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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE TAINARA SARDEIRO DE SANTANA O IMPACTO DA CIRURGIA DE CATARATA SENIL SOBRE A QUALIDADE DE VIDA DE PACIENTES ATENDIDOS EM CAMPANHA ASSISTENCIAL Goiânia 2015

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS DA SADE

    TAINARA SARDEIRO DE SANTANA

    O IMPACTO DA CIRURGIA DE CATARATA SENIL SOBRE A QUALIDADE DE VIDA DE PACIENTES ATENDIDOS EM

    CAMPANHA ASSISTENCIAL

    Goinia 2015

  • TAINARA SARDEIRO DE SANTANA

    O IMPACTO DA CIRURGIA DE CATARATA SENIL SOBRE A QUALIDADE DE VIDA DE PACIENTES ATENDIDOS EM

    CAMPANHA ASSISTENCIAL

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincias da Sade da Universidade Federal de Gois para a obteno do Ttulo de Mestre em Cincias da Sade.

    Orientador: Prof. Dr. Marcos Pereira de vila Coorientador: Prof. Dr. David Leonardo Cruvinel Isaac

    Goinia 2015

  • ii

    ii

    Programa de Ps-Graduao em Cincias da Sade da Universidade Federal de Gois

    BANCA EXAMINADORA DA DISSERTAO DE MESTRADO

    Aluno(a): Tainara Sardeiro De Santana

    Orientador(a): Marcos Pereira de vila

    Coorientador(a): David Leonardo Cruvinel Isaac

    Membros:

    1. Prof. Dr. Marcos Pereira vila

    2. Prof. Dr. Alan Ricardo Rassi

    3. Prof Dra. Maria Alves Barbosa

    4. Prof. Dra Thatianny Tanferri de Brito Paranagu

    Suplente:

    5. Prof. Dr. Murilo Batista Abud

    Data: 11/08/2015

  • iii

    iii

    Dedico este trabalho ao meu esposo

    Kelson e a minha filha Ceclia,

    obrigada pela compreenso e apoio.

    minha Me Vanilde e aos meus

    irmos Tamily e Kaique.

    Sem eles nada disso seria possvel.

  • iv

    iv

    AGRADECIMENTOS

    Em primeiro lugar agradeo a Deus por me amparar nos momentos

    difceis.

    Ao meu orientador Prof. Dr. Marcos vila por acreditar em mim, fazendo

    parte da minha vida nos momentos bons e ruins, por ser exemplo de profissional.

    Ao coorientador professor Dr. David Isaac por sua ajuda nos momentos

    mais crticos, por acreditar no futuro deste trabalho, contribuir para o meu

    crescimento profissional e por ser tambm um exemplo a ser seguido.

    Ao Prof. Dr. Alan Ricardo Rassi, obrigada por compartilhar seus

    conhecimentos.

    minha famlia de lei, Divina de Ftima, Jos Antnio, Katiuscia, Kennedy,

    muito obrigada pelo acolhimento e carinho.

    s enfermeiras Maria Goretti e Ana Lcia Arajo, companheiras d

    caminhada longo da minha jornada profissional. Posso dizer q minha

    formao, inclusive pessoal, n teria sido mesma sm vocs.

    s oftalmologistas Dra. Alline Melo e Dra. Kariza Frantz, pr seus

    ensinamentos, pacincia confiana longo ds supervises.

    Professora Dra. Maria Alves Barbosa, obrigada pela pacincia e

    contribuies dos seus conhecimentos.

    professora Dra. Thatianny Tanferri de Brito Paranagu vsss conversas

    foram fundamentais.

    s funcionrios do faturamento, ambulatrio e secretaria do CEROF, em

    especial Rita de Cssia, Vincius, Leila, Clia, Thatyellen, Elcilene, muito

    obrigada pelo incentivo colaborao.

    Aos residentes e fellows do CEROF, em especial, Hiran, Alessandra,

    Larissa e Tauan, obrigada por compartilhar seus conhecimentos.

    Aos professores e colegas do curso de Cincias da Sade, em especial as

    colegas Valdecina Quirino, Gabiela Policena e Gabriela Camargo, q foram t

    importantes n minha vida acadmica n desenvolvimento dste trabalho.

    Aos profissionais do hospital Alberto Lima, de Macap-AP, pela

    contribuio na pesquisa e entrevistas com os pacientes.

  • v

    v

    s meus amigos, obrigada pls alegrias, tristezas dores

    compartilhadas. Cm vocs, s pausas entre m pargrafo outro d produo,

    melhoram tudo q tenho produzido n vida.

  • vi

    Sumrio vi

    SUMRIO

    TABELAS, FIGURAS E ANEXOS.............................................................................................. VIII

    SMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS ................................................................................... IX

    RESUMO ....................................................................................................................................... XI

    ABSTRACT .................................................................................................................................. XII

    1 INTRODUO ............................................................................................................................ 1

    2 HISTRICO................................................................................................................................. 6

    2.1 CAMPANHAS E MUTIRES ....................................................................................................... 6

    2.2 DISTRIBUIO GEOGRFICA DOS OFTALMOLOGISTAS NO BRASIL ............................................ 10

    3 REVISO DA LITERATURA .................................................................................................... 12

    3.1 CRISTALINO ......................................................................................................................... 15

    3.2 ASPECTOS CLNICOS E DIAGNSTICOS DA CATARATA ............................................................. 16

    3.3 CATARATA SENIL .................................................................................................................. 17

    3.4 TRATAMENTO DA CATARATA ................................................................................................. 22

    3.5 QUALIDADE DE VIDA NA SENECTUDE ..................................................................................... 12

    4 OBJETIVOS .............................................................................................................................. 25

    4.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................................................. 25

    4.2 OBJETIVOS ESPECFICOS ..................................................................................................... 25

    5 MTODOS ................................................................................................................................ 26

    5.1 TIPO E LOCAL DE ESTUDO ..................................................................................................... 26

    5.2 LOCAL DO ESTUDO ............................................................................................................... 26

    5.3 POPULAO DO ESTUDO ...................................................................................................... 27

    5.4 COLETAS DE DADOS ............................................................................................................. 27

    5.5 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS: ................................................................................. 28

    5.5.1 MEDIDA DA ACUIDADE VISUAL ........................................................................................... 28

    5.5.2 QUESTIONRIO NEI-VFQ 25 ............................................................................................. 28

    5.6 ANLISES DOS DADOS .......................................................................................................... 29

    5.7 ASPECTOS TICOS ............................................................................................................... 30

  • vii

    Sumrio vii

    6 PUBLICAO........................................................................................................................... 31

    7 CONCLUSES ......................................................................................................................... 48

    8 CONSIDERAES FINAIS ...................................................................................................... 49

    9 REFERNCIAS ......................................................................................................................... 51

    10 ANEXOS ................................................................................................................................. 59

    ANEXO 1- PARECER DO COMIT DE TICA .................................................................................. 59

    ANEXO 2- TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) ...................................... 614

    ANEXO 3- QUESTIONRIO NEI VFQ 25 ...................................................................................... 66

  • viii

    Tabelas, figuras e anexos viii

    TABELAS, FIGURAS E ANEXOS

    TABELAS

    Tabela 1 - Comparao da qualidade de vida dos idosos antes a aps a facectomia.

    Macap, Amap, Brasil, 2013....................................................................... 39

    Tabela 2 - Comparao entre a satisfao geral antes e aps a cirurgia de catarata

    segundo sexo, idade, escolaridade, estado civil, renda e situao

    previdenciria dos idosos. Macap, Amap, Brasil, 2013............................ 42

    Tabela 3 - Correlao de Spearman entre os domnios do VQF -25 e a acuidade

    visual. Macap, Amap, Brasil, 2013............................................................ 42

    FIGURAS

    Figura 1 - Catarata subcapsular.................................................................................... 15

    Figura 2 - Catarata nuclear........................................................................................... 16

    Figura 3 - Catarata cortical............................................................................................ 17

    Figura 4 - Catarata imatura........................................................................................... 17

    Figura 5 - Catarata madura........................................................................................... 18

    Figura 6 - Catarata hipermadura.................................................................................. 18

    Figura 7 - Catarata morganiana.................................................................................. 19

    ANEXOS

    Anexo 1 - Parecer do Comit de tica......................................................................... 62

    Anexo 2 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido............................................. 64

    Anexo 3 - Normas de publicao do respectivo peridico........................................... 66

    Anexo 4 - Questionrio NEI VFQ 25............................................................................ 70

  • ix

    Smbolos, siglas e abreviaturas ix

    SMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS

    AP Amap

    CBO Conselho Brasileiro de Oftalmologia

    CEROF Centro de Referncia em Oftalmologia

    CEPHA Comit de tica em Pesquisa Humana e Animal

    DPOC Doena pulmonar obstrutiva crnica

    HC Hospital das Clnicas

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    LIO Lentes intra-oculares

    LOGMAR Logaritmo do mnimo ngulo de resoluo

    MS Ministrio da Sade

    NEI-VFQ-25

    NEI

    National Eye Institute Visual Function Questionaire -25

    National Eye Institute Instituto Nacional de Olhos dos Estados

    Unidos

    OMS Organizao Mundial de Sade

    QV Qualidade de vida

    SES Secretaria Estadual de Sade

    SPSS Statistical Package For The Social Sciences

    SUS Sistema nico de Sade

    TCC Taxa de Cirurgia de Catarata

    TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

  • x

    Smbolos, siglas e abreviaturas x

    UFG Universidade Federal de Gois

  • xi

    Resumo xi

    RESUMO

    O processo de envelhecimento populacional uma tendncia mundial e traz,

    como conseqncia, o aumento da prevalncia das doenas crnicas no idoso,

    entre as quais se destaca a catarata. O objetivo do presente estudo foi avaliar a

    melhora visual no 15 dia do ps-operatrio de cirurgia de facectomia e o impacto

    dessa na qualidade de vida dos idosos. Realizou-se um estudo prospectivo, com

    abordagem quantitativa, descritiva-correlacional, desenvolvido com 156 pacientes

    com indicao de cirurgia de catarata realizada por um convnio entre a

    Secretaria Estadual de Sade do Amap e o Centro de Referncia em

    Oftalmologia da Universidade Federal de Gois entre setembro e outubro de

    2013. Foram utilizados o questionrio de avaliao da qualidade de vida Visual

    Functioning Questionnaire (VQF-25) e a tabela de Snellen para medir a acuidade

    visual. A acuidade visual mdia, em logMAR, aps 15 dias da cirurgia melhorou

    de 1,23 (20/340 na tabela de Snellen) para 0,57 (20/74 na tabela de Snellen) e foi

    estatisticamente significativa (p=0,000). Na comparao das mdias de qualidade

    de vida antes e aps a facectomia, o subdomnio viso geral apresentou a maior

    diferena entre as mdias (de 29,65 para 89,87). A anlise de correlao apontou

    que quanto melhor a acuidade visual do paciente aps a cirurgia, maior foi a

    satisfao em relao atividade para longe, melhora da dor ocular, sade

    mental, dependncia e satisfao geral. A facectomia associou-se a um impacto

    positivo sobre a acuidade visual e a qualidade de vida dos idosos. A campanha

    assistencial mostrou-se til para atender pacientes com catarata e diminuir a

    inacessibilidade ao tratamento oftalmolgico na sade pblica.

