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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE PATOS - PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA MONOGRAFIA SEMIOLOGIA DOS EQUÍDEOS ACOMETIDOS POR ENFERMIDADES DO TRATO RESPIRATÓRIO INFERIOR NO SEMIÁRIDO PARAIBANO CONSIDERAÇÕES GERAIS ARTHUR GOMES 2017

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE SAÚDE E ... · Figura 1: Anatomia topográfica do sistema respiratório dos equinos..... 12 Figura 2: Anatomia topográfica ... Os

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL

CAMPUS DE PATOS - PB

CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

MONOGRAFIA

SEMIOLOGIA DOS EQUÍDEOS ACOMETIDOS POR ENFERMIDADES DO

TRATO RESPIRATÓRIO INFERIOR NO SEMIÁRIDO PARAIBANO –

CONSIDERAÇÕES GERAIS

ARTHUR GOMES

2017

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL

CAMPUS DE PATOS - PB

CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

MONOGRAFIA

Semiologia dos equídeos acometidos por enfermidades do trato respiratório inferior no

semiárido paraibano – considerações gerais

Arthur Gomes

Graduando

Prof. Dr. Eldinê Gomes de Miranda Neto

Orientador

Dezembro de 2017

FICHA CATALOGRÁFICA

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DO CSRT DA UFCG

M672s

Gomes, Arthur

Semiologia dos equídeos acometidos por enfermidades do trato

respiratório inferior no semiárido paraibano: considerações gerais / Arthur

Gomes. – Patos, 2017.

31f.

Trabalho de Conclusão de Curso (Medicina Veterinária) – Universidade

Federal de Campina Grande, Centro de Saúde e Tecnologia Rural, 2017.

“Orientação: Prof. Dr. Eldinê Gomes de Miranda Neto.”

Referências.

1. Tosse. 2. Secreção. 3. Desempenho. I. Título.

CDU 619:636.1

4

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL

CAMPUS DE PATOS – PB

CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

ARTHUR GOMES

Graduando

Monografia submetida ao Curso de Medicina Veterinária como requisito parcial para

obtenção do grau de Médico Veterinário.

ENTREGUE EM ....../....../........ MÉDIA: ______

BANCA EXAMINADORA

__________________________________ ______

Prof. Dr. Eldinê Gomes de Miranda Neto Nota

Orientador

__________________________________ ______

Méd. Vet. MSc. Josemar Marinho de Medeiros Nota

Examinador I

__________________________________ ______

Prof. MSc. Thiago Arcoverde Maciel Nota

Examinador II

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL

CAMPUS DE PATOS – PB

CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

ARTHUR GOMES

Graduando

Monografia submetida ao Curso de Medicina Veterinária como requisito parcial para

obtenção do grau de Médico Veterinário.

APROVADO EM ....../....../........

EXAMINADORES:

Prof. Dr. Eldinê Gomes de Miranda Neto

Orientador

Méd. Vet. MSc. Josemar Marinho de Medeiros

Examinador I

Prof. MSc. Thiago Arcoverde Maciel

Examinador II

RESUMO

GOMES, ARTHUR. Semiologia dos equídeos acometidos por enfermidades do trato

respiratório inferior no semiárido paraibano – considerações gerais. Patos, UFCG. 2017,

32p (Trabalho de conclusão de curso de Medicina Veterinária, Clínica Veterinária)

Os equinos podem ser acometidos por diversas enfermidades no trato respiratório,

quando isso acontece, surgirão sinais clínicos, levando a uma redução em seu desempenho,

necessitando de diagnóstico para que seja instituído um tratamento, com propósito de cura

para haver retorno a suas atividades normais e resguardar a vida do animal. O sistema

respiratório desempenha importantes funções como troca gasosa, que consiste na oxigenação

sanguínea e eliminação de gás carbônico, como também, manutenção do equilíbrio ácido-

base, metabolização e excreção de substâncias e termorregulação. Com isso, o desempenho

dos equinos atletas fica condicionado ao bom funcionamento do trato respiratório. Este

trabalho objetivou enfatizar as técnicas semiológicas empregadas na clínica médica dos

equídeos que são acometidos por enfermidades do trato respiratório inferior, como também a

etiologia e os principais sinais clínicos. Os principais meios de diagnóstico empregados na

clínica médica equina são a semiologia, principalmente, através da auscultação e percussão,

endoscopia, lavado broncoalveolar que permite a realização de cultura bacteriológica,

citologia, antibiograma da amostra obtida, radiografias e ultrassonografias. As enfermidades

abordadas no trabalho foram Hemorragia pulmonar induzida por esforço, Doença pulmonar

obstrutiva crônica, Doença inflamatória das vias aéreas, Pneumonia, Broncopneumonia,

Pleuropneumonia. Quando as enfermidades são diagnosticadas de forma rápida e eficiente,

um tratamento mais específico e eficaz poderá ser instituído com propósito da cura dos

equídeos para que possam voltar de forma mais rápida a desempenharem as suas atividades

normais.

Palavras-chave: tosse, secreção, desempenho.

ABSTRACT

GOMES, ARTHUR. Semiology of equines affected by diseases of the lower respiratory

tract without semiarid paraiban – general considerations. Patos, UFCG. 2017, 32p

(Work of conclusion of course of Veterinary Medicine, Veterinary Clinic)

Horses can be affected by several diseases in the respiratory tract, when it happens,

clinical signs will appear, leading to a reduction in its performance, requiring diagnosis for a

treatment to be instituted, with purpose of cure to return to their normal activities and protect

the life of the animal. The respiratory system plays important roles such as gas exchange,

which consists of blood oxygenation and elimination of carbon dioxide, as also, maintaining

the acid-base balance, metabolism and excretion of substances and thermoregulation.

Thereby, the performance of the equine athletes is conditioned by the proper functioning of

the respiratory tract. This work aimed to emphasize the semiological techniques employed in

the medical clinic of equidae that are affected by diseases of the lower respiratory tract, as

well as the etiology and the main clinical signs. The main means of diagnosis employed in

equine medical practice are semiology, mainly, through auscultation and percussion,

endoscopy, bronchoalveolar lavage that allows bacteriological culture, cytology, antibiogram

of the sample obtained, radiography and ultrasonography. The diseases addressed in the study

were effort-induced pulmonary hemorrhage, Chronic obstructive pulmonary disease,

Inflammatory disease of the airways, Pneumonia, Bronchopneumonia, Pleuropneumonia.

When diseases are diagnosed quickly and efficiently, a more specific and effective treatment

may be instituted for the purpose of curing equidae so that they can return more quickly to

performing their normal activities.

Keywords: cough, secretion, performance.

SUMÁRIO

RESUMO ................................................................................................................................... 6

ABSTRACT ............................................................................................................................... 7

LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................ 9

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 10

2 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................................. 11

2.1 O sistema respiratório ..................................................................................................... 11

2.2 Semiologia do sistema respiratório ................................................................................. 13

2.3 Principais afecções .......................................................................................................... 18

2.3.1 Hemorragia pulmonar induzida por esforço – HPIE ................................................... 18

2.3.2 Doença pulmonar obstrutiva crônica - DPOC.......................................................... 20

2.3.3 Doença inflamatória das vias aéreas – DIVA .......................................................... 21

2.3.4 Pneumonia/ Broncopneumonia/ Pleuropneumonia .................................................. 22

2.3.4.1 Bacteriana ......................................................................................................... 23

2.3.4.1.1 Rodococose em potros (Rhodococcus equi) .............................................. 23

2.3.4.2 Fúngica ............................................................................................................. 24

2.3.4.3 Virais ................................................................................................................ 25

2.3.4.4 Parasitárias ........................................................................................................ 25

2.3.4.4.1 Dictiocaulose (Dictyocaulus arnfieldi) ...................................................... 25

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 27

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 28

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Anatomia topográfica do sistema respiratório dos equinos............................ 12

Figura 2: Anatomia topográfica do pulmão dos equinos............................................... 13

Figura 3: Técnica semiológica de percussão com martelo e plexímetro....................... 17

Figura 4: Técnica semiológica de palpação do toráx..................................................... 17

Figura 5: Técnica semiológica que utiliza saco plástico para exacerbar sons para

ausculta............................................................................................................................

18

Figura 6: Técnica semiológica de ausculta pulmonar................................................... 20

10

1 INTRODUÇÃO

Os equinos são fisiologicamente atletas, quando acometidos por doenças no seu

sistema respiratório irão apresentar redução em sua performance atlética, com isso, prejuízos

incalculáveis irão surgir, sejam eles a curto, médio ou longo prazo, pois altas quantias são

investidas desde o nascimento até que seja atingida a idade adulta, e seu futuro reprodutivo

está diretamente ligado ao seu desempenho atlético, uma vez que, animais com alta

performance serão escolhidos para difundir sua genética como garanhões e matrizes, e

também, com seu alto desempenho irão ser comercializados por altas somas.

Existem inúmeras enfermidades diagnosticadas no trato respiratório inferior dos

equinos e durante esse trabalho de revisão de literatura serão abordas as que apresentam maior

importância clínica e principalmente vem sendo diagnósticas na rotina clínica do semiárido

paraibano, e são elas: hemorragia pulmonar induzida por esforço, doença pulmonar obstrutiva

crônica, doença inflamatória das vias aéreas, pneumonia/broncopneumonia/pleuropneumonia

(bacteriana - rodococose em potros; fúngica; virais; parasitárias – dictiocaulose).

Quando o diagnóstico destas enfermidades é realizado de forma rápida e precisa,

poderá ser iniciado o tratamento correto de forma precoce e contribuir para uma melhor e

mais rápida recuperação, fazendo com que o animal acometido volte a desempenhar suas

atividades.

Atualmente os principais meios de diagnóstico empregados na clínica médica equina

são: a semiologia através da ausculta e percussão, endoscopia, lavados broncoalveolar (que a

partir deles serão realizadas culturas bacteriológicas, citologia, antibiograma), radiografias e

ultrassonografias.

Este trabalho teve por objetivo descrever as principais afecções do sistema respiratório

em equinos, enfatizando a etiologia e os sinais clinicos, apresentando também os principais

métodos de diagnóstico, para que haja um melhor entendimento de cada afecção.

11

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 O sistema respiratório

O sistema respiratório desempenha várias funções dentro do organismo, sendo a

principal delas a troca gasosa, que consiste na oxigenação sanguínea e eliminação de gás

carbônico, esse processo é chamado de hematose. Outras funções são de manutenção do

equilíbrio do ácido-base, metabolização e excreção de substâncias e termorregulação

(FEITOSA, 2004).

O sistema respiratório apresenta mecanismo de defesa próprio para o combate de

partículas inaladas. Os principais mecanismos são o de reflexo da tosse ou do espirro, a

presença de cílios, muco, macrófagos alveolares e a própria respiração através da expiração

(FEITOSA, 2004).

O sistema respiratório (Figura 1) divide-se em trato respiratório superior e inferior;

trato respiratório superior compreende o nariz, cavidade nasal, conchas nasais (dorsal, médio

e ventral), meato nasais (dorsal, médio e ventral), seios paranasais (maxilar, frontal, palatino,

esfenoidal e da concha dorsal) e nasofaringe e o inferior compreende a laringe e suas

cartilagens (epiglótica, tireóidea, aritenóidea e cricóiedea), traquéia e pulmão (KÖNIG, 2011).

.

Figura 1: Anatomia topográfica do sistema respiratório dos equinos

Fonte: Casasnovas, Ayuda e Abenia (2014).

12

Outra divisão aceita para o trato respiratório, leva em consideração a função

desempenhada por cada segmento, sendo assim divido em porção condutora e em porção

respiratória. Junqueira e Carneiro (1999) determinaram que a porção condutora compreende

do nariz aos bronquíolos terminais e a porção respiratória dos bronquíolos respiratórios até os

alvéolos pulmonares.

Os pulmões são órgãos pares (Figura 2), dividido em direito e esquerdo, e que está

situado na cavidade torácica revestida pela pleura; sua coloração é rosa claro. O pulmão está

dividido em lobos, sendo lobos cranial, caudal e acessório, no pulmão direito e lobo cranial e

caudal, no pulmão esquerdo (GETTY, 1986).

Figura 2: Anatomia topográfica do pulmão dos equinos

Fonte: Schwarze e Schröder (1970).

Dyce (2004) descreve que o parênquima pulmonar é composto pelo brônquio principal

direito e esquerdo (que surgem na bifurcação da traquéia), vasos pulmonares e tecido

conjuntivo. Os brônquios principais dividem-se em brônquios lobares, que se dividem em

brônquios segmentares, que diminuem o seu tamanho passando a serem chamados de

bronquíolos que são divididos em primários, secundários, terminais e respiratórios. Dos

bronquíolos respiratórios surgem ductos que irão desembocar em sacos alveolares, que

contém os alvéolos envolvidos pelos capilares sanguíneos (GETTY, 1986; KÖNIG, 2011).

Externamente o pulmão está delimitado de acordo com Feitosa (2004) da seguinte

maneira: o limite anterior se inicia na musculatura da escápula, o superior na musculatura

dorsal e o posterior ao se observar o cruzamento de linhas que passam, imaginariamente, nos

espaços intercostais (EIC) com linhas imaginárias e horizontais, que passam sobre a

13

tuberosidade ilíaca (linha ilíaca no 17° EIC), tuberosidade isquiática (linha isquiática, no 14°

EIC) e na articulação escapulo-umeral (também chamada de linha do encontro, localizada

entre 8° e 10° EIC).

2.2 Semiologia do sistema respiratório

As doenças sejam de qualquer sistema, são caracterizados por sinais clínicos. As

principais manifestações clínicas em afecções do sistema respiratório são as presenças de sons

anormais, redução da capacidade ou tolerância ao exercício, febre, corrimento nasal, epistaxe.

Os equinos ao apresentarem dificuldade respiratória tendem a estender a cabeça e pescoço

com objetivo de diminuir a resistência para que ocorra o transporte de ar (SPEIRS, 1999).

O primeiro passo a ser tomado, é a identificação do sistema afetado. Algumas

afecções, se realizado o exame clínico de forma correta, com a utilização das técnicas

adequadas e que possam abrangir todas as possíveis enfermidades, reduz-se ao máximo à

utilização de meios diagnósticos complementares para a obtenção do diagnóstico, sendo

necessário o exame complementar com o intuito de realizar diagnósticos diferenciais ou com

o objetivo de instituir um tratamento mais eficaz. (SPEIRS, 1999; FEITOSA, 2004).

De acordo com Speirs (1999) e Feitosa (2004) o exame clínico deve ser realizado com

o animal em repouso e devem ser considerados: o histórico, que o clínico irá obter através da

anamnese, onde o máximo de informações obtidas, tais como a queixa clínica, a alimentação,

informações de quando e como começou a queixa clínica, a evolução, se apenas aquele

animal está sendo afetado ou outros do rebanho e se há outros (quantos), deve-se também

buscar informações de histórico sanitário do animal e do rebanho, os tratamentos realizados, a

forma como o animal respira, se tem tosse e em qual frequência, se há presença de corrimento

nasal e qual sua forma e quantidade, e também informações do ambiente onde o animal vive.

Casasnovas, Ayuda e Abenia (2014) descrevem que durante a anamnese devem ser

levados em consideração: idade e raça do animal (existência de defeitos congênitos e as

enfermidades que são características por idade), sistema de criação (intensivo, semi-intensivo

e extensivo), programas de vacinação e vermifugação e a observação de enfermidades

prévias.

Feitosa (2004) relata que durante e após a anamnese, deve se realizar a inspeção, que

consiste em observar/olhar o animal como um todo, sendo a inspeção direcionada ao sistema

respiratório.

14

O intuito principal da inspeção é observar a quantidade de movimentos respiratórios

por minuto, o tipo de respiração, o ritmo da respiração e as alterações de volume e forma do

tórax (FEITOSA, 20004; CASASNOVAS; AYUDA E ABENIA, 2014).

Speirs (1999) relata que a frequência respiratória de equinos adultos varia entre 18 a

20 movimentos respiratórios por minuto, sendo que em potro a frequência normal oscila de 20

a 40 movimentos respiratórios por minuto na primeira semana de vida e vai de 60 a 80

movimentos respiratórios por minuto em até uma hora pós-parto.

Durante a inspeção as alterações da frequência respiratória que podem ser notadas são:

taquipnéia (aumento da frequência respiratória), bradipnéia (diminuição da frequência

respiratória) e a apnéia (ausência total de respiração) (FEITOSA, 2004).

Fisiologicamente o tipo da respiração é costo-abdominal, no entanto, quando

acometidos por alguma enfermidade podem ser manifestados os padrões costal e abdominal

(FEITOSA, 2004). A respiração abdominal ocorre em processos dolorosos da cavidade

torácica, que resultam em uma redução do movimento de tórax e aumento do movimento

abdominal, para que haja o transporte de ar de forma eficiente; já o inverso ocorre em

respiração costal, em processos dolorosos da cavidade abdominal, que irão acarretar em uma

diminuição dos movimentos abdominais e aumento de movimentação torácica para que possa

acontecer a passagem do ar para todo o sistema respiratório. Quando ocorrem movimentos

excessivos de abdômen e diafragma, o ânus movimenta-se para crânio-caudalmente (SPEIRS,

1999).

O ritmo normal da respiração de um equino é caracterizado por uma inspiração

seguido de uma pequena pausa, posteriormente uma expiração e uma pausa maior. O ritmo

pode ser caracterizado como normal ou eupnéia e dificultosa ou dispnéia. A dispnéia pode ser

do tipo inspiratória, expiratória ou mista (FEITOSA, 2004).

Speirs (1999) define que os corrimentos oriundos do sistema respiratório podem ser

classificados como: seroso, de aspecto fino e transparente, purulento de aparência viscosa,

opaca e amarelada e sanguinolento, sendo possível a união de dois ou mais tipos de

corrimento nasal com quantidade variável a depender da extensão e gravidade da lesão..

O odor é variável, indo desde a ausência de cheiro até putrefação, que pode indicar

necrose e a presença de bactérias anaeróbicas (SPEIRS, 1999; FEITOSA, 2004).

A percussão (Figura 3) deve ser realizada com martelo e plexímetro (forma indireta),

com os dedos ou com martelo (forma direta), onde são deferidos de 2 a 4 golpes sequenciados

em cada espaço intercostal, em sentido cranial para caudal e dorso para ventral, sempre

realizando a comparação entre os dois lados do tórax, objetivando a obtenção de um som que

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pode ser alterado fisiologicamente devido a espessura da parede costal, onde em animais mais

magros, irão apresentar sonoridade aumentada (hipersonora) e em animais obesos, sonoridade

reduzida ou abafada; estas alterações causadas por expessura de parede devem ser conhecidos

pelo médico veterinário. O som produzido fisiologicamente centralmente é claro, caudalmente

timpânico e ventralmente sub-maciço (SPEIRS, 1999; CASASNOVAS; AYUDA E

ABENIA, 2014).

As alterações devem se localizar bem próxima a área percutida, pois a penetração dos

estímulos percutidos tem alcance de quatro a sete centímetros no pulmão. A percussão deve

ser realizada em sentido dorsoventral e craniocaudal, em toda a área torácica, (FEITOSA,

2004).

Feitosa (2004) descreve que os sons patológicos diagnosticados são o de ampliação da

área de percussão onde o som claro passa para timpânico, o som metálico indicando presença

de gás em execesso, o som maciço ou sub-maciço indicando área de condensação, a linha de

percussão horizontal quando há mudança do som claro para sub-maciço ou maciço em linha

reta que indica presença de líquidos.

Figura 3: Técnica semiológica de percussão com martelo e plexímetro

Fonte: Casasnovas, Ayuda e Abenia (2014).

A palpação deve ser realizada com a mão espalmada e com as pontas dos dedos

apoiadas nos espaços intercostais com gradativa pressão dos dedos, sempre observando as

reações do animal (Figura 4). Durante a palpação podem ser notadas alterações superficiais

16

como fraturas ou fissuras em costelas e também os sinais clássicos da inflamação (dor, calor,

rubor) (SPEIRS, 1999; FEITOSA, 2004; CASASNOVAS; AYUDA E ABENIA, 2014).

Figura 4: Técnica semiológica de palpação do tórax

Fonte: Casasnovas, Ayuda e Abenia (2014).

Feitosa (2004), Casasnovas, Ayuda e Abenia (2014) afirmam que a ausculta é o

melhor método para diagnóstico das enfermidades pulmonares, devendo ser realizada de

forma ordenada, simétrica e comparativa, em um ambiente silencioso, com pelo menos de 4 a

5 movimentos respiratórios auscultados em cada ponto, no sentido cranial para caudal e de

dorsal para ventral.

Caso haja dificuldade para a auscultação, pode ser utilizado um saco plástico (Figura

5) para que o equino se esforce mais em respirar, fazendo com que respire de forma mais

profunda, intensificando os sons (CASASNOVAS; AYUDA E ABENIA. 2014).

Speirs (1999) aponta que ainda com o intuito de estímulo da respiração com saco

plástico, podem ser utilizados estimulantes respiratórios (hidrocloreto de doxapram,

hidrocloreto de lobelina) e obstrução manual das narinas, com intuito de estimular

movimentos respiratórios.

Feitosa (2004) expressa que os ruídos podem estar aumentados ou diminuídos

fisiologicamente; aumentados em animais de tórax delgado, com frequência respiratória

elevada e diminuída em animais de tórax espesso ou com frequência respiratória diminuída.

17

Figura 5: Técnica semiológica que utiliza saco plástico para exacerbar sons para

ausculta

Fonte: Casasnovas, Ayuda e Abenia (2014).

Feitosa (2004) descreve que os sons auscultados fisiologicamente são os ruídos

traqueobrônquicos e o bronco-bronquiolar, sendo os traqueobrônquicos produzidos pela

passagem do ar pelos grandes brônquios e porção final da traquéia, auscultado na parte cranial

do tórax, ocorrendo tanto na inspiração como na expiração, já o bronco-bronquiolar produzido

pela vibração das paredes de brônquios menores e bronquíolos, podem ser ouvidos nos terços

caudais do tórax quando ocorre a inspiração.

Os ruídos que diferem dos fisiologicos são de crepitação grossa, onde há a presença de

líquido no interior de brônquios em quantidade exagerada, o som produzido assemelha-se ao

estourar de bolhas, já o ruído de crepitação fina lembra o roçar de cabelos, próximo à orelha,

ou ao estourar pequenas bolhas, o sibilo é considerado uma manifestação sonora aguda, de

alta intensidade, lembrando um assobio, o ronco é um ruído grave, de alta intensidade, o roce

pleural é um ruído provocado pelo atrito das pleuras visceral e parietal o sopro, roce ou ruído

cardio-pleural é um ruído rude, semelhante ao raspar de duas superfícies ásperas, que é

auscultado durante a inspiração e coincide com a movimentação cardíaca, sopro ou ruído

cardio-pulmonar é um ruído suave, de baixa intensidade, semelhante ao soprar com os lábios

apertados, existindo ainda, ruídos do tipo acessório, que são aqueles que perturbam a

auscultação, que são os de contrações dos músculos cutâneos, crepitações dos pelos, ruídos de

deglutição, ruídos gastro-entéricos e mugidos (SPEIRS, 1999; FEITOSA 2004).

18

Figura 6: Técnica semiológica de ausculta pulmonar.

Fonte: Casasnovas, Ayuda e Abenia (2014).

2.3 Principais afecções

2.3.1 Hemorragia pulmonar induzida por esforço – HPIE

Conhecida também como síndrome do cavalo sangrador (SMITH, 1993), de caráter

cosmopolita, que se observa em aproximadamente 80% dos equinos atletas em graus variados

sendo muitos deles assintomáticos e com número de óbitos baixo (DA NOVA, 2000;

RADOSTITS et al., 2002). Costa (2004) afirma que o acometimento de equinos por HPIE

aumenta com a idade. Radostits et al.(2002) e Thomassian (2005) apontam que é um

acometimento raro em pôneis, e que já foi relatado em camelos e cães de corrida. Hinchcliff

(2000) cita em sua obra que a HPIE ocorre comumente nos cavalos de esporte, e é uma

consequência de exercícios intensos. Não há predileção por sexo, mas a maior incidência de

animais acometidos por HPIE são de machos castrados, seguido de fêmeas e por fim os

machos inteiros (OTAKA et al., 2014).

A patogênese ainda é muito discutida, mas acredita-se que fatores estressantes antes de

corridas, inflamações nas vias áreas superiores e/ou inferiores, fatores ambientais

(temperatura, umidade do ar, variações de pressão atmosférica), alterações na hemostasia ou

alterações sistêmicas que possam modificar a viscosidade sanguínea e a forma das hemácias

19

podem desencadear HPIE (ERICKSON, 2002; RADOSTITS et al. 2002; FEITOSA, 2004;

BACCARIN, 2005; THOMASSIAN, 2005).

Erickson (2000) e Costa (2004) descrevem que são inúmeras as causas e mecanismos

que podem desencadear a HPIE, mas não explicam a causa fundamental e dentre elas estão:

hiperviscosidade sanguínea após o exercício, impactos nos lobos pulmonares causados por

movimentos extremos do aparelho locomotor, hipertensão pulmonar, inflamações nos

pulmões e obstruções das vias aéreas.

De acordo com Radostits et al. (2002) e Espinoza (2005) para que ocorra o

extravasamento de sangue dos vasos, durante atividade física intensa um aumento de pressão

a ponto de exceder a resistência dos vasos deve ocorrer.

Segundo Thomassian (2005) para que o animal venha desenvolver HPIE sua

performance deve se aproximar dos 14 metros por segundo, já Baccarin (2005) afirma que

acima de 7 metros por segundo, o animal pode apresentar a HPIE sendo que alguma alteração

prévia nos pulmões podem facilitar o surgimento da enfermidade, como a idade, pois acomete

em sua grande maioria animais mais velhos.

Segundo Doucet e Viel (2002) afirmam que HPIE é caracterizada pela presença de

sangue no segmento traqueobrônquico e Costa et al. (2003) o complementa afirmando que

HPIE é caracterizada pela presença de sangue livre e oriundo dos pulmões após atividade

física intensa, sangue este que pode ser observado por aparelho de endoscópio ou

sangramento nasal (epistaxe).

Costa (2004) aponta que HPIE não apresenta sinais prévios, e cada indivíduo

apresenta uma sintomatologia inicial diferenciada, bem como variação quanto às respostas

individuais frente a cada episódio de HPIE, principalmente em relação à performance.

Radostits et al.(2002), Baccarin (2005) relatam que sinais clínicos são redução súbita

ou parada da performance durante a prova, tosse, deglutição aumentada, respiração dificultosa

e anormal e epistaxe. A epistaxe pode ser observada logo após o término da prova ou depois

de alguns minutos/horas quando é permitido que o animal baixe a sua cabeça podendo ocorrer

bilateralmente, mas nem todos os animais irão apresentar esse sangramento, onde muitas

vezes será notado apenas no exame de endoscópio ou aspirado traqueobrônquico.

O diagnóstico é baseado na anamnese, sinais clínicos, endoscopia, aspirado

traqueobrônquico e lavado broncoalveolar (RADOSTITS et al., 2002).

Oseliero e Piotto Junior (2003), Costa (2004), Baccarin (2005) e Thomassian (2005)

descrevem que através do aparelho de endoscópio deve ser feito uma avaliação rigorosa das

vias aérea superior e inferior observando a presença ou não do sangue. O exame deve ser

20

realizado num período de 30 a 90 minutos após o exercício e caso seja encontrado sangue ou

coágulo, avalia-se a quantidade e faz a sua classificação numa escala de 0 a 5, onde: grau 0

indica que não há sangue visível; grau 1 são notados traços de sangue e/ou coágulos no terço

final da traquéia; grau 2 são observados filetes de sangue e/ou coágulos e na traquéia e

brônquios; grau 3 a quantidade de sangue superior ao grau 2, mas não ocorre a formação de

poças na traquéia e brônquios; grau 4 é evidenciado grandes quantidades de sangue na

traquéia, laringe e faringe; e grau 5 ocorre de maneira similar ao grau 4 com presença de

epistaxe.

As coletas para aspirado traqueobrônquico e lavado broncoalveolar podem ser

realizados durante o exame do endoscópico e neles podem ser encontrados eritrócitos,

hemosiderófagos intra-alveolares (habitualmente são macrófagos onde pode ser observada a

presença de hemossiderina), neutrófilos e bactérias. (ERICKSON, 2002; RADOSTITS et al.

2002).

Deve ser realizado o diagnóstico diferencial de micose de bolsa gutural, hematoma

etmoidal, hemangiossarcoma, fibrilação atrial e pleuropneumonia (RADOSTITS et al. 2002).

2.3.2 Doença pulmonar obstrutiva crônica - DPOC

DPOC é uma síndrome inflamatória obstrutiva das vias aéreas inferiores, por isso,

atualmente o termo mais aceito para esta síndrome é Obstrução Recorrente das Vias Aéreas

(ORVA), apresentando uma série de sinônimos, tais como: enfisema crônico, bronquite

crônica, bronquiolite crônica (ROBINSON et al., 1996; HOFFMAN, 2003; SCHUCH, 2005;

THOMASSIAN, 2005), porém, o termo DPOC ainda é o termo mais utilizado mundialmente.

Léguillette (2003) descreve que DPOC acomete animais acima dos cinco anos, e

Tilley, Luís e Ferreira (2010) complementam afirmando que acomete animais de meia idade a

animais mais velhos. Outra enfermidade com sinais bastante semelhantes, porém mais

brandos e que afeta os animais jovens de dois a três anos de idade chamada é a doença

inflamatória das vias aéreas (DIVA) (LÉGUILLETTE, 2003). Davis e Rush (2002) afirmam

que acomete todos os equinos independentemente da sua raça ou sexo.

Lavoie (2003) e Robinson et al. (2003) afirma que os animais permanentemente

estabulados ou que passam muito tempo reclusos em baias inalam grandes quantidades de

partículas da cama das baias que geralmente são de areia, maravalha ou serragem acabam

desenvolvendo a DPOC; os autores ainda asseguram que ao alimentar os animais com feno de

21

má qualidade (que contém grandes quantidades de poeira e fungos) e/ou alimentá-los com

concentrado farelado, podem levar ao aparecimento desta síndrome.

Tilley, Luís e Ferreira (2010) relatam que a DPOC é caracterizada por um marcado

esforço respiratório do animal em repouso e que interfere em seu desempenho, e Amaral et al.

(1999) expressa que a DPOC inicialmente pode ser notada apenas como uma queda na

performance do animal caracterizando um aspecto sub-clínico da síndrome, onde muitas

vezes por falhas no diagnóstico é confundido com um condicionamento físico inadequado

para a atividade física desempenhada pelo animal. Durante esse quadro sub-clínico Moore

(1996) observou que o animal ocasionalmente pode apresentar tosse durante o início das

atividades físicas ou alimentação.

Davis e Rush (2002) descrevem que com o evoluir do quadro a intensidade e a

frequência da tosse aumentam, sendo ela seca e crônica. Moore (1996) descreve que os

animais apresentam dispnéia e intolerância ao exercício mesmo estando em repouso. Também

é observada dispnéia expiratória acentuada com formação de linha de esforço como

consequência da hipertrofia do músculo abdominal oblíquo e dilatação das narinas, na

ausculta notam-se sons crepitantes grossos e sibilos (RUSH, 1997; AINSWORTH E BILLER,

2000; HOFFMAN, 2003).

De acordo com Melo (2007) estas alterações podem ser sazonais, e reforça o que

Lavoie (2003) e Robinson et al. (2003) afirmaram, dizendo que os animais acometidos por

essa síndrome estão dentro de cocheiras se alimentando de feno e ração farelada. Léguillette

(2003), Tilley, Luís e Ferreira (2010) afirmam que havendo a retirada dos animais das

condições que estavam causando a síndrome irá ocorrer uma reversão dos sinais clínicos.

O diagnóstico consiste na história clínica típica e na constatação dos sinais clínicos

durante o exame físico. (THOMASSIAN, 2005).

2.3.3 Doença inflamatória das vias aéreas – DIVA

Hoffman (1999) e Léguillette (2003) descrevem que DIVA é uma enfermidade

semelhante à DPOC, porém que afeta animais mais jovens e seus sinais são mais brandos.

Silva (2009) descreve que é uma enfermidade difícil de ser descrita, mais alguns sinais

clinicos podem auxiliar; os sinais são de tosse, secreção nasal, queda na performance atlética,

recuperação lenta pós exercício. Léguillette (2003) descreve que afeta animais de dois a três

anos de idade.

22

A doença é caracterizada por inflamação do parênquima pulmonar, com isso irá

apresentar broncoespasmo e presença de muco pelo trato respiratório, levando animais a

desenvolverem um quadro clinico de tosse (SILVA, 2009).

Hoffman (1995) e Mazam (2003) afirmam que alguns animais que não desempenhem

exercícios anaeróbicos de alta performance podem apresentar a DIVA sem que sinais clínicos

sejam evidenciados ou tenham queda no desempenho e que só irão demonstrar sinais clínicos

quando são expostos a condições extremas de esforço.

Ramzam et al.(2008) afirmam que a DIVA pode ser ocasionada por causas infecciosas

(vírus e bactérias) e não infecciosas (alérgenos e partículas tóxicas), e de acordo com

Holcombe (2005) afirma que a etiologia é desconhecida e multifatorial.

O diagnóstico é baseado nos sinais clínicos, endoscopia (observar presença de muco),

citologia (presença de células inflamatórias) e bacteriologia (CHRISTLEY, RUSH, 2006;

SILVA, 2009). Viel (1997) detectou na ausculta aumento dos sons de ruídos bronquiais, e

quando realizado a ausculta com os animais respirando em sacos plásticos os animais

apresentavam sons de sibilos.

2.3.4 Pneumonia/ Broncopneumonia/ Pleuropneumonia

De acordo com Smith (1993) e Thomassian (2005) a pneumonia afeta principalmente

potros e cavalos adultos; caracterizada por uma inflamação do parênquima pulmonar que em

alguns casos pode evoluir em grau e extensão, tornando-se extensa e difusa, afetando os

brônquios (broncopneumonia) e da pleura parietal (pleuropneumonia).

Os principais agentes causadores são as infecções bacterianas, mas que também pode

ser causado por infecções fungicas, virais, ciclo pulmonar de parasitas, reações de

hipersensibilidade, traumas, neoplasias, metástases e também acidentes na passagem de sonda

nasogastrica que acarrete intubação pulmonar e por consequência uma pneumonia por

aspiração, quadro que pode ser desenvolvido no decorrer de anestesias, a presença de corpos

estranhos, exercícios esgotantes que causem adinamia, traumas e ferimentos na traquéia ou

tórax (RADOSTITS et al., 2002).

Smith (1993) descreve que os sinais característicos da pneumonia são aumento na

frequência respiratória, intolerância a exercício, corrimento nasal mucoso, muco-hemorrágico

ou mucopurulento, tosse podendo ser produtiva, febre intermitente (40 a 41 ºC) e com o

avançar do quadro diminuição do peso e anorexia. Com a extensão do quadro pulmonar

23

atingindo a pode ser observado dor intensa, relutância ao se movimentar, dor ao urinar ou

defecar.

O diagnóstico é realizado com base nos sinais clínicos e após exame físico geral e

especifico, sendo realizadas auscultação e percussão minuciosa (RADOSTITS et al., 2002).

2.3.4.1 Bacteriana

Os principais agentes patogênicos causadores de pneumonias em cavalos adultos

(associados principalmente com infecções primárias causadas por vírus) e potros (ocasionadas

por imunodeficiência) são os Streptococus zooepidemiccus, Staphylococcus aureus,

Pasteurella hemolitica, Klebsiela pneumoniae, Escherichia coli, Rhodococcus equi,

Bordetella bronchisepticus, Salmonella spp., Actinobacilus sp., Mycoplasma sp., entre outras

(THOMASSIAN, 2005).

De acordo com Radostits et al. (2002) estes agentes chegam ao trato respiratório

principalmente por meio de inalação e aspiração, como também através da via hematógena,

onde irão colonizar o parênquima pulmonar, após o sistema de defesa pulmonar ser

transpassado, podendo haver formação de abcessos únicos ou multiplos.

Durante o exame físico geral pode ser percebido odor fétido, decorrente da infecção

bacteriana e/ou necrose do parênquima pulmonar. Os sons observados a ausculta do pulmão

são de aumento dos sons ásperos e intensidade dos sons expiratórios, conforme o quadro

evolui nota-se sons crepitantes finos; e na presença de secreções, inflamações ou estenose nos

pulmões são auscultados chiados expiratórios (RADOSTITS et al., 2002).

Havendo realização de aspirado traqueal são encontrados neutrófilos degenerados com

presença de bactérias fagocitadas, material necrosado e células epiteliais danificadas. O

material aspirado deve ser encaminhado para cultura, coloração de Gram e citológico, para

que o diagnóstico etiológico seja realizado com precisão (SMITH, 1993).

2.3.4.1.1 Rodococose em potros (Rhodococcus equi)

O R. equi além de causar broncopneumonia, causa enterite e linfadenite em potros,

com idade de 1 a 5 meses e com menor frequência abcessos subcutâneos, artrites sépticas e

uveítes ( PRESCOTT, HOFFMAN, 1993; RADOSTITS et al. 2002). Takai (1997) descreve

que o R. equi é uma bactéria Gram positiva, aeróbica estrita, e que é facilmente encontrado no

24

trato gastrointestinal de potros. Existem fortes indícios que os potros se infectam devido à

baixa imunidade.

Prescott e Hoffman (1993), Takai et al.(1994) afirmam que os animais podem se

infectar através da ingestão das fezes (coprofagismo), pela ingestão de pastagens

contaminadas ou pela inalação dos microrganismos. Smith (1993) relata que as

superpopulações de equinos favorecem o aparecimento da enfermidade.

