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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE AGRONOMIA, MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA Programa de Pós-graduação em Agricultura Tropical CONTROLE DE FITOPATÓGENOS COM EXTRATOS VEGETAIS LILIANE SILVA DE BARROS C U I A B Á MT 2015

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE … · Os defensivos alternativos, que podem ser de preparação caseira ou adquiridos no comércio, a partir de substâncias não

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE AGRONOMIA, MEDICINA VETERINÁRIA E

ZOOTECNIA

Programa de Pós-graduação em Agricultura Tropical

CONTROLE DE FITOPATÓGENOS COM EXTRATOS

VEGETAIS

LILIANE SILVA DE BARROS

C U I A B Á – MT

2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA E

ZOOTECNIA

Programa de Pós-graduação em Agricultura Tropical

CONTROLE DE FITOPATÓGENOS COM EXTRATOS

VEGETAIS

LILIANE SILVA DE BARROS

Engenheira Agrônoma

Orientadora: Profa. Dra. ELISABETH APARECIDA FURTADO DE MENDONÇA

Co-orientadora: Profa. Dra. LEIMI KOBAYASTI

Tese apresentada à Faculdade de Agronomia, Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso, para obtenção do título de Doutora em Agricultura Tropical.

C U I A B Á – MT

2015

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Dedico a meus pais

Antônio & Elisete

Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes.

“Isaac Newton”

Foi atravessando os rigores do inverno

que o tempo chegou à primavera...

Zalkind Piatgorsky

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AGRADECIMENTOS

À Deus minha fortaleza.

À minha família pela admiração e incentivo sem limites, em especial minha

irmã Angélica e meu namorado e companheiro Marcelo.

À Universidade Federal de Mato Grosso, Programa de Pós-Graduação em

Agricultura Tropical pela oportunidade de realização do Doutorado.

À CAPES pela bolsa de estudos.

Às minhas orientadoras, Elisabeth Aparecida Furtado de Mendonça e Leimi

Kobayasti pela confiança, paciência e ensinamentos oferecidos.

Aos amigos que de alguma forma participaram na condução e realização

deste trabalho.

Aos Funcionários e professores dos laboratórios de Fitopatologia, Sementes,

Núcleo de Tecnologia e Armazenamento de Grãos, Nutrição de Plantas e Química

de Produtos Naturais, pelo uso de equipamentos e colaboração nos ensaios que

foram indispensáveis para o desenvolvimento do trabalho.

Aos membros da banca examinadora pela colaboração na correção do

trabalho.

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SUMÁRIO

RESUMO......................................................................................................... 08

ABSTRACT..................................................................................................... 10

INTRODUÇÃO................................................................................................ 12

1 EXTRATOS VEGETAIS DE PLANTAS DO CERRADO NA INDUÇÃO À

PRODUÇÃO DE FITOALEXINAS..................................................................

Resumo.......................................................................................................... 18

Abstract........................................................................................................... 19

1.1 Introdução................................................................................................. 20

1.2 Material e Métodos................................................................................... 21

1.3 Resultados e discussão............................................................................ 25

1.4 Conclusões............................................................................................... 29

1.5 Referências Bibliográficas........................................................................ 30

2 INIBIÇÃO DO CRESCIMENTO MICELIAL E PRODUÇÃO DE ESCLERÓDIOS DE Sclerotinia sclerotiorum COM EXTRATOS VEGETAIS......................................................................................................

Resumo........................................................................................................... 33

Abstract........................................................................................................... 34

2.1 Introdução................................................................................................. 35

2.2 Material e Métodos.................................................................................... 36

2.3 Resultados e discussão............................................................................ 40

2.4 Referências Bibliográficas........................................................................ 49

3 EXTRATOS VEGETAIS NO TRATAMENTO ALTERNATIVO DE SEMENTES DE Guizotia abyssinica..............................................................

Resumo.......................................................................................................... 51

Abstract.......................................................................................................... 52

3.1 Introdução................................................................................................ 53

3.2 Material e Métodos................................................................................... 54

3.3 Resultados e discussão........................................................................... 57

3.4 Conclusões.............................................................................................. 64

3.5 Referências Bibliográficas....................................................................... 65

4 EXTRATOS VEGETAIS NO TRATAMENTO ALTERNATIVO DE SEMENTES DE Triticum aestivum................................................................

Resumo.......................................................................................................... 67

Abstract.......................................................................................................... 68

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4.1 Introdução................................................................................................ 69

4.2 Material e Métodos................................................................................... 70

4.3 Resultados e discussão........................................................................... 71

4.4 Conclusões.............................................................................................. 75

4.4 Referências Bibliográficas........................................................................ 76

CONCLUSÃO................................................................................................. 78

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CONTROLE DE FITOPATÓGENOS COM EXTRATOS VEGETAIS

RESUMO - No mundo, além do crescimento populacional aumenta-se a demanda

por alimentos mais saudáveis. Entre os fatores que reduzem a produção de

alimentos, as doenças fúngicas apresentam grande relevância. Para o controle da

maioria das doenças é utilizado o tratamento convencional com agrotóxicos, porém,

a crescente exigência por produtos vegetais, livres de contaminação por resíduos

químicos tem incentivado a busca por métodos alternativos de controle. Estudos têm

revelado que extratos de plantas apresentam potencial para o controle alternativo de

doenças. Dessa forma, o presente trabalho teve como objetivo selecionar e avaliar a

ação de extratos vegetais sobre fungos fitopatogênicos e a germinação de

sementes. No Capítulo I, “Extratos vegetais de plantas do Cerrado na indução à

produção de fitoalexinas”, objetivou-se avaliar extratos aquosos de folhas frescas e

folhas secas, na indução de fitoalexinas em mesocótilos de Sorghum bicolor L.. Os

resultados obtidos demonstrou que os extratos aquosos de caju, cerejeira, jequitibá,

pequi, lixeira, baru, timbó, aroeira, tarumã e cambárá, ativaram a produção de

fitoalexinas “in vitro”, demostrando que essas plantas têm propriedades que podem

auxiliar na ativação de mecanismos de defesas das plantas. Entre os extratos

aquosos, as folhas secas de timbó e aroeira foram os mais eficientes em induzir

fitoalexinas em mesocótilos de sorgo. No Capítulo II, “Inibição do crescimento

micelial e produção de escleródios de Sclerotinia sclerotiorum com uso de extratos

vegetais”, o objetivo foi avaliar a inibição do crescimento micelial e produção de

escleródios de Sclerotinia sclerotiorum, com a utilização de extratos aquosos de

folhas frescas e secas de plantas do cerrado. Extratos aquosos de folha frescas

esterilizados desempenham ação inibitória no crescimento micelial de S.

sclerotiorum. Ficou concluído que os extratos de folha seca esterilizados

proporcionou menor número e peso de escleródios, enquanto extratos de folha

frescas, apenas o número de escleródios. A utilização de extratos vegetais aquosos

de folhas frescas esterilizado de caju, pequi e aroeira e, não esterilizado de pequi e

extrato aquoso de folha frescas não esterilizado de jequitibá, estimularam o

desenvolvimento micelial de S. sclerotiorum. No Capítulo III, “Extratos vegetais no

tratamento alternativo de sementes de Guizotia abyssinica”, objetivou-se avaliar o

potencial de extratos vegetais de plantas, em pó e etanólicos, no tratamento de

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sementes de Níger. Os resultados indicaram que os extratos etanólicos de nim,

mutamba e o extrato em pó de mutamba controlaram 100% a incidência de

Cladosporium sp. e Aspergillus sp. O extrato etanólico de manga reduziu em 18% a

germinação das sementes de níger. E no Capítulo IV, “Extratos vegetais no

tratamento alternativo de sementes de Triticum aestivum” avaliou-se o efeito de

diferentes extratos vegetais no tratamento de sementes de cinco variedades de trigo

e a influência na germinação. O aquoso de pimenta do reino é eficiente no controle

de Cladosporium cladosporioides, Bipolaris sorokiniana e Fusarium graminearum e

não afeta a germinação de sementes de Triticum aestivum. Extrato aquoso de

nim, coentro, mutamba e manga reduz a germinação de sementes de Triticum

aestivum.

Palavras-chave: fungos fitopatogênicos, controle alternativo, indução de resistência.

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CONTROLE DE FITOPATÓGENOS COM EXTRATOS VEGETAIS

ABSTRACT - Worldwide, along with population growths comes the demand for more

healthy foods. Among the factors that reduce food production, fungal diseases are of

great relevance. These diseases are traditionally controlled using agrochemical.

However, the increasing demand for products free of chemical residuals has

incentivized research into alternative treatments. Studies have shown that plant-

based extracts show potential as an alternative control against diseases. The

objective of this work is to select and evaluate the effect of plant-based extracts on

phytopathogenic fungi and seed germination. Chapter 1, “Vegetable Extracts of

Cerrado plants induce Phytoalexin Production”, evaluates extracts of fresh and dry

leaves on phytoalexin production in mesocotyls of Sorghum bicolor L. Results show

that aqueous extracts of cashew, cerejeira, jequitibá, pequi, lixeira, baru, timbó,

aroeira, tarumã and cambará all activated the production of phytoalexins “in vitro”,

demonstrating that these plants have the ability to assist in the activation of plant

defense mechanisms. Aqueous extracts of dry leaves of timbó and aroeira were the

most efficient phytoalexin inducers for sorghum mesocotyls. In Chapter 2, “Inhibition

of mycelial growth and sclerotia production of Sclerotinia sclerotiorum with plant

extracts”, the objective was to evaluate inhibition of mycelial growth and sclerotia

production of Sclerotinia sclerotiorum, using aqueous extracts of fresh and dry leaves

of cerrado plants. Sterile aqueous extracts of fresh leaves inhibited mycelial growth

of S. Sclerotiorum. We found that sterilized extracts of dry leaves resulted in a lower

number and weight of sclerotia, whereas extracts based on fresh leaves only

reduced the number of sclerotia. The use of sterilized aqueous plant extracts based

on fresh cashew, pequi and aroeira leaves, and non-sterilized aqueous extracts of

pequi and jequitibá stimulate mycelial development of S. sclerotiorum. In Chapter III,

“Plant extracts for the alternative treatment of Guizotia abyssinica seeds”, I aim to

evaluate the potential of plant extracts, in powder and ethanol-based solutions, for

treatment of Niger seeds. It was found that ethanol-based extracts of nim, mutamba

and a powdered extract of mutamba controlled 100% of Cladosporium sp. and

Aspergillus sp. An ethanol-based extract of mango reduced the germination of niger

seeds by 18%. In Chapter IV, “Plant extracts for the alternative treatment of Triticum

aestivum seeds” the effect of different plant extracts on the treatment and

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germination of five varieties of wheat seeds was evaluated. It was found that

treatment using an aqueous extract of black pepper is effective for the controlo of

Cladosporium cladosporioides, Bipolaris sorokiniana and Fusarium graminearum and

did not effect germination of Triticum aestivum. Aqueous extracts of nim, coriander,

mutamba and mango reduced the germination of Triticum aestivum seeds.

Key terms: phytopathogenic fungi, alternative control, induction of resistance.

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INTRODUÇÃO

Patógenos de plantas ocorrem na natureza com o objetivo de, em parte,

manter o equilíbrio entre microorganismos e a ciclagem de nutrientes, sendo, desse

ponto de vista, benéficas. O que se observa é que as doenças ocorrem de forma

endêmica. Porém, as epidemias são frequentes em agroecossistemas, pois, com a

interferência humana há alteração do equilíbrio. Neste caso, para não ocorrer

diminuição na produtividade, é necessário, interferência através do controle dos

patógenos (Ghini e Bettiol, 2000).

No início do século XIX, eram utilizados compostos inorgânicos, como cobre,

enxofre e mercúrio, para combater doenças parasitárias e fungos. Além destes,

outros compostos, à base de arsênico, selênio e chumbo, que caracterizaram a

primeira geração de fungicidas, e que não são mais utilizados, em função de sua

elevada toxicidade, foram empregados até o início do século XX para combater

doenças em plantas (Alves Filho, 2002). Na década de 60, as exigências para que

os produtos fossem aplicados em menores quantidades por área cultivada, e menor

toxicidade para os seres humanos e para o meio ambiente, começaram a surgir

(Silva e Costa, 2011). Dessa forma, o desenvolvimento de métodos alternativos de

controle, com a finalidade de diminuir a dependência dos agrotóxicos, e contribuir

para se praticar uma agricultura que seja mais adequada às novas exigências,

começou a ganhar espaço nas pesquisas.