    Palavras-chave: Catarata; Qualidade de vida; Acuidade visual;

    Facoemulsificao; Promoo da sade.

  • xii

    Abstract xii

    ABSTRACT

    Population aging is a global trend and brings as a consequence the increasing

    prevalence of chronic diseases of the elderly such as cataract.The purpose of this

    study was to evaluate the visual improvement on the 15th day after cataract

    surgery and the impact on the quality of life of older people. A prospective study

    was conducted with a quantitative, descriptive and correlational approach,

    developed with 156 patients with indication for cataract surgery. The surgeries

    were performed after an agreement between the Department of Health of Amap

    and the Reference Center for Ophthalmology/Federal University of Gois, in

    September and October 2013. Visual Functioning Questionnaire (VQF-25) was

    used to evaluate quality of life and Snellen chart was used to measure visual

    acuity. The visual acuity average in logMAR after 15 days from surgery improved

    from 1.23 (20/340 Snellen) to 0.57 (20/74 on the Snellen chart) and was

    statistically significant (p = 0.000). When comparing the average quality of life

    before and after cataract surgery, the overview subdomain showed the greatest

    difference between the averages before and after surgery (of 29.65 to 89.87).

    Correlation analysis showed that the better the visual acuity after surgery, the

    higher the satisfaction with distance activity, the better eye pain, mental health,

    addiction and overall satisfaction. The cataract surgery was associated with a

    positive impact on visual acuity and quality of life of older people. The assistancial

    campaign was useful to treat patients with cataracts and improved the accessibility

    to eye care in public health.

    Keywords: cataracts; quality of life; visual acuity; phacoemulsification; health

    promotion.

  • Introduo 1

    1 INTRODUO

    O processo de envelhecimento populacional , hoje, uma tendncia mundial.

    No Brasil, no ltimo censo do IBGE de 2010, o percentual de pessoas idosas era

    cerca de 11% do total da populao, correspondendo a aproximadamente 20

    milhes de pessoas com 60 anos ou mais (IBGE, 2010). Segundo estimativas,

    essa populao ir quadruplicar at 2060, representando 28% da populao

    brasileira (IBGE, 2014). Esse processo de mudana na estrutura etria da

    populao brasileira sugere intervenes para o planejamento e para a adaptao

    da oferta demanda de servios de sade no pas.

    O envelhecimento da populao traz como consequncia o aumento da

    prevalncia das doenas crnicas caractersticas do idoso (MINAYO, 2012).

    Dentre essas se encontram as oculares, como a catarata (MACEDO et al., 2013).

    Pesquisa realizada nos Estados Unidos apontou que entre as condies

    crnicas sofridas pelos idosos, na ordem de sua prevalncia, esto a hipertenso

    (36%), a doena pulmonar obstrutiva crnica (DPOC) (24%) e catarata (17%)

    (CHI; CY; WU, 2011). Em Honduras, um estudo encontrou a catarata (60%) e

    glaucoma (21%) como as principais causas de cegueira entre os idosos

    (ALVARADO et al., 2014). Outro estudo realizado no nordeste do Brasil verificou

    que a catarata foi a doena ocular mais prevalente (45%) entre os idosos, seguida

    do glaucoma (18,%) (BRAVO FILHO et al., 2012).

    A catarata definida como qualquer opacidade do cristalino que difrate ou

    impea a passagem da luz, acarretando efeito negativo na viso (ARIETA, 2008),

    sendo a principal causa de cegueira no Brasil (SANTOS et al., 2014). A catarata

    senil uma das afeces oftalmolgicas mais frequentes, com incidncia

    estimada de 18% em menores de 65 anos de idade, 47% em idosos com 65 a 74

    anos e 73% naqueles acima de 75 anos, o que representa cerca de 600 mil novos

    casos de catarata por ano, sendo a principal causa de deficincia visual,

    responsvel por 40% dos casos de cegueira no mundo (TALEB et al., 2009). Esse

    nmero foi sensvelmente reduzido com as campanhas nacionais que facilitaram

    as facectomias, estimando-se hoje uma prevalncia de 350 mil por catarata. No

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Chi%20MJ%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=20452688http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Lee%20CY%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=20452688

  • Introduo 2

    ano de 2008, relatou-se a existncia de aproximadamente 18 milhes de pessoas

    cegas em decorrncia dessa alterao visual (KARA JOS; BICAS; CARVALHO,

    2008).

    As projees da Organizao Mundial de Sade (OMS), baseadas no

    envelhecimento e aumento da populao mundial, preveem cerca de 75 milhes

    de cegos em 2020, sendo que as estimativas em relao cegueira legal (20/200

    viso, corrigida no melhor olho). No Brasil existem 17 milhes de pessoas com

    algum grau de deficincia visual, sendo quase 150 mil cegos e outras pessoas

    com comprometimento visual importante (LUIZ et al., 2009).

    Embora haja avanos na cirurgia de catarata em muitas partes do mundo, a

    catarata ainda a maior causa de cegueira evitvel cirurgicamente (SANTOS et

    al., 2014). Essa cirurgia apresenta alta eficincia e favorvel custo-benefcio no

    tratamento e na reabilitao visual (PEREIRA et al., 2012).

    Outro estudo realizado com pacientes com glaucoma e catarata concluiu que

    a cirurgia melhorou a acuidade visual de 87% do olho operado (NSSER et al.,

    2012). Estudo mostrou que, aps a cirurgia de catarata, 64% dos operados

    apresentaram melhora na acuidade visual (PEREIRA et al., 2012).

    No Brasil, tendo em vista uma populao total de quase 200 milhes de

    habitantes e uma extenso territorial de 8.514.876,599 km2 (IBGE, 2013),

    comumente so encontrados importantes contrastes socioeconmicos,

    heterogeneidade de distribuio de infraestruturas em educao e sade, o que

    no diferente na assistncia oftalmolgica no pas.

    A Organizao Mundial de Sade (OMS) preconiza a relao de 1

    oftalmologista para cada 17.000 a 18.000 habitantes como proporo mnima

    ideal, conforme ltimo Censo Brasileiro de Oftalmologia (CBO,2011).

    O Brasil tem hoje, segundo o Censo do Conselho Brasileiro de Oftalmologia,

    15.719 oftalmologistas, sendo que 56% se concentram na regio Sudeste, 15%,

    na regio Sul, 8%, na regio Centro-Oeste, 18%, na regio Nordeste e 3%, na

    regio Norte. Existem cerca de 16 milhes de habitantes na regio Norte e 551

    oftalmologistas, em uma relao de 1 oftalmologista para cada 28.794 habitantes.

    O Amap o estado brasileiro que tem menor relao oftalmologista por

    habitante com 1 oftalmologista para 51.437 habitantes, ou seja, quase 3 vezes

  • Introduo 3

    menos do que o preconizado pela OMS como adequado (CBO, 2011; IBGE,

    2010).

    A fixao de mdicos e profissionais de sade em grandes centros urbanos

    maior mesmo em pases desenvolvidos. Em regies mais pobres de pases em

    desenvolvimento, esse contraste ainda maior (CAMPOS; MACHADO; GIRARDI,

    2009).

    Nesse sentido, estudos apontam que o Brasil no consegue realizar o

    nmero total de cirurgias de catarata necessrio para compensar o surgimento de

    novos casos, com isso cresce a importncia das campanhas de catarata e da

    otimizao dos centros cirrgicos ambulatoriais para as cirurgias em larga escala

    (KARA JUNIOR; ESPNDOLA, 2010; KARA JUNIOR; SANTHIAGO; ESPNDOLA,

    2011).

    A grande fila de espera foi apontada como a principal causa para a no

    realizao da cirurgia de catarata em pacientes atendidos no Sistema nico de

    Sade (SUS) em So Paulo. Essa realidade enfatiza a importncia e a

    resolutividade da campanha assistencial no combate cegueira, j que em um

    mesmo dia os pacientes que forem diagnosticados podem ter a cirurgia

    agendada, diminuindo retornos desnecessrios ao hospital e minimizando o

    tempo de espera para o tratamento (KARA-JNIOR et al., 2011). Nesse sentido,

    as campanhas assistenciais de catarata se tornam potencialmente relevantes,

    para a realizao de cirurgias como forma de reduo da baixa acuidade visual

    causada pela catarata senil em regies desassistidas.

    A catarata, a diminuio da acuidade visual causada por ela e a cirurgia

    podem interferir na qualidade de vida das pessoas (SANTOS et al., 2014;

    CAMPOLINA; DINI; CICONELLI, 2011).

    Nessa perspectiva, a sade ocular est diretamente relacionada qualidade

    de vida do ser humano. A perda da capacidade visual implica na diminuio da

    qualidade de vida, decorrente de restries ocupacionais, econmicas, sociais e

    psicolgicas. Para a sociedade, representa encargos onerosos e perda de fora

    de trabalho (LUIZ et al., 2009).

    De acordo com a Organizao Mundial de Sade, qualidade de vida a

    percepo do indivduo de sua posio na vida, no contexto da cultura do

  • Introduo 4

    sistema de valores em que vive e em relao aos seus objetivos, expectativas,

    padres e percepes (WHOQOL, 1995).

    Qualidade da viso uma parte integrante da qualidade de vida relacionada

    sade e avaliao das dimenses do autorrelato estado de sade relacionada

    viso. A viso considerada a grande promotora da integrao do indivduo em

    atividades motoras, perceptivas e mentais, e a perda da mesma pode provocar

    marcantes alteraes, diminuindo sua capacidade na sociedade (LUCAS et al.,

    2003).

    A Literatura dispe de inmeros instrumentos para avaliao da qualidade

    de vida a vrias situaes, tais como os Sickness Impact Pofile (SIP), o SF 36,

    WHOQOL (World Health Organization Quality Of Life) entre outros, quanto

    especficos, utilizados para determinada doena ou situao. Vrios questionrios

    so utilizados para medir a qualidade de vida de deficientes visuais, dentre os

    quais o Activities of Daily Vision Scale (ADVS), o Low Vision Quality-of-Life,

    concebidos para avaliao de doenas oculares e o Vision Function

    Questionnaire (VFQ), instrumento utilizado para avaliao da qualidade de vida

    do presente estudo (SEIDL; ZANNON, 2004; CICONELLI et al, 1999; WHOQOL,

    1995).

    Como necessidade de desenvolver instrumentos para medir distrbios

    visuais e especficos o questionrio Visual Function Questionaire-25 foi

    desenvolvido pelo National Eye Institute (NEI VFQ-25) em meados da dcada de

    1990, com objetivo de avaliar a sade geral e a qualidade de vida do paciente

    relacionadas acuidade visual. Esse questionrio tem sido muito utilizado para

    acompanhamento dos resultados de vrias doenas oculares, devido avalio

    dos resultados de sintomas e tratamento na vida dos pacientes (MANGIONE,

    2001). Esse questionrio foi testado e traduzido para lngua portuguesa com

    validade e confiabilidade estatisticamente comprovadas (SIMO et al., 2008).

    Para elaborao do questionrio, foi utilizado o SF 36, porque uma das

    medidas mais utilizadas nos servios de investigao de sade e j foi traduzido

    para o idioma portugus e validado no Brasil. Inicialmente o questionrio NEI

    VFQ-25 foi elaborado com 51 itens e posteriormente reduzido e readaptado para

    sua verso de 25 itens, para se tornar til na prtica clnica e melhora na

    qualidade dos dados. O instrumento tambm foi utilizado para detectar mudanas

  • Introduo 5

    significativas ao longo do tempo em pacientes submetidos cirurgia de catarata,

    antes e aps o procedimento cirrgico. A verso brasileira do questionrio NEI

    VFQ-25 foi traduzida, validada e testada a confiablilidade pelos autores: Simo,

    Lana-Peixoto, Arajo, Moreira e Teixeira (SIMO et al., 2008).

    A sade e a qualidade de vida dos idosos, mais que em outros grupos

    etrios, sofrem influncia de mltiplos fatores: fsicos, psicolgicos, sociais e

    culturais. Para avaliar e promover a sade do idoso, necessria atuao

    interdisciplinar e multidimensional. A assistncia ao idoso deve prezar pela

    manuteno da qualidade de vida, considerando os processos de perdas prprias

    do envelhecimento e as possibilidades de preveno, manuteno e reabilitao

    do seu estado de sade (CIOSAK et al., 2011).

    Alm disso, a interveno pblica de sade, por meio das campanhas de

    assistncia oftalmolgica para a reabilitao da viso, produz resultados que,

    alm de prevenir a cegueira, tem impacto sobre a qualidade de vida dos

    indivduos, com importantes benefcios sociais (KARA JUNIOR et al., 2010).

    Considerando que a literatura cientfica brasileira escassa em dados que

    reflitam a qualidade de vida dos idosos aps a cirurgia de catarata e pela

    tendncia dessa populao estar sempre aumentando no pas, este estudo

    prope avaliar o impacto da cirurgia de catarata na qualidade de vida de pessoas

    atendidas em campanhas assistenciais.

    Esses dados possibilitaro conhecer os fatores associados melhoria da

    qualidade de vida, possibilitando a orientao de novas polticas pblicas de

    interveno fundamentada na promoo da sade para favorecer a qualidade de

    vida dos idosos com catarata.

  • Histrico 6

    2 HISTRICO

    2.1 Campanhas e mutires

    Campanha ou mutiro um conjunto de aes coletivas para a execuo de

    um servio geralmente de curta durao, que visa beneficiar a populao em um

    prazo estabelecido (FERREIRA, 1986).

    Quando em um pas, o sistema de sade pblico no fornece cobertura

    suficiente em reas consideradas importantes, podem-se promover campanhas

    para, entre outras finalidades, preconizar a incluso de novas modalidades de

    tratamento (SILVA; MUCCIOLI; BELFORT, 2004).

    Uma campanha comunitria em sade visa conhecer as condies atuais de

    atendimento da populao alvo, aumentar a cobertura de sade daquela

    populao durante a mobilizao, mostrar a frequncia do problema, a

    morbidade, exequibilidade de tratamento e a possibilidade de torn-la programa

    permanente alm de educar a populao visando adoo de condutas de

    preveno de certas doenas. As aes devem empregar tecnologia apropriada,

    ou seja, ser realizada com recursos disponveis, ser eficaz e aceita pela

    populao e gestores de sade (KARA JUNIOR; SANTHIAGO; ESPNDOLA,

    2011).

    A primeira campanha em oftalmologia realizada no Brasil, denominada

    Campanha Nacional de Preveno da Cegueira, aconteceu em 1954 e foi

    promovida pela Comisso de Preveno da Cegueira da Associao Pan-

    Americana de Oftalmologia (KARA JOS et al., 2010).

    Frente a isso, em 1987 foi criado o primeiro projeto nacional de catarata

    Zona Livre de Catarata realizado em Campinas pelo ncleo de preveno

    cegueira, formado por oftalmologistas, enfermeiros, residentes de oftalmologia,

    pedagogas e psiclogos da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

    Depois foram institudos outros projetos de atendimento oftalmolgico em

    campanhas de carter comunitrio, como: Olho no Olho, Projeto Catarata, Veja

  • Histrico 7

    Bem Brasil. Durante uma campanha oftalmolgica, identificam-se diversas

    doenas oculares passveis de tratamento, contribuindo, assim, para diminuio

    da deficincia visual. Alm disso, esse servio oferece correo ptica, reduzindo

    o nmero de casos de baixa acuidade visual reversvel, apenas, com culos

    (KARA JOS; BICAS; CARVALHO, 2008).

    Em 2002, foi realizada a primeira campanha do Centro de Referncia em

    Oftalmologia do Hospital das Clnicas da Universidade Federal de Gois,

    (CEROF/HC/UFG), a Campanha de Olho na Viso, efetivada aps parceria com

    a Secretaria Estadual de Sade (KARA JOS et al., 2010).

    Em 2004 e 2008 foram realizadas novamente em Goinia, a Campanha de

    Olho na Viso, com grande nmero de atendimentos oftalmolgicos. Foram

    beneficiados pacientes de todos os municpios goianos, sendo mais de 115 mil

    idosos, com prescrio de mais de 32 mil culos e realizao de 2,9 mil cirurgias

    de catarata (LIMA; SILVA, 2008). Desde ento, outros projetos foram

    desenvolvidos como a campanha Veja Bem Gois (2008), projeto Kalunga,

    mutiro da sade nos bairros em Goinia, triagem do trnsito, Campanha olho no

    olho, Campanha de catarata, Campanha Brasil contra o glaucoma e retinopatia

    diabtica e campanhas assistenciais em Rondnia e Mato Grosso.

    O trabalho da equipe de sade nessas campanhas oftalmolgicas

    essencial. Para a realizao do procedimento de facectomia, os pacientes

    juntamente com seus familiares so orientados pelo profissional de sade a

    respeito dos cuidados que devem ser tomados durante o perodo de pr e ps-

    operatrio. A assistncia de enfermagem a esses pacientes demanda do

    profissional uma viso integral das necessidades bsicas afetadas desse

    indivduo e de sua famlia, de forma humanizada (PAUL; REEVES, 2000).

    De acordo com Kara Jos, Bicas, Carvalho (2008), uma campanha

    comunitria em sade ocular composta pelas seguintes fases:

    1- Plano de trabalho objetivos

    Uma campanha deve ser precedida por um planejamento sendo que a

    equipe envolvida deve ter experincia ou realizar projeto piloto com justificativa,

    objetivo, parcerias, abrangncia, recursos humanos e materiais, responsabilidade

    dos coordenadores, previso oramentria, previso de durao e concluso.

    2- Contatos

  • Histrico 8

    A campanha deve objetivar prioritariamente, a populao economicamente

    carente, sem possibilidade de pagamento pelos servios prestados. Interao

    entre as equipes, coordenadores, oftalmologistas, lderes da comunidade,

    enfermeiros da ateno bsicos e demais voluntrios que se engajarem na

    campanha.

    3- Determinao da rea e populao alvo

    Determinar o local do evento, uma rea geogrfica que, geralmente

    consiste em escolas, campos de futebol e hospitais. Dependendo da meta de

    atendimento a ser executada e definir a populao alvo.

    4- Seleo e treinamento de recursos humanos

    Equipes devem ser organizadas para executarem a campanha de acordo

    com a experincia profissional tais como, divulgao, capacitao dos agentes e

    auxiliares de sade e enfermeiros que realizaro a triagem oftalmolgica, e a

    equipe que executar o servio direto que so os oftalmologistas e equipe de

    enfermagem e apoio experiente nesse servio.

    5- Campanha publicitria

    A divulgao fundamental para o sucesso da campanha e para a

    continuidade da mesma. A equipe da divulgao tem o papel de atrair o pblico

    com palestras, informes em jornais, pontos de nibus, faixas, mensagens em

    rdios, jornais, televiso e outros. As informaes devem enfatizar a importncia e

    a necessidade do exame oftalmolgico, durao e local da campanha, pblico

    alvo, facilidades disponveis como gratuidade, entrega de culos, realizaes de

    cirurgias e encaminhamentos.

    6- Teste, reteste, exame oftalmolgico e palestras educativas

    O teste e reteste so realizados pelo pessoal treinado, e os selecionados

    devem ser encaminhados ao exame completo com oftalmologista. Geralmente,

    essa fase acontece nas atividades de ateno bsica ou nas escolas.

    Devem ser realizadas as palestras sobre os cuidados pr, trans e ps-

    operatrios, uso de oclusivo, condutas em casos de emergncias e retornos e

    manuseio dos colrios.

    7- Encaminhamentos para a cirurgia e consultas ps-operatrias.

    O paciente deve ser comunicado com antecedncia do dia, hospital e local

    em que dever se apresentar para a realizao da cirurgia. O primeiro retorno

  • Histrico 9

    geralmente agendado logo aps a realizao do procedimento cirrgico, e os

    demais retornos ocorrero conforme a necessidade.

    8- Divulgao dos Resultados

    As campanhas comunitrias completam-se com ampla divulgao dos

    resultados obtidos, mostrando o que foi realizado e justificando os recursos

    empregados. Tambm serve para disseminar o conceito de luta contra a baixa

    acuidade visual, cegueiras reversveis e patologias oculares tratveis, incentivar a

    realizao de novas campanhas e facilitar a continuidade e expanso de atual.

    Essa divulgao deve ser feita para comunidade, autoridades e oftalmologistas,

    sendo os resultados acessveis em publicaes.

    9- Avaliaes do impacto

    Qual foi o significado da campanha para a comunidade? Qual foi o nmero

    de pessoas beneficiadas? Quais foram as melhoras na qualidade de vida dos

    beneficiados? Essas e outras questes devero ser respondidas ao final da

    campanha para avaliao do impacto produzido.

    Em geral, a organizao de campanhas deve buscar adeso de novos

    parceiros e motivar a participao da populao e de mdicos. Avaliao e

    divulgao dos resultados tornam-se fundamentais, as quais serviro, tambm,

    para avaliao dos erros, acertos, sugestes para melhorar, continuidade do

    processo e modelo de atendimento para outras reas da sade (PEREIRA et al.,

    2014). De uma campanha, podem sair informaes que eventualmente motivem a

    realizao de pesquisas cientficas, contribuindo para o conhecimento das

    necessidades da populao. Os atendimentos em campanhas mostram, tambm,

    que podem ser uma estratgia para vencer barreiras, uma vez que, sendo da

    mesma comunidade e estando mais prximo aos pacientes, podem trazer mais

    segurana aos mesmos (GONALVES et al., 2013).

    Todas essas barreiras do paciente para ter acesso ao SUS devem ser

    analisadas no seu contexto local a fim de que se consiga diminuir ou mesmo

    prevenir a cegueira por catarata (KARA JNIOR; DELLAPI; ESPNDOLA, 2011).

    Nesse sentido, a realizao de campanhas poderia contribuir para amenizar, nas

    populaes menos assistidas, essa falta de resolutividade no SUS.

    Considera-se que seja necessria a criao de condies que facilitem o

    acesso cirurgia e ao tratamento completo da catarata, como transporte, colrios

  • Histrico 10

    e culos aos pacientes beneficiados. As campanhas oftalmolgicas tm como

    principal objetivo diminuir a inacessibilidade ao tratamento oftalmolgico, ou seja,

    investigar, diagnosticar e curar determinados problemas visuais (KARA JOS;

    RODRIGUES, 2009), obtendo uma melhoria significante na sade pblica.

    2.2 Distribuio geogrfica dos oftalmologistas no Brasil

    A Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 reconhece a

    sade como direito fundamental de todos e dever do Estado, a ser garantida

    mediante polticas econmicas e sociais que visem reduo dos riscos de

    agravos e doenas e ao acesso universal e igualitrio s aes e servios

    pblicos de sade (BRASIL,1988) do Sistema nico de Sade (SUS).

    No setor da sade, existem vrios desafios, principalmente a universalidade

    e princpios de equidade, considerando a ocorrncia de grupos de populao sem

    acesso a qualquer tipo de servio em todas as regies do Brasil (PAIM; SILVA,

    2010).

    A prestao de servios de sade pblica em regies remotas e pobres

    um problema em quase todos os pases do mundo, bem como a distribuio

    geogrfica inadequada dos prestadores de servios especializados. Mesmo

    quando a relao mdico e habitante adequada, a distribuio dos mdicos

    tende a ser concentrada em grandes centros urbanos deixando as pequenas

    cidades, reas rurais, comunidades remotas e regies mais pobres descobertas,

    acarretando um resultado negativo no ponto de vista de sade pblica e do

    princpio da descentralizao organizacional (PVOA; ANDRADE, 2006).

    O Brasil tem a quinta maior populao de mdicos do mundo, com 371.788

    profissionais. Portanto, no correto dizer que h falta de mdicos no Brasil, mas

    sim a desigualdade de distribuio que leva escassez de profissionais em

    determinadas regies (CFM/CREMESP, 2011).

    Segundo a OMS, considera-se satisfatria a proporo de um mdico

    oftalmologista para 20.000 habitantes, para Amrica do Norte e Europa Ocidental.

    O nmero de oftalmologistas no Brasil de 15.719, considerando a atuao em

    mais de um municpio, o nmero de oftalmologista em atendimento de 17.922,

    isto um oftalomologista para 10.601 habitantes. Porm em 8 estados (todos da

  • Histrico 11

    regio Norte e Nordeste) apresentam relao oftalmologista por habitantes abaixo

    do preconizado pela OMS, como no Amap, que possui um oftalmologista para

    51.437 habitantes e no Maranho um para 45.308 habitantes (CBO, 2011).

    Como o nmero de oftalmologista por habitantes no Estado do Macap no

    o nmero recomendado pela OMS, torna-se preocupante os casos de cegueira

    reversveis por catarata no Estado, sendo esse o motivo do convnio firmado

    entre o estado de Macap e o CEROF/HC/UFG, para a realizao de campanha

    assistencial oftalmolgica.

  • Reviso da Literatura 12

    3 REVISO DA LITERATURA

    Por entender a complexidade envolvida no atendimento e tratamento do

    indivduo com catarata e a fim de melhor elucidar a temtica, o presente

    referencial terico foi dividido em cinco subttulos: Qualidade de vida na

    Senectude, Cristalino, Aspectos Clnicos, Diagnstico e Tratamento da Catarata,

    Campanhas e Mutires Assistenciais.

    3.1 Qualidade de vida na senectude

    Envelhecer um processo natural que implica mudanas graduais e

    inevitveis relacionadas idade e incita ao indivduo gozar de boa sade e ter um

    estilo de vida ativo e saudvel (CIOSAK et al., 2011).

    De acordo com Organizao Mundial de Sade (OMS) envelhecer um

    processo sequencial, individual, cumulativo, irreversvel, no patolgico de

    deteriorao de um organismo maduro, prprio a todos os membros de uma

    espcie, de maneira que o tempo o torne menos capaz de fazer frente ao

    estresse do meio ambiente e, portanto, aumentando sua possibilidade de morte.

    Ainda para a OMS, o limite de idade entre o indivduo adulto e o idoso 65 anos

    de idade em naes desenvolvidas e 60 anos nos pases emergentes (BRASIL,

    2006).

    O processo de envelhecimento est ligado capacidade de adaptao do

    indivduo aos rigores e s agresses do meio ambiente. Assim, cada sujeito

    envelhece a seu modo, dependendo de variveis como o sexo, origem, moradia,

    aptides para a vida e as experincias vividas. A exposio ao estresse,

    tabagismo, lcool, sedentarismo, nutrio inadequada e perda da acuidade visual

    so outros fatores que contribuem para determinar a qualidade do

    envelhecimento (CIOSAK et al., 2011).

    O declnio na funo visual do idoso fonte de preocupao no mbito de

    sade pblica. Apesar de sua alta prevalncia, muito dos idosos no referem

    queda na viso por considerarem essa debilidade normal da idade. Dessa forma,

    o dficit visual em idosos pode ser subdiagnosticado (MALAGUTTI, 2013).

    https://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&tbo=p&tbm=bks&q=inauthor:%22William+Malagutti+%22

  • Reviso da Literatura 13

    No sistema visual, o comprometimento pode ocorrer de forma cumulativa e

    progressiva por meios de danos metablicos e ambientais, caracterizando a

    relao de estreita intimidade entre a viso e a senescncia. As mudanas

    fisiolgicas que ocorrem na viso devido ao envelhecimento associado a doenas

    oculares crnicas reforam o declnio da habilidade visual do idoso (LUIZ et al.,

    2009).

    O comprometimento visual objetivamente definido pelo valor da acuidade

    visual que parte da viso funcional de um indivduo. A acuidade visual o

    parmetro que expressa, de forma mais genrica, a capacidade de discriminao

    de formas e contrastes, alm de ser um mtodo para medir o reconhecimento da

    distncia entre dois pontos no espao e da resoluo de suas respectivas

    imagens sobre a retina. o melhor valor que, sozinho caracteriza a perda visual,

    sendo utilizado como critrio para definir o comprometimento visual pela OMS.

    Ressalta-se que o dficit visual em idosos relaciona-se dificuldade nas

    realizaes de atividades cotidianas, a diminuio da participao em encontros

    sociais e a qualidade de vida do idoso, aumentando, assim, as taxas de

    depresso (BRAVO FILHO et al., 2012).

    Estudos mostram que a cegueira tem um custo de bilhes de reais para a

    comunidade devido perda da produtividade, aposentadoria precoce, cuidados

    com pessoas cegas, reabilitao e educao especial. , portanto, um importante

    problema de sade pblica que reflete a importncia de reconhecer o idoso como

    ser integral e a sade como qualidade de vida (CBO, 2011).

    Para os idosos, em especial, a ateno sade se d com

    responsabilizao, com a incorporao ao ato teraputico da valorizao do outro,

    respeitando sua viso de mundo, seu contexto social e sua dignidade. Cuidar

    para qualidade de vida do idoso , portanto, ser cmplice das estratgias de

    promoo, preveno, cura e reabilitao. E, assim, esses segmentos compem

    um dispositivo maior que a integralidade (VIEGAS; PENNA, 2013).

    O idoso com baixa acuidade visual ou cegueira perde autonomia em

    diversas atividades, diminui sua autoestima e tende a exercitar-se menos,

    apresenta dificuldade para realizar as tarefas cotidianas, com consequente perda

    da fora muscular, desequilbrio corporal, predispondo ao aumento das quedas

    (LUIZ et al., 2009).

  • Reviso da Literatura 14

    O exame oftalmolgico de rotina, a correo dos erros de refrao e

    tratamentos oftalmolgicos melhoram a qualidade de vida da maioria dos idosos,

    trazendo de volta as atividades dirias e independncia. Estudos salientam que a

    cirurgia de catarata tem resultados positivos, tanto em relao ao aumento da

    acuidade visual quanto diminuio de complicaes, bem como reduo dos

    prejuzos financeiros para o estado, prejuzos funcionais dos pacientes e

    melhora na qualidade de vida (KARA JOS et al., 2010).

    necessrio envelhecer com sade, ou seja, no somente vivendo por mais

    tempo, mas com qualidade de vida. So necessrios programas que diminuam o

    nmero de pessoas com cegueira reversvel no pas. Dessa forma, considerando

    que as transformaes demogrficas iniciadas no ltimo sculo resultam em uma

    populao cada vez mais envelhecida, evidencia-se a importncia de garantir aos

    idosos no somente uma maior expectativa de vida, mas tambm melhor

    qualidade de vida (VECCHIA et al., 2005).

    O conceito de qualidade de vida adotado para o presente estudo aquele

    elaborado pelo grupo de estudiosos da OMS, dadas as suas caractersticas de

    subjetividade, multidimensionalidade e bipolaridade, a saber: "percepo do

    indivduo de sua posio na vida, no contexto da cultura e no sistema de valores

    nos quais ele vive e em relao aos seus objetivos, expectativas, padres e

    preocupaes" (WHOQOL, 1995).

    A qualidade de vida um construto definido de vrios modos, pois

    aspectos culturais, ticos, religiosos e pessoais influenciam a forma como ela

    percebida e as suas consequncias (ZHAN, 1992). Apesar das diferentes

    definies para o termo, existe concordncia entre grande parte dos autores de

    que, para avaliar QV, necessria a utilizao de abordagem multidimensional

    (ZHAN, 1992).

    A QV se estabelece, tambm, a partir de parmetros objetivos e subjetivos.

    Os parmetros subjetivos seriam o bem-estar, a felicidade e a realizao pessoal,

    entre outros, e os objetivos estariam relacionados satisfao das necessidades

    bsicas e daquelas criadas em uma dada estrutura social. Os parmetros

    objetivos tm a vantagem de no estarem sujeitos ao vis do observador,

    enquanto os subjetivos possibilitam que as pessoas emitam juzos sobre temas

    que envolvem a sua prpria vida (FARQUHAR, 1995). No campo da sade, o

  • Reviso da Literatura 15

    conceito de QV emergiu a partir de um movimento de humanizao na rea e de

    valorizao de outros parmetros de avaliao, alm dos sintomas ou dados

    epidemiolgicos, como incidncia e prevalncia das doenas (FLECK, 2006).

    Medidas de qualidade de vida tm sido utilizadas no estudo do

    envelhecimento bem-sucedido e na avaliao da eficcia, eficincia e impacto de

    intervenes e servios que objetivam ajudar os idosos a permanecerem

    independentes e autnomos. As intervenes avaliadas tm por finalidade

    melhorar o bem-estar e elevar os nveis de qualidade de vida dos participantes,

    mediante o favorecimento, nessa fase da vida, de independncia, participao

    social, preservao de capacidades cognitivas, hbitos saudveis e/ou reduo

    de ansiedade e depresso (CASTRO et al., 2007; VITORINO; PASKULIN;

    VIANNA, 2012).

    Nesse mbito, a sade e a qualidade de vida dos idosos, mais que em

    outros grupos etrios, sofrem influncia de mltiplos fatores: fsicos, psicolgicos,

    sociais e culturais. Para avaliar e promover a sade do idoso, necessria uma

    atuao interdisciplinar e multidimensional. A assistncia ao idoso deve prezar

    pela manuteno da qualidade de vida, considerando os processos de perdas

    prprias do envelhecimento e as possibilidades de preveno, manuteno e

    reabilitao do seu estado de sade (CIOSAK et al., 2011).

    3.2 Cristalino

    O cristalino uma estrutura biconvexa, avascular, transparente envolvida por

    uma cpsula, localizado por trs da ris, apoiado pelas znulas anterior e

    posterior. A principal funo do cristalino direcionar os raios de luz de modo que

    foquem na retina (LEWIS et al., 2013).

    O cristalino revestido por uma nica camada do epitlio da cpsula anterior.

    O depsito subcapsular contnuo de novas fibras do cristalino ocorre durante toda

    a vida, com isso o cristalino aumenta em volume e tamanho, desde o nascimento.

    Alm disso, sua colorao torna-se amarelada e prxima ao marrom com o

    envelhecimento (ARIETA; PADILHA; BECHARA, 2008; KANSKI, 2008).

    Qualquer opacidade do cristalino congnita ou adquirida, na cpsula ou na

    substncia do mesmo denominada catarata. E essas alteraes so

  • Reviso da Literatura 16

    consideradas normais no processo de envelhecimento (ARIETA; PADILHA;

    BECHARA, 2008; KANSKI, 2008).

    3.3 Aspectos clnicos e diagnsticos da catarata

    A catarata a opacidade do cristalino. O paciente pode ter catarata em um ou

    em ambos os olhos, podendo afetar a viso mais em um olho que no outro

    (MALAGUTTI, 2013; LEWIS et al., 2013).

    O paciente com catarata pode se queixar de reduo da viso, percepo

    anormal da cor e ofuscamento, devido disperso de luz causada pelas

    opacidades do cristalino, piorando noite quando a pupila se dilata. O declnio da

    viso gradual, mas a taxa de desenvolvimento da catarata varia de paciente pra

    paciente (LEWIS et al., 2013).

    O diagnstico de catarata baseia-se na diminuio da acuidade visual,

    alterao da transparncia do cristalino detectada pela biomicroscopia, sensao

    de viso nublada, maior sensibilidade luz, diminuio da sensibilidade ao

    contraste e mudana frequente na refrao (MALAGUTTI, 2013; LEWIS et al.,

    2013).

    Kara Jos, Bicas, Carvalho (2008) e Malagutti (2013) classificam a catarata

    em trs tipos:

    a) Catarata congnita est presente desde o nascimento, podendo ser chamada

    de catarata infantil, tendo como etiologia as infeces intrauterinas, desordens

    metablicas, traumas e sndromes transmitidas geneticamente;

    b) Catarata secundria est presente por aes secundrias relacionadas a

    fatores oculares, associadas a traumatismos, molstias endcrinas, causas

    txicas, exposio a radiaes dentre outros;

    c) Catarata senil a forma mais comum, sendo uma alterao degenerativa

    ocular prpria do envelhecimento.

    O diagnstico e a conduta teraputica vo depender do profissional de sade

    especializado que faz o atendimento do quadro clnico do portador de catarata e

    da fase em que se descobre a doena (KARA JUNIOR, 2011).

    https://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&tbo=p&tbm=bks&q=inauthor:%22William+Malagutti+%22https://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&tbo=p&tbm=bks&q=inauthor:%22William+Malagutti+%22https://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&tbo=p&tbm=bks&q=inauthor:%22William+Malagutti+%22

  • Reviso da Literatura 17

    3.4 Catarata senil

    A catarata senil a opacidade do cristalino que dificulta a penetrao dos

    raios luminosos provocando a deficincia visual sendo a principal causa de

    cegueira no mundo (RESNIKOFF et al., 2004).

    A incidncia de catarata senil na populao geral de 18% em menores de

    65 anos de idade, 47% no grupo entre 65 e 74 anos e 73% nos pacientes acima

    de 75 anos (TALEB et al., 2009). O Ministrio da Sade relatou a existncia, em

    1997, de cerca de 600 mil cegos por catarata. Esse nmero foi sensvelmente

    reduzido com as campanhas nacionais que facilitaram as facectomias, estimando-

    se hoje uma prevalncia de 350 mil cegos por catarata (TALEB et al., 2009).

    A cegueira causada pela catarata senil produz consequncias

    socioeconmicas e humanas profundas em toda a sociedade. Esses fatos

    indicam a importncia dessa doena, tanto para o seu impacto na populao mais

    velha, como a sua influncia sobre a utilizao de servios mdicos e de listas de

    espera envolvidos na cirurgia de catarata (PEA at al., 2014).

    Segundo a OMS, existem aproximadamente 20 milhes de cegos por

    catarata no mundo, correspondendo a 48% de todas as causas de cegueira. a

    causa mais importante de cegueira tratvel e considerada problema de sade

    pblica pela grande prevalncia em idosos (DAUD et al., 2012).

    Catarata senil classificada de acordo com sua morfologia e maturidade

    Kanski (2008). Quanto morfologia, a catarata senil pode ser do tipo subscapular,

    nuclear ou cortical:

    Catarata subcapsular: a opacificao encontra-se frente da cpsula

    posterior do cristalino e est associada metaplasia fibrosa do epitlio. Revela

    aparncia vacuolar, granular ou em forma de placas sob iluminao oblqua

    biomicroscopia. Nesse tipo de catarata, a viso para perto mais prejudicada do

    que a viso para longe.

  • Reviso da Literatura 18

    Figura 1- Catarata subcapsular

    Fonte: KANSKI, 2008.

    Catarata nuclear: envolve alteraes no ncleo do cristalino. Normalmente

    provoca a miopia devido ao aumento no ndice de refrao do ncleo do cristalino.

    caracterizada nos estgios iniciais pela colorao amarelada devido ao depsito

    de pigmento urocromo. Nesse tipo de catarata, quando avanado, o ncleo

    parece marrom e de consistncia rgida.

    Figura 2- Catarata nuclear

    Fonte: KANSKI, 2008.

  • Reviso da Literatura 19

    Catarata cortical: as opacidades comeam como fendas e vacolos entre as

    fibras do cristalino devido hidratao do crtex. A opacificao subsequente

    resulta em opacidades cuneiformes tpicas ou em radiais, do tipo raio de roda, em

    geral quadrante inferior, inicialmente. Nesse tipo de catarata os pacientes

    queixam-se de ofuscamento devido disperso da luz.

    Figura 3- Catarata cortical

    Fonte: KANSKI, 2008.

    Quanto aos estgios da maturidade das cataratas, essas podem ser

    classificadas como:

    Catarata imatura: o cristalino apresenta-se parcialmente opaco;

  • Reviso da Literatura 20

    Figura 4- Catarata imatura

    Fonte: KANSKI, 2008.

    Catarata madura: o cristalino apresenta-se completamente opaco;

    Figura 5- Catarata madura

    Fonte: KANSKI, 2008.

    Catarata hipermadura: ocorre a contrao da cpsula anterior com

    pregueamento devido ao vazamento de gua para fora do cristalino;

  • Reviso da Literatura 21

    Figura 6- Catarata hipermadura.

    Fonte: KANSKI, 2008.

    Catarata morganiana: apresenta-se hipermadura na qual a liquefao do

    crtex provoca o descolamento do ncleo inferiormente.

    Figura 7- Catarata morganiana.

    Fonte: KANSKI, 2008.

  • Reviso da Literatura 22

    Mello e Arajo Filho (1994) afirmam que as cataratas senis evoluem de

    forma lenta, iniciando com discreta reduo de acuidade visual (viso

    esfumaada), diplopia monocular e alterao da viso de cores, dificuldade de

    dirigir noite e presena de halos coloridos. Eles destacam ainda que o sinal

    mais perceptvel e caracterstico da presena da catarata a pupila branca. As

    alteraes oculares podem ser desde pequenas distores na acuidade visual at

    a cegueira completa (KARA JOS, BICAS, CARVALHO, 2008).

    Muitos idosos deficientes visuais por catarata no sabem que podem ser

    curados por cirurgia ou no se motivam em procurar tratamento. Os principais

    fatores estimulantes para a procura de tratamento cirrgico so: conhecer algum

    que j se submeteu cirurgia com sucesso, ter acesso fcil a servios

    oftalmolgicos ou quando um profissional de sade informa ao idoso o que

    catarata e como pode ser tratada (MEDINA; MUOZ, 2011).

    West e Sommer (2001) definem que o impacto da perda visual nos

    aspectos pessoais, econmicos e na vida social de um indivduo profundo, e

    quando a prevalncia de cegueira em comunidades alta, as consequncias

    tornam-se uma importante questo pblica, por isso a necessidade de

    resolutividade no tratamento da catarata.

    3.5 Tratamento da catarata

    Segundo Kanski (2012) a cirurgia de catarata envolve o implante de uma

    lente intraocular (LIO), no mesmo local do cristalino removido cirurgicamente.

    A cirurgia de catarata uma das cirurgias mais realizadas no mundo.

    Estima-se que sejam cerca de 10 milhes de cirurgia de catarata por ano. Estudo

    revela que, para a reduo da demanda reprimida, esse nmero deveria

    aumentar para 20 milhes de cirurgia de catarata por ano (KARA JOS; BICAS;

    CARVALHO, 2008).

    A taxa de cirurgia de catarata (TCC) o nmero de operaes de catarata

    por milhes de habitantes, por ano. Ela indica o nmero de pessoas com catarata

    unilateral ou bilateral que foi submetido cirurgia de catarata. A TCC alta em

    pases desenvolvidos, porm nos pases em desenvolvimento, onde h carncia

  • Reviso da Literatura 23

    dos servios oftalmolgicos, falta da conscientizao e dificuldade do acesso pelo

    custo elevado do tratamento, essa taxa bem menor (ARIETA et al., 2009).

    A cirurgia de catarata denominada facectomia, pode ser realizada por

    meio da facoemulsificao ou extrao extracapsular. Em ambas, o cristalino

    opacificado extrado e substitudo por uma lente intraocular (KARA JOS;

    BICAS; CARVALHO, 2008, KANSKI, 2008).

    Na facoemulsificao, o ncleo do cristalino fragmentado e seus pedaos

    so aspirados atravs do aparelho denominado facoemulsificador. Esse tornou-se

    o mtodo preferido de extrao de catarata nos ltimos 15 anos. A menor inciso

    da facoelmusificao est associada a pouco astigmatismo ps-operatrio

    induzido e estabilizao rpida da refrao (em geral, 3 semanas para inciso

    de 3mm, e menos para incises inferiores a 2,5mm) (KANSKI, 2012), trazendo

    como benefcio o encurtamento do tempo da cirurgia e mais rpida recuperao

    visual (KARA JOS; BICAS; CARVALHO, 2008).

    Na extrao extracapsular, o ncleo removido inteiro, aps uma maior

    inciso lmbica ou escleral que requer a realizao de sutura no final da cirurgia.

    Isso leva a um maior tempo de recuperao ps-cirrgica, com estabilizao do

    astigmatismo ps-operatrio mais tardiamente e uma demora maior no resultado

    visual final (KANSKI, 2008).

    Em relao anestesia, a maior parte das cirurgias de catarata realizada

    sob anestesia local em adultos (bloqueio peribulbar ou subtenoniano e tpica

    intracameral) e anestesia geral em crianas ou alguma necessidade especial do

    paciente (KANSKI, 2008).

    A recuperao da viso por cirurgia produz benefcios econmicos e

    sociais ao indivduo, sua famlia e comunidade. Porm, a situao precria de

    acesso assistncia oftalmolgica nos pases em desenvolvimento, devido aos

    obstculos encontrados pelo prprio sistema de sade, dificulta a utilizao do

    recurso cirrgico e da assistncia especializada. As variveis que envolvem o

    aumento do nmero de cirurgias de catarata so complexas. Entre as dificuldades

    encontradas podem ser citadas: equipamento e tcnicas desatualizadas e a falta

    de profissionais mdicos especializados em algumas regies (KARA JUNIOR;

    SANTHIAGO; ESPINDOLA, 2011).

  • Reviso da Literatura 24

    Para aumentar a quantidade de cirurgias de catarata realizadas,

    necessrio aumentar a demanda nos servios especializados, agindo tanto por

    meio de aes facilitadoras do acesso de pacientes ao tratamento, como de

    otimizao da capacidade cirrgica dos hospitais (KARA JUNIOR, 2011).

  • Objetivos 25

    4 OBJETIVOS

    4.1 Objetivo Geral

    Avaliar o impacto da qualidade de vida relacionado sade em indivduos

    submetidos cirurgia de catarata senil por meio do questionrio NEI VFQ-25,

    especfico de viso.

    4.2 Objetivos Especficos

    1. Avaliar a melhora visual no 15 dia do ps-operatrio de cirurgia de

    facectomia.

    2. Comparar a satisfao geral com a qualidade da viso antes e aps a

    cirurgia de catarata, segundo as caractersticas dos pacientes.

    3. Correlacionar s respostas dos subdomnios do questionrio NEI

    VFQ-25 com a acuidade visual aps a cirurgia.

  • Mtodos 26

    5 MTODOS

    5.1 Tipo e local de estudo

    Trata-se de estudo prospectivo, com abordagem quantitativa, descritiva-

    correlacional.

    5.2 Local do estudo

    O estudo foi realizado no Hospital das Clnicas Alberto Lima, situado em

    Macap-AP, a partir de convnio firmado entre a Secretaria Estadual de Sade de

    Amap e o CEROF/HC/UFG.

    O Centro de Referncia em Oftalmologia do Hospital das Clnicas da

    Universidade de Gois oferece atendimento a diferentes subespecialidades

    oftalmolgicas. Trata-se de um servio totalmente pblico e responsvel por

    atendimento aos usurios do Sistema nico de Sade (SUS) atuando como

    referncia terciria no municpio de Goinia e em outras regies do estado de

    Gois e do pas.

    O convnio teve por objetivo a realizao de procedimentos cirrgicos

    oftalmolgicos corretivos de catarata, desenvolvidos pelo Programa Viso Para

    Todos. As aes executadas por esse programa visavam oferecer atendimentos

    clnicos e cirrgicos para pacientes com problemas visuais e atuavam na reduo

    do contingente reprimido da demanda de usurios da rede pblica, exposta

    potencialmente ao risco de cegueira.

    No convnio, o CEROF/HC/UFG era responsvel pela equipe de trabalho

    (mdicos, tcnicos em enfermagem, enfermeira e assistentes administrativos)

    equipamentos e materiais para a realizao da cirurgia nos pacientes, alm da

    realizao de visitas do ps-operatrio, no primeiro e dcimo quinto dia aps o

    procedimento cirrgico, e no caso de intercorrncias, o paciente era encaminhado

    ao CEROF/HC/UFG para realizao de atendimento, conforme indicao mdica.

  • Mtodos 27

    5.3 Populao do estudo

    A populao desse estudo constou de 156 idosos residentes no municpio

    de Macap, Amap, inscritos no Programa Viso Para Todos, com indicao de

    cirurgia de catarata. A seleo desses pacientes foi conduzida por consulta prvia

    do oftalmologista local, realizou o primeiro atendimento com exames diagnsticos

    e inclua no Programa Viso Para Todos aqueles com indicao de cirurgia para

    catarata.

    O segundo atendimento era feito pela equipe do CEROF/HC/UFG que

    realizou outros exames pr-operatrios tais como: medida de acuidade visual por

    meio da tabela de Snellen, autorrefrao com ceratometria, ecobiometria por

    contato, fundoscopia e avaliao de segmento anterior atravs da lmpada de

    fenda. Aps a realizao dos exames e avaliao do oftalmologista, foi realizada

    a cirurgia pelo mtodo de facoemulsificao

    Foram includos todos os indivduos com 60 anos e mais com indicao de

    cirurgia de catarata. Como critrio de excluso, foi considerado apresentar

    comprometimento na funo mental e cognitiva que impossibilitasse o

    preenchimento do questionrio

    5.4 Coletas de dados

    Os dados foram coletados em duas etapas no perodo de setembro a

    outubro de 2013, utilizando o questionrio NEI VFQ-25 e a tabela de Snellen para

    a verificao da acuidade visual.

    A primeira etapa da coleta foi realizada antes da realizao da cirurgia e a

    segunda etapa ocorreu 15 dias aps o procedimento cirrgico de facectomia..

  • Mtodos 28

    5.5 Instrumentos de coleta de dados:

    5.5.1 Medida da Acuidade Visual

    Para avaliao da acuidade visual, foi utilizada a tabela Snellen,

    posicionada a 5 metros do paciente que, posteriormente, foi transformada para o

    logaritmo do mnimo ngulo de resoluo (LogMAR) para a comparao entre os

    resultados pr e ps-operatrios.

    5.5.2 Questionrio NEI-VFQ 25

    Para avaliao da qualidade de vida, foi utilizado o questionrio Visual

    Function Questionaire-25, desenvolvido pelo National Eye Institute (NEI VFQ-25)

    (MANGIONE, 2001), que avalia a sade geral e a qualidade de vida do paciente

    relacionados acuidade visual. Esse questionrio foi traduzido para lngua

    portuguesa com validade e confiabilidade estatisticamente comprovadas. A

    verso brasileira mostrou-se fidedigna na correlao entre os escores do VFQ-25

    com subescalas e domnios similiares do SF-36 (SIMO et al., 2008).

    O questionrio foi elaborado inicialmente com 51 itens e posteriormente

    reduzido e readaptado na verso de 25 itens, para se tornar til na prtica clnica

    e na coleta dos dados. (SIMO et al., 2008). O questionrio possui trs partes,

    sendo a primeira com quatro perguntas relacionadas sade geral e viso. A

    segunda parte formada por doze perguntas sobre dificuldades em realizar

    algumas atividades e a terceira parte com nove perguntas sobre coisas que so

    feitas e podem afetar a viso.

    O NEI-VFQ-25 composto por 25 itens que medem a qualidade de vida

    relacionada sade especfico de viso so agrupados em 12 sub-escalas ou

    subdomnios, com um ou mais itens em cada subdomnio: sade geral (um item),

    viso geral (um item), dor ocular (2 itens), dificuldade com atividades perto de

    viso (trs itens), dificuldade com atividades a distncia da viso (trs itens),

    limitao do funcionamento social devido viso (dois itens), problemas de sade

    mental devido viso (quatro itens), as limitaes de funes devido viso (dois

  • Mtodos 29

    itens), dependncia dos outros devido viso (trs itens), dificuldades de

    conduo (dois itens) dificuldade com a viso de cores (um item) e dificuldade

    com a viso perifrica (um item) (SIMO et al., 2008).

    Para cada questo, h cinco possibilidades de resposta, sendo que para

    cada resposta obtem-se uma pontuao que varia de 0 a 100 (0, 25, 50, 75, 100,

    de acordo com a resposta). Quanto maior o escore alcanado, melhor a qualidade

    de vida e funo visual do paciente. O NEI VFQ-25 o questionrio especfico

    para mensurao da qualidade da viso, instrumento validado e confivel,

    utilizado em vrios estudos de doenas oftalmolgicas (SIMO et al., 2008).

    5.6 Anlise dos dados

    Os dados foram estruturados em um banco de dados no programa

    Statistical Package For The Social Sciences (SPSS), verso 18.0 para Windows.

    Os dados relativos caracterizao dos pacientes foram analisados

    descritivamente expressos por frequncias absoluta e relativa.

    A comparao da acuidade visual e dos subdomnios do questionrio de

    VFQ-25 antes e aps a cirurgia foi apresentada em tabelas com mdia, mediana,

    desvio-padro, mnimo e mximo comparados pelo teste de Wilcoxon, utilizado

    para dados que no apresentaram distribuio normal para amostras pareadas.

    Na comparao das caractersticas dos participantes e na satisfao geral

    com a sade, utilizou-se o teste t Student, para dados que apresentaram

    distribuio normal.

    Para a correlao da acuidade visual com os domnios do questionrio

    VFQ-25 aps a cirurgia, utilizou-se o coeficiente de correlao de Spearman

    devido amostra no obedecer a uma distribuio normal, necessitando,

    portanto, de testes no paramtricos.

    O valor de p

  • Mtodos 30

    5.7 Aspectos ticos

    O estudo foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa Mdica, Humana

    e Animal do Hospital das Clnicas da Universidade Federal de Gois

    CEPMHA/HC/UFG conforme, parecer n 669.338.

    Todos os sujeitos receberam o Termo de Consentimento Livre e

    Esclarecido e s participaram aqueles que concordaram, assinando o referido

    termo, conforme Resoluo n 466/12 (BRASIL, 2012). Este estudo no acarretou

    em nenhum tipo de risco adicional para os pacientes ou sujeitos envolvidos no

    estudo.

  • Publicao 31

    6 PUBLICAO

    Artigo Ttulo: Impacto da facectomia na qualidade de vida de idosos

    atendidos em uma campanha assistencial de catarata.

    Autores: Tainara Sardeiro de Santana, Marcos Pereira de vila, David

    Leonardo Cruvinel Isaac, Gabriela Camargo Tobias, Thatianny

    Tanferri de Brito Paranagu.

  • Publicao 32

    Impacto da facectomia na qualidade de vida de idosos atendidos em uma

    campanha assistencial de catarata.

    Impacto de la ciruga de cataratas en la calidad de vida de los pacientes de

    edad avanzada en una catarata de campaa cuidado.

    Impact of cataract surgery on quality of life of elderly patients in a care

    campaign cataracts.

    Tainara Sardeiro De Santana1, Marcos Pereira de vila

    2, David Leonardo Cruvinel Isaac

    3,

    Gabriela Camargo Tobias4

    , Thatianny Tanferri de Brito Paranagu5

    1Enfermeira. Mestranda em Cincias da Sade pela Universidade Federal de Gois.

    [email protected]. 2Oftalmologista. Doutor e Chefe do Centro de Referncia em Oftalmologia (CEROF) da

    Universidade Federal de Gois. 3Oftalmologista. Doutor e Mdico Assistente do Centro de Referncia em Oftalmologia

    (CEROF) da Universidade Federal de Gois. 4Enfermeira. Doutoranda em Epidemiologia pela Universidade Federal de Gois.

    5Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente na Faculdade de Enfermagem da

    Universidade de Braslia.

    RESUMO

    Objetivo: Avaliar a melhora visual no 15 dia do ps-operatrio de cirurgia de facectomia

    e o impacto dessa na qualidade de vida dos idosos. Mtodos: Estudo prospectivo, com

    abordagem quantitativa, descritiva-correlacional, desenvolvido com 156 pacientes com

    indicao de cirurgia de catarata realizada por um convnio entre a Secretaria Estadual de

    Sade do Amap e o Centro de Referncia em Oftalmologia do Hospital das Clnicas da

    Universidade Federal de Gois entre setembro e outubro de 2013. Foram utilizados o

    questionrio de avaliao da qualidade de vida Visual Functioning Questionnaire (VQF-

    25) e a tabela de Snellen para medir a acuidade visual. Resultados: A acuidade visual

    mdia, em logMAR, aps 15 dias da cirurgia melhorou de 1,23 para 0,57 nos idosos

    (p=0,000). Na comparao das mdias de qualidade de vida antes e aps a facectomia, o

    subdomnio viso geral apresentou a maior diferena entre as mdias ante e aps a cirurgia

    (de 29,65 para 89,87). A anlise de correlao apontou que quanto melhor a acuidade

    visual do paciente aps a cirurgia, maior foi a satisfao em relao atividade para longe,

    melhora da dor ocular, sade mental, dependncia e satisfao geral. Concluso: A

    facectomia esteve associada a um impacto positivo sobre acuidade visual e a qualidade de

    vida dos idosos. A campanha assistencial de catarata se mostrou til para atender aos

    pacientes com indicao de cirurgia e diminuir a inacessibilidade ao tratamento

    oftalmolgico na sade pblica.

    Descritores: Catarata; Qualidade de vida; Acuidade visual; Facoemulsificao; Promoo

    da sade.

  • Publicao 33

    RESUMEN

    Objetivo: Evaluar la mejora visual a los 15 das de postoperatorio extraccin de la catarata

    y el impacto de la calidad de vida de las personas mayores. Mtodos: Estudio prospectivo

    con enfoque cuantitativo, descriptivo-correlacional, desarrollado con 156 pacientes con

    indicacin quirrgica de cataratas realizada por un acuerdo entre la Secretara de Estado de

    Salud de Amap y el Centro de Referencia para la Clnica de Oftalmologa de la

    Universidad Federal de Gois entre septiembre y octubre de 2013. Se utiliz un

    cuestionario para evaluar la calidad de vida Cuestionario Visual Funcionamiento (VQF-25)

    y la tabla de Snellen para medir la agudeza visual. Resultados: La agudeza visual media

    en logMAR, 15 das despus de la ciruga mejoraron 1,23 a 0,57 en los ancianos (p=0,000).

    En la comparacin de la calidad media de vida antes y despus de la ciruga de cataratas, el

    subdominio panorama presenta la mayor diferencia entre los medios antes y despus de la

    ciruga (29,65-89,87). El anlisis de correlacin mostr que la mejor agudeza visual del

    paciente despus de la ciruga, mayor es la satisfaccin con la mejora de dolor en el ojo, la

    actividad de distancia, la salud mental, adiccin y la satisfaccin general. Conclusin: La

    ciruga de cataratas se asoci con un impacto positivo en la agudeza visual y la calidad de

    vida de los ancianos. La campaa de cataratas atencin sanitaria demostr ser til para el

    tratamiento de pacientes con indicacin quirrgica y disminuir el acceso limitado a la

    atencin oftalmolgica en la salud pblica.

    Palabras clave: Catarata; La calidad de vida; La agudeza visual; La facoemulsificacin;

    Promocin de la salud.

    ABSTRACT

    Objective: To evaluate the visual improvement on the 15th day of postoperative cataract

    extraction and the impact of the quality of life of the elderly. Methods: A prospective

    study with a quantitative, descriptive-correlational approach, developed with 156 patients

    with cataract surgical indication performed by an agreement between the State Secretary of

    Health of Amap and the Reference Center for Ophthalmology Clinic of the Federal

    University of Gois between September and October 2013. We used a questionnaire to

    evaluate the quality of life Visual Functioning Questionnaire (VQF-25) and the Snellen

    chart to measure visual acuity. Results: The mean visual acuity in logMAR, 15 days after

    the surgery improved from 1.23 to 0.57 in the elderly (p=0,000). In comparison of the

    average quality of life before and after cataract surgery, the overview subdomain presented

    the biggest difference between the means before and after surgery (from 29.65 to 89.87).

    The correlation analysis showed that the better the patient's visual acuity after surgery, the

    greater the satisfaction with the improvement of eye pain, activity away, mental health,

    addiction and overall satisfaction. Conclusion: The cataract surgery was associated with a

    positive impact on visual acuity and quality of life of the elderly. The health care campaign

    cataract proved useful to treat patients with indication for surgery and decrease limited

    access to eye care in public health.

    Keywords: Cataract; Quality of life; Visual acuity; Phacoemulsification; Health

    promotion.

    Introduo

    O processo de envelhecimento populacional , hoje, uma tendncia mundial. No

    ltimo censo do IBGE de 2010, o percentual de pessoas idosas no Brasil, era cerca de

  • Publicao 34

    10,8% do total da populao, correspondendo a aproximadamente 20 milhes de pessoas

    com 60 anos ou mais(1)

    . Segundo estimativas essa populao ir quadruplicar at 2060,

    representando 26,7% da populao brasileira(2)

    . Esse processo de mudana na estrutura

    etria da populao brasileira sugere intervenes para o planejamento e para a adaptao

    da oferta demanda de servios de sade no pas.

    O envelhecimento da populao traz como consequncia o aumento da prevalncia

    das doenas crnicas, caractersticas do idoso(3)

    , dentre essas encontram-se as oculares,

    como a catarata(4)

    .

    A catarata definida como qualquer opacidade do cristalino que difrate a luz,

    acarretando efeito negativo na viso(5)

    , sendo a principal causa de cegueira no Brasil(6)

    . De

    acordo com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia, calcula-se que 10% da populao

    acima de 50 anos de idade tenha catarata, e essa prevalncia eleva para 50% no grupo

    etrio de 65 a 74 anos de idade e para 75% aps 75 anos(7)

    .

    Um estudo realizado nos Estados Unidos verificou que entre as condies crnicas

    sofridas pelos idosos, na ordem de sua prevalncia, esto a hipertenso (36,1%), a doena

    pulmonar obstrutiva crnica (23,7%) e a catarata (16,7%)(8)

    . Em Honduras, um estudo

    referiu a catarata (59,2%) e o glaucoma (21,1%) como as principais causas de cegueira

    entre os idosos(9)

    . Outro estudo realizado no nordeste brasileiro concluiu que a catarata foi

    a doena ocular mais prevalente (45%) entre os idosos, seguida do glaucoma (18%)(10)

    .

    Embora haja avanos na cirurgia de catarata em muitas partes do mundo, a catarata

    a maior causa de cegueira evitvel cirurgicamente(6)

    . Essa cirurgia apresenta alta

    eficincia, favorvel custo-benefcio no tratamento e na reabilitao visual(11)

    .

    A catarata, a diminuio da acuidade visual causada por ela, e a cirurgia podem

    interferir na qualidade de vida das pessoas(6,12)

    .

  • Publicao 35

    A sade e a qualidade de vida dos idosos, mais que em outros grupos etrios,

    sofrem influncia de mltiplos fatores: fsicos, psicolgicos, sociais e culturais. Assim, a

    assistncia ao idoso deve considerar os processos de perdas prprias do envelhecimento e

    as possibilidades de preveno, manuteno e reabilitao do seu estado de sade(13)

    .

    A cirurgia de catarata tem resultados positivos, tanto em relao ao aumento da

    acuidade visual quanto diminuio de complicaes oftalmolgicas, bem como a reduo

    dos prejuzos financeiros para o estado e funcionais para os pacientes(14)

    que,

    consequentemente, causa impacto na qualidade de vida dos idosos.

    Considerando que a literatura cientfica brasileira escassa em dados que reflitam a

    qualidade de vida dos idosos com catarata e pela tendncia dessa populao estar sempre

    aumentando no pas, este estudo tem por objetivo avaliar a melhora visual no 15 dia do

    ps-operatrio de cirurgia de facectomia e o impacto dessa na qualidade de vida dos

    idosos.

    Mtodo

    Estudo prospectivo, com abordagem quantitativa, descritiva-correlacional,

    desenvolvido em um hospital pblico localizado em Macap-AP.

    A populao foi composta por 156 idosos, com indicao para a realizao de

    cirurgia de catarata, inscritos no Projeto Viso para Todos em uma campanha assistencial

    realizada por um convnio entre a Secretria Estadual de Sade do Amap e o Centro de

    Referncia em Oftalmologia do Hospital das Clnicas da Universidade Federal de Gois

    (CEROF/HC/UFG).

    Os dados foram coletados entre setembro e outubro de 2013, utilizando a tabela de

    Snellen para verificao da acuidade visual, antes e quinze dias aps a facectomia e o

    questionrio de avaliao da qualidade de vida Visual Functioning Questionnaire (VQF-

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Macap%C3%A1

  • Publicao 36

    25) desenvolvido pelo National Eye Institute (NEI)(15)

    , traduzido para lngua portuguesa(16)

    com validade e confiabilidade estatisticamente comprovadas(17)

    .

    Foram includos idosos com idade de 60 anos e mais e como critrio de excluso,

    foi considerado apresentar algum comprometimento na funo mental e cognitiva que

    impossibilitasse o preenchimento do questionrio.

    O VFQ-25 avalia a sade geral do paciente, assim como a qualidade de vida

    relacionadas acuidade visual. Ele possui 25 questes agrupadas em 12 subdomnios com

    uma ou mais questes em cada subdomnio. Para cada questo, h cinco possibilidades de

    resposta, sendo que para cada resposta obtm-se uma pontuao que varia de 0 a 100. A

    pontuao final obtida ento dividida pelo nmero de questes, obtendo-se um escore

    para cada paciente cujo valor mnimo zero e o valor mximo 100. Quanto maior o

    escore alcanado, melhor a qualidade de vida e funo visual do paciente.

    Os dados foram analisados atravs do programa Statistical Package for the Social

    Sciences (SPSS) verso 18.0. Realizou-se a anlise estatstica descritiva dos dados

    sociodemogrficos. Utilizou-se teste de Wilcoxon para a comparao da acuidade visual e

    dos subdomnios do questionrio de VFQ-25 antes e aps a cirurgia. Na comparao das

    caractersticas dos participantes e na satisfao geral com a sade, utilizou-se o teste t

    Student. Para a correlao da acuidade visual com os domnios do questionrio VFQ-25

    aps a cirurgia, utilizou-se o coeficiente de correlao de Spearman. O valor de p

  • Publicao 37

    Resultados

    Participaram do estudo 156 idosos que foram submetidos cirurgia de facectomia.

    Dentre os participantes, 80 (51,3%) eram do sexo feminino e 76 (48,7%), do sexo

    masculino. A idade variou de 60 a 95 anos, com 84 (53,8%) idosos na faixa etria de 70

    anos e mais e 72 (46,2%) idosos com idade entre 60 a 69 anos, e a mdia de idade foi de

    66,6 anos.

    Quanto ao estado civil, 130 (80,3%) pacientes estavam sem companheiro (solteiro,

    vivo, divorciado) e 26 (16,7%) tinham companheiro (casado/amasiado). Destaca-se que

    47 (30,1%) eram analfabetos e 109 (69,9%) tinham alguma escolaridade, dentre esses 57

    (36,5%) apenas o fundamental incompleto.

    A situao previdenciria para 141 (90,4%) pacientes era de aposentados e apenas

    15 (9,6%) trabalhavam. A renda mensal variou de nenhum a 4,7 salrios mnimos, sendo

    que 148 (94,9%) relataram receber at um salrio mnimo, o que equivale a

    aproximadamente R$678,00.

    A acuidade visual mdia, em logMAR, aps 15 dias da cirurgia, melhorou de 1,23

    (desvio-padro de +- 0,46) para 0,57 (desvio-padro de +- 0,53), obtendo diferena

    estatisticamente significativa (p=0,000), o que confirma a melhoria da acuidade visual aps

    a interveno cirrgica.

    A Tabela 1 mostra a comparao da qualidade de vida dos idosos antes e aps a

    facectomia.

    Tabela 1- Comparao da qualidade de vida dos idosos antes e aps a facectomia. Macap, Amap, Brasil,

    2013.

    Subdomnios Antes (N=156) Depois (N=156) Wilcoxon

    Mdia

    Desvio

    padro

    Mdia

    Desvio

    padro

    p-valor

    Sade geral 29,65 27,5 37,18 27,75 0,009

  • Publicao 38

    Viso 29,97 25,31 89,87 17,52 0,018

    Dor ocular 65,3 26,01 72,92 23,06 0,000

    Atividade perto 64,57 20,98 70,73 20,54 0,001

    Atividade longe 69,62 20,98 76,75 22,01 0,000

    Aspecto social 90,00 16,69 95,00 12,62 0,001

    Sade mental 56,41 21,92 68,23 18,9 0,000

    Atividades dirias 54,73 29,08 60,9 27,45 0,008

    Dependncia 62,39 23,02 74,2 18,47 0,000

    Capacidade de dirigir 5,77 18,67 6,03 20,75 0,547

    Viso de cores 82,82 22,66 89,87 17,52 0,000

    Viso perifrica 77,05 23,26 82,69 21,2 0,003

    Satisfao geral 57,35 14,49 64,25 12,46 0,000

    Na comparao das mdias de qualidade de vida antes e aps a facectomia, com

    exceo do subdomnio capacidade para dirigir automveis, observou-se diferena

    estatisticamente significante em todos os subdomnios do questionrio. Em todos esses

    casos, verifica-se que a qualidade de vida foi melhor aps a realizao da cirurgia.

    A maior mdia de satisfao obtida pelos pacientes foi em relao viso geral que

    antes da cirurgia apresentou mdia de satisfao de 29,65 e, aps a cirurgia, aumentou para

    89,87. Outras mdias altas observadas foram nos domnios dependncia e sade geral.

    A Tabela 2 apresenta a comparao entre as caractersticas dos pacientes e a

    satisfao geral aps a cirurgia.

  • Publicao 39

    Tabela 2- Comparao entre a satisfao geral antes e aps a cirurgia de catarata, segundo sexo, idade,

    escolaridade, estado civil, renda e situao previdenciria dos idosos. Macap, Amap, Brasil, 2013.

    Verificou-se que, em todas as idades, escolaridades e ambos sexos, a satisfao

    geral foi estatisticamente significante aps a cirurgia. Os pacientes com estado civil sem

    companheiro (vivo, divorciado, solteiro), com renda de at um salrio mnimo e os

    Variveis Satisfao geral antes (N=156) Satisfao geral depois (N=156) Teste t

    N Mdia Med DP Mn Mx Mdia Med DP Mn Mx p

    Sexo

    Masculino 76 58,83 59,22 15,00 29,44 88,54 65,97 66,82 12,36 35,87 88,54 0,000

    Feminino 80 55,96 58,66 13,94 27,60 79,65 62,62 65,87 12,42 32,85 83,30 0,000

    Faixa etria

    60-69 anos 71 59,74 62,15 14,20 29,20 85,69 64,65 66,11 12,65 35,87 88,54 0,001

    70 anos e mais 85 55,37 55,28 14,52 27,60 88,54 63,92 66,18 12,38 32,85 87,43 0,000

    Estado Civil

    Com

    companheiro

    26

    56,01 55,82 15,00 29,44 85,69 60,62 64,31 12,93 37,50 79,55 0,067

    Sem

    companheiro

    130

    57,63 59,03 14,43 27,60 88,54 64,98 66,89 12,29 32,85 88,54 0,000

    Analfabeto

    Sim 47 51,03 49,44 13,23 29,44 76,63 59,90 59,97 11,68 32,85 82,29 0,000

    No 109 60,08 60,28 14,21 27,60 88,54 66,13 68,89 12,38 35,87 88,54 0,000

    Renda

    At 1 salrio 148 56,94 58,06 14,34 27,60 85,69 63,77 66,11 12,44 32,85 88,54 0,000

    Mais de 1 salrio 8 65,02 64,31 16,08 33,44 88,54 73,20 77,31 9,84 59,97 83,19 0,263

    Trabalha

    Sim 16 68,76 71,81 16,03 33,44 88,54 70,88 74,10 12,40 47,53 88,54 0,609

    No 140 56,02 56,44 13,81 27,60 81,32 63,48 66,11 12,32 32,85 87,43 0,000

  • Publicao 40

    aposentados apresentaram melhora significativa da satisfao geral aps a cirurgia de

    catarata.

    A Tabela 3 aponta os valores do coeficiente de correlao de Spearman entre os

    escores da acuidade visual e dos subdomnios do questionrio da qualidade de vida.

    Tabela 3- Correlao de Spearman entre os domnios do VQF -25 e a acuidade visual. Macap, Amap,

    Brasil, 2013.

    Acuidade visual

    Subdomnios Correlao de Spearman p

    Sade geral -.096 .236

    Viso -.142 .076

    Dor ocular -.177 .027

    Atividade perto -.144 .073

    Atividade longe -.261 .001

    Aspecto social -.129 .108

    Sade mental -.199 .013

    Atividades dirias -.108 .181

    Dependncia -.162 .043

    Capacidade de dirigir -.075 .354

    Viso de cores -.149 .064

    Viso perifrica -.112 .163

    Satisfao geral -.194 .015

    A anlise de correlao apontou que quanto melhor a acuidade visual do paciente

    aps a cirurgia, maior foi a satisfao em relao melhora da dor ocular, atividade para

    longe, sade mental, dependncia e satisfao geral, aps a cirurgia de facectomia, uma

    vez que foram constatadas correlaes significativas (p< 0,05).

  • Publicao 41

    Discusso

    As caractersticas dos idosos encontradas neste estudo com a maioria na faixa etria

    de 70 anos e mais, sexo feminino, analfabetos ou ensino fundamental incompleto,

    aposentados, renda familiar inferior a um salrio mnimo, so compatveis com outros

    recentes estudos com idosos utilizando o mesmo questionrio(4,10,18)

    , o que confirma o atual

    perfil dos idosos brasileiros portadores de doenas oculares.

    A facectomia refletiu como um fator positivo para a melhoria da acuidade visual

    dos idosos, a qual passou de 1,23 para 0,57 unidades LogMAR aps a cirurgia. Esses

    resultados equivalem-se aos achados na literatura(9,11,19,20)

    , e constata-se a importncia da

    realizao da cirurgia como forma de reabilitao da viso entre os idosos.

    A comparao da qualidade de vida antes e aps a facectomia revelou uma

    diferena estatisticamente significativa aps o procedimento cirrgico com as mdias mais

    altas encontradas nos domnios viso geral, dependncia e sade geral. O

    subdomnio capacidade para dirigir foi o nico que no apresentou melhora

    estatisticamente significativa, j que, neste estudo, a maioria dos participantes era idosos,

    analfabetos e, portanto, provavelmente no tinha carteira de habilitao, assim, nesse item

    apenas, 12 pessoas responderam que dirigiam. A anlise de correlao de Spearman

    apontou que quanto melhor a acuidade visual do paciente aps a cirurgia, maior foi a

    satisfao em relao melhora da dor ocular, atividade para longe, sade mental,

    dependncia e satisfao geral.

    Como a sade geral est diretamente relacionada sade ocular, a recuperao

    visual condio determinante para a melhoria do bem-estar, aumento da autoestima e da

    sade geral, mediante o favorecimento de independncia e autonomia, participao social,

    preservao de capacidades cognitivas, hbitos saudveis e/ou reduo de ansiedade e

    depresso(6,10)

    .

  • Publicao 42

    Estudo realizado no serto do Pernambuco, utilizando o questionrio VFQ- 25 em

    idosos, concluiu que o dficit visual trouxe comprometimentos nas atividades de perto e

    longe e, consequentemente, as atividades de vida diria foram prejudicadas nesses idosos,

    acarretando maior dependncia e insegurana. Tal dependncia est ligada a uma pior

    sade mental, assim co