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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE - UFCG CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL - CSTR UNIDADE ACADÊMICA DE MEDICINA VETERINÁRIA - UAMV MONOGRAFIA AVALIAÇÃO BIOQUÍMICA DA ATIVIDADE MUSCULAR EM EQUINOS SUBMETIDOS À COMPETIÇÃO DE VAQUEJADA GABRIELLA SONALLY BARBOSA SOUTO PATOS- PB DEZEMBRO 2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA …...cavalos de vaquejada. Foram utilizados doze cavalos, em sua maioria da raça Quarto de Milha, com idade entre 3 e 10 anos, embaiados durante todo

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE - UFCG

CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL - CSTR

UNIDADE ACADÊMICA DE MEDICINA VETERINÁRIA - UAMV

MONOGRAFIA

AVALIAÇÃO BIOQUÍMICA DA ATIVIDADE MUSCULAR EM EQUINOS

SUBMETIDOS À COMPETIÇÃO DE VAQUEJADA

GABRIELLA SONALLY BARBOSA SOUTO

PATOS- PB

DEZEMBRO 2016

1

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE- UFCG

CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL- CSTR

UNIDADE ACADÊMICA DE MEDICINA VETERINÁRIA- UAMV

GABRIELLA SONALLY BARBOSA SOUTO

AVALIAÇÃO BIOQUÍMICA DA ATIVIDADE MUSCULAR EM EQUINOS

SUBMETIDOS À COMPETIÇÃO DE VAQUEJADA

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)

apresentado a Unidade Acadêmica de

Medicina Veterinária, Centro de Saúde e

Tecnologia Rural, Universidade Federal de

Campina Grande, para obtenção do título de

Médica Veterinária.

Orientador: Prof.

Dr. Antônio Fernando de

Melo Vaz

Coorientador: Prof. Dr. Eldinê Gomes de

Miranda Neto

PATOS- PB

DEZEMBRO 2016

2

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DO CSTR

S726a

Souto, Gabriella Sonally Barbosa

Avaliação bioquímica da atividade muscular em equinos submetidos à

competição de vaquejada / Gabriella Sonally Barbosa Souto. – Patos,

2017.

35f. : il. color.

Trabalho de Conclusão de Curso (Medicina Veterinária) -

Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Saúde e Tecnologia

Rural, 2017.

“Orientação: Prof. Dr. Antônio Fernando de Melo Vaz”

“Coorientação: Prof. Dr. Eldinê Gomes de Miranda Neto”

Referências.

1. Exercício. 2. Cavalos. 3. Lesões Musculares. I. Título.

CDU 616:619

3

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE - UFCG

CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL - CSTR

UNIDADE ACADÊMICA DE MEDICINA VETERINÁRIA - UAMV

GABRIELLA SONALLY BARBOSA SOUTO

Monografia submetida ao Curso de Medicina Veterinária como requisito parcial para

obtenção do grau de Médico Veterinário.

APROVADO EM: ______/_____/_2016__ Média: ____________

BANCA EXAMINADORA:

_________________________________________ _____________

Prof. Dr. Antônio Fernando de Melo Vaz Nota

_________________________________________ _____________

Prof. Dr. Eldinê Gomes de Miranda Neto Nota

_________________________________________ _____________

Dra. Tereza Emmanuelle de F. Rotondano Nota

4

DEDICATÓRIA

À minha heroína mãe, por todo o seu fôlego de vida, que me deu

sustento e esperança para seguir. A senhora toda a minha admiração,

amor e gratidão por tudo.

Com amor, dedico.

5

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, o meu maior mestre e amigo, que junto a minha mãe Rainha

permitiu que tudo isso acontecesse, que não me desamparou em um só minuto, me

concedendo saúde e coragem para superar as dificuldades.

Aos meus pais, por todo o apoio, incentivo e amor incondicional. A minha mãe

Duceleide Barbosa, que mesmo frente às dificuldades, nunca desistiu de mim. A senhora será

sempre exemplo de determinação. Ao meu pai José Jailson da Nóbrega Souto, por acreditar e

torcer por mim. O meu muito obrigado a vocês! Espero poder os orgulhar ainda mais.

Ao meu noivo, Franklin Araújo Santos, por todo o seu amor, paciência,

companheirismo e cumplicidade em todos os momentos.

Aos meus irmãos, Jayrlla Samanny Barbosa Souto, Grazielly Mercês Alves Souto e

José Jailson da Nóbrega Souto Filho, por todo o apoio, palavras de incentivo e carinho. Amo

muito vocês!

Ao meu padrasto Herbert, que nunca mediu esforços para me ajudar, acreditando

sempre em minha capacidade e no meu sucesso profissional.

Aos meus familiares que, perto ou longe, sempre acreditaram e apostaram no meu

sucesso, que nunca mediram esforços para me ajudar. Em especial aos meus tios Antônio

Nilton Barbosa, Maria Emília da Nóbrega Souto e Maria de Fátima Souto Silva. Muito

obrigada!

Ao amigo e deputado Paulo Rogério de Souza Rêgo (Doda de Tião), por todo o apoio

a mim prestado durante esses anos de curso.

Ao meu orientador, Professor Antônio Fernando de Melo Vaz, pela orientação,

oportunidade, paciência e comprometimento dedicado a este trabalho.

Ao meu coorientador, Professor Eldinê Gomes de Miranda Neto, pela confiança e

apoio na elaboração deste trabalho.

A todos os professores do curso de Medicina Veterinária, que tanto me incentivaram e

contribuíram para a minha formação profissional.

As minhas amigas de sempre, as famosas „‟amigas de Campina‟‟, Wanessa, Camila,

Larissa Brito, Larissa Raquel, Letícia, Isabella, Bruna, Raniza, Clarisse, que apesar da a

correria diária e distância nunca deixaram de me acolher quando eu precisei, que tantas vezes

me ouviram chorar e conseguiram calar esse choro com uma simples palavra de incentivo e

carinho. Obrigada por toda a torcida, todos os conselhos, orações e paciência.

