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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS DA SADE
TAINARA SARDEIRO DE SANTANA
O IMPACTO DA CIRURGIA DE CATARATA SENIL SOBRE A QUALIDADE DE VIDA DE PACIENTES ATENDIDOS EM
CAMPANHA ASSISTENCIAL
Goinia 2015
TAINARA SARDEIRO DE SANTANA
O IMPACTO DA CIRURGIA DE CATARATA SENIL SOBRE A QUALIDADE DE VIDA DE PACIENTES ATENDIDOS EM
CAMPANHA ASSISTENCIAL
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincias da Sade da Universidade Federal de Gois para a obteno do Ttulo de Mestre em Cincias da Sade.
Orientador: Prof. Dr. Marcos Pereira de vila Coorientador: Prof. Dr. David Leonardo Cruvinel Isaac
Goinia 2015
ii
ii
Programa de Ps-Graduao em Cincias da Sade da Universidade Federal de Gois
BANCA EXAMINADORA DA DISSERTAO DE MESTRADO
Aluno(a): Tainara Sardeiro De Santana
Orientador(a): Marcos Pereira de vila
Coorientador(a): David Leonardo Cruvinel Isaac
Membros:
1. Prof. Dr. Marcos Pereira vila
2. Prof. Dr. Alan Ricardo Rassi
3. Prof Dra. Maria Alves Barbosa
4. Prof. Dra Thatianny Tanferri de Brito Paranagu
Suplente:
5. Prof. Dr. Murilo Batista Abud
Data: 11/08/2015
iii
iii
Dedico este trabalho ao meu esposo
Kelson e a minha filha Ceclia,
obrigada pela compreenso e apoio.
minha Me Vanilde e aos meus
irmos Tamily e Kaique.
Sem eles nada disso seria possvel.
iv
iv
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar agradeo a Deus por me amparar nos momentos
difceis.
Ao meu orientador Prof. Dr. Marcos vila por acreditar em mim, fazendo
parte da minha vida nos momentos bons e ruins, por ser exemplo de profissional.
Ao coorientador professor Dr. David Isaac por sua ajuda nos momentos
mais crticos, por acreditar no futuro deste trabalho, contribuir para o meu
crescimento profissional e por ser tambm um exemplo a ser seguido.
Ao Prof. Dr. Alan Ricardo Rassi, obrigada por compartilhar seus
conhecimentos.
minha famlia de lei, Divina de Ftima, Jos Antnio, Katiuscia, Kennedy,
muito obrigada pelo acolhimento e carinho.
s enfermeiras Maria Goretti e Ana Lcia Arajo, companheiras d
caminhada longo da minha jornada profissional. Posso dizer q minha
formao, inclusive pessoal, n teria sido mesma sm vocs.
s oftalmologistas Dra. Alline Melo e Dra. Kariza Frantz, pr seus
ensinamentos, pacincia confiana longo ds supervises.
Professora Dra. Maria Alves Barbosa, obrigada pela pacincia e
contribuies dos seus conhecimentos.
professora Dra. Thatianny Tanferri de Brito Paranagu vsss conversas
foram fundamentais.
s funcionrios do faturamento, ambulatrio e secretaria do CEROF, em
especial Rita de Cssia, Vincius, Leila, Clia, Thatyellen, Elcilene, muito
obrigada pelo incentivo colaborao.
Aos residentes e fellows do CEROF, em especial, Hiran, Alessandra,
Larissa e Tauan, obrigada por compartilhar seus conhecimentos.
Aos professores e colegas do curso de Cincias da Sade, em especial as
colegas Valdecina Quirino, Gabiela Policena e Gabriela Camargo, q foram t
importantes n minha vida acadmica n desenvolvimento dste trabalho.
Aos profissionais do hospital Alberto Lima, de Macap-AP, pela
contribuio na pesquisa e entrevistas com os pacientes.
v
v
s meus amigos, obrigada pls alegrias, tristezas dores
compartilhadas. Cm vocs, s pausas entre m pargrafo outro d produo,
melhoram tudo q tenho produzido n vida.
vi
Sumrio vi
SUMRIO
TABELAS, FIGURAS E ANEXOS.............................................................................................. VIII
SMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS ................................................................................... IX
RESUMO ....................................................................................................................................... XI
ABSTRACT .................................................................................................................................. XII
1 INTRODUO ............................................................................................................................ 1
2 HISTRICO................................................................................................................................. 6
2.1 CAMPANHAS E MUTIRES ....................................................................................................... 6
2.2 DISTRIBUIO GEOGRFICA DOS OFTALMOLOGISTAS NO BRASIL ............................................ 10
3 REVISO DA LITERATURA .................................................................................................... 12
3.1 CRISTALINO ......................................................................................................................... 15
3.2 ASPECTOS CLNICOS E DIAGNSTICOS DA CATARATA ............................................................. 16
3.3 CATARATA SENIL .................................................................................................................. 17
3.4 TRATAMENTO DA CATARATA ................................................................................................. 22
3.5 QUALIDADE DE VIDA NA SENECTUDE ..................................................................................... 12
4 OBJETIVOS .............................................................................................................................. 25
4.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................................................. 25
4.2 OBJETIVOS ESPECFICOS ..................................................................................................... 25
5 MTODOS ................................................................................................................................ 26
5.1 TIPO E LOCAL DE ESTUDO ..................................................................................................... 26
5.2 LOCAL DO ESTUDO ............................................................................................................... 26
5.3 POPULAO DO ESTUDO ...................................................................................................... 27
5.4 COLETAS DE DADOS ............................................................................................................. 27
5.5 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS: ................................................................................. 28
5.5.1 MEDIDA DA ACUIDADE VISUAL ........................................................................................... 28
5.5.2 QUESTIONRIO NEI-VFQ 25 ............................................................................................. 28
5.6 ANLISES DOS DADOS .......................................................................................................... 29
5.7 ASPECTOS TICOS ............................................................................................................... 30
vii
Sumrio vii
6 PUBLICAO........................................................................................................................... 31
7 CONCLUSES ......................................................................................................................... 48
8 CONSIDERAES FINAIS ...................................................................................................... 49
9 REFERNCIAS ......................................................................................................................... 51
10 ANEXOS ................................................................................................................................. 59
ANEXO 1- PARECER DO COMIT DE TICA .................................................................................. 59
ANEXO 2- TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) ...................................... 614
ANEXO 3- QUESTIONRIO NEI VFQ 25 ...................................................................................... 66
viii
Tabelas, figuras e anexos viii
TABELAS, FIGURAS E ANEXOS
TABELAS
Tabela 1 - Comparao da qualidade de vida dos idosos antes a aps a facectomia.
Macap, Amap, Brasil, 2013....................................................................... 39
Tabela 2 - Comparao entre a satisfao geral antes e aps a cirurgia de catarata
segundo sexo, idade, escolaridade, estado civil, renda e situao
previdenciria dos idosos. Macap, Amap, Brasil, 2013............................ 42
Tabela 3 - Correlao de Spearman entre os domnios do VQF -25 e a acuidade
visual. Macap, Amap, Brasil, 2013............................................................ 42
FIGURAS
Figura 1 - Catarata subcapsular.................................................................................... 15
Figura 2 - Catarata nuclear........................................................................................... 16
Figura 3 - Catarata cortical............................................................................................ 17
Figura 4 - Catarata imatura........................................................................................... 17
Figura 5 - Catarata madura........................................................................................... 18
Figura 6 - Catarata hipermadura.................................................................................. 18
Figura 7 - Catarata morganiana.................................................................................. 19
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comit de tica......................................................................... 62
Anexo 2 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido............................................. 64
Anexo 3 - Normas de publicao do respectivo peridico........................................... 66
Anexo 4 - Questionrio NEI VFQ 25............................................................................ 70
ix
Smbolos, siglas e abreviaturas ix
SMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS
AP Amap
CBO Conselho Brasileiro de Oftalmologia
CEROF Centro de Referncia em Oftalmologia
CEPHA Comit de tica em Pesquisa Humana e Animal
DPOC Doena pulmonar obstrutiva crnica
HC Hospital das Clnicas
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
LIO Lentes intra-oculares
LOGMAR Logaritmo do mnimo ngulo de resoluo
MS Ministrio da Sade
NEI-VFQ-25
NEI
National Eye Institute Visual Function Questionaire -25
National Eye Institute Instituto Nacional de Olhos dos Estados
Unidos
OMS Organizao Mundial de Sade
QV Qualidade de vida
SES Secretaria Estadual de Sade
SPSS Statistical Package For The Social Sciences
SUS Sistema nico de Sade
TCC Taxa de Cirurgia de Catarata
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
x
Smbolos, siglas e abreviaturas x
UFG Universidade Federal de Gois
xi
Resumo xi
RESUMO
O processo de envelhecimento populacional uma tendncia mundial e traz,
como conseqncia, o aumento da prevalncia das doenas crnicas no idoso,
entre as quais se destaca a catarata. O objetivo do presente estudo foi avaliar a
melhora visual no 15 dia do ps-operatrio de cirurgia de facectomia e o impacto
dessa na qualidade de vida dos idosos. Realizou-se um estudo prospectivo, com
abordagem quantitativa, descritiva-correlacional, desenvolvido com 156 pacientes
com indicao de cirurgia de catarata realizada por um convnio entre a
Secretaria Estadual de Sade do Amap e o Centro de Referncia em
Oftalmologia da Universidade Federal de Gois entre setembro e outubro de
2013. Foram utilizados o questionrio de avaliao da qualidade de vida Visual
Functioning Questionnaire (VQF-25) e a tabela de Snellen para medir a acuidade
visual. A acuidade visual mdia, em logMAR, aps 15 dias da cirurgia melhorou
de 1,23 (20/340 na tabela de Snellen) para 0,57 (20/74 na tabela de Snellen) e foi
estatisticamente significativa (p=0,000). Na comparao das mdias de qualidade
de vida antes e aps a facectomia, o subdomnio viso geral apresentou a maior
diferena entre as mdias (de 29,65 para 89,87). A anlise de correlao apontou
que quanto melhor a acuidade visual do paciente aps a cirurgia, maior foi a
satisfao em relao atividade para longe, melhora da dor ocular, sade
mental, dependncia e satisfao geral. A facectomia associou-se a um impacto
positivo sobre a acuidade visual e a qualidade de vida dos idosos. A campanha
assistencial mostrou-se til para atender pacientes com catarata e diminuir a
inacessibilidade ao tratamento oftalmolgico na sade pblica.
Palavras-chave: Catarata; Qualidade de vida; Acuidade visual;
Facoemulsificao; Promoo da sade.
xii
Abstract xii
ABSTRACT
Population aging is a global trend and brings as a consequence the increasing
prevalence of chronic diseases of the elderly such as cataract.The purpose of this
study was to evaluate the visual improvement on the 15th day after cataract
surgery and the impact on the quality of life of older people. A prospective study
was conducted with a quantitative, descriptive and correlational approach,
developed with 156 patients with indication for cataract surgery. The surgeries
were performed after an agreement between the Department of Health of Amap
and the Reference Center for Ophthalmology/Federal University of Gois, in
September and October 2013. Visual Functioning Questionnaire (VQF-25) was
used to evaluate quality of life and Snellen chart was used to measure visual
acuity. The visual acuity average in logMAR after 15 days from surgery improved
from 1.23 (20/340 Snellen) to 0.57 (20/74 on the Snellen chart) and was
statistically significant (p = 0.000). When comparing the average quality of life
before and after cataract surgery, the overview subdomain showed the greatest
difference between the averages before and after surgery (of 29.65 to 89.87).
Correlation analysis showed that the better the visual acuity after surgery, the
higher the satisfaction with distance activity, the better eye pain, mental health,
addiction and overall satisfaction. The cataract surgery was associated with a
positive impact on visual acuity and quality of life of older people. The assistancial
campaign was useful to treat patients with cataracts and improved the accessibility
to eye care in public health.
Keywords: cataracts; quality of life; visual acuity; phacoemulsification; health
promotion.
Introduo 1
1 INTRODUO
O processo de envelhecimento populacional , hoje, uma tendncia mundial.
No Brasil, no ltimo censo do IBGE de 2010, o percentual de pessoas idosas era
cerca de 11% do total da populao, correspondendo a aproximadamente 20
milhes de pessoas com 60 anos ou mais (IBGE, 2010). Segundo estimativas,
essa populao ir quadruplicar at 2060, representando 28% da populao
brasileira (IBGE, 2014). Esse processo de mudana na estrutura etria da
populao brasileira sugere intervenes para o planejamento e para a adaptao
da oferta demanda de servios de sade no pas.
O envelhecimento da populao traz como consequncia o aumento da
prevalncia das doenas crnicas caractersticas do idoso (MINAYO, 2012).
Dentre essas se encontram as oculares, como a catarata (MACEDO et al., 2013).
Pesquisa realizada nos Estados Unidos apontou que entre as condies
crnicas sofridas pelos idosos, na ordem de sua prevalncia, esto a hipertenso
(36%), a doena pulmonar obstrutiva crnica (DPOC) (24%) e catarata (17%)
(CHI; CY; WU, 2011). Em Honduras, um estudo encontrou a catarata (60%) e
glaucoma (21%) como as principais causas de cegueira entre os idosos
(ALVARADO et al., 2014). Outro estudo realizado no nordeste do Brasil verificou
que a catarata foi a doena ocular mais prevalente (45%) entre os idosos, seguida
do glaucoma (18,%) (BRAVO FILHO et al., 2012).
A catarata definida como qualquer opacidade do cristalino que difrate ou
impea a passagem da luz, acarretando efeito negativo na viso (ARIETA, 2008),
sendo a principal causa de cegueira no Brasil (SANTOS et al., 2014). A catarata
senil uma das afeces oftalmolgicas mais frequentes, com incidncia
estimada de 18% em menores de 65 anos de idade, 47% em idosos com 65 a 74
anos e 73% naqueles acima de 75 anos, o que representa cerca de 600 mil novos
casos de catarata por ano, sendo a principal causa de deficincia visual,
responsvel por 40% dos casos de cegueira no mundo (TALEB et al., 2009). Esse
nmero foi sensvelmente reduzido com as campanhas nacionais que facilitaram
as facectomias, estimando-se hoje uma prevalncia de 350 mil por catarata. No
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Chi%20MJ%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=20452688http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Lee%20CY%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=20452688
Introduo 2
ano de 2008, relatou-se a existncia de aproximadamente 18 milhes de pessoas
cegas em decorrncia dessa alterao visual (KARA JOS; BICAS; CARVALHO,
2008).
As projees da Organizao Mundial de Sade (OMS), baseadas no
envelhecimento e aumento da populao mundial, preveem cerca de 75 milhes
de cegos em 2020, sendo que as estimativas em relao cegueira legal (20/200
viso, corrigida no melhor olho). No Brasil existem 17 milhes de pessoas com
algum grau de deficincia visual, sendo quase 150 mil cegos e outras pessoas
com comprometimento visual importante (LUIZ et al., 2009).
Embora haja avanos na cirurgia de catarata em muitas partes do mundo, a
catarata ainda a maior causa de cegueira evitvel cirurgicamente (SANTOS et
al., 2014). Essa cirurgia apresenta alta eficincia e favorvel custo-benefcio no
tratamento e na reabilitao visual (PEREIRA et al., 2012).
Outro estudo realizado com pacientes com glaucoma e catarata concluiu que
a cirurgia melhorou a acuidade visual de 87% do olho operado (NSSER et al.,
2012). Estudo mostrou que, aps a cirurgia de catarata, 64% dos operados
apresentaram melhora na acuidade visual (PEREIRA et al., 2012).
No Brasil, tendo em vista uma populao total de quase 200 milhes de
habitantes e uma extenso territorial de 8.514.876,599 km2 (IBGE, 2013),
comumente so encontrados importantes contrastes socioeconmicos,
heterogeneidade de distribuio de infraestruturas em educao e sade, o que
no diferente na assistncia oftalmolgica no pas.
A Organizao Mundial de Sade (OMS) preconiza a relao de 1
oftalmologista para cada 17.000 a 18.000 habitantes como proporo mnima
ideal, conforme ltimo Censo Brasileiro de Oftalmologia (CBO,2011).
O Brasil tem hoje, segundo o Censo do Conselho Brasileiro de Oftalmologia,
15.719 oftalmologistas, sendo que 56% se concentram na regio Sudeste, 15%,
na regio Sul, 8%, na regio Centro-Oeste, 18%, na regio Nordeste e 3%, na
regio Norte. Existem cerca de 16 milhes de habitantes na regio Norte e 551
oftalmologistas, em uma relao de 1 oftalmologista para cada 28.794 habitantes.
O Amap o estado brasileiro que tem menor relao oftalmologista por
habitante com 1 oftalmologista para 51.437 habitantes, ou seja, quase 3 vezes
Introduo 3
menos do que o preconizado pela OMS como adequado (CBO, 2011; IBGE,
2010).
A fixao de mdicos e profissionais de sade em grandes centros urbanos
maior mesmo em pases desenvolvidos. Em regies mais pobres de pases em
desenvolvimento, esse contraste ainda maior (CAMPOS; MACHADO; GIRARDI,
2009).
Nesse sentido, estudos apontam que o Brasil no consegue realizar o
nmero total de cirurgias de catarata necessrio para compensar o surgimento de
novos casos, com isso cresce a importncia das campanhas de catarata e da
otimizao dos centros cirrgicos ambulatoriais para as cirurgias em larga escala
(KARA JUNIOR; ESPNDOLA, 2010; KARA JUNIOR; SANTHIAGO; ESPNDOLA,
2011).
A grande fila de espera foi apontada como a principal causa para a no
realizao da cirurgia de catarata em pacientes atendidos no Sistema nico de
Sade (SUS) em So Paulo. Essa realidade enfatiza a importncia e a
resolutividade da campanha assistencial no combate cegueira, j que em um
mesmo dia os pacientes que forem diagnosticados podem ter a cirurgia
agendada, diminuindo retornos desnecessrios ao hospital e minimizando o
tempo de espera para o tratamento (KARA-JNIOR et al., 2011). Nesse sentido,
as campanhas assistenciais de catarata se tornam potencialmente relevantes,
para a realizao de cirurgias como forma de reduo da baixa acuidade visual
causada pela catarata senil em regies desassistidas.
A catarata, a diminuio da acuidade visual causada por ela e a cirurgia
podem interferir na qualidade de vida das pessoas (SANTOS et al., 2014;
CAMPOLINA; DINI; CICONELLI, 2011).
Nessa perspectiva, a sade ocular est diretamente relacionada qualidade
de vida do ser humano. A perda da capacidade visual implica na diminuio da
qualidade de vida, decorrente de restries ocupacionais, econmicas, sociais e
psicolgicas. Para a sociedade, representa encargos onerosos e perda de fora
de trabalho (LUIZ et al., 2009).
De acordo com a Organizao Mundial de Sade, qualidade de vida a
percepo do indivduo de sua posio na vida, no contexto da cultura do
Introduo 4
sistema de valores em que vive e em relao aos seus objetivos, expectativas,
padres e percepes (WHOQOL, 1995).
Qualidade da viso uma parte integrante da qualidade de vida relacionada
sade e avaliao das dimenses do autorrelato estado de sade relacionada
viso. A viso considerada a grande promotora da integrao do indivduo em
atividades motoras, perceptivas e mentais, e a perda da mesma pode provocar
marcantes alteraes, diminuindo sua capacidade na sociedade (LUCAS et al.,
2003).
A Literatura dispe de inmeros instrumentos para avaliao da qualidade
de vida a vrias situaes, tais como os Sickness Impact Pofile (SIP), o SF 36,
WHOQOL (World Health Organization Quality Of Life) entre outros, quanto
especficos, utilizados para determinada doena ou situao. Vrios questionrios
so utilizados para medir a qualidade de vida de deficientes visuais, dentre os
quais o Activities of Daily Vision Scale (ADVS), o Low Vision Quality-of-Life,
concebidos para avaliao de doenas oculares e o Vision Function
Questionnaire (VFQ), instrumento utilizado para avaliao da qualidade de vida
do presente estudo (SEIDL; ZANNON, 2004; CICONELLI et al, 1999; WHOQOL,
1995).
Como necessidade de desenvolver instrumentos para medir distrbios
visuais e especficos o questionrio Visual Function Questionaire-25 foi
desenvolvido pelo National Eye Institute (NEI VFQ-25) em meados da dcada de
1990, com objetivo de avaliar a sade geral e a qualidade de vida do paciente
relacionadas acuidade visual. Esse questionrio tem sido muito utilizado para
acompanhamento dos resultados de vrias doenas oculares, devido avalio
dos resultados de sintomas e tratamento na vida dos pacientes (MANGIONE,
2001). Esse questionrio foi testado e traduzido para lngua portuguesa com
validade e confiabilidade estatisticamente comprovadas (SIMO et al., 2008).
Para elaborao do questionrio, foi utilizado o SF 36, porque uma das
medidas mais utilizadas nos servios de investigao de sade e j foi traduzido
para o idioma portugus e validado no Brasil. Inicialmente o questionrio NEI
VFQ-25 foi elaborado com 51 itens e posteriormente reduzido e readaptado para
sua verso de 25 itens, para se tornar til na prtica clnica e melhora na
qualidade dos dados. O instrumento tambm foi utilizado para detectar mudanas
Introduo 5
significativas ao longo do tempo em pacientes submetidos cirurgia de catarata,
antes e aps o procedimento cirrgico. A verso brasileira do questionrio NEI
VFQ-25 foi traduzida, validada e testada a confiablilidade pelos autores: Simo,
Lana-Peixoto, Arajo, Moreira e Teixeira (SIMO et al., 2008).
A sade e a qualidade de vida dos idosos, mais que em outros grupos
etrios, sofrem influncia de mltiplos fatores: fsicos, psicolgicos, sociais e
culturais. Para avaliar e promover a sade do idoso, necessria atuao
interdisciplinar e multidimensional. A assistncia ao idoso deve prezar pela
manuteno da qualidade de vida, considerando os processos de perdas prprias
do envelhecimento e as possibilidades de preveno, manuteno e reabilitao
do seu estado de sade (CIOSAK et al., 2011).
Alm disso, a interveno pblica de sade, por meio das campanhas de
assistncia oftalmolgica para a reabilitao da viso, produz resultados que,
alm de prevenir a cegueira, tem impacto sobre a qualidade de vida dos
indivduos, com importantes benefcios sociais (KARA JUNIOR et al., 2010).
Considerando que a literatura cientfica brasileira escassa em dados que
reflitam a qualidade de vida dos idosos aps a cirurgia de catarata e pela
tendncia dessa populao estar sempre aumentando no pas, este estudo
prope avaliar o impacto da cirurgia de catarata na qualidade de vida de pessoas
atendidas em campanhas assistenciais.
Esses dados possibilitaro conhecer os fatores associados melhoria da
qualidade de vida, possibilitando a orientao de novas polticas pblicas de
interveno fundamentada na promoo da sade para favorecer a qualidade de
vida dos idosos com catarata.
Histrico 6
2 HISTRICO
2.1 Campanhas e mutires
Campanha ou mutiro um conjunto de aes coletivas para a execuo de
um servio geralmente de curta durao, que visa beneficiar a populao em um
prazo estabelecido (FERREIRA, 1986).
Quando em um pas, o sistema de sade pblico no fornece cobertura
suficiente em reas consideradas importantes, podem-se promover campanhas
para, entre outras finalidades, preconizar a incluso de novas modalidades de
tratamento (SILVA; MUCCIOLI; BELFORT, 2004).
Uma campanha comunitria em sade visa conhecer as condies atuais de
atendimento da populao alvo, aumentar a cobertura de sade daquela
populao durante a mobilizao, mostrar a frequncia do problema, a
morbidade, exequibilidade de tratamento e a possibilidade de torn-la programa
permanente alm de educar a populao visando adoo de condutas de
preveno de certas doenas. As aes devem empregar tecnologia apropriada,
ou seja, ser realizada com recursos disponveis, ser eficaz e aceita pela
populao e gestores de sade (KARA JUNIOR; SANTHIAGO; ESPNDOLA,
2011).
A primeira campanha em oftalmologia realizada no Brasil, denominada
Campanha Nacional de Preveno da Cegueira, aconteceu em 1954 e foi
promovida pela Comisso de Preveno da Cegueira da Associao Pan-
Americana de Oftalmologia (KARA JOS et al., 2010).
Frente a isso, em 1987 foi criado o primeiro projeto nacional de catarata
Zona Livre de Catarata realizado em Campinas pelo ncleo de preveno
cegueira, formado por oftalmologistas, enfermeiros, residentes de oftalmologia,
pedagogas e psiclogos da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
Depois foram institudos outros projetos de atendimento oftalmolgico em
campanhas de carter comunitrio, como: Olho no Olho, Projeto Catarata, Veja
Histrico 7
Bem Brasil. Durante uma campanha oftalmolgica, identificam-se diversas
doenas oculares passveis de tratamento, contribuindo, assim, para diminuio
da deficincia visual. Alm disso, esse servio oferece correo ptica, reduzindo
o nmero de casos de baixa acuidade visual reversvel, apenas, com culos
(KARA JOS; BICAS; CARVALHO, 2008).
Em 2002, foi realizada a primeira campanha do Centro de Referncia em
Oftalmologia do Hospital das Clnicas da Universidade Federal de Gois,
(CEROF/HC/UFG), a Campanha de Olho na Viso, efetivada aps parceria com
a Secretaria Estadual de Sade (KARA JOS et al., 2010).
Em 2004 e 2008 foram realizadas novamente em Goinia, a Campanha de
Olho na Viso, com grande nmero de atendimentos oftalmolgicos. Foram
beneficiados pacientes de todos os municpios goianos, sendo mais de 115 mil
idosos, com prescrio de mais de 32 mil culos e realizao de 2,9 mil cirurgias
de catarata (LIMA; SILVA, 2008). Desde ento, outros projetos foram
desenvolvidos como a campanha Veja Bem Gois (2008), projeto Kalunga,
mutiro da sade nos bairros em Goinia, triagem do trnsito, Campanha olho no
olho, Campanha de catarata, Campanha Brasil contra o glaucoma e retinopatia
diabtica e campanhas assistenciais em Rondnia e Mato Grosso.
O trabalho da equipe de sade nessas campanhas oftalmolgicas
essencial. Para a realizao do procedimento de facectomia, os pacientes
juntamente com seus familiares so orientados pelo profissional de sade a
respeito dos cuidados que devem ser tomados durante o perodo de pr e ps-
operatrio. A assistncia de enfermagem a esses pacientes demanda do
profissional uma viso integral das necessidades bsicas afetadas desse
indivduo e de sua famlia, de forma humanizada (PAUL; REEVES, 2000).
De acordo com Kara Jos, Bicas, Carvalho (2008), uma campanha
comunitria em sade ocular composta pelas seguintes fases:
1- Plano de trabalho objetivos
Uma campanha deve ser precedida por um planejamento sendo que a
equipe envolvida deve ter experincia ou realizar projeto piloto com justificativa,
objetivo, parcerias, abrangncia, recursos humanos e materiais, responsabilidade
dos coordenadores, previso oramentria, previso de durao e concluso.
2- Contatos
Histrico 8
A campanha deve objetivar prioritariamente, a populao economicamente
carente, sem possibilidade de pagamento pelos servios prestados. Interao
entre as equipes, coordenadores, oftalmologistas, lderes da comunidade,
enfermeiros da ateno bsicos e demais voluntrios que se engajarem na
campanha.
3- Determinao da rea e populao alvo
Determinar o local do evento, uma rea geogrfica que, geralmente
consiste em escolas, campos de futebol e hospitais. Dependendo da meta de
atendimento a ser executada e definir a populao alvo.
4- Seleo e treinamento de recursos humanos
Equipes devem ser organizadas para executarem a campanha de acordo
com a experincia profissional tais como, divulgao, capacitao dos agentes e
auxiliares de sade e enfermeiros que realizaro a triagem oftalmolgica, e a
equipe que executar o servio direto que so os oftalmologistas e equipe de
enfermagem e apoio experiente nesse servio.
5- Campanha publicitria
A divulgao fundamental para o sucesso da campanha e para a
continuidade da mesma. A equipe da divulgao tem o papel de atrair o pblico
com palestras, informes em jornais, pontos de nibus, faixas, mensagens em
rdios, jornais, televiso e outros. As informaes devem enfatizar a importncia e
a necessidade do exame oftalmolgico, durao e local da campanha, pblico
alvo, facilidades disponveis como gratuidade, entrega de culos, realizaes de
cirurgias e encaminhamentos.
6- Teste, reteste, exame oftalmolgico e palestras educativas
O teste e reteste so realizados pelo pessoal treinado, e os selecionados
devem ser encaminhados ao exame completo com oftalmologista. Geralmente,
essa fase acontece nas atividades de ateno bsica ou nas escolas.
Devem ser realizadas as palestras sobre os cuidados pr, trans e ps-
operatrios, uso de oclusivo, condutas em casos de emergncias e retornos e
manuseio dos colrios.
7- Encaminhamentos para a cirurgia e consultas ps-operatrias.
O paciente deve ser comunicado com antecedncia do dia, hospital e local
em que dever se apresentar para a realizao da cirurgia. O primeiro retorno
Histrico 9
geralmente agendado logo aps a realizao do procedimento cirrgico, e os
demais retornos ocorrero conforme a necessidade.
8- Divulgao dos Resultados
As campanhas comunitrias completam-se com ampla divulgao dos
resultados obtidos, mostrando o que foi realizado e justificando os recursos
empregados. Tambm serve para disseminar o conceito de luta contra a baixa
acuidade visual, cegueiras reversveis e patologias oculares tratveis, incentivar a
realizao de novas campanhas e facilitar a continuidade e expanso de atual.
Essa divulgao deve ser feita para comunidade, autoridades e oftalmologistas,
sendo os resultados acessveis em publicaes.
9- Avaliaes do impacto
Qual foi o significado da campanha para a comunidade? Qual foi o nmero
de pessoas beneficiadas? Quais foram as melhoras na qualidade de vida dos
beneficiados? Essas e outras questes devero ser respondidas ao final da
campanha para avaliao do impacto produzido.
Em geral, a organizao de campanhas deve buscar adeso de novos
parceiros e motivar a participao da populao e de mdicos. Avaliao e
divulgao dos resultados tornam-se fundamentais, as quais serviro, tambm,
para avaliao dos erros, acertos, sugestes para melhorar, continuidade do
processo e modelo de atendimento para outras reas da sade (PEREIRA et al.,
2014). De uma campanha, podem sair informaes que eventualmente motivem a
realizao de pesquisas cientficas, contribuindo para o conhecimento das
necessidades da populao. Os atendimentos em campanhas mostram, tambm,
que podem ser uma estratgia para vencer barreiras, uma vez que, sendo da
mesma comunidade e estando mais prximo aos pacientes, podem trazer mais
segurana aos mesmos (GONALVES et al., 2013).
Todas essas barreiras do paciente para ter acesso ao SUS devem ser
analisadas no seu contexto local a fim de que se consiga diminuir ou mesmo
prevenir a cegueira por catarata (KARA JNIOR; DELLAPI; ESPNDOLA, 2011).
Nesse sentido, a realizao de campanhas poderia contribuir para amenizar, nas
populaes menos assistidas, essa falta de resolutividade no SUS.
Considera-se que seja necessria a criao de condies que facilitem o
acesso cirurgia e ao tratamento completo da catarata, como transporte, colrios
Histrico 10
e culos aos pacientes beneficiados. As campanhas oftalmolgicas tm como
principal objetivo diminuir a inacessibilidade ao tratamento oftalmolgico, ou seja,
investigar, diagnosticar e curar determinados problemas visuais (KARA JOS;
RODRIGUES, 2009), obtendo uma melhoria significante na sade pblica.
2.2 Distribuio geogrfica dos oftalmologistas no Brasil
A Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 reconhece a
sade como direito fundamental de todos e dever do Estado, a ser garantida
mediante polticas econmicas e sociais que visem reduo dos riscos de
agravos e doenas e ao acesso universal e igualitrio s aes e servios
pblicos de sade (BRASIL,1988) do Sistema nico de Sade (SUS).
No setor da sade, existem vrios desafios, principalmente a universalidade
e princpios de equidade, considerando a ocorrncia de grupos de populao sem
acesso a qualquer tipo de servio em todas as regies do Brasil (PAIM; SILVA,
2010).
A prestao de servios de sade pblica em regies remotas e pobres
um problema em quase todos os pases do mundo, bem como a distribuio
geogrfica inadequada dos prestadores de servios especializados. Mesmo
quando a relao mdico e habitante adequada, a distribuio dos mdicos
tende a ser concentrada em grandes centros urbanos deixando as pequenas
cidades, reas rurais, comunidades remotas e regies mais pobres descobertas,
acarretando um resultado negativo no ponto de vista de sade pblica e do
princpio da descentralizao organizacional (PVOA; ANDRADE, 2006).
O Brasil tem a quinta maior populao de mdicos do mundo, com 371.788
profissionais. Portanto, no correto dizer que h falta de mdicos no Brasil, mas
sim a desigualdade de distribuio que leva escassez de profissionais em
determinadas regies (CFM/CREMESP, 2011).
Segundo a OMS, considera-se satisfatria a proporo de um mdico
oftalmologista para 20.000 habitantes, para Amrica do Norte e Europa Ocidental.
O nmero de oftalmologistas no Brasil de 15.719, considerando a atuao em
mais de um municpio, o nmero de oftalmologista em atendimento de 17.922,
isto um oftalomologista para 10.601 habitantes. Porm em 8 estados (todos da
Histrico 11
regio Norte e Nordeste) apresentam relao oftalmologista por habitantes abaixo
do preconizado pela OMS, como no Amap, que possui um oftalmologista para
51.437 habitantes e no Maranho um para 45.308 habitantes (CBO, 2011).
Como o nmero de oftalmologista por habitantes no Estado do Macap no
o nmero recomendado pela OMS, torna-se preocupante os casos de cegueira
reversveis por catarata no Estado, sendo esse o motivo do convnio firmado
entre o estado de Macap e o CEROF/HC/UFG, para a realizao de campanha
assistencial oftalmolgica.
Reviso da Literatura 12
3 REVISO DA LITERATURA
Por entender a complexidade envolvida no atendimento e tratamento do
indivduo com catarata e a fim de melhor elucidar a temtica, o presente
referencial terico foi dividido em cinco subttulos: Qualidade de vida na
Senectude, Cristalino, Aspectos Clnicos, Diagnstico e Tratamento da Catarata,
Campanhas e Mutires Assistenciais.
3.1 Qualidade de vida na senectude
Envelhecer um processo natural que implica mudanas graduais e
inevitveis relacionadas idade e incita ao indivduo gozar de boa sade e ter um
estilo de vida ativo e saudvel (CIOSAK et al., 2011).
De acordo com Organizao Mundial de Sade (OMS) envelhecer um
processo sequencial, individual, cumulativo, irreversvel, no patolgico de
deteriorao de um organismo maduro, prprio a todos os membros de uma
espcie, de maneira que o tempo o torne menos capaz de fazer frente ao
estresse do meio ambiente e, portanto, aumentando sua possibilidade de morte.
Ainda para a OMS, o limite de idade entre o indivduo adulto e o idoso 65 anos
de idade em naes desenvolvidas e 60 anos nos pases emergentes (BRASIL,
2006).
O processo de envelhecimento est ligado capacidade de adaptao do
indivduo aos rigores e s agresses do meio ambiente. Assim, cada sujeito
envelhece a seu modo, dependendo de variveis como o sexo, origem, moradia,
aptides para a vida e as experincias vividas. A exposio ao estresse,
tabagismo, lcool, sedentarismo, nutrio inadequada e perda da acuidade visual
so outros fatores que contribuem para determinar a qualidade do
envelhecimento (CIOSAK et al., 2011).
O declnio na funo visual do idoso fonte de preocupao no mbito de
sade pblica. Apesar de sua alta prevalncia, muito dos idosos no referem
queda na viso por considerarem essa debilidade normal da idade. Dessa forma,
o dficit visual em idosos pode ser subdiagnosticado (MALAGUTTI, 2013).
https://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&tbo=p&tbm=bks&q=inauthor:%22William+Malagutti+%22
Reviso da Literatura 13
No sistema visual, o comprometimento pode ocorrer de forma cumulativa e
progressiva por meios de danos metablicos e ambientais, caracterizando a
relao de estreita intimidade entre a viso e a senescncia. As mudanas
fisiolgicas que ocorrem na viso devido ao envelhecimento associado a doenas
oculares crnicas reforam o declnio da habilidade visual do idoso (LUIZ et al.,
2009).
O comprometimento visual objetivamente definido pelo valor da acuidade
visual que parte da viso funcional de um indivduo. A acuidade visual o
parmetro que expressa, de forma mais genrica, a capacidade de discriminao
de formas e contrastes, alm de ser um mtodo para medir o reconhecimento da
distncia entre dois pontos no espao e da resoluo de suas respectivas
imagens sobre a retina. o melhor valor que, sozinho caracteriza a perda visual,
sendo utilizado como critrio para definir o comprometimento visual pela OMS.
Ressalta-se que o dficit visual em idosos relaciona-se dificuldade nas
realizaes de atividades cotidianas, a diminuio da participao em encontros
sociais e a qualidade de vida do idoso, aumentando, assim, as taxas de
depresso (BRAVO FILHO et al., 2012).
Estudos mostram que a cegueira tem um custo de bilhes de reais para a
comunidade devido perda da produtividade, aposentadoria precoce, cuidados
com pessoas cegas, reabilitao e educao especial. , portanto, um importante
problema de sade pblica que reflete a importncia de reconhecer o idoso como
ser integral e a sade como qualidade de vida (CBO, 2011).
Para os idosos, em especial, a ateno sade se d com
responsabilizao, com a incorporao ao ato teraputico da valorizao do outro,
respeitando sua viso de mundo, seu contexto social e sua dignidade. Cuidar
para qualidade de vida do idoso , portanto, ser cmplice das estratgias de
promoo, preveno, cura e reabilitao. E, assim, esses segmentos compem
um dispositivo maior que a integralidade (VIEGAS; PENNA, 2013).
O idoso com baixa acuidade visual ou cegueira perde autonomia em
diversas atividades, diminui sua autoestima e tende a exercitar-se menos,
apresenta dificuldade para realizar as tarefas cotidianas, com consequente perda
da fora muscular, desequilbrio corporal, predispondo ao aumento das quedas
(LUIZ et al., 2009).
Reviso da Literatura 14
O exame oftalmolgico de rotina, a correo dos erros de refrao e
tratamentos oftalmolgicos melhoram a qualidade de vida da maioria dos idosos,
trazendo de volta as atividades dirias e independncia. Estudos salientam que a
cirurgia de catarata tem resultados positivos, tanto em relao ao aumento da
acuidade visual quanto diminuio de complicaes, bem como reduo dos
prejuzos financeiros para o estado, prejuzos funcionais dos pacientes e
melhora na qualidade de vida (KARA JOS et al., 2010).
necessrio envelhecer com sade, ou seja, no somente vivendo por mais
tempo, mas com qualidade de vida. So necessrios programas que diminuam o
nmero de pessoas com cegueira reversvel no pas. Dessa forma, considerando
que as transformaes demogrficas iniciadas no ltimo sculo resultam em uma
populao cada vez mais envelhecida, evidencia-se a importncia de garantir aos
idosos no somente uma maior expectativa de vida, mas tambm melhor
qualidade de vida (VECCHIA et al., 2005).
O conceito de qualidade de vida adotado para o presente estudo aquele
elaborado pelo grupo de estudiosos da OMS, dadas as suas caractersticas de
subjetividade, multidimensionalidade e bipolaridade, a saber: "percepo do
indivduo de sua posio na vida, no contexto da cultura e no sistema de valores
nos quais ele vive e em relao aos seus objetivos, expectativas, padres e
preocupaes" (WHOQOL, 1995).
A qualidade de vida um construto definido de vrios modos, pois
aspectos culturais, ticos, religiosos e pessoais influenciam a forma como ela
percebida e as suas consequncias (ZHAN, 1992). Apesar das diferentes
definies para o termo, existe concordncia entre grande parte dos autores de
que, para avaliar QV, necessria a utilizao de abordagem multidimensional
(ZHAN, 1992).
A QV se estabelece, tambm, a partir de parmetros objetivos e subjetivos.
Os parmetros subjetivos seriam o bem-estar, a felicidade e a realizao pessoal,
entre outros, e os objetivos estariam relacionados satisfao das necessidades
bsicas e daquelas criadas em uma dada estrutura social. Os parmetros
objetivos tm a vantagem de no estarem sujeitos ao vis do observador,
enquanto os subjetivos possibilitam que as pessoas emitam juzos sobre temas
que envolvem a sua prpria vida (FARQUHAR, 1995). No campo da sade, o
Reviso da Literatura 15
conceito de QV emergiu a partir de um movimento de humanizao na rea e de
valorizao de outros parmetros de avaliao, alm dos sintomas ou dados
epidemiolgicos, como incidncia e prevalncia das doenas (FLECK, 2006).
Medidas de qualidade de vida tm sido utilizadas no estudo do
envelhecimento bem-sucedido e na avaliao da eficcia, eficincia e impacto de
intervenes e servios que objetivam ajudar os idosos a permanecerem
independentes e autnomos. As intervenes avaliadas tm por finalidade
melhorar o bem-estar e elevar os nveis de qualidade de vida dos participantes,
mediante o favorecimento, nessa fase da vida, de independncia, participao
social, preservao de capacidades cognitivas, hbitos saudveis e/ou reduo
de ansiedade e depresso (CASTRO et al., 2007; VITORINO; PASKULIN;
VIANNA, 2012).
Nesse mbito, a sade e a qualidade de vida dos idosos, mais que em
outros grupos etrios, sofrem influncia de mltiplos fatores: fsicos, psicolgicos,
sociais e culturais. Para avaliar e promover a sade do idoso, necessria uma
atuao interdisciplinar e multidimensional. A assistncia ao idoso deve prezar
pela manuteno da qualidade de vida, considerando os processos de perdas
prprias do envelhecimento e as possibilidades de preveno, manuteno e
reabilitao do seu estado de sade (CIOSAK et al., 2011).
3.2 Cristalino
O cristalino uma estrutura biconvexa, avascular, transparente envolvida por
uma cpsula, localizado por trs da ris, apoiado pelas znulas anterior e
posterior. A principal funo do cristalino direcionar os raios de luz de modo que
foquem na retina (LEWIS et al., 2013).
O cristalino revestido por uma nica camada do epitlio da cpsula anterior.
O depsito subcapsular contnuo de novas fibras do cristalino ocorre durante toda
a vida, com isso o cristalino aumenta em volume e tamanho, desde o nascimento.
Alm disso, sua colorao torna-se amarelada e prxima ao marrom com o
envelhecimento (ARIETA; PADILHA; BECHARA, 2008; KANSKI, 2008).
Qualquer opacidade do cristalino congnita ou adquirida, na cpsula ou na
substncia do mesmo denominada catarata. E essas alteraes so
Reviso da Literatura 16
consideradas normais no processo de envelhecimento (ARIETA; PADILHA;
BECHARA, 2008; KANSKI, 2008).
3.3 Aspectos clnicos e diagnsticos da catarata
A catarata a opacidade do cristalino. O paciente pode ter catarata em um ou
em ambos os olhos, podendo afetar a viso mais em um olho que no outro
(MALAGUTTI, 2013; LEWIS et al., 2013).
O paciente com catarata pode se queixar de reduo da viso, percepo
anormal da cor e ofuscamento, devido disperso de luz causada pelas
opacidades do cristalino, piorando noite quando a pupila se dilata. O declnio da
viso gradual, mas a taxa de desenvolvimento da catarata varia de paciente pra
paciente (LEWIS et al., 2013).
O diagnstico de catarata baseia-se na diminuio da acuidade visual,
alterao da transparncia do cristalino detectada pela biomicroscopia, sensao
de viso nublada, maior sensibilidade luz, diminuio da sensibilidade ao
contraste e mudana frequente na refrao (MALAGUTTI, 2013; LEWIS et al.,
2013).
Kara Jos, Bicas, Carvalho (2008) e Malagutti (2013) classificam a catarata
em trs tipos:
a) Catarata congnita est presente desde o nascimento, podendo ser chamada
de catarata infantil, tendo como etiologia as infeces intrauterinas, desordens
metablicas, traumas e sndromes transmitidas geneticamente;
b) Catarata secundria est presente por aes secundrias relacionadas a
fatores oculares, associadas a traumatismos, molstias endcrinas, causas
txicas, exposio a radiaes dentre outros;
c) Catarata senil a forma mais comum, sendo uma alterao degenerativa
ocular prpria do envelhecimento.
O diagnstico e a conduta teraputica vo depender do profissional de sade
especializado que faz o atendimento do quadro clnico do portador de catarata e
da fase em que se descobre a doena (KARA JUNIOR, 2011).
https://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&tbo=p&tbm=bks&q=inauthor:%22William+Malagutti+%22https://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&tbo=p&tbm=bks&q=inauthor:%22William+Malagutti+%22https://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&tbo=p&tbm=bks&q=inauthor:%22William+Malagutti+%22
Reviso da Literatura 17
3.4 Catarata senil
A catarata senil a opacidade do cristalino que dificulta a penetrao dos
raios luminosos provocando a deficincia visual sendo a principal causa de
cegueira no mundo (RESNIKOFF et al., 2004).
A incidncia de catarata senil na populao geral de 18% em menores de
65 anos de idade, 47% no grupo entre 65 e 74 anos e 73% nos pacientes acima
de 75 anos (TALEB et al., 2009). O Ministrio da Sade relatou a existncia, em
1997, de cerca de 600 mil cegos por catarata. Esse nmero foi sensvelmente
reduzido com as campanhas nacionais que facilitaram as facectomias, estimando-
se hoje uma prevalncia de 350 mil cegos por catarata (TALEB et al., 2009).
A cegueira causada pela catarata senil produz consequncias
socioeconmicas e humanas profundas em toda a sociedade. Esses fatos
indicam a importncia dessa doena, tanto para o seu impacto na populao mais
velha, como a sua influncia sobre a utilizao de servios mdicos e de listas de
espera envolvidos na cirurgia de catarata (PEA at al., 2014).
Segundo a OMS, existem aproximadamente 20 milhes de cegos por
catarata no mundo, correspondendo a 48% de todas as causas de cegueira. a
causa mais importante de cegueira tratvel e considerada problema de sade
pblica pela grande prevalncia em idosos (DAUD et al., 2012).
Catarata senil classificada de acordo com sua morfologia e maturidade
Kanski (2008). Quanto morfologia, a catarata senil pode ser do tipo subscapular,
nuclear ou cortical:
Catarata subcapsular: a opacificao encontra-se frente da cpsula
posterior do cristalino e est associada metaplasia fibrosa do epitlio. Revela
aparncia vacuolar, granular ou em forma de placas sob iluminao oblqua
biomicroscopia. Nesse tipo de catarata, a viso para perto mais prejudicada do
que a viso para longe.
Reviso da Literatura 18
Figura 1- Catarata subcapsular
Fonte: KANSKI, 2008.
Catarata nuclear: envolve alteraes no ncleo do cristalino. Normalmente
provoca a miopia devido ao aumento no ndice de refrao do ncleo do cristalino.
caracterizada nos estgios iniciais pela colorao amarelada devido ao depsito
de pigmento urocromo. Nesse tipo de catarata, quando avanado, o ncleo
parece marrom e de consistncia rgida.
Figura 2- Catarata nuclear
Fonte: KANSKI, 2008.
Reviso da Literatura 19
Catarata cortical: as opacidades comeam como fendas e vacolos entre as
fibras do cristalino devido hidratao do crtex. A opacificao subsequente
resulta em opacidades cuneiformes tpicas ou em radiais, do tipo raio de roda, em
geral quadrante inferior, inicialmente. Nesse tipo de catarata os pacientes
queixam-se de ofuscamento devido disperso da luz.
Figura 3- Catarata cortical
Fonte: KANSKI, 2008.
Quanto aos estgios da maturidade das cataratas, essas podem ser
classificadas como:
Catarata imatura: o cristalino apresenta-se parcialmente opaco;
Reviso da Literatura 20
Figura 4- Catarata imatura
Fonte: KANSKI, 2008.
Catarata madura: o cristalino apresenta-se completamente opaco;
Figura 5- Catarata madura
Fonte: KANSKI, 2008.
Catarata hipermadura: ocorre a contrao da cpsula anterior com
pregueamento devido ao vazamento de gua para fora do cristalino;
Reviso da Literatura 21
Figura 6- Catarata hipermadura.
Fonte: KANSKI, 2008.
Catarata morganiana: apresenta-se hipermadura na qual a liquefao do
crtex provoca o descolamento do ncleo inferiormente.
Figura 7- Catarata morganiana.
Fonte: KANSKI, 2008.
Reviso da Literatura 22
Mello e Arajo Filho (1994) afirmam que as cataratas senis evoluem de
forma lenta, iniciando com discreta reduo de acuidade visual (viso
esfumaada), diplopia monocular e alterao da viso de cores, dificuldade de
dirigir noite e presena de halos coloridos. Eles destacam ainda que o sinal
mais perceptvel e caracterstico da presena da catarata a pupila branca. As
alteraes oculares podem ser desde pequenas distores na acuidade visual at
a cegueira completa (KARA JOS, BICAS, CARVALHO, 2008).
Muitos idosos deficientes visuais por catarata no sabem que podem ser
curados por cirurgia ou no se motivam em procurar tratamento. Os principais
fatores estimulantes para a procura de tratamento cirrgico so: conhecer algum
que j se submeteu cirurgia com sucesso, ter acesso fcil a servios
oftalmolgicos ou quando um profissional de sade informa ao idoso o que
catarata e como pode ser tratada (MEDINA; MUOZ, 2011).
West e Sommer (2001) definem que o impacto da perda visual nos
aspectos pessoais, econmicos e na vida social de um indivduo profundo, e
quando a prevalncia de cegueira em comunidades alta, as consequncias
tornam-se uma importante questo pblica, por isso a necessidade de
resolutividade no tratamento da catarata.
3.5 Tratamento da catarata
Segundo Kanski (2012) a cirurgia de catarata envolve o implante de uma
lente intraocular (LIO), no mesmo local do cristalino removido cirurgicamente.
A cirurgia de catarata uma das cirurgias mais realizadas no mundo.
Estima-se que sejam cerca de 10 milhes de cirurgia de catarata por ano. Estudo
revela que, para a reduo da demanda reprimida, esse nmero deveria
aumentar para 20 milhes de cirurgia de catarata por ano (KARA JOS; BICAS;
CARVALHO, 2008).
A taxa de cirurgia de catarata (TCC) o nmero de operaes de catarata
por milhes de habitantes, por ano. Ela indica o nmero de pessoas com catarata
unilateral ou bilateral que foi submetido cirurgia de catarata. A TCC alta em
pases desenvolvidos, porm nos pases em desenvolvimento, onde h carncia
Reviso da Literatura 23
dos servios oftalmolgicos, falta da conscientizao e dificuldade do acesso pelo
custo elevado do tratamento, essa taxa bem menor (ARIETA et al., 2009).
A cirurgia de catarata denominada facectomia, pode ser realizada por
meio da facoemulsificao ou extrao extracapsular. Em ambas, o cristalino
opacificado extrado e substitudo por uma lente intraocular (KARA JOS;
BICAS; CARVALHO, 2008, KANSKI, 2008).
Na facoemulsificao, o ncleo do cristalino fragmentado e seus pedaos
so aspirados atravs do aparelho denominado facoemulsificador. Esse tornou-se
o mtodo preferido de extrao de catarata nos ltimos 15 anos. A menor inciso
da facoelmusificao est associada a pouco astigmatismo ps-operatrio
induzido e estabilizao rpida da refrao (em geral, 3 semanas para inciso
de 3mm, e menos para incises inferiores a 2,5mm) (KANSKI, 2012), trazendo
como benefcio o encurtamento do tempo da cirurgia e mais rpida recuperao
visual (KARA JOS; BICAS; CARVALHO, 2008).
Na extrao extracapsular, o ncleo removido inteiro, aps uma maior
inciso lmbica ou escleral que requer a realizao de sutura no final da cirurgia.
Isso leva a um maior tempo de recuperao ps-cirrgica, com estabilizao do
astigmatismo ps-operatrio mais tardiamente e uma demora maior no resultado
visual final (KANSKI, 2008).
Em relao anestesia, a maior parte das cirurgias de catarata realizada
sob anestesia local em adultos (bloqueio peribulbar ou subtenoniano e tpica
intracameral) e anestesia geral em crianas ou alguma necessidade especial do
paciente (KANSKI, 2008).
A recuperao da viso por cirurgia produz benefcios econmicos e
sociais ao indivduo, sua famlia e comunidade. Porm, a situao precria de
acesso assistncia oftalmolgica nos pases em desenvolvimento, devido aos
obstculos encontrados pelo prprio sistema de sade, dificulta a utilizao do
recurso cirrgico e da assistncia especializada. As variveis que envolvem o
aumento do nmero de cirurgias de catarata so complexas. Entre as dificuldades
encontradas podem ser citadas: equipamento e tcnicas desatualizadas e a falta
de profissionais mdicos especializados em algumas regies (KARA JUNIOR;
SANTHIAGO; ESPINDOLA, 2011).
Reviso da Literatura 24
Para aumentar a quantidade de cirurgias de catarata realizadas,
necessrio aumentar a demanda nos servios especializados, agindo tanto por
meio de aes facilitadoras do acesso de pacientes ao tratamento, como de
otimizao da capacidade cirrgica dos hospitais (KARA JUNIOR, 2011).
Objetivos 25
4 OBJETIVOS
4.1 Objetivo Geral
Avaliar o impacto da qualidade de vida relacionado sade em indivduos
submetidos cirurgia de catarata senil por meio do questionrio NEI VFQ-25,
especfico de viso.
4.2 Objetivos Especficos
1. Avaliar a melhora visual no 15 dia do ps-operatrio de cirurgia de
facectomia.
2. Comparar a satisfao geral com a qualidade da viso antes e aps a
cirurgia de catarata, segundo as caractersticas dos pacientes.
3. Correlacionar s respostas dos subdomnios do questionrio NEI
VFQ-25 com a acuidade visual aps a cirurgia.
Mtodos 26
5 MTODOS
5.1 Tipo e local de estudo
Trata-se de estudo prospectivo, com abordagem quantitativa, descritiva-
correlacional.
5.2 Local do estudo
O estudo foi realizado no Hospital das Clnicas Alberto Lima, situado em
Macap-AP, a partir de convnio firmado entre a Secretaria Estadual de Sade de
Amap e o CEROF/HC/UFG.
O Centro de Referncia em Oftalmologia do Hospital das Clnicas da
Universidade de Gois oferece atendimento a diferentes subespecialidades
oftalmolgicas. Trata-se de um servio totalmente pblico e responsvel por
atendimento aos usurios do Sistema nico de Sade (SUS) atuando como
referncia terciria no municpio de Goinia e em outras regies do estado de
Gois e do pas.
O convnio teve por objetivo a realizao de procedimentos cirrgicos
oftalmolgicos corretivos de catarata, desenvolvidos pelo Programa Viso Para
Todos. As aes executadas por esse programa visavam oferecer atendimentos
clnicos e cirrgicos para pacientes com problemas visuais e atuavam na reduo
do contingente reprimido da demanda de usurios da rede pblica, exposta
potencialmente ao risco de cegueira.
No convnio, o CEROF/HC/UFG era responsvel pela equipe de trabalho
(mdicos, tcnicos em enfermagem, enfermeira e assistentes administrativos)
equipamentos e materiais para a realizao da cirurgia nos pacientes, alm da
realizao de visitas do ps-operatrio, no primeiro e dcimo quinto dia aps o
procedimento cirrgico, e no caso de intercorrncias, o paciente era encaminhado
ao CEROF/HC/UFG para realizao de atendimento, conforme indicao mdica.
Mtodos 27
5.3 Populao do estudo
A populao desse estudo constou de 156 idosos residentes no municpio
de Macap, Amap, inscritos no Programa Viso Para Todos, com indicao de
cirurgia de catarata. A seleo desses pacientes foi conduzida por consulta prvia
do oftalmologista local, realizou o primeiro atendimento com exames diagnsticos
e inclua no Programa Viso Para Todos aqueles com indicao de cirurgia para
catarata.
O segundo atendimento era feito pela equipe do CEROF/HC/UFG que
realizou outros exames pr-operatrios tais como: medida de acuidade visual por
meio da tabela de Snellen, autorrefrao com ceratometria, ecobiometria por
contato, fundoscopia e avaliao de segmento anterior atravs da lmpada de
fenda. Aps a realizao dos exames e avaliao do oftalmologista, foi realizada
a cirurgia pelo mtodo de facoemulsificao
Foram includos todos os indivduos com 60 anos e mais com indicao de
cirurgia de catarata. Como critrio de excluso, foi considerado apresentar
comprometimento na funo mental e cognitiva que impossibilitasse o
preenchimento do questionrio
5.4 Coletas de dados
Os dados foram coletados em duas etapas no perodo de setembro a
outubro de 2013, utilizando o questionrio NEI VFQ-25 e a tabela de Snellen para
a verificao da acuidade visual.
A primeira etapa da coleta foi realizada antes da realizao da cirurgia e a
segunda etapa ocorreu 15 dias aps o procedimento cirrgico de facectomia..
Mtodos 28
5.5 Instrumentos de coleta de dados:
5.5.1 Medida da Acuidade Visual
Para avaliao da acuidade visual, foi utilizada a tabela Snellen,
posicionada a 5 metros do paciente que, posteriormente, foi transformada para o
logaritmo do mnimo ngulo de resoluo (LogMAR) para a comparao entre os
resultados pr e ps-operatrios.
5.5.2 Questionrio NEI-VFQ 25
Para avaliao da qualidade de vida, foi utilizado o questionrio Visual
Function Questionaire-25, desenvolvido pelo National Eye Institute (NEI VFQ-25)
(MANGIONE, 2001), que avalia a sade geral e a qualidade de vida do paciente
relacionados acuidade visual. Esse questionrio foi traduzido para lngua
portuguesa com validade e confiabilidade estatisticamente comprovadas. A
verso brasileira mostrou-se fidedigna na correlao entre os escores do VFQ-25
com subescalas e domnios similiares do SF-36 (SIMO et al., 2008).
O questionrio foi elaborado inicialmente com 51 itens e posteriormente
reduzido e readaptado na verso de 25 itens, para se tornar til na prtica clnica
e na coleta dos dados. (SIMO et al., 2008). O questionrio possui trs partes,
sendo a primeira com quatro perguntas relacionadas sade geral e viso. A
segunda parte formada por doze perguntas sobre dificuldades em realizar
algumas atividades e a terceira parte com nove perguntas sobre coisas que so
feitas e podem afetar a viso.
O NEI-VFQ-25 composto por 25 itens que medem a qualidade de vida
relacionada sade especfico de viso so agrupados em 12 sub-escalas ou
subdomnios, com um ou mais itens em cada subdomnio: sade geral (um item),
viso geral (um item), dor ocular (2 itens), dificuldade com atividades perto de
viso (trs itens), dificuldade com atividades a distncia da viso (trs itens),
limitao do funcionamento social devido viso (dois itens), problemas de sade
mental devido viso (quatro itens), as limitaes de funes devido viso (dois
Mtodos 29
itens), dependncia dos outros devido viso (trs itens), dificuldades de
conduo (dois itens) dificuldade com a viso de cores (um item) e dificuldade
com a viso perifrica (um item) (SIMO et al., 2008).
Para cada questo, h cinco possibilidades de resposta, sendo que para
cada resposta obtem-se uma pontuao que varia de 0 a 100 (0, 25, 50, 75, 100,
de acordo com a resposta). Quanto maior o escore alcanado, melhor a qualidade
de vida e funo visual do paciente. O NEI VFQ-25 o questionrio especfico
para mensurao da qualidade da viso, instrumento validado e confivel,
utilizado em vrios estudos de doenas oftalmolgicas (SIMO et al., 2008).
5.6 Anlise dos dados
Os dados foram estruturados em um banco de dados no programa
Statistical Package For The Social Sciences (SPSS), verso 18.0 para Windows.
Os dados relativos caracterizao dos pacientes foram analisados
descritivamente expressos por frequncias absoluta e relativa.
A comparao da acuidade visual e dos subdomnios do questionrio de
VFQ-25 antes e aps a cirurgia foi apresentada em tabelas com mdia, mediana,
desvio-padro, mnimo e mximo comparados pelo teste de Wilcoxon, utilizado
para dados que no apresentaram distribuio normal para amostras pareadas.
Na comparao das caractersticas dos participantes e na satisfao geral
com a sade, utilizou-se o teste t Student, para dados que apresentaram
distribuio normal.
Para a correlao da acuidade visual com os domnios do questionrio
VFQ-25 aps a cirurgia, utilizou-se o coeficiente de correlao de Spearman
devido amostra no obedecer a uma distribuio normal, necessitando,
portanto, de testes no paramtricos.
O valor de p
Mtodos 30
5.7 Aspectos ticos
O estudo foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa Mdica, Humana
e Animal do Hospital das Clnicas da Universidade Federal de Gois
CEPMHA/HC/UFG conforme, parecer n 669.338.
Todos os sujeitos receberam o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido e s participaram aqueles que concordaram, assinando o referido
termo, conforme Resoluo n 466/12 (BRASIL, 2012). Este estudo no acarretou
em nenhum tipo de risco adicional para os pacientes ou sujeitos envolvidos no
estudo.
Publicao 31
6 PUBLICAO
Artigo Ttulo: Impacto da facectomia na qualidade de vida de idosos
atendidos em uma campanha assistencial de catarata.
Autores: Tainara Sardeiro de Santana, Marcos Pereira de vila, David
Leonardo Cruvinel Isaac, Gabriela Camargo Tobias, Thatianny
Tanferri de Brito Paranagu.
Publicao 32
Impacto da facectomia na qualidade de vida de idosos atendidos em uma
campanha assistencial de catarata.
Impacto de la ciruga de cataratas en la calidad de vida de los pacientes de
edad avanzada en una catarata de campaa cuidado.
Impact of cataract surgery on quality of life of elderly patients in a care
campaign cataracts.
Tainara Sardeiro De Santana1, Marcos Pereira de vila
2, David Leonardo Cruvinel Isaac
3,
Gabriela Camargo Tobias4
, Thatianny Tanferri de Brito Paranagu5
1Enfermeira. Mestranda em Cincias da Sade pela Universidade Federal de Gois.
[email protected]. 2Oftalmologista. Doutor e Chefe do Centro de Referncia em Oftalmologia (CEROF) da
Universidade Federal de Gois. 3Oftalmologista. Doutor e Mdico Assistente do Centro de Referncia em Oftalmologia
(CEROF) da Universidade Federal de Gois. 4Enfermeira. Doutoranda em Epidemiologia pela Universidade Federal de Gois.
5Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente na Faculdade de Enfermagem da
Universidade de Braslia.
RESUMO
Objetivo: Avaliar a melhora visual no 15 dia do ps-operatrio de cirurgia de facectomia
e o impacto dessa na qualidade de vida dos idosos. Mtodos: Estudo prospectivo, com
abordagem quantitativa, descritiva-correlacional, desenvolvido com 156 pacientes com
indicao de cirurgia de catarata realizada por um convnio entre a Secretaria Estadual de
Sade do Amap e o Centro de Referncia em Oftalmologia do Hospital das Clnicas da
Universidade Federal de Gois entre setembro e outubro de 2013. Foram utilizados o
questionrio de avaliao da qualidade de vida Visual Functioning Questionnaire (VQF-
25) e a tabela de Snellen para medir a acuidade visual. Resultados: A acuidade visual
mdia, em logMAR, aps 15 dias da cirurgia melhorou de 1,23 para 0,57 nos idosos
(p=0,000). Na comparao das mdias de qualidade de vida antes e aps a facectomia, o
subdomnio viso geral apresentou a maior diferena entre as mdias ante e aps a cirurgia
(de 29,65 para 89,87). A anlise de correlao apontou que quanto melhor a acuidade
visual do paciente aps a cirurgia, maior foi a satisfao em relao atividade para longe,
melhora da dor ocular, sade mental, dependncia e satisfao geral. Concluso: A
facectomia esteve associada a um impacto positivo sobre acuidade visual e a qualidade de
vida dos idosos. A campanha assistencial de catarata se mostrou til para atender aos
pacientes com indicao de cirurgia e diminuir a inacessibilidade ao tratamento
oftalmolgico na sade pblica.
Descritores: Catarata; Qualidade de vida; Acuidade visual; Facoemulsificao; Promoo
da sade.
Publicao 33
RESUMEN
Objetivo: Evaluar la mejora visual a los 15 das de postoperatorio extraccin de la catarata
y el impacto de la calidad de vida de las personas mayores. Mtodos: Estudio prospectivo
con enfoque cuantitativo, descriptivo-correlacional, desarrollado con 156 pacientes con
indicacin quirrgica de cataratas realizada por un acuerdo entre la Secretara de Estado de
Salud de Amap y el Centro de Referencia para la Clnica de Oftalmologa de la
Universidad Federal de Gois entre septiembre y octubre de 2013. Se utiliz un
cuestionario para evaluar la calidad de vida Cuestionario Visual Funcionamiento (VQF-25)
y la tabla de Snellen para medir la agudeza visual. Resultados: La agudeza visual media
en logMAR, 15 das despus de la ciruga mejoraron 1,23 a 0,57 en los ancianos (p=0,000).
En la comparacin de la calidad media de vida antes y despus de la ciruga de cataratas, el
subdominio panorama presenta la mayor diferencia entre los medios antes y despus de la
ciruga (29,65-89,87). El anlisis de correlacin mostr que la mejor agudeza visual del
paciente despus de la ciruga, mayor es la satisfaccin con la mejora de dolor en el ojo, la
actividad de distancia, la salud mental, adiccin y la satisfaccin general. Conclusin: La
ciruga de cataratas se asoci con un impacto positivo en la agudeza visual y la calidad de
vida de los ancianos. La campaa de cataratas atencin sanitaria demostr ser til para el
tratamiento de pacientes con indicacin quirrgica y disminuir el acceso limitado a la
atencin oftalmolgica en la salud pblica.
Palabras clave: Catarata; La calidad de vida; La agudeza visual; La facoemulsificacin;
Promocin de la salud.
ABSTRACT
Objective: To evaluate the visual improvement on the 15th day of postoperative cataract
extraction and the impact of the quality of life of the elderly. Methods: A prospective
study with a quantitative, descriptive-correlational approach, developed with 156 patients
with cataract surgical indication performed by an agreement between the State Secretary of
Health of Amap and the Reference Center for Ophthalmology Clinic of the Federal
University of Gois between September and October 2013. We used a questionnaire to
evaluate the quality of life Visual Functioning Questionnaire (VQF-25) and the Snellen
chart to measure visual acuity. Results: The mean visual acuity in logMAR, 15 days after
the surgery improved from 1.23 to 0.57 in the elderly (p=0,000). In comparison of the
average quality of life before and after cataract surgery, the overview subdomain presented
the biggest difference between the means before and after surgery (from 29.65 to 89.87).
The correlation analysis showed that the better the patient's visual acuity after surgery, the
greater the satisfaction with the improvement of eye pain, activity away, mental health,
addiction and overall satisfaction. Conclusion: The cataract surgery was associated with a
positive impact on visual acuity and quality of life of the elderly. The health care campaign
cataract proved useful to treat patients with indication for surgery and decrease limited
access to eye care in public health.
Keywords: Cataract; Quality of life; Visual acuity; Phacoemulsification; Health
promotion.
Introduo
O processo de envelhecimento populacional , hoje, uma tendncia mundial. No
ltimo censo do IBGE de 2010, o percentual de pessoas idosas no Brasil, era cerca de
Publicao 34
10,8% do total da populao, correspondendo a aproximadamente 20 milhes de pessoas
com 60 anos ou mais(1)
. Segundo estimativas essa populao ir quadruplicar at 2060,
representando 26,7% da populao brasileira(2)
. Esse processo de mudana na estrutura
etria da populao brasileira sugere intervenes para o planejamento e para a adaptao
da oferta demanda de servios de sade no pas.
O envelhecimento da populao traz como consequncia o aumento da prevalncia
das doenas crnicas, caractersticas do idoso(3)
, dentre essas encontram-se as oculares,
como a catarata(4)
.
A catarata definida como qualquer opacidade do cristalino que difrate a luz,
acarretando efeito negativo na viso(5)
, sendo a principal causa de cegueira no Brasil(6)
. De
acordo com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia, calcula-se que 10% da populao
acima de 50 anos de idade tenha catarata, e essa prevalncia eleva para 50% no grupo
etrio de 65 a 74 anos de idade e para 75% aps 75 anos(7)
.
Um estudo realizado nos Estados Unidos verificou que entre as condies crnicas
sofridas pelos idosos, na ordem de sua prevalncia, esto a hipertenso (36,1%), a doena
pulmonar obstrutiva crnica (23,7%) e a catarata (16,7%)(8)
. Em Honduras, um estudo
referiu a catarata (59,2%) e o glaucoma (21,1%) como as principais causas de cegueira
entre os idosos(9)
. Outro estudo realizado no nordeste brasileiro concluiu que a catarata foi
a doena ocular mais prevalente (45%) entre os idosos, seguida do glaucoma (18%)(10)
.
Embora haja avanos na cirurgia de catarata em muitas partes do mundo, a catarata
a maior causa de cegueira evitvel cirurgicamente(6)
. Essa cirurgia apresenta alta
eficincia, favorvel custo-benefcio no tratamento e na reabilitao visual(11)
.
A catarata, a diminuio da acuidade visual causada por ela, e a cirurgia podem
interferir na qualidade de vida das pessoas(6,12)
.
Publicao 35
A sade e a qualidade de vida dos idosos, mais que em outros grupos etrios,
sofrem influncia de mltiplos fatores: fsicos, psicolgicos, sociais e culturais. Assim, a
assistncia ao idoso deve considerar os processos de perdas prprias do envelhecimento e
as possibilidades de preveno, manuteno e reabilitao do seu estado de sade(13)
.
A cirurgia de catarata tem resultados positivos, tanto em relao ao aumento da
acuidade visual quanto diminuio de complicaes oftalmolgicas, bem como a reduo
dos prejuzos financeiros para o estado e funcionais para os pacientes(14)
que,
consequentemente, causa impacto na qualidade de vida dos idosos.
Considerando que a literatura cientfica brasileira escassa em dados que reflitam a
qualidade de vida dos idosos com catarata e pela tendncia dessa populao estar sempre
aumentando no pas, este estudo tem por objetivo avaliar a melhora visual no 15 dia do
ps-operatrio de cirurgia de facectomia e o impacto dessa na qualidade de vida dos
idosos.
Mtodo
Estudo prospectivo, com abordagem quantitativa, descritiva-correlacional,
desenvolvido em um hospital pblico localizado em Macap-AP.
A populao foi composta por 156 idosos, com indicao para a realizao de
cirurgia de catarata, inscritos no Projeto Viso para Todos em uma campanha assistencial
realizada por um convnio entre a Secretria Estadual de Sade do Amap e o Centro de
Referncia em Oftalmologia do Hospital das Clnicas da Universidade Federal de Gois
(CEROF/HC/UFG).
Os dados foram coletados entre setembro e outubro de 2013, utilizando a tabela de
Snellen para verificao da acuidade visual, antes e quinze dias aps a facectomia e o
questionrio de avaliao da qualidade de vida Visual Functioning Questionnaire (VQF-
http://pt.wikipedia.org/wiki/Macap%C3%A1
Publicao 36
25) desenvolvido pelo National Eye Institute (NEI)(15)
, traduzido para lngua portuguesa(16)
com validade e confiabilidade estatisticamente comprovadas(17)
.
Foram includos idosos com idade de 60 anos e mais e como critrio de excluso,
foi considerado apresentar algum comprometimento na funo mental e cognitiva que
impossibilitasse o preenchimento do questionrio.
O VFQ-25 avalia a sade geral do paciente, assim como a qualidade de vida
relacionadas acuidade visual. Ele possui 25 questes agrupadas em 12 subdomnios com
uma ou mais questes em cada subdomnio. Para cada questo, h cinco possibilidades de
resposta, sendo que para cada resposta obtm-se uma pontuao que varia de 0 a 100. A
pontuao final obtida ento dividida pelo nmero de questes, obtendo-se um escore
para cada paciente cujo valor mnimo zero e o valor mximo 100. Quanto maior o
escore alcanado, melhor a qualidade de vida e funo visual do paciente.
Os dados foram analisados atravs do programa Statistical Package for the Social
Sciences (SPSS) verso 18.0. Realizou-se a anlise estatstica descritiva dos dados
sociodemogrficos. Utilizou-se teste de Wilcoxon para a comparao da acuidade visual e
dos subdomnios do questionrio de VFQ-25 antes e aps a cirurgia. Na comparao das
caractersticas dos participantes e na satisfao geral com a sade, utilizou-se o teste t
Student. Para a correlao da acuidade visual com os domnios do questionrio VFQ-25
aps a cirurgia, utilizou-se o coeficiente de correlao de Spearman. O valor de p
Publicao 37
Resultados
Participaram do estudo 156 idosos que foram submetidos cirurgia de facectomia.
Dentre os participantes, 80 (51,3%) eram do sexo feminino e 76 (48,7%), do sexo
masculino. A idade variou de 60 a 95 anos, com 84 (53,8%) idosos na faixa etria de 70
anos e mais e 72 (46,2%) idosos com idade entre 60 a 69 anos, e a mdia de idade foi de
66,6 anos.
Quanto ao estado civil, 130 (80,3%) pacientes estavam sem companheiro (solteiro,
vivo, divorciado) e 26 (16,7%) tinham companheiro (casado/amasiado). Destaca-se que
47 (30,1%) eram analfabetos e 109 (69,9%) tinham alguma escolaridade, dentre esses 57
(36,5%) apenas o fundamental incompleto.
A situao previdenciria para 141 (90,4%) pacientes era de aposentados e apenas
15 (9,6%) trabalhavam. A renda mensal variou de nenhum a 4,7 salrios mnimos, sendo
que 148 (94,9%) relataram receber at um salrio mnimo, o que equivale a
aproximadamente R$678,00.
A acuidade visual mdia, em logMAR, aps 15 dias da cirurgia, melhorou de 1,23
(desvio-padro de +- 0,46) para 0,57 (desvio-padro de +- 0,53), obtendo diferena
estatisticamente significativa (p=0,000), o que confirma a melhoria da acuidade visual aps
a interveno cirrgica.
A Tabela 1 mostra a comparao da qualidade de vida dos idosos antes e aps a
facectomia.
Tabela 1- Comparao da qualidade de vida dos idosos antes e aps a facectomia. Macap, Amap, Brasil,
2013.
Subdomnios Antes (N=156) Depois (N=156) Wilcoxon
Mdia
Desvio
padro
Mdia
Desvio
padro
p-valor
Sade geral 29,65 27,5 37,18 27,75 0,009
Publicao 38
Viso 29,97 25,31 89,87 17,52 0,018
Dor ocular 65,3 26,01 72,92 23,06 0,000
Atividade perto 64,57 20,98 70,73 20,54 0,001
Atividade longe 69,62 20,98 76,75 22,01 0,000
Aspecto social 90,00 16,69 95,00 12,62 0,001
Sade mental 56,41 21,92 68,23 18,9 0,000
Atividades dirias 54,73 29,08 60,9 27,45 0,008
Dependncia 62,39 23,02 74,2 18,47 0,000
Capacidade de dirigir 5,77 18,67 6,03 20,75 0,547
Viso de cores 82,82 22,66 89,87 17,52 0,000
Viso perifrica 77,05 23,26 82,69 21,2 0,003
Satisfao geral 57,35 14,49 64,25 12,46 0,000
Na comparao das mdias de qualidade de vida antes e aps a facectomia, com
exceo do subdomnio capacidade para dirigir automveis, observou-se diferena
estatisticamente significante em todos os subdomnios do questionrio. Em todos esses
casos, verifica-se que a qualidade de vida foi melhor aps a realizao da cirurgia.
A maior mdia de satisfao obtida pelos pacientes foi em relao viso geral que
antes da cirurgia apresentou mdia de satisfao de 29,65 e, aps a cirurgia, aumentou para
89,87. Outras mdias altas observadas foram nos domnios dependncia e sade geral.
A Tabela 2 apresenta a comparao entre as caractersticas dos pacientes e a
satisfao geral aps a cirurgia.
Publicao 39
Tabela 2- Comparao entre a satisfao geral antes e aps a cirurgia de catarata, segundo sexo, idade,
escolaridade, estado civil, renda e situao previdenciria dos idosos. Macap, Amap, Brasil, 2013.
Verificou-se que, em todas as idades, escolaridades e ambos sexos, a satisfao
geral foi estatisticamente significante aps a cirurgia. Os pacientes com estado civil sem
companheiro (vivo, divorciado, solteiro), com renda de at um salrio mnimo e os
Variveis Satisfao geral antes (N=156) Satisfao geral depois (N=156) Teste t
N Mdia Med DP Mn Mx Mdia Med DP Mn Mx p
Sexo
Masculino 76 58,83 59,22 15,00 29,44 88,54 65,97 66,82 12,36 35,87 88,54 0,000
Feminino 80 55,96 58,66 13,94 27,60 79,65 62,62 65,87 12,42 32,85 83,30 0,000
Faixa etria
60-69 anos 71 59,74 62,15 14,20 29,20 85,69 64,65 66,11 12,65 35,87 88,54 0,001
70 anos e mais 85 55,37 55,28 14,52 27,60 88,54 63,92 66,18 12,38 32,85 87,43 0,000
Estado Civil
Com
companheiro
26
56,01 55,82 15,00 29,44 85,69 60,62 64,31 12,93 37,50 79,55 0,067
Sem
companheiro
130
57,63 59,03 14,43 27,60 88,54 64,98 66,89 12,29 32,85 88,54 0,000
Analfabeto
Sim 47 51,03 49,44 13,23 29,44 76,63 59,90 59,97 11,68 32,85 82,29 0,000
No 109 60,08 60,28 14,21 27,60 88,54 66,13 68,89 12,38 35,87 88,54 0,000
Renda
At 1 salrio 148 56,94 58,06 14,34 27,60 85,69 63,77 66,11 12,44 32,85 88,54 0,000
Mais de 1 salrio 8 65,02 64,31 16,08 33,44 88,54 73,20 77,31 9,84 59,97 83,19 0,263
Trabalha
Sim 16 68,76 71,81 16,03 33,44 88,54 70,88 74,10 12,40 47,53 88,54 0,609
No 140 56,02 56,44 13,81 27,60 81,32 63,48 66,11 12,32 32,85 87,43 0,000
Publicao 40
aposentados apresentaram melhora significativa da satisfao geral aps a cirurgia de
catarata.
A Tabela 3 aponta os valores do coeficiente de correlao de Spearman entre os
escores da acuidade visual e dos subdomnios do questionrio da qualidade de vida.
Tabela 3- Correlao de Spearman entre os domnios do VQF -25 e a acuidade visual. Macap, Amap,
Brasil, 2013.
Acuidade visual
Subdomnios Correlao de Spearman p
Sade geral -.096 .236
Viso -.142 .076
Dor ocular -.177 .027
Atividade perto -.144 .073
Atividade longe -.261 .001
Aspecto social -.129 .108
Sade mental -.199 .013
Atividades dirias -.108 .181
Dependncia -.162 .043
Capacidade de dirigir -.075 .354
Viso de cores -.149 .064
Viso perifrica -.112 .163
Satisfao geral -.194 .015
A anlise de correlao apontou que quanto melhor a acuidade visual do paciente
aps a cirurgia, maior foi a satisfao em relao melhora da dor ocular, atividade para
longe, sade mental, dependncia e satisfao geral, aps a cirurgia de facectomia, uma
vez que foram constatadas correlaes significativas (p< 0,05).
Publicao 41
Discusso
As caractersticas dos idosos encontradas neste estudo com a maioria na faixa etria
de 70 anos e mais, sexo feminino, analfabetos ou ensino fundamental incompleto,
aposentados, renda familiar inferior a um salrio mnimo, so compatveis com outros
recentes estudos com idosos utilizando o mesmo questionrio(4,10,18)
, o que confirma o atual
perfil dos idosos brasileiros portadores de doenas oculares.
A facectomia refletiu como um fator positivo para a melhoria da acuidade visual
dos idosos, a qual passou de 1,23 para 0,57 unidades LogMAR aps a cirurgia. Esses
resultados equivalem-se aos achados na literatura(9,11,19,20)
, e constata-se a importncia da
realizao da cirurgia como forma de reabilitao da viso entre os idosos.
A comparao da qualidade de vida antes e aps a facectomia revelou uma
diferena estatisticamente significativa aps o procedimento cirrgico com as mdias mais
altas encontradas nos domnios viso geral, dependncia e sade geral. O
subdomnio capacidade para dirigir foi o nico que no apresentou melhora
estatisticamente significativa, j que, neste estudo, a maioria dos participantes era idosos,
analfabetos e, portanto, provavelmente no tinha carteira de habilitao, assim, nesse item
apenas, 12 pessoas responderam que dirigiam. A anlise de correlao de Spearman
apontou que quanto melhor a acuidade visual do paciente aps a cirurgia, maior foi a
satisfao em relao melhora da dor ocular, atividade para longe, sade mental,
dependncia e satisfao geral.
Como a sade geral est diretamente relacionada sade ocular, a recuperao
visual condio determinante para a melhoria do bem-estar, aumento da autoestima e da
sade geral, mediante o favorecimento de independncia e autonomia, participao social,
preservao de capacidades cognitivas, hbitos saudveis e/ou reduo de ansiedade e
depresso(6,10)
.
Publicao 42
Estudo realizado no serto do Pernambuco, utilizando o questionrio VFQ- 25 em
idosos, concluiu que o dficit visual trouxe comprometimentos nas atividades de perto e
longe e, consequentemente, as atividades de vida diria foram prejudicadas nesses idosos,
acarretando maior dependncia e insegurana. Tal dependncia est ligada a uma pior
sade mental, assim co