31
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL Disciplina: Seminário Aplicado VARIABILIDADE GENÉTICA E ANÁLISES ESTATÍSTICAS NA CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS GENÉTICOS DE BOVINOS LOCAIS Diogo Alves da Costa Ferro Orientadora: Drª. Eliane Sayuri Miyagi GOIÂNIA 2011

Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL

Disciplina: Seminário Aplicado

VARIABILIDADE GENÉTICA E ANÁLISES ESTATÍSTICAS NA

CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS GENÉTICOS DE BOVINOS

LOCAIS

Diogo Alves da Costa Ferro

Orientadora: Drª. Eliane Sayuri Miyagi

GOIÂNIA

2011

Page 2: Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

ii

DIOGO ALVES DA COSTA FERRO

VARIABILIDADE GENÉTICA E ANÁLISES ESTATÍSTICAS NA

CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS GENÉTICOS DE BOVINOS

LOCAIS

Seminário apresentado junto à Disciplina

Seminários Aplicados do Programa de

Pós-Graduação em Ciência Animal da

Escola de Veterinária e Zootecnia da

Universidade Federal de Goiás.

Nível: Mestrado.

Área de Concentração:

Produção Animal

Linha de Pesquisa:

Fatores genéticos e ambientais que

influenciam o desempenho dos animais

Orientadora:

Profa. Drª. Eliane Sayuri Miyagi – UFG

Comitê de Orientação:

Prof. Dr. Emmanuel Arnhold - UFG

Drª. Raquel Soares Juliano – Embrapa Pantanal

GOIÂNIA

2011

Page 3: Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

iii

SUMÁRIO

LISTA DE ABREVIATURAS........................................................ iv

LISTA DE QUADROS................................................................. v

1 INTRODUÇÃO............................................................................ 1

2 REVISÃO DA LITERATURA....................................................... 3

2.1 Conservação dos recursos genéticos......................................... 3

2.2 Caracterização genética.............................................................. 4

2.3 Marcadores moleculares............................................................. 5

2.3.1 Microssatélites............................................................................. 6

2.4 Análises estatísticas nos estudos da variabilidade genética...... 8

2.4.1 Frequência alélica....................................................................... 8

2.4.2 Heterozigosidade........................................................................ 10

2.4.3 Conteúdo de informação polimórfica (PIC)................................. 12

2.4.4 Equilíbrio de Hardy-Weinberg (EHW)......................................... 13

2.4.5 Probabilidade de exclusão.......................................................... 16

2.4.6 Índices de fixação ou estatísticas de F....................................... 17

2.4.7 Distância genética entre populações.......................................... 18

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................ 21

REFERÊNCIAS........................................................................... 22

Page 4: Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

iv

LISTA DE ABREVIATURAS

AFLP - Amplified Fragment Length Polymorphisms

EHW - Equilíbrio de Hardy-Weinberg

FIS - Coeficiente de consangüinidade intrapopulacional

FIT - Redução da heterozigosidade de um indivíduo com relação à

metapopulação

FST - Coeficiente de consangüinidade entre subpopulações

He - Heterozigosidade esperada

Ho - Heterozigosidade observada

LINES - Long interspersed elements

mtDNA - DNA mitocondrial

PCR - Reação em cadeia polimerase

PE - Probabilidade de exclusão

PEC - Probabilidade de exclusão combinada

PIC - Conteúdo de informação polimórfica

RAPD - Radom Amplified Polymorphic DNA

RFLP - Restriction Fragment Length Polymorphism

SINES - Short interspersed elements

SNPs - Single Nucleotide Polymorphisms

SSR - Repetição de sequências simples

Page 5: Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

v

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 Representação esquemática da separação eletoforética

de uma proteína ou de um microssatélite com dois alelos

comuns, A e B. AA, AB e BB correspondem aos

genótipos observados em dez indivíduos, com

frequências genotípicas e alélicas......................................

9

QUADRO 2 Expressão binomial para determinação da variância da

frequência alélica................................................................

10

QUADRO 3 Determinação da Ho com apena um loco........................... 11

QUADRO 4 Determinação da Ho com todos os locos........................... 11

QUADRO 5 Cálculo da heterozigosidade média esperada.................... 12

QUADRO 6 Equação que determina a frequência de três genótipos

possíveis.............................................................................

12

QUADRO 7 Fórmula para determinação de valores de PIC.................. 13

QUADRO 8 Equação para verificação do EHW..................................... 14

QUADRO 9 Demonstração do não EHW na geração P......................... 15

QUADRO 10 Demonstração do EHW na geração 1................................ 16

QUADRO 11 Equações de obtenção da estatística F.............................. 18

QUADRO 12 Fórmulas para cálculos de distância genética.................... 20

Page 6: Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

1 INTRODUÇÃO

O Brasil possui um grande número de raças locais, espalhadas por

diversas regiões do país, tais como o bovino Pantaneiro localizado no Pantanal e

o bovino Curraleiro, principalmente na região do Cerrado. Essas raças encontram-

se, em sua maioria, ameaçadas de extinção, devido o surgimento de raças

especializadas para produção e pela realização de cruzamentos dessas raças

com bovinos locais. Com isso tem-se diminuído a diversidade genética de

algumas delas.

Embora essas raças locais sejam consideradas menos produtivas que

as especializadas, provocando pouco interesse para criação, elas são

perfeitamente adaptadas às nossas condições ambientais, podendo ser bastante

utilizadas nos programas de melhoramento genético, em função de sua

adaptabilidade.

Por despertar pouco interesse pela criação, proporcionando riscos de

extinção, pode ocasionar perdas definitivas de alelos de determinadas raças. Por

isso é de fundamental importância conhecer a variabilidade genética dessas raças

locais, para promover estratégias de conservação desse patrimônio genético,

auxiliando nos programas de conservação de recursos genéticos.

A conservação de recursos genéticos é realizada por Universidade,

Instituições e produtores, com o intuído de manter essa variabilidade genética.