6

Aos companheiros de curso, os quais eu guardarei com carinho em meu coração por

toda a vida, Araceli Alves, Sarah Caetano, Sarah Heyde, Clédson Calixto, Jânio Almeida, por

todo o apoio, paciência por tantas vezes me ouvir dizer: „‟Quero ir pra Campina!‟‟,

cumplicidade e carinho. Foram vocês que no dia a dia me fizeram superar a saudade de casa.

Desejo muito sucesso a todos!

Aos colegas que estiveram de prontidão para ajudar na coleta do material para

obtenção de dados, Thyago Gurjão, Eurico José, Clarisse, Tiago Tavares, Maycon, Clédson.

Serei eternamente grata a vocês, pois apesar do pouco tempo de convivência mostraram-se

solícitos, deixando as suas obrigações para ajudar-me. Que Deus os recompense!

A todos do Laboratório de Patologia Clínica do Hospital Veterinário da UFCG, muito

obrigada pela atenção, apoio, conhecimento. Vocês foram indispensáveis para o sucesso do

meu trabalho.

E por fim, a todos que direto ou indiretamente contribuíram para que eu chegasse até

aqui. A todos o meu imenso e eterno agradecimento. Essa história não acabou, espero poder

tê-los por perto sempre, para que juntos possamos comemorar muitas vitórias.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 13

2 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................................... 14

2.1 Vaquejada ........................................................................................................................... 14

2.1.1 Surgimento ...................................................................................................................... 14

2.1.2 A vaquejada e suas regras .............. ..............................................................................14

2.2 Composição dos músculos dos equinos ............................................................................. 16

2.3 Enzimas musculares ........................................................................................................... 17

2.3.1 CK .................................................................................................................................... 17

2.3.2 LDH ................................................................................................................................. 18

2.3.3 AST .................................................................................................................................. 18

2.3.4 L-Lactato ......................................................................................................................... 18

2.4 Sistema musculoesquelético do equino atleta .................................................................... 19

2.5 Termorregulação ................................................................................................................. 19

2.6 Transtornos musculares ...................................................................................................... 20

3 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................ 21

3.1 Local de realização do experimento ................................................................................... 21

3.2 Animais utilizados .............................................................................................................. 21

3.3 Ensaio experimental ........................................................................................................... 24

3.3.1 Respostas fisiológicas ...................... .............................................................................. 24

3.4 Obtenção das amostras e análises clínicas laboratoriais ..................................................... 24

3.5 Análise estatísticas .............................................................................................................. 25

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 26

5 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 30

REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 31

8

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Avaliação bioquímica antes e após o exercício físico de cavalos de esteira, oriundos

do município de São Mamede, estado da Paraíba, Brasil. ........................................................ 27

Tabela 2: Avaliação bioquímica antes e após o exercício físico de cavalos de puxada, oriundos

do município de São Mamede, estado da Paraíba, Brasil. ........................................................ 27

9

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Ascultação cardíaca antes do exercício em cavalo oriundo do município de São

Mamede, estado da Paraíba, Brasil . ......................................................................................... 22

Figura 2: Coleta de sangue antes do exercício em cavalo oriundo do município de São

Mamede, estado da Paraíba, Brasil . ......................................................................................... 22

Figura 3: Animais antes do exercício oriundos do município de São Mamede, estado da

Paraíba, Brasil ........................................................................................................................... 23

Figura 4: Animais em exercício oriundos do município de São Mamede, estado da Paraíba,

Brasil ......................................................................................................................................... 23

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LISTA DE ABREVIATURAS

CK – Creatina Quinase

AST – Aspartato Aminotransferase

LDH – Lactato Desidrogenase

G1 – Grupo 1

G2 – Grupo 2

FC – Frequência cardíaca

FR – Frequência respiratória

U/L – Unidades por litro

CV – Coeficiente de Variação

Mg/dL – Miligramas por decilitro

Mpm – Movimentos por minuto

Bpm – Batimentos por minuto

SO – Oxidativo lento

FOG – Glicólise Oxidativa Rápida

FG – Glicólise rápida

CEUA- Comitê de Ética no Uso de Animais

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RESUMO

SOUTO, GABRIELLA SONALLY BARBOSA. Avaliação bioquímica da atividade

muscular em equinos submetidos à competição de vaquejada. UFCG, 2016, 35 pg.

(Trabalho de Conclusão de Curso em Medicina Veterinária). Universidade Federal de

Campina Grande, Patos, 2016.

Objetivou-se avaliar a atividade enzimática em equinos submetidos a exercícios, antes e após

a realização dos mesmos, buscando precocidade e especificidade de lesão muscular em

cavalos de vaquejada. Foram utilizados doze cavalos, em sua maioria da raça Quarto de

Milha, com idade entre 3 e 10 anos, embaiados durante todo o dia e recebendo dieta à base de

ração balanceada comercial e milho triturado. Foram coletados sangue dos animais antes do

exercício e após a realização do mesmo, a fim de verificar possíveis lesões musculares,

através da avaliação das enzimas musculares CK, AST e LDH, bem como dos níveis de

lactato sérico e glicose. Verificou-se variações importantes da atividade enzimática nos

cavalos de esteira onde, os que foram avaliados no presente estudo, não praticavam exercício

com frequência, quando comparados aos cavalos de puxada. Dentre as enzimas estudadas, as

alterações no lactato apresentaram grande valia, sugerindo a importância da não insistência de

forçar o animal ao esforço repetidas vezes. Avaliou-se variações através dos resultados

estatísticos das médias, desvio padrão e coeficiente de variação, por meio do software

GraphPrism®. A partir dos resultados obtidos pode-se evidenciar que os equinos não devem

ser submetidos a exercícios contínuos e exaustivos para que isso não acarrete em lesões

musculares graves.

