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i UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA JACKSON JAMES DEBONA ENTRE O REGIONAL E O NACIONAL: Mato Grosso do Sul nos livros didáticos de História - PNLD 2011 CUIABÁ - MT 2015.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · Aos amigos e colegas do Curso de Mestrado, sem a contribuição de vocês seria mais difícil esse processo formativo

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

JACKSON JAMES DEBONA

ENTRE O REGIONAL E O NACIONAL:

Mato Grosso do Sul nos livros didáticos de História - PNLD

2011

CUIABÁ - MT

2015.

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JACKSON JAMES DEBONA

ENTRE O REGIONAL E O NACIONAL:

Mato Grosso do Sul nos livros didáticos de História - PNLD

2011

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em História da Universidade

Federal de Mato Grosso na área de concentração de “Territórios e Fronteiras” - “Ensino de Histó-

ria, Memória e Patrimônio”, sob a orientação do Prof. Dr. Renilson Rosa Ribeiro.

Este exemplar corresponde à redação final da Dissertação de Mestrado examinado pela Co-missão Julgadora em 27/03/2015.

BANCA EXAMINADORA:

Prof. Dr. Renilson Rosa Ribeiro (UFMT – Orientador/Presidente)

Prof. Dr. Marcelo Fronza (UFMT – Examinador Interno)

Prof.ª Dr.ª Nauk Maria de Jesus (UFGD – Examinador Externo)

Prof.ª Dr.ª Ana Maria Marques (UFMT – Suplente)

CUIABÁ – MT

2015.

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Dados Internacionais de Catalogação na Fonte.

D287e Debona, Jackson James.

ENTRE O REGIONAL E O NACIONAL: Mato Grosso do Sul nos livros didáticos de História - PNLD 2011 / Jackson James

Debona. -- 2015 xv, 164 f. : il. color. ; 30 cm.

Orientadora: Renilson Rosa Ribeiro.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Mato Grosso,

Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Programa de Pós-

Graduação em História, Cuiabá, 2015.

Inclui bibliografia.

1. Livro Didático. 2. Ensino de História. 3. História Regional. 4.

Mato Grosso. 5. Mato Grosso do Sul. I. Título.

Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

Permitida a reprodução parcial ou total, desde que citada a fonte.

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=== RESUMO ===

A presente dissertação tem por objetivo analisar 05 coleções de livros didáticos, recomen-

dadas para o ensino de História, conforme o PNLD 2011, no esforço de compreender ques-tões relacionadas à inserção dos aspectos regionais no âmbito dos conteúdos a serem minis-

trados no Ensino Fundamental. A metodologia utilizada no mapeamento, seleção e locali-zação das coleções, consiste no exame material das fontes selecionadas, a exemplo do que propõem os estudos de CHARTIER (1990), MOREIRA (2011), CHOPPIN (2004) enten-

dendo que a produção dos textos está diretamente vinculada aos suportes os quais são dados a ler. A discussão acerca da produção e usos de livros didáticos na contemporaneidade vol-

ta a ser relevante, haja vista iniciativas e orientações governamentais incentivando a esco-lha e o uso deste material em todas as escolas do país (MOREIRA e SILVA, 2011). Tais ações vêm sendo orientadas pelo Ministério da Educação, através de programas de roteiri-

zação e produção de guias para orientar essa escolha - PNLD - aliada às práticas cotidianas as quais, tratando de escola pública, fortalecem, para os professores, a sua utilização e para

os pesquisadores a necessidade de discutir suas formas de apropriação. As mesmas autoras apontam a necessidade de fomentar pesquisas sobre livros didáticos nos cursos de Pós-graduação em História, alcançando apenas a marca de 30% das pesquisas, que em suas aná-

lises concentram-se na região Sudeste (MOREIRA e SILVA, 2011) fato que atribui respon-sabilidade aos cursos da região do Centro Oeste a preencherem essa lacuna. Inserido no

conjunto das preocupações com o ensino de história e a utilização de instrumentos que via-bilizem a aquisição de conhecimentos desta natureza, as análises indicaram certo silencia-mento nas abordagens de conteúdos relacionados a temas da região – Mato Grosso e Mato

Grosso do Sul –. Conforme a hipótese que orientou esse trabalho, concluiu-se que, em grande parte das vezes, os livros didáticos de história não contemplam temários referentes

aos locais em que circulam, criando a impressão de que o conhecimento histórico passa, apenas, por questões de foro nacional. Uma análise avaliativa deste material torna-se im-prescindível para que esta ferramenta de apoio ao professor estimule favoravelmente o en-

sino.

Palavras-chave: Livro didático. Ensino de História. História Regional. Mato Grosso. Mato Grosso do Sul.

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=== ABSTRACT ===

The present essay has the goal to analyse five didactic books collections, recommended to History teaching, acoording to Didactic Book National Programm (PNLD, in Portuguese)

2011, trying to understand related issues to the insertion of regionals aspects into the con-tents that will be ministered at Elementary School. The used methodology on mapping,

selection and location of collections consists in the review of the material from the selected fonts, like in the exemplo from the CHARTIER (1990), MOREIRA (2011), CHOPPIN (2004) study proposals, understanding that the texts production is directly linked to the

holders that are read. The argument about use and production of the didactic books in con-temporaneity comes back to be relevant, considering governmental initiatives and guidanc-

es to encourage the choice and use of this material in all contry schools (MOREIRA and SILVA, 2011). These initiatives have being conducted by Education Ministry, through the production and routing of guides programs to conduct this choice – PNLD – ally to the dai-

lyy practices that, trying topublic schools, strengthen, to the teachers, its use and to the re-searchers the need to discuss its appropriation forms. The same authors say the need to

promote research about didactic books at History Graduate School, reaching only 30% re-searches, that in their analysis, are concentrated on Southeast Region (MOREIRA and SILVA, 2011), and this fact assigns responsability to the Midwest Region to fills this grap.

Inserted in the conerns about History teaching and the use of the instruments that enable knowledge acquisition like this nature, the review indicates some silence on approach of

contents associated to region themes -Mato Grosso and South Mato Grosso -. According to the hypothesis that guides this work, it concludes that, most of the time, the History didactic books do not contemplate themes that refers to the locals that they are, creating the impres-

sion that historical knowledge passes only on national forum questions. An evaluation analysis from this material becomes indispensable to this teacher support tool promotes the

teaching favorably.

Key Words: Textbooks. Teaching History. Regional History. Mato Grosso. Mato Grosso do

Sul.

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Para Adriana,

minha amada esposa,

e nosso pequeno Gabriel.

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=== AGRADECIMENTOS ===

No decorrer do Curso de Mestrado muitas pessoas contribuíram de modo signifi-

cativo para o processo de escrita da dissertação. A elas minha sincera gratidão e respeito:

Ao professor Renilson Rosa Ribeiro, pela sua confiança depositada desde as pri-

meiras conversas, pelas orientações precisas, pelos direcionamentos valiosos e acima de

tudo pela motivação nos momentos finais de escrita dessa dissertação.

Aos professores (as) Marcelo Fronza, Alexandra Lima da Silva e Nileide Souza

Dourado, pelas valiosas e significativas contribuições no exame de qualificação. À profes-

sora Nauk Maria de Jesus, por aceitar o convite para fazer parte, ao lado de Marcelo Fron-

za, da banca de defesa.

À amiga Vanda Silva, pelas horas de conversas proveitosas e profícuas.

À amiga e professora Elisângela Cristiane Rozendo São José, pelo auxílio na pre-

paração para prova de proficiência.

Aos amigos e colegas do Curso de Mestrado, sem a contribuição de vocês seria

mais difícil esse processo formativo.

Ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Mato

Grosso, na pessoa do Prof. Dr. Leandro Duarte Rust, pela atenção durante esse processo.

Registro um agradecimento especial à secretária Valdomira (Val), pelo seu carisma e preci-

sas orientações, desde o período de inscrição para a seleção do Mestrado até os momentos

posteriores. Obrigado Val.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em História - UFMT que, de dife-

rentes formas, contribuíram para a minha formação. Em especial a professora Ana Maria

Marques, pela atitude motivadora.

Aos meus pais Ivres Remigio Debona e Maria Luiza Galeazzi Debona in memori-

an, pela vida, pela educação e ensinamentos.

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À minha esposa, Adriana Aparecida Pinto, por seu total e incondicional apoio em

todos os sentidos. Luz do Oriente ao Ocidente. Além de apoio, deu-me um presente maravi-

lhoso, Gabriel, o filho adorado!

A Sidnei Marcos Debona, irmão em todo sentido da palavra. Obrigado.

A Jurandir Evangelista Santos, Sônia Barros Ferreira e filhos, pelo empréstimo de

um ombro amigo, muito mais pais do que amigos, um casal que admiro.

À CAPES pelo apoio para a realização dessa pesquisa, sem a qual muitos impedi-

mentos não teriam sido rompidos.

A Deus, pela inspiração intuitiva e energia, que foram fundamentais no processo

de elaboração e escrita dessa dissertação.

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=== LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ==

CDR Centro de Documentação Regional. COTEC Coordenadoria de Tecnologia Educacional. ECT Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.

FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. IHGMT Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso.

IHMT Instituto Histórico de Mato Grosso. LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. MEC Ministério da Educação.

PCN Parâmetros Curriculares Nacionais. PDE Plano de Desenvolvimento da Educação.

PIN Plano de Integração Nacional. PNLD Programa Nacional do Livro Didático. PRC Partido Republicano Conservador.

PRMG Partido Republicano Mato-grossense. SED-MS Secretaria Estadual de Educação de Mato Grosso do Sul.

SIMAD Sistema do Material Didático. SISCORT Sistema de Controle de Remanejamento e Reserva Técnica. UFGD Universidade Federal da Grande Dourados.

UFMS Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. UFMT Universidade Federal de Mato Grosso.

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=== LISTA DE GRÁFICOS ===

Gráfico 1: Perspectiva curricular dominante nas coleções de Livros de História do PNLD

2011, p. 48.

Gráfico 2: Perfil das coleções de Livros de História do PNLD 2011, p. 49. Gráfico 3: Abordagens temáticas nas coleções de Livros de História do PNLD 2011, p. 50.

Gráfico 4 – Coleções do PNLD de História de 2011 que foram escolhidas pelas escolas

públicas do Mato Grosso do Sul, p. 84.

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=== LISTA DE QUADROS ===

Quadro 1 - Sistematização dos conteúdos de História do MT/MS para o Ensino Fundamen-

tal em 2008, p. 36.

Quadro 2 - Sistematização dos conteúdos de História do MT/MS para o Ensino Fundamen-

tal Anos finais, em 2012, p. 38.

Quadro 3 - Sistematização por ano/série de Livros Didáticos Consumíveis ou Reutilizá-

veis, p. 52.

Quadro 4 - Coleções aprovadas para o PNLD de 2008 em escolas da rede pública de ensi-

no de Mato Grosso do Sul, p. 76.

Quadro 5 - Demonstrativo das cinco coleções de Livro Didático mais adotado pelas Esco-

las do Mato Grosso do Sul no PNLD de 2008, p. 78.

Quadro 6 - Coleções aprovadas para o PNLD de 2011 em escolas da rede pública de ensi-

no de Mato Grosso do Sul, p. 81.

Quadro 7 - Demonstrativo das cinco coleções de Livro Didático mais adotado pelas Esco-

las do Mato Grosso do Sul no PNLD de 2011, p. 82.

Quadro 8 - Coleções de livros didáticos de História presentes no PNLD de 2008 que per-

maneceram do PNLD de 2011, p. 85.

Quadro 9 - Coleção Projeto Araribá – História, p. 96.

Quadro 10 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 6º ano, p. 97.

Quadro 11 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 7º ano, p. 98.

Quadro 12 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 8º Ano, p. 98.

Quadro 13 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 9º Ano, p. 99.

Quadro 14 – Coleção História Sociedade & Cidadania – Nova Edição, p. 102.

Quadro 15 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 6º ano, p. 104.

Quadro 16 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 7º Ano, p. 105.

Quadro 17 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 8º Ano, p. 105.

Quadro 18 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 9º Ano, p. 107.

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Quadro 19 - Coleção História – Das Cavernas ao terceiro milênio, p. 109.

Quadro 20 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 6º Ano, p. 110.

Quadro 21 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 7º Ano, p. 111.

Quadro 22 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 8º ano, p. 112.

Quadro 23 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 9º ano, p. 113.

Quadro 24 - Coleção Projeto Radix – História, p. 116.

Quadro 25 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 6º ano, p. 117.

Quadro 26 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 7º ano, p. 118.

Quadro 27 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 8º ano, p. 119.

Quadro 28 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 9º ano. p. 120.

Quadro 29 - Coleção História e vida integrada, p. 122.

Quadro 30 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 6º ano, p. 124.

Quadro 31 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 7º ano, p. 124.

Quadro 32 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 8º ano, p. 125.

Quadro 33 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 9º ano, p. 126.

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=== SUMÁRIO ===

Agradecimentos, p. vii

Lista de Abreviaturas, p. ix

Lista de Gráficos, p. x

Lista de Quadros, p. xi

Introdução, p. 1

Capítulo 1.

Livro didático, ensino de história e legislação: elementos para a compreensão da pes-

quisa histórica regional, p. 10

[1.1] Livro Didático (LD) como fonte e objeto para o ensino de História, p. 11

[1.2] Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Básica e Parâmetros Curriculares

Nacionais: a disciplina de História em foco, p. 24

[1.3] O ensino de História e seus conteúdos: um estudo acerca dos documentos orientadores

das propostas curriculares regionais, p. 31

[1.3.1] Primeiros passos rumo à normatização dos conteúdos escolares: Referencial Curri-

cular do Estado de Mato Grosso do Sul - edição 2008, p. 32

[1.3.2] Caminhando para a mudança: Referencial Curricular do Estado de Mato Grosso do

Sul - edição 2012, p. 37

[1.4] O processo de escolha do livro didático: implicações para o ensino, p. 41

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Capítulo 2.

Percursos históricos e fontes: um estudo sobre as coleções de livros didáticos adotadas

em Mato Grosso do Sul, p. 55

[2.1] A História regional: conceitos e componentes de ensino, p. 56

[2.1.1] Por dentro de Mato Grosso: aspectos históricos, p. 59

[2.1.2] A Divisão do Estado de Mato Grosso, p. 70

[2.2] A história regional a partir das coleções de ensino: mapeamento e localização em

Mato Grosso do Sul, p. 74

Capítulo 3.

Livro didático de História: indicativos para uma discussão do ensino de história regi-

onal, p. 87

[3.1] O livro didático e suas contribuições para o ensino da história de Mato Grosso e

Mato Grosso do Sul, p. 90

[3.1.1] Coleção Projeto Araribá – História, p. 93

[3.1.2] História Sociedade & Cidadania - nova edição, p. 100

[3.1.3] Coleção História – Das Cavernas ao terceiro milênio, p. 107

[3.1.4] Projeto Radix – História, p. 114

[3.1.5] História e Vida Integrada, p. 120

[3.2] História regional: conteúdos recorrentes nos livros didáticos de História do

PNLD 2011, p. 127

Considerações finais, p. 134

Fontes, p. 143

Referências, p. 144

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xv

Sites/Documentos, p. 154

Anexos, p. 155

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1

=== INTRODUÇÃO ===

O presente trabalho de dissertação propõe a análise de coleções de livros didá-

ticos de História que fizeram parte do Programa Nacional de Livros Didáticos PNLD

2011 e que circularam nas escolas estaduais de Mato Grosso do Sul, tendo por objeto de

pesquisa o Ensino de História regional no estado de Mato Grosso do Sul nos livros didá-

ticos de história do PNLD de 20111.

O objetivo do estudo está centrado na investigação de conteúdos de História

Regional nas coleções que mais foram adotadas durante o triênio do Programa Nacional

de Livro Didático PNLD 2011 e da possibilidade das coleções servirem como mais um

instrumento para o ensino de História regional.

A pesquisa do regional nos permite visualizar as especificidades e ou particula-

ridades dos acontecimentos históricos que, mesmo ocorridos nacionalmente, se apresen-

tam de formas diversas nas regiões, haja vista, as diferentes ações contraditórias geradas

pelos seres humanos.

De acordo com Janaína Amado,

[...] partindo de um quadro teórico da chamada “geografia críti-ca” (que incorpora as premissas do materialismo dialético e his-

tórico). [...] definem “região” como a categoria espacial que ex-pressa uma especificidade, uma singularidade, dentro de uma to-

talidade: assim, a região configura um espaço particular dentro de uma determinada organização social mais ampla, com a qual se articula2.

Face ao exposto, a relevância desse estudo está assentada na preocupação com

a disponibilização de materiais didáticos pelos PNLD’s que possibilitem de uma forma

1 É importante ressaltar as mudanças ocorridas em 1997 quanto à execução do PNLD. Com a extinção,

em fevereiro de 1997, da Fundação de Assistência ao Estudante (FAE), a responsabilidade pela política

de execução do PNLD é transferida integralmente para o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educ a-

ção (FNDE). O programa é ampliado e o Ministério da Educação passa a adquirir, de forma continuada,

livros didáticos de alfabetização, língua portuguesa, matemática, ciências, estudos sociais, história e ge o-

grafia para todos os alunos de 1ª a 8ª série do ensino fundamental público. http://www.fnde.gov.br. Aces-

sado em 3 de março de 2014. 2 AMADO, Janaína. História e Região: Reconhecendo e Construindo Espaços. In SILVA, Marcos A. da

(org.). República em migalhas: história regional e local. São Paulo: CNPq/Marco Zero, 1990. p. 8.

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mais abrangente o estudo da História da região de Mato Grosso/Mato Grosso do Sul. Há

livros didáticos e paradidáticos que pautam sobre a região, porém, não atendem toda a

região, pois são livros de pequenas tiragens se comparados com os do Programa Nacio-

nal de Livro Didático e que cobre quase 100% da região. Esse estudo aponta ainda a

necessidade desse material didático de História regional para suprir a carência de conte-

údos que são propostos pelo Referencial Curricular de Mato Grosso do Sul e, conse-

quentemente, para o ensino de História regional.

A partir do mapeamento das coleções, quantificações e sistematizações em

quadro e gráficos é que a pesquisa tomou forma quantitativa, o que revelou dados insti-

gantes para análise e a escrita do texto de dissertação.

As leituras feitas nas disciplinas, principalmente as de teoria da História, e de

bibliografias referentes ao tema de pesquisa foram essenciais, pois nos possibilitaram a

compreensão para efetivar as análises dos dados extraídos das fontes e documentos e

desse modo tonalizar a dissertação qualitativamente.

O processo de construção de uma narrativa envolve muito mais da subjetivida-

de do que se costuma admitir. A reflexão sobre a trajetória de vida e formação é essen-

cial para nos constituir como indivíduos e como seres humanos, justificando as escolhas

na vida pessoal e profissional.

Neste contexto histórico, ponho-me a narrar as motivações que me levaram ao

envolvimento com questões relacionadas ao ensino, suas formas de aprendizado e os

modos pelos quais se estrutura o pensamento em uma perspectiva histórica, especial-

mente com relação às formas e abordagens pelas quais se processa o ensino da discipli-

na de História. Nesse sentido e de acordo com Michel de Certeau, “todo sistema de pen-

samento está referido a ‘lugares’ sociais, econômicos, culturais etc.”3 Desse modo, as

experiências sociais e culturais são parte integrante do meu lugar social, o que contribui

para o entendimento do leitor dessa pesquisa.

O primeiro encontro acadêmico se dá após quatro anos terminado o então Se-

gundo Grau, ao ingressar no ensino superior no curso de Filosofia, em 1996, nas Facul-

dades de Filosofia, Ciência e Letras de Palmas (FAFI – PR), concluído em julho de

1999.

3 CERTEAU, Michel de. A Escrita da História. Tradução de Maria de Lourdes Menezes. 2 ed. Rio de

Janeiro: Forense Universitária, 2010, p. 66.

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3

No ano de 2000 fui chamado para substituir uma professora que se ausentara

do exercício profissional por questões de saúde, - as disciplinas a serem ministradas

eram filosofia e sociologia - na cidade de Coxim – Mato Grosso do Sul, onde passei a

residir por um período curto. Essa primeira experiência foi ímpar, e por meio da qual

senti que havia encontrado minha aptidão profissional, adquirindo atração e gosto pela

docência. Regressando a Mariópolis - Paraná, por questões familiares, sinalizou-se a

possibilidade de dar continuidade ao processo de formação docente, desta vez no curso

de História, que seria realizado na mesma Instituição que fizera anteriormente o de Filo-

sofia. Mas a nova conjuntura de responsabilidades assumidas não possibilitou o ingres-

so no curso e abortei uma paixão que nascera ainda quando cursava Filosofia.

Passado dois anos e com os compromissos findados, fui convidado a retornar

para Coxim, com uma proposta de emprego em vista e a possibilidade de voltar a estu-

dar. De volta à cidade, prestei vestibular para o curso de História no novo campus da

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) que tinha se instalado na cidade

há um ano e que ofertava o curso de História, curso esse que almejava fazer. Em 2002

fui contemplado com uma vaga no curso.

O retorno aos bancos escolares, na universidade, fez novamente renascer o gos-

to pelo estudo e o ensino. Em 2004, assumi a disciplina de filosofia em duas escolas

públicas de Coxim e em 2006 assumi o ensino de História do Ensino Fundamental de

quinta a oitava série na Escola Estadual Silvio Ferreira, também no município de Co-

xim.

O contato com ensino de História resultou em muitos questionamentos dentre

os quais as dissonâncias existentes entre os referenciais curriculares e o ensino de Histó-

ria, percebida durante o estágio supervisionado e as discussões realizadas nas disciplinas

de prática de ensino. O escasso material, a falta de maturidade pedagógica e o descom-

passo com a realidade local tornaram mais árduos o ato de lidar com o ensino de Histó-

ria, mas, desses desencontros e questionamentos resultou o interesse para a escolha da

área de pesquisa em História, da qual resultou no Trabalho de Conclusão de Curso

(Monografia - TCC) apresentado em 2008, intitulado “Ensino de História e Historicida-

de: das LDB’s à História e Cultura Afro-Brasileira”.

No ano de 2009, fiquei afastado da docência por motivos particulares, só retor-

nando em 2010 para sala de aula. Esse período de afastamento do ensino de História e

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Filosofia tornou-se importante no que tange a uma reavaliação do método de ensino

adotado durante os anos que se passaram bem como sinalizaram a necessidade de reto-

mar estudos no âmbito institucional.

A ânsia de tornar a estudar e participar academicamente do círculo de discus-

sões sobre a temática levou a procurar um curso de especialização na área. Em 2012

comecei o curso “Lato Sensu” em Metodologia do Ensino de História e Geografia, e

finalizando o após a apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso (artigo) intitulado

“Produção Acadêmica Acerca do Livro Didático de História: Apontamentos”, em abril

de 2013.

Concomitante ao curso de Especialização nasce o interesse em aprofundar es-

tudos, em curso de Mestrado. A familiarização inicial e o interesse contínuo pelo ensino

de História deram origem ao projeto. Para seleção foi apresentado o projeto de pesquisa

intitulado “Entre o regional e o nacional: Mato Grosso nos Livros Didáticos De História

– PNLD 2008 e as Práticas na Sala de Aula”. Com o projeto aprovado e dentre outros

quesitos fui admitido como aluno regular do Programa de Pós-Graduação de História da

Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

Após o ingresso no curso, o projeto inicial, mediado pelos diálogos com o pro-

fessor orientador, disciplinas cursadas e leituras realizadas sobre o tema foi tomando

forma de pesquisa. Essa pesquisa busca realizar um estudo mais detalhado do ensino de

História Regional nos livros didáticos de história, cuja compreensão está alicerçada aos

processos pelos quais se dá escolha do livro didático a serem utilizados nas escolas.

Sobre a escolha4 e distribuição busca-se descrever a quem cabe à responsabilidade em

cada instância do processo. Não buscamos nesse trabalho discutir e analisar como se dá

o processo de escolha pelos profissionais, mas entendemos que essa discussão é neces-

sária para conhecer os caminhos percorridos para que a escolha do material se efetive.

4 Segundo MATOS & SENNA: OS editais do PNLD possuem duas fases principais: a primeira é marcada

pela candidatura dos livros para avaliação e posterior liberação da listagem dos indicados; a segunda é a

fase na qual os professores, a partir dessa listagem, escolhem quais livros utilizarão em suas salas de aula.

A estrutura do Programa é complexa e, portanto, pouco ágil, mas tem se mostrado eficaz. MATOS, Júlia

Silveira; SENNA, Adriana Kivanski de. Estados, editoras e ensino: o papel da política na produção, avali-

ação e distribuição dos livros didáticos de História no Brasil (1938-2012). Revista História Hoje, vol. 2,

n. 4, 2013, p. 213-240.

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Outro dado que agrega interesse à pesquisa sobre o tema diz respeito à partici-

pação, como docente da disciplina de história, na escolha de livro didático5 de história

no ano de 2007, PNLD de 2008. Essa experiência deixou marcas e questões a serem

respondidas quanto ao processo e critérios na escolha do livro didático. À época não

tivemos acesso ao Guia de livro didático e tão pouco as coleções que foram avaliadas e

recomendadas pelo PNLD – naquele ano composta por 19 títulos. Seguiam os questio-

namentos e inquietações: Que critérios utilizar para não prejudicar o ensino de história e

o aprendizado dos discentes? Que coleção escolher se o Referencial Curricular/MS che-

garia só no ano seguinte? Priorizar qual abordagem historiográfica? Essas questões, e as

ausências de respostas, foram as que mais pesaram na escolha da coleção.

De acordo com alguns colegas, o importante era escolher o livro didático que

tivesse mais atividades e exercícios, outros já falavam em priorizar o que tinha mais

conteúdo, outros a coleção mais ilustrada e outros diziam ainda que qualquer um ser-

viria para deixar na prateleira, pois iriam seguir a seleção de conteúdos e exercícios

propostos por eles mesmos. Por fim, sob minha conta e risco, fiz a escolha de uma cole-

ção e passei a secretária da escola para registrar o pedido6. É importante salientar que

nenhum momento o diálogo estabelecido pelos professores fluiu para análise das con-

cepções de História, subjacentes para nós, nas coleções de livro didático.7

De acordo com um levantamento, feito por mim no ano de 2013, já quando era

aluno do Mestrado e estava iniciando o mapeamento para a pesquisa, sob a escolha de

5 Segundo Circe Bittencourt, “A complexidade da natureza desse produto cultural explica com maior

precisão o predomínio que exerce como material didático no processo de ensino e na aprendizagem da

disciplina, qualquer que seja ela. O livro didático tem sido, desde o século XIX, o principal instrumento

de trabalho de professores e alunos, sendo utilizado nas mais variadas salas e condições pedagógicas,

servindo como mediador entre a proposta oficial do poder expressa nos programas curriculares e o conhe-

cimento escolar ensinado pelo professor”. BITTENCOURT, Circe. Livros didáticos entre textos e ima-

gens, in: O saber histórico na sala de aula. 2 ed. São Paulo: Contexto, 1998, p. 69-90. 6 Essa experiência profissional mexeu com a minha (in) capacidade intelectual de formação é o sentimen-

to que me tomou naquele momento. Mas de acordo com Olinda Evangelista e Eneide Oto Shiroma,

“Conquanto os professores não participem como interlocutores legítimos da definição de diretrizes ed u-

cacionais são –junto com a escola- alvo preferencial de desqualificação política e profissional, especial-

mente nos documentos do Banco Mundial. Pelo menos dois tipos de argumentos sustentam tal investida.

De um lado, argumenta-se que o professor é corporativista, obsessivo por reajustes, descomprometido

com a educação dos pobres, um sujeito político do contra. De outro, que é incapaz teórico -

metodologicamente, incompetente, responsável pelas falhas na aprendizagem dos alunos, logo – em últi-

ma instância – por seu desemprego”. EVANGELISTA, Olinda; SHIROMA, Eneida Oto. Professor: pro-

tagonista e obstáculo. Educação e Pesquisa, São Paulo, vol. 33, n. 3, set/dez, 2007, p. 536. 7 De acordo com Henry A. Giroux, “Em vez de aprenderem a refletir sobre os princípios que estru turam a

vida e prática em sala de aula, os futuros professores aprendem metodologias que parecem negar a própria

necessidade de pensamento crítico”. GIROUX, Henry A. Os professores como intelectuais: rumo a uma

pedagogia crítica da aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997, p. 157-164.

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livro didático de história realizado pelo PNLD de 2008, a coleção de que foi naquela

época escolhida por mim8 foi à mesma da maioria das escolas do município de Coxim.

Fiquei surpreso já que na área de história era a primeira vez que participava de uma es-

colha de livro didático, esse dado deixou claro que o despreparo e ou a falta de orienta-

ção dos professores na escolha dos livros é geral, mas cada um parte dos princípios

aprendidos na sua formação de graduação para atender as necessidades mínimas refe-

rentes ao ensino daquela disciplina.

Cursadas as disciplinas no Programa de Pós Graduação em História, voltando-

se a pesquisa, o projeto inicial tomou outro rumo. A proposta inicial objetivava analisar

os livros didáticos indicados pelo PNLD de 2008, e adotados em Mato Grosso do Sul.

Verificada a impossibilidade de localizar e obter as cinco coleções de livro didático de

história que mais foram adotadas no ensino de sexto ao nono ano do Ensino Fundamen-

tal, tendo em vista que esse material, ao final do seu triênio de uso é repassado para des-

carte ou incineração, passamos a busca por um triênio mais próximo, a escolha e distri-

buição do PNLD de 2011.

Mas antes dessa mudança buscamos informações sobre as coleções do PNLD

2008, nos escritórios das editoras de Campo Grande, capital do Estado, na Secretaria

Estadual Educação de Mato Grosso do Sul, no setor de livro didático – COTEC, nas

escolas estaduais, com professores e alunos. Entramos em contato com a sede das edito-

ras e com o Ministério da Educação (MEC) no setor que é responsável pela distribuição

de livro didático. No entanto, a informação sobre o triênio do PNLD 2008, é que já teria

passado o prazo de utilidade e foi reciclado, o que impossibilita a localização, nesse

curto período de tempo, e análise das coleções. Estava sendo cometida uma “atrocidade

com a história”; esse foi o meu pensamento perante a informação recebida.

A alteração do período delimitador levou-nos a um novo mapeamento e locali-

zação dos Livros didáticos de história que fizeram parte do PNLD de 2011. No entanto

8 É difícil de admitir sem fazer considerações, a preocupação mais latente há época era o novo Referenc i-

al curricular que viria em 2008, sabendo que a escolha do livro didático foi em 2007 e a sugestão para o

novo referencial curricular também assim o foi, caberia de certa forma intuitiva, escolher um livro didát i-

co que se alinhasse ao novo referencial curricular, pois tínhamos visualizado a proposta de ensino de

história regional proposta pela SED-MS. Conhecedor dos limites quanto ao conhecimento regional optei

pela coleção que “mais parecia ter menções a região de Mato Grosso/Mato Grosso do Sul”. Minha surpre-

sa quando fiz o levantamento das coleções em 2013 é que possivelmente os outros professores tiveram

semelhante critério para a escolha. Muitas vezes se nega o uso do livro didático, mas o que me pareceu há

época é que longe de se promover um diálogo sobre metodologia e de concepções de história se opta por

um livro que dê menos trabalho.

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para dar conta dessa mudança, tivemos que percorrer caminhos que já havíamos trilha-

do, como o mapeamento de todas as escolas públicas estaduais de ensino de sexto a no-

no ano do Ensino Fundamental, elaborar tabelas e gráficos, incorporar o Referencial

Curricular/MS de 2012 na análise e, por fim, chegar a ponto de partida para a escrita da

dissertação.

Face ao exposto, o texto que segue apresenta-se estruturado em três capítulos

com suas respectivas subdivisões de acordo com as necessidades que se apresentaram

durante as análises empreendidas às fontes pesquisadas.

O primeiro capítulo, intitulado “Livro didático, ensino de história e legislação:

elementos para a compreensão da pesquisa histórica regional” apresenta um panorama à

discussão pertinente ao livro didático, buscando realizar a interface com a legislação de

ensino, bem como os dispositivos que orientam e regulam a adoção deste material nas

escolas publicas brasileiras.

As possibilidades de escrita da história são dadas a partir de inúmeros olhares.

Tais olhares podem, e em muitos casos devem, ser orientados por intermédio das fontes

que possibilitam ao estudioso da história entender percursos, opções metodológicas e

formulações teóricas para investigar determinados campos de pesquisa.

A organização interna deste capítulo reflete a necessidade em se compreender

o livro didático como objeto em si, mas, sobretudo como fonte para a pesquisa em His-

tória, tendo em vista que se constitui em instrumento de ampla e obrigatoriamente utili-

zado para efetivar o ensino dos conteúdos escolares, sobretudo em instituições públicas

de ensino.

Ao lado dos estudos que asseguram a importância das pesquisas realizadas so-

bre o tema, enfocaram-se as legislações (documentos oficiais) pertinentes ao ensino da

disciplina de História, cujos livros didáticos examinados nesta dissertação de mestrado

dizem respeito. A opção por este tipo de abordagem justifica-se na necessidade de com-

preender de que modo os mecanismos legais, legitimadores das ações relativas ao uso

do material em espaços de ensino, dispõem sobre a regulamentação e os conteúdos para

o ensino da disciplina.

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8

Ao partir das Diretrizes Curriculares Nacionais9 para o ensino de história, pas-

sando pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), elaborados em esfera nacional,

buscou-se perceber em que medida o ensino de história em Mato Grosso do Sul opera-

cionalizava tais normatizações, abordagem também presente neste capítulo, com o exa-

me dos referenciais curriculares de Mato Grosso do Sul para o Ensino Fundamental dos

anos finais.

Ao detalhar o processo de escolha do Livro Didático, tornou-se possível com-

preender os meandros que envolvem essa prática administrativo-pedagógica do governo

federal como meio de proporcionar material gratuito e assegurar um ensino de qualidade

e universal como estabelece Plano Nacional de Educação (PDE).

O segundo capítulo, intitulado “Percursos históricos e fontes: um estudo sobre

as coleções de livros didáticos adotadas em Mato Grosso do Sul”, objetiva apresentar e

discutir aspectos relativos a especificidades das fontes, sem, no entanto, apresentar as

abordagens que constituem o problema de pesquisa a ser encaminhado através da con-

clusão desta dissertação, estando organizado a partir de três eixos básicos de condução,

a saber: a apresentação de uma releitura da produção bibliográfica pertinentes à história

de Mato Grosso e da criação de Mato Grosso do Sul ao lado da discussão teórico meto-

dológica da produção de uma história tipicamente regional sem, no entanto, estar des-

vinculada da história nacional; a apresentação e discussão dos dados coletados a partir

dos sistemas de controle e distribuição dos livros didáticos em Mato Grosso do Sul nos

anos do PNLD de 2011 e o encaminhamento das coleções selecionadas para objetivar a

análise relativa aos temas pertinentes a Mato Grosso e Mato Grosso do Sul identificados

nos materiais didáticos que circularam nas escolas no período em exame.

O terceiro capítulo, intitulado “Livro didático de História: indicativos para uma

discussão do ensino de história regional”, objetiva apresentar e discutir o mapeamento e

análise dos conteúdos referentes à História regional nas cinco coleções de livros didáti-

cos de história que fizeram parte do PNLD de 2011 e que tiveram mais adesão pelas

9 De acordo com Circe Bittencourt, “Para a maioria das propostas curriculares, o ensino de História visa

contribuir para a formação de um “cidadão crítico”, para que o aluno adquira uma postura crítica em

relação à sociedade em que vive. As introduções dos textos oficiais reiteram, co m insistência, que o ensi-

no de História, ao estudar as sociedades passadas, tem como objetivo básico fazer o aluno compreender o

tempo presente e perceber-se como agente social capaz de transformar a realidade, contribuindo para a

construção de uma sociedade democrática”. BITTENCOURT, Circe. Livros didáticos entre textos e ima-

gens, in: O saber histórico na sala de aula. 2 ed. São Paulo: Contexto, 1998, p. 69-90.

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escolas estaduais do estado de Mato Grosso do Sul. Na intenção de apresentar e discutir

as formas de abordagens da história de Mato Grosso do Sul a partir dos dispositivos

didáticos utilizados para seu ensino, tendo em vista que nos materiais didáticos utiliza-

dos nas escolas públicas do estado, analisado, observou-se pouca inserção de conteúdos

referentes à história regional, antes e após a sua divisão territorial.

A escolha destas fontes justifica-se na importância e representatividade que

possuem para o ensino nas escolas estaduais de Mato Grosso do Sul, sendo que é consi-

derado instrumento em potencial para tratar de questões históricas regionais.

Desse modo, buscou-se nas coleções de livros didáticos, por ser material pri-

mordial para o ensino e ter sua distribuição financiada pelo Programa Nacional do Livro

Didático (PNLD 2011), por todo território Nacional, conteúdos que viabilizem o ensino

de história regional, entendendo que a história de Mato Grosso relaciona-se a um espaço

geográfico temporal que perpassa da capitania de São Paulo, à criação de Mato Grosso,

chegando à divisão, em 1977, até eventos recentes.

Acredita-se que pesquisas dessa natureza possam fomentar apontamentos da

existência de referenciais bibliográficos para o estudo de História/Historiografia regio-

nal e, concomitantemente, promover um diálogo fecundo quanto à questão de escolha

de livros didáticos e o ensino de História que se aproxime a realidades históricas de nos-

sa região.

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=== CAPÍTULO 1 ===

LIVRO DIDÁTICO, ENSINO DE HISTÓRIA E LEGISLAÇÃO:

elementos para a compreensão da pesquisa histórica regional

As possibilidades de escrita da história são dadas a partir de inúmeros olhares.

Tais olhares podem, e em muitos casos devem, ser orientados por intermédio das fontes

que possibilitam ao estudioso da história entender percursos, opções metodológicas e

formulações teóricas para investigar determinados problemas de pesquisa. Nesse senti-

do, o presente capítulo objetiva apresentar questões inerentes à pesquisa histórica que

tem como fonte de investigação o livro didático para o ensino da referida disciplina,

pousando o foco em alguns aspectos para subsidiar as análises que se pretende realizar

nos capítulos posteriores.

A estrutura que segue orienta-se a partir da necessidade de compreender se há

presença ou ausência da história regional do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul no li-

vro didático. Desse modo, utilizaremos nesse trabalho o livro didático como fonte ou

domínio para a pesquisa em História, tendo em vista que se constitui em instrumento

presente no cotidiano das práticas pedagógicas de professores e alunos da rede pública e

particular de ensino no Brasil, utilizado para efetivar o ensino dos conteúdos escolares,

procedimento igualmente adotado nas escolas de Mato Grosso do Sul, espaço geográfi-

co no qual o estudo incide suas preocupações.

Ao lado dos estudos que asseguram a importância das pesquisas realizadas so-

bre o tema, optou-se por retomar a documentação orientadora das diretrizes para o ensi-

no de história em âmbito nacional e regional, na tentativa de encaminhar a análise dos

capítulos seguintes, tendo em vista que os livros didáticos examinados nesta dissertação

de mestrado dizem respeito a temas pertinentes aos conteúdos desta disciplina e as for-

mas de abordagem nos anos finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano). Esse recorte

justifica-se na necessidade de compreender de que modo os mecanismos legais, legiti-

madores das ações relativas ao uso do material em espaços de ensino, dispõem sobre a

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regulamentação e os conteúdos para o ensino da disciplina em relação às especificidades

regionais.

O período que perfaz as análises apresentadas circunscreve-se entre os anos de

2008 a 2012 por observar, de acordo com a documentação emanada do poder público

(Diretrizes Curriculares Nacionais e Referenciais Estaduais) certa mudança nas inser-

ções de temário referente a outras localidades que não apenas àquelas comumente con-

templadas nos grandes eventos de ordem nacional, delineando um ensaio de ensino de

história regional, que deveria apresentar reflexos nos livros didáticos do Estado de Mato

Grosso do Sul.

Ao partir das Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensino de história, pas-

sando pelos Parâmetros Curriculares elaborados em esfera nacional, buscou-se perceber

em que medida o ensino de história em Mato Grosso do Sul operacionalizava tais nor-

matizações, abordagem que se evidencia com o exame dos Referenciais Curriculares

para os anos finais do Ensino Fundamental.

Apoiando esse debate, a discussão encaminha a descrição e análise das formas

de estruturação dos processos de escolha dos livros didáticos, cujo processo tornou-se

institucionalizado por meio do PNLD, por considerar que aspectos que regulam a pro-

dução, difusão e escolha dos livros didáticos auxiliam no conhecimento dos processos

de circulação desse material, com implicações para o contexto escolar.

[1.1] Livro Didático (LD) como fonte e objeto para o ensino de História

A discussão acerca da produção e usos de livros didáticos na contemporanei-

dade torna-se relevante, haja vista iniciativas e orientações governamentais incentivando

a escolha e o uso deste material em todas as escolas do país. O estudo realizado por Mo-

reira e Silva, contribui para o entendimento de que,

A investigação sobre o LD no Brasil intensifica-se a partir da década de 1970, ganhando fôlego nas décadas posteriores, tendo em vista a difusão do LD com o processo de “democratização de ensino” que se inicia no país a partir da segunda metade do século XX. O LD aparece como solução para suprir a falta de professores qualificados nesse pe-

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ríodo de expansão da demanda por vagas e, consequentemente, por escolas.

10

Ainda, na perspectiva histórica Alain Choppin complementa:

É no decorrer dos anos 1970, que os historiadores começam a mani-festar um real interesse pelo livro e pela edição escolares. O fim da década testemunha essa tomada de consciência com a publicação, quase concomitante, de contribuições que sublinham a importância que revestiu o manual como fonte para os historiadores da educação, em diferentes países.

11

No entanto, o mesmo autor em outro artigo destaca que o livro didático12 possui

outros parceiros no processo educativo escolar, os quais são de igual importância ou de

função complementar. Portanto, a ressalva quanto à importância do livro didático, feita

por Choppin, está imbuída de afirmar a importância do livro didático mesmo existindo

outros instrumentos de igual equivalência, pois se tornou indissociável desses o LD.

No Brasil, o incentivo ao uso dos livros didáticos se fortalece a partir de 1985

com o surgimento do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD)13. Tais ações vêm

sendo orientadas por meio de campanhas pela escolha de livros didáticos, propagandea-

das pelo Ministério da Educação (MEC), bem como da institucionalização de programas

de roteirização e produção de guias para orientar essas escolhas, aliadas às práticas coti-

10

MOREIRA, Kenia Hilda e SILVA, Marilda. Um inventário: o livro didático de História em pesquisas

(1980-2005). São Paulo: Ed. UNESP, 2011, p. 17-18. 11

CHOPPIN, Alain. O historiador e o livro escolar. Revista História da Educação . Pelotas, (11), abr.

2002, p. 11. 12

“O livro didático não é, no entanto, o único instrumento que faz parte da educação da juventude: a

coexistência (e utilização efetiva) no interior do universo escolar de instrumentos de ensino -aprendizagem

que estabelecem com o livro relações de concorrência ou de complementaridade influi necessariamente

em suas funções e usos. Estes outros materiais didáticos podem fazer parte do universo dos textos impres-

sos (quadros ou mapas de parede, mapas múndi, diários de férias, coleções de imagens, “livros de prê-

mio” – livros presenteados em cerimônias de final de ano aos alunos exemplares – enciclopédias escola-

res...) ou são produzidos em outros suportes (audiovisuais, softwares didáticos, CD-Rom, internet, etc.).

Eles podem, até mesmo, ser funcionalmente indissociáveis, assim como as fitas cass ete e os vídeos, nos

métodos de aprendizagem de línguas. O livro didático, em tais situações, não tem mais existência inde-

pendente, mas torna-se um elemento constitutivo de um conjunto multimídia”. CHOPPIN, Alain. História

dos livros e das edições didáticas: sobre o estado da arte. Educação e Pesquisa. São Paulo, vol. 30, n. 3,

set./dez. 2004, p. 553. 13

O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) é o mais antigo dos programas voltados à distribuição

de obras didáticas aos estudantes da rede pública de ensino brasileira e iniciou -se, com outra dominação,

em 1929. Ao longo desses 80 anos, o programa foi aperfeiçoado e teve diferentes nomes e formas de

execução. Atualmente, o PNLD é voltado à educação básica brasileira, tendo como única exceção os

alunos da educação infantil.

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dianas as quais, em se tratando de escola pública, fortalecem, para os professores, a sua

utilização, e para os pesquisadores a necessidade de discutir suas formas de apropriação.

As pesquisas de Moreira e Silva apontam a necessidade de fomentar pesquisas

sobre livros didáticos nos cursos de Pós-Graduação em História, alcançando apenas a

marca de 30% das pesquisas, que em suas análises concentram-se na região Sudeste14.

Há que se considerar, ainda, os apelos editoriais na elaboração dos livros didá-

ticos e estes, via de regra, ao predominarem na orientação do processo escolar, interfe-

rem de forma prejudicial na aprendizagem. Uma análise avaliativa deste material torna-

se imprescindível para que esta ferramenta de apoio ao professor estimule favoravel-

mente o ensino.

Várias publicações sobre o ensino de História, em forma de revistas, anais, artigos, teses e dissertações, foram produzidas nesse período, gerando uma significativa literatura especializada nesse tema, preocu-pada em redefinir as finalidades, os conteúdos e a metodologia para essa disciplina. Como exemplo dessas publicações há: Caminhos da história ensinada, de Fonseca (1973), que trata da substituição do en-sino de História e Geografia por Estudos Sociais com a Lei 5.692/71; Repensando a história, organizada por Marcos Silva a partir de uma moção encaminhada à sessão administrativa do 6º. Encontro da Asso-ciação Nacional dos Professores Universitários de História, Anpuh, realizado em Assis, campus da Unesp, de 6 a 10.9.1982; O ensino de história: revisão urgente, de Cabrini et al. (1986); O ensino de história e a criação do fato, organizada por Pinsky(1988); História em quadro negro: escola, ensino e aprendizagem, sob responsabilidade de Marcos Silva (1989; 1990); e O saber histórico na sala de aula, organizada por Bittencourt (1997), entre outros. Sem a pretensão de esgotar, registra-mos ainda três autoras amplamente reconhecidas na literatura sobre ensino de História a partir desse período: Dea Ribeiro Fenelon (1982), Kátia Abud (1984) e Elza Nadai (1992/1993).

15

Face ao exposto, recensear algumas das pesquisas que abordaram o livro didá-

tico de história, seja como fonte ou como objeto para evidenciar aspectos inerentes à

área, tornou-se oportuno na tentativa de perceber como as pesquisas vinham se deline-

ando no estado, afinal como afirma Marcus Vinicius de Moraes, “o poder da História

encontrada nos livros didáticos e ensinada nas escolas é grande, mesmo que imperceptí-

14

MOREIRA, Kenia Hilda e SILVA, Marilda. Um inventário: o livro didático de História em pesquisas

(1980-2005). São Paulo: Ed. UNESP, 2011, p. 187. 15

Idem, 2011, p. 21-22.

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14

vel.”16 Por se tratar de pesquisa que busca compreender a abordagem regional para os

conteúdos históricos, considerou-se oportuno examinar a produção sobre o tema nos

Programas de Pós Graduação em História e Educação sediadas no Estado de Mato

Grosso e Mato Grosso do Sul.

Em Mato Grosso identificou-se no Programa de Pós-Graduação em Educação

da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT - duas dissertações que utilizam o

livro didático de história como fonte ou como objeto de estudo: Friozo (1995)17 e Silva

(2013)18.

Em Silva observa-se a utilização dos livros didáticos como fonte para, entre os

anos de 1889 – 1930, analisar as várias formas que o Estado de Mato Grosso era repre-

sentado realizando metodologicamente dois movimentos: o primeiro é a análise de li-

vros didáticos de história escrita por autores que não eram da região (Estado Mato Gros-

so), os quais construíram e deixaram registrados nos livros uma imagem de “represen-

tação” da região como sendo uma terra sem lei “de gente incivilizada e violenta”. Esse

tipo depreciativo de representação está vinculado ao “imaginário coletivo das elites

litorâneas”. Quanto ao segundo movimento, são analisados livros didáticos de história

em que os autores eram do Estado de Mato Grosso. Estes autores, afrontando a constru-

ção negativa dos litorâneos, “passaram a construir representações locais que contestas-

sem aquelas vindas do litoral”. Como podemos observar, a dissertação trabalha dois

conceitos sempre presentes em cada capítulo, o “imaginário e representações”, alinha-

vados ao livro didático de história, faz emergir o poder da construção histórica pelo his-

toriador.

