecircnero e contribuem para que os textos alcancem o objetivo de informar ao cliente e ao

fabricante seus deveres e direitos

O corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de

garantia de produtos diversos para constituir um panorama ainda que reduzido de instacircncias

do gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes da internet sem utilizar nenhuma metodologia

14

especiacutefica de escolha atentando para buscar certificados de produtos variados Os textos

escolhidos para a anaacutelise de nosso trabalho incluem diversos produtos manufaturados como

moacuteveis veiacuteculos eletroeletrocircnicos entre outros equipamentos domeacutesticos como ilustrado no

quadro a seguir

Nordm Tipo de objeto Fabricante

1 Refrigerador Samsung

2 TV led Sony

3 Condicionador de ar LG

4 Tablet AOC

5 AudioMixer Oneal

6 Garantia para todos os produtos Elgin

7 Estabilizador de energia APC

8 Aquecedor de aacutegua Bosch

9 Fogatildeo Brastemp

10 Maacutequina de lavar Electrolux

11 Ventilador Cadence

12 GPS Positron

13 Umidificador de ar Springer

14 Certificado internacional de garantia Philips

15 Colchatildeo Ortobom

16 Caminhotildees Mercedes-Benz

17 Carro de passeio Hyundai

18 Moacuteveis Bartzen

19 Aquecedor de ar Fujitsu

20 Tv AOC

21 Aquecedor de aacutegua para piscina Rheem

22 Bicicleta Total Health

Quadro 1 ndash Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa Fonte elaborado pelo autor

Como nosso propoacutesito eacute analisar os textos observando as ocorrecircncias de termos que

restringem e abrangem interpretaccedilotildees natildeo temos a intenccedilatildeo de analisar se um fabricante

elaborou um texto melhor que outro

No primeiro capiacutetulo apresentamos num primeiro momento o que satildeo gecircneros

textuais e em seguida caracterizamos o certificado de garantia como um gecircnero textual Para

tanto utilizamos o aporte teoacuterico baseado na obra de Mikhail Bakhtin (2000) linguista do

iniacutecio do seacuteculo referecircncia nos estudos de gecircneros textuais e de Luiz Antocircnio Marcuschi

(2002 2005 2008) linguista contemporacircneo que desenvolveu importantes trabalhos nessa

disciplina Vale salientar que como o foco de nossa pesquisa natildeo eacute a discussatildeo de gecircneros

textuais o capiacutetulo que construiacutemos trata de conceitos gerais sobre gecircneros tendo como

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objetivo observar que o certificado de garantia eacute um gecircnero textual e mostrando como se

estrutura em linhas gerais um texto deste gecircnero

No segundo capiacutetulo trataremos dos nexos semacircnticos dos quais consideraremos

para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e

contrariedade Atraveacutes de exemplos discutimos brevemente cada um deles mostrando

exemplos que funcionam e tambeacutem exemplos problemaacuteticos em relaccedilatildeo ao leacutexico

especialmente em casos de polissemia para que entatildeo seja possiacutevel a anaacutelise do capiacutetulo

seguinte

No terceiro capiacutetulo traremos a anaacutelise do corpus que se apresentaraacute organizado por

ocorrecircncias distribuiacutedas em tipos a saber uso do quantificador universal uso do condicional

e uso do apenassomente Apoacutes o exame das trecircs categorias citadas trataremos entatildeo das

relaccedilotildees entre o emprego dos recursos e a funccedilatildeo dos certficados Procuraremos tambeacutem

refletir se os recursos satildeo mais utilizados para favorecer o cliente ou mais utilizados para

favorecer o fabricante

Por uacuteltimo mostraremos as consideraccedilotildees finais do trabalho e em seguida as

referecircncias bibliograacuteficas utilizadas na elaboraccedilatildeo de nosso texto

16

1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA

Neste capiacutetulo tratamos dos gecircneros textuais e da caracterizaccedilatildeo dos certificados de

garantia como um gecircnero textual Em um primeiro momento traremos a perspectiva sobre

gecircneros textuais de Mikhail Bakhtin precursor dos estudos de gecircneros textuais na linguiacutestica

e em seguida apresentaremos a perspectiva de Luiz Antocircnio Marcuschi linguista brasileiro

que tambeacutem trabalha com o tema e compartilha em grande parte da perspectiva de Bakhtin

sobre o os gecircneros Eacute importante ressaltar que este capiacutetulo natildeo tem por objetivo o

aprofundamento nos estudos dos gecircneros e serve como um instrumento para contextualizar o

corpus desta pesquisa

11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS

Considerando a perspectiva apresentada por Mikhail Bakhtin na obra Esteacutetica da

criaccedilatildeo verbal (2000) o ato de se comunicar eacute indispensaacutevel para as relaccedilotildees humanas Aleacutem

disso ressaltamos que eacute por tal razatildeo que nas diversas situaccedilotildees de interaccedilatildeo que

vivenciamos em nosso cotidiano observamos a utilizaccedilatildeo da liacutengua em suas modalidades

oral eou escrita como instrumento principal de nossas trocas comunicativas

Eacute notoacuterio que a quantidade de atividades eacute enorme assim como satildeo os diferentes tipos

de situaccedilotildees em que a liacutengua eacute empregada Atraveacutes da formulaccedilatildeo de enunciados podemos

caracterizar quais as funccedilotildees dos discursos que escolhemos para os diversos tipos de

interaccedilatildeo

Nesse sentido eacute possiacutevel afirmarmos que todas as nossas construccedilotildees linguiacutesticas

organizam-se em gecircneros discursivos por meio dos quais conseguimos nos comunicar e

interagir socialmente

Em conformidade com a proposta de Bakhtin todo gecircnero discursivo se constitui a

partir das seguintes dimensotildees o conteuacutedo temaacutetico o estilo e a construccedilatildeo composicional

Esta descriccedilatildeo eacute claacutessica como ponto de partida para a descriccedilatildeo dos gecircneros textuais e nos

ofereceraacute a possibilidade de tanto descrever o que eacute um gecircnero textual quanto caracterizar

um texto como gecircnero que seraacute o nosso objetivo na segunda parte deste capiacutetulo

O conteuacutedo temaacutetico se refere ao tipo de assunto veiculado no texto Por tal razatildeo

Bakhtin (2000) afirma que o gecircnero eacute escolhido a partir do que o locutor decide falar Assim

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eacute faacutecil compreender por que cada atividade comunicativa necessita de um tipo especiacutefico de

textodiscurso Por exemplo natildeo se responde (normalmente) uma carta informal com uma

bula de remeacutedio (a natildeo ser que na carta um texto desse gecircnero seja solicitado como

resposta) Nesse sentido percebe-se que para cada esfera de comunicaccedilatildeo o locutor e

interlocutor utilizam uma mesma forma de expressatildeo tendo em vista o assunto que

escolheram tratar Caso contraacuterio se locutor e interlocutor agregam formas distintas de

expressatildeo pode ser que a comunicaccedilatildeo natildeo seja efetivada com sucesso visto que eacute possiacutevel

natildeo haver o entendimento das partes uma vez que cada gecircnero abarca certo campo de uso

mesmo estando em constante desenvolvimento

O estilo se refere aos recursos linguiacutesticos desde gramaticais ateacute lexicais e eles

variam de acordo com o gecircnero Essa dimensatildeo abarca a seleccedilatildeo frasal lexical gramatical e

as formas de apresentar o discurso que satildeo inerentes ao gecircnero escolhido Bakhtin (2000)

afirma que o estilo eacute a primeira vista individual do gecircnero e ela reflete (ou natildeo) a

individualidade de quem escreve ou fala Isso porque dependendo do gecircnero o estilo

individual aparece com mais clareza Da mesma forma haacute gecircneros que natildeo possuem essa

caracteriacutestica a exemplo dos textos injuntivos sobre os quais trataremos mais agrave frente Ainda

a respeito do estilo Bakhtin assegura que

Quando escolhemos as palavras no processo de construccedilatildeo de um enunciado nem

de longe as tomamos sempre do sistema da liacutengua em sua forma neutra

lexicograacutefica Costumamos tiraacute-las de outros enunciados e antes de tudo de

enunciados congecircneres com o nosso isto eacute pelo tema pela composiccedilatildeo pelo estilo

consequentemente selecionamos as palavras segundo a sua especificaccedilatildeo de

gecircnero O gecircnero do discurso natildeo eacute uma forma da liacutengua mas uma forma tiacutepica do

enunciado como tal forma o gecircnero inclui certa expressatildeo tiacutepica a ele inerente

(BAKHTIN 2010 [1992] p 292 grifos do autor)

Nessa perspectiva podemos afirmar que tal criteacuterio se refere agraves propriedades das

unidades de linguagem e relaciona-se agrave posiccedilatildeo enunciativa do locutor agraves sequecircncias textuais

e aos tipos discursivos que estruturam o texto

Por fim Bakhtin (2000) afirma que cada gecircnero possui uma forma padratildeo que eacute a

estrutura composicional Eacute atraveacutes dessa forma que podemos identificar qual gecircnero estaacute

sendo empregado pois essa dimensatildeo se refere aos procedimentos utilizados na formulaccedilatildeo

dos textos com a estrutura e demais aspectos formais incluindo as partes envolvidas no

discurso Em suma para Bakhtin (2000)

18

Estes trecircs elementos (conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo composicional)

fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado e todos eles satildeo marcados pela

especificidade de uma esfera de comunicaccedilatildeo Qualquer enunciado considerado

isoladamente eacute claro individual mas cada esfera de utilizaccedilatildeo da liacutengua elabora

seus tipos relativamente estaacuteveis de enunciados sendo isso que denominamos

gecircneros do discurso (BAKHTIN 2000 p 279 Grifos do autor)

Ainda a respeito dos gecircneros do discurso conveacutem ressaltar que sua variedade eacute

proporcional agraves possibilidades de interaccedilotildees humanas pois as diversas esferas de interaccedilatildeo

satildeo compostas por classes de gecircneros que se desenvolvem tornando-se maiores e mais

complexas em consonacircncia com o desenvolvimento dessas esferas

Bakhtin (2000) utiliza o termo ―heterogeneidade para adjetivar os gecircneros do

discurso sejam eles orais ou escritos inferindo que estes incluem desde conversas informais

cartas relatos familiares ateacute produccedilotildees mais complexas como os documentos oficiais textos

cientiacuteficos e de escolas literaacuterias Natildeo haacute razatildeo para minimizar a extrema heterogeneidade

dos gecircneros do discurso e a consequente dificuldade quando se trata de definir o caraacuteter

geneacuterico do enunciadolsquo (BAKHTIN 2000 p 281) Dessa forma entendemos que a

variedade de gecircneros eacute muito grande se estendendo por exemplo dos romances mais

eruditos ateacute os bilhetes de recados do dia-a-dia e que tratar dos gecircneros admitindo suas

caracteriacutesticas estruturais particulares natildeo eacute uma tarefa faacutecil de realizar

Aleacutem de discorrer sobre as dimensotildees constitutivas de um gecircnero tendo em vista essa

heterogeneidade Bakhtin categoriza os gecircneros textuais em primaacuterios (simples) e

secundaacuterios (complexos) Assim os gecircneros primaacuterios satildeo aqueles referentes agraves reacuteplicas de

diaacutelogos cotidianos como cartas pessoais e demais gecircneros de comunicaccedilatildeo imediata Satildeo

chamados ―simples porque satildeo formados por discursos de baixa complexidade Jaacute os

gecircneros secundaacuterios satildeo aqueles referentes a romances textos cientiacuteficos sociopoliacuteticos e

afins Satildeo textos (escritos ou produzidos para serem encenados como os teatrais ndash exemplo

usado pelo proacuteprio Bakhtin) com maior carga de complexidade de produccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo

Surgem a partir de interaccedilotildees mais aprofundadas nas comunidades com maior grau de

imersatildeo em relaccedilatildeo aos padrotildees culturais e sociais

Ele ainda ressalta que os gecircneros secundaacuterios tambeacutem podem conter gecircneros

primaacuterios ―o romance em seu todo eacute um enunciado da mesma forma que a reacuteplica do

diaacutelogo cotidiano ou a carta pessoal (satildeo fenocircmenos da mesma natureza) o que diferencia o

romance eacute ser um enunciado secundaacuterio (complexo) (BAKHTIN 2000 p 281) Ao

discorrer sobre essa questatildeo o autor assevera que eacute de grande importacircncia teoacuterica a

19

diferenciaccedilatildeo entre esses tipos de gecircneros pois com isso e a partir disso podemos fazer

anaacutelises precisas dos enunciados que podem contrapor dois ou mais tipos de textos

Ignorar as caracteriacutesticas intriacutensecas a cada gecircnero a ―natureza dos enunciados - que

segundo Bakhtin eacute indispensaacutevel para qualquer estudo ndash eacute partir para a abstraccedilatildeo da liacutengua

desvalorizando o conteuacutedo histoacuterico imerso em cada tipo de gecircnero Eacute importante considerar

a relaccedilatildeo existente entre ―a liacutengua e a vida e natildeo restringir os enunciados a categorias

formais Haacute portanto uma relaccedilatildeo de complementaccedilatildeo entre a liacutengua a vida e os enunciados

pois ―a liacutengua penetra na vida atraveacutes dos enunciados concretos que a realizam e eacute tambeacutem

atraveacutes dos enunciados concretos que a vida penetra na liacutengua (BAKHTIN 2000 p 282)

Bakhtin (2000) tambeacutem se refere a questotildees da ―totalidade do enunciado que ele

define como aquilo que oportuniza a resposta em um discurso Bakhtin afirma que essa accedilatildeo

eacute definida por trecircs fatores diretamente associados ao ―todo orgacircnico do enunciado

primeiramente o tratamento exaustivo do objeto de sentido depois o querer-dizer do locutor

e por fim as formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do acabamento

O tratamento exaustivo do objeto de sentido ―varia profundamente conforme as

esferas da comunicaccedilatildeo verbal Em algumas esferas ele pode ser quase total como por

exemplo na vida praacutetica na vida profissional na vida militar basicamente em esferas que

natildeo possuem caracteriacutesticas de mutabilidade de discurso e pouca ―criatividade nas

formulaccedilotildees entre outras palavras onde os gecircneros do discurso satildeo padronizados Jaacute nas

esferas em que os gecircneros satildeo ―criativos o tratamento exaustivo eacute muito menos abrangente

como no caso das ciecircncias em particular onde Bakhtin infere que o tratamento exaustivo

―oferece exatamente um miacutenimo de acabamento capaz de suscitar uma atitude responsiva

(BAKHTIN 2000 p 300)

O querer-dizer do locutor estaacute ligado ao primeiro fator O filoacutesofo afirma que em todo

enunciado desde uma reacuteplica cotidiana ateacute complexas obras cientiacuteficas ou da literatura

compreendemos sentimos o ―intuito discursivo ou querer-dizer do locutor que eacute o que

determina o ―todo do enunciado sua amplitude suas fronteiras Noacutes identificamos o que o

locutor quer expressar e a partir dessa detecccedilatildeo medimos e definimos como se daraacute o

enunciado Isso eacute determinante para a escolha do objeto com seus limites e o tratamento

exaustivo do objeto adequado a este aleacutem de ser essencial para a escolha da forma do gecircnero

onde seraacute edificado

As formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do gecircnero do acabamento representam o fator mais

importante para Bakhtin que as descreve como ―formas estaacuteveis do gecircnero do enunciado

(BAKHTIN 2000 p 301)

20

As formas do gecircnero agraves quais modelamos nossa fala se distinguem

substancialmente das formas da liacutengua do ponto de vista de sua estabilidade e de

suas leis normativas para o locutor De um modo geral elas satildeo mais maleaacuteveis

mais plaacutesticas e mais livres do que as formas da liacutengua (BAKHTIN 2000 p 302)

Concluindo a discussatildeo sobre gecircneros a partir dos conceitos gerais propostos por

Bakhtin passamos agora para a discussatildeo sobre gecircneros realizada por Marcuschi (2008) Eacute

possiacutevel perceber ao longo da explanaccedilatildeo que este autor se identifica com a teoria

bakhtiniana de gecircneros textuais e foi essa identificaccedilatildeo uma das motivaccedilotildees que nos levou a

escolhecirc-los para a composiccedilatildeo deste capiacutetulo

De acordo com Marcuschi (2008 p 154) toda comunicaccedilatildeo soacute pode ser efetivada

por meio de um gecircnero pois ―eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum gecircnero

assim como eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum texto Partindo dessa

premissa podemos entender que qualquer manifestaccedilatildeo verbal se daacute dentro dos limites dos

gecircneros Eacute por esse motivo que a variedade de gecircneros eacute extensa mas natildeo infinita Atraveacutes

desse conceito observamos que Marcuschi compactua com o conceito bakhtiniano de que os

gecircneros possuem formas padronizadas e finitas

Os gecircneros textuais satildeo os textos que encontramos em nossa vida diaacuteria e que

apresentam padrotildees sociocomunicativos caracteriacutesticos definidos por composiccedilotildees

funcionais objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integraccedilatildeo

de forccedilas histoacutericas sociais institucionais e teacutecnicas (Marcuschi 2008 p 155)

Natildeo devemos considerar os gecircneros textuais como modelos imutaacuteveis e de ―estrutura

riacutegidas A apresentaccedilatildeo dos gecircneros se mostra ligada diretamente ao meio em que circulam

Satildeo formas culturais que tomam forma na liacutengua e que evoluem junto com ela Obviamente

que natildeo podemos deixar de considerar que os gecircneros possuem identidade e eacute atraveacutes dessa

identidade que escolhemos um tipo especiacutefico para cada esfera discursiva Dessa forma

admitimos que os gecircneros limitam nossa accedilatildeo na escrita

Em relaccedilatildeo agrave distinccedilatildeo entre gecircneros Marcuschi (2008) natildeo os distingue pelas formas

linguiacutesticas mas sim pelos seus campos de accedilatildeo Nesse sentido ele reafirma a perspectiva

bakhtiniana de que os gecircneros satildeo dinacircmicos e que por serem soacutecio-histoacutericos natildeo podem

ser contados de modo exaustivo o que dificulta sua classificaccedilatildeo Marcuschi (2008) afirma

que atualmente o objetivo maior nos estudos sobre gecircneros textuais eacute procurar identificar e

explicar como eles satildeo constituiacutedos e como circulam na sociedade

21

Eacute importante apresentar alguns conceitos referentes ao que estamos discutindo sobre

gecircneros do discurso dentre os quais destacamos os conceitos de tipo textual gecircnero textual e

domiacutenio discursivo segundo Marcuschi (2008) levando em consideraccedilatildeo a possibilidade de

se obter melhor entendimento no trato com o texto em si e seus fenocircmenos

O tipo textual eacute definido pelos aspectos linguiacutesticos ou seja por marcas lexicais

tempos verbais estilo relaccedilotildees loacutegicas e aspectos sintaacuteticos Logo relaciona-se mais agraves

sequecircncias linguiacutesticas do que a materializaccedilotildees textuais fazendo com que o conjunto

tipoloacutegico de textos seja limitado e natildeo apresente tendecircncias de aumentar Marcuschi (2002

p22) afirma que os tipos textuais compreendem categorias amplamente conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo exposiccedilatildeo descriccedilatildeo e injunccedilatildeo que observaremos separadamente a

seguir

A narraccedilatildeo relata um fato que pode ser real ou imaginaacuterio em um tempo e lugar

definidos envolvendo personagens Nesse tipo de texto o tempo verbal predominante eacute o

passado ao menos nos exemplos mais tiacutepicos Eacute predominante em crocircnicas piadas

romances poemas faacutebulas entre outros Vejamos o exemplo a seguir

O cavalo e o burro

O cavalo e o burro seguiam juntos para a cidade O cavalo contente da vida

folgando com uma carga de quatro arrobas apenas e o burro mdash coitado gemendo

sob o peso de oito Em certo ponto o burro parou e disse

ndash Natildeo posso mais Esta carga excede agraves minhas forccedilas e o remeacutedio eacute repartirmos o

peso irmatildemente seis arrobas para cada um

O cavalo deu um pinote e relichou uma gargalhada

ndash Ingecircnuo Quer entatildeo que eu arque com seis arrobas quando posso tatildeo bem

continuar com as quatro Tenho cara de tolo

O burro gemeu

ndash Egoiacutesta Lembre-se que se eu morrer vocecirc teraacute que seguir com a carga de quatro

arrobas e mais a minha

O cavalo pilheriou de novo e a coisa ficou por isso Logo adiante poreacutem o burro

tropica vem ao chatildeo e rebenta

Chegam os tropeiros maldizem a sorte e sem demora arrumam com as oito arrobas

do burro sobre as quatro do cavalo egoiacutesta E como o cavalo refuga datildeo-lhe de

chicote em cima sem doacute nem piedade

ndash Bem feito exclamou o papagaio Quem mandou ser mais burro que o pobre burro

e natildeo compreender que o verdadeiro egoiacutesmo era aliviaacute-lo da carga em excesso

Tome Gema dobrado agorahellip

(LOBATO M 2010 p 85)

Acima podemos observar um exemplo de narraccedilatildeo que eacute uma das faacutebulas de

Monteiro Lobato escrita em grande parte em discurso direto Podemos observar na faacutebula

que o texto eacute conduzido pelo narrador intercalado pela interaccedilatildeo dos personagens A seguir

22

continuaremos a descriccedilatildeo dos tipos textuais e exemplos com o conceito do tipo textual

argumentativo

Jaacute a argumentaccedilatildeo tem por principal caracteriacutestica a construccedilatildeo do convencimento

acerca da validade ou invalidade de um ponto de vista por sobre outro Nesse tipo de texto haacute

a reflexatildeo sobre temas especiacuteficos confrontando perspectivas distintas predominante em

gecircneros como debates resenhas editoriais artigos de opiniatildeo e afins Vejamos o exemplo a

seguir

O povo brasileiro estaacute cansado de tanta corrupccedilatildeo desigualdade de renda serviccedilos

puacuteblicos precaacuterios sensaccedilatildeo de inseguranccedila nas ruas elevada carga tributaacuteria

ineficiecircncia nos gastos puacuteblicos e elevaccedilatildeo da inflaccedilatildeo aleacutem do estilo autoritaacuterio e

inflexiacutevel da presidente O estranho eacute pensar sobre as razotildees que levaram a

populaccedilatildeo agraves ruas no momento atual em que a economia apresentou uma

significativa evoluccedilatildeo em relaccedilatildeo aos anos 80 e 90 aleacutem de presenciar sensiacutevel

melhora na renda meacutedia e na sua distribuiccedilatildeo nos anos 2000

A minha impressatildeo eacute de que depois de sentir a possibilidade de que o paiacutes entraria

em uma rota segura de crescimento da renda e de desenvolvimento econocircmico

(semelhante agrave sensaccedilatildeo que a populaccedilatildeo brasileira presenciou nos anos 70) o

enfraquecimento econocircmico e os sinais cada vez mais claros de que ele eacute resultante

de problemas internos deixaram a populaccedilatildeo transtornada Mais uma vez somos

apenas o paiacutes do futuro (NAKABASHI 2013 Acesso

httpwwwgazetadopovocombropiniaoartigosmanifestacoes-e-governo-no-

brasil-bdcjgu3mm6ql5e18tqoj73c5q)

Observamos acima uma parte de um artigo de opiniatildeo publicado no jornal Gazeta do

Povo em 02072013 por Luciano Nakabashi que trata das manifestaccedilotildees e do governo no

Brasil O autor anuncia primeiro o problema que vai discutir e em seguida lanccedila sua opiniatildeo

sobre o tema o que faz com que esse tipo de texto seja distinto da exposiccedilatildeo que

abordaremos a seguir

A exposiccedilatildeo apresenta informaccedilotildees sobre acontecimentos materiais e objetos de

forma detalhada e especiacutefica e por isso costuma lanccedilar matildeo de recursos como a descriccedilatildeo

informaccedilatildeo enumeraccedilatildeo comparaccedilatildeo e contrastes O tipo expositivo eacute caracteriacutestico de

gecircneros como as aulas expositivas verbetes de dicionaacuterios notiacutecias jornaliacutesticas entre

outros Vejamos o exemplo

Dianoia Termo grego que pode ser traduzido por pensamento intelecto

espiacuterito A dianoia eacute o pensamento discursivo enquanto elaboraccedilatildeo explicitaccedilatildeo

ou desenvolvimento da noese ou nous isto eacute da razatildeo intuitiva que capta de

modo imediato o real (Aristoacuteteles Tratado da alma III) Neste sentido a dianoia eacute

inferior ao nous jaacute que depende deste (MARCONDES e JAPIASSUacute 2001 p54)

23

Tomamos como exemplo de exposiccedilatildeo um verbete de um dicionaacuterio de filosofia

Podemos observar que os autores apresentam a palavra ―dianoia e em seguida conceituam a

dianoia a partir da perspectiva de um filoacutesofo especiacutefico (neste caso Aristoacuteteles)

O tipo textual descriccedilatildeo por sua vez eacute o relato particular de eventos e entidades e se

relaciona comumente com outros tipos em inuacutemeros gecircneros textuais Eacute caracteriacutestico em

cartazes promocionais anuacutencio de classificados entre outros Vamos observar agora um

exemplo de descriccedilatildeo atraveacutes da anaacutelise de uma obra de arte de Salvador Dali de 1955

intitulada ―A uacuteltima ceia

―Sua cena estaacute contida num retacircngulo Uma imensa janela ao fundo representada

por um dodecaedro (figura geomeacutetrica de 12 lados que sua vez satildeo pentaacutegonos ou

seja possuem cinco acircngulos cada um) domina toda a composiccedilatildeo

Jesus Cristo e seus 12 apoacutestolos estatildeo reunidos numa sala moderna envidraccedilada

Ele ocupa o centro da mesa de pedra o centro da tela e o centro do pentaacutegono

frontal do dodecaedro Cristo estaacute de frente para o observador contudo seu corpo

transluacutecido permite ver o mar e um barco o que indica que ele natildeo mais eacute humano

mas divino A sensaccedilatildeo que temos eacute de que seu corpo emerge de dentro do mar

Diante de Cristo sobre a mesa estatildeo um copo com vinho e as duas bandas do patildeo

jaacute repartido o que nos permite concluir que Daliacute pintou o momento da Eucaristia A

presenccedila dos barcos no mar remete aos ―pescadores de homens

A mesa eacute formada por um bloco retangular Doze apoacutestolos debruccedilam-se sobre ela

sendo trecircs agrave esquerda de Cristo e trecircs agrave direita Nas suas extremidades estatildeo quatro

apoacutestolos sendo dois de cada lado De costa para o observador estatildeo mais dois

deles Todos estatildeo com as cabeccedilas baixas Um dos apoacutestolos diverge dos demais ao

usar uma toga amarela O pintor queria com certeza diferenciaacute-lo Portanto tanto

pode ser Pedro o fundador da Igreja ou Judas o traidor

No alto com a cabeccedila invisiacutevel e com parte do tronco visiacutevel e os braccedilos abertos

Deus Pai humanizado abraccedila toda a cena como se aguardasse a chegada do Filho

que se encontra entre os homens Ao fundo um mar tranquilo com rochas

espalhadas e um ceacuteu cheio de nuvens compotildeem o segundo plano da tela (Viacuterus da

arte amp cia ndash Site brasileiro especializado em arte e cultura Disponiacutevel em

httpvirusdaartenetdali-a-ultima-ceia)

Acima podemos observar a descriccedilatildeo de uma obra de arte do pintor catalatildeo Salvador

dali retirado de uma paacutegina sobre arte Como o nome do tipo textual sugere a descriccedilatildeo tem

por objetivo descrever fatos mas tambeacutem caracteriacutesticas para objetos paisagens e situaccedilotildees

diversas No exemplo que utilizamos para descriccedilatildeo observamos a descriccedilatildeo de uma obra de

arte por parte de um espectador demonstrando detalhes do que estaacute impresso na pintura

assim como uma interpretaccedilatildeo da cena

O uacuteltimo tipo textual que consideraremos aqui eacute o tipo injuntivo que tem por objetivo

instruir o leitor ou persuadi-lo a fazer algo ou adotar algum ponto de vista Tambeacutem tem

como caracteriacutestica a induccedilatildeo do interlocutor a proceder de uma ou outra forma Geralmente

24

eacute escrito no modo imperativo e eacute caracteriacutestico de gecircneros como a bula de remeacutedio os

manuais de instruccedilotildees receitas culinaacuterias e contratos Vale ressaltar que dentro dos textos

injuntivos podem-se encontrar outros tipos de texto como por exemplo descriccedilotildees de

objetos endereccedilos procedimentos etc Vejamos o exemplo a seguir

Bolo simples

Tempo de preparo 40 minutos

Rendimento 12 porccedilotildees

Ingredientes

2 xiacutecaras de accediluacutecar

3 xiacutecaras de farinha de trigo

4 colheres de margarina bem cheias

3 ovos

1 frac12 xiacutecara de leite aproximadamente

1 colher (sopa) de fermento bem cheia

Modo de preparo

1) Bata as claras em neve

2) Reserve

3) Bata bem as gemas com a margarina e o accediluacutecar

4) Acrescente o leite e a farinha aos poucos sem parar de bater

5) Por uacuteltimo agregue as claras em neve e o fermento

6) Coloque em forma grande de furo central untada e enfarinhada

7) Asse em forno meacutedio preacute-aquecido por aproximadamente 40 minutos

8) Quando espetar um palito e sair limpo estaraacute assado

(httpwwwtudogostosocombrreceita29124-bolo-simpleshtml Acesso em

20042014)

No exemplo uma receita culinaacuteria podemos observar que haacute descriccedilatildeo na primeira

parte (a lista de ingredientes) e na segunda parte (modo de preparo) que eacute a mais

nitidamente injuntiva encontramos instruccedilotildees de como proceder na execuccedilatildeo da receita

Aleacutem da classificaccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo dos tipos de texto eacute interessante observarmos

tambeacutem a definiccedilatildeo de gecircneros textuais e domiacutenio discursivo conforme Marcuschi (2008)

Os gecircneros textuais satildeo definidos como ―textos materializados em situaccedilotildees

comunicativas recorrentes (MARCUSCHI 2008 p155) que apresentam caracteriacutesticas

soacutecio-comunicativas marcadas pelos conteuacutedos e pelas propriedades referentes agraves funccedilotildees e

composiccedilatildeo Diferente dos tipos textuais que se restringem a cerca de meia duacutezia como

afirma Marcuschi (2008) ―os gecircneros satildeo inuacutemeros Tambeacutem haacute de ressaltar que satildeo

culturalmente e historicamente formados visto que evoluem no mesmo passo que as

comunidades

O domiacutenio discursivo por sua vez eacute a esfera de atividade humana em que os textos

circulam Ele natildeo eacute um texto em si mas proporciona o surgimento de discursos especiacuteficos

Para ilustrar podemos citar alguns domiacutenios como discurso religioso discurso juriacutedico etc

25

O domiacutenio eacute constituiacutedo por praacuteticas do discurso nas quais podemos identificar uma seacuterie de

gecircneros que possuem a mesma proposta discursiva como o tema e as praacuteticas institucionais

ou informais

As definiccedilotildees aqui trazidas de gecircnero tipo domiacutenio discursivo satildeo muito mais

operacionais do que formais e seguem de perto a posiccedilatildeo bakhtiniana Assim para a

noccedilatildeo de tipo textual predomina a identificaccedilatildeo de sequecircncias linguiacutesticas como

norteadora e para a noccedilatildeo de gecircnero textual predominamos criteacuterios de padrotildees

comunicativos accedilotildees propoacutesitos e inserccedilatildeo sociohistoacuterica No caso dos domiacutenios

discursivos natildeo lidamos propriamente com textos e sim com formaccedilotildees histoacutericas e

sociais que originam os discursos Eles ainda natildeo se acham bem definidos e

oferecem alguma resistecircncia mas seguramente sua definiccedilatildeo deveria ser na base de

criteacuterios etnograacuteficos antropoloacutegicos e socioloacutegicos e histoacutericos (MARCUSCHI

2008 p 158 Grifos do autor)

Nessa perspectiva faz-se necessaacuterio apresentarmos o papel dos gecircneros textuais como

controle social Como jaacute vimos anteriormente segundo Bakhtin (2000) toda atividade

discursiva humana se daacute atraveacutes de algum gecircnero e eacute tambeacutem por esse motivo que haacute uma

consideraacutevel pluralidade de gecircneros Marcuschi (2008) afirma que os gecircneros satildeo

―necessaacuterios para a interlocuccedilatildeo humana Assim para cada esfera de atividade humana

certos gecircneros especiacuteficos satildeo considerados mais ou menos adequados Na esfera

empresarial por exemplo temos que nos adequar agraves formalidades dos gecircneros de redaccedilatildeo

oficial como os ofiacutecios atas circulares e relatoacuterios Na academia apresentamos nossas

produccedilotildees atraveacutes de dissertaccedilotildees artigos cientiacuteficos teses e relatoacuterios de projetos No meio

publicitaacuterio encontramos as propagandas anuacutencios de diversos tipos Enfim satildeo inuacutemeras as

esferas de discurso domiacutenios discursivos e gecircneros textuais atrelados a estes

Marcuschi (2008) enfatiza que o controle social por gecircneros discursivos eacute

incontornaacutevel mas natildeo determinista De acordo com o autor noacutes temos liberdade para nos

expressarmos em qualquer esfera discursiva Poreacutem temos que admitir que a sociedade eacute

constituiacuteda por uma ―maacutequina discursiva logo somos moldados a ela de forma intuitiva e

os gecircneros textuais constituem um poderoso instrumento desta maacutequina Quanto maior a

nossa inserccedilatildeo na sociedade maior o controle social Por exemplo natildeo satildeo todas as pessoas

que podem expedir um mandato de seguranccedila escrever uma dissertaccedilatildeo de mestrado

ministrar uma aula de fiacutesica quacircntica ou publicar uma coluna em um jornal Eacute nessa

perspectiva que Marcuschi (2008) afirma veemente o direcionamento dos gecircneros textuais

para com o envolvimento social e suas especificidades

26

A partir das consideraccedilotildees apresentadas a respeito dos gecircneros textuais dedicamos a

seccedilatildeo a seguir para a caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual

conforme relatamos na introduccedilatildeo deste capiacutetulo

12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL

O certificado de garantia ou termo de garantia eacute um documento oferecido por

prestadoras de serviccedilos fabricantes de produtos diversos ou de qualquer outro segmento que

envolva comercializaccedilatildeo de bens duraacuteveis com a funccedilatildeo de formalizar os direitos e deveres

do consumidor e do fabricante para com o estado fiacutesico e funcional do produto em vista de

problemas de qualquer natureza

Eacute tambeacutem uma espeacutecie de contrato visto que consiste fundamentalmente na

combinaccedilatildeo de interesses de partes sobre algo Aleacutem de ―certificado de garantia

utilizaremos tambeacutem a nomenclatura ―termo de garantia tendo em vista que o documento

do certificado de garantia e o termo em si estatildeo internamente ligados A expressatildeo ―termo de

garantia eacute usada no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20

de marccedilo de 1997

Art 50 A garantia contratual eacute complementar agrave legal e seraacute conferida mediante

termo escrito

Paraacutegrafo uacutenico O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e

esclarecer de maneira adequada em que consiste a mesma garantia bem como a

forma o prazo e o lugar em que pode ser exercitada e os ocircnus a cargo do

consumidor devendo ser-lhe entregue devidamente preenchido pelo fornecedor no

ato do fornecimento acompanhado de manual de instruccedilatildeo de instalaccedilatildeo e uso de

produto em linguagem didaacutetica com ilustraccedilotildees (Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do

Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20 de marccedilo de 1997 p 30)

Em linhas gerais o documento eacute composto por quatro partes garantia contratual

garantia legal condiccedilotildees para validade da garantia contratual e legal condiccedilotildees natildeo cobertas

pela garantia legal e contratual Vejamos um exemplo de certificado de garantia

27

ILUSTRACcedilAtildeO 1 Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario

_de_ar_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Observamos na primeira parte a disposiccedilatildeo da garantia contratual ou seja a garantia

oferecida pelo fabricante

28

ILUSTRACcedilAtildeO 2 Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar

_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Na segunda parte encontramos a disposiccedilatildeo da garantia legal ou seja a garantia

assegurada pelo Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do consumidor

ILUSTRACcedilAtildeO 3 Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c

ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Em seguida vemos as condiccedilotildees de validade da garantia legal e contratual composta

por uma lista exaustiva de itens a serem considerados

29

ILUSTRACcedilAtildeO 4 Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c

ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

E por fim encontramos as condiccedilotildees natildeo cobertas pela garantia legal e contratual

assim como observaccedilotildees gerais

ILUSTRACcedilAtildeO 5 Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar

_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Em relaccedilatildeo agrave estrutura padratildeo dos certificados de garantia a partir do corpus

analisado nesta pesquisa observou-se que o texto que se refere agrave garantia em si corresponde a

menos da metade do documento Grande parte do documento se dedica agrave restriccedilatildeo de

possibilidades de cobertura assim como observaccedilotildees gerais quanto agraves responsabilidades do

fabricante diante de situaccedilotildees como despesas referentes agrave locomoccedilatildeo para depoacutesito do

produto para assistecircncia documentaccedilatildeo necessaacuteria para apresentaccedilatildeo na assistecircncia etc

30

O termo de garantia eacute vinculado diretamente ao Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do

consumidor O coacutedigo estabelece um padratildeo abrangente de formulaccedilatildeo do documento

constando recomendaccedilotildees como o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo necessidade do

acompanhamento do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto assim como clareza na

disposiccedilatildeo dos prazos de garantia legal e contratual

Como discutimos na primeira parte desse capiacutetulo Bakhtin (2000) propotildee que trecircs

dimensotildees constituem os gecircneros de discurso conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo

composicional Iremos a seguir apresentar como estas dimensotildees satildeo percebidas nesse

gecircnero textual

Como conteuacutedo temaacutetico do gecircnero certificado de garantia temos a veiculaccedilatildeo de

direitos e deveres do fabricante e do consumidor O documento apresenta listas exaustivas de

accedilotildees que possibilitam ou natildeo o uso do termo de garantia assim como instruccedilotildees gerais para

a realizaccedilatildeo desse ato Esse conteuacutedo pode variar em parte e apenas questotildees referentes agrave

garantia legal natildeo podem mudar pois estaacute prevista no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do

Consumidor

Em relaccedilatildeo ao estilo observamos nos certificados a utilizaccedilatildeo da norma padratildeo

Busca-se construir um texto claro e objetivo para que dessa forma natildeo haja problemas de

interpretaccedilatildeo para o consumidor Nesse gecircnero natildeo haacute identificaccedilatildeo de quem escreve de

maneira particular como observamos em gecircneros do tipo carta A identificaccedilatildeo do autor eacute

geralmente atribuiacuteda agrave empresa que oferece a garantia O estilo individual que eacute

caracteriacutestico em diversos gecircneros como o artigo de opiniatildeo e cartas pessoais natildeo cabe para

os certificados Como se trata de um texto instrucional esse gecircnero apresenta-se de forma

objetiva de modo que natildeo haacute a necessidade praacutetica da identificaccedilatildeo de quem escreve

Quanto agrave estrutura composicional em linhas gerais tal gecircnero segue uma sequecircncia

de apresentaccedilatildeo em duas etapas Em um primeiro momento apresenta-se o termo de garantia

em si no qual eacute descrito o direito do consumidor em relaccedilatildeo agrave garantia assim como sua

validade No segundo momento parte mais extensa do texto haacute a apresentaccedilatildeo de listas

supostamente exaustivas referentes aos casos que natildeo satildeo cobertos pela garantia assim como

as instruccedilotildees gerais para o reclame do direito Essa sequecircncia de apresentaccedilatildeo do documento

eacute variaacutevel Haacute certificados que satildeo inclusos no manual de instruccedilatildeo do produto (geralmente

na uacuteltima paacutegina) Haacute certificados que satildeo destacados o documento eacute apresentado agrave parte de

qualquer outro texto

Se retomarmos a classificaccedilatildeo dos gecircneros do discurso de Bakhtin (2000) entre

primaacuterios (simples) e secundaacuterios (complexos) podemos considerar que o certificado de

31

garantia estaacute inserido nos gecircneros complexos pois se trata de um documento elaborado de

forma sistemaacutetica no qual haacute necessidade de um aprofundamento social complexo com

caracterizaccedilotildees e descriccedilotildees bem delimitadas

Quanto ao tipo de texto dentro do que foi proposto por Marcuschi (2008) o

certificado de garantia se enquadra no tipo injuntivo porque eacute um texto instrucional com

predominacircncia do modo imperativo nas frases e eacute composto pela listagem de uma seacuterie de

procedimentos a serem observados e seguidos com listas exaustivas contendo direitos e

deveres do fabricante e do consumidor O objetivo do documento eacute oferecer ao cliente todas

as informaccedilotildees relacionadas agrave validade da garantia os casos em que haacute perda da validade e os

casos em que os problemas apresentados se enquadram como defeitos de fabricaccedilatildeo

O certificado de garantia se caracteriza como um gecircnero textual a partir da

perspectiva de Marcuschi (2008) pois eacute um texto que possui caracteriacutesticas soacutecio-discursivas

bem delimitadas com conteuacutedo padratildeo obedecendo a uma mesma linha temaacutetica e foi

constituiacutedo socialmente O gecircnero foi criado a partir da necessidade juriacutedica de resguardar os

fabricantes e consumidores de produtos industrializados e afins quanto agrave possibilidade de

apresentaccedilatildeo de defeitos ou falhas

De posse dos conhecimentos gerais sobre os gecircneros textuais que apresentamos e da

caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual partiremos no proacuteximo

capiacutetulo para a apresentaccedilatildeo das teorias que serviratildeo de aporte teoacuterico para a compreensatildeo

das anaacutelises realizadas no capiacutetulo 3

32

2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS

Neste capiacutetulo tratamos dos nexos semacircnticos ou ―nexos de significado dos quais

consideramos para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica

contraditoriedade e contrariedade Caracterizamos cada um deles utilizando exemplos em

linguagem natural com o intuito de demonstrar o funcionamento dessas relaccedilotildees assim como

mostrar quando tais exemplos deixam de apresentar o nexo Nosso intuito final eacute de oferecer

uma base para a compreensatildeo das anaacutelises que viratildeo no capiacutetulo posterior

Para entendermos melhor o que satildeo os nexos semacircnticos devemos compreender a

distinccedilatildeo entre a semacircntica e a pragmaacutetica que satildeo linhas de estudos linguiacutesticos inter-

relacionaacuteveis Uma definiccedilatildeo bastante difundida da semacircntica e tambeacutem bastante geral eacute

encontrada em Trask (2004 p 261) que diz que a semacircntica eacute o ramo da linguiacutestica que

estuda o significado e em Chierchia (2003 p 7) para quem a semacircntica eacute um estudo do

significado das expressotildees das liacutenguas naturais Podemos tambeacutem caracterizar a semacircntica

destacando a relaccedilatildeo do usuaacuterio da liacutengua e o significado que ele atribuiu agraves palavras que

compotildeem sentenccedilas como propotildee Pires de Oliveira (2001 p 42) Jaacute a pragmaacutetica por outro

lado tambeacutem estuda o significado das liacutenguas naturais mas trata das intenccedilotildees que os

falantes supostamente revelam a partir do uso de sentenccedilas

Para o termo ―pragmaacutetica haacute diversas possibilidades de definiccedilatildeo Levinson (2007)

procura mostrar as implicaccedilotildees que algumas definiccedilotildees podem ter em relaccedilatildeo a outros

estudos Assim podemos citar pelo menos dois conceitos de pragmaacutetica para Levinson

―pragmaacutetica eacute o estudo de todos os aspectos do significado natildeo capturados em uma teoria

semacircntica (Levinson 2007 p14) assim como ―pragmaacutetica eacute o estudo das relaccedilotildees entre

liacutengua e contexto que satildeo gramaticalizadas ou codificadas na estrutura de um liacutengua

(Levinson 2007 p 11) Podemos perceber que nessas duas definiccedilotildees Levinson tanto atribui

agrave pragmaacutetica a responsabilidade sobre aquilo que estaacute aleacutem da semacircntica quanto destaca a

relaccedilatildeo de liacutengua e contexto Jaacute em Wilson (2008) encontramos as definiccedilotildees que Yule

(1996) apresenta para a pragmaacutetica

a) pragmaacutetica eacute o estudo do significado sob o ponto de vista do falante b)

pragmaacutetica eacute o estudo do significado contextual (isto eacute leva em conta o modo como

os falantes organizam seus enunciados aquilo que eles querem dizer de acordo com

os seguintes fatores a quem vatildeo dizer como vatildeo dizer onde e quando vatildeo dizer e

sob que circunstacircncias) c) pragmaacutetica eacute o estudo do como se diz aleacutem daquilo que eacute

33

dito (isto eacute o estudo do significado subjacente do natildeo dito d) pragmaacutetica eacute o

estudo da expressatildeo da proximidadedistanciamento relativo (isto eacute de acordo com

o tipo de proximidade fiacutesica social ou conceitual em relaccedilatildeo aos ouvintes os

falantes determinam como e quanto precisam dizer) (WILSON 2008 p 89)

A discussatildeo sobre as definiccedilotildees de pragmaacutetica e semacircntica e suas distinccedilotildees vem

desde o iniacutecio do seacuteculo XX e muitos autores contribuiacuteram para a evoluccedilatildeo desses conceitos

Em vista desta histoacuterica discussatildeo apresentaremos os conceitos de Charles Morris e Rudolf

Carnap para estas disciplinas linguiacutesticas

Segundo a definiccedilatildeo de Charles Morris (1938) pragmaacutetica eacute o estudo da ―relaccedilatildeo dos

signos com seus inteacuterpretes Jaacute para Rudolf Carnap (1938) a pragmaacutetica eacute o estudo da

linguagem em relaccedilatildeo aos seus falantes Diante dos conceitos de semacircntica e pragmaacutetica que

apresentamos e da distinccedilatildeo entre as linhas de estudos linguiacutesticos Marcondes (2000) afirma

que ―tanto a definiccedilatildeo de Morris quanto a de Carnap fazem parte da jaacute consagrada distinccedilatildeo

geral do campo de estudos da linguagem entre pragmaacutetica que considera a linguagem em

seu uso concreto e semacircntica que examina os signos linguiacutesticos em sua relaccedilatildeo com os

objetos que designam ou a quem se refere Os nexos semacircnticos estatildeo inseridos no campo da

semacircntica e voltaremos a este ponto no final do capiacutetulo

Sobre as relaccedilotildees semacircnticas haacute diversas perspectivas nos estudos linguiacutesticos A

forma como combinamos as palavras e nossa tendecircncia em buscar um conceito fixo de um

termo satildeo complicaccedilotildees que podem dificultar o uso da liacutengua O significado linguiacutestico das

liacutenguas naturais segundo Basso (2009) possibilita nexos semacircnticos entre sentenccedilas E

ainda sobre o significado Basso propotildee

Quando perguntamos o significado de alguma palavra muitas vezes buscamos

aquele modelo significativo presente nos dicionaacuterios Poreacutem natildeo haacute no dicionaacuterio

maneiras preacute-estabelecidas de como uma palavra pode se combinar com outra em

busca da trama de significados dos nexos que favorecem infinitas interpretaccedilotildees

Essas combinaccedilotildees satildeo decorrentes do proacuteprio uso da liacutengua pelos seus falantes

mas natildeo estatildeo nem presentes nos dicionaacuterios nem tampouco algueacutem nos ensina satildeo

conhecimentos impliacutecitos Uma aacuterea da linguiacutestica moderna defende que o nosso

conhecimento semacircntico e um dote geneacutetico portanto os possiacuteveis nexos

semacircnticos satildeo decorrentes de uma capacidade inata de combinaccedilatildeo de palavras e

sentenccedilas parte do conhecimento semacircntico impliacutecito ou competecircncia semacircntica

(BASSO 2009 p 25)

Os nexos semacircnticos satildeo caracterizados na literatura da semacircntica como grupos de

relaccedilotildees de inferecircncia muito estaacuteveis direcionaacuteveis e fortemente dependentes do material

34

linguiacutestico dos enunciados (SANTOS 2012) Essas relaccedilotildees diferem de perspectivas de

inferecircncias como a pressuposiccedilatildeo e a implicatura que dialogam diretamente com o natildeo-dito

Para contrastar os nexos com esses outros tipos de relaccedilatildeo vamos observar os exemplos a

seguir

(1) Carlos parou de beber refrigerante

(2) A tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio

Seguindo a mesma linha de exposiccedilatildeo de Moura (1999 p 12) a partir das duas

sentenccedilas acima observamos dois niacuteveis nas informaccedilotildees veiculadas No primeiro niacutevel

temos contato com o sentido literal das palavras Dessa forma em (1) temos a informaccedilatildeo de

Carlos natildeo toma mais refrigerantes e em (2) que Maacuterio escreveu uma tese sobre bolhas de

sabatildeo No segundo niacutevel atraveacutes da enunciaccedilatildeo das sentenccedilas somos levados a considerar

informaccedilotildees que natildeo estatildeo afirmadas literalmente nas sentenccedilas Dessa forma a partir de (1)

podemos inferir que Carlos bebia refrigerantes antes e em (2) que uma tese sobre bolhas de

sabatildeo jaacute foi escrita Ducrot (1987) denomina de conteuacutedo posto o primeiro niacutevel que

consiste no conteuacutedo literal das sentenccedilas e de conteuacutedo pressuposto ou pressuposiccedilatildeo o

segundo niacutevel que abarca as inferecircncias que podemos fazer a partir da enunciaccedilatildeo das

sentenccedilas Devemos entender que o conteuacutedo posto depende do conteuacutedo pressuposto pois a

aceitaccedilatildeo do primeiro leva a aceitaccedilatildeo do segundo Para que possamos aceitar a verdade do

posto (1) que diz que Carlos parou de beber refrigerante temos que aceitar a verdade

pressuposta de que Carlos jaacute tinha bebido refrigerante antes

Outra relaccedilatildeo semacircntica que dialoga diretamente com o natildeo-dito eacute a implicatura

Grice (1987) propotildee dois tipos de implicaturas as implicaturas convencionais que natildeo satildeo

sujeitas a condiccedilotildees de verdade e as implicaturas conversacionais que natildeo dependem

diretamente da significaccedilatildeo usual das palavras sendo determinadas por certos princiacutepios

baacutesicos do ato comunicativo

As implicaturas convencionais satildeo inferecircncias natildeo sujeitas a condiccedilotildees de verdade

natildeo satildeo derivadas de princiacutepios pragmaacuteticos mais gerais como as maacuteximas conversacionais

mas satildeo simplesmente ligadas pela convenccedilatildeo a itens ou expressotildees lexicais especiacuteficos

Levinson (2007) toma a implicatura conversacional como uma das ideias mais

importantes da pragmaacutetica e vamos considerar neste trabalho apenas as implicaturas do tipo

conversacional de forma que quando mencionarmos o termo implicatura devemos entender

que estamos falando das implicaturas conversacionais e natildeo das convencionais

35

Para exemplificar uma implicatura vamos supor uma situaccedilatildeo entre dois amigos em

que ao dialogar sobre as uacuteltimas defesas de teses e dissertaccedilotildees do departamento de poacutes-

graduaccedilatildeo deparam-se com a notiacutecia de que um de seus colegas escreveu uma tese sobre um

tema muito irrelevante e nada original Diante desta situaccedilatildeo um amigo disse para o outro ―A

tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio A partir da situaccedilatildeo em que os dois amigos

estavam imersos nesse contexto e da sentenccedila utilizada por um dos amigos podemos inferir

que foi Maacuterio quem escreveu uma tese sobre um tema irrelevante Podemos perceber neste

exemplo que como descrito nas definiccedilotildees que trouxemos anteriormente a implicatura por

ser uma relaccedilatildeo puramente pragmaacutetica utiliza-se do natildeo-dito e de situaccedilotildees convencionadas

entre falantes para poder existir

Dessa forma podemos retomar o que foi exposto nos paraacutegrafos anteriores afirmando

que os nexos semacircnticos as pressuposiccedilotildees e as implicaturas satildeo inferecircncias de significado

sendo que os nexos estatildeo no campo da semacircntica e as pressuposiccedilotildees e implicaturas estatildeo no

campo da pragmaacutetica

A partir deste ponto iremos descrever os nexos semacircnticos com exemplos mostrando

como essas relaccedilotildees funcionam e tambeacutem casos em que a interpretaccedilatildeo natildeo acontece da

maneira esperada Em relaccedilatildeo aos casos em que a interpretaccedilatildeo eacute prejudicada trataremos de

casos relacionados com a ambiguidade lexical mais especificamente com vagueza e casos

relacionados com a polissemia (desconsiderando seus limites com a homoniacutemia)

21 ACARRETAMENTO

Em linhas gerais o acarretamento ocorre quando a verdade de um conjunto de

sentenccedilas1 que nomearemos de A garante a verdade de outra sentenccedila que nomearemos de

B Dessa forma a verdade da primeira sentenccedila ou do conjunto delas autoriza a verdade de B

(CHIERCHIA 2003) O acarretamento eacute uma inferecircncia que os falantes estatildeo autorizados a

fazer e o que os autoriza eacute o conhecimento linguiacutestico Vamos observar o exemplo a seguir

1 Em nosso trabalho utilizaremos os termo ldquosentenccedilardquo e ldquoproposiccedilatildeordquo intercambiavelmente Alguns autores

definem os dois termos de formas distintas Por exemplo na semacircntica contemporacircnea de mundos possiacuteveis desenvolvida por autores como por exemplo Kripke e Lewis define-se proposiccedilatildeo como a classe de todos os mundos possiacuteveis nas quais ela eacute verdadeira Murcho (2006) apresenta dois exemplos para distinguir proposiccedilotildees e sentenccedilas ldquoSoacutecrates era um filoacutesofordquo e ldquoSocrates was a philosopherrdquo Murcho afirma que os dois exemplos satildeo duas sentenccedilas que exprimem uma uacutenica proposiccedilatildeo Outros como Mortari (2001) natildeo distinguem proposiccedilotildees e sentenccedilas

36

(3) alsquo Neymar eacute brasileiro

a Neymar eacute um jogador de futebol

b Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro

Podemos observar no exemplo acima que a sentenccedila (3b) tem a sua verdade garantida

pela verdade de (3alsquo) e (3a) Sendo assim (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Podemos observar

no exemplo que o acarretamento eacute bastante claro pois as informaccedilotildees que estatildeo presentes em

(3b) satildeo a soma das informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) Eacute interessante destacar

que para que a sentenccedila (3b) constitua um acarretamento de (3alsquo) e (3a) natildeo precisamos

conhecer a pessoa Neymar nem sua nacionalidade eou profissatildeo Como as informaccedilotildees

estatildeo postas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) a verdade de (3b) eacute inevitaacutevel Mesmo que no mundo

real Neymar natildeo fosse jogador de futebol e natildeo fosse brasileiro isso em nada modificaria o

acarretamento pois dentro da relaccedilatildeo estabelecida entre (3alsquo) (3a) e (3b) as informaccedilotildees

contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Vejamos o exemplo a seguir

(4) alsquo Todos os sacis tecircm apenas uma perna

a Denis Diderot eacute um saci

b Denis Diderot tem apenas uma perna

Observando o exemplo acima identificamos que em relaccedilatildeo ao conhecimento de

mundo a sentenccedila (4alsquo) eacute verdadeira jaacute que no folclore admitimos como uma caracteriacutestica

dos sacis ter apenas uma perna A sentenccedila (4a) eacute falsa pois Denis Diderot foi um filoacutesofo e

escritor francecircs e natildeo um saci Por fim a sentenccedila (4b) tambeacutem eacute falsa em relaccedilatildeo ao nosso

conhecimento de mundo pois Denis Diderot possuiu durante toda a sua vida as duas pernas

Podemos entatildeo admitir que as sentenccedilas do conjunto (4) em relaccedilatildeo ao nosso conhecimento

de mundo satildeo falsas Mesmo assim o conjunto eacute um acarretamento Diferente do exemplo

(3) em que trouxemos sentenccedilas que constituiacuteam um acarretamento com informaccedilotildees

verdadeiras em relaccedilatildeo ao mundo o exemplo (4) mostra que a relaccedilatildeo semacircntica que estamos

discutindo independe da verdade das informaccedilotildees das sentenccedilas no mundo O que o

acarretamento faz eacute concatenar as sentenccedilas de uma forma que se as premissas forem

verdadeiras a conclusatildeo tambeacutem seraacute verdadeira O acarretamento depende exclusivamente

37

da forma em que as sentenccedilas se apresentam Tendo em vista que a relaccedilatildeo depende apenas

da forma podemos representar o acarretamento da seguinte maneira como propotildee Soares

(2003)

Em liacutengua natural

Se estudar entatildeo serei aprovado (1ordf premissa)

Ora estudei (2ordf premissa)

Logo fui aprovado (Conclusatildeo)

E simbolizando2

a rarr b (1ordf premissa)

a (2ordf premissa)

b (Conclusatildeo)

Vale ressaltar que ao utilizarmos o termo ―sentenccedila estamos nos referindo ao que os

gramaacuteticos costumam chamar de oraccedilatildeo Tambeacutem eacute interessante mencionar que o

acarretamento eacute chamado de consequecircncia semacircntica Iremos utilizar como representaccedilatildeo das

premissas sentenccedilas do tipo (Xalsquo) e (Xa) e para a conclusatildeo sentenccedilas do tipo (Xb)

Podemos entender que o acarretamento eacute um tipo de relaccedilatildeo estabelecida entre

premissas e a consequecircncia de forma que a verdade das premissas determina a verdade da

consequecircncia Tambeacutem devemos entender que natildeo eacute possiacutevel que as premissas sejam

verdadeiras junto da negaccedilatildeo da conclusatildeo pelo fato de que dessa forma estaria

descaracterizada a relaccedilatildeo de acarretamento

Como ressaltamos acima os acarretamentos satildeo dependentes da forma ou seja da

relaccedilatildeo que as sentenccedilas possuem entre si e natildeo da verdade ou falsidade no mundo das

informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas Diante disso traremos agrave tona exemplos de sentenccedilas que

2 O siacutembolo ldquorarrrdquo na loacutegica claacutessica representa um condicional assunto de que trataremos no terceiro capiacutetulo

deste trabalho e o siacutembolo ldquordquo representa um acarretamento

38

natildeo possuem relaccedilatildeo semacircntica mas atraveacutes da verdade ou falsidade das informaccedilotildees nas

sentenccedilas podem nos confundir e nos induzir ao erro Para tal raciociacutenio errocircneo damos o

nome de falaacutecias

Soares (2003) distingue trecircs caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias (i) satildeo

argumentos parecidos com argumentos vaacutelidos (ii) estabelecem entre premissas e conclusotildees

uma relevacircncia puramente psicoloacutegica que tatildeo-soacute se dirige agraves emoccedilotildees da pessoa sem que as

premissas sejam logicamente relevantes para extrair a conclusatildeo (iii) apresentam-se com

intenccedilatildeo enganadora para que o argumento ainda que invaacutelido seja de todas as maneiras

aceito por todos Vejamos a seguir exemplos de falaacutecias

(5) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher

a Dilma Rousseff eacute mulher

b Dilma Rousseff eacute a presidente do Brasil

A partir do nosso conhecimento de mundo poderiacuteamos dizer que a sentenccedila (5b) eacute

verdadeira Na sentenccedila (5alsquo) temos que A presidente do Brasil eacute mulher De fato tambeacutem se

formos utilizar nosso conhecimento de mundo intuitivamente diremos que esta sentenccedila estaacute

correta considerando a eacutepoca em que este trabalho foi escrito Seguindo temos a sentenccedila

(5a) com a informaccedilatildeo Dilma Rousseff eacute mulher Assim como as sentenccedilas (5alsquo) e (5a) a

partir de nosso conhecimento de mundo podemos afirmar que esta sentenccedila tambeacutem eacute

verdadeira mas devemos entender que eacute preciso considerar a relaccedilatildeo que as sentenccedilas

estabelecem entre si A sentenccedila (5alsquo) natildeo estabelece nenhuma relaccedilatildeo com a sentenccedila (5a)

para que (5b) seja um acarretamento Para mostrar de forma mais clara que o exemplo (5) natildeo

eacute um acarretamento vamos comparaacute-lo com o exemplo a seguir

(6) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher

a Michelle Bachelet eacute mulher

b Michelle Bachelet eacute a presidente do Brasil

Observamos que (6alsquo) e (6a) satildeo verdadeiras (no momento da redaccedilatildeo deste

trabalho) mas (6b) nos parece estranho Sabemos que Michelle Bachelet atualmente eacute

presidente do Chile Mas nada disso interfere para caracterizar um acarretamento e o exemplo

acima foi para deixar claro que a partir das relaccedilotildees semacircnticas dispostas entre os grupos de

39

sentenccedilas (5) e (6) natildeo podemos considerar que haacute acarretamento pelo fato acima

mencionado

Ateacute o momento tratamos do conceito de acarretamento seguido de exemplos em

liacutengua natural sua representaccedilatildeo na loacutegica claacutessica e exemplos de falaacutecias A partir deste

ponto trataremos dos fatores que interferem nas relaccedilotildees semacircnticas de uma forma diferente

das falaacutecias A compreensatildeo dos tipos de interferecircncias a seguir seraacute importante para a anaacutelise

do corpus deste trabalho pois se trata de interferecircncias lexicais

No exemplo a seguir trataremos de um problema que pode invalidar relaccedilotildees

semacircnticas a polissemia Quando um termo adquire mais de um sentido aleacutem daquele que eacute

originalmente atribuiacutevel temos um caso de polissemia Crystal (1985) conceitua polissemia

da seguinte maneira

Polissemia termo usado na anaacutelise semacircntica para caracterizar um item lexical com

uma variedade de significaccedilotildees diferentes como manga = ―parte da camisa ―parte

do abajur etc Uma grande parte do vocabulaacuterio da liacutengua eacute polissecircmica ()

(Crystal 1985 p 202)

Tendo em vista que a polissemia eacute uma caracteriacutestica de um item lexical que possui

diversos significados para diversos contextos vamos observar o exemplo a seguir

(7) a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito

b Joatildeo morreu

A sentenccedila (7a) pode ser interpretada pelo menos de duas formas distintas pelo fato da

expressatildeo ―perdeu a cabeccedila ser polissecircmica Se interpretarmos a sentenccedila (7a) considerando

―perder a cabeccedila como ter a cabeccedila desprendida do corpo haacute acarretamento de (7a) para

(7b) Mas esta natildeo eacute a uacutenica interpretaccedilatildeo possiacutevel para a expressatildeo em questatildeo Se

interpretarmos ―perder a cabeccedila como perder a paciecircncia ficar furioso estressado ou algo

parecido a sentenccedila (7a) natildeo acarreta (7b) numa mesma situaccedilatildeo pois o fato de Joatildeo ter

perdido a paciecircncia natildeo garante que ele venha a morrer Dessa forma para natildeo ter problemas

com a polissemia eacute preciso assegurar que se convencione um sentido uacutenico para cada

premissa para desta forma haver um acarretamento

40

Outro aspecto que eacute preciso ser mencionado eacute que (7) do jeito que se apresenta natildeo eacute

um acarretamento mesmo que perder a cabeccedila tenha o sentido de ter a cabeccedila desprendida do

corpo Isso se daacute porque (7) eacute um acarretamento incompleto ou seja um entimema

Argumento com uma premissa natildeo-formulada sem a qual ele natildeo eacute vaacutelido Chama-

se muitas vezes de premissa impliacutecitalsquo agrave premissa natildeo formulada Na argumentaccedilatildeo

cotidiana omitem-se premissas oacutebvias A premissa impliacutecita do argumento Antocircnio

deveria ser despedido porque roubou dinheiro puacuteblicolsquo eacute Todas as pessoas que

roubam dinheiro puacuteblico devem ser despedidaslsquo (BRANQUINHO MURCHO

GOMES 2006 p 298)

Vamos observar o exemplo (7) de uma forma que o entimema seria evitado

(8) alsquo Todas as pessoas que perdem a cabeccedila morrem

a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito

b Joatildeo morreu

Podemos constatar no exemplo acima que ao incluirmos a sentenccedila (8alsquo) que eacute a

sentenccedila geral que estava impliacutecita no exemplo (7) resolvemos o problema do entimema

completando assim a relaccedilatildeo de acarretamento de (8alsquo) e (8a) para (8b)

A partir de agora vamos tratar de outro tipo de interferecircncia em relaccedilotildees sentencias

que estaacute tambeacutem no campo do leacutexico a vagueza

A vagueza eacute assim como a polissemia um tipo de ocorrecircncia que dificulta a

interpretaccedilatildeo dos nexos entre sentenccedilas Podemos considerar que haacute vagueza em uma

sentenccedila quando observamos que uma palavra ou expressatildeo causa sentido incompleto

impedindo o entendimento da sentenccedila como um todo Branquinho Murcho e Gomes

conceituam a vagueza de seguinte maneira

As liacutenguas naturais contecircm palavras (tipicamente predicados denotando

propriedades ou relaccedilotildees) cujo domiacutenio de aplicaccedilatildeo eacute parcialmente indeterminado

isto eacute em relaccedilatildeo agraves quais os falantes competentes natildeo estatildeo certos em todos os

casos de que determinado objeto (ou par ordenado de objetos) pertence ao conjunto

denotado por elas (ou agrave relaccedilatildeo) (BRANQUINHO MURCHO GOMES 2006 p

805)

De uma forma geral Allan (2010) caracteriza a vagueza como um tipo particular de

incerteza sobre a aplicaccedilatildeo de um predicado Podemos considerar como um exemplo padratildeo

de predicado vago a classe de adjetivos graduaacuteveis como altura Se uma determinada pessoa

41

natildeo eacute suficientemente alta para ser claramente alta e natildeo eacute suficiente baixa para ser

claramente baixa entatildeo aiacute temos um caso de vagueza

Os adjetivos vagos satildeo sempre utilizados em relaccedilatildeo a uma classe de comparaccedilatildeo no

dia-a-dia Estar acima do peso por exemplo pode variar a partir do grau de comparaccedilatildeo Para

uma top model estar acima do peso eacute visto de forma diferente do que para um lutador de

sumocirc por exemplo

Ainda em relaccedilatildeo ao conceito de vagueza Kempson (1977) propotildee que existem

quatro tipos inter-relacionaacuteveis de vagueza vagueza referencial indeterminaccedilatildeo de

significado falta de especificaccedilatildeo no significado de um item disjunccedilatildeo na especificaccedilatildeo do

significado de um item em que o significado abarca uma ou qualquer declaraccedilatildeo de diversas

possibilidades de interpretaccedilatildeo Dentre estes quatro tipos propostos por Kempson iremos nos

dedicar a observar os casos relacionados agrave vagueza referencial Tendo em vista os conceitos

acima vamos observar um exemplo em que a vagueza pode prejudicar a interpretaccedilatildeo de um

acarretamento

(9) a Tobias eacute um gecircnio no xadrez

b Tobias eacute um bom jogador de xadrez

No exemplo acima podemos observar os termos vagos ―gecircnio na sentenccedila (9a) e

―bom na sentenccedila (9b) Para haver a relaccedilatildeo de acarretamento temos que admitir para (9a) e

(9b) o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe Por exemplo haacute acarretamento entre as

sentenccedilas (9a) e (9b) se Tobias for um garoto de oito anos e diante seus colegas da escola ele

se destacar como um exiacutemio conhecedor das regras e teacutecnicas do jogo de xadrez Dessa

forma a sentenccedila ―Tobias eacute um gecircnio no xadrez acarretaria que ―Tobias eacute um bom jogador

de xadrez Jaacute se natildeo utilizarmos o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas

(9a) e (9b) como por exemplo se em (9a) Tobias for um garoto de oito anos que diante de

seus colegas da escola se destaca como um exiacutemio jogador de xadrez mas comparando-o

com os competidores da categoria secircnior do campeonato mundial de xadrez e a partir disso

afirmando (9b) natildeo poderiacuteamos acarretar que Tobias eacute um bom jogador de xadrez Dessa

forma pudemos observar que a presenccedila de termos vagos em sentenccedilas dificulta a

interpretaccedilatildeo dos acarretamentos A seguir observaremos outros nexos que se relacionam com

o acarretamento

42

22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA

Como discutimos anteriormente o acarretamento eacute uma relaccedilatildeo semacircntica que ocorre

em um uacutenico sentido ou seja das premissas para a conclusatildeo Quando uma conclusatildeo

acarreta as premissas chamamos essa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica

Para o termo ―equivalecircncia haacute diversas definiccedilotildees Segundo Branquinho Murcho e

Gomes (2006 p 281) podemos identificar dois sentidos distintos para este termo o primeiro

se refere ao que tratamos neste trabalho ou seja faz referecircncia a relaccedilatildeo entre as sentenccedilas de

certa liacutengua o segundo trata de determinados tipos de sentenccedilas declarativas agraves frases

bicondicionais ou declarativas Dentro desses dois sentidos diversos para o termo

―equivalecircncia no primeiro que eacute o que mais nos interessa os autores ainda distinguem trecircs

variedades centrais de equivalecircncia Satildeo elas equivalecircncia material equivalecircncia estrita e

equivalecircncia loacutegica

A equivalecircncia material eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q (por

exemplo) exatamente quando p e q possuem o mesmo valor de verdade ou seja quando ou

satildeo as duas verdadeiras juntas ou satildeo as duas falsas juntas

A equivalecircncia estrita eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q no caso em

que eacute necessaacuterio que p seja materialmente equivalente a q ou no caso de ser impossiacutevel tanto

que p seja verdadeira e q seja falsa quanto que p seja falsa e q seja verdadeira Branquinho

Murcho e Gomes (2006 p 281) afirmam que nesse caso diz-se que p eacute estritamente

equivalente a q

A equivalecircncia loacutegica eacute uma relaccedilatildeo que se estabelece entre duas sentenccedilas p e q

exatamente no caso de p e q serem duas sentenccedilas mutuamente dedutiacuteveis num dado sistema

loacutegico Diz-se nesse caso que p eacute logicamente equivalente a q

Em nosso trabalho iremos considerar para ―equivalecircncia o sentido apresentado por

Branquinho Murcho e Gomes (2006) para equivalecircncia material A partir deste conceito

vamos observar o exemplo a seguir

(10) a O gato matou o rato

b O rato foi morto pelo gato

Nas sentenccedilas acima podemos identificar uma relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica Eacute

impossiacutevel que o gato tenha matado o rato e que o rato natildeo tenha sido morto Claro que se

43

considerarmos que estamos tratando sobre o mesmo gato e o mesmo rato Dessa forma

sempre que (10a) for verdadeira (10b) tambeacutem teraacute de ser Tambeacutem podemos observar uma

relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica no exemplo (3) Utilizamos o exemplo (3) para mostrar

uma relaccedilatildeo de acarretamento que eacute efetiva mas tambeacutem haacute a relaccedilatildeo de equivalecircncia pois

as premissas ―Neymar eacute brasileiro e ―Neymar eacute um jogador de futebol acarretam que

―Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro da mesma forma que esta uacuteltima sentenccedila

acarreta as duas anteriores Tal exemplo reafirma o conceito descrito acima de que uma

equivalecircncia semacircntica eacute um acarretamento duplo

Assim como acontece no acarretamento a equivalecircncia semacircntica tem problemas com

a polissemia Vamos observar exemplo a seguir

(11) a O Brasil ganhou o jogo contra o Chile

b O Chile perdeu o jogo contra o Brasil

No exemplo acima vemos que a sentenccedila (11a) acarreta a sentenccedila (11b) ao mesmo

tempo em que a sentenccedila (11b) acarreta a sentenccedila (11a) Natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (11a)

seja verdadeira ao mesmo tempo em que a (11b) seja falsa Se uma das sentenccedilas eacute falsa e a

outra eacute verdadeira natildeo haacute acarretamento em nenhum dos dois ―sentidos (em relaccedilatildeo agrave

direccedilatildeo de (11a) para (11b) e de (11b) para (11a)) Natildeo podemos considerar que o Brasil

ganhou o jogo contra o Chile e que o Chile ganhou o jogo contra o Brasil pois sabemos que

em uma partida de futebol haacute apenas um ganhador Haacute a possibilidade de algueacutem querer ir

mais aleacutem e inferir que eacute possiacutevel que os dois times ganharam mas em jogos diferentes Se

considerarmos a situaccedilatildeo de que o Chile jaacute ganhou outros jogos contra o Brasil assim como

que o Brasil jaacute ganhou outros jogos contra o Chile a relaccedilatildeo de equivalecircncia seria possiacutevel

escolhendo qualquer outro jogo como referecircncia mas natildeo eacute o que nos interessa pois

devemos considerar apenas uma situaccedilatildeo para as duas sentenccedilas

A partir deste ponto iremos tratar sobre como a polissemia pode interferir na

interpretaccedilatildeo numa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica da mesma forma que mostramos

anteriormente nas relaccedilotildees de acarretamento Vejamos o proacuteximo exemplo

44

(12) a A lagosta estaacute mais salgada que o peixe

b O peixe estaacute menos salgado que a lagosta

Podemos observar que as sentenccedilas (12a) e (12b) satildeo equivalentes pelo fato de que

natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12a) seja verdadeira e a sentenccedila (12b) seja falsa assim como

natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12b) seja verdadeira e a sentenccedila (12a) seja falsa Poreacutem se

passarmos a admitir significados diferentes para expressotildees empregadas nas sentenccedilas por

exemplo para a palavra ―salgado encontraremos problemas Se admitirmos que sentenccedila

(12a) o conceito de ―salgado eacute de o alimento estar impregnado de sal salpicado de sal ou

com gosto de sal e se este conceito for tambeacutem considerado para a sentenccedila (12b) haacute

equivalecircncia semacircntica Mas tambeacutem podemos interpretar o termo ―salgado como uma

expressatildeo para se referir ao preccedilo alto do produto no mercado Soacute haacute equivalecircncia semacircntica

se admitirmos o mesmo conceito para ―salgado em ambas as sentenccedilas ou seja se

considerarmos o significado de ―salgado como sendo impregnado de sal para a sentenccedila

(12a) ou em (12b) como sendo relativo ao valor alto no mercado natildeo haacute equivalecircncia

semacircntica entre (12a) e (12b)

No proacuteximo exemplo trataremos de outro tipo de ocorrecircncia que dificulta a

interpretaccedilatildeo de nexos a vagueza Como jaacute apresentamos a definiccedilatildeo de vagueza na seccedilatildeo

anterior partiremos direto para o exemplo em que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo de uma

equivalecircncia semacircntica

(13) a Goacutergias eacute mais saacutebio que Hiacutepias

b Hiacutepias eacute menos saacutebio que Goacutergias

Na relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) haacute equivalecircncia semacircntica mas podemos identificar

que nas duas sentenccedilas foram utilizados termos vagos que tornam a interpretaccedilatildeo dificultosa

Em (13a) haacute o uso dos termos ―mais e ―saacutebio assim como em (13b) haacute o uso dos termos

―menos e ―saacutebio Esses termos satildeo vagos e dificultam a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo semacircntica

entre as sentenccedilas O que dificulta a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) eacute o fato de

que termos como ―mais e ―menos assim como ―saacutebio possuem significados diferentes de

acordo com as situaccedilotildees em que satildeo utilizadas Ou seja eacute necessaacuterio que admitamos o

45

mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas (13a) e (13b) Dessa forma haveraacute a

relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica

A seguir trataremos sobre outro tipo de relaccedilatildeo semacircntica entre sentenccedilas a

contraditoriedade

23 CONTRADITORIEDADE

Diferente da relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica que consiste em sentenccedilas que satildeo

verdadeiras juntas ou falsas juntas as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias quando uma eacute oposta da

outra tipicamente quando uma sentenccedila B eacute a negaccedilatildeo de uma sentenccedila A Sobre a relaccedilatildeo de

contraditoriedade Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 229) afirmam que ―obteacutem-se a

contraditoacuteria de qualquer proposiccedilatildeo p prefixando-lhe o operador de negaccedilatildeo de modo a

obter notp3 Com base no conceito de contraditoriedade exposto vamos observar o exemplo a

seguir

(14) a O Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016

b O Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016

Podemos observar no exemplo acima que se a sentenccedila (14a) for verdadeira

obrigatoriamente a sentenccedila (14b) tem que ser falsa Se a informaccedilatildeo da sentenccedila (14a) que

diz que o Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas for verdadeira a informaccedilatildeo da sentenccedila

(14b) que diz que o Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas natildeo pode ser verdadeira

Em relaccedilotildees de contraditoriedade o uso de uma afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo eacute algo

tiacutepico mas natildeo determinante No exemplo (14) pudemos observar a relaccedilatildeo de

contraditoriedade caracterizada pelo uso da negaccedilatildeo mas tambeacutem podemos encontrar esse

tipo de relaccedilatildeo sem tal uso Vejamos a seguir

3 O siacutembolo not na loacutegica claacutessica eacute a representaccedilatildeo do operador de negaccedilatildeo ldquonatildeordquo

46

(15) a Mecircnon estaacute acordado

b Mecircnon estaacute dormindo

A partir das sentenccedilas acima podemos ver que a relaccedilatildeo entre estas sentenccedilas eacute de

contraditoriedade pois se a sentenccedila (15a) for verdadeira a sentenccedila (15b) tem que ser falsa

da mesma forma que se a sentenccedila (15b) for verdadeira a sentenccedila (15a) deveraacute ser falsa

Natildeo eacute possiacutevel que Mecircnon esteja acordado e dormindo ao mesmo tempo claro que

considerando o mesmo sentido para as palavras ―acordado e ―dormindo nas duas sentenccedilas

e em relaccedilatildeo ao mesmo Mecircnon

Assim como as demais relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos anteriormente a

contraditoriedade tambeacutem eacute sensiacutevel agrave polissemia Vamos observar como a polissemia se

apresenta no exemplo a seguir

(14) a A minha gata estaacute acordada

b A minha gata estaacute dormindo

No exemplo acima natildeo encontramos apenas a relaccedilatildeo de contraditoriedade sem

utilizaccedilatildeo da negaccedilatildeo mas tambeacutem um problema de polissemia que pode anular a relaccedilatildeo de

contraditoriedade Se numa determinada situaccedilatildeo escrevendo este texto me viro na cadeira e

vejo em cima de minha cama o meu animal de estimaccedilatildeo deitado olhando para mim e com

isso afirmo ―a minha gata estaacute acordada como na sentenccedila (14a) natildeo posso considerar

verdadeira a sentenccedila (14b) pois natildeo se pode estar dormindo e estar acordado ao mesmo

tempo tomando as definiccedilotildees de ―estar acordado e ―estar dormindo como oposiccedilotildees A

partir disso as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias Se em outra situaccedilatildeo me viro na cadeira e vejo

minha esposa deitada na cama dormindo e afirmo ―a minha gata estaacute dormindo como na

sentenccedila (14b) ela natildeo pode ser verdadeira ao mesmo tempo em que a sentenccedila (14a) pois

minha esposa natildeo poderia estar acordada e dormindo ao mesmo tempo Ateacute o momento

pudemos atribuir dois sentidos diferentes para o termo ―gata Se considerarmos para a

sentenccedila (14a) o sentido de que o meu animal de estimaccedilatildeo estaacute acordado e para a sentenccedila

(14b) o sentido de que a minha esposa estaacute dormindo essas sentenccedilas natildeo satildeo contraditoacuterias

No exemplo acima percebemos portanto dois aspectos da contradiccedilatildeo em sentenccedilas de uma

liacutengua natural como o portuguecircs Primeiro que natildeo haacute a obrigatoriedade de ter a negaccedilatildeo de

47

uma sentenccedila para que a relaccedilatildeo de contraditoriedade exista e segundo que a polissemia

pode tornar problemaacutetica essa relaccedilatildeo

Podemos considerar uma relaccedilatildeo de contraditoriedade entre sentenccedilas sempre que A eacute

verdadeira B eacute falsa e sempre que a sentenccedila B eacute verdadeira A eacute falsa Ou seja as sentenccedilas

A e B nunca podem ser verdadeiras ou falsas juntas

O exemplo de contraditoriedade que mostramos anteriormente foi relacionando duas

sentenccedilas mas podemos encontrar a relaccedilatildeo de contraditoriedade dentro de uma sentenccedila

apenas Vamos observar o exemplo a seguir

(15) Herbert Vianna eacute cantor e natildeo eacute cantor

Se afirmamos que uma pessoa eacute e natildeo eacute cantora constatamos uma contraditoriedade

nesta sentenccedila Em (15) encontramos a apresentaccedilatildeo de um argumento e a negaccedilatildeo do mesmo

argumento em seguida Uma sentenccedila com esta forma natildeo pode ser verdadeira Se

consideramos numa mesma situaccedilatildeo que Herbert Vianna eacute cantor e em seguida afirmo que

Herbert Vianna natildeo eacute cantor esta sentenccedila eacute contraditoacuteria

Se partirmos para determinar sentidos diferentes para o termo ―cantor como por

exemplo que Herbert Vianna eacute um cantor pelo simples fato de que ele emite pelas cordas

vocais sons musicais que ―cantor eacute um termo que soacute pode ser utilizado para os profissionais

que trabalham com a voz na muacutesica ou que ―cantor se jaacute um termo utilizado para designar

algueacutem que canta muito bem natildeo haacute contraditoriedade efetivamente Mas se mantivermos o

mesmo sentido para o termo haveraacute relaccedilatildeo de contraditoriedade

Da mesma forma que a polissemia dificulta a interpretaccedilatildeo de nexos entre sentenccedilas

vamos observar um exemplo em que a vagueza ndash toacutepico que desenvolvemos na primeira

seccedilatildeo deste capiacutetulo - invalida uma relaccedilatildeo de contraditoriedade

(16) a O professor de loacutegica eacute muito alto

b O professor de loacutegica natildeo eacute muito alto

Na relaccedilatildeo entre (16a) e (16b) seguindo o conceito contraditoriedade haacute uma relaccedilatildeo

de contradiccedilatildeo entre as duas sentenccedilas poreacutem podemos identificar termos vagos nas duas

sentenccedilas o que pode dificultar a interpretaccedilatildeo Na sentenccedila (16a) e na sentenccedila (16b)

48

identificamos dois termos vagos que satildeo ―muito e ―alto Eacute possiacutevel considerar as duas

sentenccedilas como falsas ou verdadeiras juntas invalidando a contraditoriedade pois os termos

―muito e ―alto satildeo variaacuteveis de acordo com o grau de comparaccedilatildeo adotado Por exemplo

em (16a) o professor de loacutegica pode ser considerado muito alto em comparaccedilatildeo agraves crianccedilas

para quem ele leciona poreacutem se compararmos o professor de loacutegica da sentenccedila (16a) com os

outros professores do departamento talvez o professor fosse considerado baixo Desta forma

podemos observar que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo das duas sentenccedilas

A seguir traremos o uacuteltimo nexo semacircntico que utilizaremos em nosso trabalho Este

tipo de relaccedilatildeo eacute um pouco parecido com a contraditoriedade

24 CONTRARIEDADE

A contrariedade ocorre quando duas sentenccedilas podem ser falsas juntas mas natildeo

podem ser verdadeiras juntas Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 234) definem

contrariedade da seguinte forma ―duas proposiccedilotildees satildeo contraacuterias se natildeo podem ser ambas

verdadeiras mas podem ser ambas falsas distinguindo-se assim das contraditoacuterias que natildeo

podem ser ambas verdadeiras nem ambas falsas e das subcontraacuterias que natildeo podem ser

ambas falsas mas podem ser ambas verdadeiras

Eacute importante enfatizar que mesmo estando tratanto dos nexos semacircnticos e sua

aplicaccedilatildeo em liacutengua natural os conceitos de sentenccedilas contraacuterias contraditoacuterias

equivalecircncias e acarretamentos tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica As relaccedilotildees de sentenccedilas

contraacuterias e contraditoacuterias satildeo tratadas por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado

atraveacutes de seu quadrado loacutegico ou taacutebua de oposiccedilotildees No Perieacutermeneas (1985) mais

especificamente nos capiacutetulos 6 e 7 Aristoacuteteles nos apresenta os conceitos de sentenccedilas

contraacuterias e contraditoacuterias afirmando que duas sentenccedilas satildeo contraacuterias quando natildeo podem

ser verdadeiras juntas ao mesmo tempo mas podem ser falsas juntas ao mesmo tempo Jaacute em

relaccedilatildeo agraves contraditoacuterias Aristoacuteteles propotildee que toda afirmaccedilatildeo possui sua exata negaccedilatildeo

correspondente e que toda afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo sem opotildeem sendo uma sempre

verdadeira e a outra sempre falsa Dessa forma para Aristoacuteteles um par formado por uma

afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo corresponde a uma contradiccedilatildeo

A partir do conceito de contrariedade vamos observar o exemplo a seguir Nele

encontraremos um caso de polissemia

49

(17) a A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 20 de agosto de 1914

b A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 18 de julho de 1921

Se admitirmos que a seleccedilatildeo brasileira de futebol sobre a qual estamos falando na

sentenccedila (17a) eacute a mesma seleccedilatildeo que estamos falando na sentenccedila (17b) natildeo eacute possiacutevel que

a sentenccedila (17b) seja verdadeira pois algo natildeo pode ser fundado efetivamente em dois

momentos distintos Haacute a possibilidade de se afirmar que estamos falando de duas seleccedilotildees

brasileiras de futebol diferentes pois para ―seleccedilatildeo brasileira haacute diversos significados

aplicaacuteveis ou seja a expressatildeo ―seleccedilatildeo brasileira eacute polissecircmica Por exemplo podemos

definir uma seleccedilatildeo como sendo de futebol de campo e a outra de futebol de salatildeo A partir

dessa interpretaccedilatildeo as duas sentenccedilas poderiam ser verdadeiras juntas e com isso natildeo

haveria contrariedade Mas como devemos admitir apenas uma situaccedilatildeo para as duas

sentenccedilas (17a) e (17b) natildeo podem ser verdadeiras juntas mas podem ser falsas juntas

constituindo uma relaccedilatildeo de contrariedade Eacute possiacutevel que a seleccedilatildeo brasileira de futebol natildeo

tenha sido formada nem em 20 de agosto de 1914 e nem em 18 de julho de 1921 Em

contrapartida numa interpretaccedilatildeo usual a seleccedilatildeo de futebol de um paiacutes eacute formada pela

primeira vez uma soacute vez Algueacutem pode querer ir aleacutem e afirmar que foram empregados

sentidos diferentes para a expressatildeo ―foi formada nas sentenccedilas em questatildeo Poderia dizer

que na sentenccedila (17a) o sentido foi de que a seleccedilatildeo se reuniu pela primeira vez para jogarem

juntos de forma extraoficial e que na sentenccedila (17b) o sentido foi de que a seleccedilatildeo

efetivamente foi documentalmente formada Se admitiacutessemos essas interpretaccedilotildees as

sentenccedilas (17a) e (17b) poderiam ser verdadeiras juntas o que descaracterizaria a relaccedilatildeo de

contrariedade entre as sentenccedilas Assim como o fato de que se a sentenccedila (17a) for falsa a

sentenccedila (17b) pode ser verdadeira ou falsa A falsidade da sentenccedila (17a) natildeo assegura a

verdade da sentenccedila (17b) Podemos entender dessa forma que a polissemia afeta a

interpretaccedilatildeo do nexo

Vamos observar mais um exemplo desta relaccedilatildeo

(18) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado do Acre

b A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado de Santa Catarina

50

Se considerarmos a sentenccedila (18a) verdadeira ou seja que a reitoria da UNISUL estaacute

localizada no estado do Acre e tambeacutem levando em conta que a UNISUL eacute uma universidade

que tem uma reitoria e que a reitoria de uma universidade soacute pode estar numa cidade a

sentenccedila (18b) deveraacute ser falsa A sentenccedila (18a) eacute falsa e a sentenccedila (18b) eacute verdadeira e as

duas estabelecem uma relaccedilatildeo de contrariedade A reitoria da UNISUL estaacute localizada no

estado de Santa Catarina e natildeo no estado do Acre A partir desse exemplo e da convenccedilatildeo que

admitimos para ele pudemos observar que se uma sentenccedila A for falsa uma sentenccedila B pode

ser falsa ou verdadeira natildeo podendo ser as duas verdadeiras juntas apenas falsas Ilustrando

mais uma vez veja a relaccedilatildeo a seguir

(19) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Paris

b A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Roma

No exemplo acima podemos afirmar que as sentenccedilas (19a) e (19b) podem ser falsas

pois como jaacute citamos no paraacutegrafo anterior a reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado

de Santa Catarina Dessa forma haacute relaccedilatildeo de contrariedade as duas sentenccedilas satildeo falsas

Jaacute tratamos de exemplos da relaccedilatildeo de contrariedade com problemas de polissemia

mas podemos tambeacutem identificar problemas de validade dos nexos por causa da vagueza A

seguir observe o exemplo

(20) a Este cafeacute estaacute forte

b Este cafeacute estaacute aguado

Observando as sentenccedilas acima identificamos que (20a) e (20b) possuem termos

vagos que podem dificultar a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre as sentenccedilas Em (20a) foi usado

o termo ―forte e em (20b) foi usado o termo ―aguado Como nas outras relaccedilotildees que

apresentamos anteriormente esses termos satildeo vagos pois dependendo da classe de

comparaccedilatildeo em que satildeo apresentados eles podem mudar de sentido Eacute possiacutevel que numa

determinada situaccedilatildeo consideremos que um cafeacute pode natildeo estar nem forte nem fraco

autorizando a possibilidade de (20a) e (20b) serem as duas falsas ao mesmo tempo

descaracterizando a relaccedilatildeo de contrariedade Dessa forma podemos observar que os termos

51

vagos dificultam a interpretaccedilatildeo das sentenccedilas consequentemente da relaccedilatildeo que as

sentenccedilas estabelecem entre si Concluindo a exposiccedilatildeo dos nexos que nos interessam neste

trabalho apresentaremos a seguir a justificativa de nosso percurso sobre estas relaccedilotildees

semacircnticas e os tipos de ocorrecircncias que podem dificultar a interpretaccedilatildeo destas

25 JUSTIFICANDO O PERCURSO

Neste capiacutetulo apresentamos inicialmente os conceitos de semacircntica e pragmaacutetica

com o objetivo de mostrar que os nexos semacircnticos que tratamos em nosso trabalho

(acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e contrariedade) satildeo tipos de

inferecircncias que pertencem ao campo da semacircntica Para isso tambeacutem apresentamos duas

inferecircncias que pertencem ao campo da pragmaacutetica (pressuposiccedilatildeo e implicatura)

Na exposiccedilatildeo de cada nexo trouxemos os conceitos seguidos de exemplos em que a

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees semacircnticas eacute clara Em seguida apresentamos exemplos de nexos

com dois tipos de ocorrecircncias que no campo do leacutexico dificultam a interpretaccedilatildeo das

relaccedilotildees semacircnticas a polissemia e a vagueza

Pode parecer confuso a princiacutepio o fato de tratarmos de tipos de inferecircncia que

dependem da forma para se concretizarem (os nexos semacircnticos) relacionando-as com

ocorrecircncias que dificultam o entendimento do conteuacutedo das sentenccedilas (a polissemia e a

vagueza) A confusatildeo se apresenta caso natildeo lembremos que estamos tratando das relaccedilotildees de

inferecircncias em liacutengua natural e natildeo numa liacutengua controlada como num sistema loacutegico por

exemplo

Quando afirmamos que as relaccedilotildees entre sentenccedilas que tratamos em nosso trabalho

dependem da forma falamos de uma ―dessemantificaccedilatildeo ou seja a existecircncia dos nexos vai

depender unicamente da semacircntica dos quantificadores e conectivos (e ou se) Os nexos natildeo

dependem da semacircntica restante do material linguiacutestico exposto na sentenccedila A semacircntica dos

conectivos e quantificadores numa linguagem formal eacute mantida estaacutevel por definiccedilatildeo Na

linguagem natural podemos observar que os tipos de ocorrecircncia que dificultam a

interpretaccedilatildeo dos nexos se fazem presentes justamente no restante do material linguiacutestico da

sentenccedila ou seja para aleacutem da estrutura da sentenccedila que eacute composta pelos quantificadores e

demais conectivos

52

A polissemia e a vagueza satildeo ocorrecircncias tiacutepicas de liacutengua natural e dessa forma

somos obrigados a admitir que ao nos depararmos com qualquer gecircnero textual (que

obviamente estaacute no campo das liacutenguas naturais) numa anaacutelise devemos considerar que o

significado das palavras vai naturalmente interferir nas relaccedilotildees semacircnticas Tambeacutem na

exposiccedilatildeo de tipos de ocorrecircncias que interferem nos nexos semacircnticos tratamos de falaacutecias

que satildeo argumentos invaacutelidos apresentados como vaacutelidos explorando justamente a

interpretaccedilatildeo do conteuacutedo das sentenccedilas

A partir dos nexos semacircnticos que tratamos neste capiacutetulo junto com os tipos de

inferecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees no capiacutetulo seguinte

apresentaremos a anaacutelise de certificados de garantia Como o nosso objetivo eacute analisar quais

satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados nos certificados para restringir possibilidades de

interpretaccedilatildeo decidimos realizar a anaacutelise de ocorrecircncias com conectivos e quantificadores

Consideramos pertinente a escolha desse tipo de anaacutelise pois entendemos que os

quantificadores como o ―todo satildeo tradicionalmente apresentados em relaccedilotildees semacircnticas de

restriccedilatildeo ou abrangecircncia assim como o condicional ―se ou ―somente se e o ―apenas e

―somente A partir desse raciociacutenio acreditamos que esta seria a forma mais correta para

identificarmos ocorrecircncias do tipo que precisamos para a realizaccedilatildeo de nossa anaacutelise Os

nexos semacircnticos natildeo satildeo propiacutecios para as liacutenguas naturais pois natildeo se apresentam de forma

controlada Ocorrecircncias lexicais como as que descrevemos anteriormente podem dificultar a

interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees e isso eacute algo que trataremos nas anaacutelises

Eacute nesta perspectiva que observaremos no capiacutetulo seguinte as anaacutelises de vinte e dois

certificados de garantia nos quais natildeo buscaremos relaccedilotildees bem marcadas e controladas entre

sentenccedilas pois natildeo encontrariacuteamos facilmente mas sim quais satildeo os recursos linguiacutesticos

utilizados pelos autores dos textos para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo

admitindo tambeacutem obviamente os nexos semacircnticos como possiacuteveis recursos

53

3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA

Os certificados de garantia satildeo textos muito presentes em nosso cotidiano e muitas das

vezes noacutes natildeo levamos em conta a sua importacircncia tanto por serem documentos que podem

resguardar nossos direitos sobre um determinado produto quanto pelo fato de natildeo sermos

treinados para ler e interpretar devidamente as informaccedilotildees dispostas nos textos Dessa

forma justificamos a escolha de tal gecircnero para analisarmos em nossa pesquisa Ateacute este

momento de nosso trabalho seguimos o seguinte percurso

1) Mostramos no primeiro capiacutetulo que na elaboraccedilatildeo de certificados de garantia o

autor deve se preocupar em construir o texto buscando restringir ao maacuteximo as

possibilidades de interpretaccedilatildeo para que ele se torne mais eficiente em passar as

informaccedilotildees desejadas e para evitar problemas de interpretaccedilatildeo por parte dos

clientes

2) Tendo em vista que os certificados de garantia satildeo textos instrucionais ou seja

que direcionam a leitura para um fim especiacutefico nossa anaacutelise tem por objetivo

verificar quais satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores destes textos

para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo e para alcanccedilar este objetivo nos

utilizaremos da teoria dos nexos semacircnticos apresentada no segundo capiacutetulo

Como anunciado na introduccedilatildeo o corpus dessa pesquisa eacute formado por 22

certificados de garantia de produtos de diversos segmentos Ele foi coletado utilizando a

internet e natildeo teve um meacutetodo definido de categorizaccedilatildeo na escolha dos textos Decidimos

escolher certificados de diversos segmentos para natildeo obtermos uma anaacutelise viciada e tambeacutem

para obtermos um panorama da estrutura textual

Como analisaremos os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores dos certificados

de garantia para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo elegemos trecircs categorias de

termos a serem analisadas quantificadores universais condicionais e uso do apenassomente

A escolha dessas categorias se deve ao fato delas possuiacuterem tradicionalmente funccedilotildees de

restriccedilatildeo ou abrangecircncia em inferecircncias

Assim como na loacutegica de predicados a silogiacutestica se caracteriza pelo uso dependente

em argumentos dos quantificadores ―alguns e ―todos Nomeamos de quantificador

existencial ou particular aqueles referentes a ―alguns e nomeamos de quantificador universal

aqueles referentes a ―todos (MURCHO 2006) Utilizaremos em nossa pesquisa agraves

ocorrecircncias com quantificadores do segundo tipo Vejamos um exemplo ilustrativo

54

(21) TODO produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia

Possivelmente natildeo encontraremos em nossa anaacutelise nenhuma sentenccedila como esta pois

vemos que o quantificador universal destacado em letras maiuacutesculas abrange totalmente a

possibilidade de cobertura da garantia de um produto Da forma que estaacute expressa se compro

uma TV por exemplo e a mergulho na aacutegua causando defeito poderei receber outra nova do

fabricante pois ―todo produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia

Sobre os condicionais trataremos a anaacutelise na mesma linha de raciociacutenio pois eles

satildeo utilizados em proposiccedilotildees do tipo ―se X entatildeo Y oportunizando abrangecircncia ou

restriccedilatildeo de possibilidades de interpretaccedilatildeo como podemos ver ilustrado no exemplo a

seguir

(22) SE o produto apresentar defeito seraacute reparado gratuitamente

Da mesma forma como mostramos no exemplo anterior provavelmente natildeo

encontraremos sentenccedilas tatildeo abrangentes em nosso corpus como esta pois da forma como

estaacute posta ampliaria muito a possibilidade de cobertura da garantia de um produto Podemos

interpretar a partir da leitura da sentenccedila acima que o reparo do produto seraacute efetuado caso o

produto apresente qualquer defeito por qualquer motivo durante qualquer periacuteodo de tempo

sendo utilizado por qualquer pessoa e em qualquer circunstacircncia entre outras possibilidades

Para reparar tamanha abrangecircncia os autores dos textos podem utilizar listas exaustivas com

detalhes especiacuteficos apoacutes a apresentaccedilatildeo dos condicionais para direcionar efetivamente a

cobertura da garantia

Por fim em relaccedilatildeo ao uso dos termos ―apenas e ―somente analisaremos os termos

nos contextos que os autores buscam restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos textos

Vejamos o exemplo a seguir

(22) Estaratildeo cobertos pela garantia APENAS os produtos que natildeo estatildeo em

promoccedilatildeo

55

No exemplo acima tambeacutem inventado vemos que o ―apenas aparece como um

restritor da garantia deixando claro que soacute os produtos que foram adquiridos pelos preccedilos

normais ou seja fora da promoccedilatildeo estaratildeo cobertos pela garantia Dessa forma produtos em

promoccedilatildeo ficam descobertos

Com os conceitos sobre as categorias de anaacutelise dispostos acima apresentaremos a

seguir a anaacutelise dos trechos coletados em nosso corpus separada por tipos de ocorrecircncia

Iremos observar como se apresentam os quantificadores condicionais ocorrecircncias com o

apenassomente assim como observaremos os tipos de ocorrecircncias no campo do leacutexico que

dificultam a interpretaccedilatildeo dos trechos (polissemia e vagueza)

31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL

Vejamos a seguir as ocorrecircncias4 em que o quantificador universal eacute utilizado

5

(1) Este produto e as peccedilas substituiacutedas seratildeo garantidos pelo restante do

prazo original TODAS as peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades

da SAMSUNG

Podemos observar na ocorrecircncia acima que o fabricante utiliza o quantificador para

fazer com que o leitor infera que absolutamente todas as peccedilas que forem substituiacutedas na

assistecircncia a algum aparelho defeituoso se tornaratildeo propriedade da fabricante Dessa forma o

cliente natildeo poderaacute em hipoacutetese alguma ficar com a peccedila trocada

Percebemos no trecho acima que o quantificador universal ―todas poderia ser

excluiacutedo da sentenccedila e com isso em nada alteraria o sentido da sentenccedila Forccedilando uma

possiacutevel interpretaccedilatildeo da sentenccedila o leitor poderia afirmar que se a sentenccedila fosse disposta

da seguinte maneira ―As peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades da SAMSUNG

poderia existir uma classe de peccedilas eletrocircnicas de produtos SAMSUNG que

4 Utilizaremos o termo ldquoocorrecircnciardquo tanto para se referir ao trecho completo do corpus quanto para a

sentenccedila em que o conectivo grifado se apresenta Natildeo faremos distinccedilatildeo para este uso 5 Para a exibiccedilatildeo das ocorrecircncias do nosso corpus reiniciaremos a numeraccedilatildeo natildeo seguindo a contagem

realizada para os exemplos dos capiacutetulos anteriores

56

tradicionalmente fossem substituiacutedas em manutenccedilotildees mas natildeo recolhidas pelo fabricante

Dessa forma o quantificador universal ―todas se mostraria como a soluccedilatildeo para esse

problema de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos

na ocorrecircncia6 (1)

(2) Esta garantia substitui TODAS as outras garantias expressas ou

taacutecitas incluindo sem limitaccedilatildeo garantias taacutecitas de comercializaccedilatildeo

e adequaccedilatildeo a um fim especiacutefico

(Certificado 1)

Nesta ocorrecircncia o fabricante utiliza o quantificador para abranger ao maacuteximo seu

texto no intuito de inferir que a garantia em anaacutelise se sobrepotildee a qualquer outro tipo de

garantia oferecida ao cliente

Podemos observar que se o quantificador universal ―todas natildeo fosse utilizado o

sentido da sentenccedila permaneceria o mesmo Se tiveacutessemos encontrado a sentenccedila da forma

―Esta garantia substitui as outras garantias o cliente iria interpretar a sentenccedila sem

dificuldades O uso do quantificador aparece como um termo para dar ecircnfase ao que jaacute estaacute

dito na sentenccedila acima Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos na

ocorrecircncia (2)

(3) TODO atendimento de reparo deve ser precedido de ligaccedilatildeo

telefocircnica ao Suporte Teacutecnico Telefocircnico da AOC (0800-10-9539)

para que seja feita uma avaliaccedilatildeo preacutevia do problema a fim de

constatar a existecircncia de defeito ou viacutecio do produto esgotando-se

TODAS as possibilidades de se tratar de uma falha de operaccedilatildeo ou

uso do produto por parte do consumidor

(Certificado 4)

No trecho acima podemos observar que na primeira ocorrecircncia do quantificador o

fabricante utiliza-o para inferir que o cliente em qualquer caso de submissatildeo do aparelho agrave

assistecircncia deve entrar em contato com o suporte teacutecnico telefocircnico da empresa e ainda

6 Decidimos pontuar no final de cada anaacutelise o fato de haver ou natildeo termos polissecircmicos ou vagos nas

ocorrecircncias porque consideramos estes tipos de ocorrecircncias como sendo os principais meios de dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos instrucionais Ao anunciar que natildeo haacute termos dessas categorias em cada anaacutelise por mais que se mostre repetitivo na leitura ao mesmo tempo invoca a importacircncia (e necessidade segundo nossa perspectiva) que depositamos nesses fatos em cada ocorrecircncia

57

reforccedila utilizando outra vez o quantificador ―todas inferindo que o produto soacute iraacute para a

assistecircncia efetivamente caso natildeo haja mais nenhuma possibilidade de resoluccedilatildeo do problema

atraveacutes do contato telefocircnico Ao utilizar esse reforccedilo o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo ao

fato de que por exemplo o problema possa ser resolvido atraveacutes de instruccedilotildees passadas pela

empresa via telefone ao cliente e o cliente natildeo aceitar e exigir que o produto seja reparado

somente na assistecircncia teacutecnica ou simplesmente para evitar que a assistecircncia teacutecnica receba

algum produto que natildeo estaacute defeituoso ou viciado

Diferente da ocorrecircncia (2) o uso do quantificador universal ―todo se faz necessaacuterio

para evitar que o cliente interprete a sentenccedila de uma forma indesejada por parte do

fabricante Por exemplo caso o autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todo na

primeira parte ―Todo atendimento de reparo deve o cliente poderia interpretar que ele

poderia obter atendimento de reparo sem passar pelo contato telefocircnico com o suporte teacutecnico

do fabricante Na utilizaccedilatildeo do quantificador universal ―todas no final da sentenccedila tambeacutem

observamos que se o autor do texto natildeo utilizasse esta estrateacutegia tambeacutem possibilitaria que o

texto fosse interpretado de outra maneira Se o cliente se deparasse com a sentenccedila

―esgotando-se as possibilidades de se tratar de uma falha poderia interpretar que se para

algum tipo de falha de operaccedilatildeo ou seja de utilizaccedilatildeo do produto haveria a possibilidade de

enviar o produto para assistecircncia teacutecnica Como o autor utilizou o quantificador nas duas

passagens que citamos ele direcionou a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha

duacutevidas sobre aquilo que o fabricante deseja expressar

Sobre tipos de ocorrecircncia que dificultam a interpretaccedilatildeo do texto pudemos identificar

a expressatildeo ―viacutecio do produto Esta expressatildeo eacute muito especiacutefica e estaacute presente no Coacutedigo

de defesa do consumidor Segundo Bruno Miragem (2008) ―Viacutecio do produto ou do serviccedilo

abrange o efeito decorrente da violaccedilatildeo aos deveres de qualidade quantidade ou informaccedilatildeo

impedindo com isso que o produto ou serviccedilo atenda aos fins que legitimamente dele se

esperam (dever da adequaccedilatildeo) O autor do certificado natildeo disponibilizou nenhum conceito

para a expressatildeo ―viacutecio do produto apresentando desta forma uma dificuldade a mais para

a interpretaccedilatildeo do texto por parte do cliente Caso o autor tenha elaborado o texto

considerando por exemplo que qualquer pessoa que leia um certificado de garantia deve ser

conhecedor de todos os termos e expressotildees descritas no CDC (a partir desse ponto iremos

utilizar esta sigla para ―coacutedigo de defesa do consumidor) natildeo haveria problema em

simplesmente usar o termo sem conceituar mas isso natildeo eacute pertinente Para evitar que esta

expressatildeo natildeo fosse polissecircmica o autor deveria ter elaborado um mini-glossaacuterio com os

termos que seriam usuais no texto e que possuem um sentido especiacutefico no ramo em que o

58

produto estaacute inserido (por exemplo peccedilas de carros ou peccedilas eletrocircnicas) e no CDC7

(4) A Garantia do Produto oferecida por este Termo abrange TODOS os

defeitos de material ou de fabricaccedilatildeo do aparelho constatados pela

Robert Bosch Ltda bem como a substituiccedilatildeo das peccedilas que

apresentarem viacutecios aleacutem da matildeo-de-obra utilizada no respectivo

reparo

(Certificado 8)

No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador ―todos para assegurar ao cliente

que em qualquer caso em que o produto possua defeito de material ou de fabricaccedilatildeo a

garantia estaraacute assegurada Aleacutem de assegurar isso tambeacutem garante a substituiccedilatildeo da peccedila do

aparelho que estiver com problema e a matildeo-de-obra tudo por conta do fabricante Caso o

autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todos ele poderia abrir margem para

outras interpretaccedilotildees como por exemplo que esta garantia natildeo abrange qualquer defeito do

produto constatado pelo fabricante Eacute interessante citar que a utilizaccedilatildeo do quantificador

―todos foi realizada beneficiando o fabricante pois mesmo afirmando que a ―garantia

abrange todos os defeitos o autor direciona para ―todos os casos que forem constatados

pelo fabricante Ou seja fica a criteacuterio do fabricante decidir o que eacute defeito e o que natildeo eacute

Assim como na ocorrecircncia (3) identificamos o uso do termo ―viacutecios que natildeo tem o

seu conceito descrito no texto do certificado O termo ―viacutecio natildeo eacute utilizado em nosso

cotidiano como algo vinculado a um objeto Geralmente conceituamos esse termo como

referente agrave dependecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica em relaccedilatildeo a uma substacircncia Tambeacutem podemos

conceituar como uma mania (costume de fazer sempre a mesma coisa) Enfim o termo

utilizado da forma em que foi descrita em (4) necessitaria que em alguma parte do texto

aparecesse o conceito para este termo que deve ser interpretado de forma especiacutefica pois eacute

um termo teacutecnico apresentado no CDC e muitas das vezes o cliente natildeo tem conhecimento

deste conceito favorecendo dificuldades a interpretaccedilatildeo do texto

(5) TODOS os eventuais danos ou demoras resultantes da natildeo

observacircncia dessas recomendaccedilotildees fogem agrave responsabilidade da APC

(Certificado 7)

7 Sobre esta estrateacutegia de eliminaccedilatildeo da polissemia e vagueza atraveacutes do uso de um glossaacuterio por autores de

textos instrucionais ver Estrela e Santos (2014)

59

Na ocorrecircncia acima a empresa APC se resguarda de qualquer responsabilidade sobre

o produto caso o cliente natildeo siga as recomendaccedilotildees dadas pelo fabricante Para isso utiliza o

quantificador universal para abranger ao maacuteximo as possibilidades de natildeo cobertura

favorecendo o fabricante Observamos que a utilizaccedilatildeo do quantificador na ocorrecircncia (5)

serviu para intensificar o que foi descrito na sentenccedila Caso natildeo fosse utilizado poderia

deixar margem para outras interpretaccedilotildees como por exemplo que poderia existir algum tipo

de dano eventual que fosse de responsabilidade do fabricante O quantificador ―todos

elimina esse tipo de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos

polissecircmicos na ocorrecircncia (5)

(6) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA garante e consequentemente

compromete-se a reparar ou substituir pelo prazo abaixo indicado

contado a partir da data indicada no documento fiscal representativo

de venda do veiacuteculo Hyundai TODAS as peccedilas que em serviccedilo

normal apresentem defeito de fabricaccedilatildeo ou de material desde que

observadas as respectivas condiccedilotildees sob pena de ser

automaticamente considerado cancelado o presente Certificado de

Garantia independentemente de qualquer aviso ou notificaccedilatildeo

(Certificado 17)

No trecho acima podemos observar que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se daacute

de forma bastante controlada Mesmo o termo ―todas sendo naturalmente utilizado para

abranger ou restringir ao maacuteximo inferecircncias na ocorrecircncia acima vemos sua utilizaccedilatildeo

dependendo de vaacuterios aspectos para se concretizar A Hyundai se compromete em reparar ou

substituir ―todas as peccedilas dos veiacuteculos que estiverem dentro de todas as caracteriacutesticas

descritas antes do termo ser usado como estar dentro do prazo estabelecido pelo fabricante

apresentarem defeito de fabricaccedilatildeo ou material e aleacutem disso observando os procedimentos

detalhados pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o quantificador universal eacute

utilizado de forma controlada pelo fabricante restringindo ao seu sabor as possibilidades de

validade da garantia

(7) TODA revisatildeo deveraacute ser registrada no quadro de registro de revisotildees

para assegurar a garantia de seu veiacuteculo

(Certificado 17)

60

Na ocorrecircncia acima observamos que o fabricante utilizou o quantificador universal

para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente da seguinte forma o

cliente que possui um veiacuteculo na garantia poderia interpretar por exemplo caso natildeo houvesse

a utilizaccedilatildeo do quantificador ―toda na sentenccedila (7) fazer as revisotildees do veiacuteculo em qualquer

oficina e natildeo registrar as mudanccedilas feitas no carro em lugar algum natildeo perdendo a garantia

do veiacuteculo O quantificador universal ―toda direciona a interpretaccedilatildeo da inferecircncia para que

o cliente efetue qualquer revisatildeo do veiacuteculo numa concessionaacuteria do fabricante e aleacutem disso

ter as revisotildees registradas no quadro de registro de revisotildees do fabricante Na ocorrecircncia (7)

natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos

(8) TODOS aparelhos da ONEAL saem da faacutebrica preacute-ajustados em

220V

(Certificado 5)

Nesta ocorrecircncia (8) o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para

abranger a informaccedilatildeo de que qualquer produto produzido por ele eacute ajustado em 220V

resguardando-se de por exemplo um questionamento de algum cliente sobre o

funcionamento de qualquer produto em outra voltagem ou utilizaccedilatildeo do produto em outra

voltagem ocasionando defeito no produto Caso isso ocorra o fabricante natildeo poderaacute ser

responsabilizado pois a partir da ocorrecircncia (8) ele explica a voltagem a ser utilizada natildeo

garantindo o funcionamento do produto em outras voltagens Na ocorrecircncia (8) observamos

que se o fabricante natildeo tivesse utilizado o quantificador universal ―todo natildeo alteraria a

interpretaccedilatildeo da sentenccedila Podemos entender que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal na

ocorrecircncia (8) serviu apenas para intensificar a informaccedilatildeo da sentenccedila

(9) TODOS nossos produtos satildeo testados durante horas nos mais severos

regimes antes de serem aprovados para o mercado

(Certificado 5)

No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para abranger a

interpretaccedilatildeo da inferecircncia Dessa forma o fabricante tenta nos levar a interpretar a

61

ocorrecircncia (9) da seguinte forma qualquer produto produzido por este fabricante eacute testado de

forma rigorosa antes de ser despachado para comercializaccedilatildeo Essa interpretaccedilatildeo eacute dificultada

pela presenccedila de termos vagos Ao utilizar a expressatildeo ―durante horas nos mais severos

regimes o fabricante natildeo teve o cuidado de atrelar essa informaccedilatildeo agrave classe de comparaccedilatildeo

na qual o cliente deve se basear para interpretar a sentenccedila da forma como o fabricante

deseja Ao afirmar que os produtos satildeo testados ―durante horas o fabricante natildeo especificou

por quantas horas os produtos satildeo testados e o que isso representa Por exemplo para

produtos X identificados como em bom funcionamento deve-se testaacute-los durante Y horas

segundo o manual Z que regulamenta a qualidade dos produtos X Aleacutem disso o fabricante

ainda afirma sobre os testes que satildeo ―nos mais severos regimes cometendo a mesma falha

da expressatildeo anterior natildeo descrevendo o que eacute isso e o que isso representa A expressatildeo eacute

vaga pois esses regimes de testes satildeo severos em relaccedilatildeo a quecirc Como natildeo haacute um grau de

comparaccedilatildeo de classe o cliente pode interpretar a ocorrecircncia de formas diversas Se o

fabricante tivesse especificado em algum lugar do texto que a expressatildeo ―nos mais severos

regimes deveria ser comparada por exemplo a um tipo de teste que coloca os produtos em

condiccedilotildees extremas para averiguar a sua qualidade durabilidade e bom funcionamento que eacute

norma padratildeo de qualidade para os produtos que ele estaacute justificando em (9) natildeo haveria

vagueza Do modo como a ocorrecircncia se apresenta as informaccedilotildees ―durante horas e ―nos

mais severos regimes satildeo vagas e dificultam a interpretaccedilatildeo da sentenccedila

(10) A ONEAL garante TODOS os seus produtos por um periacuteodo de 01

(um) ano jaacute incluiacutedo o periacuteodo de garantia legal (os primeiros 90 dias)

a partir da data da compra para problemas mecacircnicos ou por falhas

industriais em montagem e pintura

(Certificado 5)

Podemos observar na ocorrecircncia (10) que o fabricante assegura a garantia para todos

os seus produtos utilizando o quantificador universal com algumas restriccedilotildees Se natildeo

houvesse a utilizaccedilatildeo do quantificador nesta inferecircncia o cliente poderia considerar que a

garantia de seu produto por exemplo teria validade vitaliacutecia e que o produto estaria coberto

pela garantia mesmo se for danificado por negligecircncia do cliente O fabricante restringe o

periacuteodo de validade especificando que o periacuteodo de um ano jaacute inclui o periacuteodo da garantia

legal que eacute de 90 dias Ainda enfatiza que se deve contar o periacuteodo a partir da data da compra

e ainda explica que a garantia cobriraacute somente produtos que apresentarem problemas

62

mecacircnicos ou aqueles que apresentarem problemas industriais em montagem e pintura Dessa

forma problemas de outra natureza natildeo seratildeo cobertos pela garantia assim como produtos

com mais de um ano de adquiridos tambeacutem natildeo estaratildeo cobertos Poderiacuteamos identificar a

expressatildeo ―garantia legal como polissecircmica caso o fabricante natildeo tivesse apresentado o

conceito para a expressatildeo logo apoacutes entre parecircnteses Eacute sabido que no CDC a garantia legal eacute

caracterizada como o periacuteodo de 90 dias apoacutes a aquisiccedilatildeo de um produto Para evitar que

houvesse uma interpretaccedilatildeo indevida o fabricante conceituou a expressatildeo imediatamente

apoacutes o aparecimento dela na sentenccedila

(11) Em vista das mudanccedilas de leis que poderatildeo ocorrer TODO

certificado seraacute regido pelas normas do cartatildeo de garantia mais

recentemente atualizado pela faacutebrica

(Certificado 5)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todo para afirmar

que qualquer certificado de garantia de seus produtos deveraacute seguir as normas dispostas no

cartatildeo de garantia mais recentemente atualizado pela faacutebrica ou seja caso algum cliente tente

solicitar a garantia atraveacutes de um cartatildeo de garantia desatualizado ele natildeo estaraacute autorizado

Dessa forma o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo agraves possiacuteveis atualizaccedilotildees de leis ou

informaccedilotildees nos cartotildees de garantia dos diversos lotes de produtos impossibilitando o cliente

de reclamar sobre qualquer tipo de alteraccedilatildeo no documento em questatildeo A utilizaccedilatildeo do

quantificador universal em (11) eacute importante para dar ecircnfase agrave informaccedilatildeo central da sentenccedila

e tambeacutem para evitar que por exemplo o cliente interpretasse que algum certificado poderia

ser regido pelas normas de outro cartatildeo de garantia que natildeo fosse o mais recente Natildeo

identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos em (11)

(12) A garantia incide sobre TODOS os componentes montados

originalmente em Veiacuteculo conforme descrito na Nota Fiscal de

venda quer fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER ou

por esta adquiridos de terceiros

(Certificado 16)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para

restringir a interpretaccedilatildeo da sentenccedila quando afirma que a garantia cobre qualquer

63

componente montado originalmente em veiacuteculo ou seja a garantia natildeo cobre componentes

avulsos Aleacutem disso os componentes montados devem estar descritos na Nota Fiscal de

venda sendo assim se natildeo estiverem lanccedilados invalidam a garantia e por fim os veiacuteculos

devem tem sido fabricados por alguma empresa do grupo DAIMLER ou fabricado por outra

empresa mas tendo sido adquirido pelo fabricante que estaacute oferecendo a garantia Dessa

forma podemos ver que o quantificador universal foi utilizado pelo fabricante de forma

restrita limitando a abrangecircncia de acordo com seus interesses Caso o quantificador

universal natildeo tivesse sido utilizado na sentenccedila haveria a possibilidade do cliente interpretar

(12) de vaacuterias maneiras Por exemplo admitir que a garantia pode ser vaacutelida para produtos

que foram fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER mas natildeo foram lanccedilados na

Nota Fiscal de venda Em vista disso a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela

necessidade do fabricante restringir a interpretaccedilatildeo do texto da garantia buscando direcionar

melhor a informaccedilatildeo que ele estaacute vinculando em seu texto Natildeo identificamos nem termos

vagos nem termos polissecircmicos em (12)

(13) Executar TODAS as revisotildees estabelecidas pela Mercedes-Benz do

Brasil Ltda

(Certificado 16)

(14) Executar TODAS as manutenccedilotildees reparaccedilotildees e regulagens em um

dos Concessionaacuterios ou Postos de Serviccedilos Autorizados Mercedes-

Benz no territoacuterio brasileiro

(Certificado 16)

Nas duas ocorrecircncias acima podemos observar que o fabricante utiliza o quantificador

universal ―todas para definir que a garantia do produto soacute seraacute vaacutelida caso o cliente realize

as funccedilotildees descritas Caso o cliente natildeo realize pelo menos uma delas a garantia seraacute

invalidada Se o cliente natildeo realizar pelo menos uma revisatildeo sugerida pela fabricante perderaacute

a validade Aleacutem disso se o cliente realizar algum tipo de manutenccedilatildeo no veiacuteculo em alguma

concessionaacuteria que natildeo seja autorizada da Mercedes-Benz e no territoacuterio brasileiro tambeacutem

perderaacute a garantia O fabricante mesmo utilizando o quantificador universal nas duas

ocorrecircncias natildeo deixa de condicionar a validade da garantia de acordo com seus interesses O

cumprimento das recomendaccedilotildees dispostas apoacutes o quantificador natildeo garantem efetivamente

que a garantia do produto estaacute assegurada Ou seja mesmo que o cliente execute todas as

manutenccedilotildees reparos e regulagens em um dos concessionaacuterios do fabricante natildeo impede que

64

a garantia seja invalidade por outro motivo O quantificador universal foi utilizado pelo

fabricante em (13) e (14) sem limites e em seu benefiacutecio Natildeo identificamos nem termos

vagos nem termos polissecircmicos em (13) e (14)

(15) TODA solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica durante o periacuteodo da

garantia deveraacute ser feita obrigatoriamente agrave faacutebrica via e-mail ou

fax descrevendo detalhadamente os problemas apresentados natildeo

excedendo o prazo de 30 dias apoacutes detectaacute-lo indicando o modelo do

equipamento e o nuacutemero de seacuterie descrito na placa de identificaccedilatildeo do

mesmo e constante neste certificado

(Certificado 22)

Na ocorrecircncia (15) o fabricante utiliza o quantificador universal ―toda de forma

abrangente determinando que todas as solicitaccedilotildees de assistecircncia teacutecnica para qualquer

produto deveraacute seguir as instruccedilotildees definidas em seguida Caso o cliente tente solicitar a

assistecircncia natildeo seguindo algum dos passos e prazos determinados pelo fabricante a garantia

seraacute invalidada O quantificador universal foi utilizado para evitar interpretaccedilotildees relativas

sobre os procedimentos descritos no texto Por exemplo se (15) natildeo tivesse o quantificador

universal ―toda uma possiacutevel interpretaccedilatildeo seria que uma solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica

durante o periacuteodo da garantia poderia ser realiza na loja em que o produto foi comprado e natildeo

apenas na faacutebrica Dessa forma a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela

necessidade do fabricante restringir o percurso da solicitaccedilatildeo da garantia para o procedimento

que ele deseja que seja seguido pelo cliente Natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos

em (15)

32 USO DO CONDICIONAL

Vejamos a seguir as ocorrecircncias em que o condicional eacute utilizado Quando as

ocorrecircncias apresentarem o mesmo sentido de interpretaccedilatildeo agruparemos numa mesma

anaacutelise como podemos observar a seguir nas ocorrecircncias (16) (17) e (18)

(16) A garantia fica automaticamente invalidada SE

(Certificado 2)

65

(17) A garantia legal e contratual perderaacute seu efeito SE

(Certificado 3)

(18) Esta garantia perderaacute a validade SE

(Certificado 11)

Podemos observar nas ocorrecircncias (16) (17) e (18) que o condicional tem a funccedilatildeo de

limitar a aplicaccedilatildeo da garantia Os usos do ―se natildeo excluem a possibilidade de haver outros

casos em que a garantia natildeo se aplica ou seja as listas que satildeo apresentadas apoacutes o

condicional natildeo satildeo exaustivas Vale mencionar que da mesma forma que o ―todo o ―se

foi utilizado para beneficiar o fabricante como afirmamos acima O ―se assegura que a

validade do produto seraacute perdida nos casos que satildeo listados apoacutes o condicional sem eliminar

a possibilidade de haverem outros casos abrangendo sem limites os casos em que a garantia

natildeo cobriraacute o produto e restringindo a validade da garantia para o cliente Natildeo identificamos

termos vagos ou polissecircmicos nas ocorrecircncias (16) (17) (18) Na ocorrecircncia (17) o autor

usou os termos ―garantia legal e ―contratual que poderiam ser considerados termos

polissecircmicos que dificultariam a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia mas foram apresentados no

certificado os conceitos para os dois termos Para ―garantia legal o autor definiu como

sendo o prazo inicial da garantia com duraccedilatildeo de 90 dias ( contados imediatamente apoacutes a

emissatildeo da Nota Fiscal de compra) e previsto no CDC por sua vez para ―garantia

contratual se refere ao periacuteodo de dois anos incluindo o periacuteodo da garantia legal para todo

equipamento (neste caso condicionador de ar) e cinco anos para o compressor Com a

apresentaccedilatildeo destas definiccedilotildees o autor evitou que os termos se apresentassem no texto como

polissecircmicos

(19) A garantia do produto natildeo se aplica

(Certificado 8)

Trouxemos para a anaacutelise a ocorrecircncia acima pois a expressatildeo ―natildeo se aplica desta

sentenccedila funciona como um condicional mesmo sem ter a forma das ocorrecircncias que

analisamos anteriormente O fabricante utiliza esse condicional precedendo uma lista de

possiacuteveis situaccedilotildees em que a garantia poderia ser reclamada pelo cliente dessa forma

impossibilitando o cliente de exigir qualquer direito sobre alguma das possiacuteveis situaccedilotildees

Natildeo identificamos termos polissecircmicos e vagos na ocorrecircncia (19)

66

(20) A garantia do produto extingue-se

(Certificado 8)

Assim como na ocorrecircncia anterior tambeacutem natildeo encontramos o condicional ―se de

forma expliacutecita mas o termo ―extingue-se se comporta como tal A sentenccedila acima foi

utilizada pelo fabricante antecedendo uma lista de possibilidades de situaccedilotildees em que o

cliente poderia reclamar a garantia do produto excluindo entatildeo qualquer direito do cliente

em relaccedilatildeo ao que foi listado abaixo da sentenccedila em questatildeo Natildeo identificamos termos vagos

e polissecircmicos na ocorrecircncia (20)

(21) O cliente perderaacute a garantia do seu veiacuteculo SE

(Certificado 17)

Na ocorrecircncia (21) o fabricante utiliza o condicional antecedendo uma lista de

situaccedilotildees que se concretizadas invalidaratildeo a garantia Dessa forma se o veiacuteculo do cliente

que deseja ser atendido pela garantia se enquadrar em algum dos itens dispostos apoacutes essa

sentenccedila a garantia natildeo seraacute concedida Assim como nas ocorrecircncias com o uso do

condicional apresentadas anteriormente o uso do ―se aparece sem limites Como afirmamos

na anaacutelise das ocorrecircncias (16) (17) e (18) o autor utiliza o condicional para em seguida

apresentar uma lista de situaccedilotildees em que se concretizadas o cliente perderaacute a garantia Mas

mesmo com a apresentaccedilatildeo dessa lista o cliente poderaacute perder a garantia caso ocorra outro

tipo de situaccedilatildeo natildeo listada Dessa forma o fabricante se favorece abrangendo ao maacuteximo as

possibilidades de perda da garantia e ―prejudica o cliente oferecendo-lhe restritas

possibilidades de validade da garantia do produto a que se refere o texto Natildeo identificamos

nem termos polissecircmicos nem vagos na ocorrecircncia (21) Apenas vale ressaltar que diferente

das ocorrecircncias apresentadas anteriormente o autor em vez de escrever ―a garantia do

produto ele utilizou ―a garantia do seu veiacuteculo que especifica ao que se refere o texto

diminuindo a possibilidade de o cliente interpretar a ocorrecircncia de uma forma diferente da

que o autor se propotildee a transmitir

(22) A garantia vigoraraacute SOMENTE SE o Veiacuteculo atender

cumulativamente as seguintes condiccedilotildees

67

(Certificado 16)

Eacute interessante observar a forma como o fabricante utiliza o condicional na ocorrecircncia

(22) que precede uma lista de condiccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso o fabricante

natildeo utilizasse esse condicional ―somente se na sentenccedila acima o cliente poderia interpretar

que se o seu produto atendesse pelo menos a uma das condiccedilotildees estaria coberto pela

garantia Mas o fabricante aleacutem de utilizar o condicional ―somente se tambeacutem utilizou o

termo ―cumulativamente explicitando que o produto deve obedecer a todas as condiccedilotildees

dispostas pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o autor utilizou o condicional

para restringir as possibilidades de validade da garantia com restriccedilotildees o que natildeo ocorre

quando o fabricante trata sobre as possibilidades de invalidade da garantia como na

ocorrecircncia (21) Comparando as ocorrecircncias (21) e (22) vemos claramente que o autor em

(21) utilizou o condicional para lhe favorecer sem limites quando tratou sobre as condiccedilotildees

pelas quais o cliente pode perder a garantia abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura natildeo

apenas para as situaccedilotildees que estatildeo listadas mas tambeacutem para qualquer outra possiacutevel Jaacute em

(22) o autor (mesmo essa comparaccedilatildeo sendo feita entre ocorrecircncias de certificados

diferentes) utiliza o condicional para restringir as possibilidades de validade da garantia para

as situaccedilotildees listadas apoacutes a apresentaccedilatildeo do condicional e aleacutem disso afirmou que todas as

situaccedilotildees listadas devem ser atendidas para que a garantia seja vaacutelida para o produto Dessa

forma ainda sobre a ocorrecircncia (22) caso uma das situaccedilotildees listadas natildeo seja atendida a

garantia automaticamente seraacute perdida Com isso podemos afirmar que tanto em (21) quanto

em (22) os autores utilizaram o condicional para se beneficiar Em (21) abrangendo as

possibilidades de invalidade da garantia e em (22) restringindo ao maacuteximo as possibilidades

de validade da garantia do produto Natildeo identificamos nem termos vagos nem polissecircmicos

na ocorrecircncia (22)

(23) A garantia Philips natildeo eacute aplicaacutevel SE

(Certificado 14)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o condicional ―se antecedendo uma lista de

informaccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso algum produto Philips se encaixar em

alguma das situaccedilotildees descritas apoacutes o condicional mesmo estando dentro do prazo de

garantia o cliente perderaacute a cobertura Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem

68

vagos na ocorrecircncia (23)

(24) Esta garantia natildeo se aplica

(Certificado 21)

Assim como nas ocorrecircncias (18) e (19) a ocorrecircncia acima natildeo possui o condicional

expliacutecito mas o termo ―natildeo se aplica se comporta como tal O fabricante utiliza o

condicional precedendo uma lista de condiccedilotildees de natildeo aplicaccedilatildeo da garantia Dessa forma

caso o produto se encaixe em alguma das condiccedilotildees a garantia seraacute invalidada

automaticamente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem vagos na sentenccedila (24)

33 USO DO APENASSOMENTE

Vejamos a seguir ocorrecircncias em que identificamos o uso do ―apenas ou ―somente

(25) Esta garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver

devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original

da Nota Fiscal de Compra

(Certificado 4)

Na ocorrecircncia (25) o fabricante utiliza o ―somente para restringir a validade da

garantia indicando que o cliente teraacute direito agrave garantia caso preencha de forma correta o

certificado e apresente a nota fiscal de compra Caso as instruccedilotildees natildeo sejam seguidas pelo

cliente a garantia natildeo seraacute vaacutelida Podemos identificar que o termo ―rasuras presente em

(25) pode ser considerado como vago e polissecircmico neste caso dificultando a interpretaccedilatildeo

do texto Uma rasura pode ser por exemplo desde um rabisco fora de lugar no formulaacuterio

ateacute o dano no documento por aacutegua amasso do papel em excesso etc O autor poderia evitar a

vagueza e a polissemia definindo o termo da forma como ele deseja que o leitor interprete

este termo e comparando-o a uma classe especiacutefica (por exemplo o que eacute considerado rasura

69

nos documentos instrucionais)

(26) Danos decorrentes de desgaste natural inclusive e natildeo SOMENTE

nas partes plaacutesticas que compotildeem o gabinete do produto

(Certificado 4)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o ―somente numa sentenccedila que trata sobre

uma das situaccedilotildees em que a garantia natildeo seraacute vaacutelida O fabricante deixa claro que qualquer

defeito no produto causado por desgaste natural natildeo seraacute coberto pela garantia Se o

fabricante natildeo utilizasse o ―somente nesta sentenccedila o cliente poderia interpretar por

exemplo que danos decorrentes de desgaste natural nas partes que natildeo satildeo de plaacutestico seriam

cobertas pela garantia O autor utiliza o ―somente para se resguardar sobre outras possiacuteveis

interpretaccedilotildees do trecho abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura da garantia para

qualquer peccedila do produto que for afetado por danos decorrentes de desgaste natural Na

ocorrecircncia (26) a expressatildeo ―desgaste natural eacute polissecircmica O autor em nenhuma parte do

certificado de garantia definiu a expressatildeo em questatildeo para que o cliente compreenda da

forma desejada pelo fabricante Dessa forma podemos interpretar ―desgaste natural de

muitas formas Podemos por exemplo interpretar como o desgaste do produto como um todo

ou suas peccedilas referentes ao uso em excesso ao longo do tempo e diretamente vinculado agrave

vida uacutetil tanto do produto em geral quanto de peccedilas especiacuteficas Mas tambeacutem podemos

interpretar como sendo um desgaste proveniente do contato do produto com a natureza como

a exposiccedilatildeo agrave chuva maresia sol em excesso Pode parecer um exagero esta uacuteltima

interpretaccedilatildeo mas ela eacute possiacutevel a partir da forma como (26) se apresenta O autor utilizou no

texto a expressatildeo sem dar-lhe a definiccedilatildeo que ele pensou para a utilizaccedilatildeo dela na ocorrecircncia

dificultando a interpretaccedilatildeo do texto

(27) Este termo de garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos

comercializados e utilizados em territoacuterio brasileiro

(Certificado 4)

(28) Este Certificado de Garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos

vendidos e utilizados no territoacuterio brasileiro

(Certificado 10)

(29) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro

70

(Certificado 2)

(30) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro

(Certificado 13)

(31) Esta garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o territoacuterio brasileiro

(Certificado 12)

Nas ocorrecircncias (27) (28) (29) e (30) observamos que os fabricantes utilizam o termo

―apenas para restringir a cobertura da garantia tanto em relaccedilatildeo ao local da compra quanto

em relaccedilatildeo ao local de uso do produto assim como o autor da ocorrecircncia (31) utiliza o termo

―somente com o mesmo sentido Caso o produto tenha sido comprado em outro paiacutes natildeo

haveraacute cobertura da garantia assim como mesmo que o produto tenha sido comprado no

Brasil mas tenha sido utilizado em outro paiacutes culminando em um defeito tambeacutem natildeo haveraacute

cobertura da garantia Mas para a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que aparece em (27) (28)

(29) (30) e (31) podemos tambeacutem interpretar como natildeo apenas a extensatildeo territorial do paiacutes

mas tambeacutem admitir territoacuterios brasileiros em outros paiacuteses a saber os consulados

honoraacuterios do Brasil nas diversas naccedilotildees ao redor do mundo Nesse caso por exemplo se o

produto for adquirido dentro dos limites geograacuteficos do Brasil e for utilizado em algum

consulado do Brasil em outro paiacutes a garantia deve ser vaacutelida Eacute possiacutevel que o fabricante natildeo

tenha pensado nessa possibilidade poreacutem da forma que estas ocorrecircncias se apresentam haacute

essa possibilidade de interpretaccedilatildeo Ao apresentar essa possiacutevel interpretaccedilatildeo para a

expressatildeo ―territoacuterio brasileiro noacutes quisemos mostrar que o fabricante deveria ter

especificado em alguma parte do certificado de garantia o conceito que ele deseja que o

cliente admita para esta expressatildeo para natildeo deixar que a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro seja

interpretada de outras formas ou seja para evitar a polissemia que dificulta a leitura do

texto Outra questatildeo que tambeacutem podemos considerar eacute que nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)

a afirmaccedilatildeo sobre a validade da garantia eacute apresentada de forma menos detalhada Os autores

apresentam a afirmaccedilatildeo de que a garantia eacute vaacutelida para o territoacuterio brasileiro sem informar se

eacute em relaccedilatildeo ao produto ser adquirido e utilizado no paiacutes Brasil ou se o produto pode ser

utilizado fora do Brasil mas para requerer a garantia do produto o consumidor caso resida no

exterior deva se dirigir ao Brasil para fazer jus a sua garantia Diferente das ocorrecircncias (27)

e (28) em que os autores enfatizam que a garantia dos produtos eacute vaacutelida unicamente para

produtos comercializados e utilizados dentro do Brasil restringindo a garantia mais do que

nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)

71

(32) A garantia SOMENTE eacute vaacutelida mediante a apresentaccedilatildeo de nota

fiscal de compra deste produto

(Certificado 3)

Podemos observar na ocorrecircncia (29) que o fabricante utiliza o termo ―somente para

restringir a validade da garantia Fica claro que caso o produto apresente algum defeito e o

cliente procure a assistecircncia teacutecnica sem estar de posse da nota fiscal natildeo haveraacute cobertura da

garantia Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em (29) o cliente poderia interpretar

por exemplo que a garantia do produto eacute vaacutelida com ou sem a apresentaccedilatildeo da nota fiscal de

compra do produto Neste caso a funccedilatildeo do ―somente eacute de restringir a interpretaccedilatildeo de

acordo com o que o fabricante deseja Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem

vagos em (29)

(33) A garantia oferecida por esse Certificado eacute de 36 (trinta e seis) meses

e SOMENTE teraacute validade se o presente documento for devidamente

preenchido no ato da venda do produto conforme acima e se a

instalaccedilatildeo for feita por uma pessoa ou empresa credenciada pela

Robert Bosch Ltda

(Certificado 8)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade

da garantia Caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees de forma cumulativa que seguem a

utilizaccedilatildeo do termo a garantia seraacute invalidada Por exemplo se o cliente preencher no ato da

venda do produto o certificado mas se a instalaccedilatildeo do produto natildeo tiver sido feita por algueacutem

credenciado pela Robert Bosch Ltda a garantia natildeo teraacute validade A importacircncia do uso do

―somente em (33) se daacute pelo fato de que caso o autor natildeo tivesse utilizado este termo

haveria a possibilidade do cliente interpretar por exemplo que a garantia teria validade caso

a instalaccedilatildeo do produto tenha sido feita por uma pessoa ou empresa natildeo credenciada pela

fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (33)

(34) Os consertos em Garantia do Produto SOMENTE seratildeo efetuados

72

por um Serviccedilo Autorizado devidamente nomeado pela Robert Bosch

Ltda em territoacuterio brasileiro

(Certificado 8)

Podemos observar que o fabricante utiliza o termo ―somente em (34) para restringir a

validade da garantia O fabricante define tanto quem efetuaraacute o conserto dos produtos quanto

os limites territoriais de cobertura Dessa forma fica expliacutecito para o cliente que o conserto

natildeo poderaacute ser efetuado por pessoas natildeo autorizadas pela Robert Bosch Ltda e tal conserto

natildeo pode ser realizado em outros paiacuteses Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em

(34) abriria a possibilidade de interpretar a sentenccedila de outras formas como por exemplo

que os consertos em garantia do produto poderiam ser realizados em territoacuterios de outros

paiacuteses ou que os consertos poderiam ser realizados por serviccedilos natildeo autorizados pelo

fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (34)

(35) O exame e reparo do produto soacute poderatildeo ser efetuados pelo

fabricante

(Certificado 7)

Na ocorrecircncia (36) o fabricante utiliza no lugar do termo ―somente o termo ―soacute

para restringir a interpretaccedilatildeo Nesse caso se o cliente procurar reparar eou examinar o

produto sozinho ou em assistecircncias teacutecnicas que natildeo sejam autorizadas pelo fabricante a

garantia seraacute invalidada A utilizaccedilatildeo do termo ―soacute tem grande importacircncia para o

direcionamento da interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia (35) pois caso natildeo tivesse sido utilizado pelo

autor a ocorrecircncia traria apenas uma informaccedilatildeo vaga dificultando a interpretaccedilatildeo do texto

Sem o ―soacute a partir de (35) poderiacuteamos interpretar que o exame e reparo do produto podem

ser efetuados pelo fabricante mas tambeacutem por qualquer outra pessoa ou empresa Utilizando

o ―soacute o autor restringe a inferecircncia evitando muacuteltiplas interpretaccedilotildees para a sentenccedila

(36) O presente ―Termo de Garantia Hyundai aplica-se uacutenica e

exclusivamente ao veiacuteculo da marca e fabricaccedilatildeo Hyundai

devidamente identificado no iniacutecio deste documento e que tenha sido

comercializado por um Revendedor Autorizado da CAOA Montadora

de Veiacuteculos SA

(Certificado 17)

73

Em (36) o fabricante natildeo utiliza os termos ―apenas ou ―somente mas

consideraremos em nossa anaacutelise a expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como um restritor de

mesmo sentido Observamos que o fabricante utiliza a expressatildeo para restringir a cobertura

da garantia Caso o cliente esteja por exemplo solicitando a garantia de um veiacuteculo Hyundai

que natildeo seja o mesmo que estaacute descrito no iniacutecio do documento de garantia e que natildeo tenha

sido comercializado por uma autorizada da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA a garantia

natildeo teraacute validade Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado a expressatildeo ―uacutenica e

exclusivamente em (36) haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia de outras

maneiras

(37) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA eou o Revendedor Autorizado

da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA APENAS substituiraacute as peccedilas

que forem por elas e a seu exclusivo criteacuterio julgadas como

defeituosas

(Certificado 17)

Na ocorrecircncia (37) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a interpretaccedilatildeo

da sentenccedila Dessa forma o fabricante fica resguardado tanto em relaccedilatildeo a substituiccedilatildeo de

peccedilas quanto em relaccedilatildeo ao meacutetodo utilizado para jugar se a peccedila estaacute defeituosa ou natildeo A

importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―apenas em (37) tambeacutem se daacute pelo fato de natildeo permitir outras

interpretaccedilotildees diferentes da definida pelo fabricante Caso o ―apenas natildeo tivesse sido

utilizado poderiacuteamos interpretar por exemplo que o fabricante poderia substituir peccedilas

julgadas por ela como defeituosas utilizando seus proacuteprios criteacuterios mas tambeacutem substituiria

em outros casos O ―apenas serviu para especificar e restringir a interpretaccedilatildeo dos criteacuterios

definidos pelo fabricante em relaccedilatildeo agrave substituiccedilatildeo de peccedilas do produto Natildeo identificamos

nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (37)

(38) Permita que SOMENTE teacutecnicos autorizados pela faacutebrica prestem

assistecircncia a seu aparelho pois se for aberto por teacutecnicos ou pessoas

natildeo autorizadas automaticamente vocecirc estaraacute perdendo sua garantia

(Certificado 5)

Na ocorrecircncia (38) o fabricante deixa expliacutecito ao utilizar o termo ―somente que

caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees dispostas nesta sentenccedila a garantia do produto seraacute

74

invalidada Dessa forma o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a informaccedilatildeo

veiculada pelo fabricante da mesma forma como vimos na ocorrecircncia (37) Natildeo

identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (38)

(39) A presente garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o Veiacuteculo

comercializado em territoacuterio brasileiro

(Certificado 16)

Na ocorrecircncia (39) um pouco parecida com as ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e

(31) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia do produto Nesse caso

se o veiacuteculo tiver sido adquirido em outro paiacutes sua garantia natildeo seraacute vaacutelida no Brasil Um

pouco diferente das ocorrecircncias (27) e (28) que especificam ao maacuteximo a possibilidade de

cobertura da garantia a ocorrecircncia (39) veicula que a garantia eacute vaacutelida para o produto

comercializado em territoacuterio brasileiro natildeo tratando sobre a possibilidade da perda da

garantia caso o veiacuteculo seja utilizado em outros paiacuteses Neste caso o cliente natildeo tem direito

a garantia do veiacuteculo caso ele seja adquirido em outros paiacuteses Sobre a expressatildeo ―territoacuterio

brasileiro assim como nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31) o autor natildeo definiu um

sentido para a expressatildeo que pode ser interpretada de outras maneiras como exemplificamos

nas anaacutelises anteriores

(40) Utilizar SOMENTE peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios genuiacutenos

Mercedes-Benz e comprovar sua aquisiccedilatildeo mediante e apresentaccedilatildeo

da Nota Fiscal quando adquiridos pelo consumidor final

(Certificado 16)

Na ocorrecircncia (40) que faz parte de uma lista de recomendaccedilotildees para o cliente natildeo

perder a garantia o fabricante utiliza o termo ―somente para delimitar a interpretaccedilatildeo da

sentenccedila Na passagem se o cliente natildeo seguir as instruccedilotildees descritas consequentemente

perderaacute a garantia do produto A importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente na ocorrecircncia (40) eacute

a de dificultar que o cliente interpreta a sentenccedila de outra maneira Sem o ―somente na

sentenccedila o cliente poderia interpretar que ele pode utilizar peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios

originais do fabricante mas tambeacutem estaacute autorizado a utilizar peccedilas de outros fabricantes

Com a presenccedila do ―somente na sentenccedila o cliente eacute levado a interpretar a sentenccedila da

75

forma direcionada pelo fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (40)

(41) A comprovaccedilatildeo de defeito de fabricaccedilatildeo do produto que provocaraacute a

execuccedilatildeo da troca do mesmo deveraacute ser feita exclusivamente por

funcionaacuterio credenciado da Ortobom

(Certificado 15)

Na ocorrecircncia (41) o fabricante natildeo utiliza explicitamente os termos ―apenas ou

―somente mas consideraremos em nossa anaacutelise que o termo ―exclusivamente possui a

mesma funccedilatildeo de restringir interpretaccedilotildees O fabricante utiliza o termo para restringir a

garantia do produto em questatildeo Natildeo haacute a possibilidade de o cliente comprovar um defeito de

fabricaccedilatildeo em seu produto atraveacutes de outro profissional que natildeo seja um funcionaacuterio

credenciado da Ortobom Haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia (41) caso o

fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―exclusivamente Sem tal uso o cliente poderia

interpretar que poderia comprovar algum defeito no produto para possiacutevel troca por

intermeacutedio de qualquer profissional natildeo obrigatoriamente por um funcionaacuterio do fabricante

Ortobom O termo ―exclusivamente especifica e destaca a informaccedilatildeo que o fabricante

veicula em (41) Natildeo identificamos em (41) nem termos polissecircmicos nem termos vagos

(42) A garantia cobre exclusivamente defeitos de materiais eou

fabricaccedilatildeo sendo que as despesas de deslocamento alimentaccedilatildeo e

hospedagem do teacutecnico para atendimento em garantia ou natildeo

referente agrave entrega montagem instruccedilatildeo de uso e reparo do

equipamento assim como o frete de retirada para conserto e retorno

do mesmo e de envio de peccedilas e retorno das substituiacutedas em garantia

ocorreratildeo por conta do cliente

(Certificado 22)

Assim como em (41) o fabricante utiliza o termo ―exclusivamente para restringir a

garantia do produto O fabricante ao utilizar esse termo se resguarda de possiacuteveis cobranccedilas

por parte do cliente ao solicitar a garantia como por exemplo ajuda de custo para custear a

iacuteda do teacutecnico para manutenccedilatildeo do produto envio de peccedilas para faacutebrica etc Fica expliacutecito

que em todas essas situaccedilotildees o cliente eacute responsaacutevel Caso o termo ―exclusivamente natildeo

76

tivesse sido utilizado o cliente poderia interpretar a ocorrecircncia de diferentes modos Uma

possibilidade de interpretaccedilatildeo seria a de entender que a garantia cobre outros tipos de

defeitos que natildeo fossem de peccedilas ou de fabricaccedilatildeo Com a utilizaccedilatildeo do termo

―exclusivamente o fabricante diminui as possibilidades de interpretaccedilatildeo tornando o texto

mais claro para o cliente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na

ocorrecircncia (42)

(43) A garantia natildeo cobre peccedilas ou componentes de desgaste normal de

uso dentre as quais selim pedais firma-peacutes natildeo se limitando

SOMENTE a estes mas incluindo rodas de transporte carenagens

adesivos elementos de acabamento de plaacutestico borracha e alumiacutenio

danos na pintura e quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa

exclusiva distribuiccedilatildeo devendo as reclamaccedilotildees ser encaminhadas aos

seus respectivos representantes ou fabricantes

(Certificado 22)

Em (43) o fabricante aleacutem de utilizar o termo ―somente para abranger a

interpretaccedilatildeo sobre as peccedilas que natildeo seratildeo cobertas pela garantia do produto utiliza outros

termos que alargam ainda mais sem restriccedilotildees a natildeo cobertura da garantia como ―quaisquer

acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo O fabricante se resguarda

especificando quais peccedilas que ele considera como de ―desgaste normal para evitar

problemas de interpretaccedilatildeo por parte do cliente O uso do ―somente na ocorrecircncia (43) se

apresenta de forma contraacuteria agraves outras ocorrecircncias que apresentamos anteriormente Enquanto

em ocorrecircncias como a (40) que o ―somente foi utilizado para restringir a interpretaccedilatildeo da

sentenccedila para as informaccedilotildees descritas depois do termo em (43) o fabricante utiliza o

―somente precedido da negaccedilatildeo ―natildeo se limitando direcionando o termo para o sentido de

abrangecircncia Ou seja a garantia que o fabricante oferece natildeo cobre peccedilas ou componentes de

desgaste natural como selim e pedais Para natildeo correr o risco de esquecer de citar algum dos

componentes de desgaste natural do produto e deixar brechas na interpretaccedilatildeo da garantia o

fabricante utiliza a expressatildeo ―natildeo se limitando seguida do ―somente para abranger ao

maacuteximo as possibilidades de interpretaccedilatildeo sobre os itens de desgaste natural que natildeo satildeo

cobertos pela garantia Depois do uso do ―somente e de apresentar mais uma lista de itens

que natildeo satildeo cobertos pela garantia o fabricante ainda abrange mais a interpretaccedilatildeo

utilizando a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo

Dessa forma pudemos perceber que o fabricante utilizou natildeo apenas o termo de restriccedilatildeo

77

―somente para limitar as possibilidades de interpretaccedilatildeo da sentenccedila mas tambeacutem utilizou

listas especificando itens e a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa

exclusiva distribuiccedilatildeo Todas essas estrateacutegias foram utilizadas com o objetivo de tornar a

interpretaccedilatildeo do texto clara sem oferecer a possibilidade de o cliente obter muacuteltiplas

interpretaccedilotildees do texto Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na

ocorrecircncia (43)

(44) A matildeo-de-obra em garantia limita-se SOMENTE ao horaacuterio normal

de expediente sendo de segunda a sexta-feira das 730 agraves 1800 horas

devendo o equipamento estar disponiacutevel para a assistecircncia teacutecnica

(Certificado 22)

Em (44) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o horaacuterio disponiacutevel

para reparos em produtos na garantia e aleacutem disso enfatizando que o produto deve estar

disponiacutevel para a assistecircncia Dessa forma o cliente fica impossibilitado de reclamar

assistecircncia fora do horaacuterio que estaacute descrito na sentenccedila assim como fica consciente de que

seu produto ficaraacute a disposiccedilatildeo da assistecircncia para conserto ou seja natildeo seraacute reparado

imediatamente A importacircncia do uso do ―somente na ocorrecircncia (44) se daacute pelo fato de que

caso natildeo fosse utilizado o cliente poderia interpretar por exemplo que a matildeo-de-obra em

garantia estaria disponiacutevel vinte e quatro horas por dia e sete dias por semana Como o

―somente foi utilizando precedendo as informaccedilotildees sobre dia e horaacuterio de atendimento natildeo

eacute possiacutevel interpretar a informaccedilatildeo de outra maneira que natildeo seja a descrita Haveria a

possibilidade de definir a expressatildeo ―horaacuterio normal de expediente como uma expressatildeo

polissecircmica caso ela natildeo estivesse acompanhada de uma definiccedilatildeo (―de segunda a sexta-feira

das 730 agraves 1800 horas) pois o horaacuterio de expediente pode variar de acordo com o trabalho

que vocecirc tem por exemplo Se vocecirc trabalha em um banco financeiro o seu horaacuterio de

expediente seraacute possivelmente diferente do horaacuterio de um feirante Para evitar a polissemia

o fabricante utilizou a expressatildeo e em seguida apresentou a definiccedilatildeo da expressatildeo de

acordo com o seu interesse

(45) A presente garantia limita-se SOMENTE ao produto fornecido natildeo

responsabilizando a TOTAL HEALTH por danos causados a pessoas

a terceiros a outros equipamentos ou instalaccedilotildees lucros cessantes ou

quaisquer outros danos emergentes ou consequumlentes

(Certificado 22)

78

Na ocorrecircncia (45) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da

garantia Nesse caso a garantia se limita unicamente ao produto descrito Se por exemplo o

produto em questatildeo apresentar defeito e tal defeito ocasionar dano fiacutesico ao dono do produto

ou a terceiros a garantia natildeo cobriraacute tais problemas Assim como nas ocorrecircncias anteriores

o uso do ―somente em (45) teve a funccedilatildeo de direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para uma

uacutenica possibilidade de interpretaccedilatildeo Caso o ―somente natildeo tivesse sido utilizado poderiacuteamos

interpretar (45) de outras maneiras Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (45)

(46) SOMENTE os profissionais indicados pela loja revendedora dos

produtos Bartzen estatildeo autorizados a prestar atendimento dentro do

prazo de garantia

(Certificado 18)

Na ocorrecircncia (46) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a

interpretaccedilatildeo da sentenccedila Nesse caso o cliente soacute poderaacute usufruir de assistecircncia teacutecnica em

seu produto atraveacutes de profissionais indicados pela loja na qual ele adquiriu seu produto

Bartzen e dentro do prazo da garantia Caso o cliente realize algum serviccedilo em seu produto

com profissionais natildeo autorizados pela fabricante sua garantia seraacute invalidada A importacircncia

da utilizaccedilatildeo do termo ―somente na ocorrecircncia (46) eacute a de diminuir as possibilidades de

interpretaccedilatildeo da sentenccedila ao maacuteximo Dessa forma natildeo haacute como o cliente interpretar que por

exemplo ele pode realizar a manutenccedilatildeo ou reparo do seu produto com qualquer outro

funcionaacuterio que natildeo seja autorizado pela fabricante do produto Natildeo identificamos nem

termos polissecircmicos nem termos vagos em (46)

(47) A garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o consumidor que consta

identificado na nota fiscal de compra do produto (primeiro usuaacuterio) a

qual deveraacute ser apresentada junto com este Certificado de Garantia

devidamente preenchido com os dados do consumidor e do produto

para fins de cobertura para reparo ou substituiccedilatildeo do produto se

necessaacuterio

(Certificado 19)

79

Em (47) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia Nesse caso

o cliente fica ciente de que a garantia soacute seraacute vaacutelida para o primeiro proprietaacuterio do produto

assim como soacute seraacute aceito o pedido de garantia caso o cliente apresentar a nota fiscal

contendo tanto os dados do produto quanto os seus Todas as possibilidades fora das

descritas seratildeo desconsideradas e consequentemente a garantia seraacute invalidada A

importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente em (47) se daacute pelo fato de que haacute diversas

informaccedilotildees a serem consideradas pelo cliente na ocorrecircncia (47) e caso o autor do texto natildeo

tivesse utilizado o termo ―somente antes dessas informaccedilotildees o cliente poderia interpretar

que sua garantia poderia ser vaacutelida ao cumprir algumas das informaccedilotildees descritas na sentenccedila

e natildeo obrigatoriamente todas Por exemplo se natildeo houvesse o uso do ―somente em (47) o

cliente poderia interpretar que a garantia eacute vaacutelida para o consumidor que tem o nome

constando na nota fiscal mas tambeacutem para qualquer outro consumidor que esteja de posse da

nota fiscal mesmo que natildeo seja a pessoa que tem o nome na nota fiscal O ―somente possui

o papel de restringir a interpretaccedilatildeo de toda ocorrecircncia ao maacuteximo direcionando a leitura do

texto para evitar muacuteltiplas interpretaccedilotildees Com esse uso natildeo eacute possiacutevel que cliente interprete

que ele pode ter acesso a garantia caso natildeo cumpra alguma das recomendaccedilotildees Natildeo

identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (47)

(48) O Certificado de Garantia eacute vaacutelido SOMENTE para os

condicionadores vendidos e instalados no territoacuterio brasileiro

(Certificado 19)

Em (48) semelhante agraves ocorrecircncias (31) e (39) o fabricante utiliza o termo ―somente

para restringir o territoacuterio de cobertura da garantia Neste caso condicionadores adquiridos e

utilizados em outros paiacuteses natildeo seratildeo cobertos pela garantia descrita acima Ainda retomando

a discussatildeo sobre a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro consideramos que pelo fato do autor do

texto natildeo ter apresentado um conceito para esta expressatildeo em nenhum local do certificado de

garantia da forma como se apresenta ela pode ser interpretada de outras maneiras assim

como discutimos nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)

(49) Para o uso de condicionadores de ar em ambientes com alta

concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre

seraacute vaacutelida SOMENTE a garantia legal de 90 (noventa) dias contados

80

da data de emissatildeo da nota fiscal de compra do produto

(Certificado 19)

Na ocorrecircncia (49) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da

garantia do produto que seja utilizado em ambientes especiacuteficos como ―ambientes com alta

concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre Dessa forma o

fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a qualquer solicitaccedilatildeo de garantia ―normal ou seja prazo

de validade de garantia para condicionadores de ar que satildeo utilizados em ambientes

considerados ―normais por parte de um cliente que utilize o produto em ambientes como os

descritos acima Dessa forma o uso do ―somente se justifica pelo fato de que o fabricante

busca direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha duacutevidas de que como

descrito em (49) os produtos utilizados em ambientes atiacutepicos soacute estaratildeo cobertos pela

garantia legal Assim como jaacute discutimos em outras ocorrecircncias anteriormente o fabricante

utiliza a expressatildeo ―garantia legal que eacute uma expressatildeo teacutecnica do CDC e para que ela natildeo

se tornasse polissecircmica logo apoacutes seu uso o autor apresentou o conceito para o termo que eacute

o de um periacuteodo de 90 dias corridos compreendidos imediatamente apoacutes a expediccedilatildeo da nota

fiscal de compra do produto

(50) A partir do 91ordm (nonageacutesimo primeiro) dia tais despesas satildeo de

responsabilidade uacutenica e exclusiva do consumidor

(Certificado 19)

Em (50) o fabricante natildeo utilizou os termo ―somente e ―apenas mas

consideraremos em nossa anaacutelise a utilizaccedilatildeo da expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como

umas expressotildees utilizadas para restringir interpretaccedilotildees como discutimos anteriormente em

outras anaacutelises Na sentenccedila acima o fabricante utilizou a expressatildeo de restriccedilatildeo para

enfatizar que passados os trecircs meses de garantia as despesas referentes a qualquer

manutenccedilatildeo e garantia do produto seratildeo de responsabilidade do cliente Como apresentamos

na ocorrecircncia (49) a garantia legal para um produto cobre os primeiros 90 dias apoacutes a

emissatildeo da nota fiscal de compra do produto Ao informar em (50) que a partir do primeiro

dia apoacutes o teacutermino da garantia legal despesas referentes ao traslado do produto para

manutenccedilatildeo seraacute de responsabilidade do cliente o autor utiliza a expressatildeo ―uacutenica e

exclusiva para se resguardar de qualquer possibilidade de participaccedilatildeo em possiacuteveis gastos

81

Caso o fabricante natildeo tivesse enfatizado essa informaccedilatildeo utilizando esta expressatildeo o cliente

poderia interpretar por exemplo que poderia haver algum caso em que o fabricante se

responsabilizaria por tais gastos Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (50)

(51) A reposiccedilatildeo de peccedilas defeituosas e execuccedilatildeo dos serviccedilos decorrentes

desta Garantia SOMENTE seratildeo procedidas nas localidades do

territoacuterio brasileiro onde a ENVISION mantiver ―Centro de Serviccedilo

Autorizado de titularidade dela proacutepria ou de terceiro por ela

expressamente indicado onde deveraacute ser entregue o produto para

reparo

(Certificado 20)

Na ocorrecircncia (51) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir os locais de

execuccedilatildeo de serviccedilos da garantia Neste caso o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a por

exemplo natildeo haver assistecircncias teacutecnicas em todas as cidades do paiacutes Aleacutem de enfatizar que o

produto deveraacute ser entregue na assistecircncia pelo cliente ou seja o fabricante natildeo se

responsabiliza quanto ao recolhimento do produto para reparo A utilizaccedilatildeo do ―somente se

justifica pelo fato de que o fabricante busca restringir ao maacuteximo as possibilidades de

interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o ―somente o cliente

poderia por exemplo interpretar que se a cidade em que o cliente tenha adquirido o produto

natildeo tenha uma assistecircncia teacutecnica a fabricante se responsabilizaria pelo recolhimento do

produto para manutenccedilatildeo numa cidade que possua a assistecircncia teacutecnica Com a utilizaccedilatildeo do

―somente precedendo as demais informaccedilotildees natildeo eacute possiacutevel interpretar a ocorrecircncia dessa

maneira Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termo vagos na ocorrecircncia (51)

(52) Esta Garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver

devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original

da Nota Fiscal de Compra

(Certificado 20)

Na ocorrecircncia (52) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a forma

como o cliente deve solicitar a garantia do produto Caso o cliente deixe de apresentar o

certificado preenchido corretamente eou a nota fiscal de compra a garantia seraacute invalidada

82

Assim como na ocorrecircncia (51) o autor fabricante utiliza o ―somente para restringir ao

maacuteximo a interpretaccedilatildeo do texto Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente

haveria a possibilidade de o cliente interpretar que a garantia do produto seria vaacutelida caso o

certificado estivesse preenchido sem rasuras acompanhado da nota fiscal de compra mas

tambeacutem de qualquer outra forma A ocorrecircncia ficaria sem limites para interpretaccedilatildeo caso o

fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente Poreacutem como o termo foi utilizado natildeo

haacute outra forma de o cliente interpretar a ocorrecircncia sobre a validade da garantia do produto

Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (52)

(53) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS se o produto for reparado pela rede

autorizada Rheem ou por autorizaccedilatildeo preacutevia formalizada pelo

Departamento de Assistecircncia Teacutecnica

(Certificado 20)

Na ocorrecircncia (53) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a validade da

garantia quanto ao local de assistecircncia Caso o produto seja reparado por profissional natildeo

autorizado pela fabricante Rheem a garantia do produto seraacute perdida A importacircncia o uso do

termo ―apenas na ocorrecircncia (53) se daacute pelo fato de que o autor busca restringir a

interpretaccedilatildeo do texto ao maacuteximo Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―apenas o

cliente poderia por exemplo interpretar que a garantia do produto eacute vaacutelida em qualquer

situaccedilatildeo e natildeo unicamente se seguir as recomendaccedilotildees descritas apoacutes o uso do termo

―apenas Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (53)

(54) Os produtos SOMENTE poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para

anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes sua autorizaccedilatildeo por escrito

(Certificado 21)

Na ocorrecircncia (54) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o modo

como deve submeter o produto agrave garantia Caso natildeo haja uma autorizaccedilatildeo por escrito para

enviar o produto para a faacutebrica o produto natildeo poderaacute seguir para anaacutelise A importacircncia da

utilizaccedilatildeo do termo ―somente se daacute pelo fato de que caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o

termo na ocorrecircncia (54) a interpretaccedilatildeo do texto ficaria sem limites ou seja os produtos

poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes a autorizaccedilatildeo por

83

escrito ou de qualquer outra forma Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (54)

34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS

Em nossa pesquisa analisamos cinquenta e quatro ocorrecircncias selecionadas a partir

dos vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Dividimos a anaacutelise por tipos de

ocorrecircncias com quantificador universal com condicional e com o apenassomente Para

apresentar um panorama sobre os tipos de ocorrecircncia e a quantidade das anaacutelises de cada tipo

vamos observar o quadro a seguir

Tipo de ocorrecircncia Nuacutemero de ocorrecircncias

Quantificador universal 15

Condicional 9

ApenasSomente 30

TOTAL 54

Quadro 2 ndash Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia Fonte elaborado pelo autor

Antes de discorrer nossos comentaacuterios sobre as anaacutelises de nosso trabalho temos que

tratar sobre a primeira importante impressatildeo que tivemos diante do corpus e das consequentes

anaacutelises dos quatro nexos semacircnticos que invocamos em nosso trabalho somente

identificamos ocorrecircncias com acarretamentos Tratamos com muita naturalidade este fato

porque por mais que em algumas leituras uma parte do conteuacutedo do segundo capiacutetulo possa

ser vista como desnecessaacuteria ndash pelo fato de tais conceitos natildeo estarem presentes nas anaacutelises

dessa pesquisa ndash encontramos aiacute uma caracteriacutestica do gecircnero textual certificado de garantia

que eacute a presenccedila de diversos acarretamentos mesmo que natildeo-expliacutecitos como demonstramos

em nosso trabalho (porque o gecircnero textual certificado de garantia natildeo possui uma linguagem

tatildeo controlada quanto a linguagem encontrada nos exemplos que criamos para ilustrar os

conceitos dos nexos) Dessa maneira fica claro que natildeo encontramos ocorrecircncias com

equivalecircncias semacircnticas contrariedades ou contraditoriedades o que nos permite definir

estas ausecircncias como uma caracteriacutestica intriacutenseca do gecircnero

84

Na primeira parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o quantificador

universal Identificamos quinze ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia

utilizaram esse recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (1) e (15)

percebemos que o uso do quantificador universal em algumas ocorrecircncias serviu apenas para

reforccedilar a informaccedilatildeo que o fabricante quis veicular ou seja se natildeo tivesse sido utilizado natildeo

modificaria o sentido do texto Pudemos identificar esse sentido por exemplo nas

ocorrecircncias (1) e (2)

Aleacutem desse sentido para o uso do quantificador universal encontramos ocorrecircncias

em que caso o quantificador natildeo tivesse sido utilizado haveria a possibilidade de

interpretarmos a ocorrecircncia de vaacuterias maneiras Nesses casos os autores utilizaram o

quantificador para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo direcionando a leitura do texto

para que o cliente possa interpretar o certificado da forma que o fabricante deseja Pudemos

identificar esse sentido por exemplo nas ocorrecircncias (3) (4) e (8)

Pudemos observar que os autores dos certificados de garantia utilizam tambeacutem o

quantificador universal em seus textos para se resguardarem em relaccedilatildeo a deveres que

poderiam ser reclamados pelo cliente caso natildeo houvesse o uso deste recurso Dessa forma

podemos entender que os autores dos certificados utilizaram o quantificador universal para se

favorecerem Pudemos observar essa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (5) (11) (13) e

(14) Em relaccedilatildeo a ocorrecircncias com o uso do quantificador universal em que o cliente eacute

beneficiado natildeo identificamos nenhum caso em nossa anaacutelise

Sobre o aparecimento de termos vagos ou termos polissecircmicos nas ocorrecircncias com a

presenccedila do quantificador universal pudemos observar que o maior motivo da sensibilidade

dos textos a esses tipos de efeitos linguiacutesticos eacute o fato de os autores dos textos em muitos

casos natildeo conceituarem os termos teacutecnicos que eles utilizam nos certificados de garantia Ao

utilizar um termo teacutecnico como por exemplo na ocorrecircncia (3) em que o autor do

certificado de garantia utiliza o termo ―viacutecio do produto ndash termo teacutecnico do CDC ndash natildeo

apresentando o conceito em seu texto dificulta a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Tendo contato

com o termo de forma solta sem estar delimitada pelo conceito que o autor deseja que o

cliente interprete a ocorrecircncia se torna vaga e polissecircmica

Ainda sobre os termos vagos ou termos polissecircmicos encontramos tambeacutem

ocorrecircncias em que os autores buscaram evitaacute-las justamente apresentando apoacutes a utilizaccedilatildeo

de um termo teacutecnico o seu respectivo conceito desta forma natildeo oferecendo a possibilidade

de interpretaacute-lo de vaacuterias maneiras Pudemos observar este uso por exemplo na ocorrecircncia

(10) em que o autor do certificado usa o termo ―garantia legal e logo em seguida apresenta

85

o conceito para o termo que eacute ―os primeiros 90 dias Dessa forma o cliente natildeo eacute autorizado

a interpretar o termo ―garantia legal de nenhuma outra forma que natildeo seja a descrita pelo

fabricante

Na segunda parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o uso do condicional

Identificamos nove ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia utilizaram este

recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (16) e (24) pudemos identificar

que o condicional foi utilizado pelos autores dos textos precedendo listas instrucionais o que

era esperado devido a caracteriacutestica proacutepria desse recurso que eacute o de condicionar algo agrave

alguma coisa Assim como nas ocorrecircncias que os autores utilizaram o quantificador

universal o condicional foi utilizado em boa parte das ocorrecircncias analisadas para restringir

a interpretaccedilatildeo do texto Pudemos identificar este sentido por exemplo nas ocorrecircncias (16)

(17) e (18)

Identificamos em boa parte das ocorrecircncias que possuem o uso do condicional que

este uso natildeo impotildee um limite na interpretaccedilatildeo Pudemos observar em nossa anaacutelise que os

condicionais foram utilizados precedendo listas exaustivas que continham situaccedilotildees por

exemplo em que a garantia seria invalidada Ao apresentar tais listas os autores natildeo

especificavam que natildeo haveria outros casos fora da lista em que a garantia seria invalidada

Dessa forma observamos que assim como nas ocorrecircncias com quantificador universal os

autores utilizaram os condicionais para se favorecerem Identificamos na ocorrecircncia (22)

recursos que restringem ainda mais as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente e

que consequentemente favorecem o fabricante como o uso do termo ―cumulativamente

que obriga o cliente a natildeo apenas estar dentro de uma ou mais situaccedilotildees descritas pelo

fabricante apoacutes o condicional mas a seguir todas as situaccedilotildees descritas ao mesmo tempo

Quando os fabricantes utilizaram o condicional precedendo listas que constam as

situaccedilotildees em que o cliente poderia perder a garantia eles usaram o recurso sem limites como

pudemos observar na ocorrecircncia (21) Mas quando os fabricantes utilizaram o condicional

precedendo listas que constam as situaccedilotildees em que o cliente tem direito a garantia eles

usaram os recursos com limites e como mostramos na ocorrecircncia (22) ainda utilizaram

recursos que limitam mais ainda a garantia

Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem das ocorrecircncias em que o condicional apareceu

de forma expliacutecita ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o mesmo

sentido como em (19) (20) e (24)

Sobre a presenccedila de termos polissecircmicos ou termos vagos nas ocorrecircncias com o uso

do condicional pudemos identificar que diferente das ocorrecircncias com o uso do

86

quantificador universal natildeo encontramos casos de termos vagos ou termos polissecircmicos nas

ocorrecircncias analisadas Identificamos em muitas ocorrecircncias que os autores dos certificados

apresentaram os conceitos para termos teacutecnicos apoacutes uso geralmente entre parecircnteses para

evitar que o termo ou a expressatildeo fossem interpretados de formas indevidas Encontramos

este tipo de estrateacutegia por exemplo na ocorrecircncia (17) do certificado 3 em que o autor

utiliza os termos ―garantia legal e ―garantia contratual mas no texto do certificado haacute o

conceito para cada termo o que impossibilita que o cliente interprete os termos de diversas

maneiras Caso o fabricante tivesse utilizado os dois termos teacutecnicos e em lugar algum do

certificado de garantia ele apresentasse os conceitos para os termos oportunizaria por

conseguinte diversas possibilidades de interpretaccedilatildeo dificultando a leitura do texto por parte

do cliente

Na terceira parte da anaacutelise tratamos sobre as ocorrecircncias com o uso do ―apenas e do

―somente Identificamos trinta ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia

utilizaram esses recursos linguiacutesticos Apesar do nuacutemero elevado de ocorrecircncias os sentidos

em que o ―apenas e o ―somente foram utilizados natildeo variaram muito Em grande parte das

ocorrecircncias analisadas o ―apenas e o ―somente foram utilizados para restringir a validade

da garantia desde restriccedilotildees em relaccedilatildeo ao territoacuterio de vigecircncia ateacute tipos de ambientes em

que os produtos podem ser utilizados Um tipo de ocorrecircncia que foi bastante recorrente em

nosso corpus foi o que utilizou o ―apenas ou ―somente para delimitar o territoacuterio em que a

garantia pode ser vaacutelida como por exemplo nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)

Nestas ocorrecircncias haacute o uso da expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que levantamos na anaacutelise

uma discussatildeo sobre as possibilidades de interpretaccedilatildeo para tal expressatildeo pelo fato de natildeo

haver nos certificados de garantia analisados um conceito definido para ela A ausecircncia do

conceito para este termo nos certificados de garantia pode dificultar a interpretaccedilatildeo

Tambeacutem podemos afirmar que em grande parte das ocorrecircncias analisadas o uso do

―somente ou ―apenas serviu para impor limites agraves interpretaccedilotildees dos textos direcionando-

os para a interpretaccedilatildeo que o fabricante desejasse impor Ou seja em grande parte das

ocorrecircncias em que foi utilizado o ―somente precedendo uma situaccedilatildeo X caso natildeo houvesse

esse uso a garantia por exemplo seria vaacutelida na situaccedilatildeo X mas tambeacutem nas situaccedilotildees Y Z

W sem limites Sem o uso do ―somente nessas ocorrecircncias o texto da garantia natildeo teria

sentido definido Pudemos observar esse sentido em diversas ocorrecircncias analisadas como

por exemplo nas ocorrecircncias (27) e (28) Ilustrando caso natildeo houvesse o uso do ―apenas

nas ocorrecircncias (27) e (28) a garantia seria vaacutelida no territoacuterio brasileiro e em qualquer outro

Ainda sobre as ocorrecircncias usam o ―somente ou ―apenas para restringir o territoacuterio em que

87

a garantia seraacute vaacutelida observamos que algumas ocorrecircncias especificam mais a validade da

garantia como em (48) que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para produtos vendidos e

instalados em territoacuterio nacional e outras ocorrecircncias que especificam menos como em (39)

que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para o veiacuteculo comercializado em territoacuterio brasileiro

Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem de ocorrecircncias em que o ―apenas e ―somente

apareciam explicitamente ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o

mesmo sentido como em (35) (36) e (41)

Sobre o aparecimento de termos polissecircmicos ou termo vagos aleacutem da expressatildeo

―territoacuterio brasileiro que mencionamos nos paraacutegrafos anteriores pudemos identificar

outros casos de termos polissecircmicos como por exemplo nas ocorrecircncias (25) e (26) Os

termos teacutecnicos utilizados pelos autores dos certificados de garantia natildeo possuiacuteam em lugar

algum dos textos os conceitos para lhes definirem possibilitando que o cliente interprete

estes termos de diversas maneiras

Ainda sobre casos de termos polissecircmicos observamos em algumas ocorrecircncias que

os autores dos certificados procuraram utilizar os termos teacutecnicos e em seguida ou em

alguma parte dos textos apresentaram os conceitos para os termos evitando muacuteltiplas

interpretaccedilotildees Identificamos o uso dessa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (43) (44) e

(49)

Nos trecircs tipos de ocorrecircncias que definimos para nossa anaacutelise pudemos identificar

que nos usos do quantificador universal condicional e ―apenas e ―somente os autores dos

certificados de garantia usaram esses recursos para se favorecerem Como analisado nas

ocorrecircncias do corpus os fabricantes utilizaram essas estrateacutegias tanto pelo fato de que eacute

necessaacuterio utilizar esses recursos por ser caracteriacutestico de textos instrucionais quanto pelo

fato de que o direcionamento das interpretaccedilotildees dos textos que eles constroem a partir destes

recursos podem favorecer os proacuteprios fabricantes

88

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Na presente seccedilatildeo iremos pontuar o percurso de nossa pesquisa e apresentar nossas

impressotildees sobre o corpus as teorias apresentadas e os resultados obtidos com as anaacutelises

O primeiro capiacutetulo de nossa pesquisa foi subdividido em duas partes na primeira

buscamos apresentar os conceitos gerais sobre os gecircneros textuais com base na proposta de

Bakhtin (2000) reafirmada por Marcuschi (2008) com o intuito de fornecer aporte teoacuterico

para a segunda parte do capiacutetulo em que caracterizamos o certificado de garantia como um

gecircnero textual Tal caracterizaccedilatildeo se deu pelo fato do nosso corpus ser composto por vinte e

dois certificados de garantia Ficamos surpresos por tomar conhecimento do fato de que ateacute o

presente momento natildeo identificamos publicaccedilotildees acadecircmicas em nosso paiacutes referentes agrave

caracterizaccedilatildeo de certificados de garantia como gecircneros textuais e esta dificuldade nos levou

a construir atraveacutes de nossa leitura a caracterizaccedilatildeo tanto quanto ao conteuacutedo quanto agrave

estrutura do texto A uacutenica bibliografia que encontramos e utilizamos como base para a

estruturaccedilatildeo da segunda parte do capiacutetulo tratando diretamente sobre os certificados de

garantia foi o Coacutedigo de Defesa e Proteccedilatildeo do Consumidor (1997) em que pudemos extrair

alguns conceitos gerais e recomendaccedilotildees de como se deve construir o texto de um certificado

de garantia Um dos problemas que encontramos foi a carecircncia de detalhes apresentados pelo

CDC na seccedilatildeo em que sugerem um padratildeo de formulaccedilatildeo do documento O CDC apenas

enfatiza que se faz necessaacuterio o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo e por exemplo a

necessidade de ser acompanhado do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto Com base

nessas informaccedilotildees apresentamos os conceitos e tambeacutem um exemplo de certificado de

garantia ilustrando cada parte da estrutura do texto

Na introduccedilatildeo do segundo capiacutetulo apresentamos uma discussatildeo geral sobre a

distinccedilatildeo entre semacircntica e pragmaacutetica com o objetivo de caracterizar os nexos como

relaccedilotildees linguiacutesticas do campo da semacircntica Para isso apresentamos tambeacutem os conceitos e

exemplos de relaccedilotildees linguiacutesticas que satildeo consideradas como pertencentes ao campo da

pragmaacutetica como a implicatura e pressuposiccedilatildeo Para esta discussatildeo buscamos aporte teoacuterico

nas obras de autores como Trask (2004) Levinson (2007) Grice (1987) Basso (2009)

Moura (1999) e Santos (2012)

Apoacutes a introduccedilatildeo do capiacutetulo apresentamos a teoria dos nexos semacircnticos que

escolhemos tratar em nossa pesquisa Foram eles o acarretamento a equivalecircncia semacircntica

a contradiccedilatildeo e a contrariedade Utilizamos como referencial teoacuterico para a teoria dos nexos

89

semacircnticos autores como Aristoacuteteles (1985) Chierchia (2001) Branquinho Murcho e Gomes

(2006) Pires de Oliveira (2001) e Mortari (2001) A apresentaccedilatildeo de cada nexo se deu a

partir dos conceitos seguidos de exemplos e dentro de cada seccedilatildeo apresentamos tambeacutem

tipos de ocorrecircncias lexicais que podem dificultar a intepretaccedilatildeo dos nexos que satildeo a

polissemia e a vagueza Ao apresentar os conceitos dessas ocorrecircncias lexicais assim como

fizemos na apresentaccedilatildeo dos nexos tambeacutem ilustramos com exemplos Utilizamos como

aporte teoacuterico para os conceitos de polissemia e vagueza autores como Crystal (1985) Allan

(2010) e Kempson (1977) Aleacutem da polissemia e vagueza tratamos sobre outro problema

que dificulta a interpretaccedilatildeo dos nexos as falaacutecias Quando tratamos sobre as caracteriacutesticas

das falaacutecias utilizamos como base teoacuterica o texto de Soares (2003) em que o autor distingue

as caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias e com esse aporte apresentamos nossos

exemplos

Quando tratamos sobre a contradiccedilatildeo e contrariedade apresentamos o fato de que as

suas origens tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica A partir disso trouxemos uma breve apresentaccedilatildeo

sobre os conceitos de Aristoacuteteles presentes em seu texto Organon (1985) mais

especificamente no Perieacutermeneas capiacutetulos 6 e 7

No final do capiacutetulo dois fizemos uma retrospectiva de todos os pontos que foram

apresentados ao longo do capiacutetulo e justificamos a nossa escolha em pesquisar sobre os nexos

semacircnticos assim como a polissemia vagueza e falaacutecias Durante todo o capiacutetulo dois

apresentamos os nexos e outras relaccedilotildees lexicais dentro de uma linguagem controlada que eacute

diferente do que acontece nos textos dos diversos gecircneros inclusive naquele escolhido para

compor o nosso corpus que satildeo os certificados de garantia A importacircncia dos conceitos

apresentados em nosso segundo capiacutetulo se deu pelo fato de que ele oferece uma base para a

compreensatildeo do funcionamento dessas relaccedilotildees semacircnticas para que diante das anaacutelises que

realizamos no capiacutetulo trecircs tenhamos uma leitura mais refinada e atenciosa para perceber

como essas relaccedilotildees semacircnticas tiacutepicas de linguagens controladas se apresentam em textos

que satildeo suscetiacuteveis a diversas ocorrecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo Ficamos surpresos

pelo fato de que pouco se escreveu sobre nexos semacircnticos em nosso contexto nacional de

pesquisa o que tornou a construccedilatildeo do nosso segundo capiacutetulo bastante desafiadora Em

relaccedilatildeo a artigos que trataram diretamente sobre os nexos semacircnticos e os seus usos como

suporte para a anaacutelise de ocorrecircncias em gecircneros textuais tivemos contato apenas com Santos

(2012) e Estrela e Santos (2013 2014)

No terceiro capiacutetulo que foi dedicado para conter a anaacutelise desta pesquisa

inicialmente apresentamos nossa justificativa para a escolha do gecircnero certificado de garantia

90

para analisar assim como a justificativa para a escolha de procurar nesses textos as

estrateacutegias linguiacutesticas utilizadas para restringir a interpretaccedilatildeo de sentenccedilas Em seguida

tratamos sobre os tipos de ocorrecircncias que elegemos para nossa anaacutelise como quantificador

universalcondicional e o ―apenas e o ―somente Esta escolha se deu pelo fato de tais

termos possuem caracteriacutesticas propiacutecias para o uso em restriccedilotildees ou abrangecircncias de textos

Mesmo assim tiacutenhamos conhecimento de que dificilmente encontrariacuteamos ocorrecircncias com

as relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos no capiacutetulo dois de forma expliacutecita e controlada

pois como discutimos anteriormente os diversos gecircneros textuais satildeo suscetiacuteveis a

interferecircncias lexicais que podem dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos

Em seguida apresentamos a anaacutelise do nosso corpus que totalizou cinquenta e quatro

trechos de certificados nos trecircs tipos de ocorrecircncias escolhidas para serem investigadas

Como jaacute apresentamos no final do capiacutetulo anterior nossas impressotildees sobre como foram

utilizados os recursos linguiacutesticos para restriccedilatildeo de interpretaccedilotildees pelos autores dos

certificados gostariacuteamos de enfatizar que nas ocorrecircncias com quantificador universal com

condicional e com o ―apenas e ―somente os fabricantes utilizaram estes recursos em

grande parte dos certificados para se favorecerem ou seja para abranger as possibilidades de

invalidade da garantia do produto aumentando as situaccedilotildees em que a garantia eacute perdida e

diminuindo as situaccedilotildees em que a garantia eacute vaacutelida (principalmente nas listas exaustivas)

Sobre ocorrecircncias em que identificados termos vagos ou termos polissecircmicos

identificamos como o motivo principal do aparecimento dessas ocorrecircncias a falta de

definiccedilatildeo dos termos teacutecnicos Em muitos certificados identificamos que os autores utilizaram

termos teacutecnicos (a maioria deles provenientes do CDC) e natildeo apresentaram em nenhuma

parte do texto as definiccedilotildees para tais termos oportunizando que o leitor interprete de

diversas maneiras os termos ou expressotildees

Por fim pudemos perceber que os quantificadores os condicionais e termos como o

―apenas e o ―somente que satildeo responsaacuteveis por abranger ou restringir interpretaccedilotildees de

sentenccedilas satildeo proacuteprios do tipo de texto instrucional que abarca o gecircnero que escolhemos para

nossa pesquisa A utilizaccedilatildeo desses termos seguiu uma ordem de apresentaccedilatildeo similar nos

vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Os quantificadores universais

apareceram muitas vezes nas explicaccedilotildees em que os fabricantes apresentavam prazos deveres

e direitos do fabricante e cliente os condicionais apareceram na maioria das vezes

precedendo as listas exaustivas e o ―apenas e ―somente apareceram em grande parte nos

trechos em que os fabricantes apresentavam delimitaccedilotildees territoriais para cobertura da

91

garantia e explicaccedilotildees sobre as situaccedilotildees em que a garantia eacute invalidada e as situaccedilotildees em que

a garantia se assegura

Assim como justificamos no iniacutecio das consideraccedilotildees sobre os resultados obtidos em

nossa anaacutelise natildeo encontramos ocorrecircncias com trecircs dos quatro nexos semacircnticos

apresentados no segundo capiacutetulo O fato de natildeo termos identificado ocorrecircncias com

equivalecircncias semacircnticas contrariedades e contraditoriedades traacutes a tona uma interessante

caracteriacutestica do gecircnero certificado de garantia que eacute a constante presenccedila de acarretamentos

na redaccedilatildeo do texto mesmo que apresentados indiretamente diferente dos exemplos que

utilizamos para ilustrar os conceitos nos diversos textos sobre o assunto e a natildeo utilizaccedilatildeo de

equivalecircncias sentenccedilas contraacuterias e contraditoacuterias na redaccedilatildeo do texto

Atraveacutes dessa pesquisa em que tratamos sobre os nexos semacircnticos a polissemia a

vagueza e alguns outros tipos de relaccedilotildees semacircnticas desejamos que outros pesquisadores se

interessem por este tipo de trabalho e busquem explorar nas anaacutelises linguiacutesticas outros

gecircneros textuais pouco explorados como o que utilizamos no presente trabalho Apresentar

uma teoria que eacute tipicamente de linguagens controladas como a dos nexos semacircnticos (que

satildeo como jaacute discutimos dependentes unicamente da forma das sentenccedilas) e analisar como

essas estrateacutegias linguiacutesticas se comportam dentro de textos instrucionais (que ainda satildeo

pouco explorados nas anaacutelises semacircnticas) satildeo a nosso ver interessantes caminhos a serem

desbravados nos estudos da semacircntica assim como as suas aplicaccedilotildees nos diversos gecircneros

textuais que nos rodeiam

92

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95

ANEXOS

Certificado 1

96

Certificado 2

97

Certificado 3

98

Certificado 4

99

Certificado 5

100

Certificado 6

101

Certificado 7

102

Certificado 8

103

Certificado 9

104

105

Certificado 10

106

Certificado 11

107

Certificado 12

108

109

Certificado 13

110

Certificado 14

111

112

Certificado 15

113

114

Certificado 16

115

116

117

118

119

120

121

Certificado 17

122

Certificado 18

123

Certificado 19

124

125

Certificado 20

126

Certificado 21

127

Certificado 22

KEcircNIO ANGELO DANTAS FREITAS ESTRELA

NEXOS SEMAcircNTICOS EM CERTIFICADOS DE GARANTIA

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de

Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica da

Universidade Federal da Paraiacuteba como

requisito parcial para obtenccedilatildeo do grau de

Mestre em Linguiacutestica

Aacuterea de Concentraccedilatildeo Teoria e Anaacutelise

Linguiacutestica

Linha de Pesquisa Linguagem Sentido e

Cogniccedilatildeo

Orientadora Profordf Dra Maria Leonor Maia

dos Santos

JOAtildeO PESSOA

FEVEREIRO2015

KEcircNIO ANGELO DANTAS FREITAS ESTRELA

NEXOS SEMAcircNTICOS EM CERTIFICADOS DE GARANTIA

Dissertaccedilatildeo submetida ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica da Universidade

Federal da Paraiacuteba em cumprimento agraves exigecircncias para obtenccedilatildeo do grau de Mestre em

Linguiacutestica Aacuterea de concentraccedilatildeo Teoria e Anaacutelise Linguiacutestica

Aprovada em ________

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________

Profa Dra Maria Leonor Maia dos Santos

Universidade Federal da Paraiacuteba - UFPB

(Orientadora)

____________________________________________

Profa Dra Mocircnica Mano Trindade Ferraz

Universidade Federal da Paraiacuteba ndash UFPB

(Examinadora)

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Prof Dr Giovanni da Silva de Queiroz

Universidade Federal da Paraiacuteba - UFPB

(Examinador)

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo primeiramente ao nosso Deus Todo Poderoso Mestre supremo de nossas

vidas e aos seus anjos de luz espiacuteritos elevados missionaacuterios da luz pela oportunidade de

realizar esta pesquisa por toda a inspiraccedilatildeo e pela sauacutede que natildeo me faltou em nenhum

momento desses 24 meses de estudos

Agrave minha orientadora Dra Maria Leonor Maia dos Santos por ter acreditado em meu

potencial e ter aceitado me auxiliar na elaboraccedilatildeo desta pesquisa A sua generosidade

comprometimento e sabedoria serviratildeo para mim como exemplo de profissionalismo

acadecircmico a ser seguido O peso do desafio de realizar essa pesquisa certamente foi muito

menor por ter uma mentora tatildeo precisa quanto ela

Ao prof Dr Giovanni da Silva de Queiroz por ter aceitado participar da banca de

avaliaccedilatildeo desta pesquisa o que eacute representa uma grande honra para mim Desde o iniacutecio do

ano de 2011 momento em que participei de um mini-curso sobre Loacutegica Claacutessica na UEPB

ministrado por ele muito tenho aprendido com suas indicaccedilotildees de bibliografias e orientaccedilotildees

sempre muito pertinentes

Agrave profa Dra Mocircnica Mano Trindade Ferraz pela generosidade apreccedilo e humanidade

para comigo ao me acolher em seu grupo de pesquisa junto aos seus orientandos

oportunizando que eu a cada encontro do grupo aprendesse um pouco mais sobre as diversas

semacircnticas Tambeacutem agradeccedilo pela honra de tecirc-la como integrante da banca de avaliaccedilatildeo

desta pesquisa e pelas saacutebias orientaccedilotildees ao longo destes dois anos de estudos no PROLING

Aos meus pais Geraldo e Silvacircnia Estrela por todo amor confianccedila e suporte

oferecidos a mim desde o princiacutepio desta minha vida Espero poder um dia retribuir ao menos

uma parcela de tudo o que eles fizeram e fazem por mim

Agrave minha irmatilde Karla Estrela pelo exemplo de determinaccedilatildeo e disciplina

Agrave minha noiva Maria Eduarda por toda dedicaccedilatildeo carinho amor companheirismo e

principalmente paciecircncia comigo vinte e quatro horas por dia sete dias na semana Eu

certamente natildeo conseguiria concluir com tanta serenidade esta pesquisa caso ela natildeo estivesse

ao meu lado

Agrave minha amiga Angeacutelica Vilar que me apresentou o PROLING e me deu todo o

suporte para que eu realizasse o processo de seleccedilatildeo de mestrado Haacute quem natildeo acredite em

anjos mas tenho a convicccedilatildeo de que pessoas desse calibre natildeo merecem um tiacutetulo menos

divino

Aos amigos Joseacute Wellisten e Alessandra Miranda pela disponibilidade e atenccedilatildeo para

lerem meu trabalho e fazerem criacuteticas construtivas

Ao amigo Thiago Magno que me ajudou em um dos momentos mais delicados no

periacuteodo poacutes-defesa Dedico minha amizade e minha eterna gratidatildeo por tudo

Agrave CAPES pelo apoio financeiro oferecido para essa pesquisa pelo periacuteodo de 17

meses

εἰδέναι δὲ χπὴ τὸν πόλεμον ἐόντα

ξυνόν καὶ δίκην ἔπιν καὶ γινόμενα

πάντα κατ ἔπιν καὶ χπεών

(Heraacuteclito frag 80)

RESUMO

O estudo das relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas eacute um campo bastante discutido e

pesquisado nos estudos linguiacutesticos A observaccedilatildeo de como se comportam os termos na

construccedilatildeo de significados em textos de diversos gecircneros e seus efeitos de interpretaccedilatildeo

tambeacutem satildeo temas muito difundidos entre as pesquisas das semacircnticas Nesta produccedilatildeo

discutiremos sobre as relaccedilotildees de significado e seus efeitos de sentido em um gecircnero

especiacutefico As relaccedilotildees que investigaremos satildeo os nexos semacircnticos ou nexos de significado

como proposto por Chierchia (2003) que satildeo respectivamente acarretamento equivalecircncia

semacircntica contraditoriedade e contrariedade O gecircnero que escolhemos para nossa anaacutelise eacute o

certificado de garantia e a escolha de tal gecircnero se deu pelo fato deste fazer parte do grupo de

textos injuntivos ou instrucionais que a nosso ver possui caracteriacutesticas que favorecem a

amostragem dos nexos semacircnticos Iremos analisar como os nexos semacircnticos satildeo utilizados

para restringir ou abranger as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos certificados de garantia O

corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de garantia de

produtos de diversos segmentos e decidimos escolher certificados de produtos de linhas

diversas para constituirmos um panorama sobre o gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes

da internet sem utilizar nenhuma metodologia especiacutefica apenas atentamos para buscar

certificados de produtos variados Buscamos nessa pesquisa instigar a reflexatildeo sobre as

relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e a observaccedilatildeo destas nos textos instrucionais que

lidamos no dia-a-dia e que por muitas vezes deixamos passar despercebido o seu conteuacutedo

O entendimento sobre os nexos de significado pode nos oferecer ferramentas para melhor

leitura de textos desse tipo

Palavras chave Nexos semacircnticos Certificado de garantia Semacircntica

ABSTRACT

The study of the meaning of relations between sentences is a much discussed and researched

field in linguistic studies The observation of how the terms behave in the construction of

meanings in texts of different genres and their interpretation effects are also widespread

themes among semantic research In this work we will discuss about the meaning of the

relations of meaning and their sense of purpose in a specific genre The relations that we will

investigate are semantic nexus or semantic links as proposed by Chierchia (2003) which are

respectively entailment semantic equivalence contradictoriness and contrariness The genre

we chose for our analysis is the warranty certificate and the choice of this genre was made

because it is part of the injunctive or instructional texts group that in our opinion has

characteristics that favor the sampling of semantic nexus We will analyze how the semantic

nexus are used to restrict or cover the possibilities of interpretation in the warranty

certificates The corpus of this research has 22 (twenty two) copies of warranty certificates

from different segments and we decided to choose certificates from separate lines to

constitute an overview of the genre The collection of the texts took place through the

internet without using any particular methodology of choice only we pay attention to seek

warranty certificates of diverse products We seek in this research instigate reflection on the

meaning relations between sentences and observance of these in instructional texts that we

have contact in daily life and that for many times let go unnoticed its contents The

understanding of the semantic nexus can offer us tools to better read texts of this type

Keywords Semantic nexus Warranty certificate Semantics

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 13

1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA 16

11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS 16 12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL 26

2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS 32

21 ACARRETAMENTO 35 22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA 42 23 CONTRADITORIEDADE 45 24 CONTRARIEDADE 48 25 JUSTIFICANDO O PERCURSO 51

3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA 53

31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL 55 32 USO DO CONDICIONAL 64 33 USO DO APENASSOMENTE 68 34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS 83

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 88

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 92

ANEXOS 95

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa 14

QUADRO 2 - Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia 83

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

ILUSTRACcedilAtildeO 1 - Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 27

ILUSTRACcedilAtildeO 2 - Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28

ILUSTRACcedilAtildeO 3 - Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28

ILUSTRACcedilAtildeO 4 - Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28

ILUSTRACcedilAtildeO 5 - Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 29

13

INTRODUCcedilAtildeO

A abordagem das relaccedilotildees de significado eacute algo bastante presente e discutido nos

estudos semacircnticos Observar como se comportam os termos na construccedilatildeo da significaccedilatildeo

em textos de diversos gecircneros distintos e seus efeitos interpretativos tambeacutem satildeo temas de

diversas produccedilotildees na aacuterea de linguiacutestica

Neste trabalho iremos discutir as relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e os efeitos

interpretativos dessas relaccedilotildees em textos Mais especificamente abordaremos os nexos

semacircnticos ou nexos de significado (Chierchia 2003) acarretamento equivalecircncia semacircntica

contrariedade (os quais podemos encontrar no referido trabalho de Chierchia) e

contraditoriedade (nexo semacircntico que geralmente eacute relacionado com a contrariedade e que

foi tratado por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado atraveacutes de seu quadrado loacutegico

ou taacutebua de oposiccedilotildees em seu texto Perieacutermeneas (1985) mais especificamente nos

capiacutetulos 6 e 7 sobre o qual faremos menccedilatildeo na seccedilatildeo sobre este nexo)

Este trabalho tem por objetivo observar alguns dos recursos linguiacutesticos utilizados

para favorecer a existecircncia de nexos semacircnticos e com isso restringir ou ampliar

possibilidades de interpretaccedilatildeo em um gecircnero textual especiacutefico Por este motivo o gecircnero

que escolhemos analisar foi o certificado de garantia ou termo de garantia que pertence agrave

categoria dos textos instrucionais (ou injuntivos) e a nosso ver possui caracteriacutesticas que

favorecem a amostragem das ocorrecircncias dos nexos

O gecircnero certificado de garantia possui como uma de suas caracteriacutesticas a

apresentaccedilatildeo organizada dos direitos e deveres do cliente e do fabricante com relaccedilatildeo a um

produto servindo tambeacutem para informar ao cliente os seus direitos referentes agrave validade

prazos e extensatildeo de cobertura da garantia Supotildee-se entatildeo que o texto deve por isso ser

objetivo e livre de ambiguidades e incoerecircncias

Nossa hipoacutetese eacute a de que recursos linguiacutesticos que favoreccedilam a existecircncia de nexos

semacircnticos nos textos dos certificados ndash como o emprego por exemplo de conectivos e

quantificadores (Chierchia 2003 PIRES DE OLIVEIRA 2001) ndash estatildeo presentes em textos

deste gecircnero e contribuem para que os textos alcancem o objetivo de informar ao cliente e ao

fabricante seus deveres e direitos

O corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de

garantia de produtos diversos para constituir um panorama ainda que reduzido de instacircncias

do gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes da internet sem utilizar nenhuma metodologia

14

especiacutefica de escolha atentando para buscar certificados de produtos variados Os textos

escolhidos para a anaacutelise de nosso trabalho incluem diversos produtos manufaturados como

moacuteveis veiacuteculos eletroeletrocircnicos entre outros equipamentos domeacutesticos como ilustrado no

quadro a seguir

Nordm Tipo de objeto Fabricante

1 Refrigerador Samsung

2 TV led Sony

3 Condicionador de ar LG

4 Tablet AOC

5 AudioMixer Oneal

6 Garantia para todos os produtos Elgin

7 Estabilizador de energia APC

8 Aquecedor de aacutegua Bosch

9 Fogatildeo Brastemp

10 Maacutequina de lavar Electrolux

11 Ventilador Cadence

12 GPS Positron

13 Umidificador de ar Springer

14 Certificado internacional de garantia Philips

15 Colchatildeo Ortobom

16 Caminhotildees Mercedes-Benz

17 Carro de passeio Hyundai

18 Moacuteveis Bartzen

19 Aquecedor de ar Fujitsu

20 Tv AOC

21 Aquecedor de aacutegua para piscina Rheem

22 Bicicleta Total Health

Quadro 1 ndash Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa Fonte elaborado pelo autor

Como nosso propoacutesito eacute analisar os textos observando as ocorrecircncias de termos que

restringem e abrangem interpretaccedilotildees natildeo temos a intenccedilatildeo de analisar se um fabricante

elaborou um texto melhor que outro

No primeiro capiacutetulo apresentamos num primeiro momento o que satildeo gecircneros

textuais e em seguida caracterizamos o certificado de garantia como um gecircnero textual Para

tanto utilizamos o aporte teoacuterico baseado na obra de Mikhail Bakhtin (2000) linguista do

iniacutecio do seacuteculo referecircncia nos estudos de gecircneros textuais e de Luiz Antocircnio Marcuschi

(2002 2005 2008) linguista contemporacircneo que desenvolveu importantes trabalhos nessa

disciplina Vale salientar que como o foco de nossa pesquisa natildeo eacute a discussatildeo de gecircneros

textuais o capiacutetulo que construiacutemos trata de conceitos gerais sobre gecircneros tendo como

15

objetivo observar que o certificado de garantia eacute um gecircnero textual e mostrando como se

estrutura em linhas gerais um texto deste gecircnero

No segundo capiacutetulo trataremos dos nexos semacircnticos dos quais consideraremos

para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e

contrariedade Atraveacutes de exemplos discutimos brevemente cada um deles mostrando

exemplos que funcionam e tambeacutem exemplos problemaacuteticos em relaccedilatildeo ao leacutexico

especialmente em casos de polissemia para que entatildeo seja possiacutevel a anaacutelise do capiacutetulo

seguinte

No terceiro capiacutetulo traremos a anaacutelise do corpus que se apresentaraacute organizado por

ocorrecircncias distribuiacutedas em tipos a saber uso do quantificador universal uso do condicional

e uso do apenassomente Apoacutes o exame das trecircs categorias citadas trataremos entatildeo das

relaccedilotildees entre o emprego dos recursos e a funccedilatildeo dos certficados Procuraremos tambeacutem

refletir se os recursos satildeo mais utilizados para favorecer o cliente ou mais utilizados para

favorecer o fabricante

Por uacuteltimo mostraremos as consideraccedilotildees finais do trabalho e em seguida as

referecircncias bibliograacuteficas utilizadas na elaboraccedilatildeo de nosso texto

16

1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA

Neste capiacutetulo tratamos dos gecircneros textuais e da caracterizaccedilatildeo dos certificados de

garantia como um gecircnero textual Em um primeiro momento traremos a perspectiva sobre

gecircneros textuais de Mikhail Bakhtin precursor dos estudos de gecircneros textuais na linguiacutestica

e em seguida apresentaremos a perspectiva de Luiz Antocircnio Marcuschi linguista brasileiro

que tambeacutem trabalha com o tema e compartilha em grande parte da perspectiva de Bakhtin

sobre o os gecircneros Eacute importante ressaltar que este capiacutetulo natildeo tem por objetivo o

aprofundamento nos estudos dos gecircneros e serve como um instrumento para contextualizar o

corpus desta pesquisa

11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS

Considerando a perspectiva apresentada por Mikhail Bakhtin na obra Esteacutetica da

criaccedilatildeo verbal (2000) o ato de se comunicar eacute indispensaacutevel para as relaccedilotildees humanas Aleacutem

disso ressaltamos que eacute por tal razatildeo que nas diversas situaccedilotildees de interaccedilatildeo que

vivenciamos em nosso cotidiano observamos a utilizaccedilatildeo da liacutengua em suas modalidades

oral eou escrita como instrumento principal de nossas trocas comunicativas

Eacute notoacuterio que a quantidade de atividades eacute enorme assim como satildeo os diferentes tipos

de situaccedilotildees em que a liacutengua eacute empregada Atraveacutes da formulaccedilatildeo de enunciados podemos

caracterizar quais as funccedilotildees dos discursos que escolhemos para os diversos tipos de

interaccedilatildeo

Nesse sentido eacute possiacutevel afirmarmos que todas as nossas construccedilotildees linguiacutesticas

organizam-se em gecircneros discursivos por meio dos quais conseguimos nos comunicar e

interagir socialmente

Em conformidade com a proposta de Bakhtin todo gecircnero discursivo se constitui a

partir das seguintes dimensotildees o conteuacutedo temaacutetico o estilo e a construccedilatildeo composicional

Esta descriccedilatildeo eacute claacutessica como ponto de partida para a descriccedilatildeo dos gecircneros textuais e nos

ofereceraacute a possibilidade de tanto descrever o que eacute um gecircnero textual quanto caracterizar

um texto como gecircnero que seraacute o nosso objetivo na segunda parte deste capiacutetulo

O conteuacutedo temaacutetico se refere ao tipo de assunto veiculado no texto Por tal razatildeo

Bakhtin (2000) afirma que o gecircnero eacute escolhido a partir do que o locutor decide falar Assim

17

eacute faacutecil compreender por que cada atividade comunicativa necessita de um tipo especiacutefico de

textodiscurso Por exemplo natildeo se responde (normalmente) uma carta informal com uma

bula de remeacutedio (a natildeo ser que na carta um texto desse gecircnero seja solicitado como

resposta) Nesse sentido percebe-se que para cada esfera de comunicaccedilatildeo o locutor e

interlocutor utilizam uma mesma forma de expressatildeo tendo em vista o assunto que

escolheram tratar Caso contraacuterio se locutor e interlocutor agregam formas distintas de

expressatildeo pode ser que a comunicaccedilatildeo natildeo seja efetivada com sucesso visto que eacute possiacutevel

natildeo haver o entendimento das partes uma vez que cada gecircnero abarca certo campo de uso

mesmo estando em constante desenvolvimento

O estilo se refere aos recursos linguiacutesticos desde gramaticais ateacute lexicais e eles

variam de acordo com o gecircnero Essa dimensatildeo abarca a seleccedilatildeo frasal lexical gramatical e

as formas de apresentar o discurso que satildeo inerentes ao gecircnero escolhido Bakhtin (2000)

afirma que o estilo eacute a primeira vista individual do gecircnero e ela reflete (ou natildeo) a

individualidade de quem escreve ou fala Isso porque dependendo do gecircnero o estilo

individual aparece com mais clareza Da mesma forma haacute gecircneros que natildeo possuem essa

caracteriacutestica a exemplo dos textos injuntivos sobre os quais trataremos mais agrave frente Ainda

a respeito do estilo Bakhtin assegura que

Quando escolhemos as palavras no processo de construccedilatildeo de um enunciado nem

de longe as tomamos sempre do sistema da liacutengua em sua forma neutra

lexicograacutefica Costumamos tiraacute-las de outros enunciados e antes de tudo de

enunciados congecircneres com o nosso isto eacute pelo tema pela composiccedilatildeo pelo estilo

consequentemente selecionamos as palavras segundo a sua especificaccedilatildeo de

gecircnero O gecircnero do discurso natildeo eacute uma forma da liacutengua mas uma forma tiacutepica do

enunciado como tal forma o gecircnero inclui certa expressatildeo tiacutepica a ele inerente

(BAKHTIN 2010 [1992] p 292 grifos do autor)

Nessa perspectiva podemos afirmar que tal criteacuterio se refere agraves propriedades das

unidades de linguagem e relaciona-se agrave posiccedilatildeo enunciativa do locutor agraves sequecircncias textuais

e aos tipos discursivos que estruturam o texto

Por fim Bakhtin (2000) afirma que cada gecircnero possui uma forma padratildeo que eacute a

estrutura composicional Eacute atraveacutes dessa forma que podemos identificar qual gecircnero estaacute

sendo empregado pois essa dimensatildeo se refere aos procedimentos utilizados na formulaccedilatildeo

dos textos com a estrutura e demais aspectos formais incluindo as partes envolvidas no

discurso Em suma para Bakhtin (2000)

18

Estes trecircs elementos (conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo composicional)

fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado e todos eles satildeo marcados pela

especificidade de uma esfera de comunicaccedilatildeo Qualquer enunciado considerado

isoladamente eacute claro individual mas cada esfera de utilizaccedilatildeo da liacutengua elabora

seus tipos relativamente estaacuteveis de enunciados sendo isso que denominamos

gecircneros do discurso (BAKHTIN 2000 p 279 Grifos do autor)

Ainda a respeito dos gecircneros do discurso conveacutem ressaltar que sua variedade eacute

proporcional agraves possibilidades de interaccedilotildees humanas pois as diversas esferas de interaccedilatildeo

satildeo compostas por classes de gecircneros que se desenvolvem tornando-se maiores e mais

complexas em consonacircncia com o desenvolvimento dessas esferas

Bakhtin (2000) utiliza o termo ―heterogeneidade para adjetivar os gecircneros do

discurso sejam eles orais ou escritos inferindo que estes incluem desde conversas informais

cartas relatos familiares ateacute produccedilotildees mais complexas como os documentos oficiais textos

cientiacuteficos e de escolas literaacuterias Natildeo haacute razatildeo para minimizar a extrema heterogeneidade

dos gecircneros do discurso e a consequente dificuldade quando se trata de definir o caraacuteter

geneacuterico do enunciadolsquo (BAKHTIN 2000 p 281) Dessa forma entendemos que a

variedade de gecircneros eacute muito grande se estendendo por exemplo dos romances mais

eruditos ateacute os bilhetes de recados do dia-a-dia e que tratar dos gecircneros admitindo suas

caracteriacutesticas estruturais particulares natildeo eacute uma tarefa faacutecil de realizar

Aleacutem de discorrer sobre as dimensotildees constitutivas de um gecircnero tendo em vista essa

heterogeneidade Bakhtin categoriza os gecircneros textuais em primaacuterios (simples) e

secundaacuterios (complexos) Assim os gecircneros primaacuterios satildeo aqueles referentes agraves reacuteplicas de

diaacutelogos cotidianos como cartas pessoais e demais gecircneros de comunicaccedilatildeo imediata Satildeo

chamados ―simples porque satildeo formados por discursos de baixa complexidade Jaacute os

gecircneros secundaacuterios satildeo aqueles referentes a romances textos cientiacuteficos sociopoliacuteticos e

afins Satildeo textos (escritos ou produzidos para serem encenados como os teatrais ndash exemplo

usado pelo proacuteprio Bakhtin) com maior carga de complexidade de produccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo

Surgem a partir de interaccedilotildees mais aprofundadas nas comunidades com maior grau de

imersatildeo em relaccedilatildeo aos padrotildees culturais e sociais

Ele ainda ressalta que os gecircneros secundaacuterios tambeacutem podem conter gecircneros

primaacuterios ―o romance em seu todo eacute um enunciado da mesma forma que a reacuteplica do

diaacutelogo cotidiano ou a carta pessoal (satildeo fenocircmenos da mesma natureza) o que diferencia o

romance eacute ser um enunciado secundaacuterio (complexo) (BAKHTIN 2000 p 281) Ao

discorrer sobre essa questatildeo o autor assevera que eacute de grande importacircncia teoacuterica a

19

diferenciaccedilatildeo entre esses tipos de gecircneros pois com isso e a partir disso podemos fazer

anaacutelises precisas dos enunciados que podem contrapor dois ou mais tipos de textos

Ignorar as caracteriacutesticas intriacutensecas a cada gecircnero a ―natureza dos enunciados - que

segundo Bakhtin eacute indispensaacutevel para qualquer estudo ndash eacute partir para a abstraccedilatildeo da liacutengua

desvalorizando o conteuacutedo histoacuterico imerso em cada tipo de gecircnero Eacute importante considerar

a relaccedilatildeo existente entre ―a liacutengua e a vida e natildeo restringir os enunciados a categorias

formais Haacute portanto uma relaccedilatildeo de complementaccedilatildeo entre a liacutengua a vida e os enunciados

pois ―a liacutengua penetra na vida atraveacutes dos enunciados concretos que a realizam e eacute tambeacutem

atraveacutes dos enunciados concretos que a vida penetra na liacutengua (BAKHTIN 2000 p 282)

Bakhtin (2000) tambeacutem se refere a questotildees da ―totalidade do enunciado que ele

define como aquilo que oportuniza a resposta em um discurso Bakhtin afirma que essa accedilatildeo

eacute definida por trecircs fatores diretamente associados ao ―todo orgacircnico do enunciado

primeiramente o tratamento exaustivo do objeto de sentido depois o querer-dizer do locutor

e por fim as formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do acabamento

O tratamento exaustivo do objeto de sentido ―varia profundamente conforme as

esferas da comunicaccedilatildeo verbal Em algumas esferas ele pode ser quase total como por

exemplo na vida praacutetica na vida profissional na vida militar basicamente em esferas que

natildeo possuem caracteriacutesticas de mutabilidade de discurso e pouca ―criatividade nas

formulaccedilotildees entre outras palavras onde os gecircneros do discurso satildeo padronizados Jaacute nas

esferas em que os gecircneros satildeo ―criativos o tratamento exaustivo eacute muito menos abrangente

como no caso das ciecircncias em particular onde Bakhtin infere que o tratamento exaustivo

―oferece exatamente um miacutenimo de acabamento capaz de suscitar uma atitude responsiva

(BAKHTIN 2000 p 300)

O querer-dizer do locutor estaacute ligado ao primeiro fator O filoacutesofo afirma que em todo

enunciado desde uma reacuteplica cotidiana ateacute complexas obras cientiacuteficas ou da literatura

compreendemos sentimos o ―intuito discursivo ou querer-dizer do locutor que eacute o que

determina o ―todo do enunciado sua amplitude suas fronteiras Noacutes identificamos o que o

locutor quer expressar e a partir dessa detecccedilatildeo medimos e definimos como se daraacute o

enunciado Isso eacute determinante para a escolha do objeto com seus limites e o tratamento

exaustivo do objeto adequado a este aleacutem de ser essencial para a escolha da forma do gecircnero

onde seraacute edificado

As formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do gecircnero do acabamento representam o fator mais

importante para Bakhtin que as descreve como ―formas estaacuteveis do gecircnero do enunciado

(BAKHTIN 2000 p 301)

20

As formas do gecircnero agraves quais modelamos nossa fala se distinguem

substancialmente das formas da liacutengua do ponto de vista de sua estabilidade e de

suas leis normativas para o locutor De um modo geral elas satildeo mais maleaacuteveis

mais plaacutesticas e mais livres do que as formas da liacutengua (BAKHTIN 2000 p 302)

Concluindo a discussatildeo sobre gecircneros a partir dos conceitos gerais propostos por

Bakhtin passamos agora para a discussatildeo sobre gecircneros realizada por Marcuschi (2008) Eacute

possiacutevel perceber ao longo da explanaccedilatildeo que este autor se identifica com a teoria

bakhtiniana de gecircneros textuais e foi essa identificaccedilatildeo uma das motivaccedilotildees que nos levou a

escolhecirc-los para a composiccedilatildeo deste capiacutetulo

De acordo com Marcuschi (2008 p 154) toda comunicaccedilatildeo soacute pode ser efetivada

por meio de um gecircnero pois ―eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum gecircnero

assim como eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum texto Partindo dessa

premissa podemos entender que qualquer manifestaccedilatildeo verbal se daacute dentro dos limites dos

gecircneros Eacute por esse motivo que a variedade de gecircneros eacute extensa mas natildeo infinita Atraveacutes

desse conceito observamos que Marcuschi compactua com o conceito bakhtiniano de que os

gecircneros possuem formas padronizadas e finitas

Os gecircneros textuais satildeo os textos que encontramos em nossa vida diaacuteria e que

apresentam padrotildees sociocomunicativos caracteriacutesticos definidos por composiccedilotildees

funcionais objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integraccedilatildeo

de forccedilas histoacutericas sociais institucionais e teacutecnicas (Marcuschi 2008 p 155)

Natildeo devemos considerar os gecircneros textuais como modelos imutaacuteveis e de ―estrutura

riacutegidas A apresentaccedilatildeo dos gecircneros se mostra ligada diretamente ao meio em que circulam

Satildeo formas culturais que tomam forma na liacutengua e que evoluem junto com ela Obviamente

que natildeo podemos deixar de considerar que os gecircneros possuem identidade e eacute atraveacutes dessa

identidade que escolhemos um tipo especiacutefico para cada esfera discursiva Dessa forma

admitimos que os gecircneros limitam nossa accedilatildeo na escrita

Em relaccedilatildeo agrave distinccedilatildeo entre gecircneros Marcuschi (2008) natildeo os distingue pelas formas

linguiacutesticas mas sim pelos seus campos de accedilatildeo Nesse sentido ele reafirma a perspectiva

bakhtiniana de que os gecircneros satildeo dinacircmicos e que por serem soacutecio-histoacutericos natildeo podem

ser contados de modo exaustivo o que dificulta sua classificaccedilatildeo Marcuschi (2008) afirma

que atualmente o objetivo maior nos estudos sobre gecircneros textuais eacute procurar identificar e

explicar como eles satildeo constituiacutedos e como circulam na sociedade

21

Eacute importante apresentar alguns conceitos referentes ao que estamos discutindo sobre

gecircneros do discurso dentre os quais destacamos os conceitos de tipo textual gecircnero textual e

domiacutenio discursivo segundo Marcuschi (2008) levando em consideraccedilatildeo a possibilidade de

se obter melhor entendimento no trato com o texto em si e seus fenocircmenos

O tipo textual eacute definido pelos aspectos linguiacutesticos ou seja por marcas lexicais

tempos verbais estilo relaccedilotildees loacutegicas e aspectos sintaacuteticos Logo relaciona-se mais agraves

sequecircncias linguiacutesticas do que a materializaccedilotildees textuais fazendo com que o conjunto

tipoloacutegico de textos seja limitado e natildeo apresente tendecircncias de aumentar Marcuschi (2002

p22) afirma que os tipos textuais compreendem categorias amplamente conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo exposiccedilatildeo descriccedilatildeo e injunccedilatildeo que observaremos separadamente a

seguir

A narraccedilatildeo relata um fato que pode ser real ou imaginaacuterio em um tempo e lugar

definidos envolvendo personagens Nesse tipo de texto o tempo verbal predominante eacute o

passado ao menos nos exemplos mais tiacutepicos Eacute predominante em crocircnicas piadas

romances poemas faacutebulas entre outros Vejamos o exemplo a seguir

O cavalo e o burro

O cavalo e o burro seguiam juntos para a cidade O cavalo contente da vida

folgando com uma carga de quatro arrobas apenas e o burro mdash coitado gemendo

sob o peso de oito Em certo ponto o burro parou e disse

ndash Natildeo posso mais Esta carga excede agraves minhas forccedilas e o remeacutedio eacute repartirmos o

peso irmatildemente seis arrobas para cada um

O cavalo deu um pinote e relichou uma gargalhada

ndash Ingecircnuo Quer entatildeo que eu arque com seis arrobas quando posso tatildeo bem

continuar com as quatro Tenho cara de tolo

O burro gemeu

ndash Egoiacutesta Lembre-se que se eu morrer vocecirc teraacute que seguir com a carga de quatro

arrobas e mais a minha

O cavalo pilheriou de novo e a coisa ficou por isso Logo adiante poreacutem o burro

tropica vem ao chatildeo e rebenta

Chegam os tropeiros maldizem a sorte e sem demora arrumam com as oito arrobas

do burro sobre as quatro do cavalo egoiacutesta E como o cavalo refuga datildeo-lhe de

chicote em cima sem doacute nem piedade

ndash Bem feito exclamou o papagaio Quem mandou ser mais burro que o pobre burro

e natildeo compreender que o verdadeiro egoiacutesmo era aliviaacute-lo da carga em excesso

