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Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde Coletiva Agrotóxicos em leite humano de mães residentes em Lucas do Rio Verde – MT Danielly Cristina de Andrade Palma Cuiabá 2011 Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva para a obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva. Área de concentração: Saúde Coletiva Orientador: Prof. Dr. Wanderlei Antonio Pignati Co-orientadora: Profa. Dra. Carolina Lourencetti

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Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde Coletiva

Agrotóxicos em leite humano de mães residentes em Lucas do Rio Verde – MT

Danielly Cristina de Andrade Palma

Cuiabá 2011

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva para a obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva. Área de concentração: Saúde Coletiva Orientador: Prof. Dr. Wanderlei Antonio Pignati Co-orientadora: Profa. Dra. Carolina Lourencetti

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Agrotóxicos em leite humano de mães residentes em Lucas do Rio Verde – MT

Danielly Cristina de Andrade Palma

Cuiabá 2011

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva para a obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva. Área de concentração: Saúde Coletiva Orientador: Prof. Dr. Wanderlei Antonio Pignati Co-orientadora: Profa. Dra. Carolina Lourencetti

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Dados Internacionais de Catalogação na Fonte

P171a Palma, Danielly Cristina de Andrade.

Agrotóxicos em leite humano de mães residentes em Lucas do Rio Verde - MT / Danielly Cristina de Andrade Palma. – 2011.

103 f. : il. (algumas color.) ; 30 cm. Orientador: Wanderlei Antonio Pignati. Co-orientadora: Carolina Lourencetti. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso,

Instituto de Saúde Coletiva, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Cuiabá, 2011.

Inclui bibliografia.

1. Agrotóxicos. 2. Leite humano – Contaminação por agrotóxicos. 3. Agrotóxicos – Lucas do Rio Verde – Mato Grosso. 4. Agronegócio. I. Título.

CDU 612.664:632.95.024(817.2)

Ficha Catalográfica elaborada pelo Bibliotecário Jordan Antonio de Souza - CRB1/2099 Permitida a reprodução parcial ou total desde que citada a fonte

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"O que para uns é

alimento, para outros

será um veneno violento."

(Lucrécio)

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Aos meus pais, Shirlei e

José (in memoriam), por

serem à base de tudo em

minha vida.

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Agradecimentos

A Deus, Senhor de todas as coisas e da minha vida, que tornou tudo possível. À minha mãe Shirlei, pelo exemplo de vida, de garra, de coragem, de determinação e perseverança. Por acreditar em meus sonhos e não medir forças para torná-los realidade. À minha irmã Grazy e meu cunhado Fabrício, por todas as palavras de encorajamento e carinho. Por acreditarem que mais esse sonho era possível e por fazerem parte do meu dia-a-dia. Aos meus “anjos” sem asas Ana Silvia, Bélin, Débora, Isabela, Juliana e Paula. Por estarem ao meu lado nos momentos mais difíceis. Pelos momentos de extrema alegria. Pela torcida. Pela amizade verdadeira. Obrigada sempre. Ao Anderson, por compartilhar comigo desse sonho. Obrigada pelo apoio, paciência, amor e carinho. À tia Irani e a minha avó Iracema, pelo amor incondicional de vocês. Pelo apoio constante, pelas palavras de força, de ânimo que sempre me ajudaram e muitas vezes me levantaram em minhas caminhadas. Ao professor Wanderlei Antonio Pignati pela orientação ao longo do curso. À professora Carolina Lourencetti (Carol), por toda ajuda durante essa jornada, mas principalmente pela sua amizade. Deixo aqui toda a minha admiração pela profissional e pessoa que você é. À professora Eliana Freire Gaspar de Carvalho Dores, por ceder o Laboratório de Análise de Resíduos de Biocidas (LARB) e por toda ajuda. Ao professor Alício Alves Pinto, pelas idas a campo, sua presença fez toda a diferença. Pela amizade e pelas conversas sempre animadas. À professora Marta Gislene Pignatti, pelas conversas e esclarecimentos. Ao professor Ageo Mário Candido da Silva, pela ajuda nas análises estatísticas, pela paciência e pelas palavras de encorajamento na reta final. Ao professor Paulo Roberto Bezerra de Mello, pelas trocas de ideias no início do projeto. Aos professores Josino Costa Moreira e Frederico Peres, por todo apoio durante a realização deste projeto.

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À professora Edna Lopes Hardoim, minha eterna “orientadora”, pela amizade em todos os momentos e aos sábios conselhos. À Marli Eliane Uecker, por toda ajuda desde o início do trabalho e pela amizade. À Ana Cristina Simões Rosa, pela ajuda na validação do método e todas as demais no decorrer do trabalho. À Thais Hernandes, pela ajuda na validação do método. À turma do mestrado em Saúde Coletiva 2009, pela convivência que foi gratificante. Aos colegas do LARB, pelos momentos divididos e divertidos. Ao Sandro, pela ajuda na revisão. Valeu. À Jurema e ao Hailton, por serem sempre prestativos. A todas as mães que aceitaram participar dessa pesquisa, sem a colaboração de vocês a realização deste projeto não seria possível. À Secretaria Municipal de Saúde de Lucas do Rio Verde, na pessoa do secretário, Pascoal de Oliveira Junior, por ter cedido dados e por ter autorizado a realização do projeto nas dependências dos PSF. À Barbara Marconi Thiago Ferreira, Fernanda Dotto, Jorge Vanini e Fábio Montanha por toda a atenção e ajuda. Sem a colaboração de vocês a realização desse projeto não seria possível. Muito obrigada. Às enfermeiras Vivian Favaro (PSF I), Franciele Carlo (PSF II), Cintia Primon (PSF III) Cristiane Souza (PSF V), Taís Garcia (PSF VI), Karime Souto (PSF VII), Daniela Lins Viana (PSF VIII), Heloísa Sartori (PSF X), Maria Aldina Meurer (PSF Rural) e a equipe do PSF IV por terem aderido e colaborado com o projeto. Às agentes comunitárias de saúde, por terem ajudado nas coletas residenciais. À Thais e a senhora Leo do PSF rural da comunidade São Cristovão, por toda a atenção e ajuda nas coletas residenciais nas fazendas. Ao senhor Nilfo e a senhora Idália, pelo empréstimo do alojamento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Ao Banco de Leite do Hospital Universitário Julio Muller, na pessoa do seu diretor, Roberto Diniz Vinagre, pelas amostras cedidas e pela realização do crematócrito em suas dependências.

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À Universidade Federal de Mato Grosso, por possibilitar a realização desse trabalho. Ao CNPq, pelo financiamento, através da bolsa de estudos concedida durante estes dois anos e o financiamento do projeto “Avaliação do risco à saúde humana decorrente do uso de agrotóxicos na agricultura e pecuária na região Centro-Oeste” (CNPq n. 555193/2006-3), que foram, com certeza, imprescindíveis para a concretização deste trabalho. A todos que de alguma forma colaboraram na realização desse projeto.

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Resumo

Os agrotóxicos são poluidores e podem causar agravos à saúde humana. Devido ao

crescimento do agronegócio no Estado de Mato Grosso e no município de Lucas do

Rio Verde-MT, calcula-se que a população do município está exposta a 136,35 litros

de agrotóxicos habitante/ano, trinta e sete vezes maior que a média nacional. Parte

desses produtos utilizados na lavoura atinge a “peste” alvo, parte dissipa-se no

ambiente podendo acumular-se no organismo humano ocasionando malformações,

abortos, interferentes endócrinos e alguns tipos de câncer e podem ser detectados no

leite humano. Considerando esses aspectos, este trabalho teve como objetivo

determinar resíduos de agrotóxicos em leite de mães residentes em Lucas do Rio

Verde – MT. Dez substâncias (α-endossulfam, β-endossulfam, α-HCH, lindano,

aldrim, p,p’-DDE, p,p’-DDT, cipermetrina, deltametrina e trifluralina) foram

determinadas (n = 2) em amostras de leite materno (n = 62), coletada entre a 3ª e a 8ª

semana após o parto, utilizando método analítico multirresíduo com extração por

ultrassom e dispersão em fase sólida e identificação e quantificação por CG-DCE.

Cem por cento das amostras analisadas (n = 62) apresentaram contaminação por p,p’-

DDE (0,32 – 12,03 µg g-1 de gordura), 44% por β-endossulfam (0,54 – 0,61 µg g-1 de

gordura) e 13% por o p,p’-DDT (2,62 – 12,41 µg g-1 de gordura). As demais

substâncias analisadas foram encontradas abaixo do limite de quantificação do

método (0,0013 – 0,108 μg mL-1). Deltametrina foi detectada em 37% das amostras,

aldrim e α-endossulfam, ambos em 32%, α-HCH em 18%, trifluralina em 11% e

lindano em 6%. Entre as variáveis estudadas, ter tido aborto foi uma variável que se

manteve associada à presença de três agrotóxicos, β-endossulfam (RP = 2,05; IC

95%: 0,87 – 4,80), aldrim (RP = 2,18; IC 95%: 1,04 – 4,58) e deltametrina (RP =

1,92; IC 95%: 1,08 – 3,43), quando da realização dos modelos finais de regressão.

Estes achados são concordantes com a literatura que menciona que alguns desses

agrotóxicos apresentam efeitos adversos sobre o sistema reprodutivo e hormonal,

podendo induzir o aborto. Além desses efeitos, a literatura menciona os possíveis

efeitos teratogênicos, mutagênicos e cancinogênicos desses agrotóxicos.

Descritores: Agronegócio; Contaminação; Agrotóxicos; Leite humano.

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Abstract

Pesticides are polluting and can cause human health problems. Due to the growth of

agribusiness in the state of Mato Grosso and the municipality of Lucas do Rio Verde-

MT, it is estimated that the population of the city is exposed to 136,35 liters of

pesticides inhabitant per year, thirty-seven times greater than average national. Part

of these products used in the crop reaches the "plague" target portion dissipates in the

environment can accumulate in the human body causing deformities, endocrine

disruptors and some types of cancer and can be detected in breast milk. Considering

these aspects, this study aimed to determine pesticide residues in milk from mothers

living in Lucas do Rio Verde - MT. Ten substances (α-endosulfan, β-endosulfan, α-

HCH, lindane, aldrin, p, p'-DDE, p, p'-DDT, cypermethrin, deltamethrin and

trifluralin) were determined (n = 2) in breast milk samples (n = 62), collected

between the 3rd and 8th week postpartum, using a multiresidue analytical method

with ultrasonic extraction and solid-phase dispersion and identification and

quantification by GC-ECD. One hundred percent of the analyzed samples (n = 62)

showed levels of p,p'-DDE (0.32 – 12.03 μg g-1 lipid), 44% of β-endosulfan (0.54 –

0.61 μg g-1 lipid) and 13% of p,p'-DDT (2.62 – 12.41 μg g-1 lipid). The other analytes

were found below the limit of method quantification (0.0013 – 0.108 μg mL-1).

Deltamethrin was detected in 37% of the samples, aldrin and α-endosulfan, both in

32%, α-HCH in 18%, trifluralin in 11% and lindane in 6%. Among the variables

studied, have had abortion was the variable that remained associated with the

presence of three pesticides, β-endosulfan (RP = 2.05, 95% CI 0.87 – 4.80), aldrin

(RP = 2, 18, 95% CI: 1.04 – 4.58) and deltamethrin (RP = 1.92, 95% CI 1.08 – 3.43)

when completed the final regression models. These findings are consistent with the

literature that mentions that some pesticides have adverse effects on the reproductive

and hormone system, which can induce abortion. Apart from these effects, the

literature mentions the possible teratogenic, mutagenic, and cancinogênicos these

pesticides.

Keywords: Agribusiness; Contamination; Pesticides; Breast milk.

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Lista de Tabelas

Tabela 1: Produção agrícola (milhões hectares) e consumo de agrotóxico na

agropecuária (milhões de litros) no Estado de Mato Grosso; 1998 a 2009.

Tabela 2: Produção agrícola (mil hectares) e consumo de agrotóxico na agropecuária (milhões de litros) em Lucas do Rio Verde – MT; 1998 a 2009.

Tabela 3: Média anual do consumo de agrotóxicos em litros, com maior utilização entre 2005 a 2009 por tipo de uso, classe toxicológica e forma de aplicação em Lucas do Rio Verde – MT.

Tabela 4: Classificação toxicológica dos agrotóxicos em função da DL50.

Tabela 5: Resultados de pesquisas sobre contaminação em leite humano por organoclorado.

Tabela 6: Caracterização da amostra (n=62) de nutrizes de Lucas do Rio Verde-MT, 2010.

Tabela 7: Caracterização domiciliar da amostra (n=62) de nutrizes de Lucas do Rio Verde-MT, 2010.

Tabela 8: Exatidão, precisão e limites de detecção e quantificação do método analítico utilizado.

Tabela 9: Comparação de métodos da literatura com o método atual para determinação de agrotóxicos em leite humano.

Tabela 10: Número de substâncias detectadas em leite humano em amostra (n=62) de nutrizes residentes em Lucas do Rio Verde-MT, 2010.

Tabela 11: Total de amostras detectadas e frequência de detecção de agrotóxicos analisados em leite humano em amostra (n=62) de nutrizes residentes em Lucas do Rio Verde-MT, 2010.

Tabela 12: Níveis de resíduos de agrotóxicos em leite humano em amostra (n=62) de nutrizes residentes em Lucas do Rio Verde-MT em µg mL-1 de leite, 2010.

Tabela 13: Níveis de resíduos de agrotóxicos em leite humano em amostra (n=62) de nutrizes residentes em Lucas do Rio Verde-MT em µg g-1 de gordura, 2010.

Tabela 14: Modelo Final de Poisson - Razões de prevalência de contaminação do leite humano por β-endossulfam, Lucas do Rio Verde-MT, 2010.

Tabela 15: Modelo Final de Poisson - Razões de prevalência de contaminação do leite humano por aldrim, Lucas do Rio Verde-MT, 2010.

Tabela 16: Modelo Final de Poisson – Razão de prevalência de contaminação do leite humano deltametrina, Lucas do Rio Verde-MT, 2010.

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Lista de Figuras

Figura 1: Comportamento e destino dos agrotóxicos no meio ambiente.

Figura 2: Estrutura química do α-endossulfam, β-endossulfam e sulfato de endossulfam .

Figura 3: Estrutura química γ-HCH.

Figura 4: Estrutura química aldrim e dieldrim.

Figura 5: Estrutura química do p,p’DDT e o,p’DDE.

Figura 6: Chrysanthemum cinerariaefolium e Chrysanthemum coccineum

Figura 7: Estrutura química da cipermetrina.

Figura 8: Estrutura química da deltametrina.

Figura 9: Estrutura química da trifluralina.

Figura 10: Mapa de localização do município de Lucas do Rio Verde-MT.

Figura 11: Fluxograma do processo de análise multirresíduo de agrotóxicos em leite humano

Figura 12: Tempo de residência em Lucas do Rio Verde-MT.

Figura 13: Distribuição espacial das residências das nutrizes doadoras de leite humano na zona urbana de Lucas do Rio Verde-MT, 2010.

Figura 14: Imagem via satélite de Lucas do Rio Verde-MT.

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Lista de Abreviaturas

ACE Acetilcolinesterase

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

ATSDR Agency for Toxic Substances and Disease Registry

BLH-IFF Banco de Leite Humana – Instituto Fernandes Figueira

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

CG Cromatografia gasosa

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

CNS Conselho Nacional de Saúde

CPRC Carcinogenicity Peer Review Committee

DCE Detector de captura de elétrons

DDD Diclorodifenildicloroetano

DDE Diclorodifenildicloroetileno

DDT Diclorodifenitricloroetano

DEA Desitilatrazina

DIA Desisopropilatrazina

DL Dose letal

ECE European Commission Environment

EPA Environmental Protection Agency

EXTOXNET Extension Toxicology Network

FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz

HCB Hexaclorociclobenzeno

HCH Hexaclorociclohexano

HSDB Hazardous Substance Data Bank

HUJM Hospital Universitário Julio Muller

IARC International Agency for Research on Cancer

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IgM Imunoglobulina M

IPCS International Programme on Chemical Safety

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MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MMA Ministério do Meio Ambiente

MS Ministério da Saúde

MT Mato Grosso

NC Nível de confiança

NPTN National Pesticide Telecommunications Network

OMS Organização Mundial da Saúde

OPAS Organização Pan-Americana da Saúde

PCB Bifenilas policloradas, do inglês, Polychlorinated biphenyls

PCDD Dibenzodioxinas policloradas, do inglês, Polychlorinated dibenzo-p-

dioxins

PCDF Dibenzofuranos policlorados, do inglês, Polychlorinated

dibenzofurans

PMLRV Prefeitura Municipal de Lucas do Rio Verde

POP Poluentes Orgânicos Persistentes

PPDB Pesticide Properties DataBase

PSF Programa de Saúde da Família

RDC Resolução da Diretoria Colegiada

SCPOP Stockholm Convention on Persistent Organic Pollutants

SNAD Secretaria Nacional de Defesa Agropecuária

UFMT Universidade Federal de Mato Grosso

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 15 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 29 2.1 AGROTÓXICOS E MEIO AMBIENTE 29 2.2 AGROTÓXICOS: CARACTERÍSTICAS, INTERAÇÕES E BIOACUMULAÇÃO 33 2.3 PROPRIEDADES E TOXICIDADE DOS GRUPOS DE AGROTÓXICOS

ESTUDADOS (ORGANOCLORADOS, PIRETRÓIDES E DINITROANILINAS) 36

2.3.1 Organoclorados: origem, propriedades e estrutura química 37 2.3.2 Organoclorados: mecanismo de ação tóxica no homem 41 2.3.3 Piretróides: origem, propriedades e estrutura química 45 2.3.4 Piretróides: mecanismo de ação tóxica no homem 47 2.3.5 Dinitroanilina: origem, propriedades e estrutura química 48 2.3.6 Dinitroanilina: mecanismo de ação tóxica no homem 50 2.4 CONTAMINAÇÃO POR AGROTÓXICO EM LEITE HUMANO 50 3. OBJETIVOS 56 3.1 OBJETIVO GERAL 56 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 56 4. MATERIAL E MÉTODO 57 4.1 LOCAL DE ESTUDO 57 4.2 SELEÇÃO DAS SUBSTÂNCIAS ANALISADAS 58 4.3 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO 59 4.4 POPULAÇÃO DE ESTUDO 59 4.5 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 60 4.6 ELABORAÇÃO E APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO 60 4.7 COLETA E ARMAZENAMENTO DAS AMOSTRAS DE LEITE HUMANO 61 4.8 DETERMINAÇÃO DO TEOR DE GORDURA 61 4.9 VALIDAÇÃO DE MÉTODO ANALÍTICO PARA DETERMINAÇÃO DE

AGROTÓXICOS EM LEITE HUMANO 61

4.10 ANÁLISE DOS DADOS 65 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 66 5.1 ANÁLISE DESCRITIVA DOS DADOS DO QUESTIONÁRIO 66 5.2 DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA AMOSTRA NO MUNICÍPIO 69 5.3 RESÍDUOS DE AGROTÓXICOS NO LEITE HUMANO 71 5.3.1 Validação do método analítico proposto 71 5.3.2 Detecção de resíduo de agrotóxico no leite humano 75 5.3.3 Níveis de resíduo de agrotóxico no leite humano 76 5.5 FATORES DE ASSOCIAÇÃO 78 6. CONCLUSÃO 83 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS 84

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 86 Anexo A: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 99 Anexo B: Questionário aplicado 100 Anexo C: Modelo do laudo apresentado 103

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1. INTRODUÇÃO

A influência do ambiente sobre a saúde humana é inquestionável e

consequentemente os estudos destas relações é objeto do campo da Saúde Pública.

Essas relações incorporam todos os elementos e fatores que potencialmente afetam a

saúde, incluindo, entre outros, desde a exposição a fatores específicos como

substâncias químicas, elementos biológicos ou situações que interferem no estado

psíquico do indivíduo, até aqueles relacionados com aspectos negativos do

desenvolvimento social e econômico dos países (TAMBELLINI e CÂMARA, 1998;

PORTO, 2007). O processo de desenvolvimento econômico é apontado como um dos

principais fatores da degradação ambiental, influenciando as alterações dos perfis de

saúde da população humana (PIGNATI e MACHADO, 2007).

O Brasil começou a utilizar agrotóxicos em larga escala a partir da década de

70, quando eles foram incluídos nos financiamentos agrícolas juntamente com os

adubos e os fertilizantes químicos (ARAÚJO et al., 2007). Atualmente o Brasil é um

dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo (PACHECO, 2009). Dentro do

cenário nacional o Estado de Mato Grosso se destaca como um dos grandes

produtores agrícolas e consumidores de agrotóxicos, tendo Lucas do Rio Verde como

município destaque na produção de soja, milho safrinha e grande consumidor de

agrotóxicos dentro do estado (PIGNATI et al., 2007).

O uso intensivo de agrotóxicos tem sido impulsionado para atender a

crescente demanda de produção agrícola. Isso tem colocado em risco a saúde dos

produtores, dos trabalhadores, do meio ambiente e dos consumidores (ARAÚJO et

al., 2007). Nos países em desenvolvimento, especialmente aqueles com economias

baseadas no agronegócio, como é o caso do Brasil, a extensiva utilização de

agrotóxicos e fertilizantes químicos representa um grave problema de saúde pública.

Os agravos à saúde relacionados à utilização desses químicos, em Mato Grosso,

constituem uma situação que tem ultrapassado os limites das grandes fazendas de

monocultura, atingindo toda a população regional onde há o desenvolvimento do

agronegócio (PIGNATI e MACHADO, 2007).