No Programa de Pós-Graduação em História, da Universidade Federal de Mato

Grosso (UFMT), nenhuma dissertação sobre livro didático e suas relações com ensino

de história foram encontradas.

16

MORAES, Marcus Vinícius de. História Integrada, in: PINSKY, Carla Bassanezi (org.). Novos temas

nas aulas de história. São Paulo: Contexto, 2009, p. 201-217. 17

FRIOZO, Ilda. Em busca do sujeito perdido de história de 1º grau. Dissertação (Mestrado em Educa-

ção). Universidade Federal de Mato Grosso. Cuiabá, 1995. 18

SILVA, Aparecido Borges da. Mato Grosso nos livros didáticos de História (1889-1930): imaginários

e representações. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Federal de Mato Grosso. Cuiabá,

2013.

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15

Em Mato Grosso do Sul, o levantamento realizou-se no Centro de Documenta-

ção Regional (CDR), sediado na Universidade Federal da Grande Dourados19 (UFGD),

não sendo identificados trabalhos que versavam sobre o tema, bem como na Biblioteca

Central da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

Com base nesse exercício de levantamento e localização, entendemos que en-

frentar a discussão de questões relacionadas ao ensino de história regional no Ensino

Fundamental, anos finais, não parece ter chamado a atenção dos pesquisadores até o

momento nessa região. A aparente ausência de inserções ligadas ao território mato-

grossense gera uma série de questionamentos, sobretudo quando examinados os refe-

rencias curriculares estaduais para o ensino de história, que trazem, ainda que de modo

breve, pontos referentes à história do Estado para serem ensinados como conteúdos

formais.

Tradicionalmente visto como parceiro do professor no ambiente escolar é im-

portante ressaltar que muitas das apropriações sobre o uso dos livros didáticos são feitas

sem conhecimento efetivo do material. Esta indicação quando promovida por institui-

ções credenciadas e investidas de legitimidade, no campo das formulações de propostas

metodológicas e políticas educacionais e autoridade intelectual de seus autores, garante

e confere, pretensamente, o argumento da qualidade garantindo ao material a condição

de ser utilizado e, indiretamente, atribuindo aos professores, caso não obtenham bons

resultados a partir de seu uso, a condição de despreparados para tal empreitada.

O processo de profissionalização docente deve contar com momentos de dis-

cussões acerca de materiais didáticos, sobretudo tratando-se de profissionais formados

para atuação no ensino de História. Jaime Cordeiro destaca pontos para reflexão nos

processos de ensino e de aprendizagem que valem a pena ser considerados, especial-

mente quando se trata da escolha de instrumentos que visam a auxiliá- los.20

19

Cf. Kênia Hilda Moreira, ao tratar o tema Livro Didático como fonte, elabora um balanço das pesqu isas

em história da educação produzidas na região Centro-Oeste do Brasil. “As produções referem-se às co-

municações apresentadas em anais de congressos acadêmicos na região, a saber: os Encontros de História

da Educação do Centro-Oeste (EHECO, I em 2011 e II em 2013) e os três últimos Encontros de Pesquisa

em Educação da Associação Nacional de Pesquisadores da Educação (Anped) Centro -Oeste (9ª em 2008;

10ª em 2010; e 11ª em 2011)”. MOREIRA, Kênia Hilda; PASSONE, Eglem de Oliveira; NEVES, Samara

Grativol. O Livro Didático como Fonte de Pesquisas em História da Educação no Centro Oeste: entre

temas, períodos e métodos. Revista História e Diversidade, vol. 4, n. 1, 2014, p. 111-125. 20

“Quando se fala no processo de ensino e aprendizagem, corre-se o risco de adotar uma descrição ideali-

zada, que tende a considerar isoladamente os atores sociais envolvidos. Assim, pensa-se muitas vezes que

basta um professor bem preparado, como um bom planejamento e bom domínio de conteúdos e dos mé-

todos, aliado a um conjunto de alunos individualmente bem motivados e dotados de condições prévias

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A expressão classificação/caracterização livro didático é recente na historiogra-

fia da educação brasileira. Já o uso de materiais com estas características nem tanto.

Qualificados como manuais escolares, manuais didáticos ou, ainda, manuais pedagógi-

cos, localizam-se referências a materiais elaborados com características de compêndios

e com objetivo de sistematizar conhecimentos em determinadas áreas de saber, utilizan-

do-se de linguagem direcionada àqueles que se dedicavam ao ensino, ou estudos autodi-

datas, desde o final do século XVIII.

Os manuais didáticos se tornaram instrumentos para auxiliar o profes-sor e, principalmente, para formá-lo de acordo com as novas necessi-dades postas para a escola, pois expressavam também os valores, os conhecimentos considerados necessários para a formação das crianças e jovens, e, por meio de seus textos e suas imagens, a instituição esco-lar poderia construir consensos e homogeneidade cultural.

21

No tocante à disciplina de História, sendo um lugar privilegiado de ensino e

construção do passado, Jaime Francisco Cordeiro enfatiza que a História como discipli-

na se tornou meio pelo qual umas séries de medidas no sentido de reforçar uma deter-

minada concepção sobre o passado, estando desde os seus primórdios associada ao

ensino do civismo, no intuito de formar cidadãos bem comportados.22 Os feitos políti-

cos e as datas comemorativas dos acontecimentos “históricos” foram o baluarte dessa

concepção de história que direcionavam os professores em sua metodologia de ensino a

repetirem, de forma oral, uma história factual verdadeira e acabada. Ao aluno restava

decorar e regurgitar no dia da prova.

Nesta perspectiva, Maria Stephanou destaca que:

o ensino de história, mais do que outras disciplinas escolares, tem se constituído em solo fértil para a memorização, a repetição, o monólo-go do professor, um espaço propício para a ideia do saber pronto, aca-bado, que resta apenas transmitir. Embora insistentemente apontada pelos autores e reconhecida diante dessa crítica, tanto os professores

consideradas satisfatórias (tais como boa nutrição, posse dos pré-requisitos cognitivos e boa disposição),

que tudo se passará bem: o professor conseguirá ensinar e os alunos conseguirão aprender. Qualquer

insucesso com base nessa perspectiva, só poderá ser devido a alguma deficiência ou carência situada no

plano individual”. CORDEIRO, Jaime Francisco P. Didática. São Paulo: Contexto, 2007, p. 97. 21

VALDEMARIN, Vera Teresa; PINTO, Adriana Aparecida. Das formas de ensinar e conhecer o mun-

do: lições de coisas e método de ensino intuitivo na imprensa periódica educacional do século XIX. Re-

vista Educação em Questão. Natal, vol. 39, n. 25, set./dez., 2010, p. 168. 22

CORDEIRO, Jaime Francisco P. A História no centro do debate: as propostas de renovação do ensino

de História nas décadas de setenta e oitenta. Araraquara: Laboratório Editorial; Cultura Acadêmica, 2000,

p. 43.

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17

quanto os estudantes acabam não tendo experiência ou não encontran-do uma alternativa que escape à exposição oral, textos, questionários, decoreba, maniqueísmos e grosseiras simplificações sugeridas pelos manuais escolares que predominam no ensino desta área do conheci-mento.

23

Não bastando somente elevar a educação a um nível diferente do que ela vinha

ocupando até então, observa-se também a preocupação com os métodos de ensino, pois

não seria suficiente ensinar, sendo necessário, primeiramente, saber ensinar. A adoção

de materiais de ensino, para além de trazer maior organicidade aos processos didáticos,

torná-lo-ia mais produtivo, sistematizado proporcionando um atendimento mais rápido e

eficaz às necessidades do regime; juntamente com a preocupação dos métodos estava a

necessidade de preparar os professores para desenvolvê-los a contento do que se espera-

va.

Tomando de empréstimo a análise de Circe Bittencourt acerca dos livros didá-

ticos de História, observa-se que:

[...] o ensino de história associava-se a lições de leitura para que se aprendesse a ler utilizando temas que incitassem a imaginação dos meninos e meninas e fortificassem o senso moral por meio de deveres para com a Pátria e seus governantes (...) desde o início a proposta de ensino de história voltava-se para uma formação moral e cívica, con-dição que se acentuou no decorrer dos séculos XIX e XX.

24

A contribuição da disciplina de história para a anulação de um passado de lutas

e disputas e homogeneização da cultura escolar, tomando os fatos e acontecimentos

como unidirecionais, de cunho salvacionista, se coaduna com os interesses desta escola

que estava se organizando por ocasião dos interesses republicanos.

A discussão acerca do ensino de história passava pelo slogan da matéria deco-

rativa, face ao tempo exíguo dentro dos currículos escolares que impossibilitam o de-

senvolvimento de um trabalho mais aprofundado no currículo havendo assim uma forte

tendência a atividades mais práticas e objetivas em detrimento das reflexivas.25 Por ou-

tro lado, durante muito tempo, a história foi vista como disciplina que visava ao apren-

23

STEPHANOU, Maria, Instaurando maneiras de ser, conhecer e interpretar. Revista Brasileira de Histó-

ria. São Paulo, vol. 18, n. 36, 1998, p. 15-38. 24

BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cor-

tez, 2004, p. 61. 25

Cf. BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo:

Cortez, 2004.

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18

dizado factual de uma dita ‘história dos vencedores’, sem grandes possibilidades de

intervenção, questionamento ou crítica, por parte dos alunos, sobretudo entre os anos de

1964 a 1985.26

Acredita-se que o uso do livro didático situa-se no imaginário que perpassa as

relações entre o sagrado e o profano. Justifica-se essa hipótese em uma análise prévia

dos discursos dos professores quando negam terminantemente o uso do livro didático,

mas, no entanto, não prescindem de sua utilização para o preparo de suas aulas. Na con-

tramão, encontramos professores que seguem linearmente a demarcação dos conteúdos

“vencendo o livro didático” ao final do período letivo, como se estivessem travando

uma batalha, cujos combatentes são alunos, professores e o próprio livro didático aliado,

ou não aos interesses das escolas.

Seja em cumprimento da sua “missão educativa”, seja por exigência da escola,

o livro didático é instrumento cuja presença é garantida nas escolas públicas brasileiras.

Estudá-lo pode significar compreender meandros dos processos educativos no que tange

ao ensino aprendizagem, sobretudo na implantação de propostas metodológicas de ensi-

no.

Nessa direção, os estudos acerca do livro didático vêm proporcionando ao am-

biente educacional uma produção crítica sobre esse material pedagógico. Entender a

importância desse suporte didático viabiliza nosso entendimento em relação às políticas

públicas voltadas para educação, desde a sua avaliação até aos investimentos realizados

pelo MEC no sentido de sua produção e veiculação.

De acordo com Antonia Calazans Fernandes,

De modo geral, o livro didático tem sido desvalorizado de imediato por cumprir uma função especifica na vida dos indivíduos, ou seja, por ser intrínseco ao contexto escolar, tornando-se descartável e sem valor fora do contexto original. Todavia, para uma pessoa que valoriza a educação, que tem sua vida profissional ligada ao magistério, o livro didático ganha em sua memória outra coloração. O valor atribuído ao livro e a leitura em geral estende-se também aos materiais didáticos.

27

26

Cf. GERMANO, José Willington. Estado Militar e Educação no Brasil (1964-1985). 2. ed. São Paulo:

Cortez, 1994. 27

FERNANDES, Antonia T. Calazans. Livro didático dimensões materiais e simbólicos. Educação e

Pesquisa. São Paulo, vol. 30, n. 3, set./dez. 2004, p. 537.

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19

Este público enxerga-o como referencial básico para o estudo; e em todo início

de ano letivo, nos últimos tempos, as editoras têm colocado no mercado uma infinidade

de obras, diferenciadas em tamanho e qualidade.28

Os livros didáticos, na abordagem teórica e metodológica inserida na história

do livro e dos saberes escolares, são considerados um depositário dos conteúdos escola-

res, suporte básico e sistematizador privilegiado dos conteúdos apresentados pelos pro-

gramas curriculares das diferentes disciplinas escolares. É por intermédio dele, dentre

outros meios, que são passados os conhecimentos e técnicas consideradas fundamentais

de uma sociedade em determinada época.

Para Décio Gatti Junior,

[...] os livros didáticos são, incontestavelmente, instrumentos privile-giados no cenário educacional brasileiro e internacional, pois são eles que, verdadeiramente, ‘estabelecem grande parte das condições mate-riais para o ensino e aprendizagem nas salas de aula de muitos países através do mundo’.

29

Eles também constituem um “instrumento pedagógico”, uma vez que produ-

zem uma série de técnicas de aprendizagem – exercícios, questionários, sugestões de

trabalho, enfim, as tarefas que os alunos devem desempenhar para a apreensão ou, na

maior parte das vezes, para a retenção dos conteúdos. Dessa forma, segundo Circe Bit-

tencourt, os livros didáticos apresentam não somente os conteúdos das disciplinas, mas

também como esse conteúdo deve, na visão dos seus produtores30, ser ensinado31.

E, por fim, o livro didático apresenta-se como um importante veículo portador

de um sistema de valores, de uma cultura. Percebemos nele a construção de imagens e

interpretações sobre o mundo que se procura representar.

28

BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Livros didáticos entre textos e imagens. In: O saber histórico

na sala de aula. 2 ed. São Paulo: Contexto. 1998, p. 71. 29

GATTI JÚNIOR, Décio. A escrita da história: livro didático e ensino no Brasil (1970-1990). Bauru:

EDUSC; Uberlândia: EDUFU, 2004, p. 27. 30

Neste sentido, Décio Gatti Júnior alerta que nas últimas décadas este objeto do cotidiano escolar rivali-

zou quando não, em certa medida, substituiu os professores, “passando a ser portadores dos conteúdos

explícitos a serem transmitidos aos alunos e, também, (...) tornando-se os organizadores das atividades

didático pedagógicas exercidas pelos docentes para viabilizar os processos de ensino e de aprendizagem”.

Idem, 2004, p. 27. 31

BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Livros didáticos entre textos e imagens, in: O saber histórico

na sala de aula. 2 ed. São Paulo: Contexto, 1998, p. 71.

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20

Para dar conta da compreensão do objeto livro didático de História, por exem-

plo, há uma exigência de análises ligadas, de um lado, à educação e ao ensino e, de ou-

tro, à História e ao discurso historiográfico. Estas preocupações, de acordo com os inte-

resses e perguntas do profissional da História, têm aberto caminhos para diferentes re-

cortes e perspectivas de investigação. Perguntas, recortes, escolhas, documentos são

instrumentos que auxiliam o historiador do ensino de História nas suas peregrinações

pelo mundo do saber histórico escolar.

Nas pesquisas que se têm debruçado sobre a análise do cotidiano escolar, a uti-

lização do texto didático continua sendo um elemento central, merecedor de estudos

mais aprofundados, que permitam a compreensão das questões relativas a ele.32

A amplitude de temas e problematizações que podem ser formuladas a partir

dele tem transformado este objeto polêmico e complexo, com perspectivas de análise

diversas, envolvendo diferentes áreas do saber. Neste universo múltiplo de olhares (lei-

turas) podemos encontrar educadores, historiadores, linguistas, semiólogos, entre outros

profissionais, preocupados em investigar questões ligadas à sua gênese, à sua continui-

dade e suas transformações, aos seus usos e práticas na produção e reprodução de co-

nhecimento, aos valores e ideologias, aos estereótipos e preconceitos de seus conteú-

dos.33

Há neste universo de pesquisas que abordam questões ligadas à sua fabricação

– o livro como objeto, mercadoria que sofre as influências de contingências sociais,

econômicas, técnicas, políticas e culturais como qualquer outra e que percorre os cami-

nhos da produção, distribuição e consumo. Outras que enveredam para a história dos

autores dos livros didáticos, vasculhando o cotidiano daqueles que escrevem suas pági-

nas.34

32

Cf. GASPARELLO, Arlette Medeiros. Construtores de identidade: a pedagogia da nação nos livros

didáticos da escola secundária brasileira. São Paulo: Iglu, 2004. 33

Para Circe Bittencourt, “o livro didático é um importante veículo portador de um sistema de valores, de

uma ideologia, de uma cultura . Várias pesquisas demonstram como textos e ilustrações de obras didáticas

transmitem estereótipos e valores dos grupos dominantes, generalizando temas, como família, criança,

etnia, de acordo com os preceitos da sociedade burguesa”. BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes.

Livros didáticos entre textos e imagens, in: O saber histórico na sala de aula . 2 ed. São Paulo: Contexto,

1998, p. 72. 34

Cf. BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Livro didático e conhecimento história : uma história do

saber escolar. Tese (Doutorado História Social). Universidade de São Paulo. São Paulo, 1993.

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21

Thais Nívia de Lima e Fonseca, no final dos anos 1990, já anunciava com

imensa satisfação a força que este movimento de pesquisa ganhava no meio acadêmico

brasileiro, especialmente na oficina dos historiadores:

Tenho visto, com prazer, a emergência do livro didático de História como fonte de pesquisa em muitos trabalhos recentes no Brasil. Nesta perspectiva, ele extrapola sua condição primordial – a de um manual útil ao ensino de disciplina – e alcança o caráter de documento, lado a lado com aqueles mais tradicionais ou mais prestigiados. Não posso deixar de relacionar este fato aos avanços da historiografia brasileira contemporânea, que tem ampliado sobremaneira o espectro das fontes de investigação, seu tratamento e sua interpretação. É o resultado, sem dúvida, da incorporação de novas abordagens e novos pressupostos teórico-metodológicos nas últimas décadas. Neste processo, o livro didático tem sido interrogado num esforço de desconstrução de dis-cursos e de imagens, criando-se possibilidades de discussão que per-mitem a compreensão de sua historicidade.

35

Consolidando esse pensamento, em outra obra a mesma autora pontua a impor-

tância do livro didático como instrumento de consolidação da memória36. A sua respon-

sabilidade como fundador de um discurso autorizado, que consolida práticas e institui

representações37 torna esse material importante aliado nacional na configuração de sabe-

res.

Em suma, o livro didático é um objeto rico de pesquisa por se constituir como

espaço privilegiado de disputas políticas de constituição de identidades. Nele, há dife-

rentes personagens e modelos de interpretações em jogo. Assim como o currículo, o

livro didático é lugar, espaço e território de batalhas de interpretações.38

Desta forma sintética de abordagem, livro didático é todo livro pensado e ela-

borado para um fim específico de ensinar alguma coisa, transmitir algum conhecimento

independente do conteúdo. No entanto, Alain Choppin entende que definir livro didático

35

FONSECA, Thais Nivia de Lima e. Livro didático de História: lugar de memória e formador de ident i-

dades, in: Simpósio Nacional da Associação Nacional de História (20: 1999: Florianópolis) História:

Fronteiras. vol. 1. São Paulo: FFLCH/USP, 1999, p. 203. 36

FONSECA, Thais Nivia de Lima e. História & ensino de História. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. 37

CHARTIER, Roger. Formas e Sentido Cultura Escrita: entre distinção e apropriação. Campinas : Mer-

cado de Letras; Associação de Leitura do Brasil (ALB), 2003. 38

Cf. RIBEIRO, Renilson Rosa. Livros didáticos de história: trajetórias em movimentos, in: JESUS,

Nauk Maria de; CEREZER, Osvaldo Mariotto e RIBEIRO, Renilson Rosa (org.). Ensino de História:

trajetórias em movimento. Cáceres: Ed UNEMAT, 2007, p. 42-43.

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22

constitui uma dificuldade39. Entretanto, o interesse de pesquisadores sobre o estudo do

livro didático é incontestável e riquíssimo de abordagem. Desse modo o autor destaca

que:

Após ter sido negligenciado, tanto pelos historiadores quanto pelos bi-bliográficos, os livros didáticos vêm suscitando um vivo interesse en-tre os pesquisadores de uns trinta anos para cá. Desde então, a história dos livros e das edições didáticas passou a construir um domínio de pesquisa em pleno desenvolvimento, em inúmeros países.

40

Observado sua importância, como fonte e objeto de pesquisa, o livro didático

tem sido revisado e remodelado paralelamente ao processo formativo da escolarização

no país. Nessa direção, os estudos acerca do livro didático vêm proporcionando ao am-

biente educacional um conjunto de leituras críticas sobre esse material pedagógico.

Essas considerações acerca desse objeto de estudo no cotidiano escolar apro-

ximam-se das afirmações de Kazumi Munakata, quando este destaca que,

[...] longe de pretenderem esgotar uma possível história do livro didá-tico, servem apenas para indicar que este faz parte da vida escolar desde que a escola é escola: o ensino, o livro e o conhecimento são in-separáveis” na forma escolar, e o professor carregando livro não é imagem estereotipada da sua deficiência a ser compensada com mule-ta, mas a afirmação da sua distinção profissional.

41

O livro didático é um dos parceiros dos professores do qual se apropriam e

usam em suas aulas. No entanto, alguns livros didáticos priorizam a atividade leitora

outros focam nos exercícios ao fim do texto didático. Desse modo a metodologia do

39

“Se, até onde sabemos, nenhuma tentativa como esta chegou a ser realizada, é porque ela se defronta

com uma série de dificuldade que certamente limita seu alcance, sem diminuir, entretanto, seu interesse.

A primeira dificuldade relaciona-se à própria definição do objeto, o que se traduz muito bem na divers i-

dade do vocabulário e na instabilidade dos usos lexicais. Na maioria das línguas, o “livro didático” é

designado de inúmeras maneiras, e nem sempre é possível explicitar as características específicas que

podem estar relacionadas a cada uma das denominações, tanto mais que as palavras quase sempre sobre-

vivem àquilo que elas designaram por um determinado tempo. Inversamente, a utilização de uma mesma

palavra não se refere sempre a um mesmo objeto, e a perspectiva diacrônica (que se desenvolve concomi-

tantemente a evolução do léxico) aumenta ainda mais essas ambigüidades. Alguns pesquisadores se e s-

forçam em esclarecer essas questões e estabelecer tipologias, mas contata-se que a maior parte deles se

omite em definir mesmo que sucintamente seu objeto de estudo”. CHOPPIN, Alain. História dos livros e

das edições didáticas: sobre o estado da arte. Educação e Pesquisa. São Paulo, vol. 30, n. 3, set./dez.

2004, p. 549. 40

Idem, 2004, p. 549. 41

MUNAKATA, Kazumi. Produzindo livros didáticos e paradidáticos. Tese (Doutorado em História e

Filosofia da educação). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 1997.

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23

professor fará o diferencial quanto ao ensino, pois a práxis do professor será exponenci-

al de acordo com sua formação acadêmica e seus conhecimentos e apropriações dos

conteúdos de história. Resultante desse processo de apropriação do livro didático, for-

mação do professor e vontade do aluno (estimulo) é que teremos o desabrochar da cria-

tividade e da criticidade dos mesmos perante os conteúdos dos livros didáticos.

Em síntese, não basta, pois, que tenhamos professores ‘ideais’, alunos ‘ideais’

em uma organização escolar que pretensamente, na sua essência, preocupa-se com o

ensino reflexivo e voltado para questões de análise do contexto social, e preservação da

memória cultural e histórica, e contraditoriamente lida com problemas que são reais, e

extrapolam o campo do ensino e aprendizagem dos conhecimentos clássicos. Seja em

cumprimento da sua “missão educativa”, seja por exigência da escola, o livro didático é

instrumento cuja presença é garantida nas escolas públicas brasileiras. Estudá-lo pode

significar compreender meandros dos processos educativos no que tange ao ensino

aprendizagem, sobretudo na implantação de propostas metodológicas.

No que diz respeito aos processos de elaboração, editoração e circulação42 o li-

vro didático é atravessado por propostas teórico-metodológicas e pedagógicas que

transcendem o âmbito escolar, como por exemplo, a esfera comercial. Ampara-se

igualmente nas Diretrizes Curriculares Nacionais e Parâmetros Curriculares Nacionais

(PCN), nacionalizando, em certa medida, o conhecimento a ser ensinado, não resguar-

dando suas especificidades regionais, então observáveis nos Referenciais Curriculares

Estaduais, no caso específico do Estado de Mato Grosso do Sul, como evidencia a dis-

cussão que segue.

42

Em entrevista dada a Daniel Medeiros em 2005, a Editora presta as seguintes informações q uanto a

elaboração do material didático: “[..] inicia-se com um processo seletivo de escolha do autor, caracteriza-

do por uma prova conceitual e análise de uma unidade de trabalho. Escolhido o autor, ele passa a trab a-

lhar subordinado a um supervisor direto, que contribui na seleção e organização dos conteúdos e na orien-

tação metodológica do material. Face o exposto, o autor perde parte de sua autonomia. Quanto a editora-

ção: “O original do material submete-se a outras intervenções editoriais: Organização do formato- que é

padrão; Iconografia, onde são selecionadas imagens com base na Identidade Visual e nos direitos aut o-

rais- uma série de imagens e textos são vetados pelos responsáveis por esta área, neste momento; Cart o-

grafia – a empresa dispõe de setor próprio de cartografia que produz mapas padrão, Programação visual e

adequação de linguagem”. Desse modo, o material dos originais perde o perfil (essência) do pensamento

histórico do autor.Segundo Medeiros: “Na entrevista com a Editora, a determinação principal do livro

didático é o cenário de mercado. Como o material é líder de mercado, há uma exigência maior de suste n-

tabilidade da posição e, portanto, um espaço menor para quaisquer inovações”. MEDEIROS, Daniel Ho r-

têncio de. A Formação da Consciência Histórica Como Objetivo do ensino de História no Ensino Médio:

O Lugar do Material Didático. Tese (Doutorado em Educação). Universidade Federal do Paraná. Curitiba,

2005, p. 37-38. Ancorado na comercialização dos livros didáticos, inovar é sinônimo de risco financeiro.

Desse modo permanecem os ranços nos livros didáticos de história.

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24

Nessa direção, essa pesquisa busca apresentar alguns elementos que fazem ou

participam e implicam desde a elaboração e edição do livro didático até a sua apreciação

pelos alunos, professores e pesquisadores. As leis de diretrizes de Base Nacionais con-

juntamente com os PCN fazem parte desse contexto por legislar e nortear as ações dos

autores de livros didáticos e das normativas estabelecidas para formatação dos conteú-

dos e confecção dos livros didáticos. Não menos importante é o Referencial Curricu-

lar/MS, pois observa as prerrogativas da instância federal, mas preserva as especificida-

des regionais.

[1.2] Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Básica e Parâmetros Curri-

culares Nacionais: a disciplina de História em foco

A educação escolar e o ensino no Brasil são organizados e sistematizados, atu-

almente, com base na Constituição Federal de 1988, Lei de Diretrizes e Bases da Edu-

cação (Lei n. 9.394/96), Diretrizes Curriculares Nacionais e dos PCN, de 1997-1998, os

quais, em esferas estaduais e municipais, atuam como elementos norteadores dos Refe-

renciais Curriculares, elaborados com a finalidade de estabelecer programas de ensino e

eixos temáticos para as disciplinas escolares.

Dentro dessa lógica de organização, buscaremos visualizar pontos significati-

vos de convergências quanto à estruturação do Referencial Curricular/MS no que tange

a regulamentação e os subsídios teóricos oferecidos para o ensino da história de Mato

Grosso do Sul, deste momento em diante nominado como História regional.

A Constituição Federativa do Brasil de 1988 proporcionou abertura aos movi-

mentos sociais que há décadas defendiam reformulações na legislação educacional e de

suas diretrizes e referenciais curriculares. No entanto, a elaboração da Lei de Diretrizes

e Bases em 199643, das Diretrizes Curriculares e dos PCN em 1997 foi resultado de uma

construção conjunta de especialistas e políticos ligados ao pensamento neoliberal.

43

O projeto da Lei de Diretrizes e Bases de 1996 foi um projeto apresentado pelo Senador Darcy Ribeiro

que após reformulações voltou ao senado como Substitutivo Darcy Ribeiro em fevereiro de 1995 e em 20

de dezembro de 1996 foi sancionado pelo Presidente da República Fernando Henrique Cardoso. Segundo

Dermeval Saviani, “Esse resultado é explicável uma vez que o MEC foi, por assim dizer, co -autor do

texto de Darcy Ribeiro e se empenhou diretamente na sua aprovação. E, como a iniciativa privada, ficou

inteiramente satisfeito com o desfecho. Tanto que recomendou ao Presidente da República a sanção sem

vetos. E assim foi feito”. SAVIANI, Dermeval. A nova lei da educação: trajetória, limites e perspectivas.

8 ed. rev. Campinas: Autores Associados, 2003, p. 162. Conjunturas políticas que se alinhavam aos ajus-

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25

Porém, algumas conquistas, fruto dos movimentos sociais, geraram a inserção

das minorias sociais ao acesso à educação em todos os níveis e principalmente a inclu-

são de novas concepções históricas e temas que passaram obrigatoriamente fazer parte

dos referenciais curriculares nacionais.

Os sistemas de ensino se inter-relacionam a partir das normativas nacionais:

quanto à Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 05 de outubro

de 1988. O art. 211 estabelece que: “A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-

nicípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino. (EC n. 14/96 e

EC nº 53/2006)” (BRASIL, Constituição Federal, 1988). E quanto à organização e fi-

nanciamento, o art. 211 rege em seus parágrafos:

§ 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territó-rios, financiará as instituições de ensino públicas federais e exercerá, em matéria educacional, função redistribuitiva e supletiva, de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios. § 2º Os municípios atuarão prioritariamente no Ensino Fundamental e na educação infantil. § 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no Ensi-no Fundamental e Médio. § 4º Na organização de seus sistemas de ensino, os Estados e os Mu-nicípios definirão formas de colaboração, de modo a assegurar a uni-versalização do ensino. § 5º A educação básica pública atenderá prioritariamente ao ensino regular.

44

Face ao exposto, evidenciam-se as responsabilidades que cada instância deve

assumir. Porém, o que é comum a todos e que deve ser observado em todos os níveis é a

colaboração para a universalização do ensino. Devemos lembrar que as estruturas de

ensino são formas de estabelecer padrões de ensino de uma forma nacional.

Elemento significativo para esta pesquisa, pois enuncia a possibilidade da in-

serção dos estudos regionais, é o Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o En-

sino Fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos va-

tes da sociedade brasileira às demandas do grande capital. Cf. FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA,

Maria. Educação Básica no Brasil na década de 1990: subordinação ativa e consentida à lógica do mer-

cado. Campinas: CEDES, 2003, p. 93-123. 44

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: Texto constitucional promulgado em 5 de

outubro de 1988, com as alterações adotas pelas Emendas Constitucionais n. 1/92 a 56/2007 e pelas

Emendas Constitucionais de Revisão nº 1 a 6/94. – Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições

Técnicas, 2008, p. 136-139.

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26

lores culturais e artísticos, nacionais e regionais.45 Esse artigo abriu um leque de possi-

bilidades para o estudo e as pesquisas em história regional mesmo assegurando uma

formação básica comum nacional.

De acordo com Renilson Rosa Ribeiro,

Nos anos 90 esses debates sobre o ensino de História no Brasil torna-ram-se intensos e acirrados nos momentos de elaboração e implanta-ção de novos currículos, como, por exemplo, a Lei de Diretrizes e Ba-se da Educação Nacional e os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental e Médio, as Diretrizes Curriculares para o en-sino superior. Percebe-se, nesses debates, o confronto entre diferentes concepções de História, currículo, ensino, livro didático, professor e aluno. No caso especificamente dos livros didáticos, as discussões se aprofundaram mais ainda quando estes passaram a ser avaliados por comissões do Ministério da Educação em 1994. Ao lado das inova-ções historiográficas e pedagógicas do período, não podemos perder de vista o papel desempenhado pelos movimentos sociais no processo de redefinição do presente e do passado do Brasil pós-ditadura militar. A agenda de lutas por parte destes movimentos passou a fazer parte das críticas e revisões feitas ao currículo e principalmente aos livros didáticos de História.

46

Nesse sentido, podemos perceber que ao longo da década de 1990 e em con-

formidade a Constituição Federal, se processaram mudanças nas legislações educacio-

nais resultantes do embate entre os movimentos sociais e entidades de cunho acadêmico

científico e do ou o poder político representante das políticas neoliberais47. É observável

o processo das transformações contidas na Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394/96, a qual

ao estabelecer as diretrizes e bases da educação nacional, em seu “Art. 26. Os currícu-

los do Ensino Fundamental e Médio devem ter uma base nacional comum, a ser com-

plementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diver-

45

Cf. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: Texto constitucional promulgado em 5

de outubro de 1988, com as alterações adotas pelas Emendas Constitucionais n. 1/92 a 56/2007 e pelas

Emendas Constitucionais de Revisão n. 1 a 6/94. – Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições

Técnicas, 2008, p. 137. 46

RIBEIRO, Renilson Rosa. Livros didáticos de história: trajetórias em movimentos, in: JESUS, Nauk

Maria de; CEREZER, Osvaldo Mariotto e RIBEIRO, Renilson Rosa (org.). Ensino de História: trajetórias

em movimento. Cáceres: Ed UNEMAT, 2007, p. 45. 47

Cf. SAVIANI, Dermeval. A nova lei da educação: trajetória, limites e perspectivas. 8 ed. rev. Campi-

nas: Autores Associados, 2003, p. 33. Cf. LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de; TOS-

CHI, Mirza Seabra. Educação escolar: estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2003, p. 117.

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27

sificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da

economia e da clientela”.48

A complementação a qual menciona a Lei, de acordo, ainda, com o Art. 26,

quanto ao ensino de História deve conter: §4º. O ensino da História do Brasil levará em

conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasi-

leiro, especialmente das matrizes indígena, africana e européia49.

Importante e de responsabilidade na organização dos componentes curriculares

nacionais, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica estabelecem o

currículo da base nacional, obrigatória em observância a LDB vigente e em conformi-

dade ao artigo 26. Os componentes curriculares obrigatórios do Ensino Fundamental são

organizados segundo suas áreas de conhecimento, conforme seguem:

I – Linguagens:

a. Língua Portuguesa;

b. Língua materna, para populações indígenas; c. Língua Estrangeira moderna;

d. Arte; e. Educação Física. II – Matemática III – Ciências da Natureza IV – Ciências Humanas:

a. História; b. Geografia. V – Ensino Religioso.

50

De acordo com os componentes curriculares obrigatórios e efeito da lei, as ins-

tituições educacionais se organizaram para ministrar conteúdos que são estabelecidas a

partir da obrigatoriedade legal e a realidade de sua clientela, perfil de seu corpo docente

e de conformidade com o projeto político pedagógico da escola.

Quanto à obrigatoriedade de alguns conteúdos para o ensino de História, cabe

ressaltar a mudança ocorrida na LDB no artigo 26 A, alterado pela Lei n. 11.645/2008,

que inclui no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História

e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”,

48

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei

n. 9.394/96, de 20 de Dezembro de 1996). Brasília: MEC, 1996, p. 114. 49

Idem, 1996, p. 114. 50

Idem, 1996, p. 114.

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28

a História e a Cultura Afro-Brasileira, bem como a dos povos indíge-nas, presentes obrigatoriamente nos conteúdos desenvolvidos no âm-bito de todo ocurrículo escolar, em especial na Arte, Literatura e His-tória do Brasil, assim como a História da África, contribuirão para as-segurar o conhecimento e o reconhecimento desses povos para a constituição da nação. Sua inclusão possibilita ampliar o leque de re-ferencias culturais de toda a população escolar e contribui para a mu-dança das suas concepções de mundo, transformando os conhecimen-tos comuns veiculados pelo currículo e contribuindo para a construção de identidades mais plurais e solidárias.

51

As reformulações dos temas e conteúdos que se tornaram obrigatórios são ele-

mentos significativos para história do Brasil, já que salienta as especificidades de algu-

mas regiões que estavam sendo negadas ou silenciadas da participação na construção da

cultura brasileira, que assim ao emergir, deram um novo impulso na construção da his-

tória. Esses traços históricos não negam a história de uma cultura ou sociedade, mas

fortalece a multiplicidades das concepções e de abordagens historiográficas que podem

ser trabalhadas. Cabe aos autores de livros didáticos estarem atentos às historiografias

regionais para fazerem reformulações em suas obras e contemplar as regiões sem perde-

rem o viés nacional.

No que concerne aos conteúdos propriamente ditos, as abordagens contempla-

das no PCN de História (3º e 4º ciclos) do Ensino Fundamental, indicam que,

Nas últimas décadas, por diferentes razões, nota-se uma crescente pre-ocupação dos professores do Ensino Fundamental em acompanhar e participar do debate historiográfico, criando aproximações entre co-nhecimento histórico e o saber histórico escolar. Reconhece-se que o conhecimento científico tem seus objetivos sociais e é reelaborado, de diversas maneiras, para o conjunto da sociedade. Na escola, ele adqui-re, ainda, uma relevância específica quando é recriado para fins didá-ticos.

52

Essa preocupação é crescente pela importância que vem sendo dada ao conhe-

cimento histórico e à pesquisa sobre os materiais didáticos, haja vista sua presença em

grande parte dos níveis de ensino. O conhecimento histórico dá a visibilidade às socie-

dades no tempo, por meio do qual podemos perceber as mudanças e as permanências, o

que facilita a compreensão do presente e interação entre as sociedades num mundo em

51

Idem, 1996, p. 114. 52

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: História (5a a 8

a

séries). Brasília: MEC/SEF, 1998, p. 30.

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29

que as distâncias entre os povos, com os adventos da tecnologia moderna, têm diminuí-

do.

Nesse contexto, os estudos históricos desempenham um papel impor-tante, na medida em que contemplam pesquisas e reflexões das repre-sentações construídas socialmente e das relações estabelecidas entre os indivíduos, os grupos, os povos e o mundo social, em uma época. Nesse sentido, o ensino de História pode fazer escolhas pedagógicas capazes de possibilitar ao aluno refletir sobre seus valores e suas prá-ticas cotidianas e relacioná-los com problemáticas históricas inerentes ao seu grupo de convívio, à sua localidade, à sua região e à sociedade nacional e mundial.

53

Esse fazer pedagógico, em contrapartida, deve ser acompanhado por materiais

didáticos que contemplem estudos do local ou regional para que se possa fazer o exercí-

cio racional sobre suas práticas e valores do cotidiano, relacionando-os a outros povos

de culturas diferentes e que estão no âmbito nacional e global. Cabe ressaltar a impor-

tância do livro didático de História, pois em muitas regiões esse é o único livro “físico”

que proporciona o conhecimento histórico do regional, quando existente.

De acordo com os PCN de História (3º e 4º ciclos), os conteúdos sugeridos têm

objetivos norteadores e não um padrão sumariamente a se seguir. Desse modo, fica a

critério do professor atender as necessidades de conhecimento dos alunos a partir de

diagnóstico por ele feito. Quanto às sugestões do PCN de história para o Terceiro Ciclo,

pautam-se no “Eixo Temático: História Das Relações Sociais, Da Cultura e do Traba-

lho” que se subdividem em dois subtemas: o primeiro trata das “Relações entre a soci-

edade, a cultura e a natureza, em diferentes momentos da História brasileira”; o se-

gundo trata das “Relações de trabalho em diferentes momentos da História brasilei-

ra”54.

Trabalhar os subtemas sugeridos acima é percorrer por um caminho inesgotá-

vel de conteúdos e de possibilidades de abordagens. Mas segundo os PCN de História

(3º e 4º ciclos),

A ideia é que se problematize a realidade atual e se identifique um ou mais problemas para estudo em dimensões históricas em espaços pró-

53

Idem, 1998, p. 34. 54

Os conteúdos sugeridos pelo PCN podem ser conferidos em: BRASIL. Secretaria de Educação Fund a-

mental. Parâmetros Curriculares Nacionais: História (5a a 8

a séries). Brasília: MEC/SEF, 1998, p. 57-62.

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30

ximos e mais distantes. A partir daí, devem ser selecionados conteú-dos da História brasileira, da História da América, da Europa, da Áfri-ca e do Oriente e articulados em uma organização que permita ao alu-no questionar, aprofundar, confrontar e refletir sobre as amplitudes históricas da realidade atual, como são construídos os processos dinâ-micos e contraditórios das relações entre as culturas e os povos.

55

Em relação ao ensino de história, importa ressaltar que os alunos trazem uma

bagagem de informações significativas e que, se trabalhadas, podem somar-se ao co-

nhecimento escolar. Neste aspecto a disciplina de história pode promover diálogos pro-

dutivos, no qual aluno e professor serão beneficiados. Desse modo, os PCN de História

(3º e 4º ciclos) propõem o eixo temático “História das representações e das relações de

poder” que se divide em dois subtemas: “Nações, povos, lutas, guerras e revoluções” e

“Cidadania e cultura no mundo contemporâneo”.56

Os subtemas acima citados se desdobram em conteúdos apresentados como su-

gestão de possibilidades a serem trabalhados, mas nenhum deles aborda diretamente a

História Regional. Além dos eixos temáticos, subtemas e conteúdos constam no PCN de

história sugestões quanto ao trabalho com os documentos em sala de aula, com os mate-

riais didáticos, visita a exposições, museus e sítios arqueológicos. No entanto, atribui a

responsabilidade ao professor pelas escolhas dos documentos e dos materiais didáticos.

Esse documento norteador aponta possibilidades de conteúdos, metodologias e

elementos conceituais da História, porém deixa a critério do professor a escolha. Entre-

tanto esbarram em alguns obstáculos que transcendem a sua formação e possibilidades

de escolhas, como é o caso da inexistência de material didático regional ou até a pouca

acessibilidade à produção acadêmica (dissertações e teses) que por ventura estão locali-

zadas em bibliotecas específicas, dificultando os serviços de fotocópias e microfilma-

gem. Esses problemas podem ser vistos também em arquivos públicos, local de concen-

tração de documentos e de livros que são fontes imprescindíveis para a pesquisa em

História.

Nesta perspectiva, objetivando mapear nas coleções de livros didáticos os con-

teúdos que possibilitem o ensino de história regional, como se pretende demonstrar nos

próximos capítulos, buscou-se verificar na legislação pertinente à educação e nos docu-

mentos orientadores dos conteúdos escolares e curriculares, a observância da legalidade

55

Idem, 1998, p. 57 56

Idem, 1998, p. 69 e 72.

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31

e da exigência em inserir propostas de o ensino de história regional. Constatada a exis-

tência da prerrogativa legal que reitera a necessidade da inserção de conteúdos relativos

ao ensino de história regional nos conteúdos escolares, optou-se, na sequência, em exa-

minar a estrutura dos conteúdos dispostos no Referencial Curricular do Estado de Mato

Grosso do Sul, de modo a entender e dar visibilidade aos conteúdos que se remetem a

História regional.

[1.3] O ensino de História e seus conteúdos: um estudo acerca dos documentos ori-

entadores das propostas curriculares regionais

Documento orientador do ensino das disciplinas da matriz curricular sul mato-

grossense, o Referencial Curricular da Educação Básica da Rede Estadual de Ensino de

Mato Grosso do Sul começou a ser elaborado no Estado a partir do ano de 1992. Até o

período a organização da estrutura curricular era balizada por Diretrizes Gerais para o

ensino (1989) e Diretrizes Curriculares (1992). No ano de 2007 a Secretaria Estadual de

Educação de Mato Grosso do Sul (SED-MS) enviou uma proposta preliminarmente de

Referencial Curricular aos professores da Rede Pública Estadual. Todos os professores

da Rede Pública Estadual foram convocados para analisarem a proposta preliminar da

SED-MS.

Segundo a sugestão de organização, os professores que ministrassem a mesma

disciplina teriam que fazer o exame do documento, segundo sua área de formação e

atuação. Foram encaminhadas para os professores fichas para as possíveis sugestões de

alteração, que chegaram a grande número, diga-se de passagem. O tempo dado aos pro-

fessores para examinar a proposta preliminar de referencial curricular do Estado foi de

um dia. Terminado os trabalhos de reelaboração e análises, as sugestões foram reenvia-

das a SED-MS.

O resultado dessa participação especial dos professores da Rede Estadual de

Ensino veio na versão de caderno espiral capa dura, a que foi entregue aos professores

em 2008, ano em que entrava em vigor a nova estrutura de conteúdos, condizente ao

novo Referencial Curricular do Estado de Mato Grosso do Sul.

A discussão que segue apresenta a sistematização do referencial curricular de

2008, norteador dos conteúdos até o ano 2011 e o Referencial de 2012, norteador dos

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32

conteúdos atualmente. Justificando-se essa abordagem em virtude das fontes utilizadas

para o trabalho perfazerem as coleções de livros didáticos adotadas em 2011. Identifi-

camos um descompasso entre o referencial curricular e a escolha do livro didático de

História, para o ensino de história anos finais do Ensino Fundamental.

[1.3.1] Primeiros passos rumo à normatização dos conteúdos escolares: Referencial

Curricular do Estado de Mato Grosso do Sul - edição 2008

O processo de elaboração de documentos desta natureza demanda estudo à par-

te àquele que se pretende evidenciar neste texto. No entanto, importa ressaltar aspectos

gerais de encaminhamento e discussão no sentido de contextualizar a produção e o mo-

mento em que se inserem. Após a aprovação do Ensino Fundamental de nove anos, os

conteúdos escolares demandaram novo processo de distribuição e reordenamento, tendo

em vista as novas habilidades que se pretendiam enfatizar na ampliação do tempo de

escolaridade do Ensino Fundamental.

O Referencial Curricular de 2008 foi distribuído amplamente aos professores

em atividade em Mato Grosso do Sul, encadernado em formato de caderno espiral, con-

tendo as seguintes informações na capa: Referencial Curricular da Educação Básica da

Rede Estadual de Ensino/MS, na parte superior da capa. Na parte inferior ou rodapé da

capa está a bandeira do Estado com os dizeres: Governo de Mato Grosso do Sul, com o

slogan de campanha, ‘rumo ao desenvolvimento’. Em seguida a logomarca da SED-MS

com a frase: Educação para o Sucesso. Essa versão sofreu reformulações em 2012, con-

forme demonstrado no decorrer da discussão deste capítulo, e atualmente encontra-se

em estudos para novas alterações. Característica marcante neste documento consiste no

registro da participação dos professores para a sua elaboração “Participação Especial”.57

Os textos de abertura do documento são de autoria dos membros da equipe pe-

dagógica e administrativa da Secretaria de Estado, cujos nomes figuram nas primeiras

páginas: Equipe de Coordenação, Participação Especial e a Equipe de Colaboradores,

seguida da Apresentação, aos Educadores, Índice e Conversando com os Educadores.

O item Conversando com os Educadores subdivide-se em: Alfabetização e letramento;

Brincar, Estudar e Aprender; Rotina Escolar; As Diferentes Linguagens; As tecnologias;

57

MATO GROSSO DO SUL. Referencial Curricular da Educação Básica da Rede Estadual de Ensi-

no/MS – Ensino Fundamental. Campo Grande: SED-MS, 2008, p. 3.

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33

Diversidade; Interdisciplinaridade; Transversalidade; Competências e Habilidades e, por

fim, Componentes Curriculares. Antecede a cada um desses itens um texto que elenca

comentários com propostas pedagógicas, observando a legislação e normativas de ensi-

no pertinentes (Diretrizes Curriculares Nacionais e os PCN).

O documento se propõe a estabelecer orientações acerca dos eixos temáticos a

serem ensinados no Ensino Fundamental. No entanto, é marcante a presença da proposta

pedagógica nos Componentes Curriculares quando esse documento aborda as discipli-

nas separadamente:

[...]orientações pedagógicas quanto ao desenvolvimento didático, que se prestam à necessidade de trabalhar com o pensamento lógico, as re-lações simbólicas, as representações, as expressões, a interpretação e a construção de sentidos que veiculam em todas as áreas do conheci-mento, e não apenas na construção de conteúdos.

58

Essa forma de apresentar a estrutura dos componentes incorre numa contradi-

ção metodológica insuperável instituída pela LDB e pelos PCNs. Esse esforço é uma

orientação sugestiva que merece um olhar mais detido que, por ora não se faz possível

abranger nesse contexto.

Outras sugestões elencadas pelos Componentes Curriculares especificamente à

disciplina História, importantes para compreender as possibilidades que envolvem o

trabalho com o ensino de história e suas especificidades, como interessa a este trabalho

a perspectiva da história regional, orientam:

No processo do ensino e da aprendizagem de História é preciso que o professor proporcione ao aluno o desenvolvimento de competências de análise, interpretação e compreensão da realidade em que está in-serido. [...] É importante reforçar que o ensino dos fatos relacionados a uma data (temporalidade cronológica), o professor de História, en-quanto mediador entre o aluno e a produção de conhecimento, enfo-que noções que devem envolver o entendimento dos diferentes níveis e ritmos de movimentos das sociedades. [...] O conteúdo histórico de-ve ser enfocado do ponto de vista de que os seres humanos podem até ser desiguais quanto à sua condição social, racial, étnica, cultural, mas do ponto de das capacidades mentais, a lógica do desigual não proce-de. [...] Dentre as possibilidades do trabalho pedagógico nas aulas de História pode-se utilizar diferentes estratégias de ensino como: semi-

58

Idem, 2008, p. 26.

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34

nários, debates, confecção de painéis, cruzadinhas, jornal histórico, álbum ilustrado, quebra-cabeças [...].

59

Na perspectiva que sustenta esse trabalho de dissertação, a História regional es-

taria amplamente contemplada na elaboração conceitual do Referencial, pois ao afirmar

que o aluno deve ter condições de realizar “análise, interpretação e compreensão da

realidade em que está inserido” o Referencial apresenta-se em consonância com a ori-

entação pedagógica, a qual se diz filiados, a saber, de influência sociointeracionista ba-

seada nas proposições teóricas de Lev Vygotsky e do materialismo-histórico de Karl

Marx.

Essas orientações são apresentadas de forma sugestiva, cabendo ao professor

exercer sua autonomia em sala de aula como o próprio Referencial Curricular do Ensino

Fundamental resguarda quando:

Nesse sentido, resultou num Referencial, linha mestra da rede, o qual dará parâmetros ao trabalho pedagógico. Cabe à escola complementá-lo de acordo com suas especificidades, com autonomia metodológica, apropriando os conteúdos como meio para ampliar conhecimentos, habilidades, competências e ainda, ao desenvolvimento de um proces-so contextualizado com a realidade local. Para tanto, tais aspectos de-vem ser garantidos no Projeto Político Pedagógico da escola.

60

Ainda sobre a problemática da Historia regional, a ser tratada nos capítulos

posteriores, encontramos mais um indicativo da sua necessidade. No entanto, a respon-

sabilidade do seu ensino fica a cargo da escola, fazendo-se valer da “... autonomia me-

todológica, apropriando os conteúdos como meio para ampliar conhecimentos, habili-

dades, competências e ainda, ao desenvolvimento de um processo contextualizado com

a realidade local”.61

Quanto à organização dos componentes curriculares, o Referencial Curricular

do Ensino Fundamental do Estado de Mato Grosso do Sul está em conformidade com as

Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Básica e de acordo aos PCN’s, quanto

aos eixos temáticos, subtemas e conteúdos propostos a cada área.

59

MATO GROSSO DO SUL. Referencial Curricular da Educação Básica da Rede Estadual de Ensi-

no/MS – Ensino Fundamental. Campo Grande: SED-MS, 2008, p. 28. 60

Idem, 2008, p. 07. 61

Idem, 2008, P. 07.

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35

No Referencial Curricular/MS, constam os eixos temáticos, subtemas e conte-

údos para serem ministrados durante o ano letivo e a sua organização está estruturada da

seguinte forma: a disciplina, sua estrutura de conteúdos - por bimestre -, as competên-

cias e habilidades que os alunos devem atingir e, por fim, as Referências Bibliográficas

para fundamentação teórica de cada disciplina. Estas se encontram ao final de cada dis-

ciplina, o que dá a entender que há uma concepção teórica que alicerça todo o referenci-

al, sem atender as especificidades das disciplinas nas suas particularidades.

Cabe registrar a importância do Referencial Curricular do Ensino Fundamental

do Estado de Mato Grosso do Sul, de 2008, por ser o primeiro de uma série, nesse for-

mato e características, e por se adequar as novas Leis objetivando atingir uma educação

de qualidade. Um dos elementos que serve de exemplo, quanto à busca de uma educa-

ção de qualidade por parte do estado, é a adesão ao Ensino Fundamental de nove (9)

anos já no ano de 2007, - mesmo que o prazo para implantação terminasse em 2010.

O Estado de Mato Grosso do Sul, de acordo com a “Lei n. 11.114 de 16 de

maio de 2005”62, e respaldado na “Lei n. 11.274, de 06 de fevereiro de 200663, e segun-

do a “medida sancionada pelo Conselho Estadual de Educação de Mato Grosso Do Sul

(CEE/MS), por meio da Deliberação CEE/MS n. 8144, de 09 de outubro de 2006”, im-

planta o Ensino Fundamental de nove anos, a partir de 2007, na rede estadual de ensino,

com obrigatoriedade de matrícula pelos responsáveis das crianças de seis anos comple-

to, ou que completem seis anos até 28 de fevereiro 2007, no 1º ano do Ensino Funda-

mental. Essa ação da Secretaria de Educação do Estado de Mato Grosso do Sul, objetiva

a se inserir nas metas da Educação Fundamental do Plano Nacional de Educação (PNE),

Lei n. 10.172, 09 de janeiro de 2001, que estabelece “o Ensino Fundamental para nove

anos de duração [...] prazo de implantação, pelos sistemas, até 2010”.

Desse modo, o Referencial Curricular do Estado de Mato Grosso do Sul de

2008 encontrava-se alinhado às determinações em âmbito nacional, haja vista, a funda-

mentação em leis e diretrizes nacionais que regulamentam e fundamentam o Ensino

Fundamental. Portanto, tornam-se significativo para o pesquisador que busca conhecer

elementos do ensino referentes à especificidade regional seus processos e rupturas ou

62

Lei que estabelece a obrigação dos pais ou responsáveis à matrícula das crianças a partir dos seis anos

de idade no Ensino Fundamental de nove anos. 63

Lei que altera a redação dos arts. 29, 30, 32, e 87 da Lei n. 9.394 de 20 de dezembro de 1996, que est a-

belece as diretrizes e bases da educação nacional, e que regulamenta o ensino fundamental de nove anos.

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36

continuidades que de certa forma podem ser visualizados na estrutura dos conteúdos

organizados. Utilizar essa documentação para identificar as matrizes sobre as quais,

ainda que de modo abrangente, se assentam as bases do ensino, mais especificamente

nos conteúdos da disciplina de História. Torna-se mais significativo ainda quando anali-

sado pelos pesquisadores sob a ótica das multiplicidades de conteúdos e de abordagens

que o construíram para ser um parâmetro norteador do fazer pedagógico dos docentes.

Como a presente pesquisa tem delimitada sua faixa de abrangência situada na

disciplina de História, ministrada nos anos finais do Ensino Fundamental, para uma me-

lhor visibilidade da análise desses conteúdos, o quadro que segue objetiva a disposição

dos conteúdos de História regional que no Referencial Curricular do Ensino Fundamen-

tal/MS, de 2008, devem ser trabalhados serialmente por anos, bimestres e conteúdos da

disciplina de História.

Quadro 1: Sistematização dos conteúdos de História do MT/MS para o Ensino Fundamen-

tal em 200864

ANOS BIMESTRES CONTEÚDOS BIMESTRAIS 6º

Ano

Bimestre

O mundo primitivo – evolução histórica

Pré-história Geral, do Brasil e do Mato Grosso do Sul: grupos s o-

ciais, realizações e conquistas.

Ano

Bimestre

O encontro de três mundos

A presença dos espanhóis na região do atual Mato Grosso do Sul

no período colonial (relevâncias das Missões do Itatim no proces-

so de ocupação e povoamento do Mato Grosso).

História dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul – formação

do povo, cultura, economia, sociedade e organização política.

Ano

Bimestre

O Brasil no contexto do império

Conflito com o Paraguai (causas e desdobramentos para a Améri-

ca do Sul, para o Brasil e para o Mato Grosso do Sul).

Bimestre

O Mato Grosso do Sul no contexto imperialista

Mato Grosso do Sul – economia, o ciclo da erva mate – (Compa-

nhia Mate Laranjeira), importância política, econômica social e

cultural no contexto imperialista brasileiro.

Ano

Bimestre

O Brasil república no contexto capitalista consolidado

Movimento Divisionista de Mato Grosso (relações, composição

de poder e conflitos sociais).

Fonte: MATO GROSSO DO SUL. Referencial Curricular da Educação Básica da Rede Estadual de Ensino/MS –

Ensino Fundamental. Secretaria de Estado de Mato Grosso do Sul, 2008, p. 150-4. Compilado por: DEBONA, Jackson James. Março de 2013.

64

Neste quadro apresentamos os conteúdos que fazem menção à história regional de Mato Gro sso do Sul

e que foram compilados do referencial curricular estadual para fazer parte da análise documental desse

capítulo. Quadro completo dos conteúdos do Referencial Curricular de Mato Grosso do Sul de 2008, ver

anexo I.

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37

De acordo com o conteúdo de História compilado no quadro 1 e na observância

das leis e Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica em sua “Resolução

n. 7, de 14 de dezembro de 2010, em seu art. 15. nos §2º e §3º”, o Referencial Curricu-

lar do Ensino Fundamental/ MS está em conformidade e amparado legalmente. Mesmo

que legalmente amparado, o Referencial Curricular Estadual traz os conteúdos de Histó-

ria Regional diluídos nos quatro anos seriais, o que limita a constituição de um saber

histórico regional, pois o esvaziamento se dá pela sobreposição de uma história quadri-

partite eurocêntrica o que relega a história regional ao segundo plano.

A discussão feita não pretende negar a importância do Referencial Curricular

do Estado de Mato Grosso do Sul, pois, ele é um documento norteador da execução de

um trabalho pedagógico desempenhado pelo professor, mas não deve ser visto como um

fim em si, pois extrapola a finalidade de organização de conteúdos para serem ministra-

dos em sala de aula. Como podemos notar é um ponto de partida e não um ponto de

chegada.

[1.3.2] Caminhando para a mudança: Referencial Curricular do Estado de Mato

Grosso do Sul edição 2012

Em 2012 o Referencial Curricular passou por seu primeiro processo de reestru-

turação. A alteração mais significativa, segundo a análise realizada refere-se à estrutura

organizacional interna: o referencial traz uma maior descrição dos componentes curricu-

lares, em observância as leis que regulamentam a Educação Básica no Brasil.

Ainda com relação aos componentes, observam-se alterações internas no que

se refere à reorganização e disposições dos comentários e sugestões dados a cada disci-

plina. No Referencial Curricular, de 2012, a posição dos comentários e sugestões, está

entre os conteúdos das disciplinas, diferente do Referencial Curricular de 2008 que es-

tavam nas primeiras páginas do referencial. Há ainda outra mudança quanto a esse item,

no caso da disciplina de História, essas sugestões fazem parte do mesmo texto da disci-

plina de Geografia nas páginas 303 e 304. Esse texto se apropria de uma linguagem

prescritiva já que os verbos não dão a tonalidade de sugestão, mas de dever.

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38

Na parte introdutória do Referencial Curricular, de 2012, também pode ser ob-

servada citações com as referências anexadas, porém no item Referências, não são en-

contradas essas mesmas referências completas e menos ainda citadas.

Quanto à legislação pertinente ao ensino em Mato Grosso do Sul, diferente do

referencial curricular anterior, a edição de 2012 traz o embasamento legal nas primeiras

páginas:

[...] a Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso do Sul pro-põe um currículo em consonância com as Diretrizes Curriculares Na-cionais Gerais para a Educação Básica (Resolução CNE/CEB n. 4, de 13/07/2010), que contempla todos os aspectos essenciais para a for-mação dos estudantes.

65

Em relação ao componente curricular História, “proposto” pelo Referencial

Curricular, de 2012, por ser elemento essencial para as análises que pretendemos de-

monstrar do livro didático de História, segue a transcrição dos conteúdos regulamenta-

dos para o ensino, em forma de quadro para dar visibilidade inicial aos momentos em

que a orientação apresenta conteúdos referentes à História regional.

Quadro 2: Sistematização dos conteúdos de História do MT/MS para o Ensino Fundame n-

tal Anos finais, em 201266

.

ANOS BIMESTRES CONTEÚDOS BIMESTRAIS

Ano

Bimestre

O MUNDO PRIMITIVO

Pré-História no Mato Grosso do Sul.

Ano

Bimestre

O advento do mundo moderno

A presença dos espanhóis, no período colonial, na região do atual

Mato Grosso do Sul (relevâncias das Missões e do Itatim no pro-

cesso de ocupação e o povoamento do Mato Grosso).

Bimestre

História dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul: economia,

organização política, processo de aculturação e contribuição cultu-

ral.

65

MATO GROSSO DO SUL. Referencial Curricular da Educação Básica da Rede Estadual de Ensi-

no/MS – Ensino Fundamental. Campo Grande: SED-MS, 2012, p. 11. 66

Neste quadro apresentamos os conteúdos que fazem menção à história regional de Mato Gro sso do Sul

e que foram compilados do referencial curricular estadual para fazer parte da análise documental desse

capítulo.Quadro completo dos conteúdos do Referencial Curricular de Mato Grosso do Sul 2012 ver an e-

xo II.

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39

Ano

Bimestre

O MATO GROSSO DO SUL NO CONTEXTO IMPERIALISTA

Conflito com o Paraguai: causas e desdobramentos para a América

do Sul, para o Brasil e para o Mato Grosso do Sul.

Os Afro-brasileiros e os povos indígenas Guaicurus na Guerra do

Paraguai.

Mato Grosso do Sul (ainda Mato Grosso): economia, ciclo da erva

mate, influência política, econômica, social e cultural no contexto

imperialista brasileiro.

Ano

Bimestre

O BRASIL REPÚBLICA NO CONTEXTO CAPITALISTA

Movimento Divisionista de Mato Grosso: antecedentes, compos i-

ção de poder, governos e conflitos sociais.

Fonte: MATO GROSSO DO SUL. Referencial Curricular da Educação Básica da Rede Estadual de Ensino/MS –

Ensino Fundamental. Secretaria de Estado de Mato Grosso do Sul, 2012. Compilado por: DEBONA, Jackson James. Março de 2014.

Em relação ao quadro 2 apresentado, no que concerne ao 6º (sexto ano), pode-

mos observar que há somente um item indicativo de conteúdo que perfazem o ensino da

História Regional, diferentemente do Referencial Curricular de 2008, que faz uso de

uma abrangência maior ao se referir “Pré-história Geral, do Brasil e do Mato Grosso”

(MATO GROSSO DO SUL, Referencial Curricular, 2008, p. 150). Observa-se, no en-

tanto um posicionamento teórico e uma tensão quanto à escrita, pois no Referencial

Curricular, de 2008, a "Pré-história" é referente ao Estado de Mato Grosso. Enquanto o

Referencial Curricular, de 2012, traz a "Pré-história" como sendo de Mato Grosso do

Sul. Essa tensão está relacionada a quem pertence à pré-história dessa região, não so-

mente a isso, mas do lugar de onde nós pensamos e concebemos o “conceito” de região.

Voltaremos a essa discussão nos capítulos seguintes, quando do exame da historiografia

regional e dos livros didáticos utilizados para o ensino da disciplina.

No 7º (sétimo) ano observam-se a inserção de conteúdos sobre a região em dois

bimestres: no 2º e no 4º bimestre. Quando comparado ao Referencial Curricular, de

2008 identificam-se conteúdos que contemplam a história regional somente no 4º bi-

mestre. Assim, verifica-se a permanência do embate anterior, já que o conteúdo é refe-

rente há um tempo cronológico em que o Estado de Mato Grosso do Sul ainda não exis-

tia, aparecem também, abordagens referentes à história dos povos indígenas e quilom-

bolas e a presença dos espanhóis na região no período colonial. Oportunamente essas

abordagens serão problematizadas, nos capítulos seguintes.

No 8º (oitavo) ano identificam-se conteúdos de história regional a serem traba-

lhados no 3º e 4º bimestres, conforme no Referencial Curricular, de 2008. No referenci-

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40

al curricular de 2012, todos os conteúdos se concentram no 4º bimestre. No entanto, os

temas são iguais.

No último ano do Ensino Fundamental observam-se a retomada dos conteúdos

e estrutura bimestral do Referencial Curricular, de 2008, tratando do "Movimento Divi-

sionista de Mato Grosso: antecedentes, composição de poder, governo e conflitos soci-

ais". Como podemos notar não há subtração do Mato Grosso do Sul nesse item, atribu-

indo valor heroico ao ato de sua criação. É a partir desse movimento que se constrói a

narrativa de uma “identidade” que segundo seus idealizadores já existia.67

O exame desses dois referenciais indicam elementos importantes para o enca-

minhamento da análise das fontes principais da escrita desta dissertação, tendo sua rele-

vância destacada, na hipótese de transmissão de conteúdos ligados à construção de uma

história regional, sem perder foco da história nacional e geral. Decorrem dessa percep-

ção, a inserção das duas edições como documentos basilares para as análises que serão

feitas nos capítulos seguintes.

Para entender a relação e importância apresentam-se na sequência, aspectos re-

ferentes ao processo de escolha do livro didático no estado de Mato Grosso do Sul. A

escolha do livro didático de história deveria demandar exercício de análise crítica com

um tempo suficiente para esse fim. No entanto, o que pode ser verificado é que para tal

empreendimento são disponibilizados aos professores um dia ou um período do dia o

que não é suficiente para fazerem uma análise a partir de uma postura crítica.

Diante do exposto, em exame preliminar, verificou-se que há casos em que o

livro didático não contempla todos os conteúdos que o Referencial Curricular/MS nor-

teia, sobretudo, no que se refere à história regional. As hipóteses que originaram essa

ausência serão examinadas ao longo deste trabalho. No entanto, é notória certa predile-

ção por temas e regiões, em virtude de acontecimentos considerados de maior valor na

formação da identidade nacional.

Esses desencontros de conteúdos, entre o referencial curricular e o livro didáti-

co de história, tornam-se um engodo difícil de ser solucionado pelos professores. Como

resultado desse problema, os discentes e docentes passam pelo Ensino Fundamental

com um déficit de aprendizagem de conteúdos regionais, desconhecendo sua própria

67

WEINGARTNER, Alisolete Antônia dos Santos. Movimento divisionista em Mato Grosso do Sul.

Porto Alegre: Edições EST. 1995.

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41

história e tendo dificuldade de aprendizagem, pois não se veem inseridos no contexto

histórico.

Daí a importância do referencial curricular não só apontar conteúdos a ser mi-

nistrados pelos professores, mas indicar as referências bibliográficas utilizadas para a

elaboração e estudos que deram origem a formulação final do documento, tendo em

vista que caso as coleções de livros didáticos não abordem a história da região, o profes-

sor tenha um suporte através das referencias bibliográficas que contém no Referencial

Curricular/MS. Contrariamente a essa necessidade, observou-se nos Referencias a au-

sência dessas referencias bibliográficas de suporte, demandando esforço maior ao pro-

fessor para obter material relativo ao tema na preparação de suas aulas.

Partimos da hipótese de que há ausência de conteúdos que viabilizem o ensino

da história regional nos livros didáticos adotados nas escolas públicas da rede estadual

de ensino em Mato Grosso do Sul, o que não implica na perda do valor e que não possa

ser adotado pelos professores, pois eles atendem majoritariamente às abordagens pro-

postas nos documentos orientadores, apresentadas anteriormente, contudo se silenciam

sobre o ensino de outros conteúdos que “pertencem” a outro viés de abordagem. Trans-

fere-se ao professor a responsabilidade em analisar e entender esses processos de produ-

ção historiográfica, para além da inserção nos referenciais curriculares, buscando com-

plementar as ausências, quando houver, na produção do livro didático, no esforço de

intermediar os conhecimentos promovidos nas coleções adotadas entre a História regio-

nal e nacional aliado à sua concepção de ensino de história e formação discente.

[1.4] O processo de escolha do livro didático: implicações para o ensino

Ao buscar compreender as formas pelas quais os livros didáticos chegam aos

professores da rede pública de ensino para que estes efetivem o seu uso, identificou-se

que, desde 1985, este processo encontra-se institucionalizado, com regras impostas em

âmbito federal pelo Ministério da Educação (MEC) e, consubstanciadas através do Pro-

grama Nacional do Livro Didático (PNLD).

Ao estabelecer parâmetros para as análises deste material, partilhamos da con-

ceituação sobre o livro didático como importante ferramenta para o trabalho dos profes-

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42

sores, configurada nas análises de Sonia Regina Miranda e Tania de Luca, que o enten-

dem como:

[...] um produto cultural dotado de alto grau de complexidade e que não deve ser tomado unicamente em função do que contém sob o pon-to de vista normativo, uma vez que não só a sua produção vincula-se a múltiplas possibilidades de didatização do saber histórico, como tam-bém sua utilização pode ensejar práticas de leitura muito diversas.

68

Face ao exposto, considera-se pertinente apresentar e discutir os meandros que

envolvem o processo de escolha, cuja história remonta ao Estado Novo, com a instaura-

ção da Comissão Nacional de Livros Didáticos69, conforme destacam Miranda e Luca

(2004), mobilizando formas de organização em todos os âmbitos do poder público (fe-

deral, estadual e municipal). As autoras indicam o ano de 1985 como marco na política

em relação ao processo de escolha e distribuição dos livros didáticos, com a criação do

PNLD.

À parte aos enfrentamentos ocasionados pela criação do Programa e sua efetiva

implantação nos estados brasileiros, em pleno regime autoritário, desde 1996 as práticas

de avaliação e recomendação dos livros didáticos vem sendo desenvolvidas em ampla

escala. Inicia-se neste momento um conjunto de negociações que envolvem o setor pú-

blico e interesses da iniciativa privada, representadas por editoras especializadas em

produção de livros, ao lado das empresas que seriam responsáveis pela distribuição dos

livros didáticos para as escolas. Ressalte-se que, para obter as concessões relativas aos

serviços as editoras precisaram inscrever seus livros em editais prévios de seleção, cuja

aprovação determinaria quais títulos seriam adquiridos com recursos públicos70.

Toda essa dinâmica é operacionalizada pelo MEC e Fundo Nacional de Desen-

volvimento da Educação (FNDE) em parceria com os Estados e Municípios. Sua execu-

ção segue os seguintes passos: adesão; editais; inscrição das editoras; triagem/avaliação;

68

MIRANDA, Sonia. LUCA, Tania Regina de. O livro didático de hoje: um panorama a partir do PNLD.

Revista Brasileira de História. São Paulo, vol. 24, n. 48, 2004, p. 124. 69

Em “O livro didático de história hoje: um panorama a partir do PNLD, (2004)” as autoras apresentam

um histórico mais detalhado das disputas inerentes ao período militar e Estado Novo, no que tange aos

processos de produção e circulação do livro didático no Brasil. 70

As autoras destacam que “O fato de uma obra não estar presente no Guia publicado pelo MEC traz

efeitos financeiros indesejáveis que, em alguns casos, culminaram no desaparecimento de editoras e/ou

em fusões de grupos editoriais. A instituição de uma cultura avaliativa, num contexto político democrát i-

co, acabou por desencadear poderosos mecanismos de reajustamento e adaptação do mercado editorial”.

Idem, 2004, p. 126.

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43

guia do livro; escolha; pedido; aquisição; produção; análise de qualidade física; distri-

buição; recebimento71. Todo esse percurso ou movimento se dá nos dois anos que ante-

cedem ao ano de entrega.

Quanto à organização para o processo de escolha, segue-se o seguinte roteiro:

É da alçada das escolas públicas fazer o censo escolar, indicando se pretende aderir ou

não ao PNLD, quanto também efetuar a escolha e os pedidos dos livros didáticos. Já o

processo de editais, triagem, avaliação, aquisição das coleções e distribuição são de res-

ponsabilidade do FNDE. A distribuição dos livros didáticos é feita pela Empresa Brasi-

leira de Correios e Telégrafos (ECT) segundo contrato firmado, sendo acompanhado por

técnicos do FNDE e das secretarias estaduais de educação.

A pesquisa em curso, como já citado anteriormente, adota o ano de 2011 como

marco inicial para as investigações que seguem ao processo de escolha e seleção dos

livros didáticos de História72, em Mato Grosso do Sul (MS) alinhavado à reordenação

das políticas públicas para a educação no Estado, em virtude do Ensino Fundamental de

nove anos, no qual foram observadas mudanças significativas na organização do com-

ponente curricular de História.

Com relação ao ano de 200873, de modo breve, as escolhas dos livros didáticos

de história ocorreram nas escolas, tradicionalmente, diante da apresentação das amostras

de coleções que enviadas em geral, no ano anterior à escolha, pelas editoras, juntamente

com exemplares do Guia de cada disciplina referente ao ano base, dando aos professores

de cada disciplina a oportunidade de optar por uma coleção.

71

Detalhamento pode ser encontrado no site do FNDE na parte de Funcionamento do PNLD e execução:

http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/livro-didatico-historico. Acessado em 03 de março de

2014 72

No tocante ao processo de escolha de livros didáticos de História de 5ª a 8ª, as autoras mencionam,

“que foram três processos consecutivos de avaliação vinculados, respectivamente, aos programas de

1999, 2002 e 2005. Cumpre destacar que houve variações de forma e substância em cada programa. Se,

em 1999, cada volume era avaliado de modo unitário e independente frente à coleção, o que gerava cir-

cunstâncias conflitivas com relação à variabilidade no processo de escolha e uso das obras, tal situação foi

alterada a partir do PNLD 2002, quando a unidade básica de avaliação e escolha passou a ser a coleção

didática. Além disso, caminhou-se de um procedimento classificatório e distintivo, baseado em estrelas e

menções discriminatórias, para um quadro meramente indicativo das obras aprovadas, o que modificou a

própria organização do guia do Livro Didático que, na versão de 2005, apresenta-se ao professor como

um catálogo organizado em ordem alfabética”. Idem, 2004, p. 126. 73

“O senso escolar para o PNLD de 2008 ocorreu no ano de 2006, a escolha dos livros didáticos no ano

de 2007 a entrega dos livros físicos para as escolas foi entre outubro de 2007 a fevereiro de 2008”. Co nfe-

rir site: http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/livro-didatico-historico. Acessado em 03 de

março de 2014.

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44

O Guia de Livros Didáticos74 PNLD 2008 de História está estruturado de modo

a oferecer subsídios aos professores para a escolha do livro didático (coleção) de seu

interesse. Para uma melhor eficácia na consulta do material, apresenta-se uma resenha

geral contendo o exame das coleções e a avaliação por parte dos pareceristas. Encontra-

se estruturado conforme segue:

Critérios e metodologia da avaliação. Esse item subdivide em: “I – Organização das coleções em Blocos”. As 19 coleções foram agrupas em quatro blocos: “1. História Temática; 2. História Integra-da; 3. História Intercalada; 4. História Convencional;” A indicação é feita por um grupo de pareceristas que examinam as co-leções submetidas ao edital. Das 26 coleções submetidas, somente 19 atingiram os critérios de avaliação conduzindo à sua aprovação. “II – Critérios de Avaliação”. Os critérios de avaliação foram: “1. Concepção; 2. Conhecimentos históricos; 3. Fontes históri-cas/documentos; 4. Imagens; 5. Metodologia de ensino-aprendizagem; 6. Capacidade e habilidades; 7. Atividades e exercícios; 8. Construção da cidadania; 9. Manual do Professor; 10. Editoração e aspectos visu-ais;” Esses critérios encontram-se dispostos, no guia, em um quadro síntese que representa em escala de cores a posição das coleções, conforme sua classificação na avaliação dos pareceristas. “III – Metodologia da Avaliação”. Segundo esse critério a coleção poderia ser avaliada como: “Ótima, Boa, Suficiente, Não ou inexisten-te”. Análise das Coleções : Segundo esse critério é observada “a di-versidade na organização dos conteúdos, nas propostas para o ensino de História e para a formação da cidadania, na editoração e nos Manu-ais do Professor”.

75(PNLD 2008, p. 21)

A equipe que elaborou o Guia de Livros Didáticos, dividiu as coleções em qua-

tros blocos classificando as coleções seguindo linhas gerais de concepções de história da

seguinte forma:

História Temática: sua concepção de História não é clara, “há indícios que apontam para uma mescla entre concepções históricas, sem que haja suficientes discussões e esclarecimentos”.

76

74

Há que se registrar ainda que o Guia para escolha do Livro Didático é um material elaborado sobre

todas as matérias escolares, cujo conteúdo trata, de forma avaliativa de um grande conjunto de títulos, no

qual pesquisadores das respectivas matérias avaliam o conteúdo, a forma, a aplicabilidade e apresentam

seus pareceres. 75

BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. Guia de. Livros didáticos

PNLD 2008: série/anos finais do Ensino Fundamental - História. Brasília: MEC, 2007. p. 21. 76

Idem, 2007, p. 24.

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45

História Integrada: sua concepção de história está em conce-ber “a História como construção e interpretação relacionada ao tempo em que foi produzido o conhecimento histórico”.

77

História Intercalada: nesse bloco de coleções podemos encon-trar quatro concepções a seguir: O conhecimento histórico não é o espelho fiel da realidade, mas uma representação, uma construção que deve ser questionada; [...] a Histó-ria estudada não é um produto pronto acabado, mas o resultado do tra-balho dos historiadores, e sempre se modifica de acordo com seu tem-po de produção; [...] apresenta situações pontuais em que os conteúdos são abordados de forma factual, desfavorecendo a compreensão pro-cessual e a possibilidade de pensar historicamente; [...] estimula o alu-no a reconhecer-se como agente da História e como alguém que lute por sua cidadania plena no tempo presente.

78

História Convencional: sua concepção histórica está vinculada a “uma abordagem na qual a narrativa factual, cronológica, linear e in-formativa prevalece sobre os procedimentos vinculados à produção do conhecimento histórico e ao fazer do historiador”.

79

Face ao exposto, podemos notar que, mesmo dentro dos blocos formatados pe-

la equipe que elaborou o Guia de Livro Didático, aparenta existir, a presença de várias

concepções de história80 incluindo o bloco nos quais as coleções se utilizam de uma

“adequação” de concepções de história para abranger a proposta dos conteúdos a serem

ministrados.

“Ficha de Avaliação:” nesse item que é o último do guia do li-vro didático do PNLD de história de 2008 encontra-se uma ficha de avaliação das coleções com 100 itens a ser observados e analisados. Desse modo é importante a visualização da ficha para avaliar, pois serve como mais um instrumento que pode ser utilizado em benefício a uma avaliação mais rigorosa.

81

Como podemos notar o Guia dos Livros Didáticos de História do PNLD 2008,

procede ao exame das coleções aprovadas no processo seletivo de acordo com seu méri-

77

Idem, 2007, p. 44. 78

Idem, 2007, p.76-77. 79

Idem, 2007, p. 108. 80

A aparente existência de diferentes concepções de história está ligada ao fato da continuidade do qu a-

dripartismo nas coleções de livro didático de História. Segundo Jean Chesneaux, “O quadripartismo tem

como resultado privilegiar o papel do Ocidente na história do mundo e reduzir quantitativamente o lugar

dos povos não-europeus na evolução universal. Por essa razão, faz parte do aparelho intelectual do imp e-

rialismo”. CHESNEAUX, Jean. Devemos fazer tabula rasa do passado? Sobre a História e os historiado-

res. São Paulo: Ática, 1995, p. 95. Desse modo, esse imperialismo, continua sendo disseminado pelas

coleções de livros didáticos no Brasil. 81

BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. Guia de. Livros didáticos

PNLD 2008: série/anos finais do Ensino Fundamental - História. Brasília: MEC, 2007, p. 114-119.

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46

to e estrutura didática e teórica. No entanto, não exime os professores de suas responsa-

bilidades de aprofundar o exame das mesmas coleções através de um olhar mais deta-

lhado82. Essa possibilidade existe devido às editoras enviarem para as escolas e aos pro-

fessores as coleções físicas para apreciação, em período anterior ao pedido para as se-

cretarias de educação, com o já dito anteriormente. Todo esse processo de escolha é

sistematicamente elaborado com cronograma previsto para ser cumprido.83

Exemplo de cumprimento de prazo pode ser visto no site da “ABRELIVROS –

Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares”84, no qual informa que escolas e

professores teriam prazo para efetuarem a escolha e os pedidos dos livros didáticos, para

o ano de 2008, até o dia 13 de julho de 2007. Excedida essa data, os pedidos somente

seriam atendidos no ano letivo seguinte.

Efetivada a escolha e formulação do pedido dos livros didáticos, cabe à escola

cadastrar e informar aos órgãos reguladores deste processo os títulos e coleções adota-

das, assumindo a responsabilidade do recebimento do material didático, sendo os meses

prováveis da entrega - feita pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) - no

caso do PNLD de 2008, entre outubro de 2007 até o início do ano letivo de 2008.

O Guia de Livros Didáticos PNLD 2011 de História diferente do Guia anterior,

de 2008, apresenta mudanças e continuidades. As novas orientações são objetivas e es-

clarecedoras, quanto à política do Estado e suas secretarias e comissões técnicas. Muito

antes dos livros didáticos e guias chegarem às escolas, há longas discussões a respeito a

sua produção, formatação e avaliação. A cada PLND há mudanças, mesmo que sejam

questões semânticas de termos que são dissonantes em alguns casos até as reformula-

ções de critérios, que inovam cada vez mais o PNLD.

82

Segundo Olinda Evangelista e Eneida Oto Shiroma, “[...] As providências concretas para o exercício do

controle político-ideológico sobre o magistério envolvem sua formação e sua atuação profissional. Ou

seja, a reforma dos anos de 1990, e seu prosseguimento no novo século, atingiu todas as esferas da docê n-

cia: currículo, livro didático, formação inicial e contínua, carreira, certificação, lócus de formação, uso

das tecnologias da informação e comunicação, avaliação e gestão”. EVANGELISTA, Olinda; SHIRO-

MA, Eneida Oto. Professor: protagonista e obstáculo. Educação e Pesquisa, São Paulo, vol. 33, n. 3,

set/dez. 2007, p. 537. 83

Para o PNLD de 2008, os livros das editoras chegaram às escolas de MS oito dias antes do término do

prazo para a escolha. Foram dados dois períodos (um dia) para os professores fazerem a escolha dos li-

vros didáticos. A de se acrescentar que o senso para PNLD 2008 tinha sido executado em 2006, o que

daria uma margem significativa de tempo para as editoras “reformularem” segundo a avaliação dos pare-

ceristas e enviar para os professores avaliarem com um maior tempo. 84

Maiores informações podem ser conferidas em: ABRELIVROS - Associação Brasileira de Editores de

Livros Escolares. http://www.abrelivros.org.br/home/index.php/pnld/5195-escolha-do-livro-didatico-vai-

ate-13-de-julho. Acessado em 7 de abril de 2014.

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47

O Guia de Livro Didático de História insere-se no conjunto dessas inovações.

A elaboração para o ano de 2011 parte dos seguintes princípios e critérios:

A condição de o livro didático auxiliar a formação de cidadãos consci-entes. [...] O respeito à legislação que rege o Ensino público nacional. [...] A qualidade pedagógica e didática das coleções. [...] A qualidade do Manual do Professor (MP). [...] A correção das informações apre-sentadas aos estudantes. [...] A qualidade e adequação do projeto grá-fico e estrutura editorial da coleção.

85

De acordo e observância desses critérios, das 25 coleções que chegaram para

ser avaliadas no PNLD de 2011, somente 16 foram aprovadas. Isso corresponde a 64%

de aprovação e 36% de reprovação, número inferior aos aprovados na edição anterior.

Essa avaliação se dá via a instituições universitárias parceiras do MEC. Neste ano, a

Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) sediou o processo de avaliação das cole-

ções e elaboração dos Guias.

Em geral, o objeto de atenção das comissões de avaliação se dava em torno dos

conteúdos curriculares. Na edição de 2011, observa-se um acréscimo nas preocupações

estabelecidas pela comissão:

O edital do PNLD 2011 estabeleceu, pela primeira vez, que uma cole-ção pode ser excluída caso seu manual do professor apresente proble-mas em sua elaboração ou se apresente de modo excessivamente su-perficial. Isso significa dizer que esse item tende a receber, daqui para frente, uma atenção mais cuidadosa por parte das editoras.

86

Resultante desse novo requisito a equipe responsável pela avaliação atribuiu

três categorias, visando orientar os professores na escolha do manual do professor: que

são “Formal”, “Contextualizado” e “Reflexivo”87. Sinalizadas com estes critérios no

PNLD de 2011, foram: 44% formal, 37% contextualizado e 19% reflexivo.

85

BRASIL, Ministério da Educação. Guia de Livros didáticos PNLD 2011: série/Anos finais do Ensino

Fundamental - História. Brasília: MEC, 2010, p. 10-11. 86

Idem, 2011, p. 15. 87

As categorias do Manual do professor Formal, Contextualizado e Reflexivo são apresentadas no guia

do livro didático da seguinte forma: “Formal identificamos aquele cuja elaboração denota uma produção e

uma inserção na coleção que atende à obrigatoriedade do edital, sem que se verifique, con tudo, uma arti-

culação densa à obra”; “Contextualizado é aquele que se caracteriza pela presença de uma apresentação

efetiva dos princípios norteadores centrais da obra e é pautado por orientações claras quanto ao uso do

livro do aluno por parte do professor”; “Reflexivo é aquele caracterizado por densa explicação de princ í-

pios conceituais, teóricos e curriculares, bem como por uma consistente reflexão acerca do campo da

história e seu ensino hoje”. Idem, 2011, p. 15.

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48

Outro aspecto importante no Guia de 2011 consiste na diferenciação da Meto-

dologia de Ensino e a Metodologia da História. Compreende-se nesse momento a forma

pela qual a História é elaborada ou metodologicamente construída, diferenciando-se da

forma pela qual metodologicamente ela é ensinada ou abordada nas coleções.

Nesse sentido, o Guia de Livro Didático aponta para duas perspectivas curricu-

lares dominantes, a história integrada e história temática:

Por História Integrada identificamos as coleções cujo agrupamento temático pauta-se pela evocação da cronologia de base europeia inte-grando-a quando possível, à abordagem dos temas relativos à história brasileira, africana e americana. [...] História temática ocorre quando os volumes são apresentados não em função de uma cronologia linear, mas por eixos temáticos que problematizam as permanências e trans-formações temporais, sem, contudo, ignorar a orientação temporal as-sentada na cronologia.

88

Para dar visibilidade ao processo resultante dessas duas tendências metodoló-

gicas, o gráfico que segue fornece indicativos percentuais das concepções predominan-

tes nas coleções de livros didáticos de história submetida no ano de 2011:

Gráfico 1: Perspectiva curricular dominante nas coleções de Livros de História do PNLD 2011

Fonte: PNLD 2011, p. 17

Face o exposto, ao converter as porcentagens por números de coleções aprova-

das no PNLD de 2011, que são 16, teremos 15 delas fazendo parte da concepção de His-

88

Idem, 2011, p. 17.

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49

tória Integrada89 e 01 de concepção de História Temática. Como podemos notar a con-

cepção histórica que mais disseminou nos Livros Didáticos de História do PNLD de

2011 é eurocêntrica, de valor social-econômico e cultural europeu que engendra em

nosso modo de conceber a História.

Quanto à metodologia de ensino/aprendizagem ou proposta pedagógica, o

Guia90 do Livro Didático de História, aponta para as coleções três perfis: informativo,

procedimental e complexificação de pensamento. O perfil Informativo, [...] aquele que

busca fornecer informações ao estudante, de modo a constituir uma referência de eru-

dição histórica. [...]. Já o perfil Procedimental [...] aquele conjunto de textos e estraté-

gias periféricas que se pautam pela valorização de aspectos de problematização de

fontes, de modo a priorizar a dimensão do procedimento histórico no processo de cons-

trução da narrativa e da explicação histórica apresentada aos alunos. [...]. Quanto ao

perfil Complexificação de Pensamento, [...] o diálogo entre textos e seções complemen-

tares gera uma relação harmônica, coerente, capaz de produzir uma educação que sen-

sibiliza o aluno no tocante ao procedimento histórico e que não se pauta por nenhum

tipo de divórcio entre as partes da obra. [...] . Com essas características as coleções se

apresentam em percentual da seguinte forma:

Gráfico 2: Perfil das coleções de Livros de História do PNLD 2011 (Fonte: PNLD 2011, p. 19)

89

De acordo com a concepção de História Integrada fornecida pelo Guia do livro didático, ela está assen-

tada na cronologia de base europeia, ou seja, no quadripartismo eurocêntrico que segundo Jean Chesn e-

aux,” [...] fracassa, sobretudo pelo próprio movimento da história. Ele se configura incompatível com a

evolução do mundo de nosso tempo, com as exigências do presente”. CHESNEAUX, Jean. Devemos

fazer tabula rasa do passado? Sobre a História e os historiadores. São Paulo: Ática, 1995, p. 97. 90

No Guia do Livro Didático de História não é mencionado em nenhum momento o ensino de História

Regional, salvo na Ficha de Avaliação no Bloco 4, p. 118, item “Princípios éticos e de cidadania”, seção

46 onde está como critério de avaliação da coleção: “Está isenta de preconceitos de condiç ão regional,

socioeconômica, étnico-racial, de gênero, linguística e de qualquer outra forma de descriminação,” o que

não sustenta o ensino de História Regional.

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50

Quanto ao aspecto quantitativo temos: perfil de Complexificação de Pensamen-

to, 01 coleção, de perfil Procedimental 03 coleções e de perfil Informativo 12 coleções.

Desse modo podemos observar que a coleção de perfil Complexificação de Pensamento

é a coleção que adota a concepção de História Temática e as de perfil Informal e Proce-

dimental formam o grupo de 15 coleções que adotam a concepção de História Integrada,

ou seja, muda-se a metodologia, mas a concepção é a mesma, eurocêntrica.

Outro aspecto observado diz respeito à inserção dos conteúdos históricos sobre

as temáticas indígena e africana. De acordo com as Leis n. 10.639/2003 e n

11.645/2008, que dispõem sobre a obrigatoriedade das temáticas afro-brasileiras e indí-

genas no ensino de história, o que atribui maior responsabilidade aos autores de cole-

ções demandando atenção quanto às formas de tratamento dessas abordagens.

Gráfico 3: Abordagens temáticas nas coleções de Livros de História do PNLD 2011

(Fonte: PNLD 2011, p. 23)

Face ao exposto, os novos aspectos que fazem parte dos critérios de avaliação

das coleções são indicadores de que a comissão tem feito estudos e atualizado os proce-

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51

dimentos em virtude das necessidades identificadas, apesar dessas temáticas91 estarem

ainda vinculadas a conteúdos determinados, No entanto, essa adesão não garante que os

temas sejam trabalhados numa perspectiva crítico-reflexivo. Nessa perspectiva, o qua-

dro síntese das características gerais das coleções92 é um exemplo dos esforços dessa

equipe para oferecerem aos professores mais um instrumento de que possa ser útil no

processo da escolha do livro didático.

No ano de 2011, - quanto ao funcionamento e cronograma de entrega dos livros

didáticos -, foram efetuadas a distribuição integral de títulos para os anos finais do En-

sino Fundamental e reposição aos anos iniciais do Ensino Fundamental e Médio. A re-

posição é feita durante os dois anos que se seguem após a distribuição integral, justifi-

cando-se em virtude de efetivação de novas matrículas e abertura de novas turmas. Cabe

à escola encaminhar o pedido para a Secretaria de Educação Estadual ou Municipal e

estas recorrerem à reserva técnica para proceder ao repasse às escolas.

Quanto à materialidade dos livros entregues pelo FNDE, é de boa qualidade,

pois são confeccionados com material físico resistente para que sejam utilizados por três

anos e por mais de um aluno, motivo esse que os estudantes ao final de cada ano letivo

são instruídos a devolverem os livros didáticos de língua portuguesa, matemática, ciên-

cias, história e geografia no Ensino Fundamental e no Ensino Médio, incluindo na lista

de entrega os de biologia, física e química para a escola de origem. A exceção de devo-

lução são os livros consumíveis de alfabetização matemática e alfabetização linguística

(1º e 2º anos) e os de língua estrangeira no Ensino Fundamental. No Ensino Médio, os

livros de Sociologia e Filosofia são volume único, com objetivo de serem utilizados

durante os três anos pelo aluno.

O quadro abaixo nos possibilita maior visibilidade de quais livros didáticos por

ano ou série que os alunos recebem do PNLD e quais os que eles devem devolver (reuti-

91

A inserção das temáticas indígenas e africanas é essencial para nos reconhecermos historicamente, haja

vista a formação étnica do povo brasileiro. Não podemos evocar Von Martius para a discussão, pois aca-

baríamos privilegiando o desbravador dos mares, o Europeu (branco). No entanto, devemos perceber que

essas temáticas são inseridas no contexto escolar onde não há formação continuada para professores vol-

tada para o ensino dessas temáticas, salvo exceções. Quanto ao livro didático, sofre a mesma carência de

elaboração de conteúdos significativamente produzidos por especialista da área de estudo da temática

indígena e da História da África. Em suma, tanto o ensino quanto o livro didático apresentam um déficit

quanto a essas temáticas que se tornaram por direito e lei obrigatórias. 92

BRASIL, Ministério da Educação. Guia de. Livros didáticos PNLD 2011: série/Anos finais do Ensino

Fundamental - História. Brasília: MEC, 2010, p. 25.

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52

lizáveis) - quando finda o ano letivo, e os livros que eles não precisam devolver (con-

sumíveis).

Quadro 3 – Sistematização por ano/série de Livros Didáticos Consumíveis ou Reutilizá-

veis.

ETAPA DE ENSINO

ANO / SÉRIE COMPONENTES CURRICULA-RES

TIPOS DE LIVROS

Ensino Fundamen-

tal Anos Iniciais

1º, 2º e 3º ano Alfabetização Matemática e Alfabeti-zação Linguística

Consumíveis

2º ao 5º ano Ciências, História e Geografia Reutilizáveis

3º ao 5º ano Matemática e Língua Portuguesa Reutilizáveis

Ensino Fundamen-tal Anos finais

6º ao 9º ano Matemática, Língua Portuguesa, Ci-ências, História e Geografia

Reutilizáveis

6º ao 9º ano Língua Estrangeira Moderna Inglês ou Língua Estrangeira Moderna Es-

panhol

Consumíveis

Ensino Médio e Educação de Jo-vens e Adultos

1º à 3ª série Língua Portuguesa, Matemática, His-tória, Geografia, Biologia, Química e

Física

Reutilizáveis

1º à 3ª série Língua Estrangeira Moderna Inglês e Língua Estrangeira Moderna Espa-

nhol

Consumíveis

Volume Único Filosofia e Sociologia Consumíveis

Educação de Jo-vens e Adultos -

Ensino Fundamen-tal

1º ao 5º ano

Letramento e Alfabetização, Alfabeti-zação Matemática, Língua Portugue-sa, Matemática, História, Geografia,

Artes, Ciências, História Regional e

Geografia Regional

Consumíveis

6º ao 9º ano

Língua Portuguesa, Matemática, His-tória, Geografia, Artes, Ciências,

Língua Estrangeira Moderna Inglês e Língua Estrangeira Moderna Espa-

nhol.

Consumíveis

Programa Brasil Alfabetizado –

PBA

Letramento e Alfabetização, Alfabeti-zação Matemática.

Fonte: site http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/livro-didatico-apresentacao/item/4509-livros-por-ano-e-

serie Acessado em 14 de abril de 2014. Compilado por: DEBONA, Jackson James. 2014

Dessa forma, todo ano letivo o governo redistribui livros, integralmente, há

uma das etapas de ensino e repõem nas outras fazendo assim uma redistribuição integral

a cada três anos a cada etapa de ensino e a reposição a cada ano. O FNDE possibilita

conferir e acompanhar números de alunos, escolas públicas e o montante de livros dis-

tribuídos. No PNLD de 2008, “foram atendidos 31,1 milhões de alunos de 139,8 mil

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escolas públicas. Foram adquiridos, ainda, 18,2 milhões de livros para 7,1 milhões de

alunos de 15,2 mil escolas públicas de ensino médio”, número significativo, mas não o

suficiente, pois o PNLD está baseado no censo de alunos do ano de 2006, o que faz que

essa demanda de livros seja insuficiente para todos os alunos das Escolas Públicas do

Brasil.

O FNDE, com objetivo de sanar esse problema e proporcionar o acesso a todos

os alunos ao material didático, criou a reserva técnica e possibilitou o remanejamento

das escolas que estão excedendo materiais para as escolas onde ocorre a falta. A reserva

técnica, referente ao PNLD vigente, fica nas Secretarias Estaduais de Educação à dispo-

sição das escolas que necessitam atender a novas matrículas e turmas.

Devido a pouca visibilidade das reservas técnicas e para facilitar o remaneja-

mento dos livros didáticos, foi implantado em 2004 o Sistema de Controle de Remane-

jamento e Reserva Técnica (Siscort). O Siscort de 2004 teve como meta atender as tur-

mas de 1ª a 4ª série e, em 2005, foram então incluídas no sistema as turmas de 5ª a 8ª

série. No entanto, o Siscort apresentou falha técnica e por um período significativo ficou

indisponível. Porém, a equipe de tecnologia da informação do FNDE reformulou o Sis-

cort tornando-o mais acessível aos usuários.

De acordo com o site do FNDE, consta a proposta de um documento para “ins-

trução e orientação, passo a passo das operações do sistema.” Ainda no mesmo link po-

demos encontrar um subitem “Remanejamento Preciso e Necessário” no qual consta a

proposta do PNLD e direcionamento do uso individual do livro didático amparado con-

forme o “parágrafo 3º do artigo 1º da Resolução/CD/FNDE n. 42/2012, de 28 de agos-

to de 2001”. Essa resolução é o documento que estabelece as regras de funcionamento

do PNLD. No entanto, o Novo Siscort torna-se uma ferramenta importante e mais preci-

sa na distribuição dos livros didáticos e um meio para que o PNLD atinja seu objetivo

que é de disponibilizar e dar acesso aos materiais didáticos a todos os estudantes da rede

pública de ensino.

A partir de 2014, os materiais didáticos formaram um estoque nacional, obser-

vada ainda a reserva técnica de 3% das matrículas projetadas a cada ano de atendimen-

to. Isso será possível pelo contrato firmado entre o FNDE e ECT que se responsabilizará

pela guarda e a distribuição dos livros didáticos, sendo que após a solicitação das secre-

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tarias de estados ou municipais, o ECT tem o prazo de 20 dias para a entrega dos livros

didáticos em caso de requererem a reserva técnica.

Ao apresentar o cenário referente aos processos de constituição legal do com-

ponente curricular de história, em âmbito federal, seus desdobramentos em âmbito esta-

dual, ao lado das orientações que dispõem sobre o seu ensino na rede pública sul-mato-

grossense, objetivou-se desenhar a trajetória para as discussões que seguem na sequên-

cia deste estudo, tendo em vista que se pretende examinar as discussões relacionadas ao

ensino de história regional nos materiais de ensino adotados pela rede escolar nos anos

2008 e 2011.

Esse cenário indicou constantes mudanças na configuração das orientações po-

líticas, mas não refletiu necessariamente, no exame inicial, na ampliação dos conteúdos

referentes à história de Mato Grosso do Sul e suas peculiaridades. Esses e outros ele-

mentos serão discutidos nos capítulos seguintes.

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55

=== CAPITULO 2 ===

PERCURSOS HISTÓRICOS E FONTES:

um estudo sobre as coleções de livros didáticos adotadas em Mato

Grosso do Sul

Ao apresentar as diretrizes que balizam, em nível federal e estadual, o ensino

da disciplina de história, no capítulo 1, objetivamos traçar o cenário dos aspectos legais

que determinam e orientam as atribuições mínimas no que concernem ao seu ensino. O

exame da legislação de ensino, bem como dos dispositivos regionais que regulam, mí-

nima e obrigatoriamente, os conteúdos a serem ensinados em instituições de Ensino

Fundamental regular (anos finais), forneceram subsídios para vislumbrar algumas das

formas de organização e apropriação dos saberes históricos, por parte de professores,

tendo em vista o material didático que escolhem para conduzir sua prática de ensino

cotidiana.

Face ao exposto, o presente capítulo apresenta discussões pertinentes ao local

específico do qual trata a pesquisa em curso, o Estado de Mato Grosso do Sul93, no es-

forço de compreender a necessidade e importância do ensino da história regional, os

encaminhamentos relativos aos processos que orientam e efetivam a adoção dos livros

didáticos para o ensino de História no Ensino Fundamental, ao lado do mapeamento das

coleções adotadas.

Ao realizar o mapeamento, levantamento e localização das coleções de livros

didáticos escolhidas, cujo processo demonstrou-se no capítulo anterior, por professores

e adotadas para o ensino de história em 2011, entendidas neste trabalho como fontes

93

Vale ressaltar que a pesquisa refere-se à adoção dos livros em Mato Grosso do Sul, mas a abordagem,

de acordo com o período histórico mencionado, tratar-se-á de Mato Grosso, em virtude do primeiro Esta-

do só existir oficialmente a partir do final da década de 1970 Cf. os trabalhos de SILVA, Jovam Vilela da.

A divisão do Estado de Mato Grosso: (uma visão histórica – 1892-1977). Cuiabá: EdUFMT, 1996. Cf.

WEINGARTNER, Alisolete Antônia dos Santos. Movimento divisionista em Mato Grosso do Sul. Porto

Alegre: Edições EST. 1995.

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56

para demonstrar o problema de pesquisa que orienta a presente proposta de dissertação,

identificou-se a necessidade de retomar conceitos e definições que auxiliassem na com-

preensão da dimensão regional, possibilitando estabelecer parâmetros de análise para o

ensino. Ao lado dessa primeira necessidade considerou-se oportuno revisitar produção

sobre historiografia (sul) mato-grossense, na intenção de ter elementos que possibilitas-

sem entender as temáticas presentes nos livros didáticos de história utilizados no Esta-

do. Esse processo de revisão de literatura fornece condições, ainda, para elaborar hipó-

teses explicativas para a ausência do temário acerca das especificidades regionais nas

coleções em exame.

Partindo desse pressuposto, o capítulo que segue estrutura-se a partir de três ei-

xos predominantes, a saber: a discussão teórica metodológica da produção de uma histó-

ria tipicamente regional, sem, no entanto, estar desvinculada da história nacional, ao

lado de uma revisão da produção bibliográfica pertinentes à história de Mato Grosso e

da criação do estado de Mato Grosso do Sul, com ênfase na produção derivada de teses

e dissertações acadêmicas; a apresentação e discussão dos dados coletados a partir dos

sistemas de controle e distribuição dos livros didáticos em Mato Grosso do Sul nos anos

de PNLD 2011 e; por fim, a apresentação das coleções selecionadas para a análise rela-

tivas aos temas pertinentes à Mato Grosso e Mato Grosso do Sul identificados nos mate-

riais didáticos que circularam nas escolas no período em exame.

[2.1] A História regional: conceitos e componentes de ensino

Ao tratar do tema História regional encontramos uma relação paradoxal, que

ora evidencia a sua importância e necessidade, ora alerta para os possíveis riscos de se

escrever uma história unitária, desvinculada do contexto mais amplo de sua inserção,

sem estabelecer diálogos e relações com a totalidade da qual obrigatoriamente é parte

integrante. Na intenção de encaminhar possibilidades de compreensão do tema, ao

mesmo tempo em que elaborar categorias de análise para as fontes que perfazem a escri-

ta deste trabalho entendemos, a partir de Eric Hobsbawm:

[...] o problema para os historiadores profissionais é que seu objeto tem importantes funções sociais e políticas. Essas funções dependem do seu trabalho - quem mais descobre e registra o passado além dos

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historiadores? -, mas ao mesmo tempo estão em conflito com seus pa-drões profissionais. Essa dualidade está no cerne de nosso objeto.

94

Ao trazer essa discussão Hobsbawm contribui com os interesses deste trabalho,

evidenciando possibilidades de se compreender a produção histórica a partir dos concei-

tos de nação e região, e assevera, a partir da leitura que fez de Ernest Renan, que "es-

quecer, ou mesmo interpretar mal a História, é um fator essencial na formação de uma

nação, motivo pelo qual o progresso dos estudos históricos muitas vezes é um risco para

a nacionalidade."95

Nesse sentido, a escrita da história é também um exercício de escolha/seleção:

sobre o que contar, sobre quem contar, o que escrever, ao mesmo tempo sobre o que não

contar. Porém, o mesmo autor adverte para a importância da escrita da história, e conse-

quentemente do seu ensino, quando afirma que "[...] convém nunca esquecer que a his-

tória - principalmente a história nacional - ocupa um lugar importante em todos os sis-

temas conhecidos de educação pública."96

Ao tratar da história das regionalidades, entendendo-as como elemento essen-

cial para a construção das identidades, mas também fruto da luta por representações que

se tornem dominantes, Pierre Bourdieu problematiza a noção de região como espaço de

interesse dos historiadores, tendo em vista que estes também lidam com espaços ainda

que em perspectivas diferentes de outros profissionais:

A região é o que está em jogo como objecto de lutas entre os cientis-tas, não só os geógrafos é claro, que, por terem que ver com o espaço, aspiram o monopólio da definição legítima, mas também historiado-res, etnólogos e, sobretudo desde que existe uma política de 'regionali-zação' e 'movimentos regionalistas' economistas e sociólogos.

97

Ainda no que concerne a problematização da produção de conhecimentos que

se digam regionais, Bourdieu acrescenta:

O efeito simbólico exercido pelo discurso científico ao consagrar um estado das divisões e da visão das divisões, é inevitável na medida em

94

HOBSBAWM, Eric J. Sobre História: ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 284-285. 95

Idem, 1998, p. 285. 96

Idem, 1998, p. 290. 97

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 4. ed. Lisboa: Bertrand; Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001,

p. 108.

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58

que os critérios ditos 'objetivos', precisamente os que os doutos conhe-cem, são utilizados como armas nas lutas simbólicas pelo conheci-mento e pelo reconhecimento [...] logo que a questão regional ou na-cional é objectivamente posta na realidade social, embora seja por uma minoria actuante [...] qualquer enunciado sobre a região funciona como um argumento que contribui - tanto mais largamente quanto mais largamente é reconhecido - para favorecer ou desfavorecer o acesso da região ao reconhecimento e, por este meio, à existência.

98

Partilhando dessa preocupação, Marcos Lobato Martins conceitua a História

Regional como sendo aquela em que se

toma o espaço como terreno de estudo, que enxerga as dinâmicas his-tóricas no espaço e através do espaço, obrigando o historiador a lidar com processos de diferenciação de áreas. A História Regional é a que vê o lugar, a região e o território como natureza da sociedade e da his-tória, e não apenas como palco imóvel onde a vida acontece. Ela é História Econômica, Social, Demográfica, Cultural, Política etc., refe-rida ao conceito chave de região.

99

Desse modo, o estudo do regional nos permite visualizar especificidades e sin-

gularidades de um dado recorte de realidade e estabelecer comparações com outros re-

cortes de realidades regionais. Diferente do estudo do nacional que aborda os aspectos

de semelhanças entre as regiões e da Micro-história, que faz uma redução de escala de

observação para perceber a realidade que poderiam não ser percebidas pela análise ma-

cro100.

De posse dessa discussão preliminar, é possível afirmar que a produção sobre

História regional mato-grossense é permeada pelas mais diversas abordagens, em sua

maioria partindo de aspectos gerais relacionados à História nacional, em especial no que

se refere aos marcos cronológico, contudo abordando os acontecimentos locais101. A

opção por acompanhar e apresentar os fatos históricos (cuja abordagem se faz relevante)

deve-se à observância da estrutura de conteúdos fixada nos referenciais curriculares

98

Idem, 2001, p. 119-120. 99

MARTINS, Marcos Lobato. História Regional, in: PINSKY, Carla Bassanezi (org.). Novos temas nas

aulas de história. São Paulo, Contexto, 2009, p. 143. 100

Cf. BARROS, José D’ Assunção. O campo da História: especialidades e abordagens. Petrópolis, RJ:

Ed. Vozes, 2004. p. 153. 101

De acordo com Marcos Lobato Martins: O "lugar" e a "região" respondem a demandas individuais e

coletivas por segurança, continuidade histórica e pertencimento a algum tipo de comunidade de destino.

MARTINS, Marcos Lobato. História Regional, in: PINSKY, Carla Bassanezi (org.). Novos temas nas

aulas de história. São Paulo: Contexto, 2009, p. 135-152.

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59

para o ensino de história, a qual mesmo ao trabalhar com eixos temáticos, como é o caso

de algumas coleções, não deixa de "contar" a história através dos marcos cronológico.

Das abordagens que seguem resultou a indicação de temas, neste trabalho convertidos

em conteúdos os quais se procurará verificar se há tratamento nas coleções examinadas,

conforme demonstraremos no capítulo seguinte.

[2.1.1] Por dentro de Mato Grosso: aspectos históricos

Nesse primeiro enfoque trataremos de forma abrangente a ocupação do territó-

rio mato-grossense, quando ainda fazia parte da capitania de São Paulo. Seu início de

colonização é datado no começo do século XVIII, porém nos séculos XVI e XVII a re-

gião passava por disputas territoriais entre o Império Português e Espanhol.

De acordo com Lylia da Silva Guedes Galetti,

[...] a percepção do colonizador, até o início do século XVIII, grande parte do que viria a ser o território da Capitania de Mato Grosso per-manecia na condição de sertões, ínvios desertos, praticamente inde-vassados. Contudo, ao longo dos séculos XVI e XVII sua região meri-dional havia sido palco de intensa movimentação de súditos dos dois Impérios ibéricos, em atividades comerciais, disputa pela ampliação ou defesa de seus territórios, perseguição aos povos indígenas e na in-cansável procura de um caminho para as fantásticas minas do Peru. Em meados do século XVII, entretanto, com a destruição das reduções guaranis, localizadas na Bacia do Rio Paraguai, e a expulsão dos jesuí-tas (1648), os espanhóis, portugueses e luso-brasileiros praticamente abandonaram a região. Sob o domínio dos índios Mbayá Guaikuru, que ali se estabeleceram em seguida, a porção meridional da futura capitania retomaria suas feições de sertão bruto e indevassado.

102

Esse abandono foi temporário pelos luso-brasileiros, já que frequentemente os

mesmos investiam nesses espaços em busca de índios para escravizar. Porém, os indí-

genas Mbayá Guaikuru representaram um obstáculo quase intransponível para os ban-

deirantes, o que dificultou a movimentação destes nessa região, que viria ser a capitania

de Mato Grosso. Entretanto, as primeiras vilas e arraiais que apareceram nessas para-

gem surgiram a partir das monções vindas de São Paulo, a intensificação da circulação

dos Bandeirantes e a descoberta de ouro.

102

GALETTI, Lylia da Silva Guedes. Sertão, fronteira, Brasil: imagens de Mato Grosso no mapa da

civilização. Cuiabá: Entrelinhas: EdUFMT, 2012, p. 61.

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60

Segundo Nauk Maria de Jesus,

Mato Grosso teve seu espaço colonizado na primeira metade do século XVIII, sendo o arraial e depois Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá (atual cidade de Cuiabá) o ponto mais avançado até 1734, quando foram descobertas as minas na região do Guaporé. Essa vila teve sua origem com a descoberta do ouro nas lavras do Coxipó-Mirim, em 1719, tendo à frente da tal investida paulistas e reinóis. No ano de 1727 o arraial do Senhor Bom Jesus do Cuiabá (1722) foi ele-vado à condição de vila e, nesse momento, pertencia à jurisdição de São Paulo. Em 1748 essa capitania teve sua circunscrição reduzida em função das fundações das capitanias de Mato Grosso e de Goiás. [...] a capitania de Mato Grosso era constituída por apenas dois distritos, o do Cuiabá (1727) e Vila Bela da Santíssima Trindade (1752), esta úl-tima fundada para ser sede de governo. Além delas, arraiais, povoados e edificações militares foram criados ao longo da linha de fronteira no decorrer do setecentos e somente em 1820 uma nova vila foi fundada: a Vila de Diamantino.

103

Face ao exposto, podemos notar que a Coroa portuguesa apressou-se em tomar

posse e povoar a região criando um antemural, a capitania de Mato Grosso, a qual os

limites territoriais externos se delimitavam “com terras espanholas representadas pelos

governos de Chiquitos, Mojos e Assunción”.104 Essa postura da Coroa portuguesa em

consolidar a posse das terras do extremo Oeste é verificada pela chegada de Antonio

Rolim de Moura, em 1751, à Capitania de Mato Grosso e pelas tentativas de tratados

estabelecidos com a coroa Espanhola. O primeiro deles foi o Tratado de Madri, em

1750, que buscava rever o tratado de Tordesilhas; o segundo o Tratado de El Pardo,

assinado em 1761. Este anularia o Tratado de Madri; o terceiro, o Tratado de Paris, de

1763, que anularia os dois anteriores; o quarto, Tratado de Santo Idelfonso, de 1777,

que revalidou o Tratado de Madri; o quinto, o Tratado de Badajós e Amiens, de 1801.

Esse foi o último tratado a ser assinado antes da crise que desagregou o império colonial

na América de Portugal e de Espanha.

Conforme sinaliza Galetti,

A Capitania de Mato Grosso configurou-se como um espaço de luta, palco de conflitos com indígenas e, objeto de acirradas discussões di-

103

JESUS, Nauk Maria de. A Capitania de Mato Grosso: História, Historiografia e Fontes. Revista Terri-

tórios & Fronteiras. Cuiabá, vol. 5, n. 2, jul./dez. 2012, p. 94. 104

GALETTI, Lylia da Silva Guedes. Sertão, fronteira, Brasil: imagens de Mato Grosso no mapa da

civilização. Cuiabá: Entrelinhas: EdUFMT, 2012, p. 78.

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61

plomáticas com o império espanhol. Área estratégica para a consoli-dação do domínio português na América [...] ali deveria edificar-se uma sólida barreira, capaz de estancar as investidas expansionistas do Império vizinho.

105

Durante esse espaço de tempo em que os dois impérios ibéricos buscaram um

acordo limítrofe de seus impérios nas colônias, a dinâmica da ocupação e exploração

por parte dos portugueses foi acontecendo. Quanto à ocupação podemos observar que o

ônus ficou em grande parte para a Capitania e sua população, escrava e não escrava.

Esta, no entanto, era a responsável pelo comércio, produção de seus viveres e pela ex-

ploração aurífera. Nota-se de passagem que:

Em 1796, existiam 79 engenhos nas vizinhanças de Cuiabá e o reba-nho bovino chegava a 43 mil cabeças. O comércio, nesse período, se manifestava bastante intenso, pois se processava, não só por via fluvi-al, mas ainda por via terrestre, ligando Cuiabá a Minas Gerais, Goiás, Rio de Janeiro e Bahia.

106

Como podemos observar acima havia alta demanda por mão de obra braçal, es-

crava negra, indígena e de trabalhadores livres, que eram empregadas nas fazendas e

nos engenhos da nova capitania do extremo Oeste. Estes foram os grandes responsáveis

pela edificação das fronteiras da Capitania de Mato Grosso, haja vista a dificuldade cli-

mática e pelo trabalho brutal nas minas e lavouras de cana-de-açúcar e fazendas de gado

bovino. Concomitantemente à força de trabalho escrava, também existia a força de tra-

balho livre de negros, indígenas e de brancos.

No começo do século XIX, a Capitania de Mato Grosso passou por um período

político intenso, resultante de disputas entre a elite regional no que tange a possibilidade

de mudança de sua capital. A pergunta que se estabeleceu há época era em torno de on-

de seria a sede da capitania: Cuiabá ou Vila Bela? Esse pleito, para ser a capital da pro-

víncia, passava pelo foro do econômico-social e geográfico. Isso fica claro na passagem:

Em março de 1821, Magessi declarou Cuiabá como cabeça de provín-cia e Vila Bela, como paróquia. Essas atitudes tomadas pelos capitães-generais não estavam centradas apenas no que toca ao fator de insalu-bridade de Vila Bela, mas foram determinadas muito mais por condi-

105

Idem, 2012, p. 83. 106

SIQUEIRA, Elizabeth Madureira; COSTA, Lourença Alves da; CARVALHO, Cathia Maria Coelho.

O Processo Histórico de Mato Grosso. 3 ed. Cuiabá: EdUFMT, 1990, p. 92.

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62

ções econômico-sociais, uma vez que Cuiabá se apresentava como lí-der da capitania e porto estratégico do futuro comércio internacio-nal.

107

Podemos perceber que essa atitude de Francisco de Paula Magessi, tinha um

tom conciliatório, o que não fez a diferença para a elite de Cuiabá, já que no mesmo ano

(1821) com ausência do governador e “as notícias trazidas do Rio de Janeiro, por Anto-

nio Navarro de Abreu, as quais diziam que os governos da Bahia e São Paulo foram

depostos e em seus lugares foram instaladas Juntas Governativas”108, a elite cuiabana

estruturou, estrategicamente, uma Junta Governativa amalgamando o clero e os milita-

res. Com essa, em 20 de agosto de 1821, depõem o governador, expedindo ofícios às

vilas de Norte a Sul, comunicando sobre a nova situação política em que se encontrava

o governo da província de Mato Grosso.

De outro lado formou-se uma Junta Governativa em Vila Bela tentando esbo-

çar uma reação. No entanto, as elites de Cuiabá tinham uma forte influência política a

nível nacional. Aproveitando esse elemento significativo a seu favor, articulam politi-

camente e recebem do príncipe regente a aprovação da Junta Governativa de Cuiabá.

De acordo com Jesus,

Nesse sentido, a rivalidade entre Vila Real do Cuiabá e Vila Bela du-rante todo o período colonial teve sua origem no processo de organi-zação administrativa metropolitano e estava inserida num quadro mais amplo que marcou a formação histórica dessa capitania-fronteira-mineira.

109

Face ao exposto, essa rivalidade toma forma de solução quando D. Pedro apro-

va a segunda Junta Governativa de Cuiabá e concomitantemente reitera-a como sendo a

capital da Capitania de Mato Grosso.

Já no segundo quarto do século XIX, as populações descontentes com os polí-

ticos da ala conservadora organizaram uma revolta que ficou conhecida como Rusga.

Em 1834 esse movimento armado foi liderado pela Sociedade dos Zelosos da Indepen-

dência e comandada pela Guarda Nacional. Esses revoltosos manifestavam apoio ao

107

Idem, 1990, p. 92. 108

Idem, 1990, p. 97-98. 109

JESUS, Nauk Maria de. O governo local na fronteira oeste: a rivalidade entre Cuiabá e Vila Bela no

século XVIII. Dourados: Ed. UFGD, 2011, p. 176.

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63

grupo político dos liberais, pois estavam desejosos de que os mesmos assumissem o

poder local e com isso mudariam a situação a qual a da província estava relegada.

No mesmo sentido Galetti escreve que,

Em 1834 explode o movimento armado conhecido como Rusga ou Rebelião Cuiabana, no qual se enfrentaram setores da classe dominan-te local. De um lado, a elite tradicional que se constituíra durante o pe-ríodo colonial, organizada no interior da Sociedade Filantrópica e, do outro, o setor integrado por comerciantes cuiabanos e profissionais li-berais. Organizados na Sociedade dos Zelosos da Independência, que se dividiam, entretanto, em liberais exaltados e moderados. Apoia-vam-se no discurso nativista contra a restauração e reivindicavam o comando político da região. Os liberais exaltados viam na expulsão dos adotivos, se necessário pela luta armada, a estratégia correta para conseguir as transformações almejadas.

110

Essa revolta está inserida, cronologicamente, entre a renúncia ao trono Imperial

do Brasil por Dom Pedro I e o golpe da maioridade que levou Dom Pedro II ao trono.

Nesse período, vinham ocorrendo revoltas armadas e violentas em várias províncias

brasileiras. A busca por melhores condições político-sociais era a tônica das reivindica-

ções da população e dos políticos locais, que buscavam através das revoltas, serem ou-

vidos e atendidos pelo governo central, Rio de Janeiro.

Passado o turbulento período e com a ascensão ao trono de D. Pedro II, o Im-

pério passa por uma consolidação do regime monárquico no Brasil. No entanto, a insti-

tuição do estado imperial tomara novos rumos após a Guerra contra o Paraguai. Por

motivos geopolíticos, Brasil e Paraguai entram litígio. Esse conflito trouxe consequên-

cias substanciais para a província de Mato Grosso.

Esse conflito já teria sido previsto pelo Presidente da província, Herculano Pe-

na, cinco anos antes do acontecido: “Em resumo estou convencido de que presentemen-

te uma guerra com o Paraguai na fronteira desta Província há de ser desastrosa para o

Império.”111 Certo do que poderia acontecer, antevê a possibilidade de uma retração

populacional, perda territorial, navegabilidade do rio Paraguai – acesso fluvial ao co-

mércio internacional - e alteração nas relações econômicas.

110

GALETTI, Lylia da Silva Guedes. Sertão, fronteira, Brasil: imagens de Mato Grosso no mapa da

civilização. Cuiabá: Entrelinhas: EdUFMT, 2012, p. 2017-218. 111

CORRÊA FILHO, Virgílio. História de Mato Grosso. Coleção Memórias Históricas. Vol. 4. Várzea

Grande: Fundação Júlio Campos, 1994, p. 539.

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64

A Guerra do Paraguai (1864-1870) se concretizou a partir de alguns fatos pon-

tuais no que tange aos acontecimentos relacionados ao percurso ‘natural’ da província

de Mato Grosso. Elencaremos alguns desses acontecimentos, em ordem cronológica:

o aprisionamento do Vapor Marquês de Olinda, onde o Coronel Frederico Car-

neiro de Campos, recém nomeado governador da província de Mato Grosso, es-

tava a bordo, em direção a província para tomar posse, em 1864;

a invasão da província de Mato Grosso pelos Paraguaios de uma forma avassa-

ladora, em 1865;

a resistência militar dos poucos núcleos existentes nas fronteiras da província de

Mato Grosso;

o desamparo do governo central para com a capitania de Mato Grosso;

o socorro tardio por terra, por uma coluna de combatentes. Essa coluna ficou co-

nhecida pelo nome Retirada da Laguna (1867);

o fim da Guerra (1870) e a remarcação das fronteiras entre o Brasil (Mato Gros-

so) e Paraguai.

A Retirada da Laguna foi um retrato da debilidade defensiva que o governo

central tinha quanto a uma resposta rápida ao guarnecimento das fronteiras do extremo

Oeste brasileiro. De acordo com Galetti:

Depois de escorraçada da fazenda Laguna, pelo exército paraguaio, local onde esperava recompor as forças e receber armas para um com-bate decisivo contra o inimigo, a Coluna é obrigada a voltar ao territó-rio nacional, aos desertos da pátria, faminta e esfarrapada. A salvação acaba vindo do sertanejo José Francisco Lopes, o Guia Lopes [...].

112

Com o fim da Guerra, a demarcação das fronteiras e a liberação do rio Paraguai

para a navegação, a província de Mato Grosso teve acesso livre a importação e exporta-

ção de produtos para os países da foz do Prata e da Europa. É nesse contexto que, nasce

a Companhia Mate Laranjeira, cujo seu idealizador o comerciante Tomás Laranjeira, ao

percorrer a região do Baixo Paraguai (região sul do Mato Grosso) observou a existência

112

Idem, 2012, p. 244.

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abundante de ervais nativos. Este requereu licença ao governador da província de Mato

Grosso no ano de 1878, para a exploração e cultivo de ervais em território brasileiro.

A Companhia Mate Laranjeira, segundo Elizabeth Madureira Siqueira,

[...] cujo capital era composto por diversos acionistas, tornou-se uma grande exportadora de erva mate. No entanto no começo do século XX, Tomás Laranjeira compra as ações do Banco Rio e Mato Grosso e associa-se ao argentino Francisco Mendes e alteram a razão social da empresa para Laranjeira Mendes & Companhia. Os vultuosos lucros dessa companhia e o pagamento antecipado dos arrendamentos para o Estado, - que quase sempre estava com os cofres vazios- forçava o es-tado a conceder novamente os arrendamentos sem controle da produ-ção da referida companhia. Em outras palavras o estado ficou depen-dente financeiramente da Laranjeira Mendes & Companhia, isso só mudaria em 1930 quando Getúlio Vargas implanta uma política de controle fiscal eficiente em todo o território nacional.

113

Como podemos notar, ao final do Império brasileiro e no começo do período

republicano, desenham-se dois pontos políticos econômicos no Estado de Mato Grosso,

na parte sul com fazendeiros e a Laranjeira Mendes & Companhia e mais ao norte a

elite política cuiabana.

A situação política no Estado de Mato Grosso é tensa na Primeira República

como aponta Osvaldo Zorzato,

No Mato Grosso, as duas situações mencionadas estão presentes de forma bastante evidente. No que se refere às disputas pelo poder, elas eclodem, sobretudo durante a chamada Primeira república, na forma de confrontos violentos, que os historiadores locais denominam de “revoluções”. No plano das desigualdades regionais, elas são percebi-das pelo menos por uma parte da população local, que de algum modo já se encontra articulada com os chamados centros civilizatórios do país.

114

A chamada Revolução de 1906 foi um conflito entre as oligarquias que termi-

nou com a morte do Presidente do Estado. Deste conflito surgiram indícios de movi-

mentos separatistas no sul do Estado, haja vista o descaso que os 'sulistas' sentiam em

relação à oligarquia nortista. A imagem dessa violência se propagava pelos outros Esta-

113

SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. História de Mato Grosso: da ancestralidade aos dias atuais . Cuiabá:

Entrelinhas, 2002, p. 105. 114

ZORZATO, Osvaldo. Conciliação e Identidade: Considerações sobre a historiografia de Mato Grosso

(1904-1983). Tese (Doutorado em História Social). Universidade de São Paulo. São Paulo, 1998, p. 15.

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dos do Brasil ocasionando leituras de que Mato Grosso vivia em constantes disputas

internas e armadas, beirando à barbárie115. Nesse contexto os dirigentes do Estado parti-

cipam de exposições internacionais e no Brasil levando Álbuns e panfletos com o obje-

tivo de melhorar a imagem do Estado no Brasil e no exterior.

O Álbum Gráfico de 1914 se tornou o mais conhecido instrumento de propa-

ganda de imagens de Mato Grosso.

Nesse ponto, é importante frisar que a urgência e a constância com que os mato-grossenses passaram a considerar o espectro de uma iden-tidade estigmatizada pela barbárie, com evidente preocupação a partir das primeiras décadas deste século, não se deviam apenas ao mal-estar cultural provocado pela consciência das distâncias de todo tipo que separavam Mato Grosso da tão sonhada civilização. Este mal-estar tampouco atingia do mesmo modo a todos os mato-grossenses letra-dos. Um aspecto fundamental a ser considerado quanto a estas ques-tões era a consciência de alguns deles – sobretudo os cuiabanos- do fa-to de que tais distâncias começam a se tornar uma realidade no interior do próprio estado. De acordo com essa percepção, o futuro de pro-gresso - que viria com a chegada de ferrovias, imigração e capitais es-trangeiros investindo na exploração dos recursos naturais, entre outros – parecia comprometido, uma vez que estes elementos tendiam a se concentrarem na região Sul do estado [...].

116

A ferrovia foi um elemento importante para o desenvolvimento do Mato Gros-

so, porém esse processo concentrou-se na parte Sul do estado. Cuiabá ficou fora do eixo

da ferrovia, dificultando ainda mais a vida econômica daquelas paragens. Contribuindo

para o enfraquecimento da economia, podemos citar o declínio da produção açucareira,

da exportação do látex (borracha) dentre outros produtos.

Com as frequentes disputas violentas entre o “Partido Republicano Mato-

grossense (PRMG), comandado pelo coronel Pedro Celestino Corrêa da Costa, e o Par-

tido Republicano Conservador (PRC), chefiado pelo deputado federal Aníbal de Tole-

do”, Mato Grosso sofre intervenção federal em janeiro de 1917. A intervenção federal

levou os dois partidos a um acordo que se concretizou em outubro do mesmo ano com

115

Cf. CORREA, Valmir Batista. Coronéis e bandidos em Mato Grosso . Campo Grande: Ed. UFMS,

1995. FANAIA, João Edson de Arruda. Elites e práticas políticas em Mato Grosso na Primeira Repúbl i-

ca (1889 – 1930). Cuiabá: EdUFMT, 2010. WEINGARTNER, Alisolete Antônia dos Santos. Movimento

divisionista em Mato Grosso do Sul. Porto Alegre: Edições EST. 1995, dentre outros. 116

GALETTI, Lylia da Silva Guedes. Sertão, fronteira, Brasil: imagens de Mato Grosso no mapa da

civilização. Cuiabá: Entrelinhas: EdUFMT, 2012, p. 311-312.

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indicação do bispo de Cuiabá, D. Francisco de Aquino Corrêa, para presidência do Es-

tado.

De acordo com Galetti,

A indicação do bispo de Cuiabá, D. Francisco de Aquino Corrêa, para presidente do Estado foi o ponto principal desse acordo, do qual cons-tava, ainda, a escolha, por D. Aquino, de quatro deputados “neutros”, a divisão igualitária entre os dois partidos das demais vagas da As-sembleia Legislativa Estadual e dos dois deputados à Câmara Federal, e a indicação pelo PRMG do candidato que deveria disputar o Senado por Mato Grosso nas próximas eleições a serem realizadas.

117

O acordo político entre os dois partidos não significou o fim da oposição. Em

vários momentos, durante o governo de D. Aquino, a sublevação de ânimo e a contesta-

ção se fez presente, requerendo do bispo uma diplomacia adequada a cada situação. A

postura de D. Aquino frente ao governo traria ao Estado uma busca de afirmação de

uma identidade mato-grossense. Sua administração e participação no Instituto Histórico

Geográfico de Mato Grosso (IGHMT) conjuntamente com um grupo de “intelectuais”,

promoveriam através do registro e divulgação das memórias do Estado, a busca de um

povo aguerrido na figura dos Bandeirantes e a comemoração do bicentenário da funda-

ção de Cuiabá serviu como um ponto ímpar para tal empreita.

Segundo Zorzato,

Com o advento da república, a exemplo do que ocorre em outras regi-ões do país, a parcela dominante da população que emerge como força política regionalizada, busca criar a sua própria memória, atrelando-a, dentro do possível, à ideia de nação em formação. [...] A criação do IHGMT surge no mesmo contexto dos eventos organizados em 1919, por ocasião das comemorações do bicentenário da fundação de Cuia-bá. Segundo o Presidente do Estado e também do Instituto, Bispo Dom Francisco De Aquino Correia (1885-1956), a importância dessas comemorações está no fato de que se vive um momento de crise: [...] A ênfase no fato de “que somos um povo só, uma mesma família”, re-força a necessidade da definição de uma identidade de um povo, cujo “grandioso destino” precisa ser garantido. Reage-se, também, à pecha do estigma da barbárie que externamente é veiculada.

118

117

Idem, 2012, p. 323. 118

ZORZATO, Osvaldo. Conciliação e Identidade: Considerações sobre a historiografia de Mato Grosso

(1904-1983). Tese (Doutorado em História Social). Universidade de São Paulo. São Paulo, 1998, p. 27-

28.

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68

Face ao exposto, Osvaldo Zorzato buscou pontuar a construção de discursos do

período que resgatam a partir dos escritores dessa época, a memória da construção de

identidade e de unidade referente ao povo mato-grossense e que pode ser observada

quando o mesmo autor cita e comenta as obras de Estevão de Mendonça (1869-1949) a

seguir:

[...] Quadro Corográfico de Mato Grosso norteia em boa medida a confecção do Álbum Gráfico de Mato Grosso, verdadeira certidão de identidade dos mato-grossenses, transformando simbolicamente em objeto cuja posse significa garantia de pertencimento ao povo mato-grossense. Sua principal obra, contudo, é Datas Mato-Grossenses, onde registra as “efemérides” da história local, pontos de apoio sobre os quais se constrói a memória que se quer divulgada.

119

Essas obras configuraram-se em divisores de água quanto à construção de uma

identidade Mato-grossense. Um grupo de intelectuais tomou a seus ombros a responsa-

bilidade de elaborar uma nova leitura sobre seus conterrâneos. Diferente dos escritos

dos cronistas, a nova proposta era de engrandecimento de Mato Grosso pela produção

de suas memórias seja ela política, econômica, cultural e social. Os responsáveis pelo

alavancamento desse projeto faziam parte do Instituto Histórico e Geográfico de Mato

Grosso (IHGMT). Os principais colaboradores do IHGMT foram:

Antônio Fernandes de Souza, Firmino Rodrigues, Filogônio de Paula Corrêa, João Barbosa de Faria, Estevão de Mendonça, José Barnabé de Mesquita e Virgílio Corrêa Filho. De todos eles, os três últimos são, sem dúvida, os de maior expressão para a memória historiográfica mato-grossense.

120

Nesse contexto, com a chegada de Getúlio Vargas ao poder e a implantação do

Estado Novo, este presidente lança, em 1938, o projeto de colonização chamado “Mar-

cha para Oeste” e Cuiabá recebe, pela primeira vez, a visita de um presidente, o que

segundo Lylia da Silva Guedes Galetti reforçou o “discurso do IHMT sobre as origens

bandeirantes do mato-grossense e a singularidade de seu território como baluarte da

nação, ainda que isolada dela.”121 Esse discurso funciona como propaganda chamativa,

119

Idem, 1998, p. 29. 120

Idem, 1998, p. 28 121

GALETTI, Lylia da Silva Guedes. Sertão, fronteira, Brasil: imagens de Mato Grosso no mapa da

civilização. Cuiabá: Entrelinhas; EdUFMT, 2012, p. 365.

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visando à imigração para as “áreas vazias”, mas resguardando o pioneirismo dos cuia-

banos autênticos122, autodenominados de chapa e cruz.123

A imigração voltará a ser um tema saliente em Mato Grosso durante a ditadura

militar (1964-1985). Através do projeto “Plano de Integração Nacional” (PIN) 124 fez-se

uso de imagens e de discursos que mostravam a abundância e as riquezas naturais, ao

lado do vazio populacional, como justificativa para promover a colonização e trazer a

região o progresso, a modernização e o desenvolvimento. No período de vigência do

projeto, registrou-se intenso fluxo de imigrantes vindos do Sul, Nordeste e Sudeste do

país, chegando ao estado de Mato Grosso. Um dos problemas herdados desse projeto

político-econômico resultou no conflito agrário que persiste até o começo do século

XXI, com a morte de muitos trabalhadores rurais125.

Ainda entre os anos da ditadura militar, observa-se a movimentação relativa à

divisão do Estado de Mato Grosso em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Como já

havíamos pontuado neste texto, a intencionalidade divisionista, existente desde fins do

século XIX126, viria a se concretizar em 1977 oficialmente.

Segundo Marisa Bittar,

O separatismo, desde as suas primeiras manifestações no século XIX, finalmente deparava-se com a conjuntura nacional propícia, uma vez que a ideologia do desenvolvimento defendida pelo regime instaurado em 1964, no aspecto da ocupação de áreas “desintegradas”, encontrou respaldo no histórico regionalismo pela criação de uma unidade fede-

122

Segundo Nathália da Costa Amedi, em sua dissertação de mestrado, ao se reportar as origens do cuia-

bano –chapa e cruz- estaria atrelada aos “bravos paulistas”, que nessas paragens encontraram o rico metal

dourado e formaram a vila que se transformaria em cidade e capital de Mato Grosso . AMEDI, Nathália da

Costa. A invenção da capital eterna: discursos sensíveis sobre a modernização de Cuiabá no período pós -

divisão do estado de Mato Grosso (1977-1985). Dissertação (Mestrado em História). Universidade Fede-

ral de Mato Grosso. Cuiabá, 2014, p. 23. 123

GALETTI, Lylia da Silva Guedes. Sertão, fronteira, Brasil: imagens de Mato Grosso no mapa da

civilização. Cuiabá: Entrelinhas; EdUFMT, 2012, p. 368. 124

O Plano de Integração Nacional, lançado em 1970 pelo governo Militar objetivando minimizar os

conflitos ocorridos nas diversas regiões brasileiras, planejou a abertura da Amazônia Legal, desencadea n-

do um vigoroso processo migratório na direção Oeste e Norte do Brasil. Abertura de grandes rodovias

interligando o Centro-Oeste à Amazônia, a exemplo da rodovia Transamazônica e da BR-163, “[...] O

projeto governamental objetivava, também, possibilitar a entrada de empresas particulares do ramo, capa-

zes de atrair maior volume de colonos”. SIQUEIRA, E. M. História de Mato Grosso: da ancestralidade

aos dias atuais. Cuiabá: Entrelinhas, 2002, p. 236. 125

Cf. HARRES, Marluza Marques; NETO, Vitale Joanoni. (org.). História, terra e trabalho em Mato

Grosso: ensaios teóricos e resultados de pesquisas. São Leopoldo: Oikos; Unis inos; Cuiabá: EdUFMT,

2009. 126

Cf. Cronologia do processo histórico da divisão de Mato Grosso. SIQUEIRA, 2002, p. 209.

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rativa no sul de Mato Grosso. Inclusive o fato de o país estar submeti-do a uma ditadura facilitou os intentos estratégicos de Geisel, [...].

127

A característica populacional da região, ao lado das intensas disputas políticas,

forneceram subsídios suficientes para a implantação da política de Integração Nacional.

O que pode ser visto é que não houve participação da população, em movimentos rei-

vindicatórios, tão pouco a elite Mato-Grossense do Sul foi responsável pela criação do

Estado de Mato Grosso do Sul, mas sim uma questão geopolítica que se desenhou du-

rante a ditadura militar.

Ainda de acordo com Marisa Bittar:

Decidida nos altos escalões do Exército e na Presidência da Repúbli-ca, o ministro do Interior encarregou, então, a Superintendência do Desenvolvimento do Centro–Oeste (SUDECO) de efetivar as medidas para a divisão e esta, por sua vez, solicitou assessoria “a quatro pesso-as de expressão de Campo Grande” Paulo Coelho Machado, Kerman Machado, Cândido Rondon e José Fragelli, que procederam a minuci-oso levantamento sobre a situação socioeconômica de Mato Grosso, enfrentando, segundo Paulo Coelho Machado, a resistência do gover-nador José Garcia Neto que “não dava qualquer informação”. Ainda de acordo com ele, esse trabalho, que durou três meses, foi grande e realizado também em “sigilo absoluto.”

128

Como podemos notar, houve um mal estar entre a elite do sul e do norte de

Mato Grosso. Conhecedor desse desconforto político, Paulo Coelho Machado reativa a

Liga Sul-Mato-Grossense, desativada desde 1934, para dar apoio à política do governo

militar. Buscando instigar o processo de divisão do estado de Mato Grosso, a Liga se

utilizava de provocações aos cuiabanos para que eles reagissem, criando falsos atritos

que eram levados ao presidente Geisel para convencê-lo pela divisão do estado.

127

BITTAR, Marisa. Mato Grosso do Sul, a construção de um estado, volume I: regionalismo e divisio-

nismo no sul de Mato Grosso. Campo Grande: Ed. UFMS, 2009, p. 299. 128

Idem, 2009, p. 305.

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71

[2.1.2] A Divisão do Estado de Mato Grosso

A divisão do estado, longe de ser mérito político do Sul ou do Movimento Di-

visionista, foram antes, “diversos fatores levaram a divisão”129, dentre eles o Plano de

Integração Nacional (PIN) do governo da Ditadura Militar.

De acordo com Pierre Bourdieu:

A reivindicação regionalista, por muito longínqua que pareça deste nacionalismo sem território, é também uma resposta à estigmatização que produz o território de que, aparentemente, ela é produto. E, de fac-to, se a região não existisse como espaço estigmatizado, como <<pro-víncia>> definida pela distância econômica e social (e não geográfica) em relação ao <<centro>>, quer dizer, pela privação do capital (mate-rial e simbólico) que a capital concentra, não teria que reivindicar a existência

130.

Face ao exposto, e como já elencado anteriormente a reivindicação de divisão

do Estado de Mato Grosso é oriunda das lutas entre a elite do sul e a elite nortista. Des-

de o fim do século XIX e começo do século XX, mais especificamente 1932 quando o

Sul do estado de Mato Grosso luta ao lado de São Paulo na Revolução Constitucionalis-

ta. Esse apoio a São Paulo deixou explícito as diferenças e as intenções políticas do Sul.

No entanto, o norte acolhe o interventor calorosamente mostrando, desse modo, apoia a

Getúlio Vargas. Porém, esses acontecimentos tornaram-se elementos significativos para

uma avaliação positiva à divisão do estado de Mato Grosso por parte dos estudos feitos

pela equipe governamental.

A divisão do Estado, segundo Elizabeth Madureira Siqueira131 e em conformi-

dade com Marisa Bittar132 (2009), surpreendeu o povo e uma grande parcela de políti-

cos, quanto à decisão de Ernesto Geisel, em sancionar a divisão do Estado. Bittar acres-

centa que, “concluídos os estudos pela equipe governamental, e votado o projeto de Lei,

129

Cf.: AMEDI, Nathália da Costa. A invenção da capital eterna: discursos sensíveis sobre a moderniza-

ção de Cuiabá no período pós-divisão do estado de Mato Grosso (1977-1985). Dissertação (Mestrado em

História). Universidade Federal de Mato Grosso. Cuiabá, 2014, p. 82. 130

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 4. ed. Lisboa: Bertrand; Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,

2001, p.126. 131

Cf. SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. História de Mato Grosso: da ancestralidade aos dias atuais .

Cuiabá: Entrelinhas, 2002. 132

Cf. BITTAR, Marisa. Mato Grosso do Sul, a construção de um estado , volume I: regionalismo e divi-

sionismo no sul de Mato Grosso. Campo Grande: Ed. UFMS, 2009.

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72

em setembro de 1977, pelo Congresso Nacional, o presidente Geisel sancionou, no dia

11 de outubro de 1977, a Lei Complementar n. 31 que criou Mato Grosso do Sul.”133

Sancionada a criação do Estado, dava-se como necessário o momento de insta-

lação do governo local. Os políticos sul-mato-grossenses começaram a articulação em

torno do nome que iria ocupar o cargo de governador e em 01 de Janeiro de 1979 insta-

lava-se o primeiro governo do Estado, nomeado pelo então presidente Ernesto Geisel,

Harry Amorim Costa.

O Estado de Mato Grosso do Sul compõe-se, no ato de sua criação, de 55 mu-

nicípios, com uma densidade demográfica 2,85 habitantes por quilômetros quadrados.

Segundo dados de 1970, a população Sul-Mato-Grossense era de um milhão de habitan-

tes sendo que a maioria residia na zona rural 547.000 e na zona urbana 453.000. Seu

território perfazia 350.549 quilômetros quadrados134.

Após a divisão em 1977, o “Estado de Mato Grosso passa a ter 38 municípios e

uma área de 901.420 quilômetros quadrados.” 135 Sua densidade demográfica é de 0,68

habitantes por quilômetro quadrado, com ocorrência de grandes áreas de mata virgem a

ser explorada, o que demandavam, por parte do poder público, grandes somas de inves-

timentos na infraestrutura para garantir a fixação e abertura dessas áreas, diferente da

parte sul que quase na sua totalidade já estava povoada.

Essa diferença entre o sul e o norte do Estado de Mato Grosso, pode ser notada

historicamente pelas características de ocupação do espaço geográfico dessa região. De

acordo com Jovam Vilela da Silva, a parte centro-norte, ainda no século XVIII, foi po-

voada por bandeirantes em consequência da descoberta de ouro. Paralelamente se de-

senvolveu a agropecuária de subsistência pelo vale do rio Cuiabá. No entanto, ao exau-

rir o ouro e mesmo havendo na região o estímulo para o desenvolvimento da agricultu-

ra, muitos migrantes retornaram para o seus lugares de origem, ocorrendo um êxodo

significativo do contingente populacional da região.

Já a parte Sul dessa região, pela proximidade com São Paulo e Paraná e tendo

como meio de escoamento da produção os rios Paraná e Paraguai e, mais tarde, a Estra-

da de Ferro Noroeste Brasil, teve sua ocupação oportunizada e estímulo ao desenvolvi-

133

Idem, 2009, p. 315. 134

Idem, 2009, p. 352. 135

SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. História de Mato Grosso: da ancestralidade aos dias atuais . Cuiabá:

Entrelinhas, 2002, p. 211.

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73

mento da produção agropecuária, com a criação de gado no pantanal, que a baixo custo

era exportado, tendo acesso ao oceano Atlântico pelo estuário do Prata136.

Face ao exposto, a divisão do Estado de Mato Grosso em 1977, em Mato Gros-

so e Mato Grosso do Sul trouxe à tona as necessidades de investimentos pelo governo

federal nesses dois Estados confederados137. Mesmo dividido para melhor administrar, o

governo federal teve que dar condições de estruturas básicas como a abertura de rodovi-

as, melhoria dos portos e financiamento para o desenvolvimento e coloniza-

ção/ocupação dos espaços vazios nessas regiões. Esses projetos que se desenvolveram

após a divisão, principalmente na parte norte do Estado de Mato Grosso, foram tensos e

violentos quanto à questão agrária, até no começo do século XXI. Nos últimos anos essa

região se tornou grande produtora de grão e de gado o que vem atraindo interesses das

indústrias e do comércio.

Em síntese, buscaram-se apresentar o cenário histórico do território mato-

grossense reforçando o interesse em perceber quais desses aspectos são registrados na

história que se pretende ensinar nos livros didáticos adotados no Estado. Cumpre ressal-

tar que, embora tenhamos estabelecido parâmetros da História Regional (Sul) Mato-

Grossense como elementos da historiografia destacados para realizar as análises que se

pretendem, temos a clareza de realizar o esforço de não incorrer no que alerta Hobs-

bawm: "O perigo reside na tentação de isolar a história de uma parte da humanidade - a

do próprio historiador, por nascimento ou escolha - de seu contexto mais amplo.”138

Esse mesmo autor, em outro momento reitera a preocupação:

Os historiadores, conquanto microcósmicos, devem se posicionar em favor do universalismo, não por fidelidade a um ideal ao qual muitos de nós permanecemos vinculados, mas porque essa é a condição ne-cessária para o entendimento da história da humanidade, inclusive de qualquer fração específica da humanidade. Pois todas as coletividades

136

Cf. SILVA, Jovam Vilela da. A divisão do Estado de Mato Grosso: (uma visão histórica – 1892-

1977). Cuiabá: EdUFMT, 1996, p. 203 137

Segundo a análise de Nathália da Costa Amedi: “[...] Defendemos que a divisão foi boa para os dois

Estados, principalmente, para Mato Grosso que, a partir de 1979, foi amparado com fortes investimentos

do governo federal, estimuladores da migração e abertura de estradas e cidades. O norte, neste caso, como

que se libertou do sul, embora não sem mágoas, em decorrência de acusações e revanchismos. O sul, até

então mais rico e com a maior receita, continuaria tendo os investimentos que já tinha, agora sem precisar

dividi-los com a região norte”. AMEDI, Nathália da Costa. A invenção da capital eterna: discursos sensí-

veis sobre a modernização de Cuiabá no período pós -divisão do estado de Mato Grosso (1977-1985).

Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2014, p. 77. 138

HOBSBAWM, Eric J. Sobre História: ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 291.

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74

humanas são e foram parte de um mundo mais amplo e mais comple-xo.

139

Desse modo, as análises que seguem não tem a pretensão de hierarquizar posi-

ções. Ao contrário busca identificar aspectos da História regional, inseridas no processo

de constituição da história nacional.

[2.2] A História regional a partir das coleções de ensino: mapeamento e localização

em Mato Grosso do Sul

Como já apresentado no primeiro capítulo, a escolha dos livros didáticos que

integram o ensino das disciplinas escolares a que se destinam ocorre a cada três anos,

conforme normativas estabelecidas pelo MEC, através do PNLD. Esta parte é resultado

do mapeamento realizado com base em informações obtidas na Secretaria de Educação

do Estado de Mato Grosso do Sul (SED-MS), no que se refere aos processos finais de

escolha e indicação dos livros didáticos para o ensino de História nos anos finais do

Ensino Fundamental. Por se tratar de um trabalho, em primeira instância, extremamente

estatístico, partimos do princípio conceitual fornecido pelo aporte da perspectiva da

história quantitativa, por entender que a história também se faz com números.

O Estado de Mato Grosso do Sul possui, atualmente, 79 municípios, os quais

somam um total de 334 escolas que pertencem à rede pública estadual de ensino, aten-

dendo ao Ensino Fundamental (anos finais) de 6º ao 9º ano. A SED-MS é o órgão res-

ponsável pela administração e regulamentação da Educação Básica do Estado de Mato

Grosso do Sul. Devido ao alto grau de responsabilidade que passa por esse setor da edu-

cação estadual, tornou-se local de pesquisa por meio do qual obtivemos informações

iniciais e essenciais sobre o processo de levantamento quantitativo em relação às fontes

das quais se servem este trabalho.

Para obter as informações sobre as coleções de livros didáticos adotados pelo

Estado de Mato Grosso do Sul, no ano de 2011, nos dirigimos à SED-MS no departa-

mento de Coordenadoria de Tecnologia Educacional (COTEC), onde fomos orientados

para captarmos informações que perfazem a constituição do banco de dados do Sistema

139

Idem, 1998, p. 292.

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75

do Material Didático (SIMAD)140. Este sistema congrega informações de todas as esco-

las que aderiram ao PNLD. Dentre essas informações, encontra-se a listagem de escolas

que aderiram ao PNLD, o registro da escolha do livro didático por disciplina e anos,

dentre outras. Através do banco de dados do SIMAD, podemos mapear todas as escolas

da rede pública de ensino do Brasil, em funcionamento nos Estados e municípios.

O trabalho de busca e mapeamento das coleções foi realizado a partir da trans-

posição integral dos dados do SIMAD para um banco de dados elaborado para registrar

as coleções adotadas no Estado, entre os anos de 2008 e 2011. A partir do instrumento

de pesquisa derivado desse exercício técnico metodológico, foi feito, dos 79 municípios,

o mapeamento, a seleção das escolas e análises preliminares com vistas a perceber e

identificar as coleções que tiveram maior entrada e abrangência no Estado.

A compilação dos dados resultou em diversos quadros e gráficos que ajudaram

nos procedimentos de análise, tonalizando qualitativamente a pesquisa. De acordo com

Uwe Flick:

Nesse contexto, a redação adquire relevância na pesquisa qualitativa sob três aspectos: para a apresentação das descobertas de um projeto; como base para avaliar os procedimentos que levaram a essas desco-bertas, e, dessa forma, aos resultados propriamente ditos; e, por últi-mo, como ponto de partida para considerações reflexivas sobre a con-dição geral da pesquisa como um todo

141.

Face ao exposto, a interpretação dos dados torna-se um fator decisivo na esco-

lha dos enunciados quanto a base do material empírico, ou seja, os quadros e os gráficos

são fundamentais para elaboração de uma análise qualitativa, já que os mesmo possibili-

tam a verificar as hipóteses levantadas no princípio da pesquisa.

O quadro 4 refere-se à escolha do livro didático de História no PNLD 2008,

feita pelas escolas e professores da rede pública do Estado de Mato Grosso do Sul. Re-

sulta do mapeamento do processo de escolha em 339 escolas que aderiram ao PNLD

daquele ano, situando-se no momento de transição do Ensino Fundamental para nove

anos. Foram considerados os títulos do 5/6 a 8/9 série/ano do Ensino Fundamental sé-

rie/anos finais.

140

O banco de dados encontra-se disponível em http://www.fnde.gov.br - Link: para consulta à Distribui-

ção de Livros. Acessado em 3 de março de 2014. 141

FLICK, Uwe. Uma introdução à pesquisa qualitativa . Trad. Sandra Netz. - 2. ed. – Porto Alegre:

Bookman, 2004. p. 247.

Page 91: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · Aos amigos e colegas do Curso de Mestrado, sem a contribuição de vocês seria mais difícil esse processo formativo

76

Quadro 4 – Coleções aprovadas para o PNLD de 2008 em escolas da rede pública de ens i-

no de Mato Grosso do Sul Título da

Coleção

Autor (es) Editora Classificação

de conteúdo

Coleções ado-

tadas em 2008,

por escolas.

Série Link no

tempo

Denise Mattos Mariano; Léo

Stampacchio

Edições Esca-

la Educacional

História Te-

mática

00

História por eixos

Temáticos

Antônio Pedro

Lizânias de Souza Lima

Editora FTD História Te-

mática

00

História Temática Andréa Rodrigues Dias Mon-

tellato

Conceição Aparecida Cabrini

Roberto Catelli Jr.

Editora Scipi-

one

História Te-

mática

01

Historiar: fazen-

do, contando e

narrando a Histó-

ria

Dora Schmidt Editora Scipi-

one

História Te-

mática

00

Por dentro da

História

Célia Regina Cerqueira Vicen-

tino

Maria Aparecida Cosomano

Cotrim

Pedro Santiago

Edições Esca-

la Educacional

História Inte-

grada

02

História em Proje-

tos

Andréa Paula

Carla Miucci Ferraresi

Conceição de Oliveira

Editora Ática História Inte-

grada

13

Projeto Araribá –

História

Não consta identificação de

autores

Editora Mo-

derna

História Inte-

grada

175

História – Das

cavernas ao ter-

ceiro Milênio

Myrian Becho Mota

Patrícia Ramos Braick

Editora Mo-

derna

História Inte-

grada

30

Diálogos com a

História

Kátia Corrêia Peixoto Alves

Regina Célia de Moura Gomi-

de Belisário

Editora Positi-

vo

História Inte-

grada

01

Navegando pela

História

Maria Luíza Vaz

Silvia Panazzo

Quinteto Edi-

torial

História Inte-

grada

00

História: concei-

tos e procedimen-

tos

Eliete Toledo

Ricardo Dreguer

Saraiva Li-

vreitos e Edi-

tores

História Inte-

grada

01

História e Vida

Integrada

Claudino Piletti

Nelson Piletti

Editora Ática História Inter-

calada

28

História Hoje Oldimar Pontes Cardoso Editora Ática História Inter-

calada

03

História em Do-

cumento: imagem

e texto

Joelza Ester Rodrigue Editora FTD História Inter-

calada

05

História, Socieda-

de & Cidadania

Alfredo Boulos Junior Editora FTD História Inter-

calada

20

Encontros com a

História

Carla Maria Junho Anastasia

Vanise Maria Ribeiro

Editora Positi-

vo

História Inter-

calada

11

Construindo

Consciências –

História

Leonel Itaussu de Almeida

Mello

Luís César Amad Costa

Editora Scipi-

one

História Inter-

calada

05

Saber e fazer

História

Gilberto Cotrim Saraiva Li-

vreiros Edito-

res

História Inter-

calada

43

Page 92: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · Aos amigos e colegas do Curso de Mestrado, sem a contribuição de vocês seria mais difícil esse processo formativo

77

Descobrindo a

História

Sônia Maria Mozer

Vera Lucia Pereira Telles

Nunes

Editora Ática História Con-

vencional

01

Fonte: PNLD 2008 – História.

Elaborado por DEBONA, Jackson James. 2013.

O quadro possibilita diferentes leituras e formas de abordagens sobre o objeto

de estudo/fonte livro didático de História, porém, em primeira análise podemos notar

que das 19 (dezenove) coleções aprovadas pelo MEC, 15 delas foram adotadas mini-

mamente pelas escolas do Estado de Mato Grosso do Sul, haja vista que certas coleções

foram requisitadas por apenas uma ou mais escolas.

Tamanha quantidade de coleções, mas quanto à variedade metodológica, po-

dem ser percebida três em 2008: a Convencional, a Temática e a Intercalada/Integrada.

Quanto à concepção de história podem ser visualizados dois blocos a seguir, Convenci-

onal/Intercalada/Integrada e o outro bloco somente a Temática, que em 2011 permanece

como uma alternativa, frente ao bloco da Integrada. No entanto, essa demanda necessita

de um estudo mais aprofundado, ainda que se leve em consideração a possibilida-

de/liberdade de escolha por parte dos professores. O processo de escolha dos títulos

parece não levar em consideração os conhecimentos teórico/metodológicos dos profes-

sores142 e do perfil de seus alunos, apontando para um norte complexo, quando compa-

rado ao quadro síntese do Guia de Livros Didáticos PNLD 2008143 de História. O qua-

dro apresenta a relação das coleções, seguida dos critérios de avaliação e a menção re-

cebida pela coleção. No caso daquelas adotadas em Mato Grosso do Sul, em alguns ou

na maioria dos critérios, boa parte das coleções alcançaram a menção “Suficiente”, que

representa um dos desempenhos mais baixos nos critérios de avaliação.

Outro aspecto que nos chamou atenção foi à adesão maciça em alguns municí-

pios, a uma única coleção. Essa postura também é passível de um exame mais atento

aos critérios adotados pelos professores, pois indica a possibilidade de haver a influên-

142

Segundo Rita de Cássia Gonçalves Pacheco dos Santos, “Entendendo -se que o professor também é

sujeito histórico, é possível afirmar que as ideias do professor sobre o passado, além de serem influencia-

das por fatores externos [...] também sofrem influências e interferências advindas de sua formação, de seu

trabalho cotidiano e da interação com os alunos e com o ambiente escolar” . SANTOS, Rita de Cássia

Gonçalves Pacheco. A significância do passado para professores de História. Tese (Doutorado em Edu-

cação). Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2013, p. 58-59. 143

BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. Guia de. Livros didáticos

PNLD 2008: série/anos finais do Ensino Fundamental - História. Brasília: MEC, 2007, p. 15.

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78

cia das editoras, via seus escritórios regionais e representantes, o que foge à regra dos

acordos éticos e comprometimento com a educação e o ensino de História.

Uma segunda hipótese para essa adesão maciça pode estar relacionada a orien-

tações indiretas das Secretarias de Educação144 aos professores para escolherem a mes-

ma coleção, pensando na alta incidência de transferência de alunos entre escolas do

mesmo município.

Com base no extrato geral apresentado no quadro 4, estreitamos a análise bus-

cando visualizar cinco coleções, que em termos percentuais se diferenciaram na adesão

das escolas do Estado no PNLD de 2008. O quadro que segue evidencia essa elabora-

ção:

Quadro 5. – Demonstrativo das cinco coleções de Livro Didático mais adotadas pelas Esco-

las do Mato Grosso do Sul no PNLD de 2008.

Título da

Coleção

Autores Editora Classificação

de conteúdo

Nº de

escolas

% total de esco-

las que adota-

ram a coleção

Projeto Araribá

– História

Não consta iden-

tificação de

autores

Editora

Moderna

História Integrada 175 50,72%

Saber e fazer

História

Gilberto Cotrim Saraiva

Livreiros

Editores

História Interca-

lada

43 12,46%

História – Das

cavernas ao

terceiro Milênio

Myrian Becho

Mota

Patrícia Ramos

Braick

Editora

Moderna

História Integrada 30 8,69%

História e Vida

Integrada

Claudino Piletti

Nelson Piletti

Editora

Ática

História Interca-

lada

28 8,11%

História, Socie-

dade & Cidada-

nia

Alfredo Boulos

Junior

Editora

FTD

História Interca-

lada

20 5,79%

Fonte: Fonte: PNLD 2008 – História.

Elaborado por DEBONA, Jackson James. 2013.

O quadro 5 nos permite visualizar as cinco coleções mais adotadas pelas esco-

las públicas do estado de Mato Grosso do Sul. Sendo possível observar que três das co-

leções fazem parte do bloco classificatório “História Intercalada” e as outras duas do

bloco a “História Integrada”. De acordo com o Guia de Livros Didáticos de História de

144

Cf. Entrevista concedida por Holien Gonçalves Bezerra GOMES, Angela de Castro e LUCA, Tania

Regina de. Entrevista de Holien Gonçalves Bezerra. Revista História Hoje. São Paulo, vol. 2, n. 4, 2013,

p. 177-210.

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79

2008, as características de tratamento da História nas coleções que congregam o primei-

ro blocos são assim descritas:

O conjunto de obras que trabalha com a História Intercalada ordena a História do Brasil e da América junto com a História Geral, normal-mente em ordem cronológica crescente, mas os conteúdos não são re-lacionados entre essas histórias; apenas os assuntos são alternados nos espaços em que ocorrem, isto é, nas sociedades, conforme a sequência temporal.

145

Quanto às coleções que se inserem no bloco História Integrada:

O tratamento proposto pelas coleções que adotaram a História Inte-grada oferece concomitantemente a História do Brasil, a da América e a da História Geral, podendo seguir ou não a ordem cronológica do es-tabelecimento das sociedades. Contudo, para que haja integração des-sas histórias, é imprescindível que se estabeleçam relações contextua-lizadas entre os conteúdos tratados, considerando a simultaneidade dos acontecimentos no tempo e no espaço.

146

As diferenças significativas entre esses dois blocos residem no tratamento tem-

poral e espacial entre as sociedades no que tange ao integrar os conteúdos em uma di-

mensão contextualizada, ou de privilegiar o tratamento separado dessas sociedades

apoiado no aspecto cronológico. Desse modo podemos perceber que na metodologia de

apresentação de conteúdos dos dois blocos há variantes, porém se igualam quanto à

concepção histórica, que, diga-se de passagem, é eurocêntrica e quadripartite.147

Referente ao enquadramento nos critérios de avaliação, as cinco coleções, em

alguns critérios, foram avaliadas com a menção “suficiente” e uma das coleções, no

quesito de editoração e aspectos visuais foi reprovada, porém isso não invalidou o bom

desempenho nos outros, não implicando na sua reprovação. Outro aspecto que deve ser

levado em conta é que das cinco coleções mais escolhidas pelos professores nenhuma

delas foi produzida no Estado Mato Grosso do Sul, tanto no que se refere ao aspecto

editorial (materialidade), sendo veiculadas majoritariamente por editoras sediadas no

145

BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. Guia de. Livros didáticos

PNLD 2008: série/anos finais do Ensino Fundamental - História. Brasília: MEC, 2007, p. 10. 146

Idem, 2007, p. 10. 147

Segundo Jean Chesneaux, “O quadripartismo ainda dificulta o estudo dos fenômenos específico no

tempo longo: a comunidade rústica, a utopia, a guerra não-convencional e os marginais. E, finalmente,

chega-se a uma verdadeira doutrinação. Um historiador acaba por se convencer de que só é competente

nas sacrossantas categorias de base: será proibida toda reflexão geral e comparada”. CHESNEAUX, Jean.

Devemos fazer tabula rasa do passado? Sobre a História e os historiadores. São Paulo: Ática, 1995.

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80

Estado de São Paulo, quanto autoral, observado na procedência acadêmica dos autores

dos livros didáticos na sua maioria proveniente do Estado de São Paulo.

Ainda no aspecto que tange as editoras, Tatiana Feitosa de Britto aborda sobre

dados significativos que estão ligados a aquisição de livros didáticos e o mercado edito-

rial.148 A indústria dos didáticos é vultosa que chega a dominar 54% da indústria nacio-

nal. Ainda podem ser notada a presença ou parcerias com o MEC desde o início do pro-

grama a editora Ática, Brasil, IBEP, FTD, Nacional, Saraiva e Scipione, e mais recen-

temente a editora Moderna que passou a fazer parte dessa fatia de mercado.

Outro ponto abordado pela autora é a nova conjuntura das editoras no Brasil,

que passaram de concentração familiar a grande oligopólio. Fruto desse contexto de

mercado, o FNDE acaba concentrando as compras de livros didáticos nesses grupos de

editoras. Exemplo dessa nova estratégia de mercado pode ser visto com a Editora Abril,

que controla a Ática, a Scipione e a Fundação Victor Civita; a Santillana, que controla a

Moderna e a Objetiva; a IBEP, comprou a Nacional; a FTD, que comprou a Quinteto e a

Ediouro, que comprou a Nova Fronteira e a Geração Editorial. Nessa perspectiva de

mercado, além da concentração, emerge a complicada negociação entre o FNDE e as

editoras. Em citação de nota de rodapé a autora elenca um estudo de Soares, de 2007

onde mostra que entre os anos de 1994 e 2005, o preço do livro didático adquirido pelo

FNDE tinha subido 217%.149

A variedade de coleções escolhidas pelas escolas públicas do Mato Grosso do

Sul indicam que adotam concepções distintas150 para o ensino de história, o que não é

uma característica negativa. No entanto, nenhuma delas ao menos no que se refere à

escolha do material didático privilegia as discussões relativas à história regional.

Ao observarmos a avaliação das coleções apresentadas, notaremos a maior in-

cidência de coleções que receberam menções, “Suficiente” e “Bom”, porém a coleção

que recebeu avaliação “Ótima” aparece com um percentual de escolha pouco expressi-

148

O quadro no anexo III evidencia a fala de Tatiana Feitosa de Britto quanto ao volume de produção de

didáticos e os valores pagos por livro didático pelo MEC, no ano de PNLD de 2011. 149

BRITTO, Tatiana Feitosa de. O Livro Didático, o Mercado Editorial e os Sistemas de Ensino Apost i-

lado. Junho/2011. http://www12.senado.gov.br/publicacoes/estudos -legislativos/tipos-de-estudos/textos-

para-discussao/td-92-o-livro-didatico-o-mercado-editorial-e-os-sistemas-de-ensino-apostilados. Acessado

em 19 de janeiro de 2015. 150

Forçosamente tenho que elencar “diversidades de concepções histórica” nas escolhas das coleções do

PNLD 2008 por se verificar no mapeamento feito no Estado de Mato Grosso, a existência de uma adesão

à coleção História Temática, dos autores André Rodrigues Dias Montelho, Conceição Aparecida Cabrini

e Roberto Catelli Jr.

Page 96: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · Aos amigos e colegas do Curso de Mestrado, sem a contribuição de vocês seria mais difícil esse processo formativo

81

vo, em apenas 3,76% das escolas da rede pública do Estado de Mato Grosso Sul foram

utilizadas.

Buscando observar as permanências e rupturas no processo de escolha e ado-

ção dos livros didáticos no Estado de Mato Grosso do Sul, realizamos o mesmo exercí-

cio de sistematização de dados com as coleções recomendadas pelo PNLD de 2011,

conforme demonstrado no quadro que segue.

Quadro 6 - Coleções aprovadas para o PNLD de 2011 em escolas da rede pública de ensino de Mato Grosso do Sul

Título da

Coleção

Autor(es)

Editora Coleções

adotadas

em 2011,

por escolas.

Porcentagem

das Coleções

adotadas pelas

escolas do MS

Para viver juntos histó-

ria Débora Yumi Motooka

Ana Lucia Lana Nemi

Muryatan Barbosa

Anderson Roberti dos Reis

Edições

SM Ltda

04 1,19%

História e vida integra-

da Nelson Piletti

Claudino Piletti

Thiago Tremonte de Lemos

Ática S/A 22 6,58%

História em projetos Carla Miucci Ferraresi

Andrea Paula

Conceição Oliveira

Ática S/A 00 0%

Tudo é história Oldimar Pontes Cardoso Ática S/A 00 0%

História em documento

imagem e texto

Joelza Ester Domingues FTD S/A 04 1,19%

História sociedade &

cidadania- nova edição

Alfredo Boulos Júnior FTD S/A 61 18,26%

Navegando pela história

– nova edição. Silvia Panazzo

Maria Luísa Vaz

FTD S/A 00 0%

Vontade de saber histó-

ria Marco Pellegrini

Adriana Machado Dias

Keila Grinberg

FTD S/A 12 3,59%

História- das cavernas

ao terceiro milenio Patrícia Ramos Braick

Myriam Becho Mota

Moderna

S/A

52 15,56%

Projeto araribá - histó-

ria

Maria Raquel Apolinário Moderna

S/A

118 35,32%

História Leonel Itaussu de Almeida

Mello

Luis César Amad Costa

Scipione

S/A

01 0,29%

História temática Conceição Aparecida Cabrini

Roberto Catelli Júnior

Andrea Rodrigues Dias Mon-

tellato

Scipione

S/A

04 1,19%

Projeto radix- história Cláudio Roberto Vicentino Scipione

S/A

33 9,88%

Novo história conceitos

e procedimentos

Ricardo Dreguer

Eliete Toledo

Saraiva

Livreiros

Editores

02 0,59%

Para entender história Divalte Garcia Figueira

João Tristan Vargas

Saraiva

Livreiros

03 0,89%

Page 97: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · Aos amigos e colegas do Curso de Mestrado, sem a contribuição de vocês seria mais difícil esse processo formativo

82

Editores

Saber e fazer história –

História Geral e do

Brasil

Gilberto Cotrim

Jaime Rodrigues

Saraiva

Livreiros

Editores

18 5,38%

Fonte: PNLD 2011 – História. Compilado por DEBONA, Jackson James. 2013.

O quadro 6 está baseado nas escolhas das 334 escolas estaduais de Mato Gros-

so do Sul que possuem o Ensino Fundamental de nove anos, perfazendo do 6º ao 9º.

Em relação à quantidade de coleções que entraram no Estado de Mato Grosso

do Sul entre o PNLD de 2008 e o PNLD de 2011, podemos notar um número menor de

coleções aprovadas. Observou-se ainda que os percentuais relativos às coleções mais

adotadas no Estado apresentaram-se, mas equilibrados que o PNLD de 2008, quando

neste se verificou que a coleção “Projeto Araribá – História” dominou 50,72% da prefe-

rência das escolas estaduais, caindo para 35,32% em 2011. Esses dados podem ser ob-

servados nas duas tabelas que tratam as cinco coleções mais adotadas pelas escolas pú-

blicas do Estado de Mato Grosso do Sul nos PNLD’s de 2008 e 2011.

A seguir apresentamos a compilação dos dados referentes às cinco coleções de

História mais utilizadas no PNLD de 2011 nas escolas estaduais dos anos finais do En-

sino Fundamental de Mato Grosso do Sul.

Quadro 7 - Demonstrativo das cinco coleções de Livro Didático mais adotado pelas Escolas

do Mato Grosso do Sul no PNLD de 2011, p. 106.

Quantidade

de Coleções

PNLD 2011

História

Título da Co-

leção

Autor(es)

Editora Nº de Escolas

Estaduais do

MS que ado-

taram as cole-

ções de 2011

Porcentagem

das Coleções

adotadas pelas

escolas do MS

01 Projeto araribá

– história

Maria Raquel

Apolinário

Moderna

S/A

118 35,32%

02 História socie-

dade & cidada-

nia- nova edi-

ção

Alfredo Boulos

Júnior

FTD S/A 61 18,26%

03 História- das

cavernas ao

terceiro milenio

Patrícia Ramos

Braick

Myriam Becho

Mota

Moderna

S/A

52 15,56%

04 Projeto radix-

história

Cláudio Roberto

Vicentino

Scipione S/A 33 9,88%

05 História e vida

integrada

Nelson Piletti

Claudino Piletti

Thiago Tremon-

te de Lemos

Ática S/A 22 6,58%

Fonte: PNLD 2011 – História. Compilado por DEBONA, Jackson James. 2013.

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83

Na escolha do PNLD de História de 2011, uma nova coleção teve destaque

quanto sua aprovação e aceitação no Estado Mato Grosso do Sul. A coleção "Projeto

Radix – História" despontou com um percentual significativo, ocupando a quarta posi-

ção nas preferências do professorado das escolas estaduais. As outras quatro coleções

são as mesmas que estiveram entre as cinco mais bem aceitas no PNLD de 2008, a dife-

rença é que algumas, como pode ser observado nos quadros 2 e 4, mudaram em percen-

tuais de preferência pelas escolas.

Quanto à autoria das coleções integrantes do PNLD de 2011, podemos verificar

novos autores inserindo-se no cenário da produção dos livros didáticos. A coleção “His-

tória e vida integrada” inclui Tiago Tremonte de Lemos no conjunto de autores; A cole-

ção "Projeto Araribá – História" a autoria é de Maria Raquel Apolinário. Ressalte-se

que esta coleção, no PNLD de 2008, não trazia indicativos de autores e sim se apresen-

tava como obra coletiva: “Organizadora: Editora Moderna. Obra coletiva concebida,

desenvolvida e produzida pela Editora Moderna.”151

Outro ponto importante de ser observado refere-se ao rol de editoras que parti-

ciparam do edital de seleção das obras. O rol é composto por Editoras que se mantém,

predominantemente, no mercado editorial de coleções dos livros didáticos. Ao compa-

rarmos os quadros 2 e 4 podemos notar a permanência de três Editoras: Moderna S/A,

Ática S/A e a FTD S/A, sendo que a Editora Moderna S/A se mantém com duas cole-

ções nos dois quadros dos PNLD de 2008 e 2011. Esses dados tornam-se relevantes,

pois possibilitam mapear o perfil ou política editorial da Editora visando à aceitação e

dos projetos de autores franquiados de livros didáticos de História.

A título de análise preliminar quanto à autoria e editoração, o quadro acima

fornece indicativos férteis para discussão: Conceição Cabrini, por exemplo, é autora do

primeiro exemplar de livro que se propõe a discutir o ensino de história. Retomar a co-

laboração desta autora para a produção de livros didáticos indica no mínimo a necessi-

dade de legitimidade intelectual na produção, o que confere, pretensamente à coleção,

autoridade em discutir o temário proposto.

Nesse aspecto, o livro didático não é um fim em si como mercadoria, mas um

produto culturalmente elaborado e que carrega na sua concepção a responsabilidade de

um bem intelectual para o ensino de História e que merece respeito.

151

BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. Guia de. Livros didáticos

PNLD 2008: série/anos finais do Ensino Fundamental - História. Brasília: MEC, 2007, p. 60.

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84

O gráfico que segue apresenta a relação entre as coleções que tiveram maior

adesão no Estado, seguida de seus índices percentuais.

Gráfico 04 – Coleções do PNLD de História de 2011 que foram escolhidas pelas escolas

públicas do Mato Grosso do Sul.

Elaborado por DEBONA, Jackson James. 2014.

O gráfico 04 representa, percentualmente, as 13 coleções de Livros Didáticos

que integraram o PNLD de 2011. Quando comparado ao quadro 01 das coleções de

2008, verifica-se a diminuição do número de coleções com percentual abaixo de 1% de

adoção, e também uma maior proximidade percentual entre as coleções escolhidas.

Esse gráfico fornece indicativos para tecer considerações a respeito das perma-

nências das editoras no cenário da produção de livros didáticos. Como já mencionado a

pouco, o mercado do livro didático é de cifras vultosas o que propicia a aproximação

das editoras ao programa de aquisição de livro didático vinculado ao FNDE. As editoras

são parceiras do FNDE por ser rentável esse mercado e a configuração desse oligopólio

não está ligado com o aperfeiçoamento das obras para o ensino de história, pois seria

menos lucrativo se cada PNLD houvesse grandes mudanças na editoração das coleções

Page 100: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · Aos amigos e colegas do Curso de Mestrado, sem a contribuição de vocês seria mais difícil esse processo formativo

85

vinculadas às editoras. Nesse mesmo viés podemos observar no quadro 8, a permanên-

cia de algumas coleções, aprovadas em edições anteriores do PNLD.

Quadro 8 – Coleções de livros didáticos de História presentes no PNLD de 2008 que pe r-

maneceram do PNLD de 2011.

Título da Coleção Autor(es)

Editora

História temática Conceição Aparecida Cabrini

Roberto Catelli Júnior

Andrea Rodrigues Dias Montellato

Scipione S/A

História em projetos Carla Miucci Ferraresi

Andrea Paula

Conceição Oliveira

Ática S/A

Projeto Araribá - história Maria Raquel Apolinário Moderna S/A

História- das cavernas ao terceiro milê-

nio

Patrícia Ramos Braick

Myriam Becho Mota

Moderna S/A

Navegando pela história – nova edição. Silvia Panazzo

Maria Luísa Vaz

FTD S/A

História e vida integrada Nelson Piletti

Claudino Piletti

Thiago Tremonte de Lemos

Ática S/A

História em documento imagem e texto Joelza Ester Domingues FTD S/A

História sociedade & cidadania- nova

edição

Alfredo Boulos Júnior FTD S/A

Saber e fazer história – história Geral e

do Brasil Gilberto Cotrim

Jaime Rodrigues

Saraiva Livreiros

Editores

Fonte: PNLD de 2008 e PNLD de 2011. Elaborado por DEBONA, Jackson James. 2014.

Podemos pontuar, com base no quadro 8, a possibilidade de visualizar as mu-

danças que ocorrem nas coleções, entre um edital e outro do PNLD, quanto à aborda-

gem dos conteúdos como também se há uma continuidade quanto à concepção de Histó-

ria nessas coleções ao longo dos PNLD. Nesse mesmo sentido podemos observar as

Editoras que permanecem no mercado editorial disputando os editais para a produção

dos Livros Didáticos e os tipos de coleções elaboradas de acordo com a seu perfil edito-

rial.

Face ao exposto, podemos visualizar das nove coleções que: três são da Editora

FTD S/A; duas da Editora Moderna S/A; duas da Editora Ática S/A; uma da Editora

Scipione S/A e uma da Saraiva Livreiros Editora.

Ao dar visibilidade numérica das coleções nesse item, buscamos enfatizar as

coleções que durante os PNLD de 2008 e 2011 foram escolhidas para auxiliar o ensino

de História nas escolas públicas estaduais de Mato Grosso do Sul. Observada a conti-

nuidade da grande maioria das coleções nos PNLD de 2008 e 2011 não é de tamanha

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86

pretensão trabalhar com todas as coleções e nem com os dois PNLD. O próximo mo-

mento do trabalho intenciona buscar na fonte, o livro didático de História do PNLD de

2011, indicativos da discussão do ensino de História Regional.

Nessa perspectiva e como já mencionado no primeiro capítulo, devemos lem-

brar que o Referencial Curricular de Mato Grosso Sul tem como componentes curricula-

res conteúdos que requisitam a abordagem da história regional nos anos finais do Ensi-

no Fundamental. Desse modo, buscaremos dentro da fonte (livro didático de História

PNLD 2011) esses conteúdos resguardados pelo Referencial Estadual.

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87

=== CAPÍTULO 3 ===

LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA: indicativos para uma discussão

do ensino de história regional

O presente capítulo busca apresentar, por meio do exercício analítico das fontes

destacadas nos capítulos anteriores, a saber, cinco coleções152 de livros didáticos de His-

tória, para o ensino Fundamental, que circularam no Estado de Mato Grosso do Sul,

integrando o PNLD do ano de 2011 em uso até o ano de 2013, as inserções de elemen-

tos históricos pertinentes à região Centro Oeste, especificamente sobre os Estados de

Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, tendo em vista as peculiaridades que envolvem o

Estado de Mato Grosso, o qual em 11 de outubro de 1977, por desmembramento, foi

criado o estado de Mato Grosso do Sul153. Trata-se, nesse sentido, de uma abordagem

que privilegia o exame da história regional a partir de fontes utilizadas para o seu ensi-

no.

Já evidenciamos, em momentos anteriores deste trabalho, o processo histórico

de Mato Grosso, sua história, empreendimentos políticos, culturais e, sobretudo econô-

micos que, conforme observado em diversas publicações, passa despercebido da produ-

ção da historiografia nacional, polarizada nos acontecimentos localizados na região sul-

sudeste, particularmente no eixo São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, com desta-

que ainda para outras localidades, como Rio Grande do Sul, a Bahia, Pernambuco e o

Pará, identificadas por suas revoltas e lutas sociais que imprimiram um padrão de histó-

ria no livro didático de história.

Esse padrão ou modelo tomado pelos autores das coleções parece naturalizar

um discurso, no qual o "fazer história" consiste em compilar acontecimentos históricos

152

Coleção: Conjunto ou reunião de objetos da mesma natureza ou que têm qualquer relação entre si.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. O minidicionário da Língua Portuguesa. 5 ed. Rio de Janeiro:

Editora Nova Fronteira S. A., 2004, p. 172. 153

Lei nº 31, aprovada pelo congresso e sancionada pelo então presidente da República Ernesto Geisel,

que cria o Estado de Mato Grosso do Sul, por desmembramento de Mato Grosso. Conferir site:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp31.htm. Acessado em 14 de novembro de 2014.

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88

resultando em uma editoração com matriz de conhecimentos única, inviabilizando a

relação dialógica, que é inerente à História. Revela, ainda, posicionamento autoral e de

editoração que deixa a desejar quanto à possibilidade de discussão e o ensino de Histó-

ria regional nas escolas estaduais de 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental de Mato Gros-

so do Sul, com base no uso exclusivo daquele material.

Tal preocupação justifica-se, ainda, no exame dos documentos norteadores de

conteúdos para o ensino, apresentado no Capítulo 2, e na constatação a partir dos refe-

renciais curriculares de 2008 e, atualmente, no referencial de 2012154, de conteúdos re-

lacionados à história de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, a serem ministrados nos

anos finais do Ensino Fundamental155.

Desse modo, buscou-se nos livros didáticos, por ser material primordial para o

ensino e ter sua distribuição financiada pelo Programa Nacional do Livro Didático

(PNLD 2011), por todo território Nacional, conteúdos que viabilizem o ensino de histó-

ria regional, entendendo que a história de Mato Grosso relaciona-se a um espaço geo-

gráfico temporal, que perpassa da capitania de São Paulo à criação de Mato Grosso,

chegando à sua divisão, em 1977, até eventos recentes.

Em relação aos títulos que estão à disposição dos professores para auxiliar no

ensino da História regional, de modo geral no ensino fundamental (Anos Iniciais), Laura

Antunes Maciel faz algumas ressalvas:

Em geral, essas obras didáticas abordam a constituição histórica de uma porção do território nacional, e apresentam uma narrativa sobre o local ou região conduzida pelas etapas de "formação" do território da nação, ou pela "ocupação humana" de uma porção do território, silen-ciando ou minimizando a violência, os conflitos e diferentes tempora-lidades que marcaram o processo de "integração nacional". Segundo avaliações dos próprios avaliadores/autores do Guia de Livros Didáti-

154

Importante ressaltar que consta dos Referenciais Curriculares de Mato Grosso do Sul, edições de 2008

e 2012 a "participação especial dos Educadores da Rede Estadual de Ensino de Mato Grosso do Sul"

(RCMS, 2008 e 2012), na elaboração das competências e habilidades e sistematização dos conteúdos no

dos Referenciais. No entanto, não são relatadas em que medida as contribuições dos educadores foram

integradas à redação final dos documentos. 155

De acordo com Laura Antunes Maciel, “o ensino de História local pretende que a observação da crian-

ça ultrapasse sua realidade imediata ou mais próxima para atingir um referencial mais amplo no tempo e

no espaço, transpondo o diretamente conhecido por ela para ampliar e diversificar sua compreensão da

sua cidade e do seu estado. O referencial local dos alunos servirá como ponto de partida para o afastamen-

to rumo a outros espaços, retomando o objetivo geral do ensino fundamental, visando aprofundar a sist e-

matização e desenvolvimento das noções de tempo social, norma e diferença, permanência e mudança e,

sobretudo, a da constituição das relações sociais”. MACIEL, L. A. História Regional e Ensino: Diálogos

com Professores e Alunos. Revista Eletrônica Documento/Monumento , vol. 9, n. 1, outubro/2013, p. 84.

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89

cos, em sua versão 2010, algumas obras regionais organizam os con-teúdos "em ordem cronológica de acontecimentos sobre um estado da federação, ou município, seguindo a periodização político-administrativa em relação à História do Brasil". (MEC, 2009, p. 16-17). Ou seja, é a história institucional e política do país que orienta e pauta a seleção de momentos e experiências locais consideradas histo-ricamente relevantes para os diversos autores. Logo, nem sempre as obras didáticas regionais - produzidas conforme a lógica [ou "tradição editorial"] do mercado editorial e do processo de regionalização dos currículos - se constituem como instrumentos para a reflexão crítica sobre especificidades socioculturais, que diferenciam e aproximam os brasileiros em diferentes territórios, nem tampouco contribuem para problematizar as ênfases, momentos e personagens consagrados na história do Brasil em sua versão tradicional.

156

Não obstante, a mesma autora, ao analisar alguns títulos constata que nem

sempre essas obras fogem ao apelo de uma história factual, baseada em aspectos políti-

cos e econômicos:

Poucos autores se propõem a oferecer elementos que permitam a pro-fessores/alunos refletir sobre as diversidades regionais locais ou sobre as muitas vozes expropriadas e silenciadas- mulheres, afrodescenden-tes, indígenas -, numa narrativa oficial da história regional, orienta-ções expressas nos editais do Plano Nacional de Livro Didático, em suas versões mais recentes. (PNLD, 2013, p. 25) É grande, portanto, o risco de que a história ensinada sirva ao reforço de especificidades ge-ográfico territoriais, ou de características culturais, étnicas e sociais hegemônicas, e supostamente harmônicas, reforçando ideologias iden-titárias que servem de base aos preconceitos e xenofobia.

157

Em síntese, as obras didáticas analisadas por Laura Maciel, não contemplavam

questões essenciais para a constituição dos saberes históricos da região em que se inse-

riam:

Para isso, o ensino de história regional deveria ser orientado pelo re-conhecimento de processos históricos socialmente compartilhados - sem, no entanto, silenciar sobre alternativas e possibilidades históricas em cada conjuntura analisada e nem perder de vista as articulações mais amplas -, assim como pela evidenciação de aproximações cultu-rais e linguísticas, mas atentos às diferenças e contraposições de ou-tras culturas que também fazem parte da região.

158

156

MACIEL, Laura Antunes. História Regional e Ensino: Diálogos com Professores e Alunos. Revista

Eletrônica Documento/Monumento , vol. 9, n. 1, outubro/2013, p. 85. 157

Idem, 2013, p.85. 158

Idem, 2013, p.86.

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90

Em consonância com a preocupação identificada pela autora, as coleções que

subsidiam este estudo são apresentadas privilegiando sua descrição e análise, cujo crivo

de seleção deu-se quantitativamente, como já justificado no Capítulo 2, ou seja, as cole-

ções aqui analisadas foram aquelas que tiveram maior adesão por parte dos professores,

no Estado de Mato Grosso do Sul.

[3.1] O livro didático e suas contribuições para o ensino da história de Mato Gros-

so e Mato Grosso do Sul

Ao escolher o livro didático como fonte, partiu-se do princípio que tal material

não poderia ser analisado apenas pelos conteúdos que traz, a exemplo do que postula

Roger Chartier:

[...] os textos que se prestam para escrever a história são tomados co-mo portadores de um sentido que é indiferente à materialidade do ob-jeto manuscrito ou impresso através do qual ele se dá, constituído de uma vez por todas e identificável graças ao trabalho crítico.

159

Entendendo que os textos trazem, em princípio, a proposição intencional das

obras, a abordagem que segue apresenta o mapeamento, seleção e escolha das coleções

analisadas, ao lado do exame da sua materialidade, pois ainda conforme a orientação

metodológica de Chartier “deve-se lembrar de que não há texto fora do suporte que o dá

a ler (ou a ouvir), e sublinhar o fato de que não existe a compreensão de um texto, qual-

quer que seja ele, que não dependa das formas através das quais ele atinge o seu lei-

tor."160

Partindo dessas premissas, a realização do mapeamento das coleções de livros

didáticos adotadas no Estado de Mato Grosso do Sul, para vigência no período entre os

anos de 2011-2013, forneceu dados quantitativos acerca do número de coleções, dentre

as aprovadas no PNLD, adotadas pelas 334 escolas que aderiram ao Programa. Soma-

ram-se, portanto, 13 (treze) coleções, dentre as quais cinco se destacaram na preferência

dos professores, cujos índices de aceitação perfazem os 85,6%. Esse dado justifica a

opção pelas cinco coleções que seguem apresentadas e analisadas à luz da proposição

159

CHARTIER, Roger. Práticas de Leitura. São Paulo: Estação Liberdade, 1996, p. 78. 160

CHARTIER, Roger. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV

e XVIII. 2 ed. Brasília: Ed. UnB, 1998, p. 17.

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91

deste estudo. Cada coleção é composta por quatro volumes que correspondem aos qua-

tro anos do Ensino Fundamental Anos Finais (6º ao 9º ano). A escolha dessas coleções

está assentada na representatividade e importância que o livro didático de história pode

desempenhar como instrumento para o ensino de história regional. De acordo com Elí-

cio Gomes Lima:

O livro didático constitui a principal fonte de informação impressa e utilizada por grande parte dos professores e dos alunos brasileiros, so-bretudo daqueles que tem menor acesso aos bens econômicos e cultu-rais. Nesse sentido, o livro didático tem papel fundamental no proces-so de escolarização e letramento em nosso país, ocupando na pratica muitas vezes o papel de principal referência para a formação e inser-ção no mundo da escrita.

161

Quanto às análises das coleções, estas foram feitas através da leitura e mapea-

mento integral de cada um dos volumes, cuja observância incidiu na localização de

quaisquer menções ao temário referente à Mato Grosso e/ou Mato Grosso do Sul, lem-

brando que, como já destacado anteriormente, os documentos emanados da Secretaria

de Estado da Educação, com orientações para o ensino de história no Estado, trazem na

sua grade de conteúdos o ensino de aspectos da história de Mato Grosso do Sul.

Desse modo optamos em descrever as cinco coleções, mapear os conteúdos de

cada volume que menciona a História regional, elaborar quadros de conteúdos sobre a

descrição da abordagem nas seções e sobre o enfoque para a história regional de cada

volume da coleção. A partir desse movimento, foram elaborados quadros que nos per-

mitiram fazer o confrontamento de ano/volume de conteúdos de História regional nos

livros didático com ano/conteúdo História regional do referencial curricular, do qual,

resultou em alguns apontamentos dos descompassos de conteúdos entre os dois docu-

mentos e até mesmo o silenciamento de conteúdos de História regional.

As coleções selecionadas, seguidas de uma breve apresentação, conforme os

critérios acima explicitados foram:

1. Projeto Araribá – História: Por se tratar de um Projeto, os créditos de autoria

são atribuídos à Maria Raquel Apolinário, no entanto, no interior da obra é pos-

161

LIMA, Elício Gomes. Para Compreender o Livro Didático como objeto de Pesquisa. Revista Educação

e Fronteiras On-Line, Dourados, vol. 2, n. 4, jan./abr. 2012, p. 144.

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92

sível identificar uma série de colaboradores. Publicada pela Editora Moderna,

representa 35,32% das escolhas dos professores sul mato-grossenses, ou seja,

das 334 escolas estaduais de Ensino Fundamental, 118 escolas adotaram essa co-

leção. Outro dado importante é que na capital do estado, Campo Grande, das 76

escolas estaduais 28 escolheram essa coleção, o que corresponde 36,84% somen-

te das escolas da capital.

2. História Sociedade & Cidadania – nova edição: De autoria Alfredo Boulos

Júnior, editada pela Editora FTD, essa coleção foi adotada por 61 escolas esta-

duais, o que equivale a 18,26% do total de escolas do estado. Se observada a

adesão dessa coleção pelas escolas de Campo Grande, seu número foi pouco ex-

pressivo: 76 escolas da Capital somente 10 adotaram essa coleção perfazendo

um percentual de 13,15%.

3. História – das cavernas ao terceiro milênio: Em dupla autoria, Patrícia Ramos

Braick e Myriam Becho Mota produziram essa coleção, que veio a público sob a

editoração da Editora Moderna S/A. A adesão a essa coleção foi de 52 escolas

estaduais o que equivale a 15,56% das escolas de Ensino Fundamental. A adesão

dessa coleção pelas escolas de Campo Grande foi de número semelhante, em

termos percentuais, à coleção anterior, representando um percentual de 13,15%.

4. Projeto Radix – História: de Cláudio Roberto Vicentino, publicada pela Edito-

ra Scipione, essa coleção foi adotada em 33 escolas estaduais o que equivale a

9,88% das escolas de Ensino Fundamental do estado. Em Campo Grande a ade-

são é pouco expressiva, com somente 04 escolas utilizando essa coleção, o que

garante um percentual de 5,26%. No entanto, se efetivamente estiverem traba-

lhando com esse material, é possível afirmar que as escolhas, ainda que com to-

dos os problemas relativos ao processo, são respeitadas.

5. História e Vida Integrada: De autores de notada expressão no campo da pro-

dução e material didático, Nelson Piletti, Claudino Piletti e Tiago Tremonte de

Lemos, tem sua adesão em 22 escolas estaduais, o que equivale a 6,58% das es-

colas de Ensino Fundamental do estado. Em relação à adesão dessa coleção pe-

las escolas estaduais de Campo Grande, observa-se uma mudança no perfil em

relação à coleção anterior, tendo em vista que 10 adotaram escolas essa coleção,

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o que garante um percentual de 13,15%, ainda que no estado, de modo geral, o

percentual de adoção seja maior que na capital.

Portanto, trataremos as coleções em subitens descrevendo e mapeando conteú-

dos e indicativos e/ou conteúdos referentes à história de Mato Grosso e/ou Mato Grosso

do Sul, observando a articulação com o contexto nacional.

[3.1.1] Coleção Projeto Araribá – História

A Coleção Projeto Araribá – História, em seus quatro volumes traz em suas ca-

pas as seguintes informações: nome da coleção; organizadora: Editora Moderna; Editora

responsável: Maria Raquel Apolinário; o ano (escolar) que se refere o volume 6º, 7º, 8º

e 9º anos; Código da Coleção do PNLD de 2011.

A capa de cada volume é ilustrada com fotos diferentes:

6º ano com a foto da Muralha da China;

7º ano com a foto Vista da cidade inca de Machu Picchu,

no Peru;

8º ano com a foto do Taj Mahal, monumento da Índia;

9º ano com a foto da Catedral de São Basílio, em Moscou.

As fotos de capa dos volumes da coleção estão vinculadas às chamadas de con-

teúdos/textos didáticos internos em cada volume.

A folha de rosto apresenta algumas informações complementares: formação

acadêmica da editora responsável e sua experiência no campo da educação, Bacharel e

licenciada em História pela Universidade de São Paulo. Professora da rede estadual e

municipal de ensino por 12 anos. Editora. Consta a informação: Organizadora: Editora

Moderna. Obra coletiva, concebida, desenvolvida e produzida pela Editora Moderna.

Ainda podemos elencar: 2ª edição, Cidade de origem e ano em que foi impresso o livro:

São Paulo, 2007.

No verso da folha estão citados todos os responsáveis pela coordenação e ela-

boração dos volumes, a ficha catalográfica da coleção e cita ainda os nomes, o vínculo

profissional e a formação acadêmica dos elaboradores dos originais do Projeto Araribá

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94

- História162. Ou seja, essa forma de estruturar a coleção indica que os direitos autorais

foram todos cedidos (vendidos) à empresa Editora Moderna LTDA, o que torna a obra

um produto comercial.

A organização interna dos quatro volumes segue o mesmo padrão, com 8 uni-

dades de conteúdo, dispostos nas seguintes seções163:

Temas;

Atividades organizadas;

As monografias e a análise de fontes históricas;

Compreender um texto; e

Trabalho em equipe.

Esses itens encontram-se nas páginas de apresentação com explicações de seus

objetivos dentro de cada volume. Com exceção do primeiro volume que contém um

item de abertura da coleção, intitulado Introdução aos Estudos Históricos, subdivido em

dois temas: O trabalho do historiador e O tempo e a história.

O primeiro tema aborda o conceito de fonte histórica apontando a possibilidade

de existirem versões históricas, sua dinamicidade com o surgimento de novos persona-

gens e, por fim, a necessidade de diálogo do historiador com outros pesquisadores de

áreas como a antropologia, geografia, sociologia, economia e arqueologia. Embora ex-

presse certa concepção de história, não identifica escola de pensamento na historiografia

tradicional que orienta esse pressuposto.

Quanto à relação estreita entre O tempo e a história, esta é descrita como pro-

cesso natural, ou seja, as estações do ano, o dia e a noite, os animais, plantas nascem,

crescem e morrem. Ou seja, só existe história em virtude do tempo, que é cíclico, e nes-

se aspecto destaca a criação de instrumentos para medir o tempo e organizá-los em ca-

lendários. Dentro desse subitem, a obra faz a comparação de três calendários: Calendá-

rio Judaico, Calendário Cristão e Calendário Islâmico.

162

Elaboração dos originais por: Fábio Duarte Joly (USP), Maria Raquel Apolinário (USP), Eduardo

Augusto Guimarães (USP), Rosane Cristina Thahira (USP), João Carlos Angostini (USP), Cesar da Costa

Júnior (USP), João Luiz Maximo da Silva (USP), Ricardo Vianna Van Acker (USP), Thelma Cadermatori

Figueiredo de Oliveira (UFRGS/USP), Vivien Christina Botelho de Souza Morgato (Unicamp). Nomes e

vínculos de formação dos participantes do Projeto Araribá- História. Todos os integrantes tem formação

em história. 163

A terminologia “seção” é adotada pelo pesquisador para efeito de organização dos temas e análises dos

conteúdos apresentados.

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95

Dado significativo que indicaria a concepção de história que embasa a Coleção,

cita no subitem sobre As Dimensões do Tempo que "o historiador francês Fernand Brau-

del (1902-1985) afirmou que era possível dividir os acontecimentos históricos em três

dimensões: a curta, a média e a longa duração", p. 18. Contudo, a periodização da His-

tória, segundo o que consta na página 20 da obra, não foge à história quadripartite: Pré-

história, Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea.

Ainda quanto à organização interna dos quatros volumes, podem ser observa-

das algumas seções que não são fixas, mas que ao longo da coleção trazem textos com

perspectivas de ajudar no aprofundamento e/ou problematização dos conteúdos, são

elas: Mapas históricos, Personagens, Ontem e hoje, Edifícios daquele tempo. Somente

nos volumes do 8º e 9º anos aparecem as seções de Arte e História, Conceitos históricos

e Ciência e tecnologia. Outro dado importante dessa coleção está na quantidade de tex-

tos para leitura oferecidos na seção de monografias e a análise de fontes históricas. Esse

aspecto está vinculado ao desenvolvimento do hábito da leitura e, concomitantemente, à

competência leitora, que deve ser estimulada.

As páginas que abrem as unidades dos quatros volumes apresentam imagens,

fotos, gravuras e/ou desenhos informativos referentes a conteúdos em cada seção. Ob-

servou-se que o uso de imagens infográficas164 é frequente em toda a coleção, sobretudo

as imagens posicionadas no meio de páginas espelhadas, as quais diminuem a visibili-

dade e inserção dos elementos textuais, interferindo na organização da competência

leitora, antes destacada.

No tocante às abordagens sobre História regional, com o objetivo de dar visibi-

lidade e organicidade aos dados mapeados nesta e nas outras coleções, objetos de anali-

se deste capítulo, foram elaborados quadros que contêm a sistematização dos conteúdos

nos quatros volumes de 6º ao 9º ano. A opção por esta forma de organização, a nosso

ver, tornou possível demonstrar conteúdos referentes à História regional localizado, ou

não, nos quatro volumes. Indica-se o ano, a Unidade, a seção, capítulo e página onde

foram encontradas referências diretas (conteúdo) e/ou indiretas (notas, boxes, ilustra-

ções sem contextualização ou discussão) que mencionam ou estão relacionados à Histó-

ria regional, conforme segue.

164

Segundo FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. O minidicionário da Língua Portuguesa. 5 ed. Rio

de Janeiro: Editora Nova Fronteira S. A., 2004. Técnica de combinar desenhos, fotos, etc. para a apresen-

tação dramatizada de dados. § in-fo-grá-fi-co adj.

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96

Quadro 9 – Coleção Projeto Araribá – História

Volume Unidade de

Conteúdo

Descrição da Abordagem nas Seções Enfoque para a história regional

6º ano

Unidade 1

As Origens

do ser hu-

mano

Seção Em foco:

Aborda a Arte Rupestre (p. 46-7), "Uma

cronologia da arte pré-histórica".

Descrição: É uma abordagem histórica

que se assenta nos estudos arqueológicos

para construir uma linha do tempo em que

cita alguns dos principais sítios arqueoló-

gicos do mundo.

Figura de seres humanos e animais

encontrados em Santa Elina, muni-

cípio de Jangada, Mato Grosso.

Data em 5 mil anos.

7º ano

Unidade 8

O Nordeste

colonial

Seção Ontem e hoje:

Descrição: Os textos trazem informações

sobre os Quilombos e as comunidades

remanescentes de quilombos (p. 233).

Comunidades Remanescentes de

Quilombos (2008) no Mato Grosso

do Sul.

8º ano

Unidade 1

A expansão

da América

portuguesa

Tema 2:

Texto didático que narra à captura de

índios no sertão dentre eles onde se situa

Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. (p.

16)

Texto didático que narra Entradas e Mon-

ções que levam mantimentos, armas e

munições para área de mineração de Mato

Grosso (p. 17)

Bandeirantes que adentraram em

território de Mato Grosso a captura

de índios (1660).

As monções eram expedições flu-

viais paulistas com destino às áreas

de mineração em Mato Grosso.

Unidade 2-

A época do

ouro no

Brasil

Seção Compreender um texto:

Descrição: Texto que narra à descoberta

de ouro onde hoje se localizam os estados

de Mato Grosso e Goiás e seu rápido esgo-

tamento. (p. 39) Traz ainda um mapa com

o título "A Região das Minas", onde po-

dem ser visualizadas as minas de Mato

Grosso e Goiás e outras. (p. 39)

O ouro em Goiás e Mato Grosso.

A Região das Minas

Tema 3:

Texto didático que narra os caminhos

para as minas. (p. 48). Apresenta o modo

como se dava o abastecimento de Mato

Grosso, através das monções. Navegando

em comboios de 300 a 400 canoas, os

paulistas transportavam para Cuiabá sal,

roupas, farinha de mandioca e outros pro-

dutos.

Monções

Unidade 8

Brasil: da

Regência ao

Segundo

Reinado

Tema 3:

Texto didático que narra a Guerra do Pa-

raguai (1864-1870) (p. 225). Neste texto

temos duas menções à Província de Mato

Grosso: o Rio Paraguai como única via

para chegar à província; e os ataques do

Paraguai a Mato Grosso.

A Guerra do Paraguai

9º ano Unidade 8

A Nova

Ordem

Mundial

Seção Conceitos históricos:

Descrição: Apresenta texto intitulado "A

reserva de cotas nas universidades"

(p.257) e anexo ao texto está o mapa do

Brasil, que traz todos os estados que aderi-

ram ao sistema de cotas.

A Universidade Estadual do Mato

Grosso do Sul UEMS aderiu ao

sistema de cotas, A Universidade

Federal de Mato Grosso (UFMT) e

a Universidade Estadual de Mato

Grosso (Unemat) (2009). Fonte: Coleção de Livros Didáticos Projeto Araribá - História. Elaborado por: Jackson James Debona

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97

Face ao exposto, nota-se a escassez de abordagens e conteúdos sobre a História

Regional de Mato Grosso/Mato Grosso do Sul na Coleção Projeto Araribá – História, o

que possibilita inferir certo silenciamento quanto ao tratamento de temas desta natureza

ocasionando problemas para o ensino de História regional, pois o instrumento de ensino

de maior alcance, o Livro Didático de História, apresenta de modo restrito a historiogra-

fia daquela região.

Importa ressaltar que conteúdos referentes à História regional fazem parte dos

Referenciais Curriculares do Estado, como já apontado no Capitulo 2. Nesse sentido, o

presente estudo entende ser relevante comparar o mapeamento das coleções seleciona-

das com as prerrogativas curriculares do documento oficial, conforme segue.

Quadro 10 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental - 6º ano Ano

Enfoque para a história regional Conteúdo norteador do Referencial

Curricular de Mato Grosso do Sul

Ano

Seção Em foco:

Figura de seres humanos e animais encontrados em

Santa Elina, município de Jangada, Mato Grosso. Data

em 5 mil anos.

O mundo primitivo

1º Bimestre:

Pré-história no Mato Grosso

do Sul.

Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de Mato Grosso do Sul, 2012 e Coleção de Livros Didát i-cos Projeto Araribá - História.

Elaborado por: Jackson James Debona

De acordo com o quadro acima podemos notar que o Referencial Curricular do

Estado de Mato Grosso do Sul tem como objetivo, na sua formulação, conteúdos para

inserção do aluno como partícipe da história, mas o que o Livro Didático traz de conte-

údo é irrisório e muito distante das necessidades da região. Tendo em vista que a seção

Em Foco é uma seção a qual, segundo a coleção, deve apresentar uma espécie de mono-

grafia, por meio da qual se estuda, com mais detalhes, um tema relevante para o estudo

da unidade, relacionando melhor o passado e o presente, não foi observada a explicita-

ção detalhada do conteúdo abordado.

Um ponto positivo entre o volume do 6º ano e o Referencial Curricular de MS

é a correspondência temporal histórica, pois ambos contemplam o conteúdo sobre a pré-

história. Outro ponto considerado positivo, neste volume, refere-se aos conteúdos de

Introdução à disciplina de História, que são trabalhados no livro didático de História

Page 113: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · Aos amigos e colegas do Curso de Mestrado, sem a contribuição de vocês seria mais difícil esse processo formativo

98

em consonância com o Referencial, destacando conceitos como: A Temporalidade;

Fontes históricas; Os sujeitos da História.

Quadro 11 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental - 7º ano

Ano

Descrição da Abordagem no Livro Didático

de História.

Conteúdo norteador do Referencial Cur-

ricular de Mato Grosso do Sul

Ano

Seção Ontem e hoje:

Descrição: Os textos trazem informações sobre

os Quilombos e as comunidades remanescentes

de quilombos (p. 233).

O encontro de três mundos

2º Bimestre:

A presença dos espanhóis, no perí-

odo colonial, na região do atual

Mato Grosso do Sul (relevâncias

das Missões do Itatim no processo

de ocupação e o povoamento do

Mato Grosso).

4º Bimestre:

História dos povos indígenas do

Mato Grosso do Sul: economia, or-

ganização política, processo de

aculturação e contribuição cultural. Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de Mato Grosso do Sul, 2012 e Coleção de Livros Didát i-

cos Projeto Araribá - História.

Elaborado por: Jackson James Debona

Neste quadro podemos perceber que o conteúdo encontrado no livro didático

de História não possibilita subsidiar os conteúdos norteadores do Referencial Curricular

de MS, ou seja, os conteúdos do livro didático de história não conferem com os conteú-

dos do referencial curricular estadual. A seção Ontem e Hoje é uma proposta de amplia-

ção de atividades resultante do conteúdo trabalhado pelo Tema (texto didático), e o que

podemos observar é a ausência de conteúdo de História regional no Tema.

Quadro 12 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental - 8º Ano

Ano

Descrição da Abordagem no Livro Didático de His-

tória.

Conteúdo norteador do Refe-

rencial Curricular de Mato

Grosso do Sul

Ano

Tema 2:

Texto didático que narra a captura de índios no sertão

dentre eles onde se situa Mato Grosso e Mato Grosso do

Sul. (p. 16)

Texto didático que narra Entradas e Monções que levam

mantimentos, armas e munições para área de mineração

de Mato Grosso (p. 17)

O Mato Grosso do Sul no Con-

texto Imperialista

4º Bimestre:

Conflito com o Para-

guai: causas e desdo-

bramentos para a Amé-

rica do Sul, para o Bra-

sil e para o Mato Gros-

so do Sul.

Os Afro-brasileiros e os

povos indígenas Guai-

curus na Guerra do Pa-

Seção Compreender um texto:

Descrição: Texto que narra à descoberta de ouro onde

hoje se localizam os estados de Mato Grosso e Goiás e

seu rápido esgotamento. (p. 39) Traz ainda um mapa

com o título "A Região das Minas", onde podem ser

visualizadas as minas de Mato Grosso e Goiás e outras.

(p. 39)

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99

Tema 3:

Texto didático que narra os caminhos para as minas. (p.

48). Apresenta o modo como se dava o abastecimento de

Mato Grosso, através das monções. Navegando em

comboios de 300 a 400 canoas, os paulistas transporta-

vam para Cuiabá sal, roupas, farinha de mandioca e

outros produtos.

raguai.

Mato Grosso do Sul

(ainda Mato Grosso):

economia, ciclo da erva

mate, influência políti-

ca, econômica, social e

cultural no contexto

imperialista brasileiro.

Tema 3:

Texto didático que narra a Guerra do Paraguai (1864-

1870) (p. 225). Neste texto temos duas menções à Pro-

víncia de Mato Grosso: o Rio Paraguai como única via

para chegar à província; e os ataques do Paraguai a Mato

Grosso.

Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de Mato Grosso do Sul, 2012 e Coleção de Livros Didát i-

cos Projeto Araribá - História.

Elaborado por: Jackson James Debona

No quadro do 8º ano, quanto à descrição da abordagem no livro didático de

História sobre História regional, podemos encontrar um volume de conteúdo maior que

os outros volumes da coleção. Quanto ao tratamento dos conteúdos sobre a região,

mesmo nos textos didáticos, é lacônico no que se limita à menção da região. O conteúdo

mais frequente nos livros didáticos, A Guerra do Paraguai, que ocorre em terras mato-

grossenses, é citado apenas pela invasão do inimigo às terras do território e pela não

permissão dos navios brasileiros para navegarem pela única via que ligava Mato Grosso

à capital do Império do Brasil, o Rio Paraguai. Como podemos notar o conteúdo que

está concomitantemente contemplado no Referencial Curricular do estado e no livro

didático de história, não trata dos acontecimentos históricos da região de uma forma

mais profícua.

Os conteúdos sobre a Captura de índios, Monções, Mineração e Caminhos para

as minas, que constam ainda no quarto bimestre, estão vinculado a conteúdos propostos

pelo Referencial Curricular estadual para o sétimo ano. Em suma, os conteúdos do séti-

mo ano foram deslocados para o oitavo ano nessa coleção.

Quadro 13 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 9º Ano

Ano

Descrição da Abordagem no Livro Didático

de História.

Conteúdo norteador do Referencial

Curricular de Mato Grosso do Sul

Ano

Seção Conceitos históricos:

Descrição: Apresenta texto intitulado "A reser-

va de cotas nas universidades" (p.257) e anexo

ao texto está o mapa do Brasil, que traz todos os

estados que aderiram ao sistema de cotas. A

Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul

UEMS aderiu ao sistema de cotas, A Univers i-

O Brasil República no Contexto Capi-

talista

3º Bimestre:

Movimento Divisionista de Ma-

to Grosso: antecedentes, compo-

sição de poder, governos e con-

flitos sociais.

Page 115: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · Aos amigos e colegas do Curso de Mestrado, sem a contribuição de vocês seria mais difícil esse processo formativo

100

dade Federal de Mato Grosso (UFMT) e a Uni-

versidade Estadual de Mato Grosso (Unemat)

(2009). Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de Mato Grosso do Sul, 2012 e Coleção de Livros Didáti-

cos Projeto Araribá - História. Elaborado por: Jackson James Debona

A ausência de tratamento da História regional persiste também no volume do

9º ano. A informação que podemos visualizar no quadro acima é tratada de uma forma

mais pontual, em relação ao conteúdo do Tema (texto didático) que é Um balanço do

Brasil contemporâneo, mas é desconexa em relação ao conteúdo do Referencial Curri-

cular e deslocada temporalmente, pois enquanto a informação do livro didático está re-

lacionada à região no século XXI, o referencial está contemplando todo século XX com

o Movimento Divisionista de Mato Grosso.

A coleção Projeto Araribá – História, com maior percentual de adesão pelas

escolas estaduais e professores, nos proporciona uma profunda reflexão no que tange à

escolha do livro didático em relação ao ensino de História regional. Essa reflexão está

ancorada no diálogo entre o livro didático e o referencial curricular estadual, pois o que

foi possível evidenciar em nossa análise é um descompasso entre estes materiais basila-

res para então aferir um legado valoroso na construção de um pensar histórico sobre um

ensino de História de qualidade.

[3.1.2] História Sociedade & Cidadania - nova edição

A Coleção História Sociedade & Cidadania - nova edição-, em seus quatro vo-

lumes, traz em suas capas as seguintes informações: título da Coleção; nome do autor -

Alfredo Boulos Júnior-; código da coleção do PNLD de 2011; logomarca da Editora

FTD; o ano (escolar) que se refere o volume 6º, 7º, 8º e 9º anos.

A capa de cada volume é ilustrada com fotos diferentes:

6º ano com a foto dos Guerreiros de Xian, em Terracota,

cerca de 246 a.C.;

7º ano com a foto da Festa da Carvalhada em Pirenópolis,

Goiás;

8º ano com a foto da Cena do filme Tempos modernos, de

Charles Chaplin, 1936;

Page 116: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · Aos amigos e colegas do Curso de Mestrado, sem a contribuição de vocês seria mais difícil esse processo formativo

101

9º ano com a foto de Angolanos segurando fotografia de

Antonio Agostinho Neto, presidente de Angola, durante uma

passeata em Kikolo, 2008.

As fotos de capa dos volumes da coleção estão vinculadas à chamada de conte-

údos/textos didáticos internos de cada volume.

A folha de rosto apresenta algumas informações complementares, como a

formação do autor responsável e sua experiência no campo da educação: Mestre em

História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Doutor em Educação pela

PUC-SP. Lecionou no ensino fundamental da rede pública e particular e em cursinhos

pré-vestibulares. É autor das coleções Construindo Nossa Memória e O Sabor da His-

tória. Assessorou a Diretoria Técnica da Fundação para o Desenvolvimento da Educa-

ção – São Paulo. Ainda podemos elencar a edição: 1ª edição, Cidade de origem e ano

em que foi impresso o livro: São Paulo, 2009. Em seu verso estão citados todos os res-

ponsáveis pela coordenação e elaboração dos volumes e a ficha catalográfica da cole-

ção. Nas páginas seguintes o autor escreve Caro aluno e Agradecimentos.

A organização interna dos quatro volumes segue um mesmo padrão, com estru-

tura que varia entre 4 a 6 unidades, subdivididas em capítulos. Quanto à estrutura inter-

na de cada volume, tem-se:

O volume do 6º ano contém 304 páginas, 5 unidades que

congregam no total 15 capítulos e suas seções.

O volume do 7º ano tem 288 páginas, 4 unidades que

agregam 15 capítulos e suas seções.

O volume do 8º ano contém 320 páginas, 4 unidades entre

elas distribuídas 16 capítulos e suas seções.

O volume do 9º ano possui 320 páginas, 6 unidades que

agregam 19 capítulos e suas seções.

Fazem parte de cada capítulo as seções:

Atividades;

Atividades de aprofundamento;

Discutindo o presente;

A imagem como fonte,

O texto como fonte;

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102

Para saber mais;

Dialogando, e

Livros, Sites e filmes.

Essas seções aparecem alternadas nos capítulos de cada volume, no entanto,

elas podem ser encontradas nos quatro volumes da coleção. Existe grande quantidade de

imagens nos quatro volumes da coleção, mas carecem de legendas com maiores infor-

mações ou detalhamentos. Muitas imagens são somente ilustrativas já que no texto didá-

tico o conteúdo foi desenvolvido, o que significa uma repetição exaustiva e desmotiva-

dora.

No tocante às abordagens sobre história regional, com o objetivo de dar visibi-

lidade ao mapeamento, foi elaborado um quadro que contém os quatro volumes de 6º ao

9º ano do Ensino Fundamental anos finais, por meio do qual seja possível identificar os

conteúdos localizados, ou não, acerca do temário em análise, envolvendo os quatro vo-

lumes. Indica-se o ano, a Unidade, a seção, capítulo e página onde foram encontradas

referências diretas (conteúdo) e/ou indiretas (notas, boxes, ilustrações sem contextuali-

zação ou discussão) que mencionam ou estão relacionados à História regional.

Quadro 14 – Coleção História Sociedade & Cidadania – Nova Edição

Volume Unidade de Con-

teúdo

Descrição da Abordagem nas Seções Enfoque

6º ano

Unidade 2

Pré-História Tam-

bém É História

Capítulo 5: A Pré-História brasileira. (p.70).

Texto didático que traz o mapa dos estados

brasileiros em que os sítios arqueológicos

mais antigos do Brasil são destacados. Mato

Grosso nº 6, Lapa do Sol.

Pré-História. Sítio Arqueo-

lógico mais antigo do Mato

Grosso nº 6 Lapa do Sol.

Unidade 3

Civilização da

África e do Orien-

te

Capítulo 8: A Nubia e o Reino de Kush.

Seção: Para Saber Mais (p. 128).

Texto que trata da origem da planta sorgo e

seus usos, sendo de origem dos países Afri-

canos, o sorgo também é plantado nos esta-

dos de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e

dentre outros estados.

Civilizações Africanas, seu

florescimento, desenvolvi-

mento e sua contribuição

para a humanidade.

7º ano

Unidade 4

América e Euro-

pa: encontros e

desencontros

Capítulo 12: Povos indígenas no Brasil. (p.

212)

Traz o mapa do Brasil com a localização das

terras indígenas na atualidade. Apresenta

legenda de cores para identificar áreas onde

a Funai confirma a presença de indígenas,

áreas já demarcadas e áreas identificadas

para marcação.

Indígenas em Mato Grosso

do Sul: luta pela Cultura e

pela terra.

Leis que regulamentam

seus direitos a terra.

Capítulo 1: Africanos no Brasil (p. 20)

Traz o Mapa que identifica os principais

Quilombos no Brasil Colonial, e em Mato

Grosso: Pindaituba, Moluca e Joaquim Teles

Quilombos na época Colo-

nial em Mato Grosso.

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103

8º ano

Unidade 1

Povos, Movimen-

tos e Territórios na

América Portu-

guesa

(1795) da Carlota ou do Piolho (1770-95).

Capítulo 1: Africanos no Brasil. (p. 24)

Traz o mapa que identifica os principais

Quilombos no Brasil atualmente.

6 – número de áreas identi-

ficadas como remanescen-

tes de quilombos no estado

de Mato Grosso do Sul.

Capítulo 2: A Marcha da colonização na

América portuguesa. (p. 36 e 39).

Texto didático que narra a caça aos índios

nas missões Itatim (Mato Grosso do Sul)165

.

Paulistas caçam os índios

em territórios das missões

espanholas, onde hoje é

território do estado de Mato

Grosso do Sul.

Capítulo 2: A Marcha da colonização na

América portuguesa.(p. 38)

Texto didático que narra a descoberta de

ouro em 1719, por Pascoal Moreira Cabral,

em Cuiabá, Mato Grosso.

Bandeirantes a busca de

ouro e diamantes nas minas

de Cuiabá.

Capítulo 2: A Marcha da colonização na

América portuguesa (p. 41)

Traz o mapa que dá a visibilidade de áreas

de criação de gado na região.

Caminhos do Gado criação

de gado em terras Mato-

grossenses, no século XVII-

XVIII.

Capítulo 3: A sociedade mineradora. (p. 53)

Texto didático que narra à guerra dos Embo-

abas. Cita que os Paulistas derrotados nesse

conflito vão explorar outros territórios na

qual chegam até a região de Mato Grosso e

encontram ouro. Nessa mesma página en-

contramos um mapa para a visualização de

exploração dos metais preciosos.

A exploração do ouro no

século XVIII nas minas de

Cuiabá e Vila Bela da San-

tíssima Trindade. Mato

Grosso.

Unidade 4

Brasil e Estados

Unidos no século

XIX

Capítulo 14: O reinado de D. Pedro II: mo-

dernização e imigração. (p. 239-240)

Texto didático que narra a Guerra do Para-

guai. Conflito que se estendeu por mais de

cinco anos em território Mato-Grossenses,

afetando o comércio e a navegação pelos rios

da região.

A Guerra do Paraguai na

região de Mato Grosso.

9º ano Unidade 3

Capitalismo,

Totalitarismo e

Guerra

Capítulo 8: O primeiro governo Vargas. (p.

118)

Traz mapa que trata da marcha da Coluna

Prestes. Segundo a legenda e a visualização

no mapa podemos identificar a passagem por

duas vezes da coluna em território de Mato

Grosso, na década de 1920.

Política e movimentos soci-

ais que tiveram passagem

pelo território de Mato

Grosso.

Fonte: Coleção de Livros Didáticos História, Sociedade e Cidadania - Nova Edição.

Elaborado por: Jackson James Debona

Quanto ao mapeamento dos conteúdos/informações sobre a História regional

de Mato Grosso/Mato Grosso do Sul, a coleção concentrou em um único volume os

dados que se referem, historicamente, à região de Mato Grosso. Para manter a estrutura

analítico-comparativa, seguem os quadros comparativos entre os conteúdos, que são

requisitados pelo referencial curricular do estado de Mato Grosso do Sul e os conteúdos

mapeados nesta coleção.

165

O livro didático registra o fato no Estado de Mato Grosso do Sul, em um período em que o Estado

ainda não havia sido criado.

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104

Quadro 15 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental - 6º Ano

Ano

Descrição da Abordagem no Livro Di-

dático de História.

Conteúdo norteador do Refe-

rencial Curricular de Mato

Grosso do Sul

Ano

Capítulo 5: A Pré-História brasileira. (p.70).

Texto didático que traz o mapa dos estados bras i-

leiros em que os sítios arqueológicos mais antigos

do Brasil são destacados. Mato Grosso nº 6, Lapa

do Sol.

O mundo primitivo

1º Bimestre:

Pré-história no Mato Grosso do

Sul.

Capítulo 8: A Nubia e o Reino de Kush.

Seção: Para Saber Mais (p. 128).

Texto que trata da origem da planta sorgo e seus

usos, sendo de origem dos países Africanos, o

sorgo também é plantado nos estados de Mato

Grosso e Mato Grosso do Sul e dentre outros

estados. Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de Mato Grosso do Sul, 2012 e Coleção de Livros Didát i-

cos História, Sociedade e Cidadania - Nova Edição Elaborado por: Jackson James Debona

O quadro 15 nos possibilita uma leitura mais direta da proposta de conteúdo do

referencial curricular, demonstrando que o livro do sexto ano em exame não oferece

elementos históricos para a inserção do temário regional. Nessa perspectiva, segundo o

referencial, o que pode ser visualizado quando se fala da Pré-História brasileira é um

mapa que traz a vigente divisão dos estados brasileiros, pontuando os sítios arqueológi-

cos nesses estados. Não há textos que possibilitam uma caracterização e conceituação,

respeitando o nível de ensino em questão, desses sítios identificados no mapa do estado

de Mato Grosso, dificultando a compreensão de sua importância.

O conteúdo referente à origem da planta sorgo e seus usos está ligado à seção

Para saber Mais, na qual encontramos a informação sobre a planta, de origem Africana,

cultivada em terras Mato-grossenses. Essa seção não apresenta relação direta com o

conteúdo sugerido pelo referencial curricular, mas é bastante rica, visto que trabalha

numa perspectiva de aproximação e inclusão de conteúdos culturais de outros continen-

tes, os quais forneceram grande contingente de seres humanos, utilizados como mão de

obra importante para a construção dessa Nação chamada Brasil. Portanto, Mato Grosso

e Mato Grosso do Sul é citado circunstancialmente no texto, sendo a abordagem históri-

ca principal a origem do sorgo que é cultivado atualmente nos estado de MS e MT. O

que podemos observar é que essa abordagem histórica é desconexa a do referencial cur-

ricular do estado do Mato Grosso do Sul.

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105

Quadro 16 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental - 7º Ano

Ano

Descrição da Abordagem no Li-vro Didático de História

Conteúdo norteador do Referencial Curricu-lar de Mato Grosso do Sul

Ano

Capítulo 12: Povos indígenas no Brasil.

(p. 212)

Traz o mapa do Brasil com a localiza-

ção das terras indígenas na atualidade.

Apresenta legenda de cores para identi-

ficar áreas onde a Funai confirma a

presença de indígenas, áreas já demar-

cadas e áreas identificadas para marca-

ção.

O encontro de três mundos

2º Bimestre:

A presença dos espanhóis, no período colo-

nial, na região do atual Mato Grosso do Sul

(relevâncias das Missões do Itatim no pro-

cesso de ocupação e o povoamento do Mato

Grosso).

4º Bimestre:

História dos povos indígenas do Mato

Grosso do Sul: economia, organização polí-

tica, processo de aculturação e contribuição

cultural. Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de Mato Grosso do Sul, 2012 e Coleção de Livros Didát i-cos História, Sociedade e Cidadania - Nova Edição.

Elaborado por: Jackson James Debona

No 7º ano os conteúdos referentes à História regional no referencial curricular

são distribuídos em dois bimestres. Cada bimestre trabalha conteúdos diferentes. Como

podem ser observados, ambos os conteúdos retratam um período recuado historicamente

agregando a esse tempo histórico o Estado de Mato Grosso do Sul. Existe um anacro-

nismo temporal que dificulta fazer essa leitura já que o estado é recente em sua consti-

tuição política/administrativa e cultural.

Quanto a fazer uma história do tempo presente, o livro didático de história traz

informações que podem ser visualizadas no mapa e em sua legenda, sobre a existência e

presença de indígenas em áreas já demarcadas. O contexto de utilização desse mapa está

alinhavado ao texto didático As lutas indígenas e A luta pela terra. Nesses dois textos

são trabalhados as organizações indígenas e artigos da Constituição brasileira, porém

essas informações estão, geograficamente, ligadas aos indígenas da Região Norte do

Brasil.

Quadro 17 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental - 8º Ano

Ano

Descrição da Abordagem no Livro Didático

de História.

Conteúdo norteador do Referenci-

al Curricular de Mato Grosso do

Sul

Capítulo 1: Africanos no Brasil (p. 20)

Traz o Mapa que identifica os principais Quilombos

no Brasil Colonial, e em Mato Grosso: Pindaituba,

Moluca e Joaquim Teles (1795) da Carlota ou do

Piolho (1770-95).

O Mato Grosso Do Sul No Contexto

Imperialista

4º Bimestre:

Conflito com o Paraguai: cau-

Page 121: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · Aos amigos e colegas do Curso de Mestrado, sem a contribuição de vocês seria mais difícil esse processo formativo

106

Ano

Capítulo 1: Africanos no Brasil. (p. 24)

Traz o mapa que identifica os principais Quilombos

no Brasil atualmente.

sas e desdobramentos para a

América do Sul, para o Brasil e

para o Mato Grosso do Sul.

Os Afro-brasileiros e os povos

indígenas Guaicurus na Guerra

do Paraguai.

Mato Grosso do Sul (ainda Ma-

to Grosso): economia, ciclo da

erva mate, influência política,

econômica, social e cultural no

contexto imperialista brasileiro.

Capítulo 2: A Marcha da colonização na América

portuguesa. (p. 36 e 39).

Texto didático que narra a caça aos índios nas mis-

sões Itatim (Mato Grosso do Sul)166

.

Capítulo 2: A Marcha da colonização na América

portuguesa. (p. 38)

Texto didático que narra a descoberta de ouro em

1719, por Pascoal Moreira Cabral, em Cuiabá, Mato

Grosso.

Capítulo 2: A Marcha da colonização na América

portuguesa (p. 41)

Traz o mapa que dá a visibilidade de áreas de criação

de gado na região.

Capítulo 3: A sociedade mineradora. (p. 53)

Texto didático que narra à guerra dos Emboabas.

Cita que os Paulistas derrotados nesse conflito vão

explorar outros territórios na qual chegam até a regi-

ão de Mato Grosso e encontram ouro. Nessa mesma

página encontramos um mapa para a visualização de

exploração dos metais preciosos.

Capítulo 14: O reinado de D. Pedro II: modernização

e imigração. (p. 239-240)

Texto didático que narra a Guerra do Paraguai. Con-

flito que se estendeu por mais de cinco anos em

território Mato-Grossenses, afetando o comércio e a

navegação pelos rios da região. Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de Mato Grosso do Sul, 2012 e Coleção de Livros Didát i-cos História, Sociedade e Cidadania - Nova Edição.

Elaborado por: Jackson James Debona

O quadro acima nos potencializa historicamente quanto ao conteú-

do/informação em relação à História regional. O ponto crucial que vem se desenhando é

que os conteúdos dos livros didáticos e do referencial curricular do estado de Mato

Grosso do Sul não estão em conformidade com volume e ano serial do Referencial do

estado. Isso fica claro ao fazer a relação dos conteúdos do volume do 8º ano com os

conteúdos do referencial curricular do 7º ano. Esse impasse existente entre o referencial

curricular e o livro didático diz respeito à periodização temporal dos conteúdos. Esse

descompasso gera um grau de incompatibilidade entre livro e referencial curricular, no

que tange aos conteúdos de História regional.

Face ao exposto do montante de conteúdos que podem ser visualizado no qua-

dro do 8º ano, A Guerra do Paraguai é o conteúdo que faz jus entre o livro didático e o

referencial, porém o texto didático é informativo, pois a narrativa relacionando a região

166

O livro didático registra o fato no Estado de Mato Grosso do Sul, em um período em que o Estado

ainda não havia sido criado.

Page 122: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · Aos amigos e colegas do Curso de Mestrado, sem a contribuição de vocês seria mais difícil esse processo formativo

107

em questão é feita de uma forma evasiva, sem detalhes, nem registro de resistência ao

agressor (Paraguai). Dessa forma, o volume do 8º ano do livro didático não oferta con-

teúdo de história regional suficiente, nem mesmo tomando o referencial curricular como

referência.

Quadro 18 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental - 9º Ano

Ano

Descrição da Abordagem no

Livro Didático de História.

Conteúdo norteador do Referencial Curricular

de Mato Grosso do Sul

Ano

Capítulo 8: O primeiro governo

Vargas. (p. 118)

Traz mapa que trata da marcha da

Coluna Prestes. Segundo a legenda

e a visualização no mapa podemos

identificar a passagem por duas

vezes da coluna em território de

Mato Grosso, na década de 1920.

O Brasil República no Contexto Capitalista

3º Bimestre:

Movimento Divisionista de Mato Grosso: ante-

cedentes, composição de poder, governos e con-

flitos sociais.

Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de Mato Grosso do Sul, 2012 e Coleção de Livros Didát i-cos História, Sociedade e Cidadania - Nova Edição.

Elaborado por: Jackson James Debona

O volume do 9º ano da coleção faz alusão à região de Mato Grosso, ao tratar da

Marcha da Coluna Prestes, na década de 1920. Essa informação está delineada no mapa

por onde a Coluna Prestes passou e não faz menção narrativa textual sobre a região.

Desse modo, o livro não trata de conteúdos de História regional, haja vista, que no 3º

bimestre o referencial curricular requer um conteúdo específico da região que se refere

ao movimento de personagens sociais que defendiam a divisão do estado.

Portanto, a Coleção História Sociedade & Cidadania – Nova Edição, não aten-

de a demanda de ensino de História regional requerida pelo documento norteador, o

referencial curricular da rede estadual de ensino de Mato Grosso do Sul Ensino Funda-

mental anos finais.

[3.1.3] Coleção História – Das Cavernas ao terceiro milênio

A Coleção História – Das Cavernas ao terceiro milênio, em seus quatro vo-

lumes, traz em suas capas as seguintes informações: título da Coleção; nome das autoras

Patrícia Ramos Braick e Myriam Becho Mota; código da coleção do PNLD de 2011,

logomarca da Editora Moderna e o ano (escolar) que se refere o volume 6º, 7º, 8º e 9º

anos.

A capa de cada volume é ilustrada com fotos diferentes:

Page 123: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · Aos amigos e colegas do Curso de Mestrado, sem a contribuição de vocês seria mais difícil esse processo formativo

108

6º ano com a foto de capa do soldado de terracota do mausoléu

do rei Chi Huang-Ti, cerca de 221 a.C.

7º ano com a foto de capa de Detalhe da pintura Negra da Costa

do Ouro, de Albert Eckhout, 1641.

8º ano com a foto de capa de uma Representação de um sans-

cullotes, pintura do final do século XVII, de autor não identificado.

9º ano com a foto de capa um Astronauta e sua roupa espacial.

Foto do Centro de Informação e Documentação da Editora Moderna.

A folha de rosto apresenta as seguintes informações sobre as autoras: Patrícia

Ramos Braick é Mestre em História (área de concentração: História das Sociedades

Ibéricas e Americanas) pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Professora do Ensino Médio em Belo Horizonte. Myriam Becho Mota é Licenciada em

História pela Faculdade de Ciências Humanas de Itabira, MG. Mestre em Relações

Internacionais pela The Ohio University, EUA. Professora do Ensino Médio e Superior

em Itabira, MG.

Diferente das coleções examinadas anteriormente, as autoras não atuam no en-

sino superior, e sim no ensino médio. No entanto, a coordenação editorial permanece

sob a responsabilidade de Maria Raquel Apolinário.

Os volumes examinados encontram-se na sua 2ª edição, tendo como cidade de

origem e impressão São Paulo, no ano de 2006. Em seu verso estão citados todos os

responsáveis pela coordenação, elaboração dos volumes e a ficha catalográfica da cole-

ção. Nas páginas seguintes, as autoras escreveram a apresentação Ao aluno e à aluna e,

nas duas páginas subsequentes Conheça seu livro, contendo textos que informam como

são distribuídas as seções nesta coleção de livro didático.

Os conteúdos estão estruturados em 4 unidades que subdividem em 15 capítu-

los, em cada volume da coleção. As seções se alternam conforme o conteúdo tratado,

mas em todos os quatro volumes podem ser encontrados:

Texto expositivo;

Leitura complementar;

Atividades;

Oficina de trabalho;

Páginas temáticas;

Page 124: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · Aos amigos e colegas do Curso de Mestrado, sem a contribuição de vocês seria mais difícil esse processo formativo

109

Documento;

Para saber mais, e

Vamos treinar.

As imagens são nítidas, legendadas e bem articuladas com os textos didáticos e

as atividades.

A exemplo das outras coleções segue o quadro que contém conteúdos dos qua-

tro volumes de 6º ao 9º ano, do Ensino Fundamental anos finais, que abordam sobre a

História Regional de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Quadro 19 - Coleção História – Das Cavernas ao terceiro milênio.

Volume Unidade de

Conteúdo

Descrição da Abordagem nas Seções Enfoque

6º ano Não consta Não consta Não consta

7º ano

Unidade 3

O Mundo

que os Euro-

peus Encon-

traram

Capítulo 9: A América dos povos pré-

colombianos (p. 155).

Os povos indígenas do Brasil. Mapa atual

do Brasil que mostra a distribuição dos

principais povos indígenas em 1500.

Indígenas encontrados no

“Brasil” de 1500 na regi-

ão onde hoje é Mato

Grosso do Sul.

Capítulo 9: A América dos povos pré-

colombianos (p. 156).

Direito às terras tradicionais. Mapa: Terras

indígenas no Brasil (2008). Este mapa traz

as informações de terras aprovadas e que

estão em estudo pontuando a existências

dessas áreas em MT e MS.

Demarcação de terras

indígenas no Brasil sécu-

lo XXI.

Unidade 4

A Coloniza-

ção da Amé-

rica Portu-

guesa

Capítulo 14: A mineração (p. 226).

As grandes bandeiras. Mapa que trata das

missões e da bandeira de Raposo Tavares

nas regiões das missões com intuito de apri-

sionar indígenas para trabalho escravo.

Dentre as missões a Itatim que fica na regi-

ão, onde hoje é Mato Grosso do Sul.

As bandeiras e o aprisio-

namento de indígenas no

século XVII.

Capítulo 14: A mineração (p. 227).

Mapa que dá visibilidades das jazidas de

ouro. Conhecida como “A região das minas”

(século XVII), dentre elas estão a Vila Real

(Cuiabá) e Vila Bela.

A região das minas (sécu-

lo XVIII).

Capítulo 15: Sociedade e religião na colônia

(p. 251).

Resistência contra a escravidão. Mapa que

localiza os principais quilombos do Brasil,

dentre eles o quilombo da Carlota (ou Pio-

lho), no atual estado de Mato Grosso.

Mapa de localização dos

Quilombos.

8º ano

Unidade 4

A Consoli-

Capítulo 14: D. Pedro II e a crise do Império

(p. 225).

Mapa que localiza a região produtora de

café nos séculos XVIII, XIX e XX dentre

elas onde Hoje é o município de Nova An-

Regiões de produção de

café nos séculos XVIII,

XIX e XX.

Page 125: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · Aos amigos e colegas do Curso de Mestrado, sem a contribuição de vocês seria mais difícil esse processo formativo

110

dação dos

Estados

Americanos

dradina no estado de Mato Grosso do Sul.

Capítulo 14: D. Pedro II e a crise do Impé-

rio. (p. 232 e 233).

Guerra do Paraguai: o Exército nacional

volta fortalecido. Apresenta o mapa sobre

territórios pretendido pelo Paraguai ao sul

de Mato Grosso (p. 232).

Texto expositivo afirma que era importante

garantir o acesso via Rio Paraguai ao estado

de Mato Grosso (p. 233).

Guerra do Paraguai 1865-

1870.

9º ano

Unidade 1

Brasil: a

República

das Oligar-

quias

Capítulo 1: A Coluna Prestes (p. 40-41).

Quadro que contém mapa do Brasil com

legenda da Marcha da Coluna Prestes (1924-

1927). Esse mapa possibilita visualizar que

a Coluna Prestes passou em território mato-

grossense por duas vezes.

Os movimentos Sociais.

Unidade 4

A Nova

ordem mun-

dial.

Capítulo 15: Impasses e conflitos no século

XXI (p. 293).

Desenvolvimento sustentável. Imagem aérea

de um trecho do Pantanal mato-grossense no

município de Poconé em 2008. Essa ima-

gem é utilizada para informar a existência

de projetos de desenvolvimento sustentável,

como a prática do ecoturismo, sem agredir o

ecossistema da região do Pantanal.

Geração de energia e

desenvolvimento susten-

tável.

Fonte: Coleção História – Das Cavernas ao terceiro milênio.

Elaborado por: Jackson James Debona

No quadro 19, do mapeamento da coleção, pode ser observada a ausência da

abordagem regional em um dos volumes e uma significativa diminuição de chamadas de

História regional, em relação às abordagens identificadas nas coleções anteriores.

Quadro 20 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 6º Ano Ano

Descrição da Abordagem no Livro

Didático de História.

Conteúdo norteador do Referencial Curricular de

Mato Grosso do Sul

Ano

X

O mundo primitivo

1º Bimestre:

Pré-história no Mato Grosso do Sul. Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de Mato Grosso do Sul, 2012 e Coleção História – Das

Cavernas ao terceiro milênio.

Elaborado por: Jackson James Debona

As autoras, ao se reportarem à Pré-história no Brasil, no volume do 6º ano, op-

taram por uma escrita generalizante e dedicada às primeiras descobertas arqueológicas

no Brasil. No litoral brasileiro os Sambaquis, no estado de Minas Gerais o Sítio arqueo-

lógico de Lagoa Santa e no Piauí no Parque Nacional da Capivara. Essa abordagem Pré-

histórica apresentada nesse volume passa a impressão de um vazio no restante do terri-

tório brasileiro e, como podemos observar nas coleções examinadas anteriormente, há

Page 126: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · Aos amigos e colegas do Curso de Mestrado, sem a contribuição de vocês seria mais difícil esse processo formativo

111

registros e vestígios pré-históricos nas regiões não pontuadas pelas autoras, inclusive em

Mato Grosso/Mato Grosso do Sul.

Quadro 21 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 7º Ano

Ano

Descrição da Abordagem no Livro Didático de His-

tória.

Conteúdo norteador do

Referencial Curricular de Mato Grosso do Sul

Ano

Capítulo 9: A América dos povos pré-colombianos (p. 155).

Os povos indígenas do Brasil. Mapa atual do Brasil que mos-

tra a distribuição dos principais povos indígenas em 1500.

O encontro de três mundos

2º Bimestre:

A presença dos espa-

nhóis, no período co-

lonial, na região do

atual Mato Grosso do

Sul (relevâncias das

Missões do Itatim no

processo de ocupação

e o povoamento do

Mato Grosso).

4º Bimestre:

História dos povos in-

dígenas do Mato

Grosso do Sul: eco-

nomia, organização

política, processo de

aculturação e contri-

buição cultural.

Capítulo 9: A América dos povos pré-colombianos (p. 156).

Direito às terras tradicionais. Mapa: Terras indígenas no Bra-

sil (2008). Este mapa traz as informações de terras aprovadas

e que estão em estudo pontuando a existências dessas áreas

em MT e MS.

Capítulo 14: A mineração (p. 226).

As grandes bandeiras. Mapa que trata das missões e da ban-

deira de Raposo Tavares nas regiões das missões com intuito

de aprisionar indígenas para trabalho escravo. Dentre as mis-

sões a Itatim que fica na região, onde hoje é Mato Grosso do

Sul.

Capítulo 14: A mineração (p. 227).

Mapa que dá visibilidades das jazidas de ouro. Conhecida

como “A região das minas” (século XVII), dentre elas estão a

Vila Real (Cuiabá) e Vila Bela.

Capítulo 15: Sociedade e religião na colônia (p. 251).

Resistência contra a escravidão. Mapa que localiza os princi-

pais quilombos do Brasil, dentre eles o quilombo da Carlota

(ou Piolho), no atual estado de Mato Grosso. Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de Mato Grosso do Sul, 2012 e Coleção História – Das Cavernas ao terceiro milênio. Elaborado por: Jackson James Debona

Segundo o Referencial Curricular de Mato Grosso do Sul os conteúdos perti-

nentes à História Regional são articulados em dois bimestres no 7º ano. O volume da

coleção, referente ao 7º ano, apresenta maior adequação dos conteúdos em relação ao

proposto no Referencial curricular. O conteúdo do 2º bimestre do Referencial Curricular

requisita abordar sobre a presença dos Espanhóis no período colonial, na região "do

atual Mato Grosso do Sul."167 O livro didático de história, como pode se observar acima

no quadro, tangencia essa abordagem quando trata do conteúdo sobre Entradas e Ban-

deiras, que tinham como objetivo o apresamento de indígenas. Os bandeirantes, conhe-

cedores da existência das missões jesuíticas espanholas, investiram seus esforços para

atacar e apresar índios dessas missões. Dentre as missões o livro didático menciona as

167

MATO GROSSO DO SUL. Referencial Curricular da Educação Básica da Rede Estadual de Ensi-

no/MS – Ensino Fundamental. Campo Grande: SED-MS, 2012, p. 318.

Page 127: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · Aos amigos e colegas do Curso de Mestrado, sem a contribuição de vocês seria mais difícil esse processo formativo

112

missões do Itatim (Mato Grosso do Sul)168, igualmente referenciada nas coleções exa-

minadas anteriormente.

No 4º bimestre, o Referencial Curricular aponta como conteúdo norteador a

História dos povos indígenas. Sobre esse conteúdo o livro traz o tema de uma forma

diluída e informativa, apenas no formato de mapas.169

Outros dois conteúdos aparecem no mapeamento do livro didático do 7º ano: A

Mineração e os Quilombos. A mineração é abordada de forma abrangente, associando

as jazidas de Goiás e Mato Grosso a uma grande região mineradora, representada no

mapa que pode ser visualizado à página 227. A demarcação dos Quilombos pode ser

visualizada na página 251, no formato de mapa. Esse mapa, relacionado ao período

colonial, está ligado ao texto didático Resistências contra a escravidão que representa a

organização dos negros nos quilombos e a resistência contra as investidas da “sociedade

luso-brasileira” e apresenta o quilombo da Carlota (ou Piolho), no atual estado de Mato

Grosso.

Quadro 22 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 8º ano

Ano

Descrição da Abordagem no Livro Didático de

História.

Conteúdo norteador do Referencial

Curricular de Mato Grosso do Sul

Ano

Capítulo 14: D. Pedro II e a crise do Império (p.

225).

Mapa que localiza a região produtora de café nos

séculos XVIII, XIX e XX dentre elas onde Hoje é

o município de Nova Andradina no estado de

Mato Grosso do Sul.

O Mato Grosso Do Sul No Contexto

Imperialista

4º Bimestre:

Conflito com o Paraguai: cau-

sas e desdobramentos para a

América do Sul, para o Brasil

e para o Mato Grosso do Sul.

Os Afro-brasileiros e os povos

indígenas Guaicurus na Guerra

do Paraguai.

Mato Grosso do Sul (ainda

Mato Grosso): economia, ciclo

da erva mate, influência políti-

ca, econômica, social e cultu-

ral no contexto imperialista

brasileiro.

Capítulo 14: D. Pedro II e a crise do Império. (p.

232 e 233).

Guerra do Paraguai: o Exército nacional volta

fortalecido. Apresenta o mapa sobre territórios

pretendido pelo Paraguai ao sul de Mato Grosso

(p. 232).

Texto expositivo afirma que era importante garan-

tir o acesso via Rio Paraguai ao estado de Mato

Grosso (p. 233).

Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de Mato Grosso do Sul, 2012 e Coleção História – Das

Cavernas ao terceiro milênio.

Elaborado por: Jackson James Debona

168

Conforme o Livro Didático do 7º ano, cf. "No mesmo ano começaram os ataques às missões do Itatim

(Mato Grosso do Sul), que desapareceram em 1648." (p. 226) 169

O conteúdo refere-se à chegada dos europeus em 1500 no Bras il, ao século XXI como: mapa da dis-

tribuição dos principais povos indígenas em 1500 (p. 155) e mapa de Terras indígenas no Brasil (2008),

(p. 156).

Page 128: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · Aos amigos e colegas do Curso de Mestrado, sem a contribuição de vocês seria mais difícil esse processo formativo

113

Para o 8º ano, a Coleção, em relação às outras coleções examinadas, apresenta

os conteúdos sobre História regional em menor quantidade. No entanto, mantém o texto

didático sobre A Guerra do Paraguai, este que podemos afirmar ser o único texto didá-

tico que faz referência direta à região de Mato Grosso em consonância com o referencial

curricular.170 O texto didático sobre A Guerra do Paraguai menciona a região Sul do

estado de Mato Grosso como pretendida pelo governo paraguaio e relata, ainda, a im-

portância da livre navegabilidade do Rio Paraguai, como via mais rápida para chegar à

província de Mato Grosso. Quanto às especificidades deste evento histórico, que ocor-

reu em solo Mato-grossense, são inexistentes no livro didático de História.

Este volume traz, ainda, um mapa que apresenta locais na região, onde se pro-

duzia café, no começo do século XX. Na configuração geopolítica atual do Estado de

Mato Grosso do Sul, essa região é a cidade Nova Andradina.

Sobre os conteúdos não contemplados pelo volume, podemos elencar: Os

Afro-brasileiros e os povos indígenas Guaicurus na Guerra do Paraguai, Economia e o

ciclo da erva mate- o que gera um déficit significativo para o ensino de História e para o

conhecimento da história de sua região.

Quadro 23 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 9º ano Ano

Descrição da Abordagem no

Livro Didático de História.

Conteúdo norteador do Referencial Curricular de

Mato Grosso do Sul

Ano

Capítulo 1: A Coluna Prestes (p.

40-41).

Quadro que contém mapa do Bra-

sil com legenda da Marcha da Co-

luna Prestes (1924-1927). Esse

mapa possibilita visualizar que a

Coluna Prestes passou em território

mato-grossense por duas vezes.

O Brasil República No Contexto Capitalista

3º Bimestre:

Movimento Divisionista de Mato Grosso: ante-

cedentes, composição de poder, governos e con-

flitos sociais.

Capítulo 15: Impasses e conflitos

no século XXI (p. 293).

Desenvolvimento sustentável. Ima-

gem aérea de um trecho do Panta-

nal mato-grossense no município

de Poconé em 2008. Essa imagem é

utilizada para informar a existência

de projetos de desenvolvimento

sustentável, como a prática do

ecoturismo, sem agredir o ecossis-

tema da região do Pantanal. Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de Mato Grosso do Sul, 2012 e Coleção História – Das

Cavernas ao terceiro milênio.

Elaborado por: Jackson James Debona

170

Grifos meus.

Page 129: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · Aos amigos e colegas do Curso de Mestrado, sem a contribuição de vocês seria mais difícil esse processo formativo

114

O 4º volume, referente ao 9º ano, aborda dois conteúdos vinculados à região de

Mato Grosso. O primeiro relaciona-se à passagem da Coluna Prestes pelo Estado, entre

os anos de 1924-1927. Essa visualização é possível por meio de um mapa que faz parte

do texto e que mostra o percurso feito pela Coluna Prestes, em território brasileiro. O

segundo aborda o Eco Turismo como desenvolvimento sustentável na região do Panta-

nal, este já em 2008 com a preocupação voltada para o meio ambiente e produção de

divisas econômicas para a região. Esses conteúdos não atendem ao Referencial Curricu-

lar do estado, que por sua vez, prescreve o estudo do Movimento Divisionista de Mato

Grosso que está vinculado temporalmente ao século XX.

Portanto, a Coleção História - das cavernas ao terceiro milênio, quanto ao ensi-

no de História regional, mantém um padrão de história nacional vinculadas a certas re-

giões do Brasil. Desse modo, os conteúdos regionais de Mato Grosso estão diluídos e

agregados a conteúdos consolidados, entendidos como mais importantes.

[3.1.4] Projeto Radix – História

A Coleção Projeto Radix171 – História, em seus quatro volumes traz em suas

capas as seguintes informações: título da Coleção, nome do autor Cláudio Vicentino,

código da coleção do PNLD de 2011, logomarca da Editora Scipione e o ano (escolar)

que se refere o volume 6º, 7º, 8º e 9º anos.

A capa de cada volume é ilustrada com fotos diferentes:

6º ano com a foto de capa Relevo persa do século VI a.C., Museu

do Louvre, Paris;

7º ano com a foto de capa Escultura em pedra-sabão da porta da

Igreja de São Francisco de Assis, atribuída a Aleijadinho. São João

Del Rei [MG], 2006;

8º ano com a foto de capa Torre Eiffel, Paris, e

171

Como consta na página de rosto da Coleção o termo Radix "é uma palavra latina que significa raiz. Em

latim, o substantivo radix era empregado tanto em sentido próprio (raiz de uma planta) como em sentido

figurado. Dependendo do contexto, radix podia significar, como raiz em português, base, fonte, funda-

mento, origem.

Page 130: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · Aos amigos e colegas do Curso de Mestrado, sem a contribuição de vocês seria mais difícil esse processo formativo

115

9º ano com a foto de capa Teatro Nacional Cláudio Santoro, Bra-

sília (DF).

Na folha de rosto apresenta as seguintes informações sobre o autor: Claudio

Vicentino que é bacharel e licenciado em Ciências Sociais pela Universidade de São

Paulo. Professor de cursos Pré-vestibulares e de Ensino Médio, autor de obras didáticas

e paradidáticas para o Ensino Fundamental e Médio. Ressalte-se a formação do autor

na área de Ciências Sociais. Traz também informações sobre a 1ª edição; Cidade e ano

em que foi impressa: São Paulo, 2011. Em seu verso estão citados todos os responsáveis

pela coordenação e editoração dos volumes e a ficha catalográfica da coleção.

Nas páginas seguintes o autor escreve a apresentação Seja bem-vindo e, nas

duas páginas seguintes nos apresenta Como a obra está organizada, páginas que infor-

mam como são distribuídas as unidades (Módulos), os capítulos e as seções do livro

didático de História.

Os conteúdos estão estruturados em 8 módulos, distribuídos nos quatro volu-

mes da coleção que subdividem-se entre 14 e 16 capítulos em média, a cada volume da

coleção. Os volumes de 6º e 7º ano apresentam 14 capítulos e, os volumes de 8º e 9º

anos apresentam 16 capítulos.

As seções se alternam conforme o ano escolar, e são assim caracterizadas:

Texto Didático;

Para Começar,

Atividades,

Vocabulário,

Fique Ligado,

Algo a Mais,

Aprendendo a Fazer,

Lendo Textos,

Oficina de trabalho,

Páginas temáticas,

Trabalhando com Documentos,

Para Saber Mais e

Caderno de Atividades Complementares, com indicações de li-

vros, sítios, filmes, músicas e bibliografia relativa aos assuntos tratados.

Page 131: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · Aos amigos e colegas do Curso de Mestrado, sem a contribuição de vocês seria mais difícil esse processo formativo

116

A exemplo das outras coleções segue o quadro que contém os quatro vo-

lumes de 6º ao 9º ano, do Ensino Fundamental, anos finais:

Quadro 24 - Coleção Projeto Radix - História

Volume Unidade

de Conte-údo

Descrição da Abordagem nas Seções Enfoque

6º ano

Unidade 2

O homem

chega à

América

Capítulo 3: A origem dos primeiros povos

americanos (p. 49).

Mapa dos Principais sítios arqueológicos da

América. Sítio de Santa Eliana de Mato Grosso

de (11.000/12000 anos)

A Pré-história no Conti-

nente Americano.

Capítulo 4: Os indígenas no Brasil. A classifi-

cação dos grupos indígenas (p. 65).

Mapa do Brasil com sua divisão política inte-

restadual com legenda de cores para designar o

tronco, família ou grupo indígena no final do

século XX.

Povos indígenas no final

do século XX no Brasil.

7º ano

Unidade 8

As fronteiras

na América

portuguesa

Capítulo 13: Bandeiras de caça ao índio (p.

255).

Texto Central, fala que muitas bandeiras ataca-

ram as missões jesuíticas em vários pontos da

América do Sul em especial aqui a de Itatim

hoje território Mato Grosso do Sul.

Bandeiras de Caça aos

Índios a missões espanho-

las.

Capítulo 13: Bandeiras em busca de ouro e

diamantes (p. 258).

Texto Central que consta que os bandeirantes

paulistas passaram a procurar ouro e diamante

nas regiões onde hoje é o estado de Mato Gros-

so e Goiás na década de 1720. Na mesma pá-

gina ainda consta um mapa que mostra o cami-

nho percorrido pelas monções para a região das

minas em Vila Real do Bom Jesus de Cuiabá.

Bandeirantes e Monções

rumo as minhas de outro

no extremo Oeste.

Capítulo 14: Luxo e pobreza nas Minas Gerais

(p. 266 e 267).

Povoamento e mercado interno. Mapas que

trazem as novas vilas e cidades do começo do

século XVIII principalmente das regiões mine-

radoras como Vila Bela e Cuiabá na Capitania

de Mato Grosso.

As novas vilas e cidades

da época da economia

mineradora.

8º ano

Unidade 2

As rebeliões

na América

ibérica

Capítulo 4: A Guerra dos Emboabas (Minas

Gerais, 1707-1709) (p. 61).

Texto central que narra a Guerra dos emboabas

da qual foram vencedores restando aos paulis-

tas aventurar em outras conquistas de lavras de

ouro o que aconteceu então na região onde

atualmente é o estado de Mato Grosso.

Guerra dos Emboabas.

Unidade 7

O período

regencial.

Capítulo 13: Para começar. (p. 195).

Imagens de uma boiada sendo tocada nos cor-

redor das estradas do Pantanal de Mato Grosso

do Sul.

Diferencias regionais.

Unidade 8

A Política

do Segundo

Capítulo 15: As tensões internacionais - a Bacia

do Rio da Prata (p. 237).

Texto central que é acompanhado de mapa e

que narra os conflitos nessa região devido ao

Bacia do Prata e as guer-

ras platinas (século XIX)

Page 132: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · Aos amigos e colegas do Curso de Mestrado, sem a contribuição de vocês seria mais difícil esse processo formativo

117

Reinado. acesso a província de Mato Grosso.

Capítulo 15: A Guerra do Paraguai (p. 239).

Texto central que narra a ofensiva do Paraguai

em território da província de Mato Grosso.

A Guerra do Paraguai.

9º ano Unidade 4

Brasil: a

crise da

República

Oligárquica.

Capítulo 7: O tenentismo e a Coluna Prestes (p.

117).

Mapa do Brasil que contém o percurso da

Coluna Prestes. Segundo esse percurso a Colu-

na Prestes passou pelo então estado de Mato

Grosso entre 1925 a 1927.

A Coluna Prestes.

Fonte: Coleção Projeto Radix – História.

Elaborado por: Jackson James Debona

A coleção Projeto Radix – História é uma das cinco coleções citadas nesse tra-

balho e que integra pela primeira vez o grupo de coleções aprovadas pelo PNLD. Quan-

to a sua adesão pelos professores do estado de Mato Grosso do Sul, representou a 4ª

coleção mais utilizada pelas escolas do Ensino Fundamental anos finais para o ensino de

história, o que justifica sua seleção nesta pesquisa. Portanto, sua importância é elemen-

tar para entender como os livros didáticos, instrumento de grande potencial no ensino de

história, vêm trabalhando quantitativamente e qualitativamente os conteúdos da região

de Mato Grosso/Mato Grosso do Sul.

A tabela acima nos proporciona a visualizar os conteúdos sobre a região de

Mato Grosso/Mato Grosso do Sul, e de posse desse mapeamento, estabelecer relações

com os conteúdos do Referencial Curricular de Mato Grosso do Sul o qual, por sua vez,

estabelece conteúdos mínimos de História regional para serem tratados durante o ensino

fundamental.

Quadro 25 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 6º ano

Ano

Descrição da Abordagem no Li-

vro Didático de História.

Conteúdo norteador do Referencial Curri-

cular de Mato Grosso do Sul

Ano

Capítulo 3: A origem dos primeiros

povos americanos (p. 49).

Mapa dos Principais sítios arqueológi-

cos da América. Sítio de Santa Eliana

de Mato Grosso de (11.000/12000

anos)

O mundo primitivo

1º Bimestre:

Pré-história no Mato Grosso do Sul.

Capítulo 4: Os indígenas no Brasil. A

classificação dos grupos indígenas (p.

65).

Mapa do Brasil com sua divisão políti-

ca interestadual com legenda de cores

para designar o tronco, família ou gru-

po indígena no final do século XX. Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de Mato Grosso do Sul, 2012 e Coleção Projeto Radix. Elaborado por: Jackson James Debona

Page 133: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · Aos amigos e colegas do Curso de Mestrado, sem a contribuição de vocês seria mais difícil esse processo formativo

118

Os conteúdos apresentados no volume do 6º ano são esparsos e representados

apenas em mapas. O primeiro aborda no Texto Didático a origem dos povos america-

nos, incluindo ao final um mapa dos principais sítios arqueológico da América (Radix,

p. 49). Nesse mapa é destacado um sítio arqueológico situado em Mato Grosso e data

em torno de 11.000/12.000 anos e é conhecido por Sítio de Santa Eliana, no atual muni-

cípio de Jangada, mas essa informação não consta do livro, porém não cita mais nenhu-

ma informação ou conteúdo sobre a região.

No segundo mapa, o autor, após fazer uma abordagem sobre os grupos indíge-

nas, utiliza o mapa para dar visibilidade dos povos indígenas que ainda sobrevivem no

Brasil no final do século XX (Radix, p. 65). Desse modo, podemos visualizar, segundo

a legenda do mapa na região de Mato Grosso/Mato Grosso do Sul, o Tronco Tupi; Fa-

mília Aruak; Família Bororo; Tronco Jê; Família Karib e outros grupos não nomeados

pelo autor.

Quanto ao conteúdo que o referencial curricular do estado sugere - a Pré-

história no Mato Grosso do Sul -, essa especificidade não é contemplada por essa cole-

ção, tratando o tema de forma abrangente.

Quadro 26 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 7º ano

Ano

Descrição da Abordagem no Livro Didático de

História.

Conteúdo norteador do Referencial

Curricular de Mato Grosso do Sul

Ano

Capítulo 13: Bandeiras de caça ao índio (p. 255).

Texto Didático que relata as bandeiras que ataca-

ram as missões jesuíticas em vários pontos da Amé-

rica do Sul em especial aqui a de Itatim, região de

Mato Grosso172

.

O encontro de três mundos

2º Bimestre:

A presença dos espanhóis, no

período colonial, na região

do atual Mato Grosso do Sul

(relevâncias das Missões do

Itatim no processo de ocupa-

ção e o povoamento do Mato

Grosso).

4º Bimestre:

História dos povos indígenas

do Mato Grosso do Sul: eco-

nomia, organização política,

processo de aculturação e

contribuição cultural.

Capítulo 13: Bandeiras em busca de ouro e diaman-

tes (p. 258).

Texto Didático que consta que os bandeirantes

paulistas passaram a procurar ouro e diamante nas

regiões onde hoje é o estado de Mato Grosso e

Goiás na década de 1720. Na mesma página ainda

consta um mapa que mostra o caminho percorrido

pelas monções para a região das minas em Vila

Real do Bom Jesus de Cuiabá.

Capítulo 14: Luxo e pobreza nas Minas Gerais (p.

266 e 267).

Povoamento e mercado interno. Mapas que trazem

172

O livro didático traz a informação "muitas bandeiras chegaram a atacar as missões jesuíticas, do Mato

Grosso ao Rio Grande do Sul, capturando mais de 100 mil indígenas, a maioria deles já catequizada."

(Radix, p. 255)

Page 134: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · Aos amigos e colegas do Curso de Mestrado, sem a contribuição de vocês seria mais difícil esse processo formativo

119

as novas vilas e cidades do começo do século XVIII

principalmente das regiões mineradoras como Vila

Bela e Cuiabá na Capitania de Mato Grosso. Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de Mato Grosso do Sul, 2012 e Coleção Projeto Radix.

Elaborado por: Jackson James Debona

O tema elencado no quadro 26 é abordado de modo abrangente: partindo dos

aspectos relacionados à história, dita oficial, apresenta inconsistência em relação aos

conteúdos propostos para o 2º e 4º bimestres no Referencial Curricular e negligência

quanto as especificidades regionais (p. 255). Quanto ao conteúdo sobre os bandeirantes,

é retratada a busca de ouro e diamantes em outras regiões que atualmente compõem os

Estados de Mato Grosso e Goiás (p. 258). Há também o registro dos caminhos que as

monções percorreram para abastecer, com mantimentos e armas, as minas em Vila Real

do Bom Jesus de Cuiabá. Mais adiante, aborda dois mapas que dão visibilidade do mer-

cado interno de víveres e as grandes regiões mineradoras incluindo Vila Bela e Cuiabá

(p. 266-7).

Quadro 27 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental - 8º ano

Ano

Descrição da Abordagem no Livro Didático

de História.

Conteúdo norteador do Referencial

Curricular de Mato Grosso do Sul

Ano

Capítulo 4: A Guerra dos Emboabas (Minas

Gerais, 1707-1709) (p. 61).

Texto central que narra a Guerra dos emboabas

da qual foram vencedores restando aos paulistas

aventurar em outras conquistas de lavras de

ouro o que aconteceu então na região onde atu-

almente é o estado de Mato Grosso.

O Mato Grosso do Sul no contexto Im-

perialista

4º Bimestre:

Conflito com o Paraguai: causas e

desdobramentos para a América

do Sul, para o Brasil e para o Ma-

to Grosso do Sul.

Os Afro-brasileiros e os povos in-

dígenas Guaicurus na Guerra do

Paraguai.

Mato Grosso do Sul (ainda Mato

Grosso): economia, ciclo da erva

mate, influência política, econô-

mica, social e cultural no contexto

imperialista brasileiro.

Capítulo 13: Para começar. (p. 195).

Imagens de uma boiada sendo tocada nos corre-

dor das estradas do Pantanal de Mato Grosso do

Sul.

Capítulo 15: As tensões internacionais - a Bacia

do Rio da Prata (p. 237).

Texto central que é acompanhado de mapa e

que narra os conflitos nessa região devido ao

acesso a província de Mato Grosso.

Capítulo 15: A Guerra do Paraguai (p. 239).

Texto central que narra a ofensiva do Paraguai

em território da província de Mato Grosso. Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de Mato Grosso do Sul, 2012 e Coleção Projeto Radix.

Elaborado por: Jackson James Debona

No volume do 8º ano a História regional aparece relacionada a acontecimentos

históricos de âmbito nacional, cujo teor de relevância fica atrelado ao de informação.

Essa constatação pode ser feita nas chamadas de títulos e dos textos didáticos e, das

Page 135: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · Aos amigos e colegas do Curso de Mestrado, sem a contribuição de vocês seria mais difícil esse processo formativo

120

seções, por exemplo: A Guerra dos Emboabas, O período regencial, As tensões interna-

cionais – Bacia do Rio da Prata e na A Guerra do Paraguai.

Quadro 28 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 9º ano

Ano

Descrição da Abordagem no Livro Didá-

tico de História.

Conteúdo norteador do Referencial Curricular

de Mato Grosso do Sul

Ano

Capítulo 7: O tenentismo e a Coluna Prestes

(p. 117).

Mapa do Brasil que contém o percurso da

Coluna Prestes. Segundo esse percurso a

Coluna Prestes passou por Mato Grosso

entre os anos de 1925 a 1927.

O Brasil República no Contexto Capitalista

3º Bimestre:

Movimento Divisionista de Mato Gros-

so: antecedentes, composição de poder,

governos e conflitos sociais. Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de Mato Grosso do Sul, 2012 e Coleção Projeto Radix.

Elaborado por: Jackson James Debona

No volume do 9º ano da coleção, Mato Grosso é apresentado no mapa (p. 117)

que mostra o percurso da Coluna Prestes, entre os anos de 1925-1927. Quanto ao conte-

údo do Referencial Curricular, não há nenhuma aproximação com a abordagem feita

pelo livro de história do 9º ano. No entanto, embora o contexto trate do inicio do século

XX, o mapa utilizado traz o Estado de Mato Grosso após a divisão do Estado, já com

Mato Grosso do Sul como unidade federativa.

Portanto, a coleção Projeto Radix - História, do PNLD de 2011, quanto ao en-

sino de história regional, veicula o padrão de história Nacional, assentada em aconteci-

mentos de certas regiões do Brasil mais expressivas.

[3.1.5] História e Vida Integrada

A Coleção História e Vida Integrada (em seus quatro volumes) traz em suas

capas as seguintes informações: título da Coleção, nomes dos autores - Nelson Piletti,

Claudino Piletti e Thiago Tremonte-, código da coleção do PNLD de 2011, logomarca

da Editora Ática e o ano (escolar) que se refere o volume 6º, 7º, 8º e 9º anos.

A capa de cada volume é ilustrada com imagens diferentes:

A imagem da capa do 6º ano é o Alto-relevo, tumba de Kagemi, em Saqa-

ra (sítio arqueológico a 30 km do Cairo, Egito), século XXIV a.C.;

A imagem da capa do 7º ano é de Homem indígena da aldeia Rouxinol

(Igarapé Tarumã-Açu, Manaus, AM) fazendo artesanato[...] Foto de

2008;

Page 136: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · Aos amigos e colegas do Curso de Mestrado, sem a contribuição de vocês seria mais difícil esse processo formativo

121

A imagem da capa do 8º ano é de St. Just Tin Miner, obra de Harold

Harvey produzida em 1935.

A imagem da capa do 9º ano é de Dançarino abraça o globo terrestre em

ato contra o desflorestamento realizado em dezembro de 2007 em Nusa

Dua, na ilha de Bali.

A folha de rosto apresenta as informações, formação dos autores renomados

por suas experiências no campo da educação: Nelson Piletti possui graduação em Filo-

sofia, Pedagogia e Jornalismo é Mestre, doutor e livre-docente em História da Educação

Brasileira pela USP, ex-professor de História na rede pública de ensino do estado de

São Paulo. Claudino Piletti é graduado em Filosofia e Pedagogia, professor de História,

doutor em Educação pela Faculdade de Educação da USP. Thiago Tremonte é graduado

em História pela PUC-SP, mestre em História Social pela PUC-SP, graduado em Filo-

sofia pela USP e professor de História e de Filosofia.

Os volumes analisados são da 4ª edição, editados em São Paulo no ano de

2010. Em seu verso estão citados todos os responsáveis pela coordenação elaboração

dos volumes e a ficha catalográfica da coleção. Nas páginas os autores apresentam o

livro aos alunos no texto Caro aluno, e em Este é seu livro de História, os autores mos-

tram como a obra foi organizada internamente.

Os conteúdos estão organizados em unidades compostas por capítulos. O vo-

lume do 6º ano contém 208 páginas, contendo 4 unidades e 19 capítulos. O volume do

7º ano tem 224 páginas, 4 unidades que contêm 20 capítulos. O volume do 8º ano con-

tém 272 páginas, 6 unidades e16 capítulos. O volume do 9º ano possui 320 páginas, 6

unidades e 25 capítulos.

Segue após o capítulo as seções:

Abertura de Unidade;

Abertura de Capítulo;

Boxes: A história em cena; Dialogando; Janelas da história; Discutindo a

história;

Radar: questionários pontuais sobre o tema do capítulo;

Seção “Mundo Cultural”;

Proposta de atividades;

Vocabulário;

Page 137: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · Aos amigos e colegas do Curso de Mestrado, sem a contribuição de vocês seria mais difícil esse processo formativo

122

As Atividades;

Estudar & organizar;

Leitura & reflexão;

Concluir & aprender;

Seção “Conhecendo e descobrindo” e

Glossário.

Essas seções aparecem alternadas nos capítulos que se seguem, no entanto elas

podem ser encontradas nos quatros volumes.

A exemplo das outras coleções, vejamos o quadro que contém os quatro volu-

mes de 6º ao 9º anos, do Ensino Fundamental, anos finais.

Quadro 29 - Coleção História e Vida Integrada

Volume Unidade de

Conteúdo

Descrição da Abordagem nas Seções Enfoque

6º ano Unidade 1

As Origens da

Humanidade

Capítulo 4: O povoamento da América. (p. 40)

Mapa que mostra o percurso do povoamento

das Américas e sítios arqueológicos mais anti-

gos. No Brasil entre eles encontramos o de

Santa Eliana (Mato Grosso) que contém vestí-

gios da presença humana em torno de 11-12 mil

anos.

Pré-história e

Povoamento das

Américas.

7º ano

Unidade 4

O empreendi-

mento colonial

Português na

América

Capítulo 19: A escravidão (p.194)

Brasil: comunidades quilombolas na atualidade.

Mapa que identifica os estados que tem o regis-

tro de comunidades quilombolas. Segundo o

mapa o estado de Mato Grosso e Mato Grosso

do Sul possuem 23 comunidades quilombolas

identificadas atualmente.

Escravidão e

Quilombos

8º ano

Unidade 1

A consolidação

da presença

europeia na

América

Capítulo 1: A colônia em expansão (p.18)

A ampliação do território. Mapa que informa as

Bandeiras de apresamento de indígenas e Ban-

deiras que procuravam ouro e pedras preciosas

no começo do século XVIII na região onde hoje

é Mato Grosso.

Principais Bandei-

ras

Capítulo 2: O ouro das Gerais (p. 25).

Regiões de mineração no século XVIII. Mapa

que mostra as regiões de mineração entre elas

pode visualizar Vila Bela e Cuiabá em Mato

Grosso.

Mineração no

Brasil do século

XVIII.

Capítulo 3: A consolidação do território colonial

português (p. 36).

Duas regiões pecuaristas. Mapa que informa

como estava distribuída a criação de gado no

século XVIII. Entre as regiões pode ser visuali-

zada a região sul da capitania de Mato Grosso.

Criação de gado

no século XVIII.

Capítulo 4: A Igreja na América portuguesa (p.

49).

Expansão da religião católica na colônia. Mapa

Evangelização e

expansão da igre-

ja católica

Page 138: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · Aos amigos e colegas do Curso de Mestrado, sem a contribuição de vocês seria mais difícil esse processo formativo

123

que dá a visibilidade da atuação da religião

católica na Vila Bela da S. Trindade e Vila Real

do Senhor onde hoje é Mato Grosso.

Unidade 3

O processo de

independência

das colônias das

Américas Por-

tuguesa e Espa-

nhola.

Capítulo 10: Revoltas e conflitos na colônia

portuguesa (p. 110).

Uma revolta no Maranhão. Guerras dos Embo-

abas desencadeou uma nova procura por minas,

pelos paulistas, em outras regiões. Uma delas as

minas em Mato Grosso.

Guerra dos Em-

boabas

Unidade 4

O Brasil Mo-

nárquico

Capítulo 15: Dom Pedro II no poder: transfor-

mações e conflitos (p. 178 e 179).

A Guerra do Paraguai. Textos que informam a

invasão do território brasileiro pelos paraguaios

na região onde hoje é o estado de Mato Grosso

do Sul e a indignação que causou no povo brasi-

leiro.

A Guerra do Pa-

raguai

9º ano

Unidade 2

A república no

Brasil entre

1889 e 1930.

Capítulo 6: O tenentismo e a Revolução de 1930

(p. 75).

Mapa que mostra a longa marcha da Coluna

Prestes pelos estados brasileiro dentre estes o de

Mato Grosso.

A grande marcha

dos tenentes

Capítulo 7: Quinze anos no poder (p. 85).

Guerra em São Paulo. Texto que trata da insur-

reição dos paulistas em 1932 e a ajuda da região

sul de Mato Grosso, sob o comando do general

Bertoldo Kliger que acompanhou São Paulo na

Revolução Constitucionalista.

Guerra em São

Paulo

Unidade 6

Consolidação da

democracia no

Brasil.

Capítulo 25: Movimentos Sociais no Brasil (p.

304).

Parques e terras indígenas no Brasil. Mapa que

informa através de legenda os parques e terras

indígenas nos estados do Brasil. Entre eles Mato

Grosso do Sul.

Parques e terras

indígenas no

Brasil.

Capítulo 25: Movimentos Sociais no Brasil (p.

310).

Leitura & Reflexão. Texto que trata atualmente

a qualidade de vida das crianças indígenas no

estado de Mato Grosso do Sul.

Qualidade de vida

das crianças indí-

genas no Mato

Grosso do Sul.

Fonte: Coleção História e Vida Integrada.

Elaborado por: Jackson James Debona

Diferente das anteriores, a coleção História e vida integrada agrupou em seus

dois últimos volumes (8º e 9º anos) maior inserção de conteúdos sobre a região de Mato

Grosso/Mato Grosso do Sul. No entanto, sua relação de conteúdos é distinta àquela pro-

posta no Referencial Curricular do estado de Mato Grosso do Sul.

Abaixo seguem quadros elaborados com a finalidade de comparar os conteúdos

dos livros didáticos de história com o referencial curricular e de esboçar uma análise

específica com os conteúdos mapeados dos quatro volumes da coleção História e vida

integrada.

Page 139: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · Aos amigos e colegas do Curso de Mestrado, sem a contribuição de vocês seria mais difícil esse processo formativo

124

Quadro 30 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 6º ano

Ano

Descrição da Abordagem no Livro Didático

de História.

Conteúdo norteador do Referencial

Curricular de Mato Grosso do Sul

Ano

Capítulo 4: O povoamento da América. (p. 40)

Mapa que mostra o percurso do povoamento

das Américas e sítios arqueológicos mais anti-

gos. No Brasil entre eles encontramos o de

Santa Eliana (Mato Grosso) que contém vestí-

gios da presença humana em torno de 11-12 mil

anos.

O mundo primitivo

1º Bimestre:

Pré-história no Mato Grosso do

Sul.

Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de Mato Grosso do Sul, 2012 e Coleção História e Vida

Integrada. Elaborado por: Jackson James Debona

O referencial curricular de história de Mato Grosso do Sul indica como conteú-

do norteador a Pré-história no Mato Grosso do Sul para o 6º ano. Porém o que temos

mapeado na respectiva Coleção consiste apenas em um mapa que dá visualidade a sítios

arqueológicos existentes no Continente Americano, dentre eles podemos encontrar cita-

do o sítio arqueológico de Santa Eliana (Mato Grosso), com vestígios da presença hu-

mana em torno de 11-12 mil anos. Contudo, a informação da existência do sítio arqueo-

lógico e de vestígios humanos, a nosso ver, não possibilita estabelecer um significativo

conteúdo da Pré-história da região e, segundo Elizabeth Madureira Siqueira (2002),

estão desatualizados.173

Quadro 31 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 7º ano Ano

Descrição da Abordagem no Li-

vro Didático de História.

Conteúdo norteador do Referencial Curricular de

Mato Grosso do Sul

Ano

Capítulo 19: A escravidão (p.194)

Brasil: comunidades quilombolas

na atualidade. Mapa que identificas

os estados que tem o registro de

comunidades quilombolas. Segundo

o mapa o estado de Mato Grosso e

Mato Grosso do Sul possuem 23

comunidades quilombolas identifi-

cadas atualmente.

O encontro de três mundos

2º Bimestre:

A presença dos espanhóis, no período colonial,

na região do atual Mato Grosso do Sul (rele-

vâncias das Missões do Itatim no processo de

ocupação e o povoamento do Mato Grosso).

4º Bimestre:

História dos povos indígenas do Mato Grosso

do Sul: economia, organização política, pro-

cesso de aculturação e contribuição cultural.

Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de Mato Grosso do Sul, 2012 e Coleção História e Vida Integrada

Elaborado por: Jackson James Debona

173

Cf. SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. História de Mato Grosso: da ancestralidade aos dias atuais.

Cuiabá: Entrelinhas, 2002.

Page 140: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE … · Aos amigos e colegas do Curso de Mestrado, sem a contribuição de vocês seria mais difícil esse processo formativo

125

A seção Hoje, do livro didático de história 7º ano, apresenta um texto que trata

das comunidades remanescentes de quilombos da região de Ivaporunduva, no estado de

São Paulo e que lutam pela regularização das terras ocupadas por eles, desde o começo

do século XVII. Esse exemplo do texto levou os autores a incluir um mapa dos Quilom-

bos já identificados no país, resultando na menção da região de Mato Grosso e Mato

Grosso do Sul, onde foram identificadas 23 comunidades. Em relação ao conteúdo nor-

teador proposto no Referencial Curricular nenhum conteúdo é abordado nesse volume.

Quadro 32 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 8º ano

Ano

Descrição da Abordagem no Livro Didático de Histó-

ria.

Conteúdo norteador do Refe-

rencial Curricular de Mato

Grosso do Sul

Ano

Capítulo 1: A colônia em expansão (p.18)

A ampliação do território. Mapa que informa as Bandei-

ras de apresamento de indígenas e Bandeiras que procu-

ravam ouro e pedras preciosas no começo do século

XVIII na região onde hoje é Mato Grosso.

O Mato Grosso do Sul no Con-

texto Imperialista

4º Bimestre:

Conflito com o Paraguai:

causas e desdobramentos

para a América do Sul,

para o Brasil e para o

Mato Grosso do Sul.

Os Afro-brasileiros e os

povos indígenas Guaicu-

rus na Guerra do Para-

guai.

Mato Grosso do Sul (ain-

da Mato Grosso): eco-

nomia, ciclo da erva ma-

te, influência política,

econômica, social e cul-

tural no contexto imperi-

alista brasileiro.

Capítulo 2: O ouro das Gerais (p. 25).

Regiões de mineração no século XVIII. Mapa que mos-

tra as regiões de mineração entre elas pode visualizar

Vila Bela e Cuiabá em Mato Grosso.

Capítulo 3: A consolidação do território colonial portu-

guês (p. 36).

Duas regiões pecuaristas. Mapa que informa como esta-

va distribuída a criação de gado no século XVIII. Entre

as regiões pode ser visualizada a região sul da capitania

de Mato Grosso.

Capítulo 4: A Igreja na América portuguesa (p. 49).

Expansão da religião católica na colônia. Mapa que dá a

visibilidade da atuação da religião católica na Vila Bela

da S. Trindade e Vila Real do Senhor onde hoje é Mato

Grosso.

Capítulo 10: Revoltas e conflitos na colônia portuguesa

(p. 110).

Uma revolta no Maranhão. Guerras dos Emboabas de-

sencadeou uma nova procura por minas, pelos paulistas,

em outras regiões. Uma delas as minas em Mato Grosso.

Capítulo 15: Dom Pedro II no poder: transformações e

conflitos (p. 178 e 179).

A Guerra do Paraguai. Textos que informam a invasão

do território brasileiro pelos paraguaios na região onde

hoje é o estado de Mato Grosso do Sul e a indignação

que causou no povo brasileiro. Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de Mato Grosso do Sul, 2012 e Coleção História e Vida

Integrada.

Elaborado por: Jackson James Debona

No 8º ano do ensino fundamental o Referencial Curricular do estado de Mato

Grosso do Sul aponta dois conteúdos de história regional para serem trabalhados: Con-

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flito com Paraguai e Ciclo da erva mate. Neste volume, em conformidade do Referenci-

al Curricular somente o Conflito com o Paraguai (Guerra do Paraguai) é tratado, ainda

que de modo superficial. No entanto, podem ser visualizadas menções de conteúdos de

história regional no livro didático do 8º ano. Esses conteúdos, no entanto, estão em de-

sacordo com o Referencial Curricular estadual quanto a volume/ano. A maior parte dos

conteúdos que estão no volume do livro didático do 8º ano, para o referencial curricular,

pertence ao conteúdo do 7º ano. Há um impasse temporal entre o referencial curricular

do estado de Mato Grosso do Sul e o livro didático da coleção História e vida integrada

gerada pela periodização da coleção de História ou ano/serial do referencial curricular, o

que é um problema se tomado o livro didático como um instrumento único no ensino de

história.

Com base nas análises realizadas até o momento consideramos extremamente

necessárias a formação e preparo dos professores para o processo de escolha de cole-

ções que tratem, ainda que minimamente, sobre conteúdos que permitam o ensino da

História regional, tendo em vista que as coleções abordadas nesse trabalho não dão res-

paldo suficiente a essa demanda.

Quadro 33 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 9º ano

Ano

Descrição da Abordagem no Livro Didático de Histó-

ria.

Conteúdo norteador do Refe-

rencial Curricular de Mato

Grosso do Sul

Ano

Capítulo 6: O tenentismo e a Revolução de 1930 (p. 75).

Mapa que mostra a longa marcha da Coluna Prestes

pelos estados brasileiro dentre estes o de Mato Grosso.

O Brasil República no Contexto

Capitalista

3º Bimestre:

Movimento Divisionista

de Mato Grosso: antece-

dentes, composição de

poder, governos e confli-

tos sociais.

Capítulo 7: Quinze anos no poder (p. 85).

Guerra em São Paulo. Texto que trata da insurreição dos

paulistas em 1932 e a ajuda da região sul de Mato Gros-

so, sob o comando do general Bertoldo Kliger que

acompanhou São Paulo na Revolução Constitucionalista.

Capítulo 25: Movimentos Sociais no Brasil (p. 304).

Parques e terras indígenas no Brasil. Mapa que informa

através de legenda os parques e terras indígenas nos

estados do Brasil. Entre eles Mato Grosso do Sul.

Capítulo 25: Movimentos Sociais no Brasil (p. 310).

Leitura & Reflexão. Texto que trata atualmente a quali-

dade de vida das crianças indígenas no estado de Mato

Grosso do Sul. Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de Mato Grosso do Sul, 2012 e Coleção História e Vida

Integrada.

Elaborado por: Jackson James Debona

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Para o 9º ano, o livro didático de história da coleção História e vida integrada

reservou conteúdos que, temporalmente (século XX), atendem à proposta de conteúdos

do Referencial Curricular, no entanto, nenhum dos conteúdos do livro didático aborda o

tema do referencial curricular sobre Movimento Divisionista de Mato Grosso: antece-

dentes, composição de poder, governos e conflitos sociais.

Os conteúdos que fazem referência à região de Mato Grosso/ Mato Grosso do

Sul, a maior parte, estão mencionados no texto didático174 o que não ocorre com fre-

quência nos volumes das outras coleções acima analisadas, que geralmente tratam nas

seções.

À exceção dos outros textos e que está na seção Leitura & Reflexão (p.310), e

que traz uma abordagem sobre as condições de vida das crianças indígenas do municí-

pio de Dourados MS. Esse texto foi extraído do jornal O Estado de S. Paulo, 27.2.2005,

segundo o livro didático da coleção História e vida integrada, é composto por dados

estatísticos e entrevistas com pais das crianças indígenas, no entanto, a fonte dos dados

não foi informada pelo jornal.

Após a leitura intensiva que resultou no mapeamento dos 20 volumes das cole-

ções de livros didáticos, do PNLD 2011, adotadas como fontes para a análise proposta

neste estudo de dissertação, ao lado do diálogo com o Referencial Curricular do Estado

de Mato Grosso do Sul, entende-se que a incidência de conteúdos contidos nos livros

didáticos, que se referem à História regional, restringe-se às menções e informações

esparsas e pontuais, evidenciando um resultado discreto, mais de ausências do que con-

teúdos específicos incorporados nos livros didáticos de história. Dado este que silencia e

inibe a possibilidade de representatividade da história regional integrar o cenário da

história Nacional.

[3.2] História regional: conteúdos recorrentes nos livros didáticos de História do

PNLD 2011

O presente trabalho de pesquisa constatou conteúdos diversos de História regi-

onal sendo tratados de modo disperso nas coleções de livros didáticos de história do

174

Dentre eles o texto que trata da Guerra em São Paulo 1932 e a ajuda da região Sul de Mato Grosso,

sob o comando do general Bertoldo Kliger que acompanhou São Paulo na Revolução Constitucionalist a

de 1932.

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Ensino Fundamental anos finais. Isso foi possível verificar a partir de mapeamento de

conteúdos feito em cinco coleções que tiveram mais adesão no estado de Mato Grosso

do Sul. Por tanto, o objetivo desse texto é retomar o mapeamento das coleções de livros

didáticos de história para verificar as recorrências de temas ou conteúdos de História

regional nas coleções de livro didático de história. Esse exercício de cruzamentos de

dados é importante para dar visibilidade aos conteúdos que são entendidos como repre-

sentativos de uma História de Mato Grosso/Mato Grosso do Sul e que veiculam nos

livros didáticos de História.

Face ao exposto, quatro Temas de História regional foram identificados como

recorrentes nas cinco coleções de livro didático de história do Ensino Fundamental anos

finais do PNLD 2011, a saber:

I. A Pré-história;

II. Bandeirantes e apresamento de indígenas em Mato Grosso;

III. Mineração;

IV. Guerra do Paraguai.

Partindo da premissa de que esses temas são importantes quando se diz respeito

ao Mato Grosso, ou ao que é importante e minimamente necessário de ser ensinado na

disciplina de história, serão tecidas algumas considerações:

I. A Pré-história: é tratada nas coleções referindo-se aos sítios arqueológicos

mais conhecidos da Europa, da América e África. Concomitantemente, as coleções tra-

balham a Pré-história no Brasil em textos didáticos, que, observado a localização geo-

gráfica dos vestígios dessa pré-história apresentada nos textos que permitem identificar

e acompanhar sua história, por meio da apresentação dos sítios arqueológicos litorâneos

e de Lagoa Santa em Minas Gerais. Quanto à Pré-história na região de Mato Grosso só é

possível visualizar seus indicativos por meio de mapas, recurso utilizado em todas as

coleções para dar visibilidade aos sítios arqueológicos mais antigos e conhecidos em

todas as regiões, já identificados e estudados. Desse modo, identificamos a ausência de

fundamentação nesses livros para tratar de um conteúdo que aborda a caracterização da

localidade e vestígios nos sítios arqueológicos na região, mas somente uma informação

da existência do mesmo em um mapa.

No livro didático ou paradidático escrito por Elizabeth Madureira Siqueira em

2002, ao que se refere à Pré-História em Mato Grosso, consta em seu primeiro capítulo,

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sobre a origem do homem americano e os vestígios de sua existência ou passagem por

territórios onde hoje é Mato Grosso. A autora ainda aborda características dos vestígios

e localização dos mesmos seguidos de fotos e gravuras ou imagens das pinturas, instru-

mentos e cerâmicas feitas por povos denominados caçadores-coletores, agricultores e

ceramistas. Quanto à quantidade de sítios arqueológicos registrados são “636 em Mato

Grosso segundo dados de 2002 do site do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico

Nacional (IPHAN), sendo os municípios de Poconé e Rondonópolis os que contam com

maior número de registros”175. Tamanha é a relevância quantitativa desse conteúdo que

não pode ser tratado somente como um ponto no mapa do Brasil. O estudo da Pré-

História regional faz parte de um contexto histórico não menor que outros lugares privi-

legiados nos livros didáticos. “O mundo social é também representação e vontade, e

existir socialmente é também ser percebido como distinto”.176

II. Bandeirantes e apresamento de indígenas em Mato Grosso: esse também é

tema recorrente em todas as cinco coleções estudadas nesse trabalho.

Apresentam os Bandeirantes, representantes europeus, como superiores em

termos de raça e etnia, o que revela uma escrita da história de matriz eurocêntrica, he-

róis que foram predestinados a adentrar rumo às regiões longínquas no interior da colô-

nia para apresamento de indígenas177 para serem escravizados servindo de mão-obra nas

fazendas em São Paulo, Rio de Janeiro e Nordeste em outros afazeres em regiões litorâ-

neas do Brasil Colônia.178

175

SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. História de Mato Grosso: da ancestralidade aos dias atuais . Cuiabá:

Entrelinhas, 2002. 176

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 4 ed. Lisboa: Bertrand; Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001,

p. 118. 177

Segundo Diniz, os textos dos livros didáticos que tratam a questão indígena, da colônia à república

contemporânea no Brasil, são poucos elucidativos. Cf. DINIZ, Waldson Luciano Corrêa. Uma Contribu i-

ção à discussão sobre a problemática do índio no livro Didático.

https://www.google.com.br/?gws_rd=ssl#q=WALDSON+LUCIANO+CORR%C3%8AA+DINIZ+%2C+

livro+did%C3%A1tico+e+indio. Acessado em 23 de outubro de 2014. 178

Segundo Manuel Pacheco Neto, “Após o prorromper deste novo século, imagens novas sobre os ba n-

deirantes passaram a predominar nos livros didáticos de história. Porém, tais imagens são resultantes de

um processo ainda muito recente, que levará ainda um certo tempo – difícil de ser precisado – para come-

çar a suplantar as imagens antigas que, durante tanto tempo, foram disseminadas sobre a figura do sert a-

nista paulista. [...] podemos afirmar, com segurança, que a figura do bandeirante herói ainda continua

pairando como um paradigma histórico, exceto no restrito círculo acadêmico dos estudiosos do bande i-

rismo. Os conteúdos dos arcaicos livros didáticos de capa dura, cujas páginas amarelecidas estão corro í-

das por traças e cupins, continuam actuais, parece que de facto, para a grande maioria dos brasileiros”.

PACHECO NETO, Manuel. Heróis nos livros didáticos: bandeirantes paulistas. Dourados: Ed. UFGD,

2011.

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Outro aspecto que pode ser elencado nesses textos, e recorrente nas coleções é

que se referem a Mato Grosso quando ainda a capitania de Mato Grosso não existia,

essas terras erram pertencentes à capitania de São Paulo. A Capitania de Mato Grosso

foi criada “através da Carta Régia de 9 de março de 1748, nomeando, para governá-la,

um nobre lusitano, D. Antônio Rolim de Moura”.179

III. Mineração: Em geral são os textos didáticos, ou seja, aqueles que abrem a

chamada principal de discussão do capítulo ou unidade Tema, que tratam sobre as regi-

ões de mineração no Brasil Colônia, ressaltando sua importância para a economia da

Colônia e a manutenção das relações que dependiam dos processos de exploração das

riquezas minerais. Descobertas, exploração, povoamento e cobrança de impostos por

parte da coroa e conflitos entre os garimpeiros foram assuntos que emergiram do mape-

amento das coleções de livro didático de história. Nessa forma de "contar" a história, a

maior parte das descobertas de jazidas de ouro e pedras preciosas está ligada aos Ban-

deirantes. Na região, onde atualmente é o Estado de Mato Grosso, os bandeirantes fo-

ram os primeiros a explorarem o ouro de aluvião. A abordagem desse conteúdo é abran-

gente e, em algumas das coleções, só pode ser visualizada de modo indireto, ou seja, a

partir de mapas que mencionam a informação das regiões mineradoras e que trazem

indicado, por meio de legendas, a região de Mato Grosso.

IV. Guerra do Paraguai: Tema que integra, em geral, os Textos didáticos das

coleções examinadas, com discussão mais extensa, ocupando várias páginas. No entan-

to, a forma como é abordado A Guerra do Paraguai180 nas coleções está vinculado às

ações dos chefes de estados, dos generais e das célebres batalhas. Quanto à região de

Mato Grosso, invadida pelo exército paraguaio foram identificadas simples menções

pontuais: O ataque do Paraguai a Mato Grosso; importante garantir o acesso via Rio

Paraguai ao estado de Mato Grosso. Em nenhum momento as coleções tratam da resis-

tência articulada pelos mato-grossenses, nem da coluna de soldados que chegou a região

para defender e dar combate aos paraguaios, conhecida como a "Retirada da Laguna",

179

SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. História de Mato Grosso: da ancestralidade aos dias atuais . Cuiabá:

Entrelinhas, 2002, p. 40. 180

Ao analisar os textos sobre A Guerra do Paraguai nos livros didático PNLD 2011, Ana Paula Squinelo,

conclui que o “conteúdo é tendencioso e alçado de uma visão já ultrapassada pela academia. Fica o des a-

fio de encarar as renovações historiográficas pela qual passou os estudos da Guerra em suas diferenciadas

facetas e, tornar para o educando ao entendimento e à incorporação desse saber como algo significativo

para o entendimento de uma parte importante da história de nosso país e de no ssos países vizinhos”.

SQUINELO, Ana Paula. Revisões Historiográficas: A Guerra do Paraguai nos Livros Didáticos Brasilei-

ros – PNLD 2011. Diálogos, vol. 15, n. 1, 2011, p. 19-39.

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que é considerada heroica não por suas batalhas, mas por ter conseguido minimamente

sobreviver.

Além dos temas identificados com maior incidência nas coleções examinadas,

observam-se outros que configuram certa representatividade ao tratar da história de Ma-

to Grosso. Temas como: Quilombos e Comunidades remanescentes de Quilombos, Co-

luna Prestes, Missões no Itatim aparecem com frequência, ainda que menor, em boa

parte das cinco coleções:

Quilombos e Comunidades remanescentes de Quilombos

aparecem em quatro coleções, exceto na coleção Projeto Radix – His-

tória. Este tema aparece de modo indireto, em mapas, por meio do qual

pode ser visualizada a identificação de 23 comunidades Quilombolas

nos estados de Mato Grosso/Mato Grosso do Sul.

Coluna Prestes181 aparecem em quatro coleções, exceto na

coleção Projeto Araribá – História. Este tema aparece de modo indireto

em mapas e a abordagem está ligada a rota da marcha que a Coluna

Preste efetuou entre os anos de 1924-1927 passando por território da

região de Mato Grosso. No entanto não é enunciada nenhuma relação

com acontecimentos históricos que possa ter ligação com fatos de His-

tória Regional.

Missões no Itatim aparece em três coleções, exceto no

Projeto Araribá – História e História e vida integrada. A abordagem do

conteúdo Missões no Itatim está relacionada às missões espanholas que

sofriam os ataques dos bandeirantes portugueses que faziam incursões

à região onde seria Mato Grosso para apresamento de índios.

Destarte, os conteúdos de História regional de Mato Grosso/ Mato Grosso do

Sul, recorrentes nas coleções de livro didático de história, são tratados em segundo pla-

no já que as recorrências de informações históricas da região estão atreladas a aconte-

181

Segundo Alisolete Antônia dos Santos Weingartner, “Em 30 de abril de 1925, “a vanguarda da Coluna

Prestes ocupa o Patrimônio de Dourados e depois Porto Felicidade e Campanário”. Ela confronta -se com

as forças do exército nas proximidades de Amambai, do qual sai vitoriosa e se apodera de caminhões que

permite o seu deslocamento até Ponta Porã, onde estabelece a sede do Comando”. WEINGARTNER,

Alisolete Antônia dos Santos. Movimento divisionista em Mato Grosso do Sul. Porto Alegre: Edições

EST. 1995, p. 66.

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cimentos históricos naturalizados de maior importância para a abordagem Nacional. De

acordo com Michel de Certeau:

Mostrou-se que toda interpretação histórica depende de um sistema de referência; que este sistema permanece uma “filosofia” implícita par-ticular; que infiltrando-se no trabalho de análise, organizando-o à sua revelia, remete à “subjetividade” do autor.

182

Nessa perspectiva, elemento que pode ser destacado, e em certa medida, ter in-

fluenciado o recorte da historiografia sobre a qual se assentam a produção dos textos

que compõem as coleções é o local onde os autores das coleções de livro didático reali-

zaram sua formação acadêmica, ao lado da sede das editoras que detém o capital cultu-

ral e financeiro para a composição de materiais didáticos, o que em nossa análise, inter-

fere na perspectiva histórica que orienta a escrita da coleção.

As coleções que tiveram adesão pelos professores do estado de Mato Grosso do

Sul foram elaboradas por historiadores e Educadores que não têm sua formação na regi-

ão e, a empresa que as financia tem sua matriz em região onde a história dessas se natu-

ralizou como uma história Nacional. Aqui me refiro à encomenda de coleções que são

feitas pelas editoras. A procedência do autor e sua formação acadêmica podem ser signi-

ficativas para análises como a em curso, haja vista que a bagagem histórica de sua for-

mação, que tem seu início escolar no Ensino Fundamental e que perpassa a graduação e

pós-graduação, se torna referência ao escrever história, pois o local é que deixa as pri-

meiras impressões na constituição dos saberes históricos.

Ressalte-se, por fim, de acordo com Certeau: Toda pesquisa historiográfica se

articula com um lugar de produção sócio-econômico, político e cultural.183 Desse mo-

do, as coleções de livros didáticos do PNLD de 2011 têm dois componentes que defi-

nem a escrita de seus conteúdos, a saber: os autores e as editoras ligadas aos editais ofi-

ciais elaborados pelo MEC.

Para não concluir, o silenciamento histórico da região é promovido por forças

historicamente não suplantadas pela construção histórico-historiográfica e da pouca

representatividade política, econômica e cultural da região que se faz frente à produção

de outras regiões privilegiadas. Esses indícios podem ser pautados nas pesquisas no

182

CERTEAU, Michel de. A escrita da História. 2.ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010, p. 67. 183

Idem, 2010, p. 66.

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campo da História regional184 e na produção historiográfica185 que são poucas e a ine-

xistência de autores de livro didático de História que fazem parte do grupo seleto dos

aprovados no Programa Nacional de Livro Didático, componente curricular – História,

tornando mais árduo o ensino de História regional.

184

Paulo Roberto Cimó Queiroz fez um balanço sobre a produção historiográfica Sul-Mato-Grossense a

partir de 1968-2010. Em seu artigo constatou que a constituição da Historiografia acadêmica está ligada

diretamente a criação dos cursos de graduação em História em várias cidades ainda na década de 1960.

QUEIROZ, Paulo Roberto Cimó. A historiografia sul-mato-grossense, 1968-2010: Notas para um balan-

ço, in: GLEZER, Raquel (org.). Do Passado para o Futuro. Edição comemorativa dos 50 anos da Anpuh.

São Paulo: Contexto, 2011, p. 167-185. 185

Na edição comemorativa de 50 anos de Anpuh, Maria Adenir Peraro, Fernando Tadeu de Miranda

Borges, Otavio Canavarros e Vitale Joanoni Neto escreveram um artigo que trata da produção historiográ-

fica acadêmica de Mato Grosso a partir da criação da Universidade Federal de Mato Grosso em 1970,

“marco divisor na arte da escrita historiográfica e da pesquisa cientifica na região”. PERRARO, Maria

Adenir; BORGES, Fernando Tadeu de Miranda; CANAVARROS, Otavio; JOANONI NETO, Vitale.

Notas Sobre a Produção Historiográfica Acadêmica de Mato Grosso, in: GLEZER, Raquel (org.). Do

Passado para o Futuro. Edição comemorativa dos 50 anos da Anpuh. São Paulo: Contexto, 2011, p. 145-

166.

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134

=== CONSIDERAÇÕES FINAIS ===

Quem percorre Mato Grosso do Sul nota que nos falta ainda

este sentimento de integração, ou seja, somos um – um estado, uma

unidade da federação, pela qual somos todos igualmente responsá-

veis. Como construir esta identidade? O primeiro passo é conhecer o

estado. Não só sua história, mas sua geografia, suas potencialidades,

seu todo, enfim.186

Nas palavras do escritor Sul-Mato-Grossense Hildebrando Campestrini187, co-

nhecer o Estado é o primeiro passo para conhecer sua história. Nesse sentido, ao esco-

lher o livro didático como objeto para o estudo evidenciado nesta pesquisa, partiu-se do

pressuposto de que o mesmo, tendo em vista sua grande circulação e uso por parte de

professores e alunos da rede pública de ensino, seria instrumento de grande potenciali-

dade para o ensino de História e, como interessa a essa pesquisa, do ensino de História

regional. Assim, alçou-se o trabalho de pesquisa com a finalidade de entender em que

medida as coleções de Livro Didático adotadas no Estado nos anos do PNLD de 2011,

atendem às propostas dos Referenciais Curriculares do estado de Mato Grosso do Sul,

utilizados como orientadores do trabalho docente em sala de aula, quanto à disponibili-

zação de conteúdos para o ensino de História regional.

Tornou-se impactante, quando do mapeamento das fontes, a quantidade de con-

teúdos sobre História regional. Podemos observar que a história de Mato Grosso encon-

tra-se presente em grande parte das coleções examinadas, no entanto, o que se conta

186

CAMPESTRINI, Hildebrando. Conhecer para ser: Eis aí a nossa questão. Publicado em sete de julho

de 2013. Disponível em http://www.ihgms.org.br/arquivos/author/campestrini. Acessado em 20 de de-

zembro de 2014. 187

Hildebrando Campestrini ocupa atualmente a cadeira nº 31 da Academia Sul-Mato-Grossense de Le-

tras. É graduado em Filosofia, Pedagogia, Letras com Francês e especialista em Língua Portuguesa. Exe r-

ce o magistério desde 1961. Foi professor do ensino básico e superior. Seus escritos abrangem as áreas

de: didática, linguagem jurídica, história e literatura. E autor do Livro intitulado: HISTÓRIA DE MATO

GROSSO DO SUL, 6. ed., Campo Grande, IHGMS, 2009, 368 p. CAMPESTRINI, Hildebrando. Mem-

bro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras. Disponível em

http://acletrasms.com.br/membro.asp?IDMCad=54. Acessado em 20 de dezembro de 2014.

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sobre essa história merece exame mais detalhado. Haja vista, que além de serem poucas

inserções de conteúdos de história regional, se comparado aos conteúdos requeridos no

Referencial Curricular de Mato Grosso do Sul, os existentes estão dispersos nos livros

didáticos a ponto de, historicamente, não atenderem a demanda de ensino e nem dar a

visibilidade histórica de pertencimento da região (Mato Grosso e Mato Grosso do Sul)

aos Estados Federativos do Brasil.

Tendo como fonte as cinco coleções de Livros Didáticos do PNLD 2011 com

índice total de 85,6% das adesões das escolas estaduais, de Ensino Fundamental, anos

finais, de Mato Grosso do Sul, a História regional pode ser visualizada como meras

menções, sendo que, somente quatro conteúdos são recorrentes nas coleções, a saber: A

Pré-História; Bandeirantes e apresamento de indígenas em Mato Grosso; Mineração e

Guerra do Paraguai. Essas menções são apresentadas pelos Livros Didáticos de Histó-

ria de duas formas: mapas e textos didáticos.

Os Mapas aparecem vinculados, na sua grande maioria, ao conteúdo da Pré-

História. Os conteúdos apresentados pelas coleções nos textos didáticos seguem uma

ordem aparente, a qual se inicia pelos sítios arqueológicos da Europa, América e Brasil.

Sendo a Pré-História no Brasil associada ao litoral (estudos dos Sambaquis), ao Piauí

(Sítio Boqueirão da Pedra Furada, no Parque Nacional da Serra da Capivara, em São

Francisco Nonato) e a Minas Gerais (sítio da Lapa Vermelha, na região de Lagoa San-

ta). Esses foram os sítios com maior incidência que aparecem nas cinco coleções anali-

sadas, em forma de texto didático. As outras regiões e ou estados estão representados no

mapa do Brasil (que contempla a divisão geográfica atual) de forma legendada com

pequenos pontos inseridos no mapa, através dos quais é possível observar o nome (indi-

cativo) dos sítios arqueológicos. É nesse formato que, na região, pode ser observada a

existência do sítio arqueológico de “Santa Elina”, atual município de Jangada- MT.

Face ao exposto, os mapas se tornaram um recurso usado para visualizações

que, em nossa análise, tem uma função mais informativa do que formativa. Percebemos

que a estrutura dos conteúdos da Pré-história está hierarquizada transparecendo a con-

cepção histórica eurocêntrica. Desse modo, a importância de sítios que estão na “zona

periférica” é silenciada por “grandes achados arqueológicos” feitos por pesquisadores

renomados (europeus ou ligados a eles).

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Os Textos Didáticos, recorrentes nas coleções, privilegiam temas sobre os

Bandeirantes e apresamento de indígenas em Mato Grosso, Mineração e a Guerra do

Paraguai. Esses conteúdos são apresentados nas cinco coleções de História, atendendo

em nossa análise, a veiculação de um ensino de história com perspectiva eurocêntrica: O

europeu desbravador dos “sertões”, o aguerrido caçador de índios que trouxe desenvol-

vimento e civilização ao território brasileiro.

Quanto à menção de conteúdos sobre a região enquanto unidade territorial é

percebida como um lugar onde se apresa índios para o trabalho escravo. Diferentemente

do modo pelo qual essa história é representada nos livros didáticos, a região era um lu-

gar de disputas territoriais entre o Império Espanhol e Português e, ainda terras onde

residiam milhares de indígenas e não territórios “vazios”, como os estudos citados ao

longo do trabalho dão conta de demonstrar, sem contar o forte potencial minerador, nos

séculos XVII e XVIII.

Nesse aspecto, os textos didáticos que tratam sobre mineração, indicam a regi-

ão de minas (Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá) como um ponto pertencente às

Minas Gerais encobrindo a importância histórica que a região de Mato Grosso teve em

relação à exploração e envio de metal precioso (impostos) para Portugal no século

XVIII. A menção da região não é trabalhada quanto aos fatos de garimpagem, fundação

de Arraiais e Vilas, o que indica certo silenciamento persistente sobre a História regio-

nal.

O tema Guerra do Paraguai, nas coleções de livro didático, é o texto que apre-

senta maior abordagem nas coleções examinadas se comparados aos temas já citados.

No entanto, os aspectos destacados no corpo dos textos referem-se à invasão do Para-

guai ao território de Mato Grosso, cujo motivo incidia na importância de manter aberta

a navegação pelo Rio Paraguai, caminho este mais rápido para chegar até a província de

Mato Grosso. Essa representação perpetua um estigma herdado por parte da escrita que

toma como fonte a história registrada por cronistas que passaram e registraram suas

impressões sobre a região. Como podemos perceber a menção feita à região silencia

quanto à abordagem acerca das batalhas de resistência empreendidas pelos oficiais que

guarneciam a região (Fortes, pontos que representavam limite territorial entre os Esta-

dos) ou mesmo a famosa “Retirada da Laguna” da qual o sertanejo José Francisco Lo-

pes, considerado guia e herói, e outras questões que levaram àquele evento histórico.

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137

Outros conteúdos relacionados à região aparecem nas cinco coleções, embora

de modo não recorrente e frequente. Dentre estes se registram: os Quilombos e Comu-

nidades remanescentes de Quilombos; Coluna Prestes e as Missões no Itatim, porém

abordados e possíveis de ser visualizados na sua maioria por meio de mapas. Quanto à

representatividade da região, fica no plano de citação, pois a História regional está rele-

gada a parte que é atingida pela ação dos grandes feitos, pois a citação da região está

atrelada a um tema específico que é desenvolvido como abordagem principal. Exemplo

dessa perspectiva são os Quilombos, Escravidão, Indígenas, Política e Bandeirantes.

A forma de construção histórica que se observa ainda passa pelo registro de

uma historiografia baseada nos grandes acontecimentos, encadeamentos de fatos e per-

sonalidades que por diversos motivos levaram seu nome na História, muito embora todo

o temário da historiografia ensinada ainda siga essa tradição, ao contrário do que indi-

cam os pressupostos teóricos metodológicos expressos na apresentação de cada coleção.

Esse padrão ou modelo tomado pelos autores estão explícitos nos textos didáti-

cos, nos quais se observa a mesma forma de tratamento dos fatos históricos e estrutura

dos acontecimentos históricos em todas as coleções examinadas, evidenciando uma

compilação de acontecimentos históricos, ou indicando a existência de uma editoração

com matriz única de conhecimentos históricos a serem veiculados, independente da Edi-

tora que faz a coleção circular. Para atenuar problemas dessa natureza, Leandro Karnal,

na apresentação de obra significativamente utilizada pelos historiadores que se preocu-

pam com o ensino desta área, sugere: “Uma aula pode ser muito dinâmica e inovadora

utilizando, giz, professor e aluno. Em outras palavras, podemos usar meios novos, mas é

a própria concepção de História que deve ser repensada. O recorte que o professor faz é

uma opção política.’188

Professores, escolas estaduais e Secretarias Estaduais de Educação são coadju-

vantes na escolha dos Livros Didáticos de História aprovados pelo PNLD para o triênio.

No entanto, as responsabilidades a eles legadas são de ordem operacional, como apre-

sentados nos capítulo 1 e 2, dentre elas: fazer adesão ao Programa; escolher as coleções

de livros didáticos e efetuar os pedidos das coleções junto a Secretaria Estadual de Edu-

cação (SED). A SED-MS estabelece o dia ou período para que os professores escolham

188

KARNAL, Leandro. História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto,

2013, p. 9 (introdução).

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138

e repassem os títulos das coleções, cabendo a SED repassar para o MEC as coleções

escolhidas.

Ao ressaltar a responsabilidade das partes, quanto às escolhas das coleções, não

se pode eximir também os problemas que tais escolhas gerem quanto ao ensino, pois

dada a relevância às coleções, aprovadas pelo Programa Nacional do Livro Didático,

por um formato hegemônico de se “contar” a história, e constatada a lacuna de conteú-

dos regionais, cuja exigência é efetivada por meio dos parâmetros orientadores para o

ensino da disciplina, como demonstrado no capítulo 3 e Anexo 1, é de responsabilidade

do sistema educacional, e não apenas do professor, estabelecer correções quanto as dis-

torções, discutir estratégias para sanar ou amenizar esses déficits de conteúdos na edu-

cação escolar.

Existe um impasse quanto à elaboração de um material didático que assegure o

ensino de História regional, no entanto, o problema já foi identificado e registrado por

órgãos competentes, tendo em vista o esforço da Editora Base Editorial, sediada no Pa-

raná, em chancelar a linha editorial “História regional”, contatando diversos autores

para atender a essa pretensa demanda reprimida, muito embora os livros estejam direci-

onados para o Ensino fundamental anos iniciais – especificamente para o 5º ano - a qual

já conta com títulos aprovados nos PNLD de 2013, 2014, 2015.

Ainda assim, a nosso ver, o problema está longe de ser resolvido, pois como

podemos observar no percurso da pesquisa, as editoras teriam que operacionalizar mu-

danças significativas para atender às regiões. Tais mudanças gerariam investimentos

vultosos, os quais para essas empresas representariam, possivelmente, aumento de gas-

tos e diminuição de lucros, inviabilizando os projetos já existentes, o que demandaria

operacionalização de novos projetos de edição e editoração por região. Para as editoras

se torna inconcebível, para os professores da área de história, uma ferramenta a menos

para o ensino.

Dentro do contexto da produção de livro didático sobre História regional em

Mato Grosso do Sul, localizamos dois títulos para o ensino de 5º ano séries iniciais do

Ensino Fundamental Estado de Mato Grosso do Sul:

GRESSLER, Lori Alice; VASCONCELOS, Luiza Mello;

KRUGER, Zelia Peres de Souza. História do Mato Grosso do Sul. São

Paulo: FTD, 2008. (aprovado pelo PNLD de 2010) e das autoras

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139

VALDEZ, Diana; AMARAL, Miriam Bianca do. História

do Mato Grosso do Sul. Curitiba, PR: Base Editorial, 2011. (aprovado

pelo PNLD de 2013).

Quanto ao material de apoio, segundo observado em diálogos com professores

que atuam na rede pública de ensino, é uma apostila para a EJA e um livro comemorati-

vo dos 30 anos de criação e instalação do Estado de Mato Grosso do Sul. A apostila de

autoria de Paulo Marcos Esselin e Lourimar Terezinha Moreira Brandão foi elaborada

para a Educação de Jovens e Adultos 3ª e 4ª fase do Ensino Fundamental EJA189 em

parceria com a Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso do Sul e FADEMS. É

importante salientar que os direitos autorais dessa obra pertencem a Secretaria de Estado

de Educação de Mato Grosso do Sul e que a mesma é proibida sua reprodução em parte

ou integral sem a autorização expressa da mesma. O livro comemorativo dos trinta anos

de Instalação do Mato Grosso do Sul – Mato Grosso do Sul: criação e instalação - 30

anos - no qual foram transcritos depoimentos de pessoas que participaram direta ou in-

diretamente da instalação do novo estado, além de textos de duas historiadoras que es-

crevem sobre a História de Mato Grosso, sua gênese e sua divisão.

Em Mato Grosso a lista de livros didáticos e paradidáticos conta com número

maior de títulos. Conforme pesquisas realizadas por Elizabeth Madureira Siqueira190

foram postos em circulação onze livros didáticos versando sobre a História de Mato

Grosso e quatro sobre a Geografia de Mato Grosso.

Livros de História:

MENDONÇA, Estevão de. Quadro Chorographico de

Mato Grosso. Cuiabá, 1906.

MENDONÇA, Rubens de. História de Mato Grosso. 1ª.

ed. Cuiabá, 1979.

189

A abordagem desse material é econômica. Segue uma cronologia baseada nas mudanças econômicas

que foi se processando na região. Evita a fazer referencia a Província de Mato Grosso e salienta o Sul de

Mato Grosso como região prospera silenciando os violentos atritos políticos que ocorreram no fim do

século XIX e no século XX. Material rico em mapas, porem mal configurado ao conteúdo histórico. Cf.

ESSELIN, Paulo Marcos; BRANDÃO, Lourimar Teresinha Moreira. História. 3ª e 4ª. Fases do ensino

fundamental - EJA. Campo Grande, MS: Ed. Oeste, 2005. 190

Palestra proferida com o título de Livros Didáticos de Mato Grosso: retrospectiva histórica de sua

produção, cedido, gentilmente, pela autora, para compor as discussões desta pesquisa.

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so: da ancestralidade aos dias atuais. Cuiabá: Entrelinhas, 2002.

Livros de Geografia:

AMORIM, Lenice; MIRANDA, Leodete. Mato Grosso

Atlas Geográfico.

PIAIA, Ivane Inêz. Geografia de Mato Grosso. 1999.

MORENO, Gislaine; HIGA, Tereza Cristina de Souza;

MAITELLI, Gilda Tomazini. Geografia de Mato Grosso: território, soci-

edade e ambiente. 2005.

MIRANDA, Leodete. Cartografia Geoambiental do Par-

que Nacional de Chapada dos Guimarães – MT. 2013.

São livros considerados didáticos pela forma de sua organização interna, mate-

rialidade e organização de informações, sendo utilizados para complementação de estu-

dos no Ensino Fundamental e Médio, como indicação bibliográfica para concursos pú-

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141

blicos, no entanto, não integram, até o momento, a lista de livros recomendados para o

ensino de história do PNLD.

Outrossim, entendemos que a produção didática não tem como função precí-

pua, atender integralmente às necessidades didáticas dos professores, que ao nosso ver,

devem ser amenizadas por formação continuada para os mesmos, pois se observado os

autores dos originais e a editoração dos livros didáticos, perceberemos que eles escre-

vem e projetam uma leitura histórica de um lugar e que é diferente da região em ques-

tão. A propósito da necessidade de formação continuada, e na carência de conteúdos de

História regional nas coleções de livros didáticos, podemos ao longo da pesquisa perce-

ber uma quantidade significativa de dissertações, teses e livros que abordam a história

da região de Mato Grosso/Mato Grosso do Sul, o que atenderia a demanda de elabora-

ção de material didático de História regional para os anos finais do Ensino Fundamental.

A existência de uma História e de uma Historiografia regional nos leva à con-

clusão de que não há a falta de pesquisas para fomentação de materiais didáticos de His-

tória regional, mas sim o compromisso de reescrever a história nacional com um olhar

mais abrangente sobre as regiões que constituem a nação deixando de fora o “privilé-

gio” de algumas localidades específicas de construírem a história nacional segundo seus

próprios desígnios.

As leis e as normas e o referencial curricular que amparam o ensino das especi-

ficidades regionais existem, o que não existiu no PNLD de 2011, foi um livro didático

de História que desse conta de incluir a História regional de Mato Grosso/Mato Grosso

do Sul.

Constatamos, por meio deste estudo, que o posicionamento autoral e de edito-

ração das coleções examinadas deixa a desejar quanto à possibilidade de utilizar o livro

didático de História para discussão e ensino de História regional, ou seja, o livro didáti-

co no que se refere ao ensino de História regional, ainda não pode ser considerado um

instrumento que ajuda no ensino de História regional nas escolas estaduais de 6º ao 9º

ano do Ensino Fundamental de Mato Grosso do Sul.

A pesquisa realizada oportunizou perceber e analisar, por fim, que essa forma

de abordagem tem se naturalizado no livro didático de História. Questionamentos que

originaram a proposição de pesquisa, desenvolvida e apresentada no decorrer desta dis-

sertação ainda persistem, pois ao deparar-se com a ausência de conteúdos de História

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regional nos livros didático de História. Emergem questionamentos, possivelmente

compartilhados por profissionais do campo do ensino de história: Onde encontrar mate-

rial didático ou paradidático sobre História regional? Quais parâmetros tomar para ana-

lisar as coleções de livros didáticos de História? De que forma irei trabalhar essas au-

sências com os estudantes? Essas são algumas questões pertinentes levantadas que sina-

lizam, a nosso ver, a possibilidade de continuidade de estudos nesse sentido, buscando

investigar as práticas dos docentes em sala de aula.

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de Mato Grosso, in: GLEZER, Raquel (org.). Do Passado para o Futuro. Edição co-

memorativa dos 50 anos da Anpuh. São Paulo: Contexto, 2011, p. 145-166.

PACHECO NETO, Manuel. Heróis nos livros didáticos: bandeirantes paulistas. Doura-

dos: Ed. UFGD, 2011.

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152

QUEIROZ, Paulo Roberto Cimó. A historiografia sul-mato-grossense, 1968-2010: No-

tas para um balanço, in: GLEZER, Raquel (org.) Do Passado para o Futuro. Edição

comemorativa dos 50 anos da Anpuh. São Paulo: Contexto, 2011, p. 167-185.

RIBEIRO, Renilson Rosa. Livros didáticos de história: trajetórias em movimentos, in:

JESUS, Nauk Maria de; CEREZER, Osvaldo Mariotto e RIBEIRO, Renilson Rosa

(org.). Ensino de História: trajetórias em movimento. Cáceres: Ed UNEMAT, 2007, p.

41-53.

ROCCO, Maria Thereza Fraga. Leitura e escrita na escola algumas propostas. Brasília.

Em aberto. Brasília, ano 16, n. 69, p. 116-123, jan./mar. 1996.

SANTOS, Rita de Cássia Gonçalves Pacheco. A significância do passado para profes-

sores de História. Tese (Doutorado em Educação). Universidade Federal do Paraná.

Curitiba, 2013.

SAVIANI, Dermeval. A nova lei da educação: trajetória, limites e perspectivas. 8 ed.

ver. Campinas, São Paulo: Autores Associados, 2003.

SILVA, Aparecido Borges da. Mato Grosso nos livros didáticos de História (1889-

1930): imaginários e representações. Dissertação (Mestrado em Educação). Universida-

de Federal de Mato Grosso. Cuiabá, 2013.

SILVA, Jovam Vilela da. A divisão do Estado de Mato Grosso: (uma visão histórica –

1892-1977). Cuiabá: EdUFMT, 1996.

SQUINELO, Ana Paula. Revisões Historiográficas: A Guerra do Paraguai nos Livros

Didáticos Brasileiros – PNLD 2011. Diálogos, vol. 15, n. 1, p. 19-39, 2011.

SIQUEIRA, Elizabeth Madureira; COSTA, Lourença Alves da; CARVALHO, Cathia

Maria Coelho. O Processo Histórico de Mato Grosso. 3 ed. Cuiabá: EdUFMT, 1990.

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153

_____. História de Mato Grosso: da ancestralidade aos dias atuais. Cuiabá: Entrelinhas,

2002.

STEPHANOU, Maria, Instaurando maneiras de ser, conhecer e interpretar. Revista Bra-

sileira de História. São Paulo, vol. 18, n. 36, p. 15-38, 1998.

WEINGARTNER, Alisolete Antônia dos Santos. Movimento divisionista em Mato

Grosso do Sul. Porto Alegre: Edições EST. 1995.

VALDEMARIN, Vera Teresa; PINTO, Adriana Aparecida. Das formas de ensinar e

conhecer o mundo: lições de coisas e método de ensino intuitivo na imprensa periódica

educacional do século XIX. Revista Educação em Questão. Natal, vol. 39, n. 25, p. 163-

187, set./dez., 2010.

ZILBERMANN, Regina. No começo, a leitura. Em Aberto. Brasília, ano 16, n. 69, p.

16-29, jan./mar. 1996.

ZORZATO, Osvaldo. Conciliação e Identidade: Considerações sobre a historiografia

de Mato Grosso (1904-1983). Tese (Doutorado em História Social). Universidade de

São Paulo. São Paulo, 1998.

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154

===SITES/DOCUMENTOS===

ABRELIVROS

http://www.abrelivros.org.br

FNDE

http://www.fnde.gov.br

MEC

http://www.mec.gov.br

SED-MS

http://www.sed.ms.gov.br

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155

=== ANEXOS ===

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156

ANEXO I

Referencial Curricular da Educação Básica da Rede Estadual de Ensino/MS – Ensino Fundamental. Ano 2008.

Quadros 01

Anos Bimestres Conteúdos Bimestrais

6º Ano

1º Bimes-

tre

O mundo primitivo – evolução histórica Introdução aos estudos históricos. A temporalidade (tempo histórico, tempo cronológico e tempo geológico). Fontes históricas (relevância, tipos, ciências auxiliares da História). Os sujeitos da História: origem, aspectos culturais, econômicos e sociais. Pré-história Geral, do Brasil e do Mato Grosso do Sul: grupos sociais, realizações e conquistas.

2º Bimes-

tre

O mundo antigo oriental Mesopotâmia: localização, cultura, sociedade, economia, relações de poder, religião, artes, outros ele-

mentos. Egito: localização, cultura, sociedade, economia, relações de poder, religião, artes, outros elementos. Hebreus, Fenícios e Persas: localização, cultura, sociedade, economia, relações de poder, religião, artes,

outros elementos.

3º Bimes-

tre

Do mundo antigo oriental ao mundo clássico ocidental Índia e China: localização, cultura, sociedade, economia, relações de poder, religião, artes, outros ele-

mentos. Antiguidade clássica da Grécia: localização, economia, sociedade, relações de poder, política, religião e

educação. O legado cultural grego.

4º Bimes-

tre

O mundo clássico ocidental Antiguidade clássica em Roma: monarquia, república e império. Roma: localização, economia, sociedade, política, relações de poder, educação e religião. O legado cultural romano. A crise do mundo romano.

A consolidação e a crise do mundo feudal Feudalismo: economia, sociedade, cultura e poder.

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157

7º Ano

1º Bimes-

tre

A crise feudal. A formação dos estados nacionais. Grupo social ascendente – burguesia.

2º Bimes-

tre

O advento do mundo moderno Tratado de Tordesilhas. Expansão marítima (desenvolvimento do comércio). Mercantilismo e acumulação primitiva do capital. Renascimento (conceito, características, humanistas). Reformas religiosas e Contra Reforma (Calvinismo, Luteranismo, Anglicanismo).

3º Bimes-

tre

O encontro de três mundos História da América e dos povos indígenas (conquista relações sociais, de poder e cultura). Brasil colônia: conquista administração colonial portuguesa, expansão territorial e economia e socieda-

de colonial (pau-brasil, ciclo açucareiro, comércio, monopólio, português). As revoltas anti-coloniais. Brasil Holandês. Mineração (formação da urbanização – cidades). História da África e dos povos africanos (a formação do povo, organização política, a condição de es-

cravo, impacto e contribuição cultural, econômica e social).

4º Bimes-

tre

O encontro de três mundos Negros no Brasil colônia (lutas e resistências). A presença dos espanhóis na região do atual Mato Grosso do Sul no período colonial (relevâncias das

Missões do Itatim no processo de ocupação e povoamento do Mato Grosso). História dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul – formação do povo, cultura, economia, sociedade

e organização política.

1º Bimes-

tre

A era de revoluções Processo revolucionário inglês (Guerra Civil, República, restauração Monárquica, Revolução Gloriosa). Iluminismo, principais ideias, seus pensadores e influências. Revolução Industrial – hegemonia inglesa, etapas, consequências econômicas e sociais. A independência das Treze Colônias.

2º Bimes-

A era de revoluções Revolução Francesa (Revolta Aristocrática, Assembleia Nacional Constituinte, Monarquia, República,

Convenção Nacional, Diretório). Era napoleônica: consulado e império. Congresso de Viena; Santa Aliança.

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158

8º Ano

tre Influência iluminista no processo de Independência do Brasil.

3º Bimes-

tre

O Brasil no contexto do império Brasil Império (Primeiro Reinado, Regência e segundo Reinado): conflitos e avanços políticos, econô-

micos, sociais, culturais. Mudanças políticas e sociais no final do Império (1840 – 1889). Conflito com o Paraguai (causas e desdobramentos para a América do Sul, para o Brasil e para o Mato

Grosso do Sul).

4º Bimes-

tre

O Mato Grosso do Sul no contexto imperialista Segunda revolução industrial: o imperialismo e liberalismo econômico. Mato Grosso do Sul – economia, o ciclo da erva mate – (Companhia Mate Laranjeira), importância po-

lítica, econômica social e cultural no contexto imperialista brasileiro.

9º Ano

1º Bimes-

tre

O Brasil no contexto capitalista mundial A instalação da República. República Velha. Disputas capitalistas: Primeira Guerra Mundial. Revolução Russa: a implantação do socialismo. Crise de 1929.

2º Bimes-

tre

O Brasil república e o mundo no contexto capitalista consolidado Nazi-fascismo: governos totalitários, militarista, o princípio do arianismo e o racismo. A era Vargas: democracia, ditadura e a reabertura. Segunda Guerra Mundial: países totalitários e países capitalistas. Guerra Fria. Discriminação a grupos sociais e étnicos (negros, judeus, ciganos, mulheres, homossexual, outros).

3º Bimes-

tre

O Brasil república no contexto capitalista consolidado Democracia brasileira – pós-guerra, era JK (1945-1964). Ditadura Brasileira. Brasil: reabertura política – 1985 aos dias atuais. Movimento Divisionista de Mato Grosso (relações, composição de poder e conflitos sociais).

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159

4º Bimes-

tre

Crises e avanços no mundo e no Brasil atual A descolonização da África e da Ásia. Oriente Médio: Guerras (Vietnã). Apartheid. Revolução Cubana. Blocos econômicos, terrorismo, crises. Sustentabilidade planetária. Avanços sociais no planeta.

Quadro 1: Sistematização dos conteúdos para o ensino fundamental em 2008. Fonte: MATO GROSSO DO SUL. Referencial Curricular da Educação Básica da Rede Estadual de Ensino/MS – Ensino Fundamental. Secretaria de

Estado de Mato Grosso do Sul, 2008, p. 150-4.

Compilado por: DEBONA, Jackson James. Março de 2013.

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160

ANEXO II

Referencial Curricular da Educação Básica da Rede Estadual de Ensino/MS – Ensino Fundamental. Ano 2012.

Quadro 02

Anos Bimestres Conteúdos Bimestrais

6º Ano

1º Bimes-

tre

O MUNDO PRIMITIVO O mundo primitivo. O surgimento do Universo. A temporalidade: tempo histórico, tempo cronológico, tempo geológico e século. A evolução do ser Humano. A divisão da Pré-História. Pré-História no Mato Grosso do Sul. Os sujeitos da história: origem, aspectos culturais, econômicos, sociais e biológicos.

2º Bimes-

tre

O MUNDO ANTIGO ORIENTAL Mesopotâmia. Egito. Hebreus, Fenícios e Persas: localização, cultura, economia sociedade, relações de poder, religião, artes

e relação com o ambiente.

3º Bimes-

tre

Índia e China: localização, cultura, economia sociedade, relações de poder, religião, artes e relação com o ambiente.

Antiguidade clássica da Grécia: localização, economia, sociedade, relações de poder, política, religião e educação e relação com o ambiente.

4º Bimes-

tre

O MUNDO CLÁSSICO OCIDENTAL Antiguidade clássica em Roma. Monarquia, República e Império. Roma: localização, cultura, economia sociedade, relações de poder, religião, artes e relação com o am-

biente. O legado cultural romano. A crise do mundo romano.

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161

7º Ano

7º Ano

1º Bimes-

tre

O MUNDO FEUDAL DA CONSOLIDAÇÃO AO ADVENTO DO MUNDO MODERNO Mundo Árabe. Feudalismo: localização, cultura, economia sociedade, relações de poder, religião, artes e relação com o

ambiente. Crise feudal. A formação dos Estados Nacionais e Absolutismo. Desenvolvimento do comércio (grupo social ascendente - burguesia). Expansão marítima (Tratado de Tordesilhas).

2º Bimes-

tre

O advento do mundo moderno Práticas mercantilistas e acumulação primitiva do capital. Renascimento: conceito e características humanistas. Reformas religiosas e Contra Reforma (Calvinismo, Luteranismo, Anglicanismo). A Consolidação do mundo moderno. Conquista da América, Brasil e Espanha (o contato com as nações indígenas, relações sociais, de poder

e a acumulação. A presença dos espanhóis, no período colonial, na região do atual Mato Grosso do Sul (relevâncias das

Missões do Itatim no processo de ocupação e o povoamento do Mato Grosso).

3º Bimes-

tre

O ENCONTRO DE TRÊS MUNDOS Brasil Colônia: processo de colonização, expansão territorial, economia, sociedade, cultura, monopólio

português. As revoltas coloniais. Brasil Holandês. Mineração x urbanização x desenvolvimento das cidades

4º Bimes-

tre

História da África e dos povos africanos no Brasil: economia, organização política e contribuição cultu-ral.

História dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul: economia, organização política, processo de acul-turação e contribuição cultural.

1º Bimes-

tre

AS REVOLUÇÕES O Iluminismo. Processo revolucionário inglês Guerra civil pública. Restauração monárquica. Revolução gloriosa.

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162

8º Ano

Revolução industrial (hegemonia inglesa). As mudanças econômicas (sociais e culturais e tecnológicas).

2º Bimes-

tre

A ERA DAS REVOLUÇÕES Revolução Francesa (Revolta Aristocrática, Assembleia Nacional Constituinte, Monarquia, República,

Convenção Nacional, Diretório e Crise). Era Napoleônica: consulado e império. Congresso de Viena; Santa Aliança. Processo de independência das Treze Colônias e Formação dos EUA: organização social, econômica e

cultural. Os escravos no processo de independência dos EUA.

3º Bimes-

tre

O BRASIL NO CONTEXTO DO IMPÉRIO O processo emancipatório das Colônias espanholas na América. Brasil Império: processo de independência: Primeiro Reinado, Regência e Segundo Reinado - conflitos

e avanços na área política, econômica, social, cultural. Mudanças políticas e sociais no final do Império (1840 – 1889). Conflito com o Paraguai (causas e desdobramentos para a América do Sul, para o Brasil e para o Mato

Grosso do Sul).

4º Bimes-

tre

O MATO GROSSO DO SUL NO CONTEXTO IMPERIALISTA Guerra do Paraguai. Conflito com o Paraguai: causas e desdobramentos para a América do Sul, para o Brasil e para o Mato

Grosso do Sul. Os Afro-brasileiros e os povos indígenas Guaicurus na Guerra do Paraguai. Segunda Revolução Industrial: o imperialismo e liberalismo econômico. Mato Grosso do Sul (ainda Mato Grosso): economia, ciclo da erva mate, influência política, econômica,

social e cultural no contexto imperialista brasileiro.

1º Bimes-

tre

O BRASIL NO CONTEXTO CAPITALISTA MUNDIAL O processo de implantação da República Brasileira. República Velha. Primeira Guerra Mundial. Revolução Russa: a implantação do socialismo. Crise de 1929.

O BRASIL REPÚBLICA E O MUNDO NO CONTEXTO CAPITALISTA Ascensão dos governos totalitários, militaristas, princípios e outros elementos constitutivos. A era Vargas: democracia, ditadura e a reabertura.

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163

9º Ano

2º Bimes-

tre

Segunda Guerra Mundial: países totalitários e países capitalistas (avanços científicos). Guerra Fria. Discriminação a grupos sociais e étnicos: negros, judeus, ciganos, mulheres e outros.

3º Bimes-

tre

O BRASIL REPÚBLICA NO CONTEXTO CAPITALISTA Democracia brasileira – pós-guerra, era JK (1945-1964). Ditadura Brasileira. Brasil: reabertura política – 1985 aos dias atuais. Movimento Divisionista de Mato Grosso: antecedentes, composição de poder, governos e conflitos so-

ciais.

4º Bimes-

tre

CRISES E AVANÇOS NO MUNDO E NO BRASIL ATUAL A descolonização da África e da Ásia e os conflitos árabe-israelenses. Apartheid. Processos revolucionários na América Latina: Revolução Cubana, Revolução Mexicana e movimentos

sociais: (Brasil, Bolívia, Argentina e Chile). Globalização: blocos econômicos, terrorismo, crises (saúde, educação e segurança). Sustentabilidade planetária e avanços sociais e tecnológicos.

Quadro 2: Sistematização dos conteúdos para o ensino fundamental Anos Finais, em 2012.

Fonte: MATO GROSSO DO SUL. Referencial Curricular da Educação Básica da Rede Estadual de Ensino/MS – Ensino Fundamental. Secretaria de Es-

tado de Mato Grosso do Sul, 2012.

Compilado por: DEBONA, Jackson James. Março de 2014.

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164

ANEXO III

Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

Programa Nacional do Livro Didático - PNLD 2011

Ensino Fundamental e Médio - Valores Negociados

EDITORA TIRAGEM TOTAL

TÍTULOS ADQUIRIDOS

TIRAGEM MÉDIA

CADERNOS TIPOGRÁFICOS

RS/ CADERNO

RS/ EXEMPLAR

VALOR TOTAL

MODERNA 27.466.376 222 123.722 483.017.540 0,3344 5,88 161.366.197,83

FTD 26.028.717 288 90.377 482.657.871 0,3378 6,26 162.933.319,18

ÁTICA 25.728.190 306 84.079 442.273.340 0,3355 5,76 148.288.428,80

SARAIVA 21.085.672 254 83.014 403.935.684 0,3478 6,66 140.390.289,36

SCIPIONE 19.555.764 252 77.602 349.364.170 0,3444 6,15 120.230.592,21

POSITIVO 3.736.902 114 32.780 53.710.805 0,5066 7,28 27.187.572,29

SM 3.612.642 46 78.536 62.019.192 0,4577 7,85 28.367.191,80

ESCALA 2.830.595 74 38.251 50.153.367 0,5266 9,32 26.393.247,01

DO BRASIL 1.890.855 88 21.487 29.380.742 0,6033 9,37 17.715.145,37

AJS 1.222.250 8 152.781 19.998.123 0,5011 8,19 10.011.524,51

IBEP 731.261 60 12.188 13.615.872 0,6633 12,35 9.027.821,46

BASE 507.718 38 13.361 6.905.557 0,6988 9,50 4.822.912,98

NOVA

GERAÇÃO

506.417 6 84.403

24.336.342 0,6211

29,84 15.112.199,38

NACIONAL 458.951 38 12.078 5.265.257 0,6633 7,60 3.489.460,69

COMPANHIA DA ES-

COLA

92.786 2 46.393

3.459.010 0,6733 25,10 2.328.906,02

CASA

PUBLICADORA

68.909 8 8.614 1.371.735 0,6988 13,90 958.147,23

SARANDI 67.642 10 6.764 1.150.524 0,8322 14,15 956.997,45

DIMENSÃO 66.815 24 2.784 647.828 0,8411 8,15 544.583,97

FAPI 8.862 2 4.431 84.516 1,0700 10,20 90.432,12

AYMARÁ 1.878 6 313 27.728 1,7422 25,72 48.296,49

TOTAL 135.669.202 1.846 73.494 2.433.375.200 0,3617 6,49 880.263.266,15

Fonte: http://www.fnde.gov.br Compilado por: DEBONA, Jackson James. Março de 2014.