Palavras-chave: exercício, cavalos, lesões musculares.

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ABSTRACT

SOUTO, GABRIELLA SONALLY BARBOSA. Biochemical evaluation of muscle

activity in horses submitted to vaquejada competition. UFCG, 2016, 35 pg. (Course

Completion Work in Veterinary Medicine). Federal University of Campina Grande, Patos,

2016.

The objective of this study was to evaluate the enzymatic activity in equines submitted to

exercise, before and after it, seeking precocity and specificity of muscle injury in horses used

on events for recreational purposes. Twelve horses were used, mostly Quarter Horse, aged 3

to 10 years, in confinement throughout all day and receiving a diet based on commercial

balanced ration and shredded corn. Blood was collected from the animals before and after the

exercise, in order to verify possible muscular lesions, through the evaluation of muscle

enzymes CK, AST and LDH, as well as serum lactate and glucose levels. There were

significant variations in the enzymatic activity in treadmill horses where those who were

evaluated in the present study did not exercise frequently when compared to work horses.

Among the enzymes studied, changes in lactate presented great value, suggesting the

importance of not insisting to force the animal to stress repeatedly. Variations were evaluated

through the statistical results of the means, standard deviation and coefficient of variation,

using GraphPrism® software. From the obtained results it can be evidenced that the horses

should not be submitted to continuous and exhaustive exercises so that this does not lead to

serious muscular injuries.

Key words: exercise, horse, muscle injuries

13

1 INTRODUÇÃO

Equinos são animais que apresentam alta capacidade de realizar exercícios intensos.

Estes animais são utilizados em diversas modalidades esportivas e culturais, incluindo a

vaquejada, os quais são submetidos a exercícios intensos, repetitivos e de curta duração,

promovendo assim altos níveis de estresse a estes animais.

Pode-se destacar a vaquejada, principalmente no nordeste brasileiro, como sendo um

esporte de grande altivez. A vaquejada surgiu em apartações de gado, onde os vaqueiros

precisavam recolher o gado solto na caatinga, e com isso sentiram a necessidade de construir

cercas, compostas por arames e estacas, para que o gado não escapasse. Os cavalos nativos da

época, aos poucos, foram sendo substituídos por cavalos de melhor linhagem e desempenho, e

o chão de terra batido por uma superfície de areia. Esta prática tomou grandes rumos,

profissionalizando-se, surgindo então os chamados parques de vaquejada, que movimenta

grande soma de recursos financeiros.

O esporte apresenta regulamentos, e já foi legalizado em diversos estados brasileiros.

A vaquejada é considerada uma modalidade esportiva, que por sua vez foi regulamentada,

bem como a profissão de “vaqueiro”, pela Lei nº 10.220/01, que considera atleta profissional

o “peão de vaquejada” (BRASIL, 2001).

Para que haja precocidade e especificidade na indicação de lesão muscular em animais

de vaquejada, por um método não invasivo, são avaliadas as atividades catalíticas das enzimas

musculares, tais como: CK (Creatina Quinase), LDH (Lactato Desidrogenase), AST

(Aspartato Aminotransferase), bem como os níveis de lactato sérico.

Em situações normais, as enzimas musculares encontram-se baixas no plasma, mas

logo após o exercício as mesmas encontram-se alteradas, em consequência do extravasamento

destas para a corrente sanguínea. A CK é mais rapidamente liberada na corrente sanguínea,

diferente da AST, que tem sua liberação mais lenta. Vários estudos avaliam a atividade

catalítica das enzimas musculares, mostrando que estes apresentam resultados positivos no

que diz respeito às complicações causadas por exercícios intensos.

Assim, pretende-se aperfeiçoar os estudos a respeito da atividade muscular em equinos

submetidos à competição de vaquejada, a partir da avaliação das enzimas musculares, antes e

após a realização de exercícios dos animais. Estas avaliações tornam-se importantes para o

monitoramento precoce de lesões musculares por esforços, que, clinicamente são impossíveis

de serem detectadas, determinando assim as possíveis alterações encontradas mediante o

esforço em equinos atletas.

14

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Vaquejada

2.1.1 Surgimento

A vaquejada surgiu no nordeste brasileiro ao longo do século XX. Em meados dos

anos 1980, já com regras e prêmios para os competidores, a vaquejada passou a ser cada vez

mais convidativa. O gado era recolhido da mata por homens montados em seus cavalos, sendo

os bezerros selvagens os mais difíceis de serem capturados, e através desta tarefa os vaqueiros

conseguiam demonstrar a sua valentia e coragem, surgindo então a ideia de disputa entre eles

(FELIX; ALENCAR, 2011).

As provas eram realizadas em fazendas e sítios, sem a presença de público, porém a

partir da década de 40 foi aberta ao público, para que todos pudessem prestigiar as disputas. A

competição acontece com a participação de vaqueiros, cavalos e bois, onde a dupla de

vaqueiros entra na pista com o objetivo de derrubar o boi entre duas faixas, distantes 10

metros uma da outra. A pista é composta por areia, com 120 metros de comprimento e 30

metros de largura (LIMA; SHIROTA; BARROS, 2006).

2.1.2 A Vaquejada e suas Regras

A vaquejada destaca-se como modalidade esportiva que ocorre em todo território

nacional, e nela participam várias duplas de vaqueiros, no qual um é o puxador, que tem a

função de derrubar o boi em meio a duas faixas e o outro é o chamado „‟esteira‟‟, com a

função de alinhar o boi na pista de areia. A dupla que conseguir derrubar três bois

consecutivamente classifica-se e disputam a premiação (ESALQ/CNA, 2006).

Para a realização do evento são contratados profissionais que auxiliarão nas tarefas

que ocorrem no decorrer dos dias. São contratados seguranças, locutores, juízes, calzeiros

(responsáveis por colocar cal nas faixas existentes na pista), pessoas que auxiliam no

manuseio do gado nos currais, pessoas que trabalham com a comida, chegando a ser uma

grande movimentação econômica, gerando vários empregos temporários ou não. A vaquejada

não limita-se apenas ao esporte, sendo composta, também, por atrações musicais e outras

atividades que atraem o público (LIMA; SHIROTA; BARROS, 2006).