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No Brasil, a adoção do pacote tecnológico recomendado pela chamada de

Revolução Verde, permitiu a implantação em larga escala de sistemas monoculturas

com emprego intensivo de fertilizantes e agrotóxicos, além de ter proporcionado a

abertura de um imenso mercado de máquinas, sementes e insumos agrícolas

(AGUIAR e MONTEIRO, 2005). A escolha desse modelo central implicou na

predominância quase absoluta das culturas de ciclo curto. Esse e outros fatores

exigem das culturas brasileiras uma intensa utilização de insumos químicos, para

garantir uma alta eficiência produtiva e retorno econômico. Esse modelo implica

também em desmatamento e mecanização intensivos que, por sua vez, desencadeiam

outros processos problemáticos. Um deles é a compactação do solo, que, junto com

os sistemas de revolvimento das áreas de cultivo contribui para acentuar a erosão

causada pelas chuvas e/ou eólica (NOVAIS, 2001; AGUIAR e MONTEIRO, 2005).

No caso do cerrado que vem passando por uma ampla expansão da atividade

agrícola, a característica de possuir um solo pouco fértil para a agricultura,

intensifica o uso de fertilizantes e agrotóxicos para atingir a alta produtividade que

vem sendo obtida nessas áreas de solo mais pobre, ocasionando sérios problemas

ambientais (SOARES e PORTO, 2007).

Mas, o uso de agrotóxico não gera somente impacto ambiental gera também

impactos sociais e sanitários consequentes das atividades produtivas que geram

produtos e serviços (SOARES e PORTO, 2007). Esses impactos são agravados pela

ampla utilização desses produtos, o desconhecimento dos riscos associados a sua

utilização, o desrespeito às normas de segurança, a livre comercialização, a pressão

comercial por parte das empresas produtoras e distribuidoras e os problemas sociais

presentes no meio rural (MOREIRA et al., 2002).

No Estado de Mato Grosso as aplicações de agrotóxicos nas monoculturas são

realizadas através de pulverizações por tratores e aviões agrícolas, e as névoas de

agrotóxicos produzidas, além de atingirem os alvos (inseto, fungo ou erva daninha),

também atingem os trabalhadores o ar/solo/água, os moradores, os animais e outras

plantas que estão no entorno das lavouras. Como na maioria dos municípios

matogrossenses predomina o processo produtivo denominado de “agricultura

moderna”, o cotidiano da população é a convivência com tratores, pulverizadores e

seus ruídos e com os odores dos fertilizantes e agrotóxicos (PIGNATI et al., 2007).

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O Estado de Mato Grosso se destaca como um dos grandes produtores

agrícolas e consumidores de agrotóxicos no Brasil, tendo Lucas do Rio Verde como

município destaque na produção de soja, milho safrinha e grande consumidor de

agrotóxicos dentro do estado (PIGNATI et al., 2007; MOREIRA et al., 2010).

Os dados apresentados nas Tabelas 1 e 2, mostram a produção agrícola e o

consumo de agrotóxico, em uma série histórica de doze anos, do Estado de Mato

Grosso e do município de Lucas do Rio Verde, respectivamente. Esses dados

demonstram a evolução da produção agrícola e junto com ela o aumento no consumo

de agrotóxicos.

Tabela 1 - Produção agrícola (milhões hectares) e consumo de agrotóxico na agropecuária (milhões de litros) no Estado de Mato Grosso; 1998 a 2009. Mato Grosso 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Soja (em grão) 2,6 2,6 2,9 3,1 3,8 4,4 5,3 6,1 5,8 5,1 5,5 5,9

Milho (em grão) 0,5 0,5 0,6 0,5 0,7 0,9 0,9 1,1 1,1 1,7 1,8 2,0

Algodão herbáceo 0,1 0,2 0,3 0,4 0,3 0,3 0,5 0,5 0,4 0,6 0,5 0,5

Outros* 0,6 0,9 0,9 0,8 0,7 0,7 1,1 1,2 0,6 0,6 0,8 1,1 Total 3,9 4,4 4,8 5,0 5,7 6,5 8,0 9,1 8,1 8,0 8,7 9,5 Agrotóxicos 33 30 42 42 49 55 64 72 75 87 92 105

Fonte: IBGE (2009); INDEA-MT (2009). Outros: arroz, borracha, cana-de-açúcar, feijão (em grãos), sorgo (em grãos).

De acordo com a Tabela 1 observa-se que em 1998 utilizava-se 8,46 milhões

de litros de agrotóxicos por milhões de hectares plantados. Já em 2009 utilizou-se

11,05 milhões de litros de agrotóxicos por milhões de hectares plantados, ou seja,

houve um aumento de 23% no consumo de agrotóxico para a mesma quantidade de

área cultivada.

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Tabela 2 - Produção agrícola (mil hectares) e consumo de agrotóxico na agropecuária (milhões de litros) em Lucas do Rio Verde – MT; 1998 a 2009. Lucas do Rio Verde 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Soja (em grão) 140 153 160 175 180 201 216 222 224 216 226 237

Milho (em grão) 36 63 71 78 123 140 100 146 147 175 161 147

Algodão herbáceo 3 12 10 11 6 5 15 10 7 15 11 8

Outros* 6 41 18 11 6 12 10 5 2 6 12 18 Total 185 269 259 275 315 358 341 383 380 412 410 410 Agrotóxicos 1,9 2,4 2,4 2,6 3,0 3,3 3,3 3,7 4,2 4,1 4,2 4,5 Fonte: IBGE (2009); INDEA-MT (2009). Outros: arroz, borracha, cana-de-açúcar, feijão (em grãos), sorgo (em grãos).

Analizando a mesma relação de dados para o município de Lucas do Rio

Verde (Tabela 2), observa-se que houve um acréscimo de 6% no consumo de

agrotóxico para a mesma quantidade de área cultivada. O aumento no consumo de

agrotóxico é maior que o aumento de área agricultável, tanto do Estado de Mato

Grosso como em Lucas do Rio Verde. O que prova a intensificação do uso de

agrotóxico. O aumento no consumo de agrotóxico faz surgir alguns questionamentos:

onde foi parar essa quantidade de agrotóxico? Qual fração se dissipou em cada

compartimento ambiental (água, ar, solo, biota)?

A exposição da população brasileira aos agrotóxicos é de 3,66

litros/habitante. A população de Mato Grosso está exposta a 29,80 litros/habitante,

uma exposição oito vezes maior que a média da população brasileira. Quando se fala

em exposição da população residente em Lucas do Rio Verde-MT, a população está

exposta a 136,35 litros/habitante, uma exposição cinco vezes maior que a média do

estado e trinta e sete vezes maior que a média nacional (MOREIRA et al., 2010).

A Tabela 3 apresenta a média anual de consumo dos agrotóxicos (princípio

ativo) mais utilizados no município de Lucas do Rio Verde. Dos pricipios ativos em

destaque 40% são classificados como extremamente tóxicos, e 15% altamente tóxico

a saúde, somando, mais da metade dos princípios ativos apresentam alto risco à

população e meio ambiente. Além da diversidade, pois são mais de vinte princípios

ativos, cada um com suas particularidades químicas, físicas, biológicas, o que lhe

conferem.

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Tabela 3 - Média anual do consuno de agrotóxicos em litros, com maior utilização entre 2005 a 2009 por tipo de uso, classe toxicológica e forma de aplicação em Lucas do Rio Verde - MT.

Agrotóxico (principio ativo) Uso Classe Toxicológica1 Média de

consumo anual2 GLIFOSATO Herbicida IV - POUCO TÓXICO 1.261.957 ATRAZINA Herbicida III - MEDIANAMENTE TOXICO 390.061 METAMIDOFÓS Inseticida I - EXTREMAMENTE TÓXICO 381.438 ENDOSSULFAM Inseticida I - EXTREMAMENTE TÓXICO 216.950 2,4-D Herbicida I - EXTREMAMENTE TÓXICO 184.970 DIQUAT Herbicida III - MEDIANAMENTE TOXICO 141.005 S-METACLORO Herbicida I - EXTREMAMENTE TÓXICO 87.120 PARATIONA METÍLICA Inseticida I - EXTREMAMENTE TÓXICO 77.497 ACEFATO Inseticida III - MEDIANAMENTE TOXICO 73.280 CLORPIRIFÓS Inseticida II - ALTAMENTE TÓXICO 47.145 PARAQUATE Herbicida I - EXTREMAMENTE TÓXICO 28.643 TRIFLURALINA Herbicida III - MEDIANAMENTE TOXICO 23.094 PERMETRINA Inseticida III - MEDIANAMENTE TOXICO 22.985 CIPERMETRINA Inseticida II - ALTAMENTE TÓXICO 19.636 MALATIONA Inseticida III - MEDIANAMENTE TOXICO 11.911 MSMA Herbicida III - MEDIANAMENTE TOXICO 9.860 FIPRONIL Inseticida II - ALTAMENTE TÓXICO 8.047 MONOCROTOFOS Inseticida I - EXTREMAMENTE TÓXICO 4.792 CARBOFURAN Inseticida I - EXTREMAMENTE TÓXICO 3.981 DELTAMETRINA Inseticida III - MEDIANAMENTE TOXICO 1.179 OUTROS Vários VÁRIOS 1.333.935 TOTAL GERAL 4.329.486 Fonte: 1 ANVISA (2011); 2 INDEA-MT (2010).

A saúde humana pode ser afetada pelos agrotóxicos diretamente, por meio do

contato direto com estas substâncias. Não somente os moradores do meio rural estão

sujeitos a contaminação humana e ambiental, os do meio urbano também se

encontram sob risco, devido à contaminação ambiental e dos alimentos. A avaliação

da contaminação ambiental é de fundamental importância para a compreensão da

contaminação humana por agrotóxicos (MOREIRA et al., 2002), uma vez que os

seres humanos podem receber resíduos provenientes de matrizes ambientais

contaminadas, como água e ar.

O uso de agrotóxicos na agricultura nas últimas décadas proporcionou um

grande benefício para a produção de alimentos. Entretanto, em paralelo a esses

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benefícios, surgiu o efeito potencial de resíduos de agrotóxicos remanescentes nos

alimentos, sendo a ingestão de alimento contendo agrotóxicos uma das principais

rotas de exposição humana (MELLO, 1999).

O homem se encontra no final da cadeia alimentar, o que faz com que possa

ingerir toda sorte de substâncias químicas, inclusive os agrotóxicos estáveis que

foram se acumulando ao longo de toda a cadeia. Ainda os recebe dos resíduos

provenientes de contaminação das águas e do ar.

Os agrotóxicos são agentes poluidores e podem resultar em problemas de

saúde para o homem. Assim, a questão da qualidade ambiental é um aspecto de

investigação com ênfase no que se refere ao seu impacto na saúde da população

(NUNES e TAJARA, 1998). O uso de agrotóxico gera externalidades no meio

ambiente e na saúde humana, sendo que muitos desses impactos ainda são

desconhecidos a longo prazo. (SOARES e PORTO, 2007).

Indivíduos que trabalham diretamente com os agrotóxicos estão sujeitos a

riscos diferentes da população em geral. A população em geral pode estar exposta

aos agrotóxicos através da ingestão de alimentos contaminados (carne, peixe,

laticínios, frutas e vegetais), por exposição dérmica após aplicações domésticas ou

pulverizações em culturas ou ambientes públicos ou inadvertidamente por inalação

durante a aplicação de spray (NUNES e TAJARA, 1998).

A elevada estabilidade de alguns grupos de agrotóxicos à degradação

ambiental, associada a outras propriedades físicas e químicas, que favorecem suas

distribuições pelos diferentes compartimentos ambientais, suas propriedades de

bioacumulação em tecidos ricos em lipídios e uso intenso, são fatores que colocam

os agrotóxicos como importantes contaminantes ambientais. Estudos atuais têm

relatado associações estatísticas positivas entre a exposição humana a agrotóxicos e

problemas de saúde, tais como aumento de certos tipos de câncer de mama e/ou do

trato reprodutivo, redução da fertilidade masculina, anormalidades no

desenvolvimento sexual entre outros (MEYER et al., 1999).

Alguns agrotóxicos atuam como interferentes endócrinos. Segundo a União

Européia, os interferentes endócrinos podem: danificar diretamente um órgão

endócrino; alterar diretamente a função de um órgão endócrino; interagir com um

receptor de hormônios ou, alterar o metabolismo de um hormônio em um órgão

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endócrino (ECE, 2010). As substâncias sintéticas que apresentam essa ação são

geralmente persistentes no ambiente podendo se acumular ao longo da cadeia trófica.

Além disso, MEYER et al. (1999), assinalam que muitas destas substâncias são

excretadas através do leite materno, constituindo uma fonte de contaminação de

recém-nascidos.

Os agrotóxicos não são as únicas substâncias que possuem a capacidade de

afetar o sistema endócrino. Substâncias sintéticas, também denominadas

xenoestrogênios, como (alquilfenóis, ftalatos, policlorados de bifenilas (PCD),

bisfenol A, substâncias farmacêuticas, entre outras) e substâncias naturais

(estrogênios naturais e fitoestrogênios), também possuem essa capacidade (BILA e

DEZOTTI, 2007; GHISELLI e JARDIM, 2007).

KOIFMAN et al. (2002), verificaram correlação positiva entre a exposição da

população aos agrotóxicos consumidos na década de 1980 e os distúrbio reprodutivos

observados na década de 1990. O estudo realizado em 11 estados brasileiros

observou coeficientes de correlação moderado e alto entre venda de agrotóxicos e

mortalidade por câncer de mama, principalmente entre as mulheres de 50-69 anos de

idade em 1995-1997 e mortalidade por câncer de ovário.

Alguns estudos toxicológicos com animais apresentam evidencias que altas

doses de alguns agrotóxicos podem alterar a função reprodutiva e produzir

malformações congênitas (HEEREN et al., 2003; CALVERT et al., 2007). Na África

do Sul, mulheres expostas aos agrotóxicos apresentaram um risco sete vezes maior

de ter filhos com alguma malformação congênita do que mulheres não expostas a

essas substâncias, sugerindo uma relação entre a exposição aos agrotóxicos e o

nascimento de crianças com malformações congênitas (HEEREN et al., 2003).

Foi verificado na Espanha (REGIDOR et al., 2003), a existência de

associação entre a exposição paterna durante o primeiro trimestre da gravidez a

agrotóxicos e o risco de morte fetal a partir de malformações congênitas. COOPER

et al., (2006), verificaram que mães expostas a inibidores da acetilcolinesterase

(ACE) no primeiro trimestre de gravidez tinham um risco 2,7 vezes maior de ter

filhos com alguma malformação congênita do que mães não expostas a essas

substâncias.

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Os dados obtidos em diferentes estudos sobre a relação entre os resultados

reprodutivos adversos e ocupação dos pais na agricultura são inconsistentes.

Enquanto alguns estudos mostram que filhos de agricultores têm uma maior

frequência de morte fetal e/ou mortalidade perinatal do que filhos de não-

agricultores, provavelmente devido à exposição a pesticidas, outros estudos não

encontraram diferenças (REGIDOR et al., 2003; LEITE et al., 2007). Conforme

REGIDOR et al. (2003), uma possível explicação para esses resultados

inconsistentes é que as principais causas de óbito fetal e morte perinatal são

diferentes de um lugar para outro.

SERGEEV e CARPENTER (2005) avaliaram as taxas de hospitalização por

doenças coronarianas e infarto agudo do miocárdio e a proximidade da residência de

áreas contaminadas por poluentes orgânicos persistentes (POP) e outros poluentes no

Estado de Nova Iorque nos Estados Unidos.

Uma análise realizada no sangue e na urina de moradores da zona urbana e

rural de Lucas do Rio Verde-MT mostra a contaminação por agrotóxicos das duas

populações. A pesquisa observou que substâncias como o glifosato, muito utilizado

na região, e piretróides foram detectados nos dois grupos pesquisados. Porém, os

níveis de glifosato encontrados na população rural foram duas vezes superiores aos

níveis da população urbana. Já os níveis de piretróides, essa relação se inverte,

indicando uma possível influência dos agrotóxicos domissanitários. Os níveis de

organoclorados foram maiores da população rural, quando comparados com a

população urbana (MOREIRA et al, 2010).

As crianças são particularmente vulneráveis à exposição a agentes químicos

presentes no ambiente devido as suas características fisiológicas. Sendo assim,

quaisquer agentes químicos presentes no ar, água, solo e alimentos têm probabilidade

maior de ser absorvidos por crianças do que por adultos (LANDRIGAN et al., 2004).

A criança que se alimenta do leite humano está no ápice da cadeia alimentar e

assim pode receber uma maior carga de contaminantes eliminados por esta via,

principalmente aqueles capazes de sofrerem o fenômeno da biomagnificação

(MELLO, 1999). O leite humano é um veículo importante para eliminação de

xenobióticos do organismo e pode se constituir em uma fonte de contaminação para

o lactente (CAMPOY et al., 2001). A grande preocupação com a contaminação do

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leite materno deve-se ao fato dele ser a única fonte de alimentação dos recém-

nascidos até aproximadamente os seis meses de idade bem como ao fato das crianças

apresentarem maior vulerabilidade devido a imaturidade de seus sistemas vitais

dentre os quais o imunológico. O leite materno pode se constituir em uma importante

fonte de transferência de resíduos de agrotóxicos, em adição à transferência

placentária, para as crianças em fase de lactação (MELLO, 1999).

O risco de exposição a agentes químicos inicia ainda na vida intra-uterina. O

termo barreira placentária revelou-se totalmente inapropriado desde os eventos

relacionados à talidomida e ao dietilstilbestrol nos anos 1950 e 1960. Estudos

demonstram que agrotóxicos lipofílicos como os organoclorados se acumulam na

gordura da mãe, passam do seu sangue ao do feto através da placenta e são

mobilizados nos depósitos de gordura durante a lactação para serem excretados pelo

leite materno (NUNES e TAJARA, 1998; MELLO, 1999; MELLO-DA-SILVA e

FRUCHTENGARTEN, 2005).

O leite humano é produzido pela ação de hormônios e reflexos. Durante a

gravidez os hormônios preparam o tecido glandular para a produção de leite. O

tecido glandular se desenvolve mais e as mamas ficam maiores. O tamanho das

mamas está relacionado com a quantidade de tecido mamário e depósitos de gordura

intra e inter lobular, mas não reflete a sua capacidade funcional. Logo após o parto,

os hormônios fazem com que a mama comece a produzir leite (MS, 2001; ORFÃO e

GOUVEIA, 2009).

A glândula pituitária, localizada na base do cérebro, produz a prolactina, um

hormônio que estimula as células glandulares da mama a produzir leite. Cada vez

que a criança suga, estimula as terminações nervosas do mamilo, que levam o

estímulo para a parte anterior da glândula pituitária. Através da circulação sanguínea

a prolactina atinge as mamas que produzem o leite (MS, 2001; ORFÃO e

GOUVEIA, 2009; WAGNER, 2010). A prolactina atua depois que a criança mama e

produz leite para a próxima mamada. A glândula pituitária produz mais prolactina

durante a noite do que durante o dia. Portanto, o aleitamento materno à noite ajuda a

manter uma boa produção de leite. A prolactina juntamente com outros hormônios

inibe os ovários, retardando o retorno da fertilidade e da menstruação (MS, 2001).

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O leite é ejetado por pequenas células musculares, situadas ao redor do tecido

glandular, que se contraem e jogam o leite para fora. O hormônio ocitocina é

responsável pela contração dessas células, é produzido na parte posterior da glândula

pituitária e vai através da corrente sanguínea para as mamas. A ocitocina atua

enquanto a criança está sugando e faz o leite descer durante a mamada. A ocitocina

faz com que o útero se contraia o que auxilia na eliminação da placenta. O

aleitamento materno pode ajudar a parar o sangramento após o parto e reduzir o

tempo em que a mulher perde os lóquios (MS, 2001; ORFÃO e GOUVEIA, 2009;

WAGNER, 2010). Apesar da prolactina agir de forma independente da ocitocina, em

diferentes receptores celulares, suas ações combinadas são essenciais para o sucesso

da lactação (WAGNER, 2010).

O leite materno nem sempre tem exatamente a mesma composição. Há

algumas modificações importantes e normais com o passar do tempo. A composição

do leite também apresenta pequenas variações com a alimentação da mãe, mas essas

alterações raramente têm algum significado (MS, 2001).

A secreção láctea apresenta diferentes fases. O colostro, secretado até o 5º dia

após o parto, contém um alto teor de proteínas, principalmente imunoglobulinas e

lactoferrina, e contém pouca gordura (2%) em relação ao leite maduro (3,5%). O

colostro é também rico em fatores de crescimento que estimulam o intestino imaturo

da criança a se desenvolver. O fator de crescimento prepara o intestino para digerir e

absorver o leite maduro e impede a absorção de proteínas não digeridas. O colostro é

laxativo e auxilia a eliminação do mecônico (primeiras fezes muito escuras). Isto

ajuda a evitar a icterícia. (MS, 2001; SILVA e GIOIELLI, 2009). Se a criança recebe

leite de vaca ou outro alimento antes de receber o colostro, estes alimentos podem

lesar o intestino e causar alergias.

No leite de transição, secretado entre o 6º e o 15º dia após o parto, há um

aumento na quantidade de lactose, gordura e vitaminas hidrossolúveis, e diminuição

na quantidade de imunoglobulina (SILVA e GIOIELLI, 2009).

O leite maduro, secretado após o 15º dia de lactação, é comparado ao

colostro. É uma secreção mais fina e aquosa. A secreção aquosa, secretada no início

na mamada, tem a função de suprir a sede e as necessidades líquidas do bebê. Nesse

período, o leite é rico em proteínas, lactose, vitaminas, minerais e água. O leite do

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final da mamada tem quatro vezes mais gordura que o leite inicial, com a função de

fornecer calorias ao lactente. Ele fornece mais da metade da energia do leite materno

(MS, 2001; SILVA e GIOIELLI, 2009).