Uma alternativa que vem vendo utilizada para otimizar e quantificar a variabilidade

genética é a adoção da caracterização genética de raças e populações

(MENEZES, 2005). Como ferramenta para caracterização genética tem-se

adotado a utilização de marcadores moleculares.

Dentre os principais marcadores moleculares estão os microssatélites,

que são abundantes e distribuídos ao acaso por todo o genoma, além de

apresentar grande polimorfismo, sendo considerados de fácil identificação e

utilização.

Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão

as análises estatísticas, como a frequência alélica, heterozigosidade observada e

esperada, conteúdo de informação polimórfica, equilíbrio de Hardy-Weinberg,

probabilidade de exclusão, estatísticas F e distâncias genéticas.

Page 7: Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

2

Nesse contexto, objetivou-se abordar a utilização da variabilidade

genética e das análises estatísticas na conservação de recursos genéticos de

bovinos locais.

Page 8: Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

3

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Conservação dos recursos genéticos

Nos últimos anos diversos países têm se preocupado com a erosão

genética de raças e populações, ocasionada pela substituição das raças locais.

Essa substituição vem ocorrendo deste o final do século XIX, com a eliminação

desses animais, considerados menos produtivos ou pela adoção do cruzamento

absorvente (EGITO et al., 2002), principalmente com zebuínos da raça Nelore,

por serem animais altamente especializados para produção de carne (RANGEL et

al., 2004).

A perda da diversidade genética dessas raças pode ser minimizada

mantendo a variabilidade genética com a utilização de programas de

conservação, executados pelas Universidades e Institutos de pesquisa (EGITO et

al., 2002), como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA)

com o Programa Nacional de Conservação de Recursos Genéticos, coordenado

pelo Centro Nacional de Pesquisa de Recursos Genéticos e Biotecnologia

(CENARGEN), em parceria com criadores (EGITO, 2007). Segundo COSTA &

MARTINS (2008), os programas de conservação genética podem ser in situ

(manutenção do animal em seu habitat natural) e ex situ (manutenção fora do

ambiente natural, com a inclusão de bancos de germoplasma).

A conservação de recursos genéticos no Brasil tem como objetivo

realizar a identificação, caracterização fenotípica e implantação dos núcleos de

conservação, estabelecendo os centros de origem, diversidade e variabilidade

genética, além do monitoramento dos núcleos já existentes, também ameaçados

de extinção; conservação ex situ do material genético; caracterização das

populações; e conscientização da sociedade sobre a importância da conservação

(EGITO et al., 2002).

A variabilidade genética é um parâmetro de fundamental importância

para a caracterização de raça e populações (ALBUQUERQUE, 2005) e segundo

GAMA (2004), na conservação dos recursos genéticos, onde o conhecimento da

diversidade genética intra e inter-raciais pode contribuir para evitar uma erosão

genética.

Page 9: Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

4

A variabilidade sofre grande impacto do sistema de acasalamento, que

quando realizado de maneira incorreta pode aumentar a taxa de endogamia

(MALHADO et al., 2008). A endogamia é caracterizada pelo acasalamento entre

indivíduos que possuem algum grau de parentesco, aumentando a homozigose e

diminuindo a heterozigose (QUEIROZ et al., 2000), podendo haver fixação e

expressão de genes indesejáveis na população (SILVA et al., 2001).

O controle da endogamia pode ocorrer com o auxilio da dissimilaridade

genética, ou seja, pela diferença genética entre os bovinos, por meio da

caracterização genética (RON et al., 1996), com a finalidade de permitir maior

confiabilidade dos parâmetros genéticos (CURI & LOPES, 2001).

2.2 Caracterização genética

A caracterização genética, principalmente de raças locais, até o final do

século XX, baseava-se nas características morfológicas e produtivas dos animais,

sendo altamente influenciadas pelo ambiente. Nas últimas duas décadas do

século passado, foram desenvolvidas técnicas capazes de detectar variações ao

nível de DNA, ficando livres das influências do meio ambiente, auxiliando nas

decisões a serem tomadas nos programas de conservação (EGITO, 2007).

A caracterização genética é de fundamental importância para os

programas de conservação, sendo utilizado como alternativa para otimizar e

quantificar a variabilidade genética (MENEZES, 2005). Considerado por

BJORNSTAD et al. (2000), o primeiro passo para a conservação de raças locais,

com a utilização de técnicas moleculares, baseadas em polimorfismos de DNA

para a análise da variabilidade genética.

O polimorfismo de DNA pode propiciar um estudo de grandes números

de marcadores e técnicas, gerando uma maior acurácia da distância genética

entre indivíduos ou populações. Com estas informações de distância genética, é

possível promover o direcionamento de acasalamento, visando à manutenção da

variabilidade genética, por meio da escolha de indivíduos menos similares

genotipicamente (EGITO, 2007; MARIZ, 2010).

Page 10: Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

5

Para a determinação da caracterização genética e da variabilidade

genética, podem ser utilizados marcadores moleculares, entre eles os marcadores

microssatélites (MENEZES, et al., 2006), que permitem avaliar a variabilidade

genética dentro de uma população além de estimar a relação genética entre os

indivíduos (MENEZES, 2005).

2.3 Marcadores moleculares

O estudo da variabilidade genética progrediu nos últimos anos com os

avanços de técnicas moleculares, com o surgimento de diversos tipos de

marcadores de DNA (ROCHA, 2009). Segundo MENEZES (2005), a variabilidade

genética pode ser detectada mediantes marcadores moleculares como RFLP

(Restriction Fragment Length Polymorphism), RAPD (Radom Amplified

Polymorphic DNA), AFLP (Amplified Fragment Length Polymorphisms), SNPs

(Single Nucleotide Polymorphisms), mtDNA (DNA mitocondrial) e os

microssatélites.