Regras são estabelecidas para que o esporte possa ocorrer sem que haja maus-tratos

aos animais, como por exemplo: não é permitido o uso de chicotes; as esporas devem ser

isoladas; a luva utilizada pelo vaqueiro puxador não deve ter inclinação ou objetos cortantes

15

que possam machucar o boi; os vaqueiros não poderão bater no boi, tocar a sua face, nem

apoiar-se em seu lombo; os competidores não poderão esporear, bater ou puxar as rédeas dos

cavalos de modo que os machuquem. Caso estas regras não sejam obedecidas pelos vaqueiros,

os mesmos recebem punições, podendo perder os seus pontos, ou até mesmo a suspensão do

direito de participar de vaquejadas. Os competidores e pessoas que lidam com os animais

devem preservar o bem estar dos mesmos. Durante todo o evento água e comida em qualidade

e quantidade condizentes devem ser disponibilizadas para a manutenção da saúde dos

animais, não podendo ser utilizados objetos que possam provocar sangramento nos animais.

Durante todo o evento uma equipe veterinária deve estar de prontidão, caso algum animal

venha a machucar-se, ou apresentem alguma enfermidade, visando o bem estar animal

(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE VAQUEJADA, 2016).

Visando não apenas o bem estar animal a vaquejada preconiza, também, os cuidados

com os competidores, onde, para que participe das competições, os mesmos devem usar

capacete, camisa, calça comprida e botas. Não é permitido o uso de bois com chifres

pontiagudos que possam causar danos aos competidores, aos cavalos e as pessoas que lidam

com os mesmos. Durante todo o evento, uma equipe de paramédico e ambulância devem estar

presentes para atendimentos dos que precisam. Não serão reconhecidas como vaquejadas

oficiais os eventos em que não obedecerem ao regulamento imposto pela Associação

Brasileira de Vaquejada (ABQM) (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE VAQUEJADA, 2016).

Dentre as raças de equinos, a Quarto de Milha apresenta grande docilidade, capacidade

de desempenhar partidas rápidas, paradas bruscas, o que lhe confere um animal com

habilidades adequadas para a participação em competições de vaquejada (PIOTTO JÚNIOR,

2005). O Quarto de Milha originou-se nos Estados Unidos, resultando do cruzamento entre

garanhões advindos da Arábia e Turquia e Mustang com éguas da Inglaterra, onde produziu

cavalos com músculos fortes e compactos, conseguindo correr distâncias curtas muito

rapidamente, especializando-se no trabalho com o gado (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE

CRIADORES DE CAVALOS QUARTO DE MILHA).

16

2.2 Composição do músculo dos equinos

Segundo Thomassian (2005), a composição do músculo esquelético dos mamíferos é

de 75% de água, 18 a 22% de proteína e 1% de sais minerais, sendo o volume total do

músculo composto por 75 a 90% de miofibrilas, podendo esta composição variar conforme o

músculo. Para que sejam realizadas atividades e/ou movimentos, os músculos desempenham

papel fundamental no organismo do animal. Para que seja realizado o diagnóstico das lesões

musculares, bem como o acompanhamento das mesmas, a avaliação laboratorial das enzimas

musculares, como Creatina Quinase (CK), Aspartato Transaminase (AST) e Lactato

Desidrogenase (LDH), é de grande valia, pois quando aumentadas no soro sanguíneo, poderá

indicar o grau de lesão muscular em animais submetidos a exercícios de alta intensidade.

As fibras musculares são células alongadas que formam os músculos. O endomísio,

que são fibras imersas em tecido conjuntivo, e o perimísio, com estrutura mais densa, formam

o fascículo. Vários fascículos, envolvidos pelo epimísio, formam o músculo. São identificadas

três tipos de fibras musculares, de acordo com técnicas histoquímicas, sendo elas: SO (Slow

Oxidative/Oxidativo Lento), FOG (Fast Oxidative Glycolyt/Glicólise Oxidativa Rápida) e FG

(Fast Glycolyt/Glicólise Rápida), cada uma com suas características metabólicas. A

modulação e a adaptação da capacidade metabólica dessas fibras devem-se ao treinamento,

onde muitos autores relataram que a capacidade oxidativa é aumentada como consequência do

treinamento de resistência. Animais que realizam exercícios de alta velocidade apresentam

alta proporção de fibras FOG e FG, sendo fibras de contração alta e metabolismo oxidativo e

fibra rápida e glicolítica, respectivamente. A composição das fibras ainda apresenta-se como

uma incógnita para muitos autores, e para que isso seja esclarecido, estudos vêm sendo

realizados (FEITOSA, 2008).

As miofibrilas são necessárias para a contração do músculo, sendo compostas por dois

tipos de fibras: Fibras do tipo I, que são as fibras de contração lenta e altamente oxidativas,

fibras do tipo II, que são as fibras de contração rápida e divide-se em fibras IIA, IIB e IIC

(THOMASSIAN, 2005).

À medida que se aumenta a intensidade do exercício, faz-se necessário mais tensão, e

fibras do tipo IIA, por serem mais resistentes a fadiga, são recrutadas. As fibras do tipo IIA

são consideradas as que têm maior reserva energética, a tipo IIB é mais glicolítica,

aumentando a sua proporção em casos de atletas que percorrem distâncias curtas. Em casos de

grande aceleração, fibras do tipo IIB se recrutam, por serem maiores. As fibras do tipo IIC são

consideradas intermediárias entre a capacidade oxidativa e glicolítica. Em animais submetidos

17

a exercícios ocorre um aumento de fibras do tipo IIB, acarretando em maior armazenamento

de glicogênio e consequentemente um aumento do volume muscular (ROBERTS, 2002).