Quanto às proteínas, o leite humano possui 80% de lactoalbumina, sendo a

relação soro/caseína de aproximadamente 80/20. Essa baixa concentração de caseína

facilita a digestão por formar um coalho gástrico mais leve. O leite humano contém

altas concentrações de cistina e taurina, aminoácidos essenciais de alto valor

biológico, fundamentais para o crescimento do sistema nervoso central. O principal

carboidrato no leite humano é a lactose, que facilita a absorção de cálcio e ferro e

promove a colonização intestinal com Lactobacillus bifidus. No colostro, a

concentração de lactose é cerca de 4% e no leite maduro de 7% (SILVA e

GIOIELLI, 2009).

De acordo com MULLER (2003), o aleitamento materno, do ponto de vista

ecológico, pode ser considerado sob alguns aspectos. O primeiro diz respeito à

própria ecologia, lembrando que o gênero humano pertence à classe Mammalia, seres

animais que mamam. Amamentar é próprio da natureza humana e possui raiz

ecológica. O segundo aspecto desta questão é a saúde ambiental, ou do meio onde

vive a nutriz, que pode afetá-la com contaminações complexas. Na amamentação, os

contaminantes podem passar para a criança e causar danos tanto graves como

permanentes, inclusive pelo potencial câncerígeno de alguns poluentes. O terceiro

aspecto da questão destaca um aspecto cultural, onde as mães assumem que a

amamentação artificial é um modernismo desejável. A propaganda incutiu a

mamadeira, prática e conveniente, e minou a confiança de muitas mães na sua

capacidade de alimentar os filhos. Finalmente, o quarto aspecto refere-se à questão

agrária e industrial que envolve todo o processo da produção do leite em pó.

A amamentação é a melhor maneira de proporcionar o alimento ideal para o

crescimento saudável e o desenvolvimento dos recém-nascidos, além de ser parte

integral do processo reprodutivo, com importantes implicações para a saúde materna

(OPAS, 2003). O aleitamento materno fortalece a imunidade, mantém o crescimento

e desenvolvimento normais, melhora o processo digestivo no sistema

gastrointestinal, favorece o vínculo mãe-filho e facilita o desenvolvimento

emocional, cognitivo e do sistema nervoso (LANDRIGAN et al., 2002; SILVA et al.,

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2007). Crianças em aleitamento materno têm menos quadros infecciosos porque o

leite materno é estéril, isento de bactérias e contém fatores anti-infecciosos que

incluem leucócitos, imunoglobinas, fator bífado e lactoferrina (MS, 2001).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que todas as crianças

sejam alimentadas exclusivamente com o leite materno até os seis meses de idade.

Depois dos seis meses, com o objetivo de suprir suas necessidades nutricionais, a

criança deve começar a receber alimentação complementar segura e nutricionalmente

adequada, juntamente com a amamentação, até os dois anos de idade ou mais

(OPAS, 2003).

Entre os fatores determinantes da saúde infantil, as condições ambientais são

responsáveis por uma parcela significativa, já que situações desfavoráveis

contribuem para a morbidade e mortalidade significativa de crianças (MELLO-DA-

SILVA e FRUCHTENGARTEN, 2005). O relacionamento da criança com o seu

ambiente tem importância que transcende à verificada para o adulto, tendo em vista a

característica ímpar dos seres vivos jovens, o crescer e o desenvolver, a partir de um

ponto de vulnerabilidade máxima (ao nascimento) decrescente ao longo do processo

de crescimento: quanto mais jovem a criança, mais dependente do ambiente

(MARCONDES, 1982).

O risco de exposição a agentes químicos inicia ainda na vida intra-uterina,

uma vez que o termo barreira placentária revelou-se totalmente inapropriado desde

os eventos relacionados à talidomida e ao dietilstilbestrol (ETZEL et al., 2003).

Estudos demonstram que agrotóxicos lipofílicos como os organoclorados se

acumulam na gordura da mãe, passam do seu sangue ao do feto através da placenta e

são mobilizados dos depósitos de gordura durante a lactação para serem excretados

pelo leite materno (MELLO, 1999; MELLO-DA-SILVA e FRUCHTENGARTEN,

2005).

Alguns processos fundamentais, como o desenvolvimento do sistema

nervoso, ocorrem predominantemente na vida fetal e durante os primeiros anos de

vida. No período neonatal, observa-se um maior risco de absorção de agentes

químicos através da pele, pois a queratinização só se completa por volta do quinto ao

oitavo dia de vida. As vias de biotransformação de agentes químicos que ingressam

no organismo não estão completamente desenvolvidas ao nascimento e durante os

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primeiros meses de vida. Em muitos casos, como na exposição ao chumbo e a

inseticidas organofosforados, as crianças são menos aptas a lidar com esses agentes,

pela ausência ou deficiência de enzimas necessárias para sua biotransformação e

eliminação. Outro aspecto a considerar é que eventuais dificuldades na

metabolização de agentes tóxicos pode representar para a criança, no caso de

exposição continuada ou crônica, o acúmulo desses agentes em órgãos ou tecidos de

depósito, como ossos e células adiposas. As repercussões dessas exposições poderão

vir a ser observadas somente após muitos anos, com o possível desenvolvimento de

câncer associado à exposição a esses compostos presentes desde a vida intra-uterina

até o ambiente doméstico durante a infância (MELLO, 1999; MELLO-DA-SILVA e

FRUCHTENGARTEN, 2005).

O leite é produzido nas glândulas mamárias alveolares. Para sua produção, os

componentes do leite e seus precursores passam por uma membrana que separa o

fluxo sanguíneo dos capilares, das células epiteliais alveolares da mama. Durante

este processo, algumas substâncias químicas que estejam presentes no organismo

materno podem passar para o leite, em concentrações que refletem as concentrações

existentes no organismo. A lipossolubilidade do composto químico é um fator

importante para sua incorporação ao leite humano (NEEDHAM e WANG, 2002).

Existe uma forte correlação entre a concentração de agrotóxicos

organoclorados no tecido adiposo materno ao final da gestação e aquela determinada

na fração gordurosa do leite humano. Este fato pode ser devido à natureza altamente

lipofílica destes compostos, que tem seus níveis aumentados no organismo de

mulheres com mais gordura corporal (CAMPOY et al., 2001; MESQUITA, 2001;

CERRILO et al., 2005; LLOP et al., 2010).

Devido à lipossolubilidade dos organoclorados, sua acumulação no tecido

adiposo pode ser entendida como uma estratégia do corpo para remover substâncias

tóxicas da circulação ativa. Quando ocorre uma deficiência nutricional, os depósitos

de gordura se mobilizam e as substâncias são liberadas, retornando a corrente

sanguínea. Se a concentração no sangue alcançar níveis elevados pode produzir

efeitos tóxicos agudos. Nestes casos a redução dos sintomas, no entanto, pode não

significar a eliminação do composto do organismo, mas sim a sua remoção da

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circulação sanguínea. Os sintomas agudos cessam, mas permanece o risco de ação

tóxica crônica no organismo.

As doenças e intoxicações causadas pelos agrotóxicos já representam um

problema de Saúde Pública no país. Aproximadamente 15% do serviço de

toxicologia nos prontos-socorros das grandes cidades brasileiras são de vitímas

desses produtos. O uso indiscriminado de agrotóxicos pode elevar o índice de

doenças crônicas. Como essas doenças nem sempre são diagnosticadas com precisão,

também se elevam os índices de subnotificações, retardando assim o combate a esse

problema (PINHEIRO, 2009).

Este trabalho foi um subprojeto da pesquisa “Avaliação do risco à saúde

humana decorrente do uso de agrotóxicos na agricultura e pecuária na região Centro-

Oeste (CNPq n. 555193/2006-3) finalizada em junho de 2010, cujos dados, também

serão discutidos neste trabalho para melhor caracterizar a exposição aos agrotóxicos

a que estão submetidos à população e o ambiente em Lucas do Rio Verde-MT

(MOREIRA, et al., 2010).

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. AGROTÓXICOS E O MEIO AMBIENTE

Desde o momento em que o homem passou a dominar a natureza, fazendo da

agricultura uma notável forma de apropriação do espaço, iniciou-se as

transformações neste meio (AZEVEDO e MONTEIRO, 2009). A biodiversidade

fornece a matéria-prima para a nossa alimentação e para outras necessidades

fundamentais do ser humano, sendo seu uso, fundamental para o desenvolvimento da

humanidade. Dessa forma, o homem quando degrada o ambiente, degrada também

sua qualidade de vida.

O uso indiscriminado de agrotóxicos, em qualquer região do planeta, a

princípio, gera efeitos locais e regionais. Entretanto, dependendo dos ecossistemas

atingidos, tais efeitos provocam uma onda de reflexos que se alastra por todo um

ecossistema (GRISOLIA, 2005). A contaminação ambiental é uma importante via de

contaminação para o ser humano, que está exposto a todos os compartimentos

ambientais. Na maioria das vezes a exposição ambiental envolve a exposição a

múltiplas substâncias, o que pode alterar seu comportamento toxicológico, tornando

os efeitos tóxicos mais pronunciados. Uma vez que, os efeitos tóxicos conhecidos,

são estabelecidos de acordo com estudos toxicológicos e epidemiológicos, levando-

se em consideração a ação individual de cada substância.

O setor agrícola degrada os recursos hídricos de várias maneiras. O uso

intensivo do solo, aliado a um manejo inadequado, potencializa um processo natural

de erosão e assoreamento dos cursos de água. Associado ao problema da erosão está

o uso indiscriminado dos agrotóxicos. O uso desses produtos químicos é um dos

mais graves fatores de deterioração da qualidade dos recursos hídricos (AZEVEDO e

MONTEIRO, 2009). Estudos em várias regiões do país demonstram que a

contaminação dos recursos hídricos por agrotóxicos representa um problema real que

pode trazer sérias consequências para o meio ambiente e para a saúde humana

(DORES e DE-LAMONICA-FREIRE, 2001; VEIGA et al., 2005).

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Em um estudo realizado por MARCHESAN et al. (2007) nos Rios Vacacaí e

Vacacaí-Mirim no Estado do Rio Grande do Sul, durante o período de plantio de

arroz, foi detectada a presença de pelo menos um herbicida em 41% das amostras no

rio Vacacaí e 33% das amostras no rio Vacacaí-Mirim. O herbicida clomazona foi

detectado com maior frequência nos dois rios.

Em outro estudo realizado na Bacia Hidrográfica do Rio Ribeira de Iguape no

Estado de São Paulo por MARQUES et al. (2007), mostrou a presença de

agrotóxicos em 24% das 152 amostras coletadas. Substâncias tais como carbamatos,

triazinas e nitroanilinas foram detectadas particularmente durante a estação chuvosa,

revelando que a qualidade da água está associada com a variação sazonal.

Alguns estudos desenvolvidos na região de Primavera do Leste, Mato Grosso

detectaram contaminação por agrotóxicos em água potável, superficial e subterrânea.

Em estudo realizado por DORES et al. (2006) ao analisar amostras de água

subterrânea e água superficial foram detectados resíduos de agrotóxicos em 14

amostras das 20 amostras coletadas. As substâncias detectadas foram atrazina,

simazina, metaloclor e metribuzim. Simazina, metribuzim, metolaclor, atrazina,

trifluralina, e dois metabólitos da atrazina, desisopropilatrazina (DIA) e

desitilatrazina (DEA), foram detectados em amostras de água superficial e

subterrânea. As concentrações encontradas variam de 0,14 a 1,7 µg/L (DORES et al.,

2008). CARBO et al. (2008), analisaram amostras (n=110) de água subterrânea em

lavouras de algodão. Das doze substâncias analisadas, oito (acetamiprido, aldicarbe,

carbendazim, carbofurano, diurom, imidacloprido, metomil e teflubenzurom) foram

detectadas nas amostras de água, sendo que 18% continham pelo menos um dos

pesticidas, com concentrações variando de 0,78 a 68,79 μg L-1, excedendo em

alguns casos, os níveis estabelecidos pela União Européia e outros organismos

nacionais e internacionais. Esses resultados confirmam a vulnerabilidade do lençol

freático à contaminação por pesticidas.

MOREIRA et al. (2010), detectaram contaminação em 10 poços artesianos

em Lucas do Rio Verde, 83% dos poços selecionados (n=12). Foram detectadas as

substâncias atrazina, metaloclor, clorpirifós, β-endossulfam, sulfato de endossulfam,

flutriafol e permetrina. As concentrações variaram de 0,01 a 4,78 µg/L. Na maioria

das amostras, os níveis dos resíduos não ultrapassaram os Limites Máximos de

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Resíduos permitidos para a água potável (portaria 518/MS), porém, aqueles que

ultrapassaram, são agrotóxicos mais estáveis, mais solúveis e de alta toxicidade

crônica. A mesma pesquisa analisou 35 amostras de água superficial, coletadas em

oito pontos em rios do município. Os resultados apontaram a presença de atrazina,

metaloclor, clorpirifós, β-endossulfam, sulfato de endossulfam, flutriafol e malation.

As concentrações variaram de 0,01 a 8,8 µg/L, sendo que 81% das amostras de água

superficial apresentaram pelo menos um tipo de resíduo de agrotóxico.

Os agrotóxicos não são encontrados apenas em água superficial ou

subterrânea, mas também em água de chuva, como foi detectado em águas coletadas

em quatro pontos do município de Lucas do Rio Verde-MT. Substâncias como

melaloclor e β-endossulfam foram detectadas em 56% das amostras, flutriafol em

51%, atrazina em 43% e sulfato de endossulfam 38%. As concentrações variaram de

0,01 a 47,21 µg/L. Esses resultados indicam uma dispersão dos agrotóxicos

aplicados, atingindo não somente a população rural, mas também a população urbana

(MOREIRA et al., 2010). Outros estudos evidenciaram contaminação de água de

chuva em outros países como Bélgica (QUAGUEBEUR et al., 2004), França

(SCHEYER et al., 2006) e Grécia (ROUVALIS et al., 2009).

A presença de agrotóxicos nos recursos hídricos pode afetar à saúde humana

e também outros organismos. Em alguns animais, os efeitos encontrados foram:

problemas na reprodução e declínio populacional; funcionamento anormal da tireóide

e outras disfunções hormonais; feminilização de machos e masculinização de

fêmeas; sistema imunológico comprometido; tumores e cânceres; anormalidades

comportamentais e maior incidência de malformação fetal (MIRANDA, 2006).

As populações de anfíbios encontram-se em declínio globalmente e os

agrotóxicos estão entre as inúmeras causas responsáveis por esta queda. A maioria

dos estudos que relacionam os efeitos dos agrotóxicos sobre os anfíbios concentram-

se sobre a toxicologia desses compostos, determinando apenas sua letalidade e

relações com malformações externas. Pouco se sabe sobre os efeitos de interferência

endócrina nessa população.

Um estudo realizado por HAYES et al. (2006), demonstrou que apesar de

alguns agrotóxicos, individualmente, inibirem o crescimento e desenvolvimento

larval, as misturas desses compostos tiveram efeitos muito maiores, alterando o

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tempo e o tamanho da metamorfose. Estudo realizado por LAJMANOVICH et al.

(2010), demonstrou que a conversão de ecossistemas nativos em lavouras de soja

pode levar ao aumento dos riscos ecológicos de anfíbios anuros devido ao aumento

do uso de agrotóxicos e outras substâncias químicas utilizadas na agricultura.

Em pesquisa realizada em Lucas do Rio Verde-MT, várias substâncias foram

encontradas no sangue de anfíbios coletados em cursos de água do município.

Substâncias como µ-HCH, β-HCH, dieldrim, µ-endossulfam, β-endossulfam, endrim,

heptacloro, mirex, o,p’- DDD, PCB tetraclorobifenil, foram detectadas em

concentrações que variaram de 0,20 a 2,88 ng/mL de sangue. Nessa mesma pesquisa

casos de malformação, como ectromelia e sindactilia, foram detectadas (MOREIRA

et al., 2010).

Diversos trabalhos apresentaram a presença de agrotóxicos em amostras de

peixes, como no caso do estudo realizado por CALDAS et al. (1999), que detectou a

presença de HCH total e lindano (γ-HCH) em amostras de peixe do Lago Paranoá em

Brasília.

No estudo realizado por TARDIVO e REZENDE (2005) verificou a presença

de HCB, γ-HCH e PCB-200 em amostras de peixes dos três pontos estudados da

Bacia do Betari, no Vale do Ribeira, São Paulo. Ainda no Estado de São Paulo, na

bacia do Rio Piracicaba, SILVA et al. (2008) encontraram resíduos de vários

agrotóxicos organoclorados nas espécies Prochilodus scrofa (curimbatá) e Pimelodus

maculatus (mandi-amarelo). Os valores mais altos foram encontrados para α-HCH

(0,051 – 0,203 µg g–1), γ-HCH (0,108 – 0,184 µg g–1) e aldrim (0,067 – 0,134 µg g–1)

na espécie Prochilodus scrofa. Heptacloro, α-endossulfam, dieldrim, DDE e DDT

também foram observados, mas em valores menores, como também observado para a

espécie Pimelodus maculatus.

Estudos desenvolvidos em outros países também demonstram a

contaminação de peixes por agrotóxicos. No interior da Índia DHANANJAYAN e

MURALIDHARAN (2010), demonstraram contaminação de peixes da espécie

Anguilla bicolor bicolour e Heteropneustes fossilis por agrotóxicos organoclorados

como o HCH, DDT, dieldrim, heptacloro epóxido e endossulfam.

Estudo realizado por COSCOLLÀ et al. (2010) na área rural e urbana da

França, analisou a presença de 56 agrotóxicos no ar, destes, 41 foram detectados.

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Herbicidas tais como trifluralina, acetoclor, pendimetalim e o fungicida clorotalonil

foram encontrados com frequência. O estudo demonstrou tendência sazonal, com a

maioria das detecções e as concentrações mais elevadas durante a primavera e o

inicio do verão. Houve pequena diferença entre as áreas rurais e urbanas.

Demonstrando que não apenas a população rural está exposta a essas substâncias.

2.2. AGROTÓXICOS: CARACTERÍSTICAS, INTERAÇÕES E

BIOACUMULAÇÃO

De acordo com a lei 7.802/89, agrotóxicos são:

Os agrotóxicos podem ser classificados de acordo com os alvos preferenciais

sobre os quais atuam, que é a classificação mais comum (inseticidas, acaricidas,

larvicidas, nematicidas, moluscocidas, bacteriostáticos e bactericidas, fungicidas,

herbicidas, pediculicidas e rodenticidas) e de acordo com a classe química a que

pertencem (organoclorados, organofosforados, carbamatos, piretróides, triazinas e

outros). Essa classificação é útil para o diagnóstico das intoxicações e instituição de

tratamento específico (OPAS, 1996; BARBOSA, 2004).

Segundo o Decreto 4074/02, compete ao Ministério da Agricultura, Pecuária

e Abastecimento (MAPA) realizar a avaliação de eficácia agronômica, ao Ministério

da Saúde (MS) executar a avaliação e classificação toxicológica e ao Ministério do

Meio Ambiente (MMA) avaliar e classificar o potencial de periculosidade ambiental.

Os agrotóxicos são classificados, ainda, segundo sua toxicidade (Tabela 4).

Esta classificação é fundamental para o conhecimento da toxicidade de um produto,

do ponto de vista de seus efeitos agudos (OPAS, 1996). Essa classificação obedece a

“os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos; substâncias e produtos, empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento.”

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testes ou estudos realizados em laboratório que tentam estabelecer a dose letal (DL)

do agrotóxico em 50% dos animais utilizados no estudo (Portaria no 03, de 16 de

janeiro de 1992).

Tabela 4 - Classificação toxicológica dos agrotóxicos em função da DL50.

Classe Grupo DL50 (mg/kg de peso vivo)

Cor da faixa no rótulo do produto

Classe I Extremamente tóxicos < 50 Vermelha

Classe II Altamente tóxicos 50-500 Amarela

Classe III Medianamente tóxicos 500-5000 Azul

Classe IV Pouco tóxicos 5000 ou + Verde Fonte: Portaria no 03, de 16 de janeiro de 1992.

A avaliação e a classificação do potencial de periculosidade ambiental de um

agrotóxico são baseadas em estudos físicos e químicos, toxicológicos e

ecotoxicológicos. Dessa forma um agrotóxico pode ser classificado quanto à

periculosidade ambiental, em classes que variam de I a IV (IBAMA, 1996):

Classe I - produtos altamente perigosos ao meio ambiente

Classe II - produtos muito perigosos ao meio ambiente

Classe III - produtos perigosos ao meio ambiente e

Classe IV - produtos pouco perigosos ao meio ambiente.

O agrotóxico quando aplicado, tem por objetivo exercer a sua ação sobre um

organismo alvo, seja ele uma “erva daninha”, um inseto, um fungo ou uma bactéria.

De acordo com CHAIM (2004) cerca de 32% dos agrotóxicos aplicados nas lavouras

são retidos nas plantas, 19% é transportado através do ar para outras localidades e

49% atinge o solo. Da fração que atinge o solo, parte evapora, outra parte pode ser

transportada através da camada de solo atingindo o lençol freático e outra parte é

degradada. A introdução dos agrotóxicos em qualquer um dos compartimentos

ambientais e suas conseqüentes distribuições, constitui a contaminação ou poluição

ambiental.

Os agrotóxicos quando utilizados e pulverizados por tratores, aviões ou

equipamento costal, uma fração atinge seus alvos (insetos, fungos ou erva daninhas)

e outra fração será dispersa em quatro grandes compartimentos no ambiente: água,

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ar, solo e biota. A fração do produto que vai atingir em cada compartimento, ou seja,

a sua destinação no ambiente é definida pelas suas propriedades físicas, químicas e

biológicas, bem como a quantidade de uso, características bióticas e abióticas do

ambiente e as condições meteorológicas (LINDE, 1994; SPADOTTO 2006).

Essas condições variam de acordo com o produto e com os fatores

relacionados à sua aplicação, desse modo é difícil prever-se com exatidão o

comportamento biológico ou ambiental dos agreotóxicos, através de um único

modelo. No entanto, alguns processos de dispersão são conhecidos e descritos para

tentar explicar o comportamento desses compostos no ambiente, tais como retenção

(sorção), transformação (degradação química, biológica e fotólise) e transporte

(deriva, volatilização, lixiviação e carreamento superficial), e por interações desses

processos (Figura 1). Esses processos podem predizer como o produto se comportará

nos diferentes compartimentos ambientais e nos organismos (SPADOTTO, 2006;

RIBAS E MATSUMURA, 2009).

Figura 1 - Comportamento e destino dos agrotóxicos no meio ambiente (modificado de GRISOLIA, 2005).

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A introdução de agrotóxicos no ambiente pode provocar efeitos indesejáveis,

como a alteração da dinâmica bioquímica natural pela pressão de seleção exercida

sobre organismos, tendo como conseqüência, mudanças no funcionamento do

ecossistema afetado (SPADOTTO, 2006).

Alguns agrotóxicos são enquadrados no grupo dos Poluentes Orgânicos

Persistentes (POP), compostos altamente resistentes a degradação por meios

biológicos, químicos ou fotolíticos. Os POP são caracterizados por certas

propriedades físicas e químicas que lhes conferem um alto poder de persistência no

meio ambiente, como baixa solubilidade na água e alta solubilidade em lipídios, o

que facilita sua acumulação no organismo animal, principalmente no tecido adiposo

o que aliado ao seu tempo de meia-vida longo, aumenta seu potencial de

bioacumulação. Essa característica aumenta consideravelmente os riscos de

contaminação pelos organismos no topo da cadeia trófica (SCPOP, 2010).

2.3. PROPRIEDADES E TOXICIDADE DOS GRUPOS DE AGROTÓXICOS ESTUDADOS (ORGANOCLORADO, PIRETRÓIDE E DINITROANILINA)

A pertinência de análise de agrotóxicos prende-se às extensas discussões

sobre a sua potencialidade em exercer efeitos adversos sobre a saúde dos seres vivos,

podendo vir a influir, assim, sobre o equilíbrio de todo um ecossistema. Nesta

pesquisa foram trabalhados três grupos de agrotóxicos, contemplando alguns

princípios ativos largamente utilizados no passado e outros ainda utilizados na atual

realidade da agricultura mundial. Dentre os grupos estudados estão os

organoclorados (α-endossulfam, β-endossulfam, lindano, α-HCH, aldrim, p,p’- DDT,

p,p’-DDE), piretróides (cipermetrina e deltametrina) e dinitroanilina (trifluralina). Os

que possuem seu uso ainda liberado (endossulfam, cipermetrina, trifluralina e

deltametrina) estão esntre os vinte agrotóxicos mais utilizados na área de estudo.

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2.3.1. ORGANOCLORADOS: ORIGEM, PROPRIEDADES E ESTRUTURA QUÍMICA

Em 1874, o DDT (Diclorodifeniltricloroetano), precursor e membro mais

popular e controverso do grupo dos organoclorados, foi sintetizado por Othmar

Zeidler. Entretanto suas propriedades inseticidas só foram descobertas, durante a

Segunda Guerra, em 1939 , por Paul Müller que patenteou o DDT em 1940. Essa

descoberta lhe valeu posteriormente o Prêmio Nobel de Medicina devido ao uso do

DDT no combate à malária. Outros agrotóxicos orgânicos foram sintetizados durante

a Guerra, isso porque várias regiões onde as tropas serviam eram áreas endêmicas de

diversas doenças tropicais como a malária. Foi nesse período também que surgiu o

HCH (hexaclorociclohexano). O γ-HCH, único isômero com atividade inseticida, foi

sintetizado por Michael Faraday em 1825. A existência dos isômeros foi descoberta

por Van der Linden em 1912, e a descoberta de suas propriedades inseticidas foi feita

por Dupaire e Rancourt, na França em 1942 (BARBOSA, 2004).

Os compostos organoclorados apresentam átomos de cloro em comum na sua

estrutura química, alta lipossolubilidade, elevado tempo de meia-vida e valores

elevados de pressão de vapor. Essas propriedades conferem a essas substâncias alto

potencial de bioacumulação em solo/sedimento e organismos vivos, elevada

persistência e capacidade de se deslocarem pela atmosfera e atingir locais remotos,

processo esse definido como destilação global (MORONI et al., 2000; CIPRO, 2007;

SILVA, 2009). Devido a sua persistência, muitos pesticidas organoclorados

tornaram-se poluentes onipresentes, resultando em bioacumulaçao ao longo da

cadeia trófica sendo detectados em animais e seres humanos (MORONI et al., 2000).

As substâncias organocloradas de interesse neste estudo serão brevemente

apresentadas. São elas: endossulfam (α e β), lindano α-HCH, aldrim, p,p’DDT e

p,p’DDE.

O endossulfam é um inseticida e acaricida do subgrupo clorociclodieno, que

atua como um veneno para uma ampla variedade de insetos e ácaros. Embora ele

também possa ser utilizado como um conservante de madeira. Foi introduzido no

mercado em 1956 pela Hoeschet AG (EUA). Sua utilização se dá em culturas de

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café, soja e algodão para o controle de diversas espécies de insetos e ácaros mediante

contato e ingestão dos produtos formulados (ANVISA, 2010a). O endossulfam é uma

mistura de dois estéreo-isômeros (α e β) (Figura 2). O endossulfam técnico é estável

à ação da luz solar, pouco estável à ação dos ácidos, bastante instável à ação dos

álcalis, praticamente insolúvel em água e consideravelmente lipofílico, sendo solúvel

em solventes orgânicos como acetato de etila, etanol, hexano e tolueno. Estável

quando exposto à luz, apresenta baixa estabilidade em meio básico. Tende a sofrer

hidrólise lenta a endossulfam-diol e a endossulfam dióxido sulfúrico (LARINI, 1999;

IPCS, 2000; PPDB, 2010).

Devido à sua elevada toxicidade, ao seu potencial de biocumulação e também

por ser um interferente endócrino, o endossulfam foi banido em mais de 62 países,

incluindo a União Europeia e várias nações ao Oeste da África e Ásia. Entretanto,

continua sendo extensivamente usado em outros países, como Índia, Austrália e

Brasil.

Em agosto de 2010, o uso do ingrediente ativo endossulfam foi revisto

considerando suas características genotóxicas, neurotóxicas, imunotóxicas,

toxicidade endócrina ou hormonal e toxicidade reprodutiva sobre o desenvolvimento

embriofetal. De acordo com a Resolução – RDC no 28 de 09 de agosto de 2010,

prazos e limites para a produção e comercialização são estabelecidos até a data de

proibição da produção e comercialização, que é 31 de julho de 2013.

Figura 2 - Estrutura química do α-endossulfam (A); β-endossulfam (B) e sulfato de endossulfam (C) - (WEBER et al., 2010).

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O HCH (hexaclorociclohexano) é um pesticida com elevada persistência no

ambiente e bioacumulação em seres vivos. O HCH de grau técnico é uma mistura de

vários isômeros, incluindo α-HCH (60-65%), β-HCH (5-14 %), γ-HCH (12-15%), δ-

HCH (6-8 %) e ε –HCH (3-4 %), podendo essa proporção variar de acordo com a

fabricação (Figura 3). Dos isômeros citados, o isômero γ é extremamente mais tóxico

para os insetos do que os isômeros α e δ. Os isômeros β e ε são geralmente quase

inertes. Como colocado anteriormente, o HCH foi sintetizado no período da Guerra.

Seu único isômero com atividade inseticida o γ-HCH (Lindano) foi sintetizado por

Michael Faraday em 1825. A existência dos isômeros foi descoberta por Van der

Linden em 1912, e a descoberta de suas propriedades inseticidas foi feita por Dupaire

e Rancourt, na França em 1942. (Mello, 1999). O lindano (γ-HCH) foi utilizado para

o tratamento de sementes, solo, árvores, madeira e contra ectoparasitose humana

(MORONI et al., 2000).

O Aldrim foi amplamente utilizado para culturas de milho e algodão entre

1950 e 1970. O Aldrim é rapidamente epoxilado e convertido em Dieldrin (Figura 4),

mais tóxico que o composto original (CARVALHO et al., 1990). O Aldrim é

facilmente metabolizado pela luz do sol e bactérias, e por esse motivo o Dieldrim é

mais facilmente encontrado no meio ambiente. Ambos se adsorvem as partículas do

solo e volatilizam-se lentamente. O Dieldrim é armazenado no tecido adiposo

humano e sua liberação é lenta. Preocupações dos danos ao meio ambiente e dos

riscos para a saúde humana, levaram a Agência de Proteção Ambiental dos Estados

Unidos (EPA – Environmental Protection Agency) a banir todas as suas utilizações

Figura 3 - Estrutura química γ-HCH (HERNANDES, 2007).

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em 1974, com exceção para o controle de cupins, e em 1987, foram banidas todas as

formas de uso (ATSDR, 2002a).

O DDT (Diclorodifeniltricloroetano) não ocorre naturalmente no meio

ambiente. Ele é um pesticida que já foi amplamente utilizado para controle de insetos

em culturas agrícolas e insetos que transmitem doenças como a malária e tifo, mas

agora é usado apenas em alguns países para controlar a malária. O DDT de grau

técnico é uma mistura de três formas, p,p'-DDT (85%), o,p'-DDT (15%), e outros em

menores proporções (Figura 5). O grau técnico de DDT também pode conter DDE

(1,1-dicloro-2 ,2-bis (p-clorofenil) etileno) e DDD (1,1-dicloro-2 ,2-bis (p-clorofenil)

etano) como contaminantes. Ambos DDE e DDD são produtos de degradação do

DDT.

O DDT, com sua pronunciada propriedade inseticida, aliada à baixa

solubilidade em água, alta persistência e sua forma de ação, desconhecida no

momento de sua síntese, propiciou resultados verdadeiramente notáveis e seu uso

rapidamente se expandiu (HERNANDES, 2007). Após 1972, o uso do DDT já não

Figura 4 - Estrutura química aldrim (a); e dieldrim (b) (HERNANDES, 2007).

Figura 5 - Estrutura química do p,p’DDT (a) e o,p’DDE (b) (HERNANDES, 2007).

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era permitido nos Estados Unidos, exceto em casos de emergência de saúde pública

(ASTDR, 2002b).

No Brasil a comercialização, o uso e a distribuição dos produtos agrotóxicos

organoclorados, destinados à agropecuária, dentre outros como: aldrim, BHC,

canfeno clorado (toxafeno), DDT, dodecacloro, endrim, heptacloro, lindano,

endossulfam, metoxicloro, nonacloro, pentacloro-fenol, dicofol e clorobenzilato, foi

proibida pela Portaria no. 329/1985 do Ministério da Agricultura Pecuária e

Abastecimento, com algumas exceções: o uso do Aldrim em forma de iscas

formicidas e também como cupinicidas para o emprego em florestamento e

reflorestamento, o uso dos referidos produtos quando aplicados pelos órgãos públicos

competentes, em campanhas de saúde pública de combate a vetores e, uso

emergencial na agricultura, a critério da Secretaria Nacional de Defesa Agropecuária

- SNAD - do Ministério da Agricultura. Entretanto, algumas substâncias como o

endossulfam e o dicofol, foram liberadas em caráter emergencial para

comercialização, distribuição e uso em algumas culturas através da Portaria nº. 95, de

21 de novembro de 1985.

Em 1998, o Ministério da Saúde publicou a Portaria no. 11, proibindo o uso

definitivo dessas substâncias, até as que eram utilizadas em caráter emergencial no

combate de vetores em campanhas de Saúde Pública.

2.3.2 ORGANOCLORADOS: MECANISMO DE AÇÃO TÓXICA NO HOMEM

O alvo de ação dos organoclorados é o sistema nervoso motor e sensorial e o

córtex motor (GRISOLIA, 2005). Sua toxicidade compromete a transmissão do

impulso nervoso central e autônomo, provocando alterações comportamentais,

sensoriais, do equilibrio, da atividade da musculatura voluntária e de centros vitais,

particularmente da respiração (OPAS, 1996). Podem penetrar no organismo humano

por via dérmica, pulmonar, gástrica e respiratória (RODRIGUES, 2006).

Em casos de intoxicação aguda, após duas horas aparecem sintomas

neurológicos de inibição, hiperexcitabilidade, parestesia na língua, nos lábios e nos

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membros inferiores, desassossego, desorientação, fotofobia, escotomas, cefaléia

persistente, fraqueza, vertigem, alterações do equilíbrio, tremores, ataxia, convulsões

tônico-crônicas, depressão central severa, coma e morte. Já as manifestações crônicas

salientam-se neuropatias periféricas, inclusive com paralisias, discrasias sanguíneas

diversas, inclusive aplasia medular, lesões hepáticas com alterações das

transaminases e da fosfatase alcalina, lesões renais, arritmias cardíacas a dermatoses,

como cloroacne. (OPAS, 1996).

Há pouca diferença de toxicidade entre o endossulfam e seu metabólito,

sulfato de endossulfam. No entanto, o isômero α tem demonstrado ser

aproximadamente três vezes mais tóxico que o isômero β. Dados em animais indicam

que a toxicidade também pode ser influenciada por espécie e por nível de proteína na

dieta (ATSDR, 2000).

O endossulfam, seus isômeros e metabólitos apresentam sérios efeitos

negativos na saúde humana e no meio ambiente, especialmente para o sistema

neurológico, reprodutor, endócrino e imunológico em seres humanos (ANVISA,

2010b).

O endossulfam pode afetar o sistema endócrino, e o metabolismo orgânico,

através de sua atividade nas glândulas hipófise, tireóide, supra-renais, mamas,

ovários e testículos, provocando efeitos no metabolismo do organismo, alterando a

produção de hormônios (BELDOMENICO et al., 2007). Em mulheres grávidas

expostas, o endossulfam atinge o feto através do cordão umbilical e placenta e

continua afetando a criança após o nascimento através da amamentação (CERRILLO

et al., 2005).

A toxicidade do HCH varia segundo o isômero. O α-HCH parece ser o mais

importante desencadeador de nódulos hepáticos e hepatocarcinomas, mas há estudos

limitados sobre o mesmo. O ß-HCH tende a ser o isômero de maior importância

toxicológica devido à sua persistência no ambiente e efeitos estrogênicos em células

mamárias de animais, ratos e cobaias (WILLET et al., 1998).

Estudos desenvolvidos com ratos expostos oralmente, confirmaram o sistema

nervoso como alvo da toxicidade do HCH. Além de hiperexcitabilidade e

convulsões, o tratamento com HCH em animais produziu alterações neuroquímicas

no cérebro, alterações de comportamento em animais adultos, e em prole de animais

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expostos. Diminuição do número de glóbulos vermelhos, brancos e de hemoglobina

foram relatados em ratos após administração repetida de γ-HCH (Lindano) de grau

técnico (ATSDR, 2005).

Nos seres humanos os efeitos da exposição ao HCH consistem de

hiperexcitabilidade e convulsões que, eventualmente, levam à morte. Vômitos e

náuseas são manifestações habituais de ingestão de γ-HCH e também foram

relatados após exposição cutânea. Há também relatos de efeitos adversos

hematológicos em humanos expostos a γ-HCH após a inalação e/ou exposição

dérmica aos produtos domésticos que contém γ-HCH e após a exposição ocupacional

crônica. Não há evidências que o HCH altera a imunocompetência em humanos,

embora haja um relatório dos níveis de IgM sérica (Imunoglobulina M) em um

pequeno estudo com trabalhadores expostos ao HCH grau técnico. Não há estudos

conclusivos quanto a ação genotóxica do HCH, uma vez que nos estudos realizados

outras substâncias organocloradas foram detectadas. Também são inconclusivos os

estudos em relação a problemas reprodutivos e de desenvolvimento fetal,

considerando os poucos estudos realizados. Efeitos hepáticos, tais como o aumento

das enzimas hepáticas, têm sido relatados em humanos expostos ao HCH (ATSDR,

2005).

Tanto o aldrim como o seu metabólito dieldrim afetam a saúde de maneira

semelhante. O efeito mais documentado de exposição aguda ao aldrim em seres

humanos é a excitação do sistema nervoso central, culminando em convulsões. Dores

de cabeça, tontura, irritabilidade e vômitos são outros sintomas documentados. Já a

exposição crônica em seres humanos também documenta efeitos sobre o sistema

nervoso central, mas outros efeitos tóxicos em pessoas expostas rotineiramente tem

sido estabelecidos. A toxicidade renal e no fígado, anemia hemolítica, toxicidade

fetal e aumento da mortalidade pós-natal, e diminuição da função reprodutiva estão

entre os efeitos tóxicos apresentados por pessoas que ingeriram aldrim (ATSDR,

2002a).

Não há estudos conclusivos quanto à carcinogenicidade do aldrim em

humanos. A EPA dos Estados Unidos determinou que o aldrim fosse classificado

como um provável carcinógeno humano. Já a Agência Internacional de Pesquisa

sobre o Câncer (IARC) não o classifica como carcinógeno humano. Mas, para

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ATSDR (2002a), tanto o aldrim como o seu metabólito dieldrim demonstraram-se

capazes em provocar câncer de fígado em camundongos.

Os efeitos do DDT no organismo ocorrem após a atuação sobre o equilíbrio

de sódio/potássio nas membranas dos axônios, provocando impulsos nervosos

constantes, que levam à contração muscular, convulsões, paralisia e morte

(D’AMATO et al., 2002). O DDT, após a absorção, é biotransformado em DDE,

ambos os compostos se armazenam preferencialmente do tecido adiposo. O seu

armazenamento em orgãos e tecidos apos a ingestão repetida é proporcional ao teor

de gordura neutra. A maior parte do DDT e DDE ingerido numa única dose é

distribuido para outros tecidos, sofrendo uma absorção lenta pela gordura. Quando a

dose é menor, mas numa sequência maior de ingestão, a absorção é realizada pelo

tecido adiposo de forma acelerada no início e mais gradual no final, até o alcance de

um estado estacionário. Esse equilibrio no homem pode ser alcançado em um ano

(MARONI et al., 2000).

Além de sua ação neurotóxica , o DDT é capaz de induzir alterações

acentuadas na reprodução e no desenvolvimento de animais. Isto é atribuído aos

hormônios que alteram as ações de isómeros de DDT e/ou seus metabólitos. Níveis

elevados de DDE durante a gestação têm sido associado a uma maior probabilidade

de gerar recém-nascidos pré-termo e com alguma anomalia. Estudos realizados com

animais mostraram que o DDT e seus metabolitos DDE e DDD podem causar

câncer, principalmente hepático. A associação entre a exposição ao DDT e vários

tipos de cânceres humanos, principalmente o câncer de mama, tem sido

extensivamente estudada. Possíveis efeitos genotóxicos em seres humanos têm sido

relatados, mas a exposição simultânea a outras substâncias químicas e a falta de

controle das variáveis de confundimento impedem que os resultados sejam

coclusivos (ATSDR, 2002b).

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2.3.3 PIRETRÓIDES: ORIGEM, PROPRIEDADES E ESTRUTURA QUÍMICA

As piretrinas são inseticidas de origem botânica e tiveram suas propriedades

reconhecidas em torno de 1800 na Ásia (ATSDR, 2003). Todavia sua utilização mais

intensa tem acontecido na atualidade, principalmente após modificações estruturais

originando a classe de inseticidas piretróides (HERNANDES, 2007).

Os piretróides são substâncias sintéticas análogas às piretrinas, inseticida

natural extraídos do pyrethrum, o óleo-resina do Chrysanthemum cinerariaefolium

(Figura 6a) e do Chrysanthemum coccineum (Figura 6b). Suas flores são bastante

atraentes e muitas de suas variedades são utilizadas como decoração.

O extrato do pyrethrum é composto por seis substâncias com atividade

inseticida: os ésteres do ácido crisantêmico - piretrina I, cinerina I e jasmolina I, e os

ésteres do ácido pirétrico - piretrina II, cinerina II e jasmolina II (ATSDR, 2003;

HERNANDES, 2007).

Os piretróides são produtos químicos sintéticos muito semelhantes em

estrutura química as piretrinas, mas são muitas vezes mais tóxicos para os insetos,

bem como aos mamíferos e persiste mais tempo no ambiente do que as piretrinas.

Figura 6 - Chrysanthemum cinerariaefolium (direita); Chrysanthemum coccineum (esquerda).

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Embora sejam eficientes inseticidas, há um uso restrito das piretrinas devido à sua

baixa persistência no ambiente ocasionada pela fotosensibilidade. O grupamento

químico éster é o responsável pela atividade inseticida tanto das piretrinas quanto dos

piretróides. Embora tenham sido desenvolvidas muitas substâncias, apenas algumas

são largamente empregadas em todo o mundo para controle de insetos (ATSDR,

2003), como a cipermetrina e a deltametrina, substâncias de interesse para este

estudo.

A cipermetrina (Figura 7) é um piretróide sintético conhecido quimicamente

como (RS)-α-cyano-3-phenoxybenzyl (1RS,3RS; 1RS,3SR)-3-(2,2-dichlorovinyl)-

2,2-dimethylcyclopropane carboxylate (ANVISA, 2010c). Foi sintetizada em 1974, é

utilizada como inseticida em grande escala comercial em aplicações agrícolas, bem

como em produtos de consumo para fins domésticos. Ela se comporta como uma

neurotoxina de ação rápida em insetos. É facilmente degradada no solo e plantas,

mas pode continuar com eficácia tóxica durante semanas, quando aplicada em

superfícies inertes interior. A exposição à luz solar, água e oxigênio aceleram a sua

decomposição (NPTN, 1998).

A deltametrina (Figura 8) também é um inseticida sintético baseado

estruturalmente nas piretrinas naturais. É conhecida quimicammente como (RS)-α-

cyano-3-phenoxybenzyl (1RS,3RS; 1RS,3SR)-3-(2,2-dichlorovinyl)-2,2-

dimethylcyclopropane carboxylate (ANVISA, 2010d), age principalmente sobre as

ações centrais, ou pelo menos, ações originárias dos mais elevados centros nervosos

do cérebro, paralisando rapidamente o sistema nervoso dos insetos. A morte dos

Figura 7 – Estrutura química da cipermetrina (ANVISA, 2010c).

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insetos parece ser devido a danos irreversíveis ao sistema nervoso que ocorrem

quando a exposição dura mais do que algumas horas. O envenenamento por

deltametrina ocorre através de penetração cuticular ou ingestão oral. A

susceptibilidade dos insetos é dependente de uma variedade de fatores e pode variar

como acontece com muitos inseticidas, de acordo com as condições ambientais

(EXTOXNET, 2010a).

2.3.4. PIRETRÓIDES: MECANISMO DE AÇÃO TÓXICA NO HOMEM

As piretrinas e piretróides são amplamente utilizadas como inseticidas

eficazes para vários insetos, tóxicas para o homen e animais e são classificadas como

medianamente toxico (classe III) e altamente toxico (classe II) para os humanos, e

altamente perigosas (classe II) para os outros animais. As vias de exposição podem

ser: alimentar e água e, através de outros componentes ambientais (ar, chuva, solo,

etc) ou direta como na pulverização nas “pragas da lavoura” (ANVISA,2011).

Sinais e sintomas de toxicidade aguda variam de acordo com o tipo de

piretróide para o qual a pessoa pode ser exposta (ATSDR, 2003). A produção de

piretróides com diferentes proporções de isômeros é uma das razões para as

variações reportadas da toxidade dos produtos a base de piretróides. Por exemplo, a

cipermetrina pode ser formulada com quatro diferentes substâncias (alfa, beta, teta e

zeta-cipermetrina) e dependendo da proporção entre os isômeros, o produto

resultante terá diferente toxicidade (HERNANDES, 2007).

Figura 8 – Estrutura química da deltametrina (ANVISA, 2010d).

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Os efeitos sistêmicos causados pelos piretróides também são variados,

contudo estão presentes em muitos sistemas como hepático, neurológico e

reprodutivo (ABDOLLAHI et al., 2004). No entanto, quase todos os efeitos estão

relacionados à ação de piretrinas e piretróides sobre o sistema nervoso. O primeiro

sítio de ação das piretrinas e piretróides é o canal de sódio nas membranas de células

de tecido nervoso, causando repetitiva descarga neural e uma prolongada excitação

(ATSDR, 2003).

O contato direto dessas substâncias com a pele pode causar parestesia

temporária, ou seja, sensações anormais da pele, como formigamento, queimação,

ardência, dormência e comichão. Essas sensações se limitam à área de contato.

Alguns estudos com animais sugerem que os efeitos de neurodesenvolvimento,

reprodutivos, imunológicos e bioquímicos podem resultar da exposição em níveis de

piretróide abaixo daqueles que induzem a sintomas de neurotoxicidade. Estudos

quanto à carcinogenicidade dos piretróides para humanos, ainda não são conclusivos,

da mesma forma que para o potencial dos piretróides em atravessar a barreira

placentária e interferir no desenvolvimento fetal (ATSDR, 2003).

As piretrinas e piretróides que entram no organismo são eliminadas

rapidamente pela urina. Esses compostos sofrem uma quebra pelo organismo

transformando-se em moléculas mais simples. A concentração dessas substâncias

aumenta na urina conforme aumenta a exposição. Ocorrendo uma exposição

prolongada a essas substâncias, elas podem acumular no tecido adiposo

permanecendo no organismo por um período maior. Alguns piretróides podem

permanecer por longos períodos no cabelo e também na pele (ATSDR, 2003).

2.3.5 DINITROANILINA: ORIGEM, PROPRIEDADES E

ESTRUTURA QUÍMICA

Os primeiros herbicidas foram descobertos em 1945, eles pertenciam ao

grupo químico fenociacéticos. As dinitroanilinas, grupo químico da trifluralina,

foram descobertas em 1965 (VICTORIA FILHO, 2010).

A atividade biológica de um herbicida na planta ocorre de acordo com a

absorção, a translocação, o metabolismo e a sensibilidade da planta a este herbicida

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e/ ou, a seus metabólitos. Por isso, o simples fato de um herbicida atingir as folhas ou

ser aplicado no solo não é suficiente para que ele exerça a sua ação. Há necessidade

de que ele penetre na planta, transloque e atinja a organela onde irá atuar. Um mesmo

herbicida pode influenciar vários processos metabólicos na planta, entretanto a

primeira lesão biofísica ou bioquímica que ele causa na planta é caracterizada como

o seu mecanismo de ação (FERREITA et al., 2010).

Os principais mecanismos de ação dos herbicidas são: inibidores da divisão

celular, do crescimento inicial, da fotossíntese, e da síntese de pigmentos,

mimetizadores de auxina e destruidores de membrana (VICTORIA FILHO, 2010).

A trifluralina é um herbicida do grupo químico das dinitroanilinas (Figura 9)

e sua nomenclatura é α,α,α-trifluoro-2,6-dinitro-N,N-dipropyl-p-toluidine (ANVISA,

2010e).

A trifluralina pertence ao grupo dos herbicidas inibidores do arranjo dos

microtúbulos (FERREIRA et al., 2010). O mecanismo de ação da trifluralina nas

plantas é a inibição da divisão celular nos tecidos meristemáticos, inibindo a

germinação das sementes e a formação de novas células na radícula e caulículo,

sendo eficientes apenas quando usados em pré-emergência, porque a sua ação

principal se manifesta pelo impedimento da formação do sistema radicular das

gramíneas (DALRI et al., 2010; FERREIRA et al., 2010).

Figura 9 – Estrutura química da trifluralina (ANVISA, 2010e).

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2.3.6 DINITROANILINAS: MECANISMO DE AÇÃO TÓXICA

NO HOMEM

A trifluralina grau técnico geralmente apresenta baixa toxicidade aguda. Esse

princípio ativo é classificado como um sensibilizador cutâneo. O CPRC

(Carcinogenicity Peer Review Committee) classificou a trifluralina como um

possível carcinógeno humano (EPA, 1996).

Sintomas como náuseas e desconforto gastrointestinal podem ocorrer após a

ingestão de trifluralina. A exposição prolongada ou repetida com a pele pode causar

dermatite alérgica. Estudos em animais têm demonstrado danos aos rins, fígado e

tireóide após exposição oral crônica. De acordo com os estudos é pouco provável que

a trifluralina cause algum dano reprodutivo, teratogênico ou mutagênico em humanos

(EXTOXNET, 2010b).

2.4. CONTAMINAÇÃO POR AGROTÓXICOS EM LEITE HUMANO

Observando a realidade não apenas no Estado de Mato Grosso, mas de todas

as áreas que fazem uso intensivo de agrotóxicos, surge outro questionamento: A

exposição da população a esses agrotóxicos pode levar a contaminação do leite

humano?

Sim, a contaminação do leite humano é ampla e é consequência de décadas de

poluição descontrolada do ambiente por produtos tóxicos (LANDRIGAN et al.,

2002). Desde o século XVIII quando a Revolução Industrial trouxe para a sociedade

um avanço das ciências e da produção tecnológica, trouxe também como

consequência profundas mudanças na relação do homem com a natureza.

Estudos realizados em várias partes do mundo indicam contaminação do leite

humano por organoclorados. O uso indiscriminado dessa classe de substâncias ao

longo do tempo fez com que houvesse bioacumulação ao longo da cadeia alimentar e

inclusive em humanos.

Estudos realizados no Brasil evidenciam a contaminação de leite humano em

diferentes regiões do país. MATUO et al. (1992), realizou estudo na região de

Ribeirão Preto e, foram analisadas 37 amostras de leite humano (colostro) para

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determinar os níveis de resíduos de agrotóxicos organoclorados. As doadoras foram

classificadas como ocupacionalmente expostas e não expostas a agrotóxicos. O

lindano foi encontrado em 32% das amostras em quantidades inferiores a 0,001

mg/kg; o heptacloro foi encontrado em 65% das amostras, também com teores

médios de 0,001 mg/kg; dieldrim foi detectado em apenas uma amostra a um nível de

0,038 mg/kg; o DDT e o DDE foram relatados como DDT, e pelo menos um desses

compostos esteve presente em cada amostra. Os níveis encontrados foram maiores

nas doadoras ocupacionalmente expostas, com uma média de 0,149 mg/Kg.

O um estudo realizado por OLIVEIRA (1997), em Cuiabá, com 32 mulheres,

observou-se que 100% das amostras encontravam-se contaminadas com algum tipo

de substância organoclorada. Os maiores níveis foram detectados em mulheres que

residiam em zona rural ou que referiram já ter residido e/ou trabalhado em zona

rural.

MELLO (1999) analisou os níveis de organoclorados em 14 amostras

provenientes da Cidade dos Meninos, Rio de Janeiro. Das amostras analisadas do

grupo exposto 100% apresentaram resultado positivo para β-HCH, p,p’ DDE e p,p’

DDT; 71,4% para γ-HCH e α-HCH e 42,8% para p,p’ DDD. Das amostras analisadas

do grupo não exposto 100% apresentaram resultados positivos para α-HCH, γ-HCH e

p,p’DDE; 85,7% para β-HCH; e apenas uma amostra apresentou resultado positivo

para p,p’DDT.

PAUMGARTTEN et al. (2000), analisaram 40 amostras de leite materno na

cidade do Rio de Janeiro para a determinação de dibenzodioxinas policloradas

(PCDDs), dibenzofuranos policlorados (PCDFs), bifenilas policloradas (PCBs) e

outros compostos organoclorados. Os níveis encontrados foram α-HCH 0,0001; β-

HCH 0,27; γ-HCH 0,005; HCB 0,012; DDT total 1,7; dieldrim 0,023 e cis-

hepepóxido tachlor 0,008; todos em microgramas por grama de gordura do leite.

No Rio de Janeiro, em estudo realizado por MESQUITA (2001), foi realizada

a análise de leite de 50 mulheres não expostas ocupacionalmente. Destas, todas as

amostras evidenciaram contaminação multiresidual por agrotóxicos organoclorados

com uma frequencia de 100% para o p,p’DDE, 90% para o p,p’DDT, 84% para o β-

HCH, 82% para o p,p’DDD, 78% para o α-endossulfam, 74% para o γ-clordano,

56% para o α-HCH, 32% para o lindano, 54% para o aldrim e 52% para o dieldrim.

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Embora com uma frequência baixa foram ainda encontrados entre as amostras

analisadas: HCB (12%), transnonacloro (6%), endrim (20%), β-endossulfam (14%),

metoxicloro (20%) e mirex (38%).

Nas cidades de São Paulo e Belo Horizonte KRAUSS et al. (2004)

demonstraram contaminação multiresidual por agrotóxicos organoclorados em

ambas as cidades. No estudo foram analisadas duas amostras compostas, uma de

cada cidade. As amostras faziam parte de um pool de 10 amostras coletadas em

ambas as cidades. Em ambas as amostras os níveis mais elevados foram encontrados

para p,p’DDE, 0,596 mg/g de gordura em São Paulo e 0,155 mg/g de gordura em

Belo Horizonte, seguido do β-HCH, 0,027 mg/g de gordura e 0,022 mg/g de gordura

respectivamente. As concentrações dos outros compostos analisados foram similares,

ou na maioria dos casos, abaixo do limite de detecção do método utilizado (0,001

mg/g de gordura).

AZEREDO et al. (2008) verificaram níveis de DDT total em amostras de

doadoras ao longo do Rio Madeira, Amazônia, uma região conhecida por seu grande

número de casos de malária. Foram analisadas 69 amostras e todas apresentaram

contaminação por DDT e seus metabólitos, variando entre 25,4 a 9361 ng de DDT

total/g de lipídeos.

Não apenas no Brasil há estudos relatando a contaminação do leite materno.

Na Bielorússia BARKATINA et al. (1998) estudaram 246 amostras de leite materno

provenientes de seis regiões da Bielorrússia. As amostras foram obtidas de locais

diferentes, sendo que: 32 amostras eram de áreas ecologicamente limpas; 116 de

regiões industriais e 98 amostras de regiões contaminadas por indústrias e

radionuclideos. Em todas as amostras foram encontrados resíduos de DDE. Resíduos

de β-HCH, γ-HCH e DDT foram detectados em algumas amostras. Não houve

diferença significativa entre as diferentes áreas estudadas.

Amostras de leite de 197 mulheres de duas cidades da Ucrânia foram

analisadas por GLADEN et al. (1999) para determinação de p,p’DDT, p,p’DDE,

dieldrim, endrin, epóxido-heptacloro, trans-nonaclor, HCB, oxiclordano, HCH e

mais dezoito congêneres dos PCBs. Todas as substâncias foram encontradas em pelo

menos uma das amostras. O p,p’DDE foi encontrado em maiores concentrações,

seguido do β-HCH. As mulheres mais velhas apresentaram maiores níveis do que as

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mulheres mais jovens. As diferenças se apresentaram maiores quando incluídas

somente mulheres primíparas. Os níveis encontrados nesse estudo estão acima dos

encontrados em outros trabalhos realizados na Europa.

BURKE et al. (2003) analisarem 10 amostras de leite de mulheres residentes

na área urbana (n=5) e na área rural (n=5) da Indonesia. Em todas as amostras foram

detectados resíduos de p,p’DDT e p,p’DDE. Resíduos de HCB, β-HCH, α-

endossulfam e dieldrim também foram detectados em algumas amostras. Não houve

diferença estatisticamente significativa (NC = 95%) nos níveis de agrotóxicos entre

área urbana e rural.

KUMAR et al. (2006), analisaram 50 amostras de leite de mulheres residentes

em Anupgarh, Índia. Elas foram agrupadas em quatro categorias: área de residência,

quanto ao hábito de fumar, ocupação e dieta alimentar. Em todas as amostras foram

encontrados resíduos de HCH e seus isômeros, DDT e seus metabólitos, heptacloro e

endossulfam. As maiores concentrações foram encontradas em mulheres que

residiam em área rural (5,0625 mg/L), que tinham o hábito de fumar (4,185 mg/L),

trabalhavam no campo (4,333 mg/L) e tinham uma dieta não vegetariana (4,037

mg/L). Já nas amostras de mulheres residentes da área urbana (3,243 mg/L), que não

fumavam (3,748 mg/L), não trabalhavam no campo (3,209 mg/L) e apresentavam

uma dieta vegetariana (3,048 mg/L) as concentrações foram menores quando

comparadas as mulheres presentes nas categorias anteriores.

O metabólito p,p’-DDE e o HCB foram encontrados em todas as amostras de

leite materno coletadas (n=87) na Tunísia (ENNACEUR et al., 2007). A média para

esses compostos foram 2,421 e 0,260 mg/Kg de gordura, respectivamente. Outros

organoclorados detectados foram dieldrim (38%), β-HCH (22,9%) e γ-HCH (6,8%).

WANG et al. (2008) analisaram 36 amostras de leite (colostro) de mulheres que

tiveram parto prematuro em Harbin, China. Das amostras analisadas, 27,8%

apresentaram resíduos de DDT e 5,56% apresentaram resíduos de dieldrim.

BOUWMAN et al. (2006), determinaram as concentrações de DDT e

piretroídes em 152 amostras de leite materno de mulheres residentes em três cidades

da província de Kwazulu-Natal, África do Sul. Todos os compostos (DDT,

permetrina, ciflutrina, cipermetrina e deltametrina) foram encontrados nas amostras.

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Concentrações médias de HCH e seus isômeros, DDT, PCB e HCB em

amostras de leite humano (n=53) coletadas em 2 cidades na Costa Sul do Mar

Cáspio, Iran, foram 3780, 2554, 1560 e 930 ng/g de lipídeo, respectivamente

(BEHROOZ et al., 2009). Não houve diferença significativa entre as duas cidades.

Houve uma diferença significativa nos níveis de DDT entre as mães que consumiam

peixe apenas uma vez por semana e as que faziam consumo de peixe mais vezes

semanalmente (p>0,05). Outros resultados podem ser observados na Tabela 5 que

elenca vários estudos realizados em diversos países, analisando organoclorados em

leite humano.

Tabela 5 – Resultados de pesquisas sobre contaminação em leite humano por organoclorado.

Níveis encontrados País Referência Heptacloro Heptacloro epóx Oxiclordane p,p’-DDE Dieldrin

0,053 µg L-1 0,259 µg L-1 0,277 µg L-1 0,214 µg L-1

1,70 µg L-1

Brasil CALEFFI, 2005

DDE DDD α-HCH β-HCH γ-HCH HCB

104 ng g-1 13 ng g-1

2 ng g-1 12 ng g-1 14 ng g-1

5 ng g-1

Croácia KRAUTHACKER et al.,2009

β-HCH p,p’- DDE p,p’- DDT

0,066 mg kg-1 1.423 mg kg-1 0,405 mg kg-1

México WALISZEWSKI et al., 2009

DDTs HCHs HCBs CHLs

370 - 960 ng g-1 180 - 350 ng g-1 2.0 - 3.7 ng g-1 3.8 - 7.6 ng g-1

Índia SOMEYA et al., 2010

Σ DDT dicofol

5.4 µg kg-1 0.36 µg kg-1 0.32 µg kg-1

0.039 µg kg-1 0.005 µg kg-1 0.001 µg kg-1

China Korea Japão

FUJII et al., 2011

α-HCH γ-HCH p,p’- DDE p,p’- DDT

2.8 – 3.1 ng g-1 3.6 – 4.4 ng g-1

537.7 ng g-1 32.5 – 32.8 ng g-

1

China ZHOU et al., 2011

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56

Os níveis e o tipo de contaminantes encontrados variam entre países e regiões

conforme as normas e intensidade de utilização (PRONCZUK et al., 2002). Níveis

mais elevados de contaminantes são observados em mulheres residentes em áreas

agrícolas de países em desenvolvimento com intenso uso de agrotóxicos

(LANDRIGAN et al., 2002). Em países onde o uso de poluentes orgânicos

persistentes foi proibido, está havendo uma significativa diminuição desses

compostos no leite humano no decorrer dos anos. Entretanto, outros compostos

químicos que ainda são pouco estudados no leite humano e que têm seu uso

permitido, tende a manter ou até mesmo elevar seus níveis de contaminação nesta

matriz (SOLOMON e WEISS, 2002).

Alguns fatores podem alterar significativamente a concentração dos

agrotóxicos no leite, uma vez que são múltiplas as alterações fisiológicas que

ocorrem durante a gravidez e o período de gestação. Entre esses fatores estão a

quantidade lipídica, o peso materno, o número de gestações e o tempo entre uma

gestação e outra (SIM e MC’NEIL, 1992; MESQUITA, 2001).

A não padronização de protocolo da metodologia analítica e de coleta

dificulta a comparação entre estudos. Entretanto, independentemente dos métodos

analíticos utilizados, os resultados são preocupantes, pois todos os estudos

demonstram contaminação das amostras por pelo menos uma substância

organoclorada.

Embora as vantagens do aleitamento materno superem os riscos da presença

de contaminantes no leite humano, é de extrema importância a contínua identificação

desses compostos no leite, para que medidas de saúde pública possam ser tomadas

para a diminuição dessa contaminação (SOLOMON e WEISS, 2002).

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3. OBJETIVOS

3.1. OBJETIVO GERAL

Avaliar o nível de contaminação por agrotóxico no leite de mães residentes

em Lucas do Rio Verde – Mato Grosso.

3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Caracterizar a amostra de nutrizes estudada utilizando variáveis sócio-

demográficas, de saúde, sanitária e ambiental.

Validar método analítico multirresíduo para a determinação dos agrotóxicos

α-endossulfam, β-endossulfam, lindano, α-HCH, aldrim, p,p’-DDT, cipermetrina,

deltametrina, trifluralina e do metabólito p,p’-DDE em leite humano.

Analisar leite humano de nutrizes residentes em Lucas do Rio Verde-MT para

determinação dos agrotóxicos estudados.

Fazer uma análise descritiva das variáveis reprodutiva, ocupacional e

ambiental como possíveis determinantes dos níveis de resíduos de agrotóxicos no

leite humano.

Analisar a associação dos teores de resíduos de agrotóxicos encontrados nas

amostras de leite humano com variáveis reprodutiva, ocupacional e ambiental.

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4. MATERIAL E MÉTODO

4.1. LOCAL DE ESTUDO

O município de Lucas do Rio Verde está localizado a 350 km da capital do

Estado de Mato Grosso, Cuiabá, e possui uma área de 3.645,23 Km2 (PMLRV,

2010), representado na Figura 10 abaixo.

O desenvolvimento de Lucas do Rio Verde se deu de forma dinâmica, o

aumento do contingente populacional e o constante crescimento econômico fizeram

com que, em 1985, o pequeno vilarejo se tornasse distrito de Diamantino, sendo que

em apenas três anos se tornou município.

Os indicadores econômicos e sociais apontam o município de Lucas do Rio

Verde como um dos três melhores índices de desenvolvimento social do Estado de

Mato Grosso. Contudo, o processo de ocupação do seu cerrado é bastante impactado

pelas agressões do desenvolvimento local e regional. Segundo FRANÇA et al.

(2003), para implantação da agropecuária foram consumidos 86% de seu cerrado

FIGURA 10 - Mapa de localização do município de Lucas do Rio Verde -MT.

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nativo. Sua cobertura vegetal natural, praticamente já foi totalmente substituída pela

agricultura moderna de grãos. Com a profunda modificação dos ecossistemas, houve

perda dos principais potenciais bióticos, alterações da qualidade da água, erosão

laminar dos solos, agregado ao uso intensivo de produtos químicos (PMLRV, 2007).

A produção agrícola é a principal mantenedora do sistema econômico

regional e também uma das alavancas que impulsionam o crescimento econômico do

Estado de Mato Grosso. A soja é o principal produto agrícola cultivado no

município, que se destaca como o 5º maior produtor do estado. O município é um

dos grandes produtores nacionais de milho safrinha, sendo essa cultura uma das

mantenedoras do PIB municipal. O plantio de algodão ainda possui poucas áreas de

produção, não estando o município entre os grandes produtores do estado (PMLRV,

2010).

Durante o ano de 2009, esse município cultivou e/ou produziu: soja (em

grão): 237.500 hectares, com produção de 704.025 toneladas; milho (em grão):

138.000 hectares, com produção de 809.370 toneladas; algodão (em caroço): 4.980

hectares, com produção de 18.378 toneladas; feijão (em grão): 9.910 hectares, com

produção de 13.971 toneladas; sorgo (em grão): 2.000 hectares, com produção de

4.200 toneladas; arroz (em casca): 130 hectares, com produção de 507 toneladas;

tomate: 24 hectares, com produção de 1.440 toneladas; mandioca: 20 hectares, com

produção de 400 toneladas (IBGE, 2010).

Nesse mesmo ano, o município utilizou 5.162.029 litros de agrotóxicos em

produtos formulados, distribuídos nas seguintes classes: herbicida: 3.112.344 litros;

inseticida: 681.845 litros; fungicida: 475.967 litros; acaricida: 639.158 litros;

adjuvantes, espalhantes, adesivos: 232.413 litros; reguladores do crescimento: 16.141

litros; outros agrotóxicos: 4.161 litros.

4.2. SELEÇÃO DAS SUBSTÂNCIAS ANALISADAS.

A escolha das substâncias analisadas neste projeto, α-endossulfam, β-

endossulfam, lindano, α-HCH, aldrim, p,p’- DDT, p,p’- DDE, cipermetrina,

deltametrina e trifluralina, se deu por algumas razões específicas:

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- A utilização de um único método analítico capaz de identificar e quantificar

simultaneamente todas as substâncias de interesse.

- A intensidade de uso, tanto no passado, daquelas que hoje possuem seu uso

proibido, como no presente, das que ainda são utilizadas na área de estudo.

- Segundo a classificação The Extension Toxicology Network, essas

substâncias apresentam potencial de acumulação lipídica ou degradação lenta e ainda

um possível potencial cancerígeno, teratogênico e mutagênico (EXTOXNET,

2010c).

4.3. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO

Como critérios de inclusão das nutrizes foram estabelecidos:

- encontrar-se com idades entre 18 e 49 anos;

- assinar o Termo de Consentimento Livre Esclarecido;

- encontrar-se entre a terceira e a oitava semana após o parto (OMS, 2007);

- estar em boa condição de saúde.

Como critérios de exclusão foram considerados:

- nutrizes sem possibilidade de ordenha manual;

- não atender aos critérios de inclusão estabelecidos.

4.4. POPULAÇÃO DO ESTUDO

Durante o período de coleta, foram realizados 418 partos em Lucas do Rio

Verde. Excluindo as mães que não atendia aos critérios de inclusão, como a idade

estabelecida e o período após o parto na data das coletas, restaram 310 mães. Destas

62 aceitaram participar do projeto, o que correspondeu a 20% da população apta a

participar do projeto.

As nutrizes foram convidadas a participarem do projeto pelas agentes

comunitárias de saúde de cada PSF (Programa de Saúde da Família). As que

aceitaram e atendiam aos critérios de inclusão, compareceram na data marcada ao

PSF ao qual pertenciam para a realização da coleta. Para aquelas que aceitaram

participar e estavam aptas a fazer a doação de leite, mas que por algum motivo não

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puderam comparecer ao PSF no dia e hora marcada, a coleta foi realizada em suas

residências.

4.5. TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO

A cada uma das nutrizes foi esclarecido o objetivo do estudo bem como os

benefícios que iriam incidir da pesquisa. Àquelas que concordaram em participar do

estudo, foi requerida a assinatura de um termo de consentimento (Anexo A) no qual

constava que a pessoa era entendedora dos objetivos do estudo e estava participando

voluntariamente do mesmo.

O presente trabalho foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do

Hospital Universitário Julio Muller sob parecer No. 511/CEP-HUJM/08, conforme

Resolução 196/96 CNS/MS.

4.6. ELABORAÇÃO E APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO

Durante a elaboração deste instrumento, o mesmo foi aplicado a nutrizes

internadas no Hospital Universitário Julio Muller como pré-teste para assim,

possibilitar os ajustes necessários à aplicação na área de estudo.

O questionário foi aplicado no momento da coleta das amostras de leite, pela

própria pesquisadora. Além de informações demográficas, informações sobre o

período de gestação e o recém-nascido, o marido/companheiro, o ambiente de

residência e trabalho da mãe e, quanto ao uso de agrotóxico domissanitário também

foram abordadas (Anexo B).

As questões foram elaboradas com o objetivo de caracterizar as mães

participantes, conhecer seu hábito de vida e tentar associar essas informações com a

presença de resíduos de agrotóxicos no leite.

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4.7. COLETA E ARMAZENAMENTO DAS AMOSTRAS DE LEITE

HUMANO

As coletas das amostras de leite humano foram realizadas entre a 3ª e a 8ª

semana após o parto (OMS, 2007), no período de fevereiro a junho de 2010. Para

auxiliar a descida do leite e minimizar algum desconforto que pudesse vir a ser

causado pela dor na nutriz, foi realizada massagem manual nas mamas.

A coleta procedeu por compressão manual das mamas e um volume

aproximado de 15 mL de leite foi coletado diretamente no frasco coletor de vidro,

previamente limpo conforme os cuidados necessários para a análise de resíduos de

agrotóxicos.

Durante o período de coleta, as amostras foram armazenadas em caixa de

isopor com gelo, sendo imediatamente congeladas após o término da coleta e assim

mantidas durante o transporte até o Laboratório de Análise de Resíduos de Biocidas -

UFMT em Cuiabá.

Quando no laboratório, as amostras foram mantidas sob refrigeração (-4 ºC) e

as determinações de resíduos de agrotóxicos e teor de gordura foram realizadas o

mais rapidamente possível, não ultrapassando 72 horas (OMS, 2007).

4.8. DETERMINAÇÃO DO TEOR DE GORDURA

A determinação do teor de gordura das amostras de leite foi realizada

utilizando o crematócrito, que consiste na determinação do teor de creme e permite o

cálculo do teor de gordura e do conteúdo energético do leite. A técnica analítica foi

realizada conforme descrito no BLH-IFF/NT- 30.05 (ALMEIDA et al., 2005).

4.9. VALIDAÇÃO DE MÉTODO ANALÍTICO PARA

DETERMINAÇÃO DE AGROTÓXICOS EM LEITE HUMANO

O procedimento de extração foi validado a partir de uma metodologia

desenvolvida no Laboratório de Análise de Resíduos de Biocidas (LARB). O método

inicialmente era utilizado apenas para extração de piretróides em leite de vaca. Para

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se chegar ao método utilizado, algumas alterações foram realizadas e várias soluções

extratoras foram testadas para garantir a extração de todas as substâncias de interesse

dentro dos padrões analíticos estabelecidos.

O procedimento de extração multirresíduos de agrotóxicos da matriz consistiu

de dispersão em fase sólida com Celite®, previamente ativada em mufla a 600 ºC por

12 horas, e sonicação. Duas misturas de solventes extratores foram utilizadas

considerando as diferentes propriedades dos agrotóxicos estudados. As amostras

foram analisadas em duplicata.

Este procedimento analítico utilizou estudo de recuperação com amostras de

leite humano controle fortificadas com solução mista dos agrotóxicos de interesse em

dois níveis de fortificação. As amostras controle foram constituídas de um pool de

amostras pasteurizadas de leite materno, proveniente do Banco de Leite do Hospital

Júlio Muller, Cuiabá-MT, ordenhadas de mulheres residentes na zona urbana e não

expostas diretamente aos agrotóxicos estudados.

O cálculo da concentração dos analitos nas amostras foi feito a partir da

comparação da relação de áreas (resposta cromatográfica) dos analitos e do padrão

interno (heptacloro) com a relação de áreas dos padrões dos agrotóxicos e do padrão

interno adicionados nas amostras controle (n = 2), sendo o menor nível de

fortificação correspondendo ao limite de quantificação do método.

Para cada dois dias seguidos de análise, duas amostras controles foram

analisadas para avaliar a presença de possíveis interferentes para as análises

cromatográficas, duas amostras controle foram extraídas e fortificadas antes da

concentração do extrato e cerca de 12 amostras foram analisadas.

Esse método de quantificação foi escolhido para evitar possíveis

interferências matriciais nos resultados.

A identificação e quantificação dos analitos estudados foram feitas utilizando

cromatógrafo a gás (HP 6890 series CG System), equipado com detector de captura

de elétrons (DCE) e coluna cromatográfica HP-5 com 30 m de comprimento, 0,25

µm de espessura de filme (5% fenilmetilsiloxano) e 250 µm de diâmetro. Nitrogênio

foi utilizado como gás de arraste com fluxo constante de 20 mL/min. As

temperaturas do injetor e de detector foram 175 ºC e 280 ºC, respectivamente e o

volume de injeção (modo splitless) foi de 1 µL. A temperatura inicial da coluna foi

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de 92 ºC, seguida por aquecimento de 15 ºC min-1 até 175 ºC, sendo essa temperatura

mantida por 13 min, e aquecimento de 10 ºC min-1 até 280 ºC, sendo a mesma

mantida por 8,47 min. O tempo da corrida cromatográfica foi de 40 min. O

procedimento de extração pode ser observado conforme Figura 11 abaixo.

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Fase sólida Sobrenadante 1 + 2

5 gotas de Tolueno Concentração (rotaevaporador) Adição de 50 uL de Heptacloro (PI) (≈ 10 μg mL

Sobrenadante 2

Vf ≈ 2 mL

CG/DCE

Fase sólida

10 mL de solução extratora hexano-diclorometano (4:1) Ultrassom (20 minutos)

2 x

2 g de Celite

10 mL de solução extratora hexano-acetona (1:1) Ultrassom (20 minutos)

2 x

Sobrenadante 1

Amostra + Acetona

5 mL de acetona Ultrassom (5 minutos)

Amostra (5 mL de de leite materno)

Figura 11 – Fluxograma do processo de análise multirresíduo de agrotóxicos em leite humano.

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4.10. ANÁLISE DOS DADOS

Os questionários foram revisados e digitados no programa Epi-Info 3.5.1 e as

análises foram conduzidas utilizando-se o programa Stata 8.0.

Na análise descritiva foram feitas tabelas de contingências e gráficos de barra

para as variáveis categóricas. Para as análises numéricas os resultados foram

expressos em média, valor máximo e valor mínimo.

Para a associação entre as variáveis de exposição e prevalências de resíduo de

agrotóxico em leite materno foi utilizado o teste do qui-quadrado Mantel-Haenszel.

Foram realizadas uma regressão múltipla para cada “agrotóxico” estudado. O método

utilizado para as análises múltiplas foi o da regressão de Poisson, com ajuste robusto

para a variância. O critério utilizado para a seleção das variáveis para os modelos

múltiplos foi aquelas que apresentaram o valor de p < 0,20 (KLEIBAUM et al.,

1982), quando das análises brutas.

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. ANÁLISE DESCRITIVA DOS DADOS DO QUESTIONÁRIO

Este estudo reuniu 62 nutrizes residentes em Lucas do Rio Verde-MT, que

participaram do inquérito realizado no período de fevereiro a junho de 2010, onde

responderam a um questionário e forneceram amostras de leite destinadas à dosagem

de resíduos de agrotóxicos. Os resultados apresentados a seguir são uma descrição

dos dados obtidos durante o estudo.

A Tabela 6 mostra variáveis de identificação materna como idade, raça, estado civil e escolaridade.

TABELA 6 - Caracterização da amostra (n=62) de nutrizes de Lucas do Rio Verde-MT, 2010.

Idade n Frequência % < de 20 anos 8 0,13 13 De 20 a 29 anos 40 0,64 64 De 30 a 39 anos 14 0,23 23

Raça n Frequência % Branca 33 0,53 53 Preta 2 0,03 3 Parda 26 0,42 42 Indígena 1 0,02 2

Estado Civil n Frequência % Solteira 12 0,19 19 Casada 24 0,39 39 Amasiada 25 0,40 40 Separada 1 0,02 2

Grau de Escolaridade n Frequência % Fundamental incompleto 14 0,22 22 Fundamental completo 9 0,14 14 Médio incompleto 16 0,26 26 Médio completo 16 0,26 26 Ensino superior 6 0,10 10 Pós-graduação 1 0,02 2 Total 62 1,00 100

Observa-se que 64% das nutrizes apresentavam idade entre 20 e 29 anos. A

média de idade encontrada na amostra foi de 26 anos (DP = 6). As raças, branca

(53%) e parda (42%), foram as mais declaradas pelas nutrizes. Quanto ao estado

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civil, 79% se declararam casadas/amasiadas. O grau de escolaridade das nutrizes

demonstra que 100% são alfabetizadas com no mínimo o ensino fundamental

incompleto.

Os dados profissionais maternos demonstram que 21% das nutrizes já

trabalharam na lavoura. Apenas uma nutriz (1,6%) declarou trabalhar com

agrotóxico, na função de engenheira agrônoma responsável por um armazém de

grãos. Algumas nutrizes (6,5%) trabalham na zona rural, mas não trabalham em

contato direto com agrotóxico. Quanto a residir na zona rural 43,5% declaram já ter

residido por algum período na zona rural.

Sobre a gestação e o parto das nutrizes, 71% eram multíparas e 29%

primíparas, com média gestacional de três partos. Todas as nutrizes realizaram pré-

natal com uma média de aproximadamente 10 consultas. O parto cesárea sobrepôs o

normal com 55% e 45%, respectivamente. O hábito de fumar está presente em 11,3%

das nutrizes, que relataram ter fumado durante toda a gestação e continuam fumando.

Casos de malformação em gestações anteriores foram relatados por 3,2%, abortos

por 19,4% e morte fetal por 4,8% das nutrizes.

Os dados sobre os recém-nascidos revelam que 13% nasceram pré-termo, ou

seja, com menos de 37 semanas de gestação. Uma malformação foi evidenciada, um

caso de gastroquise, defeito na formação da parede abdominal. Entre os que

nasceram com algum problema de saúde (10%), o caso mais grave é o de

rabdomioma cardíaco. Quanto à amamentação, 74% se alimentam exclusivamente do

leite materno e 26% recebem algum tipo de complemento. O complemento mais

ofertado é o leite em pó 88%, seguido de chá e/ou água 12%. A média alimentar é de

10 mamadas diárias.

Em relação ao marido/companheiro, 50% já moraram na zona rural, 43,5% já

trabalharam na lavoura. Atualmente 11% trabalham na zona rural, destes 13% usam

algum tipo de agrotóxico na atividade exercida. O hábito de fumar está presente em

20% dos maridos/companheiros, sendo que 31% destes fumavam perto da nutriz

durante a gestação.

As características domiciliar como, tipo de moradia, tratamento de água e

destinação do lixo são descritas na Tabela 7.

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TABELA 7 - Caracterização domiciliar da amostra (n=62) de nutrizes de Lucas do Rio Verde-MT, 2010.

Tipo de Moradia n Frequência % Tijolo 54 0,87 87 Madeira 8 0,13 13

Tratamento de água n Frequência % Filtrada 14 0,23 23 Fervida 10 0,16 16 Direto SAAE1 35 0,56 56 Poço 3 0,05 5

Lixo n Frequência % Coletado 59 0,95 95 Enterrado 1 0,02 2 Queimado 2 0,03 3 1 Serviço autônomo de água e esgoto.

De acordo com esses dados podemos inferir que as nutrizes possuem boas

condições de moradia. Uma vez que a maioria é contemplada com os serviços

básicos de tratamento de água e coleta de lixo e residem em moradia de tijolo.

Quanto ao uso de agrotóxico domiciliar, 50% relataram usar algum tipo de

produto. Os piretróides foram os mais citados, tanto na versão spray como em

pastilha para aparelho elétrico. Entre as nutrizes que confirmaram utilizar agrotóxico

dentro de casa, 33% disseram que a frequência de uso é de 1 ou 2 vezes por semana e

15% disseram utilizar diariamente. Quando a questão é sobre a dedetização feita por

empresas especializadas, 36% disseram ter utilizado desse serviço, 53% nos últimos

seis meses.

Quanto ao tempo de residência em Lucas do Rio Verde, podemos observar

através da Figura 12 que aproximadamente 81% das nutrizes residem no município

há no máximo dez anos, destas aproximadamente 26% residem há apenas um ano.

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Essa característica pode ser um reflexo do ritmo de crescimento em que o

município se encontra. Lucas do Rio Verde vem se desenvolvendo em um ritmo

acelerado, principalmente a partir de 2006, com o início das obras da unidade

agroindustrial da Sadia, que começou a operar em outubro de 2008. Com

investimentos superiores a R$ 800 milhões e a promessa de gerar 15 mil empregos

indiretos e 5 mil empregos diretos, a oportunidade de serviço chamou a atenção de

muitos trabalhadores de outras regiões, fazendo com que a população saltasse de

27.832 em dezembro de 2006 para 45.134 pessoas em 2010, segundo dados

preliminares do censo demográfico do IBGE (PMLRV, 2010; SIAB, 2010; IBGE,

2010).

5.2. DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA AMOSTRA NO MUNICÍPIO

Todos os PSFs do município foram contemplados com as coletas. Alguns

PSFs apresentaram um número maior de nutrizes participantes, isso ocorreu porque

nesses PSFs houve maior adesão ao projeto por parte dos profissionais de saúde.

As coletas abrangeram 14 bairros do município, distribuídas conforme

plotado no mapa dos bairros e residências, conforme a Figura 13. Observa-se que a

maioria das amostras ficou concentrada na porção maior do município, ao lado

direito da BR-163. Na Figura 14 observa-se a distribuição espacial das lavouras (soja

e milho), pecuária e área de mata ciliar no entorno da cidade de Lucas do Rio Verde.

Figura 12 - Tempo de residência em Lucas do Rio Verde-MT.

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Figura 13 - Distribuição espacial das residências das nutrizes doadoras de leite humano na zona urbana de Lucas do Rio Verde-MT, 2010 (alterado PMLRV, 2010).

Figura 14 - Imagem via satélite de Lucas do Rio Verde-MT (GOOGLE EARTH, 2010).

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Conforme a Figura 14, observamos que a região, onde ocorreu à maior parte

das coletas de amostras de leite humano, está mais afastada das grandes lavouras de

monoculturas do município. Esta região da cidade, diferente das outras, está cercada

de chácaras de suinocultura e pecuária leiteira, além de estar próximo a uma grande

área de especulação imobiliária e também ter a mata ciliar e o Rio Verde entre o

município e as lavouras.

Em um município como Lucas do Rio Verde, onde as monoculturas estão ao

redor de toda a cidade, morar “longe” das lavouras não significa estar protegido da

exposição aos agrotóxicos. Com a ocorrência da deriva, deslocamento das gotículas

de pulverização de agrotóxico para fora da área de cultura, causado pela ação do

vento e da evaporação da água usada na preparação da calda, todo o município fica

exposto à contaminação por agrotóxico. Uma vez que as gotículas que ficam

flutuando ou que se evaporam por completo deixam em suspensão no ar e na chuva,

os principios ativos dos agrotóxicos, que podem ser carregados a distâncias

consideráveis. Como observado pelo trabalho de SANTOS et al. (2011), que

encontrou resíduos de agrotóxicos, α e β-endossulfam e atrazina, no ar da área

urbana de Lucas do Rio Verde-MT e resíduos (α e β-endossulfam, cipermetrina e

outros) na chuva no centro da mesma cidade (MOREIRA et al., 2010).

5.3. RESÍDUOS DE AGROTÓXICOS NO LEITE HUMANO

5.3.1. VALIDAÇÃO DO MÉTODO ANALÍTICO PROPOSTO

A eficiência do método foi avaliada considerando a exatidão, porcentagem de

recuperação, e precisão, coeficiente de variação dos resultados obtidos em replicata

(n = 5). Os resultados obtidos, porcentagem de recuperação entre 70 e 120% e

coeficiente de variação menor do que 20% são considerados satisfatórios para análise

de resíduo de agrotóxicos nos níveis estudados (THIER e ZEUMER, 1987). Esses

níveis foram selecionados considerando o limite de quantificação do sistema

cromatográfico utilizado (CG-DCE). Os limites de quantificação do equipamento

foram 75 ng para as substâncias trifluralina, aldrin, alfa endosulfan, DDE e beta

endosulfan, de 125 ng para o lindano e de 500 ng para o DDT, alfa HCH,

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deltametrina e cipermetrina. Os limites de detecção e quantificação do método foram

calculados a partir dos resultados de recuperação obtidos com o menor nível de

recuperação estudado e das amostras controle (THIER e ZEUMER, 1987) (Tabela

8).

Tabela 8 - Exatidão, precisão e limites de detecção e quantificação do método analítico utilizado. Menor nível de fortificação Maior nível de fortificação

Substâncias NF (µg mL-1)

Media* (%) (Intervalo)

CV (%)

NF (µg mL-1)

Media* (%) (Intervalo)

CV (%)

LDM (µg mL-1)

LQM (µg mL-1)

α-Endossulfam 0.015 67 (65-73) 3 0.103 71 (66-84) 6 0.003 0.015 β-Endossulfam 0.013 72 (64-83) 6 0.108 75 (67-92) 9 0.006 0.013 α-HCH 0.027 78 (63-97) 14 0.109 72 (69-77) 2 0.027 0.027 Lindano 0.028 85 (67-105) 16 0.111 73 (68-80) 4 0.022 0.028 Aldrin 0.015 77 (74-79) 2 0.101 70 (66-78) 4 0.002 0.015 DDT 0.107 75 (65-92) 11 0.153 71 (63-88) 8 0.079 0.107 DDE 0.015 120 (112-132) 13 0.109 75 (70-82) 4 0.005 0.015 Cipermetrina 0.104 79 (74-84) 3 0.157 71 (59-88) 9 0.019 0.104 Deltametrina 0.108 93 (81-111) 12 0.144 71 (67-80) 4 0.057 0.108 Trifluralina 0.015 84 (67-11) 20 0.107 70 (66-73) 2 0.015 0.015 NF: Nível de fortificação. * média de 5 repetições. CV: Coeficiente de variação. LDM: Limite de detecção do método. LQM: Limite de quantificação do método.

O procedimento proposto apresenta uma alternativa para a determinação

simultânea de diferentes classes de agrotóxicos (organoclorados, piretróides e

dinitroanilinas). Este método apresenta bons resultados de exatidão, precisão, além

de limites de detecção e quantificação, como os trabalhos descritos na literatura

(Tabela 9).

O método também é simples, não requer equipamentos sofisticados e utiliza

pouca quantidade de solvente orgânico. O uso de dispersão em fase sólida com

Celite® possibilitou a extração dos agrotóxicos e a purificação do extrato em uma

mesma etapa.

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Tabela 9 - Comparação de métodos da literatura com o método atual para determinação de agrotóxicos em leite humano.

Procedimento analítico

Agrotóxicos Extração Clean-up Instrumento % Recup. CV LD/LQ Referência

α-endossulfam, β-endossulfam, lindano, α-HCH, aldrim, p,p’-DDT, p,p’-DDE, cipermetrina, deltametrina, trifluralina

DFS (Celite®; hexano, acetona, diclorometano)

- CG/DCE 67 - 120 3 - 20 0,003 – 0,079 (µg mL-1 Este trabalho

α-HCH, β-HCH, γ-HCH, δ-HCH, o,p’-DDE, p,p’-DDE, o,p’-DDD, p,p’-DDD, o,p’-DDT, p,p’-DDT

EFS (C18;metanol,

n-hexano) - CG/DCE 79,8 – 92,9 0,56 – 9,86 0,0004

mg.kg-1de leite MELLO, 1999

α-HCH, β-HCH, γ-HCH, HCB, dieldrim, HeEp, p,p’-DDT, p,p’-DDE, p,p’-DDD

Ciclohexano, acetato de etila

CPG (BioBeads SX3), sílica desativada

CG/DCE 75 - 110 - 0,0005

µg. g-1 de gordura

PAUMGARTTEN et al., 2000

α-HCH, β-HCH, γ-HCH, HCB, aldrim, γ-clordano, α-endossulfam, dieldrim, transnanocloro, β-endossulfam, p,p’-DDT, p,p’-DDE, p,p’-DDD, metoxicloro, mirex

EFS (C18; hexano, acetato de etila, metanol, acetonitrila)

EFS (Florisil; diclorometano, acetato de etila, acetona, éter de petróleo, hexano)

CG/DCE 71,5 - 110 2,2 – 5,8 0,0030 – 0,1720 ng.ml-1

MESQUITA, 2001

α-endossulfam, β-endossulfam, β-HCH, γ-HCH, aldrim, dieldim, HCB, p,p’-DDT, p,p’-DDE

Agitação (hexano, acetona)

EFS (Florisil, hexano, diclorometano)

CG/DCE 53 – 109 - 0,01 – 0,04 mg.kg-1 BURKE et al, 2003

HCB, o,p’-DDT, o,p’-DDE, o,p’-DDD, p,p’-DDE, p,p’-DDD, p,p’-DDT, dieldrim, endrim, cis-heptaclorepoxi, α-clordano, γ- clordano, oxy- clordano, trans-nonacloro, Σ Parlar (toxafeno), α-HCH, β-HCH, γ-HCH Σ endossulfam

DFS (sulfato de sódio, hexano, acetato de etila)

CPG (Bio-Beads S-X3 com hexano e acetato de etila)

CG/DCE - - 0,001

µg. g-1 de gordura

KRAUSS et al., 2004

p,p’-DDT, p,p’-DDE, p,p’-DDD, o,p’-DDT, o,p’-DDE, o,p’-DDD, ciflutrina deltametrina, cipermetrina, permetrina

OC: acetona, hexano Piretróides: acetonitrila, hexano

OC: ácido sulfúrico Piretróides: éter etílico, hexano

CG/DCE - -

OC: 0,042-0,049 mg.l-1

Piretróides: 0,181-0,576

mg.l-1

BOUWMAN et al., 2006

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75

HCB, β-HCH, γ-HCH, Σ-HCH, dieldrim, o,p’-DDE, p,p’-DDT, p,p’-DDE, p,p’-DDD, o,p’-DDT, Σ-DDT

Hexano, acetonitrila, etanol

EFS (Florisil, sulfato de sódio; diclorometano, hexano)

CG/DCE 80 – 93 - 1 ng.g-1 de gordura

ENNACEUR et al., 2007

p,p’-DDT, p,p’-DDE, p,p’-DDD

EFS (C18 – acetato de etila, acetona, metanol)

EFS (C18 – diclorometano, acetato de etila, éter de petróleo, acetona, hexano

CG/DCE 82,2 – 102,6 2,2 – 3,1

0,0040 – 0,0340 ng.ml-1

AZEREDO et al., 2008

p,p’-DDT, p,p’-DDE, p,p’-DDD, o,p’-DDE, o,p’-DDD, α-HCH, β-HCH, γ-HCH

Hexano, diclorometano

EFS (Silíca; ácido sulfúrico) CG/DCE 90 - 110 -

0,01 – 0,2 ng.g-1 de gordura

BEHROOZ et al., 2009

DDE, DDD, α-HCH, β-HCH, γ-HCH, HCB Clorofórmio, metanol, hexano Ácido sulfúrico CG/DCE - -

0,98 – 1,64 ng.g-1 de gordura

KRAUTHACKER et al., 2009

β-HCH, p,p’-DDE, p,p’-DDT Hexano - CG/DCE 88 - 96 - 0,001 – 0,002

mg.kg-1 de gordura

WALISZEWSKI et al., 2009

DDTs, HCHs, HCBs, CHLs Éter dietílico, hexano - CG/DCE 92 – 101 - - SOMEYA et al.,

2010

p,p’-DDT, p,p’-DDE, p,p’-DDD, o,p’-DDT, dicofol

Hexano, etanol, éter dietílico, diclorometano

- CG/EM 84 – 94 -

0,01 – 0,20 ng.g-1 de gordura

FUJII et al., 2011

α-HCH, β-HCH, γ-HCH (lindano), δ-HCH, p,p’-DDT, o,p’-DDT, p,p’-DDE, o,p’-DDE, p,p’-DDD, o,p’-DDD, HCB, aldrin, dieldrin, endrin, trans-clordano, cis-clordano, trans-nonacloro, cis-nonacloro, oxyclordano, heptacloro, transheptacloro epoxide, cis-heptacloro epoxide, mirex

Hexano, diclorometano

CPG (Bio-Beads S-X3 com acetato de etila e hexano)

CG/NCI/EM 85 - 130 0,05 – 3,0 ng.g-1 de gordura

ZHOU et al., 2011

EFS: Extração em fase sólida; DFS: Dispersão em fase sólida; CG: Cromatografia gasosa; DCE: Detector de captura de elétrons; EM: Espectrometria de massa; CPG: Cromatografia por permeação em gel; -: não apresentado.

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A não padronização de protocolo da metodologia analítica, de coleta e a não

uniformidade das unidades de concentração em que os resultados são expressos pelos

diversos autores dificulta a comparação entre estudos. Alguns estudos não

apresentam os valores de precisão e exatidão do método, impossibilitando maiores

comparações com o método aqui proposto.

5.3.2. DETECÇÃO DE RESÍDUO DE AGROTÓXICOS NO

LEITE HUMANO

Todas as amostras analisadas apresentaram algum dos agrotóxicos estudados.

Conforme a Tabela 10 observa-se que em 85% das amostras foram detectados mais

de um agrotóxico, ou seja, uma contaminação multiresidual.

Tabela 10 - Número de substâncias detectadas em leite humano em amostra (n=62) de nutrizes residentes em Lucas do Rio Verde-MT, 2010. Número de substâncias detectadas nas amostras

n Frequência %

1 9 0,15 15 2 18 0,29 29 3 12 0,19 19 4 15 0,24 24 5 7 0,11 11 6 1 0,02 2

TOTAL 62 1,00 100

A frequência de detecção por agrotóxicos encontrados nas amostras são

apresentados na Tabela 11. A cipermetrina foi o único agrotóxico que não foi

detectado em nenhuma amostra analisada.

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Tabela 11 – Total de amostras detectadas e frequência de detecção de agrotóxicos analisados em leite humano em amostra (n=62) de nutrizes residentes em Lucas do Rio Verde-MT, 2010.

Substância Total de amostras detectadas

Detectado abaixo do LQM

Detectado acima do LQM

% de Detecção (n=62)

p,p’- DDE 62 44 18 100%

β-endossulfam 27 25 2 44%

deltametrina 23 23 0 37%

aldrim 20 20 0 32%

α-endossulfam 20 20 0 32%

α-HCH 11 11 0 18%

p,p’- DDT 8 5 3 13%

trifluralina 7 7 0 11%

lindano 4 4 0 6%

O p,p’- DDE aparece em 100% das amostras analisadas. Dentre os

metabólitos do p,p’- DDT, o p,p’- DDE é o que ocorre em maior frequência na

população geral, pela sua baixa taxa de metabolização e ao fato da alimentação ser

sua fonte primária de contaminação. Essa prevalência do p,p’- DDE sobre o p,p’-

DDT sugere uma exposição passada ao DDT, já que o tempo médio necessário à

metabolização do p,p’- DDT em p,p’- DDE é de doze meses (MATUO et al., 1992).

No ambiente o isômero β-endossulfam tem menor estabilidade e se converte

para o isômero α-endossulfam depois da aplicação (SANTOS et al., 2011). Porém, o

β-endossulfam é mais facilmente absorvido que o α-endossulfam, após distribuição

inicial para o tecido adiposo, acumula em uma extensão maior do que o β-

endossulfam (ANVISA, 2010b; HSDB, 2010). Talvez isso explique o fato de maior

detecção do isômero β-endossulfam em relação ao isômero α-endossulfam nas

amostras de leite.

5.3.3. NÍVEIS DE RESÍDUOS DE AGROTÓXICOS NO LEITE HUMANO

Apenas dezenove amostras (31%) apresentaram contaminação acima dos

valores de quantificação do método para alguma das três substâncias (β-endossulfam,

p,p’- DDT e p,p’- DDE), e por isso puderam ser quantificadas. Os níveis de

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agrotóxicos encontrados nas amostras de leite das mães doadoras de Lucas do Rio

Verde são apresentados na Tabela 12 com valores expressos em µg mL-1 de leite.

Tabela 12 - Níveis de resíduos de agrotóxicos em leite humano em amostra (n=62) de nutrizes residentes em Lucas do Rio Verde-MT em µg mL-1 de leite, 2010.

Substância % Média (µg mL-1)

Valores máximos

Valores mínimos

β-endossulfam 3,23 0,018 0,020 0,016 p,p’- DDT 4,84 0,295 0,397 0,170 p,p’- DDE 29,03 0,130 0,543 0,021

Considerando que os compostos organoclorados apresentam bioacumulação

preferencial nos tecidos adiposos, a determinação do teor de gordura das amostras de

leite se faz necessária (MESQUITA, 2001). Assim, o teor de gordura das amostras

coletadas foi determinado para excluir essa fonte de variação durante a obtenção dos

resultados. As concentrações após o controle dessa variável são apresentadas na

Tabela 13.

Tabela 13 - Níveis de resíduos de agrotóxicos em leite humano em amostra (n=62) de nutrizes residentes em Lucas do Rio Verde-MT em µg g-1 de gordura, 2010.

Substância % Média do teor de gordura (%)

Média (µg g-1)

Valores máximos

Valores mínimos

β-endossulfam 3,23 3,08 0,57 0,61 0,54 p,p’- DDT 4,84 4,14 8,87 12,41 2,62 p,p’- DDE 29,03 3,78 3,75 12,03 0,32

Em comparação aos trabalhos realizados no Brasil, os níveis encontrados nas

amostras de leite das nutrizes residentes em Lucas do Rio Verde-MT encontram-se:

abaixo dos níveis de DDT total (DDT+DDE) e lindano encontrados por MATUO et

al. (1992) em Ribeirão Preto em mulheres expostas e não expostas

ocupacionalmente; acima dos níveis de DDE e DDT e abaixo dos níveis de α-HCH,

lindano e α-endossulfam encontrados por MESQUITA (2001) na cidade do Rio de

Janeiro em mulheres doadoras do Banco de Leite do Instituto Fernandes Figueira;

acima dos níveis de DDE e DDT encontrados por KRAUSS et al. (2004) em São

Paulo e Belo Horizonte de mães selecionadas conforme protocolo estabelecido pela

WHO (World Health Organization); abaixo dos níveis de DDE encontrados por

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CALEFFI (2005) em mulheres residentes em áreas rurais do Rio Grande do Sul;

acima dos níveis de DDT encontrado por AZEREDO et al. (2008) na região no Rio

Madeira, Amazônia, em população que foi diretamente exposta nos anos 1990 com

aplicações residenciais ao combate a malária.

Quando comparados com trabalhos internacionais, os níveis aqui encontrados

estão: acima dos níveis de DDE e abaixo dos níveis de α-HCH e lindano encontrados

por KRAUTHACKER et al. (2009); acima dos níveis de DDE e DDT encontrados

por SOMEYA et al. (2010); abaixo dos níveis de α-HCH e lindano e acima dos

níveis de DDE e DDT encontrados por ZHOU et al. (2011).

Independentemente dos métodos analíticos utilizados, o resultado é

preocupante, pois todos os estudos demonstram contaminação das amostras por pelo

menos uma substância, na maioria das vezes, organocloradas em um alimento que

deveria ser isento de todo e qualquer tipo de contaminante.

Todas as nutrizes que participaram da pesquisa receberam um laudo (Anexo

C) com os resultados das análises realizadas e com a expressa recomendação de

continuarem a amamentação, uma vez que a amamentação apresenta vários fatores

importantes para a saúde, tanto do bebê como da mãe, como já descrito

anteriormente.

5.5. FATORES DE ASSOCIAÇÃO

O resultado da análise de regressão múltipla do modelo que avaliou a

prevalência de contaminação do leite humano para o agrotóxico β-endossulfam,

encontra-se descritas na Tabela 14.

Tabela 14 - Modelo Final de Poisson - Razões de prevalência de contaminação do leite humano por β-endossulfam, Lucas do Rio Verde-MT, 2010.

Variáveis e categorias % RP (IC 95%) p valor Aborto Não Sim

11,4 29,6

1,00

2,05 (0,87 – 4,80)

p < 0,098 O pai trabalha na zona rural Não Sim

8,6

14,8

1,00

2,93 (0,92 – 9,32)

p < 0,069

Page 80: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · abortos, interferentes endócrinos e alguns tipos de câncer e podem ser detectados no leite humano. Considerando esses

80

Cumpre dizer que todos os resultados das variáveis do modelo final do β-

endossulfam, foram em situação estatística limítrofe, ou seja, com p-valor próximo

da significância estatística. As variáveis que permaneceram no modelo final foram a

mãe ter tido aborto (RP = 2,05; IC 95%: 0,87 – 4,80) e o fato do pai trabalhar na

zona rural (RP = 2,93; IC 95%: 0,92 – 9,32).

No modelo final quando o agrotóxico estudado foi o aldrim, permaneceram

no modelo de Poisson, as variáveis descritas na Tabela 15.

Tabela 15 - Modelo Final de Poisson - Razões de prevalência de contaminação do leite humano por aldrim, Lucas do Rio Verde-MT, 2010.

Variáveis e categorias % RP (IC 95%) p valor Aborto Não Sim

14,3 30,0

1,00

2,18 (1,04 – 4,58)

p < 0,039 Estado civil Solteira/separada Casada/amasiada

71,4 90,0

1,00

3,17 (0,89 – 11,27)

p < 0,074 O pai trabalha na zona rural Não Sim

4,8 25,0

1,00

3,23 (1,65 – 6,29)

p < 0,001

A variável estado civil, apresentou uma situação estatística limítrofe (p <

0,074), porém com forte força de associação (RP = 3,17; IC 95%: 0,89 – 11,27). As

variáveis com estatística significante que permaneceram no modelo final do aldrim

foram, ter tido aborto (RP = 2,18; IC 95%: 1,04 – 4,58) e o fato de o pai trabalhar na

zona rural (RP = 3,23; IC 95%: 1,65 – 6,29).

Finalmente, a Tabela 16 contempla o modelo final da regressão múltipla para

o agrotóxico deltametrina. Neste último permaneceu, a variável aborto (RP = 1,92;

IC 95%: 1,08 – 3,43) que apresentou associação estatisticamente significante. Tabela 16 - Modelo Final de Poisson – Razão de prevalência de contaminação do leite humano deltametrina, Lucas do Rio Verde-MT, 2010.

Variáveis e categorias % RP (IC 95%) p valor Aborto Não Sim

10,3 34,8

1,00

1,92 (1,08 – 3,43)

p < 0,026

Importante salientar que ter tido aborto foi uma variável que se manteve

associada à presença dos três agrotóxicos (β-endossulfam, aldrim e deltametrina),

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81

quando da realização dos modelos finais. Estes achados são concordantes com a

literatura que refere esses agrotóxicos com efeitos sobre o sistema reprodutivo e

hormonal, chegando, inclusive, a serem excretados pelo leite materno (MEYER et

al., 1999; KOIFMAN et al., 2002; CALVERT et al., 2007; HEEREN et al., 2003).

Quanto à toxidade dos agrotóxicos, vários autores referem que o β-

endossulfam pode chegar ao feto através do cordão umbilical e placenta

(CERRILLO, et al., 2005), levando à ocorrencia de malformações e, por isso, ser

considerado um desregulador endócrino (BELDOMENICO et al., 2007; ANVISA,

2010b). Já outros estudos sugerem que o aldrim também pode passar pela placenta

humana e se acumular no feto em desenvolvimento, podendo induzir ao aborto

(ATSDR, 2002a). Quanto a deltametrina, apesar dos efeitos sistêmicos dos

piretróides sobre o sistema reprodutivo (ABDOLLAHI et al., 2004), os estudos são

inconclusivos em afirmar o potencial dos piretróides em atravessar a barreira

placentária e interferir no desenvolvimento fetal (ATSDR, 2003).

Cumpre dizer que outras variáveis podem influenciar na ocorrência de aborto,

tais como caráter imunológico, fator autoimune, distúrbio hormonal, fator genético e

problemas anatômicos (BARINI et al., 2000; CAETANO et al., 2006). Essas

variáveis não foram avaliadas no presente estudo, o que pode levar a possíveis

confundimentos nas análises dos modelos finais. Outros estudos epidemiológicos tais

como os estudos de seguimento (coorte) permitiriam uma melhor avaliação da

associação entre os fatores de exposição (agrotóxicos) e o desfecho estudado, ou

seja, a presença dessas substâncias no leite materno, já que estes permitem um

melhor controle destas variáveis de confundinento. Cabe ainda dizer das limitações

dos estudos transversais: um dos principais problemas é a possibilidade de ocorrência

de causalidade reversa. Como a exposição e o desfecho foram coletados

simultaneamente, não há como saber qual deles procedeu ao outro, podendo levar a

associações espúrias. Contudo, supõe-se que tal situação não tenha ocorrido nesta

pesquisa, devido ao rigoroso controle de condições adversas pelos pesquisadores

quando da realização do trabalho de campo.

Informações extra-oficiais de servidores da saúde local trazem à luz a

possibilidade da ocorrência do alto número de abortos nos últimos anos.

Considerando-se o nível de exposição da população residente em Lucas do Rio

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82

Verde aos agrotóxicos e a persistente associação entre ocorrência de abortos e

presença de agrotóxicos no leite materno, sugere-se que essa variável possa ser

utilizada como marcadora de exposição a agrotóxicos neste município.

O fato do marido/companheiro trabalhar na zona rural ficou no modelo final

de regressão com associação estatisticamente significativa com os agrotóxicos β-

endossulfam e aldrim. Assim, inferimos que essa associação pode estar relacionada

com o contato físico entre marido e mulher, ou no contato entre a nutriz e as roupas

contaminadas do marido. Desta forma, a mulher estaria sendo contaminada através

da pele, já que uma das formas de contaminação é via dermal.

Ser casada ou amasiada se manteve presente no modelo final de regressão

com associação estatisticamente significativa com o agrotóxico aldrim, esta variável

pode estar sendo influenciada por algumas variáveis de confundimento. Por exemplo,

a idade materna, mesmo não se mantendo com associação significativa na regressão,

pode estar associada tanto ao estado civil, porque as casadas tendem a ser mais

velhas, quanto à detecção de agrotóxico no leite, porque as mães com maior carga de

contaminantes, também tendem a ser mais velhas. Desta forma, pode-se considerar o

estado civil como sendo uma variável “proxy” de idade, uma vez que, os agrotóxicos

se acumulam no organismo humano ao longo da vida, e, quanto maior a idade, maior

o tempo de exposição a esses compostos.

Outro fator que pode estar associado à variável estado civil é a lavagem das

roupas de serviço em casa pela própria nutriz. Mesmo essa variável não tendo dado

associação significativa com a variável resposta, ela poderia influenciar o resultado,

já que as nutrizes podem estar se contaminando de agrotóxicos através do manuseio e

contato com as roupas de serviço do marido ou companheiro, que são lavadas junto

com as demais roupas da família.

Algumas variáveis demonstraram uma tendência à associação com os níveis

de agrotóxicos encontrados. Uma possível causa para isso seja o n amostral, que

talvez seja insuficiente para mostrar essa associação.

Alguns agrotóxicos tiveram uma freqüência baixa de detecção nas amostras e

não foi possível a realização de análise de regressão, para estes (α-HCH, p,p’- DDT,

lindano, trifluralina, α-endossulfam) as variáveis, que de alguma forma poderiam

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83

justificar a presença de resíduos desses agrotóxicos no leite humano, foram descritas

em freqüências.

No grupo das nutrizes em que foi detectado o α-HCH (n=11), 63,6% eram

primíparas, 27,3% relataram já ter sofrido ao menos um aborto. Nas nutrizes em que

foi detectado o p,p’- DDT (n=8), 75% eram primíparas, 25% relataram já ter sofrido

ao menos um aborto, 12,5% relataram ter um filho com alguma malformação e,

12,5% relataram prematuridade na última gestação. Nas nutrizes em que foi

detectado o lindano (n=4), 75% era primípara e, 25% relataram ter um filho com

alguma malformação.

Nas nutrizes em que foi detectado trifluralina (n=7), 71,4% eram primíparas,

28,6% relataram já ter sofrido ao menos um aborto, 28,6% relataram que o

marido/companheiro trabalha na lavoura, 28,6% relataram residir próximo de

lavouras. As variáveis a respeito do trabalho do marido/companheiro e o residir

próximo a lavouras, podem ter influenciado na detecção desse composto no leite,

uma vez que, a trifluralina é utilizada na região de estudo, numa média de 23.094

litros/ano.

Nas amostras em que foi detectado o α-endossulfam (n=20), 29% das nutrizes

eram primíparas, em 6,5% o último parto foi prematuro, 3,2% a criança nasceu com

alguma malformação e 19,4 relataram já ter sofrido ao menos um aborto. O α-

endossulfam é um isômero de um agrotóxico organoclorado com aplicação média de

216.950 litros/ano no município de estudo, conforme Tabela 3. Algumas variáveis

relacionadas à moradia e ocupação, tanto do marido/companheiro como da mãe,

podem estar relacionada a exposição por habitante e das nutrizes a esse agrotóxico.

Quanto à proximidade da lavoura 34% das nutrizes relataram residir próximo a

lavouras, 63% moram a mais de um ano na mesma residência, 43,5% já moraram na

zona rural, 21% já trabalharam na lavoura e, 43,5% dos maridos/companheiros

trabalham na lavoura.

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6. CONCLUSÃO

As amostras de leite humano provenientes das nutrizes residentes em Lucas

do Rio Verde-MT apresentaram evidente contaminação multiresidual por

agrotóxicos organoclorados, piretróides e dinitroanilinas. O p,p' - DDE foi encontrado em 100% das amostras analisadas, o que sugere

uma exposição passada ao p,p' - DDT, já que este é o seu metabólito mais estável e

foi bastante utilizado até 1985 na agricultura e até 1998 no controle de vetores.

O β-endossulfam foi encontrado em 44% das amostras analisadas, sugerindo

uma exposição atual, já que é muito utilizado como inseticida na agricultura na

região de estudo.

As nutrizes que tiveram aborto apresentaram associação com a presença dos

agrotóxicos β-endossulfam, aldrim e deltametrina, estando em concordância com a

literatura que descreve os efeitos desses agrotóxicos sobre o sistema reprodutivo e

hormonal.

O fato do marido/companheiro trabalhar na zona rural apresentou associação

com a presença de resíduos de β-endossulfam e aldrim em amostras de leite

analisadas.

Independente do local de residência das nutrizes, quanto à distância das

lavouras, as mesmas estão expostas aos efeitos dos agrotóxicos, devido a localização

do município em relação às lavouras e possivelmente foram contaminadas através

dos alimentos e componentes ambientais (ar, água, solo).

O processo produtivo agrícola adotado no município de Lucas do Rio Verde,

com o uso intensivo de agrotóxicos nas lavouras, foi determinante para a

contaminação dos vários componentes ambientais, relatados em outros trabalhos aqui

citados, e também deve ter contribuído para a contaminação da população, das

nutrizes e do leite humano.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo produtivo agrícola adotado no município de Lucas do Rio Verde,

na busca por grandes produções, leva o município a um desenvolvimento

insustentável, uma vez que degrada o meio ambiente local, polui os recursos

hídricos, o solo, o ar e, consequentemente a população, acarretando em sérios

problemas de saúde. A contaminação do leite das nutrizes residentes em Lucas do

Rio Verde é apenas um efeito causado por esse processo. Os serviços de saúde

pública municipal devem ficar atentos aos indicadores de saúde que possam estar

relacionados ao uso intensivo de agrotóxicos no município, como a incidência de

abortos, malformações, neoplasias e doenças neurológicas, já que vários agrotóxicos

possuem ação mutagênica, teratogênica, cancerígena, desrregulação endócrina, e

destúrbios neurológicos e psiquiátricos.

Os dados apresentados e discutidos no presente trabalho mostram um

problema de saúde pública, o qual trabalhadores e população vizinha a áreas de

produção de soja, milho ou algodão se encontram em situação de vulnerabilidade,

face aos efeitos nocivos dos agrotóxicos sobre a saúde humana. Isso indica que deve

ser implantadas estratégias de avaliação e gerenciamento de riscos, fundamentais

para a vigilância da saúde dos trabalhadores e população em geral, exposta aos

agrotóxicos por conta do combate (pulverização) às “pragas” da lavoura.

Sugere-se a implantação imediata de algumas ações de vigilância a saúde em

Lucas do Rio Verde e em todos os municípios brasileiros em que predomina a

monocultura intensiva e químico dependente, tais como: a) proibir a pulverização de

qualquer tipo de agrotóxico por avião; b) limitar a aplicação de agrotóxicos a uma

distância mínima de 500 metros do perímetro urbano ou no entorno de aglomerados

humanos, criação de animais, nascentes de córregos e abastecimentos de água

potável; c) implantar sistema de notificação e vigilância para as intoxicações agudas

e crônicas; d) realizar vigilância em saúde nos casos de derivas de agrotóxicos; e)

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implantação de Sistema de Monitoramento de Resíduos de Agrotóxicos em águas de

córregos, rios, lagos, poços artesianos, no ar, na chuva e nos alimentos.

Apesar de termos encontrado contaminação em 100% das amostras

analisadas, é necessário não desprezar os benefícios da amamentação para o bebê do

ponto de vista nutricional, imunológico, psicológico e na promoção da saúde. Apesar

dos possíveis danos que possam vir a ser causados pela exposição dos bebês aos

agrotóxicos, qualquer atitude em relação ao desaconselhamento à amamentação tem

que ser avaliado considerando-se o risco/benefício e os múltiplos fatores envolvidos

no processo de aleitamento.

Há necessidade urgente de se ampliar estas avaliações e análises dessas

contaminações do leite humano por agrotóxicos provindos do processo produtivo

agropecuário, coordenado pelo agronegócio, para que possamos implantar medidas

de saúde coletiva, com participação dos afetados/agravados, dos técnicos da saúde,

da agricultura e ambiente, num movimento com a sociedade organizada, de forma

articulada com a democracia e justiça ambiental, em busca de outro modelo de

agricultura, seja ele agroecológico ou aquele que tenha com eixo o desenvolvimento

da vida, da saúde, da democracia e da felicidade.

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ANEXO A

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA

CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidada para participar, como voluntária, da pesquisa “Detecção de resíduos de agrotóxicos em leite humano em Lucas do Rio Verde – Mato Grosso”.

Este estudo tem como um dos principais objetivos conhecer o grau de contaminação por agrotóxico do leite de mães que moram em Lucas do Rio Verde e compará-las com amostras de leite materno coletadas das doadoras do Banco de leite do HUJM/UFMT, Cuiabá.

Sua participação na pesquisa consistirá em responder a um questionário e doar 20 mL de leite. Não há riscos relacionados à sua participação. O beneficio relacionado com a sua participação é a contribuição para a construção de estratégias educativas e de comunicação de risco que contribuam para diminuir os efeitos prejudiciais dos agrotóxicos sobre a saúde humana e o ambiente. O seu beneficio individual será receber orientações para uma possível mudança dos seus hábitos diários que possam contribuir para a diminuição dos valores encontrados e conseqüente melhoria na qualidade de seu leite.Você não receberá dinheiro pelo fornecimento destas informações e amostras de leite.

As informações obtidas através dessa pesquisa serão secretas e garantimos o sigilo sobre a sua participação. Você será identificada apenas, pela sua idade e profissão. As respostas do questionário serão usadas para que melhor possamos entender a realidade do seu dia-a-dia. As respostas do questionário serão reproduzidas apenas em publicações científicas, respeitando-se o sigilo do seu nome. Todo o material ficará sob a guarda do pesquisador principal e ao final de 04 anos, os questionários serão destruídos. Em caso de recusa você não terá nenhum problema. Em caso de dúvida você pode procurar o Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Júlio Müller- UFMT- pelo telefone (65) 3615-7254. Você receberá uma cópia desse termo onde tem o nome, telefone e endereço do pesquisador responsável, para que você possa localizá-lo a qualquer momento.

Considerando os dados acima, CONFIRMO que fui informada por escrito e verbalmente dos objetivos desta pesquisa e em caso de divulgação por foto e/ou vídeo AUTORIZO a publicação. Eu..............................................................................................................................................................., idade:............. Naturalidade:.....................................................portadora do documento RG Nº:............................................................declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios de minha participação na pesquisa e concordo em participar. ________________________________________

Assinatura do sujeito da pesquisa e/ou responsável

________________________________________ Assinatura do pesquisador principal

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AXEXO B

LOCALIZAÇÃO 1. NR:______2. DATA DE ENTREVISTA:____/____/________ 3. HORÁRIO:_____:_____HS 4. N DO PSF:______5. FAMÍLIA:_______ 6. GESTAÇÃO No._____________________________ 7. COORDENADAS GEOGRÁFICAS:______________________/__________________________ 8. ENDEREÇO:____________________________________ 9. BAIRRO:_____________________

IDENTIFICAÇÃO MATERNA 10. NOME:______________________________________________________________________ 11. IDADE:________anos 12. PESO ATUAL:_________Kg 13. ESTATURA:______________m 14. RAÇA: ( ) IGNORADO ( ) BRANCA ( ) PRETA ( ) PARDA ( ) AMARELA ( ) INDÍGENA 15. ESTADO CIVIL: ( ) SOLTEIRA ( ) CASADA ( ) AMASIADA ( ) SEPARADA 16. GRAU DE ESCOLARIDADE: ( ) NÃO SAB ( ) SEM ESCOLARIDADE ( ) FUND. INCOMPLETO ( ) FUND. COMPLETO ( ) MÉD. INCOMPLETO ( ) MÉD. COMPLETO ( ) CURSO TÉCNICO ( ) ENSINO SUPERIOR ( ) PÓS-GRADUAÇÃO 17. NATURALIDADE:_______________________________________18. ESTADO:___________ 19. HÁ QUANTO TEMPO RESIDE EM LRV:_________________anos.

DADOS PROFISSIONAIS MATERNOS 20.PROFISSÃO:_____________________21.ATIVIDADE EXERCIDA:______________________ 22. TOTAL DE HORAS TRABALHADAS POR SEMANA:________hs 23. TRABALHA PRÓXIMO A ALGUM TIPO DE LAVOURA: ( ) SIM ( ) NÃO 24. QUE TIPO DE LAVOURA:_________________________________________ 25. JÁ MOROU EM ZONA RURAL: ( ) SIM ( ) NÃO 26. TRABALHA NA ZONA RURAL: ( ) SIM ( ) NÃO 27. JÁ TRABALHOU NA LAVOURA: ( ) SIM ( ) NÃO 28. EM QUE TIPO DE LAVOUA TRABALHA:________________________________________ 29. FAZ USO DE ALGUM TIPO DE VENENO: ( ) SIM ( ) NÃO 30. QUAL:________________________________________ 31. FAZ USO DE ALGUM EPI: ( ) SIM ( ) NÃO 32. QUAL:_____________________________________________________ 33. AS ROUPAS DE TRABALHO SÃO LAVADAS EM CASA: ( ) SIM ( ) NÃO 34. VOCÊ QUE LAVA AS ROUPAS: ( ) SIM ( ) NÃO

GESTAÇÃO/PARTO

35. DATA DO PARTO:_____/_____/______36. TIPO DO PARTO: ( )NORMAL ( ) CESÁRIA

37. NÚMERO DE:GESTAÇÕES:_____PARTOS:_____ABORTOS:_____ NATIMORTOS:_____

FILHOS VIVOS: ______

38. HOUVE ALGUMA MALFORMAÇÃO: ( ) SIM ( ) NÃO

39. QUAL MALFORMAÇÃO:__________________________

40. FEZ PRÉ-NATAL: ( ) SIM ( ) NÃO

41. QUAL FOI O NÚMERO DE CONSULTAS:__________

42. HOUVE ALGUMA INTERCORRÊNCIA: ( ) SIM ( ) NÃO

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43. QUAL:________________________________________

44. FEZ USO DE ALGUMA MEDICAÇÃO DURANTE A GRAVIDEZ: ( ) SIM ( ) NÃO

45. QUAL:___________________

46. ATUALMENTE FAZ USO DE ALGUMA MEDICAÇÃO: ( ) SIM ( ) NÃO

47. QUAL:__________________________

48. FUMOU DURANTE A GRAVIDEZ: ( ) SIM ( ) NÃO

49. QUANTOS CIGARROS POR DIA: ______________________

50. FUMA ATUALMENTE: ( ) SIM ( ) NÃO 51. QUANTOS CIGARROS POR DIA: ______

52. PESO PRÉ-GESTACIONAL:_______Kg 53. PESO PÓS-GESTACIONAL:______Kg

DADOS DO RÉCEM NASCIDO/AMAMENTAÇÃO 54. SEXO: ( ) MAS. ( ) FEM. 55. PESO AO NASCER:_________________gr 56. PREMATURO: ( ) SIM ( ) NÃO 57. IDADE GESTACIONAL: ( ) DE 20 A 24 ( ) DE 24 A 28 ( ) DE 28 A 32 ( ) DE 32 A 37 ( ) DE 37 A 42 ( ) > 42 58. RAÇA: ( ) IGNORADO ( ) BRANCA ( ) PRETA ( ) PARDA ( ) AMARELA ( ) INDÍGENA 59. NASCEU COM ALGUM PROBLEMA DE SAÚDE: ( ) SIM ( ) NÃO 60. QUAL:________________________________ 61. APRESENTA ALGUMA MALFORMAÇÃO: ( ) SIM ( ) NÃO 62. QUAL MALFORMAÇÃO:_____________________ 63. No. DE MAMADAS DIÁRIAS:_____64. DURAÇÃO MÉDIA DE CADA MAMADA:____min. 65. AMAMENTAÇÃO EXCLUSIVA: ( ) SIM ( ) NÃO 66. QUE COMPLEMENTO UTILIZA: ( ) LEITE ( ) CHÁ ( ) ÁGUA 67. TIPO DE LEITE:________________68. NO. DE COMPLEMENTAÇÕES POR DIA: _________ 69. VOLUME DE CADA COMPLEMENTO:_____________Ml

HÁBITOS DO MARIDO/COMPANHEIRO 70.PROFISSÃO:_________________71.ATIVIDADE EXERCIDA:_________________________ 72. QUANTO TEMPO DE PROFISSÃO:______ 73. QUANTAS HORAS SEMANAIS ELE TRABALHA:______hs 74. ELE JÁ MOROU EM ZONA RURAL: ( ) SIM ( ) NÃO 75. ELE JÁ TRABALHOU NA LAVOURA: ( ) SIM ( ) NÃO 76. HOJE ELE TRABALHA NA ZONA RURAL: ( ) SIM ( ) NÃO 77. COM QUE TIPO DE LAVOURA ELE TRABALHA:_________________________________ 78. ELE FAZ USO DE ALGUM TIPO DE VENENO: ( ) SIM ( ) NÃO 79. QUAL:__________________________________ 80. AS ROUPAS DE TRABALHO SÃO LAVADAS EM CASA: ( ) SIM ( ) NÃO 81. É VOCÊ QUE LAVA AS ROUPAS: ( ) SIM ( ) NÃO 82. ELE É FUMANTE: ( ) SIM ( ) NÃO 83. QUANTOS CIGARROS ELE FUMA POR DIA:____________ 84. DURANTE A GRAVIDEZ ELE FUMAVA PRÓXIMO A VOCÊ: ( ) SIM ( ) NÃO

CARACTERÍSTICAS DOMICILIAR

85. TEMPO DE MORADIA NO LOCAL:__________anos 86. TIPO DE MORADIA: ( ) TIJOLO/ADOBE ( ) TAIPA REVESTIDA ( ) TAIPA NÃO REVESTIDA ( ) MADEIRA ( ) MATERIAL APROVEITADO 87. TRATAMENTO DE ÁGUA NO DOMICILIO: ( )FILTRAÇÃO ( ) FERVURA

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( ) CLORAÇÃO ( ) S/ TRATAMENTO 88. DESTINO DO LIXO: ( ) COLETADO ( ) ENTERRADO ( ) QUEIMADO ( ) CÉU ABERTO 89. HÁ LAVOURA PRÓXIMA DA SUA CASA: ( ) SIM ( ) NÃO 90. HÁ QUANTOS METROS DE DISTÂNCIA:______m 91. QUE TIPO LAVOURA:______________________________________________________ 92. POSSUI HORTA/POMAR EM CASA: ( ) SIM ( ) NÃO 93. UTILIZA ALGUM TIPO DE VENENO: ( ) SIM ( ) NÃO 94. QUAL VENENO VOCÊ UTILIZA:_________________________________________________ 95. CONSOME OS ALIMENTOS QUE PRODUZ: ( ) SIM ( ) NÃO 96. FAZ USO DE VENENO DOMICILIAR: ( ) SIM ( ) NÃO 97. QUE PRODUTO UTILIZA:________________________ 98. QUAL É A FREQUÊNCIA SEMANAL: ( ) DIARIAMENTE ( ) DE 1-2 VEZES ( ) DE 3-5 VEZES 99. SUA CASA JÁ FOI DEDETIZADA: ( ) SIM ( ) NÃO 100. QUANDO FOI A ÚLTIMA VEZ:_______________meses

DADOS SOBRE INTOXICAÇÃO

101. ALGUMA VEZ SE SENTIU INTOXICADA POR ALGUM TIPO DE VENENO: ( ) SIM ( ) NÃO 102. SE SIM, ESTA FOI: ( ) LEVE ( ) MODERADA ( ) GRAVE ( ) INTERNAÇÃO HOSPITALAR 103. QUAL TIPO DE VENENO: ( ) DOMICILIAR ( ) DE LAVOURA 104. QUAL:__________________________________________________

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ANEXO C

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA

Projeto: Detecção de resíduos de agrotóxicos em leite humano em Lucas do Rio Verde – Mato Grosso.

Mãe continue amamentando seu filho(a), o leite materno é essencial para um crescimento saudável. O aleitamento materno fortalece a imunidade, mantém o crescimento e desenvolvimento normais, melhora o processo digestivo no sistema gastrointestinal, favorece o vínculo mãe-filho e facilita o desenvolvimento emocional, cognitivo e do sistema nervoso.

Obrigada pela sua participação.

RESULTADO DE ANÁLISE

Tipo de amostra: Leite materno Quantidade: 5 mL

Identificação da amostra:

Data da coleta:

Substância analisada Método Resultado (ug/mL)

Valor de Referência

Trifluralina CG/ECD * Alfa-hexaclorociclohexano (α-HCH) CG/ECD * Lindano CG/ECD * Aldrin CG/ECD * Alfa-endossulfam CG/ECD * Beta-endossulfam CG/ECD * Dicloro-Difenil-Tricloroetano (DDT) CG/ECD * Cipermetrina CG/ECD * Deltametrina CG/ECD * Dicloro-Difenil-Dicloroetileno (DDE) CG/ECD * <LQ: Detectado, mas menor que o limite de quantificação do método. ND: Nada detectado. CG/ECD: Cromatografia gasosa com detector de captura de elétrons. *: Valores não estabelecidos pela legislação brasileira. Limite de quantificação do método: Trifluralina 0,015 ug/mL; α-HCH 0,016 ug/mL; Lindano 0,017 ug/mL; Aldrin 0,015 ug/mL; alfa-endossulfam 0,015 ug/mL; DDE 0,017 ug/mL; beta-endossulfam 0,013 ug/mL; DDT 0,012 ug/mL; Cipermetrina 0,016 ug/mL; Deltametrina 0,018 ug/mL.

_________________________________ Danielly Cristina de Andrade Palma

Mestranda

_________________________________ Prof. Dr. Wanderlei Antonio Pignati

Orientador