Marcadores moleculares são polimorfismos resultantes de adições,

substituições ou deleções de pares nitrogenadas na molécula de DNA (CURI,

2000). Pode ser definido, segundo FERREIRA & GRATTAPAGLIA (1998), como

todo e qualquer genótipo molecular oriundo de um gene expresso ou de um

segmento específico de DNA, sendo considerado como um marcador genético.

O estudo da utilização dos marcadores moleculares tem avançado ao

longo dos anos devido o desenvolvimento da aplicação enzimática de segmentos

do DNA via PCR (Reação em Cadeia Polimerase). Os marcadores moleculares

são loci que apresentam características detectáveis que podem diferir entre

indivíduos, apresentando variações nas sequências de DNA (MENEZES, 2005).

Pode ser utilizado para identificação de paternidade, diagnóstico

genético precoce, mapeamento genético, estudos evolucionários, seleção, na

conservação dos recursos genéticos animais, caracterização genéticas, entre

outros. Apresentando algumas vantagens como a necessidade de pequenas

amostras de DNA, fácil interpretação e elevada heterozigosidade (EGITO, 2007).

Entretanto, cada marcador molecular possui suas especificidades,

Page 11: Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

6

mostrando algumas vantagem e desvantagens em sua utilização, como o RFLP,

obtido pelo corte da fita dupla de DNA, foi à primeira técnica utilizada para

detectar o polimorfismo de DNA na caracterização do genoma, ainda vem sendo

bastante utilizada, mas é considerada cara e lenta. O RAPD, baseado na

amplificação do DNA genômico, é considerado simples e de fácil execução, mas

possui baixo conteúdo de informação genética por locus, onde apenas um alelo é

detectado. A técnica de Polimorfismo de Comprimento de Fragmentos

Amplificados (AFLP), utilizado para construção de mapa genético, possuem

grande números de fragmentos de restrição, mas são considerados menos

informativos por não diferenciar heterozigoto e homozigoto. Também na formação

de mapas genéticos estão os SNPs, considerados mutações pontuais distribuídos

uniformemente pelo genoma e presentes em regiões codificantes, em locais que

flanqueiam os genes, além de possuir técnica de detecção bastante simples

(MENEZES, 2005).

O marcador molecular mtDNA é formado por uma fita simples de DNA

circular, localizados no citoplasma celular, dentro da mitocôndria, considerado de

fácil amplificação e permite mostrar a distância genética entre indivíduos por meio

da diferença de nucleotídeos entre genomas mitocondriais, mas não e capaz de

detectar o fluxo gênico mediado pelo macho devido à sua herança materna

(EGITO, 2007).

Quando se trabalha com a conservação dos recursos genéticos

animais, na formação dos mapas genéticos, tem-se utilizado preferencialmente os

marcadores microssatélites, existentes em abundância no genoma e por estarem

amplamente reportados, sendo facilmente automatizados, além de permitir a

análise de vários locos de uma única vez. Considerados altamente sensíveis a

seleção, com a diversidade observada como consequência da deriva genética e

da mutação (BRUFORD et al., 2003).

2.3.1 Microssatélites

O DNA dos mamíferos é constituído em sua grande maioria, de 50 a

60% por DNA não-repetitivo (LODISH et al., 1999). De acordo com ARAÚJO

Page 12: Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

7

(2004), a fração de DNA repetitivo é composta de sequências de DNA presentes

em mais de uma cópia do genoma, podendo ser dividido em DNA

moderadamente repetido e DNA altamente repetitivo, de acordo com a frequência

de repetição. Sendo a fração moderadamente repetida composta por elementos

móveis como transposons, LINES (long interspersed elements) e SINES (short

interspersed elements), além de famílias gênicas muito duplicadas. O DNA

altamente repetitivo também é conhecido como DNA satélite ou DNA com

repetição de sequências simples (SSR) (LODISH et al., 1999).

Essas sequências repetidas em tandem, que permitem um alinhamento

imperfeito durante o pareamento dos cromossomos, são divididas em

minissatélites e microssatélites (MENEZES, 2005). Os minissatélites são

repetições ao acaso em sequências de 10 a 60 pares de base (pb), altamente

polimórficos e com elevada taxa de heterozigosidade nas populações (JEFFREYS

et al., 1985). Segundo TAUTZ (1989), os microssatélites são segmentos curtos de

DNA de 1 a 6 pb, repetidos aleatoriamente ao acaso por todo o genoma, sendo

altamente polimórficos (devido ao número de repetições de determinada

sequência) e suas repetições específicas por loci de microssatélites são

facilmente detectadas com utilização de PCR.

A técnica de PCR é considerada rápida e versátil que engloba a

síntese enzimática in vitro de milhões de cópias de um segmento específico de

DNA na presença de enzima DNA polimerase. Essa técnica se baseia no

anelamento e extensão enzimática de um par de oligonucleotídeos,

correspondendo a 17-25 pb, utilizados como iniciadores (primers) (MENEZES,

2005), que segundo (ALBUQUERQUE, 2005), flanqueiam a sequência repetitiva.

Essa técnica envolve a desnaturação da fita dupla de DNA, o reanelamento e a

nova síntese de DNA (MENEZES, 2005).

Os loci de microssatélites podem ser utilizados para estabelecer grupos

de ligação, mapear cromossomos, identificação de indivíduos em uma população

e determinar a probabilidade de parentesco entre dois indivíduos (ARAÚJO,

2004), com isso têm sido bastante utilizados na genética de populações (ROCHA,

2009), além de permitir estimar os níveis de variabilidade genética dentro das

populações e analisar as relações genéticas existentes entre elas, permitindo

estimar a diversidade genética entre as populações de animais domésticos

Page 13: Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

8

ameaçados de extinção. Estes marcadores permitem a identificação de alelos por

locus e cálculos da frequência alélica, o que permite estimar a distância genética

entre populações e indivíduos (MENEZES, 2005).