O desempenho físico do cavalo, junto ao volume muscular, são obtidos através de

adaptações musculares, onde pode-se destacar uma grande rede vascular, bem como a

ultraestrutura bastante especializada que os cavalos apresentam, promovidas por meio de

diversos níveis de esforços realizados pelos mesmos. O exercício físico pode provocar,

também, alterações reversíveis na ultraestrutura especializada dos cavalos, e com isso

observa-se aumento da permeabilidade do sarcolema, a camada que reveste a fibra muscular,

bem como das proteínas musculares, que são liberadas na circulação (THOMASSIAN et al.,

2007).

2.3 ENZIMAS MUSCULARES

2.3.1 CK

A CK catalisa a síntese da creatina fosfato a partir da creatina e ATP, podendo ser

encontrada no músculo esquelético, músculo cardíaco e músculo liso, na qual é considerada

uma enzima de extravasamento específica do músculo. O aumento da atividade sérica de CK

pode ser oriundo da lesão do músculo esquelético, devido uma necrose e isquemia muscular,

substâncias irritantes quando aplicadas por via intramuscular, bem como traumatismos

causados pelo transporte. Havendo lesão nas células musculares, haverá aumento na atividade

sérica de CK, sendo o seu aumento verificado logo após a lesão muscular, e a sua diminuição

após a resolução da mesma. Lesão do músculo cardíaco e catabolismo muscular também

podem proporcionar o aumento da atividade sérica de CK, sendo raro na musculatura lisa. No

catabolismo muscular, aminoácidos podem ser utilizados durante a gliconeogênese,

acarretando em extravasamento de CK, advindas das células musculares. A meia-vida de CK

em equinos é de duas horas (STOCKHAM; SCOTT, 2011; THRALL et al., 2006).

Para que se possa mensurar o momento inicial da lesão muscular, as atividades séricas

de CK e AST, advindas do soro sanguíneo, são avaliadas, e o aumento destas pode ser

indicativo de lesão muscular ativa, recente e persistente (CÂMARA E SILVA et al., 2007;

THRALL et al., 2006).

18

2.3.2 LDH

A enzima LDH é encontrada no citoplasma de grande parte das células do organismo,

e é responsável por catalisar a reação reversível de L-lactato para piruvato. A enzima AST é

encontrada nos hepatócitos e nas células dos músculos esquelético e cardíaco, e catalisa a

reação de transminação entre o ácido Oxaloacetato e L-aminoácidos (THRALL et al., 2006).

Como a enzima LDH encontra-se presente na maioria das células do organismo, lesões

não musculares desencadeiam extravasamento de LDH, verificado tanto no espaço

extracelular, quanto no sangue, sendo esta considerada uma enzima inespecífica. A LDH é

considerada um indicador de lesão de hepatócitos, principalmente, mas o seu aumento

também pode ser observado durante lesão muscular e hemólise (STOCKHAM; SCOTT,

2011; THRALL et al., 2006).

2.3.3 AST

Diferente da CK, a enzima AST possui, em equinos, meia-vida de sete a oito dias. O

aumento da atividade sérica da AST pode ser verificado 24 a 36 horas após a lesão muscular,

e diminuído após a resolução da lesão. O seu aumento pode ser verificado em decorrência da

lesão de hepatócitos, sendo liberada no decorrer dos estágios de regeneração de doença

hepática ou de miócitos, bem como na presença de hemólise.

Quando ativos, os músculos requerem uma grande demanda de ATP, sendo o fluxo

sanguíneo incapaz de fornecer oxigênio e combustível suficiente para a produção de ATP

oriundos da respiração aeróbica (LEHNINGER et al., 2002).

2.3.4 L-lactato

O músculo esquelético é considerado a principal fonte tecidual de L-lactato. Quando

presente no plasma, o L-lactato é captado pelos hepatócitos, podendo este ser utilizado para a

produção de ATP pelo metabolismo aeróbico oxidativo ou ser substrato para gliconeogênese.

As várias células de mamíferos produzem L-lactato. Os eritrócitos destes animais não

possuem mitocôndrias, e assim a glicólise produzirá L-lactato. Durante intensa atividade

muscular, a glicólise é aumentada, estimulando a liberação de L-lactato do músculo. Quando

coletado sangue do animal, as respectivas amostras devem ser rapidamente analisadas, caso

contrário à produção de L-lactato pode ser subestimada (STOCKHAM; SCOTT, 2011).

19

2.4 Sistema musculoesquelético do equino atleta

Para que se possa alcançar um bom potencial atlético, o equino apresenta uma

musculatura esquelética adaptada para realizar exercícios intensos. Para que os substratos

energéticos cheguem ao tecido muscular é necessária à ação dos sistemas respiratórios,

cardiovascular e circulatório, para que assim a fibra muscular produza baixa energia em forma

de ATP, sendo transformada em energia mecânica, através do aparelho contrátil da fibra.

Através desta energia transformada, o sistema músculo esquelético promove a movimentação

dos membros em um ritmo característico para cada animal (RIVERO; BOFFI, 2006).

Durante a atividade muscular serão utilizados ácidos graxos, corpos cetônicos e

glicose como combustível, e quando o animal está em repouso apenas os ácidos graxos do

tecido adiposo e os corpos cetônicos do fígado são utilizados, que serão oxidados e

degradados a acetilcoenzima A, participando do ciclo de Krebs, fornecendo ATP pela

fosforilação oxidativa (LEHNINGER et al., 2002).

A plasticidade da estrutura e a função das miofibras fazem com que o músculo

esquelético do cavalo tenha um forte potencial para adaptar-se ao exercício intenso, e essas

adaptações ocorrem independentemente das respostas fisiológicas aos exercícios aeróbicos e

anaeróbicos. Em exercícios de alta velocidade e curta duração pode haver hipertrofia

muscular específica, havendo estiramento máximo do sistema musculo esquelético

(RIVERO; BOFFI, 2006).