Entre as novas medidas de proteção das plantas contra doenças, citamos a

indução de resistência, ação fungitóxica direta pelo tratamento de sementes,

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controle cultural, biológico, entre outros. Alguns produtores até aboliram o controle

químico, desenvolvendo a agricultura orgânica, uns por consciência ecológica, e

produtos mais saudáveis outros, porém, simplesmente com o objetivo de explorar

novos nichos de mercado que, eventualmente, venham lhe proporcionar maior

lucratividade (Stangarlin et al., 2008).

Os defensivos alternativos, que podem ser de preparação caseira ou

adquiridos no comércio, a partir de substâncias não prejudiciais à saúde humana e

ao meio ambiente têm como características principais baixa ou nenhuma toxicidade

ao homem e à natureza, eficiência no combate aos microrganismos nocivos, não

favorecimento à ocorrência de formas de resistência desses fitoparasitas,

disponibilidade e custo reduzido.

A indústria de defensivos já tem desenvolvido moléculas de curta duração no

meio ambiente capazes de protegerem uma cultura contra patógenos causadores de

doenças, apenas pela indução dos mecanismos de defesa nas plantas. Na década

de 90, foi desenvolvido o éster S-metil do ácido benzo-(123)-tiadiazole-7-carbotióico

(acibenzolar-S-methyl), substância derivada do ácido acetilsalicílico (AAS) que atua

como indutor de resistência em diversas espécies vegetais (Jakab et al., 2001).

A resistência induzida pode ser ativada em plantas por uma série de

substâncias (eliciadores), estimulando a produção de compostos, entre eles,

fitoalexinas (Resende et al., 2007), que são definidas como metabólitos secundários;

pertencentes a diversas classes como flavonoides, terpenoides, alcaloides, etc,

antimicrobianos, produzidos por algumas plantas em resposta a estresses físicos,

químicos ou biológicos. A planta não utiliza essas substâncias para sua nutrição e

desenvolvimento. Essas substâncias são produzidas pela planta para melhorar as

condições de sobrevivência e permitir adaptação ao meio ambiente, exercendo

grande importância na preservação das espécies e na organização de comunidades

(Whittaker e Feeny, 1971).

O modo de ação das fitoalexinas sobre fungos inclui granulação

citoplasmática, desorganização dos conteúdos celulares, ruptura da membrana

plasmática e inibição de enzimas fúngicas, refletindo na inibição da germinação e na

elongação do tubo germinativo refletindo na redução ou inibição do crescimento

micelial (Mazaro et al., 2008).

A indução à produção de fitoalexinas pode ser realizada pelo uso de extratos

de plantas. A atividade biológica dos constituintes dos extratos também pode atuar

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como agentes fungistáticos e/ou fungicida, dependendo das concentrações

utilizadas. O mesmo extrato pode ser ativo contra um amplo espectro de espécies

de microrganismos, porém as concentrações mínimas inibitórias podem variar

(Antunes e Cavacob, 2010).

Na natureza, a maioria das plantas é resistente a diferente patógenos com os

quais convivem, e essa característica pode estar relacionada à existência de

substâncias antifúngicas naturalmente produzidas (Lemos et al., 1990). Espera-se

que a descoberta de metabólitos sintetizados pelas diversas plantas que compõem a

flora nativa, e que apresentam efeito antimicrobiano, possam contribuir para o

controle das doenças das plantas.

Mesmo as substâncias químicas isoladas de plantas, se aplicadas em grande

quantidade em um determinado ambiente, poderiam provocar poluição e

intoxicação. Porém, os compostos ativos de plantas costumam ser mais rapidamente

decompostos, transformando-se em moléculas menores, com menor ou sem

toxicidade. Outro aspecto que se visa com pesquisas com princípios ativos naturais,

é que a quantidade efetiva desses componentes não seja tão grande, e que tenham

ação seletiva nos organismos (Camargo, 2007).

Essas propriedades dos extratos são dependentes de uma série de fatores

inerentes às plantas, como órgão utilizado, idade e estádio vegetativo. Fatores do

ambiente, como o pH do solo, bem como a estação do ano e diferentes tipos de

estresse também devem ser observados. A eficiência do produto também depende

da espécie envolvida, do tipo de doença controlada e dos processos tecnológicos

utilizados para obtenção e manipulação do extrato (Silva et al., 2005).

Diversos trabalhos evidenciam efeito positivo da utilização de extrato na

indução de resistência e controle de fitopatógenos, como ativação de fitoalexinas por

extratos aquosos de Agaricus blazei (cogumelo do sol), Lentinula edodes (cogumelo

shiitake) e Pycnoporus sanguineus (cogumelo orelha-de-pau) (Arruda et al., 2012) e

Ruta graveolens (arruda), Origanum majorana (orégano) e Baccharis trimera

(carqueja) (Matiello e Bonaldo, 2013). Inibição do crescimento micelial de Alternaria

carthami, Alternaria sp. e Rhizoctonia solani com óleo essencial de Cymbopogon

martinii (capim limão) e Rosmarinus officinalis (alecrim) (Hillen et al., 2012) e

tratamento de sementes de Pterogyne nitens (amendoim do mato) com Momordica

charantia (melão-de são-caetano) e Allamanda blanchetti (alamanda) no controle de

Fusarium sp., Cladosporium sp., Curvularia sp. e Alternaria sp. (Medeiros, 2013).

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Diante do exposto, o objetivo do trabalho foi avaliar a influência de extratos de

plantas em pó, aquosos e etanólicos na indução de fitoalexinas, e na ação fungicida

e/ou fungitóxica direta sobre fungos fitopatogênicos.

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Referências bibliográficas

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1 EXTRATOS VEGETAIS DE PLANTAS DO CERRADO NA INDUÇÃO À

PRODUÇÃO DE FITOALEXINAS

RESUMO – O controle alternativo de doenças de plantas vem sendo estudado, com

ênfase, em razão das dificuldades de aceitação da utilização exagerada e

indiscriminada dos fungicidas pelos consumidores. Entre os métodos utilizados está

a indução de resistência em plantas envolvendo a ativação de mecanismos de

resistência latentes, sendo que a resposta pode ser o acúmulo de fitoalexinas. O

objetivo do trabalho foi verificar o potencial de extratos aquosos de folhas frescas e

secas de caju (Anacardium occidentale), cerejeira (Amburana cearensis), jequitibá

(Cariniana excelsa), pequi (Caryocar brasiliense), lixeira (Curatella americana), baru

(Dypterix alata), timbó (Magonia pubescens), aroeira (Myracrodruon urundeuva),

tarumã (Vitex montevidensis) e cambará (Vochysia divergens) na concentração de

30%, e extratos aquosos de folhas secas de timbó e aroeira nas concentrações de 0,

5, 10, 20 e 30% na indução de fitoalexinas em mesocótilos de Sorghum bicolor L..

Água e acetilbenzolar-S-metil foram utilizados como tratamentos adicionais. Os

extratos aquosos de caju, cerejeira, jequitibá, pequi, lixeira, baru, timbó, aroeira,

tarumã e cambárá, ativaram a produção de fitoalexinas “in vitro”, mostrando que

essas plantas têm propriedades que podem auxiliar na ativação de mecanismos de

defesas das plantas. Extratos aquosos de folhas secas de timbó e aroeira

foram os mais eficientes em induzir fitoalexinas em mesocótilos de sorgo.

Palavras-chave: Indução de resistência, controle alternativo, plantas do cerrado

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VEGETABLE EXTRACTS OF CERRADO PLANTS INDUCE PHYTOALEXIN

PRODUCTION

ABSTRACT- The alternative control of plant disease is studied in depth, partly due to

reluctance of consumers to the exaggerated and indiscriminant use of fungicides.

One method under study is the potential to activate mechanisms of latent resistance,

which cause the accumulation of phytoalexins. The objective of this work was to

verify the potential of aqueous extracts of both fresh and dry leaves in the production

of phytoalexins in mesocotyls of Sorghum bicolor L. Aqueous extracts were formed at

a 30% concentration from the cashew tree (Anacardium occidentale), cerejeira

(Amburana cerensis), jequitibá (Cariniana excelsa), pequi (Caryocar brasiliense),

lixeira (Curatella americana), baru (Dypterix alata), timbó (Magonia pubescens),

aroeira (Myracrodruon urundeuva), tarumã (Vitex montevidensis) and cambará

(Vochysia divergens). Aqueous extracts of dry leaves from timbó and aroeira at

concentrations of 0, 5 10, 20 and 30% were also tested as well as water and

acetilobenzolar-S-metil as additional treatments. The aqueous extracts of cashew,

cerejeira, jequitibá, pequi, lixeira, baru, timbó, aroeira, tarumã and cambará all

activated the production of phytoalexins “in vitro”, demonstrating that these plants

may assist in the activation of natural defense mechanisms. Aqueous extracts from

dry leaves of timbó and aroeira were most efficient in the induction of phytoalexin

production in Sorghum mesocotyls.

Key terms: Induction of resistance to pathogens, alternative control of pathogens,

plants cerrado

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1.1 Introdução

O controle alternativo de doenças de plantas vem sendo estudado, com

ênfase, nos últimos anos, em razão das dificuldades de aceitação da utilização

exagerada e indiscriminada dos fungicidas pelos consumidores. Somam-se a estas

razões, os dados que mostram que os fitopatógenos têm produzido, cada vez mais,

gerações de indivíduos resistentes, acarretando em dificuldade de controle,

necessidade de aumento de doses de fungicidas e consequentemente, desequilíbrio

ambiental. Causam problemas e a interrupção do controle biológico natural,

favorecendo o aparecimento de patógenos secundários (Diniz et al., 2008).

A crescente preocupação da população em consumir alimentos mais

saudáveis, aliada à preservação do meio ambiente, têm tornado o uso de agentes

químicos uma prática questionável. A produção de alimentos com mínima

degradação dos recursos naturais está sendo cada vez mais exigida, e nesse

contexto destacam-se os alimentos portadores de selos que certificam a não

utilização de defensivos agrícolas sintéticos no processo produtivo (Silva et al.,

2001).

O controle alternativo de doenças, que pode ser realizado pelo controle

biológico e a indução de resistência em plantas, encontram-se entre as opções para

não utilização de defensivos agrícolas sintéticos (Bettiol et al., 2009).

A indução de resistência baseia-se numa ação sobre a planta hospedeira,

envolvendo a ativação de mecanismos de resistência latentes em resposta ao

tratamento com agentes bióticos ou abióticos, sendo que a resposta pode ser o

acúmulo de fitoalexinas e de proteínas relacionadas à patogênese (Pascholati et al.,

1998).

As fitoalexinas são metabólitos secundários; pertencentes a diversas classes

como flavonoides, terpenoides, alcaloides, entre outros, antimicrobianos, produzidos

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por algumas plantas em resposta a estresses físicos, químicos ou biológicos. O

modo de ação sobre fungos inclui granulação citoplasmática, desorganização dos

conteúdos celulares, ruptura da membrana plasmática e inibição de enzimas

fúngicas, refletindo na inibição da germinação e na elongação do tubo germinativo e

culminando na redução ou na inibição do crescimento micelial (Mazaro et al., 2008).

Sabe-se que mais de 100 espécies de plantas, dentro de 21 famílias, são

capazes de produzir algum tipo de fitoalexina (Bonaldo et al., 2005), englobando

diversas classes de produtos naturais, com mais de 300 fitoalexinas caracterizadas,

em diferentes classes de compostos químicos como benzofurano, cumarina,

dihidrofenantreno, poliacetileno, sesquiterpeno, isocumarina, isoflavonoide,

poliacetileno, pterocarpano, sesquiterpeno, stilbeno e triterpeno (Smith et al., 1996).

Essas novas substâncias antifúngicas poderiam ser utilizadas diretamente

pelo produtor, por meio do cultivo da planta “fungicida”, preparo e aplicação direta do

extrato na planta cultivada. Outra possibilidade é a identificação de substâncias nos

extratos vegetais, com característica fungicida, as quais serviriam de modelo para a

síntese de novos fungicidas no futuro (Celoto et al., 2008).

Trabalhos desenvolvidos com extratos obtidos a partir de plantas medicinais

da flora nativa têm indicado o potencial das mesmas no controle de alguns

fitopatógenos, tanto pela ação fungitóxica direta, inibindo o crescimento micelial e a

germinação de esporos, quanto pela indução de fitoalexinas, indicando a presença

de compostos com características elicitoras (Schwan-estrada et al., 2000).

Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi avaliar extratos aquosos de

folhas frescas e secas na indução de fitoalexinas em mesocótilos de Sorghum

bicolor L.

1.2 Material e Métodos

Os ensaios foram feitos em duas etapas, sendo a primeira com folhas frescas

e a segunda, com folhas secas em estufa.