Tome Gema dobrado agorahellip

(LOBATO M 2010 p 85)

Acima podemos observar um exemplo de narraccedilatildeo que eacute uma das faacutebulas de

Monteiro Lobato escrita em grande parte em discurso direto Podemos observar na faacutebula

que o texto eacute conduzido pelo narrador intercalado pela interaccedilatildeo dos personagens A seguir

22

continuaremos a descriccedilatildeo dos tipos textuais e exemplos com o conceito do tipo textual

argumentativo

Jaacute a argumentaccedilatildeo tem por principal caracteriacutestica a construccedilatildeo do convencimento

acerca da validade ou invalidade de um ponto de vista por sobre outro Nesse tipo de texto haacute

a reflexatildeo sobre temas especiacuteficos confrontando perspectivas distintas predominante em

gecircneros como debates resenhas editoriais artigos de opiniatildeo e afins Vejamos o exemplo a

seguir

O povo brasileiro estaacute cansado de tanta corrupccedilatildeo desigualdade de renda serviccedilos

puacuteblicos precaacuterios sensaccedilatildeo de inseguranccedila nas ruas elevada carga tributaacuteria

ineficiecircncia nos gastos puacuteblicos e elevaccedilatildeo da inflaccedilatildeo aleacutem do estilo autoritaacuterio e

inflexiacutevel da presidente O estranho eacute pensar sobre as razotildees que levaram a

populaccedilatildeo agraves ruas no momento atual em que a economia apresentou uma

significativa evoluccedilatildeo em relaccedilatildeo aos anos 80 e 90 aleacutem de presenciar sensiacutevel

melhora na renda meacutedia e na sua distribuiccedilatildeo nos anos 2000

A minha impressatildeo eacute de que depois de sentir a possibilidade de que o paiacutes entraria

em uma rota segura de crescimento da renda e de desenvolvimento econocircmico

(semelhante agrave sensaccedilatildeo que a populaccedilatildeo brasileira presenciou nos anos 70) o

enfraquecimento econocircmico e os sinais cada vez mais claros de que ele eacute resultante

de problemas internos deixaram a populaccedilatildeo transtornada Mais uma vez somos

apenas o paiacutes do futuro (NAKABASHI 2013 Acesso

httpwwwgazetadopovocombropiniaoartigosmanifestacoes-e-governo-no-

brasil-bdcjgu3mm6ql5e18tqoj73c5q)

Observamos acima uma parte de um artigo de opiniatildeo publicado no jornal Gazeta do

Povo em 02072013 por Luciano Nakabashi que trata das manifestaccedilotildees e do governo no

Brasil O autor anuncia primeiro o problema que vai discutir e em seguida lanccedila sua opiniatildeo

sobre o tema o que faz com que esse tipo de texto seja distinto da exposiccedilatildeo que

abordaremos a seguir

A exposiccedilatildeo apresenta informaccedilotildees sobre acontecimentos materiais e objetos de

forma detalhada e especiacutefica e por isso costuma lanccedilar matildeo de recursos como a descriccedilatildeo

informaccedilatildeo enumeraccedilatildeo comparaccedilatildeo e contrastes O tipo expositivo eacute caracteriacutestico de

gecircneros como as aulas expositivas verbetes de dicionaacuterios notiacutecias jornaliacutesticas entre

outros Vejamos o exemplo

Dianoia Termo grego que pode ser traduzido por pensamento intelecto

espiacuterito A dianoia eacute o pensamento discursivo enquanto elaboraccedilatildeo explicitaccedilatildeo

ou desenvolvimento da noese ou nous isto eacute da razatildeo intuitiva que capta de

modo imediato o real (Aristoacuteteles Tratado da alma III) Neste sentido a dianoia eacute

inferior ao nous jaacute que depende deste (MARCONDES e JAPIASSUacute 2001 p54)

23

Tomamos como exemplo de exposiccedilatildeo um verbete de um dicionaacuterio de filosofia

Podemos observar que os autores apresentam a palavra ―dianoia e em seguida conceituam a

dianoia a partir da perspectiva de um filoacutesofo especiacutefico (neste caso Aristoacuteteles)

O tipo textual descriccedilatildeo por sua vez eacute o relato particular de eventos e entidades e se

relaciona comumente com outros tipos em inuacutemeros gecircneros textuais Eacute caracteriacutestico em

cartazes promocionais anuacutencio de classificados entre outros Vamos observar agora um

exemplo de descriccedilatildeo atraveacutes da anaacutelise de uma obra de arte de Salvador Dali de 1955

intitulada ―A uacuteltima ceia

―Sua cena estaacute contida num retacircngulo Uma imensa janela ao fundo representada

por um dodecaedro (figura geomeacutetrica de 12 lados que sua vez satildeo pentaacutegonos ou

seja possuem cinco acircngulos cada um) domina toda a composiccedilatildeo

Jesus Cristo e seus 12 apoacutestolos estatildeo reunidos numa sala moderna envidraccedilada

Ele ocupa o centro da mesa de pedra o centro da tela e o centro do pentaacutegono

frontal do dodecaedro Cristo estaacute de frente para o observador contudo seu corpo

transluacutecido permite ver o mar e um barco o que indica que ele natildeo mais eacute humano

mas divino A sensaccedilatildeo que temos eacute de que seu corpo emerge de dentro do mar

Diante de Cristo sobre a mesa estatildeo um copo com vinho e as duas bandas do patildeo

jaacute repartido o que nos permite concluir que Daliacute pintou o momento da Eucaristia A

presenccedila dos barcos no mar remete aos ―pescadores de homens

A mesa eacute formada por um bloco retangular Doze apoacutestolos debruccedilam-se sobre ela

sendo trecircs agrave esquerda de Cristo e trecircs agrave direita Nas suas extremidades estatildeo quatro

apoacutestolos sendo dois de cada lado De costa para o observador estatildeo mais dois

deles Todos estatildeo com as cabeccedilas baixas Um dos apoacutestolos diverge dos demais ao

usar uma toga amarela O pintor queria com certeza diferenciaacute-lo Portanto tanto

pode ser Pedro o fundador da Igreja ou Judas o traidor

No alto com a cabeccedila invisiacutevel e com parte do tronco visiacutevel e os braccedilos abertos

Deus Pai humanizado abraccedila toda a cena como se aguardasse a chegada do Filho

que se encontra entre os homens Ao fundo um mar tranquilo com rochas

espalhadas e um ceacuteu cheio de nuvens compotildeem o segundo plano da tela (Viacuterus da

arte amp cia ndash Site brasileiro especializado em arte e cultura Disponiacutevel em

httpvirusdaartenetdali-a-ultima-ceia)

Acima podemos observar a descriccedilatildeo de uma obra de arte do pintor catalatildeo Salvador

dali retirado de uma paacutegina sobre arte Como o nome do tipo textual sugere a descriccedilatildeo tem

por objetivo descrever fatos mas tambeacutem caracteriacutesticas para objetos paisagens e situaccedilotildees

diversas No exemplo que utilizamos para descriccedilatildeo observamos a descriccedilatildeo de uma obra de

arte por parte de um espectador demonstrando detalhes do que estaacute impresso na pintura

assim como uma interpretaccedilatildeo da cena

O uacuteltimo tipo textual que consideraremos aqui eacute o tipo injuntivo que tem por objetivo

instruir o leitor ou persuadi-lo a fazer algo ou adotar algum ponto de vista Tambeacutem tem

como caracteriacutestica a induccedilatildeo do interlocutor a proceder de uma ou outra forma Geralmente

24

eacute escrito no modo imperativo e eacute caracteriacutestico de gecircneros como a bula de remeacutedio os

manuais de instruccedilotildees receitas culinaacuterias e contratos Vale ressaltar que dentro dos textos

injuntivos podem-se encontrar outros tipos de texto como por exemplo descriccedilotildees de

objetos endereccedilos procedimentos etc Vejamos o exemplo a seguir

Bolo simples

Tempo de preparo 40 minutos

Rendimento 12 porccedilotildees

Ingredientes

2 xiacutecaras de accediluacutecar

3 xiacutecaras de farinha de trigo

4 colheres de margarina bem cheias

3 ovos

1 frac12 xiacutecara de leite aproximadamente

1 colher (sopa) de fermento bem cheia

Modo de preparo

1) Bata as claras em neve

2) Reserve

3) Bata bem as gemas com a margarina e o accediluacutecar

4) Acrescente o leite e a farinha aos poucos sem parar de bater

5) Por uacuteltimo agregue as claras em neve e o fermento

6) Coloque em forma grande de furo central untada e enfarinhada

7) Asse em forno meacutedio preacute-aquecido por aproximadamente 40 minutos

8) Quando espetar um palito e sair limpo estaraacute assado

(httpwwwtudogostosocombrreceita29124-bolo-simpleshtml Acesso em

20042014)

No exemplo uma receita culinaacuteria podemos observar que haacute descriccedilatildeo na primeira

parte (a lista de ingredientes) e na segunda parte (modo de preparo) que eacute a mais

nitidamente injuntiva encontramos instruccedilotildees de como proceder na execuccedilatildeo da receita

Aleacutem da classificaccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo dos tipos de texto eacute interessante observarmos

tambeacutem a definiccedilatildeo de gecircneros textuais e domiacutenio discursivo conforme Marcuschi (2008)

Os gecircneros textuais satildeo definidos como ―textos materializados em situaccedilotildees

comunicativas recorrentes (MARCUSCHI 2008 p155) que apresentam caracteriacutesticas

soacutecio-comunicativas marcadas pelos conteuacutedos e pelas propriedades referentes agraves funccedilotildees e

composiccedilatildeo Diferente dos tipos textuais que se restringem a cerca de meia duacutezia como

afirma Marcuschi (2008) ―os gecircneros satildeo inuacutemeros Tambeacutem haacute de ressaltar que satildeo

culturalmente e historicamente formados visto que evoluem no mesmo passo que as

comunidades

O domiacutenio discursivo por sua vez eacute a esfera de atividade humana em que os textos

circulam Ele natildeo eacute um texto em si mas proporciona o surgimento de discursos especiacuteficos

Para ilustrar podemos citar alguns domiacutenios como discurso religioso discurso juriacutedico etc

25

O domiacutenio eacute constituiacutedo por praacuteticas do discurso nas quais podemos identificar uma seacuterie de

gecircneros que possuem a mesma proposta discursiva como o tema e as praacuteticas institucionais

ou informais

As definiccedilotildees aqui trazidas de gecircnero tipo domiacutenio discursivo satildeo muito mais

operacionais do que formais e seguem de perto a posiccedilatildeo bakhtiniana Assim para a

noccedilatildeo de tipo textual predomina a identificaccedilatildeo de sequecircncias linguiacutesticas como

norteadora e para a noccedilatildeo de gecircnero textual predominamos criteacuterios de padrotildees

comunicativos accedilotildees propoacutesitos e inserccedilatildeo sociohistoacuterica No caso dos domiacutenios

discursivos natildeo lidamos propriamente com textos e sim com formaccedilotildees histoacutericas e

sociais que originam os discursos Eles ainda natildeo se acham bem definidos e

oferecem alguma resistecircncia mas seguramente sua definiccedilatildeo deveria ser na base de

criteacuterios etnograacuteficos antropoloacutegicos e socioloacutegicos e histoacutericos (MARCUSCHI

2008 p 158 Grifos do autor)

Nessa perspectiva faz-se necessaacuterio apresentarmos o papel dos gecircneros textuais como

controle social Como jaacute vimos anteriormente segundo Bakhtin (2000) toda atividade

discursiva humana se daacute atraveacutes de algum gecircnero e eacute tambeacutem por esse motivo que haacute uma

consideraacutevel pluralidade de gecircneros Marcuschi (2008) afirma que os gecircneros satildeo

―necessaacuterios para a interlocuccedilatildeo humana Assim para cada esfera de atividade humana

certos gecircneros especiacuteficos satildeo considerados mais ou menos adequados Na esfera

empresarial por exemplo temos que nos adequar agraves formalidades dos gecircneros de redaccedilatildeo

oficial como os ofiacutecios atas circulares e relatoacuterios Na academia apresentamos nossas

produccedilotildees atraveacutes de dissertaccedilotildees artigos cientiacuteficos teses e relatoacuterios de projetos No meio

publicitaacuterio encontramos as propagandas anuacutencios de diversos tipos Enfim satildeo inuacutemeras as

esferas de discurso domiacutenios discursivos e gecircneros textuais atrelados a estes

Marcuschi (2008) enfatiza que o controle social por gecircneros discursivos eacute

incontornaacutevel mas natildeo determinista De acordo com o autor noacutes temos liberdade para nos

expressarmos em qualquer esfera discursiva Poreacutem temos que admitir que a sociedade eacute

constituiacuteda por uma ―maacutequina discursiva logo somos moldados a ela de forma intuitiva e

os gecircneros textuais constituem um poderoso instrumento desta maacutequina Quanto maior a

nossa inserccedilatildeo na sociedade maior o controle social Por exemplo natildeo satildeo todas as pessoas

que podem expedir um mandato de seguranccedila escrever uma dissertaccedilatildeo de mestrado

ministrar uma aula de fiacutesica quacircntica ou publicar uma coluna em um jornal Eacute nessa

perspectiva que Marcuschi (2008) afirma veemente o direcionamento dos gecircneros textuais

para com o envolvimento social e suas especificidades

26

A partir das consideraccedilotildees apresentadas a respeito dos gecircneros textuais dedicamos a

seccedilatildeo a seguir para a caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual

conforme relatamos na introduccedilatildeo deste capiacutetulo

12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL

O certificado de garantia ou termo de garantia eacute um documento oferecido por

prestadoras de serviccedilos fabricantes de produtos diversos ou de qualquer outro segmento que

envolva comercializaccedilatildeo de bens duraacuteveis com a funccedilatildeo de formalizar os direitos e deveres

do consumidor e do fabricante para com o estado fiacutesico e funcional do produto em vista de

problemas de qualquer natureza

Eacute tambeacutem uma espeacutecie de contrato visto que consiste fundamentalmente na

combinaccedilatildeo de interesses de partes sobre algo Aleacutem de ―certificado de garantia

utilizaremos tambeacutem a nomenclatura ―termo de garantia tendo em vista que o documento

do certificado de garantia e o termo em si estatildeo internamente ligados A expressatildeo ―termo de

garantia eacute usada no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20

de marccedilo de 1997

Art 50 A garantia contratual eacute complementar agrave legal e seraacute conferida mediante

termo escrito

Paraacutegrafo uacutenico O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e

esclarecer de maneira adequada em que consiste a mesma garantia bem como a

forma o prazo e o lugar em que pode ser exercitada e os ocircnus a cargo do

consumidor devendo ser-lhe entregue devidamente preenchido pelo fornecedor no

ato do fornecimento acompanhado de manual de instruccedilatildeo de instalaccedilatildeo e uso de

produto em linguagem didaacutetica com ilustraccedilotildees (Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do

Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20 de marccedilo de 1997 p 30)

Em linhas gerais o documento eacute composto por quatro partes garantia contratual

garantia legal condiccedilotildees para validade da garantia contratual e legal condiccedilotildees natildeo cobertas

pela garantia legal e contratual Vejamos um exemplo de certificado de garantia

27

ILUSTRACcedilAtildeO 1 Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario

_de_ar_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Observamos na primeira parte a disposiccedilatildeo da garantia contratual ou seja a garantia

oferecida pelo fabricante

28

ILUSTRACcedilAtildeO 2 Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar

_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Na segunda parte encontramos a disposiccedilatildeo da garantia legal ou seja a garantia

assegurada pelo Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do consumidor

ILUSTRACcedilAtildeO 3 Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c

ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Em seguida vemos as condiccedilotildees de validade da garantia legal e contratual composta

por uma lista exaustiva de itens a serem considerados

29

ILUSTRACcedilAtildeO 4 Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c

ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

E por fim encontramos as condiccedilotildees natildeo cobertas pela garantia legal e contratual

assim como observaccedilotildees gerais

ILUSTRACcedilAtildeO 5 Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar

_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Em relaccedilatildeo agrave estrutura padratildeo dos certificados de garantia a partir do corpus

analisado nesta pesquisa observou-se que o texto que se refere agrave garantia em si corresponde a

menos da metade do documento Grande parte do documento se dedica agrave restriccedilatildeo de

possibilidades de cobertura assim como observaccedilotildees gerais quanto agraves responsabilidades do

fabricante diante de situaccedilotildees como despesas referentes agrave locomoccedilatildeo para depoacutesito do

produto para assistecircncia documentaccedilatildeo necessaacuteria para apresentaccedilatildeo na assistecircncia etc

30

O termo de garantia eacute vinculado diretamente ao Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do

consumidor O coacutedigo estabelece um padratildeo abrangente de formulaccedilatildeo do documento

constando recomendaccedilotildees como o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo necessidade do

acompanhamento do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto assim como clareza na

disposiccedilatildeo dos prazos de garantia legal e contratual

Como discutimos na primeira parte desse capiacutetulo Bakhtin (2000) propotildee que trecircs

dimensotildees constituem os gecircneros de discurso conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo

composicional Iremos a seguir apresentar como estas dimensotildees satildeo percebidas nesse

gecircnero textual

Como conteuacutedo temaacutetico do gecircnero certificado de garantia temos a veiculaccedilatildeo de

direitos e deveres do fabricante e do consumidor O documento apresenta listas exaustivas de

accedilotildees que possibilitam ou natildeo o uso do termo de garantia assim como instruccedilotildees gerais para

a realizaccedilatildeo desse ato Esse conteuacutedo pode variar em parte e apenas questotildees referentes agrave

garantia legal natildeo podem mudar pois estaacute prevista no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do

Consumidor

Em relaccedilatildeo ao estilo observamos nos certificados a utilizaccedilatildeo da norma padratildeo

Busca-se construir um texto claro e objetivo para que dessa forma natildeo haja problemas de

interpretaccedilatildeo para o consumidor Nesse gecircnero natildeo haacute identificaccedilatildeo de quem escreve de

maneira particular como observamos em gecircneros do tipo carta A identificaccedilatildeo do autor eacute

geralmente atribuiacuteda agrave empresa que oferece a garantia O estilo individual que eacute

caracteriacutestico em diversos gecircneros como o artigo de opiniatildeo e cartas pessoais natildeo cabe para

os certificados Como se trata de um texto instrucional esse gecircnero apresenta-se de forma

objetiva de modo que natildeo haacute a necessidade praacutetica da identificaccedilatildeo de quem escreve

Quanto agrave estrutura composicional em linhas gerais tal gecircnero segue uma sequecircncia

de apresentaccedilatildeo em duas etapas Em um primeiro momento apresenta-se o termo de garantia

em si no qual eacute descrito o direito do consumidor em relaccedilatildeo agrave garantia assim como sua

validade No segundo momento parte mais extensa do texto haacute a apresentaccedilatildeo de listas

supostamente exaustivas referentes aos casos que natildeo satildeo cobertos pela garantia assim como

as instruccedilotildees gerais para o reclame do direito Essa sequecircncia de apresentaccedilatildeo do documento

eacute variaacutevel Haacute certificados que satildeo inclusos no manual de instruccedilatildeo do produto (geralmente

na uacuteltima paacutegina) Haacute certificados que satildeo destacados o documento eacute apresentado agrave parte de

qualquer outro texto

Se retomarmos a classificaccedilatildeo dos gecircneros do discurso de Bakhtin (2000) entre

primaacuterios (simples) e secundaacuterios (complexos) podemos considerar que o certificado de

31

garantia estaacute inserido nos gecircneros complexos pois se trata de um documento elaborado de

forma sistemaacutetica no qual haacute necessidade de um aprofundamento social complexo com

caracterizaccedilotildees e descriccedilotildees bem delimitadas

Quanto ao tipo de texto dentro do que foi proposto por Marcuschi (2008) o

certificado de garantia se enquadra no tipo injuntivo porque eacute um texto instrucional com

predominacircncia do modo imperativo nas frases e eacute composto pela listagem de uma seacuterie de

procedimentos a serem observados e seguidos com listas exaustivas contendo direitos e

deveres do fabricante e do consumidor O objetivo do documento eacute oferecer ao cliente todas

as informaccedilotildees relacionadas agrave validade da garantia os casos em que haacute perda da validade e os

casos em que os problemas apresentados se enquadram como defeitos de fabricaccedilatildeo

O certificado de garantia se caracteriza como um gecircnero textual a partir da

perspectiva de Marcuschi (2008) pois eacute um texto que possui caracteriacutesticas soacutecio-discursivas

bem delimitadas com conteuacutedo padratildeo obedecendo a uma mesma linha temaacutetica e foi

constituiacutedo socialmente O gecircnero foi criado a partir da necessidade juriacutedica de resguardar os

fabricantes e consumidores de produtos industrializados e afins quanto agrave possibilidade de

apresentaccedilatildeo de defeitos ou falhas

De posse dos conhecimentos gerais sobre os gecircneros textuais que apresentamos e da

caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual partiremos no proacuteximo

capiacutetulo para a apresentaccedilatildeo das teorias que serviratildeo de aporte teoacuterico para a compreensatildeo

das anaacutelises realizadas no capiacutetulo 3

32

2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS

Neste capiacutetulo tratamos dos nexos semacircnticos ou ―nexos de significado dos quais

consideramos para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica

contraditoriedade e contrariedade Caracterizamos cada um deles utilizando exemplos em

linguagem natural com o intuito de demonstrar o funcionamento dessas relaccedilotildees assim como

mostrar quando tais exemplos deixam de apresentar o nexo Nosso intuito final eacute de oferecer

uma base para a compreensatildeo das anaacutelises que viratildeo no capiacutetulo posterior

Para entendermos melhor o que satildeo os nexos semacircnticos devemos compreender a

distinccedilatildeo entre a semacircntica e a pragmaacutetica que satildeo linhas de estudos linguiacutesticos inter-

relacionaacuteveis Uma definiccedilatildeo bastante difundida da semacircntica e tambeacutem bastante geral eacute

encontrada em Trask (2004 p 261) que diz que a semacircntica eacute o ramo da linguiacutestica que

estuda o significado e em Chierchia (2003 p 7) para quem a semacircntica eacute um estudo do

significado das expressotildees das liacutenguas naturais Podemos tambeacutem caracterizar a semacircntica

destacando a relaccedilatildeo do usuaacuterio da liacutengua e o significado que ele atribuiu agraves palavras que

compotildeem sentenccedilas como propotildee Pires de Oliveira (2001 p 42) Jaacute a pragmaacutetica por outro

lado tambeacutem estuda o significado das liacutenguas naturais mas trata das intenccedilotildees que os

falantes supostamente revelam a partir do uso de sentenccedilas

Para o termo ―pragmaacutetica haacute diversas possibilidades de definiccedilatildeo Levinson (2007)

procura mostrar as implicaccedilotildees que algumas definiccedilotildees podem ter em relaccedilatildeo a outros

estudos Assim podemos citar pelo menos dois conceitos de pragmaacutetica para Levinson

―pragmaacutetica eacute o estudo de todos os aspectos do significado natildeo capturados em uma teoria

semacircntica (Levinson 2007 p14) assim como ―pragmaacutetica eacute o estudo das relaccedilotildees entre

liacutengua e contexto que satildeo gramaticalizadas ou codificadas na estrutura de um liacutengua

(Levinson 2007 p 11) Podemos perceber que nessas duas definiccedilotildees Levinson tanto atribui

agrave pragmaacutetica a responsabilidade sobre aquilo que estaacute aleacutem da semacircntica quanto destaca a

relaccedilatildeo de liacutengua e contexto Jaacute em Wilson (2008) encontramos as definiccedilotildees que Yule

(1996) apresenta para a pragmaacutetica

a) pragmaacutetica eacute o estudo do significado sob o ponto de vista do falante b)

pragmaacutetica eacute o estudo do significado contextual (isto eacute leva em conta o modo como

os falantes organizam seus enunciados aquilo que eles querem dizer de acordo com

os seguintes fatores a quem vatildeo dizer como vatildeo dizer onde e quando vatildeo dizer e

sob que circunstacircncias) c) pragmaacutetica eacute o estudo do como se diz aleacutem daquilo que eacute

33

dito (isto eacute o estudo do significado subjacente do natildeo dito d) pragmaacutetica eacute o

estudo da expressatildeo da proximidadedistanciamento relativo (isto eacute de acordo com

o tipo de proximidade fiacutesica social ou conceitual em relaccedilatildeo aos ouvintes os

falantes determinam como e quanto precisam dizer) (WILSON 2008 p 89)

A discussatildeo sobre as definiccedilotildees de pragmaacutetica e semacircntica e suas distinccedilotildees vem

desde o iniacutecio do seacuteculo XX e muitos autores contribuiacuteram para a evoluccedilatildeo desses conceitos

Em vista desta histoacuterica discussatildeo apresentaremos os conceitos de Charles Morris e Rudolf

Carnap para estas disciplinas linguiacutesticas

Segundo a definiccedilatildeo de Charles Morris (1938) pragmaacutetica eacute o estudo da ―relaccedilatildeo dos

signos com seus inteacuterpretes Jaacute para Rudolf Carnap (1938) a pragmaacutetica eacute o estudo da

linguagem em relaccedilatildeo aos seus falantes Diante dos conceitos de semacircntica e pragmaacutetica que

apresentamos e da distinccedilatildeo entre as linhas de estudos linguiacutesticos Marcondes (2000) afirma

que ―tanto a definiccedilatildeo de Morris quanto a de Carnap fazem parte da jaacute consagrada distinccedilatildeo

geral do campo de estudos da linguagem entre pragmaacutetica que considera a linguagem em

seu uso concreto e semacircntica que examina os signos linguiacutesticos em sua relaccedilatildeo com os

objetos que designam ou a quem se refere Os nexos semacircnticos estatildeo inseridos no campo da

semacircntica e voltaremos a este ponto no final do capiacutetulo

Sobre as relaccedilotildees semacircnticas haacute diversas perspectivas nos estudos linguiacutesticos A

forma como combinamos as palavras e nossa tendecircncia em buscar um conceito fixo de um

termo satildeo complicaccedilotildees que podem dificultar o uso da liacutengua O significado linguiacutestico das

liacutenguas naturais segundo Basso (2009) possibilita nexos semacircnticos entre sentenccedilas E

ainda sobre o significado Basso propotildee

Quando perguntamos o significado de alguma palavra muitas vezes buscamos

aquele modelo significativo presente nos dicionaacuterios Poreacutem natildeo haacute no dicionaacuterio

maneiras preacute-estabelecidas de como uma palavra pode se combinar com outra em

busca da trama de significados dos nexos que favorecem infinitas interpretaccedilotildees

Essas combinaccedilotildees satildeo decorrentes do proacuteprio uso da liacutengua pelos seus falantes

mas natildeo estatildeo nem presentes nos dicionaacuterios nem tampouco algueacutem nos ensina satildeo

conhecimentos impliacutecitos Uma aacuterea da linguiacutestica moderna defende que o nosso

conhecimento semacircntico e um dote geneacutetico portanto os possiacuteveis nexos

semacircnticos satildeo decorrentes de uma capacidade inata de combinaccedilatildeo de palavras e

sentenccedilas parte do conhecimento semacircntico impliacutecito ou competecircncia semacircntica

(BASSO 2009 p 25)

Os nexos semacircnticos satildeo caracterizados na literatura da semacircntica como grupos de

relaccedilotildees de inferecircncia muito estaacuteveis direcionaacuteveis e fortemente dependentes do material

34

linguiacutestico dos enunciados (SANTOS 2012) Essas relaccedilotildees diferem de perspectivas de

inferecircncias como a pressuposiccedilatildeo e a implicatura que dialogam diretamente com o natildeo-dito

Para contrastar os nexos com esses outros tipos de relaccedilatildeo vamos observar os exemplos a

seguir

(1) Carlos parou de beber refrigerante

(2) A tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio

Seguindo a mesma linha de exposiccedilatildeo de Moura (1999 p 12) a partir das duas

sentenccedilas acima observamos dois niacuteveis nas informaccedilotildees veiculadas No primeiro niacutevel

temos contato com o sentido literal das palavras Dessa forma em (1) temos a informaccedilatildeo de

Carlos natildeo toma mais refrigerantes e em (2) que Maacuterio escreveu uma tese sobre bolhas de

sabatildeo No segundo niacutevel atraveacutes da enunciaccedilatildeo das sentenccedilas somos levados a considerar

informaccedilotildees que natildeo estatildeo afirmadas literalmente nas sentenccedilas Dessa forma a partir de (1)

podemos inferir que Carlos bebia refrigerantes antes e em (2) que uma tese sobre bolhas de

sabatildeo jaacute foi escrita Ducrot (1987) denomina de conteuacutedo posto o primeiro niacutevel que

consiste no conteuacutedo literal das sentenccedilas e de conteuacutedo pressuposto ou pressuposiccedilatildeo o

segundo niacutevel que abarca as inferecircncias que podemos fazer a partir da enunciaccedilatildeo das

sentenccedilas Devemos entender que o conteuacutedo posto depende do conteuacutedo pressuposto pois a

aceitaccedilatildeo do primeiro leva a aceitaccedilatildeo do segundo Para que possamos aceitar a verdade do

posto (1) que diz que Carlos parou de beber refrigerante temos que aceitar a verdade

pressuposta de que Carlos jaacute tinha bebido refrigerante antes

Outra relaccedilatildeo semacircntica que dialoga diretamente com o natildeo-dito eacute a implicatura

Grice (1987) propotildee dois tipos de implicaturas as implicaturas convencionais que natildeo satildeo

sujeitas a condiccedilotildees de verdade e as implicaturas conversacionais que natildeo dependem

diretamente da significaccedilatildeo usual das palavras sendo determinadas por certos princiacutepios

baacutesicos do ato comunicativo

As implicaturas convencionais satildeo inferecircncias natildeo sujeitas a condiccedilotildees de verdade

natildeo satildeo derivadas de princiacutepios pragmaacuteticos mais gerais como as maacuteximas conversacionais

mas satildeo simplesmente ligadas pela convenccedilatildeo a itens ou expressotildees lexicais especiacuteficos

Levinson (2007) toma a implicatura conversacional como uma das ideias mais

importantes da pragmaacutetica e vamos considerar neste trabalho apenas as implicaturas do tipo

conversacional de forma que quando mencionarmos o termo implicatura devemos entender

que estamos falando das implicaturas conversacionais e natildeo das convencionais

35

Para exemplificar uma implicatura vamos supor uma situaccedilatildeo entre dois amigos em

que ao dialogar sobre as uacuteltimas defesas de teses e dissertaccedilotildees do departamento de poacutes-

graduaccedilatildeo deparam-se com a notiacutecia de que um de seus colegas escreveu uma tese sobre um

tema muito irrelevante e nada original Diante desta situaccedilatildeo um amigo disse para o outro ―A

tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio A partir da situaccedilatildeo em que os dois amigos

estavam imersos nesse contexto e da sentenccedila utilizada por um dos amigos podemos inferir

que foi Maacuterio quem escreveu uma tese sobre um tema irrelevante Podemos perceber neste

exemplo que como descrito nas definiccedilotildees que trouxemos anteriormente a implicatura por

ser uma relaccedilatildeo puramente pragmaacutetica utiliza-se do natildeo-dito e de situaccedilotildees convencionadas

entre falantes para poder existir

Dessa forma podemos retomar o que foi exposto nos paraacutegrafos anteriores afirmando

que os nexos semacircnticos as pressuposiccedilotildees e as implicaturas satildeo inferecircncias de significado

sendo que os nexos estatildeo no campo da semacircntica e as pressuposiccedilotildees e implicaturas estatildeo no

campo da pragmaacutetica

A partir deste ponto iremos descrever os nexos semacircnticos com exemplos mostrando

como essas relaccedilotildees funcionam e tambeacutem casos em que a interpretaccedilatildeo natildeo acontece da

maneira esperada Em relaccedilatildeo aos casos em que a interpretaccedilatildeo eacute prejudicada trataremos de

casos relacionados com a ambiguidade lexical mais especificamente com vagueza e casos

relacionados com a polissemia (desconsiderando seus limites com a homoniacutemia)

21 ACARRETAMENTO

Em linhas gerais o acarretamento ocorre quando a verdade de um conjunto de

sentenccedilas1 que nomearemos de A garante a verdade de outra sentenccedila que nomearemos de

B Dessa forma a verdade da primeira sentenccedila ou do conjunto delas autoriza a verdade de B

(CHIERCHIA 2003) O acarretamento eacute uma inferecircncia que os falantes estatildeo autorizados a

fazer e o que os autoriza eacute o conhecimento linguiacutestico Vamos observar o exemplo a seguir

1 Em nosso trabalho utilizaremos os termo ldquosentenccedilardquo e ldquoproposiccedilatildeordquo intercambiavelmente Alguns autores

definem os dois termos de formas distintas Por exemplo na semacircntica contemporacircnea de mundos possiacuteveis desenvolvida por autores como por exemplo Kripke e Lewis define-se proposiccedilatildeo como a classe de todos os mundos possiacuteveis nas quais ela eacute verdadeira Murcho (2006) apresenta dois exemplos para distinguir proposiccedilotildees e sentenccedilas ldquoSoacutecrates era um filoacutesofordquo e ldquoSocrates was a philosopherrdquo Murcho afirma que os dois exemplos satildeo duas sentenccedilas que exprimem uma uacutenica proposiccedilatildeo Outros como Mortari (2001) natildeo distinguem proposiccedilotildees e sentenccedilas

36

(3) alsquo Neymar eacute brasileiro

a Neymar eacute um jogador de futebol

b Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro

Podemos observar no exemplo acima que a sentenccedila (3b) tem a sua verdade garantida

pela verdade de (3alsquo) e (3a) Sendo assim (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Podemos observar

no exemplo que o acarretamento eacute bastante claro pois as informaccedilotildees que estatildeo presentes em

(3b) satildeo a soma das informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) Eacute interessante destacar

que para que a sentenccedila (3b) constitua um acarretamento de (3alsquo) e (3a) natildeo precisamos

conhecer a pessoa Neymar nem sua nacionalidade eou profissatildeo Como as informaccedilotildees

estatildeo postas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) a verdade de (3b) eacute inevitaacutevel Mesmo que no mundo

real Neymar natildeo fosse jogador de futebol e natildeo fosse brasileiro isso em nada modificaria o

acarretamento pois dentro da relaccedilatildeo estabelecida entre (3alsquo) (3a) e (3b) as informaccedilotildees

contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Vejamos o exemplo a seguir

(4) alsquo Todos os sacis tecircm apenas uma perna

a Denis Diderot eacute um saci

b Denis Diderot tem apenas uma perna

Observando o exemplo acima identificamos que em relaccedilatildeo ao conhecimento de

mundo a sentenccedila (4alsquo) eacute verdadeira jaacute que no folclore admitimos como uma caracteriacutestica

dos sacis ter apenas uma perna A sentenccedila (4a) eacute falsa pois Denis Diderot foi um filoacutesofo e

escritor francecircs e natildeo um saci Por fim a sentenccedila (4b) tambeacutem eacute falsa em relaccedilatildeo ao nosso

conhecimento de mundo pois Denis Diderot possuiu durante toda a sua vida as duas pernas

Podemos entatildeo admitir que as sentenccedilas do conjunto (4) em relaccedilatildeo ao nosso conhecimento

de mundo satildeo falsas Mesmo assim o conjunto eacute um acarretamento Diferente do exemplo

(3) em que trouxemos sentenccedilas que constituiacuteam um acarretamento com informaccedilotildees

verdadeiras em relaccedilatildeo ao mundo o exemplo (4) mostra que a relaccedilatildeo semacircntica que estamos

discutindo independe da verdade das informaccedilotildees das sentenccedilas no mundo O que o

acarretamento faz eacute concatenar as sentenccedilas de uma forma que se as premissas forem

verdadeiras a conclusatildeo tambeacutem seraacute verdadeira O acarretamento depende exclusivamente

37

da forma em que as sentenccedilas se apresentam Tendo em vista que a relaccedilatildeo depende apenas

da forma podemos representar o acarretamento da seguinte maneira como propotildee Soares

(2003)

Em liacutengua natural

Se estudar entatildeo serei aprovado (1ordf premissa)

Ora estudei (2ordf premissa)

Logo fui aprovado (Conclusatildeo)

E simbolizando2

a rarr b (1ordf premissa)

a (2ordf premissa)

b (Conclusatildeo)

Vale ressaltar que ao utilizarmos o termo ―sentenccedila estamos nos referindo ao que os

gramaacuteticos costumam chamar de oraccedilatildeo Tambeacutem eacute interessante mencionar que o

acarretamento eacute chamado de consequecircncia semacircntica Iremos utilizar como representaccedilatildeo das

premissas sentenccedilas do tipo (Xalsquo) e (Xa) e para a conclusatildeo sentenccedilas do tipo (Xb)

Podemos entender que o acarretamento eacute um tipo de relaccedilatildeo estabelecida entre

premissas e a consequecircncia de forma que a verdade das premissas determina a verdade da

consequecircncia Tambeacutem devemos entender que natildeo eacute possiacutevel que as premissas sejam

verdadeiras junto da negaccedilatildeo da conclusatildeo pelo fato de que dessa forma estaria

descaracterizada a relaccedilatildeo de acarretamento

Como ressaltamos acima os acarretamentos satildeo dependentes da forma ou seja da

relaccedilatildeo que as sentenccedilas possuem entre si e natildeo da verdade ou falsidade no mundo das

informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas Diante disso traremos agrave tona exemplos de sentenccedilas que

2 O siacutembolo ldquorarrrdquo na loacutegica claacutessica representa um condicional assunto de que trataremos no terceiro capiacutetulo

deste trabalho e o siacutembolo ldquordquo representa um acarretamento

38

natildeo possuem relaccedilatildeo semacircntica mas atraveacutes da verdade ou falsidade das informaccedilotildees nas

sentenccedilas podem nos confundir e nos induzir ao erro Para tal raciociacutenio errocircneo damos o

nome de falaacutecias

Soares (2003) distingue trecircs caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias (i) satildeo

argumentos parecidos com argumentos vaacutelidos (ii) estabelecem entre premissas e conclusotildees

uma relevacircncia puramente psicoloacutegica que tatildeo-soacute se dirige agraves emoccedilotildees da pessoa sem que as

premissas sejam logicamente relevantes para extrair a conclusatildeo (iii) apresentam-se com

intenccedilatildeo enganadora para que o argumento ainda que invaacutelido seja de todas as maneiras

aceito por todos Vejamos a seguir exemplos de falaacutecias

(5) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher

a Dilma Rousseff eacute mulher

b Dilma Rousseff eacute a presidente do Brasil

A partir do nosso conhecimento de mundo poderiacuteamos dizer que a sentenccedila (5b) eacute

verdadeira Na sentenccedila (5alsquo) temos que A presidente do Brasil eacute mulher De fato tambeacutem se

formos utilizar nosso conhecimento de mundo intuitivamente diremos que esta sentenccedila estaacute

correta considerando a eacutepoca em que este trabalho foi escrito Seguindo temos a sentenccedila

(5a) com a informaccedilatildeo Dilma Rousseff eacute mulher Assim como as sentenccedilas (5alsquo) e (5a) a

partir de nosso conhecimento de mundo podemos afirmar que esta sentenccedila tambeacutem eacute

verdadeira mas devemos entender que eacute preciso considerar a relaccedilatildeo que as sentenccedilas

estabelecem entre si A sentenccedila (5alsquo) natildeo estabelece nenhuma relaccedilatildeo com a sentenccedila (5a)

para que (5b) seja um acarretamento Para mostrar de forma mais clara que o exemplo (5) natildeo

eacute um acarretamento vamos comparaacute-lo com o exemplo a seguir

(6) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher

a Michelle Bachelet eacute mulher

b Michelle Bachelet eacute a presidente do Brasil

Observamos que (6alsquo) e (6a) satildeo verdadeiras (no momento da redaccedilatildeo deste

trabalho) mas (6b) nos parece estranho Sabemos que Michelle Bachelet atualmente eacute

presidente do Chile Mas nada disso interfere para caracterizar um acarretamento e o exemplo

acima foi para deixar claro que a partir das relaccedilotildees semacircnticas dispostas entre os grupos de

39

sentenccedilas (5) e (6) natildeo podemos considerar que haacute acarretamento pelo fato acima

mencionado

Ateacute o momento tratamos do conceito de acarretamento seguido de exemplos em

liacutengua natural sua representaccedilatildeo na loacutegica claacutessica e exemplos de falaacutecias A partir deste

ponto trataremos dos fatores que interferem nas relaccedilotildees semacircnticas de uma forma diferente

das falaacutecias A compreensatildeo dos tipos de interferecircncias a seguir seraacute importante para a anaacutelise

do corpus deste trabalho pois se trata de interferecircncias lexicais

No exemplo a seguir trataremos de um problema que pode invalidar relaccedilotildees

semacircnticas a polissemia Quando um termo adquire mais de um sentido aleacutem daquele que eacute

originalmente atribuiacutevel temos um caso de polissemia Crystal (1985) conceitua polissemia

da seguinte maneira

Polissemia termo usado na anaacutelise semacircntica para caracterizar um item lexical com

uma variedade de significaccedilotildees diferentes como manga = ―parte da camisa ―parte

do abajur etc Uma grande parte do vocabulaacuterio da liacutengua eacute polissecircmica ()

(Crystal 1985 p 202)

Tendo em vista que a polissemia eacute uma caracteriacutestica de um item lexical que possui

diversos significados para diversos contextos vamos observar o exemplo a seguir

(7) a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito

b Joatildeo morreu

A sentenccedila (7a) pode ser interpretada pelo menos de duas formas distintas pelo fato da

expressatildeo ―perdeu a cabeccedila ser polissecircmica Se interpretarmos a sentenccedila (7a) considerando

―perder a cabeccedila como ter a cabeccedila desprendida do corpo haacute acarretamento de (7a) para

(7b) Mas esta natildeo eacute a uacutenica interpretaccedilatildeo possiacutevel para a expressatildeo em questatildeo Se

interpretarmos ―perder a cabeccedila como perder a paciecircncia ficar furioso estressado ou algo

parecido a sentenccedila (7a) natildeo acarreta (7b) numa mesma situaccedilatildeo pois o fato de Joatildeo ter

perdido a paciecircncia natildeo garante que ele venha a morrer Dessa forma para natildeo ter problemas

com a polissemia eacute preciso assegurar que se convencione um sentido uacutenico para cada

premissa para desta forma haver um acarretamento

40

Outro aspecto que eacute preciso ser mencionado eacute que (7) do jeito que se apresenta natildeo eacute

um acarretamento mesmo que perder a cabeccedila tenha o sentido de ter a cabeccedila desprendida do

corpo Isso se daacute porque (7) eacute um acarretamento incompleto ou seja um entimema

Argumento com uma premissa natildeo-formulada sem a qual ele natildeo eacute vaacutelido Chama-

se muitas vezes de premissa impliacutecitalsquo agrave premissa natildeo formulada Na argumentaccedilatildeo

cotidiana omitem-se premissas oacutebvias A premissa impliacutecita do argumento Antocircnio

deveria ser despedido porque roubou dinheiro puacuteblicolsquo eacute Todas as pessoas que

roubam dinheiro puacuteblico devem ser despedidaslsquo (BRANQUINHO MURCHO

GOMES 2006 p 298)

Vamos observar o exemplo (7) de uma forma que o entimema seria evitado

(8) alsquo Todas as pessoas que perdem a cabeccedila morrem

a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito

b Joatildeo morreu

Podemos constatar no exemplo acima que ao incluirmos a sentenccedila (8alsquo) que eacute a

sentenccedila geral que estava impliacutecita no exemplo (7) resolvemos o problema do entimema

completando assim a relaccedilatildeo de acarretamento de (8alsquo) e (8a) para (8b)

A partir de agora vamos tratar de outro tipo de interferecircncia em relaccedilotildees sentencias

que estaacute tambeacutem no campo do leacutexico a vagueza

A vagueza eacute assim como a polissemia um tipo de ocorrecircncia que dificulta a

interpretaccedilatildeo dos nexos entre sentenccedilas Podemos considerar que haacute vagueza em uma

sentenccedila quando observamos que uma palavra ou expressatildeo causa sentido incompleto

impedindo o entendimento da sentenccedila como um todo Branquinho Murcho e Gomes

conceituam a vagueza de seguinte maneira

As liacutenguas naturais contecircm palavras (tipicamente predicados denotando

propriedades ou relaccedilotildees) cujo domiacutenio de aplicaccedilatildeo eacute parcialmente indeterminado

isto eacute em relaccedilatildeo agraves quais os falantes competentes natildeo estatildeo certos em todos os

casos de que determinado objeto (ou par ordenado de objetos) pertence ao conjunto

denotado por elas (ou agrave relaccedilatildeo) (BRANQUINHO MURCHO GOMES 2006 p

805)

De uma forma geral Allan (2010) caracteriza a vagueza como um tipo particular de

incerteza sobre a aplicaccedilatildeo de um predicado Podemos considerar como um exemplo padratildeo

de predicado vago a classe de adjetivos graduaacuteveis como altura Se uma determinada pessoa

41

natildeo eacute suficientemente alta para ser claramente alta e natildeo eacute suficiente baixa para ser

claramente baixa entatildeo aiacute temos um caso de vagueza

Os adjetivos vagos satildeo sempre utilizados em relaccedilatildeo a uma classe de comparaccedilatildeo no

dia-a-dia Estar acima do peso por exemplo pode variar a partir do grau de comparaccedilatildeo Para

uma top model estar acima do peso eacute visto de forma diferente do que para um lutador de

sumocirc por exemplo

Ainda em relaccedilatildeo ao conceito de vagueza Kempson (1977) propotildee que existem

quatro tipos inter-relacionaacuteveis de vagueza vagueza referencial indeterminaccedilatildeo de

significado falta de especificaccedilatildeo no significado de um item disjunccedilatildeo na especificaccedilatildeo do

significado de um item em que o significado abarca uma ou qualquer declaraccedilatildeo de diversas

possibilidades de interpretaccedilatildeo Dentre estes quatro tipos propostos por Kempson iremos nos

dedicar a observar os casos relacionados agrave vagueza referencial Tendo em vista os conceitos

acima vamos observar um exemplo em que a vagueza pode prejudicar a interpretaccedilatildeo de um

acarretamento

(9) a Tobias eacute um gecircnio no xadrez

b Tobias eacute um bom jogador de xadrez

No exemplo acima podemos observar os termos vagos ―gecircnio na sentenccedila (9a) e

―bom na sentenccedila (9b) Para haver a relaccedilatildeo de acarretamento temos que admitir para (9a) e

(9b) o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe Por exemplo haacute acarretamento entre as

sentenccedilas (9a) e (9b) se Tobias for um garoto de oito anos e diante seus colegas da escola ele

se destacar como um exiacutemio conhecedor das regras e teacutecnicas do jogo de xadrez Dessa

forma a sentenccedila ―Tobias eacute um gecircnio no xadrez acarretaria que ―Tobias eacute um bom jogador

de xadrez Jaacute se natildeo utilizarmos o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas

(9a) e (9b) como por exemplo se em (9a) Tobias for um garoto de oito anos que diante de

seus colegas da escola se destaca como um exiacutemio jogador de xadrez mas comparando-o

com os competidores da categoria secircnior do campeonato mundial de xadrez e a partir disso

afirmando (9b) natildeo poderiacuteamos acarretar que Tobias eacute um bom jogador de xadrez Dessa

forma pudemos observar que a presenccedila de termos vagos em sentenccedilas dificulta a

interpretaccedilatildeo dos acarretamentos A seguir observaremos outros nexos que se relacionam com

o acarretamento

42

22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA

Como discutimos anteriormente o acarretamento eacute uma relaccedilatildeo semacircntica que ocorre

em um uacutenico sentido ou seja das premissas para a conclusatildeo Quando uma conclusatildeo

acarreta as premissas chamamos essa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica

Para o termo ―equivalecircncia haacute diversas definiccedilotildees Segundo Branquinho Murcho e

Gomes (2006 p 281) podemos identificar dois sentidos distintos para este termo o primeiro

se refere ao que tratamos neste trabalho ou seja faz referecircncia a relaccedilatildeo entre as sentenccedilas de

certa liacutengua o segundo trata de determinados tipos de sentenccedilas declarativas agraves frases

bicondicionais ou declarativas Dentro desses dois sentidos diversos para o termo

―equivalecircncia no primeiro que eacute o que mais nos interessa os autores ainda distinguem trecircs

variedades centrais de equivalecircncia Satildeo elas equivalecircncia material equivalecircncia estrita e

equivalecircncia loacutegica

A equivalecircncia material eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q (por

exemplo) exatamente quando p e q possuem o mesmo valor de verdade ou seja quando ou

satildeo as duas verdadeiras juntas ou satildeo as duas falsas juntas

A equivalecircncia estrita eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q no caso em

que eacute necessaacuterio que p seja materialmente equivalente a q ou no caso de ser impossiacutevel tanto

que p seja verdadeira e q seja falsa quanto que p seja falsa e q seja verdadeira Branquinho

Murcho e Gomes (2006 p 281) afirmam que nesse caso diz-se que p eacute estritamente

equivalente a q

A equivalecircncia loacutegica eacute uma relaccedilatildeo que se estabelece entre duas sentenccedilas p e q

exatamente no caso de p e q serem duas sentenccedilas mutuamente dedutiacuteveis num dado sistema

loacutegico Diz-se nesse caso que p eacute logicamente equivalente a q

Em nosso trabalho iremos considerar para ―equivalecircncia o sentido apresentado por

Branquinho Murcho e Gomes (2006) para equivalecircncia material A partir deste conceito

vamos observar o exemplo a seguir

(10) a O gato matou o rato

b O rato foi morto pelo gato

Nas sentenccedilas acima podemos identificar uma relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica Eacute

impossiacutevel que o gato tenha matado o rato e que o rato natildeo tenha sido morto Claro que se

43

considerarmos que estamos tratando sobre o mesmo gato e o mesmo rato Dessa forma

sempre que (10a) for verdadeira (10b) tambeacutem teraacute de ser Tambeacutem podemos observar uma

relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica no exemplo (3) Utilizamos o exemplo (3) para mostrar

uma relaccedilatildeo de acarretamento que eacute efetiva mas tambeacutem haacute a relaccedilatildeo de equivalecircncia pois

as premissas ―Neymar eacute brasileiro e ―Neymar eacute um jogador de futebol acarretam que

―Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro da mesma forma que esta uacuteltima sentenccedila

acarreta as duas anteriores Tal exemplo reafirma o conceito descrito acima de que uma

equivalecircncia semacircntica eacute um acarretamento duplo

Assim como acontece no acarretamento a equivalecircncia semacircntica tem problemas com

a polissemia Vamos observar exemplo a seguir

(11) a O Brasil ganhou o jogo contra o Chile

b O Chile perdeu o jogo contra o Brasil

No exemplo acima vemos que a sentenccedila (11a) acarreta a sentenccedila (11b) ao mesmo

tempo em que a sentenccedila (11b) acarreta a sentenccedila (11a) Natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (11a)

seja verdadeira ao mesmo tempo em que a (11b) seja falsa Se uma das sentenccedilas eacute falsa e a

outra eacute verdadeira natildeo haacute acarretamento em nenhum dos dois ―sentidos (em relaccedilatildeo agrave

direccedilatildeo de (11a) para (11b) e de (11b) para (11a)) Natildeo podemos considerar que o Brasil

ganhou o jogo contra o Chile e que o Chile ganhou o jogo contra o Brasil pois sabemos que

em uma partida de futebol haacute apenas um ganhador Haacute a possibilidade de algueacutem querer ir

mais aleacutem e inferir que eacute possiacutevel que os dois times ganharam mas em jogos diferentes Se

considerarmos a situaccedilatildeo de que o Chile jaacute ganhou outros jogos contra o Brasil assim como

que o Brasil jaacute ganhou outros jogos contra o Chile a relaccedilatildeo de equivalecircncia seria possiacutevel

escolhendo qualquer outro jogo como referecircncia mas natildeo eacute o que nos interessa pois

devemos considerar apenas uma situaccedilatildeo para as duas sentenccedilas

A partir deste ponto iremos tratar sobre como a polissemia pode interferir na

interpretaccedilatildeo numa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica da mesma forma que mostramos

anteriormente nas relaccedilotildees de acarretamento Vejamos o proacuteximo exemplo

44

(12) a A lagosta estaacute mais salgada que o peixe

b O peixe estaacute menos salgado que a lagosta

Podemos observar que as sentenccedilas (12a) e (12b) satildeo equivalentes pelo fato de que

natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12a) seja verdadeira e a sentenccedila (12b) seja falsa assim como

natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12b) seja verdadeira e a sentenccedila (12a) seja falsa Poreacutem se

passarmos a admitir significados diferentes para expressotildees empregadas nas sentenccedilas por

exemplo para a palavra ―salgado encontraremos problemas Se admitirmos que sentenccedila

(12a) o conceito de ―salgado eacute de o alimento estar impregnado de sal salpicado de sal ou

com gosto de sal e se este conceito for tambeacutem considerado para a sentenccedila (12b) haacute

equivalecircncia semacircntica Mas tambeacutem podemos interpretar o termo ―salgado como uma

expressatildeo para se referir ao preccedilo alto do produto no mercado Soacute haacute equivalecircncia semacircntica

se admitirmos o mesmo conceito para ―salgado em ambas as sentenccedilas ou seja se

considerarmos o significado de ―salgado como sendo impregnado de sal para a sentenccedila

(12a) ou em (12b) como sendo relativo ao valor alto no mercado natildeo haacute equivalecircncia

semacircntica entre (12a) e (12b)

No proacuteximo exemplo trataremos de outro tipo de ocorrecircncia que dificulta a

interpretaccedilatildeo de nexos a vagueza Como jaacute apresentamos a definiccedilatildeo de vagueza na seccedilatildeo

anterior partiremos direto para o exemplo em que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo de uma

equivalecircncia semacircntica

(13) a Goacutergias eacute mais saacutebio que Hiacutepias

b Hiacutepias eacute menos saacutebio que Goacutergias

Na relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) haacute equivalecircncia semacircntica mas podemos identificar

que nas duas sentenccedilas foram utilizados termos vagos que tornam a interpretaccedilatildeo dificultosa

Em (13a) haacute o uso dos termos ―mais e ―saacutebio assim como em (13b) haacute o uso dos termos

―menos e ―saacutebio Esses termos satildeo vagos e dificultam a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo semacircntica

entre as sentenccedilas O que dificulta a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) eacute o fato de

que termos como ―mais e ―menos assim como ―saacutebio possuem significados diferentes de

acordo com as situaccedilotildees em que satildeo utilizadas Ou seja eacute necessaacuterio que admitamos o

45

mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas (13a) e (13b) Dessa forma haveraacute a

relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica

A seguir trataremos sobre outro tipo de relaccedilatildeo semacircntica entre sentenccedilas a

contraditoriedade

23 CONTRADITORIEDADE

Diferente da relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica que consiste em sentenccedilas que satildeo

verdadeiras juntas ou falsas juntas as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias quando uma eacute oposta da

outra tipicamente quando uma sentenccedila B eacute a negaccedilatildeo de uma sentenccedila A Sobre a relaccedilatildeo de

contraditoriedade Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 229) afirmam que ―obteacutem-se a

contraditoacuteria de qualquer proposiccedilatildeo p prefixando-lhe o operador de negaccedilatildeo de modo a

obter notp3 Com base no conceito de contraditoriedade exposto vamos observar o exemplo a

seguir

(14) a O Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016

b O Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016

Podemos observar no exemplo acima que se a sentenccedila (14a) for verdadeira

obrigatoriamente a sentenccedila (14b) tem que ser falsa Se a informaccedilatildeo da sentenccedila (14a) que

diz que o Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas for verdadeira a informaccedilatildeo da sentenccedila

(14b) que diz que o Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas natildeo pode ser verdadeira

Em relaccedilotildees de contraditoriedade o uso de uma afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo eacute algo

tiacutepico mas natildeo determinante No exemplo (14) pudemos observar a relaccedilatildeo de

contraditoriedade caracterizada pelo uso da negaccedilatildeo mas tambeacutem podemos encontrar esse

tipo de relaccedilatildeo sem tal uso Vejamos a seguir

3 O siacutembolo not na loacutegica claacutessica eacute a representaccedilatildeo do operador de negaccedilatildeo ldquonatildeordquo

46

(15) a Mecircnon estaacute acordado

b Mecircnon estaacute dormindo

A partir das sentenccedilas acima podemos ver que a relaccedilatildeo entre estas sentenccedilas eacute de

contraditoriedade pois se a sentenccedila (15a) for verdadeira a sentenccedila (15b) tem que ser falsa

da mesma forma que se a sentenccedila (15b) for verdadeira a sentenccedila (15a) deveraacute ser falsa

Natildeo eacute possiacutevel que Mecircnon esteja acordado e dormindo ao mesmo tempo claro que

considerando o mesmo sentido para as palavras ―acordado e ―dormindo nas duas sentenccedilas

e em relaccedilatildeo ao mesmo Mecircnon

Assim como as demais relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos anteriormente a

contraditoriedade tambeacutem eacute sensiacutevel agrave polissemia Vamos observar como a polissemia se

apresenta no exemplo a seguir

(14) a A minha gata estaacute acordada

b A minha gata estaacute dormindo

No exemplo acima natildeo encontramos apenas a relaccedilatildeo de contraditoriedade sem

utilizaccedilatildeo da negaccedilatildeo mas tambeacutem um problema de polissemia que pode anular a relaccedilatildeo de

contraditoriedade Se numa determinada situaccedilatildeo escrevendo este texto me viro na cadeira e

vejo em cima de minha cama o meu animal de estimaccedilatildeo deitado olhando para mim e com

isso afirmo ―a minha gata estaacute acordada como na sentenccedila (14a) natildeo posso considerar

verdadeira a sentenccedila (14b) pois natildeo se pode estar dormindo e estar acordado ao mesmo

tempo tomando as definiccedilotildees de ―estar acordado e ―estar dormindo como oposiccedilotildees A

partir disso as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias Se em outra situaccedilatildeo me viro na cadeira e vejo

minha esposa deitada na cama dormindo e afirmo ―a minha gata estaacute dormindo como na

sentenccedila (14b) ela natildeo pode ser verdadeira ao mesmo tempo em que a sentenccedila (14a) pois

minha esposa natildeo poderia estar acordada e dormindo ao mesmo tempo Ateacute o momento

pudemos atribuir dois sentidos diferentes para o termo ―gata Se considerarmos para a

sentenccedila (14a) o sentido de que o meu animal de estimaccedilatildeo estaacute acordado e para a sentenccedila

(14b) o sentido de que a minha esposa estaacute dormindo essas sentenccedilas natildeo satildeo contraditoacuterias

No exemplo acima percebemos portanto dois aspectos da contradiccedilatildeo em sentenccedilas de uma

liacutengua natural como o portuguecircs Primeiro que natildeo haacute a obrigatoriedade de ter a negaccedilatildeo de

47

uma sentenccedila para que a relaccedilatildeo de contraditoriedade exista e segundo que a polissemia

pode tornar problemaacutetica essa relaccedilatildeo

Podemos considerar uma relaccedilatildeo de contraditoriedade entre sentenccedilas sempre que A eacute

verdadeira B eacute falsa e sempre que a sentenccedila B eacute verdadeira A eacute falsa Ou seja as sentenccedilas

A e B nunca podem ser verdadeiras ou falsas juntas

O exemplo de contraditoriedade que mostramos anteriormente foi relacionando duas

sentenccedilas mas podemos encontrar a relaccedilatildeo de contraditoriedade dentro de uma sentenccedila

apenas Vamos observar o exemplo a seguir

(15) Herbert Vianna eacute cantor e natildeo eacute cantor

Se afirmamos que uma pessoa eacute e natildeo eacute cantora constatamos uma contraditoriedade

nesta sentenccedila Em (15) encontramos a apresentaccedilatildeo de um argumento e a negaccedilatildeo do mesmo

argumento em seguida Uma sentenccedila com esta forma natildeo pode ser verdadeira Se

consideramos numa mesma situaccedilatildeo que Herbert Vianna eacute cantor e em seguida afirmo que

Herbert Vianna natildeo eacute cantor esta sentenccedila eacute contraditoacuteria

Se partirmos para determinar sentidos diferentes para o termo ―cantor como por

exemplo que Herbert Vianna eacute um cantor pelo simples fato de que ele emite pelas cordas

vocais sons musicais que ―cantor eacute um termo que soacute pode ser utilizado para os profissionais

que trabalham com a voz na muacutesica ou que ―cantor se jaacute um termo utilizado para designar

algueacutem que canta muito bem natildeo haacute contraditoriedade efetivamente Mas se mantivermos o

mesmo sentido para o termo haveraacute relaccedilatildeo de contraditoriedade

Da mesma forma que a polissemia dificulta a interpretaccedilatildeo de nexos entre sentenccedilas

vamos observar um exemplo em que a vagueza ndash toacutepico que desenvolvemos na primeira

seccedilatildeo deste capiacutetulo - invalida uma relaccedilatildeo de contraditoriedade

(16) a O professor de loacutegica eacute muito alto

b O professor de loacutegica natildeo eacute muito alto

Na relaccedilatildeo entre (16a) e (16b) seguindo o conceito contraditoriedade haacute uma relaccedilatildeo

de contradiccedilatildeo entre as duas sentenccedilas poreacutem podemos identificar termos vagos nas duas

sentenccedilas o que pode dificultar a interpretaccedilatildeo Na sentenccedila (16a) e na sentenccedila (16b)

48

identificamos dois termos vagos que satildeo ―muito e ―alto Eacute possiacutevel considerar as duas

sentenccedilas como falsas ou verdadeiras juntas invalidando a contraditoriedade pois os termos

―muito e ―alto satildeo variaacuteveis de acordo com o grau de comparaccedilatildeo adotado Por exemplo

em (16a) o professor de loacutegica pode ser considerado muito alto em comparaccedilatildeo agraves crianccedilas

para quem ele leciona poreacutem se compararmos o professor de loacutegica da sentenccedila (16a) com os

outros professores do departamento talvez o professor fosse considerado baixo Desta forma

podemos observar que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo das duas sentenccedilas

A seguir traremos o uacuteltimo nexo semacircntico que utilizaremos em nosso trabalho Este

tipo de relaccedilatildeo eacute um pouco parecido com a contraditoriedade

24 CONTRARIEDADE

A contrariedade ocorre quando duas sentenccedilas podem ser falsas juntas mas natildeo

podem ser verdadeiras juntas Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 234) definem

contrariedade da seguinte forma ―duas proposiccedilotildees satildeo contraacuterias se natildeo podem ser ambas

verdadeiras mas podem ser ambas falsas distinguindo-se assim das contraditoacuterias que natildeo

podem ser ambas verdadeiras nem ambas falsas e das subcontraacuterias que natildeo podem ser

ambas falsas mas podem ser ambas verdadeiras

Eacute importante enfatizar que mesmo estando tratanto dos nexos semacircnticos e sua

aplicaccedilatildeo em liacutengua natural os conceitos de sentenccedilas contraacuterias contraditoacuterias

equivalecircncias e acarretamentos tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica As relaccedilotildees de sentenccedilas

contraacuterias e contraditoacuterias satildeo tratadas por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado

atraveacutes de seu quadrado loacutegico ou taacutebua de oposiccedilotildees No Perieacutermeneas (1985) mais

especificamente nos capiacutetulos 6 e 7 Aristoacuteteles nos apresenta os conceitos de sentenccedilas

contraacuterias e contraditoacuterias afirmando que duas sentenccedilas satildeo contraacuterias quando natildeo podem

ser verdadeiras juntas ao mesmo tempo mas podem ser falsas juntas ao mesmo tempo Jaacute em

relaccedilatildeo agraves contraditoacuterias Aristoacuteteles propotildee que toda afirmaccedilatildeo possui sua exata negaccedilatildeo

correspondente e que toda afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo sem opotildeem sendo uma sempre

verdadeira e a outra sempre falsa Dessa forma para Aristoacuteteles um par formado por uma

afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo corresponde a uma contradiccedilatildeo

A partir do conceito de contrariedade vamos observar o exemplo a seguir Nele

encontraremos um caso de polissemia

49

(17) a A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 20 de agosto de 1914

b A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 18 de julho de 1921

Se admitirmos que a seleccedilatildeo brasileira de futebol sobre a qual estamos falando na

sentenccedila (17a) eacute a mesma seleccedilatildeo que estamos falando na sentenccedila (17b) natildeo eacute possiacutevel que

a sentenccedila (17b) seja verdadeira pois algo natildeo pode ser fundado efetivamente em dois

momentos distintos Haacute a possibilidade de se afirmar que estamos falando de duas seleccedilotildees

brasileiras de futebol diferentes pois para ―seleccedilatildeo brasileira haacute diversos significados

aplicaacuteveis ou seja a expressatildeo ―seleccedilatildeo brasileira eacute polissecircmica Por exemplo podemos

definir uma seleccedilatildeo como sendo de futebol de campo e a outra de futebol de salatildeo A partir

dessa interpretaccedilatildeo as duas sentenccedilas poderiam ser verdadeiras juntas e com isso natildeo

haveria contrariedade Mas como devemos admitir apenas uma situaccedilatildeo para as duas

sentenccedilas (17a) e (17b) natildeo podem ser verdadeiras juntas mas podem ser falsas juntas

constituindo uma relaccedilatildeo de contrariedade Eacute possiacutevel que a seleccedilatildeo brasileira de futebol natildeo

tenha sido formada nem em 20 de agosto de 1914 e nem em 18 de julho de 1921 Em

contrapartida numa interpretaccedilatildeo usual a seleccedilatildeo de futebol de um paiacutes eacute formada pela

primeira vez uma soacute vez Algueacutem pode querer ir aleacutem e afirmar que foram empregados

sentidos diferentes para a expressatildeo ―foi formada nas sentenccedilas em questatildeo Poderia dizer

que na sentenccedila (17a) o sentido foi de que a seleccedilatildeo se reuniu pela primeira vez para jogarem

juntos de forma extraoficial e que na sentenccedila (17b) o sentido foi de que a seleccedilatildeo

efetivamente foi documentalmente formada Se admitiacutessemos essas interpretaccedilotildees as

sentenccedilas (17a) e (17b) poderiam ser verdadeiras juntas o que descaracterizaria a relaccedilatildeo de

contrariedade entre as sentenccedilas Assim como o fato de que se a sentenccedila (17a) for falsa a

sentenccedila (17b) pode ser verdadeira ou falsa A falsidade da sentenccedila (17a) natildeo assegura a

verdade da sentenccedila (17b) Podemos entender dessa forma que a polissemia afeta a

interpretaccedilatildeo do nexo

Vamos observar mais um exemplo desta relaccedilatildeo

(18) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado do Acre

b A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado de Santa Catarina

50

Se considerarmos a sentenccedila (18a) verdadeira ou seja que a reitoria da UNISUL estaacute

localizada no estado do Acre e tambeacutem levando em conta que a UNISUL eacute uma universidade

que tem uma reitoria e que a reitoria de uma universidade soacute pode estar numa cidade a

sentenccedila (18b) deveraacute ser falsa A sentenccedila (18a) eacute falsa e a sentenccedila (18b) eacute verdadeira e as

duas estabelecem uma relaccedilatildeo de contrariedade A reitoria da UNISUL estaacute localizada no

estado de Santa Catarina e natildeo no estado do Acre A partir desse exemplo e da convenccedilatildeo que

admitimos para ele pudemos observar que se uma sentenccedila A for falsa uma sentenccedila B pode

ser falsa ou verdadeira natildeo podendo ser as duas verdadeiras juntas apenas falsas Ilustrando

mais uma vez veja a relaccedilatildeo a seguir

(19) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Paris

b A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Roma

No exemplo acima podemos afirmar que as sentenccedilas (19a) e (19b) podem ser falsas

pois como jaacute citamos no paraacutegrafo anterior a reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado

de Santa Catarina Dessa forma haacute relaccedilatildeo de contrariedade as duas sentenccedilas satildeo falsas

Jaacute tratamos de exemplos da relaccedilatildeo de contrariedade com problemas de polissemia

mas podemos tambeacutem identificar problemas de validade dos nexos por causa da vagueza A

seguir observe o exemplo

(20) a Este cafeacute estaacute forte

b Este cafeacute estaacute aguado

Observando as sentenccedilas acima identificamos que (20a) e (20b) possuem termos

vagos que podem dificultar a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre as sentenccedilas Em (20a) foi usado

o termo ―forte e em (20b) foi usado o termo ―aguado Como nas outras relaccedilotildees que

apresentamos anteriormente esses termos satildeo vagos pois dependendo da classe de

comparaccedilatildeo em que satildeo apresentados eles podem mudar de sentido Eacute possiacutevel que numa

determinada situaccedilatildeo consideremos que um cafeacute pode natildeo estar nem forte nem fraco

autorizando a possibilidade de (20a) e (20b) serem as duas falsas ao mesmo tempo

descaracterizando a relaccedilatildeo de contrariedade Dessa forma podemos observar que os termos

51

vagos dificultam a interpretaccedilatildeo das sentenccedilas consequentemente da relaccedilatildeo que as

sentenccedilas estabelecem entre si Concluindo a exposiccedilatildeo dos nexos que nos interessam neste

trabalho apresentaremos a seguir a justificativa de nosso percurso sobre estas relaccedilotildees

semacircnticas e os tipos de ocorrecircncias que podem dificultar a interpretaccedilatildeo destas

25 JUSTIFICANDO O PERCURSO

Neste capiacutetulo apresentamos inicialmente os conceitos de semacircntica e pragmaacutetica

com o objetivo de mostrar que os nexos semacircnticos que tratamos em nosso trabalho

(acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e contrariedade) satildeo tipos de

inferecircncias que pertencem ao campo da semacircntica Para isso tambeacutem apresentamos duas

inferecircncias que pertencem ao campo da pragmaacutetica (pressuposiccedilatildeo e implicatura)

Na exposiccedilatildeo de cada nexo trouxemos os conceitos seguidos de exemplos em que a

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees semacircnticas eacute clara Em seguida apresentamos exemplos de nexos

com dois tipos de ocorrecircncias que no campo do leacutexico dificultam a interpretaccedilatildeo das

relaccedilotildees semacircnticas a polissemia e a vagueza

Pode parecer confuso a princiacutepio o fato de tratarmos de tipos de inferecircncia que

dependem da forma para se concretizarem (os nexos semacircnticos) relacionando-as com

ocorrecircncias que dificultam o entendimento do conteuacutedo das sentenccedilas (a polissemia e a

vagueza) A confusatildeo se apresenta caso natildeo lembremos que estamos tratando das relaccedilotildees de

inferecircncias em liacutengua natural e natildeo numa liacutengua controlada como num sistema loacutegico por

exemplo

Quando afirmamos que as relaccedilotildees entre sentenccedilas que tratamos em nosso trabalho

dependem da forma falamos de uma ―dessemantificaccedilatildeo ou seja a existecircncia dos nexos vai

depender unicamente da semacircntica dos quantificadores e conectivos (e ou se) Os nexos natildeo

dependem da semacircntica restante do material linguiacutestico exposto na sentenccedila A semacircntica dos

conectivos e quantificadores numa linguagem formal eacute mantida estaacutevel por definiccedilatildeo Na

linguagem natural podemos observar que os tipos de ocorrecircncia que dificultam a

interpretaccedilatildeo dos nexos se fazem presentes justamente no restante do material linguiacutestico da

sentenccedila ou seja para aleacutem da estrutura da sentenccedila que eacute composta pelos quantificadores e

demais conectivos

52

A polissemia e a vagueza satildeo ocorrecircncias tiacutepicas de liacutengua natural e dessa forma

somos obrigados a admitir que ao nos depararmos com qualquer gecircnero textual (que

obviamente estaacute no campo das liacutenguas naturais) numa anaacutelise devemos considerar que o

significado das palavras vai naturalmente interferir nas relaccedilotildees semacircnticas Tambeacutem na

exposiccedilatildeo de tipos de ocorrecircncias que interferem nos nexos semacircnticos tratamos de falaacutecias

que satildeo argumentos invaacutelidos apresentados como vaacutelidos explorando justamente a

interpretaccedilatildeo do conteuacutedo das sentenccedilas

A partir dos nexos semacircnticos que tratamos neste capiacutetulo junto com os tipos de

inferecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees no capiacutetulo seguinte

apresentaremos a anaacutelise de certificados de garantia Como o nosso objetivo eacute analisar quais

satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados nos certificados para restringir possibilidades de

interpretaccedilatildeo decidimos realizar a anaacutelise de ocorrecircncias com conectivos e quantificadores

Consideramos pertinente a escolha desse tipo de anaacutelise pois entendemos que os

quantificadores como o ―todo satildeo tradicionalmente apresentados em relaccedilotildees semacircnticas de

restriccedilatildeo ou abrangecircncia assim como o condicional ―se ou ―somente se e o ―apenas e

―somente A partir desse raciociacutenio acreditamos que esta seria a forma mais correta para

identificarmos ocorrecircncias do tipo que precisamos para a realizaccedilatildeo de nossa anaacutelise Os

nexos semacircnticos natildeo satildeo propiacutecios para as liacutenguas naturais pois natildeo se apresentam de forma

controlada Ocorrecircncias lexicais como as que descrevemos anteriormente podem dificultar a

interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees e isso eacute algo que trataremos nas anaacutelises

Eacute nesta perspectiva que observaremos no capiacutetulo seguinte as anaacutelises de vinte e dois

certificados de garantia nos quais natildeo buscaremos relaccedilotildees bem marcadas e controladas entre

sentenccedilas pois natildeo encontrariacuteamos facilmente mas sim quais satildeo os recursos linguiacutesticos

utilizados pelos autores dos textos para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo

admitindo tambeacutem obviamente os nexos semacircnticos como possiacuteveis recursos

53

3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA

Os certificados de garantia satildeo textos muito presentes em nosso cotidiano e muitas das

vezes noacutes natildeo levamos em conta a sua importacircncia tanto por serem documentos que podem

resguardar nossos direitos sobre um determinado produto quanto pelo fato de natildeo sermos

treinados para ler e interpretar devidamente as informaccedilotildees dispostas nos textos Dessa

forma justificamos a escolha de tal gecircnero para analisarmos em nossa pesquisa Ateacute este

momento de nosso trabalho seguimos o seguinte percurso

1) Mostramos no primeiro capiacutetulo que na elaboraccedilatildeo de certificados de garantia o

autor deve se preocupar em construir o texto buscando restringir ao maacuteximo as

possibilidades de interpretaccedilatildeo para que ele se torne mais eficiente em passar as

informaccedilotildees desejadas e para evitar problemas de interpretaccedilatildeo por parte dos

clientes

2) Tendo em vista que os certificados de garantia satildeo textos instrucionais ou seja

que direcionam a leitura para um fim especiacutefico nossa anaacutelise tem por objetivo

verificar quais satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores destes textos

para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo e para alcanccedilar este objetivo nos

utilizaremos da teoria dos nexos semacircnticos apresentada no segundo capiacutetulo

Como anunciado na introduccedilatildeo o corpus dessa pesquisa eacute formado por 22

certificados de garantia de produtos de diversos segmentos Ele foi coletado utilizando a

internet e natildeo teve um meacutetodo definido de categorizaccedilatildeo na escolha dos textos Decidimos

escolher certificados de diversos segmentos para natildeo obtermos uma anaacutelise viciada e tambeacutem

para obtermos um panorama da estrutura textual

Como analisaremos os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores dos certificados

de garantia para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo elegemos trecircs categorias de

termos a serem analisadas quantificadores universais condicionais e uso do apenassomente

A escolha dessas categorias se deve ao fato delas possuiacuterem tradicionalmente funccedilotildees de

restriccedilatildeo ou abrangecircncia em inferecircncias

Assim como na loacutegica de predicados a silogiacutestica se caracteriza pelo uso dependente

em argumentos dos quantificadores ―alguns e ―todos Nomeamos de quantificador

existencial ou particular aqueles referentes a ―alguns e nomeamos de quantificador universal

aqueles referentes a ―todos (MURCHO 2006) Utilizaremos em nossa pesquisa agraves

ocorrecircncias com quantificadores do segundo tipo Vejamos um exemplo ilustrativo

54

(21) TODO produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia

Possivelmente natildeo encontraremos em nossa anaacutelise nenhuma sentenccedila como esta pois

vemos que o quantificador universal destacado em letras maiuacutesculas abrange totalmente a

possibilidade de cobertura da garantia de um produto Da forma que estaacute expressa se compro

uma TV por exemplo e a mergulho na aacutegua causando defeito poderei receber outra nova do

fabricante pois ―todo produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia

Sobre os condicionais trataremos a anaacutelise na mesma linha de raciociacutenio pois eles

satildeo utilizados em proposiccedilotildees do tipo ―se X entatildeo Y oportunizando abrangecircncia ou

restriccedilatildeo de possibilidades de interpretaccedilatildeo como podemos ver ilustrado no exemplo a

seguir

(22) SE o produto apresentar defeito seraacute reparado gratuitamente

Da mesma forma como mostramos no exemplo anterior provavelmente natildeo

encontraremos sentenccedilas tatildeo abrangentes em nosso corpus como esta pois da forma como

estaacute posta ampliaria muito a possibilidade de cobertura da garantia de um produto Podemos

interpretar a partir da leitura da sentenccedila acima que o reparo do produto seraacute efetuado caso o

produto apresente qualquer defeito por qualquer motivo durante qualquer periacuteodo de tempo

sendo utilizado por qualquer pessoa e em qualquer circunstacircncia entre outras possibilidades

Para reparar tamanha abrangecircncia os autores dos textos podem utilizar listas exaustivas com

detalhes especiacuteficos apoacutes a apresentaccedilatildeo dos condicionais para direcionar efetivamente a

cobertura da garantia

Por fim em relaccedilatildeo ao uso dos termos ―apenas e ―somente analisaremos os termos

nos contextos que os autores buscam restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos textos

Vejamos o exemplo a seguir

(22) Estaratildeo cobertos pela garantia APENAS os produtos que natildeo estatildeo em

promoccedilatildeo

55

No exemplo acima tambeacutem inventado vemos que o ―apenas aparece como um

restritor da garantia deixando claro que soacute os produtos que foram adquiridos pelos preccedilos

normais ou seja fora da promoccedilatildeo estaratildeo cobertos pela garantia Dessa forma produtos em

promoccedilatildeo ficam descobertos

Com os conceitos sobre as categorias de anaacutelise dispostos acima apresentaremos a

seguir a anaacutelise dos trechos coletados em nosso corpus separada por tipos de ocorrecircncia

Iremos observar como se apresentam os quantificadores condicionais ocorrecircncias com o

apenassomente assim como observaremos os tipos de ocorrecircncias no campo do leacutexico que

dificultam a interpretaccedilatildeo dos trechos (polissemia e vagueza)

31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL

Vejamos a seguir as ocorrecircncias4 em que o quantificador universal eacute utilizado

5

(1) Este produto e as peccedilas substituiacutedas seratildeo garantidos pelo restante do

prazo original TODAS as peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades

da SAMSUNG

Podemos observar na ocorrecircncia acima que o fabricante utiliza o quantificador para

fazer com que o leitor infera que absolutamente todas as peccedilas que forem substituiacutedas na

assistecircncia a algum aparelho defeituoso se tornaratildeo propriedade da fabricante Dessa forma o

cliente natildeo poderaacute em hipoacutetese alguma ficar com a peccedila trocada

Percebemos no trecho acima que o quantificador universal ―todas poderia ser

excluiacutedo da sentenccedila e com isso em nada alteraria o sentido da sentenccedila Forccedilando uma

possiacutevel interpretaccedilatildeo da sentenccedila o leitor poderia afirmar que se a sentenccedila fosse disposta

da seguinte maneira ―As peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades da SAMSUNG

poderia existir uma classe de peccedilas eletrocircnicas de produtos SAMSUNG que

4 Utilizaremos o termo ldquoocorrecircnciardquo tanto para se referir ao trecho completo do corpus quanto para a

sentenccedila em que o conectivo grifado se apresenta Natildeo faremos distinccedilatildeo para este uso 5 Para a exibiccedilatildeo das ocorrecircncias do nosso corpus reiniciaremos a numeraccedilatildeo natildeo seguindo a contagem

realizada para os exemplos dos capiacutetulos anteriores

56

tradicionalmente fossem substituiacutedas em manutenccedilotildees mas natildeo recolhidas pelo fabricante

Dessa forma o quantificador universal ―todas se mostraria como a soluccedilatildeo para esse

problema de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos

na ocorrecircncia6 (1)

(2) Esta garantia substitui TODAS as outras garantias expressas ou

taacutecitas incluindo sem limitaccedilatildeo garantias taacutecitas de comercializaccedilatildeo

e adequaccedilatildeo a um fim especiacutefico

(Certificado 1)

Nesta ocorrecircncia o fabricante utiliza o quantificador para abranger ao maacuteximo seu

texto no intuito de inferir que a garantia em anaacutelise se sobrepotildee a qualquer outro tipo de

garantia oferecida ao cliente

Podemos observar que se o quantificador universal ―todas natildeo fosse utilizado o

sentido da sentenccedila permaneceria o mesmo Se tiveacutessemos encontrado a sentenccedila da forma

―Esta garantia substitui as outras garantias o cliente iria interpretar a sentenccedila sem

dificuldades O uso do quantificador aparece como um termo para dar ecircnfase ao que jaacute estaacute

dito na sentenccedila acima Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos na

ocorrecircncia (2)

(3) TODO atendimento de reparo deve ser precedido de ligaccedilatildeo

telefocircnica ao Suporte Teacutecnico Telefocircnico da AOC (0800-10-9539)

para que seja feita uma avaliaccedilatildeo preacutevia do problema a fim de

constatar a existecircncia de defeito ou viacutecio do produto esgotando-se

TODAS as possibilidades de se tratar de uma falha de operaccedilatildeo ou

uso do produto por parte do consumidor

(Certificado 4)

No trecho acima podemos observar que na primeira ocorrecircncia do quantificador o

fabricante utiliza-o para inferir que o cliente em qualquer caso de submissatildeo do aparelho agrave

assistecircncia deve entrar em contato com o suporte teacutecnico telefocircnico da empresa e ainda

6 Decidimos pontuar no final de cada anaacutelise o fato de haver ou natildeo termos polissecircmicos ou vagos nas

ocorrecircncias porque consideramos estes tipos de ocorrecircncias como sendo os principais meios de dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos instrucionais Ao anunciar que natildeo haacute termos dessas categorias em cada anaacutelise por mais que se mostre repetitivo na leitura ao mesmo tempo invoca a importacircncia (e necessidade segundo nossa perspectiva) que depositamos nesses fatos em cada ocorrecircncia

57

reforccedila utilizando outra vez o quantificador ―todas inferindo que o produto soacute iraacute para a

assistecircncia efetivamente caso natildeo haja mais nenhuma possibilidade de resoluccedilatildeo do problema

atraveacutes do contato telefocircnico Ao utilizar esse reforccedilo o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo ao

fato de que por exemplo o problema possa ser resolvido atraveacutes de instruccedilotildees passadas pela

empresa via telefone ao cliente e o cliente natildeo aceitar e exigir que o produto seja reparado

somente na assistecircncia teacutecnica ou simplesmente para evitar que a assistecircncia teacutecnica receba

algum produto que natildeo estaacute defeituoso ou viciado

Diferente da ocorrecircncia (2) o uso do quantificador universal ―todo se faz necessaacuterio

para evitar que o cliente interprete a sentenccedila de uma forma indesejada por parte do

fabricante Por exemplo caso o autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todo na

primeira parte ―Todo atendimento de reparo deve o cliente poderia interpretar que ele

poderia obter atendimento de reparo sem passar pelo contato telefocircnico com o suporte teacutecnico

do fabricante Na utilizaccedilatildeo do quantificador universal ―todas no final da sentenccedila tambeacutem

observamos que se o autor do texto natildeo utilizasse esta estrateacutegia tambeacutem possibilitaria que o

texto fosse interpretado de outra maneira Se o cliente se deparasse com a sentenccedila

―esgotando-se as possibilidades de se tratar de uma falha poderia interpretar que se para

algum tipo de falha de operaccedilatildeo ou seja de utilizaccedilatildeo do produto haveria a possibilidade de

enviar o produto para assistecircncia teacutecnica Como o autor utilizou o quantificador nas duas

passagens que citamos ele direcionou a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha

duacutevidas sobre aquilo que o fabricante deseja expressar

Sobre tipos de ocorrecircncia que dificultam a interpretaccedilatildeo do texto pudemos identificar

a expressatildeo ―viacutecio do produto Esta expressatildeo eacute muito especiacutefica e estaacute presente no Coacutedigo

de defesa do consumidor Segundo Bruno Miragem (2008) ―Viacutecio do produto ou do serviccedilo

abrange o efeito decorrente da violaccedilatildeo aos deveres de qualidade quantidade ou informaccedilatildeo

impedindo com isso que o produto ou serviccedilo atenda aos fins que legitimamente dele se

esperam (dever da adequaccedilatildeo) O autor do certificado natildeo disponibilizou nenhum conceito

para a expressatildeo ―viacutecio do produto apresentando desta forma uma dificuldade a mais para

a interpretaccedilatildeo do texto por parte do cliente Caso o autor tenha elaborado o texto

considerando por exemplo que qualquer pessoa que leia um certificado de garantia deve ser

conhecedor de todos os termos e expressotildees descritas no CDC (a partir desse ponto iremos

utilizar esta sigla para ―coacutedigo de defesa do consumidor) natildeo haveria problema em

simplesmente usar o termo sem conceituar mas isso natildeo eacute pertinente Para evitar que esta

expressatildeo natildeo fosse polissecircmica o autor deveria ter elaborado um mini-glossaacuterio com os

termos que seriam usuais no texto e que possuem um sentido especiacutefico no ramo em que o

58

produto estaacute inserido (por exemplo peccedilas de carros ou peccedilas eletrocircnicas) e no CDC7

(4) A Garantia do Produto oferecida por este Termo abrange TODOS os

defeitos de material ou de fabricaccedilatildeo do aparelho constatados pela

Robert Bosch Ltda bem como a substituiccedilatildeo das peccedilas que

apresentarem viacutecios aleacutem da matildeo-de-obra utilizada no respectivo

reparo

(Certificado 8)

No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador ―todos para assegurar ao cliente

que em qualquer caso em que o produto possua defeito de material ou de fabricaccedilatildeo a

garantia estaraacute assegurada Aleacutem de assegurar isso tambeacutem garante a substituiccedilatildeo da peccedila do

aparelho que estiver com problema e a matildeo-de-obra tudo por conta do fabricante Caso o

autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todos ele poderia abrir margem para

outras interpretaccedilotildees como por exemplo que esta garantia natildeo abrange qualquer defeito do

produto constatado pelo fabricante Eacute interessante citar que a utilizaccedilatildeo do quantificador

―todos foi realizada beneficiando o fabricante pois mesmo afirmando que a ―garantia

abrange todos os defeitos o autor direciona para ―todos os casos que forem constatados

pelo fabricante Ou seja fica a criteacuterio do fabricante decidir o que eacute defeito e o que natildeo eacute

Assim como na ocorrecircncia (3) identificamos o uso do termo ―viacutecios que natildeo tem o

seu conceito descrito no texto do certificado O termo ―viacutecio natildeo eacute utilizado em nosso

cotidiano como algo vinculado a um objeto Geralmente conceituamos esse termo como

referente agrave dependecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica em relaccedilatildeo a uma substacircncia Tambeacutem podemos

conceituar como uma mania (costume de fazer sempre a mesma coisa) Enfim o termo

utilizado da forma em que foi descrita em (4) necessitaria que em alguma parte do texto

aparecesse o conceito para este termo que deve ser interpretado de forma especiacutefica pois eacute

um termo teacutecnico apresentado no CDC e muitas das vezes o cliente natildeo tem conhecimento

deste conceito favorecendo dificuldades a interpretaccedilatildeo do texto

(5) TODOS os eventuais danos ou demoras resultantes da natildeo

observacircncia dessas recomendaccedilotildees fogem agrave responsabilidade da APC

(Certificado 7)

7 Sobre esta estrateacutegia de eliminaccedilatildeo da polissemia e vagueza atraveacutes do uso de um glossaacuterio por autores de

textos instrucionais ver Estrela e Santos (2014)

59

Na ocorrecircncia acima a empresa APC se resguarda de qualquer responsabilidade sobre

o produto caso o cliente natildeo siga as recomendaccedilotildees dadas pelo fabricante Para isso utiliza o

quantificador universal para abranger ao maacuteximo as possibilidades de natildeo cobertura

favorecendo o fabricante Observamos que a utilizaccedilatildeo do quantificador na ocorrecircncia (5)

serviu para intensificar o que foi descrito na sentenccedila Caso natildeo fosse utilizado poderia

deixar margem para outras interpretaccedilotildees como por exemplo que poderia existir algum tipo

de dano eventual que fosse de responsabilidade do fabricante O quantificador ―todos

elimina esse tipo de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos

polissecircmicos na ocorrecircncia (5)

(6) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA garante e consequentemente

compromete-se a reparar ou substituir pelo prazo abaixo indicado

contado a partir da data indicada no documento fiscal representativo

de venda do veiacuteculo Hyundai TODAS as peccedilas que em serviccedilo

normal apresentem defeito de fabricaccedilatildeo ou de material desde que

observadas as respectivas condiccedilotildees sob pena de ser

automaticamente considerado cancelado o presente Certificado de

Garantia independentemente de qualquer aviso ou notificaccedilatildeo

(Certificado 17)

No trecho acima podemos observar que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se daacute

de forma bastante controlada Mesmo o termo ―todas sendo naturalmente utilizado para

abranger ou restringir ao maacuteximo inferecircncias na ocorrecircncia acima vemos sua utilizaccedilatildeo

dependendo de vaacuterios aspectos para se concretizar A Hyundai se compromete em reparar ou

substituir ―todas as peccedilas dos veiacuteculos que estiverem dentro de todas as caracteriacutesticas

descritas antes do termo ser usado como estar dentro do prazo estabelecido pelo fabricante

apresentarem defeito de fabricaccedilatildeo ou material e aleacutem disso observando os procedimentos

detalhados pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o quantificador universal eacute

utilizado de forma controlada pelo fabricante restringindo ao seu sabor as possibilidades de

validade da garantia

(7) TODA revisatildeo deveraacute ser registrada no quadro de registro de revisotildees

para assegurar a garantia de seu veiacuteculo

(Certificado 17)

60

Na ocorrecircncia acima observamos que o fabricante utilizou o quantificador universal

para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente da seguinte forma o

cliente que possui um veiacuteculo na garantia poderia interpretar por exemplo caso natildeo houvesse

a utilizaccedilatildeo do quantificador ―toda na sentenccedila (7) fazer as revisotildees do veiacuteculo em qualquer

oficina e natildeo registrar as mudanccedilas feitas no carro em lugar algum natildeo perdendo a garantia

do veiacuteculo O quantificador universal ―toda direciona a interpretaccedilatildeo da inferecircncia para que

o cliente efetue qualquer revisatildeo do veiacuteculo numa concessionaacuteria do fabricante e aleacutem disso

ter as revisotildees registradas no quadro de registro de revisotildees do fabricante Na ocorrecircncia (7)

natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos

(8) TODOS aparelhos da ONEAL saem da faacutebrica preacute-ajustados em

220V

(Certificado 5)

Nesta ocorrecircncia (8) o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para

abranger a informaccedilatildeo de que qualquer produto produzido por ele eacute ajustado em 220V

resguardando-se de por exemplo um questionamento de algum cliente sobre o

funcionamento de qualquer produto em outra voltagem ou utilizaccedilatildeo do produto em outra

voltagem ocasionando defeito no produto Caso isso ocorra o fabricante natildeo poderaacute ser

responsabilizado pois a partir da ocorrecircncia (8) ele explica a voltagem a ser utilizada natildeo

garantindo o funcionamento do produto em outras voltagens Na ocorrecircncia (8) observamos

que se o fabricante natildeo tivesse utilizado o quantificador universal ―todo natildeo alteraria a

interpretaccedilatildeo da sentenccedila Podemos entender que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal na

ocorrecircncia (8) serviu apenas para intensificar a informaccedilatildeo da sentenccedila

(9) TODOS nossos produtos satildeo testados durante horas nos mais severos

regimes antes de serem aprovados para o mercado

(Certificado 5)

No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para abranger a

interpretaccedilatildeo da inferecircncia Dessa forma o fabricante tenta nos levar a interpretar a

61

ocorrecircncia (9) da seguinte forma qualquer produto produzido por este fabricante eacute testado de

forma rigorosa antes de ser despachado para comercializaccedilatildeo Essa interpretaccedilatildeo eacute dificultada

pela presenccedila de termos vagos Ao utilizar a expressatildeo ―durante horas nos mais severos

regimes o fabricante natildeo teve o cuidado de atrelar essa informaccedilatildeo agrave classe de comparaccedilatildeo

na qual o cliente deve se basear para interpretar a sentenccedila da forma como o fabricante

deseja Ao afirmar que os produtos satildeo testados ―durante horas o fabricante natildeo especificou

por quantas horas os produtos satildeo testados e o que isso representa Por exemplo para

produtos X identificados como em bom funcionamento deve-se testaacute-los durante Y horas

segundo o manual Z que regulamenta a qualidade dos produtos X Aleacutem disso o fabricante

ainda afirma sobre os testes que satildeo ―nos mais severos regimes cometendo a mesma falha

da expressatildeo anterior natildeo descrevendo o que eacute isso e o que isso representa A expressatildeo eacute

vaga pois esses regimes de testes satildeo severos em relaccedilatildeo a quecirc Como natildeo haacute um grau de

comparaccedilatildeo de classe o cliente pode interpretar a ocorrecircncia de formas diversas Se o

fabricante tivesse especificado em algum lugar do texto que a expressatildeo ―nos mais severos

regimes deveria ser comparada por exemplo a um tipo de teste que coloca os produtos em

condiccedilotildees extremas para averiguar a sua qualidade durabilidade e bom funcionamento que eacute

norma padratildeo de qualidade para os produtos que ele estaacute justificando em (9) natildeo haveria

vagueza Do modo como a ocorrecircncia se apresenta as informaccedilotildees ―durante horas e ―nos

mais severos regimes satildeo vagas e dificultam a interpretaccedilatildeo da sentenccedila

(10) A ONEAL garante TODOS os seus produtos por um periacuteodo de 01

(um) ano jaacute incluiacutedo o periacuteodo de garantia legal (os primeiros 90 dias)

a partir da data da compra para problemas mecacircnicos ou por falhas

industriais em montagem e pintura

(Certificado 5)

Podemos observar na ocorrecircncia (10) que o fabricante assegura a garantia para todos

os seus produtos utilizando o quantificador universal com algumas restriccedilotildees Se natildeo

houvesse a utilizaccedilatildeo do quantificador nesta inferecircncia o cliente poderia considerar que a

garantia de seu produto por exemplo teria validade vitaliacutecia e que o produto estaria coberto

pela garantia mesmo se for danificado por negligecircncia do cliente O fabricante restringe o

periacuteodo de validade especificando que o periacuteodo de um ano jaacute inclui o periacuteodo da garantia

legal que eacute de 90 dias Ainda enfatiza que se deve contar o periacuteodo a partir da data da compra

e ainda explica que a garantia cobriraacute somente produtos que apresentarem problemas

62

mecacircnicos ou aqueles que apresentarem problemas industriais em montagem e pintura Dessa

forma problemas de outra natureza natildeo seratildeo cobertos pela garantia assim como produtos

com mais de um ano de adquiridos tambeacutem natildeo estaratildeo cobertos Poderiacuteamos identificar a

expressatildeo ―garantia legal como polissecircmica caso o fabricante natildeo tivesse apresentado o

conceito para a expressatildeo logo apoacutes entre parecircnteses Eacute sabido que no CDC a garantia legal eacute

caracterizada como o periacuteodo de 90 dias apoacutes a aquisiccedilatildeo de um produto Para evitar que

houvesse uma interpretaccedilatildeo indevida o fabricante conceituou a expressatildeo imediatamente

apoacutes o aparecimento dela na sentenccedila

(11) Em vista das mudanccedilas de leis que poderatildeo ocorrer TODO

certificado seraacute regido pelas normas do cartatildeo de garantia mais

recentemente atualizado pela faacutebrica

(Certificado 5)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todo para afirmar

que qualquer certificado de garantia de seus produtos deveraacute seguir as normas dispostas no

cartatildeo de garantia mais recentemente atualizado pela faacutebrica ou seja caso algum cliente tente

solicitar a garantia atraveacutes de um cartatildeo de garantia desatualizado ele natildeo estaraacute autorizado

Dessa forma o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo agraves possiacuteveis atualizaccedilotildees de leis ou

informaccedilotildees nos cartotildees de garantia dos diversos lotes de produtos impossibilitando o cliente

de reclamar sobre qualquer tipo de alteraccedilatildeo no documento em questatildeo A utilizaccedilatildeo do

quantificador universal em (11) eacute importante para dar ecircnfase agrave informaccedilatildeo central da sentenccedila

e tambeacutem para evitar que por exemplo o cliente interpretasse que algum certificado poderia

ser regido pelas normas de outro cartatildeo de garantia que natildeo fosse o mais recente Natildeo

identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos em (11)

(12) A garantia incide sobre TODOS os componentes montados

originalmente em Veiacuteculo conforme descrito na Nota Fiscal de

venda quer fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER ou

por esta adquiridos de terceiros

(Certificado 16)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para

restringir a interpretaccedilatildeo da sentenccedila quando afirma que a garantia cobre qualquer

63

componente montado originalmente em veiacuteculo ou seja a garantia natildeo cobre componentes

avulsos Aleacutem disso os componentes montados devem estar descritos na Nota Fiscal de

venda sendo assim se natildeo estiverem lanccedilados invalidam a garantia e por fim os veiacuteculos

devem tem sido fabricados por alguma empresa do grupo DAIMLER ou fabricado por outra

empresa mas tendo sido adquirido pelo fabricante que estaacute oferecendo a garantia Dessa

forma podemos ver que o quantificador universal foi utilizado pelo fabricante de forma

restrita limitando a abrangecircncia de acordo com seus interesses Caso o quantificador

universal natildeo tivesse sido utilizado na sentenccedila haveria a possibilidade do cliente interpretar

(12) de vaacuterias maneiras Por exemplo admitir que a garantia pode ser vaacutelida para produtos

que foram fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER mas natildeo foram lanccedilados na

Nota Fiscal de venda Em vista disso a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela

necessidade do fabricante restringir a interpretaccedilatildeo do texto da garantia buscando direcionar

melhor a informaccedilatildeo que ele estaacute vinculando em seu texto Natildeo identificamos nem termos

vagos nem termos polissecircmicos em (12)

(13) Executar TODAS as revisotildees estabelecidas pela Mercedes-Benz do

Brasil Ltda

(Certificado 16)

(14) Executar TODAS as manutenccedilotildees reparaccedilotildees e regulagens em um

dos Concessionaacuterios ou Postos de Serviccedilos Autorizados Mercedes-

Benz no territoacuterio brasileiro

(Certificado 16)

Nas duas ocorrecircncias acima podemos observar que o fabricante utiliza o quantificador

universal ―todas para definir que a garantia do produto soacute seraacute vaacutelida caso o cliente realize

as funccedilotildees descritas Caso o cliente natildeo realize pelo menos uma delas a garantia seraacute

invalidada Se o cliente natildeo realizar pelo menos uma revisatildeo sugerida pela fabricante perderaacute

a validade Aleacutem disso se o cliente realizar algum tipo de manutenccedilatildeo no veiacuteculo em alguma

concessionaacuteria que natildeo seja autorizada da Mercedes-Benz e no territoacuterio brasileiro tambeacutem

perderaacute a garantia O fabricante mesmo utilizando o quantificador universal nas duas

ocorrecircncias natildeo deixa de condicionar a validade da garantia de acordo com seus interesses O

cumprimento das recomendaccedilotildees dispostas apoacutes o quantificador natildeo garantem efetivamente

que a garantia do produto estaacute assegurada Ou seja mesmo que o cliente execute todas as

manutenccedilotildees reparos e regulagens em um dos concessionaacuterios do fabricante natildeo impede que

64

a garantia seja invalidade por outro motivo O quantificador universal foi utilizado pelo

fabricante em (13) e (14) sem limites e em seu benefiacutecio Natildeo identificamos nem termos

vagos nem termos polissecircmicos em (13) e (14)

(15) TODA solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica durante o periacuteodo da

garantia deveraacute ser feita obrigatoriamente agrave faacutebrica via e-mail ou

fax descrevendo detalhadamente os problemas apresentados natildeo

excedendo o prazo de 30 dias apoacutes detectaacute-lo indicando o modelo do

equipamento e o nuacutemero de seacuterie descrito na placa de identificaccedilatildeo do

mesmo e constante neste certificado

(Certificado 22)

Na ocorrecircncia (15) o fabricante utiliza o quantificador universal ―toda de forma

abrangente determinando que todas as solicitaccedilotildees de assistecircncia teacutecnica para qualquer

produto deveraacute seguir as instruccedilotildees definidas em seguida Caso o cliente tente solicitar a

assistecircncia natildeo seguindo algum dos passos e prazos determinados pelo fabricante a garantia

seraacute invalidada O quantificador universal foi utilizado para evitar interpretaccedilotildees relativas

sobre os procedimentos descritos no texto Por exemplo se (15) natildeo tivesse o quantificador

universal ―toda uma possiacutevel interpretaccedilatildeo seria que uma solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica

durante o periacuteodo da garantia poderia ser realiza na loja em que o produto foi comprado e natildeo

apenas na faacutebrica Dessa forma a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela

necessidade do fabricante restringir o percurso da solicitaccedilatildeo da garantia para o procedimento

que ele deseja que seja seguido pelo cliente Natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos

em (15)

32 USO DO CONDICIONAL

Vejamos a seguir as ocorrecircncias em que o condicional eacute utilizado Quando as

ocorrecircncias apresentarem o mesmo sentido de interpretaccedilatildeo agruparemos numa mesma

anaacutelise como podemos observar a seguir nas ocorrecircncias (16) (17) e (18)

(16) A garantia fica automaticamente invalidada SE

(Certificado 2)

65

(17) A garantia legal e contratual perderaacute seu efeito SE

(Certificado 3)

(18) Esta garantia perderaacute a validade SE

(Certificado 11)

Podemos observar nas ocorrecircncias (16) (17) e (18) que o condicional tem a funccedilatildeo de

limitar a aplicaccedilatildeo da garantia Os usos do ―se natildeo excluem a possibilidade de haver outros

casos em que a garantia natildeo se aplica ou seja as listas que satildeo apresentadas apoacutes o

condicional natildeo satildeo exaustivas Vale mencionar que da mesma forma que o ―todo o ―se

foi utilizado para beneficiar o fabricante como afirmamos acima O ―se assegura que a

validade do produto seraacute perdida nos casos que satildeo listados apoacutes o condicional sem eliminar

a possibilidade de haverem outros casos abrangendo sem limites os casos em que a garantia

natildeo cobriraacute o produto e restringindo a validade da garantia para o cliente Natildeo identificamos

termos vagos ou polissecircmicos nas ocorrecircncias (16) (17) (18) Na ocorrecircncia (17) o autor

usou os termos ―garantia legal e ―contratual que poderiam ser considerados termos

polissecircmicos que dificultariam a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia mas foram apresentados no

certificado os conceitos para os dois termos Para ―garantia legal o autor definiu como

sendo o prazo inicial da garantia com duraccedilatildeo de 90 dias ( contados imediatamente apoacutes a

emissatildeo da Nota Fiscal de compra) e previsto no CDC por sua vez para ―garantia

contratual se refere ao periacuteodo de dois anos incluindo o periacuteodo da garantia legal para todo

equipamento (neste caso condicionador de ar) e cinco anos para o compressor Com a

apresentaccedilatildeo destas definiccedilotildees o autor evitou que os termos se apresentassem no texto como

polissecircmicos

(19) A garantia do produto natildeo se aplica

(Certificado 8)

Trouxemos para a anaacutelise a ocorrecircncia acima pois a expressatildeo ―natildeo se aplica desta

sentenccedila funciona como um condicional mesmo sem ter a forma das ocorrecircncias que

analisamos anteriormente O fabricante utiliza esse condicional precedendo uma lista de

possiacuteveis situaccedilotildees em que a garantia poderia ser reclamada pelo cliente dessa forma

impossibilitando o cliente de exigir qualquer direito sobre alguma das possiacuteveis situaccedilotildees

Natildeo identificamos termos polissecircmicos e vagos na ocorrecircncia (19)

66

(20) A garantia do produto extingue-se

(Certificado 8)

Assim como na ocorrecircncia anterior tambeacutem natildeo encontramos o condicional ―se de

forma expliacutecita mas o termo ―extingue-se se comporta como tal A sentenccedila acima foi

utilizada pelo fabricante antecedendo uma lista de possibilidades de situaccedilotildees em que o

cliente poderia reclamar a garantia do produto excluindo entatildeo qualquer direito do cliente

em relaccedilatildeo ao que foi listado abaixo da sentenccedila em questatildeo Natildeo identificamos termos vagos

e polissecircmicos na ocorrecircncia (20)

(21) O cliente perderaacute a garantia do seu veiacuteculo SE

(Certificado 17)

Na ocorrecircncia (21) o fabricante utiliza o condicional antecedendo uma lista de

situaccedilotildees que se concretizadas invalidaratildeo a garantia Dessa forma se o veiacuteculo do cliente

que deseja ser atendido pela garantia se enquadrar em algum dos itens dispostos apoacutes essa

sentenccedila a garantia natildeo seraacute concedida Assim como nas ocorrecircncias com o uso do

condicional apresentadas anteriormente o uso do ―se aparece sem limites Como afirmamos

na anaacutelise das ocorrecircncias (16) (17) e (18) o autor utiliza o condicional para em seguida

apresentar uma lista de situaccedilotildees em que se concretizadas o cliente perderaacute a garantia Mas

mesmo com a apresentaccedilatildeo dessa lista o cliente poderaacute perder a garantia caso ocorra outro

tipo de situaccedilatildeo natildeo listada Dessa forma o fabricante se favorece abrangendo ao maacuteximo as

possibilidades de perda da garantia e ―prejudica o cliente oferecendo-lhe restritas

possibilidades de validade da garantia do produto a que se refere o texto Natildeo identificamos

nem termos polissecircmicos nem vagos na ocorrecircncia (21) Apenas vale ressaltar que diferente

das ocorrecircncias apresentadas anteriormente o autor em vez de escrever ―a garantia do

produto ele utilizou ―a garantia do seu veiacuteculo que especifica ao que se refere o texto

diminuindo a possibilidade de o cliente interpretar a ocorrecircncia de uma forma diferente da

que o autor se propotildee a transmitir

(22) A garantia vigoraraacute SOMENTE SE o Veiacuteculo atender

cumulativamente as seguintes condiccedilotildees

67

(Certificado 16)

Eacute interessante observar a forma como o fabricante utiliza o condicional na ocorrecircncia

(22) que precede uma lista de condiccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso o fabricante

natildeo utilizasse esse condicional ―somente se na sentenccedila acima o cliente poderia interpretar

que se o seu produto atendesse pelo menos a uma das condiccedilotildees estaria coberto pela

garantia Mas o fabricante aleacutem de utilizar o condicional ―somente se tambeacutem utilizou o

termo ―cumulativamente explicitando que o produto deve obedecer a todas as condiccedilotildees

dispostas pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o autor utilizou o condicional

para restringir as possibilidades de validade da garantia com restriccedilotildees o que natildeo ocorre

quando o fabricante trata sobre as possibilidades de invalidade da garantia como na

ocorrecircncia (21) Comparando as ocorrecircncias (21) e (22) vemos claramente que o autor em

(21) utilizou o condicional para lhe favorecer sem limites quando tratou sobre as condiccedilotildees

pelas quais o cliente pode perder a garantia abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura natildeo

apenas para as situaccedilotildees que estatildeo listadas mas tambeacutem para qualquer outra possiacutevel Jaacute em

(22) o autor (mesmo essa comparaccedilatildeo sendo feita entre ocorrecircncias de certificados

diferentes) utiliza o condicional para restringir as possibilidades de validade da garantia para

as situaccedilotildees listadas apoacutes a apresentaccedilatildeo do condicional e aleacutem disso afirmou que todas as

situaccedilotildees listadas devem ser atendidas para que a garantia seja vaacutelida para o produto Dessa

forma ainda sobre a ocorrecircncia (22) caso uma das situaccedilotildees listadas natildeo seja atendida a

garantia automaticamente seraacute perdida Com isso podemos afirmar que tanto em (21) quanto

em (22) os autores utilizaram o condicional para se beneficiar Em (21) abrangendo as

possibilidades de invalidade da garantia e em (22) restringindo ao maacuteximo as possibilidades

de validade da garantia do produto Natildeo identificamos nem termos vagos nem polissecircmicos

na ocorrecircncia (22)

(23) A garantia Philips natildeo eacute aplicaacutevel SE

(Certificado 14)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o condicional ―se antecedendo uma lista de

informaccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso algum produto Philips se encaixar em

alguma das situaccedilotildees descritas apoacutes o condicional mesmo estando dentro do prazo de

garantia o cliente perderaacute a cobertura Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem

68

vagos na ocorrecircncia (23)

(24) Esta garantia natildeo se aplica

(Certificado 21)

Assim como nas ocorrecircncias (18) e (19) a ocorrecircncia acima natildeo possui o condicional

expliacutecito mas o termo ―natildeo se aplica se comporta como tal O fabricante utiliza o

condicional precedendo uma lista de condiccedilotildees de natildeo aplicaccedilatildeo da garantia Dessa forma

caso o produto se encaixe em alguma das condiccedilotildees a garantia seraacute invalidada

automaticamente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem vagos na sentenccedila (24)

33 USO DO APENASSOMENTE

Vejamos a seguir ocorrecircncias em que identificamos o uso do ―apenas ou ―somente

(25) Esta garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver

devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original

da Nota Fiscal de Compra

(Certificado 4)

Na ocorrecircncia (25) o fabricante utiliza o ―somente para restringir a validade da

garantia indicando que o cliente teraacute direito agrave garantia caso preencha de forma correta o

certificado e apresente a nota fiscal de compra Caso as instruccedilotildees natildeo sejam seguidas pelo

cliente a garantia natildeo seraacute vaacutelida Podemos identificar que o termo ―rasuras presente em

(25) pode ser considerado como vago e polissecircmico neste caso dificultando a interpretaccedilatildeo

do texto Uma rasura pode ser por exemplo desde um rabisco fora de lugar no formulaacuterio

ateacute o dano no documento por aacutegua amasso do papel em excesso etc O autor poderia evitar a

vagueza e a polissemia definindo o termo da forma como ele deseja que o leitor interprete

este termo e comparando-o a uma classe especiacutefica (por exemplo o que eacute considerado rasura

69

nos documentos instrucionais)

(26) Danos decorrentes de desgaste natural inclusive e natildeo SOMENTE

nas partes plaacutesticas que compotildeem o gabinete do produto

(Certificado 4)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o ―somente numa sentenccedila que trata sobre

uma das situaccedilotildees em que a garantia natildeo seraacute vaacutelida O fabricante deixa claro que qualquer

defeito no produto causado por desgaste natural natildeo seraacute coberto pela garantia Se o

fabricante natildeo utilizasse o ―somente nesta sentenccedila o cliente poderia interpretar por

exemplo que danos decorrentes de desgaste natural nas partes que natildeo satildeo de plaacutestico seriam

cobertas pela garantia O autor utiliza o ―somente para se resguardar sobre outras possiacuteveis

interpretaccedilotildees do trecho abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura da garantia para

qualquer peccedila do produto que for afetado por danos decorrentes de desgaste natural Na

ocorrecircncia (26) a expressatildeo ―desgaste natural eacute polissecircmica O autor em nenhuma parte do

certificado de garantia definiu a expressatildeo em questatildeo para que o cliente compreenda da

forma desejada pelo fabricante Dessa forma podemos interpretar ―desgaste natural de

muitas formas Podemos por exemplo interpretar como o desgaste do produto como um todo

ou suas peccedilas referentes ao uso em excesso ao longo do tempo e diretamente vinculado agrave

vida uacutetil tanto do produto em geral quanto de peccedilas especiacuteficas Mas tambeacutem podemos

interpretar como sendo um desgaste proveniente do contato do produto com a natureza como

a exposiccedilatildeo agrave chuva maresia sol em excesso Pode parecer um exagero esta uacuteltima

interpretaccedilatildeo mas ela eacute possiacutevel a partir da forma como (26) se apresenta O autor utilizou no

texto a expressatildeo sem dar-lhe a definiccedilatildeo que ele pensou para a utilizaccedilatildeo dela na ocorrecircncia

dificultando a interpretaccedilatildeo do texto

(27) Este termo de garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos

comercializados e utilizados em territoacuterio brasileiro

(Certificado 4)

(28) Este Certificado de Garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos

vendidos e utilizados no territoacuterio brasileiro

(Certificado 10)

(29) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro

70

(Certificado 2)

(30) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro

(Certificado 13)

(31) Esta garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o territoacuterio brasileiro

(Certificado 12)

Nas ocorrecircncias (27) (28) (29) e (30) observamos que os fabricantes utilizam o termo

―apenas para restringir a cobertura da garantia tanto em relaccedilatildeo ao local da compra quanto

em relaccedilatildeo ao local de uso do produto assim como o autor da ocorrecircncia (31) utiliza o termo

―somente com o mesmo sentido Caso o produto tenha sido comprado em outro paiacutes natildeo

haveraacute cobertura da garantia assim como mesmo que o produto tenha sido comprado no

Brasil mas tenha sido utilizado em outro paiacutes culminando em um defeito tambeacutem natildeo haveraacute

cobertura da garantia Mas para a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que aparece em (27) (28)

(29) (30) e (31) podemos tambeacutem interpretar como natildeo apenas a extensatildeo territorial do paiacutes

mas tambeacutem admitir territoacuterios brasileiros em outros paiacuteses a saber os consulados

honoraacuterios do Brasil nas diversas naccedilotildees ao redor do mundo Nesse caso por exemplo se o

produto for adquirido dentro dos limites geograacuteficos do Brasil e for utilizado em algum

consulado do Brasil em outro paiacutes a garantia deve ser vaacutelida Eacute possiacutevel que o fabricante natildeo

tenha pensado nessa possibilidade poreacutem da forma que estas ocorrecircncias se apresentam haacute

essa possibilidade de interpretaccedilatildeo Ao apresentar essa possiacutevel interpretaccedilatildeo para a

expressatildeo ―territoacuterio brasileiro noacutes quisemos mostrar que o fabricante deveria ter

especificado em alguma parte do certificado de garantia o conceito que ele deseja que o

cliente admita para esta expressatildeo para natildeo deixar que a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro seja

interpretada de outras formas ou seja para evitar a polissemia que dificulta a leitura do

texto Outra questatildeo que tambeacutem podemos considerar eacute que nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)

a afirmaccedilatildeo sobre a validade da garantia eacute apresentada de forma menos detalhada Os autores

apresentam a afirmaccedilatildeo de que a garantia eacute vaacutelida para o territoacuterio brasileiro sem informar se

eacute em relaccedilatildeo ao produto ser adquirido e utilizado no paiacutes Brasil ou se o produto pode ser

utilizado fora do Brasil mas para requerer a garantia do produto o consumidor caso resida no

exterior deva se dirigir ao Brasil para fazer jus a sua garantia Diferente das ocorrecircncias (27)

e (28) em que os autores enfatizam que a garantia dos produtos eacute vaacutelida unicamente para

produtos comercializados e utilizados dentro do Brasil restringindo a garantia mais do que

nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)

71

(32) A garantia SOMENTE eacute vaacutelida mediante a apresentaccedilatildeo de nota

fiscal de compra deste produto

(Certificado 3)

Podemos observar na ocorrecircncia (29) que o fabricante utiliza o termo ―somente para

restringir a validade da garantia Fica claro que caso o produto apresente algum defeito e o

cliente procure a assistecircncia teacutecnica sem estar de posse da nota fiscal natildeo haveraacute cobertura da

garantia Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em (29) o cliente poderia interpretar

por exemplo que a garantia do produto eacute vaacutelida com ou sem a apresentaccedilatildeo da nota fiscal de

compra do produto Neste caso a funccedilatildeo do ―somente eacute de restringir a interpretaccedilatildeo de

acordo com o que o fabricante deseja Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem

vagos em (29)

(33) A garantia oferecida por esse Certificado eacute de 36 (trinta e seis) meses

e SOMENTE teraacute validade se o presente documento for devidamente

preenchido no ato da venda do produto conforme acima e se a

instalaccedilatildeo for feita por uma pessoa ou empresa credenciada pela

Robert Bosch Ltda

(Certificado 8)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade

da garantia Caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees de forma cumulativa que seguem a

utilizaccedilatildeo do termo a garantia seraacute invalidada Por exemplo se o cliente preencher no ato da

venda do produto o certificado mas se a instalaccedilatildeo do produto natildeo tiver sido feita por algueacutem

credenciado pela Robert Bosch Ltda a garantia natildeo teraacute validade A importacircncia do uso do

―somente em (33) se daacute pelo fato de que caso o autor natildeo tivesse utilizado este termo

haveria a possibilidade do cliente interpretar por exemplo que a garantia teria validade caso

a instalaccedilatildeo do produto tenha sido feita por uma pessoa ou empresa natildeo credenciada pela

fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (33)

(34) Os consertos em Garantia do Produto SOMENTE seratildeo efetuados

72

por um Serviccedilo Autorizado devidamente nomeado pela Robert Bosch

Ltda em territoacuterio brasileiro

(Certificado 8)

Podemos observar que o fabricante utiliza o termo ―somente em (34) para restringir a

validade da garantia O fabricante define tanto quem efetuaraacute o conserto dos produtos quanto

os limites territoriais de cobertura Dessa forma fica expliacutecito para o cliente que o conserto

natildeo poderaacute ser efetuado por pessoas natildeo autorizadas pela Robert Bosch Ltda e tal conserto

natildeo pode ser realizado em outros paiacuteses Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em

(34) abriria a possibilidade de interpretar a sentenccedila de outras formas como por exemplo

que os consertos em garantia do produto poderiam ser realizados em territoacuterios de outros

paiacuteses ou que os consertos poderiam ser realizados por serviccedilos natildeo autorizados pelo

fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (34)

(35) O exame e reparo do produto soacute poderatildeo ser efetuados pelo

fabricante

(Certificado 7)

Na ocorrecircncia (36) o fabricante utiliza no lugar do termo ―somente o termo ―soacute

para restringir a interpretaccedilatildeo Nesse caso se o cliente procurar reparar eou examinar o

produto sozinho ou em assistecircncias teacutecnicas que natildeo sejam autorizadas pelo fabricante a

garantia seraacute invalidada A utilizaccedilatildeo do termo ―soacute tem grande importacircncia para o

direcionamento da interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia (35) pois caso natildeo tivesse sido utilizado pelo

autor a ocorrecircncia traria apenas uma informaccedilatildeo vaga dificultando a interpretaccedilatildeo do texto

Sem o ―soacute a partir de (35) poderiacuteamos interpretar que o exame e reparo do produto podem

ser efetuados pelo fabricante mas tambeacutem por qualquer outra pessoa ou empresa Utilizando

o ―soacute o autor restringe a inferecircncia evitando muacuteltiplas interpretaccedilotildees para a sentenccedila

(36) O presente ―Termo de Garantia Hyundai aplica-se uacutenica e

exclusivamente ao veiacuteculo da marca e fabricaccedilatildeo Hyundai

devidamente identificado no iniacutecio deste documento e que tenha sido

comercializado por um Revendedor Autorizado da CAOA Montadora

de Veiacuteculos SA

(Certificado 17)

73

Em (36) o fabricante natildeo utiliza os termos ―apenas ou ―somente mas

consideraremos em nossa anaacutelise a expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como um restritor de

mesmo sentido Observamos que o fabricante utiliza a expressatildeo para restringir a cobertura

da garantia Caso o cliente esteja por exemplo solicitando a garantia de um veiacuteculo Hyundai

que natildeo seja o mesmo que estaacute descrito no iniacutecio do documento de garantia e que natildeo tenha

sido comercializado por uma autorizada da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA a garantia

natildeo teraacute validade Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado a expressatildeo ―uacutenica e

exclusivamente em (36) haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia de outras

maneiras

(37) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA eou o Revendedor Autorizado

da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA APENAS substituiraacute as peccedilas

que forem por elas e a seu exclusivo criteacuterio julgadas como

defeituosas

(Certificado 17)

Na ocorrecircncia (37) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a interpretaccedilatildeo

da sentenccedila Dessa forma o fabricante fica resguardado tanto em relaccedilatildeo a substituiccedilatildeo de

peccedilas quanto em relaccedilatildeo ao meacutetodo utilizado para jugar se a peccedila estaacute defeituosa ou natildeo A

importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―apenas em (37) tambeacutem se daacute pelo fato de natildeo permitir outras

interpretaccedilotildees diferentes da definida pelo fabricante Caso o ―apenas natildeo tivesse sido

utilizado poderiacuteamos interpretar por exemplo que o fabricante poderia substituir peccedilas

julgadas por ela como defeituosas utilizando seus proacuteprios criteacuterios mas tambeacutem substituiria

em outros casos O ―apenas serviu para especificar e restringir a interpretaccedilatildeo dos criteacuterios

definidos pelo fabricante em relaccedilatildeo agrave substituiccedilatildeo de peccedilas do produto Natildeo identificamos

nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (37)

(38) Permita que SOMENTE teacutecnicos autorizados pela faacutebrica prestem

assistecircncia a seu aparelho pois se for aberto por teacutecnicos ou pessoas

natildeo autorizadas automaticamente vocecirc estaraacute perdendo sua garantia

(Certificado 5)

Na ocorrecircncia (38) o fabricante deixa expliacutecito ao utilizar o termo ―somente que

caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees dispostas nesta sentenccedila a garantia do produto seraacute

74

invalidada Dessa forma o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a informaccedilatildeo

veiculada pelo fabricante da mesma forma como vimos na ocorrecircncia (37) Natildeo

identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (38)

(39) A presente garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o Veiacuteculo

comercializado em territoacuterio brasileiro

(Certificado 16)

Na ocorrecircncia (39) um pouco parecida com as ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e

(31) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia do produto Nesse caso

se o veiacuteculo tiver sido adquirido em outro paiacutes sua garantia natildeo seraacute vaacutelida no Brasil Um

pouco diferente das ocorrecircncias (27) e (28) que especificam ao maacuteximo a possibilidade de

cobertura da garantia a ocorrecircncia (39) veicula que a garantia eacute vaacutelida para o produto

comercializado em territoacuterio brasileiro natildeo tratando sobre a possibilidade da perda da

garantia caso o veiacuteculo seja utilizado em outros paiacuteses Neste caso o cliente natildeo tem direito

a garantia do veiacuteculo caso ele seja adquirido em outros paiacuteses Sobre a expressatildeo ―territoacuterio

brasileiro assim como nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31) o autor natildeo definiu um

sentido para a expressatildeo que pode ser interpretada de outras maneiras como exemplificamos

nas anaacutelises anteriores

(40) Utilizar SOMENTE peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios genuiacutenos

Mercedes-Benz e comprovar sua aquisiccedilatildeo mediante e apresentaccedilatildeo

da Nota Fiscal quando adquiridos pelo consumidor final

(Certificado 16)

Na ocorrecircncia (40) que faz parte de uma lista de recomendaccedilotildees para o cliente natildeo

perder a garantia o fabricante utiliza o termo ―somente para delimitar a interpretaccedilatildeo da

sentenccedila Na passagem se o cliente natildeo seguir as instruccedilotildees descritas consequentemente

perderaacute a garantia do produto A importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente na ocorrecircncia (40) eacute

a de dificultar que o cliente interpreta a sentenccedila de outra maneira Sem o ―somente na

sentenccedila o cliente poderia interpretar que ele pode utilizar peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios

originais do fabricante mas tambeacutem estaacute autorizado a utilizar peccedilas de outros fabricantes

Com a presenccedila do ―somente na sentenccedila o cliente eacute levado a interpretar a sentenccedila da

75

forma direcionada pelo fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (40)

(41) A comprovaccedilatildeo de defeito de fabricaccedilatildeo do produto que provocaraacute a

execuccedilatildeo da troca do mesmo deveraacute ser feita exclusivamente por

funcionaacuterio credenciado da Ortobom

(Certificado 15)

Na ocorrecircncia (41) o fabricante natildeo utiliza explicitamente os termos ―apenas ou

―somente mas consideraremos em nossa anaacutelise que o termo ―exclusivamente possui a

mesma funccedilatildeo de restringir interpretaccedilotildees O fabricante utiliza o termo para restringir a

garantia do produto em questatildeo Natildeo haacute a possibilidade de o cliente comprovar um defeito de

fabricaccedilatildeo em seu produto atraveacutes de outro profissional que natildeo seja um funcionaacuterio

credenciado da Ortobom Haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia (41) caso o

fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―exclusivamente Sem tal uso o cliente poderia

interpretar que poderia comprovar algum defeito no produto para possiacutevel troca por

intermeacutedio de qualquer profissional natildeo obrigatoriamente por um funcionaacuterio do fabricante

Ortobom O termo ―exclusivamente especifica e destaca a informaccedilatildeo que o fabricante

veicula em (41) Natildeo identificamos em (41) nem termos polissecircmicos nem termos vagos

(42) A garantia cobre exclusivamente defeitos de materiais eou

fabricaccedilatildeo sendo que as despesas de deslocamento alimentaccedilatildeo e

hospedagem do teacutecnico para atendimento em garantia ou natildeo

referente agrave entrega montagem instruccedilatildeo de uso e reparo do

equipamento assim como o frete de retirada para conserto e retorno

do mesmo e de envio de peccedilas e retorno das substituiacutedas em garantia

ocorreratildeo por conta do cliente

(Certificado 22)

Assim como em (41) o fabricante utiliza o termo ―exclusivamente para restringir a

garantia do produto O fabricante ao utilizar esse termo se resguarda de possiacuteveis cobranccedilas

por parte do cliente ao solicitar a garantia como por exemplo ajuda de custo para custear a

iacuteda do teacutecnico para manutenccedilatildeo do produto envio de peccedilas para faacutebrica etc Fica expliacutecito

que em todas essas situaccedilotildees o cliente eacute responsaacutevel Caso o termo ―exclusivamente natildeo

76

tivesse sido utilizado o cliente poderia interpretar a ocorrecircncia de diferentes modos Uma

possibilidade de interpretaccedilatildeo seria a de entender que a garantia cobre outros tipos de

defeitos que natildeo fossem de peccedilas ou de fabricaccedilatildeo Com a utilizaccedilatildeo do termo

―exclusivamente o fabricante diminui as possibilidades de interpretaccedilatildeo tornando o texto

mais claro para o cliente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na

ocorrecircncia (42)

(43) A garantia natildeo cobre peccedilas ou componentes de desgaste normal de

uso dentre as quais selim pedais firma-peacutes natildeo se limitando

SOMENTE a estes mas incluindo rodas de transporte carenagens

adesivos elementos de acabamento de plaacutestico borracha e alumiacutenio

danos na pintura e quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa

exclusiva distribuiccedilatildeo devendo as reclamaccedilotildees ser encaminhadas aos

seus respectivos representantes ou fabricantes

(Certificado 22)

Em (43) o fabricante aleacutem de utilizar o termo ―somente para abranger a

interpretaccedilatildeo sobre as peccedilas que natildeo seratildeo cobertas pela garantia do produto utiliza outros

termos que alargam ainda mais sem restriccedilotildees a natildeo cobertura da garantia como ―quaisquer

acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo O fabricante se resguarda

especificando quais peccedilas que ele considera como de ―desgaste normal para evitar

problemas de interpretaccedilatildeo por parte do cliente O uso do ―somente na ocorrecircncia (43) se

apresenta de forma contraacuteria agraves outras ocorrecircncias que apresentamos anteriormente Enquanto

em ocorrecircncias como a (40) que o ―somente foi utilizado para restringir a interpretaccedilatildeo da

sentenccedila para as informaccedilotildees descritas depois do termo em (43) o fabricante utiliza o

―somente precedido da negaccedilatildeo ―natildeo se limitando direcionando o termo para o sentido de

abrangecircncia Ou seja a garantia que o fabricante oferece natildeo cobre peccedilas ou componentes de

desgaste natural como selim e pedais Para natildeo correr o risco de esquecer de citar algum dos

componentes de desgaste natural do produto e deixar brechas na interpretaccedilatildeo da garantia o

fabricante utiliza a expressatildeo ―natildeo se limitando seguida do ―somente para abranger ao

maacuteximo as possibilidades de interpretaccedilatildeo sobre os itens de desgaste natural que natildeo satildeo

cobertos pela garantia Depois do uso do ―somente e de apresentar mais uma lista de itens

que natildeo satildeo cobertos pela garantia o fabricante ainda abrange mais a interpretaccedilatildeo

utilizando a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo

Dessa forma pudemos perceber que o fabricante utilizou natildeo apenas o termo de restriccedilatildeo

77

―somente para limitar as possibilidades de interpretaccedilatildeo da sentenccedila mas tambeacutem utilizou

listas especificando itens e a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa

exclusiva distribuiccedilatildeo Todas essas estrateacutegias foram utilizadas com o objetivo de tornar a

interpretaccedilatildeo do texto clara sem oferecer a possibilidade de o cliente obter muacuteltiplas

interpretaccedilotildees do texto Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na

ocorrecircncia (43)

(44) A matildeo-de-obra em garantia limita-se SOMENTE ao horaacuterio normal

de expediente sendo de segunda a sexta-feira das 730 agraves 1800 horas

devendo o equipamento estar disponiacutevel para a assistecircncia teacutecnica

(Certificado 22)

Em (44) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o horaacuterio disponiacutevel

para reparos em produtos na garantia e aleacutem disso enfatizando que o produto deve estar

disponiacutevel para a assistecircncia Dessa forma o cliente fica impossibilitado de reclamar

assistecircncia fora do horaacuterio que estaacute descrito na sentenccedila assim como fica consciente de que

seu produto ficaraacute a disposiccedilatildeo da assistecircncia para conserto ou seja natildeo seraacute reparado

imediatamente A importacircncia do uso do ―somente na ocorrecircncia (44) se daacute pelo fato de que

caso natildeo fosse utilizado o cliente poderia interpretar por exemplo que a matildeo-de-obra em

garantia estaria disponiacutevel vinte e quatro horas por dia e sete dias por semana Como o

―somente foi utilizando precedendo as informaccedilotildees sobre dia e horaacuterio de atendimento natildeo

eacute possiacutevel interpretar a informaccedilatildeo de outra maneira que natildeo seja a descrita Haveria a

possibilidade de definir a expressatildeo ―horaacuterio normal de expediente como uma expressatildeo

polissecircmica caso ela natildeo estivesse acompanhada de uma definiccedilatildeo (―de segunda a sexta-feira

das 730 agraves 1800 horas) pois o horaacuterio de expediente pode variar de acordo com o trabalho

que vocecirc tem por exemplo Se vocecirc trabalha em um banco financeiro o seu horaacuterio de

expediente seraacute possivelmente diferente do horaacuterio de um feirante Para evitar a polissemia

o fabricante utilizou a expressatildeo e em seguida apresentou a definiccedilatildeo da expressatildeo de

acordo com o seu interesse

(45) A presente garantia limita-se SOMENTE ao produto fornecido natildeo

responsabilizando a TOTAL HEALTH por danos causados a pessoas

a terceiros a outros equipamentos ou instalaccedilotildees lucros cessantes ou

quaisquer outros danos emergentes ou consequumlentes

(Certificado 22)

78

Na ocorrecircncia (45) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da

garantia Nesse caso a garantia se limita unicamente ao produto descrito Se por exemplo o

produto em questatildeo apresentar defeito e tal defeito ocasionar dano fiacutesico ao dono do produto

ou a terceiros a garantia natildeo cobriraacute tais problemas Assim como nas ocorrecircncias anteriores

o uso do ―somente em (45) teve a funccedilatildeo de direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para uma

uacutenica possibilidade de interpretaccedilatildeo Caso o ―somente natildeo tivesse sido utilizado poderiacuteamos

interpretar (45) de outras maneiras Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (45)

(46) SOMENTE os profissionais indicados pela loja revendedora dos

produtos Bartzen estatildeo autorizados a prestar atendimento dentro do

prazo de garantia

(Certificado 18)

Na ocorrecircncia (46) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a

interpretaccedilatildeo da sentenccedila Nesse caso o cliente soacute poderaacute usufruir de assistecircncia teacutecnica em

seu produto atraveacutes de profissionais indicados pela loja na qual ele adquiriu seu produto

Bartzen e dentro do prazo da garantia Caso o cliente realize algum serviccedilo em seu produto

com profissionais natildeo autorizados pela fabricante sua garantia seraacute invalidada A importacircncia

da utilizaccedilatildeo do termo ―somente na ocorrecircncia (46) eacute a de diminuir as possibilidades de

interpretaccedilatildeo da sentenccedila ao maacuteximo Dessa forma natildeo haacute como o cliente interpretar que por

exemplo ele pode realizar a manutenccedilatildeo ou reparo do seu produto com qualquer outro

funcionaacuterio que natildeo seja autorizado pela fabricante do produto Natildeo identificamos nem

termos polissecircmicos nem termos vagos em (46)

(47) A garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o consumidor que consta

identificado na nota fiscal de compra do produto (primeiro usuaacuterio) a

qual deveraacute ser apresentada junto com este Certificado de Garantia

devidamente preenchido com os dados do consumidor e do produto

para fins de cobertura para reparo ou substituiccedilatildeo do produto se

necessaacuterio

(Certificado 19)

79

Em (47) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia Nesse caso

o cliente fica ciente de que a garantia soacute seraacute vaacutelida para o primeiro proprietaacuterio do produto

assim como soacute seraacute aceito o pedido de garantia caso o cliente apresentar a nota fiscal

contendo tanto os dados do produto quanto os seus Todas as possibilidades fora das

descritas seratildeo desconsideradas e consequentemente a garantia seraacute invalidada A

importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente em (47) se daacute pelo fato de que haacute diversas

informaccedilotildees a serem consideradas pelo cliente na ocorrecircncia (47) e caso o autor do texto natildeo

tivesse utilizado o termo ―somente antes dessas informaccedilotildees o cliente poderia interpretar

que sua garantia poderia ser vaacutelida ao cumprir algumas das informaccedilotildees descritas na sentenccedila

e natildeo obrigatoriamente todas Por exemplo se natildeo houvesse o uso do ―somente em (47) o

cliente poderia interpretar que a garantia eacute vaacutelida para o consumidor que tem o nome

constando na nota fiscal mas tambeacutem para qualquer outro consumidor que esteja de posse da

nota fiscal mesmo que natildeo seja a pessoa que tem o nome na nota fiscal O ―somente possui

o papel de restringir a interpretaccedilatildeo de toda ocorrecircncia ao maacuteximo direcionando a leitura do

texto para evitar muacuteltiplas interpretaccedilotildees Com esse uso natildeo eacute possiacutevel que cliente interprete

que ele pode ter acesso a garantia caso natildeo cumpra alguma das recomendaccedilotildees Natildeo

identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (47)

(48) O Certificado de Garantia eacute vaacutelido SOMENTE para os

condicionadores vendidos e instalados no territoacuterio brasileiro

(Certificado 19)

Em (48) semelhante agraves ocorrecircncias (31) e (39) o fabricante utiliza o termo ―somente

para restringir o territoacuterio de cobertura da garantia Neste caso condicionadores adquiridos e

utilizados em outros paiacuteses natildeo seratildeo cobertos pela garantia descrita acima Ainda retomando

a discussatildeo sobre a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro consideramos que pelo fato do autor do

texto natildeo ter apresentado um conceito para esta expressatildeo em nenhum local do certificado de

garantia da forma como se apresenta ela pode ser interpretada de outras maneiras assim

como discutimos nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)

(49) Para o uso de condicionadores de ar em ambientes com alta

concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre

seraacute vaacutelida SOMENTE a garantia legal de 90 (noventa) dias contados

80

da data de emissatildeo da nota fiscal de compra do produto

(Certificado 19)

Na ocorrecircncia (49) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da

garantia do produto que seja utilizado em ambientes especiacuteficos como ―ambientes com alta

concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre Dessa forma o

fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a qualquer solicitaccedilatildeo de garantia ―normal ou seja prazo

de validade de garantia para condicionadores de ar que satildeo utilizados em ambientes

considerados ―normais por parte de um cliente que utilize o produto em ambientes como os

descritos acima Dessa forma o uso do ―somente se justifica pelo fato de que o fabricante

busca direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha duacutevidas de que como

descrito em (49) os produtos utilizados em ambientes atiacutepicos soacute estaratildeo cobertos pela

garantia legal Assim como jaacute discutimos em outras ocorrecircncias anteriormente o fabricante

utiliza a expressatildeo ―garantia legal que eacute uma expressatildeo teacutecnica do CDC e para que ela natildeo

se tornasse polissecircmica logo apoacutes seu uso o autor apresentou o conceito para o termo que eacute

o de um periacuteodo de 90 dias corridos compreendidos imediatamente apoacutes a expediccedilatildeo da nota

fiscal de compra do produto

(50) A partir do 91ordm (nonageacutesimo primeiro) dia tais despesas satildeo de

responsabilidade uacutenica e exclusiva do consumidor

(Certificado 19)

Em (50) o fabricante natildeo utilizou os termo ―somente e ―apenas mas

consideraremos em nossa anaacutelise a utilizaccedilatildeo da expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como

umas expressotildees utilizadas para restringir interpretaccedilotildees como discutimos anteriormente em

outras anaacutelises Na sentenccedila acima o fabricante utilizou a expressatildeo de restriccedilatildeo para

enfatizar que passados os trecircs meses de garantia as despesas referentes a qualquer

manutenccedilatildeo e garantia do produto seratildeo de responsabilidade do cliente Como apresentamos

na ocorrecircncia (49) a garantia legal para um produto cobre os primeiros 90 dias apoacutes a

emissatildeo da nota fiscal de compra do produto Ao informar em (50) que a partir do primeiro

dia apoacutes o teacutermino da garantia legal despesas referentes ao traslado do produto para

manutenccedilatildeo seraacute de responsabilidade do cliente o autor utiliza a expressatildeo ―uacutenica e

exclusiva para se resguardar de qualquer possibilidade de participaccedilatildeo em possiacuteveis gastos

81

Caso o fabricante natildeo tivesse enfatizado essa informaccedilatildeo utilizando esta expressatildeo o cliente

poderia interpretar por exemplo que poderia haver algum caso em que o fabricante se

responsabilizaria por tais gastos Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (50)

(51) A reposiccedilatildeo de peccedilas defeituosas e execuccedilatildeo dos serviccedilos decorrentes

desta Garantia SOMENTE seratildeo procedidas nas localidades do

territoacuterio brasileiro onde a ENVISION mantiver ―Centro de Serviccedilo

Autorizado de titularidade dela proacutepria ou de terceiro por ela

expressamente indicado onde deveraacute ser entregue o produto para

reparo

(Certificado 20)

Na ocorrecircncia (51) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir os locais de

execuccedilatildeo de serviccedilos da garantia Neste caso o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a por

exemplo natildeo haver assistecircncias teacutecnicas em todas as cidades do paiacutes Aleacutem de enfatizar que o

produto deveraacute ser entregue na assistecircncia pelo cliente ou seja o fabricante natildeo se

responsabiliza quanto ao recolhimento do produto para reparo A utilizaccedilatildeo do ―somente se

justifica pelo fato de que o fabricante busca restringir ao maacuteximo as possibilidades de

interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o ―somente o cliente

poderia por exemplo interpretar que se a cidade em que o cliente tenha adquirido o produto

natildeo tenha uma assistecircncia teacutecnica a fabricante se responsabilizaria pelo recolhimento do

produto para manutenccedilatildeo numa cidade que possua a assistecircncia teacutecnica Com a utilizaccedilatildeo do

―somente precedendo as demais informaccedilotildees natildeo eacute possiacutevel interpretar a ocorrecircncia dessa

maneira Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termo vagos na ocorrecircncia (51)

(52) Esta Garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver

devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original

da Nota Fiscal de Compra

(Certificado 20)

Na ocorrecircncia (52) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a forma

como o cliente deve solicitar a garantia do produto Caso o cliente deixe de apresentar o

certificado preenchido corretamente eou a nota fiscal de compra a garantia seraacute invalidada

82

Assim como na ocorrecircncia (51) o autor fabricante utiliza o ―somente para restringir ao

maacuteximo a interpretaccedilatildeo do texto Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente

haveria a possibilidade de o cliente interpretar que a garantia do produto seria vaacutelida caso o

certificado estivesse preenchido sem rasuras acompanhado da nota fiscal de compra mas

tambeacutem de qualquer outra forma A ocorrecircncia ficaria sem limites para interpretaccedilatildeo caso o

fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente Poreacutem como o termo foi utilizado natildeo

haacute outra forma de o cliente interpretar a ocorrecircncia sobre a validade da garantia do produto

Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (52)

(53) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS se o produto for reparado pela rede

autorizada Rheem ou por autorizaccedilatildeo preacutevia formalizada pelo

Departamento de Assistecircncia Teacutecnica

(Certificado 20)

Na ocorrecircncia (53) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a validade da

garantia quanto ao local de assistecircncia Caso o produto seja reparado por profissional natildeo

autorizado pela fabricante Rheem a garantia do produto seraacute perdida A importacircncia o uso do

termo ―apenas na ocorrecircncia (53) se daacute pelo fato de que o autor busca restringir a

interpretaccedilatildeo do texto ao maacuteximo Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―apenas o

cliente poderia por exemplo interpretar que a garantia do produto eacute vaacutelida em qualquer

situaccedilatildeo e natildeo unicamente se seguir as recomendaccedilotildees descritas apoacutes o uso do termo

―apenas Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (53)

(54) Os produtos SOMENTE poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para

anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes sua autorizaccedilatildeo por escrito

(Certificado 21)

Na ocorrecircncia (54) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o modo

como deve submeter o produto agrave garantia Caso natildeo haja uma autorizaccedilatildeo por escrito para

enviar o produto para a faacutebrica o produto natildeo poderaacute seguir para anaacutelise A importacircncia da

utilizaccedilatildeo do termo ―somente se daacute pelo fato de que caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o

termo na ocorrecircncia (54) a interpretaccedilatildeo do texto ficaria sem limites ou seja os produtos

poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes a autorizaccedilatildeo por

83

escrito ou de qualquer outra forma Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (54)

34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS

Em nossa pesquisa analisamos cinquenta e quatro ocorrecircncias selecionadas a partir

dos vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Dividimos a anaacutelise por tipos de

ocorrecircncias com quantificador universal com condicional e com o apenassomente Para

apresentar um panorama sobre os tipos de ocorrecircncia e a quantidade das anaacutelises de cada tipo

vamos observar o quadro a seguir

Tipo de ocorrecircncia Nuacutemero de ocorrecircncias

Quantificador universal 15

Condicional 9

ApenasSomente 30

TOTAL 54

Quadro 2 ndash Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia Fonte elaborado pelo autor

Antes de discorrer nossos comentaacuterios sobre as anaacutelises de nosso trabalho temos que

tratar sobre a primeira importante impressatildeo que tivemos diante do corpus e das consequentes

anaacutelises dos quatro nexos semacircnticos que invocamos em nosso trabalho somente

identificamos ocorrecircncias com acarretamentos Tratamos com muita naturalidade este fato

porque por mais que em algumas leituras uma parte do conteuacutedo do segundo capiacutetulo possa

ser vista como desnecessaacuteria ndash pelo fato de tais conceitos natildeo estarem presentes nas anaacutelises

dessa pesquisa ndash encontramos aiacute uma caracteriacutestica do gecircnero textual certificado de garantia

que eacute a presenccedila de diversos acarretamentos mesmo que natildeo-expliacutecitos como demonstramos

em nosso trabalho (porque o gecircnero textual certificado de garantia natildeo possui uma linguagem

tatildeo controlada quanto a linguagem encontrada nos exemplos que criamos para ilustrar os

conceitos dos nexos) Dessa maneira fica claro que natildeo encontramos ocorrecircncias com

equivalecircncias semacircnticas contrariedades ou contraditoriedades o que nos permite definir

estas ausecircncias como uma caracteriacutestica intriacutenseca do gecircnero

84

Na primeira parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o quantificador

universal Identificamos quinze ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia

utilizaram esse recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (1) e (15)

percebemos que o uso do quantificador universal em algumas ocorrecircncias serviu apenas para

reforccedilar a informaccedilatildeo que o fabricante quis veicular ou seja se natildeo tivesse sido utilizado natildeo

modificaria o sentido do texto Pudemos identificar esse sentido por exemplo nas

ocorrecircncias (1) e (2)

Aleacutem desse sentido para o uso do quantificador universal encontramos ocorrecircncias

em que caso o quantificador natildeo tivesse sido utilizado haveria a possibilidade de

interpretarmos a ocorrecircncia de vaacuterias maneiras Nesses casos os autores utilizaram o

quantificador para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo direcionando a leitura do texto

para que o cliente possa interpretar o certificado da forma que o fabricante deseja Pudemos

identificar esse sentido por exemplo nas ocorrecircncias (3) (4) e (8)

Pudemos observar que os autores dos certificados de garantia utilizam tambeacutem o

quantificador universal em seus textos para se resguardarem em relaccedilatildeo a deveres que

poderiam ser reclamados pelo cliente caso natildeo houvesse o uso deste recurso Dessa forma

podemos entender que os autores dos certificados utilizaram o quantificador universal para se

favorecerem Pudemos observar essa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (5) (11) (13) e

(14) Em relaccedilatildeo a ocorrecircncias com o uso do quantificador universal em que o cliente eacute

beneficiado natildeo identificamos nenhum caso em nossa anaacutelise

Sobre o aparecimento de termos vagos ou termos polissecircmicos nas ocorrecircncias com a

presenccedila do quantificador universal pudemos observar que o maior motivo da sensibilidade

dos textos a esses tipos de efeitos linguiacutesticos eacute o fato de os autores dos textos em muitos

casos natildeo conceituarem os termos teacutecnicos que eles utilizam nos certificados de garantia Ao

utilizar um termo teacutecnico como por exemplo na ocorrecircncia (3) em que o autor do

certificado de garantia utiliza o termo ―viacutecio do produto ndash termo teacutecnico do CDC ndash natildeo

apresentando o conceito em seu texto dificulta a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Tendo contato

com o termo de forma solta sem estar delimitada pelo conceito que o autor deseja que o

cliente interprete a ocorrecircncia se torna vaga e polissecircmica

Ainda sobre os termos vagos ou termos polissecircmicos encontramos tambeacutem

ocorrecircncias em que os autores buscaram evitaacute-las justamente apresentando apoacutes a utilizaccedilatildeo

de um termo teacutecnico o seu respectivo conceito desta forma natildeo oferecendo a possibilidade

de interpretaacute-lo de vaacuterias maneiras Pudemos observar este uso por exemplo na ocorrecircncia

(10) em que o autor do certificado usa o termo ―garantia legal e logo em seguida apresenta

85

o conceito para o termo que eacute ―os primeiros 90 dias Dessa forma o cliente natildeo eacute autorizado

a interpretar o termo ―garantia legal de nenhuma outra forma que natildeo seja a descrita pelo

fabricante

Na segunda parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o uso do condicional

Identificamos nove ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia utilizaram este

recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (16) e (24) pudemos identificar

que o condicional foi utilizado pelos autores dos textos precedendo listas instrucionais o que

era esperado devido a caracteriacutestica proacutepria desse recurso que eacute o de condicionar algo agrave

alguma coisa Assim como nas ocorrecircncias que os autores utilizaram o quantificador

universal o condicional foi utilizado em boa parte das ocorrecircncias analisadas para restringir

a interpretaccedilatildeo do texto Pudemos identificar este sentido por exemplo nas ocorrecircncias (16)

(17) e (18)

Identificamos em boa parte das ocorrecircncias que possuem o uso do condicional que

este uso natildeo impotildee um limite na interpretaccedilatildeo Pudemos observar em nossa anaacutelise que os

condicionais foram utilizados precedendo listas exaustivas que continham situaccedilotildees por

exemplo em que a garantia seria invalidada Ao apresentar tais listas os autores natildeo

especificavam que natildeo haveria outros casos fora da lista em que a garantia seria invalidada

Dessa forma observamos que assim como nas ocorrecircncias com quantificador universal os

autores utilizaram os condicionais para se favorecerem Identificamos na ocorrecircncia (22)

recursos que restringem ainda mais as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente e

que consequentemente favorecem o fabricante como o uso do termo ―cumulativamente

que obriga o cliente a natildeo apenas estar dentro de uma ou mais situaccedilotildees descritas pelo

fabricante apoacutes o condicional mas a seguir todas as situaccedilotildees descritas ao mesmo tempo

Quando os fabricantes utilizaram o condicional precedendo listas que constam as

situaccedilotildees em que o cliente poderia perder a garantia eles usaram o recurso sem limites como

pudemos observar na ocorrecircncia (21) Mas quando os fabricantes utilizaram o condicional

precedendo listas que constam as situaccedilotildees em que o cliente tem direito a garantia eles

usaram os recursos com limites e como mostramos na ocorrecircncia (22) ainda utilizaram

recursos que limitam mais ainda a garantia

Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem das ocorrecircncias em que o condicional apareceu

de forma expliacutecita ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o mesmo

sentido como em (19) (20) e (24)

Sobre a presenccedila de termos polissecircmicos ou termos vagos nas ocorrecircncias com o uso

do condicional pudemos identificar que diferente das ocorrecircncias com o uso do

86

quantificador universal natildeo encontramos casos de termos vagos ou termos polissecircmicos nas

ocorrecircncias analisadas Identificamos em muitas ocorrecircncias que os autores dos certificados

apresentaram os conceitos para termos teacutecnicos apoacutes uso geralmente entre parecircnteses para

evitar que o termo ou a expressatildeo fossem interpretados de formas indevidas Encontramos

este tipo de estrateacutegia por exemplo na ocorrecircncia (17) do certificado 3 em que o autor

utiliza os termos ―garantia legal e ―garantia contratual mas no texto do certificado haacute o

conceito para cada termo o que impossibilita que o cliente interprete os termos de diversas

maneiras Caso o fabricante tivesse utilizado os dois termos teacutecnicos e em lugar algum do

certificado de garantia ele apresentasse os conceitos para os termos oportunizaria por

conseguinte diversas possibilidades de interpretaccedilatildeo dificultando a leitura do texto por parte

do cliente

Na terceira parte da anaacutelise tratamos sobre as ocorrecircncias com o uso do ―apenas e do

―somente Identificamos trinta ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia

utilizaram esses recursos linguiacutesticos Apesar do nuacutemero elevado de ocorrecircncias os sentidos

em que o ―apenas e o ―somente foram utilizados natildeo variaram muito Em grande parte das

ocorrecircncias analisadas o ―apenas e o ―somente foram utilizados para restringir a validade

da garantia desde restriccedilotildees em relaccedilatildeo ao territoacuterio de vigecircncia ateacute tipos de ambientes em

que os produtos podem ser utilizados Um tipo de ocorrecircncia que foi bastante recorrente em

nosso corpus foi o que utilizou o ―apenas ou ―somente para delimitar o territoacuterio em que a

garantia pode ser vaacutelida como por exemplo nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)

Nestas ocorrecircncias haacute o uso da expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que levantamos na anaacutelise

uma discussatildeo sobre as possibilidades de interpretaccedilatildeo para tal expressatildeo pelo fato de natildeo

haver nos certificados de garantia analisados um conceito definido para ela A ausecircncia do

conceito para este termo nos certificados de garantia pode dificultar a interpretaccedilatildeo

Tambeacutem podemos afirmar que em grande parte das ocorrecircncias analisadas o uso do

―somente ou ―apenas serviu para impor limites agraves interpretaccedilotildees dos textos direcionando-

os para a interpretaccedilatildeo que o fabricante desejasse impor Ou seja em grande parte das

ocorrecircncias em que foi utilizado o ―somente precedendo uma situaccedilatildeo X caso natildeo houvesse

esse uso a garantia por exemplo seria vaacutelida na situaccedilatildeo X mas tambeacutem nas situaccedilotildees Y Z

W sem limites Sem o uso do ―somente nessas ocorrecircncias o texto da garantia natildeo teria

sentido definido Pudemos observar esse sentido em diversas ocorrecircncias analisadas como

por exemplo nas ocorrecircncias (27) e (28) Ilustrando caso natildeo houvesse o uso do ―apenas

nas ocorrecircncias (27) e (28) a garantia seria vaacutelida no territoacuterio brasileiro e em qualquer outro

Ainda sobre as ocorrecircncias usam o ―somente ou ―apenas para restringir o territoacuterio em que

87

a garantia seraacute vaacutelida observamos que algumas ocorrecircncias especificam mais a validade da

garantia como em (48) que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para produtos vendidos e

instalados em territoacuterio nacional e outras ocorrecircncias que especificam menos como em (39)

que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para o veiacuteculo comercializado em territoacuterio brasileiro

Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem de ocorrecircncias em que o ―apenas e ―somente

apareciam explicitamente ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o

mesmo sentido como em (35) (36) e (41)

Sobre o aparecimento de termos polissecircmicos ou termo vagos aleacutem da expressatildeo

―territoacuterio brasileiro que mencionamos nos paraacutegrafos anteriores pudemos identificar

outros casos de termos polissecircmicos como por exemplo nas ocorrecircncias (25) e (26) Os

termos teacutecnicos utilizados pelos autores dos certificados de garantia natildeo possuiacuteam em lugar

algum dos textos os conceitos para lhes definirem possibilitando que o cliente interprete

estes termos de diversas maneiras

Ainda sobre casos de termos polissecircmicos observamos em algumas ocorrecircncias que

os autores dos certificados procuraram utilizar os termos teacutecnicos e em seguida ou em

alguma parte dos textos apresentaram os conceitos para os termos evitando muacuteltiplas

interpretaccedilotildees Identificamos o uso dessa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (43) (44) e

(49)

Nos trecircs tipos de ocorrecircncias que definimos para nossa anaacutelise pudemos identificar

que nos usos do quantificador universal condicional e ―apenas e ―somente os autores dos

certificados de garantia usaram esses recursos para se favorecerem Como analisado nas

ocorrecircncias do corpus os fabricantes utilizaram essas estrateacutegias tanto pelo fato de que eacute

necessaacuterio utilizar esses recursos por ser caracteriacutestico de textos instrucionais quanto pelo

fato de que o direcionamento das interpretaccedilotildees dos textos que eles constroem a partir destes

recursos podem favorecer os proacuteprios fabricantes

88

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Na presente seccedilatildeo iremos pontuar o percurso de nossa pesquisa e apresentar nossas

impressotildees sobre o corpus as teorias apresentadas e os resultados obtidos com as anaacutelises

O primeiro capiacutetulo de nossa pesquisa foi subdividido em duas partes na primeira

buscamos apresentar os conceitos gerais sobre os gecircneros textuais com base na proposta de

Bakhtin (2000) reafirmada por Marcuschi (2008) com o intuito de fornecer aporte teoacuterico

para a segunda parte do capiacutetulo em que caracterizamos o certificado de garantia como um

gecircnero textual Tal caracterizaccedilatildeo se deu pelo fato do nosso corpus ser composto por vinte e

dois certificados de garantia Ficamos surpresos por tomar conhecimento do fato de que ateacute o

presente momento natildeo identificamos publicaccedilotildees acadecircmicas em nosso paiacutes referentes agrave

caracterizaccedilatildeo de certificados de garantia como gecircneros textuais e esta dificuldade nos levou

a construir atraveacutes de nossa leitura a caracterizaccedilatildeo tanto quanto ao conteuacutedo quanto agrave

estrutura do texto A uacutenica bibliografia que encontramos e utilizamos como base para a

estruturaccedilatildeo da segunda parte do capiacutetulo tratando diretamente sobre os certificados de

garantia foi o Coacutedigo de Defesa e Proteccedilatildeo do Consumidor (1997) em que pudemos extrair

alguns conceitos gerais e recomendaccedilotildees de como se deve construir o texto de um certificado

de garantia Um dos problemas que encontramos foi a carecircncia de detalhes apresentados pelo

CDC na seccedilatildeo em que sugerem um padratildeo de formulaccedilatildeo do documento O CDC apenas

enfatiza que se faz necessaacuterio o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo e por exemplo a

necessidade de ser acompanhado do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto Com base

nessas informaccedilotildees apresentamos os conceitos e tambeacutem um exemplo de certificado de

garantia ilustrando cada parte da estrutura do texto

Na introduccedilatildeo do segundo capiacutetulo apresentamos uma discussatildeo geral sobre a

distinccedilatildeo entre semacircntica e pragmaacutetica com o objetivo de caracterizar os nexos como

relaccedilotildees linguiacutesticas do campo da semacircntica Para isso apresentamos tambeacutem os conceitos e

exemplos de relaccedilotildees linguiacutesticas que satildeo consideradas como pertencentes ao campo da

pragmaacutetica como a implicatura e pressuposiccedilatildeo Para esta discussatildeo buscamos aporte teoacuterico

nas obras de autores como Trask (2004) Levinson (2007) Grice (1987) Basso (2009)

Moura (1999) e Santos (2012)

Apoacutes a introduccedilatildeo do capiacutetulo apresentamos a teoria dos nexos semacircnticos que

escolhemos tratar em nossa pesquisa Foram eles o acarretamento a equivalecircncia semacircntica

a contradiccedilatildeo e a contrariedade Utilizamos como referencial teoacuterico para a teoria dos nexos

89

semacircnticos autores como Aristoacuteteles (1985) Chierchia (2001) Branquinho Murcho e Gomes

(2006) Pires de Oliveira (2001) e Mortari (2001) A apresentaccedilatildeo de cada nexo se deu a

partir dos conceitos seguidos de exemplos e dentro de cada seccedilatildeo apresentamos tambeacutem

tipos de ocorrecircncias lexicais que podem dificultar a intepretaccedilatildeo dos nexos que satildeo a

polissemia e a vagueza Ao apresentar os conceitos dessas ocorrecircncias lexicais assim como

fizemos na apresentaccedilatildeo dos nexos tambeacutem ilustramos com exemplos Utilizamos como

aporte teoacuterico para os conceitos de polissemia e vagueza autores como Crystal (1985) Allan

(2010) e Kempson (1977) Aleacutem da polissemia e vagueza tratamos sobre outro problema

que dificulta a interpretaccedilatildeo dos nexos as falaacutecias Quando tratamos sobre as caracteriacutesticas

das falaacutecias utilizamos como base teoacuterica o texto de Soares (2003) em que o autor distingue

as caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias e com esse aporte apresentamos nossos

exemplos

Quando tratamos sobre a contradiccedilatildeo e contrariedade apresentamos o fato de que as

suas origens tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica A partir disso trouxemos uma breve apresentaccedilatildeo

sobre os conceitos de Aristoacuteteles presentes em seu texto Organon (1985) mais

especificamente no Perieacutermeneas capiacutetulos 6 e 7

No final do capiacutetulo dois fizemos uma retrospectiva de todos os pontos que foram

apresentados ao longo do capiacutetulo e justificamos a nossa escolha em pesquisar sobre os nexos

semacircnticos assim como a polissemia vagueza e falaacutecias Durante todo o capiacutetulo dois

apresentamos os nexos e outras relaccedilotildees lexicais dentro de uma linguagem controlada que eacute

diferente do que acontece nos textos dos diversos gecircneros inclusive naquele escolhido para

compor o nosso corpus que satildeo os certificados de garantia A importacircncia dos conceitos

apresentados em nosso segundo capiacutetulo se deu pelo fato de que ele oferece uma base para a

compreensatildeo do funcionamento dessas relaccedilotildees semacircnticas para que diante das anaacutelises que

realizamos no capiacutetulo trecircs tenhamos uma leitura mais refinada e atenciosa para perceber

como essas relaccedilotildees semacircnticas tiacutepicas de linguagens controladas se apresentam em textos

que satildeo suscetiacuteveis a diversas ocorrecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo Ficamos surpresos

pelo fato de que pouco se escreveu sobre nexos semacircnticos em nosso contexto nacional de

pesquisa o que tornou a construccedilatildeo do nosso segundo capiacutetulo bastante desafiadora Em

relaccedilatildeo a artigos que trataram diretamente sobre os nexos semacircnticos e os seus usos como

suporte para a anaacutelise de ocorrecircncias em gecircneros textuais tivemos contato apenas com Santos

(2012) e Estrela e Santos (2013 2014)

No terceiro capiacutetulo que foi dedicado para conter a anaacutelise desta pesquisa

inicialmente apresentamos nossa justificativa para a escolha do gecircnero certificado de garantia

90

para analisar assim como a justificativa para a escolha de procurar nesses textos as

estrateacutegias linguiacutesticas utilizadas para restringir a interpretaccedilatildeo de sentenccedilas Em seguida

tratamos sobre os tipos de ocorrecircncias que elegemos para nossa anaacutelise como quantificador

universalcondicional e o ―apenas e o ―somente Esta escolha se deu pelo fato de tais

termos possuem caracteriacutesticas propiacutecias para o uso em restriccedilotildees ou abrangecircncias de textos

Mesmo assim tiacutenhamos conhecimento de que dificilmente encontrariacuteamos ocorrecircncias com

as relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos no capiacutetulo dois de forma expliacutecita e controlada

pois como discutimos anteriormente os diversos gecircneros textuais satildeo suscetiacuteveis a

interferecircncias lexicais que podem dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos

Em seguida apresentamos a anaacutelise do nosso corpus que totalizou cinquenta e quatro

trechos de certificados nos trecircs tipos de ocorrecircncias escolhidas para serem investigadas

Como jaacute apresentamos no final do capiacutetulo anterior nossas impressotildees sobre como foram

utilizados os recursos linguiacutesticos para restriccedilatildeo de interpretaccedilotildees pelos autores dos

certificados gostariacuteamos de enfatizar que nas ocorrecircncias com quantificador universal com

condicional e com o ―apenas e ―somente os fabricantes utilizaram estes recursos em

grande parte dos certificados para se favorecerem ou seja para abranger as possibilidades de

invalidade da garantia do produto aumentando as situaccedilotildees em que a garantia eacute perdida e

diminuindo as situaccedilotildees em que a garantia eacute vaacutelida (principalmente nas listas exaustivas)

Sobre ocorrecircncias em que identificados termos vagos ou termos polissecircmicos

identificamos como o motivo principal do aparecimento dessas ocorrecircncias a falta de

definiccedilatildeo dos termos teacutecnicos Em muitos certificados identificamos que os autores utilizaram

termos teacutecnicos (a maioria deles provenientes do CDC) e natildeo apresentaram em nenhuma

parte do texto as definiccedilotildees para tais termos oportunizando que o leitor interprete de

diversas maneiras os termos ou expressotildees

Por fim pudemos perceber que os quantificadores os condicionais e termos como o

―apenas e o ―somente que satildeo responsaacuteveis por abranger ou restringir interpretaccedilotildees de

sentenccedilas satildeo proacuteprios do tipo de texto instrucional que abarca o gecircnero que escolhemos para

nossa pesquisa A utilizaccedilatildeo desses termos seguiu uma ordem de apresentaccedilatildeo similar nos

vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Os quantificadores universais

apareceram muitas vezes nas explicaccedilotildees em que os fabricantes apresentavam prazos deveres

e direitos do fabricante e cliente os condicionais apareceram na maioria das vezes

precedendo as listas exaustivas e o ―apenas e ―somente apareceram em grande parte nos

trechos em que os fabricantes apresentavam delimitaccedilotildees territoriais para cobertura da

91

garantia e explicaccedilotildees sobre as situaccedilotildees em que a garantia eacute invalidada e as situaccedilotildees em que

a garantia se assegura

Assim como justificamos no iniacutecio das consideraccedilotildees sobre os resultados obtidos em

nossa anaacutelise natildeo encontramos ocorrecircncias com trecircs dos quatro nexos semacircnticos

apresentados no segundo capiacutetulo O fato de natildeo termos identificado ocorrecircncias com

equivalecircncias semacircnticas contrariedades e contraditoriedades traacutes a tona uma interessante

caracteriacutestica do gecircnero certificado de garantia que eacute a constante presenccedila de acarretamentos

na redaccedilatildeo do texto mesmo que apresentados indiretamente diferente dos exemplos que

utilizamos para ilustrar os conceitos nos diversos textos sobre o assunto e a natildeo utilizaccedilatildeo de

equivalecircncias sentenccedilas contraacuterias e contraditoacuterias na redaccedilatildeo do texto

Atraveacutes dessa pesquisa em que tratamos sobre os nexos semacircnticos a polissemia a

vagueza e alguns outros tipos de relaccedilotildees semacircnticas desejamos que outros pesquisadores se

interessem por este tipo de trabalho e busquem explorar nas anaacutelises linguiacutesticas outros

gecircneros textuais pouco explorados como o que utilizamos no presente trabalho Apresentar

uma teoria que eacute tipicamente de linguagens controladas como a dos nexos semacircnticos (que

satildeo como jaacute discutimos dependentes unicamente da forma das sentenccedilas) e analisar como

essas estrateacutegias linguiacutesticas se comportam dentro de textos instrucionais (que ainda satildeo

pouco explorados nas anaacutelises semacircnticas) satildeo a nosso ver interessantes caminhos a serem

desbravados nos estudos da semacircntica assim como as suas aplicaccedilotildees nos diversos gecircneros

textuais que nos rodeiam

92

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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vol19 n2 pp 237-266 ISSN 0102-4450

95

ANEXOS

Certificado 1

96

Certificado 2

97

Certificado 3

98

Certificado 4

99

Certificado 5

100

Certificado 6

101

Certificado 7

102

Certificado 8

103

Certificado 9

104

105

Certificado 10

106

Certificado 11

107

Certificado 12

108

109

Certificado 13

110

Certificado 14

111

112

Certificado 15

113

114

Certificado 16

115

116

117

118

119

120

121

Certificado 17

122

Certificado 18

123

Certificado 19

124

125

Certificado 20

126

Certificado 21

127

Certificado 22

KEcircNIO ANGELO DANTAS FREITAS ESTRELA

NEXOS SEMAcircNTICOS EM CERTIFICADOS DE GARANTIA

Dissertaccedilatildeo submetida ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica da Universidade

Federal da Paraiacuteba em cumprimento agraves exigecircncias para obtenccedilatildeo do grau de Mestre em

Linguiacutestica Aacuterea de concentraccedilatildeo Teoria e Anaacutelise Linguiacutestica

Aprovada em ________

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________

Profa Dra Maria Leonor Maia dos Santos

Universidade Federal da Paraiacuteba - UFPB

(Orientadora)

____________________________________________

Profa Dra Mocircnica Mano Trindade Ferraz

Universidade Federal da Paraiacuteba ndash UFPB

(Examinadora)

____________________________________________

Prof Dr Giovanni da Silva de Queiroz

Universidade Federal da Paraiacuteba - UFPB

(Examinador)

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo primeiramente ao nosso Deus Todo Poderoso Mestre supremo de nossas

vidas e aos seus anjos de luz espiacuteritos elevados missionaacuterios da luz pela oportunidade de

realizar esta pesquisa por toda a inspiraccedilatildeo e pela sauacutede que natildeo me faltou em nenhum

momento desses 24 meses de estudos

Agrave minha orientadora Dra Maria Leonor Maia dos Santos por ter acreditado em meu

potencial e ter aceitado me auxiliar na elaboraccedilatildeo desta pesquisa A sua generosidade

comprometimento e sabedoria serviratildeo para mim como exemplo de profissionalismo

acadecircmico a ser seguido O peso do desafio de realizar essa pesquisa certamente foi muito

menor por ter uma mentora tatildeo precisa quanto ela

Ao prof Dr Giovanni da Silva de Queiroz por ter aceitado participar da banca de

avaliaccedilatildeo desta pesquisa o que eacute representa uma grande honra para mim Desde o iniacutecio do

ano de 2011 momento em que participei de um mini-curso sobre Loacutegica Claacutessica na UEPB

ministrado por ele muito tenho aprendido com suas indicaccedilotildees de bibliografias e orientaccedilotildees

sempre muito pertinentes

Agrave profa Dra Mocircnica Mano Trindade Ferraz pela generosidade apreccedilo e humanidade

para comigo ao me acolher em seu grupo de pesquisa junto aos seus orientandos

oportunizando que eu a cada encontro do grupo aprendesse um pouco mais sobre as diversas

semacircnticas Tambeacutem agradeccedilo pela honra de tecirc-la como integrante da banca de avaliaccedilatildeo

desta pesquisa e pelas saacutebias orientaccedilotildees ao longo destes dois anos de estudos no PROLING

Aos meus pais Geraldo e Silvacircnia Estrela por todo amor confianccedila e suporte

oferecidos a mim desde o princiacutepio desta minha vida Espero poder um dia retribuir ao menos

uma parcela de tudo o que eles fizeram e fazem por mim

Agrave minha irmatilde Karla Estrela pelo exemplo de determinaccedilatildeo e disciplina

Agrave minha noiva Maria Eduarda por toda dedicaccedilatildeo carinho amor companheirismo e

principalmente paciecircncia comigo vinte e quatro horas por dia sete dias na semana Eu

certamente natildeo conseguiria concluir com tanta serenidade esta pesquisa caso ela natildeo estivesse

ao meu lado

Agrave minha amiga Angeacutelica Vilar que me apresentou o PROLING e me deu todo o

suporte para que eu realizasse o processo de seleccedilatildeo de mestrado Haacute quem natildeo acredite em

anjos mas tenho a convicccedilatildeo de que pessoas desse calibre natildeo merecem um tiacutetulo menos

divino

Aos amigos Joseacute Wellisten e Alessandra Miranda pela disponibilidade e atenccedilatildeo para

lerem meu trabalho e fazerem criacuteticas construtivas

Ao amigo Thiago Magno que me ajudou em um dos momentos mais delicados no

periacuteodo poacutes-defesa Dedico minha amizade e minha eterna gratidatildeo por tudo

Agrave CAPES pelo apoio financeiro oferecido para essa pesquisa pelo periacuteodo de 17

meses

εἰδέναι δὲ χπὴ τὸν πόλεμον ἐόντα

ξυνόν καὶ δίκην ἔπιν καὶ γινόμενα

πάντα κατ ἔπιν καὶ χπεών

(Heraacuteclito frag 80)

RESUMO

O estudo das relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas eacute um campo bastante discutido e

pesquisado nos estudos linguiacutesticos A observaccedilatildeo de como se comportam os termos na

construccedilatildeo de significados em textos de diversos gecircneros e seus efeitos de interpretaccedilatildeo

tambeacutem satildeo temas muito difundidos entre as pesquisas das semacircnticas Nesta produccedilatildeo

discutiremos sobre as relaccedilotildees de significado e seus efeitos de sentido em um gecircnero

especiacutefico As relaccedilotildees que investigaremos satildeo os nexos semacircnticos ou nexos de significado

como proposto por Chierchia (2003) que satildeo respectivamente acarretamento equivalecircncia

semacircntica contraditoriedade e contrariedade O gecircnero que escolhemos para nossa anaacutelise eacute o

certificado de garantia e a escolha de tal gecircnero se deu pelo fato deste fazer parte do grupo de

textos injuntivos ou instrucionais que a nosso ver possui caracteriacutesticas que favorecem a

amostragem dos nexos semacircnticos Iremos analisar como os nexos semacircnticos satildeo utilizados

para restringir ou abranger as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos certificados de garantia O

corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de garantia de

produtos de diversos segmentos e decidimos escolher certificados de produtos de linhas

diversas para constituirmos um panorama sobre o gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes

da internet sem utilizar nenhuma metodologia especiacutefica apenas atentamos para buscar

certificados de produtos variados Buscamos nessa pesquisa instigar a reflexatildeo sobre as

relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e a observaccedilatildeo destas nos textos instrucionais que

lidamos no dia-a-dia e que por muitas vezes deixamos passar despercebido o seu conteuacutedo

O entendimento sobre os nexos de significado pode nos oferecer ferramentas para melhor

leitura de textos desse tipo

Palavras chave Nexos semacircnticos Certificado de garantia Semacircntica

ABSTRACT

The study of the meaning of relations between sentences is a much discussed and researched

field in linguistic studies The observation of how the terms behave in the construction of

meanings in texts of different genres and their interpretation effects are also widespread

themes among semantic research In this work we will discuss about the meaning of the

relations of meaning and their sense of purpose in a specific genre The relations that we will

investigate are semantic nexus or semantic links as proposed by Chierchia (2003) which are

respectively entailment semantic equivalence contradictoriness and contrariness The genre

we chose for our analysis is the warranty certificate and the choice of this genre was made

because it is part of the injunctive or instructional texts group that in our opinion has

characteristics that favor the sampling of semantic nexus We will analyze how the semantic

nexus are used to restrict or cover the possibilities of interpretation in the warranty

certificates The corpus of this research has 22 (twenty two) copies of warranty certificates

from different segments and we decided to choose certificates from separate lines to

constitute an overview of the genre The collection of the texts took place through the

internet without using any particular methodology of choice only we pay attention to seek

warranty certificates of diverse products We seek in this research instigate reflection on the

meaning relations between sentences and observance of these in instructional texts that we

have contact in daily life and that for many times let go unnoticed its contents The

understanding of the semantic nexus can offer us tools to better read texts of this type

Keywords Semantic nexus Warranty certificate Semantics

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 13

1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA 16

11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS 16 12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL 26

2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS 32

21 ACARRETAMENTO 35 22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA 42 23 CONTRADITORIEDADE 45 24 CONTRARIEDADE 48 25 JUSTIFICANDO O PERCURSO 51

3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA 53

31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL 55 32 USO DO CONDICIONAL 64 33 USO DO APENASSOMENTE 68 34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS 83

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 88

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 92

ANEXOS 95

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa 14

QUADRO 2 - Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia 83

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

ILUSTRACcedilAtildeO 1 - Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 27

ILUSTRACcedilAtildeO 2 - Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28

ILUSTRACcedilAtildeO 3 - Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28

ILUSTRACcedilAtildeO 4 - Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28

ILUSTRACcedilAtildeO 5 - Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 29

13

INTRODUCcedilAtildeO

A abordagem das relaccedilotildees de significado eacute algo bastante presente e discutido nos

estudos semacircnticos Observar como se comportam os termos na construccedilatildeo da significaccedilatildeo

em textos de diversos gecircneros distintos e seus efeitos interpretativos tambeacutem satildeo temas de

diversas produccedilotildees na aacuterea de linguiacutestica

Neste trabalho iremos discutir as relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e os efeitos

interpretativos dessas relaccedilotildees em textos Mais especificamente abordaremos os nexos

semacircnticos ou nexos de significado (Chierchia 2003) acarretamento equivalecircncia semacircntica

contrariedade (os quais podemos encontrar no referido trabalho de Chierchia) e

contraditoriedade (nexo semacircntico que geralmente eacute relacionado com a contrariedade e que

foi tratado por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado atraveacutes de seu quadrado loacutegico

ou taacutebua de oposiccedilotildees em seu texto Perieacutermeneas (1985) mais especificamente nos

capiacutetulos 6 e 7 sobre o qual faremos menccedilatildeo na seccedilatildeo sobre este nexo)

Este trabalho tem por objetivo observar alguns dos recursos linguiacutesticos utilizados

para favorecer a existecircncia de nexos semacircnticos e com isso restringir ou ampliar

possibilidades de interpretaccedilatildeo em um gecircnero textual especiacutefico Por este motivo o gecircnero

que escolhemos analisar foi o certificado de garantia ou termo de garantia que pertence agrave

categoria dos textos instrucionais (ou injuntivos) e a nosso ver possui caracteriacutesticas que

favorecem a amostragem das ocorrecircncias dos nexos

O gecircnero certificado de garantia possui como uma de suas caracteriacutesticas a

apresentaccedilatildeo organizada dos direitos e deveres do cliente e do fabricante com relaccedilatildeo a um

produto servindo tambeacutem para informar ao cliente os seus direitos referentes agrave validade

prazos e extensatildeo de cobertura da garantia Supotildee-se entatildeo que o texto deve por isso ser

objetivo e livre de ambiguidades e incoerecircncias

Nossa hipoacutetese eacute a de que recursos linguiacutesticos que favoreccedilam a existecircncia de nexos

semacircnticos nos textos dos certificados ndash como o emprego por exemplo de conectivos e

quantificadores (Chierchia 2003 PIRES DE OLIVEIRA 2001) ndash estatildeo presentes em textos

deste gecircnero e contribuem para que os textos alcancem o objetivo de informar ao cliente e ao

fabricante seus deveres e direitos

O corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de

garantia de produtos diversos para constituir um panorama ainda que reduzido de instacircncias

do gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes da internet sem utilizar nenhuma metodologia

14

especiacutefica de escolha atentando para buscar certificados de produtos variados Os textos

escolhidos para a anaacutelise de nosso trabalho incluem diversos produtos manufaturados como

moacuteveis veiacuteculos eletroeletrocircnicos entre outros equipamentos domeacutesticos como ilustrado no

quadro a seguir

Nordm Tipo de objeto Fabricante

1 Refrigerador Samsung

2 TV led Sony

3 Condicionador de ar LG

4 Tablet AOC

5 AudioMixer Oneal

6 Garantia para todos os produtos Elgin

7 Estabilizador de energia APC

8 Aquecedor de aacutegua Bosch

9 Fogatildeo Brastemp

10 Maacutequina de lavar Electrolux

11 Ventilador Cadence

12 GPS Positron

13 Umidificador de ar Springer

14 Certificado internacional de garantia Philips

15 Colchatildeo Ortobom

16 Caminhotildees Mercedes-Benz

17 Carro de passeio Hyundai

18 Moacuteveis Bartzen

19 Aquecedor de ar Fujitsu

20 Tv AOC

21 Aquecedor de aacutegua para piscina Rheem

22 Bicicleta Total Health

Quadro 1 ndash Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa Fonte elaborado pelo autor

Como nosso propoacutesito eacute analisar os textos observando as ocorrecircncias de termos que

restringem e abrangem interpretaccedilotildees natildeo temos a intenccedilatildeo de analisar se um fabricante

elaborou um texto melhor que outro

No primeiro capiacutetulo apresentamos num primeiro momento o que satildeo gecircneros

textuais e em seguida caracterizamos o certificado de garantia como um gecircnero textual Para

tanto utilizamos o aporte teoacuterico baseado na obra de Mikhail Bakhtin (2000) linguista do

iniacutecio do seacuteculo referecircncia nos estudos de gecircneros textuais e de Luiz Antocircnio Marcuschi

(2002 2005 2008) linguista contemporacircneo que desenvolveu importantes trabalhos nessa

disciplina Vale salientar que como o foco de nossa pesquisa natildeo eacute a discussatildeo de gecircneros

textuais o capiacutetulo que construiacutemos trata de conceitos gerais sobre gecircneros tendo como

15

objetivo observar que o certificado de garantia eacute um gecircnero textual e mostrando como se

estrutura em linhas gerais um texto deste gecircnero

No segundo capiacutetulo trataremos dos nexos semacircnticos dos quais consideraremos

para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e

contrariedade Atraveacutes de exemplos discutimos brevemente cada um deles mostrando

exemplos que funcionam e tambeacutem exemplos problemaacuteticos em relaccedilatildeo ao leacutexico

especialmente em casos de polissemia para que entatildeo seja possiacutevel a anaacutelise do capiacutetulo

seguinte

No terceiro capiacutetulo traremos a anaacutelise do corpus que se apresentaraacute organizado por

ocorrecircncias distribuiacutedas em tipos a saber uso do quantificador universal uso do condicional

e uso do apenassomente Apoacutes o exame das trecircs categorias citadas trataremos entatildeo das

relaccedilotildees entre o emprego dos recursos e a funccedilatildeo dos certficados Procuraremos tambeacutem

refletir se os recursos satildeo mais utilizados para favorecer o cliente ou mais utilizados para

favorecer o fabricante

Por uacuteltimo mostraremos as consideraccedilotildees finais do trabalho e em seguida as

referecircncias bibliograacuteficas utilizadas na elaboraccedilatildeo de nosso texto

16

1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA

Neste capiacutetulo tratamos dos gecircneros textuais e da caracterizaccedilatildeo dos certificados de

garantia como um gecircnero textual Em um primeiro momento traremos a perspectiva sobre

gecircneros textuais de Mikhail Bakhtin precursor dos estudos de gecircneros textuais na linguiacutestica

e em seguida apresentaremos a perspectiva de Luiz Antocircnio Marcuschi linguista brasileiro

que tambeacutem trabalha com o tema e compartilha em grande parte da perspectiva de Bakhtin

sobre o os gecircneros Eacute importante ressaltar que este capiacutetulo natildeo tem por objetivo o

aprofundamento nos estudos dos gecircneros e serve como um instrumento para contextualizar o

corpus desta pesquisa

11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS

Considerando a perspectiva apresentada por Mikhail Bakhtin na obra Esteacutetica da

criaccedilatildeo verbal (2000) o ato de se comunicar eacute indispensaacutevel para as relaccedilotildees humanas Aleacutem

disso ressaltamos que eacute por tal razatildeo que nas diversas situaccedilotildees de interaccedilatildeo que

vivenciamos em nosso cotidiano observamos a utilizaccedilatildeo da liacutengua em suas modalidades

oral eou escrita como instrumento principal de nossas trocas comunicativas

Eacute notoacuterio que a quantidade de atividades eacute enorme assim como satildeo os diferentes tipos

de situaccedilotildees em que a liacutengua eacute empregada Atraveacutes da formulaccedilatildeo de enunciados podemos

caracterizar quais as funccedilotildees dos discursos que escolhemos para os diversos tipos de

interaccedilatildeo

Nesse sentido eacute possiacutevel afirmarmos que todas as nossas construccedilotildees linguiacutesticas

organizam-se em gecircneros discursivos por meio dos quais conseguimos nos comunicar e

interagir socialmente

Em conformidade com a proposta de Bakhtin todo gecircnero discursivo se constitui a

partir das seguintes dimensotildees o conteuacutedo temaacutetico o estilo e a construccedilatildeo composicional

Esta descriccedilatildeo eacute claacutessica como ponto de partida para a descriccedilatildeo dos gecircneros textuais e nos

ofereceraacute a possibilidade de tanto descrever o que eacute um gecircnero textual quanto caracterizar

um texto como gecircnero que seraacute o nosso objetivo na segunda parte deste capiacutetulo

O conteuacutedo temaacutetico se refere ao tipo de assunto veiculado no texto Por tal razatildeo

Bakhtin (2000) afirma que o gecircnero eacute escolhido a partir do que o locutor decide falar Assim

17

eacute faacutecil compreender por que cada atividade comunicativa necessita de um tipo especiacutefico de

textodiscurso Por exemplo natildeo se responde (normalmente) uma carta informal com uma

bula de remeacutedio (a natildeo ser que na carta um texto desse gecircnero seja solicitado como

resposta) Nesse sentido percebe-se que para cada esfera de comunicaccedilatildeo o locutor e

interlocutor utilizam uma mesma forma de expressatildeo tendo em vista o assunto que

escolheram tratar Caso contraacuterio se locutor e interlocutor agregam formas distintas de

expressatildeo pode ser que a comunicaccedilatildeo natildeo seja efetivada com sucesso visto que eacute possiacutevel

natildeo haver o entendimento das partes uma vez que cada gecircnero abarca certo campo de uso

mesmo estando em constante desenvolvimento

O estilo se refere aos recursos linguiacutesticos desde gramaticais ateacute lexicais e eles

variam de acordo com o gecircnero Essa dimensatildeo abarca a seleccedilatildeo frasal lexical gramatical e

as formas de apresentar o discurso que satildeo inerentes ao gecircnero escolhido Bakhtin (2000)

afirma que o estilo eacute a primeira vista individual do gecircnero e ela reflete (ou natildeo) a

individualidade de quem escreve ou fala Isso porque dependendo do gecircnero o estilo

individual aparece com mais clareza Da mesma forma haacute gecircneros que natildeo possuem essa

caracteriacutestica a exemplo dos textos injuntivos sobre os quais trataremos mais agrave frente Ainda

a respeito do estilo Bakhtin assegura que

Quando escolhemos as palavras no processo de construccedilatildeo de um enunciado nem

de longe as tomamos sempre do sistema da liacutengua em sua forma neutra

lexicograacutefica Costumamos tiraacute-las de outros enunciados e antes de tudo de

enunciados congecircneres com o nosso isto eacute pelo tema pela composiccedilatildeo pelo estilo

consequentemente selecionamos as palavras segundo a sua especificaccedilatildeo de

gecircnero O gecircnero do discurso natildeo eacute uma forma da liacutengua mas uma forma tiacutepica do

enunciado como tal forma o gecircnero inclui certa expressatildeo tiacutepica a ele inerente

(BAKHTIN 2010 [1992] p 292 grifos do autor)

Nessa perspectiva podemos afirmar que tal criteacuterio se refere agraves propriedades das

unidades de linguagem e relaciona-se agrave posiccedilatildeo enunciativa do locutor agraves sequecircncias textuais

e aos tipos discursivos que estruturam o texto

Por fim Bakhtin (2000) afirma que cada gecircnero possui uma forma padratildeo que eacute a

estrutura composicional Eacute atraveacutes dessa forma que podemos identificar qual gecircnero estaacute

sendo empregado pois essa dimensatildeo se refere aos procedimentos utilizados na formulaccedilatildeo

dos textos com a estrutura e demais aspectos formais incluindo as partes envolvidas no

discurso Em suma para Bakhtin (2000)

18

Estes trecircs elementos (conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo composicional)

fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado e todos eles satildeo marcados pela

especificidade de uma esfera de comunicaccedilatildeo Qualquer enunciado considerado

isoladamente eacute claro individual mas cada esfera de utilizaccedilatildeo da liacutengua elabora

seus tipos relativamente estaacuteveis de enunciados sendo isso que denominamos

gecircneros do discurso (BAKHTIN 2000 p 279 Grifos do autor)

Ainda a respeito dos gecircneros do discurso conveacutem ressaltar que sua variedade eacute

proporcional agraves possibilidades de interaccedilotildees humanas pois as diversas esferas de interaccedilatildeo

satildeo compostas por classes de gecircneros que se desenvolvem tornando-se maiores e mais

complexas em consonacircncia com o desenvolvimento dessas esferas

Bakhtin (2000) utiliza o termo ―heterogeneidade para adjetivar os gecircneros do

discurso sejam eles orais ou escritos inferindo que estes incluem desde conversas informais

cartas relatos familiares ateacute produccedilotildees mais complexas como os documentos oficiais textos

cientiacuteficos e de escolas literaacuterias Natildeo haacute razatildeo para minimizar a extrema heterogeneidade

dos gecircneros do discurso e a consequente dificuldade quando se trata de definir o caraacuteter

geneacuterico do enunciadolsquo (BAKHTIN 2000 p 281) Dessa forma entendemos que a

variedade de gecircneros eacute muito grande se estendendo por exemplo dos romances mais

eruditos ateacute os bilhetes de recados do dia-a-dia e que tratar dos gecircneros admitindo suas

caracteriacutesticas estruturais particulares natildeo eacute uma tarefa faacutecil de realizar

Aleacutem de discorrer sobre as dimensotildees constitutivas de um gecircnero tendo em vista essa

heterogeneidade Bakhtin categoriza os gecircneros textuais em primaacuterios (simples) e

secundaacuterios (complexos) Assim os gecircneros primaacuterios satildeo aqueles referentes agraves reacuteplicas de

diaacutelogos cotidianos como cartas pessoais e demais gecircneros de comunicaccedilatildeo imediata Satildeo

chamados ―simples porque satildeo formados por discursos de baixa complexidade Jaacute os

gecircneros secundaacuterios satildeo aqueles referentes a romances textos cientiacuteficos sociopoliacuteticos e

afins Satildeo textos (escritos ou produzidos para serem encenados como os teatrais ndash exemplo

usado pelo proacuteprio Bakhtin) com maior carga de complexidade de produccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo

Surgem a partir de interaccedilotildees mais aprofundadas nas comunidades com maior grau de

imersatildeo em relaccedilatildeo aos padrotildees culturais e sociais

Ele ainda ressalta que os gecircneros secundaacuterios tambeacutem podem conter gecircneros

primaacuterios ―o romance em seu todo eacute um enunciado da mesma forma que a reacuteplica do

diaacutelogo cotidiano ou a carta pessoal (satildeo fenocircmenos da mesma natureza) o que diferencia o

romance eacute ser um enunciado secundaacuterio (complexo) (BAKHTIN 2000 p 281) Ao

discorrer sobre essa questatildeo o autor assevera que eacute de grande importacircncia teoacuterica a

19

diferenciaccedilatildeo entre esses tipos de gecircneros pois com isso e a partir disso podemos fazer

anaacutelises precisas dos enunciados que podem contrapor dois ou mais tipos de textos

Ignorar as caracteriacutesticas intriacutensecas a cada gecircnero a ―natureza dos enunciados - que

segundo Bakhtin eacute indispensaacutevel para qualquer estudo ndash eacute partir para a abstraccedilatildeo da liacutengua

desvalorizando o conteuacutedo histoacuterico imerso em cada tipo de gecircnero Eacute importante considerar

a relaccedilatildeo existente entre ―a liacutengua e a vida e natildeo restringir os enunciados a categorias

formais Haacute portanto uma relaccedilatildeo de complementaccedilatildeo entre a liacutengua a vida e os enunciados

pois ―a liacutengua penetra na vida atraveacutes dos enunciados concretos que a realizam e eacute tambeacutem

atraveacutes dos enunciados concretos que a vida penetra na liacutengua (BAKHTIN 2000 p 282)

Bakhtin (2000) tambeacutem se refere a questotildees da ―totalidade do enunciado que ele

define como aquilo que oportuniza a resposta em um discurso Bakhtin afirma que essa accedilatildeo

eacute definida por trecircs fatores diretamente associados ao ―todo orgacircnico do enunciado

primeiramente o tratamento exaustivo do objeto de sentido depois o querer-dizer do locutor

e por fim as formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do acabamento

O tratamento exaustivo do objeto de sentido ―varia profundamente conforme as

esferas da comunicaccedilatildeo verbal Em algumas esferas ele pode ser quase total como por

exemplo na vida praacutetica na vida profissional na vida militar basicamente em esferas que

natildeo possuem caracteriacutesticas de mutabilidade de discurso e pouca ―criatividade nas

formulaccedilotildees entre outras palavras onde os gecircneros do discurso satildeo padronizados Jaacute nas

esferas em que os gecircneros satildeo ―criativos o tratamento exaustivo eacute muito menos abrangente

como no caso das ciecircncias em particular onde Bakhtin infere que o tratamento exaustivo

―oferece exatamente um miacutenimo de acabamento capaz de suscitar uma atitude responsiva

(BAKHTIN 2000 p 300)

O querer-dizer do locutor estaacute ligado ao primeiro fator O filoacutesofo afirma que em todo

enunciado desde uma reacuteplica cotidiana ateacute complexas obras cientiacuteficas ou da literatura

compreendemos sentimos o ―intuito discursivo ou querer-dizer do locutor que eacute o que

determina o ―todo do enunciado sua amplitude suas fronteiras Noacutes identificamos o que o

locutor quer expressar e a partir dessa detecccedilatildeo medimos e definimos como se daraacute o

enunciado Isso eacute determinante para a escolha do objeto com seus limites e o tratamento

exaustivo do objeto adequado a este aleacutem de ser essencial para a escolha da forma do gecircnero

onde seraacute edificado

As formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do gecircnero do acabamento representam o fator mais

importante para Bakhtin que as descreve como ―formas estaacuteveis do gecircnero do enunciado

(BAKHTIN 2000 p 301)

20

As formas do gecircnero agraves quais modelamos nossa fala se distinguem

substancialmente das formas da liacutengua do ponto de vista de sua estabilidade e de

suas leis normativas para o locutor De um modo geral elas satildeo mais maleaacuteveis

mais plaacutesticas e mais livres do que as formas da liacutengua (BAKHTIN 2000 p 302)

Concluindo a discussatildeo sobre gecircneros a partir dos conceitos gerais propostos por

Bakhtin passamos agora para a discussatildeo sobre gecircneros realizada por Marcuschi (2008) Eacute

possiacutevel perceber ao longo da explanaccedilatildeo que este autor se identifica com a teoria

bakhtiniana de gecircneros textuais e foi essa identificaccedilatildeo uma das motivaccedilotildees que nos levou a

escolhecirc-los para a composiccedilatildeo deste capiacutetulo

De acordo com Marcuschi (2008 p 154) toda comunicaccedilatildeo soacute pode ser efetivada

por meio de um gecircnero pois ―eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum gecircnero

assim como eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum texto Partindo dessa

premissa podemos entender que qualquer manifestaccedilatildeo verbal se daacute dentro dos limites dos

gecircneros Eacute por esse motivo que a variedade de gecircneros eacute extensa mas natildeo infinita Atraveacutes

desse conceito observamos que Marcuschi compactua com o conceito bakhtiniano de que os

gecircneros possuem formas padronizadas e finitas

Os gecircneros textuais satildeo os textos que encontramos em nossa vida diaacuteria e que

apresentam padrotildees sociocomunicativos caracteriacutesticos definidos por composiccedilotildees

funcionais objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integraccedilatildeo

de forccedilas histoacutericas sociais institucionais e teacutecnicas (Marcuschi 2008 p 155)

Natildeo devemos considerar os gecircneros textuais como modelos imutaacuteveis e de ―estrutura

riacutegidas A apresentaccedilatildeo dos gecircneros se mostra ligada diretamente ao meio em que circulam

Satildeo formas culturais que tomam forma na liacutengua e que evoluem junto com ela Obviamente

que natildeo podemos deixar de considerar que os gecircneros possuem identidade e eacute atraveacutes dessa

identidade que escolhemos um tipo especiacutefico para cada esfera discursiva Dessa forma

admitimos que os gecircneros limitam nossa accedilatildeo na escrita

Em relaccedilatildeo agrave distinccedilatildeo entre gecircneros Marcuschi (2008) natildeo os distingue pelas formas

linguiacutesticas mas sim pelos seus campos de accedilatildeo Nesse sentido ele reafirma a perspectiva

bakhtiniana de que os gecircneros satildeo dinacircmicos e que por serem soacutecio-histoacutericos natildeo podem

ser contados de modo exaustivo o que dificulta sua classificaccedilatildeo Marcuschi (2008) afirma

que atualmente o objetivo maior nos estudos sobre gecircneros textuais eacute procurar identificar e

explicar como eles satildeo constituiacutedos e como circulam na sociedade

21

Eacute importante apresentar alguns conceitos referentes ao que estamos discutindo sobre

gecircneros do discurso dentre os quais destacamos os conceitos de tipo textual gecircnero textual e

domiacutenio discursivo segundo Marcuschi (2008) levando em consideraccedilatildeo a possibilidade de

se obter melhor entendimento no trato com o texto em si e seus fenocircmenos

O tipo textual eacute definido pelos aspectos linguiacutesticos ou seja por marcas lexicais

tempos verbais estilo relaccedilotildees loacutegicas e aspectos sintaacuteticos Logo relaciona-se mais agraves

sequecircncias linguiacutesticas do que a materializaccedilotildees textuais fazendo com que o conjunto

tipoloacutegico de textos seja limitado e natildeo apresente tendecircncias de aumentar Marcuschi (2002

p22) afirma que os tipos textuais compreendem categorias amplamente conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo exposiccedilatildeo descriccedilatildeo e injunccedilatildeo que observaremos separadamente a

seguir

A narraccedilatildeo relata um fato que pode ser real ou imaginaacuterio em um tempo e lugar

definidos envolvendo personagens Nesse tipo de texto o tempo verbal predominante eacute o

passado ao menos nos exemplos mais tiacutepicos Eacute predominante em crocircnicas piadas

romances poemas faacutebulas entre outros Vejamos o exemplo a seguir

O cavalo e o burro

O cavalo e o burro seguiam juntos para a cidade O cavalo contente da vida

folgando com uma carga de quatro arrobas apenas e o burro mdash coitado gemendo

sob o peso de oito Em certo ponto o burro parou e disse

ndash Natildeo posso mais Esta carga excede agraves minhas forccedilas e o remeacutedio eacute repartirmos o

peso irmatildemente seis arrobas para cada um

O cavalo deu um pinote e relichou uma gargalhada

ndash Ingecircnuo Quer entatildeo que eu arque com seis arrobas quando posso tatildeo bem

continuar com as quatro Tenho cara de tolo

O burro gemeu

ndash Egoiacutesta Lembre-se que se eu morrer vocecirc teraacute que seguir com a carga de quatro

arrobas e mais a minha

O cavalo pilheriou de novo e a coisa ficou por isso Logo adiante poreacutem o burro

tropica vem ao chatildeo e rebenta

Chegam os tropeiros maldizem a sorte e sem demora arrumam com as oito arrobas

do burro sobre as quatro do cavalo egoiacutesta E como o cavalo refuga datildeo-lhe de

chicote em cima sem doacute nem piedade

ndash Bem feito exclamou o papagaio Quem mandou ser mais burro que o pobre burro

e natildeo compreender que o verdadeiro egoiacutesmo era aliviaacute-lo da carga em excesso

Tome Gema dobrado agorahellip

(LOBATO M 2010 p 85)

Acima podemos observar um exemplo de narraccedilatildeo que eacute uma das faacutebulas de

Monteiro Lobato escrita em grande parte em discurso direto Podemos observar na faacutebula

que o texto eacute conduzido pelo narrador intercalado pela interaccedilatildeo dos personagens A seguir

22

continuaremos a descriccedilatildeo dos tipos textuais e exemplos com o conceito do tipo textual

argumentativo

Jaacute a argumentaccedilatildeo tem por principal caracteriacutestica a construccedilatildeo do convencimento

acerca da validade ou invalidade de um ponto de vista por sobre outro Nesse tipo de texto haacute

a reflexatildeo sobre temas especiacuteficos confrontando perspectivas distintas predominante em

gecircneros como debates resenhas editoriais artigos de opiniatildeo e afins Vejamos o exemplo a

seguir

O povo brasileiro estaacute cansado de tanta corrupccedilatildeo desigualdade de renda serviccedilos

puacuteblicos precaacuterios sensaccedilatildeo de inseguranccedila nas ruas elevada carga tributaacuteria

ineficiecircncia nos gastos puacuteblicos e elevaccedilatildeo da inflaccedilatildeo aleacutem do estilo autoritaacuterio e

inflexiacutevel da presidente O estranho eacute pensar sobre as razotildees que levaram a

populaccedilatildeo agraves ruas no momento atual em que a economia apresentou uma

significativa evoluccedilatildeo em relaccedilatildeo aos anos 80 e 90 aleacutem de presenciar sensiacutevel

melhora na renda meacutedia e na sua distribuiccedilatildeo nos anos 2000

A minha impressatildeo eacute de que depois de sentir a possibilidade de que o paiacutes entraria

em uma rota segura de crescimento da renda e de desenvolvimento econocircmico

(semelhante agrave sensaccedilatildeo que a populaccedilatildeo brasileira presenciou nos anos 70) o

enfraquecimento econocircmico e os sinais cada vez mais claros de que ele eacute resultante

de problemas internos deixaram a populaccedilatildeo transtornada Mais uma vez somos

apenas o paiacutes do futuro (NAKABASHI 2013 Acesso

httpwwwgazetadopovocombropiniaoartigosmanifestacoes-e-governo-no-

brasil-bdcjgu3mm6ql5e18tqoj73c5q)

Observamos acima uma parte de um artigo de opiniatildeo publicado no jornal Gazeta do

Povo em 02072013 por Luciano Nakabashi que trata das manifestaccedilotildees e do governo no

Brasil O autor anuncia primeiro o problema que vai discutir e em seguida lanccedila sua opiniatildeo

sobre o tema o que faz com que esse tipo de texto seja distinto da exposiccedilatildeo que

abordaremos a seguir

A exposiccedilatildeo apresenta informaccedilotildees sobre acontecimentos materiais e objetos de

forma detalhada e especiacutefica e por isso costuma lanccedilar matildeo de recursos como a descriccedilatildeo

informaccedilatildeo enumeraccedilatildeo comparaccedilatildeo e contrastes O tipo expositivo eacute caracteriacutestico de

gecircneros como as aulas expositivas verbetes de dicionaacuterios notiacutecias jornaliacutesticas entre

outros Vejamos o exemplo

Dianoia Termo grego que pode ser traduzido por pensamento intelecto

espiacuterito A dianoia eacute o pensamento discursivo enquanto elaboraccedilatildeo explicitaccedilatildeo

ou desenvolvimento da noese ou nous isto eacute da razatildeo intuitiva que capta de

modo imediato o real (Aristoacuteteles Tratado da alma III) Neste sentido a dianoia eacute

inferior ao nous jaacute que depende deste (MARCONDES e JAPIASSUacute 2001 p54)

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Tomamos como exemplo de exposiccedilatildeo um verbete de um dicionaacuterio de filosofia

Podemos observar que os autores apresentam a palavra ―dianoia e em seguida conceituam a

dianoia a partir da perspectiva de um filoacutesofo especiacutefico (neste caso Aristoacuteteles)

O tipo textual descriccedilatildeo por sua vez eacute o relato particular de eventos e entidades e se

relaciona comumente com outros tipos em inuacutemeros gecircneros textuais Eacute caracteriacutestico em

cartazes promocionais anuacutencio de classificados entre outros Vamos observar agora um

exemplo de descriccedilatildeo atraveacutes da anaacutelise de uma obra de arte de Salvador Dali de 1955

intitulada ―A uacuteltima ceia

―Sua cena estaacute contida num retacircngulo Uma imensa janela ao fundo representada

por um dodecaedro (figura geomeacutetrica de 12 lados que sua vez satildeo pentaacutegonos ou

seja possuem cinco acircngulos cada um) domina toda a composiccedilatildeo

Jesus Cristo e seus 12 apoacutestolos estatildeo reunidos numa sala moderna envidraccedilada

Ele ocupa o centro da mesa de pedra o centro da tela e o centro do pentaacutegono

frontal do dodecaedro Cristo estaacute de frente para o observador contudo seu corpo

transluacutecido permite ver o mar e um barco o que indica que ele natildeo mais eacute humano

mas divino A sensaccedilatildeo que temos eacute de que seu corpo emerge de dentro do mar

Diante de Cristo sobre a mesa estatildeo um copo com vinho e as duas bandas do patildeo

jaacute repartido o que nos permite concluir que Daliacute pintou o momento da Eucaristia A

presenccedila dos barcos no mar remete aos ―pescadores de homens

A mesa eacute formada por um bloco retangular Doze apoacutestolos debruccedilam-se sobre ela

sendo trecircs agrave esquerda de Cristo e trecircs agrave direita Nas suas extremidades estatildeo quatro

apoacutestolos sendo dois de cada lado De costa para o observador estatildeo mais dois

deles Todos estatildeo com as cabeccedilas baixas Um dos apoacutestolos diverge dos demais ao

usar uma toga amarela O pintor queria com certeza diferenciaacute-lo Portanto tanto

pode ser Pedro o fundador da Igreja ou Judas o traidor

No alto com a cabeccedila invisiacutevel e com parte do tronco visiacutevel e os braccedilos abertos

Deus Pai humanizado abraccedila toda a cena como se aguardasse a chegada do Filho

que se encontra entre os homens Ao fundo um mar tranquilo com rochas

espalhadas e um ceacuteu cheio de nuvens compotildeem o segundo plano da tela (Viacuterus da

arte amp cia ndash Site brasileiro especializado em arte e cultura Disponiacutevel em

httpvirusdaartenetdali-a-ultima-ceia)

Acima podemos observar a descriccedilatildeo de uma obra de arte do pintor catalatildeo Salvador

dali retirado de uma paacutegina sobre arte Como o nome do tipo textual sugere a descriccedilatildeo tem

por objetivo descrever fatos mas tambeacutem caracteriacutesticas para objetos paisagens e situaccedilotildees

diversas No exemplo que utilizamos para descriccedilatildeo observamos a descriccedilatildeo de uma obra de

arte por parte de um espectador demonstrando detalhes do que estaacute impresso na pintura

assim como uma interpretaccedilatildeo da cena

O uacuteltimo tipo textual que consideraremos aqui eacute o tipo injuntivo que tem por objetivo

instruir o leitor ou persuadi-lo a fazer algo ou adotar algum ponto de vista Tambeacutem tem

como caracteriacutestica a induccedilatildeo do interlocutor a proceder de uma ou outra forma Geralmente

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eacute escrito no modo imperativo e eacute caracteriacutestico de gecircneros como a bula de remeacutedio os

manuais de instruccedilotildees receitas culinaacuterias e contratos Vale ressaltar que dentro dos textos

injuntivos podem-se encontrar outros tipos de texto como por exemplo descriccedilotildees de

objetos endereccedilos procedimentos etc Vejamos o exemplo a seguir

Bolo simples

Tempo de preparo 40 minutos

Rendimento 12 porccedilotildees

Ingredientes

2 xiacutecaras de accediluacutecar

3 xiacutecaras de farinha de trigo

4 colheres de margarina bem cheias

3 ovos

1 frac12 xiacutecara de leite aproximadamente

1 colher (sopa) de fermento bem cheia

Modo de preparo

1) Bata as claras em neve

2) Reserve

3) Bata bem as gemas com a margarina e o accediluacutecar

4) Acrescente o leite e a farinha aos poucos sem parar de bater

5) Por uacuteltimo agregue as claras em neve e o fermento

6) Coloque em forma grande de furo central untada e enfarinhada

7) Asse em forno meacutedio preacute-aquecido por aproximadamente 40 minutos

8) Quando espetar um palito e sair limpo estaraacute assado

(httpwwwtudogostosocombrreceita29124-bolo-simpleshtml Acesso em

20042014)

No exemplo uma receita culinaacuteria podemos observar que haacute descriccedilatildeo na primeira

parte (a lista de ingredientes) e na segunda parte (modo de preparo) que eacute a mais

nitidamente injuntiva encontramos instruccedilotildees de como proceder na execuccedilatildeo da receita

Aleacutem da classificaccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo dos tipos de texto eacute interessante observarmos

tambeacutem a definiccedilatildeo de gecircneros textuais e domiacutenio discursivo conforme Marcuschi (2008)

Os gecircneros textuais satildeo definidos como ―textos materializados em situaccedilotildees

comunicativas recorrentes (MARCUSCHI 2008 p155) que apresentam caracteriacutesticas

soacutecio-comunicativas marcadas pelos conteuacutedos e pelas propriedades referentes agraves funccedilotildees e

composiccedilatildeo Diferente dos tipos textuais que se restringem a cerca de meia duacutezia como

afirma Marcuschi (2008) ―os gecircneros satildeo inuacutemeros Tambeacutem haacute de ressaltar que satildeo

culturalmente e historicamente formados visto que evoluem no mesmo passo que as

comunidades

O domiacutenio discursivo por sua vez eacute a esfera de atividade humana em que os textos

circulam Ele natildeo eacute um texto em si mas proporciona o surgimento de discursos especiacuteficos

Para ilustrar podemos citar alguns domiacutenios como discurso religioso discurso juriacutedico etc

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O domiacutenio eacute constituiacutedo por praacuteticas do discurso nas quais podemos identificar uma seacuterie de

gecircneros que possuem a mesma proposta discursiva como o tema e as praacuteticas institucionais

ou informais

As definiccedilotildees aqui trazidas de gecircnero tipo domiacutenio discursivo satildeo muito mais

operacionais do que formais e seguem de perto a posiccedilatildeo bakhtiniana Assim para a

noccedilatildeo de tipo textual predomina a identificaccedilatildeo de sequecircncias linguiacutesticas como

norteadora e para a noccedilatildeo de gecircnero textual predominamos criteacuterios de padrotildees

comunicativos accedilotildees propoacutesitos e inserccedilatildeo sociohistoacuterica No caso dos domiacutenios

discursivos natildeo lidamos propriamente com textos e sim com formaccedilotildees histoacutericas e

sociais que originam os discursos Eles ainda natildeo se acham bem definidos e

oferecem alguma resistecircncia mas seguramente sua definiccedilatildeo deveria ser na base de

criteacuterios etnograacuteficos antropoloacutegicos e socioloacutegicos e histoacutericos (MARCUSCHI

2008 p 158 Grifos do autor)

Nessa perspectiva faz-se necessaacuterio apresentarmos o papel dos gecircneros textuais como

controle social Como jaacute vimos anteriormente segundo Bakhtin (2000) toda atividade

discursiva humana se daacute atraveacutes de algum gecircnero e eacute tambeacutem por esse motivo que haacute uma

consideraacutevel pluralidade de gecircneros Marcuschi (2008) afirma que os gecircneros satildeo

―necessaacuterios para a interlocuccedilatildeo humana Assim para cada esfera de atividade humana

certos gecircneros especiacuteficos satildeo considerados mais ou menos adequados Na esfera

empresarial por exemplo temos que nos adequar agraves formalidades dos gecircneros de redaccedilatildeo

oficial como os ofiacutecios atas circulares e relatoacuterios Na academia apresentamos nossas

produccedilotildees atraveacutes de dissertaccedilotildees artigos cientiacuteficos teses e relatoacuterios de projetos No meio

publicitaacuterio encontramos as propagandas anuacutencios de diversos tipos Enfim satildeo inuacutemeras as

esferas de discurso domiacutenios discursivos e gecircneros textuais atrelados a estes

Marcuschi (2008) enfatiza que o controle social por gecircneros discursivos eacute

incontornaacutevel mas natildeo determinista De acordo com o autor noacutes temos liberdade para nos

expressarmos em qualquer esfera discursiva Poreacutem temos que admitir que a sociedade eacute

constituiacuteda por uma ―maacutequina discursiva logo somos moldados a ela de forma intuitiva e

os gecircneros textuais constituem um poderoso instrumento desta maacutequina Quanto maior a

nossa inserccedilatildeo na sociedade maior o controle social Por exemplo natildeo satildeo todas as pessoas

que podem expedir um mandato de seguranccedila escrever uma dissertaccedilatildeo de mestrado

ministrar uma aula de fiacutesica quacircntica ou publicar uma coluna em um jornal Eacute nessa

perspectiva que Marcuschi (2008) afirma veemente o direcionamento dos gecircneros textuais

para com o envolvimento social e suas especificidades

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A partir das consideraccedilotildees apresentadas a respeito dos gecircneros textuais dedicamos a

seccedilatildeo a seguir para a caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual

conforme relatamos na introduccedilatildeo deste capiacutetulo

12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL

O certificado de garantia ou termo de garantia eacute um documento oferecido por

prestadoras de serviccedilos fabricantes de produtos diversos ou de qualquer outro segmento que

envolva comercializaccedilatildeo de bens duraacuteveis com a funccedilatildeo de formalizar os direitos e deveres

do consumidor e do fabricante para com o estado fiacutesico e funcional do produto em vista de

problemas de qualquer natureza

Eacute tambeacutem uma espeacutecie de contrato visto que consiste fundamentalmente na

combinaccedilatildeo de interesses de partes sobre algo Aleacutem de ―certificado de garantia

utilizaremos tambeacutem a nomenclatura ―termo de garantia tendo em vista que o documento

do certificado de garantia e o termo em si estatildeo internamente ligados A expressatildeo ―termo de

garantia eacute usada no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20

de marccedilo de 1997

Art 50 A garantia contratual eacute complementar agrave legal e seraacute conferida mediante

termo escrito

Paraacutegrafo uacutenico O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e

esclarecer de maneira adequada em que consiste a mesma garantia bem como a

forma o prazo e o lugar em que pode ser exercitada e os ocircnus a cargo do

consumidor devendo ser-lhe entregue devidamente preenchido pelo fornecedor no

ato do fornecimento acompanhado de manual de instruccedilatildeo de instalaccedilatildeo e uso de

produto em linguagem didaacutetica com ilustraccedilotildees (Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do

Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20 de marccedilo de 1997 p 30)

Em linhas gerais o documento eacute composto por quatro partes garantia contratual

garantia legal condiccedilotildees para validade da garantia contratual e legal condiccedilotildees natildeo cobertas

pela garantia legal e contratual Vejamos um exemplo de certificado de garantia

27

ILUSTRACcedilAtildeO 1 Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario

_de_ar_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Observamos na primeira parte a disposiccedilatildeo da garantia contratual ou seja a garantia

oferecida pelo fabricante

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ILUSTRACcedilAtildeO 2 Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar

_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Na segunda parte encontramos a disposiccedilatildeo da garantia legal ou seja a garantia

assegurada pelo Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do consumidor

ILUSTRACcedilAtildeO 3 Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c

ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Em seguida vemos as condiccedilotildees de validade da garantia legal e contratual composta

por uma lista exaustiva de itens a serem considerados

29

ILUSTRACcedilAtildeO 4 Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c

ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

E por fim encontramos as condiccedilotildees natildeo cobertas pela garantia legal e contratual

assim como observaccedilotildees gerais

ILUSTRACcedilAtildeO 5 Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar

_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Em relaccedilatildeo agrave estrutura padratildeo dos certificados de garantia a partir do corpus

analisado nesta pesquisa observou-se que o texto que se refere agrave garantia em si corresponde a

menos da metade do documento Grande parte do documento se dedica agrave restriccedilatildeo de

possibilidades de cobertura assim como observaccedilotildees gerais quanto agraves responsabilidades do

fabricante diante de situaccedilotildees como despesas referentes agrave locomoccedilatildeo para depoacutesito do

produto para assistecircncia documentaccedilatildeo necessaacuteria para apresentaccedilatildeo na assistecircncia etc

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O termo de garantia eacute vinculado diretamente ao Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do

consumidor O coacutedigo estabelece um padratildeo abrangente de formulaccedilatildeo do documento

constando recomendaccedilotildees como o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo necessidade do

acompanhamento do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto assim como clareza na

disposiccedilatildeo dos prazos de garantia legal e contratual

Como discutimos na primeira parte desse capiacutetulo Bakhtin (2000) propotildee que trecircs

dimensotildees constituem os gecircneros de discurso conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo

composicional Iremos a seguir apresentar como estas dimensotildees satildeo percebidas nesse

gecircnero textual

Como conteuacutedo temaacutetico do gecircnero certificado de garantia temos a veiculaccedilatildeo de

direitos e deveres do fabricante e do consumidor O documento apresenta listas exaustivas de

accedilotildees que possibilitam ou natildeo o uso do termo de garantia assim como instruccedilotildees gerais para

a realizaccedilatildeo desse ato Esse conteuacutedo pode variar em parte e apenas questotildees referentes agrave

garantia legal natildeo podem mudar pois estaacute prevista no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do

Consumidor

Em relaccedilatildeo ao estilo observamos nos certificados a utilizaccedilatildeo da norma padratildeo

Busca-se construir um texto claro e objetivo para que dessa forma natildeo haja problemas de

interpretaccedilatildeo para o consumidor Nesse gecircnero natildeo haacute identificaccedilatildeo de quem escreve de

maneira particular como observamos em gecircneros do tipo carta A identificaccedilatildeo do autor eacute

geralmente atribuiacuteda agrave empresa que oferece a garantia O estilo individual que eacute

caracteriacutestico em diversos gecircneros como o artigo de opiniatildeo e cartas pessoais natildeo cabe para

os certificados Como se trata de um texto instrucional esse gecircnero apresenta-se de forma

objetiva de modo que natildeo haacute a necessidade praacutetica da identificaccedilatildeo de quem escreve

Quanto agrave estrutura composicional em linhas gerais tal gecircnero segue uma sequecircncia

de apresentaccedilatildeo em duas etapas Em um primeiro momento apresenta-se o termo de garantia

em si no qual eacute descrito o direito do consumidor em relaccedilatildeo agrave garantia assim como sua

validade No segundo momento parte mais extensa do texto haacute a apresentaccedilatildeo de listas

supostamente exaustivas referentes aos casos que natildeo satildeo cobertos pela garantia assim como

as instruccedilotildees gerais para o reclame do direito Essa sequecircncia de apresentaccedilatildeo do documento

eacute variaacutevel Haacute certificados que satildeo inclusos no manual de instruccedilatildeo do produto (geralmente

na uacuteltima paacutegina) Haacute certificados que satildeo destacados o documento eacute apresentado agrave parte de

qualquer outro texto

Se retomarmos a classificaccedilatildeo dos gecircneros do discurso de Bakhtin (2000) entre

primaacuterios (simples) e secundaacuterios (complexos) podemos considerar que o certificado de

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garantia estaacute inserido nos gecircneros complexos pois se trata de um documento elaborado de

forma sistemaacutetica no qual haacute necessidade de um aprofundamento social complexo com

caracterizaccedilotildees e descriccedilotildees bem delimitadas

Quanto ao tipo de texto dentro do que foi proposto por Marcuschi (2008) o

certificado de garantia se enquadra no tipo injuntivo porque eacute um texto instrucional com

predominacircncia do modo imperativo nas frases e eacute composto pela listagem de uma seacuterie de

procedimentos a serem observados e seguidos com listas exaustivas contendo direitos e

deveres do fabricante e do consumidor O objetivo do documento eacute oferecer ao cliente todas

as informaccedilotildees relacionadas agrave validade da garantia os casos em que haacute perda da validade e os

casos em que os problemas apresentados se enquadram como defeitos de fabricaccedilatildeo

O certificado de garantia se caracteriza como um gecircnero textual a partir da

perspectiva de Marcuschi (2008) pois eacute um texto que possui caracteriacutesticas soacutecio-discursivas

bem delimitadas com conteuacutedo padratildeo obedecendo a uma mesma linha temaacutetica e foi

constituiacutedo socialmente O gecircnero foi criado a partir da necessidade juriacutedica de resguardar os

fabricantes e consumidores de produtos industrializados e afins quanto agrave possibilidade de

apresentaccedilatildeo de defeitos ou falhas

De posse dos conhecimentos gerais sobre os gecircneros textuais que apresentamos e da

caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual partiremos no proacuteximo

capiacutetulo para a apresentaccedilatildeo das teorias que serviratildeo de aporte teoacuterico para a compreensatildeo

das anaacutelises realizadas no capiacutetulo 3

32

2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS

Neste capiacutetulo tratamos dos nexos semacircnticos ou ―nexos de significado dos quais

consideramos para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica

contraditoriedade e contrariedade Caracterizamos cada um deles utilizando exemplos em

linguagem natural com o intuito de demonstrar o funcionamento dessas relaccedilotildees assim como

mostrar quando tais exemplos deixam de apresentar o nexo Nosso intuito final eacute de oferecer

uma base para a compreensatildeo das anaacutelises que viratildeo no capiacutetulo posterior

Para entendermos melhor o que satildeo os nexos semacircnticos devemos compreender a

distinccedilatildeo entre a semacircntica e a pragmaacutetica que satildeo linhas de estudos linguiacutesticos inter-

relacionaacuteveis Uma definiccedilatildeo bastante difundida da semacircntica e tambeacutem bastante geral eacute

encontrada em Trask (2004 p 261) que diz que a semacircntica eacute o ramo da linguiacutestica que

estuda o significado e em Chierchia (2003 p 7) para quem a semacircntica eacute um estudo do

significado das expressotildees das liacutenguas naturais Podemos tambeacutem caracterizar a semacircntica

destacando a relaccedilatildeo do usuaacuterio da liacutengua e o significado que ele atribuiu agraves palavras que

compotildeem sentenccedilas como propotildee Pires de Oliveira (2001 p 42) Jaacute a pragmaacutetica por outro

lado tambeacutem estuda o significado das liacutenguas naturais mas trata das intenccedilotildees que os

falantes supostamente revelam a partir do uso de sentenccedilas

Para o termo ―pragmaacutetica haacute diversas possibilidades de definiccedilatildeo Levinson (2007)

procura mostrar as implicaccedilotildees que algumas definiccedilotildees podem ter em relaccedilatildeo a outros

estudos Assim podemos citar pelo menos dois conceitos de pragmaacutetica para Levinson

―pragmaacutetica eacute o estudo de todos os aspectos do significado natildeo capturados em uma teoria

semacircntica (Levinson 2007 p14) assim como ―pragmaacutetica eacute o estudo das relaccedilotildees entre

liacutengua e contexto que satildeo gramaticalizadas ou codificadas na estrutura de um liacutengua

(Levinson 2007 p 11) Podemos perceber que nessas duas definiccedilotildees Levinson tanto atribui

agrave pragmaacutetica a responsabilidade sobre aquilo que estaacute aleacutem da semacircntica quanto destaca a

relaccedilatildeo de liacutengua e contexto Jaacute em Wilson (2008) encontramos as definiccedilotildees que Yule

(1996) apresenta para a pragmaacutetica

a) pragmaacutetica eacute o estudo do significado sob o ponto de vista do falante b)

pragmaacutetica eacute o estudo do significado contextual (isto eacute leva em conta o modo como

os falantes organizam seus enunciados aquilo que eles querem dizer de acordo com

os seguintes fatores a quem vatildeo dizer como vatildeo dizer onde e quando vatildeo dizer e

sob que circunstacircncias) c) pragmaacutetica eacute o estudo do como se diz aleacutem daquilo que eacute

33

dito (isto eacute o estudo do significado subjacente do natildeo dito d) pragmaacutetica eacute o

estudo da expressatildeo da proximidadedistanciamento relativo (isto eacute de acordo com

o tipo de proximidade fiacutesica social ou conceitual em relaccedilatildeo aos ouvintes os

falantes determinam como e quanto precisam dizer) (WILSON 2008 p 89)

A discussatildeo sobre as definiccedilotildees de pragmaacutetica e semacircntica e suas distinccedilotildees vem

desde o iniacutecio do seacuteculo XX e muitos autores contribuiacuteram para a evoluccedilatildeo desses conceitos

Em vista desta histoacuterica discussatildeo apresentaremos os conceitos de Charles Morris e Rudolf

Carnap para estas disciplinas linguiacutesticas

Segundo a definiccedilatildeo de Charles Morris (1938) pragmaacutetica eacute o estudo da ―relaccedilatildeo dos

signos com seus inteacuterpretes Jaacute para Rudolf Carnap (1938) a pragmaacutetica eacute o estudo da

linguagem em relaccedilatildeo aos seus falantes Diante dos conceitos de semacircntica e pragmaacutetica que

apresentamos e da distinccedilatildeo entre as linhas de estudos linguiacutesticos Marcondes (2000) afirma

que ―tanto a definiccedilatildeo de Morris quanto a de Carnap fazem parte da jaacute consagrada distinccedilatildeo

geral do campo de estudos da linguagem entre pragmaacutetica que considera a linguagem em

seu uso concreto e semacircntica que examina os signos linguiacutesticos em sua relaccedilatildeo com os

objetos que designam ou a quem se refere Os nexos semacircnticos estatildeo inseridos no campo da

semacircntica e voltaremos a este ponto no final do capiacutetulo

Sobre as relaccedilotildees semacircnticas haacute diversas perspectivas nos estudos linguiacutesticos A

forma como combinamos as palavras e nossa tendecircncia em buscar um conceito fixo de um

termo satildeo complicaccedilotildees que podem dificultar o uso da liacutengua O significado linguiacutestico das

liacutenguas naturais segundo Basso (2009) possibilita nexos semacircnticos entre sentenccedilas E

ainda sobre o significado Basso propotildee

Quando perguntamos o significado de alguma palavra muitas vezes buscamos

aquele modelo significativo presente nos dicionaacuterios Poreacutem natildeo haacute no dicionaacuterio

maneiras preacute-estabelecidas de como uma palavra pode se combinar com outra em

busca da trama de significados dos nexos que favorecem infinitas interpretaccedilotildees

Essas combinaccedilotildees satildeo decorrentes do proacuteprio uso da liacutengua pelos seus falantes

mas natildeo estatildeo nem presentes nos dicionaacuterios nem tampouco algueacutem nos ensina satildeo

conhecimentos impliacutecitos Uma aacuterea da linguiacutestica moderna defende que o nosso

conhecimento semacircntico e um dote geneacutetico portanto os possiacuteveis nexos

semacircnticos satildeo decorrentes de uma capacidade inata de combinaccedilatildeo de palavras e

sentenccedilas parte do conhecimento semacircntico impliacutecito ou competecircncia semacircntica

(BASSO 2009 p 25)

Os nexos semacircnticos satildeo caracterizados na literatura da semacircntica como grupos de

relaccedilotildees de inferecircncia muito estaacuteveis direcionaacuteveis e fortemente dependentes do material

34

linguiacutestico dos enunciados (SANTOS 2012) Essas relaccedilotildees diferem de perspectivas de

inferecircncias como a pressuposiccedilatildeo e a implicatura que dialogam diretamente com o natildeo-dito

Para contrastar os nexos com esses outros tipos de relaccedilatildeo vamos observar os exemplos a

seguir

(1) Carlos parou de beber refrigerante

(2) A tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio

Seguindo a mesma linha de exposiccedilatildeo de Moura (1999 p 12) a partir das duas

sentenccedilas acima observamos dois niacuteveis nas informaccedilotildees veiculadas No primeiro niacutevel

temos contato com o sentido literal das palavras Dessa forma em (1) temos a informaccedilatildeo de

Carlos natildeo toma mais refrigerantes e em (2) que Maacuterio escreveu uma tese sobre bolhas de

sabatildeo No segundo niacutevel atraveacutes da enunciaccedilatildeo das sentenccedilas somos levados a considerar

informaccedilotildees que natildeo estatildeo afirmadas literalmente nas sentenccedilas Dessa forma a partir de (1)

podemos inferir que Carlos bebia refrigerantes antes e em (2) que uma tese sobre bolhas de

sabatildeo jaacute foi escrita Ducrot (1987) denomina de conteuacutedo posto o primeiro niacutevel que

consiste no conteuacutedo literal das sentenccedilas e de conteuacutedo pressuposto ou pressuposiccedilatildeo o

segundo niacutevel que abarca as inferecircncias que podemos fazer a partir da enunciaccedilatildeo das

sentenccedilas Devemos entender que o conteuacutedo posto depende do conteuacutedo pressuposto pois a

aceitaccedilatildeo do primeiro leva a aceitaccedilatildeo do segundo Para que possamos aceitar a verdade do

posto (1) que diz que Carlos parou de beber refrigerante temos que aceitar a verdade

pressuposta de que Carlos jaacute tinha bebido refrigerante antes

Outra relaccedilatildeo semacircntica que dialoga diretamente com o natildeo-dito eacute a implicatura

Grice (1987) propotildee dois tipos de implicaturas as implicaturas convencionais que natildeo satildeo

sujeitas a condiccedilotildees de verdade e as implicaturas conversacionais que natildeo dependem

diretamente da significaccedilatildeo usual das palavras sendo determinadas por certos princiacutepios

baacutesicos do ato comunicativo

As implicaturas convencionais satildeo inferecircncias natildeo sujeitas a condiccedilotildees de verdade

natildeo satildeo derivadas de princiacutepios pragmaacuteticos mais gerais como as maacuteximas conversacionais

mas satildeo simplesmente ligadas pela convenccedilatildeo a itens ou expressotildees lexicais especiacuteficos

Levinson (2007) toma a implicatura conversacional como uma das ideias mais

importantes da pragmaacutetica e vamos considerar neste trabalho apenas as implicaturas do tipo

conversacional de forma que quando mencionarmos o termo implicatura devemos entender

que estamos falando das implicaturas conversacionais e natildeo das convencionais

35

Para exemplificar uma implicatura vamos supor uma situaccedilatildeo entre dois amigos em

que ao dialogar sobre as uacuteltimas defesas de teses e dissertaccedilotildees do departamento de poacutes-

graduaccedilatildeo deparam-se com a notiacutecia de que um de seus colegas escreveu uma tese sobre um

tema muito irrelevante e nada original Diante desta situaccedilatildeo um amigo disse para o outro ―A

tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio A partir da situaccedilatildeo em que os dois amigos

estavam imersos nesse contexto e da sentenccedila utilizada por um dos amigos podemos inferir

que foi Maacuterio quem escreveu uma tese sobre um tema irrelevante Podemos perceber neste

exemplo que como descrito nas definiccedilotildees que trouxemos anteriormente a implicatura por

ser uma relaccedilatildeo puramente pragmaacutetica utiliza-se do natildeo-dito e de situaccedilotildees convencionadas

entre falantes para poder existir

Dessa forma podemos retomar o que foi exposto nos paraacutegrafos anteriores afirmando

que os nexos semacircnticos as pressuposiccedilotildees e as implicaturas satildeo inferecircncias de significado

sendo que os nexos estatildeo no campo da semacircntica e as pressuposiccedilotildees e implicaturas estatildeo no

campo da pragmaacutetica

A partir deste ponto iremos descrever os nexos semacircnticos com exemplos mostrando

como essas relaccedilotildees funcionam e tambeacutem casos em que a interpretaccedilatildeo natildeo acontece da

maneira esperada Em relaccedilatildeo aos casos em que a interpretaccedilatildeo eacute prejudicada trataremos de

casos relacionados com a ambiguidade lexical mais especificamente com vagueza e casos

relacionados com a polissemia (desconsiderando seus limites com a homoniacutemia)

21 ACARRETAMENTO

Em linhas gerais o acarretamento ocorre quando a verdade de um conjunto de

sentenccedilas1 que nomearemos de A garante a verdade de outra sentenccedila que nomearemos de

B Dessa forma a verdade da primeira sentenccedila ou do conjunto delas autoriza a verdade de B

(CHIERCHIA 2003) O acarretamento eacute uma inferecircncia que os falantes estatildeo autorizados a

fazer e o que os autoriza eacute o conhecimento linguiacutestico Vamos observar o exemplo a seguir

1 Em nosso trabalho utilizaremos os termo ldquosentenccedilardquo e ldquoproposiccedilatildeordquo intercambiavelmente Alguns autores

definem os dois termos de formas distintas Por exemplo na semacircntica contemporacircnea de mundos possiacuteveis desenvolvida por autores como por exemplo Kripke e Lewis define-se proposiccedilatildeo como a classe de todos os mundos possiacuteveis nas quais ela eacute verdadeira Murcho (2006) apresenta dois exemplos para distinguir proposiccedilotildees e sentenccedilas ldquoSoacutecrates era um filoacutesofordquo e ldquoSocrates was a philosopherrdquo Murcho afirma que os dois exemplos satildeo duas sentenccedilas que exprimem uma uacutenica proposiccedilatildeo Outros como Mortari (2001) natildeo distinguem proposiccedilotildees e sentenccedilas

36

(3) alsquo Neymar eacute brasileiro

a Neymar eacute um jogador de futebol

b Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro

Podemos observar no exemplo acima que a sentenccedila (3b) tem a sua verdade garantida

pela verdade de (3alsquo) e (3a) Sendo assim (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Podemos observar

no exemplo que o acarretamento eacute bastante claro pois as informaccedilotildees que estatildeo presentes em

(3b) satildeo a soma das informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) Eacute interessante destacar

que para que a sentenccedila (3b) constitua um acarretamento de (3alsquo) e (3a) natildeo precisamos

conhecer a pessoa Neymar nem sua nacionalidade eou profissatildeo Como as informaccedilotildees

estatildeo postas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) a verdade de (3b) eacute inevitaacutevel Mesmo que no mundo

real Neymar natildeo fosse jogador de futebol e natildeo fosse brasileiro isso em nada modificaria o

acarretamento pois dentro da relaccedilatildeo estabelecida entre (3alsquo) (3a) e (3b) as informaccedilotildees

contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Vejamos o exemplo a seguir

(4) alsquo Todos os sacis tecircm apenas uma perna

a Denis Diderot eacute um saci

b Denis Diderot tem apenas uma perna

Observando o exemplo acima identificamos que em relaccedilatildeo ao conhecimento de

mundo a sentenccedila (4alsquo) eacute verdadeira jaacute que no folclore admitimos como uma caracteriacutestica

dos sacis ter apenas uma perna A sentenccedila (4a) eacute falsa pois Denis Diderot foi um filoacutesofo e

escritor francecircs e natildeo um saci Por fim a sentenccedila (4b) tambeacutem eacute falsa em relaccedilatildeo ao nosso

conhecimento de mundo pois Denis Diderot possuiu durante toda a sua vida as duas pernas

Podemos entatildeo admitir que as sentenccedilas do conjunto (4) em relaccedilatildeo ao nosso conhecimento

de mundo satildeo falsas Mesmo assim o conjunto eacute um acarretamento Diferente do exemplo

(3) em que trouxemos sentenccedilas que constituiacuteam um acarretamento com informaccedilotildees

verdadeiras em relaccedilatildeo ao mundo o exemplo (4) mostra que a relaccedilatildeo semacircntica que estamos

discutindo independe da verdade das informaccedilotildees das sentenccedilas no mundo O que o

acarretamento faz eacute concatenar as sentenccedilas de uma forma que se as premissas forem

verdadeiras a conclusatildeo tambeacutem seraacute verdadeira O acarretamento depende exclusivamente

37

da forma em que as sentenccedilas se apresentam Tendo em vista que a relaccedilatildeo depende apenas

da forma podemos representar o acarretamento da seguinte maneira como propotildee Soares

(2003)

Em liacutengua natural

Se estudar entatildeo serei aprovado (1ordf premissa)

Ora estudei (2ordf premissa)

Logo fui aprovado (Conclusatildeo)

E simbolizando2

a rarr b (1ordf premissa)

a (2ordf premissa)

b (Conclusatildeo)

Vale ressaltar que ao utilizarmos o termo ―sentenccedila estamos nos referindo ao que os

gramaacuteticos costumam chamar de oraccedilatildeo Tambeacutem eacute interessante mencionar que o

acarretamento eacute chamado de consequecircncia semacircntica Iremos utilizar como representaccedilatildeo das

premissas sentenccedilas do tipo (Xalsquo) e (Xa) e para a conclusatildeo sentenccedilas do tipo (Xb)

Podemos entender que o acarretamento eacute um tipo de relaccedilatildeo estabelecida entre

premissas e a consequecircncia de forma que a verdade das premissas determina a verdade da

consequecircncia Tambeacutem devemos entender que natildeo eacute possiacutevel que as premissas sejam

verdadeiras junto da negaccedilatildeo da conclusatildeo pelo fato de que dessa forma estaria

descaracterizada a relaccedilatildeo de acarretamento

Como ressaltamos acima os acarretamentos satildeo dependentes da forma ou seja da

relaccedilatildeo que as sentenccedilas possuem entre si e natildeo da verdade ou falsidade no mundo das

informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas Diante disso traremos agrave tona exemplos de sentenccedilas que

2 O siacutembolo ldquorarrrdquo na loacutegica claacutessica representa um condicional assunto de que trataremos no terceiro capiacutetulo

deste trabalho e o siacutembolo ldquordquo representa um acarretamento

38

natildeo possuem relaccedilatildeo semacircntica mas atraveacutes da verdade ou falsidade das informaccedilotildees nas

sentenccedilas podem nos confundir e nos induzir ao erro Para tal raciociacutenio errocircneo damos o

nome de falaacutecias

Soares (2003) distingue trecircs caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias (i) satildeo

argumentos parecidos com argumentos vaacutelidos (ii) estabelecem entre premissas e conclusotildees

uma relevacircncia puramente psicoloacutegica que tatildeo-soacute se dirige agraves emoccedilotildees da pessoa sem que as

premissas sejam logicamente relevantes para extrair a conclusatildeo (iii) apresentam-se com

intenccedilatildeo enganadora para que o argumento ainda que invaacutelido seja de todas as maneiras

aceito por todos Vejamos a seguir exemplos de falaacutecias

(5) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher

a Dilma Rousseff eacute mulher

b Dilma Rousseff eacute a presidente do Brasil

A partir do nosso conhecimento de mundo poderiacuteamos dizer que a sentenccedila (5b) eacute

verdadeira Na sentenccedila (5alsquo) temos que A presidente do Brasil eacute mulher De fato tambeacutem se

formos utilizar nosso conhecimento de mundo intuitivamente diremos que esta sentenccedila estaacute

correta considerando a eacutepoca em que este trabalho foi escrito Seguindo temos a sentenccedila

(5a) com a informaccedilatildeo Dilma Rousseff eacute mulher Assim como as sentenccedilas (5alsquo) e (5a) a

partir de nosso conhecimento de mundo podemos afirmar que esta sentenccedila tambeacutem eacute

verdadeira mas devemos entender que eacute preciso considerar a relaccedilatildeo que as sentenccedilas

estabelecem entre si A sentenccedila (5alsquo) natildeo estabelece nenhuma relaccedilatildeo com a sentenccedila (5a)

para que (5b) seja um acarretamento Para mostrar de forma mais clara que o exemplo (5) natildeo

eacute um acarretamento vamos comparaacute-lo com o exemplo a seguir

(6) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher

a Michelle Bachelet eacute mulher

b Michelle Bachelet eacute a presidente do Brasil

Observamos que (6alsquo) e (6a) satildeo verdadeiras (no momento da redaccedilatildeo deste

trabalho) mas (6b) nos parece estranho Sabemos que Michelle Bachelet atualmente eacute

presidente do Chile Mas nada disso interfere para caracterizar um acarretamento e o exemplo

acima foi para deixar claro que a partir das relaccedilotildees semacircnticas dispostas entre os grupos de

39

sentenccedilas (5) e (6) natildeo podemos considerar que haacute acarretamento pelo fato acima

mencionado

Ateacute o momento tratamos do conceito de acarretamento seguido de exemplos em

liacutengua natural sua representaccedilatildeo na loacutegica claacutessica e exemplos de falaacutecias A partir deste

ponto trataremos dos fatores que interferem nas relaccedilotildees semacircnticas de uma forma diferente

das falaacutecias A compreensatildeo dos tipos de interferecircncias a seguir seraacute importante para a anaacutelise

do corpus deste trabalho pois se trata de interferecircncias lexicais

No exemplo a seguir trataremos de um problema que pode invalidar relaccedilotildees

semacircnticas a polissemia Quando um termo adquire mais de um sentido aleacutem daquele que eacute

originalmente atribuiacutevel temos um caso de polissemia Crystal (1985) conceitua polissemia

da seguinte maneira

Polissemia termo usado na anaacutelise semacircntica para caracterizar um item lexical com

uma variedade de significaccedilotildees diferentes como manga = ―parte da camisa ―parte

do abajur etc Uma grande parte do vocabulaacuterio da liacutengua eacute polissecircmica ()

(Crystal 1985 p 202)

Tendo em vista que a polissemia eacute uma caracteriacutestica de um item lexical que possui

diversos significados para diversos contextos vamos observar o exemplo a seguir

(7) a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito

b Joatildeo morreu

A sentenccedila (7a) pode ser interpretada pelo menos de duas formas distintas pelo fato da

expressatildeo ―perdeu a cabeccedila ser polissecircmica Se interpretarmos a sentenccedila (7a) considerando

―perder a cabeccedila como ter a cabeccedila desprendida do corpo haacute acarretamento de (7a) para

(7b) Mas esta natildeo eacute a uacutenica interpretaccedilatildeo possiacutevel para a expressatildeo em questatildeo Se

interpretarmos ―perder a cabeccedila como perder a paciecircncia ficar furioso estressado ou algo

parecido a sentenccedila (7a) natildeo acarreta (7b) numa mesma situaccedilatildeo pois o fato de Joatildeo ter

perdido a paciecircncia natildeo garante que ele venha a morrer Dessa forma para natildeo ter problemas

com a polissemia eacute preciso assegurar que se convencione um sentido uacutenico para cada

premissa para desta forma haver um acarretamento

40

Outro aspecto que eacute preciso ser mencionado eacute que (7) do jeito que se apresenta natildeo eacute

um acarretamento mesmo que perder a cabeccedila tenha o sentido de ter a cabeccedila desprendida do

corpo Isso se daacute porque (7) eacute um acarretamento incompleto ou seja um entimema

Argumento com uma premissa natildeo-formulada sem a qual ele natildeo eacute vaacutelido Chama-

se muitas vezes de premissa impliacutecitalsquo agrave premissa natildeo formulada Na argumentaccedilatildeo

cotidiana omitem-se premissas oacutebvias A premissa impliacutecita do argumento Antocircnio

deveria ser despedido porque roubou dinheiro puacuteblicolsquo eacute Todas as pessoas que

roubam dinheiro puacuteblico devem ser despedidaslsquo (BRANQUINHO MURCHO

GOMES 2006 p 298)

Vamos observar o exemplo (7) de uma forma que o entimema seria evitado

(8) alsquo Todas as pessoas que perdem a cabeccedila morrem

a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito

b Joatildeo morreu

Podemos constatar no exemplo acima que ao incluirmos a sentenccedila (8alsquo) que eacute a

sentenccedila geral que estava impliacutecita no exemplo (7) resolvemos o problema do entimema

completando assim a relaccedilatildeo de acarretamento de (8alsquo) e (8a) para (8b)

A partir de agora vamos tratar de outro tipo de interferecircncia em relaccedilotildees sentencias

que estaacute tambeacutem no campo do leacutexico a vagueza

A vagueza eacute assim como a polissemia um tipo de ocorrecircncia que dificulta a

interpretaccedilatildeo dos nexos entre sentenccedilas Podemos considerar que haacute vagueza em uma

sentenccedila quando observamos que uma palavra ou expressatildeo causa sentido incompleto

impedindo o entendimento da sentenccedila como um todo Branquinho Murcho e Gomes

conceituam a vagueza de seguinte maneira

As liacutenguas naturais contecircm palavras (tipicamente predicados denotando

propriedades ou relaccedilotildees) cujo domiacutenio de aplicaccedilatildeo eacute parcialmente indeterminado

isto eacute em relaccedilatildeo agraves quais os falantes competentes natildeo estatildeo certos em todos os

casos de que determinado objeto (ou par ordenado de objetos) pertence ao conjunto

denotado por elas (ou agrave relaccedilatildeo) (BRANQUINHO MURCHO GOMES 2006 p

805)

De uma forma geral Allan (2010) caracteriza a vagueza como um tipo particular de

incerteza sobre a aplicaccedilatildeo de um predicado Podemos considerar como um exemplo padratildeo

de predicado vago a classe de adjetivos graduaacuteveis como altura Se uma determinada pessoa

41

natildeo eacute suficientemente alta para ser claramente alta e natildeo eacute suficiente baixa para ser

claramente baixa entatildeo aiacute temos um caso de vagueza

Os adjetivos vagos satildeo sempre utilizados em relaccedilatildeo a uma classe de comparaccedilatildeo no

dia-a-dia Estar acima do peso por exemplo pode variar a partir do grau de comparaccedilatildeo Para

uma top model estar acima do peso eacute visto de forma diferente do que para um lutador de

sumocirc por exemplo

Ainda em relaccedilatildeo ao conceito de vagueza Kempson (1977) propotildee que existem

quatro tipos inter-relacionaacuteveis de vagueza vagueza referencial indeterminaccedilatildeo de

significado falta de especificaccedilatildeo no significado de um item disjunccedilatildeo na especificaccedilatildeo do

significado de um item em que o significado abarca uma ou qualquer declaraccedilatildeo de diversas

possibilidades de interpretaccedilatildeo Dentre estes quatro tipos propostos por Kempson iremos nos

dedicar a observar os casos relacionados agrave vagueza referencial Tendo em vista os conceitos

acima vamos observar um exemplo em que a vagueza pode prejudicar a interpretaccedilatildeo de um

acarretamento

(9) a Tobias eacute um gecircnio no xadrez

b Tobias eacute um bom jogador de xadrez

No exemplo acima podemos observar os termos vagos ―gecircnio na sentenccedila (9a) e

―bom na sentenccedila (9b) Para haver a relaccedilatildeo de acarretamento temos que admitir para (9a) e

(9b) o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe Por exemplo haacute acarretamento entre as

sentenccedilas (9a) e (9b) se Tobias for um garoto de oito anos e diante seus colegas da escola ele

se destacar como um exiacutemio conhecedor das regras e teacutecnicas do jogo de xadrez Dessa

forma a sentenccedila ―Tobias eacute um gecircnio no xadrez acarretaria que ―Tobias eacute um bom jogador

de xadrez Jaacute se natildeo utilizarmos o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas

(9a) e (9b) como por exemplo se em (9a) Tobias for um garoto de oito anos que diante de

seus colegas da escola se destaca como um exiacutemio jogador de xadrez mas comparando-o

com os competidores da categoria secircnior do campeonato mundial de xadrez e a partir disso

afirmando (9b) natildeo poderiacuteamos acarretar que Tobias eacute um bom jogador de xadrez Dessa

forma pudemos observar que a presenccedila de termos vagos em sentenccedilas dificulta a

interpretaccedilatildeo dos acarretamentos A seguir observaremos outros nexos que se relacionam com

o acarretamento

42

22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA

Como discutimos anteriormente o acarretamento eacute uma relaccedilatildeo semacircntica que ocorre

em um uacutenico sentido ou seja das premissas para a conclusatildeo Quando uma conclusatildeo

acarreta as premissas chamamos essa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica

Para o termo ―equivalecircncia haacute diversas definiccedilotildees Segundo Branquinho Murcho e

Gomes (2006 p 281) podemos identificar dois sentidos distintos para este termo o primeiro

se refere ao que tratamos neste trabalho ou seja faz referecircncia a relaccedilatildeo entre as sentenccedilas de

certa liacutengua o segundo trata de determinados tipos de sentenccedilas declarativas agraves frases

bicondicionais ou declarativas Dentro desses dois sentidos diversos para o termo

―equivalecircncia no primeiro que eacute o que mais nos interessa os autores ainda distinguem trecircs

variedades centrais de equivalecircncia Satildeo elas equivalecircncia material equivalecircncia estrita e

equivalecircncia loacutegica

A equivalecircncia material eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q (por

exemplo) exatamente quando p e q possuem o mesmo valor de verdade ou seja quando ou

satildeo as duas verdadeiras juntas ou satildeo as duas falsas juntas

A equivalecircncia estrita eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q no caso em

que eacute necessaacuterio que p seja materialmente equivalente a q ou no caso de ser impossiacutevel tanto

que p seja verdadeira e q seja falsa quanto que p seja falsa e q seja verdadeira Branquinho

Murcho e Gomes (2006 p 281) afirmam que nesse caso diz-se que p eacute estritamente

equivalente a q

A equivalecircncia loacutegica eacute uma relaccedilatildeo que se estabelece entre duas sentenccedilas p e q

exatamente no caso de p e q serem duas sentenccedilas mutuamente dedutiacuteveis num dado sistema

loacutegico Diz-se nesse caso que p eacute logicamente equivalente a q

Em nosso trabalho iremos considerar para ―equivalecircncia o sentido apresentado por

Branquinho Murcho e Gomes (2006) para equivalecircncia material A partir deste conceito

vamos observar o exemplo a seguir

(10) a O gato matou o rato

b O rato foi morto pelo gato

Nas sentenccedilas acima podemos identificar uma relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica Eacute

impossiacutevel que o gato tenha matado o rato e que o rato natildeo tenha sido morto Claro que se

43

considerarmos que estamos tratando sobre o mesmo gato e o mesmo rato Dessa forma

sempre que (10a) for verdadeira (10b) tambeacutem teraacute de ser Tambeacutem podemos observar uma

relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica no exemplo (3) Utilizamos o exemplo (3) para mostrar

uma relaccedilatildeo de acarretamento que eacute efetiva mas tambeacutem haacute a relaccedilatildeo de equivalecircncia pois

as premissas ―Neymar eacute brasileiro e ―Neymar eacute um jogador de futebol acarretam que

―Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro da mesma forma que esta uacuteltima sentenccedila

acarreta as duas anteriores Tal exemplo reafirma o conceito descrito acima de que uma

equivalecircncia semacircntica eacute um acarretamento duplo

Assim como acontece no acarretamento a equivalecircncia semacircntica tem problemas com

a polissemia Vamos observar exemplo a seguir

(11) a O Brasil ganhou o jogo contra o Chile

b O Chile perdeu o jogo contra o Brasil

No exemplo acima vemos que a sentenccedila (11a) acarreta a sentenccedila (11b) ao mesmo

tempo em que a sentenccedila (11b) acarreta a sentenccedila (11a) Natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (11a)

seja verdadeira ao mesmo tempo em que a (11b) seja falsa Se uma das sentenccedilas eacute falsa e a

outra eacute verdadeira natildeo haacute acarretamento em nenhum dos dois ―sentidos (em relaccedilatildeo agrave

direccedilatildeo de (11a) para (11b) e de (11b) para (11a)) Natildeo podemos considerar que o Brasil

ganhou o jogo contra o Chile e que o Chile ganhou o jogo contra o Brasil pois sabemos que

em uma partida de futebol haacute apenas um ganhador Haacute a possibilidade de algueacutem querer ir

mais aleacutem e inferir que eacute possiacutevel que os dois times ganharam mas em jogos diferentes Se

considerarmos a situaccedilatildeo de que o Chile jaacute ganhou outros jogos contra o Brasil assim como

que o Brasil jaacute ganhou outros jogos contra o Chile a relaccedilatildeo de equivalecircncia seria possiacutevel

escolhendo qualquer outro jogo como referecircncia mas natildeo eacute o que nos interessa pois

devemos considerar apenas uma situaccedilatildeo para as duas sentenccedilas

A partir deste ponto iremos tratar sobre como a polissemia pode interferir na

interpretaccedilatildeo numa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica da mesma forma que mostramos

anteriormente nas relaccedilotildees de acarretamento Vejamos o proacuteximo exemplo

44

(12) a A lagosta estaacute mais salgada que o peixe

b O peixe estaacute menos salgado que a lagosta

Podemos observar que as sentenccedilas (12a) e (12b) satildeo equivalentes pelo fato de que

natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12a) seja verdadeira e a sentenccedila (12b) seja falsa assim como

natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12b) seja verdadeira e a sentenccedila (12a) seja falsa Poreacutem se

passarmos a admitir significados diferentes para expressotildees empregadas nas sentenccedilas por

exemplo para a palavra ―salgado encontraremos problemas Se admitirmos que sentenccedila

(12a) o conceito de ―salgado eacute de o alimento estar impregnado de sal salpicado de sal ou

com gosto de sal e se este conceito for tambeacutem considerado para a sentenccedila (12b) haacute

equivalecircncia semacircntica Mas tambeacutem podemos interpretar o termo ―salgado como uma

expressatildeo para se referir ao preccedilo alto do produto no mercado Soacute haacute equivalecircncia semacircntica

se admitirmos o mesmo conceito para ―salgado em ambas as sentenccedilas ou seja se

considerarmos o significado de ―salgado como sendo impregnado de sal para a sentenccedila

(12a) ou em (12b) como sendo relativo ao valor alto no mercado natildeo haacute equivalecircncia

semacircntica entre (12a) e (12b)

No proacuteximo exemplo trataremos de outro tipo de ocorrecircncia que dificulta a

interpretaccedilatildeo de nexos a vagueza Como jaacute apresentamos a definiccedilatildeo de vagueza na seccedilatildeo

anterior partiremos direto para o exemplo em que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo de uma

equivalecircncia semacircntica

(13) a Goacutergias eacute mais saacutebio que Hiacutepias

b Hiacutepias eacute menos saacutebio que Goacutergias

Na relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) haacute equivalecircncia semacircntica mas podemos identificar

que nas duas sentenccedilas foram utilizados termos vagos que tornam a interpretaccedilatildeo dificultosa

Em (13a) haacute o uso dos termos ―mais e ―saacutebio assim como em (13b) haacute o uso dos termos

―menos e ―saacutebio Esses termos satildeo vagos e dificultam a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo semacircntica

entre as sentenccedilas O que dificulta a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) eacute o fato de

que termos como ―mais e ―menos assim como ―saacutebio possuem significados diferentes de

acordo com as situaccedilotildees em que satildeo utilizadas Ou seja eacute necessaacuterio que admitamos o

45

mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas (13a) e (13b) Dessa forma haveraacute a

relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica

A seguir trataremos sobre outro tipo de relaccedilatildeo semacircntica entre sentenccedilas a

contraditoriedade

23 CONTRADITORIEDADE

Diferente da relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica que consiste em sentenccedilas que satildeo

verdadeiras juntas ou falsas juntas as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias quando uma eacute oposta da

outra tipicamente quando uma sentenccedila B eacute a negaccedilatildeo de uma sentenccedila A Sobre a relaccedilatildeo de

contraditoriedade Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 229) afirmam que ―obteacutem-se a

contraditoacuteria de qualquer proposiccedilatildeo p prefixando-lhe o operador de negaccedilatildeo de modo a

obter notp3 Com base no conceito de contraditoriedade exposto vamos observar o exemplo a

seguir

(14) a O Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016

b O Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016

Podemos observar no exemplo acima que se a sentenccedila (14a) for verdadeira

obrigatoriamente a sentenccedila (14b) tem que ser falsa Se a informaccedilatildeo da sentenccedila (14a) que

diz que o Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas for verdadeira a informaccedilatildeo da sentenccedila

(14b) que diz que o Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas natildeo pode ser verdadeira

Em relaccedilotildees de contraditoriedade o uso de uma afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo eacute algo

tiacutepico mas natildeo determinante No exemplo (14) pudemos observar a relaccedilatildeo de

contraditoriedade caracterizada pelo uso da negaccedilatildeo mas tambeacutem podemos encontrar esse

tipo de relaccedilatildeo sem tal uso Vejamos a seguir

3 O siacutembolo not na loacutegica claacutessica eacute a representaccedilatildeo do operador de negaccedilatildeo ldquonatildeordquo

46

(15) a Mecircnon estaacute acordado

b Mecircnon estaacute dormindo

A partir das sentenccedilas acima podemos ver que a relaccedilatildeo entre estas sentenccedilas eacute de

contraditoriedade pois se a sentenccedila (15a) for verdadeira a sentenccedila (15b) tem que ser falsa

da mesma forma que se a sentenccedila (15b) for verdadeira a sentenccedila (15a) deveraacute ser falsa

Natildeo eacute possiacutevel que Mecircnon esteja acordado e dormindo ao mesmo tempo claro que

considerando o mesmo sentido para as palavras ―acordado e ―dormindo nas duas sentenccedilas

e em relaccedilatildeo ao mesmo Mecircnon

Assim como as demais relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos anteriormente a

contraditoriedade tambeacutem eacute sensiacutevel agrave polissemia Vamos observar como a polissemia se

apresenta no exemplo a seguir

(14) a A minha gata estaacute acordada

b A minha gata estaacute dormindo

No exemplo acima natildeo encontramos apenas a relaccedilatildeo de contraditoriedade sem

utilizaccedilatildeo da negaccedilatildeo mas tambeacutem um problema de polissemia que pode anular a relaccedilatildeo de

contraditoriedade Se numa determinada situaccedilatildeo escrevendo este texto me viro na cadeira e

vejo em cima de minha cama o meu animal de estimaccedilatildeo deitado olhando para mim e com

isso afirmo ―a minha gata estaacute acordada como na sentenccedila (14a) natildeo posso considerar

verdadeira a sentenccedila (14b) pois natildeo se pode estar dormindo e estar acordado ao mesmo

tempo tomando as definiccedilotildees de ―estar acordado e ―estar dormindo como oposiccedilotildees A

partir disso as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias Se em outra situaccedilatildeo me viro na cadeira e vejo

minha esposa deitada na cama dormindo e afirmo ―a minha gata estaacute dormindo como na

sentenccedila (14b) ela natildeo pode ser verdadeira ao mesmo tempo em que a sentenccedila (14a) pois

minha esposa natildeo poderia estar acordada e dormindo ao mesmo tempo Ateacute o momento

pudemos atribuir dois sentidos diferentes para o termo ―gata Se considerarmos para a

sentenccedila (14a) o sentido de que o meu animal de estimaccedilatildeo estaacute acordado e para a sentenccedila

(14b) o sentido de que a minha esposa estaacute dormindo essas sentenccedilas natildeo satildeo contraditoacuterias

No exemplo acima percebemos portanto dois aspectos da contradiccedilatildeo em sentenccedilas de uma

liacutengua natural como o portuguecircs Primeiro que natildeo haacute a obrigatoriedade de ter a negaccedilatildeo de

47

uma sentenccedila para que a relaccedilatildeo de contraditoriedade exista e segundo que a polissemia

pode tornar problemaacutetica essa relaccedilatildeo

Podemos considerar uma relaccedilatildeo de contraditoriedade entre sentenccedilas sempre que A eacute

verdadeira B eacute falsa e sempre que a sentenccedila B eacute verdadeira A eacute falsa Ou seja as sentenccedilas

A e B nunca podem ser verdadeiras ou falsas juntas

O exemplo de contraditoriedade que mostramos anteriormente foi relacionando duas

sentenccedilas mas podemos encontrar a relaccedilatildeo de contraditoriedade dentro de uma sentenccedila

apenas Vamos observar o exemplo a seguir

(15) Herbert Vianna eacute cantor e natildeo eacute cantor

Se afirmamos que uma pessoa eacute e natildeo eacute cantora constatamos uma contraditoriedade

nesta sentenccedila Em (15) encontramos a apresentaccedilatildeo de um argumento e a negaccedilatildeo do mesmo

argumento em seguida Uma sentenccedila com esta forma natildeo pode ser verdadeira Se

consideramos numa mesma situaccedilatildeo que Herbert Vianna eacute cantor e em seguida afirmo que

Herbert Vianna natildeo eacute cantor esta sentenccedila eacute contraditoacuteria

Se partirmos para determinar sentidos diferentes para o termo ―cantor como por

exemplo que Herbert Vianna eacute um cantor pelo simples fato de que ele emite pelas cordas

vocais sons musicais que ―cantor eacute um termo que soacute pode ser utilizado para os profissionais

que trabalham com a voz na muacutesica ou que ―cantor se jaacute um termo utilizado para designar

algueacutem que canta muito bem natildeo haacute contraditoriedade efetivamente Mas se mantivermos o

mesmo sentido para o termo haveraacute relaccedilatildeo de contraditoriedade

Da mesma forma que a polissemia dificulta a interpretaccedilatildeo de nexos entre sentenccedilas

vamos observar um exemplo em que a vagueza ndash toacutepico que desenvolvemos na primeira

seccedilatildeo deste capiacutetulo - invalida uma relaccedilatildeo de contraditoriedade

(16) a O professor de loacutegica eacute muito alto

b O professor de loacutegica natildeo eacute muito alto

Na relaccedilatildeo entre (16a) e (16b) seguindo o conceito contraditoriedade haacute uma relaccedilatildeo

de contradiccedilatildeo entre as duas sentenccedilas poreacutem podemos identificar termos vagos nas duas

sentenccedilas o que pode dificultar a interpretaccedilatildeo Na sentenccedila (16a) e na sentenccedila (16b)

48

identificamos dois termos vagos que satildeo ―muito e ―alto Eacute possiacutevel considerar as duas

sentenccedilas como falsas ou verdadeiras juntas invalidando a contraditoriedade pois os termos

―muito e ―alto satildeo variaacuteveis de acordo com o grau de comparaccedilatildeo adotado Por exemplo

em (16a) o professor de loacutegica pode ser considerado muito alto em comparaccedilatildeo agraves crianccedilas

para quem ele leciona poreacutem se compararmos o professor de loacutegica da sentenccedila (16a) com os

outros professores do departamento talvez o professor fosse considerado baixo Desta forma

podemos observar que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo das duas sentenccedilas

A seguir traremos o uacuteltimo nexo semacircntico que utilizaremos em nosso trabalho Este

tipo de relaccedilatildeo eacute um pouco parecido com a contraditoriedade

24 CONTRARIEDADE

A contrariedade ocorre quando duas sentenccedilas podem ser falsas juntas mas natildeo

podem ser verdadeiras juntas Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 234) definem

contrariedade da seguinte forma ―duas proposiccedilotildees satildeo contraacuterias se natildeo podem ser ambas

verdadeiras mas podem ser ambas falsas distinguindo-se assim das contraditoacuterias que natildeo

podem ser ambas verdadeiras nem ambas falsas e das subcontraacuterias que natildeo podem ser

ambas falsas mas podem ser ambas verdadeiras

Eacute importante enfatizar que mesmo estando tratanto dos nexos semacircnticos e sua

aplicaccedilatildeo em liacutengua natural os conceitos de sentenccedilas contraacuterias contraditoacuterias

equivalecircncias e acarretamentos tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica As relaccedilotildees de sentenccedilas

contraacuterias e contraditoacuterias satildeo tratadas por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado

atraveacutes de seu quadrado loacutegico ou taacutebua de oposiccedilotildees No Perieacutermeneas (1985) mais

especificamente nos capiacutetulos 6 e 7 Aristoacuteteles nos apresenta os conceitos de sentenccedilas

contraacuterias e contraditoacuterias afirmando que duas sentenccedilas satildeo contraacuterias quando natildeo podem

ser verdadeiras juntas ao mesmo tempo mas podem ser falsas juntas ao mesmo tempo Jaacute em

relaccedilatildeo agraves contraditoacuterias Aristoacuteteles propotildee que toda afirmaccedilatildeo possui sua exata negaccedilatildeo

correspondente e que toda afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo sem opotildeem sendo uma sempre

verdadeira e a outra sempre falsa Dessa forma para Aristoacuteteles um par formado por uma

afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo corresponde a uma contradiccedilatildeo

A partir do conceito de contrariedade vamos observar o exemplo a seguir Nele

encontraremos um caso de polissemia

49

(17) a A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 20 de agosto de 1914

b A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 18 de julho de 1921

Se admitirmos que a seleccedilatildeo brasileira de futebol sobre a qual estamos falando na

sentenccedila (17a) eacute a mesma seleccedilatildeo que estamos falando na sentenccedila (17b) natildeo eacute possiacutevel que

a sentenccedila (17b) seja verdadeira pois algo natildeo pode ser fundado efetivamente em dois

momentos distintos Haacute a possibilidade de se afirmar que estamos falando de duas seleccedilotildees

brasileiras de futebol diferentes pois para ―seleccedilatildeo brasileira haacute diversos significados

aplicaacuteveis ou seja a expressatildeo ―seleccedilatildeo brasileira eacute polissecircmica Por exemplo podemos

definir uma seleccedilatildeo como sendo de futebol de campo e a outra de futebol de salatildeo A partir

dessa interpretaccedilatildeo as duas sentenccedilas poderiam ser verdadeiras juntas e com isso natildeo

haveria contrariedade Mas como devemos admitir apenas uma situaccedilatildeo para as duas

sentenccedilas (17a) e (17b) natildeo podem ser verdadeiras juntas mas podem ser falsas juntas

constituindo uma relaccedilatildeo de contrariedade Eacute possiacutevel que a seleccedilatildeo brasileira de futebol natildeo

tenha sido formada nem em 20 de agosto de 1914 e nem em 18 de julho de 1921 Em

contrapartida numa interpretaccedilatildeo usual a seleccedilatildeo de futebol de um paiacutes eacute formada pela

primeira vez uma soacute vez Algueacutem pode querer ir aleacutem e afirmar que foram empregados

sentidos diferentes para a expressatildeo ―foi formada nas sentenccedilas em questatildeo Poderia dizer

que na sentenccedila (17a) o sentido foi de que a seleccedilatildeo se reuniu pela primeira vez para jogarem

juntos de forma extraoficial e que na sentenccedila (17b) o sentido foi de que a seleccedilatildeo

efetivamente foi documentalmente formada Se admitiacutessemos essas interpretaccedilotildees as

sentenccedilas (17a) e (17b) poderiam ser verdadeiras juntas o que descaracterizaria a relaccedilatildeo de

contrariedade entre as sentenccedilas Assim como o fato de que se a sentenccedila (17a) for falsa a

sentenccedila (17b) pode ser verdadeira ou falsa A falsidade da sentenccedila (17a) natildeo assegura a

verdade da sentenccedila (17b) Podemos entender dessa forma que a polissemia afeta a

interpretaccedilatildeo do nexo

Vamos observar mais um exemplo desta relaccedilatildeo

(18) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado do Acre

b A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado de Santa Catarina

50

Se considerarmos a sentenccedila (18a) verdadeira ou seja que a reitoria da UNISUL estaacute

localizada no estado do Acre e tambeacutem levando em conta que a UNISUL eacute uma universidade

que tem uma reitoria e que a reitoria de uma universidade soacute pode estar numa cidade a

sentenccedila (18b) deveraacute ser falsa A sentenccedila (18a) eacute falsa e a sentenccedila (18b) eacute verdadeira e as

duas estabelecem uma relaccedilatildeo de contrariedade A reitoria da UNISUL estaacute localizada no

estado de Santa Catarina e natildeo no estado do Acre A partir desse exemplo e da convenccedilatildeo que

admitimos para ele pudemos observar que se uma sentenccedila A for falsa uma sentenccedila B pode

ser falsa ou verdadeira natildeo podendo ser as duas verdadeiras juntas apenas falsas Ilustrando

mais uma vez veja a relaccedilatildeo a seguir

(19) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Paris

b A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Roma

No exemplo acima podemos afirmar que as sentenccedilas (19a) e (19b) podem ser falsas

pois como jaacute citamos no paraacutegrafo anterior a reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado

de Santa Catarina Dessa forma haacute relaccedilatildeo de contrariedade as duas sentenccedilas satildeo falsas

Jaacute tratamos de exemplos da relaccedilatildeo de contrariedade com problemas de polissemia

mas podemos tambeacutem identificar problemas de validade dos nexos por causa da vagueza A

seguir observe o exemplo

(20) a Este cafeacute estaacute forte

b Este cafeacute estaacute aguado

Observando as sentenccedilas acima identificamos que (20a) e (20b) possuem termos

vagos que podem dificultar a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre as sentenccedilas Em (20a) foi usado

o termo ―forte e em (20b) foi usado o termo ―aguado Como nas outras relaccedilotildees que

apresentamos anteriormente esses termos satildeo vagos pois dependendo da classe de

comparaccedilatildeo em que satildeo apresentados eles podem mudar de sentido Eacute possiacutevel que numa

determinada situaccedilatildeo consideremos que um cafeacute pode natildeo estar nem forte nem fraco

autorizando a possibilidade de (20a) e (20b) serem as duas falsas ao mesmo tempo

descaracterizando a relaccedilatildeo de contrariedade Dessa forma podemos observar que os termos

51

vagos dificultam a interpretaccedilatildeo das sentenccedilas consequentemente da relaccedilatildeo que as

sentenccedilas estabelecem entre si Concluindo a exposiccedilatildeo dos nexos que nos interessam neste

trabalho apresentaremos a seguir a justificativa de nosso percurso sobre estas relaccedilotildees

semacircnticas e os tipos de ocorrecircncias que podem dificultar a interpretaccedilatildeo destas

25 JUSTIFICANDO O PERCURSO

Neste capiacutetulo apresentamos inicialmente os conceitos de semacircntica e pragmaacutetica

com o objetivo de mostrar que os nexos semacircnticos que tratamos em nosso trabalho

(acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e contrariedade) satildeo tipos de

inferecircncias que pertencem ao campo da semacircntica Para isso tambeacutem apresentamos duas

inferecircncias que pertencem ao campo da pragmaacutetica (pressuposiccedilatildeo e implicatura)

Na exposiccedilatildeo de cada nexo trouxemos os conceitos seguidos de exemplos em que a

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees semacircnticas eacute clara Em seguida apresentamos exemplos de nexos

com dois tipos de ocorrecircncias que no campo do leacutexico dificultam a interpretaccedilatildeo das

relaccedilotildees semacircnticas a polissemia e a vagueza

Pode parecer confuso a princiacutepio o fato de tratarmos de tipos de inferecircncia que

dependem da forma para se concretizarem (os nexos semacircnticos) relacionando-as com

ocorrecircncias que dificultam o entendimento do conteuacutedo das sentenccedilas (a polissemia e a

vagueza) A confusatildeo se apresenta caso natildeo lembremos que estamos tratando das relaccedilotildees de

inferecircncias em liacutengua natural e natildeo numa liacutengua controlada como num sistema loacutegico por

exemplo

Quando afirmamos que as relaccedilotildees entre sentenccedilas que tratamos em nosso trabalho

dependem da forma falamos de uma ―dessemantificaccedilatildeo ou seja a existecircncia dos nexos vai

depender unicamente da semacircntica dos quantificadores e conectivos (e ou se) Os nexos natildeo

dependem da semacircntica restante do material linguiacutestico exposto na sentenccedila A semacircntica dos

conectivos e quantificadores numa linguagem formal eacute mantida estaacutevel por definiccedilatildeo Na

linguagem natural podemos observar que os tipos de ocorrecircncia que dificultam a

interpretaccedilatildeo dos nexos se fazem presentes justamente no restante do material linguiacutestico da

sentenccedila ou seja para aleacutem da estrutura da sentenccedila que eacute composta pelos quantificadores e

demais conectivos

52

A polissemia e a vagueza satildeo ocorrecircncias tiacutepicas de liacutengua natural e dessa forma

somos obrigados a admitir que ao nos depararmos com qualquer gecircnero textual (que

obviamente estaacute no campo das liacutenguas naturais) numa anaacutelise devemos considerar que o

significado das palavras vai naturalmente interferir nas relaccedilotildees semacircnticas Tambeacutem na

exposiccedilatildeo de tipos de ocorrecircncias que interferem nos nexos semacircnticos tratamos de falaacutecias

que satildeo argumentos invaacutelidos apresentados como vaacutelidos explorando justamente a

interpretaccedilatildeo do conteuacutedo das sentenccedilas

A partir dos nexos semacircnticos que tratamos neste capiacutetulo junto com os tipos de

inferecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees no capiacutetulo seguinte

apresentaremos a anaacutelise de certificados de garantia Como o nosso objetivo eacute analisar quais

satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados nos certificados para restringir possibilidades de

interpretaccedilatildeo decidimos realizar a anaacutelise de ocorrecircncias com conectivos e quantificadores

Consideramos pertinente a escolha desse tipo de anaacutelise pois entendemos que os

quantificadores como o ―todo satildeo tradicionalmente apresentados em relaccedilotildees semacircnticas de

restriccedilatildeo ou abrangecircncia assim como o condicional ―se ou ―somente se e o ―apenas e

―somente A partir desse raciociacutenio acreditamos que esta seria a forma mais correta para

identificarmos ocorrecircncias do tipo que precisamos para a realizaccedilatildeo de nossa anaacutelise Os

nexos semacircnticos natildeo satildeo propiacutecios para as liacutenguas naturais pois natildeo se apresentam de forma

controlada Ocorrecircncias lexicais como as que descrevemos anteriormente podem dificultar a

interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees e isso eacute algo que trataremos nas anaacutelises

Eacute nesta perspectiva que observaremos no capiacutetulo seguinte as anaacutelises de vinte e dois

certificados de garantia nos quais natildeo buscaremos relaccedilotildees bem marcadas e controladas entre

sentenccedilas pois natildeo encontrariacuteamos facilmente mas sim quais satildeo os recursos linguiacutesticos

utilizados pelos autores dos textos para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo

admitindo tambeacutem obviamente os nexos semacircnticos como possiacuteveis recursos

53

3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA

Os certificados de garantia satildeo textos muito presentes em nosso cotidiano e muitas das

vezes noacutes natildeo levamos em conta a sua importacircncia tanto por serem documentos que podem

resguardar nossos direitos sobre um determinado produto quanto pelo fato de natildeo sermos

treinados para ler e interpretar devidamente as informaccedilotildees dispostas nos textos Dessa

forma justificamos a escolha de tal gecircnero para analisarmos em nossa pesquisa Ateacute este

momento de nosso trabalho seguimos o seguinte percurso

1) Mostramos no primeiro capiacutetulo que na elaboraccedilatildeo de certificados de garantia o

autor deve se preocupar em construir o texto buscando restringir ao maacuteximo as

possibilidades de interpretaccedilatildeo para que ele se torne mais eficiente em passar as

informaccedilotildees desejadas e para evitar problemas de interpretaccedilatildeo por parte dos

clientes

2) Tendo em vista que os certificados de garantia satildeo textos instrucionais ou seja

que direcionam a leitura para um fim especiacutefico nossa anaacutelise tem por objetivo

verificar quais satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores destes textos

para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo e para alcanccedilar este objetivo nos

utilizaremos da teoria dos nexos semacircnticos apresentada no segundo capiacutetulo

Como anunciado na introduccedilatildeo o corpus dessa pesquisa eacute formado por 22

certificados de garantia de produtos de diversos segmentos Ele foi coletado utilizando a

internet e natildeo teve um meacutetodo definido de categorizaccedilatildeo na escolha dos textos Decidimos

escolher certificados de diversos segmentos para natildeo obtermos uma anaacutelise viciada e tambeacutem

para obtermos um panorama da estrutura textual

Como analisaremos os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores dos certificados

de garantia para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo elegemos trecircs categorias de

termos a serem analisadas quantificadores universais condicionais e uso do apenassomente

A escolha dessas categorias se deve ao fato delas possuiacuterem tradicionalmente funccedilotildees de

restriccedilatildeo ou abrangecircncia em inferecircncias

Assim como na loacutegica de predicados a silogiacutestica se caracteriza pelo uso dependente

em argumentos dos quantificadores ―alguns e ―todos Nomeamos de quantificador

existencial ou particular aqueles referentes a ―alguns e nomeamos de quantificador universal

aqueles referentes a ―todos (MURCHO 2006) Utilizaremos em nossa pesquisa agraves

ocorrecircncias com quantificadores do segundo tipo Vejamos um exemplo ilustrativo

54

(21) TODO produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia

Possivelmente natildeo encontraremos em nossa anaacutelise nenhuma sentenccedila como esta pois

vemos que o quantificador universal destacado em letras maiuacutesculas abrange totalmente a

possibilidade de cobertura da garantia de um produto Da forma que estaacute expressa se compro

uma TV por exemplo e a mergulho na aacutegua causando defeito poderei receber outra nova do

fabricante pois ―todo produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia

Sobre os condicionais trataremos a anaacutelise na mesma linha de raciociacutenio pois eles

satildeo utilizados em proposiccedilotildees do tipo ―se X entatildeo Y oportunizando abrangecircncia ou

restriccedilatildeo de possibilidades de interpretaccedilatildeo como podemos ver ilustrado no exemplo a

seguir

(22) SE o produto apresentar defeito seraacute reparado gratuitamente

Da mesma forma como mostramos no exemplo anterior provavelmente natildeo

encontraremos sentenccedilas tatildeo abrangentes em nosso corpus como esta pois da forma como

estaacute posta ampliaria muito a possibilidade de cobertura da garantia de um produto Podemos

interpretar a partir da leitura da sentenccedila acima que o reparo do produto seraacute efetuado caso o

produto apresente qualquer defeito por qualquer motivo durante qualquer periacuteodo de tempo

sendo utilizado por qualquer pessoa e em qualquer circunstacircncia entre outras possibilidades

Para reparar tamanha abrangecircncia os autores dos textos podem utilizar listas exaustivas com

detalhes especiacuteficos apoacutes a apresentaccedilatildeo dos condicionais para direcionar efetivamente a

cobertura da garantia

Por fim em relaccedilatildeo ao uso dos termos ―apenas e ―somente analisaremos os termos

nos contextos que os autores buscam restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos textos

Vejamos o exemplo a seguir

(22) Estaratildeo cobertos pela garantia APENAS os produtos que natildeo estatildeo em

promoccedilatildeo

55

No exemplo acima tambeacutem inventado vemos que o ―apenas aparece como um

restritor da garantia deixando claro que soacute os produtos que foram adquiridos pelos preccedilos

normais ou seja fora da promoccedilatildeo estaratildeo cobertos pela garantia Dessa forma produtos em

promoccedilatildeo ficam descobertos

Com os conceitos sobre as categorias de anaacutelise dispostos acima apresentaremos a

seguir a anaacutelise dos trechos coletados em nosso corpus separada por tipos de ocorrecircncia

Iremos observar como se apresentam os quantificadores condicionais ocorrecircncias com o

apenassomente assim como observaremos os tipos de ocorrecircncias no campo do leacutexico que

dificultam a interpretaccedilatildeo dos trechos (polissemia e vagueza)

31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL

Vejamos a seguir as ocorrecircncias4 em que o quantificador universal eacute utilizado

5

(1) Este produto e as peccedilas substituiacutedas seratildeo garantidos pelo restante do

prazo original TODAS as peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades

da SAMSUNG

Podemos observar na ocorrecircncia acima que o fabricante utiliza o quantificador para

fazer com que o leitor infera que absolutamente todas as peccedilas que forem substituiacutedas na

assistecircncia a algum aparelho defeituoso se tornaratildeo propriedade da fabricante Dessa forma o

cliente natildeo poderaacute em hipoacutetese alguma ficar com a peccedila trocada

Percebemos no trecho acima que o quantificador universal ―todas poderia ser

excluiacutedo da sentenccedila e com isso em nada alteraria o sentido da sentenccedila Forccedilando uma

possiacutevel interpretaccedilatildeo da sentenccedila o leitor poderia afirmar que se a sentenccedila fosse disposta

da seguinte maneira ―As peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades da SAMSUNG

poderia existir uma classe de peccedilas eletrocircnicas de produtos SAMSUNG que

4 Utilizaremos o termo ldquoocorrecircnciardquo tanto para se referir ao trecho completo do corpus quanto para a

sentenccedila em que o conectivo grifado se apresenta Natildeo faremos distinccedilatildeo para este uso 5 Para a exibiccedilatildeo das ocorrecircncias do nosso corpus reiniciaremos a numeraccedilatildeo natildeo seguindo a contagem

realizada para os exemplos dos capiacutetulos anteriores

56

tradicionalmente fossem substituiacutedas em manutenccedilotildees mas natildeo recolhidas pelo fabricante

Dessa forma o quantificador universal ―todas se mostraria como a soluccedilatildeo para esse

problema de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos

na ocorrecircncia6 (1)

(2) Esta garantia substitui TODAS as outras garantias expressas ou

taacutecitas incluindo sem limitaccedilatildeo garantias taacutecitas de comercializaccedilatildeo

e adequaccedilatildeo a um fim especiacutefico

(Certificado 1)

Nesta ocorrecircncia o fabricante utiliza o quantificador para abranger ao maacuteximo seu

texto no intuito de inferir que a garantia em anaacutelise se sobrepotildee a qualquer outro tipo de

garantia oferecida ao cliente

Podemos observar que se o quantificador universal ―todas natildeo fosse utilizado o

sentido da sentenccedila permaneceria o mesmo Se tiveacutessemos encontrado a sentenccedila da forma

―Esta garantia substitui as outras garantias o cliente iria interpretar a sentenccedila sem

dificuldades O uso do quantificador aparece como um termo para dar ecircnfase ao que jaacute estaacute

dito na sentenccedila acima Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos na

ocorrecircncia (2)

(3) TODO atendimento de reparo deve ser precedido de ligaccedilatildeo

telefocircnica ao Suporte Teacutecnico Telefocircnico da AOC (0800-10-9539)

para que seja feita uma avaliaccedilatildeo preacutevia do problema a fim de

constatar a existecircncia de defeito ou viacutecio do produto esgotando-se

TODAS as possibilidades de se tratar de uma falha de operaccedilatildeo ou

uso do produto por parte do consumidor

(Certificado 4)

No trecho acima podemos observar que na primeira ocorrecircncia do quantificador o

fabricante utiliza-o para inferir que o cliente em qualquer caso de submissatildeo do aparelho agrave

assistecircncia deve entrar em contato com o suporte teacutecnico telefocircnico da empresa e ainda

6 Decidimos pontuar no final de cada anaacutelise o fato de haver ou natildeo termos polissecircmicos ou vagos nas

ocorrecircncias porque consideramos estes tipos de ocorrecircncias como sendo os principais meios de dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos instrucionais Ao anunciar que natildeo haacute termos dessas categorias em cada anaacutelise por mais que se mostre repetitivo na leitura ao mesmo tempo invoca a importacircncia (e necessidade segundo nossa perspectiva) que depositamos nesses fatos em cada ocorrecircncia

57

reforccedila utilizando outra vez o quantificador ―todas inferindo que o produto soacute iraacute para a

assistecircncia efetivamente caso natildeo haja mais nenhuma possibilidade de resoluccedilatildeo do problema

atraveacutes do contato telefocircnico Ao utilizar esse reforccedilo o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo ao

fato de que por exemplo o problema possa ser resolvido atraveacutes de instruccedilotildees passadas pela

empresa via telefone ao cliente e o cliente natildeo aceitar e exigir que o produto seja reparado

somente na assistecircncia teacutecnica ou simplesmente para evitar que a assistecircncia teacutecnica receba

algum produto que natildeo estaacute defeituoso ou viciado

Diferente da ocorrecircncia (2) o uso do quantificador universal ―todo se faz necessaacuterio

para evitar que o cliente interprete a sentenccedila de uma forma indesejada por parte do

fabricante Por exemplo caso o autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todo na

primeira parte ―Todo atendimento de reparo deve o cliente poderia interpretar que ele

poderia obter atendimento de reparo sem passar pelo contato telefocircnico com o suporte teacutecnico

do fabricante Na utilizaccedilatildeo do quantificador universal ―todas no final da sentenccedila tambeacutem

observamos que se o autor do texto natildeo utilizasse esta estrateacutegia tambeacutem possibilitaria que o

texto fosse interpretado de outra maneira Se o cliente se deparasse com a sentenccedila

―esgotando-se as possibilidades de se tratar de uma falha poderia interpretar que se para

algum tipo de falha de operaccedilatildeo ou seja de utilizaccedilatildeo do produto haveria a possibilidade de

enviar o produto para assistecircncia teacutecnica Como o autor utilizou o quantificador nas duas

passagens que citamos ele direcionou a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha

duacutevidas sobre aquilo que o fabricante deseja expressar

Sobre tipos de ocorrecircncia que dificultam a interpretaccedilatildeo do texto pudemos identificar

a expressatildeo ―viacutecio do produto Esta expressatildeo eacute muito especiacutefica e estaacute presente no Coacutedigo

de defesa do consumidor Segundo Bruno Miragem (2008) ―Viacutecio do produto ou do serviccedilo

abrange o efeito decorrente da violaccedilatildeo aos deveres de qualidade quantidade ou informaccedilatildeo

impedindo com isso que o produto ou serviccedilo atenda aos fins que legitimamente dele se

esperam (dever da adequaccedilatildeo) O autor do certificado natildeo disponibilizou nenhum conceito

para a expressatildeo ―viacutecio do produto apresentando desta forma uma dificuldade a mais para

a interpretaccedilatildeo do texto por parte do cliente Caso o autor tenha elaborado o texto

considerando por exemplo que qualquer pessoa que leia um certificado de garantia deve ser

conhecedor de todos os termos e expressotildees descritas no CDC (a partir desse ponto iremos

utilizar esta sigla para ―coacutedigo de defesa do consumidor) natildeo haveria problema em

simplesmente usar o termo sem conceituar mas isso natildeo eacute pertinente Para evitar que esta

expressatildeo natildeo fosse polissecircmica o autor deveria ter elaborado um mini-glossaacuterio com os

termos que seriam usuais no texto e que possuem um sentido especiacutefico no ramo em que o

58

produto estaacute inserido (por exemplo peccedilas de carros ou peccedilas eletrocircnicas) e no CDC7

(4) A Garantia do Produto oferecida por este Termo abrange TODOS os

defeitos de material ou de fabricaccedilatildeo do aparelho constatados pela

Robert Bosch Ltda bem como a substituiccedilatildeo das peccedilas que

apresentarem viacutecios aleacutem da matildeo-de-obra utilizada no respectivo

reparo

(Certificado 8)

No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador ―todos para assegurar ao cliente

que em qualquer caso em que o produto possua defeito de material ou de fabricaccedilatildeo a

garantia estaraacute assegurada Aleacutem de assegurar isso tambeacutem garante a substituiccedilatildeo da peccedila do

aparelho que estiver com problema e a matildeo-de-obra tudo por conta do fabricante Caso o

autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todos ele poderia abrir margem para

outras interpretaccedilotildees como por exemplo que esta garantia natildeo abrange qualquer defeito do

produto constatado pelo fabricante Eacute interessante citar que a utilizaccedilatildeo do quantificador

―todos foi realizada beneficiando o fabricante pois mesmo afirmando que a ―garantia

abrange todos os defeitos o autor direciona para ―todos os casos que forem constatados

pelo fabricante Ou seja fica a criteacuterio do fabricante decidir o que eacute defeito e o que natildeo eacute

Assim como na ocorrecircncia (3) identificamos o uso do termo ―viacutecios que natildeo tem o

seu conceito descrito no texto do certificado O termo ―viacutecio natildeo eacute utilizado em nosso

cotidiano como algo vinculado a um objeto Geralmente conceituamos esse termo como

referente agrave dependecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica em relaccedilatildeo a uma substacircncia Tambeacutem podemos

conceituar como uma mania (costume de fazer sempre a mesma coisa) Enfim o termo

utilizado da forma em que foi descrita em (4) necessitaria que em alguma parte do texto

aparecesse o conceito para este termo que deve ser interpretado de forma especiacutefica pois eacute

um termo teacutecnico apresentado no CDC e muitas das vezes o cliente natildeo tem conhecimento

deste conceito favorecendo dificuldades a interpretaccedilatildeo do texto

(5) TODOS os eventuais danos ou demoras resultantes da natildeo

observacircncia dessas recomendaccedilotildees fogem agrave responsabilidade da APC

(Certificado 7)

7 Sobre esta estrateacutegia de eliminaccedilatildeo da polissemia e vagueza atraveacutes do uso de um glossaacuterio por autores de

textos instrucionais ver Estrela e Santos (2014)

59

Na ocorrecircncia acima a empresa APC se resguarda de qualquer responsabilidade sobre

o produto caso o cliente natildeo siga as recomendaccedilotildees dadas pelo fabricante Para isso utiliza o

quantificador universal para abranger ao maacuteximo as possibilidades de natildeo cobertura

favorecendo o fabricante Observamos que a utilizaccedilatildeo do quantificador na ocorrecircncia (5)

serviu para intensificar o que foi descrito na sentenccedila Caso natildeo fosse utilizado poderia

deixar margem para outras interpretaccedilotildees como por exemplo que poderia existir algum tipo

de dano eventual que fosse de responsabilidade do fabricante O quantificador ―todos

elimina esse tipo de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos

polissecircmicos na ocorrecircncia (5)

(6) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA garante e consequentemente

compromete-se a reparar ou substituir pelo prazo abaixo indicado

contado a partir da data indicada no documento fiscal representativo

de venda do veiacuteculo Hyundai TODAS as peccedilas que em serviccedilo

normal apresentem defeito de fabricaccedilatildeo ou de material desde que

observadas as respectivas condiccedilotildees sob pena de ser

automaticamente considerado cancelado o presente Certificado de

Garantia independentemente de qualquer aviso ou notificaccedilatildeo

(Certificado 17)

No trecho acima podemos observar que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se daacute

de forma bastante controlada Mesmo o termo ―todas sendo naturalmente utilizado para

abranger ou restringir ao maacuteximo inferecircncias na ocorrecircncia acima vemos sua utilizaccedilatildeo

dependendo de vaacuterios aspectos para se concretizar A Hyundai se compromete em reparar ou

substituir ―todas as peccedilas dos veiacuteculos que estiverem dentro de todas as caracteriacutesticas

descritas antes do termo ser usado como estar dentro do prazo estabelecido pelo fabricante

apresentarem defeito de fabricaccedilatildeo ou material e aleacutem disso observando os procedimentos

detalhados pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o quantificador universal eacute

utilizado de forma controlada pelo fabricante restringindo ao seu sabor as possibilidades de

validade da garantia

(7) TODA revisatildeo deveraacute ser registrada no quadro de registro de revisotildees

para assegurar a garantia de seu veiacuteculo

(Certificado 17)

60

Na ocorrecircncia acima observamos que o fabricante utilizou o quantificador universal

para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente da seguinte forma o

cliente que possui um veiacuteculo na garantia poderia interpretar por exemplo caso natildeo houvesse

a utilizaccedilatildeo do quantificador ―toda na sentenccedila (7) fazer as revisotildees do veiacuteculo em qualquer

oficina e natildeo registrar as mudanccedilas feitas no carro em lugar algum natildeo perdendo a garantia

do veiacuteculo O quantificador universal ―toda direciona a interpretaccedilatildeo da inferecircncia para que

o cliente efetue qualquer revisatildeo do veiacuteculo numa concessionaacuteria do fabricante e aleacutem disso

ter as revisotildees registradas no quadro de registro de revisotildees do fabricante Na ocorrecircncia (7)

natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos

(8) TODOS aparelhos da ONEAL saem da faacutebrica preacute-ajustados em

220V

(Certificado 5)

Nesta ocorrecircncia (8) o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para

abranger a informaccedilatildeo de que qualquer produto produzido por ele eacute ajustado em 220V

resguardando-se de por exemplo um questionamento de algum cliente sobre o

funcionamento de qualquer produto em outra voltagem ou utilizaccedilatildeo do produto em outra

voltagem ocasionando defeito no produto Caso isso ocorra o fabricante natildeo poderaacute ser

responsabilizado pois a partir da ocorrecircncia (8) ele explica a voltagem a ser utilizada natildeo

garantindo o funcionamento do produto em outras voltagens Na ocorrecircncia (8) observamos

que se o fabricante natildeo tivesse utilizado o quantificador universal ―todo natildeo alteraria a

interpretaccedilatildeo da sentenccedila Podemos entender que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal na

ocorrecircncia (8) serviu apenas para intensificar a informaccedilatildeo da sentenccedila

(9) TODOS nossos produtos satildeo testados durante horas nos mais severos

regimes antes de serem aprovados para o mercado

(Certificado 5)

No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para abranger a

interpretaccedilatildeo da inferecircncia Dessa forma o fabricante tenta nos levar a interpretar a

61

ocorrecircncia (9) da seguinte forma qualquer produto produzido por este fabricante eacute testado de

forma rigorosa antes de ser despachado para comercializaccedilatildeo Essa interpretaccedilatildeo eacute dificultada

pela presenccedila de termos vagos Ao utilizar a expressatildeo ―durante horas nos mais severos

regimes o fabricante natildeo teve o cuidado de atrelar essa informaccedilatildeo agrave classe de comparaccedilatildeo

na qual o cliente deve se basear para interpretar a sentenccedila da forma como o fabricante

deseja Ao afirmar que os produtos satildeo testados ―durante horas o fabricante natildeo especificou

por quantas horas os produtos satildeo testados e o que isso representa Por exemplo para

produtos X identificados como em bom funcionamento deve-se testaacute-los durante Y horas

segundo o manual Z que regulamenta a qualidade dos produtos X Aleacutem disso o fabricante

ainda afirma sobre os testes que satildeo ―nos mais severos regimes cometendo a mesma falha

da expressatildeo anterior natildeo descrevendo o que eacute isso e o que isso representa A expressatildeo eacute

vaga pois esses regimes de testes satildeo severos em relaccedilatildeo a quecirc Como natildeo haacute um grau de

comparaccedilatildeo de classe o cliente pode interpretar a ocorrecircncia de formas diversas Se o

fabricante tivesse especificado em algum lugar do texto que a expressatildeo ―nos mais severos

regimes deveria ser comparada por exemplo a um tipo de teste que coloca os produtos em

condiccedilotildees extremas para averiguar a sua qualidade durabilidade e bom funcionamento que eacute

norma padratildeo de qualidade para os produtos que ele estaacute justificando em (9) natildeo haveria

vagueza Do modo como a ocorrecircncia se apresenta as informaccedilotildees ―durante horas e ―nos

mais severos regimes satildeo vagas e dificultam a interpretaccedilatildeo da sentenccedila

(10) A ONEAL garante TODOS os seus produtos por um periacuteodo de 01

(um) ano jaacute incluiacutedo o periacuteodo de garantia legal (os primeiros 90 dias)

a partir da data da compra para problemas mecacircnicos ou por falhas

industriais em montagem e pintura

(Certificado 5)

Podemos observar na ocorrecircncia (10) que o fabricante assegura a garantia para todos

os seus produtos utilizando o quantificador universal com algumas restriccedilotildees Se natildeo

houvesse a utilizaccedilatildeo do quantificador nesta inferecircncia o cliente poderia considerar que a

garantia de seu produto por exemplo teria validade vitaliacutecia e que o produto estaria coberto

pela garantia mesmo se for danificado por negligecircncia do cliente O fabricante restringe o

periacuteodo de validade especificando que o periacuteodo de um ano jaacute inclui o periacuteodo da garantia

legal que eacute de 90 dias Ainda enfatiza que se deve contar o periacuteodo a partir da data da compra

e ainda explica que a garantia cobriraacute somente produtos que apresentarem problemas

62

mecacircnicos ou aqueles que apresentarem problemas industriais em montagem e pintura Dessa

forma problemas de outra natureza natildeo seratildeo cobertos pela garantia assim como produtos

com mais de um ano de adquiridos tambeacutem natildeo estaratildeo cobertos Poderiacuteamos identificar a

expressatildeo ―garantia legal como polissecircmica caso o fabricante natildeo tivesse apresentado o

conceito para a expressatildeo logo apoacutes entre parecircnteses Eacute sabido que no CDC a garantia legal eacute

caracterizada como o periacuteodo de 90 dias apoacutes a aquisiccedilatildeo de um produto Para evitar que

houvesse uma interpretaccedilatildeo indevida o fabricante conceituou a expressatildeo imediatamente

apoacutes o aparecimento dela na sentenccedila

(11) Em vista das mudanccedilas de leis que poderatildeo ocorrer TODO

certificado seraacute regido pelas normas do cartatildeo de garantia mais

recentemente atualizado pela faacutebrica

(Certificado 5)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todo para afirmar

que qualquer certificado de garantia de seus produtos deveraacute seguir as normas dispostas no

cartatildeo de garantia mais recentemente atualizado pela faacutebrica ou seja caso algum cliente tente

solicitar a garantia atraveacutes de um cartatildeo de garantia desatualizado ele natildeo estaraacute autorizado

Dessa forma o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo agraves possiacuteveis atualizaccedilotildees de leis ou

informaccedilotildees nos cartotildees de garantia dos diversos lotes de produtos impossibilitando o cliente

de reclamar sobre qualquer tipo de alteraccedilatildeo no documento em questatildeo A utilizaccedilatildeo do

quantificador universal em (11) eacute importante para dar ecircnfase agrave informaccedilatildeo central da sentenccedila

e tambeacutem para evitar que por exemplo o cliente interpretasse que algum certificado poderia

ser regido pelas normas de outro cartatildeo de garantia que natildeo fosse o mais recente Natildeo

identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos em (11)

(12) A garantia incide sobre TODOS os componentes montados

originalmente em Veiacuteculo conforme descrito na Nota Fiscal de

venda quer fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER ou

por esta adquiridos de terceiros

(Certificado 16)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para

restringir a interpretaccedilatildeo da sentenccedila quando afirma que a garantia cobre qualquer

63

componente montado originalmente em veiacuteculo ou seja a garantia natildeo cobre componentes

avulsos Aleacutem disso os componentes montados devem estar descritos na Nota Fiscal de

venda sendo assim se natildeo estiverem lanccedilados invalidam a garantia e por fim os veiacuteculos

devem tem sido fabricados por alguma empresa do grupo DAIMLER ou fabricado por outra

empresa mas tendo sido adquirido pelo fabricante que estaacute oferecendo a garantia Dessa

forma podemos ver que o quantificador universal foi utilizado pelo fabricante de forma

restrita limitando a abrangecircncia de acordo com seus interesses Caso o quantificador

universal natildeo tivesse sido utilizado na sentenccedila haveria a possibilidade do cliente interpretar

(12) de vaacuterias maneiras Por exemplo admitir que a garantia pode ser vaacutelida para produtos

que foram fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER mas natildeo foram lanccedilados na

Nota Fiscal de venda Em vista disso a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela

necessidade do fabricante restringir a interpretaccedilatildeo do texto da garantia buscando direcionar

melhor a informaccedilatildeo que ele estaacute vinculando em seu texto Natildeo identificamos nem termos

vagos nem termos polissecircmicos em (12)

(13) Executar TODAS as revisotildees estabelecidas pela Mercedes-Benz do

Brasil Ltda

(Certificado 16)

(14) Executar TODAS as manutenccedilotildees reparaccedilotildees e regulagens em um

dos Concessionaacuterios ou Postos de Serviccedilos Autorizados Mercedes-

Benz no territoacuterio brasileiro

(Certificado 16)

Nas duas ocorrecircncias acima podemos observar que o fabricante utiliza o quantificador

universal ―todas para definir que a garantia do produto soacute seraacute vaacutelida caso o cliente realize

as funccedilotildees descritas Caso o cliente natildeo realize pelo menos uma delas a garantia seraacute

invalidada Se o cliente natildeo realizar pelo menos uma revisatildeo sugerida pela fabricante perderaacute

a validade Aleacutem disso se o cliente realizar algum tipo de manutenccedilatildeo no veiacuteculo em alguma

concessionaacuteria que natildeo seja autorizada da Mercedes-Benz e no territoacuterio brasileiro tambeacutem

perderaacute a garantia O fabricante mesmo utilizando o quantificador universal nas duas

ocorrecircncias natildeo deixa de condicionar a validade da garantia de acordo com seus interesses O

cumprimento das recomendaccedilotildees dispostas apoacutes o quantificador natildeo garantem efetivamente

que a garantia do produto estaacute assegurada Ou seja mesmo que o cliente execute todas as

manutenccedilotildees reparos e regulagens em um dos concessionaacuterios do fabricante natildeo impede que

64

a garantia seja invalidade por outro motivo O quantificador universal foi utilizado pelo

fabricante em (13) e (14) sem limites e em seu benefiacutecio Natildeo identificamos nem termos

vagos nem termos polissecircmicos em (13) e (14)

(15) TODA solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica durante o periacuteodo da

garantia deveraacute ser feita obrigatoriamente agrave faacutebrica via e-mail ou

fax descrevendo detalhadamente os problemas apresentados natildeo

excedendo o prazo de 30 dias apoacutes detectaacute-lo indicando o modelo do

equipamento e o nuacutemero de seacuterie descrito na placa de identificaccedilatildeo do

mesmo e constante neste certificado

(Certificado 22)

Na ocorrecircncia (15) o fabricante utiliza o quantificador universal ―toda de forma

abrangente determinando que todas as solicitaccedilotildees de assistecircncia teacutecnica para qualquer

produto deveraacute seguir as instruccedilotildees definidas em seguida Caso o cliente tente solicitar a

assistecircncia natildeo seguindo algum dos passos e prazos determinados pelo fabricante a garantia

seraacute invalidada O quantificador universal foi utilizado para evitar interpretaccedilotildees relativas

sobre os procedimentos descritos no texto Por exemplo se (15) natildeo tivesse o quantificador

universal ―toda uma possiacutevel interpretaccedilatildeo seria que uma solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica

durante o periacuteodo da garantia poderia ser realiza na loja em que o produto foi comprado e natildeo

apenas na faacutebrica Dessa forma a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela

necessidade do fabricante restringir o percurso da solicitaccedilatildeo da garantia para o procedimento

que ele deseja que seja seguido pelo cliente Natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos

em (15)

32 USO DO CONDICIONAL

Vejamos a seguir as ocorrecircncias em que o condicional eacute utilizado Quando as

ocorrecircncias apresentarem o mesmo sentido de interpretaccedilatildeo agruparemos numa mesma

anaacutelise como podemos observar a seguir nas ocorrecircncias (16) (17) e (18)

(16) A garantia fica automaticamente invalidada SE

(Certificado 2)

65

(17) A garantia legal e contratual perderaacute seu efeito SE

(Certificado 3)

(18) Esta garantia perderaacute a validade SE

(Certificado 11)

Podemos observar nas ocorrecircncias (16) (17) e (18) que o condicional tem a funccedilatildeo de

limitar a aplicaccedilatildeo da garantia Os usos do ―se natildeo excluem a possibilidade de haver outros

casos em que a garantia natildeo se aplica ou seja as listas que satildeo apresentadas apoacutes o

condicional natildeo satildeo exaustivas Vale mencionar que da mesma forma que o ―todo o ―se

foi utilizado para beneficiar o fabricante como afirmamos acima O ―se assegura que a

validade do produto seraacute perdida nos casos que satildeo listados apoacutes o condicional sem eliminar

a possibilidade de haverem outros casos abrangendo sem limites os casos em que a garantia

natildeo cobriraacute o produto e restringindo a validade da garantia para o cliente Natildeo identificamos

termos vagos ou polissecircmicos nas ocorrecircncias (16) (17) (18) Na ocorrecircncia (17) o autor

usou os termos ―garantia legal e ―contratual que poderiam ser considerados termos

polissecircmicos que dificultariam a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia mas foram apresentados no

certificado os conceitos para os dois termos Para ―garantia legal o autor definiu como

sendo o prazo inicial da garantia com duraccedilatildeo de 90 dias ( contados imediatamente apoacutes a

emissatildeo da Nota Fiscal de compra) e previsto no CDC por sua vez para ―garantia

contratual se refere ao periacuteodo de dois anos incluindo o periacuteodo da garantia legal para todo

equipamento (neste caso condicionador de ar) e cinco anos para o compressor Com a

apresentaccedilatildeo destas definiccedilotildees o autor evitou que os termos se apresentassem no texto como

polissecircmicos

(19) A garantia do produto natildeo se aplica

(Certificado 8)

Trouxemos para a anaacutelise a ocorrecircncia acima pois a expressatildeo ―natildeo se aplica desta

sentenccedila funciona como um condicional mesmo sem ter a forma das ocorrecircncias que

analisamos anteriormente O fabricante utiliza esse condicional precedendo uma lista de

possiacuteveis situaccedilotildees em que a garantia poderia ser reclamada pelo cliente dessa forma

impossibilitando o cliente de exigir qualquer direito sobre alguma das possiacuteveis situaccedilotildees

Natildeo identificamos termos polissecircmicos e vagos na ocorrecircncia (19)

66

(20) A garantia do produto extingue-se

(Certificado 8)

Assim como na ocorrecircncia anterior tambeacutem natildeo encontramos o condicional ―se de

forma expliacutecita mas o termo ―extingue-se se comporta como tal A sentenccedila acima foi

utilizada pelo fabricante antecedendo uma lista de possibilidades de situaccedilotildees em que o

cliente poderia reclamar a garantia do produto excluindo entatildeo qualquer direito do cliente

em relaccedilatildeo ao que foi listado abaixo da sentenccedila em questatildeo Natildeo identificamos termos vagos

e polissecircmicos na ocorrecircncia (20)

(21) O cliente perderaacute a garantia do seu veiacuteculo SE

(Certificado 17)

Na ocorrecircncia (21) o fabricante utiliza o condicional antecedendo uma lista de

situaccedilotildees que se concretizadas invalidaratildeo a garantia Dessa forma se o veiacuteculo do cliente

que deseja ser atendido pela garantia se enquadrar em algum dos itens dispostos apoacutes essa

sentenccedila a garantia natildeo seraacute concedida Assim como nas ocorrecircncias com o uso do

condicional apresentadas anteriormente o uso do ―se aparece sem limites Como afirmamos

na anaacutelise das ocorrecircncias (16) (17) e (18) o autor utiliza o condicional para em seguida

apresentar uma lista de situaccedilotildees em que se concretizadas o cliente perderaacute a garantia Mas

mesmo com a apresentaccedilatildeo dessa lista o cliente poderaacute perder a garantia caso ocorra outro

tipo de situaccedilatildeo natildeo listada Dessa forma o fabricante se favorece abrangendo ao maacuteximo as

possibilidades de perda da garantia e ―prejudica o cliente oferecendo-lhe restritas

possibilidades de validade da garantia do produto a que se refere o texto Natildeo identificamos

nem termos polissecircmicos nem vagos na ocorrecircncia (21) Apenas vale ressaltar que diferente

das ocorrecircncias apresentadas anteriormente o autor em vez de escrever ―a garantia do

produto ele utilizou ―a garantia do seu veiacuteculo que especifica ao que se refere o texto

diminuindo a possibilidade de o cliente interpretar a ocorrecircncia de uma forma diferente da

que o autor se propotildee a transmitir

(22) A garantia vigoraraacute SOMENTE SE o Veiacuteculo atender

cumulativamente as seguintes condiccedilotildees

67

(Certificado 16)

Eacute interessante observar a forma como o fabricante utiliza o condicional na ocorrecircncia

(22) que precede uma lista de condiccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso o fabricante

natildeo utilizasse esse condicional ―somente se na sentenccedila acima o cliente poderia interpretar

que se o seu produto atendesse pelo menos a uma das condiccedilotildees estaria coberto pela

garantia Mas o fabricante aleacutem de utilizar o condicional ―somente se tambeacutem utilizou o

termo ―cumulativamente explicitando que o produto deve obedecer a todas as condiccedilotildees

dispostas pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o autor utilizou o condicional

para restringir as possibilidades de validade da garantia com restriccedilotildees o que natildeo ocorre

quando o fabricante trata sobre as possibilidades de invalidade da garantia como na

ocorrecircncia (21) Comparando as ocorrecircncias (21) e (22) vemos claramente que o autor em

(21) utilizou o condicional para lhe favorecer sem limites quando tratou sobre as condiccedilotildees

pelas quais o cliente pode perder a garantia abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura natildeo

apenas para as situaccedilotildees que estatildeo listadas mas tambeacutem para qualquer outra possiacutevel Jaacute em

(22) o autor (mesmo essa comparaccedilatildeo sendo feita entre ocorrecircncias de certificados

diferentes) utiliza o condicional para restringir as possibilidades de validade da garantia para

as situaccedilotildees listadas apoacutes a apresentaccedilatildeo do condicional e aleacutem disso afirmou que todas as

situaccedilotildees listadas devem ser atendidas para que a garantia seja vaacutelida para o produto Dessa

forma ainda sobre a ocorrecircncia (22) caso uma das situaccedilotildees listadas natildeo seja atendida a

garantia automaticamente seraacute perdida Com isso podemos afirmar que tanto em (21) quanto

em (22) os autores utilizaram o condicional para se beneficiar Em (21) abrangendo as

possibilidades de invalidade da garantia e em (22) restringindo ao maacuteximo as possibilidades

de validade da garantia do produto Natildeo identificamos nem termos vagos nem polissecircmicos

na ocorrecircncia (22)

(23) A garantia Philips natildeo eacute aplicaacutevel SE

(Certificado 14)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o condicional ―se antecedendo uma lista de

informaccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso algum produto Philips se encaixar em

alguma das situaccedilotildees descritas apoacutes o condicional mesmo estando dentro do prazo de

garantia o cliente perderaacute a cobertura Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem

68

vagos na ocorrecircncia (23)

(24) Esta garantia natildeo se aplica

(Certificado 21)

Assim como nas ocorrecircncias (18) e (19) a ocorrecircncia acima natildeo possui o condicional

expliacutecito mas o termo ―natildeo se aplica se comporta como tal O fabricante utiliza o

condicional precedendo uma lista de condiccedilotildees de natildeo aplicaccedilatildeo da garantia Dessa forma

caso o produto se encaixe em alguma das condiccedilotildees a garantia seraacute invalidada

automaticamente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem vagos na sentenccedila (24)

33 USO DO APENASSOMENTE

Vejamos a seguir ocorrecircncias em que identificamos o uso do ―apenas ou ―somente

(25) Esta garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver

devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original

da Nota Fiscal de Compra

(Certificado 4)

Na ocorrecircncia (25) o fabricante utiliza o ―somente para restringir a validade da

garantia indicando que o cliente teraacute direito agrave garantia caso preencha de forma correta o

certificado e apresente a nota fiscal de compra Caso as instruccedilotildees natildeo sejam seguidas pelo

cliente a garantia natildeo seraacute vaacutelida Podemos identificar que o termo ―rasuras presente em

(25) pode ser considerado como vago e polissecircmico neste caso dificultando a interpretaccedilatildeo

do texto Uma rasura pode ser por exemplo desde um rabisco fora de lugar no formulaacuterio

ateacute o dano no documento por aacutegua amasso do papel em excesso etc O autor poderia evitar a

vagueza e a polissemia definindo o termo da forma como ele deseja que o leitor interprete

este termo e comparando-o a uma classe especiacutefica (por exemplo o que eacute considerado rasura

69

nos documentos instrucionais)

(26) Danos decorrentes de desgaste natural inclusive e natildeo SOMENTE

nas partes plaacutesticas que compotildeem o gabinete do produto

(Certificado 4)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o ―somente numa sentenccedila que trata sobre

uma das situaccedilotildees em que a garantia natildeo seraacute vaacutelida O fabricante deixa claro que qualquer

defeito no produto causado por desgaste natural natildeo seraacute coberto pela garantia Se o

fabricante natildeo utilizasse o ―somente nesta sentenccedila o cliente poderia interpretar por

exemplo que danos decorrentes de desgaste natural nas partes que natildeo satildeo de plaacutestico seriam

cobertas pela garantia O autor utiliza o ―somente para se resguardar sobre outras possiacuteveis

interpretaccedilotildees do trecho abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura da garantia para

qualquer peccedila do produto que for afetado por danos decorrentes de desgaste natural Na

ocorrecircncia (26) a expressatildeo ―desgaste natural eacute polissecircmica O autor em nenhuma parte do

certificado de garantia definiu a expressatildeo em questatildeo para que o cliente compreenda da

forma desejada pelo fabricante Dessa forma podemos interpretar ―desgaste natural de

muitas formas Podemos por exemplo interpretar como o desgaste do produto como um todo

ou suas peccedilas referentes ao uso em excesso ao longo do tempo e diretamente vinculado agrave

vida uacutetil tanto do produto em geral quanto de peccedilas especiacuteficas Mas tambeacutem podemos

interpretar como sendo um desgaste proveniente do contato do produto com a natureza como

a exposiccedilatildeo agrave chuva maresia sol em excesso Pode parecer um exagero esta uacuteltima

interpretaccedilatildeo mas ela eacute possiacutevel a partir da forma como (26) se apresenta O autor utilizou no

texto a expressatildeo sem dar-lhe a definiccedilatildeo que ele pensou para a utilizaccedilatildeo dela na ocorrecircncia

dificultando a interpretaccedilatildeo do texto

(27) Este termo de garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos

comercializados e utilizados em territoacuterio brasileiro

(Certificado 4)

(28) Este Certificado de Garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos

vendidos e utilizados no territoacuterio brasileiro

(Certificado 10)

(29) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro

70

(Certificado 2)

(30) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro

(Certificado 13)

(31) Esta garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o territoacuterio brasileiro

(Certificado 12)

Nas ocorrecircncias (27) (28) (29) e (30) observamos que os fabricantes utilizam o termo

―apenas para restringir a cobertura da garantia tanto em relaccedilatildeo ao local da compra quanto

em relaccedilatildeo ao local de uso do produto assim como o autor da ocorrecircncia (31) utiliza o termo

―somente com o mesmo sentido Caso o produto tenha sido comprado em outro paiacutes natildeo

haveraacute cobertura da garantia assim como mesmo que o produto tenha sido comprado no

Brasil mas tenha sido utilizado em outro paiacutes culminando em um defeito tambeacutem natildeo haveraacute

cobertura da garantia Mas para a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que aparece em (27) (28)

(29) (30) e (31) podemos tambeacutem interpretar como natildeo apenas a extensatildeo territorial do paiacutes

mas tambeacutem admitir territoacuterios brasileiros em outros paiacuteses a saber os consulados

honoraacuterios do Brasil nas diversas naccedilotildees ao redor do mundo Nesse caso por exemplo se o

produto for adquirido dentro dos limites geograacuteficos do Brasil e for utilizado em algum

consulado do Brasil em outro paiacutes a garantia deve ser vaacutelida Eacute possiacutevel que o fabricante natildeo

tenha pensado nessa possibilidade poreacutem da forma que estas ocorrecircncias se apresentam haacute

essa possibilidade de interpretaccedilatildeo Ao apresentar essa possiacutevel interpretaccedilatildeo para a

expressatildeo ―territoacuterio brasileiro noacutes quisemos mostrar que o fabricante deveria ter

especificado em alguma parte do certificado de garantia o conceito que ele deseja que o

cliente admita para esta expressatildeo para natildeo deixar que a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro seja

interpretada de outras formas ou seja para evitar a polissemia que dificulta a leitura do

texto Outra questatildeo que tambeacutem podemos considerar eacute que nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)

a afirmaccedilatildeo sobre a validade da garantia eacute apresentada de forma menos detalhada Os autores

apresentam a afirmaccedilatildeo de que a garantia eacute vaacutelida para o territoacuterio brasileiro sem informar se

eacute em relaccedilatildeo ao produto ser adquirido e utilizado no paiacutes Brasil ou se o produto pode ser

utilizado fora do Brasil mas para requerer a garantia do produto o consumidor caso resida no

exterior deva se dirigir ao Brasil para fazer jus a sua garantia Diferente das ocorrecircncias (27)

e (28) em que os autores enfatizam que a garantia dos produtos eacute vaacutelida unicamente para

produtos comercializados e utilizados dentro do Brasil restringindo a garantia mais do que

nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)

71

(32) A garantia SOMENTE eacute vaacutelida mediante a apresentaccedilatildeo de nota

fiscal de compra deste produto

(Certificado 3)

Podemos observar na ocorrecircncia (29) que o fabricante utiliza o termo ―somente para

restringir a validade da garantia Fica claro que caso o produto apresente algum defeito e o

cliente procure a assistecircncia teacutecnica sem estar de posse da nota fiscal natildeo haveraacute cobertura da

garantia Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em (29) o cliente poderia interpretar

por exemplo que a garantia do produto eacute vaacutelida com ou sem a apresentaccedilatildeo da nota fiscal de

compra do produto Neste caso a funccedilatildeo do ―somente eacute de restringir a interpretaccedilatildeo de

acordo com o que o fabricante deseja Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem

vagos em (29)

(33) A garantia oferecida por esse Certificado eacute de 36 (trinta e seis) meses

e SOMENTE teraacute validade se o presente documento for devidamente

preenchido no ato da venda do produto conforme acima e se a

instalaccedilatildeo for feita por uma pessoa ou empresa credenciada pela

Robert Bosch Ltda

(Certificado 8)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade

da garantia Caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees de forma cumulativa que seguem a

utilizaccedilatildeo do termo a garantia seraacute invalidada Por exemplo se o cliente preencher no ato da

venda do produto o certificado mas se a instalaccedilatildeo do produto natildeo tiver sido feita por algueacutem

credenciado pela Robert Bosch Ltda a garantia natildeo teraacute validade A importacircncia do uso do

―somente em (33) se daacute pelo fato de que caso o autor natildeo tivesse utilizado este termo

haveria a possibilidade do cliente interpretar por exemplo que a garantia teria validade caso

a instalaccedilatildeo do produto tenha sido feita por uma pessoa ou empresa natildeo credenciada pela

fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (33)

(34) Os consertos em Garantia do Produto SOMENTE seratildeo efetuados

72

por um Serviccedilo Autorizado devidamente nomeado pela Robert Bosch

Ltda em territoacuterio brasileiro

(Certificado 8)

Podemos observar que o fabricante utiliza o termo ―somente em (34) para restringir a

validade da garantia O fabricante define tanto quem efetuaraacute o conserto dos produtos quanto

os limites territoriais de cobertura Dessa forma fica expliacutecito para o cliente que o conserto

natildeo poderaacute ser efetuado por pessoas natildeo autorizadas pela Robert Bosch Ltda e tal conserto

natildeo pode ser realizado em outros paiacuteses Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em

(34) abriria a possibilidade de interpretar a sentenccedila de outras formas como por exemplo

que os consertos em garantia do produto poderiam ser realizados em territoacuterios de outros

paiacuteses ou que os consertos poderiam ser realizados por serviccedilos natildeo autorizados pelo

fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (34)

(35) O exame e reparo do produto soacute poderatildeo ser efetuados pelo

fabricante

(Certificado 7)

Na ocorrecircncia (36) o fabricante utiliza no lugar do termo ―somente o termo ―soacute

para restringir a interpretaccedilatildeo Nesse caso se o cliente procurar reparar eou examinar o

produto sozinho ou em assistecircncias teacutecnicas que natildeo sejam autorizadas pelo fabricante a

garantia seraacute invalidada A utilizaccedilatildeo do termo ―soacute tem grande importacircncia para o

direcionamento da interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia (35) pois caso natildeo tivesse sido utilizado pelo

autor a ocorrecircncia traria apenas uma informaccedilatildeo vaga dificultando a interpretaccedilatildeo do texto

Sem o ―soacute a partir de (35) poderiacuteamos interpretar que o exame e reparo do produto podem

ser efetuados pelo fabricante mas tambeacutem por qualquer outra pessoa ou empresa Utilizando

o ―soacute o autor restringe a inferecircncia evitando muacuteltiplas interpretaccedilotildees para a sentenccedila

(36) O presente ―Termo de Garantia Hyundai aplica-se uacutenica e

exclusivamente ao veiacuteculo da marca e fabricaccedilatildeo Hyundai

devidamente identificado no iniacutecio deste documento e que tenha sido

comercializado por um Revendedor Autorizado da CAOA Montadora

de Veiacuteculos SA

(Certificado 17)

73

Em (36) o fabricante natildeo utiliza os termos ―apenas ou ―somente mas

consideraremos em nossa anaacutelise a expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como um restritor de

mesmo sentido Observamos que o fabricante utiliza a expressatildeo para restringir a cobertura

da garantia Caso o cliente esteja por exemplo solicitando a garantia de um veiacuteculo Hyundai

que natildeo seja o mesmo que estaacute descrito no iniacutecio do documento de garantia e que natildeo tenha

sido comercializado por uma autorizada da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA a garantia

natildeo teraacute validade Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado a expressatildeo ―uacutenica e

exclusivamente em (36) haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia de outras

maneiras

(37) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA eou o Revendedor Autorizado

da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA APENAS substituiraacute as peccedilas

que forem por elas e a seu exclusivo criteacuterio julgadas como

defeituosas

(Certificado 17)

Na ocorrecircncia (37) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a interpretaccedilatildeo

da sentenccedila Dessa forma o fabricante fica resguardado tanto em relaccedilatildeo a substituiccedilatildeo de

peccedilas quanto em relaccedilatildeo ao meacutetodo utilizado para jugar se a peccedila estaacute defeituosa ou natildeo A

importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―apenas em (37) tambeacutem se daacute pelo fato de natildeo permitir outras

interpretaccedilotildees diferentes da definida pelo fabricante Caso o ―apenas natildeo tivesse sido

utilizado poderiacuteamos interpretar por exemplo que o fabricante poderia substituir peccedilas

julgadas por ela como defeituosas utilizando seus proacuteprios criteacuterios mas tambeacutem substituiria

em outros casos O ―apenas serviu para especificar e restringir a interpretaccedilatildeo dos criteacuterios

definidos pelo fabricante em relaccedilatildeo agrave substituiccedilatildeo de peccedilas do produto Natildeo identificamos

nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (37)

(38) Permita que SOMENTE teacutecnicos autorizados pela faacutebrica prestem

assistecircncia a seu aparelho pois se for aberto por teacutecnicos ou pessoas

natildeo autorizadas automaticamente vocecirc estaraacute perdendo sua garantia

(Certificado 5)

Na ocorrecircncia (38) o fabricante deixa expliacutecito ao utilizar o termo ―somente que

caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees dispostas nesta sentenccedila a garantia do produto seraacute

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invalidada Dessa forma o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a informaccedilatildeo

veiculada pelo fabricante da mesma forma como vimos na ocorrecircncia (37) Natildeo

identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (38)

(39) A presente garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o Veiacuteculo

comercializado em territoacuterio brasileiro

(Certificado 16)

Na ocorrecircncia (39) um pouco parecida com as ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e

(31) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia do produto Nesse caso

se o veiacuteculo tiver sido adquirido em outro paiacutes sua garantia natildeo seraacute vaacutelida no Brasil Um

pouco diferente das ocorrecircncias (27) e (28) que especificam ao maacuteximo a possibilidade de

cobertura da garantia a ocorrecircncia (39) veicula que a garantia eacute vaacutelida para o produto

comercializado em territoacuterio brasileiro natildeo tratando sobre a possibilidade da perda da

garantia caso o veiacuteculo seja utilizado em outros paiacuteses Neste caso o cliente natildeo tem direito

a garantia do veiacuteculo caso ele seja adquirido em outros paiacuteses Sobre a expressatildeo ―territoacuterio

brasileiro assim como nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31) o autor natildeo definiu um

sentido para a expressatildeo que pode ser interpretada de outras maneiras como exemplificamos

nas anaacutelises anteriores

(40) Utilizar SOMENTE peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios genuiacutenos

Mercedes-Benz e comprovar sua aquisiccedilatildeo mediante e apresentaccedilatildeo

da Nota Fiscal quando adquiridos pelo consumidor final

(Certificado 16)

Na ocorrecircncia (40) que faz parte de uma lista de recomendaccedilotildees para o cliente natildeo

perder a garantia o fabricante utiliza o termo ―somente para delimitar a interpretaccedilatildeo da

sentenccedila Na passagem se o cliente natildeo seguir as instruccedilotildees descritas consequentemente

perderaacute a garantia do produto A importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente na ocorrecircncia (40) eacute

a de dificultar que o cliente interpreta a sentenccedila de outra maneira Sem o ―somente na

sentenccedila o cliente poderia interpretar que ele pode utilizar peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios

originais do fabricante mas tambeacutem estaacute autorizado a utilizar peccedilas de outros fabricantes

Com a presenccedila do ―somente na sentenccedila o cliente eacute levado a interpretar a sentenccedila da

75

forma direcionada pelo fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (40)

(41) A comprovaccedilatildeo de defeito de fabricaccedilatildeo do produto que provocaraacute a

execuccedilatildeo da troca do mesmo deveraacute ser feita exclusivamente por

funcionaacuterio credenciado da Ortobom

(Certificado 15)

Na ocorrecircncia (41) o fabricante natildeo utiliza explicitamente os termos ―apenas ou

―somente mas consideraremos em nossa anaacutelise que o termo ―exclusivamente possui a

mesma funccedilatildeo de restringir interpretaccedilotildees O fabricante utiliza o termo para restringir a

garantia do produto em questatildeo Natildeo haacute a possibilidade de o cliente comprovar um defeito de

fabricaccedilatildeo em seu produto atraveacutes de outro profissional que natildeo seja um funcionaacuterio

credenciado da Ortobom Haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia (41) caso o

fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―exclusivamente Sem tal uso o cliente poderia

interpretar que poderia comprovar algum defeito no produto para possiacutevel troca por

intermeacutedio de qualquer profissional natildeo obrigatoriamente por um funcionaacuterio do fabricante

Ortobom O termo ―exclusivamente especifica e destaca a informaccedilatildeo que o fabricante

veicula em (41) Natildeo identificamos em (41) nem termos polissecircmicos nem termos vagos

(42) A garantia cobre exclusivamente defeitos de materiais eou

fabricaccedilatildeo sendo que as despesas de deslocamento alimentaccedilatildeo e

hospedagem do teacutecnico para atendimento em garantia ou natildeo

referente agrave entrega montagem instruccedilatildeo de uso e reparo do

equipamento assim como o frete de retirada para conserto e retorno

do mesmo e de envio de peccedilas e retorno das substituiacutedas em garantia

ocorreratildeo por conta do cliente

(Certificado 22)

Assim como em (41) o fabricante utiliza o termo ―exclusivamente para restringir a

garantia do produto O fabricante ao utilizar esse termo se resguarda de possiacuteveis cobranccedilas

por parte do cliente ao solicitar a garantia como por exemplo ajuda de custo para custear a

iacuteda do teacutecnico para manutenccedilatildeo do produto envio de peccedilas para faacutebrica etc Fica expliacutecito

que em todas essas situaccedilotildees o cliente eacute responsaacutevel Caso o termo ―exclusivamente natildeo

76

tivesse sido utilizado o cliente poderia interpretar a ocorrecircncia de diferentes modos Uma

possibilidade de interpretaccedilatildeo seria a de entender que a garantia cobre outros tipos de

defeitos que natildeo fossem de peccedilas ou de fabricaccedilatildeo Com a utilizaccedilatildeo do termo

―exclusivamente o fabricante diminui as possibilidades de interpretaccedilatildeo tornando o texto

mais claro para o cliente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na

ocorrecircncia (42)

(43) A garantia natildeo cobre peccedilas ou componentes de desgaste normal de

uso dentre as quais selim pedais firma-peacutes natildeo se limitando

SOMENTE a estes mas incluindo rodas de transporte carenagens

adesivos elementos de acabamento de plaacutestico borracha e alumiacutenio

danos na pintura e quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa

exclusiva distribuiccedilatildeo devendo as reclamaccedilotildees ser encaminhadas aos

seus respectivos representantes ou fabricantes

(Certificado 22)

Em (43) o fabricante aleacutem de utilizar o termo ―somente para abranger a

interpretaccedilatildeo sobre as peccedilas que natildeo seratildeo cobertas pela garantia do produto utiliza outros

termos que alargam ainda mais sem restriccedilotildees a natildeo cobertura da garantia como ―quaisquer

acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo O fabricante se resguarda

especificando quais peccedilas que ele considera como de ―desgaste normal para evitar

problemas de interpretaccedilatildeo por parte do cliente O uso do ―somente na ocorrecircncia (43) se

apresenta de forma contraacuteria agraves outras ocorrecircncias que apresentamos anteriormente Enquanto

em ocorrecircncias como a (40) que o ―somente foi utilizado para restringir a interpretaccedilatildeo da

sentenccedila para as informaccedilotildees descritas depois do termo em (43) o fabricante utiliza o

―somente precedido da negaccedilatildeo ―natildeo se limitando direcionando o termo para o sentido de

abrangecircncia Ou seja a garantia que o fabricante oferece natildeo cobre peccedilas ou componentes de

desgaste natural como selim e pedais Para natildeo correr o risco de esquecer de citar algum dos

componentes de desgaste natural do produto e deixar brechas na interpretaccedilatildeo da garantia o

fabricante utiliza a expressatildeo ―natildeo se limitando seguida do ―somente para abranger ao

maacuteximo as possibilidades de interpretaccedilatildeo sobre os itens de desgaste natural que natildeo satildeo

cobertos pela garantia Depois do uso do ―somente e de apresentar mais uma lista de itens

que natildeo satildeo cobertos pela garantia o fabricante ainda abrange mais a interpretaccedilatildeo

utilizando a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo

Dessa forma pudemos perceber que o fabricante utilizou natildeo apenas o termo de restriccedilatildeo

77

―somente para limitar as possibilidades de interpretaccedilatildeo da sentenccedila mas tambeacutem utilizou

listas especificando itens e a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa

exclusiva distribuiccedilatildeo Todas essas estrateacutegias foram utilizadas com o objetivo de tornar a

interpretaccedilatildeo do texto clara sem oferecer a possibilidade de o cliente obter muacuteltiplas

interpretaccedilotildees do texto Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na

ocorrecircncia (43)

(44) A matildeo-de-obra em garantia limita-se SOMENTE ao horaacuterio normal

de expediente sendo de segunda a sexta-feira das 730 agraves 1800 horas

devendo o equipamento estar disponiacutevel para a assistecircncia teacutecnica

(Certificado 22)

Em (44) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o horaacuterio disponiacutevel

para reparos em produtos na garantia e aleacutem disso enfatizando que o produto deve estar

disponiacutevel para a assistecircncia Dessa forma o cliente fica impossibilitado de reclamar

assistecircncia fora do horaacuterio que estaacute descrito na sentenccedila assim como fica consciente de que

seu produto ficaraacute a disposiccedilatildeo da assistecircncia para conserto ou seja natildeo seraacute reparado

imediatamente A importacircncia do uso do ―somente na ocorrecircncia (44) se daacute pelo fato de que

caso natildeo fosse utilizado o cliente poderia interpretar por exemplo que a matildeo-de-obra em

garantia estaria disponiacutevel vinte e quatro horas por dia e sete dias por semana Como o

―somente foi utilizando precedendo as informaccedilotildees sobre dia e horaacuterio de atendimento natildeo

eacute possiacutevel interpretar a informaccedilatildeo de outra maneira que natildeo seja a descrita Haveria a

possibilidade de definir a expressatildeo ―horaacuterio normal de expediente como uma expressatildeo

polissecircmica caso ela natildeo estivesse acompanhada de uma definiccedilatildeo (―de segunda a sexta-feira

das 730 agraves 1800 horas) pois o horaacuterio de expediente pode variar de acordo com o trabalho

que vocecirc tem por exemplo Se vocecirc trabalha em um banco financeiro o seu horaacuterio de

expediente seraacute possivelmente diferente do horaacuterio de um feirante Para evitar a polissemia

o fabricante utilizou a expressatildeo e em seguida apresentou a definiccedilatildeo da expressatildeo de

acordo com o seu interesse

(45) A presente garantia limita-se SOMENTE ao produto fornecido natildeo

responsabilizando a TOTAL HEALTH por danos causados a pessoas

a terceiros a outros equipamentos ou instalaccedilotildees lucros cessantes ou

quaisquer outros danos emergentes ou consequumlentes

(Certificado 22)

78

Na ocorrecircncia (45) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da

garantia Nesse caso a garantia se limita unicamente ao produto descrito Se por exemplo o

produto em questatildeo apresentar defeito e tal defeito ocasionar dano fiacutesico ao dono do produto

ou a terceiros a garantia natildeo cobriraacute tais problemas Assim como nas ocorrecircncias anteriores

o uso do ―somente em (45) teve a funccedilatildeo de direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para uma

uacutenica possibilidade de interpretaccedilatildeo Caso o ―somente natildeo tivesse sido utilizado poderiacuteamos

interpretar (45) de outras maneiras Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (45)

(46) SOMENTE os profissionais indicados pela loja revendedora dos

produtos Bartzen estatildeo autorizados a prestar atendimento dentro do

prazo de garantia

(Certificado 18)

Na ocorrecircncia (46) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a

interpretaccedilatildeo da sentenccedila Nesse caso o cliente soacute poderaacute usufruir de assistecircncia teacutecnica em

seu produto atraveacutes de profissionais indicados pela loja na qual ele adquiriu seu produto

Bartzen e dentro do prazo da garantia Caso o cliente realize algum serviccedilo em seu produto

com profissionais natildeo autorizados pela fabricante sua garantia seraacute invalidada A importacircncia

da utilizaccedilatildeo do termo ―somente na ocorrecircncia (46) eacute a de diminuir as possibilidades de

interpretaccedilatildeo da sentenccedila ao maacuteximo Dessa forma natildeo haacute como o cliente interpretar que por

exemplo ele pode realizar a manutenccedilatildeo ou reparo do seu produto com qualquer outro

funcionaacuterio que natildeo seja autorizado pela fabricante do produto Natildeo identificamos nem

termos polissecircmicos nem termos vagos em (46)

(47) A garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o consumidor que consta

identificado na nota fiscal de compra do produto (primeiro usuaacuterio) a

qual deveraacute ser apresentada junto com este Certificado de Garantia

devidamente preenchido com os dados do consumidor e do produto

para fins de cobertura para reparo ou substituiccedilatildeo do produto se

necessaacuterio

(Certificado 19)

79

Em (47) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia Nesse caso

o cliente fica ciente de que a garantia soacute seraacute vaacutelida para o primeiro proprietaacuterio do produto

assim como soacute seraacute aceito o pedido de garantia caso o cliente apresentar a nota fiscal

contendo tanto os dados do produto quanto os seus Todas as possibilidades fora das

descritas seratildeo desconsideradas e consequentemente a garantia seraacute invalidada A

importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente em (47) se daacute pelo fato de que haacute diversas

informaccedilotildees a serem consideradas pelo cliente na ocorrecircncia (47) e caso o autor do texto natildeo

tivesse utilizado o termo ―somente antes dessas informaccedilotildees o cliente poderia interpretar

que sua garantia poderia ser vaacutelida ao cumprir algumas das informaccedilotildees descritas na sentenccedila

e natildeo obrigatoriamente todas Por exemplo se natildeo houvesse o uso do ―somente em (47) o

cliente poderia interpretar que a garantia eacute vaacutelida para o consumidor que tem o nome

constando na nota fiscal mas tambeacutem para qualquer outro consumidor que esteja de posse da

nota fiscal mesmo que natildeo seja a pessoa que tem o nome na nota fiscal O ―somente possui

o papel de restringir a interpretaccedilatildeo de toda ocorrecircncia ao maacuteximo direcionando a leitura do

texto para evitar muacuteltiplas interpretaccedilotildees Com esse uso natildeo eacute possiacutevel que cliente interprete

que ele pode ter acesso a garantia caso natildeo cumpra alguma das recomendaccedilotildees Natildeo

identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (47)

(48) O Certificado de Garantia eacute vaacutelido SOMENTE para os

condicionadores vendidos e instalados no territoacuterio brasileiro

(Certificado 19)

Em (48) semelhante agraves ocorrecircncias (31) e (39) o fabricante utiliza o termo ―somente

para restringir o territoacuterio de cobertura da garantia Neste caso condicionadores adquiridos e

utilizados em outros paiacuteses natildeo seratildeo cobertos pela garantia descrita acima Ainda retomando

a discussatildeo sobre a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro consideramos que pelo fato do autor do

texto natildeo ter apresentado um conceito para esta expressatildeo em nenhum local do certificado de

garantia da forma como se apresenta ela pode ser interpretada de outras maneiras assim

como discutimos nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)

(49) Para o uso de condicionadores de ar em ambientes com alta

concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre

seraacute vaacutelida SOMENTE a garantia legal de 90 (noventa) dias contados

80

da data de emissatildeo da nota fiscal de compra do produto

(Certificado 19)

Na ocorrecircncia (49) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da

garantia do produto que seja utilizado em ambientes especiacuteficos como ―ambientes com alta

concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre Dessa forma o

fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a qualquer solicitaccedilatildeo de garantia ―normal ou seja prazo

de validade de garantia para condicionadores de ar que satildeo utilizados em ambientes

considerados ―normais por parte de um cliente que utilize o produto em ambientes como os

descritos acima Dessa forma o uso do ―somente se justifica pelo fato de que o fabricante

busca direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha duacutevidas de que como

descrito em (49) os produtos utilizados em ambientes atiacutepicos soacute estaratildeo cobertos pela

garantia legal Assim como jaacute discutimos em outras ocorrecircncias anteriormente o fabricante

utiliza a expressatildeo ―garantia legal que eacute uma expressatildeo teacutecnica do CDC e para que ela natildeo

se tornasse polissecircmica logo apoacutes seu uso o autor apresentou o conceito para o termo que eacute

o de um periacuteodo de 90 dias corridos compreendidos imediatamente apoacutes a expediccedilatildeo da nota

fiscal de compra do produto

(50) A partir do 91ordm (nonageacutesimo primeiro) dia tais despesas satildeo de

responsabilidade uacutenica e exclusiva do consumidor

(Certificado 19)

Em (50) o fabricante natildeo utilizou os termo ―somente e ―apenas mas

consideraremos em nossa anaacutelise a utilizaccedilatildeo da expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como

umas expressotildees utilizadas para restringir interpretaccedilotildees como discutimos anteriormente em

outras anaacutelises Na sentenccedila acima o fabricante utilizou a expressatildeo de restriccedilatildeo para

enfatizar que passados os trecircs meses de garantia as despesas referentes a qualquer

manutenccedilatildeo e garantia do produto seratildeo de responsabilidade do cliente Como apresentamos

na ocorrecircncia (49) a garantia legal para um produto cobre os primeiros 90 dias apoacutes a

emissatildeo da nota fiscal de compra do produto Ao informar em (50) que a partir do primeiro

dia apoacutes o teacutermino da garantia legal despesas referentes ao traslado do produto para

manutenccedilatildeo seraacute de responsabilidade do cliente o autor utiliza a expressatildeo ―uacutenica e

exclusiva para se resguardar de qualquer possibilidade de participaccedilatildeo em possiacuteveis gastos

81

Caso o fabricante natildeo tivesse enfatizado essa informaccedilatildeo utilizando esta expressatildeo o cliente

poderia interpretar por exemplo que poderia haver algum caso em que o fabricante se

responsabilizaria por tais gastos Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (50)

(51) A reposiccedilatildeo de peccedilas defeituosas e execuccedilatildeo dos serviccedilos decorrentes

desta Garantia SOMENTE seratildeo procedidas nas localidades do

territoacuterio brasileiro onde a ENVISION mantiver ―Centro de Serviccedilo

Autorizado de titularidade dela proacutepria ou de terceiro por ela

expressamente indicado onde deveraacute ser entregue o produto para

reparo

(Certificado 20)

Na ocorrecircncia (51) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir os locais de

execuccedilatildeo de serviccedilos da garantia Neste caso o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a por

exemplo natildeo haver assistecircncias teacutecnicas em todas as cidades do paiacutes Aleacutem de enfatizar que o

produto deveraacute ser entregue na assistecircncia pelo cliente ou seja o fabricante natildeo se

responsabiliza quanto ao recolhimento do produto para reparo A utilizaccedilatildeo do ―somente se

justifica pelo fato de que o fabricante busca restringir ao maacuteximo as possibilidades de

interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o ―somente o cliente

poderia por exemplo interpretar que se a cidade em que o cliente tenha adquirido o produto

natildeo tenha uma assistecircncia teacutecnica a fabricante se responsabilizaria pelo recolhimento do

produto para manutenccedilatildeo numa cidade que possua a assistecircncia teacutecnica Com a utilizaccedilatildeo do

―somente precedendo as demais informaccedilotildees natildeo eacute possiacutevel interpretar a ocorrecircncia dessa

maneira Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termo vagos na ocorrecircncia (51)

(52) Esta Garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver

devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original

da Nota Fiscal de Compra

(Certificado 20)

Na ocorrecircncia (52) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a forma

como o cliente deve solicitar a garantia do produto Caso o cliente deixe de apresentar o

certificado preenchido corretamente eou a nota fiscal de compra a garantia seraacute invalidada

82

Assim como na ocorrecircncia (51) o autor fabricante utiliza o ―somente para restringir ao

maacuteximo a interpretaccedilatildeo do texto Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente

haveria a possibilidade de o cliente interpretar que a garantia do produto seria vaacutelida caso o

certificado estivesse preenchido sem rasuras acompanhado da nota fiscal de compra mas

tambeacutem de qualquer outra forma A ocorrecircncia ficaria sem limites para interpretaccedilatildeo caso o

fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente Poreacutem como o termo foi utilizado natildeo

haacute outra forma de o cliente interpretar a ocorrecircncia sobre a validade da garantia do produto

Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (52)

(53) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS se o produto for reparado pela rede

autorizada Rheem ou por autorizaccedilatildeo preacutevia formalizada pelo

Departamento de Assistecircncia Teacutecnica

(Certificado 20)

Na ocorrecircncia (53) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a validade da

garantia quanto ao local de assistecircncia Caso o produto seja reparado por profissional natildeo

autorizado pela fabricante Rheem a garantia do produto seraacute perdida A importacircncia o uso do

termo ―apenas na ocorrecircncia (53) se daacute pelo fato de que o autor busca restringir a

interpretaccedilatildeo do texto ao maacuteximo Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―apenas o

cliente poderia por exemplo interpretar que a garantia do produto eacute vaacutelida em qualquer

situaccedilatildeo e natildeo unicamente se seguir as recomendaccedilotildees descritas apoacutes o uso do termo

―apenas Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (53)

(54) Os produtos SOMENTE poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para

anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes sua autorizaccedilatildeo por escrito

(Certificado 21)

Na ocorrecircncia (54) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o modo

como deve submeter o produto agrave garantia Caso natildeo haja uma autorizaccedilatildeo por escrito para

enviar o produto para a faacutebrica o produto natildeo poderaacute seguir para anaacutelise A importacircncia da

utilizaccedilatildeo do termo ―somente se daacute pelo fato de que caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o

termo na ocorrecircncia (54) a interpretaccedilatildeo do texto ficaria sem limites ou seja os produtos

poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes a autorizaccedilatildeo por

83

escrito ou de qualquer outra forma Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (54)

34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS

Em nossa pesquisa analisamos cinquenta e quatro ocorrecircncias selecionadas a partir

dos vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Dividimos a anaacutelise por tipos de

ocorrecircncias com quantificador universal com condicional e com o apenassomente Para

apresentar um panorama sobre os tipos de ocorrecircncia e a quantidade das anaacutelises de cada tipo

vamos observar o quadro a seguir

Tipo de ocorrecircncia Nuacutemero de ocorrecircncias

Quantificador universal 15

Condicional 9

ApenasSomente 30

TOTAL 54

Quadro 2 ndash Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia Fonte elaborado pelo autor

Antes de discorrer nossos comentaacuterios sobre as anaacutelises de nosso trabalho temos que

tratar sobre a primeira importante impressatildeo que tivemos diante do corpus e das consequentes

anaacutelises dos quatro nexos semacircnticos que invocamos em nosso trabalho somente

identificamos ocorrecircncias com acarretamentos Tratamos com muita naturalidade este fato

porque por mais que em algumas leituras uma parte do conteuacutedo do segundo capiacutetulo possa

ser vista como desnecessaacuteria ndash pelo fato de tais conceitos natildeo estarem presentes nas anaacutelises

dessa pesquisa ndash encontramos aiacute uma caracteriacutestica do gecircnero textual certificado de garantia

que eacute a presenccedila de diversos acarretamentos mesmo que natildeo-expliacutecitos como demonstramos

em nosso trabalho (porque o gecircnero textual certificado de garantia natildeo possui uma linguagem

tatildeo controlada quanto a linguagem encontrada nos exemplos que criamos para ilustrar os

conceitos dos nexos) Dessa maneira fica claro que natildeo encontramos ocorrecircncias com

equivalecircncias semacircnticas contrariedades ou contraditoriedades o que nos permite definir

estas ausecircncias como uma caracteriacutestica intriacutenseca do gecircnero

84

Na primeira parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o quantificador

universal Identificamos quinze ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia

utilizaram esse recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (1) e (15)

percebemos que o uso do quantificador universal em algumas ocorrecircncias serviu apenas para

reforccedilar a informaccedilatildeo que o fabricante quis veicular ou seja se natildeo tivesse sido utilizado natildeo

modificaria o sentido do texto Pudemos identificar esse sentido por exemplo nas

ocorrecircncias (1) e (2)

Aleacutem desse sentido para o uso do quantificador universal encontramos ocorrecircncias

em que caso o quantificador natildeo tivesse sido utilizado haveria a possibilidade de

interpretarmos a ocorrecircncia de vaacuterias maneiras Nesses casos os autores utilizaram o

quantificador para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo direcionando a leitura do texto

para que o cliente possa interpretar o certificado da forma que o fabricante deseja Pudemos

identificar esse sentido por exemplo nas ocorrecircncias (3) (4) e (8)

Pudemos observar que os autores dos certificados de garantia utilizam tambeacutem o

quantificador universal em seus textos para se resguardarem em relaccedilatildeo a deveres que

poderiam ser reclamados pelo cliente caso natildeo houvesse o uso deste recurso Dessa forma

podemos entender que os autores dos certificados utilizaram o quantificador universal para se

favorecerem Pudemos observar essa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (5) (11) (13) e

(14) Em relaccedilatildeo a ocorrecircncias com o uso do quantificador universal em que o cliente eacute

beneficiado natildeo identificamos nenhum caso em nossa anaacutelise

Sobre o aparecimento de termos vagos ou termos polissecircmicos nas ocorrecircncias com a

presenccedila do quantificador universal pudemos observar que o maior motivo da sensibilidade

dos textos a esses tipos de efeitos linguiacutesticos eacute o fato de os autores dos textos em muitos

casos natildeo conceituarem os termos teacutecnicos que eles utilizam nos certificados de garantia Ao

utilizar um termo teacutecnico como por exemplo na ocorrecircncia (3) em que o autor do

certificado de garantia utiliza o termo ―viacutecio do produto ndash termo teacutecnico do CDC ndash natildeo

apresentando o conceito em seu texto dificulta a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Tendo contato

com o termo de forma solta sem estar delimitada pelo conceito que o autor deseja que o

cliente interprete a ocorrecircncia se torna vaga e polissecircmica

Ainda sobre os termos vagos ou termos polissecircmicos encontramos tambeacutem

ocorrecircncias em que os autores buscaram evitaacute-las justamente apresentando apoacutes a utilizaccedilatildeo

de um termo teacutecnico o seu respectivo conceito desta forma natildeo oferecendo a possibilidade

de interpretaacute-lo de vaacuterias maneiras Pudemos observar este uso por exemplo na ocorrecircncia

(10) em que o autor do certificado usa o termo ―garantia legal e logo em seguida apresenta

85

o conceito para o termo que eacute ―os primeiros 90 dias Dessa forma o cliente natildeo eacute autorizado

a interpretar o termo ―garantia legal de nenhuma outra forma que natildeo seja a descrita pelo

fabricante

Na segunda parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o uso do condicional

Identificamos nove ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia utilizaram este

recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (16) e (24) pudemos identificar

que o condicional foi utilizado pelos autores dos textos precedendo listas instrucionais o que

era esperado devido a caracteriacutestica proacutepria desse recurso que eacute o de condicionar algo agrave

alguma coisa Assim como nas ocorrecircncias que os autores utilizaram o quantificador

universal o condicional foi utilizado em boa parte das ocorrecircncias analisadas para restringir

a interpretaccedilatildeo do texto Pudemos identificar este sentido por exemplo nas ocorrecircncias (16)

(17) e (18)

Identificamos em boa parte das ocorrecircncias que possuem o uso do condicional que

este uso natildeo impotildee um limite na interpretaccedilatildeo Pudemos observar em nossa anaacutelise que os

condicionais foram utilizados precedendo listas exaustivas que continham situaccedilotildees por

exemplo em que a garantia seria invalidada Ao apresentar tais listas os autores natildeo

especificavam que natildeo haveria outros casos fora da lista em que a garantia seria invalidada

Dessa forma observamos que assim como nas ocorrecircncias com quantificador universal os

autores utilizaram os condicionais para se favorecerem Identificamos na ocorrecircncia (22)

recursos que restringem ainda mais as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente e

que consequentemente favorecem o fabricante como o uso do termo ―cumulativamente

que obriga o cliente a natildeo apenas estar dentro de uma ou mais situaccedilotildees descritas pelo

fabricante apoacutes o condicional mas a seguir todas as situaccedilotildees descritas ao mesmo tempo

Quando os fabricantes utilizaram o condicional precedendo listas que constam as

situaccedilotildees em que o cliente poderia perder a garantia eles usaram o recurso sem limites como

pudemos observar na ocorrecircncia (21) Mas quando os fabricantes utilizaram o condicional

precedendo listas que constam as situaccedilotildees em que o cliente tem direito a garantia eles

usaram os recursos com limites e como mostramos na ocorrecircncia (22) ainda utilizaram

recursos que limitam mais ainda a garantia

Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem das ocorrecircncias em que o condicional apareceu

de forma expliacutecita ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o mesmo

sentido como em (19) (20) e (24)

Sobre a presenccedila de termos polissecircmicos ou termos vagos nas ocorrecircncias com o uso

do condicional pudemos identificar que diferente das ocorrecircncias com o uso do

86

quantificador universal natildeo encontramos casos de termos vagos ou termos polissecircmicos nas

ocorrecircncias analisadas Identificamos em muitas ocorrecircncias que os autores dos certificados

apresentaram os conceitos para termos teacutecnicos apoacutes uso geralmente entre parecircnteses para

evitar que o termo ou a expressatildeo fossem interpretados de formas indevidas Encontramos

este tipo de estrateacutegia por exemplo na ocorrecircncia (17) do certificado 3 em que o autor

utiliza os termos ―garantia legal e ―garantia contratual mas no texto do certificado haacute o

conceito para cada termo o que impossibilita que o cliente interprete os termos de diversas

maneiras Caso o fabricante tivesse utilizado os dois termos teacutecnicos e em lugar algum do

certificado de garantia ele apresentasse os conceitos para os termos oportunizaria por

conseguinte diversas possibilidades de interpretaccedilatildeo dificultando a leitura do texto por parte

do cliente

Na terceira parte da anaacutelise tratamos sobre as ocorrecircncias com o uso do ―apenas e do

―somente Identificamos trinta ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia

utilizaram esses recursos linguiacutesticos Apesar do nuacutemero elevado de ocorrecircncias os sentidos

em que o ―apenas e o ―somente foram utilizados natildeo variaram muito Em grande parte das

ocorrecircncias analisadas o ―apenas e o ―somente foram utilizados para restringir a validade

da garantia desde restriccedilotildees em relaccedilatildeo ao territoacuterio de vigecircncia ateacute tipos de ambientes em

que os produtos podem ser utilizados Um tipo de ocorrecircncia que foi bastante recorrente em

nosso corpus foi o que utilizou o ―apenas ou ―somente para delimitar o territoacuterio em que a

garantia pode ser vaacutelida como por exemplo nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)

Nestas ocorrecircncias haacute o uso da expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que levantamos na anaacutelise

uma discussatildeo sobre as possibilidades de interpretaccedilatildeo para tal expressatildeo pelo fato de natildeo

haver nos certificados de garantia analisados um conceito definido para ela A ausecircncia do

conceito para este termo nos certificados de garantia pode dificultar a interpretaccedilatildeo

Tambeacutem podemos afirmar que em grande parte das ocorrecircncias analisadas o uso do

―somente ou ―apenas serviu para impor limites agraves interpretaccedilotildees dos textos direcionando-

os para a interpretaccedilatildeo que o fabricante desejasse impor Ou seja em grande parte das

ocorrecircncias em que foi utilizado o ―somente precedendo uma situaccedilatildeo X caso natildeo houvesse

esse uso a garantia por exemplo seria vaacutelida na situaccedilatildeo X mas tambeacutem nas situaccedilotildees Y Z

W sem limites Sem o uso do ―somente nessas ocorrecircncias o texto da garantia natildeo teria

sentido definido Pudemos observar esse sentido em diversas ocorrecircncias analisadas como

por exemplo nas ocorrecircncias (27) e (28) Ilustrando caso natildeo houvesse o uso do ―apenas

nas ocorrecircncias (27) e (28) a garantia seria vaacutelida no territoacuterio brasileiro e em qualquer outro

Ainda sobre as ocorrecircncias usam o ―somente ou ―apenas para restringir o territoacuterio em que

87

a garantia seraacute vaacutelida observamos que algumas ocorrecircncias especificam mais a validade da

garantia como em (48) que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para produtos vendidos e

instalados em territoacuterio nacional e outras ocorrecircncias que especificam menos como em (39)

que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para o veiacuteculo comercializado em territoacuterio brasileiro

Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem de ocorrecircncias em que o ―apenas e ―somente

apareciam explicitamente ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o

mesmo sentido como em (35) (36) e (41)

Sobre o aparecimento de termos polissecircmicos ou termo vagos aleacutem da expressatildeo

―territoacuterio brasileiro que mencionamos nos paraacutegrafos anteriores pudemos identificar

outros casos de termos polissecircmicos como por exemplo nas ocorrecircncias (25) e (26) Os

termos teacutecnicos utilizados pelos autores dos certificados de garantia natildeo possuiacuteam em lugar

algum dos textos os conceitos para lhes definirem possibilitando que o cliente interprete

estes termos de diversas maneiras

Ainda sobre casos de termos polissecircmicos observamos em algumas ocorrecircncias que

os autores dos certificados procuraram utilizar os termos teacutecnicos e em seguida ou em

alguma parte dos textos apresentaram os conceitos para os termos evitando muacuteltiplas

interpretaccedilotildees Identificamos o uso dessa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (43) (44) e

(49)

Nos trecircs tipos de ocorrecircncias que definimos para nossa anaacutelise pudemos identificar

que nos usos do quantificador universal condicional e ―apenas e ―somente os autores dos

certificados de garantia usaram esses recursos para se favorecerem Como analisado nas

ocorrecircncias do corpus os fabricantes utilizaram essas estrateacutegias tanto pelo fato de que eacute

necessaacuterio utilizar esses recursos por ser caracteriacutestico de textos instrucionais quanto pelo

fato de que o direcionamento das interpretaccedilotildees dos textos que eles constroem a partir destes

recursos podem favorecer os proacuteprios fabricantes

88

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Na presente seccedilatildeo iremos pontuar o percurso de nossa pesquisa e apresentar nossas

impressotildees sobre o corpus as teorias apresentadas e os resultados obtidos com as anaacutelises

O primeiro capiacutetulo de nossa pesquisa foi subdividido em duas partes na primeira

buscamos apresentar os conceitos gerais sobre os gecircneros textuais com base na proposta de

Bakhtin (2000) reafirmada por Marcuschi (2008) com o intuito de fornecer aporte teoacuterico

para a segunda parte do capiacutetulo em que caracterizamos o certificado de garantia como um

gecircnero textual Tal caracterizaccedilatildeo se deu pelo fato do nosso corpus ser composto por vinte e

dois certificados de garantia Ficamos surpresos por tomar conhecimento do fato de que ateacute o

presente momento natildeo identificamos publicaccedilotildees acadecircmicas em nosso paiacutes referentes agrave

caracterizaccedilatildeo de certificados de garantia como gecircneros textuais e esta dificuldade nos levou

a construir atraveacutes de nossa leitura a caracterizaccedilatildeo tanto quanto ao conteuacutedo quanto agrave

estrutura do texto A uacutenica bibliografia que encontramos e utilizamos como base para a

estruturaccedilatildeo da segunda parte do capiacutetulo tratando diretamente sobre os certificados de

garantia foi o Coacutedigo de Defesa e Proteccedilatildeo do Consumidor (1997) em que pudemos extrair

alguns conceitos gerais e recomendaccedilotildees de como se deve construir o texto de um certificado

de garantia Um dos problemas que encontramos foi a carecircncia de detalhes apresentados pelo

CDC na seccedilatildeo em que sugerem um padratildeo de formulaccedilatildeo do documento O CDC apenas

enfatiza que se faz necessaacuterio o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo e por exemplo a

necessidade de ser acompanhado do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto Com base

nessas informaccedilotildees apresentamos os conceitos e tambeacutem um exemplo de certificado de

garantia ilustrando cada parte da estrutura do texto

Na introduccedilatildeo do segundo capiacutetulo apresentamos uma discussatildeo geral sobre a

distinccedilatildeo entre semacircntica e pragmaacutetica com o objetivo de caracterizar os nexos como

relaccedilotildees linguiacutesticas do campo da semacircntica Para isso apresentamos tambeacutem os conceitos e

exemplos de relaccedilotildees linguiacutesticas que satildeo consideradas como pertencentes ao campo da

pragmaacutetica como a implicatura e pressuposiccedilatildeo Para esta discussatildeo buscamos aporte teoacuterico

nas obras de autores como Trask (2004) Levinson (2007) Grice (1987) Basso (2009)

Moura (1999) e Santos (2012)

Apoacutes a introduccedilatildeo do capiacutetulo apresentamos a teoria dos nexos semacircnticos que

escolhemos tratar em nossa pesquisa Foram eles o acarretamento a equivalecircncia semacircntica

a contradiccedilatildeo e a contrariedade Utilizamos como referencial teoacuterico para a teoria dos nexos

89

semacircnticos autores como Aristoacuteteles (1985) Chierchia (2001) Branquinho Murcho e Gomes

(2006) Pires de Oliveira (2001) e Mortari (2001) A apresentaccedilatildeo de cada nexo se deu a

partir dos conceitos seguidos de exemplos e dentro de cada seccedilatildeo apresentamos tambeacutem

tipos de ocorrecircncias lexicais que podem dificultar a intepretaccedilatildeo dos nexos que satildeo a

polissemia e a vagueza Ao apresentar os conceitos dessas ocorrecircncias lexicais assim como

fizemos na apresentaccedilatildeo dos nexos tambeacutem ilustramos com exemplos Utilizamos como

aporte teoacuterico para os conceitos de polissemia e vagueza autores como Crystal (1985) Allan

(2010) e Kempson (1977) Aleacutem da polissemia e vagueza tratamos sobre outro problema

que dificulta a interpretaccedilatildeo dos nexos as falaacutecias Quando tratamos sobre as caracteriacutesticas

das falaacutecias utilizamos como base teoacuterica o texto de Soares (2003) em que o autor distingue

as caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias e com esse aporte apresentamos nossos

exemplos

Quando tratamos sobre a contradiccedilatildeo e contrariedade apresentamos o fato de que as

suas origens tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica A partir disso trouxemos uma breve apresentaccedilatildeo

sobre os conceitos de Aristoacuteteles presentes em seu texto Organon (1985) mais

especificamente no Perieacutermeneas capiacutetulos 6 e 7

No final do capiacutetulo dois fizemos uma retrospectiva de todos os pontos que foram

apresentados ao longo do capiacutetulo e justificamos a nossa escolha em pesquisar sobre os nexos

semacircnticos assim como a polissemia vagueza e falaacutecias Durante todo o capiacutetulo dois

apresentamos os nexos e outras relaccedilotildees lexicais dentro de uma linguagem controlada que eacute

diferente do que acontece nos textos dos diversos gecircneros inclusive naquele escolhido para

compor o nosso corpus que satildeo os certificados de garantia A importacircncia dos conceitos

apresentados em nosso segundo capiacutetulo se deu pelo fato de que ele oferece uma base para a

compreensatildeo do funcionamento dessas relaccedilotildees semacircnticas para que diante das anaacutelises que

realizamos no capiacutetulo trecircs tenhamos uma leitura mais refinada e atenciosa para perceber

como essas relaccedilotildees semacircnticas tiacutepicas de linguagens controladas se apresentam em textos

que satildeo suscetiacuteveis a diversas ocorrecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo Ficamos surpresos

pelo fato de que pouco se escreveu sobre nexos semacircnticos em nosso contexto nacional de

pesquisa o que tornou a construccedilatildeo do nosso segundo capiacutetulo bastante desafiadora Em

relaccedilatildeo a artigos que trataram diretamente sobre os nexos semacircnticos e os seus usos como

suporte para a anaacutelise de ocorrecircncias em gecircneros textuais tivemos contato apenas com Santos

(2012) e Estrela e Santos (2013 2014)

No terceiro capiacutetulo que foi dedicado para conter a anaacutelise desta pesquisa

inicialmente apresentamos nossa justificativa para a escolha do gecircnero certificado de garantia

90

para analisar assim como a justificativa para a escolha de procurar nesses textos as

estrateacutegias linguiacutesticas utilizadas para restringir a interpretaccedilatildeo de sentenccedilas Em seguida

tratamos sobre os tipos de ocorrecircncias que elegemos para nossa anaacutelise como quantificador

universalcondicional e o ―apenas e o ―somente Esta escolha se deu pelo fato de tais

termos possuem caracteriacutesticas propiacutecias para o uso em restriccedilotildees ou abrangecircncias de textos

Mesmo assim tiacutenhamos conhecimento de que dificilmente encontrariacuteamos ocorrecircncias com

as relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos no capiacutetulo dois de forma expliacutecita e controlada

pois como discutimos anteriormente os diversos gecircneros textuais satildeo suscetiacuteveis a

interferecircncias lexicais que podem dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos

Em seguida apresentamos a anaacutelise do nosso corpus que totalizou cinquenta e quatro

trechos de certificados nos trecircs tipos de ocorrecircncias escolhidas para serem investigadas

Como jaacute apresentamos no final do capiacutetulo anterior nossas impressotildees sobre como foram

utilizados os recursos linguiacutesticos para restriccedilatildeo de interpretaccedilotildees pelos autores dos

certificados gostariacuteamos de enfatizar que nas ocorrecircncias com quantificador universal com

condicional e com o ―apenas e ―somente os fabricantes utilizaram estes recursos em

grande parte dos certificados para se favorecerem ou seja para abranger as possibilidades de

invalidade da garantia do produto aumentando as situaccedilotildees em que a garantia eacute perdida e

diminuindo as situaccedilotildees em que a garantia eacute vaacutelida (principalmente nas listas exaustivas)

Sobre ocorrecircncias em que identificados termos vagos ou termos polissecircmicos

identificamos como o motivo principal do aparecimento dessas ocorrecircncias a falta de

definiccedilatildeo dos termos teacutecnicos Em muitos certificados identificamos que os autores utilizaram

termos teacutecnicos (a maioria deles provenientes do CDC) e natildeo apresentaram em nenhuma

parte do texto as definiccedilotildees para tais termos oportunizando que o leitor interprete de

diversas maneiras os termos ou expressotildees

Por fim pudemos perceber que os quantificadores os condicionais e termos como o

―apenas e o ―somente que satildeo responsaacuteveis por abranger ou restringir interpretaccedilotildees de

sentenccedilas satildeo proacuteprios do tipo de texto instrucional que abarca o gecircnero que escolhemos para

nossa pesquisa A utilizaccedilatildeo desses termos seguiu uma ordem de apresentaccedilatildeo similar nos

vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Os quantificadores universais

apareceram muitas vezes nas explicaccedilotildees em que os fabricantes apresentavam prazos deveres

e direitos do fabricante e cliente os condicionais apareceram na maioria das vezes

precedendo as listas exaustivas e o ―apenas e ―somente apareceram em grande parte nos

trechos em que os fabricantes apresentavam delimitaccedilotildees territoriais para cobertura da

91

garantia e explicaccedilotildees sobre as situaccedilotildees em que a garantia eacute invalidada e as situaccedilotildees em que

a garantia se assegura

Assim como justificamos no iniacutecio das consideraccedilotildees sobre os resultados obtidos em

nossa anaacutelise natildeo encontramos ocorrecircncias com trecircs dos quatro nexos semacircnticos

apresentados no segundo capiacutetulo O fato de natildeo termos identificado ocorrecircncias com

equivalecircncias semacircnticas contrariedades e contraditoriedades traacutes a tona uma interessante

caracteriacutestica do gecircnero certificado de garantia que eacute a constante presenccedila de acarretamentos

na redaccedilatildeo do texto mesmo que apresentados indiretamente diferente dos exemplos que

utilizamos para ilustrar os conceitos nos diversos textos sobre o assunto e a natildeo utilizaccedilatildeo de

equivalecircncias sentenccedilas contraacuterias e contraditoacuterias na redaccedilatildeo do texto

Atraveacutes dessa pesquisa em que tratamos sobre os nexos semacircnticos a polissemia a

vagueza e alguns outros tipos de relaccedilotildees semacircnticas desejamos que outros pesquisadores se

interessem por este tipo de trabalho e busquem explorar nas anaacutelises linguiacutesticas outros

gecircneros textuais pouco explorados como o que utilizamos no presente trabalho Apresentar

uma teoria que eacute tipicamente de linguagens controladas como a dos nexos semacircnticos (que

satildeo como jaacute discutimos dependentes unicamente da forma das sentenccedilas) e analisar como

essas estrateacutegias linguiacutesticas se comportam dentro de textos instrucionais (que ainda satildeo

pouco explorados nas anaacutelises semacircnticas) satildeo a nosso ver interessantes caminhos a serem

desbravados nos estudos da semacircntica assim como as suas aplicaccedilotildees nos diversos gecircneros

textuais que nos rodeiam

92

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95

ANEXOS

Certificado 1

96

Certificado 2

97

Certificado 3

98

Certificado 4

99

Certificado 5

100

Certificado 6

101

Certificado 7

102

Certificado 8

103

Certificado 9

104

105

Certificado 10

106

Certificado 11

107

Certificado 12

108

109

Certificado 13

110

Certificado 14

111

112

Certificado 15

113

114

Certificado 16

115

116

117

118

119

120

121

Certificado 17

122

Certificado 18

123

Certificado 19

124

125

Certificado 20

126

Certificado 21

127

Certificado 22

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo primeiramente ao nosso Deus Todo Poderoso Mestre supremo de nossas

vidas e aos seus anjos de luz espiacuteritos elevados missionaacuterios da luz pela oportunidade de

realizar esta pesquisa por toda a inspiraccedilatildeo e pela sauacutede que natildeo me faltou em nenhum

momento desses 24 meses de estudos

Agrave minha orientadora Dra Maria Leonor Maia dos Santos por ter acreditado em meu

potencial e ter aceitado me auxiliar na elaboraccedilatildeo desta pesquisa A sua generosidade

comprometimento e sabedoria serviratildeo para mim como exemplo de profissionalismo

acadecircmico a ser seguido O peso do desafio de realizar essa pesquisa certamente foi muito

menor por ter uma mentora tatildeo precisa quanto ela

Ao prof Dr Giovanni da Silva de Queiroz por ter aceitado participar da banca de

avaliaccedilatildeo desta pesquisa o que eacute representa uma grande honra para mim Desde o iniacutecio do

ano de 2011 momento em que participei de um mini-curso sobre Loacutegica Claacutessica na UEPB

ministrado por ele muito tenho aprendido com suas indicaccedilotildees de bibliografias e orientaccedilotildees

sempre muito pertinentes

Agrave profa Dra Mocircnica Mano Trindade Ferraz pela generosidade apreccedilo e humanidade

para comigo ao me acolher em seu grupo de pesquisa junto aos seus orientandos

oportunizando que eu a cada encontro do grupo aprendesse um pouco mais sobre as diversas

semacircnticas Tambeacutem agradeccedilo pela honra de tecirc-la como integrante da banca de avaliaccedilatildeo

desta pesquisa e pelas saacutebias orientaccedilotildees ao longo destes dois anos de estudos no PROLING

Aos meus pais Geraldo e Silvacircnia Estrela por todo amor confianccedila e suporte

oferecidos a mim desde o princiacutepio desta minha vida Espero poder um dia retribuir ao menos

uma parcela de tudo o que eles fizeram e fazem por mim

Agrave minha irmatilde Karla Estrela pelo exemplo de determinaccedilatildeo e disciplina

Agrave minha noiva Maria Eduarda por toda dedicaccedilatildeo carinho amor companheirismo e

principalmente paciecircncia comigo vinte e quatro horas por dia sete dias na semana Eu

certamente natildeo conseguiria concluir com tanta serenidade esta pesquisa caso ela natildeo estivesse

ao meu lado

Agrave minha amiga Angeacutelica Vilar que me apresentou o PROLING e me deu todo o

suporte para que eu realizasse o processo de seleccedilatildeo de mestrado Haacute quem natildeo acredite em

anjos mas tenho a convicccedilatildeo de que pessoas desse calibre natildeo merecem um tiacutetulo menos

divino

Aos amigos Joseacute Wellisten e Alessandra Miranda pela disponibilidade e atenccedilatildeo para

lerem meu trabalho e fazerem criacuteticas construtivas

Ao amigo Thiago Magno que me ajudou em um dos momentos mais delicados no

periacuteodo poacutes-defesa Dedico minha amizade e minha eterna gratidatildeo por tudo

Agrave CAPES pelo apoio financeiro oferecido para essa pesquisa pelo periacuteodo de 17

meses

εἰδέναι δὲ χπὴ τὸν πόλεμον ἐόντα

ξυνόν καὶ δίκην ἔπιν καὶ γινόμενα

πάντα κατ ἔπιν καὶ χπεών

(Heraacuteclito frag 80)

RESUMO

O estudo das relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas eacute um campo bastante discutido e

pesquisado nos estudos linguiacutesticos A observaccedilatildeo de como se comportam os termos na

construccedilatildeo de significados em textos de diversos gecircneros e seus efeitos de interpretaccedilatildeo

tambeacutem satildeo temas muito difundidos entre as pesquisas das semacircnticas Nesta produccedilatildeo

discutiremos sobre as relaccedilotildees de significado e seus efeitos de sentido em um gecircnero

especiacutefico As relaccedilotildees que investigaremos satildeo os nexos semacircnticos ou nexos de significado

como proposto por Chierchia (2003) que satildeo respectivamente acarretamento equivalecircncia

semacircntica contraditoriedade e contrariedade O gecircnero que escolhemos para nossa anaacutelise eacute o

certificado de garantia e a escolha de tal gecircnero se deu pelo fato deste fazer parte do grupo de

textos injuntivos ou instrucionais que a nosso ver possui caracteriacutesticas que favorecem a

amostragem dos nexos semacircnticos Iremos analisar como os nexos semacircnticos satildeo utilizados

para restringir ou abranger as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos certificados de garantia O

corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de garantia de

produtos de diversos segmentos e decidimos escolher certificados de produtos de linhas

diversas para constituirmos um panorama sobre o gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes

da internet sem utilizar nenhuma metodologia especiacutefica apenas atentamos para buscar

certificados de produtos variados Buscamos nessa pesquisa instigar a reflexatildeo sobre as

relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e a observaccedilatildeo destas nos textos instrucionais que

lidamos no dia-a-dia e que por muitas vezes deixamos passar despercebido o seu conteuacutedo

O entendimento sobre os nexos de significado pode nos oferecer ferramentas para melhor

leitura de textos desse tipo

Palavras chave Nexos semacircnticos Certificado de garantia Semacircntica

ABSTRACT

The study of the meaning of relations between sentences is a much discussed and researched

field in linguistic studies The observation of how the terms behave in the construction of

meanings in texts of different genres and their interpretation effects are also widespread

themes among semantic research In this work we will discuss about the meaning of the

relations of meaning and their sense of purpose in a specific genre The relations that we will

investigate are semantic nexus or semantic links as proposed by Chierchia (2003) which are

respectively entailment semantic equivalence contradictoriness and contrariness The genre

we chose for our analysis is the warranty certificate and the choice of this genre was made

because it is part of the injunctive or instructional texts group that in our opinion has

characteristics that favor the sampling of semantic nexus We will analyze how the semantic

nexus are used to restrict or cover the possibilities of interpretation in the warranty

certificates The corpus of this research has 22 (twenty two) copies of warranty certificates

from different segments and we decided to choose certificates from separate lines to

constitute an overview of the genre The collection of the texts took place through the

internet without using any particular methodology of choice only we pay attention to seek

warranty certificates of diverse products We seek in this research instigate reflection on the

meaning relations between sentences and observance of these in instructional texts that we

have contact in daily life and that for many times let go unnoticed its contents The

understanding of the semantic nexus can offer us tools to better read texts of this type

Keywords Semantic nexus Warranty certificate Semantics

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 13

1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA 16

11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS 16 12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL 26

2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS 32

21 ACARRETAMENTO 35 22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA 42 23 CONTRADITORIEDADE 45 24 CONTRARIEDADE 48 25 JUSTIFICANDO O PERCURSO 51

3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA 53

31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL 55 32 USO DO CONDICIONAL 64 33 USO DO APENASSOMENTE 68 34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS 83

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 88

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 92

ANEXOS 95

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa 14

QUADRO 2 - Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia 83

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

ILUSTRACcedilAtildeO 1 - Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 27

ILUSTRACcedilAtildeO 2 - Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28

ILUSTRACcedilAtildeO 3 - Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28

ILUSTRACcedilAtildeO 4 - Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28

ILUSTRACcedilAtildeO 5 - Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 29

13

INTRODUCcedilAtildeO

A abordagem das relaccedilotildees de significado eacute algo bastante presente e discutido nos

estudos semacircnticos Observar como se comportam os termos na construccedilatildeo da significaccedilatildeo

em textos de diversos gecircneros distintos e seus efeitos interpretativos tambeacutem satildeo temas de

diversas produccedilotildees na aacuterea de linguiacutestica

Neste trabalho iremos discutir as relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e os efeitos

interpretativos dessas relaccedilotildees em textos Mais especificamente abordaremos os nexos

semacircnticos ou nexos de significado (Chierchia 2003) acarretamento equivalecircncia semacircntica

contrariedade (os quais podemos encontrar no referido trabalho de Chierchia) e

contraditoriedade (nexo semacircntico que geralmente eacute relacionado com a contrariedade e que

foi tratado por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado atraveacutes de seu quadrado loacutegico

ou taacutebua de oposiccedilotildees em seu texto Perieacutermeneas (1985) mais especificamente nos

capiacutetulos 6 e 7 sobre o qual faremos menccedilatildeo na seccedilatildeo sobre este nexo)

Este trabalho tem por objetivo observar alguns dos recursos linguiacutesticos utilizados

para favorecer a existecircncia de nexos semacircnticos e com isso restringir ou ampliar

possibilidades de interpretaccedilatildeo em um gecircnero textual especiacutefico Por este motivo o gecircnero

que escolhemos analisar foi o certificado de garantia ou termo de garantia que pertence agrave

categoria dos textos instrucionais (ou injuntivos) e a nosso ver possui caracteriacutesticas que

favorecem a amostragem das ocorrecircncias dos nexos

O gecircnero certificado de garantia possui como uma de suas caracteriacutesticas a

apresentaccedilatildeo organizada dos direitos e deveres do cliente e do fabricante com relaccedilatildeo a um

produto servindo tambeacutem para informar ao cliente os seus direitos referentes agrave validade

prazos e extensatildeo de cobertura da garantia Supotildee-se entatildeo que o texto deve por isso ser

objetivo e livre de ambiguidades e incoerecircncias

Nossa hipoacutetese eacute a de que recursos linguiacutesticos que favoreccedilam a existecircncia de nexos

semacircnticos nos textos dos certificados ndash como o emprego por exemplo de conectivos e

quantificadores (Chierchia 2003 PIRES DE OLIVEIRA 2001) ndash estatildeo presentes em textos

deste gecircnero e contribuem para que os textos alcancem o objetivo de informar ao cliente e ao

fabricante seus deveres e direitos

O corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de

garantia de produtos diversos para constituir um panorama ainda que reduzido de instacircncias

do gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes da internet sem utilizar nenhuma metodologia

14

especiacutefica de escolha atentando para buscar certificados de produtos variados Os textos

escolhidos para a anaacutelise de nosso trabalho incluem diversos produtos manufaturados como

moacuteveis veiacuteculos eletroeletrocircnicos entre outros equipamentos domeacutesticos como ilustrado no

quadro a seguir

Nordm Tipo de objeto Fabricante

1 Refrigerador Samsung

2 TV led Sony

3 Condicionador de ar LG

4 Tablet AOC

5 AudioMixer Oneal

6 Garantia para todos os produtos Elgin

7 Estabilizador de energia APC

8 Aquecedor de aacutegua Bosch

9 Fogatildeo Brastemp

10 Maacutequina de lavar Electrolux

11 Ventilador Cadence

12 GPS Positron

13 Umidificador de ar Springer

14 Certificado internacional de garantia Philips

15 Colchatildeo Ortobom

16 Caminhotildees Mercedes-Benz

17 Carro de passeio Hyundai

18 Moacuteveis Bartzen

19 Aquecedor de ar Fujitsu

20 Tv AOC

21 Aquecedor de aacutegua para piscina Rheem

22 Bicicleta Total Health

Quadro 1 ndash Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa Fonte elaborado pelo autor

Como nosso propoacutesito eacute analisar os textos observando as ocorrecircncias de termos que

restringem e abrangem interpretaccedilotildees natildeo temos a intenccedilatildeo de analisar se um fabricante

elaborou um texto melhor que outro

No primeiro capiacutetulo apresentamos num primeiro momento o que satildeo gecircneros

textuais e em seguida caracterizamos o certificado de garantia como um gecircnero textual Para

tanto utilizamos o aporte teoacuterico baseado na obra de Mikhail Bakhtin (2000) linguista do

iniacutecio do seacuteculo referecircncia nos estudos de gecircneros textuais e de Luiz Antocircnio Marcuschi

(2002 2005 2008) linguista contemporacircneo que desenvolveu importantes trabalhos nessa

disciplina Vale salientar que como o foco de nossa pesquisa natildeo eacute a discussatildeo de gecircneros

textuais o capiacutetulo que construiacutemos trata de conceitos gerais sobre gecircneros tendo como

15

objetivo observar que o certificado de garantia eacute um gecircnero textual e mostrando como se

estrutura em linhas gerais um texto deste gecircnero

No segundo capiacutetulo trataremos dos nexos semacircnticos dos quais consideraremos

para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e

contrariedade Atraveacutes de exemplos discutimos brevemente cada um deles mostrando

exemplos que funcionam e tambeacutem exemplos problemaacuteticos em relaccedilatildeo ao leacutexico

especialmente em casos de polissemia para que entatildeo seja possiacutevel a anaacutelise do capiacutetulo

seguinte

No terceiro capiacutetulo traremos a anaacutelise do corpus que se apresentaraacute organizado por

ocorrecircncias distribuiacutedas em tipos a saber uso do quantificador universal uso do condicional

e uso do apenassomente Apoacutes o exame das trecircs categorias citadas trataremos entatildeo das

relaccedilotildees entre o emprego dos recursos e a funccedilatildeo dos certficados Procuraremos tambeacutem

refletir se os recursos satildeo mais utilizados para favorecer o cliente ou mais utilizados para

favorecer o fabricante

Por uacuteltimo mostraremos as consideraccedilotildees finais do trabalho e em seguida as

referecircncias bibliograacuteficas utilizadas na elaboraccedilatildeo de nosso texto

16

1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA

Neste capiacutetulo tratamos dos gecircneros textuais e da caracterizaccedilatildeo dos certificados de

garantia como um gecircnero textual Em um primeiro momento traremos a perspectiva sobre

gecircneros textuais de Mikhail Bakhtin precursor dos estudos de gecircneros textuais na linguiacutestica

e em seguida apresentaremos a perspectiva de Luiz Antocircnio Marcuschi linguista brasileiro

que tambeacutem trabalha com o tema e compartilha em grande parte da perspectiva de Bakhtin

sobre o os gecircneros Eacute importante ressaltar que este capiacutetulo natildeo tem por objetivo o

aprofundamento nos estudos dos gecircneros e serve como um instrumento para contextualizar o

corpus desta pesquisa

11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS

Considerando a perspectiva apresentada por Mikhail Bakhtin na obra Esteacutetica da

criaccedilatildeo verbal (2000) o ato de se comunicar eacute indispensaacutevel para as relaccedilotildees humanas Aleacutem

disso ressaltamos que eacute por tal razatildeo que nas diversas situaccedilotildees de interaccedilatildeo que

vivenciamos em nosso cotidiano observamos a utilizaccedilatildeo da liacutengua em suas modalidades

oral eou escrita como instrumento principal de nossas trocas comunicativas

Eacute notoacuterio que a quantidade de atividades eacute enorme assim como satildeo os diferentes tipos

de situaccedilotildees em que a liacutengua eacute empregada Atraveacutes da formulaccedilatildeo de enunciados podemos

caracterizar quais as funccedilotildees dos discursos que escolhemos para os diversos tipos de

interaccedilatildeo

Nesse sentido eacute possiacutevel afirmarmos que todas as nossas construccedilotildees linguiacutesticas

organizam-se em gecircneros discursivos por meio dos quais conseguimos nos comunicar e

interagir socialmente

Em conformidade com a proposta de Bakhtin todo gecircnero discursivo se constitui a

partir das seguintes dimensotildees o conteuacutedo temaacutetico o estilo e a construccedilatildeo composicional

Esta descriccedilatildeo eacute claacutessica como ponto de partida para a descriccedilatildeo dos gecircneros textuais e nos

ofereceraacute a possibilidade de tanto descrever o que eacute um gecircnero textual quanto caracterizar

um texto como gecircnero que seraacute o nosso objetivo na segunda parte deste capiacutetulo

O conteuacutedo temaacutetico se refere ao tipo de assunto veiculado no texto Por tal razatildeo

Bakhtin (2000) afirma que o gecircnero eacute escolhido a partir do que o locutor decide falar Assim

17

eacute faacutecil compreender por que cada atividade comunicativa necessita de um tipo especiacutefico de

textodiscurso Por exemplo natildeo se responde (normalmente) uma carta informal com uma

bula de remeacutedio (a natildeo ser que na carta um texto desse gecircnero seja solicitado como

resposta) Nesse sentido percebe-se que para cada esfera de comunicaccedilatildeo o locutor e

interlocutor utilizam uma mesma forma de expressatildeo tendo em vista o assunto que

escolheram tratar Caso contraacuterio se locutor e interlocutor agregam formas distintas de

expressatildeo pode ser que a comunicaccedilatildeo natildeo seja efetivada com sucesso visto que eacute possiacutevel

natildeo haver o entendimento das partes uma vez que cada gecircnero abarca certo campo de uso

mesmo estando em constante desenvolvimento

O estilo se refere aos recursos linguiacutesticos desde gramaticais ateacute lexicais e eles

variam de acordo com o gecircnero Essa dimensatildeo abarca a seleccedilatildeo frasal lexical gramatical e

as formas de apresentar o discurso que satildeo inerentes ao gecircnero escolhido Bakhtin (2000)

afirma que o estilo eacute a primeira vista individual do gecircnero e ela reflete (ou natildeo) a

individualidade de quem escreve ou fala Isso porque dependendo do gecircnero o estilo

individual aparece com mais clareza Da mesma forma haacute gecircneros que natildeo possuem essa

caracteriacutestica a exemplo dos textos injuntivos sobre os quais trataremos mais agrave frente Ainda

a respeito do estilo Bakhtin assegura que

Quando escolhemos as palavras no processo de construccedilatildeo de um enunciado nem

de longe as tomamos sempre do sistema da liacutengua em sua forma neutra

lexicograacutefica Costumamos tiraacute-las de outros enunciados e antes de tudo de

enunciados congecircneres com o nosso isto eacute pelo tema pela composiccedilatildeo pelo estilo

consequentemente selecionamos as palavras segundo a sua especificaccedilatildeo de

gecircnero O gecircnero do discurso natildeo eacute uma forma da liacutengua mas uma forma tiacutepica do

enunciado como tal forma o gecircnero inclui certa expressatildeo tiacutepica a ele inerente

(BAKHTIN 2010 [1992] p 292 grifos do autor)

Nessa perspectiva podemos afirmar que tal criteacuterio se refere agraves propriedades das

unidades de linguagem e relaciona-se agrave posiccedilatildeo enunciativa do locutor agraves sequecircncias textuais

e aos tipos discursivos que estruturam o texto

Por fim Bakhtin (2000) afirma que cada gecircnero possui uma forma padratildeo que eacute a

estrutura composicional Eacute atraveacutes dessa forma que podemos identificar qual gecircnero estaacute

sendo empregado pois essa dimensatildeo se refere aos procedimentos utilizados na formulaccedilatildeo

dos textos com a estrutura e demais aspectos formais incluindo as partes envolvidas no

discurso Em suma para Bakhtin (2000)

18

Estes trecircs elementos (conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo composicional)

fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado e todos eles satildeo marcados pela

especificidade de uma esfera de comunicaccedilatildeo Qualquer enunciado considerado

isoladamente eacute claro individual mas cada esfera de utilizaccedilatildeo da liacutengua elabora

seus tipos relativamente estaacuteveis de enunciados sendo isso que denominamos

gecircneros do discurso (BAKHTIN 2000 p 279 Grifos do autor)

Ainda a respeito dos gecircneros do discurso conveacutem ressaltar que sua variedade eacute

proporcional agraves possibilidades de interaccedilotildees humanas pois as diversas esferas de interaccedilatildeo

satildeo compostas por classes de gecircneros que se desenvolvem tornando-se maiores e mais

complexas em consonacircncia com o desenvolvimento dessas esferas

Bakhtin (2000) utiliza o termo ―heterogeneidade para adjetivar os gecircneros do

discurso sejam eles orais ou escritos inferindo que estes incluem desde conversas informais

cartas relatos familiares ateacute produccedilotildees mais complexas como os documentos oficiais textos

cientiacuteficos e de escolas literaacuterias Natildeo haacute razatildeo para minimizar a extrema heterogeneidade

dos gecircneros do discurso e a consequente dificuldade quando se trata de definir o caraacuteter

geneacuterico do enunciadolsquo (BAKHTIN 2000 p 281) Dessa forma entendemos que a

variedade de gecircneros eacute muito grande se estendendo por exemplo dos romances mais

eruditos ateacute os bilhetes de recados do dia-a-dia e que tratar dos gecircneros admitindo suas

caracteriacutesticas estruturais particulares natildeo eacute uma tarefa faacutecil de realizar

Aleacutem de discorrer sobre as dimensotildees constitutivas de um gecircnero tendo em vista essa

heterogeneidade Bakhtin categoriza os gecircneros textuais em primaacuterios (simples) e

secundaacuterios (complexos) Assim os gecircneros primaacuterios satildeo aqueles referentes agraves reacuteplicas de

diaacutelogos cotidianos como cartas pessoais e demais gecircneros de comunicaccedilatildeo imediata Satildeo

chamados ―simples porque satildeo formados por discursos de baixa complexidade Jaacute os

gecircneros secundaacuterios satildeo aqueles referentes a romances textos cientiacuteficos sociopoliacuteticos e

afins Satildeo textos (escritos ou produzidos para serem encenados como os teatrais ndash exemplo

usado pelo proacuteprio Bakhtin) com maior carga de complexidade de produccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo

Surgem a partir de interaccedilotildees mais aprofundadas nas comunidades com maior grau de

imersatildeo em relaccedilatildeo aos padrotildees culturais e sociais

Ele ainda ressalta que os gecircneros secundaacuterios tambeacutem podem conter gecircneros

primaacuterios ―o romance em seu todo eacute um enunciado da mesma forma que a reacuteplica do

diaacutelogo cotidiano ou a carta pessoal (satildeo fenocircmenos da mesma natureza) o que diferencia o

romance eacute ser um enunciado secundaacuterio (complexo) (BAKHTIN 2000 p 281) Ao

discorrer sobre essa questatildeo o autor assevera que eacute de grande importacircncia teoacuterica a

19

diferenciaccedilatildeo entre esses tipos de gecircneros pois com isso e a partir disso podemos fazer

anaacutelises precisas dos enunciados que podem contrapor dois ou mais tipos de textos

Ignorar as caracteriacutesticas intriacutensecas a cada gecircnero a ―natureza dos enunciados - que

segundo Bakhtin eacute indispensaacutevel para qualquer estudo ndash eacute partir para a abstraccedilatildeo da liacutengua

desvalorizando o conteuacutedo histoacuterico imerso em cada tipo de gecircnero Eacute importante considerar

a relaccedilatildeo existente entre ―a liacutengua e a vida e natildeo restringir os enunciados a categorias

formais Haacute portanto uma relaccedilatildeo de complementaccedilatildeo entre a liacutengua a vida e os enunciados

pois ―a liacutengua penetra na vida atraveacutes dos enunciados concretos que a realizam e eacute tambeacutem

atraveacutes dos enunciados concretos que a vida penetra na liacutengua (BAKHTIN 2000 p 282)

Bakhtin (2000) tambeacutem se refere a questotildees da ―totalidade do enunciado que ele

define como aquilo que oportuniza a resposta em um discurso Bakhtin afirma que essa accedilatildeo

eacute definida por trecircs fatores diretamente associados ao ―todo orgacircnico do enunciado

primeiramente o tratamento exaustivo do objeto de sentido depois o querer-dizer do locutor

e por fim as formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do acabamento

O tratamento exaustivo do objeto de sentido ―varia profundamente conforme as

esferas da comunicaccedilatildeo verbal Em algumas esferas ele pode ser quase total como por

exemplo na vida praacutetica na vida profissional na vida militar basicamente em esferas que

natildeo possuem caracteriacutesticas de mutabilidade de discurso e pouca ―criatividade nas

formulaccedilotildees entre outras palavras onde os gecircneros do discurso satildeo padronizados Jaacute nas

esferas em que os gecircneros satildeo ―criativos o tratamento exaustivo eacute muito menos abrangente

como no caso das ciecircncias em particular onde Bakhtin infere que o tratamento exaustivo

―oferece exatamente um miacutenimo de acabamento capaz de suscitar uma atitude responsiva

(BAKHTIN 2000 p 300)

O querer-dizer do locutor estaacute ligado ao primeiro fator O filoacutesofo afirma que em todo

enunciado desde uma reacuteplica cotidiana ateacute complexas obras cientiacuteficas ou da literatura

compreendemos sentimos o ―intuito discursivo ou querer-dizer do locutor que eacute o que

determina o ―todo do enunciado sua amplitude suas fronteiras Noacutes identificamos o que o

locutor quer expressar e a partir dessa detecccedilatildeo medimos e definimos como se daraacute o

enunciado Isso eacute determinante para a escolha do objeto com seus limites e o tratamento

exaustivo do objeto adequado a este aleacutem de ser essencial para a escolha da forma do gecircnero

onde seraacute edificado

As formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do gecircnero do acabamento representam o fator mais

importante para Bakhtin que as descreve como ―formas estaacuteveis do gecircnero do enunciado

(BAKHTIN 2000 p 301)

20

As formas do gecircnero agraves quais modelamos nossa fala se distinguem

substancialmente das formas da liacutengua do ponto de vista de sua estabilidade e de

suas leis normativas para o locutor De um modo geral elas satildeo mais maleaacuteveis

mais plaacutesticas e mais livres do que as formas da liacutengua (BAKHTIN 2000 p 302)

Concluindo a discussatildeo sobre gecircneros a partir dos conceitos gerais propostos por

Bakhtin passamos agora para a discussatildeo sobre gecircneros realizada por Marcuschi (2008) Eacute

possiacutevel perceber ao longo da explanaccedilatildeo que este autor se identifica com a teoria

bakhtiniana de gecircneros textuais e foi essa identificaccedilatildeo uma das motivaccedilotildees que nos levou a

escolhecirc-los para a composiccedilatildeo deste capiacutetulo

De acordo com Marcuschi (2008 p 154) toda comunicaccedilatildeo soacute pode ser efetivada

por meio de um gecircnero pois ―eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum gecircnero

assim como eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum texto Partindo dessa

premissa podemos entender que qualquer manifestaccedilatildeo verbal se daacute dentro dos limites dos

gecircneros Eacute por esse motivo que a variedade de gecircneros eacute extensa mas natildeo infinita Atraveacutes

desse conceito observamos que Marcuschi compactua com o conceito bakhtiniano de que os

gecircneros possuem formas padronizadas e finitas

Os gecircneros textuais satildeo os textos que encontramos em nossa vida diaacuteria e que

apresentam padrotildees sociocomunicativos caracteriacutesticos definidos por composiccedilotildees

funcionais objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integraccedilatildeo

de forccedilas histoacutericas sociais institucionais e teacutecnicas (Marcuschi 2008 p 155)

Natildeo devemos considerar os gecircneros textuais como modelos imutaacuteveis e de ―estrutura

riacutegidas A apresentaccedilatildeo dos gecircneros se mostra ligada diretamente ao meio em que circulam

Satildeo formas culturais que tomam forma na liacutengua e que evoluem junto com ela Obviamente

que natildeo podemos deixar de considerar que os gecircneros possuem identidade e eacute atraveacutes dessa

identidade que escolhemos um tipo especiacutefico para cada esfera discursiva Dessa forma

admitimos que os gecircneros limitam nossa accedilatildeo na escrita

Em relaccedilatildeo agrave distinccedilatildeo entre gecircneros Marcuschi (2008) natildeo os distingue pelas formas

linguiacutesticas mas sim pelos seus campos de accedilatildeo Nesse sentido ele reafirma a perspectiva

bakhtiniana de que os gecircneros satildeo dinacircmicos e que por serem soacutecio-histoacutericos natildeo podem

ser contados de modo exaustivo o que dificulta sua classificaccedilatildeo Marcuschi (2008) afirma

que atualmente o objetivo maior nos estudos sobre gecircneros textuais eacute procurar identificar e

explicar como eles satildeo constituiacutedos e como circulam na sociedade

21

Eacute importante apresentar alguns conceitos referentes ao que estamos discutindo sobre

gecircneros do discurso dentre os quais destacamos os conceitos de tipo textual gecircnero textual e

domiacutenio discursivo segundo Marcuschi (2008) levando em consideraccedilatildeo a possibilidade de

se obter melhor entendimento no trato com o texto em si e seus fenocircmenos

O tipo textual eacute definido pelos aspectos linguiacutesticos ou seja por marcas lexicais

tempos verbais estilo relaccedilotildees loacutegicas e aspectos sintaacuteticos Logo relaciona-se mais agraves

sequecircncias linguiacutesticas do que a materializaccedilotildees textuais fazendo com que o conjunto

tipoloacutegico de textos seja limitado e natildeo apresente tendecircncias de aumentar Marcuschi (2002

p22) afirma que os tipos textuais compreendem categorias amplamente conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo exposiccedilatildeo descriccedilatildeo e injunccedilatildeo que observaremos separadamente a

seguir

A narraccedilatildeo relata um fato que pode ser real ou imaginaacuterio em um tempo e lugar

definidos envolvendo personagens Nesse tipo de texto o tempo verbal predominante eacute o

passado ao menos nos exemplos mais tiacutepicos Eacute predominante em crocircnicas piadas

romances poemas faacutebulas entre outros Vejamos o exemplo a seguir

O cavalo e o burro

O cavalo e o burro seguiam juntos para a cidade O cavalo contente da vida

folgando com uma carga de quatro arrobas apenas e o burro mdash coitado gemendo

sob o peso de oito Em certo ponto o burro parou e disse

ndash Natildeo posso mais Esta carga excede agraves minhas forccedilas e o remeacutedio eacute repartirmos o

peso irmatildemente seis arrobas para cada um

O cavalo deu um pinote e relichou uma gargalhada

ndash Ingecircnuo Quer entatildeo que eu arque com seis arrobas quando posso tatildeo bem

continuar com as quatro Tenho cara de tolo

O burro gemeu

ndash Egoiacutesta Lembre-se que se eu morrer vocecirc teraacute que seguir com a carga de quatro

arrobas e mais a minha

O cavalo pilheriou de novo e a coisa ficou por isso Logo adiante poreacutem o burro

tropica vem ao chatildeo e rebenta

Chegam os tropeiros maldizem a sorte e sem demora arrumam com as oito arrobas

do burro sobre as quatro do cavalo egoiacutesta E como o cavalo refuga datildeo-lhe de

chicote em cima sem doacute nem piedade

ndash Bem feito exclamou o papagaio Quem mandou ser mais burro que o pobre burro

e natildeo compreender que o verdadeiro egoiacutesmo era aliviaacute-lo da carga em excesso

Tome Gema dobrado agorahellip

(LOBATO M 2010 p 85)

Acima podemos observar um exemplo de narraccedilatildeo que eacute uma das faacutebulas de

Monteiro Lobato escrita em grande parte em discurso direto Podemos observar na faacutebula

que o texto eacute conduzido pelo narrador intercalado pela interaccedilatildeo dos personagens A seguir

22

continuaremos a descriccedilatildeo dos tipos textuais e exemplos com o conceito do tipo textual

argumentativo

Jaacute a argumentaccedilatildeo tem por principal caracteriacutestica a construccedilatildeo do convencimento

acerca da validade ou invalidade de um ponto de vista por sobre outro Nesse tipo de texto haacute

a reflexatildeo sobre temas especiacuteficos confrontando perspectivas distintas predominante em

gecircneros como debates resenhas editoriais artigos de opiniatildeo e afins Vejamos o exemplo a

seguir

O povo brasileiro estaacute cansado de tanta corrupccedilatildeo desigualdade de renda serviccedilos

puacuteblicos precaacuterios sensaccedilatildeo de inseguranccedila nas ruas elevada carga tributaacuteria

ineficiecircncia nos gastos puacuteblicos e elevaccedilatildeo da inflaccedilatildeo aleacutem do estilo autoritaacuterio e

inflexiacutevel da presidente O estranho eacute pensar sobre as razotildees que levaram a

populaccedilatildeo agraves ruas no momento atual em que a economia apresentou uma

significativa evoluccedilatildeo em relaccedilatildeo aos anos 80 e 90 aleacutem de presenciar sensiacutevel

melhora na renda meacutedia e na sua distribuiccedilatildeo nos anos 2000

A minha impressatildeo eacute de que depois de sentir a possibilidade de que o paiacutes entraria

em uma rota segura de crescimento da renda e de desenvolvimento econocircmico

(semelhante agrave sensaccedilatildeo que a populaccedilatildeo brasileira presenciou nos anos 70) o

enfraquecimento econocircmico e os sinais cada vez mais claros de que ele eacute resultante

de problemas internos deixaram a populaccedilatildeo transtornada Mais uma vez somos

apenas o paiacutes do futuro (NAKABASHI 2013 Acesso

httpwwwgazetadopovocombropiniaoartigosmanifestacoes-e-governo-no-

brasil-bdcjgu3mm6ql5e18tqoj73c5q)

Observamos acima uma parte de um artigo de opiniatildeo publicado no jornal Gazeta do

Povo em 02072013 por Luciano Nakabashi que trata das manifestaccedilotildees e do governo no

Brasil O autor anuncia primeiro o problema que vai discutir e em seguida lanccedila sua opiniatildeo

sobre o tema o que faz com que esse tipo de texto seja distinto da exposiccedilatildeo que

abordaremos a seguir

A exposiccedilatildeo apresenta informaccedilotildees sobre acontecimentos materiais e objetos de

forma detalhada e especiacutefica e por isso costuma lanccedilar matildeo de recursos como a descriccedilatildeo

informaccedilatildeo enumeraccedilatildeo comparaccedilatildeo e contrastes O tipo expositivo eacute caracteriacutestico de

gecircneros como as aulas expositivas verbetes de dicionaacuterios notiacutecias jornaliacutesticas entre

outros Vejamos o exemplo

Dianoia Termo grego que pode ser traduzido por pensamento intelecto

espiacuterito A dianoia eacute o pensamento discursivo enquanto elaboraccedilatildeo explicitaccedilatildeo

ou desenvolvimento da noese ou nous isto eacute da razatildeo intuitiva que capta de

modo imediato o real (Aristoacuteteles Tratado da alma III) Neste sentido a dianoia eacute

inferior ao nous jaacute que depende deste (MARCONDES e JAPIASSUacute 2001 p54)

23

Tomamos como exemplo de exposiccedilatildeo um verbete de um dicionaacuterio de filosofia

Podemos observar que os autores apresentam a palavra ―dianoia e em seguida conceituam a

dianoia a partir da perspectiva de um filoacutesofo especiacutefico (neste caso Aristoacuteteles)

O tipo textual descriccedilatildeo por sua vez eacute o relato particular de eventos e entidades e se

relaciona comumente com outros tipos em inuacutemeros gecircneros textuais Eacute caracteriacutestico em

cartazes promocionais anuacutencio de classificados entre outros Vamos observar agora um

exemplo de descriccedilatildeo atraveacutes da anaacutelise de uma obra de arte de Salvador Dali de 1955

intitulada ―A uacuteltima ceia

―Sua cena estaacute contida num retacircngulo Uma imensa janela ao fundo representada

por um dodecaedro (figura geomeacutetrica de 12 lados que sua vez satildeo pentaacutegonos ou

seja possuem cinco acircngulos cada um) domina toda a composiccedilatildeo

Jesus Cristo e seus 12 apoacutestolos estatildeo reunidos numa sala moderna envidraccedilada

Ele ocupa o centro da mesa de pedra o centro da tela e o centro do pentaacutegono

frontal do dodecaedro Cristo estaacute de frente para o observador contudo seu corpo

transluacutecido permite ver o mar e um barco o que indica que ele natildeo mais eacute humano

mas divino A sensaccedilatildeo que temos eacute de que seu corpo emerge de dentro do mar

Diante de Cristo sobre a mesa estatildeo um copo com vinho e as duas bandas do patildeo

jaacute repartido o que nos permite concluir que Daliacute pintou o momento da Eucaristia A

presenccedila dos barcos no mar remete aos ―pescadores de homens

A mesa eacute formada por um bloco retangular Doze apoacutestolos debruccedilam-se sobre ela

sendo trecircs agrave esquerda de Cristo e trecircs agrave direita Nas suas extremidades estatildeo quatro

apoacutestolos sendo dois de cada lado De costa para o observador estatildeo mais dois

deles Todos estatildeo com as cabeccedilas baixas Um dos apoacutestolos diverge dos demais ao

usar uma toga amarela O pintor queria com certeza diferenciaacute-lo Portanto tanto

pode ser Pedro o fundador da Igreja ou Judas o traidor

No alto com a cabeccedila invisiacutevel e com parte do tronco visiacutevel e os braccedilos abertos

Deus Pai humanizado abraccedila toda a cena como se aguardasse a chegada do Filho

que se encontra entre os homens Ao fundo um mar tranquilo com rochas

espalhadas e um ceacuteu cheio de nuvens compotildeem o segundo plano da tela (Viacuterus da

arte amp cia ndash Site brasileiro especializado em arte e cultura Disponiacutevel em

httpvirusdaartenetdali-a-ultima-ceia)

Acima podemos observar a descriccedilatildeo de uma obra de arte do pintor catalatildeo Salvador

dali retirado de uma paacutegina sobre arte Como o nome do tipo textual sugere a descriccedilatildeo tem

por objetivo descrever fatos mas tambeacutem caracteriacutesticas para objetos paisagens e situaccedilotildees

diversas No exemplo que utilizamos para descriccedilatildeo observamos a descriccedilatildeo de uma obra de

arte por parte de um espectador demonstrando detalhes do que estaacute impresso na pintura

assim como uma interpretaccedilatildeo da cena

O uacuteltimo tipo textual que consideraremos aqui eacute o tipo injuntivo que tem por objetivo

instruir o leitor ou persuadi-lo a fazer algo ou adotar algum ponto de vista Tambeacutem tem

como caracteriacutestica a induccedilatildeo do interlocutor a proceder de uma ou outra forma Geralmente

24

eacute escrito no modo imperativo e eacute caracteriacutestico de gecircneros como a bula de remeacutedio os

manuais de instruccedilotildees receitas culinaacuterias e contratos Vale ressaltar que dentro dos textos

injuntivos podem-se encontrar outros tipos de texto como por exemplo descriccedilotildees de

objetos endereccedilos procedimentos etc Vejamos o exemplo a seguir

Bolo simples

Tempo de preparo 40 minutos

Rendimento 12 porccedilotildees

Ingredientes

2 xiacutecaras de accediluacutecar

3 xiacutecaras de farinha de trigo

4 colheres de margarina bem cheias

3 ovos

1 frac12 xiacutecara de leite aproximadamente

1 colher (sopa) de fermento bem cheia

Modo de preparo

1) Bata as claras em neve

2) Reserve

3) Bata bem as gemas com a margarina e o accediluacutecar

4) Acrescente o leite e a farinha aos poucos sem parar de bater

5) Por uacuteltimo agregue as claras em neve e o fermento

6) Coloque em forma grande de furo central untada e enfarinhada

7) Asse em forno meacutedio preacute-aquecido por aproximadamente 40 minutos

8) Quando espetar um palito e sair limpo estaraacute assado

(httpwwwtudogostosocombrreceita29124-bolo-simpleshtml Acesso em

20042014)

No exemplo uma receita culinaacuteria podemos observar que haacute descriccedilatildeo na primeira

parte (a lista de ingredientes) e na segunda parte (modo de preparo) que eacute a mais

nitidamente injuntiva encontramos instruccedilotildees de como proceder na execuccedilatildeo da receita

Aleacutem da classificaccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo dos tipos de texto eacute interessante observarmos

tambeacutem a definiccedilatildeo de gecircneros textuais e domiacutenio discursivo conforme Marcuschi (2008)

Os gecircneros textuais satildeo definidos como ―textos materializados em situaccedilotildees

comunicativas recorrentes (MARCUSCHI 2008 p155) que apresentam caracteriacutesticas

soacutecio-comunicativas marcadas pelos conteuacutedos e pelas propriedades referentes agraves funccedilotildees e

composiccedilatildeo Diferente dos tipos textuais que se restringem a cerca de meia duacutezia como

afirma Marcuschi (2008) ―os gecircneros satildeo inuacutemeros Tambeacutem haacute de ressaltar que satildeo

culturalmente e historicamente formados visto que evoluem no mesmo passo que as

comunidades

O domiacutenio discursivo por sua vez eacute a esfera de atividade humana em que os textos

circulam Ele natildeo eacute um texto em si mas proporciona o surgimento de discursos especiacuteficos

Para ilustrar podemos citar alguns domiacutenios como discurso religioso discurso juriacutedico etc

25

O domiacutenio eacute constituiacutedo por praacuteticas do discurso nas quais podemos identificar uma seacuterie de

gecircneros que possuem a mesma proposta discursiva como o tema e as praacuteticas institucionais

ou informais

As definiccedilotildees aqui trazidas de gecircnero tipo domiacutenio discursivo satildeo muito mais

operacionais do que formais e seguem de perto a posiccedilatildeo bakhtiniana Assim para a

noccedilatildeo de tipo textual predomina a identificaccedilatildeo de sequecircncias linguiacutesticas como

norteadora e para a noccedilatildeo de gecircnero textual predominamos criteacuterios de padrotildees

comunicativos accedilotildees propoacutesitos e inserccedilatildeo sociohistoacuterica No caso dos domiacutenios

discursivos natildeo lidamos propriamente com textos e sim com formaccedilotildees histoacutericas e

sociais que originam os discursos Eles ainda natildeo se acham bem definidos e

oferecem alguma resistecircncia mas seguramente sua definiccedilatildeo deveria ser na base de

criteacuterios etnograacuteficos antropoloacutegicos e socioloacutegicos e histoacutericos (MARCUSCHI

2008 p 158 Grifos do autor)

Nessa perspectiva faz-se necessaacuterio apresentarmos o papel dos gecircneros textuais como

controle social Como jaacute vimos anteriormente segundo Bakhtin (2000) toda atividade

discursiva humana se daacute atraveacutes de algum gecircnero e eacute tambeacutem por esse motivo que haacute uma

consideraacutevel pluralidade de gecircneros Marcuschi (2008) afirma que os gecircneros satildeo

―necessaacuterios para a interlocuccedilatildeo humana Assim para cada esfera de atividade humana

certos gecircneros especiacuteficos satildeo considerados mais ou menos adequados Na esfera

empresarial por exemplo temos que nos adequar agraves formalidades dos gecircneros de redaccedilatildeo

oficial como os ofiacutecios atas circulares e relatoacuterios Na academia apresentamos nossas

produccedilotildees atraveacutes de dissertaccedilotildees artigos cientiacuteficos teses e relatoacuterios de projetos No meio

publicitaacuterio encontramos as propagandas anuacutencios de diversos tipos Enfim satildeo inuacutemeras as

esferas de discurso domiacutenios discursivos e gecircneros textuais atrelados a estes

Marcuschi (2008) enfatiza que o controle social por gecircneros discursivos eacute

incontornaacutevel mas natildeo determinista De acordo com o autor noacutes temos liberdade para nos

expressarmos em qualquer esfera discursiva Poreacutem temos que admitir que a sociedade eacute

constituiacuteda por uma ―maacutequina discursiva logo somos moldados a ela de forma intuitiva e

os gecircneros textuais constituem um poderoso instrumento desta maacutequina Quanto maior a

nossa inserccedilatildeo na sociedade maior o controle social Por exemplo natildeo satildeo todas as pessoas

que podem expedir um mandato de seguranccedila escrever uma dissertaccedilatildeo de mestrado

ministrar uma aula de fiacutesica quacircntica ou publicar uma coluna em um jornal Eacute nessa

perspectiva que Marcuschi (2008) afirma veemente o direcionamento dos gecircneros textuais

para com o envolvimento social e suas especificidades

26

A partir das consideraccedilotildees apresentadas a respeito dos gecircneros textuais dedicamos a

seccedilatildeo a seguir para a caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual

conforme relatamos na introduccedilatildeo deste capiacutetulo

12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL

O certificado de garantia ou termo de garantia eacute um documento oferecido por

prestadoras de serviccedilos fabricantes de produtos diversos ou de qualquer outro segmento que

envolva comercializaccedilatildeo de bens duraacuteveis com a funccedilatildeo de formalizar os direitos e deveres

do consumidor e do fabricante para com o estado fiacutesico e funcional do produto em vista de

problemas de qualquer natureza

Eacute tambeacutem uma espeacutecie de contrato visto que consiste fundamentalmente na

combinaccedilatildeo de interesses de partes sobre algo Aleacutem de ―certificado de garantia

utilizaremos tambeacutem a nomenclatura ―termo de garantia tendo em vista que o documento

do certificado de garantia e o termo em si estatildeo internamente ligados A expressatildeo ―termo de

garantia eacute usada no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20

de marccedilo de 1997

Art 50 A garantia contratual eacute complementar agrave legal e seraacute conferida mediante

termo escrito

Paraacutegrafo uacutenico O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e

esclarecer de maneira adequada em que consiste a mesma garantia bem como a

forma o prazo e o lugar em que pode ser exercitada e os ocircnus a cargo do

consumidor devendo ser-lhe entregue devidamente preenchido pelo fornecedor no

ato do fornecimento acompanhado de manual de instruccedilatildeo de instalaccedilatildeo e uso de

produto em linguagem didaacutetica com ilustraccedilotildees (Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do

Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20 de marccedilo de 1997 p 30)

Em linhas gerais o documento eacute composto por quatro partes garantia contratual

garantia legal condiccedilotildees para validade da garantia contratual e legal condiccedilotildees natildeo cobertas

pela garantia legal e contratual Vejamos um exemplo de certificado de garantia

27

ILUSTRACcedilAtildeO 1 Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario

_de_ar_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Observamos na primeira parte a disposiccedilatildeo da garantia contratual ou seja a garantia

oferecida pelo fabricante

28

ILUSTRACcedilAtildeO 2 Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar

_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Na segunda parte encontramos a disposiccedilatildeo da garantia legal ou seja a garantia

assegurada pelo Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do consumidor

ILUSTRACcedilAtildeO 3 Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c

ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Em seguida vemos as condiccedilotildees de validade da garantia legal e contratual composta

por uma lista exaustiva de itens a serem considerados

29

ILUSTRACcedilAtildeO 4 Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c

ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

E por fim encontramos as condiccedilotildees natildeo cobertas pela garantia legal e contratual

assim como observaccedilotildees gerais

ILUSTRACcedilAtildeO 5 Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar

_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Em relaccedilatildeo agrave estrutura padratildeo dos certificados de garantia a partir do corpus

analisado nesta pesquisa observou-se que o texto que se refere agrave garantia em si corresponde a

menos da metade do documento Grande parte do documento se dedica agrave restriccedilatildeo de

possibilidades de cobertura assim como observaccedilotildees gerais quanto agraves responsabilidades do

fabricante diante de situaccedilotildees como despesas referentes agrave locomoccedilatildeo para depoacutesito do

produto para assistecircncia documentaccedilatildeo necessaacuteria para apresentaccedilatildeo na assistecircncia etc

30

O termo de garantia eacute vinculado diretamente ao Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do

consumidor O coacutedigo estabelece um padratildeo abrangente de formulaccedilatildeo do documento

constando recomendaccedilotildees como o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo necessidade do

acompanhamento do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto assim como clareza na

disposiccedilatildeo dos prazos de garantia legal e contratual

Como discutimos na primeira parte desse capiacutetulo Bakhtin (2000) propotildee que trecircs

dimensotildees constituem os gecircneros de discurso conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo

composicional Iremos a seguir apresentar como estas dimensotildees satildeo percebidas nesse

gecircnero textual

Como conteuacutedo temaacutetico do gecircnero certificado de garantia temos a veiculaccedilatildeo de

direitos e deveres do fabricante e do consumidor O documento apresenta listas exaustivas de

accedilotildees que possibilitam ou natildeo o uso do termo de garantia assim como instruccedilotildees gerais para

a realizaccedilatildeo desse ato Esse conteuacutedo pode variar em parte e apenas questotildees referentes agrave

garantia legal natildeo podem mudar pois estaacute prevista no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do

Consumidor

Em relaccedilatildeo ao estilo observamos nos certificados a utilizaccedilatildeo da norma padratildeo

Busca-se construir um texto claro e objetivo para que dessa forma natildeo haja problemas de

interpretaccedilatildeo para o consumidor Nesse gecircnero natildeo haacute identificaccedilatildeo de quem escreve de

maneira particular como observamos em gecircneros do tipo carta A identificaccedilatildeo do autor eacute

geralmente atribuiacuteda agrave empresa que oferece a garantia O estilo individual que eacute

caracteriacutestico em diversos gecircneros como o artigo de opiniatildeo e cartas pessoais natildeo cabe para

os certificados Como se trata de um texto instrucional esse gecircnero apresenta-se de forma

objetiva de modo que natildeo haacute a necessidade praacutetica da identificaccedilatildeo de quem escreve

Quanto agrave estrutura composicional em linhas gerais tal gecircnero segue uma sequecircncia

de apresentaccedilatildeo em duas etapas Em um primeiro momento apresenta-se o termo de garantia

em si no qual eacute descrito o direito do consumidor em relaccedilatildeo agrave garantia assim como sua

validade No segundo momento parte mais extensa do texto haacute a apresentaccedilatildeo de listas

supostamente exaustivas referentes aos casos que natildeo satildeo cobertos pela garantia assim como

as instruccedilotildees gerais para o reclame do direito Essa sequecircncia de apresentaccedilatildeo do documento

eacute variaacutevel Haacute certificados que satildeo inclusos no manual de instruccedilatildeo do produto (geralmente

na uacuteltima paacutegina) Haacute certificados que satildeo destacados o documento eacute apresentado agrave parte de

qualquer outro texto

Se retomarmos a classificaccedilatildeo dos gecircneros do discurso de Bakhtin (2000) entre

primaacuterios (simples) e secundaacuterios (complexos) podemos considerar que o certificado de

31

garantia estaacute inserido nos gecircneros complexos pois se trata de um documento elaborado de

forma sistemaacutetica no qual haacute necessidade de um aprofundamento social complexo com

caracterizaccedilotildees e descriccedilotildees bem delimitadas

Quanto ao tipo de texto dentro do que foi proposto por Marcuschi (2008) o

certificado de garantia se enquadra no tipo injuntivo porque eacute um texto instrucional com

predominacircncia do modo imperativo nas frases e eacute composto pela listagem de uma seacuterie de

procedimentos a serem observados e seguidos com listas exaustivas contendo direitos e

deveres do fabricante e do consumidor O objetivo do documento eacute oferecer ao cliente todas

as informaccedilotildees relacionadas agrave validade da garantia os casos em que haacute perda da validade e os

casos em que os problemas apresentados se enquadram como defeitos de fabricaccedilatildeo

O certificado de garantia se caracteriza como um gecircnero textual a partir da

perspectiva de Marcuschi (2008) pois eacute um texto que possui caracteriacutesticas soacutecio-discursivas

bem delimitadas com conteuacutedo padratildeo obedecendo a uma mesma linha temaacutetica e foi

constituiacutedo socialmente O gecircnero foi criado a partir da necessidade juriacutedica de resguardar os

fabricantes e consumidores de produtos industrializados e afins quanto agrave possibilidade de

apresentaccedilatildeo de defeitos ou falhas

De posse dos conhecimentos gerais sobre os gecircneros textuais que apresentamos e da

caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual partiremos no proacuteximo

capiacutetulo para a apresentaccedilatildeo das teorias que serviratildeo de aporte teoacuterico para a compreensatildeo

das anaacutelises realizadas no capiacutetulo 3

32

2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS

Neste capiacutetulo tratamos dos nexos semacircnticos ou ―nexos de significado dos quais

consideramos para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica

contraditoriedade e contrariedade Caracterizamos cada um deles utilizando exemplos em

linguagem natural com o intuito de demonstrar o funcionamento dessas relaccedilotildees assim como

mostrar quando tais exemplos deixam de apresentar o nexo Nosso intuito final eacute de oferecer

uma base para a compreensatildeo das anaacutelises que viratildeo no capiacutetulo posterior

Para entendermos melhor o que satildeo os nexos semacircnticos devemos compreender a

distinccedilatildeo entre a semacircntica e a pragmaacutetica que satildeo linhas de estudos linguiacutesticos inter-

relacionaacuteveis Uma definiccedilatildeo bastante difundida da semacircntica e tambeacutem bastante geral eacute

encontrada em Trask (2004 p 261) que diz que a semacircntica eacute o ramo da linguiacutestica que

estuda o significado e em Chierchia (2003 p 7) para quem a semacircntica eacute um estudo do

significado das expressotildees das liacutenguas naturais Podemos tambeacutem caracterizar a semacircntica

destacando a relaccedilatildeo do usuaacuterio da liacutengua e o significado que ele atribuiu agraves palavras que

compotildeem sentenccedilas como propotildee Pires de Oliveira (2001 p 42) Jaacute a pragmaacutetica por outro

lado tambeacutem estuda o significado das liacutenguas naturais mas trata das intenccedilotildees que os

falantes supostamente revelam a partir do uso de sentenccedilas

Para o termo ―pragmaacutetica haacute diversas possibilidades de definiccedilatildeo Levinson (2007)

procura mostrar as implicaccedilotildees que algumas definiccedilotildees podem ter em relaccedilatildeo a outros

estudos Assim podemos citar pelo menos dois conceitos de pragmaacutetica para Levinson

―pragmaacutetica eacute o estudo de todos os aspectos do significado natildeo capturados em uma teoria

semacircntica (Levinson 2007 p14) assim como ―pragmaacutetica eacute o estudo das relaccedilotildees entre

liacutengua e contexto que satildeo gramaticalizadas ou codificadas na estrutura de um liacutengua

(Levinson 2007 p 11) Podemos perceber que nessas duas definiccedilotildees Levinson tanto atribui

agrave pragmaacutetica a responsabilidade sobre aquilo que estaacute aleacutem da semacircntica quanto destaca a

relaccedilatildeo de liacutengua e contexto Jaacute em Wilson (2008) encontramos as definiccedilotildees que Yule

(1996) apresenta para a pragmaacutetica

a) pragmaacutetica eacute o estudo do significado sob o ponto de vista do falante b)

pragmaacutetica eacute o estudo do significado contextual (isto eacute leva em conta o modo como

os falantes organizam seus enunciados aquilo que eles querem dizer de acordo com

os seguintes fatores a quem vatildeo dizer como vatildeo dizer onde e quando vatildeo dizer e

sob que circunstacircncias) c) pragmaacutetica eacute o estudo do como se diz aleacutem daquilo que eacute

33

dito (isto eacute o estudo do significado subjacente do natildeo dito d) pragmaacutetica eacute o

estudo da expressatildeo da proximidadedistanciamento relativo (isto eacute de acordo com

o tipo de proximidade fiacutesica social ou conceitual em relaccedilatildeo aos ouvintes os

falantes determinam como e quanto precisam dizer) (WILSON 2008 p 89)

A discussatildeo sobre as definiccedilotildees de pragmaacutetica e semacircntica e suas distinccedilotildees vem

desde o iniacutecio do seacuteculo XX e muitos autores contribuiacuteram para a evoluccedilatildeo desses conceitos

Em vista desta histoacuterica discussatildeo apresentaremos os conceitos de Charles Morris e Rudolf

Carnap para estas disciplinas linguiacutesticas

Segundo a definiccedilatildeo de Charles Morris (1938) pragmaacutetica eacute o estudo da ―relaccedilatildeo dos

signos com seus inteacuterpretes Jaacute para Rudolf Carnap (1938) a pragmaacutetica eacute o estudo da

linguagem em relaccedilatildeo aos seus falantes Diante dos conceitos de semacircntica e pragmaacutetica que

apresentamos e da distinccedilatildeo entre as linhas de estudos linguiacutesticos Marcondes (2000) afirma

que ―tanto a definiccedilatildeo de Morris quanto a de Carnap fazem parte da jaacute consagrada distinccedilatildeo

geral do campo de estudos da linguagem entre pragmaacutetica que considera a linguagem em

seu uso concreto e semacircntica que examina os signos linguiacutesticos em sua relaccedilatildeo com os

objetos que designam ou a quem se refere Os nexos semacircnticos estatildeo inseridos no campo da

semacircntica e voltaremos a este ponto no final do capiacutetulo

Sobre as relaccedilotildees semacircnticas haacute diversas perspectivas nos estudos linguiacutesticos A

forma como combinamos as palavras e nossa tendecircncia em buscar um conceito fixo de um

termo satildeo complicaccedilotildees que podem dificultar o uso da liacutengua O significado linguiacutestico das

liacutenguas naturais segundo Basso (2009) possibilita nexos semacircnticos entre sentenccedilas E

ainda sobre o significado Basso propotildee

Quando perguntamos o significado de alguma palavra muitas vezes buscamos

aquele modelo significativo presente nos dicionaacuterios Poreacutem natildeo haacute no dicionaacuterio

maneiras preacute-estabelecidas de como uma palavra pode se combinar com outra em

busca da trama de significados dos nexos que favorecem infinitas interpretaccedilotildees

Essas combinaccedilotildees satildeo decorrentes do proacuteprio uso da liacutengua pelos seus falantes

mas natildeo estatildeo nem presentes nos dicionaacuterios nem tampouco algueacutem nos ensina satildeo

conhecimentos impliacutecitos Uma aacuterea da linguiacutestica moderna defende que o nosso

conhecimento semacircntico e um dote geneacutetico portanto os possiacuteveis nexos

semacircnticos satildeo decorrentes de uma capacidade inata de combinaccedilatildeo de palavras e

sentenccedilas parte do conhecimento semacircntico impliacutecito ou competecircncia semacircntica

(BASSO 2009 p 25)

Os nexos semacircnticos satildeo caracterizados na literatura da semacircntica como grupos de

relaccedilotildees de inferecircncia muito estaacuteveis direcionaacuteveis e fortemente dependentes do material

34

linguiacutestico dos enunciados (SANTOS 2012) Essas relaccedilotildees diferem de perspectivas de

inferecircncias como a pressuposiccedilatildeo e a implicatura que dialogam diretamente com o natildeo-dito

Para contrastar os nexos com esses outros tipos de relaccedilatildeo vamos observar os exemplos a

seguir

(1) Carlos parou de beber refrigerante

(2) A tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio

Seguindo a mesma linha de exposiccedilatildeo de Moura (1999 p 12) a partir das duas

sentenccedilas acima observamos dois niacuteveis nas informaccedilotildees veiculadas No primeiro niacutevel

temos contato com o sentido literal das palavras Dessa forma em (1) temos a informaccedilatildeo de

Carlos natildeo toma mais refrigerantes e em (2) que Maacuterio escreveu uma tese sobre bolhas de

sabatildeo No segundo niacutevel atraveacutes da enunciaccedilatildeo das sentenccedilas somos levados a considerar

informaccedilotildees que natildeo estatildeo afirmadas literalmente nas sentenccedilas Dessa forma a partir de (1)

podemos inferir que Carlos bebia refrigerantes antes e em (2) que uma tese sobre bolhas de

sabatildeo jaacute foi escrita Ducrot (1987) denomina de conteuacutedo posto o primeiro niacutevel que

consiste no conteuacutedo literal das sentenccedilas e de conteuacutedo pressuposto ou pressuposiccedilatildeo o

segundo niacutevel que abarca as inferecircncias que podemos fazer a partir da enunciaccedilatildeo das

sentenccedilas Devemos entender que o conteuacutedo posto depende do conteuacutedo pressuposto pois a

aceitaccedilatildeo do primeiro leva a aceitaccedilatildeo do segundo Para que possamos aceitar a verdade do

posto (1) que diz que Carlos parou de beber refrigerante temos que aceitar a verdade

pressuposta de que Carlos jaacute tinha bebido refrigerante antes

Outra relaccedilatildeo semacircntica que dialoga diretamente com o natildeo-dito eacute a implicatura

Grice (1987) propotildee dois tipos de implicaturas as implicaturas convencionais que natildeo satildeo

sujeitas a condiccedilotildees de verdade e as implicaturas conversacionais que natildeo dependem

diretamente da significaccedilatildeo usual das palavras sendo determinadas por certos princiacutepios

baacutesicos do ato comunicativo

As implicaturas convencionais satildeo inferecircncias natildeo sujeitas a condiccedilotildees de verdade

natildeo satildeo derivadas de princiacutepios pragmaacuteticos mais gerais como as maacuteximas conversacionais

mas satildeo simplesmente ligadas pela convenccedilatildeo a itens ou expressotildees lexicais especiacuteficos

Levinson (2007) toma a implicatura conversacional como uma das ideias mais

importantes da pragmaacutetica e vamos considerar neste trabalho apenas as implicaturas do tipo

conversacional de forma que quando mencionarmos o termo implicatura devemos entender

que estamos falando das implicaturas conversacionais e natildeo das convencionais

35

Para exemplificar uma implicatura vamos supor uma situaccedilatildeo entre dois amigos em

que ao dialogar sobre as uacuteltimas defesas de teses e dissertaccedilotildees do departamento de poacutes-

graduaccedilatildeo deparam-se com a notiacutecia de que um de seus colegas escreveu uma tese sobre um

tema muito irrelevante e nada original Diante desta situaccedilatildeo um amigo disse para o outro ―A

tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio A partir da situaccedilatildeo em que os dois amigos

estavam imersos nesse contexto e da sentenccedila utilizada por um dos amigos podemos inferir

que foi Maacuterio quem escreveu uma tese sobre um tema irrelevante Podemos perceber neste

exemplo que como descrito nas definiccedilotildees que trouxemos anteriormente a implicatura por

ser uma relaccedilatildeo puramente pragmaacutetica utiliza-se do natildeo-dito e de situaccedilotildees convencionadas

entre falantes para poder existir

Dessa forma podemos retomar o que foi exposto nos paraacutegrafos anteriores afirmando

que os nexos semacircnticos as pressuposiccedilotildees e as implicaturas satildeo inferecircncias de significado

sendo que os nexos estatildeo no campo da semacircntica e as pressuposiccedilotildees e implicaturas estatildeo no

campo da pragmaacutetica

A partir deste ponto iremos descrever os nexos semacircnticos com exemplos mostrando

como essas relaccedilotildees funcionam e tambeacutem casos em que a interpretaccedilatildeo natildeo acontece da

maneira esperada Em relaccedilatildeo aos casos em que a interpretaccedilatildeo eacute prejudicada trataremos de

casos relacionados com a ambiguidade lexical mais especificamente com vagueza e casos

relacionados com a polissemia (desconsiderando seus limites com a homoniacutemia)

21 ACARRETAMENTO

Em linhas gerais o acarretamento ocorre quando a verdade de um conjunto de

sentenccedilas1 que nomearemos de A garante a verdade de outra sentenccedila que nomearemos de

B Dessa forma a verdade da primeira sentenccedila ou do conjunto delas autoriza a verdade de B

(CHIERCHIA 2003) O acarretamento eacute uma inferecircncia que os falantes estatildeo autorizados a

fazer e o que os autoriza eacute o conhecimento linguiacutestico Vamos observar o exemplo a seguir

1 Em nosso trabalho utilizaremos os termo ldquosentenccedilardquo e ldquoproposiccedilatildeordquo intercambiavelmente Alguns autores

definem os dois termos de formas distintas Por exemplo na semacircntica contemporacircnea de mundos possiacuteveis desenvolvida por autores como por exemplo Kripke e Lewis define-se proposiccedilatildeo como a classe de todos os mundos possiacuteveis nas quais ela eacute verdadeira Murcho (2006) apresenta dois exemplos para distinguir proposiccedilotildees e sentenccedilas ldquoSoacutecrates era um filoacutesofordquo e ldquoSocrates was a philosopherrdquo Murcho afirma que os dois exemplos satildeo duas sentenccedilas que exprimem uma uacutenica proposiccedilatildeo Outros como Mortari (2001) natildeo distinguem proposiccedilotildees e sentenccedilas

36

(3) alsquo Neymar eacute brasileiro

a Neymar eacute um jogador de futebol

b Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro

Podemos observar no exemplo acima que a sentenccedila (3b) tem a sua verdade garantida

pela verdade de (3alsquo) e (3a) Sendo assim (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Podemos observar

no exemplo que o acarretamento eacute bastante claro pois as informaccedilotildees que estatildeo presentes em

(3b) satildeo a soma das informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) Eacute interessante destacar

que para que a sentenccedila (3b) constitua um acarretamento de (3alsquo) e (3a) natildeo precisamos

conhecer a pessoa Neymar nem sua nacionalidade eou profissatildeo Como as informaccedilotildees

estatildeo postas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) a verdade de (3b) eacute inevitaacutevel Mesmo que no mundo

real Neymar natildeo fosse jogador de futebol e natildeo fosse brasileiro isso em nada modificaria o

acarretamento pois dentro da relaccedilatildeo estabelecida entre (3alsquo) (3a) e (3b) as informaccedilotildees

contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Vejamos o exemplo a seguir

(4) alsquo Todos os sacis tecircm apenas uma perna

a Denis Diderot eacute um saci

b Denis Diderot tem apenas uma perna

Observando o exemplo acima identificamos que em relaccedilatildeo ao conhecimento de

mundo a sentenccedila (4alsquo) eacute verdadeira jaacute que no folclore admitimos como uma caracteriacutestica

dos sacis ter apenas uma perna A sentenccedila (4a) eacute falsa pois Denis Diderot foi um filoacutesofo e

escritor francecircs e natildeo um saci Por fim a sentenccedila (4b) tambeacutem eacute falsa em relaccedilatildeo ao nosso

conhecimento de mundo pois Denis Diderot possuiu durante toda a sua vida as duas pernas

Podemos entatildeo admitir que as sentenccedilas do conjunto (4) em relaccedilatildeo ao nosso conhecimento

de mundo satildeo falsas Mesmo assim o conjunto eacute um acarretamento Diferente do exemplo

(3) em que trouxemos sentenccedilas que constituiacuteam um acarretamento com informaccedilotildees

verdadeiras em relaccedilatildeo ao mundo o exemplo (4) mostra que a relaccedilatildeo semacircntica que estamos

discutindo independe da verdade das informaccedilotildees das sentenccedilas no mundo O que o

acarretamento faz eacute concatenar as sentenccedilas de uma forma que se as premissas forem

verdadeiras a conclusatildeo tambeacutem seraacute verdadeira O acarretamento depende exclusivamente

37

da forma em que as sentenccedilas se apresentam Tendo em vista que a relaccedilatildeo depende apenas

da forma podemos representar o acarretamento da seguinte maneira como propotildee Soares

(2003)

Em liacutengua natural

Se estudar entatildeo serei aprovado (1ordf premissa)

Ora estudei (2ordf premissa)

Logo fui aprovado (Conclusatildeo)

E simbolizando2

a rarr b (1ordf premissa)

a (2ordf premissa)

b (Conclusatildeo)

Vale ressaltar que ao utilizarmos o termo ―sentenccedila estamos nos referindo ao que os

gramaacuteticos costumam chamar de oraccedilatildeo Tambeacutem eacute interessante mencionar que o

acarretamento eacute chamado de consequecircncia semacircntica Iremos utilizar como representaccedilatildeo das

premissas sentenccedilas do tipo (Xalsquo) e (Xa) e para a conclusatildeo sentenccedilas do tipo (Xb)

Podemos entender que o acarretamento eacute um tipo de relaccedilatildeo estabelecida entre

premissas e a consequecircncia de forma que a verdade das premissas determina a verdade da

consequecircncia Tambeacutem devemos entender que natildeo eacute possiacutevel que as premissas sejam

verdadeiras junto da negaccedilatildeo da conclusatildeo pelo fato de que dessa forma estaria

descaracterizada a relaccedilatildeo de acarretamento

Como ressaltamos acima os acarretamentos satildeo dependentes da forma ou seja da

relaccedilatildeo que as sentenccedilas possuem entre si e natildeo da verdade ou falsidade no mundo das

informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas Diante disso traremos agrave tona exemplos de sentenccedilas que

2 O siacutembolo ldquorarrrdquo na loacutegica claacutessica representa um condicional assunto de que trataremos no terceiro capiacutetulo

deste trabalho e o siacutembolo ldquordquo representa um acarretamento

38

natildeo possuem relaccedilatildeo semacircntica mas atraveacutes da verdade ou falsidade das informaccedilotildees nas

sentenccedilas podem nos confundir e nos induzir ao erro Para tal raciociacutenio errocircneo damos o

nome de falaacutecias

Soares (2003) distingue trecircs caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias (i) satildeo

argumentos parecidos com argumentos vaacutelidos (ii) estabelecem entre premissas e conclusotildees

uma relevacircncia puramente psicoloacutegica que tatildeo-soacute se dirige agraves emoccedilotildees da pessoa sem que as

premissas sejam logicamente relevantes para extrair a conclusatildeo (iii) apresentam-se com

intenccedilatildeo enganadora para que o argumento ainda que invaacutelido seja de todas as maneiras

aceito por todos Vejamos a seguir exemplos de falaacutecias

(5) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher

a Dilma Rousseff eacute mulher

b Dilma Rousseff eacute a presidente do Brasil

A partir do nosso conhecimento de mundo poderiacuteamos dizer que a sentenccedila (5b) eacute

verdadeira Na sentenccedila (5alsquo) temos que A presidente do Brasil eacute mulher De fato tambeacutem se

formos utilizar nosso conhecimento de mundo intuitivamente diremos que esta sentenccedila estaacute

correta considerando a eacutepoca em que este trabalho foi escrito Seguindo temos a sentenccedila

(5a) com a informaccedilatildeo Dilma Rousseff eacute mulher Assim como as sentenccedilas (5alsquo) e (5a) a

partir de nosso conhecimento de mundo podemos afirmar que esta sentenccedila tambeacutem eacute

verdadeira mas devemos entender que eacute preciso considerar a relaccedilatildeo que as sentenccedilas

estabelecem entre si A sentenccedila (5alsquo) natildeo estabelece nenhuma relaccedilatildeo com a sentenccedila (5a)

para que (5b) seja um acarretamento Para mostrar de forma mais clara que o exemplo (5) natildeo

eacute um acarretamento vamos comparaacute-lo com o exemplo a seguir

(6) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher

a Michelle Bachelet eacute mulher

b Michelle Bachelet eacute a presidente do Brasil

Observamos que (6alsquo) e (6a) satildeo verdadeiras (no momento da redaccedilatildeo deste

trabalho) mas (6b) nos parece estranho Sabemos que Michelle Bachelet atualmente eacute

presidente do Chile Mas nada disso interfere para caracterizar um acarretamento e o exemplo

acima foi para deixar claro que a partir das relaccedilotildees semacircnticas dispostas entre os grupos de

39

sentenccedilas (5) e (6) natildeo podemos considerar que haacute acarretamento pelo fato acima

mencionado

Ateacute o momento tratamos do conceito de acarretamento seguido de exemplos em

liacutengua natural sua representaccedilatildeo na loacutegica claacutessica e exemplos de falaacutecias A partir deste

ponto trataremos dos fatores que interferem nas relaccedilotildees semacircnticas de uma forma diferente

das falaacutecias A compreensatildeo dos tipos de interferecircncias a seguir seraacute importante para a anaacutelise

do corpus deste trabalho pois se trata de interferecircncias lexicais

No exemplo a seguir trataremos de um problema que pode invalidar relaccedilotildees

semacircnticas a polissemia Quando um termo adquire mais de um sentido aleacutem daquele que eacute

originalmente atribuiacutevel temos um caso de polissemia Crystal (1985) conceitua polissemia

da seguinte maneira

Polissemia termo usado na anaacutelise semacircntica para caracterizar um item lexical com

uma variedade de significaccedilotildees diferentes como manga = ―parte da camisa ―parte

do abajur etc Uma grande parte do vocabulaacuterio da liacutengua eacute polissecircmica ()

(Crystal 1985 p 202)

Tendo em vista que a polissemia eacute uma caracteriacutestica de um item lexical que possui

diversos significados para diversos contextos vamos observar o exemplo a seguir

(7) a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito

b Joatildeo morreu

A sentenccedila (7a) pode ser interpretada pelo menos de duas formas distintas pelo fato da

expressatildeo ―perdeu a cabeccedila ser polissecircmica Se interpretarmos a sentenccedila (7a) considerando

―perder a cabeccedila como ter a cabeccedila desprendida do corpo haacute acarretamento de (7a) para

(7b) Mas esta natildeo eacute a uacutenica interpretaccedilatildeo possiacutevel para a expressatildeo em questatildeo Se

interpretarmos ―perder a cabeccedila como perder a paciecircncia ficar furioso estressado ou algo

parecido a sentenccedila (7a) natildeo acarreta (7b) numa mesma situaccedilatildeo pois o fato de Joatildeo ter

perdido a paciecircncia natildeo garante que ele venha a morrer Dessa forma para natildeo ter problemas

com a polissemia eacute preciso assegurar que se convencione um sentido uacutenico para cada

premissa para desta forma haver um acarretamento

40

Outro aspecto que eacute preciso ser mencionado eacute que (7) do jeito que se apresenta natildeo eacute

um acarretamento mesmo que perder a cabeccedila tenha o sentido de ter a cabeccedila desprendida do

corpo Isso se daacute porque (7) eacute um acarretamento incompleto ou seja um entimema

Argumento com uma premissa natildeo-formulada sem a qual ele natildeo eacute vaacutelido Chama-

se muitas vezes de premissa impliacutecitalsquo agrave premissa natildeo formulada Na argumentaccedilatildeo

cotidiana omitem-se premissas oacutebvias A premissa impliacutecita do argumento Antocircnio

deveria ser despedido porque roubou dinheiro puacuteblicolsquo eacute Todas as pessoas que

roubam dinheiro puacuteblico devem ser despedidaslsquo (BRANQUINHO MURCHO

GOMES 2006 p 298)

Vamos observar o exemplo (7) de uma forma que o entimema seria evitado

(8) alsquo Todas as pessoas que perdem a cabeccedila morrem

a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito

b Joatildeo morreu

Podemos constatar no exemplo acima que ao incluirmos a sentenccedila (8alsquo) que eacute a

sentenccedila geral que estava impliacutecita no exemplo (7) resolvemos o problema do entimema

completando assim a relaccedilatildeo de acarretamento de (8alsquo) e (8a) para (8b)

A partir de agora vamos tratar de outro tipo de interferecircncia em relaccedilotildees sentencias

que estaacute tambeacutem no campo do leacutexico a vagueza

A vagueza eacute assim como a polissemia um tipo de ocorrecircncia que dificulta a

interpretaccedilatildeo dos nexos entre sentenccedilas Podemos considerar que haacute vagueza em uma

sentenccedila quando observamos que uma palavra ou expressatildeo causa sentido incompleto

impedindo o entendimento da sentenccedila como um todo Branquinho Murcho e Gomes

conceituam a vagueza de seguinte maneira

As liacutenguas naturais contecircm palavras (tipicamente predicados denotando

propriedades ou relaccedilotildees) cujo domiacutenio de aplicaccedilatildeo eacute parcialmente indeterminado

isto eacute em relaccedilatildeo agraves quais os falantes competentes natildeo estatildeo certos em todos os

casos de que determinado objeto (ou par ordenado de objetos) pertence ao conjunto

denotado por elas (ou agrave relaccedilatildeo) (BRANQUINHO MURCHO GOMES 2006 p

805)

De uma forma geral Allan (2010) caracteriza a vagueza como um tipo particular de

incerteza sobre a aplicaccedilatildeo de um predicado Podemos considerar como um exemplo padratildeo

de predicado vago a classe de adjetivos graduaacuteveis como altura Se uma determinada pessoa

41

natildeo eacute suficientemente alta para ser claramente alta e natildeo eacute suficiente baixa para ser

claramente baixa entatildeo aiacute temos um caso de vagueza

Os adjetivos vagos satildeo sempre utilizados em relaccedilatildeo a uma classe de comparaccedilatildeo no

dia-a-dia Estar acima do peso por exemplo pode variar a partir do grau de comparaccedilatildeo Para

uma top model estar acima do peso eacute visto de forma diferente do que para um lutador de

sumocirc por exemplo

Ainda em relaccedilatildeo ao conceito de vagueza Kempson (1977) propotildee que existem

quatro tipos inter-relacionaacuteveis de vagueza vagueza referencial indeterminaccedilatildeo de

significado falta de especificaccedilatildeo no significado de um item disjunccedilatildeo na especificaccedilatildeo do

significado de um item em que o significado abarca uma ou qualquer declaraccedilatildeo de diversas

possibilidades de interpretaccedilatildeo Dentre estes quatro tipos propostos por Kempson iremos nos

dedicar a observar os casos relacionados agrave vagueza referencial Tendo em vista os conceitos

acima vamos observar um exemplo em que a vagueza pode prejudicar a interpretaccedilatildeo de um

acarretamento

(9) a Tobias eacute um gecircnio no xadrez

b Tobias eacute um bom jogador de xadrez

No exemplo acima podemos observar os termos vagos ―gecircnio na sentenccedila (9a) e

―bom na sentenccedila (9b) Para haver a relaccedilatildeo de acarretamento temos que admitir para (9a) e

(9b) o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe Por exemplo haacute acarretamento entre as

sentenccedilas (9a) e (9b) se Tobias for um garoto de oito anos e diante seus colegas da escola ele

se destacar como um exiacutemio conhecedor das regras e teacutecnicas do jogo de xadrez Dessa

forma a sentenccedila ―Tobias eacute um gecircnio no xadrez acarretaria que ―Tobias eacute um bom jogador

de xadrez Jaacute se natildeo utilizarmos o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas

(9a) e (9b) como por exemplo se em (9a) Tobias for um garoto de oito anos que diante de

seus colegas da escola se destaca como um exiacutemio jogador de xadrez mas comparando-o

com os competidores da categoria secircnior do campeonato mundial de xadrez e a partir disso

afirmando (9b) natildeo poderiacuteamos acarretar que Tobias eacute um bom jogador de xadrez Dessa

forma pudemos observar que a presenccedila de termos vagos em sentenccedilas dificulta a

interpretaccedilatildeo dos acarretamentos A seguir observaremos outros nexos que se relacionam com

o acarretamento

42

22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA

Como discutimos anteriormente o acarretamento eacute uma relaccedilatildeo semacircntica que ocorre

em um uacutenico sentido ou seja das premissas para a conclusatildeo Quando uma conclusatildeo

acarreta as premissas chamamos essa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica

Para o termo ―equivalecircncia haacute diversas definiccedilotildees Segundo Branquinho Murcho e

Gomes (2006 p 281) podemos identificar dois sentidos distintos para este termo o primeiro

se refere ao que tratamos neste trabalho ou seja faz referecircncia a relaccedilatildeo entre as sentenccedilas de

certa liacutengua o segundo trata de determinados tipos de sentenccedilas declarativas agraves frases

bicondicionais ou declarativas Dentro desses dois sentidos diversos para o termo

―equivalecircncia no primeiro que eacute o que mais nos interessa os autores ainda distinguem trecircs

variedades centrais de equivalecircncia Satildeo elas equivalecircncia material equivalecircncia estrita e

equivalecircncia loacutegica

A equivalecircncia material eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q (por

exemplo) exatamente quando p e q possuem o mesmo valor de verdade ou seja quando ou

satildeo as duas verdadeiras juntas ou satildeo as duas falsas juntas

A equivalecircncia estrita eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q no caso em

que eacute necessaacuterio que p seja materialmente equivalente a q ou no caso de ser impossiacutevel tanto

que p seja verdadeira e q seja falsa quanto que p seja falsa e q seja verdadeira Branquinho

Murcho e Gomes (2006 p 281) afirmam que nesse caso diz-se que p eacute estritamente

equivalente a q

A equivalecircncia loacutegica eacute uma relaccedilatildeo que se estabelece entre duas sentenccedilas p e q

exatamente no caso de p e q serem duas sentenccedilas mutuamente dedutiacuteveis num dado sistema

loacutegico Diz-se nesse caso que p eacute logicamente equivalente a q

Em nosso trabalho iremos considerar para ―equivalecircncia o sentido apresentado por

Branquinho Murcho e Gomes (2006) para equivalecircncia material A partir deste conceito

vamos observar o exemplo a seguir

(10) a O gato matou o rato

b O rato foi morto pelo gato

Nas sentenccedilas acima podemos identificar uma relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica Eacute

impossiacutevel que o gato tenha matado o rato e que o rato natildeo tenha sido morto Claro que se

43

considerarmos que estamos tratando sobre o mesmo gato e o mesmo rato Dessa forma

sempre que (10a) for verdadeira (10b) tambeacutem teraacute de ser Tambeacutem podemos observar uma

relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica no exemplo (3) Utilizamos o exemplo (3) para mostrar

uma relaccedilatildeo de acarretamento que eacute efetiva mas tambeacutem haacute a relaccedilatildeo de equivalecircncia pois

as premissas ―Neymar eacute brasileiro e ―Neymar eacute um jogador de futebol acarretam que

―Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro da mesma forma que esta uacuteltima sentenccedila

acarreta as duas anteriores Tal exemplo reafirma o conceito descrito acima de que uma

equivalecircncia semacircntica eacute um acarretamento duplo

Assim como acontece no acarretamento a equivalecircncia semacircntica tem problemas com

a polissemia Vamos observar exemplo a seguir

(11) a O Brasil ganhou o jogo contra o Chile

b O Chile perdeu o jogo contra o Brasil

No exemplo acima vemos que a sentenccedila (11a) acarreta a sentenccedila (11b) ao mesmo

tempo em que a sentenccedila (11b) acarreta a sentenccedila (11a) Natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (11a)

seja verdadeira ao mesmo tempo em que a (11b) seja falsa Se uma das sentenccedilas eacute falsa e a

outra eacute verdadeira natildeo haacute acarretamento em nenhum dos dois ―sentidos (em relaccedilatildeo agrave

direccedilatildeo de (11a) para (11b) e de (11b) para (11a)) Natildeo podemos considerar que o Brasil

ganhou o jogo contra o Chile e que o Chile ganhou o jogo contra o Brasil pois sabemos que

em uma partida de futebol haacute apenas um ganhador Haacute a possibilidade de algueacutem querer ir

mais aleacutem e inferir que eacute possiacutevel que os dois times ganharam mas em jogos diferentes Se

considerarmos a situaccedilatildeo de que o Chile jaacute ganhou outros jogos contra o Brasil assim como

que o Brasil jaacute ganhou outros jogos contra o Chile a relaccedilatildeo de equivalecircncia seria possiacutevel

escolhendo qualquer outro jogo como referecircncia mas natildeo eacute o que nos interessa pois

devemos considerar apenas uma situaccedilatildeo para as duas sentenccedilas

A partir deste ponto iremos tratar sobre como a polissemia pode interferir na

interpretaccedilatildeo numa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica da mesma forma que mostramos

anteriormente nas relaccedilotildees de acarretamento Vejamos o proacuteximo exemplo

44

(12) a A lagosta estaacute mais salgada que o peixe

b O peixe estaacute menos salgado que a lagosta

Podemos observar que as sentenccedilas (12a) e (12b) satildeo equivalentes pelo fato de que

natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12a) seja verdadeira e a sentenccedila (12b) seja falsa assim como

natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12b) seja verdadeira e a sentenccedila (12a) seja falsa Poreacutem se

passarmos a admitir significados diferentes para expressotildees empregadas nas sentenccedilas por

exemplo para a palavra ―salgado encontraremos problemas Se admitirmos que sentenccedila

(12a) o conceito de ―salgado eacute de o alimento estar impregnado de sal salpicado de sal ou

com gosto de sal e se este conceito for tambeacutem considerado para a sentenccedila (12b) haacute

equivalecircncia semacircntica Mas tambeacutem podemos interpretar o termo ―salgado como uma

expressatildeo para se referir ao preccedilo alto do produto no mercado Soacute haacute equivalecircncia semacircntica

se admitirmos o mesmo conceito para ―salgado em ambas as sentenccedilas ou seja se

considerarmos o significado de ―salgado como sendo impregnado de sal para a sentenccedila

(12a) ou em (12b) como sendo relativo ao valor alto no mercado natildeo haacute equivalecircncia

semacircntica entre (12a) e (12b)

No proacuteximo exemplo trataremos de outro tipo de ocorrecircncia que dificulta a

interpretaccedilatildeo de nexos a vagueza Como jaacute apresentamos a definiccedilatildeo de vagueza na seccedilatildeo

anterior partiremos direto para o exemplo em que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo de uma

equivalecircncia semacircntica

(13) a Goacutergias eacute mais saacutebio que Hiacutepias

b Hiacutepias eacute menos saacutebio que Goacutergias

Na relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) haacute equivalecircncia semacircntica mas podemos identificar

que nas duas sentenccedilas foram utilizados termos vagos que tornam a interpretaccedilatildeo dificultosa

Em (13a) haacute o uso dos termos ―mais e ―saacutebio assim como em (13b) haacute o uso dos termos

―menos e ―saacutebio Esses termos satildeo vagos e dificultam a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo semacircntica

entre as sentenccedilas O que dificulta a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) eacute o fato de

que termos como ―mais e ―menos assim como ―saacutebio possuem significados diferentes de

acordo com as situaccedilotildees em que satildeo utilizadas Ou seja eacute necessaacuterio que admitamos o

45

mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas (13a) e (13b) Dessa forma haveraacute a

relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica

A seguir trataremos sobre outro tipo de relaccedilatildeo semacircntica entre sentenccedilas a

contraditoriedade

23 CONTRADITORIEDADE

Diferente da relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica que consiste em sentenccedilas que satildeo

verdadeiras juntas ou falsas juntas as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias quando uma eacute oposta da

outra tipicamente quando uma sentenccedila B eacute a negaccedilatildeo de uma sentenccedila A Sobre a relaccedilatildeo de

contraditoriedade Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 229) afirmam que ―obteacutem-se a

contraditoacuteria de qualquer proposiccedilatildeo p prefixando-lhe o operador de negaccedilatildeo de modo a

obter notp3 Com base no conceito de contraditoriedade exposto vamos observar o exemplo a

seguir

(14) a O Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016

b O Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016

Podemos observar no exemplo acima que se a sentenccedila (14a) for verdadeira

obrigatoriamente a sentenccedila (14b) tem que ser falsa Se a informaccedilatildeo da sentenccedila (14a) que

diz que o Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas for verdadeira a informaccedilatildeo da sentenccedila

(14b) que diz que o Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas natildeo pode ser verdadeira

Em relaccedilotildees de contraditoriedade o uso de uma afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo eacute algo

tiacutepico mas natildeo determinante No exemplo (14) pudemos observar a relaccedilatildeo de

contraditoriedade caracterizada pelo uso da negaccedilatildeo mas tambeacutem podemos encontrar esse

tipo de relaccedilatildeo sem tal uso Vejamos a seguir

3 O siacutembolo not na loacutegica claacutessica eacute a representaccedilatildeo do operador de negaccedilatildeo ldquonatildeordquo

46

(15) a Mecircnon estaacute acordado

b Mecircnon estaacute dormindo

A partir das sentenccedilas acima podemos ver que a relaccedilatildeo entre estas sentenccedilas eacute de

contraditoriedade pois se a sentenccedila (15a) for verdadeira a sentenccedila (15b) tem que ser falsa

da mesma forma que se a sentenccedila (15b) for verdadeira a sentenccedila (15a) deveraacute ser falsa

Natildeo eacute possiacutevel que Mecircnon esteja acordado e dormindo ao mesmo tempo claro que

considerando o mesmo sentido para as palavras ―acordado e ―dormindo nas duas sentenccedilas

e em relaccedilatildeo ao mesmo Mecircnon

Assim como as demais relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos anteriormente a

contraditoriedade tambeacutem eacute sensiacutevel agrave polissemia Vamos observar como a polissemia se

apresenta no exemplo a seguir

(14) a A minha gata estaacute acordada

b A minha gata estaacute dormindo

No exemplo acima natildeo encontramos apenas a relaccedilatildeo de contraditoriedade sem

utilizaccedilatildeo da negaccedilatildeo mas tambeacutem um problema de polissemia que pode anular a relaccedilatildeo de

contraditoriedade Se numa determinada situaccedilatildeo escrevendo este texto me viro na cadeira e

vejo em cima de minha cama o meu animal de estimaccedilatildeo deitado olhando para mim e com

isso afirmo ―a minha gata estaacute acordada como na sentenccedila (14a) natildeo posso considerar

verdadeira a sentenccedila (14b) pois natildeo se pode estar dormindo e estar acordado ao mesmo

tempo tomando as definiccedilotildees de ―estar acordado e ―estar dormindo como oposiccedilotildees A

partir disso as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias Se em outra situaccedilatildeo me viro na cadeira e vejo

minha esposa deitada na cama dormindo e afirmo ―a minha gata estaacute dormindo como na

sentenccedila (14b) ela natildeo pode ser verdadeira ao mesmo tempo em que a sentenccedila (14a) pois

minha esposa natildeo poderia estar acordada e dormindo ao mesmo tempo Ateacute o momento

pudemos atribuir dois sentidos diferentes para o termo ―gata Se considerarmos para a

sentenccedila (14a) o sentido de que o meu animal de estimaccedilatildeo estaacute acordado e para a sentenccedila

(14b) o sentido de que a minha esposa estaacute dormindo essas sentenccedilas natildeo satildeo contraditoacuterias

No exemplo acima percebemos portanto dois aspectos da contradiccedilatildeo em sentenccedilas de uma

liacutengua natural como o portuguecircs Primeiro que natildeo haacute a obrigatoriedade de ter a negaccedilatildeo de

47

uma sentenccedila para que a relaccedilatildeo de contraditoriedade exista e segundo que a polissemia

pode tornar problemaacutetica essa relaccedilatildeo

Podemos considerar uma relaccedilatildeo de contraditoriedade entre sentenccedilas sempre que A eacute

verdadeira B eacute falsa e sempre que a sentenccedila B eacute verdadeira A eacute falsa Ou seja as sentenccedilas

A e B nunca podem ser verdadeiras ou falsas juntas

O exemplo de contraditoriedade que mostramos anteriormente foi relacionando duas

sentenccedilas mas podemos encontrar a relaccedilatildeo de contraditoriedade dentro de uma sentenccedila

apenas Vamos observar o exemplo a seguir

(15) Herbert Vianna eacute cantor e natildeo eacute cantor

Se afirmamos que uma pessoa eacute e natildeo eacute cantora constatamos uma contraditoriedade

nesta sentenccedila Em (15) encontramos a apresentaccedilatildeo de um argumento e a negaccedilatildeo do mesmo

argumento em seguida Uma sentenccedila com esta forma natildeo pode ser verdadeira Se

consideramos numa mesma situaccedilatildeo que Herbert Vianna eacute cantor e em seguida afirmo que

Herbert Vianna natildeo eacute cantor esta sentenccedila eacute contraditoacuteria

Se partirmos para determinar sentidos diferentes para o termo ―cantor como por

exemplo que Herbert Vianna eacute um cantor pelo simples fato de que ele emite pelas cordas

vocais sons musicais que ―cantor eacute um termo que soacute pode ser utilizado para os profissionais

que trabalham com a voz na muacutesica ou que ―cantor se jaacute um termo utilizado para designar

algueacutem que canta muito bem natildeo haacute contraditoriedade efetivamente Mas se mantivermos o

mesmo sentido para o termo haveraacute relaccedilatildeo de contraditoriedade

Da mesma forma que a polissemia dificulta a interpretaccedilatildeo de nexos entre sentenccedilas

vamos observar um exemplo em que a vagueza ndash toacutepico que desenvolvemos na primeira

seccedilatildeo deste capiacutetulo - invalida uma relaccedilatildeo de contraditoriedade

(16) a O professor de loacutegica eacute muito alto

b O professor de loacutegica natildeo eacute muito alto

Na relaccedilatildeo entre (16a) e (16b) seguindo o conceito contraditoriedade haacute uma relaccedilatildeo

de contradiccedilatildeo entre as duas sentenccedilas poreacutem podemos identificar termos vagos nas duas

sentenccedilas o que pode dificultar a interpretaccedilatildeo Na sentenccedila (16a) e na sentenccedila (16b)

48

identificamos dois termos vagos que satildeo ―muito e ―alto Eacute possiacutevel considerar as duas

sentenccedilas como falsas ou verdadeiras juntas invalidando a contraditoriedade pois os termos

―muito e ―alto satildeo variaacuteveis de acordo com o grau de comparaccedilatildeo adotado Por exemplo

em (16a) o professor de loacutegica pode ser considerado muito alto em comparaccedilatildeo agraves crianccedilas

para quem ele leciona poreacutem se compararmos o professor de loacutegica da sentenccedila (16a) com os

outros professores do departamento talvez o professor fosse considerado baixo Desta forma

podemos observar que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo das duas sentenccedilas

A seguir traremos o uacuteltimo nexo semacircntico que utilizaremos em nosso trabalho Este

tipo de relaccedilatildeo eacute um pouco parecido com a contraditoriedade

24 CONTRARIEDADE

A contrariedade ocorre quando duas sentenccedilas podem ser falsas juntas mas natildeo

podem ser verdadeiras juntas Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 234) definem

contrariedade da seguinte forma ―duas proposiccedilotildees satildeo contraacuterias se natildeo podem ser ambas

verdadeiras mas podem ser ambas falsas distinguindo-se assim das contraditoacuterias que natildeo

podem ser ambas verdadeiras nem ambas falsas e das subcontraacuterias que natildeo podem ser

ambas falsas mas podem ser ambas verdadeiras

Eacute importante enfatizar que mesmo estando tratanto dos nexos semacircnticos e sua

aplicaccedilatildeo em liacutengua natural os conceitos de sentenccedilas contraacuterias contraditoacuterias

equivalecircncias e acarretamentos tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica As relaccedilotildees de sentenccedilas

contraacuterias e contraditoacuterias satildeo tratadas por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado

atraveacutes de seu quadrado loacutegico ou taacutebua de oposiccedilotildees No Perieacutermeneas (1985) mais

especificamente nos capiacutetulos 6 e 7 Aristoacuteteles nos apresenta os conceitos de sentenccedilas

contraacuterias e contraditoacuterias afirmando que duas sentenccedilas satildeo contraacuterias quando natildeo podem

ser verdadeiras juntas ao mesmo tempo mas podem ser falsas juntas ao mesmo tempo Jaacute em

relaccedilatildeo agraves contraditoacuterias Aristoacuteteles propotildee que toda afirmaccedilatildeo possui sua exata negaccedilatildeo

correspondente e que toda afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo sem opotildeem sendo uma sempre

verdadeira e a outra sempre falsa Dessa forma para Aristoacuteteles um par formado por uma

afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo corresponde a uma contradiccedilatildeo

A partir do conceito de contrariedade vamos observar o exemplo a seguir Nele

encontraremos um caso de polissemia

49

(17) a A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 20 de agosto de 1914

b A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 18 de julho de 1921

Se admitirmos que a seleccedilatildeo brasileira de futebol sobre a qual estamos falando na

sentenccedila (17a) eacute a mesma seleccedilatildeo que estamos falando na sentenccedila (17b) natildeo eacute possiacutevel que

a sentenccedila (17b) seja verdadeira pois algo natildeo pode ser fundado efetivamente em dois

momentos distintos Haacute a possibilidade de se afirmar que estamos falando de duas seleccedilotildees

brasileiras de futebol diferentes pois para ―seleccedilatildeo brasileira haacute diversos significados

aplicaacuteveis ou seja a expressatildeo ―seleccedilatildeo brasileira eacute polissecircmica Por exemplo podemos

definir uma seleccedilatildeo como sendo de futebol de campo e a outra de futebol de salatildeo A partir

dessa interpretaccedilatildeo as duas sentenccedilas poderiam ser verdadeiras juntas e com isso natildeo

haveria contrariedade Mas como devemos admitir apenas uma situaccedilatildeo para as duas

sentenccedilas (17a) e (17b) natildeo podem ser verdadeiras juntas mas podem ser falsas juntas

constituindo uma relaccedilatildeo de contrariedade Eacute possiacutevel que a seleccedilatildeo brasileira de futebol natildeo

tenha sido formada nem em 20 de agosto de 1914 e nem em 18 de julho de 1921 Em

contrapartida numa interpretaccedilatildeo usual a seleccedilatildeo de futebol de um paiacutes eacute formada pela

primeira vez uma soacute vez Algueacutem pode querer ir aleacutem e afirmar que foram empregados

sentidos diferentes para a expressatildeo ―foi formada nas sentenccedilas em questatildeo Poderia dizer

que na sentenccedila (17a) o sentido foi de que a seleccedilatildeo se reuniu pela primeira vez para jogarem

juntos de forma extraoficial e que na sentenccedila (17b) o sentido foi de que a seleccedilatildeo

efetivamente foi documentalmente formada Se admitiacutessemos essas interpretaccedilotildees as

sentenccedilas (17a) e (17b) poderiam ser verdadeiras juntas o que descaracterizaria a relaccedilatildeo de

contrariedade entre as sentenccedilas Assim como o fato de que se a sentenccedila (17a) for falsa a

sentenccedila (17b) pode ser verdadeira ou falsa A falsidade da sentenccedila (17a) natildeo assegura a

verdade da sentenccedila (17b) Podemos entender dessa forma que a polissemia afeta a

interpretaccedilatildeo do nexo

Vamos observar mais um exemplo desta relaccedilatildeo

(18) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado do Acre

b A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado de Santa Catarina

50

Se considerarmos a sentenccedila (18a) verdadeira ou seja que a reitoria da UNISUL estaacute

localizada no estado do Acre e tambeacutem levando em conta que a UNISUL eacute uma universidade

que tem uma reitoria e que a reitoria de uma universidade soacute pode estar numa cidade a

sentenccedila (18b) deveraacute ser falsa A sentenccedila (18a) eacute falsa e a sentenccedila (18b) eacute verdadeira e as

duas estabelecem uma relaccedilatildeo de contrariedade A reitoria da UNISUL estaacute localizada no

estado de Santa Catarina e natildeo no estado do Acre A partir desse exemplo e da convenccedilatildeo que

admitimos para ele pudemos observar que se uma sentenccedila A for falsa uma sentenccedila B pode

ser falsa ou verdadeira natildeo podendo ser as duas verdadeiras juntas apenas falsas Ilustrando

mais uma vez veja a relaccedilatildeo a seguir

(19) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Paris

b A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Roma

No exemplo acima podemos afirmar que as sentenccedilas (19a) e (19b) podem ser falsas

pois como jaacute citamos no paraacutegrafo anterior a reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado

de Santa Catarina Dessa forma haacute relaccedilatildeo de contrariedade as duas sentenccedilas satildeo falsas

Jaacute tratamos de exemplos da relaccedilatildeo de contrariedade com problemas de polissemia

mas podemos tambeacutem identificar problemas de validade dos nexos por causa da vagueza A

seguir observe o exemplo

(20) a Este cafeacute estaacute forte

b Este cafeacute estaacute aguado

Observando as sentenccedilas acima identificamos que (20a) e (20b) possuem termos

vagos que podem dificultar a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre as sentenccedilas Em (20a) foi usado

o termo ―forte e em (20b) foi usado o termo ―aguado Como nas outras relaccedilotildees que

apresentamos anteriormente esses termos satildeo vagos pois dependendo da classe de

comparaccedilatildeo em que satildeo apresentados eles podem mudar de sentido Eacute possiacutevel que numa

determinada situaccedilatildeo consideremos que um cafeacute pode natildeo estar nem forte nem fraco

autorizando a possibilidade de (20a) e (20b) serem as duas falsas ao mesmo tempo

descaracterizando a relaccedilatildeo de contrariedade Dessa forma podemos observar que os termos

51

vagos dificultam a interpretaccedilatildeo das sentenccedilas consequentemente da relaccedilatildeo que as

sentenccedilas estabelecem entre si Concluindo a exposiccedilatildeo dos nexos que nos interessam neste

trabalho apresentaremos a seguir a justificativa de nosso percurso sobre estas relaccedilotildees

semacircnticas e os tipos de ocorrecircncias que podem dificultar a interpretaccedilatildeo destas

25 JUSTIFICANDO O PERCURSO

Neste capiacutetulo apresentamos inicialmente os conceitos de semacircntica e pragmaacutetica

com o objetivo de mostrar que os nexos semacircnticos que tratamos em nosso trabalho

(acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e contrariedade) satildeo tipos de

inferecircncias que pertencem ao campo da semacircntica Para isso tambeacutem apresentamos duas

inferecircncias que pertencem ao campo da pragmaacutetica (pressuposiccedilatildeo e implicatura)

Na exposiccedilatildeo de cada nexo trouxemos os conceitos seguidos de exemplos em que a

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees semacircnticas eacute clara Em seguida apresentamos exemplos de nexos

com dois tipos de ocorrecircncias que no campo do leacutexico dificultam a interpretaccedilatildeo das

relaccedilotildees semacircnticas a polissemia e a vagueza

Pode parecer confuso a princiacutepio o fato de tratarmos de tipos de inferecircncia que

dependem da forma para se concretizarem (os nexos semacircnticos) relacionando-as com

ocorrecircncias que dificultam o entendimento do conteuacutedo das sentenccedilas (a polissemia e a

vagueza) A confusatildeo se apresenta caso natildeo lembremos que estamos tratando das relaccedilotildees de

inferecircncias em liacutengua natural e natildeo numa liacutengua controlada como num sistema loacutegico por

exemplo

Quando afirmamos que as relaccedilotildees entre sentenccedilas que tratamos em nosso trabalho

dependem da forma falamos de uma ―dessemantificaccedilatildeo ou seja a existecircncia dos nexos vai

depender unicamente da semacircntica dos quantificadores e conectivos (e ou se) Os nexos natildeo

dependem da semacircntica restante do material linguiacutestico exposto na sentenccedila A semacircntica dos

conectivos e quantificadores numa linguagem formal eacute mantida estaacutevel por definiccedilatildeo Na

linguagem natural podemos observar que os tipos de ocorrecircncia que dificultam a

interpretaccedilatildeo dos nexos se fazem presentes justamente no restante do material linguiacutestico da

sentenccedila ou seja para aleacutem da estrutura da sentenccedila que eacute composta pelos quantificadores e

demais conectivos

52

A polissemia e a vagueza satildeo ocorrecircncias tiacutepicas de liacutengua natural e dessa forma

somos obrigados a admitir que ao nos depararmos com qualquer gecircnero textual (que

obviamente estaacute no campo das liacutenguas naturais) numa anaacutelise devemos considerar que o

significado das palavras vai naturalmente interferir nas relaccedilotildees semacircnticas Tambeacutem na

exposiccedilatildeo de tipos de ocorrecircncias que interferem nos nexos semacircnticos tratamos de falaacutecias

que satildeo argumentos invaacutelidos apresentados como vaacutelidos explorando justamente a

interpretaccedilatildeo do conteuacutedo das sentenccedilas

A partir dos nexos semacircnticos que tratamos neste capiacutetulo junto com os tipos de

inferecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees no capiacutetulo seguinte

apresentaremos a anaacutelise de certificados de garantia Como o nosso objetivo eacute analisar quais

satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados nos certificados para restringir possibilidades de

interpretaccedilatildeo decidimos realizar a anaacutelise de ocorrecircncias com conectivos e quantificadores

Consideramos pertinente a escolha desse tipo de anaacutelise pois entendemos que os

quantificadores como o ―todo satildeo tradicionalmente apresentados em relaccedilotildees semacircnticas de

restriccedilatildeo ou abrangecircncia assim como o condicional ―se ou ―somente se e o ―apenas e

―somente A partir desse raciociacutenio acreditamos que esta seria a forma mais correta para

identificarmos ocorrecircncias do tipo que precisamos para a realizaccedilatildeo de nossa anaacutelise Os

nexos semacircnticos natildeo satildeo propiacutecios para as liacutenguas naturais pois natildeo se apresentam de forma

controlada Ocorrecircncias lexicais como as que descrevemos anteriormente podem dificultar a

interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees e isso eacute algo que trataremos nas anaacutelises

Eacute nesta perspectiva que observaremos no capiacutetulo seguinte as anaacutelises de vinte e dois

certificados de garantia nos quais natildeo buscaremos relaccedilotildees bem marcadas e controladas entre

sentenccedilas pois natildeo encontrariacuteamos facilmente mas sim quais satildeo os recursos linguiacutesticos

utilizados pelos autores dos textos para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo

admitindo tambeacutem obviamente os nexos semacircnticos como possiacuteveis recursos

53

3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA

Os certificados de garantia satildeo textos muito presentes em nosso cotidiano e muitas das

vezes noacutes natildeo levamos em conta a sua importacircncia tanto por serem documentos que podem

resguardar nossos direitos sobre um determinado produto quanto pelo fato de natildeo sermos

treinados para ler e interpretar devidamente as informaccedilotildees dispostas nos textos Dessa

forma justificamos a escolha de tal gecircnero para analisarmos em nossa pesquisa Ateacute este

momento de nosso trabalho seguimos o seguinte percurso

1) Mostramos no primeiro capiacutetulo que na elaboraccedilatildeo de certificados de garantia o

autor deve se preocupar em construir o texto buscando restringir ao maacuteximo as

possibilidades de interpretaccedilatildeo para que ele se torne mais eficiente em passar as

informaccedilotildees desejadas e para evitar problemas de interpretaccedilatildeo por parte dos

clientes

2) Tendo em vista que os certificados de garantia satildeo textos instrucionais ou seja

que direcionam a leitura para um fim especiacutefico nossa anaacutelise tem por objetivo

verificar quais satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores destes textos

para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo e para alcanccedilar este objetivo nos

utilizaremos da teoria dos nexos semacircnticos apresentada no segundo capiacutetulo

Como anunciado na introduccedilatildeo o corpus dessa pesquisa eacute formado por 22

certificados de garantia de produtos de diversos segmentos Ele foi coletado utilizando a

internet e natildeo teve um meacutetodo definido de categorizaccedilatildeo na escolha dos textos Decidimos

escolher certificados de diversos segmentos para natildeo obtermos uma anaacutelise viciada e tambeacutem

para obtermos um panorama da estrutura textual

Como analisaremos os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores dos certificados

de garantia para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo elegemos trecircs categorias de

termos a serem analisadas quantificadores universais condicionais e uso do apenassomente

A escolha dessas categorias se deve ao fato delas possuiacuterem tradicionalmente funccedilotildees de

restriccedilatildeo ou abrangecircncia em inferecircncias

Assim como na loacutegica de predicados a silogiacutestica se caracteriza pelo uso dependente

em argumentos dos quantificadores ―alguns e ―todos Nomeamos de quantificador

existencial ou particular aqueles referentes a ―alguns e nomeamos de quantificador universal

aqueles referentes a ―todos (MURCHO 2006) Utilizaremos em nossa pesquisa agraves

ocorrecircncias com quantificadores do segundo tipo Vejamos um exemplo ilustrativo

54

(21) TODO produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia

Possivelmente natildeo encontraremos em nossa anaacutelise nenhuma sentenccedila como esta pois

vemos que o quantificador universal destacado em letras maiuacutesculas abrange totalmente a

possibilidade de cobertura da garantia de um produto Da forma que estaacute expressa se compro

uma TV por exemplo e a mergulho na aacutegua causando defeito poderei receber outra nova do

fabricante pois ―todo produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia

Sobre os condicionais trataremos a anaacutelise na mesma linha de raciociacutenio pois eles

satildeo utilizados em proposiccedilotildees do tipo ―se X entatildeo Y oportunizando abrangecircncia ou

restriccedilatildeo de possibilidades de interpretaccedilatildeo como podemos ver ilustrado no exemplo a

seguir

(22) SE o produto apresentar defeito seraacute reparado gratuitamente

Da mesma forma como mostramos no exemplo anterior provavelmente natildeo

encontraremos sentenccedilas tatildeo abrangentes em nosso corpus como esta pois da forma como

estaacute posta ampliaria muito a possibilidade de cobertura da garantia de um produto Podemos

interpretar a partir da leitura da sentenccedila acima que o reparo do produto seraacute efetuado caso o

produto apresente qualquer defeito por qualquer motivo durante qualquer periacuteodo de tempo

sendo utilizado por qualquer pessoa e em qualquer circunstacircncia entre outras possibilidades

Para reparar tamanha abrangecircncia os autores dos textos podem utilizar listas exaustivas com

detalhes especiacuteficos apoacutes a apresentaccedilatildeo dos condicionais para direcionar efetivamente a

cobertura da garantia

Por fim em relaccedilatildeo ao uso dos termos ―apenas e ―somente analisaremos os termos

nos contextos que os autores buscam restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos textos

Vejamos o exemplo a seguir

(22) Estaratildeo cobertos pela garantia APENAS os produtos que natildeo estatildeo em

promoccedilatildeo

55

No exemplo acima tambeacutem inventado vemos que o ―apenas aparece como um

restritor da garantia deixando claro que soacute os produtos que foram adquiridos pelos preccedilos

normais ou seja fora da promoccedilatildeo estaratildeo cobertos pela garantia Dessa forma produtos em

promoccedilatildeo ficam descobertos

Com os conceitos sobre as categorias de anaacutelise dispostos acima apresentaremos a

seguir a anaacutelise dos trechos coletados em nosso corpus separada por tipos de ocorrecircncia

Iremos observar como se apresentam os quantificadores condicionais ocorrecircncias com o

apenassomente assim como observaremos os tipos de ocorrecircncias no campo do leacutexico que

dificultam a interpretaccedilatildeo dos trechos (polissemia e vagueza)

31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL

Vejamos a seguir as ocorrecircncias4 em que o quantificador universal eacute utilizado

5

(1) Este produto e as peccedilas substituiacutedas seratildeo garantidos pelo restante do

prazo original TODAS as peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades

da SAMSUNG

Podemos observar na ocorrecircncia acima que o fabricante utiliza o quantificador para

fazer com que o leitor infera que absolutamente todas as peccedilas que forem substituiacutedas na

assistecircncia a algum aparelho defeituoso se tornaratildeo propriedade da fabricante Dessa forma o

cliente natildeo poderaacute em hipoacutetese alguma ficar com a peccedila trocada

Percebemos no trecho acima que o quantificador universal ―todas poderia ser

excluiacutedo da sentenccedila e com isso em nada alteraria o sentido da sentenccedila Forccedilando uma

possiacutevel interpretaccedilatildeo da sentenccedila o leitor poderia afirmar que se a sentenccedila fosse disposta

da seguinte maneira ―As peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades da SAMSUNG

poderia existir uma classe de peccedilas eletrocircnicas de produtos SAMSUNG que

4 Utilizaremos o termo ldquoocorrecircnciardquo tanto para se referir ao trecho completo do corpus quanto para a

sentenccedila em que o conectivo grifado se apresenta Natildeo faremos distinccedilatildeo para este uso 5 Para a exibiccedilatildeo das ocorrecircncias do nosso corpus reiniciaremos a numeraccedilatildeo natildeo seguindo a contagem

realizada para os exemplos dos capiacutetulos anteriores

56

tradicionalmente fossem substituiacutedas em manutenccedilotildees mas natildeo recolhidas pelo fabricante

Dessa forma o quantificador universal ―todas se mostraria como a soluccedilatildeo para esse

problema de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos

na ocorrecircncia6 (1)

(2) Esta garantia substitui TODAS as outras garantias expressas ou

taacutecitas incluindo sem limitaccedilatildeo garantias taacutecitas de comercializaccedilatildeo

e adequaccedilatildeo a um fim especiacutefico

(Certificado 1)

Nesta ocorrecircncia o fabricante utiliza o quantificador para abranger ao maacuteximo seu

texto no intuito de inferir que a garantia em anaacutelise se sobrepotildee a qualquer outro tipo de

garantia oferecida ao cliente

Podemos observar que se o quantificador universal ―todas natildeo fosse utilizado o

sentido da sentenccedila permaneceria o mesmo Se tiveacutessemos encontrado a sentenccedila da forma

―Esta garantia substitui as outras garantias o cliente iria interpretar a sentenccedila sem

dificuldades O uso do quantificador aparece como um termo para dar ecircnfase ao que jaacute estaacute

dito na sentenccedila acima Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos na

ocorrecircncia (2)

(3) TODO atendimento de reparo deve ser precedido de ligaccedilatildeo

telefocircnica ao Suporte Teacutecnico Telefocircnico da AOC (0800-10-9539)

para que seja feita uma avaliaccedilatildeo preacutevia do problema a fim de

constatar a existecircncia de defeito ou viacutecio do produto esgotando-se

TODAS as possibilidades de se tratar de uma falha de operaccedilatildeo ou

uso do produto por parte do consumidor

(Certificado 4)

No trecho acima podemos observar que na primeira ocorrecircncia do quantificador o

fabricante utiliza-o para inferir que o cliente em qualquer caso de submissatildeo do aparelho agrave

assistecircncia deve entrar em contato com o suporte teacutecnico telefocircnico da empresa e ainda

6 Decidimos pontuar no final de cada anaacutelise o fato de haver ou natildeo termos polissecircmicos ou vagos nas

ocorrecircncias porque consideramos estes tipos de ocorrecircncias como sendo os principais meios de dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos instrucionais Ao anunciar que natildeo haacute termos dessas categorias em cada anaacutelise por mais que se mostre repetitivo na leitura ao mesmo tempo invoca a importacircncia (e necessidade segundo nossa perspectiva) que depositamos nesses fatos em cada ocorrecircncia

57

reforccedila utilizando outra vez o quantificador ―todas inferindo que o produto soacute iraacute para a

assistecircncia efetivamente caso natildeo haja mais nenhuma possibilidade de resoluccedilatildeo do problema

atraveacutes do contato telefocircnico Ao utilizar esse reforccedilo o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo ao

fato de que por exemplo o problema possa ser resolvido atraveacutes de instruccedilotildees passadas pela

empresa via telefone ao cliente e o cliente natildeo aceitar e exigir que o produto seja reparado

somente na assistecircncia teacutecnica ou simplesmente para evitar que a assistecircncia teacutecnica receba

algum produto que natildeo estaacute defeituoso ou viciado

Diferente da ocorrecircncia (2) o uso do quantificador universal ―todo se faz necessaacuterio

para evitar que o cliente interprete a sentenccedila de uma forma indesejada por parte do

fabricante Por exemplo caso o autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todo na

primeira parte ―Todo atendimento de reparo deve o cliente poderia interpretar que ele

poderia obter atendimento de reparo sem passar pelo contato telefocircnico com o suporte teacutecnico

do fabricante Na utilizaccedilatildeo do quantificador universal ―todas no final da sentenccedila tambeacutem

observamos que se o autor do texto natildeo utilizasse esta estrateacutegia tambeacutem possibilitaria que o

texto fosse interpretado de outra maneira Se o cliente se deparasse com a sentenccedila

―esgotando-se as possibilidades de se tratar de uma falha poderia interpretar que se para

algum tipo de falha de operaccedilatildeo ou seja de utilizaccedilatildeo do produto haveria a possibilidade de

enviar o produto para assistecircncia teacutecnica Como o autor utilizou o quantificador nas duas

passagens que citamos ele direcionou a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha

duacutevidas sobre aquilo que o fabricante deseja expressar

Sobre tipos de ocorrecircncia que dificultam a interpretaccedilatildeo do texto pudemos identificar

a expressatildeo ―viacutecio do produto Esta expressatildeo eacute muito especiacutefica e estaacute presente no Coacutedigo

de defesa do consumidor Segundo Bruno Miragem (2008) ―Viacutecio do produto ou do serviccedilo

abrange o efeito decorrente da violaccedilatildeo aos deveres de qualidade quantidade ou informaccedilatildeo

impedindo com isso que o produto ou serviccedilo atenda aos fins que legitimamente dele se

esperam (dever da adequaccedilatildeo) O autor do certificado natildeo disponibilizou nenhum conceito

para a expressatildeo ―viacutecio do produto apresentando desta forma uma dificuldade a mais para

a interpretaccedilatildeo do texto por parte do cliente Caso o autor tenha elaborado o texto

considerando por exemplo que qualquer pessoa que leia um certificado de garantia deve ser

conhecedor de todos os termos e expressotildees descritas no CDC (a partir desse ponto iremos

utilizar esta sigla para ―coacutedigo de defesa do consumidor) natildeo haveria problema em

simplesmente usar o termo sem conceituar mas isso natildeo eacute pertinente Para evitar que esta

expressatildeo natildeo fosse polissecircmica o autor deveria ter elaborado um mini-glossaacuterio com os

termos que seriam usuais no texto e que possuem um sentido especiacutefico no ramo em que o

58

produto estaacute inserido (por exemplo peccedilas de carros ou peccedilas eletrocircnicas) e no CDC7

(4) A Garantia do Produto oferecida por este Termo abrange TODOS os

defeitos de material ou de fabricaccedilatildeo do aparelho constatados pela

Robert Bosch Ltda bem como a substituiccedilatildeo das peccedilas que

apresentarem viacutecios aleacutem da matildeo-de-obra utilizada no respectivo

reparo

(Certificado 8)

No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador ―todos para assegurar ao cliente

que em qualquer caso em que o produto possua defeito de material ou de fabricaccedilatildeo a

garantia estaraacute assegurada Aleacutem de assegurar isso tambeacutem garante a substituiccedilatildeo da peccedila do

aparelho que estiver com problema e a matildeo-de-obra tudo por conta do fabricante Caso o

autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todos ele poderia abrir margem para

outras interpretaccedilotildees como por exemplo que esta garantia natildeo abrange qualquer defeito do

produto constatado pelo fabricante Eacute interessante citar que a utilizaccedilatildeo do quantificador

―todos foi realizada beneficiando o fabricante pois mesmo afirmando que a ―garantia

abrange todos os defeitos o autor direciona para ―todos os casos que forem constatados

pelo fabricante Ou seja fica a criteacuterio do fabricante decidir o que eacute defeito e o que natildeo eacute

Assim como na ocorrecircncia (3) identificamos o uso do termo ―viacutecios que natildeo tem o

seu conceito descrito no texto do certificado O termo ―viacutecio natildeo eacute utilizado em nosso

cotidiano como algo vinculado a um objeto Geralmente conceituamos esse termo como

referente agrave dependecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica em relaccedilatildeo a uma substacircncia Tambeacutem podemos

conceituar como uma mania (costume de fazer sempre a mesma coisa) Enfim o termo

utilizado da forma em que foi descrita em (4) necessitaria que em alguma parte do texto

aparecesse o conceito para este termo que deve ser interpretado de forma especiacutefica pois eacute

um termo teacutecnico apresentado no CDC e muitas das vezes o cliente natildeo tem conhecimento

deste conceito favorecendo dificuldades a interpretaccedilatildeo do texto

(5) TODOS os eventuais danos ou demoras resultantes da natildeo

observacircncia dessas recomendaccedilotildees fogem agrave responsabilidade da APC

(Certificado 7)

7 Sobre esta estrateacutegia de eliminaccedilatildeo da polissemia e vagueza atraveacutes do uso de um glossaacuterio por autores de

textos instrucionais ver Estrela e Santos (2014)

59

Na ocorrecircncia acima a empresa APC se resguarda de qualquer responsabilidade sobre

o produto caso o cliente natildeo siga as recomendaccedilotildees dadas pelo fabricante Para isso utiliza o

quantificador universal para abranger ao maacuteximo as possibilidades de natildeo cobertura

favorecendo o fabricante Observamos que a utilizaccedilatildeo do quantificador na ocorrecircncia (5)

serviu para intensificar o que foi descrito na sentenccedila Caso natildeo fosse utilizado poderia

deixar margem para outras interpretaccedilotildees como por exemplo que poderia existir algum tipo

de dano eventual que fosse de responsabilidade do fabricante O quantificador ―todos

elimina esse tipo de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos

polissecircmicos na ocorrecircncia (5)

(6) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA garante e consequentemente

compromete-se a reparar ou substituir pelo prazo abaixo indicado

contado a partir da data indicada no documento fiscal representativo

de venda do veiacuteculo Hyundai TODAS as peccedilas que em serviccedilo

normal apresentem defeito de fabricaccedilatildeo ou de material desde que

observadas as respectivas condiccedilotildees sob pena de ser

automaticamente considerado cancelado o presente Certificado de

Garantia independentemente de qualquer aviso ou notificaccedilatildeo

(Certificado 17)

No trecho acima podemos observar que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se daacute

de forma bastante controlada Mesmo o termo ―todas sendo naturalmente utilizado para

abranger ou restringir ao maacuteximo inferecircncias na ocorrecircncia acima vemos sua utilizaccedilatildeo

dependendo de vaacuterios aspectos para se concretizar A Hyundai se compromete em reparar ou

substituir ―todas as peccedilas dos veiacuteculos que estiverem dentro de todas as caracteriacutesticas

descritas antes do termo ser usado como estar dentro do prazo estabelecido pelo fabricante

apresentarem defeito de fabricaccedilatildeo ou material e aleacutem disso observando os procedimentos

detalhados pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o quantificador universal eacute

utilizado de forma controlada pelo fabricante restringindo ao seu sabor as possibilidades de

validade da garantia

(7) TODA revisatildeo deveraacute ser registrada no quadro de registro de revisotildees

para assegurar a garantia de seu veiacuteculo

(Certificado 17)

60

Na ocorrecircncia acima observamos que o fabricante utilizou o quantificador universal

para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente da seguinte forma o

cliente que possui um veiacuteculo na garantia poderia interpretar por exemplo caso natildeo houvesse

a utilizaccedilatildeo do quantificador ―toda na sentenccedila (7) fazer as revisotildees do veiacuteculo em qualquer

oficina e natildeo registrar as mudanccedilas feitas no carro em lugar algum natildeo perdendo a garantia

do veiacuteculo O quantificador universal ―toda direciona a interpretaccedilatildeo da inferecircncia para que

o cliente efetue qualquer revisatildeo do veiacuteculo numa concessionaacuteria do fabricante e aleacutem disso

ter as revisotildees registradas no quadro de registro de revisotildees do fabricante Na ocorrecircncia (7)

natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos

(8) TODOS aparelhos da ONEAL saem da faacutebrica preacute-ajustados em

220V

(Certificado 5)

Nesta ocorrecircncia (8) o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para

abranger a informaccedilatildeo de que qualquer produto produzido por ele eacute ajustado em 220V

resguardando-se de por exemplo um questionamento de algum cliente sobre o

funcionamento de qualquer produto em outra voltagem ou utilizaccedilatildeo do produto em outra

voltagem ocasionando defeito no produto Caso isso ocorra o fabricante natildeo poderaacute ser

responsabilizado pois a partir da ocorrecircncia (8) ele explica a voltagem a ser utilizada natildeo

garantindo o funcionamento do produto em outras voltagens Na ocorrecircncia (8) observamos

que se o fabricante natildeo tivesse utilizado o quantificador universal ―todo natildeo alteraria a

interpretaccedilatildeo da sentenccedila Podemos entender que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal na

ocorrecircncia (8) serviu apenas para intensificar a informaccedilatildeo da sentenccedila

(9) TODOS nossos produtos satildeo testados durante horas nos mais severos

regimes antes de serem aprovados para o mercado

(Certificado 5)

No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para abranger a

interpretaccedilatildeo da inferecircncia Dessa forma o fabricante tenta nos levar a interpretar a

61

ocorrecircncia (9) da seguinte forma qualquer produto produzido por este fabricante eacute testado de

forma rigorosa antes de ser despachado para comercializaccedilatildeo Essa interpretaccedilatildeo eacute dificultada

pela presenccedila de termos vagos Ao utilizar a expressatildeo ―durante horas nos mais severos

regimes o fabricante natildeo teve o cuidado de atrelar essa informaccedilatildeo agrave classe de comparaccedilatildeo

na qual o cliente deve se basear para interpretar a sentenccedila da forma como o fabricante

deseja Ao afirmar que os produtos satildeo testados ―durante horas o fabricante natildeo especificou

por quantas horas os produtos satildeo testados e o que isso representa Por exemplo para

produtos X identificados como em bom funcionamento deve-se testaacute-los durante Y horas

segundo o manual Z que regulamenta a qualidade dos produtos X Aleacutem disso o fabricante

ainda afirma sobre os testes que satildeo ―nos mais severos regimes cometendo a mesma falha

da expressatildeo anterior natildeo descrevendo o que eacute isso e o que isso representa A expressatildeo eacute

vaga pois esses regimes de testes satildeo severos em relaccedilatildeo a quecirc Como natildeo haacute um grau de

comparaccedilatildeo de classe o cliente pode interpretar a ocorrecircncia de formas diversas Se o

fabricante tivesse especificado em algum lugar do texto que a expressatildeo ―nos mais severos

regimes deveria ser comparada por exemplo a um tipo de teste que coloca os produtos em

condiccedilotildees extremas para averiguar a sua qualidade durabilidade e bom funcionamento que eacute

norma padratildeo de qualidade para os produtos que ele estaacute justificando em (9) natildeo haveria

vagueza Do modo como a ocorrecircncia se apresenta as informaccedilotildees ―durante horas e ―nos

mais severos regimes satildeo vagas e dificultam a interpretaccedilatildeo da sentenccedila

(10) A ONEAL garante TODOS os seus produtos por um periacuteodo de 01

(um) ano jaacute incluiacutedo o periacuteodo de garantia legal (os primeiros 90 dias)

a partir da data da compra para problemas mecacircnicos ou por falhas

industriais em montagem e pintura

(Certificado 5)

Podemos observar na ocorrecircncia (10) que o fabricante assegura a garantia para todos

os seus produtos utilizando o quantificador universal com algumas restriccedilotildees Se natildeo

houvesse a utilizaccedilatildeo do quantificador nesta inferecircncia o cliente poderia considerar que a

garantia de seu produto por exemplo teria validade vitaliacutecia e que o produto estaria coberto

pela garantia mesmo se for danificado por negligecircncia do cliente O fabricante restringe o

periacuteodo de validade especificando que o periacuteodo de um ano jaacute inclui o periacuteodo da garantia

legal que eacute de 90 dias Ainda enfatiza que se deve contar o periacuteodo a partir da data da compra

e ainda explica que a garantia cobriraacute somente produtos que apresentarem problemas

62

mecacircnicos ou aqueles que apresentarem problemas industriais em montagem e pintura Dessa

forma problemas de outra natureza natildeo seratildeo cobertos pela garantia assim como produtos

com mais de um ano de adquiridos tambeacutem natildeo estaratildeo cobertos Poderiacuteamos identificar a

expressatildeo ―garantia legal como polissecircmica caso o fabricante natildeo tivesse apresentado o

conceito para a expressatildeo logo apoacutes entre parecircnteses Eacute sabido que no CDC a garantia legal eacute

caracterizada como o periacuteodo de 90 dias apoacutes a aquisiccedilatildeo de um produto Para evitar que

houvesse uma interpretaccedilatildeo indevida o fabricante conceituou a expressatildeo imediatamente

apoacutes o aparecimento dela na sentenccedila

(11) Em vista das mudanccedilas de leis que poderatildeo ocorrer TODO

certificado seraacute regido pelas normas do cartatildeo de garantia mais

recentemente atualizado pela faacutebrica

(Certificado 5)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todo para afirmar

que qualquer certificado de garantia de seus produtos deveraacute seguir as normas dispostas no

cartatildeo de garantia mais recentemente atualizado pela faacutebrica ou seja caso algum cliente tente

solicitar a garantia atraveacutes de um cartatildeo de garantia desatualizado ele natildeo estaraacute autorizado

Dessa forma o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo agraves possiacuteveis atualizaccedilotildees de leis ou

informaccedilotildees nos cartotildees de garantia dos diversos lotes de produtos impossibilitando o cliente

de reclamar sobre qualquer tipo de alteraccedilatildeo no documento em questatildeo A utilizaccedilatildeo do

quantificador universal em (11) eacute importante para dar ecircnfase agrave informaccedilatildeo central da sentenccedila

e tambeacutem para evitar que por exemplo o cliente interpretasse que algum certificado poderia

ser regido pelas normas de outro cartatildeo de garantia que natildeo fosse o mais recente Natildeo

identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos em (11)

(12) A garantia incide sobre TODOS os componentes montados

originalmente em Veiacuteculo conforme descrito na Nota Fiscal de

venda quer fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER ou

por esta adquiridos de terceiros

(Certificado 16)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para

restringir a interpretaccedilatildeo da sentenccedila quando afirma que a garantia cobre qualquer

63

componente montado originalmente em veiacuteculo ou seja a garantia natildeo cobre componentes

avulsos Aleacutem disso os componentes montados devem estar descritos na Nota Fiscal de

venda sendo assim se natildeo estiverem lanccedilados invalidam a garantia e por fim os veiacuteculos

devem tem sido fabricados por alguma empresa do grupo DAIMLER ou fabricado por outra

empresa mas tendo sido adquirido pelo fabricante que estaacute oferecendo a garantia Dessa

forma podemos ver que o quantificador universal foi utilizado pelo fabricante de forma

restrita limitando a abrangecircncia de acordo com seus interesses Caso o quantificador

universal natildeo tivesse sido utilizado na sentenccedila haveria a possibilidade do cliente interpretar

(12) de vaacuterias maneiras Por exemplo admitir que a garantia pode ser vaacutelida para produtos

que foram fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER mas natildeo foram lanccedilados na

Nota Fiscal de venda Em vista disso a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela

necessidade do fabricante restringir a interpretaccedilatildeo do texto da garantia buscando direcionar

melhor a informaccedilatildeo que ele estaacute vinculando em seu texto Natildeo identificamos nem termos

vagos nem termos polissecircmicos em (12)

(13) Executar TODAS as revisotildees estabelecidas pela Mercedes-Benz do

Brasil Ltda

(Certificado 16)

(14) Executar TODAS as manutenccedilotildees reparaccedilotildees e regulagens em um

dos Concessionaacuterios ou Postos de Serviccedilos Autorizados Mercedes-

Benz no territoacuterio brasileiro

(Certificado 16)

Nas duas ocorrecircncias acima podemos observar que o fabricante utiliza o quantificador

universal ―todas para definir que a garantia do produto soacute seraacute vaacutelida caso o cliente realize

as funccedilotildees descritas Caso o cliente natildeo realize pelo menos uma delas a garantia seraacute

invalidada Se o cliente natildeo realizar pelo menos uma revisatildeo sugerida pela fabricante perderaacute

a validade Aleacutem disso se o cliente realizar algum tipo de manutenccedilatildeo no veiacuteculo em alguma

concessionaacuteria que natildeo seja autorizada da Mercedes-Benz e no territoacuterio brasileiro tambeacutem

perderaacute a garantia O fabricante mesmo utilizando o quantificador universal nas duas

ocorrecircncias natildeo deixa de condicionar a validade da garantia de acordo com seus interesses O

cumprimento das recomendaccedilotildees dispostas apoacutes o quantificador natildeo garantem efetivamente

que a garantia do produto estaacute assegurada Ou seja mesmo que o cliente execute todas as

manutenccedilotildees reparos e regulagens em um dos concessionaacuterios do fabricante natildeo impede que

64

a garantia seja invalidade por outro motivo O quantificador universal foi utilizado pelo

fabricante em (13) e (14) sem limites e em seu benefiacutecio Natildeo identificamos nem termos

vagos nem termos polissecircmicos em (13) e (14)

(15) TODA solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica durante o periacuteodo da

garantia deveraacute ser feita obrigatoriamente agrave faacutebrica via e-mail ou

fax descrevendo detalhadamente os problemas apresentados natildeo

excedendo o prazo de 30 dias apoacutes detectaacute-lo indicando o modelo do

equipamento e o nuacutemero de seacuterie descrito na placa de identificaccedilatildeo do

mesmo e constante neste certificado

(Certificado 22)

Na ocorrecircncia (15) o fabricante utiliza o quantificador universal ―toda de forma

abrangente determinando que todas as solicitaccedilotildees de assistecircncia teacutecnica para qualquer

produto deveraacute seguir as instruccedilotildees definidas em seguida Caso o cliente tente solicitar a

assistecircncia natildeo seguindo algum dos passos e prazos determinados pelo fabricante a garantia

seraacute invalidada O quantificador universal foi utilizado para evitar interpretaccedilotildees relativas

sobre os procedimentos descritos no texto Por exemplo se (15) natildeo tivesse o quantificador

universal ―toda uma possiacutevel interpretaccedilatildeo seria que uma solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica

durante o periacuteodo da garantia poderia ser realiza na loja em que o produto foi comprado e natildeo

apenas na faacutebrica Dessa forma a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela

necessidade do fabricante restringir o percurso da solicitaccedilatildeo da garantia para o procedimento

que ele deseja que seja seguido pelo cliente Natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos

em (15)

32 USO DO CONDICIONAL

Vejamos a seguir as ocorrecircncias em que o condicional eacute utilizado Quando as

ocorrecircncias apresentarem o mesmo sentido de interpretaccedilatildeo agruparemos numa mesma

anaacutelise como podemos observar a seguir nas ocorrecircncias (16) (17) e (18)

(16) A garantia fica automaticamente invalidada SE

(Certificado 2)

65

(17) A garantia legal e contratual perderaacute seu efeito SE

(Certificado 3)

(18) Esta garantia perderaacute a validade SE

(Certificado 11)

Podemos observar nas ocorrecircncias (16) (17) e (18) que o condicional tem a funccedilatildeo de

limitar a aplicaccedilatildeo da garantia Os usos do ―se natildeo excluem a possibilidade de haver outros

casos em que a garantia natildeo se aplica ou seja as listas que satildeo apresentadas apoacutes o

condicional natildeo satildeo exaustivas Vale mencionar que da mesma forma que o ―todo o ―se

foi utilizado para beneficiar o fabricante como afirmamos acima O ―se assegura que a

validade do produto seraacute perdida nos casos que satildeo listados apoacutes o condicional sem eliminar

a possibilidade de haverem outros casos abrangendo sem limites os casos em que a garantia

natildeo cobriraacute o produto e restringindo a validade da garantia para o cliente Natildeo identificamos

termos vagos ou polissecircmicos nas ocorrecircncias (16) (17) (18) Na ocorrecircncia (17) o autor

usou os termos ―garantia legal e ―contratual que poderiam ser considerados termos

polissecircmicos que dificultariam a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia mas foram apresentados no

certificado os conceitos para os dois termos Para ―garantia legal o autor definiu como

sendo o prazo inicial da garantia com duraccedilatildeo de 90 dias ( contados imediatamente apoacutes a

emissatildeo da Nota Fiscal de compra) e previsto no CDC por sua vez para ―garantia

contratual se refere ao periacuteodo de dois anos incluindo o periacuteodo da garantia legal para todo

equipamento (neste caso condicionador de ar) e cinco anos para o compressor Com a

apresentaccedilatildeo destas definiccedilotildees o autor evitou que os termos se apresentassem no texto como

polissecircmicos

(19) A garantia do produto natildeo se aplica

(Certificado 8)

Trouxemos para a anaacutelise a ocorrecircncia acima pois a expressatildeo ―natildeo se aplica desta

sentenccedila funciona como um condicional mesmo sem ter a forma das ocorrecircncias que

analisamos anteriormente O fabricante utiliza esse condicional precedendo uma lista de

possiacuteveis situaccedilotildees em que a garantia poderia ser reclamada pelo cliente dessa forma

impossibilitando o cliente de exigir qualquer direito sobre alguma das possiacuteveis situaccedilotildees

Natildeo identificamos termos polissecircmicos e vagos na ocorrecircncia (19)

66

(20) A garantia do produto extingue-se

(Certificado 8)

Assim como na ocorrecircncia anterior tambeacutem natildeo encontramos o condicional ―se de

forma expliacutecita mas o termo ―extingue-se se comporta como tal A sentenccedila acima foi

utilizada pelo fabricante antecedendo uma lista de possibilidades de situaccedilotildees em que o

cliente poderia reclamar a garantia do produto excluindo entatildeo qualquer direito do cliente

em relaccedilatildeo ao que foi listado abaixo da sentenccedila em questatildeo Natildeo identificamos termos vagos

e polissecircmicos na ocorrecircncia (20)

(21) O cliente perderaacute a garantia do seu veiacuteculo SE

(Certificado 17)

Na ocorrecircncia (21) o fabricante utiliza o condicional antecedendo uma lista de

situaccedilotildees que se concretizadas invalidaratildeo a garantia Dessa forma se o veiacuteculo do cliente

que deseja ser atendido pela garantia se enquadrar em algum dos itens dispostos apoacutes essa

sentenccedila a garantia natildeo seraacute concedida Assim como nas ocorrecircncias com o uso do

condicional apresentadas anteriormente o uso do ―se aparece sem limites Como afirmamos

na anaacutelise das ocorrecircncias (16) (17) e (18) o autor utiliza o condicional para em seguida

apresentar uma lista de situaccedilotildees em que se concretizadas o cliente perderaacute a garantia Mas

mesmo com a apresentaccedilatildeo dessa lista o cliente poderaacute perder a garantia caso ocorra outro

tipo de situaccedilatildeo natildeo listada Dessa forma o fabricante se favorece abrangendo ao maacuteximo as

possibilidades de perda da garantia e ―prejudica o cliente oferecendo-lhe restritas

possibilidades de validade da garantia do produto a que se refere o texto Natildeo identificamos

nem termos polissecircmicos nem vagos na ocorrecircncia (21) Apenas vale ressaltar que diferente

das ocorrecircncias apresentadas anteriormente o autor em vez de escrever ―a garantia do

produto ele utilizou ―a garantia do seu veiacuteculo que especifica ao que se refere o texto

diminuindo a possibilidade de o cliente interpretar a ocorrecircncia de uma forma diferente da

que o autor se propotildee a transmitir

(22) A garantia vigoraraacute SOMENTE SE o Veiacuteculo atender

cumulativamente as seguintes condiccedilotildees

67

(Certificado 16)

Eacute interessante observar a forma como o fabricante utiliza o condicional na ocorrecircncia

(22) que precede uma lista de condiccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso o fabricante

natildeo utilizasse esse condicional ―somente se na sentenccedila acima o cliente poderia interpretar

que se o seu produto atendesse pelo menos a uma das condiccedilotildees estaria coberto pela

garantia Mas o fabricante aleacutem de utilizar o condicional ―somente se tambeacutem utilizou o

termo ―cumulativamente explicitando que o produto deve obedecer a todas as condiccedilotildees

dispostas pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o autor utilizou o condicional

para restringir as possibilidades de validade da garantia com restriccedilotildees o que natildeo ocorre

quando o fabricante trata sobre as possibilidades de invalidade da garantia como na

ocorrecircncia (21) Comparando as ocorrecircncias (21) e (22) vemos claramente que o autor em

(21) utilizou o condicional para lhe favorecer sem limites quando tratou sobre as condiccedilotildees

pelas quais o cliente pode perder a garantia abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura natildeo

apenas para as situaccedilotildees que estatildeo listadas mas tambeacutem para qualquer outra possiacutevel Jaacute em

(22) o autor (mesmo essa comparaccedilatildeo sendo feita entre ocorrecircncias de certificados

diferentes) utiliza o condicional para restringir as possibilidades de validade da garantia para

as situaccedilotildees listadas apoacutes a apresentaccedilatildeo do condicional e aleacutem disso afirmou que todas as

situaccedilotildees listadas devem ser atendidas para que a garantia seja vaacutelida para o produto Dessa

forma ainda sobre a ocorrecircncia (22) caso uma das situaccedilotildees listadas natildeo seja atendida a

garantia automaticamente seraacute perdida Com isso podemos afirmar que tanto em (21) quanto

em (22) os autores utilizaram o condicional para se beneficiar Em (21) abrangendo as

possibilidades de invalidade da garantia e em (22) restringindo ao maacuteximo as possibilidades

de validade da garantia do produto Natildeo identificamos nem termos vagos nem polissecircmicos

na ocorrecircncia (22)

(23) A garantia Philips natildeo eacute aplicaacutevel SE

(Certificado 14)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o condicional ―se antecedendo uma lista de

informaccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso algum produto Philips se encaixar em

alguma das situaccedilotildees descritas apoacutes o condicional mesmo estando dentro do prazo de

garantia o cliente perderaacute a cobertura Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem

68

vagos na ocorrecircncia (23)

(24) Esta garantia natildeo se aplica

(Certificado 21)

Assim como nas ocorrecircncias (18) e (19) a ocorrecircncia acima natildeo possui o condicional

expliacutecito mas o termo ―natildeo se aplica se comporta como tal O fabricante utiliza o

condicional precedendo uma lista de condiccedilotildees de natildeo aplicaccedilatildeo da garantia Dessa forma

caso o produto se encaixe em alguma das condiccedilotildees a garantia seraacute invalidada

automaticamente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem vagos na sentenccedila (24)

33 USO DO APENASSOMENTE

Vejamos a seguir ocorrecircncias em que identificamos o uso do ―apenas ou ―somente

(25) Esta garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver

devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original

da Nota Fiscal de Compra

(Certificado 4)

Na ocorrecircncia (25) o fabricante utiliza o ―somente para restringir a validade da

garantia indicando que o cliente teraacute direito agrave garantia caso preencha de forma correta o

certificado e apresente a nota fiscal de compra Caso as instruccedilotildees natildeo sejam seguidas pelo

cliente a garantia natildeo seraacute vaacutelida Podemos identificar que o termo ―rasuras presente em

(25) pode ser considerado como vago e polissecircmico neste caso dificultando a interpretaccedilatildeo

do texto Uma rasura pode ser por exemplo desde um rabisco fora de lugar no formulaacuterio

ateacute o dano no documento por aacutegua amasso do papel em excesso etc O autor poderia evitar a

vagueza e a polissemia definindo o termo da forma como ele deseja que o leitor interprete

este termo e comparando-o a uma classe especiacutefica (por exemplo o que eacute considerado rasura

69

nos documentos instrucionais)

(26) Danos decorrentes de desgaste natural inclusive e natildeo SOMENTE

nas partes plaacutesticas que compotildeem o gabinete do produto

(Certificado 4)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o ―somente numa sentenccedila que trata sobre

uma das situaccedilotildees em que a garantia natildeo seraacute vaacutelida O fabricante deixa claro que qualquer

defeito no produto causado por desgaste natural natildeo seraacute coberto pela garantia Se o

fabricante natildeo utilizasse o ―somente nesta sentenccedila o cliente poderia interpretar por

exemplo que danos decorrentes de desgaste natural nas partes que natildeo satildeo de plaacutestico seriam

cobertas pela garantia O autor utiliza o ―somente para se resguardar sobre outras possiacuteveis

interpretaccedilotildees do trecho abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura da garantia para

qualquer peccedila do produto que for afetado por danos decorrentes de desgaste natural Na

ocorrecircncia (26) a expressatildeo ―desgaste natural eacute polissecircmica O autor em nenhuma parte do

certificado de garantia definiu a expressatildeo em questatildeo para que o cliente compreenda da

forma desejada pelo fabricante Dessa forma podemos interpretar ―desgaste natural de

muitas formas Podemos por exemplo interpretar como o desgaste do produto como um todo

ou suas peccedilas referentes ao uso em excesso ao longo do tempo e diretamente vinculado agrave

vida uacutetil tanto do produto em geral quanto de peccedilas especiacuteficas Mas tambeacutem podemos

interpretar como sendo um desgaste proveniente do contato do produto com a natureza como

a exposiccedilatildeo agrave chuva maresia sol em excesso Pode parecer um exagero esta uacuteltima

interpretaccedilatildeo mas ela eacute possiacutevel a partir da forma como (26) se apresenta O autor utilizou no

texto a expressatildeo sem dar-lhe a definiccedilatildeo que ele pensou para a utilizaccedilatildeo dela na ocorrecircncia

dificultando a interpretaccedilatildeo do texto

(27) Este termo de garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos

comercializados e utilizados em territoacuterio brasileiro

(Certificado 4)

(28) Este Certificado de Garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos

vendidos e utilizados no territoacuterio brasileiro

(Certificado 10)

(29) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro

70

(Certificado 2)

(30) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro

(Certificado 13)

(31) Esta garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o territoacuterio brasileiro

(Certificado 12)

Nas ocorrecircncias (27) (28) (29) e (30) observamos que os fabricantes utilizam o termo

―apenas para restringir a cobertura da garantia tanto em relaccedilatildeo ao local da compra quanto

em relaccedilatildeo ao local de uso do produto assim como o autor da ocorrecircncia (31) utiliza o termo

―somente com o mesmo sentido Caso o produto tenha sido comprado em outro paiacutes natildeo

haveraacute cobertura da garantia assim como mesmo que o produto tenha sido comprado no

Brasil mas tenha sido utilizado em outro paiacutes culminando em um defeito tambeacutem natildeo haveraacute

cobertura da garantia Mas para a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que aparece em (27) (28)

(29) (30) e (31) podemos tambeacutem interpretar como natildeo apenas a extensatildeo territorial do paiacutes

mas tambeacutem admitir territoacuterios brasileiros em outros paiacuteses a saber os consulados

honoraacuterios do Brasil nas diversas naccedilotildees ao redor do mundo Nesse caso por exemplo se o

produto for adquirido dentro dos limites geograacuteficos do Brasil e for utilizado em algum

consulado do Brasil em outro paiacutes a garantia deve ser vaacutelida Eacute possiacutevel que o fabricante natildeo

tenha pensado nessa possibilidade poreacutem da forma que estas ocorrecircncias se apresentam haacute

essa possibilidade de interpretaccedilatildeo Ao apresentar essa possiacutevel interpretaccedilatildeo para a

expressatildeo ―territoacuterio brasileiro noacutes quisemos mostrar que o fabricante deveria ter

especificado em alguma parte do certificado de garantia o conceito que ele deseja que o

cliente admita para esta expressatildeo para natildeo deixar que a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro seja

interpretada de outras formas ou seja para evitar a polissemia que dificulta a leitura do

texto Outra questatildeo que tambeacutem podemos considerar eacute que nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)

a afirmaccedilatildeo sobre a validade da garantia eacute apresentada de forma menos detalhada Os autores

apresentam a afirmaccedilatildeo de que a garantia eacute vaacutelida para o territoacuterio brasileiro sem informar se

eacute em relaccedilatildeo ao produto ser adquirido e utilizado no paiacutes Brasil ou se o produto pode ser

utilizado fora do Brasil mas para requerer a garantia do produto o consumidor caso resida no

exterior deva se dirigir ao Brasil para fazer jus a sua garantia Diferente das ocorrecircncias (27)

e (28) em que os autores enfatizam que a garantia dos produtos eacute vaacutelida unicamente para

produtos comercializados e utilizados dentro do Brasil restringindo a garantia mais do que

nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)

71

(32) A garantia SOMENTE eacute vaacutelida mediante a apresentaccedilatildeo de nota

fiscal de compra deste produto

(Certificado 3)

Podemos observar na ocorrecircncia (29) que o fabricante utiliza o termo ―somente para

restringir a validade da garantia Fica claro que caso o produto apresente algum defeito e o

cliente procure a assistecircncia teacutecnica sem estar de posse da nota fiscal natildeo haveraacute cobertura da

garantia Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em (29) o cliente poderia interpretar

por exemplo que a garantia do produto eacute vaacutelida com ou sem a apresentaccedilatildeo da nota fiscal de

compra do produto Neste caso a funccedilatildeo do ―somente eacute de restringir a interpretaccedilatildeo de

acordo com o que o fabricante deseja Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem

vagos em (29)

(33) A garantia oferecida por esse Certificado eacute de 36 (trinta e seis) meses

e SOMENTE teraacute validade se o presente documento for devidamente

preenchido no ato da venda do produto conforme acima e se a

instalaccedilatildeo for feita por uma pessoa ou empresa credenciada pela

Robert Bosch Ltda

(Certificado 8)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade

da garantia Caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees de forma cumulativa que seguem a

utilizaccedilatildeo do termo a garantia seraacute invalidada Por exemplo se o cliente preencher no ato da

venda do produto o certificado mas se a instalaccedilatildeo do produto natildeo tiver sido feita por algueacutem

credenciado pela Robert Bosch Ltda a garantia natildeo teraacute validade A importacircncia do uso do

―somente em (33) se daacute pelo fato de que caso o autor natildeo tivesse utilizado este termo

haveria a possibilidade do cliente interpretar por exemplo que a garantia teria validade caso

a instalaccedilatildeo do produto tenha sido feita por uma pessoa ou empresa natildeo credenciada pela

fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (33)

(34) Os consertos em Garantia do Produto SOMENTE seratildeo efetuados

72

por um Serviccedilo Autorizado devidamente nomeado pela Robert Bosch

Ltda em territoacuterio brasileiro

(Certificado 8)

Podemos observar que o fabricante utiliza o termo ―somente em (34) para restringir a

validade da garantia O fabricante define tanto quem efetuaraacute o conserto dos produtos quanto

os limites territoriais de cobertura Dessa forma fica expliacutecito para o cliente que o conserto

natildeo poderaacute ser efetuado por pessoas natildeo autorizadas pela Robert Bosch Ltda e tal conserto

natildeo pode ser realizado em outros paiacuteses Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em

(34) abriria a possibilidade de interpretar a sentenccedila de outras formas como por exemplo

que os consertos em garantia do produto poderiam ser realizados em territoacuterios de outros

paiacuteses ou que os consertos poderiam ser realizados por serviccedilos natildeo autorizados pelo

fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (34)

(35) O exame e reparo do produto soacute poderatildeo ser efetuados pelo

fabricante

(Certificado 7)

Na ocorrecircncia (36) o fabricante utiliza no lugar do termo ―somente o termo ―soacute

para restringir a interpretaccedilatildeo Nesse caso se o cliente procurar reparar eou examinar o

produto sozinho ou em assistecircncias teacutecnicas que natildeo sejam autorizadas pelo fabricante a

garantia seraacute invalidada A utilizaccedilatildeo do termo ―soacute tem grande importacircncia para o

direcionamento da interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia (35) pois caso natildeo tivesse sido utilizado pelo

autor a ocorrecircncia traria apenas uma informaccedilatildeo vaga dificultando a interpretaccedilatildeo do texto

Sem o ―soacute a partir de (35) poderiacuteamos interpretar que o exame e reparo do produto podem

ser efetuados pelo fabricante mas tambeacutem por qualquer outra pessoa ou empresa Utilizando

o ―soacute o autor restringe a inferecircncia evitando muacuteltiplas interpretaccedilotildees para a sentenccedila

(36) O presente ―Termo de Garantia Hyundai aplica-se uacutenica e

exclusivamente ao veiacuteculo da marca e fabricaccedilatildeo Hyundai

devidamente identificado no iniacutecio deste documento e que tenha sido

comercializado por um Revendedor Autorizado da CAOA Montadora

de Veiacuteculos SA

(Certificado 17)

73

Em (36) o fabricante natildeo utiliza os termos ―apenas ou ―somente mas

consideraremos em nossa anaacutelise a expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como um restritor de

mesmo sentido Observamos que o fabricante utiliza a expressatildeo para restringir a cobertura

da garantia Caso o cliente esteja por exemplo solicitando a garantia de um veiacuteculo Hyundai

que natildeo seja o mesmo que estaacute descrito no iniacutecio do documento de garantia e que natildeo tenha

sido comercializado por uma autorizada da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA a garantia

natildeo teraacute validade Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado a expressatildeo ―uacutenica e

exclusivamente em (36) haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia de outras

maneiras

(37) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA eou o Revendedor Autorizado

da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA APENAS substituiraacute as peccedilas

que forem por elas e a seu exclusivo criteacuterio julgadas como

defeituosas

(Certificado 17)

Na ocorrecircncia (37) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a interpretaccedilatildeo

da sentenccedila Dessa forma o fabricante fica resguardado tanto em relaccedilatildeo a substituiccedilatildeo de

peccedilas quanto em relaccedilatildeo ao meacutetodo utilizado para jugar se a peccedila estaacute defeituosa ou natildeo A

importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―apenas em (37) tambeacutem se daacute pelo fato de natildeo permitir outras

interpretaccedilotildees diferentes da definida pelo fabricante Caso o ―apenas natildeo tivesse sido

utilizado poderiacuteamos interpretar por exemplo que o fabricante poderia substituir peccedilas

julgadas por ela como defeituosas utilizando seus proacuteprios criteacuterios mas tambeacutem substituiria

em outros casos O ―apenas serviu para especificar e restringir a interpretaccedilatildeo dos criteacuterios

definidos pelo fabricante em relaccedilatildeo agrave substituiccedilatildeo de peccedilas do produto Natildeo identificamos

nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (37)

(38) Permita que SOMENTE teacutecnicos autorizados pela faacutebrica prestem

assistecircncia a seu aparelho pois se for aberto por teacutecnicos ou pessoas

natildeo autorizadas automaticamente vocecirc estaraacute perdendo sua garantia

(Certificado 5)

Na ocorrecircncia (38) o fabricante deixa expliacutecito ao utilizar o termo ―somente que

caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees dispostas nesta sentenccedila a garantia do produto seraacute

74

invalidada Dessa forma o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a informaccedilatildeo

veiculada pelo fabricante da mesma forma como vimos na ocorrecircncia (37) Natildeo

identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (38)

(39) A presente garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o Veiacuteculo

comercializado em territoacuterio brasileiro

(Certificado 16)

Na ocorrecircncia (39) um pouco parecida com as ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e

(31) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia do produto Nesse caso

se o veiacuteculo tiver sido adquirido em outro paiacutes sua garantia natildeo seraacute vaacutelida no Brasil Um

pouco diferente das ocorrecircncias (27) e (28) que especificam ao maacuteximo a possibilidade de

cobertura da garantia a ocorrecircncia (39) veicula que a garantia eacute vaacutelida para o produto

comercializado em territoacuterio brasileiro natildeo tratando sobre a possibilidade da perda da

garantia caso o veiacuteculo seja utilizado em outros paiacuteses Neste caso o cliente natildeo tem direito

a garantia do veiacuteculo caso ele seja adquirido em outros paiacuteses Sobre a expressatildeo ―territoacuterio

brasileiro assim como nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31) o autor natildeo definiu um

sentido para a expressatildeo que pode ser interpretada de outras maneiras como exemplificamos

nas anaacutelises anteriores

(40) Utilizar SOMENTE peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios genuiacutenos

Mercedes-Benz e comprovar sua aquisiccedilatildeo mediante e apresentaccedilatildeo

da Nota Fiscal quando adquiridos pelo consumidor final

(Certificado 16)

Na ocorrecircncia (40) que faz parte de uma lista de recomendaccedilotildees para o cliente natildeo

perder a garantia o fabricante utiliza o termo ―somente para delimitar a interpretaccedilatildeo da

sentenccedila Na passagem se o cliente natildeo seguir as instruccedilotildees descritas consequentemente

perderaacute a garantia do produto A importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente na ocorrecircncia (40) eacute

a de dificultar que o cliente interpreta a sentenccedila de outra maneira Sem o ―somente na

sentenccedila o cliente poderia interpretar que ele pode utilizar peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios

originais do fabricante mas tambeacutem estaacute autorizado a utilizar peccedilas de outros fabricantes

Com a presenccedila do ―somente na sentenccedila o cliente eacute levado a interpretar a sentenccedila da

75

forma direcionada pelo fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (40)

(41) A comprovaccedilatildeo de defeito de fabricaccedilatildeo do produto que provocaraacute a

execuccedilatildeo da troca do mesmo deveraacute ser feita exclusivamente por

funcionaacuterio credenciado da Ortobom

(Certificado 15)

Na ocorrecircncia (41) o fabricante natildeo utiliza explicitamente os termos ―apenas ou

―somente mas consideraremos em nossa anaacutelise que o termo ―exclusivamente possui a

mesma funccedilatildeo de restringir interpretaccedilotildees O fabricante utiliza o termo para restringir a

garantia do produto em questatildeo Natildeo haacute a possibilidade de o cliente comprovar um defeito de

fabricaccedilatildeo em seu produto atraveacutes de outro profissional que natildeo seja um funcionaacuterio

credenciado da Ortobom Haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia (41) caso o

fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―exclusivamente Sem tal uso o cliente poderia

interpretar que poderia comprovar algum defeito no produto para possiacutevel troca por

intermeacutedio de qualquer profissional natildeo obrigatoriamente por um funcionaacuterio do fabricante

Ortobom O termo ―exclusivamente especifica e destaca a informaccedilatildeo que o fabricante

veicula em (41) Natildeo identificamos em (41) nem termos polissecircmicos nem termos vagos

(42) A garantia cobre exclusivamente defeitos de materiais eou

fabricaccedilatildeo sendo que as despesas de deslocamento alimentaccedilatildeo e

hospedagem do teacutecnico para atendimento em garantia ou natildeo

referente agrave entrega montagem instruccedilatildeo de uso e reparo do

equipamento assim como o frete de retirada para conserto e retorno

do mesmo e de envio de peccedilas e retorno das substituiacutedas em garantia

ocorreratildeo por conta do cliente

(Certificado 22)

Assim como em (41) o fabricante utiliza o termo ―exclusivamente para restringir a

garantia do produto O fabricante ao utilizar esse termo se resguarda de possiacuteveis cobranccedilas

por parte do cliente ao solicitar a garantia como por exemplo ajuda de custo para custear a

iacuteda do teacutecnico para manutenccedilatildeo do produto envio de peccedilas para faacutebrica etc Fica expliacutecito

que em todas essas situaccedilotildees o cliente eacute responsaacutevel Caso o termo ―exclusivamente natildeo

76

tivesse sido utilizado o cliente poderia interpretar a ocorrecircncia de diferentes modos Uma

possibilidade de interpretaccedilatildeo seria a de entender que a garantia cobre outros tipos de

defeitos que natildeo fossem de peccedilas ou de fabricaccedilatildeo Com a utilizaccedilatildeo do termo

―exclusivamente o fabricante diminui as possibilidades de interpretaccedilatildeo tornando o texto

mais claro para o cliente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na

ocorrecircncia (42)

(43) A garantia natildeo cobre peccedilas ou componentes de desgaste normal de

uso dentre as quais selim pedais firma-peacutes natildeo se limitando

SOMENTE a estes mas incluindo rodas de transporte carenagens

adesivos elementos de acabamento de plaacutestico borracha e alumiacutenio

danos na pintura e quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa

exclusiva distribuiccedilatildeo devendo as reclamaccedilotildees ser encaminhadas aos

seus respectivos representantes ou fabricantes

(Certificado 22)

Em (43) o fabricante aleacutem de utilizar o termo ―somente para abranger a

interpretaccedilatildeo sobre as peccedilas que natildeo seratildeo cobertas pela garantia do produto utiliza outros

termos que alargam ainda mais sem restriccedilotildees a natildeo cobertura da garantia como ―quaisquer

acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo O fabricante se resguarda

especificando quais peccedilas que ele considera como de ―desgaste normal para evitar

problemas de interpretaccedilatildeo por parte do cliente O uso do ―somente na ocorrecircncia (43) se

apresenta de forma contraacuteria agraves outras ocorrecircncias que apresentamos anteriormente Enquanto

em ocorrecircncias como a (40) que o ―somente foi utilizado para restringir a interpretaccedilatildeo da

sentenccedila para as informaccedilotildees descritas depois do termo em (43) o fabricante utiliza o

―somente precedido da negaccedilatildeo ―natildeo se limitando direcionando o termo para o sentido de

abrangecircncia Ou seja a garantia que o fabricante oferece natildeo cobre peccedilas ou componentes de

desgaste natural como selim e pedais Para natildeo correr o risco de esquecer de citar algum dos

componentes de desgaste natural do produto e deixar brechas na interpretaccedilatildeo da garantia o

fabricante utiliza a expressatildeo ―natildeo se limitando seguida do ―somente para abranger ao

maacuteximo as possibilidades de interpretaccedilatildeo sobre os itens de desgaste natural que natildeo satildeo

cobertos pela garantia Depois do uso do ―somente e de apresentar mais uma lista de itens

que natildeo satildeo cobertos pela garantia o fabricante ainda abrange mais a interpretaccedilatildeo

utilizando a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo

Dessa forma pudemos perceber que o fabricante utilizou natildeo apenas o termo de restriccedilatildeo

77

―somente para limitar as possibilidades de interpretaccedilatildeo da sentenccedila mas tambeacutem utilizou

listas especificando itens e a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa

exclusiva distribuiccedilatildeo Todas essas estrateacutegias foram utilizadas com o objetivo de tornar a

interpretaccedilatildeo do texto clara sem oferecer a possibilidade de o cliente obter muacuteltiplas

interpretaccedilotildees do texto Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na

ocorrecircncia (43)

(44) A matildeo-de-obra em garantia limita-se SOMENTE ao horaacuterio normal

de expediente sendo de segunda a sexta-feira das 730 agraves 1800 horas

devendo o equipamento estar disponiacutevel para a assistecircncia teacutecnica

(Certificado 22)

Em (44) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o horaacuterio disponiacutevel

para reparos em produtos na garantia e aleacutem disso enfatizando que o produto deve estar

disponiacutevel para a assistecircncia Dessa forma o cliente fica impossibilitado de reclamar

assistecircncia fora do horaacuterio que estaacute descrito na sentenccedila assim como fica consciente de que

seu produto ficaraacute a disposiccedilatildeo da assistecircncia para conserto ou seja natildeo seraacute reparado

imediatamente A importacircncia do uso do ―somente na ocorrecircncia (44) se daacute pelo fato de que

caso natildeo fosse utilizado o cliente poderia interpretar por exemplo que a matildeo-de-obra em

garantia estaria disponiacutevel vinte e quatro horas por dia e sete dias por semana Como o

―somente foi utilizando precedendo as informaccedilotildees sobre dia e horaacuterio de atendimento natildeo

eacute possiacutevel interpretar a informaccedilatildeo de outra maneira que natildeo seja a descrita Haveria a

possibilidade de definir a expressatildeo ―horaacuterio normal de expediente como uma expressatildeo

polissecircmica caso ela natildeo estivesse acompanhada de uma definiccedilatildeo (―de segunda a sexta-feira

das 730 agraves 1800 horas) pois o horaacuterio de expediente pode variar de acordo com o trabalho

que vocecirc tem por exemplo Se vocecirc trabalha em um banco financeiro o seu horaacuterio de

expediente seraacute possivelmente diferente do horaacuterio de um feirante Para evitar a polissemia

o fabricante utilizou a expressatildeo e em seguida apresentou a definiccedilatildeo da expressatildeo de

acordo com o seu interesse

(45) A presente garantia limita-se SOMENTE ao produto fornecido natildeo

responsabilizando a TOTAL HEALTH por danos causados a pessoas

a terceiros a outros equipamentos ou instalaccedilotildees lucros cessantes ou

quaisquer outros danos emergentes ou consequumlentes

(Certificado 22)

78

Na ocorrecircncia (45) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da

garantia Nesse caso a garantia se limita unicamente ao produto descrito Se por exemplo o

produto em questatildeo apresentar defeito e tal defeito ocasionar dano fiacutesico ao dono do produto

ou a terceiros a garantia natildeo cobriraacute tais problemas Assim como nas ocorrecircncias anteriores

o uso do ―somente em (45) teve a funccedilatildeo de direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para uma

uacutenica possibilidade de interpretaccedilatildeo Caso o ―somente natildeo tivesse sido utilizado poderiacuteamos

interpretar (45) de outras maneiras Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (45)

(46) SOMENTE os profissionais indicados pela loja revendedora dos

produtos Bartzen estatildeo autorizados a prestar atendimento dentro do

prazo de garantia

(Certificado 18)

Na ocorrecircncia (46) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a

interpretaccedilatildeo da sentenccedila Nesse caso o cliente soacute poderaacute usufruir de assistecircncia teacutecnica em

seu produto atraveacutes de profissionais indicados pela loja na qual ele adquiriu seu produto

Bartzen e dentro do prazo da garantia Caso o cliente realize algum serviccedilo em seu produto

com profissionais natildeo autorizados pela fabricante sua garantia seraacute invalidada A importacircncia

da utilizaccedilatildeo do termo ―somente na ocorrecircncia (46) eacute a de diminuir as possibilidades de

interpretaccedilatildeo da sentenccedila ao maacuteximo Dessa forma natildeo haacute como o cliente interpretar que por

exemplo ele pode realizar a manutenccedilatildeo ou reparo do seu produto com qualquer outro

funcionaacuterio que natildeo seja autorizado pela fabricante do produto Natildeo identificamos nem

termos polissecircmicos nem termos vagos em (46)

(47) A garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o consumidor que consta

identificado na nota fiscal de compra do produto (primeiro usuaacuterio) a

qual deveraacute ser apresentada junto com este Certificado de Garantia

devidamente preenchido com os dados do consumidor e do produto

para fins de cobertura para reparo ou substituiccedilatildeo do produto se

necessaacuterio

(Certificado 19)

79

Em (47) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia Nesse caso

o cliente fica ciente de que a garantia soacute seraacute vaacutelida para o primeiro proprietaacuterio do produto

assim como soacute seraacute aceito o pedido de garantia caso o cliente apresentar a nota fiscal

contendo tanto os dados do produto quanto os seus Todas as possibilidades fora das

descritas seratildeo desconsideradas e consequentemente a garantia seraacute invalidada A

importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente em (47) se daacute pelo fato de que haacute diversas

informaccedilotildees a serem consideradas pelo cliente na ocorrecircncia (47) e caso o autor do texto natildeo

tivesse utilizado o termo ―somente antes dessas informaccedilotildees o cliente poderia interpretar

que sua garantia poderia ser vaacutelida ao cumprir algumas das informaccedilotildees descritas na sentenccedila

e natildeo obrigatoriamente todas Por exemplo se natildeo houvesse o uso do ―somente em (47) o

cliente poderia interpretar que a garantia eacute vaacutelida para o consumidor que tem o nome

constando na nota fiscal mas tambeacutem para qualquer outro consumidor que esteja de posse da

nota fiscal mesmo que natildeo seja a pessoa que tem o nome na nota fiscal O ―somente possui

o papel de restringir a interpretaccedilatildeo de toda ocorrecircncia ao maacuteximo direcionando a leitura do

texto para evitar muacuteltiplas interpretaccedilotildees Com esse uso natildeo eacute possiacutevel que cliente interprete

que ele pode ter acesso a garantia caso natildeo cumpra alguma das recomendaccedilotildees Natildeo

identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (47)

(48) O Certificado de Garantia eacute vaacutelido SOMENTE para os

condicionadores vendidos e instalados no territoacuterio brasileiro

(Certificado 19)

Em (48) semelhante agraves ocorrecircncias (31) e (39) o fabricante utiliza o termo ―somente

para restringir o territoacuterio de cobertura da garantia Neste caso condicionadores adquiridos e

utilizados em outros paiacuteses natildeo seratildeo cobertos pela garantia descrita acima Ainda retomando

a discussatildeo sobre a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro consideramos que pelo fato do autor do

texto natildeo ter apresentado um conceito para esta expressatildeo em nenhum local do certificado de

garantia da forma como se apresenta ela pode ser interpretada de outras maneiras assim

como discutimos nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)

(49) Para o uso de condicionadores de ar em ambientes com alta

concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre

seraacute vaacutelida SOMENTE a garantia legal de 90 (noventa) dias contados

80

da data de emissatildeo da nota fiscal de compra do produto

(Certificado 19)

Na ocorrecircncia (49) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da

garantia do produto que seja utilizado em ambientes especiacuteficos como ―ambientes com alta

concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre Dessa forma o

fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a qualquer solicitaccedilatildeo de garantia ―normal ou seja prazo

de validade de garantia para condicionadores de ar que satildeo utilizados em ambientes

considerados ―normais por parte de um cliente que utilize o produto em ambientes como os

descritos acima Dessa forma o uso do ―somente se justifica pelo fato de que o fabricante

busca direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha duacutevidas de que como

descrito em (49) os produtos utilizados em ambientes atiacutepicos soacute estaratildeo cobertos pela

garantia legal Assim como jaacute discutimos em outras ocorrecircncias anteriormente o fabricante

utiliza a expressatildeo ―garantia legal que eacute uma expressatildeo teacutecnica do CDC e para que ela natildeo

se tornasse polissecircmica logo apoacutes seu uso o autor apresentou o conceito para o termo que eacute

o de um periacuteodo de 90 dias corridos compreendidos imediatamente apoacutes a expediccedilatildeo da nota

fiscal de compra do produto

(50) A partir do 91ordm (nonageacutesimo primeiro) dia tais despesas satildeo de

responsabilidade uacutenica e exclusiva do consumidor

(Certificado 19)

Em (50) o fabricante natildeo utilizou os termo ―somente e ―apenas mas

consideraremos em nossa anaacutelise a utilizaccedilatildeo da expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como

umas expressotildees utilizadas para restringir interpretaccedilotildees como discutimos anteriormente em

outras anaacutelises Na sentenccedila acima o fabricante utilizou a expressatildeo de restriccedilatildeo para

enfatizar que passados os trecircs meses de garantia as despesas referentes a qualquer

manutenccedilatildeo e garantia do produto seratildeo de responsabilidade do cliente Como apresentamos

na ocorrecircncia (49) a garantia legal para um produto cobre os primeiros 90 dias apoacutes a

emissatildeo da nota fiscal de compra do produto Ao informar em (50) que a partir do primeiro

dia apoacutes o teacutermino da garantia legal despesas referentes ao traslado do produto para

manutenccedilatildeo seraacute de responsabilidade do cliente o autor utiliza a expressatildeo ―uacutenica e

exclusiva para se resguardar de qualquer possibilidade de participaccedilatildeo em possiacuteveis gastos

81

Caso o fabricante natildeo tivesse enfatizado essa informaccedilatildeo utilizando esta expressatildeo o cliente

poderia interpretar por exemplo que poderia haver algum caso em que o fabricante se

responsabilizaria por tais gastos Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (50)

(51) A reposiccedilatildeo de peccedilas defeituosas e execuccedilatildeo dos serviccedilos decorrentes

desta Garantia SOMENTE seratildeo procedidas nas localidades do

territoacuterio brasileiro onde a ENVISION mantiver ―Centro de Serviccedilo

Autorizado de titularidade dela proacutepria ou de terceiro por ela

expressamente indicado onde deveraacute ser entregue o produto para

reparo

(Certificado 20)

Na ocorrecircncia (51) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir os locais de

execuccedilatildeo de serviccedilos da garantia Neste caso o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a por

exemplo natildeo haver assistecircncias teacutecnicas em todas as cidades do paiacutes Aleacutem de enfatizar que o

produto deveraacute ser entregue na assistecircncia pelo cliente ou seja o fabricante natildeo se

responsabiliza quanto ao recolhimento do produto para reparo A utilizaccedilatildeo do ―somente se

justifica pelo fato de que o fabricante busca restringir ao maacuteximo as possibilidades de

interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o ―somente o cliente

poderia por exemplo interpretar que se a cidade em que o cliente tenha adquirido o produto

natildeo tenha uma assistecircncia teacutecnica a fabricante se responsabilizaria pelo recolhimento do

produto para manutenccedilatildeo numa cidade que possua a assistecircncia teacutecnica Com a utilizaccedilatildeo do

―somente precedendo as demais informaccedilotildees natildeo eacute possiacutevel interpretar a ocorrecircncia dessa

maneira Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termo vagos na ocorrecircncia (51)

(52) Esta Garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver

devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original

da Nota Fiscal de Compra

(Certificado 20)

Na ocorrecircncia (52) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a forma

como o cliente deve solicitar a garantia do produto Caso o cliente deixe de apresentar o

certificado preenchido corretamente eou a nota fiscal de compra a garantia seraacute invalidada

82

Assim como na ocorrecircncia (51) o autor fabricante utiliza o ―somente para restringir ao

maacuteximo a interpretaccedilatildeo do texto Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente

haveria a possibilidade de o cliente interpretar que a garantia do produto seria vaacutelida caso o

certificado estivesse preenchido sem rasuras acompanhado da nota fiscal de compra mas

tambeacutem de qualquer outra forma A ocorrecircncia ficaria sem limites para interpretaccedilatildeo caso o

fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente Poreacutem como o termo foi utilizado natildeo

haacute outra forma de o cliente interpretar a ocorrecircncia sobre a validade da garantia do produto

Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (52)

(53) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS se o produto for reparado pela rede

autorizada Rheem ou por autorizaccedilatildeo preacutevia formalizada pelo

Departamento de Assistecircncia Teacutecnica

(Certificado 20)

Na ocorrecircncia (53) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a validade da

garantia quanto ao local de assistecircncia Caso o produto seja reparado por profissional natildeo

autorizado pela fabricante Rheem a garantia do produto seraacute perdida A importacircncia o uso do

termo ―apenas na ocorrecircncia (53) se daacute pelo fato de que o autor busca restringir a

interpretaccedilatildeo do texto ao maacuteximo Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―apenas o

cliente poderia por exemplo interpretar que a garantia do produto eacute vaacutelida em qualquer

situaccedilatildeo e natildeo unicamente se seguir as recomendaccedilotildees descritas apoacutes o uso do termo

―apenas Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (53)

(54) Os produtos SOMENTE poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para

anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes sua autorizaccedilatildeo por escrito

(Certificado 21)

Na ocorrecircncia (54) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o modo

como deve submeter o produto agrave garantia Caso natildeo haja uma autorizaccedilatildeo por escrito para

enviar o produto para a faacutebrica o produto natildeo poderaacute seguir para anaacutelise A importacircncia da

utilizaccedilatildeo do termo ―somente se daacute pelo fato de que caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o

termo na ocorrecircncia (54) a interpretaccedilatildeo do texto ficaria sem limites ou seja os produtos

poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes a autorizaccedilatildeo por

83

escrito ou de qualquer outra forma Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (54)

34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS

Em nossa pesquisa analisamos cinquenta e quatro ocorrecircncias selecionadas a partir

dos vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Dividimos a anaacutelise por tipos de

ocorrecircncias com quantificador universal com condicional e com o apenassomente Para

apresentar um panorama sobre os tipos de ocorrecircncia e a quantidade das anaacutelises de cada tipo

vamos observar o quadro a seguir

Tipo de ocorrecircncia Nuacutemero de ocorrecircncias

Quantificador universal 15

Condicional 9

ApenasSomente 30

TOTAL 54

Quadro 2 ndash Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia Fonte elaborado pelo autor

Antes de discorrer nossos comentaacuterios sobre as anaacutelises de nosso trabalho temos que

tratar sobre a primeira importante impressatildeo que tivemos diante do corpus e das consequentes

anaacutelises dos quatro nexos semacircnticos que invocamos em nosso trabalho somente

identificamos ocorrecircncias com acarretamentos Tratamos com muita naturalidade este fato

porque por mais que em algumas leituras uma parte do conteuacutedo do segundo capiacutetulo possa

ser vista como desnecessaacuteria ndash pelo fato de tais conceitos natildeo estarem presentes nas anaacutelises

dessa pesquisa ndash encontramos aiacute uma caracteriacutestica do gecircnero textual certificado de garantia

que eacute a presenccedila de diversos acarretamentos mesmo que natildeo-expliacutecitos como demonstramos

em nosso trabalho (porque o gecircnero textual certificado de garantia natildeo possui uma linguagem

tatildeo controlada quanto a linguagem encontrada nos exemplos que criamos para ilustrar os

conceitos dos nexos) Dessa maneira fica claro que natildeo encontramos ocorrecircncias com

equivalecircncias semacircnticas contrariedades ou contraditoriedades o que nos permite definir

estas ausecircncias como uma caracteriacutestica intriacutenseca do gecircnero

84

Na primeira parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o quantificador

universal Identificamos quinze ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia

utilizaram esse recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (1) e (15)

percebemos que o uso do quantificador universal em algumas ocorrecircncias serviu apenas para

reforccedilar a informaccedilatildeo que o fabricante quis veicular ou seja se natildeo tivesse sido utilizado natildeo

modificaria o sentido do texto Pudemos identificar esse sentido por exemplo nas

ocorrecircncias (1) e (2)

Aleacutem desse sentido para o uso do quantificador universal encontramos ocorrecircncias

em que caso o quantificador natildeo tivesse sido utilizado haveria a possibilidade de

interpretarmos a ocorrecircncia de vaacuterias maneiras Nesses casos os autores utilizaram o

quantificador para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo direcionando a leitura do texto

para que o cliente possa interpretar o certificado da forma que o fabricante deseja Pudemos

identificar esse sentido por exemplo nas ocorrecircncias (3) (4) e (8)

Pudemos observar que os autores dos certificados de garantia utilizam tambeacutem o

quantificador universal em seus textos para se resguardarem em relaccedilatildeo a deveres que

poderiam ser reclamados pelo cliente caso natildeo houvesse o uso deste recurso Dessa forma

podemos entender que os autores dos certificados utilizaram o quantificador universal para se

favorecerem Pudemos observar essa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (5) (11) (13) e

(14) Em relaccedilatildeo a ocorrecircncias com o uso do quantificador universal em que o cliente eacute

beneficiado natildeo identificamos nenhum caso em nossa anaacutelise

Sobre o aparecimento de termos vagos ou termos polissecircmicos nas ocorrecircncias com a

presenccedila do quantificador universal pudemos observar que o maior motivo da sensibilidade

dos textos a esses tipos de efeitos linguiacutesticos eacute o fato de os autores dos textos em muitos

casos natildeo conceituarem os termos teacutecnicos que eles utilizam nos certificados de garantia Ao

utilizar um termo teacutecnico como por exemplo na ocorrecircncia (3) em que o autor do

certificado de garantia utiliza o termo ―viacutecio do produto ndash termo teacutecnico do CDC ndash natildeo

apresentando o conceito em seu texto dificulta a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Tendo contato

com o termo de forma solta sem estar delimitada pelo conceito que o autor deseja que o

cliente interprete a ocorrecircncia se torna vaga e polissecircmica

Ainda sobre os termos vagos ou termos polissecircmicos encontramos tambeacutem

ocorrecircncias em que os autores buscaram evitaacute-las justamente apresentando apoacutes a utilizaccedilatildeo

de um termo teacutecnico o seu respectivo conceito desta forma natildeo oferecendo a possibilidade

de interpretaacute-lo de vaacuterias maneiras Pudemos observar este uso por exemplo na ocorrecircncia

(10) em que o autor do certificado usa o termo ―garantia legal e logo em seguida apresenta

85

o conceito para o termo que eacute ―os primeiros 90 dias Dessa forma o cliente natildeo eacute autorizado

a interpretar o termo ―garantia legal de nenhuma outra forma que natildeo seja a descrita pelo

fabricante

Na segunda parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o uso do condicional

Identificamos nove ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia utilizaram este

recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (16) e (24) pudemos identificar

que o condicional foi utilizado pelos autores dos textos precedendo listas instrucionais o que

era esperado devido a caracteriacutestica proacutepria desse recurso que eacute o de condicionar algo agrave

alguma coisa Assim como nas ocorrecircncias que os autores utilizaram o quantificador

universal o condicional foi utilizado em boa parte das ocorrecircncias analisadas para restringir

a interpretaccedilatildeo do texto Pudemos identificar este sentido por exemplo nas ocorrecircncias (16)

(17) e (18)

Identificamos em boa parte das ocorrecircncias que possuem o uso do condicional que

este uso natildeo impotildee um limite na interpretaccedilatildeo Pudemos observar em nossa anaacutelise que os

condicionais foram utilizados precedendo listas exaustivas que continham situaccedilotildees por

exemplo em que a garantia seria invalidada Ao apresentar tais listas os autores natildeo

especificavam que natildeo haveria outros casos fora da lista em que a garantia seria invalidada

Dessa forma observamos que assim como nas ocorrecircncias com quantificador universal os

autores utilizaram os condicionais para se favorecerem Identificamos na ocorrecircncia (22)

recursos que restringem ainda mais as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente e

que consequentemente favorecem o fabricante como o uso do termo ―cumulativamente

que obriga o cliente a natildeo apenas estar dentro de uma ou mais situaccedilotildees descritas pelo

fabricante apoacutes o condicional mas a seguir todas as situaccedilotildees descritas ao mesmo tempo

Quando os fabricantes utilizaram o condicional precedendo listas que constam as

situaccedilotildees em que o cliente poderia perder a garantia eles usaram o recurso sem limites como

pudemos observar na ocorrecircncia (21) Mas quando os fabricantes utilizaram o condicional

precedendo listas que constam as situaccedilotildees em que o cliente tem direito a garantia eles

usaram os recursos com limites e como mostramos na ocorrecircncia (22) ainda utilizaram

recursos que limitam mais ainda a garantia

Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem das ocorrecircncias em que o condicional apareceu

de forma expliacutecita ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o mesmo

sentido como em (19) (20) e (24)

Sobre a presenccedila de termos polissecircmicos ou termos vagos nas ocorrecircncias com o uso

do condicional pudemos identificar que diferente das ocorrecircncias com o uso do

86

quantificador universal natildeo encontramos casos de termos vagos ou termos polissecircmicos nas

ocorrecircncias analisadas Identificamos em muitas ocorrecircncias que os autores dos certificados

apresentaram os conceitos para termos teacutecnicos apoacutes uso geralmente entre parecircnteses para

evitar que o termo ou a expressatildeo fossem interpretados de formas indevidas Encontramos

este tipo de estrateacutegia por exemplo na ocorrecircncia (17) do certificado 3 em que o autor

utiliza os termos ―garantia legal e ―garantia contratual mas no texto do certificado haacute o

conceito para cada termo o que impossibilita que o cliente interprete os termos de diversas

maneiras Caso o fabricante tivesse utilizado os dois termos teacutecnicos e em lugar algum do

certificado de garantia ele apresentasse os conceitos para os termos oportunizaria por

conseguinte diversas possibilidades de interpretaccedilatildeo dificultando a leitura do texto por parte

do cliente

Na terceira parte da anaacutelise tratamos sobre as ocorrecircncias com o uso do ―apenas e do

―somente Identificamos trinta ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia

utilizaram esses recursos linguiacutesticos Apesar do nuacutemero elevado de ocorrecircncias os sentidos

em que o ―apenas e o ―somente foram utilizados natildeo variaram muito Em grande parte das

ocorrecircncias analisadas o ―apenas e o ―somente foram utilizados para restringir a validade

da garantia desde restriccedilotildees em relaccedilatildeo ao territoacuterio de vigecircncia ateacute tipos de ambientes em

que os produtos podem ser utilizados Um tipo de ocorrecircncia que foi bastante recorrente em

nosso corpus foi o que utilizou o ―apenas ou ―somente para delimitar o territoacuterio em que a

garantia pode ser vaacutelida como por exemplo nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)

Nestas ocorrecircncias haacute o uso da expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que levantamos na anaacutelise

uma discussatildeo sobre as possibilidades de interpretaccedilatildeo para tal expressatildeo pelo fato de natildeo

haver nos certificados de garantia analisados um conceito definido para ela A ausecircncia do

conceito para este termo nos certificados de garantia pode dificultar a interpretaccedilatildeo

Tambeacutem podemos afirmar que em grande parte das ocorrecircncias analisadas o uso do

―somente ou ―apenas serviu para impor limites agraves interpretaccedilotildees dos textos direcionando-

os para a interpretaccedilatildeo que o fabricante desejasse impor Ou seja em grande parte das

ocorrecircncias em que foi utilizado o ―somente precedendo uma situaccedilatildeo X caso natildeo houvesse

esse uso a garantia por exemplo seria vaacutelida na situaccedilatildeo X mas tambeacutem nas situaccedilotildees Y Z

W sem limites Sem o uso do ―somente nessas ocorrecircncias o texto da garantia natildeo teria

sentido definido Pudemos observar esse sentido em diversas ocorrecircncias analisadas como

por exemplo nas ocorrecircncias (27) e (28) Ilustrando caso natildeo houvesse o uso do ―apenas

nas ocorrecircncias (27) e (28) a garantia seria vaacutelida no territoacuterio brasileiro e em qualquer outro

Ainda sobre as ocorrecircncias usam o ―somente ou ―apenas para restringir o territoacuterio em que

87

a garantia seraacute vaacutelida observamos que algumas ocorrecircncias especificam mais a validade da

garantia como em (48) que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para produtos vendidos e

instalados em territoacuterio nacional e outras ocorrecircncias que especificam menos como em (39)

que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para o veiacuteculo comercializado em territoacuterio brasileiro

Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem de ocorrecircncias em que o ―apenas e ―somente

apareciam explicitamente ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o

mesmo sentido como em (35) (36) e (41)

Sobre o aparecimento de termos polissecircmicos ou termo vagos aleacutem da expressatildeo

―territoacuterio brasileiro que mencionamos nos paraacutegrafos anteriores pudemos identificar

outros casos de termos polissecircmicos como por exemplo nas ocorrecircncias (25) e (26) Os

termos teacutecnicos utilizados pelos autores dos certificados de garantia natildeo possuiacuteam em lugar

algum dos textos os conceitos para lhes definirem possibilitando que o cliente interprete

estes termos de diversas maneiras

Ainda sobre casos de termos polissecircmicos observamos em algumas ocorrecircncias que

os autores dos certificados procuraram utilizar os termos teacutecnicos e em seguida ou em

alguma parte dos textos apresentaram os conceitos para os termos evitando muacuteltiplas

interpretaccedilotildees Identificamos o uso dessa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (43) (44) e

(49)

Nos trecircs tipos de ocorrecircncias que definimos para nossa anaacutelise pudemos identificar

que nos usos do quantificador universal condicional e ―apenas e ―somente os autores dos

certificados de garantia usaram esses recursos para se favorecerem Como analisado nas

ocorrecircncias do corpus os fabricantes utilizaram essas estrateacutegias tanto pelo fato de que eacute

necessaacuterio utilizar esses recursos por ser caracteriacutestico de textos instrucionais quanto pelo

fato de que o direcionamento das interpretaccedilotildees dos textos que eles constroem a partir destes

recursos podem favorecer os proacuteprios fabricantes

88

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Na presente seccedilatildeo iremos pontuar o percurso de nossa pesquisa e apresentar nossas

impressotildees sobre o corpus as teorias apresentadas e os resultados obtidos com as anaacutelises

O primeiro capiacutetulo de nossa pesquisa foi subdividido em duas partes na primeira

buscamos apresentar os conceitos gerais sobre os gecircneros textuais com base na proposta de

Bakhtin (2000) reafirmada por Marcuschi (2008) com o intuito de fornecer aporte teoacuterico

para a segunda parte do capiacutetulo em que caracterizamos o certificado de garantia como um

gecircnero textual Tal caracterizaccedilatildeo se deu pelo fato do nosso corpus ser composto por vinte e

dois certificados de garantia Ficamos surpresos por tomar conhecimento do fato de que ateacute o

presente momento natildeo identificamos publicaccedilotildees acadecircmicas em nosso paiacutes referentes agrave

caracterizaccedilatildeo de certificados de garantia como gecircneros textuais e esta dificuldade nos levou

a construir atraveacutes de nossa leitura a caracterizaccedilatildeo tanto quanto ao conteuacutedo quanto agrave

estrutura do texto A uacutenica bibliografia que encontramos e utilizamos como base para a

estruturaccedilatildeo da segunda parte do capiacutetulo tratando diretamente sobre os certificados de

garantia foi o Coacutedigo de Defesa e Proteccedilatildeo do Consumidor (1997) em que pudemos extrair

alguns conceitos gerais e recomendaccedilotildees de como se deve construir o texto de um certificado

de garantia Um dos problemas que encontramos foi a carecircncia de detalhes apresentados pelo

CDC na seccedilatildeo em que sugerem um padratildeo de formulaccedilatildeo do documento O CDC apenas

enfatiza que se faz necessaacuterio o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo e por exemplo a

necessidade de ser acompanhado do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto Com base

nessas informaccedilotildees apresentamos os conceitos e tambeacutem um exemplo de certificado de

garantia ilustrando cada parte da estrutura do texto

Na introduccedilatildeo do segundo capiacutetulo apresentamos uma discussatildeo geral sobre a

distinccedilatildeo entre semacircntica e pragmaacutetica com o objetivo de caracterizar os nexos como

relaccedilotildees linguiacutesticas do campo da semacircntica Para isso apresentamos tambeacutem os conceitos e

exemplos de relaccedilotildees linguiacutesticas que satildeo consideradas como pertencentes ao campo da

pragmaacutetica como a implicatura e pressuposiccedilatildeo Para esta discussatildeo buscamos aporte teoacuterico

nas obras de autores como Trask (2004) Levinson (2007) Grice (1987) Basso (2009)

Moura (1999) e Santos (2012)

Apoacutes a introduccedilatildeo do capiacutetulo apresentamos a teoria dos nexos semacircnticos que

escolhemos tratar em nossa pesquisa Foram eles o acarretamento a equivalecircncia semacircntica

a contradiccedilatildeo e a contrariedade Utilizamos como referencial teoacuterico para a teoria dos nexos

89

semacircnticos autores como Aristoacuteteles (1985) Chierchia (2001) Branquinho Murcho e Gomes

(2006) Pires de Oliveira (2001) e Mortari (2001) A apresentaccedilatildeo de cada nexo se deu a

partir dos conceitos seguidos de exemplos e dentro de cada seccedilatildeo apresentamos tambeacutem

tipos de ocorrecircncias lexicais que podem dificultar a intepretaccedilatildeo dos nexos que satildeo a

polissemia e a vagueza Ao apresentar os conceitos dessas ocorrecircncias lexicais assim como

fizemos na apresentaccedilatildeo dos nexos tambeacutem ilustramos com exemplos Utilizamos como

aporte teoacuterico para os conceitos de polissemia e vagueza autores como Crystal (1985) Allan

(2010) e Kempson (1977) Aleacutem da polissemia e vagueza tratamos sobre outro problema

que dificulta a interpretaccedilatildeo dos nexos as falaacutecias Quando tratamos sobre as caracteriacutesticas

das falaacutecias utilizamos como base teoacuterica o texto de Soares (2003) em que o autor distingue

as caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias e com esse aporte apresentamos nossos

exemplos

Quando tratamos sobre a contradiccedilatildeo e contrariedade apresentamos o fato de que as

suas origens tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica A partir disso trouxemos uma breve apresentaccedilatildeo

sobre os conceitos de Aristoacuteteles presentes em seu texto Organon (1985) mais

especificamente no Perieacutermeneas capiacutetulos 6 e 7

No final do capiacutetulo dois fizemos uma retrospectiva de todos os pontos que foram

apresentados ao longo do capiacutetulo e justificamos a nossa escolha em pesquisar sobre os nexos

semacircnticos assim como a polissemia vagueza e falaacutecias Durante todo o capiacutetulo dois

apresentamos os nexos e outras relaccedilotildees lexicais dentro de uma linguagem controlada que eacute

diferente do que acontece nos textos dos diversos gecircneros inclusive naquele escolhido para

compor o nosso corpus que satildeo os certificados de garantia A importacircncia dos conceitos

apresentados em nosso segundo capiacutetulo se deu pelo fato de que ele oferece uma base para a

compreensatildeo do funcionamento dessas relaccedilotildees semacircnticas para que diante das anaacutelises que

realizamos no capiacutetulo trecircs tenhamos uma leitura mais refinada e atenciosa para perceber

como essas relaccedilotildees semacircnticas tiacutepicas de linguagens controladas se apresentam em textos

que satildeo suscetiacuteveis a diversas ocorrecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo Ficamos surpresos

pelo fato de que pouco se escreveu sobre nexos semacircnticos em nosso contexto nacional de

pesquisa o que tornou a construccedilatildeo do nosso segundo capiacutetulo bastante desafiadora Em

relaccedilatildeo a artigos que trataram diretamente sobre os nexos semacircnticos e os seus usos como

suporte para a anaacutelise de ocorrecircncias em gecircneros textuais tivemos contato apenas com Santos

(2012) e Estrela e Santos (2013 2014)

No terceiro capiacutetulo que foi dedicado para conter a anaacutelise desta pesquisa

inicialmente apresentamos nossa justificativa para a escolha do gecircnero certificado de garantia

90

para analisar assim como a justificativa para a escolha de procurar nesses textos as

estrateacutegias linguiacutesticas utilizadas para restringir a interpretaccedilatildeo de sentenccedilas Em seguida

tratamos sobre os tipos de ocorrecircncias que elegemos para nossa anaacutelise como quantificador

universalcondicional e o ―apenas e o ―somente Esta escolha se deu pelo fato de tais

termos possuem caracteriacutesticas propiacutecias para o uso em restriccedilotildees ou abrangecircncias de textos

Mesmo assim tiacutenhamos conhecimento de que dificilmente encontrariacuteamos ocorrecircncias com

as relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos no capiacutetulo dois de forma expliacutecita e controlada

pois como discutimos anteriormente os diversos gecircneros textuais satildeo suscetiacuteveis a

interferecircncias lexicais que podem dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos

Em seguida apresentamos a anaacutelise do nosso corpus que totalizou cinquenta e quatro

trechos de certificados nos trecircs tipos de ocorrecircncias escolhidas para serem investigadas

Como jaacute apresentamos no final do capiacutetulo anterior nossas impressotildees sobre como foram

utilizados os recursos linguiacutesticos para restriccedilatildeo de interpretaccedilotildees pelos autores dos

certificados gostariacuteamos de enfatizar que nas ocorrecircncias com quantificador universal com

condicional e com o ―apenas e ―somente os fabricantes utilizaram estes recursos em

grande parte dos certificados para se favorecerem ou seja para abranger as possibilidades de

invalidade da garantia do produto aumentando as situaccedilotildees em que a garantia eacute perdida e

diminuindo as situaccedilotildees em que a garantia eacute vaacutelida (principalmente nas listas exaustivas)

Sobre ocorrecircncias em que identificados termos vagos ou termos polissecircmicos

identificamos como o motivo principal do aparecimento dessas ocorrecircncias a falta de

definiccedilatildeo dos termos teacutecnicos Em muitos certificados identificamos que os autores utilizaram

termos teacutecnicos (a maioria deles provenientes do CDC) e natildeo apresentaram em nenhuma

parte do texto as definiccedilotildees para tais termos oportunizando que o leitor interprete de

diversas maneiras os termos ou expressotildees

Por fim pudemos perceber que os quantificadores os condicionais e termos como o

―apenas e o ―somente que satildeo responsaacuteveis por abranger ou restringir interpretaccedilotildees de

sentenccedilas satildeo proacuteprios do tipo de texto instrucional que abarca o gecircnero que escolhemos para

nossa pesquisa A utilizaccedilatildeo desses termos seguiu uma ordem de apresentaccedilatildeo similar nos

vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Os quantificadores universais

apareceram muitas vezes nas explicaccedilotildees em que os fabricantes apresentavam prazos deveres

e direitos do fabricante e cliente os condicionais apareceram na maioria das vezes

precedendo as listas exaustivas e o ―apenas e ―somente apareceram em grande parte nos

trechos em que os fabricantes apresentavam delimitaccedilotildees territoriais para cobertura da

91

garantia e explicaccedilotildees sobre as situaccedilotildees em que a garantia eacute invalidada e as situaccedilotildees em que

a garantia se assegura

Assim como justificamos no iniacutecio das consideraccedilotildees sobre os resultados obtidos em

nossa anaacutelise natildeo encontramos ocorrecircncias com trecircs dos quatro nexos semacircnticos

apresentados no segundo capiacutetulo O fato de natildeo termos identificado ocorrecircncias com

equivalecircncias semacircnticas contrariedades e contraditoriedades traacutes a tona uma interessante

caracteriacutestica do gecircnero certificado de garantia que eacute a constante presenccedila de acarretamentos

na redaccedilatildeo do texto mesmo que apresentados indiretamente diferente dos exemplos que

utilizamos para ilustrar os conceitos nos diversos textos sobre o assunto e a natildeo utilizaccedilatildeo de

equivalecircncias sentenccedilas contraacuterias e contraditoacuterias na redaccedilatildeo do texto

Atraveacutes dessa pesquisa em que tratamos sobre os nexos semacircnticos a polissemia a

vagueza e alguns outros tipos de relaccedilotildees semacircnticas desejamos que outros pesquisadores se

interessem por este tipo de trabalho e busquem explorar nas anaacutelises linguiacutesticas outros

gecircneros textuais pouco explorados como o que utilizamos no presente trabalho Apresentar

uma teoria que eacute tipicamente de linguagens controladas como a dos nexos semacircnticos (que

satildeo como jaacute discutimos dependentes unicamente da forma das sentenccedilas) e analisar como

essas estrateacutegias linguiacutesticas se comportam dentro de textos instrucionais (que ainda satildeo

pouco explorados nas anaacutelises semacircnticas) satildeo a nosso ver interessantes caminhos a serem

desbravados nos estudos da semacircntica assim como as suas aplicaccedilotildees nos diversos gecircneros

textuais que nos rodeiam

92

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vol19 n2 pp 237-266 ISSN 0102-4450

95

ANEXOS

Certificado 1

96

Certificado 2

97

Certificado 3

98

Certificado 4

99

Certificado 5

100

Certificado 6

101

Certificado 7

102

Certificado 8

103

Certificado 9

104

105

Certificado 10

106

Certificado 11

107

Certificado 12

108

109

Certificado 13

110

Certificado 14

111

112

Certificado 15

113

114

Certificado 16

115

116

117

118

119

120

121

Certificado 17

122

Certificado 18

123

Certificado 19

124

125

Certificado 20

126

Certificado 21

127

Certificado 22

Aos amigos Joseacute Wellisten e Alessandra Miranda pela disponibilidade e atenccedilatildeo para

lerem meu trabalho e fazerem criacuteticas construtivas

Ao amigo Thiago Magno que me ajudou em um dos momentos mais delicados no

periacuteodo poacutes-defesa Dedico minha amizade e minha eterna gratidatildeo por tudo

Agrave CAPES pelo apoio financeiro oferecido para essa pesquisa pelo periacuteodo de 17

meses

εἰδέναι δὲ χπὴ τὸν πόλεμον ἐόντα

ξυνόν καὶ δίκην ἔπιν καὶ γινόμενα

πάντα κατ ἔπιν καὶ χπεών

(Heraacuteclito frag 80)

RESUMO

O estudo das relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas eacute um campo bastante discutido e

pesquisado nos estudos linguiacutesticos A observaccedilatildeo de como se comportam os termos na

construccedilatildeo de significados em textos de diversos gecircneros e seus efeitos de interpretaccedilatildeo

tambeacutem satildeo temas muito difundidos entre as pesquisas das semacircnticas Nesta produccedilatildeo

discutiremos sobre as relaccedilotildees de significado e seus efeitos de sentido em um gecircnero

especiacutefico As relaccedilotildees que investigaremos satildeo os nexos semacircnticos ou nexos de significado

como proposto por Chierchia (2003) que satildeo respectivamente acarretamento equivalecircncia

semacircntica contraditoriedade e contrariedade O gecircnero que escolhemos para nossa anaacutelise eacute o

certificado de garantia e a escolha de tal gecircnero se deu pelo fato deste fazer parte do grupo de

textos injuntivos ou instrucionais que a nosso ver possui caracteriacutesticas que favorecem a

amostragem dos nexos semacircnticos Iremos analisar como os nexos semacircnticos satildeo utilizados

para restringir ou abranger as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos certificados de garantia O

corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de garantia de

produtos de diversos segmentos e decidimos escolher certificados de produtos de linhas

diversas para constituirmos um panorama sobre o gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes

da internet sem utilizar nenhuma metodologia especiacutefica apenas atentamos para buscar

certificados de produtos variados Buscamos nessa pesquisa instigar a reflexatildeo sobre as

relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e a observaccedilatildeo destas nos textos instrucionais que

lidamos no dia-a-dia e que por muitas vezes deixamos passar despercebido o seu conteuacutedo

O entendimento sobre os nexos de significado pode nos oferecer ferramentas para melhor

leitura de textos desse tipo

Palavras chave Nexos semacircnticos Certificado de garantia Semacircntica

ABSTRACT

The study of the meaning of relations between sentences is a much discussed and researched

field in linguistic studies The observation of how the terms behave in the construction of

meanings in texts of different genres and their interpretation effects are also widespread

themes among semantic research In this work we will discuss about the meaning of the

relations of meaning and their sense of purpose in a specific genre The relations that we will

investigate are semantic nexus or semantic links as proposed by Chierchia (2003) which are

respectively entailment semantic equivalence contradictoriness and contrariness The genre

we chose for our analysis is the warranty certificate and the choice of this genre was made

because it is part of the injunctive or instructional texts group that in our opinion has

characteristics that favor the sampling of semantic nexus We will analyze how the semantic

nexus are used to restrict or cover the possibilities of interpretation in the warranty

certificates The corpus of this research has 22 (twenty two) copies of warranty certificates

from different segments and we decided to choose certificates from separate lines to

constitute an overview of the genre The collection of the texts took place through the

internet without using any particular methodology of choice only we pay attention to seek

warranty certificates of diverse products We seek in this research instigate reflection on the

meaning relations between sentences and observance of these in instructional texts that we

have contact in daily life and that for many times let go unnoticed its contents The

understanding of the semantic nexus can offer us tools to better read texts of this type

Keywords Semantic nexus Warranty certificate Semantics

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 13

1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA 16

11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS 16 12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL 26

2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS 32

21 ACARRETAMENTO 35 22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA 42 23 CONTRADITORIEDADE 45 24 CONTRARIEDADE 48 25 JUSTIFICANDO O PERCURSO 51

3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA 53

31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL 55 32 USO DO CONDICIONAL 64 33 USO DO APENASSOMENTE 68 34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS 83

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 88

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 92

ANEXOS 95

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa 14

QUADRO 2 - Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia 83

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

ILUSTRACcedilAtildeO 1 - Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 27

ILUSTRACcedilAtildeO 2 - Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28

ILUSTRACcedilAtildeO 3 - Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28

ILUSTRACcedilAtildeO 4 - Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28

ILUSTRACcedilAtildeO 5 - Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 29

13

INTRODUCcedilAtildeO

A abordagem das relaccedilotildees de significado eacute algo bastante presente e discutido nos

estudos semacircnticos Observar como se comportam os termos na construccedilatildeo da significaccedilatildeo

em textos de diversos gecircneros distintos e seus efeitos interpretativos tambeacutem satildeo temas de

diversas produccedilotildees na aacuterea de linguiacutestica

Neste trabalho iremos discutir as relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e os efeitos

interpretativos dessas relaccedilotildees em textos Mais especificamente abordaremos os nexos

semacircnticos ou nexos de significado (Chierchia 2003) acarretamento equivalecircncia semacircntica

contrariedade (os quais podemos encontrar no referido trabalho de Chierchia) e

contraditoriedade (nexo semacircntico que geralmente eacute relacionado com a contrariedade e que

foi tratado por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado atraveacutes de seu quadrado loacutegico

ou taacutebua de oposiccedilotildees em seu texto Perieacutermeneas (1985) mais especificamente nos

capiacutetulos 6 e 7 sobre o qual faremos menccedilatildeo na seccedilatildeo sobre este nexo)

Este trabalho tem por objetivo observar alguns dos recursos linguiacutesticos utilizados

para favorecer a existecircncia de nexos semacircnticos e com isso restringir ou ampliar

possibilidades de interpretaccedilatildeo em um gecircnero textual especiacutefico Por este motivo o gecircnero

que escolhemos analisar foi o certificado de garantia ou termo de garantia que pertence agrave

categoria dos textos instrucionais (ou injuntivos) e a nosso ver possui caracteriacutesticas que

favorecem a amostragem das ocorrecircncias dos nexos

O gecircnero certificado de garantia possui como uma de suas caracteriacutesticas a

apresentaccedilatildeo organizada dos direitos e deveres do cliente e do fabricante com relaccedilatildeo a um

produto servindo tambeacutem para informar ao cliente os seus direitos referentes agrave validade

prazos e extensatildeo de cobertura da garantia Supotildee-se entatildeo que o texto deve por isso ser

objetivo e livre de ambiguidades e incoerecircncias

Nossa hipoacutetese eacute a de que recursos linguiacutesticos que favoreccedilam a existecircncia de nexos

semacircnticos nos textos dos certificados ndash como o emprego por exemplo de conectivos e

quantificadores (Chierchia 2003 PIRES DE OLIVEIRA 2001) ndash estatildeo presentes em textos

deste gecircnero e contribuem para que os textos alcancem o objetivo de informar ao cliente e ao

fabricante seus deveres e direitos

O corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de

garantia de produtos diversos para constituir um panorama ainda que reduzido de instacircncias

do gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes da internet sem utilizar nenhuma metodologia

14

especiacutefica de escolha atentando para buscar certificados de produtos variados Os textos

escolhidos para a anaacutelise de nosso trabalho incluem diversos produtos manufaturados como

moacuteveis veiacuteculos eletroeletrocircnicos entre outros equipamentos domeacutesticos como ilustrado no

quadro a seguir

Nordm Tipo de objeto Fabricante

1 Refrigerador Samsung

2 TV led Sony

3 Condicionador de ar LG

4 Tablet AOC

5 AudioMixer Oneal

6 Garantia para todos os produtos Elgin

7 Estabilizador de energia APC

8 Aquecedor de aacutegua Bosch

9 Fogatildeo Brastemp

10 Maacutequina de lavar Electrolux

11 Ventilador Cadence

12 GPS Positron

13 Umidificador de ar Springer

14 Certificado internacional de garantia Philips

15 Colchatildeo Ortobom

16 Caminhotildees Mercedes-Benz

17 Carro de passeio Hyundai

18 Moacuteveis Bartzen

19 Aquecedor de ar Fujitsu

20 Tv AOC

21 Aquecedor de aacutegua para piscina Rheem

22 Bicicleta Total Health

Quadro 1 ndash Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa Fonte elaborado pelo autor

Como nosso propoacutesito eacute analisar os textos observando as ocorrecircncias de termos que

restringem e abrangem interpretaccedilotildees natildeo temos a intenccedilatildeo de analisar se um fabricante

elaborou um texto melhor que outro

No primeiro capiacutetulo apresentamos num primeiro momento o que satildeo gecircneros

textuais e em seguida caracterizamos o certificado de garantia como um gecircnero textual Para

tanto utilizamos o aporte teoacuterico baseado na obra de Mikhail Bakhtin (2000) linguista do

iniacutecio do seacuteculo referecircncia nos estudos de gecircneros textuais e de Luiz Antocircnio Marcuschi

(2002 2005 2008) linguista contemporacircneo que desenvolveu importantes trabalhos nessa

disciplina Vale salientar que como o foco de nossa pesquisa natildeo eacute a discussatildeo de gecircneros

textuais o capiacutetulo que construiacutemos trata de conceitos gerais sobre gecircneros tendo como

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objetivo observar que o certificado de garantia eacute um gecircnero textual e mostrando como se

estrutura em linhas gerais um texto deste gecircnero

No segundo capiacutetulo trataremos dos nexos semacircnticos dos quais consideraremos

para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e

contrariedade Atraveacutes de exemplos discutimos brevemente cada um deles mostrando

exemplos que funcionam e tambeacutem exemplos problemaacuteticos em relaccedilatildeo ao leacutexico

especialmente em casos de polissemia para que entatildeo seja possiacutevel a anaacutelise do capiacutetulo

seguinte

No terceiro capiacutetulo traremos a anaacutelise do corpus que se apresentaraacute organizado por

ocorrecircncias distribuiacutedas em tipos a saber uso do quantificador universal uso do condicional

e uso do apenassomente Apoacutes o exame das trecircs categorias citadas trataremos entatildeo das

relaccedilotildees entre o emprego dos recursos e a funccedilatildeo dos certficados Procuraremos tambeacutem

refletir se os recursos satildeo mais utilizados para favorecer o cliente ou mais utilizados para

favorecer o fabricante

Por uacuteltimo mostraremos as consideraccedilotildees finais do trabalho e em seguida as

referecircncias bibliograacuteficas utilizadas na elaboraccedilatildeo de nosso texto

16

1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA

Neste capiacutetulo tratamos dos gecircneros textuais e da caracterizaccedilatildeo dos certificados de

garantia como um gecircnero textual Em um primeiro momento traremos a perspectiva sobre

gecircneros textuais de Mikhail Bakhtin precursor dos estudos de gecircneros textuais na linguiacutestica

e em seguida apresentaremos a perspectiva de Luiz Antocircnio Marcuschi linguista brasileiro

que tambeacutem trabalha com o tema e compartilha em grande parte da perspectiva de Bakhtin

sobre o os gecircneros Eacute importante ressaltar que este capiacutetulo natildeo tem por objetivo o

aprofundamento nos estudos dos gecircneros e serve como um instrumento para contextualizar o

corpus desta pesquisa

11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS

Considerando a perspectiva apresentada por Mikhail Bakhtin na obra Esteacutetica da

criaccedilatildeo verbal (2000) o ato de se comunicar eacute indispensaacutevel para as relaccedilotildees humanas Aleacutem

disso ressaltamos que eacute por tal razatildeo que nas diversas situaccedilotildees de interaccedilatildeo que

vivenciamos em nosso cotidiano observamos a utilizaccedilatildeo da liacutengua em suas modalidades

oral eou escrita como instrumento principal de nossas trocas comunicativas

Eacute notoacuterio que a quantidade de atividades eacute enorme assim como satildeo os diferentes tipos

de situaccedilotildees em que a liacutengua eacute empregada Atraveacutes da formulaccedilatildeo de enunciados podemos

caracterizar quais as funccedilotildees dos discursos que escolhemos para os diversos tipos de

interaccedilatildeo

Nesse sentido eacute possiacutevel afirmarmos que todas as nossas construccedilotildees linguiacutesticas

organizam-se em gecircneros discursivos por meio dos quais conseguimos nos comunicar e

interagir socialmente

Em conformidade com a proposta de Bakhtin todo gecircnero discursivo se constitui a

partir das seguintes dimensotildees o conteuacutedo temaacutetico o estilo e a construccedilatildeo composicional

Esta descriccedilatildeo eacute claacutessica como ponto de partida para a descriccedilatildeo dos gecircneros textuais e nos

ofereceraacute a possibilidade de tanto descrever o que eacute um gecircnero textual quanto caracterizar

um texto como gecircnero que seraacute o nosso objetivo na segunda parte deste capiacutetulo

O conteuacutedo temaacutetico se refere ao tipo de assunto veiculado no texto Por tal razatildeo

Bakhtin (2000) afirma que o gecircnero eacute escolhido a partir do que o locutor decide falar Assim

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eacute faacutecil compreender por que cada atividade comunicativa necessita de um tipo especiacutefico de

textodiscurso Por exemplo natildeo se responde (normalmente) uma carta informal com uma

bula de remeacutedio (a natildeo ser que na carta um texto desse gecircnero seja solicitado como

resposta) Nesse sentido percebe-se que para cada esfera de comunicaccedilatildeo o locutor e

interlocutor utilizam uma mesma forma de expressatildeo tendo em vista o assunto que

escolheram tratar Caso contraacuterio se locutor e interlocutor agregam formas distintas de

expressatildeo pode ser que a comunicaccedilatildeo natildeo seja efetivada com sucesso visto que eacute possiacutevel

natildeo haver o entendimento das partes uma vez que cada gecircnero abarca certo campo de uso

mesmo estando em constante desenvolvimento

O estilo se refere aos recursos linguiacutesticos desde gramaticais ateacute lexicais e eles

variam de acordo com o gecircnero Essa dimensatildeo abarca a seleccedilatildeo frasal lexical gramatical e

as formas de apresentar o discurso que satildeo inerentes ao gecircnero escolhido Bakhtin (2000)

afirma que o estilo eacute a primeira vista individual do gecircnero e ela reflete (ou natildeo) a

individualidade de quem escreve ou fala Isso porque dependendo do gecircnero o estilo

individual aparece com mais clareza Da mesma forma haacute gecircneros que natildeo possuem essa

caracteriacutestica a exemplo dos textos injuntivos sobre os quais trataremos mais agrave frente Ainda

a respeito do estilo Bakhtin assegura que

Quando escolhemos as palavras no processo de construccedilatildeo de um enunciado nem

de longe as tomamos sempre do sistema da liacutengua em sua forma neutra

lexicograacutefica Costumamos tiraacute-las de outros enunciados e antes de tudo de

enunciados congecircneres com o nosso isto eacute pelo tema pela composiccedilatildeo pelo estilo

consequentemente selecionamos as palavras segundo a sua especificaccedilatildeo de

gecircnero O gecircnero do discurso natildeo eacute uma forma da liacutengua mas uma forma tiacutepica do

enunciado como tal forma o gecircnero inclui certa expressatildeo tiacutepica a ele inerente

(BAKHTIN 2010 [1992] p 292 grifos do autor)

Nessa perspectiva podemos afirmar que tal criteacuterio se refere agraves propriedades das

unidades de linguagem e relaciona-se agrave posiccedilatildeo enunciativa do locutor agraves sequecircncias textuais

e aos tipos discursivos que estruturam o texto

Por fim Bakhtin (2000) afirma que cada gecircnero possui uma forma padratildeo que eacute a

estrutura composicional Eacute atraveacutes dessa forma que podemos identificar qual gecircnero estaacute

sendo empregado pois essa dimensatildeo se refere aos procedimentos utilizados na formulaccedilatildeo

dos textos com a estrutura e demais aspectos formais incluindo as partes envolvidas no

discurso Em suma para Bakhtin (2000)

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Estes trecircs elementos (conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo composicional)

fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado e todos eles satildeo marcados pela

especificidade de uma esfera de comunicaccedilatildeo Qualquer enunciado considerado

isoladamente eacute claro individual mas cada esfera de utilizaccedilatildeo da liacutengua elabora

seus tipos relativamente estaacuteveis de enunciados sendo isso que denominamos

gecircneros do discurso (BAKHTIN 2000 p 279 Grifos do autor)

Ainda a respeito dos gecircneros do discurso conveacutem ressaltar que sua variedade eacute

proporcional agraves possibilidades de interaccedilotildees humanas pois as diversas esferas de interaccedilatildeo

satildeo compostas por classes de gecircneros que se desenvolvem tornando-se maiores e mais

complexas em consonacircncia com o desenvolvimento dessas esferas

Bakhtin (2000) utiliza o termo ―heterogeneidade para adjetivar os gecircneros do

discurso sejam eles orais ou escritos inferindo que estes incluem desde conversas informais

cartas relatos familiares ateacute produccedilotildees mais complexas como os documentos oficiais textos

cientiacuteficos e de escolas literaacuterias Natildeo haacute razatildeo para minimizar a extrema heterogeneidade

dos gecircneros do discurso e a consequente dificuldade quando se trata de definir o caraacuteter

geneacuterico do enunciadolsquo (BAKHTIN 2000 p 281) Dessa forma entendemos que a

variedade de gecircneros eacute muito grande se estendendo por exemplo dos romances mais

eruditos ateacute os bilhetes de recados do dia-a-dia e que tratar dos gecircneros admitindo suas

caracteriacutesticas estruturais particulares natildeo eacute uma tarefa faacutecil de realizar

Aleacutem de discorrer sobre as dimensotildees constitutivas de um gecircnero tendo em vista essa

heterogeneidade Bakhtin categoriza os gecircneros textuais em primaacuterios (simples) e

secundaacuterios (complexos) Assim os gecircneros primaacuterios satildeo aqueles referentes agraves reacuteplicas de

diaacutelogos cotidianos como cartas pessoais e demais gecircneros de comunicaccedilatildeo imediata Satildeo

chamados ―simples porque satildeo formados por discursos de baixa complexidade Jaacute os

gecircneros secundaacuterios satildeo aqueles referentes a romances textos cientiacuteficos sociopoliacuteticos e

afins Satildeo textos (escritos ou produzidos para serem encenados como os teatrais ndash exemplo

usado pelo proacuteprio Bakhtin) com maior carga de complexidade de produccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo

Surgem a partir de interaccedilotildees mais aprofundadas nas comunidades com maior grau de

imersatildeo em relaccedilatildeo aos padrotildees culturais e sociais

Ele ainda ressalta que os gecircneros secundaacuterios tambeacutem podem conter gecircneros

primaacuterios ―o romance em seu todo eacute um enunciado da mesma forma que a reacuteplica do

diaacutelogo cotidiano ou a carta pessoal (satildeo fenocircmenos da mesma natureza) o que diferencia o

romance eacute ser um enunciado secundaacuterio (complexo) (BAKHTIN 2000 p 281) Ao

discorrer sobre essa questatildeo o autor assevera que eacute de grande importacircncia teoacuterica a

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diferenciaccedilatildeo entre esses tipos de gecircneros pois com isso e a partir disso podemos fazer

anaacutelises precisas dos enunciados que podem contrapor dois ou mais tipos de textos

Ignorar as caracteriacutesticas intriacutensecas a cada gecircnero a ―natureza dos enunciados - que

segundo Bakhtin eacute indispensaacutevel para qualquer estudo ndash eacute partir para a abstraccedilatildeo da liacutengua

desvalorizando o conteuacutedo histoacuterico imerso em cada tipo de gecircnero Eacute importante considerar

a relaccedilatildeo existente entre ―a liacutengua e a vida e natildeo restringir os enunciados a categorias

formais Haacute portanto uma relaccedilatildeo de complementaccedilatildeo entre a liacutengua a vida e os enunciados

pois ―a liacutengua penetra na vida atraveacutes dos enunciados concretos que a realizam e eacute tambeacutem

atraveacutes dos enunciados concretos que a vida penetra na liacutengua (BAKHTIN 2000 p 282)

Bakhtin (2000) tambeacutem se refere a questotildees da ―totalidade do enunciado que ele

define como aquilo que oportuniza a resposta em um discurso Bakhtin afirma que essa accedilatildeo

eacute definida por trecircs fatores diretamente associados ao ―todo orgacircnico do enunciado

primeiramente o tratamento exaustivo do objeto de sentido depois o querer-dizer do locutor

e por fim as formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do acabamento

O tratamento exaustivo do objeto de sentido ―varia profundamente conforme as

esferas da comunicaccedilatildeo verbal Em algumas esferas ele pode ser quase total como por

exemplo na vida praacutetica na vida profissional na vida militar basicamente em esferas que

natildeo possuem caracteriacutesticas de mutabilidade de discurso e pouca ―criatividade nas

formulaccedilotildees entre outras palavras onde os gecircneros do discurso satildeo padronizados Jaacute nas

esferas em que os gecircneros satildeo ―criativos o tratamento exaustivo eacute muito menos abrangente

como no caso das ciecircncias em particular onde Bakhtin infere que o tratamento exaustivo

―oferece exatamente um miacutenimo de acabamento capaz de suscitar uma atitude responsiva

(BAKHTIN 2000 p 300)

O querer-dizer do locutor estaacute ligado ao primeiro fator O filoacutesofo afirma que em todo

enunciado desde uma reacuteplica cotidiana ateacute complexas obras cientiacuteficas ou da literatura

compreendemos sentimos o ―intuito discursivo ou querer-dizer do locutor que eacute o que

determina o ―todo do enunciado sua amplitude suas fronteiras Noacutes identificamos o que o

locutor quer expressar e a partir dessa detecccedilatildeo medimos e definimos como se daraacute o

enunciado Isso eacute determinante para a escolha do objeto com seus limites e o tratamento

exaustivo do objeto adequado a este aleacutem de ser essencial para a escolha da forma do gecircnero

onde seraacute edificado

As formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do gecircnero do acabamento representam o fator mais

importante para Bakhtin que as descreve como ―formas estaacuteveis do gecircnero do enunciado

(BAKHTIN 2000 p 301)

20

As formas do gecircnero agraves quais modelamos nossa fala se distinguem

substancialmente das formas da liacutengua do ponto de vista de sua estabilidade e de

suas leis normativas para o locutor De um modo geral elas satildeo mais maleaacuteveis

mais plaacutesticas e mais livres do que as formas da liacutengua (BAKHTIN 2000 p 302)

Concluindo a discussatildeo sobre gecircneros a partir dos conceitos gerais propostos por

Bakhtin passamos agora para a discussatildeo sobre gecircneros realizada por Marcuschi (2008) Eacute

possiacutevel perceber ao longo da explanaccedilatildeo que este autor se identifica com a teoria

bakhtiniana de gecircneros textuais e foi essa identificaccedilatildeo uma das motivaccedilotildees que nos levou a

escolhecirc-los para a composiccedilatildeo deste capiacutetulo

De acordo com Marcuschi (2008 p 154) toda comunicaccedilatildeo soacute pode ser efetivada

por meio de um gecircnero pois ―eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum gecircnero

assim como eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum texto Partindo dessa

premissa podemos entender que qualquer manifestaccedilatildeo verbal se daacute dentro dos limites dos

gecircneros Eacute por esse motivo que a variedade de gecircneros eacute extensa mas natildeo infinita Atraveacutes

desse conceito observamos que Marcuschi compactua com o conceito bakhtiniano de que os

gecircneros possuem formas padronizadas e finitas

Os gecircneros textuais satildeo os textos que encontramos em nossa vida diaacuteria e que

apresentam padrotildees sociocomunicativos caracteriacutesticos definidos por composiccedilotildees

funcionais objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integraccedilatildeo

de forccedilas histoacutericas sociais institucionais e teacutecnicas (Marcuschi 2008 p 155)

Natildeo devemos considerar os gecircneros textuais como modelos imutaacuteveis e de ―estrutura

riacutegidas A apresentaccedilatildeo dos gecircneros se mostra ligada diretamente ao meio em que circulam

Satildeo formas culturais que tomam forma na liacutengua e que evoluem junto com ela Obviamente

que natildeo podemos deixar de considerar que os gecircneros possuem identidade e eacute atraveacutes dessa

identidade que escolhemos um tipo especiacutefico para cada esfera discursiva Dessa forma

admitimos que os gecircneros limitam nossa accedilatildeo na escrita

Em relaccedilatildeo agrave distinccedilatildeo entre gecircneros Marcuschi (2008) natildeo os distingue pelas formas

linguiacutesticas mas sim pelos seus campos de accedilatildeo Nesse sentido ele reafirma a perspectiva

bakhtiniana de que os gecircneros satildeo dinacircmicos e que por serem soacutecio-histoacutericos natildeo podem

ser contados de modo exaustivo o que dificulta sua classificaccedilatildeo Marcuschi (2008) afirma

que atualmente o objetivo maior nos estudos sobre gecircneros textuais eacute procurar identificar e

explicar como eles satildeo constituiacutedos e como circulam na sociedade

21

Eacute importante apresentar alguns conceitos referentes ao que estamos discutindo sobre

gecircneros do discurso dentre os quais destacamos os conceitos de tipo textual gecircnero textual e

domiacutenio discursivo segundo Marcuschi (2008) levando em consideraccedilatildeo a possibilidade de

se obter melhor entendimento no trato com o texto em si e seus fenocircmenos

O tipo textual eacute definido pelos aspectos linguiacutesticos ou seja por marcas lexicais

tempos verbais estilo relaccedilotildees loacutegicas e aspectos sintaacuteticos Logo relaciona-se mais agraves

sequecircncias linguiacutesticas do que a materializaccedilotildees textuais fazendo com que o conjunto

tipoloacutegico de textos seja limitado e natildeo apresente tendecircncias de aumentar Marcuschi (2002

p22) afirma que os tipos textuais compreendem categorias amplamente conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo exposiccedilatildeo descriccedilatildeo e injunccedilatildeo que observaremos separadamente a

seguir

A narraccedilatildeo relata um fato que pode ser real ou imaginaacuterio em um tempo e lugar

definidos envolvendo personagens Nesse tipo de texto o tempo verbal predominante eacute o

passado ao menos nos exemplos mais tiacutepicos Eacute predominante em crocircnicas piadas

romances poemas faacutebulas entre outros Vejamos o exemplo a seguir

O cavalo e o burro

O cavalo e o burro seguiam juntos para a cidade O cavalo contente da vida

folgando com uma carga de quatro arrobas apenas e o burro mdash coitado gemendo

sob o peso de oito Em certo ponto o burro parou e disse

ndash Natildeo posso mais Esta carga excede agraves minhas forccedilas e o remeacutedio eacute repartirmos o

peso irmatildemente seis arrobas para cada um

O cavalo deu um pinote e relichou uma gargalhada

ndash Ingecircnuo Quer entatildeo que eu arque com seis arrobas quando posso tatildeo bem

continuar com as quatro Tenho cara de tolo

O burro gemeu

ndash Egoiacutesta Lembre-se que se eu morrer vocecirc teraacute que seguir com a carga de quatro

arrobas e mais a minha

O cavalo pilheriou de novo e a coisa ficou por isso Logo adiante poreacutem o burro

tropica vem ao chatildeo e rebenta

Chegam os tropeiros maldizem a sorte e sem demora arrumam com as oito arrobas

do burro sobre as quatro do cavalo egoiacutesta E como o cavalo refuga datildeo-lhe de

chicote em cima sem doacute nem piedade

ndash Bem feito exclamou o papagaio Quem mandou ser mais burro que o pobre burro

e natildeo compreender que o verdadeiro egoiacutesmo era aliviaacute-lo da carga em excesso

Tome Gema dobrado agorahellip

(LOBATO M 2010 p 85)

Acima podemos observar um exemplo de narraccedilatildeo que eacute uma das faacutebulas de

Monteiro Lobato escrita em grande parte em discurso direto Podemos observar na faacutebula

que o texto eacute conduzido pelo narrador intercalado pela interaccedilatildeo dos personagens A seguir

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continuaremos a descriccedilatildeo dos tipos textuais e exemplos com o conceito do tipo textual

argumentativo

Jaacute a argumentaccedilatildeo tem por principal caracteriacutestica a construccedilatildeo do convencimento

acerca da validade ou invalidade de um ponto de vista por sobre outro Nesse tipo de texto haacute

a reflexatildeo sobre temas especiacuteficos confrontando perspectivas distintas predominante em

gecircneros como debates resenhas editoriais artigos de opiniatildeo e afins Vejamos o exemplo a

seguir

O povo brasileiro estaacute cansado de tanta corrupccedilatildeo desigualdade de renda serviccedilos

puacuteblicos precaacuterios sensaccedilatildeo de inseguranccedila nas ruas elevada carga tributaacuteria

ineficiecircncia nos gastos puacuteblicos e elevaccedilatildeo da inflaccedilatildeo aleacutem do estilo autoritaacuterio e

inflexiacutevel da presidente O estranho eacute pensar sobre as razotildees que levaram a

populaccedilatildeo agraves ruas no momento atual em que a economia apresentou uma

significativa evoluccedilatildeo em relaccedilatildeo aos anos 80 e 90 aleacutem de presenciar sensiacutevel

melhora na renda meacutedia e na sua distribuiccedilatildeo nos anos 2000

A minha impressatildeo eacute de que depois de sentir a possibilidade de que o paiacutes entraria

em uma rota segura de crescimento da renda e de desenvolvimento econocircmico

(semelhante agrave sensaccedilatildeo que a populaccedilatildeo brasileira presenciou nos anos 70) o

enfraquecimento econocircmico e os sinais cada vez mais claros de que ele eacute resultante

de problemas internos deixaram a populaccedilatildeo transtornada Mais uma vez somos

apenas o paiacutes do futuro (NAKABASHI 2013 Acesso

httpwwwgazetadopovocombropiniaoartigosmanifestacoes-e-governo-no-

brasil-bdcjgu3mm6ql5e18tqoj73c5q)

Observamos acima uma parte de um artigo de opiniatildeo publicado no jornal Gazeta do

Povo em 02072013 por Luciano Nakabashi que trata das manifestaccedilotildees e do governo no

Brasil O autor anuncia primeiro o problema que vai discutir e em seguida lanccedila sua opiniatildeo

sobre o tema o que faz com que esse tipo de texto seja distinto da exposiccedilatildeo que

abordaremos a seguir

A exposiccedilatildeo apresenta informaccedilotildees sobre acontecimentos materiais e objetos de

forma detalhada e especiacutefica e por isso costuma lanccedilar matildeo de recursos como a descriccedilatildeo

informaccedilatildeo enumeraccedilatildeo comparaccedilatildeo e contrastes O tipo expositivo eacute caracteriacutestico de

gecircneros como as aulas expositivas verbetes de dicionaacuterios notiacutecias jornaliacutesticas entre

outros Vejamos o exemplo

Dianoia Termo grego que pode ser traduzido por pensamento intelecto

espiacuterito A dianoia eacute o pensamento discursivo enquanto elaboraccedilatildeo explicitaccedilatildeo

ou desenvolvimento da noese ou nous isto eacute da razatildeo intuitiva que capta de

modo imediato o real (Aristoacuteteles Tratado da alma III) Neste sentido a dianoia eacute

inferior ao nous jaacute que depende deste (MARCONDES e JAPIASSUacute 2001 p54)

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Tomamos como exemplo de exposiccedilatildeo um verbete de um dicionaacuterio de filosofia

Podemos observar que os autores apresentam a palavra ―dianoia e em seguida conceituam a

dianoia a partir da perspectiva de um filoacutesofo especiacutefico (neste caso Aristoacuteteles)

O tipo textual descriccedilatildeo por sua vez eacute o relato particular de eventos e entidades e se

relaciona comumente com outros tipos em inuacutemeros gecircneros textuais Eacute caracteriacutestico em

cartazes promocionais anuacutencio de classificados entre outros Vamos observar agora um

exemplo de descriccedilatildeo atraveacutes da anaacutelise de uma obra de arte de Salvador Dali de 1955

intitulada ―A uacuteltima ceia

―Sua cena estaacute contida num retacircngulo Uma imensa janela ao fundo representada

por um dodecaedro (figura geomeacutetrica de 12 lados que sua vez satildeo pentaacutegonos ou

seja possuem cinco acircngulos cada um) domina toda a composiccedilatildeo

Jesus Cristo e seus 12 apoacutestolos estatildeo reunidos numa sala moderna envidraccedilada

Ele ocupa o centro da mesa de pedra o centro da tela e o centro do pentaacutegono

frontal do dodecaedro Cristo estaacute de frente para o observador contudo seu corpo

transluacutecido permite ver o mar e um barco o que indica que ele natildeo mais eacute humano

mas divino A sensaccedilatildeo que temos eacute de que seu corpo emerge de dentro do mar

Diante de Cristo sobre a mesa estatildeo um copo com vinho e as duas bandas do patildeo

jaacute repartido o que nos permite concluir que Daliacute pintou o momento da Eucaristia A

presenccedila dos barcos no mar remete aos ―pescadores de homens

A mesa eacute formada por um bloco retangular Doze apoacutestolos debruccedilam-se sobre ela

sendo trecircs agrave esquerda de Cristo e trecircs agrave direita Nas suas extremidades estatildeo quatro

apoacutestolos sendo dois de cada lado De costa para o observador estatildeo mais dois

deles Todos estatildeo com as cabeccedilas baixas Um dos apoacutestolos diverge dos demais ao

usar uma toga amarela O pintor queria com certeza diferenciaacute-lo Portanto tanto

pode ser Pedro o fundador da Igreja ou Judas o traidor

No alto com a cabeccedila invisiacutevel e com parte do tronco visiacutevel e os braccedilos abertos

Deus Pai humanizado abraccedila toda a cena como se aguardasse a chegada do Filho

que se encontra entre os homens Ao fundo um mar tranquilo com rochas

espalhadas e um ceacuteu cheio de nuvens compotildeem o segundo plano da tela (Viacuterus da

arte amp cia ndash Site brasileiro especializado em arte e cultura Disponiacutevel em

httpvirusdaartenetdali-a-ultima-ceia)

Acima podemos observar a descriccedilatildeo de uma obra de arte do pintor catalatildeo Salvador

dali retirado de uma paacutegina sobre arte Como o nome do tipo textual sugere a descriccedilatildeo tem

por objetivo descrever fatos mas tambeacutem caracteriacutesticas para objetos paisagens e situaccedilotildees

diversas No exemplo que utilizamos para descriccedilatildeo observamos a descriccedilatildeo de uma obra de

arte por parte de um espectador demonstrando detalhes do que estaacute impresso na pintura

assim como uma interpretaccedilatildeo da cena

O uacuteltimo tipo textual que consideraremos aqui eacute o tipo injuntivo que tem por objetivo

instruir o leitor ou persuadi-lo a fazer algo ou adotar algum ponto de vista Tambeacutem tem

como caracteriacutestica a induccedilatildeo do interlocutor a proceder de uma ou outra forma Geralmente

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eacute escrito no modo imperativo e eacute caracteriacutestico de gecircneros como a bula de remeacutedio os

manuais de instruccedilotildees receitas culinaacuterias e contratos Vale ressaltar que dentro dos textos

injuntivos podem-se encontrar outros tipos de texto como por exemplo descriccedilotildees de

objetos endereccedilos procedimentos etc Vejamos o exemplo a seguir

Bolo simples

Tempo de preparo 40 minutos

Rendimento 12 porccedilotildees

Ingredientes

2 xiacutecaras de accediluacutecar

3 xiacutecaras de farinha de trigo

4 colheres de margarina bem cheias

3 ovos

1 frac12 xiacutecara de leite aproximadamente

1 colher (sopa) de fermento bem cheia

Modo de preparo

1) Bata as claras em neve

2) Reserve

3) Bata bem as gemas com a margarina e o accediluacutecar

4) Acrescente o leite e a farinha aos poucos sem parar de bater

5) Por uacuteltimo agregue as claras em neve e o fermento

6) Coloque em forma grande de furo central untada e enfarinhada

7) Asse em forno meacutedio preacute-aquecido por aproximadamente 40 minutos

8) Quando espetar um palito e sair limpo estaraacute assado

(httpwwwtudogostosocombrreceita29124-bolo-simpleshtml Acesso em

20042014)

No exemplo uma receita culinaacuteria podemos observar que haacute descriccedilatildeo na primeira

parte (a lista de ingredientes) e na segunda parte (modo de preparo) que eacute a mais

nitidamente injuntiva encontramos instruccedilotildees de como proceder na execuccedilatildeo da receita

Aleacutem da classificaccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo dos tipos de texto eacute interessante observarmos

tambeacutem a definiccedilatildeo de gecircneros textuais e domiacutenio discursivo conforme Marcuschi (2008)

Os gecircneros textuais satildeo definidos como ―textos materializados em situaccedilotildees

comunicativas recorrentes (MARCUSCHI 2008 p155) que apresentam caracteriacutesticas

soacutecio-comunicativas marcadas pelos conteuacutedos e pelas propriedades referentes agraves funccedilotildees e

composiccedilatildeo Diferente dos tipos textuais que se restringem a cerca de meia duacutezia como

afirma Marcuschi (2008) ―os gecircneros satildeo inuacutemeros Tambeacutem haacute de ressaltar que satildeo

culturalmente e historicamente formados visto que evoluem no mesmo passo que as

comunidades

O domiacutenio discursivo por sua vez eacute a esfera de atividade humana em que os textos

circulam Ele natildeo eacute um texto em si mas proporciona o surgimento de discursos especiacuteficos

Para ilustrar podemos citar alguns domiacutenios como discurso religioso discurso juriacutedico etc

25

O domiacutenio eacute constituiacutedo por praacuteticas do discurso nas quais podemos identificar uma seacuterie de

gecircneros que possuem a mesma proposta discursiva como o tema e as praacuteticas institucionais

ou informais

As definiccedilotildees aqui trazidas de gecircnero tipo domiacutenio discursivo satildeo muito mais

operacionais do que formais e seguem de perto a posiccedilatildeo bakhtiniana Assim para a

noccedilatildeo de tipo textual predomina a identificaccedilatildeo de sequecircncias linguiacutesticas como

norteadora e para a noccedilatildeo de gecircnero textual predominamos criteacuterios de padrotildees

comunicativos accedilotildees propoacutesitos e inserccedilatildeo sociohistoacuterica No caso dos domiacutenios

discursivos natildeo lidamos propriamente com textos e sim com formaccedilotildees histoacutericas e

sociais que originam os discursos Eles ainda natildeo se acham bem definidos e

oferecem alguma resistecircncia mas seguramente sua definiccedilatildeo deveria ser na base de

criteacuterios etnograacuteficos antropoloacutegicos e socioloacutegicos e histoacutericos (MARCUSCHI

2008 p 158 Grifos do autor)

Nessa perspectiva faz-se necessaacuterio apresentarmos o papel dos gecircneros textuais como

controle social Como jaacute vimos anteriormente segundo Bakhtin (2000) toda atividade

discursiva humana se daacute atraveacutes de algum gecircnero e eacute tambeacutem por esse motivo que haacute uma

consideraacutevel pluralidade de gecircneros Marcuschi (2008) afirma que os gecircneros satildeo

―necessaacuterios para a interlocuccedilatildeo humana Assim para cada esfera de atividade humana

certos gecircneros especiacuteficos satildeo considerados mais ou menos adequados Na esfera

empresarial por exemplo temos que nos adequar agraves formalidades dos gecircneros de redaccedilatildeo

oficial como os ofiacutecios atas circulares e relatoacuterios Na academia apresentamos nossas

produccedilotildees atraveacutes de dissertaccedilotildees artigos cientiacuteficos teses e relatoacuterios de projetos No meio

publicitaacuterio encontramos as propagandas anuacutencios de diversos tipos Enfim satildeo inuacutemeras as

esferas de discurso domiacutenios discursivos e gecircneros textuais atrelados a estes

Marcuschi (2008) enfatiza que o controle social por gecircneros discursivos eacute

incontornaacutevel mas natildeo determinista De acordo com o autor noacutes temos liberdade para nos

expressarmos em qualquer esfera discursiva Poreacutem temos que admitir que a sociedade eacute

constituiacuteda por uma ―maacutequina discursiva logo somos moldados a ela de forma intuitiva e

os gecircneros textuais constituem um poderoso instrumento desta maacutequina Quanto maior a

nossa inserccedilatildeo na sociedade maior o controle social Por exemplo natildeo satildeo todas as pessoas

que podem expedir um mandato de seguranccedila escrever uma dissertaccedilatildeo de mestrado

ministrar uma aula de fiacutesica quacircntica ou publicar uma coluna em um jornal Eacute nessa

perspectiva que Marcuschi (2008) afirma veemente o direcionamento dos gecircneros textuais

para com o envolvimento social e suas especificidades

26

A partir das consideraccedilotildees apresentadas a respeito dos gecircneros textuais dedicamos a

seccedilatildeo a seguir para a caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual

conforme relatamos na introduccedilatildeo deste capiacutetulo

12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL

O certificado de garantia ou termo de garantia eacute um documento oferecido por

prestadoras de serviccedilos fabricantes de produtos diversos ou de qualquer outro segmento que

envolva comercializaccedilatildeo de bens duraacuteveis com a funccedilatildeo de formalizar os direitos e deveres

do consumidor e do fabricante para com o estado fiacutesico e funcional do produto em vista de

problemas de qualquer natureza

Eacute tambeacutem uma espeacutecie de contrato visto que consiste fundamentalmente na

combinaccedilatildeo de interesses de partes sobre algo Aleacutem de ―certificado de garantia

utilizaremos tambeacutem a nomenclatura ―termo de garantia tendo em vista que o documento

do certificado de garantia e o termo em si estatildeo internamente ligados A expressatildeo ―termo de

garantia eacute usada no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20

de marccedilo de 1997

Art 50 A garantia contratual eacute complementar agrave legal e seraacute conferida mediante

termo escrito

Paraacutegrafo uacutenico O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e

esclarecer de maneira adequada em que consiste a mesma garantia bem como a

forma o prazo e o lugar em que pode ser exercitada e os ocircnus a cargo do

consumidor devendo ser-lhe entregue devidamente preenchido pelo fornecedor no

ato do fornecimento acompanhado de manual de instruccedilatildeo de instalaccedilatildeo e uso de

produto em linguagem didaacutetica com ilustraccedilotildees (Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do

Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20 de marccedilo de 1997 p 30)

Em linhas gerais o documento eacute composto por quatro partes garantia contratual

garantia legal condiccedilotildees para validade da garantia contratual e legal condiccedilotildees natildeo cobertas

pela garantia legal e contratual Vejamos um exemplo de certificado de garantia

27

ILUSTRACcedilAtildeO 1 Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario

_de_ar_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Observamos na primeira parte a disposiccedilatildeo da garantia contratual ou seja a garantia

oferecida pelo fabricante

28

ILUSTRACcedilAtildeO 2 Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar

_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Na segunda parte encontramos a disposiccedilatildeo da garantia legal ou seja a garantia

assegurada pelo Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do consumidor

ILUSTRACcedilAtildeO 3 Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c

ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Em seguida vemos as condiccedilotildees de validade da garantia legal e contratual composta

por uma lista exaustiva de itens a serem considerados

29

ILUSTRACcedilAtildeO 4 Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c

ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

E por fim encontramos as condiccedilotildees natildeo cobertas pela garantia legal e contratual

assim como observaccedilotildees gerais

ILUSTRACcedilAtildeO 5 Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar

_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Em relaccedilatildeo agrave estrutura padratildeo dos certificados de garantia a partir do corpus

analisado nesta pesquisa observou-se que o texto que se refere agrave garantia em si corresponde a

menos da metade do documento Grande parte do documento se dedica agrave restriccedilatildeo de

possibilidades de cobertura assim como observaccedilotildees gerais quanto agraves responsabilidades do

fabricante diante de situaccedilotildees como despesas referentes agrave locomoccedilatildeo para depoacutesito do

produto para assistecircncia documentaccedilatildeo necessaacuteria para apresentaccedilatildeo na assistecircncia etc

30

O termo de garantia eacute vinculado diretamente ao Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do

consumidor O coacutedigo estabelece um padratildeo abrangente de formulaccedilatildeo do documento

constando recomendaccedilotildees como o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo necessidade do

acompanhamento do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto assim como clareza na

disposiccedilatildeo dos prazos de garantia legal e contratual

Como discutimos na primeira parte desse capiacutetulo Bakhtin (2000) propotildee que trecircs

dimensotildees constituem os gecircneros de discurso conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo

composicional Iremos a seguir apresentar como estas dimensotildees satildeo percebidas nesse

gecircnero textual

Como conteuacutedo temaacutetico do gecircnero certificado de garantia temos a veiculaccedilatildeo de

direitos e deveres do fabricante e do consumidor O documento apresenta listas exaustivas de

accedilotildees que possibilitam ou natildeo o uso do termo de garantia assim como instruccedilotildees gerais para

a realizaccedilatildeo desse ato Esse conteuacutedo pode variar em parte e apenas questotildees referentes agrave

garantia legal natildeo podem mudar pois estaacute prevista no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do

Consumidor

Em relaccedilatildeo ao estilo observamos nos certificados a utilizaccedilatildeo da norma padratildeo

Busca-se construir um texto claro e objetivo para que dessa forma natildeo haja problemas de

interpretaccedilatildeo para o consumidor Nesse gecircnero natildeo haacute identificaccedilatildeo de quem escreve de

maneira particular como observamos em gecircneros do tipo carta A identificaccedilatildeo do autor eacute

geralmente atribuiacuteda agrave empresa que oferece a garantia O estilo individual que eacute

caracteriacutestico em diversos gecircneros como o artigo de opiniatildeo e cartas pessoais natildeo cabe para

os certificados Como se trata de um texto instrucional esse gecircnero apresenta-se de forma

objetiva de modo que natildeo haacute a necessidade praacutetica da identificaccedilatildeo de quem escreve

Quanto agrave estrutura composicional em linhas gerais tal gecircnero segue uma sequecircncia

de apresentaccedilatildeo em duas etapas Em um primeiro momento apresenta-se o termo de garantia

em si no qual eacute descrito o direito do consumidor em relaccedilatildeo agrave garantia assim como sua

validade No segundo momento parte mais extensa do texto haacute a apresentaccedilatildeo de listas

supostamente exaustivas referentes aos casos que natildeo satildeo cobertos pela garantia assim como

as instruccedilotildees gerais para o reclame do direito Essa sequecircncia de apresentaccedilatildeo do documento

eacute variaacutevel Haacute certificados que satildeo inclusos no manual de instruccedilatildeo do produto (geralmente

na uacuteltima paacutegina) Haacute certificados que satildeo destacados o documento eacute apresentado agrave parte de

qualquer outro texto

Se retomarmos a classificaccedilatildeo dos gecircneros do discurso de Bakhtin (2000) entre

primaacuterios (simples) e secundaacuterios (complexos) podemos considerar que o certificado de

31

garantia estaacute inserido nos gecircneros complexos pois se trata de um documento elaborado de

forma sistemaacutetica no qual haacute necessidade de um aprofundamento social complexo com

caracterizaccedilotildees e descriccedilotildees bem delimitadas

Quanto ao tipo de texto dentro do que foi proposto por Marcuschi (2008) o

certificado de garantia se enquadra no tipo injuntivo porque eacute um texto instrucional com

predominacircncia do modo imperativo nas frases e eacute composto pela listagem de uma seacuterie de

procedimentos a serem observados e seguidos com listas exaustivas contendo direitos e

deveres do fabricante e do consumidor O objetivo do documento eacute oferecer ao cliente todas

as informaccedilotildees relacionadas agrave validade da garantia os casos em que haacute perda da validade e os

casos em que os problemas apresentados se enquadram como defeitos de fabricaccedilatildeo

O certificado de garantia se caracteriza como um gecircnero textual a partir da

perspectiva de Marcuschi (2008) pois eacute um texto que possui caracteriacutesticas soacutecio-discursivas

bem delimitadas com conteuacutedo padratildeo obedecendo a uma mesma linha temaacutetica e foi

constituiacutedo socialmente O gecircnero foi criado a partir da necessidade juriacutedica de resguardar os

fabricantes e consumidores de produtos industrializados e afins quanto agrave possibilidade de

apresentaccedilatildeo de defeitos ou falhas

De posse dos conhecimentos gerais sobre os gecircneros textuais que apresentamos e da

caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual partiremos no proacuteximo

capiacutetulo para a apresentaccedilatildeo das teorias que serviratildeo de aporte teoacuterico para a compreensatildeo

das anaacutelises realizadas no capiacutetulo 3

32

2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS

Neste capiacutetulo tratamos dos nexos semacircnticos ou ―nexos de significado dos quais

consideramos para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica

contraditoriedade e contrariedade Caracterizamos cada um deles utilizando exemplos em

linguagem natural com o intuito de demonstrar o funcionamento dessas relaccedilotildees assim como

mostrar quando tais exemplos deixam de apresentar o nexo Nosso intuito final eacute de oferecer

uma base para a compreensatildeo das anaacutelises que viratildeo no capiacutetulo posterior

Para entendermos melhor o que satildeo os nexos semacircnticos devemos compreender a

distinccedilatildeo entre a semacircntica e a pragmaacutetica que satildeo linhas de estudos linguiacutesticos inter-

relacionaacuteveis Uma definiccedilatildeo bastante difundida da semacircntica e tambeacutem bastante geral eacute

encontrada em Trask (2004 p 261) que diz que a semacircntica eacute o ramo da linguiacutestica que

estuda o significado e em Chierchia (2003 p 7) para quem a semacircntica eacute um estudo do

significado das expressotildees das liacutenguas naturais Podemos tambeacutem caracterizar a semacircntica

destacando a relaccedilatildeo do usuaacuterio da liacutengua e o significado que ele atribuiu agraves palavras que

compotildeem sentenccedilas como propotildee Pires de Oliveira (2001 p 42) Jaacute a pragmaacutetica por outro

lado tambeacutem estuda o significado das liacutenguas naturais mas trata das intenccedilotildees que os

falantes supostamente revelam a partir do uso de sentenccedilas

Para o termo ―pragmaacutetica haacute diversas possibilidades de definiccedilatildeo Levinson (2007)

procura mostrar as implicaccedilotildees que algumas definiccedilotildees podem ter em relaccedilatildeo a outros

estudos Assim podemos citar pelo menos dois conceitos de pragmaacutetica para Levinson

―pragmaacutetica eacute o estudo de todos os aspectos do significado natildeo capturados em uma teoria

semacircntica (Levinson 2007 p14) assim como ―pragmaacutetica eacute o estudo das relaccedilotildees entre

liacutengua e contexto que satildeo gramaticalizadas ou codificadas na estrutura de um liacutengua

(Levinson 2007 p 11) Podemos perceber que nessas duas definiccedilotildees Levinson tanto atribui

agrave pragmaacutetica a responsabilidade sobre aquilo que estaacute aleacutem da semacircntica quanto destaca a

relaccedilatildeo de liacutengua e contexto Jaacute em Wilson (2008) encontramos as definiccedilotildees que Yule

(1996) apresenta para a pragmaacutetica

a) pragmaacutetica eacute o estudo do significado sob o ponto de vista do falante b)

pragmaacutetica eacute o estudo do significado contextual (isto eacute leva em conta o modo como

os falantes organizam seus enunciados aquilo que eles querem dizer de acordo com

os seguintes fatores a quem vatildeo dizer como vatildeo dizer onde e quando vatildeo dizer e

sob que circunstacircncias) c) pragmaacutetica eacute o estudo do como se diz aleacutem daquilo que eacute

33

dito (isto eacute o estudo do significado subjacente do natildeo dito d) pragmaacutetica eacute o

estudo da expressatildeo da proximidadedistanciamento relativo (isto eacute de acordo com

o tipo de proximidade fiacutesica social ou conceitual em relaccedilatildeo aos ouvintes os

falantes determinam como e quanto precisam dizer) (WILSON 2008 p 89)

A discussatildeo sobre as definiccedilotildees de pragmaacutetica e semacircntica e suas distinccedilotildees vem

desde o iniacutecio do seacuteculo XX e muitos autores contribuiacuteram para a evoluccedilatildeo desses conceitos

Em vista desta histoacuterica discussatildeo apresentaremos os conceitos de Charles Morris e Rudolf

Carnap para estas disciplinas linguiacutesticas

Segundo a definiccedilatildeo de Charles Morris (1938) pragmaacutetica eacute o estudo da ―relaccedilatildeo dos

signos com seus inteacuterpretes Jaacute para Rudolf Carnap (1938) a pragmaacutetica eacute o estudo da

linguagem em relaccedilatildeo aos seus falantes Diante dos conceitos de semacircntica e pragmaacutetica que

apresentamos e da distinccedilatildeo entre as linhas de estudos linguiacutesticos Marcondes (2000) afirma

que ―tanto a definiccedilatildeo de Morris quanto a de Carnap fazem parte da jaacute consagrada distinccedilatildeo

geral do campo de estudos da linguagem entre pragmaacutetica que considera a linguagem em

seu uso concreto e semacircntica que examina os signos linguiacutesticos em sua relaccedilatildeo com os

objetos que designam ou a quem se refere Os nexos semacircnticos estatildeo inseridos no campo da

semacircntica e voltaremos a este ponto no final do capiacutetulo

Sobre as relaccedilotildees semacircnticas haacute diversas perspectivas nos estudos linguiacutesticos A

forma como combinamos as palavras e nossa tendecircncia em buscar um conceito fixo de um

termo satildeo complicaccedilotildees que podem dificultar o uso da liacutengua O significado linguiacutestico das

liacutenguas naturais segundo Basso (2009) possibilita nexos semacircnticos entre sentenccedilas E

ainda sobre o significado Basso propotildee

Quando perguntamos o significado de alguma palavra muitas vezes buscamos

aquele modelo significativo presente nos dicionaacuterios Poreacutem natildeo haacute no dicionaacuterio

maneiras preacute-estabelecidas de como uma palavra pode se combinar com outra em

busca da trama de significados dos nexos que favorecem infinitas interpretaccedilotildees

Essas combinaccedilotildees satildeo decorrentes do proacuteprio uso da liacutengua pelos seus falantes

mas natildeo estatildeo nem presentes nos dicionaacuterios nem tampouco algueacutem nos ensina satildeo

conhecimentos impliacutecitos Uma aacuterea da linguiacutestica moderna defende que o nosso

conhecimento semacircntico e um dote geneacutetico portanto os possiacuteveis nexos

semacircnticos satildeo decorrentes de uma capacidade inata de combinaccedilatildeo de palavras e

sentenccedilas parte do conhecimento semacircntico impliacutecito ou competecircncia semacircntica

(BASSO 2009 p 25)

Os nexos semacircnticos satildeo caracterizados na literatura da semacircntica como grupos de

relaccedilotildees de inferecircncia muito estaacuteveis direcionaacuteveis e fortemente dependentes do material

34

linguiacutestico dos enunciados (SANTOS 2012) Essas relaccedilotildees diferem de perspectivas de

inferecircncias como a pressuposiccedilatildeo e a implicatura que dialogam diretamente com o natildeo-dito

Para contrastar os nexos com esses outros tipos de relaccedilatildeo vamos observar os exemplos a

seguir

(1) Carlos parou de beber refrigerante

(2) A tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio

Seguindo a mesma linha de exposiccedilatildeo de Moura (1999 p 12) a partir das duas

sentenccedilas acima observamos dois niacuteveis nas informaccedilotildees veiculadas No primeiro niacutevel

temos contato com o sentido literal das palavras Dessa forma em (1) temos a informaccedilatildeo de

Carlos natildeo toma mais refrigerantes e em (2) que Maacuterio escreveu uma tese sobre bolhas de

sabatildeo No segundo niacutevel atraveacutes da enunciaccedilatildeo das sentenccedilas somos levados a considerar

informaccedilotildees que natildeo estatildeo afirmadas literalmente nas sentenccedilas Dessa forma a partir de (1)

podemos inferir que Carlos bebia refrigerantes antes e em (2) que uma tese sobre bolhas de

sabatildeo jaacute foi escrita Ducrot (1987) denomina de conteuacutedo posto o primeiro niacutevel que

consiste no conteuacutedo literal das sentenccedilas e de conteuacutedo pressuposto ou pressuposiccedilatildeo o

segundo niacutevel que abarca as inferecircncias que podemos fazer a partir da enunciaccedilatildeo das

sentenccedilas Devemos entender que o conteuacutedo posto depende do conteuacutedo pressuposto pois a

aceitaccedilatildeo do primeiro leva a aceitaccedilatildeo do segundo Para que possamos aceitar a verdade do

posto (1) que diz que Carlos parou de beber refrigerante temos que aceitar a verdade

pressuposta de que Carlos jaacute tinha bebido refrigerante antes

Outra relaccedilatildeo semacircntica que dialoga diretamente com o natildeo-dito eacute a implicatura

Grice (1987) propotildee dois tipos de implicaturas as implicaturas convencionais que natildeo satildeo

sujeitas a condiccedilotildees de verdade e as implicaturas conversacionais que natildeo dependem

diretamente da significaccedilatildeo usual das palavras sendo determinadas por certos princiacutepios

baacutesicos do ato comunicativo

As implicaturas convencionais satildeo inferecircncias natildeo sujeitas a condiccedilotildees de verdade

natildeo satildeo derivadas de princiacutepios pragmaacuteticos mais gerais como as maacuteximas conversacionais

mas satildeo simplesmente ligadas pela convenccedilatildeo a itens ou expressotildees lexicais especiacuteficos

Levinson (2007) toma a implicatura conversacional como uma das ideias mais

importantes da pragmaacutetica e vamos considerar neste trabalho apenas as implicaturas do tipo

conversacional de forma que quando mencionarmos o termo implicatura devemos entender

que estamos falando das implicaturas conversacionais e natildeo das convencionais

35

Para exemplificar uma implicatura vamos supor uma situaccedilatildeo entre dois amigos em

que ao dialogar sobre as uacuteltimas defesas de teses e dissertaccedilotildees do departamento de poacutes-

graduaccedilatildeo deparam-se com a notiacutecia de que um de seus colegas escreveu uma tese sobre um

tema muito irrelevante e nada original Diante desta situaccedilatildeo um amigo disse para o outro ―A

tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio A partir da situaccedilatildeo em que os dois amigos

estavam imersos nesse contexto e da sentenccedila utilizada por um dos amigos podemos inferir

que foi Maacuterio quem escreveu uma tese sobre um tema irrelevante Podemos perceber neste

exemplo que como descrito nas definiccedilotildees que trouxemos anteriormente a implicatura por

ser uma relaccedilatildeo puramente pragmaacutetica utiliza-se do natildeo-dito e de situaccedilotildees convencionadas

entre falantes para poder existir

Dessa forma podemos retomar o que foi exposto nos paraacutegrafos anteriores afirmando

que os nexos semacircnticos as pressuposiccedilotildees e as implicaturas satildeo inferecircncias de significado

sendo que os nexos estatildeo no campo da semacircntica e as pressuposiccedilotildees e implicaturas estatildeo no

campo da pragmaacutetica

A partir deste ponto iremos descrever os nexos semacircnticos com exemplos mostrando

como essas relaccedilotildees funcionam e tambeacutem casos em que a interpretaccedilatildeo natildeo acontece da

maneira esperada Em relaccedilatildeo aos casos em que a interpretaccedilatildeo eacute prejudicada trataremos de

casos relacionados com a ambiguidade lexical mais especificamente com vagueza e casos

relacionados com a polissemia (desconsiderando seus limites com a homoniacutemia)

21 ACARRETAMENTO

Em linhas gerais o acarretamento ocorre quando a verdade de um conjunto de

sentenccedilas1 que nomearemos de A garante a verdade de outra sentenccedila que nomearemos de

B Dessa forma a verdade da primeira sentenccedila ou do conjunto delas autoriza a verdade de B

(CHIERCHIA 2003) O acarretamento eacute uma inferecircncia que os falantes estatildeo autorizados a

fazer e o que os autoriza eacute o conhecimento linguiacutestico Vamos observar o exemplo a seguir

1 Em nosso trabalho utilizaremos os termo ldquosentenccedilardquo e ldquoproposiccedilatildeordquo intercambiavelmente Alguns autores

definem os dois termos de formas distintas Por exemplo na semacircntica contemporacircnea de mundos possiacuteveis desenvolvida por autores como por exemplo Kripke e Lewis define-se proposiccedilatildeo como a classe de todos os mundos possiacuteveis nas quais ela eacute verdadeira Murcho (2006) apresenta dois exemplos para distinguir proposiccedilotildees e sentenccedilas ldquoSoacutecrates era um filoacutesofordquo e ldquoSocrates was a philosopherrdquo Murcho afirma que os dois exemplos satildeo duas sentenccedilas que exprimem uma uacutenica proposiccedilatildeo Outros como Mortari (2001) natildeo distinguem proposiccedilotildees e sentenccedilas

36

(3) alsquo Neymar eacute brasileiro

a Neymar eacute um jogador de futebol

b Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro

Podemos observar no exemplo acima que a sentenccedila (3b) tem a sua verdade garantida

pela verdade de (3alsquo) e (3a) Sendo assim (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Podemos observar

no exemplo que o acarretamento eacute bastante claro pois as informaccedilotildees que estatildeo presentes em

(3b) satildeo a soma das informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) Eacute interessante destacar

que para que a sentenccedila (3b) constitua um acarretamento de (3alsquo) e (3a) natildeo precisamos

conhecer a pessoa Neymar nem sua nacionalidade eou profissatildeo Como as informaccedilotildees

estatildeo postas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) a verdade de (3b) eacute inevitaacutevel Mesmo que no mundo

real Neymar natildeo fosse jogador de futebol e natildeo fosse brasileiro isso em nada modificaria o

acarretamento pois dentro da relaccedilatildeo estabelecida entre (3alsquo) (3a) e (3b) as informaccedilotildees

contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Vejamos o exemplo a seguir

(4) alsquo Todos os sacis tecircm apenas uma perna

a Denis Diderot eacute um saci

b Denis Diderot tem apenas uma perna

Observando o exemplo acima identificamos que em relaccedilatildeo ao conhecimento de

mundo a sentenccedila (4alsquo) eacute verdadeira jaacute que no folclore admitimos como uma caracteriacutestica

dos sacis ter apenas uma perna A sentenccedila (4a) eacute falsa pois Denis Diderot foi um filoacutesofo e

escritor francecircs e natildeo um saci Por fim a sentenccedila (4b) tambeacutem eacute falsa em relaccedilatildeo ao nosso

conhecimento de mundo pois Denis Diderot possuiu durante toda a sua vida as duas pernas

Podemos entatildeo admitir que as sentenccedilas do conjunto (4) em relaccedilatildeo ao nosso conhecimento

de mundo satildeo falsas Mesmo assim o conjunto eacute um acarretamento Diferente do exemplo

(3) em que trouxemos sentenccedilas que constituiacuteam um acarretamento com informaccedilotildees

verdadeiras em relaccedilatildeo ao mundo o exemplo (4) mostra que a relaccedilatildeo semacircntica que estamos

discutindo independe da verdade das informaccedilotildees das sentenccedilas no mundo O que o

acarretamento faz eacute concatenar as sentenccedilas de uma forma que se as premissas forem

verdadeiras a conclusatildeo tambeacutem seraacute verdadeira O acarretamento depende exclusivamente

37

da forma em que as sentenccedilas se apresentam Tendo em vista que a relaccedilatildeo depende apenas

da forma podemos representar o acarretamento da seguinte maneira como propotildee Soares

(2003)

Em liacutengua natural

Se estudar entatildeo serei aprovado (1ordf premissa)

Ora estudei (2ordf premissa)

Logo fui aprovado (Conclusatildeo)

E simbolizando2

a rarr b (1ordf premissa)

a (2ordf premissa)

b (Conclusatildeo)

Vale ressaltar que ao utilizarmos o termo ―sentenccedila estamos nos referindo ao que os

gramaacuteticos costumam chamar de oraccedilatildeo Tambeacutem eacute interessante mencionar que o

acarretamento eacute chamado de consequecircncia semacircntica Iremos utilizar como representaccedilatildeo das

premissas sentenccedilas do tipo (Xalsquo) e (Xa) e para a conclusatildeo sentenccedilas do tipo (Xb)

Podemos entender que o acarretamento eacute um tipo de relaccedilatildeo estabelecida entre

premissas e a consequecircncia de forma que a verdade das premissas determina a verdade da

consequecircncia Tambeacutem devemos entender que natildeo eacute possiacutevel que as premissas sejam

verdadeiras junto da negaccedilatildeo da conclusatildeo pelo fato de que dessa forma estaria

descaracterizada a relaccedilatildeo de acarretamento

Como ressaltamos acima os acarretamentos satildeo dependentes da forma ou seja da

relaccedilatildeo que as sentenccedilas possuem entre si e natildeo da verdade ou falsidade no mundo das

informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas Diante disso traremos agrave tona exemplos de sentenccedilas que

2 O siacutembolo ldquorarrrdquo na loacutegica claacutessica representa um condicional assunto de que trataremos no terceiro capiacutetulo

deste trabalho e o siacutembolo ldquordquo representa um acarretamento

38

natildeo possuem relaccedilatildeo semacircntica mas atraveacutes da verdade ou falsidade das informaccedilotildees nas

sentenccedilas podem nos confundir e nos induzir ao erro Para tal raciociacutenio errocircneo damos o

nome de falaacutecias

Soares (2003) distingue trecircs caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias (i) satildeo

argumentos parecidos com argumentos vaacutelidos (ii) estabelecem entre premissas e conclusotildees

uma relevacircncia puramente psicoloacutegica que tatildeo-soacute se dirige agraves emoccedilotildees da pessoa sem que as

premissas sejam logicamente relevantes para extrair a conclusatildeo (iii) apresentam-se com

intenccedilatildeo enganadora para que o argumento ainda que invaacutelido seja de todas as maneiras

aceito por todos Vejamos a seguir exemplos de falaacutecias

(5) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher

a Dilma Rousseff eacute mulher

b Dilma Rousseff eacute a presidente do Brasil

A partir do nosso conhecimento de mundo poderiacuteamos dizer que a sentenccedila (5b) eacute

verdadeira Na sentenccedila (5alsquo) temos que A presidente do Brasil eacute mulher De fato tambeacutem se

formos utilizar nosso conhecimento de mundo intuitivamente diremos que esta sentenccedila estaacute

correta considerando a eacutepoca em que este trabalho foi escrito Seguindo temos a sentenccedila

(5a) com a informaccedilatildeo Dilma Rousseff eacute mulher Assim como as sentenccedilas (5alsquo) e (5a) a

partir de nosso conhecimento de mundo podemos afirmar que esta sentenccedila tambeacutem eacute

verdadeira mas devemos entender que eacute preciso considerar a relaccedilatildeo que as sentenccedilas

estabelecem entre si A sentenccedila (5alsquo) natildeo estabelece nenhuma relaccedilatildeo com a sentenccedila (5a)

para que (5b) seja um acarretamento Para mostrar de forma mais clara que o exemplo (5) natildeo

eacute um acarretamento vamos comparaacute-lo com o exemplo a seguir

(6) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher

a Michelle Bachelet eacute mulher

b Michelle Bachelet eacute a presidente do Brasil

Observamos que (6alsquo) e (6a) satildeo verdadeiras (no momento da redaccedilatildeo deste

trabalho) mas (6b) nos parece estranho Sabemos que Michelle Bachelet atualmente eacute

presidente do Chile Mas nada disso interfere para caracterizar um acarretamento e o exemplo

acima foi para deixar claro que a partir das relaccedilotildees semacircnticas dispostas entre os grupos de

39

sentenccedilas (5) e (6) natildeo podemos considerar que haacute acarretamento pelo fato acima

mencionado

Ateacute o momento tratamos do conceito de acarretamento seguido de exemplos em

liacutengua natural sua representaccedilatildeo na loacutegica claacutessica e exemplos de falaacutecias A partir deste

ponto trataremos dos fatores que interferem nas relaccedilotildees semacircnticas de uma forma diferente

das falaacutecias A compreensatildeo dos tipos de interferecircncias a seguir seraacute importante para a anaacutelise

do corpus deste trabalho pois se trata de interferecircncias lexicais

No exemplo a seguir trataremos de um problema que pode invalidar relaccedilotildees

semacircnticas a polissemia Quando um termo adquire mais de um sentido aleacutem daquele que eacute

originalmente atribuiacutevel temos um caso de polissemia Crystal (1985) conceitua polissemia

da seguinte maneira

Polissemia termo usado na anaacutelise semacircntica para caracterizar um item lexical com

uma variedade de significaccedilotildees diferentes como manga = ―parte da camisa ―parte

do abajur etc Uma grande parte do vocabulaacuterio da liacutengua eacute polissecircmica ()

(Crystal 1985 p 202)

Tendo em vista que a polissemia eacute uma caracteriacutestica de um item lexical que possui

diversos significados para diversos contextos vamos observar o exemplo a seguir

(7) a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito

b Joatildeo morreu

A sentenccedila (7a) pode ser interpretada pelo menos de duas formas distintas pelo fato da

expressatildeo ―perdeu a cabeccedila ser polissecircmica Se interpretarmos a sentenccedila (7a) considerando

―perder a cabeccedila como ter a cabeccedila desprendida do corpo haacute acarretamento de (7a) para

(7b) Mas esta natildeo eacute a uacutenica interpretaccedilatildeo possiacutevel para a expressatildeo em questatildeo Se

interpretarmos ―perder a cabeccedila como perder a paciecircncia ficar furioso estressado ou algo

parecido a sentenccedila (7a) natildeo acarreta (7b) numa mesma situaccedilatildeo pois o fato de Joatildeo ter

perdido a paciecircncia natildeo garante que ele venha a morrer Dessa forma para natildeo ter problemas

com a polissemia eacute preciso assegurar que se convencione um sentido uacutenico para cada

premissa para desta forma haver um acarretamento

40

Outro aspecto que eacute preciso ser mencionado eacute que (7) do jeito que se apresenta natildeo eacute

um acarretamento mesmo que perder a cabeccedila tenha o sentido de ter a cabeccedila desprendida do

corpo Isso se daacute porque (7) eacute um acarretamento incompleto ou seja um entimema

Argumento com uma premissa natildeo-formulada sem a qual ele natildeo eacute vaacutelido Chama-

se muitas vezes de premissa impliacutecitalsquo agrave premissa natildeo formulada Na argumentaccedilatildeo

cotidiana omitem-se premissas oacutebvias A premissa impliacutecita do argumento Antocircnio

deveria ser despedido porque roubou dinheiro puacuteblicolsquo eacute Todas as pessoas que

roubam dinheiro puacuteblico devem ser despedidaslsquo (BRANQUINHO MURCHO

GOMES 2006 p 298)

Vamos observar o exemplo (7) de uma forma que o entimema seria evitado

(8) alsquo Todas as pessoas que perdem a cabeccedila morrem

a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito

b Joatildeo morreu

Podemos constatar no exemplo acima que ao incluirmos a sentenccedila (8alsquo) que eacute a

sentenccedila geral que estava impliacutecita no exemplo (7) resolvemos o problema do entimema

completando assim a relaccedilatildeo de acarretamento de (8alsquo) e (8a) para (8b)

A partir de agora vamos tratar de outro tipo de interferecircncia em relaccedilotildees sentencias

que estaacute tambeacutem no campo do leacutexico a vagueza

A vagueza eacute assim como a polissemia um tipo de ocorrecircncia que dificulta a

interpretaccedilatildeo dos nexos entre sentenccedilas Podemos considerar que haacute vagueza em uma

sentenccedila quando observamos que uma palavra ou expressatildeo causa sentido incompleto

impedindo o entendimento da sentenccedila como um todo Branquinho Murcho e Gomes

conceituam a vagueza de seguinte maneira

As liacutenguas naturais contecircm palavras (tipicamente predicados denotando

propriedades ou relaccedilotildees) cujo domiacutenio de aplicaccedilatildeo eacute parcialmente indeterminado

isto eacute em relaccedilatildeo agraves quais os falantes competentes natildeo estatildeo certos em todos os

casos de que determinado objeto (ou par ordenado de objetos) pertence ao conjunto

denotado por elas (ou agrave relaccedilatildeo) (BRANQUINHO MURCHO GOMES 2006 p

805)

De uma forma geral Allan (2010) caracteriza a vagueza como um tipo particular de

incerteza sobre a aplicaccedilatildeo de um predicado Podemos considerar como um exemplo padratildeo

de predicado vago a classe de adjetivos graduaacuteveis como altura Se uma determinada pessoa

41

natildeo eacute suficientemente alta para ser claramente alta e natildeo eacute suficiente baixa para ser

claramente baixa entatildeo aiacute temos um caso de vagueza

Os adjetivos vagos satildeo sempre utilizados em relaccedilatildeo a uma classe de comparaccedilatildeo no

dia-a-dia Estar acima do peso por exemplo pode variar a partir do grau de comparaccedilatildeo Para

uma top model estar acima do peso eacute visto de forma diferente do que para um lutador de

sumocirc por exemplo

Ainda em relaccedilatildeo ao conceito de vagueza Kempson (1977) propotildee que existem

quatro tipos inter-relacionaacuteveis de vagueza vagueza referencial indeterminaccedilatildeo de

significado falta de especificaccedilatildeo no significado de um item disjunccedilatildeo na especificaccedilatildeo do

significado de um item em que o significado abarca uma ou qualquer declaraccedilatildeo de diversas

possibilidades de interpretaccedilatildeo Dentre estes quatro tipos propostos por Kempson iremos nos

dedicar a observar os casos relacionados agrave vagueza referencial Tendo em vista os conceitos

acima vamos observar um exemplo em que a vagueza pode prejudicar a interpretaccedilatildeo de um

acarretamento

(9) a Tobias eacute um gecircnio no xadrez

b Tobias eacute um bom jogador de xadrez

No exemplo acima podemos observar os termos vagos ―gecircnio na sentenccedila (9a) e

―bom na sentenccedila (9b) Para haver a relaccedilatildeo de acarretamento temos que admitir para (9a) e

(9b) o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe Por exemplo haacute acarretamento entre as

sentenccedilas (9a) e (9b) se Tobias for um garoto de oito anos e diante seus colegas da escola ele

se destacar como um exiacutemio conhecedor das regras e teacutecnicas do jogo de xadrez Dessa

forma a sentenccedila ―Tobias eacute um gecircnio no xadrez acarretaria que ―Tobias eacute um bom jogador

de xadrez Jaacute se natildeo utilizarmos o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas

(9a) e (9b) como por exemplo se em (9a) Tobias for um garoto de oito anos que diante de

seus colegas da escola se destaca como um exiacutemio jogador de xadrez mas comparando-o

com os competidores da categoria secircnior do campeonato mundial de xadrez e a partir disso

afirmando (9b) natildeo poderiacuteamos acarretar que Tobias eacute um bom jogador de xadrez Dessa

forma pudemos observar que a presenccedila de termos vagos em sentenccedilas dificulta a

interpretaccedilatildeo dos acarretamentos A seguir observaremos outros nexos que se relacionam com

o acarretamento

42

22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA

Como discutimos anteriormente o acarretamento eacute uma relaccedilatildeo semacircntica que ocorre

em um uacutenico sentido ou seja das premissas para a conclusatildeo Quando uma conclusatildeo

acarreta as premissas chamamos essa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica

Para o termo ―equivalecircncia haacute diversas definiccedilotildees Segundo Branquinho Murcho e

Gomes (2006 p 281) podemos identificar dois sentidos distintos para este termo o primeiro

se refere ao que tratamos neste trabalho ou seja faz referecircncia a relaccedilatildeo entre as sentenccedilas de

certa liacutengua o segundo trata de determinados tipos de sentenccedilas declarativas agraves frases

bicondicionais ou declarativas Dentro desses dois sentidos diversos para o termo

―equivalecircncia no primeiro que eacute o que mais nos interessa os autores ainda distinguem trecircs

variedades centrais de equivalecircncia Satildeo elas equivalecircncia material equivalecircncia estrita e

equivalecircncia loacutegica

A equivalecircncia material eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q (por

exemplo) exatamente quando p e q possuem o mesmo valor de verdade ou seja quando ou

satildeo as duas verdadeiras juntas ou satildeo as duas falsas juntas

A equivalecircncia estrita eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q no caso em

que eacute necessaacuterio que p seja materialmente equivalente a q ou no caso de ser impossiacutevel tanto

que p seja verdadeira e q seja falsa quanto que p seja falsa e q seja verdadeira Branquinho

Murcho e Gomes (2006 p 281) afirmam que nesse caso diz-se que p eacute estritamente

equivalente a q

A equivalecircncia loacutegica eacute uma relaccedilatildeo que se estabelece entre duas sentenccedilas p e q

exatamente no caso de p e q serem duas sentenccedilas mutuamente dedutiacuteveis num dado sistema

loacutegico Diz-se nesse caso que p eacute logicamente equivalente a q

Em nosso trabalho iremos considerar para ―equivalecircncia o sentido apresentado por

Branquinho Murcho e Gomes (2006) para equivalecircncia material A partir deste conceito

vamos observar o exemplo a seguir

(10) a O gato matou o rato

b O rato foi morto pelo gato

Nas sentenccedilas acima podemos identificar uma relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica Eacute

impossiacutevel que o gato tenha matado o rato e que o rato natildeo tenha sido morto Claro que se

43

considerarmos que estamos tratando sobre o mesmo gato e o mesmo rato Dessa forma

sempre que (10a) for verdadeira (10b) tambeacutem teraacute de ser Tambeacutem podemos observar uma

relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica no exemplo (3) Utilizamos o exemplo (3) para mostrar

uma relaccedilatildeo de acarretamento que eacute efetiva mas tambeacutem haacute a relaccedilatildeo de equivalecircncia pois

as premissas ―Neymar eacute brasileiro e ―Neymar eacute um jogador de futebol acarretam que

―Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro da mesma forma que esta uacuteltima sentenccedila

acarreta as duas anteriores Tal exemplo reafirma o conceito descrito acima de que uma

equivalecircncia semacircntica eacute um acarretamento duplo

Assim como acontece no acarretamento a equivalecircncia semacircntica tem problemas com

a polissemia Vamos observar exemplo a seguir

(11) a O Brasil ganhou o jogo contra o Chile

b O Chile perdeu o jogo contra o Brasil

No exemplo acima vemos que a sentenccedila (11a) acarreta a sentenccedila (11b) ao mesmo

tempo em que a sentenccedila (11b) acarreta a sentenccedila (11a) Natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (11a)

seja verdadeira ao mesmo tempo em que a (11b) seja falsa Se uma das sentenccedilas eacute falsa e a

outra eacute verdadeira natildeo haacute acarretamento em nenhum dos dois ―sentidos (em relaccedilatildeo agrave

direccedilatildeo de (11a) para (11b) e de (11b) para (11a)) Natildeo podemos considerar que o Brasil

ganhou o jogo contra o Chile e que o Chile ganhou o jogo contra o Brasil pois sabemos que

em uma partida de futebol haacute apenas um ganhador Haacute a possibilidade de algueacutem querer ir

mais aleacutem e inferir que eacute possiacutevel que os dois times ganharam mas em jogos diferentes Se

considerarmos a situaccedilatildeo de que o Chile jaacute ganhou outros jogos contra o Brasil assim como

que o Brasil jaacute ganhou outros jogos contra o Chile a relaccedilatildeo de equivalecircncia seria possiacutevel

escolhendo qualquer outro jogo como referecircncia mas natildeo eacute o que nos interessa pois

devemos considerar apenas uma situaccedilatildeo para as duas sentenccedilas

A partir deste ponto iremos tratar sobre como a polissemia pode interferir na

interpretaccedilatildeo numa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica da mesma forma que mostramos

anteriormente nas relaccedilotildees de acarretamento Vejamos o proacuteximo exemplo

44

(12) a A lagosta estaacute mais salgada que o peixe

b O peixe estaacute menos salgado que a lagosta

Podemos observar que as sentenccedilas (12a) e (12b) satildeo equivalentes pelo fato de que

natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12a) seja verdadeira e a sentenccedila (12b) seja falsa assim como

natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12b) seja verdadeira e a sentenccedila (12a) seja falsa Poreacutem se

passarmos a admitir significados diferentes para expressotildees empregadas nas sentenccedilas por

exemplo para a palavra ―salgado encontraremos problemas Se admitirmos que sentenccedila

(12a) o conceito de ―salgado eacute de o alimento estar impregnado de sal salpicado de sal ou

com gosto de sal e se este conceito for tambeacutem considerado para a sentenccedila (12b) haacute

equivalecircncia semacircntica Mas tambeacutem podemos interpretar o termo ―salgado como uma

expressatildeo para se referir ao preccedilo alto do produto no mercado Soacute haacute equivalecircncia semacircntica

se admitirmos o mesmo conceito para ―salgado em ambas as sentenccedilas ou seja se

considerarmos o significado de ―salgado como sendo impregnado de sal para a sentenccedila

(12a) ou em (12b) como sendo relativo ao valor alto no mercado natildeo haacute equivalecircncia

semacircntica entre (12a) e (12b)

No proacuteximo exemplo trataremos de outro tipo de ocorrecircncia que dificulta a

interpretaccedilatildeo de nexos a vagueza Como jaacute apresentamos a definiccedilatildeo de vagueza na seccedilatildeo

anterior partiremos direto para o exemplo em que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo de uma

equivalecircncia semacircntica

(13) a Goacutergias eacute mais saacutebio que Hiacutepias

b Hiacutepias eacute menos saacutebio que Goacutergias

Na relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) haacute equivalecircncia semacircntica mas podemos identificar

que nas duas sentenccedilas foram utilizados termos vagos que tornam a interpretaccedilatildeo dificultosa

Em (13a) haacute o uso dos termos ―mais e ―saacutebio assim como em (13b) haacute o uso dos termos

―menos e ―saacutebio Esses termos satildeo vagos e dificultam a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo semacircntica

entre as sentenccedilas O que dificulta a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) eacute o fato de

que termos como ―mais e ―menos assim como ―saacutebio possuem significados diferentes de

acordo com as situaccedilotildees em que satildeo utilizadas Ou seja eacute necessaacuterio que admitamos o

45

mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas (13a) e (13b) Dessa forma haveraacute a

relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica

A seguir trataremos sobre outro tipo de relaccedilatildeo semacircntica entre sentenccedilas a

contraditoriedade

23 CONTRADITORIEDADE

Diferente da relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica que consiste em sentenccedilas que satildeo

verdadeiras juntas ou falsas juntas as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias quando uma eacute oposta da

outra tipicamente quando uma sentenccedila B eacute a negaccedilatildeo de uma sentenccedila A Sobre a relaccedilatildeo de

contraditoriedade Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 229) afirmam que ―obteacutem-se a

contraditoacuteria de qualquer proposiccedilatildeo p prefixando-lhe o operador de negaccedilatildeo de modo a

obter notp3 Com base no conceito de contraditoriedade exposto vamos observar o exemplo a

seguir

(14) a O Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016

b O Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016

Podemos observar no exemplo acima que se a sentenccedila (14a) for verdadeira

obrigatoriamente a sentenccedila (14b) tem que ser falsa Se a informaccedilatildeo da sentenccedila (14a) que

diz que o Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas for verdadeira a informaccedilatildeo da sentenccedila

(14b) que diz que o Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas natildeo pode ser verdadeira

Em relaccedilotildees de contraditoriedade o uso de uma afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo eacute algo

tiacutepico mas natildeo determinante No exemplo (14) pudemos observar a relaccedilatildeo de

contraditoriedade caracterizada pelo uso da negaccedilatildeo mas tambeacutem podemos encontrar esse

tipo de relaccedilatildeo sem tal uso Vejamos a seguir

3 O siacutembolo not na loacutegica claacutessica eacute a representaccedilatildeo do operador de negaccedilatildeo ldquonatildeordquo

46

(15) a Mecircnon estaacute acordado

b Mecircnon estaacute dormindo

A partir das sentenccedilas acima podemos ver que a relaccedilatildeo entre estas sentenccedilas eacute de

contraditoriedade pois se a sentenccedila (15a) for verdadeira a sentenccedila (15b) tem que ser falsa

da mesma forma que se a sentenccedila (15b) for verdadeira a sentenccedila (15a) deveraacute ser falsa

Natildeo eacute possiacutevel que Mecircnon esteja acordado e dormindo ao mesmo tempo claro que

considerando o mesmo sentido para as palavras ―acordado e ―dormindo nas duas sentenccedilas

e em relaccedilatildeo ao mesmo Mecircnon

Assim como as demais relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos anteriormente a

contraditoriedade tambeacutem eacute sensiacutevel agrave polissemia Vamos observar como a polissemia se

apresenta no exemplo a seguir

(14) a A minha gata estaacute acordada

b A minha gata estaacute dormindo

No exemplo acima natildeo encontramos apenas a relaccedilatildeo de contraditoriedade sem

utilizaccedilatildeo da negaccedilatildeo mas tambeacutem um problema de polissemia que pode anular a relaccedilatildeo de

contraditoriedade Se numa determinada situaccedilatildeo escrevendo este texto me viro na cadeira e

vejo em cima de minha cama o meu animal de estimaccedilatildeo deitado olhando para mim e com

isso afirmo ―a minha gata estaacute acordada como na sentenccedila (14a) natildeo posso considerar

verdadeira a sentenccedila (14b) pois natildeo se pode estar dormindo e estar acordado ao mesmo

tempo tomando as definiccedilotildees de ―estar acordado e ―estar dormindo como oposiccedilotildees A

partir disso as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias Se em outra situaccedilatildeo me viro na cadeira e vejo

minha esposa deitada na cama dormindo e afirmo ―a minha gata estaacute dormindo como na

sentenccedila (14b) ela natildeo pode ser verdadeira ao mesmo tempo em que a sentenccedila (14a) pois

minha esposa natildeo poderia estar acordada e dormindo ao mesmo tempo Ateacute o momento

pudemos atribuir dois sentidos diferentes para o termo ―gata Se considerarmos para a

sentenccedila (14a) o sentido de que o meu animal de estimaccedilatildeo estaacute acordado e para a sentenccedila

(14b) o sentido de que a minha esposa estaacute dormindo essas sentenccedilas natildeo satildeo contraditoacuterias

No exemplo acima percebemos portanto dois aspectos da contradiccedilatildeo em sentenccedilas de uma

liacutengua natural como o portuguecircs Primeiro que natildeo haacute a obrigatoriedade de ter a negaccedilatildeo de

47

uma sentenccedila para que a relaccedilatildeo de contraditoriedade exista e segundo que a polissemia

pode tornar problemaacutetica essa relaccedilatildeo

Podemos considerar uma relaccedilatildeo de contraditoriedade entre sentenccedilas sempre que A eacute

verdadeira B eacute falsa e sempre que a sentenccedila B eacute verdadeira A eacute falsa Ou seja as sentenccedilas

A e B nunca podem ser verdadeiras ou falsas juntas

O exemplo de contraditoriedade que mostramos anteriormente foi relacionando duas

sentenccedilas mas podemos encontrar a relaccedilatildeo de contraditoriedade dentro de uma sentenccedila

apenas Vamos observar o exemplo a seguir

(15) Herbert Vianna eacute cantor e natildeo eacute cantor

Se afirmamos que uma pessoa eacute e natildeo eacute cantora constatamos uma contraditoriedade

nesta sentenccedila Em (15) encontramos a apresentaccedilatildeo de um argumento e a negaccedilatildeo do mesmo

argumento em seguida Uma sentenccedila com esta forma natildeo pode ser verdadeira Se

consideramos numa mesma situaccedilatildeo que Herbert Vianna eacute cantor e em seguida afirmo que

Herbert Vianna natildeo eacute cantor esta sentenccedila eacute contraditoacuteria

Se partirmos para determinar sentidos diferentes para o termo ―cantor como por

exemplo que Herbert Vianna eacute um cantor pelo simples fato de que ele emite pelas cordas

vocais sons musicais que ―cantor eacute um termo que soacute pode ser utilizado para os profissionais

que trabalham com a voz na muacutesica ou que ―cantor se jaacute um termo utilizado para designar

algueacutem que canta muito bem natildeo haacute contraditoriedade efetivamente Mas se mantivermos o

mesmo sentido para o termo haveraacute relaccedilatildeo de contraditoriedade

Da mesma forma que a polissemia dificulta a interpretaccedilatildeo de nexos entre sentenccedilas

vamos observar um exemplo em que a vagueza ndash toacutepico que desenvolvemos na primeira

seccedilatildeo deste capiacutetulo - invalida uma relaccedilatildeo de contraditoriedade

(16) a O professor de loacutegica eacute muito alto

b O professor de loacutegica natildeo eacute muito alto

Na relaccedilatildeo entre (16a) e (16b) seguindo o conceito contraditoriedade haacute uma relaccedilatildeo

de contradiccedilatildeo entre as duas sentenccedilas poreacutem podemos identificar termos vagos nas duas

sentenccedilas o que pode dificultar a interpretaccedilatildeo Na sentenccedila (16a) e na sentenccedila (16b)

48

identificamos dois termos vagos que satildeo ―muito e ―alto Eacute possiacutevel considerar as duas

sentenccedilas como falsas ou verdadeiras juntas invalidando a contraditoriedade pois os termos

―muito e ―alto satildeo variaacuteveis de acordo com o grau de comparaccedilatildeo adotado Por exemplo

em (16a) o professor de loacutegica pode ser considerado muito alto em comparaccedilatildeo agraves crianccedilas

para quem ele leciona poreacutem se compararmos o professor de loacutegica da sentenccedila (16a) com os

outros professores do departamento talvez o professor fosse considerado baixo Desta forma

podemos observar que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo das duas sentenccedilas

A seguir traremos o uacuteltimo nexo semacircntico que utilizaremos em nosso trabalho Este

tipo de relaccedilatildeo eacute um pouco parecido com a contraditoriedade

24 CONTRARIEDADE

A contrariedade ocorre quando duas sentenccedilas podem ser falsas juntas mas natildeo

podem ser verdadeiras juntas Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 234) definem

contrariedade da seguinte forma ―duas proposiccedilotildees satildeo contraacuterias se natildeo podem ser ambas

verdadeiras mas podem ser ambas falsas distinguindo-se assim das contraditoacuterias que natildeo

podem ser ambas verdadeiras nem ambas falsas e das subcontraacuterias que natildeo podem ser

ambas falsas mas podem ser ambas verdadeiras

Eacute importante enfatizar que mesmo estando tratanto dos nexos semacircnticos e sua

aplicaccedilatildeo em liacutengua natural os conceitos de sentenccedilas contraacuterias contraditoacuterias

equivalecircncias e acarretamentos tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica As relaccedilotildees de sentenccedilas

contraacuterias e contraditoacuterias satildeo tratadas por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado

atraveacutes de seu quadrado loacutegico ou taacutebua de oposiccedilotildees No Perieacutermeneas (1985) mais

especificamente nos capiacutetulos 6 e 7 Aristoacuteteles nos apresenta os conceitos de sentenccedilas

contraacuterias e contraditoacuterias afirmando que duas sentenccedilas satildeo contraacuterias quando natildeo podem

ser verdadeiras juntas ao mesmo tempo mas podem ser falsas juntas ao mesmo tempo Jaacute em

relaccedilatildeo agraves contraditoacuterias Aristoacuteteles propotildee que toda afirmaccedilatildeo possui sua exata negaccedilatildeo

correspondente e que toda afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo sem opotildeem sendo uma sempre

verdadeira e a outra sempre falsa Dessa forma para Aristoacuteteles um par formado por uma

afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo corresponde a uma contradiccedilatildeo

A partir do conceito de contrariedade vamos observar o exemplo a seguir Nele

encontraremos um caso de polissemia

49

(17) a A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 20 de agosto de 1914

b A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 18 de julho de 1921

Se admitirmos que a seleccedilatildeo brasileira de futebol sobre a qual estamos falando na

sentenccedila (17a) eacute a mesma seleccedilatildeo que estamos falando na sentenccedila (17b) natildeo eacute possiacutevel que

a sentenccedila (17b) seja verdadeira pois algo natildeo pode ser fundado efetivamente em dois

momentos distintos Haacute a possibilidade de se afirmar que estamos falando de duas seleccedilotildees

brasileiras de futebol diferentes pois para ―seleccedilatildeo brasileira haacute diversos significados

aplicaacuteveis ou seja a expressatildeo ―seleccedilatildeo brasileira eacute polissecircmica Por exemplo podemos

definir uma seleccedilatildeo como sendo de futebol de campo e a outra de futebol de salatildeo A partir

dessa interpretaccedilatildeo as duas sentenccedilas poderiam ser verdadeiras juntas e com isso natildeo

haveria contrariedade Mas como devemos admitir apenas uma situaccedilatildeo para as duas

sentenccedilas (17a) e (17b) natildeo podem ser verdadeiras juntas mas podem ser falsas juntas

constituindo uma relaccedilatildeo de contrariedade Eacute possiacutevel que a seleccedilatildeo brasileira de futebol natildeo

tenha sido formada nem em 20 de agosto de 1914 e nem em 18 de julho de 1921 Em

contrapartida numa interpretaccedilatildeo usual a seleccedilatildeo de futebol de um paiacutes eacute formada pela

primeira vez uma soacute vez Algueacutem pode querer ir aleacutem e afirmar que foram empregados

sentidos diferentes para a expressatildeo ―foi formada nas sentenccedilas em questatildeo Poderia dizer

que na sentenccedila (17a) o sentido foi de que a seleccedilatildeo se reuniu pela primeira vez para jogarem

juntos de forma extraoficial e que na sentenccedila (17b) o sentido foi de que a seleccedilatildeo

efetivamente foi documentalmente formada Se admitiacutessemos essas interpretaccedilotildees as

sentenccedilas (17a) e (17b) poderiam ser verdadeiras juntas o que descaracterizaria a relaccedilatildeo de

contrariedade entre as sentenccedilas Assim como o fato de que se a sentenccedila (17a) for falsa a

sentenccedila (17b) pode ser verdadeira ou falsa A falsidade da sentenccedila (17a) natildeo assegura a

verdade da sentenccedila (17b) Podemos entender dessa forma que a polissemia afeta a

interpretaccedilatildeo do nexo

Vamos observar mais um exemplo desta relaccedilatildeo

(18) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado do Acre

b A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado de Santa Catarina

50

Se considerarmos a sentenccedila (18a) verdadeira ou seja que a reitoria da UNISUL estaacute

localizada no estado do Acre e tambeacutem levando em conta que a UNISUL eacute uma universidade

que tem uma reitoria e que a reitoria de uma universidade soacute pode estar numa cidade a

sentenccedila (18b) deveraacute ser falsa A sentenccedila (18a) eacute falsa e a sentenccedila (18b) eacute verdadeira e as

duas estabelecem uma relaccedilatildeo de contrariedade A reitoria da UNISUL estaacute localizada no

estado de Santa Catarina e natildeo no estado do Acre A partir desse exemplo e da convenccedilatildeo que

admitimos para ele pudemos observar que se uma sentenccedila A for falsa uma sentenccedila B pode

ser falsa ou verdadeira natildeo podendo ser as duas verdadeiras juntas apenas falsas Ilustrando

mais uma vez veja a relaccedilatildeo a seguir

(19) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Paris

b A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Roma

No exemplo acima podemos afirmar que as sentenccedilas (19a) e (19b) podem ser falsas

pois como jaacute citamos no paraacutegrafo anterior a reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado

de Santa Catarina Dessa forma haacute relaccedilatildeo de contrariedade as duas sentenccedilas satildeo falsas

Jaacute tratamos de exemplos da relaccedilatildeo de contrariedade com problemas de polissemia

mas podemos tambeacutem identificar problemas de validade dos nexos por causa da vagueza A

seguir observe o exemplo

(20) a Este cafeacute estaacute forte

b Este cafeacute estaacute aguado

Observando as sentenccedilas acima identificamos que (20a) e (20b) possuem termos

vagos que podem dificultar a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre as sentenccedilas Em (20a) foi usado

o termo ―forte e em (20b) foi usado o termo ―aguado Como nas outras relaccedilotildees que

apresentamos anteriormente esses termos satildeo vagos pois dependendo da classe de

comparaccedilatildeo em que satildeo apresentados eles podem mudar de sentido Eacute possiacutevel que numa

determinada situaccedilatildeo consideremos que um cafeacute pode natildeo estar nem forte nem fraco

autorizando a possibilidade de (20a) e (20b) serem as duas falsas ao mesmo tempo

descaracterizando a relaccedilatildeo de contrariedade Dessa forma podemos observar que os termos

51

vagos dificultam a interpretaccedilatildeo das sentenccedilas consequentemente da relaccedilatildeo que as

sentenccedilas estabelecem entre si Concluindo a exposiccedilatildeo dos nexos que nos interessam neste

trabalho apresentaremos a seguir a justificativa de nosso percurso sobre estas relaccedilotildees

semacircnticas e os tipos de ocorrecircncias que podem dificultar a interpretaccedilatildeo destas

25 JUSTIFICANDO O PERCURSO

Neste capiacutetulo apresentamos inicialmente os conceitos de semacircntica e pragmaacutetica

com o objetivo de mostrar que os nexos semacircnticos que tratamos em nosso trabalho

(acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e contrariedade) satildeo tipos de

inferecircncias que pertencem ao campo da semacircntica Para isso tambeacutem apresentamos duas

inferecircncias que pertencem ao campo da pragmaacutetica (pressuposiccedilatildeo e implicatura)

Na exposiccedilatildeo de cada nexo trouxemos os conceitos seguidos de exemplos em que a

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees semacircnticas eacute clara Em seguida apresentamos exemplos de nexos

com dois tipos de ocorrecircncias que no campo do leacutexico dificultam a interpretaccedilatildeo das

relaccedilotildees semacircnticas a polissemia e a vagueza

Pode parecer confuso a princiacutepio o fato de tratarmos de tipos de inferecircncia que

dependem da forma para se concretizarem (os nexos semacircnticos) relacionando-as com

ocorrecircncias que dificultam o entendimento do conteuacutedo das sentenccedilas (a polissemia e a

vagueza) A confusatildeo se apresenta caso natildeo lembremos que estamos tratando das relaccedilotildees de

inferecircncias em liacutengua natural e natildeo numa liacutengua controlada como num sistema loacutegico por

exemplo

Quando afirmamos que as relaccedilotildees entre sentenccedilas que tratamos em nosso trabalho

dependem da forma falamos de uma ―dessemantificaccedilatildeo ou seja a existecircncia dos nexos vai

depender unicamente da semacircntica dos quantificadores e conectivos (e ou se) Os nexos natildeo

dependem da semacircntica restante do material linguiacutestico exposto na sentenccedila A semacircntica dos

conectivos e quantificadores numa linguagem formal eacute mantida estaacutevel por definiccedilatildeo Na

linguagem natural podemos observar que os tipos de ocorrecircncia que dificultam a

interpretaccedilatildeo dos nexos se fazem presentes justamente no restante do material linguiacutestico da

sentenccedila ou seja para aleacutem da estrutura da sentenccedila que eacute composta pelos quantificadores e

demais conectivos

52

A polissemia e a vagueza satildeo ocorrecircncias tiacutepicas de liacutengua natural e dessa forma

somos obrigados a admitir que ao nos depararmos com qualquer gecircnero textual (que

obviamente estaacute no campo das liacutenguas naturais) numa anaacutelise devemos considerar que o

significado das palavras vai naturalmente interferir nas relaccedilotildees semacircnticas Tambeacutem na

exposiccedilatildeo de tipos de ocorrecircncias que interferem nos nexos semacircnticos tratamos de falaacutecias

que satildeo argumentos invaacutelidos apresentados como vaacutelidos explorando justamente a

interpretaccedilatildeo do conteuacutedo das sentenccedilas

A partir dos nexos semacircnticos que tratamos neste capiacutetulo junto com os tipos de

inferecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees no capiacutetulo seguinte

apresentaremos a anaacutelise de certificados de garantia Como o nosso objetivo eacute analisar quais

satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados nos certificados para restringir possibilidades de

interpretaccedilatildeo decidimos realizar a anaacutelise de ocorrecircncias com conectivos e quantificadores

Consideramos pertinente a escolha desse tipo de anaacutelise pois entendemos que os

quantificadores como o ―todo satildeo tradicionalmente apresentados em relaccedilotildees semacircnticas de

restriccedilatildeo ou abrangecircncia assim como o condicional ―se ou ―somente se e o ―apenas e

―somente A partir desse raciociacutenio acreditamos que esta seria a forma mais correta para

identificarmos ocorrecircncias do tipo que precisamos para a realizaccedilatildeo de nossa anaacutelise Os

nexos semacircnticos natildeo satildeo propiacutecios para as liacutenguas naturais pois natildeo se apresentam de forma

controlada Ocorrecircncias lexicais como as que descrevemos anteriormente podem dificultar a

interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees e isso eacute algo que trataremos nas anaacutelises

Eacute nesta perspectiva que observaremos no capiacutetulo seguinte as anaacutelises de vinte e dois

certificados de garantia nos quais natildeo buscaremos relaccedilotildees bem marcadas e controladas entre

sentenccedilas pois natildeo encontrariacuteamos facilmente mas sim quais satildeo os recursos linguiacutesticos

utilizados pelos autores dos textos para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo

admitindo tambeacutem obviamente os nexos semacircnticos como possiacuteveis recursos

53

3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA

Os certificados de garantia satildeo textos muito presentes em nosso cotidiano e muitas das

vezes noacutes natildeo levamos em conta a sua importacircncia tanto por serem documentos que podem

resguardar nossos direitos sobre um determinado produto quanto pelo fato de natildeo sermos

treinados para ler e interpretar devidamente as informaccedilotildees dispostas nos textos Dessa

forma justificamos a escolha de tal gecircnero para analisarmos em nossa pesquisa Ateacute este

momento de nosso trabalho seguimos o seguinte percurso

1) Mostramos no primeiro capiacutetulo que na elaboraccedilatildeo de certificados de garantia o

autor deve se preocupar em construir o texto buscando restringir ao maacuteximo as

possibilidades de interpretaccedilatildeo para que ele se torne mais eficiente em passar as

informaccedilotildees desejadas e para evitar problemas de interpretaccedilatildeo por parte dos

clientes

2) Tendo em vista que os certificados de garantia satildeo textos instrucionais ou seja

que direcionam a leitura para um fim especiacutefico nossa anaacutelise tem por objetivo

verificar quais satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores destes textos

para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo e para alcanccedilar este objetivo nos

utilizaremos da teoria dos nexos semacircnticos apresentada no segundo capiacutetulo

Como anunciado na introduccedilatildeo o corpus dessa pesquisa eacute formado por 22

certificados de garantia de produtos de diversos segmentos Ele foi coletado utilizando a

internet e natildeo teve um meacutetodo definido de categorizaccedilatildeo na escolha dos textos Decidimos

escolher certificados de diversos segmentos para natildeo obtermos uma anaacutelise viciada e tambeacutem

para obtermos um panorama da estrutura textual

Como analisaremos os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores dos certificados

de garantia para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo elegemos trecircs categorias de

termos a serem analisadas quantificadores universais condicionais e uso do apenassomente

A escolha dessas categorias se deve ao fato delas possuiacuterem tradicionalmente funccedilotildees de

restriccedilatildeo ou abrangecircncia em inferecircncias

Assim como na loacutegica de predicados a silogiacutestica se caracteriza pelo uso dependente

em argumentos dos quantificadores ―alguns e ―todos Nomeamos de quantificador

existencial ou particular aqueles referentes a ―alguns e nomeamos de quantificador universal

aqueles referentes a ―todos (MURCHO 2006) Utilizaremos em nossa pesquisa agraves

ocorrecircncias com quantificadores do segundo tipo Vejamos um exemplo ilustrativo

54

(21) TODO produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia

Possivelmente natildeo encontraremos em nossa anaacutelise nenhuma sentenccedila como esta pois

vemos que o quantificador universal destacado em letras maiuacutesculas abrange totalmente a

possibilidade de cobertura da garantia de um produto Da forma que estaacute expressa se compro

uma TV por exemplo e a mergulho na aacutegua causando defeito poderei receber outra nova do

fabricante pois ―todo produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia

Sobre os condicionais trataremos a anaacutelise na mesma linha de raciociacutenio pois eles

satildeo utilizados em proposiccedilotildees do tipo ―se X entatildeo Y oportunizando abrangecircncia ou

restriccedilatildeo de possibilidades de interpretaccedilatildeo como podemos ver ilustrado no exemplo a

seguir

(22) SE o produto apresentar defeito seraacute reparado gratuitamente

Da mesma forma como mostramos no exemplo anterior provavelmente natildeo

encontraremos sentenccedilas tatildeo abrangentes em nosso corpus como esta pois da forma como

estaacute posta ampliaria muito a possibilidade de cobertura da garantia de um produto Podemos

interpretar a partir da leitura da sentenccedila acima que o reparo do produto seraacute efetuado caso o

produto apresente qualquer defeito por qualquer motivo durante qualquer periacuteodo de tempo

sendo utilizado por qualquer pessoa e em qualquer circunstacircncia entre outras possibilidades

Para reparar tamanha abrangecircncia os autores dos textos podem utilizar listas exaustivas com

detalhes especiacuteficos apoacutes a apresentaccedilatildeo dos condicionais para direcionar efetivamente a

cobertura da garantia

Por fim em relaccedilatildeo ao uso dos termos ―apenas e ―somente analisaremos os termos

nos contextos que os autores buscam restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos textos

Vejamos o exemplo a seguir

(22) Estaratildeo cobertos pela garantia APENAS os produtos que natildeo estatildeo em

promoccedilatildeo

55

No exemplo acima tambeacutem inventado vemos que o ―apenas aparece como um

restritor da garantia deixando claro que soacute os produtos que foram adquiridos pelos preccedilos

normais ou seja fora da promoccedilatildeo estaratildeo cobertos pela garantia Dessa forma produtos em

promoccedilatildeo ficam descobertos

Com os conceitos sobre as categorias de anaacutelise dispostos acima apresentaremos a

seguir a anaacutelise dos trechos coletados em nosso corpus separada por tipos de ocorrecircncia

Iremos observar como se apresentam os quantificadores condicionais ocorrecircncias com o

apenassomente assim como observaremos os tipos de ocorrecircncias no campo do leacutexico que

dificultam a interpretaccedilatildeo dos trechos (polissemia e vagueza)

31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL

Vejamos a seguir as ocorrecircncias4 em que o quantificador universal eacute utilizado

5

(1) Este produto e as peccedilas substituiacutedas seratildeo garantidos pelo restante do

prazo original TODAS as peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades

da SAMSUNG

Podemos observar na ocorrecircncia acima que o fabricante utiliza o quantificador para

fazer com que o leitor infera que absolutamente todas as peccedilas que forem substituiacutedas na

assistecircncia a algum aparelho defeituoso se tornaratildeo propriedade da fabricante Dessa forma o

cliente natildeo poderaacute em hipoacutetese alguma ficar com a peccedila trocada

Percebemos no trecho acima que o quantificador universal ―todas poderia ser

excluiacutedo da sentenccedila e com isso em nada alteraria o sentido da sentenccedila Forccedilando uma

possiacutevel interpretaccedilatildeo da sentenccedila o leitor poderia afirmar que se a sentenccedila fosse disposta

da seguinte maneira ―As peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades da SAMSUNG

poderia existir uma classe de peccedilas eletrocircnicas de produtos SAMSUNG que

4 Utilizaremos o termo ldquoocorrecircnciardquo tanto para se referir ao trecho completo do corpus quanto para a

sentenccedila em que o conectivo grifado se apresenta Natildeo faremos distinccedilatildeo para este uso 5 Para a exibiccedilatildeo das ocorrecircncias do nosso corpus reiniciaremos a numeraccedilatildeo natildeo seguindo a contagem

realizada para os exemplos dos capiacutetulos anteriores

56

tradicionalmente fossem substituiacutedas em manutenccedilotildees mas natildeo recolhidas pelo fabricante

Dessa forma o quantificador universal ―todas se mostraria como a soluccedilatildeo para esse

problema de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos

na ocorrecircncia6 (1)

(2) Esta garantia substitui TODAS as outras garantias expressas ou

taacutecitas incluindo sem limitaccedilatildeo garantias taacutecitas de comercializaccedilatildeo

e adequaccedilatildeo a um fim especiacutefico

(Certificado 1)

Nesta ocorrecircncia o fabricante utiliza o quantificador para abranger ao maacuteximo seu

texto no intuito de inferir que a garantia em anaacutelise se sobrepotildee a qualquer outro tipo de

garantia oferecida ao cliente

Podemos observar que se o quantificador universal ―todas natildeo fosse utilizado o

sentido da sentenccedila permaneceria o mesmo Se tiveacutessemos encontrado a sentenccedila da forma

―Esta garantia substitui as outras garantias o cliente iria interpretar a sentenccedila sem

dificuldades O uso do quantificador aparece como um termo para dar ecircnfase ao que jaacute estaacute

dito na sentenccedila acima Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos na

ocorrecircncia (2)

(3) TODO atendimento de reparo deve ser precedido de ligaccedilatildeo

telefocircnica ao Suporte Teacutecnico Telefocircnico da AOC (0800-10-9539)

para que seja feita uma avaliaccedilatildeo preacutevia do problema a fim de

constatar a existecircncia de defeito ou viacutecio do produto esgotando-se

TODAS as possibilidades de se tratar de uma falha de operaccedilatildeo ou

uso do produto por parte do consumidor

(Certificado 4)

No trecho acima podemos observar que na primeira ocorrecircncia do quantificador o

fabricante utiliza-o para inferir que o cliente em qualquer caso de submissatildeo do aparelho agrave

assistecircncia deve entrar em contato com o suporte teacutecnico telefocircnico da empresa e ainda

6 Decidimos pontuar no final de cada anaacutelise o fato de haver ou natildeo termos polissecircmicos ou vagos nas

ocorrecircncias porque consideramos estes tipos de ocorrecircncias como sendo os principais meios de dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos instrucionais Ao anunciar que natildeo haacute termos dessas categorias em cada anaacutelise por mais que se mostre repetitivo na leitura ao mesmo tempo invoca a importacircncia (e necessidade segundo nossa perspectiva) que depositamos nesses fatos em cada ocorrecircncia

57

reforccedila utilizando outra vez o quantificador ―todas inferindo que o produto soacute iraacute para a

assistecircncia efetivamente caso natildeo haja mais nenhuma possibilidade de resoluccedilatildeo do problema

atraveacutes do contato telefocircnico Ao utilizar esse reforccedilo o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo ao

fato de que por exemplo o problema possa ser resolvido atraveacutes de instruccedilotildees passadas pela

empresa via telefone ao cliente e o cliente natildeo aceitar e exigir que o produto seja reparado

somente na assistecircncia teacutecnica ou simplesmente para evitar que a assistecircncia teacutecnica receba

algum produto que natildeo estaacute defeituoso ou viciado

Diferente da ocorrecircncia (2) o uso do quantificador universal ―todo se faz necessaacuterio

para evitar que o cliente interprete a sentenccedila de uma forma indesejada por parte do

fabricante Por exemplo caso o autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todo na

primeira parte ―Todo atendimento de reparo deve o cliente poderia interpretar que ele

poderia obter atendimento de reparo sem passar pelo contato telefocircnico com o suporte teacutecnico

do fabricante Na utilizaccedilatildeo do quantificador universal ―todas no final da sentenccedila tambeacutem

observamos que se o autor do texto natildeo utilizasse esta estrateacutegia tambeacutem possibilitaria que o

texto fosse interpretado de outra maneira Se o cliente se deparasse com a sentenccedila

―esgotando-se as possibilidades de se tratar de uma falha poderia interpretar que se para

algum tipo de falha de operaccedilatildeo ou seja de utilizaccedilatildeo do produto haveria a possibilidade de

enviar o produto para assistecircncia teacutecnica Como o autor utilizou o quantificador nas duas

passagens que citamos ele direcionou a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha

duacutevidas sobre aquilo que o fabricante deseja expressar

Sobre tipos de ocorrecircncia que dificultam a interpretaccedilatildeo do texto pudemos identificar

a expressatildeo ―viacutecio do produto Esta expressatildeo eacute muito especiacutefica e estaacute presente no Coacutedigo

de defesa do consumidor Segundo Bruno Miragem (2008) ―Viacutecio do produto ou do serviccedilo

abrange o efeito decorrente da violaccedilatildeo aos deveres de qualidade quantidade ou informaccedilatildeo

impedindo com isso que o produto ou serviccedilo atenda aos fins que legitimamente dele se

esperam (dever da adequaccedilatildeo) O autor do certificado natildeo disponibilizou nenhum conceito

para a expressatildeo ―viacutecio do produto apresentando desta forma uma dificuldade a mais para

a interpretaccedilatildeo do texto por parte do cliente Caso o autor tenha elaborado o texto

considerando por exemplo que qualquer pessoa que leia um certificado de garantia deve ser

conhecedor de todos os termos e expressotildees descritas no CDC (a partir desse ponto iremos

utilizar esta sigla para ―coacutedigo de defesa do consumidor) natildeo haveria problema em

simplesmente usar o termo sem conceituar mas isso natildeo eacute pertinente Para evitar que esta

expressatildeo natildeo fosse polissecircmica o autor deveria ter elaborado um mini-glossaacuterio com os

termos que seriam usuais no texto e que possuem um sentido especiacutefico no ramo em que o

58

produto estaacute inserido (por exemplo peccedilas de carros ou peccedilas eletrocircnicas) e no CDC7

(4) A Garantia do Produto oferecida por este Termo abrange TODOS os

defeitos de material ou de fabricaccedilatildeo do aparelho constatados pela

Robert Bosch Ltda bem como a substituiccedilatildeo das peccedilas que

apresentarem viacutecios aleacutem da matildeo-de-obra utilizada no respectivo

reparo

(Certificado 8)

No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador ―todos para assegurar ao cliente

que em qualquer caso em que o produto possua defeito de material ou de fabricaccedilatildeo a

garantia estaraacute assegurada Aleacutem de assegurar isso tambeacutem garante a substituiccedilatildeo da peccedila do

aparelho que estiver com problema e a matildeo-de-obra tudo por conta do fabricante Caso o

autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todos ele poderia abrir margem para

outras interpretaccedilotildees como por exemplo que esta garantia natildeo abrange qualquer defeito do

produto constatado pelo fabricante Eacute interessante citar que a utilizaccedilatildeo do quantificador

―todos foi realizada beneficiando o fabricante pois mesmo afirmando que a ―garantia

abrange todos os defeitos o autor direciona para ―todos os casos que forem constatados

pelo fabricante Ou seja fica a criteacuterio do fabricante decidir o que eacute defeito e o que natildeo eacute

Assim como na ocorrecircncia (3) identificamos o uso do termo ―viacutecios que natildeo tem o

seu conceito descrito no texto do certificado O termo ―viacutecio natildeo eacute utilizado em nosso

cotidiano como algo vinculado a um objeto Geralmente conceituamos esse termo como

referente agrave dependecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica em relaccedilatildeo a uma substacircncia Tambeacutem podemos

conceituar como uma mania (costume de fazer sempre a mesma coisa) Enfim o termo

utilizado da forma em que foi descrita em (4) necessitaria que em alguma parte do texto

aparecesse o conceito para este termo que deve ser interpretado de forma especiacutefica pois eacute

um termo teacutecnico apresentado no CDC e muitas das vezes o cliente natildeo tem conhecimento

deste conceito favorecendo dificuldades a interpretaccedilatildeo do texto

(5) TODOS os eventuais danos ou demoras resultantes da natildeo

observacircncia dessas recomendaccedilotildees fogem agrave responsabilidade da APC

(Certificado 7)

7 Sobre esta estrateacutegia de eliminaccedilatildeo da polissemia e vagueza atraveacutes do uso de um glossaacuterio por autores de

textos instrucionais ver Estrela e Santos (2014)

59

Na ocorrecircncia acima a empresa APC se resguarda de qualquer responsabilidade sobre

o produto caso o cliente natildeo siga as recomendaccedilotildees dadas pelo fabricante Para isso utiliza o

quantificador universal para abranger ao maacuteximo as possibilidades de natildeo cobertura

favorecendo o fabricante Observamos que a utilizaccedilatildeo do quantificador na ocorrecircncia (5)

serviu para intensificar o que foi descrito na sentenccedila Caso natildeo fosse utilizado poderia

deixar margem para outras interpretaccedilotildees como por exemplo que poderia existir algum tipo

de dano eventual que fosse de responsabilidade do fabricante O quantificador ―todos

elimina esse tipo de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos

polissecircmicos na ocorrecircncia (5)

(6) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA garante e consequentemente

compromete-se a reparar ou substituir pelo prazo abaixo indicado

contado a partir da data indicada no documento fiscal representativo

de venda do veiacuteculo Hyundai TODAS as peccedilas que em serviccedilo

normal apresentem defeito de fabricaccedilatildeo ou de material desde que

observadas as respectivas condiccedilotildees sob pena de ser

automaticamente considerado cancelado o presente Certificado de

Garantia independentemente de qualquer aviso ou notificaccedilatildeo

(Certificado 17)

No trecho acima podemos observar que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se daacute

de forma bastante controlada Mesmo o termo ―todas sendo naturalmente utilizado para

abranger ou restringir ao maacuteximo inferecircncias na ocorrecircncia acima vemos sua utilizaccedilatildeo

dependendo de vaacuterios aspectos para se concretizar A Hyundai se compromete em reparar ou

substituir ―todas as peccedilas dos veiacuteculos que estiverem dentro de todas as caracteriacutesticas

descritas antes do termo ser usado como estar dentro do prazo estabelecido pelo fabricante

apresentarem defeito de fabricaccedilatildeo ou material e aleacutem disso observando os procedimentos

detalhados pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o quantificador universal eacute

utilizado de forma controlada pelo fabricante restringindo ao seu sabor as possibilidades de

validade da garantia

(7) TODA revisatildeo deveraacute ser registrada no quadro de registro de revisotildees

para assegurar a garantia de seu veiacuteculo

(Certificado 17)

60

Na ocorrecircncia acima observamos que o fabricante utilizou o quantificador universal

para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente da seguinte forma o

cliente que possui um veiacuteculo na garantia poderia interpretar por exemplo caso natildeo houvesse

a utilizaccedilatildeo do quantificador ―toda na sentenccedila (7) fazer as revisotildees do veiacuteculo em qualquer

oficina e natildeo registrar as mudanccedilas feitas no carro em lugar algum natildeo perdendo a garantia

do veiacuteculo O quantificador universal ―toda direciona a interpretaccedilatildeo da inferecircncia para que

o cliente efetue qualquer revisatildeo do veiacuteculo numa concessionaacuteria do fabricante e aleacutem disso

ter as revisotildees registradas no quadro de registro de revisotildees do fabricante Na ocorrecircncia (7)

natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos

(8) TODOS aparelhos da ONEAL saem da faacutebrica preacute-ajustados em

220V

(Certificado 5)

Nesta ocorrecircncia (8) o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para

abranger a informaccedilatildeo de que qualquer produto produzido por ele eacute ajustado em 220V

resguardando-se de por exemplo um questionamento de algum cliente sobre o

funcionamento de qualquer produto em outra voltagem ou utilizaccedilatildeo do produto em outra

voltagem ocasionando defeito no produto Caso isso ocorra o fabricante natildeo poderaacute ser

responsabilizado pois a partir da ocorrecircncia (8) ele explica a voltagem a ser utilizada natildeo

garantindo o funcionamento do produto em outras voltagens Na ocorrecircncia (8) observamos

que se o fabricante natildeo tivesse utilizado o quantificador universal ―todo natildeo alteraria a

interpretaccedilatildeo da sentenccedila Podemos entender que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal na

ocorrecircncia (8) serviu apenas para intensificar a informaccedilatildeo da sentenccedila

(9) TODOS nossos produtos satildeo testados durante horas nos mais severos

regimes antes de serem aprovados para o mercado

(Certificado 5)

No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para abranger a

interpretaccedilatildeo da inferecircncia Dessa forma o fabricante tenta nos levar a interpretar a

61

ocorrecircncia (9) da seguinte forma qualquer produto produzido por este fabricante eacute testado de

forma rigorosa antes de ser despachado para comercializaccedilatildeo Essa interpretaccedilatildeo eacute dificultada

pela presenccedila de termos vagos Ao utilizar a expressatildeo ―durante horas nos mais severos

regimes o fabricante natildeo teve o cuidado de atrelar essa informaccedilatildeo agrave classe de comparaccedilatildeo

na qual o cliente deve se basear para interpretar a sentenccedila da forma como o fabricante

deseja Ao afirmar que os produtos satildeo testados ―durante horas o fabricante natildeo especificou

por quantas horas os produtos satildeo testados e o que isso representa Por exemplo para

produtos X identificados como em bom funcionamento deve-se testaacute-los durante Y horas

segundo o manual Z que regulamenta a qualidade dos produtos X Aleacutem disso o fabricante

ainda afirma sobre os testes que satildeo ―nos mais severos regimes cometendo a mesma falha

da expressatildeo anterior natildeo descrevendo o que eacute isso e o que isso representa A expressatildeo eacute

vaga pois esses regimes de testes satildeo severos em relaccedilatildeo a quecirc Como natildeo haacute um grau de

comparaccedilatildeo de classe o cliente pode interpretar a ocorrecircncia de formas diversas Se o

fabricante tivesse especificado em algum lugar do texto que a expressatildeo ―nos mais severos

regimes deveria ser comparada por exemplo a um tipo de teste que coloca os produtos em

condiccedilotildees extremas para averiguar a sua qualidade durabilidade e bom funcionamento que eacute

norma padratildeo de qualidade para os produtos que ele estaacute justificando em (9) natildeo haveria

vagueza Do modo como a ocorrecircncia se apresenta as informaccedilotildees ―durante horas e ―nos

mais severos regimes satildeo vagas e dificultam a interpretaccedilatildeo da sentenccedila

(10) A ONEAL garante TODOS os seus produtos por um periacuteodo de 01

(um) ano jaacute incluiacutedo o periacuteodo de garantia legal (os primeiros 90 dias)

a partir da data da compra para problemas mecacircnicos ou por falhas

industriais em montagem e pintura

(Certificado 5)

Podemos observar na ocorrecircncia (10) que o fabricante assegura a garantia para todos

os seus produtos utilizando o quantificador universal com algumas restriccedilotildees Se natildeo

houvesse a utilizaccedilatildeo do quantificador nesta inferecircncia o cliente poderia considerar que a

garantia de seu produto por exemplo teria validade vitaliacutecia e que o produto estaria coberto

pela garantia mesmo se for danificado por negligecircncia do cliente O fabricante restringe o

periacuteodo de validade especificando que o periacuteodo de um ano jaacute inclui o periacuteodo da garantia

legal que eacute de 90 dias Ainda enfatiza que se deve contar o periacuteodo a partir da data da compra

e ainda explica que a garantia cobriraacute somente produtos que apresentarem problemas

62

mecacircnicos ou aqueles que apresentarem problemas industriais em montagem e pintura Dessa

forma problemas de outra natureza natildeo seratildeo cobertos pela garantia assim como produtos

com mais de um ano de adquiridos tambeacutem natildeo estaratildeo cobertos Poderiacuteamos identificar a

expressatildeo ―garantia legal como polissecircmica caso o fabricante natildeo tivesse apresentado o

conceito para a expressatildeo logo apoacutes entre parecircnteses Eacute sabido que no CDC a garantia legal eacute

caracterizada como o periacuteodo de 90 dias apoacutes a aquisiccedilatildeo de um produto Para evitar que

houvesse uma interpretaccedilatildeo indevida o fabricante conceituou a expressatildeo imediatamente

apoacutes o aparecimento dela na sentenccedila

(11) Em vista das mudanccedilas de leis que poderatildeo ocorrer TODO

certificado seraacute regido pelas normas do cartatildeo de garantia mais

recentemente atualizado pela faacutebrica

(Certificado 5)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todo para afirmar

que qualquer certificado de garantia de seus produtos deveraacute seguir as normas dispostas no

cartatildeo de garantia mais recentemente atualizado pela faacutebrica ou seja caso algum cliente tente

solicitar a garantia atraveacutes de um cartatildeo de garantia desatualizado ele natildeo estaraacute autorizado

Dessa forma o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo agraves possiacuteveis atualizaccedilotildees de leis ou

informaccedilotildees nos cartotildees de garantia dos diversos lotes de produtos impossibilitando o cliente

de reclamar sobre qualquer tipo de alteraccedilatildeo no documento em questatildeo A utilizaccedilatildeo do

quantificador universal em (11) eacute importante para dar ecircnfase agrave informaccedilatildeo central da sentenccedila

e tambeacutem para evitar que por exemplo o cliente interpretasse que algum certificado poderia

ser regido pelas normas de outro cartatildeo de garantia que natildeo fosse o mais recente Natildeo

identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos em (11)

(12) A garantia incide sobre TODOS os componentes montados

originalmente em Veiacuteculo conforme descrito na Nota Fiscal de

venda quer fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER ou

por esta adquiridos de terceiros

(Certificado 16)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para

restringir a interpretaccedilatildeo da sentenccedila quando afirma que a garantia cobre qualquer

63

componente montado originalmente em veiacuteculo ou seja a garantia natildeo cobre componentes

avulsos Aleacutem disso os componentes montados devem estar descritos na Nota Fiscal de

venda sendo assim se natildeo estiverem lanccedilados invalidam a garantia e por fim os veiacuteculos

devem tem sido fabricados por alguma empresa do grupo DAIMLER ou fabricado por outra

empresa mas tendo sido adquirido pelo fabricante que estaacute oferecendo a garantia Dessa

forma podemos ver que o quantificador universal foi utilizado pelo fabricante de forma

restrita limitando a abrangecircncia de acordo com seus interesses Caso o quantificador

universal natildeo tivesse sido utilizado na sentenccedila haveria a possibilidade do cliente interpretar

(12) de vaacuterias maneiras Por exemplo admitir que a garantia pode ser vaacutelida para produtos

que foram fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER mas natildeo foram lanccedilados na

Nota Fiscal de venda Em vista disso a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela

necessidade do fabricante restringir a interpretaccedilatildeo do texto da garantia buscando direcionar

melhor a informaccedilatildeo que ele estaacute vinculando em seu texto Natildeo identificamos nem termos

vagos nem termos polissecircmicos em (12)

(13) Executar TODAS as revisotildees estabelecidas pela Mercedes-Benz do

Brasil Ltda

(Certificado 16)

(14) Executar TODAS as manutenccedilotildees reparaccedilotildees e regulagens em um

dos Concessionaacuterios ou Postos de Serviccedilos Autorizados Mercedes-

Benz no territoacuterio brasileiro

(Certificado 16)

Nas duas ocorrecircncias acima podemos observar que o fabricante utiliza o quantificador

universal ―todas para definir que a garantia do produto soacute seraacute vaacutelida caso o cliente realize

as funccedilotildees descritas Caso o cliente natildeo realize pelo menos uma delas a garantia seraacute

invalidada Se o cliente natildeo realizar pelo menos uma revisatildeo sugerida pela fabricante perderaacute

a validade Aleacutem disso se o cliente realizar algum tipo de manutenccedilatildeo no veiacuteculo em alguma

concessionaacuteria que natildeo seja autorizada da Mercedes-Benz e no territoacuterio brasileiro tambeacutem

perderaacute a garantia O fabricante mesmo utilizando o quantificador universal nas duas

ocorrecircncias natildeo deixa de condicionar a validade da garantia de acordo com seus interesses O

cumprimento das recomendaccedilotildees dispostas apoacutes o quantificador natildeo garantem efetivamente

que a garantia do produto estaacute assegurada Ou seja mesmo que o cliente execute todas as

manutenccedilotildees reparos e regulagens em um dos concessionaacuterios do fabricante natildeo impede que

64

a garantia seja invalidade por outro motivo O quantificador universal foi utilizado pelo

fabricante em (13) e (14) sem limites e em seu benefiacutecio Natildeo identificamos nem termos

vagos nem termos polissecircmicos em (13) e (14)

(15) TODA solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica durante o periacuteodo da

garantia deveraacute ser feita obrigatoriamente agrave faacutebrica via e-mail ou

fax descrevendo detalhadamente os problemas apresentados natildeo

excedendo o prazo de 30 dias apoacutes detectaacute-lo indicando o modelo do

equipamento e o nuacutemero de seacuterie descrito na placa de identificaccedilatildeo do

mesmo e constante neste certificado

(Certificado 22)

Na ocorrecircncia (15) o fabricante utiliza o quantificador universal ―toda de forma

abrangente determinando que todas as solicitaccedilotildees de assistecircncia teacutecnica para qualquer

produto deveraacute seguir as instruccedilotildees definidas em seguida Caso o cliente tente solicitar a

assistecircncia natildeo seguindo algum dos passos e prazos determinados pelo fabricante a garantia

seraacute invalidada O quantificador universal foi utilizado para evitar interpretaccedilotildees relativas

sobre os procedimentos descritos no texto Por exemplo se (15) natildeo tivesse o quantificador

universal ―toda uma possiacutevel interpretaccedilatildeo seria que uma solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica

durante o periacuteodo da garantia poderia ser realiza na loja em que o produto foi comprado e natildeo

apenas na faacutebrica Dessa forma a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela

necessidade do fabricante restringir o percurso da solicitaccedilatildeo da garantia para o procedimento

que ele deseja que seja seguido pelo cliente Natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos

em (15)

32 USO DO CONDICIONAL

Vejamos a seguir as ocorrecircncias em que o condicional eacute utilizado Quando as

ocorrecircncias apresentarem o mesmo sentido de interpretaccedilatildeo agruparemos numa mesma

anaacutelise como podemos observar a seguir nas ocorrecircncias (16) (17) e (18)

(16) A garantia fica automaticamente invalidada SE

(Certificado 2)

65

(17) A garantia legal e contratual perderaacute seu efeito SE

(Certificado 3)

(18) Esta garantia perderaacute a validade SE

(Certificado 11)

Podemos observar nas ocorrecircncias (16) (17) e (18) que o condicional tem a funccedilatildeo de

limitar a aplicaccedilatildeo da garantia Os usos do ―se natildeo excluem a possibilidade de haver outros

casos em que a garantia natildeo se aplica ou seja as listas que satildeo apresentadas apoacutes o

condicional natildeo satildeo exaustivas Vale mencionar que da mesma forma que o ―todo o ―se

foi utilizado para beneficiar o fabricante como afirmamos acima O ―se assegura que a

validade do produto seraacute perdida nos casos que satildeo listados apoacutes o condicional sem eliminar

a possibilidade de haverem outros casos abrangendo sem limites os casos em que a garantia

natildeo cobriraacute o produto e restringindo a validade da garantia para o cliente Natildeo identificamos

termos vagos ou polissecircmicos nas ocorrecircncias (16) (17) (18) Na ocorrecircncia (17) o autor

usou os termos ―garantia legal e ―contratual que poderiam ser considerados termos

polissecircmicos que dificultariam a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia mas foram apresentados no

certificado os conceitos para os dois termos Para ―garantia legal o autor definiu como

sendo o prazo inicial da garantia com duraccedilatildeo de 90 dias ( contados imediatamente apoacutes a

emissatildeo da Nota Fiscal de compra) e previsto no CDC por sua vez para ―garantia

contratual se refere ao periacuteodo de dois anos incluindo o periacuteodo da garantia legal para todo

equipamento (neste caso condicionador de ar) e cinco anos para o compressor Com a

apresentaccedilatildeo destas definiccedilotildees o autor evitou que os termos se apresentassem no texto como

polissecircmicos

(19) A garantia do produto natildeo se aplica

(Certificado 8)

Trouxemos para a anaacutelise a ocorrecircncia acima pois a expressatildeo ―natildeo se aplica desta

sentenccedila funciona como um condicional mesmo sem ter a forma das ocorrecircncias que

analisamos anteriormente O fabricante utiliza esse condicional precedendo uma lista de

possiacuteveis situaccedilotildees em que a garantia poderia ser reclamada pelo cliente dessa forma

impossibilitando o cliente de exigir qualquer direito sobre alguma das possiacuteveis situaccedilotildees

Natildeo identificamos termos polissecircmicos e vagos na ocorrecircncia (19)

66

(20) A garantia do produto extingue-se

(Certificado 8)

Assim como na ocorrecircncia anterior tambeacutem natildeo encontramos o condicional ―se de

forma expliacutecita mas o termo ―extingue-se se comporta como tal A sentenccedila acima foi

utilizada pelo fabricante antecedendo uma lista de possibilidades de situaccedilotildees em que o

cliente poderia reclamar a garantia do produto excluindo entatildeo qualquer direito do cliente

em relaccedilatildeo ao que foi listado abaixo da sentenccedila em questatildeo Natildeo identificamos termos vagos

e polissecircmicos na ocorrecircncia (20)

(21) O cliente perderaacute a garantia do seu veiacuteculo SE

(Certificado 17)

Na ocorrecircncia (21) o fabricante utiliza o condicional antecedendo uma lista de

situaccedilotildees que se concretizadas invalidaratildeo a garantia Dessa forma se o veiacuteculo do cliente

que deseja ser atendido pela garantia se enquadrar em algum dos itens dispostos apoacutes essa

sentenccedila a garantia natildeo seraacute concedida Assim como nas ocorrecircncias com o uso do

condicional apresentadas anteriormente o uso do ―se aparece sem limites Como afirmamos

na anaacutelise das ocorrecircncias (16) (17) e (18) o autor utiliza o condicional para em seguida

apresentar uma lista de situaccedilotildees em que se concretizadas o cliente perderaacute a garantia Mas

mesmo com a apresentaccedilatildeo dessa lista o cliente poderaacute perder a garantia caso ocorra outro

tipo de situaccedilatildeo natildeo listada Dessa forma o fabricante se favorece abrangendo ao maacuteximo as

possibilidades de perda da garantia e ―prejudica o cliente oferecendo-lhe restritas

possibilidades de validade da garantia do produto a que se refere o texto Natildeo identificamos

nem termos polissecircmicos nem vagos na ocorrecircncia (21) Apenas vale ressaltar que diferente

das ocorrecircncias apresentadas anteriormente o autor em vez de escrever ―a garantia do

produto ele utilizou ―a garantia do seu veiacuteculo que especifica ao que se refere o texto

diminuindo a possibilidade de o cliente interpretar a ocorrecircncia de uma forma diferente da

que o autor se propotildee a transmitir

(22) A garantia vigoraraacute SOMENTE SE o Veiacuteculo atender

cumulativamente as seguintes condiccedilotildees

67

(Certificado 16)

Eacute interessante observar a forma como o fabricante utiliza o condicional na ocorrecircncia

(22) que precede uma lista de condiccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso o fabricante

natildeo utilizasse esse condicional ―somente se na sentenccedila acima o cliente poderia interpretar

que se o seu produto atendesse pelo menos a uma das condiccedilotildees estaria coberto pela

garantia Mas o fabricante aleacutem de utilizar o condicional ―somente se tambeacutem utilizou o

termo ―cumulativamente explicitando que o produto deve obedecer a todas as condiccedilotildees

dispostas pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o autor utilizou o condicional

para restringir as possibilidades de validade da garantia com restriccedilotildees o que natildeo ocorre

quando o fabricante trata sobre as possibilidades de invalidade da garantia como na

ocorrecircncia (21) Comparando as ocorrecircncias (21) e (22) vemos claramente que o autor em

(21) utilizou o condicional para lhe favorecer sem limites quando tratou sobre as condiccedilotildees

pelas quais o cliente pode perder a garantia abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura natildeo

apenas para as situaccedilotildees que estatildeo listadas mas tambeacutem para qualquer outra possiacutevel Jaacute em

(22) o autor (mesmo essa comparaccedilatildeo sendo feita entre ocorrecircncias de certificados

diferentes) utiliza o condicional para restringir as possibilidades de validade da garantia para

as situaccedilotildees listadas apoacutes a apresentaccedilatildeo do condicional e aleacutem disso afirmou que todas as

situaccedilotildees listadas devem ser atendidas para que a garantia seja vaacutelida para o produto Dessa

forma ainda sobre a ocorrecircncia (22) caso uma das situaccedilotildees listadas natildeo seja atendida a

garantia automaticamente seraacute perdida Com isso podemos afirmar que tanto em (21) quanto

em (22) os autores utilizaram o condicional para se beneficiar Em (21) abrangendo as

possibilidades de invalidade da garantia e em (22) restringindo ao maacuteximo as possibilidades

de validade da garantia do produto Natildeo identificamos nem termos vagos nem polissecircmicos

na ocorrecircncia (22)

(23) A garantia Philips natildeo eacute aplicaacutevel SE

(Certificado 14)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o condicional ―se antecedendo uma lista de

informaccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso algum produto Philips se encaixar em

alguma das situaccedilotildees descritas apoacutes o condicional mesmo estando dentro do prazo de

garantia o cliente perderaacute a cobertura Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem

68

vagos na ocorrecircncia (23)

(24) Esta garantia natildeo se aplica

(Certificado 21)

Assim como nas ocorrecircncias (18) e (19) a ocorrecircncia acima natildeo possui o condicional

expliacutecito mas o termo ―natildeo se aplica se comporta como tal O fabricante utiliza o

condicional precedendo uma lista de condiccedilotildees de natildeo aplicaccedilatildeo da garantia Dessa forma

caso o produto se encaixe em alguma das condiccedilotildees a garantia seraacute invalidada

automaticamente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem vagos na sentenccedila (24)

33 USO DO APENASSOMENTE

Vejamos a seguir ocorrecircncias em que identificamos o uso do ―apenas ou ―somente

(25) Esta garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver

devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original

da Nota Fiscal de Compra

(Certificado 4)

Na ocorrecircncia (25) o fabricante utiliza o ―somente para restringir a validade da

garantia indicando que o cliente teraacute direito agrave garantia caso preencha de forma correta o

certificado e apresente a nota fiscal de compra Caso as instruccedilotildees natildeo sejam seguidas pelo

cliente a garantia natildeo seraacute vaacutelida Podemos identificar que o termo ―rasuras presente em

(25) pode ser considerado como vago e polissecircmico neste caso dificultando a interpretaccedilatildeo

do texto Uma rasura pode ser por exemplo desde um rabisco fora de lugar no formulaacuterio

ateacute o dano no documento por aacutegua amasso do papel em excesso etc O autor poderia evitar a

vagueza e a polissemia definindo o termo da forma como ele deseja que o leitor interprete

este termo e comparando-o a uma classe especiacutefica (por exemplo o que eacute considerado rasura

69

nos documentos instrucionais)

(26) Danos decorrentes de desgaste natural inclusive e natildeo SOMENTE

nas partes plaacutesticas que compotildeem o gabinete do produto

(Certificado 4)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o ―somente numa sentenccedila que trata sobre

uma das situaccedilotildees em que a garantia natildeo seraacute vaacutelida O fabricante deixa claro que qualquer

defeito no produto causado por desgaste natural natildeo seraacute coberto pela garantia Se o

fabricante natildeo utilizasse o ―somente nesta sentenccedila o cliente poderia interpretar por

exemplo que danos decorrentes de desgaste natural nas partes que natildeo satildeo de plaacutestico seriam

cobertas pela garantia O autor utiliza o ―somente para se resguardar sobre outras possiacuteveis

interpretaccedilotildees do trecho abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura da garantia para

qualquer peccedila do produto que for afetado por danos decorrentes de desgaste natural Na

ocorrecircncia (26) a expressatildeo ―desgaste natural eacute polissecircmica O autor em nenhuma parte do

certificado de garantia definiu a expressatildeo em questatildeo para que o cliente compreenda da

forma desejada pelo fabricante Dessa forma podemos interpretar ―desgaste natural de

muitas formas Podemos por exemplo interpretar como o desgaste do produto como um todo

ou suas peccedilas referentes ao uso em excesso ao longo do tempo e diretamente vinculado agrave

vida uacutetil tanto do produto em geral quanto de peccedilas especiacuteficas Mas tambeacutem podemos

interpretar como sendo um desgaste proveniente do contato do produto com a natureza como

a exposiccedilatildeo agrave chuva maresia sol em excesso Pode parecer um exagero esta uacuteltima

interpretaccedilatildeo mas ela eacute possiacutevel a partir da forma como (26) se apresenta O autor utilizou no

texto a expressatildeo sem dar-lhe a definiccedilatildeo que ele pensou para a utilizaccedilatildeo dela na ocorrecircncia

dificultando a interpretaccedilatildeo do texto

(27) Este termo de garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos

comercializados e utilizados em territoacuterio brasileiro

(Certificado 4)

(28) Este Certificado de Garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos

vendidos e utilizados no territoacuterio brasileiro

(Certificado 10)

(29) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro

70

(Certificado 2)

(30) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro

(Certificado 13)

(31) Esta garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o territoacuterio brasileiro

(Certificado 12)

Nas ocorrecircncias (27) (28) (29) e (30) observamos que os fabricantes utilizam o termo

―apenas para restringir a cobertura da garantia tanto em relaccedilatildeo ao local da compra quanto

em relaccedilatildeo ao local de uso do produto assim como o autor da ocorrecircncia (31) utiliza o termo

―somente com o mesmo sentido Caso o produto tenha sido comprado em outro paiacutes natildeo

haveraacute cobertura da garantia assim como mesmo que o produto tenha sido comprado no

Brasil mas tenha sido utilizado em outro paiacutes culminando em um defeito tambeacutem natildeo haveraacute

cobertura da garantia Mas para a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que aparece em (27) (28)

(29) (30) e (31) podemos tambeacutem interpretar como natildeo apenas a extensatildeo territorial do paiacutes

mas tambeacutem admitir territoacuterios brasileiros em outros paiacuteses a saber os consulados

honoraacuterios do Brasil nas diversas naccedilotildees ao redor do mundo Nesse caso por exemplo se o

produto for adquirido dentro dos limites geograacuteficos do Brasil e for utilizado em algum

consulado do Brasil em outro paiacutes a garantia deve ser vaacutelida Eacute possiacutevel que o fabricante natildeo

tenha pensado nessa possibilidade poreacutem da forma que estas ocorrecircncias se apresentam haacute

essa possibilidade de interpretaccedilatildeo Ao apresentar essa possiacutevel interpretaccedilatildeo para a

expressatildeo ―territoacuterio brasileiro noacutes quisemos mostrar que o fabricante deveria ter

especificado em alguma parte do certificado de garantia o conceito que ele deseja que o

cliente admita para esta expressatildeo para natildeo deixar que a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro seja

interpretada de outras formas ou seja para evitar a polissemia que dificulta a leitura do

texto Outra questatildeo que tambeacutem podemos considerar eacute que nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)

a afirmaccedilatildeo sobre a validade da garantia eacute apresentada de forma menos detalhada Os autores

apresentam a afirmaccedilatildeo de que a garantia eacute vaacutelida para o territoacuterio brasileiro sem informar se

eacute em relaccedilatildeo ao produto ser adquirido e utilizado no paiacutes Brasil ou se o produto pode ser

utilizado fora do Brasil mas para requerer a garantia do produto o consumidor caso resida no

exterior deva se dirigir ao Brasil para fazer jus a sua garantia Diferente das ocorrecircncias (27)

e (28) em que os autores enfatizam que a garantia dos produtos eacute vaacutelida unicamente para

produtos comercializados e utilizados dentro do Brasil restringindo a garantia mais do que

nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)

71

(32) A garantia SOMENTE eacute vaacutelida mediante a apresentaccedilatildeo de nota

fiscal de compra deste produto

(Certificado 3)

Podemos observar na ocorrecircncia (29) que o fabricante utiliza o termo ―somente para

restringir a validade da garantia Fica claro que caso o produto apresente algum defeito e o

cliente procure a assistecircncia teacutecnica sem estar de posse da nota fiscal natildeo haveraacute cobertura da

garantia Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em (29) o cliente poderia interpretar

por exemplo que a garantia do produto eacute vaacutelida com ou sem a apresentaccedilatildeo da nota fiscal de

compra do produto Neste caso a funccedilatildeo do ―somente eacute de restringir a interpretaccedilatildeo de

acordo com o que o fabricante deseja Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem

vagos em (29)

(33) A garantia oferecida por esse Certificado eacute de 36 (trinta e seis) meses

e SOMENTE teraacute validade se o presente documento for devidamente

preenchido no ato da venda do produto conforme acima e se a

instalaccedilatildeo for feita por uma pessoa ou empresa credenciada pela

Robert Bosch Ltda

(Certificado 8)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade

da garantia Caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees de forma cumulativa que seguem a

utilizaccedilatildeo do termo a garantia seraacute invalidada Por exemplo se o cliente preencher no ato da

venda do produto o certificado mas se a instalaccedilatildeo do produto natildeo tiver sido feita por algueacutem

credenciado pela Robert Bosch Ltda a garantia natildeo teraacute validade A importacircncia do uso do

―somente em (33) se daacute pelo fato de que caso o autor natildeo tivesse utilizado este termo

haveria a possibilidade do cliente interpretar por exemplo que a garantia teria validade caso

a instalaccedilatildeo do produto tenha sido feita por uma pessoa ou empresa natildeo credenciada pela

fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (33)

(34) Os consertos em Garantia do Produto SOMENTE seratildeo efetuados

72

por um Serviccedilo Autorizado devidamente nomeado pela Robert Bosch

Ltda em territoacuterio brasileiro

(Certificado 8)

Podemos observar que o fabricante utiliza o termo ―somente em (34) para restringir a

validade da garantia O fabricante define tanto quem efetuaraacute o conserto dos produtos quanto

os limites territoriais de cobertura Dessa forma fica expliacutecito para o cliente que o conserto

natildeo poderaacute ser efetuado por pessoas natildeo autorizadas pela Robert Bosch Ltda e tal conserto

natildeo pode ser realizado em outros paiacuteses Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em

(34) abriria a possibilidade de interpretar a sentenccedila de outras formas como por exemplo

que os consertos em garantia do produto poderiam ser realizados em territoacuterios de outros

paiacuteses ou que os consertos poderiam ser realizados por serviccedilos natildeo autorizados pelo

fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (34)

(35) O exame e reparo do produto soacute poderatildeo ser efetuados pelo

fabricante

(Certificado 7)

Na ocorrecircncia (36) o fabricante utiliza no lugar do termo ―somente o termo ―soacute

para restringir a interpretaccedilatildeo Nesse caso se o cliente procurar reparar eou examinar o

produto sozinho ou em assistecircncias teacutecnicas que natildeo sejam autorizadas pelo fabricante a

garantia seraacute invalidada A utilizaccedilatildeo do termo ―soacute tem grande importacircncia para o

direcionamento da interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia (35) pois caso natildeo tivesse sido utilizado pelo

autor a ocorrecircncia traria apenas uma informaccedilatildeo vaga dificultando a interpretaccedilatildeo do texto

Sem o ―soacute a partir de (35) poderiacuteamos interpretar que o exame e reparo do produto podem

ser efetuados pelo fabricante mas tambeacutem por qualquer outra pessoa ou empresa Utilizando

o ―soacute o autor restringe a inferecircncia evitando muacuteltiplas interpretaccedilotildees para a sentenccedila

(36) O presente ―Termo de Garantia Hyundai aplica-se uacutenica e

exclusivamente ao veiacuteculo da marca e fabricaccedilatildeo Hyundai

devidamente identificado no iniacutecio deste documento e que tenha sido

comercializado por um Revendedor Autorizado da CAOA Montadora

de Veiacuteculos SA

(Certificado 17)

73

Em (36) o fabricante natildeo utiliza os termos ―apenas ou ―somente mas

consideraremos em nossa anaacutelise a expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como um restritor de

mesmo sentido Observamos que o fabricante utiliza a expressatildeo para restringir a cobertura

da garantia Caso o cliente esteja por exemplo solicitando a garantia de um veiacuteculo Hyundai

que natildeo seja o mesmo que estaacute descrito no iniacutecio do documento de garantia e que natildeo tenha

sido comercializado por uma autorizada da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA a garantia

natildeo teraacute validade Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado a expressatildeo ―uacutenica e

exclusivamente em (36) haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia de outras

maneiras

(37) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA eou o Revendedor Autorizado

da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA APENAS substituiraacute as peccedilas

que forem por elas e a seu exclusivo criteacuterio julgadas como

defeituosas

(Certificado 17)

Na ocorrecircncia (37) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a interpretaccedilatildeo

da sentenccedila Dessa forma o fabricante fica resguardado tanto em relaccedilatildeo a substituiccedilatildeo de

peccedilas quanto em relaccedilatildeo ao meacutetodo utilizado para jugar se a peccedila estaacute defeituosa ou natildeo A

importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―apenas em (37) tambeacutem se daacute pelo fato de natildeo permitir outras

interpretaccedilotildees diferentes da definida pelo fabricante Caso o ―apenas natildeo tivesse sido

utilizado poderiacuteamos interpretar por exemplo que o fabricante poderia substituir peccedilas

julgadas por ela como defeituosas utilizando seus proacuteprios criteacuterios mas tambeacutem substituiria

em outros casos O ―apenas serviu para especificar e restringir a interpretaccedilatildeo dos criteacuterios

definidos pelo fabricante em relaccedilatildeo agrave substituiccedilatildeo de peccedilas do produto Natildeo identificamos

nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (37)

(38) Permita que SOMENTE teacutecnicos autorizados pela faacutebrica prestem

assistecircncia a seu aparelho pois se for aberto por teacutecnicos ou pessoas

natildeo autorizadas automaticamente vocecirc estaraacute perdendo sua garantia

(Certificado 5)

Na ocorrecircncia (38) o fabricante deixa expliacutecito ao utilizar o termo ―somente que

caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees dispostas nesta sentenccedila a garantia do produto seraacute

74

invalidada Dessa forma o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a informaccedilatildeo

veiculada pelo fabricante da mesma forma como vimos na ocorrecircncia (37) Natildeo

identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (38)

(39) A presente garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o Veiacuteculo

comercializado em territoacuterio brasileiro

(Certificado 16)

Na ocorrecircncia (39) um pouco parecida com as ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e

(31) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia do produto Nesse caso

se o veiacuteculo tiver sido adquirido em outro paiacutes sua garantia natildeo seraacute vaacutelida no Brasil Um

pouco diferente das ocorrecircncias (27) e (28) que especificam ao maacuteximo a possibilidade de

cobertura da garantia a ocorrecircncia (39) veicula que a garantia eacute vaacutelida para o produto

comercializado em territoacuterio brasileiro natildeo tratando sobre a possibilidade da perda da

garantia caso o veiacuteculo seja utilizado em outros paiacuteses Neste caso o cliente natildeo tem direito

a garantia do veiacuteculo caso ele seja adquirido em outros paiacuteses Sobre a expressatildeo ―territoacuterio

brasileiro assim como nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31) o autor natildeo definiu um

sentido para a expressatildeo que pode ser interpretada de outras maneiras como exemplificamos

nas anaacutelises anteriores

(40) Utilizar SOMENTE peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios genuiacutenos

Mercedes-Benz e comprovar sua aquisiccedilatildeo mediante e apresentaccedilatildeo

da Nota Fiscal quando adquiridos pelo consumidor final

(Certificado 16)

Na ocorrecircncia (40) que faz parte de uma lista de recomendaccedilotildees para o cliente natildeo

perder a garantia o fabricante utiliza o termo ―somente para delimitar a interpretaccedilatildeo da

sentenccedila Na passagem se o cliente natildeo seguir as instruccedilotildees descritas consequentemente

perderaacute a garantia do produto A importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente na ocorrecircncia (40) eacute

a de dificultar que o cliente interpreta a sentenccedila de outra maneira Sem o ―somente na

sentenccedila o cliente poderia interpretar que ele pode utilizar peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios

originais do fabricante mas tambeacutem estaacute autorizado a utilizar peccedilas de outros fabricantes

Com a presenccedila do ―somente na sentenccedila o cliente eacute levado a interpretar a sentenccedila da

75

forma direcionada pelo fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (40)

(41) A comprovaccedilatildeo de defeito de fabricaccedilatildeo do produto que provocaraacute a

execuccedilatildeo da troca do mesmo deveraacute ser feita exclusivamente por

funcionaacuterio credenciado da Ortobom

(Certificado 15)

Na ocorrecircncia (41) o fabricante natildeo utiliza explicitamente os termos ―apenas ou

―somente mas consideraremos em nossa anaacutelise que o termo ―exclusivamente possui a

mesma funccedilatildeo de restringir interpretaccedilotildees O fabricante utiliza o termo para restringir a

garantia do produto em questatildeo Natildeo haacute a possibilidade de o cliente comprovar um defeito de

fabricaccedilatildeo em seu produto atraveacutes de outro profissional que natildeo seja um funcionaacuterio

credenciado da Ortobom Haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia (41) caso o

fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―exclusivamente Sem tal uso o cliente poderia

interpretar que poderia comprovar algum defeito no produto para possiacutevel troca por

intermeacutedio de qualquer profissional natildeo obrigatoriamente por um funcionaacuterio do fabricante

Ortobom O termo ―exclusivamente especifica e destaca a informaccedilatildeo que o fabricante

veicula em (41) Natildeo identificamos em (41) nem termos polissecircmicos nem termos vagos

(42) A garantia cobre exclusivamente defeitos de materiais eou

fabricaccedilatildeo sendo que as despesas de deslocamento alimentaccedilatildeo e

hospedagem do teacutecnico para atendimento em garantia ou natildeo

referente agrave entrega montagem instruccedilatildeo de uso e reparo do

equipamento assim como o frete de retirada para conserto e retorno

do mesmo e de envio de peccedilas e retorno das substituiacutedas em garantia

ocorreratildeo por conta do cliente

(Certificado 22)

Assim como em (41) o fabricante utiliza o termo ―exclusivamente para restringir a

garantia do produto O fabricante ao utilizar esse termo se resguarda de possiacuteveis cobranccedilas

por parte do cliente ao solicitar a garantia como por exemplo ajuda de custo para custear a

iacuteda do teacutecnico para manutenccedilatildeo do produto envio de peccedilas para faacutebrica etc Fica expliacutecito

que em todas essas situaccedilotildees o cliente eacute responsaacutevel Caso o termo ―exclusivamente natildeo

76

tivesse sido utilizado o cliente poderia interpretar a ocorrecircncia de diferentes modos Uma

possibilidade de interpretaccedilatildeo seria a de entender que a garantia cobre outros tipos de

defeitos que natildeo fossem de peccedilas ou de fabricaccedilatildeo Com a utilizaccedilatildeo do termo

―exclusivamente o fabricante diminui as possibilidades de interpretaccedilatildeo tornando o texto

mais claro para o cliente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na

ocorrecircncia (42)

(43) A garantia natildeo cobre peccedilas ou componentes de desgaste normal de

uso dentre as quais selim pedais firma-peacutes natildeo se limitando

SOMENTE a estes mas incluindo rodas de transporte carenagens

adesivos elementos de acabamento de plaacutestico borracha e alumiacutenio

danos na pintura e quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa

exclusiva distribuiccedilatildeo devendo as reclamaccedilotildees ser encaminhadas aos

seus respectivos representantes ou fabricantes

(Certificado 22)

Em (43) o fabricante aleacutem de utilizar o termo ―somente para abranger a

interpretaccedilatildeo sobre as peccedilas que natildeo seratildeo cobertas pela garantia do produto utiliza outros

termos que alargam ainda mais sem restriccedilotildees a natildeo cobertura da garantia como ―quaisquer

acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo O fabricante se resguarda

especificando quais peccedilas que ele considera como de ―desgaste normal para evitar

problemas de interpretaccedilatildeo por parte do cliente O uso do ―somente na ocorrecircncia (43) se

apresenta de forma contraacuteria agraves outras ocorrecircncias que apresentamos anteriormente Enquanto

em ocorrecircncias como a (40) que o ―somente foi utilizado para restringir a interpretaccedilatildeo da

sentenccedila para as informaccedilotildees descritas depois do termo em (43) o fabricante utiliza o

―somente precedido da negaccedilatildeo ―natildeo se limitando direcionando o termo para o sentido de

abrangecircncia Ou seja a garantia que o fabricante oferece natildeo cobre peccedilas ou componentes de

desgaste natural como selim e pedais Para natildeo correr o risco de esquecer de citar algum dos

componentes de desgaste natural do produto e deixar brechas na interpretaccedilatildeo da garantia o

fabricante utiliza a expressatildeo ―natildeo se limitando seguida do ―somente para abranger ao

maacuteximo as possibilidades de interpretaccedilatildeo sobre os itens de desgaste natural que natildeo satildeo

cobertos pela garantia Depois do uso do ―somente e de apresentar mais uma lista de itens

que natildeo satildeo cobertos pela garantia o fabricante ainda abrange mais a interpretaccedilatildeo

utilizando a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo

Dessa forma pudemos perceber que o fabricante utilizou natildeo apenas o termo de restriccedilatildeo

77

―somente para limitar as possibilidades de interpretaccedilatildeo da sentenccedila mas tambeacutem utilizou

listas especificando itens e a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa

exclusiva distribuiccedilatildeo Todas essas estrateacutegias foram utilizadas com o objetivo de tornar a

interpretaccedilatildeo do texto clara sem oferecer a possibilidade de o cliente obter muacuteltiplas

interpretaccedilotildees do texto Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na

ocorrecircncia (43)

(44) A matildeo-de-obra em garantia limita-se SOMENTE ao horaacuterio normal

de expediente sendo de segunda a sexta-feira das 730 agraves 1800 horas

devendo o equipamento estar disponiacutevel para a assistecircncia teacutecnica

(Certificado 22)

Em (44) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o horaacuterio disponiacutevel

para reparos em produtos na garantia e aleacutem disso enfatizando que o produto deve estar

disponiacutevel para a assistecircncia Dessa forma o cliente fica impossibilitado de reclamar

assistecircncia fora do horaacuterio que estaacute descrito na sentenccedila assim como fica consciente de que

seu produto ficaraacute a disposiccedilatildeo da assistecircncia para conserto ou seja natildeo seraacute reparado

imediatamente A importacircncia do uso do ―somente na ocorrecircncia (44) se daacute pelo fato de que

caso natildeo fosse utilizado o cliente poderia interpretar por exemplo que a matildeo-de-obra em

garantia estaria disponiacutevel vinte e quatro horas por dia e sete dias por semana Como o

―somente foi utilizando precedendo as informaccedilotildees sobre dia e horaacuterio de atendimento natildeo

eacute possiacutevel interpretar a informaccedilatildeo de outra maneira que natildeo seja a descrita Haveria a

possibilidade de definir a expressatildeo ―horaacuterio normal de expediente como uma expressatildeo

polissecircmica caso ela natildeo estivesse acompanhada de uma definiccedilatildeo (―de segunda a sexta-feira

das 730 agraves 1800 horas) pois o horaacuterio de expediente pode variar de acordo com o trabalho

que vocecirc tem por exemplo Se vocecirc trabalha em um banco financeiro o seu horaacuterio de

expediente seraacute possivelmente diferente do horaacuterio de um feirante Para evitar a polissemia

o fabricante utilizou a expressatildeo e em seguida apresentou a definiccedilatildeo da expressatildeo de

acordo com o seu interesse

(45) A presente garantia limita-se SOMENTE ao produto fornecido natildeo

responsabilizando a TOTAL HEALTH por danos causados a pessoas

a terceiros a outros equipamentos ou instalaccedilotildees lucros cessantes ou

quaisquer outros danos emergentes ou consequumlentes

(Certificado 22)

78

Na ocorrecircncia (45) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da

garantia Nesse caso a garantia se limita unicamente ao produto descrito Se por exemplo o

produto em questatildeo apresentar defeito e tal defeito ocasionar dano fiacutesico ao dono do produto

ou a terceiros a garantia natildeo cobriraacute tais problemas Assim como nas ocorrecircncias anteriores

o uso do ―somente em (45) teve a funccedilatildeo de direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para uma

uacutenica possibilidade de interpretaccedilatildeo Caso o ―somente natildeo tivesse sido utilizado poderiacuteamos

interpretar (45) de outras maneiras Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (45)

(46) SOMENTE os profissionais indicados pela loja revendedora dos

produtos Bartzen estatildeo autorizados a prestar atendimento dentro do

prazo de garantia

(Certificado 18)

Na ocorrecircncia (46) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a

interpretaccedilatildeo da sentenccedila Nesse caso o cliente soacute poderaacute usufruir de assistecircncia teacutecnica em

seu produto atraveacutes de profissionais indicados pela loja na qual ele adquiriu seu produto

Bartzen e dentro do prazo da garantia Caso o cliente realize algum serviccedilo em seu produto

com profissionais natildeo autorizados pela fabricante sua garantia seraacute invalidada A importacircncia

da utilizaccedilatildeo do termo ―somente na ocorrecircncia (46) eacute a de diminuir as possibilidades de

interpretaccedilatildeo da sentenccedila ao maacuteximo Dessa forma natildeo haacute como o cliente interpretar que por

exemplo ele pode realizar a manutenccedilatildeo ou reparo do seu produto com qualquer outro

funcionaacuterio que natildeo seja autorizado pela fabricante do produto Natildeo identificamos nem

termos polissecircmicos nem termos vagos em (46)

(47) A garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o consumidor que consta

identificado na nota fiscal de compra do produto (primeiro usuaacuterio) a

qual deveraacute ser apresentada junto com este Certificado de Garantia

devidamente preenchido com os dados do consumidor e do produto

para fins de cobertura para reparo ou substituiccedilatildeo do produto se

necessaacuterio

(Certificado 19)

79

Em (47) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia Nesse caso

o cliente fica ciente de que a garantia soacute seraacute vaacutelida para o primeiro proprietaacuterio do produto

assim como soacute seraacute aceito o pedido de garantia caso o cliente apresentar a nota fiscal

contendo tanto os dados do produto quanto os seus Todas as possibilidades fora das

descritas seratildeo desconsideradas e consequentemente a garantia seraacute invalidada A

importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente em (47) se daacute pelo fato de que haacute diversas

informaccedilotildees a serem consideradas pelo cliente na ocorrecircncia (47) e caso o autor do texto natildeo

tivesse utilizado o termo ―somente antes dessas informaccedilotildees o cliente poderia interpretar

que sua garantia poderia ser vaacutelida ao cumprir algumas das informaccedilotildees descritas na sentenccedila

e natildeo obrigatoriamente todas Por exemplo se natildeo houvesse o uso do ―somente em (47) o

cliente poderia interpretar que a garantia eacute vaacutelida para o consumidor que tem o nome

constando na nota fiscal mas tambeacutem para qualquer outro consumidor que esteja de posse da

nota fiscal mesmo que natildeo seja a pessoa que tem o nome na nota fiscal O ―somente possui

o papel de restringir a interpretaccedilatildeo de toda ocorrecircncia ao maacuteximo direcionando a leitura do

texto para evitar muacuteltiplas interpretaccedilotildees Com esse uso natildeo eacute possiacutevel que cliente interprete

que ele pode ter acesso a garantia caso natildeo cumpra alguma das recomendaccedilotildees Natildeo

identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (47)

(48) O Certificado de Garantia eacute vaacutelido SOMENTE para os

condicionadores vendidos e instalados no territoacuterio brasileiro

(Certificado 19)

Em (48) semelhante agraves ocorrecircncias (31) e (39) o fabricante utiliza o termo ―somente

para restringir o territoacuterio de cobertura da garantia Neste caso condicionadores adquiridos e

utilizados em outros paiacuteses natildeo seratildeo cobertos pela garantia descrita acima Ainda retomando

a discussatildeo sobre a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro consideramos que pelo fato do autor do

texto natildeo ter apresentado um conceito para esta expressatildeo em nenhum local do certificado de

garantia da forma como se apresenta ela pode ser interpretada de outras maneiras assim

como discutimos nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)

(49) Para o uso de condicionadores de ar em ambientes com alta

concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre

seraacute vaacutelida SOMENTE a garantia legal de 90 (noventa) dias contados

80

da data de emissatildeo da nota fiscal de compra do produto

(Certificado 19)

Na ocorrecircncia (49) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da

garantia do produto que seja utilizado em ambientes especiacuteficos como ―ambientes com alta

concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre Dessa forma o

fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a qualquer solicitaccedilatildeo de garantia ―normal ou seja prazo

de validade de garantia para condicionadores de ar que satildeo utilizados em ambientes

considerados ―normais por parte de um cliente que utilize o produto em ambientes como os

descritos acima Dessa forma o uso do ―somente se justifica pelo fato de que o fabricante

busca direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha duacutevidas de que como

descrito em (49) os produtos utilizados em ambientes atiacutepicos soacute estaratildeo cobertos pela

garantia legal Assim como jaacute discutimos em outras ocorrecircncias anteriormente o fabricante

utiliza a expressatildeo ―garantia legal que eacute uma expressatildeo teacutecnica do CDC e para que ela natildeo

se tornasse polissecircmica logo apoacutes seu uso o autor apresentou o conceito para o termo que eacute

o de um periacuteodo de 90 dias corridos compreendidos imediatamente apoacutes a expediccedilatildeo da nota

fiscal de compra do produto

(50) A partir do 91ordm (nonageacutesimo primeiro) dia tais despesas satildeo de

responsabilidade uacutenica e exclusiva do consumidor

(Certificado 19)

Em (50) o fabricante natildeo utilizou os termo ―somente e ―apenas mas

consideraremos em nossa anaacutelise a utilizaccedilatildeo da expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como

umas expressotildees utilizadas para restringir interpretaccedilotildees como discutimos anteriormente em

outras anaacutelises Na sentenccedila acima o fabricante utilizou a expressatildeo de restriccedilatildeo para

enfatizar que passados os trecircs meses de garantia as despesas referentes a qualquer

manutenccedilatildeo e garantia do produto seratildeo de responsabilidade do cliente Como apresentamos

na ocorrecircncia (49) a garantia legal para um produto cobre os primeiros 90 dias apoacutes a

emissatildeo da nota fiscal de compra do produto Ao informar em (50) que a partir do primeiro

dia apoacutes o teacutermino da garantia legal despesas referentes ao traslado do produto para

manutenccedilatildeo seraacute de responsabilidade do cliente o autor utiliza a expressatildeo ―uacutenica e

exclusiva para se resguardar de qualquer possibilidade de participaccedilatildeo em possiacuteveis gastos

81

Caso o fabricante natildeo tivesse enfatizado essa informaccedilatildeo utilizando esta expressatildeo o cliente

poderia interpretar por exemplo que poderia haver algum caso em que o fabricante se

responsabilizaria por tais gastos Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (50)

(51) A reposiccedilatildeo de peccedilas defeituosas e execuccedilatildeo dos serviccedilos decorrentes

desta Garantia SOMENTE seratildeo procedidas nas localidades do

territoacuterio brasileiro onde a ENVISION mantiver ―Centro de Serviccedilo

Autorizado de titularidade dela proacutepria ou de terceiro por ela

expressamente indicado onde deveraacute ser entregue o produto para

reparo

(Certificado 20)

Na ocorrecircncia (51) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir os locais de

execuccedilatildeo de serviccedilos da garantia Neste caso o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a por

exemplo natildeo haver assistecircncias teacutecnicas em todas as cidades do paiacutes Aleacutem de enfatizar que o

produto deveraacute ser entregue na assistecircncia pelo cliente ou seja o fabricante natildeo se

responsabiliza quanto ao recolhimento do produto para reparo A utilizaccedilatildeo do ―somente se

justifica pelo fato de que o fabricante busca restringir ao maacuteximo as possibilidades de

interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o ―somente o cliente

poderia por exemplo interpretar que se a cidade em que o cliente tenha adquirido o produto

natildeo tenha uma assistecircncia teacutecnica a fabricante se responsabilizaria pelo recolhimento do

produto para manutenccedilatildeo numa cidade que possua a assistecircncia teacutecnica Com a utilizaccedilatildeo do

―somente precedendo as demais informaccedilotildees natildeo eacute possiacutevel interpretar a ocorrecircncia dessa

maneira Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termo vagos na ocorrecircncia (51)

(52) Esta Garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver

devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original

da Nota Fiscal de Compra

(Certificado 20)

Na ocorrecircncia (52) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a forma

como o cliente deve solicitar a garantia do produto Caso o cliente deixe de apresentar o

certificado preenchido corretamente eou a nota fiscal de compra a garantia seraacute invalidada

82

Assim como na ocorrecircncia (51) o autor fabricante utiliza o ―somente para restringir ao

maacuteximo a interpretaccedilatildeo do texto Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente

haveria a possibilidade de o cliente interpretar que a garantia do produto seria vaacutelida caso o

certificado estivesse preenchido sem rasuras acompanhado da nota fiscal de compra mas

tambeacutem de qualquer outra forma A ocorrecircncia ficaria sem limites para interpretaccedilatildeo caso o

fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente Poreacutem como o termo foi utilizado natildeo

haacute outra forma de o cliente interpretar a ocorrecircncia sobre a validade da garantia do produto

Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (52)

(53) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS se o produto for reparado pela rede

autorizada Rheem ou por autorizaccedilatildeo preacutevia formalizada pelo

Departamento de Assistecircncia Teacutecnica

(Certificado 20)

Na ocorrecircncia (53) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a validade da

garantia quanto ao local de assistecircncia Caso o produto seja reparado por profissional natildeo

autorizado pela fabricante Rheem a garantia do produto seraacute perdida A importacircncia o uso do

termo ―apenas na ocorrecircncia (53) se daacute pelo fato de que o autor busca restringir a

interpretaccedilatildeo do texto ao maacuteximo Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―apenas o

cliente poderia por exemplo interpretar que a garantia do produto eacute vaacutelida em qualquer

situaccedilatildeo e natildeo unicamente se seguir as recomendaccedilotildees descritas apoacutes o uso do termo

―apenas Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (53)

(54) Os produtos SOMENTE poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para

anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes sua autorizaccedilatildeo por escrito

(Certificado 21)

Na ocorrecircncia (54) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o modo

como deve submeter o produto agrave garantia Caso natildeo haja uma autorizaccedilatildeo por escrito para

enviar o produto para a faacutebrica o produto natildeo poderaacute seguir para anaacutelise A importacircncia da

utilizaccedilatildeo do termo ―somente se daacute pelo fato de que caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o

termo na ocorrecircncia (54) a interpretaccedilatildeo do texto ficaria sem limites ou seja os produtos

poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes a autorizaccedilatildeo por

83

escrito ou de qualquer outra forma Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (54)

34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS

Em nossa pesquisa analisamos cinquenta e quatro ocorrecircncias selecionadas a partir

dos vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Dividimos a anaacutelise por tipos de

ocorrecircncias com quantificador universal com condicional e com o apenassomente Para

apresentar um panorama sobre os tipos de ocorrecircncia e a quantidade das anaacutelises de cada tipo

vamos observar o quadro a seguir

Tipo de ocorrecircncia Nuacutemero de ocorrecircncias

Quantificador universal 15

Condicional 9

ApenasSomente 30

TOTAL 54

Quadro 2 ndash Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia Fonte elaborado pelo autor

Antes de discorrer nossos comentaacuterios sobre as anaacutelises de nosso trabalho temos que

tratar sobre a primeira importante impressatildeo que tivemos diante do corpus e das consequentes

anaacutelises dos quatro nexos semacircnticos que invocamos em nosso trabalho somente

identificamos ocorrecircncias com acarretamentos Tratamos com muita naturalidade este fato

porque por mais que em algumas leituras uma parte do conteuacutedo do segundo capiacutetulo possa

ser vista como desnecessaacuteria ndash pelo fato de tais conceitos natildeo estarem presentes nas anaacutelises

dessa pesquisa ndash encontramos aiacute uma caracteriacutestica do gecircnero textual certificado de garantia

que eacute a presenccedila de diversos acarretamentos mesmo que natildeo-expliacutecitos como demonstramos

em nosso trabalho (porque o gecircnero textual certificado de garantia natildeo possui uma linguagem

tatildeo controlada quanto a linguagem encontrada nos exemplos que criamos para ilustrar os

conceitos dos nexos) Dessa maneira fica claro que natildeo encontramos ocorrecircncias com

equivalecircncias semacircnticas contrariedades ou contraditoriedades o que nos permite definir

estas ausecircncias como uma caracteriacutestica intriacutenseca do gecircnero

84

Na primeira parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o quantificador

universal Identificamos quinze ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia

utilizaram esse recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (1) e (15)

percebemos que o uso do quantificador universal em algumas ocorrecircncias serviu apenas para

reforccedilar a informaccedilatildeo que o fabricante quis veicular ou seja se natildeo tivesse sido utilizado natildeo

modificaria o sentido do texto Pudemos identificar esse sentido por exemplo nas

ocorrecircncias (1) e (2)

Aleacutem desse sentido para o uso do quantificador universal encontramos ocorrecircncias

em que caso o quantificador natildeo tivesse sido utilizado haveria a possibilidade de

interpretarmos a ocorrecircncia de vaacuterias maneiras Nesses casos os autores utilizaram o

quantificador para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo direcionando a leitura do texto

para que o cliente possa interpretar o certificado da forma que o fabricante deseja Pudemos

identificar esse sentido por exemplo nas ocorrecircncias (3) (4) e (8)

Pudemos observar que os autores dos certificados de garantia utilizam tambeacutem o

quantificador universal em seus textos para se resguardarem em relaccedilatildeo a deveres que

poderiam ser reclamados pelo cliente caso natildeo houvesse o uso deste recurso Dessa forma

podemos entender que os autores dos certificados utilizaram o quantificador universal para se

favorecerem Pudemos observar essa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (5) (11) (13) e

(14) Em relaccedilatildeo a ocorrecircncias com o uso do quantificador universal em que o cliente eacute

beneficiado natildeo identificamos nenhum caso em nossa anaacutelise

Sobre o aparecimento de termos vagos ou termos polissecircmicos nas ocorrecircncias com a

presenccedila do quantificador universal pudemos observar que o maior motivo da sensibilidade

dos textos a esses tipos de efeitos linguiacutesticos eacute o fato de os autores dos textos em muitos

casos natildeo conceituarem os termos teacutecnicos que eles utilizam nos certificados de garantia Ao

utilizar um termo teacutecnico como por exemplo na ocorrecircncia (3) em que o autor do

certificado de garantia utiliza o termo ―viacutecio do produto ndash termo teacutecnico do CDC ndash natildeo

apresentando o conceito em seu texto dificulta a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Tendo contato

com o termo de forma solta sem estar delimitada pelo conceito que o autor deseja que o

cliente interprete a ocorrecircncia se torna vaga e polissecircmica

Ainda sobre os termos vagos ou termos polissecircmicos encontramos tambeacutem

ocorrecircncias em que os autores buscaram evitaacute-las justamente apresentando apoacutes a utilizaccedilatildeo

de um termo teacutecnico o seu respectivo conceito desta forma natildeo oferecendo a possibilidade

de interpretaacute-lo de vaacuterias maneiras Pudemos observar este uso por exemplo na ocorrecircncia

(10) em que o autor do certificado usa o termo ―garantia legal e logo em seguida apresenta

85

o conceito para o termo que eacute ―os primeiros 90 dias Dessa forma o cliente natildeo eacute autorizado

a interpretar o termo ―garantia legal de nenhuma outra forma que natildeo seja a descrita pelo

fabricante

Na segunda parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o uso do condicional

Identificamos nove ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia utilizaram este

recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (16) e (24) pudemos identificar

que o condicional foi utilizado pelos autores dos textos precedendo listas instrucionais o que

era esperado devido a caracteriacutestica proacutepria desse recurso que eacute o de condicionar algo agrave

alguma coisa Assim como nas ocorrecircncias que os autores utilizaram o quantificador

universal o condicional foi utilizado em boa parte das ocorrecircncias analisadas para restringir

a interpretaccedilatildeo do texto Pudemos identificar este sentido por exemplo nas ocorrecircncias (16)

(17) e (18)

Identificamos em boa parte das ocorrecircncias que possuem o uso do condicional que

este uso natildeo impotildee um limite na interpretaccedilatildeo Pudemos observar em nossa anaacutelise que os

condicionais foram utilizados precedendo listas exaustivas que continham situaccedilotildees por

exemplo em que a garantia seria invalidada Ao apresentar tais listas os autores natildeo

especificavam que natildeo haveria outros casos fora da lista em que a garantia seria invalidada

Dessa forma observamos que assim como nas ocorrecircncias com quantificador universal os

autores utilizaram os condicionais para se favorecerem Identificamos na ocorrecircncia (22)

recursos que restringem ainda mais as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente e

que consequentemente favorecem o fabricante como o uso do termo ―cumulativamente

que obriga o cliente a natildeo apenas estar dentro de uma ou mais situaccedilotildees descritas pelo

fabricante apoacutes o condicional mas a seguir todas as situaccedilotildees descritas ao mesmo tempo

Quando os fabricantes utilizaram o condicional precedendo listas que constam as

situaccedilotildees em que o cliente poderia perder a garantia eles usaram o recurso sem limites como

pudemos observar na ocorrecircncia (21) Mas quando os fabricantes utilizaram o condicional

precedendo listas que constam as situaccedilotildees em que o cliente tem direito a garantia eles

usaram os recursos com limites e como mostramos na ocorrecircncia (22) ainda utilizaram

recursos que limitam mais ainda a garantia

Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem das ocorrecircncias em que o condicional apareceu

de forma expliacutecita ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o mesmo

sentido como em (19) (20) e (24)

Sobre a presenccedila de termos polissecircmicos ou termos vagos nas ocorrecircncias com o uso

do condicional pudemos identificar que diferente das ocorrecircncias com o uso do

86

quantificador universal natildeo encontramos casos de termos vagos ou termos polissecircmicos nas

ocorrecircncias analisadas Identificamos em muitas ocorrecircncias que os autores dos certificados

apresentaram os conceitos para termos teacutecnicos apoacutes uso geralmente entre parecircnteses para

evitar que o termo ou a expressatildeo fossem interpretados de formas indevidas Encontramos

este tipo de estrateacutegia por exemplo na ocorrecircncia (17) do certificado 3 em que o autor

utiliza os termos ―garantia legal e ―garantia contratual mas no texto do certificado haacute o

conceito para cada termo o que impossibilita que o cliente interprete os termos de diversas

maneiras Caso o fabricante tivesse utilizado os dois termos teacutecnicos e em lugar algum do

certificado de garantia ele apresentasse os conceitos para os termos oportunizaria por

conseguinte diversas possibilidades de interpretaccedilatildeo dificultando a leitura do texto por parte

do cliente

Na terceira parte da anaacutelise tratamos sobre as ocorrecircncias com o uso do ―apenas e do

―somente Identificamos trinta ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia

utilizaram esses recursos linguiacutesticos Apesar do nuacutemero elevado de ocorrecircncias os sentidos

em que o ―apenas e o ―somente foram utilizados natildeo variaram muito Em grande parte das

ocorrecircncias analisadas o ―apenas e o ―somente foram utilizados para restringir a validade

da garantia desde restriccedilotildees em relaccedilatildeo ao territoacuterio de vigecircncia ateacute tipos de ambientes em

que os produtos podem ser utilizados Um tipo de ocorrecircncia que foi bastante recorrente em

nosso corpus foi o que utilizou o ―apenas ou ―somente para delimitar o territoacuterio em que a

garantia pode ser vaacutelida como por exemplo nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)

Nestas ocorrecircncias haacute o uso da expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que levantamos na anaacutelise

uma discussatildeo sobre as possibilidades de interpretaccedilatildeo para tal expressatildeo pelo fato de natildeo

haver nos certificados de garantia analisados um conceito definido para ela A ausecircncia do

conceito para este termo nos certificados de garantia pode dificultar a interpretaccedilatildeo

Tambeacutem podemos afirmar que em grande parte das ocorrecircncias analisadas o uso do

―somente ou ―apenas serviu para impor limites agraves interpretaccedilotildees dos textos direcionando-

os para a interpretaccedilatildeo que o fabricante desejasse impor Ou seja em grande parte das

ocorrecircncias em que foi utilizado o ―somente precedendo uma situaccedilatildeo X caso natildeo houvesse

esse uso a garantia por exemplo seria vaacutelida na situaccedilatildeo X mas tambeacutem nas situaccedilotildees Y Z

W sem limites Sem o uso do ―somente nessas ocorrecircncias o texto da garantia natildeo teria

sentido definido Pudemos observar esse sentido em diversas ocorrecircncias analisadas como

por exemplo nas ocorrecircncias (27) e (28) Ilustrando caso natildeo houvesse o uso do ―apenas

nas ocorrecircncias (27) e (28) a garantia seria vaacutelida no territoacuterio brasileiro e em qualquer outro

Ainda sobre as ocorrecircncias usam o ―somente ou ―apenas para restringir o territoacuterio em que

87

a garantia seraacute vaacutelida observamos que algumas ocorrecircncias especificam mais a validade da

garantia como em (48) que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para produtos vendidos e

instalados em territoacuterio nacional e outras ocorrecircncias que especificam menos como em (39)

que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para o veiacuteculo comercializado em territoacuterio brasileiro

Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem de ocorrecircncias em que o ―apenas e ―somente

apareciam explicitamente ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o

mesmo sentido como em (35) (36) e (41)

Sobre o aparecimento de termos polissecircmicos ou termo vagos aleacutem da expressatildeo

―territoacuterio brasileiro que mencionamos nos paraacutegrafos anteriores pudemos identificar

outros casos de termos polissecircmicos como por exemplo nas ocorrecircncias (25) e (26) Os

termos teacutecnicos utilizados pelos autores dos certificados de garantia natildeo possuiacuteam em lugar

algum dos textos os conceitos para lhes definirem possibilitando que o cliente interprete

estes termos de diversas maneiras

Ainda sobre casos de termos polissecircmicos observamos em algumas ocorrecircncias que

os autores dos certificados procuraram utilizar os termos teacutecnicos e em seguida ou em

alguma parte dos textos apresentaram os conceitos para os termos evitando muacuteltiplas

interpretaccedilotildees Identificamos o uso dessa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (43) (44) e

(49)

Nos trecircs tipos de ocorrecircncias que definimos para nossa anaacutelise pudemos identificar

que nos usos do quantificador universal condicional e ―apenas e ―somente os autores dos

certificados de garantia usaram esses recursos para se favorecerem Como analisado nas

ocorrecircncias do corpus os fabricantes utilizaram essas estrateacutegias tanto pelo fato de que eacute

necessaacuterio utilizar esses recursos por ser caracteriacutestico de textos instrucionais quanto pelo

fato de que o direcionamento das interpretaccedilotildees dos textos que eles constroem a partir destes

recursos podem favorecer os proacuteprios fabricantes

88

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Na presente seccedilatildeo iremos pontuar o percurso de nossa pesquisa e apresentar nossas

impressotildees sobre o corpus as teorias apresentadas e os resultados obtidos com as anaacutelises

O primeiro capiacutetulo de nossa pesquisa foi subdividido em duas partes na primeira

buscamos apresentar os conceitos gerais sobre os gecircneros textuais com base na proposta de

Bakhtin (2000) reafirmada por Marcuschi (2008) com o intuito de fornecer aporte teoacuterico

para a segunda parte do capiacutetulo em que caracterizamos o certificado de garantia como um

gecircnero textual Tal caracterizaccedilatildeo se deu pelo fato do nosso corpus ser composto por vinte e

dois certificados de garantia Ficamos surpresos por tomar conhecimento do fato de que ateacute o

presente momento natildeo identificamos publicaccedilotildees acadecircmicas em nosso paiacutes referentes agrave

caracterizaccedilatildeo de certificados de garantia como gecircneros textuais e esta dificuldade nos levou

a construir atraveacutes de nossa leitura a caracterizaccedilatildeo tanto quanto ao conteuacutedo quanto agrave

estrutura do texto A uacutenica bibliografia que encontramos e utilizamos como base para a

estruturaccedilatildeo da segunda parte do capiacutetulo tratando diretamente sobre os certificados de

garantia foi o Coacutedigo de Defesa e Proteccedilatildeo do Consumidor (1997) em que pudemos extrair

alguns conceitos gerais e recomendaccedilotildees de como se deve construir o texto de um certificado

de garantia Um dos problemas que encontramos foi a carecircncia de detalhes apresentados pelo

CDC na seccedilatildeo em que sugerem um padratildeo de formulaccedilatildeo do documento O CDC apenas

enfatiza que se faz necessaacuterio o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo e por exemplo a

necessidade de ser acompanhado do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto Com base

nessas informaccedilotildees apresentamos os conceitos e tambeacutem um exemplo de certificado de

garantia ilustrando cada parte da estrutura do texto

Na introduccedilatildeo do segundo capiacutetulo apresentamos uma discussatildeo geral sobre a

distinccedilatildeo entre semacircntica e pragmaacutetica com o objetivo de caracterizar os nexos como

relaccedilotildees linguiacutesticas do campo da semacircntica Para isso apresentamos tambeacutem os conceitos e

exemplos de relaccedilotildees linguiacutesticas que satildeo consideradas como pertencentes ao campo da

pragmaacutetica como a implicatura e pressuposiccedilatildeo Para esta discussatildeo buscamos aporte teoacuterico

nas obras de autores como Trask (2004) Levinson (2007) Grice (1987) Basso (2009)

Moura (1999) e Santos (2012)

Apoacutes a introduccedilatildeo do capiacutetulo apresentamos a teoria dos nexos semacircnticos que

escolhemos tratar em nossa pesquisa Foram eles o acarretamento a equivalecircncia semacircntica

a contradiccedilatildeo e a contrariedade Utilizamos como referencial teoacuterico para a teoria dos nexos

89

semacircnticos autores como Aristoacuteteles (1985) Chierchia (2001) Branquinho Murcho e Gomes

(2006) Pires de Oliveira (2001) e Mortari (2001) A apresentaccedilatildeo de cada nexo se deu a

partir dos conceitos seguidos de exemplos e dentro de cada seccedilatildeo apresentamos tambeacutem

tipos de ocorrecircncias lexicais que podem dificultar a intepretaccedilatildeo dos nexos que satildeo a

polissemia e a vagueza Ao apresentar os conceitos dessas ocorrecircncias lexicais assim como

fizemos na apresentaccedilatildeo dos nexos tambeacutem ilustramos com exemplos Utilizamos como

aporte teoacuterico para os conceitos de polissemia e vagueza autores como Crystal (1985) Allan

(2010) e Kempson (1977) Aleacutem da polissemia e vagueza tratamos sobre outro problema

que dificulta a interpretaccedilatildeo dos nexos as falaacutecias Quando tratamos sobre as caracteriacutesticas

das falaacutecias utilizamos como base teoacuterica o texto de Soares (2003) em que o autor distingue

as caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias e com esse aporte apresentamos nossos

exemplos

Quando tratamos sobre a contradiccedilatildeo e contrariedade apresentamos o fato de que as

suas origens tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica A partir disso trouxemos uma breve apresentaccedilatildeo

sobre os conceitos de Aristoacuteteles presentes em seu texto Organon (1985) mais

especificamente no Perieacutermeneas capiacutetulos 6 e 7

No final do capiacutetulo dois fizemos uma retrospectiva de todos os pontos que foram

apresentados ao longo do capiacutetulo e justificamos a nossa escolha em pesquisar sobre os nexos

semacircnticos assim como a polissemia vagueza e falaacutecias Durante todo o capiacutetulo dois

apresentamos os nexos e outras relaccedilotildees lexicais dentro de uma linguagem controlada que eacute

diferente do que acontece nos textos dos diversos gecircneros inclusive naquele escolhido para

compor o nosso corpus que satildeo os certificados de garantia A importacircncia dos conceitos

apresentados em nosso segundo capiacutetulo se deu pelo fato de que ele oferece uma base para a

compreensatildeo do funcionamento dessas relaccedilotildees semacircnticas para que diante das anaacutelises que

realizamos no capiacutetulo trecircs tenhamos uma leitura mais refinada e atenciosa para perceber

como essas relaccedilotildees semacircnticas tiacutepicas de linguagens controladas se apresentam em textos

que satildeo suscetiacuteveis a diversas ocorrecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo Ficamos surpresos

pelo fato de que pouco se escreveu sobre nexos semacircnticos em nosso contexto nacional de

pesquisa o que tornou a construccedilatildeo do nosso segundo capiacutetulo bastante desafiadora Em

relaccedilatildeo a artigos que trataram diretamente sobre os nexos semacircnticos e os seus usos como

suporte para a anaacutelise de ocorrecircncias em gecircneros textuais tivemos contato apenas com Santos

(2012) e Estrela e Santos (2013 2014)

No terceiro capiacutetulo que foi dedicado para conter a anaacutelise desta pesquisa

inicialmente apresentamos nossa justificativa para a escolha do gecircnero certificado de garantia

90

para analisar assim como a justificativa para a escolha de procurar nesses textos as

estrateacutegias linguiacutesticas utilizadas para restringir a interpretaccedilatildeo de sentenccedilas Em seguida

tratamos sobre os tipos de ocorrecircncias que elegemos para nossa anaacutelise como quantificador

universalcondicional e o ―apenas e o ―somente Esta escolha se deu pelo fato de tais

termos possuem caracteriacutesticas propiacutecias para o uso em restriccedilotildees ou abrangecircncias de textos

Mesmo assim tiacutenhamos conhecimento de que dificilmente encontrariacuteamos ocorrecircncias com

as relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos no capiacutetulo dois de forma expliacutecita e controlada

pois como discutimos anteriormente os diversos gecircneros textuais satildeo suscetiacuteveis a

interferecircncias lexicais que podem dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos

Em seguida apresentamos a anaacutelise do nosso corpus que totalizou cinquenta e quatro

trechos de certificados nos trecircs tipos de ocorrecircncias escolhidas para serem investigadas

Como jaacute apresentamos no final do capiacutetulo anterior nossas impressotildees sobre como foram

utilizados os recursos linguiacutesticos para restriccedilatildeo de interpretaccedilotildees pelos autores dos

certificados gostariacuteamos de enfatizar que nas ocorrecircncias com quantificador universal com

condicional e com o ―apenas e ―somente os fabricantes utilizaram estes recursos em

grande parte dos certificados para se favorecerem ou seja para abranger as possibilidades de

invalidade da garantia do produto aumentando as situaccedilotildees em que a garantia eacute perdida e

diminuindo as situaccedilotildees em que a garantia eacute vaacutelida (principalmente nas listas exaustivas)

Sobre ocorrecircncias em que identificados termos vagos ou termos polissecircmicos

identificamos como o motivo principal do aparecimento dessas ocorrecircncias a falta de

definiccedilatildeo dos termos teacutecnicos Em muitos certificados identificamos que os autores utilizaram

termos teacutecnicos (a maioria deles provenientes do CDC) e natildeo apresentaram em nenhuma

parte do texto as definiccedilotildees para tais termos oportunizando que o leitor interprete de

diversas maneiras os termos ou expressotildees

Por fim pudemos perceber que os quantificadores os condicionais e termos como o

―apenas e o ―somente que satildeo responsaacuteveis por abranger ou restringir interpretaccedilotildees de

sentenccedilas satildeo proacuteprios do tipo de texto instrucional que abarca o gecircnero que escolhemos para

nossa pesquisa A utilizaccedilatildeo desses termos seguiu uma ordem de apresentaccedilatildeo similar nos

vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Os quantificadores universais

apareceram muitas vezes nas explicaccedilotildees em que os fabricantes apresentavam prazos deveres

e direitos do fabricante e cliente os condicionais apareceram na maioria das vezes

precedendo as listas exaustivas e o ―apenas e ―somente apareceram em grande parte nos

trechos em que os fabricantes apresentavam delimitaccedilotildees territoriais para cobertura da

91

garantia e explicaccedilotildees sobre as situaccedilotildees em que a garantia eacute invalidada e as situaccedilotildees em que

a garantia se assegura

Assim como justificamos no iniacutecio das consideraccedilotildees sobre os resultados obtidos em

nossa anaacutelise natildeo encontramos ocorrecircncias com trecircs dos quatro nexos semacircnticos

apresentados no segundo capiacutetulo O fato de natildeo termos identificado ocorrecircncias com

equivalecircncias semacircnticas contrariedades e contraditoriedades traacutes a tona uma interessante

caracteriacutestica do gecircnero certificado de garantia que eacute a constante presenccedila de acarretamentos

na redaccedilatildeo do texto mesmo que apresentados indiretamente diferente dos exemplos que

utilizamos para ilustrar os conceitos nos diversos textos sobre o assunto e a natildeo utilizaccedilatildeo de

equivalecircncias sentenccedilas contraacuterias e contraditoacuterias na redaccedilatildeo do texto

Atraveacutes dessa pesquisa em que tratamos sobre os nexos semacircnticos a polissemia a

vagueza e alguns outros tipos de relaccedilotildees semacircnticas desejamos que outros pesquisadores se

interessem por este tipo de trabalho e busquem explorar nas anaacutelises linguiacutesticas outros

gecircneros textuais pouco explorados como o que utilizamos no presente trabalho Apresentar

uma teoria que eacute tipicamente de linguagens controladas como a dos nexos semacircnticos (que

satildeo como jaacute discutimos dependentes unicamente da forma das sentenccedilas) e analisar como

essas estrateacutegias linguiacutesticas se comportam dentro de textos instrucionais (que ainda satildeo

pouco explorados nas anaacutelises semacircnticas) satildeo a nosso ver interessantes caminhos a serem

desbravados nos estudos da semacircntica assim como as suas aplicaccedilotildees nos diversos gecircneros

textuais que nos rodeiam

92

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95

ANEXOS

Certificado 1

96

Certificado 2

97

Certificado 3

98

Certificado 4

99

Certificado 5

100

Certificado 6

101

Certificado 7

102

Certificado 8

103

Certificado 9

104

105

Certificado 10

106

Certificado 11

107

Certificado 12

108

109

Certificado 13

110

Certificado 14

111

112

Certificado 15

113

114

Certificado 16

115

116

117

118

119

120

121

Certificado 17

122

Certificado 18

123

Certificado 19

124

125

Certificado 20

126

Certificado 21

127

Certificado 22

εἰδέναι δὲ χπὴ τὸν πόλεμον ἐόντα

ξυνόν καὶ δίκην ἔπιν καὶ γινόμενα

πάντα κατ ἔπιν καὶ χπεών

(Heraacuteclito frag 80)

RESUMO

O estudo das relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas eacute um campo bastante discutido e

pesquisado nos estudos linguiacutesticos A observaccedilatildeo de como se comportam os termos na

construccedilatildeo de significados em textos de diversos gecircneros e seus efeitos de interpretaccedilatildeo

tambeacutem satildeo temas muito difundidos entre as pesquisas das semacircnticas Nesta produccedilatildeo

discutiremos sobre as relaccedilotildees de significado e seus efeitos de sentido em um gecircnero

especiacutefico As relaccedilotildees que investigaremos satildeo os nexos semacircnticos ou nexos de significado

como proposto por Chierchia (2003) que satildeo respectivamente acarretamento equivalecircncia

semacircntica contraditoriedade e contrariedade O gecircnero que escolhemos para nossa anaacutelise eacute o

certificado de garantia e a escolha de tal gecircnero se deu pelo fato deste fazer parte do grupo de

textos injuntivos ou instrucionais que a nosso ver possui caracteriacutesticas que favorecem a

amostragem dos nexos semacircnticos Iremos analisar como os nexos semacircnticos satildeo utilizados

para restringir ou abranger as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos certificados de garantia O

corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de garantia de

produtos de diversos segmentos e decidimos escolher certificados de produtos de linhas

diversas para constituirmos um panorama sobre o gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes

da internet sem utilizar nenhuma metodologia especiacutefica apenas atentamos para buscar

certificados de produtos variados Buscamos nessa pesquisa instigar a reflexatildeo sobre as

relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e a observaccedilatildeo destas nos textos instrucionais que

lidamos no dia-a-dia e que por muitas vezes deixamos passar despercebido o seu conteuacutedo

O entendimento sobre os nexos de significado pode nos oferecer ferramentas para melhor

leitura de textos desse tipo

Palavras chave Nexos semacircnticos Certificado de garantia Semacircntica

ABSTRACT

The study of the meaning of relations between sentences is a much discussed and researched

field in linguistic studies The observation of how the terms behave in the construction of

meanings in texts of different genres and their interpretation effects are also widespread

themes among semantic research In this work we will discuss about the meaning of the

relations of meaning and their sense of purpose in a specific genre The relations that we will

investigate are semantic nexus or semantic links as proposed by Chierchia (2003) which are

respectively entailment semantic equivalence contradictoriness and contrariness The genre

we chose for our analysis is the warranty certificate and the choice of this genre was made

because it is part of the injunctive or instructional texts group that in our opinion has

characteristics that favor the sampling of semantic nexus We will analyze how the semantic

nexus are used to restrict or cover the possibilities of interpretation in the warranty

certificates The corpus of this research has 22 (twenty two) copies of warranty certificates

from different segments and we decided to choose certificates from separate lines to

constitute an overview of the genre The collection of the texts took place through the

internet without using any particular methodology of choice only we pay attention to seek

warranty certificates of diverse products We seek in this research instigate reflection on the

meaning relations between sentences and observance of these in instructional texts that we

have contact in daily life and that for many times let go unnoticed its contents The

understanding of the semantic nexus can offer us tools to better read texts of this type

Keywords Semantic nexus Warranty certificate Semantics

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 13

1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA 16

11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS 16 12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL 26

2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS 32

21 ACARRETAMENTO 35 22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA 42 23 CONTRADITORIEDADE 45 24 CONTRARIEDADE 48 25 JUSTIFICANDO O PERCURSO 51

3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA 53

31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL 55 32 USO DO CONDICIONAL 64 33 USO DO APENASSOMENTE 68 34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS 83

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 88

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 92

ANEXOS 95

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa 14

QUADRO 2 - Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia 83

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

ILUSTRACcedilAtildeO 1 - Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 27

ILUSTRACcedilAtildeO 2 - Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28

ILUSTRACcedilAtildeO 3 - Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28

ILUSTRACcedilAtildeO 4 - Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28

ILUSTRACcedilAtildeO 5 - Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 29

13

INTRODUCcedilAtildeO

A abordagem das relaccedilotildees de significado eacute algo bastante presente e discutido nos

estudos semacircnticos Observar como se comportam os termos na construccedilatildeo da significaccedilatildeo

em textos de diversos gecircneros distintos e seus efeitos interpretativos tambeacutem satildeo temas de

diversas produccedilotildees na aacuterea de linguiacutestica

Neste trabalho iremos discutir as relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e os efeitos

interpretativos dessas relaccedilotildees em textos Mais especificamente abordaremos os nexos

semacircnticos ou nexos de significado (Chierchia 2003) acarretamento equivalecircncia semacircntica

contrariedade (os quais podemos encontrar no referido trabalho de Chierchia) e

contraditoriedade (nexo semacircntico que geralmente eacute relacionado com a contrariedade e que

foi tratado por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado atraveacutes de seu quadrado loacutegico

ou taacutebua de oposiccedilotildees em seu texto Perieacutermeneas (1985) mais especificamente nos

capiacutetulos 6 e 7 sobre o qual faremos menccedilatildeo na seccedilatildeo sobre este nexo)

Este trabalho tem por objetivo observar alguns dos recursos linguiacutesticos utilizados

para favorecer a existecircncia de nexos semacircnticos e com isso restringir ou ampliar

possibilidades de interpretaccedilatildeo em um gecircnero textual especiacutefico Por este motivo o gecircnero

que escolhemos analisar foi o certificado de garantia ou termo de garantia que pertence agrave

categoria dos textos instrucionais (ou injuntivos) e a nosso ver possui caracteriacutesticas que

favorecem a amostragem das ocorrecircncias dos nexos

O gecircnero certificado de garantia possui como uma de suas caracteriacutesticas a

apresentaccedilatildeo organizada dos direitos e deveres do cliente e do fabricante com relaccedilatildeo a um

produto servindo tambeacutem para informar ao cliente os seus direitos referentes agrave validade

prazos e extensatildeo de cobertura da garantia Supotildee-se entatildeo que o texto deve por isso ser

objetivo e livre de ambiguidades e incoerecircncias

Nossa hipoacutetese eacute a de que recursos linguiacutesticos que favoreccedilam a existecircncia de nexos

semacircnticos nos textos dos certificados ndash como o emprego por exemplo de conectivos e

quantificadores (Chierchia 2003 PIRES DE OLIVEIRA 2001) ndash estatildeo presentes em textos

deste gecircnero e contribuem para que os textos alcancem o objetivo de informar ao cliente e ao

fabricante seus deveres e direitos

O corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de

garantia de produtos diversos para constituir um panorama ainda que reduzido de instacircncias

do gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes da internet sem utilizar nenhuma metodologia

14

especiacutefica de escolha atentando para buscar certificados de produtos variados Os textos

escolhidos para a anaacutelise de nosso trabalho incluem diversos produtos manufaturados como

moacuteveis veiacuteculos eletroeletrocircnicos entre outros equipamentos domeacutesticos como ilustrado no

quadro a seguir

Nordm Tipo de objeto Fabricante

1 Refrigerador Samsung

2 TV led Sony

3 Condicionador de ar LG

4 Tablet AOC

5 AudioMixer Oneal

6 Garantia para todos os produtos Elgin

7 Estabilizador de energia APC

8 Aquecedor de aacutegua Bosch

9 Fogatildeo Brastemp

10 Maacutequina de lavar Electrolux

11 Ventilador Cadence

12 GPS Positron

13 Umidificador de ar Springer

14 Certificado internacional de garantia Philips

15 Colchatildeo Ortobom

16 Caminhotildees Mercedes-Benz

17 Carro de passeio Hyundai

18 Moacuteveis Bartzen

19 Aquecedor de ar Fujitsu

20 Tv AOC

21 Aquecedor de aacutegua para piscina Rheem

22 Bicicleta Total Health

Quadro 1 ndash Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa Fonte elaborado pelo autor

Como nosso propoacutesito eacute analisar os textos observando as ocorrecircncias de termos que

restringem e abrangem interpretaccedilotildees natildeo temos a intenccedilatildeo de analisar se um fabricante

elaborou um texto melhor que outro

No primeiro capiacutetulo apresentamos num primeiro momento o que satildeo gecircneros

textuais e em seguida caracterizamos o certificado de garantia como um gecircnero textual Para

tanto utilizamos o aporte teoacuterico baseado na obra de Mikhail Bakhtin (2000) linguista do

iniacutecio do seacuteculo referecircncia nos estudos de gecircneros textuais e de Luiz Antocircnio Marcuschi

(2002 2005 2008) linguista contemporacircneo que desenvolveu importantes trabalhos nessa

disciplina Vale salientar que como o foco de nossa pesquisa natildeo eacute a discussatildeo de gecircneros

textuais o capiacutetulo que construiacutemos trata de conceitos gerais sobre gecircneros tendo como

15

objetivo observar que o certificado de garantia eacute um gecircnero textual e mostrando como se

estrutura em linhas gerais um texto deste gecircnero

No segundo capiacutetulo trataremos dos nexos semacircnticos dos quais consideraremos

para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e

contrariedade Atraveacutes de exemplos discutimos brevemente cada um deles mostrando

exemplos que funcionam e tambeacutem exemplos problemaacuteticos em relaccedilatildeo ao leacutexico

especialmente em casos de polissemia para que entatildeo seja possiacutevel a anaacutelise do capiacutetulo

seguinte

No terceiro capiacutetulo traremos a anaacutelise do corpus que se apresentaraacute organizado por

ocorrecircncias distribuiacutedas em tipos a saber uso do quantificador universal uso do condicional

e uso do apenassomente Apoacutes o exame das trecircs categorias citadas trataremos entatildeo das

relaccedilotildees entre o emprego dos recursos e a funccedilatildeo dos certficados Procuraremos tambeacutem

refletir se os recursos satildeo mais utilizados para favorecer o cliente ou mais utilizados para

favorecer o fabricante

Por uacuteltimo mostraremos as consideraccedilotildees finais do trabalho e em seguida as

referecircncias bibliograacuteficas utilizadas na elaboraccedilatildeo de nosso texto

16

1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA

Neste capiacutetulo tratamos dos gecircneros textuais e da caracterizaccedilatildeo dos certificados de

garantia como um gecircnero textual Em um primeiro momento traremos a perspectiva sobre

gecircneros textuais de Mikhail Bakhtin precursor dos estudos de gecircneros textuais na linguiacutestica

e em seguida apresentaremos a perspectiva de Luiz Antocircnio Marcuschi linguista brasileiro

que tambeacutem trabalha com o tema e compartilha em grande parte da perspectiva de Bakhtin

sobre o os gecircneros Eacute importante ressaltar que este capiacutetulo natildeo tem por objetivo o

aprofundamento nos estudos dos gecircneros e serve como um instrumento para contextualizar o

corpus desta pesquisa

11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS

Considerando a perspectiva apresentada por Mikhail Bakhtin na obra Esteacutetica da

criaccedilatildeo verbal (2000) o ato de se comunicar eacute indispensaacutevel para as relaccedilotildees humanas Aleacutem

disso ressaltamos que eacute por tal razatildeo que nas diversas situaccedilotildees de interaccedilatildeo que

vivenciamos em nosso cotidiano observamos a utilizaccedilatildeo da liacutengua em suas modalidades

oral eou escrita como instrumento principal de nossas trocas comunicativas

Eacute notoacuterio que a quantidade de atividades eacute enorme assim como satildeo os diferentes tipos

de situaccedilotildees em que a liacutengua eacute empregada Atraveacutes da formulaccedilatildeo de enunciados podemos

caracterizar quais as funccedilotildees dos discursos que escolhemos para os diversos tipos de

interaccedilatildeo

Nesse sentido eacute possiacutevel afirmarmos que todas as nossas construccedilotildees linguiacutesticas

organizam-se em gecircneros discursivos por meio dos quais conseguimos nos comunicar e

interagir socialmente

Em conformidade com a proposta de Bakhtin todo gecircnero discursivo se constitui a

partir das seguintes dimensotildees o conteuacutedo temaacutetico o estilo e a construccedilatildeo composicional

Esta descriccedilatildeo eacute claacutessica como ponto de partida para a descriccedilatildeo dos gecircneros textuais e nos

ofereceraacute a possibilidade de tanto descrever o que eacute um gecircnero textual quanto caracterizar

um texto como gecircnero que seraacute o nosso objetivo na segunda parte deste capiacutetulo

O conteuacutedo temaacutetico se refere ao tipo de assunto veiculado no texto Por tal razatildeo

Bakhtin (2000) afirma que o gecircnero eacute escolhido a partir do que o locutor decide falar Assim

17

eacute faacutecil compreender por que cada atividade comunicativa necessita de um tipo especiacutefico de

textodiscurso Por exemplo natildeo se responde (normalmente) uma carta informal com uma

bula de remeacutedio (a natildeo ser que na carta um texto desse gecircnero seja solicitado como

resposta) Nesse sentido percebe-se que para cada esfera de comunicaccedilatildeo o locutor e

interlocutor utilizam uma mesma forma de expressatildeo tendo em vista o assunto que

escolheram tratar Caso contraacuterio se locutor e interlocutor agregam formas distintas de

expressatildeo pode ser que a comunicaccedilatildeo natildeo seja efetivada com sucesso visto que eacute possiacutevel

natildeo haver o entendimento das partes uma vez que cada gecircnero abarca certo campo de uso

mesmo estando em constante desenvolvimento

O estilo se refere aos recursos linguiacutesticos desde gramaticais ateacute lexicais e eles

variam de acordo com o gecircnero Essa dimensatildeo abarca a seleccedilatildeo frasal lexical gramatical e

as formas de apresentar o discurso que satildeo inerentes ao gecircnero escolhido Bakhtin (2000)

afirma que o estilo eacute a primeira vista individual do gecircnero e ela reflete (ou natildeo) a

individualidade de quem escreve ou fala Isso porque dependendo do gecircnero o estilo

individual aparece com mais clareza Da mesma forma haacute gecircneros que natildeo possuem essa

caracteriacutestica a exemplo dos textos injuntivos sobre os quais trataremos mais agrave frente Ainda

a respeito do estilo Bakhtin assegura que

Quando escolhemos as palavras no processo de construccedilatildeo de um enunciado nem

de longe as tomamos sempre do sistema da liacutengua em sua forma neutra

lexicograacutefica Costumamos tiraacute-las de outros enunciados e antes de tudo de

enunciados congecircneres com o nosso isto eacute pelo tema pela composiccedilatildeo pelo estilo

consequentemente selecionamos as palavras segundo a sua especificaccedilatildeo de

gecircnero O gecircnero do discurso natildeo eacute uma forma da liacutengua mas uma forma tiacutepica do

enunciado como tal forma o gecircnero inclui certa expressatildeo tiacutepica a ele inerente

(BAKHTIN 2010 [1992] p 292 grifos do autor)

Nessa perspectiva podemos afirmar que tal criteacuterio se refere agraves propriedades das

unidades de linguagem e relaciona-se agrave posiccedilatildeo enunciativa do locutor agraves sequecircncias textuais

e aos tipos discursivos que estruturam o texto

Por fim Bakhtin (2000) afirma que cada gecircnero possui uma forma padratildeo que eacute a

estrutura composicional Eacute atraveacutes dessa forma que podemos identificar qual gecircnero estaacute

sendo empregado pois essa dimensatildeo se refere aos procedimentos utilizados na formulaccedilatildeo

dos textos com a estrutura e demais aspectos formais incluindo as partes envolvidas no

discurso Em suma para Bakhtin (2000)

18

Estes trecircs elementos (conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo composicional)

fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado e todos eles satildeo marcados pela

especificidade de uma esfera de comunicaccedilatildeo Qualquer enunciado considerado

isoladamente eacute claro individual mas cada esfera de utilizaccedilatildeo da liacutengua elabora

seus tipos relativamente estaacuteveis de enunciados sendo isso que denominamos

gecircneros do discurso (BAKHTIN 2000 p 279 Grifos do autor)

Ainda a respeito dos gecircneros do discurso conveacutem ressaltar que sua variedade eacute

proporcional agraves possibilidades de interaccedilotildees humanas pois as diversas esferas de interaccedilatildeo

satildeo compostas por classes de gecircneros que se desenvolvem tornando-se maiores e mais

complexas em consonacircncia com o desenvolvimento dessas esferas

Bakhtin (2000) utiliza o termo ―heterogeneidade para adjetivar os gecircneros do

discurso sejam eles orais ou escritos inferindo que estes incluem desde conversas informais

cartas relatos familiares ateacute produccedilotildees mais complexas como os documentos oficiais textos

cientiacuteficos e de escolas literaacuterias Natildeo haacute razatildeo para minimizar a extrema heterogeneidade

dos gecircneros do discurso e a consequente dificuldade quando se trata de definir o caraacuteter

geneacuterico do enunciadolsquo (BAKHTIN 2000 p 281) Dessa forma entendemos que a

variedade de gecircneros eacute muito grande se estendendo por exemplo dos romances mais

eruditos ateacute os bilhetes de recados do dia-a-dia e que tratar dos gecircneros admitindo suas

caracteriacutesticas estruturais particulares natildeo eacute uma tarefa faacutecil de realizar

Aleacutem de discorrer sobre as dimensotildees constitutivas de um gecircnero tendo em vista essa

heterogeneidade Bakhtin categoriza os gecircneros textuais em primaacuterios (simples) e

secundaacuterios (complexos) Assim os gecircneros primaacuterios satildeo aqueles referentes agraves reacuteplicas de

diaacutelogos cotidianos como cartas pessoais e demais gecircneros de comunicaccedilatildeo imediata Satildeo

chamados ―simples porque satildeo formados por discursos de baixa complexidade Jaacute os

gecircneros secundaacuterios satildeo aqueles referentes a romances textos cientiacuteficos sociopoliacuteticos e

afins Satildeo textos (escritos ou produzidos para serem encenados como os teatrais ndash exemplo

usado pelo proacuteprio Bakhtin) com maior carga de complexidade de produccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo

Surgem a partir de interaccedilotildees mais aprofundadas nas comunidades com maior grau de

imersatildeo em relaccedilatildeo aos padrotildees culturais e sociais

Ele ainda ressalta que os gecircneros secundaacuterios tambeacutem podem conter gecircneros

primaacuterios ―o romance em seu todo eacute um enunciado da mesma forma que a reacuteplica do

diaacutelogo cotidiano ou a carta pessoal (satildeo fenocircmenos da mesma natureza) o que diferencia o

romance eacute ser um enunciado secundaacuterio (complexo) (BAKHTIN 2000 p 281) Ao

discorrer sobre essa questatildeo o autor assevera que eacute de grande importacircncia teoacuterica a

19

diferenciaccedilatildeo entre esses tipos de gecircneros pois com isso e a partir disso podemos fazer

anaacutelises precisas dos enunciados que podem contrapor dois ou mais tipos de textos

Ignorar as caracteriacutesticas intriacutensecas a cada gecircnero a ―natureza dos enunciados - que

segundo Bakhtin eacute indispensaacutevel para qualquer estudo ndash eacute partir para a abstraccedilatildeo da liacutengua

desvalorizando o conteuacutedo histoacuterico imerso em cada tipo de gecircnero Eacute importante considerar

a relaccedilatildeo existente entre ―a liacutengua e a vida e natildeo restringir os enunciados a categorias

formais Haacute portanto uma relaccedilatildeo de complementaccedilatildeo entre a liacutengua a vida e os enunciados

pois ―a liacutengua penetra na vida atraveacutes dos enunciados concretos que a realizam e eacute tambeacutem

atraveacutes dos enunciados concretos que a vida penetra na liacutengua (BAKHTIN 2000 p 282)

Bakhtin (2000) tambeacutem se refere a questotildees da ―totalidade do enunciado que ele

define como aquilo que oportuniza a resposta em um discurso Bakhtin afirma que essa accedilatildeo

eacute definida por trecircs fatores diretamente associados ao ―todo orgacircnico do enunciado

primeiramente o tratamento exaustivo do objeto de sentido depois o querer-dizer do locutor

e por fim as formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do acabamento

O tratamento exaustivo do objeto de sentido ―varia profundamente conforme as

esferas da comunicaccedilatildeo verbal Em algumas esferas ele pode ser quase total como por

exemplo na vida praacutetica na vida profissional na vida militar basicamente em esferas que

natildeo possuem caracteriacutesticas de mutabilidade de discurso e pouca ―criatividade nas

formulaccedilotildees entre outras palavras onde os gecircneros do discurso satildeo padronizados Jaacute nas

esferas em que os gecircneros satildeo ―criativos o tratamento exaustivo eacute muito menos abrangente

como no caso das ciecircncias em particular onde Bakhtin infere que o tratamento exaustivo

―oferece exatamente um miacutenimo de acabamento capaz de suscitar uma atitude responsiva

(BAKHTIN 2000 p 300)

O querer-dizer do locutor estaacute ligado ao primeiro fator O filoacutesofo afirma que em todo

enunciado desde uma reacuteplica cotidiana ateacute complexas obras cientiacuteficas ou da literatura

compreendemos sentimos o ―intuito discursivo ou querer-dizer do locutor que eacute o que

determina o ―todo do enunciado sua amplitude suas fronteiras Noacutes identificamos o que o

locutor quer expressar e a partir dessa detecccedilatildeo medimos e definimos como se daraacute o

enunciado Isso eacute determinante para a escolha do objeto com seus limites e o tratamento

exaustivo do objeto adequado a este aleacutem de ser essencial para a escolha da forma do gecircnero

onde seraacute edificado

As formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do gecircnero do acabamento representam o fator mais

importante para Bakhtin que as descreve como ―formas estaacuteveis do gecircnero do enunciado

(BAKHTIN 2000 p 301)

20

As formas do gecircnero agraves quais modelamos nossa fala se distinguem

substancialmente das formas da liacutengua do ponto de vista de sua estabilidade e de

suas leis normativas para o locutor De um modo geral elas satildeo mais maleaacuteveis

mais plaacutesticas e mais livres do que as formas da liacutengua (BAKHTIN 2000 p 302)

Concluindo a discussatildeo sobre gecircneros a partir dos conceitos gerais propostos por

Bakhtin passamos agora para a discussatildeo sobre gecircneros realizada por Marcuschi (2008) Eacute

possiacutevel perceber ao longo da explanaccedilatildeo que este autor se identifica com a teoria

bakhtiniana de gecircneros textuais e foi essa identificaccedilatildeo uma das motivaccedilotildees que nos levou a

escolhecirc-los para a composiccedilatildeo deste capiacutetulo

De acordo com Marcuschi (2008 p 154) toda comunicaccedilatildeo soacute pode ser efetivada

por meio de um gecircnero pois ―eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum gecircnero

assim como eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum texto Partindo dessa

premissa podemos entender que qualquer manifestaccedilatildeo verbal se daacute dentro dos limites dos

gecircneros Eacute por esse motivo que a variedade de gecircneros eacute extensa mas natildeo infinita Atraveacutes

desse conceito observamos que Marcuschi compactua com o conceito bakhtiniano de que os

gecircneros possuem formas padronizadas e finitas

Os gecircneros textuais satildeo os textos que encontramos em nossa vida diaacuteria e que

apresentam padrotildees sociocomunicativos caracteriacutesticos definidos por composiccedilotildees

funcionais objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integraccedilatildeo

de forccedilas histoacutericas sociais institucionais e teacutecnicas (Marcuschi 2008 p 155)

Natildeo devemos considerar os gecircneros textuais como modelos imutaacuteveis e de ―estrutura

riacutegidas A apresentaccedilatildeo dos gecircneros se mostra ligada diretamente ao meio em que circulam

Satildeo formas culturais que tomam forma na liacutengua e que evoluem junto com ela Obviamente

que natildeo podemos deixar de considerar que os gecircneros possuem identidade e eacute atraveacutes dessa

identidade que escolhemos um tipo especiacutefico para cada esfera discursiva Dessa forma

admitimos que os gecircneros limitam nossa accedilatildeo na escrita

Em relaccedilatildeo agrave distinccedilatildeo entre gecircneros Marcuschi (2008) natildeo os distingue pelas formas

linguiacutesticas mas sim pelos seus campos de accedilatildeo Nesse sentido ele reafirma a perspectiva

bakhtiniana de que os gecircneros satildeo dinacircmicos e que por serem soacutecio-histoacutericos natildeo podem

ser contados de modo exaustivo o que dificulta sua classificaccedilatildeo Marcuschi (2008) afirma

que atualmente o objetivo maior nos estudos sobre gecircneros textuais eacute procurar identificar e

explicar como eles satildeo constituiacutedos e como circulam na sociedade

21

Eacute importante apresentar alguns conceitos referentes ao que estamos discutindo sobre

gecircneros do discurso dentre os quais destacamos os conceitos de tipo textual gecircnero textual e

domiacutenio discursivo segundo Marcuschi (2008) levando em consideraccedilatildeo a possibilidade de

se obter melhor entendimento no trato com o texto em si e seus fenocircmenos

O tipo textual eacute definido pelos aspectos linguiacutesticos ou seja por marcas lexicais

tempos verbais estilo relaccedilotildees loacutegicas e aspectos sintaacuteticos Logo relaciona-se mais agraves

sequecircncias linguiacutesticas do que a materializaccedilotildees textuais fazendo com que o conjunto

tipoloacutegico de textos seja limitado e natildeo apresente tendecircncias de aumentar Marcuschi (2002

p22) afirma que os tipos textuais compreendem categorias amplamente conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo exposiccedilatildeo descriccedilatildeo e injunccedilatildeo que observaremos separadamente a

seguir

A narraccedilatildeo relata um fato que pode ser real ou imaginaacuterio em um tempo e lugar

definidos envolvendo personagens Nesse tipo de texto o tempo verbal predominante eacute o

passado ao menos nos exemplos mais tiacutepicos Eacute predominante em crocircnicas piadas

romances poemas faacutebulas entre outros Vejamos o exemplo a seguir

O cavalo e o burro

O cavalo e o burro seguiam juntos para a cidade O cavalo contente da vida

folgando com uma carga de quatro arrobas apenas e o burro mdash coitado gemendo

sob o peso de oito Em certo ponto o burro parou e disse

ndash Natildeo posso mais Esta carga excede agraves minhas forccedilas e o remeacutedio eacute repartirmos o

peso irmatildemente seis arrobas para cada um

O cavalo deu um pinote e relichou uma gargalhada

ndash Ingecircnuo Quer entatildeo que eu arque com seis arrobas quando posso tatildeo bem

continuar com as quatro Tenho cara de tolo

O burro gemeu

ndash Egoiacutesta Lembre-se que se eu morrer vocecirc teraacute que seguir com a carga de quatro

arrobas e mais a minha

O cavalo pilheriou de novo e a coisa ficou por isso Logo adiante poreacutem o burro

tropica vem ao chatildeo e rebenta

Chegam os tropeiros maldizem a sorte e sem demora arrumam com as oito arrobas

do burro sobre as quatro do cavalo egoiacutesta E como o cavalo refuga datildeo-lhe de

chicote em cima sem doacute nem piedade

ndash Bem feito exclamou o papagaio Quem mandou ser mais burro que o pobre burro

e natildeo compreender que o verdadeiro egoiacutesmo era aliviaacute-lo da carga em excesso

Tome Gema dobrado agorahellip

(LOBATO M 2010 p 85)

Acima podemos observar um exemplo de narraccedilatildeo que eacute uma das faacutebulas de

Monteiro Lobato escrita em grande parte em discurso direto Podemos observar na faacutebula

que o texto eacute conduzido pelo narrador intercalado pela interaccedilatildeo dos personagens A seguir

22

continuaremos a descriccedilatildeo dos tipos textuais e exemplos com o conceito do tipo textual

argumentativo

Jaacute a argumentaccedilatildeo tem por principal caracteriacutestica a construccedilatildeo do convencimento

acerca da validade ou invalidade de um ponto de vista por sobre outro Nesse tipo de texto haacute

a reflexatildeo sobre temas especiacuteficos confrontando perspectivas distintas predominante em

gecircneros como debates resenhas editoriais artigos de opiniatildeo e afins Vejamos o exemplo a

seguir

O povo brasileiro estaacute cansado de tanta corrupccedilatildeo desigualdade de renda serviccedilos

puacuteblicos precaacuterios sensaccedilatildeo de inseguranccedila nas ruas elevada carga tributaacuteria

ineficiecircncia nos gastos puacuteblicos e elevaccedilatildeo da inflaccedilatildeo aleacutem do estilo autoritaacuterio e

inflexiacutevel da presidente O estranho eacute pensar sobre as razotildees que levaram a

populaccedilatildeo agraves ruas no momento atual em que a economia apresentou uma

significativa evoluccedilatildeo em relaccedilatildeo aos anos 80 e 90 aleacutem de presenciar sensiacutevel

melhora na renda meacutedia e na sua distribuiccedilatildeo nos anos 2000

A minha impressatildeo eacute de que depois de sentir a possibilidade de que o paiacutes entraria

em uma rota segura de crescimento da renda e de desenvolvimento econocircmico

(semelhante agrave sensaccedilatildeo que a populaccedilatildeo brasileira presenciou nos anos 70) o

enfraquecimento econocircmico e os sinais cada vez mais claros de que ele eacute resultante

de problemas internos deixaram a populaccedilatildeo transtornada Mais uma vez somos

apenas o paiacutes do futuro (NAKABASHI 2013 Acesso

httpwwwgazetadopovocombropiniaoartigosmanifestacoes-e-governo-no-

brasil-bdcjgu3mm6ql5e18tqoj73c5q)

Observamos acima uma parte de um artigo de opiniatildeo publicado no jornal Gazeta do

Povo em 02072013 por Luciano Nakabashi que trata das manifestaccedilotildees e do governo no

Brasil O autor anuncia primeiro o problema que vai discutir e em seguida lanccedila sua opiniatildeo

sobre o tema o que faz com que esse tipo de texto seja distinto da exposiccedilatildeo que

abordaremos a seguir

A exposiccedilatildeo apresenta informaccedilotildees sobre acontecimentos materiais e objetos de

forma detalhada e especiacutefica e por isso costuma lanccedilar matildeo de recursos como a descriccedilatildeo

informaccedilatildeo enumeraccedilatildeo comparaccedilatildeo e contrastes O tipo expositivo eacute caracteriacutestico de

gecircneros como as aulas expositivas verbetes de dicionaacuterios notiacutecias jornaliacutesticas entre

outros Vejamos o exemplo

Dianoia Termo grego que pode ser traduzido por pensamento intelecto

espiacuterito A dianoia eacute o pensamento discursivo enquanto elaboraccedilatildeo explicitaccedilatildeo

ou desenvolvimento da noese ou nous isto eacute da razatildeo intuitiva que capta de

modo imediato o real (Aristoacuteteles Tratado da alma III) Neste sentido a dianoia eacute

inferior ao nous jaacute que depende deste (MARCONDES e JAPIASSUacute 2001 p54)

23

Tomamos como exemplo de exposiccedilatildeo um verbete de um dicionaacuterio de filosofia

Podemos observar que os autores apresentam a palavra ―dianoia e em seguida conceituam a

dianoia a partir da perspectiva de um filoacutesofo especiacutefico (neste caso Aristoacuteteles)

O tipo textual descriccedilatildeo por sua vez eacute o relato particular de eventos e entidades e se

relaciona comumente com outros tipos em inuacutemeros gecircneros textuais Eacute caracteriacutestico em

cartazes promocionais anuacutencio de classificados entre outros Vamos observar agora um

exemplo de descriccedilatildeo atraveacutes da anaacutelise de uma obra de arte de Salvador Dali de 1955

intitulada ―A uacuteltima ceia

―Sua cena estaacute contida num retacircngulo Uma imensa janela ao fundo representada

por um dodecaedro (figura geomeacutetrica de 12 lados que sua vez satildeo pentaacutegonos ou

seja possuem cinco acircngulos cada um) domina toda a composiccedilatildeo

Jesus Cristo e seus 12 apoacutestolos estatildeo reunidos numa sala moderna envidraccedilada

Ele ocupa o centro da mesa de pedra o centro da tela e o centro do pentaacutegono

frontal do dodecaedro Cristo estaacute de frente para o observador contudo seu corpo

transluacutecido permite ver o mar e um barco o que indica que ele natildeo mais eacute humano

mas divino A sensaccedilatildeo que temos eacute de que seu corpo emerge de dentro do mar

Diante de Cristo sobre a mesa estatildeo um copo com vinho e as duas bandas do patildeo

jaacute repartido o que nos permite concluir que Daliacute pintou o momento da Eucaristia A

presenccedila dos barcos no mar remete aos ―pescadores de homens

A mesa eacute formada por um bloco retangular Doze apoacutestolos debruccedilam-se sobre ela

sendo trecircs agrave esquerda de Cristo e trecircs agrave direita Nas suas extremidades estatildeo quatro

apoacutestolos sendo dois de cada lado De costa para o observador estatildeo mais dois

deles Todos estatildeo com as cabeccedilas baixas Um dos apoacutestolos diverge dos demais ao

usar uma toga amarela O pintor queria com certeza diferenciaacute-lo Portanto tanto

pode ser Pedro o fundador da Igreja ou Judas o traidor

No alto com a cabeccedila invisiacutevel e com parte do tronco visiacutevel e os braccedilos abertos

Deus Pai humanizado abraccedila toda a cena como se aguardasse a chegada do Filho

que se encontra entre os homens Ao fundo um mar tranquilo com rochas

espalhadas e um ceacuteu cheio de nuvens compotildeem o segundo plano da tela (Viacuterus da

arte amp cia ndash Site brasileiro especializado em arte e cultura Disponiacutevel em

httpvirusdaartenetdali-a-ultima-ceia)

Acima podemos observar a descriccedilatildeo de uma obra de arte do pintor catalatildeo Salvador

dali retirado de uma paacutegina sobre arte Como o nome do tipo textual sugere a descriccedilatildeo tem

por objetivo descrever fatos mas tambeacutem caracteriacutesticas para objetos paisagens e situaccedilotildees

diversas No exemplo que utilizamos para descriccedilatildeo observamos a descriccedilatildeo de uma obra de

arte por parte de um espectador demonstrando detalhes do que estaacute impresso na pintura

assim como uma interpretaccedilatildeo da cena

O uacuteltimo tipo textual que consideraremos aqui eacute o tipo injuntivo que tem por objetivo

instruir o leitor ou persuadi-lo a fazer algo ou adotar algum ponto de vista Tambeacutem tem

como caracteriacutestica a induccedilatildeo do interlocutor a proceder de uma ou outra forma Geralmente

24

eacute escrito no modo imperativo e eacute caracteriacutestico de gecircneros como a bula de remeacutedio os

manuais de instruccedilotildees receitas culinaacuterias e contratos Vale ressaltar que dentro dos textos

injuntivos podem-se encontrar outros tipos de texto como por exemplo descriccedilotildees de

objetos endereccedilos procedimentos etc Vejamos o exemplo a seguir

Bolo simples

Tempo de preparo 40 minutos

Rendimento 12 porccedilotildees

Ingredientes

2 xiacutecaras de accediluacutecar

3 xiacutecaras de farinha de trigo

4 colheres de margarina bem cheias

3 ovos

1 frac12 xiacutecara de leite aproximadamente

1 colher (sopa) de fermento bem cheia

Modo de preparo

1) Bata as claras em neve

2) Reserve

3) Bata bem as gemas com a margarina e o accediluacutecar

4) Acrescente o leite e a farinha aos poucos sem parar de bater

5) Por uacuteltimo agregue as claras em neve e o fermento

6) Coloque em forma grande de furo central untada e enfarinhada

7) Asse em forno meacutedio preacute-aquecido por aproximadamente 40 minutos

8) Quando espetar um palito e sair limpo estaraacute assado

(httpwwwtudogostosocombrreceita29124-bolo-simpleshtml Acesso em

20042014)

No exemplo uma receita culinaacuteria podemos observar que haacute descriccedilatildeo na primeira

parte (a lista de ingredientes) e na segunda parte (modo de preparo) que eacute a mais

nitidamente injuntiva encontramos instruccedilotildees de como proceder na execuccedilatildeo da receita

Aleacutem da classificaccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo dos tipos de texto eacute interessante observarmos

tambeacutem a definiccedilatildeo de gecircneros textuais e domiacutenio discursivo conforme Marcuschi (2008)

Os gecircneros textuais satildeo definidos como ―textos materializados em situaccedilotildees

comunicativas recorrentes (MARCUSCHI 2008 p155) que apresentam caracteriacutesticas

soacutecio-comunicativas marcadas pelos conteuacutedos e pelas propriedades referentes agraves funccedilotildees e

composiccedilatildeo Diferente dos tipos textuais que se restringem a cerca de meia duacutezia como

afirma Marcuschi (2008) ―os gecircneros satildeo inuacutemeros Tambeacutem haacute de ressaltar que satildeo

culturalmente e historicamente formados visto que evoluem no mesmo passo que as

comunidades

O domiacutenio discursivo por sua vez eacute a esfera de atividade humana em que os textos

circulam Ele natildeo eacute um texto em si mas proporciona o surgimento de discursos especiacuteficos

Para ilustrar podemos citar alguns domiacutenios como discurso religioso discurso juriacutedico etc

25

O domiacutenio eacute constituiacutedo por praacuteticas do discurso nas quais podemos identificar uma seacuterie de

gecircneros que possuem a mesma proposta discursiva como o tema e as praacuteticas institucionais

ou informais

As definiccedilotildees aqui trazidas de gecircnero tipo domiacutenio discursivo satildeo muito mais

operacionais do que formais e seguem de perto a posiccedilatildeo bakhtiniana Assim para a

noccedilatildeo de tipo textual predomina a identificaccedilatildeo de sequecircncias linguiacutesticas como

norteadora e para a noccedilatildeo de gecircnero textual predominamos criteacuterios de padrotildees

comunicativos accedilotildees propoacutesitos e inserccedilatildeo sociohistoacuterica No caso dos domiacutenios

discursivos natildeo lidamos propriamente com textos e sim com formaccedilotildees histoacutericas e

sociais que originam os discursos Eles ainda natildeo se acham bem definidos e

oferecem alguma resistecircncia mas seguramente sua definiccedilatildeo deveria ser na base de

criteacuterios etnograacuteficos antropoloacutegicos e socioloacutegicos e histoacutericos (MARCUSCHI

2008 p 158 Grifos do autor)

Nessa perspectiva faz-se necessaacuterio apresentarmos o papel dos gecircneros textuais como

controle social Como jaacute vimos anteriormente segundo Bakhtin (2000) toda atividade

discursiva humana se daacute atraveacutes de algum gecircnero e eacute tambeacutem por esse motivo que haacute uma

consideraacutevel pluralidade de gecircneros Marcuschi (2008) afirma que os gecircneros satildeo

―necessaacuterios para a interlocuccedilatildeo humana Assim para cada esfera de atividade humana

certos gecircneros especiacuteficos satildeo considerados mais ou menos adequados Na esfera

empresarial por exemplo temos que nos adequar agraves formalidades dos gecircneros de redaccedilatildeo

oficial como os ofiacutecios atas circulares e relatoacuterios Na academia apresentamos nossas

produccedilotildees atraveacutes de dissertaccedilotildees artigos cientiacuteficos teses e relatoacuterios de projetos No meio

publicitaacuterio encontramos as propagandas anuacutencios de diversos tipos Enfim satildeo inuacutemeras as

esferas de discurso domiacutenios discursivos e gecircneros textuais atrelados a estes

Marcuschi (2008) enfatiza que o controle social por gecircneros discursivos eacute

incontornaacutevel mas natildeo determinista De acordo com o autor noacutes temos liberdade para nos

expressarmos em qualquer esfera discursiva Poreacutem temos que admitir que a sociedade eacute

constituiacuteda por uma ―maacutequina discursiva logo somos moldados a ela de forma intuitiva e

os gecircneros textuais constituem um poderoso instrumento desta maacutequina Quanto maior a

nossa inserccedilatildeo na sociedade maior o controle social Por exemplo natildeo satildeo todas as pessoas

que podem expedir um mandato de seguranccedila escrever uma dissertaccedilatildeo de mestrado

ministrar uma aula de fiacutesica quacircntica ou publicar uma coluna em um jornal Eacute nessa

perspectiva que Marcuschi (2008) afirma veemente o direcionamento dos gecircneros textuais

para com o envolvimento social e suas especificidades

26

A partir das consideraccedilotildees apresentadas a respeito dos gecircneros textuais dedicamos a

seccedilatildeo a seguir para a caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual

conforme relatamos na introduccedilatildeo deste capiacutetulo

12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL

O certificado de garantia ou termo de garantia eacute um documento oferecido por

prestadoras de serviccedilos fabricantes de produtos diversos ou de qualquer outro segmento que

envolva comercializaccedilatildeo de bens duraacuteveis com a funccedilatildeo de formalizar os direitos e deveres

do consumidor e do fabricante para com o estado fiacutesico e funcional do produto em vista de

problemas de qualquer natureza

Eacute tambeacutem uma espeacutecie de contrato visto que consiste fundamentalmente na

combinaccedilatildeo de interesses de partes sobre algo Aleacutem de ―certificado de garantia

utilizaremos tambeacutem a nomenclatura ―termo de garantia tendo em vista que o documento

do certificado de garantia e o termo em si estatildeo internamente ligados A expressatildeo ―termo de

garantia eacute usada no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20

de marccedilo de 1997

Art 50 A garantia contratual eacute complementar agrave legal e seraacute conferida mediante

termo escrito

Paraacutegrafo uacutenico O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e

esclarecer de maneira adequada em que consiste a mesma garantia bem como a

forma o prazo e o lugar em que pode ser exercitada e os ocircnus a cargo do

consumidor devendo ser-lhe entregue devidamente preenchido pelo fornecedor no

ato do fornecimento acompanhado de manual de instruccedilatildeo de instalaccedilatildeo e uso de

produto em linguagem didaacutetica com ilustraccedilotildees (Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do

Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20 de marccedilo de 1997 p 30)

Em linhas gerais o documento eacute composto por quatro partes garantia contratual

garantia legal condiccedilotildees para validade da garantia contratual e legal condiccedilotildees natildeo cobertas

pela garantia legal e contratual Vejamos um exemplo de certificado de garantia

27

ILUSTRACcedilAtildeO 1 Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario

_de_ar_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Observamos na primeira parte a disposiccedilatildeo da garantia contratual ou seja a garantia

oferecida pelo fabricante

28

ILUSTRACcedilAtildeO 2 Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar

_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Na segunda parte encontramos a disposiccedilatildeo da garantia legal ou seja a garantia

assegurada pelo Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do consumidor

ILUSTRACcedilAtildeO 3 Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c

ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Em seguida vemos as condiccedilotildees de validade da garantia legal e contratual composta

por uma lista exaustiva de itens a serem considerados

29

ILUSTRACcedilAtildeO 4 Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c

ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

E por fim encontramos as condiccedilotildees natildeo cobertas pela garantia legal e contratual

assim como observaccedilotildees gerais

ILUSTRACcedilAtildeO 5 Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar

_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Em relaccedilatildeo agrave estrutura padratildeo dos certificados de garantia a partir do corpus

analisado nesta pesquisa observou-se que o texto que se refere agrave garantia em si corresponde a

menos da metade do documento Grande parte do documento se dedica agrave restriccedilatildeo de

possibilidades de cobertura assim como observaccedilotildees gerais quanto agraves responsabilidades do

fabricante diante de situaccedilotildees como despesas referentes agrave locomoccedilatildeo para depoacutesito do

produto para assistecircncia documentaccedilatildeo necessaacuteria para apresentaccedilatildeo na assistecircncia etc

30

O termo de garantia eacute vinculado diretamente ao Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do

consumidor O coacutedigo estabelece um padratildeo abrangente de formulaccedilatildeo do documento

constando recomendaccedilotildees como o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo necessidade do

acompanhamento do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto assim como clareza na

disposiccedilatildeo dos prazos de garantia legal e contratual

Como discutimos na primeira parte desse capiacutetulo Bakhtin (2000) propotildee que trecircs

dimensotildees constituem os gecircneros de discurso conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo

composicional Iremos a seguir apresentar como estas dimensotildees satildeo percebidas nesse

gecircnero textual

Como conteuacutedo temaacutetico do gecircnero certificado de garantia temos a veiculaccedilatildeo de

direitos e deveres do fabricante e do consumidor O documento apresenta listas exaustivas de

accedilotildees que possibilitam ou natildeo o uso do termo de garantia assim como instruccedilotildees gerais para

a realizaccedilatildeo desse ato Esse conteuacutedo pode variar em parte e apenas questotildees referentes agrave

garantia legal natildeo podem mudar pois estaacute prevista no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do

Consumidor

Em relaccedilatildeo ao estilo observamos nos certificados a utilizaccedilatildeo da norma padratildeo

Busca-se construir um texto claro e objetivo para que dessa forma natildeo haja problemas de

interpretaccedilatildeo para o consumidor Nesse gecircnero natildeo haacute identificaccedilatildeo de quem escreve de

maneira particular como observamos em gecircneros do tipo carta A identificaccedilatildeo do autor eacute

geralmente atribuiacuteda agrave empresa que oferece a garantia O estilo individual que eacute

caracteriacutestico em diversos gecircneros como o artigo de opiniatildeo e cartas pessoais natildeo cabe para

os certificados Como se trata de um texto instrucional esse gecircnero apresenta-se de forma

objetiva de modo que natildeo haacute a necessidade praacutetica da identificaccedilatildeo de quem escreve

Quanto agrave estrutura composicional em linhas gerais tal gecircnero segue uma sequecircncia

de apresentaccedilatildeo em duas etapas Em um primeiro momento apresenta-se o termo de garantia

em si no qual eacute descrito o direito do consumidor em relaccedilatildeo agrave garantia assim como sua

validade No segundo momento parte mais extensa do texto haacute a apresentaccedilatildeo de listas

supostamente exaustivas referentes aos casos que natildeo satildeo cobertos pela garantia assim como

as instruccedilotildees gerais para o reclame do direito Essa sequecircncia de apresentaccedilatildeo do documento

eacute variaacutevel Haacute certificados que satildeo inclusos no manual de instruccedilatildeo do produto (geralmente

na uacuteltima paacutegina) Haacute certificados que satildeo destacados o documento eacute apresentado agrave parte de

qualquer outro texto

Se retomarmos a classificaccedilatildeo dos gecircneros do discurso de Bakhtin (2000) entre

primaacuterios (simples) e secundaacuterios (complexos) podemos considerar que o certificado de

31

garantia estaacute inserido nos gecircneros complexos pois se trata de um documento elaborado de

forma sistemaacutetica no qual haacute necessidade de um aprofundamento social complexo com

caracterizaccedilotildees e descriccedilotildees bem delimitadas

Quanto ao tipo de texto dentro do que foi proposto por Marcuschi (2008) o

certificado de garantia se enquadra no tipo injuntivo porque eacute um texto instrucional com

predominacircncia do modo imperativo nas frases e eacute composto pela listagem de uma seacuterie de

procedimentos a serem observados e seguidos com listas exaustivas contendo direitos e

deveres do fabricante e do consumidor O objetivo do documento eacute oferecer ao cliente todas

as informaccedilotildees relacionadas agrave validade da garantia os casos em que haacute perda da validade e os

casos em que os problemas apresentados se enquadram como defeitos de fabricaccedilatildeo

O certificado de garantia se caracteriza como um gecircnero textual a partir da

perspectiva de Marcuschi (2008) pois eacute um texto que possui caracteriacutesticas soacutecio-discursivas

bem delimitadas com conteuacutedo padratildeo obedecendo a uma mesma linha temaacutetica e foi

constituiacutedo socialmente O gecircnero foi criado a partir da necessidade juriacutedica de resguardar os

fabricantes e consumidores de produtos industrializados e afins quanto agrave possibilidade de

apresentaccedilatildeo de defeitos ou falhas

De posse dos conhecimentos gerais sobre os gecircneros textuais que apresentamos e da

caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual partiremos no proacuteximo

capiacutetulo para a apresentaccedilatildeo das teorias que serviratildeo de aporte teoacuterico para a compreensatildeo

das anaacutelises realizadas no capiacutetulo 3

32

2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS

Neste capiacutetulo tratamos dos nexos semacircnticos ou ―nexos de significado dos quais

consideramos para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica

contraditoriedade e contrariedade Caracterizamos cada um deles utilizando exemplos em

linguagem natural com o intuito de demonstrar o funcionamento dessas relaccedilotildees assim como

mostrar quando tais exemplos deixam de apresentar o nexo Nosso intuito final eacute de oferecer

uma base para a compreensatildeo das anaacutelises que viratildeo no capiacutetulo posterior

Para entendermos melhor o que satildeo os nexos semacircnticos devemos compreender a

distinccedilatildeo entre a semacircntica e a pragmaacutetica que satildeo linhas de estudos linguiacutesticos inter-

relacionaacuteveis Uma definiccedilatildeo bastante difundida da semacircntica e tambeacutem bastante geral eacute

encontrada em Trask (2004 p 261) que diz que a semacircntica eacute o ramo da linguiacutestica que

estuda o significado e em Chierchia (2003 p 7) para quem a semacircntica eacute um estudo do

significado das expressotildees das liacutenguas naturais Podemos tambeacutem caracterizar a semacircntica

destacando a relaccedilatildeo do usuaacuterio da liacutengua e o significado que ele atribuiu agraves palavras que

compotildeem sentenccedilas como propotildee Pires de Oliveira (2001 p 42) Jaacute a pragmaacutetica por outro

lado tambeacutem estuda o significado das liacutenguas naturais mas trata das intenccedilotildees que os

falantes supostamente revelam a partir do uso de sentenccedilas

Para o termo ―pragmaacutetica haacute diversas possibilidades de definiccedilatildeo Levinson (2007)

procura mostrar as implicaccedilotildees que algumas definiccedilotildees podem ter em relaccedilatildeo a outros

estudos Assim podemos citar pelo menos dois conceitos de pragmaacutetica para Levinson

―pragmaacutetica eacute o estudo de todos os aspectos do significado natildeo capturados em uma teoria

semacircntica (Levinson 2007 p14) assim como ―pragmaacutetica eacute o estudo das relaccedilotildees entre

liacutengua e contexto que satildeo gramaticalizadas ou codificadas na estrutura de um liacutengua

(Levinson 2007 p 11) Podemos perceber que nessas duas definiccedilotildees Levinson tanto atribui

agrave pragmaacutetica a responsabilidade sobre aquilo que estaacute aleacutem da semacircntica quanto destaca a

relaccedilatildeo de liacutengua e contexto Jaacute em Wilson (2008) encontramos as definiccedilotildees que Yule

(1996) apresenta para a pragmaacutetica

a) pragmaacutetica eacute o estudo do significado sob o ponto de vista do falante b)

pragmaacutetica eacute o estudo do significado contextual (isto eacute leva em conta o modo como

os falantes organizam seus enunciados aquilo que eles querem dizer de acordo com

os seguintes fatores a quem vatildeo dizer como vatildeo dizer onde e quando vatildeo dizer e

sob que circunstacircncias) c) pragmaacutetica eacute o estudo do como se diz aleacutem daquilo que eacute

33

dito (isto eacute o estudo do significado subjacente do natildeo dito d) pragmaacutetica eacute o

estudo da expressatildeo da proximidadedistanciamento relativo (isto eacute de acordo com

o tipo de proximidade fiacutesica social ou conceitual em relaccedilatildeo aos ouvintes os

falantes determinam como e quanto precisam dizer) (WILSON 2008 p 89)

A discussatildeo sobre as definiccedilotildees de pragmaacutetica e semacircntica e suas distinccedilotildees vem

desde o iniacutecio do seacuteculo XX e muitos autores contribuiacuteram para a evoluccedilatildeo desses conceitos

Em vista desta histoacuterica discussatildeo apresentaremos os conceitos de Charles Morris e Rudolf

Carnap para estas disciplinas linguiacutesticas

Segundo a definiccedilatildeo de Charles Morris (1938) pragmaacutetica eacute o estudo da ―relaccedilatildeo dos

signos com seus inteacuterpretes Jaacute para Rudolf Carnap (1938) a pragmaacutetica eacute o estudo da

linguagem em relaccedilatildeo aos seus falantes Diante dos conceitos de semacircntica e pragmaacutetica que

apresentamos e da distinccedilatildeo entre as linhas de estudos linguiacutesticos Marcondes (2000) afirma

que ―tanto a definiccedilatildeo de Morris quanto a de Carnap fazem parte da jaacute consagrada distinccedilatildeo

geral do campo de estudos da linguagem entre pragmaacutetica que considera a linguagem em

seu uso concreto e semacircntica que examina os signos linguiacutesticos em sua relaccedilatildeo com os

objetos que designam ou a quem se refere Os nexos semacircnticos estatildeo inseridos no campo da

semacircntica e voltaremos a este ponto no final do capiacutetulo

Sobre as relaccedilotildees semacircnticas haacute diversas perspectivas nos estudos linguiacutesticos A

forma como combinamos as palavras e nossa tendecircncia em buscar um conceito fixo de um

termo satildeo complicaccedilotildees que podem dificultar o uso da liacutengua O significado linguiacutestico das

liacutenguas naturais segundo Basso (2009) possibilita nexos semacircnticos entre sentenccedilas E

ainda sobre o significado Basso propotildee

Quando perguntamos o significado de alguma palavra muitas vezes buscamos

aquele modelo significativo presente nos dicionaacuterios Poreacutem natildeo haacute no dicionaacuterio

maneiras preacute-estabelecidas de como uma palavra pode se combinar com outra em

busca da trama de significados dos nexos que favorecem infinitas interpretaccedilotildees

Essas combinaccedilotildees satildeo decorrentes do proacuteprio uso da liacutengua pelos seus falantes

mas natildeo estatildeo nem presentes nos dicionaacuterios nem tampouco algueacutem nos ensina satildeo

conhecimentos impliacutecitos Uma aacuterea da linguiacutestica moderna defende que o nosso

conhecimento semacircntico e um dote geneacutetico portanto os possiacuteveis nexos

semacircnticos satildeo decorrentes de uma capacidade inata de combinaccedilatildeo de palavras e

sentenccedilas parte do conhecimento semacircntico impliacutecito ou competecircncia semacircntica

(BASSO 2009 p 25)

Os nexos semacircnticos satildeo caracterizados na literatura da semacircntica como grupos de

relaccedilotildees de inferecircncia muito estaacuteveis direcionaacuteveis e fortemente dependentes do material

34

linguiacutestico dos enunciados (SANTOS 2012) Essas relaccedilotildees diferem de perspectivas de

inferecircncias como a pressuposiccedilatildeo e a implicatura que dialogam diretamente com o natildeo-dito

Para contrastar os nexos com esses outros tipos de relaccedilatildeo vamos observar os exemplos a

seguir

(1) Carlos parou de beber refrigerante

(2) A tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio

Seguindo a mesma linha de exposiccedilatildeo de Moura (1999 p 12) a partir das duas

sentenccedilas acima observamos dois niacuteveis nas informaccedilotildees veiculadas No primeiro niacutevel

temos contato com o sentido literal das palavras Dessa forma em (1) temos a informaccedilatildeo de

Carlos natildeo toma mais refrigerantes e em (2) que Maacuterio escreveu uma tese sobre bolhas de

sabatildeo No segundo niacutevel atraveacutes da enunciaccedilatildeo das sentenccedilas somos levados a considerar

informaccedilotildees que natildeo estatildeo afirmadas literalmente nas sentenccedilas Dessa forma a partir de (1)

podemos inferir que Carlos bebia refrigerantes antes e em (2) que uma tese sobre bolhas de

sabatildeo jaacute foi escrita Ducrot (1987) denomina de conteuacutedo posto o primeiro niacutevel que

consiste no conteuacutedo literal das sentenccedilas e de conteuacutedo pressuposto ou pressuposiccedilatildeo o

segundo niacutevel que abarca as inferecircncias que podemos fazer a partir da enunciaccedilatildeo das

sentenccedilas Devemos entender que o conteuacutedo posto depende do conteuacutedo pressuposto pois a

aceitaccedilatildeo do primeiro leva a aceitaccedilatildeo do segundo Para que possamos aceitar a verdade do

posto (1) que diz que Carlos parou de beber refrigerante temos que aceitar a verdade

pressuposta de que Carlos jaacute tinha bebido refrigerante antes

Outra relaccedilatildeo semacircntica que dialoga diretamente com o natildeo-dito eacute a implicatura

Grice (1987) propotildee dois tipos de implicaturas as implicaturas convencionais que natildeo satildeo

sujeitas a condiccedilotildees de verdade e as implicaturas conversacionais que natildeo dependem

diretamente da significaccedilatildeo usual das palavras sendo determinadas por certos princiacutepios

baacutesicos do ato comunicativo

As implicaturas convencionais satildeo inferecircncias natildeo sujeitas a condiccedilotildees de verdade

natildeo satildeo derivadas de princiacutepios pragmaacuteticos mais gerais como as maacuteximas conversacionais

mas satildeo simplesmente ligadas pela convenccedilatildeo a itens ou expressotildees lexicais especiacuteficos

Levinson (2007) toma a implicatura conversacional como uma das ideias mais

importantes da pragmaacutetica e vamos considerar neste trabalho apenas as implicaturas do tipo

conversacional de forma que quando mencionarmos o termo implicatura devemos entender

que estamos falando das implicaturas conversacionais e natildeo das convencionais

35

Para exemplificar uma implicatura vamos supor uma situaccedilatildeo entre dois amigos em

que ao dialogar sobre as uacuteltimas defesas de teses e dissertaccedilotildees do departamento de poacutes-

graduaccedilatildeo deparam-se com a notiacutecia de que um de seus colegas escreveu uma tese sobre um

tema muito irrelevante e nada original Diante desta situaccedilatildeo um amigo disse para o outro ―A

tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio A partir da situaccedilatildeo em que os dois amigos

estavam imersos nesse contexto e da sentenccedila utilizada por um dos amigos podemos inferir

que foi Maacuterio quem escreveu uma tese sobre um tema irrelevante Podemos perceber neste

exemplo que como descrito nas definiccedilotildees que trouxemos anteriormente a implicatura por

ser uma relaccedilatildeo puramente pragmaacutetica utiliza-se do natildeo-dito e de situaccedilotildees convencionadas

entre falantes para poder existir

Dessa forma podemos retomar o que foi exposto nos paraacutegrafos anteriores afirmando

que os nexos semacircnticos as pressuposiccedilotildees e as implicaturas satildeo inferecircncias de significado

sendo que os nexos estatildeo no campo da semacircntica e as pressuposiccedilotildees e implicaturas estatildeo no

campo da pragmaacutetica

A partir deste ponto iremos descrever os nexos semacircnticos com exemplos mostrando

como essas relaccedilotildees funcionam e tambeacutem casos em que a interpretaccedilatildeo natildeo acontece da

maneira esperada Em relaccedilatildeo aos casos em que a interpretaccedilatildeo eacute prejudicada trataremos de

casos relacionados com a ambiguidade lexical mais especificamente com vagueza e casos

relacionados com a polissemia (desconsiderando seus limites com a homoniacutemia)

21 ACARRETAMENTO

Em linhas gerais o acarretamento ocorre quando a verdade de um conjunto de

sentenccedilas1 que nomearemos de A garante a verdade de outra sentenccedila que nomearemos de

B Dessa forma a verdade da primeira sentenccedila ou do conjunto delas autoriza a verdade de B

(CHIERCHIA 2003) O acarretamento eacute uma inferecircncia que os falantes estatildeo autorizados a

fazer e o que os autoriza eacute o conhecimento linguiacutestico Vamos observar o exemplo a seguir

1 Em nosso trabalho utilizaremos os termo ldquosentenccedilardquo e ldquoproposiccedilatildeordquo intercambiavelmente Alguns autores

definem os dois termos de formas distintas Por exemplo na semacircntica contemporacircnea de mundos possiacuteveis desenvolvida por autores como por exemplo Kripke e Lewis define-se proposiccedilatildeo como a classe de todos os mundos possiacuteveis nas quais ela eacute verdadeira Murcho (2006) apresenta dois exemplos para distinguir proposiccedilotildees e sentenccedilas ldquoSoacutecrates era um filoacutesofordquo e ldquoSocrates was a philosopherrdquo Murcho afirma que os dois exemplos satildeo duas sentenccedilas que exprimem uma uacutenica proposiccedilatildeo Outros como Mortari (2001) natildeo distinguem proposiccedilotildees e sentenccedilas

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(3) alsquo Neymar eacute brasileiro

a Neymar eacute um jogador de futebol

b Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro

Podemos observar no exemplo acima que a sentenccedila (3b) tem a sua verdade garantida

pela verdade de (3alsquo) e (3a) Sendo assim (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Podemos observar

no exemplo que o acarretamento eacute bastante claro pois as informaccedilotildees que estatildeo presentes em

(3b) satildeo a soma das informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) Eacute interessante destacar

que para que a sentenccedila (3b) constitua um acarretamento de (3alsquo) e (3a) natildeo precisamos

conhecer a pessoa Neymar nem sua nacionalidade eou profissatildeo Como as informaccedilotildees

estatildeo postas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) a verdade de (3b) eacute inevitaacutevel Mesmo que no mundo

real Neymar natildeo fosse jogador de futebol e natildeo fosse brasileiro isso em nada modificaria o

acarretamento pois dentro da relaccedilatildeo estabelecida entre (3alsquo) (3a) e (3b) as informaccedilotildees

contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Vejamos o exemplo a seguir

(4) alsquo Todos os sacis tecircm apenas uma perna

a Denis Diderot eacute um saci

b Denis Diderot tem apenas uma perna

Observando o exemplo acima identificamos que em relaccedilatildeo ao conhecimento de

mundo a sentenccedila (4alsquo) eacute verdadeira jaacute que no folclore admitimos como uma caracteriacutestica

dos sacis ter apenas uma perna A sentenccedila (4a) eacute falsa pois Denis Diderot foi um filoacutesofo e

escritor francecircs e natildeo um saci Por fim a sentenccedila (4b) tambeacutem eacute falsa em relaccedilatildeo ao nosso

conhecimento de mundo pois Denis Diderot possuiu durante toda a sua vida as duas pernas

Podemos entatildeo admitir que as sentenccedilas do conjunto (4) em relaccedilatildeo ao nosso conhecimento

de mundo satildeo falsas Mesmo assim o conjunto eacute um acarretamento Diferente do exemplo

(3) em que trouxemos sentenccedilas que constituiacuteam um acarretamento com informaccedilotildees

verdadeiras em relaccedilatildeo ao mundo o exemplo (4) mostra que a relaccedilatildeo semacircntica que estamos

discutindo independe da verdade das informaccedilotildees das sentenccedilas no mundo O que o

acarretamento faz eacute concatenar as sentenccedilas de uma forma que se as premissas forem

verdadeiras a conclusatildeo tambeacutem seraacute verdadeira O acarretamento depende exclusivamente

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da forma em que as sentenccedilas se apresentam Tendo em vista que a relaccedilatildeo depende apenas

da forma podemos representar o acarretamento da seguinte maneira como propotildee Soares

(2003)

Em liacutengua natural

Se estudar entatildeo serei aprovado (1ordf premissa)

Ora estudei (2ordf premissa)

Logo fui aprovado (Conclusatildeo)

E simbolizando2

a rarr b (1ordf premissa)

a (2ordf premissa)

b (Conclusatildeo)

Vale ressaltar que ao utilizarmos o termo ―sentenccedila estamos nos referindo ao que os

gramaacuteticos costumam chamar de oraccedilatildeo Tambeacutem eacute interessante mencionar que o

acarretamento eacute chamado de consequecircncia semacircntica Iremos utilizar como representaccedilatildeo das

premissas sentenccedilas do tipo (Xalsquo) e (Xa) e para a conclusatildeo sentenccedilas do tipo (Xb)

Podemos entender que o acarretamento eacute um tipo de relaccedilatildeo estabelecida entre

premissas e a consequecircncia de forma que a verdade das premissas determina a verdade da

consequecircncia Tambeacutem devemos entender que natildeo eacute possiacutevel que as premissas sejam

verdadeiras junto da negaccedilatildeo da conclusatildeo pelo fato de que dessa forma estaria

descaracterizada a relaccedilatildeo de acarretamento

Como ressaltamos acima os acarretamentos satildeo dependentes da forma ou seja da

relaccedilatildeo que as sentenccedilas possuem entre si e natildeo da verdade ou falsidade no mundo das

informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas Diante disso traremos agrave tona exemplos de sentenccedilas que

2 O siacutembolo ldquorarrrdquo na loacutegica claacutessica representa um condicional assunto de que trataremos no terceiro capiacutetulo

deste trabalho e o siacutembolo ldquordquo representa um acarretamento

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natildeo possuem relaccedilatildeo semacircntica mas atraveacutes da verdade ou falsidade das informaccedilotildees nas

sentenccedilas podem nos confundir e nos induzir ao erro Para tal raciociacutenio errocircneo damos o

nome de falaacutecias

Soares (2003) distingue trecircs caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias (i) satildeo

argumentos parecidos com argumentos vaacutelidos (ii) estabelecem entre premissas e conclusotildees

uma relevacircncia puramente psicoloacutegica que tatildeo-soacute se dirige agraves emoccedilotildees da pessoa sem que as

premissas sejam logicamente relevantes para extrair a conclusatildeo (iii) apresentam-se com

intenccedilatildeo enganadora para que o argumento ainda que invaacutelido seja de todas as maneiras

aceito por todos Vejamos a seguir exemplos de falaacutecias

(5) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher

a Dilma Rousseff eacute mulher

b Dilma Rousseff eacute a presidente do Brasil

A partir do nosso conhecimento de mundo poderiacuteamos dizer que a sentenccedila (5b) eacute

verdadeira Na sentenccedila (5alsquo) temos que A presidente do Brasil eacute mulher De fato tambeacutem se

formos utilizar nosso conhecimento de mundo intuitivamente diremos que esta sentenccedila estaacute

correta considerando a eacutepoca em que este trabalho foi escrito Seguindo temos a sentenccedila

(5a) com a informaccedilatildeo Dilma Rousseff eacute mulher Assim como as sentenccedilas (5alsquo) e (5a) a

partir de nosso conhecimento de mundo podemos afirmar que esta sentenccedila tambeacutem eacute

verdadeira mas devemos entender que eacute preciso considerar a relaccedilatildeo que as sentenccedilas

estabelecem entre si A sentenccedila (5alsquo) natildeo estabelece nenhuma relaccedilatildeo com a sentenccedila (5a)

para que (5b) seja um acarretamento Para mostrar de forma mais clara que o exemplo (5) natildeo

eacute um acarretamento vamos comparaacute-lo com o exemplo a seguir

(6) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher

a Michelle Bachelet eacute mulher

b Michelle Bachelet eacute a presidente do Brasil

Observamos que (6alsquo) e (6a) satildeo verdadeiras (no momento da redaccedilatildeo deste

trabalho) mas (6b) nos parece estranho Sabemos que Michelle Bachelet atualmente eacute

presidente do Chile Mas nada disso interfere para caracterizar um acarretamento e o exemplo

acima foi para deixar claro que a partir das relaccedilotildees semacircnticas dispostas entre os grupos de

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sentenccedilas (5) e (6) natildeo podemos considerar que haacute acarretamento pelo fato acima

mencionado

Ateacute o momento tratamos do conceito de acarretamento seguido de exemplos em

liacutengua natural sua representaccedilatildeo na loacutegica claacutessica e exemplos de falaacutecias A partir deste

ponto trataremos dos fatores que interferem nas relaccedilotildees semacircnticas de uma forma diferente

das falaacutecias A compreensatildeo dos tipos de interferecircncias a seguir seraacute importante para a anaacutelise

do corpus deste trabalho pois se trata de interferecircncias lexicais

No exemplo a seguir trataremos de um problema que pode invalidar relaccedilotildees

semacircnticas a polissemia Quando um termo adquire mais de um sentido aleacutem daquele que eacute

originalmente atribuiacutevel temos um caso de polissemia Crystal (1985) conceitua polissemia

da seguinte maneira

Polissemia termo usado na anaacutelise semacircntica para caracterizar um item lexical com

uma variedade de significaccedilotildees diferentes como manga = ―parte da camisa ―parte

do abajur etc Uma grande parte do vocabulaacuterio da liacutengua eacute polissecircmica ()

(Crystal 1985 p 202)

Tendo em vista que a polissemia eacute uma caracteriacutestica de um item lexical que possui

diversos significados para diversos contextos vamos observar o exemplo a seguir

(7) a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito

b Joatildeo morreu

A sentenccedila (7a) pode ser interpretada pelo menos de duas formas distintas pelo fato da

expressatildeo ―perdeu a cabeccedila ser polissecircmica Se interpretarmos a sentenccedila (7a) considerando

―perder a cabeccedila como ter a cabeccedila desprendida do corpo haacute acarretamento de (7a) para

(7b) Mas esta natildeo eacute a uacutenica interpretaccedilatildeo possiacutevel para a expressatildeo em questatildeo Se

interpretarmos ―perder a cabeccedila como perder a paciecircncia ficar furioso estressado ou algo

parecido a sentenccedila (7a) natildeo acarreta (7b) numa mesma situaccedilatildeo pois o fato de Joatildeo ter

perdido a paciecircncia natildeo garante que ele venha a morrer Dessa forma para natildeo ter problemas

com a polissemia eacute preciso assegurar que se convencione um sentido uacutenico para cada

premissa para desta forma haver um acarretamento

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Outro aspecto que eacute preciso ser mencionado eacute que (7) do jeito que se apresenta natildeo eacute

um acarretamento mesmo que perder a cabeccedila tenha o sentido de ter a cabeccedila desprendida do

corpo Isso se daacute porque (7) eacute um acarretamento incompleto ou seja um entimema

Argumento com uma premissa natildeo-formulada sem a qual ele natildeo eacute vaacutelido Chama-

se muitas vezes de premissa impliacutecitalsquo agrave premissa natildeo formulada Na argumentaccedilatildeo

cotidiana omitem-se premissas oacutebvias A premissa impliacutecita do argumento Antocircnio

deveria ser despedido porque roubou dinheiro puacuteblicolsquo eacute Todas as pessoas que

roubam dinheiro puacuteblico devem ser despedidaslsquo (BRANQUINHO MURCHO

GOMES 2006 p 298)

Vamos observar o exemplo (7) de uma forma que o entimema seria evitado

(8) alsquo Todas as pessoas que perdem a cabeccedila morrem

a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito

b Joatildeo morreu

Podemos constatar no exemplo acima que ao incluirmos a sentenccedila (8alsquo) que eacute a

sentenccedila geral que estava impliacutecita no exemplo (7) resolvemos o problema do entimema

completando assim a relaccedilatildeo de acarretamento de (8alsquo) e (8a) para (8b)

A partir de agora vamos tratar de outro tipo de interferecircncia em relaccedilotildees sentencias

que estaacute tambeacutem no campo do leacutexico a vagueza

A vagueza eacute assim como a polissemia um tipo de ocorrecircncia que dificulta a

interpretaccedilatildeo dos nexos entre sentenccedilas Podemos considerar que haacute vagueza em uma

sentenccedila quando observamos que uma palavra ou expressatildeo causa sentido incompleto

impedindo o entendimento da sentenccedila como um todo Branquinho Murcho e Gomes

conceituam a vagueza de seguinte maneira

As liacutenguas naturais contecircm palavras (tipicamente predicados denotando

propriedades ou relaccedilotildees) cujo domiacutenio de aplicaccedilatildeo eacute parcialmente indeterminado

isto eacute em relaccedilatildeo agraves quais os falantes competentes natildeo estatildeo certos em todos os

casos de que determinado objeto (ou par ordenado de objetos) pertence ao conjunto

denotado por elas (ou agrave relaccedilatildeo) (BRANQUINHO MURCHO GOMES 2006 p

805)

De uma forma geral Allan (2010) caracteriza a vagueza como um tipo particular de

incerteza sobre a aplicaccedilatildeo de um predicado Podemos considerar como um exemplo padratildeo

de predicado vago a classe de adjetivos graduaacuteveis como altura Se uma determinada pessoa

41

natildeo eacute suficientemente alta para ser claramente alta e natildeo eacute suficiente baixa para ser

claramente baixa entatildeo aiacute temos um caso de vagueza

Os adjetivos vagos satildeo sempre utilizados em relaccedilatildeo a uma classe de comparaccedilatildeo no

dia-a-dia Estar acima do peso por exemplo pode variar a partir do grau de comparaccedilatildeo Para

uma top model estar acima do peso eacute visto de forma diferente do que para um lutador de

sumocirc por exemplo

Ainda em relaccedilatildeo ao conceito de vagueza Kempson (1977) propotildee que existem

quatro tipos inter-relacionaacuteveis de vagueza vagueza referencial indeterminaccedilatildeo de

significado falta de especificaccedilatildeo no significado de um item disjunccedilatildeo na especificaccedilatildeo do

significado de um item em que o significado abarca uma ou qualquer declaraccedilatildeo de diversas

possibilidades de interpretaccedilatildeo Dentre estes quatro tipos propostos por Kempson iremos nos

dedicar a observar os casos relacionados agrave vagueza referencial Tendo em vista os conceitos

acima vamos observar um exemplo em que a vagueza pode prejudicar a interpretaccedilatildeo de um

acarretamento

(9) a Tobias eacute um gecircnio no xadrez

b Tobias eacute um bom jogador de xadrez

No exemplo acima podemos observar os termos vagos ―gecircnio na sentenccedila (9a) e

―bom na sentenccedila (9b) Para haver a relaccedilatildeo de acarretamento temos que admitir para (9a) e

(9b) o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe Por exemplo haacute acarretamento entre as

sentenccedilas (9a) e (9b) se Tobias for um garoto de oito anos e diante seus colegas da escola ele

se destacar como um exiacutemio conhecedor das regras e teacutecnicas do jogo de xadrez Dessa

forma a sentenccedila ―Tobias eacute um gecircnio no xadrez acarretaria que ―Tobias eacute um bom jogador

de xadrez Jaacute se natildeo utilizarmos o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas

(9a) e (9b) como por exemplo se em (9a) Tobias for um garoto de oito anos que diante de

seus colegas da escola se destaca como um exiacutemio jogador de xadrez mas comparando-o

com os competidores da categoria secircnior do campeonato mundial de xadrez e a partir disso

afirmando (9b) natildeo poderiacuteamos acarretar que Tobias eacute um bom jogador de xadrez Dessa

forma pudemos observar que a presenccedila de termos vagos em sentenccedilas dificulta a

interpretaccedilatildeo dos acarretamentos A seguir observaremos outros nexos que se relacionam com

o acarretamento

42

22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA

Como discutimos anteriormente o acarretamento eacute uma relaccedilatildeo semacircntica que ocorre

em um uacutenico sentido ou seja das premissas para a conclusatildeo Quando uma conclusatildeo

acarreta as premissas chamamos essa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica

Para o termo ―equivalecircncia haacute diversas definiccedilotildees Segundo Branquinho Murcho e

Gomes (2006 p 281) podemos identificar dois sentidos distintos para este termo o primeiro

se refere ao que tratamos neste trabalho ou seja faz referecircncia a relaccedilatildeo entre as sentenccedilas de

certa liacutengua o segundo trata de determinados tipos de sentenccedilas declarativas agraves frases

bicondicionais ou declarativas Dentro desses dois sentidos diversos para o termo

―equivalecircncia no primeiro que eacute o que mais nos interessa os autores ainda distinguem trecircs

variedades centrais de equivalecircncia Satildeo elas equivalecircncia material equivalecircncia estrita e

equivalecircncia loacutegica

A equivalecircncia material eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q (por

exemplo) exatamente quando p e q possuem o mesmo valor de verdade ou seja quando ou

satildeo as duas verdadeiras juntas ou satildeo as duas falsas juntas

A equivalecircncia estrita eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q no caso em

que eacute necessaacuterio que p seja materialmente equivalente a q ou no caso de ser impossiacutevel tanto

que p seja verdadeira e q seja falsa quanto que p seja falsa e q seja verdadeira Branquinho

Murcho e Gomes (2006 p 281) afirmam que nesse caso diz-se que p eacute estritamente

equivalente a q

A equivalecircncia loacutegica eacute uma relaccedilatildeo que se estabelece entre duas sentenccedilas p e q

exatamente no caso de p e q serem duas sentenccedilas mutuamente dedutiacuteveis num dado sistema

loacutegico Diz-se nesse caso que p eacute logicamente equivalente a q

Em nosso trabalho iremos considerar para ―equivalecircncia o sentido apresentado por

Branquinho Murcho e Gomes (2006) para equivalecircncia material A partir deste conceito

vamos observar o exemplo a seguir

(10) a O gato matou o rato

b O rato foi morto pelo gato

Nas sentenccedilas acima podemos identificar uma relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica Eacute

impossiacutevel que o gato tenha matado o rato e que o rato natildeo tenha sido morto Claro que se

43

considerarmos que estamos tratando sobre o mesmo gato e o mesmo rato Dessa forma

sempre que (10a) for verdadeira (10b) tambeacutem teraacute de ser Tambeacutem podemos observar uma

relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica no exemplo (3) Utilizamos o exemplo (3) para mostrar

uma relaccedilatildeo de acarretamento que eacute efetiva mas tambeacutem haacute a relaccedilatildeo de equivalecircncia pois

as premissas ―Neymar eacute brasileiro e ―Neymar eacute um jogador de futebol acarretam que

―Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro da mesma forma que esta uacuteltima sentenccedila

acarreta as duas anteriores Tal exemplo reafirma o conceito descrito acima de que uma

equivalecircncia semacircntica eacute um acarretamento duplo

Assim como acontece no acarretamento a equivalecircncia semacircntica tem problemas com

a polissemia Vamos observar exemplo a seguir

(11) a O Brasil ganhou o jogo contra o Chile

b O Chile perdeu o jogo contra o Brasil

No exemplo acima vemos que a sentenccedila (11a) acarreta a sentenccedila (11b) ao mesmo

tempo em que a sentenccedila (11b) acarreta a sentenccedila (11a) Natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (11a)

seja verdadeira ao mesmo tempo em que a (11b) seja falsa Se uma das sentenccedilas eacute falsa e a

outra eacute verdadeira natildeo haacute acarretamento em nenhum dos dois ―sentidos (em relaccedilatildeo agrave

direccedilatildeo de (11a) para (11b) e de (11b) para (11a)) Natildeo podemos considerar que o Brasil

ganhou o jogo contra o Chile e que o Chile ganhou o jogo contra o Brasil pois sabemos que

em uma partida de futebol haacute apenas um ganhador Haacute a possibilidade de algueacutem querer ir

mais aleacutem e inferir que eacute possiacutevel que os dois times ganharam mas em jogos diferentes Se

considerarmos a situaccedilatildeo de que o Chile jaacute ganhou outros jogos contra o Brasil assim como

que o Brasil jaacute ganhou outros jogos contra o Chile a relaccedilatildeo de equivalecircncia seria possiacutevel

escolhendo qualquer outro jogo como referecircncia mas natildeo eacute o que nos interessa pois

devemos considerar apenas uma situaccedilatildeo para as duas sentenccedilas

A partir deste ponto iremos tratar sobre como a polissemia pode interferir na

interpretaccedilatildeo numa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica da mesma forma que mostramos

anteriormente nas relaccedilotildees de acarretamento Vejamos o proacuteximo exemplo

44

(12) a A lagosta estaacute mais salgada que o peixe

b O peixe estaacute menos salgado que a lagosta

Podemos observar que as sentenccedilas (12a) e (12b) satildeo equivalentes pelo fato de que

natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12a) seja verdadeira e a sentenccedila (12b) seja falsa assim como

natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12b) seja verdadeira e a sentenccedila (12a) seja falsa Poreacutem se

passarmos a admitir significados diferentes para expressotildees empregadas nas sentenccedilas por

exemplo para a palavra ―salgado encontraremos problemas Se admitirmos que sentenccedila

(12a) o conceito de ―salgado eacute de o alimento estar impregnado de sal salpicado de sal ou

com gosto de sal e se este conceito for tambeacutem considerado para a sentenccedila (12b) haacute

equivalecircncia semacircntica Mas tambeacutem podemos interpretar o termo ―salgado como uma

expressatildeo para se referir ao preccedilo alto do produto no mercado Soacute haacute equivalecircncia semacircntica

se admitirmos o mesmo conceito para ―salgado em ambas as sentenccedilas ou seja se

considerarmos o significado de ―salgado como sendo impregnado de sal para a sentenccedila

(12a) ou em (12b) como sendo relativo ao valor alto no mercado natildeo haacute equivalecircncia

semacircntica entre (12a) e (12b)

No proacuteximo exemplo trataremos de outro tipo de ocorrecircncia que dificulta a

interpretaccedilatildeo de nexos a vagueza Como jaacute apresentamos a definiccedilatildeo de vagueza na seccedilatildeo

anterior partiremos direto para o exemplo em que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo de uma

equivalecircncia semacircntica

(13) a Goacutergias eacute mais saacutebio que Hiacutepias

b Hiacutepias eacute menos saacutebio que Goacutergias

Na relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) haacute equivalecircncia semacircntica mas podemos identificar

que nas duas sentenccedilas foram utilizados termos vagos que tornam a interpretaccedilatildeo dificultosa

Em (13a) haacute o uso dos termos ―mais e ―saacutebio assim como em (13b) haacute o uso dos termos

―menos e ―saacutebio Esses termos satildeo vagos e dificultam a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo semacircntica

entre as sentenccedilas O que dificulta a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) eacute o fato de

que termos como ―mais e ―menos assim como ―saacutebio possuem significados diferentes de

acordo com as situaccedilotildees em que satildeo utilizadas Ou seja eacute necessaacuterio que admitamos o

45

mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas (13a) e (13b) Dessa forma haveraacute a

relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica

A seguir trataremos sobre outro tipo de relaccedilatildeo semacircntica entre sentenccedilas a

contraditoriedade

23 CONTRADITORIEDADE

Diferente da relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica que consiste em sentenccedilas que satildeo

verdadeiras juntas ou falsas juntas as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias quando uma eacute oposta da

outra tipicamente quando uma sentenccedila B eacute a negaccedilatildeo de uma sentenccedila A Sobre a relaccedilatildeo de

contraditoriedade Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 229) afirmam que ―obteacutem-se a

contraditoacuteria de qualquer proposiccedilatildeo p prefixando-lhe o operador de negaccedilatildeo de modo a

obter notp3 Com base no conceito de contraditoriedade exposto vamos observar o exemplo a

seguir

(14) a O Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016

b O Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016

Podemos observar no exemplo acima que se a sentenccedila (14a) for verdadeira

obrigatoriamente a sentenccedila (14b) tem que ser falsa Se a informaccedilatildeo da sentenccedila (14a) que

diz que o Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas for verdadeira a informaccedilatildeo da sentenccedila

(14b) que diz que o Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas natildeo pode ser verdadeira

Em relaccedilotildees de contraditoriedade o uso de uma afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo eacute algo

tiacutepico mas natildeo determinante No exemplo (14) pudemos observar a relaccedilatildeo de

contraditoriedade caracterizada pelo uso da negaccedilatildeo mas tambeacutem podemos encontrar esse

tipo de relaccedilatildeo sem tal uso Vejamos a seguir

3 O siacutembolo not na loacutegica claacutessica eacute a representaccedilatildeo do operador de negaccedilatildeo ldquonatildeordquo

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(15) a Mecircnon estaacute acordado

b Mecircnon estaacute dormindo

A partir das sentenccedilas acima podemos ver que a relaccedilatildeo entre estas sentenccedilas eacute de

contraditoriedade pois se a sentenccedila (15a) for verdadeira a sentenccedila (15b) tem que ser falsa

da mesma forma que se a sentenccedila (15b) for verdadeira a sentenccedila (15a) deveraacute ser falsa

Natildeo eacute possiacutevel que Mecircnon esteja acordado e dormindo ao mesmo tempo claro que

considerando o mesmo sentido para as palavras ―acordado e ―dormindo nas duas sentenccedilas

e em relaccedilatildeo ao mesmo Mecircnon

Assim como as demais relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos anteriormente a

contraditoriedade tambeacutem eacute sensiacutevel agrave polissemia Vamos observar como a polissemia se

apresenta no exemplo a seguir

(14) a A minha gata estaacute acordada

b A minha gata estaacute dormindo

No exemplo acima natildeo encontramos apenas a relaccedilatildeo de contraditoriedade sem

utilizaccedilatildeo da negaccedilatildeo mas tambeacutem um problema de polissemia que pode anular a relaccedilatildeo de

contraditoriedade Se numa determinada situaccedilatildeo escrevendo este texto me viro na cadeira e

vejo em cima de minha cama o meu animal de estimaccedilatildeo deitado olhando para mim e com

isso afirmo ―a minha gata estaacute acordada como na sentenccedila (14a) natildeo posso considerar

verdadeira a sentenccedila (14b) pois natildeo se pode estar dormindo e estar acordado ao mesmo

tempo tomando as definiccedilotildees de ―estar acordado e ―estar dormindo como oposiccedilotildees A

partir disso as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias Se em outra situaccedilatildeo me viro na cadeira e vejo

minha esposa deitada na cama dormindo e afirmo ―a minha gata estaacute dormindo como na

sentenccedila (14b) ela natildeo pode ser verdadeira ao mesmo tempo em que a sentenccedila (14a) pois

minha esposa natildeo poderia estar acordada e dormindo ao mesmo tempo Ateacute o momento

pudemos atribuir dois sentidos diferentes para o termo ―gata Se considerarmos para a

sentenccedila (14a) o sentido de que o meu animal de estimaccedilatildeo estaacute acordado e para a sentenccedila

(14b) o sentido de que a minha esposa estaacute dormindo essas sentenccedilas natildeo satildeo contraditoacuterias

No exemplo acima percebemos portanto dois aspectos da contradiccedilatildeo em sentenccedilas de uma

liacutengua natural como o portuguecircs Primeiro que natildeo haacute a obrigatoriedade de ter a negaccedilatildeo de

47

uma sentenccedila para que a relaccedilatildeo de contraditoriedade exista e segundo que a polissemia

pode tornar problemaacutetica essa relaccedilatildeo

Podemos considerar uma relaccedilatildeo de contraditoriedade entre sentenccedilas sempre que A eacute

verdadeira B eacute falsa e sempre que a sentenccedila B eacute verdadeira A eacute falsa Ou seja as sentenccedilas

A e B nunca podem ser verdadeiras ou falsas juntas

O exemplo de contraditoriedade que mostramos anteriormente foi relacionando duas

sentenccedilas mas podemos encontrar a relaccedilatildeo de contraditoriedade dentro de uma sentenccedila

apenas Vamos observar o exemplo a seguir

(15) Herbert Vianna eacute cantor e natildeo eacute cantor

Se afirmamos que uma pessoa eacute e natildeo eacute cantora constatamos uma contraditoriedade

nesta sentenccedila Em (15) encontramos a apresentaccedilatildeo de um argumento e a negaccedilatildeo do mesmo

argumento em seguida Uma sentenccedila com esta forma natildeo pode ser verdadeira Se

consideramos numa mesma situaccedilatildeo que Herbert Vianna eacute cantor e em seguida afirmo que

Herbert Vianna natildeo eacute cantor esta sentenccedila eacute contraditoacuteria

Se partirmos para determinar sentidos diferentes para o termo ―cantor como por

exemplo que Herbert Vianna eacute um cantor pelo simples fato de que ele emite pelas cordas

vocais sons musicais que ―cantor eacute um termo que soacute pode ser utilizado para os profissionais

que trabalham com a voz na muacutesica ou que ―cantor se jaacute um termo utilizado para designar

algueacutem que canta muito bem natildeo haacute contraditoriedade efetivamente Mas se mantivermos o

mesmo sentido para o termo haveraacute relaccedilatildeo de contraditoriedade

Da mesma forma que a polissemia dificulta a interpretaccedilatildeo de nexos entre sentenccedilas

vamos observar um exemplo em que a vagueza ndash toacutepico que desenvolvemos na primeira

seccedilatildeo deste capiacutetulo - invalida uma relaccedilatildeo de contraditoriedade

(16) a O professor de loacutegica eacute muito alto

b O professor de loacutegica natildeo eacute muito alto

Na relaccedilatildeo entre (16a) e (16b) seguindo o conceito contraditoriedade haacute uma relaccedilatildeo

de contradiccedilatildeo entre as duas sentenccedilas poreacutem podemos identificar termos vagos nas duas

sentenccedilas o que pode dificultar a interpretaccedilatildeo Na sentenccedila (16a) e na sentenccedila (16b)

48

identificamos dois termos vagos que satildeo ―muito e ―alto Eacute possiacutevel considerar as duas

sentenccedilas como falsas ou verdadeiras juntas invalidando a contraditoriedade pois os termos

―muito e ―alto satildeo variaacuteveis de acordo com o grau de comparaccedilatildeo adotado Por exemplo

em (16a) o professor de loacutegica pode ser considerado muito alto em comparaccedilatildeo agraves crianccedilas

para quem ele leciona poreacutem se compararmos o professor de loacutegica da sentenccedila (16a) com os

outros professores do departamento talvez o professor fosse considerado baixo Desta forma

podemos observar que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo das duas sentenccedilas

A seguir traremos o uacuteltimo nexo semacircntico que utilizaremos em nosso trabalho Este

tipo de relaccedilatildeo eacute um pouco parecido com a contraditoriedade

24 CONTRARIEDADE

A contrariedade ocorre quando duas sentenccedilas podem ser falsas juntas mas natildeo

podem ser verdadeiras juntas Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 234) definem

contrariedade da seguinte forma ―duas proposiccedilotildees satildeo contraacuterias se natildeo podem ser ambas

verdadeiras mas podem ser ambas falsas distinguindo-se assim das contraditoacuterias que natildeo

podem ser ambas verdadeiras nem ambas falsas e das subcontraacuterias que natildeo podem ser

ambas falsas mas podem ser ambas verdadeiras

Eacute importante enfatizar que mesmo estando tratanto dos nexos semacircnticos e sua

aplicaccedilatildeo em liacutengua natural os conceitos de sentenccedilas contraacuterias contraditoacuterias

equivalecircncias e acarretamentos tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica As relaccedilotildees de sentenccedilas

contraacuterias e contraditoacuterias satildeo tratadas por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado

atraveacutes de seu quadrado loacutegico ou taacutebua de oposiccedilotildees No Perieacutermeneas (1985) mais

especificamente nos capiacutetulos 6 e 7 Aristoacuteteles nos apresenta os conceitos de sentenccedilas

contraacuterias e contraditoacuterias afirmando que duas sentenccedilas satildeo contraacuterias quando natildeo podem

ser verdadeiras juntas ao mesmo tempo mas podem ser falsas juntas ao mesmo tempo Jaacute em

relaccedilatildeo agraves contraditoacuterias Aristoacuteteles propotildee que toda afirmaccedilatildeo possui sua exata negaccedilatildeo

correspondente e que toda afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo sem opotildeem sendo uma sempre

verdadeira e a outra sempre falsa Dessa forma para Aristoacuteteles um par formado por uma

afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo corresponde a uma contradiccedilatildeo

A partir do conceito de contrariedade vamos observar o exemplo a seguir Nele

encontraremos um caso de polissemia

49

(17) a A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 20 de agosto de 1914

b A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 18 de julho de 1921

Se admitirmos que a seleccedilatildeo brasileira de futebol sobre a qual estamos falando na

sentenccedila (17a) eacute a mesma seleccedilatildeo que estamos falando na sentenccedila (17b) natildeo eacute possiacutevel que

a sentenccedila (17b) seja verdadeira pois algo natildeo pode ser fundado efetivamente em dois

momentos distintos Haacute a possibilidade de se afirmar que estamos falando de duas seleccedilotildees

brasileiras de futebol diferentes pois para ―seleccedilatildeo brasileira haacute diversos significados

aplicaacuteveis ou seja a expressatildeo ―seleccedilatildeo brasileira eacute polissecircmica Por exemplo podemos

definir uma seleccedilatildeo como sendo de futebol de campo e a outra de futebol de salatildeo A partir

dessa interpretaccedilatildeo as duas sentenccedilas poderiam ser verdadeiras juntas e com isso natildeo

haveria contrariedade Mas como devemos admitir apenas uma situaccedilatildeo para as duas

sentenccedilas (17a) e (17b) natildeo podem ser verdadeiras juntas mas podem ser falsas juntas

constituindo uma relaccedilatildeo de contrariedade Eacute possiacutevel que a seleccedilatildeo brasileira de futebol natildeo

tenha sido formada nem em 20 de agosto de 1914 e nem em 18 de julho de 1921 Em

contrapartida numa interpretaccedilatildeo usual a seleccedilatildeo de futebol de um paiacutes eacute formada pela

primeira vez uma soacute vez Algueacutem pode querer ir aleacutem e afirmar que foram empregados

sentidos diferentes para a expressatildeo ―foi formada nas sentenccedilas em questatildeo Poderia dizer

que na sentenccedila (17a) o sentido foi de que a seleccedilatildeo se reuniu pela primeira vez para jogarem

juntos de forma extraoficial e que na sentenccedila (17b) o sentido foi de que a seleccedilatildeo

efetivamente foi documentalmente formada Se admitiacutessemos essas interpretaccedilotildees as

sentenccedilas (17a) e (17b) poderiam ser verdadeiras juntas o que descaracterizaria a relaccedilatildeo de

contrariedade entre as sentenccedilas Assim como o fato de que se a sentenccedila (17a) for falsa a

sentenccedila (17b) pode ser verdadeira ou falsa A falsidade da sentenccedila (17a) natildeo assegura a

verdade da sentenccedila (17b) Podemos entender dessa forma que a polissemia afeta a

interpretaccedilatildeo do nexo

Vamos observar mais um exemplo desta relaccedilatildeo

(18) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado do Acre

b A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado de Santa Catarina

50

Se considerarmos a sentenccedila (18a) verdadeira ou seja que a reitoria da UNISUL estaacute

localizada no estado do Acre e tambeacutem levando em conta que a UNISUL eacute uma universidade

que tem uma reitoria e que a reitoria de uma universidade soacute pode estar numa cidade a

sentenccedila (18b) deveraacute ser falsa A sentenccedila (18a) eacute falsa e a sentenccedila (18b) eacute verdadeira e as

duas estabelecem uma relaccedilatildeo de contrariedade A reitoria da UNISUL estaacute localizada no

estado de Santa Catarina e natildeo no estado do Acre A partir desse exemplo e da convenccedilatildeo que

admitimos para ele pudemos observar que se uma sentenccedila A for falsa uma sentenccedila B pode

ser falsa ou verdadeira natildeo podendo ser as duas verdadeiras juntas apenas falsas Ilustrando

mais uma vez veja a relaccedilatildeo a seguir

(19) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Paris

b A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Roma

No exemplo acima podemos afirmar que as sentenccedilas (19a) e (19b) podem ser falsas

pois como jaacute citamos no paraacutegrafo anterior a reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado

de Santa Catarina Dessa forma haacute relaccedilatildeo de contrariedade as duas sentenccedilas satildeo falsas

Jaacute tratamos de exemplos da relaccedilatildeo de contrariedade com problemas de polissemia

mas podemos tambeacutem identificar problemas de validade dos nexos por causa da vagueza A

seguir observe o exemplo

(20) a Este cafeacute estaacute forte

b Este cafeacute estaacute aguado

Observando as sentenccedilas acima identificamos que (20a) e (20b) possuem termos

vagos que podem dificultar a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre as sentenccedilas Em (20a) foi usado

o termo ―forte e em (20b) foi usado o termo ―aguado Como nas outras relaccedilotildees que

apresentamos anteriormente esses termos satildeo vagos pois dependendo da classe de

comparaccedilatildeo em que satildeo apresentados eles podem mudar de sentido Eacute possiacutevel que numa

determinada situaccedilatildeo consideremos que um cafeacute pode natildeo estar nem forte nem fraco

autorizando a possibilidade de (20a) e (20b) serem as duas falsas ao mesmo tempo

descaracterizando a relaccedilatildeo de contrariedade Dessa forma podemos observar que os termos

51

vagos dificultam a interpretaccedilatildeo das sentenccedilas consequentemente da relaccedilatildeo que as

sentenccedilas estabelecem entre si Concluindo a exposiccedilatildeo dos nexos que nos interessam neste

trabalho apresentaremos a seguir a justificativa de nosso percurso sobre estas relaccedilotildees

semacircnticas e os tipos de ocorrecircncias que podem dificultar a interpretaccedilatildeo destas

25 JUSTIFICANDO O PERCURSO

Neste capiacutetulo apresentamos inicialmente os conceitos de semacircntica e pragmaacutetica

com o objetivo de mostrar que os nexos semacircnticos que tratamos em nosso trabalho

(acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e contrariedade) satildeo tipos de

inferecircncias que pertencem ao campo da semacircntica Para isso tambeacutem apresentamos duas

inferecircncias que pertencem ao campo da pragmaacutetica (pressuposiccedilatildeo e implicatura)

Na exposiccedilatildeo de cada nexo trouxemos os conceitos seguidos de exemplos em que a

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees semacircnticas eacute clara Em seguida apresentamos exemplos de nexos

com dois tipos de ocorrecircncias que no campo do leacutexico dificultam a interpretaccedilatildeo das

relaccedilotildees semacircnticas a polissemia e a vagueza

Pode parecer confuso a princiacutepio o fato de tratarmos de tipos de inferecircncia que

dependem da forma para se concretizarem (os nexos semacircnticos) relacionando-as com

ocorrecircncias que dificultam o entendimento do conteuacutedo das sentenccedilas (a polissemia e a

vagueza) A confusatildeo se apresenta caso natildeo lembremos que estamos tratando das relaccedilotildees de

inferecircncias em liacutengua natural e natildeo numa liacutengua controlada como num sistema loacutegico por

exemplo

Quando afirmamos que as relaccedilotildees entre sentenccedilas que tratamos em nosso trabalho

dependem da forma falamos de uma ―dessemantificaccedilatildeo ou seja a existecircncia dos nexos vai

depender unicamente da semacircntica dos quantificadores e conectivos (e ou se) Os nexos natildeo

dependem da semacircntica restante do material linguiacutestico exposto na sentenccedila A semacircntica dos

conectivos e quantificadores numa linguagem formal eacute mantida estaacutevel por definiccedilatildeo Na

linguagem natural podemos observar que os tipos de ocorrecircncia que dificultam a

interpretaccedilatildeo dos nexos se fazem presentes justamente no restante do material linguiacutestico da

sentenccedila ou seja para aleacutem da estrutura da sentenccedila que eacute composta pelos quantificadores e

demais conectivos

52

A polissemia e a vagueza satildeo ocorrecircncias tiacutepicas de liacutengua natural e dessa forma

somos obrigados a admitir que ao nos depararmos com qualquer gecircnero textual (que

obviamente estaacute no campo das liacutenguas naturais) numa anaacutelise devemos considerar que o

significado das palavras vai naturalmente interferir nas relaccedilotildees semacircnticas Tambeacutem na

exposiccedilatildeo de tipos de ocorrecircncias que interferem nos nexos semacircnticos tratamos de falaacutecias

que satildeo argumentos invaacutelidos apresentados como vaacutelidos explorando justamente a

interpretaccedilatildeo do conteuacutedo das sentenccedilas

A partir dos nexos semacircnticos que tratamos neste capiacutetulo junto com os tipos de

inferecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees no capiacutetulo seguinte

apresentaremos a anaacutelise de certificados de garantia Como o nosso objetivo eacute analisar quais

satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados nos certificados para restringir possibilidades de

interpretaccedilatildeo decidimos realizar a anaacutelise de ocorrecircncias com conectivos e quantificadores

Consideramos pertinente a escolha desse tipo de anaacutelise pois entendemos que os

quantificadores como o ―todo satildeo tradicionalmente apresentados em relaccedilotildees semacircnticas de

restriccedilatildeo ou abrangecircncia assim como o condicional ―se ou ―somente se e o ―apenas e

―somente A partir desse raciociacutenio acreditamos que esta seria a forma mais correta para

identificarmos ocorrecircncias do tipo que precisamos para a realizaccedilatildeo de nossa anaacutelise Os

nexos semacircnticos natildeo satildeo propiacutecios para as liacutenguas naturais pois natildeo se apresentam de forma

controlada Ocorrecircncias lexicais como as que descrevemos anteriormente podem dificultar a

interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees e isso eacute algo que trataremos nas anaacutelises

Eacute nesta perspectiva que observaremos no capiacutetulo seguinte as anaacutelises de vinte e dois

certificados de garantia nos quais natildeo buscaremos relaccedilotildees bem marcadas e controladas entre

sentenccedilas pois natildeo encontrariacuteamos facilmente mas sim quais satildeo os recursos linguiacutesticos

utilizados pelos autores dos textos para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo

admitindo tambeacutem obviamente os nexos semacircnticos como possiacuteveis recursos

53

3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA

Os certificados de garantia satildeo textos muito presentes em nosso cotidiano e muitas das

vezes noacutes natildeo levamos em conta a sua importacircncia tanto por serem documentos que podem

resguardar nossos direitos sobre um determinado produto quanto pelo fato de natildeo sermos

treinados para ler e interpretar devidamente as informaccedilotildees dispostas nos textos Dessa

forma justificamos a escolha de tal gecircnero para analisarmos em nossa pesquisa Ateacute este

momento de nosso trabalho seguimos o seguinte percurso

1) Mostramos no primeiro capiacutetulo que na elaboraccedilatildeo de certificados de garantia o

autor deve se preocupar em construir o texto buscando restringir ao maacuteximo as

possibilidades de interpretaccedilatildeo para que ele se torne mais eficiente em passar as

informaccedilotildees desejadas e para evitar problemas de interpretaccedilatildeo por parte dos

clientes

2) Tendo em vista que os certificados de garantia satildeo textos instrucionais ou seja

que direcionam a leitura para um fim especiacutefico nossa anaacutelise tem por objetivo

verificar quais satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores destes textos

para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo e para alcanccedilar este objetivo nos

utilizaremos da teoria dos nexos semacircnticos apresentada no segundo capiacutetulo

Como anunciado na introduccedilatildeo o corpus dessa pesquisa eacute formado por 22

certificados de garantia de produtos de diversos segmentos Ele foi coletado utilizando a

internet e natildeo teve um meacutetodo definido de categorizaccedilatildeo na escolha dos textos Decidimos

escolher certificados de diversos segmentos para natildeo obtermos uma anaacutelise viciada e tambeacutem

para obtermos um panorama da estrutura textual

Como analisaremos os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores dos certificados

de garantia para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo elegemos trecircs categorias de

termos a serem analisadas quantificadores universais condicionais e uso do apenassomente

A escolha dessas categorias se deve ao fato delas possuiacuterem tradicionalmente funccedilotildees de

restriccedilatildeo ou abrangecircncia em inferecircncias

Assim como na loacutegica de predicados a silogiacutestica se caracteriza pelo uso dependente

em argumentos dos quantificadores ―alguns e ―todos Nomeamos de quantificador

existencial ou particular aqueles referentes a ―alguns e nomeamos de quantificador universal

aqueles referentes a ―todos (MURCHO 2006) Utilizaremos em nossa pesquisa agraves

ocorrecircncias com quantificadores do segundo tipo Vejamos um exemplo ilustrativo

54

(21) TODO produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia

Possivelmente natildeo encontraremos em nossa anaacutelise nenhuma sentenccedila como esta pois

vemos que o quantificador universal destacado em letras maiuacutesculas abrange totalmente a

possibilidade de cobertura da garantia de um produto Da forma que estaacute expressa se compro

uma TV por exemplo e a mergulho na aacutegua causando defeito poderei receber outra nova do

fabricante pois ―todo produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia

Sobre os condicionais trataremos a anaacutelise na mesma linha de raciociacutenio pois eles

satildeo utilizados em proposiccedilotildees do tipo ―se X entatildeo Y oportunizando abrangecircncia ou

restriccedilatildeo de possibilidades de interpretaccedilatildeo como podemos ver ilustrado no exemplo a

seguir

(22) SE o produto apresentar defeito seraacute reparado gratuitamente

Da mesma forma como mostramos no exemplo anterior provavelmente natildeo

encontraremos sentenccedilas tatildeo abrangentes em nosso corpus como esta pois da forma como

estaacute posta ampliaria muito a possibilidade de cobertura da garantia de um produto Podemos

interpretar a partir da leitura da sentenccedila acima que o reparo do produto seraacute efetuado caso o

produto apresente qualquer defeito por qualquer motivo durante qualquer periacuteodo de tempo

sendo utilizado por qualquer pessoa e em qualquer circunstacircncia entre outras possibilidades

Para reparar tamanha abrangecircncia os autores dos textos podem utilizar listas exaustivas com

detalhes especiacuteficos apoacutes a apresentaccedilatildeo dos condicionais para direcionar efetivamente a

cobertura da garantia

Por fim em relaccedilatildeo ao uso dos termos ―apenas e ―somente analisaremos os termos

nos contextos que os autores buscam restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos textos

Vejamos o exemplo a seguir

(22) Estaratildeo cobertos pela garantia APENAS os produtos que natildeo estatildeo em

promoccedilatildeo

55

No exemplo acima tambeacutem inventado vemos que o ―apenas aparece como um

restritor da garantia deixando claro que soacute os produtos que foram adquiridos pelos preccedilos

normais ou seja fora da promoccedilatildeo estaratildeo cobertos pela garantia Dessa forma produtos em

promoccedilatildeo ficam descobertos

Com os conceitos sobre as categorias de anaacutelise dispostos acima apresentaremos a

seguir a anaacutelise dos trechos coletados em nosso corpus separada por tipos de ocorrecircncia

Iremos observar como se apresentam os quantificadores condicionais ocorrecircncias com o

apenassomente assim como observaremos os tipos de ocorrecircncias no campo do leacutexico que

dificultam a interpretaccedilatildeo dos trechos (polissemia e vagueza)

31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL

Vejamos a seguir as ocorrecircncias4 em que o quantificador universal eacute utilizado

5

(1) Este produto e as peccedilas substituiacutedas seratildeo garantidos pelo restante do

prazo original TODAS as peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades

da SAMSUNG

Podemos observar na ocorrecircncia acima que o fabricante utiliza o quantificador para

fazer com que o leitor infera que absolutamente todas as peccedilas que forem substituiacutedas na

assistecircncia a algum aparelho defeituoso se tornaratildeo propriedade da fabricante Dessa forma o

cliente natildeo poderaacute em hipoacutetese alguma ficar com a peccedila trocada

Percebemos no trecho acima que o quantificador universal ―todas poderia ser

excluiacutedo da sentenccedila e com isso em nada alteraria o sentido da sentenccedila Forccedilando uma

possiacutevel interpretaccedilatildeo da sentenccedila o leitor poderia afirmar que se a sentenccedila fosse disposta

da seguinte maneira ―As peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades da SAMSUNG

poderia existir uma classe de peccedilas eletrocircnicas de produtos SAMSUNG que

4 Utilizaremos o termo ldquoocorrecircnciardquo tanto para se referir ao trecho completo do corpus quanto para a

sentenccedila em que o conectivo grifado se apresenta Natildeo faremos distinccedilatildeo para este uso 5 Para a exibiccedilatildeo das ocorrecircncias do nosso corpus reiniciaremos a numeraccedilatildeo natildeo seguindo a contagem

realizada para os exemplos dos capiacutetulos anteriores

56

tradicionalmente fossem substituiacutedas em manutenccedilotildees mas natildeo recolhidas pelo fabricante

Dessa forma o quantificador universal ―todas se mostraria como a soluccedilatildeo para esse

problema de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos

na ocorrecircncia6 (1)

(2) Esta garantia substitui TODAS as outras garantias expressas ou

taacutecitas incluindo sem limitaccedilatildeo garantias taacutecitas de comercializaccedilatildeo

e adequaccedilatildeo a um fim especiacutefico

(Certificado 1)

Nesta ocorrecircncia o fabricante utiliza o quantificador para abranger ao maacuteximo seu

texto no intuito de inferir que a garantia em anaacutelise se sobrepotildee a qualquer outro tipo de

garantia oferecida ao cliente

Podemos observar que se o quantificador universal ―todas natildeo fosse utilizado o

sentido da sentenccedila permaneceria o mesmo Se tiveacutessemos encontrado a sentenccedila da forma

―Esta garantia substitui as outras garantias o cliente iria interpretar a sentenccedila sem

dificuldades O uso do quantificador aparece como um termo para dar ecircnfase ao que jaacute estaacute

dito na sentenccedila acima Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos na

ocorrecircncia (2)

(3) TODO atendimento de reparo deve ser precedido de ligaccedilatildeo

telefocircnica ao Suporte Teacutecnico Telefocircnico da AOC (0800-10-9539)

para que seja feita uma avaliaccedilatildeo preacutevia do problema a fim de

constatar a existecircncia de defeito ou viacutecio do produto esgotando-se

TODAS as possibilidades de se tratar de uma falha de operaccedilatildeo ou

uso do produto por parte do consumidor

(Certificado 4)

No trecho acima podemos observar que na primeira ocorrecircncia do quantificador o

fabricante utiliza-o para inferir que o cliente em qualquer caso de submissatildeo do aparelho agrave

assistecircncia deve entrar em contato com o suporte teacutecnico telefocircnico da empresa e ainda

6 Decidimos pontuar no final de cada anaacutelise o fato de haver ou natildeo termos polissecircmicos ou vagos nas

ocorrecircncias porque consideramos estes tipos de ocorrecircncias como sendo os principais meios de dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos instrucionais Ao anunciar que natildeo haacute termos dessas categorias em cada anaacutelise por mais que se mostre repetitivo na leitura ao mesmo tempo invoca a importacircncia (e necessidade segundo nossa perspectiva) que depositamos nesses fatos em cada ocorrecircncia

57

reforccedila utilizando outra vez o quantificador ―todas inferindo que o produto soacute iraacute para a

assistecircncia efetivamente caso natildeo haja mais nenhuma possibilidade de resoluccedilatildeo do problema

atraveacutes do contato telefocircnico Ao utilizar esse reforccedilo o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo ao

fato de que por exemplo o problema possa ser resolvido atraveacutes de instruccedilotildees passadas pela

empresa via telefone ao cliente e o cliente natildeo aceitar e exigir que o produto seja reparado

somente na assistecircncia teacutecnica ou simplesmente para evitar que a assistecircncia teacutecnica receba

algum produto que natildeo estaacute defeituoso ou viciado

Diferente da ocorrecircncia (2) o uso do quantificador universal ―todo se faz necessaacuterio

para evitar que o cliente interprete a sentenccedila de uma forma indesejada por parte do

fabricante Por exemplo caso o autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todo na

primeira parte ―Todo atendimento de reparo deve o cliente poderia interpretar que ele

poderia obter atendimento de reparo sem passar pelo contato telefocircnico com o suporte teacutecnico

do fabricante Na utilizaccedilatildeo do quantificador universal ―todas no final da sentenccedila tambeacutem

observamos que se o autor do texto natildeo utilizasse esta estrateacutegia tambeacutem possibilitaria que o

texto fosse interpretado de outra maneira Se o cliente se deparasse com a sentenccedila

―esgotando-se as possibilidades de se tratar de uma falha poderia interpretar que se para

algum tipo de falha de operaccedilatildeo ou seja de utilizaccedilatildeo do produto haveria a possibilidade de

enviar o produto para assistecircncia teacutecnica Como o autor utilizou o quantificador nas duas

passagens que citamos ele direcionou a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha

duacutevidas sobre aquilo que o fabricante deseja expressar

Sobre tipos de ocorrecircncia que dificultam a interpretaccedilatildeo do texto pudemos identificar

a expressatildeo ―viacutecio do produto Esta expressatildeo eacute muito especiacutefica e estaacute presente no Coacutedigo

de defesa do consumidor Segundo Bruno Miragem (2008) ―Viacutecio do produto ou do serviccedilo

abrange o efeito decorrente da violaccedilatildeo aos deveres de qualidade quantidade ou informaccedilatildeo

impedindo com isso que o produto ou serviccedilo atenda aos fins que legitimamente dele se

esperam (dever da adequaccedilatildeo) O autor do certificado natildeo disponibilizou nenhum conceito

para a expressatildeo ―viacutecio do produto apresentando desta forma uma dificuldade a mais para

a interpretaccedilatildeo do texto por parte do cliente Caso o autor tenha elaborado o texto

considerando por exemplo que qualquer pessoa que leia um certificado de garantia deve ser

conhecedor de todos os termos e expressotildees descritas no CDC (a partir desse ponto iremos

utilizar esta sigla para ―coacutedigo de defesa do consumidor) natildeo haveria problema em

simplesmente usar o termo sem conceituar mas isso natildeo eacute pertinente Para evitar que esta

expressatildeo natildeo fosse polissecircmica o autor deveria ter elaborado um mini-glossaacuterio com os

termos que seriam usuais no texto e que possuem um sentido especiacutefico no ramo em que o

58

produto estaacute inserido (por exemplo peccedilas de carros ou peccedilas eletrocircnicas) e no CDC7

(4) A Garantia do Produto oferecida por este Termo abrange TODOS os

defeitos de material ou de fabricaccedilatildeo do aparelho constatados pela

Robert Bosch Ltda bem como a substituiccedilatildeo das peccedilas que

apresentarem viacutecios aleacutem da matildeo-de-obra utilizada no respectivo

reparo

(Certificado 8)

No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador ―todos para assegurar ao cliente

que em qualquer caso em que o produto possua defeito de material ou de fabricaccedilatildeo a

garantia estaraacute assegurada Aleacutem de assegurar isso tambeacutem garante a substituiccedilatildeo da peccedila do

aparelho que estiver com problema e a matildeo-de-obra tudo por conta do fabricante Caso o

autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todos ele poderia abrir margem para

outras interpretaccedilotildees como por exemplo que esta garantia natildeo abrange qualquer defeito do

produto constatado pelo fabricante Eacute interessante citar que a utilizaccedilatildeo do quantificador

―todos foi realizada beneficiando o fabricante pois mesmo afirmando que a ―garantia

abrange todos os defeitos o autor direciona para ―todos os casos que forem constatados

pelo fabricante Ou seja fica a criteacuterio do fabricante decidir o que eacute defeito e o que natildeo eacute

Assim como na ocorrecircncia (3) identificamos o uso do termo ―viacutecios que natildeo tem o

seu conceito descrito no texto do certificado O termo ―viacutecio natildeo eacute utilizado em nosso

cotidiano como algo vinculado a um objeto Geralmente conceituamos esse termo como

referente agrave dependecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica em relaccedilatildeo a uma substacircncia Tambeacutem podemos

conceituar como uma mania (costume de fazer sempre a mesma coisa) Enfim o termo

utilizado da forma em que foi descrita em (4) necessitaria que em alguma parte do texto

aparecesse o conceito para este termo que deve ser interpretado de forma especiacutefica pois eacute

um termo teacutecnico apresentado no CDC e muitas das vezes o cliente natildeo tem conhecimento

deste conceito favorecendo dificuldades a interpretaccedilatildeo do texto

(5) TODOS os eventuais danos ou demoras resultantes da natildeo

observacircncia dessas recomendaccedilotildees fogem agrave responsabilidade da APC

(Certificado 7)

7 Sobre esta estrateacutegia de eliminaccedilatildeo da polissemia e vagueza atraveacutes do uso de um glossaacuterio por autores de

textos instrucionais ver Estrela e Santos (2014)

59

Na ocorrecircncia acima a empresa APC se resguarda de qualquer responsabilidade sobre

o produto caso o cliente natildeo siga as recomendaccedilotildees dadas pelo fabricante Para isso utiliza o

quantificador universal para abranger ao maacuteximo as possibilidades de natildeo cobertura

favorecendo o fabricante Observamos que a utilizaccedilatildeo do quantificador na ocorrecircncia (5)

serviu para intensificar o que foi descrito na sentenccedila Caso natildeo fosse utilizado poderia

deixar margem para outras interpretaccedilotildees como por exemplo que poderia existir algum tipo

de dano eventual que fosse de responsabilidade do fabricante O quantificador ―todos

elimina esse tipo de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos

polissecircmicos na ocorrecircncia (5)

(6) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA garante e consequentemente

compromete-se a reparar ou substituir pelo prazo abaixo indicado

contado a partir da data indicada no documento fiscal representativo

de venda do veiacuteculo Hyundai TODAS as peccedilas que em serviccedilo

normal apresentem defeito de fabricaccedilatildeo ou de material desde que

observadas as respectivas condiccedilotildees sob pena de ser

automaticamente considerado cancelado o presente Certificado de

Garantia independentemente de qualquer aviso ou notificaccedilatildeo

(Certificado 17)

No trecho acima podemos observar que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se daacute

de forma bastante controlada Mesmo o termo ―todas sendo naturalmente utilizado para

abranger ou restringir ao maacuteximo inferecircncias na ocorrecircncia acima vemos sua utilizaccedilatildeo

dependendo de vaacuterios aspectos para se concretizar A Hyundai se compromete em reparar ou

substituir ―todas as peccedilas dos veiacuteculos que estiverem dentro de todas as caracteriacutesticas

descritas antes do termo ser usado como estar dentro do prazo estabelecido pelo fabricante

apresentarem defeito de fabricaccedilatildeo ou material e aleacutem disso observando os procedimentos

detalhados pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o quantificador universal eacute

utilizado de forma controlada pelo fabricante restringindo ao seu sabor as possibilidades de

validade da garantia

(7) TODA revisatildeo deveraacute ser registrada no quadro de registro de revisotildees

para assegurar a garantia de seu veiacuteculo

(Certificado 17)

60

Na ocorrecircncia acima observamos que o fabricante utilizou o quantificador universal

para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente da seguinte forma o

cliente que possui um veiacuteculo na garantia poderia interpretar por exemplo caso natildeo houvesse

a utilizaccedilatildeo do quantificador ―toda na sentenccedila (7) fazer as revisotildees do veiacuteculo em qualquer

oficina e natildeo registrar as mudanccedilas feitas no carro em lugar algum natildeo perdendo a garantia

do veiacuteculo O quantificador universal ―toda direciona a interpretaccedilatildeo da inferecircncia para que

o cliente efetue qualquer revisatildeo do veiacuteculo numa concessionaacuteria do fabricante e aleacutem disso

ter as revisotildees registradas no quadro de registro de revisotildees do fabricante Na ocorrecircncia (7)

natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos

(8) TODOS aparelhos da ONEAL saem da faacutebrica preacute-ajustados em

220V

(Certificado 5)

Nesta ocorrecircncia (8) o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para

abranger a informaccedilatildeo de que qualquer produto produzido por ele eacute ajustado em 220V

resguardando-se de por exemplo um questionamento de algum cliente sobre o

funcionamento de qualquer produto em outra voltagem ou utilizaccedilatildeo do produto em outra

voltagem ocasionando defeito no produto Caso isso ocorra o fabricante natildeo poderaacute ser

responsabilizado pois a partir da ocorrecircncia (8) ele explica a voltagem a ser utilizada natildeo

garantindo o funcionamento do produto em outras voltagens Na ocorrecircncia (8) observamos

que se o fabricante natildeo tivesse utilizado o quantificador universal ―todo natildeo alteraria a

interpretaccedilatildeo da sentenccedila Podemos entender que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal na

ocorrecircncia (8) serviu apenas para intensificar a informaccedilatildeo da sentenccedila

(9) TODOS nossos produtos satildeo testados durante horas nos mais severos

regimes antes de serem aprovados para o mercado

(Certificado 5)

No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para abranger a

interpretaccedilatildeo da inferecircncia Dessa forma o fabricante tenta nos levar a interpretar a

61

ocorrecircncia (9) da seguinte forma qualquer produto produzido por este fabricante eacute testado de

forma rigorosa antes de ser despachado para comercializaccedilatildeo Essa interpretaccedilatildeo eacute dificultada

pela presenccedila de termos vagos Ao utilizar a expressatildeo ―durante horas nos mais severos

regimes o fabricante natildeo teve o cuidado de atrelar essa informaccedilatildeo agrave classe de comparaccedilatildeo

na qual o cliente deve se basear para interpretar a sentenccedila da forma como o fabricante

deseja Ao afirmar que os produtos satildeo testados ―durante horas o fabricante natildeo especificou

por quantas horas os produtos satildeo testados e o que isso representa Por exemplo para

produtos X identificados como em bom funcionamento deve-se testaacute-los durante Y horas

segundo o manual Z que regulamenta a qualidade dos produtos X Aleacutem disso o fabricante

ainda afirma sobre os testes que satildeo ―nos mais severos regimes cometendo a mesma falha

da expressatildeo anterior natildeo descrevendo o que eacute isso e o que isso representa A expressatildeo eacute

vaga pois esses regimes de testes satildeo severos em relaccedilatildeo a quecirc Como natildeo haacute um grau de

comparaccedilatildeo de classe o cliente pode interpretar a ocorrecircncia de formas diversas Se o

fabricante tivesse especificado em algum lugar do texto que a expressatildeo ―nos mais severos

regimes deveria ser comparada por exemplo a um tipo de teste que coloca os produtos em

condiccedilotildees extremas para averiguar a sua qualidade durabilidade e bom funcionamento que eacute

norma padratildeo de qualidade para os produtos que ele estaacute justificando em (9) natildeo haveria

vagueza Do modo como a ocorrecircncia se apresenta as informaccedilotildees ―durante horas e ―nos

mais severos regimes satildeo vagas e dificultam a interpretaccedilatildeo da sentenccedila

(10) A ONEAL garante TODOS os seus produtos por um periacuteodo de 01

(um) ano jaacute incluiacutedo o periacuteodo de garantia legal (os primeiros 90 dias)

a partir da data da compra para problemas mecacircnicos ou por falhas

industriais em montagem e pintura

(Certificado 5)

Podemos observar na ocorrecircncia (10) que o fabricante assegura a garantia para todos

os seus produtos utilizando o quantificador universal com algumas restriccedilotildees Se natildeo

houvesse a utilizaccedilatildeo do quantificador nesta inferecircncia o cliente poderia considerar que a

garantia de seu produto por exemplo teria validade vitaliacutecia e que o produto estaria coberto

pela garantia mesmo se for danificado por negligecircncia do cliente O fabricante restringe o

periacuteodo de validade especificando que o periacuteodo de um ano jaacute inclui o periacuteodo da garantia

legal que eacute de 90 dias Ainda enfatiza que se deve contar o periacuteodo a partir da data da compra

e ainda explica que a garantia cobriraacute somente produtos que apresentarem problemas

62

mecacircnicos ou aqueles que apresentarem problemas industriais em montagem e pintura Dessa

forma problemas de outra natureza natildeo seratildeo cobertos pela garantia assim como produtos

com mais de um ano de adquiridos tambeacutem natildeo estaratildeo cobertos Poderiacuteamos identificar a

expressatildeo ―garantia legal como polissecircmica caso o fabricante natildeo tivesse apresentado o

conceito para a expressatildeo logo apoacutes entre parecircnteses Eacute sabido que no CDC a garantia legal eacute

caracterizada como o periacuteodo de 90 dias apoacutes a aquisiccedilatildeo de um produto Para evitar que

houvesse uma interpretaccedilatildeo indevida o fabricante conceituou a expressatildeo imediatamente

apoacutes o aparecimento dela na sentenccedila

(11) Em vista das mudanccedilas de leis que poderatildeo ocorrer TODO

certificado seraacute regido pelas normas do cartatildeo de garantia mais

recentemente atualizado pela faacutebrica

(Certificado 5)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todo para afirmar

que qualquer certificado de garantia de seus produtos deveraacute seguir as normas dispostas no

cartatildeo de garantia mais recentemente atualizado pela faacutebrica ou seja caso algum cliente tente

solicitar a garantia atraveacutes de um cartatildeo de garantia desatualizado ele natildeo estaraacute autorizado

Dessa forma o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo agraves possiacuteveis atualizaccedilotildees de leis ou

informaccedilotildees nos cartotildees de garantia dos diversos lotes de produtos impossibilitando o cliente

de reclamar sobre qualquer tipo de alteraccedilatildeo no documento em questatildeo A utilizaccedilatildeo do

quantificador universal em (11) eacute importante para dar ecircnfase agrave informaccedilatildeo central da sentenccedila

e tambeacutem para evitar que por exemplo o cliente interpretasse que algum certificado poderia

ser regido pelas normas de outro cartatildeo de garantia que natildeo fosse o mais recente Natildeo

identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos em (11)

(12) A garantia incide sobre TODOS os componentes montados

originalmente em Veiacuteculo conforme descrito na Nota Fiscal de

venda quer fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER ou

por esta adquiridos de terceiros

(Certificado 16)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para

restringir a interpretaccedilatildeo da sentenccedila quando afirma que a garantia cobre qualquer

63

componente montado originalmente em veiacuteculo ou seja a garantia natildeo cobre componentes

avulsos Aleacutem disso os componentes montados devem estar descritos na Nota Fiscal de

venda sendo assim se natildeo estiverem lanccedilados invalidam a garantia e por fim os veiacuteculos

devem tem sido fabricados por alguma empresa do grupo DAIMLER ou fabricado por outra

empresa mas tendo sido adquirido pelo fabricante que estaacute oferecendo a garantia Dessa

forma podemos ver que o quantificador universal foi utilizado pelo fabricante de forma

restrita limitando a abrangecircncia de acordo com seus interesses Caso o quantificador

universal natildeo tivesse sido utilizado na sentenccedila haveria a possibilidade do cliente interpretar

(12) de vaacuterias maneiras Por exemplo admitir que a garantia pode ser vaacutelida para produtos

que foram fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER mas natildeo foram lanccedilados na

Nota Fiscal de venda Em vista disso a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela

necessidade do fabricante restringir a interpretaccedilatildeo do texto da garantia buscando direcionar

melhor a informaccedilatildeo que ele estaacute vinculando em seu texto Natildeo identificamos nem termos

vagos nem termos polissecircmicos em (12)

(13) Executar TODAS as revisotildees estabelecidas pela Mercedes-Benz do

Brasil Ltda

(Certificado 16)

(14) Executar TODAS as manutenccedilotildees reparaccedilotildees e regulagens em um

dos Concessionaacuterios ou Postos de Serviccedilos Autorizados Mercedes-

Benz no territoacuterio brasileiro

(Certificado 16)

Nas duas ocorrecircncias acima podemos observar que o fabricante utiliza o quantificador

universal ―todas para definir que a garantia do produto soacute seraacute vaacutelida caso o cliente realize

as funccedilotildees descritas Caso o cliente natildeo realize pelo menos uma delas a garantia seraacute

invalidada Se o cliente natildeo realizar pelo menos uma revisatildeo sugerida pela fabricante perderaacute

a validade Aleacutem disso se o cliente realizar algum tipo de manutenccedilatildeo no veiacuteculo em alguma

concessionaacuteria que natildeo seja autorizada da Mercedes-Benz e no territoacuterio brasileiro tambeacutem

perderaacute a garantia O fabricante mesmo utilizando o quantificador universal nas duas

ocorrecircncias natildeo deixa de condicionar a validade da garantia de acordo com seus interesses O

cumprimento das recomendaccedilotildees dispostas apoacutes o quantificador natildeo garantem efetivamente

que a garantia do produto estaacute assegurada Ou seja mesmo que o cliente execute todas as

manutenccedilotildees reparos e regulagens em um dos concessionaacuterios do fabricante natildeo impede que

64

a garantia seja invalidade por outro motivo O quantificador universal foi utilizado pelo

fabricante em (13) e (14) sem limites e em seu benefiacutecio Natildeo identificamos nem termos

vagos nem termos polissecircmicos em (13) e (14)

(15) TODA solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica durante o periacuteodo da

garantia deveraacute ser feita obrigatoriamente agrave faacutebrica via e-mail ou

fax descrevendo detalhadamente os problemas apresentados natildeo

excedendo o prazo de 30 dias apoacutes detectaacute-lo indicando o modelo do

equipamento e o nuacutemero de seacuterie descrito na placa de identificaccedilatildeo do

mesmo e constante neste certificado

(Certificado 22)

Na ocorrecircncia (15) o fabricante utiliza o quantificador universal ―toda de forma

abrangente determinando que todas as solicitaccedilotildees de assistecircncia teacutecnica para qualquer

produto deveraacute seguir as instruccedilotildees definidas em seguida Caso o cliente tente solicitar a

assistecircncia natildeo seguindo algum dos passos e prazos determinados pelo fabricante a garantia

seraacute invalidada O quantificador universal foi utilizado para evitar interpretaccedilotildees relativas

sobre os procedimentos descritos no texto Por exemplo se (15) natildeo tivesse o quantificador

universal ―toda uma possiacutevel interpretaccedilatildeo seria que uma solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica

durante o periacuteodo da garantia poderia ser realiza na loja em que o produto foi comprado e natildeo

apenas na faacutebrica Dessa forma a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela

necessidade do fabricante restringir o percurso da solicitaccedilatildeo da garantia para o procedimento

que ele deseja que seja seguido pelo cliente Natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos

em (15)

32 USO DO CONDICIONAL

Vejamos a seguir as ocorrecircncias em que o condicional eacute utilizado Quando as

ocorrecircncias apresentarem o mesmo sentido de interpretaccedilatildeo agruparemos numa mesma

anaacutelise como podemos observar a seguir nas ocorrecircncias (16) (17) e (18)

(16) A garantia fica automaticamente invalidada SE

(Certificado 2)

65

(17) A garantia legal e contratual perderaacute seu efeito SE

(Certificado 3)

(18) Esta garantia perderaacute a validade SE

(Certificado 11)

Podemos observar nas ocorrecircncias (16) (17) e (18) que o condicional tem a funccedilatildeo de

limitar a aplicaccedilatildeo da garantia Os usos do ―se natildeo excluem a possibilidade de haver outros

casos em que a garantia natildeo se aplica ou seja as listas que satildeo apresentadas apoacutes o

condicional natildeo satildeo exaustivas Vale mencionar que da mesma forma que o ―todo o ―se

foi utilizado para beneficiar o fabricante como afirmamos acima O ―se assegura que a

validade do produto seraacute perdida nos casos que satildeo listados apoacutes o condicional sem eliminar

a possibilidade de haverem outros casos abrangendo sem limites os casos em que a garantia

natildeo cobriraacute o produto e restringindo a validade da garantia para o cliente Natildeo identificamos

termos vagos ou polissecircmicos nas ocorrecircncias (16) (17) (18) Na ocorrecircncia (17) o autor

usou os termos ―garantia legal e ―contratual que poderiam ser considerados termos

polissecircmicos que dificultariam a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia mas foram apresentados no

certificado os conceitos para os dois termos Para ―garantia legal o autor definiu como

sendo o prazo inicial da garantia com duraccedilatildeo de 90 dias ( contados imediatamente apoacutes a

emissatildeo da Nota Fiscal de compra) e previsto no CDC por sua vez para ―garantia

contratual se refere ao periacuteodo de dois anos incluindo o periacuteodo da garantia legal para todo

equipamento (neste caso condicionador de ar) e cinco anos para o compressor Com a

apresentaccedilatildeo destas definiccedilotildees o autor evitou que os termos se apresentassem no texto como

polissecircmicos

(19) A garantia do produto natildeo se aplica

(Certificado 8)

Trouxemos para a anaacutelise a ocorrecircncia acima pois a expressatildeo ―natildeo se aplica desta

sentenccedila funciona como um condicional mesmo sem ter a forma das ocorrecircncias que

analisamos anteriormente O fabricante utiliza esse condicional precedendo uma lista de

possiacuteveis situaccedilotildees em que a garantia poderia ser reclamada pelo cliente dessa forma

impossibilitando o cliente de exigir qualquer direito sobre alguma das possiacuteveis situaccedilotildees

Natildeo identificamos termos polissecircmicos e vagos na ocorrecircncia (19)

66

(20) A garantia do produto extingue-se

(Certificado 8)

Assim como na ocorrecircncia anterior tambeacutem natildeo encontramos o condicional ―se de

forma expliacutecita mas o termo ―extingue-se se comporta como tal A sentenccedila acima foi

utilizada pelo fabricante antecedendo uma lista de possibilidades de situaccedilotildees em que o

cliente poderia reclamar a garantia do produto excluindo entatildeo qualquer direito do cliente

em relaccedilatildeo ao que foi listado abaixo da sentenccedila em questatildeo Natildeo identificamos termos vagos

e polissecircmicos na ocorrecircncia (20)

(21) O cliente perderaacute a garantia do seu veiacuteculo SE

(Certificado 17)

Na ocorrecircncia (21) o fabricante utiliza o condicional antecedendo uma lista de

situaccedilotildees que se concretizadas invalidaratildeo a garantia Dessa forma se o veiacuteculo do cliente

que deseja ser atendido pela garantia se enquadrar em algum dos itens dispostos apoacutes essa

sentenccedila a garantia natildeo seraacute concedida Assim como nas ocorrecircncias com o uso do

condicional apresentadas anteriormente o uso do ―se aparece sem limites Como afirmamos

na anaacutelise das ocorrecircncias (16) (17) e (18) o autor utiliza o condicional para em seguida

apresentar uma lista de situaccedilotildees em que se concretizadas o cliente perderaacute a garantia Mas

mesmo com a apresentaccedilatildeo dessa lista o cliente poderaacute perder a garantia caso ocorra outro

tipo de situaccedilatildeo natildeo listada Dessa forma o fabricante se favorece abrangendo ao maacuteximo as

possibilidades de perda da garantia e ―prejudica o cliente oferecendo-lhe restritas

possibilidades de validade da garantia do produto a que se refere o texto Natildeo identificamos

nem termos polissecircmicos nem vagos na ocorrecircncia (21) Apenas vale ressaltar que diferente

das ocorrecircncias apresentadas anteriormente o autor em vez de escrever ―a garantia do

produto ele utilizou ―a garantia do seu veiacuteculo que especifica ao que se refere o texto

diminuindo a possibilidade de o cliente interpretar a ocorrecircncia de uma forma diferente da

que o autor se propotildee a transmitir

(22) A garantia vigoraraacute SOMENTE SE o Veiacuteculo atender

cumulativamente as seguintes condiccedilotildees

67

(Certificado 16)

Eacute interessante observar a forma como o fabricante utiliza o condicional na ocorrecircncia

(22) que precede uma lista de condiccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso o fabricante

natildeo utilizasse esse condicional ―somente se na sentenccedila acima o cliente poderia interpretar

que se o seu produto atendesse pelo menos a uma das condiccedilotildees estaria coberto pela

garantia Mas o fabricante aleacutem de utilizar o condicional ―somente se tambeacutem utilizou o

termo ―cumulativamente explicitando que o produto deve obedecer a todas as condiccedilotildees

dispostas pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o autor utilizou o condicional

para restringir as possibilidades de validade da garantia com restriccedilotildees o que natildeo ocorre

quando o fabricante trata sobre as possibilidades de invalidade da garantia como na

ocorrecircncia (21) Comparando as ocorrecircncias (21) e (22) vemos claramente que o autor em

(21) utilizou o condicional para lhe favorecer sem limites quando tratou sobre as condiccedilotildees

pelas quais o cliente pode perder a garantia abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura natildeo

apenas para as situaccedilotildees que estatildeo listadas mas tambeacutem para qualquer outra possiacutevel Jaacute em

(22) o autor (mesmo essa comparaccedilatildeo sendo feita entre ocorrecircncias de certificados

diferentes) utiliza o condicional para restringir as possibilidades de validade da garantia para

as situaccedilotildees listadas apoacutes a apresentaccedilatildeo do condicional e aleacutem disso afirmou que todas as

situaccedilotildees listadas devem ser atendidas para que a garantia seja vaacutelida para o produto Dessa

forma ainda sobre a ocorrecircncia (22) caso uma das situaccedilotildees listadas natildeo seja atendida a

garantia automaticamente seraacute perdida Com isso podemos afirmar que tanto em (21) quanto

em (22) os autores utilizaram o condicional para se beneficiar Em (21) abrangendo as

possibilidades de invalidade da garantia e em (22) restringindo ao maacuteximo as possibilidades

de validade da garantia do produto Natildeo identificamos nem termos vagos nem polissecircmicos

na ocorrecircncia (22)

(23) A garantia Philips natildeo eacute aplicaacutevel SE

(Certificado 14)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o condicional ―se antecedendo uma lista de

informaccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso algum produto Philips se encaixar em

alguma das situaccedilotildees descritas apoacutes o condicional mesmo estando dentro do prazo de

garantia o cliente perderaacute a cobertura Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem

68

vagos na ocorrecircncia (23)

(24) Esta garantia natildeo se aplica

(Certificado 21)

Assim como nas ocorrecircncias (18) e (19) a ocorrecircncia acima natildeo possui o condicional

expliacutecito mas o termo ―natildeo se aplica se comporta como tal O fabricante utiliza o

condicional precedendo uma lista de condiccedilotildees de natildeo aplicaccedilatildeo da garantia Dessa forma

caso o produto se encaixe em alguma das condiccedilotildees a garantia seraacute invalidada

automaticamente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem vagos na sentenccedila (24)

33 USO DO APENASSOMENTE

Vejamos a seguir ocorrecircncias em que identificamos o uso do ―apenas ou ―somente

(25) Esta garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver

devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original

da Nota Fiscal de Compra

(Certificado 4)

Na ocorrecircncia (25) o fabricante utiliza o ―somente para restringir a validade da

garantia indicando que o cliente teraacute direito agrave garantia caso preencha de forma correta o

certificado e apresente a nota fiscal de compra Caso as instruccedilotildees natildeo sejam seguidas pelo

cliente a garantia natildeo seraacute vaacutelida Podemos identificar que o termo ―rasuras presente em

(25) pode ser considerado como vago e polissecircmico neste caso dificultando a interpretaccedilatildeo

do texto Uma rasura pode ser por exemplo desde um rabisco fora de lugar no formulaacuterio

ateacute o dano no documento por aacutegua amasso do papel em excesso etc O autor poderia evitar a

vagueza e a polissemia definindo o termo da forma como ele deseja que o leitor interprete

este termo e comparando-o a uma classe especiacutefica (por exemplo o que eacute considerado rasura

69

nos documentos instrucionais)

(26) Danos decorrentes de desgaste natural inclusive e natildeo SOMENTE

nas partes plaacutesticas que compotildeem o gabinete do produto

(Certificado 4)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o ―somente numa sentenccedila que trata sobre

uma das situaccedilotildees em que a garantia natildeo seraacute vaacutelida O fabricante deixa claro que qualquer

defeito no produto causado por desgaste natural natildeo seraacute coberto pela garantia Se o

fabricante natildeo utilizasse o ―somente nesta sentenccedila o cliente poderia interpretar por

exemplo que danos decorrentes de desgaste natural nas partes que natildeo satildeo de plaacutestico seriam

cobertas pela garantia O autor utiliza o ―somente para se resguardar sobre outras possiacuteveis

interpretaccedilotildees do trecho abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura da garantia para

qualquer peccedila do produto que for afetado por danos decorrentes de desgaste natural Na

ocorrecircncia (26) a expressatildeo ―desgaste natural eacute polissecircmica O autor em nenhuma parte do

certificado de garantia definiu a expressatildeo em questatildeo para que o cliente compreenda da

forma desejada pelo fabricante Dessa forma podemos interpretar ―desgaste natural de

muitas formas Podemos por exemplo interpretar como o desgaste do produto como um todo

ou suas peccedilas referentes ao uso em excesso ao longo do tempo e diretamente vinculado agrave

vida uacutetil tanto do produto em geral quanto de peccedilas especiacuteficas Mas tambeacutem podemos

interpretar como sendo um desgaste proveniente do contato do produto com a natureza como

a exposiccedilatildeo agrave chuva maresia sol em excesso Pode parecer um exagero esta uacuteltima

interpretaccedilatildeo mas ela eacute possiacutevel a partir da forma como (26) se apresenta O autor utilizou no

texto a expressatildeo sem dar-lhe a definiccedilatildeo que ele pensou para a utilizaccedilatildeo dela na ocorrecircncia

dificultando a interpretaccedilatildeo do texto

(27) Este termo de garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos

comercializados e utilizados em territoacuterio brasileiro

(Certificado 4)

(28) Este Certificado de Garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos

vendidos e utilizados no territoacuterio brasileiro

(Certificado 10)

(29) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro

70

(Certificado 2)

(30) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro

(Certificado 13)

(31) Esta garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o territoacuterio brasileiro

(Certificado 12)

Nas ocorrecircncias (27) (28) (29) e (30) observamos que os fabricantes utilizam o termo

―apenas para restringir a cobertura da garantia tanto em relaccedilatildeo ao local da compra quanto

em relaccedilatildeo ao local de uso do produto assim como o autor da ocorrecircncia (31) utiliza o termo

―somente com o mesmo sentido Caso o produto tenha sido comprado em outro paiacutes natildeo

haveraacute cobertura da garantia assim como mesmo que o produto tenha sido comprado no

Brasil mas tenha sido utilizado em outro paiacutes culminando em um defeito tambeacutem natildeo haveraacute

cobertura da garantia Mas para a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que aparece em (27) (28)

(29) (30) e (31) podemos tambeacutem interpretar como natildeo apenas a extensatildeo territorial do paiacutes

mas tambeacutem admitir territoacuterios brasileiros em outros paiacuteses a saber os consulados

honoraacuterios do Brasil nas diversas naccedilotildees ao redor do mundo Nesse caso por exemplo se o

produto for adquirido dentro dos limites geograacuteficos do Brasil e for utilizado em algum

consulado do Brasil em outro paiacutes a garantia deve ser vaacutelida Eacute possiacutevel que o fabricante natildeo

tenha pensado nessa possibilidade poreacutem da forma que estas ocorrecircncias se apresentam haacute

essa possibilidade de interpretaccedilatildeo Ao apresentar essa possiacutevel interpretaccedilatildeo para a

expressatildeo ―territoacuterio brasileiro noacutes quisemos mostrar que o fabricante deveria ter

especificado em alguma parte do certificado de garantia o conceito que ele deseja que o

cliente admita para esta expressatildeo para natildeo deixar que a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro seja

interpretada de outras formas ou seja para evitar a polissemia que dificulta a leitura do

texto Outra questatildeo que tambeacutem podemos considerar eacute que nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)

a afirmaccedilatildeo sobre a validade da garantia eacute apresentada de forma menos detalhada Os autores

apresentam a afirmaccedilatildeo de que a garantia eacute vaacutelida para o territoacuterio brasileiro sem informar se

eacute em relaccedilatildeo ao produto ser adquirido e utilizado no paiacutes Brasil ou se o produto pode ser

utilizado fora do Brasil mas para requerer a garantia do produto o consumidor caso resida no

exterior deva se dirigir ao Brasil para fazer jus a sua garantia Diferente das ocorrecircncias (27)

e (28) em que os autores enfatizam que a garantia dos produtos eacute vaacutelida unicamente para

produtos comercializados e utilizados dentro do Brasil restringindo a garantia mais do que

nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)

71

(32) A garantia SOMENTE eacute vaacutelida mediante a apresentaccedilatildeo de nota

fiscal de compra deste produto

(Certificado 3)

Podemos observar na ocorrecircncia (29) que o fabricante utiliza o termo ―somente para

restringir a validade da garantia Fica claro que caso o produto apresente algum defeito e o

cliente procure a assistecircncia teacutecnica sem estar de posse da nota fiscal natildeo haveraacute cobertura da

garantia Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em (29) o cliente poderia interpretar

por exemplo que a garantia do produto eacute vaacutelida com ou sem a apresentaccedilatildeo da nota fiscal de

compra do produto Neste caso a funccedilatildeo do ―somente eacute de restringir a interpretaccedilatildeo de

acordo com o que o fabricante deseja Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem

vagos em (29)

(33) A garantia oferecida por esse Certificado eacute de 36 (trinta e seis) meses

e SOMENTE teraacute validade se o presente documento for devidamente

preenchido no ato da venda do produto conforme acima e se a

instalaccedilatildeo for feita por uma pessoa ou empresa credenciada pela

Robert Bosch Ltda

(Certificado 8)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade

da garantia Caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees de forma cumulativa que seguem a

utilizaccedilatildeo do termo a garantia seraacute invalidada Por exemplo se o cliente preencher no ato da

venda do produto o certificado mas se a instalaccedilatildeo do produto natildeo tiver sido feita por algueacutem

credenciado pela Robert Bosch Ltda a garantia natildeo teraacute validade A importacircncia do uso do

―somente em (33) se daacute pelo fato de que caso o autor natildeo tivesse utilizado este termo

haveria a possibilidade do cliente interpretar por exemplo que a garantia teria validade caso

a instalaccedilatildeo do produto tenha sido feita por uma pessoa ou empresa natildeo credenciada pela

fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (33)

(34) Os consertos em Garantia do Produto SOMENTE seratildeo efetuados

72

por um Serviccedilo Autorizado devidamente nomeado pela Robert Bosch

Ltda em territoacuterio brasileiro

(Certificado 8)

Podemos observar que o fabricante utiliza o termo ―somente em (34) para restringir a

validade da garantia O fabricante define tanto quem efetuaraacute o conserto dos produtos quanto

os limites territoriais de cobertura Dessa forma fica expliacutecito para o cliente que o conserto

natildeo poderaacute ser efetuado por pessoas natildeo autorizadas pela Robert Bosch Ltda e tal conserto

natildeo pode ser realizado em outros paiacuteses Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em

(34) abriria a possibilidade de interpretar a sentenccedila de outras formas como por exemplo

que os consertos em garantia do produto poderiam ser realizados em territoacuterios de outros

paiacuteses ou que os consertos poderiam ser realizados por serviccedilos natildeo autorizados pelo

fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (34)

(35) O exame e reparo do produto soacute poderatildeo ser efetuados pelo

fabricante

(Certificado 7)

Na ocorrecircncia (36) o fabricante utiliza no lugar do termo ―somente o termo ―soacute

para restringir a interpretaccedilatildeo Nesse caso se o cliente procurar reparar eou examinar o

produto sozinho ou em assistecircncias teacutecnicas que natildeo sejam autorizadas pelo fabricante a

garantia seraacute invalidada A utilizaccedilatildeo do termo ―soacute tem grande importacircncia para o

direcionamento da interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia (35) pois caso natildeo tivesse sido utilizado pelo

autor a ocorrecircncia traria apenas uma informaccedilatildeo vaga dificultando a interpretaccedilatildeo do texto

Sem o ―soacute a partir de (35) poderiacuteamos interpretar que o exame e reparo do produto podem

ser efetuados pelo fabricante mas tambeacutem por qualquer outra pessoa ou empresa Utilizando

o ―soacute o autor restringe a inferecircncia evitando muacuteltiplas interpretaccedilotildees para a sentenccedila

(36) O presente ―Termo de Garantia Hyundai aplica-se uacutenica e

exclusivamente ao veiacuteculo da marca e fabricaccedilatildeo Hyundai

devidamente identificado no iniacutecio deste documento e que tenha sido

comercializado por um Revendedor Autorizado da CAOA Montadora

de Veiacuteculos SA

(Certificado 17)

73

Em (36) o fabricante natildeo utiliza os termos ―apenas ou ―somente mas

consideraremos em nossa anaacutelise a expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como um restritor de

mesmo sentido Observamos que o fabricante utiliza a expressatildeo para restringir a cobertura

da garantia Caso o cliente esteja por exemplo solicitando a garantia de um veiacuteculo Hyundai

que natildeo seja o mesmo que estaacute descrito no iniacutecio do documento de garantia e que natildeo tenha

sido comercializado por uma autorizada da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA a garantia

natildeo teraacute validade Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado a expressatildeo ―uacutenica e

exclusivamente em (36) haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia de outras

maneiras

(37) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA eou o Revendedor Autorizado

da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA APENAS substituiraacute as peccedilas

que forem por elas e a seu exclusivo criteacuterio julgadas como

defeituosas

(Certificado 17)

Na ocorrecircncia (37) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a interpretaccedilatildeo

da sentenccedila Dessa forma o fabricante fica resguardado tanto em relaccedilatildeo a substituiccedilatildeo de

peccedilas quanto em relaccedilatildeo ao meacutetodo utilizado para jugar se a peccedila estaacute defeituosa ou natildeo A

importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―apenas em (37) tambeacutem se daacute pelo fato de natildeo permitir outras

interpretaccedilotildees diferentes da definida pelo fabricante Caso o ―apenas natildeo tivesse sido

utilizado poderiacuteamos interpretar por exemplo que o fabricante poderia substituir peccedilas

julgadas por ela como defeituosas utilizando seus proacuteprios criteacuterios mas tambeacutem substituiria

em outros casos O ―apenas serviu para especificar e restringir a interpretaccedilatildeo dos criteacuterios

definidos pelo fabricante em relaccedilatildeo agrave substituiccedilatildeo de peccedilas do produto Natildeo identificamos

nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (37)

(38) Permita que SOMENTE teacutecnicos autorizados pela faacutebrica prestem

assistecircncia a seu aparelho pois se for aberto por teacutecnicos ou pessoas

natildeo autorizadas automaticamente vocecirc estaraacute perdendo sua garantia

(Certificado 5)

Na ocorrecircncia (38) o fabricante deixa expliacutecito ao utilizar o termo ―somente que

caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees dispostas nesta sentenccedila a garantia do produto seraacute

74

invalidada Dessa forma o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a informaccedilatildeo

veiculada pelo fabricante da mesma forma como vimos na ocorrecircncia (37) Natildeo

identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (38)

(39) A presente garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o Veiacuteculo

comercializado em territoacuterio brasileiro

(Certificado 16)

Na ocorrecircncia (39) um pouco parecida com as ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e

(31) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia do produto Nesse caso

se o veiacuteculo tiver sido adquirido em outro paiacutes sua garantia natildeo seraacute vaacutelida no Brasil Um

pouco diferente das ocorrecircncias (27) e (28) que especificam ao maacuteximo a possibilidade de

cobertura da garantia a ocorrecircncia (39) veicula que a garantia eacute vaacutelida para o produto

comercializado em territoacuterio brasileiro natildeo tratando sobre a possibilidade da perda da

garantia caso o veiacuteculo seja utilizado em outros paiacuteses Neste caso o cliente natildeo tem direito

a garantia do veiacuteculo caso ele seja adquirido em outros paiacuteses Sobre a expressatildeo ―territoacuterio

brasileiro assim como nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31) o autor natildeo definiu um

sentido para a expressatildeo que pode ser interpretada de outras maneiras como exemplificamos

nas anaacutelises anteriores

(40) Utilizar SOMENTE peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios genuiacutenos

Mercedes-Benz e comprovar sua aquisiccedilatildeo mediante e apresentaccedilatildeo

da Nota Fiscal quando adquiridos pelo consumidor final

(Certificado 16)

Na ocorrecircncia (40) que faz parte de uma lista de recomendaccedilotildees para o cliente natildeo

perder a garantia o fabricante utiliza o termo ―somente para delimitar a interpretaccedilatildeo da

sentenccedila Na passagem se o cliente natildeo seguir as instruccedilotildees descritas consequentemente

perderaacute a garantia do produto A importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente na ocorrecircncia (40) eacute

a de dificultar que o cliente interpreta a sentenccedila de outra maneira Sem o ―somente na

sentenccedila o cliente poderia interpretar que ele pode utilizar peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios

originais do fabricante mas tambeacutem estaacute autorizado a utilizar peccedilas de outros fabricantes

Com a presenccedila do ―somente na sentenccedila o cliente eacute levado a interpretar a sentenccedila da

75

forma direcionada pelo fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (40)

(41) A comprovaccedilatildeo de defeito de fabricaccedilatildeo do produto que provocaraacute a

execuccedilatildeo da troca do mesmo deveraacute ser feita exclusivamente por

funcionaacuterio credenciado da Ortobom

(Certificado 15)

Na ocorrecircncia (41) o fabricante natildeo utiliza explicitamente os termos ―apenas ou

―somente mas consideraremos em nossa anaacutelise que o termo ―exclusivamente possui a

mesma funccedilatildeo de restringir interpretaccedilotildees O fabricante utiliza o termo para restringir a

garantia do produto em questatildeo Natildeo haacute a possibilidade de o cliente comprovar um defeito de

fabricaccedilatildeo em seu produto atraveacutes de outro profissional que natildeo seja um funcionaacuterio

credenciado da Ortobom Haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia (41) caso o

fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―exclusivamente Sem tal uso o cliente poderia

interpretar que poderia comprovar algum defeito no produto para possiacutevel troca por

intermeacutedio de qualquer profissional natildeo obrigatoriamente por um funcionaacuterio do fabricante

Ortobom O termo ―exclusivamente especifica e destaca a informaccedilatildeo que o fabricante

veicula em (41) Natildeo identificamos em (41) nem termos polissecircmicos nem termos vagos

(42) A garantia cobre exclusivamente defeitos de materiais eou

fabricaccedilatildeo sendo que as despesas de deslocamento alimentaccedilatildeo e

hospedagem do teacutecnico para atendimento em garantia ou natildeo

referente agrave entrega montagem instruccedilatildeo de uso e reparo do

equipamento assim como o frete de retirada para conserto e retorno

do mesmo e de envio de peccedilas e retorno das substituiacutedas em garantia

ocorreratildeo por conta do cliente

(Certificado 22)

Assim como em (41) o fabricante utiliza o termo ―exclusivamente para restringir a

garantia do produto O fabricante ao utilizar esse termo se resguarda de possiacuteveis cobranccedilas

por parte do cliente ao solicitar a garantia como por exemplo ajuda de custo para custear a

iacuteda do teacutecnico para manutenccedilatildeo do produto envio de peccedilas para faacutebrica etc Fica expliacutecito

que em todas essas situaccedilotildees o cliente eacute responsaacutevel Caso o termo ―exclusivamente natildeo

76

tivesse sido utilizado o cliente poderia interpretar a ocorrecircncia de diferentes modos Uma

possibilidade de interpretaccedilatildeo seria a de entender que a garantia cobre outros tipos de

defeitos que natildeo fossem de peccedilas ou de fabricaccedilatildeo Com a utilizaccedilatildeo do termo

―exclusivamente o fabricante diminui as possibilidades de interpretaccedilatildeo tornando o texto

mais claro para o cliente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na

ocorrecircncia (42)

(43) A garantia natildeo cobre peccedilas ou componentes de desgaste normal de

uso dentre as quais selim pedais firma-peacutes natildeo se limitando

SOMENTE a estes mas incluindo rodas de transporte carenagens

adesivos elementos de acabamento de plaacutestico borracha e alumiacutenio

danos na pintura e quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa

exclusiva distribuiccedilatildeo devendo as reclamaccedilotildees ser encaminhadas aos

seus respectivos representantes ou fabricantes

(Certificado 22)

Em (43) o fabricante aleacutem de utilizar o termo ―somente para abranger a

interpretaccedilatildeo sobre as peccedilas que natildeo seratildeo cobertas pela garantia do produto utiliza outros

termos que alargam ainda mais sem restriccedilotildees a natildeo cobertura da garantia como ―quaisquer

acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo O fabricante se resguarda

especificando quais peccedilas que ele considera como de ―desgaste normal para evitar

problemas de interpretaccedilatildeo por parte do cliente O uso do ―somente na ocorrecircncia (43) se

apresenta de forma contraacuteria agraves outras ocorrecircncias que apresentamos anteriormente Enquanto

em ocorrecircncias como a (40) que o ―somente foi utilizado para restringir a interpretaccedilatildeo da

sentenccedila para as informaccedilotildees descritas depois do termo em (43) o fabricante utiliza o

―somente precedido da negaccedilatildeo ―natildeo se limitando direcionando o termo para o sentido de

abrangecircncia Ou seja a garantia que o fabricante oferece natildeo cobre peccedilas ou componentes de

desgaste natural como selim e pedais Para natildeo correr o risco de esquecer de citar algum dos

componentes de desgaste natural do produto e deixar brechas na interpretaccedilatildeo da garantia o

fabricante utiliza a expressatildeo ―natildeo se limitando seguida do ―somente para abranger ao

maacuteximo as possibilidades de interpretaccedilatildeo sobre os itens de desgaste natural que natildeo satildeo

cobertos pela garantia Depois do uso do ―somente e de apresentar mais uma lista de itens

que natildeo satildeo cobertos pela garantia o fabricante ainda abrange mais a interpretaccedilatildeo

utilizando a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo

Dessa forma pudemos perceber que o fabricante utilizou natildeo apenas o termo de restriccedilatildeo

77

―somente para limitar as possibilidades de interpretaccedilatildeo da sentenccedila mas tambeacutem utilizou

listas especificando itens e a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa

exclusiva distribuiccedilatildeo Todas essas estrateacutegias foram utilizadas com o objetivo de tornar a

interpretaccedilatildeo do texto clara sem oferecer a possibilidade de o cliente obter muacuteltiplas

interpretaccedilotildees do texto Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na

ocorrecircncia (43)

(44) A matildeo-de-obra em garantia limita-se SOMENTE ao horaacuterio normal

de expediente sendo de segunda a sexta-feira das 730 agraves 1800 horas

devendo o equipamento estar disponiacutevel para a assistecircncia teacutecnica

(Certificado 22)

Em (44) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o horaacuterio disponiacutevel

para reparos em produtos na garantia e aleacutem disso enfatizando que o produto deve estar

disponiacutevel para a assistecircncia Dessa forma o cliente fica impossibilitado de reclamar

assistecircncia fora do horaacuterio que estaacute descrito na sentenccedila assim como fica consciente de que

seu produto ficaraacute a disposiccedilatildeo da assistecircncia para conserto ou seja natildeo seraacute reparado

imediatamente A importacircncia do uso do ―somente na ocorrecircncia (44) se daacute pelo fato de que

caso natildeo fosse utilizado o cliente poderia interpretar por exemplo que a matildeo-de-obra em

garantia estaria disponiacutevel vinte e quatro horas por dia e sete dias por semana Como o

―somente foi utilizando precedendo as informaccedilotildees sobre dia e horaacuterio de atendimento natildeo

eacute possiacutevel interpretar a informaccedilatildeo de outra maneira que natildeo seja a descrita Haveria a

possibilidade de definir a expressatildeo ―horaacuterio normal de expediente como uma expressatildeo

polissecircmica caso ela natildeo estivesse acompanhada de uma definiccedilatildeo (―de segunda a sexta-feira

das 730 agraves 1800 horas) pois o horaacuterio de expediente pode variar de acordo com o trabalho

que vocecirc tem por exemplo Se vocecirc trabalha em um banco financeiro o seu horaacuterio de

expediente seraacute possivelmente diferente do horaacuterio de um feirante Para evitar a polissemia

o fabricante utilizou a expressatildeo e em seguida apresentou a definiccedilatildeo da expressatildeo de

acordo com o seu interesse

(45) A presente garantia limita-se SOMENTE ao produto fornecido natildeo

responsabilizando a TOTAL HEALTH por danos causados a pessoas

a terceiros a outros equipamentos ou instalaccedilotildees lucros cessantes ou

quaisquer outros danos emergentes ou consequumlentes

(Certificado 22)

78

Na ocorrecircncia (45) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da

garantia Nesse caso a garantia se limita unicamente ao produto descrito Se por exemplo o

produto em questatildeo apresentar defeito e tal defeito ocasionar dano fiacutesico ao dono do produto

ou a terceiros a garantia natildeo cobriraacute tais problemas Assim como nas ocorrecircncias anteriores

o uso do ―somente em (45) teve a funccedilatildeo de direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para uma

uacutenica possibilidade de interpretaccedilatildeo Caso o ―somente natildeo tivesse sido utilizado poderiacuteamos

interpretar (45) de outras maneiras Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (45)

(46) SOMENTE os profissionais indicados pela loja revendedora dos

produtos Bartzen estatildeo autorizados a prestar atendimento dentro do

prazo de garantia

(Certificado 18)

Na ocorrecircncia (46) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a

interpretaccedilatildeo da sentenccedila Nesse caso o cliente soacute poderaacute usufruir de assistecircncia teacutecnica em

seu produto atraveacutes de profissionais indicados pela loja na qual ele adquiriu seu produto

Bartzen e dentro do prazo da garantia Caso o cliente realize algum serviccedilo em seu produto

com profissionais natildeo autorizados pela fabricante sua garantia seraacute invalidada A importacircncia

da utilizaccedilatildeo do termo ―somente na ocorrecircncia (46) eacute a de diminuir as possibilidades de

interpretaccedilatildeo da sentenccedila ao maacuteximo Dessa forma natildeo haacute como o cliente interpretar que por

exemplo ele pode realizar a manutenccedilatildeo ou reparo do seu produto com qualquer outro

funcionaacuterio que natildeo seja autorizado pela fabricante do produto Natildeo identificamos nem

termos polissecircmicos nem termos vagos em (46)

(47) A garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o consumidor que consta

identificado na nota fiscal de compra do produto (primeiro usuaacuterio) a

qual deveraacute ser apresentada junto com este Certificado de Garantia

devidamente preenchido com os dados do consumidor e do produto

para fins de cobertura para reparo ou substituiccedilatildeo do produto se

necessaacuterio

(Certificado 19)

79

Em (47) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia Nesse caso

o cliente fica ciente de que a garantia soacute seraacute vaacutelida para o primeiro proprietaacuterio do produto

assim como soacute seraacute aceito o pedido de garantia caso o cliente apresentar a nota fiscal

contendo tanto os dados do produto quanto os seus Todas as possibilidades fora das

descritas seratildeo desconsideradas e consequentemente a garantia seraacute invalidada A

importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente em (47) se daacute pelo fato de que haacute diversas

informaccedilotildees a serem consideradas pelo cliente na ocorrecircncia (47) e caso o autor do texto natildeo

tivesse utilizado o termo ―somente antes dessas informaccedilotildees o cliente poderia interpretar

que sua garantia poderia ser vaacutelida ao cumprir algumas das informaccedilotildees descritas na sentenccedila

e natildeo obrigatoriamente todas Por exemplo se natildeo houvesse o uso do ―somente em (47) o

cliente poderia interpretar que a garantia eacute vaacutelida para o consumidor que tem o nome

constando na nota fiscal mas tambeacutem para qualquer outro consumidor que esteja de posse da

nota fiscal mesmo que natildeo seja a pessoa que tem o nome na nota fiscal O ―somente possui

o papel de restringir a interpretaccedilatildeo de toda ocorrecircncia ao maacuteximo direcionando a leitura do

texto para evitar muacuteltiplas interpretaccedilotildees Com esse uso natildeo eacute possiacutevel que cliente interprete

que ele pode ter acesso a garantia caso natildeo cumpra alguma das recomendaccedilotildees Natildeo

identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (47)

(48) O Certificado de Garantia eacute vaacutelido SOMENTE para os

condicionadores vendidos e instalados no territoacuterio brasileiro

(Certificado 19)

Em (48) semelhante agraves ocorrecircncias (31) e (39) o fabricante utiliza o termo ―somente

para restringir o territoacuterio de cobertura da garantia Neste caso condicionadores adquiridos e

utilizados em outros paiacuteses natildeo seratildeo cobertos pela garantia descrita acima Ainda retomando

a discussatildeo sobre a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro consideramos que pelo fato do autor do

texto natildeo ter apresentado um conceito para esta expressatildeo em nenhum local do certificado de

garantia da forma como se apresenta ela pode ser interpretada de outras maneiras assim

como discutimos nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)

(49) Para o uso de condicionadores de ar em ambientes com alta

concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre

seraacute vaacutelida SOMENTE a garantia legal de 90 (noventa) dias contados

80

da data de emissatildeo da nota fiscal de compra do produto

(Certificado 19)

Na ocorrecircncia (49) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da

garantia do produto que seja utilizado em ambientes especiacuteficos como ―ambientes com alta

concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre Dessa forma o

fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a qualquer solicitaccedilatildeo de garantia ―normal ou seja prazo

de validade de garantia para condicionadores de ar que satildeo utilizados em ambientes

considerados ―normais por parte de um cliente que utilize o produto em ambientes como os

descritos acima Dessa forma o uso do ―somente se justifica pelo fato de que o fabricante

busca direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha duacutevidas de que como

descrito em (49) os produtos utilizados em ambientes atiacutepicos soacute estaratildeo cobertos pela

garantia legal Assim como jaacute discutimos em outras ocorrecircncias anteriormente o fabricante

utiliza a expressatildeo ―garantia legal que eacute uma expressatildeo teacutecnica do CDC e para que ela natildeo

se tornasse polissecircmica logo apoacutes seu uso o autor apresentou o conceito para o termo que eacute

o de um periacuteodo de 90 dias corridos compreendidos imediatamente apoacutes a expediccedilatildeo da nota

fiscal de compra do produto

(50) A partir do 91ordm (nonageacutesimo primeiro) dia tais despesas satildeo de

responsabilidade uacutenica e exclusiva do consumidor

(Certificado 19)

Em (50) o fabricante natildeo utilizou os termo ―somente e ―apenas mas

consideraremos em nossa anaacutelise a utilizaccedilatildeo da expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como

umas expressotildees utilizadas para restringir interpretaccedilotildees como discutimos anteriormente em

outras anaacutelises Na sentenccedila acima o fabricante utilizou a expressatildeo de restriccedilatildeo para

enfatizar que passados os trecircs meses de garantia as despesas referentes a qualquer

manutenccedilatildeo e garantia do produto seratildeo de responsabilidade do cliente Como apresentamos

na ocorrecircncia (49) a garantia legal para um produto cobre os primeiros 90 dias apoacutes a

emissatildeo da nota fiscal de compra do produto Ao informar em (50) que a partir do primeiro

dia apoacutes o teacutermino da garantia legal despesas referentes ao traslado do produto para

manutenccedilatildeo seraacute de responsabilidade do cliente o autor utiliza a expressatildeo ―uacutenica e

exclusiva para se resguardar de qualquer possibilidade de participaccedilatildeo em possiacuteveis gastos

81

Caso o fabricante natildeo tivesse enfatizado essa informaccedilatildeo utilizando esta expressatildeo o cliente

poderia interpretar por exemplo que poderia haver algum caso em que o fabricante se

responsabilizaria por tais gastos Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (50)

(51) A reposiccedilatildeo de peccedilas defeituosas e execuccedilatildeo dos serviccedilos decorrentes

desta Garantia SOMENTE seratildeo procedidas nas localidades do

territoacuterio brasileiro onde a ENVISION mantiver ―Centro de Serviccedilo

Autorizado de titularidade dela proacutepria ou de terceiro por ela

expressamente indicado onde deveraacute ser entregue o produto para

reparo

(Certificado 20)

Na ocorrecircncia (51) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir os locais de

execuccedilatildeo de serviccedilos da garantia Neste caso o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a por

exemplo natildeo haver assistecircncias teacutecnicas em todas as cidades do paiacutes Aleacutem de enfatizar que o

produto deveraacute ser entregue na assistecircncia pelo cliente ou seja o fabricante natildeo se

responsabiliza quanto ao recolhimento do produto para reparo A utilizaccedilatildeo do ―somente se

justifica pelo fato de que o fabricante busca restringir ao maacuteximo as possibilidades de

interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o ―somente o cliente

poderia por exemplo interpretar que se a cidade em que o cliente tenha adquirido o produto

natildeo tenha uma assistecircncia teacutecnica a fabricante se responsabilizaria pelo recolhimento do

produto para manutenccedilatildeo numa cidade que possua a assistecircncia teacutecnica Com a utilizaccedilatildeo do

―somente precedendo as demais informaccedilotildees natildeo eacute possiacutevel interpretar a ocorrecircncia dessa

maneira Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termo vagos na ocorrecircncia (51)

(52) Esta Garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver

devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original

da Nota Fiscal de Compra

(Certificado 20)

Na ocorrecircncia (52) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a forma

como o cliente deve solicitar a garantia do produto Caso o cliente deixe de apresentar o

certificado preenchido corretamente eou a nota fiscal de compra a garantia seraacute invalidada

82

Assim como na ocorrecircncia (51) o autor fabricante utiliza o ―somente para restringir ao

maacuteximo a interpretaccedilatildeo do texto Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente

haveria a possibilidade de o cliente interpretar que a garantia do produto seria vaacutelida caso o

certificado estivesse preenchido sem rasuras acompanhado da nota fiscal de compra mas

tambeacutem de qualquer outra forma A ocorrecircncia ficaria sem limites para interpretaccedilatildeo caso o

fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente Poreacutem como o termo foi utilizado natildeo

haacute outra forma de o cliente interpretar a ocorrecircncia sobre a validade da garantia do produto

Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (52)

(53) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS se o produto for reparado pela rede

autorizada Rheem ou por autorizaccedilatildeo preacutevia formalizada pelo

Departamento de Assistecircncia Teacutecnica

(Certificado 20)

Na ocorrecircncia (53) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a validade da

garantia quanto ao local de assistecircncia Caso o produto seja reparado por profissional natildeo

autorizado pela fabricante Rheem a garantia do produto seraacute perdida A importacircncia o uso do

termo ―apenas na ocorrecircncia (53) se daacute pelo fato de que o autor busca restringir a

interpretaccedilatildeo do texto ao maacuteximo Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―apenas o

cliente poderia por exemplo interpretar que a garantia do produto eacute vaacutelida em qualquer

situaccedilatildeo e natildeo unicamente se seguir as recomendaccedilotildees descritas apoacutes o uso do termo

―apenas Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (53)

(54) Os produtos SOMENTE poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para

anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes sua autorizaccedilatildeo por escrito

(Certificado 21)

Na ocorrecircncia (54) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o modo

como deve submeter o produto agrave garantia Caso natildeo haja uma autorizaccedilatildeo por escrito para

enviar o produto para a faacutebrica o produto natildeo poderaacute seguir para anaacutelise A importacircncia da

utilizaccedilatildeo do termo ―somente se daacute pelo fato de que caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o

termo na ocorrecircncia (54) a interpretaccedilatildeo do texto ficaria sem limites ou seja os produtos

poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes a autorizaccedilatildeo por

83

escrito ou de qualquer outra forma Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (54)

34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS

Em nossa pesquisa analisamos cinquenta e quatro ocorrecircncias selecionadas a partir

dos vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Dividimos a anaacutelise por tipos de

ocorrecircncias com quantificador universal com condicional e com o apenassomente Para

apresentar um panorama sobre os tipos de ocorrecircncia e a quantidade das anaacutelises de cada tipo

vamos observar o quadro a seguir

Tipo de ocorrecircncia Nuacutemero de ocorrecircncias

Quantificador universal 15

Condicional 9

ApenasSomente 30

TOTAL 54

Quadro 2 ndash Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia Fonte elaborado pelo autor

Antes de discorrer nossos comentaacuterios sobre as anaacutelises de nosso trabalho temos que

tratar sobre a primeira importante impressatildeo que tivemos diante do corpus e das consequentes

anaacutelises dos quatro nexos semacircnticos que invocamos em nosso trabalho somente

identificamos ocorrecircncias com acarretamentos Tratamos com muita naturalidade este fato

porque por mais que em algumas leituras uma parte do conteuacutedo do segundo capiacutetulo possa

ser vista como desnecessaacuteria ndash pelo fato de tais conceitos natildeo estarem presentes nas anaacutelises

dessa pesquisa ndash encontramos aiacute uma caracteriacutestica do gecircnero textual certificado de garantia

que eacute a presenccedila de diversos acarretamentos mesmo que natildeo-expliacutecitos como demonstramos

em nosso trabalho (porque o gecircnero textual certificado de garantia natildeo possui uma linguagem

tatildeo controlada quanto a linguagem encontrada nos exemplos que criamos para ilustrar os

conceitos dos nexos) Dessa maneira fica claro que natildeo encontramos ocorrecircncias com

equivalecircncias semacircnticas contrariedades ou contraditoriedades o que nos permite definir

estas ausecircncias como uma caracteriacutestica intriacutenseca do gecircnero

84

Na primeira parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o quantificador

universal Identificamos quinze ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia

utilizaram esse recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (1) e (15)

percebemos que o uso do quantificador universal em algumas ocorrecircncias serviu apenas para

reforccedilar a informaccedilatildeo que o fabricante quis veicular ou seja se natildeo tivesse sido utilizado natildeo

modificaria o sentido do texto Pudemos identificar esse sentido por exemplo nas

ocorrecircncias (1) e (2)

Aleacutem desse sentido para o uso do quantificador universal encontramos ocorrecircncias

em que caso o quantificador natildeo tivesse sido utilizado haveria a possibilidade de

interpretarmos a ocorrecircncia de vaacuterias maneiras Nesses casos os autores utilizaram o

quantificador para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo direcionando a leitura do texto

para que o cliente possa interpretar o certificado da forma que o fabricante deseja Pudemos

identificar esse sentido por exemplo nas ocorrecircncias (3) (4) e (8)

Pudemos observar que os autores dos certificados de garantia utilizam tambeacutem o

quantificador universal em seus textos para se resguardarem em relaccedilatildeo a deveres que

poderiam ser reclamados pelo cliente caso natildeo houvesse o uso deste recurso Dessa forma

podemos entender que os autores dos certificados utilizaram o quantificador universal para se

favorecerem Pudemos observar essa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (5) (11) (13) e

(14) Em relaccedilatildeo a ocorrecircncias com o uso do quantificador universal em que o cliente eacute

beneficiado natildeo identificamos nenhum caso em nossa anaacutelise

Sobre o aparecimento de termos vagos ou termos polissecircmicos nas ocorrecircncias com a

presenccedila do quantificador universal pudemos observar que o maior motivo da sensibilidade

dos textos a esses tipos de efeitos linguiacutesticos eacute o fato de os autores dos textos em muitos

casos natildeo conceituarem os termos teacutecnicos que eles utilizam nos certificados de garantia Ao

utilizar um termo teacutecnico como por exemplo na ocorrecircncia (3) em que o autor do

certificado de garantia utiliza o termo ―viacutecio do produto ndash termo teacutecnico do CDC ndash natildeo

apresentando o conceito em seu texto dificulta a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Tendo contato

com o termo de forma solta sem estar delimitada pelo conceito que o autor deseja que o

cliente interprete a ocorrecircncia se torna vaga e polissecircmica

Ainda sobre os termos vagos ou termos polissecircmicos encontramos tambeacutem

ocorrecircncias em que os autores buscaram evitaacute-las justamente apresentando apoacutes a utilizaccedilatildeo

de um termo teacutecnico o seu respectivo conceito desta forma natildeo oferecendo a possibilidade

de interpretaacute-lo de vaacuterias maneiras Pudemos observar este uso por exemplo na ocorrecircncia

(10) em que o autor do certificado usa o termo ―garantia legal e logo em seguida apresenta

85

o conceito para o termo que eacute ―os primeiros 90 dias Dessa forma o cliente natildeo eacute autorizado

a interpretar o termo ―garantia legal de nenhuma outra forma que natildeo seja a descrita pelo

fabricante

Na segunda parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o uso do condicional

Identificamos nove ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia utilizaram este

recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (16) e (24) pudemos identificar

que o condicional foi utilizado pelos autores dos textos precedendo listas instrucionais o que

era esperado devido a caracteriacutestica proacutepria desse recurso que eacute o de condicionar algo agrave

alguma coisa Assim como nas ocorrecircncias que os autores utilizaram o quantificador

universal o condicional foi utilizado em boa parte das ocorrecircncias analisadas para restringir

a interpretaccedilatildeo do texto Pudemos identificar este sentido por exemplo nas ocorrecircncias (16)

(17) e (18)

Identificamos em boa parte das ocorrecircncias que possuem o uso do condicional que

este uso natildeo impotildee um limite na interpretaccedilatildeo Pudemos observar em nossa anaacutelise que os

condicionais foram utilizados precedendo listas exaustivas que continham situaccedilotildees por

exemplo em que a garantia seria invalidada Ao apresentar tais listas os autores natildeo

especificavam que natildeo haveria outros casos fora da lista em que a garantia seria invalidada

Dessa forma observamos que assim como nas ocorrecircncias com quantificador universal os

autores utilizaram os condicionais para se favorecerem Identificamos na ocorrecircncia (22)

recursos que restringem ainda mais as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente e

que consequentemente favorecem o fabricante como o uso do termo ―cumulativamente

que obriga o cliente a natildeo apenas estar dentro de uma ou mais situaccedilotildees descritas pelo

fabricante apoacutes o condicional mas a seguir todas as situaccedilotildees descritas ao mesmo tempo

Quando os fabricantes utilizaram o condicional precedendo listas que constam as

situaccedilotildees em que o cliente poderia perder a garantia eles usaram o recurso sem limites como

pudemos observar na ocorrecircncia (21) Mas quando os fabricantes utilizaram o condicional

precedendo listas que constam as situaccedilotildees em que o cliente tem direito a garantia eles

usaram os recursos com limites e como mostramos na ocorrecircncia (22) ainda utilizaram

recursos que limitam mais ainda a garantia

Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem das ocorrecircncias em que o condicional apareceu

de forma expliacutecita ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o mesmo

sentido como em (19) (20) e (24)

Sobre a presenccedila de termos polissecircmicos ou termos vagos nas ocorrecircncias com o uso

do condicional pudemos identificar que diferente das ocorrecircncias com o uso do

86

quantificador universal natildeo encontramos casos de termos vagos ou termos polissecircmicos nas

ocorrecircncias analisadas Identificamos em muitas ocorrecircncias que os autores dos certificados

apresentaram os conceitos para termos teacutecnicos apoacutes uso geralmente entre parecircnteses para

evitar que o termo ou a expressatildeo fossem interpretados de formas indevidas Encontramos

este tipo de estrateacutegia por exemplo na ocorrecircncia (17) do certificado 3 em que o autor

utiliza os termos ―garantia legal e ―garantia contratual mas no texto do certificado haacute o

conceito para cada termo o que impossibilita que o cliente interprete os termos de diversas

maneiras Caso o fabricante tivesse utilizado os dois termos teacutecnicos e em lugar algum do

certificado de garantia ele apresentasse os conceitos para os termos oportunizaria por

conseguinte diversas possibilidades de interpretaccedilatildeo dificultando a leitura do texto por parte

do cliente

Na terceira parte da anaacutelise tratamos sobre as ocorrecircncias com o uso do ―apenas e do

―somente Identificamos trinta ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia

utilizaram esses recursos linguiacutesticos Apesar do nuacutemero elevado de ocorrecircncias os sentidos

em que o ―apenas e o ―somente foram utilizados natildeo variaram muito Em grande parte das

ocorrecircncias analisadas o ―apenas e o ―somente foram utilizados para restringir a validade

da garantia desde restriccedilotildees em relaccedilatildeo ao territoacuterio de vigecircncia ateacute tipos de ambientes em

que os produtos podem ser utilizados Um tipo de ocorrecircncia que foi bastante recorrente em

nosso corpus foi o que utilizou o ―apenas ou ―somente para delimitar o territoacuterio em que a

garantia pode ser vaacutelida como por exemplo nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)

Nestas ocorrecircncias haacute o uso da expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que levantamos na anaacutelise

uma discussatildeo sobre as possibilidades de interpretaccedilatildeo para tal expressatildeo pelo fato de natildeo

haver nos certificados de garantia analisados um conceito definido para ela A ausecircncia do

conceito para este termo nos certificados de garantia pode dificultar a interpretaccedilatildeo

Tambeacutem podemos afirmar que em grande parte das ocorrecircncias analisadas o uso do

―somente ou ―apenas serviu para impor limites agraves interpretaccedilotildees dos textos direcionando-

os para a interpretaccedilatildeo que o fabricante desejasse impor Ou seja em grande parte das

ocorrecircncias em que foi utilizado o ―somente precedendo uma situaccedilatildeo X caso natildeo houvesse

esse uso a garantia por exemplo seria vaacutelida na situaccedilatildeo X mas tambeacutem nas situaccedilotildees Y Z

W sem limites Sem o uso do ―somente nessas ocorrecircncias o texto da garantia natildeo teria

sentido definido Pudemos observar esse sentido em diversas ocorrecircncias analisadas como

por exemplo nas ocorrecircncias (27) e (28) Ilustrando caso natildeo houvesse o uso do ―apenas

nas ocorrecircncias (27) e (28) a garantia seria vaacutelida no territoacuterio brasileiro e em qualquer outro

Ainda sobre as ocorrecircncias usam o ―somente ou ―apenas para restringir o territoacuterio em que

87

a garantia seraacute vaacutelida observamos que algumas ocorrecircncias especificam mais a validade da

garantia como em (48) que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para produtos vendidos e

instalados em territoacuterio nacional e outras ocorrecircncias que especificam menos como em (39)

que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para o veiacuteculo comercializado em territoacuterio brasileiro

Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem de ocorrecircncias em que o ―apenas e ―somente

apareciam explicitamente ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o

mesmo sentido como em (35) (36) e (41)

Sobre o aparecimento de termos polissecircmicos ou termo vagos aleacutem da expressatildeo

―territoacuterio brasileiro que mencionamos nos paraacutegrafos anteriores pudemos identificar

outros casos de termos polissecircmicos como por exemplo nas ocorrecircncias (25) e (26) Os

termos teacutecnicos utilizados pelos autores dos certificados de garantia natildeo possuiacuteam em lugar

algum dos textos os conceitos para lhes definirem possibilitando que o cliente interprete

estes termos de diversas maneiras

Ainda sobre casos de termos polissecircmicos observamos em algumas ocorrecircncias que

os autores dos certificados procuraram utilizar os termos teacutecnicos e em seguida ou em

alguma parte dos textos apresentaram os conceitos para os termos evitando muacuteltiplas

interpretaccedilotildees Identificamos o uso dessa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (43) (44) e

(49)

Nos trecircs tipos de ocorrecircncias que definimos para nossa anaacutelise pudemos identificar

que nos usos do quantificador universal condicional e ―apenas e ―somente os autores dos

certificados de garantia usaram esses recursos para se favorecerem Como analisado nas

ocorrecircncias do corpus os fabricantes utilizaram essas estrateacutegias tanto pelo fato de que eacute

necessaacuterio utilizar esses recursos por ser caracteriacutestico de textos instrucionais quanto pelo

fato de que o direcionamento das interpretaccedilotildees dos textos que eles constroem a partir destes

recursos podem favorecer os proacuteprios fabricantes

88

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Na presente seccedilatildeo iremos pontuar o percurso de nossa pesquisa e apresentar nossas

impressotildees sobre o corpus as teorias apresentadas e os resultados obtidos com as anaacutelises

O primeiro capiacutetulo de nossa pesquisa foi subdividido em duas partes na primeira

buscamos apresentar os conceitos gerais sobre os gecircneros textuais com base na proposta de

Bakhtin (2000) reafirmada por Marcuschi (2008) com o intuito de fornecer aporte teoacuterico

para a segunda parte do capiacutetulo em que caracterizamos o certificado de garantia como um

gecircnero textual Tal caracterizaccedilatildeo se deu pelo fato do nosso corpus ser composto por vinte e

dois certificados de garantia Ficamos surpresos por tomar conhecimento do fato de que ateacute o

presente momento natildeo identificamos publicaccedilotildees acadecircmicas em nosso paiacutes referentes agrave

caracterizaccedilatildeo de certificados de garantia como gecircneros textuais e esta dificuldade nos levou

a construir atraveacutes de nossa leitura a caracterizaccedilatildeo tanto quanto ao conteuacutedo quanto agrave

estrutura do texto A uacutenica bibliografia que encontramos e utilizamos como base para a

estruturaccedilatildeo da segunda parte do capiacutetulo tratando diretamente sobre os certificados de

garantia foi o Coacutedigo de Defesa e Proteccedilatildeo do Consumidor (1997) em que pudemos extrair

alguns conceitos gerais e recomendaccedilotildees de como se deve construir o texto de um certificado

de garantia Um dos problemas que encontramos foi a carecircncia de detalhes apresentados pelo

CDC na seccedilatildeo em que sugerem um padratildeo de formulaccedilatildeo do documento O CDC apenas

enfatiza que se faz necessaacuterio o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo e por exemplo a

necessidade de ser acompanhado do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto Com base

nessas informaccedilotildees apresentamos os conceitos e tambeacutem um exemplo de certificado de

garantia ilustrando cada parte da estrutura do texto

Na introduccedilatildeo do segundo capiacutetulo apresentamos uma discussatildeo geral sobre a

distinccedilatildeo entre semacircntica e pragmaacutetica com o objetivo de caracterizar os nexos como

relaccedilotildees linguiacutesticas do campo da semacircntica Para isso apresentamos tambeacutem os conceitos e

exemplos de relaccedilotildees linguiacutesticas que satildeo consideradas como pertencentes ao campo da

pragmaacutetica como a implicatura e pressuposiccedilatildeo Para esta discussatildeo buscamos aporte teoacuterico

nas obras de autores como Trask (2004) Levinson (2007) Grice (1987) Basso (2009)

Moura (1999) e Santos (2012)

Apoacutes a introduccedilatildeo do capiacutetulo apresentamos a teoria dos nexos semacircnticos que

escolhemos tratar em nossa pesquisa Foram eles o acarretamento a equivalecircncia semacircntica

a contradiccedilatildeo e a contrariedade Utilizamos como referencial teoacuterico para a teoria dos nexos

89

semacircnticos autores como Aristoacuteteles (1985) Chierchia (2001) Branquinho Murcho e Gomes

(2006) Pires de Oliveira (2001) e Mortari (2001) A apresentaccedilatildeo de cada nexo se deu a

partir dos conceitos seguidos de exemplos e dentro de cada seccedilatildeo apresentamos tambeacutem

tipos de ocorrecircncias lexicais que podem dificultar a intepretaccedilatildeo dos nexos que satildeo a

polissemia e a vagueza Ao apresentar os conceitos dessas ocorrecircncias lexicais assim como

fizemos na apresentaccedilatildeo dos nexos tambeacutem ilustramos com exemplos Utilizamos como

aporte teoacuterico para os conceitos de polissemia e vagueza autores como Crystal (1985) Allan

(2010) e Kempson (1977) Aleacutem da polissemia e vagueza tratamos sobre outro problema

que dificulta a interpretaccedilatildeo dos nexos as falaacutecias Quando tratamos sobre as caracteriacutesticas

das falaacutecias utilizamos como base teoacuterica o texto de Soares (2003) em que o autor distingue

as caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias e com esse aporte apresentamos nossos

exemplos

Quando tratamos sobre a contradiccedilatildeo e contrariedade apresentamos o fato de que as

suas origens tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica A partir disso trouxemos uma breve apresentaccedilatildeo

sobre os conceitos de Aristoacuteteles presentes em seu texto Organon (1985) mais

especificamente no Perieacutermeneas capiacutetulos 6 e 7

No final do capiacutetulo dois fizemos uma retrospectiva de todos os pontos que foram

apresentados ao longo do capiacutetulo e justificamos a nossa escolha em pesquisar sobre os nexos

semacircnticos assim como a polissemia vagueza e falaacutecias Durante todo o capiacutetulo dois

apresentamos os nexos e outras relaccedilotildees lexicais dentro de uma linguagem controlada que eacute

diferente do que acontece nos textos dos diversos gecircneros inclusive naquele escolhido para

compor o nosso corpus que satildeo os certificados de garantia A importacircncia dos conceitos

apresentados em nosso segundo capiacutetulo se deu pelo fato de que ele oferece uma base para a

compreensatildeo do funcionamento dessas relaccedilotildees semacircnticas para que diante das anaacutelises que

realizamos no capiacutetulo trecircs tenhamos uma leitura mais refinada e atenciosa para perceber

como essas relaccedilotildees semacircnticas tiacutepicas de linguagens controladas se apresentam em textos

que satildeo suscetiacuteveis a diversas ocorrecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo Ficamos surpresos

pelo fato de que pouco se escreveu sobre nexos semacircnticos em nosso contexto nacional de

pesquisa o que tornou a construccedilatildeo do nosso segundo capiacutetulo bastante desafiadora Em

relaccedilatildeo a artigos que trataram diretamente sobre os nexos semacircnticos e os seus usos como

suporte para a anaacutelise de ocorrecircncias em gecircneros textuais tivemos contato apenas com Santos

(2012) e Estrela e Santos (2013 2014)

No terceiro capiacutetulo que foi dedicado para conter a anaacutelise desta pesquisa

inicialmente apresentamos nossa justificativa para a escolha do gecircnero certificado de garantia

90

para analisar assim como a justificativa para a escolha de procurar nesses textos as

estrateacutegias linguiacutesticas utilizadas para restringir a interpretaccedilatildeo de sentenccedilas Em seguida

tratamos sobre os tipos de ocorrecircncias que elegemos para nossa anaacutelise como quantificador

universalcondicional e o ―apenas e o ―somente Esta escolha se deu pelo fato de tais

termos possuem caracteriacutesticas propiacutecias para o uso em restriccedilotildees ou abrangecircncias de textos

Mesmo assim tiacutenhamos conhecimento de que dificilmente encontrariacuteamos ocorrecircncias com

as relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos no capiacutetulo dois de forma expliacutecita e controlada

pois como discutimos anteriormente os diversos gecircneros textuais satildeo suscetiacuteveis a

interferecircncias lexicais que podem dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos

Em seguida apresentamos a anaacutelise do nosso corpus que totalizou cinquenta e quatro

trechos de certificados nos trecircs tipos de ocorrecircncias escolhidas para serem investigadas

Como jaacute apresentamos no final do capiacutetulo anterior nossas impressotildees sobre como foram

utilizados os recursos linguiacutesticos para restriccedilatildeo de interpretaccedilotildees pelos autores dos

certificados gostariacuteamos de enfatizar que nas ocorrecircncias com quantificador universal com

condicional e com o ―apenas e ―somente os fabricantes utilizaram estes recursos em

grande parte dos certificados para se favorecerem ou seja para abranger as possibilidades de

invalidade da garantia do produto aumentando as situaccedilotildees em que a garantia eacute perdida e

diminuindo as situaccedilotildees em que a garantia eacute vaacutelida (principalmente nas listas exaustivas)

Sobre ocorrecircncias em que identificados termos vagos ou termos polissecircmicos

identificamos como o motivo principal do aparecimento dessas ocorrecircncias a falta de

definiccedilatildeo dos termos teacutecnicos Em muitos certificados identificamos que os autores utilizaram

termos teacutecnicos (a maioria deles provenientes do CDC) e natildeo apresentaram em nenhuma

parte do texto as definiccedilotildees para tais termos oportunizando que o leitor interprete de

diversas maneiras os termos ou expressotildees

Por fim pudemos perceber que os quantificadores os condicionais e termos como o

―apenas e o ―somente que satildeo responsaacuteveis por abranger ou restringir interpretaccedilotildees de

sentenccedilas satildeo proacuteprios do tipo de texto instrucional que abarca o gecircnero que escolhemos para

nossa pesquisa A utilizaccedilatildeo desses termos seguiu uma ordem de apresentaccedilatildeo similar nos

vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Os quantificadores universais

apareceram muitas vezes nas explicaccedilotildees em que os fabricantes apresentavam prazos deveres

e direitos do fabricante e cliente os condicionais apareceram na maioria das vezes

precedendo as listas exaustivas e o ―apenas e ―somente apareceram em grande parte nos

trechos em que os fabricantes apresentavam delimitaccedilotildees territoriais para cobertura da

91

garantia e explicaccedilotildees sobre as situaccedilotildees em que a garantia eacute invalidada e as situaccedilotildees em que

a garantia se assegura

Assim como justificamos no iniacutecio das consideraccedilotildees sobre os resultados obtidos em

nossa anaacutelise natildeo encontramos ocorrecircncias com trecircs dos quatro nexos semacircnticos

apresentados no segundo capiacutetulo O fato de natildeo termos identificado ocorrecircncias com

equivalecircncias semacircnticas contrariedades e contraditoriedades traacutes a tona uma interessante

caracteriacutestica do gecircnero certificado de garantia que eacute a constante presenccedila de acarretamentos

na redaccedilatildeo do texto mesmo que apresentados indiretamente diferente dos exemplos que

utilizamos para ilustrar os conceitos nos diversos textos sobre o assunto e a natildeo utilizaccedilatildeo de

equivalecircncias sentenccedilas contraacuterias e contraditoacuterias na redaccedilatildeo do texto

Atraveacutes dessa pesquisa em que tratamos sobre os nexos semacircnticos a polissemia a

vagueza e alguns outros tipos de relaccedilotildees semacircnticas desejamos que outros pesquisadores se

interessem por este tipo de trabalho e busquem explorar nas anaacutelises linguiacutesticas outros

gecircneros textuais pouco explorados como o que utilizamos no presente trabalho Apresentar

uma teoria que eacute tipicamente de linguagens controladas como a dos nexos semacircnticos (que

satildeo como jaacute discutimos dependentes unicamente da forma das sentenccedilas) e analisar como

essas estrateacutegias linguiacutesticas se comportam dentro de textos instrucionais (que ainda satildeo

pouco explorados nas anaacutelises semacircnticas) satildeo a nosso ver interessantes caminhos a serem

desbravados nos estudos da semacircntica assim como as suas aplicaccedilotildees nos diversos gecircneros

textuais que nos rodeiam

92

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95

ANEXOS

Certificado 1

96

Certificado 2

97

Certificado 3

98

Certificado 4

99

Certificado 5

100

Certificado 6

101

Certificado 7

102

Certificado 8

103

Certificado 9

104

105

Certificado 10

106

Certificado 11

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Certificado 12

108

109

Certificado 13

110

Certificado 14

111

112

Certificado 15

113

114

Certificado 16

115

116

117

118

119

120

121

Certificado 17

122

Certificado 18

123

Certificado 19

124

125

Certificado 20

126

Certificado 21

127

Certificado 22

RESUMO

O estudo das relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas eacute um campo bastante discutido e

pesquisado nos estudos linguiacutesticos A observaccedilatildeo de como se comportam os termos na

construccedilatildeo de significados em textos de diversos gecircneros e seus efeitos de interpretaccedilatildeo

tambeacutem satildeo temas muito difundidos entre as pesquisas das semacircnticas Nesta produccedilatildeo

discutiremos sobre as relaccedilotildees de significado e seus efeitos de sentido em um gecircnero

especiacutefico As relaccedilotildees que investigaremos satildeo os nexos semacircnticos ou nexos de significado

como proposto por Chierchia (2003) que satildeo respectivamente acarretamento equivalecircncia

semacircntica contraditoriedade e contrariedade O gecircnero que escolhemos para nossa anaacutelise eacute o

certificado de garantia e a escolha de tal gecircnero se deu pelo fato deste fazer parte do grupo de

textos injuntivos ou instrucionais que a nosso ver possui caracteriacutesticas que favorecem a

amostragem dos nexos semacircnticos Iremos analisar como os nexos semacircnticos satildeo utilizados

para restringir ou abranger as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos certificados de garantia O

corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de garantia de

produtos de diversos segmentos e decidimos escolher certificados de produtos de linhas

diversas para constituirmos um panorama sobre o gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes

da internet sem utilizar nenhuma metodologia especiacutefica apenas atentamos para buscar

certificados de produtos variados Buscamos nessa pesquisa instigar a reflexatildeo sobre as

relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e a observaccedilatildeo destas nos textos instrucionais que

lidamos no dia-a-dia e que por muitas vezes deixamos passar despercebido o seu conteuacutedo

O entendimento sobre os nexos de significado pode nos oferecer ferramentas para melhor

leitura de textos desse tipo

Palavras chave Nexos semacircnticos Certificado de garantia Semacircntica

ABSTRACT

The study of the meaning of relations between sentences is a much discussed and researched

field in linguistic studies The observation of how the terms behave in the construction of

meanings in texts of different genres and their interpretation effects are also widespread

themes among semantic research In this work we will discuss about the meaning of the

relations of meaning and their sense of purpose in a specific genre The relations that we will

investigate are semantic nexus or semantic links as proposed by Chierchia (2003) which are

respectively entailment semantic equivalence contradictoriness and contrariness The genre

we chose for our analysis is the warranty certificate and the choice of this genre was made

because it is part of the injunctive or instructional texts group that in our opinion has

characteristics that favor the sampling of semantic nexus We will analyze how the semantic

nexus are used to restrict or cover the possibilities of interpretation in the warranty

certificates The corpus of this research has 22 (twenty two) copies of warranty certificates

from different segments and we decided to choose certificates from separate lines to

constitute an overview of the genre The collection of the texts took place through the

internet without using any particular methodology of choice only we pay attention to seek

warranty certificates of diverse products We seek in this research instigate reflection on the

meaning relations between sentences and observance of these in instructional texts that we

have contact in daily life and that for many times let go unnoticed its contents The

understanding of the semantic nexus can offer us tools to better read texts of this type

Keywords Semantic nexus Warranty certificate Semantics

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 13

1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA 16

11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS 16 12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL 26

2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS 32

21 ACARRETAMENTO 35 22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA 42 23 CONTRADITORIEDADE 45 24 CONTRARIEDADE 48 25 JUSTIFICANDO O PERCURSO 51

3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA 53

31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL 55 32 USO DO CONDICIONAL 64 33 USO DO APENASSOMENTE 68 34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS 83

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 88

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 92

ANEXOS 95

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa 14

QUADRO 2 - Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia 83

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

ILUSTRACcedilAtildeO 1 - Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 27

ILUSTRACcedilAtildeO 2 - Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28

ILUSTRACcedilAtildeO 3 - Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28

ILUSTRACcedilAtildeO 4 - Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28

ILUSTRACcedilAtildeO 5 - Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 29

13

INTRODUCcedilAtildeO

A abordagem das relaccedilotildees de significado eacute algo bastante presente e discutido nos

estudos semacircnticos Observar como se comportam os termos na construccedilatildeo da significaccedilatildeo

em textos de diversos gecircneros distintos e seus efeitos interpretativos tambeacutem satildeo temas de

diversas produccedilotildees na aacuterea de linguiacutestica

Neste trabalho iremos discutir as relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e os efeitos

interpretativos dessas relaccedilotildees em textos Mais especificamente abordaremos os nexos

semacircnticos ou nexos de significado (Chierchia 2003) acarretamento equivalecircncia semacircntica

contrariedade (os quais podemos encontrar no referido trabalho de Chierchia) e

contraditoriedade (nexo semacircntico que geralmente eacute relacionado com a contrariedade e que

foi tratado por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado atraveacutes de seu quadrado loacutegico

ou taacutebua de oposiccedilotildees em seu texto Perieacutermeneas (1985) mais especificamente nos

capiacutetulos 6 e 7 sobre o qual faremos menccedilatildeo na seccedilatildeo sobre este nexo)

Este trabalho tem por objetivo observar alguns dos recursos linguiacutesticos utilizados

para favorecer a existecircncia de nexos semacircnticos e com isso restringir ou ampliar

possibilidades de interpretaccedilatildeo em um gecircnero textual especiacutefico Por este motivo o gecircnero

que escolhemos analisar foi o certificado de garantia ou termo de garantia que pertence agrave

categoria dos textos instrucionais (ou injuntivos) e a nosso ver possui caracteriacutesticas que

favorecem a amostragem das ocorrecircncias dos nexos

O gecircnero certificado de garantia possui como uma de suas caracteriacutesticas a

apresentaccedilatildeo organizada dos direitos e deveres do cliente e do fabricante com relaccedilatildeo a um

produto servindo tambeacutem para informar ao cliente os seus direitos referentes agrave validade

prazos e extensatildeo de cobertura da garantia Supotildee-se entatildeo que o texto deve por isso ser

objetivo e livre de ambiguidades e incoerecircncias

Nossa hipoacutetese eacute a de que recursos linguiacutesticos que favoreccedilam a existecircncia de nexos

semacircnticos nos textos dos certificados ndash como o emprego por exemplo de conectivos e

quantificadores (Chierchia 2003 PIRES DE OLIVEIRA 2001) ndash estatildeo presentes em textos

deste gecircnero e contribuem para que os textos alcancem o objetivo de informar ao cliente e ao

fabricante seus deveres e direitos

O corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de

garantia de produtos diversos para constituir um panorama ainda que reduzido de instacircncias

do gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes da internet sem utilizar nenhuma metodologia

14

especiacutefica de escolha atentando para buscar certificados de produtos variados Os textos

escolhidos para a anaacutelise de nosso trabalho incluem diversos produtos manufaturados como

moacuteveis veiacuteculos eletroeletrocircnicos entre outros equipamentos domeacutesticos como ilustrado no

quadro a seguir

Nordm Tipo de objeto Fabricante

1 Refrigerador Samsung

2 TV led Sony

3 Condicionador de ar LG

4 Tablet AOC

5 AudioMixer Oneal

6 Garantia para todos os produtos Elgin

7 Estabilizador de energia APC

8 Aquecedor de aacutegua Bosch

9 Fogatildeo Brastemp

10 Maacutequina de lavar Electrolux

11 Ventilador Cadence

12 GPS Positron

13 Umidificador de ar Springer

14 Certificado internacional de garantia Philips

15 Colchatildeo Ortobom

16 Caminhotildees Mercedes-Benz

17 Carro de passeio Hyundai

18 Moacuteveis Bartzen

19 Aquecedor de ar Fujitsu

20 Tv AOC

21 Aquecedor de aacutegua para piscina Rheem

22 Bicicleta Total Health

Quadro 1 ndash Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa Fonte elaborado pelo autor

Como nosso propoacutesito eacute analisar os textos observando as ocorrecircncias de termos que

restringem e abrangem interpretaccedilotildees natildeo temos a intenccedilatildeo de analisar se um fabricante

elaborou um texto melhor que outro

No primeiro capiacutetulo apresentamos num primeiro momento o que satildeo gecircneros

textuais e em seguida caracterizamos o certificado de garantia como um gecircnero textual Para

tanto utilizamos o aporte teoacuterico baseado na obra de Mikhail Bakhtin (2000) linguista do

iniacutecio do seacuteculo referecircncia nos estudos de gecircneros textuais e de Luiz Antocircnio Marcuschi

(2002 2005 2008) linguista contemporacircneo que desenvolveu importantes trabalhos nessa

disciplina Vale salientar que como o foco de nossa pesquisa natildeo eacute a discussatildeo de gecircneros

textuais o capiacutetulo que construiacutemos trata de conceitos gerais sobre gecircneros tendo como

15

objetivo observar que o certificado de garantia eacute um gecircnero textual e mostrando como se

estrutura em linhas gerais um texto deste gecircnero

No segundo capiacutetulo trataremos dos nexos semacircnticos dos quais consideraremos

para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e

contrariedade Atraveacutes de exemplos discutimos brevemente cada um deles mostrando

exemplos que funcionam e tambeacutem exemplos problemaacuteticos em relaccedilatildeo ao leacutexico

especialmente em casos de polissemia para que entatildeo seja possiacutevel a anaacutelise do capiacutetulo

seguinte

No terceiro capiacutetulo traremos a anaacutelise do corpus que se apresentaraacute organizado por

ocorrecircncias distribuiacutedas em tipos a saber uso do quantificador universal uso do condicional

e uso do apenassomente Apoacutes o exame das trecircs categorias citadas trataremos entatildeo das

relaccedilotildees entre o emprego dos recursos e a funccedilatildeo dos certficados Procuraremos tambeacutem

refletir se os recursos satildeo mais utilizados para favorecer o cliente ou mais utilizados para

favorecer o fabricante

Por uacuteltimo mostraremos as consideraccedilotildees finais do trabalho e em seguida as

referecircncias bibliograacuteficas utilizadas na elaboraccedilatildeo de nosso texto

16

1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA

Neste capiacutetulo tratamos dos gecircneros textuais e da caracterizaccedilatildeo dos certificados de

garantia como um gecircnero textual Em um primeiro momento traremos a perspectiva sobre

gecircneros textuais de Mikhail Bakhtin precursor dos estudos de gecircneros textuais na linguiacutestica

e em seguida apresentaremos a perspectiva de Luiz Antocircnio Marcuschi linguista brasileiro

que tambeacutem trabalha com o tema e compartilha em grande parte da perspectiva de Bakhtin

sobre o os gecircneros Eacute importante ressaltar que este capiacutetulo natildeo tem por objetivo o

aprofundamento nos estudos dos gecircneros e serve como um instrumento para contextualizar o

corpus desta pesquisa

11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS

Considerando a perspectiva apresentada por Mikhail Bakhtin na obra Esteacutetica da

criaccedilatildeo verbal (2000) o ato de se comunicar eacute indispensaacutevel para as relaccedilotildees humanas Aleacutem

disso ressaltamos que eacute por tal razatildeo que nas diversas situaccedilotildees de interaccedilatildeo que

vivenciamos em nosso cotidiano observamos a utilizaccedilatildeo da liacutengua em suas modalidades

oral eou escrita como instrumento principal de nossas trocas comunicativas

Eacute notoacuterio que a quantidade de atividades eacute enorme assim como satildeo os diferentes tipos

de situaccedilotildees em que a liacutengua eacute empregada Atraveacutes da formulaccedilatildeo de enunciados podemos

caracterizar quais as funccedilotildees dos discursos que escolhemos para os diversos tipos de

interaccedilatildeo

Nesse sentido eacute possiacutevel afirmarmos que todas as nossas construccedilotildees linguiacutesticas

organizam-se em gecircneros discursivos por meio dos quais conseguimos nos comunicar e

interagir socialmente

Em conformidade com a proposta de Bakhtin todo gecircnero discursivo se constitui a

partir das seguintes dimensotildees o conteuacutedo temaacutetico o estilo e a construccedilatildeo composicional

Esta descriccedilatildeo eacute claacutessica como ponto de partida para a descriccedilatildeo dos gecircneros textuais e nos

ofereceraacute a possibilidade de tanto descrever o que eacute um gecircnero textual quanto caracterizar

um texto como gecircnero que seraacute o nosso objetivo na segunda parte deste capiacutetulo

O conteuacutedo temaacutetico se refere ao tipo de assunto veiculado no texto Por tal razatildeo

Bakhtin (2000) afirma que o gecircnero eacute escolhido a partir do que o locutor decide falar Assim

17

eacute faacutecil compreender por que cada atividade comunicativa necessita de um tipo especiacutefico de

textodiscurso Por exemplo natildeo se responde (normalmente) uma carta informal com uma

bula de remeacutedio (a natildeo ser que na carta um texto desse gecircnero seja solicitado como

resposta) Nesse sentido percebe-se que para cada esfera de comunicaccedilatildeo o locutor e

interlocutor utilizam uma mesma forma de expressatildeo tendo em vista o assunto que

escolheram tratar Caso contraacuterio se locutor e interlocutor agregam formas distintas de

expressatildeo pode ser que a comunicaccedilatildeo natildeo seja efetivada com sucesso visto que eacute possiacutevel

natildeo haver o entendimento das partes uma vez que cada gecircnero abarca certo campo de uso

mesmo estando em constante desenvolvimento

O estilo se refere aos recursos linguiacutesticos desde gramaticais ateacute lexicais e eles

variam de acordo com o gecircnero Essa dimensatildeo abarca a seleccedilatildeo frasal lexical gramatical e

as formas de apresentar o discurso que satildeo inerentes ao gecircnero escolhido Bakhtin (2000)

afirma que o estilo eacute a primeira vista individual do gecircnero e ela reflete (ou natildeo) a

individualidade de quem escreve ou fala Isso porque dependendo do gecircnero o estilo

individual aparece com mais clareza Da mesma forma haacute gecircneros que natildeo possuem essa

caracteriacutestica a exemplo dos textos injuntivos sobre os quais trataremos mais agrave frente Ainda

a respeito do estilo Bakhtin assegura que

Quando escolhemos as palavras no processo de construccedilatildeo de um enunciado nem

de longe as tomamos sempre do sistema da liacutengua em sua forma neutra

lexicograacutefica Costumamos tiraacute-las de outros enunciados e antes de tudo de

enunciados congecircneres com o nosso isto eacute pelo tema pela composiccedilatildeo pelo estilo

consequentemente selecionamos as palavras segundo a sua especificaccedilatildeo de

gecircnero O gecircnero do discurso natildeo eacute uma forma da liacutengua mas uma forma tiacutepica do

enunciado como tal forma o gecircnero inclui certa expressatildeo tiacutepica a ele inerente

(BAKHTIN 2010 [1992] p 292 grifos do autor)

Nessa perspectiva podemos afirmar que tal criteacuterio se refere agraves propriedades das

unidades de linguagem e relaciona-se agrave posiccedilatildeo enunciativa do locutor agraves sequecircncias textuais

e aos tipos discursivos que estruturam o texto

Por fim Bakhtin (2000) afirma que cada gecircnero possui uma forma padratildeo que eacute a

estrutura composicional Eacute atraveacutes dessa forma que podemos identificar qual gecircnero estaacute

sendo empregado pois essa dimensatildeo se refere aos procedimentos utilizados na formulaccedilatildeo

dos textos com a estrutura e demais aspectos formais incluindo as partes envolvidas no

discurso Em suma para Bakhtin (2000)

18

Estes trecircs elementos (conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo composicional)

fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado e todos eles satildeo marcados pela

especificidade de uma esfera de comunicaccedilatildeo Qualquer enunciado considerado

isoladamente eacute claro individual mas cada esfera de utilizaccedilatildeo da liacutengua elabora

seus tipos relativamente estaacuteveis de enunciados sendo isso que denominamos

gecircneros do discurso (BAKHTIN 2000 p 279 Grifos do autor)

Ainda a respeito dos gecircneros do discurso conveacutem ressaltar que sua variedade eacute

proporcional agraves possibilidades de interaccedilotildees humanas pois as diversas esferas de interaccedilatildeo

satildeo compostas por classes de gecircneros que se desenvolvem tornando-se maiores e mais

complexas em consonacircncia com o desenvolvimento dessas esferas

Bakhtin (2000) utiliza o termo ―heterogeneidade para adjetivar os gecircneros do

discurso sejam eles orais ou escritos inferindo que estes incluem desde conversas informais

cartas relatos familiares ateacute produccedilotildees mais complexas como os documentos oficiais textos

cientiacuteficos e de escolas literaacuterias Natildeo haacute razatildeo para minimizar a extrema heterogeneidade

dos gecircneros do discurso e a consequente dificuldade quando se trata de definir o caraacuteter

geneacuterico do enunciadolsquo (BAKHTIN 2000 p 281) Dessa forma entendemos que a

variedade de gecircneros eacute muito grande se estendendo por exemplo dos romances mais

eruditos ateacute os bilhetes de recados do dia-a-dia e que tratar dos gecircneros admitindo suas

caracteriacutesticas estruturais particulares natildeo eacute uma tarefa faacutecil de realizar

Aleacutem de discorrer sobre as dimensotildees constitutivas de um gecircnero tendo em vista essa

heterogeneidade Bakhtin categoriza os gecircneros textuais em primaacuterios (simples) e

secundaacuterios (complexos) Assim os gecircneros primaacuterios satildeo aqueles referentes agraves reacuteplicas de

diaacutelogos cotidianos como cartas pessoais e demais gecircneros de comunicaccedilatildeo imediata Satildeo

chamados ―simples porque satildeo formados por discursos de baixa complexidade Jaacute os

gecircneros secundaacuterios satildeo aqueles referentes a romances textos cientiacuteficos sociopoliacuteticos e

afins Satildeo textos (escritos ou produzidos para serem encenados como os teatrais ndash exemplo

usado pelo proacuteprio Bakhtin) com maior carga de complexidade de produccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo

Surgem a partir de interaccedilotildees mais aprofundadas nas comunidades com maior grau de

imersatildeo em relaccedilatildeo aos padrotildees culturais e sociais

Ele ainda ressalta que os gecircneros secundaacuterios tambeacutem podem conter gecircneros

primaacuterios ―o romance em seu todo eacute um enunciado da mesma forma que a reacuteplica do

diaacutelogo cotidiano ou a carta pessoal (satildeo fenocircmenos da mesma natureza) o que diferencia o

romance eacute ser um enunciado secundaacuterio (complexo) (BAKHTIN 2000 p 281) Ao

discorrer sobre essa questatildeo o autor assevera que eacute de grande importacircncia teoacuterica a

19

diferenciaccedilatildeo entre esses tipos de gecircneros pois com isso e a partir disso podemos fazer

anaacutelises precisas dos enunciados que podem contrapor dois ou mais tipos de textos

Ignorar as caracteriacutesticas intriacutensecas a cada gecircnero a ―natureza dos enunciados - que

segundo Bakhtin eacute indispensaacutevel para qualquer estudo ndash eacute partir para a abstraccedilatildeo da liacutengua

desvalorizando o conteuacutedo histoacuterico imerso em cada tipo de gecircnero Eacute importante considerar

a relaccedilatildeo existente entre ―a liacutengua e a vida e natildeo restringir os enunciados a categorias

formais Haacute portanto uma relaccedilatildeo de complementaccedilatildeo entre a liacutengua a vida e os enunciados

pois ―a liacutengua penetra na vida atraveacutes dos enunciados concretos que a realizam e eacute tambeacutem

atraveacutes dos enunciados concretos que a vida penetra na liacutengua (BAKHTIN 2000 p 282)

Bakhtin (2000) tambeacutem se refere a questotildees da ―totalidade do enunciado que ele

define como aquilo que oportuniza a resposta em um discurso Bakhtin afirma que essa accedilatildeo

eacute definida por trecircs fatores diretamente associados ao ―todo orgacircnico do enunciado

primeiramente o tratamento exaustivo do objeto de sentido depois o querer-dizer do locutor

e por fim as formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do acabamento

O tratamento exaustivo do objeto de sentido ―varia profundamente conforme as

esferas da comunicaccedilatildeo verbal Em algumas esferas ele pode ser quase total como por

exemplo na vida praacutetica na vida profissional na vida militar basicamente em esferas que

natildeo possuem caracteriacutesticas de mutabilidade de discurso e pouca ―criatividade nas

formulaccedilotildees entre outras palavras onde os gecircneros do discurso satildeo padronizados Jaacute nas

esferas em que os gecircneros satildeo ―criativos o tratamento exaustivo eacute muito menos abrangente

como no caso das ciecircncias em particular onde Bakhtin infere que o tratamento exaustivo

―oferece exatamente um miacutenimo de acabamento capaz de suscitar uma atitude responsiva

(BAKHTIN 2000 p 300)

O querer-dizer do locutor estaacute ligado ao primeiro fator O filoacutesofo afirma que em todo

enunciado desde uma reacuteplica cotidiana ateacute complexas obras cientiacuteficas ou da literatura

compreendemos sentimos o ―intuito discursivo ou querer-dizer do locutor que eacute o que

determina o ―todo do enunciado sua amplitude suas fronteiras Noacutes identificamos o que o

locutor quer expressar e a partir dessa detecccedilatildeo medimos e definimos como se daraacute o

enunciado Isso eacute determinante para a escolha do objeto com seus limites e o tratamento

exaustivo do objeto adequado a este aleacutem de ser essencial para a escolha da forma do gecircnero

onde seraacute edificado

As formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do gecircnero do acabamento representam o fator mais

importante para Bakhtin que as descreve como ―formas estaacuteveis do gecircnero do enunciado

(BAKHTIN 2000 p 301)

20

As formas do gecircnero agraves quais modelamos nossa fala se distinguem

substancialmente das formas da liacutengua do ponto de vista de sua estabilidade e de

suas leis normativas para o locutor De um modo geral elas satildeo mais maleaacuteveis

mais plaacutesticas e mais livres do que as formas da liacutengua (BAKHTIN 2000 p 302)

Concluindo a discussatildeo sobre gecircneros a partir dos conceitos gerais propostos por

Bakhtin passamos agora para a discussatildeo sobre gecircneros realizada por Marcuschi (2008) Eacute

possiacutevel perceber ao longo da explanaccedilatildeo que este autor se identifica com a teoria

bakhtiniana de gecircneros textuais e foi essa identificaccedilatildeo uma das motivaccedilotildees que nos levou a

escolhecirc-los para a composiccedilatildeo deste capiacutetulo

De acordo com Marcuschi (2008 p 154) toda comunicaccedilatildeo soacute pode ser efetivada

por meio de um gecircnero pois ―eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum gecircnero

assim como eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum texto Partindo dessa

premissa podemos entender que qualquer manifestaccedilatildeo verbal se daacute dentro dos limites dos

gecircneros Eacute por esse motivo que a variedade de gecircneros eacute extensa mas natildeo infinita Atraveacutes

desse conceito observamos que Marcuschi compactua com o conceito bakhtiniano de que os

gecircneros possuem formas padronizadas e finitas

Os gecircneros textuais satildeo os textos que encontramos em nossa vida diaacuteria e que

apresentam padrotildees sociocomunicativos caracteriacutesticos definidos por composiccedilotildees

funcionais objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integraccedilatildeo

de forccedilas histoacutericas sociais institucionais e teacutecnicas (Marcuschi 2008 p 155)

Natildeo devemos considerar os gecircneros textuais como modelos imutaacuteveis e de ―estrutura

riacutegidas A apresentaccedilatildeo dos gecircneros se mostra ligada diretamente ao meio em que circulam

Satildeo formas culturais que tomam forma na liacutengua e que evoluem junto com ela Obviamente

que natildeo podemos deixar de considerar que os gecircneros possuem identidade e eacute atraveacutes dessa

identidade que escolhemos um tipo especiacutefico para cada esfera discursiva Dessa forma

admitimos que os gecircneros limitam nossa accedilatildeo na escrita

Em relaccedilatildeo agrave distinccedilatildeo entre gecircneros Marcuschi (2008) natildeo os distingue pelas formas

linguiacutesticas mas sim pelos seus campos de accedilatildeo Nesse sentido ele reafirma a perspectiva

bakhtiniana de que os gecircneros satildeo dinacircmicos e que por serem soacutecio-histoacutericos natildeo podem

ser contados de modo exaustivo o que dificulta sua classificaccedilatildeo Marcuschi (2008) afirma

que atualmente o objetivo maior nos estudos sobre gecircneros textuais eacute procurar identificar e

explicar como eles satildeo constituiacutedos e como circulam na sociedade

21

Eacute importante apresentar alguns conceitos referentes ao que estamos discutindo sobre

gecircneros do discurso dentre os quais destacamos os conceitos de tipo textual gecircnero textual e

domiacutenio discursivo segundo Marcuschi (2008) levando em consideraccedilatildeo a possibilidade de

se obter melhor entendimento no trato com o texto em si e seus fenocircmenos

O tipo textual eacute definido pelos aspectos linguiacutesticos ou seja por marcas lexicais

tempos verbais estilo relaccedilotildees loacutegicas e aspectos sintaacuteticos Logo relaciona-se mais agraves

sequecircncias linguiacutesticas do que a materializaccedilotildees textuais fazendo com que o conjunto

tipoloacutegico de textos seja limitado e natildeo apresente tendecircncias de aumentar Marcuschi (2002

p22) afirma que os tipos textuais compreendem categorias amplamente conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo exposiccedilatildeo descriccedilatildeo e injunccedilatildeo que observaremos separadamente a

seguir

A narraccedilatildeo relata um fato que pode ser real ou imaginaacuterio em um tempo e lugar

definidos envolvendo personagens Nesse tipo de texto o tempo verbal predominante eacute o

passado ao menos nos exemplos mais tiacutepicos Eacute predominante em crocircnicas piadas

romances poemas faacutebulas entre outros Vejamos o exemplo a seguir

O cavalo e o burro

O cavalo e o burro seguiam juntos para a cidade O cavalo contente da vida

folgando com uma carga de quatro arrobas apenas e o burro mdash coitado gemendo

sob o peso de oito Em certo ponto o burro parou e disse

ndash Natildeo posso mais Esta carga excede agraves minhas forccedilas e o remeacutedio eacute repartirmos o

peso irmatildemente seis arrobas para cada um

O cavalo deu um pinote e relichou uma gargalhada

ndash Ingecircnuo Quer entatildeo que eu arque com seis arrobas quando posso tatildeo bem

continuar com as quatro Tenho cara de tolo

O burro gemeu

ndash Egoiacutesta Lembre-se que se eu morrer vocecirc teraacute que seguir com a carga de quatro

arrobas e mais a minha

O cavalo pilheriou de novo e a coisa ficou por isso Logo adiante poreacutem o burro

tropica vem ao chatildeo e rebenta

Chegam os tropeiros maldizem a sorte e sem demora arrumam com as oito arrobas

do burro sobre as quatro do cavalo egoiacutesta E como o cavalo refuga datildeo-lhe de

chicote em cima sem doacute nem piedade

ndash Bem feito exclamou o papagaio Quem mandou ser mais burro que o pobre burro

e natildeo compreender que o verdadeiro egoiacutesmo era aliviaacute-lo da carga em excesso

Tome Gema dobrado agorahellip

(LOBATO M 2010 p 85)

Acima podemos observar um exemplo de narraccedilatildeo que eacute uma das faacutebulas de

Monteiro Lobato escrita em grande parte em discurso direto Podemos observar na faacutebula

que o texto eacute conduzido pelo narrador intercalado pela interaccedilatildeo dos personagens A seguir

22

continuaremos a descriccedilatildeo dos tipos textuais e exemplos com o conceito do tipo textual

argumentativo

Jaacute a argumentaccedilatildeo tem por principal caracteriacutestica a construccedilatildeo do convencimento

acerca da validade ou invalidade de um ponto de vista por sobre outro Nesse tipo de texto haacute

a reflexatildeo sobre temas especiacuteficos confrontando perspectivas distintas predominante em

gecircneros como debates resenhas editoriais artigos de opiniatildeo e afins Vejamos o exemplo a

seguir

O povo brasileiro estaacute cansado de tanta corrupccedilatildeo desigualdade de renda serviccedilos

puacuteblicos precaacuterios sensaccedilatildeo de inseguranccedila nas ruas elevada carga tributaacuteria

ineficiecircncia nos gastos puacuteblicos e elevaccedilatildeo da inflaccedilatildeo aleacutem do estilo autoritaacuterio e

inflexiacutevel da presidente O estranho eacute pensar sobre as razotildees que levaram a

populaccedilatildeo agraves ruas no momento atual em que a economia apresentou uma

significativa evoluccedilatildeo em relaccedilatildeo aos anos 80 e 90 aleacutem de presenciar sensiacutevel

melhora na renda meacutedia e na sua distribuiccedilatildeo nos anos 2000

A minha impressatildeo eacute de que depois de sentir a possibilidade de que o paiacutes entraria

em uma rota segura de crescimento da renda e de desenvolvimento econocircmico

(semelhante agrave sensaccedilatildeo que a populaccedilatildeo brasileira presenciou nos anos 70) o

enfraquecimento econocircmico e os sinais cada vez mais claros de que ele eacute resultante

de problemas internos deixaram a populaccedilatildeo transtornada Mais uma vez somos

apenas o paiacutes do futuro (NAKABASHI 2013 Acesso

httpwwwgazetadopovocombropiniaoartigosmanifestacoes-e-governo-no-

brasil-bdcjgu3mm6ql5e18tqoj73c5q)

Observamos acima uma parte de um artigo de opiniatildeo publicado no jornal Gazeta do

Povo em 02072013 por Luciano Nakabashi que trata das manifestaccedilotildees e do governo no

Brasil O autor anuncia primeiro o problema que vai discutir e em seguida lanccedila sua opiniatildeo

sobre o tema o que faz com que esse tipo de texto seja distinto da exposiccedilatildeo que

abordaremos a seguir

A exposiccedilatildeo apresenta informaccedilotildees sobre acontecimentos materiais e objetos de

forma detalhada e especiacutefica e por isso costuma lanccedilar matildeo de recursos como a descriccedilatildeo

informaccedilatildeo enumeraccedilatildeo comparaccedilatildeo e contrastes O tipo expositivo eacute caracteriacutestico de

gecircneros como as aulas expositivas verbetes de dicionaacuterios notiacutecias jornaliacutesticas entre

outros Vejamos o exemplo

Dianoia Termo grego que pode ser traduzido por pensamento intelecto

espiacuterito A dianoia eacute o pensamento discursivo enquanto elaboraccedilatildeo explicitaccedilatildeo

ou desenvolvimento da noese ou nous isto eacute da razatildeo intuitiva que capta de

modo imediato o real (Aristoacuteteles Tratado da alma III) Neste sentido a dianoia eacute

inferior ao nous jaacute que depende deste (MARCONDES e JAPIASSUacute 2001 p54)

23

Tomamos como exemplo de exposiccedilatildeo um verbete de um dicionaacuterio de filosofia

Podemos observar que os autores apresentam a palavra ―dianoia e em seguida conceituam a

dianoia a partir da perspectiva de um filoacutesofo especiacutefico (neste caso Aristoacuteteles)

O tipo textual descriccedilatildeo por sua vez eacute o relato particular de eventos e entidades e se

relaciona comumente com outros tipos em inuacutemeros gecircneros textuais Eacute caracteriacutestico em

cartazes promocionais anuacutencio de classificados entre outros Vamos observar agora um

exemplo de descriccedilatildeo atraveacutes da anaacutelise de uma obra de arte de Salvador Dali de 1955

intitulada ―A uacuteltima ceia

―Sua cena estaacute contida num retacircngulo Uma imensa janela ao fundo representada

por um dodecaedro (figura geomeacutetrica de 12 lados que sua vez satildeo pentaacutegonos ou

seja possuem cinco acircngulos cada um) domina toda a composiccedilatildeo

Jesus Cristo e seus 12 apoacutestolos estatildeo reunidos numa sala moderna envidraccedilada

Ele ocupa o centro da mesa de pedra o centro da tela e o centro do pentaacutegono

frontal do dodecaedro Cristo estaacute de frente para o observador contudo seu corpo

transluacutecido permite ver o mar e um barco o que indica que ele natildeo mais eacute humano

mas divino A sensaccedilatildeo que temos eacute de que seu corpo emerge de dentro do mar

Diante de Cristo sobre a mesa estatildeo um copo com vinho e as duas bandas do patildeo

jaacute repartido o que nos permite concluir que Daliacute pintou o momento da Eucaristia A

presenccedila dos barcos no mar remete aos ―pescadores de homens

A mesa eacute formada por um bloco retangular Doze apoacutestolos debruccedilam-se sobre ela

sendo trecircs agrave esquerda de Cristo e trecircs agrave direita Nas suas extremidades estatildeo quatro

apoacutestolos sendo dois de cada lado De costa para o observador estatildeo mais dois

deles Todos estatildeo com as cabeccedilas baixas Um dos apoacutestolos diverge dos demais ao

usar uma toga amarela O pintor queria com certeza diferenciaacute-lo Portanto tanto

pode ser Pedro o fundador da Igreja ou Judas o traidor

No alto com a cabeccedila invisiacutevel e com parte do tronco visiacutevel e os braccedilos abertos

Deus Pai humanizado abraccedila toda a cena como se aguardasse a chegada do Filho

que se encontra entre os homens Ao fundo um mar tranquilo com rochas

espalhadas e um ceacuteu cheio de nuvens compotildeem o segundo plano da tela (Viacuterus da

arte amp cia ndash Site brasileiro especializado em arte e cultura Disponiacutevel em

httpvirusdaartenetdali-a-ultima-ceia)

Acima podemos observar a descriccedilatildeo de uma obra de arte do pintor catalatildeo Salvador

dali retirado de uma paacutegina sobre arte Como o nome do tipo textual sugere a descriccedilatildeo tem

por objetivo descrever fatos mas tambeacutem caracteriacutesticas para objetos paisagens e situaccedilotildees

diversas No exemplo que utilizamos para descriccedilatildeo observamos a descriccedilatildeo de uma obra de

arte por parte de um espectador demonstrando detalhes do que estaacute impresso na pintura

assim como uma interpretaccedilatildeo da cena

O uacuteltimo tipo textual que consideraremos aqui eacute o tipo injuntivo que tem por objetivo

instruir o leitor ou persuadi-lo a fazer algo ou adotar algum ponto de vista Tambeacutem tem

como caracteriacutestica a induccedilatildeo do interlocutor a proceder de uma ou outra forma Geralmente

24

eacute escrito no modo imperativo e eacute caracteriacutestico de gecircneros como a bula de remeacutedio os

manuais de instruccedilotildees receitas culinaacuterias e contratos Vale ressaltar que dentro dos textos

injuntivos podem-se encontrar outros tipos de texto como por exemplo descriccedilotildees de

objetos endereccedilos procedimentos etc Vejamos o exemplo a seguir

Bolo simples

Tempo de preparo 40 minutos

Rendimento 12 porccedilotildees

Ingredientes

2 xiacutecaras de accediluacutecar

3 xiacutecaras de farinha de trigo

4 colheres de margarina bem cheias

3 ovos

1 frac12 xiacutecara de leite aproximadamente

1 colher (sopa) de fermento bem cheia

Modo de preparo

1) Bata as claras em neve

2) Reserve

3) Bata bem as gemas com a margarina e o accediluacutecar

4) Acrescente o leite e a farinha aos poucos sem parar de bater

5) Por uacuteltimo agregue as claras em neve e o fermento

6) Coloque em forma grande de furo central untada e enfarinhada

7) Asse em forno meacutedio preacute-aquecido por aproximadamente 40 minutos

8) Quando espetar um palito e sair limpo estaraacute assado

(httpwwwtudogostosocombrreceita29124-bolo-simpleshtml Acesso em

20042014)

No exemplo uma receita culinaacuteria podemos observar que haacute descriccedilatildeo na primeira

parte (a lista de ingredientes) e na segunda parte (modo de preparo) que eacute a mais

nitidamente injuntiva encontramos instruccedilotildees de como proceder na execuccedilatildeo da receita

Aleacutem da classificaccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo dos tipos de texto eacute interessante observarmos

tambeacutem a definiccedilatildeo de gecircneros textuais e domiacutenio discursivo conforme Marcuschi (2008)

Os gecircneros textuais satildeo definidos como ―textos materializados em situaccedilotildees

comunicativas recorrentes (MARCUSCHI 2008 p155) que apresentam caracteriacutesticas

soacutecio-comunicativas marcadas pelos conteuacutedos e pelas propriedades referentes agraves funccedilotildees e

composiccedilatildeo Diferente dos tipos textuais que se restringem a cerca de meia duacutezia como

afirma Marcuschi (2008) ―os gecircneros satildeo inuacutemeros Tambeacutem haacute de ressaltar que satildeo

culturalmente e historicamente formados visto que evoluem no mesmo passo que as

comunidades

O domiacutenio discursivo por sua vez eacute a esfera de atividade humana em que os textos

circulam Ele natildeo eacute um texto em si mas proporciona o surgimento de discursos especiacuteficos

Para ilustrar podemos citar alguns domiacutenios como discurso religioso discurso juriacutedico etc

25

O domiacutenio eacute constituiacutedo por praacuteticas do discurso nas quais podemos identificar uma seacuterie de

gecircneros que possuem a mesma proposta discursiva como o tema e as praacuteticas institucionais

ou informais

As definiccedilotildees aqui trazidas de gecircnero tipo domiacutenio discursivo satildeo muito mais

operacionais do que formais e seguem de perto a posiccedilatildeo bakhtiniana Assim para a

noccedilatildeo de tipo textual predomina a identificaccedilatildeo de sequecircncias linguiacutesticas como

norteadora e para a noccedilatildeo de gecircnero textual predominamos criteacuterios de padrotildees

comunicativos accedilotildees propoacutesitos e inserccedilatildeo sociohistoacuterica No caso dos domiacutenios

discursivos natildeo lidamos propriamente com textos e sim com formaccedilotildees histoacutericas e

sociais que originam os discursos Eles ainda natildeo se acham bem definidos e

oferecem alguma resistecircncia mas seguramente sua definiccedilatildeo deveria ser na base de

criteacuterios etnograacuteficos antropoloacutegicos e socioloacutegicos e histoacutericos (MARCUSCHI

2008 p 158 Grifos do autor)

Nessa perspectiva faz-se necessaacuterio apresentarmos o papel dos gecircneros textuais como

controle social Como jaacute vimos anteriormente segundo Bakhtin (2000) toda atividade

discursiva humana se daacute atraveacutes de algum gecircnero e eacute tambeacutem por esse motivo que haacute uma

consideraacutevel pluralidade de gecircneros Marcuschi (2008) afirma que os gecircneros satildeo

―necessaacuterios para a interlocuccedilatildeo humana Assim para cada esfera de atividade humana

certos gecircneros especiacuteficos satildeo considerados mais ou menos adequados Na esfera

empresarial por exemplo temos que nos adequar agraves formalidades dos gecircneros de redaccedilatildeo

oficial como os ofiacutecios atas circulares e relatoacuterios Na academia apresentamos nossas

produccedilotildees atraveacutes de dissertaccedilotildees artigos cientiacuteficos teses e relatoacuterios de projetos No meio

publicitaacuterio encontramos as propagandas anuacutencios de diversos tipos Enfim satildeo inuacutemeras as

esferas de discurso domiacutenios discursivos e gecircneros textuais atrelados a estes

Marcuschi (2008) enfatiza que o controle social por gecircneros discursivos eacute

incontornaacutevel mas natildeo determinista De acordo com o autor noacutes temos liberdade para nos

expressarmos em qualquer esfera discursiva Poreacutem temos que admitir que a sociedade eacute

constituiacuteda por uma ―maacutequina discursiva logo somos moldados a ela de forma intuitiva e

os gecircneros textuais constituem um poderoso instrumento desta maacutequina Quanto maior a

nossa inserccedilatildeo na sociedade maior o controle social Por exemplo natildeo satildeo todas as pessoas

que podem expedir um mandato de seguranccedila escrever uma dissertaccedilatildeo de mestrado

ministrar uma aula de fiacutesica quacircntica ou publicar uma coluna em um jornal Eacute nessa

perspectiva que Marcuschi (2008) afirma veemente o direcionamento dos gecircneros textuais

para com o envolvimento social e suas especificidades

26

A partir das consideraccedilotildees apresentadas a respeito dos gecircneros textuais dedicamos a

seccedilatildeo a seguir para a caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual

conforme relatamos na introduccedilatildeo deste capiacutetulo

12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL

O certificado de garantia ou termo de garantia eacute um documento oferecido por

prestadoras de serviccedilos fabricantes de produtos diversos ou de qualquer outro segmento que

envolva comercializaccedilatildeo de bens duraacuteveis com a funccedilatildeo de formalizar os direitos e deveres

do consumidor e do fabricante para com o estado fiacutesico e funcional do produto em vista de

problemas de qualquer natureza

Eacute tambeacutem uma espeacutecie de contrato visto que consiste fundamentalmente na

combinaccedilatildeo de interesses de partes sobre algo Aleacutem de ―certificado de garantia

utilizaremos tambeacutem a nomenclatura ―termo de garantia tendo em vista que o documento

do certificado de garantia e o termo em si estatildeo internamente ligados A expressatildeo ―termo de

garantia eacute usada no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20

de marccedilo de 1997

Art 50 A garantia contratual eacute complementar agrave legal e seraacute conferida mediante

termo escrito

Paraacutegrafo uacutenico O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e

esclarecer de maneira adequada em que consiste a mesma garantia bem como a

forma o prazo e o lugar em que pode ser exercitada e os ocircnus a cargo do

consumidor devendo ser-lhe entregue devidamente preenchido pelo fornecedor no

ato do fornecimento acompanhado de manual de instruccedilatildeo de instalaccedilatildeo e uso de

produto em linguagem didaacutetica com ilustraccedilotildees (Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do

Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20 de marccedilo de 1997 p 30)

Em linhas gerais o documento eacute composto por quatro partes garantia contratual

garantia legal condiccedilotildees para validade da garantia contratual e legal condiccedilotildees natildeo cobertas

pela garantia legal e contratual Vejamos um exemplo de certificado de garantia

27

ILUSTRACcedilAtildeO 1 Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario

_de_ar_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Observamos na primeira parte a disposiccedilatildeo da garantia contratual ou seja a garantia

oferecida pelo fabricante

28

ILUSTRACcedilAtildeO 2 Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar

_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Na segunda parte encontramos a disposiccedilatildeo da garantia legal ou seja a garantia

assegurada pelo Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do consumidor

ILUSTRACcedilAtildeO 3 Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c

ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Em seguida vemos as condiccedilotildees de validade da garantia legal e contratual composta

por uma lista exaustiva de itens a serem considerados

29

ILUSTRACcedilAtildeO 4 Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c

ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

E por fim encontramos as condiccedilotildees natildeo cobertas pela garantia legal e contratual

assim como observaccedilotildees gerais

ILUSTRACcedilAtildeO 5 Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar

_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Em relaccedilatildeo agrave estrutura padratildeo dos certificados de garantia a partir do corpus

analisado nesta pesquisa observou-se que o texto que se refere agrave garantia em si corresponde a

menos da metade do documento Grande parte do documento se dedica agrave restriccedilatildeo de

possibilidades de cobertura assim como observaccedilotildees gerais quanto agraves responsabilidades do

fabricante diante de situaccedilotildees como despesas referentes agrave locomoccedilatildeo para depoacutesito do

produto para assistecircncia documentaccedilatildeo necessaacuteria para apresentaccedilatildeo na assistecircncia etc

30

O termo de garantia eacute vinculado diretamente ao Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do

consumidor O coacutedigo estabelece um padratildeo abrangente de formulaccedilatildeo do documento

constando recomendaccedilotildees como o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo necessidade do

acompanhamento do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto assim como clareza na

disposiccedilatildeo dos prazos de garantia legal e contratual

Como discutimos na primeira parte desse capiacutetulo Bakhtin (2000) propotildee que trecircs

dimensotildees constituem os gecircneros de discurso conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo

composicional Iremos a seguir apresentar como estas dimensotildees satildeo percebidas nesse

gecircnero textual

Como conteuacutedo temaacutetico do gecircnero certificado de garantia temos a veiculaccedilatildeo de

direitos e deveres do fabricante e do consumidor O documento apresenta listas exaustivas de

accedilotildees que possibilitam ou natildeo o uso do termo de garantia assim como instruccedilotildees gerais para

a realizaccedilatildeo desse ato Esse conteuacutedo pode variar em parte e apenas questotildees referentes agrave

garantia legal natildeo podem mudar pois estaacute prevista no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do

Consumidor

Em relaccedilatildeo ao estilo observamos nos certificados a utilizaccedilatildeo da norma padratildeo

Busca-se construir um texto claro e objetivo para que dessa forma natildeo haja problemas de

interpretaccedilatildeo para o consumidor Nesse gecircnero natildeo haacute identificaccedilatildeo de quem escreve de

maneira particular como observamos em gecircneros do tipo carta A identificaccedilatildeo do autor eacute

geralmente atribuiacuteda agrave empresa que oferece a garantia O estilo individual que eacute

caracteriacutestico em diversos gecircneros como o artigo de opiniatildeo e cartas pessoais natildeo cabe para

os certificados Como se trata de um texto instrucional esse gecircnero apresenta-se de forma

objetiva de modo que natildeo haacute a necessidade praacutetica da identificaccedilatildeo de quem escreve

Quanto agrave estrutura composicional em linhas gerais tal gecircnero segue uma sequecircncia

de apresentaccedilatildeo em duas etapas Em um primeiro momento apresenta-se o termo de garantia

em si no qual eacute descrito o direito do consumidor em relaccedilatildeo agrave garantia assim como sua

validade No segundo momento parte mais extensa do texto haacute a apresentaccedilatildeo de listas

supostamente exaustivas referentes aos casos que natildeo satildeo cobertos pela garantia assim como

as instruccedilotildees gerais para o reclame do direito Essa sequecircncia de apresentaccedilatildeo do documento

eacute variaacutevel Haacute certificados que satildeo inclusos no manual de instruccedilatildeo do produto (geralmente

na uacuteltima paacutegina) Haacute certificados que satildeo destacados o documento eacute apresentado agrave parte de

qualquer outro texto

Se retomarmos a classificaccedilatildeo dos gecircneros do discurso de Bakhtin (2000) entre

primaacuterios (simples) e secundaacuterios (complexos) podemos considerar que o certificado de

31

garantia estaacute inserido nos gecircneros complexos pois se trata de um documento elaborado de

forma sistemaacutetica no qual haacute necessidade de um aprofundamento social complexo com

caracterizaccedilotildees e descriccedilotildees bem delimitadas

Quanto ao tipo de texto dentro do que foi proposto por Marcuschi (2008) o

certificado de garantia se enquadra no tipo injuntivo porque eacute um texto instrucional com

predominacircncia do modo imperativo nas frases e eacute composto pela listagem de uma seacuterie de

procedimentos a serem observados e seguidos com listas exaustivas contendo direitos e

deveres do fabricante e do consumidor O objetivo do documento eacute oferecer ao cliente todas

as informaccedilotildees relacionadas agrave validade da garantia os casos em que haacute perda da validade e os

casos em que os problemas apresentados se enquadram como defeitos de fabricaccedilatildeo

O certificado de garantia se caracteriza como um gecircnero textual a partir da

perspectiva de Marcuschi (2008) pois eacute um texto que possui caracteriacutesticas soacutecio-discursivas

bem delimitadas com conteuacutedo padratildeo obedecendo a uma mesma linha temaacutetica e foi

constituiacutedo socialmente O gecircnero foi criado a partir da necessidade juriacutedica de resguardar os

fabricantes e consumidores de produtos industrializados e afins quanto agrave possibilidade de

apresentaccedilatildeo de defeitos ou falhas

De posse dos conhecimentos gerais sobre os gecircneros textuais que apresentamos e da

caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual partiremos no proacuteximo

capiacutetulo para a apresentaccedilatildeo das teorias que serviratildeo de aporte teoacuterico para a compreensatildeo

das anaacutelises realizadas no capiacutetulo 3

32

2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS

Neste capiacutetulo tratamos dos nexos semacircnticos ou ―nexos de significado dos quais

consideramos para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica

contraditoriedade e contrariedade Caracterizamos cada um deles utilizando exemplos em

linguagem natural com o intuito de demonstrar o funcionamento dessas relaccedilotildees assim como

mostrar quando tais exemplos deixam de apresentar o nexo Nosso intuito final eacute de oferecer

uma base para a compreensatildeo das anaacutelises que viratildeo no capiacutetulo posterior

Para entendermos melhor o que satildeo os nexos semacircnticos devemos compreender a

distinccedilatildeo entre a semacircntica e a pragmaacutetica que satildeo linhas de estudos linguiacutesticos inter-

relacionaacuteveis Uma definiccedilatildeo bastante difundida da semacircntica e tambeacutem bastante geral eacute

encontrada em Trask (2004 p 261) que diz que a semacircntica eacute o ramo da linguiacutestica que

estuda o significado e em Chierchia (2003 p 7) para quem a semacircntica eacute um estudo do

significado das expressotildees das liacutenguas naturais Podemos tambeacutem caracterizar a semacircntica

destacando a relaccedilatildeo do usuaacuterio da liacutengua e o significado que ele atribuiu agraves palavras que

compotildeem sentenccedilas como propotildee Pires de Oliveira (2001 p 42) Jaacute a pragmaacutetica por outro

lado tambeacutem estuda o significado das liacutenguas naturais mas trata das intenccedilotildees que os

falantes supostamente revelam a partir do uso de sentenccedilas

Para o termo ―pragmaacutetica haacute diversas possibilidades de definiccedilatildeo Levinson (2007)

procura mostrar as implicaccedilotildees que algumas definiccedilotildees podem ter em relaccedilatildeo a outros

estudos Assim podemos citar pelo menos dois conceitos de pragmaacutetica para Levinson

―pragmaacutetica eacute o estudo de todos os aspectos do significado natildeo capturados em uma teoria

semacircntica (Levinson 2007 p14) assim como ―pragmaacutetica eacute o estudo das relaccedilotildees entre

liacutengua e contexto que satildeo gramaticalizadas ou codificadas na estrutura de um liacutengua

(Levinson 2007 p 11) Podemos perceber que nessas duas definiccedilotildees Levinson tanto atribui

agrave pragmaacutetica a responsabilidade sobre aquilo que estaacute aleacutem da semacircntica quanto destaca a

relaccedilatildeo de liacutengua e contexto Jaacute em Wilson (2008) encontramos as definiccedilotildees que Yule

(1996) apresenta para a pragmaacutetica

a) pragmaacutetica eacute o estudo do significado sob o ponto de vista do falante b)

pragmaacutetica eacute o estudo do significado contextual (isto eacute leva em conta o modo como

os falantes organizam seus enunciados aquilo que eles querem dizer de acordo com

os seguintes fatores a quem vatildeo dizer como vatildeo dizer onde e quando vatildeo dizer e

sob que circunstacircncias) c) pragmaacutetica eacute o estudo do como se diz aleacutem daquilo que eacute

33

dito (isto eacute o estudo do significado subjacente do natildeo dito d) pragmaacutetica eacute o

estudo da expressatildeo da proximidadedistanciamento relativo (isto eacute de acordo com

o tipo de proximidade fiacutesica social ou conceitual em relaccedilatildeo aos ouvintes os

falantes determinam como e quanto precisam dizer) (WILSON 2008 p 89)

A discussatildeo sobre as definiccedilotildees de pragmaacutetica e semacircntica e suas distinccedilotildees vem

desde o iniacutecio do seacuteculo XX e muitos autores contribuiacuteram para a evoluccedilatildeo desses conceitos

Em vista desta histoacuterica discussatildeo apresentaremos os conceitos de Charles Morris e Rudolf

Carnap para estas disciplinas linguiacutesticas

Segundo a definiccedilatildeo de Charles Morris (1938) pragmaacutetica eacute o estudo da ―relaccedilatildeo dos

signos com seus inteacuterpretes Jaacute para Rudolf Carnap (1938) a pragmaacutetica eacute o estudo da

linguagem em relaccedilatildeo aos seus falantes Diante dos conceitos de semacircntica e pragmaacutetica que

apresentamos e da distinccedilatildeo entre as linhas de estudos linguiacutesticos Marcondes (2000) afirma

que ―tanto a definiccedilatildeo de Morris quanto a de Carnap fazem parte da jaacute consagrada distinccedilatildeo

geral do campo de estudos da linguagem entre pragmaacutetica que considera a linguagem em

seu uso concreto e semacircntica que examina os signos linguiacutesticos em sua relaccedilatildeo com os

objetos que designam ou a quem se refere Os nexos semacircnticos estatildeo inseridos no campo da

semacircntica e voltaremos a este ponto no final do capiacutetulo

Sobre as relaccedilotildees semacircnticas haacute diversas perspectivas nos estudos linguiacutesticos A

forma como combinamos as palavras e nossa tendecircncia em buscar um conceito fixo de um

termo satildeo complicaccedilotildees que podem dificultar o uso da liacutengua O significado linguiacutestico das

liacutenguas naturais segundo Basso (2009) possibilita nexos semacircnticos entre sentenccedilas E

ainda sobre o significado Basso propotildee

Quando perguntamos o significado de alguma palavra muitas vezes buscamos

aquele modelo significativo presente nos dicionaacuterios Poreacutem natildeo haacute no dicionaacuterio

maneiras preacute-estabelecidas de como uma palavra pode se combinar com outra em

busca da trama de significados dos nexos que favorecem infinitas interpretaccedilotildees

Essas combinaccedilotildees satildeo decorrentes do proacuteprio uso da liacutengua pelos seus falantes

mas natildeo estatildeo nem presentes nos dicionaacuterios nem tampouco algueacutem nos ensina satildeo

conhecimentos impliacutecitos Uma aacuterea da linguiacutestica moderna defende que o nosso

conhecimento semacircntico e um dote geneacutetico portanto os possiacuteveis nexos

semacircnticos satildeo decorrentes de uma capacidade inata de combinaccedilatildeo de palavras e

sentenccedilas parte do conhecimento semacircntico impliacutecito ou competecircncia semacircntica

(BASSO 2009 p 25)

Os nexos semacircnticos satildeo caracterizados na literatura da semacircntica como grupos de

relaccedilotildees de inferecircncia muito estaacuteveis direcionaacuteveis e fortemente dependentes do material

34

linguiacutestico dos enunciados (SANTOS 2012) Essas relaccedilotildees diferem de perspectivas de

inferecircncias como a pressuposiccedilatildeo e a implicatura que dialogam diretamente com o natildeo-dito

Para contrastar os nexos com esses outros tipos de relaccedilatildeo vamos observar os exemplos a

seguir

(1) Carlos parou de beber refrigerante

(2) A tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio

Seguindo a mesma linha de exposiccedilatildeo de Moura (1999 p 12) a partir das duas

sentenccedilas acima observamos dois niacuteveis nas informaccedilotildees veiculadas No primeiro niacutevel

temos contato com o sentido literal das palavras Dessa forma em (1) temos a informaccedilatildeo de

Carlos natildeo toma mais refrigerantes e em (2) que Maacuterio escreveu uma tese sobre bolhas de

sabatildeo No segundo niacutevel atraveacutes da enunciaccedilatildeo das sentenccedilas somos levados a considerar

informaccedilotildees que natildeo estatildeo afirmadas literalmente nas sentenccedilas Dessa forma a partir de (1)

podemos inferir que Carlos bebia refrigerantes antes e em (2) que uma tese sobre bolhas de

sabatildeo jaacute foi escrita Ducrot (1987) denomina de conteuacutedo posto o primeiro niacutevel que

consiste no conteuacutedo literal das sentenccedilas e de conteuacutedo pressuposto ou pressuposiccedilatildeo o

segundo niacutevel que abarca as inferecircncias que podemos fazer a partir da enunciaccedilatildeo das

sentenccedilas Devemos entender que o conteuacutedo posto depende do conteuacutedo pressuposto pois a

aceitaccedilatildeo do primeiro leva a aceitaccedilatildeo do segundo Para que possamos aceitar a verdade do

posto (1) que diz que Carlos parou de beber refrigerante temos que aceitar a verdade

pressuposta de que Carlos jaacute tinha bebido refrigerante antes

Outra relaccedilatildeo semacircntica que dialoga diretamente com o natildeo-dito eacute a implicatura

Grice (1987) propotildee dois tipos de implicaturas as implicaturas convencionais que natildeo satildeo

sujeitas a condiccedilotildees de verdade e as implicaturas conversacionais que natildeo dependem

diretamente da significaccedilatildeo usual das palavras sendo determinadas por certos princiacutepios

baacutesicos do ato comunicativo

As implicaturas convencionais satildeo inferecircncias natildeo sujeitas a condiccedilotildees de verdade

natildeo satildeo derivadas de princiacutepios pragmaacuteticos mais gerais como as maacuteximas conversacionais

mas satildeo simplesmente ligadas pela convenccedilatildeo a itens ou expressotildees lexicais especiacuteficos

Levinson (2007) toma a implicatura conversacional como uma das ideias mais

importantes da pragmaacutetica e vamos considerar neste trabalho apenas as implicaturas do tipo

conversacional de forma que quando mencionarmos o termo implicatura devemos entender

que estamos falando das implicaturas conversacionais e natildeo das convencionais

35

Para exemplificar uma implicatura vamos supor uma situaccedilatildeo entre dois amigos em

que ao dialogar sobre as uacuteltimas defesas de teses e dissertaccedilotildees do departamento de poacutes-

graduaccedilatildeo deparam-se com a notiacutecia de que um de seus colegas escreveu uma tese sobre um

tema muito irrelevante e nada original Diante desta situaccedilatildeo um amigo disse para o outro ―A

tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio A partir da situaccedilatildeo em que os dois amigos

estavam imersos nesse contexto e da sentenccedila utilizada por um dos amigos podemos inferir

que foi Maacuterio quem escreveu uma tese sobre um tema irrelevante Podemos perceber neste

exemplo que como descrito nas definiccedilotildees que trouxemos anteriormente a implicatura por

ser uma relaccedilatildeo puramente pragmaacutetica utiliza-se do natildeo-dito e de situaccedilotildees convencionadas

entre falantes para poder existir

Dessa forma podemos retomar o que foi exposto nos paraacutegrafos anteriores afirmando

que os nexos semacircnticos as pressuposiccedilotildees e as implicaturas satildeo inferecircncias de significado

sendo que os nexos estatildeo no campo da semacircntica e as pressuposiccedilotildees e implicaturas estatildeo no

campo da pragmaacutetica

A partir deste ponto iremos descrever os nexos semacircnticos com exemplos mostrando

como essas relaccedilotildees funcionam e tambeacutem casos em que a interpretaccedilatildeo natildeo acontece da

maneira esperada Em relaccedilatildeo aos casos em que a interpretaccedilatildeo eacute prejudicada trataremos de

casos relacionados com a ambiguidade lexical mais especificamente com vagueza e casos

relacionados com a polissemia (desconsiderando seus limites com a homoniacutemia)

21 ACARRETAMENTO

Em linhas gerais o acarretamento ocorre quando a verdade de um conjunto de

sentenccedilas1 que nomearemos de A garante a verdade de outra sentenccedila que nomearemos de

B Dessa forma a verdade da primeira sentenccedila ou do conjunto delas autoriza a verdade de B

(CHIERCHIA 2003) O acarretamento eacute uma inferecircncia que os falantes estatildeo autorizados a

fazer e o que os autoriza eacute o conhecimento linguiacutestico Vamos observar o exemplo a seguir

1 Em nosso trabalho utilizaremos os termo ldquosentenccedilardquo e ldquoproposiccedilatildeordquo intercambiavelmente Alguns autores

definem os dois termos de formas distintas Por exemplo na semacircntica contemporacircnea de mundos possiacuteveis desenvolvida por autores como por exemplo Kripke e Lewis define-se proposiccedilatildeo como a classe de todos os mundos possiacuteveis nas quais ela eacute verdadeira Murcho (2006) apresenta dois exemplos para distinguir proposiccedilotildees e sentenccedilas ldquoSoacutecrates era um filoacutesofordquo e ldquoSocrates was a philosopherrdquo Murcho afirma que os dois exemplos satildeo duas sentenccedilas que exprimem uma uacutenica proposiccedilatildeo Outros como Mortari (2001) natildeo distinguem proposiccedilotildees e sentenccedilas

36

(3) alsquo Neymar eacute brasileiro

a Neymar eacute um jogador de futebol

b Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro

Podemos observar no exemplo acima que a sentenccedila (3b) tem a sua verdade garantida

pela verdade de (3alsquo) e (3a) Sendo assim (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Podemos observar

no exemplo que o acarretamento eacute bastante claro pois as informaccedilotildees que estatildeo presentes em

(3b) satildeo a soma das informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) Eacute interessante destacar

que para que a sentenccedila (3b) constitua um acarretamento de (3alsquo) e (3a) natildeo precisamos

conhecer a pessoa Neymar nem sua nacionalidade eou profissatildeo Como as informaccedilotildees

estatildeo postas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) a verdade de (3b) eacute inevitaacutevel Mesmo que no mundo

real Neymar natildeo fosse jogador de futebol e natildeo fosse brasileiro isso em nada modificaria o

acarretamento pois dentro da relaccedilatildeo estabelecida entre (3alsquo) (3a) e (3b) as informaccedilotildees

contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Vejamos o exemplo a seguir

(4) alsquo Todos os sacis tecircm apenas uma perna

a Denis Diderot eacute um saci

b Denis Diderot tem apenas uma perna

Observando o exemplo acima identificamos que em relaccedilatildeo ao conhecimento de

mundo a sentenccedila (4alsquo) eacute verdadeira jaacute que no folclore admitimos como uma caracteriacutestica

dos sacis ter apenas uma perna A sentenccedila (4a) eacute falsa pois Denis Diderot foi um filoacutesofo e

escritor francecircs e natildeo um saci Por fim a sentenccedila (4b) tambeacutem eacute falsa em relaccedilatildeo ao nosso

conhecimento de mundo pois Denis Diderot possuiu durante toda a sua vida as duas pernas

Podemos entatildeo admitir que as sentenccedilas do conjunto (4) em relaccedilatildeo ao nosso conhecimento

de mundo satildeo falsas Mesmo assim o conjunto eacute um acarretamento Diferente do exemplo

(3) em que trouxemos sentenccedilas que constituiacuteam um acarretamento com informaccedilotildees

verdadeiras em relaccedilatildeo ao mundo o exemplo (4) mostra que a relaccedilatildeo semacircntica que estamos

discutindo independe da verdade das informaccedilotildees das sentenccedilas no mundo O que o

acarretamento faz eacute concatenar as sentenccedilas de uma forma que se as premissas forem

verdadeiras a conclusatildeo tambeacutem seraacute verdadeira O acarretamento depende exclusivamente

37

da forma em que as sentenccedilas se apresentam Tendo em vista que a relaccedilatildeo depende apenas

da forma podemos representar o acarretamento da seguinte maneira como propotildee Soares

(2003)

Em liacutengua natural

Se estudar entatildeo serei aprovado (1ordf premissa)

Ora estudei (2ordf premissa)

Logo fui aprovado (Conclusatildeo)

E simbolizando2

a rarr b (1ordf premissa)

a (2ordf premissa)

b (Conclusatildeo)

Vale ressaltar que ao utilizarmos o termo ―sentenccedila estamos nos referindo ao que os

gramaacuteticos costumam chamar de oraccedilatildeo Tambeacutem eacute interessante mencionar que o

acarretamento eacute chamado de consequecircncia semacircntica Iremos utilizar como representaccedilatildeo das

premissas sentenccedilas do tipo (Xalsquo) e (Xa) e para a conclusatildeo sentenccedilas do tipo (Xb)

Podemos entender que o acarretamento eacute um tipo de relaccedilatildeo estabelecida entre

premissas e a consequecircncia de forma que a verdade das premissas determina a verdade da

consequecircncia Tambeacutem devemos entender que natildeo eacute possiacutevel que as premissas sejam

verdadeiras junto da negaccedilatildeo da conclusatildeo pelo fato de que dessa forma estaria

descaracterizada a relaccedilatildeo de acarretamento

Como ressaltamos acima os acarretamentos satildeo dependentes da forma ou seja da

relaccedilatildeo que as sentenccedilas possuem entre si e natildeo da verdade ou falsidade no mundo das

informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas Diante disso traremos agrave tona exemplos de sentenccedilas que

2 O siacutembolo ldquorarrrdquo na loacutegica claacutessica representa um condicional assunto de que trataremos no terceiro capiacutetulo

deste trabalho e o siacutembolo ldquordquo representa um acarretamento

38

natildeo possuem relaccedilatildeo semacircntica mas atraveacutes da verdade ou falsidade das informaccedilotildees nas

sentenccedilas podem nos confundir e nos induzir ao erro Para tal raciociacutenio errocircneo damos o

nome de falaacutecias

Soares (2003) distingue trecircs caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias (i) satildeo

argumentos parecidos com argumentos vaacutelidos (ii) estabelecem entre premissas e conclusotildees

uma relevacircncia puramente psicoloacutegica que tatildeo-soacute se dirige agraves emoccedilotildees da pessoa sem que as

premissas sejam logicamente relevantes para extrair a conclusatildeo (iii) apresentam-se com

intenccedilatildeo enganadora para que o argumento ainda que invaacutelido seja de todas as maneiras

aceito por todos Vejamos a seguir exemplos de falaacutecias

(5) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher

a Dilma Rousseff eacute mulher

b Dilma Rousseff eacute a presidente do Brasil

A partir do nosso conhecimento de mundo poderiacuteamos dizer que a sentenccedila (5b) eacute

verdadeira Na sentenccedila (5alsquo) temos que A presidente do Brasil eacute mulher De fato tambeacutem se

formos utilizar nosso conhecimento de mundo intuitivamente diremos que esta sentenccedila estaacute

correta considerando a eacutepoca em que este trabalho foi escrito Seguindo temos a sentenccedila

(5a) com a informaccedilatildeo Dilma Rousseff eacute mulher Assim como as sentenccedilas (5alsquo) e (5a) a

partir de nosso conhecimento de mundo podemos afirmar que esta sentenccedila tambeacutem eacute

verdadeira mas devemos entender que eacute preciso considerar a relaccedilatildeo que as sentenccedilas

estabelecem entre si A sentenccedila (5alsquo) natildeo estabelece nenhuma relaccedilatildeo com a sentenccedila (5a)

para que (5b) seja um acarretamento Para mostrar de forma mais clara que o exemplo (5) natildeo

eacute um acarretamento vamos comparaacute-lo com o exemplo a seguir

(6) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher

a Michelle Bachelet eacute mulher

b Michelle Bachelet eacute a presidente do Brasil

Observamos que (6alsquo) e (6a) satildeo verdadeiras (no momento da redaccedilatildeo deste

trabalho) mas (6b) nos parece estranho Sabemos que Michelle Bachelet atualmente eacute

presidente do Chile Mas nada disso interfere para caracterizar um acarretamento e o exemplo

acima foi para deixar claro que a partir das relaccedilotildees semacircnticas dispostas entre os grupos de

39

sentenccedilas (5) e (6) natildeo podemos considerar que haacute acarretamento pelo fato acima

mencionado

Ateacute o momento tratamos do conceito de acarretamento seguido de exemplos em

liacutengua natural sua representaccedilatildeo na loacutegica claacutessica e exemplos de falaacutecias A partir deste

ponto trataremos dos fatores que interferem nas relaccedilotildees semacircnticas de uma forma diferente

das falaacutecias A compreensatildeo dos tipos de interferecircncias a seguir seraacute importante para a anaacutelise

do corpus deste trabalho pois se trata de interferecircncias lexicais

No exemplo a seguir trataremos de um problema que pode invalidar relaccedilotildees

semacircnticas a polissemia Quando um termo adquire mais de um sentido aleacutem daquele que eacute

originalmente atribuiacutevel temos um caso de polissemia Crystal (1985) conceitua polissemia

da seguinte maneira

Polissemia termo usado na anaacutelise semacircntica para caracterizar um item lexical com

uma variedade de significaccedilotildees diferentes como manga = ―parte da camisa ―parte

do abajur etc Uma grande parte do vocabulaacuterio da liacutengua eacute polissecircmica ()

(Crystal 1985 p 202)

Tendo em vista que a polissemia eacute uma caracteriacutestica de um item lexical que possui

diversos significados para diversos contextos vamos observar o exemplo a seguir

(7) a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito

b Joatildeo morreu

A sentenccedila (7a) pode ser interpretada pelo menos de duas formas distintas pelo fato da

expressatildeo ―perdeu a cabeccedila ser polissecircmica Se interpretarmos a sentenccedila (7a) considerando

―perder a cabeccedila como ter a cabeccedila desprendida do corpo haacute acarretamento de (7a) para

(7b) Mas esta natildeo eacute a uacutenica interpretaccedilatildeo possiacutevel para a expressatildeo em questatildeo Se

interpretarmos ―perder a cabeccedila como perder a paciecircncia ficar furioso estressado ou algo

parecido a sentenccedila (7a) natildeo acarreta (7b) numa mesma situaccedilatildeo pois o fato de Joatildeo ter

perdido a paciecircncia natildeo garante que ele venha a morrer Dessa forma para natildeo ter problemas

com a polissemia eacute preciso assegurar que se convencione um sentido uacutenico para cada

premissa para desta forma haver um acarretamento

40

Outro aspecto que eacute preciso ser mencionado eacute que (7) do jeito que se apresenta natildeo eacute

um acarretamento mesmo que perder a cabeccedila tenha o sentido de ter a cabeccedila desprendida do

corpo Isso se daacute porque (7) eacute um acarretamento incompleto ou seja um entimema

Argumento com uma premissa natildeo-formulada sem a qual ele natildeo eacute vaacutelido Chama-

se muitas vezes de premissa impliacutecitalsquo agrave premissa natildeo formulada Na argumentaccedilatildeo

cotidiana omitem-se premissas oacutebvias A premissa impliacutecita do argumento Antocircnio

deveria ser despedido porque roubou dinheiro puacuteblicolsquo eacute Todas as pessoas que

roubam dinheiro puacuteblico devem ser despedidaslsquo (BRANQUINHO MURCHO

GOMES 2006 p 298)

Vamos observar o exemplo (7) de uma forma que o entimema seria evitado

(8) alsquo Todas as pessoas que perdem a cabeccedila morrem

a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito

b Joatildeo morreu

Podemos constatar no exemplo acima que ao incluirmos a sentenccedila (8alsquo) que eacute a

sentenccedila geral que estava impliacutecita no exemplo (7) resolvemos o problema do entimema

completando assim a relaccedilatildeo de acarretamento de (8alsquo) e (8a) para (8b)

A partir de agora vamos tratar de outro tipo de interferecircncia em relaccedilotildees sentencias

que estaacute tambeacutem no campo do leacutexico a vagueza

A vagueza eacute assim como a polissemia um tipo de ocorrecircncia que dificulta a

interpretaccedilatildeo dos nexos entre sentenccedilas Podemos considerar que haacute vagueza em uma

sentenccedila quando observamos que uma palavra ou expressatildeo causa sentido incompleto

impedindo o entendimento da sentenccedila como um todo Branquinho Murcho e Gomes

conceituam a vagueza de seguinte maneira

As liacutenguas naturais contecircm palavras (tipicamente predicados denotando

propriedades ou relaccedilotildees) cujo domiacutenio de aplicaccedilatildeo eacute parcialmente indeterminado

isto eacute em relaccedilatildeo agraves quais os falantes competentes natildeo estatildeo certos em todos os

casos de que determinado objeto (ou par ordenado de objetos) pertence ao conjunto

denotado por elas (ou agrave relaccedilatildeo) (BRANQUINHO MURCHO GOMES 2006 p

805)

De uma forma geral Allan (2010) caracteriza a vagueza como um tipo particular de

incerteza sobre a aplicaccedilatildeo de um predicado Podemos considerar como um exemplo padratildeo

de predicado vago a classe de adjetivos graduaacuteveis como altura Se uma determinada pessoa

41

natildeo eacute suficientemente alta para ser claramente alta e natildeo eacute suficiente baixa para ser

claramente baixa entatildeo aiacute temos um caso de vagueza

Os adjetivos vagos satildeo sempre utilizados em relaccedilatildeo a uma classe de comparaccedilatildeo no

dia-a-dia Estar acima do peso por exemplo pode variar a partir do grau de comparaccedilatildeo Para

uma top model estar acima do peso eacute visto de forma diferente do que para um lutador de

sumocirc por exemplo

Ainda em relaccedilatildeo ao conceito de vagueza Kempson (1977) propotildee que existem

quatro tipos inter-relacionaacuteveis de vagueza vagueza referencial indeterminaccedilatildeo de

significado falta de especificaccedilatildeo no significado de um item disjunccedilatildeo na especificaccedilatildeo do

significado de um item em que o significado abarca uma ou qualquer declaraccedilatildeo de diversas

possibilidades de interpretaccedilatildeo Dentre estes quatro tipos propostos por Kempson iremos nos

dedicar a observar os casos relacionados agrave vagueza referencial Tendo em vista os conceitos

acima vamos observar um exemplo em que a vagueza pode prejudicar a interpretaccedilatildeo de um

acarretamento

(9) a Tobias eacute um gecircnio no xadrez

b Tobias eacute um bom jogador de xadrez

No exemplo acima podemos observar os termos vagos ―gecircnio na sentenccedila (9a) e

―bom na sentenccedila (9b) Para haver a relaccedilatildeo de acarretamento temos que admitir para (9a) e

(9b) o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe Por exemplo haacute acarretamento entre as

sentenccedilas (9a) e (9b) se Tobias for um garoto de oito anos e diante seus colegas da escola ele

se destacar como um exiacutemio conhecedor das regras e teacutecnicas do jogo de xadrez Dessa

forma a sentenccedila ―Tobias eacute um gecircnio no xadrez acarretaria que ―Tobias eacute um bom jogador

de xadrez Jaacute se natildeo utilizarmos o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas

(9a) e (9b) como por exemplo se em (9a) Tobias for um garoto de oito anos que diante de

seus colegas da escola se destaca como um exiacutemio jogador de xadrez mas comparando-o

com os competidores da categoria secircnior do campeonato mundial de xadrez e a partir disso

afirmando (9b) natildeo poderiacuteamos acarretar que Tobias eacute um bom jogador de xadrez Dessa

forma pudemos observar que a presenccedila de termos vagos em sentenccedilas dificulta a

interpretaccedilatildeo dos acarretamentos A seguir observaremos outros nexos que se relacionam com

o acarretamento

42

22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA

Como discutimos anteriormente o acarretamento eacute uma relaccedilatildeo semacircntica que ocorre

em um uacutenico sentido ou seja das premissas para a conclusatildeo Quando uma conclusatildeo

acarreta as premissas chamamos essa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica

Para o termo ―equivalecircncia haacute diversas definiccedilotildees Segundo Branquinho Murcho e

Gomes (2006 p 281) podemos identificar dois sentidos distintos para este termo o primeiro

se refere ao que tratamos neste trabalho ou seja faz referecircncia a relaccedilatildeo entre as sentenccedilas de

certa liacutengua o segundo trata de determinados tipos de sentenccedilas declarativas agraves frases

bicondicionais ou declarativas Dentro desses dois sentidos diversos para o termo

―equivalecircncia no primeiro que eacute o que mais nos interessa os autores ainda distinguem trecircs

variedades centrais de equivalecircncia Satildeo elas equivalecircncia material equivalecircncia estrita e

equivalecircncia loacutegica

A equivalecircncia material eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q (por

exemplo) exatamente quando p e q possuem o mesmo valor de verdade ou seja quando ou

satildeo as duas verdadeiras juntas ou satildeo as duas falsas juntas

A equivalecircncia estrita eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q no caso em

que eacute necessaacuterio que p seja materialmente equivalente a q ou no caso de ser impossiacutevel tanto

que p seja verdadeira e q seja falsa quanto que p seja falsa e q seja verdadeira Branquinho

Murcho e Gomes (2006 p 281) afirmam que nesse caso diz-se que p eacute estritamente

equivalente a q

A equivalecircncia loacutegica eacute uma relaccedilatildeo que se estabelece entre duas sentenccedilas p e q

exatamente no caso de p e q serem duas sentenccedilas mutuamente dedutiacuteveis num dado sistema

loacutegico Diz-se nesse caso que p eacute logicamente equivalente a q

Em nosso trabalho iremos considerar para ―equivalecircncia o sentido apresentado por

Branquinho Murcho e Gomes (2006) para equivalecircncia material A partir deste conceito

vamos observar o exemplo a seguir

(10) a O gato matou o rato

b O rato foi morto pelo gato

Nas sentenccedilas acima podemos identificar uma relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica Eacute

impossiacutevel que o gato tenha matado o rato e que o rato natildeo tenha sido morto Claro que se

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considerarmos que estamos tratando sobre o mesmo gato e o mesmo rato Dessa forma

sempre que (10a) for verdadeira (10b) tambeacutem teraacute de ser Tambeacutem podemos observar uma

relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica no exemplo (3) Utilizamos o exemplo (3) para mostrar

uma relaccedilatildeo de acarretamento que eacute efetiva mas tambeacutem haacute a relaccedilatildeo de equivalecircncia pois

as premissas ―Neymar eacute brasileiro e ―Neymar eacute um jogador de futebol acarretam que

―Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro da mesma forma que esta uacuteltima sentenccedila

acarreta as duas anteriores Tal exemplo reafirma o conceito descrito acima de que uma

equivalecircncia semacircntica eacute um acarretamento duplo

Assim como acontece no acarretamento a equivalecircncia semacircntica tem problemas com

a polissemia Vamos observar exemplo a seguir

(11) a O Brasil ganhou o jogo contra o Chile

b O Chile perdeu o jogo contra o Brasil

No exemplo acima vemos que a sentenccedila (11a) acarreta a sentenccedila (11b) ao mesmo

tempo em que a sentenccedila (11b) acarreta a sentenccedila (11a) Natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (11a)

seja verdadeira ao mesmo tempo em que a (11b) seja falsa Se uma das sentenccedilas eacute falsa e a

outra eacute verdadeira natildeo haacute acarretamento em nenhum dos dois ―sentidos (em relaccedilatildeo agrave

direccedilatildeo de (11a) para (11b) e de (11b) para (11a)) Natildeo podemos considerar que o Brasil

ganhou o jogo contra o Chile e que o Chile ganhou o jogo contra o Brasil pois sabemos que

em uma partida de futebol haacute apenas um ganhador Haacute a possibilidade de algueacutem querer ir

mais aleacutem e inferir que eacute possiacutevel que os dois times ganharam mas em jogos diferentes Se

considerarmos a situaccedilatildeo de que o Chile jaacute ganhou outros jogos contra o Brasil assim como

que o Brasil jaacute ganhou outros jogos contra o Chile a relaccedilatildeo de equivalecircncia seria possiacutevel

escolhendo qualquer outro jogo como referecircncia mas natildeo eacute o que nos interessa pois

devemos considerar apenas uma situaccedilatildeo para as duas sentenccedilas

A partir deste ponto iremos tratar sobre como a polissemia pode interferir na

interpretaccedilatildeo numa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica da mesma forma que mostramos

anteriormente nas relaccedilotildees de acarretamento Vejamos o proacuteximo exemplo

44

(12) a A lagosta estaacute mais salgada que o peixe

b O peixe estaacute menos salgado que a lagosta

Podemos observar que as sentenccedilas (12a) e (12b) satildeo equivalentes pelo fato de que

natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12a) seja verdadeira e a sentenccedila (12b) seja falsa assim como

natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12b) seja verdadeira e a sentenccedila (12a) seja falsa Poreacutem se

passarmos a admitir significados diferentes para expressotildees empregadas nas sentenccedilas por

exemplo para a palavra ―salgado encontraremos problemas Se admitirmos que sentenccedila

(12a) o conceito de ―salgado eacute de o alimento estar impregnado de sal salpicado de sal ou

com gosto de sal e se este conceito for tambeacutem considerado para a sentenccedila (12b) haacute

equivalecircncia semacircntica Mas tambeacutem podemos interpretar o termo ―salgado como uma

expressatildeo para se referir ao preccedilo alto do produto no mercado Soacute haacute equivalecircncia semacircntica

se admitirmos o mesmo conceito para ―salgado em ambas as sentenccedilas ou seja se

considerarmos o significado de ―salgado como sendo impregnado de sal para a sentenccedila

(12a) ou em (12b) como sendo relativo ao valor alto no mercado natildeo haacute equivalecircncia

semacircntica entre (12a) e (12b)

No proacuteximo exemplo trataremos de outro tipo de ocorrecircncia que dificulta a

interpretaccedilatildeo de nexos a vagueza Como jaacute apresentamos a definiccedilatildeo de vagueza na seccedilatildeo

anterior partiremos direto para o exemplo em que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo de uma

equivalecircncia semacircntica

(13) a Goacutergias eacute mais saacutebio que Hiacutepias

b Hiacutepias eacute menos saacutebio que Goacutergias

Na relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) haacute equivalecircncia semacircntica mas podemos identificar

que nas duas sentenccedilas foram utilizados termos vagos que tornam a interpretaccedilatildeo dificultosa

Em (13a) haacute o uso dos termos ―mais e ―saacutebio assim como em (13b) haacute o uso dos termos

―menos e ―saacutebio Esses termos satildeo vagos e dificultam a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo semacircntica

entre as sentenccedilas O que dificulta a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) eacute o fato de

que termos como ―mais e ―menos assim como ―saacutebio possuem significados diferentes de

acordo com as situaccedilotildees em que satildeo utilizadas Ou seja eacute necessaacuterio que admitamos o

45

mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas (13a) e (13b) Dessa forma haveraacute a

relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica

A seguir trataremos sobre outro tipo de relaccedilatildeo semacircntica entre sentenccedilas a

contraditoriedade

23 CONTRADITORIEDADE

Diferente da relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica que consiste em sentenccedilas que satildeo

verdadeiras juntas ou falsas juntas as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias quando uma eacute oposta da

outra tipicamente quando uma sentenccedila B eacute a negaccedilatildeo de uma sentenccedila A Sobre a relaccedilatildeo de

contraditoriedade Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 229) afirmam que ―obteacutem-se a

contraditoacuteria de qualquer proposiccedilatildeo p prefixando-lhe o operador de negaccedilatildeo de modo a

obter notp3 Com base no conceito de contraditoriedade exposto vamos observar o exemplo a

seguir

(14) a O Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016

b O Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016

Podemos observar no exemplo acima que se a sentenccedila (14a) for verdadeira

obrigatoriamente a sentenccedila (14b) tem que ser falsa Se a informaccedilatildeo da sentenccedila (14a) que

diz que o Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas for verdadeira a informaccedilatildeo da sentenccedila

(14b) que diz que o Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas natildeo pode ser verdadeira

Em relaccedilotildees de contraditoriedade o uso de uma afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo eacute algo

tiacutepico mas natildeo determinante No exemplo (14) pudemos observar a relaccedilatildeo de

contraditoriedade caracterizada pelo uso da negaccedilatildeo mas tambeacutem podemos encontrar esse

tipo de relaccedilatildeo sem tal uso Vejamos a seguir

3 O siacutembolo not na loacutegica claacutessica eacute a representaccedilatildeo do operador de negaccedilatildeo ldquonatildeordquo

46

(15) a Mecircnon estaacute acordado

b Mecircnon estaacute dormindo

A partir das sentenccedilas acima podemos ver que a relaccedilatildeo entre estas sentenccedilas eacute de

contraditoriedade pois se a sentenccedila (15a) for verdadeira a sentenccedila (15b) tem que ser falsa

da mesma forma que se a sentenccedila (15b) for verdadeira a sentenccedila (15a) deveraacute ser falsa

Natildeo eacute possiacutevel que Mecircnon esteja acordado e dormindo ao mesmo tempo claro que

considerando o mesmo sentido para as palavras ―acordado e ―dormindo nas duas sentenccedilas

e em relaccedilatildeo ao mesmo Mecircnon

Assim como as demais relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos anteriormente a

contraditoriedade tambeacutem eacute sensiacutevel agrave polissemia Vamos observar como a polissemia se

apresenta no exemplo a seguir

(14) a A minha gata estaacute acordada

b A minha gata estaacute dormindo

No exemplo acima natildeo encontramos apenas a relaccedilatildeo de contraditoriedade sem

utilizaccedilatildeo da negaccedilatildeo mas tambeacutem um problema de polissemia que pode anular a relaccedilatildeo de

contraditoriedade Se numa determinada situaccedilatildeo escrevendo este texto me viro na cadeira e

vejo em cima de minha cama o meu animal de estimaccedilatildeo deitado olhando para mim e com

isso afirmo ―a minha gata estaacute acordada como na sentenccedila (14a) natildeo posso considerar

verdadeira a sentenccedila (14b) pois natildeo se pode estar dormindo e estar acordado ao mesmo

tempo tomando as definiccedilotildees de ―estar acordado e ―estar dormindo como oposiccedilotildees A

partir disso as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias Se em outra situaccedilatildeo me viro na cadeira e vejo

minha esposa deitada na cama dormindo e afirmo ―a minha gata estaacute dormindo como na

sentenccedila (14b) ela natildeo pode ser verdadeira ao mesmo tempo em que a sentenccedila (14a) pois

minha esposa natildeo poderia estar acordada e dormindo ao mesmo tempo Ateacute o momento

pudemos atribuir dois sentidos diferentes para o termo ―gata Se considerarmos para a

sentenccedila (14a) o sentido de que o meu animal de estimaccedilatildeo estaacute acordado e para a sentenccedila

(14b) o sentido de que a minha esposa estaacute dormindo essas sentenccedilas natildeo satildeo contraditoacuterias

No exemplo acima percebemos portanto dois aspectos da contradiccedilatildeo em sentenccedilas de uma

liacutengua natural como o portuguecircs Primeiro que natildeo haacute a obrigatoriedade de ter a negaccedilatildeo de

47

uma sentenccedila para que a relaccedilatildeo de contraditoriedade exista e segundo que a polissemia

pode tornar problemaacutetica essa relaccedilatildeo

Podemos considerar uma relaccedilatildeo de contraditoriedade entre sentenccedilas sempre que A eacute

verdadeira B eacute falsa e sempre que a sentenccedila B eacute verdadeira A eacute falsa Ou seja as sentenccedilas

A e B nunca podem ser verdadeiras ou falsas juntas

O exemplo de contraditoriedade que mostramos anteriormente foi relacionando duas

sentenccedilas mas podemos encontrar a relaccedilatildeo de contraditoriedade dentro de uma sentenccedila

apenas Vamos observar o exemplo a seguir

(15) Herbert Vianna eacute cantor e natildeo eacute cantor

Se afirmamos que uma pessoa eacute e natildeo eacute cantora constatamos uma contraditoriedade

nesta sentenccedila Em (15) encontramos a apresentaccedilatildeo de um argumento e a negaccedilatildeo do mesmo

argumento em seguida Uma sentenccedila com esta forma natildeo pode ser verdadeira Se

consideramos numa mesma situaccedilatildeo que Herbert Vianna eacute cantor e em seguida afirmo que

Herbert Vianna natildeo eacute cantor esta sentenccedila eacute contraditoacuteria

Se partirmos para determinar sentidos diferentes para o termo ―cantor como por

exemplo que Herbert Vianna eacute um cantor pelo simples fato de que ele emite pelas cordas

vocais sons musicais que ―cantor eacute um termo que soacute pode ser utilizado para os profissionais

que trabalham com a voz na muacutesica ou que ―cantor se jaacute um termo utilizado para designar

algueacutem que canta muito bem natildeo haacute contraditoriedade efetivamente Mas se mantivermos o

mesmo sentido para o termo haveraacute relaccedilatildeo de contraditoriedade

Da mesma forma que a polissemia dificulta a interpretaccedilatildeo de nexos entre sentenccedilas

vamos observar um exemplo em que a vagueza ndash toacutepico que desenvolvemos na primeira

seccedilatildeo deste capiacutetulo - invalida uma relaccedilatildeo de contraditoriedade

(16) a O professor de loacutegica eacute muito alto

b O professor de loacutegica natildeo eacute muito alto

Na relaccedilatildeo entre (16a) e (16b) seguindo o conceito contraditoriedade haacute uma relaccedilatildeo

de contradiccedilatildeo entre as duas sentenccedilas poreacutem podemos identificar termos vagos nas duas

sentenccedilas o que pode dificultar a interpretaccedilatildeo Na sentenccedila (16a) e na sentenccedila (16b)

48

identificamos dois termos vagos que satildeo ―muito e ―alto Eacute possiacutevel considerar as duas

sentenccedilas como falsas ou verdadeiras juntas invalidando a contraditoriedade pois os termos

―muito e ―alto satildeo variaacuteveis de acordo com o grau de comparaccedilatildeo adotado Por exemplo

em (16a) o professor de loacutegica pode ser considerado muito alto em comparaccedilatildeo agraves crianccedilas

para quem ele leciona poreacutem se compararmos o professor de loacutegica da sentenccedila (16a) com os

outros professores do departamento talvez o professor fosse considerado baixo Desta forma

podemos observar que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo das duas sentenccedilas

A seguir traremos o uacuteltimo nexo semacircntico que utilizaremos em nosso trabalho Este

tipo de relaccedilatildeo eacute um pouco parecido com a contraditoriedade

24 CONTRARIEDADE

A contrariedade ocorre quando duas sentenccedilas podem ser falsas juntas mas natildeo

podem ser verdadeiras juntas Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 234) definem

contrariedade da seguinte forma ―duas proposiccedilotildees satildeo contraacuterias se natildeo podem ser ambas

verdadeiras mas podem ser ambas falsas distinguindo-se assim das contraditoacuterias que natildeo

podem ser ambas verdadeiras nem ambas falsas e das subcontraacuterias que natildeo podem ser

ambas falsas mas podem ser ambas verdadeiras

Eacute importante enfatizar que mesmo estando tratanto dos nexos semacircnticos e sua

aplicaccedilatildeo em liacutengua natural os conceitos de sentenccedilas contraacuterias contraditoacuterias

equivalecircncias e acarretamentos tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica As relaccedilotildees de sentenccedilas

contraacuterias e contraditoacuterias satildeo tratadas por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado

atraveacutes de seu quadrado loacutegico ou taacutebua de oposiccedilotildees No Perieacutermeneas (1985) mais

especificamente nos capiacutetulos 6 e 7 Aristoacuteteles nos apresenta os conceitos de sentenccedilas

contraacuterias e contraditoacuterias afirmando que duas sentenccedilas satildeo contraacuterias quando natildeo podem

ser verdadeiras juntas ao mesmo tempo mas podem ser falsas juntas ao mesmo tempo Jaacute em

relaccedilatildeo agraves contraditoacuterias Aristoacuteteles propotildee que toda afirmaccedilatildeo possui sua exata negaccedilatildeo

correspondente e que toda afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo sem opotildeem sendo uma sempre

verdadeira e a outra sempre falsa Dessa forma para Aristoacuteteles um par formado por uma

afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo corresponde a uma contradiccedilatildeo

A partir do conceito de contrariedade vamos observar o exemplo a seguir Nele

encontraremos um caso de polissemia

49

(17) a A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 20 de agosto de 1914

b A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 18 de julho de 1921

Se admitirmos que a seleccedilatildeo brasileira de futebol sobre a qual estamos falando na

sentenccedila (17a) eacute a mesma seleccedilatildeo que estamos falando na sentenccedila (17b) natildeo eacute possiacutevel que

a sentenccedila (17b) seja verdadeira pois algo natildeo pode ser fundado efetivamente em dois

momentos distintos Haacute a possibilidade de se afirmar que estamos falando de duas seleccedilotildees

brasileiras de futebol diferentes pois para ―seleccedilatildeo brasileira haacute diversos significados

aplicaacuteveis ou seja a expressatildeo ―seleccedilatildeo brasileira eacute polissecircmica Por exemplo podemos

definir uma seleccedilatildeo como sendo de futebol de campo e a outra de futebol de salatildeo A partir

dessa interpretaccedilatildeo as duas sentenccedilas poderiam ser verdadeiras juntas e com isso natildeo

haveria contrariedade Mas como devemos admitir apenas uma situaccedilatildeo para as duas

sentenccedilas (17a) e (17b) natildeo podem ser verdadeiras juntas mas podem ser falsas juntas

constituindo uma relaccedilatildeo de contrariedade Eacute possiacutevel que a seleccedilatildeo brasileira de futebol natildeo

tenha sido formada nem em 20 de agosto de 1914 e nem em 18 de julho de 1921 Em

contrapartida numa interpretaccedilatildeo usual a seleccedilatildeo de futebol de um paiacutes eacute formada pela

primeira vez uma soacute vez Algueacutem pode querer ir aleacutem e afirmar que foram empregados

sentidos diferentes para a expressatildeo ―foi formada nas sentenccedilas em questatildeo Poderia dizer

que na sentenccedila (17a) o sentido foi de que a seleccedilatildeo se reuniu pela primeira vez para jogarem

juntos de forma extraoficial e que na sentenccedila (17b) o sentido foi de que a seleccedilatildeo

efetivamente foi documentalmente formada Se admitiacutessemos essas interpretaccedilotildees as

sentenccedilas (17a) e (17b) poderiam ser verdadeiras juntas o que descaracterizaria a relaccedilatildeo de

contrariedade entre as sentenccedilas Assim como o fato de que se a sentenccedila (17a) for falsa a

sentenccedila (17b) pode ser verdadeira ou falsa A falsidade da sentenccedila (17a) natildeo assegura a

verdade da sentenccedila (17b) Podemos entender dessa forma que a polissemia afeta a

interpretaccedilatildeo do nexo

Vamos observar mais um exemplo desta relaccedilatildeo

(18) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado do Acre

b A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado de Santa Catarina

50

Se considerarmos a sentenccedila (18a) verdadeira ou seja que a reitoria da UNISUL estaacute

localizada no estado do Acre e tambeacutem levando em conta que a UNISUL eacute uma universidade

que tem uma reitoria e que a reitoria de uma universidade soacute pode estar numa cidade a

sentenccedila (18b) deveraacute ser falsa A sentenccedila (18a) eacute falsa e a sentenccedila (18b) eacute verdadeira e as

duas estabelecem uma relaccedilatildeo de contrariedade A reitoria da UNISUL estaacute localizada no

estado de Santa Catarina e natildeo no estado do Acre A partir desse exemplo e da convenccedilatildeo que

admitimos para ele pudemos observar que se uma sentenccedila A for falsa uma sentenccedila B pode

ser falsa ou verdadeira natildeo podendo ser as duas verdadeiras juntas apenas falsas Ilustrando

mais uma vez veja a relaccedilatildeo a seguir

(19) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Paris

b A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Roma

No exemplo acima podemos afirmar que as sentenccedilas (19a) e (19b) podem ser falsas

pois como jaacute citamos no paraacutegrafo anterior a reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado

de Santa Catarina Dessa forma haacute relaccedilatildeo de contrariedade as duas sentenccedilas satildeo falsas

Jaacute tratamos de exemplos da relaccedilatildeo de contrariedade com problemas de polissemia

mas podemos tambeacutem identificar problemas de validade dos nexos por causa da vagueza A

seguir observe o exemplo

(20) a Este cafeacute estaacute forte

b Este cafeacute estaacute aguado

Observando as sentenccedilas acima identificamos que (20a) e (20b) possuem termos

vagos que podem dificultar a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre as sentenccedilas Em (20a) foi usado

o termo ―forte e em (20b) foi usado o termo ―aguado Como nas outras relaccedilotildees que

apresentamos anteriormente esses termos satildeo vagos pois dependendo da classe de

comparaccedilatildeo em que satildeo apresentados eles podem mudar de sentido Eacute possiacutevel que numa

determinada situaccedilatildeo consideremos que um cafeacute pode natildeo estar nem forte nem fraco

autorizando a possibilidade de (20a) e (20b) serem as duas falsas ao mesmo tempo

descaracterizando a relaccedilatildeo de contrariedade Dessa forma podemos observar que os termos

51

vagos dificultam a interpretaccedilatildeo das sentenccedilas consequentemente da relaccedilatildeo que as

sentenccedilas estabelecem entre si Concluindo a exposiccedilatildeo dos nexos que nos interessam neste

trabalho apresentaremos a seguir a justificativa de nosso percurso sobre estas relaccedilotildees

semacircnticas e os tipos de ocorrecircncias que podem dificultar a interpretaccedilatildeo destas

25 JUSTIFICANDO O PERCURSO

Neste capiacutetulo apresentamos inicialmente os conceitos de semacircntica e pragmaacutetica

com o objetivo de mostrar que os nexos semacircnticos que tratamos em nosso trabalho

(acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e contrariedade) satildeo tipos de

inferecircncias que pertencem ao campo da semacircntica Para isso tambeacutem apresentamos duas

inferecircncias que pertencem ao campo da pragmaacutetica (pressuposiccedilatildeo e implicatura)

Na exposiccedilatildeo de cada nexo trouxemos os conceitos seguidos de exemplos em que a

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees semacircnticas eacute clara Em seguida apresentamos exemplos de nexos

com dois tipos de ocorrecircncias que no campo do leacutexico dificultam a interpretaccedilatildeo das

relaccedilotildees semacircnticas a polissemia e a vagueza

Pode parecer confuso a princiacutepio o fato de tratarmos de tipos de inferecircncia que

dependem da forma para se concretizarem (os nexos semacircnticos) relacionando-as com

ocorrecircncias que dificultam o entendimento do conteuacutedo das sentenccedilas (a polissemia e a

vagueza) A confusatildeo se apresenta caso natildeo lembremos que estamos tratando das relaccedilotildees de

inferecircncias em liacutengua natural e natildeo numa liacutengua controlada como num sistema loacutegico por

exemplo

Quando afirmamos que as relaccedilotildees entre sentenccedilas que tratamos em nosso trabalho

dependem da forma falamos de uma ―dessemantificaccedilatildeo ou seja a existecircncia dos nexos vai

depender unicamente da semacircntica dos quantificadores e conectivos (e ou se) Os nexos natildeo

dependem da semacircntica restante do material linguiacutestico exposto na sentenccedila A semacircntica dos

conectivos e quantificadores numa linguagem formal eacute mantida estaacutevel por definiccedilatildeo Na

linguagem natural podemos observar que os tipos de ocorrecircncia que dificultam a

interpretaccedilatildeo dos nexos se fazem presentes justamente no restante do material linguiacutestico da

sentenccedila ou seja para aleacutem da estrutura da sentenccedila que eacute composta pelos quantificadores e

demais conectivos

52

A polissemia e a vagueza satildeo ocorrecircncias tiacutepicas de liacutengua natural e dessa forma

somos obrigados a admitir que ao nos depararmos com qualquer gecircnero textual (que

obviamente estaacute no campo das liacutenguas naturais) numa anaacutelise devemos considerar que o

significado das palavras vai naturalmente interferir nas relaccedilotildees semacircnticas Tambeacutem na

exposiccedilatildeo de tipos de ocorrecircncias que interferem nos nexos semacircnticos tratamos de falaacutecias

que satildeo argumentos invaacutelidos apresentados como vaacutelidos explorando justamente a

interpretaccedilatildeo do conteuacutedo das sentenccedilas

A partir dos nexos semacircnticos que tratamos neste capiacutetulo junto com os tipos de

inferecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees no capiacutetulo seguinte

apresentaremos a anaacutelise de certificados de garantia Como o nosso objetivo eacute analisar quais

satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados nos certificados para restringir possibilidades de

interpretaccedilatildeo decidimos realizar a anaacutelise de ocorrecircncias com conectivos e quantificadores

Consideramos pertinente a escolha desse tipo de anaacutelise pois entendemos que os

quantificadores como o ―todo satildeo tradicionalmente apresentados em relaccedilotildees semacircnticas de

restriccedilatildeo ou abrangecircncia assim como o condicional ―se ou ―somente se e o ―apenas e

―somente A partir desse raciociacutenio acreditamos que esta seria a forma mais correta para

identificarmos ocorrecircncias do tipo que precisamos para a realizaccedilatildeo de nossa anaacutelise Os

nexos semacircnticos natildeo satildeo propiacutecios para as liacutenguas naturais pois natildeo se apresentam de forma

controlada Ocorrecircncias lexicais como as que descrevemos anteriormente podem dificultar a

interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees e isso eacute algo que trataremos nas anaacutelises

Eacute nesta perspectiva que observaremos no capiacutetulo seguinte as anaacutelises de vinte e dois

certificados de garantia nos quais natildeo buscaremos relaccedilotildees bem marcadas e controladas entre

sentenccedilas pois natildeo encontrariacuteamos facilmente mas sim quais satildeo os recursos linguiacutesticos

utilizados pelos autores dos textos para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo

admitindo tambeacutem obviamente os nexos semacircnticos como possiacuteveis recursos

53

3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA

Os certificados de garantia satildeo textos muito presentes em nosso cotidiano e muitas das

vezes noacutes natildeo levamos em conta a sua importacircncia tanto por serem documentos que podem

resguardar nossos direitos sobre um determinado produto quanto pelo fato de natildeo sermos

treinados para ler e interpretar devidamente as informaccedilotildees dispostas nos textos Dessa

forma justificamos a escolha de tal gecircnero para analisarmos em nossa pesquisa Ateacute este

momento de nosso trabalho seguimos o seguinte percurso

1) Mostramos no primeiro capiacutetulo que na elaboraccedilatildeo de certificados de garantia o

autor deve se preocupar em construir o texto buscando restringir ao maacuteximo as

possibilidades de interpretaccedilatildeo para que ele se torne mais eficiente em passar as

informaccedilotildees desejadas e para evitar problemas de interpretaccedilatildeo por parte dos

clientes

2) Tendo em vista que os certificados de garantia satildeo textos instrucionais ou seja

que direcionam a leitura para um fim especiacutefico nossa anaacutelise tem por objetivo

verificar quais satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores destes textos

para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo e para alcanccedilar este objetivo nos

utilizaremos da teoria dos nexos semacircnticos apresentada no segundo capiacutetulo

Como anunciado na introduccedilatildeo o corpus dessa pesquisa eacute formado por 22

certificados de garantia de produtos de diversos segmentos Ele foi coletado utilizando a

internet e natildeo teve um meacutetodo definido de categorizaccedilatildeo na escolha dos textos Decidimos

escolher certificados de diversos segmentos para natildeo obtermos uma anaacutelise viciada e tambeacutem

para obtermos um panorama da estrutura textual

Como analisaremos os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores dos certificados

de garantia para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo elegemos trecircs categorias de

termos a serem analisadas quantificadores universais condicionais e uso do apenassomente

A escolha dessas categorias se deve ao fato delas possuiacuterem tradicionalmente funccedilotildees de

restriccedilatildeo ou abrangecircncia em inferecircncias

Assim como na loacutegica de predicados a silogiacutestica se caracteriza pelo uso dependente

em argumentos dos quantificadores ―alguns e ―todos Nomeamos de quantificador

existencial ou particular aqueles referentes a ―alguns e nomeamos de quantificador universal

aqueles referentes a ―todos (MURCHO 2006) Utilizaremos em nossa pesquisa agraves

ocorrecircncias com quantificadores do segundo tipo Vejamos um exemplo ilustrativo

54

(21) TODO produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia

Possivelmente natildeo encontraremos em nossa anaacutelise nenhuma sentenccedila como esta pois

vemos que o quantificador universal destacado em letras maiuacutesculas abrange totalmente a

possibilidade de cobertura da garantia de um produto Da forma que estaacute expressa se compro

uma TV por exemplo e a mergulho na aacutegua causando defeito poderei receber outra nova do

fabricante pois ―todo produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia

Sobre os condicionais trataremos a anaacutelise na mesma linha de raciociacutenio pois eles

satildeo utilizados em proposiccedilotildees do tipo ―se X entatildeo Y oportunizando abrangecircncia ou

restriccedilatildeo de possibilidades de interpretaccedilatildeo como podemos ver ilustrado no exemplo a

seguir

(22) SE o produto apresentar defeito seraacute reparado gratuitamente

Da mesma forma como mostramos no exemplo anterior provavelmente natildeo

encontraremos sentenccedilas tatildeo abrangentes em nosso corpus como esta pois da forma como

estaacute posta ampliaria muito a possibilidade de cobertura da garantia de um produto Podemos

interpretar a partir da leitura da sentenccedila acima que o reparo do produto seraacute efetuado caso o

produto apresente qualquer defeito por qualquer motivo durante qualquer periacuteodo de tempo

sendo utilizado por qualquer pessoa e em qualquer circunstacircncia entre outras possibilidades

Para reparar tamanha abrangecircncia os autores dos textos podem utilizar listas exaustivas com

detalhes especiacuteficos apoacutes a apresentaccedilatildeo dos condicionais para direcionar efetivamente a

cobertura da garantia

Por fim em relaccedilatildeo ao uso dos termos ―apenas e ―somente analisaremos os termos

nos contextos que os autores buscam restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos textos

Vejamos o exemplo a seguir

(22) Estaratildeo cobertos pela garantia APENAS os produtos que natildeo estatildeo em

promoccedilatildeo

55

No exemplo acima tambeacutem inventado vemos que o ―apenas aparece como um

restritor da garantia deixando claro que soacute os produtos que foram adquiridos pelos preccedilos

normais ou seja fora da promoccedilatildeo estaratildeo cobertos pela garantia Dessa forma produtos em

promoccedilatildeo ficam descobertos

Com os conceitos sobre as categorias de anaacutelise dispostos acima apresentaremos a

seguir a anaacutelise dos trechos coletados em nosso corpus separada por tipos de ocorrecircncia

Iremos observar como se apresentam os quantificadores condicionais ocorrecircncias com o

apenassomente assim como observaremos os tipos de ocorrecircncias no campo do leacutexico que

dificultam a interpretaccedilatildeo dos trechos (polissemia e vagueza)

31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL

Vejamos a seguir as ocorrecircncias4 em que o quantificador universal eacute utilizado

5

(1) Este produto e as peccedilas substituiacutedas seratildeo garantidos pelo restante do

prazo original TODAS as peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades

da SAMSUNG

Podemos observar na ocorrecircncia acima que o fabricante utiliza o quantificador para

fazer com que o leitor infera que absolutamente todas as peccedilas que forem substituiacutedas na

assistecircncia a algum aparelho defeituoso se tornaratildeo propriedade da fabricante Dessa forma o

cliente natildeo poderaacute em hipoacutetese alguma ficar com a peccedila trocada

Percebemos no trecho acima que o quantificador universal ―todas poderia ser

excluiacutedo da sentenccedila e com isso em nada alteraria o sentido da sentenccedila Forccedilando uma

possiacutevel interpretaccedilatildeo da sentenccedila o leitor poderia afirmar que se a sentenccedila fosse disposta

da seguinte maneira ―As peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades da SAMSUNG

poderia existir uma classe de peccedilas eletrocircnicas de produtos SAMSUNG que

4 Utilizaremos o termo ldquoocorrecircnciardquo tanto para se referir ao trecho completo do corpus quanto para a

sentenccedila em que o conectivo grifado se apresenta Natildeo faremos distinccedilatildeo para este uso 5 Para a exibiccedilatildeo das ocorrecircncias do nosso corpus reiniciaremos a numeraccedilatildeo natildeo seguindo a contagem

realizada para os exemplos dos capiacutetulos anteriores

56

tradicionalmente fossem substituiacutedas em manutenccedilotildees mas natildeo recolhidas pelo fabricante

Dessa forma o quantificador universal ―todas se mostraria como a soluccedilatildeo para esse

problema de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos

na ocorrecircncia6 (1)

(2) Esta garantia substitui TODAS as outras garantias expressas ou

taacutecitas incluindo sem limitaccedilatildeo garantias taacutecitas de comercializaccedilatildeo

e adequaccedilatildeo a um fim especiacutefico

(Certificado 1)

Nesta ocorrecircncia o fabricante utiliza o quantificador para abranger ao maacuteximo seu

texto no intuito de inferir que a garantia em anaacutelise se sobrepotildee a qualquer outro tipo de

garantia oferecida ao cliente

Podemos observar que se o quantificador universal ―todas natildeo fosse utilizado o

sentido da sentenccedila permaneceria o mesmo Se tiveacutessemos encontrado a sentenccedila da forma

―Esta garantia substitui as outras garantias o cliente iria interpretar a sentenccedila sem

dificuldades O uso do quantificador aparece como um termo para dar ecircnfase ao que jaacute estaacute

dito na sentenccedila acima Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos na

ocorrecircncia (2)

(3) TODO atendimento de reparo deve ser precedido de ligaccedilatildeo

telefocircnica ao Suporte Teacutecnico Telefocircnico da AOC (0800-10-9539)

para que seja feita uma avaliaccedilatildeo preacutevia do problema a fim de

constatar a existecircncia de defeito ou viacutecio do produto esgotando-se

TODAS as possibilidades de se tratar de uma falha de operaccedilatildeo ou

uso do produto por parte do consumidor

(Certificado 4)

No trecho acima podemos observar que na primeira ocorrecircncia do quantificador o

fabricante utiliza-o para inferir que o cliente em qualquer caso de submissatildeo do aparelho agrave

assistecircncia deve entrar em contato com o suporte teacutecnico telefocircnico da empresa e ainda

6 Decidimos pontuar no final de cada anaacutelise o fato de haver ou natildeo termos polissecircmicos ou vagos nas

ocorrecircncias porque consideramos estes tipos de ocorrecircncias como sendo os principais meios de dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos instrucionais Ao anunciar que natildeo haacute termos dessas categorias em cada anaacutelise por mais que se mostre repetitivo na leitura ao mesmo tempo invoca a importacircncia (e necessidade segundo nossa perspectiva) que depositamos nesses fatos em cada ocorrecircncia

57

reforccedila utilizando outra vez o quantificador ―todas inferindo que o produto soacute iraacute para a

assistecircncia efetivamente caso natildeo haja mais nenhuma possibilidade de resoluccedilatildeo do problema

atraveacutes do contato telefocircnico Ao utilizar esse reforccedilo o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo ao

fato de que por exemplo o problema possa ser resolvido atraveacutes de instruccedilotildees passadas pela

empresa via telefone ao cliente e o cliente natildeo aceitar e exigir que o produto seja reparado

somente na assistecircncia teacutecnica ou simplesmente para evitar que a assistecircncia teacutecnica receba

algum produto que natildeo estaacute defeituoso ou viciado

Diferente da ocorrecircncia (2) o uso do quantificador universal ―todo se faz necessaacuterio

para evitar que o cliente interprete a sentenccedila de uma forma indesejada por parte do

fabricante Por exemplo caso o autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todo na

primeira parte ―Todo atendimento de reparo deve o cliente poderia interpretar que ele

poderia obter atendimento de reparo sem passar pelo contato telefocircnico com o suporte teacutecnico

do fabricante Na utilizaccedilatildeo do quantificador universal ―todas no final da sentenccedila tambeacutem

observamos que se o autor do texto natildeo utilizasse esta estrateacutegia tambeacutem possibilitaria que o

texto fosse interpretado de outra maneira Se o cliente se deparasse com a sentenccedila

―esgotando-se as possibilidades de se tratar de uma falha poderia interpretar que se para

algum tipo de falha de operaccedilatildeo ou seja de utilizaccedilatildeo do produto haveria a possibilidade de

enviar o produto para assistecircncia teacutecnica Como o autor utilizou o quantificador nas duas

passagens que citamos ele direcionou a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha

duacutevidas sobre aquilo que o fabricante deseja expressar

Sobre tipos de ocorrecircncia que dificultam a interpretaccedilatildeo do texto pudemos identificar

a expressatildeo ―viacutecio do produto Esta expressatildeo eacute muito especiacutefica e estaacute presente no Coacutedigo

de defesa do consumidor Segundo Bruno Miragem (2008) ―Viacutecio do produto ou do serviccedilo

abrange o efeito decorrente da violaccedilatildeo aos deveres de qualidade quantidade ou informaccedilatildeo

impedindo com isso que o produto ou serviccedilo atenda aos fins que legitimamente dele se

esperam (dever da adequaccedilatildeo) O autor do certificado natildeo disponibilizou nenhum conceito

para a expressatildeo ―viacutecio do produto apresentando desta forma uma dificuldade a mais para

a interpretaccedilatildeo do texto por parte do cliente Caso o autor tenha elaborado o texto

considerando por exemplo que qualquer pessoa que leia um certificado de garantia deve ser

conhecedor de todos os termos e expressotildees descritas no CDC (a partir desse ponto iremos

utilizar esta sigla para ―coacutedigo de defesa do consumidor) natildeo haveria problema em

simplesmente usar o termo sem conceituar mas isso natildeo eacute pertinente Para evitar que esta

expressatildeo natildeo fosse polissecircmica o autor deveria ter elaborado um mini-glossaacuterio com os

termos que seriam usuais no texto e que possuem um sentido especiacutefico no ramo em que o

58

produto estaacute inserido (por exemplo peccedilas de carros ou peccedilas eletrocircnicas) e no CDC7

(4) A Garantia do Produto oferecida por este Termo abrange TODOS os

defeitos de material ou de fabricaccedilatildeo do aparelho constatados pela

Robert Bosch Ltda bem como a substituiccedilatildeo das peccedilas que

apresentarem viacutecios aleacutem da matildeo-de-obra utilizada no respectivo

reparo

(Certificado 8)

No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador ―todos para assegurar ao cliente

que em qualquer caso em que o produto possua defeito de material ou de fabricaccedilatildeo a

garantia estaraacute assegurada Aleacutem de assegurar isso tambeacutem garante a substituiccedilatildeo da peccedila do

aparelho que estiver com problema e a matildeo-de-obra tudo por conta do fabricante Caso o

autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todos ele poderia abrir margem para

outras interpretaccedilotildees como por exemplo que esta garantia natildeo abrange qualquer defeito do

produto constatado pelo fabricante Eacute interessante citar que a utilizaccedilatildeo do quantificador

―todos foi realizada beneficiando o fabricante pois mesmo afirmando que a ―garantia

abrange todos os defeitos o autor direciona para ―todos os casos que forem constatados

pelo fabricante Ou seja fica a criteacuterio do fabricante decidir o que eacute defeito e o que natildeo eacute

Assim como na ocorrecircncia (3) identificamos o uso do termo ―viacutecios que natildeo tem o

seu conceito descrito no texto do certificado O termo ―viacutecio natildeo eacute utilizado em nosso

cotidiano como algo vinculado a um objeto Geralmente conceituamos esse termo como

referente agrave dependecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica em relaccedilatildeo a uma substacircncia Tambeacutem podemos

conceituar como uma mania (costume de fazer sempre a mesma coisa) Enfim o termo

utilizado da forma em que foi descrita em (4) necessitaria que em alguma parte do texto

aparecesse o conceito para este termo que deve ser interpretado de forma especiacutefica pois eacute

um termo teacutecnico apresentado no CDC e muitas das vezes o cliente natildeo tem conhecimento

deste conceito favorecendo dificuldades a interpretaccedilatildeo do texto

(5) TODOS os eventuais danos ou demoras resultantes da natildeo

observacircncia dessas recomendaccedilotildees fogem agrave responsabilidade da APC

(Certificado 7)

7 Sobre esta estrateacutegia de eliminaccedilatildeo da polissemia e vagueza atraveacutes do uso de um glossaacuterio por autores de

textos instrucionais ver Estrela e Santos (2014)

59

Na ocorrecircncia acima a empresa APC se resguarda de qualquer responsabilidade sobre

o produto caso o cliente natildeo siga as recomendaccedilotildees dadas pelo fabricante Para isso utiliza o

quantificador universal para abranger ao maacuteximo as possibilidades de natildeo cobertura

favorecendo o fabricante Observamos que a utilizaccedilatildeo do quantificador na ocorrecircncia (5)

serviu para intensificar o que foi descrito na sentenccedila Caso natildeo fosse utilizado poderia

deixar margem para outras interpretaccedilotildees como por exemplo que poderia existir algum tipo

de dano eventual que fosse de responsabilidade do fabricante O quantificador ―todos

elimina esse tipo de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos

polissecircmicos na ocorrecircncia (5)

(6) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA garante e consequentemente

compromete-se a reparar ou substituir pelo prazo abaixo indicado

contado a partir da data indicada no documento fiscal representativo

de venda do veiacuteculo Hyundai TODAS as peccedilas que em serviccedilo

normal apresentem defeito de fabricaccedilatildeo ou de material desde que

observadas as respectivas condiccedilotildees sob pena de ser

automaticamente considerado cancelado o presente Certificado de

Garantia independentemente de qualquer aviso ou notificaccedilatildeo

(Certificado 17)

No trecho acima podemos observar que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se daacute

de forma bastante controlada Mesmo o termo ―todas sendo naturalmente utilizado para

abranger ou restringir ao maacuteximo inferecircncias na ocorrecircncia acima vemos sua utilizaccedilatildeo

dependendo de vaacuterios aspectos para se concretizar A Hyundai se compromete em reparar ou

substituir ―todas as peccedilas dos veiacuteculos que estiverem dentro de todas as caracteriacutesticas

descritas antes do termo ser usado como estar dentro do prazo estabelecido pelo fabricante

apresentarem defeito de fabricaccedilatildeo ou material e aleacutem disso observando os procedimentos

detalhados pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o quantificador universal eacute

utilizado de forma controlada pelo fabricante restringindo ao seu sabor as possibilidades de

validade da garantia

(7) TODA revisatildeo deveraacute ser registrada no quadro de registro de revisotildees

para assegurar a garantia de seu veiacuteculo

(Certificado 17)

60

Na ocorrecircncia acima observamos que o fabricante utilizou o quantificador universal

para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente da seguinte forma o

cliente que possui um veiacuteculo na garantia poderia interpretar por exemplo caso natildeo houvesse

a utilizaccedilatildeo do quantificador ―toda na sentenccedila (7) fazer as revisotildees do veiacuteculo em qualquer

oficina e natildeo registrar as mudanccedilas feitas no carro em lugar algum natildeo perdendo a garantia

do veiacuteculo O quantificador universal ―toda direciona a interpretaccedilatildeo da inferecircncia para que

o cliente efetue qualquer revisatildeo do veiacuteculo numa concessionaacuteria do fabricante e aleacutem disso

ter as revisotildees registradas no quadro de registro de revisotildees do fabricante Na ocorrecircncia (7)

natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos

(8) TODOS aparelhos da ONEAL saem da faacutebrica preacute-ajustados em

220V

(Certificado 5)

Nesta ocorrecircncia (8) o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para

abranger a informaccedilatildeo de que qualquer produto produzido por ele eacute ajustado em 220V

resguardando-se de por exemplo um questionamento de algum cliente sobre o

funcionamento de qualquer produto em outra voltagem ou utilizaccedilatildeo do produto em outra

voltagem ocasionando defeito no produto Caso isso ocorra o fabricante natildeo poderaacute ser

responsabilizado pois a partir da ocorrecircncia (8) ele explica a voltagem a ser utilizada natildeo

garantindo o funcionamento do produto em outras voltagens Na ocorrecircncia (8) observamos

que se o fabricante natildeo tivesse utilizado o quantificador universal ―todo natildeo alteraria a

interpretaccedilatildeo da sentenccedila Podemos entender que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal na

ocorrecircncia (8) serviu apenas para intensificar a informaccedilatildeo da sentenccedila

(9) TODOS nossos produtos satildeo testados durante horas nos mais severos

regimes antes de serem aprovados para o mercado

(Certificado 5)

No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para abranger a

interpretaccedilatildeo da inferecircncia Dessa forma o fabricante tenta nos levar a interpretar a

61

ocorrecircncia (9) da seguinte forma qualquer produto produzido por este fabricante eacute testado de

forma rigorosa antes de ser despachado para comercializaccedilatildeo Essa interpretaccedilatildeo eacute dificultada

pela presenccedila de termos vagos Ao utilizar a expressatildeo ―durante horas nos mais severos

regimes o fabricante natildeo teve o cuidado de atrelar essa informaccedilatildeo agrave classe de comparaccedilatildeo

na qual o cliente deve se basear para interpretar a sentenccedila da forma como o fabricante

deseja Ao afirmar que os produtos satildeo testados ―durante horas o fabricante natildeo especificou

por quantas horas os produtos satildeo testados e o que isso representa Por exemplo para

produtos X identificados como em bom funcionamento deve-se testaacute-los durante Y horas

segundo o manual Z que regulamenta a qualidade dos produtos X Aleacutem disso o fabricante

ainda afirma sobre os testes que satildeo ―nos mais severos regimes cometendo a mesma falha

da expressatildeo anterior natildeo descrevendo o que eacute isso e o que isso representa A expressatildeo eacute

vaga pois esses regimes de testes satildeo severos em relaccedilatildeo a quecirc Como natildeo haacute um grau de

comparaccedilatildeo de classe o cliente pode interpretar a ocorrecircncia de formas diversas Se o

fabricante tivesse especificado em algum lugar do texto que a expressatildeo ―nos mais severos

regimes deveria ser comparada por exemplo a um tipo de teste que coloca os produtos em

condiccedilotildees extremas para averiguar a sua qualidade durabilidade e bom funcionamento que eacute

norma padratildeo de qualidade para os produtos que ele estaacute justificando em (9) natildeo haveria

vagueza Do modo como a ocorrecircncia se apresenta as informaccedilotildees ―durante horas e ―nos

mais severos regimes satildeo vagas e dificultam a interpretaccedilatildeo da sentenccedila

(10) A ONEAL garante TODOS os seus produtos por um periacuteodo de 01

(um) ano jaacute incluiacutedo o periacuteodo de garantia legal (os primeiros 90 dias)

a partir da data da compra para problemas mecacircnicos ou por falhas

industriais em montagem e pintura

(Certificado 5)

Podemos observar na ocorrecircncia (10) que o fabricante assegura a garantia para todos

os seus produtos utilizando o quantificador universal com algumas restriccedilotildees Se natildeo

houvesse a utilizaccedilatildeo do quantificador nesta inferecircncia o cliente poderia considerar que a

garantia de seu produto por exemplo teria validade vitaliacutecia e que o produto estaria coberto

pela garantia mesmo se for danificado por negligecircncia do cliente O fabricante restringe o

periacuteodo de validade especificando que o periacuteodo de um ano jaacute inclui o periacuteodo da garantia

legal que eacute de 90 dias Ainda enfatiza que se deve contar o periacuteodo a partir da data da compra

e ainda explica que a garantia cobriraacute somente produtos que apresentarem problemas

62

mecacircnicos ou aqueles que apresentarem problemas industriais em montagem e pintura Dessa

forma problemas de outra natureza natildeo seratildeo cobertos pela garantia assim como produtos

com mais de um ano de adquiridos tambeacutem natildeo estaratildeo cobertos Poderiacuteamos identificar a

expressatildeo ―garantia legal como polissecircmica caso o fabricante natildeo tivesse apresentado o

conceito para a expressatildeo logo apoacutes entre parecircnteses Eacute sabido que no CDC a garantia legal eacute

caracterizada como o periacuteodo de 90 dias apoacutes a aquisiccedilatildeo de um produto Para evitar que

houvesse uma interpretaccedilatildeo indevida o fabricante conceituou a expressatildeo imediatamente

apoacutes o aparecimento dela na sentenccedila

(11) Em vista das mudanccedilas de leis que poderatildeo ocorrer TODO

certificado seraacute regido pelas normas do cartatildeo de garantia mais

recentemente atualizado pela faacutebrica

(Certificado 5)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todo para afirmar

que qualquer certificado de garantia de seus produtos deveraacute seguir as normas dispostas no

cartatildeo de garantia mais recentemente atualizado pela faacutebrica ou seja caso algum cliente tente

solicitar a garantia atraveacutes de um cartatildeo de garantia desatualizado ele natildeo estaraacute autorizado

Dessa forma o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo agraves possiacuteveis atualizaccedilotildees de leis ou

informaccedilotildees nos cartotildees de garantia dos diversos lotes de produtos impossibilitando o cliente

de reclamar sobre qualquer tipo de alteraccedilatildeo no documento em questatildeo A utilizaccedilatildeo do

quantificador universal em (11) eacute importante para dar ecircnfase agrave informaccedilatildeo central da sentenccedila

e tambeacutem para evitar que por exemplo o cliente interpretasse que algum certificado poderia

ser regido pelas normas de outro cartatildeo de garantia que natildeo fosse o mais recente Natildeo

identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos em (11)

(12) A garantia incide sobre TODOS os componentes montados

originalmente em Veiacuteculo conforme descrito na Nota Fiscal de

venda quer fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER ou

por esta adquiridos de terceiros

(Certificado 16)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para

restringir a interpretaccedilatildeo da sentenccedila quando afirma que a garantia cobre qualquer

63

componente montado originalmente em veiacuteculo ou seja a garantia natildeo cobre componentes

avulsos Aleacutem disso os componentes montados devem estar descritos na Nota Fiscal de

venda sendo assim se natildeo estiverem lanccedilados invalidam a garantia e por fim os veiacuteculos

devem tem sido fabricados por alguma empresa do grupo DAIMLER ou fabricado por outra

empresa mas tendo sido adquirido pelo fabricante que estaacute oferecendo a garantia Dessa

forma podemos ver que o quantificador universal foi utilizado pelo fabricante de forma

restrita limitando a abrangecircncia de acordo com seus interesses Caso o quantificador

universal natildeo tivesse sido utilizado na sentenccedila haveria a possibilidade do cliente interpretar

(12) de vaacuterias maneiras Por exemplo admitir que a garantia pode ser vaacutelida para produtos

que foram fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER mas natildeo foram lanccedilados na

Nota Fiscal de venda Em vista disso a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela

necessidade do fabricante restringir a interpretaccedilatildeo do texto da garantia buscando direcionar

melhor a informaccedilatildeo que ele estaacute vinculando em seu texto Natildeo identificamos nem termos

vagos nem termos polissecircmicos em (12)

(13) Executar TODAS as revisotildees estabelecidas pela Mercedes-Benz do

Brasil Ltda

(Certificado 16)

(14) Executar TODAS as manutenccedilotildees reparaccedilotildees e regulagens em um

dos Concessionaacuterios ou Postos de Serviccedilos Autorizados Mercedes-

Benz no territoacuterio brasileiro

(Certificado 16)

Nas duas ocorrecircncias acima podemos observar que o fabricante utiliza o quantificador

universal ―todas para definir que a garantia do produto soacute seraacute vaacutelida caso o cliente realize

as funccedilotildees descritas Caso o cliente natildeo realize pelo menos uma delas a garantia seraacute

invalidada Se o cliente natildeo realizar pelo menos uma revisatildeo sugerida pela fabricante perderaacute

a validade Aleacutem disso se o cliente realizar algum tipo de manutenccedilatildeo no veiacuteculo em alguma

concessionaacuteria que natildeo seja autorizada da Mercedes-Benz e no territoacuterio brasileiro tambeacutem

perderaacute a garantia O fabricante mesmo utilizando o quantificador universal nas duas

ocorrecircncias natildeo deixa de condicionar a validade da garantia de acordo com seus interesses O

cumprimento das recomendaccedilotildees dispostas apoacutes o quantificador natildeo garantem efetivamente

que a garantia do produto estaacute assegurada Ou seja mesmo que o cliente execute todas as

manutenccedilotildees reparos e regulagens em um dos concessionaacuterios do fabricante natildeo impede que

64

a garantia seja invalidade por outro motivo O quantificador universal foi utilizado pelo

fabricante em (13) e (14) sem limites e em seu benefiacutecio Natildeo identificamos nem termos

vagos nem termos polissecircmicos em (13) e (14)

(15) TODA solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica durante o periacuteodo da

garantia deveraacute ser feita obrigatoriamente agrave faacutebrica via e-mail ou

fax descrevendo detalhadamente os problemas apresentados natildeo

excedendo o prazo de 30 dias apoacutes detectaacute-lo indicando o modelo do

equipamento e o nuacutemero de seacuterie descrito na placa de identificaccedilatildeo do

mesmo e constante neste certificado

(Certificado 22)

Na ocorrecircncia (15) o fabricante utiliza o quantificador universal ―toda de forma

abrangente determinando que todas as solicitaccedilotildees de assistecircncia teacutecnica para qualquer

produto deveraacute seguir as instruccedilotildees definidas em seguida Caso o cliente tente solicitar a

assistecircncia natildeo seguindo algum dos passos e prazos determinados pelo fabricante a garantia

seraacute invalidada O quantificador universal foi utilizado para evitar interpretaccedilotildees relativas

sobre os procedimentos descritos no texto Por exemplo se (15) natildeo tivesse o quantificador

universal ―toda uma possiacutevel interpretaccedilatildeo seria que uma solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica

durante o periacuteodo da garantia poderia ser realiza na loja em que o produto foi comprado e natildeo

apenas na faacutebrica Dessa forma a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela

necessidade do fabricante restringir o percurso da solicitaccedilatildeo da garantia para o procedimento

que ele deseja que seja seguido pelo cliente Natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos

em (15)

32 USO DO CONDICIONAL

Vejamos a seguir as ocorrecircncias em que o condicional eacute utilizado Quando as

ocorrecircncias apresentarem o mesmo sentido de interpretaccedilatildeo agruparemos numa mesma

anaacutelise como podemos observar a seguir nas ocorrecircncias (16) (17) e (18)

(16) A garantia fica automaticamente invalidada SE

(Certificado 2)

65

(17) A garantia legal e contratual perderaacute seu efeito SE

(Certificado 3)

(18) Esta garantia perderaacute a validade SE

(Certificado 11)

Podemos observar nas ocorrecircncias (16) (17) e (18) que o condicional tem a funccedilatildeo de

limitar a aplicaccedilatildeo da garantia Os usos do ―se natildeo excluem a possibilidade de haver outros

casos em que a garantia natildeo se aplica ou seja as listas que satildeo apresentadas apoacutes o

condicional natildeo satildeo exaustivas Vale mencionar que da mesma forma que o ―todo o ―se

foi utilizado para beneficiar o fabricante como afirmamos acima O ―se assegura que a

validade do produto seraacute perdida nos casos que satildeo listados apoacutes o condicional sem eliminar

a possibilidade de haverem outros casos abrangendo sem limites os casos em que a garantia

natildeo cobriraacute o produto e restringindo a validade da garantia para o cliente Natildeo identificamos

termos vagos ou polissecircmicos nas ocorrecircncias (16) (17) (18) Na ocorrecircncia (17) o autor

usou os termos ―garantia legal e ―contratual que poderiam ser considerados termos

polissecircmicos que dificultariam a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia mas foram apresentados no

certificado os conceitos para os dois termos Para ―garantia legal o autor definiu como

sendo o prazo inicial da garantia com duraccedilatildeo de 90 dias ( contados imediatamente apoacutes a

emissatildeo da Nota Fiscal de compra) e previsto no CDC por sua vez para ―garantia

contratual se refere ao periacuteodo de dois anos incluindo o periacuteodo da garantia legal para todo

equipamento (neste caso condicionador de ar) e cinco anos para o compressor Com a

apresentaccedilatildeo destas definiccedilotildees o autor evitou que os termos se apresentassem no texto como

polissecircmicos

(19) A garantia do produto natildeo se aplica

(Certificado 8)

Trouxemos para a anaacutelise a ocorrecircncia acima pois a expressatildeo ―natildeo se aplica desta

sentenccedila funciona como um condicional mesmo sem ter a forma das ocorrecircncias que

analisamos anteriormente O fabricante utiliza esse condicional precedendo uma lista de

possiacuteveis situaccedilotildees em que a garantia poderia ser reclamada pelo cliente dessa forma

impossibilitando o cliente de exigir qualquer direito sobre alguma das possiacuteveis situaccedilotildees

Natildeo identificamos termos polissecircmicos e vagos na ocorrecircncia (19)

66

(20) A garantia do produto extingue-se

(Certificado 8)

Assim como na ocorrecircncia anterior tambeacutem natildeo encontramos o condicional ―se de

forma expliacutecita mas o termo ―extingue-se se comporta como tal A sentenccedila acima foi

utilizada pelo fabricante antecedendo uma lista de possibilidades de situaccedilotildees em que o

cliente poderia reclamar a garantia do produto excluindo entatildeo qualquer direito do cliente

em relaccedilatildeo ao que foi listado abaixo da sentenccedila em questatildeo Natildeo identificamos termos vagos

e polissecircmicos na ocorrecircncia (20)

(21) O cliente perderaacute a garantia do seu veiacuteculo SE

(Certificado 17)

Na ocorrecircncia (21) o fabricante utiliza o condicional antecedendo uma lista de

situaccedilotildees que se concretizadas invalidaratildeo a garantia Dessa forma se o veiacuteculo do cliente

que deseja ser atendido pela garantia se enquadrar em algum dos itens dispostos apoacutes essa

sentenccedila a garantia natildeo seraacute concedida Assim como nas ocorrecircncias com o uso do

condicional apresentadas anteriormente o uso do ―se aparece sem limites Como afirmamos

na anaacutelise das ocorrecircncias (16) (17) e (18) o autor utiliza o condicional para em seguida

apresentar uma lista de situaccedilotildees em que se concretizadas o cliente perderaacute a garantia Mas

mesmo com a apresentaccedilatildeo dessa lista o cliente poderaacute perder a garantia caso ocorra outro

tipo de situaccedilatildeo natildeo listada Dessa forma o fabricante se favorece abrangendo ao maacuteximo as

possibilidades de perda da garantia e ―prejudica o cliente oferecendo-lhe restritas

possibilidades de validade da garantia do produto a que se refere o texto Natildeo identificamos

nem termos polissecircmicos nem vagos na ocorrecircncia (21) Apenas vale ressaltar que diferente

das ocorrecircncias apresentadas anteriormente o autor em vez de escrever ―a garantia do

produto ele utilizou ―a garantia do seu veiacuteculo que especifica ao que se refere o texto

diminuindo a possibilidade de o cliente interpretar a ocorrecircncia de uma forma diferente da

que o autor se propotildee a transmitir

(22) A garantia vigoraraacute SOMENTE SE o Veiacuteculo atender

cumulativamente as seguintes condiccedilotildees

67

(Certificado 16)

Eacute interessante observar a forma como o fabricante utiliza o condicional na ocorrecircncia

(22) que precede uma lista de condiccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso o fabricante

natildeo utilizasse esse condicional ―somente se na sentenccedila acima o cliente poderia interpretar

que se o seu produto atendesse pelo menos a uma das condiccedilotildees estaria coberto pela

garantia Mas o fabricante aleacutem de utilizar o condicional ―somente se tambeacutem utilizou o

termo ―cumulativamente explicitando que o produto deve obedecer a todas as condiccedilotildees

dispostas pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o autor utilizou o condicional

para restringir as possibilidades de validade da garantia com restriccedilotildees o que natildeo ocorre

quando o fabricante trata sobre as possibilidades de invalidade da garantia como na

ocorrecircncia (21) Comparando as ocorrecircncias (21) e (22) vemos claramente que o autor em

(21) utilizou o condicional para lhe favorecer sem limites quando tratou sobre as condiccedilotildees

pelas quais o cliente pode perder a garantia abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura natildeo

apenas para as situaccedilotildees que estatildeo listadas mas tambeacutem para qualquer outra possiacutevel Jaacute em

(22) o autor (mesmo essa comparaccedilatildeo sendo feita entre ocorrecircncias de certificados

diferentes) utiliza o condicional para restringir as possibilidades de validade da garantia para

as situaccedilotildees listadas apoacutes a apresentaccedilatildeo do condicional e aleacutem disso afirmou que todas as

situaccedilotildees listadas devem ser atendidas para que a garantia seja vaacutelida para o produto Dessa

forma ainda sobre a ocorrecircncia (22) caso uma das situaccedilotildees listadas natildeo seja atendida a

garantia automaticamente seraacute perdida Com isso podemos afirmar que tanto em (21) quanto

em (22) os autores utilizaram o condicional para se beneficiar Em (21) abrangendo as

possibilidades de invalidade da garantia e em (22) restringindo ao maacuteximo as possibilidades

de validade da garantia do produto Natildeo identificamos nem termos vagos nem polissecircmicos

na ocorrecircncia (22)

(23) A garantia Philips natildeo eacute aplicaacutevel SE

(Certificado 14)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o condicional ―se antecedendo uma lista de

informaccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso algum produto Philips se encaixar em

alguma das situaccedilotildees descritas apoacutes o condicional mesmo estando dentro do prazo de

garantia o cliente perderaacute a cobertura Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem

68

vagos na ocorrecircncia (23)

(24) Esta garantia natildeo se aplica

(Certificado 21)

Assim como nas ocorrecircncias (18) e (19) a ocorrecircncia acima natildeo possui o condicional

expliacutecito mas o termo ―natildeo se aplica se comporta como tal O fabricante utiliza o

condicional precedendo uma lista de condiccedilotildees de natildeo aplicaccedilatildeo da garantia Dessa forma

caso o produto se encaixe em alguma das condiccedilotildees a garantia seraacute invalidada

automaticamente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem vagos na sentenccedila (24)

33 USO DO APENASSOMENTE

Vejamos a seguir ocorrecircncias em que identificamos o uso do ―apenas ou ―somente

(25) Esta garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver

devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original

da Nota Fiscal de Compra

(Certificado 4)

Na ocorrecircncia (25) o fabricante utiliza o ―somente para restringir a validade da

garantia indicando que o cliente teraacute direito agrave garantia caso preencha de forma correta o

certificado e apresente a nota fiscal de compra Caso as instruccedilotildees natildeo sejam seguidas pelo

cliente a garantia natildeo seraacute vaacutelida Podemos identificar que o termo ―rasuras presente em

(25) pode ser considerado como vago e polissecircmico neste caso dificultando a interpretaccedilatildeo

do texto Uma rasura pode ser por exemplo desde um rabisco fora de lugar no formulaacuterio

ateacute o dano no documento por aacutegua amasso do papel em excesso etc O autor poderia evitar a

vagueza e a polissemia definindo o termo da forma como ele deseja que o leitor interprete

este termo e comparando-o a uma classe especiacutefica (por exemplo o que eacute considerado rasura

69

nos documentos instrucionais)

(26) Danos decorrentes de desgaste natural inclusive e natildeo SOMENTE

nas partes plaacutesticas que compotildeem o gabinete do produto

(Certificado 4)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o ―somente numa sentenccedila que trata sobre

uma das situaccedilotildees em que a garantia natildeo seraacute vaacutelida O fabricante deixa claro que qualquer

defeito no produto causado por desgaste natural natildeo seraacute coberto pela garantia Se o

fabricante natildeo utilizasse o ―somente nesta sentenccedila o cliente poderia interpretar por

exemplo que danos decorrentes de desgaste natural nas partes que natildeo satildeo de plaacutestico seriam

cobertas pela garantia O autor utiliza o ―somente para se resguardar sobre outras possiacuteveis

interpretaccedilotildees do trecho abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura da garantia para

qualquer peccedila do produto que for afetado por danos decorrentes de desgaste natural Na

ocorrecircncia (26) a expressatildeo ―desgaste natural eacute polissecircmica O autor em nenhuma parte do

certificado de garantia definiu a expressatildeo em questatildeo para que o cliente compreenda da

forma desejada pelo fabricante Dessa forma podemos interpretar ―desgaste natural de

muitas formas Podemos por exemplo interpretar como o desgaste do produto como um todo

ou suas peccedilas referentes ao uso em excesso ao longo do tempo e diretamente vinculado agrave

vida uacutetil tanto do produto em geral quanto de peccedilas especiacuteficas Mas tambeacutem podemos

interpretar como sendo um desgaste proveniente do contato do produto com a natureza como

a exposiccedilatildeo agrave chuva maresia sol em excesso Pode parecer um exagero esta uacuteltima

interpretaccedilatildeo mas ela eacute possiacutevel a partir da forma como (26) se apresenta O autor utilizou no

texto a expressatildeo sem dar-lhe a definiccedilatildeo que ele pensou para a utilizaccedilatildeo dela na ocorrecircncia

dificultando a interpretaccedilatildeo do texto

(27) Este termo de garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos

comercializados e utilizados em territoacuterio brasileiro

(Certificado 4)

(28) Este Certificado de Garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos

vendidos e utilizados no territoacuterio brasileiro

(Certificado 10)

(29) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro

70

(Certificado 2)

(30) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro

(Certificado 13)

(31) Esta garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o territoacuterio brasileiro

(Certificado 12)

Nas ocorrecircncias (27) (28) (29) e (30) observamos que os fabricantes utilizam o termo

―apenas para restringir a cobertura da garantia tanto em relaccedilatildeo ao local da compra quanto

em relaccedilatildeo ao local de uso do produto assim como o autor da ocorrecircncia (31) utiliza o termo

―somente com o mesmo sentido Caso o produto tenha sido comprado em outro paiacutes natildeo

haveraacute cobertura da garantia assim como mesmo que o produto tenha sido comprado no

Brasil mas tenha sido utilizado em outro paiacutes culminando em um defeito tambeacutem natildeo haveraacute

cobertura da garantia Mas para a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que aparece em (27) (28)

(29) (30) e (31) podemos tambeacutem interpretar como natildeo apenas a extensatildeo territorial do paiacutes

mas tambeacutem admitir territoacuterios brasileiros em outros paiacuteses a saber os consulados

honoraacuterios do Brasil nas diversas naccedilotildees ao redor do mundo Nesse caso por exemplo se o

produto for adquirido dentro dos limites geograacuteficos do Brasil e for utilizado em algum

consulado do Brasil em outro paiacutes a garantia deve ser vaacutelida Eacute possiacutevel que o fabricante natildeo

tenha pensado nessa possibilidade poreacutem da forma que estas ocorrecircncias se apresentam haacute

essa possibilidade de interpretaccedilatildeo Ao apresentar essa possiacutevel interpretaccedilatildeo para a

expressatildeo ―territoacuterio brasileiro noacutes quisemos mostrar que o fabricante deveria ter

especificado em alguma parte do certificado de garantia o conceito que ele deseja que o

cliente admita para esta expressatildeo para natildeo deixar que a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro seja

interpretada de outras formas ou seja para evitar a polissemia que dificulta a leitura do

texto Outra questatildeo que tambeacutem podemos considerar eacute que nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)

a afirmaccedilatildeo sobre a validade da garantia eacute apresentada de forma menos detalhada Os autores

apresentam a afirmaccedilatildeo de que a garantia eacute vaacutelida para o territoacuterio brasileiro sem informar se

eacute em relaccedilatildeo ao produto ser adquirido e utilizado no paiacutes Brasil ou se o produto pode ser

utilizado fora do Brasil mas para requerer a garantia do produto o consumidor caso resida no

exterior deva se dirigir ao Brasil para fazer jus a sua garantia Diferente das ocorrecircncias (27)

e (28) em que os autores enfatizam que a garantia dos produtos eacute vaacutelida unicamente para

produtos comercializados e utilizados dentro do Brasil restringindo a garantia mais do que

nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)

71

(32) A garantia SOMENTE eacute vaacutelida mediante a apresentaccedilatildeo de nota

fiscal de compra deste produto

(Certificado 3)

Podemos observar na ocorrecircncia (29) que o fabricante utiliza o termo ―somente para

restringir a validade da garantia Fica claro que caso o produto apresente algum defeito e o

cliente procure a assistecircncia teacutecnica sem estar de posse da nota fiscal natildeo haveraacute cobertura da

garantia Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em (29) o cliente poderia interpretar

por exemplo que a garantia do produto eacute vaacutelida com ou sem a apresentaccedilatildeo da nota fiscal de

compra do produto Neste caso a funccedilatildeo do ―somente eacute de restringir a interpretaccedilatildeo de

acordo com o que o fabricante deseja Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem

vagos em (29)

(33) A garantia oferecida por esse Certificado eacute de 36 (trinta e seis) meses

e SOMENTE teraacute validade se o presente documento for devidamente

preenchido no ato da venda do produto conforme acima e se a

instalaccedilatildeo for feita por uma pessoa ou empresa credenciada pela

Robert Bosch Ltda

(Certificado 8)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade

da garantia Caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees de forma cumulativa que seguem a

utilizaccedilatildeo do termo a garantia seraacute invalidada Por exemplo se o cliente preencher no ato da

venda do produto o certificado mas se a instalaccedilatildeo do produto natildeo tiver sido feita por algueacutem

credenciado pela Robert Bosch Ltda a garantia natildeo teraacute validade A importacircncia do uso do

―somente em (33) se daacute pelo fato de que caso o autor natildeo tivesse utilizado este termo

haveria a possibilidade do cliente interpretar por exemplo que a garantia teria validade caso

a instalaccedilatildeo do produto tenha sido feita por uma pessoa ou empresa natildeo credenciada pela

fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (33)

(34) Os consertos em Garantia do Produto SOMENTE seratildeo efetuados

72

por um Serviccedilo Autorizado devidamente nomeado pela Robert Bosch

Ltda em territoacuterio brasileiro

(Certificado 8)

Podemos observar que o fabricante utiliza o termo ―somente em (34) para restringir a

validade da garantia O fabricante define tanto quem efetuaraacute o conserto dos produtos quanto

os limites territoriais de cobertura Dessa forma fica expliacutecito para o cliente que o conserto

natildeo poderaacute ser efetuado por pessoas natildeo autorizadas pela Robert Bosch Ltda e tal conserto

natildeo pode ser realizado em outros paiacuteses Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em

(34) abriria a possibilidade de interpretar a sentenccedila de outras formas como por exemplo

que os consertos em garantia do produto poderiam ser realizados em territoacuterios de outros

paiacuteses ou que os consertos poderiam ser realizados por serviccedilos natildeo autorizados pelo

fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (34)

(35) O exame e reparo do produto soacute poderatildeo ser efetuados pelo

fabricante

(Certificado 7)

Na ocorrecircncia (36) o fabricante utiliza no lugar do termo ―somente o termo ―soacute

para restringir a interpretaccedilatildeo Nesse caso se o cliente procurar reparar eou examinar o

produto sozinho ou em assistecircncias teacutecnicas que natildeo sejam autorizadas pelo fabricante a

garantia seraacute invalidada A utilizaccedilatildeo do termo ―soacute tem grande importacircncia para o

direcionamento da interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia (35) pois caso natildeo tivesse sido utilizado pelo

autor a ocorrecircncia traria apenas uma informaccedilatildeo vaga dificultando a interpretaccedilatildeo do texto

Sem o ―soacute a partir de (35) poderiacuteamos interpretar que o exame e reparo do produto podem

ser efetuados pelo fabricante mas tambeacutem por qualquer outra pessoa ou empresa Utilizando

o ―soacute o autor restringe a inferecircncia evitando muacuteltiplas interpretaccedilotildees para a sentenccedila

(36) O presente ―Termo de Garantia Hyundai aplica-se uacutenica e

exclusivamente ao veiacuteculo da marca e fabricaccedilatildeo Hyundai

devidamente identificado no iniacutecio deste documento e que tenha sido

comercializado por um Revendedor Autorizado da CAOA Montadora

de Veiacuteculos SA

(Certificado 17)

73

Em (36) o fabricante natildeo utiliza os termos ―apenas ou ―somente mas

consideraremos em nossa anaacutelise a expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como um restritor de

mesmo sentido Observamos que o fabricante utiliza a expressatildeo para restringir a cobertura

da garantia Caso o cliente esteja por exemplo solicitando a garantia de um veiacuteculo Hyundai

que natildeo seja o mesmo que estaacute descrito no iniacutecio do documento de garantia e que natildeo tenha

sido comercializado por uma autorizada da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA a garantia

natildeo teraacute validade Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado a expressatildeo ―uacutenica e

exclusivamente em (36) haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia de outras

maneiras

(37) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA eou o Revendedor Autorizado

da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA APENAS substituiraacute as peccedilas

que forem por elas e a seu exclusivo criteacuterio julgadas como

defeituosas

(Certificado 17)

Na ocorrecircncia (37) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a interpretaccedilatildeo

da sentenccedila Dessa forma o fabricante fica resguardado tanto em relaccedilatildeo a substituiccedilatildeo de

peccedilas quanto em relaccedilatildeo ao meacutetodo utilizado para jugar se a peccedila estaacute defeituosa ou natildeo A

importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―apenas em (37) tambeacutem se daacute pelo fato de natildeo permitir outras

interpretaccedilotildees diferentes da definida pelo fabricante Caso o ―apenas natildeo tivesse sido

utilizado poderiacuteamos interpretar por exemplo que o fabricante poderia substituir peccedilas

julgadas por ela como defeituosas utilizando seus proacuteprios criteacuterios mas tambeacutem substituiria

em outros casos O ―apenas serviu para especificar e restringir a interpretaccedilatildeo dos criteacuterios

definidos pelo fabricante em relaccedilatildeo agrave substituiccedilatildeo de peccedilas do produto Natildeo identificamos

nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (37)

(38) Permita que SOMENTE teacutecnicos autorizados pela faacutebrica prestem

assistecircncia a seu aparelho pois se for aberto por teacutecnicos ou pessoas

natildeo autorizadas automaticamente vocecirc estaraacute perdendo sua garantia

(Certificado 5)

Na ocorrecircncia (38) o fabricante deixa expliacutecito ao utilizar o termo ―somente que

caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees dispostas nesta sentenccedila a garantia do produto seraacute

74

invalidada Dessa forma o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a informaccedilatildeo

veiculada pelo fabricante da mesma forma como vimos na ocorrecircncia (37) Natildeo

identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (38)

(39) A presente garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o Veiacuteculo

comercializado em territoacuterio brasileiro

(Certificado 16)

Na ocorrecircncia (39) um pouco parecida com as ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e

(31) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia do produto Nesse caso

se o veiacuteculo tiver sido adquirido em outro paiacutes sua garantia natildeo seraacute vaacutelida no Brasil Um

pouco diferente das ocorrecircncias (27) e (28) que especificam ao maacuteximo a possibilidade de

cobertura da garantia a ocorrecircncia (39) veicula que a garantia eacute vaacutelida para o produto

comercializado em territoacuterio brasileiro natildeo tratando sobre a possibilidade da perda da

garantia caso o veiacuteculo seja utilizado em outros paiacuteses Neste caso o cliente natildeo tem direito

a garantia do veiacuteculo caso ele seja adquirido em outros paiacuteses Sobre a expressatildeo ―territoacuterio

brasileiro assim como nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31) o autor natildeo definiu um

sentido para a expressatildeo que pode ser interpretada de outras maneiras como exemplificamos

nas anaacutelises anteriores

(40) Utilizar SOMENTE peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios genuiacutenos

Mercedes-Benz e comprovar sua aquisiccedilatildeo mediante e apresentaccedilatildeo

da Nota Fiscal quando adquiridos pelo consumidor final

(Certificado 16)

Na ocorrecircncia (40) que faz parte de uma lista de recomendaccedilotildees para o cliente natildeo

perder a garantia o fabricante utiliza o termo ―somente para delimitar a interpretaccedilatildeo da

sentenccedila Na passagem se o cliente natildeo seguir as instruccedilotildees descritas consequentemente

perderaacute a garantia do produto A importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente na ocorrecircncia (40) eacute

a de dificultar que o cliente interpreta a sentenccedila de outra maneira Sem o ―somente na

sentenccedila o cliente poderia interpretar que ele pode utilizar peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios

originais do fabricante mas tambeacutem estaacute autorizado a utilizar peccedilas de outros fabricantes

Com a presenccedila do ―somente na sentenccedila o cliente eacute levado a interpretar a sentenccedila da

75

forma direcionada pelo fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (40)

(41) A comprovaccedilatildeo de defeito de fabricaccedilatildeo do produto que provocaraacute a

execuccedilatildeo da troca do mesmo deveraacute ser feita exclusivamente por

funcionaacuterio credenciado da Ortobom

(Certificado 15)

Na ocorrecircncia (41) o fabricante natildeo utiliza explicitamente os termos ―apenas ou

―somente mas consideraremos em nossa anaacutelise que o termo ―exclusivamente possui a

mesma funccedilatildeo de restringir interpretaccedilotildees O fabricante utiliza o termo para restringir a

garantia do produto em questatildeo Natildeo haacute a possibilidade de o cliente comprovar um defeito de

fabricaccedilatildeo em seu produto atraveacutes de outro profissional que natildeo seja um funcionaacuterio

credenciado da Ortobom Haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia (41) caso o

fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―exclusivamente Sem tal uso o cliente poderia

interpretar que poderia comprovar algum defeito no produto para possiacutevel troca por

intermeacutedio de qualquer profissional natildeo obrigatoriamente por um funcionaacuterio do fabricante

Ortobom O termo ―exclusivamente especifica e destaca a informaccedilatildeo que o fabricante

veicula em (41) Natildeo identificamos em (41) nem termos polissecircmicos nem termos vagos

(42) A garantia cobre exclusivamente defeitos de materiais eou

fabricaccedilatildeo sendo que as despesas de deslocamento alimentaccedilatildeo e

hospedagem do teacutecnico para atendimento em garantia ou natildeo

referente agrave entrega montagem instruccedilatildeo de uso e reparo do

equipamento assim como o frete de retirada para conserto e retorno

do mesmo e de envio de peccedilas e retorno das substituiacutedas em garantia

ocorreratildeo por conta do cliente

(Certificado 22)

Assim como em (41) o fabricante utiliza o termo ―exclusivamente para restringir a

garantia do produto O fabricante ao utilizar esse termo se resguarda de possiacuteveis cobranccedilas

por parte do cliente ao solicitar a garantia como por exemplo ajuda de custo para custear a

iacuteda do teacutecnico para manutenccedilatildeo do produto envio de peccedilas para faacutebrica etc Fica expliacutecito

que em todas essas situaccedilotildees o cliente eacute responsaacutevel Caso o termo ―exclusivamente natildeo

76

tivesse sido utilizado o cliente poderia interpretar a ocorrecircncia de diferentes modos Uma

possibilidade de interpretaccedilatildeo seria a de entender que a garantia cobre outros tipos de

defeitos que natildeo fossem de peccedilas ou de fabricaccedilatildeo Com a utilizaccedilatildeo do termo

―exclusivamente o fabricante diminui as possibilidades de interpretaccedilatildeo tornando o texto

mais claro para o cliente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na

ocorrecircncia (42)

(43) A garantia natildeo cobre peccedilas ou componentes de desgaste normal de

uso dentre as quais selim pedais firma-peacutes natildeo se limitando

SOMENTE a estes mas incluindo rodas de transporte carenagens

adesivos elementos de acabamento de plaacutestico borracha e alumiacutenio

danos na pintura e quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa

exclusiva distribuiccedilatildeo devendo as reclamaccedilotildees ser encaminhadas aos

seus respectivos representantes ou fabricantes

(Certificado 22)

Em (43) o fabricante aleacutem de utilizar o termo ―somente para abranger a

interpretaccedilatildeo sobre as peccedilas que natildeo seratildeo cobertas pela garantia do produto utiliza outros

termos que alargam ainda mais sem restriccedilotildees a natildeo cobertura da garantia como ―quaisquer

acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo O fabricante se resguarda

especificando quais peccedilas que ele considera como de ―desgaste normal para evitar

problemas de interpretaccedilatildeo por parte do cliente O uso do ―somente na ocorrecircncia (43) se

apresenta de forma contraacuteria agraves outras ocorrecircncias que apresentamos anteriormente Enquanto

em ocorrecircncias como a (40) que o ―somente foi utilizado para restringir a interpretaccedilatildeo da

sentenccedila para as informaccedilotildees descritas depois do termo em (43) o fabricante utiliza o

―somente precedido da negaccedilatildeo ―natildeo se limitando direcionando o termo para o sentido de

abrangecircncia Ou seja a garantia que o fabricante oferece natildeo cobre peccedilas ou componentes de

desgaste natural como selim e pedais Para natildeo correr o risco de esquecer de citar algum dos

componentes de desgaste natural do produto e deixar brechas na interpretaccedilatildeo da garantia o

fabricante utiliza a expressatildeo ―natildeo se limitando seguida do ―somente para abranger ao

maacuteximo as possibilidades de interpretaccedilatildeo sobre os itens de desgaste natural que natildeo satildeo

cobertos pela garantia Depois do uso do ―somente e de apresentar mais uma lista de itens

que natildeo satildeo cobertos pela garantia o fabricante ainda abrange mais a interpretaccedilatildeo

utilizando a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo

Dessa forma pudemos perceber que o fabricante utilizou natildeo apenas o termo de restriccedilatildeo

77

―somente para limitar as possibilidades de interpretaccedilatildeo da sentenccedila mas tambeacutem utilizou

listas especificando itens e a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa

exclusiva distribuiccedilatildeo Todas essas estrateacutegias foram utilizadas com o objetivo de tornar a

interpretaccedilatildeo do texto clara sem oferecer a possibilidade de o cliente obter muacuteltiplas

interpretaccedilotildees do texto Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na

ocorrecircncia (43)

(44) A matildeo-de-obra em garantia limita-se SOMENTE ao horaacuterio normal

de expediente sendo de segunda a sexta-feira das 730 agraves 1800 horas

devendo o equipamento estar disponiacutevel para a assistecircncia teacutecnica

(Certificado 22)

Em (44) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o horaacuterio disponiacutevel

para reparos em produtos na garantia e aleacutem disso enfatizando que o produto deve estar

disponiacutevel para a assistecircncia Dessa forma o cliente fica impossibilitado de reclamar

assistecircncia fora do horaacuterio que estaacute descrito na sentenccedila assim como fica consciente de que

seu produto ficaraacute a disposiccedilatildeo da assistecircncia para conserto ou seja natildeo seraacute reparado

imediatamente A importacircncia do uso do ―somente na ocorrecircncia (44) se daacute pelo fato de que

caso natildeo fosse utilizado o cliente poderia interpretar por exemplo que a matildeo-de-obra em

garantia estaria disponiacutevel vinte e quatro horas por dia e sete dias por semana Como o

―somente foi utilizando precedendo as informaccedilotildees sobre dia e horaacuterio de atendimento natildeo

eacute possiacutevel interpretar a informaccedilatildeo de outra maneira que natildeo seja a descrita Haveria a

possibilidade de definir a expressatildeo ―horaacuterio normal de expediente como uma expressatildeo

polissecircmica caso ela natildeo estivesse acompanhada de uma definiccedilatildeo (―de segunda a sexta-feira

das 730 agraves 1800 horas) pois o horaacuterio de expediente pode variar de acordo com o trabalho

que vocecirc tem por exemplo Se vocecirc trabalha em um banco financeiro o seu horaacuterio de

expediente seraacute possivelmente diferente do horaacuterio de um feirante Para evitar a polissemia

o fabricante utilizou a expressatildeo e em seguida apresentou a definiccedilatildeo da expressatildeo de

acordo com o seu interesse

(45) A presente garantia limita-se SOMENTE ao produto fornecido natildeo

responsabilizando a TOTAL HEALTH por danos causados a pessoas

a terceiros a outros equipamentos ou instalaccedilotildees lucros cessantes ou

quaisquer outros danos emergentes ou consequumlentes

(Certificado 22)

78

Na ocorrecircncia (45) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da

garantia Nesse caso a garantia se limita unicamente ao produto descrito Se por exemplo o

produto em questatildeo apresentar defeito e tal defeito ocasionar dano fiacutesico ao dono do produto

ou a terceiros a garantia natildeo cobriraacute tais problemas Assim como nas ocorrecircncias anteriores

o uso do ―somente em (45) teve a funccedilatildeo de direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para uma

uacutenica possibilidade de interpretaccedilatildeo Caso o ―somente natildeo tivesse sido utilizado poderiacuteamos

interpretar (45) de outras maneiras Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (45)

(46) SOMENTE os profissionais indicados pela loja revendedora dos

produtos Bartzen estatildeo autorizados a prestar atendimento dentro do

prazo de garantia

(Certificado 18)

Na ocorrecircncia (46) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a

interpretaccedilatildeo da sentenccedila Nesse caso o cliente soacute poderaacute usufruir de assistecircncia teacutecnica em

seu produto atraveacutes de profissionais indicados pela loja na qual ele adquiriu seu produto

Bartzen e dentro do prazo da garantia Caso o cliente realize algum serviccedilo em seu produto

com profissionais natildeo autorizados pela fabricante sua garantia seraacute invalidada A importacircncia

da utilizaccedilatildeo do termo ―somente na ocorrecircncia (46) eacute a de diminuir as possibilidades de

interpretaccedilatildeo da sentenccedila ao maacuteximo Dessa forma natildeo haacute como o cliente interpretar que por

exemplo ele pode realizar a manutenccedilatildeo ou reparo do seu produto com qualquer outro

funcionaacuterio que natildeo seja autorizado pela fabricante do produto Natildeo identificamos nem

termos polissecircmicos nem termos vagos em (46)

(47) A garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o consumidor que consta

identificado na nota fiscal de compra do produto (primeiro usuaacuterio) a

qual deveraacute ser apresentada junto com este Certificado de Garantia

devidamente preenchido com os dados do consumidor e do produto

para fins de cobertura para reparo ou substituiccedilatildeo do produto se

necessaacuterio

(Certificado 19)

79

Em (47) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia Nesse caso

o cliente fica ciente de que a garantia soacute seraacute vaacutelida para o primeiro proprietaacuterio do produto

assim como soacute seraacute aceito o pedido de garantia caso o cliente apresentar a nota fiscal

contendo tanto os dados do produto quanto os seus Todas as possibilidades fora das

descritas seratildeo desconsideradas e consequentemente a garantia seraacute invalidada A

importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente em (47) se daacute pelo fato de que haacute diversas

informaccedilotildees a serem consideradas pelo cliente na ocorrecircncia (47) e caso o autor do texto natildeo

tivesse utilizado o termo ―somente antes dessas informaccedilotildees o cliente poderia interpretar

que sua garantia poderia ser vaacutelida ao cumprir algumas das informaccedilotildees descritas na sentenccedila

e natildeo obrigatoriamente todas Por exemplo se natildeo houvesse o uso do ―somente em (47) o

cliente poderia interpretar que a garantia eacute vaacutelida para o consumidor que tem o nome

constando na nota fiscal mas tambeacutem para qualquer outro consumidor que esteja de posse da

nota fiscal mesmo que natildeo seja a pessoa que tem o nome na nota fiscal O ―somente possui

o papel de restringir a interpretaccedilatildeo de toda ocorrecircncia ao maacuteximo direcionando a leitura do

texto para evitar muacuteltiplas interpretaccedilotildees Com esse uso natildeo eacute possiacutevel que cliente interprete

que ele pode ter acesso a garantia caso natildeo cumpra alguma das recomendaccedilotildees Natildeo

identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (47)

(48) O Certificado de Garantia eacute vaacutelido SOMENTE para os

condicionadores vendidos e instalados no territoacuterio brasileiro

(Certificado 19)

Em (48) semelhante agraves ocorrecircncias (31) e (39) o fabricante utiliza o termo ―somente

para restringir o territoacuterio de cobertura da garantia Neste caso condicionadores adquiridos e

utilizados em outros paiacuteses natildeo seratildeo cobertos pela garantia descrita acima Ainda retomando

a discussatildeo sobre a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro consideramos que pelo fato do autor do

texto natildeo ter apresentado um conceito para esta expressatildeo em nenhum local do certificado de

garantia da forma como se apresenta ela pode ser interpretada de outras maneiras assim

como discutimos nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)

(49) Para o uso de condicionadores de ar em ambientes com alta

concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre

seraacute vaacutelida SOMENTE a garantia legal de 90 (noventa) dias contados

80

da data de emissatildeo da nota fiscal de compra do produto

(Certificado 19)

Na ocorrecircncia (49) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da

garantia do produto que seja utilizado em ambientes especiacuteficos como ―ambientes com alta

concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre Dessa forma o

fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a qualquer solicitaccedilatildeo de garantia ―normal ou seja prazo

de validade de garantia para condicionadores de ar que satildeo utilizados em ambientes

considerados ―normais por parte de um cliente que utilize o produto em ambientes como os

descritos acima Dessa forma o uso do ―somente se justifica pelo fato de que o fabricante

busca direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha duacutevidas de que como

descrito em (49) os produtos utilizados em ambientes atiacutepicos soacute estaratildeo cobertos pela

garantia legal Assim como jaacute discutimos em outras ocorrecircncias anteriormente o fabricante

utiliza a expressatildeo ―garantia legal que eacute uma expressatildeo teacutecnica do CDC e para que ela natildeo

se tornasse polissecircmica logo apoacutes seu uso o autor apresentou o conceito para o termo que eacute

o de um periacuteodo de 90 dias corridos compreendidos imediatamente apoacutes a expediccedilatildeo da nota

fiscal de compra do produto

(50) A partir do 91ordm (nonageacutesimo primeiro) dia tais despesas satildeo de

responsabilidade uacutenica e exclusiva do consumidor

(Certificado 19)

Em (50) o fabricante natildeo utilizou os termo ―somente e ―apenas mas

consideraremos em nossa anaacutelise a utilizaccedilatildeo da expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como

umas expressotildees utilizadas para restringir interpretaccedilotildees como discutimos anteriormente em

outras anaacutelises Na sentenccedila acima o fabricante utilizou a expressatildeo de restriccedilatildeo para

enfatizar que passados os trecircs meses de garantia as despesas referentes a qualquer

manutenccedilatildeo e garantia do produto seratildeo de responsabilidade do cliente Como apresentamos

na ocorrecircncia (49) a garantia legal para um produto cobre os primeiros 90 dias apoacutes a

emissatildeo da nota fiscal de compra do produto Ao informar em (50) que a partir do primeiro

dia apoacutes o teacutermino da garantia legal despesas referentes ao traslado do produto para

manutenccedilatildeo seraacute de responsabilidade do cliente o autor utiliza a expressatildeo ―uacutenica e

exclusiva para se resguardar de qualquer possibilidade de participaccedilatildeo em possiacuteveis gastos

81

Caso o fabricante natildeo tivesse enfatizado essa informaccedilatildeo utilizando esta expressatildeo o cliente

poderia interpretar por exemplo que poderia haver algum caso em que o fabricante se

responsabilizaria por tais gastos Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (50)

(51) A reposiccedilatildeo de peccedilas defeituosas e execuccedilatildeo dos serviccedilos decorrentes

desta Garantia SOMENTE seratildeo procedidas nas localidades do

territoacuterio brasileiro onde a ENVISION mantiver ―Centro de Serviccedilo

Autorizado de titularidade dela proacutepria ou de terceiro por ela

expressamente indicado onde deveraacute ser entregue o produto para

reparo

(Certificado 20)

Na ocorrecircncia (51) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir os locais de

execuccedilatildeo de serviccedilos da garantia Neste caso o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a por

exemplo natildeo haver assistecircncias teacutecnicas em todas as cidades do paiacutes Aleacutem de enfatizar que o

produto deveraacute ser entregue na assistecircncia pelo cliente ou seja o fabricante natildeo se

responsabiliza quanto ao recolhimento do produto para reparo A utilizaccedilatildeo do ―somente se

justifica pelo fato de que o fabricante busca restringir ao maacuteximo as possibilidades de

interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o ―somente o cliente

poderia por exemplo interpretar que se a cidade em que o cliente tenha adquirido o produto

natildeo tenha uma assistecircncia teacutecnica a fabricante se responsabilizaria pelo recolhimento do

produto para manutenccedilatildeo numa cidade que possua a assistecircncia teacutecnica Com a utilizaccedilatildeo do

―somente precedendo as demais informaccedilotildees natildeo eacute possiacutevel interpretar a ocorrecircncia dessa

maneira Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termo vagos na ocorrecircncia (51)

(52) Esta Garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver

devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original

da Nota Fiscal de Compra

(Certificado 20)

Na ocorrecircncia (52) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a forma

como o cliente deve solicitar a garantia do produto Caso o cliente deixe de apresentar o

certificado preenchido corretamente eou a nota fiscal de compra a garantia seraacute invalidada

82

Assim como na ocorrecircncia (51) o autor fabricante utiliza o ―somente para restringir ao

maacuteximo a interpretaccedilatildeo do texto Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente

haveria a possibilidade de o cliente interpretar que a garantia do produto seria vaacutelida caso o

certificado estivesse preenchido sem rasuras acompanhado da nota fiscal de compra mas

tambeacutem de qualquer outra forma A ocorrecircncia ficaria sem limites para interpretaccedilatildeo caso o

fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente Poreacutem como o termo foi utilizado natildeo

haacute outra forma de o cliente interpretar a ocorrecircncia sobre a validade da garantia do produto

Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (52)

(53) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS se o produto for reparado pela rede

autorizada Rheem ou por autorizaccedilatildeo preacutevia formalizada pelo

Departamento de Assistecircncia Teacutecnica

(Certificado 20)

Na ocorrecircncia (53) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a validade da

garantia quanto ao local de assistecircncia Caso o produto seja reparado por profissional natildeo

autorizado pela fabricante Rheem a garantia do produto seraacute perdida A importacircncia o uso do

termo ―apenas na ocorrecircncia (53) se daacute pelo fato de que o autor busca restringir a

interpretaccedilatildeo do texto ao maacuteximo Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―apenas o

cliente poderia por exemplo interpretar que a garantia do produto eacute vaacutelida em qualquer

situaccedilatildeo e natildeo unicamente se seguir as recomendaccedilotildees descritas apoacutes o uso do termo

―apenas Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (53)

(54) Os produtos SOMENTE poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para

anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes sua autorizaccedilatildeo por escrito

(Certificado 21)

Na ocorrecircncia (54) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o modo

como deve submeter o produto agrave garantia Caso natildeo haja uma autorizaccedilatildeo por escrito para

enviar o produto para a faacutebrica o produto natildeo poderaacute seguir para anaacutelise A importacircncia da

utilizaccedilatildeo do termo ―somente se daacute pelo fato de que caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o

termo na ocorrecircncia (54) a interpretaccedilatildeo do texto ficaria sem limites ou seja os produtos

poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes a autorizaccedilatildeo por

83

escrito ou de qualquer outra forma Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (54)

34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS

Em nossa pesquisa analisamos cinquenta e quatro ocorrecircncias selecionadas a partir

dos vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Dividimos a anaacutelise por tipos de

ocorrecircncias com quantificador universal com condicional e com o apenassomente Para

apresentar um panorama sobre os tipos de ocorrecircncia e a quantidade das anaacutelises de cada tipo

vamos observar o quadro a seguir

Tipo de ocorrecircncia Nuacutemero de ocorrecircncias

Quantificador universal 15

Condicional 9

ApenasSomente 30

TOTAL 54

Quadro 2 ndash Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia Fonte elaborado pelo autor

Antes de discorrer nossos comentaacuterios sobre as anaacutelises de nosso trabalho temos que

tratar sobre a primeira importante impressatildeo que tivemos diante do corpus e das consequentes

anaacutelises dos quatro nexos semacircnticos que invocamos em nosso trabalho somente

identificamos ocorrecircncias com acarretamentos Tratamos com muita naturalidade este fato

porque por mais que em algumas leituras uma parte do conteuacutedo do segundo capiacutetulo possa

ser vista como desnecessaacuteria ndash pelo fato de tais conceitos natildeo estarem presentes nas anaacutelises

dessa pesquisa ndash encontramos aiacute uma caracteriacutestica do gecircnero textual certificado de garantia

que eacute a presenccedila de diversos acarretamentos mesmo que natildeo-expliacutecitos como demonstramos

em nosso trabalho (porque o gecircnero textual certificado de garantia natildeo possui uma linguagem

tatildeo controlada quanto a linguagem encontrada nos exemplos que criamos para ilustrar os

conceitos dos nexos) Dessa maneira fica claro que natildeo encontramos ocorrecircncias com

equivalecircncias semacircnticas contrariedades ou contraditoriedades o que nos permite definir

estas ausecircncias como uma caracteriacutestica intriacutenseca do gecircnero

84

Na primeira parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o quantificador

universal Identificamos quinze ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia

utilizaram esse recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (1) e (15)

percebemos que o uso do quantificador universal em algumas ocorrecircncias serviu apenas para

reforccedilar a informaccedilatildeo que o fabricante quis veicular ou seja se natildeo tivesse sido utilizado natildeo

modificaria o sentido do texto Pudemos identificar esse sentido por exemplo nas

ocorrecircncias (1) e (2)

Aleacutem desse sentido para o uso do quantificador universal encontramos ocorrecircncias

em que caso o quantificador natildeo tivesse sido utilizado haveria a possibilidade de

interpretarmos a ocorrecircncia de vaacuterias maneiras Nesses casos os autores utilizaram o

quantificador para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo direcionando a leitura do texto

para que o cliente possa interpretar o certificado da forma que o fabricante deseja Pudemos

identificar esse sentido por exemplo nas ocorrecircncias (3) (4) e (8)

Pudemos observar que os autores dos certificados de garantia utilizam tambeacutem o

quantificador universal em seus textos para se resguardarem em relaccedilatildeo a deveres que

poderiam ser reclamados pelo cliente caso natildeo houvesse o uso deste recurso Dessa forma

podemos entender que os autores dos certificados utilizaram o quantificador universal para se

favorecerem Pudemos observar essa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (5) (11) (13) e

(14) Em relaccedilatildeo a ocorrecircncias com o uso do quantificador universal em que o cliente eacute

beneficiado natildeo identificamos nenhum caso em nossa anaacutelise

Sobre o aparecimento de termos vagos ou termos polissecircmicos nas ocorrecircncias com a

presenccedila do quantificador universal pudemos observar que o maior motivo da sensibilidade

dos textos a esses tipos de efeitos linguiacutesticos eacute o fato de os autores dos textos em muitos

casos natildeo conceituarem os termos teacutecnicos que eles utilizam nos certificados de garantia Ao

utilizar um termo teacutecnico como por exemplo na ocorrecircncia (3) em que o autor do

certificado de garantia utiliza o termo ―viacutecio do produto ndash termo teacutecnico do CDC ndash natildeo

apresentando o conceito em seu texto dificulta a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Tendo contato

com o termo de forma solta sem estar delimitada pelo conceito que o autor deseja que o

cliente interprete a ocorrecircncia se torna vaga e polissecircmica

Ainda sobre os termos vagos ou termos polissecircmicos encontramos tambeacutem

ocorrecircncias em que os autores buscaram evitaacute-las justamente apresentando apoacutes a utilizaccedilatildeo

de um termo teacutecnico o seu respectivo conceito desta forma natildeo oferecendo a possibilidade

de interpretaacute-lo de vaacuterias maneiras Pudemos observar este uso por exemplo na ocorrecircncia

(10) em que o autor do certificado usa o termo ―garantia legal e logo em seguida apresenta

85

o conceito para o termo que eacute ―os primeiros 90 dias Dessa forma o cliente natildeo eacute autorizado

a interpretar o termo ―garantia legal de nenhuma outra forma que natildeo seja a descrita pelo

fabricante

Na segunda parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o uso do condicional

Identificamos nove ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia utilizaram este

recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (16) e (24) pudemos identificar

que o condicional foi utilizado pelos autores dos textos precedendo listas instrucionais o que

era esperado devido a caracteriacutestica proacutepria desse recurso que eacute o de condicionar algo agrave

alguma coisa Assim como nas ocorrecircncias que os autores utilizaram o quantificador

universal o condicional foi utilizado em boa parte das ocorrecircncias analisadas para restringir

a interpretaccedilatildeo do texto Pudemos identificar este sentido por exemplo nas ocorrecircncias (16)

(17) e (18)

Identificamos em boa parte das ocorrecircncias que possuem o uso do condicional que

este uso natildeo impotildee um limite na interpretaccedilatildeo Pudemos observar em nossa anaacutelise que os

condicionais foram utilizados precedendo listas exaustivas que continham situaccedilotildees por

exemplo em que a garantia seria invalidada Ao apresentar tais listas os autores natildeo

especificavam que natildeo haveria outros casos fora da lista em que a garantia seria invalidada

Dessa forma observamos que assim como nas ocorrecircncias com quantificador universal os

autores utilizaram os condicionais para se favorecerem Identificamos na ocorrecircncia (22)

recursos que restringem ainda mais as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente e

que consequentemente favorecem o fabricante como o uso do termo ―cumulativamente

que obriga o cliente a natildeo apenas estar dentro de uma ou mais situaccedilotildees descritas pelo

fabricante apoacutes o condicional mas a seguir todas as situaccedilotildees descritas ao mesmo tempo

Quando os fabricantes utilizaram o condicional precedendo listas que constam as

situaccedilotildees em que o cliente poderia perder a garantia eles usaram o recurso sem limites como

pudemos observar na ocorrecircncia (21) Mas quando os fabricantes utilizaram o condicional

precedendo listas que constam as situaccedilotildees em que o cliente tem direito a garantia eles

usaram os recursos com limites e como mostramos na ocorrecircncia (22) ainda utilizaram

recursos que limitam mais ainda a garantia

Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem das ocorrecircncias em que o condicional apareceu

de forma expliacutecita ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o mesmo

sentido como em (19) (20) e (24)

Sobre a presenccedila de termos polissecircmicos ou termos vagos nas ocorrecircncias com o uso

do condicional pudemos identificar que diferente das ocorrecircncias com o uso do

86

quantificador universal natildeo encontramos casos de termos vagos ou termos polissecircmicos nas

ocorrecircncias analisadas Identificamos em muitas ocorrecircncias que os autores dos certificados

apresentaram os conceitos para termos teacutecnicos apoacutes uso geralmente entre parecircnteses para

evitar que o termo ou a expressatildeo fossem interpretados de formas indevidas Encontramos

este tipo de estrateacutegia por exemplo na ocorrecircncia (17) do certificado 3 em que o autor

utiliza os termos ―garantia legal e ―garantia contratual mas no texto do certificado haacute o

conceito para cada termo o que impossibilita que o cliente interprete os termos de diversas

maneiras Caso o fabricante tivesse utilizado os dois termos teacutecnicos e em lugar algum do

certificado de garantia ele apresentasse os conceitos para os termos oportunizaria por

conseguinte diversas possibilidades de interpretaccedilatildeo dificultando a leitura do texto por parte

do cliente

Na terceira parte da anaacutelise tratamos sobre as ocorrecircncias com o uso do ―apenas e do

―somente Identificamos trinta ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia

utilizaram esses recursos linguiacutesticos Apesar do nuacutemero elevado de ocorrecircncias os sentidos

em que o ―apenas e o ―somente foram utilizados natildeo variaram muito Em grande parte das

ocorrecircncias analisadas o ―apenas e o ―somente foram utilizados para restringir a validade

da garantia desde restriccedilotildees em relaccedilatildeo ao territoacuterio de vigecircncia ateacute tipos de ambientes em

que os produtos podem ser utilizados Um tipo de ocorrecircncia que foi bastante recorrente em

nosso corpus foi o que utilizou o ―apenas ou ―somente para delimitar o territoacuterio em que a

garantia pode ser vaacutelida como por exemplo nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)

Nestas ocorrecircncias haacute o uso da expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que levantamos na anaacutelise

uma discussatildeo sobre as possibilidades de interpretaccedilatildeo para tal expressatildeo pelo fato de natildeo

haver nos certificados de garantia analisados um conceito definido para ela A ausecircncia do

conceito para este termo nos certificados de garantia pode dificultar a interpretaccedilatildeo

Tambeacutem podemos afirmar que em grande parte das ocorrecircncias analisadas o uso do

―somente ou ―apenas serviu para impor limites agraves interpretaccedilotildees dos textos direcionando-

os para a interpretaccedilatildeo que o fabricante desejasse impor Ou seja em grande parte das

ocorrecircncias em que foi utilizado o ―somente precedendo uma situaccedilatildeo X caso natildeo houvesse

esse uso a garantia por exemplo seria vaacutelida na situaccedilatildeo X mas tambeacutem nas situaccedilotildees Y Z

W sem limites Sem o uso do ―somente nessas ocorrecircncias o texto da garantia natildeo teria

sentido definido Pudemos observar esse sentido em diversas ocorrecircncias analisadas como

por exemplo nas ocorrecircncias (27) e (28) Ilustrando caso natildeo houvesse o uso do ―apenas

nas ocorrecircncias (27) e (28) a garantia seria vaacutelida no territoacuterio brasileiro e em qualquer outro

Ainda sobre as ocorrecircncias usam o ―somente ou ―apenas para restringir o territoacuterio em que

87

a garantia seraacute vaacutelida observamos que algumas ocorrecircncias especificam mais a validade da

garantia como em (48) que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para produtos vendidos e

instalados em territoacuterio nacional e outras ocorrecircncias que especificam menos como em (39)

que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para o veiacuteculo comercializado em territoacuterio brasileiro

Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem de ocorrecircncias em que o ―apenas e ―somente

apareciam explicitamente ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o

mesmo sentido como em (35) (36) e (41)

Sobre o aparecimento de termos polissecircmicos ou termo vagos aleacutem da expressatildeo

―territoacuterio brasileiro que mencionamos nos paraacutegrafos anteriores pudemos identificar

outros casos de termos polissecircmicos como por exemplo nas ocorrecircncias (25) e (26) Os

termos teacutecnicos utilizados pelos autores dos certificados de garantia natildeo possuiacuteam em lugar

algum dos textos os conceitos para lhes definirem possibilitando que o cliente interprete

estes termos de diversas maneiras

Ainda sobre casos de termos polissecircmicos observamos em algumas ocorrecircncias que

os autores dos certificados procuraram utilizar os termos teacutecnicos e em seguida ou em

alguma parte dos textos apresentaram os conceitos para os termos evitando muacuteltiplas

interpretaccedilotildees Identificamos o uso dessa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (43) (44) e

(49)

Nos trecircs tipos de ocorrecircncias que definimos para nossa anaacutelise pudemos identificar

que nos usos do quantificador universal condicional e ―apenas e ―somente os autores dos

certificados de garantia usaram esses recursos para se favorecerem Como analisado nas

ocorrecircncias do corpus os fabricantes utilizaram essas estrateacutegias tanto pelo fato de que eacute

necessaacuterio utilizar esses recursos por ser caracteriacutestico de textos instrucionais quanto pelo

fato de que o direcionamento das interpretaccedilotildees dos textos que eles constroem a partir destes

recursos podem favorecer os proacuteprios fabricantes

88

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Na presente seccedilatildeo iremos pontuar o percurso de nossa pesquisa e apresentar nossas

impressotildees sobre o corpus as teorias apresentadas e os resultados obtidos com as anaacutelises

O primeiro capiacutetulo de nossa pesquisa foi subdividido em duas partes na primeira

buscamos apresentar os conceitos gerais sobre os gecircneros textuais com base na proposta de

Bakhtin (2000) reafirmada por Marcuschi (2008) com o intuito de fornecer aporte teoacuterico

para a segunda parte do capiacutetulo em que caracterizamos o certificado de garantia como um

gecircnero textual Tal caracterizaccedilatildeo se deu pelo fato do nosso corpus ser composto por vinte e

dois certificados de garantia Ficamos surpresos por tomar conhecimento do fato de que ateacute o

presente momento natildeo identificamos publicaccedilotildees acadecircmicas em nosso paiacutes referentes agrave

caracterizaccedilatildeo de certificados de garantia como gecircneros textuais e esta dificuldade nos levou

a construir atraveacutes de nossa leitura a caracterizaccedilatildeo tanto quanto ao conteuacutedo quanto agrave

estrutura do texto A uacutenica bibliografia que encontramos e utilizamos como base para a

estruturaccedilatildeo da segunda parte do capiacutetulo tratando diretamente sobre os certificados de

garantia foi o Coacutedigo de Defesa e Proteccedilatildeo do Consumidor (1997) em que pudemos extrair

alguns conceitos gerais e recomendaccedilotildees de como se deve construir o texto de um certificado

de garantia Um dos problemas que encontramos foi a carecircncia de detalhes apresentados pelo

CDC na seccedilatildeo em que sugerem um padratildeo de formulaccedilatildeo do documento O CDC apenas

enfatiza que se faz necessaacuterio o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo e por exemplo a

necessidade de ser acompanhado do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto Com base

nessas informaccedilotildees apresentamos os conceitos e tambeacutem um exemplo de certificado de

garantia ilustrando cada parte da estrutura do texto

Na introduccedilatildeo do segundo capiacutetulo apresentamos uma discussatildeo geral sobre a

distinccedilatildeo entre semacircntica e pragmaacutetica com o objetivo de caracterizar os nexos como

relaccedilotildees linguiacutesticas do campo da semacircntica Para isso apresentamos tambeacutem os conceitos e

exemplos de relaccedilotildees linguiacutesticas que satildeo consideradas como pertencentes ao campo da

pragmaacutetica como a implicatura e pressuposiccedilatildeo Para esta discussatildeo buscamos aporte teoacuterico

nas obras de autores como Trask (2004) Levinson (2007) Grice (1987) Basso (2009)

Moura (1999) e Santos (2012)

Apoacutes a introduccedilatildeo do capiacutetulo apresentamos a teoria dos nexos semacircnticos que

escolhemos tratar em nossa pesquisa Foram eles o acarretamento a equivalecircncia semacircntica

a contradiccedilatildeo e a contrariedade Utilizamos como referencial teoacuterico para a teoria dos nexos

89

semacircnticos autores como Aristoacuteteles (1985) Chierchia (2001) Branquinho Murcho e Gomes

(2006) Pires de Oliveira (2001) e Mortari (2001) A apresentaccedilatildeo de cada nexo se deu a

partir dos conceitos seguidos de exemplos e dentro de cada seccedilatildeo apresentamos tambeacutem

tipos de ocorrecircncias lexicais que podem dificultar a intepretaccedilatildeo dos nexos que satildeo a

polissemia e a vagueza Ao apresentar os conceitos dessas ocorrecircncias lexicais assim como

fizemos na apresentaccedilatildeo dos nexos tambeacutem ilustramos com exemplos Utilizamos como

aporte teoacuterico para os conceitos de polissemia e vagueza autores como Crystal (1985) Allan

(2010) e Kempson (1977) Aleacutem da polissemia e vagueza tratamos sobre outro problema

que dificulta a interpretaccedilatildeo dos nexos as falaacutecias Quando tratamos sobre as caracteriacutesticas

das falaacutecias utilizamos como base teoacuterica o texto de Soares (2003) em que o autor distingue

as caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias e com esse aporte apresentamos nossos

exemplos

Quando tratamos sobre a contradiccedilatildeo e contrariedade apresentamos o fato de que as

suas origens tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica A partir disso trouxemos uma breve apresentaccedilatildeo

sobre os conceitos de Aristoacuteteles presentes em seu texto Organon (1985) mais

especificamente no Perieacutermeneas capiacutetulos 6 e 7

No final do capiacutetulo dois fizemos uma retrospectiva de todos os pontos que foram

apresentados ao longo do capiacutetulo e justificamos a nossa escolha em pesquisar sobre os nexos

semacircnticos assim como a polissemia vagueza e falaacutecias Durante todo o capiacutetulo dois

apresentamos os nexos e outras relaccedilotildees lexicais dentro de uma linguagem controlada que eacute

diferente do que acontece nos textos dos diversos gecircneros inclusive naquele escolhido para

compor o nosso corpus que satildeo os certificados de garantia A importacircncia dos conceitos

apresentados em nosso segundo capiacutetulo se deu pelo fato de que ele oferece uma base para a

compreensatildeo do funcionamento dessas relaccedilotildees semacircnticas para que diante das anaacutelises que

realizamos no capiacutetulo trecircs tenhamos uma leitura mais refinada e atenciosa para perceber

como essas relaccedilotildees semacircnticas tiacutepicas de linguagens controladas se apresentam em textos

que satildeo suscetiacuteveis a diversas ocorrecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo Ficamos surpresos

pelo fato de que pouco se escreveu sobre nexos semacircnticos em nosso contexto nacional de

pesquisa o que tornou a construccedilatildeo do nosso segundo capiacutetulo bastante desafiadora Em

relaccedilatildeo a artigos que trataram diretamente sobre os nexos semacircnticos e os seus usos como

suporte para a anaacutelise de ocorrecircncias em gecircneros textuais tivemos contato apenas com Santos

(2012) e Estrela e Santos (2013 2014)

No terceiro capiacutetulo que foi dedicado para conter a anaacutelise desta pesquisa

inicialmente apresentamos nossa justificativa para a escolha do gecircnero certificado de garantia

90

para analisar assim como a justificativa para a escolha de procurar nesses textos as

estrateacutegias linguiacutesticas utilizadas para restringir a interpretaccedilatildeo de sentenccedilas Em seguida

tratamos sobre os tipos de ocorrecircncias que elegemos para nossa anaacutelise como quantificador

universalcondicional e o ―apenas e o ―somente Esta escolha se deu pelo fato de tais

termos possuem caracteriacutesticas propiacutecias para o uso em restriccedilotildees ou abrangecircncias de textos

Mesmo assim tiacutenhamos conhecimento de que dificilmente encontrariacuteamos ocorrecircncias com

as relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos no capiacutetulo dois de forma expliacutecita e controlada

pois como discutimos anteriormente os diversos gecircneros textuais satildeo suscetiacuteveis a

interferecircncias lexicais que podem dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos

Em seguida apresentamos a anaacutelise do nosso corpus que totalizou cinquenta e quatro

trechos de certificados nos trecircs tipos de ocorrecircncias escolhidas para serem investigadas

Como jaacute apresentamos no final do capiacutetulo anterior nossas impressotildees sobre como foram

utilizados os recursos linguiacutesticos para restriccedilatildeo de interpretaccedilotildees pelos autores dos

certificados gostariacuteamos de enfatizar que nas ocorrecircncias com quantificador universal com

condicional e com o ―apenas e ―somente os fabricantes utilizaram estes recursos em

grande parte dos certificados para se favorecerem ou seja para abranger as possibilidades de

invalidade da garantia do produto aumentando as situaccedilotildees em que a garantia eacute perdida e

diminuindo as situaccedilotildees em que a garantia eacute vaacutelida (principalmente nas listas exaustivas)

Sobre ocorrecircncias em que identificados termos vagos ou termos polissecircmicos

identificamos como o motivo principal do aparecimento dessas ocorrecircncias a falta de

definiccedilatildeo dos termos teacutecnicos Em muitos certificados identificamos que os autores utilizaram

termos teacutecnicos (a maioria deles provenientes do CDC) e natildeo apresentaram em nenhuma

parte do texto as definiccedilotildees para tais termos oportunizando que o leitor interprete de

diversas maneiras os termos ou expressotildees

Por fim pudemos perceber que os quantificadores os condicionais e termos como o

―apenas e o ―somente que satildeo responsaacuteveis por abranger ou restringir interpretaccedilotildees de

sentenccedilas satildeo proacuteprios do tipo de texto instrucional que abarca o gecircnero que escolhemos para

nossa pesquisa A utilizaccedilatildeo desses termos seguiu uma ordem de apresentaccedilatildeo similar nos

vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Os quantificadores universais

apareceram muitas vezes nas explicaccedilotildees em que os fabricantes apresentavam prazos deveres

e direitos do fabricante e cliente os condicionais apareceram na maioria das vezes

precedendo as listas exaustivas e o ―apenas e ―somente apareceram em grande parte nos

trechos em que os fabricantes apresentavam delimitaccedilotildees territoriais para cobertura da

91

garantia e explicaccedilotildees sobre as situaccedilotildees em que a garantia eacute invalidada e as situaccedilotildees em que

a garantia se assegura

Assim como justificamos no iniacutecio das consideraccedilotildees sobre os resultados obtidos em

nossa anaacutelise natildeo encontramos ocorrecircncias com trecircs dos quatro nexos semacircnticos

apresentados no segundo capiacutetulo O fato de natildeo termos identificado ocorrecircncias com

equivalecircncias semacircnticas contrariedades e contraditoriedades traacutes a tona uma interessante

caracteriacutestica do gecircnero certificado de garantia que eacute a constante presenccedila de acarretamentos

na redaccedilatildeo do texto mesmo que apresentados indiretamente diferente dos exemplos que

utilizamos para ilustrar os conceitos nos diversos textos sobre o assunto e a natildeo utilizaccedilatildeo de

equivalecircncias sentenccedilas contraacuterias e contraditoacuterias na redaccedilatildeo do texto

Atraveacutes dessa pesquisa em que tratamos sobre os nexos semacircnticos a polissemia a

vagueza e alguns outros tipos de relaccedilotildees semacircnticas desejamos que outros pesquisadores se

interessem por este tipo de trabalho e busquem explorar nas anaacutelises linguiacutesticas outros

gecircneros textuais pouco explorados como o que utilizamos no presente trabalho Apresentar

uma teoria que eacute tipicamente de linguagens controladas como a dos nexos semacircnticos (que

satildeo como jaacute discutimos dependentes unicamente da forma das sentenccedilas) e analisar como

essas estrateacutegias linguiacutesticas se comportam dentro de textos instrucionais (que ainda satildeo

pouco explorados nas anaacutelises semacircnticas) satildeo a nosso ver interessantes caminhos a serem

desbravados nos estudos da semacircntica assim como as suas aplicaccedilotildees nos diversos gecircneros

textuais que nos rodeiam

92

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95

ANEXOS

Certificado 1

96

Certificado 2

97

Certificado 3

98

Certificado 4

99

Certificado 5

100

Certificado 6

101

Certificado 7

102

Certificado 8

103

Certificado 9

104

105

Certificado 10

106

Certificado 11

107

Certificado 12

108

109

Certificado 13

110

Certificado 14

111

112

Certificado 15

113

114

Certificado 16

115

116

117

118

119

120

121

Certificado 17

122

Certificado 18

123

Certificado 19

124

125

Certificado 20

126

Certificado 21

127

Certificado 22

ABSTRACT

The study of the meaning of relations between sentences is a much discussed and researched

field in linguistic studies The observation of how the terms behave in the construction of

meanings in texts of different genres and their interpretation effects are also widespread

themes among semantic research In this work we will discuss about the meaning of the

relations of meaning and their sense of purpose in a specific genre The relations that we will

investigate are semantic nexus or semantic links as proposed by Chierchia (2003) which are

respectively entailment semantic equivalence contradictoriness and contrariness The genre

we chose for our analysis is the warranty certificate and the choice of this genre was made

because it is part of the injunctive or instructional texts group that in our opinion has

characteristics that favor the sampling of semantic nexus We will analyze how the semantic

nexus are used to restrict or cover the possibilities of interpretation in the warranty

certificates The corpus of this research has 22 (twenty two) copies of warranty certificates

from different segments and we decided to choose certificates from separate lines to

constitute an overview of the genre The collection of the texts took place through the

internet without using any particular methodology of choice only we pay attention to seek

warranty certificates of diverse products We seek in this research instigate reflection on the

meaning relations between sentences and observance of these in instructional texts that we

have contact in daily life and that for many times let go unnoticed its contents The

understanding of the semantic nexus can offer us tools to better read texts of this type

Keywords Semantic nexus Warranty certificate Semantics

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 13

1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA 16

11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS 16 12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL 26

2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS 32

21 ACARRETAMENTO 35 22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA 42 23 CONTRADITORIEDADE 45 24 CONTRARIEDADE 48 25 JUSTIFICANDO O PERCURSO 51

3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA 53

31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL 55 32 USO DO CONDICIONAL 64 33 USO DO APENASSOMENTE 68 34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS 83

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 88

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 92

ANEXOS 95

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa 14

QUADRO 2 - Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia 83

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

ILUSTRACcedilAtildeO 1 - Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 27

ILUSTRACcedilAtildeO 2 - Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28

ILUSTRACcedilAtildeO 3 - Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28

ILUSTRACcedilAtildeO 4 - Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28

ILUSTRACcedilAtildeO 5 - Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 29

13

INTRODUCcedilAtildeO

A abordagem das relaccedilotildees de significado eacute algo bastante presente e discutido nos

estudos semacircnticos Observar como se comportam os termos na construccedilatildeo da significaccedilatildeo

em textos de diversos gecircneros distintos e seus efeitos interpretativos tambeacutem satildeo temas de

diversas produccedilotildees na aacuterea de linguiacutestica

Neste trabalho iremos discutir as relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e os efeitos

interpretativos dessas relaccedilotildees em textos Mais especificamente abordaremos os nexos

semacircnticos ou nexos de significado (Chierchia 2003) acarretamento equivalecircncia semacircntica

contrariedade (os quais podemos encontrar no referido trabalho de Chierchia) e

contraditoriedade (nexo semacircntico que geralmente eacute relacionado com a contrariedade e que

foi tratado por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado atraveacutes de seu quadrado loacutegico

ou taacutebua de oposiccedilotildees em seu texto Perieacutermeneas (1985) mais especificamente nos

capiacutetulos 6 e 7 sobre o qual faremos menccedilatildeo na seccedilatildeo sobre este nexo)

Este trabalho tem por objetivo observar alguns dos recursos linguiacutesticos utilizados

para favorecer a existecircncia de nexos semacircnticos e com isso restringir ou ampliar

possibilidades de interpretaccedilatildeo em um gecircnero textual especiacutefico Por este motivo o gecircnero

que escolhemos analisar foi o certificado de garantia ou termo de garantia que pertence agrave

categoria dos textos instrucionais (ou injuntivos) e a nosso ver possui caracteriacutesticas que

favorecem a amostragem das ocorrecircncias dos nexos

O gecircnero certificado de garantia possui como uma de suas caracteriacutesticas a

apresentaccedilatildeo organizada dos direitos e deveres do cliente e do fabricante com relaccedilatildeo a um

produto servindo tambeacutem para informar ao cliente os seus direitos referentes agrave validade

prazos e extensatildeo de cobertura da garantia Supotildee-se entatildeo que o texto deve por isso ser

objetivo e livre de ambiguidades e incoerecircncias

Nossa hipoacutetese eacute a de que recursos linguiacutesticos que favoreccedilam a existecircncia de nexos

semacircnticos nos textos dos certificados ndash como o emprego por exemplo de conectivos e

quantificadores (Chierchia 2003 PIRES DE OLIVEIRA 2001) ndash estatildeo presentes em textos

deste gecircnero e contribuem para que os textos alcancem o objetivo de informar ao cliente e ao

fabricante seus deveres e direitos

O corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de

garantia de produtos diversos para constituir um panorama ainda que reduzido de instacircncias

do gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes da internet sem utilizar nenhuma metodologia

14

especiacutefica de escolha atentando para buscar certificados de produtos variados Os textos

escolhidos para a anaacutelise de nosso trabalho incluem diversos produtos manufaturados como

moacuteveis veiacuteculos eletroeletrocircnicos entre outros equipamentos domeacutesticos como ilustrado no

quadro a seguir

Nordm Tipo de objeto Fabricante

1 Refrigerador Samsung

2 TV led Sony

3 Condicionador de ar LG

4 Tablet AOC

5 AudioMixer Oneal

6 Garantia para todos os produtos Elgin

7 Estabilizador de energia APC

8 Aquecedor de aacutegua Bosch

9 Fogatildeo Brastemp

10 Maacutequina de lavar Electrolux

11 Ventilador Cadence

12 GPS Positron

13 Umidificador de ar Springer

14 Certificado internacional de garantia Philips

15 Colchatildeo Ortobom

16 Caminhotildees Mercedes-Benz

17 Carro de passeio Hyundai

18 Moacuteveis Bartzen

19 Aquecedor de ar Fujitsu

20 Tv AOC

21 Aquecedor de aacutegua para piscina Rheem

22 Bicicleta Total Health

Quadro 1 ndash Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa Fonte elaborado pelo autor

Como nosso propoacutesito eacute analisar os textos observando as ocorrecircncias de termos que

restringem e abrangem interpretaccedilotildees natildeo temos a intenccedilatildeo de analisar se um fabricante

elaborou um texto melhor que outro

No primeiro capiacutetulo apresentamos num primeiro momento o que satildeo gecircneros

textuais e em seguida caracterizamos o certificado de garantia como um gecircnero textual Para

tanto utilizamos o aporte teoacuterico baseado na obra de Mikhail Bakhtin (2000) linguista do

iniacutecio do seacuteculo referecircncia nos estudos de gecircneros textuais e de Luiz Antocircnio Marcuschi

(2002 2005 2008) linguista contemporacircneo que desenvolveu importantes trabalhos nessa

disciplina Vale salientar que como o foco de nossa pesquisa natildeo eacute a discussatildeo de gecircneros

textuais o capiacutetulo que construiacutemos trata de conceitos gerais sobre gecircneros tendo como

15

objetivo observar que o certificado de garantia eacute um gecircnero textual e mostrando como se

estrutura em linhas gerais um texto deste gecircnero

No segundo capiacutetulo trataremos dos nexos semacircnticos dos quais consideraremos

para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e

contrariedade Atraveacutes de exemplos discutimos brevemente cada um deles mostrando

exemplos que funcionam e tambeacutem exemplos problemaacuteticos em relaccedilatildeo ao leacutexico

especialmente em casos de polissemia para que entatildeo seja possiacutevel a anaacutelise do capiacutetulo

seguinte

No terceiro capiacutetulo traremos a anaacutelise do corpus que se apresentaraacute organizado por

ocorrecircncias distribuiacutedas em tipos a saber uso do quantificador universal uso do condicional

e uso do apenassomente Apoacutes o exame das trecircs categorias citadas trataremos entatildeo das

relaccedilotildees entre o emprego dos recursos e a funccedilatildeo dos certficados Procuraremos tambeacutem

refletir se os recursos satildeo mais utilizados para favorecer o cliente ou mais utilizados para

favorecer o fabricante

Por uacuteltimo mostraremos as consideraccedilotildees finais do trabalho e em seguida as

referecircncias bibliograacuteficas utilizadas na elaboraccedilatildeo de nosso texto

16

1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA

Neste capiacutetulo tratamos dos gecircneros textuais e da caracterizaccedilatildeo dos certificados de

garantia como um gecircnero textual Em um primeiro momento traremos a perspectiva sobre

gecircneros textuais de Mikhail Bakhtin precursor dos estudos de gecircneros textuais na linguiacutestica

e em seguida apresentaremos a perspectiva de Luiz Antocircnio Marcuschi linguista brasileiro

que tambeacutem trabalha com o tema e compartilha em grande parte da perspectiva de Bakhtin

sobre o os gecircneros Eacute importante ressaltar que este capiacutetulo natildeo tem por objetivo o

aprofundamento nos estudos dos gecircneros e serve como um instrumento para contextualizar o

corpus desta pesquisa

11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS

Considerando a perspectiva apresentada por Mikhail Bakhtin na obra Esteacutetica da

criaccedilatildeo verbal (2000) o ato de se comunicar eacute indispensaacutevel para as relaccedilotildees humanas Aleacutem

disso ressaltamos que eacute por tal razatildeo que nas diversas situaccedilotildees de interaccedilatildeo que

vivenciamos em nosso cotidiano observamos a utilizaccedilatildeo da liacutengua em suas modalidades

oral eou escrita como instrumento principal de nossas trocas comunicativas

Eacute notoacuterio que a quantidade de atividades eacute enorme assim como satildeo os diferentes tipos

de situaccedilotildees em que a liacutengua eacute empregada Atraveacutes da formulaccedilatildeo de enunciados podemos

caracterizar quais as funccedilotildees dos discursos que escolhemos para os diversos tipos de

interaccedilatildeo

Nesse sentido eacute possiacutevel afirmarmos que todas as nossas construccedilotildees linguiacutesticas

organizam-se em gecircneros discursivos por meio dos quais conseguimos nos comunicar e

interagir socialmente

Em conformidade com a proposta de Bakhtin todo gecircnero discursivo se constitui a

partir das seguintes dimensotildees o conteuacutedo temaacutetico o estilo e a construccedilatildeo composicional

Esta descriccedilatildeo eacute claacutessica como ponto de partida para a descriccedilatildeo dos gecircneros textuais e nos

ofereceraacute a possibilidade de tanto descrever o que eacute um gecircnero textual quanto caracterizar

um texto como gecircnero que seraacute o nosso objetivo na segunda parte deste capiacutetulo

O conteuacutedo temaacutetico se refere ao tipo de assunto veiculado no texto Por tal razatildeo

Bakhtin (2000) afirma que o gecircnero eacute escolhido a partir do que o locutor decide falar Assim

17

eacute faacutecil compreender por que cada atividade comunicativa necessita de um tipo especiacutefico de

textodiscurso Por exemplo natildeo se responde (normalmente) uma carta informal com uma

bula de remeacutedio (a natildeo ser que na carta um texto desse gecircnero seja solicitado como

resposta) Nesse sentido percebe-se que para cada esfera de comunicaccedilatildeo o locutor e

interlocutor utilizam uma mesma forma de expressatildeo tendo em vista o assunto que

escolheram tratar Caso contraacuterio se locutor e interlocutor agregam formas distintas de

expressatildeo pode ser que a comunicaccedilatildeo natildeo seja efetivada com sucesso visto que eacute possiacutevel

natildeo haver o entendimento das partes uma vez que cada gecircnero abarca certo campo de uso

mesmo estando em constante desenvolvimento

O estilo se refere aos recursos linguiacutesticos desde gramaticais ateacute lexicais e eles

variam de acordo com o gecircnero Essa dimensatildeo abarca a seleccedilatildeo frasal lexical gramatical e

as formas de apresentar o discurso que satildeo inerentes ao gecircnero escolhido Bakhtin (2000)

afirma que o estilo eacute a primeira vista individual do gecircnero e ela reflete (ou natildeo) a

individualidade de quem escreve ou fala Isso porque dependendo do gecircnero o estilo

individual aparece com mais clareza Da mesma forma haacute gecircneros que natildeo possuem essa

caracteriacutestica a exemplo dos textos injuntivos sobre os quais trataremos mais agrave frente Ainda

a respeito do estilo Bakhtin assegura que

Quando escolhemos as palavras no processo de construccedilatildeo de um enunciado nem

de longe as tomamos sempre do sistema da liacutengua em sua forma neutra

lexicograacutefica Costumamos tiraacute-las de outros enunciados e antes de tudo de

enunciados congecircneres com o nosso isto eacute pelo tema pela composiccedilatildeo pelo estilo

consequentemente selecionamos as palavras segundo a sua especificaccedilatildeo de

gecircnero O gecircnero do discurso natildeo eacute uma forma da liacutengua mas uma forma tiacutepica do

enunciado como tal forma o gecircnero inclui certa expressatildeo tiacutepica a ele inerente

(BAKHTIN 2010 [1992] p 292 grifos do autor)

Nessa perspectiva podemos afirmar que tal criteacuterio se refere agraves propriedades das

unidades de linguagem e relaciona-se agrave posiccedilatildeo enunciativa do locutor agraves sequecircncias textuais

e aos tipos discursivos que estruturam o texto

Por fim Bakhtin (2000) afirma que cada gecircnero possui uma forma padratildeo que eacute a

estrutura composicional Eacute atraveacutes dessa forma que podemos identificar qual gecircnero estaacute

sendo empregado pois essa dimensatildeo se refere aos procedimentos utilizados na formulaccedilatildeo

dos textos com a estrutura e demais aspectos formais incluindo as partes envolvidas no

discurso Em suma para Bakhtin (2000)

18

Estes trecircs elementos (conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo composicional)

fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado e todos eles satildeo marcados pela

especificidade de uma esfera de comunicaccedilatildeo Qualquer enunciado considerado

isoladamente eacute claro individual mas cada esfera de utilizaccedilatildeo da liacutengua elabora

seus tipos relativamente estaacuteveis de enunciados sendo isso que denominamos

gecircneros do discurso (BAKHTIN 2000 p 279 Grifos do autor)

Ainda a respeito dos gecircneros do discurso conveacutem ressaltar que sua variedade eacute

proporcional agraves possibilidades de interaccedilotildees humanas pois as diversas esferas de interaccedilatildeo

satildeo compostas por classes de gecircneros que se desenvolvem tornando-se maiores e mais

complexas em consonacircncia com o desenvolvimento dessas esferas

Bakhtin (2000) utiliza o termo ―heterogeneidade para adjetivar os gecircneros do

discurso sejam eles orais ou escritos inferindo que estes incluem desde conversas informais

cartas relatos familiares ateacute produccedilotildees mais complexas como os documentos oficiais textos

cientiacuteficos e de escolas literaacuterias Natildeo haacute razatildeo para minimizar a extrema heterogeneidade

dos gecircneros do discurso e a consequente dificuldade quando se trata de definir o caraacuteter

geneacuterico do enunciadolsquo (BAKHTIN 2000 p 281) Dessa forma entendemos que a

variedade de gecircneros eacute muito grande se estendendo por exemplo dos romances mais

eruditos ateacute os bilhetes de recados do dia-a-dia e que tratar dos gecircneros admitindo suas

caracteriacutesticas estruturais particulares natildeo eacute uma tarefa faacutecil de realizar

Aleacutem de discorrer sobre as dimensotildees constitutivas de um gecircnero tendo em vista essa

heterogeneidade Bakhtin categoriza os gecircneros textuais em primaacuterios (simples) e

secundaacuterios (complexos) Assim os gecircneros primaacuterios satildeo aqueles referentes agraves reacuteplicas de

diaacutelogos cotidianos como cartas pessoais e demais gecircneros de comunicaccedilatildeo imediata Satildeo

chamados ―simples porque satildeo formados por discursos de baixa complexidade Jaacute os

gecircneros secundaacuterios satildeo aqueles referentes a romances textos cientiacuteficos sociopoliacuteticos e

afins Satildeo textos (escritos ou produzidos para serem encenados como os teatrais ndash exemplo

usado pelo proacuteprio Bakhtin) com maior carga de complexidade de produccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo

Surgem a partir de interaccedilotildees mais aprofundadas nas comunidades com maior grau de

imersatildeo em relaccedilatildeo aos padrotildees culturais e sociais

Ele ainda ressalta que os gecircneros secundaacuterios tambeacutem podem conter gecircneros

primaacuterios ―o romance em seu todo eacute um enunciado da mesma forma que a reacuteplica do

diaacutelogo cotidiano ou a carta pessoal (satildeo fenocircmenos da mesma natureza) o que diferencia o

romance eacute ser um enunciado secundaacuterio (complexo) (BAKHTIN 2000 p 281) Ao

discorrer sobre essa questatildeo o autor assevera que eacute de grande importacircncia teoacuterica a

19

diferenciaccedilatildeo entre esses tipos de gecircneros pois com isso e a partir disso podemos fazer

anaacutelises precisas dos enunciados que podem contrapor dois ou mais tipos de textos

Ignorar as caracteriacutesticas intriacutensecas a cada gecircnero a ―natureza dos enunciados - que

segundo Bakhtin eacute indispensaacutevel para qualquer estudo ndash eacute partir para a abstraccedilatildeo da liacutengua

desvalorizando o conteuacutedo histoacuterico imerso em cada tipo de gecircnero Eacute importante considerar

a relaccedilatildeo existente entre ―a liacutengua e a vida e natildeo restringir os enunciados a categorias

formais Haacute portanto uma relaccedilatildeo de complementaccedilatildeo entre a liacutengua a vida e os enunciados

pois ―a liacutengua penetra na vida atraveacutes dos enunciados concretos que a realizam e eacute tambeacutem

atraveacutes dos enunciados concretos que a vida penetra na liacutengua (BAKHTIN 2000 p 282)

Bakhtin (2000) tambeacutem se refere a questotildees da ―totalidade do enunciado que ele

define como aquilo que oportuniza a resposta em um discurso Bakhtin afirma que essa accedilatildeo

eacute definida por trecircs fatores diretamente associados ao ―todo orgacircnico do enunciado

primeiramente o tratamento exaustivo do objeto de sentido depois o querer-dizer do locutor

e por fim as formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do acabamento

O tratamento exaustivo do objeto de sentido ―varia profundamente conforme as

esferas da comunicaccedilatildeo verbal Em algumas esferas ele pode ser quase total como por

exemplo na vida praacutetica na vida profissional na vida militar basicamente em esferas que

natildeo possuem caracteriacutesticas de mutabilidade de discurso e pouca ―criatividade nas

formulaccedilotildees entre outras palavras onde os gecircneros do discurso satildeo padronizados Jaacute nas

esferas em que os gecircneros satildeo ―criativos o tratamento exaustivo eacute muito menos abrangente

como no caso das ciecircncias em particular onde Bakhtin infere que o tratamento exaustivo

―oferece exatamente um miacutenimo de acabamento capaz de suscitar uma atitude responsiva

(BAKHTIN 2000 p 300)

O querer-dizer do locutor estaacute ligado ao primeiro fator O filoacutesofo afirma que em todo

enunciado desde uma reacuteplica cotidiana ateacute complexas obras cientiacuteficas ou da literatura

compreendemos sentimos o ―intuito discursivo ou querer-dizer do locutor que eacute o que

determina o ―todo do enunciado sua amplitude suas fronteiras Noacutes identificamos o que o

locutor quer expressar e a partir dessa detecccedilatildeo medimos e definimos como se daraacute o

enunciado Isso eacute determinante para a escolha do objeto com seus limites e o tratamento

exaustivo do objeto adequado a este aleacutem de ser essencial para a escolha da forma do gecircnero

onde seraacute edificado

As formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do gecircnero do acabamento representam o fator mais

importante para Bakhtin que as descreve como ―formas estaacuteveis do gecircnero do enunciado

(BAKHTIN 2000 p 301)

20

As formas do gecircnero agraves quais modelamos nossa fala se distinguem

substancialmente das formas da liacutengua do ponto de vista de sua estabilidade e de

suas leis normativas para o locutor De um modo geral elas satildeo mais maleaacuteveis

mais plaacutesticas e mais livres do que as formas da liacutengua (BAKHTIN 2000 p 302)

Concluindo a discussatildeo sobre gecircneros a partir dos conceitos gerais propostos por

Bakhtin passamos agora para a discussatildeo sobre gecircneros realizada por Marcuschi (2008) Eacute

possiacutevel perceber ao longo da explanaccedilatildeo que este autor se identifica com a teoria

bakhtiniana de gecircneros textuais e foi essa identificaccedilatildeo uma das motivaccedilotildees que nos levou a

escolhecirc-los para a composiccedilatildeo deste capiacutetulo

De acordo com Marcuschi (2008 p 154) toda comunicaccedilatildeo soacute pode ser efetivada

por meio de um gecircnero pois ―eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum gecircnero

assim como eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum texto Partindo dessa

premissa podemos entender que qualquer manifestaccedilatildeo verbal se daacute dentro dos limites dos

gecircneros Eacute por esse motivo que a variedade de gecircneros eacute extensa mas natildeo infinita Atraveacutes

desse conceito observamos que Marcuschi compactua com o conceito bakhtiniano de que os

gecircneros possuem formas padronizadas e finitas

Os gecircneros textuais satildeo os textos que encontramos em nossa vida diaacuteria e que

apresentam padrotildees sociocomunicativos caracteriacutesticos definidos por composiccedilotildees

funcionais objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integraccedilatildeo

de forccedilas histoacutericas sociais institucionais e teacutecnicas (Marcuschi 2008 p 155)

Natildeo devemos considerar os gecircneros textuais como modelos imutaacuteveis e de ―estrutura

riacutegidas A apresentaccedilatildeo dos gecircneros se mostra ligada diretamente ao meio em que circulam

Satildeo formas culturais que tomam forma na liacutengua e que evoluem junto com ela Obviamente

que natildeo podemos deixar de considerar que os gecircneros possuem identidade e eacute atraveacutes dessa

identidade que escolhemos um tipo especiacutefico para cada esfera discursiva Dessa forma

admitimos que os gecircneros limitam nossa accedilatildeo na escrita

Em relaccedilatildeo agrave distinccedilatildeo entre gecircneros Marcuschi (2008) natildeo os distingue pelas formas

linguiacutesticas mas sim pelos seus campos de accedilatildeo Nesse sentido ele reafirma a perspectiva

bakhtiniana de que os gecircneros satildeo dinacircmicos e que por serem soacutecio-histoacutericos natildeo podem

ser contados de modo exaustivo o que dificulta sua classificaccedilatildeo Marcuschi (2008) afirma

que atualmente o objetivo maior nos estudos sobre gecircneros textuais eacute procurar identificar e

explicar como eles satildeo constituiacutedos e como circulam na sociedade

21

Eacute importante apresentar alguns conceitos referentes ao que estamos discutindo sobre

gecircneros do discurso dentre os quais destacamos os conceitos de tipo textual gecircnero textual e

domiacutenio discursivo segundo Marcuschi (2008) levando em consideraccedilatildeo a possibilidade de

se obter melhor entendimento no trato com o texto em si e seus fenocircmenos

O tipo textual eacute definido pelos aspectos linguiacutesticos ou seja por marcas lexicais

tempos verbais estilo relaccedilotildees loacutegicas e aspectos sintaacuteticos Logo relaciona-se mais agraves

sequecircncias linguiacutesticas do que a materializaccedilotildees textuais fazendo com que o conjunto

tipoloacutegico de textos seja limitado e natildeo apresente tendecircncias de aumentar Marcuschi (2002

p22) afirma que os tipos textuais compreendem categorias amplamente conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo exposiccedilatildeo descriccedilatildeo e injunccedilatildeo que observaremos separadamente a

seguir

A narraccedilatildeo relata um fato que pode ser real ou imaginaacuterio em um tempo e lugar

definidos envolvendo personagens Nesse tipo de texto o tempo verbal predominante eacute o

passado ao menos nos exemplos mais tiacutepicos Eacute predominante em crocircnicas piadas

romances poemas faacutebulas entre outros Vejamos o exemplo a seguir

O cavalo e o burro

O cavalo e o burro seguiam juntos para a cidade O cavalo contente da vida

folgando com uma carga de quatro arrobas apenas e o burro mdash coitado gemendo

sob o peso de oito Em certo ponto o burro parou e disse

ndash Natildeo posso mais Esta carga excede agraves minhas forccedilas e o remeacutedio eacute repartirmos o

peso irmatildemente seis arrobas para cada um

O cavalo deu um pinote e relichou uma gargalhada

ndash Ingecircnuo Quer entatildeo que eu arque com seis arrobas quando posso tatildeo bem

continuar com as quatro Tenho cara de tolo

O burro gemeu

ndash Egoiacutesta Lembre-se que se eu morrer vocecirc teraacute que seguir com a carga de quatro

arrobas e mais a minha

O cavalo pilheriou de novo e a coisa ficou por isso Logo adiante poreacutem o burro

tropica vem ao chatildeo e rebenta

Chegam os tropeiros maldizem a sorte e sem demora arrumam com as oito arrobas

do burro sobre as quatro do cavalo egoiacutesta E como o cavalo refuga datildeo-lhe de

chicote em cima sem doacute nem piedade

ndash Bem feito exclamou o papagaio Quem mandou ser mais burro que o pobre burro

e natildeo compreender que o verdadeiro egoiacutesmo era aliviaacute-lo da carga em excesso

Tome Gema dobrado agorahellip

(LOBATO M 2010 p 85)

Acima podemos observar um exemplo de narraccedilatildeo que eacute uma das faacutebulas de

Monteiro Lobato escrita em grande parte em discurso direto Podemos observar na faacutebula

que o texto eacute conduzido pelo narrador intercalado pela interaccedilatildeo dos personagens A seguir

22

continuaremos a descriccedilatildeo dos tipos textuais e exemplos com o conceito do tipo textual

argumentativo

Jaacute a argumentaccedilatildeo tem por principal caracteriacutestica a construccedilatildeo do convencimento

acerca da validade ou invalidade de um ponto de vista por sobre outro Nesse tipo de texto haacute

a reflexatildeo sobre temas especiacuteficos confrontando perspectivas distintas predominante em

gecircneros como debates resenhas editoriais artigos de opiniatildeo e afins Vejamos o exemplo a

seguir

O povo brasileiro estaacute cansado de tanta corrupccedilatildeo desigualdade de renda serviccedilos

puacuteblicos precaacuterios sensaccedilatildeo de inseguranccedila nas ruas elevada carga tributaacuteria

ineficiecircncia nos gastos puacuteblicos e elevaccedilatildeo da inflaccedilatildeo aleacutem do estilo autoritaacuterio e

inflexiacutevel da presidente O estranho eacute pensar sobre as razotildees que levaram a

populaccedilatildeo agraves ruas no momento atual em que a economia apresentou uma

significativa evoluccedilatildeo em relaccedilatildeo aos anos 80 e 90 aleacutem de presenciar sensiacutevel

melhora na renda meacutedia e na sua distribuiccedilatildeo nos anos 2000

A minha impressatildeo eacute de que depois de sentir a possibilidade de que o paiacutes entraria

em uma rota segura de crescimento da renda e de desenvolvimento econocircmico

(semelhante agrave sensaccedilatildeo que a populaccedilatildeo brasileira presenciou nos anos 70) o

enfraquecimento econocircmico e os sinais cada vez mais claros de que ele eacute resultante

de problemas internos deixaram a populaccedilatildeo transtornada Mais uma vez somos

apenas o paiacutes do futuro (NAKABASHI 2013 Acesso

httpwwwgazetadopovocombropiniaoartigosmanifestacoes-e-governo-no-

brasil-bdcjgu3mm6ql5e18tqoj73c5q)

Observamos acima uma parte de um artigo de opiniatildeo publicado no jornal Gazeta do

Povo em 02072013 por Luciano Nakabashi que trata das manifestaccedilotildees e do governo no

Brasil O autor anuncia primeiro o problema que vai discutir e em seguida lanccedila sua opiniatildeo

sobre o tema o que faz com que esse tipo de texto seja distinto da exposiccedilatildeo que

abordaremos a seguir

A exposiccedilatildeo apresenta informaccedilotildees sobre acontecimentos materiais e objetos de

forma detalhada e especiacutefica e por isso costuma lanccedilar matildeo de recursos como a descriccedilatildeo

informaccedilatildeo enumeraccedilatildeo comparaccedilatildeo e contrastes O tipo expositivo eacute caracteriacutestico de

gecircneros como as aulas expositivas verbetes de dicionaacuterios notiacutecias jornaliacutesticas entre

outros Vejamos o exemplo

Dianoia Termo grego que pode ser traduzido por pensamento intelecto

espiacuterito A dianoia eacute o pensamento discursivo enquanto elaboraccedilatildeo explicitaccedilatildeo

ou desenvolvimento da noese ou nous isto eacute da razatildeo intuitiva que capta de

modo imediato o real (Aristoacuteteles Tratado da alma III) Neste sentido a dianoia eacute

inferior ao nous jaacute que depende deste (MARCONDES e JAPIASSUacute 2001 p54)

23

Tomamos como exemplo de exposiccedilatildeo um verbete de um dicionaacuterio de filosofia

Podemos observar que os autores apresentam a palavra ―dianoia e em seguida conceituam a

dianoia a partir da perspectiva de um filoacutesofo especiacutefico (neste caso Aristoacuteteles)

O tipo textual descriccedilatildeo por sua vez eacute o relato particular de eventos e entidades e se

relaciona comumente com outros tipos em inuacutemeros gecircneros textuais Eacute caracteriacutestico em

cartazes promocionais anuacutencio de classificados entre outros Vamos observar agora um

exemplo de descriccedilatildeo atraveacutes da anaacutelise de uma obra de arte de Salvador Dali de 1955

intitulada ―A uacuteltima ceia

―Sua cena estaacute contida num retacircngulo Uma imensa janela ao fundo representada

por um dodecaedro (figura geomeacutetrica de 12 lados que sua vez satildeo pentaacutegonos ou

seja possuem cinco acircngulos cada um) domina toda a composiccedilatildeo

Jesus Cristo e seus 12 apoacutestolos estatildeo reunidos numa sala moderna envidraccedilada

Ele ocupa o centro da mesa de pedra o centro da tela e o centro do pentaacutegono

frontal do dodecaedro Cristo estaacute de frente para o observador contudo seu corpo

transluacutecido permite ver o mar e um barco o que indica que ele natildeo mais eacute humano

mas divino A sensaccedilatildeo que temos eacute de que seu corpo emerge de dentro do mar

Diante de Cristo sobre a mesa estatildeo um copo com vinho e as duas bandas do patildeo

jaacute repartido o que nos permite concluir que Daliacute pintou o momento da Eucaristia A

presenccedila dos barcos no mar remete aos ―pescadores de homens

A mesa eacute formada por um bloco retangular Doze apoacutestolos debruccedilam-se sobre ela

sendo trecircs agrave esquerda de Cristo e trecircs agrave direita Nas suas extremidades estatildeo quatro

apoacutestolos sendo dois de cada lado De costa para o observador estatildeo mais dois

deles Todos estatildeo com as cabeccedilas baixas Um dos apoacutestolos diverge dos demais ao

usar uma toga amarela O pintor queria com certeza diferenciaacute-lo Portanto tanto

pode ser Pedro o fundador da Igreja ou Judas o traidor

No alto com a cabeccedila invisiacutevel e com parte do tronco visiacutevel e os braccedilos abertos

Deus Pai humanizado abraccedila toda a cena como se aguardasse a chegada do Filho

que se encontra entre os homens Ao fundo um mar tranquilo com rochas

espalhadas e um ceacuteu cheio de nuvens compotildeem o segundo plano da tela (Viacuterus da

arte amp cia ndash Site brasileiro especializado em arte e cultura Disponiacutevel em

httpvirusdaartenetdali-a-ultima-ceia)

Acima podemos observar a descriccedilatildeo de uma obra de arte do pintor catalatildeo Salvador

dali retirado de uma paacutegina sobre arte Como o nome do tipo textual sugere a descriccedilatildeo tem

por objetivo descrever fatos mas tambeacutem caracteriacutesticas para objetos paisagens e situaccedilotildees

diversas No exemplo que utilizamos para descriccedilatildeo observamos a descriccedilatildeo de uma obra de

arte por parte de um espectador demonstrando detalhes do que estaacute impresso na pintura

assim como uma interpretaccedilatildeo da cena

O uacuteltimo tipo textual que consideraremos aqui eacute o tipo injuntivo que tem por objetivo

instruir o leitor ou persuadi-lo a fazer algo ou adotar algum ponto de vista Tambeacutem tem

como caracteriacutestica a induccedilatildeo do interlocutor a proceder de uma ou outra forma Geralmente

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eacute escrito no modo imperativo e eacute caracteriacutestico de gecircneros como a bula de remeacutedio os

manuais de instruccedilotildees receitas culinaacuterias e contratos Vale ressaltar que dentro dos textos

injuntivos podem-se encontrar outros tipos de texto como por exemplo descriccedilotildees de

objetos endereccedilos procedimentos etc Vejamos o exemplo a seguir

Bolo simples

Tempo de preparo 40 minutos

Rendimento 12 porccedilotildees

Ingredientes

2 xiacutecaras de accediluacutecar

3 xiacutecaras de farinha de trigo

4 colheres de margarina bem cheias

3 ovos

1 frac12 xiacutecara de leite aproximadamente

1 colher (sopa) de fermento bem cheia

Modo de preparo

1) Bata as claras em neve

2) Reserve

3) Bata bem as gemas com a margarina e o accediluacutecar

4) Acrescente o leite e a farinha aos poucos sem parar de bater

5) Por uacuteltimo agregue as claras em neve e o fermento

6) Coloque em forma grande de furo central untada e enfarinhada

7) Asse em forno meacutedio preacute-aquecido por aproximadamente 40 minutos

8) Quando espetar um palito e sair limpo estaraacute assado

(httpwwwtudogostosocombrreceita29124-bolo-simpleshtml Acesso em

20042014)

No exemplo uma receita culinaacuteria podemos observar que haacute descriccedilatildeo na primeira

parte (a lista de ingredientes) e na segunda parte (modo de preparo) que eacute a mais

nitidamente injuntiva encontramos instruccedilotildees de como proceder na execuccedilatildeo da receita

Aleacutem da classificaccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo dos tipos de texto eacute interessante observarmos

tambeacutem a definiccedilatildeo de gecircneros textuais e domiacutenio discursivo conforme Marcuschi (2008)

Os gecircneros textuais satildeo definidos como ―textos materializados em situaccedilotildees

comunicativas recorrentes (MARCUSCHI 2008 p155) que apresentam caracteriacutesticas

soacutecio-comunicativas marcadas pelos conteuacutedos e pelas propriedades referentes agraves funccedilotildees e

composiccedilatildeo Diferente dos tipos textuais que se restringem a cerca de meia duacutezia como

afirma Marcuschi (2008) ―os gecircneros satildeo inuacutemeros Tambeacutem haacute de ressaltar que satildeo

culturalmente e historicamente formados visto que evoluem no mesmo passo que as

comunidades

O domiacutenio discursivo por sua vez eacute a esfera de atividade humana em que os textos

circulam Ele natildeo eacute um texto em si mas proporciona o surgimento de discursos especiacuteficos

Para ilustrar podemos citar alguns domiacutenios como discurso religioso discurso juriacutedico etc

25

O domiacutenio eacute constituiacutedo por praacuteticas do discurso nas quais podemos identificar uma seacuterie de

gecircneros que possuem a mesma proposta discursiva como o tema e as praacuteticas institucionais

ou informais

As definiccedilotildees aqui trazidas de gecircnero tipo domiacutenio discursivo satildeo muito mais

operacionais do que formais e seguem de perto a posiccedilatildeo bakhtiniana Assim para a

noccedilatildeo de tipo textual predomina a identificaccedilatildeo de sequecircncias linguiacutesticas como

norteadora e para a noccedilatildeo de gecircnero textual predominamos criteacuterios de padrotildees

comunicativos accedilotildees propoacutesitos e inserccedilatildeo sociohistoacuterica No caso dos domiacutenios

discursivos natildeo lidamos propriamente com textos e sim com formaccedilotildees histoacutericas e

sociais que originam os discursos Eles ainda natildeo se acham bem definidos e

oferecem alguma resistecircncia mas seguramente sua definiccedilatildeo deveria ser na base de

criteacuterios etnograacuteficos antropoloacutegicos e socioloacutegicos e histoacutericos (MARCUSCHI

2008 p 158 Grifos do autor)

Nessa perspectiva faz-se necessaacuterio apresentarmos o papel dos gecircneros textuais como

controle social Como jaacute vimos anteriormente segundo Bakhtin (2000) toda atividade

discursiva humana se daacute atraveacutes de algum gecircnero e eacute tambeacutem por esse motivo que haacute uma

consideraacutevel pluralidade de gecircneros Marcuschi (2008) afirma que os gecircneros satildeo

―necessaacuterios para a interlocuccedilatildeo humana Assim para cada esfera de atividade humana

certos gecircneros especiacuteficos satildeo considerados mais ou menos adequados Na esfera

empresarial por exemplo temos que nos adequar agraves formalidades dos gecircneros de redaccedilatildeo

oficial como os ofiacutecios atas circulares e relatoacuterios Na academia apresentamos nossas

produccedilotildees atraveacutes de dissertaccedilotildees artigos cientiacuteficos teses e relatoacuterios de projetos No meio

publicitaacuterio encontramos as propagandas anuacutencios de diversos tipos Enfim satildeo inuacutemeras as

esferas de discurso domiacutenios discursivos e gecircneros textuais atrelados a estes

Marcuschi (2008) enfatiza que o controle social por gecircneros discursivos eacute

incontornaacutevel mas natildeo determinista De acordo com o autor noacutes temos liberdade para nos

expressarmos em qualquer esfera discursiva Poreacutem temos que admitir que a sociedade eacute

constituiacuteda por uma ―maacutequina discursiva logo somos moldados a ela de forma intuitiva e

os gecircneros textuais constituem um poderoso instrumento desta maacutequina Quanto maior a

nossa inserccedilatildeo na sociedade maior o controle social Por exemplo natildeo satildeo todas as pessoas

que podem expedir um mandato de seguranccedila escrever uma dissertaccedilatildeo de mestrado

ministrar uma aula de fiacutesica quacircntica ou publicar uma coluna em um jornal Eacute nessa

perspectiva que Marcuschi (2008) afirma veemente o direcionamento dos gecircneros textuais

para com o envolvimento social e suas especificidades

26

A partir das consideraccedilotildees apresentadas a respeito dos gecircneros textuais dedicamos a

seccedilatildeo a seguir para a caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual

conforme relatamos na introduccedilatildeo deste capiacutetulo

12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL

O certificado de garantia ou termo de garantia eacute um documento oferecido por

prestadoras de serviccedilos fabricantes de produtos diversos ou de qualquer outro segmento que

envolva comercializaccedilatildeo de bens duraacuteveis com a funccedilatildeo de formalizar os direitos e deveres

do consumidor e do fabricante para com o estado fiacutesico e funcional do produto em vista de

problemas de qualquer natureza

Eacute tambeacutem uma espeacutecie de contrato visto que consiste fundamentalmente na

combinaccedilatildeo de interesses de partes sobre algo Aleacutem de ―certificado de garantia

utilizaremos tambeacutem a nomenclatura ―termo de garantia tendo em vista que o documento

do certificado de garantia e o termo em si estatildeo internamente ligados A expressatildeo ―termo de

garantia eacute usada no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20

de marccedilo de 1997

Art 50 A garantia contratual eacute complementar agrave legal e seraacute conferida mediante

termo escrito

Paraacutegrafo uacutenico O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e

esclarecer de maneira adequada em que consiste a mesma garantia bem como a

forma o prazo e o lugar em que pode ser exercitada e os ocircnus a cargo do

consumidor devendo ser-lhe entregue devidamente preenchido pelo fornecedor no

ato do fornecimento acompanhado de manual de instruccedilatildeo de instalaccedilatildeo e uso de

produto em linguagem didaacutetica com ilustraccedilotildees (Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do

Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20 de marccedilo de 1997 p 30)

Em linhas gerais o documento eacute composto por quatro partes garantia contratual

garantia legal condiccedilotildees para validade da garantia contratual e legal condiccedilotildees natildeo cobertas

pela garantia legal e contratual Vejamos um exemplo de certificado de garantia

27

ILUSTRACcedilAtildeO 1 Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario

_de_ar_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Observamos na primeira parte a disposiccedilatildeo da garantia contratual ou seja a garantia

oferecida pelo fabricante

28

ILUSTRACcedilAtildeO 2 Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar

_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Na segunda parte encontramos a disposiccedilatildeo da garantia legal ou seja a garantia

assegurada pelo Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do consumidor

ILUSTRACcedilAtildeO 3 Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c

ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Em seguida vemos as condiccedilotildees de validade da garantia legal e contratual composta

por uma lista exaustiva de itens a serem considerados

29

ILUSTRACcedilAtildeO 4 Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c

ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

E por fim encontramos as condiccedilotildees natildeo cobertas pela garantia legal e contratual

assim como observaccedilotildees gerais

ILUSTRACcedilAtildeO 5 Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar

_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Em relaccedilatildeo agrave estrutura padratildeo dos certificados de garantia a partir do corpus

analisado nesta pesquisa observou-se que o texto que se refere agrave garantia em si corresponde a

menos da metade do documento Grande parte do documento se dedica agrave restriccedilatildeo de

possibilidades de cobertura assim como observaccedilotildees gerais quanto agraves responsabilidades do

fabricante diante de situaccedilotildees como despesas referentes agrave locomoccedilatildeo para depoacutesito do

produto para assistecircncia documentaccedilatildeo necessaacuteria para apresentaccedilatildeo na assistecircncia etc

30

O termo de garantia eacute vinculado diretamente ao Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do

consumidor O coacutedigo estabelece um padratildeo abrangente de formulaccedilatildeo do documento

constando recomendaccedilotildees como o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo necessidade do

acompanhamento do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto assim como clareza na

disposiccedilatildeo dos prazos de garantia legal e contratual

Como discutimos na primeira parte desse capiacutetulo Bakhtin (2000) propotildee que trecircs

dimensotildees constituem os gecircneros de discurso conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo

composicional Iremos a seguir apresentar como estas dimensotildees satildeo percebidas nesse

gecircnero textual

Como conteuacutedo temaacutetico do gecircnero certificado de garantia temos a veiculaccedilatildeo de

direitos e deveres do fabricante e do consumidor O documento apresenta listas exaustivas de

accedilotildees que possibilitam ou natildeo o uso do termo de garantia assim como instruccedilotildees gerais para

a realizaccedilatildeo desse ato Esse conteuacutedo pode variar em parte e apenas questotildees referentes agrave

garantia legal natildeo podem mudar pois estaacute prevista no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do

Consumidor

Em relaccedilatildeo ao estilo observamos nos certificados a utilizaccedilatildeo da norma padratildeo

Busca-se construir um texto claro e objetivo para que dessa forma natildeo haja problemas de

interpretaccedilatildeo para o consumidor Nesse gecircnero natildeo haacute identificaccedilatildeo de quem escreve de

maneira particular como observamos em gecircneros do tipo carta A identificaccedilatildeo do autor eacute

geralmente atribuiacuteda agrave empresa que oferece a garantia O estilo individual que eacute

caracteriacutestico em diversos gecircneros como o artigo de opiniatildeo e cartas pessoais natildeo cabe para

os certificados Como se trata de um texto instrucional esse gecircnero apresenta-se de forma

objetiva de modo que natildeo haacute a necessidade praacutetica da identificaccedilatildeo de quem escreve

Quanto agrave estrutura composicional em linhas gerais tal gecircnero segue uma sequecircncia

de apresentaccedilatildeo em duas etapas Em um primeiro momento apresenta-se o termo de garantia

em si no qual eacute descrito o direito do consumidor em relaccedilatildeo agrave garantia assim como sua

validade No segundo momento parte mais extensa do texto haacute a apresentaccedilatildeo de listas

supostamente exaustivas referentes aos casos que natildeo satildeo cobertos pela garantia assim como

as instruccedilotildees gerais para o reclame do direito Essa sequecircncia de apresentaccedilatildeo do documento

eacute variaacutevel Haacute certificados que satildeo inclusos no manual de instruccedilatildeo do produto (geralmente

na uacuteltima paacutegina) Haacute certificados que satildeo destacados o documento eacute apresentado agrave parte de

qualquer outro texto

Se retomarmos a classificaccedilatildeo dos gecircneros do discurso de Bakhtin (2000) entre

primaacuterios (simples) e secundaacuterios (complexos) podemos considerar que o certificado de

31

garantia estaacute inserido nos gecircneros complexos pois se trata de um documento elaborado de

forma sistemaacutetica no qual haacute necessidade de um aprofundamento social complexo com

caracterizaccedilotildees e descriccedilotildees bem delimitadas

Quanto ao tipo de texto dentro do que foi proposto por Marcuschi (2008) o

certificado de garantia se enquadra no tipo injuntivo porque eacute um texto instrucional com

predominacircncia do modo imperativo nas frases e eacute composto pela listagem de uma seacuterie de

procedimentos a serem observados e seguidos com listas exaustivas contendo direitos e

deveres do fabricante e do consumidor O objetivo do documento eacute oferecer ao cliente todas

as informaccedilotildees relacionadas agrave validade da garantia os casos em que haacute perda da validade e os

casos em que os problemas apresentados se enquadram como defeitos de fabricaccedilatildeo

O certificado de garantia se caracteriza como um gecircnero textual a partir da

perspectiva de Marcuschi (2008) pois eacute um texto que possui caracteriacutesticas soacutecio-discursivas

bem delimitadas com conteuacutedo padratildeo obedecendo a uma mesma linha temaacutetica e foi

constituiacutedo socialmente O gecircnero foi criado a partir da necessidade juriacutedica de resguardar os

fabricantes e consumidores de produtos industrializados e afins quanto agrave possibilidade de

apresentaccedilatildeo de defeitos ou falhas

De posse dos conhecimentos gerais sobre os gecircneros textuais que apresentamos e da

caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual partiremos no proacuteximo

capiacutetulo para a apresentaccedilatildeo das teorias que serviratildeo de aporte teoacuterico para a compreensatildeo

das anaacutelises realizadas no capiacutetulo 3

32

2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS

Neste capiacutetulo tratamos dos nexos semacircnticos ou ―nexos de significado dos quais

consideramos para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica

contraditoriedade e contrariedade Caracterizamos cada um deles utilizando exemplos em

linguagem natural com o intuito de demonstrar o funcionamento dessas relaccedilotildees assim como

mostrar quando tais exemplos deixam de apresentar o nexo Nosso intuito final eacute de oferecer

uma base para a compreensatildeo das anaacutelises que viratildeo no capiacutetulo posterior

Para entendermos melhor o que satildeo os nexos semacircnticos devemos compreender a

distinccedilatildeo entre a semacircntica e a pragmaacutetica que satildeo linhas de estudos linguiacutesticos inter-

relacionaacuteveis Uma definiccedilatildeo bastante difundida da semacircntica e tambeacutem bastante geral eacute

encontrada em Trask (2004 p 261) que diz que a semacircntica eacute o ramo da linguiacutestica que

estuda o significado e em Chierchia (2003 p 7) para quem a semacircntica eacute um estudo do

significado das expressotildees das liacutenguas naturais Podemos tambeacutem caracterizar a semacircntica

destacando a relaccedilatildeo do usuaacuterio da liacutengua e o significado que ele atribuiu agraves palavras que

compotildeem sentenccedilas como propotildee Pires de Oliveira (2001 p 42) Jaacute a pragmaacutetica por outro

lado tambeacutem estuda o significado das liacutenguas naturais mas trata das intenccedilotildees que os

falantes supostamente revelam a partir do uso de sentenccedilas

Para o termo ―pragmaacutetica haacute diversas possibilidades de definiccedilatildeo Levinson (2007)

procura mostrar as implicaccedilotildees que algumas definiccedilotildees podem ter em relaccedilatildeo a outros

estudos Assim podemos citar pelo menos dois conceitos de pragmaacutetica para Levinson

―pragmaacutetica eacute o estudo de todos os aspectos do significado natildeo capturados em uma teoria

semacircntica (Levinson 2007 p14) assim como ―pragmaacutetica eacute o estudo das relaccedilotildees entre

liacutengua e contexto que satildeo gramaticalizadas ou codificadas na estrutura de um liacutengua

(Levinson 2007 p 11) Podemos perceber que nessas duas definiccedilotildees Levinson tanto atribui

agrave pragmaacutetica a responsabilidade sobre aquilo que estaacute aleacutem da semacircntica quanto destaca a

relaccedilatildeo de liacutengua e contexto Jaacute em Wilson (2008) encontramos as definiccedilotildees que Yule

(1996) apresenta para a pragmaacutetica

a) pragmaacutetica eacute o estudo do significado sob o ponto de vista do falante b)

pragmaacutetica eacute o estudo do significado contextual (isto eacute leva em conta o modo como

os falantes organizam seus enunciados aquilo que eles querem dizer de acordo com

os seguintes fatores a quem vatildeo dizer como vatildeo dizer onde e quando vatildeo dizer e

sob que circunstacircncias) c) pragmaacutetica eacute o estudo do como se diz aleacutem daquilo que eacute

33

dito (isto eacute o estudo do significado subjacente do natildeo dito d) pragmaacutetica eacute o

estudo da expressatildeo da proximidadedistanciamento relativo (isto eacute de acordo com

o tipo de proximidade fiacutesica social ou conceitual em relaccedilatildeo aos ouvintes os

falantes determinam como e quanto precisam dizer) (WILSON 2008 p 89)

A discussatildeo sobre as definiccedilotildees de pragmaacutetica e semacircntica e suas distinccedilotildees vem

desde o iniacutecio do seacuteculo XX e muitos autores contribuiacuteram para a evoluccedilatildeo desses conceitos

Em vista desta histoacuterica discussatildeo apresentaremos os conceitos de Charles Morris e Rudolf

Carnap para estas disciplinas linguiacutesticas

Segundo a definiccedilatildeo de Charles Morris (1938) pragmaacutetica eacute o estudo da ―relaccedilatildeo dos

signos com seus inteacuterpretes Jaacute para Rudolf Carnap (1938) a pragmaacutetica eacute o estudo da

linguagem em relaccedilatildeo aos seus falantes Diante dos conceitos de semacircntica e pragmaacutetica que

apresentamos e da distinccedilatildeo entre as linhas de estudos linguiacutesticos Marcondes (2000) afirma

que ―tanto a definiccedilatildeo de Morris quanto a de Carnap fazem parte da jaacute consagrada distinccedilatildeo

geral do campo de estudos da linguagem entre pragmaacutetica que considera a linguagem em

seu uso concreto e semacircntica que examina os signos linguiacutesticos em sua relaccedilatildeo com os

objetos que designam ou a quem se refere Os nexos semacircnticos estatildeo inseridos no campo da

semacircntica e voltaremos a este ponto no final do capiacutetulo

Sobre as relaccedilotildees semacircnticas haacute diversas perspectivas nos estudos linguiacutesticos A

forma como combinamos as palavras e nossa tendecircncia em buscar um conceito fixo de um

termo satildeo complicaccedilotildees que podem dificultar o uso da liacutengua O significado linguiacutestico das

liacutenguas naturais segundo Basso (2009) possibilita nexos semacircnticos entre sentenccedilas E

ainda sobre o significado Basso propotildee

Quando perguntamos o significado de alguma palavra muitas vezes buscamos

aquele modelo significativo presente nos dicionaacuterios Poreacutem natildeo haacute no dicionaacuterio

maneiras preacute-estabelecidas de como uma palavra pode se combinar com outra em

busca da trama de significados dos nexos que favorecem infinitas interpretaccedilotildees

Essas combinaccedilotildees satildeo decorrentes do proacuteprio uso da liacutengua pelos seus falantes

mas natildeo estatildeo nem presentes nos dicionaacuterios nem tampouco algueacutem nos ensina satildeo

conhecimentos impliacutecitos Uma aacuterea da linguiacutestica moderna defende que o nosso

conhecimento semacircntico e um dote geneacutetico portanto os possiacuteveis nexos

semacircnticos satildeo decorrentes de uma capacidade inata de combinaccedilatildeo de palavras e

sentenccedilas parte do conhecimento semacircntico impliacutecito ou competecircncia semacircntica

(BASSO 2009 p 25)

Os nexos semacircnticos satildeo caracterizados na literatura da semacircntica como grupos de

relaccedilotildees de inferecircncia muito estaacuteveis direcionaacuteveis e fortemente dependentes do material

34

linguiacutestico dos enunciados (SANTOS 2012) Essas relaccedilotildees diferem de perspectivas de

inferecircncias como a pressuposiccedilatildeo e a implicatura que dialogam diretamente com o natildeo-dito

Para contrastar os nexos com esses outros tipos de relaccedilatildeo vamos observar os exemplos a

seguir

(1) Carlos parou de beber refrigerante

(2) A tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio

Seguindo a mesma linha de exposiccedilatildeo de Moura (1999 p 12) a partir das duas

sentenccedilas acima observamos dois niacuteveis nas informaccedilotildees veiculadas No primeiro niacutevel

temos contato com o sentido literal das palavras Dessa forma em (1) temos a informaccedilatildeo de

Carlos natildeo toma mais refrigerantes e em (2) que Maacuterio escreveu uma tese sobre bolhas de

sabatildeo No segundo niacutevel atraveacutes da enunciaccedilatildeo das sentenccedilas somos levados a considerar

informaccedilotildees que natildeo estatildeo afirmadas literalmente nas sentenccedilas Dessa forma a partir de (1)

podemos inferir que Carlos bebia refrigerantes antes e em (2) que uma tese sobre bolhas de

sabatildeo jaacute foi escrita Ducrot (1987) denomina de conteuacutedo posto o primeiro niacutevel que

consiste no conteuacutedo literal das sentenccedilas e de conteuacutedo pressuposto ou pressuposiccedilatildeo o

segundo niacutevel que abarca as inferecircncias que podemos fazer a partir da enunciaccedilatildeo das

sentenccedilas Devemos entender que o conteuacutedo posto depende do conteuacutedo pressuposto pois a

aceitaccedilatildeo do primeiro leva a aceitaccedilatildeo do segundo Para que possamos aceitar a verdade do

posto (1) que diz que Carlos parou de beber refrigerante temos que aceitar a verdade

pressuposta de que Carlos jaacute tinha bebido refrigerante antes

Outra relaccedilatildeo semacircntica que dialoga diretamente com o natildeo-dito eacute a implicatura

Grice (1987) propotildee dois tipos de implicaturas as implicaturas convencionais que natildeo satildeo

sujeitas a condiccedilotildees de verdade e as implicaturas conversacionais que natildeo dependem

diretamente da significaccedilatildeo usual das palavras sendo determinadas por certos princiacutepios

baacutesicos do ato comunicativo

As implicaturas convencionais satildeo inferecircncias natildeo sujeitas a condiccedilotildees de verdade

natildeo satildeo derivadas de princiacutepios pragmaacuteticos mais gerais como as maacuteximas conversacionais

mas satildeo simplesmente ligadas pela convenccedilatildeo a itens ou expressotildees lexicais especiacuteficos

Levinson (2007) toma a implicatura conversacional como uma das ideias mais

importantes da pragmaacutetica e vamos considerar neste trabalho apenas as implicaturas do tipo

conversacional de forma que quando mencionarmos o termo implicatura devemos entender

que estamos falando das implicaturas conversacionais e natildeo das convencionais

35

Para exemplificar uma implicatura vamos supor uma situaccedilatildeo entre dois amigos em

que ao dialogar sobre as uacuteltimas defesas de teses e dissertaccedilotildees do departamento de poacutes-

graduaccedilatildeo deparam-se com a notiacutecia de que um de seus colegas escreveu uma tese sobre um

tema muito irrelevante e nada original Diante desta situaccedilatildeo um amigo disse para o outro ―A

tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio A partir da situaccedilatildeo em que os dois amigos

estavam imersos nesse contexto e da sentenccedila utilizada por um dos amigos podemos inferir

que foi Maacuterio quem escreveu uma tese sobre um tema irrelevante Podemos perceber neste

exemplo que como descrito nas definiccedilotildees que trouxemos anteriormente a implicatura por

ser uma relaccedilatildeo puramente pragmaacutetica utiliza-se do natildeo-dito e de situaccedilotildees convencionadas

entre falantes para poder existir

Dessa forma podemos retomar o que foi exposto nos paraacutegrafos anteriores afirmando

que os nexos semacircnticos as pressuposiccedilotildees e as implicaturas satildeo inferecircncias de significado

sendo que os nexos estatildeo no campo da semacircntica e as pressuposiccedilotildees e implicaturas estatildeo no

campo da pragmaacutetica

A partir deste ponto iremos descrever os nexos semacircnticos com exemplos mostrando

como essas relaccedilotildees funcionam e tambeacutem casos em que a interpretaccedilatildeo natildeo acontece da

maneira esperada Em relaccedilatildeo aos casos em que a interpretaccedilatildeo eacute prejudicada trataremos de

casos relacionados com a ambiguidade lexical mais especificamente com vagueza e casos

relacionados com a polissemia (desconsiderando seus limites com a homoniacutemia)

21 ACARRETAMENTO

Em linhas gerais o acarretamento ocorre quando a verdade de um conjunto de

sentenccedilas1 que nomearemos de A garante a verdade de outra sentenccedila que nomearemos de

B Dessa forma a verdade da primeira sentenccedila ou do conjunto delas autoriza a verdade de B

(CHIERCHIA 2003) O acarretamento eacute uma inferecircncia que os falantes estatildeo autorizados a

fazer e o que os autoriza eacute o conhecimento linguiacutestico Vamos observar o exemplo a seguir

1 Em nosso trabalho utilizaremos os termo ldquosentenccedilardquo e ldquoproposiccedilatildeordquo intercambiavelmente Alguns autores

definem os dois termos de formas distintas Por exemplo na semacircntica contemporacircnea de mundos possiacuteveis desenvolvida por autores como por exemplo Kripke e Lewis define-se proposiccedilatildeo como a classe de todos os mundos possiacuteveis nas quais ela eacute verdadeira Murcho (2006) apresenta dois exemplos para distinguir proposiccedilotildees e sentenccedilas ldquoSoacutecrates era um filoacutesofordquo e ldquoSocrates was a philosopherrdquo Murcho afirma que os dois exemplos satildeo duas sentenccedilas que exprimem uma uacutenica proposiccedilatildeo Outros como Mortari (2001) natildeo distinguem proposiccedilotildees e sentenccedilas

36

(3) alsquo Neymar eacute brasileiro

a Neymar eacute um jogador de futebol

b Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro

Podemos observar no exemplo acima que a sentenccedila (3b) tem a sua verdade garantida

pela verdade de (3alsquo) e (3a) Sendo assim (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Podemos observar

no exemplo que o acarretamento eacute bastante claro pois as informaccedilotildees que estatildeo presentes em

(3b) satildeo a soma das informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) Eacute interessante destacar

que para que a sentenccedila (3b) constitua um acarretamento de (3alsquo) e (3a) natildeo precisamos

conhecer a pessoa Neymar nem sua nacionalidade eou profissatildeo Como as informaccedilotildees

estatildeo postas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) a verdade de (3b) eacute inevitaacutevel Mesmo que no mundo

real Neymar natildeo fosse jogador de futebol e natildeo fosse brasileiro isso em nada modificaria o

acarretamento pois dentro da relaccedilatildeo estabelecida entre (3alsquo) (3a) e (3b) as informaccedilotildees

contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Vejamos o exemplo a seguir

(4) alsquo Todos os sacis tecircm apenas uma perna

a Denis Diderot eacute um saci

b Denis Diderot tem apenas uma perna

Observando o exemplo acima identificamos que em relaccedilatildeo ao conhecimento de

mundo a sentenccedila (4alsquo) eacute verdadeira jaacute que no folclore admitimos como uma caracteriacutestica

dos sacis ter apenas uma perna A sentenccedila (4a) eacute falsa pois Denis Diderot foi um filoacutesofo e

escritor francecircs e natildeo um saci Por fim a sentenccedila (4b) tambeacutem eacute falsa em relaccedilatildeo ao nosso

conhecimento de mundo pois Denis Diderot possuiu durante toda a sua vida as duas pernas

Podemos entatildeo admitir que as sentenccedilas do conjunto (4) em relaccedilatildeo ao nosso conhecimento

de mundo satildeo falsas Mesmo assim o conjunto eacute um acarretamento Diferente do exemplo

(3) em que trouxemos sentenccedilas que constituiacuteam um acarretamento com informaccedilotildees

verdadeiras em relaccedilatildeo ao mundo o exemplo (4) mostra que a relaccedilatildeo semacircntica que estamos

discutindo independe da verdade das informaccedilotildees das sentenccedilas no mundo O que o

acarretamento faz eacute concatenar as sentenccedilas de uma forma que se as premissas forem

verdadeiras a conclusatildeo tambeacutem seraacute verdadeira O acarretamento depende exclusivamente

37

da forma em que as sentenccedilas se apresentam Tendo em vista que a relaccedilatildeo depende apenas

da forma podemos representar o acarretamento da seguinte maneira como propotildee Soares

(2003)

Em liacutengua natural

Se estudar entatildeo serei aprovado (1ordf premissa)

Ora estudei (2ordf premissa)

Logo fui aprovado (Conclusatildeo)

E simbolizando2

a rarr b (1ordf premissa)

a (2ordf premissa)

b (Conclusatildeo)

Vale ressaltar que ao utilizarmos o termo ―sentenccedila estamos nos referindo ao que os

gramaacuteticos costumam chamar de oraccedilatildeo Tambeacutem eacute interessante mencionar que o

acarretamento eacute chamado de consequecircncia semacircntica Iremos utilizar como representaccedilatildeo das

premissas sentenccedilas do tipo (Xalsquo) e (Xa) e para a conclusatildeo sentenccedilas do tipo (Xb)

Podemos entender que o acarretamento eacute um tipo de relaccedilatildeo estabelecida entre

premissas e a consequecircncia de forma que a verdade das premissas determina a verdade da

consequecircncia Tambeacutem devemos entender que natildeo eacute possiacutevel que as premissas sejam

verdadeiras junto da negaccedilatildeo da conclusatildeo pelo fato de que dessa forma estaria

descaracterizada a relaccedilatildeo de acarretamento

Como ressaltamos acima os acarretamentos satildeo dependentes da forma ou seja da

relaccedilatildeo que as sentenccedilas possuem entre si e natildeo da verdade ou falsidade no mundo das

informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas Diante disso traremos agrave tona exemplos de sentenccedilas que

2 O siacutembolo ldquorarrrdquo na loacutegica claacutessica representa um condicional assunto de que trataremos no terceiro capiacutetulo

deste trabalho e o siacutembolo ldquordquo representa um acarretamento

38

natildeo possuem relaccedilatildeo semacircntica mas atraveacutes da verdade ou falsidade das informaccedilotildees nas

sentenccedilas podem nos confundir e nos induzir ao erro Para tal raciociacutenio errocircneo damos o

nome de falaacutecias

Soares (2003) distingue trecircs caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias (i) satildeo

argumentos parecidos com argumentos vaacutelidos (ii) estabelecem entre premissas e conclusotildees

uma relevacircncia puramente psicoloacutegica que tatildeo-soacute se dirige agraves emoccedilotildees da pessoa sem que as

premissas sejam logicamente relevantes para extrair a conclusatildeo (iii) apresentam-se com

intenccedilatildeo enganadora para que o argumento ainda que invaacutelido seja de todas as maneiras

aceito por todos Vejamos a seguir exemplos de falaacutecias

(5) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher

a Dilma Rousseff eacute mulher

b Dilma Rousseff eacute a presidente do Brasil

A partir do nosso conhecimento de mundo poderiacuteamos dizer que a sentenccedila (5b) eacute

verdadeira Na sentenccedila (5alsquo) temos que A presidente do Brasil eacute mulher De fato tambeacutem se

formos utilizar nosso conhecimento de mundo intuitivamente diremos que esta sentenccedila estaacute

correta considerando a eacutepoca em que este trabalho foi escrito Seguindo temos a sentenccedila

(5a) com a informaccedilatildeo Dilma Rousseff eacute mulher Assim como as sentenccedilas (5alsquo) e (5a) a

partir de nosso conhecimento de mundo podemos afirmar que esta sentenccedila tambeacutem eacute

verdadeira mas devemos entender que eacute preciso considerar a relaccedilatildeo que as sentenccedilas

estabelecem entre si A sentenccedila (5alsquo) natildeo estabelece nenhuma relaccedilatildeo com a sentenccedila (5a)

para que (5b) seja um acarretamento Para mostrar de forma mais clara que o exemplo (5) natildeo

eacute um acarretamento vamos comparaacute-lo com o exemplo a seguir

(6) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher

a Michelle Bachelet eacute mulher

b Michelle Bachelet eacute a presidente do Brasil

Observamos que (6alsquo) e (6a) satildeo verdadeiras (no momento da redaccedilatildeo deste

trabalho) mas (6b) nos parece estranho Sabemos que Michelle Bachelet atualmente eacute

presidente do Chile Mas nada disso interfere para caracterizar um acarretamento e o exemplo

acima foi para deixar claro que a partir das relaccedilotildees semacircnticas dispostas entre os grupos de

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sentenccedilas (5) e (6) natildeo podemos considerar que haacute acarretamento pelo fato acima

mencionado

Ateacute o momento tratamos do conceito de acarretamento seguido de exemplos em

liacutengua natural sua representaccedilatildeo na loacutegica claacutessica e exemplos de falaacutecias A partir deste

ponto trataremos dos fatores que interferem nas relaccedilotildees semacircnticas de uma forma diferente

das falaacutecias A compreensatildeo dos tipos de interferecircncias a seguir seraacute importante para a anaacutelise

do corpus deste trabalho pois se trata de interferecircncias lexicais

No exemplo a seguir trataremos de um problema que pode invalidar relaccedilotildees

semacircnticas a polissemia Quando um termo adquire mais de um sentido aleacutem daquele que eacute

originalmente atribuiacutevel temos um caso de polissemia Crystal (1985) conceitua polissemia

da seguinte maneira

Polissemia termo usado na anaacutelise semacircntica para caracterizar um item lexical com

uma variedade de significaccedilotildees diferentes como manga = ―parte da camisa ―parte

do abajur etc Uma grande parte do vocabulaacuterio da liacutengua eacute polissecircmica ()

(Crystal 1985 p 202)

Tendo em vista que a polissemia eacute uma caracteriacutestica de um item lexical que possui

diversos significados para diversos contextos vamos observar o exemplo a seguir

(7) a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito

b Joatildeo morreu

A sentenccedila (7a) pode ser interpretada pelo menos de duas formas distintas pelo fato da

expressatildeo ―perdeu a cabeccedila ser polissecircmica Se interpretarmos a sentenccedila (7a) considerando

―perder a cabeccedila como ter a cabeccedila desprendida do corpo haacute acarretamento de (7a) para

(7b) Mas esta natildeo eacute a uacutenica interpretaccedilatildeo possiacutevel para a expressatildeo em questatildeo Se

interpretarmos ―perder a cabeccedila como perder a paciecircncia ficar furioso estressado ou algo

parecido a sentenccedila (7a) natildeo acarreta (7b) numa mesma situaccedilatildeo pois o fato de Joatildeo ter

perdido a paciecircncia natildeo garante que ele venha a morrer Dessa forma para natildeo ter problemas

com a polissemia eacute preciso assegurar que se convencione um sentido uacutenico para cada

premissa para desta forma haver um acarretamento

40

Outro aspecto que eacute preciso ser mencionado eacute que (7) do jeito que se apresenta natildeo eacute

um acarretamento mesmo que perder a cabeccedila tenha o sentido de ter a cabeccedila desprendida do

corpo Isso se daacute porque (7) eacute um acarretamento incompleto ou seja um entimema

Argumento com uma premissa natildeo-formulada sem a qual ele natildeo eacute vaacutelido Chama-

se muitas vezes de premissa impliacutecitalsquo agrave premissa natildeo formulada Na argumentaccedilatildeo

cotidiana omitem-se premissas oacutebvias A premissa impliacutecita do argumento Antocircnio

deveria ser despedido porque roubou dinheiro puacuteblicolsquo eacute Todas as pessoas que

roubam dinheiro puacuteblico devem ser despedidaslsquo (BRANQUINHO MURCHO

GOMES 2006 p 298)

Vamos observar o exemplo (7) de uma forma que o entimema seria evitado

(8) alsquo Todas as pessoas que perdem a cabeccedila morrem

a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito

b Joatildeo morreu

Podemos constatar no exemplo acima que ao incluirmos a sentenccedila (8alsquo) que eacute a

sentenccedila geral que estava impliacutecita no exemplo (7) resolvemos o problema do entimema

completando assim a relaccedilatildeo de acarretamento de (8alsquo) e (8a) para (8b)

A partir de agora vamos tratar de outro tipo de interferecircncia em relaccedilotildees sentencias

que estaacute tambeacutem no campo do leacutexico a vagueza

A vagueza eacute assim como a polissemia um tipo de ocorrecircncia que dificulta a

interpretaccedilatildeo dos nexos entre sentenccedilas Podemos considerar que haacute vagueza em uma

sentenccedila quando observamos que uma palavra ou expressatildeo causa sentido incompleto

impedindo o entendimento da sentenccedila como um todo Branquinho Murcho e Gomes

conceituam a vagueza de seguinte maneira

As liacutenguas naturais contecircm palavras (tipicamente predicados denotando

propriedades ou relaccedilotildees) cujo domiacutenio de aplicaccedilatildeo eacute parcialmente indeterminado

isto eacute em relaccedilatildeo agraves quais os falantes competentes natildeo estatildeo certos em todos os

casos de que determinado objeto (ou par ordenado de objetos) pertence ao conjunto

denotado por elas (ou agrave relaccedilatildeo) (BRANQUINHO MURCHO GOMES 2006 p

805)

De uma forma geral Allan (2010) caracteriza a vagueza como um tipo particular de

incerteza sobre a aplicaccedilatildeo de um predicado Podemos considerar como um exemplo padratildeo

de predicado vago a classe de adjetivos graduaacuteveis como altura Se uma determinada pessoa

41

natildeo eacute suficientemente alta para ser claramente alta e natildeo eacute suficiente baixa para ser

claramente baixa entatildeo aiacute temos um caso de vagueza

Os adjetivos vagos satildeo sempre utilizados em relaccedilatildeo a uma classe de comparaccedilatildeo no

dia-a-dia Estar acima do peso por exemplo pode variar a partir do grau de comparaccedilatildeo Para

uma top model estar acima do peso eacute visto de forma diferente do que para um lutador de

sumocirc por exemplo

Ainda em relaccedilatildeo ao conceito de vagueza Kempson (1977) propotildee que existem

quatro tipos inter-relacionaacuteveis de vagueza vagueza referencial indeterminaccedilatildeo de

significado falta de especificaccedilatildeo no significado de um item disjunccedilatildeo na especificaccedilatildeo do

significado de um item em que o significado abarca uma ou qualquer declaraccedilatildeo de diversas

possibilidades de interpretaccedilatildeo Dentre estes quatro tipos propostos por Kempson iremos nos

dedicar a observar os casos relacionados agrave vagueza referencial Tendo em vista os conceitos

acima vamos observar um exemplo em que a vagueza pode prejudicar a interpretaccedilatildeo de um

acarretamento

(9) a Tobias eacute um gecircnio no xadrez

b Tobias eacute um bom jogador de xadrez

No exemplo acima podemos observar os termos vagos ―gecircnio na sentenccedila (9a) e

―bom na sentenccedila (9b) Para haver a relaccedilatildeo de acarretamento temos que admitir para (9a) e

(9b) o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe Por exemplo haacute acarretamento entre as

sentenccedilas (9a) e (9b) se Tobias for um garoto de oito anos e diante seus colegas da escola ele

se destacar como um exiacutemio conhecedor das regras e teacutecnicas do jogo de xadrez Dessa

forma a sentenccedila ―Tobias eacute um gecircnio no xadrez acarretaria que ―Tobias eacute um bom jogador

de xadrez Jaacute se natildeo utilizarmos o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas

(9a) e (9b) como por exemplo se em (9a) Tobias for um garoto de oito anos que diante de

seus colegas da escola se destaca como um exiacutemio jogador de xadrez mas comparando-o

com os competidores da categoria secircnior do campeonato mundial de xadrez e a partir disso

afirmando (9b) natildeo poderiacuteamos acarretar que Tobias eacute um bom jogador de xadrez Dessa

forma pudemos observar que a presenccedila de termos vagos em sentenccedilas dificulta a

interpretaccedilatildeo dos acarretamentos A seguir observaremos outros nexos que se relacionam com

o acarretamento

42

22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA

Como discutimos anteriormente o acarretamento eacute uma relaccedilatildeo semacircntica que ocorre

em um uacutenico sentido ou seja das premissas para a conclusatildeo Quando uma conclusatildeo

acarreta as premissas chamamos essa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica

Para o termo ―equivalecircncia haacute diversas definiccedilotildees Segundo Branquinho Murcho e

Gomes (2006 p 281) podemos identificar dois sentidos distintos para este termo o primeiro

se refere ao que tratamos neste trabalho ou seja faz referecircncia a relaccedilatildeo entre as sentenccedilas de

certa liacutengua o segundo trata de determinados tipos de sentenccedilas declarativas agraves frases

bicondicionais ou declarativas Dentro desses dois sentidos diversos para o termo

―equivalecircncia no primeiro que eacute o que mais nos interessa os autores ainda distinguem trecircs

variedades centrais de equivalecircncia Satildeo elas equivalecircncia material equivalecircncia estrita e

equivalecircncia loacutegica

A equivalecircncia material eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q (por

exemplo) exatamente quando p e q possuem o mesmo valor de verdade ou seja quando ou

satildeo as duas verdadeiras juntas ou satildeo as duas falsas juntas

A equivalecircncia estrita eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q no caso em

que eacute necessaacuterio que p seja materialmente equivalente a q ou no caso de ser impossiacutevel tanto

que p seja verdadeira e q seja falsa quanto que p seja falsa e q seja verdadeira Branquinho

Murcho e Gomes (2006 p 281) afirmam que nesse caso diz-se que p eacute estritamente

equivalente a q

A equivalecircncia loacutegica eacute uma relaccedilatildeo que se estabelece entre duas sentenccedilas p e q

exatamente no caso de p e q serem duas sentenccedilas mutuamente dedutiacuteveis num dado sistema

loacutegico Diz-se nesse caso que p eacute logicamente equivalente a q

Em nosso trabalho iremos considerar para ―equivalecircncia o sentido apresentado por

Branquinho Murcho e Gomes (2006) para equivalecircncia material A partir deste conceito

vamos observar o exemplo a seguir

(10) a O gato matou o rato

b O rato foi morto pelo gato

Nas sentenccedilas acima podemos identificar uma relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica Eacute

impossiacutevel que o gato tenha matado o rato e que o rato natildeo tenha sido morto Claro que se

43

considerarmos que estamos tratando sobre o mesmo gato e o mesmo rato Dessa forma

sempre que (10a) for verdadeira (10b) tambeacutem teraacute de ser Tambeacutem podemos observar uma

relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica no exemplo (3) Utilizamos o exemplo (3) para mostrar

uma relaccedilatildeo de acarretamento que eacute efetiva mas tambeacutem haacute a relaccedilatildeo de equivalecircncia pois

as premissas ―Neymar eacute brasileiro e ―Neymar eacute um jogador de futebol acarretam que

―Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro da mesma forma que esta uacuteltima sentenccedila

acarreta as duas anteriores Tal exemplo reafirma o conceito descrito acima de que uma

equivalecircncia semacircntica eacute um acarretamento duplo

Assim como acontece no acarretamento a equivalecircncia semacircntica tem problemas com

a polissemia Vamos observar exemplo a seguir

(11) a O Brasil ganhou o jogo contra o Chile

b O Chile perdeu o jogo contra o Brasil

No exemplo acima vemos que a sentenccedila (11a) acarreta a sentenccedila (11b) ao mesmo

tempo em que a sentenccedila (11b) acarreta a sentenccedila (11a) Natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (11a)

seja verdadeira ao mesmo tempo em que a (11b) seja falsa Se uma das sentenccedilas eacute falsa e a

outra eacute verdadeira natildeo haacute acarretamento em nenhum dos dois ―sentidos (em relaccedilatildeo agrave

direccedilatildeo de (11a) para (11b) e de (11b) para (11a)) Natildeo podemos considerar que o Brasil

ganhou o jogo contra o Chile e que o Chile ganhou o jogo contra o Brasil pois sabemos que

em uma partida de futebol haacute apenas um ganhador Haacute a possibilidade de algueacutem querer ir

mais aleacutem e inferir que eacute possiacutevel que os dois times ganharam mas em jogos diferentes Se

considerarmos a situaccedilatildeo de que o Chile jaacute ganhou outros jogos contra o Brasil assim como

que o Brasil jaacute ganhou outros jogos contra o Chile a relaccedilatildeo de equivalecircncia seria possiacutevel

escolhendo qualquer outro jogo como referecircncia mas natildeo eacute o que nos interessa pois

devemos considerar apenas uma situaccedilatildeo para as duas sentenccedilas

A partir deste ponto iremos tratar sobre como a polissemia pode interferir na

interpretaccedilatildeo numa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica da mesma forma que mostramos

anteriormente nas relaccedilotildees de acarretamento Vejamos o proacuteximo exemplo

44

(12) a A lagosta estaacute mais salgada que o peixe

b O peixe estaacute menos salgado que a lagosta

Podemos observar que as sentenccedilas (12a) e (12b) satildeo equivalentes pelo fato de que

natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12a) seja verdadeira e a sentenccedila (12b) seja falsa assim como

natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12b) seja verdadeira e a sentenccedila (12a) seja falsa Poreacutem se

passarmos a admitir significados diferentes para expressotildees empregadas nas sentenccedilas por

exemplo para a palavra ―salgado encontraremos problemas Se admitirmos que sentenccedila

(12a) o conceito de ―salgado eacute de o alimento estar impregnado de sal salpicado de sal ou

com gosto de sal e se este conceito for tambeacutem considerado para a sentenccedila (12b) haacute

equivalecircncia semacircntica Mas tambeacutem podemos interpretar o termo ―salgado como uma

expressatildeo para se referir ao preccedilo alto do produto no mercado Soacute haacute equivalecircncia semacircntica

se admitirmos o mesmo conceito para ―salgado em ambas as sentenccedilas ou seja se

considerarmos o significado de ―salgado como sendo impregnado de sal para a sentenccedila

(12a) ou em (12b) como sendo relativo ao valor alto no mercado natildeo haacute equivalecircncia

semacircntica entre (12a) e (12b)

No proacuteximo exemplo trataremos de outro tipo de ocorrecircncia que dificulta a

interpretaccedilatildeo de nexos a vagueza Como jaacute apresentamos a definiccedilatildeo de vagueza na seccedilatildeo

anterior partiremos direto para o exemplo em que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo de uma

equivalecircncia semacircntica

(13) a Goacutergias eacute mais saacutebio que Hiacutepias

b Hiacutepias eacute menos saacutebio que Goacutergias

Na relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) haacute equivalecircncia semacircntica mas podemos identificar

que nas duas sentenccedilas foram utilizados termos vagos que tornam a interpretaccedilatildeo dificultosa

Em (13a) haacute o uso dos termos ―mais e ―saacutebio assim como em (13b) haacute o uso dos termos

―menos e ―saacutebio Esses termos satildeo vagos e dificultam a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo semacircntica

entre as sentenccedilas O que dificulta a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) eacute o fato de

que termos como ―mais e ―menos assim como ―saacutebio possuem significados diferentes de

acordo com as situaccedilotildees em que satildeo utilizadas Ou seja eacute necessaacuterio que admitamos o

45

mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas (13a) e (13b) Dessa forma haveraacute a

relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica

A seguir trataremos sobre outro tipo de relaccedilatildeo semacircntica entre sentenccedilas a

contraditoriedade

23 CONTRADITORIEDADE

Diferente da relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica que consiste em sentenccedilas que satildeo

verdadeiras juntas ou falsas juntas as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias quando uma eacute oposta da

outra tipicamente quando uma sentenccedila B eacute a negaccedilatildeo de uma sentenccedila A Sobre a relaccedilatildeo de

contraditoriedade Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 229) afirmam que ―obteacutem-se a

contraditoacuteria de qualquer proposiccedilatildeo p prefixando-lhe o operador de negaccedilatildeo de modo a

obter notp3 Com base no conceito de contraditoriedade exposto vamos observar o exemplo a

seguir

(14) a O Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016

b O Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016

Podemos observar no exemplo acima que se a sentenccedila (14a) for verdadeira

obrigatoriamente a sentenccedila (14b) tem que ser falsa Se a informaccedilatildeo da sentenccedila (14a) que

diz que o Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas for verdadeira a informaccedilatildeo da sentenccedila

(14b) que diz que o Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas natildeo pode ser verdadeira

Em relaccedilotildees de contraditoriedade o uso de uma afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo eacute algo

tiacutepico mas natildeo determinante No exemplo (14) pudemos observar a relaccedilatildeo de

contraditoriedade caracterizada pelo uso da negaccedilatildeo mas tambeacutem podemos encontrar esse

tipo de relaccedilatildeo sem tal uso Vejamos a seguir

3 O siacutembolo not na loacutegica claacutessica eacute a representaccedilatildeo do operador de negaccedilatildeo ldquonatildeordquo

46

(15) a Mecircnon estaacute acordado

b Mecircnon estaacute dormindo

A partir das sentenccedilas acima podemos ver que a relaccedilatildeo entre estas sentenccedilas eacute de

contraditoriedade pois se a sentenccedila (15a) for verdadeira a sentenccedila (15b) tem que ser falsa

da mesma forma que se a sentenccedila (15b) for verdadeira a sentenccedila (15a) deveraacute ser falsa

Natildeo eacute possiacutevel que Mecircnon esteja acordado e dormindo ao mesmo tempo claro que

considerando o mesmo sentido para as palavras ―acordado e ―dormindo nas duas sentenccedilas

e em relaccedilatildeo ao mesmo Mecircnon

Assim como as demais relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos anteriormente a

contraditoriedade tambeacutem eacute sensiacutevel agrave polissemia Vamos observar como a polissemia se

apresenta no exemplo a seguir

(14) a A minha gata estaacute acordada

b A minha gata estaacute dormindo

No exemplo acima natildeo encontramos apenas a relaccedilatildeo de contraditoriedade sem

utilizaccedilatildeo da negaccedilatildeo mas tambeacutem um problema de polissemia que pode anular a relaccedilatildeo de

contraditoriedade Se numa determinada situaccedilatildeo escrevendo este texto me viro na cadeira e

vejo em cima de minha cama o meu animal de estimaccedilatildeo deitado olhando para mim e com

isso afirmo ―a minha gata estaacute acordada como na sentenccedila (14a) natildeo posso considerar

verdadeira a sentenccedila (14b) pois natildeo se pode estar dormindo e estar acordado ao mesmo

tempo tomando as definiccedilotildees de ―estar acordado e ―estar dormindo como oposiccedilotildees A

partir disso as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias Se em outra situaccedilatildeo me viro na cadeira e vejo

minha esposa deitada na cama dormindo e afirmo ―a minha gata estaacute dormindo como na

sentenccedila (14b) ela natildeo pode ser verdadeira ao mesmo tempo em que a sentenccedila (14a) pois

minha esposa natildeo poderia estar acordada e dormindo ao mesmo tempo Ateacute o momento

pudemos atribuir dois sentidos diferentes para o termo ―gata Se considerarmos para a

sentenccedila (14a) o sentido de que o meu animal de estimaccedilatildeo estaacute acordado e para a sentenccedila

(14b) o sentido de que a minha esposa estaacute dormindo essas sentenccedilas natildeo satildeo contraditoacuterias

No exemplo acima percebemos portanto dois aspectos da contradiccedilatildeo em sentenccedilas de uma

liacutengua natural como o portuguecircs Primeiro que natildeo haacute a obrigatoriedade de ter a negaccedilatildeo de

47

uma sentenccedila para que a relaccedilatildeo de contraditoriedade exista e segundo que a polissemia

pode tornar problemaacutetica essa relaccedilatildeo

Podemos considerar uma relaccedilatildeo de contraditoriedade entre sentenccedilas sempre que A eacute

verdadeira B eacute falsa e sempre que a sentenccedila B eacute verdadeira A eacute falsa Ou seja as sentenccedilas

A e B nunca podem ser verdadeiras ou falsas juntas

O exemplo de contraditoriedade que mostramos anteriormente foi relacionando duas

sentenccedilas mas podemos encontrar a relaccedilatildeo de contraditoriedade dentro de uma sentenccedila

apenas Vamos observar o exemplo a seguir

(15) Herbert Vianna eacute cantor e natildeo eacute cantor

Se afirmamos que uma pessoa eacute e natildeo eacute cantora constatamos uma contraditoriedade

nesta sentenccedila Em (15) encontramos a apresentaccedilatildeo de um argumento e a negaccedilatildeo do mesmo

argumento em seguida Uma sentenccedila com esta forma natildeo pode ser verdadeira Se

consideramos numa mesma situaccedilatildeo que Herbert Vianna eacute cantor e em seguida afirmo que

Herbert Vianna natildeo eacute cantor esta sentenccedila eacute contraditoacuteria

Se partirmos para determinar sentidos diferentes para o termo ―cantor como por

exemplo que Herbert Vianna eacute um cantor pelo simples fato de que ele emite pelas cordas

vocais sons musicais que ―cantor eacute um termo que soacute pode ser utilizado para os profissionais

que trabalham com a voz na muacutesica ou que ―cantor se jaacute um termo utilizado para designar

algueacutem que canta muito bem natildeo haacute contraditoriedade efetivamente Mas se mantivermos o

mesmo sentido para o termo haveraacute relaccedilatildeo de contraditoriedade

Da mesma forma que a polissemia dificulta a interpretaccedilatildeo de nexos entre sentenccedilas

vamos observar um exemplo em que a vagueza ndash toacutepico que desenvolvemos na primeira

seccedilatildeo deste capiacutetulo - invalida uma relaccedilatildeo de contraditoriedade

(16) a O professor de loacutegica eacute muito alto

b O professor de loacutegica natildeo eacute muito alto

Na relaccedilatildeo entre (16a) e (16b) seguindo o conceito contraditoriedade haacute uma relaccedilatildeo

de contradiccedilatildeo entre as duas sentenccedilas poreacutem podemos identificar termos vagos nas duas

sentenccedilas o que pode dificultar a interpretaccedilatildeo Na sentenccedila (16a) e na sentenccedila (16b)

48

identificamos dois termos vagos que satildeo ―muito e ―alto Eacute possiacutevel considerar as duas

sentenccedilas como falsas ou verdadeiras juntas invalidando a contraditoriedade pois os termos

―muito e ―alto satildeo variaacuteveis de acordo com o grau de comparaccedilatildeo adotado Por exemplo

em (16a) o professor de loacutegica pode ser considerado muito alto em comparaccedilatildeo agraves crianccedilas

para quem ele leciona poreacutem se compararmos o professor de loacutegica da sentenccedila (16a) com os

outros professores do departamento talvez o professor fosse considerado baixo Desta forma

podemos observar que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo das duas sentenccedilas

A seguir traremos o uacuteltimo nexo semacircntico que utilizaremos em nosso trabalho Este

tipo de relaccedilatildeo eacute um pouco parecido com a contraditoriedade

24 CONTRARIEDADE

A contrariedade ocorre quando duas sentenccedilas podem ser falsas juntas mas natildeo

podem ser verdadeiras juntas Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 234) definem

contrariedade da seguinte forma ―duas proposiccedilotildees satildeo contraacuterias se natildeo podem ser ambas

verdadeiras mas podem ser ambas falsas distinguindo-se assim das contraditoacuterias que natildeo

podem ser ambas verdadeiras nem ambas falsas e das subcontraacuterias que natildeo podem ser

ambas falsas mas podem ser ambas verdadeiras

Eacute importante enfatizar que mesmo estando tratanto dos nexos semacircnticos e sua

aplicaccedilatildeo em liacutengua natural os conceitos de sentenccedilas contraacuterias contraditoacuterias

equivalecircncias e acarretamentos tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica As relaccedilotildees de sentenccedilas

contraacuterias e contraditoacuterias satildeo tratadas por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado

atraveacutes de seu quadrado loacutegico ou taacutebua de oposiccedilotildees No Perieacutermeneas (1985) mais

especificamente nos capiacutetulos 6 e 7 Aristoacuteteles nos apresenta os conceitos de sentenccedilas

contraacuterias e contraditoacuterias afirmando que duas sentenccedilas satildeo contraacuterias quando natildeo podem

ser verdadeiras juntas ao mesmo tempo mas podem ser falsas juntas ao mesmo tempo Jaacute em

relaccedilatildeo agraves contraditoacuterias Aristoacuteteles propotildee que toda afirmaccedilatildeo possui sua exata negaccedilatildeo

correspondente e que toda afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo sem opotildeem sendo uma sempre

verdadeira e a outra sempre falsa Dessa forma para Aristoacuteteles um par formado por uma

afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo corresponde a uma contradiccedilatildeo

A partir do conceito de contrariedade vamos observar o exemplo a seguir Nele

encontraremos um caso de polissemia

49

(17) a A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 20 de agosto de 1914

b A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 18 de julho de 1921

Se admitirmos que a seleccedilatildeo brasileira de futebol sobre a qual estamos falando na

sentenccedila (17a) eacute a mesma seleccedilatildeo que estamos falando na sentenccedila (17b) natildeo eacute possiacutevel que

a sentenccedila (17b) seja verdadeira pois algo natildeo pode ser fundado efetivamente em dois

momentos distintos Haacute a possibilidade de se afirmar que estamos falando de duas seleccedilotildees

brasileiras de futebol diferentes pois para ―seleccedilatildeo brasileira haacute diversos significados

aplicaacuteveis ou seja a expressatildeo ―seleccedilatildeo brasileira eacute polissecircmica Por exemplo podemos

definir uma seleccedilatildeo como sendo de futebol de campo e a outra de futebol de salatildeo A partir

dessa interpretaccedilatildeo as duas sentenccedilas poderiam ser verdadeiras juntas e com isso natildeo

haveria contrariedade Mas como devemos admitir apenas uma situaccedilatildeo para as duas

sentenccedilas (17a) e (17b) natildeo podem ser verdadeiras juntas mas podem ser falsas juntas

constituindo uma relaccedilatildeo de contrariedade Eacute possiacutevel que a seleccedilatildeo brasileira de futebol natildeo

tenha sido formada nem em 20 de agosto de 1914 e nem em 18 de julho de 1921 Em

contrapartida numa interpretaccedilatildeo usual a seleccedilatildeo de futebol de um paiacutes eacute formada pela

primeira vez uma soacute vez Algueacutem pode querer ir aleacutem e afirmar que foram empregados

sentidos diferentes para a expressatildeo ―foi formada nas sentenccedilas em questatildeo Poderia dizer

que na sentenccedila (17a) o sentido foi de que a seleccedilatildeo se reuniu pela primeira vez para jogarem

juntos de forma extraoficial e que na sentenccedila (17b) o sentido foi de que a seleccedilatildeo

efetivamente foi documentalmente formada Se admitiacutessemos essas interpretaccedilotildees as

sentenccedilas (17a) e (17b) poderiam ser verdadeiras juntas o que descaracterizaria a relaccedilatildeo de

contrariedade entre as sentenccedilas Assim como o fato de que se a sentenccedila (17a) for falsa a

sentenccedila (17b) pode ser verdadeira ou falsa A falsidade da sentenccedila (17a) natildeo assegura a

verdade da sentenccedila (17b) Podemos entender dessa forma que a polissemia afeta a

interpretaccedilatildeo do nexo

Vamos observar mais um exemplo desta relaccedilatildeo

(18) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado do Acre

b A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado de Santa Catarina

50

Se considerarmos a sentenccedila (18a) verdadeira ou seja que a reitoria da UNISUL estaacute

localizada no estado do Acre e tambeacutem levando em conta que a UNISUL eacute uma universidade

que tem uma reitoria e que a reitoria de uma universidade soacute pode estar numa cidade a

sentenccedila (18b) deveraacute ser falsa A sentenccedila (18a) eacute falsa e a sentenccedila (18b) eacute verdadeira e as

duas estabelecem uma relaccedilatildeo de contrariedade A reitoria da UNISUL estaacute localizada no

estado de Santa Catarina e natildeo no estado do Acre A partir desse exemplo e da convenccedilatildeo que

admitimos para ele pudemos observar que se uma sentenccedila A for falsa uma sentenccedila B pode

ser falsa ou verdadeira natildeo podendo ser as duas verdadeiras juntas apenas falsas Ilustrando

mais uma vez veja a relaccedilatildeo a seguir

(19) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Paris

b A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Roma

No exemplo acima podemos afirmar que as sentenccedilas (19a) e (19b) podem ser falsas

pois como jaacute citamos no paraacutegrafo anterior a reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado

de Santa Catarina Dessa forma haacute relaccedilatildeo de contrariedade as duas sentenccedilas satildeo falsas

Jaacute tratamos de exemplos da relaccedilatildeo de contrariedade com problemas de polissemia

mas podemos tambeacutem identificar problemas de validade dos nexos por causa da vagueza A

seguir observe o exemplo

(20) a Este cafeacute estaacute forte

b Este cafeacute estaacute aguado

Observando as sentenccedilas acima identificamos que (20a) e (20b) possuem termos

vagos que podem dificultar a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre as sentenccedilas Em (20a) foi usado

o termo ―forte e em (20b) foi usado o termo ―aguado Como nas outras relaccedilotildees que

apresentamos anteriormente esses termos satildeo vagos pois dependendo da classe de

comparaccedilatildeo em que satildeo apresentados eles podem mudar de sentido Eacute possiacutevel que numa

determinada situaccedilatildeo consideremos que um cafeacute pode natildeo estar nem forte nem fraco

autorizando a possibilidade de (20a) e (20b) serem as duas falsas ao mesmo tempo

descaracterizando a relaccedilatildeo de contrariedade Dessa forma podemos observar que os termos

51

vagos dificultam a interpretaccedilatildeo das sentenccedilas consequentemente da relaccedilatildeo que as

sentenccedilas estabelecem entre si Concluindo a exposiccedilatildeo dos nexos que nos interessam neste

trabalho apresentaremos a seguir a justificativa de nosso percurso sobre estas relaccedilotildees

semacircnticas e os tipos de ocorrecircncias que podem dificultar a interpretaccedilatildeo destas

25 JUSTIFICANDO O PERCURSO

Neste capiacutetulo apresentamos inicialmente os conceitos de semacircntica e pragmaacutetica

com o objetivo de mostrar que os nexos semacircnticos que tratamos em nosso trabalho

(acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e contrariedade) satildeo tipos de

inferecircncias que pertencem ao campo da semacircntica Para isso tambeacutem apresentamos duas

inferecircncias que pertencem ao campo da pragmaacutetica (pressuposiccedilatildeo e implicatura)

Na exposiccedilatildeo de cada nexo trouxemos os conceitos seguidos de exemplos em que a

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees semacircnticas eacute clara Em seguida apresentamos exemplos de nexos

com dois tipos de ocorrecircncias que no campo do leacutexico dificultam a interpretaccedilatildeo das

relaccedilotildees semacircnticas a polissemia e a vagueza

Pode parecer confuso a princiacutepio o fato de tratarmos de tipos de inferecircncia que

dependem da forma para se concretizarem (os nexos semacircnticos) relacionando-as com

ocorrecircncias que dificultam o entendimento do conteuacutedo das sentenccedilas (a polissemia e a

vagueza) A confusatildeo se apresenta caso natildeo lembremos que estamos tratando das relaccedilotildees de

inferecircncias em liacutengua natural e natildeo numa liacutengua controlada como num sistema loacutegico por

exemplo

Quando afirmamos que as relaccedilotildees entre sentenccedilas que tratamos em nosso trabalho

dependem da forma falamos de uma ―dessemantificaccedilatildeo ou seja a existecircncia dos nexos vai

depender unicamente da semacircntica dos quantificadores e conectivos (e ou se) Os nexos natildeo

dependem da semacircntica restante do material linguiacutestico exposto na sentenccedila A semacircntica dos

conectivos e quantificadores numa linguagem formal eacute mantida estaacutevel por definiccedilatildeo Na

linguagem natural podemos observar que os tipos de ocorrecircncia que dificultam a

interpretaccedilatildeo dos nexos se fazem presentes justamente no restante do material linguiacutestico da

sentenccedila ou seja para aleacutem da estrutura da sentenccedila que eacute composta pelos quantificadores e

demais conectivos

52

A polissemia e a vagueza satildeo ocorrecircncias tiacutepicas de liacutengua natural e dessa forma

somos obrigados a admitir que ao nos depararmos com qualquer gecircnero textual (que

obviamente estaacute no campo das liacutenguas naturais) numa anaacutelise devemos considerar que o

significado das palavras vai naturalmente interferir nas relaccedilotildees semacircnticas Tambeacutem na

exposiccedilatildeo de tipos de ocorrecircncias que interferem nos nexos semacircnticos tratamos de falaacutecias

que satildeo argumentos invaacutelidos apresentados como vaacutelidos explorando justamente a

interpretaccedilatildeo do conteuacutedo das sentenccedilas

A partir dos nexos semacircnticos que tratamos neste capiacutetulo junto com os tipos de

inferecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees no capiacutetulo seguinte

apresentaremos a anaacutelise de certificados de garantia Como o nosso objetivo eacute analisar quais

satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados nos certificados para restringir possibilidades de

interpretaccedilatildeo decidimos realizar a anaacutelise de ocorrecircncias com conectivos e quantificadores

Consideramos pertinente a escolha desse tipo de anaacutelise pois entendemos que os

quantificadores como o ―todo satildeo tradicionalmente apresentados em relaccedilotildees semacircnticas de

restriccedilatildeo ou abrangecircncia assim como o condicional ―se ou ―somente se e o ―apenas e

―somente A partir desse raciociacutenio acreditamos que esta seria a forma mais correta para

identificarmos ocorrecircncias do tipo que precisamos para a realizaccedilatildeo de nossa anaacutelise Os

nexos semacircnticos natildeo satildeo propiacutecios para as liacutenguas naturais pois natildeo se apresentam de forma

controlada Ocorrecircncias lexicais como as que descrevemos anteriormente podem dificultar a

interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees e isso eacute algo que trataremos nas anaacutelises

Eacute nesta perspectiva que observaremos no capiacutetulo seguinte as anaacutelises de vinte e dois

certificados de garantia nos quais natildeo buscaremos relaccedilotildees bem marcadas e controladas entre

sentenccedilas pois natildeo encontrariacuteamos facilmente mas sim quais satildeo os recursos linguiacutesticos

utilizados pelos autores dos textos para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo

admitindo tambeacutem obviamente os nexos semacircnticos como possiacuteveis recursos

53

3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA

Os certificados de garantia satildeo textos muito presentes em nosso cotidiano e muitas das

vezes noacutes natildeo levamos em conta a sua importacircncia tanto por serem documentos que podem

resguardar nossos direitos sobre um determinado produto quanto pelo fato de natildeo sermos

treinados para ler e interpretar devidamente as informaccedilotildees dispostas nos textos Dessa

forma justificamos a escolha de tal gecircnero para analisarmos em nossa pesquisa Ateacute este

momento de nosso trabalho seguimos o seguinte percurso

1) Mostramos no primeiro capiacutetulo que na elaboraccedilatildeo de certificados de garantia o

autor deve se preocupar em construir o texto buscando restringir ao maacuteximo as

possibilidades de interpretaccedilatildeo para que ele se torne mais eficiente em passar as

informaccedilotildees desejadas e para evitar problemas de interpretaccedilatildeo por parte dos

clientes

2) Tendo em vista que os certificados de garantia satildeo textos instrucionais ou seja

que direcionam a leitura para um fim especiacutefico nossa anaacutelise tem por objetivo

verificar quais satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores destes textos

para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo e para alcanccedilar este objetivo nos

utilizaremos da teoria dos nexos semacircnticos apresentada no segundo capiacutetulo

Como anunciado na introduccedilatildeo o corpus dessa pesquisa eacute formado por 22

certificados de garantia de produtos de diversos segmentos Ele foi coletado utilizando a

internet e natildeo teve um meacutetodo definido de categorizaccedilatildeo na escolha dos textos Decidimos

escolher certificados de diversos segmentos para natildeo obtermos uma anaacutelise viciada e tambeacutem

para obtermos um panorama da estrutura textual

Como analisaremos os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores dos certificados

de garantia para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo elegemos trecircs categorias de

termos a serem analisadas quantificadores universais condicionais e uso do apenassomente

A escolha dessas categorias se deve ao fato delas possuiacuterem tradicionalmente funccedilotildees de

restriccedilatildeo ou abrangecircncia em inferecircncias

Assim como na loacutegica de predicados a silogiacutestica se caracteriza pelo uso dependente

em argumentos dos quantificadores ―alguns e ―todos Nomeamos de quantificador

existencial ou particular aqueles referentes a ―alguns e nomeamos de quantificador universal

aqueles referentes a ―todos (MURCHO 2006) Utilizaremos em nossa pesquisa agraves

ocorrecircncias com quantificadores do segundo tipo Vejamos um exemplo ilustrativo

54

(21) TODO produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia

Possivelmente natildeo encontraremos em nossa anaacutelise nenhuma sentenccedila como esta pois

vemos que o quantificador universal destacado em letras maiuacutesculas abrange totalmente a

possibilidade de cobertura da garantia de um produto Da forma que estaacute expressa se compro

uma TV por exemplo e a mergulho na aacutegua causando defeito poderei receber outra nova do

fabricante pois ―todo produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia

Sobre os condicionais trataremos a anaacutelise na mesma linha de raciociacutenio pois eles

satildeo utilizados em proposiccedilotildees do tipo ―se X entatildeo Y oportunizando abrangecircncia ou

restriccedilatildeo de possibilidades de interpretaccedilatildeo como podemos ver ilustrado no exemplo a

seguir

(22) SE o produto apresentar defeito seraacute reparado gratuitamente

Da mesma forma como mostramos no exemplo anterior provavelmente natildeo

encontraremos sentenccedilas tatildeo abrangentes em nosso corpus como esta pois da forma como

estaacute posta ampliaria muito a possibilidade de cobertura da garantia de um produto Podemos

interpretar a partir da leitura da sentenccedila acima que o reparo do produto seraacute efetuado caso o

produto apresente qualquer defeito por qualquer motivo durante qualquer periacuteodo de tempo

sendo utilizado por qualquer pessoa e em qualquer circunstacircncia entre outras possibilidades

Para reparar tamanha abrangecircncia os autores dos textos podem utilizar listas exaustivas com

detalhes especiacuteficos apoacutes a apresentaccedilatildeo dos condicionais para direcionar efetivamente a

cobertura da garantia

Por fim em relaccedilatildeo ao uso dos termos ―apenas e ―somente analisaremos os termos

nos contextos que os autores buscam restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos textos

Vejamos o exemplo a seguir

(22) Estaratildeo cobertos pela garantia APENAS os produtos que natildeo estatildeo em

promoccedilatildeo

55

No exemplo acima tambeacutem inventado vemos que o ―apenas aparece como um

restritor da garantia deixando claro que soacute os produtos que foram adquiridos pelos preccedilos

normais ou seja fora da promoccedilatildeo estaratildeo cobertos pela garantia Dessa forma produtos em

promoccedilatildeo ficam descobertos

Com os conceitos sobre as categorias de anaacutelise dispostos acima apresentaremos a

seguir a anaacutelise dos trechos coletados em nosso corpus separada por tipos de ocorrecircncia

Iremos observar como se apresentam os quantificadores condicionais ocorrecircncias com o

apenassomente assim como observaremos os tipos de ocorrecircncias no campo do leacutexico que

dificultam a interpretaccedilatildeo dos trechos (polissemia e vagueza)

31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL

Vejamos a seguir as ocorrecircncias4 em que o quantificador universal eacute utilizado

5

(1) Este produto e as peccedilas substituiacutedas seratildeo garantidos pelo restante do

prazo original TODAS as peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades

da SAMSUNG

Podemos observar na ocorrecircncia acima que o fabricante utiliza o quantificador para

fazer com que o leitor infera que absolutamente todas as peccedilas que forem substituiacutedas na

assistecircncia a algum aparelho defeituoso se tornaratildeo propriedade da fabricante Dessa forma o

cliente natildeo poderaacute em hipoacutetese alguma ficar com a peccedila trocada

Percebemos no trecho acima que o quantificador universal ―todas poderia ser

excluiacutedo da sentenccedila e com isso em nada alteraria o sentido da sentenccedila Forccedilando uma

possiacutevel interpretaccedilatildeo da sentenccedila o leitor poderia afirmar que se a sentenccedila fosse disposta

da seguinte maneira ―As peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades da SAMSUNG

poderia existir uma classe de peccedilas eletrocircnicas de produtos SAMSUNG que

4 Utilizaremos o termo ldquoocorrecircnciardquo tanto para se referir ao trecho completo do corpus quanto para a

sentenccedila em que o conectivo grifado se apresenta Natildeo faremos distinccedilatildeo para este uso 5 Para a exibiccedilatildeo das ocorrecircncias do nosso corpus reiniciaremos a numeraccedilatildeo natildeo seguindo a contagem

realizada para os exemplos dos capiacutetulos anteriores

56

tradicionalmente fossem substituiacutedas em manutenccedilotildees mas natildeo recolhidas pelo fabricante

Dessa forma o quantificador universal ―todas se mostraria como a soluccedilatildeo para esse

problema de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos

na ocorrecircncia6 (1)

(2) Esta garantia substitui TODAS as outras garantias expressas ou

taacutecitas incluindo sem limitaccedilatildeo garantias taacutecitas de comercializaccedilatildeo

e adequaccedilatildeo a um fim especiacutefico

(Certificado 1)

Nesta ocorrecircncia o fabricante utiliza o quantificador para abranger ao maacuteximo seu

texto no intuito de inferir que a garantia em anaacutelise se sobrepotildee a qualquer outro tipo de

garantia oferecida ao cliente

Podemos observar que se o quantificador universal ―todas natildeo fosse utilizado o

sentido da sentenccedila permaneceria o mesmo Se tiveacutessemos encontrado a sentenccedila da forma

―Esta garantia substitui as outras garantias o cliente iria interpretar a sentenccedila sem

dificuldades O uso do quantificador aparece como um termo para dar ecircnfase ao que jaacute estaacute

dito na sentenccedila acima Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos na

ocorrecircncia (2)

(3) TODO atendimento de reparo deve ser precedido de ligaccedilatildeo

telefocircnica ao Suporte Teacutecnico Telefocircnico da AOC (0800-10-9539)

para que seja feita uma avaliaccedilatildeo preacutevia do problema a fim de

constatar a existecircncia de defeito ou viacutecio do produto esgotando-se

TODAS as possibilidades de se tratar de uma falha de operaccedilatildeo ou

uso do produto por parte do consumidor

(Certificado 4)

No trecho acima podemos observar que na primeira ocorrecircncia do quantificador o

fabricante utiliza-o para inferir que o cliente em qualquer caso de submissatildeo do aparelho agrave

assistecircncia deve entrar em contato com o suporte teacutecnico telefocircnico da empresa e ainda

6 Decidimos pontuar no final de cada anaacutelise o fato de haver ou natildeo termos polissecircmicos ou vagos nas

ocorrecircncias porque consideramos estes tipos de ocorrecircncias como sendo os principais meios de dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos instrucionais Ao anunciar que natildeo haacute termos dessas categorias em cada anaacutelise por mais que se mostre repetitivo na leitura ao mesmo tempo invoca a importacircncia (e necessidade segundo nossa perspectiva) que depositamos nesses fatos em cada ocorrecircncia

57

reforccedila utilizando outra vez o quantificador ―todas inferindo que o produto soacute iraacute para a

assistecircncia efetivamente caso natildeo haja mais nenhuma possibilidade de resoluccedilatildeo do problema

atraveacutes do contato telefocircnico Ao utilizar esse reforccedilo o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo ao

fato de que por exemplo o problema possa ser resolvido atraveacutes de instruccedilotildees passadas pela

empresa via telefone ao cliente e o cliente natildeo aceitar e exigir que o produto seja reparado

somente na assistecircncia teacutecnica ou simplesmente para evitar que a assistecircncia teacutecnica receba

algum produto que natildeo estaacute defeituoso ou viciado

Diferente da ocorrecircncia (2) o uso do quantificador universal ―todo se faz necessaacuterio

para evitar que o cliente interprete a sentenccedila de uma forma indesejada por parte do

fabricante Por exemplo caso o autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todo na

primeira parte ―Todo atendimento de reparo deve o cliente poderia interpretar que ele

poderia obter atendimento de reparo sem passar pelo contato telefocircnico com o suporte teacutecnico

do fabricante Na utilizaccedilatildeo do quantificador universal ―todas no final da sentenccedila tambeacutem

observamos que se o autor do texto natildeo utilizasse esta estrateacutegia tambeacutem possibilitaria que o

texto fosse interpretado de outra maneira Se o cliente se deparasse com a sentenccedila

―esgotando-se as possibilidades de se tratar de uma falha poderia interpretar que se para

algum tipo de falha de operaccedilatildeo ou seja de utilizaccedilatildeo do produto haveria a possibilidade de

enviar o produto para assistecircncia teacutecnica Como o autor utilizou o quantificador nas duas

passagens que citamos ele direcionou a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha

duacutevidas sobre aquilo que o fabricante deseja expressar

Sobre tipos de ocorrecircncia que dificultam a interpretaccedilatildeo do texto pudemos identificar

a expressatildeo ―viacutecio do produto Esta expressatildeo eacute muito especiacutefica e estaacute presente no Coacutedigo

de defesa do consumidor Segundo Bruno Miragem (2008) ―Viacutecio do produto ou do serviccedilo

abrange o efeito decorrente da violaccedilatildeo aos deveres de qualidade quantidade ou informaccedilatildeo

impedindo com isso que o produto ou serviccedilo atenda aos fins que legitimamente dele se

esperam (dever da adequaccedilatildeo) O autor do certificado natildeo disponibilizou nenhum conceito

para a expressatildeo ―viacutecio do produto apresentando desta forma uma dificuldade a mais para

a interpretaccedilatildeo do texto por parte do cliente Caso o autor tenha elaborado o texto

considerando por exemplo que qualquer pessoa que leia um certificado de garantia deve ser

conhecedor de todos os termos e expressotildees descritas no CDC (a partir desse ponto iremos

utilizar esta sigla para ―coacutedigo de defesa do consumidor) natildeo haveria problema em

simplesmente usar o termo sem conceituar mas isso natildeo eacute pertinente Para evitar que esta

expressatildeo natildeo fosse polissecircmica o autor deveria ter elaborado um mini-glossaacuterio com os

termos que seriam usuais no texto e que possuem um sentido especiacutefico no ramo em que o

58

produto estaacute inserido (por exemplo peccedilas de carros ou peccedilas eletrocircnicas) e no CDC7

(4) A Garantia do Produto oferecida por este Termo abrange TODOS os

defeitos de material ou de fabricaccedilatildeo do aparelho constatados pela

Robert Bosch Ltda bem como a substituiccedilatildeo das peccedilas que

apresentarem viacutecios aleacutem da matildeo-de-obra utilizada no respectivo

reparo

(Certificado 8)

No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador ―todos para assegurar ao cliente

que em qualquer caso em que o produto possua defeito de material ou de fabricaccedilatildeo a

garantia estaraacute assegurada Aleacutem de assegurar isso tambeacutem garante a substituiccedilatildeo da peccedila do

aparelho que estiver com problema e a matildeo-de-obra tudo por conta do fabricante Caso o

autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todos ele poderia abrir margem para

outras interpretaccedilotildees como por exemplo que esta garantia natildeo abrange qualquer defeito do

produto constatado pelo fabricante Eacute interessante citar que a utilizaccedilatildeo do quantificador

―todos foi realizada beneficiando o fabricante pois mesmo afirmando que a ―garantia

abrange todos os defeitos o autor direciona para ―todos os casos que forem constatados

pelo fabricante Ou seja fica a criteacuterio do fabricante decidir o que eacute defeito e o que natildeo eacute

Assim como na ocorrecircncia (3) identificamos o uso do termo ―viacutecios que natildeo tem o

seu conceito descrito no texto do certificado O termo ―viacutecio natildeo eacute utilizado em nosso

cotidiano como algo vinculado a um objeto Geralmente conceituamos esse termo como

referente agrave dependecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica em relaccedilatildeo a uma substacircncia Tambeacutem podemos

conceituar como uma mania (costume de fazer sempre a mesma coisa) Enfim o termo

utilizado da forma em que foi descrita em (4) necessitaria que em alguma parte do texto

aparecesse o conceito para este termo que deve ser interpretado de forma especiacutefica pois eacute

um termo teacutecnico apresentado no CDC e muitas das vezes o cliente natildeo tem conhecimento

deste conceito favorecendo dificuldades a interpretaccedilatildeo do texto

(5) TODOS os eventuais danos ou demoras resultantes da natildeo

observacircncia dessas recomendaccedilotildees fogem agrave responsabilidade da APC

(Certificado 7)

7 Sobre esta estrateacutegia de eliminaccedilatildeo da polissemia e vagueza atraveacutes do uso de um glossaacuterio por autores de

textos instrucionais ver Estrela e Santos (2014)

59

Na ocorrecircncia acima a empresa APC se resguarda de qualquer responsabilidade sobre

o produto caso o cliente natildeo siga as recomendaccedilotildees dadas pelo fabricante Para isso utiliza o

quantificador universal para abranger ao maacuteximo as possibilidades de natildeo cobertura

favorecendo o fabricante Observamos que a utilizaccedilatildeo do quantificador na ocorrecircncia (5)

serviu para intensificar o que foi descrito na sentenccedila Caso natildeo fosse utilizado poderia

deixar margem para outras interpretaccedilotildees como por exemplo que poderia existir algum tipo

de dano eventual que fosse de responsabilidade do fabricante O quantificador ―todos

elimina esse tipo de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos

polissecircmicos na ocorrecircncia (5)

(6) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA garante e consequentemente

compromete-se a reparar ou substituir pelo prazo abaixo indicado

contado a partir da data indicada no documento fiscal representativo

de venda do veiacuteculo Hyundai TODAS as peccedilas que em serviccedilo

normal apresentem defeito de fabricaccedilatildeo ou de material desde que

observadas as respectivas condiccedilotildees sob pena de ser

automaticamente considerado cancelado o presente Certificado de

Garantia independentemente de qualquer aviso ou notificaccedilatildeo

(Certificado 17)

No trecho acima podemos observar que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se daacute

de forma bastante controlada Mesmo o termo ―todas sendo naturalmente utilizado para

abranger ou restringir ao maacuteximo inferecircncias na ocorrecircncia acima vemos sua utilizaccedilatildeo

dependendo de vaacuterios aspectos para se concretizar A Hyundai se compromete em reparar ou

substituir ―todas as peccedilas dos veiacuteculos que estiverem dentro de todas as caracteriacutesticas

descritas antes do termo ser usado como estar dentro do prazo estabelecido pelo fabricante

apresentarem defeito de fabricaccedilatildeo ou material e aleacutem disso observando os procedimentos

detalhados pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o quantificador universal eacute

utilizado de forma controlada pelo fabricante restringindo ao seu sabor as possibilidades de

validade da garantia

(7) TODA revisatildeo deveraacute ser registrada no quadro de registro de revisotildees

para assegurar a garantia de seu veiacuteculo

(Certificado 17)

60

Na ocorrecircncia acima observamos que o fabricante utilizou o quantificador universal

para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente da seguinte forma o

cliente que possui um veiacuteculo na garantia poderia interpretar por exemplo caso natildeo houvesse

a utilizaccedilatildeo do quantificador ―toda na sentenccedila (7) fazer as revisotildees do veiacuteculo em qualquer

oficina e natildeo registrar as mudanccedilas feitas no carro em lugar algum natildeo perdendo a garantia

do veiacuteculo O quantificador universal ―toda direciona a interpretaccedilatildeo da inferecircncia para que

o cliente efetue qualquer revisatildeo do veiacuteculo numa concessionaacuteria do fabricante e aleacutem disso

ter as revisotildees registradas no quadro de registro de revisotildees do fabricante Na ocorrecircncia (7)

natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos

(8) TODOS aparelhos da ONEAL saem da faacutebrica preacute-ajustados em

220V

(Certificado 5)

Nesta ocorrecircncia (8) o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para

abranger a informaccedilatildeo de que qualquer produto produzido por ele eacute ajustado em 220V

resguardando-se de por exemplo um questionamento de algum cliente sobre o

funcionamento de qualquer produto em outra voltagem ou utilizaccedilatildeo do produto em outra

voltagem ocasionando defeito no produto Caso isso ocorra o fabricante natildeo poderaacute ser

responsabilizado pois a partir da ocorrecircncia (8) ele explica a voltagem a ser utilizada natildeo

garantindo o funcionamento do produto em outras voltagens Na ocorrecircncia (8) observamos

que se o fabricante natildeo tivesse utilizado o quantificador universal ―todo natildeo alteraria a

interpretaccedilatildeo da sentenccedila Podemos entender que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal na

ocorrecircncia (8) serviu apenas para intensificar a informaccedilatildeo da sentenccedila

(9) TODOS nossos produtos satildeo testados durante horas nos mais severos

regimes antes de serem aprovados para o mercado

(Certificado 5)

No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para abranger a

interpretaccedilatildeo da inferecircncia Dessa forma o fabricante tenta nos levar a interpretar a

61

ocorrecircncia (9) da seguinte forma qualquer produto produzido por este fabricante eacute testado de

forma rigorosa antes de ser despachado para comercializaccedilatildeo Essa interpretaccedilatildeo eacute dificultada

pela presenccedila de termos vagos Ao utilizar a expressatildeo ―durante horas nos mais severos

regimes o fabricante natildeo teve o cuidado de atrelar essa informaccedilatildeo agrave classe de comparaccedilatildeo

na qual o cliente deve se basear para interpretar a sentenccedila da forma como o fabricante

deseja Ao afirmar que os produtos satildeo testados ―durante horas o fabricante natildeo especificou

por quantas horas os produtos satildeo testados e o que isso representa Por exemplo para

produtos X identificados como em bom funcionamento deve-se testaacute-los durante Y horas

segundo o manual Z que regulamenta a qualidade dos produtos X Aleacutem disso o fabricante

ainda afirma sobre os testes que satildeo ―nos mais severos regimes cometendo a mesma falha

da expressatildeo anterior natildeo descrevendo o que eacute isso e o que isso representa A expressatildeo eacute

vaga pois esses regimes de testes satildeo severos em relaccedilatildeo a quecirc Como natildeo haacute um grau de

comparaccedilatildeo de classe o cliente pode interpretar a ocorrecircncia de formas diversas Se o

fabricante tivesse especificado em algum lugar do texto que a expressatildeo ―nos mais severos

regimes deveria ser comparada por exemplo a um tipo de teste que coloca os produtos em

condiccedilotildees extremas para averiguar a sua qualidade durabilidade e bom funcionamento que eacute

norma padratildeo de qualidade para os produtos que ele estaacute justificando em (9) natildeo haveria

vagueza Do modo como a ocorrecircncia se apresenta as informaccedilotildees ―durante horas e ―nos

mais severos regimes satildeo vagas e dificultam a interpretaccedilatildeo da sentenccedila

(10) A ONEAL garante TODOS os seus produtos por um periacuteodo de 01

(um) ano jaacute incluiacutedo o periacuteodo de garantia legal (os primeiros 90 dias)

a partir da data da compra para problemas mecacircnicos ou por falhas

industriais em montagem e pintura

(Certificado 5)

Podemos observar na ocorrecircncia (10) que o fabricante assegura a garantia para todos

os seus produtos utilizando o quantificador universal com algumas restriccedilotildees Se natildeo

houvesse a utilizaccedilatildeo do quantificador nesta inferecircncia o cliente poderia considerar que a

garantia de seu produto por exemplo teria validade vitaliacutecia e que o produto estaria coberto

pela garantia mesmo se for danificado por negligecircncia do cliente O fabricante restringe o

periacuteodo de validade especificando que o periacuteodo de um ano jaacute inclui o periacuteodo da garantia

legal que eacute de 90 dias Ainda enfatiza que se deve contar o periacuteodo a partir da data da compra

e ainda explica que a garantia cobriraacute somente produtos que apresentarem problemas

62

mecacircnicos ou aqueles que apresentarem problemas industriais em montagem e pintura Dessa

forma problemas de outra natureza natildeo seratildeo cobertos pela garantia assim como produtos

com mais de um ano de adquiridos tambeacutem natildeo estaratildeo cobertos Poderiacuteamos identificar a

expressatildeo ―garantia legal como polissecircmica caso o fabricante natildeo tivesse apresentado o

conceito para a expressatildeo logo apoacutes entre parecircnteses Eacute sabido que no CDC a garantia legal eacute

caracterizada como o periacuteodo de 90 dias apoacutes a aquisiccedilatildeo de um produto Para evitar que

houvesse uma interpretaccedilatildeo indevida o fabricante conceituou a expressatildeo imediatamente

apoacutes o aparecimento dela na sentenccedila

(11) Em vista das mudanccedilas de leis que poderatildeo ocorrer TODO

certificado seraacute regido pelas normas do cartatildeo de garantia mais

recentemente atualizado pela faacutebrica

(Certificado 5)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todo para afirmar

que qualquer certificado de garantia de seus produtos deveraacute seguir as normas dispostas no

cartatildeo de garantia mais recentemente atualizado pela faacutebrica ou seja caso algum cliente tente

solicitar a garantia atraveacutes de um cartatildeo de garantia desatualizado ele natildeo estaraacute autorizado

Dessa forma o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo agraves possiacuteveis atualizaccedilotildees de leis ou

informaccedilotildees nos cartotildees de garantia dos diversos lotes de produtos impossibilitando o cliente

de reclamar sobre qualquer tipo de alteraccedilatildeo no documento em questatildeo A utilizaccedilatildeo do

quantificador universal em (11) eacute importante para dar ecircnfase agrave informaccedilatildeo central da sentenccedila

e tambeacutem para evitar que por exemplo o cliente interpretasse que algum certificado poderia

ser regido pelas normas de outro cartatildeo de garantia que natildeo fosse o mais recente Natildeo

identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos em (11)

(12) A garantia incide sobre TODOS os componentes montados

originalmente em Veiacuteculo conforme descrito na Nota Fiscal de

venda quer fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER ou

por esta adquiridos de terceiros

(Certificado 16)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para

restringir a interpretaccedilatildeo da sentenccedila quando afirma que a garantia cobre qualquer

63

componente montado originalmente em veiacuteculo ou seja a garantia natildeo cobre componentes

avulsos Aleacutem disso os componentes montados devem estar descritos na Nota Fiscal de

venda sendo assim se natildeo estiverem lanccedilados invalidam a garantia e por fim os veiacuteculos

devem tem sido fabricados por alguma empresa do grupo DAIMLER ou fabricado por outra

empresa mas tendo sido adquirido pelo fabricante que estaacute oferecendo a garantia Dessa

forma podemos ver que o quantificador universal foi utilizado pelo fabricante de forma

restrita limitando a abrangecircncia de acordo com seus interesses Caso o quantificador

universal natildeo tivesse sido utilizado na sentenccedila haveria a possibilidade do cliente interpretar

(12) de vaacuterias maneiras Por exemplo admitir que a garantia pode ser vaacutelida para produtos

que foram fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER mas natildeo foram lanccedilados na

Nota Fiscal de venda Em vista disso a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela

necessidade do fabricante restringir a interpretaccedilatildeo do texto da garantia buscando direcionar

melhor a informaccedilatildeo que ele estaacute vinculando em seu texto Natildeo identificamos nem termos

vagos nem termos polissecircmicos em (12)

(13) Executar TODAS as revisotildees estabelecidas pela Mercedes-Benz do

Brasil Ltda

(Certificado 16)

(14) Executar TODAS as manutenccedilotildees reparaccedilotildees e regulagens em um

dos Concessionaacuterios ou Postos de Serviccedilos Autorizados Mercedes-

Benz no territoacuterio brasileiro

(Certificado 16)

Nas duas ocorrecircncias acima podemos observar que o fabricante utiliza o quantificador

universal ―todas para definir que a garantia do produto soacute seraacute vaacutelida caso o cliente realize

as funccedilotildees descritas Caso o cliente natildeo realize pelo menos uma delas a garantia seraacute

invalidada Se o cliente natildeo realizar pelo menos uma revisatildeo sugerida pela fabricante perderaacute

a validade Aleacutem disso se o cliente realizar algum tipo de manutenccedilatildeo no veiacuteculo em alguma

concessionaacuteria que natildeo seja autorizada da Mercedes-Benz e no territoacuterio brasileiro tambeacutem

perderaacute a garantia O fabricante mesmo utilizando o quantificador universal nas duas

ocorrecircncias natildeo deixa de condicionar a validade da garantia de acordo com seus interesses O

cumprimento das recomendaccedilotildees dispostas apoacutes o quantificador natildeo garantem efetivamente

que a garantia do produto estaacute assegurada Ou seja mesmo que o cliente execute todas as

manutenccedilotildees reparos e regulagens em um dos concessionaacuterios do fabricante natildeo impede que

64

a garantia seja invalidade por outro motivo O quantificador universal foi utilizado pelo

fabricante em (13) e (14) sem limites e em seu benefiacutecio Natildeo identificamos nem termos

vagos nem termos polissecircmicos em (13) e (14)

(15) TODA solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica durante o periacuteodo da

garantia deveraacute ser feita obrigatoriamente agrave faacutebrica via e-mail ou

fax descrevendo detalhadamente os problemas apresentados natildeo

excedendo o prazo de 30 dias apoacutes detectaacute-lo indicando o modelo do

equipamento e o nuacutemero de seacuterie descrito na placa de identificaccedilatildeo do

mesmo e constante neste certificado

(Certificado 22)

Na ocorrecircncia (15) o fabricante utiliza o quantificador universal ―toda de forma

abrangente determinando que todas as solicitaccedilotildees de assistecircncia teacutecnica para qualquer

produto deveraacute seguir as instruccedilotildees definidas em seguida Caso o cliente tente solicitar a

assistecircncia natildeo seguindo algum dos passos e prazos determinados pelo fabricante a garantia

seraacute invalidada O quantificador universal foi utilizado para evitar interpretaccedilotildees relativas

sobre os procedimentos descritos no texto Por exemplo se (15) natildeo tivesse o quantificador

universal ―toda uma possiacutevel interpretaccedilatildeo seria que uma solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica

durante o periacuteodo da garantia poderia ser realiza na loja em que o produto foi comprado e natildeo

apenas na faacutebrica Dessa forma a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela

necessidade do fabricante restringir o percurso da solicitaccedilatildeo da garantia para o procedimento

que ele deseja que seja seguido pelo cliente Natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos

em (15)

32 USO DO CONDICIONAL

Vejamos a seguir as ocorrecircncias em que o condicional eacute utilizado Quando as

ocorrecircncias apresentarem o mesmo sentido de interpretaccedilatildeo agruparemos numa mesma

anaacutelise como podemos observar a seguir nas ocorrecircncias (16) (17) e (18)

(16) A garantia fica automaticamente invalidada SE

(Certificado 2)

65

(17) A garantia legal e contratual perderaacute seu efeito SE

(Certificado 3)

(18) Esta garantia perderaacute a validade SE

(Certificado 11)

Podemos observar nas ocorrecircncias (16) (17) e (18) que o condicional tem a funccedilatildeo de

limitar a aplicaccedilatildeo da garantia Os usos do ―se natildeo excluem a possibilidade de haver outros

casos em que a garantia natildeo se aplica ou seja as listas que satildeo apresentadas apoacutes o

condicional natildeo satildeo exaustivas Vale mencionar que da mesma forma que o ―todo o ―se

foi utilizado para beneficiar o fabricante como afirmamos acima O ―se assegura que a

validade do produto seraacute perdida nos casos que satildeo listados apoacutes o condicional sem eliminar

a possibilidade de haverem outros casos abrangendo sem limites os casos em que a garantia

natildeo cobriraacute o produto e restringindo a validade da garantia para o cliente Natildeo identificamos

termos vagos ou polissecircmicos nas ocorrecircncias (16) (17) (18) Na ocorrecircncia (17) o autor

usou os termos ―garantia legal e ―contratual que poderiam ser considerados termos

polissecircmicos que dificultariam a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia mas foram apresentados no

certificado os conceitos para os dois termos Para ―garantia legal o autor definiu como

sendo o prazo inicial da garantia com duraccedilatildeo de 90 dias ( contados imediatamente apoacutes a

emissatildeo da Nota Fiscal de compra) e previsto no CDC por sua vez para ―garantia

contratual se refere ao periacuteodo de dois anos incluindo o periacuteodo da garantia legal para todo

equipamento (neste caso condicionador de ar) e cinco anos para o compressor Com a

apresentaccedilatildeo destas definiccedilotildees o autor evitou que os termos se apresentassem no texto como

polissecircmicos

(19) A garantia do produto natildeo se aplica

(Certificado 8)

Trouxemos para a anaacutelise a ocorrecircncia acima pois a expressatildeo ―natildeo se aplica desta

sentenccedila funciona como um condicional mesmo sem ter a forma das ocorrecircncias que

analisamos anteriormente O fabricante utiliza esse condicional precedendo uma lista de

possiacuteveis situaccedilotildees em que a garantia poderia ser reclamada pelo cliente dessa forma

impossibilitando o cliente de exigir qualquer direito sobre alguma das possiacuteveis situaccedilotildees

Natildeo identificamos termos polissecircmicos e vagos na ocorrecircncia (19)

66

(20) A garantia do produto extingue-se

(Certificado 8)

Assim como na ocorrecircncia anterior tambeacutem natildeo encontramos o condicional ―se de

forma expliacutecita mas o termo ―extingue-se se comporta como tal A sentenccedila acima foi

utilizada pelo fabricante antecedendo uma lista de possibilidades de situaccedilotildees em que o

cliente poderia reclamar a garantia do produto excluindo entatildeo qualquer direito do cliente

em relaccedilatildeo ao que foi listado abaixo da sentenccedila em questatildeo Natildeo identificamos termos vagos

e polissecircmicos na ocorrecircncia (20)

(21) O cliente perderaacute a garantia do seu veiacuteculo SE

(Certificado 17)

Na ocorrecircncia (21) o fabricante utiliza o condicional antecedendo uma lista de

situaccedilotildees que se concretizadas invalidaratildeo a garantia Dessa forma se o veiacuteculo do cliente

que deseja ser atendido pela garantia se enquadrar em algum dos itens dispostos apoacutes essa

sentenccedila a garantia natildeo seraacute concedida Assim como nas ocorrecircncias com o uso do

condicional apresentadas anteriormente o uso do ―se aparece sem limites Como afirmamos

na anaacutelise das ocorrecircncias (16) (17) e (18) o autor utiliza o condicional para em seguida

apresentar uma lista de situaccedilotildees em que se concretizadas o cliente perderaacute a garantia Mas

mesmo com a apresentaccedilatildeo dessa lista o cliente poderaacute perder a garantia caso ocorra outro

tipo de situaccedilatildeo natildeo listada Dessa forma o fabricante se favorece abrangendo ao maacuteximo as

possibilidades de perda da garantia e ―prejudica o cliente oferecendo-lhe restritas

possibilidades de validade da garantia do produto a que se refere o texto Natildeo identificamos

nem termos polissecircmicos nem vagos na ocorrecircncia (21) Apenas vale ressaltar que diferente

das ocorrecircncias apresentadas anteriormente o autor em vez de escrever ―a garantia do

produto ele utilizou ―a garantia do seu veiacuteculo que especifica ao que se refere o texto

diminuindo a possibilidade de o cliente interpretar a ocorrecircncia de uma forma diferente da

que o autor se propotildee a transmitir

(22) A garantia vigoraraacute SOMENTE SE o Veiacuteculo atender

cumulativamente as seguintes condiccedilotildees

67

(Certificado 16)

Eacute interessante observar a forma como o fabricante utiliza o condicional na ocorrecircncia

(22) que precede uma lista de condiccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso o fabricante

natildeo utilizasse esse condicional ―somente se na sentenccedila acima o cliente poderia interpretar

que se o seu produto atendesse pelo menos a uma das condiccedilotildees estaria coberto pela

garantia Mas o fabricante aleacutem de utilizar o condicional ―somente se tambeacutem utilizou o

termo ―cumulativamente explicitando que o produto deve obedecer a todas as condiccedilotildees

dispostas pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o autor utilizou o condicional

para restringir as possibilidades de validade da garantia com restriccedilotildees o que natildeo ocorre

quando o fabricante trata sobre as possibilidades de invalidade da garantia como na

ocorrecircncia (21) Comparando as ocorrecircncias (21) e (22) vemos claramente que o autor em

(21) utilizou o condicional para lhe favorecer sem limites quando tratou sobre as condiccedilotildees

pelas quais o cliente pode perder a garantia abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura natildeo

apenas para as situaccedilotildees que estatildeo listadas mas tambeacutem para qualquer outra possiacutevel Jaacute em

(22) o autor (mesmo essa comparaccedilatildeo sendo feita entre ocorrecircncias de certificados

diferentes) utiliza o condicional para restringir as possibilidades de validade da garantia para

as situaccedilotildees listadas apoacutes a apresentaccedilatildeo do condicional e aleacutem disso afirmou que todas as

situaccedilotildees listadas devem ser atendidas para que a garantia seja vaacutelida para o produto Dessa

forma ainda sobre a ocorrecircncia (22) caso uma das situaccedilotildees listadas natildeo seja atendida a

garantia automaticamente seraacute perdida Com isso podemos afirmar que tanto em (21) quanto

em (22) os autores utilizaram o condicional para se beneficiar Em (21) abrangendo as

possibilidades de invalidade da garantia e em (22) restringindo ao maacuteximo as possibilidades

de validade da garantia do produto Natildeo identificamos nem termos vagos nem polissecircmicos

na ocorrecircncia (22)

(23) A garantia Philips natildeo eacute aplicaacutevel SE

(Certificado 14)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o condicional ―se antecedendo uma lista de

informaccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso algum produto Philips se encaixar em

alguma das situaccedilotildees descritas apoacutes o condicional mesmo estando dentro do prazo de

garantia o cliente perderaacute a cobertura Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem

68

vagos na ocorrecircncia (23)

(24) Esta garantia natildeo se aplica

(Certificado 21)

Assim como nas ocorrecircncias (18) e (19) a ocorrecircncia acima natildeo possui o condicional

expliacutecito mas o termo ―natildeo se aplica se comporta como tal O fabricante utiliza o

condicional precedendo uma lista de condiccedilotildees de natildeo aplicaccedilatildeo da garantia Dessa forma

caso o produto se encaixe em alguma das condiccedilotildees a garantia seraacute invalidada

automaticamente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem vagos na sentenccedila (24)

33 USO DO APENASSOMENTE

Vejamos a seguir ocorrecircncias em que identificamos o uso do ―apenas ou ―somente

(25) Esta garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver

devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original

da Nota Fiscal de Compra

(Certificado 4)

Na ocorrecircncia (25) o fabricante utiliza o ―somente para restringir a validade da

garantia indicando que o cliente teraacute direito agrave garantia caso preencha de forma correta o

certificado e apresente a nota fiscal de compra Caso as instruccedilotildees natildeo sejam seguidas pelo

cliente a garantia natildeo seraacute vaacutelida Podemos identificar que o termo ―rasuras presente em

(25) pode ser considerado como vago e polissecircmico neste caso dificultando a interpretaccedilatildeo

do texto Uma rasura pode ser por exemplo desde um rabisco fora de lugar no formulaacuterio

ateacute o dano no documento por aacutegua amasso do papel em excesso etc O autor poderia evitar a

vagueza e a polissemia definindo o termo da forma como ele deseja que o leitor interprete

este termo e comparando-o a uma classe especiacutefica (por exemplo o que eacute considerado rasura

69

nos documentos instrucionais)

(26) Danos decorrentes de desgaste natural inclusive e natildeo SOMENTE

nas partes plaacutesticas que compotildeem o gabinete do produto

(Certificado 4)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o ―somente numa sentenccedila que trata sobre

uma das situaccedilotildees em que a garantia natildeo seraacute vaacutelida O fabricante deixa claro que qualquer

defeito no produto causado por desgaste natural natildeo seraacute coberto pela garantia Se o

fabricante natildeo utilizasse o ―somente nesta sentenccedila o cliente poderia interpretar por

exemplo que danos decorrentes de desgaste natural nas partes que natildeo satildeo de plaacutestico seriam

cobertas pela garantia O autor utiliza o ―somente para se resguardar sobre outras possiacuteveis

interpretaccedilotildees do trecho abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura da garantia para

qualquer peccedila do produto que for afetado por danos decorrentes de desgaste natural Na

ocorrecircncia (26) a expressatildeo ―desgaste natural eacute polissecircmica O autor em nenhuma parte do

certificado de garantia definiu a expressatildeo em questatildeo para que o cliente compreenda da

forma desejada pelo fabricante Dessa forma podemos interpretar ―desgaste natural de

muitas formas Podemos por exemplo interpretar como o desgaste do produto como um todo

ou suas peccedilas referentes ao uso em excesso ao longo do tempo e diretamente vinculado agrave

vida uacutetil tanto do produto em geral quanto de peccedilas especiacuteficas Mas tambeacutem podemos

interpretar como sendo um desgaste proveniente do contato do produto com a natureza como

a exposiccedilatildeo agrave chuva maresia sol em excesso Pode parecer um exagero esta uacuteltima

interpretaccedilatildeo mas ela eacute possiacutevel a partir da forma como (26) se apresenta O autor utilizou no

texto a expressatildeo sem dar-lhe a definiccedilatildeo que ele pensou para a utilizaccedilatildeo dela na ocorrecircncia

dificultando a interpretaccedilatildeo do texto

(27) Este termo de garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos

comercializados e utilizados em territoacuterio brasileiro

(Certificado 4)

(28) Este Certificado de Garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos

vendidos e utilizados no territoacuterio brasileiro

(Certificado 10)

(29) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro

70

(Certificado 2)

(30) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro

(Certificado 13)

(31) Esta garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o territoacuterio brasileiro

(Certificado 12)

Nas ocorrecircncias (27) (28) (29) e (30) observamos que os fabricantes utilizam o termo

―apenas para restringir a cobertura da garantia tanto em relaccedilatildeo ao local da compra quanto

em relaccedilatildeo ao local de uso do produto assim como o autor da ocorrecircncia (31) utiliza o termo

―somente com o mesmo sentido Caso o produto tenha sido comprado em outro paiacutes natildeo

haveraacute cobertura da garantia assim como mesmo que o produto tenha sido comprado no

Brasil mas tenha sido utilizado em outro paiacutes culminando em um defeito tambeacutem natildeo haveraacute

cobertura da garantia Mas para a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que aparece em (27) (28)

(29) (30) e (31) podemos tambeacutem interpretar como natildeo apenas a extensatildeo territorial do paiacutes

mas tambeacutem admitir territoacuterios brasileiros em outros paiacuteses a saber os consulados

honoraacuterios do Brasil nas diversas naccedilotildees ao redor do mundo Nesse caso por exemplo se o

produto for adquirido dentro dos limites geograacuteficos do Brasil e for utilizado em algum

consulado do Brasil em outro paiacutes a garantia deve ser vaacutelida Eacute possiacutevel que o fabricante natildeo

tenha pensado nessa possibilidade poreacutem da forma que estas ocorrecircncias se apresentam haacute

essa possibilidade de interpretaccedilatildeo Ao apresentar essa possiacutevel interpretaccedilatildeo para a

expressatildeo ―territoacuterio brasileiro noacutes quisemos mostrar que o fabricante deveria ter

especificado em alguma parte do certificado de garantia o conceito que ele deseja que o

cliente admita para esta expressatildeo para natildeo deixar que a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro seja

interpretada de outras formas ou seja para evitar a polissemia que dificulta a leitura do

texto Outra questatildeo que tambeacutem podemos considerar eacute que nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)

a afirmaccedilatildeo sobre a validade da garantia eacute apresentada de forma menos detalhada Os autores

apresentam a afirmaccedilatildeo de que a garantia eacute vaacutelida para o territoacuterio brasileiro sem informar se

eacute em relaccedilatildeo ao produto ser adquirido e utilizado no paiacutes Brasil ou se o produto pode ser

utilizado fora do Brasil mas para requerer a garantia do produto o consumidor caso resida no

exterior deva se dirigir ao Brasil para fazer jus a sua garantia Diferente das ocorrecircncias (27)

e (28) em que os autores enfatizam que a garantia dos produtos eacute vaacutelida unicamente para

produtos comercializados e utilizados dentro do Brasil restringindo a garantia mais do que

nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)

71

(32) A garantia SOMENTE eacute vaacutelida mediante a apresentaccedilatildeo de nota

fiscal de compra deste produto

(Certificado 3)

Podemos observar na ocorrecircncia (29) que o fabricante utiliza o termo ―somente para

restringir a validade da garantia Fica claro que caso o produto apresente algum defeito e o

cliente procure a assistecircncia teacutecnica sem estar de posse da nota fiscal natildeo haveraacute cobertura da

garantia Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em (29) o cliente poderia interpretar

por exemplo que a garantia do produto eacute vaacutelida com ou sem a apresentaccedilatildeo da nota fiscal de

compra do produto Neste caso a funccedilatildeo do ―somente eacute de restringir a interpretaccedilatildeo de

acordo com o que o fabricante deseja Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem

vagos em (29)

(33) A garantia oferecida por esse Certificado eacute de 36 (trinta e seis) meses

e SOMENTE teraacute validade se o presente documento for devidamente

preenchido no ato da venda do produto conforme acima e se a

instalaccedilatildeo for feita por uma pessoa ou empresa credenciada pela

Robert Bosch Ltda

(Certificado 8)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade

da garantia Caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees de forma cumulativa que seguem a

utilizaccedilatildeo do termo a garantia seraacute invalidada Por exemplo se o cliente preencher no ato da

venda do produto o certificado mas se a instalaccedilatildeo do produto natildeo tiver sido feita por algueacutem

credenciado pela Robert Bosch Ltda a garantia natildeo teraacute validade A importacircncia do uso do

―somente em (33) se daacute pelo fato de que caso o autor natildeo tivesse utilizado este termo

haveria a possibilidade do cliente interpretar por exemplo que a garantia teria validade caso

a instalaccedilatildeo do produto tenha sido feita por uma pessoa ou empresa natildeo credenciada pela

fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (33)

(34) Os consertos em Garantia do Produto SOMENTE seratildeo efetuados

72

por um Serviccedilo Autorizado devidamente nomeado pela Robert Bosch

Ltda em territoacuterio brasileiro

(Certificado 8)

Podemos observar que o fabricante utiliza o termo ―somente em (34) para restringir a

validade da garantia O fabricante define tanto quem efetuaraacute o conserto dos produtos quanto

os limites territoriais de cobertura Dessa forma fica expliacutecito para o cliente que o conserto

natildeo poderaacute ser efetuado por pessoas natildeo autorizadas pela Robert Bosch Ltda e tal conserto

natildeo pode ser realizado em outros paiacuteses Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em

(34) abriria a possibilidade de interpretar a sentenccedila de outras formas como por exemplo

que os consertos em garantia do produto poderiam ser realizados em territoacuterios de outros

paiacuteses ou que os consertos poderiam ser realizados por serviccedilos natildeo autorizados pelo

fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (34)

(35) O exame e reparo do produto soacute poderatildeo ser efetuados pelo

fabricante

(Certificado 7)

Na ocorrecircncia (36) o fabricante utiliza no lugar do termo ―somente o termo ―soacute

para restringir a interpretaccedilatildeo Nesse caso se o cliente procurar reparar eou examinar o

produto sozinho ou em assistecircncias teacutecnicas que natildeo sejam autorizadas pelo fabricante a

garantia seraacute invalidada A utilizaccedilatildeo do termo ―soacute tem grande importacircncia para o

direcionamento da interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia (35) pois caso natildeo tivesse sido utilizado pelo

autor a ocorrecircncia traria apenas uma informaccedilatildeo vaga dificultando a interpretaccedilatildeo do texto

Sem o ―soacute a partir de (35) poderiacuteamos interpretar que o exame e reparo do produto podem

ser efetuados pelo fabricante mas tambeacutem por qualquer outra pessoa ou empresa Utilizando

o ―soacute o autor restringe a inferecircncia evitando muacuteltiplas interpretaccedilotildees para a sentenccedila

(36) O presente ―Termo de Garantia Hyundai aplica-se uacutenica e

exclusivamente ao veiacuteculo da marca e fabricaccedilatildeo Hyundai

devidamente identificado no iniacutecio deste documento e que tenha sido

comercializado por um Revendedor Autorizado da CAOA Montadora

de Veiacuteculos SA

(Certificado 17)

73

Em (36) o fabricante natildeo utiliza os termos ―apenas ou ―somente mas

consideraremos em nossa anaacutelise a expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como um restritor de

mesmo sentido Observamos que o fabricante utiliza a expressatildeo para restringir a cobertura

da garantia Caso o cliente esteja por exemplo solicitando a garantia de um veiacuteculo Hyundai

que natildeo seja o mesmo que estaacute descrito no iniacutecio do documento de garantia e que natildeo tenha

sido comercializado por uma autorizada da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA a garantia

natildeo teraacute validade Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado a expressatildeo ―uacutenica e

exclusivamente em (36) haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia de outras

maneiras

(37) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA eou o Revendedor Autorizado

da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA APENAS substituiraacute as peccedilas

que forem por elas e a seu exclusivo criteacuterio julgadas como

defeituosas

(Certificado 17)

Na ocorrecircncia (37) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a interpretaccedilatildeo

da sentenccedila Dessa forma o fabricante fica resguardado tanto em relaccedilatildeo a substituiccedilatildeo de

peccedilas quanto em relaccedilatildeo ao meacutetodo utilizado para jugar se a peccedila estaacute defeituosa ou natildeo A

importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―apenas em (37) tambeacutem se daacute pelo fato de natildeo permitir outras

interpretaccedilotildees diferentes da definida pelo fabricante Caso o ―apenas natildeo tivesse sido

utilizado poderiacuteamos interpretar por exemplo que o fabricante poderia substituir peccedilas

julgadas por ela como defeituosas utilizando seus proacuteprios criteacuterios mas tambeacutem substituiria

em outros casos O ―apenas serviu para especificar e restringir a interpretaccedilatildeo dos criteacuterios

definidos pelo fabricante em relaccedilatildeo agrave substituiccedilatildeo de peccedilas do produto Natildeo identificamos

nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (37)

(38) Permita que SOMENTE teacutecnicos autorizados pela faacutebrica prestem

assistecircncia a seu aparelho pois se for aberto por teacutecnicos ou pessoas

natildeo autorizadas automaticamente vocecirc estaraacute perdendo sua garantia

(Certificado 5)

Na ocorrecircncia (38) o fabricante deixa expliacutecito ao utilizar o termo ―somente que

caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees dispostas nesta sentenccedila a garantia do produto seraacute

74

invalidada Dessa forma o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a informaccedilatildeo

veiculada pelo fabricante da mesma forma como vimos na ocorrecircncia (37) Natildeo

identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (38)

(39) A presente garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o Veiacuteculo

comercializado em territoacuterio brasileiro

(Certificado 16)

Na ocorrecircncia (39) um pouco parecida com as ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e

(31) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia do produto Nesse caso

se o veiacuteculo tiver sido adquirido em outro paiacutes sua garantia natildeo seraacute vaacutelida no Brasil Um

pouco diferente das ocorrecircncias (27) e (28) que especificam ao maacuteximo a possibilidade de

cobertura da garantia a ocorrecircncia (39) veicula que a garantia eacute vaacutelida para o produto

comercializado em territoacuterio brasileiro natildeo tratando sobre a possibilidade da perda da

garantia caso o veiacuteculo seja utilizado em outros paiacuteses Neste caso o cliente natildeo tem direito

a garantia do veiacuteculo caso ele seja adquirido em outros paiacuteses Sobre a expressatildeo ―territoacuterio

brasileiro assim como nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31) o autor natildeo definiu um

sentido para a expressatildeo que pode ser interpretada de outras maneiras como exemplificamos

nas anaacutelises anteriores

(40) Utilizar SOMENTE peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios genuiacutenos

Mercedes-Benz e comprovar sua aquisiccedilatildeo mediante e apresentaccedilatildeo

da Nota Fiscal quando adquiridos pelo consumidor final

(Certificado 16)

Na ocorrecircncia (40) que faz parte de uma lista de recomendaccedilotildees para o cliente natildeo

perder a garantia o fabricante utiliza o termo ―somente para delimitar a interpretaccedilatildeo da

sentenccedila Na passagem se o cliente natildeo seguir as instruccedilotildees descritas consequentemente

perderaacute a garantia do produto A importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente na ocorrecircncia (40) eacute

a de dificultar que o cliente interpreta a sentenccedila de outra maneira Sem o ―somente na

sentenccedila o cliente poderia interpretar que ele pode utilizar peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios

originais do fabricante mas tambeacutem estaacute autorizado a utilizar peccedilas de outros fabricantes

Com a presenccedila do ―somente na sentenccedila o cliente eacute levado a interpretar a sentenccedila da

75

forma direcionada pelo fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (40)

(41) A comprovaccedilatildeo de defeito de fabricaccedilatildeo do produto que provocaraacute a

execuccedilatildeo da troca do mesmo deveraacute ser feita exclusivamente por

funcionaacuterio credenciado da Ortobom

(Certificado 15)

Na ocorrecircncia (41) o fabricante natildeo utiliza explicitamente os termos ―apenas ou

―somente mas consideraremos em nossa anaacutelise que o termo ―exclusivamente possui a

mesma funccedilatildeo de restringir interpretaccedilotildees O fabricante utiliza o termo para restringir a

garantia do produto em questatildeo Natildeo haacute a possibilidade de o cliente comprovar um defeito de

fabricaccedilatildeo em seu produto atraveacutes de outro profissional que natildeo seja um funcionaacuterio

credenciado da Ortobom Haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia (41) caso o

fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―exclusivamente Sem tal uso o cliente poderia

interpretar que poderia comprovar algum defeito no produto para possiacutevel troca por

intermeacutedio de qualquer profissional natildeo obrigatoriamente por um funcionaacuterio do fabricante

Ortobom O termo ―exclusivamente especifica e destaca a informaccedilatildeo que o fabricante

veicula em (41) Natildeo identificamos em (41) nem termos polissecircmicos nem termos vagos

(42) A garantia cobre exclusivamente defeitos de materiais eou

fabricaccedilatildeo sendo que as despesas de deslocamento alimentaccedilatildeo e

hospedagem do teacutecnico para atendimento em garantia ou natildeo

referente agrave entrega montagem instruccedilatildeo de uso e reparo do

equipamento assim como o frete de retirada para conserto e retorno

do mesmo e de envio de peccedilas e retorno das substituiacutedas em garantia

ocorreratildeo por conta do cliente

(Certificado 22)

Assim como em (41) o fabricante utiliza o termo ―exclusivamente para restringir a

garantia do produto O fabricante ao utilizar esse termo se resguarda de possiacuteveis cobranccedilas

por parte do cliente ao solicitar a garantia como por exemplo ajuda de custo para custear a

iacuteda do teacutecnico para manutenccedilatildeo do produto envio de peccedilas para faacutebrica etc Fica expliacutecito

que em todas essas situaccedilotildees o cliente eacute responsaacutevel Caso o termo ―exclusivamente natildeo

76

tivesse sido utilizado o cliente poderia interpretar a ocorrecircncia de diferentes modos Uma

possibilidade de interpretaccedilatildeo seria a de entender que a garantia cobre outros tipos de

defeitos que natildeo fossem de peccedilas ou de fabricaccedilatildeo Com a utilizaccedilatildeo do termo

―exclusivamente o fabricante diminui as possibilidades de interpretaccedilatildeo tornando o texto

mais claro para o cliente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na

ocorrecircncia (42)

(43) A garantia natildeo cobre peccedilas ou componentes de desgaste normal de

uso dentre as quais selim pedais firma-peacutes natildeo se limitando

SOMENTE a estes mas incluindo rodas de transporte carenagens

adesivos elementos de acabamento de plaacutestico borracha e alumiacutenio

danos na pintura e quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa

exclusiva distribuiccedilatildeo devendo as reclamaccedilotildees ser encaminhadas aos

seus respectivos representantes ou fabricantes

(Certificado 22)

Em (43) o fabricante aleacutem de utilizar o termo ―somente para abranger a

interpretaccedilatildeo sobre as peccedilas que natildeo seratildeo cobertas pela garantia do produto utiliza outros

termos que alargam ainda mais sem restriccedilotildees a natildeo cobertura da garantia como ―quaisquer

acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo O fabricante se resguarda

especificando quais peccedilas que ele considera como de ―desgaste normal para evitar

problemas de interpretaccedilatildeo por parte do cliente O uso do ―somente na ocorrecircncia (43) se

apresenta de forma contraacuteria agraves outras ocorrecircncias que apresentamos anteriormente Enquanto

em ocorrecircncias como a (40) que o ―somente foi utilizado para restringir a interpretaccedilatildeo da

sentenccedila para as informaccedilotildees descritas depois do termo em (43) o fabricante utiliza o

―somente precedido da negaccedilatildeo ―natildeo se limitando direcionando o termo para o sentido de

abrangecircncia Ou seja a garantia que o fabricante oferece natildeo cobre peccedilas ou componentes de

desgaste natural como selim e pedais Para natildeo correr o risco de esquecer de citar algum dos

componentes de desgaste natural do produto e deixar brechas na interpretaccedilatildeo da garantia o

fabricante utiliza a expressatildeo ―natildeo se limitando seguida do ―somente para abranger ao

maacuteximo as possibilidades de interpretaccedilatildeo sobre os itens de desgaste natural que natildeo satildeo

cobertos pela garantia Depois do uso do ―somente e de apresentar mais uma lista de itens

que natildeo satildeo cobertos pela garantia o fabricante ainda abrange mais a interpretaccedilatildeo

utilizando a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo

Dessa forma pudemos perceber que o fabricante utilizou natildeo apenas o termo de restriccedilatildeo

77

―somente para limitar as possibilidades de interpretaccedilatildeo da sentenccedila mas tambeacutem utilizou

listas especificando itens e a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa

exclusiva distribuiccedilatildeo Todas essas estrateacutegias foram utilizadas com o objetivo de tornar a

interpretaccedilatildeo do texto clara sem oferecer a possibilidade de o cliente obter muacuteltiplas

interpretaccedilotildees do texto Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na

ocorrecircncia (43)

(44) A matildeo-de-obra em garantia limita-se SOMENTE ao horaacuterio normal

de expediente sendo de segunda a sexta-feira das 730 agraves 1800 horas

devendo o equipamento estar disponiacutevel para a assistecircncia teacutecnica

(Certificado 22)

Em (44) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o horaacuterio disponiacutevel

para reparos em produtos na garantia e aleacutem disso enfatizando que o produto deve estar

disponiacutevel para a assistecircncia Dessa forma o cliente fica impossibilitado de reclamar

assistecircncia fora do horaacuterio que estaacute descrito na sentenccedila assim como fica consciente de que

seu produto ficaraacute a disposiccedilatildeo da assistecircncia para conserto ou seja natildeo seraacute reparado

imediatamente A importacircncia do uso do ―somente na ocorrecircncia (44) se daacute pelo fato de que

caso natildeo fosse utilizado o cliente poderia interpretar por exemplo que a matildeo-de-obra em

garantia estaria disponiacutevel vinte e quatro horas por dia e sete dias por semana Como o

―somente foi utilizando precedendo as informaccedilotildees sobre dia e horaacuterio de atendimento natildeo

eacute possiacutevel interpretar a informaccedilatildeo de outra maneira que natildeo seja a descrita Haveria a

possibilidade de definir a expressatildeo ―horaacuterio normal de expediente como uma expressatildeo

polissecircmica caso ela natildeo estivesse acompanhada de uma definiccedilatildeo (―de segunda a sexta-feira

das 730 agraves 1800 horas) pois o horaacuterio de expediente pode variar de acordo com o trabalho

que vocecirc tem por exemplo Se vocecirc trabalha em um banco financeiro o seu horaacuterio de

expediente seraacute possivelmente diferente do horaacuterio de um feirante Para evitar a polissemia

o fabricante utilizou a expressatildeo e em seguida apresentou a definiccedilatildeo da expressatildeo de

acordo com o seu interesse

(45) A presente garantia limita-se SOMENTE ao produto fornecido natildeo

responsabilizando a TOTAL HEALTH por danos causados a pessoas

a terceiros a outros equipamentos ou instalaccedilotildees lucros cessantes ou

quaisquer outros danos emergentes ou consequumlentes

(Certificado 22)

78

Na ocorrecircncia (45) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da

garantia Nesse caso a garantia se limita unicamente ao produto descrito Se por exemplo o

produto em questatildeo apresentar defeito e tal defeito ocasionar dano fiacutesico ao dono do produto

ou a terceiros a garantia natildeo cobriraacute tais problemas Assim como nas ocorrecircncias anteriores

o uso do ―somente em (45) teve a funccedilatildeo de direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para uma

uacutenica possibilidade de interpretaccedilatildeo Caso o ―somente natildeo tivesse sido utilizado poderiacuteamos

interpretar (45) de outras maneiras Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (45)

(46) SOMENTE os profissionais indicados pela loja revendedora dos

produtos Bartzen estatildeo autorizados a prestar atendimento dentro do

prazo de garantia

(Certificado 18)

Na ocorrecircncia (46) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a

interpretaccedilatildeo da sentenccedila Nesse caso o cliente soacute poderaacute usufruir de assistecircncia teacutecnica em

seu produto atraveacutes de profissionais indicados pela loja na qual ele adquiriu seu produto

Bartzen e dentro do prazo da garantia Caso o cliente realize algum serviccedilo em seu produto

com profissionais natildeo autorizados pela fabricante sua garantia seraacute invalidada A importacircncia

da utilizaccedilatildeo do termo ―somente na ocorrecircncia (46) eacute a de diminuir as possibilidades de

interpretaccedilatildeo da sentenccedila ao maacuteximo Dessa forma natildeo haacute como o cliente interpretar que por

exemplo ele pode realizar a manutenccedilatildeo ou reparo do seu produto com qualquer outro

funcionaacuterio que natildeo seja autorizado pela fabricante do produto Natildeo identificamos nem

termos polissecircmicos nem termos vagos em (46)

(47) A garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o consumidor que consta

identificado na nota fiscal de compra do produto (primeiro usuaacuterio) a

qual deveraacute ser apresentada junto com este Certificado de Garantia

devidamente preenchido com os dados do consumidor e do produto

para fins de cobertura para reparo ou substituiccedilatildeo do produto se

necessaacuterio

(Certificado 19)

79

Em (47) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia Nesse caso

o cliente fica ciente de que a garantia soacute seraacute vaacutelida para o primeiro proprietaacuterio do produto

assim como soacute seraacute aceito o pedido de garantia caso o cliente apresentar a nota fiscal

contendo tanto os dados do produto quanto os seus Todas as possibilidades fora das

descritas seratildeo desconsideradas e consequentemente a garantia seraacute invalidada A

importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente em (47) se daacute pelo fato de que haacute diversas

informaccedilotildees a serem consideradas pelo cliente na ocorrecircncia (47) e caso o autor do texto natildeo

tivesse utilizado o termo ―somente antes dessas informaccedilotildees o cliente poderia interpretar

que sua garantia poderia ser vaacutelida ao cumprir algumas das informaccedilotildees descritas na sentenccedila

e natildeo obrigatoriamente todas Por exemplo se natildeo houvesse o uso do ―somente em (47) o

cliente poderia interpretar que a garantia eacute vaacutelida para o consumidor que tem o nome

constando na nota fiscal mas tambeacutem para qualquer outro consumidor que esteja de posse da

nota fiscal mesmo que natildeo seja a pessoa que tem o nome na nota fiscal O ―somente possui

o papel de restringir a interpretaccedilatildeo de toda ocorrecircncia ao maacuteximo direcionando a leitura do

texto para evitar muacuteltiplas interpretaccedilotildees Com esse uso natildeo eacute possiacutevel que cliente interprete

que ele pode ter acesso a garantia caso natildeo cumpra alguma das recomendaccedilotildees Natildeo

identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (47)

(48) O Certificado de Garantia eacute vaacutelido SOMENTE para os

condicionadores vendidos e instalados no territoacuterio brasileiro

(Certificado 19)

Em (48) semelhante agraves ocorrecircncias (31) e (39) o fabricante utiliza o termo ―somente

para restringir o territoacuterio de cobertura da garantia Neste caso condicionadores adquiridos e

utilizados em outros paiacuteses natildeo seratildeo cobertos pela garantia descrita acima Ainda retomando

a discussatildeo sobre a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro consideramos que pelo fato do autor do

texto natildeo ter apresentado um conceito para esta expressatildeo em nenhum local do certificado de

garantia da forma como se apresenta ela pode ser interpretada de outras maneiras assim

como discutimos nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)

(49) Para o uso de condicionadores de ar em ambientes com alta

concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre

seraacute vaacutelida SOMENTE a garantia legal de 90 (noventa) dias contados

80

da data de emissatildeo da nota fiscal de compra do produto

(Certificado 19)

Na ocorrecircncia (49) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da

garantia do produto que seja utilizado em ambientes especiacuteficos como ―ambientes com alta

concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre Dessa forma o

fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a qualquer solicitaccedilatildeo de garantia ―normal ou seja prazo

de validade de garantia para condicionadores de ar que satildeo utilizados em ambientes

considerados ―normais por parte de um cliente que utilize o produto em ambientes como os

descritos acima Dessa forma o uso do ―somente se justifica pelo fato de que o fabricante

busca direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha duacutevidas de que como

descrito em (49) os produtos utilizados em ambientes atiacutepicos soacute estaratildeo cobertos pela

garantia legal Assim como jaacute discutimos em outras ocorrecircncias anteriormente o fabricante

utiliza a expressatildeo ―garantia legal que eacute uma expressatildeo teacutecnica do CDC e para que ela natildeo

se tornasse polissecircmica logo apoacutes seu uso o autor apresentou o conceito para o termo que eacute

o de um periacuteodo de 90 dias corridos compreendidos imediatamente apoacutes a expediccedilatildeo da nota

fiscal de compra do produto

(50) A partir do 91ordm (nonageacutesimo primeiro) dia tais despesas satildeo de

responsabilidade uacutenica e exclusiva do consumidor

(Certificado 19)

Em (50) o fabricante natildeo utilizou os termo ―somente e ―apenas mas

consideraremos em nossa anaacutelise a utilizaccedilatildeo da expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como

umas expressotildees utilizadas para restringir interpretaccedilotildees como discutimos anteriormente em

outras anaacutelises Na sentenccedila acima o fabricante utilizou a expressatildeo de restriccedilatildeo para

enfatizar que passados os trecircs meses de garantia as despesas referentes a qualquer

manutenccedilatildeo e garantia do produto seratildeo de responsabilidade do cliente Como apresentamos

na ocorrecircncia (49) a garantia legal para um produto cobre os primeiros 90 dias apoacutes a

emissatildeo da nota fiscal de compra do produto Ao informar em (50) que a partir do primeiro

dia apoacutes o teacutermino da garantia legal despesas referentes ao traslado do produto para

manutenccedilatildeo seraacute de responsabilidade do cliente o autor utiliza a expressatildeo ―uacutenica e

exclusiva para se resguardar de qualquer possibilidade de participaccedilatildeo em possiacuteveis gastos

81

Caso o fabricante natildeo tivesse enfatizado essa informaccedilatildeo utilizando esta expressatildeo o cliente

poderia interpretar por exemplo que poderia haver algum caso em que o fabricante se

responsabilizaria por tais gastos Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (50)

(51) A reposiccedilatildeo de peccedilas defeituosas e execuccedilatildeo dos serviccedilos decorrentes

desta Garantia SOMENTE seratildeo procedidas nas localidades do

territoacuterio brasileiro onde a ENVISION mantiver ―Centro de Serviccedilo

Autorizado de titularidade dela proacutepria ou de terceiro por ela

expressamente indicado onde deveraacute ser entregue o produto para

reparo

(Certificado 20)

Na ocorrecircncia (51) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir os locais de

execuccedilatildeo de serviccedilos da garantia Neste caso o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a por

exemplo natildeo haver assistecircncias teacutecnicas em todas as cidades do paiacutes Aleacutem de enfatizar que o

produto deveraacute ser entregue na assistecircncia pelo cliente ou seja o fabricante natildeo se

responsabiliza quanto ao recolhimento do produto para reparo A utilizaccedilatildeo do ―somente se

justifica pelo fato de que o fabricante busca restringir ao maacuteximo as possibilidades de

interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o ―somente o cliente

poderia por exemplo interpretar que se a cidade em que o cliente tenha adquirido o produto

natildeo tenha uma assistecircncia teacutecnica a fabricante se responsabilizaria pelo recolhimento do

produto para manutenccedilatildeo numa cidade que possua a assistecircncia teacutecnica Com a utilizaccedilatildeo do

―somente precedendo as demais informaccedilotildees natildeo eacute possiacutevel interpretar a ocorrecircncia dessa

maneira Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termo vagos na ocorrecircncia (51)

(52) Esta Garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver

devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original

da Nota Fiscal de Compra

(Certificado 20)

Na ocorrecircncia (52) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a forma

como o cliente deve solicitar a garantia do produto Caso o cliente deixe de apresentar o

certificado preenchido corretamente eou a nota fiscal de compra a garantia seraacute invalidada

82

Assim como na ocorrecircncia (51) o autor fabricante utiliza o ―somente para restringir ao

maacuteximo a interpretaccedilatildeo do texto Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente

haveria a possibilidade de o cliente interpretar que a garantia do produto seria vaacutelida caso o

certificado estivesse preenchido sem rasuras acompanhado da nota fiscal de compra mas

tambeacutem de qualquer outra forma A ocorrecircncia ficaria sem limites para interpretaccedilatildeo caso o

fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente Poreacutem como o termo foi utilizado natildeo

haacute outra forma de o cliente interpretar a ocorrecircncia sobre a validade da garantia do produto

Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (52)

(53) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS se o produto for reparado pela rede

autorizada Rheem ou por autorizaccedilatildeo preacutevia formalizada pelo

Departamento de Assistecircncia Teacutecnica

(Certificado 20)

Na ocorrecircncia (53) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a validade da

garantia quanto ao local de assistecircncia Caso o produto seja reparado por profissional natildeo

autorizado pela fabricante Rheem a garantia do produto seraacute perdida A importacircncia o uso do

termo ―apenas na ocorrecircncia (53) se daacute pelo fato de que o autor busca restringir a

interpretaccedilatildeo do texto ao maacuteximo Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―apenas o

cliente poderia por exemplo interpretar que a garantia do produto eacute vaacutelida em qualquer

situaccedilatildeo e natildeo unicamente se seguir as recomendaccedilotildees descritas apoacutes o uso do termo

―apenas Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (53)

(54) Os produtos SOMENTE poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para

anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes sua autorizaccedilatildeo por escrito

(Certificado 21)

Na ocorrecircncia (54) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o modo

como deve submeter o produto agrave garantia Caso natildeo haja uma autorizaccedilatildeo por escrito para

enviar o produto para a faacutebrica o produto natildeo poderaacute seguir para anaacutelise A importacircncia da

utilizaccedilatildeo do termo ―somente se daacute pelo fato de que caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o

termo na ocorrecircncia (54) a interpretaccedilatildeo do texto ficaria sem limites ou seja os produtos

poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes a autorizaccedilatildeo por

83

escrito ou de qualquer outra forma Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (54)

34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS

Em nossa pesquisa analisamos cinquenta e quatro ocorrecircncias selecionadas a partir

dos vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Dividimos a anaacutelise por tipos de

ocorrecircncias com quantificador universal com condicional e com o apenassomente Para

apresentar um panorama sobre os tipos de ocorrecircncia e a quantidade das anaacutelises de cada tipo

vamos observar o quadro a seguir

Tipo de ocorrecircncia Nuacutemero de ocorrecircncias

Quantificador universal 15

Condicional 9

ApenasSomente 30

TOTAL 54

Quadro 2 ndash Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia Fonte elaborado pelo autor

Antes de discorrer nossos comentaacuterios sobre as anaacutelises de nosso trabalho temos que

tratar sobre a primeira importante impressatildeo que tivemos diante do corpus e das consequentes

anaacutelises dos quatro nexos semacircnticos que invocamos em nosso trabalho somente

identificamos ocorrecircncias com acarretamentos Tratamos com muita naturalidade este fato

porque por mais que em algumas leituras uma parte do conteuacutedo do segundo capiacutetulo possa

ser vista como desnecessaacuteria ndash pelo fato de tais conceitos natildeo estarem presentes nas anaacutelises

dessa pesquisa ndash encontramos aiacute uma caracteriacutestica do gecircnero textual certificado de garantia

que eacute a presenccedila de diversos acarretamentos mesmo que natildeo-expliacutecitos como demonstramos

em nosso trabalho (porque o gecircnero textual certificado de garantia natildeo possui uma linguagem

tatildeo controlada quanto a linguagem encontrada nos exemplos que criamos para ilustrar os

conceitos dos nexos) Dessa maneira fica claro que natildeo encontramos ocorrecircncias com

equivalecircncias semacircnticas contrariedades ou contraditoriedades o que nos permite definir

estas ausecircncias como uma caracteriacutestica intriacutenseca do gecircnero

84

Na primeira parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o quantificador

universal Identificamos quinze ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia

utilizaram esse recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (1) e (15)

percebemos que o uso do quantificador universal em algumas ocorrecircncias serviu apenas para

reforccedilar a informaccedilatildeo que o fabricante quis veicular ou seja se natildeo tivesse sido utilizado natildeo

modificaria o sentido do texto Pudemos identificar esse sentido por exemplo nas

ocorrecircncias (1) e (2)

Aleacutem desse sentido para o uso do quantificador universal encontramos ocorrecircncias

em que caso o quantificador natildeo tivesse sido utilizado haveria a possibilidade de

interpretarmos a ocorrecircncia de vaacuterias maneiras Nesses casos os autores utilizaram o

quantificador para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo direcionando a leitura do texto

para que o cliente possa interpretar o certificado da forma que o fabricante deseja Pudemos

identificar esse sentido por exemplo nas ocorrecircncias (3) (4) e (8)

Pudemos observar que os autores dos certificados de garantia utilizam tambeacutem o

quantificador universal em seus textos para se resguardarem em relaccedilatildeo a deveres que

poderiam ser reclamados pelo cliente caso natildeo houvesse o uso deste recurso Dessa forma

podemos entender que os autores dos certificados utilizaram o quantificador universal para se

favorecerem Pudemos observar essa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (5) (11) (13) e

(14) Em relaccedilatildeo a ocorrecircncias com o uso do quantificador universal em que o cliente eacute

beneficiado natildeo identificamos nenhum caso em nossa anaacutelise

Sobre o aparecimento de termos vagos ou termos polissecircmicos nas ocorrecircncias com a

presenccedila do quantificador universal pudemos observar que o maior motivo da sensibilidade

dos textos a esses tipos de efeitos linguiacutesticos eacute o fato de os autores dos textos em muitos

casos natildeo conceituarem os termos teacutecnicos que eles utilizam nos certificados de garantia Ao

utilizar um termo teacutecnico como por exemplo na ocorrecircncia (3) em que o autor do

certificado de garantia utiliza o termo ―viacutecio do produto ndash termo teacutecnico do CDC ndash natildeo

apresentando o conceito em seu texto dificulta a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Tendo contato

com o termo de forma solta sem estar delimitada pelo conceito que o autor deseja que o

cliente interprete a ocorrecircncia se torna vaga e polissecircmica

Ainda sobre os termos vagos ou termos polissecircmicos encontramos tambeacutem

ocorrecircncias em que os autores buscaram evitaacute-las justamente apresentando apoacutes a utilizaccedilatildeo

de um termo teacutecnico o seu respectivo conceito desta forma natildeo oferecendo a possibilidade

de interpretaacute-lo de vaacuterias maneiras Pudemos observar este uso por exemplo na ocorrecircncia

(10) em que o autor do certificado usa o termo ―garantia legal e logo em seguida apresenta

85

o conceito para o termo que eacute ―os primeiros 90 dias Dessa forma o cliente natildeo eacute autorizado

a interpretar o termo ―garantia legal de nenhuma outra forma que natildeo seja a descrita pelo

fabricante

Na segunda parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o uso do condicional

Identificamos nove ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia utilizaram este

recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (16) e (24) pudemos identificar

que o condicional foi utilizado pelos autores dos textos precedendo listas instrucionais o que

era esperado devido a caracteriacutestica proacutepria desse recurso que eacute o de condicionar algo agrave

alguma coisa Assim como nas ocorrecircncias que os autores utilizaram o quantificador

universal o condicional foi utilizado em boa parte das ocorrecircncias analisadas para restringir

a interpretaccedilatildeo do texto Pudemos identificar este sentido por exemplo nas ocorrecircncias (16)

(17) e (18)

Identificamos em boa parte das ocorrecircncias que possuem o uso do condicional que

este uso natildeo impotildee um limite na interpretaccedilatildeo Pudemos observar em nossa anaacutelise que os

condicionais foram utilizados precedendo listas exaustivas que continham situaccedilotildees por

exemplo em que a garantia seria invalidada Ao apresentar tais listas os autores natildeo

especificavam que natildeo haveria outros casos fora da lista em que a garantia seria invalidada

Dessa forma observamos que assim como nas ocorrecircncias com quantificador universal os

autores utilizaram os condicionais para se favorecerem Identificamos na ocorrecircncia (22)

recursos que restringem ainda mais as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente e

que consequentemente favorecem o fabricante como o uso do termo ―cumulativamente

que obriga o cliente a natildeo apenas estar dentro de uma ou mais situaccedilotildees descritas pelo

fabricante apoacutes o condicional mas a seguir todas as situaccedilotildees descritas ao mesmo tempo

Quando os fabricantes utilizaram o condicional precedendo listas que constam as

situaccedilotildees em que o cliente poderia perder a garantia eles usaram o recurso sem limites como

pudemos observar na ocorrecircncia (21) Mas quando os fabricantes utilizaram o condicional

precedendo listas que constam as situaccedilotildees em que o cliente tem direito a garantia eles

usaram os recursos com limites e como mostramos na ocorrecircncia (22) ainda utilizaram

recursos que limitam mais ainda a garantia

Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem das ocorrecircncias em que o condicional apareceu

de forma expliacutecita ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o mesmo

sentido como em (19) (20) e (24)

Sobre a presenccedila de termos polissecircmicos ou termos vagos nas ocorrecircncias com o uso

do condicional pudemos identificar que diferente das ocorrecircncias com o uso do

86

quantificador universal natildeo encontramos casos de termos vagos ou termos polissecircmicos nas

ocorrecircncias analisadas Identificamos em muitas ocorrecircncias que os autores dos certificados

apresentaram os conceitos para termos teacutecnicos apoacutes uso geralmente entre parecircnteses para

evitar que o termo ou a expressatildeo fossem interpretados de formas indevidas Encontramos

este tipo de estrateacutegia por exemplo na ocorrecircncia (17) do certificado 3 em que o autor

utiliza os termos ―garantia legal e ―garantia contratual mas no texto do certificado haacute o

conceito para cada termo o que impossibilita que o cliente interprete os termos de diversas

maneiras Caso o fabricante tivesse utilizado os dois termos teacutecnicos e em lugar algum do

certificado de garantia ele apresentasse os conceitos para os termos oportunizaria por

conseguinte diversas possibilidades de interpretaccedilatildeo dificultando a leitura do texto por parte

do cliente

Na terceira parte da anaacutelise tratamos sobre as ocorrecircncias com o uso do ―apenas e do

―somente Identificamos trinta ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia

utilizaram esses recursos linguiacutesticos Apesar do nuacutemero elevado de ocorrecircncias os sentidos

em que o ―apenas e o ―somente foram utilizados natildeo variaram muito Em grande parte das

ocorrecircncias analisadas o ―apenas e o ―somente foram utilizados para restringir a validade

da garantia desde restriccedilotildees em relaccedilatildeo ao territoacuterio de vigecircncia ateacute tipos de ambientes em

que os produtos podem ser utilizados Um tipo de ocorrecircncia que foi bastante recorrente em

nosso corpus foi o que utilizou o ―apenas ou ―somente para delimitar o territoacuterio em que a

garantia pode ser vaacutelida como por exemplo nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)

Nestas ocorrecircncias haacute o uso da expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que levantamos na anaacutelise

uma discussatildeo sobre as possibilidades de interpretaccedilatildeo para tal expressatildeo pelo fato de natildeo

haver nos certificados de garantia analisados um conceito definido para ela A ausecircncia do

conceito para este termo nos certificados de garantia pode dificultar a interpretaccedilatildeo

Tambeacutem podemos afirmar que em grande parte das ocorrecircncias analisadas o uso do

―somente ou ―apenas serviu para impor limites agraves interpretaccedilotildees dos textos direcionando-

os para a interpretaccedilatildeo que o fabricante desejasse impor Ou seja em grande parte das

ocorrecircncias em que foi utilizado o ―somente precedendo uma situaccedilatildeo X caso natildeo houvesse

esse uso a garantia por exemplo seria vaacutelida na situaccedilatildeo X mas tambeacutem nas situaccedilotildees Y Z

W sem limites Sem o uso do ―somente nessas ocorrecircncias o texto da garantia natildeo teria

sentido definido Pudemos observar esse sentido em diversas ocorrecircncias analisadas como

por exemplo nas ocorrecircncias (27) e (28) Ilustrando caso natildeo houvesse o uso do ―apenas

nas ocorrecircncias (27) e (28) a garantia seria vaacutelida no territoacuterio brasileiro e em qualquer outro

Ainda sobre as ocorrecircncias usam o ―somente ou ―apenas para restringir o territoacuterio em que

87

a garantia seraacute vaacutelida observamos que algumas ocorrecircncias especificam mais a validade da

garantia como em (48) que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para produtos vendidos e

instalados em territoacuterio nacional e outras ocorrecircncias que especificam menos como em (39)

que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para o veiacuteculo comercializado em territoacuterio brasileiro

Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem de ocorrecircncias em que o ―apenas e ―somente

apareciam explicitamente ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o

mesmo sentido como em (35) (36) e (41)

Sobre o aparecimento de termos polissecircmicos ou termo vagos aleacutem da expressatildeo

―territoacuterio brasileiro que mencionamos nos paraacutegrafos anteriores pudemos identificar

outros casos de termos polissecircmicos como por exemplo nas ocorrecircncias (25) e (26) Os

termos teacutecnicos utilizados pelos autores dos certificados de garantia natildeo possuiacuteam em lugar

algum dos textos os conceitos para lhes definirem possibilitando que o cliente interprete

estes termos de diversas maneiras

Ainda sobre casos de termos polissecircmicos observamos em algumas ocorrecircncias que

os autores dos certificados procuraram utilizar os termos teacutecnicos e em seguida ou em

alguma parte dos textos apresentaram os conceitos para os termos evitando muacuteltiplas

interpretaccedilotildees Identificamos o uso dessa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (43) (44) e

(49)

Nos trecircs tipos de ocorrecircncias que definimos para nossa anaacutelise pudemos identificar

que nos usos do quantificador universal condicional e ―apenas e ―somente os autores dos

certificados de garantia usaram esses recursos para se favorecerem Como analisado nas

ocorrecircncias do corpus os fabricantes utilizaram essas estrateacutegias tanto pelo fato de que eacute

necessaacuterio utilizar esses recursos por ser caracteriacutestico de textos instrucionais quanto pelo

fato de que o direcionamento das interpretaccedilotildees dos textos que eles constroem a partir destes

recursos podem favorecer os proacuteprios fabricantes

88

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Na presente seccedilatildeo iremos pontuar o percurso de nossa pesquisa e apresentar nossas

impressotildees sobre o corpus as teorias apresentadas e os resultados obtidos com as anaacutelises

O primeiro capiacutetulo de nossa pesquisa foi subdividido em duas partes na primeira

buscamos apresentar os conceitos gerais sobre os gecircneros textuais com base na proposta de

Bakhtin (2000) reafirmada por Marcuschi (2008) com o intuito de fornecer aporte teoacuterico

para a segunda parte do capiacutetulo em que caracterizamos o certificado de garantia como um

gecircnero textual Tal caracterizaccedilatildeo se deu pelo fato do nosso corpus ser composto por vinte e

dois certificados de garantia Ficamos surpresos por tomar conhecimento do fato de que ateacute o

presente momento natildeo identificamos publicaccedilotildees acadecircmicas em nosso paiacutes referentes agrave

caracterizaccedilatildeo de certificados de garantia como gecircneros textuais e esta dificuldade nos levou

a construir atraveacutes de nossa leitura a caracterizaccedilatildeo tanto quanto ao conteuacutedo quanto agrave

estrutura do texto A uacutenica bibliografia que encontramos e utilizamos como base para a

estruturaccedilatildeo da segunda parte do capiacutetulo tratando diretamente sobre os certificados de

garantia foi o Coacutedigo de Defesa e Proteccedilatildeo do Consumidor (1997) em que pudemos extrair

alguns conceitos gerais e recomendaccedilotildees de como se deve construir o texto de um certificado

de garantia Um dos problemas que encontramos foi a carecircncia de detalhes apresentados pelo

CDC na seccedilatildeo em que sugerem um padratildeo de formulaccedilatildeo do documento O CDC apenas

enfatiza que se faz necessaacuterio o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo e por exemplo a

necessidade de ser acompanhado do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto Com base

nessas informaccedilotildees apresentamos os conceitos e tambeacutem um exemplo de certificado de

garantia ilustrando cada parte da estrutura do texto

Na introduccedilatildeo do segundo capiacutetulo apresentamos uma discussatildeo geral sobre a

distinccedilatildeo entre semacircntica e pragmaacutetica com o objetivo de caracterizar os nexos como

relaccedilotildees linguiacutesticas do campo da semacircntica Para isso apresentamos tambeacutem os conceitos e

exemplos de relaccedilotildees linguiacutesticas que satildeo consideradas como pertencentes ao campo da

pragmaacutetica como a implicatura e pressuposiccedilatildeo Para esta discussatildeo buscamos aporte teoacuterico

nas obras de autores como Trask (2004) Levinson (2007) Grice (1987) Basso (2009)

Moura (1999) e Santos (2012)

Apoacutes a introduccedilatildeo do capiacutetulo apresentamos a teoria dos nexos semacircnticos que

escolhemos tratar em nossa pesquisa Foram eles o acarretamento a equivalecircncia semacircntica

a contradiccedilatildeo e a contrariedade Utilizamos como referencial teoacuterico para a teoria dos nexos

89

semacircnticos autores como Aristoacuteteles (1985) Chierchia (2001) Branquinho Murcho e Gomes

(2006) Pires de Oliveira (2001) e Mortari (2001) A apresentaccedilatildeo de cada nexo se deu a

partir dos conceitos seguidos de exemplos e dentro de cada seccedilatildeo apresentamos tambeacutem

tipos de ocorrecircncias lexicais que podem dificultar a intepretaccedilatildeo dos nexos que satildeo a

polissemia e a vagueza Ao apresentar os conceitos dessas ocorrecircncias lexicais assim como

fizemos na apresentaccedilatildeo dos nexos tambeacutem ilustramos com exemplos Utilizamos como

aporte teoacuterico para os conceitos de polissemia e vagueza autores como Crystal (1985) Allan

(2010) e Kempson (1977) Aleacutem da polissemia e vagueza tratamos sobre outro problema

que dificulta a interpretaccedilatildeo dos nexos as falaacutecias Quando tratamos sobre as caracteriacutesticas

das falaacutecias utilizamos como base teoacuterica o texto de Soares (2003) em que o autor distingue

as caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias e com esse aporte apresentamos nossos

exemplos

Quando tratamos sobre a contradiccedilatildeo e contrariedade apresentamos o fato de que as

suas origens tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica A partir disso trouxemos uma breve apresentaccedilatildeo

sobre os conceitos de Aristoacuteteles presentes em seu texto Organon (1985) mais

especificamente no Perieacutermeneas capiacutetulos 6 e 7

No final do capiacutetulo dois fizemos uma retrospectiva de todos os pontos que foram

apresentados ao longo do capiacutetulo e justificamos a nossa escolha em pesquisar sobre os nexos

semacircnticos assim como a polissemia vagueza e falaacutecias Durante todo o capiacutetulo dois

apresentamos os nexos e outras relaccedilotildees lexicais dentro de uma linguagem controlada que eacute

diferente do que acontece nos textos dos diversos gecircneros inclusive naquele escolhido para

compor o nosso corpus que satildeo os certificados de garantia A importacircncia dos conceitos

apresentados em nosso segundo capiacutetulo se deu pelo fato de que ele oferece uma base para a

compreensatildeo do funcionamento dessas relaccedilotildees semacircnticas para que diante das anaacutelises que

realizamos no capiacutetulo trecircs tenhamos uma leitura mais refinada e atenciosa para perceber

como essas relaccedilotildees semacircnticas tiacutepicas de linguagens controladas se apresentam em textos

que satildeo suscetiacuteveis a diversas ocorrecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo Ficamos surpresos

pelo fato de que pouco se escreveu sobre nexos semacircnticos em nosso contexto nacional de

pesquisa o que tornou a construccedilatildeo do nosso segundo capiacutetulo bastante desafiadora Em

relaccedilatildeo a artigos que trataram diretamente sobre os nexos semacircnticos e os seus usos como

suporte para a anaacutelise de ocorrecircncias em gecircneros textuais tivemos contato apenas com Santos

(2012) e Estrela e Santos (2013 2014)

No terceiro capiacutetulo que foi dedicado para conter a anaacutelise desta pesquisa

inicialmente apresentamos nossa justificativa para a escolha do gecircnero certificado de garantia

90

para analisar assim como a justificativa para a escolha de procurar nesses textos as

estrateacutegias linguiacutesticas utilizadas para restringir a interpretaccedilatildeo de sentenccedilas Em seguida

tratamos sobre os tipos de ocorrecircncias que elegemos para nossa anaacutelise como quantificador

universalcondicional e o ―apenas e o ―somente Esta escolha se deu pelo fato de tais

termos possuem caracteriacutesticas propiacutecias para o uso em restriccedilotildees ou abrangecircncias de textos

Mesmo assim tiacutenhamos conhecimento de que dificilmente encontrariacuteamos ocorrecircncias com

as relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos no capiacutetulo dois de forma expliacutecita e controlada

pois como discutimos anteriormente os diversos gecircneros textuais satildeo suscetiacuteveis a

interferecircncias lexicais que podem dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos

Em seguida apresentamos a anaacutelise do nosso corpus que totalizou cinquenta e quatro

trechos de certificados nos trecircs tipos de ocorrecircncias escolhidas para serem investigadas

Como jaacute apresentamos no final do capiacutetulo anterior nossas impressotildees sobre como foram

utilizados os recursos linguiacutesticos para restriccedilatildeo de interpretaccedilotildees pelos autores dos

certificados gostariacuteamos de enfatizar que nas ocorrecircncias com quantificador universal com

condicional e com o ―apenas e ―somente os fabricantes utilizaram estes recursos em

grande parte dos certificados para se favorecerem ou seja para abranger as possibilidades de

invalidade da garantia do produto aumentando as situaccedilotildees em que a garantia eacute perdida e

diminuindo as situaccedilotildees em que a garantia eacute vaacutelida (principalmente nas listas exaustivas)

Sobre ocorrecircncias em que identificados termos vagos ou termos polissecircmicos

identificamos como o motivo principal do aparecimento dessas ocorrecircncias a falta de

definiccedilatildeo dos termos teacutecnicos Em muitos certificados identificamos que os autores utilizaram

termos teacutecnicos (a maioria deles provenientes do CDC) e natildeo apresentaram em nenhuma

parte do texto as definiccedilotildees para tais termos oportunizando que o leitor interprete de

diversas maneiras os termos ou expressotildees

Por fim pudemos perceber que os quantificadores os condicionais e termos como o

―apenas e o ―somente que satildeo responsaacuteveis por abranger ou restringir interpretaccedilotildees de

sentenccedilas satildeo proacuteprios do tipo de texto instrucional que abarca o gecircnero que escolhemos para

nossa pesquisa A utilizaccedilatildeo desses termos seguiu uma ordem de apresentaccedilatildeo similar nos

vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Os quantificadores universais

apareceram muitas vezes nas explicaccedilotildees em que os fabricantes apresentavam prazos deveres

e direitos do fabricante e cliente os condicionais apareceram na maioria das vezes

precedendo as listas exaustivas e o ―apenas e ―somente apareceram em grande parte nos

trechos em que os fabricantes apresentavam delimitaccedilotildees territoriais para cobertura da

91

garantia e explicaccedilotildees sobre as situaccedilotildees em que a garantia eacute invalidada e as situaccedilotildees em que

a garantia se assegura

Assim como justificamos no iniacutecio das consideraccedilotildees sobre os resultados obtidos em

nossa anaacutelise natildeo encontramos ocorrecircncias com trecircs dos quatro nexos semacircnticos

apresentados no segundo capiacutetulo O fato de natildeo termos identificado ocorrecircncias com

equivalecircncias semacircnticas contrariedades e contraditoriedades traacutes a tona uma interessante

caracteriacutestica do gecircnero certificado de garantia que eacute a constante presenccedila de acarretamentos

na redaccedilatildeo do texto mesmo que apresentados indiretamente diferente dos exemplos que

utilizamos para ilustrar os conceitos nos diversos textos sobre o assunto e a natildeo utilizaccedilatildeo de

equivalecircncias sentenccedilas contraacuterias e contraditoacuterias na redaccedilatildeo do texto

Atraveacutes dessa pesquisa em que tratamos sobre os nexos semacircnticos a polissemia a

vagueza e alguns outros tipos de relaccedilotildees semacircnticas desejamos que outros pesquisadores se

interessem por este tipo de trabalho e busquem explorar nas anaacutelises linguiacutesticas outros

gecircneros textuais pouco explorados como o que utilizamos no presente trabalho Apresentar

uma teoria que eacute tipicamente de linguagens controladas como a dos nexos semacircnticos (que

satildeo como jaacute discutimos dependentes unicamente da forma das sentenccedilas) e analisar como

essas estrateacutegias linguiacutesticas se comportam dentro de textos instrucionais (que ainda satildeo

pouco explorados nas anaacutelises semacircnticas) satildeo a nosso ver interessantes caminhos a serem

desbravados nos estudos da semacircntica assim como as suas aplicaccedilotildees nos diversos gecircneros

textuais que nos rodeiam

92

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95

ANEXOS

Certificado 1

96

Certificado 2

97

Certificado 3

98

Certificado 4

99

Certificado 5

100

Certificado 6

101

Certificado 7

102

Certificado 8

103

Certificado 9

104

105

Certificado 10

106

Certificado 11

107

Certificado 12

108

109

Certificado 13

110

Certificado 14

111

112

Certificado 15

113

114

Certificado 16

115

116

117

118

119

120

121

Certificado 17

122

Certificado 18

123

Certificado 19

124

125

Certificado 20

126

Certificado 21

127

Certificado 22

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 13

1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA 16

11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS 16 12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL 26

2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS 32

21 ACARRETAMENTO 35 22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA 42 23 CONTRADITORIEDADE 45 24 CONTRARIEDADE 48 25 JUSTIFICANDO O PERCURSO 51

3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA 53

31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL 55 32 USO DO CONDICIONAL 64 33 USO DO APENASSOMENTE 68 34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS 83

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 88

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 92

ANEXOS 95

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa 14

QUADRO 2 - Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia 83

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

ILUSTRACcedilAtildeO 1 - Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 27

ILUSTRACcedilAtildeO 2 - Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28

ILUSTRACcedilAtildeO 3 - Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28

ILUSTRACcedilAtildeO 4 - Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 28

ILUSTRACcedilAtildeO 5 - Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG 29

13

INTRODUCcedilAtildeO

A abordagem das relaccedilotildees de significado eacute algo bastante presente e discutido nos

estudos semacircnticos Observar como se comportam os termos na construccedilatildeo da significaccedilatildeo

em textos de diversos gecircneros distintos e seus efeitos interpretativos tambeacutem satildeo temas de

diversas produccedilotildees na aacuterea de linguiacutestica

Neste trabalho iremos discutir as relaccedilotildees de significado entre sentenccedilas e os efeitos

interpretativos dessas relaccedilotildees em textos Mais especificamente abordaremos os nexos

semacircnticos ou nexos de significado (Chierchia 2003) acarretamento equivalecircncia semacircntica

contrariedade (os quais podemos encontrar no referido trabalho de Chierchia) e

contraditoriedade (nexo semacircntico que geralmente eacute relacionado com a contrariedade e que

foi tratado por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado atraveacutes de seu quadrado loacutegico

ou taacutebua de oposiccedilotildees em seu texto Perieacutermeneas (1985) mais especificamente nos

capiacutetulos 6 e 7 sobre o qual faremos menccedilatildeo na seccedilatildeo sobre este nexo)

Este trabalho tem por objetivo observar alguns dos recursos linguiacutesticos utilizados

para favorecer a existecircncia de nexos semacircnticos e com isso restringir ou ampliar

possibilidades de interpretaccedilatildeo em um gecircnero textual especiacutefico Por este motivo o gecircnero

que escolhemos analisar foi o certificado de garantia ou termo de garantia que pertence agrave

categoria dos textos instrucionais (ou injuntivos) e a nosso ver possui caracteriacutesticas que

favorecem a amostragem das ocorrecircncias dos nexos

O gecircnero certificado de garantia possui como uma de suas caracteriacutesticas a

apresentaccedilatildeo organizada dos direitos e deveres do cliente e do fabricante com relaccedilatildeo a um

produto servindo tambeacutem para informar ao cliente os seus direitos referentes agrave validade

prazos e extensatildeo de cobertura da garantia Supotildee-se entatildeo que o texto deve por isso ser

objetivo e livre de ambiguidades e incoerecircncias

Nossa hipoacutetese eacute a de que recursos linguiacutesticos que favoreccedilam a existecircncia de nexos

semacircnticos nos textos dos certificados ndash como o emprego por exemplo de conectivos e

quantificadores (Chierchia 2003 PIRES DE OLIVEIRA 2001) ndash estatildeo presentes em textos

deste gecircnero e contribuem para que os textos alcancem o objetivo de informar ao cliente e ao

fabricante seus deveres e direitos

O corpus desta pesquisa conta com 22 (vinte e dois) exemplares de certificados de

garantia de produtos diversos para constituir um panorama ainda que reduzido de instacircncias

do gecircnero A coleta dos textos se deu atraveacutes da internet sem utilizar nenhuma metodologia

14

especiacutefica de escolha atentando para buscar certificados de produtos variados Os textos

escolhidos para a anaacutelise de nosso trabalho incluem diversos produtos manufaturados como

moacuteveis veiacuteculos eletroeletrocircnicos entre outros equipamentos domeacutesticos como ilustrado no

quadro a seguir

Nordm Tipo de objeto Fabricante

1 Refrigerador Samsung

2 TV led Sony

3 Condicionador de ar LG

4 Tablet AOC

5 AudioMixer Oneal

6 Garantia para todos os produtos Elgin

7 Estabilizador de energia APC

8 Aquecedor de aacutegua Bosch

9 Fogatildeo Brastemp

10 Maacutequina de lavar Electrolux

11 Ventilador Cadence

12 GPS Positron

13 Umidificador de ar Springer

14 Certificado internacional de garantia Philips

15 Colchatildeo Ortobom

16 Caminhotildees Mercedes-Benz

17 Carro de passeio Hyundai

18 Moacuteveis Bartzen

19 Aquecedor de ar Fujitsu

20 Tv AOC

21 Aquecedor de aacutegua para piscina Rheem

22 Bicicleta Total Health

Quadro 1 ndash Certificados de garantia que compotildeem o corpus desta pesquisa Fonte elaborado pelo autor

Como nosso propoacutesito eacute analisar os textos observando as ocorrecircncias de termos que

restringem e abrangem interpretaccedilotildees natildeo temos a intenccedilatildeo de analisar se um fabricante

elaborou um texto melhor que outro

No primeiro capiacutetulo apresentamos num primeiro momento o que satildeo gecircneros

textuais e em seguida caracterizamos o certificado de garantia como um gecircnero textual Para

tanto utilizamos o aporte teoacuterico baseado na obra de Mikhail Bakhtin (2000) linguista do

iniacutecio do seacuteculo referecircncia nos estudos de gecircneros textuais e de Luiz Antocircnio Marcuschi

(2002 2005 2008) linguista contemporacircneo que desenvolveu importantes trabalhos nessa

disciplina Vale salientar que como o foco de nossa pesquisa natildeo eacute a discussatildeo de gecircneros

textuais o capiacutetulo que construiacutemos trata de conceitos gerais sobre gecircneros tendo como

15

objetivo observar que o certificado de garantia eacute um gecircnero textual e mostrando como se

estrutura em linhas gerais um texto deste gecircnero

No segundo capiacutetulo trataremos dos nexos semacircnticos dos quais consideraremos

para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e

contrariedade Atraveacutes de exemplos discutimos brevemente cada um deles mostrando

exemplos que funcionam e tambeacutem exemplos problemaacuteticos em relaccedilatildeo ao leacutexico

especialmente em casos de polissemia para que entatildeo seja possiacutevel a anaacutelise do capiacutetulo

seguinte

No terceiro capiacutetulo traremos a anaacutelise do corpus que se apresentaraacute organizado por

ocorrecircncias distribuiacutedas em tipos a saber uso do quantificador universal uso do condicional

e uso do apenassomente Apoacutes o exame das trecircs categorias citadas trataremos entatildeo das

relaccedilotildees entre o emprego dos recursos e a funccedilatildeo dos certficados Procuraremos tambeacutem

refletir se os recursos satildeo mais utilizados para favorecer o cliente ou mais utilizados para

favorecer o fabricante

Por uacuteltimo mostraremos as consideraccedilotildees finais do trabalho e em seguida as

referecircncias bibliograacuteficas utilizadas na elaboraccedilatildeo de nosso texto

16

1 O GEcircNERO CERTIFICADO DE GARANTIA

Neste capiacutetulo tratamos dos gecircneros textuais e da caracterizaccedilatildeo dos certificados de

garantia como um gecircnero textual Em um primeiro momento traremos a perspectiva sobre

gecircneros textuais de Mikhail Bakhtin precursor dos estudos de gecircneros textuais na linguiacutestica

e em seguida apresentaremos a perspectiva de Luiz Antocircnio Marcuschi linguista brasileiro

que tambeacutem trabalha com o tema e compartilha em grande parte da perspectiva de Bakhtin

sobre o os gecircneros Eacute importante ressaltar que este capiacutetulo natildeo tem por objetivo o

aprofundamento nos estudos dos gecircneros e serve como um instrumento para contextualizar o

corpus desta pesquisa

11 GEcircNEROS TEXTUAIS CONCEITOS BAacuteSICOS

Considerando a perspectiva apresentada por Mikhail Bakhtin na obra Esteacutetica da

criaccedilatildeo verbal (2000) o ato de se comunicar eacute indispensaacutevel para as relaccedilotildees humanas Aleacutem

disso ressaltamos que eacute por tal razatildeo que nas diversas situaccedilotildees de interaccedilatildeo que

vivenciamos em nosso cotidiano observamos a utilizaccedilatildeo da liacutengua em suas modalidades

oral eou escrita como instrumento principal de nossas trocas comunicativas

Eacute notoacuterio que a quantidade de atividades eacute enorme assim como satildeo os diferentes tipos

de situaccedilotildees em que a liacutengua eacute empregada Atraveacutes da formulaccedilatildeo de enunciados podemos

caracterizar quais as funccedilotildees dos discursos que escolhemos para os diversos tipos de

interaccedilatildeo

Nesse sentido eacute possiacutevel afirmarmos que todas as nossas construccedilotildees linguiacutesticas

organizam-se em gecircneros discursivos por meio dos quais conseguimos nos comunicar e

interagir socialmente

Em conformidade com a proposta de Bakhtin todo gecircnero discursivo se constitui a

partir das seguintes dimensotildees o conteuacutedo temaacutetico o estilo e a construccedilatildeo composicional

Esta descriccedilatildeo eacute claacutessica como ponto de partida para a descriccedilatildeo dos gecircneros textuais e nos

ofereceraacute a possibilidade de tanto descrever o que eacute um gecircnero textual quanto caracterizar

um texto como gecircnero que seraacute o nosso objetivo na segunda parte deste capiacutetulo

O conteuacutedo temaacutetico se refere ao tipo de assunto veiculado no texto Por tal razatildeo

Bakhtin (2000) afirma que o gecircnero eacute escolhido a partir do que o locutor decide falar Assim

17

eacute faacutecil compreender por que cada atividade comunicativa necessita de um tipo especiacutefico de

textodiscurso Por exemplo natildeo se responde (normalmente) uma carta informal com uma

bula de remeacutedio (a natildeo ser que na carta um texto desse gecircnero seja solicitado como

resposta) Nesse sentido percebe-se que para cada esfera de comunicaccedilatildeo o locutor e

interlocutor utilizam uma mesma forma de expressatildeo tendo em vista o assunto que

escolheram tratar Caso contraacuterio se locutor e interlocutor agregam formas distintas de

expressatildeo pode ser que a comunicaccedilatildeo natildeo seja efetivada com sucesso visto que eacute possiacutevel

natildeo haver o entendimento das partes uma vez que cada gecircnero abarca certo campo de uso

mesmo estando em constante desenvolvimento

O estilo se refere aos recursos linguiacutesticos desde gramaticais ateacute lexicais e eles

variam de acordo com o gecircnero Essa dimensatildeo abarca a seleccedilatildeo frasal lexical gramatical e

as formas de apresentar o discurso que satildeo inerentes ao gecircnero escolhido Bakhtin (2000)

afirma que o estilo eacute a primeira vista individual do gecircnero e ela reflete (ou natildeo) a

individualidade de quem escreve ou fala Isso porque dependendo do gecircnero o estilo

individual aparece com mais clareza Da mesma forma haacute gecircneros que natildeo possuem essa

caracteriacutestica a exemplo dos textos injuntivos sobre os quais trataremos mais agrave frente Ainda

a respeito do estilo Bakhtin assegura que

Quando escolhemos as palavras no processo de construccedilatildeo de um enunciado nem

de longe as tomamos sempre do sistema da liacutengua em sua forma neutra

lexicograacutefica Costumamos tiraacute-las de outros enunciados e antes de tudo de

enunciados congecircneres com o nosso isto eacute pelo tema pela composiccedilatildeo pelo estilo

consequentemente selecionamos as palavras segundo a sua especificaccedilatildeo de

gecircnero O gecircnero do discurso natildeo eacute uma forma da liacutengua mas uma forma tiacutepica do

enunciado como tal forma o gecircnero inclui certa expressatildeo tiacutepica a ele inerente

(BAKHTIN 2010 [1992] p 292 grifos do autor)

Nessa perspectiva podemos afirmar que tal criteacuterio se refere agraves propriedades das

unidades de linguagem e relaciona-se agrave posiccedilatildeo enunciativa do locutor agraves sequecircncias textuais

e aos tipos discursivos que estruturam o texto

Por fim Bakhtin (2000) afirma que cada gecircnero possui uma forma padratildeo que eacute a

estrutura composicional Eacute atraveacutes dessa forma que podemos identificar qual gecircnero estaacute

sendo empregado pois essa dimensatildeo se refere aos procedimentos utilizados na formulaccedilatildeo

dos textos com a estrutura e demais aspectos formais incluindo as partes envolvidas no

discurso Em suma para Bakhtin (2000)

18

Estes trecircs elementos (conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo composicional)

fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado e todos eles satildeo marcados pela

especificidade de uma esfera de comunicaccedilatildeo Qualquer enunciado considerado

isoladamente eacute claro individual mas cada esfera de utilizaccedilatildeo da liacutengua elabora

seus tipos relativamente estaacuteveis de enunciados sendo isso que denominamos

gecircneros do discurso (BAKHTIN 2000 p 279 Grifos do autor)

Ainda a respeito dos gecircneros do discurso conveacutem ressaltar que sua variedade eacute

proporcional agraves possibilidades de interaccedilotildees humanas pois as diversas esferas de interaccedilatildeo

satildeo compostas por classes de gecircneros que se desenvolvem tornando-se maiores e mais

complexas em consonacircncia com o desenvolvimento dessas esferas

Bakhtin (2000) utiliza o termo ―heterogeneidade para adjetivar os gecircneros do

discurso sejam eles orais ou escritos inferindo que estes incluem desde conversas informais

cartas relatos familiares ateacute produccedilotildees mais complexas como os documentos oficiais textos

cientiacuteficos e de escolas literaacuterias Natildeo haacute razatildeo para minimizar a extrema heterogeneidade

dos gecircneros do discurso e a consequente dificuldade quando se trata de definir o caraacuteter

geneacuterico do enunciadolsquo (BAKHTIN 2000 p 281) Dessa forma entendemos que a

variedade de gecircneros eacute muito grande se estendendo por exemplo dos romances mais

eruditos ateacute os bilhetes de recados do dia-a-dia e que tratar dos gecircneros admitindo suas

caracteriacutesticas estruturais particulares natildeo eacute uma tarefa faacutecil de realizar

Aleacutem de discorrer sobre as dimensotildees constitutivas de um gecircnero tendo em vista essa

heterogeneidade Bakhtin categoriza os gecircneros textuais em primaacuterios (simples) e

secundaacuterios (complexos) Assim os gecircneros primaacuterios satildeo aqueles referentes agraves reacuteplicas de

diaacutelogos cotidianos como cartas pessoais e demais gecircneros de comunicaccedilatildeo imediata Satildeo

chamados ―simples porque satildeo formados por discursos de baixa complexidade Jaacute os

gecircneros secundaacuterios satildeo aqueles referentes a romances textos cientiacuteficos sociopoliacuteticos e

afins Satildeo textos (escritos ou produzidos para serem encenados como os teatrais ndash exemplo

usado pelo proacuteprio Bakhtin) com maior carga de complexidade de produccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo

Surgem a partir de interaccedilotildees mais aprofundadas nas comunidades com maior grau de

imersatildeo em relaccedilatildeo aos padrotildees culturais e sociais

Ele ainda ressalta que os gecircneros secundaacuterios tambeacutem podem conter gecircneros

primaacuterios ―o romance em seu todo eacute um enunciado da mesma forma que a reacuteplica do

diaacutelogo cotidiano ou a carta pessoal (satildeo fenocircmenos da mesma natureza) o que diferencia o

romance eacute ser um enunciado secundaacuterio (complexo) (BAKHTIN 2000 p 281) Ao

discorrer sobre essa questatildeo o autor assevera que eacute de grande importacircncia teoacuterica a

19

diferenciaccedilatildeo entre esses tipos de gecircneros pois com isso e a partir disso podemos fazer

anaacutelises precisas dos enunciados que podem contrapor dois ou mais tipos de textos

Ignorar as caracteriacutesticas intriacutensecas a cada gecircnero a ―natureza dos enunciados - que

segundo Bakhtin eacute indispensaacutevel para qualquer estudo ndash eacute partir para a abstraccedilatildeo da liacutengua

desvalorizando o conteuacutedo histoacuterico imerso em cada tipo de gecircnero Eacute importante considerar

a relaccedilatildeo existente entre ―a liacutengua e a vida e natildeo restringir os enunciados a categorias

formais Haacute portanto uma relaccedilatildeo de complementaccedilatildeo entre a liacutengua a vida e os enunciados

pois ―a liacutengua penetra na vida atraveacutes dos enunciados concretos que a realizam e eacute tambeacutem

atraveacutes dos enunciados concretos que a vida penetra na liacutengua (BAKHTIN 2000 p 282)

Bakhtin (2000) tambeacutem se refere a questotildees da ―totalidade do enunciado que ele

define como aquilo que oportuniza a resposta em um discurso Bakhtin afirma que essa accedilatildeo

eacute definida por trecircs fatores diretamente associados ao ―todo orgacircnico do enunciado

primeiramente o tratamento exaustivo do objeto de sentido depois o querer-dizer do locutor

e por fim as formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do acabamento

O tratamento exaustivo do objeto de sentido ―varia profundamente conforme as

esferas da comunicaccedilatildeo verbal Em algumas esferas ele pode ser quase total como por

exemplo na vida praacutetica na vida profissional na vida militar basicamente em esferas que

natildeo possuem caracteriacutesticas de mutabilidade de discurso e pouca ―criatividade nas

formulaccedilotildees entre outras palavras onde os gecircneros do discurso satildeo padronizados Jaacute nas

esferas em que os gecircneros satildeo ―criativos o tratamento exaustivo eacute muito menos abrangente

como no caso das ciecircncias em particular onde Bakhtin infere que o tratamento exaustivo

―oferece exatamente um miacutenimo de acabamento capaz de suscitar uma atitude responsiva

(BAKHTIN 2000 p 300)

O querer-dizer do locutor estaacute ligado ao primeiro fator O filoacutesofo afirma que em todo

enunciado desde uma reacuteplica cotidiana ateacute complexas obras cientiacuteficas ou da literatura

compreendemos sentimos o ―intuito discursivo ou querer-dizer do locutor que eacute o que

determina o ―todo do enunciado sua amplitude suas fronteiras Noacutes identificamos o que o

locutor quer expressar e a partir dessa detecccedilatildeo medimos e definimos como se daraacute o

enunciado Isso eacute determinante para a escolha do objeto com seus limites e o tratamento

exaustivo do objeto adequado a este aleacutem de ser essencial para a escolha da forma do gecircnero

onde seraacute edificado

As formas tiacutepicas de estruturaccedilatildeo do gecircnero do acabamento representam o fator mais

importante para Bakhtin que as descreve como ―formas estaacuteveis do gecircnero do enunciado

(BAKHTIN 2000 p 301)

20

As formas do gecircnero agraves quais modelamos nossa fala se distinguem

substancialmente das formas da liacutengua do ponto de vista de sua estabilidade e de

suas leis normativas para o locutor De um modo geral elas satildeo mais maleaacuteveis

mais plaacutesticas e mais livres do que as formas da liacutengua (BAKHTIN 2000 p 302)

Concluindo a discussatildeo sobre gecircneros a partir dos conceitos gerais propostos por

Bakhtin passamos agora para a discussatildeo sobre gecircneros realizada por Marcuschi (2008) Eacute

possiacutevel perceber ao longo da explanaccedilatildeo que este autor se identifica com a teoria

bakhtiniana de gecircneros textuais e foi essa identificaccedilatildeo uma das motivaccedilotildees que nos levou a

escolhecirc-los para a composiccedilatildeo deste capiacutetulo

De acordo com Marcuschi (2008 p 154) toda comunicaccedilatildeo soacute pode ser efetivada

por meio de um gecircnero pois ―eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum gecircnero

assim como eacute impossiacutevel natildeo se comunicar verbalmente por algum texto Partindo dessa

premissa podemos entender que qualquer manifestaccedilatildeo verbal se daacute dentro dos limites dos

gecircneros Eacute por esse motivo que a variedade de gecircneros eacute extensa mas natildeo infinita Atraveacutes

desse conceito observamos que Marcuschi compactua com o conceito bakhtiniano de que os

gecircneros possuem formas padronizadas e finitas

Os gecircneros textuais satildeo os textos que encontramos em nossa vida diaacuteria e que

apresentam padrotildees sociocomunicativos caracteriacutesticos definidos por composiccedilotildees

funcionais objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integraccedilatildeo

de forccedilas histoacutericas sociais institucionais e teacutecnicas (Marcuschi 2008 p 155)

Natildeo devemos considerar os gecircneros textuais como modelos imutaacuteveis e de ―estrutura

riacutegidas A apresentaccedilatildeo dos gecircneros se mostra ligada diretamente ao meio em que circulam

Satildeo formas culturais que tomam forma na liacutengua e que evoluem junto com ela Obviamente

que natildeo podemos deixar de considerar que os gecircneros possuem identidade e eacute atraveacutes dessa

identidade que escolhemos um tipo especiacutefico para cada esfera discursiva Dessa forma

admitimos que os gecircneros limitam nossa accedilatildeo na escrita

Em relaccedilatildeo agrave distinccedilatildeo entre gecircneros Marcuschi (2008) natildeo os distingue pelas formas

linguiacutesticas mas sim pelos seus campos de accedilatildeo Nesse sentido ele reafirma a perspectiva

bakhtiniana de que os gecircneros satildeo dinacircmicos e que por serem soacutecio-histoacutericos natildeo podem

ser contados de modo exaustivo o que dificulta sua classificaccedilatildeo Marcuschi (2008) afirma

que atualmente o objetivo maior nos estudos sobre gecircneros textuais eacute procurar identificar e

explicar como eles satildeo constituiacutedos e como circulam na sociedade

21

Eacute importante apresentar alguns conceitos referentes ao que estamos discutindo sobre

gecircneros do discurso dentre os quais destacamos os conceitos de tipo textual gecircnero textual e

domiacutenio discursivo segundo Marcuschi (2008) levando em consideraccedilatildeo a possibilidade de

se obter melhor entendimento no trato com o texto em si e seus fenocircmenos

O tipo textual eacute definido pelos aspectos linguiacutesticos ou seja por marcas lexicais

tempos verbais estilo relaccedilotildees loacutegicas e aspectos sintaacuteticos Logo relaciona-se mais agraves

sequecircncias linguiacutesticas do que a materializaccedilotildees textuais fazendo com que o conjunto

tipoloacutegico de textos seja limitado e natildeo apresente tendecircncias de aumentar Marcuschi (2002

p22) afirma que os tipos textuais compreendem categorias amplamente conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo exposiccedilatildeo descriccedilatildeo e injunccedilatildeo que observaremos separadamente a

seguir

A narraccedilatildeo relata um fato que pode ser real ou imaginaacuterio em um tempo e lugar

definidos envolvendo personagens Nesse tipo de texto o tempo verbal predominante eacute o

passado ao menos nos exemplos mais tiacutepicos Eacute predominante em crocircnicas piadas

romances poemas faacutebulas entre outros Vejamos o exemplo a seguir

O cavalo e o burro

O cavalo e o burro seguiam juntos para a cidade O cavalo contente da vida

folgando com uma carga de quatro arrobas apenas e o burro mdash coitado gemendo

sob o peso de oito Em certo ponto o burro parou e disse

ndash Natildeo posso mais Esta carga excede agraves minhas forccedilas e o remeacutedio eacute repartirmos o

peso irmatildemente seis arrobas para cada um

O cavalo deu um pinote e relichou uma gargalhada

ndash Ingecircnuo Quer entatildeo que eu arque com seis arrobas quando posso tatildeo bem

continuar com as quatro Tenho cara de tolo

O burro gemeu

ndash Egoiacutesta Lembre-se que se eu morrer vocecirc teraacute que seguir com a carga de quatro

arrobas e mais a minha

O cavalo pilheriou de novo e a coisa ficou por isso Logo adiante poreacutem o burro

tropica vem ao chatildeo e rebenta

Chegam os tropeiros maldizem a sorte e sem demora arrumam com as oito arrobas

do burro sobre as quatro do cavalo egoiacutesta E como o cavalo refuga datildeo-lhe de

chicote em cima sem doacute nem piedade

ndash Bem feito exclamou o papagaio Quem mandou ser mais burro que o pobre burro

e natildeo compreender que o verdadeiro egoiacutesmo era aliviaacute-lo da carga em excesso

Tome Gema dobrado agorahellip

(LOBATO M 2010 p 85)

Acima podemos observar um exemplo de narraccedilatildeo que eacute uma das faacutebulas de

Monteiro Lobato escrita em grande parte em discurso direto Podemos observar na faacutebula

que o texto eacute conduzido pelo narrador intercalado pela interaccedilatildeo dos personagens A seguir

22

continuaremos a descriccedilatildeo dos tipos textuais e exemplos com o conceito do tipo textual

argumentativo

Jaacute a argumentaccedilatildeo tem por principal caracteriacutestica a construccedilatildeo do convencimento

acerca da validade ou invalidade de um ponto de vista por sobre outro Nesse tipo de texto haacute

a reflexatildeo sobre temas especiacuteficos confrontando perspectivas distintas predominante em

gecircneros como debates resenhas editoriais artigos de opiniatildeo e afins Vejamos o exemplo a

seguir

O povo brasileiro estaacute cansado de tanta corrupccedilatildeo desigualdade de renda serviccedilos

puacuteblicos precaacuterios sensaccedilatildeo de inseguranccedila nas ruas elevada carga tributaacuteria

ineficiecircncia nos gastos puacuteblicos e elevaccedilatildeo da inflaccedilatildeo aleacutem do estilo autoritaacuterio e

inflexiacutevel da presidente O estranho eacute pensar sobre as razotildees que levaram a

populaccedilatildeo agraves ruas no momento atual em que a economia apresentou uma

significativa evoluccedilatildeo em relaccedilatildeo aos anos 80 e 90 aleacutem de presenciar sensiacutevel

melhora na renda meacutedia e na sua distribuiccedilatildeo nos anos 2000

A minha impressatildeo eacute de que depois de sentir a possibilidade de que o paiacutes entraria

em uma rota segura de crescimento da renda e de desenvolvimento econocircmico

(semelhante agrave sensaccedilatildeo que a populaccedilatildeo brasileira presenciou nos anos 70) o

enfraquecimento econocircmico e os sinais cada vez mais claros de que ele eacute resultante

de problemas internos deixaram a populaccedilatildeo transtornada Mais uma vez somos

apenas o paiacutes do futuro (NAKABASHI 2013 Acesso

httpwwwgazetadopovocombropiniaoartigosmanifestacoes-e-governo-no-

brasil-bdcjgu3mm6ql5e18tqoj73c5q)

Observamos acima uma parte de um artigo de opiniatildeo publicado no jornal Gazeta do

Povo em 02072013 por Luciano Nakabashi que trata das manifestaccedilotildees e do governo no

Brasil O autor anuncia primeiro o problema que vai discutir e em seguida lanccedila sua opiniatildeo

sobre o tema o que faz com que esse tipo de texto seja distinto da exposiccedilatildeo que

abordaremos a seguir

A exposiccedilatildeo apresenta informaccedilotildees sobre acontecimentos materiais e objetos de

forma detalhada e especiacutefica e por isso costuma lanccedilar matildeo de recursos como a descriccedilatildeo

informaccedilatildeo enumeraccedilatildeo comparaccedilatildeo e contrastes O tipo expositivo eacute caracteriacutestico de

gecircneros como as aulas expositivas verbetes de dicionaacuterios notiacutecias jornaliacutesticas entre

outros Vejamos o exemplo

Dianoia Termo grego que pode ser traduzido por pensamento intelecto

espiacuterito A dianoia eacute o pensamento discursivo enquanto elaboraccedilatildeo explicitaccedilatildeo

ou desenvolvimento da noese ou nous isto eacute da razatildeo intuitiva que capta de

modo imediato o real (Aristoacuteteles Tratado da alma III) Neste sentido a dianoia eacute

inferior ao nous jaacute que depende deste (MARCONDES e JAPIASSUacute 2001 p54)

23

Tomamos como exemplo de exposiccedilatildeo um verbete de um dicionaacuterio de filosofia

Podemos observar que os autores apresentam a palavra ―dianoia e em seguida conceituam a

dianoia a partir da perspectiva de um filoacutesofo especiacutefico (neste caso Aristoacuteteles)

O tipo textual descriccedilatildeo por sua vez eacute o relato particular de eventos e entidades e se

relaciona comumente com outros tipos em inuacutemeros gecircneros textuais Eacute caracteriacutestico em

cartazes promocionais anuacutencio de classificados entre outros Vamos observar agora um

exemplo de descriccedilatildeo atraveacutes da anaacutelise de uma obra de arte de Salvador Dali de 1955

intitulada ―A uacuteltima ceia

―Sua cena estaacute contida num retacircngulo Uma imensa janela ao fundo representada

por um dodecaedro (figura geomeacutetrica de 12 lados que sua vez satildeo pentaacutegonos ou

seja possuem cinco acircngulos cada um) domina toda a composiccedilatildeo

Jesus Cristo e seus 12 apoacutestolos estatildeo reunidos numa sala moderna envidraccedilada

Ele ocupa o centro da mesa de pedra o centro da tela e o centro do pentaacutegono

frontal do dodecaedro Cristo estaacute de frente para o observador contudo seu corpo

transluacutecido permite ver o mar e um barco o que indica que ele natildeo mais eacute humano

mas divino A sensaccedilatildeo que temos eacute de que seu corpo emerge de dentro do mar

Diante de Cristo sobre a mesa estatildeo um copo com vinho e as duas bandas do patildeo

jaacute repartido o que nos permite concluir que Daliacute pintou o momento da Eucaristia A

presenccedila dos barcos no mar remete aos ―pescadores de homens

A mesa eacute formada por um bloco retangular Doze apoacutestolos debruccedilam-se sobre ela

sendo trecircs agrave esquerda de Cristo e trecircs agrave direita Nas suas extremidades estatildeo quatro

apoacutestolos sendo dois de cada lado De costa para o observador estatildeo mais dois

deles Todos estatildeo com as cabeccedilas baixas Um dos apoacutestolos diverge dos demais ao

usar uma toga amarela O pintor queria com certeza diferenciaacute-lo Portanto tanto

pode ser Pedro o fundador da Igreja ou Judas o traidor

No alto com a cabeccedila invisiacutevel e com parte do tronco visiacutevel e os braccedilos abertos

Deus Pai humanizado abraccedila toda a cena como se aguardasse a chegada do Filho

que se encontra entre os homens Ao fundo um mar tranquilo com rochas

espalhadas e um ceacuteu cheio de nuvens compotildeem o segundo plano da tela (Viacuterus da

arte amp cia ndash Site brasileiro especializado em arte e cultura Disponiacutevel em

httpvirusdaartenetdali-a-ultima-ceia)

Acima podemos observar a descriccedilatildeo de uma obra de arte do pintor catalatildeo Salvador

dali retirado de uma paacutegina sobre arte Como o nome do tipo textual sugere a descriccedilatildeo tem

por objetivo descrever fatos mas tambeacutem caracteriacutesticas para objetos paisagens e situaccedilotildees

diversas No exemplo que utilizamos para descriccedilatildeo observamos a descriccedilatildeo de uma obra de

arte por parte de um espectador demonstrando detalhes do que estaacute impresso na pintura

assim como uma interpretaccedilatildeo da cena

O uacuteltimo tipo textual que consideraremos aqui eacute o tipo injuntivo que tem por objetivo

instruir o leitor ou persuadi-lo a fazer algo ou adotar algum ponto de vista Tambeacutem tem

como caracteriacutestica a induccedilatildeo do interlocutor a proceder de uma ou outra forma Geralmente

24

eacute escrito no modo imperativo e eacute caracteriacutestico de gecircneros como a bula de remeacutedio os

manuais de instruccedilotildees receitas culinaacuterias e contratos Vale ressaltar que dentro dos textos

injuntivos podem-se encontrar outros tipos de texto como por exemplo descriccedilotildees de

objetos endereccedilos procedimentos etc Vejamos o exemplo a seguir

Bolo simples

Tempo de preparo 40 minutos

Rendimento 12 porccedilotildees

Ingredientes

2 xiacutecaras de accediluacutecar

3 xiacutecaras de farinha de trigo

4 colheres de margarina bem cheias

3 ovos

1 frac12 xiacutecara de leite aproximadamente

1 colher (sopa) de fermento bem cheia

Modo de preparo

1) Bata as claras em neve

2) Reserve

3) Bata bem as gemas com a margarina e o accediluacutecar

4) Acrescente o leite e a farinha aos poucos sem parar de bater

5) Por uacuteltimo agregue as claras em neve e o fermento

6) Coloque em forma grande de furo central untada e enfarinhada

7) Asse em forno meacutedio preacute-aquecido por aproximadamente 40 minutos

8) Quando espetar um palito e sair limpo estaraacute assado

(httpwwwtudogostosocombrreceita29124-bolo-simpleshtml Acesso em

20042014)

No exemplo uma receita culinaacuteria podemos observar que haacute descriccedilatildeo na primeira

parte (a lista de ingredientes) e na segunda parte (modo de preparo) que eacute a mais

nitidamente injuntiva encontramos instruccedilotildees de como proceder na execuccedilatildeo da receita

Aleacutem da classificaccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo dos tipos de texto eacute interessante observarmos

tambeacutem a definiccedilatildeo de gecircneros textuais e domiacutenio discursivo conforme Marcuschi (2008)

Os gecircneros textuais satildeo definidos como ―textos materializados em situaccedilotildees

comunicativas recorrentes (MARCUSCHI 2008 p155) que apresentam caracteriacutesticas

soacutecio-comunicativas marcadas pelos conteuacutedos e pelas propriedades referentes agraves funccedilotildees e

composiccedilatildeo Diferente dos tipos textuais que se restringem a cerca de meia duacutezia como

afirma Marcuschi (2008) ―os gecircneros satildeo inuacutemeros Tambeacutem haacute de ressaltar que satildeo

culturalmente e historicamente formados visto que evoluem no mesmo passo que as

comunidades

O domiacutenio discursivo por sua vez eacute a esfera de atividade humana em que os textos

circulam Ele natildeo eacute um texto em si mas proporciona o surgimento de discursos especiacuteficos

Para ilustrar podemos citar alguns domiacutenios como discurso religioso discurso juriacutedico etc

25

O domiacutenio eacute constituiacutedo por praacuteticas do discurso nas quais podemos identificar uma seacuterie de

gecircneros que possuem a mesma proposta discursiva como o tema e as praacuteticas institucionais

ou informais

As definiccedilotildees aqui trazidas de gecircnero tipo domiacutenio discursivo satildeo muito mais

operacionais do que formais e seguem de perto a posiccedilatildeo bakhtiniana Assim para a

noccedilatildeo de tipo textual predomina a identificaccedilatildeo de sequecircncias linguiacutesticas como

norteadora e para a noccedilatildeo de gecircnero textual predominamos criteacuterios de padrotildees

comunicativos accedilotildees propoacutesitos e inserccedilatildeo sociohistoacuterica No caso dos domiacutenios

discursivos natildeo lidamos propriamente com textos e sim com formaccedilotildees histoacutericas e

sociais que originam os discursos Eles ainda natildeo se acham bem definidos e

oferecem alguma resistecircncia mas seguramente sua definiccedilatildeo deveria ser na base de

criteacuterios etnograacuteficos antropoloacutegicos e socioloacutegicos e histoacutericos (MARCUSCHI

2008 p 158 Grifos do autor)

Nessa perspectiva faz-se necessaacuterio apresentarmos o papel dos gecircneros textuais como

controle social Como jaacute vimos anteriormente segundo Bakhtin (2000) toda atividade

discursiva humana se daacute atraveacutes de algum gecircnero e eacute tambeacutem por esse motivo que haacute uma

consideraacutevel pluralidade de gecircneros Marcuschi (2008) afirma que os gecircneros satildeo

―necessaacuterios para a interlocuccedilatildeo humana Assim para cada esfera de atividade humana

certos gecircneros especiacuteficos satildeo considerados mais ou menos adequados Na esfera

empresarial por exemplo temos que nos adequar agraves formalidades dos gecircneros de redaccedilatildeo

oficial como os ofiacutecios atas circulares e relatoacuterios Na academia apresentamos nossas

produccedilotildees atraveacutes de dissertaccedilotildees artigos cientiacuteficos teses e relatoacuterios de projetos No meio

publicitaacuterio encontramos as propagandas anuacutencios de diversos tipos Enfim satildeo inuacutemeras as

esferas de discurso domiacutenios discursivos e gecircneros textuais atrelados a estes

Marcuschi (2008) enfatiza que o controle social por gecircneros discursivos eacute

incontornaacutevel mas natildeo determinista De acordo com o autor noacutes temos liberdade para nos

expressarmos em qualquer esfera discursiva Poreacutem temos que admitir que a sociedade eacute

constituiacuteda por uma ―maacutequina discursiva logo somos moldados a ela de forma intuitiva e

os gecircneros textuais constituem um poderoso instrumento desta maacutequina Quanto maior a

nossa inserccedilatildeo na sociedade maior o controle social Por exemplo natildeo satildeo todas as pessoas

que podem expedir um mandato de seguranccedila escrever uma dissertaccedilatildeo de mestrado

ministrar uma aula de fiacutesica quacircntica ou publicar uma coluna em um jornal Eacute nessa

perspectiva que Marcuschi (2008) afirma veemente o direcionamento dos gecircneros textuais

para com o envolvimento social e suas especificidades

26

A partir das consideraccedilotildees apresentadas a respeito dos gecircneros textuais dedicamos a

seccedilatildeo a seguir para a caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual

conforme relatamos na introduccedilatildeo deste capiacutetulo

12 O CERTIFICADO DE GARANTIA COMO GEcircNERO TEXTUAL

O certificado de garantia ou termo de garantia eacute um documento oferecido por

prestadoras de serviccedilos fabricantes de produtos diversos ou de qualquer outro segmento que

envolva comercializaccedilatildeo de bens duraacuteveis com a funccedilatildeo de formalizar os direitos e deveres

do consumidor e do fabricante para com o estado fiacutesico e funcional do produto em vista de

problemas de qualquer natureza

Eacute tambeacutem uma espeacutecie de contrato visto que consiste fundamentalmente na

combinaccedilatildeo de interesses de partes sobre algo Aleacutem de ―certificado de garantia

utilizaremos tambeacutem a nomenclatura ―termo de garantia tendo em vista que o documento

do certificado de garantia e o termo em si estatildeo internamente ligados A expressatildeo ―termo de

garantia eacute usada no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20

de marccedilo de 1997

Art 50 A garantia contratual eacute complementar agrave legal e seraacute conferida mediante

termo escrito

Paraacutegrafo uacutenico O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e

esclarecer de maneira adequada em que consiste a mesma garantia bem como a

forma o prazo e o lugar em que pode ser exercitada e os ocircnus a cargo do

consumidor devendo ser-lhe entregue devidamente preenchido pelo fornecedor no

ato do fornecimento acompanhado de manual de instruccedilatildeo de instalaccedilatildeo e uso de

produto em linguagem didaacutetica com ilustraccedilotildees (Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do

Consumidor e Decreto Nordm 2181 de 20 de marccedilo de 1997 p 30)

Em linhas gerais o documento eacute composto por quatro partes garantia contratual

garantia legal condiccedilotildees para validade da garantia contratual e legal condiccedilotildees natildeo cobertas

pela garantia legal e contratual Vejamos um exemplo de certificado de garantia

27

ILUSTRACcedilAtildeO 1 Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario

_de_ar_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Observamos na primeira parte a disposiccedilatildeo da garantia contratual ou seja a garantia

oferecida pelo fabricante

28

ILUSTRACcedilAtildeO 2 Recorte 1 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar

_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Na segunda parte encontramos a disposiccedilatildeo da garantia legal ou seja a garantia

assegurada pelo Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do consumidor

ILUSTRACcedilAtildeO 3 Recorte 2 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c

ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Em seguida vemos as condiccedilotildees de validade da garantia legal e contratual composta

por uma lista exaustiva de itens a serem considerados

29

ILUSTRACcedilAtildeO 4 Recorte 3 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar_c

ondicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

E por fim encontramos as condiccedilotildees natildeo cobertas pela garantia legal e contratual

assim como observaccedilotildees gerais

ILUSTRACcedilAtildeO 5 Recorte 4 do Certificado de garantia dos condicionadores de ar LG Fonte

httpstaticwebarcondicionadocombrbloguploadsManualLGManual_do_Usuario_de_ar

_condicionado_split_neo_plasma_LGPDF Acesso em 24032014

Em relaccedilatildeo agrave estrutura padratildeo dos certificados de garantia a partir do corpus

analisado nesta pesquisa observou-se que o texto que se refere agrave garantia em si corresponde a

menos da metade do documento Grande parte do documento se dedica agrave restriccedilatildeo de

possibilidades de cobertura assim como observaccedilotildees gerais quanto agraves responsabilidades do

fabricante diante de situaccedilotildees como despesas referentes agrave locomoccedilatildeo para depoacutesito do

produto para assistecircncia documentaccedilatildeo necessaacuteria para apresentaccedilatildeo na assistecircncia etc

30

O termo de garantia eacute vinculado diretamente ao Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do

consumidor O coacutedigo estabelece um padratildeo abrangente de formulaccedilatildeo do documento

constando recomendaccedilotildees como o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo necessidade do

acompanhamento do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto assim como clareza na

disposiccedilatildeo dos prazos de garantia legal e contratual

Como discutimos na primeira parte desse capiacutetulo Bakhtin (2000) propotildee que trecircs

dimensotildees constituem os gecircneros de discurso conteuacutedo temaacutetico estilo e construccedilatildeo

composicional Iremos a seguir apresentar como estas dimensotildees satildeo percebidas nesse

gecircnero textual

Como conteuacutedo temaacutetico do gecircnero certificado de garantia temos a veiculaccedilatildeo de

direitos e deveres do fabricante e do consumidor O documento apresenta listas exaustivas de

accedilotildees que possibilitam ou natildeo o uso do termo de garantia assim como instruccedilotildees gerais para

a realizaccedilatildeo desse ato Esse conteuacutedo pode variar em parte e apenas questotildees referentes agrave

garantia legal natildeo podem mudar pois estaacute prevista no Coacutedigo de Proteccedilatildeo e Defesa do

Consumidor

Em relaccedilatildeo ao estilo observamos nos certificados a utilizaccedilatildeo da norma padratildeo

Busca-se construir um texto claro e objetivo para que dessa forma natildeo haja problemas de

interpretaccedilatildeo para o consumidor Nesse gecircnero natildeo haacute identificaccedilatildeo de quem escreve de

maneira particular como observamos em gecircneros do tipo carta A identificaccedilatildeo do autor eacute

geralmente atribuiacuteda agrave empresa que oferece a garantia O estilo individual que eacute

caracteriacutestico em diversos gecircneros como o artigo de opiniatildeo e cartas pessoais natildeo cabe para

os certificados Como se trata de um texto instrucional esse gecircnero apresenta-se de forma

objetiva de modo que natildeo haacute a necessidade praacutetica da identificaccedilatildeo de quem escreve

Quanto agrave estrutura composicional em linhas gerais tal gecircnero segue uma sequecircncia

de apresentaccedilatildeo em duas etapas Em um primeiro momento apresenta-se o termo de garantia

em si no qual eacute descrito o direito do consumidor em relaccedilatildeo agrave garantia assim como sua

validade No segundo momento parte mais extensa do texto haacute a apresentaccedilatildeo de listas

supostamente exaustivas referentes aos casos que natildeo satildeo cobertos pela garantia assim como

as instruccedilotildees gerais para o reclame do direito Essa sequecircncia de apresentaccedilatildeo do documento

eacute variaacutevel Haacute certificados que satildeo inclusos no manual de instruccedilatildeo do produto (geralmente

na uacuteltima paacutegina) Haacute certificados que satildeo destacados o documento eacute apresentado agrave parte de

qualquer outro texto

Se retomarmos a classificaccedilatildeo dos gecircneros do discurso de Bakhtin (2000) entre

primaacuterios (simples) e secundaacuterios (complexos) podemos considerar que o certificado de

31

garantia estaacute inserido nos gecircneros complexos pois se trata de um documento elaborado de

forma sistemaacutetica no qual haacute necessidade de um aprofundamento social complexo com

caracterizaccedilotildees e descriccedilotildees bem delimitadas

Quanto ao tipo de texto dentro do que foi proposto por Marcuschi (2008) o

certificado de garantia se enquadra no tipo injuntivo porque eacute um texto instrucional com

predominacircncia do modo imperativo nas frases e eacute composto pela listagem de uma seacuterie de

procedimentos a serem observados e seguidos com listas exaustivas contendo direitos e

deveres do fabricante e do consumidor O objetivo do documento eacute oferecer ao cliente todas

as informaccedilotildees relacionadas agrave validade da garantia os casos em que haacute perda da validade e os

casos em que os problemas apresentados se enquadram como defeitos de fabricaccedilatildeo

O certificado de garantia se caracteriza como um gecircnero textual a partir da

perspectiva de Marcuschi (2008) pois eacute um texto que possui caracteriacutesticas soacutecio-discursivas

bem delimitadas com conteuacutedo padratildeo obedecendo a uma mesma linha temaacutetica e foi

constituiacutedo socialmente O gecircnero foi criado a partir da necessidade juriacutedica de resguardar os

fabricantes e consumidores de produtos industrializados e afins quanto agrave possibilidade de

apresentaccedilatildeo de defeitos ou falhas

De posse dos conhecimentos gerais sobre os gecircneros textuais que apresentamos e da

caracterizaccedilatildeo do certificado de garantia como um gecircnero textual partiremos no proacuteximo

capiacutetulo para a apresentaccedilatildeo das teorias que serviratildeo de aporte teoacuterico para a compreensatildeo

das anaacutelises realizadas no capiacutetulo 3

32

2 NEXOS SEMAcircNTICOS CONCEITOS E PROBLEMAS

Neste capiacutetulo tratamos dos nexos semacircnticos ou ―nexos de significado dos quais

consideramos para nossa pesquisa os seguintes acarretamento equivalecircncia semacircntica

contraditoriedade e contrariedade Caracterizamos cada um deles utilizando exemplos em

linguagem natural com o intuito de demonstrar o funcionamento dessas relaccedilotildees assim como

mostrar quando tais exemplos deixam de apresentar o nexo Nosso intuito final eacute de oferecer

uma base para a compreensatildeo das anaacutelises que viratildeo no capiacutetulo posterior

Para entendermos melhor o que satildeo os nexos semacircnticos devemos compreender a

distinccedilatildeo entre a semacircntica e a pragmaacutetica que satildeo linhas de estudos linguiacutesticos inter-

relacionaacuteveis Uma definiccedilatildeo bastante difundida da semacircntica e tambeacutem bastante geral eacute

encontrada em Trask (2004 p 261) que diz que a semacircntica eacute o ramo da linguiacutestica que

estuda o significado e em Chierchia (2003 p 7) para quem a semacircntica eacute um estudo do

significado das expressotildees das liacutenguas naturais Podemos tambeacutem caracterizar a semacircntica

destacando a relaccedilatildeo do usuaacuterio da liacutengua e o significado que ele atribuiu agraves palavras que

compotildeem sentenccedilas como propotildee Pires de Oliveira (2001 p 42) Jaacute a pragmaacutetica por outro

lado tambeacutem estuda o significado das liacutenguas naturais mas trata das intenccedilotildees que os

falantes supostamente revelam a partir do uso de sentenccedilas

Para o termo ―pragmaacutetica haacute diversas possibilidades de definiccedilatildeo Levinson (2007)

procura mostrar as implicaccedilotildees que algumas definiccedilotildees podem ter em relaccedilatildeo a outros

estudos Assim podemos citar pelo menos dois conceitos de pragmaacutetica para Levinson

―pragmaacutetica eacute o estudo de todos os aspectos do significado natildeo capturados em uma teoria

semacircntica (Levinson 2007 p14) assim como ―pragmaacutetica eacute o estudo das relaccedilotildees entre

liacutengua e contexto que satildeo gramaticalizadas ou codificadas na estrutura de um liacutengua

(Levinson 2007 p 11) Podemos perceber que nessas duas definiccedilotildees Levinson tanto atribui

agrave pragmaacutetica a responsabilidade sobre aquilo que estaacute aleacutem da semacircntica quanto destaca a

relaccedilatildeo de liacutengua e contexto Jaacute em Wilson (2008) encontramos as definiccedilotildees que Yule

(1996) apresenta para a pragmaacutetica

a) pragmaacutetica eacute o estudo do significado sob o ponto de vista do falante b)

pragmaacutetica eacute o estudo do significado contextual (isto eacute leva em conta o modo como

os falantes organizam seus enunciados aquilo que eles querem dizer de acordo com

os seguintes fatores a quem vatildeo dizer como vatildeo dizer onde e quando vatildeo dizer e

sob que circunstacircncias) c) pragmaacutetica eacute o estudo do como se diz aleacutem daquilo que eacute

33

dito (isto eacute o estudo do significado subjacente do natildeo dito d) pragmaacutetica eacute o

estudo da expressatildeo da proximidadedistanciamento relativo (isto eacute de acordo com

o tipo de proximidade fiacutesica social ou conceitual em relaccedilatildeo aos ouvintes os

falantes determinam como e quanto precisam dizer) (WILSON 2008 p 89)

A discussatildeo sobre as definiccedilotildees de pragmaacutetica e semacircntica e suas distinccedilotildees vem

desde o iniacutecio do seacuteculo XX e muitos autores contribuiacuteram para a evoluccedilatildeo desses conceitos

Em vista desta histoacuterica discussatildeo apresentaremos os conceitos de Charles Morris e Rudolf

Carnap para estas disciplinas linguiacutesticas

Segundo a definiccedilatildeo de Charles Morris (1938) pragmaacutetica eacute o estudo da ―relaccedilatildeo dos

signos com seus inteacuterpretes Jaacute para Rudolf Carnap (1938) a pragmaacutetica eacute o estudo da

linguagem em relaccedilatildeo aos seus falantes Diante dos conceitos de semacircntica e pragmaacutetica que

apresentamos e da distinccedilatildeo entre as linhas de estudos linguiacutesticos Marcondes (2000) afirma

que ―tanto a definiccedilatildeo de Morris quanto a de Carnap fazem parte da jaacute consagrada distinccedilatildeo

geral do campo de estudos da linguagem entre pragmaacutetica que considera a linguagem em

seu uso concreto e semacircntica que examina os signos linguiacutesticos em sua relaccedilatildeo com os

objetos que designam ou a quem se refere Os nexos semacircnticos estatildeo inseridos no campo da

semacircntica e voltaremos a este ponto no final do capiacutetulo

Sobre as relaccedilotildees semacircnticas haacute diversas perspectivas nos estudos linguiacutesticos A

forma como combinamos as palavras e nossa tendecircncia em buscar um conceito fixo de um

termo satildeo complicaccedilotildees que podem dificultar o uso da liacutengua O significado linguiacutestico das

liacutenguas naturais segundo Basso (2009) possibilita nexos semacircnticos entre sentenccedilas E

ainda sobre o significado Basso propotildee

Quando perguntamos o significado de alguma palavra muitas vezes buscamos

aquele modelo significativo presente nos dicionaacuterios Poreacutem natildeo haacute no dicionaacuterio

maneiras preacute-estabelecidas de como uma palavra pode se combinar com outra em

busca da trama de significados dos nexos que favorecem infinitas interpretaccedilotildees

Essas combinaccedilotildees satildeo decorrentes do proacuteprio uso da liacutengua pelos seus falantes

mas natildeo estatildeo nem presentes nos dicionaacuterios nem tampouco algueacutem nos ensina satildeo

conhecimentos impliacutecitos Uma aacuterea da linguiacutestica moderna defende que o nosso

conhecimento semacircntico e um dote geneacutetico portanto os possiacuteveis nexos

semacircnticos satildeo decorrentes de uma capacidade inata de combinaccedilatildeo de palavras e

sentenccedilas parte do conhecimento semacircntico impliacutecito ou competecircncia semacircntica

(BASSO 2009 p 25)

Os nexos semacircnticos satildeo caracterizados na literatura da semacircntica como grupos de

relaccedilotildees de inferecircncia muito estaacuteveis direcionaacuteveis e fortemente dependentes do material

34

linguiacutestico dos enunciados (SANTOS 2012) Essas relaccedilotildees diferem de perspectivas de

inferecircncias como a pressuposiccedilatildeo e a implicatura que dialogam diretamente com o natildeo-dito

Para contrastar os nexos com esses outros tipos de relaccedilatildeo vamos observar os exemplos a

seguir

(1) Carlos parou de beber refrigerante

(2) A tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio

Seguindo a mesma linha de exposiccedilatildeo de Moura (1999 p 12) a partir das duas

sentenccedilas acima observamos dois niacuteveis nas informaccedilotildees veiculadas No primeiro niacutevel

temos contato com o sentido literal das palavras Dessa forma em (1) temos a informaccedilatildeo de

Carlos natildeo toma mais refrigerantes e em (2) que Maacuterio escreveu uma tese sobre bolhas de

sabatildeo No segundo niacutevel atraveacutes da enunciaccedilatildeo das sentenccedilas somos levados a considerar

informaccedilotildees que natildeo estatildeo afirmadas literalmente nas sentenccedilas Dessa forma a partir de (1)

podemos inferir que Carlos bebia refrigerantes antes e em (2) que uma tese sobre bolhas de

sabatildeo jaacute foi escrita Ducrot (1987) denomina de conteuacutedo posto o primeiro niacutevel que

consiste no conteuacutedo literal das sentenccedilas e de conteuacutedo pressuposto ou pressuposiccedilatildeo o

segundo niacutevel que abarca as inferecircncias que podemos fazer a partir da enunciaccedilatildeo das

sentenccedilas Devemos entender que o conteuacutedo posto depende do conteuacutedo pressuposto pois a

aceitaccedilatildeo do primeiro leva a aceitaccedilatildeo do segundo Para que possamos aceitar a verdade do

posto (1) que diz que Carlos parou de beber refrigerante temos que aceitar a verdade

pressuposta de que Carlos jaacute tinha bebido refrigerante antes

Outra relaccedilatildeo semacircntica que dialoga diretamente com o natildeo-dito eacute a implicatura

Grice (1987) propotildee dois tipos de implicaturas as implicaturas convencionais que natildeo satildeo

sujeitas a condiccedilotildees de verdade e as implicaturas conversacionais que natildeo dependem

diretamente da significaccedilatildeo usual das palavras sendo determinadas por certos princiacutepios

baacutesicos do ato comunicativo

As implicaturas convencionais satildeo inferecircncias natildeo sujeitas a condiccedilotildees de verdade

natildeo satildeo derivadas de princiacutepios pragmaacuteticos mais gerais como as maacuteximas conversacionais

mas satildeo simplesmente ligadas pela convenccedilatildeo a itens ou expressotildees lexicais especiacuteficos

Levinson (2007) toma a implicatura conversacional como uma das ideias mais

importantes da pragmaacutetica e vamos considerar neste trabalho apenas as implicaturas do tipo

conversacional de forma que quando mencionarmos o termo implicatura devemos entender

que estamos falando das implicaturas conversacionais e natildeo das convencionais

35

Para exemplificar uma implicatura vamos supor uma situaccedilatildeo entre dois amigos em

que ao dialogar sobre as uacuteltimas defesas de teses e dissertaccedilotildees do departamento de poacutes-

graduaccedilatildeo deparam-se com a notiacutecia de que um de seus colegas escreveu uma tese sobre um

tema muito irrelevante e nada original Diante desta situaccedilatildeo um amigo disse para o outro ―A

tese sobre bolhas de sabatildeo foi escrita por Maacuterio A partir da situaccedilatildeo em que os dois amigos

estavam imersos nesse contexto e da sentenccedila utilizada por um dos amigos podemos inferir

que foi Maacuterio quem escreveu uma tese sobre um tema irrelevante Podemos perceber neste

exemplo que como descrito nas definiccedilotildees que trouxemos anteriormente a implicatura por

ser uma relaccedilatildeo puramente pragmaacutetica utiliza-se do natildeo-dito e de situaccedilotildees convencionadas

entre falantes para poder existir

Dessa forma podemos retomar o que foi exposto nos paraacutegrafos anteriores afirmando

que os nexos semacircnticos as pressuposiccedilotildees e as implicaturas satildeo inferecircncias de significado

sendo que os nexos estatildeo no campo da semacircntica e as pressuposiccedilotildees e implicaturas estatildeo no

campo da pragmaacutetica

A partir deste ponto iremos descrever os nexos semacircnticos com exemplos mostrando

como essas relaccedilotildees funcionam e tambeacutem casos em que a interpretaccedilatildeo natildeo acontece da

maneira esperada Em relaccedilatildeo aos casos em que a interpretaccedilatildeo eacute prejudicada trataremos de

casos relacionados com a ambiguidade lexical mais especificamente com vagueza e casos

relacionados com a polissemia (desconsiderando seus limites com a homoniacutemia)

21 ACARRETAMENTO

Em linhas gerais o acarretamento ocorre quando a verdade de um conjunto de

sentenccedilas1 que nomearemos de A garante a verdade de outra sentenccedila que nomearemos de

B Dessa forma a verdade da primeira sentenccedila ou do conjunto delas autoriza a verdade de B

(CHIERCHIA 2003) O acarretamento eacute uma inferecircncia que os falantes estatildeo autorizados a

fazer e o que os autoriza eacute o conhecimento linguiacutestico Vamos observar o exemplo a seguir

1 Em nosso trabalho utilizaremos os termo ldquosentenccedilardquo e ldquoproposiccedilatildeordquo intercambiavelmente Alguns autores

definem os dois termos de formas distintas Por exemplo na semacircntica contemporacircnea de mundos possiacuteveis desenvolvida por autores como por exemplo Kripke e Lewis define-se proposiccedilatildeo como a classe de todos os mundos possiacuteveis nas quais ela eacute verdadeira Murcho (2006) apresenta dois exemplos para distinguir proposiccedilotildees e sentenccedilas ldquoSoacutecrates era um filoacutesofordquo e ldquoSocrates was a philosopherrdquo Murcho afirma que os dois exemplos satildeo duas sentenccedilas que exprimem uma uacutenica proposiccedilatildeo Outros como Mortari (2001) natildeo distinguem proposiccedilotildees e sentenccedilas

36

(3) alsquo Neymar eacute brasileiro

a Neymar eacute um jogador de futebol

b Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro

Podemos observar no exemplo acima que a sentenccedila (3b) tem a sua verdade garantida

pela verdade de (3alsquo) e (3a) Sendo assim (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Podemos observar

no exemplo que o acarretamento eacute bastante claro pois as informaccedilotildees que estatildeo presentes em

(3b) satildeo a soma das informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) Eacute interessante destacar

que para que a sentenccedila (3b) constitua um acarretamento de (3alsquo) e (3a) natildeo precisamos

conhecer a pessoa Neymar nem sua nacionalidade eou profissatildeo Como as informaccedilotildees

estatildeo postas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) a verdade de (3b) eacute inevitaacutevel Mesmo que no mundo

real Neymar natildeo fosse jogador de futebol e natildeo fosse brasileiro isso em nada modificaria o

acarretamento pois dentro da relaccedilatildeo estabelecida entre (3alsquo) (3a) e (3b) as informaccedilotildees

contidas nas sentenccedilas (3alsquo) e (3a) acarretam (3b) Vejamos o exemplo a seguir

(4) alsquo Todos os sacis tecircm apenas uma perna

a Denis Diderot eacute um saci

b Denis Diderot tem apenas uma perna

Observando o exemplo acima identificamos que em relaccedilatildeo ao conhecimento de

mundo a sentenccedila (4alsquo) eacute verdadeira jaacute que no folclore admitimos como uma caracteriacutestica

dos sacis ter apenas uma perna A sentenccedila (4a) eacute falsa pois Denis Diderot foi um filoacutesofo e

escritor francecircs e natildeo um saci Por fim a sentenccedila (4b) tambeacutem eacute falsa em relaccedilatildeo ao nosso

conhecimento de mundo pois Denis Diderot possuiu durante toda a sua vida as duas pernas

Podemos entatildeo admitir que as sentenccedilas do conjunto (4) em relaccedilatildeo ao nosso conhecimento

de mundo satildeo falsas Mesmo assim o conjunto eacute um acarretamento Diferente do exemplo

(3) em que trouxemos sentenccedilas que constituiacuteam um acarretamento com informaccedilotildees

verdadeiras em relaccedilatildeo ao mundo o exemplo (4) mostra que a relaccedilatildeo semacircntica que estamos

discutindo independe da verdade das informaccedilotildees das sentenccedilas no mundo O que o

acarretamento faz eacute concatenar as sentenccedilas de uma forma que se as premissas forem

verdadeiras a conclusatildeo tambeacutem seraacute verdadeira O acarretamento depende exclusivamente

37

da forma em que as sentenccedilas se apresentam Tendo em vista que a relaccedilatildeo depende apenas

da forma podemos representar o acarretamento da seguinte maneira como propotildee Soares

(2003)

Em liacutengua natural

Se estudar entatildeo serei aprovado (1ordf premissa)

Ora estudei (2ordf premissa)

Logo fui aprovado (Conclusatildeo)

E simbolizando2

a rarr b (1ordf premissa)

a (2ordf premissa)

b (Conclusatildeo)

Vale ressaltar que ao utilizarmos o termo ―sentenccedila estamos nos referindo ao que os

gramaacuteticos costumam chamar de oraccedilatildeo Tambeacutem eacute interessante mencionar que o

acarretamento eacute chamado de consequecircncia semacircntica Iremos utilizar como representaccedilatildeo das

premissas sentenccedilas do tipo (Xalsquo) e (Xa) e para a conclusatildeo sentenccedilas do tipo (Xb)

Podemos entender que o acarretamento eacute um tipo de relaccedilatildeo estabelecida entre

premissas e a consequecircncia de forma que a verdade das premissas determina a verdade da

consequecircncia Tambeacutem devemos entender que natildeo eacute possiacutevel que as premissas sejam

verdadeiras junto da negaccedilatildeo da conclusatildeo pelo fato de que dessa forma estaria

descaracterizada a relaccedilatildeo de acarretamento

Como ressaltamos acima os acarretamentos satildeo dependentes da forma ou seja da

relaccedilatildeo que as sentenccedilas possuem entre si e natildeo da verdade ou falsidade no mundo das

informaccedilotildees contidas nas sentenccedilas Diante disso traremos agrave tona exemplos de sentenccedilas que

2 O siacutembolo ldquorarrrdquo na loacutegica claacutessica representa um condicional assunto de que trataremos no terceiro capiacutetulo

deste trabalho e o siacutembolo ldquordquo representa um acarretamento

38

natildeo possuem relaccedilatildeo semacircntica mas atraveacutes da verdade ou falsidade das informaccedilotildees nas

sentenccedilas podem nos confundir e nos induzir ao erro Para tal raciociacutenio errocircneo damos o

nome de falaacutecias

Soares (2003) distingue trecircs caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias (i) satildeo

argumentos parecidos com argumentos vaacutelidos (ii) estabelecem entre premissas e conclusotildees

uma relevacircncia puramente psicoloacutegica que tatildeo-soacute se dirige agraves emoccedilotildees da pessoa sem que as

premissas sejam logicamente relevantes para extrair a conclusatildeo (iii) apresentam-se com

intenccedilatildeo enganadora para que o argumento ainda que invaacutelido seja de todas as maneiras

aceito por todos Vejamos a seguir exemplos de falaacutecias

(5) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher

a Dilma Rousseff eacute mulher

b Dilma Rousseff eacute a presidente do Brasil

A partir do nosso conhecimento de mundo poderiacuteamos dizer que a sentenccedila (5b) eacute

verdadeira Na sentenccedila (5alsquo) temos que A presidente do Brasil eacute mulher De fato tambeacutem se

formos utilizar nosso conhecimento de mundo intuitivamente diremos que esta sentenccedila estaacute

correta considerando a eacutepoca em que este trabalho foi escrito Seguindo temos a sentenccedila

(5a) com a informaccedilatildeo Dilma Rousseff eacute mulher Assim como as sentenccedilas (5alsquo) e (5a) a

partir de nosso conhecimento de mundo podemos afirmar que esta sentenccedila tambeacutem eacute

verdadeira mas devemos entender que eacute preciso considerar a relaccedilatildeo que as sentenccedilas

estabelecem entre si A sentenccedila (5alsquo) natildeo estabelece nenhuma relaccedilatildeo com a sentenccedila (5a)

para que (5b) seja um acarretamento Para mostrar de forma mais clara que o exemplo (5) natildeo

eacute um acarretamento vamos comparaacute-lo com o exemplo a seguir

(6) alsquo A presidente do Brasil eacute mulher

a Michelle Bachelet eacute mulher

b Michelle Bachelet eacute a presidente do Brasil

Observamos que (6alsquo) e (6a) satildeo verdadeiras (no momento da redaccedilatildeo deste

trabalho) mas (6b) nos parece estranho Sabemos que Michelle Bachelet atualmente eacute

presidente do Chile Mas nada disso interfere para caracterizar um acarretamento e o exemplo

acima foi para deixar claro que a partir das relaccedilotildees semacircnticas dispostas entre os grupos de

39

sentenccedilas (5) e (6) natildeo podemos considerar que haacute acarretamento pelo fato acima

mencionado

Ateacute o momento tratamos do conceito de acarretamento seguido de exemplos em

liacutengua natural sua representaccedilatildeo na loacutegica claacutessica e exemplos de falaacutecias A partir deste

ponto trataremos dos fatores que interferem nas relaccedilotildees semacircnticas de uma forma diferente

das falaacutecias A compreensatildeo dos tipos de interferecircncias a seguir seraacute importante para a anaacutelise

do corpus deste trabalho pois se trata de interferecircncias lexicais

No exemplo a seguir trataremos de um problema que pode invalidar relaccedilotildees

semacircnticas a polissemia Quando um termo adquire mais de um sentido aleacutem daquele que eacute

originalmente atribuiacutevel temos um caso de polissemia Crystal (1985) conceitua polissemia

da seguinte maneira

Polissemia termo usado na anaacutelise semacircntica para caracterizar um item lexical com

uma variedade de significaccedilotildees diferentes como manga = ―parte da camisa ―parte

do abajur etc Uma grande parte do vocabulaacuterio da liacutengua eacute polissecircmica ()

(Crystal 1985 p 202)

Tendo em vista que a polissemia eacute uma caracteriacutestica de um item lexical que possui

diversos significados para diversos contextos vamos observar o exemplo a seguir

(7) a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito

b Joatildeo morreu

A sentenccedila (7a) pode ser interpretada pelo menos de duas formas distintas pelo fato da

expressatildeo ―perdeu a cabeccedila ser polissecircmica Se interpretarmos a sentenccedila (7a) considerando

―perder a cabeccedila como ter a cabeccedila desprendida do corpo haacute acarretamento de (7a) para

(7b) Mas esta natildeo eacute a uacutenica interpretaccedilatildeo possiacutevel para a expressatildeo em questatildeo Se

interpretarmos ―perder a cabeccedila como perder a paciecircncia ficar furioso estressado ou algo

parecido a sentenccedila (7a) natildeo acarreta (7b) numa mesma situaccedilatildeo pois o fato de Joatildeo ter

perdido a paciecircncia natildeo garante que ele venha a morrer Dessa forma para natildeo ter problemas

com a polissemia eacute preciso assegurar que se convencione um sentido uacutenico para cada

premissa para desta forma haver um acarretamento

40

Outro aspecto que eacute preciso ser mencionado eacute que (7) do jeito que se apresenta natildeo eacute

um acarretamento mesmo que perder a cabeccedila tenha o sentido de ter a cabeccedila desprendida do

corpo Isso se daacute porque (7) eacute um acarretamento incompleto ou seja um entimema

Argumento com uma premissa natildeo-formulada sem a qual ele natildeo eacute vaacutelido Chama-

se muitas vezes de premissa impliacutecitalsquo agrave premissa natildeo formulada Na argumentaccedilatildeo

cotidiana omitem-se premissas oacutebvias A premissa impliacutecita do argumento Antocircnio

deveria ser despedido porque roubou dinheiro puacuteblicolsquo eacute Todas as pessoas que

roubam dinheiro puacuteblico devem ser despedidaslsquo (BRANQUINHO MURCHO

GOMES 2006 p 298)

Vamos observar o exemplo (7) de uma forma que o entimema seria evitado

(8) alsquo Todas as pessoas que perdem a cabeccedila morrem

a Joatildeo perdeu a cabeccedila no tracircnsito

b Joatildeo morreu

Podemos constatar no exemplo acima que ao incluirmos a sentenccedila (8alsquo) que eacute a

sentenccedila geral que estava impliacutecita no exemplo (7) resolvemos o problema do entimema

completando assim a relaccedilatildeo de acarretamento de (8alsquo) e (8a) para (8b)

A partir de agora vamos tratar de outro tipo de interferecircncia em relaccedilotildees sentencias

que estaacute tambeacutem no campo do leacutexico a vagueza

A vagueza eacute assim como a polissemia um tipo de ocorrecircncia que dificulta a

interpretaccedilatildeo dos nexos entre sentenccedilas Podemos considerar que haacute vagueza em uma

sentenccedila quando observamos que uma palavra ou expressatildeo causa sentido incompleto

impedindo o entendimento da sentenccedila como um todo Branquinho Murcho e Gomes

conceituam a vagueza de seguinte maneira

As liacutenguas naturais contecircm palavras (tipicamente predicados denotando

propriedades ou relaccedilotildees) cujo domiacutenio de aplicaccedilatildeo eacute parcialmente indeterminado

isto eacute em relaccedilatildeo agraves quais os falantes competentes natildeo estatildeo certos em todos os

casos de que determinado objeto (ou par ordenado de objetos) pertence ao conjunto

denotado por elas (ou agrave relaccedilatildeo) (BRANQUINHO MURCHO GOMES 2006 p

805)

De uma forma geral Allan (2010) caracteriza a vagueza como um tipo particular de

incerteza sobre a aplicaccedilatildeo de um predicado Podemos considerar como um exemplo padratildeo

de predicado vago a classe de adjetivos graduaacuteveis como altura Se uma determinada pessoa

41

natildeo eacute suficientemente alta para ser claramente alta e natildeo eacute suficiente baixa para ser

claramente baixa entatildeo aiacute temos um caso de vagueza

Os adjetivos vagos satildeo sempre utilizados em relaccedilatildeo a uma classe de comparaccedilatildeo no

dia-a-dia Estar acima do peso por exemplo pode variar a partir do grau de comparaccedilatildeo Para

uma top model estar acima do peso eacute visto de forma diferente do que para um lutador de

sumocirc por exemplo

Ainda em relaccedilatildeo ao conceito de vagueza Kempson (1977) propotildee que existem

quatro tipos inter-relacionaacuteveis de vagueza vagueza referencial indeterminaccedilatildeo de

significado falta de especificaccedilatildeo no significado de um item disjunccedilatildeo na especificaccedilatildeo do

significado de um item em que o significado abarca uma ou qualquer declaraccedilatildeo de diversas

possibilidades de interpretaccedilatildeo Dentre estes quatro tipos propostos por Kempson iremos nos

dedicar a observar os casos relacionados agrave vagueza referencial Tendo em vista os conceitos

acima vamos observar um exemplo em que a vagueza pode prejudicar a interpretaccedilatildeo de um

acarretamento

(9) a Tobias eacute um gecircnio no xadrez

b Tobias eacute um bom jogador de xadrez

No exemplo acima podemos observar os termos vagos ―gecircnio na sentenccedila (9a) e

―bom na sentenccedila (9b) Para haver a relaccedilatildeo de acarretamento temos que admitir para (9a) e

(9b) o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe Por exemplo haacute acarretamento entre as

sentenccedilas (9a) e (9b) se Tobias for um garoto de oito anos e diante seus colegas da escola ele

se destacar como um exiacutemio conhecedor das regras e teacutecnicas do jogo de xadrez Dessa

forma a sentenccedila ―Tobias eacute um gecircnio no xadrez acarretaria que ―Tobias eacute um bom jogador

de xadrez Jaacute se natildeo utilizarmos o mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas

(9a) e (9b) como por exemplo se em (9a) Tobias for um garoto de oito anos que diante de

seus colegas da escola se destaca como um exiacutemio jogador de xadrez mas comparando-o

com os competidores da categoria secircnior do campeonato mundial de xadrez e a partir disso

afirmando (9b) natildeo poderiacuteamos acarretar que Tobias eacute um bom jogador de xadrez Dessa

forma pudemos observar que a presenccedila de termos vagos em sentenccedilas dificulta a

interpretaccedilatildeo dos acarretamentos A seguir observaremos outros nexos que se relacionam com

o acarretamento

42

22 EQUIVALEcircNCIA SEMAcircNTICA

Como discutimos anteriormente o acarretamento eacute uma relaccedilatildeo semacircntica que ocorre

em um uacutenico sentido ou seja das premissas para a conclusatildeo Quando uma conclusatildeo

acarreta as premissas chamamos essa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica

Para o termo ―equivalecircncia haacute diversas definiccedilotildees Segundo Branquinho Murcho e

Gomes (2006 p 281) podemos identificar dois sentidos distintos para este termo o primeiro

se refere ao que tratamos neste trabalho ou seja faz referecircncia a relaccedilatildeo entre as sentenccedilas de

certa liacutengua o segundo trata de determinados tipos de sentenccedilas declarativas agraves frases

bicondicionais ou declarativas Dentro desses dois sentidos diversos para o termo

―equivalecircncia no primeiro que eacute o que mais nos interessa os autores ainda distinguem trecircs

variedades centrais de equivalecircncia Satildeo elas equivalecircncia material equivalecircncia estrita e

equivalecircncia loacutegica

A equivalecircncia material eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q (por

exemplo) exatamente quando p e q possuem o mesmo valor de verdade ou seja quando ou

satildeo as duas verdadeiras juntas ou satildeo as duas falsas juntas

A equivalecircncia estrita eacute a relaccedilatildeo estabelecida entre duas sentenccedilas p e q no caso em

que eacute necessaacuterio que p seja materialmente equivalente a q ou no caso de ser impossiacutevel tanto

que p seja verdadeira e q seja falsa quanto que p seja falsa e q seja verdadeira Branquinho

Murcho e Gomes (2006 p 281) afirmam que nesse caso diz-se que p eacute estritamente

equivalente a q

A equivalecircncia loacutegica eacute uma relaccedilatildeo que se estabelece entre duas sentenccedilas p e q

exatamente no caso de p e q serem duas sentenccedilas mutuamente dedutiacuteveis num dado sistema

loacutegico Diz-se nesse caso que p eacute logicamente equivalente a q

Em nosso trabalho iremos considerar para ―equivalecircncia o sentido apresentado por

Branquinho Murcho e Gomes (2006) para equivalecircncia material A partir deste conceito

vamos observar o exemplo a seguir

(10) a O gato matou o rato

b O rato foi morto pelo gato

Nas sentenccedilas acima podemos identificar uma relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica Eacute

impossiacutevel que o gato tenha matado o rato e que o rato natildeo tenha sido morto Claro que se

43

considerarmos que estamos tratando sobre o mesmo gato e o mesmo rato Dessa forma

sempre que (10a) for verdadeira (10b) tambeacutem teraacute de ser Tambeacutem podemos observar uma

relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica no exemplo (3) Utilizamos o exemplo (3) para mostrar

uma relaccedilatildeo de acarretamento que eacute efetiva mas tambeacutem haacute a relaccedilatildeo de equivalecircncia pois

as premissas ―Neymar eacute brasileiro e ―Neymar eacute um jogador de futebol acarretam que

―Neymar eacute um jogador de futebol brasileiro da mesma forma que esta uacuteltima sentenccedila

acarreta as duas anteriores Tal exemplo reafirma o conceito descrito acima de que uma

equivalecircncia semacircntica eacute um acarretamento duplo

Assim como acontece no acarretamento a equivalecircncia semacircntica tem problemas com

a polissemia Vamos observar exemplo a seguir

(11) a O Brasil ganhou o jogo contra o Chile

b O Chile perdeu o jogo contra o Brasil

No exemplo acima vemos que a sentenccedila (11a) acarreta a sentenccedila (11b) ao mesmo

tempo em que a sentenccedila (11b) acarreta a sentenccedila (11a) Natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (11a)

seja verdadeira ao mesmo tempo em que a (11b) seja falsa Se uma das sentenccedilas eacute falsa e a

outra eacute verdadeira natildeo haacute acarretamento em nenhum dos dois ―sentidos (em relaccedilatildeo agrave

direccedilatildeo de (11a) para (11b) e de (11b) para (11a)) Natildeo podemos considerar que o Brasil

ganhou o jogo contra o Chile e que o Chile ganhou o jogo contra o Brasil pois sabemos que

em uma partida de futebol haacute apenas um ganhador Haacute a possibilidade de algueacutem querer ir

mais aleacutem e inferir que eacute possiacutevel que os dois times ganharam mas em jogos diferentes Se

considerarmos a situaccedilatildeo de que o Chile jaacute ganhou outros jogos contra o Brasil assim como

que o Brasil jaacute ganhou outros jogos contra o Chile a relaccedilatildeo de equivalecircncia seria possiacutevel

escolhendo qualquer outro jogo como referecircncia mas natildeo eacute o que nos interessa pois

devemos considerar apenas uma situaccedilatildeo para as duas sentenccedilas

A partir deste ponto iremos tratar sobre como a polissemia pode interferir na

interpretaccedilatildeo numa relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica da mesma forma que mostramos

anteriormente nas relaccedilotildees de acarretamento Vejamos o proacuteximo exemplo

44

(12) a A lagosta estaacute mais salgada que o peixe

b O peixe estaacute menos salgado que a lagosta

Podemos observar que as sentenccedilas (12a) e (12b) satildeo equivalentes pelo fato de que

natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12a) seja verdadeira e a sentenccedila (12b) seja falsa assim como

natildeo eacute possiacutevel que a sentenccedila (12b) seja verdadeira e a sentenccedila (12a) seja falsa Poreacutem se

passarmos a admitir significados diferentes para expressotildees empregadas nas sentenccedilas por

exemplo para a palavra ―salgado encontraremos problemas Se admitirmos que sentenccedila

(12a) o conceito de ―salgado eacute de o alimento estar impregnado de sal salpicado de sal ou

com gosto de sal e se este conceito for tambeacutem considerado para a sentenccedila (12b) haacute

equivalecircncia semacircntica Mas tambeacutem podemos interpretar o termo ―salgado como uma

expressatildeo para se referir ao preccedilo alto do produto no mercado Soacute haacute equivalecircncia semacircntica

se admitirmos o mesmo conceito para ―salgado em ambas as sentenccedilas ou seja se

considerarmos o significado de ―salgado como sendo impregnado de sal para a sentenccedila

(12a) ou em (12b) como sendo relativo ao valor alto no mercado natildeo haacute equivalecircncia

semacircntica entre (12a) e (12b)

No proacuteximo exemplo trataremos de outro tipo de ocorrecircncia que dificulta a

interpretaccedilatildeo de nexos a vagueza Como jaacute apresentamos a definiccedilatildeo de vagueza na seccedilatildeo

anterior partiremos direto para o exemplo em que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo de uma

equivalecircncia semacircntica

(13) a Goacutergias eacute mais saacutebio que Hiacutepias

b Hiacutepias eacute menos saacutebio que Goacutergias

Na relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) haacute equivalecircncia semacircntica mas podemos identificar

que nas duas sentenccedilas foram utilizados termos vagos que tornam a interpretaccedilatildeo dificultosa

Em (13a) haacute o uso dos termos ―mais e ―saacutebio assim como em (13b) haacute o uso dos termos

―menos e ―saacutebio Esses termos satildeo vagos e dificultam a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo semacircntica

entre as sentenccedilas O que dificulta a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre (13a) e (13b) eacute o fato de

que termos como ―mais e ―menos assim como ―saacutebio possuem significados diferentes de

acordo com as situaccedilotildees em que satildeo utilizadas Ou seja eacute necessaacuterio que admitamos o

45

mesmo grau de comparaccedilatildeo de classe para as sentenccedilas (13a) e (13b) Dessa forma haveraacute a

relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica

A seguir trataremos sobre outro tipo de relaccedilatildeo semacircntica entre sentenccedilas a

contraditoriedade

23 CONTRADITORIEDADE

Diferente da relaccedilatildeo de equivalecircncia semacircntica que consiste em sentenccedilas que satildeo

verdadeiras juntas ou falsas juntas as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias quando uma eacute oposta da

outra tipicamente quando uma sentenccedila B eacute a negaccedilatildeo de uma sentenccedila A Sobre a relaccedilatildeo de

contraditoriedade Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 229) afirmam que ―obteacutem-se a

contraditoacuteria de qualquer proposiccedilatildeo p prefixando-lhe o operador de negaccedilatildeo de modo a

obter notp3 Com base no conceito de contraditoriedade exposto vamos observar o exemplo a

seguir

(14) a O Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016

b O Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas de 2016

Podemos observar no exemplo acima que se a sentenccedila (14a) for verdadeira

obrigatoriamente a sentenccedila (14b) tem que ser falsa Se a informaccedilatildeo da sentenccedila (14a) que

diz que o Brasil estaacute preparado para as olimpiacuteadas for verdadeira a informaccedilatildeo da sentenccedila

(14b) que diz que o Brasil natildeo estaacute preparado para as olimpiacuteadas natildeo pode ser verdadeira

Em relaccedilotildees de contraditoriedade o uso de uma afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo eacute algo

tiacutepico mas natildeo determinante No exemplo (14) pudemos observar a relaccedilatildeo de

contraditoriedade caracterizada pelo uso da negaccedilatildeo mas tambeacutem podemos encontrar esse

tipo de relaccedilatildeo sem tal uso Vejamos a seguir

3 O siacutembolo not na loacutegica claacutessica eacute a representaccedilatildeo do operador de negaccedilatildeo ldquonatildeordquo

46

(15) a Mecircnon estaacute acordado

b Mecircnon estaacute dormindo

A partir das sentenccedilas acima podemos ver que a relaccedilatildeo entre estas sentenccedilas eacute de

contraditoriedade pois se a sentenccedila (15a) for verdadeira a sentenccedila (15b) tem que ser falsa

da mesma forma que se a sentenccedila (15b) for verdadeira a sentenccedila (15a) deveraacute ser falsa

Natildeo eacute possiacutevel que Mecircnon esteja acordado e dormindo ao mesmo tempo claro que

considerando o mesmo sentido para as palavras ―acordado e ―dormindo nas duas sentenccedilas

e em relaccedilatildeo ao mesmo Mecircnon

Assim como as demais relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos anteriormente a

contraditoriedade tambeacutem eacute sensiacutevel agrave polissemia Vamos observar como a polissemia se

apresenta no exemplo a seguir

(14) a A minha gata estaacute acordada

b A minha gata estaacute dormindo

No exemplo acima natildeo encontramos apenas a relaccedilatildeo de contraditoriedade sem

utilizaccedilatildeo da negaccedilatildeo mas tambeacutem um problema de polissemia que pode anular a relaccedilatildeo de

contraditoriedade Se numa determinada situaccedilatildeo escrevendo este texto me viro na cadeira e

vejo em cima de minha cama o meu animal de estimaccedilatildeo deitado olhando para mim e com

isso afirmo ―a minha gata estaacute acordada como na sentenccedila (14a) natildeo posso considerar

verdadeira a sentenccedila (14b) pois natildeo se pode estar dormindo e estar acordado ao mesmo

tempo tomando as definiccedilotildees de ―estar acordado e ―estar dormindo como oposiccedilotildees A

partir disso as sentenccedilas satildeo contraditoacuterias Se em outra situaccedilatildeo me viro na cadeira e vejo

minha esposa deitada na cama dormindo e afirmo ―a minha gata estaacute dormindo como na

sentenccedila (14b) ela natildeo pode ser verdadeira ao mesmo tempo em que a sentenccedila (14a) pois

minha esposa natildeo poderia estar acordada e dormindo ao mesmo tempo Ateacute o momento

pudemos atribuir dois sentidos diferentes para o termo ―gata Se considerarmos para a

sentenccedila (14a) o sentido de que o meu animal de estimaccedilatildeo estaacute acordado e para a sentenccedila

(14b) o sentido de que a minha esposa estaacute dormindo essas sentenccedilas natildeo satildeo contraditoacuterias

No exemplo acima percebemos portanto dois aspectos da contradiccedilatildeo em sentenccedilas de uma

liacutengua natural como o portuguecircs Primeiro que natildeo haacute a obrigatoriedade de ter a negaccedilatildeo de

47

uma sentenccedila para que a relaccedilatildeo de contraditoriedade exista e segundo que a polissemia

pode tornar problemaacutetica essa relaccedilatildeo

Podemos considerar uma relaccedilatildeo de contraditoriedade entre sentenccedilas sempre que A eacute

verdadeira B eacute falsa e sempre que a sentenccedila B eacute verdadeira A eacute falsa Ou seja as sentenccedilas

A e B nunca podem ser verdadeiras ou falsas juntas

O exemplo de contraditoriedade que mostramos anteriormente foi relacionando duas

sentenccedilas mas podemos encontrar a relaccedilatildeo de contraditoriedade dentro de uma sentenccedila

apenas Vamos observar o exemplo a seguir

(15) Herbert Vianna eacute cantor e natildeo eacute cantor

Se afirmamos que uma pessoa eacute e natildeo eacute cantora constatamos uma contraditoriedade

nesta sentenccedila Em (15) encontramos a apresentaccedilatildeo de um argumento e a negaccedilatildeo do mesmo

argumento em seguida Uma sentenccedila com esta forma natildeo pode ser verdadeira Se

consideramos numa mesma situaccedilatildeo que Herbert Vianna eacute cantor e em seguida afirmo que

Herbert Vianna natildeo eacute cantor esta sentenccedila eacute contraditoacuteria

Se partirmos para determinar sentidos diferentes para o termo ―cantor como por

exemplo que Herbert Vianna eacute um cantor pelo simples fato de que ele emite pelas cordas

vocais sons musicais que ―cantor eacute um termo que soacute pode ser utilizado para os profissionais

que trabalham com a voz na muacutesica ou que ―cantor se jaacute um termo utilizado para designar

algueacutem que canta muito bem natildeo haacute contraditoriedade efetivamente Mas se mantivermos o

mesmo sentido para o termo haveraacute relaccedilatildeo de contraditoriedade

Da mesma forma que a polissemia dificulta a interpretaccedilatildeo de nexos entre sentenccedilas

vamos observar um exemplo em que a vagueza ndash toacutepico que desenvolvemos na primeira

seccedilatildeo deste capiacutetulo - invalida uma relaccedilatildeo de contraditoriedade

(16) a O professor de loacutegica eacute muito alto

b O professor de loacutegica natildeo eacute muito alto

Na relaccedilatildeo entre (16a) e (16b) seguindo o conceito contraditoriedade haacute uma relaccedilatildeo

de contradiccedilatildeo entre as duas sentenccedilas poreacutem podemos identificar termos vagos nas duas

sentenccedilas o que pode dificultar a interpretaccedilatildeo Na sentenccedila (16a) e na sentenccedila (16b)

48

identificamos dois termos vagos que satildeo ―muito e ―alto Eacute possiacutevel considerar as duas

sentenccedilas como falsas ou verdadeiras juntas invalidando a contraditoriedade pois os termos

―muito e ―alto satildeo variaacuteveis de acordo com o grau de comparaccedilatildeo adotado Por exemplo

em (16a) o professor de loacutegica pode ser considerado muito alto em comparaccedilatildeo agraves crianccedilas

para quem ele leciona poreacutem se compararmos o professor de loacutegica da sentenccedila (16a) com os

outros professores do departamento talvez o professor fosse considerado baixo Desta forma

podemos observar que a vagueza dificulta a interpretaccedilatildeo das duas sentenccedilas

A seguir traremos o uacuteltimo nexo semacircntico que utilizaremos em nosso trabalho Este

tipo de relaccedilatildeo eacute um pouco parecido com a contraditoriedade

24 CONTRARIEDADE

A contrariedade ocorre quando duas sentenccedilas podem ser falsas juntas mas natildeo

podem ser verdadeiras juntas Branquinho Murcho e Gomes (2006 p 234) definem

contrariedade da seguinte forma ―duas proposiccedilotildees satildeo contraacuterias se natildeo podem ser ambas

verdadeiras mas podem ser ambas falsas distinguindo-se assim das contraditoacuterias que natildeo

podem ser ambas verdadeiras nem ambas falsas e das subcontraacuterias que natildeo podem ser

ambas falsas mas podem ser ambas verdadeiras

Eacute importante enfatizar que mesmo estando tratanto dos nexos semacircnticos e sua

aplicaccedilatildeo em liacutengua natural os conceitos de sentenccedilas contraacuterias contraditoacuterias

equivalecircncias e acarretamentos tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica As relaccedilotildees de sentenccedilas

contraacuterias e contraditoacuterias satildeo tratadas por Aristoacuteteles em seu sistema loacutegico representado

atraveacutes de seu quadrado loacutegico ou taacutebua de oposiccedilotildees No Perieacutermeneas (1985) mais

especificamente nos capiacutetulos 6 e 7 Aristoacuteteles nos apresenta os conceitos de sentenccedilas

contraacuterias e contraditoacuterias afirmando que duas sentenccedilas satildeo contraacuterias quando natildeo podem

ser verdadeiras juntas ao mesmo tempo mas podem ser falsas juntas ao mesmo tempo Jaacute em

relaccedilatildeo agraves contraditoacuterias Aristoacuteteles propotildee que toda afirmaccedilatildeo possui sua exata negaccedilatildeo

correspondente e que toda afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo sem opotildeem sendo uma sempre

verdadeira e a outra sempre falsa Dessa forma para Aristoacuteteles um par formado por uma

afirmaccedilatildeo e sua negaccedilatildeo corresponde a uma contradiccedilatildeo

A partir do conceito de contrariedade vamos observar o exemplo a seguir Nele

encontraremos um caso de polissemia

49

(17) a A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 20 de agosto de 1914

b A seleccedilatildeo brasileira de futebol foi formada em 18 de julho de 1921

Se admitirmos que a seleccedilatildeo brasileira de futebol sobre a qual estamos falando na

sentenccedila (17a) eacute a mesma seleccedilatildeo que estamos falando na sentenccedila (17b) natildeo eacute possiacutevel que

a sentenccedila (17b) seja verdadeira pois algo natildeo pode ser fundado efetivamente em dois

momentos distintos Haacute a possibilidade de se afirmar que estamos falando de duas seleccedilotildees

brasileiras de futebol diferentes pois para ―seleccedilatildeo brasileira haacute diversos significados

aplicaacuteveis ou seja a expressatildeo ―seleccedilatildeo brasileira eacute polissecircmica Por exemplo podemos

definir uma seleccedilatildeo como sendo de futebol de campo e a outra de futebol de salatildeo A partir

dessa interpretaccedilatildeo as duas sentenccedilas poderiam ser verdadeiras juntas e com isso natildeo

haveria contrariedade Mas como devemos admitir apenas uma situaccedilatildeo para as duas

sentenccedilas (17a) e (17b) natildeo podem ser verdadeiras juntas mas podem ser falsas juntas

constituindo uma relaccedilatildeo de contrariedade Eacute possiacutevel que a seleccedilatildeo brasileira de futebol natildeo

tenha sido formada nem em 20 de agosto de 1914 e nem em 18 de julho de 1921 Em

contrapartida numa interpretaccedilatildeo usual a seleccedilatildeo de futebol de um paiacutes eacute formada pela

primeira vez uma soacute vez Algueacutem pode querer ir aleacutem e afirmar que foram empregados

sentidos diferentes para a expressatildeo ―foi formada nas sentenccedilas em questatildeo Poderia dizer

que na sentenccedila (17a) o sentido foi de que a seleccedilatildeo se reuniu pela primeira vez para jogarem

juntos de forma extraoficial e que na sentenccedila (17b) o sentido foi de que a seleccedilatildeo

efetivamente foi documentalmente formada Se admitiacutessemos essas interpretaccedilotildees as

sentenccedilas (17a) e (17b) poderiam ser verdadeiras juntas o que descaracterizaria a relaccedilatildeo de

contrariedade entre as sentenccedilas Assim como o fato de que se a sentenccedila (17a) for falsa a

sentenccedila (17b) pode ser verdadeira ou falsa A falsidade da sentenccedila (17a) natildeo assegura a

verdade da sentenccedila (17b) Podemos entender dessa forma que a polissemia afeta a

interpretaccedilatildeo do nexo

Vamos observar mais um exemplo desta relaccedilatildeo

(18) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado do Acre

b A reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado de Santa Catarina

50

Se considerarmos a sentenccedila (18a) verdadeira ou seja que a reitoria da UNISUL estaacute

localizada no estado do Acre e tambeacutem levando em conta que a UNISUL eacute uma universidade

que tem uma reitoria e que a reitoria de uma universidade soacute pode estar numa cidade a

sentenccedila (18b) deveraacute ser falsa A sentenccedila (18a) eacute falsa e a sentenccedila (18b) eacute verdadeira e as

duas estabelecem uma relaccedilatildeo de contrariedade A reitoria da UNISUL estaacute localizada no

estado de Santa Catarina e natildeo no estado do Acre A partir desse exemplo e da convenccedilatildeo que

admitimos para ele pudemos observar que se uma sentenccedila A for falsa uma sentenccedila B pode

ser falsa ou verdadeira natildeo podendo ser as duas verdadeiras juntas apenas falsas Ilustrando

mais uma vez veja a relaccedilatildeo a seguir

(19) a A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Paris

b A reitoria da UNISUL estaacute localizada em Roma

No exemplo acima podemos afirmar que as sentenccedilas (19a) e (19b) podem ser falsas

pois como jaacute citamos no paraacutegrafo anterior a reitoria da UNISUL estaacute localizada no estado

de Santa Catarina Dessa forma haacute relaccedilatildeo de contrariedade as duas sentenccedilas satildeo falsas

Jaacute tratamos de exemplos da relaccedilatildeo de contrariedade com problemas de polissemia

mas podemos tambeacutem identificar problemas de validade dos nexos por causa da vagueza A

seguir observe o exemplo

(20) a Este cafeacute estaacute forte

b Este cafeacute estaacute aguado

Observando as sentenccedilas acima identificamos que (20a) e (20b) possuem termos

vagos que podem dificultar a interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre as sentenccedilas Em (20a) foi usado

o termo ―forte e em (20b) foi usado o termo ―aguado Como nas outras relaccedilotildees que

apresentamos anteriormente esses termos satildeo vagos pois dependendo da classe de

comparaccedilatildeo em que satildeo apresentados eles podem mudar de sentido Eacute possiacutevel que numa

determinada situaccedilatildeo consideremos que um cafeacute pode natildeo estar nem forte nem fraco

autorizando a possibilidade de (20a) e (20b) serem as duas falsas ao mesmo tempo

descaracterizando a relaccedilatildeo de contrariedade Dessa forma podemos observar que os termos

51

vagos dificultam a interpretaccedilatildeo das sentenccedilas consequentemente da relaccedilatildeo que as

sentenccedilas estabelecem entre si Concluindo a exposiccedilatildeo dos nexos que nos interessam neste

trabalho apresentaremos a seguir a justificativa de nosso percurso sobre estas relaccedilotildees

semacircnticas e os tipos de ocorrecircncias que podem dificultar a interpretaccedilatildeo destas

25 JUSTIFICANDO O PERCURSO

Neste capiacutetulo apresentamos inicialmente os conceitos de semacircntica e pragmaacutetica

com o objetivo de mostrar que os nexos semacircnticos que tratamos em nosso trabalho

(acarretamento equivalecircncia semacircntica contraditoriedade e contrariedade) satildeo tipos de

inferecircncias que pertencem ao campo da semacircntica Para isso tambeacutem apresentamos duas

inferecircncias que pertencem ao campo da pragmaacutetica (pressuposiccedilatildeo e implicatura)

Na exposiccedilatildeo de cada nexo trouxemos os conceitos seguidos de exemplos em que a

interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees semacircnticas eacute clara Em seguida apresentamos exemplos de nexos

com dois tipos de ocorrecircncias que no campo do leacutexico dificultam a interpretaccedilatildeo das

relaccedilotildees semacircnticas a polissemia e a vagueza

Pode parecer confuso a princiacutepio o fato de tratarmos de tipos de inferecircncia que

dependem da forma para se concretizarem (os nexos semacircnticos) relacionando-as com

ocorrecircncias que dificultam o entendimento do conteuacutedo das sentenccedilas (a polissemia e a

vagueza) A confusatildeo se apresenta caso natildeo lembremos que estamos tratando das relaccedilotildees de

inferecircncias em liacutengua natural e natildeo numa liacutengua controlada como num sistema loacutegico por

exemplo

Quando afirmamos que as relaccedilotildees entre sentenccedilas que tratamos em nosso trabalho

dependem da forma falamos de uma ―dessemantificaccedilatildeo ou seja a existecircncia dos nexos vai

depender unicamente da semacircntica dos quantificadores e conectivos (e ou se) Os nexos natildeo

dependem da semacircntica restante do material linguiacutestico exposto na sentenccedila A semacircntica dos

conectivos e quantificadores numa linguagem formal eacute mantida estaacutevel por definiccedilatildeo Na

linguagem natural podemos observar que os tipos de ocorrecircncia que dificultam a

interpretaccedilatildeo dos nexos se fazem presentes justamente no restante do material linguiacutestico da

sentenccedila ou seja para aleacutem da estrutura da sentenccedila que eacute composta pelos quantificadores e

demais conectivos

52

A polissemia e a vagueza satildeo ocorrecircncias tiacutepicas de liacutengua natural e dessa forma

somos obrigados a admitir que ao nos depararmos com qualquer gecircnero textual (que

obviamente estaacute no campo das liacutenguas naturais) numa anaacutelise devemos considerar que o

significado das palavras vai naturalmente interferir nas relaccedilotildees semacircnticas Tambeacutem na

exposiccedilatildeo de tipos de ocorrecircncias que interferem nos nexos semacircnticos tratamos de falaacutecias

que satildeo argumentos invaacutelidos apresentados como vaacutelidos explorando justamente a

interpretaccedilatildeo do conteuacutedo das sentenccedilas

A partir dos nexos semacircnticos que tratamos neste capiacutetulo junto com os tipos de

inferecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees no capiacutetulo seguinte

apresentaremos a anaacutelise de certificados de garantia Como o nosso objetivo eacute analisar quais

satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados nos certificados para restringir possibilidades de

interpretaccedilatildeo decidimos realizar a anaacutelise de ocorrecircncias com conectivos e quantificadores

Consideramos pertinente a escolha desse tipo de anaacutelise pois entendemos que os

quantificadores como o ―todo satildeo tradicionalmente apresentados em relaccedilotildees semacircnticas de

restriccedilatildeo ou abrangecircncia assim como o condicional ―se ou ―somente se e o ―apenas e

―somente A partir desse raciociacutenio acreditamos que esta seria a forma mais correta para

identificarmos ocorrecircncias do tipo que precisamos para a realizaccedilatildeo de nossa anaacutelise Os

nexos semacircnticos natildeo satildeo propiacutecios para as liacutenguas naturais pois natildeo se apresentam de forma

controlada Ocorrecircncias lexicais como as que descrevemos anteriormente podem dificultar a

interpretaccedilatildeo dessas relaccedilotildees e isso eacute algo que trataremos nas anaacutelises

Eacute nesta perspectiva que observaremos no capiacutetulo seguinte as anaacutelises de vinte e dois

certificados de garantia nos quais natildeo buscaremos relaccedilotildees bem marcadas e controladas entre

sentenccedilas pois natildeo encontrariacuteamos facilmente mas sim quais satildeo os recursos linguiacutesticos

utilizados pelos autores dos textos para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo

admitindo tambeacutem obviamente os nexos semacircnticos como possiacuteveis recursos

53

3 A EXPRESSAtildeO DOS NEXOS NOS CERTIFICADOS DE GARANTIA

Os certificados de garantia satildeo textos muito presentes em nosso cotidiano e muitas das

vezes noacutes natildeo levamos em conta a sua importacircncia tanto por serem documentos que podem

resguardar nossos direitos sobre um determinado produto quanto pelo fato de natildeo sermos

treinados para ler e interpretar devidamente as informaccedilotildees dispostas nos textos Dessa

forma justificamos a escolha de tal gecircnero para analisarmos em nossa pesquisa Ateacute este

momento de nosso trabalho seguimos o seguinte percurso

1) Mostramos no primeiro capiacutetulo que na elaboraccedilatildeo de certificados de garantia o

autor deve se preocupar em construir o texto buscando restringir ao maacuteximo as

possibilidades de interpretaccedilatildeo para que ele se torne mais eficiente em passar as

informaccedilotildees desejadas e para evitar problemas de interpretaccedilatildeo por parte dos

clientes

2) Tendo em vista que os certificados de garantia satildeo textos instrucionais ou seja

que direcionam a leitura para um fim especiacutefico nossa anaacutelise tem por objetivo

verificar quais satildeo os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores destes textos

para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo e para alcanccedilar este objetivo nos

utilizaremos da teoria dos nexos semacircnticos apresentada no segundo capiacutetulo

Como anunciado na introduccedilatildeo o corpus dessa pesquisa eacute formado por 22

certificados de garantia de produtos de diversos segmentos Ele foi coletado utilizando a

internet e natildeo teve um meacutetodo definido de categorizaccedilatildeo na escolha dos textos Decidimos

escolher certificados de diversos segmentos para natildeo obtermos uma anaacutelise viciada e tambeacutem

para obtermos um panorama da estrutura textual

Como analisaremos os recursos linguiacutesticos utilizados pelos autores dos certificados

de garantia para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo elegemos trecircs categorias de

termos a serem analisadas quantificadores universais condicionais e uso do apenassomente

A escolha dessas categorias se deve ao fato delas possuiacuterem tradicionalmente funccedilotildees de

restriccedilatildeo ou abrangecircncia em inferecircncias

Assim como na loacutegica de predicados a silogiacutestica se caracteriza pelo uso dependente

em argumentos dos quantificadores ―alguns e ―todos Nomeamos de quantificador

existencial ou particular aqueles referentes a ―alguns e nomeamos de quantificador universal

aqueles referentes a ―todos (MURCHO 2006) Utilizaremos em nossa pesquisa agraves

ocorrecircncias com quantificadores do segundo tipo Vejamos um exemplo ilustrativo

54

(21) TODO produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia

Possivelmente natildeo encontraremos em nossa anaacutelise nenhuma sentenccedila como esta pois

vemos que o quantificador universal destacado em letras maiuacutesculas abrange totalmente a

possibilidade de cobertura da garantia de um produto Da forma que estaacute expressa se compro

uma TV por exemplo e a mergulho na aacutegua causando defeito poderei receber outra nova do

fabricante pois ―todo produto defeituoso estaraacute coberto pela garantia

Sobre os condicionais trataremos a anaacutelise na mesma linha de raciociacutenio pois eles

satildeo utilizados em proposiccedilotildees do tipo ―se X entatildeo Y oportunizando abrangecircncia ou

restriccedilatildeo de possibilidades de interpretaccedilatildeo como podemos ver ilustrado no exemplo a

seguir

(22) SE o produto apresentar defeito seraacute reparado gratuitamente

Da mesma forma como mostramos no exemplo anterior provavelmente natildeo

encontraremos sentenccedilas tatildeo abrangentes em nosso corpus como esta pois da forma como

estaacute posta ampliaria muito a possibilidade de cobertura da garantia de um produto Podemos

interpretar a partir da leitura da sentenccedila acima que o reparo do produto seraacute efetuado caso o

produto apresente qualquer defeito por qualquer motivo durante qualquer periacuteodo de tempo

sendo utilizado por qualquer pessoa e em qualquer circunstacircncia entre outras possibilidades

Para reparar tamanha abrangecircncia os autores dos textos podem utilizar listas exaustivas com

detalhes especiacuteficos apoacutes a apresentaccedilatildeo dos condicionais para direcionar efetivamente a

cobertura da garantia

Por fim em relaccedilatildeo ao uso dos termos ―apenas e ―somente analisaremos os termos

nos contextos que os autores buscam restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo nos textos

Vejamos o exemplo a seguir

(22) Estaratildeo cobertos pela garantia APENAS os produtos que natildeo estatildeo em

promoccedilatildeo

55

No exemplo acima tambeacutem inventado vemos que o ―apenas aparece como um

restritor da garantia deixando claro que soacute os produtos que foram adquiridos pelos preccedilos

normais ou seja fora da promoccedilatildeo estaratildeo cobertos pela garantia Dessa forma produtos em

promoccedilatildeo ficam descobertos

Com os conceitos sobre as categorias de anaacutelise dispostos acima apresentaremos a

seguir a anaacutelise dos trechos coletados em nosso corpus separada por tipos de ocorrecircncia

Iremos observar como se apresentam os quantificadores condicionais ocorrecircncias com o

apenassomente assim como observaremos os tipos de ocorrecircncias no campo do leacutexico que

dificultam a interpretaccedilatildeo dos trechos (polissemia e vagueza)

31 OCORREcircNCIAS COM QUANTIFICADOR UNIVERSAL

Vejamos a seguir as ocorrecircncias4 em que o quantificador universal eacute utilizado

5

(1) Este produto e as peccedilas substituiacutedas seratildeo garantidos pelo restante do

prazo original TODAS as peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades

da SAMSUNG

Podemos observar na ocorrecircncia acima que o fabricante utiliza o quantificador para

fazer com que o leitor infera que absolutamente todas as peccedilas que forem substituiacutedas na

assistecircncia a algum aparelho defeituoso se tornaratildeo propriedade da fabricante Dessa forma o

cliente natildeo poderaacute em hipoacutetese alguma ficar com a peccedila trocada

Percebemos no trecho acima que o quantificador universal ―todas poderia ser

excluiacutedo da sentenccedila e com isso em nada alteraria o sentido da sentenccedila Forccedilando uma

possiacutevel interpretaccedilatildeo da sentenccedila o leitor poderia afirmar que se a sentenccedila fosse disposta

da seguinte maneira ―As peccedilas substituiacutedas se tornaratildeo propriedades da SAMSUNG

poderia existir uma classe de peccedilas eletrocircnicas de produtos SAMSUNG que

4 Utilizaremos o termo ldquoocorrecircnciardquo tanto para se referir ao trecho completo do corpus quanto para a

sentenccedila em que o conectivo grifado se apresenta Natildeo faremos distinccedilatildeo para este uso 5 Para a exibiccedilatildeo das ocorrecircncias do nosso corpus reiniciaremos a numeraccedilatildeo natildeo seguindo a contagem

realizada para os exemplos dos capiacutetulos anteriores

56

tradicionalmente fossem substituiacutedas em manutenccedilotildees mas natildeo recolhidas pelo fabricante

Dessa forma o quantificador universal ―todas se mostraria como a soluccedilatildeo para esse

problema de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos

na ocorrecircncia6 (1)

(2) Esta garantia substitui TODAS as outras garantias expressas ou

taacutecitas incluindo sem limitaccedilatildeo garantias taacutecitas de comercializaccedilatildeo

e adequaccedilatildeo a um fim especiacutefico

(Certificado 1)

Nesta ocorrecircncia o fabricante utiliza o quantificador para abranger ao maacuteximo seu

texto no intuito de inferir que a garantia em anaacutelise se sobrepotildee a qualquer outro tipo de

garantia oferecida ao cliente

Podemos observar que se o quantificador universal ―todas natildeo fosse utilizado o

sentido da sentenccedila permaneceria o mesmo Se tiveacutessemos encontrado a sentenccedila da forma

―Esta garantia substitui as outras garantias o cliente iria interpretar a sentenccedila sem

dificuldades O uso do quantificador aparece como um termo para dar ecircnfase ao que jaacute estaacute

dito na sentenccedila acima Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos na

ocorrecircncia (2)

(3) TODO atendimento de reparo deve ser precedido de ligaccedilatildeo

telefocircnica ao Suporte Teacutecnico Telefocircnico da AOC (0800-10-9539)

para que seja feita uma avaliaccedilatildeo preacutevia do problema a fim de

constatar a existecircncia de defeito ou viacutecio do produto esgotando-se

TODAS as possibilidades de se tratar de uma falha de operaccedilatildeo ou

uso do produto por parte do consumidor

(Certificado 4)

No trecho acima podemos observar que na primeira ocorrecircncia do quantificador o

fabricante utiliza-o para inferir que o cliente em qualquer caso de submissatildeo do aparelho agrave

assistecircncia deve entrar em contato com o suporte teacutecnico telefocircnico da empresa e ainda

6 Decidimos pontuar no final de cada anaacutelise o fato de haver ou natildeo termos polissecircmicos ou vagos nas

ocorrecircncias porque consideramos estes tipos de ocorrecircncias como sendo os principais meios de dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos instrucionais Ao anunciar que natildeo haacute termos dessas categorias em cada anaacutelise por mais que se mostre repetitivo na leitura ao mesmo tempo invoca a importacircncia (e necessidade segundo nossa perspectiva) que depositamos nesses fatos em cada ocorrecircncia

57

reforccedila utilizando outra vez o quantificador ―todas inferindo que o produto soacute iraacute para a

assistecircncia efetivamente caso natildeo haja mais nenhuma possibilidade de resoluccedilatildeo do problema

atraveacutes do contato telefocircnico Ao utilizar esse reforccedilo o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo ao

fato de que por exemplo o problema possa ser resolvido atraveacutes de instruccedilotildees passadas pela

empresa via telefone ao cliente e o cliente natildeo aceitar e exigir que o produto seja reparado

somente na assistecircncia teacutecnica ou simplesmente para evitar que a assistecircncia teacutecnica receba

algum produto que natildeo estaacute defeituoso ou viciado

Diferente da ocorrecircncia (2) o uso do quantificador universal ―todo se faz necessaacuterio

para evitar que o cliente interprete a sentenccedila de uma forma indesejada por parte do

fabricante Por exemplo caso o autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todo na

primeira parte ―Todo atendimento de reparo deve o cliente poderia interpretar que ele

poderia obter atendimento de reparo sem passar pelo contato telefocircnico com o suporte teacutecnico

do fabricante Na utilizaccedilatildeo do quantificador universal ―todas no final da sentenccedila tambeacutem

observamos que se o autor do texto natildeo utilizasse esta estrateacutegia tambeacutem possibilitaria que o

texto fosse interpretado de outra maneira Se o cliente se deparasse com a sentenccedila

―esgotando-se as possibilidades de se tratar de uma falha poderia interpretar que se para

algum tipo de falha de operaccedilatildeo ou seja de utilizaccedilatildeo do produto haveria a possibilidade de

enviar o produto para assistecircncia teacutecnica Como o autor utilizou o quantificador nas duas

passagens que citamos ele direcionou a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha

duacutevidas sobre aquilo que o fabricante deseja expressar

Sobre tipos de ocorrecircncia que dificultam a interpretaccedilatildeo do texto pudemos identificar

a expressatildeo ―viacutecio do produto Esta expressatildeo eacute muito especiacutefica e estaacute presente no Coacutedigo

de defesa do consumidor Segundo Bruno Miragem (2008) ―Viacutecio do produto ou do serviccedilo

abrange o efeito decorrente da violaccedilatildeo aos deveres de qualidade quantidade ou informaccedilatildeo

impedindo com isso que o produto ou serviccedilo atenda aos fins que legitimamente dele se

esperam (dever da adequaccedilatildeo) O autor do certificado natildeo disponibilizou nenhum conceito

para a expressatildeo ―viacutecio do produto apresentando desta forma uma dificuldade a mais para

a interpretaccedilatildeo do texto por parte do cliente Caso o autor tenha elaborado o texto

considerando por exemplo que qualquer pessoa que leia um certificado de garantia deve ser

conhecedor de todos os termos e expressotildees descritas no CDC (a partir desse ponto iremos

utilizar esta sigla para ―coacutedigo de defesa do consumidor) natildeo haveria problema em

simplesmente usar o termo sem conceituar mas isso natildeo eacute pertinente Para evitar que esta

expressatildeo natildeo fosse polissecircmica o autor deveria ter elaborado um mini-glossaacuterio com os

termos que seriam usuais no texto e que possuem um sentido especiacutefico no ramo em que o

58

produto estaacute inserido (por exemplo peccedilas de carros ou peccedilas eletrocircnicas) e no CDC7

(4) A Garantia do Produto oferecida por este Termo abrange TODOS os

defeitos de material ou de fabricaccedilatildeo do aparelho constatados pela

Robert Bosch Ltda bem como a substituiccedilatildeo das peccedilas que

apresentarem viacutecios aleacutem da matildeo-de-obra utilizada no respectivo

reparo

(Certificado 8)

No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador ―todos para assegurar ao cliente

que em qualquer caso em que o produto possua defeito de material ou de fabricaccedilatildeo a

garantia estaraacute assegurada Aleacutem de assegurar isso tambeacutem garante a substituiccedilatildeo da peccedila do

aparelho que estiver com problema e a matildeo-de-obra tudo por conta do fabricante Caso o

autor do texto natildeo tivesse utilizado o quantificador ―todos ele poderia abrir margem para

outras interpretaccedilotildees como por exemplo que esta garantia natildeo abrange qualquer defeito do

produto constatado pelo fabricante Eacute interessante citar que a utilizaccedilatildeo do quantificador

―todos foi realizada beneficiando o fabricante pois mesmo afirmando que a ―garantia

abrange todos os defeitos o autor direciona para ―todos os casos que forem constatados

pelo fabricante Ou seja fica a criteacuterio do fabricante decidir o que eacute defeito e o que natildeo eacute

Assim como na ocorrecircncia (3) identificamos o uso do termo ―viacutecios que natildeo tem o

seu conceito descrito no texto do certificado O termo ―viacutecio natildeo eacute utilizado em nosso

cotidiano como algo vinculado a um objeto Geralmente conceituamos esse termo como

referente agrave dependecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica em relaccedilatildeo a uma substacircncia Tambeacutem podemos

conceituar como uma mania (costume de fazer sempre a mesma coisa) Enfim o termo

utilizado da forma em que foi descrita em (4) necessitaria que em alguma parte do texto

aparecesse o conceito para este termo que deve ser interpretado de forma especiacutefica pois eacute

um termo teacutecnico apresentado no CDC e muitas das vezes o cliente natildeo tem conhecimento

deste conceito favorecendo dificuldades a interpretaccedilatildeo do texto

(5) TODOS os eventuais danos ou demoras resultantes da natildeo

observacircncia dessas recomendaccedilotildees fogem agrave responsabilidade da APC

(Certificado 7)

7 Sobre esta estrateacutegia de eliminaccedilatildeo da polissemia e vagueza atraveacutes do uso de um glossaacuterio por autores de

textos instrucionais ver Estrela e Santos (2014)

59

Na ocorrecircncia acima a empresa APC se resguarda de qualquer responsabilidade sobre

o produto caso o cliente natildeo siga as recomendaccedilotildees dadas pelo fabricante Para isso utiliza o

quantificador universal para abranger ao maacuteximo as possibilidades de natildeo cobertura

favorecendo o fabricante Observamos que a utilizaccedilatildeo do quantificador na ocorrecircncia (5)

serviu para intensificar o que foi descrito na sentenccedila Caso natildeo fosse utilizado poderia

deixar margem para outras interpretaccedilotildees como por exemplo que poderia existir algum tipo

de dano eventual que fosse de responsabilidade do fabricante O quantificador ―todos

elimina esse tipo de interpretaccedilatildeo Natildeo identificamos nem termos vagos nem termos

polissecircmicos na ocorrecircncia (5)

(6) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA garante e consequentemente

compromete-se a reparar ou substituir pelo prazo abaixo indicado

contado a partir da data indicada no documento fiscal representativo

de venda do veiacuteculo Hyundai TODAS as peccedilas que em serviccedilo

normal apresentem defeito de fabricaccedilatildeo ou de material desde que

observadas as respectivas condiccedilotildees sob pena de ser

automaticamente considerado cancelado o presente Certificado de

Garantia independentemente de qualquer aviso ou notificaccedilatildeo

(Certificado 17)

No trecho acima podemos observar que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se daacute

de forma bastante controlada Mesmo o termo ―todas sendo naturalmente utilizado para

abranger ou restringir ao maacuteximo inferecircncias na ocorrecircncia acima vemos sua utilizaccedilatildeo

dependendo de vaacuterios aspectos para se concretizar A Hyundai se compromete em reparar ou

substituir ―todas as peccedilas dos veiacuteculos que estiverem dentro de todas as caracteriacutesticas

descritas antes do termo ser usado como estar dentro do prazo estabelecido pelo fabricante

apresentarem defeito de fabricaccedilatildeo ou material e aleacutem disso observando os procedimentos

detalhados pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o quantificador universal eacute

utilizado de forma controlada pelo fabricante restringindo ao seu sabor as possibilidades de

validade da garantia

(7) TODA revisatildeo deveraacute ser registrada no quadro de registro de revisotildees

para assegurar a garantia de seu veiacuteculo

(Certificado 17)

60

Na ocorrecircncia acima observamos que o fabricante utilizou o quantificador universal

para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente da seguinte forma o

cliente que possui um veiacuteculo na garantia poderia interpretar por exemplo caso natildeo houvesse

a utilizaccedilatildeo do quantificador ―toda na sentenccedila (7) fazer as revisotildees do veiacuteculo em qualquer

oficina e natildeo registrar as mudanccedilas feitas no carro em lugar algum natildeo perdendo a garantia

do veiacuteculo O quantificador universal ―toda direciona a interpretaccedilatildeo da inferecircncia para que

o cliente efetue qualquer revisatildeo do veiacuteculo numa concessionaacuteria do fabricante e aleacutem disso

ter as revisotildees registradas no quadro de registro de revisotildees do fabricante Na ocorrecircncia (7)

natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos

(8) TODOS aparelhos da ONEAL saem da faacutebrica preacute-ajustados em

220V

(Certificado 5)

Nesta ocorrecircncia (8) o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para

abranger a informaccedilatildeo de que qualquer produto produzido por ele eacute ajustado em 220V

resguardando-se de por exemplo um questionamento de algum cliente sobre o

funcionamento de qualquer produto em outra voltagem ou utilizaccedilatildeo do produto em outra

voltagem ocasionando defeito no produto Caso isso ocorra o fabricante natildeo poderaacute ser

responsabilizado pois a partir da ocorrecircncia (8) ele explica a voltagem a ser utilizada natildeo

garantindo o funcionamento do produto em outras voltagens Na ocorrecircncia (8) observamos

que se o fabricante natildeo tivesse utilizado o quantificador universal ―todo natildeo alteraria a

interpretaccedilatildeo da sentenccedila Podemos entender que a utilizaccedilatildeo do quantificador universal na

ocorrecircncia (8) serviu apenas para intensificar a informaccedilatildeo da sentenccedila

(9) TODOS nossos produtos satildeo testados durante horas nos mais severos

regimes antes de serem aprovados para o mercado

(Certificado 5)

No trecho acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para abranger a

interpretaccedilatildeo da inferecircncia Dessa forma o fabricante tenta nos levar a interpretar a

61

ocorrecircncia (9) da seguinte forma qualquer produto produzido por este fabricante eacute testado de

forma rigorosa antes de ser despachado para comercializaccedilatildeo Essa interpretaccedilatildeo eacute dificultada

pela presenccedila de termos vagos Ao utilizar a expressatildeo ―durante horas nos mais severos

regimes o fabricante natildeo teve o cuidado de atrelar essa informaccedilatildeo agrave classe de comparaccedilatildeo

na qual o cliente deve se basear para interpretar a sentenccedila da forma como o fabricante

deseja Ao afirmar que os produtos satildeo testados ―durante horas o fabricante natildeo especificou

por quantas horas os produtos satildeo testados e o que isso representa Por exemplo para

produtos X identificados como em bom funcionamento deve-se testaacute-los durante Y horas

segundo o manual Z que regulamenta a qualidade dos produtos X Aleacutem disso o fabricante

ainda afirma sobre os testes que satildeo ―nos mais severos regimes cometendo a mesma falha

da expressatildeo anterior natildeo descrevendo o que eacute isso e o que isso representa A expressatildeo eacute

vaga pois esses regimes de testes satildeo severos em relaccedilatildeo a quecirc Como natildeo haacute um grau de

comparaccedilatildeo de classe o cliente pode interpretar a ocorrecircncia de formas diversas Se o

fabricante tivesse especificado em algum lugar do texto que a expressatildeo ―nos mais severos

regimes deveria ser comparada por exemplo a um tipo de teste que coloca os produtos em

condiccedilotildees extremas para averiguar a sua qualidade durabilidade e bom funcionamento que eacute

norma padratildeo de qualidade para os produtos que ele estaacute justificando em (9) natildeo haveria

vagueza Do modo como a ocorrecircncia se apresenta as informaccedilotildees ―durante horas e ―nos

mais severos regimes satildeo vagas e dificultam a interpretaccedilatildeo da sentenccedila

(10) A ONEAL garante TODOS os seus produtos por um periacuteodo de 01

(um) ano jaacute incluiacutedo o periacuteodo de garantia legal (os primeiros 90 dias)

a partir da data da compra para problemas mecacircnicos ou por falhas

industriais em montagem e pintura

(Certificado 5)

Podemos observar na ocorrecircncia (10) que o fabricante assegura a garantia para todos

os seus produtos utilizando o quantificador universal com algumas restriccedilotildees Se natildeo

houvesse a utilizaccedilatildeo do quantificador nesta inferecircncia o cliente poderia considerar que a

garantia de seu produto por exemplo teria validade vitaliacutecia e que o produto estaria coberto

pela garantia mesmo se for danificado por negligecircncia do cliente O fabricante restringe o

periacuteodo de validade especificando que o periacuteodo de um ano jaacute inclui o periacuteodo da garantia

legal que eacute de 90 dias Ainda enfatiza que se deve contar o periacuteodo a partir da data da compra

e ainda explica que a garantia cobriraacute somente produtos que apresentarem problemas

62

mecacircnicos ou aqueles que apresentarem problemas industriais em montagem e pintura Dessa

forma problemas de outra natureza natildeo seratildeo cobertos pela garantia assim como produtos

com mais de um ano de adquiridos tambeacutem natildeo estaratildeo cobertos Poderiacuteamos identificar a

expressatildeo ―garantia legal como polissecircmica caso o fabricante natildeo tivesse apresentado o

conceito para a expressatildeo logo apoacutes entre parecircnteses Eacute sabido que no CDC a garantia legal eacute

caracterizada como o periacuteodo de 90 dias apoacutes a aquisiccedilatildeo de um produto Para evitar que

houvesse uma interpretaccedilatildeo indevida o fabricante conceituou a expressatildeo imediatamente

apoacutes o aparecimento dela na sentenccedila

(11) Em vista das mudanccedilas de leis que poderatildeo ocorrer TODO

certificado seraacute regido pelas normas do cartatildeo de garantia mais

recentemente atualizado pela faacutebrica

(Certificado 5)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todo para afirmar

que qualquer certificado de garantia de seus produtos deveraacute seguir as normas dispostas no

cartatildeo de garantia mais recentemente atualizado pela faacutebrica ou seja caso algum cliente tente

solicitar a garantia atraveacutes de um cartatildeo de garantia desatualizado ele natildeo estaraacute autorizado

Dessa forma o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo agraves possiacuteveis atualizaccedilotildees de leis ou

informaccedilotildees nos cartotildees de garantia dos diversos lotes de produtos impossibilitando o cliente

de reclamar sobre qualquer tipo de alteraccedilatildeo no documento em questatildeo A utilizaccedilatildeo do

quantificador universal em (11) eacute importante para dar ecircnfase agrave informaccedilatildeo central da sentenccedila

e tambeacutem para evitar que por exemplo o cliente interpretasse que algum certificado poderia

ser regido pelas normas de outro cartatildeo de garantia que natildeo fosse o mais recente Natildeo

identificamos nem termos vagos nem termos polissecircmicos em (11)

(12) A garantia incide sobre TODOS os componentes montados

originalmente em Veiacuteculo conforme descrito na Nota Fiscal de

venda quer fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER ou

por esta adquiridos de terceiros

(Certificado 16)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o quantificador universal ―todos para

restringir a interpretaccedilatildeo da sentenccedila quando afirma que a garantia cobre qualquer

63

componente montado originalmente em veiacuteculo ou seja a garantia natildeo cobre componentes

avulsos Aleacutem disso os componentes montados devem estar descritos na Nota Fiscal de

venda sendo assim se natildeo estiverem lanccedilados invalidam a garantia e por fim os veiacuteculos

devem tem sido fabricados por alguma empresa do grupo DAIMLER ou fabricado por outra

empresa mas tendo sido adquirido pelo fabricante que estaacute oferecendo a garantia Dessa

forma podemos ver que o quantificador universal foi utilizado pelo fabricante de forma

restrita limitando a abrangecircncia de acordo com seus interesses Caso o quantificador

universal natildeo tivesse sido utilizado na sentenccedila haveria a possibilidade do cliente interpretar

(12) de vaacuterias maneiras Por exemplo admitir que a garantia pode ser vaacutelida para produtos

que foram fabricados por qualquer empresa do grupo DAIMLER mas natildeo foram lanccedilados na

Nota Fiscal de venda Em vista disso a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela

necessidade do fabricante restringir a interpretaccedilatildeo do texto da garantia buscando direcionar

melhor a informaccedilatildeo que ele estaacute vinculando em seu texto Natildeo identificamos nem termos

vagos nem termos polissecircmicos em (12)

(13) Executar TODAS as revisotildees estabelecidas pela Mercedes-Benz do

Brasil Ltda

(Certificado 16)

(14) Executar TODAS as manutenccedilotildees reparaccedilotildees e regulagens em um

dos Concessionaacuterios ou Postos de Serviccedilos Autorizados Mercedes-

Benz no territoacuterio brasileiro

(Certificado 16)

Nas duas ocorrecircncias acima podemos observar que o fabricante utiliza o quantificador

universal ―todas para definir que a garantia do produto soacute seraacute vaacutelida caso o cliente realize

as funccedilotildees descritas Caso o cliente natildeo realize pelo menos uma delas a garantia seraacute

invalidada Se o cliente natildeo realizar pelo menos uma revisatildeo sugerida pela fabricante perderaacute

a validade Aleacutem disso se o cliente realizar algum tipo de manutenccedilatildeo no veiacuteculo em alguma

concessionaacuteria que natildeo seja autorizada da Mercedes-Benz e no territoacuterio brasileiro tambeacutem

perderaacute a garantia O fabricante mesmo utilizando o quantificador universal nas duas

ocorrecircncias natildeo deixa de condicionar a validade da garantia de acordo com seus interesses O

cumprimento das recomendaccedilotildees dispostas apoacutes o quantificador natildeo garantem efetivamente

que a garantia do produto estaacute assegurada Ou seja mesmo que o cliente execute todas as

manutenccedilotildees reparos e regulagens em um dos concessionaacuterios do fabricante natildeo impede que

64

a garantia seja invalidade por outro motivo O quantificador universal foi utilizado pelo

fabricante em (13) e (14) sem limites e em seu benefiacutecio Natildeo identificamos nem termos

vagos nem termos polissecircmicos em (13) e (14)

(15) TODA solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica durante o periacuteodo da

garantia deveraacute ser feita obrigatoriamente agrave faacutebrica via e-mail ou

fax descrevendo detalhadamente os problemas apresentados natildeo

excedendo o prazo de 30 dias apoacutes detectaacute-lo indicando o modelo do

equipamento e o nuacutemero de seacuterie descrito na placa de identificaccedilatildeo do

mesmo e constante neste certificado

(Certificado 22)

Na ocorrecircncia (15) o fabricante utiliza o quantificador universal ―toda de forma

abrangente determinando que todas as solicitaccedilotildees de assistecircncia teacutecnica para qualquer

produto deveraacute seguir as instruccedilotildees definidas em seguida Caso o cliente tente solicitar a

assistecircncia natildeo seguindo algum dos passos e prazos determinados pelo fabricante a garantia

seraacute invalidada O quantificador universal foi utilizado para evitar interpretaccedilotildees relativas

sobre os procedimentos descritos no texto Por exemplo se (15) natildeo tivesse o quantificador

universal ―toda uma possiacutevel interpretaccedilatildeo seria que uma solicitaccedilatildeo de assistecircncia teacutecnica

durante o periacuteodo da garantia poderia ser realiza na loja em que o produto foi comprado e natildeo

apenas na faacutebrica Dessa forma a utilizaccedilatildeo do quantificador universal se justifica pela

necessidade do fabricante restringir o percurso da solicitaccedilatildeo da garantia para o procedimento

que ele deseja que seja seguido pelo cliente Natildeo identificamos termos vagos e polissecircmicos

em (15)

32 USO DO CONDICIONAL

Vejamos a seguir as ocorrecircncias em que o condicional eacute utilizado Quando as

ocorrecircncias apresentarem o mesmo sentido de interpretaccedilatildeo agruparemos numa mesma

anaacutelise como podemos observar a seguir nas ocorrecircncias (16) (17) e (18)

(16) A garantia fica automaticamente invalidada SE

(Certificado 2)

65

(17) A garantia legal e contratual perderaacute seu efeito SE

(Certificado 3)

(18) Esta garantia perderaacute a validade SE

(Certificado 11)

Podemos observar nas ocorrecircncias (16) (17) e (18) que o condicional tem a funccedilatildeo de

limitar a aplicaccedilatildeo da garantia Os usos do ―se natildeo excluem a possibilidade de haver outros

casos em que a garantia natildeo se aplica ou seja as listas que satildeo apresentadas apoacutes o

condicional natildeo satildeo exaustivas Vale mencionar que da mesma forma que o ―todo o ―se

foi utilizado para beneficiar o fabricante como afirmamos acima O ―se assegura que a

validade do produto seraacute perdida nos casos que satildeo listados apoacutes o condicional sem eliminar

a possibilidade de haverem outros casos abrangendo sem limites os casos em que a garantia

natildeo cobriraacute o produto e restringindo a validade da garantia para o cliente Natildeo identificamos

termos vagos ou polissecircmicos nas ocorrecircncias (16) (17) (18) Na ocorrecircncia (17) o autor

usou os termos ―garantia legal e ―contratual que poderiam ser considerados termos

polissecircmicos que dificultariam a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia mas foram apresentados no

certificado os conceitos para os dois termos Para ―garantia legal o autor definiu como

sendo o prazo inicial da garantia com duraccedilatildeo de 90 dias ( contados imediatamente apoacutes a

emissatildeo da Nota Fiscal de compra) e previsto no CDC por sua vez para ―garantia

contratual se refere ao periacuteodo de dois anos incluindo o periacuteodo da garantia legal para todo

equipamento (neste caso condicionador de ar) e cinco anos para o compressor Com a

apresentaccedilatildeo destas definiccedilotildees o autor evitou que os termos se apresentassem no texto como

polissecircmicos

(19) A garantia do produto natildeo se aplica

(Certificado 8)

Trouxemos para a anaacutelise a ocorrecircncia acima pois a expressatildeo ―natildeo se aplica desta

sentenccedila funciona como um condicional mesmo sem ter a forma das ocorrecircncias que

analisamos anteriormente O fabricante utiliza esse condicional precedendo uma lista de

possiacuteveis situaccedilotildees em que a garantia poderia ser reclamada pelo cliente dessa forma

impossibilitando o cliente de exigir qualquer direito sobre alguma das possiacuteveis situaccedilotildees

Natildeo identificamos termos polissecircmicos e vagos na ocorrecircncia (19)

66

(20) A garantia do produto extingue-se

(Certificado 8)

Assim como na ocorrecircncia anterior tambeacutem natildeo encontramos o condicional ―se de

forma expliacutecita mas o termo ―extingue-se se comporta como tal A sentenccedila acima foi

utilizada pelo fabricante antecedendo uma lista de possibilidades de situaccedilotildees em que o

cliente poderia reclamar a garantia do produto excluindo entatildeo qualquer direito do cliente

em relaccedilatildeo ao que foi listado abaixo da sentenccedila em questatildeo Natildeo identificamos termos vagos

e polissecircmicos na ocorrecircncia (20)

(21) O cliente perderaacute a garantia do seu veiacuteculo SE

(Certificado 17)

Na ocorrecircncia (21) o fabricante utiliza o condicional antecedendo uma lista de

situaccedilotildees que se concretizadas invalidaratildeo a garantia Dessa forma se o veiacuteculo do cliente

que deseja ser atendido pela garantia se enquadrar em algum dos itens dispostos apoacutes essa

sentenccedila a garantia natildeo seraacute concedida Assim como nas ocorrecircncias com o uso do

condicional apresentadas anteriormente o uso do ―se aparece sem limites Como afirmamos

na anaacutelise das ocorrecircncias (16) (17) e (18) o autor utiliza o condicional para em seguida

apresentar uma lista de situaccedilotildees em que se concretizadas o cliente perderaacute a garantia Mas

mesmo com a apresentaccedilatildeo dessa lista o cliente poderaacute perder a garantia caso ocorra outro

tipo de situaccedilatildeo natildeo listada Dessa forma o fabricante se favorece abrangendo ao maacuteximo as

possibilidades de perda da garantia e ―prejudica o cliente oferecendo-lhe restritas

possibilidades de validade da garantia do produto a que se refere o texto Natildeo identificamos

nem termos polissecircmicos nem vagos na ocorrecircncia (21) Apenas vale ressaltar que diferente

das ocorrecircncias apresentadas anteriormente o autor em vez de escrever ―a garantia do

produto ele utilizou ―a garantia do seu veiacuteculo que especifica ao que se refere o texto

diminuindo a possibilidade de o cliente interpretar a ocorrecircncia de uma forma diferente da

que o autor se propotildee a transmitir

(22) A garantia vigoraraacute SOMENTE SE o Veiacuteculo atender

cumulativamente as seguintes condiccedilotildees

67

(Certificado 16)

Eacute interessante observar a forma como o fabricante utiliza o condicional na ocorrecircncia

(22) que precede uma lista de condiccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso o fabricante

natildeo utilizasse esse condicional ―somente se na sentenccedila acima o cliente poderia interpretar

que se o seu produto atendesse pelo menos a uma das condiccedilotildees estaria coberto pela

garantia Mas o fabricante aleacutem de utilizar o condicional ―somente se tambeacutem utilizou o

termo ―cumulativamente explicitando que o produto deve obedecer a todas as condiccedilotildees

dispostas pelo fabricante Dessa forma podemos entender que o autor utilizou o condicional

para restringir as possibilidades de validade da garantia com restriccedilotildees o que natildeo ocorre

quando o fabricante trata sobre as possibilidades de invalidade da garantia como na

ocorrecircncia (21) Comparando as ocorrecircncias (21) e (22) vemos claramente que o autor em

(21) utilizou o condicional para lhe favorecer sem limites quando tratou sobre as condiccedilotildees

pelas quais o cliente pode perder a garantia abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura natildeo

apenas para as situaccedilotildees que estatildeo listadas mas tambeacutem para qualquer outra possiacutevel Jaacute em

(22) o autor (mesmo essa comparaccedilatildeo sendo feita entre ocorrecircncias de certificados

diferentes) utiliza o condicional para restringir as possibilidades de validade da garantia para

as situaccedilotildees listadas apoacutes a apresentaccedilatildeo do condicional e aleacutem disso afirmou que todas as

situaccedilotildees listadas devem ser atendidas para que a garantia seja vaacutelida para o produto Dessa

forma ainda sobre a ocorrecircncia (22) caso uma das situaccedilotildees listadas natildeo seja atendida a

garantia automaticamente seraacute perdida Com isso podemos afirmar que tanto em (21) quanto

em (22) os autores utilizaram o condicional para se beneficiar Em (21) abrangendo as

possibilidades de invalidade da garantia e em (22) restringindo ao maacuteximo as possibilidades

de validade da garantia do produto Natildeo identificamos nem termos vagos nem polissecircmicos

na ocorrecircncia (22)

(23) A garantia Philips natildeo eacute aplicaacutevel SE

(Certificado 14)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o condicional ―se antecedendo uma lista de

informaccedilotildees a serem observadas pelo cliente Caso algum produto Philips se encaixar em

alguma das situaccedilotildees descritas apoacutes o condicional mesmo estando dentro do prazo de

garantia o cliente perderaacute a cobertura Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem

68

vagos na ocorrecircncia (23)

(24) Esta garantia natildeo se aplica

(Certificado 21)

Assim como nas ocorrecircncias (18) e (19) a ocorrecircncia acima natildeo possui o condicional

expliacutecito mas o termo ―natildeo se aplica se comporta como tal O fabricante utiliza o

condicional precedendo uma lista de condiccedilotildees de natildeo aplicaccedilatildeo da garantia Dessa forma

caso o produto se encaixe em alguma das condiccedilotildees a garantia seraacute invalidada

automaticamente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem vagos na sentenccedila (24)

33 USO DO APENASSOMENTE

Vejamos a seguir ocorrecircncias em que identificamos o uso do ―apenas ou ―somente

(25) Esta garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver

devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original

da Nota Fiscal de Compra

(Certificado 4)

Na ocorrecircncia (25) o fabricante utiliza o ―somente para restringir a validade da

garantia indicando que o cliente teraacute direito agrave garantia caso preencha de forma correta o

certificado e apresente a nota fiscal de compra Caso as instruccedilotildees natildeo sejam seguidas pelo

cliente a garantia natildeo seraacute vaacutelida Podemos identificar que o termo ―rasuras presente em

(25) pode ser considerado como vago e polissecircmico neste caso dificultando a interpretaccedilatildeo

do texto Uma rasura pode ser por exemplo desde um rabisco fora de lugar no formulaacuterio

ateacute o dano no documento por aacutegua amasso do papel em excesso etc O autor poderia evitar a

vagueza e a polissemia definindo o termo da forma como ele deseja que o leitor interprete

este termo e comparando-o a uma classe especiacutefica (por exemplo o que eacute considerado rasura

69

nos documentos instrucionais)

(26) Danos decorrentes de desgaste natural inclusive e natildeo SOMENTE

nas partes plaacutesticas que compotildeem o gabinete do produto

(Certificado 4)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o ―somente numa sentenccedila que trata sobre

uma das situaccedilotildees em que a garantia natildeo seraacute vaacutelida O fabricante deixa claro que qualquer

defeito no produto causado por desgaste natural natildeo seraacute coberto pela garantia Se o

fabricante natildeo utilizasse o ―somente nesta sentenccedila o cliente poderia interpretar por

exemplo que danos decorrentes de desgaste natural nas partes que natildeo satildeo de plaacutestico seriam

cobertas pela garantia O autor utiliza o ―somente para se resguardar sobre outras possiacuteveis

interpretaccedilotildees do trecho abrangendo a possibilidade de natildeo cobertura da garantia para

qualquer peccedila do produto que for afetado por danos decorrentes de desgaste natural Na

ocorrecircncia (26) a expressatildeo ―desgaste natural eacute polissecircmica O autor em nenhuma parte do

certificado de garantia definiu a expressatildeo em questatildeo para que o cliente compreenda da

forma desejada pelo fabricante Dessa forma podemos interpretar ―desgaste natural de

muitas formas Podemos por exemplo interpretar como o desgaste do produto como um todo

ou suas peccedilas referentes ao uso em excesso ao longo do tempo e diretamente vinculado agrave

vida uacutetil tanto do produto em geral quanto de peccedilas especiacuteficas Mas tambeacutem podemos

interpretar como sendo um desgaste proveniente do contato do produto com a natureza como

a exposiccedilatildeo agrave chuva maresia sol em excesso Pode parecer um exagero esta uacuteltima

interpretaccedilatildeo mas ela eacute possiacutevel a partir da forma como (26) se apresenta O autor utilizou no

texto a expressatildeo sem dar-lhe a definiccedilatildeo que ele pensou para a utilizaccedilatildeo dela na ocorrecircncia

dificultando a interpretaccedilatildeo do texto

(27) Este termo de garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos

comercializados e utilizados em territoacuterio brasileiro

(Certificado 4)

(28) Este Certificado de Garantia eacute vaacutelido APENAS para produtos

vendidos e utilizados no territoacuterio brasileiro

(Certificado 10)

(29) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro

70

(Certificado 2)

(30) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS em territoacuterio brasileiro

(Certificado 13)

(31) Esta garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o territoacuterio brasileiro

(Certificado 12)

Nas ocorrecircncias (27) (28) (29) e (30) observamos que os fabricantes utilizam o termo

―apenas para restringir a cobertura da garantia tanto em relaccedilatildeo ao local da compra quanto

em relaccedilatildeo ao local de uso do produto assim como o autor da ocorrecircncia (31) utiliza o termo

―somente com o mesmo sentido Caso o produto tenha sido comprado em outro paiacutes natildeo

haveraacute cobertura da garantia assim como mesmo que o produto tenha sido comprado no

Brasil mas tenha sido utilizado em outro paiacutes culminando em um defeito tambeacutem natildeo haveraacute

cobertura da garantia Mas para a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que aparece em (27) (28)

(29) (30) e (31) podemos tambeacutem interpretar como natildeo apenas a extensatildeo territorial do paiacutes

mas tambeacutem admitir territoacuterios brasileiros em outros paiacuteses a saber os consulados

honoraacuterios do Brasil nas diversas naccedilotildees ao redor do mundo Nesse caso por exemplo se o

produto for adquirido dentro dos limites geograacuteficos do Brasil e for utilizado em algum

consulado do Brasil em outro paiacutes a garantia deve ser vaacutelida Eacute possiacutevel que o fabricante natildeo

tenha pensado nessa possibilidade poreacutem da forma que estas ocorrecircncias se apresentam haacute

essa possibilidade de interpretaccedilatildeo Ao apresentar essa possiacutevel interpretaccedilatildeo para a

expressatildeo ―territoacuterio brasileiro noacutes quisemos mostrar que o fabricante deveria ter

especificado em alguma parte do certificado de garantia o conceito que ele deseja que o

cliente admita para esta expressatildeo para natildeo deixar que a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro seja

interpretada de outras formas ou seja para evitar a polissemia que dificulta a leitura do

texto Outra questatildeo que tambeacutem podemos considerar eacute que nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)

a afirmaccedilatildeo sobre a validade da garantia eacute apresentada de forma menos detalhada Os autores

apresentam a afirmaccedilatildeo de que a garantia eacute vaacutelida para o territoacuterio brasileiro sem informar se

eacute em relaccedilatildeo ao produto ser adquirido e utilizado no paiacutes Brasil ou se o produto pode ser

utilizado fora do Brasil mas para requerer a garantia do produto o consumidor caso resida no

exterior deva se dirigir ao Brasil para fazer jus a sua garantia Diferente das ocorrecircncias (27)

e (28) em que os autores enfatizam que a garantia dos produtos eacute vaacutelida unicamente para

produtos comercializados e utilizados dentro do Brasil restringindo a garantia mais do que

nas ocorrecircncias (29) (30) e (31)

71

(32) A garantia SOMENTE eacute vaacutelida mediante a apresentaccedilatildeo de nota

fiscal de compra deste produto

(Certificado 3)

Podemos observar na ocorrecircncia (29) que o fabricante utiliza o termo ―somente para

restringir a validade da garantia Fica claro que caso o produto apresente algum defeito e o

cliente procure a assistecircncia teacutecnica sem estar de posse da nota fiscal natildeo haveraacute cobertura da

garantia Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em (29) o cliente poderia interpretar

por exemplo que a garantia do produto eacute vaacutelida com ou sem a apresentaccedilatildeo da nota fiscal de

compra do produto Neste caso a funccedilatildeo do ―somente eacute de restringir a interpretaccedilatildeo de

acordo com o que o fabricante deseja Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem

vagos em (29)

(33) A garantia oferecida por esse Certificado eacute de 36 (trinta e seis) meses

e SOMENTE teraacute validade se o presente documento for devidamente

preenchido no ato da venda do produto conforme acima e se a

instalaccedilatildeo for feita por uma pessoa ou empresa credenciada pela

Robert Bosch Ltda

(Certificado 8)

Na ocorrecircncia acima o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade

da garantia Caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees de forma cumulativa que seguem a

utilizaccedilatildeo do termo a garantia seraacute invalidada Por exemplo se o cliente preencher no ato da

venda do produto o certificado mas se a instalaccedilatildeo do produto natildeo tiver sido feita por algueacutem

credenciado pela Robert Bosch Ltda a garantia natildeo teraacute validade A importacircncia do uso do

―somente em (33) se daacute pelo fato de que caso o autor natildeo tivesse utilizado este termo

haveria a possibilidade do cliente interpretar por exemplo que a garantia teria validade caso

a instalaccedilatildeo do produto tenha sido feita por uma pessoa ou empresa natildeo credenciada pela

fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (33)

(34) Os consertos em Garantia do Produto SOMENTE seratildeo efetuados

72

por um Serviccedilo Autorizado devidamente nomeado pela Robert Bosch

Ltda em territoacuterio brasileiro

(Certificado 8)

Podemos observar que o fabricante utiliza o termo ―somente em (34) para restringir a

validade da garantia O fabricante define tanto quem efetuaraacute o conserto dos produtos quanto

os limites territoriais de cobertura Dessa forma fica expliacutecito para o cliente que o conserto

natildeo poderaacute ser efetuado por pessoas natildeo autorizadas pela Robert Bosch Ltda e tal conserto

natildeo pode ser realizado em outros paiacuteses Caso o autor natildeo tivesse utilizado o ―somente em

(34) abriria a possibilidade de interpretar a sentenccedila de outras formas como por exemplo

que os consertos em garantia do produto poderiam ser realizados em territoacuterios de outros

paiacuteses ou que os consertos poderiam ser realizados por serviccedilos natildeo autorizados pelo

fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (34)

(35) O exame e reparo do produto soacute poderatildeo ser efetuados pelo

fabricante

(Certificado 7)

Na ocorrecircncia (36) o fabricante utiliza no lugar do termo ―somente o termo ―soacute

para restringir a interpretaccedilatildeo Nesse caso se o cliente procurar reparar eou examinar o

produto sozinho ou em assistecircncias teacutecnicas que natildeo sejam autorizadas pelo fabricante a

garantia seraacute invalidada A utilizaccedilatildeo do termo ―soacute tem grande importacircncia para o

direcionamento da interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia (35) pois caso natildeo tivesse sido utilizado pelo

autor a ocorrecircncia traria apenas uma informaccedilatildeo vaga dificultando a interpretaccedilatildeo do texto

Sem o ―soacute a partir de (35) poderiacuteamos interpretar que o exame e reparo do produto podem

ser efetuados pelo fabricante mas tambeacutem por qualquer outra pessoa ou empresa Utilizando

o ―soacute o autor restringe a inferecircncia evitando muacuteltiplas interpretaccedilotildees para a sentenccedila

(36) O presente ―Termo de Garantia Hyundai aplica-se uacutenica e

exclusivamente ao veiacuteculo da marca e fabricaccedilatildeo Hyundai

devidamente identificado no iniacutecio deste documento e que tenha sido

comercializado por um Revendedor Autorizado da CAOA Montadora

de Veiacuteculos SA

(Certificado 17)

73

Em (36) o fabricante natildeo utiliza os termos ―apenas ou ―somente mas

consideraremos em nossa anaacutelise a expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como um restritor de

mesmo sentido Observamos que o fabricante utiliza a expressatildeo para restringir a cobertura

da garantia Caso o cliente esteja por exemplo solicitando a garantia de um veiacuteculo Hyundai

que natildeo seja o mesmo que estaacute descrito no iniacutecio do documento de garantia e que natildeo tenha

sido comercializado por uma autorizada da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA a garantia

natildeo teraacute validade Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado a expressatildeo ―uacutenica e

exclusivamente em (36) haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia de outras

maneiras

(37) A CAOA Montadora de Veiacuteculos SA eou o Revendedor Autorizado

da CAOA Montadora de Veiacuteculos SA APENAS substituiraacute as peccedilas

que forem por elas e a seu exclusivo criteacuterio julgadas como

defeituosas

(Certificado 17)

Na ocorrecircncia (37) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a interpretaccedilatildeo

da sentenccedila Dessa forma o fabricante fica resguardado tanto em relaccedilatildeo a substituiccedilatildeo de

peccedilas quanto em relaccedilatildeo ao meacutetodo utilizado para jugar se a peccedila estaacute defeituosa ou natildeo A

importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―apenas em (37) tambeacutem se daacute pelo fato de natildeo permitir outras

interpretaccedilotildees diferentes da definida pelo fabricante Caso o ―apenas natildeo tivesse sido

utilizado poderiacuteamos interpretar por exemplo que o fabricante poderia substituir peccedilas

julgadas por ela como defeituosas utilizando seus proacuteprios criteacuterios mas tambeacutem substituiria

em outros casos O ―apenas serviu para especificar e restringir a interpretaccedilatildeo dos criteacuterios

definidos pelo fabricante em relaccedilatildeo agrave substituiccedilatildeo de peccedilas do produto Natildeo identificamos

nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (37)

(38) Permita que SOMENTE teacutecnicos autorizados pela faacutebrica prestem

assistecircncia a seu aparelho pois se for aberto por teacutecnicos ou pessoas

natildeo autorizadas automaticamente vocecirc estaraacute perdendo sua garantia

(Certificado 5)

Na ocorrecircncia (38) o fabricante deixa expliacutecito ao utilizar o termo ―somente que

caso o cliente natildeo siga as instruccedilotildees dispostas nesta sentenccedila a garantia do produto seraacute

74

invalidada Dessa forma o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a informaccedilatildeo

veiculada pelo fabricante da mesma forma como vimos na ocorrecircncia (37) Natildeo

identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos em (38)

(39) A presente garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o Veiacuteculo

comercializado em territoacuterio brasileiro

(Certificado 16)

Na ocorrecircncia (39) um pouco parecida com as ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e

(31) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia do produto Nesse caso

se o veiacuteculo tiver sido adquirido em outro paiacutes sua garantia natildeo seraacute vaacutelida no Brasil Um

pouco diferente das ocorrecircncias (27) e (28) que especificam ao maacuteximo a possibilidade de

cobertura da garantia a ocorrecircncia (39) veicula que a garantia eacute vaacutelida para o produto

comercializado em territoacuterio brasileiro natildeo tratando sobre a possibilidade da perda da

garantia caso o veiacuteculo seja utilizado em outros paiacuteses Neste caso o cliente natildeo tem direito

a garantia do veiacuteculo caso ele seja adquirido em outros paiacuteses Sobre a expressatildeo ―territoacuterio

brasileiro assim como nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31) o autor natildeo definiu um

sentido para a expressatildeo que pode ser interpretada de outras maneiras como exemplificamos

nas anaacutelises anteriores

(40) Utilizar SOMENTE peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios genuiacutenos

Mercedes-Benz e comprovar sua aquisiccedilatildeo mediante e apresentaccedilatildeo

da Nota Fiscal quando adquiridos pelo consumidor final

(Certificado 16)

Na ocorrecircncia (40) que faz parte de uma lista de recomendaccedilotildees para o cliente natildeo

perder a garantia o fabricante utiliza o termo ―somente para delimitar a interpretaccedilatildeo da

sentenccedila Na passagem se o cliente natildeo seguir as instruccedilotildees descritas consequentemente

perderaacute a garantia do produto A importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente na ocorrecircncia (40) eacute

a de dificultar que o cliente interpreta a sentenccedila de outra maneira Sem o ―somente na

sentenccedila o cliente poderia interpretar que ele pode utilizar peccedilas de reposiccedilatildeo e acessoacuterios

originais do fabricante mas tambeacutem estaacute autorizado a utilizar peccedilas de outros fabricantes

Com a presenccedila do ―somente na sentenccedila o cliente eacute levado a interpretar a sentenccedila da

75

forma direcionada pelo fabricante Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (40)

(41) A comprovaccedilatildeo de defeito de fabricaccedilatildeo do produto que provocaraacute a

execuccedilatildeo da troca do mesmo deveraacute ser feita exclusivamente por

funcionaacuterio credenciado da Ortobom

(Certificado 15)

Na ocorrecircncia (41) o fabricante natildeo utiliza explicitamente os termos ―apenas ou

―somente mas consideraremos em nossa anaacutelise que o termo ―exclusivamente possui a

mesma funccedilatildeo de restringir interpretaccedilotildees O fabricante utiliza o termo para restringir a

garantia do produto em questatildeo Natildeo haacute a possibilidade de o cliente comprovar um defeito de

fabricaccedilatildeo em seu produto atraveacutes de outro profissional que natildeo seja um funcionaacuterio

credenciado da Ortobom Haveria a possibilidade de interpretar a ocorrecircncia (41) caso o

fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―exclusivamente Sem tal uso o cliente poderia

interpretar que poderia comprovar algum defeito no produto para possiacutevel troca por

intermeacutedio de qualquer profissional natildeo obrigatoriamente por um funcionaacuterio do fabricante

Ortobom O termo ―exclusivamente especifica e destaca a informaccedilatildeo que o fabricante

veicula em (41) Natildeo identificamos em (41) nem termos polissecircmicos nem termos vagos

(42) A garantia cobre exclusivamente defeitos de materiais eou

fabricaccedilatildeo sendo que as despesas de deslocamento alimentaccedilatildeo e

hospedagem do teacutecnico para atendimento em garantia ou natildeo

referente agrave entrega montagem instruccedilatildeo de uso e reparo do

equipamento assim como o frete de retirada para conserto e retorno

do mesmo e de envio de peccedilas e retorno das substituiacutedas em garantia

ocorreratildeo por conta do cliente

(Certificado 22)

Assim como em (41) o fabricante utiliza o termo ―exclusivamente para restringir a

garantia do produto O fabricante ao utilizar esse termo se resguarda de possiacuteveis cobranccedilas

por parte do cliente ao solicitar a garantia como por exemplo ajuda de custo para custear a

iacuteda do teacutecnico para manutenccedilatildeo do produto envio de peccedilas para faacutebrica etc Fica expliacutecito

que em todas essas situaccedilotildees o cliente eacute responsaacutevel Caso o termo ―exclusivamente natildeo

76

tivesse sido utilizado o cliente poderia interpretar a ocorrecircncia de diferentes modos Uma

possibilidade de interpretaccedilatildeo seria a de entender que a garantia cobre outros tipos de

defeitos que natildeo fossem de peccedilas ou de fabricaccedilatildeo Com a utilizaccedilatildeo do termo

―exclusivamente o fabricante diminui as possibilidades de interpretaccedilatildeo tornando o texto

mais claro para o cliente Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na

ocorrecircncia (42)

(43) A garantia natildeo cobre peccedilas ou componentes de desgaste normal de

uso dentre as quais selim pedais firma-peacutes natildeo se limitando

SOMENTE a estes mas incluindo rodas de transporte carenagens

adesivos elementos de acabamento de plaacutestico borracha e alumiacutenio

danos na pintura e quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa

exclusiva distribuiccedilatildeo devendo as reclamaccedilotildees ser encaminhadas aos

seus respectivos representantes ou fabricantes

(Certificado 22)

Em (43) o fabricante aleacutem de utilizar o termo ―somente para abranger a

interpretaccedilatildeo sobre as peccedilas que natildeo seratildeo cobertas pela garantia do produto utiliza outros

termos que alargam ainda mais sem restriccedilotildees a natildeo cobertura da garantia como ―quaisquer

acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo O fabricante se resguarda

especificando quais peccedilas que ele considera como de ―desgaste normal para evitar

problemas de interpretaccedilatildeo por parte do cliente O uso do ―somente na ocorrecircncia (43) se

apresenta de forma contraacuteria agraves outras ocorrecircncias que apresentamos anteriormente Enquanto

em ocorrecircncias como a (40) que o ―somente foi utilizado para restringir a interpretaccedilatildeo da

sentenccedila para as informaccedilotildees descritas depois do termo em (43) o fabricante utiliza o

―somente precedido da negaccedilatildeo ―natildeo se limitando direcionando o termo para o sentido de

abrangecircncia Ou seja a garantia que o fabricante oferece natildeo cobre peccedilas ou componentes de

desgaste natural como selim e pedais Para natildeo correr o risco de esquecer de citar algum dos

componentes de desgaste natural do produto e deixar brechas na interpretaccedilatildeo da garantia o

fabricante utiliza a expressatildeo ―natildeo se limitando seguida do ―somente para abranger ao

maacuteximo as possibilidades de interpretaccedilatildeo sobre os itens de desgaste natural que natildeo satildeo

cobertos pela garantia Depois do uso do ―somente e de apresentar mais uma lista de itens

que natildeo satildeo cobertos pela garantia o fabricante ainda abrange mais a interpretaccedilatildeo

utilizando a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa exclusiva distribuiccedilatildeo

Dessa forma pudemos perceber que o fabricante utilizou natildeo apenas o termo de restriccedilatildeo

77

―somente para limitar as possibilidades de interpretaccedilatildeo da sentenccedila mas tambeacutem utilizou

listas especificando itens e a expressatildeo ―quaisquer acessoacuterios que natildeo sejam de nossa

exclusiva distribuiccedilatildeo Todas essas estrateacutegias foram utilizadas com o objetivo de tornar a

interpretaccedilatildeo do texto clara sem oferecer a possibilidade de o cliente obter muacuteltiplas

interpretaccedilotildees do texto Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na

ocorrecircncia (43)

(44) A matildeo-de-obra em garantia limita-se SOMENTE ao horaacuterio normal

de expediente sendo de segunda a sexta-feira das 730 agraves 1800 horas

devendo o equipamento estar disponiacutevel para a assistecircncia teacutecnica

(Certificado 22)

Em (44) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o horaacuterio disponiacutevel

para reparos em produtos na garantia e aleacutem disso enfatizando que o produto deve estar

disponiacutevel para a assistecircncia Dessa forma o cliente fica impossibilitado de reclamar

assistecircncia fora do horaacuterio que estaacute descrito na sentenccedila assim como fica consciente de que

seu produto ficaraacute a disposiccedilatildeo da assistecircncia para conserto ou seja natildeo seraacute reparado

imediatamente A importacircncia do uso do ―somente na ocorrecircncia (44) se daacute pelo fato de que

caso natildeo fosse utilizado o cliente poderia interpretar por exemplo que a matildeo-de-obra em

garantia estaria disponiacutevel vinte e quatro horas por dia e sete dias por semana Como o

―somente foi utilizando precedendo as informaccedilotildees sobre dia e horaacuterio de atendimento natildeo

eacute possiacutevel interpretar a informaccedilatildeo de outra maneira que natildeo seja a descrita Haveria a

possibilidade de definir a expressatildeo ―horaacuterio normal de expediente como uma expressatildeo

polissecircmica caso ela natildeo estivesse acompanhada de uma definiccedilatildeo (―de segunda a sexta-feira

das 730 agraves 1800 horas) pois o horaacuterio de expediente pode variar de acordo com o trabalho

que vocecirc tem por exemplo Se vocecirc trabalha em um banco financeiro o seu horaacuterio de

expediente seraacute possivelmente diferente do horaacuterio de um feirante Para evitar a polissemia

o fabricante utilizou a expressatildeo e em seguida apresentou a definiccedilatildeo da expressatildeo de

acordo com o seu interesse

(45) A presente garantia limita-se SOMENTE ao produto fornecido natildeo

responsabilizando a TOTAL HEALTH por danos causados a pessoas

a terceiros a outros equipamentos ou instalaccedilotildees lucros cessantes ou

quaisquer outros danos emergentes ou consequumlentes

(Certificado 22)

78

Na ocorrecircncia (45) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da

garantia Nesse caso a garantia se limita unicamente ao produto descrito Se por exemplo o

produto em questatildeo apresentar defeito e tal defeito ocasionar dano fiacutesico ao dono do produto

ou a terceiros a garantia natildeo cobriraacute tais problemas Assim como nas ocorrecircncias anteriores

o uso do ―somente em (45) teve a funccedilatildeo de direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para uma

uacutenica possibilidade de interpretaccedilatildeo Caso o ―somente natildeo tivesse sido utilizado poderiacuteamos

interpretar (45) de outras maneiras Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (45)

(46) SOMENTE os profissionais indicados pela loja revendedora dos

produtos Bartzen estatildeo autorizados a prestar atendimento dentro do

prazo de garantia

(Certificado 18)

Na ocorrecircncia (46) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a

interpretaccedilatildeo da sentenccedila Nesse caso o cliente soacute poderaacute usufruir de assistecircncia teacutecnica em

seu produto atraveacutes de profissionais indicados pela loja na qual ele adquiriu seu produto

Bartzen e dentro do prazo da garantia Caso o cliente realize algum serviccedilo em seu produto

com profissionais natildeo autorizados pela fabricante sua garantia seraacute invalidada A importacircncia

da utilizaccedilatildeo do termo ―somente na ocorrecircncia (46) eacute a de diminuir as possibilidades de

interpretaccedilatildeo da sentenccedila ao maacuteximo Dessa forma natildeo haacute como o cliente interpretar que por

exemplo ele pode realizar a manutenccedilatildeo ou reparo do seu produto com qualquer outro

funcionaacuterio que natildeo seja autorizado pela fabricante do produto Natildeo identificamos nem

termos polissecircmicos nem termos vagos em (46)

(47) A garantia eacute vaacutelida SOMENTE para o consumidor que consta

identificado na nota fiscal de compra do produto (primeiro usuaacuterio) a

qual deveraacute ser apresentada junto com este Certificado de Garantia

devidamente preenchido com os dados do consumidor e do produto

para fins de cobertura para reparo ou substituiccedilatildeo do produto se

necessaacuterio

(Certificado 19)

79

Em (47) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a garantia Nesse caso

o cliente fica ciente de que a garantia soacute seraacute vaacutelida para o primeiro proprietaacuterio do produto

assim como soacute seraacute aceito o pedido de garantia caso o cliente apresentar a nota fiscal

contendo tanto os dados do produto quanto os seus Todas as possibilidades fora das

descritas seratildeo desconsideradas e consequentemente a garantia seraacute invalidada A

importacircncia da utilizaccedilatildeo do ―somente em (47) se daacute pelo fato de que haacute diversas

informaccedilotildees a serem consideradas pelo cliente na ocorrecircncia (47) e caso o autor do texto natildeo

tivesse utilizado o termo ―somente antes dessas informaccedilotildees o cliente poderia interpretar

que sua garantia poderia ser vaacutelida ao cumprir algumas das informaccedilotildees descritas na sentenccedila

e natildeo obrigatoriamente todas Por exemplo se natildeo houvesse o uso do ―somente em (47) o

cliente poderia interpretar que a garantia eacute vaacutelida para o consumidor que tem o nome

constando na nota fiscal mas tambeacutem para qualquer outro consumidor que esteja de posse da

nota fiscal mesmo que natildeo seja a pessoa que tem o nome na nota fiscal O ―somente possui

o papel de restringir a interpretaccedilatildeo de toda ocorrecircncia ao maacuteximo direcionando a leitura do

texto para evitar muacuteltiplas interpretaccedilotildees Com esse uso natildeo eacute possiacutevel que cliente interprete

que ele pode ter acesso a garantia caso natildeo cumpra alguma das recomendaccedilotildees Natildeo

identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (47)

(48) O Certificado de Garantia eacute vaacutelido SOMENTE para os

condicionadores vendidos e instalados no territoacuterio brasileiro

(Certificado 19)

Em (48) semelhante agraves ocorrecircncias (31) e (39) o fabricante utiliza o termo ―somente

para restringir o territoacuterio de cobertura da garantia Neste caso condicionadores adquiridos e

utilizados em outros paiacuteses natildeo seratildeo cobertos pela garantia descrita acima Ainda retomando

a discussatildeo sobre a expressatildeo ―territoacuterio brasileiro consideramos que pelo fato do autor do

texto natildeo ter apresentado um conceito para esta expressatildeo em nenhum local do certificado de

garantia da forma como se apresenta ela pode ser interpretada de outras maneiras assim

como discutimos nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)

(49) Para o uso de condicionadores de ar em ambientes com alta

concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre

seraacute vaacutelida SOMENTE a garantia legal de 90 (noventa) dias contados

80

da data de emissatildeo da nota fiscal de compra do produto

(Certificado 19)

Na ocorrecircncia (49) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a validade da

garantia do produto que seja utilizado em ambientes especiacuteficos como ―ambientes com alta

concentraccedilatildeo de compostos salinos aacutecidos ou alcalinos ou de enxofre Dessa forma o

fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a qualquer solicitaccedilatildeo de garantia ―normal ou seja prazo

de validade de garantia para condicionadores de ar que satildeo utilizados em ambientes

considerados ―normais por parte de um cliente que utilize o produto em ambientes como os

descritos acima Dessa forma o uso do ―somente se justifica pelo fato de que o fabricante

busca direcionar a interpretaccedilatildeo do texto para que o cliente natildeo tenha duacutevidas de que como

descrito em (49) os produtos utilizados em ambientes atiacutepicos soacute estaratildeo cobertos pela

garantia legal Assim como jaacute discutimos em outras ocorrecircncias anteriormente o fabricante

utiliza a expressatildeo ―garantia legal que eacute uma expressatildeo teacutecnica do CDC e para que ela natildeo

se tornasse polissecircmica logo apoacutes seu uso o autor apresentou o conceito para o termo que eacute

o de um periacuteodo de 90 dias corridos compreendidos imediatamente apoacutes a expediccedilatildeo da nota

fiscal de compra do produto

(50) A partir do 91ordm (nonageacutesimo primeiro) dia tais despesas satildeo de

responsabilidade uacutenica e exclusiva do consumidor

(Certificado 19)

Em (50) o fabricante natildeo utilizou os termo ―somente e ―apenas mas

consideraremos em nossa anaacutelise a utilizaccedilatildeo da expressatildeo ―uacutenica e exclusivamente como

umas expressotildees utilizadas para restringir interpretaccedilotildees como discutimos anteriormente em

outras anaacutelises Na sentenccedila acima o fabricante utilizou a expressatildeo de restriccedilatildeo para

enfatizar que passados os trecircs meses de garantia as despesas referentes a qualquer

manutenccedilatildeo e garantia do produto seratildeo de responsabilidade do cliente Como apresentamos

na ocorrecircncia (49) a garantia legal para um produto cobre os primeiros 90 dias apoacutes a

emissatildeo da nota fiscal de compra do produto Ao informar em (50) que a partir do primeiro

dia apoacutes o teacutermino da garantia legal despesas referentes ao traslado do produto para

manutenccedilatildeo seraacute de responsabilidade do cliente o autor utiliza a expressatildeo ―uacutenica e

exclusiva para se resguardar de qualquer possibilidade de participaccedilatildeo em possiacuteveis gastos

81

Caso o fabricante natildeo tivesse enfatizado essa informaccedilatildeo utilizando esta expressatildeo o cliente

poderia interpretar por exemplo que poderia haver algum caso em que o fabricante se

responsabilizaria por tais gastos Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (50)

(51) A reposiccedilatildeo de peccedilas defeituosas e execuccedilatildeo dos serviccedilos decorrentes

desta Garantia SOMENTE seratildeo procedidas nas localidades do

territoacuterio brasileiro onde a ENVISION mantiver ―Centro de Serviccedilo

Autorizado de titularidade dela proacutepria ou de terceiro por ela

expressamente indicado onde deveraacute ser entregue o produto para

reparo

(Certificado 20)

Na ocorrecircncia (51) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir os locais de

execuccedilatildeo de serviccedilos da garantia Neste caso o fabricante se resguarda em relaccedilatildeo a por

exemplo natildeo haver assistecircncias teacutecnicas em todas as cidades do paiacutes Aleacutem de enfatizar que o

produto deveraacute ser entregue na assistecircncia pelo cliente ou seja o fabricante natildeo se

responsabiliza quanto ao recolhimento do produto para reparo A utilizaccedilatildeo do ―somente se

justifica pelo fato de que o fabricante busca restringir ao maacuteximo as possibilidades de

interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o ―somente o cliente

poderia por exemplo interpretar que se a cidade em que o cliente tenha adquirido o produto

natildeo tenha uma assistecircncia teacutecnica a fabricante se responsabilizaria pelo recolhimento do

produto para manutenccedilatildeo numa cidade que possua a assistecircncia teacutecnica Com a utilizaccedilatildeo do

―somente precedendo as demais informaccedilotildees natildeo eacute possiacutevel interpretar a ocorrecircncia dessa

maneira Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termo vagos na ocorrecircncia (51)

(52) Esta Garantia SOMENTE seraacute vaacutelida se o presente certificado estiver

devidamente preenchido e sem rasuras acompanhado da via original

da Nota Fiscal de Compra

(Certificado 20)

Na ocorrecircncia (52) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir a forma

como o cliente deve solicitar a garantia do produto Caso o cliente deixe de apresentar o

certificado preenchido corretamente eou a nota fiscal de compra a garantia seraacute invalidada

82

Assim como na ocorrecircncia (51) o autor fabricante utiliza o ―somente para restringir ao

maacuteximo a interpretaccedilatildeo do texto Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente

haveria a possibilidade de o cliente interpretar que a garantia do produto seria vaacutelida caso o

certificado estivesse preenchido sem rasuras acompanhado da nota fiscal de compra mas

tambeacutem de qualquer outra forma A ocorrecircncia ficaria sem limites para interpretaccedilatildeo caso o

fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―somente Poreacutem como o termo foi utilizado natildeo

haacute outra forma de o cliente interpretar a ocorrecircncia sobre a validade da garantia do produto

Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (52)

(53) Esta garantia eacute vaacutelida APENAS se o produto for reparado pela rede

autorizada Rheem ou por autorizaccedilatildeo preacutevia formalizada pelo

Departamento de Assistecircncia Teacutecnica

(Certificado 20)

Na ocorrecircncia (53) o fabricante utiliza o termo ―apenas para restringir a validade da

garantia quanto ao local de assistecircncia Caso o produto seja reparado por profissional natildeo

autorizado pela fabricante Rheem a garantia do produto seraacute perdida A importacircncia o uso do

termo ―apenas na ocorrecircncia (53) se daacute pelo fato de que o autor busca restringir a

interpretaccedilatildeo do texto ao maacuteximo Caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o termo ―apenas o

cliente poderia por exemplo interpretar que a garantia do produto eacute vaacutelida em qualquer

situaccedilatildeo e natildeo unicamente se seguir as recomendaccedilotildees descritas apoacutes o uso do termo

―apenas Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos vagos na ocorrecircncia (53)

(54) Os produtos SOMENTE poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para

anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes sua autorizaccedilatildeo por escrito

(Certificado 21)

Na ocorrecircncia (54) o fabricante utiliza o termo ―somente para restringir o modo

como deve submeter o produto agrave garantia Caso natildeo haja uma autorizaccedilatildeo por escrito para

enviar o produto para a faacutebrica o produto natildeo poderaacute seguir para anaacutelise A importacircncia da

utilizaccedilatildeo do termo ―somente se daacute pelo fato de que caso o fabricante natildeo tivesse utilizado o

termo na ocorrecircncia (54) a interpretaccedilatildeo do texto ficaria sem limites ou seja os produtos

poderatildeo ser remetidos agrave faacutebrica para anaacutelise e constataccedilatildeo de defeitos apoacutes a autorizaccedilatildeo por

83

escrito ou de qualquer outra forma Natildeo identificamos nem termos polissecircmicos nem termos

vagos na ocorrecircncia (54)

34 CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS

Em nossa pesquisa analisamos cinquenta e quatro ocorrecircncias selecionadas a partir

dos vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Dividimos a anaacutelise por tipos de

ocorrecircncias com quantificador universal com condicional e com o apenassomente Para

apresentar um panorama sobre os tipos de ocorrecircncia e a quantidade das anaacutelises de cada tipo

vamos observar o quadro a seguir

Tipo de ocorrecircncia Nuacutemero de ocorrecircncias

Quantificador universal 15

Condicional 9

ApenasSomente 30

TOTAL 54

Quadro 2 ndash Ocorrecircncias coletadas nos certificados de garantia Fonte elaborado pelo autor

Antes de discorrer nossos comentaacuterios sobre as anaacutelises de nosso trabalho temos que

tratar sobre a primeira importante impressatildeo que tivemos diante do corpus e das consequentes

anaacutelises dos quatro nexos semacircnticos que invocamos em nosso trabalho somente

identificamos ocorrecircncias com acarretamentos Tratamos com muita naturalidade este fato

porque por mais que em algumas leituras uma parte do conteuacutedo do segundo capiacutetulo possa

ser vista como desnecessaacuteria ndash pelo fato de tais conceitos natildeo estarem presentes nas anaacutelises

dessa pesquisa ndash encontramos aiacute uma caracteriacutestica do gecircnero textual certificado de garantia

que eacute a presenccedila de diversos acarretamentos mesmo que natildeo-expliacutecitos como demonstramos

em nosso trabalho (porque o gecircnero textual certificado de garantia natildeo possui uma linguagem

tatildeo controlada quanto a linguagem encontrada nos exemplos que criamos para ilustrar os

conceitos dos nexos) Dessa maneira fica claro que natildeo encontramos ocorrecircncias com

equivalecircncias semacircnticas contrariedades ou contraditoriedades o que nos permite definir

estas ausecircncias como uma caracteriacutestica intriacutenseca do gecircnero

84

Na primeira parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o quantificador

universal Identificamos quinze ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia

utilizaram esse recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (1) e (15)

percebemos que o uso do quantificador universal em algumas ocorrecircncias serviu apenas para

reforccedilar a informaccedilatildeo que o fabricante quis veicular ou seja se natildeo tivesse sido utilizado natildeo

modificaria o sentido do texto Pudemos identificar esse sentido por exemplo nas

ocorrecircncias (1) e (2)

Aleacutem desse sentido para o uso do quantificador universal encontramos ocorrecircncias

em que caso o quantificador natildeo tivesse sido utilizado haveria a possibilidade de

interpretarmos a ocorrecircncia de vaacuterias maneiras Nesses casos os autores utilizaram o

quantificador para restringir as possibilidades de interpretaccedilatildeo direcionando a leitura do texto

para que o cliente possa interpretar o certificado da forma que o fabricante deseja Pudemos

identificar esse sentido por exemplo nas ocorrecircncias (3) (4) e (8)

Pudemos observar que os autores dos certificados de garantia utilizam tambeacutem o

quantificador universal em seus textos para se resguardarem em relaccedilatildeo a deveres que

poderiam ser reclamados pelo cliente caso natildeo houvesse o uso deste recurso Dessa forma

podemos entender que os autores dos certificados utilizaram o quantificador universal para se

favorecerem Pudemos observar essa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (5) (11) (13) e

(14) Em relaccedilatildeo a ocorrecircncias com o uso do quantificador universal em que o cliente eacute

beneficiado natildeo identificamos nenhum caso em nossa anaacutelise

Sobre o aparecimento de termos vagos ou termos polissecircmicos nas ocorrecircncias com a

presenccedila do quantificador universal pudemos observar que o maior motivo da sensibilidade

dos textos a esses tipos de efeitos linguiacutesticos eacute o fato de os autores dos textos em muitos

casos natildeo conceituarem os termos teacutecnicos que eles utilizam nos certificados de garantia Ao

utilizar um termo teacutecnico como por exemplo na ocorrecircncia (3) em que o autor do

certificado de garantia utiliza o termo ―viacutecio do produto ndash termo teacutecnico do CDC ndash natildeo

apresentando o conceito em seu texto dificulta a interpretaccedilatildeo da ocorrecircncia Tendo contato

com o termo de forma solta sem estar delimitada pelo conceito que o autor deseja que o

cliente interprete a ocorrecircncia se torna vaga e polissecircmica

Ainda sobre os termos vagos ou termos polissecircmicos encontramos tambeacutem

ocorrecircncias em que os autores buscaram evitaacute-las justamente apresentando apoacutes a utilizaccedilatildeo

de um termo teacutecnico o seu respectivo conceito desta forma natildeo oferecendo a possibilidade

de interpretaacute-lo de vaacuterias maneiras Pudemos observar este uso por exemplo na ocorrecircncia

(10) em que o autor do certificado usa o termo ―garantia legal e logo em seguida apresenta

85

o conceito para o termo que eacute ―os primeiros 90 dias Dessa forma o cliente natildeo eacute autorizado

a interpretar o termo ―garantia legal de nenhuma outra forma que natildeo seja a descrita pelo

fabricante

Na segunda parte de nossa anaacutelise tratamos das ocorrecircncias com o uso do condicional

Identificamos nove ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia utilizaram este

recurso linguiacutestico A partir da anaacutelise das ocorrecircncias entre (16) e (24) pudemos identificar

que o condicional foi utilizado pelos autores dos textos precedendo listas instrucionais o que

era esperado devido a caracteriacutestica proacutepria desse recurso que eacute o de condicionar algo agrave

alguma coisa Assim como nas ocorrecircncias que os autores utilizaram o quantificador

universal o condicional foi utilizado em boa parte das ocorrecircncias analisadas para restringir

a interpretaccedilatildeo do texto Pudemos identificar este sentido por exemplo nas ocorrecircncias (16)

(17) e (18)

Identificamos em boa parte das ocorrecircncias que possuem o uso do condicional que

este uso natildeo impotildee um limite na interpretaccedilatildeo Pudemos observar em nossa anaacutelise que os

condicionais foram utilizados precedendo listas exaustivas que continham situaccedilotildees por

exemplo em que a garantia seria invalidada Ao apresentar tais listas os autores natildeo

especificavam que natildeo haveria outros casos fora da lista em que a garantia seria invalidada

Dessa forma observamos que assim como nas ocorrecircncias com quantificador universal os

autores utilizaram os condicionais para se favorecerem Identificamos na ocorrecircncia (22)

recursos que restringem ainda mais as possibilidades de interpretaccedilatildeo por parte do cliente e

que consequentemente favorecem o fabricante como o uso do termo ―cumulativamente

que obriga o cliente a natildeo apenas estar dentro de uma ou mais situaccedilotildees descritas pelo

fabricante apoacutes o condicional mas a seguir todas as situaccedilotildees descritas ao mesmo tempo

Quando os fabricantes utilizaram o condicional precedendo listas que constam as

situaccedilotildees em que o cliente poderia perder a garantia eles usaram o recurso sem limites como

pudemos observar na ocorrecircncia (21) Mas quando os fabricantes utilizaram o condicional

precedendo listas que constam as situaccedilotildees em que o cliente tem direito a garantia eles

usaram os recursos com limites e como mostramos na ocorrecircncia (22) ainda utilizaram

recursos que limitam mais ainda a garantia

Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem das ocorrecircncias em que o condicional apareceu

de forma expliacutecita ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o mesmo

sentido como em (19) (20) e (24)

Sobre a presenccedila de termos polissecircmicos ou termos vagos nas ocorrecircncias com o uso

do condicional pudemos identificar que diferente das ocorrecircncias com o uso do

86

quantificador universal natildeo encontramos casos de termos vagos ou termos polissecircmicos nas

ocorrecircncias analisadas Identificamos em muitas ocorrecircncias que os autores dos certificados

apresentaram os conceitos para termos teacutecnicos apoacutes uso geralmente entre parecircnteses para

evitar que o termo ou a expressatildeo fossem interpretados de formas indevidas Encontramos

este tipo de estrateacutegia por exemplo na ocorrecircncia (17) do certificado 3 em que o autor

utiliza os termos ―garantia legal e ―garantia contratual mas no texto do certificado haacute o

conceito para cada termo o que impossibilita que o cliente interprete os termos de diversas

maneiras Caso o fabricante tivesse utilizado os dois termos teacutecnicos e em lugar algum do

certificado de garantia ele apresentasse os conceitos para os termos oportunizaria por

conseguinte diversas possibilidades de interpretaccedilatildeo dificultando a leitura do texto por parte

do cliente

Na terceira parte da anaacutelise tratamos sobre as ocorrecircncias com o uso do ―apenas e do

―somente Identificamos trinta ocorrecircncias em que os autores dos certificados de garantia

utilizaram esses recursos linguiacutesticos Apesar do nuacutemero elevado de ocorrecircncias os sentidos

em que o ―apenas e o ―somente foram utilizados natildeo variaram muito Em grande parte das

ocorrecircncias analisadas o ―apenas e o ―somente foram utilizados para restringir a validade

da garantia desde restriccedilotildees em relaccedilatildeo ao territoacuterio de vigecircncia ateacute tipos de ambientes em

que os produtos podem ser utilizados Um tipo de ocorrecircncia que foi bastante recorrente em

nosso corpus foi o que utilizou o ―apenas ou ―somente para delimitar o territoacuterio em que a

garantia pode ser vaacutelida como por exemplo nas ocorrecircncias (27) (28) (29) (30) e (31)

Nestas ocorrecircncias haacute o uso da expressatildeo ―territoacuterio brasileiro que levantamos na anaacutelise

uma discussatildeo sobre as possibilidades de interpretaccedilatildeo para tal expressatildeo pelo fato de natildeo

haver nos certificados de garantia analisados um conceito definido para ela A ausecircncia do

conceito para este termo nos certificados de garantia pode dificultar a interpretaccedilatildeo

Tambeacutem podemos afirmar que em grande parte das ocorrecircncias analisadas o uso do

―somente ou ―apenas serviu para impor limites agraves interpretaccedilotildees dos textos direcionando-

os para a interpretaccedilatildeo que o fabricante desejasse impor Ou seja em grande parte das

ocorrecircncias em que foi utilizado o ―somente precedendo uma situaccedilatildeo X caso natildeo houvesse

esse uso a garantia por exemplo seria vaacutelida na situaccedilatildeo X mas tambeacutem nas situaccedilotildees Y Z

W sem limites Sem o uso do ―somente nessas ocorrecircncias o texto da garantia natildeo teria

sentido definido Pudemos observar esse sentido em diversas ocorrecircncias analisadas como

por exemplo nas ocorrecircncias (27) e (28) Ilustrando caso natildeo houvesse o uso do ―apenas

nas ocorrecircncias (27) e (28) a garantia seria vaacutelida no territoacuterio brasileiro e em qualquer outro

Ainda sobre as ocorrecircncias usam o ―somente ou ―apenas para restringir o territoacuterio em que

87

a garantia seraacute vaacutelida observamos que algumas ocorrecircncias especificam mais a validade da

garantia como em (48) que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para produtos vendidos e

instalados em territoacuterio nacional e outras ocorrecircncias que especificam menos como em (39)

que afirma que a garantia soacute eacute vaacutelida para o veiacuteculo comercializado em territoacuterio brasileiro

Consideramos em nossa anaacutelise aleacutem de ocorrecircncias em que o ―apenas e ―somente

apareciam explicitamente ocorrecircncias que possuem termos ou expressotildees que possuem o

mesmo sentido como em (35) (36) e (41)

Sobre o aparecimento de termos polissecircmicos ou termo vagos aleacutem da expressatildeo

―territoacuterio brasileiro que mencionamos nos paraacutegrafos anteriores pudemos identificar

outros casos de termos polissecircmicos como por exemplo nas ocorrecircncias (25) e (26) Os

termos teacutecnicos utilizados pelos autores dos certificados de garantia natildeo possuiacuteam em lugar

algum dos textos os conceitos para lhes definirem possibilitando que o cliente interprete

estes termos de diversas maneiras

Ainda sobre casos de termos polissecircmicos observamos em algumas ocorrecircncias que

os autores dos certificados procuraram utilizar os termos teacutecnicos e em seguida ou em

alguma parte dos textos apresentaram os conceitos para os termos evitando muacuteltiplas

interpretaccedilotildees Identificamos o uso dessa estrateacutegia por exemplo nas ocorrecircncias (43) (44) e

(49)

Nos trecircs tipos de ocorrecircncias que definimos para nossa anaacutelise pudemos identificar

que nos usos do quantificador universal condicional e ―apenas e ―somente os autores dos

certificados de garantia usaram esses recursos para se favorecerem Como analisado nas

ocorrecircncias do corpus os fabricantes utilizaram essas estrateacutegias tanto pelo fato de que eacute

necessaacuterio utilizar esses recursos por ser caracteriacutestico de textos instrucionais quanto pelo

fato de que o direcionamento das interpretaccedilotildees dos textos que eles constroem a partir destes

recursos podem favorecer os proacuteprios fabricantes

88

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Na presente seccedilatildeo iremos pontuar o percurso de nossa pesquisa e apresentar nossas

impressotildees sobre o corpus as teorias apresentadas e os resultados obtidos com as anaacutelises

O primeiro capiacutetulo de nossa pesquisa foi subdividido em duas partes na primeira

buscamos apresentar os conceitos gerais sobre os gecircneros textuais com base na proposta de

Bakhtin (2000) reafirmada por Marcuschi (2008) com o intuito de fornecer aporte teoacuterico

para a segunda parte do capiacutetulo em que caracterizamos o certificado de garantia como um

gecircnero textual Tal caracterizaccedilatildeo se deu pelo fato do nosso corpus ser composto por vinte e

dois certificados de garantia Ficamos surpresos por tomar conhecimento do fato de que ateacute o

presente momento natildeo identificamos publicaccedilotildees acadecircmicas em nosso paiacutes referentes agrave

caracterizaccedilatildeo de certificados de garantia como gecircneros textuais e esta dificuldade nos levou

a construir atraveacutes de nossa leitura a caracterizaccedilatildeo tanto quanto ao conteuacutedo quanto agrave

estrutura do texto A uacutenica bibliografia que encontramos e utilizamos como base para a

estruturaccedilatildeo da segunda parte do capiacutetulo tratando diretamente sobre os certificados de

garantia foi o Coacutedigo de Defesa e Proteccedilatildeo do Consumidor (1997) em que pudemos extrair

alguns conceitos gerais e recomendaccedilotildees de como se deve construir o texto de um certificado

de garantia Um dos problemas que encontramos foi a carecircncia de detalhes apresentados pelo

CDC na seccedilatildeo em que sugerem um padratildeo de formulaccedilatildeo do documento O CDC apenas

enfatiza que se faz necessaacuterio o uso de linguagem de faacutecil interpretaccedilatildeo e por exemplo a

necessidade de ser acompanhado do manual de instruccedilotildees e instalaccedilatildeo do produto Com base

nessas informaccedilotildees apresentamos os conceitos e tambeacutem um exemplo de certificado de

garantia ilustrando cada parte da estrutura do texto

Na introduccedilatildeo do segundo capiacutetulo apresentamos uma discussatildeo geral sobre a

distinccedilatildeo entre semacircntica e pragmaacutetica com o objetivo de caracterizar os nexos como

relaccedilotildees linguiacutesticas do campo da semacircntica Para isso apresentamos tambeacutem os conceitos e

exemplos de relaccedilotildees linguiacutesticas que satildeo consideradas como pertencentes ao campo da

pragmaacutetica como a implicatura e pressuposiccedilatildeo Para esta discussatildeo buscamos aporte teoacuterico

nas obras de autores como Trask (2004) Levinson (2007) Grice (1987) Basso (2009)

Moura (1999) e Santos (2012)

Apoacutes a introduccedilatildeo do capiacutetulo apresentamos a teoria dos nexos semacircnticos que

escolhemos tratar em nossa pesquisa Foram eles o acarretamento a equivalecircncia semacircntica

a contradiccedilatildeo e a contrariedade Utilizamos como referencial teoacuterico para a teoria dos nexos

89

semacircnticos autores como Aristoacuteteles (1985) Chierchia (2001) Branquinho Murcho e Gomes

(2006) Pires de Oliveira (2001) e Mortari (2001) A apresentaccedilatildeo de cada nexo se deu a

partir dos conceitos seguidos de exemplos e dentro de cada seccedilatildeo apresentamos tambeacutem

tipos de ocorrecircncias lexicais que podem dificultar a intepretaccedilatildeo dos nexos que satildeo a

polissemia e a vagueza Ao apresentar os conceitos dessas ocorrecircncias lexicais assim como

fizemos na apresentaccedilatildeo dos nexos tambeacutem ilustramos com exemplos Utilizamos como

aporte teoacuterico para os conceitos de polissemia e vagueza autores como Crystal (1985) Allan

(2010) e Kempson (1977) Aleacutem da polissemia e vagueza tratamos sobre outro problema

que dificulta a interpretaccedilatildeo dos nexos as falaacutecias Quando tratamos sobre as caracteriacutesticas

das falaacutecias utilizamos como base teoacuterica o texto de Soares (2003) em que o autor distingue

as caracteriacutesticas fundamentais das falaacutecias e com esse aporte apresentamos nossos

exemplos

Quando tratamos sobre a contradiccedilatildeo e contrariedade apresentamos o fato de que as

suas origens tecircm suas raiacutezes na silogiacutestica A partir disso trouxemos uma breve apresentaccedilatildeo

sobre os conceitos de Aristoacuteteles presentes em seu texto Organon (1985) mais

especificamente no Perieacutermeneas capiacutetulos 6 e 7

No final do capiacutetulo dois fizemos uma retrospectiva de todos os pontos que foram

apresentados ao longo do capiacutetulo e justificamos a nossa escolha em pesquisar sobre os nexos

semacircnticos assim como a polissemia vagueza e falaacutecias Durante todo o capiacutetulo dois

apresentamos os nexos e outras relaccedilotildees lexicais dentro de uma linguagem controlada que eacute

diferente do que acontece nos textos dos diversos gecircneros inclusive naquele escolhido para

compor o nosso corpus que satildeo os certificados de garantia A importacircncia dos conceitos

apresentados em nosso segundo capiacutetulo se deu pelo fato de que ele oferece uma base para a

compreensatildeo do funcionamento dessas relaccedilotildees semacircnticas para que diante das anaacutelises que

realizamos no capiacutetulo trecircs tenhamos uma leitura mais refinada e atenciosa para perceber

como essas relaccedilotildees semacircnticas tiacutepicas de linguagens controladas se apresentam em textos

que satildeo suscetiacuteveis a diversas ocorrecircncias que dificultam a interpretaccedilatildeo Ficamos surpresos

pelo fato de que pouco se escreveu sobre nexos semacircnticos em nosso contexto nacional de

pesquisa o que tornou a construccedilatildeo do nosso segundo capiacutetulo bastante desafiadora Em

relaccedilatildeo a artigos que trataram diretamente sobre os nexos semacircnticos e os seus usos como

suporte para a anaacutelise de ocorrecircncias em gecircneros textuais tivemos contato apenas com Santos

(2012) e Estrela e Santos (2013 2014)

No terceiro capiacutetulo que foi dedicado para conter a anaacutelise desta pesquisa

inicialmente apresentamos nossa justificativa para a escolha do gecircnero certificado de garantia

90

para analisar assim como a justificativa para a escolha de procurar nesses textos as

estrateacutegias linguiacutesticas utilizadas para restringir a interpretaccedilatildeo de sentenccedilas Em seguida

tratamos sobre os tipos de ocorrecircncias que elegemos para nossa anaacutelise como quantificador

universalcondicional e o ―apenas e o ―somente Esta escolha se deu pelo fato de tais

termos possuem caracteriacutesticas propiacutecias para o uso em restriccedilotildees ou abrangecircncias de textos

Mesmo assim tiacutenhamos conhecimento de que dificilmente encontrariacuteamos ocorrecircncias com

as relaccedilotildees semacircnticas que apresentamos no capiacutetulo dois de forma expliacutecita e controlada

pois como discutimos anteriormente os diversos gecircneros textuais satildeo suscetiacuteveis a

interferecircncias lexicais que podem dificultar a interpretaccedilatildeo dos textos

Em seguida apresentamos a anaacutelise do nosso corpus que totalizou cinquenta e quatro

trechos de certificados nos trecircs tipos de ocorrecircncias escolhidas para serem investigadas

Como jaacute apresentamos no final do capiacutetulo anterior nossas impressotildees sobre como foram

utilizados os recursos linguiacutesticos para restriccedilatildeo de interpretaccedilotildees pelos autores dos

certificados gostariacuteamos de enfatizar que nas ocorrecircncias com quantificador universal com

condicional e com o ―apenas e ―somente os fabricantes utilizaram estes recursos em

grande parte dos certificados para se favorecerem ou seja para abranger as possibilidades de

invalidade da garantia do produto aumentando as situaccedilotildees em que a garantia eacute perdida e

diminuindo as situaccedilotildees em que a garantia eacute vaacutelida (principalmente nas listas exaustivas)

Sobre ocorrecircncias em que identificados termos vagos ou termos polissecircmicos

identificamos como o motivo principal do aparecimento dessas ocorrecircncias a falta de

definiccedilatildeo dos termos teacutecnicos Em muitos certificados identificamos que os autores utilizaram

termos teacutecnicos (a maioria deles provenientes do CDC) e natildeo apresentaram em nenhuma

parte do texto as definiccedilotildees para tais termos oportunizando que o leitor interprete de

diversas maneiras os termos ou expressotildees

Por fim pudemos perceber que os quantificadores os condicionais e termos como o

―apenas e o ―somente que satildeo responsaacuteveis por abranger ou restringir interpretaccedilotildees de

sentenccedilas satildeo proacuteprios do tipo de texto instrucional que abarca o gecircnero que escolhemos para

nossa pesquisa A utilizaccedilatildeo desses termos seguiu uma ordem de apresentaccedilatildeo similar nos

vinte e dois certificados de garantia de nosso corpus Os quantificadores universais

apareceram muitas vezes nas explicaccedilotildees em que os fabricantes apresentavam prazos deveres

e direitos do fabricante e cliente os condicionais apareceram na maioria das vezes

precedendo as listas exaustivas e o ―apenas e ―somente apareceram em grande parte nos

trechos em que os fabricantes apresentavam delimitaccedilotildees territoriais para cobertura da

91

garantia e explicaccedilotildees sobre as situaccedilotildees em que a garantia eacute invalidada e as situaccedilotildees em que

a garantia se assegura

Assim como justificamos no iniacutecio das consideraccedilotildees sobre os resultados obtidos em

nossa anaacutelise natildeo encontramos ocorrecircncias com trecircs dos quatro nexos semacircnticos

apresentados no segundo capiacutetulo O fato de natildeo termos identificado ocorrecircncias com

equivalecircncias semacircnticas contrariedades e contraditoriedades traacutes a tona uma interessante

caracteriacutestica do gecircnero certificado de garantia que eacute a constante presenccedila de acarretamentos

na redaccedilatildeo do texto mesmo que apresentados indiretamente diferente dos exemplos que

utilizamos para ilustrar os conceitos nos diversos textos sobre o assunto e a natildeo utilizaccedilatildeo de

equivalecircncias sentenccedilas contraacuterias e contraditoacuterias na redaccedilatildeo do texto

Atraveacutes dessa pesquisa em que tratamos sobre os nexos semacircnticos a polissemia a

vagueza e alguns outros tipos de relaccedilotildees semacircnticas desejamos que outros pesquisadores se

interessem por este tipo de trabalho e busquem explorar nas anaacutelises linguiacutesticas outros

gecircneros textuais pouco explorados como o que utilizamos no presente trabalho Apresentar

uma teoria que eacute tipicamente de linguagens controladas como a dos nexos semacircnticos (que

satildeo como jaacute discutimos dependentes unicamente da forma das sentenccedilas) e analisar como

essas estrateacutegias linguiacutesticas se comportam dentro de textos instrucionais (que ainda satildeo

pouco explorados nas anaacutelises semacircnticas) satildeo a nosso ver interessantes caminhos a serem

desbravados nos estudos da semacircntica assim como as suas aplicaccedilotildees nos diversos gecircneros

textuais que nos rodeiam

92

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95

ANEXOS

Certificado 1

96

Certificado 2

97

Certificado 3

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Certificado 4

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Certificado 5

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Certificado 6

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Certificado 7

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Certificado 8

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Certificado 9

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Certificado 10

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Certificado 11

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Certificado 12

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Certificado 13

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Certificado 14

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Certificado 15

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114

Certificado 16

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121

Certificado 17

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Certificado 18

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Certificado 19

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Certificado 20

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Certificado 21

127

Certificado 22