2.5 Termorregulação

Segundo Desmarás e Boffi (2006), a termorregulação é definida como o equilíbrio

entre a produção e dissipação do calor. A temperatura corporal é medida através da produção

e perda do calor. A quantidade de calor produzida pelo animal irá depender do seu

metabolismo oxidativo, com baixa condutividade térmica, onde ocorre a dissipação e a

conversão do calor. Quando em repouso, os órgãos vitais dos animais produzem 72% da

temperatura corporal, e em condições de exercício constituem 2% de calor gerado. A

produção de calor em um animal em exercício está diretamente proporcional à velocidade de

consumo de oxigênio, oriundo do tecido muscular.

20

2.6 Transtornos musculares

Para que se possam detectar problemas musculares em equinos, o animal deve estar

em repouso, para assim fazer uma observação detalhada do mesmo, buscando algum tipo de

atrofia muscular, inflamação e edema. Ausência de força da contração, sensação de dor, são

sintomas relacionados à lesão muscular. As causas de lesão muscular podem ser de origem

física (mecânica e térmica) e metabólica (BOFFI et al., 2006).

Dentre as afecções que mais afetam o músculo dos equinos podemos citar a miosite e

a mioglobinúria paralítica (azotenúria). A miosite ocorre devido a trauma, seja ele direto ou

indireto, ou como processo secundário de determinada doença. Esta inflamação pode ser

observada como cansaço, fadiga muscular ou resultante do trabalho intenso dos músculos, que

leva a um grande consumo de reservas energéticas. A pesquisa laboratorial das enzimas

musculares é de grande valia para a confirmação do diagnóstico (THOMASSIAN, 2005).

A mioglobinúria paralítica afeta cavalos excessivamente alimentados com dietas ricas

em carboidratos e proteínas, manifestando-se em cavalos submetidos a exercícios,

independente da intensidade dos mesmos. Esta afecção manifesta-se após o exercício, com a

presença da fadiga muscular, rigidez a locomoção, dor, tremores musculares, fazendo com

que o animal não consiga ficar em pé, caso continue submetido ao exercício. Neste caso, as

frequências cardíaca e respiratória do animal apresentam-se elevadas, e a temperatura pode

chegar a atingir 40,5ºC. O excesso de ácido láctico produzido durante o exercício pode levar a

lesões musculares. A urina apresenta-se avermelhada ou marrom devido ao acúmulo de ácido

láctico nos músculos, que destrói as células e libera grande quantidade de mioglobina, sendo

filtrada através dos rins. Os valores de CK, LDH e AST indicam o grau de lesão muscular,

encontrando-se elevados (THOMASSIAN, 2005).

21

3 MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Local da realização do experimento

Esta pesquisa experimental trata-se de estudo transversal, que foi realizada na cidade

de São Mamede/PB, que está localizado na região do Seridó Ocidental da Paraíba,

mesorregião da Borborema e microrregião de Patos. No local encontra-se um parque de

vaquejada, lugar onde os animais utilizados para coleta de dados foram submetidos a

exercícios. A região apresentava clima que, no mês da coleta, apresentou temperatura de 36ºC

durante o dia, vento SE a 16 km/h, e umidade de 33%.

3.2 Animais utilizados

Como aspecto ético, o presente trabalho foi enviado ao CEUA- Comitê de Ética no

Uso de Animais, para apreciação, com número de protoloco CEP 306/2015.

As coletas foram realizadas no dia 12 de dezembro 2016, na cidade de São Mamede,

localizada na região do Seridó da Paraíba. Após a coleta dos parâmetros e a coleta de sangue

com os animais ainda em repouso, os mesmos foram direcionados a pista de corrida, para que

assim pudessem realizar exercícios intensos e de curta duração, alinhando-se junto ao boi. Ao

final do exercício foram feitas, novamente, as aferições das frequências cardíaca e respiratória

e coleta de sangue da dupla de animais.

As coletas tiveram início pela manhã, terminando no final da mesma. Antes do início

da corrida, os proprietários foram interrogados visando levantamento de dados dos animais,

como idade, raça, manejo, alimentação, frequência de exercícios, para melhor compreensão

na análise dos dados obtidos. Foram utilizados doze equinos, de diferentes idades e sexos, em

sua maioria participantes de vaquejada e da raça Quarto de Milha. O modelo do questionário

feito aos proprietários está incluso em anexo.

Antes de serem submetidos à exercícios os animais foram divididos em seis duplas,

compostas pelo cavalo puxador e o de esteira. Antes de entrar na pista de corrida foram

aferidas as frequências cardíaca e respiratória e coletadas amostras de sangue dos animais. A

coleta do sangue dos animais foi feita mediante punção da jugular, acondicionados em tubos à

vácuo. A auscultação cardíaca foi feita mediante o auxílio de um estetoscópio, auscultando-se

os dois lados do tórax dos animais. A auscultação respiratória foi realizada auscultando-se a

traqueia e avaliando o fluxo respiratório com o dorso da mão junto a narina do animal.

22

Figura 1 - Auscultação cardíaca antes do exercício em cavalo oriundo do município de São

Mamede, estado da Paraíba, Brasil.

Figura 2 – Coleta de sangue antes do exercício em cavalo oriundo de São Mamede, estado da

Paraíba, Brasil.

23

Figura 3 - Animais antes do exercício oriundos do município de São Mamede, estado da

Paraíba, Brasil.

Figura 4 - Animais em exercício oriundos do município de São Mamede, Estado da Paraíba,

Brasil.

Fooo

24

3.3 ENSAIO EXPERIMENTAL

3.3.1 Respostas Fisiológicas

Foram mensuradas as frequências respiratória e cardíaca dos animais, em repouso e

após as competições, a fim de verificar possíveis alterações no metabolismo dos animais.