Os sinais descritos por Prescott e Hoffman (1993) são de febre (41° C), taquipnéia,

tosse, podendo ou não haver descarga nasal, e Radostits et al. (2002) descreve também que há

dificuldade respiratória e atraso no crescimento.

Smith (1993) e Radostits et al. (2002) apontam que há formação de abcessos, com isso

a utilização de ultrassonografia e radiografias são de extrema importância, pois os abcessos

irão causar poucas alterações a ausculta, que alguns casos notam-se sons crepitantes e

sibilosos; na ultrassonografia pode ser observado consolidação pulmonar e nas radiografias

torácicas são detectadas lesões nodulares e cavitárias, e com a cronicidade são observados

linfadenopatia traqueobrônquica e mediastínica cranial.

2.3.4.2 Fúngica

As pneumonias causadas por fungos ocorrem em menor frequência, mas causam

processos graves e de quadros agudos. Os principais agentes etiológicos são Aspergillus sp.,

Alternaria, Riffizopus sp., Candida spp., Cryptococcus neoformans, Histoplasma capsulatum,

Coccidioides immitis, entre outros (THOMASSIAN, 2005).

Radostits et al. (2002) afirma que fungos afetam cavalos imunossuprimidos ou

normais, instalando-se nos pulmões através da inalação de aerossóis que em sua grande

maioria estará presente na poeira da cama das baias e no feno. Os sinais são bastante

semelhantes à pneumonia do tipo bacteriana, mas o animal pode apresentar hemoptise.

O diagnóstico pode ser difícil, pois partículas fúngicas podem ser encontradas nos

aspirados ou lavados bronquioalveolares de animais saudáveis, para que seja confirmada a

pneumonia fúngica, deve ser comprovado que o fungo está contribuindo para o processo de

inflamação do parênquima pulmonar. Radiografias e ultrassonografias podem revelar um

padrão miliar onde apareceram múltiplos pontos focais na periferia dos pulmões (SMITH,

1993).

25

2.3.4.3 Virais

Vírus afetam em sua grande maioria o trato respiratório superior, o seu papel

fundamental para o desenvolvimento de pneumonias é que irão causar uma lesão inicial no

sistema de defesa do trato respiratório, facilitando a infecção por bactérias e fungos. As

pneumonias virais são causadas principalmente por influenza equi A1 e A2. (THOMASSIAN,

2005)

2.3.4.4 Parasitárias

Conhecida como verminose pulmonar, bronquite parasitária e pneumonia verminótica,

Thomassian (2005) e Boyle (2006) descrevem que os principais parasitas causadores de

pneumonias são o Parascaris equorum e Dictyocaulus arnfieldi, sendo o P. equorum o maior

causador de enfermidade gastrointestinal em potros recém-desmamados, porém, ocorre uma

fase do seu ciclo de vida no pulmão e D. arnfieldi está associado a animais mais velhos.

2.3.4.4.1 Dictiocaulose (Dictyocaulus arnfieldi)

A dictiocaulose é causada pelo nematoda Dictyocaulus arnfieldi, um parasita de

distribuição mundial, que acomete principalmente os animais mais velhos, com idade entre 5

e 8 anos e em períodos em que a temperatura ambiente é mais baixa, pois suas larvas são

muito sensíveis a temperaturas elevadas (CORREA et al., 2007).

De acordo com Urquhart et al. (2008) o D. arnfield está localizado na traquéia e nos

brônquios, em especial nos lobos diafragmáticos. D. arnfieldi é caracterizado

morfologicamente como um parasita esbranquiçado, longo e fino, apresentando tamanho

médio de 16 centimentros de comprimento, já Smith (1993) e Riet-Correa et al. (2007)

relatam que o tamanho médio é de 10 centimetros. Fortes (2004) aponta que as fêmeas são

maiores que os machos.

O D. arnfieldi é observado com maior frequência em asininos, que são portadores, mas

dificilmente apresentam algum sinal clínico, servindo para reprodução do parasita e

reservatório/meio de transmissão para equinos (BOYLE, 2006; OLIVEIRA et al., 2014).

Radostits et al. (2002) descrevem que as infecções pelo D. arnfield em asininos podem

persistir por toda a vida e em equinos acometendo em sua grande maioria os animais adultos.

26

Riet-Correa et al. (2007) aponta que os animais desenvolvem resistência a cada infecção, mas

condições de estresse, desencadeiem o surgimento dos sinais.

Smith (1993) aponta que as infecções por D. arnfield podem acometer apenas um

animal ou mais animais de uma só vez no mesmo rebanho, pois a contaminação ocorre

através da ingestão das pastagens com a presença dos ovos eclodidos do parasita.

Smith (1993) e Radostits et al. (2002) relatam que os sinais em animais adultos podem

ser imperceptíveis, e em potros apresentam sinais clínicos de tosse crônica, taquipnéia e

dispnéia, esforço ao respirar, presença de exsudato e estertores pulmonares e chiados a

auscultação. O diagnóstico é clínico associado ao exame parasitológico. No exame

parasitológico serão encontrados ovos do D. arnfield (SMITH, 1993; RADOSTITS et al.,

2002).

27

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Existem inúmeras patologias que acometem o trato respiratório inferior dos equinos de

importancia clínica, tendo algumas delas alta morbidade e moderada letalidade. Com isso, o

conhecimento sobre essas patologias é essencial para uma melhor intervenção no sentido de

curar os animais.

O diagnóstico rápido e preciso das enfermidades do trato respiratório inferior dos

equinos se faz necesário, para que haja um tratamento eficaz, tendo em vista que os animais

necessitam voltar aS suas atividades.

28

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