Os microssatélites podem ser utilizados para a caracterização de

rebanhos e segundo a FAO devem ser utilizados no mínimo 25 loci de

microssatélites para o estudo da distância genética. Na escolha desses loci

devem utilizar alguns critérios como escolher marcadores de domínio público,

previamente reportado em publicações científicas; não ligados; exibir herança

Mendeliana; cada microssatélite deve conter no mínimo quatro alelos;

microssatélites devem possuir homologia em várias espécies relacionadas; e

possível de ser usado em qualquer sequenciador automático e de fácil

reprodutibilidade (KUMAR, 2000).

2.4 Análises estatísticas nos estudos da variabilidade genética

As análises de polimorfismos de microssatélites vêm sendo bastante

utilizadas em estudos de variabilidade genética para verificar a variação genética

intra e inter-populacionais, também sendo utilizado para determinar a distância ou

similaridade genética entre populações (MENEZES, 2005).

Para este estudo tem-se utilizado as frequências alélicas, a

heterozigosidade observada (Ho) e esperada (He), conteúdo de informação

polimórfica (PIC), desvio do equilíbrio de Hardy-Weinberg (EHW), probabilidade

de exclusão (PE), índices de fixação ou estatísticas de F e distâncias genéticas

(ROCHA, 2009).

2.4.1 Frequência alélica

Ao se conhecer a frequência alélica, os loci de microssatélites

altamente polimórficos podem ser úteis para identificar os indivíduos em uma

população e para determinar a probabilidade de parentesco dentre dois indivíduos

(ARAÚJO, 2004).

Page 14: Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

9

O número médio de alelos é considerado uma medida alternativa

bastante útil para caracterizar a variabilidade genética. Na determinação do

número de alelos conta-se em cada locus o número de alelos detectados, com

posterior soma dos valores obtidos e divisão pelo total de loci estudado, obtendo

assim a frequência alélica. Para tal determinação faz-se necessário conhecer o

resultado da análise de um conjunto de indivíduos de uma determinada população

para uma proteína ou para um microssatélite (Quadro 1) (PEREIRA & ALMEIDA,

2005).

Frequência genotípica

f(AA) = 4/10 = 0,4 f(AB) = 4/10 = 0,4 f(BB) = 2/10 = 0,2

Frequência alélica

f(A) = 12/20 = 0,6 ou 60% f(B) = 8/20 = 0,4 ou 40%

QUADRO 1 – Representação esquemática da separação eletoforética de uma proteína ou de um microssatélite com dois alelos comuns, A e B. AA, AB e BB correspondem aos genótipos observados em dez indivíduos, com frequências genotípicas e alélicas.

Fonte: Adaptado de PEREIRA & ALMEIDA (2005).

Pode-se notar que se trata de um locus polimórfico com dois alelos (A

e B), com a existência de três genótipos (AA, AB e BB), apresentando frequências

genotípicas (0,4; 0,4; 0,2). Com isso pode-se estimar as frequências de alelos (A

e B) nessa população. Observa-se um valor de 12 genes A no total de 20 genes

da amostra correspondendo a 60% de frequência alélica A e uma soma de oito

genes B, representando uma frequência alélica de 40% (PEREIRA & ALMEIDA,

2005).

Page 15: Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

10

Assumindo o pressuposto do EHW, pode-se determinar a frequência

alélica ou frequência gênica, onde a variância de uma frequência alélica pode ser

descrita pela expressão binomial, conforme o Quadro 2 (MENEZES et al., 2006).

Onde:

x = frequência alélica

n = número de indivíduos da amostra

QUADRO 2 – Expressão binomial para determinação da variância da frequência alélica.

Fonte: MENEZES et al. (2006)

2.4.2 Heterozigosidade

A heterozigosidade pode ser considerada uma medida de variabilidade

genética (MENEZES, 2005), sendo a heterozigosidade de um locus definida como

a probabilidade de um indivíduo ser heterozigoto naquele locus, em uma

população (ARAÚJO, 2004).

Considera-se um locus polimórfico quando o alelo mais comum

apresenta uma frequência inferior a 95% e, um marcador é considerado altamente

informativo com heterozigosidade maior que 70%. Onde a heterozigosidade de

um marcador é a probabilidade de um indivíduo ser heterozigoto no locus

marcador, sendo dependente do número de alelos e da frequência destes alelos

na população (OTT, 1992).

A He e a Ho, juntamente com o número médio de alelos, são os

parâmetros mais utilizados para verificar a diversidade genética dentro de uma

raça, onde os índices de diversidade genética, como a heterozigosidade média de

uma população pode ser utilizada para verifica o nível de endocruzamento do

rebanho (EGITO, 2007).

Page 16: Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

11

A Ho é a proporção de indivíduos heterozigotos observados em uma

população estudada (ROCHA, 2009). Segundo MENEZES (2005), pode ser

calculado diretamente a partir dos genótipos encontrados na população para

todos os loci por intermédio do programa informático GENETIX v. 4.0.4, proposto

por BELKHIR (1999).

A determinação da Ho para apenas um loco (Quadro 3) ou para todos

os locos pode ser realizada de acordo com o Quadro 4 (McMANUS et al., 2011).

Ho = Nº de heterozigotos em cada loco

Nº total de indivíduos pesquisados

Exemplo:

Ho = 25 heterozigotos = 0,25

100 indivíduos

QUADRO 3 – Determinação da Ho com apena um loco. Fonte: McMANUS et al. (2011).

Exemplo com 5 locos Onde Ho =

Loco 1 25/100 = 0,25

Loco 2 0/100 = 0,00

Loco 3 10/100 = 0,10

Loco 4 5/100 = 0,05

Loco 5 25/100 = 0,25

Ho = (0,25 + 0 + 0,10 + 0,05 + 0,25)/5 = 0,13

QUADRO 4 – Determinação da Ho com todos os locos. Fonte: McMANUS et al. (2011).

A heterozigosidade média esperada de um locus pode ser calculada

pela fórmula (Quadro 5) proposta por NEI (1973), quando este parâmetro for

equivalente à heterozigosidade observada, considerando-se apenas que as

populações estão em completo equilíbrio (MENEZES, 2005).