A frequência respiratória foi analisada segundo como descrito por Thomassian (2005),

observando os movimentos de inspiração e expiração, bem como auscultando-se a traqueia e

avaliando o fluxo respiratório com o dorso da mão junto a narina do animal. Em equinos

adultos que estejam em repouso, a frequência respiratória pode variar entre 8 a 16

movimentos por minuto, oscilando de acordo com a idade, gestação, exercício e temperatura

ambiente.

A auscultação cardíaca foi mensurada como indicado por Feitosa (2008), através de

um estetoscópio ou um fonendoscópio. A auscultação foi feita em um local silencioso,

atentando-se a todos os focos cardíacos, seja ele pulmonar, aórtico, mitral ou tricúspide, e

sendo realizada dos dois lados do tórax do animal, já que há doenças apresentadas tanto do

lado direito, quanto do lado esquerdo. A frequência cardíaca em equinos adultos equivale a

28-40 batimentos cardíacos por minuto.

3.4 Obtenção das amostras e análises clínicas laboratoriais

As coletas de sangue dos animais foram realizadas em dois momentos: antes do

exercício e após exercício. As amostras de sangue foram coletadas por meio de punção da

veia jugular com agulhas descartáveis 40 mm x 12 mm, após prévia desinfecção com álcool

iodado. Foram coletados á vácuo dois tubos: um tubo para análise bioquímica com heparina

de lítio e outro tubo com EDTA (ácido etilenodiamino tetra-acético) e fluoreto de sódio para

mensuração da hemoglobina e dos níveis de lactato e glicose. A quantidade de sangue por

tubo foi de 4 ml. O plasma foi obtido por centrifugação a 2.500 rpm, por 10 minutos, e

mantido a -20 ºC.

As amostras foram transportadas para o laboratório de Patologia Clínica da

Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) para análises, acondicionadas em caixas

de isopor com gelo, para melhor conservação das mesmas. Após a chegada no laboratório, as

amostras foram rapidamente analisadas.

25

As provas bioquímicas foram efetuadas por meio de processo cinético, em analisador

automático (Cobas C11 – Roche), com kits comerciais das enzimas, aspartato

aminotransferase (AST), lactato desidrogenase (LDH), creatinocinase (CK) e lactato. Os

níveis de lactato foram estudados apenas para amostras que apresentaram resultados

fortemente alterados para CK.

3.5 Análises estatísticas

O uso da estatística descritiva dos dados, para se obter as médias, desvio padrão e

coeficiente de variação para todos os parâmetros avaliados foi através do software

GraphPrism® (GraphPad Software Inc., San Diego, CA, USA).

26

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os animais avaliados no presente estudo apresentaram idade variando entre três e dez

anos, em sua maioria da raça Quarto de Milha, alimentados com uma dieta à base de ração

balanceada comercial e milho triturado. Os animais eram manejados, em sua totalidade, em

baias durante todo o dia. Os resultados de todos os dados coletados estão descritos nas

tabelas 1 e 2.

Para a frequência cardíaca os resultados das análises estatísticas obtidos para os

cavalos de esteira, antes do exercício, foi de 52±18,93 bpm e após a realização do exercício

foi de 92,33±27,84 bpm. Para os cavalos de puxar, antes do exercício, obteve-se 46±14,91

bpm e após a realização do mesmo 120±21,01 bpm.

Para a frequência respiratória dos cavalos de esteira antes do exercício, tivemos como

resultado 32,67±7,34 mpm, e após a realização do exercício 42±9,38 mpm. Para os cavalos de

puxar obteve-se, antes do exercício, 29,33±7,45 mpm, e após a realização dos mesmos

37,33±4,13 mpm.

27

Tabela 1: Avaliação bioquímica antes e após o exercício físico de cavalos de esteira, oriundos

do município de São Mamede, estado da Paraíba, Brasil.

Cavalos de Esteira

Animais antes do exercício

CK

(U/L) AST

(U/L) LDH

(U/L) Glicose

(mg/dL) Lactato

(mg/dL) Média 324,33 317,82 489,50 101,23 7,95

Desvio Padrão 112,73 119,09 161,04 10,18 1,68

CV(%) 34,76 37,47 32,90 10,06 21,09

Animais após exercício

CK

(U/L) AST

(U/L) LDH

(U/L) Glicose

(mg/dL) Lactato

(mg/dL) Média 554,73 296,40 497,45 102,76 66,79

Desvio Padrão 307,89 137,89 144,24 8,31 34,50

CV(%) 55,50 46,52 29,00 8,09 51,65

Tabela 2: Avaliação bioquímica antes e após o exercício físico de cavalos de puxada, oriundos

do município de São Mamede, estado da Paraíba, Brasil.

Cavalos de Puxar

Animais antes do exercício

CK

(U/L) AST

(U/L) LDH

(U/L) Glicose

(mg/dL) Lactato

(mg/dL) Média 242,17 227,97 265,75 265,75 8,40

Desvio Padrão 50,32 101,31 29,38 29,38 2,72

CV(%) 20,78 44,44 11,06 11,06 32,34

Animais após exercício

CK

(U/L) AST

(U/L) LDH

(U/L) Glicose

(mg/dL) Lactato

(mg/dL) Média 643,37 278,67 353,95 158,56 114,06

Desvio Padrão 381,14 100,10 81,77 102,22 32,23

CV(%) 59,24 35,92 23,10 64,47 28,26

CK

A concentração média de CK nos animais considerados de esteira (animais que não

praticam exercícios com frequência) antes do exercício físico foi de 324,3±112,7 U/L,

enquanto após a atividade foi de 554,7±307,9 U/L, sendo possível constatar diferença

estatística após o esforço físico, a partir da elevação da sua concentração plasmática. De

acordo com Thrall (2007) na espécie equina, a meia vida plasmática da CK possui um tempo

de existência de duas horas.