Foram selecionadas, para condução dos bioensaios, 10 espécies de árvores

de ocorrência no Cerrado. O critério adotado para a seleção baseou-se na utilização

das mesmas na medicina popular e ocorrência em abundância.

As plantas foram coletadas no campus da UFMT em Cuiabá e as espécies

selecionadas foram caju, cerejeira, jequitibá, pequi, lixeira, baru, timbó, aroeira,

tarumã e cambará conforme Figura 1. No bioensaio foram utilizadas as folhas.

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A B C D

E F G H

I JI

Figura 1. (A) caju (Anacardium occidentale), (B) cerejeira (Amburana cearensis), (C)

jequitibá (Cariniana excelsa), (D) pequi (Caryocar brasiliense), (E) lixeira

(Curatella americana), (F) baru (Dypterix alata), (G) timbó (Magonia

pubescens), (H) aroeira (Myracrodruon urundeuva), (I) tarumã (Vitex

montevidensis), (J) cambará (Vochysia divergens). (Foto: Liliane S.

Barros). Cuiabá-MT/2015.

1.2.1 Obtenção dos extratos vegetais aquosos de folhas frescas

Folhas frescas maduras foram coletadas no período da manhã, entre sete e

nove horas, trituradas em liquidificador na proporção de 30 g de folha frescas/100

mL de água destilada esterilizada para o preparo do extrato bruto. As suspensões

foram peneiradas e filtradas em papel qualitativo, armazenadas em frascos plásticos

lacrados, no escuro e sob refrigeração a 15 ºC até a montagem dos ensaios. Os

extratos de pequi e timbó formam mucilagem não sendo possível a filtragem, deixou-

se decantar, e após, a suspensão líquida foi retirada por meio de pipeta.

1.2.2 Obtenção dos extratos vegetais aquosos de folhas secas

Folhas frescas maduras foram coletadas no período da manhã, secas em

estufa de ventilação forçada com temperatura média de 45 ºC (Melo et al., 2004) por

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± 48 h até atingirem massa constante. Os extratos em pó foram obtidos através da

trituração do material vegetal em moinho de faca tipo Willey com peneira de 0,1 mm

e armazenados dentro de embalagem plástica escura para evitar a degradação do

material pela luz.

Para o preparo do extrato aquoso bruto de folhas secas foi feito,

primeiramente, o teor de matéria seca utilizando quatro repetições de 50 g de folhas

frescas secas a 45 ºC (MELO et al., 2004) até atingirem massa constante (Tabela 1).

Em seguida, foi preparada a mistura de matéria seca proporcional a 30 g de

folhas frescas em 30 mL de água destilada esterilizada. Após o preparo, os extratos

brutos foram colocados em frascos plásticos, vedados e armazenados no escuro,

sob refrigeração a 15 ºC. Para obtenção dos extratos nas concentrações de 0, 5, 10,

20 e 30% foi feita a mistura do extrato bruto em água destilada esterilizada.

Tabela 1. Teor de matéria seca (MS) de folhas secas de plantas do cerrado. UFMT,

CUIABÁ – MT. 2015.

Espécie nome comum MS (g)

Anacardium occidentale Caju 39,40

Amburana cearensis Cerejeira 37,81

Cariniana excelsa Jequitibá 49,09

Caryocar brasiliense Pequi 44,90

Curatella americana Lixeira 45,62

Dypterix alata Baru 48,78

Magonia pubescens Timbó 46,14

Myracrodruon urundeuva Aroeira 46,45

Vitex montevidensis Tarumã 48,65

Vochysia divergens Cambará 41,25

1.2.3 Indução de fitoalexinas em mesocótilos de sorgo

Sementes de sorgo (Sorghum bicolor (L.)) Moench, híbrido AS 4620,

passaram por assepsia em hipoclorito de sódio a 1% por 15 minutos sendo em

seguida lavadas em água destilada. Após esse período, as sementes foram

enroladas em folhas de papel tipo “germitest” umedecidas com água destilada e

incubadas em escuro a 28 ºC por quatro dias. Em seguida, as plântulas foram

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expostas à luz por 4 h para reduzir a elongação dos mesocótilos (Yamaoka et al.,

1990).

Foram utilizados mesocótilos estiolados de sorgo porque são considerados

excelentes ferramentas em estudos envolvendo a ação eliciadora de moléculas de

origem biótica ou abiótica (Cavalcanti et al., 2005).

Para o teste de produção de fitoalexinas, os mesocótilos foram excisados 0,5

cm acima do nó escutelar e colocados em microtubo de plástico tipo “eppendorf”

sem tampa (três mesocótilos/repetição), com 1 mL do extrato a 30% (Figura 2). Além

dos 10 extratos, foi utilizado acibenzolar-S-metil (200 mg L-1 do produto comercial

Bion 500 WG) e testemunha (água destilada esterilizada). Estes tubos foram

mantidos em câmara incubadora tipo B.O.D. a 25 ºC, sob luz fluorescente, por 60 h.

Após esse período, os mesocótilos foram retirados dos microtubos, secos em papel

toalha esterilizado e os 0,5 cm basais de cada mesocótilo foram excisados e

descartados. A porção superior (excetuando-se as folhas) foi pesada, cortada em

pequenos segmentos e colocadas em novos microtubos contendo 1,4 mL de

metanol 80% acidificado (0,1% HCl; v/v). Os mesocótilos cortados foram mantidos a

4 ºC no metanol por 96 h para extração das fitoalexinas. A determinação da

absorbância do metanol contendo as fitoalexinas foi feita a 480 nm (Nicholson et al.,

1988) em espectrofotômetro marca Tecnal, modelo BEL Photonics 1105. Os

tratamentos que apresentaram melhores resultados foi realizado um segundo ensaio

com diluições dos extratos de 0, 5, 10, 20 e 30% em água destilada esterilizada e

feito o teste de produção de fitoalexina conforme metodologia acima.

A B

Figura 2. Mesocótilos de sorgo estiolados (A), mesocótilos de sorgo com extratos

...................vegetais aquosos de folha frescas e seca para indução à produção de

..................fitoalexinas (B). (Foto: Liliane S. Barros).

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1.2.4 Delineamento experimental

O primeiro ensaio constituiu-se de 22 tratamentos em delineamento

inteiramente casualizado, em esquema fatorial 10 x 2 + 2 ( dez espécies de plantas,

extratos de folhas frescas e secas e dois tratamentos adicionais: tratamento com

água (sem extrato) e acibenzolar-S-metil. As médias foram submetidas à análise de

variância, onde, aplicou-se o teste Scott Knott (p= 0,05) para o grupo fatorial, e para

a comparação das médias do grupo fatorial com o tratamentos adicional água

destilada esterilizada aplicou-se o teste de Dunnett (p= 0,05).

O segundo ensaio constituiu-se de 10 tratamentos em delineamento

inteiramente casualizado, com análise de regressão 2 x 5 (extrato de aroeira e timbó

x cinco diluições, 0, 5, 10, 20 e 30%), e aplicou-se o teste Scott Knott (p= 0,05).

Ambos os ensaios foram montados com quatro repetições, sendo cada

repetição composta de um microtubo plástico tipo “eppendorf” com 3 mesocótilos de

sorgo. Os ensaios foram repetidos três vezes.

1.3 Resultados e discussão

O resultado do bioensaio para produção de fitoalexinas em mesocótilos de

sorgo não mostrou acúmulo de fitoalexinas de forma significativa quando testados

extratos aquosos de folhas frescas. Houve diferença significativa apenas entre os

extratos vegetais de folhas secas (Tabela 2).

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Tabela 2. Produção de fitoalexinas em mesocótilos de Sorghum bicolor submetidos ao tratamento com extratos vegetais de folhas

secas na concentração de 30%. UFMT, Cuiabá MT. 2015.

Tratamentos

Nome científico Nome comum Absorbância (480 nm)/g de massa fresca

Anacardium occidentale Caju 1,77* b

Amburana cearensis Cerejeira 3,17* b

Cariniana excelsa Jequitibá 2,16* b

Caryocar brasiliense Pequi 5,85* b

Curatella americana Lixeira 3,03* b

Dypterix alata Baru 2,61* b

Magonia pubescens Timbó 10,75 a

Myracrodruon urundeuva Aroeira 9,57 a

Vitex montevidensis Tarumã 2,74* b

Vochysia divergens Cambará 2,73* b

acibenzolar-S-metil 2,83*

Água destilada 0,73

CV % 33,19

Médias seguidas de mesmas letras na coluna não diferem estatisticamente entre si (Scott Knott; p > 0,05). *Médias não diferem

estatisticamente do tratamento água (Dunnett; p > 0,05).

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Os extratos vegetais de folhas secas de aroeira e timbó induziram o maior

acúmulo de fitoalexinas, apresentando, 13 e 14 vezes mais absorbância,

respectivamente, a mais que o tratamento água. Quando comparados ao indutor

sintético, acibenzolar-S-metil, os extratos de aroeira e timbó apresentaram

absorbância de 3 e 4 vezes a mais, respectivamente.

Os extratos de caju, cerejeira, jequitibá, pequi, lixeira, baru, tarumã e cambará

apresentaram resultados semelhantes ao indutor acibenzolar-S-metil e à água. No

trabalho de Peiter-Beninca et al. (2008) e Fiori-Tutida et al. (2007), com extrato

orgânico de Picnoporus sanguineus (cogumelo orelha-de-pau), Lentinula edodes

(cogumelo shiitake) e Agaricus blazei (cogumelo do sol), respectivamente, houve

atividade elicitora efetiva, proporcionando valores de absorbância estatisticamente

superiores ao da testemunha (água), porém, inferiores ao obtido pelo indutor

acibenzolar-S-metil.

Comparando os extratos vegetais de folhas secas e folhas frescas, o

tratamento com folhas secas obteve acúmulo de fitoalexinas 59,6% superior ao

extrato de folhas frescas (Tabela 3).

Estes mesmos autores também observaram que as infusões provenientes de

folhas secas em comparação com aquelas provenientes de folhas frescas, com

concentração mais elevada na infusão oriunda do produto seco.

Tabela 3. Indução de fitoalexinas em mesocótilos de sorgo tratados com extratos

vegetais de folhas secas e folhas frescas na concentração de 30%.

UFMT, Cuiabá-MT. 2015.

Tratamentos *Abs (480nm)/g de massa fresca

Folhas secas 4,44 a

Folhas frescas 1,79 b

CV 33,95

Médias seguidas de mesmas letras na coluna não diferem estatisticamente entre si

(Scott Knott; p > 0,05). *Absorbância

O fato de infusões com folhas secas possuírem maiores concentrações de

substâncias pode ser explicado pelo rompimento das células durante o processo de

secagem que as deixam disponíveis com maior facilidade (Bastos et al., 2006).

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Mesmo com esse fator, casa espécie apresenta características particulares e com

variações nos resultados dependendo da temperatura que foi utilizada no processo

da secagem.

Mesmo com Em Lippia berlandieri (orégano) os teores de monoterpenos, β-

mirceno e α-terpineno, após a secagem com ar aquecido e em microondas a vácuo

não sofreram variações significativas, em relação à planta fresca (Yousif et al.,

2000). Na secagem de Echinacea pallida (equinácea) em temperaturas de 35, 40 e

45 ºC não foi verificada variação qualitativa significativa no percentual de timol

(principal constituinte) nem no p-cimeno, em relação aos obtidos em planta fresca

(Radunz et al., 2002).

Para os extratos vegetais de folhas secas de timbó e aroeira, nas diferentes

concentrações utilizadas (Figura 3), foram observados que a produção de

fitoalexinas aumentava conforme as concentrações de cada extrato, iniciando com

3,43 e 2,90% na concentração de 5%, alcançando o máximo de 11 e 9% na

concentração de 30%, respectivamente.

Figura 3. Indução de fitoalexinas em mesocótilos de sorgo tratados com diferentes

concentrações de extratos vegetais de folhas secas de timbó (A) e

aroeira (B).

Diferentes resultados têm sido apresentados sobre o comportamento da

concentração de extratos de plantas naturais. Resultado semelhante foi encontrado

no trabalho de Rodrigues et al. (2007) com extrato aquoso de gengibre com efeito

elicitor de fitoalexinas de forma crescente. Nos trabalhos de Bonaldo et al. (2004) e

B

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Matiello et al. (2013), com extrato aquoso de Eucalyptus citriodora (eucalipto) e

arruda, respectivamente, observaram-se indução de fitoalexinas a partir da

concentração de 1%.

Extrato preparados com álcool inibiram a síntese de fitoalexinas em

mesocótilos de sorgo e não apresentaram potencial como indutores (Matiello et al.

2013), enquanto que Baldin et al. (2013) trabalhando com extrato etanólico de

própolis, observaram atividade de indução de fitoalexinas com ponto de máxima na

concentração de 2,9% do extrato etanólico, sendo possível que a redução na

atividade em concentrações superiores a essa, possa ocorrer devido à maior

presença do etanol utilizado como solvente no preparo do extrato.

1.4 Conclusões

Os extratos aquosos de caju, cerejeira, jequitibá, pequi, lixeira, baru, timbó,

aroeira, tarumã e cambárá, ativaram a produção de fitoalexinas “in vitro”,

evidenciando que essas plantas têm propriedades que podem auxiliar na ativação

de mecanismos de defesas das plantas.

Extratos aquosos de folhas secas de timbó e aroeira foram os mais eficientes

em induzir fitoalexinas em mesocótilos de sorgo.

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1.5 Referências bibliográficas

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2 INIBIÇÃO DO CRESCIMENTO MICELIAL E DA PRODUÇÃO DE

ESCLERÓDIOS DE Sclerotinia sclerotiorum COM EXTRATOS VEGETAIS

RESUMO - Entre os fatores que reduzem a produção de alimentos, estão as

doenças fúngicas, com grande impacto na agricultura. O controle de Sclerotínia

sclerotiorum tem sido realizado, sobretudo, por defensivos agrícolas sintéticos. Este

controle vem sendo questionados devido ao uso exagerado e indiscriminado. Esse

fato tem levado ao aumento de pesquisas visando controle alternativo de doenças,

entre eles, extratos de plantas. Foram selecionadas, para condução dos bioensaios,

folhas maduras de 10 espécies de árvores de ocorrência no Cerrado. Os extratos

vegetais aquosos de folhas secas foram obtidos a partir da mistura de macerado

seco em água, e os extratos vegetais aquosos de folhas frescas foram obtidos pela

trituração de folhas frescas em água. Foram avaliadas a inibição do crescimento

micelial, o número e massa de escleródios em meio de cultura contendo extratos

vegetais de folhas frescas e folhas secas, esterilizado e não esterilizado. Os extratos

de folha frescas esterilizados desempenharam ação inibitória de crescimento

micelial superior aos extratos de folha frescas não esterilizado. O uso de extratos de

folha seca esterilizados proporcionou menor número e peso de escleródios,

enquanto extratos de folha frescas, apenas o número de escleródios. A utilização de

extratos vegetais de folha frescas esterilizado de caju, pequi e aroeira, não

esterilizados de pequi e jequitibá, estimularam o desenvolvimento micelial de

Sclerotinia sclerotiorum.

Palavras-chave: mofo branco, controle alternativo, plantas do cerrado

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INHIBITION OF MYCELIAL GROWTH AND SCLEROTIA PRODUCTION OF

Sclerotinia sclerotiorum WITH PLANT EXTRACTS

ABSTRACT - Among factors that reduce the food yield are fungal diseases that have

a large impact on agriculture. The control of Sclerotinia sclerotiorum has been

primarily conducted using synthetic agro-toxins. This type of control is questioned

due to its exaggerated and indiscriminant use that has led to an increase in research

on alternative controls for fungal disease, including plant extracts. Mature leaves of

10 species native to the Cerrado were selected for the experiment. Aqueous extracts

of dry leaves were obtained combining macerated dry leaves with water; aqueous

extracts of fresh leaves were obtained from milled leaves placed in water. The

inhibition of mycelial growth was evaluated, as well as the number and mass of

sclerotia in cultures containing sterile and non-sterile solutions of dry and fresh

leaves. The sterile solutions of fresh leaves showed a greater inhibiting effect on

mycelial growth when compared with non-sterile solutions. Sterilized solutions of dry

leaves reduced the number and weight of sclerotia, whereas sterilized solutions of

fresh leaves merely reduced the total number. The use of sterile solutions of fresh

leaves from cashew, pequi and aroeira, and non-sterilized solutions of pequi and

jequitibá, stimulated the mycelial development of Sclerotinia sclerotiorum.

Key terms: White mold, alternative control, plants cerrado

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36

2.1 Introdução

Entre os fatores que reduzem a produção de alimentos, as doenças fúngicas

são de grande impacto na agricultura. O fungo Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) é

agente causal de doenças em mais de 400 espécies botânicas (Boland & Hall, 1994)

e provoca uma doença comumente conhecida como mofo branco, podridão branca

da haste, podridão de esclerotínia, murcha de esclerotínia, ou simplesmente

esclerotínia (Toledo-Souza & Costa, 2003; Schneider et al., 2008).

O fungo produz estruturas de resistência denominadas escleródios, dentro e

na superfície dos tecidos colonizados, que retornam ao solo com os resíduos da

cultura e são altamente resistentes, podendo persistir por mais de 11 anos no solo

(Oliveira et al., 2005). Esse longo período de sobrevivência vai depender de diversos

fatores relacionados ao patógeno e ao ambiente sendo que, geralmente, a alta

umidade reduz a longevidade dos escleródios (Oliveira et al., 2007).

O controle desse patógeno tem sido realizado por defensivos agrícolas

sintéticos, que vem sendo questionados devido o uso exagerado e indiscriminado,

levando ao aumento de pesquisas visando controle alternativo, entre eles, extratos

de plantas. Muitos extratos e óleos essenciais apresentam resultados benéficos para

o manejo de doenças de plantas (Brum, 2012). As substâncias bioativas presentes

nessas plantas são os metabólitos secundários (Silva et al., 2010).

A atividade biológica dos constituintes dos extratos podem atuar como

agentes fungistáticos e/ou fungicida, dependendo das concentrações utilizadas. O

mesmo extrato pode ser ativo contra um amplo espectro de espécies de

microrganismos, porém as concentrações mínimas inibitórias podem variar (Antunes

& Cavacob, 2010).

Na natureza, a maioria das plantas é resistente a diferentes patógenos com

os quais convivem, e essa característica pode estar relacionada à existência de

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substâncias antifúngicas naturalmente produzidas (Lemos et al., 1990). Portanto,

espera-se que a descoberta de metabólitos sintetizados pelas diversas plantas que

compõem a flora nativa, e que apresentam efeito antimicrobiano, possa contribuir

para o controle das doenças das plantas.

Essas novas substâncias antifúngicas poderiam ser utilizadas diretamente

pelo produtor, por meio do cultivo da planta “fungicida”, preparo e aplicação direta do

extrato na planta cultivada. Outra possibilidade é a identificação de substância(s)

nos extratos vegetais, com característica fungicida, as quais serviriam de modelo

para a síntese de novos fungicidas no futuro (Celoto et al., 2008).

Diante do exposto, o objetivo do trabalho foi avaliar a inibição do crescimento

micelial e da produção de escleródios de Sclerotinia sclerotiorum com a utilização de

extratos aquosos de folhas frescas e folhas secas de plantas do Cerrado.

2.2 Material e Métodos

Foram selecionadas, para condução dos bioensaios, folhas maduras de 10

espécies árboreas de ocorrência no Cerrado. O critério adotado para a seleção

baseou-se na utilização das mesmas na medicina popular e ocorrência em

abundância. As espécies foram caju (Anacardium occidentale), cerejeira (Amburana

cearensis), jequitibá (Cariniana excelsa), pequi (Caryocar brasiliense), lixeira

(Curatella americana), baru (Dypterix alata), timbó (Magonia pubescens), aroeira

(Myracrodruon urundeuva), tarumã (Vitex montevidensis) e cambará (Vochysia

divergens).

Escleródios de Sclerotinia sclerotiorum foram obtidos de plantas de girassol

naturalmente infectadas e com sintomas típicos da doença no município de Campo

Verde, MT. Foram feitas a assepsia dos escleródios inicialmente em álcool a 70%

durante 1 minuto, seguida de solução de hipoclorito de sódio 1% por 1 minuto,

lavados três vezes em água destilada esterilizada e, secos sobre papel filtro

esterilizado. Após a assepsia, os escleródios foram transferidos para placas de Petri

contendo meio BDA (batata-dextrose-ágar), para obtenção de cultura pura.

2.2.3 Obtenção dos extratos vegetais aquosos de folhas frescas

As folhas verdes e maduras foram coletadas no período da manhã, entre sete

e nove horas, trituradas em liquidificador, na proporção de 30 g de folha fresca para

100 mL de água destilada esterilizada, para o preparo do extrato bruto. Os extratos

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foram peneirados, filtrados em papel de filtro qualitativo e armazenados em frascos

plásticos lacrados no escuro e sob refrigeração, até a montagem dos ensaios. Os

extratos de pequi e timbó formam mucilagem e não foi possível ser filtrado então foi

feita decantação e após, a suspensão líquida foi retirada por meio de uma pipeta.

Para obtenção de extratos na proporção de 30%, foi feita a mistura dos extratos

brutos em água destilada esterilizada.

2.2.4 Obtenção dos extratos vegetais aquosos de folhas secas

As folhas verdes e maduras foram coletadas no período da manhã, secas em

estufa de ventilação forçada da marca Tecnal, modelo 320-SE, com temperatura

média de 45º C até atingirem massa constante. Os macerados secos foram obtidos

através da trituração do material em moinho de facas tipo Willey com peneira de 0,1

mm, e armazenados em embalagens plásticas em local seco e escuro para evitar a

degradação do material pela luz. O teor de matéria seca foi feito com quatro

repetições de 50 g de folhas frescas secas a 45 ºC até atingirem massa constante.

Os extratos vegetais aquosos de folhas secas foram obtidos a partir da mistura de

macerado seco correspondente a 30 g de folhas frescas de cada planta (Tabela 1),

ou seja, diluição na proporção de 30% do extrato bruto em água destilada

esterilizada. Após o preparo, os extratos brutos foram armazenados em frascos

plásticos vedados e armazenados no escuro sob refrigeração.

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Tabela 1. Teor de matéria seca (%) de folhas de plantas secas em estufa de ventilação forçada a 45 °C. UFMT, Cuiabá - MT.

2015.

Espécie

Nome científico Nome comum MS (%)

Anacardium occidentale Caju 39,4

Amburana cearensis Cerejeira 37,8

Cariniana excelsa Jequitibá 49,0

Caryocar brasiliense Pequi 44,9

Curatella americana Lixeira 45,6

Dypterix alata Baru 48,7

Magonia pubescens Timbó 46,1

Myracrodruon urundeuva Aroeira 46,4

Vitex montevidensis Tarumã 48,6

Vochysia divergens Cambará 41,2

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2.2.5 Efeito dos extratos vegetais sobre o crescimento micelial de Sclerotinia

sclerotiorum

Para avaliação do efeito dos extratos vegetais sobre o crescimento micelial de

S. sclerotiorum foi utilizado meio BDA (batata-dextrose-ágar) contendo 30% de

extrato vegetal aquoso esterilizado e não esterilizado (extrato vegetal diluído em

BDA fundente após a esterilização). Como testemunhas, foram utilizados meio BDA

sem extrato e tratamento fungicida com fluazinam na dose de 100 mL de produto

comercial para 50 L água.

Os meios de cultura com os tratamentos foram vertidos em placa de Petri com

9 cm de diâmetro e adicionado um disco de 0,5 cm de diâmetro de micélio de S.

sclerotiorum, as quais foram incubadas à temperatura de 22 ± 3 ºC e fotoperíodo de

12 horas, durante 36 horas. O crescimento micelial dos fungos foi medido em cm

com régua milimetrada a cada 12 horas por meio de duas retas perpendiculares

entre si, traçadas no fundo das placas de Petri. Calculou-se a porcentagem de

inibição de crescimento micelial através da fórmula PIC% = (DT – DTRAT)/DT x 100,

em que DT é o diâmetro da testemunha e DTRAT é o diâmetro da colônia de cada

tratamento.

2.2.6 Efeito dos extratos vegetais aquosos sobre a produção e peso dos

escleródios de Sclerotinia sclerotiorum

Para este ensaio, após a avaliação do crescimento micelial, as mesmas

placas foram mantidas incubadas por 10 dias para produção de escleródios, e em

seguida, avaliados por meio da contagem e peso das estruturas de S. sclerotiorum.

2.2.7 Delineamento Experimental

O ensaio constituiu-se de 42 tratamentos em delineamento inteiramente

casualizado, em esquema fatorial 10 x 2 x 2 + 2 ( dez espécies de plantas, extratos

de folhas frescas e secas e dois tratamentos adicionais: tratamento sem extrato e

fluazinam). As médias foram submetidas à análise de variância, onde, aplicou-se o

teste Scott Knott (p= 0,05) para o grupo fatorial, e para a comparação das médias do

grupo fatorial com o tratamentos adicional BDA sem extrato, aplicou-se o teste de

Dunnett (p= 0,05). Os ensaios foram repetidos duas vezes.

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2.3 Resultados e discussão

A análise revelou diferença significativa entre os extratos na porcentagem de

inibição do crescimento micelial de S. sclerotiorum, com redução de até 45% para

extrato de folha seca de cambará (Tabela 1).

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Tabela 1. Porcentagem de inibição “in vitro” do crescimento micelial de Sclerotinia sclerotiorum submetido a diferentes extratos

vegetais aquosos. UFMT. Cuiabá- MT. 2015.

Extratos vegetais Folha frescas Folhas secas

nome científico Nome comum esterilizado não esterilizado esterilizado não esterilizado

Anacardium occidentale Caju (+)4,8* dA 4,0* cA 14,1*cA 12,7* cA Amburana cearensis Cerejeira 28,2 bA 14,2 bB 26,5 bA 9,3* cB Cariniana excelsa Jequitibá 40,1 aA 19,0 bB 10,9* cA (+)6,0* dB Caryocar brasiliense Pequi (+)0,5* dA (+)3,4* dA 13,4* cA 8,5* cA Curatella americana Lixeira 21,5 bA 15,6 bA 25,0 bB 42,5 aA Dypterix alata Baru 31,2 bA 12,0* bB 7,7* dB 29,9 bA Magonia pubescens Timbó 2,9* dA 10,6* bA 14,6* cA 23,5 bA Myracrodruon urundeuva Aroeira (+)0,07* dA (+)6,4* dA 4,5* dB 22,5 bA Vitex montevidensis Tarumã 31,4 bA 18,8 bB 40,1 aA 22,0 bB Vochysia divergens Cambará 10,3* cA 4,1* cA 45,1a A 20,6 bB

Fluazinam 100 a 100 a 100 a 100 a

BDA 0* 0* 0* 0*

CV % 7,50 8,30

Médias seguidas pelas mesmas letras minúsculas nas colunas e maiúsculas nas linhas, não diferem estatisticamente entre si

(Scott Knott; p > 0,05). (+) estimulou o crescimento micelial. *Médias não diferem estatisticamente do tratamento batata-dextrose-

ágar sem extrato (Dunnett; p > 0,05).

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Alguns extratos estimularam o crescimento micelial, quando comparados à

testemunha, como exemplo, o extrato de folha seca não esterilizado de jequitibá

com 6% a mais de crescimento micelial. No trabalho de Venturoso et al. (2011)

trabalhando com extrato de nim favoreceu o crescimento de Fusarium solani.

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1 2 3

4 5 6

C

1

10

4

7

5

3 2

6

8 9

11 12

1

5

2

4

7 8

10 11

3

6

9

12

A B

1 2 3

4 5 6

D

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Figura 1. Crescimento micelial de Sclerotinia sclerotiorum em meio batata-dextrose-

ágar acrescido de extratos vegetais de plantas do Cerrado. (A) Extrato de folhas

frescas não esterilizados, (B) Extratos de folhas frescas esterilizados, (C) Extratos de

folhas secas não esterilizados, (D) Extratos de folhas secas esterilizado. (1)

fungicida, (2) BDA, (3) caju, (4) cerejeira, (5) jequitibá, (6) pequi, (7) lixeira, (8) baru,

(9) timbó, (10) aroeira, (11) tarumã, (12) cambará. (Foto: Liliane S. Barros).

Na avaliação utilizando extrato de folha frescas esterilizado, o extrato de

jequitibá se destacou inibindo o crescimento micelial em até 40%. Garcia et al.

(2012), trabalhando com extrato vegetal de fruto de pimenta longa, reduziu 43% do

crescimento micelial de sclerotínia.

No ensaio com extrato de folha seca, tarumã e cambará foram mais

eficientes, quando esterilizados, e extrato de lixeira, quando não esterilizado.

Ao comparar extratos esterilizados e não esterilizados, observou-se que os

extratos de folha seca inibiram 4% a mais o crescimento micelial de S. sclerotiorum,

não havendo diferença entre esterilização e não esterilização (Tabela 2).

Tabela 2. Porcentagem de inibição do crescimento micelial de Sclerotinia

sclerotiorum submetido a diferentes extratos vegetais aquosos

esterilizados e não esterilizados. UFMT, Cuiabá MT. 2015.

Extrato vegetal esterilizado não esterilizado

Folha frescas 16,0 bA 8,9 bB Folhas secas 20,2 aA 18,6 aA

Médias seguidas pelas mesmas letras minúsculas nas colunas e maiúsculas nas

linhas, não diferem estatisticamente entre si (Scott Knott; p > 0,05).

Os extratos de folha frescas esterilizados obtiveram desempenho superior aos

extratos de folha frescas não esterilizado.

Venturoso et al. (2011), trabalhando com três metodologias de desinfestação

e/ou esterilização, sendo elas, filtragem, banho Maria e autoclavagem a 100 e 120

°C, não encontraram interferência na eficiência do extrato aquoso de cravo-da-índia

no controle de Fusarium solani. Já para extrato de alho, a filtragem proporcionou os

melhores resultados, enquanto que para o extrato de canela não houve diferenças

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entre as metodologias utilizadas. Portanto, estes ensaios demonstram que extratos

estéreis e não estéreis apresentam diferenças com relação à eficiência.

Para a produção de escleródios, o extrato de folha frescas esterilizados de

tarumã e de folha frescas não esterilizados de caju e cerejeira, diminuíram a

produção de escleródio (Tabela 3).

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Tabela 3. Produção de escleródios de Sclerotinia sclerotiorum produzidos em meio BDA adicionado de diferentes extratos vegetais

produzidos a partir de folhas frescas e folhas secas de plantas do cerrado. Cuiabá MT. 2015.

Extratos vegetais Folhas frescas Folhas secas

Nome científico nome comum esterilizado não esterilizado esterilizado não esterilizado

Anacardium occidentale Caju 23,1 dB 45,2* bA 33,0 cA 22,2 dB Amburana cearensis Cerejeira 40,0 bB 53,5* aA 47,8* bA 25,2 dB Cariniana excelsa Jequitibá 40,0 bA 43,0 bA 39,5 bB 59,38 aA Caryocar brasiliense Pequi 50,7* aA 37,0 cB 36,5 cB 48,58 bA Curatella americana Lixeira 43,0 bA 35,0 cA 33,8 cB 45,0* cA Dypterix alata Baru 34,0 cB 52,8* aA 44,7 bA 43,5* cA Magonia pubescens Timbó 29,0 dB 55,0 aA 25,2 dB 39,0 cA Myracrodruon urundeuva Aroeira 34,7 cB 43,2 bA 35,0 cA 40,3 cA Vitex montevidensis Tarumã 25,2 dB 37,2 cA 20,2 eB 37,2 cA Vochysia divergens Cambará 28,7 dB 44,3 bA 32,5 cB 41,0 cA

Fungicida 0,0 e 0,0 d 0,0 f 0,0 e BDA 55,8 a 55,8 a 55,8 a 55,8 a

CV % 11,10 9,44

Médias seguidas pelas mesmas letras minúsculas nas colunas e maiúsculas nas linhas, não diferem estatisticamente entre si

(Scott Knott; p > 0,05). *Médias não diferem estatisticamente do tratamento batata-dextrose-ágar sem extrato (Dunnett; p > 0,05).

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Os extratos de folha frescas não esterilizados de caju, timbó, tarumã e

cambará, reduziram significativamente o número de escleródios, quando

comparados a testemunha. Quando não esterilizados, os extratos de pequi, lixeira e

tarumã foram os que obtiveram melhores resultados. Venturoso et al. (2010)

avaliando a fungitoxicidade de extratos vegetais submetidos a diferentes formas de

esterilização, destacaram que a temperatura pode limitar a bioatividade do extrato

vegetal, uma vez que o princípio ativo de algumas plantas podem ser termosensível.

A produção de escleródios de S. sclerotiorum foi estimulada pelo extrato

esterilizado de folha frescas de pequi, e extrato não esterilizado de folha seca de

jequitibá.

Em relação à esterilização, os extratos de folha frescas de jequitibá e lixeira e

extrato de folha seca de caju e cerejeira não apresentaram diferença significativa,

extrato de folha frescas de pequi e extrato de folha seca de caju e cerejeira não

esterilizados, foram mais eficientes em diminuir a produção de escleródios, quando

comparados aos mesmos extratos esterilizados.

Os resultados do número e peso dos escleródios estão apresentados na

Tabela 4, onde comparando-se extratos esterilizados e não esterilizados, folha

frescas e folha seca. Os extratos de folha seca esterilizados apresentaram menor

número, e peso de escleródios, enquanto extratos de folha frescas, apenas menor

número de escleródios. Quando comparados os extratos de folha frescas e folha

seca, o extrato de folha seca não esterilizado proporcionou menor número de

escleródios, e quanto ao peso, os extratos de folha seca apresentaram melhor

desempenho tanto esterilizado, como não esterilizado.

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Tabela 4. Número e peso de escleródios (g) de Sclerotinia sclerotiorum, produzidos

em meio batata-dextrose-ágar adicionado de diferentes extratos vegetais

produzidos a partir de folhas frescas e folhas secas. UFMT, Cuiabá MT.

2015.

Número de escleródios Peso de escleródios

Extrato vegetal esterilizado não esterilizado

esterilizado não esterilizado

Folha frescas 34,8 aA 44,6 bB 0,18 aA 0,18 aA Folhas secas 34,8 aA 40,1 aB 0,21 bA 0,23 bB

Médias seguidas pelas mesmas letras minúsculas nas colunas e maiúsculas nas

linhas, não diferem estatisticamente entre si (Scott Knott; p > 0,05).

Quanto maior o tamanho do escleródio, maior seu peso. Geralmente,

observa-se que quanto maiores os escleródios, maior a porcentagem de escleródios

germinados e maior o número de apotécios produzidos. Um escleródio grande (13 x

5 mm) pode dar origem a até 15 apotécios (Garcia & Juliatti, 2008).

Para peso de escleródios (Tabela 5), os extratos de folha frescas de jequitibá,

lixeira, baru, aroeira e tarumã, esterilizados, e cerejeira, jequitibá, pequi, lixeira, baru,

timbó, aroeira e tarumã, não esterilizados, apresentaram menor peso de escleródios

quando comparados aos demais extratos verdes.

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Tabela 5. Peso de escleródios (g) produzidos em meio batata dextrose ágar adicionado de diferentes extratos vegetais produzidos

a partir de folhas frescas e folhas secas de plantas do cerrado., Cuiabá-MT. 2015.

Extrato vegetal Folha frescas Folhas secas

Nome científico Nome comum esterilizado não esterilizado esterilizado não esterilizado

Anacardium occidentale Caju 0,19* Aa 0,21* aA 0,20* cB 0,22* bA Amburana cearensis Cerejeira 0,19* aA 0,19 bA 0,25 aA 0,24* bA Cariniana excelsa Jequitibá 0,16 bA 0,17 bA 0,20* cB 0,26 aA Caryocar brasiliense Pequi 0,19* aA 0,16 bB 0,18 cB 0,23* bA Curatella americana Lixeira 0,15 bB 0,19 bA 0,19 cB 0,22* bA Dypterix alata Baru 0,17 bA 0,18 bA 0,22* bA 0,24* bA Magonia pubescens Timbó 0,20* aA 0,18 bA 0,22* bA 0,18 cB Myracrodruon urundeuva Aroeira 0,17 bA 0,17 bA 0,20* cA 0,18 cB Vitex montevidensis Tarumã 0,17 bA 0,17 bA 0,22* bB 0,27 aA Vochysia divergens Cambará 0,19* aA 0,20 aA 0,22* bA 0,23* bA

Fluazinam 0,0 c 0,0 c 0,0 d 0,0 d

BDA 0,22* 0,22* 0,22* 0,22*

CV% 6,08 4,53

Médias seguidas pelas mesmas letras minúsculas nas colunas e maiúsculas nas linhas, não diferem estatisticamente entre si

(Scott Knott; p > 0,05). *Médias não diferem estatisticamente do tratamento batata-dextrose-ágar sem extrato (Dunnett; p > 0,05).

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O extrato de folha seca esterilizado de cerejeira e os extratos não esterilizado

de jequitibá e tarumã, propiciaram maior peso de escleródios quando comparados à

testemunha. Os extratos não esterilizados de folha seca de timbó e aroeira

apresentaram menor peso de escleródios. Celoto et al. (2008), observaram que os

extratos submetidos à autoclavagem, independentemente de serem aquosos ou

hidroetanólicos, apresentaram menor atividade antifúngica, indicando que as

condições de esterilização alteram a substância antifúngica dos mesmos.

De forma geral, os extratos de folha frescas obtiveram resultados

semelhantes quando comparou-se a autoclavagem, apresentando diferença apenas

no extrato esterilizado de lixeira e extrato não esterilizado de pequi, onde foram mais

satisfatórios na diminuição do peso de escleródios de Sclerotinia scerotiorum.

Dentre os extratos preparados com macerado de folha seca de caju, jequitibá,

pequi, lixeira e tarumã esterilizado, e timbó e aroeira não esterilizado, obtiveram

resultados superiores.

2.4 Conclusões

Extratos aquosos de folha frescas esterilizados desempenham ação inibitória

no crescimento micelial de S. sclerotiorum

Os extratos de folha seca esterilizados proporcionou menor número e peso de

escleródios, enquanto extratos de folha frescas, apenas o número de escleródios.

A utilização de extratos vegetais aquosos de folhas frescas esterilizado de

caju, pequi e aroeira e, não esterilizado de pequi e extrato aquoso de folha frescas

não esterilizado de jequitibá, estimulam o desenvolvimento micelial de S.

sclerotiorum.

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52

2.5 Referências bibliográficas

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3 EXTRATOS VEGETAIS NO TRATAMENTO ALTERNATIVO DE

SEMENTES DE Guizotia abyssinica

RESUMO – O controle alternativo de doenças em plantas tem sido um método

bastante utilizado, principalmente em cultivos orgânicos. O objetivo desse trabalho

foi avaliar o potencial de extratos vegetais em pó e extratos vegetais etanólicos de

manga (Mangifera indica), nim (Azadirachta indica) e mutamba (Guazuma ulmifolia).

no tratamento de sementes de níger (Guizotia abyssinica). O ensaio constituiu-se de

8 tratamentos em delineamento inteiramente casualizado, em esquema fatorial 3 x 2

+2 ( três espécies de plantas, extrato em pó e etanólico e dois tratamentos

adicionais: tratamento sem extrato e carboxin+thiram), com oito repetições de 50

sementes para o “Blotter test” e quatro repetições de 50 sementes para o teste de

germinação. Os extratos etanólicos de nim, mutamba e o extrato em pó de mutamba

controlaram 100% a incidência de Cladosporium sp. e Aspergillus sp. O extrato

etanólico de manga reduziu em 18% a germinação das sementes de níger.

Palavras-chave: níger, controle fitopatogênico, tratamento de sementes

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PLANT EXTRACTS FOR THE ALTERNATIVE TREATMENT OF Guizotia

abyssinica SEEDS

ABSTRACT - The alternative control of plant diseases is a common methodology,

principally in organic cultivation. The objective of this study is to evaluate the

potential of powdered and ethanol-based plant extracts of mango (Mangifera indica),

nim (Azadirachta indica) and mutamba (Guazuma ulmifolia) for the treatment of niger

seeds (Guizotia abyssinica). The experiment consisted of eight treatments in a

completely randomized, factorial design of 3 x 2 + 2 (three plant species, powder and

ethanol-based extracts and two additional treatments: no extract and

carboxim+thiram), with eight repetitions of 50 seeds apiece for the “Blotter test” and

four repetitions of 50 seeds apiece for germination testing. Ethanol-based extracts of

nim and mutamba and the powdered extract of mutamba controlled 100% of

incidence of Cladosporium sp. and Aspergillus sp. The ethanol-based extract of

mango reduced the germination of niger seeds by 18%.

Key terms: niger seeds, phytopathogenic controls, seed treatment

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3.1 Introdução

O níger (Guizotia abyssinica Cass.) é uma espécie herbácea anual e

oleaginosa, que a torna adequada para a produção comercial de biodiesel (Sarin et

al., 2009). As plantas são utilizadas como forragem e adubação verde e, as

sementes inteiras como alimento para pássaros em cativeiro (Vaali et al., 2011).

Na região Centro-Oeste, durante a entressafra, áreas anteriormente mantidas

em pousio estão sendo destinadas à produção de plantas oleaginosas e o níger

entra como uma boa opção (Gordin et al., 2012).

Entre os fatores relevantes de redução de produtividade e lucratividade de

uma lavoura está a ocorrência de doenças, dentre elas, as que são transmitidas por

sementes.

Na cultura do níger no Brasil já foram observados os seguintes fungos dos

gêgeros associados às sementes, Cercospora sp., Alternaria sp., Penicillium sp.,

Bipolaris sp. e Curvularia sp. (Santaella et al., 2011). Na Índia e Etiópia, a mancha

de alternária está entre as principais doenças da cultura (Rajpurohit, 2011),

necessitando controle adequado e eficaz para evitar grandes perdas.

A medida de controle de doença mais utilizado pelos agricultores é o uso de

fungicidas sintéticos. No entanto, no Brasil, ainda não se tem produtos registrados

no Ministério da Agricultura para a cultura do níger, levando os agricultores a

utilizarem produtos indicados a outras culturas, sendo que o uso incorreto desses

produtos podem provocar um conjunto de reações adversas por parte dos seres

vivos e do meio ambiente em que foi aplicado.

Devido a essas razões, as práticas de controle alternativo, que não fazem uso

de defensivos agrícolas sintéticos, vêm sendo estudadas com muita ênfase. Essa

prática alternativa inclui pesquisas com produtos naturais, como extratos

hidroalcoólicos e óleos essenciais de origem vegetal (Souza et al., 2007).

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Trabalhos de pesquisa desenvolvidos com extratos brutos obtidos a partir de

plantas, têm indicado o potencial das mesmas no controle de fitopatógenos pela

ação fungitóxica direta, inibindo o crescimento micelial e a germinação de esporos e

também, pela ação indireta na indução de fitoalexinas, indicando a presença de

compostos com característica de elicitores (Schwan-Estrada et al., 2000).

Assim, o presente trabalho teve por objetivo avaliar o potencial de extratos

vegetais de plantas, em pó e etanólicos, no tratamento de sementes de níger.

3.2 Material e Métodos

3.2.1 Coleta e preparo dos extratos vegetais em pó e etanólicos

Foram selecionadas folhas maduras das espécies arbóreas manga

(Mangifera indica), nim (Azadirachta indica) e mutamba (Guazuma ulmifolia). As

mesmas foram coletadas no período da manhã, entre sete e nove horas e secas em

estufa de ventilação forçada marca Tecnal, modelo 320-SE, em temperatura média

de 45 ºC (Melo et al., 2004) durante ± 48 h até atingirem massa constante.

Os extratos vegetais em pó foram obtidos através da trituração do material

seco em moinho de facas tipo Willey, em peneira de 0,5 mm, e armazenados dentro

de sacos plásticos no escuro para evitar a degradação do material pela luz.

Os extratos etanólicos foram obtidos por maceração a frio do extrato em pó

em álcool etílico 95% P.A, com descanso de 72 horas, seguido por filtração. A

extração foi repetida por mais uma vez para se aproveitar as substâncias extraíveis

pelo álcool etílico e, em seguida, os filtrados foram misturados. O filtrado foi

evaporado em rotaevaporador a 40 ºC. Após a retirada do solvente, obteve-se um

material viscoso, o qual foi denominado de extrato etanólico bruto. Este filtrado ainda

permaneceu em estufa em temperatura de 35 ºC por 72 horas para evaporação de

possíveis resíduo de etanol.

Para o ensaio, foi feita uma solução com a mistura de 1 mL de extrato bruto

em 50 mL de água destilada esterilizada. A identificação de classes de metabólitos

secundários foi realizada de acordo com a metodologia descrita por Matos (1997) a

seguir:

Fenois e taninos – Adiciona-se três gotas de solução alcoólica de FeCl3 em

um tubo de ensaio contendo 3 mL de extrato. Após agitação observa-se coloração

entre o azul e o vermelho, indicativo da presença de fenóis, e precipitado de

tonalidade azul, indicativo da presença de taninos.

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Flavonas, flavonois e xantonas – Alcalinizou-se com NaOH, 4 mL de cada

extrato a pH 11 em um tubo de ensaio e observou-se mudança de cor para amarelo,

indicativo da presença de flavonas, flavonóis e xantonas.

Flavanonas e flavanonois – Adicionou-se alguns centigramas de magnésio

granulado ou em fita e 0,5 mL de HCl concentrado em um tubo de ensaio contendo

extrato. Aguardou-se o término da reação indicada pelo fim da efervescência e

observa-se o aparecimento ou intensificação da cor vermelha, indicativo da

presença de flavonóis, flavanonas e flavanonóis.

Esteroides e triterpenoides – Adicionou-se 2 mL de clorofórmio em 2 mL do

extrato em um tubo de ensaio e, em seguida filtrou-se a solução clorofórmica gota a

gota em um funil com algodão coberto com alguns decigramas de Na2SO4 anidro.

Em tubo de ensaio, adicionou-se 1 mL de anidrido acético, agita-se suavemente, e

acrescentou-se cuidadosamente três gotas de H2SO4 concentrado, agitou-se

suavemente, e observou-se rápido desenvolvimento de cores. Observada coloração

azul evanescente seguida de verde, que é indicativo de esteroides, e coloração

parda até vermelha, que é indicativo de triterpenoides.

Saponinas – Adicionou-se 5 mL de água destilada em um pouco de extrato

etanólico para dissolvê-lo em um tubo de ensaio, após a dissolução filtrou-se a

solução e agita-se fortemente por 2 a 3 minutos, e observou-se a presença de

espuma, indicativo da presença de saponina.

Ácidos fixos fortes – Adicionou-se 0,5 mL de etanol em uma pequena

porção de extrato seco em um tubo de ensaio, misturou-se bem e adicionou-se 1 mL

de NH4OH concentrado. Misturou-se em seguida, aquecido e filtrado. Manteu-se o

becker em banho-maria até não haver mais indícios de vapores de amônia.

Transferiu-se a solução para pequeno frasco, adicionou-se 1 mL de solução NaOH

1mol/L e, rapidamente, fechou-se o frasco, de modo a deixar suspensa na tampa

uma tira de papel umedecida com reagente Nesler. Observou-se o desenvolvimento

de cor marrom no papel, indicativo da presença de ácidos fixos fortes.

Alcaloides – Acrescentou-se NH4OH em 3 mL de extrato até pH 11 em um

tubo de ensaio e extraiu-se as bases orgânicas com três porções sucessivas de 30,

20, e 10 mL da misturou-se éter-clorofórmio, em um funil de separação. Retirou-se a

solução éter-clorofórmio, tratou-se com Na2SO4 anidro para eliminar o excesso de

água. Foi rejeitada a solução éter-clorofórmio e repartiu-se a solução aquosa ácida.

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Adicionou-se três gotas de reagentes Hager, Mayer e Dragendorff. Observou-se a

formação de precipitado floculoso, indicativo de presença de alcaloides.

Cumarina – Com o auxílio de uma pipeta, fez-se uma mancha de,

aproximadamente, 1,5 cm de diâmetro do extrato diluído em NH4OH a pH 11, em um

pedaço de papel de filtro não fluorescente. Aplicou-se sobre a mancha uma gota de

solução alcoólica 1N de KOH. Cobriu-se parcialmente a mancha com um cartão

opaco não fluorescente e deixou-se exposto à ação da luz U.V. por cerca de 2-3

minutos. Descobriu-se a parte encoberta, ainda sob luz U.V. e observou-se se

ocorreu desenvolvimento de fluorescência azulada, indicativo da presença de

cumarina.

3.2.2 Tratamento de sementes de níger com extratos vegetais em pó e

etanólicos

Em um primeiro ensaio, as sementes de níger foram submetidas ao

tratamento com os extratos vegetais em pó na dose de 3 g para 500 kg de

sementes, testemunha sem extrato vegetal em pó (tratadas com água destilada

esterilizada), e testemunha adicional tratada com carboxin+thiram (3 mL para 1 kg

de sementes).

Para o tratamento das sementes de níger com extrato vegetal etanólico, foi

feito a mistura de 10 mL de extrato para cada kg de sementes na concentração de

30%. A testemunha foi tratada com água destilada esterilizada e a testemunha

adicional, tratada com carboxin+thiram na dose de 3 mL para 1 kg semente. Após o

tratamento, as sementes foram secas em câmara de fluxo laminar por 1 hora.

O tratamento das sementes foi feito em sacos plásticos e posteriormente

armazenadas em sacos de papel Kraft onde permaneceram armazenadas em

câmara resfrigerada e seca (18 ºC e 75% umidade relativa) por três dias antes da

montagem do teste de germinação e sanidade.

3.2.3 Teste padrão de sanidade de sementes de níger

As sementes foram analisadas quanto à sanidade pelo método do “Blotter

Test”, distribuídas em placas de Petri contendo três folhas de papel filtro esterilizado,

umedecido em água destilada e esterilizada, permanecendo incubadas a 25 ºC e

fotoperíodo de 12 horas por sete dias.

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Após o período de incubação, as sementes foram analisadas quanto à

presença dos fungos com auxílio de miscroscópio estereoscópio e ótico, e o

resultado expresso em porcentagem.

Os fungos encontrados associados às sementes foram Alternaria sp.,

Aspergillus sp., Cercospora sp., Cladosporium sp., Penicillium sp. e Sphacelia sp..

3.2.4 Teste de germinação de sementes de níger

Para avaliação do poder germinativo das sementes de níger tratadas com

extrato vegetal em pó e etanólico, as sementes foram colocadas em papel

“germitest” umidecido com água destilada, na proporção de 2,5 vezes o massa do

papel seco, e colocadas em germinador, regulado à temperatura constante de 22 ± 2

°C, por sete dias. O resultado foi expresso em porcentagem.

3.2.5 Delineamento experimental

O ensaio constituiu-se de 8 tratamentos em delineamento inteiramente

casualizado, em esquema fatorial 3 x 2 + 2 ( três espécies de plantas, extrato em pó

e etanólico e dois tratamentos adicionais: tratamento sem extrato e carboxin+thiram),

com oito repetições de 50 sementes para o “Blotter test” e quatro repetições de 50

sementes para o teste de germinação. As médias foram submetidas à análise de

variância, onde, aplicou-se o teste Scott Knott (p= 0,05) para o grupo fatorial, Os

ensaios foram repetidos duas vezes.

3.3 Resultados e discussão

A triagem fitoquímica preliminar para testes qualitativos revelou a presença de

metabólitos secundários nos extratos das três plantas testadas (Tabela 01).

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Tabela 1- Metabólitos secundários em folhas de nim (Azadirachta indica), mutamba

(Guazuma ulmifolia) e manga (Mangifera indica). UFMT, Cuiabá-MT.

2015.

nim mutamba manga

Fenois e taninos + + +

Flavonas, flavonois e xantonas - + +

Flavanonas e flavanonois + + +

Esteroides - - +

Triterpenoides - + -

Saponinas - - -

Ácidos fixos fortes + + +

Alcaloides + + +

Cumarina + - -

+ presença - ausência

Além do metabolismo primário, responsável pela síntese de celulose, lignina,

proteínas, lipídeos, açúcares e outras substâncias importantes para a realização das

funções vitais, as plantas também apresentam o chamado metabolismo secundário

(Champe et al., 2008) que origina substâncias que não estão envolvidas em funções

vitais das plantas e são encontradas apenas em grupos restritos, famílias ou

gêneros de plantas.

Existe grande quantidade de metabólitos secundários de plantas que foram

isolados e identificados em relação à estrutura química, porém, ainda não foram

estudados quanto às atividades biológicas (Venturoso et al., 2010). Esses testes

poderão contribuir para a aquisição de maiores conhecimentos que reforçam a

possível utilização como um método alternativo de controle de doenças de plantas.

Nos extratos estudados foram encontrados metabólitos secundários de sete

grupos. Esses metabólitos secundários, em conjunto ou de forma isolada, podem

atuar como fungistático e/ou fungicida, dependendo da concentração utilizada, e

podem ser ativos contra um amplo espectro de espécies de microorganismos (Brum,

2012).

Resultados da sanidade de sementes demonstrou a incidência dos fungos

Alternaria sp., Aspergillus sp., Cercospora sp., Cladosporium sp., Penicillium sp. e

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Sphacelia sp. nas porcentagens de 54, 7,2; 20,7; 63,5; 55, e 13,2%,

respectivamente.

No tratamento de sementes com extratos etanólicos, observou-se controle

dos seis patógenos encontrados nas sementes sendo que os extratos de nim e

mutamba controlaram 100% o fungo Cladosporium sp., assim como manga

controlou Aspergillus sp., obtendo-se o mesmo resultado do controle químico com

carboxin+thiram (Tabela 2).

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Tabela 2. Incidência (%) de fungos em sementes de níger tratadas com extratos etanólicos de nim (Azadirachta indica), mutamba

(Guazuma ulmifolia) e manga (Mangifera indica). UFMT, Cuiabá. 2015.

Patógenos

Alternaria sp. Aspergillus sp. Cercospora sp. Cladosporium sp. Penicillium sp. Sphacelia sp.

nim 12,2 c 2,5 b 2,5 b 0,0 c 3,0 c 1,5 b

mutamba 26,5 b 0,5 b 2,0 b 0,0 c 9,7 b 2,5 b

manga 34,5 b 0,0 b 0,5 c 0,5 b 9,7 b 2,0 b

carboxin+thiram 1,5 d 0,0 b 0,2 c 0,0 c 0,0 c 0,2 b

água destilada 54,0 a 7,2 a 20,7 a 63,5 a 55,0 a 13,2 a

CV % 22,41 106,94 63,47 22.52 37,69 92,19

Médias seguidas pelas mesmas letras na coluna não diferem estatisticamente entre si (Scott Knott; p > 0,05).

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Com a utilização do extrato de nim, os fungos Alternaria sp., Penicillium sp. e

Sphacelia sp. foram controlados 77, 94 e 88% respectivamente. Já para Cercospora

sp. o melhor controle, 97%, foi alcançado pelo extrato de manga.

Resultados semelhantes foram encontrados com a utilização de outras

plantas no trabalho de Medeiros et al., (2013), utilizando extrato etanólico de

Momordica charantia e Allamanda Blancheti, ambos na concentração de 10%. O

controle observado dos fungos Cladosporium sp., Alternaria sp., Fusarium sp. e

Cladosporium sp., respectivamente. Souza et al. (2007) verificaram que o tratamento

de sementes de milho com extratos de alho e capim santo reduziram a incidência de

Fusarium moniliforme.

Neste trabalho, os extratos, tanto em pó quanto etanólico, proporcionaram

controle eficiente dos patógenos encontrados nas sementes, concordando com Mata

et al. (2009), que enfatizam o uso de produtos naturais no tratamento prévio de

sementes, tendo este tratamento grande importância por originar plantas mais

vigorosas e sadias, devido à redução e/ou eliminação dos patógenos presentes nas

sementes ou por protegê-las contra a ação de fitopatógenos do ambiente.

No tratamento de sementes com extratos em pó, observou-se que o nim e

manga foram eficientes no controle de Penicillium sp. e obteve redução de 99% do

fungo sobre a incidência nas sementes (Tabela 3). O extrato de mutamba diminuiu a

incidência de Cercospora sp, Cladosporium sp. e Sphacelia sp. em 85, 77, 70%,

respectivamente. O fungo Aspergillus sp. teve incidência reduzida com a utilização

dos três extratos em pó controlando em 93, 100 e 93% para os extratos de nim,

mutamba e manga, respectivamente.

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Tabela 3. Incidência (%) de fungos em sementes de níger tratadas com extratos em pó de nim (Azadirachta indica), mutamba

(Guazuma ulmifolia) e manga (Mangifera indica). UFMT, Cuiabá-MT. 2015.

Patógenos

Alternaria sp. Aspergillus sp. Cercospora sp. Cladosporium sp. Penicillium sp. Sphacelia sp.

Nim 39,5 b 0,5 b 9,7 b 41,7 b 0,5 c 10,7 b

Mutamba 34,0 b 0,0 b 3,0 c 14,5 c 5,0 b 4,0 c

Manga 40,5 b 0,5 b 11,7 b 48,5 b 1,0 c 10,2 b

carboxin+thiram* 1,5 c 0,0 b 0,2 c 0,0 c 0,0 c 0,2 c

água destilada 54,0 a 7,2 a 20,7 a 63,5 a 55,0 a 13,2 a

CV 19,51 89,11 43,23 10,43 33,83 41,09

Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si (Scott Knott; p > 0,05). *3 mL/kg de sementes.

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Na germinação das sementes de níger, o extrato etanólico de manga foi o

único que reduziu a germinação quando comparada à testemunha diminuindo em

18% a germinação (Tabela 4). Foi encontrado no trabalho de Valarini et al. (1996)

pelo emprego em suspensão aquosa a 10% do óleo de Cymbopogon citratus inibiu

totalmente a germinação de sementes de Digitaria horizontalis, Sorghum halepense,

Bidens pilosa, Euphorbia heterophylla e Raphanus raphanistrum.

Tabela 4. Germinação (%) de sementes de níger submetidas a extratos vegetais

etanólicos (30%) e em pó (3 g) de nim (Azadirachta indica), mutamba

(Guazuma ulmifolia) e manga (Mangifera indica). UFMT, Cuiabá-MT.

2015.

Extrato vegetal etanólico Extrato vegetal em pó

nim 81,5 a 85,5 a

mutamba 87,2 a 87,0 a

manga 71,2 b 87,2 a

carboxin+thiram* 89,5 a 89,5 a

água destilada 87,0 a 87,0 a

CV % 5,94 4,57

Médias seguidas pelas mesmas letras na coluna não diferem estatisticamente entre

si (Scott Knott; p > 0,05). *3 mL/kg de sementes.

Em trabalho realizado com extrato hidroalcoólico de Allium sativum L. e

Cymbopogon citratus na concentração de 10% no tratamento de sementes de milho,

o poder germinativo das sementes foi preservado (Souza et al., 2007). Dessa forma

observa-se que o potencial alelopático das plantas difere de acordo com a espécie

vegetal (Cruz et al., 2000) e também como processo de extração, uma vez que

Souza et al. (2002) afirmam que a extração etanólica proporciona, provavelmente,

maior concentração ou presença de princípios ativos.

Os extratos em pó de nim, mutamba e manga não interferiram na germinação

das sementes. Medeiros et al. (2007) utilizaram extrato em pó de nim no o

tratamento de sementes de feijão caupi e verificaram que não houve efeito tóxico

nas sementes.

Os metabólicos secundários podem ocasionar efeito alelopático em algumas

espécies de plantas afetando a germinação, crescimento ou estabelecimento, sendo

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os principais, compostos fenólicos e taninos (Almeida, 2006). Os três extratos

utilizados neste trabalho, possuem quantidade elevada dessas substâncias. Porém,

somente o extrato etanólico de manga ocasionou diminuição na germinação das

sementes de níger.

3.4 Conclusões

Os extratos etanólicos de nim, mutamba e o extrato em pó de mutamba

controlaram 100% a incidência de Cladosporium sp. e Aspergillus sp.

O extrato etanólico de manga reduziu em 18% a germinação das sementes

de níger.

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3.5 Referências bibliográficas

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4 EXTRATOS VEGETAIS NO TRATAMENTO ALTERNATIVO DE

SEMENTES DE Triticum aestivum

RESUMO - O tratamento de sementes de trigo (Triticum aestivum) com produtos

químicos já foi bastante pesquisado e muitos fungicidas tem se mostrado eficientes.

No entanto, a impossibilidade de uso em propriedades de cultivo orgânico, restrição

ao uso de certos fungicidas e a crescente conscientização da população quanto à

qualidade dos alimentos e do meio ambiente possibilitam a investigação de outros

métodos de controle de patógenos em sementes. O objetivo do trabalho foi avaliar

diferentes extratos vegetais no tratamento de sementes de cinco variedades de trigo

e a influência na germinação das sementes. Para cada variedade de trigo adotou-se

o delineamento inteiramente casualizado com sete tratamentos e oito repetições de

50 sementes para o “Blotter test” e quatro repetições de 50 sementes para o teste de

germinação. As médias foram submetidas à análise de variância, onde, aplicou-se o

teste Scott Knott (p= 0,05). Os ensaios foram repetidos duas vezes. Foi constatado

que extrato aquoso de pimenta do reino é eficiente no controle de Cladosporium

cladosporioides, Bipolaris sorokiniana e Fusarium graminearum e não afetam a

germinação de sementes de Triticum aestivum. Extrato aquoso de nim, coentro,

mutamba e manga reduzem a germinação de sementes de Triticum aestivum.

Palavras-chave: controle alternativo, fitopatógenos, trigo

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PLANT EXTRACTS FOR THE ALTERNATIVE TREATMENT OF Triticum

aestivum SEEDS

ABSTRACT - The treatment of wheat seeds with chemical products has been

extensively researched and many fungicides have been proven to be extremely

efficient. However, due to the control of fungicides for organic producer, restrictions

on the use of certain fungicides, and a growing popular conscientiousness towards

both the quality of food and the environment it is possible (and necessary) to

research alternative methods for the control of seed based pathogens. The objective

of this work is to evaluate various natural plant extracts for the treatment of five

varieties of wheat and the influence of these extracts on germination. For each wheat

variety a completely randomized design was applied with seven treatments and eight

replicates of 50 seeds for a “Blotter test” and four replicates of 50 seeds for the

germination test. Variance testing of group mean was completed using the Scott-

Knott test (p=0.05). All tests were repeated two times. We established that a water-

based extract of black pepper is efficient in its control of Cladosporium

cladosporioides, Bipolaris sorokiniana, and Fusarium graminearum and do not affect

the germination of Triticum aestivum seeds. Aqueous extracts of nim, coriander,

mutamba and mango reduce the germination of Triticum aestivum seeds.

Key words: Alternative controls, phytopathogens, wheat

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4.1 Introdução

O trigo (Triticum aestivum L.) ocupa lugar de destaque dentre os cereais

produzidos no Brasil, tendo importante função econômica e social. O consumo

nacional atingiu cerca de 6,8 milhões de toneladas de grãos em 2013 (Conab, 2014).

A cultura do trigo apresenta excelente potencial de expansão na região do

Cerrado, pelas características de boa produtividade e qualidade industrial, além de

ser alternativa para a rotação de culturas. Estas características auxiliam no processo

de implantação, incentivo e manutenção da cultura nesta região (Kobayasti et al.,

2011).

A triticultura no Brasil está predisposta a um grande número de patógenos

associados às sementes, responsáveis diretos pela redução da qualidade das

mesmas, entretanto, a incidência desses patógenos varia de ano para ano (Brancão

et al., 2008).

Em cultivares de trigo avaliadas no estado de Mato Grosso, foram observados

20 gêneros de fungos, sendo Bipolaris sorokiniana, Fusarium graminearum e

Pyricularia grisea os de maior ocorrência (Kobayasti et al., 2011).

A mancha marrom, cujo agente causal é Bipolaris sorokiniana (Sacc), é

considerada uma das doenças mais importantes para a cultura do trigo na América

do Sul, chegando a acarretar perdas de até 80% no rendimento e causando queda

prematura das folhas (Santana et al., 2009).

A fusariose causada pelo fungo Fusarium graminearum, se manifesta mais

intensamente em regiões com excesso de chuva e temperaturas amenas, durante

os períodos de floração e maturação dos grãos (Garcia Júnior et al., 2008). Grãos de

trigo infectados com F. graminearum apresentam redução no teor de proteína e no

glúten, diminuindo a qualidade da farinha.

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O tratamento de sementes de trigo com produtos químicos já foi bastante

pesquisado e muitos fungicidas tem se mostrado eficientes (Goulart & Paiva, 1991),

no entanto, a impossibilidade de uso em propriedades de cultivo orgânico, restrição

ao uso de certos fungicidas no exterior e a crescente conscientização da população

quanto à qualidade dos alimentos e do meio ambiente abrem a possibilidade de

investigação de outros métodos de controle de patógenos em sementes (Silva et al.,

2009).

Nesse contexto, uma nova política agrícola através da agricultura alternativa

tem sido desenvolvida, voltada à diminuição desses impactos no ambiente e ao

homem e o uso de produtos alternativos, como extratos e óleos vegetais, seja por

pela ação fungitóxica direta, ou indiretamente por meio da ativação de mecanismos

de defesa nas culturas tratadas (Venturoso et al., 2011).

Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi avaliar diferentes extratos

vegetais no tratamento de sementes de cinco variedades de trigo e a influência na

germinação.

4.2 Material e Métodos

Foram selecionadas para condução do bioensaio folhas maduras das plantas:

nim (Azadirachta indica), coentro (Coriandrum sativum), manga (Mangifera indica L.),

mutamba (Guazuma ulmifolia), pimenta do reino (Piper nigrum) e cinco variedades

de sementes de trigo de sequeiro: BR 18, BRS 208, Brilhante, Guamirim, e IAC 350,

todas produzidas em Lucas do Rio Verde – MT.

4.2.1 Preparo dos extratos vegetais aquosos

As folhas foram coletadas no período da manhã, entre sete e nove horas,

secas em estufa de ventilação forçada marca Tecnal, modelo 320-SE, com

temperatura média de 45 ºC até atingirem massa constante. Os extratos vegetais em

pó foram obtidos através da trituração do material em moinho de facas tipo Willey

com peneira de 0,5 mm e armazenados em sacos plásticos em local seco e escuro

para evitar a degradação pela luz. Os extratos vegetais aquosos brutos foram

obtidos a partir da mistura de 30 g do material seco e moído em 100 mL de água

destilada esterilizada e deixados em descanso por 1 h. Para obtenção de extratos na

proporção de 30% foi feita a mistura do extrato bruto em água destilada esterilizada.

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4.2.2 Tratamento de sementes de trigo com extrato vegetal aquoso

As sementes de trigo foram submetidas ao tratamento com os extratos a 30%

na proporção de 10 mL por kg sementes, água destilada esterilizada e

carboxin+thiram 3 mL por kg semente. Após os tratamentos, as sementes foram

secas em câmara de fluxo laminar e submetidas aos testes de germinação e

sanidade.

4.2.3 Teste de sanidade de sementes de trigo

As sementes de trigo foram analisadas quanto à sanidade por meio do

“Blotter Test” modificado com restrição hídrica, onde foram distribuídas em placas de

Petri contendo três folhas de papel filtro esterilizado, umedecido em solução de NaCl

à -1,0 MPa (Farias et al., 2003), permanecendo incubadas a 25 ± 2 ºC e fotoperíodo

de 12 horas por sete dias.

Após o período de incubação, as sementes foram analisadas quanto à

porcentagem de colônias de fungos presentes por semente de cada repetição, e os

resultados expressos em porcentagem.

4.2.4 Teste de germinação de sementes de trigo

Para avaliação do poder germinativo das sementes, as mesmas foram

colocadas em papel germiteste umedecido com água destilada na proporção de 2,5

vezes o massa do papel seco e colocadas em germinador regulado à temperatura

constante de 22 ± 2 °C conforme Regras para Análise de Sementes (Brasil, 2009).

4.2.5 Delineamento Experimental

Para cada variedade de trigo adotou-se o delineamento inteiramente

casualizado com sete tratamentos e oito repetições de 50 sementes para o “Blotter

test” e quatro repetições de 50 sementes para o teste de germinação. As médias

foram submetidas à análise de variância, onde, aplicou-se o teste Scott Knott (p=

0,05). Os ensaios foram repetidos duas vezes.

4.3 Resultados e discussão

Os resultados para controle da incidência de patógenos em sementes de trigo

revelou que o extrato de pimenta do reino se destacou entre os demais, pois

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controlou totalmente o fungo Cladosporium cladosporioides e parcialmente Bipolaris

sorokiniana, igualando-se ao resultado do fungicida caboxin+thiram, em todas as

variedades de trigo testadas. Houve diminuição de Fusarium graminearum de até

54% para variedade IAC 350 (Figura 1).

Figura 1. Incidência (%) de Bipolaris sorokiniana, Cladosporium cladosporioides e

Fusarium graminearum em sementes de trigo submetidas a extratos

vegetais aquosos de nim (Azadirachta indica), coentro (Coriandrum

sativum), manga (Mangifera indica L.), mutamba (Guazuma ulmifolia), e

pimenta do reino (Piper nigrum), água e carboxin+thiram. Médias seguidas

de mesma letra para cada patógeno não diferem estatisticamente entre si

(Scott Knott; p > 0,05).

Bipolaris

Fusarium

a

d c c

b b

d

a

d c c c c

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(%

)

BRILHANTE

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Fusarium graminearum teve a incidência reduzida, quando comparado ao

tratamento água, com a utilização de todos os extratos testados, e nas variedades

de trigo Brilhante e BRS 208, os extratos de nim e coentro mostraram a mesma

eficiência do fungicida.

Para o controle dos mesmos patógenos utilizados neste ensaio, diversos

autores utilizaram outros extratos que também obtiveram eficiência, como por

exemplo o trabalho de Leite et al. (2011) que destacam a eficiência do extrato de

melão-de-são-caetano no controle de fungos do gênero Fusarium sp. e

Cladosporium sp. em sementes de sabiá (Mimosa caesalpiniaefolia Benth.). Salgado

et al. (2003) testaram a atividade fungitóxica de óleo de três espécies de eucalipto

sobre Fusarium oxysporum, Botrytis cinerea e Bipolaris sorokiniana e obtiveram

variadas taxas de inibição no crescimento micelial em todas as espécies para

diferentes concentrações de óleo.

Para avaliação da germinação após o tratamento das sementes com os

extratos vegetais, o extrato aquoso de pimenta do reino não apresentou diferença

estatística na germinação quando comparado ao tratamento água e fungicida, para

nenhuma das variedades de trigo testadas (Tabela 1). Sementes predispostas à

ação de microrganismos, quando tratadas, reduzem a capacidade de sobrevivência

dos fitopatógenos e potencializam a longevidade das sementes, assim como seu

poder germinativo (Medeiros, 2013).

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Tabela 1. Germinação (%) de sementes de trigo tratadas com extratos vegetais

aquosos de nim (Azadirachta indica), coentro (Coriandrum sativum),

manga (Mangifera indica L.), mutamba (Guazuma ulmifolia) e pimenta do

reino (Piper nigrum). UFMT, Cuiabá-MT. 2015.

BR 18 BRS 208 Brilhante Guamirim IAC 350

Nim 68,5 d 67,5 c 63,0 d 62,5 c 70,0 d

Coentro 89,5 b 80,5 b 85,0 b 81,5 b 92,0 b

Mutamba 82,0 c 78,5 b 78,0 c 82,0 b 86,0 c

Manga 83,0 c 79,0 b 82,5 b 80,0 b 85,0 c

pimenta do reino *97,5 a *92,00 a *92,5 a *92,5 a *96,0 a

**carboxin+thiram *99,0 a *95,50 a *96,5 a *98,0 a *100,0 a

água 97 a 93 a 94 a 95 a 98 a

CV% 1,75 4,33 1,94 1,83 1,51

Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si

(Scott Knott; p > 0,05). *Médias não diferem estatisticamente do tratamento água

(sem tratamento). **3 mL/kg de sementes.

É de fundamental importância que os tratamentos de sementes controlem, ou

diminuam a infecção por patógenos, mas não causem danos à qualidade fisiológica

das sementes (Flávio et al., 2014).

Os extratos de mutamba, coentro e manga, reduziram a germinação de forma

significativa, porém, com resultados melhores que o extrato de nim que ocasionou

redução na germinação em 30, 29, 35, 36, e 30% nas variedades BR18, BRS 208,

Brilhante, Guamirim e IAC 350, respectivamente. Silva et al. (2007) estudando os

efeitos inibitórios de extrato de folhas de nim na cultura do feijoeiro, concluíram que

a presença de tal extrato afetou a germinação e o desenvolvimento das radículas.

Também estudando extrato de nim a 30%, Pereira et al. (2008) encontraram 25% de

redução na germinação de sementes de jambú (Spilanthes oleracea).

Rickli et al. (2011) ao analisar os dados para sementes de milho (Zea mays

L.), verificaram que o extrato aquoso de nim não afetou a porcentagem de

germinação, e Silva et al., 2011, encontraram o resultado de incremento na

germinação de feijão caupi cultivar Maranhão, quando utilizaram o extrato de folhas

de nim.

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A atividade antifúngica de extratos vegetais, associada ao aumento do poder

germinativo de sementes é de grande importância para o controle alternativo de

patógenos em sementes e já foram comprovadas por outros autores Mata et al.,

2009, e Souza et al., 2010).

4.4 Conclusões

Extrato aquoso de pimenta do reino é eficiente no controle de Cladosporium

cladosporioides, Bipolaris sorokiniana e Fusarium graminearum e não afetam a

germinação de sementes de Triticum aestivum.

Extrato aquoso de nim, coentro, mutamba e manga reduz a germinação de

sementes de Triticum aestivum.

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4.5 Referências bibliográficas

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BRS 208

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Page 82: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE … · Os defensivos alternativos, que podem ser de preparação caseira ou adquiridos no comércio, a partir de substâncias não

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CONCLUSÃO

O desenvolvimento da proteção de plantas em sistemas alternativos de

cultivo, com a utilização de extratos vegetais, requer estudos sobre as espécies a

serem testadas e o controle ou inibição proporcionado a cada gênero de fungo.

Neste trabalho, concluímos que extratos aquosos ativaram a produção de

fitoalexinas “in vitro”, mostrando que essas plantas têm propriedades que podem

auxiliar na ativação de mecanismos de defesas das plantas e também

desempenham ação inibitória no crescimento micelial de S. sclerotiorum. Extratos

etanólicos de nim, mutamba e o extrato em pó de mutamba controlaram 100% a

incidência de Cladosporium sp. e Aspergillus sp. e extrato aquoso de pimenta do

reino foi eficiente no controle de Cladosporium cladosporioides, Bipolaris sorokiniana

e Fusarium graminearum e não afetam a germinação de sementes de Triticum

aestivum.