Page 17: Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

12

Onde:

xi = frequência de alelo i

k = número de alelos

QUADRO 5 – Cálculo da heterozigosidade média esperada. Fonte: NEI (1973).

A He pode ser definida como uma fração estimada de todos os

indivíduos que poderiam ser heterozigótico de um loco. Diferindo da Ho, por ser

uma previsão baseada na frequência alélica, sendo que o desvio observado entre

a He e Ho, pode ser um indicativo da dinâmica populacional. Então a He é

calculada com base na frequência de alelos, como por exemplo, para uma

simples característica gênica com dois alelos, A e a, com frequências expressas

em p(A) e q(a), onde p + q = 1, determinado pela equação observada no Quadro

6 (McMANUS et al., 2011).

Nº de indivíduos

observados com

cada genótipo

Frequência de genótipos

observados

Frequência de

genótipos

esperado

Nota que:

p² + 2pq + q² = 1

Homozigotos = p² + q²

Heterozigotos = 2pq

AA = 10 A = {(2x10) + 10)}/(2x80)

A = 0,1875

a = 1 – 0,1875 = 0,8125

p² = 0.0352

Aa = 10 2pq = 0,3046

aa = 60 q² = 0,6602

Total = 80 indivíduos amostrados = 160 alelos

QUADRO 6 – Equação que determina a frequência de três genótipos possíveis. Fonte: Adaptado de McMANUS et al. (2011).

2.4.3 Conteúdo de informação polimórfica (PIC)

O PCI surgiu para quantificar o valor da informação do polimorfismo de

um locus marcador, sendo considerado um parâmetro que apresenta uma

dependência do número de alelos e de suas frequências. As classificações dos

Page 18: Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

13

marcadores com valores de PIC, são considerados muito informativo,

mediamente informativo e pouco informativo, com valores superiores a 0,5, entre

0,25 e 0,50 e, inferiores a 0,25 respectivamente (BOLSTEIN et al., 1980).

De acordo com MENEZES (2005) eles podem ser calculados de

acordo com a seguinte fórmula (Quadro 7).

QUADRO 7 – Fórmula para determinação de valores de PIC. Fonte: BOLSTEIN et al. (1980).

2.4.4 Equilíbrio de Hardy-Weinberg (EHW)

A lei de Hardy-Weinberg é uma teoria extremamente útil para

possibilitar o entendimento do que acontece ás frequências gênicas e genotípicas

de populações reais, onde a lei pode ser deduzida pela observação das

frequências em qualquer população de animais que transpõe uma geração de

cruzamentos ao acaso. Quando isso acontece, tornam-se evidentes algumas

conclusões como as frequências genotípicas na prole são determinadas

exclusivamente pelas frequências gênicas nos genitores, de modo que a

frequência de homozigotos é igual ao quadrado da frequência de gene relevante e

a frequência de heterozigoto é igual ao dobro do produto das frequências dos

genes relevantes; e as frequências gênicas e genotípicas permanecem

constantes de uma geração para a seguinte, quando isso acontece é dito que

está em EHW. Isso é observado em uma população de cruzamento ao acaso, em

que não há seleção, mutação, migração ou deriva genética (NICHOLAS, 2011).

A seleção, migração, mutação e deriva genética são os quatro fatores

que podem interferir no EHW de uma população, interferindo então na

variabilidade genética da população. A seleção atua de maneira negativa na

variabilidade genética, pois promove a fixação de genes na mesma, com a

utilização de poucos indivíduos para o acasalamento. A migração está

Page 19: Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

14

relacionada com a entrada de novos genes em uma determinada população,

podendo contribuir para a erosão genética da população local, com a utilização de

cruzamentos absorventes. Mutação é uma variação brusca e hereditária, que

pode ocorrer em algum gene. A deriva genética é uma alteração natural na

frequência de alelos que ocorre em populações pela perpetuação de genes por

meio da reprodução, podendo ocasionar rápida redução da variabilidade genética

e aumento de homozigosidade (MARIZ, 2010).

Segundo MENEZES (2005), qualquer desvio significativo no EHW

indicará que a população está subdividida, que existe uma endogamia ou fluxo de

genes de outra população. Para verificar esses desvios pode-se utilizar teste de

qui-quadrado, teste exato de Fisher, entre outros.

O EHW pode ser matematicamente demonstrado com uma equação

binominal simples (para dois alelos) ou multinominal (alelos múltiplos) e na

distribuição de frequência gênica, como mostra a Quadro 8 (McMANUS et al.,

2011).

p² + 2pq + q²

QUADRO 8 – Equação para verificação do EHW. Fonte: McMANUS et al. (2011).

O EHW é testado entre gerações, como foi exemplificado por

REZENDE (2010), utilizando animais da raça Angus. Foram determinadas as

frequências alélicas e genotípicas destes animais e realizou-se um acasalamento

ao acaso e mesma frequência genotípica para machos e fêmeas. Após o primeiro

ciclo de acasalamento ao acaso, foi observado que as frequências gênicas

mantiveram-se, porém as frequências genotípicas alteraram-se, mostrando que a

geração P não se encontrava em equilíbrio ao se comparar com a geração 1

(Quadro 9). No segundo momento foi estimado o acasalamento ao acaso e

mesma frequência genotípica entre machos e fêmeas na geração 1. Após o

acasalamento, pode-se afirmar que a geração 1 encontrava-se em EHW, pois as

frequência gênicas e genotípicas permaneceram constantes (Quadro 10).

Page 20: Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

15

Como saber se uma população está em EHW?

Ex: Cor da pelagem em bovinos da raça Angus

BB ou Bb vermelho, bb preto

400 animais BB, 400 animais Bb e 200 animais bb

Frequência alélica f(B) = (800+400)/2000 = 0,60 f(b) = (400+400)/2000 = 0,40

Frequência genotípica

f(BB) = 400/1000 = 0,40

f(Bb) = 400/1000 = 0,40

f(bb) = 200/1000 = 0,20

Frequência dos acasalamentos Fêmeas (geração P)

BB (0,40) Bb (0,40) bb (0,20)

Machos (geração P)

BB (0,40) 0,16 0,16 0,08

Bb (0,40) 0,16 0,16 0,08

bb (0,20) 0,08 0,08 0,04

Geração P Geração 1

Acasalamento Frequência BB Bb Bb

BB x BB 0,16 0,16 0 0

BB x Bb 0,32 0,16 0,16 0

BB x bb 0,16 0 0,16 0

Bb x Bb 0,16 0,04 0,08 0,04

Bb x bb 0,16 0 0,08 0,08

bb x bb 0,04 0 0 0,04

Total 1 0,36 0,48 0,16

Geração P Geração 1

Frequência genotípica

f(BB) = 0,40 f(BB) = 0,36

f(Bb) = 0,40 f(Bb) = 0,48

f(bb) = 0,20 f(bb) = 0,16

Frequência alélica f(B) = 0,60 f(B) = 0,60 f(b) = 0,40 f(b) = 0,40

QUADRO 9 – Demonstração do não EHW na geração P. Fonte: Adaptado de REZENDE (2010).

Page 21: Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

16

Frequência dos acasalamentos Fêmeas (geração 1)

BB (0,36) Bb (0,48) bb (0,16)

Machos (geração 1)

BB (0,36) 0,1296 01728 0,0576

Bb (0,48) 0,1728 0,2304 0,0768

bb (0,16) 0,0576 0,0768 0,0256

Geração 1 Geração 2

Acasalamento Frequência BB Bb bb

BB x BB 0,1296 0,1296 0 0

BB x Bb 0,3456 0,1728 0,1728 0

BB x bb 0,1152 0 0,1152 0

Bb x Bb 0,2304 0,0576 0,1152 0,0576

Bb x bb 0,1536 0 0,0768 0,0768

bb x bb 0,0256 0 0 0,0256

Total 1 0,36 0,48 0,16

Geração 1 Geração 2

Frequência genotípica

f(BB) = 0,36 f(BB) = 0,36

f(Bb) = 0,48 f(Bb) = 0,48

f(bb) = 0,16 f(bb) = 0,16

Frequência alélica f(B) = 0,60 f(B) = 0,60 f(b) = 0,40 f(b) = 0,40

QUADRO 10 – Demonstração do EHW na geração 1. Fonte: Adaptado de REZENDE (2010).

2.4.5 Probabilidade de exclusão (PE)

A PE representa a probabilidade de um animal escolhido

aleatoriamente, não ser o pai ou a mãe de uma determinada cria (ROCHA, 2009).

Segundo ARAÚJO (2004), a fórmula de exclusão de paternidade é baseada na

probabilidade teórica de exclusão dos pais escolhidos incorretamente.

A PE 1 estima a chance de exclusão quando conhecido o genótipo do

filho e de um dos possíveis pais. A PE 2, é quando se tem o genótipo do filho e o

genótipo de um dos verdadeiro pais. Podendo também ser calculada a

probabilidade de exclusão combinada (PEC), quando de trabalha com todos os

locos, sendo calculada pela formula PEC = 1 – (1-PEn)k, onde n representa o

número de alelos e k a probabilidade de exclusão de cada marcador. Mas

independente do tipo de PE, todas podem ser calculadas por programas

informáticos como o Cervus v. 2 (ROCHA, 2009).

Page 22: Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

17

2.4.6 Índices de fixação ou estatísticas de F

As variações genéticas existentes podem ser quantificadas pela

estatística F, descrita pela teoria de Sewall Wright nas décadas de 40 e 50, que

introduziu os parâmetros FST, FIT e FIS, podendo fornecer de maneira sumarizada

a estrutura da população estudada (ARAÚJO, 2004; MENEZES, 2005).

FST é o índice de fixação ou coeficiente de consangüinidade entre

subpopulações, onde seu valor é utilizado para medir a distância entre

subpopulações, assumindo valores entre zero e um e, quanto maior for esse

valor, maior será a diferenciação entre as subpopulações estudadas. FIS refere-se

ao coeficiente de consangüinidade intrapopulacional, ou seja, a redução da

heterozigosidade do indivíduo com relação a sua subpopulação, ela expressa a

ocorrência de acasalamentos aleatórios dentro da subpopulação. Onde valores de

FIS maior que zero, significa ocorrência de endogamia, quando o FIS for menor

que zero, mostra a ocorrência de acasalamento entre indivíduos não aparentados.

Já o FIT indica redução da heterozigosidade de um indivíduo com relação à

metapopulação (BARROS, 2009).

Os valores de FIT e FIS quando se apresentam negativos ou próximos

de zero, significa que há variabilidade genética na população, uma vez que existe

maior número de heterozigotos e valores distantes de zero indicam maiores

valores de homozigotos (OLIVEIRA, 2007).

A estatística F pode ser determinada com base na heterozigosidade

obtida com marcadores genéticos, por meio de equações, descritas no Quadro 11

(ROCHA, 2009).

Page 23: Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

18

Onde:

HI = heterozigosidade observada obtida pela média de todos os

fragmentos populacionais

HS = heterozigosidade esperada de Hardy-Weinberg obtida pela média de

todos os fragmentos populacionais

HT = heterozigosidade esperada de Hardy-Weinberg para a população

total

QUADRO 11 – Equações de obtenção da estatística F. Fonte: ROCHA (2009).

2.4.7 Distância genética entre populações

A determinação da distancia genética por meio de marcadores

moleculares entre populações, permite a tradução entre o grau de parentesco

desses animais, verificando a variabilidade genética entre eles. Sendo de

fundamental importância para a conservação de recursos genéticos, pois permite

definir características únicas de algumas raças ou populações (PEREIRA &

ALMEIDA, 2005).

A distância genética entre raças ou populações pode ser determinada

por meio de fórmulas matemáticas que medem a distância genética entre

indivíduos, possibilitando a construção de árvores filogenéticas ou dendrogramas

(MARIZ, 2010).

Page 24: Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

19

Se a distância genética entre populações for obtida com valor igual a

zero, significa que não há diferença entre as duas populações, mas se as

populações não apresentarem alelos em comum nos loci, significa que os valores

de distância genética deve apresentar valor máximo. Com a utilização das

distâncias genéticas pode-se realizar medidas de diversidade genética ou

variabilidade genética. Atualmente para os cálculos de distâncias genéticas tem-

se utilizado fórmulas propostas por Nei (estima o número de substituições gênicas

que ocorrem em genes de duas populações desde sua divergência a partir de um

ancestral comum) e Reynolds (divergência entre populações é em função da

deriva genética) (ARAÚJO, 2004).

Independente do tipo de fórmula escolhida para estudar a variabilidade

genética de uma população, todos os dados utilizados devem conter informações

sobre as frequências alélicas ou genotípicas, sendo está considerada a base de

qualquer que seja o método (MARIZ, 2010).

As funções matemáticas devem apresentar algumas propriedades para

ser considerada com distância. Onde a distância entre uma população (X) e ela

mesmo dever ser igual a zero {d (X,X) = 0)}; a distância entre duas populações

deve ser positiva {d (X,Y) ≥ 0} e simétrica {d (X,Y) = d (X,Y)}; se a distância

satisfaz as duas anteriores, denomina-se semimétrica, apresentando uma

desigualdade triangular {d (X,Y) ≤ [d (X,Z) + d (Y,X)]}, sendo assim chamada de

distância métrica (ARAÚJO, 2004). Segundo MENEZES (2005), a distância

métrica é a mais utilizada no estudo das populações.

Para o cálculo das distâncias genéticas podem ser utilizados algumas

fórmulas descritas no Quadro 12, onde xi e yi são frequência de alelo ith traçados

nas respectivas populações X e Y. As fórmulas das distâncias são dadas para um

loco, mas para calcular vários locos, tem-se uma soma a mais de locos e dividi-se

pelo número de locos onde a somatória aparece nas expressões (ROCHA, 2009).

Page 25: Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

20

QUADRO 12 – Fórmulas para cálculos de distância genética. Fonte: ROCHA (2009).

A distância padrão de Nei é a medida mais utilizada e sua distância

tem se mostrado proporcional ao tempo de divergência. A distância mínima de

Nei (Dm) mede o número mínimo de alelos diferentes por locus. A distância de Nei

(DA) é linear com o tempo, mais apresenta um problema com dados de

microssatélites de populações divergentes, devido à alta proporção de mutação e

grande número de alelos. E a distância de Reynolds (DReynolds) assume que não

existe mutação e que todas as mudanças observadas nas frequências são

oriundas de deriva genética (MENEZES, 2005).

Page 26: Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

21

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a perda da variabilidade e da diversidade genéticas das raças

locais, ao longo dos anos, surgiram programas de conservação de recursos

genéticos, visando à preservação de alelos dessas raças para futuros programas

de melhoramento genético.

A quantificação da variabilidade genética de raças locais vem sendo

realizadas por meio da caracterização genética, com o auxilio de marcadores

moleculares, com maior frequência de utilização de microssatélites e por meio de

análises estatísticas, sendo consideradas ferramentas fundamentais nos

programas de conservação de recursos genéticos.

Page 27: Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

22

REFERÊNCIAS

1. ALBUQUERQUE, M. S. M. Marcadores moleculares e variabilidade

genética em búfalos do Brasil. 2005. 111f. Tese (Doutorado em

Ciências) – Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto.

2. ARAÚJO, A. M. Paternidade e diversidade genética em caprinos no

Brasil por meio de microssatélites de DNA. 2004. 104f. Tese (Doutorado

em Genética e Melhoramento) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa.

3. BARROS, E. A. Estrutura populacional e variabilidade genética do

núcleo de conservação da raça marota no Piauí. 2009. 63f. Dissertação

(Mestrado em Zootecnia) – Universidade Federal Rural de Pernambuco,

Recife.

4. BELKHIR, K. Logiciel sous WindowsTM pour la génétique des

populations. In Laboratoire Génome, Populations, Interactions, Vol. CNRS

UPR 9060. 1999.

5. BJORNSTAD, G.; GUMBY, E.; ROED, K. H. Genetic structure of Norwegian

horse breeds. Journal Animal Breeding and Genetics, v.117, p. 307-317.

2000.

6. BOLSTEIN, D.; WHITE, R. L.; SKOLNICK, M.; DAVIS, R. W. Construction of

genetic linkage map in man using restriction fragment length polymorphism.

American Journal of Human Genetics, v.32, p.314-331, 1980.

7. BRUFORD, M. W.; Bradley, D. G.; Luikart, G. DNA markers reveal the

complexity of livestock domestication. Nat. Rev. Genet., v.4, n.11, p. 900-

910, 2003.

Page 28: Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

23

8. COSTA, P. M.; MARTINS, C. F. Conservação de recursos genéticos animais

através de biotecnicas de reprodução. Universitas Ciências da Saúde,

Brasília, v. 6, n. 1, p. 39-55, 2008.

9. CURI, R. A. Teste de paternidade por microssatélites em bovinos da

raça Gir. 2000. 89f. Dissertação (Mestrado em Ciências Biológicas) –

Instituto de Biociência, Universidade Estadual Paulista, Botucatu.

10. CURI, R. A.; LOPES, C. R. Teste de paternidade em bovinos.

Biotecnologia, Ciência e Desenvolvimento, Brasília, v. 21, p. 40-45,

2001.

11. EGITO, A. A. Diversidade genética, ancestralidade individual e

Miscigenação nas raças bovinas no Brasil com base em

Microssatélites e haplótipos de DNA mitocondrial: Subsídios para a

conservação. 2007. 246f. Tese (Doutorado em Ciências Biológicas) –

Universidade de Brasília, Brasília.

12. EGITO, A. A.; MARIANTE, A. S.; ALBUQUERQUE, M. S. M. Programa

brasileiro de conservação de recursos genéticos animais. Archivos de

Zootecnia, Córdoba, v. 51, n.193-194, p. 50, 2002.

13. FERREIRA, M. E.; GRATTAPAGLIA, D. Introdução ao uso de

marcadores moleculares em análises genéticas. 3.ed. Brasília:

Embrapa-Cenargen, 1998. 220p.

14. JEFFREYS, A. J.; WILSON, V.; THEIN, S. L. Hypervariable “minisatellite”

regions in human DNA. Nature, v.314, p.67-73, 1985.

15. GAMA, L. T. Manutenção da variabilidade genética em programas de

seleção. In: I Simpósio Internacional de Conservação de Recursos

Genéticos (Raças Nativas para o Semi-árido), Recife-PE. Anais... p.38-44,

2004

Page 29: Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

24

16. KUMAR, D. DNA markers for the differentiation of farm animal breeds. In:

SAHAI, R.; VIJH, R. K. Domestic Animal Diversity: conservation and

sustainable development. Karnal: SI Publications, 2000. p.305-312.

17. LODISH, H.; BERK, A.; ZIPURSKY, S. L.; MATSUDAIRA, P.; BALTIMORE,

D.; DARNELL, J. Molecular cell biology. W. H. Freeman and Company. 4.

ed., 1999. 1084p.

18. McMANUS, C.; PAIVA, S.; CORRÊA, P. S.; SEIXAS, L.; MELO, C. B.

Estatísticas para descrever genética de populações. 2011. Disponível

em <www.animal.unb.br>. Acesso em 19 de abril de 2011.

19. MALHADO, C. H. M.; CARNEIRO, P. L. S.; PEREIRA, D. G.; MARTINS

FILHO, R. Progresso genético e estrutura populacional do rebanho nelore

do Estado da Bahia. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 43, n.

9, p. 1163-1169, 2008.

20. MARIZ, T. M. A. Caracterização zoométrica, estrutura populacional e

índices reprodutivos da raça Sindi no Brasil. 2010. 121f. Tese

(Doutorado em Zootecnia) – Universidade Federal da Paraíba, Areia.

21. MENEZES, M. P. C.; MARTINEZ, A. M.; RIBEIRO, M. N.; PIMENTA

FILHO, E. C.; BERMEJO, J. V. D. Caracterização genética de raças

caprinas nativas brasileiras utilizando-se 27 marcadores microssatélites.

Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 35, n. 4, p. 1336-1341, 2006.

22. MENEZES, M. P. C. Variabilidade e relações genéticas entre raças

caprinas nativas brasileiras, ibéricas e canárias. 2005. 110f. Tese

(Doutorado em Produção Animal) – Universidade Federal da Paraíba,

Universidade Federal Rural de Pernambuco, Universidade Federal do

Ceará, Areia.

Page 30: Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

25

23. NEI, M. Analysis of gene diversity in subdivided populations. Proceedings

of the National Academy of Sciences, v.70, p.3321-3323, 1973.

24. NICHOLAS, F. W. Introdução à genética veterinária. 3.ed. Porto Alegre:

Artmed, 2011. 347p.

25. OLIVEIRA, J. C. V. Diversidade genética em caprinos. 2007. 104f. Tese

(Doutorado em Produção Animal) – Universidade Federal Rural de

Pernambuco, Recife.

26. OTT, J. Strategies for characterizing highly polymorphic markers in human

gene mapping. American Journal of Human Genetics. v. 51, pp. 283-

290, 1992.

27. PEREIRA, A. B.; ALMEIDA, N. F. Genética, biotecnologia e agricultura.

1.ed. Porto: SIG, 2005. 96p.

28. QUEIROZ, S. A.; ALBUQUERQUE, L. G.; LANZONI, N. A. Efeito da

endogamia sobre características de crescimento de bovinos da raça Gir no

Brasil. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 29, n. 4, p. 1014-1019,

2000.

29. RANGEL, P. N.; ZUCCHI, M. I.; FERREIRA, M. E. Similaridade genética

entre raças bovinas brasileiras. Pesquisa Agropecuária Brasileira,

Brasília, v. 39, n.1, p. 97-100, 2004.

30. REZENDE, F. M. Genética de populações. 2010. Disponível em

<http://www.usp.br/gmab/discip/>. Acesso em 19 de abril de 2011.

31. ROCHA, L. L. Estudo genético de populações caprinas locais e

exóticas através de marcadores microssatélites. 2009. 151f. Tese

(Doutorado em Zootecnia) – Universidade Federal Rural de Pernambuco,

Universidade Federal da Paraíba, Universidade Federal do Ceará, Recife.

Page 31: Universidade Federal de Goiás - VARIABILIDADE …...Auxiliando no programa de conservação de recursos genéticos estão as análises estatísticas, como a frequência alélica,

26

32. RON, M.; BLANC, Y.; BAND, M.; EZRA, E.; WELLER, J.I. Misidentification

rate in the Israeli dairy cattle population and its implications for genetic

improvement. Journal of Dairy Science, Champaign, v. 79, p. 676-681,

1996.

33. SILVA, M. V. G. B.; FERREIRA, W. J.; COBUCI, J. A.; GUARAGNA, G. P.;

OLIVEIRA, P. R. P. Efeito da endogamia sobre características produtivas e

reprodutivas de bovinos do ecótipo Mantiqueira. Revista Brasileira de

Zootecnia, Viçosa, v. 30, n. 4, p. 1236-1242, 2001.

34. TAUTZ, D.; TRICK, M.; DOVER, G. A. Cryptic simplificity in DNA is a major

source of genetic variation. Nature, v.322, p.652-656, 1986.