Estudos realizados por Balarin et al. (2005), revelaram que equinos da raça Puro

Sangue Inglês, que eram submetidos a exercícios constantes, apresentavam reduções nos

índices de CK, e com o passar do tempo eles reduziam cada vez mais. No presente estudo,

28

onde os animais considerados de esteira não praticavam exercícios constantes e só corriam

para o seu respectivo puxada, os índices elevaram-se.

Resultados semelhantes ao presente estudo foram encontrados por Kaneko et al.

(1997), onde verificou-se um aumento significante dos níveis de CK sérica, em que equinos

que praticavam vaquejada recebiam dieta bastante rica em grãos. Através de dados coletados

dos proprietários dos animais avaliados nesse estudo, foi possível constatar que os animais em

sua maioria eram alimentados também com dieta rica em grãos, sendo os mesmos mantidos

em baias durante todo o dia e toda a noite, justificando os valores elevados dos níveis de CK

sérica obtidos.

Nos animais considerados de puxar (animais que praticam exercícios com frequência)

os níveis de CK antes do exercício físico foi de 242,1±50,32 U/L, enquanto após a atividade

foi de 643,4±381,1 U/L, constatando um aumento significativo após o esforço físico.

Equinos quando submetidos a esforços físicos e intensos em períodos curtos tendem a

aumentar de forma considerável os níveis plasmáticos de CK, em estudo realizado por Balarin

et al. (2005), obteve-se resultado semelhante ao encontrado no presente trabalho.

AST

Foram obtidos os seguintes valores para cavalos de esteira antes e após o exercício:

317,82±119,09 U/L e 294,03±139,96 U/L, respectivamente. Foi constatada uma diferença

reduzida entre os valores medianos, embora ambos os valores estejam dentro dos índices de

normalidade estabelecido por Kaneko et al. (1997), como parâmetro para avaliar a atividade

sérica de AST.

Valores contrários ao estudo foram encontrados por Harris et al. (1998) onde o mesmo

apresenta em sua discussão uma elevação nos níveis de AST nos animais que foram

submetidos a corrida, associado ao inadequado condicionamento físico, gerando um quadro

de desgaste muscular. Portanto, os valores de AST encontrados nesse estudo podem ser

decorrentes do bom estado nutricional que os animais apresentavam e a frequência de

exercícios. O aumento da atividade sérica de AST pode ser verificado 24 a 36 horas após a

lesão muscular, e, no presente estudo, as coletas foram realizadas logo após o exercício.

Para os cavalos de puxar antes e após o exercício foram encontrados os valores:

227,9±101,3 U/L e 278,67±100 U/L, respectivamente. Os valores se encontram dentro da

normalidade estabelecido por Kaneko et al. (1997), embora tenha havido um aumento

significativo após o esforço físico, resultados semelhantes encontrados por Harris et al.

29

(1998), onde os cavalos de seu estudo, após serem submetidos ao esforço físico, apresentaram

elevação plasmática da AST.

LDH

Nos cavalos de esteira, em repouso e após o exercício, os índices de média obtidos

para LDH foram: 489,5±161 U/L e 538,9±118,4 U/L, respectivamente.

Quando avaliados em repouso, os resultados obtidos no estudo se assemelham aos

obtidos por Thomassian et al. (2007), onde em seu trabalho obteve valor médio dos cavalos

em repouso, 470,5±165,0 U/L. Em seguida, apresentando elevação de seus valores no pós-

exercício, devido ao esforço físico cometido.

Nos equinos de puxar, em repouso e após o exercício, foram obtidas as seguintes

médias: 269,2±26,5 U/L e 353,9±81,77 U/L, respectivamente. Os valores obtidos foram

esperados dentro de sua normalidade, justificados anteriormente.

Os valores elevados da enzima LDH no estudo presente deverá estar ligado ao

aumento consecutivo dos índices de Lactato durante a realização do experimento, estando

ligado também à redução considerada do pH, facilitando ao aumento da permeabilidade das

membranas e consequentemente a liberação da enzima (TOLEDO et al., 2001).

GLICOSE

No presente estudo, os valores de glicemia apresentaram-se todos aumentados,

decorrentes do elevado esforço físico no exercício exercido pelos animais. De acordo com

Lopes et al., (2009); Rose & Hodgson (1994), afirmam que após o exercício físico, irá ocorrer

sempre a liberação de catecolaminas.

LACTATO

No estudo apresentado, os níveis de lactato demonstram seus índices elevados sendo

tanto para os cavalos de esteira e de puxar, ambos após o exercício. Os resultados obtidos são

justificados por Stockham; Scott (2011), onde durante a intensa atividade muscular haverá

aumento de glicólise e consequentemente a liberação de lactato oriundo do músculo.

30

5 CONCLUSÃO

De acordo com os dados obtidos no presente estudo, observa-se uma resposta

enzimática ao estresse provocado pelo exercício. Dentre as enzimas estudadas, ressalva-se a

importância das alterações encontradas no lactato, o que sugeriu a importância da não

insistência em forçar o animal ao esforço contínuo, por exercícios repetidas vezes. Desta

forma, evidenciou-se que a avaliação das enzimas musculares de animais submetidos a

exercícios seja de grande valia para a detecção de possíveis lesões musculares, que

clinicamente são impossíveis de serem detectadas.

31

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34

ANEXOS

35

Questionário feito para obtenção de dados dos animais

DUPLA 1

Cavalo esteira Cavalo de puxar

Idade: Idade:

Raça: Raça:

Peso: Peso:

Vacinas: Vacinas:

Manejo: Manejo:

Alimentação: Alimentação:

Doença recente: Doença recente:

Convive com outros animais? Quais? Convive com outros animais? Quais?

Frequência de exercícios:

Frequência de exercícios:

Participação em vaquejadas:

Participação em vaquejadas:

ANTES DO EXERCÍCIO ANTES DO EXERCÍCIO

FC: FC:

FR: FR:

APÓS O EXERCÍCIO APÓS O EXERCÍCIO

FC: FC:

FR: FR: