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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
LUCIANA BEATRIZ BASTOS AacuteVILA
Modalidade em perspectiva
estudo baseado em corpus oral do Portuguecircs Brasileiro
BELO HORIZONTE
2014
LUCIANA BEATRIZ BASTOS AacuteVILA
Modalidade em perspectiva
estudo baseado em corpus oral do Portuguecircs Brasileiro
Tese apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em
Estudos Linguisticos da Faculdade de Letras da
Universidade Federal de Minas Gerais como
requisito parcial para a obtenccedilatildeo do titulo de Doutor
em Estudos Linguiacutesticos
Aacuterea de Concentraccedilatildeo Linguistica Teoacuterica e
Descritiva
Linha de Pesquisa Estudos Linguisticos baseados
em Corpora
Orientador Profordf Drordf Heliana Ribeiro de Mello
Belo Horizonte
Faculdade de Letras da UFMG
2014
Ficha catalograacutefica elaborada pelos Bibliotecaacuterios da Biblioteca FALEUFMG
Aacutevila Luciana Beatriz Bastos A958m Modalidade em perspectiva [manuscrito] estudo baseado em
corpus oral do portuguecircs brasileiro Luciana Beatriz Bastos Aacutevila ndash 2014
253 f enc il grafs (color) tabs (pampb) + 1 CD-ROM
Orientadora Heliana Ribeiro de Mello
Aacuterea de concentraccedilatildeo Linguiacutestica Teoacuterica e Descritiva
Linha de Pesquisa Estudos Linguumliacutesticos Baseados Em Corpora
Tese (doutorado) ndash Universidade Federal de Minas
Gerais Faculdade de Letras
Inclui CD-ROM com arquivos de aacuteudio guia do usuaacuterio MMAX2
demonstraccedilatildeo de arquivo anotado
Bibliografia f 206-218
Anexo f 219-253
1 Modalidade (Linguiacutestica) ndash Teses 2 Linguiacutestica de corpus ndash Teses 3 Liacutengua portuguesa ndash Portuguecircs falado ndash Brasil ndash Teses 4 Atos de fala (Linguiacutestica) ndash Teses 5 Linguiacutestica ndash Processamento de dados ndash Teses I Mello Heliana Ribeiro de II Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Letras III Tiacutetulo CDD 418
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ESTUDOS LlNGuiacuteSTICOS
FOLHA DE APROVACcedilAtildeO
Modalidade em perspectiva estudo baseado em corpus oral doportuguecircsbrasileiro
LUCIANA BEATRIZ BASTOS AVILA
Tese submetida agrave Banca Examinadora designada pelo Colegiado do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS como requisito para obtenccedilatildeo do grau de Doutorem ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS aacuterea de concentraccedilatildeo LINGUIacuteSTICA TEOacuteRICA EDESCRITIVA linha de pesquisa Linha G-Estudos Inter-Relaccedilatildeo Linguagem Cogniccedilatildeo e
Aprovada em 30 de abril de 2014 pela banca constituiacuteda pelos membros
~~Prof(a) Heliana Ribeiro de Mello - Orientador
UFMG
C4-vJl c eO~~c~ -
PIJ~a) Giulia Bossaglia lUFMG
PWf(l o A g sto de Souza
~-~OvlProf(a) Lilian Vieira Ferrari
UFRJ
LLa tampirdWv oa 2M-~Prof(a) ~ampariaClaacuteudia de Freitas
PUC-RJ
Belo Horizonte 30 de abril de 2014
agrave memoacuteria do meu pai Joseacute Walter
que me ensinou a assimetria do tempo-espaccedilo
AGRADECIMENTOS
Natildeo se engana quem pensa que um doutorado eacute um osso duro de roer No entanto seria ainda
mais duro se natildeo estiveacutessemos cercados de um sem nuacutemero de pessoas que nos apoiam
encorajam datildeo colo provocam motivam
Agrave Prof Heliana Mello minha orientadora e amiga parceira e cuacutemplice nessa jornada que me
guiou pela matildeo para a terceira margem e se empenhou de forma delicada gentil e generosa
para eu me tornar uma doutora Por sua contribuiccedilatildeo intelectual e por sua compreensatildeo
paciecircncia e carinho desde sempre
Agrave Amaacutelia Mendes que me acolheu em Lisboa em meu periacuteodo de Estaacutegio Doutoral e natildeo
mediu esforccedilos para que me integrasse agrave vida de trabalho no Centro de Linguiacutestica da
Universidade de Lisboa Pela nossa histoacuteria de afeto e ―muita amizade Torcendo por
parcerias futuras
Ao Prof Tommaso Raso e Profordf Liacutelian Ferrari pelos valiosos comentaacuterios em minha sessatildeo
de qualificaccedilatildeo
Aos membros da Banca Examinadora por aceitarem prontamente o convite para leitura e
discussatildeo deste trabalho
Aos colegas do LEEL grandes companheiros Priscila Adriana e Raiacutessa com quem dividi a
peleja para aprender sobre a modalidade Luiacutes pelas oacutetimas trocas Bruno Rocha Elisa Helocirc
Maryualecirc Andressa Carol Bruna e Bruno Alberto pelos bons momentos passados juntos
Ao Pedro Perini com quem venho construindo um produtivo diaacutelogo sobre linguiacutestica e uma
bela amizade Ao Fred por nossa histoacuteria comprida de carinho
Aos colegas do CLUL Liliana Raiumlssa Aida Sandra Antunes Sandra Pereira Fernando aos
professores Luiacutesa Alice Gabriela e Joatildeo pelos almoccedilos cafeacutes da tarde solzinho na esplanada
e toblerones compartilhados Ao Seacutergio da informaacutetica pelo suporte teacutecnico no meu
momento de desespero quando o programa natildeo rodava Meu agradecimento especial ao
Agostinho que jaacute no primeiro dia de trabalho me ensinou pacientemente a operar o software
de anotaccedilatildeo e me provocou um lindo insight para a soluccedilatildeo de uma questatildeo que me perseguia
Agrave minha matildee Celeste a quem natildeo cabe adjetivos Ela eacute superlativa
Agrave minha famiacutelia porque sim Agrave Clara grande companheira de viagem e a todos os sobrinhos
plenos de sonhos e esperanccedilas
Agrave Fernanda que estava laacute na hora certa
Ao Nando e agrave Angeacutelica amigos obrigatoacuterios nos meus agradecimentos na alegria e na
tristeza na sauacutede e na doenccedila Meu amor sempre
Ao Francisco e agrave Antonieta pela amizade carinho almoccedilos de domingo sabores
maravilhosos e um bom vinho
Ao Eduardo amigo queridiacutessimo pelo apoio incondicional e por tornar a vida mais faacutecil
todos os dias Cafeacute preto sem accediluacutecar fruta picada e CBN
Agrave Isabel Mariana e Laurent pelas portas e braccedilos sempre abertos do lado de caacute e de laacute do
Atlacircntico
Agrave Chris que foi chegando devagarinho e veio pra ficar Risos laacutegrimas conversas matinais
Agrave Corita Evandro e Fernandinho reencontro maravilhoso pelo carinho e a sensaccedilatildeo de
abraccedilo apertado em Viccedilosa
Aos amigos de sempre espalhados pelo mundo Viccedilosa Juiz de Fora Rio Belo Horizonte
Lisboa Ouro Preto Satildeo Paulo Campinas Niteroacutei Nicosia Madrid Paris Genegraveve Basel
Berna Berlim Vocecircs formam o mapa do meu afeto
Ao Nuno tatildeo diferente e tatildeo surpreendente pelo apoio paciecircncia carinho solampmar comida
preparada Vocecirc segurou a minha onda no momento mais barra pesada da vida
Ao Francisco Carlos e agrave Miuacutecha que abriram suas casas para me acolherem Aos
companheiros de casa em Belo Horizonte e Lisboa por me ensinarem a enxergar o outro
Agraves funcionaacuterias que cuidaram de meu pai e cuidam de minha matildee a ajuda de Vocecircs nos cerca
de tranquilidade
Ao Thiago e ao Ronaldo que aleacutem de amigos maravilhosos me ajudaram com abstracts
papers ―uma traduccedilatildeo rapidinha
Ao Prof Kleos pela ajuda com as imagens e a maacutegica da formataccedilatildeo
Aos meus colegas de departamento
Agraves funcionaacuterias da PPG Suely e Margarida pelo apoio na burocracia
Aos funcionaacuterios do PosLin prestativos e soliacutecitos a nossas demandas
Agrave Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (Capes) pela bolsa de
estudos concedida para Estaacutegio Doutoral em Portugal no acircmbito do Programa de Doutorado
Sanduiacuteche no Exterior (PDSE) e agrave UFV pela bolsa de estudos no Brasil
A todos os muacutesicos de samba chorinho jazz fado soul reggae rock amp blues A vida eacute mais
leve assim
A todas as pessoas que passaram pela minha vida que natildeo estatildeo aqui nomeadas mas que
certamente deram cor e graccedila a esta minha aventura
ldquoEacute preciso que as pessoas entrem e saiam
Que vivam por toda a parterdquo
(Herberto Heacutelder)
RESUMO
Este estudo trata da descriccedilatildeo da modalidade em um corpus de fala espontacircnea da
variedade mineira do portuguecircs brasileiro Modalidade em uma definiccedilatildeo mais enxuta eacute a
avaliaccedilatildeo de um sujeito conceptualizador que relativiza o material locutoacuterio que enuncia em
termos do grau de certeza possibilidade necessidade capacidade e voliccedilatildeo No entanto natildeo
existe consenso sobre a definiccedilatildeo precisa desta categoria por diferentes razotildees (a) a
modalidade eacute campo de estudo para a loacutegica e a linguiacutestica que aplicam para este fim
metodologias diversas (b) a categoria se diferencia e estaacute interrelacionada com outras como
as de tempo aspecto modo (c) esta noccedilatildeo se confunde e se sobrepotildee agraves de ilocuccedilatildeo atitude e
emoccedilatildeo Com base nos princiacutepios da Teoria da Liacutengua em Ato na metodologia da Linguiacutestica
de Corpus e Linguiacutestica Computacional o trabalho tem como objetivo descrever o
comportamento de diferentes iacutendices marcadores de modalidade e propor um esquema de
anotaccedilatildeo da modalidade para um minicorpus do C-ORAL-BRASIL O C-ORAL-BRASIL eacute
um corpus de fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro o quinto braccedilo do C-ORAL-ROM um
corpus comparaacutevel representativo das quatro principais liacutenguas romacircnicas europeias (italiano
espanhol francecircs e portuguecircs) segmentado prosodicamente em enunciados e suas
subunidades informacionais O enunciado eacute a unidade miacutenima de referecircncia pragmaticamente
interpretaacutevel Para fins desta pesquisa utilizo uma amostra da parte informal do corpus C-
ORAL-BRASIL um minicorpus composto de 20 textos de trecircs tipologias interacionais
divididos em privados e puacuteblicos 7 monoacutelogos mdash 6 privados e 1 puacuteblico mdash 7 diaacutelogos mdash 5
privados e 2 puacuteblicos mdash e 6 conversaccedilotildees mdash 4 privadas e 2 puacuteblicas Para o tratamento nesta
tese foram selecionados 1197 iacutendices modais distribuiacutedos em 1046 enunciados codificados
e posteriormente anotados semanticamente atraveacutes do software MMAX2 Apoacutes a anaacutelise
quantitativa e qualitativa podemos concluir que (i) a categoria da modalidade se comporta de
forma distinta da escrita na fala espontacircnea (ii) os iacutendices modais satildeo amplamente utilizados
em situaccedilotildees dialoacutegicas sejam puacuteblicas ou privadas (iii) apenas algumas unidades
informacionais podem ser modalizadas Comentaacuterio Parenteacutetico Toacutepico Introdutor
Locutivo (iv) a unidade de Comentaacuterio eacute a mais modalizada e natildeo haacute restriccedilatildeo de realizaccedilatildeo
de itens nesta UI (v) a modalidade epistecircmica eacute a mais frequente entre os tipos de
significado (vi) os verbos satildeo a estrateacutegia preferencial para marcaccedilatildeo de modalidade
Palavras-chave modalidade corpus oral fala espontacircnea anotaccedilatildeo semacircntica portuguecircs
brasileiro
ABSTRACT
This study deals with the description of modality in a corpus of spontaneous Brazilian
Portuguese spoken language more specifically the Minas Gerais variety Modality in a more
concise definition is the evaluation of a conceptualizer which relativizes the uttered locutive
material in terms of degree of certainty possibility necessity capability and volition
However there is no consensus on a precise definition of such category explained by a
number of reasons (a) modality is a field of study for logics and linguistics that utilizes
various methodologies (b) the categories is both differentiated and interrelated to others such
as time aspect mode (c) this notion is mistaken and overlaps those of illocution attitude
and emotion Based on the principles of the Speech Act Theory in Corpus and
Computational Linguistics this work aims at describing the behavior of different modality
markers and proposing a modality annotation scheme for a C-ORAL-BRASIL minicorpus C-
ORAL-BRASIL is a corpus of Brazilian Portuguese spoken language the fifth branch of C-
ORAL-ROM a comparable corpus representative of the four main European Romance
Languages (Italian Spanish French and Portuguese) prosodically segmented in utterances
and their informational sub-units The utterance is the minimal reference unit pragmatically
interpretable To better fit the purposes of this research I utilized the informal part of the C-
ORAL-BRASIL corpus a minicorpus composed of 20 texts of three interactional typologies
divided into private and public 7 monologues ndash 6 private and 1 public ndash 7 dialogues ndash 5
private and 2 public ndash and 6 conversations ndash 4 private and 2 public ones For the treatment in
this thesis 1197 modal indexes distributed in 1046 utterances codified and later on
semantically annotated through the MMAX2 software were utilized After the quantitative
and qualitative analysis we can conclude that (i) the category of modality behaves
distinctively in written and spontaneous oral language (ii) the modal indexes are widely
utilized in dialogic situations be them public or private (iii) only a few informational units
can be modalized Comment Parenthetical Topic Locutive Introducer (iv) the Comment
unit is the most modalized and there is no realization restriction for this IU (v) the epistemic
modality is the most frequent one among the types of meaning (vi) verbs are the preferred
strategy for modality marking
Keywords modality oral corpus spontaneous speech semantic annotation Brazilian
Portuguese
LISTA DE FIGURAS
Figura 21 ndash Quadrado modal 25
Figura 22 ndash Mapa semacircntico da modalidade Fonte van der Auwera e Plungian (1998 p 111) 44
Figura 23 - Continuum modalidade epistecircmicaevidencialidade 58
Figura 24 ndash Projeccedilatildeo do ato comunicativo 66
Figura 41 ndash Frequecircncia de enunciados modalizados no minicorpus 102
Figura 42 ndash Frequecircncia de enunciados por tipologia e contexto interacional 104
Figura 43 ndash Frequecircncia de iacutendices modais por tipologia e contexto interacional 105
Figura 44 ndash Distribuiccedilatildeo das estrateacutegias modalizadoras na amostra () 107
Figura 45 ndash Frequecircncia absoluta das unidades informacionais em relaccedilatildeo aos iacutendices
modalizados 108
Figura 46 ndash Frequecircncia relativa das unidades informacionais no minicorpus 109
Figura 47 ndash Distribuiccedilatildeo dos valores modais () 110
Figura 48 ndash Distribuiccedilatildeo absoluta de unidades informacionais por valor modal 112
Figura 49 ndash Frequecircncia relativa de unidades informacionais por valor modal 113
Figura 410 ndash Frequecircncia dos verbos modalizadores 116
Figura 411 ndash Ocorrecircncia dos principais verbos modais tipo de modalidade 117
Figura 412 ndash Frequecircncia relativa dos valores modais dos principais verbos modalizadores 118
Figura 413 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos verbos epistecircmicos na amostra 124
Figura 414 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos epistecircmicos em unidades informacionais 127
Figura 51 ndash Tela principal do software MMAX2 155
Figura 52 ndash Criaccedilatildeo de markable 158
Figura 53 ndash Estabelecer links entre markables 159
Figura 54 ndash Links entre markables estabelecido 159
Figura 55 ndash Modal-class nuacutemero do set modal 160
Figura 56 ndash Remover o link 161
Figura 57 ndash Apagar um markable 161
Figura 58 ndash Adicionar uma sequecircncia ao markable 162
Figura 59 ndash Remover sequecircncia de um markable 162
Figura 510 ndash Caixa de anotaccedilatildeo de valores e atributos 163
Figura 511 ndash Tela principal de anotaccedilatildeo 163
Figura 512 ndash Painel de controle 164
Figura 513 ndash Tela de validaccedilatildeo da anotaccedilatildeo 164
LISTA DE QUADROS E TABELAS
Quadro 21 ndash Correspondecircncia da modalidade epistecircmica entre a tradiccedilatildeo loacutegica e a funcional 32
Quadro 22 ndash Termos gramaticais para a MOF e suas funccedilotildees 42
Tabela 31 ndash Caracteriacutesticas dos textos do minicorpus 91
Tabela 32 ndash Informaccedilotildees sobre os metadados 94
Tabela 33 ndash Informaccedilotildees sobre lemas e lexemas 95
Tabela 34 ndash Etiquetagem de unidades informacionais 95
Tabela 35 ndash Etiquetagem de valores e subvalores modais 96
Tabela 36 ndash Etiquetagem de Part of speech (PoS) e iacutendices morfoloacutegicos 97
Tabela 37 ndash Organizaccedilatildeo e codificaccedilatildeo de dados 98
Tabela 38 ndash Exemplo de organizaccedilatildeo dos dados das construccedilotildees condicionais 99
Tabela 41 Tabela 41 ndash Frequecircncia de enunciados modalizados x contexto e tipologia interacional 103
Tabela 42 ndash Frequecircncia de iacutendices modais por contexto e tipologia interacional 104
Tabela 43 ndash Estrateacutegias modalizadoras 106
Tabela 44 ndash Frequecircncia relativa das unidades informacionais na amostra 108
Tabela 45 ndash Tipos de modalidade 109
Tabela 46 ndash Estrateacutegias modalizadoras e tipos de modalidade 110
Tabela 47 ndash Distribuiccedilatildeo dos valores modais nas unidades informacionais 112
Tabela 48 ndash Distribuiccedilatildeo dos verbos modalizadores no minicorpus 115
Tabela 49 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos principais verbos modalizadores 118
Tabela 410 ndash Distribuiccedilatildeo de tokens de verbos epistecircmicos por tipologia interacional 124
Tabela 411 ndash Distribuiccedilatildeo dos verbos epistecircmicos em unidades informativas 126
Tabela 412 - Nuacutemero de ocorrecircncias dos adveacuterbios modais 130
Tabela 413 - Distribuiccedilatildeo dos adveacuterbios x tipologia interacional 131
Tabela 414 ndash Distribuiccedilatildeo dos adveacuterbios modais nas unidades informacionais 131
Tabela 415 ndash Distribuiccedilatildeo de tokens de condicionais por tipologia interacional 136
Tabela 416 ndash Frequecircncia dos padrotildees sintaacuteticos de condicionais 136
Tabela 417 ndash Frequecircncia das condicionais quanto agrave estrutura informacional 137
Tabela 418 ndash Relaccedilatildeo do padratildeo sintaacutetico de condicionais e estrutura informacional 137
Tabela 51 ndash Valores e subvalores para o esquema do portuguecircs europeu 150
Tabela 52 ndash Elementos identificados eou anotados em diferentes projetos de anotaccedilatildeo
semacircntica 152
Tabela 53 ndash Correspondecircncia entre valores na tradiccedilatildeo linguiacutestica e nos esquemas de anotaccedilatildeo 153
Tabela 54 ndash Valores e subvalores modais e suas definiccedilotildees 173
Tabela 55 ndash Sources correspondentes a cada valor e subvalor modais 182
Tabela 56 ndash Frequecircncia dos valores modais na amostra 198
LISTA DE ABREVIATURAS
ALL - Alocutivo
APC - Apecircndice de Comentaacuterio
APT - Apecircndice de Toacutepico
b - Brasileiro (Portuguecircs)
fam - Familiar
pub - Puacuteblico
cv - Conversaccedilatildeo
dl - Diaacutelogo
mn - Monoacutelogo
CMM - Comentaacuterio Muacuteltiplo
CNT - Conativo
COB - Comentaacuterio Ligado
COM - Comentaacuterio
DCT - Conector Discursivo
EMP - Unidade informacionalmente vazia
EXP - Expressivo
F - Feminino
F0 - Frequecircncia fundamental
Hz - Hertz
i- - Unidade informacional interrompida
INP - Incipitaacuterio
INT - Introdutor Locutivo
IPO - Instituto de Pesquisa Perceptual
LABLITA - Laboratorio Linguistico do
Departamento de Italianistica
LEEL - Laboratoacuterio de Estudos Empiacutericos e
Experimentais da Linguagem
M - Masculino
PAR - Parenteacutetico
PB - Portuguecircs do Brasil
PE - Portuguecircs Europeu
PLN - Processamento de Linguagem Natural
PHA - Faacutetico
PRL - Lista de Parenteacuteticos
SCA - Unidade informacional escandida
TLA - Teoria da Liacutengua em Ato
TMT - Tomada de Tempo
TOP ndash Toacutepico
TPL - Lista de Toacutepicos
UI - Unidade de informaccedilatildeo
UNC - Unidade informacional irreconheciacutevel
XML - Linguagem de marcaccedilatildeo estendida
SUMAacuteRIO
Capiacutetulo 1 INTRODUCcedilAtildeO 17
11 Justificativa 18
12 Quadro hipoteacutetico 20
121 Hipoacuteteses 20
122 Objetivos 20
13 Organizaccedilatildeo do texto 21
PARTE I ndash DISCUSSAtildeO TEOacuteRICA 23
Capiacutetulo 2 MODALIDADE estado da arte 24
21 Breve percurso histoacuterico a modalidade na loacutegica 24
22 A modalidade eacute Visotildees sobre o tema 27
221 A abordagem formalista ndash a semacircntica dos mundos possiacuteveis 28
222 Realis x Irrealis 31
223 Subjetividade 33
23 Tipos de significados modais 39
231 As visotildees natildeo-tradicionais tipologias alternativas 40
232 A visatildeo tradicional 45
2321 Modalidade epistecircmica a linguagem das possibilidades 47
232 Modalidade deocircntica 50
233 Modalidade dinacircmica 53
24 Modalidade epistecircmica e evidencialidade o limite () entre categorias 55
25 O escopo da modalidade e as fronteiras entre algumas categorias 58
251 Modalidade e negaccedilatildeo 59
252 Modalidade e modo 61
253 Modalidade ilocuccedilatildeo e atitude 63
26 Modalidade na fala espontacircnea 67
PARTE II ndash PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS E ANAacuteLISE DOS
DADOS 74
Capiacutetulo 3 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 75
31 A Teoria da Liacutengua em Ato 75
311 O enunciado 76
312 Unidades Informacionais 79
3121 Comentaacuterio (COM) 79
3122 Toacutepico 80
3123 Apecircndice de Comentaacuterio (APC) 81
3124 Apecircndice de Toacutepico (APT) 81
3115 Parenteacutetico (PAR) 82
3116 Introdutor locutivo (INT) 83
322 Unidades Dialoacutegicas 83
3221 Incipitaacuterio (INP) 83
3222 Conativo (CNT) 84
3223 Faacutetico (PHA) 84
3224 Alocutivo (ALL) 84
3225 Expressivo (EXP) 85
3226 Conector Discursivo (DCT) 85
323 A perda do isomorfismo 85
3231 Unidade de escansatildeo (SCA) 86
3232 Comentaacuterios Muacuteltiplos (CMM) 86
3233 Estrofes e Comentaacuterios Ligados (COB) 87
32 O corpus de fala espontacircnea o C-ORAL-BRASIL 88
33 Coleta e organizaccedilatildeo dos dados 89
331 O minicorpus do C-ORAL-BRASIL I 89
332 A busca e organizaccedilatildeo dos iacutendices 92
34 Anaacutelise dos dados 99
Capiacutetulo 4 A MODALIDADE NO MINICORPUS DO C-ORAL-BRASIL I
resultados e anaacutelise 101
41 Frequecircncia de enunciados modalizados na amostra 101
42 Enunciados e tipologia interacional 103
43 Frequecircncia dos iacutendices morfolexicais de modalidade 105
431 Distribuiccedilatildeo dos iacutendices em relaccedilatildeo agrave unidade informacional 107
44 Frequecircncia da modalidade quanto aos tipos modais 109
441 Frequecircncia de valor modal por iacutendice lexical 110
442 Relaccedilatildeo entre o valor modal e as unidades informacionais 111
45 Anaacutelise de iacutendices marcadores de modalidade 114
451 Os verbos modalizadores 114
4511 Frequecircncia dos verbos modalizadores 114
452 Os verbos epistecircmicos 117
4521 Os nuacutemeros para os verbos epistecircmicos 122
4522 Padrotildees sintaacuteticos semacircntica e questotildees pragmaacuteticas 125
453 Adveacuterbios e adjetivos modais 129
4531 Frequecircncia de adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais modais 129
4532 Distribuiccedilatildeo em unidades informacionais 131
454 As construccedilotildees condicionais se p entatildeo q 135
4541 Os nuacutemeros para as construccedilotildees condicionais de forma canocircnica 135
PARTE III ndash ANOTACcedilAtildeO SEMAcircNTICA DA MODALIDADE 141
Capiacutetulo 5 O PROJETO MASS (MODAL ANNOTATION IN SPONTANEOUS
SPEECH) anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade no C-ORAL-BRASIL 142
51 Trabalhos anteriores em anotaccedilatildeo semacircntica 143
52 Panorama geral (ou quem identifica eou anota o quecirc) 152
53 Proposta para anotaccedilatildeo da modalidade no C-ORAL-BRASIL o projeto MASS
(Modal Annotation in Spontaneous Speech) 154
531 Metodologia 154
5311 O software de anotaccedilatildeo MMAX2 154
5312 A preparaccedilatildeo dos textos 156
5313 Definiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo da tarefa de anotar 158
5314 O esquema de anotaccedilatildeo em versatildeo XML 165
532 Escolha dos valores modais 168
533 Triggers Sources e Targets elementos a serem anotados 174
5331 Triggers 174
5332 Sources 180
53321 Source of the event mention 180
53322 Source of the modality 181
5333 Targets 185
5334 Identificaccedilatildeo de targets de acordo com o valor modal 193
534 Polaridade 197
54 Resultados 198
541 Acordo entre anotadores 199
Capiacutetulo 6 Consideraccedilotildees finais 201
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 206
ANEXOS
Anexo 1 MASS 10 - Manual de anotaccedilatildeo
Anexo 2 Guia de uso MMAX2 (apenas na versatildeo eletrocircnica)
Anexo 3 Demonstraccedilatildeo de arquivo anotado (apenas na versatildeo eletrocircnica)
17
Capiacutetulo1
INTRODUCcedilAtildeO
O presente trabalho se insere em um projeto sobre a modalidade desenvolvido desde o
ano de 2008 na Universidade Federal de Minas Gerais denominado ―Modalidade na fala
espontacircnea do Portuguecircs Brasileiro um estudo de corpus Este projeto tem como objetivo
investigar a modalidade em um corpus oral de fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro por
diferentes motivos (1) pela dificuldade de compreensatildeo dessa categoria gramatical (2) pelo
nuacutemero ainda tiacutemido de estudos sobre o tema no portuguecircs brasileiro e (3) pela necessidade
de ―descriccedilotildees e estudos pontuais da manifestaccedilatildeo oral do portuguecircs brasileiro
Algumas das decisotildees teoacuterico-metodoloacutegicas aqui adotadas portanto satildeo fruto das
discussotildees realizadas pelo grupo de pesquisa ―Interfaces linguagem cogniccedilatildeo e cultura ndash
INCOGNITO certificado pelo CNPq e liderado pelos professores Heliana Mello e Tommaso
Raso Assim parti de estudos preliminares empreendidos dentro do projeto C-ORAL-
BRASIL que levantaram as principais estrateacutegias modalizadoras na fala espontacircnea do PB
(MELLO CARVALHO CORTES 2010 MELLO RAMOS AVILA 2011 CORTES
MELLO 2013 MELLO CAETANO 2012)
O trabalho que ora apresento pretende ser um passo agrave frente no que diz respeito agrave
descriccedilatildeo do comportamento de diferentes iacutendices marcadores do fenocircmeno semacircntico da
modalidade em um corpus oral da variante mineira do portuguecircs brasileiro
Desde o seacuteculo XVII segundo Arendt (19582010 p 310) ―todos os grandes autores
cientistas e filoacutesofos [] declaravam ver coisas jamais antes vistas e ter pensamentos jamais
antes pensados Como proposta de tese de doutoramento pretendo tratar de um tema que jaacute
foi bastante pensado e discutido desde a Antiguidade Claacutessica e por autores de diferentes
persuasotildees a categoria semacircntica da modalidade No entanto tal como os grandes nomes da
histoacuteria revolucionaacuterios ou natildeo sofremos insistentemente do ―pathoacutes da novidade e
portanto arrisco pensar a modalidade diferentemente da concepccedilatildeo claacutessica1 como uma
categoria menos estaacutetica e como uma noccedilatildeo que se realiza tambeacutem em um contexto
interacional Logo esse estudo pode ser realizado tatildeo somente pela anaacutelise da liacutengua em uso
e no caso da pesquisa em tela atraveacutes de um estudo empiacuterico
1 Trato da concepccedilatildeo claacutessica da modalidade e de outras definiccedilotildees da categoria no capiacutetulo 2
18
Com base nos princiacutepios da Teoria da Liacutengua em Ato (CRESTI 2000) e na
metodologia da Linguiacutestica de Corpus a pesquisa que proponho desenvolver tem como
objetivo descrever (e tentar explicar) o comportamento de diferentes iacutendices marcadores de
modalidade mdash lexicais ou gramaticais mdash como por exemplo verbos modais adveacuterbios ou
locuccedilotildees modalizadoras verbos de crenccedila verbos de voliccedilatildeo construccedilotildees adjetivas
modalizadoras construccedilotildees condicionais e o futuro
A pesquisa teraacute como foco a diamesia oral da variante brasileira do portuguecircs a partir
da anaacutelise (qualitativa e quantitativa) da parte informal de um corpus oral representativo da
fala espontacircnea2 o C-ORAL-BRASIL (cf RASO MELLO 2012) a ser descrito mais
adiante Como exemplos desses iacutendices temos
(11) RUT [178] ltmas elesgt tambeacutem deve ter condiccedilotildees uai
(12) JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai
13) CAR [12] e =TXC= e eu achei que ia me dar trabalho =COM=$
(14) [123] o Zeacute Carlos vai dar a televisatildeo =COM=$
(15) LUC [361] ltisso pode ser =SCA= potencialmentegt divertido =COM=$
11 Justificativa
Um estudo sobre a modalidade se justifica por diferentes razotildees Primeiro por ocupar
um lugar de destaque nos estudos da linguiacutestica nas uacuteltimas deacutecadas e ser um conceito ainda
controverso (e complexo) que se pode sobrepor a outros como os de atitude ilocuccedilatildeo ou
modo Mello e Raso (2011) propotildeem uma discussatildeo interessante sobre as categorias de
atitude ilocuccedilatildeo e modalidade a fim de facilitar a identificaccedilatildeo de traccedilos que possam
caracterizar esses diferentes conceitos De acordo com os autores essas trecircs definiccedilotildees muitas
vezes se sobrepotildeem o que leva a problemas metodoloacutegicos cruciais para a anaacutelise prosoacutedica
uma vez que a prosoacutedia codifica coisas diferentes ao mesmo tempo Os autores na tentativa
de separar os domiacutenios de aplicaccedilatildeo de cada um desses conceitos argumentam que eles
2 Para fala espontacircnea acompanho a proposta de Cresti e Scarano (1998 p 5) que entendem o espontacircneo
―como o cumprimento de atos linguiacutesticos nem programados nem programaacuteveis porque produzidos durante e
no desenvolvimento de uma interaccedilatildeo sempre nova e imprevisiacutevel entre locutores As autoras destacam o
caraacuteter dialoacutegico da fala considerada espontacircnea fundamentadas na Teoria dos Atos de Fala que relaciona o ato
de falar com o cumprimento de diversas accedilotildees linguiacutesticas (AUSTIN 1962) Tais accedilotildees linguiacutesticas em si
finitas e circunscritas natildeo satildeo o produto de um locutor ativo e isolado mas sim se relacionam a um locutor
engajado em uma situaccedilatildeo dinacircmica e interativa com vaacuterios interlocutores Segundo as autoras o princiacutepio que
rege os textos da fala espontacircnea repousa sobre um fundamento ilocutoacuterio ausente na escrita que conteacutem uma
articulaccedilatildeo informacional especifica
19
devem ser estabelecidos como instacircncias de diferentes fenocircmenos os quais satildeo aplicados a
diferentes niacuteveis do ato comunicativo e podem a princiacutepio ser composicionais
Em segundo lugar entendo que partir de corpora orais de fala espontacircnea para a
anaacutelise do fenocircmeno pode nos levar a caminhos de investigaccedilatildeo com foco em ―contextos
especiacuteficos de uso de expressotildees modais e como eles correspondem a necessidades
especiacuteficas de comunicaccedilatildeo (CORNILLIE PIETRANDREA 2012) e por consequecircncia agrave
importacircncia dos movimentos linguiacutesticos dos participantes na negociaccedilatildeo de sentidos no
curso de uma interaccedilatildeo De fato se o objetivo que aqui se delineia eacute trabalhar com a descriccedilatildeo
de construccedilotildees da liacutengua os estudos de corpora em termos metodoloacutegicos vecircm contribuir
para a manipulaccedilatildeo de um grande nuacutemero de dados representativos do uso com o recurso de
ferramentas computacionais sofisticadas Dar conta da distribuiccedilatildeo das expressotildees de uma
liacutengua se constitui como uma tarefa hercuacutelea A pesquisa de corpus dessa forma pode
determinar a frequecircncia com a qual uma determinada expressatildeo (ou construccedilatildeo) pode ser
usada em diferentes contextos Gries destaca em artigo sobre a polissemia do verbo to run
como ―os meacutetodos quantitativos da linguiacutestica de corpus podem fornecer evidecircncia empiacuterica
sugerindo respostas para alguns problemas notoriamente difiacuteceis da linguiacutestica cognitiva
(GRIES 2006 p 57)
Por uacuteltimo mas natildeo menos importante o tema da modalidade cobre diferentes
construtos de abordagens baseadas no uso ainda natildeo combinados Os estudos linguiacutesticos no
Brasil sobre a modalidade ainda carecem de anaacutelises que levem em conta as expressotildees em
contexto com dados da fala espontacircnea organizados sistematicamente ainda que haja
projetos que explorem o estudo da liacutengua falada (como o NURC e seus desdobramentos em
publicaccedilotildees)
Como consequecircncia o trabalho que ora se apresenta pode fomentar a discussatildeo sobre
semelhanccedilas e diferenccedilas em relaccedilatildeo a variedades da liacutengua portuguesa e em relaccedilatildeo a outras
liacutenguas de base romacircnica (o italiano o francecircs e o espanhol) Desse modo a pesquisa se
mostra relevante na medida em que a anaacutelise pode colaborar na reavaliaccedilatildeo de procedimentos
teoacuterico-metodoloacutegicos nesse campo e contribuir para uma melhor compreensatildeo da relaccedilatildeo da
cogniccedilatildeo humana e o comportamento social
Para aleacutem da proacutepria importacircncia do esforccedilo descritivo da modalidade na fala a tarefa
de se propor um esquema de anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade para seu reconhecimento
automaacutetico se constitui como campo ainda inexplorado no portuguecircs brasileiro tanto para
dados escritos quanto dados orais Um projeto de anotaccedilatildeo para o PB inspirado em outros
desenvolvidos para a liacutengua inglesa e o portuguecircs europeu (PE) pretende portanto contribuir
20
para um nuacutemero de aplicaccedilotildees para o Processamento de Linguagem Natural (PLN) e
tambeacutem para o proacuteprio estudo linguiacutestico da modalidade
12 Quadro hipoteacutetico
121 Hipoacuteteses
(a) Haacute uma relaccedilatildeo entre a tipologia da modalidade os perfis linguiacutesticos e a estrutura
informacional dos enunciados do Portuguecircs Brasileiro
(b) As construccedilotildees que carregam iacutendices de modalidade cumprem diferentes funccedilotildees
a depender do contexto de uso
(c) O uso de iacutendices de modalidade depende da tipologia do texto do gecircnero
discursivo do propoacutesito comunicativo e aleacutem disso da relaccedilatildeo entre os participantes da
interaccedilatildeo
122 Objetivos
Como objetivos pretendemos
Objetivo geral
reavaliar a partir de um estudo de um corpus de fala espontacircnea a definiccedilatildeo de
modalidade no sentido de delimitar a fronteira entre semacircntica e pragmaacutetica
e a partir disso definir e descrever os marcadores modais
Objetivos especiacuteficos
explorar o comportamento de diferentes iacutendices marcadores de modalidade mdash
lexicais ou gramaticais mdash em um corpus oral da variante brasileira do
portuguecircs
sugerir uma correlaccedilatildeo entre a tipologia da modalidade do Portuguecircs
Brasileiro com base nas unidades informacionais que compotildeem seus
enunciados
21
investigar os contextos de uso dos diferentes iacutendices de modalidade
elaborar um esquema de anotaccedilatildeo da modalidade a ser aplicado em uma
amostra de um corpus representativo da fala espontacircnea do portuguecircs
brasileiro
13 Organizaccedilatildeo do texto
Este trabalho estaacute organizado em trecircs grandes eixos uma parte teoacuterica que trata da
definiccedilatildeo de modalidade e da sua tipologia os procedimentos metodoloacutegicos e a descriccedilatildeo
dos itens modais de base empiacuterica em uma amostra de corpus oral do PB e a uacuteltima parte
em que apresento uma proposta de esquema de anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade A
narrativa assim se constroacutei desde uma discussatildeo teoacuterica passa pela descriccedilatildeo do fenocircmeno a
partir de consistente base empiacuterica e termina com sua aplicaccedilatildeo para fins de PLN com a
elaboraccedilatildeo do esquema de anotaccedilatildeo
O capiacutetulo 2 traz uma discussatildeo do conceito de modalidade corrente na literatura sobre
o tema os tipos de significados modais as fronteiras desta categoria semacircntica com as de
negaccedilatildeo modo ilocuccedilatildeo e atitude a fronteira entre modalidade e evidencialidade a
modalidade na fala espontacircnea e a minha proposta de definiccedilatildeo que leva em conta a
modalidade ancorada em uma situaccedilatildeo comunicativa
Em seguida no capiacutetulo 3 satildeo detalhados os procedimentos metodoloacutegicos eacute
introduzido o quadro teoacuterico da Teoria da Liacutengua em Ato o projeto C-ORAL-BRASIL e o
minicorpus utilizado nesta pesquisa
O capiacutetulo 4 apresenta a descriccedilatildeo da modalidade na amostra de 20 textos da parte
informal do corpus C-ORAL-BRASIL Este minicorpus eacute representativo e estaacute definido
segundo criteacuterios de alta qualidade Apoacutes serem discutidos os resultados para a distribuiccedilatildeo e
frequecircncia dos iacutendices no que respeita a tipologia interacional as unidades informacionais e
os valores modais empreendo uma anaacutelise de trecircs estrateacutegias modalizadoras lexicais ndash verbos
modalizadores verbos epistecircmicos e adveacuterbios ndash e uma gramatical ndash as construccedilotildees
condicionais
O capiacutetulo 5 que constitui a terceira parte da tese introduz o projeto MASS ndash Modal
Annotation of Spontaneous Speech ndash que se trata de um esquema de anotaccedilatildeo da modalidade
para a fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro Parte desta pesquisa foi desenvolvida no
22
Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa sob orientaccedilatildeo da Drordf Amaacutelia Mendes
dentro do Programa de Doutorado Sanduiacuteche no Exterior da Capes (PDSECapes)3
Por fim no capiacutetulo 6 apresento as consideraccedilotildees finais no sentido de apontar os
objetivos alcanccedilados e sinalizar para perspectivas futuras de trabalho
Em resumo
Esta introduccedilatildeo pretendeu explicitar o objeto de estudo os problemas a serem
enfrentados em relaccedilatildeo agrave categoria semacircntica da modalidade a justificativa da pesquisa o
quadro hipoteacutetico os objetivos a serem perseguidos e a estrutura do trabalho No capiacutetulo
seguinte pretendo situar o debate acerca do que vem sendo dito sobre modalidade o consenso
entre as definiccedilotildees e os problemas da conceituaccedilatildeo e da tipologia aplicadas aos dados da fala
Por fim avanccedilo para uma proposta de reformulaccedilatildeo do conceito
3 Processo nordm BEX 953712-0
23
PARTE I ndash DISCUSSAtildeO TEOacuteRICA
24
Capiacutetulo 2
MODALIDADE estado da arte
Este capiacutetulo pretende elucidar o caminho percorrido pelo conceito de modalidade
desde as abordagens loacutegicas passando pela sua apropriaccedilatildeo pelos semanticistas formais pelas
concepccedilotildees correntes na literatura linguiacutestica sejam formalistas ou funcionalistas para chegar
ao que nos interessa como debate a saber a modalidade aplicada a dados de fala espontacircnea
O objetivo eacute assumir um conceito que pressuponha a divisatildeo entre semacircntica e pragmaacutetica no
que diz respeito a essa categoria atribuindo agrave semacircntica aquilo que estaacute relacionado agrave
conceptualizaccedilatildeo e ao significado do material locutoacuterio e agrave pragmaacutetica os aspectos referentes
agrave estrutura informacional agrave forccedila ilocucionaacuteria ao conjunto de informaccedilotildees contextuais e agraves
estrateacutegias adotadas pelos interlocutores no curso da interaccedilatildeo
21 Breve percurso histoacuterico a modalidade na loacutegica
A noccedilatildeo de modalidade vem sendo debatida ao longo da histoacuteria por filoacutesofos
loacutegicos linguistas Autores de diferentes persuasotildees tratam o tema de maneira diversa
fundados principalmente na ideia comum de que a modalidade estaacute comprometida com a
noccedilatildeo de verdade e com a opiniatildeo do falante sobre o que enuncia uma determinada
proposiccedilatildeo No entanto a tarefa de definir o que eacute essa categoria eacute difiacutecil por uma seacuterie de
motivos elencados por Mello Carvalho e Cortes (2010 p 108)
(a) o de tal categoria haver sofrido em sua tradiccedilatildeo de estudo uma grande
influecircncia da Loacutegica havendo assim uma mescla entre estudos filosoacuteficos e
matemaacuteticos e aqueles da linguagem natural o que acarreta uma mistura
metodoloacutegica nem sempre produtiva para o estudo da liacutengua em uso (cf verificaccedilatildeo
de valores de verdade) (b) o de essa categoria existir em interrelaccedilatildeo no sistema
gramatical de uma liacutengua com vaacuterios fenocircmenos gramaticais como tempo aspecto
e modo prosoacutedia organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo dentre outros e (c) o fato de o
proacuteprio conceito de modalidade confundir-se com aqueles de atitude ilocuccedilatildeo e
emoccedilatildeo
Ou como coloca Bybee et al (1994 p 176) ―pode ser impossiacutevel chegar a uma
caracterizaccedilatildeo sucinta do domiacutenio nocional da modalidade4
4 Traduccedilatildeo do original ―it may be impossible to come up with a succinct characterization of the notional domain
of modality (BYBEE et al 1994 p 176)
25
Segundo a tradiccedilatildeo aristoteacutelica uma proposiccedilatildeo eacute uma sentenccedila declarativa que
conteacutem uma verdade ou uma falsidade natildeo podendo ocorrer as duas simultaneamente
Dessa forma Aristoacuteteles dedica um capiacutetulo do seu De Interpretatione agrave sua teoria da
modalidade e propotildee uma anaacutelise das declaraccedilotildees modais ou seja da relaccedilatildeo das proposiccedilotildees
―que satildeo possiacuteveis e aquelas que negam que seja possiacutevel entre aquelas que declaram que eacute
suscetiacutevel de se produzir e aquelas que o negam e entre aquelas que tratam do impossiacutevel e
do necessaacuterio (ARISTOTE 2007 p 309)5 Em dois capiacutetulos Aristoacuteteles trata das relaccedilotildees
entre as declaraccedilotildees que dizem respeito ao possiacutevel ao impossiacutevel ao contingente ao
necessaacuterio e suas respectivas negaccedilotildees (Capiacutetulo 12 As declaraccedilotildees modais e suas
contradiccedilotildeeslsquo) e na sequecircncia analisa as consequecircncias das declaraccedilotildees modais (Capiacutetulo 13
A consecuccedilatildeo loacutegica entre declaraccedilotildees modaislsquo)
A possibilidade e a necessidade estatildeo relacionadas por uma dupla negaccedilatildeo Eacute possiacutevel
que p = Natildeo eacute necessaacuterio que natildeo-plsquo e Eacute necessaacuterio que p = Natildeo eacute possiacutevel que natildeo-plsquo Estas
duas satildeo as noccedilotildees centrais da modalidade mas natildeo refletem a sua totalidade pois haacute uma
gama de significados modais que circulam na periferia formando o quadrado modal ndash
necessidadenatildeo-necessidadeimpossibilidadepossibilidade) como ilustrado na Figura 21
abaixo
Figura 21 - Quadrado modal
5 No original francecircs ―que clsquoest possible et celles qui nient que ce soit possible entre celles deacuteclarant que clsquoest
susceptible de se produire et celles qui le nient et entre celles qui traitent de llsquoimpossible et du neacutecessaire
(ARISTOTE 2007 p 309)
Possiacutevel Contingente
Contradiccedilatildeo
Necessaacuterio Impossiacutevel
26
O quadrado modal pode dar conta por exemplo de explicar que ―Ele pode subir 3
degraus de cada vez e ―Natildeo eacute impossiacutevel pra ele subir 3 degraus de cada vez se relacionam
semanticamente mas natildeo satildeo sinocircnimas
Como extensatildeo da loacutegica formal as loacutegicas modais identificam uma proposiccedilatildeo ―com
o conjunto de mundos possiacuteveis nos quais ela eacute verdadeira ou com uma funccedilatildeo de mundos
possiacuteveis em valores de verdade (HAAK 2002 p 116) Incorporam operadores que
modulam a verdade ou a falsidade para representar argumentos ligados agrave ideia de necessidade
e possibilidade Segundo Machado e Cunha (2005 p 75) ―um modal eacute uma expressatildeo
(necessariamente possivelmente) que eacute usada para qualificar a verdade de um julgamento
Dois operadores modais satildeo utilizados portanto ―eacute possiacutevele ―eacute necessaacuterio O primeiro
significa que uma sentenccedila eacute verdadeira em algum mundo possiacutevel jaacute o segundo significa que
a sentenccedila eacute verdadeira em todos os mundos possiacuteveis Considere a proposiccedilatildeo em (21)
abaixo6 e suas modificaccedilotildees pelos operadores em (21a) e (21b)
(21) Joatildeo eacute solteiro
(21a) Possivelmente Joatildeo eacute solteiro
(21b) Com certeza Joatildeo eacute solteiro
A sentenccedila em (21) que representaria o ―real pode ser tomada como a modalidade
zero Em (21a) o operador ―possivelmente indica que haacute um mundo possiacutevel em que Joatildeo eacute
solteiro Jaacute em (21b) afirma-se que em todos os mundos possiacuteveis a proposiccedilatildeo ―Joatildeo eacute
solteiro eacute verdadeira
Haak (2002 p 229) nos esclarece sobre esse caraacuteter necessaacuterio e contingente
Haacute uma longa tradiccedilatildeo filosoacutefica de distinguir entre verdades necessaacuterias e verdades
contingentes A discussatildeo eacute frequentemente explicada da seguinte maneira uma
verdade necessaacuteria eacute uma verdade que natildeo poderia ser de outra forma uma verdade
contingente uma que poderia ou a negaccedilatildeo de uma verdade necessaacuteria eacute
impossiacutevel ou contraditoacuteria a negaccedilatildeo de uma verdade contingente eacute possiacutevel e
consistente ou uma verdade necessaacuteria eacute verdadeira em todos os mundos possiacuteveis
uma verdade contingente eacute verdadeira no mundo real mas natildeo em todos os mundos
possiacuteveis
As loacutegicas modais sofreram criacuteticas principalmente porque sua interpretaccedilatildeo parece
cheia de dificuldades Segundo Kiefer (2009 p 179) ―os tratamentos loacutegicos da modalidade
6 Este exemplo foi adaptado de Lyons (1977 p 165) O exemplo original eacute ―John is a bachelor
27
satildeo restritos agraves propriedades das proposiccedilotildees e excluem todos os traccedilos natildeo-proposicionais
das sentenccedilas7
Estas ideias jaacute tinham surgido mesmo que de forma incipiente nos Primeiros
Analiacuteticos em que Aristoacuteteles anuncia ―Temos que dizer primeiro que se quando A eacute eacute
necessaacuterio que B seja entatildeo se A eacute possiacutevel eacute tambeacutem necessaacuterio que B seja possiacutevel (citado
por MACHADO CUNHA 2005 p 76) O tema continuou a ser desenvolvido em outros
acircmbitos sobretudo na linguiacutestica da qual passo a tratar agora
22 A modalidade eacute Visotildees sobre o tema
As loacutegicas modais e a linguiacutestica utilizam os mesmos termos para tratar da
modalidade Entretanto a loacutegica a divide em objetiva e subjetiva e se ocupa
fundamentalmente do caraacuteter objetivo da modalidade Jaacute na tradiccedilatildeo linguiacutestica a leitura
subjetiva da modalidade parece ser a preferencial ou melhor dito a modalidade na linguagem
eacute essencialmente subjetiva uma vez que estaacute relacionada com as atitudes dos falantes8
De fato um dos primeiros estudos linguiacutesticos sobre a modalidade o de Jespersen em
1924 nos oferece a definiccedilatildeo ―expressar certas atitudes da mente do falante em relaccedilatildeo ao
conteuacutedo das sentenccedilas9 e aponta para uma diferenciaccedilatildeo de categorias modais dividindo-as
a partir da presenccedila ou ausecircncia de ―um elemento volitivo10
A primeira corresponderia ao
obrigativo jussivo e permissivo a uacuteltima ao necessitativo potencial hipoteacutetico dubitativo
Haacute no entanto aleacutem da abordagem relacionada agrave subjetividade agrave qual esta tese vai se
alinhar outras abordagens para o estudo da modalidade (a) uma mais formal sob a
perspectiva de uma semacircntica de mundos possiacuteveis e (b) outra que propotildee a distinccedilatildeo entre
realis e irrealis
Nas seccedilotildees seguintes apresento estas trecircs teorias semacircnticas que definem de diferentes
perspectivas o fenocircmeno da modalidade
7 No original ―Logical treatments of modality are restricted to properties of propositions and exclude all
nonpropositional features of sentences (KIEFER 2009 p 179) 8 Esta formulaccedilatildeo vai ser problematizada logo agrave frente
9 ―express[ing] certain attitudes of the mind of the speaker towards the content of the sentences (JESPERSEN
1924 p 313) 10
―element of will (JESPERSEN 19241992 p 320-1)
28
221 A abordagem formalista ndash a semacircntica dos mundos possiacuteveis
De uma forma ou de outra observamos que as definiccedilotildees propostas por linguistas
sobre a modalidade estatildeo comprometidas com o valor de verdade de um determinado
conteuacutedo proposicional ou tambeacutem satildeo analisadas sob a perspectiva de uma semacircntica de
mundos possiacuteveis (KRATZER 1981)
Esta noccedilatildeo foi introduzida na filosofia loacutegica na deacutecada de 1960 por Hintikka (1962) e
Kripke (1963) com raiacutezes em Leibniz para quem as pessoas viviam em um mundo que eacute
apenas um entre infinitas possibilidades de mundos criados por Deus Para fins deste trabalho
natildeo ampliarei a discussatildeo da loacutegica modal e passo a apresentar a proposta de Kratzer em que
os mundos possiacuteveis servem a modelar determinadas relaccedilotildees semacircnticas entre expressotildees
linguiacutesticas Nas palavras de Rubinstein (2012 p 191) ―[hellip] os mundos possiacuteveis
representam todas as maneiras possiacuteveis de as coisas poderem ser (sem o compromisso de
estas possibilidades realmente existirem ou natildeo no mundo em que vivemos [hellip])11
Nesta perspectiva a modalidade seria ―o fenocircmeno linguiacutestico por meio do qual a
gramaacutetica permite que se diga coisas sobre ou na base de situaccedilotildees que natildeo necessitam ser
reais (PORTNER 2009 p 1)12
Os modais seriam pistas linguiacutesticas que lanccedilariam luz aos
conjuntos contextualmente relevantes de mundos possiacuteveis
Duas das ideias centrais da abordagem de Kratzer (1981 1991 2012) tomada como
uma ―encarnaccedilatildeo influente13
da loacutegica modal satildeo (i) os modais relativos natildeo satildeo ambiacuteguos
a distinccedilatildeo do valor de um determinado iacutendice modal eacute dada pelo contexto ou pelo que ela
denomina background conversacional Os modais de possibilidade corresponderiam a
quantificadores existenciais e os de necessidade a quantificadores universais estas forccedilas
modais que incidem sobre a base satildeo definidas pelo item lexical e (ii) ordenamento de
mundos as expressotildees modais satildeo quantificaccedilotildees sobre mundos possiacuteveis no entanto estes
mundos possiacuteveis satildeo tomados como um conjunto ordenado (ou parcialmente ordenado) de
mundos Este conjunto eacute criado atraveacutes da interaccedilatildeo de dois backgrounds conversacionais
A base modal formalmente eacute uma funccedilatildeo de mundos possiacuteveis para um conjunto de
proposiccedilotildees que servem para diferenciar as leituras dos significados modais A cada situaccedilatildeo
de uso a base modal eacute o conjunto dos mundos compatiacuteveis com o conhecimento a crenccedila os
11
Traduccedilatildeo para ―[hellip] possible worlds represent all the possible ways things could be (without committing to
whether or not these possibilities actually exist alongside the one world we live in) [hellip] (RUBINSTEIN 2012
p 191) 12
No original ―the linguistic phenomenon whereby grammar allows one to say things about or on the basis of
situations which need not be real (PORTNER 2009 p 1) 13
―influential incarnation (von FINTEL 2006 p 3)
29
desejos do falante as regras aplicaacuteveis e podem variar de mundo para mundo de acordo com
a sua avaliaccedilatildeo
Para o segundo paracircmetro o subconjunto relevante de mundos possiacuteveis para qualquer
modal eacute identificado primeiro pela descoberta de todos os mundos nos quais todas as
proposiccedilotildees na base modal satildeo verdadeiras e em seguida eacute feita a hierarquizaccedilatildeo (ou o
escalonamento) destes mundos de acordo com o quatildeo proacuteximo estatildeo do ideal determinado
pela fonte de ordenaccedilatildeo Nas palavras de Hara (2006 p 9) a fonte de ordenaccedilatildeo ―forccedila uma
ordenaccedilatildeo particular entre os mundos epistecircmicos da base modal em termos de sua
acessibilidade14
Para von Fintel (2006 p 1) disciacutepulo de Kratzer a modalidade eacute a categoria de
significado linguiacutestico que tem a ver com a expressatildeo de possibilidade e necessidade Uma
sentenccedila modalizada estabelece uma proposiccedilatildeo subjacente e prejacente (anaacutelise no niacutevel
proposicional) no espaccedilo das possibilidades Por exemplo
(24) Sandy might be home
Sandy pode estar em casa
diz que haacute uma possibilidade de Sandy estar em casa
(25) Sandy must be home
Sandy deve estar em casa
diz que entre todas as possibilidades Sandy estaacute em casa
von Fintel (2006) argumenta que a modalidade assim como a temporalidade estaacute no
centro da propriedade de deslocamento que permite agrave linguagem falar de coisas para aleacutem do
aqui-agora Aleacutem desta capacidade de projeccedilatildeo (prospectiva ou retrospectiva) Fintel aponta
para os diferentes tipos de significados dos itens modais15
e nos fornece exemplos com a
forma verbal to have tolsquo apresentados abaixo
(26) It has to be raining
Tem que estar chovendo
[depois de observar pessoas entrando com sombrinhas modalidade epistecircmica]
14
No original ―[The ordering source] forces a particular ordering among epistemic worlds of the modal base in
terms of their accessibility (HARA 2006 p 9) 15
No caso da liacutengua portuguesa comportam mais de um sentido os verbos poderlsquo deverlsquo e ter quelsquo que
carregam tanto o valor epistecircmico quanto o raizdeocircntico e dinacircmico Mais adiante discuto este ponto
30
(27) Visitors have to leave by six pm
Os visitantes tecircm que sair por volta de seis da tarde
[regulamento de hospital deocircntico]
(28) You have to go to bed in ten minutes
Vocecirc tem que ir pra cama em dez minutos
[um pai severo bulomaica ou buleacutetica]
(29) I have to sneeze
Tenho que espirrar
[dado o estado atual do nariz de algueacutem circunstancial]
(210) To get home in time you have to take a taxi
Para chegar em casa no horaacuterio Vocecirc tem que pegar um taacutexi
[modalidade teleoloacutegica]
Os exemplos entre (26) e (210) poderiam ser tomados como ocorrecircncias do tipo
deocircntico No entanto guardam entre si diferenccedilas sutis Em (27) o tipo buleacutetico ou
bulomaico indica a vontade ou intenccedilatildeo do falante O valor circunstancial em (28) expressa o
que eacute possiacutevel ou necessaacuterio de acordo com determinadas circunstacircncias A modalidade
teleoloacutegica eacute orientada para um alvo isto eacute eacute o domiacutenio do necessaacuterio e do possiacutevel com a
finalidade de alcanccedilar um determinado objetivo (von FINTEL IATRIDOU 2005
HACQUARD 2006) no caso em (29) o objetivo seria ―chegar em casa no horaacuterio
Introduzi aqui algumas das ideias principais acerca da abordagem formal da
modalidade desenvolvida desde a deacutecada de 1960 e cuja contribuiccedilatildeo de Kratzer eacute
fundamental como o fato de as expressotildees modais serem usadas para descrever maneiras
alternativas de como pode ser o mundo e incidirem sobre um argumento proposicional
conhecido por ―prejacente Satildeo quantificadores sobre mundos possiacuteveis e esta quantificaccedilatildeo
em qualquer mundo avaliativo estaacute contextualmente localizada e eacute determinada por relaccedilotildees
de acessibilidade Foram apresentados tambeacutem os dois paracircmetros principais desta
abordagem quais sejam a base modal (epistecircmica deocircntica bulomaica circunstancial
teleoloacutegica) a ordenaccedilatildeo de mundos e a fonte de ordenaccedilatildeo definidos em um background
conversacional e a partir da interaccedilatildeo entre eles
31
222 Realis x Irrealis
Como dito haacute na literatura sobre modalidade abordagens que privilegiam em suas
anaacutelises uma divisatildeo binaacuteria entre modal e natildeo-modal e relacionam essa distinccedilatildeo ao
contraste factual natildeo-factual ou realis irrealis (CHUNG TIMBERLAKE 1985 GIVOacuteN
1995 KIEFER 1994 MITHUN 1999) Para Mithun (1999 p 173) ―o realis retrata
situaccedilotildees como presentes ou tendo ocorrido ou atualmente ocorrendo reconheciacuteveis por
percepccedilatildeo direta O irrealis retrata situaccedilotildees como puramente dentro domiacutenio do pensamento
reconheciacutevel apenas atraveacutes da imaginaccedilatildeo16
Em outras palavras esta distinccedilatildeo separa o
mundo entre situaccedilotildees ou eventos reais ou irreais
Ferdinand de Haan (2005 p 41-45) argumenta que a distinccedilatildeo realis-irrealis talvez
natildeo seja suficiente para dar conta de uma tipologia da modalidade e uma definiccedilatildeo
interlinguiacutestica desta categoria uma vez que o termo irrealis eacute vago e pode se referir a
diferentes circunstacircncias aleacutem de o conteuacutedo semacircntico de morfemas irrealis variar de liacutengua
para liacutengua mesmo as liacutenguas intimamente relacionadas
A categoria de futuro eacute apresentada por de Haan como uma que pode ilustrar esta
inconsistecircncia apesar de ser uma categoria que pode ser tomada como prototipicamente
irrealis jaacute que indica eventos que ainda natildeo ocorreram e portanto satildeo irreais Nas liacutenguas
Amele e Muyuw (ambas liacutenguas da Papua Nova Guineacute mas de famiacutelias diferentes) o futuro eacute
uma categoria irrealis mas natildeo eacute o caso da liacutengua Caddo (CHAFE 1995 p 358)
exemplificada abaixo
(211) ciacuteiacutebaacutew-a ci-yi=bahw- a
1SGAGREAL-see-FUT
Irei olhaacute-lolsquo
No exemplo em (211) o morfema de futuro - a natildeo ocorre com o prefixo de
irrealis tlsquoa-tlsquoi- mas com o prefixo de realis ci-
Mithun (1995 p 378ndash80) pontua que haacute liacutenguas como o Pomo Central falado na
Califoacuternia em que o futuro pode ser usado tanto como realis ou irrealis a depender do
julgamento do falante sobre a probabilidade de um evento realmente acontecer
16
No original ―the realis portrays situations as actualized as having occurred or actually occurring knowable
through direct perception The irrealis portrays situations as purely within the realm of thought knowable only
through imagination (MITHUN 1999 p 173)
32
Givoacuten (1995) trata esta distinccedilatildeo a partir da afirmaccedilatildeo de que a modalidade eacute um
domiacutenio funcional complexo que abarca subdomiacutenios semacircnticos e pragmaacuteticos difiacuteceis de
serem separados uma vez que agrupam construccedilotildees que servem tanto a construccedilotildees
primariamente semacircnticas quanto primariamente pragmaacuteticas Seu objetivo eacute delinear alguns
princiacutepios coerentes pelos quais se pode predizer uma variaccedilatildeo de ambientes gramaticais em
que o modo subjuntivo provavelmente se gramaticaliza e podem representar um subconjunto
de irrealis O irrealis eacute tomado como uma categoria comunicativo-cognitiva (funcional) e
tipoloacutegica-gramatical (formal)
Abaixo um quadro que representa a modalidade epistecircmica na tradiccedilatildeo loacutegica e seu
equivalente comunicativo
tradiccedilatildeo loacutegica equivalente comunicativo
a verdade necessaacuteria pressuposiccedilatildeo
b verdade factual asserccedilatildeo realis
c verdade possiacutevel asserccedilatildeo irrealis
d natildeo-verdade asserccedilatildeo-NEG
Quadro 21 ndash Correspondecircncia da modalidade epistecircmica entre a tradiccedilatildeo loacutegica e a funcional
A tradiccedilatildeo loacutegica trata a modalidade desconectada de seu contexto comunicativo
natural Nas palavras de Givoacuten (1995 p 114) ―a interpretaccedilatildeo comunicativo-pragmaacutetica das
quatro modalidades [] as reelenca em termos dos estados epistecircmicos e objetivos
comunicativos dos dois participantes na negociaccedilatildeo comunicativa mdash falante e ouvinte17
A
redefiniccedilatildeo comunicativa da modalidade epistecircmica fica assim estabelecida
(a) pressuposiccedilatildeo assume-se uma pressuposiccedilatildeo como verdadeira por definiccedilatildeo por
acordo a priori por convenccedilatildeo geneacuterica culturalmente compartilhada por ser
oacutebvio para todos presentes numa situaccedilatildeo de fala ou por ter sido enunciada pelo
falante e natildeo contestada pelo ouvinte
17
Traduccedilatildeo minha para ―the communicative-pragmatic interpretation of the four modalities [hellip] recasts them
in terms of the epistemic states and communicative goals of the two participants of the communicative
transaction mdash speaker and hearer (GIVOacuteN 1995 p 114)
33
(b) asserccedilatildeo realis a proposiccedilatildeo eacute fortemente afirmada como verdadeira mas a
contestaccedilatildeo do ouvinte eacute considerada apropriada apesar de o falante ter evidecircncia
ou outras bases para defender sua firme crenccedila
(c) asserccedilatildeo irrealis a proposiccedilatildeo eacute fracamente afirmada por ser tanto possiacutevel
provaacutevel ou incerta (submodos epistecircmicos) ou necessaacuteria desejada ou indesejada
(submodos avaliativo-deocircntico) Mas o falante natildeo estaacute pronto para confirmar a
afirmaccedilatildeo com evidecircncia ou outras bases a contestaccedilatildeo do ouvinte eacute prontamente
considerada esperada ou ateacute mesmo solicitada
(d) asserccedilatildeo-NEG a proposiccedilatildeo eacute fortemente afirmada como falsa mais
comumente em contradiccedilatildeo agraves crenccedilas expliacutecitas ou assumidas do ouvinte a
contestaccedilatildeo do ouvinte eacute antecipada e o falante tem evidecircncia ou outras bases para
confirmar sua firme crenccedila
Mudar o foco das noccedilotildees de realis e irrealis para uma oacutetica cognitiva e comunicativa
implica cognitivamente deslocar de questotildees de verdade loacutegica para questotildees de certeza
subjetiva e comunicativamente deslocar do sentido (semacircntico) da orientaccedilatildeo pelo falante
para o sentido (pragmaacutetico) interativo socialmente negociado envolvendo tanto o falante
quanto o ouvinte
Independentemente da perspectiva que eacute tomada esta distinccedilatildeo parece difiacutecil tomar a
oposiccedilatildeo realis x irrealis e especificamente o irrealis como uma noccedilatildeo para a definiccedilatildeo de
modalidade ainda que em algumas liacutenguas esteja gramaticalmente marcada e que na literatura
sobre crioulos e pidgins esta seja a forma padratildeo para descrever as distinccedilotildees modais (de
HAAN 2005 p 45)
Passo portanto para a terceira abordagem sobre o fenocircmeno a modalidade como uma
categoria relacionada agrave subjetividade
223 Subjetividade
Lyons (1977 p 797-ss) em sua tentativa de siacutentese sobre a modalidade que guia
muitos outros autores em termos de relacionar a categoria com a expressatildeo da atitude de um
falante anuncia ao tratar dos adveacuterbios modais que a modalidade representa ―a opiniatildeo ou a
atitude do falante em relaccedilatildeo agrave proposiccedilatildeo que a sentenccedila expressa ou a situaccedilatildeo que a
34
proposiccedilatildeo descreve (LYONS 1977 p 452)18
Kiefer (1994 p 2516) se alinha a ele e
afirma que a modalidade eacute ―a atitude volitiva emotiva e cognitiva do falante em relaccedilatildeo a um
estado-de-coisas19
e tambeacutem Nitta (2000 p 81) que define o fenocircmeno ―como a expressatildeo
do ponto de vista do falante sobre os conteuacutedos da sentenccedila e a atitude comunicativa do
falante20
Palmer (1986) igualmente sugere uma definiccedilatildeo para modalidade baseada na
subjetividade ―Modalidade na linguagem estaacute [] relacionada agraves caracteriacutesticas subjetivas de
um enunciado [] [e] poderia ser definida como a gramaticalizaccedilatildeo das atitudes e opiniotildees
(subjetivas) de um falantersquo21
(PALMER 1986 p 16 grifos meus) O autor toma a
modalidade desde uma perspectiva tipoloacutegica e a divide em dois tipos proposicional e de
evento
A primeira eacute definida como o julgamento pelo falante do valor de verdade ou estatuto
factual de uma proposiccedilatildeo e eacute subdividida em epistecircmica e evidencial A epistecircmica expressa
o julgamento sobre o estatuto factual da proposiccedilatildeo e pode ser especulativa (expressa
incerteza) dedutiva (indica uma inferecircncia a partir de uma evidecircncia observaacutevel) assumptiva
(indica inferecircncia a partir do que eacute geralmente conhecido) evidencial (os falantes indicam a
evidecircncia que tecircm sobre o estatuto factual da proposiccedilatildeo) reportada e sensoacuteria O segundo
tipo eacute a atitude do falante em relaccedilatildeo a um potencial evento futuro que ainda natildeo ocorreu Eacute
tambeacutem subdividida em deocircntica relacionada agrave obrigaccedilatildeo ou agrave permissatildeo e dinacircmica
relativa agrave habilidade ou voliccedilatildeo
Na mesma clave Bybee Perkins e Pagliuca (1994 p 178 grifo meu) conceituam a
modalidade como a ―gramatizaccedilatildeo das atitudes e opiniotildees (subjetivas) do falante22
e
propotildeem uma divisatildeo de modalidade em quatro tipos epistecircmica orientada-para-o-agente
(ie deocircntica) orientada-para-o-falante e subordinada23
Elas sublinham a importacircncia do
estudo diacrocircnico do desenvolvimento de elementos modais a fim de compreender a variaccedilatildeo
dos significados modais em uma liacutengua
18
No original ―the speakerlsquos opinion or attitude towards the preposition that the sentence expresses or the
situation that the proposition describes (LYONS 1977 p 452) 19
Traduccedilatildeo minha para ―the speakerlsquos cognitive emotive or volitive attitude towards a state of affairs
(KIEFER 1994 p 2516) 20
Traduccedilatildeo de ―as expressing the speakerlsquos point of view on the sentence contentes and the speakerlsquos
coomunicative atitude (NITTA 2000 p 81) 21
―Modality in language is [hellip] concerned with subjective characteristics of an utterance [hellip] [and] could be
defined as the grammaticalization of speakerlsquos (subjective) attitudes and opinions (PALMER 1986 p 16) 22
Traduccedilatildeo minha para ―grammaticization of speakerlsquos (subjective) attitudes and opinions (BYBEE et al
1994 p 178) 23
Esta tipologia seraacute apresentada na seccedilatildeo 231
35
A dimensatildeo subjetiva da modalidade eacute tratada de diferentes formas na literatura sobre
a modalidade epistecircmica A oposiccedilatildeo entre o traccedilo objetivo e subjetivo da modalidade eacute
apresentada em Lyons (1977) que define que a modalidade epistecircmica objetiva expressa a
chance objetivamente mensuraacutevel de que um estado de coisas seja verdade ou natildeo e por sua
vez um enunciado epistecircmico subjetivo indica uma suposiccedilatildeo subjetiva em relaccedilatildeo agrave sua
verdade A definiccedilatildeo de Lyons de subjetividade x objetividade recai sobre diferenccedilas na
qualidade da evidecircncia que leva ao julgamento (NUYTS 2005 p 14) Lyons (1977 p 797)
toma em consideraccedilatildeo os seguintes exemplos em (212) e (213)
(212) Alfred may be unmarried
Alfred pode ser descasado
Em uma interpretaccedilatildeo subjetiva do exemplo em (212) o falante baseado em suas
proacuteprias suposiccedilotildees subjetivamente se compromete com a possibilidade de Alfred ser
descasado Em uma leitura objetiva o falante tem a informaccedilatildeo por exemplo do nuacutemero de
pessoas casadas em uma determinada comunidade e baseado neste fato constroacutei a
possibilidade de Alfred ser descasado
(213) Alfred must be unmarried
Alfred deve ser descasado
Em (213) uma leitura subjetiva da ocorrecircncia seria mais natural segundo Lyons uma
vez que o falante subjetivamente qualifica seu comprometimento com a factualidade da
proposiccedilatildeo Jaacute uma interpretaccedilatildeo objetiva nasceria por exemplo se se considerasse a
porcentagem de pessoas descasadas numa determinada comunidade e que fosse identificado o
estado civil de todas estas pessoas solteiras exceto o de Alfred O falante portanto se
compromete com a informaccedilatildeo dada ao seu interlocutor e que a proposiccedilatildeo Alfred deve ser
descasado eacute de certa maneira verdadeira
Segundo Nuyts (2001) alguns autores consideram estas caracteriacutesticas como
diferentes significados da modalidade (epistecircmico para a subjetividade e deocircntico para a
objetividade cf HENGEVELD 1988) e outros problematizam o tema como Coates (1983)
que reivindica que tanto o valor epistecircmico quanto o valor deocircntico podem ter usos subjetivos
e objetivos
36
Narrog (2005 p 169-170) aponta que haacute dois problemas relacionados a esta questatildeo
O primeiro seria a dificuldade em definir o que eacute ―subjetivo ou ―a atitude do falante porque
ambos os conceitos levam uma carga de vaguidade O segundo ponto seria definir a fronteira
entre a ―subjetividade e a ―objetividade Na verdade Narrog argumenta que natildeo eacute possiacutevel
alcanccedilar um limite para o que eacute subjetivo ou objetivo uma vez que a subjetividade de um
falante pode estar expressa em diferentes elementos de uma sentenccedila seja na escolha do
vocabulaacuterio na perspectiva adotada para conceptualizar a situaccedilatildeo etc
Pelo vieacutes cognitivista do fenocircmeno tambeacutem eacute considerada a dimensatildeo subjetiva da
modalidade Mortelmans (2007 p 869-870) concorda que a noccedilatildeo de modalidade estaacute longe
de ser definida de forma mais ou menos unificada e destaca que os trabalhos na moldura
cognitiva focam em sua maioria os verbos modais mas haacute publicaccedilotildees que contemplam
outras expressotildees de modalidade como os adveacuterbios adjetivos modais e predicados mentais
(NUYTS 1994 2001 2002) os verbos semi-auxiliares (CORNILLIE 2007) e os
marcadores evidenciais (MATLOCK 1989 LEE 1993)
A ideia de forccedila como pontua Mortelmans tem papel fundamental na forma como a
modalidade eacute conceptualizada pelos cognitivistas A Hipoacutetese da Dinacircmica de Forccedilas de
Talmy (1988 2000) se caracteriza como um esquema imageacutetico baacutesico de causa como
imposiccedilatildeo de forccedila e suspensatildeo de barreiras Expressa ―como as entidades interagem no que
diz respeito agrave forccedila Incluiacutedo aqui estaacute a imposiccedilatildeo da forccedila resistecircncia a tal forccedila barreira agrave
expressatildeo de tal forccedila a superaccedilatildeo de tal resistecircncia a suspensatildeo de tal barreira e coisas do
gecircnero (TALMY 1988 p 49)24
Este modelo eacute uma generalizaccedilatildeo da noccedilatildeo de causaccedilatildeo em que processos satildeo
conceptualizados como resultado de uma interaccedilatildeo de forccedilas e relaccedilotildees causais agindo de
diversas maneiras sobre os participantes de um evento (cf CROFT CRUSE 2004 p 66)
Talmy (1988 2000) importa da fisiologia a terminologia que emprega a entidade de forccedila
focal eacute chamada Agonista e o elemento de forccedila oposto a ela eacute o Antagonista Tento ilustrar
este ponto com uma ocorrecircncia em nossa amostra25
(214) MAI [47] aiacute ele jogou [1] jogou a capaE1 ea estraccedilalhou toda a capaE2
a o tamanho do dente (bfammn01)
24
Traduccedilatildeo para ―how entities interact with respect to force Included here is the exertion of force resistance to
such a force the overcoming of such a resistance blockage of the expression of force removal of such blockage
and the like (TALMY 1988 p 49) 25
A notaccedilatildeo utilizada nestes exemplos seraacute explicitada na Parte II deste trabalho quando introduzo os
pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato No entanto adianto aqui que uma barra simples (―) corresponde a
uma quebra no enunciado percebida como natildeo-terminal e uma barra dupla (―) como uma quebra percebida
como terminal
37
O exemplo em (214) traz dois tipos de eventos causativos o Evento 1 (E1) ―ele jogou
[1] jogou a capa e o Evento 2 (E2) ―ea estraccedilalhou toda a capa Em E1 o Antagonista
(aquele que aplica a forccedila o causador ―ele) exerce uma forccedila sobre o Agonista (aquele em
que a forccedila eacute aplicada o causado ―a capa) que realiza um movimento A situaccedilatildeo em E2 eacute
diferente o Antagonista (―ea = a cobra) impotildee uma forccedila que impede o movimento do
causado ―a capa que resulta na sua destruiccedilatildeo
Dentre os trabalhos nessa linha sobressai-se o de Sweetser (1990) que argumenta que
haacute uma tendecircncia a usar um vocabulaacuterio de um domiacutenio externo (sociofiacutesico) para um
domiacutenio interno (emocional e psicoloacutegico) Diacronicamente o sistema metafoacuterico guia
numerosas mudanccedilas semacircnticas Sincronicamente eacute representado por vaacuterias palavras
polissecircmicas e extensotildees abstratas de sentido do vocabulaacuterio do mundo fiacutesico
A modalidade assim eacute uma categoria que estaacute em ambiguidade sincrocircnica entre
mundo externo e mundo interno quer dizer haacute uma ambiguidade de expressotildees modais entre
sentidos raiz26
ou deocircnticos e sentidos epistecircmicos
Os significados que denotam obrigaccedilatildeo permissatildeo ou habilidade a autora denomina-
os ―raiz Como exemplo temos
(215) John must be home by ten Mother wonlsquot let him stay out any later
John tem que estar em casa agraves dez a Matildee natildeo deixaraacute que ele fique fora ateacute
mais tarde
Epistecircmicos satildeo os significados que denotam necessidade probabilidade ou
possibilidade Como atestado abaixo
(216) John must be home already I see his coat
John jaacute deve estar em casa estou vendo seu casaco
A proposta portanto eacute de que significados ―raiz satildeo extensiacuteveis ao domiacutenio
epistecircmico justamente porque usamos geralmente a linguagem do mundo externo para
aplicar ao mundo mental interno o qual eacute metaforicamente estruturado como paralelo agravequele
mundo externo Sweetser argumenta que os verbos modais natildeo tecircm sentidos separados natildeo-
26
Sweetser prefere usar o termo raiz Natildeo soacute porque eacute um termo mais amplo mas tambeacutem porque como
veremos a seguir ela argumenta que a modalidade epistecircmica estaacute ―enraizada na modalidade sociofiacutesica
Segundo ela o termo deocircntico pode ser tomado algumas vezes meramente como uma obrigaccedilatildeo social ou
moral
38
relacionados mas sim mostram uma extensatildeo do sentido-raiz para o domiacutenio epistecircmico mdash
uma extensatildeo fortemente motivada pelo sistema linguiacutestico circundante
A autora considera que um dos obstaacuteculos para a evoluccedilatildeo de uma compreensatildeo
unificada de modalidade (que jaacute sabemos ser um conceito controverso) decorre do fato de que
anaacutelises semacircnticas da modalidade raiz natildeo foram sistematicamente relacionadas agrave
necessidade e agrave probabilidade loacutegicas
O objetivo de Sweetser eacute demonstrar que uma anaacutelise em termos de dinacircmica de
forccedilas para os modais raiz eacute possiacutevel e extensiacutevel ao domiacutenio epistecircmico A anaacutelise da
linguista avanccedila em relaccedilatildeo ao modelo de Talmy (1981 1988) no sentindo de considerar que
a modalidade se refere a forccedilas e barreiras intencionais e diretas Tomando como exemplo o
modal may temos que no domiacutenio sociofiacutesico o verbo representa em termos de dinacircmica de
forccedilas uma ausecircncia de barreira potencial e encontra no domiacutenio epistecircmico um sentido
correspondente quer dizer uma barreira ausente no processo de raciociacutenio do falante a partir
das premissas disponiacuteveis para a conclusatildeo expressa na sentenccedila qualificada pelo verbo
Ex permissatildeo (may let allow) instacircncia de retirar uma barreira potencialmente
presente
(217) The crack in the stone let the water flow through (barreira fiacutesica)
A fenda na pedra deixou a aacutegua escorrer
(218) I begged Mary to let me have another cookie (barreira ―social)
Implorei agrave Maria para me deixar comer outro cookie
Gonzalveacutez-Garcia (2000) sob uma perspectiva discursiva ou seja uma perspectiva
mais dinacircmica (e sistemaacutetica) que pressupotildee a ―relaccedilatildeo entre modalidade o contexto de
enunciaccedilatildeo e a funccedilatildeo interpessoal da polidez [nos termos de Brown e Levinson 1987]27
(GONZALVEacuteS-GARCIA 2000 p127) propotildee que a modalidade seja caracterizada como
expressatildeo do envolvimento do falante com o conteuacutedo proposicional de um dado enunciado
(agecircncia ou subjetividade) e que pode ser tomada como ramificadora atraveacutes de toda a
arquitetura leacutexico-gramatical da linguagem
O autor argumenta que muitos dos significados normalmente atribuiacutedos a verbos
modais individuais satildeo na verdade derivados tanto do ambiente sentencial do verbo quanto
27
No original ―[hellip] relationship between modality the context of utterance and the interpersonal function of
politeness (GONZALVEacuteS-GARCIA 2000 p127)
39
de algum contexto de enunciaccedilatildeo mais amplo Assim o significado modal pode ser tomado
como emergente da interaccedilatildeo de duas camadas de significado estreitamente conectadas uma
abarcando o significado linguiacutestico do verbo modal herdado em conjunto com outros itens
modais vizinhos e outra que diz respeito aos princiacutepios ligados a polidez e estrateacutegias de
proteccedilatildeo de face
Para ilustrar seu ponto o autor lanccedila matildeo de exemplos com ―might selecionados do
International Corpus of English (ICE-GB) e de um excerto do ―Four Weddings and a
Funeral (―Quatro casamentos e um funeral no tiacutetulo brasileiro) Abaixo transcrevo o
primeiro exemplo apresentado pelo autor e sua respectiva anaacutelise (GONZALVEacuteS-GARCIA
2000 p128-129)
(219) ―Maybe I might miss something out because we are all human and Ilsquove
overlooked it and youlsquove remembered it (ICE-GB Corpus S2A-061-36)
Talvez eu pudesse deixar escapar algo porque somos todos humanos e eu o
tenha esquecido e vocecirc se lembrado (ICE-GB Corpus S2A-061-36)
Gonzalveacutes-Garcia considera este uso do modal ―might (―pudesse) como
―possibilidade remota com a leitura reforccedilada pelo adveacuterbio epistecircmico ―maybe (―talvez)
Entretanto outras formas linguiacutesticas (―are ―have overlooked e ―have remembered)
parecem indicar em contraste uma leitura mais factual do modal e aleacutem disso o uso da
forma ―might parece ser motivado pela necessidade do falante de salvar a sua face e
despertar a simpatia da audiecircncia
Em resumo o autor praticamente assume uma visatildeo pragmaacutetica da modalidade e este
estudo apresenta as fronteiras (tecircnues) entre semacircntica e pragmaacutetica
23 Tipos de significados modais
A tradiccedilatildeo loacutegica estabelece o estudo das modalidades aleacutetica epistecircmica e deocircntica
relacionadas respectivamente com as noccedilotildees de verdadefalsidade conhecimento e conduta
Seguindo a tradiccedilatildeo as noccedilotildees de necessidade possibilidade probabilidade e obrigaccedilatildeo satildeo
tomadas em consideraccedilatildeo para definiccedilatildeo dos significados modais
No entanto assim como natildeo haacute qualquer unanimidade na definiccedilatildeo da noccedilatildeo da
modalidade tambeacutem natildeo haacute entre os pesquisadores um consenso de quais categorias
poderiam estar englobadas sob o roacutetulo de ―modal Na literatura linguiacutestica tradicional sobre
a modalidade destacam-se trecircs valores semacircnticos o epistecircmico o deocircntico e o dinacircmico
40
mas muitos estudos organizam de formas distintas as dimensotildees relacionadas agrave categoria a
depender da perspectiva adotada para sua definiccedilatildeo Entre as diferentes abordagens manteacutem-
se a oposiccedilatildeo entre os significados epistecircmicos e natildeo-epistecircmicos havendo uma maior
diferenciaccedilatildeo no que diz respeito aos uacuteltimos
Nas subseccedilotildees abaixo apresento primeiramente as visotildees natildeo-tradicionais da
tipologia dos iacutendices modais e em seguida a classificaccedilatildeo tradicional sendo que nesta
uacuteltima destaco as modalidades epistecircmica deocircntica e dinacircmica que tomo como ponto de
partida para a descriccedilatildeo e anaacutelises que seratildeo empreendidas no escopo deste trabalho
231 As visotildees natildeo-tradicionais tipologias alternativas
Uma das classificaccedilotildees mais conhecidas na tipologizaccedilatildeo dos modais eacute a de Bybee e
colaboradoras (BYBEE 1985 BYBEE et al 1994 BYBEE FLEISCHMAN 1995) O
objetivo do trabalho de Bybee e colegas (1985 1994) eacute propor caminhos para o
desenvolvimento das noccedilotildees de modo e modalidade buscando determinar como e por que
determinados significados gramaticais surgem neste domiacutenio As autoras distinguem quatro
tipos de modalidade (i) modalidade orientada-para-o-agente (MOA) (ii) modalidade
orientada-para-o-falante (MOF) (iii) modalidade epistecircmica (ME) e (iv) modalidade
subordinada
A modalidade orientada-para-o-agente ―compreende todos os significados modais que
indicam a existecircncia de condiccedilotildees sobre um agente com relaccedilatildeo agrave conclusatildeo de uma accedilatildeo
expressa no predicado principal por exemplo obrigaccedilatildeo desejo habilidade permissatildeo e
possibilidade raiz (BYBEE FLEISCHMAN 1995 p 6)28
As noccedilotildees semacircnticas especiacuteficas deste tipo satildeo
(a) obrigaccedilatildeo existecircncia de condiccedilotildees sociais externas que levam um agente a concluir
a accedilatildeo predicada expressa como uma obrigaccedilatildeo forte ou fraca Por exemplo
(220) All students must obtain the consent of the Dean of the faculty concerned
before entering for examination
Todos os estudantes devem obter o consentimento do Diretor da Faculdade
referida antes de entrar no exame
28
Traduccedilatildeo do original ―[]―encompasses all modal meanings that predicate conditions on an agent with regard
to the completion of an action referred to by the main predicate eg obligation desire ability permission and
root possibility (BYBEE FLEISCHMAN 1995 p 6)
41
(221) I just insisted very firmly on calling her Miss Tillman but one should really
call her President
Insisti muito firmemente em chamaacute-la de Srta Tillman mas deve-se realmente
chamaacute-la de Presidente
Em (220) tem-se caracterizada uma obrigaccedilatildeo mais fraca Jaacute em (221) emos um
exemplo de obrigaccedilatildeo forte
(b) necessidade existecircncia de condiccedilotildees fiacutesicas que levam um agente a completar a
accedilatildeo predicada
(222) I need to hear a good loud alarm in the mornings to wake up
Eu preciso ouvir um despertador bem alto pelas manhatildes para acordar
(c) habilidade existecircncia de condiccedilotildees internas de habilidade no agente com relaccedilatildeo agrave
accedilatildeo predicada
(223) I can only type very slowly as I am a beginner
Como sou um iniciante eu soacute consigo digitar muito devagar
(d) desejo existecircncia de condiccedilotildees internas de voliccedilatildeo no agente com relaccedilatildeo agrave accedilatildeo
predicada
(224) Juan Ortiz called to them loudly in the Indian tongue bidding them come forth
if they would (= wanted to) save their lives
Juan Ortiz chamou-os bem alto na liacutengua indiana ordenando-lhes que
voltassem se eles quisessem salvar suas vidas
A modalidade orientada-para-o-falante abrange ―marcadores de diretivos tais como
imperativos optativos e permissivos que representam atos de fala atraveacutes dos quais um
falante tenta provocar o endereccedilado a agir (BYBEE FLEISCHMAN 1995 p 6)29
Este tipo
natildeo indica a existecircncia de condiccedilotildees sobre o agente mas permite ao falante impor tais
condiccedilotildees sobre o interlocutor O quadro abaixo mostra em resumo os termos gramaticais
usados para a MOF e suas respectivas funccedilotildees
29
No original ―[m]arkers of directives such as imperatives optatives or permissives which represent speech
acts through which a speaker attempts to move an addressee to action (BYBEE FLEISCHMAN 1995 p 6)
42
Termos gramaticais Funccedilatildeo
Imperativo Comando direto a uma segunda pessoa
Proibitivo Comando negativo
Optativo Desejo ou expectativa do falante expresso
na oraccedilatildeo principal
Hortativo (exortativo) O falante encoraja ou incita algueacutem a agir
Admoestativo O falante emite um aviso
Permissivo O falante concede permissatildeo
Quadro 22 ndash Termos gramaticais para a MOF e suas funccedilotildees
Bybee et al (1994) consideram os modos acima elencados como parte da modalidade
deocircntica No entanto eacute possiacutevel questionar a validade deste tipo ser uma categoria modal se
se exclui o ―modo do domiacutenio da modalidade
As autoras ainda distinguem a categoria de modalidade subordinada que se trata de
estabelecer uma categoria formal para dar conta das modalidades em claacuteusulas subordinadas
Uma segunda tipologia considerada alternativa dentro dos estudos da modalidade eacute a
proposta por van der Auwera e Plungian (1998) A modalidade para os autores estaria
relacionada com domiacutenios semacircnticos em que possibilidade e necessidade satildeo as variantes
paradigmaacuteticas (van der AUWERA PLUNGIAN 1998 p 80) Satildeo considerados quatro
domiacutenios modalidade interna ao participante modalidade externa ao participante
A modalidade interna ao participante se refere ao tipo de possibilidade ou necessidade
interna a um participante engajado no estado de coisas Veja os exemplos
(225a) Boris can get by with sleeping five hours a night
Boris pode passar bem dormindo cinco horas por noite
(225b) Boris needs to sleep ten hours every night for him to function properly
Boris precisa dormir dez horas toda noite para funcionar adequadamente
O exemplo (225a) em termos de possibilidade mostra uma capacidadehabilidade do
participante Borislsquo e o exemplo em (225b) eacute um caso de uma necessidade interna do
participante
O segundo domiacutenio de contraste entre possibilidade e necessidade eacute a modalidade
externa ao participante que se refere a circunstacircncias externas ao participante engajado no
estado de coisas o que torna este estado de coisas possiacutevel ou necessaacuterio Como atestado nos
exemplos (226a) e (226b)
43
(226a) To get to the Station you can take bus 66
Para chegar agrave estaccedilatildeo vocecirc pode pegar o ocircnibus 66
(226b) To get to the Station you have to take bus 66
Para chegar agrave estaccedilatildeo vocecirc tem que pegar o ocircnibus 66
Em (226a) o ocircnibus 66 eacute uma entre outras possibilidades para se chegar agrave estaccedilatildeo e
em (226b) pegar o ocircnibus 66 constitui-se como uma necessidade externa jaacute que eacute o uacutenico
meio de transporte para se chegar agrave estaccedilatildeo
O terceiro domiacutenio eacute a modalidade deocircntica caracterizado como um subdomiacutenio da
modalidade externa ao participante Este tipo identifica as circunstacircncias favorecedoras
externas ao participante como uma pessoa(s) normalmente o falante eou alguma norma
social ou eacutetica que permite ou obriga o participante a se engajar no estado de coisas Em
(227a) temos um caso de possibilidade deocircntica uma pessoa ou norma permite e torna
possiacutevel a partida de John A necessidade deocircntica estaacute expressa em (227b) em que uma
autoridade ou uma norma impotildee a partida de Joatildeo como necessaacuteria e obrigatoacuteria
(227a) John may leave now
John pode partir agora
(227b) John must leave now
John deve partir agora
O quarto e uacuteltimo domiacutenio eacute a modalidade epistecircmica que se refere a um julgamento
de uma proposiccedilatildeo pelo falante que pode ser considerada incerta ou provaacutevel
(228a) John may have arrived
John pode ter chegado
(228b) John must have arrived
John deve ter chegado
(228a) ilustra uma possibilidade baseada em julgamentos anteriores o falante trata a
chegada de John como incerta Em (228b) o falante se refere agrave chegada de John como
provaacutevel Dado um conjunto de evidecircncias anteriores o falante eacute levado a crer que
necessariamente John chegou
44
Assim os autores a partir dos passos de gramaticalizaccedilatildeo de Bybee et al (1994)
desenvolveram um mapa semacircntico da representaccedilatildeo da modalidade Como mostra a Figura
22 abaixo
Figura 22 ndash Mapa semacircntico da modalidade Fonte van der Auwera e Plungian (1998 p 111)
Neste mapa estatildeo representados trecircs domiacutenios da esquerda para a direita preacute-modal
modal e poacutes-modal Os domiacutenios preacute e poacutes-modais satildeo representados abstratamente e os
passos de gramaticalizaccedilatildeo satildeo representados por setas
Por fim a modalidade raiz abarca os significados natildeo-epistecircmicos em oposiccedilatildeo agrave
modalidade epistecircmica Como visto ela pode estar relacionada com o significado deocircntico
(TALMY 1988 SWEETSER 1990) e tambeacutem incluir parte do tipo dinacircmico (COATES
1983)
Como dito anteriormente levarei em conta neste trabalho uma classificaccedilatildeo
tradicional na literatura linguiacutestica considerando os tipos mais centrais desde o ponto de vista
do uso das liacutenguas naturais Utilizo os significados epistecircmico (relacionado ao conhecimento
e crenccedila) deocircntico (relacionado a obrigaccedilatildeo e permissatildeo) e dinacircmico (relacionado a
capacidade habilidade fiacutesica e voliccedilatildeo) Na proacutexima seccedilatildeo apresento alguns sentidos modais
numa visatildeo tradicional aleacutem de descrever mais detidamente as categorias baacutesicas aplicadas
nesta pesquisa nas seccedilotildees 2321 2322 e 2323
premodal
meanings going
to possibility
premodal
meanings going
to what is vague between
possibility and
necessity
premodal
meanings going to necessity
(one is future)
postmodal
meanings coming
from possibility
postmodal
meanings coming
from either possibility or
necessity
(one is future)
postmodal meanings coming
from necessity
participant-internal
possibility
deontic possibility
D
deontic necessity
D participant-external
possibility
participant-internal
possibility
participant-internal
necessity
epistemic
possibility
epistemic
necessity
45
232 A visatildeo tradicional
Em uma visatildeo tradicional encontra-se normalmente aleacutem das trecircs categorias baacutesicas ndash
epistecircmica deocircntica e dinacircmica ndash as categorias aleacutetica bulomaica (ou buleacutetica)
circunstancial e teleoloacutegica
A modalidade aleacutetica por definiccedilatildeo refere-se agrave verdade contingente possiacutevel ou
necessaacuteria de uma proposiccedilatildeo von Wright (1951) em seu ―Um ensaio em loacutegica modal
afirma que haacute quatro tipos de modos o aleacutetico o epistecircmico o deocircntico e o existencial Os
modos aleacuteticos satildeo os modos da verdade e a preocupaccedilatildeo central para as anaacutelises da loacutegica
modal De acordo com von Wright (1951 p 8) ―[a]s modalidades aleacuteticas satildeo ditas de dicto
quando satildeo sobre o modo ou forma na qual uma proposiccedilatildeo eacute ou natildeo eacute verdadeira As
modalidades satildeo usadas de dicto em frases como Eacute necessaacuterio quelsquo ou Eacute impossiacutevel
quelsquo etc30
Nas abordagens da semacircntica formal (LYONS 1977) o valor aleacutetico se diferencia do
valor epistecircmico uma vez que o uacuteltimo estaacute relacionado aos modos de conhecimento Esta
diferenccedila se aproxima daquela jaacute discutida anteriormente do caraacuteter objetivo e subjetivo da
modalidade epistecircmica
Segundo Palmer (1986 p 11) ―natildeo haacute qualquer distinccedilatildeo entre [hellip] o que eacute
logicamente verdadeiro e o que o falante acredita ser verdade efetivamente e ―natildeo haacute
qualquer distinccedilatildeo gramatical formal em inglecircs e talvez tambeacutem em qualquer outra liacutengua
entre a modalidade aleacutetica e a epistecircmica31
Vejamos o exemplo
(229) Uma refinaria representa investimento de muitos milhotildees Aleacutem do mais o
refino do petroacuteleo pode ser feito em qualquer lugar do paiacutes (CP
19OrBrIntrv Com)
Na ocorrecircncia em (229) coletada no Corpus do Portuguecircs (DAVIES FERREIRA
2006) o falante afirma uma possibilidade fiacutesica ou natural compatiacutevel com o que estaacute
estabelecido em um determinado universo
30
Traduccedilatildeo minha para ―The alethic modalities are said to be de dicto when they are about the mode or way in
which a proposition is or is not true The modalities are used de dicto in phrases such as ―it is necessary that
―it is impossible that etc (von WRIGHT 1951 p 8) 31
No original ―there is no distinction between [hellip] what is logically true and what the speaker believes as a
matter of fact to be true and ―there is no formal grammatical distinction in English and perhaps in no other
language either between alethic and epistemic modality (PALMER 1986 p 11)
46
Entretanto alinho-me a Palmer no sentido de que compreendo que em um
determinado enunciado em que um conhecimento eacute apresentado como dado e natildeo
especulativo (o que seria em loacutegica modal reconhecido como uma verdade aleacutetica)
considero que seja um conhecimento epistecircmico ou ainda como uma possibilidade dinacircmica
Portanto a diferenccedila colocada entre verdade no mundo e verdade na mente de um
determinado indiviacuteduo perde o sentido Portner (2009 p 135) propotildee inclusive o termo
―modalidade factual para abarcar os tipos epistecircmico aleacutetico e metafiacutesico
Conforme Portner (2009 p 10) haacute uma dificuldade em se classificar precisamente o
uso aleacutetico de um modal e que este tipo pode ser considerado o mais baacutesico a partir do qual
outros podem ser definidos
A modalidade bulomaica indica o grau de aprovaccedilatildeo ou desaprovaccedilatildeo do falante (ou
outra pessoa) em relaccedilatildeo a um determinado estado de coisas Este tipo assim como o
epistecircmico e o deocircntico (que podem ser considerados mais fortes ou mais fracos) podem ser
analisados de forma escalar com polos positivo e negativo
O tipo circunstancial se refere ao que eacute possiacutevel ou necessaacuterio de acordo com
determinadas circunstacircncias por exemplo
(230) Eacute possiacutevel instalar uma internet a raacutedio na zona rural de Viccedilosa
A sentenccedila em (230) expressa a informaccedilatildeo de que haacute as condiccedilotildees necessaacuterias que
viabilizam a instalaccedilatildeo de um serviccedilo de internet na zona rural de uma cidade natildeo importa se
a instalaccedilatildeo vai ocorrer ou natildeo
Segundo Mello et al (2009 p 119) alguns autores natildeo consideram este tipo de forma
autocircnoma concebendo-os como enunciados modalizados ou aleticamente ou dinamicamente
A modalidade teleoloacutegica expressa o que eacute necessaacuterio para se atingir um determinado
objetivo
(231) Para entrar no Ministeacuterio Puacuteblico tenho que estudar com disciplina
Em (231) em que o objetivo eacute ser funcionaacuterio do Ministeacuterio Puacuteblico e para alcanccedilar
tal objetivo eacute necessaacuterio um estudo disciplinado
47
2321 Modalidade epistecircmica a linguagem das possibilidades
Lyons (1977 p 797-800) afirma que as interpretaccedilotildees epistecircmicas de iacutendices modais
satildeo frequentemente mais subjetivas e que essas interpretaccedilotildees satildeo mais baacutesicas que as
objetivas Kiefer confirma este caraacuteter subjetivo da modalidade De acordo com ele ―[a]
modalidade epistecircmica subjetiva expressa diferentes graus de comprometimento com a
factualidade32
(KIEFER 2009 p 183) e completa dizendo que dessa forma se relaciona
com a categoria de evidencialidade33
Bybee et al (1994 p 179) propotildeem que a modalidade epistecircmica marca ―a extensatildeo
ateacute a qual o falante estaacute comprometido com a verdade da proposiccedilatildeo34
ou como define
Palmer (1986 p 51) o ―grau de comprometimento do falante com a verdade do que ele
diz35
No mesmo sentido van der Auwera e Plungian (1998) argumentam que uma
proposiccedilatildeo eacute avaliada como certa ou provaacutevel em relaccedilatildeo a um conjunto de julgamentos
Coates (1983 p 41) por sua vez sustenta que a modalidade epistecircmica sempre indica ―a
confianccedila (ou falta de confianccedila) do falante na verdade da proposiccedilatildeo expressa36
e dessa
forma varia entre o limite da confianccedila e da duacutevida
Nuyts (2001) nos oferece a seguinte definiccedilatildeo
A modalidade epistecircmica eacute [] uma avaliaccedilatildeo das chances que um certo estado-de-
coisas hipoteacutetico tomado em consideraccedilatildeo (ou algum aspecto dele) vai ocorrer estaacute
ocorrendo ou ocorreu em um mundo possiacutevel o qual funciona como o universo de
interpretaccedilatildeo para a avaliaccedilatildeo do processo e o qual no caso default eacute o mundo real
(ou antes a interpretaccedilatildeo do avaliador desse mundo []37
(NUYTS 2001 p 21)
A avaliaccedilatildeo nesse caso iria da absoluta certeza de que um estado-de-coisas eacute real agrave
absoluta certeza de que natildeo eacute real Entre os dois extremos estaria um continuum que inclui a
possibilidade e a probabilidade Como os exemplos extraiacutedos de nossa amostra indicam
32
No original ―Subjective epistemic modality thus expresses different degrees of commitment to factuality and
it thus relates to evidentiality (KIEFER 2009 p 183) 33
Trato da relaccedilatildeo semacircntica entre modalidade epistecircmica e evidencialidade mais adiante na seccedilatildeo 24 34
― the extent to which the speaker is committed to the truth of the proposition (BYBEE PERKINS
PAGLIUCA 1994 p 179) 35
―the degree of commitment by the speaker to the truth of what he says (PALMER 1986 p 51) 36
―[speakerlsquos] confidence (or lack of confidence) in the truth of the proposition expressed (COATES 1983 p
41) 37
―Epistemic modality is [hellip] an evaluation of the chances that a certain hypothetical state of affairs under
consideration (or some aspect of it) will occur is occurring or has occurred in a possible world which serves as
the universe of interpretation for the evaluation process and which in the default case is the real world (or
rather the evaluatorlsquos interpretation of it [hellip] (NUYTS 2001 p 21)
48
(232) [141] os cara que satildeo bem mais boleiros eles com ltcertezagt vatildeo saber
alguma coisa (bfamcv01)
(233) LUI [7] com certeza es nũ vatildeo participar uaigt (bfamcv01)
(234) [198] minha matildee sem chance (bfammn04)
(235) LUA [95] ltegt assim se cecirc tivesse uma coordenaccedilatildeo pedagoacutegica melhor
talvez adiantasse um pouco assim ou pelo menos ajudasse a organizar neacute
(bpubmn01)
O exemplo em (232) representa a certeza que um estado-de-coisas vai ocorrer (―saber
alguma coisa) ao contraacuterio de (233) e (234) que apontam para a certeza de que natildeo vatildeo
ocorrer Jaacute em (235) temos um exemplo da nuance de possibilidade que Nuyts fala de um
estado-de-coisas ocorrer ou natildeo dadas determinadas circunstacircncias no caso a hipoacutetese de
―uma coordenaccedilatildeo pedagoacutegica melhor
Sweetser (1990) considera a modalidade epistecircmica como extensatildeo da modalidade
raiz A partir da anaacutelise da modalidade raiz em termos de forccedilas e barreiras sociofiacutesicas ela
explora a transferecircncia dessa visatildeo para a modalidade epistecircmica para atingir uma anaacutelise
unificada sobre modalidade
A autora se alinha a Palmer (1986) no sentido de argumentar que os verbos modais
em inglecircs nos seus sentidos epistecircmicos expressam o julgamento do falante Assim pretende
encontrar uma conexatildeo semacircntica motivada entre o domiacutenio epistecircmico de raciociacutenio e
julgamento e o domiacutenio da modalidade sociofiacutesica
Por exemplo se o may sociofiacutesico representa em termos de dinacircmica de forccedilas uma
ausecircncia de barreira potencial o may epistecircmico tem um sentido paralelo no domiacutenio do
raciociacutenio isto eacute haacute uma barreira ausente no processo de raciociacutenio do falante a partir das
premissas disponiacuteveis para a conclusatildeo expressa na sentenccedila qualificada pelo verbo Segundo
Sweetser nossa experiecircncia sobre os domiacutenios fiacutesico social e do raciociacutenio compartilham
alguma estrutura que nos permite um mapeamento metafoacuterico bem sucedido entre os
aspectos relevantes dos trecircs domiacutenios
Os fatores pragmaacuteticos (como as pistas contextuais e a prosoacutedia) vatildeo influenciar para
o ouvinte (ou para o indiviacuteduo endereccedilado) compreender se um modal corresponde a um
domiacutenio ou outro Veja os exemplos com os verbos deverlsquo e poderlsquo no portuguecircs brasileiro
49
(236) dever epistecircmico
(236a) necessidade
RUT [178] ltmas elesgt tambeacutem deve ter condiccedilotildees =COM= uai =PHA=$
(bfamcv02)
(236b) probabilidade
o diacircmetro dea deve dar uns [1] uns quarenta a cinquumlenta centiacutemetro de [1]
de amps [2] de grossura o diacircmetro dela (bfammn01)
(237) poder epistecircmico
(237a) possibilidade
BAL [229] entatildeo isso aqui a gente pode ltinventar de colocar em qualquer
lugargt =COM=$ (bfamdl02)
(237b) impossibilidade
MAI ele nũ [2] ele nũ [2] ele nũ ltpode nemgt falar plsquo ocecirc ltque eacute verdade
(bfammn01)
Em recente trabalho sobre o significado epistecircmico Boye (2012) propotildee igualmente
que a modalidade epistecircmica estaacute definida em termos da noccedilatildeo do grau de certeza do grau de
comprometimento o que ele vai chamar de ―apoio epistecircmico38
Esta categoria assim como
a de evidencialidade estaria subordinada a outra categoria descritiva a epistemicidade que
seria uma generalizaccedilatildeo das noccedilotildees de justificativa epistecircmica e apoio epistecircmico ao que os
filoacutesofos chamam de ―apoio justificativo39
Kaumlrkkaumlinen (2003) destaca que ainda que as definiccedilotildees propostas para a modalidade
epistecircmica faccedilam referecircncia agrave verdade da proposiccedilatildeo os types relacionados a ela satildeo de
possibilidade probabilidade e certeza (inferida)
No PB a modalidade epistecircmica pode ser expressa por elementos de natureza lexical
como verbos modais adveacuterbios modais verbos de atitude proposicional construccedilotildees
adjetivas expressotildees modais e de natureza gramatical como o futuro perifraacutestico e as
condicionais Encerro a seccedilatildeo com mais alguns exemplos de nossa amostra
(238) TER [21] ocirc Jael [22] mas gente velha jaacute prometeu o [1] os presente ltjaacute
podegt garantir que ganhou (bfamcv02)
38
―epistemic support (BOYE 2012 p 2) 39
―justificatory support (BOYE 2012 p 2-3)
50
(239) [171] natildeo trinta reais aiacute eu ampj [2]=SCA= eu [1] eu fico imaginando que elsquo
fica pensando assim Nossa Sio agraves vezes laacute em casa taacute precisando de fazer
uma compra e tudo neacute (bpubmn01)
(240) [72] quela [1] quela aula igual se daacute no EDUCONLE que cecirc acha que eacute ampo
[1] eacute tudo de bom neacute (bpubmn01)
(241) foi verdade ltmesmogt (bfammn01)
(242) PAU [153] porque eacute capaz dlsquoeu subir uma parede laacute (bpubdl01)
(243) [59] porque ateacute aiacute essas crianccedila ateacute dez anos o [1] o mundo que noacutes tamo
vivendos hoje com dez ano jaacute daacute pa ver que daacute trabalho (bfammn05)
(244) [44] es vatildeo pegar os caras que tipo tavam reclamando e tal es vatildeo pegar
[3] es vatildeo pegar tentar fazer um negoacutecio desse e eu aposto que cecirc vai ver
os caras que jaacute conhecem a gente haacute mais tempo tipo Joseacute [1] Zeacute Mourinho
falando assim natildeo o campeonato dlsquoocecircs eacute bem melhor (bfamcv01)
(245) BRU [268] lte se for uma palavra composta cecirc faz assimgt (bfamcv04)
Em (238) temos uma ocorrecircncia com o verbo modal ―poder com valor epistecircmico
que denota possibilidade (239) traz um exemplo com a locuccedilatildeo adverbial ―agraves vezes
normalmente utilizada no sentido temporal de ―em algumas ocasiotildees ou circunstacircncias mas
que na diatopia mineira toma o sentido modal de possibilidade sendo sinocircnima de ―talvez
A ocorrecircncia em (240) traz um verbo de atitude proposicional (ou ainda verbo epistecircmico ou
verbo de crenccedila) ―acha que indica o grau de certeza sobre o que estaacute enunciado As
construccedilotildees adjetivas estatildeo representadas nos exemplos (241) e (242) com as expressotildees
―foi verdade e ―eacute capaz No primeiro caso temos um sentido de certeza e no segundo de
possibilidade O uso modal do verbo ―dar exemplificado em (243) eacute ainda pouco
reconhecido na literatura (cf SALOMAtildeO 2008) no entanto eacute recorrente na fala em sentidos
possibilitativos Os marcadores de modalidade de caraacuteter gramatical estatildeo ilustrados em
(244) e (245) o primeiro exemplo traz uma seacuterie de usos de futuro perifraacutestico que indicam
o grau de certeza ou comprometimento em relaccedilatildeo agrave realizaccedilatildeo de um evento futuro no
segundo exemplo temos uma construccedilatildeo condicional na forma canocircnica ―se p entatildeo q em
que o conectivo ―se eacute o marcador modal
232 Modalidade deocircntica
Segundo a tradiccedilatildeo loacutegica o valor deocircntico diz respeito agraves noccedilotildees da obrigaccedilatildeo e da
permissatildeo Este valor estaacute ligado a princiacutepios morais ou legais e de conduta social
51
Lyons (1977 p 792-793) afirma que a mesma distinccedilatildeo aplicada agrave modalidade
epistecircmica entre leitura subjetiva e objetiva pode ser estendida agrave modalidade deocircntica como
exemplifica a partir da proposiccedilatildeo ―Alfred is a bachelor (―Alfred eacute celibataacuterio)
(246) Alfred is obliged to be unmarried
Alfred eacute obrigado a ser descasado
(247) ―I (hereby) oblige Alfred to be unmarried
ldquoEu obrigo Alfred ser descasadordquo
Em (246) teriacuteamos uma interpretaccedilatildeo deocircntica mais objetiva e em (232) uma mais
subjetiva Mais aleacutem no exemplo (247) temos um performativo Tento resgatar em nossa
amostra um exemplo que em minha opiniatildeo eacute ambiacuteguo no que diz respeito a uma leitura
subjetiva ou objetiva como coloca Lyons
(248) [132] po parar o carro hhh (bfamdl05)
Se levarmos em consideraccedilatildeo a ocorrecircncia acima com o verbo modal ―poder
deocircntico em sua forma afereacutetica po‟lsquo desconectada de seu contexto de uso e da forma como
foi enunciada natildeo haveria duacutevida de que as seguintes interpretaccedilotildees seriam possiacuteveis
(248a) Eacute permitido parar o carro
(249b) Eu te permito parar o carro
No entanto natildeo eacute o caso quando a escutamos [ ] O contexto permite a interpretaccedilatildeo
de ―eacute o caso de ou ―eacute oportuno e percebemos uma ilocuccedilatildeo do tipo representativo do
subtipo ―conclusatildeo Natildeo estou colocando em duacutevida o caraacuteter deocircntico da ocorrecircncia mas
gostaria de pensar como (e se) a forccedila ilocucionaacuteria em sobreposiccedilatildeo agrave modalidade40
atenuaria ou reforccedilaria a ideia de permissatildeo
Kiefer (2009) argumenta que se deve fazer uma distinccedilatildeo entre o estabelecimento de
uma necessidade deocircntica ou de uma possibilidade deocircntica (entre proposiccedilotildees deocircnticas) e a
emissatildeo de uma ordem (impor uma obrigaccedilatildeo) ou dar permissatildeo As primeiras segundo ele
pertencem agrave semacircntica (e se proposicional satildeo descritas em termos de loacutegica formal) as
uacuteltimas satildeo parte da teoria dos atos de fala e devem assim ser tratadas na pragmaacutetica
40
Sobre a distinccedilatildeo entre modalidade e ilocuccedilatildeo ver seccedilatildeo 243
Other
15348568
52
A literatura identifica a modalidade deocircntica com os atos de fala diretivos (e com o
modo imperativo cf BYBEE et al 1994) uma vez que a obrigaccedilatildeo e permissatildeo derivariam
de uma fonte de autoridade As evidecircncias em corpora de fala espontacircnea com arquivos de
aacuteudio disponiacuteveis para checar os atos ilocucionaacuterios apontam para outro caminho Os
exemplos de Tucci (2007 p 62)41
do corpus de referecircncia do italiano problematizam a ideia
de comando nos usos de dovere e potere em enunciados assertivos que expressam
necessidade contingente em (250) impossibilidade condicionada em (251) e
esclarecimento de uma regra operativa em (252)
(250) LIA si doveva rigovernare COM
[ifamcv02]
(251) GAL un potevi falsquo cip COM
[ifamcv14]
(252) MAM ma te la devi fare a lei lte lei la fa a tegt COM
[ifamcv25]
Ou como atestado na amostra do corpus de fala espontacircnea do PB em que temos
diferentes classes de atos de fala a partir de Moneglia (2011 p 490)42
representativos
diretivos e expressivos
(253) dever gt necessidade obrigaccedilatildeo
(253a) LUI [213] eu acho que a gente deve chamar os lttimesgt legais
(bfamcv01)
ill asserccedilatildeo forte
(254) ter que gt necessidade obrigaccedilatildeo
(254a) [211] entatildeo tem que ser eu mesma (bfamcv02)
ill expressatildeo de obviedade
(255) poder
(255a) permissatildeo
[205] a porta taacute fechada mas cecirc pode abrir (bfamdl05)
ill autorizaccedilatildeo
41
Os exemplos em (250) (251) (252) correspondem respectivamente aos exemplos 20 21 e 22 de Tucci
(2007 p 62) transcritos aqui ipsis litteris 42
A tarefa de anotaccedilatildeo ilocucionaacuteria ainda estaacute por ser realizada no acircmbito do projeto C-ORAL-BRASIL Os
exemplos elencados foram anotados com a colaboraccedilatildeo do aluno de doutorado Bruno Rocha exclusivamente
para ilustrar nosso argumento
14186118
1358367
17600812
53
(255b) proibiccedilatildeo
BRU [177] cecirc nũ pode fazer ampa [1] nenhum som (bfamcv04)
ill ordem
(255c) restriccedilatildeo
[181] porque eu acho que no mesmo concurso cecirc nũ pode fazer duas
(bfamdl03)
ill asserccedilatildeo
No subcorpus analisado foram identificadas expressotildees de modalidade deocircntica com
os types poderlsquo (em grande nuacutemero com significado de permissatildeo) ter quelsquo (a ampla
maioria com significado de obrigaccedilatildeo) e deverlsquo (em nuacutemero reduzido)43
233 Modalidade dinacircmica
A modalidade dinacircmica de acordo com Palmer (1990) e Papafragou (2000) inclui
uma habilidade e a intenccedilatildeo (vontade) isto eacute a expressatildeo da capacidade do sujeito Salomatildeo
(1990) daacute os seguintes exemplos com o verbo poderlsquo
(256) Ele pode correr 4 km sem cansar (habilidade fiacutesica)
(257) Ele pode citar Virgiacutelio de cabeccedila (habilidade mental)
Os exemplos de Salomatildeo se sustentam dentro da definiccedilatildeo de Palmer e Papafragou no
entanto se realizada uma busca minuciosa em corpus dificilmente esses usos ocorreriam no
portuguecircs brasileiro ou mesmo na liacutengua falada Em uma busca no Corpus do Portuguecircs por
exemplo com a expressatildeo ―pode nadar encontrei apenas duas ocorrecircncias no portuguecircs
europeu
(258) A maioria dos caranguejos natildeo pode nadar podendo rastejar lentamente para a
frente e mais frequentemente movendo-se para o lado especialmente quando
rastejam a grande velocidade (CP 19Ac Pt Enc)
(259) Pode nadar mergulhar ou andar junto ao fundo usando a pressatildeo da aacutegua
sobre as asas e cauda para se manter em baixo enquanto procura larvas de
insectos e outros pequenos animais
43
Na anaacutelise dos verbos modais tratarei da substituiccedilatildeo do uso do deverlsquo deocircntico por ter quelsquo no PB
11493875
2977958
54
Os dois exemplos pertencem ao mesmo gecircnero verbete de enciclopeacutedia Pelo que foi
discutido anteriormente estas satildeo ocorrecircncias que ficam na fronteira entre a possibilidade
aleacutetica o conhecimento epistecircmico e a habilidade dinacircmica uma vez que o verbo modal
―poder carrega o sentido de um conhecimento estabelecido em um determinado universo
natildeo se constituindo como uma especulaccedilatildeo mas igualmente carrega o sentido da habilidade
dos seres em ―nadar (no caso tambeacutem ―rastejar ―mergulhar e ―andar junto ao fundo)
Ainda poderia colocar em discussatildeo o estatuto do verbo ―saber como um modal que
expressa conhecimento epistecircmico ou habilidade do sujeito em realizar uma determinada
atividade em contextos como em (260) e (261)
(260) Se a pessoa sabe fazer feijatildeo entatildeo ela deve ensinar isso porque tem muita
gente que natildeo sabe fazer feijatildeo
(261) Eacute um talento o homem Sabe falar e sabe escrever Se ele quiser escrever uma
carta para vocecirc chorar vocecirc chora Se quiser escrever uma carta para vocecirc rir
vocecirc ri
Palmer (1990 p 36) aponta que a modalidade dinacircmica diz respeito agrave habilidade ou agrave
voliccedilatildeo do sujeito da sentenccedila natildeo do falante e dessa forma natildeo eacute subjetiva como outras
modalidades
No PB a modalidade dinacircmica se diferencia igualmente da modalidade epistecircmica e
os verbos mais frequentes satildeo ―conseguir e ―aguentar para sentidos de capacidade e
―querer e a forma ―gostaria no sentido de voliccedilatildeo Na amostra encontramos ainda que em
nuacutemero bastante reduzido ocorrecircncias do tipo dinacircmico como ilustro abaixo
(262) CEL [85] elsquo nũ ltconsegue fazer isso nunca taacute meio de hhhgt [3] lttaacute de
ladinhogt (bfamcv03)
(263) [184] o papai nũ guumlenta carregar mais (bfammn05)
(264) [50] e eu ampa [3] e [1] e vou conseguir sabe vencer essas dificuldades aiacute
(bpubmn01)
(265) [168] taacute pensando em organizar um torneio e a gente quer que vocecircs
participem da organizaccedilatildeo ltmandando representantegt (bfamcv01)
55
Os exemplos em (262) e (263) apontam para a habilidade fiacutesica do sujeito jaacute o em
(264) indica habilidade soacutecio-afetiva ou disposiccedilatildeo interna do sujeito Em (265) finalmente
temos um exemplo com o verbo ―querer no sentido volitivo
Haacute quem argumente (LARREYA 2009) que a voliccedilatildeo estaacute incluiacuteda no significado
deocircntico de um enunciado como ―John must leave (―John deve sair) em dois sentidos no
primeiro a obrigaccedilatildeo expressa no enunciado incluiria uma vontade uma vez que haacute uma
exigecircncia imposta seja por princiacutepio moral ou por uma pessoa que explicita um desejo no
caso de que John saia no segundo o uso de ―must carrega em seu significado a implicaccedilatildeo
de que se John obedece agrave injunccedilatildeo contida no enunciado isso caracterizaria um ato
voluntaacuterio por parte do agente Johnlsquo A primeira seria uma vontade externa e a segunda uma
vontade interna
Sobre a compulsatildeo interna ou intenccedilatildeo o que me faz aninhar a voliccedilatildeo agrave categoria
dinacircmica e natildeo agrave deocircntica Larreya (2009) a considera como uma vontade natildeo-factual em
exemplos como ―I want to go (―Eu quero ir) em que o evento pode ou natildeo se realizar Seria
uma vontade que natildeo depende de uma forccedila externa mas unicamente da disposiccedilatildeo interna do
sujeito
24 Modalidade epistecircmica e evidencialidade o limite () entre categorias
Os estudos sobre evidencialidade partem da anaacutelise de liacutenguas em que haacute um sistema
evidencial gramaticalizado como as liacutenguas nativas norte-americanas (CHAFE 1995
MITHUN 1995) o tibetano (VOKURKOVA 2011 MELAC 2012) ou o cuzco queacutechua
(FALLER 2002) Apesar de natildeo ser uma categoria gramatical em inglecircs ou portuguecircs ela
pode ser expressa por iacutendices lexicais como adveacuterbios ou verbos como parecer e dizer (na
expressatildeo ―diz que)
Justamente por natildeo ser uma categoria com marcaccedilatildeo gramatical e por alguns dos itens
lexicais poderem igualmente ser iacutendices que expressam modalidade a fronteira entre
evidencialidade e epistemicidade eacute difusa e a relaccedilatildeo entre as duas noccedilotildees ainda ocupa o
debate entre linguistas (CHAFE 1986 FITNEVA 2001 NUYTS 2001 PLUNGIAN 2001
entre outros) Dendale e Tasmowski (2001 p 341-342) levantam os problemas de
conceituaccedilatildeo e apontam trecircs caminhos encontrados em estudos recentes ―disjunccedilatildeo (em que
56
satildeo conceptualmente distinguidas) inclusatildeo (em que uma estaacute incluiacuteda no escopo semacircntico
da outra) e sobreposiccedilatildeo (em que elas parcialmente se interseccionam)44
Palmer (2001) por exemplo organiza a modalidade epistecircmica e a evidencial
subordinadas a uma categoria hierarquicamente superior da modalidade proposicional A
mesma decisatildeo de inclusatildeo da evidencialidade como uma categoria modal aparece em Bybee
(1985) Bybee et al (1994) e Frawley (1992) Na outra ponta a da exclusatildeo estatildeo os estudos
de de Haan (1999 2005)
Como visto anteriormente a modalidade epistecircmica expressa os diferentes graus de
comprometimento em relaccedilatildeo agrave validade do material enunciado Jaacute os evidenciais satildeo
marcadores que indicam a fonte e a confiabilidade do conhecimento do falante As duas
categorias lidam com a evidecircncia no entanto a noccedilatildeo de comprometimento no domiacutenio da
modalidade epistecircmica estaacute relacionada com a postura epistecircmica do falante isto eacute com a
probabilidade ou certeza que atribui agravequilo que estaacute dizendo Jaacute no domiacutenio evidencial esta
noccedilatildeo estaacute relacionada ao grau de confianccedila de onde parte a evidecircncia
Este grau de confianccedila segundo Cornillie (2009 p 58) pode ser explicado em termos
de status da evidecircncia compartilhado ou natildeo-compartilhado Como satildeo vaacuterias as fontes de
evidecircncia (o falante o falante e outros participantes da comunicaccedilatildeo ou exclusivamente os
outros) a confiabilidade pode variar mas natildeo envolve uma avaliaccedilatildeo ou probabilidade
epistecircmica Nas palavras de de Haan (2005 p 379) ―a evidencialidade assevera a evidecircncia
enquanto a modalidade epistecircmica avalia a evidecircncia45
Na mesma linha Pietrandrea (2005
p 33) afirma que ―enquanto a evidencialidade qualifica a fonte que justifica a asserccedilatildeo de
uma proposiccedilatildeo a modalidade qualifica a crenccedila genuiacutena do falante sobre a verdade da
proposiccedilatildeo 46
A evidencialidade pois lida com a fonte da evidecircncia que um falante tem sobre uma
dada informaccedilatildeo Os marcadores de evidecircncia expressam se um falante foi testemunha direta
do evento ou atividade que descreve ou se esta informaccedilatildeo chega de outra fonte Dessa forma
a categoria pode ser dividida em duas subcategorias evidecircncia direta e evidecircncia indireta (o
ouvi-dizer-que a citaccedilatildeo e a inferecircncia)
44
Traduccedilatildeo minha para ―disjunction (where they are conceptually distinguished from each other) inclusion
(where one is regarded as falling within the semantic scope of the other) and overlap (where they partly
intersect) 45
Traduccedilatildeo para ―[e]videntiality asserts the evidence while epistemic modality evaluates the evidence (de
HAAN 2005 p 379) 46
No original ―[w]hile evidentiality qualifies the source that justifies the assertion of a proposition modality
qualifies the genuine belief of the speaker about the truth of the proposition (PIETRANDREA 2005 p 33)
57
Em nossa amostra levanto alguns exemplos para ilustrar a questatildeo e sugerir de
alguma forma que as categorias de fato se distinguem Vou partir de trecircs exemplos para
evidenciar meu ponto
(266) LUI [236] eu acho que a gente deve chamar os lttimesgt legais (bfamcv01)
(267) [65] se o brasileiro nũ lecirc os manuais hhh no mercado de reposiccedilatildeo ampauto [1]
de autopeccedila eles acham que abrir uma empresa eacute comprar um produto
por um real =COB= na base cem e vender por dois acha que taacute
ganhando o ampdo [2] o dobro (bfammn06)
(268) ROG [187] daacute [188] tem muita pedra ali uai [189] laacute embaixo ainda tem
pedra perto da [2] perto da garagem laacute tem [190] assim vai ficar uma
pracinha boa aqui
PAU [191] e a Isa tava achando que ela ali ia ficar pequena [192] falei
assim depois de feito eacute que a gente vecirc o tamanho neacute (bpubdl01)
No exemplo em (266) temos um julgamento epistecircmico de um conceptualizador47
primaacuterio (o falante) o mais frequente em nossa amostra Em (267) haacute a ocorrecircncia de uma
avaliaccedilatildeo por parte do falante de um julgamento epistecircmico de um conceptualizador em
terceira pessoa o que poderia ser textualizado como ―eu acho que eles acham O uso de um
pronome geneacuterico como ―eles pode indicar essa adesatildeo a uma avaliaccedilatildeo que parte do senso
comum Por fim em (268) o falante reporta um julgamento epistecircmico de uma terceira
pessoa porque partilha dessa informaccedilatildeo (eleela acha porque compartilhamos esse
conhecimento)
Parece que haacute em (267) e (268) dois niacuteveis de interpretaccedilatildeo o primeiro niacutevel estaria
relacionado ao falante e agrave confiabilidadefonte da informaccedilatildeo que seria evidencial uma vez
que eacute uma informaccedilatildeoavaliaccedilatildeo filtrada pelos olhos do falante no primeiro caso e no
segundo exemplo haacute uma avaliaccedilatildeo reportada pelo falante o outro niacutevel estaria relacionado a
um conceptualizador em terceira pessoa e agrave sua (suposta) avaliaccedilatildeo portanto uma
interpretaccedilatildeo epistecircmica
O seguinte continuum representa os graus de comprometimentoafastamento do
falante conceptualizador primeiro no que diz respeito ao material enunciado
47
O conceptualizador eacute a entidade que constroacutei um ponto de vista em uma determinada cena Esta noccedilatildeo estaacute
ligada agrave de construal que eacute a nossa capacidade de conceber e retratar a mesma situaccedilatildeo de maneiras diferentes
58
eu acho (eu acho que) ele acha parece que diz-que
ele acha (info partilhada)
Figura 23 - Continuum modalidade epistecircmicaevidencialidade
Nos exemplos observam-se trecircs diferentes graus de participaccedilatildeo do enunciador na
constituiccedilatildeo da avaliaccedilatildeo sobre o que estaacute sendo dito o que me leva a tentar reformular o
conceito de modalidade e assumir a noccedilatildeo de conceptualizador48
nos termos langackerianos
para explicar este fenocircmeno semacircntico
25 O escopo da modalidade e as fronteiras entre algumas categorias
Nas seccedilotildees anteriores foram apresentadas diferentes abordagens e tipologias no que
diz respeito agrave modalidade As definiccedilotildees desta categoria podem ser mais amplas como a de
Palmer (2001) que diz que a modalidade se relaciona com o status da proposiccedilatildeo que descreve
o evento ou mais restritas como a de van der Auwera e Plungian (1998) para quem a
modalidade envolve os domiacutenios de possibilidade e necessidade como variantes
paradigmaacuteticas A primeira definiccedilatildeo natildeo deixa claro o que inclui ou exclui a modalidade na
segunda identificam-se termos reconhecidos como ―modais mas exclui por exemplo
habilidade e voliccedilatildeo
Bally (1942 p 3) apresenta uma definiccedilatildeo enunciativa da modalidade como o modus
do dictum em suas palavras ―a forma linguiacutestica [Modus on dictum] de um julgamento
intelectual de um julgamento afetivo ou de uma vontade que um sujeito pensante enuncia a
propoacutesito de uma percepccedilatildeo ou de uma representaccedilatildeo de sua alma49
Segundo ele uma frase
expliacutecita eacute composta por duas diferentes partes uma o dictum eacute a representaccedilatildeo percebida
pelos sentidos pela memoacuteria e a imaginaccedilatildeo a outra o modus eacute uma operaccedilatildeo psiacutequica de
um sujeito pensante
Ao modus eacute conferida mais importacircncia que ao dictum O autor oferece exemplos para
o que considera as operaccedilotildees do pensamento50
sobre o que se enuncia que indicam um
entendimento um sentimento e uma vontade ―algueacutem crecirc que vai chover ou ―natildeo crecirc ou
―duvida ―algueacutem se alegra porque chove ou ―algueacutem lamenta que chove ―algueacutem deseja
48
Desenvolvo este ponto na seccedilatildeo 25 49
No original ―la forme linguistique dlsquoun jugement intellectual dlsquoun jugement affectif ou dlsquoune volonteacute qulsquoun
sujet pensant eacutenonce agrave propos dlsquoune perception ou dlsquoune representation de son esprit (BALLY 1942 p 3) 50
Pensar para Bally (19321965 p 35) seria ―reagir a uma representaccedilatildeo constatando-a apreciando-a ou
desejando-a
59
que chova ou ―que natildeo chova
Esta parece ser entretanto uma definiccedilatildeo muito ampla mdash apesar de indiscutivelmente
nos inspirar a considerar a dimensatildeo do enunciado mdash e seguirei na tentativa de estreitaacute-la e
responder agrave pergunta que tipo de modificaccedilatildeo do dictum deve ser considerada sob o escopo
da modalidade ou em outras palavras como definir o que compreende o modus Como
definir (a) de que modificaccedilatildeo se trata (b) o que estaacute incluiacutedo no escopo da modalidade (c)
quais os domiacutenios semacircnticos envolvidos (d) como estabelecer fronteiras entre as diferentes
categorias
A partir de agora portanto argumentarei no sentido de diferenciar as categorias que
podem modificar o que eacute dito e em particular apontar as nuances entre negaccedilatildeo modo
ilocuccedilatildeo e atitude
A pergunta que emerge ao me defrontar com dados orais em situaccedilotildees reais de uso da
liacutengua eacute ―por que seria insuficiente esse conceito de modalidade fundado na loacutegica
aristoteacutelica Dito de outra forma a definiccedilatildeo de modalidade e o seu campo de aplicaccedilatildeo ateacute
agora utilizados pela semacircntica como heranccedila da loacutegica formal para a anaacutelise de sentenccedilas
isoladas servem completamente ao estudo desse fenocircmeno na fala e na dinacircmica de uma
interaccedilatildeo
251 Modalidade e negaccedilatildeo
A categoria da negaccedilatildeo vem sendo estudada em uma perspectiva filosoacutefica desde
Aristoacuteteles A pergunta que se persegue responder em termos de valor de verdade eacute como o
valor de verdade de uma sentenccedila muda se for adicionado um elemento negativo Na loacutegica
a negaccedilatildeo eacute um operador que inverte as condiccedilotildees de verdade de um determinado conteuacutedo
proposicional
Lawler (2007) coloca que a negaccedilatildeo eacute um fenocircmeno linguiacutestico cognitivo e
intelectual e que eacute fundamental para todo o pensamento humano Nas palavras de Kiefer
(2009 p 193) ―a negaccedilatildeo de um evento teria que ser caracterizada em termos da ocorrecircncia
do evento ser feita relativamente agrave sua natildeo-ocorrecircncia51
Nas liacutenguas naturais a negaccedilatildeo funciona como um operador associado a
quantificadores e modais sendo que a relaccedilatildeo entre estas categorias se daacute de forma complexa
Vejamos alguns casos ambiacuteguos
51
[hellip] the negation of an event would have to be characterized in terms of the occurrence of the event being
made relative to its nonoccurrence [hellip] (KIEFER 2009 p 193)
60
(269) Ele natildeo pode ir ao jogo
(269a) Natildeo eacute possiacutevel ele ir ao jogo
(269b) Natildeo eacute permitido ele ir ao jogo
Destaco de nossa amostra algumas ocorrecircncias em que temos o operador de negaccedilatildeo
associado a um iacutendice modal A partir deles discuto a relaccedilatildeo entre dois iacutendices modais (um
deles modificado pela negaccedilatildeo)
(270) GIL [2] ltocirc masgt voltando agrave questatildeo falando em [2] e tambeacutem falando
em povo mascarado esse povo do Galaacuteticos eacute muito palha eu acho que es nũ
deviam mais participar e lttalgt (bfamcv01)
(271) PAU [247] ele natildeo pode chegar no final da semana e desmanchar tudo o que
foi feito durante a semana neacute
ROG [248] pode natildeo [249] mas tem gente que desmancha socirc Paulo
(bpubdl01)
(272) [185] cecirc natildeo pode aprontar [1] apontar pra mesa (bfamcv04)
Os verbos ―dever e ―poder modificados pelo operador de negaccedilatildeo nos casos acima
expressam interdiccedilatildeoimpedimento restriccedilatildeo e proibiccedilatildeo respectivamente portanto estatildeo
inscritos no significado deocircntico da modalidade Quero destacar o exemplo (270) em que
temos dois iacutendices modais na mesma unidade informacional um verbo epistecircmico acharlsquo e o
verbo modal deverlsquo deocircntico Neste caso vai atuar o princiacutepio da composicionalidade o
valor epistecircmico ordena o valor deocircntico Em outras palavras o falante a partir de seu
conhecimento de mundo e de suas crenccedilas emite sua opiniatildeo que envolve uma avaliaccedilatildeo
relacionada agrave interdiccedilatildeo
Apresento mais dois exemplos do subcorpus em estudo para discutir o escopo da
negaccedilatildeo
(273) CES [391] acho que nũ tem ningueacutem aiacute natildeo (bfamdl03)
(274) LUI [232] lteu nũ acho que a gente [6] eu nũ acho que a gente deve chamar
soacute veteranos natildeogt (bfamcv01)
Na ocorrecircncia em (273) o verbo de atitude proposicional acharlsquo natildeo estaacute sob o
escopo da negaccedilatildeo A avaliaccedilatildeo aqui apresentada eacute de que o falante considera que o material
61
locutoacuterio da encaixada natildeo ocorre Jaacute em (274) o verbo eacute posto no escopo da negaccedilatildeo o
falante enuncia uma sua opiniatildeo negativa
No PB haacute trecircs tipos de negaccedilatildeo a simples preposta a simples posposta e a dupla
negaccedilatildeo Neste trabalho investigarei ainda a relaccedilatildeo de modalidade e negaccedilatildeo para fins de
anotaccedilatildeo semacircntica Este ponto vai ser desenvolvido na Parte III desta tese
252 Modalidade e modo
O modo eacute uma categoria morfoloacutegica e se refere a um conjunto de tipos de enunciados
que indica a maneira de o verbo expressar um estado de coisas Esta categoria eacute apresentada
em sua relaccedilatildeo com a modalidade ou como a expressatildeo gramaticalizada da modalidade por
exemplo o modo imperativo se relaciona com a modalidade deocircntica e os outros modos com
a modalidade epistecircmica (OLIVEIRA 2003 p 254)
Bybee et al (1994) como jaacute visto incluem o modo no domiacutenio da modalidade
enquanto van der Auwera e Plungian (1998) no domiacutenio das ilocuccedilotildees Como Green (2009)
que afirma que ―o modo com o conteuacutedo subdetermina a forccedila Por outro lado eacute uma hipoacutetese
plausiacutevel que o modo gramatical eacute um dos dispositivos que usamos em conjunto com as
pistas contextuais entonaccedilatildeo e outros para indicar a forccedila com a qual estamos expressando
um dado conteuacutedo52
Palmer (1986) define o ―modo como uma categoria morfossintaacutetica de natureza
verbal no mesmo niacutevel de tempo e aspecto sendo caracterizado em relaccedilatildeo agrave modalidade
como um recurso linguiacutestico menos prototiacutepico Lyons (1977 p 848) tambeacutem caracteriza o
modo como uma categoria gramatical e portanto diferente da modalidade que estaria
associada ao domiacutenio semacircntico O que eacute corroborado por Narrog (2005 p 167) que afirma
que o termo modo ―se refere a formas linguiacutesticas especiacuteficas ou paradigmas de formas
tipicamente na inflexatildeo verbal cuja funccedilatildeo primeira eacute expressar modalidade53
Halliday (1970) distingue modalidade e modo relacionando a primeira agrave expressatildeo de
necessidade e possibilidade e o segundo agrave forccedila ilocucionaacuteria O modo estaria ligado a
noccedilotildees de realidade existecircncia factualidade e a modalidade a noccedilotildees de possibilidade
probabilidade necessidade e voliccedilatildeo
52
No original ―Mood together with content underdetermine force On the other hand it is a plausible hypothesis
that grammatical mood is one of the devices we use together with contextual clues intonation and so on to
indicate the force with which we are expressing a given content (GREEN 2009) 53
No original ―[] refers to specific linguistic forms or paradigms of forms typically in verb inflection whose
primary function is to express modality (NARROG 2005 p 167)
62
Na tradiccedilatildeo gramatical do portuguecircs do Brasil o modo verbal eacute classificado em trecircs
tipos indicativo (relacionado ao factual o subjuntivo (relacionado ao hipoteacutetico e
contrafactual) e o imperativo (relacionado a comandos ordens pedidos)
O modo indicativo de maneira mais geral eacute natildeo-marcado para a modalidade com
exceccedilatildeo para os usos modais do futuro do presente e futuro do preteacuterito conforme os
exemplos abaixo
(275) [33] eu vou olhar pr ocecirc se eu tenho trinta-e-nove dessa dessa (bpubdl02)
(276) [37] aiacute ea falou assim cecirc ia ter neneacutem aonde (bfammn04)
Jaacute o subjuntivo segundo Palmer (1986 p 39) eacute um marcador geneacuterico de
modalidade Morfossintaticamente ocorre em oraccedilotildees encaixadas (PALMER 1986 p 22) e
com frequecircncia eacute uma marca redundante de um elemento modal presente na oraccedilatildeo principal
No minicorpus analisado encontramos algumas dessas ocorrecircncias54
(277) REN [550] espero que eu natildeo tinha [1] tenha perdido (bfamdl01)
(278) [39] queria uma crianccedila que nũ me desse trabalho e tudo (bfammn05)
Podem aparecer tambeacutem em ocorrecircncias como as em (279) e (280) com valor de
hipoacutetese
(279) [148] porque esse aqui eacute quando for desenhar (bfamcv04)
(280) [239] pra que Deus venha ampri [1] contribuir pa sua sorte (bfamdl04)
O modo imperativo por sua vez poderia estar ligado agrave modalidade deocircntica como
reconhece Portner (2007 p 399) ―[a] ideia de que os imperativos devam ter alguma coisa a
ver com a interpretaccedilatildeo de modais deocircnticos eacute extremamente intuitiva55
De fato uma
enunciaccedilatildeo imperativa eacute uma tentativa de impor a um indiviacuteduo uma obrigaccedilatildeo No entanto a
opccedilatildeo neste trabalho dados seus pressupostos eacute de que os imperativos estatildeo ligados a atos de
fala do tipo diretivos e natildeo agrave expressatildeo da modalidade
54
Vale lembrar que no PB em contextos anteriormente tidos como tipicamente de uso do subjuntivo observa-se
uma variaccedilatildeo com o emprego de formas do indicativo No entanto natildeo estaacute no escopo deste trabalho a discussatildeo
desta flutuaccedilatildeo Para esta variaccedilatildeo no espanhol ver o trabalho de Mejiacuteas-Bikandi (1996) apoiado na Teoria dos
Espaccedilos Mentais de Fauconnier (1994) Nesta moldura teoacuterica o modo eacute visto como um mecanismo que regula o
compartilhamento de informaccedilotildees entre espaccedilos mentais 55
Traduccedilatildeo para ―The idea that imperatives should have something to do with the interpretation of deontic
modals is extremely intuitive (PORTNER 2007 p 339)
63
Na proacutexima seccedilatildeo trato da modalidade e sua relaccedilatildeo com a ilocuccedilatildeo e a atitude no
sentido de demonstrar que satildeo categorias diferentes poreacutem que se interrelacionam
253 Modalidade ilocuccedilatildeo e atitude
O conceito de ilocuccedilatildeo ou ato ilocucionaacuterio foi primeiramente formulado por Austin
(1962) em uma seacuterie de conferecircncias em que sustentava que ―falar alguma coisa eacute fazer
alguma coisa56
Austin distingue no ato linguiacutestico trecircs niacuteveis o locutoacuterio o ilocutoacuterio e o
perlocutoacuterio
Este conceito eacute retomado mais tarde por Searle (1969) que considera que um ato
ilocucionaacuterio eacute a unidade miacutenima da comunicaccedilatildeo linguiacutestica humana O filoacutesofo revecirc a
taxinomia austiniana e propotildee cinco categorias baacutesicas para como usamos a linguagem
(SEARLE 19792002 p 19-31) (a) assertivos (dizer agraves pessoas como as coisas satildeo) (b)
diretivos (levar as pessoas a fazer coisas) (c) compromissivos (nos comprometer a fazer
coisas) (d) expressivos (expressar nossos sentimentos) e (e) declaraccedilotildees (provocar mudanccedilas
no mundo atraveacutes das emissotildees linguiacutesticas)
Na mesma linha Cresti (2001) reconhece a divisatildeo em trecircs niacuteveis do ato linguiacutestico e
afirma que a ilocuccedilatildeo coocorre com o ato locutoacuterio e produz um efeito de caraacuteter afetivo-
pulsional Principalmente a partir de criteacuterios prosoacutedicos ela propotildee cinco classes de atos
ilocucionaacuterios
(a) Asserccedilatildeo uma disposiccedilatildeo atitude ou estado de espiacuterito de autoconfianccedila por
parte do falante com base nas proacuteprias realizaccedilotildees de pensamento que permite
a manifestaccedilatildeo de julgamentos descobertas avaliaccedilotildees representaccedilotildees como
novos objetos no mundo
(b) Direccedilatildeo uma disposiccedilatildeo atitude ou estado de espiacuterito de levar em
consideraccedilatildeo as habilidades possibilidades disponibilidade do ouvinte
enquanto se espera transformar o mundo atraveacutes de accedilotildees informaccedilotildees
movimentos ou que o ouvinte transforme a si mesmo com relaccedilatildeo a seu
horizonte de atenccedilatildeo seu conhecimento sua habilidade seu ponto de vista
56
―[hellip] to say something is to do something [hellip] (AUSTIN 1962 p 12)
64
(c) Expressatildeo uma disposiccedilatildeo atitude ou estado de espiacuterito de manifestaccedilatildeo
―esteacutetica de estados mentais sentimentos emoccedilotildees crenccedilas esperando que o
ouvinte se torne consciente disso e compartilhe disso
(d) Rito um comportamento externo de execuccedilatildeo de tarefas linguumliacutesticas que tecircm
valor e efeito legal e social e que pode ser realizado com o miacutenimo de
participaccedilatildeo afetiva apenas suficiente para a ativaccedilatildeo fisioloacutegica da fala
(e) Recusa uma disposiccedilatildeo atitude ou estado de espiacuterito de liberdade e separaccedilatildeo
por parte do falante com relaccedilatildeo ao seu interlocutor que permite um confronto
completo com esse uacuteltimo
Cresti assume que a ilocuccedilatildeo natildeo se opotildee agrave modalidade mas que as duas pertencem a
dois niacuteveis diferentes Tucci (2011) em anaacutelise de corpus de fala espontacircnea do italiano
afirma que haacute duas razotildees principais para se separar as duas noccedilotildees a primeira de caraacuteter
formal consiste em assumir que por definiccedilatildeo cada enunciado corresponde a uma e somente
uma forccedila ilocucionaacuteria enquanto que mais de um valor modal pode coexistir num
enunciado a segunda de um ponto de vista mais qualitativo consiste em atestar que natildeo haacute
uma correspondecircncia entre o valor modal e a forccedila ilocucionaacuteria apesar de os iacutendices modais
contribuiacuterem para a interpretaccedilatildeo ilocucionaacuteria de um enunciado
Outros autores igualmente assumem que a modalidade se circunscreve perfeitamente
no niacutevel da semacircntica e natildeo da pragmaacutetica (FRAWLEY 1992 KIEFER 1997 NARROG
2005) Kiefer (1997 p 247) afirma que ―os atos de asseverar permitir ordenar ou prometer
satildeo estranhos agrave modalidade Natildeo haacute como elaborar uma questatildeo significativa sobre como um
ato afeta a modalidade Isso vale para a ilocuccedilatildeo assim como para a perlocuccedilatildeo57
Desde um ponto de vista pragmaacutetico coerente natildeo se pode considerar a modalidade
como a mesma coisa que ilocuccedilatildeo Mello e Raso (2011 p 5-ss) em estudo experimental
fazem uma distinccedilatildeo entre as categorias de modalidade ilocuccedilatildeo e atitude58
Os autores pleiteiam que a modalidade pertence ao domiacutenio da semacircntica no qual a
postura do falante em relaccedilatildeo agrave expressatildeo do material locutoacuterio se manifesta de maneira que
a mesma ilocuccedilatildeo pode ser modalizada de diferentes formas sem afetar o niacutevel ilocucionaacuterio
A ilocuccedilatildeo por sua vez pertence ao domiacutenio pragmaacutetico no qual a postura do falante em
relaccedilatildeo ao seu interlocutor se manifesta
57
No original ―[t]he act of asserting permitting ordering or promising is alien to modality There is no way to
ask a meaningful question about how such an act affects modality This holds for illocution as well as for
perlocution (KIEFER 1997 p 247) 58
A distinccedilatildeo entre modalidade e atitude estaacute na proacutexima seccedilatildeo 244
65
Em relaccedilatildeo agrave atitude uma das dificuldades para se distinguir modalidade e esta
categoria reside justamente na proacutepria polissemia do termo atitude que pode ser definida
como uma posiccedilatildeopostura assumida ou como emoccedilatildeo (MOZZICONACCI 2001) ou como
comportamentomaneira de agir em relaccedilatildeo a uma outra pessoa Nos trabalhos de anotaccedilatildeo
semacircntica de opiniatildeo e sentimentos (cf WIEBE et al 2005) os conceitos de modalidade e
atitude tambeacutem se confundem
Mello e Raso (2011) constatam que a categoria de atitude comparada agraves de
modalidade e ilocuccedilatildeo ainda eacute pouco discutida na literatura Eles apresentam alguns estudos
como o de Local (2005) que menciona a importacircncia da categoria para os estudos de
entonaccedilatildeo ou a definiccedilatildeo de Moraes et al (2010) de que ―a atitude prosoacutedica geralmente se
refere agrave expressatildeo de afetos sociais voluntariamente controladas pelo falante59
Ainda
segundo Moraes et al (2010) existem algumas atitudes que afetam o conteuacutedo proposicional
de um enunciado como a ironia a incredulidade a surpresa e outras que estatildeo ligadas a
relaccedilotildees sociais estabelecidas entre os participantes de uma interaccedilatildeo como a polidez a
autoridade a arrogacircncia
Assim eacute reconhecida a dimensatildeo sociointeracional da atitude isto eacute o falante revela
seu humor enquanto realiza uma ilocuccedilatildeo especiacutefica (com uma modalidade especiacutefica) A
mesma accedilatildeo pode ser realizada de diferentes maneiras por exemplo triste contente
desafiadora envolvente surpresa irritada etc
Como experimento para a distinccedilatildeo das trecircs categorias os pesquisadores consideraram
trecircs ilocuccedilotildees diferentes pertencentes agrave classe dos diretivos (cf CRESTI 2000 MONEGLIA
2011) a saber sugestatildeorecomendaccedilatildeo convite e pergunta para materiais locutoacuterios com
diferentes modalidades o primeiro ―Vem pro Brasil o segundo ―Pode vir pro Brasil e o
terceiro ―Tem que vir pro Brasil Foram consideradas tambeacutem duas atitudes comprometida
e irritada
Comparando a mesma ilocuccedilatildeo produzida com diferentes atitudes observou-se que
enquanto a ilocuccedilatildeo tem um nuacutecleo a atitude estaacute distribuiacuteda por toda a unidade tonal Dessa
forma para se analisar a ilocuccedilatildeo eacute necessaacuterio olhar a posiccedilatildeo do nuacutecleo a forma do nuacutecleo e
o alinhamento do nuacutecleo isto eacute a relaccedilatildeo do nuacutecleo com o conteuacutedo segmental
Tambeacutem se observou que se se mantecircm a ilocuccedilatildeo e a atitude e se varia a modalidade
esta uacuteltima natildeo vai afetar os paracircmetros prosoacutedicos O uacutenico aspecto que parece mudar eacute a
parte de preparaccedilatildeo da curva devido a uma mudanccedila no material segmental
59
No original ―prosodic attitude generally refers to the expression of social affects voluntarily controlled by the
speaker (MORAES et al p 1)
66
Outro aspecto observado por Mello e Raso (2011 p 15) foi que a depender da
ilocuccedilatildeo um mesmo iacutendice modal pode ser interpretado com diferentes significados Por
exemplo para o material locutoacuterio ―eu devo passar na casa dele se enunciado como uma
asserccedilatildeo recebe uma leitura epistecircmica enunciado como uma pergunta uma interpretaccedilatildeo
deocircntica
Em resumo conforme o experimento de Mello e Raso (2011 p 16) as categorias da
modalidade ilocuccedilatildeo e atitude se diferenciam e ao mesmo tempo se interrelacionam Nas
suas palavras ―uma atitude especiacutefica preferelsquo algumas ilocuccedilotildees e uma ilocuccedilatildeo especiacutefica
preferelsquo algumas modalidades ao ponto de que o mesmo item lexical vai receber uma
interpretaccedilatildeo preferencial devido agrave ilocuccedilatildeo em que figura60
Um esquema possiacutevel para esta relaccedilatildeo seria o seguinte
Projeccedilatildeo ato comunicativo
atitude
ilocuccedilatildeo
modalidade
Figura 24 ndash Projeccedilatildeo do ato comunicativo
A figura eacute um esforccedilo para representar a hierarquia no ato comunicativo o campo
atitudinal pode projetar uma espeacutecie de zona de sombra na camada da ilocuccedilatildeo que por sua
vez projeta uma zona de sombra na camada da modalidade A modalidade seria o ―Modus do
Dictum a ilocuccedilatildeo o ―Actum do Dictum e a atitude o ―Modus do Actum
Parto portanto para tentar a formulaccedilatildeo de uma definiccedilatildeo mais apropriada para que
abarque igualmente a modalidade na fala espontacircnea a partir de dados empiacutericos
60
―a specific attitude preferslsquo come illocution and a specific illocution preferslsquo some modalities to the point
that the same lexical index will receive a preferred interpretation due to the illocution it figures in (MELLO
RASO 2011 p 16)
67
26 Modalidade na fala espontacircnea
Tomarei para iniacutecio de conversa (e porque como explicitado nos objetivos pretendo
reavaliar a noccedilatildeo de modalidade) a posiccedilatildeo de Cresti (2002) e Tucci (2007 2008 2009) que
assumem que a modalidade eacute inerente a qualquer enunciado com ou sem a presenccedila de
iacutendices modais Para elas a modalidade estaacute sob o domiacutenio do niacutevel semacircntico natildeo do
pragmaacutetico uma vez que se constitui como um processo cognitivo natildeo uma accedilatildeo
Como a fala natildeo eacute organizada em proposiccedilotildees loacutegicas mas em unidades pragmaacuteticas
a incidecircncia do valor modal veiculado por um iacutendice de acordo com Tucci (2007) eacute uma
propriedade natildeo do enunciado mas da unidade informacional Haacute trecircs casos a serem
considerados
(i) se o enunciado eacute simples quer dizer se conteacutem apenas a unidade de Comentaacuterio a
modalidade pertence simultaneamente ao enunciado inteiro e agrave unidade informativa
(281) [31] trecircs eacute o carinho no um nũ daacute (bfamcv03)
(ii) se dentro de uma mesma unidade informacional temos dois iacutendices modais vale o
princiacutepio de composicionalidade em que um iacutendice domina o outro e determina a
modalidade
(282) EVN [148] acho ltque a gentegt tem que olhar direito (bfamcv01)
(iii) se um enunciado possui duas unidades informacionais se aplica um princiacutepio de
natildeo-composicionalidade e o domiacutenio da modalidade portanto recai sobre a unidade
informacional
(283) [397] vai arrumar laacute o dia todo =TOP= e de laacute que ea vai po [1] po coisa
=COM=$ (bfamcv02)
Dentre os valores modais trecircs primordiais satildeo utilizados por Cresti e Tucci o
aleacutetico61
o deocircntico e o epistecircmico A modalidade aleacutetica se restringe agrave avaliaccedilatildeo que o
61
A loacutegica modal diz respeito quase exclusivamente agrave modalidade aleacutetica isto eacute agravequela relacionada com a
verdade necessaacuteria ou contingente das proposiccedilotildees Na linguiacutestica este tipo de modalidade desempenha um
papel marginal por esta razatildeo natildeo seraacute levada em conta neste trabalho como explicitado na seccedilatildeo 231
68
falante faz do estado-de-coisas segundo noccedilotildees loacutegicas de verdade e agrave apresentaccedilatildeo do
estado-de-coisas como verdadeiro como nos seguintes exemplos62
(284) Um cisne pode ser negro
Um leopardo deve ser malhado
Como as noccedilotildees de capacidade e habilidade estatildeo ligadas agrave verdade do mundo satildeo
encaixadas nessa categoria63
A modalidade deocircntica estaacute relacionada agraves noccedilotildees de permissatildeo e de obrigaccedilatildeo com
as quais o falante avalia um estado-de-coisas referente a alguma accedilatildeo como nos exemplos
seguintes
(285) Natildeo se pode abandonar a pessoa sozinha
Marco deve partir hoje (~ ter que)
A expressatildeo de desejo em alguns casos tambeacutem se insere nessa categoria uma vez
que o falante posiciona-se perante uma accedilatildeo
A modalidade epistecircmica manifesta-se sempre que o falante imprime ao estado de
coisas uma avaliaccedilatildeo baseada em seus conhecimentos e crenccedilas sobre o mundo e denota graus
de possibilidade e de probabilidade com relaccedilatildeo aos estado-de-coisas
(286) Juacutelio pode ter partido
Devem ser os sete
No que se refere ao discurso oral o comprometimento com o conteuacutedo proposicional
natildeo se aplica uma vez que o escopo da modalidade natildeo pode estar limitado a proposiccedilotildees O
conteuacutedo linguiacutestico eacute organizado em enunciados64
revelando um determinado padratildeo
informacional (CRESTI 2000) A visatildeo de modalidade tomada pelas autoras italianas eacute a
62
Os exemplos que ilustram as categorias de modalidade satildeo de Tucci (2007) Traduccedilatildeo minha 63
Os sentidos de capacidade habilidade e voliccedilatildeo satildeo tratados de forma separada neste trabalho como visto na
seccedilatildeo 233 64
Na moldura da ―Teoria da Liacutengua em Ato (CRESTI 2000) como veremos em detalhes mais adiante o
enunciado eacute a unidade de referecircncia da liacutengua falada e eacute definido como qualquer expressatildeo linguiacutestica
interpretaacutevel pragmaticamente ligada a (a) uma condiccedilatildeo semacircntica de plena significaccedilatildeo da expressatildeo em
questatildeo e (b) uma realizaccedilatildeo entoada segundo um padratildeo meloacutedico de valor ilocutoacuterio
69
seguinte ―expressatildeo da avaliaccedilatildeo do falante sobre o material locutoacuterio e seu escopo eacute a
unidade informacional
Relembrando as perguntas que me motivaram ateacute aqui a saber (a) de que modificaccedilatildeo
se trata a modalidade (b) o que estaacute incluiacutedo no seu escopo (c) quais os domiacutenios semacircnticos
envolvidos (d) como estabelecer fronteiras entre as diferentes categorias creio que eacute possiacutevel
ir um pouco aleacutem e entender a modalidade como uma nuancerelativizaccedilatildeo do material
locutoacuterio enunciado natildeo necessariamente uma proposiccedilatildeo ligada agrave dimensatildeo subjetiva e que
inclui os domiacutenios da possibilidade da necessidade da habilidade e da voliccedilatildeo Diferencia-se
de negaccedilatildeo modo ilocuccedilatildeo e atitude entretanto estaacute estreitamente relacionada com estas
noccedilotildees
Na minha formulaccedilatildeo a partir do que foi discutido anteriormente a modalidade pode
ser tomada como o julgamento ou a avaliaccedilatildeo de um sujeito conceptualizador que
relativiza o que estaacute sendo enunciado em termos de grau de certeza e das noccedilotildees de
possibilidade necessidade habilidade e voliccedilatildeo Ela estaacute ancorada em uma situaccedilatildeo
comunicativa e vai cumprir diferentes funccedilotildees pragmaacutetico-discursivas no curso da
interaccedilatildeo
Esta definiccedilatildeo proposta se aproxima e se afasta do conceito corrente na literatura ―a
opiniatildeo ou atitude do falante em relaccedilatildeo agrave proposiccedilatildeo ou agrave situaccedilatildeo contida na proposiccedilatildeo
(LYONS 1977 p 452-3) por alguns motivos os quais elenco a seguir
(a) opiniatildeo atitude gt julgamento avaliaccedilatildeo que relativiza
Como vimos a categoria da atitude estaacute relacionada a um niacutevel sociointeracional no
qual o falante demonstra seu humor enquanto realiza uma ilocuccedilatildeo especiacutefica e com uma
modalidade especiacutefica Usar este roacutetulo portanto pode levar a interpretaccedilotildees equivocadas
sobre a categoria da modalidade
A modalidade eacute uma modificaccedilatildeo que cria uma nuance ou uma relativizaccedilatildeo do que
estaacute sendo enunciado Natildeo pode ser confundida com qualquer modificaccedilatildeo nem com
qualquer funccedilatildeo modalizadora nem com um quantificador (eg aproximadamentelsquo cerca
delsquo) nem com um angulador (eg tipolsquo uma espeacutecie delsquo) eacute uma modificaccedilatildeo que
pressupotildee o grau de comprometimento do sujeito da modalidade eou os domiacutenios da
possibilidade necessidade habilidade e voliccedilatildeo
70
(b) falante gt sujeito conceptualizador
Utilizo uma noccedilatildeo semacircntico-cognitiva o conceptualizador nos termos de Langacker
(1987 1991 2001 2007 2008) em lugar do ―falante uma vez que a primeira noccedilatildeo eacute mais
abrangente do que a uacuteltima pois abarca aleacutem do falante o endereccedilado ou um terceiro
indiviacuteduo O conceptualizador seria o proacuteprio falante ou uma terceira pessoa para cujo ponto
de vista o falante se projeta Observe os exemplos abaixo
(287) [117] eu falei natildeo eu devo ter a conta ainda porque eu nũ + (bfammn03)
(288) LUC [361] ltisso pode ser potencialmentegt divertido (bfamcv04)
(289) DFL [58] aquilo que o o professor achava mais importante (bfammn02)
(290) KAT [43] entatildeo ela acha que eacute a meia que taacute melhorando (bfamdl04)
(291) [48] cecirc nũ consegue cem por cento de nada na sua vida entatildeo acho que tocirc
[1] tocirc caminhando (bpubmn01)
Em (287) e (288) temos um conceptualizador em primeira pessoa que coincide com
o falante e enuncia a sua avaliaccedilatildeo sobre o material locutoacuterio Em (287) o enunciador se
desloca para um momento anterior e reporta o que enunciou agravequela altura marcada
linguisticamente pela presenccedila do verbo dicendi falarlsquo A ocorrecircncia em (288) apresenta
inclusive uma redundacircncia da possibilidade epistecircmica com o uso do verbo modal poderlsquo e
do adveacuterbio modal potencialmentelsquo (ou conforme Halliday 1970 e Lunguinho 2010 o
fenocircmeno da concordacircncia modal65
) No exemplo em (289) o falante enuncia a avaliaccedilatildeo de
um conceptualizador em terceira pessoa O falante em (290) pede a confirmaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo
de um outro conceptualizador (―ela) Na ocorrecircncia do monoacutelogo puacuteblico em (291) a
falante no papel de professora se projeta para um ponto de vista impessoal representado pelo
decircitico ―cecirc o que aponta para um grau de afastamento em relaccedilatildeo ao que estaacute sendo
enunciado
Segundo Langacker (2008) a conceptualizaccedilatildeo metaforicamente eacute a forma como
vemos uma cena Em suas palavras ―Um arranjo de ponto de vista eacute a relaccedilatildeo global entre os
―observadores e a situaccedilatildeo sendo ―observada [] os observadores satildeo os
conceptualizadores que apreendem os significados de expressotildees linguiacutesticas o falante e o
65
A concordacircncia modal se caracteriza se caracteriza pela presenccedila sintaacutetica de dois itens modais que satildeo
interpretados como se houvesse apenas um (HALLIDAY 1970 LUNGUINHO 2010)
71
ouvinte66
(LANGACKER 2008 p 73)
O arranjo de ponto de vista portanto seria uma espeacutecie de ajuste ou afinaccedilatildeo entre
quem vecirc e o que vecirc Este ajuste eacute tomado como default quando os interlocutores estatildeo juntos
em um local fixo a partir do qual observam e descrevem o que acontece no mundo em volta
deles e eacute ―uma parte essencial para o substrato conceptual que sustenta o significado de uma
expressatildeo e molda a sua forma67
As perspectivas default tendem a ser praticamente
invisiacuteveis e se explicitam quando se considera expressotildees que cumprem uma accedilatildeo como uma
pergunta ou ordem
O que a modalidade parece sugerir eacute que se trata da modificaccedilatildeo avaliadora de uma
perspectiva default ou seja aquela perspectiva expliacutecita marcada semanticamente Por
exemplo em ―O livro taacute sobre a mesa estamos diante de uma perspectiva default Jaacute em ―Eu
acho que o livro taacute sobre a mesa temos o grau de certeza modalizador como acreacutescimo ao
ponto de vantagem do arranjo default
Cresti (no prelo p 13) corroborando esta posiccedilatildeo afirma que ―[c]ada cena eacute uma
funccedilatildeo de uma perspectiva o ponto de vista do falante ou do endereccedilado ou de algueacutem
externo e pode ser marcada socialmente eou estilisticamente []68
Uma cena se caracteriza
por coordenadas nos eixos temporal e especial em um determinado universo possiacutevel
(c) proposiccedilatildeo gt material locutoacuterio enunciado
Como estamos tratando da modalidade na fala com um entendimento particular do
que eacute esta fala espontacircnea (CRESTI SCARANO 1998) e dentro do quadro teoacuterico da Liacutengua
em Ato (CRESTI 2000) haacute que se deslocar o alvo de incidecircncia da proposiccedilatildeo para o
material locutoacuterio enunciado no escopo de uma unidade informacional (cf TUCCI 2007)
Recuperando resumidamente a formulaccedilatildeo de Tucci a modalidade natildeo eacute uma
propriedade do enunciado mas da unidade informacional Haacute trecircs casos a serem levados em
conta (a) se o enunciado eacute simples isto eacute se conteacutem apenas a unidade de Comentaacuterio a
modalidade pertence simultaneamente a todo o enunciado e agrave unidade informacional (b) se
66
No original ―A viewing arrangement is the overall relationship between the ―viewers and the situation being
―viewed [For our purposes] the viewers are conceptualizers who apprehend the meanings of linguistic
expressions the speaker and the hearer (LANGACKER 2008 p 73) 67
Traduccedilatildeo para ―an essential part of the conceptual substrate that supports an expressionlsquos meaning and shapes
its form 68
No original ―Every scene is a function of a perspective the point of view of the speaker or the addressee or
someone external and can be marked socially andor stylistically [hellip] (CRESTI no prelo p 13)
72
dentro de uma mesma unidade informacional temos dois iacutendices modais vale o princiacutepio de
composicionalidade em que um iacutendice domina o outro hieraquicamente e determina a
modalidade e (c) se um enunciado possui duas unidades informacionais aplica-se o princiacutepio
de natildeo-composicionalidade e o domiacutenio da modalidade portanto recai sobre a unidade
informacional
Alguns dados da amostra no entanto me levam a considerar que a modalidade tem
uma incidecircncia local no acircmbito da unidade informacional mas tambeacutem eacute uma propriedade
dinacircmica que atua igualmente em uma cadeia referencial no domiacutenio textual
Segundo Cresti (no prelo p 12) cada chunk linguiacutestico de um ponto de vista
semacircntico corresponde a uma cena (cf BARWISE PERRY 1981 FAUCONNIER 1984) e
para permitir o desenvolvimento de uma funccedilatildeo textual as expressotildees participantes devem
estar na mesma cena
Segundo Simon-Venderbergen e Aijmer (2007) os marcadores modais podem evoluir
de uma funccedilatildeo puramente qualificacional para funccedilotildees textuais e retoacutericas Podem ser
marcadores de confirmaccedilatildeo adversidade continuidade e causalidade Vejamos este excerto de
uma conversaccedilatildeo familiar do tipo argumentativo predominantemente cujo tema eacute um
campeonato de futebol
(292) Excerto 1
LEO [1] o Juninho ltfoigt
GIL [2] ltocirc masgt voltando agrave questatildeo falando em e tambeacutem falando em povo
mascarado esse povo do Galaacuteticos eacute muito palha eu acho que es nũ
deviam mais participar e lttalgt
LUI [3] ltnatildeogt
LEO [4] ltnatildeogt
LUI [5] lteu acho natildeogt
LEO [6] ltcom certezagt
LUI [7] ltcom certeza es nũ vatildeo participar uaigt
Destaco do excerto acima os enunciados [2] [5] [6] e [7] No enunciado [2] o
participante GIL expotildee sua opiniatildeo sobre o time Galaacuteticos (―eacute muito palha) e faz tambeacutem
um julgamento sobre a participaccedilatildeo desta equipe no campeonato que estatildeo organizando (―eu
73
acho que es nũ deviam mais participar e lttalgt) Os participantes LUI e LEO por sua vez
fazem eco a esse julgamento utilizando operadores modais de confirmaccedilatildeo como ―acho natildeo
e ―com certeza
Os enunciados satildeo diferentes com suas respectivas modalidades no entanto o que
parece eacute que podemos recuperar nos domiacutenios locais elementos referenciais pertencentes a
uma determinada cena anterior em uma coordenaccedilatildeo muacutetua de sistemas cognitivos quer
dizer os sistemas cognitivos dos participantes de uma interaccedilatildeo estatildeo alinhados o que
Verhagen (2005) chama ―intersubjetividade Segundo ele a liacutengua se presta natildeo soacute a
objetivos de informaccedilatildeo mas principalmente de argumentaccedilatildeo Assim desenvolve o conceito
de argumentatividade ou seja a capacidade das pessoas de accedilotildees cognitivamente coordenadas
no fluxo para induzir o interlocutor a realizar inferecircncias e criar um discurso coerente
Neste capiacutetulo apresentei o estado da arte dos estudos de modalidade as tipologias
tradicionais e as visotildees alternativas Ainda defini os valores modais que seratildeo utilizados na
pesquisa e a partir de uma perspectiva subjetiva tentei uma formulaccedilatildeo para o conceito de
modalidade que desse conta de explicar a que tipo de modificaccedilatildeo me refiro quando utilizo os
termos ―modalidade ―modal e ―modalizador e a que domiacutenios semacircnticos ela estaria
ligada
A partir de agora desde um ponto de vista empiacuterico introduzo os procedimentos
metodoloacutegicos e os resultados da descriccedilatildeo do fenocircmeno da modalidade em um corpus de fala
espontacircnea do portuguecircs brasileiro
74
PARTE II ndash PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS E ANAacuteLISE DOS DADOS
75
Capiacutetulo 3
PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
No capiacutetulo anterior me ocupei em apresentar alguns estudos sobre a categoria de
modalidade destacados de uma vasta literatura sobre o tema sejam eles vinculados a uma
abordagem mais objetiva ou subjetiva e tambeacutem descrevi os tipos de significados modais da
tradiccedilatildeo linguiacutestica e de abordagens alternativas e aqueles que utilizo na pesquisa Ainda
apontei a relaccedilatildeo da modalidade com outras categorias a ela associadas como a negaccedilatildeo o
modo a ilocuccedilatildeo e a atitude Por fim apresentei minha proacutepria proposta de definiccedilatildeo que se
conforma com o estudo da modalidade na fala que se diferencia em larga medida do estudo
da categoria na escrita
Neste capiacutetulo descrevo os procedimentos metodoloacutegicos utilizados para empreender a
pesquisa Em primeiro lugar introduzo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato Em
seguida apresento o projeto C-ORAL-BRASIL e a amostra de estudo um minicorpus da
parte informal deste corpus (RASO MELLO 2012) A seguir apresento as outras etapas do
trabalho para fim de coleta preparaccedilatildeo organizaccedilatildeo e anaacutelise dos dados
31 A Teoria da Liacutengua em Ato
A Teoria da Liacutengua em Ato para a anaacutelise da estrutura informacional proposta por
Cresti (2000) tem como hipoacutetese baacutesica a partir de Austin (1962) que eacute possiacutevel dizer que haacute
uma correspondecircncia entre unidade de accedilatildeo (os atos de fala) e unidade linguiacutestica (os
enunciados) atraveacutes de padrotildees entoacionais Nas palavras da proacutepria autora ―assumindo a
teoria dos atos linguiacutesticos de Austin (1962) como quadro teoacuterico de referecircncia possamos
descrever a verbalizaccedilatildeo oral como uma forma particular de comportamento humano do qual
cada instacircncia eacute um ato linguiacutestico constituiacutedo da ativaccedilatildeo simultacircnea de trecircs diversos tipos
de ato (locutoacuterio ilocutoacuterio e perlocutoacuterio)69
(CRESTI 2000 p 42)
69
No original ―assumendo la teoria degli atti linguistici di Austin (1962) come quadro teoacuterico di riferimento
possiamo descrivere La verbalizzazioneorale come uma particolare forma di comportamento umano di cui ogni
istanza egrave un atto linguiacutestico costituito dalllsquoattivazione simultanea di ter diversi tipi di atti (locutivo ilocutivo e
perlocutivo) (CRESTI 2000 p 42)
76
Essa teoria nasce no domiacutenio da oralidade especificamente da observaccedilatildeo e anaacutelise da
fala espontacircnea70
quer dizer de um texto falado concebido ao mesmo tempo em que eacute
executado e que natildeo realiza nenhum texto anterior mdash escrito lido ou script (fala roteirizada)
De uma perspectiva comunicativa a fala espontacircnea eacute um comportamento dinacircmico
de interaccedilatildeo entre interlocutores uma cadeia de accedilatildeo-reaccedilatildeo Os participantes de uma troca
conversacional realizam accedilotildees dirigidas a um ou mais interlocutores o que chamamos de
ilocuccedilotildees Uma ilocuccedilatildeo se define a partir de um conteuacutedo afetivo base de todas as relaccedilotildees
entre pessoas71
Cumprir uma ilocuccedilatildeo seria realizar um ato ao dizer algo Um ato de fala se realiza
simultaneamente em trecircs dimensotildees
a) ato locutoacuterio parte linguiacutestica ato de dizer algo
b) ato ilocutoacuterio intenccedilatildeo comunicativa ato ao dizer algo
c) ato perlocutoacuterio eacute a produccedilatildeo de um efeito sobre o interlocutor
A contraparte linguiacutestica de um ato de fala eacute um enunciado que carrega sempre uma
intenccedilatildeo comunicativa e eacute a unidade de referecircncia da diamesia falada Diferencia-se de
uma frase por ser um elemento compreendido em autonomia e analisaacutevel
pragmaticamente A prosoacutedia eacute o componente suprassegmental que nos permite identificar
esses enunciados
311 O enunciado
A anaacutelise da fala diferencia-se da anaacutelise da escrita uma vez que segundo Moneglia
(2011 p 481) ―a linguagem escrita pode ser propriamente segmentada de acordo com
princiacutepios sintaacuteticos e semacircnticos enquanto ―a identificaccedilatildeo de unidades de referecircncia em
um corpus de fala pode dificilmente ser feita atraveacutes dos mesmos dispositivos sintaacuteticos e
semacircnticos72
A primazia da escrita sobre a fala nos estudos linguiacutesticos aliaacutes leva-nos a
70
A base para este estudo foi o LABLITA Corpus principalmente o subcorpus LABLITA Corpus of Adult
Spontaneous Spoken Italian Disponiacutevel em httplablitaditunifiitcorporadescriptionslablita Uacuteltimo acesso
08 jan 2014 71
De acordo com Cresti (2000 p 84 e ss) um afeto eacute definido como ―uma pulsatildeo e representaccedilatildeo de um
esquema acional em relaccedilatildeo ao interlocutor que permite uma accedilatildeo concreta no mundo 72
Traduccedilatildeo minha para ―[hellip] written language can be properly parsed according to syntactic and semantic
principles (hellip) the identification of the units of reference in a spoken corpus can hardly be identified through the
same syntactic and semantic devices (Blanche-Benveniste 1997 Biber et al 1999 Cresti 2000 Miller amp Weinert
1998 Izreel 2005) (MONEGLIA 2011 p 481)
77
cometer o equiacutevoco de neglicenciar esta diamesia e trataacute-la como um texto escrito jaacute que o
que eacute estudado normalmente eacute a transcriccedilatildeo da fala segmentada de acordo com pausas
sintaacuteticas o que corresponde graficamente ao uso da viacutergula como pontuaccedilatildeo (MELLO
RASO 2013) No entanto ancorado em consistente base empiacuterica Moneglia (2011) afirma
que os dados de corpora orais apontam para a insuficiecircncia dos mesmos criteacuterios sintaacuteticos
aplicados agrave escrita para anaacutelise dos eventos de fala uma vez que muitos destes eventos natildeo
apresentam sequer um verbo
Ainda de acordo com Mello e Raso (2013 p 101) para o estudo efetivo da fala haacute
que se considerar os niacuteveis hieraacuterquicos definidos na expressatildeo comunicativa da fala o que
pressupotildee ―i que inicialmente se individualize a unidade ilocucionaacuteria ii que dentro dessa
unidade seja estabelecida a sua estrutura informacional e iii que somente dentro da unidade
informacional seja possiacutevel uma anaacutelise sintaacutetica
Como mencionado acima o enunciado eacute a entidade linguiacutestica que do ponto de vista
pragmaacutetico eacute autocircnoma o que significa que natildeo se define nem pela completude semacircntica
nem pela expressatildeo da predicaccedilatildeo O criteacuterio de identificaccedilatildeo de um enunciado parte de
caracteriacutesticas entoacionais dado que a forccedila ilocucionaacuteria de um enunciado eacute veiculada
atraveacutes dela A correspondecircncia entre ilocuccedilatildeo e um dado contorno prosoacutedico eacute denominada
―criteacuterio ilocutivo (CRESTI 2000) As funccedilotildees linguiacutesticas da entoaccedilatildeo seriam segundo
Cresti (2000) (a) indicar o tipo de ilocuccedilatildeo realizada no ato de fala (b) delimitar os
enunciados no contiacutenuo focircnico (c) segmentar o enunciado em unidades menores (d) assinalar
o tipo informacional de cada unidade dentro do enunciado
Assim a prosoacutedia pode ser considerada a interface formal entre os atos executados
simultaneamente em um ato de fala73
Podemos identificar como paracircmetros prosoacutedicos os
seguintes elementos movimento de F0 (hz) intensidade (db) duraccedilatildeo (s) alinhamento
velocidade de fala e ritmo Eacute importante destacar que o tipo de ilocuccedilatildeo natildeo estaacute subordinado
ao conteuacutedo locutoacuterio
No que diz respeito agrave segunda funccedilatildeo da entoaccedilatildeo esta delimitaccedilatildeo dos enunciados eacute
realizada atraveacutes da percepccedilatildeo das variaccedilotildees prosoacutedicas relevantes por um falante
―competente As variaccedilotildees que resultam na segmentaccedilatildeo do enunciado em unidades discretas
satildeo chamadas de quebras prosoacutedicas divididas em
73
Adiante veremos que a prosoacutedia eacute apenas um dos criteacuterios para identificaccedilatildeo da unidade entoacional ainda
contribuem para esta definiccedilatildeo do tipo informacional criteacuterios funcionais e distribucionais
78
(a) terminais quebras que satildeo percebidas como conclusivas e portanto indicam
a completude prosoacutedica do enunciado Graficamente satildeo representadas por duas
barras ( ―)
(b) natildeo-terminais percebidas como quebras natildeo-conclusivas Satildeo mais fracas e
cumprem a funccedilatildeo de delimitar as unidades internas ao enunciado Graficamente
satildeo representadas por uma barra (―)
As quebras prosoacutedicas satildeo utilizadas na transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo de textos orais
(MONEGLIA CRESTI 1997) Como exemplos dessas quebras terminal e natildeo-terminal
respectivamente temos
(31) REN [116] eu gosto de maccedilatilde
(32) REN [145] desinfetante a gente precisa
Os enunciados podem ter um padratildeo simples ou complexo No padratildeo simples o
enunciado eacute composto apenas pelo nuacutecleo do ato de fala e eacute executado em uma uacutenica unidade
tonal necessaacuteria e suficiente porque carrega a forccedila ilocucionaacuteria denominada Comentaacuterio
no padratildeo complexo o enunciado corresponde ao nuacutecleo mais um conjunto de unidades com
distintas funccedilotildees informacionais eacute executado em duas ou mais unidades tonais Uma dessas
unidades eacute obrigatoriamente o Comentaacuterio as outras unidades cumprem funccedilotildees
informacionais textuais ou dialoacutegicas
As unidades tonais satildeo marcadas pelas quebras prosoacutedicas (terminais ou natildeo-
terminais) e em princiacutepio realizam uma unidade informacional A relaccedilatildeo entre as unidades
de um enunciado eacute de natureza funcional e apenas dentro de uma mesma unidade podem ser
estabelecidas relaccedilotildees de ordem sintaacutetica
Os criteacuterios de individualizaccedilatildeo das unidades aplicados simultaneamente satildeo de
caraacuteter (a) funcional a funccedilatildeo desempenhada pela unidade no padratildeo informacional (b)
entoacional perfil prosoacutedico74
tipo e direccedilatildeo do movimento de F0 velocidade de elocuccedilatildeo e
intensidade presenccedila ou natildeo de foco entoacional e (c) distribucional a posiccedilatildeo da unidade
74
O perfil prosoacutedico eacute identificado com base na fonologia entoacional desenvolvida pelo grupo IPO (Instituut
voor Perceptie Onderzoek em holandecircs) ou Instituto para Pesquisa em Percepccedilatildeo (HART COLLIER COHEN
1990) Satildeo definidas trecircs classes de configuraccedilatildeo root perfix suffix que se combinam em um contorno
prosoacutedico
10448977
19330605
79
opcional em relaccedilatildeo agrave unidade nuclear (o Comentaacuterio) que tem distribuiccedilatildeo livre dentro do
enunciado
Haacute unidades com funccedilatildeo textual que compotildeem e agem diretamente sobre o texto do
enunciado e unidades com funccedilotildees dialoacutegicas tambeacutem chamadas auxiacutelios dialoacutegicos que
satildeo instrumentos para regular o diaacutelogo e a interaccedilatildeo agem sobre a situaccedilatildeo comunicativa
eou o interlocutor
As unidades textuais satildeo o Comentaacuterio que em um padratildeo complexo pode ser
realizado na forma de Comentaacuterios Muacuteltiplos ou Comentaacuterios Ligados o Apecircndice de
Comentaacuterio o Toacutepico o Apecircndice de Toacutepico o Parenteacutetico e o Introdutor Locutivo As
unidades dialoacutegicas satildeo o Incipitaacuterio o Conativo o Faacutetico o Alocutivo o Expressivo e o
Conector Discursivo Haacute outras unidades que natildeo possuem valor informacional e sinalizam
disfluecircncias da fala ou escansatildeo a Unidade de Escansatildeo a Tomada de Tempo e a Unidade
Vazia
A partir de agora apresento a definiccedilatildeo de cada uma destas unidades tornadas
discretas atraveacutes dos criteacuterios mencionados anteriormente funcional entoacional e
distribucional
312 Unidades Informacionais
3121 Comentaacuterio (COM)
A unidade de Comentaacuterio (COM) eacute a unidade nuclear primaacuteria de um padratildeo
informacional e tem a funccedilatildeo de veicular a forccedila ilocucionaacuteria do enunciado Eacute a uacutenica que
pode figurar sozinha no enunciado uma vez que representa a unidade informacional
necessaacuteria e suficiente para a sua realizaccedilatildeo e interpretabilidade
Em termos de propriedades prosoacutedicas esta unidade corresponde ao perfil do tipo raiz
e seu foco varia de acordo com os tipos de ilocuccedilatildeo (recusa asserccedilatildeo direccedilatildeo expressatildeo rito)
e condiccedilotildees contextuais
Quanto ao criteacuterio distribucional o Comentaacuterio tem distribuiccedilatildeo livre e estabelece
restriccedilotildees nas propriedades distribucionais de outras (possiacuteveis) unidades informacionais isto
eacute as demais unidades se organizam em funccedilatildeo dele Esta unidade pode ser segmentada por
Unidades de Escansatildeo
Vejamos os exemplos
80
(33) BRU [360] nũ tem nada que pode ser aproveitado =COM=$ (bpubcv01)
(34) CAR se for mais gente numa situaccedilatildeo pior =TOP= noacutes vamo ter que pensar
=COM=$ (bpubcv02)
O enunciado em (33) eacute do tipo simples porque possui apenas a unidade de
Comentaacuterio suficiente e necessaacuteria Em (34) temos um exemplo de enunciado do tipo
complexo com duas unidades informacionais o Toacutepico e o Comentaacuterio
3122 Toacutepico (TOP)
O Toacutepico (TOP) eacute uma das principais unidades informacionais e tem como funccedilatildeo
delimitar semanticamente o campo de aplicaccedilatildeo da forccedila ilocucionaacuteria Esta unidade
seleciona o domiacutenio de relevacircncia em relaccedilatildeo ao qual o ato de fala deve ser interpretado
Prosodicamente a unidade eacute marcada por um perfil do tipo prefixo e apresenta foco
entoacional agrave direita Assim como o Comentaacuterio a unidade informacional de Toacutepico tambeacutem
tem um foco o que permite distingui-la de outras unidades que antecedem o Comentaacuterio No
portuguecircs foram identificadas quatro formas entoacionais diferentes para o Toacutepico (cf
ROCHA 2012 MITTMAN 2012)
Em termos de distribuiccedilatildeo antecede o Comentaacuterio ainda que natildeo seja adjacente a ele
A unidade tambeacutem pode ser segmentada em Unidades de Escansatildeo
Um Toacutepico pode ser recursivo e tambeacutem pode ser formado por subpadrotildees de
unidades informacionais normalmente do tipo referencial o que se constitui como uma Lista
de Toacutepicos Todos os Toacutepicos de uma lista juntos fornecem um uacutenico domiacutenio de aplicaccedilatildeo
da forccedila do Comentaacuterio e todos eles pertencem ao mesmo domiacutenio ontoloacutegico ou no miacutenimo
eles devem ser semanticamente coerentes
Como exemplos
(35) FLA aiacute o caderno =TOP= eacute um negoacutecio meio atrasado =COM= assim =
PHA=$ (bpubcv01)
(36) FLA o [1]=EMP= o ceagaeme =TPL(1)= o plasma =TPL(2)= e a plaqueta
=TPL(3)= a gente armazena ate o dia seguinte =COM= (bpubcv01)
1681224
34460394
25983393
37703385
81
Em (35) temos um SN que realiza um Toacutepico simples e a ocorrecircncia em (36)
representa uma Lista de Toacutepicos um dos tipos de Toacutepico complexo
3123 Apecircndice de Comentaacuterio (APC)
O Apecircndice de Comentaacuterio (APC) integra textualmente o Comentaacuterio e eacute dependente
desta unidade Varia informacionalmente atraveacutes de (a) repeticcedilatildeo repeticcedilatildeo ou eco (parcial
ou natildeo) de uma informaccedilatildeo jaacute conhecida ou uma paraacutefrase de um material locutivo no mesmo
enunciado ou em um enunciado diferente do mesmo falante ou mesmo do interlocutor (b)
preenchedor natildeo apresenta repeticcedilatildeo de um conteuacutedo anterior e se constitui como uma
expressatildeo formulaica que natildeo apresenta quase nenhuma informaccedilatildeo e (c) informaccedilatildeo
retardada o conteuacutedo semacircntico adiciona informaccedilatildeo para fins sociais quer dizer oferece
informaccedilatildeo mais especiacutefica ou alteraccedilotildees que facilitam a compreensatildeo do enunciado para o
interlocutor
Apresenta perfil entoacional do tipo sufixo nivelado ou descendente sem foco Estaacute
distribuiacutedo agrave direita do Comentaacuterio e em alguns casos pode estar separado do Comentaacuterio
por uma unidade de Faacutetico ou Parenteacutetico No entanto nunca pode ser interrompido por um
Parenteacutetico e algumas vezes eacute seguido por um Faacutetico ou Conativo
(37) CAR queria uma crianccedila que nũ me desse trabalho =COM= e tudo =APC=$
(bfammn05)
(38) CAR [177] cecirc nũ entendeu =COM= cecirc nũ =APC=$ (bfamcv03)
(39) FLA [358] tem que lembrar ela =COM= comprar acetona =APC=$
(bfamdl01)
3124 Apecircndice de Toacutepico (APT)
O Apecircndice de Toacutepico (APT) integra o texto do Toacutepico e se constitui
informacionalmente por integraccedilotildees lexicais ou alteraccedilotildees e muito raramente por repeticcedilotildees
exclusivamente do material locutoacuterio do Toacutepico
Esta eacute uma unidade de tipo sufixo com perfil que pode ser nivelado descendente ou
mesmo reproduzir a curva de F0 do Toacutepico a que se refere Diferentemente do Toacutepico natildeo
possui foco Distribui-se agrave direita da unidade de Toacutepico e o segue podendo estar intercalado
32391825
15673465
18808156
82
por uma unidade dialoacutegica (Faacutetico ou Alocutivo no PB) Natildeo pode ser interrompido por uma
unidade de Parenteacutetico
(310) BAL um cuidado =TOP= que cecircs tecircm que tomar =APT= lt Bel gt +
=ALL=$ (bfamdl02)
3115 Parenteacutetico (PAR)
A unidade de Parenteacutetico (PAR) expressa uma integraccedilatildeo metalinguiacutestica do
enunciado em alguns casos com funccedilatildeo modalizadora apresentando um ponto de vista
externo agravequele do Comentaacuterio A funccedilatildeo metalinguiacutestica encontra sua relevacircncia em relaccedilatildeo a
todo o enunciado ou pode se referir a uma unidade textual para traacutes ou para frente na maioria
das vezes um Comentaacuterio ou um Toacutepico e mais raramente a outro Parenteacutetico ou uma palavra
especiacutefica dentro de qualquer unidade informacional Informacionalmente cinco tipos de
integraccedilatildeo metalinguiacutestica foram encontrados avaliaccedilatildeo modal simples adiccedilatildeo de informaccedilatildeo
(com avaliaccedilatildeo positiva ou negativa) comentaacuterios sobre a atividade natildeo-linguiacutestica do falante
simultacircneo ao enunciado instruccedilotildees para o interlocutor que diz respeito agrave atividade dialoacutegica
glosa terminoloacutegica glosa locutiva de discurso reportado ou exemplificaccedilatildeo
O perfil prosoacutedico do tipo parecircntese eacute caracterizado por um abaixamento da F0 e
velocidade de execuccedilatildeo mais alta que o resto do enunciado Pode ocorrer em qualquer posiccedilatildeo
no enunciado exceto na inicial (VALE 2010)
(311) BAL [30] porque =DCT= lt se eu for gt empregado =TOP= por exemplo
=PAR= algueacutem vecirc que eu sou muito foda =TOP= lt medo gt de perder
=TOP= lt o posto gt lt deles =APT= es vatildeo [2] =EMP= es vatildeo gt me dizar
=COM= lt neacute gt =PHA=$ (bfamdl02)
Foi identificada ainda no minicorpus do C-ORAL-BRASIL a unidade de Lista de
Parenteacuteticos
(312) LUZ [68] aquele dia a Lilisa tava discutindo com a Deise =COB= ela ja tava
[3]=EMP= jaacute [1]=EMP= a Deise =SCA= jaacute ampf [1]=SCA= tinha falado de
quem que era =PAR= eu achei ate que ia ser do Ronan =COB= mas =DCT=
elas tava falando que nao =COB= falando de um outro ai =COM= nũ sei se eacute
Marco Tuacutelio =PRL= sei laacute quem =PRL= nũ sei quem =PRL=
(bfamdl03)
18285708
71817803
1071023
83
3116 Introdutor locutivo (INT)
O Introdutor Locutivo (INT) sinaliza a suspensatildeo pragmaacutetica do hic et nunc e introduz
uma metailocuccedilatildeo por exemplo um discurso reportado uma exemplificaccedilatildeo e um
pensamento falado um elenco e tambeacutem um parenteacutetico O perfil do tipo introdutor apresenta
alta velocidade de execuccedilatildeo e F0 mais baixa do que a do Comentaacuterio subsequente Sua
posiccedilatildeo eacute anterior ao Comentaacuterio que introduz
(313) FLA [324] como diz vocecirc =INT= natildeo precisa =COM_r=$ (bfamdl01)
322 Unidades Dialoacutegicas
As unidades dialoacutegicas compartilham algumas propriedades que as distinguem das
unidades textuais como por exemplo desenvolver uma funccedilatildeo que natildeo contribui para a
construccedilatildeo do conteuacutedo semacircntico do enunciado e por outro lado contribuir para o
desempenho feliz do ato de fala no contexto comunicativo e podem ocorrer em discurso
reportado Aleacutem disso em sua maioria satildeo realizadas com apenas uma palavra ou expressatildeo
natildeo podem ser escandidas natildeo carregam foco natildeo podem ser modalizadas possuem
restriccedilotildees de seleccedilatildeo lexical e natildeo contribuem para a composicionalidade sintaacutetico-semacircntica
do enunciado
3221 Incipitaacuterio (INP)
O Incipitaacuterio (INP) eacute uma unidade dialoacutegica que marca a abertura do turno dialoacutegico e
regula o fluxo da interaccedilatildeo Ele abre o canal comunicativo e indica um valor de contraste ou
uma oposiccedilatildeo ao enunciado anterior
Apresenta perfil prosoacutedico de auxiacutelio com F0 alta caracterizada por um movimento de
raacutepida subida seguida de descida Distribucionalmente ocorre em iniacutecio de enunciado ou
turno e frequentemente eacute seguido de uma unidade de Faacutetico
(314) bom =INP= ali tambeacutem pode fazer o seguinte o =COM=$ (bpubdl01)
16718361
2256
84
3222 Conativo (CNT)
A unidade de Conativo (CNT) tem a funccedilatildeo de provocar o interlocutor a se engajar na
interaccedilatildeo ou interromper o seu comportamento natildeo-cooperativo O perfil prosoacutedico se
caracteriza por intensidade alta perfil descendente e duraccedilatildeo curta Na maioria das vezes
ocupa posiccedilatildeo inicial ou final e algumas vezes posiccedilatildeo intermediaacuteria Haacute a possibilidade
ainda que pouco frequente de ocorrer mais de uma unidade de CNT no enunciado
(315) ltpera aiacute = CNT= pera pera aiacutegt =CNT= soacute um segundo =CNT= soacute vatildeo
esperar o [1] =SCA= a ampulheta = COB= aiacute lt desnegoccedilar gt = COM=$
(bfamcv04)
3223 Faacutetico (PHA)
A unidade dialoacutegica de Faacutetico (PHA) tem a funccedilatildeo de controlar o canal comunicativo
de modo a assegurar a manutenccedilatildeo de sua abertura Ele estimula o ouvinte a manter a coesatildeo
social necessaacuteria numa troca conversacional ou tenta se certificar de que o enunciado foi
recebido Em posiccedilatildeo final no enunciado serve para marcar o acordo com o interlocutor e
pode ser empregado para pedir uma confirmaccedilatildeo Por uacuteltimo funciona como uma tomada de
tempo para uma melhor programaccedilatildeo do enunciado
Apresenta perfil entoacional nivelado e duraccedilatildeo muito curta Sua posiccedilatildeo no
enunciado eacute livre
(316) eu contei o caso lt pra ele =COM= neacute gt =PHA= (bfammn01)
3224 Alocutivo (ALL)
O Alocutivo (ALL) opera no controle da comunicaccedilatildeo especifica a quem a mensagem
eacute dirigida e manteacutem a atenccedilatildeo do interlocutor desempenhando tambeacutem uma funccedilatildeo de coesatildeo
social Tem duraccedilatildeo curta baixa intensidade e movimento descendente Pode ocorrer em
qualquer posiccedilatildeo dentro do enunciado
(317) lt nũ tem perigo natildeo =COM= socirc gt =ALL= (bpubcv02)
30824478
18365709
10448977
85
3225 Expressivo (EXP)
O Expressivo (EXP) eacute suporte emocional do ato ilocutoacuterio cumprido pelo Comentaacuterio
assinala o compartilhamento de uma identidade de grupo com o interlocutor Apresenta F0
modulada ascendente com aumento da velocidade em relaccedilatildeo agrave meacutedia do enunciado Pode
ocorrer em qualquer posiccedilatildeo em relaccedilatildeo ao comentaacuterio
(318) eacute um [2] =EMP= eacute um pacote laacute com a Oi =COM= uai =EXP= (bpubcv01)
3226 Conector Discursivo (DCT)
O Conector Discursivo (DCT) tem como funccedilatildeo marcar a continuidade do discurso
indicando ao interlocutor que o processo de construccedilatildeo textual vai prosseguir Ocorre sempre
em iniacutecio de enunciado ou de um subpadratildeo de estrofe Eacute uma unidade com duraccedilatildeo longa
perfil nivelado ou modulado baixa velocidade e intensidade alta
O DCT funciona de modo oposto ao Incipitaacuterio Enquanto o uacuteltimo marca
descontinuidade no discurso o primeiro marca a continuidade O INP muitas vezes eacute usado
para tomar o turno de outro falante enquanto o DCT funciona mais internamente ao turno de
um mesmo falante
(319) entatildeo =DCT= dia de sexta e saacutebado ele nũ trabalha =COM=$ (bpubdl01)
323 A perda do isomorfismo
De acordo com Cresti (2000) haacute um princiacutepio de isomorfismo entre enunciado e
ilocuccedilatildeo e entre unidade tonal e unidade informacional Em alguns casos no entanto este
princiacutepio eacute quebrado como nos seguintes (i) quando uma unidade informacional se realizada
em mais de uma unidade entoacional fenocircmeno denominado escansatildeo (ii) quando mais de
uma ilocuccedilatildeo eacute realizada com determinado padratildeo dentro de uma uacutenica entidade linguiacutestica
concluiacuteda e (iii) quando varias ilocuccedilotildees fracas e homogecircneas satildeo realizadas
processualmente em uma situaccedilatildeo pouco acional ao que eacute chamado de Estrofe
3460162
3648
86
3231 Unidade de escansatildeo (SCA)
O fenocircmeno da escansatildeo ocorre apenas em unidades informacionais textuais Estas
unidades podem ser realizadas em mais de uma unidade entoacional Assim a Unidade de
Escansatildeo (SCA) natildeo apresenta funccedilatildeo informacional mas eacute parte de uma unidade
informacional maior A SCA indica disfluecircncias na fala que podem ocorrer por dificuldades
relativas agrave execuccedilatildeo do programa meloacutedico de uma unidade longa ou agrave expressividade da
unidade informacional Natildeo possui foco Uma caracteriacutestica deste fenocircmeno eacute a
composicionalidade sintaacutetica entre as unidades tonais escandidas
(320) com medo =INT= que se ea entrasse dentro de casa =TOP= ea ia matar
=SCA= os filho =SCA= com ea e tudo =COM=$ (bfammn01)
3232 Comentaacuterios Muacuteltiplos (CMM)
Os Comentaacuterios Muacuteltiplos (CMM) se constituem como dois ou mais comentaacuterios
dentro do mesmo enunciado ou seja separados por quebra natildeo-terminal e estruturados em
um padratildeo retoacuterico Estes padrotildees podem ser de tipos variados e ateacute agora foram
identificados as seguintes possibilidades de uma lista aberta elenco reforccedilo
alternativapedido de confirmaccedilatildeo comparaccedilatildeo relaccedilatildeo necessaacuteria chamamento cliacutemax e
consequecircncia
(321) SIL ou eacute vinho bom caro =CMM= ou eacute cerveja =CMM= (bfamdl04)
(322) ocirc Heliana =CMM= o vinho tava bom =CMM= (bfamdl04)
Os Comentaacuterios Muacuteltiplos satildeo contiacuteguos e como propriedades prosoacutedicas apresentam
o formato da unidade tonal eacute do tipo raiz + raiz (+ raiz) formando um padratildeo prosoacutedico e
seus perfil prosoacutedico e nuacutecleo variam de acordo com o tipo ilocucionaacuterio
37093863
37491415
22465298
87
3233 Estrofes e Comentaacuterios Ligados (COB)
Uma Estrofe eacute uma entidade linguiacutestica concluiacuteda que natildeo corresponde ao
cumprimento de um ato de fala mas sim a uma atividade de fala geneacuterica As Estrofes satildeo
unidades maiores que desenvolvem duas ou mais ilocuccedilotildees antes da quebra prosoacutedica
percebida como tendo valor terminal Contrariamente aos Comentaacuterios Muacuteltiplos natildeo satildeo
unidades programadas mas uma sequecircncia processual de Comentaacuterios Ligados (COB) nelas
o princiacutepio ilocucionaacuterio se enfraquece em favor de uma dimensatildeo menos pragmaacutetica e mais
textual
Nos Comentaacuterios Muacuteltiplos haacute um programa que requer mais de um Comentaacuterio para
ser realizado no caso das Estrofes agrave medida que ocorre a enunciaccedilatildeo outros Comentaacuterios vatildeo
sendo acrescentados porque o falante os percebe como importantes no momento sem que se
tenha programado anteriormente
Cada Comentaacuterio Ligado (COB) eacute caracterizado por uma forccedila ilocucionaacuteria fraca e
devem ser homogecircneos Aparentemente as estrofes cumprem somente atos com baixa
afetividade (descriccedilatildeo narraccedilatildeo pergunta retoacuterica instruccedilatildeo conselho expressatildeo de estado
psicoloacutegico)
O objetivo primaacuterio da Estrofe parece ser a expressatildeo de um pensamento em
andamento que induz a realizaccedilatildeo de um texto oral O texto da Estrofe eacute organizado como
uma sequecircncia de focos semacircnticos cada um dos quais pode registrar um valor modal
diferente A homogeneidade ilocucionaacuteria dos COB junto com a liberdade na variaccedilatildeo modal
implica que a Estrofe eacute concebida atraveacutes de uma relaccedilatildeo atitudinal uacutenica com o destinataacuterio
Em siacutentese a Estrofe se realiza quando a fala tende para uma dimensatildeo menos
pragmaacutetica e mais semacircntica O texto como conteuacutedo semacircntico se torna mais evidente e o
ato linguiacutestico como operaccedilatildeo pragmaacutetica se enfraquece As estrofes em princiacutepio podem ser
encontradas em todos os tipos de texto mas satildeo muito mais presentes no monoloacutegico e no
contexto puacuteblico Podemos ver portanto a estrofe como a dimensatildeo da acionalidade
enfraquecida em favor de uma elaboraccedilatildeo semacircntico-textual
(323) nos temos vinte-e-cinco funcionaacuterios =COB= dentro de Minas Gerais
=COB=atuando =COB= com a base nossa aqui em [1]=SCA= na capital
=COB= e hoje noacutes tamos =SCA= numa media de ampfature [1]=SCA=
faturamento de um-milhatildeo-e-meio a um-milhatildeo-e-setecentos-mil reais =SCA=
mecircs =COM= (bfammn06)
13926106
88
32 O corpus de fala espontacircnea o C-ORAL-BRASIL
O C-ORAL-BRASIL corpus de fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro eacute um projeto
em desenvolvimento na Universidade Federal de Minas Gerais especificamente no
Laboratoacuterio de Estudos Experimentais e Empiacutericos da Linguagem (LEEL) coordenado pelos
professores Tommaso Raso e Heliana Mello
O corpus foi originalmente estruturado para o estudo da estrutura informacional do
portuguecircs brasileiro e suas ilocuccedilotildees com base nos pressupostos da Teoria do Padratildeo
Informacional (CRESTI 2000) e eacute construiacutedo aos moldes do C-ORAL-ROM (CRESTI
MONEGLIA 2005) projeto que reuacutene os corpora comparaacuteveis das quatro principais liacutenguas
romacircnicas europeacuteias italiano francecircs espanhol e portuguecircs Na arquitetura desses corpora
privilegia-se uma maior variaccedilatildeo diafaacutesica a fim de se obter uma diversidade de ilocuccedilotildees e
de estruturas informacionais da fala
O corpus se constitui de textos de fala espontacircnea isto eacute textos produzidos ao mesmo
tempo em que satildeo executados e sua realizaccedilatildeo natildeo pressupotildee um texto anterior (escrito ou
roteirizado) Estaacute dividido em uma metade formal (em fase de coleta transcriccedilatildeo e revisatildeo) e
em uma metade informal (concluiacuteda e jaacute publicada RASO MELLO 2012) A parte informal
eacute composta de 139 textos (de aproximadamente 1500 palavras) e 208130 palavras em um
total de 21h8min de gravaccedilatildeo organizada em duas seccedilotildees privadofamiliar e puacuteblico Do
total de textos 80 pertencem ao domiacutenio familiar (105 gravaccedilotildees) e 20 ao domiacutenio
puacuteblico (34 gravaccedilotildees) distribuiacutedos igualmente em trecircs diferentes tipologias interacionais 13
de monoacutelogos 13 de diaacutelogos e 13 de conversaccedilotildees
A classificaccedilatildeo da tipologia interacional natildeo estaacute relacionada somente ao nuacutemero de
participantes na cena comunicativa mas agrave dinacircmica da situaccedilatildeo e ao peso relativo de cada
participante na produccedilatildeo linguiacutestica resultante Aleacutem de se privilegiar a diversidade de
situaccedilotildees o corpus eacute balanceado em termos de variaccedilatildeo diastraacutetica As gravaccedilotildees satildeo
realizadas em contexto natural enquanto os falantes realizam atividades
Como nos corpora do C-ORAL-ROM os textos satildeo transcritos no formato
CHILDES-CLAN e procede-se agrave segmentaccedilatildeo da fala em enunciados e unidades tonais e agrave
anotaccedilatildeo da estrutura informacional
Escolheu-se representar de maneira sistemaacutetica uma uacutenica diatopia no caso a do
estado de Minas Gerais e em particular a aacuterea urbana da capital Belo Horizonte Tal escolha
se deve agrave limitada dimensatildeo do corpus que natildeo poderia ser representativo de mais diatopias
Assim pelo menos 50 dos falantes satildeo mineiros Tradicionalmente a fala mineira eacute dividida
89
em pelo menos trecircs grandes aacutereas Sul e Triacircngulo (falar paulista) Norte (falar baiano) e
regiatildeo constituiacuteda pela Zona da Mata Zona Metaluacutergica Vertentes e Belo Horizonte e
arredores (falar mineiro) Estas regiotildees estatildeo representadas mas a grande aacuterea metropolitana
de Belo Horizonte tem a maior representaccedilatildeo
O corpus busca representar a variaccedilatildeo diastraacutetica especialmente importante na fala
brasileira mas tambeacutem nesse caso natildeo se pretende alcanccedilar uma representatividade
sistemaacutetica Haacute entretanto um esforccedilo no sentido de que vaacuterias faixas socioculturais estejam
presentes em todas as ramificaccedilotildees do corpus constam interaccedilotildees com falantes de vaacuterias
diastratias interagindo tanto com falantes da mesma faixa quanto com falantes de faixas
diferentes o que se mostraraacute produtivo para a anaacutelise da modalidade
Nesse aspecto com relaccedilatildeo aos criteacuterios adotados para o C-ORAL-ROM optou-se por
adequar a indicaccedilatildeo das faixas de escolaridade a uma distribuiccedilatildeo que melhor refletisse a
realidade brasileira levando-se em conta as significativas diferenccedilas em relaccedilatildeo agrave realidade
europeia
33 Coleta e organizaccedilatildeo dos dados
331 O minicorpus do C-ORAL-BRASIL I
Para fins desta pesquisa utilizarei uma amostra da parte informal do corpus C-ORAL-
BRASIL Dentre os 139 textos com meacutedia de 1500 palavras cada um num total de 208130
palavras seraacute analisado um minicorpus composto de 20 textos de trecircs tipologias
interacionais divididos em privados e puacuteblicos 7 monoacutelogos mdash 5 privados e 2 puacuteblicos mdash 7
diaacutelogos mdash 5 privados e 2 puacuteblicos mdash e 6 conversaccedilotildees mdash 4 privadas e 2 puacuteblicas
Este minicorpus busca preservar a mesma estrutura da parte informal do C-ORAL-
BRASIL e representa uma ampla variaccedilatildeo diastraacutetica e diafaacutesica Os seguintes criteacuterios ―de
maacutexima qualidade foram utilizados para a escolha dos 20 textos da amostra (RASO
MELLO 2009 p 32)
(i) Representatividade de ramificaccedilatildeo (monoacutelogos diaacutelogos conversaccedilotildees privados e
puacuteblicos)
(ii) Maior variaccedilatildeo de atividade maior nuacutemero possiacutevel de situaccedilotildees comunicativas
diferentes
90
(iii) Alta qualidade acuacutestica de acordo com a qualidade do espectrograma pouco ou
nenhum ruiacutedo de fundo pouco ou nenhum retorno do sinal claridade da voz
ganho bom caacutelculo confiaacutevel da F0 baixa porcentagem de sobreposiccedilatildeo de vozes
(iv) Diversidade de locutores representatividade equilibrada entre vozes masculinas e
femininas e de faixas etaacuterias Um informante natildeo aparece mais de uma vez a natildeo
ser que seja como interlocutor em atividade monoloacutegica
(v) Natildeo marcaccedilatildeo no que diz respeito agrave diastratia a meacutedia dos informantes natildeo eacute de
diastratia nem muito alta nem muito baixa
(vi) Interesse do conteuacutedo aumenta a atenccedilatildeo de transcritores e segmentadores
aumenta o niacutevel de informatividade pois garante uma fala mais espontacircnea
Abaixo segue a Tabela 31 que descreve as caracteriacutesticas dos textos do minicorpus75
Caracteriacutesticas dos textos do subcorpus
do C-ORAL-BRASIL etiquetado informacionalmente
Texto Situaccedilatildeo Informantes Duraccedilatildeo
Hms
No de
palavras M F
Conversaccedilotildees 15 9 010728 9774
bfamcv01 Amigos avaliam um campeonato de futebol organizado por eles e planejam o
proacuteximo
4 0 000700 1467
bfamcv02 Senhoras conversam sobre os preparativos do casamento de uma parente 0 3 000751 1725
bfamcv03 Amigos jogam sinuca 5 0 000650 1390
bfamcv04 Amigos jogam ―Imagem e Accedilatildeo apoacutes explicar as regras do jogo para uma das
participantes
2 2 000730 1766
bpubcv01 Funcionaacuterios de banco de sangue explicam como o sangue coletado eacute
armazenado
1 3 000830 1798
bpubcv02 Reuniatildeo ordinaacuteria em uma sede regional de partido poliacutetico 3 1 002947 1628
Diaacutelogos 6 8 014528 11331
bfamdl01 Colegas de apartamento fazem as compras do mecircs 0 2 001439 2131
bfamdl02 Colegas de faculdade batem papo enquanto organizam o material de gravaccedilatildeo 1 1 000726 1572
bfamdl03 Casal faz uma viagem de carro 1 1 001030 1637
bfamdl04 Domeacutesticas matildee e filha fazem a limpeza da cozinha apoacutes o almoccedilo 0 2 001932 1249
bfamdl05 Corretor de imoacuteveis leva a irmatilde para visitar apartamento 1 1 001128 1736
bpubdl01 Engenheiro e pedreiro trabalham em uma obra 2 0 002608 1568
bfamdl02 Cliente e vendedor interagem durante a compra de calccedilados 1 1 001545 1438
Monoacutelogos 7 10 010540 10213
bfammn01 Senhor narra histoacuteria fantaacutestica sobre uma cobra 2 0 000502 1086
bfammn02 Sobrinha de Carlos Drummond de Andrade conta histoacuteria da famiacutelia ao neto 1 1 000723 1677
bfammn03 Narrativa de ―causos divertidos para a famiacutelia 3 3 000708 1206
75
Fonte Raso e Mittman (2012 p 220-221)
91
Caracteriacutesticas dos textos do subcorpus
do C-ORAL-BRASIL etiquetado informacionalmente
Texto Situaccedilatildeo Informantes Duraccedilatildeo
Hms
No de
palavras M F
bfammn04 Senhora conta sua experiecircncia no hospital apoacutes ter dado agrave luz no carro 0 1 000657 1450
bfammn05 Senhora fala sobre a adoccedilatildeo da filha apoacutes a morte de sua filha bioloacutegica 0 2 000952 1580
bfammn06 Pai conta seu percurso profissional agrave sua filha 1 1 001002 1600
bpubmn01 Entrevista de avaliaccedilatildeo sobre aulas de inglecircs na rede puacuteblica de ensino 0 2 001916 1614
Total 28 27 035836 31318
presenccedila de pequenas intervenccedilotildees de um ou mais informantes que estavam fora da situaccedilatildeo
Tabela 31 ndash Caracteriacutesticas dos textos do minicorpus
Os nomes dos arquivos satildeo construiacutedos da seguinte forma a primeira letra representa
a liacutengua do corpus (―b) o grupo de trecircs letras seguintes o contexto da interaccedilatildeo (―fam para
contextos privados e ―pub para contextos puacuteblicos) as duas letras finais correspondem agrave
tipologia interacional (―mn para monoacutelogos ―dl para diaacutelogos e ―cv para conversaccedilotildees)
os numerais em sequecircncia correspondem agrave sua identificaccedilatildeo na seccedilatildeo a que pertencem
A tabela aponta que o minicorpus eacute composto de um total de 31318 palavras em 3h
58min e 36s de gravaccedilatildeo totalizando de 55 informantes (28 do sexo masculino e 27 do
feminino) As conversaccedilotildees tecircm 1h 7min e 28s de gravaccedilatildeo com 24 informantes (15 homens
e 9 mulheres) os diaacutelogos 1h 45min e 28s de gravaccedilatildeo com 14 informantes (6 homens e 8
mulheres) e os monoacutelogos 1h 5min e 40s de duraccedilatildeo e 17 informantes (7 homens e 10
mulheres)
Com relaccedilatildeo ao nuacutemero de informantes nos monoacutelogos ainda que haja mais de um
participante na situaccedilatildeo comunicativa apenas um dos participantes eacute o informante central
para a contagem do nuacutemero de palavras do texto Os eventuais interlocutores satildeo os
endereccedilados e contribuem tatildeo-somente com pequenas interferecircncias normalmente para
manter o fluxo discursivo
Os nuacutemeros para o contexto e a tipologia interacional satildeo os seguintes 74 da
amostra pertencem ao contexto privadofamiliar e os arquivos em contexto puacuteblico
representam 26 do total de palavras da amostra Assim como em toda a parte informal do
corpus a divisatildeo do minicorpus eacute balanceada 31 satildeo conversaccedilotildees 36 diaacutelogos e 33
monoacutelogos
Deve-se observar que neste subcorpus a representatividade para o contexto puacuteblico
natildeo eacute suficiente para efeitos de comparaccedilatildeo com as situaccedilotildees familiares O nuacutemero de
92
palavras neste contexto equivale a 13 das palavras das conversaccedilotildees 14 das dos diaacutelogos e
16 das palavras produzidas em monoacutelogos
332 A busca e organizaccedilatildeo dos iacutendices
A busca pelos iacutendices modais no minicorpus foi feita manualmente por trecircs
anotadores Os anotadores duas estudantes de graduaccedilatildeo e uma de poacutes-graduaccedilatildeo cumpriram
duas tarefas a partir do que jaacute havia sido investigado na literatura e discutido sobre o conceito
de modalidade e a tipologia a primeira buscar os iacutendices nos textos e a segunda tarefa a de
classificaacute-los de acordo com os tipos epistecircmicos deocircnticos e dinacircmicos
Ainda que um objetivo futuro seja a comparaccedilatildeo com dados de modalidade para a fala
espontacircnea do italiano que utilizam os valores aleacutetico epistecircmico e deocircntico decidiu-se natildeo
individualizar a modalidade aleacutetica76
e proceder agrave classificaccedilatildeo apenas dos dois uacuteltimos tipos
A partir da observaccedilatildeo direta dos dados e nas discussotildees do grupo sobre os significados
modais a serem aplicados optou-se por uma abordagem subjetiva da modalidade De fato
alguns estudiosos (von WRIGHT 1951 LYONS 197777
CRESTI 2000 TUCCI 2007)
reconhecem o tipo aleacutetico e consideram-no em sua tipologizaccedilatildeo poreacutem como Portner (2009
p 10) argumenta ―[p]ode ser difiacutecil determinar precisamente quais os usos de modais
supostamente contados como aleacuteticos como em eacute necessariamente verdade que a leitura
aleacutetica tende a se destacar A motivaccedilatildeo para a concepccedilatildeo estrita pode ser a assunccedilatildeo de que a
modalidade aleacutetica eacute o tipo mais baacutesico de modalidade em termos do qual as outras
variedades podem ser definidas mais do que um tipo entre muitos78
o que corrobora nossa
posiccedilatildeo
A cada texto anotado os resultados eram discutidos em reuniatildeo com a coordenadora
do projeto A busca e a classificaccedilatildeo eram checadas e validadas e apesar de natildeo computado
estatisticamente foi apontado alto grau de acordo entre os anotadores Agrave medida que o
processo de codificaccedilatildeo avanccedilava foi decidido que o valor dinacircmico seria incluiacutedo na
tipologia para cobrir os casos de habilidadecapacidade e os de voliccedilatildeointenccedilatildeo
76
No entanto eacute reconhecida a importacircncia da modalidade aleacutetica para o estudo das ontologias por exemplo 77
Segundo Portner (2009 p 122-123) ―A visatildeo de Lyons tambeacutem parece ser de que a modalidade na
linguagem natural eacute simplesmente uma versatildeo extremamente objetiva da modalidade epistecircmica 78
No original ―It can be hard to determine precisely which uses of modals are supposed to count as alethic but
if you put in the word true as in It is necessarily true that the alethic reading tends to stand out The
motivation for the narrow conception may be an assumption that alethic modality is the most basic type of
modality in terms of which the other varieties may be defined rather than just one type among many
(PORTNER 2009 p 10)
93
Para os casos de ambiguidade dos verbos modais como ―poder e ―dever que
permitem leituras tanto epistecircmicas quanto deocircnticas (e para o ―poder tambeacutem dinacircmicas) o
desempate foi feito pela anaacutelise do contexto e ainda pela utilizaccedilatildeo do software WinPitch
(MARTIN 2004) na oitiva uma vez que a anaacutelise perceptual e acuacutestica do sinal sonoro
permitem a desambiguaccedilatildeo do valor semacircntico de uma mesma forma lexical
O WinPitch Corpus eacute uma ferramenta fundamental para a anaacutelise de textos falados
porque permite o alinhamento preciso das informaccedilotildees linguiacutesticas contidas num texto com
seu correspondente sinal acuacutestico Assim permite a identificaccedilatildeo natildeo soacute de siacutelabas como de
enunciados inteiros inclusive dos segmentos de unidades informacionais Aleacutem do
alinhamento transcriccedilatildeo-fala o software possui outros recursos para a anaacutelise acuacutestica como
espectrograma identificaccedilatildeo da frequecircncia fundamental possibilidade de siacutentese da curva
prosoacutedica entre outros A anaacutelise dos arquivos de som se mostra fundamental para
reconhecer classificar e analisar os iacutendices de modalidade quando sugerem mais de um
sentido
Para o tratamento nesta tese foram selecionados apenas os enunciados com um iacutendice
modal expliacutecito e ao final destacamos 1197 iacutendices modais distribuiacutedos em 1046
enunciados excluiacutedos os enunciados interrompidos Apoacutes a seleccedilatildeo os dados foram
organizados em uma tabela com todas as ocorrecircncias por arquivo de texto Os enunciados
foram codificados da seguinte forma
(a) Metadados informaccedilotildees sobre cada arquivo o nome de cada um a tipologia
interativa (monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees) e os participantes Estes dados
foram colhidos nos cabeccedilalhos de cada arquivo que fornecem os dados estatiacutesticos
sobre as categorias de sexo idade niacutevel escolar ocupaccedilatildeo e papel comunicativo
exercido pelos falantes assim como informaccedilotildees relativas agraves atividades exercidas
durante a gravaccedilatildeo os assuntos e os locais de gravaccedilatildeo Esse cabeccedilalho traz
tambeacutem comentaacuterios que podem conter observaccedilotildees julgadas importantes sobre a
natureza situacional para a compreensatildeo do texto como um todo ou de parte(s)
dele e observaccedilotildees linguiacutesticas natildeo acolhidas nos criteacuterios de transcriccedilatildeo mas
consideradas relevantes em cada caso especiacutefico
94
A estes metadados fornecidos pelo corpus foram acrescentados a tipologia
textual79
o gecircnero textual e o assunto de cada interaccedilatildeo a fim de verificar a
relaccedilatildeo entre as escolhas dos itens modais e os tipos de texto em que estatildeo
inseridos Estas variaacuteveis natildeo satildeo paracircmetros controlados pelo C-ORAL-BRASIL
nem pelo C-ORAL-ROM Abaixo um instantacircneo das informaccedilotildees compiladas e
codificadas sobre os metadados
Tabela 32 ndash Informaccedilotildees sobre os metadados
(b) Lemas e lexemas identificaccedilatildeo do item modal de cada enunciado e suas
respectivas formas A Tabela 33 indica a forma de codificaccedilatildeo
79
A fim de classificar a tipologia textual utilizo as categorias de Dolz e Schneuwly (19962004) divididas em
NARRAR RELATAR EXPOR ARGUMENTAR e DESCREVER
Arquivo Tipologia in teracional Tipo textual Gecircnero Assunto Inform antes S
bfamcv01 conversaccedilatildeo privada argumentativo avaliaccedilatildeoplanejamento campeonato de futebol GIL M
bfamcv01 conversaccedilatildeo privada argumentativo avaliaccedilatildeoplanejamento campeonato de futebol GIL M
bfamcv01 conversaccedilatildeo privada argumentativo avaliaccedilatildeoplanejamento campeonato de futebol LUI M
bfamcv01 conversaccedilatildeo privada argumentativo avaliaccedilatildeoplanejamento campeonato de futebol LUI M
bfamcv01 conversaccedilatildeo privada argumentativo avaliaccedilatildeoplanejamento campeonato de futebol LUI M
bfamcv02 conversaccedilatildeo privada narrativo bate-papo preparativos de casamento RUT F
bfamcv02 conversaccedilatildeo privada narrativo bate-papo preparativos de casamento RUT F
bfamcv02 conversaccedilatildeo privada narrativo bate-papo preparativos de casamento TER F
bfamcv03 conversaccedilatildeo privada narrativo bate-papo variadosjogo de sinuca CEL M
bfamcv04 conversaccedilatildeo privada descritivo instruccedilatildeo de jogo Imagem e Accedilatildeo CEL M
bfamdl01 diaacutelogo privado narrativo seleccedilatildeo de alimentos compras do mecircs REN1 F
bfamdl02 diaacutelogo privado narrativodescritivobate-papoinstruccedilatildeo de uso
de equipamento
variados organizaccedilatildeo de
equipamentoBEL F
95
Tabela 33 ndash Informaccedilotildees sobre lemas e lexemas
(c) Organizaccedilatildeo informativa unidades informacionais em que se encontram o iacutendice
modal (Comentaacuterio Comentaacuterios Muacuteltiplos Comentaacuterios Ligados Toacutepico Lista
de Toacutepico Parenteacutetico Lista de Parenteacuteticos Introdutor Locutivo Apecircndice de
Comentaacuterio e Apecircndice de Toacutepico)80
Abaixo segue a tabela com as etiquetas
utilizadas
Unidade informacional Etiqueta
Comentaacuterio COM
Comentaacuterios Muacuteltiplos CMM
Comentaacuterios Ligados COB
Toacutepico TOP
Lista de Toacutepicos TPL
Parenteacutetico PAR
Lista de Parenteacuteticos PRL
Introdutor Locutivo INT
Apecircndice APC
Apecircndice de Toacutepico APT
Tabela 34 ndash Etiquetagem de unidades informacionais
80
Na etiquetagem informacional eacute utilizada a etiqueta CMB para Comentaacuterios Muacuteltiplos Ligados No entanto
para os propoacutesitos de meu trabalho assumo os CMBs como COBs pela opccedilatildeo de agrupar categorias semelhantes
funcionalmente
Lem a Lexem a
achar acho
dever deviam
achar acho
com certeza com certeza
com certeza com certeza
ir vatildeo
mesmo mesmo
querer queria
dar daacute
dever deve
querer querendo
esperar espero
96
(d) Valor modal correspondente epistecircmico deocircntico e dinacircmico e seus respectivos
subvalores modais Para os subvalores a nomenclatura estaacute em inglecircs tendo em
vista que nos projetos de anotaccedilatildeo da modalidade a liacutengua inglesa eacute a liacutengua
francalsquo
O valor epistecircmico o significado epistecircmico estaacute relacionado com o grau de
certeza de um conceptualizador sobre o material locutoacuterio enunciado e tambeacutem se
refere agraves noccedilotildees de possibilidade probabilidade e necessidade Por exemplo
O valor deocircntico normalmente estaacute associado agraves convenccedilotildees morais e sociais e
portanto normalmente eacute usado para indicar obrigaccedilatildeo permissatildeo ou proibiccedilatildeo
O valor dinacircmico relaciona-se agrave capacidade habilidade e voliccedilatildeointenccedilatildeo de um
conceptualizador
A Tabela 33 indica os coacutedigos utilizados
Valores Subvalores Coacutedigo
Epistecircmicos epi
Conhecimento knowledge
Crenccedila belief
Possibilidade possibility
Probabilidade probability
Necessidade necessity
Verificaccedilatildeo verification
Deocircnticos deo
Obrigaccedilatildeo obligation
Permissatildeo permission
Proibiccedilatildeo prohibition
Necessidade necessity
Dinacircmicos dyn
Habilidade ability
Voliccedilatildeo volition
Tabela 35 ndash Etiquetagem de valores e subvalores modais
97
(e) Part of speech (PoS) do iacutendice modal verbos modalizadores81
verbos epistecircmicos
verbos de compreensatildeo e percepccedilatildeo verbos de atitude proposicional adveacuterbio
modal e locuccedilotildees adverbiais adjetivos e construccedilotildees adjetivas expressotildees modais
construccedilotildees de futuro (futuro perifraacutestico vamos+infinitivo futuro do preteacuterito e
imperfeito com funccedilatildeo de retrospecccedilatildeo) A Tabela 34 indica as etiquetas
PoS Etiqueta
Verbos modalizadores Vm
Verbos epistecircmicos Vepi
Verbos de compreensatildeopercepccedilatildeo Vcomp
Verbos de atitude proposicional Vap
Adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais Adv
Adjetivos e construccedilotildees adjetivas Adj
Expressotildees modais Em
Morfologia
Futuro perifraacutestico futperif
vamos+infinitivo letlsquos
Futuro do preteacuterito futpret
Imperfeito imperf
Tabela 36 ndash Etiquetagem de Part of speech (PoS) e iacutendices morfoloacutegicos
(f) Composicionalidade se haacute apenas um iacutendice modal em cada enunciado (―s para
simples) ou se haacute dois ou mais iacutendices na mesma unidade informacional e mesmo
enunciado (―me para mesmo enunciado) ou se haacute no mesmo enunciado e em
unidades informacionais diferentes (―meud para mesmo enunciado e unidades
diferentes)
A Tabela 37 traz um instantacircneo da maneira como os dados referentes a enunciados
padratildeo informacional composicionalidade valor modal PoS e subvalores modais estatildeo
organizados e codificados
81
Sob a etiqueta verbos modalizadores incluo natildeo apenas os verbos ―poder ―dever e ―ter que mas todos
aqueles que expressam modalidade epistecircmica deocircntica e dinacircmica mesmo que a rigor nem todos sejam
enquadrados na categoria ―verbos modais
98
Tabela 37 ndash Organizaccedilatildeo e codificaccedilatildeo de dados
En
un
cia
do
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Pa
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99
Em fase posterior foram acrescentados apenas por um anotador dados referentes aos
componentes utilizados para a anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade como o target a unidade
informacional que conteacutem o target a polaridade e a source of the modality ou holder
(BAKER et al 2010) A metodologia utilizada na anotaccedilatildeo dos dados seraacute explicitada no
capiacutetulo 5 da Parte III deste trabalho uma vez que para tal classifico apenas os iacutendices
lexicais utilizo uma classificaccedilatildeo mais refinada e um software especiacutefico para tarefas de
anotaccedilatildeo o MMAX2 (MULLER STRUBE 2006)
Da tabela ainda consta um campo para observaccedilotildees sobre sutilezas de cada ocorrecircncia
como por exemplo relaccedilotildees entre morfossintaxe e semacircntica estrateacutegias de polidez
envolvidas padrotildees modais etc
As construccedilotildees condicionais foram tabuladas em planilha especiacutefica devido agrave
particularidade dos dados a serem analisados Aleacutem dos metadados lemas e lexemas e valor
modal foram acrescentados o padratildeo de organizaccedilatildeo informativa da construccedilatildeo por exemplo
TOPCOM e a distribuiccedilatildeo da proacutetase e apoacutedose correspondente ao padratildeo de cada
enunciado
Abaixo uma amostra da tabela com as condicionais e suas variaacuteveis
Texto Falante Construccedilatildeo Est Info Estr Sint
bfamcv02 TER [21] mas =INP= gente velha =TOP= jaacute prometeu o [1]=SCA= os
presente =TOP= ltjaacute =SCA= podegt garantir que ganhou =COM=$ TOP-COM Pro-apo
bfamcv02 RUT [23] se nũ morrer antes ltdelesgt =COM=$ COM pro
bfamcv02 JAE [27] ltse for ogt filho e ganhou =TOP= lteacute questatildeo da matildeegt =COM=$ TOP-COM Pro-apo
Tabela 38 ndash Exemplo de organizaccedilatildeo dos dados das construccedilotildees condicionais
34 Anaacutelise dos dados
A partir da organizaccedilatildeo dos dados foi realizada a descriccedilatildeo da modalidade no
minicorpus etiquetado informacionalmente do C-ORAL-BRASIL Foram analisadas as
frequecircncias de enunciados modalizados encontrados na amostra bem como a sua distribuiccedilatildeo
por tipologia interacional Aleacutem disso foram descritas a frequecircncia dos iacutendices morfolexicais
inclusive em relaccedilatildeo agrave unidade informacional de que faziam parte e a frequecircncia dos tipos de
modalidade em relaccedilatildeo aos iacutendices e a cada unidade informacional
Em seguida foi feita a anaacutelise qualitativa e quantitativa para cada um dos iacutendices
modais encontrados em termos de ambientes sintaacuteticos relaccedilatildeo entre estrutura sintaacutetica e
estrutura informacional distribuiccedilatildeo nos contextos e tipologias interacionais tipologia textual
100
(narrativo relato expositivo argumentativo descritivo) Aleacutem disso foram analisadas as
variaacuteveis tipo de modalidade e seus subvalores padratildeo de estrutura informacional (qual
unidade informacional conteacutem o marcador modal) e a composicionalidade (enunciado
simples dois iacutendices na mesma unidade informacional dois ou mais iacutendices em unidades
informacionais diferentes mas no mesmo enunciado)
Neste capiacutetulo tratei dos procedimentos metodoloacutegicos que guiaram esta pesquisa Na
primeira seccedilatildeo expus os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato teoria esta corpus-driven
e corpus-based que define o enunciado como sua unidade miacutenima de referecircncia
pragmaticamente analisaacutevel Elenquei e defini as unidades informacionais textuais e
dialoacutegicas e os padrotildees complexos de organizaccedilatildeo informacional a saber as Unidades de
escansatildeo Comentaacuterios Muacuteltiplos Estrofes e Comentaacuterios Ligados Em seguida na segunda
seccedilatildeo apresentei a arquitetura do C-ORAL-BRASIL corpus de fala espontacircnea do portuguecircs
brasileiro especificamente em sua variedade mineira Da parte informal deste corpus foi
recortado um minicorpus a partir de criteacuterios de maacutexima qualidade com 20 textos
privadosfamiliares e puacuteblicos que tenta preservar a arquitetura do corpus Descrevo as
variaacuteveis utilizadas para a anaacutelise dos dados (metadados lemas e lexemas estrutura
informacional composicionalidade valores e subvalores modais e PoS) e por uacuteltimo
explicito o tipo de anaacutelise a ser empreendida
No proacuteximo capiacutetulo sigo com a descriccedilatildeo da modalidade no C-ORAL-BRASIL com
a apresentaccedilatildeo e discussatildeo dos dados e posterior anaacutelise qualitativa de alguns dos iacutendices
lexicais que expressam o fenocircmeno em tela
101
Capiacutetulo 4
A MODALIDADE NO MINICORPUS DO C-ORAL-BRASIL I
resultados e anaacutelise
No capiacutetulo anterior apresentei a moldura teoacuterica da Teoria da Liacutengua em Ato o
projeto C-ORAL-BRASIL e os procedimentos metodoloacutegicos utilizados para a anaacutelise da
modalidade no minicorpus extraiacutedo da parte informal do C-ORAL-BRASIL No presente
capiacutetulo descrevo os resultados para a modalidade na amostra de 20 textos deste minicorpus e
analiso o comportamento de alguns dos iacutendices lexicais que expressam modalidade a saber
verbos modalizadores verbos epistecircmicos adveacuterbios e as construccedilotildees condicionais do tipo
―se p entatildeo q
41 Frequecircncia de enunciados modalizados na amostra
O minicorpus de anaacutelise possui um total de 31465 palavras e 5484 enunciados Foi
realizada uma busca manual em todos os enunciados para a extraccedilatildeo dos enunciados que
continham pelo menos um marcador de modalidade dentre os jaacute elencados na seccedilatildeo de
procedimentos metodoloacutegicos Foram encontrados 1197 iacutendices marcadores de modalidade
sendo 109 referentes a construccedilotildees condicionais82
e 1088 referentes aos outros itens modais
distribuiacutedos em 1044 enunciados o que corresponde a 1903 do total de todos os
enunciados da amostra Como mostra o graacutefico abaixo
82
Conforme destacado no capiacutetulo de procedimentos metodoloacutegicos as construccedilotildees condicionais recebem
tratamento diferenciado porque ―assumem uma estrutura textual que difere das estrateacutegias lexicais e possuem
uma distribuiccedilatildeo prosoacutedico-pragmaacutetica peculiar (CORTES MELLO 2013 p 1)
102
Figura 41 ndash Frequecircncia de enunciados modalizados no minicorpus
Em termos de composicionalidade83
os iacutendices estatildeo assim organizados dos 1088
marcadores 825 aparecem em enunciados com apenas um iacutendice modal 202 estatildeo
combinados (dois ou mais iacutendices) em uma mesma unidade informacional e 61 deles
correspondem a mais de um iacutendice modal em um mesmo enunciado mas em unidades
informacionais diferentes A combinaccedilatildeo de um ou mais iacutendices em uma mesma unidade
informacional exige que seja analisado o valor global do enunciado respeitando a hierarquia
de valores de cada um dos modais
Na amostra haacute uma seacuterie de valores modais combinados (epi-epi epi-deo epi-dyn
epi-epi-epi epi-deo-epi epi-epi-dyn deo-deo- deo-epi dyn-epi etc) sendo que o valor
global predominante nestes enunciados eacute o epistecircmico Vejamos alguns exemplos
(41) SIL [92] ltsinceramentegt que eu nũ sei =COM=$ (bfamdl04)
(42) HEL [97] o que que ltpodegt ltque que nũ podegt =COM=$ (bfamcv04)
(43) JOR [79] eles queriam me dar um dinheiro por fora mas =SCA= a gente
tambeacutem tem que ter o nossos momento de descanso =COM=$ (bfammn06)
(44) EVN [169] vatildeogt vatildeo =CNT= lteu acho que tem que ser essesgt =COM=$
(bfamcv01)
83
Apresento a composicionalidade dos 1088 marcadores de modalidade excluiacutedas as construccedilotildees condicionais
que como jaacute mencionado estatildeo organizadas de maneira particular
nordm de enunciados
nordm de enunciados modalizados
103
Em (41) temos dois iacutendices modais epistecircmicos ―sinceramente e ―sei com
subvalores de crenccedila e conhecimento e o valor global do enunciado eacute epistecircmico A
ocorrecircncia em (42) traz um enunciado com valor global deocircntico haacute uma combinaccedilatildeo de
dois itens modais deocircnticos com significado de permissatildeo e impedimento O exemplo (43)
combina um iacutendice dinacircmico ―queriam e um deocircntico ―tem que dada a hierarquia o valor
global eacute dinacircmico Por uacuteltimo em (44) a unidade informacional de Comentaacuterio conteacutem dois
marcadores modais um epistecircmico de crenccedila ―acho e uma obrigaccedilatildeo deocircntica ―tem que e
seu valor global eacute epistecircmico
42 Enunciados e tipologia interacional
Na amostra da parte informal do corpus a extraccedilatildeo automaacutetica dos enunciados nos daacute
um resultado de 5484 enunciados simples e complexos distribuiacutedos da seguinte forma 4126
enunciados privados (1404 conversaccedilotildees 1870 diaacutelogos e 852 monoacutelogos) e 1358
enunciados puacuteblicos (635 conversaccedilotildees 581 diaacutelogos e 142 monoacutelogos) A Tabela 42 mostra
os nuacutemeros para a distribuiccedilatildeo de enunciados em termos de tipologia interacional e contexto
familiar ou puacuteblico Destacam-se o nuacutemero total de enunciados por tipologia e contexto e a
frequecircncia deles comparados aos nuacutemeros totais do minicorpus
Tabela 41 ndash Frequecircncia de enunciados modalizados x tipologia e contexto interacional
O graacutefico abaixo daacute a perspectiva da distribuiccedilatildeo
Monoacutelogos Diaacutelogos Conversaccedilotildees Total modal
Total
amostra
Freq
()
Privados 174 332 291 797 4126 193
Puacuteblicos 46 111 90 247 1358 181
Total modal 220 443 381 1044 5484 1903
Total amostra 994 2451 2039 5484
Freq () 221 18 186
104
Figura 42 ndash Frequecircncia de enunciados por tipologia e contexto interacional
Observa-se que a tipologia interacional tem influecircncia sobre o percentual de
enunciados modalizados comparados aos diaacutelogos e conversaccedilotildees (181 e 186
respectivamente) a tipologia monoloacutegica possui mais enunciados modalizados (222)
Na Tabela 42 estatildeo indicados o nuacutemero de iacutendice modais encontrados em cada
contexto e tipologia interacional e sua frequecircncia em relaccedilatildeo ao nuacutemero total de iacutendices
modalizados
Tabela 42 ndash Frequecircncia de iacutendices modais por contexto e tipologia interacional
Abaixo o graacutefico para ilustrar essa distribuiccedilatildeo
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
Privados
Puacuteblicos
Total modal
Monoacutelogos Diaacutelogos Conversaccedilotildees Total modal Freq ()
Privados 207 365 334 906 756
Puacuteblicos 64 130 97 291 243
Total modal 271 495 431 1197
Freq () 226 413 359
105
Figura 43 ndash Frequecircncia de iacutendices modais por tipologia e contexto interacional
A grande diferenccedila entre a frequecircncia dos iacutendices em contextos privados e puacuteblico
deve-se ao nuacutemero bastante superior de textos privados (15) em relaccedilatildeo ao puacuteblico (5) Esta
comparaccedilatildeo portanto eacute meramente ilustrativa No que diz respeito agrave tipologia interacional os
iacutendices estatildeo assim distribuiacutedos para os monoacutelogos 226 do total de iacutendices para os
diaacutelogos 413 e para as conversaccedilotildees 359
Assim vemos que ao serem apresentados apenas os nuacutemeros de iacutendices modais
deslocados do nuacutemero de enunciados e de uma base de referecircncia de toda a amostra inverte-
se o peso das tipologias os monoacutelogos apresentam menos modalizaccedilotildees em comparaccedilatildeo com
as trocas dialoacutegicas (diaacutelogos e conversaccedilotildees)
43 Frequecircncia dos iacutendices morfolexicais de modalidade
Foram encontradas 1197 ocorrecircncias de itens lexicais e gramaticais que expressam
modalidade divididos em verbos modais verbos epistecircmicos e de atitude proposicional
adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais adjetivos e construccedilotildees adjetivas expressotildees modais futuro
perifraacutestico futuro do preteacuterito imperfeito (com valor de futuro do preteacuterito) e construccedilotildees
condicionais A Tabela 43 abaixo mostra os nuacutemeros para cada estrateacutegia modalizadora
0
200
400
600
800
1000
1200
Privados
Puacuteblicos
Total modal
Freq ()
106
Estrateacutegias modalizadoras nordm de enunciados
verbos modalizadores 414
verbos epistecircmicos atitude proposicional 223
adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais 92
adjetivos e construccedilotildees adjetivas 22
expressotildees modais 30
futuro perifraacutestico 243
vamos+infinitivo (~letlsquos) 18
futuro do preteacuterito 37
imperfeito (~futuro do preteacuterito) 9
construccedilotildees condicionais 109
Tabela 43 ndash Estrateacutegias modalizadoras
O nuacutemero de ocorrecircncia de iacutendices lexicais eacute de 783 e corresponde a 654 da
amostra enquanto o de iacutendices gramaticais eacute de 416 e corresponde a 346 O nuacutemero de
iacutendices gramaticais somados eacute idecircntico ao nuacutemero de verbos modalizadores
A estrateacutegia modalizadora empregada mais frequententemente satildeo os verbos
modalizadores (aqui como jaacute explicitado incluo todos os verbos que expressam modalidade
epistecircmica deocircntica e dinacircmica) correspondendo a 346 do total de ocorrecircncias As duas
outras estrateacutegias mais frequentes satildeo o futuro perifraacutestico (202) e os verbos epistecircmicos e
de atitude proposicional (185) A Figura 44 demonstra a participaccedilatildeo de cada uma das
estrateacutegias utilizadas na amostra
107
Figura 44 ndash Distribuiccedilatildeo das estrateacutegias modalizadoras na amostra ()
Importante destacar que na liacutengua portuguesa o futuro do preteacuterito apesar de ser uma
forma do modo indicativo representando um futuro retrospectivo funciona como uma forma
condicional exatamente como em outras liacutenguas romacircnicas como o francecircs e o italiano Dessa
forma as construccedilotildees condicionais (do tipo ―se p entatildeo q) e o futuro do preteacuterito (inclusive
na forma temporal do imperfeito) consistem em 129 do total de enunciados modalizados
431 Distribuiccedilatildeo dos iacutendices em relaccedilatildeo agrave unidade informacional
Nesta seccedilatildeo apresento a distribuiccedilatildeo dos marcadores de modalidade em relaccedilatildeo agrave
articulaccedilatildeo informacional do enunciado
Segundo Tucci (2007) apenas algumas unidades podem conter um iacutendice modal o
Comentaacuterio o Toacutepico o Parenteacutetico e o Introdutor Locutivo No minicorpus em anaacutelise aleacutem
destas unidades informacionais centrais jaacute apontadas nos dados do italiano ainda aparecem
como modalizados as unidade de Lista de Toacutepicos Lista de Parenteacuteticos Comentaacuterios
Muacuteltiplos e Comentaacuterios Ligados Destaco que apesar de termos quatro ocorrecircncias de
iacutendices na unidade de Apecircndice de Comentaacuterio e uma na de Apecircndice de Toacutepico os nuacutemeros
foram computados na unidade imediatamente anterior que integra na medida em que se
constituem como ecos ou informaccedilatildeo atrasada de itens contidos no Comentaacuterio ou Toacutepico A
Tabela 44 a seguir mostra a frequecircncia relativa das unidades informacionais centrais na
amostra
estrateacutegias modalizadorasverbos modais
verbos epistecircmicos atitude proposicional
adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais
adjetivos e construccedilotildees adjetivas
futuro perifraacutestico
vamos+infinitivo (~letrsquos)
108
Unidades textuais Amostra iacutendices modais
Comentaacuterio 5484 1027 187
Toacutepico 503 22 43
Parenteacutetico 124 17 137
Introdutor Locutivo 223 22 103
Tabela 44 ndash Frequecircncia relativa das unidades informacionais na amostra84
Do total de 1088 ocorrecircncias de iacutendices modais 1027 delas se realizam em unidade
de Comentaacuterio seja o Comentaacuterio-ele mesmo (820 ocorrecircncias) ou unidades de Comentaacuterio
Muacuteltiplo (94 ocorrecircncias) Comentaacuterios Ligados (109 ocorrecircncias) As trecircs outras unidades
que carregam o marcador modal mdash Toacutepico Parenteacutetico Introdutor Locutivo mdash participam de
maneira semelhante na caracterizaccedilatildeo da modalidade na amostra em nuacutemeros absolutos com
22 17 e 22 ocorrecircncias respectivamente Os graacuteficos em 45 e 46 apontam o percentual
absoluto e relativo de unidades modalizadas respectivamente
Figura 45 ndash Frequecircncia absoluta das unidades informacionais em relaccedilatildeo aos iacutendices modalizados
84
A tabela foi montada a partir da base IPIC plataforma de busca que fornece os dados comparativos do C-
ORAL-ROM italiano e seu minicorpus e o minicorpus (parte informal) do C-ORAL-BRASIL em relaccedilatildeo a
dados gerais tipos interacionais contextos comunicativos e unidades informacionais Disponiacutevel em
httplablitaditunifiitipic Uacuteltimo acesso em 16 mar 2014 Trago apenas os nuacutemeros que me interessam nesta
anaacutelise Para fins de anaacutelise nos nuacutemeros para Comentaacuterio estatildeo incluiacutedos enunciados e estrofes uma vez que
os nuacutemeros da unidade COM contecircm os CMMs e os COBs Computo igualmente para o Toacutepico e o Parenteacutetico
os nuacutemeros da Lista de Toacutepicos (3) e Lista de Parenteacuteticos (3) respectivamente
94
2 22
Frequecircncia absoluta - Unidade informacionais
COM TOP PAR INT
109
Figura 46 ndash Frequecircncia relativa das unidades informacionais no minicorpus
Comparados os dois graacuteficos notamos que o Comentaacuterio tanto em termos absolutos
quanto em termos relativos eacute a unidade mais frequentemente modalizada As outras
unidades em nuacutemeros absolutos satildeo modalizadas em meacutedia em 2 dos enunciados jaacute em
termos relativos o quadro se modifica o Parenteacutetico figura como a segunda unidade mais
modalizada (137) seguida do Introdutor Locutivo (103) e em frequecircncia bem menor do
Toacutepico (43)
44 Frequecircncia da modalidade quanto aos tipos modais
Trato agora da distribuiccedilatildeo dos valores modais (epistecircmicos deocircnticos e dinacircmicos)
em relaccedilatildeo ao nuacutemero de enunciados agrave estrutura informacional e agrave ocorrecircncia das estrateacutegias
modalizadoras A distribuiccedilatildeo dos valores modais na nossa amostra eacute a seguinte
tipo de modalidade nordm de enunciados
epistecircmica 904
deocircntica 190
dinacircmica 103
Tabela 45 ndash Tipos de modalidade
Comentaacuterio Toacutepico Parenteacutetico Introdutor Locutivo
5484
503 124 223
1028
2217 23187 43 137 103
Frequecircncia relativa - Unidades informacionais
Minicorpus iacutendices modais
110
De um total de 1197 iacutendices que expressam a modalidade o epistecircmico eacute o valor
modal mais amplamente utilizado em 766 das ocorrecircncias As modalidades deocircntica e
dinacircmica satildeo realizadas em percentual bem menor com 149 e 84 das ocorrecircncias Como
mostra a figura a seguir
Figura 47 ndash Distribuiccedilatildeo dos valores modais ()
441 Frequecircncia de valor modal por iacutendice lexical
No que diz respeito agrave frequecircncia dos valores modais por iacutendice lexical temos
Estrateacutegias modalizadoras epi deo dyn
verbos modalizadores 128 188 85
verbos epistecircmicos 210 0 0
verbos de atitude proposicional 26 0 0
adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais 94 0 0
adjetivos e construccedilotildees adjetivas 19 1 0
expressotildees modais 28 1 1
futuro perifraacutestico 244 0 0
vamos + infinitivo (~ construccedilatildeo let) 0 0 17
futuro do preteacuterito 37 0 0
imperfeito 9 0 0
condicionais 109 0 0
Tabela 46 ndash Estrateacutegias modalizadoras e tipos de modalidade
76
16
8
tipos de modalidade
epistecircmica deocircntica dinacircmica
111
O nuacutemero de iacutendices lexicais eacute de 781 e corresponde a 657 de todos os iacutendices
enquanto o de iacutendices gramaticais eacute de 416 e corresponde a 346 dos modais O nuacutemero de
itens gramaticais modais eacute praticamente idecircntico ao nuacutemero de verbos modalizadores
A tabela indica que independentemente do valor satildeo os verbos modalizadores a
estrateacutegia preferencial para a expressatildeo da modalidade num percentual correspondente a
335 do total de iacutendices com destaque para o tipo deocircntico em que esta estrateacutegia
predomina 469 do uso de verbos modais correspondem a este valor 319 ao valor
epistecircmico e 212 ao dinacircmico
A modalidade epistecircmica eacute a mais utilizada como jaacute visto e estaacute associada a todas as
estrateacutegias modalizadoras Mello e colaboradores (2013) em anaacutelise quantitativa da
distribuiccedilatildeo dos marcadores de modalidade na fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro
construiacuteram um graacutefico em que quanto mais vetores estivessem associados a um determinado
noacute mais representativo seria este noacute em relaccedilatildeo ao paracircmetro analisado no caso a relaccedilatildeo
entre a tipologia modal e os lemas modais Desta forma demonstraram a tendecircncia para o
uso no portuguecircs brasileiro do tipo epistecircmico e apontaram que este valor tem uma taxa de
associaccedilatildeo a diferentes iacutendices modais muito mais elevada do que os tipos deocircntico e
dinacircmico
Os valores deocircntico e dinacircmico satildeo realizados predominantemente pelos verbos
modalizadores com a ocorrecircncia de uma expressatildeo modal com valor deocircntico e uma para o
valor dinacircmico Construccedilotildees do tipo ―vamos+Vinf (tambeacutem chamada de construccedilatildeo let ou
construccedilotildees hortativas) com 17 ocorrecircncias representam o futuro como voliccedilatildeointenccedilatildeo
subvalores associados ao valor dinacircmico
442 Relaccedilatildeo entre o valor modal e as unidades informacionais
Nesta seccedilatildeo apresento os resultados para a frequecircncia do valor modal em relaccedilatildeo agraves
unidades informacionais Jaacute deixamos claro que o escopo da modalidade natildeo eacute o enunciado
mas a unidade informacional Em um mesmo enunciado pode ocorrer mais de um elemento
veiculador de modalidade e a modalidade soacute se estende ao enunciado inteiro se ele for do
tipo simples quer dizer soacute composto pela unidade de Comentaacuterio
A Tabela 47 traz os nuacutemeros para os valores modais nas unidades informacionais de
Comentaacuterio Toacutepico Parenteacutetico e Introdutor Locutivo
112
Unidades informacionais epi deo dyn
COM 746 185 96
TOP 19 1 2
PAR 15 1 1
INT 16 3 3
Tabela 47 ndash Distribuiccedilatildeo dos valores modais nas unidades informacionais
As unidades informacionais tecircm comportamento diverso e natildeo-uniforme no que diz
respeito agrave realizaccedilatildeo do valor modal Para o Comentaacuterio natildeo haacute restriccedilatildeo quanto ao valor
modal a unidade assume significados epistecircmicos deocircnticos e dinacircmicos O Toacutepico ao
contraacuterio realiza principalmente o tipo epistecircmico (863) e na amostra assumiu o valor
dinacircmico em duas ocorrecircncias e em uma ocorrecircncia do tipo deocircntico correspondente ao item
modal contido na unidade de Apecircndice de Toacutepico que a integra A unidade de Parenteacutetico tem
comportamento semelhante realiza em sua maioria significados epistecircmicos (882) e
assume em apenas uma ocorrecircncia o valor deocircntico e o dinacircmico Quanto ao Introdutor
Locutivo parece apresentar da mesma forma que o Comentaacuterio a possibilidade de maior
realizaccedilatildeo de todos os significados modais (739 para os epistecircmicos e 13 para os
deocircnticos e dinacircmicos) Abaixo o graacutefico representa a distribuiccedilatildeo absoluta das unidades
informacionais relativo a cada valor modal
Figura 48 ndash Distribuiccedilatildeo absoluta de unidades informacionais por valor modal
0
200
400
600
800
1000
1200
epi deo dyn total
INT
PAR
TOP
COM
113
Abaixo na Figura 49 a distribuiccedilatildeo relativa das unidades no que diz respeito a cada
valor modal com base no nuacutemero total de ocorrecircncias
Figura 49 ndash Frequecircncia relativa de unidades informacionais por valor modal
Segundo Tucci (2007 p 270) em anaacutelise dos dados da modalidade para o italiano o
fato de as unidades de Comentaacuterio e Introdutor Locutivo poderem realizar todos os valores
modais sem qualquer restriccedilatildeo natildeo eacute surpreendente O Comentaacuterio representa a unidade
suficiente e necessaacuteria para a interpretabilidade de um enunciado e da mesma forma o
Introdutor Locutivo que introduz um discurso reportado um elenco uma comparaccedilatildeo uma
exemplificaccedilatildeo (no portuguecircs brasileiro introduz uma opiniatildeo ou consideraccedilatildeo) assinalando
a modalidade e suspendendo a operaccedilatildeo ilocutiva
Sobre o Toacutepico e o Parenteacutetico Tucci (2007 p 271-273) faz consideraccedilotildees sobre as
duas unidades no que diz respeito agrave realizaccedilatildeo majoritariamente das modalidades epistecircmica e
aleacutetica e agrave restriccedilatildeo do uso do tipo deocircntico De acordo com a autora esta restriccedilatildeo estaacute
intimamente associada agrave sua funccedilatildeo informativa
Nas proacuteximas seccedilotildees passo a analisar os dados para alguns dos iacutendices lexicais
marcadores de modalidade
738 863 882739
71 45 59
13
92 9 59 13
COM TOP PAR INT
unidades informacionais x valor modal
epi deo dyn
114
45 Anaacutelise de iacutendices marcadores de modalidade
Os significados modais no portuguecircs brasileiro como jaacute apontado podem ser
expressos por vaacuterios meios lexicais morfoloacutegicos e sintaacuteticos Esta seccedilatildeo apresenta a anaacutelise
de quatro categorias lexicais ndash verbos modalizadores verbos epistecircmicos adveacuterbios modais ndash
e uma categoria gramatical ndash as construccedilotildees condicionais
451 Os verbos modalizadores
A grande maioria dos estudos sobre a categoria da modalidade se dedica agrave anaacutelise dos
verbos modais auxiliares ou semi-auxiliares como os de Papafragou (1998 2000) Cornillie
(2005 2007) van der Auwera and Plungian (1998) Bybee et al (1994) Almeida (2010) para
nomear apenas uns poucos Para a liacutengua portuguesa destaco os trabalhos de Oliveira (2003)
Gonccedilalves (2004) Galvatildeo (2000) Gonccedilalves e Galvatildeo (2001) Salomatildeo (2008)
4511 Frequecircncia dos verbos modalizadores
Como apontado na seccedilatildeo 441 os verbos modalizadores satildeo a estrateacutegia preferencial
utilizada para a expressatildeo da modalidade Relembrando ilustro com um excerto da Tabela
46
Estrateacutegias modalizadoras epi deo dyn
verbos modalizadores 128 188 85
Foram identificados na amostra portanto 401 verbos modalizadores isto eacute todos os
verbos modais auxiliares semimodais e verbos plenos que expressam modalidade Abaixo
elenco todos os lemas encontrados e suas respectivas ocorrecircncias
115
verbos
modalizadores ocorrecircncias
adiantar 3 08
aguentar 2 05
conseguir 11 27
dar 30 75
dever 31 77
esperar 3 08
gostar 1 03
parecer 10 24
poder 132 329
precisar 17 42
querer 65 162
ter que 93 232
valer 3 08
Tabela 48 ndash Distribuiccedilatildeo dos verbos modalizadores
Desta lista observa-se a grande ocorrecircncia de verbos que figuram em listas de vaacuterias
liacutenguas como ―poder ―dever ―ter que ―precisar ―querer e ―parecer No entanto haacute
formas outras que normalmente natildeo satildeo consideradas modais canocircnicos como os verbos
―dar ―adiantar ―valer e ―aguentar que parecem ser usos especializados do portuguecircs
brasileiro85
O graacutefico abaixo mostra a distribuiccedilatildeo dos itens
85
Restrinjo-me agrave variante brasileira do portuguecircs uma vez que natildeo tenho dados suficientes para fazer
afirmaccedilotildees sobre as outras variantes seja a europeia ou as africanas
116
Figura 410 ndash Frequecircncia dos verbos modalizadores
A seguir apresento alguns exemplos de verbos que por um vieacutes metafoacuterico permitem
a leitura como marcador modal
(41) Adiantar
(a) [217]aiacute natildeo adianta =CMM= nũ pode desmanchar =CMM=$ (bpubdl01)
(42) Conseguir
(b) BRU [383] ltcecirc conseguiu sergt pior =COM=$ (bfamcv04)
(c) KAT [32] conseguiu marcar =CMM= natildeo =CMM= neacute =CMM=$
(43) Dar (para)
(d) REN [266] daacute pa fechar o jogo =COM=$
(e) LUZ [210] ltNossagt =EXP= esse negoacutecio de terra nũ daacute natildeo =COM=$
(f) [168] dois filho =TOP_r= daacute pa rir e chorar =COM_r=$
(44) Esperar
(g) entatildeo assim =INT= espero que =SCA= isso nũ seja =SCA= coisa pros times que
jogam com a gente deixar de jogar com a gente =COM= $ (bfamcv01)
(h) REN [518] espero que eu natildeo tinha [1]=SCA= tenha perdido =COM=$
(bfamdl01)
11 3 7 8
1 02
33
4
16
23
1
Frequecircncia dos verbos modalizadores
adiantar aguentar conseguir dar dever
esperar gostar parecer poder precisar
querer ter que valer
117
(45) Parecer
(i) [307] ele lttem setenta-e-seisgt metros quadrado me parece =COM=$ (bpubdl01)
(46) Valer
(j) FLA [444] natildeo vale mais chorar por ele=COM=$
Destaco na amostra os nuacutemeros para as ocorrecircncias dos principais verbos que dizem
respeito agraves modalidades epistecircmica deocircntica e dinacircmica mdash ―poder ―dever ―ter que
―querer e ―conseguir
Figura 411 ndash Ocorrecircncia dos principais verbos modais tipo de modalidade
Observamos que o verbo ―poder eacute mais usado que o verbo ―dever como estrateacutegia
de modalidade com 132 ocorrecircncias comparadas a 31 ocorrecircncias Necessaacuterio salientar que o
uso de ―ter que (93 ocorrecircncias 2 em sentido epistecircmico e 91 em sentido deocircntico) no PB
como veiculador de modalidade deocircntica indica que o sentido de obrigaccedilatildeo estaacute quase
totalmente vinculado a ele O verbo ―querer assume valor dinacircmico de voliccedilatildeo e o
―conseguir indica habilidadecapacidade dinacircmica em 9 casos e possibilidade epistecircmica em
2
Na Tabela 49 os nuacutemeros de ocorrecircncias de cada verbo e a frequecircncia relativa aos
verbos modalizadores e aos valores modais totais
poder (can)dever (must
should)ter que (have
to)querer
(wishwant)conseguir
(be able to)
epi 52 29 2 0 2
deo 78 2 91 0 0
dyn 2 0 0 65 9
0102030405060708090
100
Principais verbos modais
118
Verbos modais epi deo dyn
poder (can) 52 78 2
dever (must should) 29 2 0
ter que (have to) 2 94 0
querer (wishwant) 0 0 65
conseguir (be able to) 2 0 9
total 85 174 76
verbos modalizadores 205 421 184
valor modal 94 915 737
Tabela 49 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos principais verbos modalizadores
Observa-se que a partir do caacutelculo da porcentagem para cada um dos valores modais
tomando em consideraccedilatildeo todos os enunciados estes verbos em destaque assumem o valor
deocircntico (915) e dinacircmico (737) contra 94 de epistecircmicos Em relaccedilatildeo aos verbos
modalizadores os deocircnticos continuam a predominar (421) seguido em nuacutemeros proacuteximos
dos epistecircmicos (205) e dos dinacircmicos (184) Conforme o graacutefico em 412
Figura 412 ndash Frequecircncia relativa dos valores modais dos principais verbos modalizadores
A baixa ocorrecircncia de ―dever com valor deocircntico relacionado com o sentido de uma
obrigaccedilatildeo fraca e a sua maior ocorrecircncia com o valor epistecircmico indica que este verbo
conforme Mello et al (2010 p 119)
020406080
100120140160180
epi
deo
dyn
119
[d]e tiacutepico modalizador deocircntico (por conter a noccedilatildeo de obrigaccedilatildeo associada agrave
diacutevida) o verbo passou a frequente modalizador epistecircmico veiculando menos a
noccedilatildeo de obrigaccedilatildeo do que a de possibilidade ou a de probabilidade A noccedilatildeo de
obrigaccedilatildeo aparece fracamente na semacircntica do verbo porque a avaliaccedilatildeo de
probabilidade (epistecircmico) deriva de uma avaliaccedilatildeo baseada na necessidade
(deocircntica neste caso) das relaccedilotildees entre as coisas Eacute notaacutevel a ocorrecircncia dessa nova
acepccedilatildeo (epistecircmica) mais frequente que a acepccedilatildeo de raiz (deocircntica)
O espaccedilo deixado pelo verbo ―dever em usos de obrigaccedilatildeo deocircntica tem sido ocupado
pelo semimodal ―ter que como confirmam os nuacutemeros
Em termos de distribuiccedilatildeo dos verbos nas unidades informacionais como estrateacutegia
mais produtiva podem ocupar qualquer uma das UIs modalizaacuteveis com destaque mais uma
vez para o grande nuacutemero de ocorrecircncias na unidade de Comentaacuterio (315) o que corresponde
a 786 de todas as ocorrecircncias Se ao Comentaacuterio acrescentamos as ocorrecircncias para APC
CMM e COB este nuacutemero sobe para 390 973 do total de ocorrecircncias da amostra Eacute
importante notar que todos os significados epistecircmicos satildeo realizados nesta unidade Nas
unidades de Toacutepico Apecircndice de Toacutepico Parenteacutetico e Introdutor Locutivo temos a
realizaccedilatildeo de valores deocircnticos (tanto permissatildeo quanto obrigaccedilatildeo) e dinacircmicos (voliccedilatildeo)
452 Os verbos epistecircmicos
Os verbos de caraacuteter epistecircmico ou verbos de crenccedila funcionam segundo Venier
(1991 p 68 apud TUCCI 2007 p 172) como ―sinais para manifestar no ouvinte o grau de
confiabilidade conferido pelo falante agrave proposiccedilatildeo e para manter uma funccedilatildeo sinalizadora
tambeacutem quando o enunciado que a conteacutem vem reportado86
Aleacutem disso desenvolvem
sentidos atitudinais e interacionais podem estar configurados sintaticamente de variadas
maneiras permitindo diferentes complementos a proacutepria omissatildeo de complemento e
informacionalmente a parentetizaccedilatildeo
Vejamos ocorrecircncias do Corpus do Portuguecircs (DAVIES FERREIRA 2006) com o
verbo de crenccedila ―considerar a fim de apontar nuances de com conceptualizaccedilatildeo no uso deste
tipo de verbo87
86
Traduccedilatildeo minha para ―segnali di manifestare alllsquoascoltatore il grado di attendibilitagrave assegnato dal parlante
alla proposizione e di mantenete uma funzione segnaletica anche quando llsquoenunciato che li contiene viene
riportato (VENIER 1991 p 68 apud TUCCI 2007 p 172) 87
Os exemplos foram coletados do Corpus do Portuguecircs esse eacute um corpus de referecircncia da liacutengua portuguesa
projeto desenvolvido pelos professores Mark Davies (BYU) e Michael J Ferreira (Georgetown University) com
mais 45000000 de palavras e um total de 57000 textos do seacutec XIV ao seacutec XX Esse corpus permite o
cruzamento de dados e distribuiccedilatildeo de palavras frases e construccedilotildees por registro (oral ficccedilatildeo jornaliacutestico e
120
(47) os direitos com facilidade ou tem ciuacuteme Joatildeo Ubaldo - Realmente natildeo gostei de
O Sorriso do Lagarto mas gostei da adaptaccedilatildeo de Sargento Getuacutelio para o cinema
Natildeo tenho ciuacuteme algum Trata-se mesmo de outra obra a obra do cineasta
iBEsp_242 15 de outubro de 1997 Nahas se considera ldquoum bode expiatoacuteriordquo
Estado - O sr esperava esta sentenccedila da Justiccedila Naji Nahas - Natildeo esperava de jeito
nenhum Eacute mais uma violecircncia uma discriminaccedilatildeo odiosa entre as muitas que tenho
sido viacutetima desde 89 Estado - Se o sr eacute a viacutetima quem (CDP19OrBrIntrvISP)
(48) Nahas - Confio na Justiccedila e sei que esta sentenccedila estaacute sujeita a revisatildeo
Terminando meu trabalho eu volto porque quero me apresentar para a apelaccedilao
aproveitando o momento para esclarecer todo esse assunto e mostrar definitivamente
quem satildeo os culpados Sou a viacutetima Estado - O sr se considera um bode
expiatoacuterio Nahas - Sou E o mais sofrido do BrasiliBEsp_244 18 de outubro de
1997 Manoel de Barros faz do absurdo sensatez Estado - Como surgiu seu amor pelas
coisas sem importacircncia Manoel de Barros - Quando eu era jovem fiz uma longa
viagem pela Boliacutevia (CDP19OrBrIntrvISP)
Em (47) confirmado por (48) tem-se um caso de discurso reportado e mostra-se a
separaccedilatildeo entre ―quem enuncia e nos termos tradicionais explicitados anteriormente ―o
falante que se compromete com a verdade da proposiccedilatildeo enunciada Em uacuteltima
consequecircncia haacute uma separaccedilatildeo a meu ver entre enunciado e proposiccedilatildeo enunciada
Observemos outro exemplo
(49) lugar (exceto Belo Horizonte) por mais de 2 anos Sebastiatildeo Nem no Rio de
Janeiro Prof Eduardo No Rio eu peguei uma vez mas minha mulher me gozou
tanto Comecei a puxar o ldquosrdquo igual ao pessoal de Juiz de Fora
que se considera carioca Dizem aqui em Belo Horizonte que o pessoal de laacute daacute o
endereccedilo tipo Avenida Brasil 9 milhotildees 582 mil etc (risos) Foi na eacutepoca em que
servi o Exeacutercito no Rio em Magalhatildees Bastos subuacuterbio Sebastiatildeo Natildeo entendi Com
17 anos o senhor
A partir de (49) temos duas possiacuteveis interpretaccedilotildees
acadecircmico) dialeto (portuguecircs brasileiro vs europeu no seacuteculo XX) periacuteodo histoacuterico (seacuteculos XIV ao XX)
Para acessaacute-lo httpwwwcorpusdoportuguesorg
121
(49a) Os juizforanos efetivamente dizem que satildeo cariocas (e aiacute se constituiria como
(xi) discurso reportado)
(49b) Os juizforanos se comportaram de uma determinada forma ou fizeram alguma
consideraccedilatildeo sobre serem cariocas que levam o falante a crer que o pessoal de Juiz de
Fora ―se considera carioca (inclusive enfatizado pelo enunciado seguinte em que
temos a presenccedila do evidencial ―Dizem que)
Dessa forma o que se pode depreender dos exemplos acima quando empregada a
terceira pessoa do discurso eacute que um dos usos dessas construccedilotildees eacute uma avaliaccedilatildeo do falante
sobre a avaliaccedilatildeo (ou perspectiva ou ainda ponto de vista) de uma pessoa outra (no papel
sintaacutetico de sujeito da claacuteusula principal)
Segundo Nuyts (2012) esta seria uma diferenccedila ente subjetividade e
intersubjetividade Uma avaliaccedilatildeo eacute tomada como subjetiva quando eacute responsabilidade
exclusiva do avaliador enquanto a intersubjetiva eacute compartilhada entre o avaliador e um
grupo de pessoas O autor sugere que satildeo principalmente os verbos de predicados mentais que
devem ser identificados com a subjetividade (NUYTS 2001 p 122-128) e pleiteia que a
subjetividade seja tratada como uma categoria diferenciada da modalidade epistecircmica
(NUYTS 2012) como por exemplo em (410) e (411)
(410) [94] achei aquele lugar incriacutevel =COM=$ (bfamcv01)
(411) [74] que eu acho que deu muito pau =COM= nessa taccedila =APC=$
(bfamcv01)
Na interpretaccedilatildeo de Nuyts exemplos como o apresentado em (410) parecem natildeo
carregar um sentido epistecircmico considerando que o verbo ―achar neste caso eacute um marcador
puramente de subjetividade jaacute que indica uma avaliaccedilatildeo esteacutetica ou moral e natildeo uma Em
(411) ao contraacuterio o verbo estaria empregado como um marcador epistecircmico com a
introduccedilatildeo de uma opiniatildeo baseada em evidecircncia ou na estimativa das possibilidades de
alguma coisa ser o caso
Sob outra perspectiva Almeida e Ferrari (2012) em artigo sobre a diferenccedila entre os
complementos de construccedilotildees epistecircmicas no inglecircs do tipo [X thinks that Y] e [X thinks Y]
levantam a questatildeo de qual seria a diferenccedila pragmaacutetica entre estas duas construccedilotildees baseado
no Princiacutepio da Natildeo-Sinoniacutemia (GOLDBERG 1995) As autoras a partir da anaacutelise de 382
construccedilotildees epistecircmicas de complementaccedilatildeo coletadas nas versotildees impressa e eletrocircnica da
revista Speak Up afirmam que estas construccedilotildees satildeo ―operadores de subjetividade que
122
apresentam o objeto de conceptualizaccedilatildeo (a claacuteusula complemento) tanto direta como
indiretamente desde a perspectiva do falante88
(ALMEIDA FERRARI 2012 p 123-124)
Ainda sustentam que as construccedilotildees sinalizam intersubjetividade uma vez que se referem
implicitamente agrave perspectiva do falante em relaccedilatildeo a outras perspectivas apresentadas em
discurso anterior as natildeo-completivas indicam conjunccedilatildeo cognitiva e as completivas
disjunccedilatildeo cognitiva entre a perspectiva do falante e outras perspectivas disponiacuteveis no fluxo
discursivo (ALMEIDA FERRARI 2012 p 124) Esta posiccedilatildeo que leva em conta uma
abordagem discursiva contraria outras propostas discutidas na literatura sobre o tema como a
jaacute mencionada de Nuyts (2012) e a de Verhagen (2005) justamente porque pleiteia que a
intersubjetividade vai envolver uma cena mais ampla que inclui a relaccedilatildeo entre falante e
ouvinte a claacuteusula complemento e as perspectivas anteriores disponiacuteveis no discurso
De fato os exemplos da amostra apontam para uma diferenccedila na qualidade da
avaliaccedilatildeo em construccedilotildees completivas e natildeo-completivas No entanto natildeo temos dados
suficientes para uma generalizaccedilatildeo que corrobore uma ou outra posiccedilatildeo apresentada Para fins
da pesquisa abarco crenccedila e opiniatildeo sob o guarda-chuva de crenccedila tomando uma opiniatildeo
como o resultado de uma determinada crenccedila
4521 Os nuacutemeros para os verbos epistecircmicos
Os types e tokens correlatos para os verbos epistecircmicos foram classificados
quantitativamente de acordo com a tipologia interacional (puacuteblico versus privado monoacutelogos
versus diaacutelogos versus conversaccedilotildees) e a tipologia textual (narrativo relato expositivo
argumentativo descritivo)
Aleacutem disso foi utilizado um nuacutemero de variaacuteveis na tabulaccedilatildeo dos dados que levam
em conta o padratildeo de estrutura informacional (qual unidade informacional conteacutem o
marcador modal) composicionalidade (enunciado simples dois iacutendices no mesmo enunciado
dois ou mais iacutendices em enunciados diferentes referecircncia contextual) tipo de modalidade e
seus subvalores o padratildeo sintaacutetico a projeccedilatildeo pragmaacutetica dos iacutendices e o conceptualizador
Os tipos encontrados foram acharlsquo acreditarlsquo crerlsquo imaginarlsquo pensarlsquo e saberlsquo
como exemplificado abaixo
88
No original ―[hellip] subjectivity operators which present the object of conceptualization (complement clause)
either direct or indirectly from the speakerlsquos perspective (ALMEIDA FERRARI 2012 p 123-124)
123
(412) Achar
(k) GIL [2] ltocirc =CNT= masgt =DCT= voltando agrave questatildeo =COB= falando em
[2]=EMP= e tambeacutem falando em povo mascarado =COB= esse povo do Galaacuteticos eacute
muito palha =COB= eu acho que es nũ deviam mais participar =COM= e lttalgt
=UNC=$ (bfamcv01)
(l) [44] aiacute =PHA= passou um pouquim =COB= o filho =i-COB= achando que tava
errado aquele negoacutecio =PAR= voltou laacute outra vez =COM=$ (bfammn03)
(m) KAT [43] entatildeo ela acha que eacute a meia que taacute melhorando =COM=$
(bfamdl04)
(413) Acreditar
(n) [46] tipo =INT= eu [1]=EMP= eu acredito =i-COM= tipo =PAR= cem =SCA=
por cento =SCA= nisso =COM=$ (bfamcv01)
(o) [87] natildeo =INP_r= nũ acredito nisso natildeo =COM_r=$ (bfamdl01)
(p) [49] e eu acredito que depois que eu terminar o EDUCONLE =COB= eu acho
que aiacute eu vou tar mais madura ainda =COB= acho que mais preparada =COM=$
(bpubmn01)
(414) Crer
(q) ENC [208] eu creio que sim =COM (bfamdl05)
(415) Imaginar
(r) [171] natildeo =PHA= trinta reais =TOP= aiacute eu ampj [2]=SCA= eu [1]=EMP= eu fico
imaginando que elsquo fica pensando assim =INT= Nossa Sio =EXP_r= agraves vezes laacute em
casa taacute precisando de fazer uma compra e tudo =COM_r= neacute =PHA=$
(bpubmn01)
(416) Pensar
(s) RUT [208] cecirc pensa que ele =SCA= participa da [1]=SCA= ampd [1]=EMP=
desses presente =COM=$ (bfamcv02)
(417) Saber
(t) TER [69] sei o tanto natildeo =COM=$ (bfamcv02)
(u) BAL [45] cecirc sabe que aquelas caxinhas ali =TOP= ela [1]=EMP= eu descobri
ontem =COB=$ (bfamdl02)
124
(v) ANE [19] rua Joaquim Nabuco =TOP= socirc sabe me informar =COM=$
(bfamdl03)
Como mencionado anteriormente o nuacutemero total de tokens de verbos epistecircmicos
encontrado no subcorpus foi de 210 distribuiacutedos em 6 types como a seguir 105 para acharlsquo
(50) 3 para acreditarlsquo 1 para crerlsquo 1 para imaginarlsquo 2 para pensarlsquo e 98 para saberlsquo
(47) A Figura 413 mostra esta distribuiccedilatildeo
Figura 413 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos verbos epistecircmicos na amostra
Analisando os nuacutemeros para tipologia interacional os resultados satildeo 60 exemplares
para monoacutelogos 21 em monoacutelogos puacuteblicos e 39 em privados 99 exemplares para diaacutelogos
16 para puacuteblicos versus 83 para diaacutelogos privados e 51 exemplares para conversaccedilotildees 14 em
puacuteblicas versus 37 em conversaccedilotildees privadas Eacute possiacutevel visualizar os dados na Tabela 410
Privado Puacuteblico TOTAL
Monoacutelogos 39 21 60
Diaacutelogos 83 16 99
Conversaccedilotildees 37 14 51
TOTAL 159 (757) 32 (243) 210
Tabela 410 Distribuiccedilatildeo de tokens de verbos epistecircmicos por tipologia interacional
50
11
0
1
47
verbos epistecircmicos - ocorrecircncias
achar acreditar crer imaginar pensar saber
125
Esta tabela aponta para uma alta taxa de tokens em interaccedilotildees dialoacutegicas
principalmente em diaacutelogos privados Isso se deve a caracteriacutesticas especiacuteficas desses tipos de
texto e agrave relaccedilatildeo dos participantes na situaccedilatildeo comunicativa Se levarmos em conta a tipologia
textual nota-se que 319 destes verbos satildeo usados em textos argumentativos ou expositivos
o que coincide com a sua proacutepria definiccedilatildeo sinalizar o comprometimento do conceptualizador
em relaccedilatildeo ao que se enuncia As outras ocorrecircncias distribuiacutedas em textos narrativos
descritivos e relatos mostram os momentos em que os participantes expressam suas opiniotildees
ou crenccedilas ou requerem a opiniatildeo de seu interlocutor Devo destacar que as ocorrecircncias em
monoacutelogos puacuteblicos correspondem a apenas um texto a participante uma professora da
escola baacutesica relata sua atividade profissional e daacute sua opiniatildeo sobre o processo de ensino-
aprendizagem Eacute tambeacutem necessaacuterio destacar que a diferenccedila entre os nuacutemeros de textos
privados e puacuteblicos eacute minimizada em termos de frequecircncia relativa
4522 Padrotildees sintaacuteticos semacircntica e questotildees pragmaacuteticas
Vaacuterios padrotildees sintaacuteticos satildeo utilizados principalmente
(i) os verbos epistecircmicos introduzem oraccedilotildees encaixadas Em nossa amostra 571
de todas as ocorrecircncias seguem este padratildeo
(ii) eles podem ocupar diferentes posiccedilotildees no enunciado nos casos em que natildeo
introduzem uma encaixada
(iii) [SN]SUBJ V [SN]OBJ [SAdv] [SAdj]ATR Os casos em que natildeo haacute a realizaccedilatildeo do
objeto correspondem a 229 do total de ocorrecircncias principalmente com os verbos
―achar e ―saber
Alguns exemplos
(418) SNSUJ V comp S
LUI [236] eu acho que a gente deve chamar os lttimesgt legais =COM=$ (bfamcv01)
(419) SNSUJ V SAdv S
SIL [154] eu acho assim =INT= se a pessoa nũ tem condiccedilotildees de fazer =TOP= ele
paga pra fazer =COM=$ (bfamdl04)
(420) SNSUJ V SNOBJ SAdv SAdjATR
[77] entatildeo eu achava aquilo muito interessante =COM=$ (bfammn06)
126
(421) SNSUJ SAdvNEGV SAdjATR SAdvNEG
[283] eu nũ achei ruim natildeo =COM= Jael =ALL=$ (bfamcv02)
Semanticamente estes verbos expressam o grau de comprometimento do
conceptualizador em relaccedilatildeo ao material locutivo enunciado Estas unidades lexicais estatildeo
ligadas a diferentes frames descritos para o inglecircs Opinion Certainty Awareness Assessing
andor Cogitation89
Em termos da distribuiccedilatildeo dos verbos por unidades informacionais podemos ver na
Tabela 411 como o subcorpus estaacute caracterizado
Unidades informacionais ocorrecircncias
epistecircmicos amostra
COM 182 866 177
INT 3 14 1363
PAR 11 53 647
TOP 14 67 636
Tabela 411 ndash Distribuiccedilatildeo dos verbos epistecircmicos em unidades informativas
A primeira coisa a se observar eacute qual a unidade informacional que conteacutem o iacutendice
modal apenas o Comentaacuterio (incluindo as unidades Comentaacuterio Muacuteltiplo e Comentaacuterio
Ligado) o Toacutepico (inclusive a Lista de Toacutepico) o Parenteacutetico (inclusive a Lista de
Parenteacutetico) e o Introdutor Locutivo podem ser modalizados No caso dos verbos epistecircmicos
a unidade de Comentaacuterio eacute modalizada em 866 de todas as ocorrecircncias (182 para COM 11
para CMM e 20 para COB) seguida pelo Toacutepico (67 das ocorrecircncias sendo em nuacutemeros
absolutos 12 para o TOP e 2 para TPL) o Parenteacutetico (53 das ocorrecircncias 8 para PAR e 3
para PRL) Em nuacutemero bastante reduzido o Introdutor Locutivo com apenas 3 ocorrecircncias
Em relaccedilatildeo ao nuacutemero total de ocorrecircncias das unidades informacionais o que se destaca satildeo
os nuacutemeros para o Toacutepico e o Parenteacutetico As duas unidades tecircm como estrateacutegia preferencial
de modalizaccedilatildeo os verbos epistecircmicos com 636 e 647 de todas as ocorrecircncias do
minicorpus Quanto ao Comentaacuterio e o Introdutor Locutivo como visto anteriormente a
estrateacutegia principal satildeo os verbos modalizadores sendo os epistecircmicos responsaacuteveis por
89
A descriccedilatildeo para o frame de Opinion por exemplo eacute a seguinte ―Cognizer holds a particular Opinion which
may be portrayed as being about a particular Topic (John THINKS that it looks better back) Disponiacutevel em
httpsframeneticsiberkeleyedufndrupal
127
menos de 20 das ocorrecircncias O graacutefico na Figura 414 ilustra a distribuiccedilatildeo dos epistecircmicos
nas unidades informacionais e a frequecircncia desta estrateacutegia no conjunto das unidades
informacionais
Figura 414 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos epistecircmicos em unidades informacionais
Abaixo alguns exemplos
(422) COM
DFL [56] aquilo que o =SCA= professor achava mais importante
=COM=$ (bfammn02)
(423) TOP
ANE [324] eu acho que quando eu vim =TOP= tinha esse =CMM= tinha
o outro =CMM=$ (bfamdl05)
(424) PAR
[41] soacute que eacute de microondas =COM= eu acho =PAR=$ (bfamdl01)
(425) INT
SIL [154] eu acho assim =INT= se a pessoa nũ tem condiccedilotildees de fazer
=TOP= ele paga pra fazer =COM=$ (bfamdl04)
Mello e Raso (2013) discutem a necessidade de ampliaccedilatildeo do enunciado e das
unidades tonais como construtos analiacuteticos baacutesicos no tratamento da fala espontacircnea via
frames Como segundo a Teoria da Liacutengua em Ato (CRESTI 2000) ao enunciado
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
COM INT PAR TOP
ocorrecircncias
epistecircmicos
amostra
128
corresponde uma ilocuccedilatildeo mesmo que esses verbos epistecircmicos objeto de nossa
investigaccedilatildeo estejam de alguma forma representados em frames ligados por heranccedila
metafoacuterica e no uso de atividade mental ao falarmos estamos cumprindo diferentes accedilotildees
Dessa forma ―a anaacutelise da linguagem pautada por frames necessariamente deve levar em
conta pelo menos dois niacuteveis adicionais agravequeles construcional e semacircntico quais sejam os
niacuteveis informacional e ilocucionaacuterio (MELLO RASO 2013 p 106)
Transponho um princiacutepio talhado ateacute agora para a anaacutelise da escrita para a anaacutelise
da fala o Princiacutepio da Natildeo-Sinoniacutemia para discutir brevemente essa questatildeo Segundo esse
Princiacutepio (GOLDBERG 1995 2006)
Se duas construccedilotildees satildeo sintaticamente distintas elas devem ser
semacircntica ou pragmaticamente distintas
Corolaacuterio A Se duas construccedilotildees satildeo sintaticamente distintas e
semanticamente sinocircnimas entatildeo elas natildeo devem ser
pragmaticamente sinocircnimas
Corolaacuterio B Se duas construccedilotildees satildeo sintaticamente distintas e
pragmaticamente sinocircnimas entatildeo elas natildeo devem ser
semanticamente sinocircnimas
Os verbos proacuteximos semanticamente se organizam sintaticamente de vaacuterias maneiras
como vimos Dessa forma pelo PNS o seu comportamento pragmaacutetico deve ser diferente E
de fato o eacute Vejamos as possiacuteveis funccedilotildees e os seus respectivos exemplos com a mesma
unidade lexical acharlsquo
(i) Estrutura informacional em posiccedilatildeo parenteacutetica funciona como atenuador da
asserccedilatildeo anterior
Contexto casal conversa sobre a distribuiccedilatildeo de vagas em uma universidade
puacuteblica
LAU [51] natildeo tem um de ensino de arte +
LUZ [52] satildeo duas vagas eu acho [53] natildeo [54] de ensino de artes (bfamdl03)
(ii) Marcadores de concordacircncia discordacircncia indica um (possiacutevel) padratildeo
lexical Corresponde a um fenocircmeno de gradiecircncia de iacutendice modal para um
marcador discursivo
Contexto amigas no supermercado
129
REN [413] ltpodegt [414] tanto faz [415] pode
FLA [416] ou cecirc acha muito
REN [417] uhn [418] acho que natildeo [419] taacute [420] papel lthigiecircnico eu
nuncagt + (bfamdl01)
Dessa forma damos conta de que uma descriccedilatildeo de frames em termos exclusivamente
sintaacuteticos e semacircnticos pode ser de fato enriquecida com desdobramentos pragmaacuteticos de
diversas ordens
453 Adveacuterbios modais
Os adveacuterbios assim como os verbos receberam atenccedilatildeo especial como iacutendice
marcador de modalidade principalmente na liacutengua inglesa (GREENBAUM 1969 PERKINS
1983 SWAN 1988 BIBER FINEGAN 1988 HOYE 1997 SIMON-VANDERBERGEN
AIJMER 2007 SIMON-VANDERBERGEN 2008) No portuguecircs brasileiro destacam-se os
trabalhos de Castilho (1993 2010) e para a fala espontacircnea os de Mello Couto e Aacutevila
(2010) e Mello e Caetano (2012)
A classe de adveacuterbios eacute uma classe flexiacutevel em termos sintaacuteticos uma vez que pode
aparecer em diferentes posiccedilotildees nos enunciados Na fala como aponta Mello et al (2010)
esta complexidade de escopo se amplifica dado que devem ser levados em consideraccedilatildeo os
traccedilos prosoacutedicos Jaacute foi salientado que a anaacutelise da prosoacutedia eacute importante para a
desambiguizaccedilatildeo de itens modais e no caso especiacutefico dos adveacuterbios modais se estes satildeo de
fato itens modalizadores ou se cumprem outra funccedilatildeo no enunciado como a de intensificador
ou marcador discursivo
4531 Frequecircncia de adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais modais
Nesta seccedilatildeo forneccedilo os resultados para os adveacuterbios modais em relaccedilatildeo agrave sua
frequecircncia na amostra Os types e tokens tambeacutem foram classificados quantitativamente de
acordo com a tipologia interacional (puacuteblico vs privado monoacutelogos vs diaacutelogos vs
conversaccedilotildees) Foram encontrados 16 types em 94 ocorrecircncias na amostra o que corresponde
130
no universo dos iacutendices modais a 79 das ocorrecircncias90
A Tabela 412 e 413 trazem os
nuacutemeros para o nuacutemero de ocorrecircncias deste iacutendice no minicorpus e sua distribuiccedilatildeo em
termos de tipologia interacional respectivamente
adveacuterbios ocorrecircncias
com certeza 7 75
mesmo 45 479
realmente 3 32
exatamente 4 44
talvez 8 85
sem duacutevida 2 22
agraves vezes 5 53
na verdade 7 75
sinceramente 2 22
claro 5 53
potencialmente 1 1
oacutebvio 1 1
sem chance 1 1
logicamente 1 1
justamente 1 1
certamente 1 1
Total 94 100
Tabela 412 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias dos adveacuterbios modais
90
Mello e Caetano (2012) investigaram a distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos adveacuterbios modais em toda a parte
informal do C-ORAL-BRASIL Atraveacutes da busca pelo parser PALAVRAS de todos os adveacuterbios foram
identificados 28000 adveacuterbios no corpus correspondendo a 1345 das palavras na amostra Dentre os
adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais 763 foram destacados como modais que representa 037 do total de palavras
da parte informal do corpus No que diz respeito agrave relaccedilatildeo entre adveacuterbiosadveacuterbios modais aproximadamente
272 do total de adveacuterbios assume funccedilatildeo modal O estudo revela dessa forma que a frequecircncia de adveacuterbios
modais eacute expressiva mas as autoras sublinham que ao olhar com lentes de aumento para a amostra um uacutenico
item o adveacuterbio ―mesmo contribui com uma frequecircncia de 557 de todas as ocorrecircncias O que coincide com
os nuacutemeros para o minicorpus
131
Privado Puacuteblico TOTAL
Monoacutelogos 14 5 19
Diaacutelogos 33 12 45
Conversaccedilotildees 25 5 30
TOTAL 72 22 94
Tabela 413 ndash Distribuiccedilatildeo dos adveacuterbios x tipologia interacional
Em termos absolutos o nuacutemero de ocorrecircncias em contexto privadofamiliar eacute
bastante maior do que no contexto puacuteblico No entanto como jaacute observado para as outras
estrateacutegias eacute possiacutevel um balanceamento na frequecircncia dos itens que apontam para um uso
proporcional nos dois contextos interacionais No que diz respeito agrave tipologia interacional
tambeacutem como esperado os adveacuterbios ocorrem mais em trocas dialoacutegicas (45 para diaacutelogos e
30 para conversaccedilotildees) do que em monoacutelogos (19) Estes nuacutemeros acompanham os
encontrados por Mello e Caetano (2012) na anaacutelise de todos os adveacuterbios modais da parte
informal do C-ORAL-BRASIL
4532 Distribuiccedilatildeo em unidades informacionais
Em termos de distribuiccedilatildeo pelas unidades informacionais satildeo estes os nuacutemeros
Unidades informacionais ocorrecircncias
adveacuterbios
COM 87 926
INT 2 21
PAR 3 32
TOP 2 21
Tabela 414 ndash Distribuiccedilatildeo dos adveacuterbios modais nas unidades informacionais
No que tange aos valores modais todas as ocorrecircncias da amostra satildeo do tipo
epistecircmico com o subvalor de possibilidade como ―agraves vezes e ―talvez ou de crenccedila
indicando graus de certeza em sua maioria o que corrobora a posiccedilatildeo de Perkins (1983 p
89) para os adveacuterbios modais em inglecircs O autor afirma que estes marcadores satildeo
fundamentalmente de natureza epistecircmica
132
Vejamos agora os exemplos para cada um dos 16 itens aqui encontrados e seu
comportamento em relaccedilatildeo a outros elementos co-textuais
(426) Mesmo
(w) REN lttem que ser ogt Knorr mesmo
FLA eacute ampva [1] vai esse neacute Rena (bfamdl01)
O item ―mesmo eacute o adveacuterbio modal mais frequente na amostra com quase a metade
das ocorrecircncias Este item tem um comportamento particular porque muitas das vezes pode
funcionar como intensificador como um operador que regula o fluxo da interaccedilatildeo ou como
pronome adjetivo Para o desempate utilizamos a regra de substituiccedilatildeo observamos o co-
texto e ainda fazemos a oitiva do arquivo de som Vejamos os exemplos em que o adveacuterbio
natildeo possui funccedilatildeo modal
(x) TON tinha que matar o cinco socirc
REN natildeo aiacute e laacute
CAR eacute o quatro mesmo Jacareacute
TON ltpeneigt
CAR ltquatro mesmo socircgt purra ele se ele nũ morrer nũ tem problema natildeo
ltaiacute ogt
(y) CES vatildeo laacute eacute e ele [2] e eacute ele mesmo que taacute ainda viu eacute o trezentos-e-trecircs
viu Anete
ANE eacute ele mesmo
CES eacute ele mesmo entatildeo uhn (bfamdl05)
(427) Na verdade e com certeza
(z) EUG cecirc jaacute escolheu moccedila
JAN hum hum eu acho que eu vou + na verdade eu queria levar as duas neacute
mas eu vou levar essa aqui (bpubdl02)
(aa) FLA colorido eacute mais caro
REN com certeza deve ser (bfamdl01)
133
(428) Talvez e agraves vezes indicadores de possibilidade
(bb) MAI no norte de Mina tinha esse [2] antigamente tinha esse tipo de cobra
tudo neacute talvez agora jaacute acabou porque jaacute desmataram muito neacute
(bfammn01)
(cc) ANE [297] eacute olha se tem gente aiacute
CES [298] xxx [1] pode passar aqui
ENC [299] oi
ANE [300] ltagraves vezesgt [2] agraves vezes fica ltgentegt
CES [301] ltpode entrargt [302] ltpo po vimgt Anete (bfamdl05)
―Agraves vezes eacute uma locuccedilatildeo que tanto pode exercer uma funccedilatildeo temporal quanto pode
exercer uma funccedilatildeo modal91
A desambiguizaccedilatildeo tambeacutem eacute feita pela anaacutelise do contexto do
co-texto e da prosoacutedia Por exemplo
(dd) PAU cecirc tem que aprender a olhar planta porque a hora que cecirc pegar um
projeto maior aiacute pa fazer que o dono nũ tiver perto aiacute cecirc tem que tocar agraves
vezes o engenheiro tambeacutem nũ tem muito tempo taacute mexendo com outra coisa
soacute vem no final de semana (bpubdl01)
No exemplo o adverbial ―agraves vezes pode indicar uma situaccedilatildeo possiacutevel portanto um
uso modal ou pode indicar a frequecircncia com que o engenheiro visita a obra um uso temporal
no caso
(429) Certamente e potencialmente
(ee) MAI a cobra tavaampen[2] continuou enrolada nele certamente eatava
querendo fazer o seguinte eu eu matei esse eu vou matar o resto tudo da
[1] amphe dentro da casa nũ sei neacute a imaginaccedilatildeo hhh dum [1] dum animal
o que que pode ser neacute (bfammn01)
(ff) HEL lteacute tipogt cecircs ficamltfalando tambeacutemgt
LUC ltisso pode ser potencialmentegt divertido
BRU ltnatildeogt
LUC ltmas enfim yyyyhhhgt
BRU ltnũ achogt (bfamcv04)
91
Natildeo eacute do escopo deste trabalho investigar a gramaticalizaccedilatildeo dos itens modais Parece-me no entanto que o
caminho de adverbial de tempo para um adverbial modal eacute uma hipoacutetese consistente Como exemplo similar
temos o caso da locuccedilatildeo ―de repente (―De repente ele chegou uso temporal ―De repente a gente toma um
copo assim que cecirc acabar a tese uso modal indicando possibilidade)
7056
134
(430) Sinceramente
(gg) TER ltoh adoreigt
RUT o eu nũ achei ruim natildeo Jael ltsinceramentegt
JAE ltnũ gosteigt de jeito nenhum (bfamcv02)
(431) Logicamente
(hh) JOR e laacute eu fiquei um periacuteodo desenvolvendo o mesmo tipo de trabalho
logicamente com um salaacuterio melhor hhh e por amizade eu fui cair em uma
multinacional que eu dei uma virada no produto (bfammn06)
(432) Exatamente e justamente
(ii) CEL ltfazer uma jogadagt melhor
CAR eacute que aiacute cecirc rola lto seis fica atraacutes do quatrogt
CEL lteacutegt ltissogt ltexatamentegt (bfamcv03)
(jj) ANE ltque nuacutemerogt que eacute
CES setecentos-e-quatro
ANE aqui eacute exatamente po parar o carro hhh
CES eacute setecentos-e-quatro (bfamdl05)
(433) Claro e oacutebvio
(kk) LUI [151] natildeo [152] e [1] e [1] e [1] e principalmente convocando a galera
falar assim o galera negoacutecio seguinte taacute pensando em organizar um torneio
e a gente quer que vocecircs participem da organizaccedilatildeo ltmandando
representantegt +
LEO [153] lte acima de tudo eu acho que a gente temgt que chamar os times
que tipo o [1] realmente os times que merecem a [1] a nossa +
EVN [154] eacute a ltgente tem quegt ltrestringir tambeacutem issogt
GIL [155] ltnatildeo clarogt (bfamcv01)
(ll) ROG [222] eacute [223] o projeto eacute bom por isso uai [224] a gente faz jeito que
a pessoa pede uai [225] aquele carinha ltdo ampAlexagt +
PAU [226] ltmas temgt que saber ler projeto tambeacutem neacute
ROG [227] aquele ltcarinhagt do Alexandre laacute ele me deu o desenho dele
PAU [228] ltclarogt (bpubdl01)
(mm) BRU taacute falando do meu peacute neacute
CEL oacutebvio (bfamcv04)
135
Os iacutendices modais ―claro e ―oacutebvio92
apesar de pertencerem formalmente agrave
categoria dos adjetivos foram incluiacutedos na anaacutelise das construccedilotildees adverbiais modais uma
vez que seu comportamento se assemelha dos adveacuterbios modais ―claramente e
―obviamente Satildeo considerados adveacuterbios somente quando ocorrem sozinhos sem a
presenccedila do verbo ser eou da conjunccedilatildeo Quando este eacute o caso satildeo analisados como adjetivos
em posiccedilatildeo predicativa
Estes itens tendem a cumprir um papel de confirmaccedilatildeo quer dizer um falante
normalmente os utiliza para confirmar o que foi enunciado pelo falante anterior
454 As construccedilotildees condicionais se p entatildeo q
O caraacuteter epistecircmico das construccedilotildees condicionais na variante brasileira do portuguecircs
eacute apontado em um nuacutemero de trabalhos relevantes para o tema entre eles os de Hirata-Vale
(2001 2008) Ferrari (2007 2008) Bezerra e Meireles (2009) Hirata-Vale afirma que ―as
condicionais relacionam-se a mundos concebiacuteveis sejam eles reais eventuais e
contrafactuais e se tornam mais abstratas agrave medida que passam por um processo de
subjetivizaccedilatildeo por isso estatildeo situadas no eixo do conhecimento e da avaliaccedilatildeo subjetiva
Nas condicionais de forma canocircnica ―se p entatildeo q em que p eacute a proacutetase e q a
apoacutedose ―o evento p eacute uma condiccedilatildeo suficiente (e em alguns casos necessaacuteria) para a
ocorrecircncia do evento q (SWEETESER 1990) As condicionais satildeo pois projeccedilotildees
hipoteacuteticas de manifestaccedilotildees causais diretas
A sua hipoteticidade estaacute ligada ao grau de probabilidade de realizaccedilatildeo das situaccedilotildees
referidas na proacutetase (cf COMRIE 1986)
4541 Os nuacutemeros para as construccedilotildees condicionais de forma canocircnica
As construccedilotildees condicionais dentro do quadro teoacuterico da Teoria da Liacutengua em Ato
constituem-se como um desafio uma vez que como apontado anteriormente o escopo da
modalidade eacute a unidade informacional No caso deste tipo de construccedilatildeo como afirmam
Cocircrtes e Mello (2013 p 2) ela ―pode ultrapassar os limites de um enunciado ou estar
completamente acomodada nele dividida ou natildeo em mais de uma de suas unidades tonais
92
Poderiam estar incluiacutedos os adjetivos ―loacutegico e exato que tecircm comportamento similar ao dos adveacuterbios
―logicamente e ―exatamente
136
A frequecircncia das construccedilotildees condicionais no minicorpus foi considerada de acordo
com a tipologia interacional a estrutura informacional a distribuiccedilatildeo de proacutetaseapoacutedose e a
relaccedilatildeo entre a estrutura sintaacutetica e informacional
Como jaacute dito ao todo foram analisados 5484 enunciados sendo que 1046 deles estatildeo
modalizados Foram encontradas 109 ocorrecircncias de construccedilotildees condicionais entre as de
forma canocircnica O percentual de condicionais na amostra eacute de 909 entre todos os iacutendices
modais
Passando agrave anaacutelise para a tipologia interacional temos os seguintes resultados 24
exemplares para monoacutelogos 8 em monoacutelogos puacuteblicos e 16 em privados 40 exemplares para
diaacutelogos 9 para puacuteblicos versus 25 para diaacutelogos privados e 50 exemplares para
conversaccedilotildees 12 em puacuteblicas versus 38 em conversaccedilotildees privadas Eacute possiacutevel visualizar os
dados na Tabela 415
Tipologia Contexto Frequecircncia
Monoacutelogo Privado 16
Puacuteblico 8
Diaacutelogo Privado 25
Puacuteblico 10
Conversaccedilatildeo Privado 38
Puacuteblico 12
Tabela 415 - Distribuiccedilatildeo de tokens de condicionais por tipologia interacional
No que diz respeito agrave tipologia interacional ainda natildeo temos dados suficientes para
verificar quais as variaacuteveis em jogo e como as condicionais se comportam em cada contexto
Com relaccedilatildeo agrave organizaccedilatildeo sintaacutetica encontramos trecircs tipos de padrotildees
proacutetaseapoacutedose apoacutedoseproacutetase e proacutetase somente Abaixo as frequecircncias para cada um dos
tipos
Organizaccedilatildeo sintaacutetica Frequecircncia
Proacutetase-apoacutedose 76
Apoacutedose-proacutetase 10
Proacutetase 23
Tabela 416 ndash Frequecircncia dos padrotildees sintaacuteticos de condicionais
137
Os nuacutemeros para cada tipo de organizaccedilatildeo natildeo surpreendem exatamente Em
frequecircncia absoluta o padratildeo proacutetaseapoacutedose eacute o mais recorrente jaacute o apoacutedoseproacutetase
apresenta ocorrecircncia bem reduzida Sobre a proacutetase sozinha parece-me um nuacutemero
interessante pois natildeo segue o padratildeo estabelecido na escrita e corresponde a 211 do total
de ocorrecircncias e se dividem na amostra em trecircs tipos (a) proacutetases cuja apoacutedose natildeo satildeo
realizadas com efeito suspensivo mas possiacutevel de ser compreendida entre os interlocutores
(em termos de ilocuccedilatildeo parecem cumprir um ato do tipo expressivo do subtipo expressatildeo de
obviedade) (b) proacutetases que satildeo perguntas parciais (em termos de ato satildeo do tipo diretivo do
subtipo pedido de explicaccedilatildeo) (c) proacutetases cuja apoacutedose foi realizada anteriormente diluiacuteda
no contexto ou realizada por outro falante
Antes de apresentar os exemplos das condicionais mostro os nuacutemeros referentes agrave
distribuiccedilatildeo dos iacutendices em termos de estrutura informacional na Tabela 417 e a relaccedilatildeo
entre padrotildees sintaacuteticos e organizaccedilatildeo informacional na Tabela 418
Estrutura
informacional Frequecircncia
Enunciados diferentes 10
Mesma unidade de COM 30
TOPCOM 51
CMMCMM 11
Outros 7
Tabela 417 ndash Frequecircncia das condicionais quanto agrave estrutura informacional
Estrutura
informacional TOPCOM
Mesmo
COM CMMCMM
Enunciados
diferentes Outros Total
Estrutura
sintaacutetica
Proacute - apoacute 49 7 9 8 3 76
Apoacute - proacute 2 2 2 2 2 10
Proacute --- 21 --- --- 2 23
Total
109
Tabela 418 ndash Relaccedilatildeo do padratildeo sintaacutetico de condicionais e estrutura informacional
138
Seguem exemplos das possiacuteveis combinaccedilotildees sintaacuteticas das condicionais e de sua
distribuiccedilatildeo em termos de estrutura informacional
(a) Proacutetase apoacutedose
(a1) proacutetase =TOP= apoacutedose =COM=
(434) BRU [268] lte se for uma palavra compostaPRO =TOP= cecirc faz assimAPOgt
=COM=$ (bfamcv04)
(a2) proacutetase e apoacutedose na mesma unidade de COM proacutetase apoacutedose =COM=
(435) PAU [72] esse tipo de muro =TOP= se ficar baixo demaisPRO ele fica
feioAPO =COM=$ (bpubdl01)
(a3) proacutetase apoacutedose em enunciados diferentes
(436) SIL [233] se ocecirc natildeo tem reloacutegio dentro do quartoPRO =COM=$
[234] cecirc vai comprar um reloacutegioAPO =CMM= pocircr laacute pa despertar =CMM=$
(bfamdl04)
(a4) proacutetase =CMM= apoacutedose =CMM=
(437) CAR [75] se ele nũ morrerPRO =CMM= nũ tem problema natildeoAPO
=CMM=$ (bfamcv03)
(b) Apoacutedose proacutetase
(b1) apoacutedose e proacutetase em enunciados diferentes apoacutedose proacutetase
(438) ANE [120] como eacute que a gente vai adivinharAPO =COM=$
[121] se for issoPRO =COM= neacute =PHA=$ (bfamdl05)
(b2) apoacutedose proacutetase =COM=
(439) RUT [191] ltlaacute em casagt =TOP= ltavisoAPO se cecirc for laacutePROgt =COM=$
(bfamcv02)
(b3) apoacutedose =TOP= proacutetase =COM=
(440) BAL [58] ltdaacutegt ltproblemaAPO =TOP= se vocecirc ligar o aparelho degt ampduz
[1]=SCA= cento-e-dez na tomada de duzentos-e-vintePRO =COM=$
(bfamdl02)
139
(c) Proacutetase
(c1) expressatildeo de obviedade
(441) ANE [38] eh =PHA= se cecirc nũ tiver um carrinho que [1]=SCA= que sobe
aquiPRO =COM=$ (bfamdl05)
(c2) pergunta parcial pedido de explicaccedilatildeo
(442) [318] lte se precisar de um esclarecimentoPROgt =COM= ltassim =PAR= nogt
meio do negoacutecio hhh =APC=$ (bfamcv04)
(c3) conjugaccedilatildeo entre turnos
(443) TER [22] mas =INP= gente velha =TOP= jaacute prometeu o [1]=SCA= os
presente =TOP= ltjaacute =SCA= podegt garantir que ganhouAPO =COM=$
RUT [23] ltah =CMM= eacutegt =CMM=$ [24] se nũ morrer antes ltdelesPRO
=COM=$ (bfamcv02)
Observa-se que a estrutura mais frequente eacute o perfil proacutetase no Toacutepico e apoacutedose no
Comentaacuterio o que coincide com a funccedilatildeo informacional das unidades Em termos discursivos
a proacutetase de uma condicional atua como um angulador que estabelece as condiccedilotildees de
validaccedilatildeo do discurso subsequente Conforme Ferrari (2008 p 121) desde uma perspectiva
cognitiva
no domiacutenio epistecircmico as condicionais expressam a ideia de que o conhecimento do
evento ou do estado de coisas expresso na proacutetase seria uma condiccedilatildeo suficiente
para o estabelecimento da conclusatildeo na apoacutedose
Os exemplos tambeacutem nos mostram que eacute possiacutevel a combinaccedilatildeo de outros perfis com
as estruturas proacutetaseapoacutedose apoacutedoseproacutetase distribuiacutedas em unidades informacionais
diferentes como Comentaacuterios Muacuteltiplos Comentaacuterios Ligados Apecircndices de Toacutepico e
tambeacutem em enunciados diferentes neste caso a estrutura se completa em atos de fala
diferentes cada um veiculando sua proacutepria ilocuccedilatildeo
Podem ser encontradas ainda ocorrecircncias em que a proacutetase tenha como acircncora o
contexto interacional sem a realizaccedilatildeo necessaacuteria da apoacutedose como no caso em (441) o que
denota um comportamento peculiar destas construccedilotildees na fala espontacircnea
Os dados apontam para o fato de que a proacutetase carrega o natildeo-factual da construccedilatildeo
condicional (cf COMRIE 1986) e nos casos em que ocorre a ordem inversa ―o foco da
44923267
3761631
140
construccedilatildeo estaacute no conteuacutedo veiculado pela apoacutedose isto eacute a parte mais saliente
informativamente eacute a accedilatildeo presente na apoacutedose (CORTES MELLO 2013 p 4)
Por uacuteltimo gostaria de retomar que as condicionais como iacutendices que expressam de
modalidade desafiam a premissa posta pela Teoria da Liacutengua em Ato de que o marcador
modal incide dentro da unidade informacional Como vimos este tipo de construccedilatildeo
ultrapassa as fronteiras da unidade informacional e inclusive em alguns casos do enunciado
Uma das hipoacuteteses que levanto eacute que a estrutura condicional poderia ser tratada como uma
construccedilatildeo padronizada nos termos de Cresti (no prelo p 17) estas satildeo ―construccedilotildees
realizadas atraveacutes de UTs cada uma desenvolve uma funccedilatildeo informacional diferente93
A
autora ainda completa que incluem tambeacutem construccedilotildees que satildeo realizadas em diferentes
enunciados com cada uma cumprindo sua proacutepria ilocuccedilatildeo
Neste capiacutetulo apresentei a descriccedilatildeo da modalidade no minicorpus da parte informal
do C-ORAL-BRASIL Apresentei e discuti os resultados em termos de frequecircncia por
tipologia interacional por distribuiccedilatildeo dos iacutendices nas unidades informacionais a distribuiccedilatildeo
e frequecircncia dos valores modais epistecircmicos deocircnticos e dinacircmicos e a relaccedilatildeo de cada valor
com as unidades informacionais Em seguida empreendi a anaacutelise para os verbos
modalizadores os verbos epistecircmicos os adveacuterbios e as construccedilotildees condicionais de forma
canocircnica
Passo agora agrave Parte III deste trabalho que traz a proposta de esquema de anotaccedilatildeo para
a modalidade na fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro que como afirmam Aacutevila e Mello
(2013 p 1) vai fornecer
um ponto de partida confiaacutevel para pesquisadores interessados em desenvolver
metodologias associadas a PLN que resulta na extraccedilatildeo no discurso oral de
marcadores de confiabilidade certeza e factualidade ou proceder agrave anaacutelise de
sentimentos modelagem da modalidade e objetivos afins 94
93
Traduccedilatildeo minha para ―[hellip] constructions performed across TUs with each developing a different information
function [hellip] (CRESTI no prelo p 17) 94
No original ―[hellip] reliable starting point for researchers that might be interested in developing methodologies
associated to NLP that ensue the extraction of oral discourse reliability certainty and factuality markers or
carrying sentiment analysis modeling modality and similar objectives (AacuteVILA MELLO 2013 p1)
141
PARTE III ndash ANOTACcedilAtildeO SEMAcircNTICA DA MODALIDADE
142
Capiacutetulo 5
O PROJETO MASS (MODAL ANNOTATION IN SPONTANEOUS
SPEECH) anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade no C-ORAL-BRASIL95
O presente capiacutetulo apresenta o projeto MASS (Modal Annotation in Spontaneous
Speech) um esquema de anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade desenvolvido para dados de fala
espontacircnea do Portuguecircs Brasileiro descreve e explica em detalhes os passos da anotaccedilatildeo
bem como discute os casos problemaacuteticos e as decisotildees tomadas para solucionaacute-los
A anotaccedilatildeo linguiacutestica de corpora nas palavras de Leech (1993 p 275) pode ser
definida como ―a praacutetica de adicionar informaccedilatildeo interpretativa (especialmente linguiacutestica) a
um corpus eletrocircnico de dados linguiacutesticos falados eou escritos por algum tipo de coacutedigo
anexado a ou intercalados com a representaccedilatildeo eletrocircnica do proacuteprio material linguiacutestico96
E tambeacutem pode se referir ao produto final deste processo
A Linguiacutestica Computacional fornece meios para o desenvolvimento de softwares para
o processamento de linguagem natural escrita e falada Os corpora anotados natildeo satildeo um fim
em si mesmo a resoluccedilatildeo de tarefas especiacuteficas bem definidas e limitadas como a
etiquetagem morfossintaacutetica (cf o parser PALAVRAS BICK 2000) eacute preacute-requisito para a
construccedilatildeo de sistemas complexos como os de traduccedilatildeo automaacutetica e de sumarizaccedilatildeo
Especificamente o interesse por se distinguir uma informaccedilatildeo que eacute real e certa de
uma informaccedilatildeo especulativa e modal resulta do fato de esta ser tarefa necessaacuteria para
aplicaccedilotildees em PLN como a extraccedilatildeo de informaccedilatildeo (KARTUNNEN ZAENNEN 2005)
modelagem de incerteza em textos cliacutenicos (MOWERY et al 2012) resposta a perguntas
(SAURIacute et al 2006) classificaccedilatildeo de hedges (MEDLOCK BRISCOE 2007 MORANTE
DAELEMANS 2009) e anaacutelise de sentimentos (WIEBE et al 2005)
Anotar a modalidade com a finalidade de permitir o seu reconhecimento automaacutetico
inclui identificar os iacutendices modais classificaacute-los em uma determinada tipologia (por
exemplo em significados epistecircmicos e natildeo-epistecircmicos) definir a sua fonte e o seu escopo
semacircntico Vaacuterios tecircm sido os projetos desenvolvidos para a anotaccedilatildeo de expressotildees modais
95
Parte da pesquisa sobre a anotaccedilatildeo semacircntica foi desenvolvida em meu Estaacutegio Doutoral no Centro de
Linguiacutestica da Universidade de Lisboa no periacuteodo de janeiro a agosto de 2013 sob a supervisatildeo da Dra Amaacutelia
Mendes e financiada pela Capes Proc nordm BEX 9537-12-0 96
No original ―[hellip] the practice of adding interpretative (especially linguistic) information to an existing corpus
of spoken andor written language by some kind of coding attached to or interspersed with the electronic
representation of the language material itself (LEECH 1993 p 275)
143
em sua grande maioria para a liacutengua inglesa e focados nos auxiliares modais com destaque
para a relaccedilatildeo entre modalidade e negaccedilatildeo (MORANTE SPORLEDER 2012 BAKER et al
2012) a anotaccedilatildeo de sentido de verbos modais (RUPPENHOFER REHBEIN 2012) o
desenvolvimento de um leacutexico para a modalidade e a construccedilatildeo de etiquetadores automaacuteticos
(BAKER et al 2010) Haacute ainda esforccedilos de anotaccedilatildeo sendo empreendidos em outras liacutenguas
como os trabalhos para o chinecircs (CUI CHI 2013) e para o portuguecircs europeu (HENDRICKX
et al 2012 MENDES et al 2013)
A anotaccedilatildeo da modalidade para dados do portuguecircs brasileiro eacute terreno a ser explorado
tanto para corpora escritos quanto para corpora de fala Segundo Nurmi (2007 p1) a
anotaccedilatildeo linguiacutestica contribui para a recuperaccedilatildeo de diferentes elementos linguiacutesticos no
entanto a natureza multifacetada da modalidade ―eacute ainda um obstaacuteculo para a pesquisa
assistida por computador97
Na mesma clave Baker et al (2010 p 1403) afirmam que o
desafio para a criaccedilatildeo de um esquema de anotaccedilatildeo de modalidade reside em ―lidar com o
complexo escopo das modalidades entre cada uma delas e com a negaccedilatildeo e ao mesmo tempo
criar um procedimento operacional simplificado que possa ser seguido por um especialista da
linguagem sem treinamento especial98
Como jaacute discutido na parte I desta tese estaacute longe de
haver um consenso sobre como definir e caracterizar a modalidade ela pode ser tomada como
expressatildeo da subjetividade como uma distinccedilatildeo entre realis e irrealis ou ainda como uma
quantificaccedilatildeo sobre mundos possiacuteveis restringidas por uma relaccedilatildeo de acessibilidade Dessa
forma o entendimento do que eacute essa categoria semacircntica eacute fundamental bem como ter claro
quais satildeo os elementos que podem veicular a modalidade
Na seccedilatildeo seguinte contextualizo o nosso projeto dentro dos estudos anteriores de
anotaccedilatildeo semacircntica das expressotildees modais
51 Trabalhos anteriores em anotaccedilatildeo semacircntica
Os trabalhos desenvolvidos em anotaccedilatildeo semacircntica centram-se nos fenocircmenos da
factualidade e da modalidade uma vez que como foi dito para um bom nuacutemero de
aplicaccedilotildees em PLN eacute necessaacuterio distinguir uma informaccedilatildeo factual de uma natildeo-factual e
tambeacutem as certezas das incertezas
97
Traduccedilatildeo minha para ―[] is still a hurdle in computer assisted-research 98
No original ―[t]he challenge of creating a modality annotation scheme was to deal with the complex scopig of
modalities with each other and with negation while at the same time creating a simplified operational procedure
that could be followed by language experts without special training
144
Do ponto de vista computacional a definiccedilatildeo de modalidade envolve um nuacutemero de
conceitos diferentes relacionados a ela a depender da tarefa que se deve cumprir e de
fenocircmenos especiacuteficos que satildeo levantados como por exemplo subjetividade factualidade
certezaincerteza hedging como jaacute explicitado
O trabalho de Sauriacute Verhagen e Pustejovsky (2006) objetiva identificar o escopo da
modalidade e propor uma sua soluccedilatildeo para sua identificaccedilatildeo automaacutetica Os autores utilizam a
linguagem TimeML (PUSTEJOVSKY et al 2005) para sua anotaccedilatildeo que codifica com
diferentes etiquetas (tags) nos niacuteveis lexical e sintaacutetico vaacuterios tipos de modalidade Os
eventos satildeo identificados no TimeML como as expressotildees que participam de uma narrativa
em um dado documento que podem ser ordenados temporalmente No niacutevel sintaacutetico os
seguintes valores satildeo levados em conta factive (para eventos implicados ou pressupostos)
counterfative (para um evento que pressupotildee a natildeo-veracidade de seu argumento) evidential
(introduzido por eventos reportados ou perceptuais) negative evidential (introduzido por
eventos reportados ou perceptuais que expressam polaridade negativa) modal (para eventos
que introduzem uma referecircncia a mundo possiacutevel) e conditional (para construccedilotildees
condicionais)
Tendo em vista a tarefa de reconhecer implicaturas textuais Sauriacute e Pustejovski
(2009) apresentam uma ferramenta que fornece eventos com os seus valores de factualidade
Os autores identificam os valores de factualidade baseados na anaacutelise de Horn (1989) para a
modalidade epistecircmica em que o valor factual eacute apresentado pelo par ltmod polgt contendo
um valor modal (certo provaacutevel possiacutevel e desconhecido) e um valor de polaridade (positivo
ou negativo) Haacute ainda a possibilidade do participante estar completamente descomprometida
com a factualidade de um determinado evento (ltUNUNgt)
No entanto os autores destacam que o valor assinalado para os eventos estatildeo
diretamente relacionados com os participantes (fontes da modalidade) em jogo quer dizer haacute
um ato de comprometimento em relaccedilatildeo agrave factualidade de um evento desempenhado por um
determinado participante O conjunto de valores factuais que diferentes participantes
assinalam para um evento eacute denominado perfil de factualidade (factuality profile)
Sauriacute (2008) e Sauriacute e Pustejovski (2009 2012) adicionaram ao TimeBank corpus
(PUSTEJOVISKY et al 2005) uma nova camada de informaccedilatildeo semacircntica o FactBank Este
corpus de eventos constituiacutedo por 208 documentos com 9488 eventos eacute anotado para a
factualidade de eventos (ou factividade) definida por Sauriacute e Pustejovsky (2012 p 263)
como ―[] o niacutevel de informaccedilatildeo que expressa a natureza factual de eventualidades
mencionadas em um texto Isto eacute expressar se elas correspondem a um fato () a uma
145
possibilidade () ou a uma situaccedilatildeo que natildeo ocorre no mundo () []99
Segundo os
autores a factualidade eacute resultado da interaccedilatildeo entre polaridade e certeza e se relacionam com
outras categorias como a modalidade epistecircmica a evidencialidade a postura epistecircmica e
hedging
A anotaccedilatildeo de modalidade para a caracterizaccedilatildeo de eventos pode tambeacutem ser utilizada
em processos analiacuteticos automaacuteticos Baker et al (2010) desenvolveram um esquema de
anotaccedilatildeo de modalidade um leacutexico da modalidade e dois etiquetadores automatizados
construiacutedos a partir do leacutexico e do esquema de anotaccedilatildeo O esquema eacute aplicado a exemplos do
inglecircs com mapeamentos possiacuteveis para o Urdu Os autores consideram a modalidade como
um componente extra-proposicional do significado e argumentam que pode ser tomada de
forma mais ampla para incluir vaacuterios tipos de atitude (no sentido de ―posiccedilatildeo) Assim
segundo eles a modalidade eacute definida como ―uma atitude por parte do falante em relaccedilatildeo a
uma accedilatildeo [] ou um estado100
(BAKER et al 2010 p 1) e pode indicar factividade
(relacionada ao fato de um evento um estado ou uma proposiccedilatildeo acontecer ou natildeo acontecer)
evidencialidade (relacionada agrave fonte da informaccedilatildeo cf seccedilatildeo 24 do segundo capiacutetulo deste
trabalho) ou sentimento (relacionado aos sentimentos negativos ou positivos do falante em
relaccedilatildeo ao evento estado ou proposiccedilatildeo)
O esquema de anotaccedilatildeo reconhece trecircs elementos o trigger (a palavra ou sequecircncia de
palavras que expressam modalidade) o target (eacute a unidade de anotaccedilatildeo - o evento estado ou
relaccedilatildeo no escopo do trigger) e o holder (o experienciador ou o cognoscente da modalidade)
O anotador seleciona apenas o target e a modalidade relacionada a ele nenhuma anotaccedilatildeo eacute
feita no holder ou no trigger Esta unidade de anotaccedilatildeo estaacute contida em uma oraccedilatildeo e o verbo
principal da oraccedilatildeo eacute o uacutenico a ser marcado
Para fins de etiquetagem satildeo consideradas oito modalidades relacionadas estritamente
agrave factividade que podem no entanto se sobrepor agraves categorias de evidencialidade e
sentimento Requirement Permissive Success Effort Intention Ability Want Belief
Da mesma forma Ruppenhofer e Rehbein (2012) propotildeem um esquema de anotaccedilatildeo
para os verbos modais em inglecircs aplicados a documentos do MPQA Opinion Corpus101
(WIEBE et al 2005) Em seu esquema tambeacutem levam em conta trecircs elementos de
99
No original ldquo[hellip] level of information expressing the factual nature of eventualities mentioned in text That is
expressing whether they correspond to a fact in the world (hellip) a possibility (hellip) or a situation that does not hold
(hellip) [hellip] (SAURIacute e PUSTEJOVSKY 2012 p 263) 100
No original ―an attitude on the part of the speaker toward an action [hellip] or state (BAKER et al 2010 p 1) 101
Disponiacutevel em httpmpqacspittedu Uacuteltimo acesso em 28 out 2013 O corpus conteacutem notiacutecias e outros
documentos anotados manualmente para opiniotildees e outros estados privados como crenccedilas especulaccedilotildees
sentimentos Sua mais nova versatildeo inclui a anotaccedilatildeo de atitudes e targets (WILSON 2008)
146
significado modal a expressatildeo modal a source e o target Para a tarefa de anotaccedilatildeo utilizam
a ferramenta SALTO102
(BURCHARDT et al 2006) e identificam seis categorias
(epistecircmico deocircntico dinacircmico optativo concessivo e condicional) para a anotaccedilatildeo de cinco
verbos modais (cancould maymight must ought shallshould)
Como o trabalho estaacute restrito aos verbos modais do inglecircs eacute utilizado um nuacutemero
menor de categorias comparado a Baker et al (2010) Importante destacar que na descriccedilatildeo
das instruccedilotildees de anotaccedilatildeo os autores distinguem para os verbos bdquomust‟ bdquoshould‟ e bdquoought‟
dois sentidos ndash o epistecircmico e o deocircntico ndash nestes casos para os epistecircmicos natildeo distinguem
entre as inferecircncias subjetivas (bdquoThe light is on He must be home‟) e as objetivas (John is 35
and Peter is only a year or two older than John so he must be under 40 still‟) (cf
HUDDLESTON PULLUM 2002) No primeiro exemplo natildeo haacute uma inferecircncia loacutegica que
leve agrave conclusatildeo de que John estaacute em casa e no segundo chega-se agrave conclusatildeo sobre a idade
de Peter por meio de operaccedilotildees matemaacuteticas Para o valor deocircntico natildeo fazem qualquer
subcategorizaccedilatildeo no que diz respeito agrave forccedila imposta sobre os atores se externa (bdquoDogs must
be leashed here A city ordinance requires it‟) ou interna (I really must call him He will be
worried‟) e tambeacutem natildeo fazem distinccedilatildeo entre uma obrigaccedilatildeo reportada (bdquoMom says you must
go home now It‟s past 10 pm‟) e uma obrigaccedilatildeo imposta pelo ato de fala (You must go home
now I want you gone‟)
Ainda para o verbo bdquomay‟ identificam trecircs sentidos epistecircmico deocircntico (relacionado
agrave permissatildeo) e optativo (relacionado a um desejo) Para o verbo bdquocan‟ trecircs satildeo os valores
dinacircmico (relacionado agrave habilidade e ao potencial de envolvimento em eventos ou
comportamento) deocircntico (relacionado agrave permissatildeo) e epistecircmico (relacionado agrave
possibilidade)
Jaacute Matsuyoshi et al (2010) a partir de estudos sobre modalidade e trabalhos em PLN
apresentam um esquema para a anotaccedilatildeo da modalidade estendida de eventos modais para um
corpus do japonecircs constituiacutedo de 50018 eventos recolhidos em diferentes recursos como
blogs documentos da web o corpus de Murakami et al (2009) e posts de sites de perguntas e
respostas Um evento eacute definido como ―consistindo de um predicado central e seus
argumentos (complementos e adjuntos) em uma sentenccedila103
(MATSUYOSHI et al 2010 p
1458)
102
Esta ferramenta de anotaccedilatildeo foi originalmente concebida para a anotaccedilatildeo manual de papeacuteis semacircnticos na
moldura teoacuterica da semacircntica de frames no contexto do projeto Salsa (ERK et al 2003) 103
No original ―(hellip) consisting of a core predicate and its arguments (complements and adjuncts) in the
sentence (MATSUYOSHI et al 2010 p 1458)
147
Para a construccedilatildeo do esquema com vistas para aplicaccedilatildeo em PLN satildeo colocadas
quatro condiccedilotildees necessaacuterias 1) a informaccedilatildeo da modalidade deve estar reunida em um uacutenico
elemento especificamente o predicado central 2) o sistema deve ser independente de liacutengua
3) a polaridade deve comportar duas classes a polaridade da realidade e a polaridade do ponto
de vista da avaliaccedilatildeo da fonte para capturar explicitamente a factualidade do evento 4) as
etiquetas em cada componente natildeo podem ser muito refinadas porque segundo os autores
―as classificaccedilotildees de modalidade restrita em Linguiacutestica por exemplo (Palmer 2001) e
sistemas de loacutegica modal (Portner 2009) satildeo muito sofisticadas e eacute muito difiacutecil executar
analisadores de modalidade estendida nelas baseados no atual estaacutegio de tecnologia em
PNL104
(MATSUYOSHI et al 2010 p 1458) O esquema de modalidade proposto eacute
constituiacutedo de sete componentes Source Time Conditional Primary modality type
(assertion volition wish imperative permission interrogative) Actuality Evaluation e
Focus
Este sistema encontrou alguns desafios como a representaccedilatildeo de adveacuterbios de
frequecircncia de construccedilotildees de dificuldade e de potencial No entanto apresentou um acordo
entre dois anotadores razoavelmente aceitaacutevel (em meacutedia um κ=071 para os componentes)
Comparado aos projetos de Sauriacute et al (2006) Sauriacute e Pustejovski (2009 2012) e ao
de Baker (2010) o sistema proposto por Matsuyoshi et al (2010) apesar de tambeacutem anotar
eventos eacute mais rico em termos de elementos a serem anotados Isso se deve ao fato de que os
sistemas construiacutedos tanto por Sauriacute e seus colegas quanto por Baker e colegas atendem a um
propoacutesito especiacutefico e dessa forma a escolha dos componentes a serem marcados fica
condicionada a este objetivo final
Em uma perspectiva mais ampla do que seja modalidade Wiebe e suas colaboradoras
(2005) exploram um esquema de anotaccedilatildeo de opiniotildees e emoccedilotildees baseado em estudo de um
corpus de artigos da imprensa internacional o MPQA Opinion Corpus (WIEBE WILSON
CARDIE 2005) composto de 10657 sentenccedilas em 535 documentos em liacutengua inglesa
Segundo as autoras (2005 p 1) a motivaccedilatildeo para a identificaccedilatildeo e extraccedilatildeo de opiniotildees
reconhecimento de emoccedilotildees e anaacutelise de sentimentos nasce do ―desejo de fornecer
ferramentas para analistas da informaccedilatildeo nos domiacutenios governamental comercial e poliacutetico
que querem rastrear automaticamente atitudes e sentimentos em notiacutecias e em foacuteruns on-line
104
Nas palavras dos autores ―[] classifications of restricted modality in Linguistics eg (Palmer 2001) and
systems of modal logic (Portner 2009) are too sophisticated and it is very difficult to implement analyzers of
extended modality based on them with the current level of technology in NLP (MATSUYOSHI 2010 p 1458)
148
As pesquisadoras propotildeem um esquema de anotaccedilatildeo refinado para a etiquetagem de
componentes e propriedades de opiniotildees sentimentos emoccedilotildees estados privados
especulaccedilotildees que abriga sob o roacutetulo de estados privados (private stateslsquo)
Os estados privados satildeo definidos como ―estados internos que natildeo podem ser
diretamente observados pelos outros105
(WIEBE et al 2005 p 2) Para cada expressatildeo de
estado privado eacute definido um frame de estado privado que se constitui pelos seguintes
elementos a source106
(cujo estado privado estaacute sendo expresso) o target (sobre o quecirc eacute o
estado privado) as propriedades que envolvem intensity significance e type of attitude
Haacute dois tipos de frames de estado privado (a) elementos subjetivos expressivos
(expressive subjective elementslsquo) representam elementos subjetivos expressivos (b)
subjetivos diretos representam menccedilotildees expliacutecitas a estados privados (explicit mentions of
private stateslsquo) e eventos de fala que expressam estados privados (speech events expressing
private stateslsquo)
O esquema proposto por Wiebe Wilson e Cardie eacute bastante detalhado assim como o
de Matsuyoshi et al (2010) e aplicado a um grande corpus Como se pode observar a noccedilatildeo
de modalidade nos esquemas apresentados acima natildeo segue a noccedilatildeo corrente na literatura
sobre o tema (cf PALMER 1986 ou PORTNER 2009) Os trabalhos que apresento em
seguida ao contraacuterio se apoacuteiam na ideia de modalidade restrita e na definiccedilatildeo se assim posso
dizer mais tradicional da categoria qual seja ―a atitude do falante aleacutem de considerar
geralmente em sua tipologia a oposiccedilatildeo entre significados epistecircmicos e natildeo-epistecircmicos e
natildeo entre informaccedilatildeo factual e natildeo-factual (o que evidentemente natildeo exclui a anaacutelise destas
caracteriacutesticas) Estes proacuteximos projetos natildeo foram desenvolvidos com um objetivo especiacutefico
e definido de aplicaccedilatildeo em PLN no entanto reconhecem que satildeo pontos de partida para
cumprir as tarefas de extraccedilatildeo de informaccedilatildeo mineraccedilatildeo de opiniatildeo resposta a perguntas por
exemplo
Nirenburg e McShane (2008) anotaram um corpus com informaccedilatildeo sobre a
modalidade no acircmbito do projeto OntoSem107
(NIRENBURG RASKIN 2004) e
desenvolveram um analisador alimentado com textos natildeo-tratados e realizaram vaacuterias tarefas
105
Traduccedilatildeo para ―[] internal states that cannot be directly observed by others (WIEBE et al 2005 p 2) 106
Uma propriedade importante das sources eacute que elas podem estar encaixadas isto eacute eventos privados e
eventos de fala podem estar frequentemente encaixados um no outro 107
Este projeto foi desenvolvido para o tratamento computacional da representaccedilatildeo do significado de um texto
Nas palavras dos autores ―[o]ntological semantics is a theory of meaning in natural language and an approach to
natural language processing (NLP) which uses a constructed world model or ontology as the central resource
for extracting and representing meaning of natural language texts reasoning about knowledge derived from texts
as well as generating natural language texts based on representations of their meaning (NIRENBURG
RASKIN 2004 p 10)
149
de anaacutelise linguiacutestica a modalidade incluiacuteda Para a codificaccedilatildeo da modalidade quatro
propriedades satildeo consideradas o tipo de modalidade (MODALITY TYPE) o valor escalar
(SCALAR VALUE) o escopo (SCOPE) e a-quem-eacute-atribuiacuteda (ATTRIBUTED-TO)
Os tipos de modalidade centrais incluem (i) factividade-epistecircmica (epistemic-
factivitylsquo) (ii) crenccedila (belieflsquo) (iii) obrigaccedilatildeo (obligativelsquo) (iv) permissatildeo (permissivelsquo)
(v) potencial (potentiallsquo) (vi) avaliativo (evaluative‟) (vii) intencional (intentionallsquo) (viii)
epitecircutico - grau de sucesso (epiteuctic ndash degree of success‟) (ix) esforccedilo (effortlsquo) (x)
voliccedilatildeo (volitivelsquo)
A cada um destes significados modais estatildeo distribuiacutedos valores que variam em uma
escala de zero a um considerados qualquer valor decimal vaacutelido neste intervalo Por exemplo
para a factividade-epistecircmica o valor 0lsquo corresponde a ―natildeo aconteceu (didn‟t happenlsquo) e o
valor 1lsquo a ―definitivamente aconteceu (definitely happenlsquo) ou para o epitecircutico - grau de
sucesso o zerolsquo equivale ao ―fracasso (faillsquo) e o ―um ao ―completamente bem-sucedido
ou ―sucesso absoluto (succeed fullylsquo)
Assim como nos outros projetos o escopo (SCOPElsquo) eacute o predicado afetado pela
modalidade e a propriedade a-quem-eacute-atribuiacuteda (ATTRIBUTED-TOlsquo) aponta para a quem a
modalidade eacute atribuiacuteda sendo o falante o valor padratildeo Eacute importante notar que as
propriedades da modalidade estatildeo explicitamente presentes no texto
O sistema desenvolvido para o portuguecircs europeu (HENDRICKX et al 2012a
2012b) baseia-se no esquema de anotaccedilatildeo proposta por Nirenburg e McShane (2008)
Enquanto no OntoSem a informaccedilatildeo sobre a modalidade eacute um moacutedulo semacircntico nas entradas
lexicais que expressam modalidade o modelo para o PE centra-se na anotaccedilatildeo de eventos e
natildeo de entidades Satildeo anotadas as expressotildees modais que incluem verbos adveacuterbios nomes
adjetivos sintagmas preposicionais e oraccedilotildees entretanto a tarefa eacute restrita agrave anotaccedilatildeo de
sentenccedilas
Entre os componentes anotados estatildeo o trigger o elemento que expressa o valor
modal108
o target a expressatildeo no escopo do trigger (corresponde ao atributo SCOPElsquo) a
source of the modality um agente ou experienciador (correspondente agrave propriedade
ATTRIBUTED-TOlsquo) e a source of the event mention que pode ser o falante ou o escritor109
108
Para o trigger satildeo assinalados dois atributos os valores modais e a polaridade (positiva ou negativa) 109
A decisatildeo de anotar duas sources se deve agrave necessidade de se distinguir entre aquele que produz a sentenccedilalsquo e
aquele que expressa a modalidadelsquo Em muitas ocorrecircncias estes dois elementos satildeo coincidentes mas natildeo
necessariamente este eacute o caso como em ―Os portugueses necessitam em meacutedia de 180 contos por mecircs para a
manutenccedilatildeo de uma famiacutelia de quatro pessoas Neste exemplo ―Os portugueses eacute a entidade com a
necessidade interna disparada pelo verbo ―necessitar O produtor do evento natildeo estaacute expliacutecito aqui e assume-se
que eacute o produtor da frase
150
Para os significados modais satildeo considerados sete valores e alguns subvalores
correspondentes a saber
Valores Subvalores
Epistemic knowledge
belief
doubt
possibility
interrogative
Deontic obligation
permission
Participant-internal necessity personal needs
capacity personal capacity
Evaluation evaluation of the proposition
Volition hopes and wishes
Effort attempt of the participant to make sth happen
Success results of the commitment of the participant
Tabela 51 ndash Valores e subvalores para o esquema do portuguecircs europeu
Se comparado aos tipos de modalidade selecionados no OntoSem eacute possiacutevel observar
grande semelhanccedila entre os dois esquemas O tipo ―intentional foi incluiacutedo no valor ―effort
e o subvalor ―doubt do PE incluiacutedo nos epistecircmicos eacute parte do tipo ―belief no OntoSem
A tarefa de anotaccedilatildeo foi empreendida primeiramente por um anotador (em papel) e
em um segundo momento foi revisada por um segundo anotador utilizando o software
MMAX2 (MUumlLLER STRUBE 2006)110
em uma amostra de aproximadamente 2000
sentenccedilas da parte escrita do Corpus de Referecircncia do Portuguecircs Contemporacircneo ndash CRPC
(GEacuteNEacuteREUX et al 2012)111
Os anotadores utilizam a estrateacutegia min-max (cf FARKAS et al 2010) Para o
trigger eacute anotada a menor unidade possiacutevel jaacute para o target o maacuteximo de unidades eacute
110
Disponiacutevel para download em httpmmax2net Esta ferramenta de anotaccedilatildeo seraacute detalhada na seccedilatildeo 5311
deste capiacutetulo 111
Este eacute um corpus de aproximadamente 312 milhotildees de palavras entre textos e escritos e registros orais
constituiacutedo por uma ampla gama de textos de diferentes gecircneros textuais em todas as variedades da liacutengua
portuguesa Disponiacutevel em httpwwwclululptptrecursos183-reference-corpus-of-contemporary-portuguese-
crpc Uacuteltimo acesso em 13 nov 2013
151
considerado e este elemento tambeacutem pode ser anotado em descontinuidade No que diz
respeito agraves sources satildeo marcados sintagmas nominais inteiros ou verbos No esquema
proposto ainda haacute um campo adicional para comentaacuterios (Commentlsquo) para que quaisquer
dificuldades sejam registradas principalmente casos de ambiguidade
Em trabalho mais recente (MENDES et al 2013) foi integrada a este esquema de
anotaccedilatildeo a interaccedilatildeo entre o foco e a modalidade especialmente o foco envolvendo partiacuteculas
exclusivas como ―soacute Os autores extraiacuteram os contextos e aplicaram o esquema a 100
sentenccedilas de documentos escritos do CRPC
Dois projetos desenvolvidos na Georgetown University os trabalhos de Rubinstein e
colegas (2013) para a anotaccedilatildeo da modalidade no inglecircs e o de Cui e Chi (2013) para a
anotaccedilatildeo de dados do chinecircs seguem a mesma orientaccedilatildeo teoacuterica (cf PORTNER 2009) e
utilizam um quadro bastante similar de elementos a serem anotados
Rubinstein et al (2013) propotildeem um esquema de anotaccedilatildeo de sentidos modais
construiacutedo a partir de trabalhos anteriores e acrescentado de novos traccedilos para a anotaccedilatildeo do
MPQA Corpus No esquema os anotadores em primeiro lugar codificavam cada modal em
trecircs categorias mais amplas Epistecircmica ou Circunstancial (Epistemiclsquo ou Circumstantiallsquo)
Habilidade ou Circunstancial (Abilitylsquo ou Circumstantiallsquo) e Prioridade (Prioritylsquo) Em
seguida sete tipos modais mais refinados foram individualizados Epistecircmica (Epistemiclsquo)
Circunstancial (Circumstantiallsquo) Habilidade (Abilitylsquo) Deocircntica (Deontic‟) Bouleacutetica
(Bouleticlsquo) Teleoloacutegica (Teleologicallsquo) e BuleacuteticaTeleoloacutegica (BouleticTeleologicallsquo)
Cui e Chi (2013) descrevem em seu trabalho a tentativa de refinar a anotaccedilatildeo de
alguns aspectos dos modais para o Penn Chinese Treebank e apontam seus primeiros
resultados para a primeira fase de anotaccedilatildeo Para a tarefa de anotaccedilatildeo realizada por dois
anotadores tambeacutem foi utilizado o software MMAX2 (MUumlLLER STRUBE 2006) com um
esquema de dez traccedilos e uma lista de inicial com onze iacutendices modais que agrave medida que o
projeto avanccedila pode crescer Como contribuiccedilatildeo os autores argumentam que o projeto
demonstrou que ―eacute possiacutevel usar um esquema e um conjunto de instruccedilotildees para a anotaccedilatildeo
translinguiacutestica112
(CUI CHI 2013 p 8)
112
No original ―() it is possible to use one scheme and set of guidelines for cross-linguistic annotation (CUI
e CHI 2013 p 8)
152
52 Panorama geral (ou quem identifica eou anota o quecirc)
Em resumo os componentes identificados eou anotados nos projetos apresentados na
seccedilatildeo anterior
Autores Trigger Target Source Factuality Certainty Transition
of certainty Focus Time Conditional
Sauriacute et al
2006 2007
2009 2012
x x x x x
Baker et al
2010 x x x x
Matsuyoshi et
al 2010 x x x x x x x x
Wiebe et al
2005 x x x x x
Niremburg
McShane 2008 x x x
Hendrikx et al
2012
Mendes et al
2013
x x x x
Rubinstein et al
2013 x x x
Cui Chi 2013 x x x
Tabela 52 ndash Elementos identificados eou anotados em diferentes projetos de anotaccedilatildeo semacircntica
Entre os diferentes projetos apesar de a terminologia usada para a categorizaccedilatildeo dos
significados modais diferirem eacute possiacutevel encontrar correspondecircncias entre os valores modais
correntes na literatura linguiacutestica e aqueles valores denominados natildeo-padratildeo Abaixo
resumidamente elenco na Tabela 52 todos os valores assinalados nos esquemas de anotaccedilatildeo
apresentados Na coluna da esquerda listo os valores modais utilizados na tradiccedilatildeo linguiacutestica
(cf PALMER 2001) e na coluna da esquerda os valores correspondentes encontrados nos
esquemas aqui apresentados e seus respectivos autores
153
Valores modais
tradiccedilatildeo linguiacutestica esquemas de anotaccedilatildeo
Epistemic factuality (SAURIacute et al 2006 BAKER et al 2010)
actuality (MATSUYOSHI et al 2010)
evidentiality (SAURIacute et al 2006)
assertion (MATSUYOSHI et al 2010)
transition of certainty (MATSUYOSHI e al 2010)
degrees of possibility (SAURIacute et al 2006)
potential (NIREMBURG McSHANE 2008)
belief (SAURIacute et al 2006 BAKER et al 2010 NIREMBURG
McSHANE 2008)
requirement (BAKER et al 2010)
interrogative (MATSUYOSHI et al 2010)
evaluation (HENDRICKX et al 2012b NIREMBURG McSHANE
2008)
Deontic modality command (SAURIacute et al 2006)
requirement (BAKER et al 2010)
imperative (MATSUYOSHI et al 2010)
obligative (NIREMBURG McSHANE 2008)
permissive (BAKER et al 2010 NIREMBURG McSHANE 2008)
permission (MATSUYOSHI et al 2010)
Dynamic modality
Participant-internal modality
ability (BAKER et al 2010)
success (BAKER et al 2010)
epiteuctic (NIREMBURG McSHANE 2008)
requirement (BAKER et al 2010)
volition (MATSUYOSHI et al 2010 McSHANE amp NIREMBURG
2008 HENDRICKX et al 2012 NIREMBURG McSHANE 2008)
expectation (SAURIacute et al 2006)
want (BAKER et al 2010)
wish (MATSUYOSHI et al 2010)
intention (BAKER et al 2010 NIREMBURG McSHANE 2008)
attempting (SAURIacute et al 2006)
effort (BAKER et al 2010 HENDRICKX et al 2012 NIREMBURG
McSHANE 2008)
Tabela 53 ndash Correspondecircncia entre valores na tradiccedilatildeo linguiacutestica e nos esquemas de anotaccedilatildeo
154
53 Proposta para anotaccedilatildeo da modalidade no C-ORAL-BRASIL o projeto MASS
(Modal Annotation in Spontaneous Speech)
Este projeto de esquema de anotaccedilatildeo de modalidade em dados orais do portuguecircs
brasileiro segue diretamente o esquema proposto para o portuguecircs europeu (HENDRICKX et
al 2012a 2012b MENDES et al 2013) e igualmente inspira-se em outros esquemas de
anotaccedilatildeo previamente explorados para a liacutengua inglesa (BAKER et al 2010 SAURIacute et al
2006 RUBINSTEIN et al 2013) o japonecircs (MATSUYOSHI et al 2010) e o chinecircs (CUI
CHI 2013)
Este esquema se baseia nos pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato e tem como
unidade de referecircncia de anaacutelise portanto o enunciado e as unidades informacionais (cf
CRESTI 2000 v capiacutetulo 3 seccedilatildeo 31) Desta forma difere-se de outros projetos uma vez
que natildeo centra a sua anaacutelise na diamesia escrita e portanto natildeo fornece uma anotaccedilatildeo no
domiacutenio da sentenccedila
Nas subseccedilotildees seguintes apresento a metodologia empregada para a anotaccedilatildeo no que
diz respeito agrave preparaccedilatildeo dos textos o corpus utilizado e a ferramenta para anotaccedilatildeo mdash o
software livre MMAX2 (MUumlLLER STRUBE 2006) sigo com a escolha dos valores modais
e os elementos a serem anotados a marcaccedilatildeo da polaridade aplicada ao elemento Trigger
exemplos de anotaccedilatildeo os resultados e finalmente algumas consideraccedilotildees sobre o processo
de anotaccedilatildeo
531 Metodologia
5311 O software de anotaccedilatildeo MMAX2
O MMAX2 (MUumlLLER STRUBE 2006) eacute um software livre para anotaccedilatildeo linguiacutestica
de corpora em muacuteltiplos niacuteveis Esta eacute uma ferramenta flexiacutevel para criar navegar por e
visualizar as anotaccedilotildees linguiacutesticas MMAX oferece uma interface visual para anotar
sentenccedilas pela marcaccedilatildeo sequecircncias textuais e criaccedilatildeo de links entre os elementos marcados
O MMAX estaacute escrito em Java (por razotildees de independecircncia de plataforma) e as anotaccedilotildees
satildeo armazenadas em XML
Abaixo na Figura 51 um exemplo da tela principal do programa que se refere a um
dos arquivos anotados (bfamcvo4) deste projeto de anotaccedilatildeo de modalidade no corpus C-
ORAL-BRASIL
155
Figura 51 ndash Tela principal do software MMAX2
Na tela as linhas azuis satildeo as sequecircncias que contecircm os elementos anotados (trigger
target source of the modality source of the event)113
Em amarelo temos marcado um dos
componentes anotados (no caso o trigger) em cinza os outros elementos da sequecircncia modal
e por uacuteltimo em verde os links entre os elementos que compotildeem um set modal
Segundo Muumlller e Strube (2006) satildeo cinco os passos cruciais de um projeto de
anotaccedilatildeo o que chamam de ―ciclo de vida da anotaccedilatildeo a saber
(i) preparaccedilatildeo do corpus
(ii) definiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo da tarefa de anotaccedilatildeo
(iii) manual de anotaccedilatildeo
(iv) checagem da viabilidade da anotaccedilatildeo
(v) utilizaccedilatildeo da anotaccedilatildeo completa
Apresento nas proacuteximas seccedilotildees alguns passos do ciclo de vida do projeto MASS
(Modal Annotation in Spontaneous Speech)
113
Estes elementos seratildeo descritos em detalhes nas seccedilotildees subsequumlentes deste capiacutetulo
156
5312 A preparaccedilatildeo dos textos
Para fins de preacute-processamento e utilizaccedilatildeo do software MMAX2 foi necessaacuteria a
limpeza dos arquivos em extensatildeo ―txt Os elementos a serem eliminados foram detectados
atraveacutes da proacutepria ferramenta de busca do editor de texto e os textos foram limpos
manualmente O corpus C-ORAL-BRASIL eacute transcrito segundo o sistema CHAT
(MAcWHINNEY 2000) que fornece um formato padronizado para produzir transcriccedilotildees
computadorizadas de interaccedilotildees conversacionais face a face implementado para a anotaccedilatildeo
prosoacutedica (MONEGLIA CRESTI 1997) e eacute segmentado em enunciados e unidades tonais
Algumas das convenccedilotildees da segmentaccedilatildeo prosoacutedica e tambeacutem notaccedilotildees da transcriccedilatildeo
tiveram que ser removidas tais como interrupccedilotildees retractings sobreposiccedilotildees fragmentos
fonoloacutegicos nuacutemeros de enunciados e os asteriscos que precedem os nomes de cada
participante Abaixo segue um resumo dos elementos eliminados
(a) nuacutemeros dos enunciados [xxx] os arquivos satildeo transcritos por enunciados e a cada
enunciado corresponde um nuacutemero
Ex LUA [72] taacute parecendo aqueas histoacuteria daquele livro que cecirc tava contando
=COM=$
(b) asterisco () o asterisco indica a ―linha principal isto eacute a linha que codifica um
uacutenico enunciado produzido por um determinado falante Este sinal antecede o
coacutedigo em trecircs letras maiuacutesculas que indicam o participante produtor daquele
enunciado
Ex CES [104] uhn =PHA= tocirc achando que natildeo =COM=$
(c) ampersand ou e-comercial (amp) este siacutembolo eacute usado para indicar que o material
seguinte eacute apenas um fragmento fonoloacutegico ou um pedaccedilo de palavra Esta forma
de notaccedilatildeo eacute usada quando o falante gagueja ou para de falar antes de completar
uma palavra reconheciacutevel (falsos comeccedilos)
Ex ANE [224] amphe =TMT= essa localizaccedilatildeo aqui eu nũ acho ruim =COM=$
157
(d) anguladores (lt gt) sinalizam que o material locutivo de um falante em um
determinado turno contido entre os anguladores estaacute sendo produzido ao mesmo
tempo que o material angulado do seu interlocutor no turno seguinte
Ex ANE [298] ltagraves vezesgt [2]=EMP= agraves vezes fica ltgentegt =COM=$
CES [299] ltpode entrargt =COM=$
(e) sinal de adiccedilatildeo (+) indica uma interrupccedilatildeo seja por tomada de turno pelo
interlocutor ou por decisatildeo do proacuteprio falante
Ex [99] entatildeo =INP= eu =TOP= eu sei =COB= Mara =ALL= que =DCT= ela me
tirou =i-COB= assim + =PAR=$
(f) [n] indica retracting O numeral ―n ao lado da barra indica o nuacutemero de palavras
envolvidas no retracting e canceladas pelo falante Eacute usado quando o falante
comeccedila a dizer alguma coisa para repete o sintagma baacutesico muda a sintaxe mas
manteacutem a mesma ideia pode envolver tambeacutem a completa reformulaccedilatildeo da
mensagem sem quaisquer correccedilotildees especiacuteficas ou ainda indicar que o falante
comeccedilou a dizer alguma coisa parou e repetiu o material anterior sem qualquer
mudanccedila
Ex [147] essa histoacuteria ampde [1]=SCA= da menina =TOP= eu tenho certeza que e
nũ te conta natildeo =COM=$
Apresento abaixo em (a) um exemplo de enunciado antes da limpeza com alguns dos
elementos eliminados e a seguir em (b) o resultado da limpeza deste mesmo enunciado114
(a) JOR [17] e aiacute =TOP= eu consegui =i-COB= amphe =TMP= com a experiecircncia
que eu tinha dentro da multinacional =PAR= concorrer agrave vaga e ampf [1]=SCA=
isso me facilitou e eu passei pra aacuterea comercial da empresa pra vender =COB_s=
disjuntores =CMB= transformadores =CMB= motores de =INT= corrente
contiacutenua =CMB= corrente alternada =CMB= isoladores =CMB= e =TXC=
releacutes de proteccedilatildeo secundaacuteria =CMB= e assim foi iniciando a minha vida
comercial =COM
(b) JOR e aiacute eu consegui he com a experiecircncia que eu tinha dentro da
multinacional =PAR= concorrer agrave vaga e f isso me facilitou e eu passei pra aacuterea
comercial da empresa pra vender disjuntores transformadores motores de
corrente contiacutenua corrente alternada isoladores e releacutes de proteccedilatildeo secundaacuteria
e assim foi iniciando a minha vida comercial
114
As unidades informacionais jaacute natildeo constavam na versatildeo dos arquivos de texto utilizada para o preacute-
processamento
158
5313 Definiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo da tarefa de anotar
(a) Os markables (marcadores)
Um markable eacute o componente baacutesico de anotaccedilatildeo no MMAX2 Eacute uma porccedilatildeo de texto
que eacute marcada normalmente uma sequecircncia de texto ou partes descontiacutenuas de um texto
Estes marcadores podem se expandir em diferentes sentenccedilas podem se sobrepor
podem corresponder a exatamente a mesma porccedilatildeo de texto e podem estar anotados em
descontinuidade isto eacute duas partes do texto podem estar divididas e serem anotadas como um
uacutenico marcador
Em nosso projeto defino quatro tipos de markables os quais descreverei em detalhes
mais adiante que satildeo o trigger o target a source of the event mention e a source of the
modality Estes componentes em conjunto formam um ―set modal Os componentes trigger
e target possuem traccedilos que os distinguem O primeiro carrega os traccedilos modal_value
polarity information unit e comment o segundo os traccedilos information unit (ie a unidade
informacional em que o componente estaacute contido) e polarity
Para a criaccedilatildeo de um ―set modal eacute necessaacuterio em primeiro lugar criar cada um dos
markables e em seguida estabelecer os links entre eles Para a criaccedilatildeo dos markables (Figura
52) arraste com o mouse sobre o elemento que se deseja marcar clique com o botatildeo
direito sobre o texto selecionado selecione ―Create Markable at level bdquomodal‟ por uacuteltimo
na caixa de anotaccedilatildeo faccedila a escolha dos atributos apropriados para cada markable
Figura 52 ndash Criaccedilatildeo de markable
159
Os passos para estabelecer os links entre os markables satildeo os seguintes (Figuras 53 e
54) clique sobre o componente marcado como o trigger que ganha destaque em amarelo
em seguida clique com o botatildeo direito sobre um dos componentes por exemplo a source of
the modality e selecione ―Mark as link Repita o mesmo procedimento para os outros
componentes Uma linha verde vai surgir entre os markables e o set modal estaacute constituiacutedo
Figura 53 ndash Estabelecer links entre markables
Figura 54 ndash Links entre markables estabelecido
160
No campo ―modal_class da caixa de anotaccedilatildeo (Figura 55) apareceraacute ―set_x em que
―x corresponde ao nuacutemero do set criado
Figura 55 ndash Modal-class nuacutemero do set modal
No caso de haver uma mesma sequecircncia de texto com dois ou mais papeacuteis diferentes
isto eacute uma sequecircncia de texto correspondente a dois ou mais markables basta proceder da
forma indicada acima Para selecionar os links apropriados clique em cada uma das porccedilotildees
de texto disponiacuteveis para criar o set modal
(b) Regras baacutesicas de anotaccedilatildeo
(b1) Criar como explicitado acima para um novo markable ser criado (Figura 52) eacute
necessaacuterio selecionar uma porccedilatildeo de texto arrastando o mouse com o botatildeo esquerdo e
clicando com o botatildeo direito na seleccedilatildeo Outros elementos natildeo devem estar selecionados do
contraacuterio este material seraacute adicionado ao markable em amarelo
(b2) Remover um link pode ser removido (Figura 56) primeiro selecionando o componente
com o botatildeo esquerdo do mouse depois com o botatildeo direito sobre a seleccedilatildeo escolher
―Unmark as link
161
Figura 56 - Remover o link
(b3) Apagar para apagar completamente um markable (Figura 57) basta clicar em cima do
elemento a ser apagado O elemento natildeo pode estar em amarelo
Figura 57 - Apagar um markable
(b4) Markable descontiacutenuo a partir de um markable existente eacute possiacutevel adicionar a ele uma
porccedilatildeo de texto natildeo-contiacutenua Eacute necessaacuterio clicar sobre o markable criado que fica em
amarelo entatildeo selecionar com o botatildeo esquerdo a segunda porccedilatildeo de texto a ser adicionada
(Figura 58) clicar com o botatildeo direito sobre esta seleccedilatildeo e escolher ―Add to this markable
Para o caso de toda a porccedilatildeo de texto adicionada ser removida ou apenas parte dela (Figura
162
59) basta selecionar o elemento que deseja desvincular do markable clicar com o botatildeo
direito em cima dele e escolher ―Remove from this markable
Figura 58 - Adicionar uma sequecircncia ao markable
Figura 59 ndash Remover sequecircncia de um markable
(c) Interface visual do MMAX2 e configuraccedilotildees baacutesicas iniciais
O MMAX2 possui uma apresentaccedilatildeo visual bastante amigaacutevel e algumas
configuraccedilotildees baacutesicas devem ser aplicadas para se iniciar a tarefa de anotaccedilatildeo Ao carregar o
software (―mmaxbat) vatildeo surgir quatro caixas na tela (a) uma diz respeito ao que estaacute
sendo rodado no sistema (b) a caixa de anotaccedilatildeo dos valores e atributos dos markables (c) a
tela principal com o texto a ser anotado e (d) o painel de controle do niacutevel do markable
163
Tambeacutem surgiraacute uma janela em ―pop-up perguntando se o anotador deseja validar as
anotaccedilotildees
Abaixo apresento instantacircneos das quatro principais telas a serem configuradas como e
quando necessaacuterio pelos anotadores
(a1) Snapshot da tela de anotaccedilatildeo dos valores e atributos
Figura 510- Caixa de anotaccedilatildeo de valores e atributos
Nesta tela em ―Settings selecione ―Auto-apply on para evitar a accedilatildeo de ―Apply a
cada modificaccedilatildeo Quando os campos ―comment ou ―polarity_cue forem modificados o
―Apply deve ser feito manualmente
(a2) Snapshot da tela principal de anotaccedilatildeo
Figura 511 - Tela principal de anotaccedilatildeo
164
No caso de os anotadores considerarem o espaccedilamento entre as linhas de anotaccedilatildeo
pequeno eacute possiacutevel utilizar a opccedilatildeo ―Font gt ―Line spacing para a configuraccedilatildeo desejada
Na parte esquerda superior desta tela no menu ―File haacute a opccedilatildeo ―Auto-save onde o
intervalo para salvar as modificaccedilotildees realizadas pode ser controlado O ideal eacute configuraacute-lo
para 5 ou 10 minutos
(a3) Snapshot do painel de controle do niacutevel do markable
Figura 512 - Painel de controle
Nesta caixa temos dois niacuteveis ―modal e ―sentence Este uacuteltimo niacutevel deve estar
configurado como ―visible e natildeo ―active uma vez que nenhuma anotaccedilatildeo no niacutevel da
sentenccedila seraacute realizada
(a4) Snapshot da tela de validaccedilatildeo da anotaccedilatildeo
Figura 513 - Tela de validaccedilatildeo da anotaccedilatildeo
O anotador deve clicar em ―Do not validate nesta fase inicial
165
5314 O esquema de anotaccedilatildeo em versatildeo XML
No MMAX2 qualquer tipo de anotaccedilatildeo pode ser representada pela associaccedilatildeo de
elementos individuais com atributos e pela conexatildeo dos vaacuterios markables por meio de
relaccedilotildees (MUumlLLER STRUBE 2006 p 202) Abaixo apresento os atributos e as relaccedilotildees
definidos no esquema de anotaccedilatildeo de modalidade para a fala espontacircnea em sua versatildeo XML
No primeiro niacutevel estaacute definido o atributo Type e os seus respectivos valores (none
target1 target_dependent trigger source of the event source of the modality) que
apareceram como ―nominal_buttons (bototildees nominais) A cada valor corresponde um
conjunto de propriedades e estas dependecircncias satildeo expressas pelo atributo ―next Isso
significa que ao ser selecionado um determinado valor o seu conjunto de propriedades estaraacute
disponiacutevel Para o target1 temos as propriedades ―polaridade e ―unidade informacional
para o trigger as propriedades ―valor modal ―polaridade ―iacutendice de polaridade e ―unidade
informacional
ltxml version=10 encoding=ISO-8859-1gt
ltannotationschemegt
ltattribute id=level_type name=Type type=nominal_button text=Choose type of expressiongt
ltvalue id=value_type_none name=nonegt
ltvalue id=value_type_target1 name=target1 next=level_polarity_target1level_info_unit_target1gt
ltvalue id=value_type_target_dependent name=target_dep next=level_polarity_target_dependent
level_info_unit_target_dependentgt
ltvalue id=value_type_trigger name=trigger next=level_modal_valuelevel_polarity level_polarity_cue
level_info_unit_triggergt
ltvalue id=value_type_source_modality name=source_modalitygt
ltvalue id=value_type_event name=source_eventgt
ltattributegt
No segundo niacutevel estaacute definido o atributo ―valor modal e seus respectivos valores
em uma lista nominal
ltattribute id=level_modal_value name=modal_value type=nominal_list text=gt
ltvalue id=value_modal_value_none name=nonegt
ltvalue id=value_modal_value_epistemic_knowledge name=epistemic_knowledgegt
ltvalue id=value_modal_value_epistemic_belief name=epistemic_beliefgt
ltvalue id=value_modal_value_epistemic_possibility name=epistemic_possibilitygt
ltvalue id=value_modal_value_epistemic_probability name=epistemic_probabilitygt
166
ltvalue id=value_modal_value_epistemic_necessity name=epistemic_necessitygt
ltvalue id=value_modal_value_epistemic_verification name=epistemic_verificationgt
ltvalue id=value_modal_value_deontic_necessity name=deontic_necessitygt
ltvalue id=value_modal_value_deontic_permission name=deontic_permissiongt
ltvalue id=value_modal_value_deontic_obligation name=deontic_obligationgt
ltvalue id=value_modal_value_deontic_prohibition name=deontic_prohibitiongt
ltvalue id=value_modal_deontic_restriction name=deontic_necessitygt
ltvalue id=value_modal_value_dynamic_volition name=dynamic_volitiongt
ltvalue id=value_modal_value_dynamic_ability name=dynamic_abilitygt
ltattributegt
No terceiro quarto quinto e sexto niacuteveis estatildeo definidos os atributos ―polaridade do
trigger ―polaridade do target1 ―polaridade do target_dependent com os valores
―positivo e ―negativo (em bototildees nominais) e o ―iacutendice de polaridade o qual eacute um atributo
―freetext
ltattribute id=level_polarity name=polarity type=nominal_button text=Choose the polarity of the
triggergt
ltvalue id=value_polarity_pos name=posgt
ltvalue id=value_polarity_neg name=neggt
ltattributegt
ltattribute id=level_polarity_target1 name=polarity_target1 type=nominal_button text=Choose the
polarity of the target1gt
ltvalue id=value_polarity_pos name=posgt
ltvalue id=value_polarity_neg name=neggt
ltattributegt
ltattribute id=level_polarity_target_dependent name=polarity_target_dep type=nominal_button
text=Choose the polarity of the target1gt
ltvalue id=value_polarity_pos name=posgt
ltvalue id=value_polarity_neg name=neggt
ltattributegt
ltattribute id=level_polarity_cue type=freetext name=polarity_cuegt
ltvalue id=value_polarity_cue name=polarity_cuegt
ltattributegt
167
Os seacutetimo oitavo e nono niacuteveis definem os atributos para a ―unidade informacional do
trigger a ―unidade informacional do target1 e a ―unidade informacional do
target_dependent em bototildees nominais
ltattribute id=level_info_unit_trigger type=nominal_button name=IUgt
ltvalue id=value_IU_comment name=COMgt
ltvalue id=value_IU_topic name=TOPgt
ltvalue id=value_IU_parenthetical name=PARgt
ltvalue id=value_IU_locutive_introducer name=INTgt
ltvalue id=value_IU_multiple_comment name=CMMgt
ltvalue id=value_IU_bound_comment name=COBgt
ltattributegt
ltattribute id=level_info_unit_target1 type=nominal_button name=IUgt
ltvalue id=value_IU_comment name=COMgt
ltvalue id=value_IU_topic name=TOPgt
ltvalue id=value_IU_parenthetical name=PARgt
ltvalue id=value_IU_locutive_introducer name=INTgt
ltvalue id=value_IU_multiple_comment name=CMMgt
ltvalue id=value_IU_bound_comment name=COBgt
ltvalue id=value_IU_appendix_comment name=APCgt
ltattributegt
ltattribute id=level_info_unit_target_dependent type=nominal_button name=IUgt
ltvalue id=value_IU_comment name=COMgt
ltvalue id=value_IU_topic name=TOPgt
ltvalue id=value_IU_parenthetical name=PARgt
ltvalue id=value_IU_locutive_introducer name=INTgt
ltvalue id=value_IU_multiple_comment name=CMMgt
ltvalue id=value_IU_bound_comment name=COBgt
ltvalue id=value_IU_appendix_comment name=APCgt
ltattributegt
O deacutecimo niacutevel descreve o atributo ―modal_class que define o set modal e suas
propriedades
168
ltattribute id=level_modalclass name=modal_class color=green width=2 type=markable_set
add_to_markableset_text=Mark as link style=lcurve remove_from_markableset_text=Unmark as link
adopt_into_markableset_text=Move this into current modal set merge_into_markableset_text=Merge both
modal sets into onegt
ltvalue id=value_modalclass name=modal_classgt
ltattributegt
O uacuteltimo niacutevel define o atributo ―comment do tipo ―freetext
ltattribute id=level_comment type=freetext name=commentgt
ltvalue id=value_comment name=commentgt
ltattributegt
ltannotationschemegt
532 Escolha dos valores modais
Este trabalho como explicitado anteriormente na parte teoacuterica filia-se agrave tradiccedilatildeo
linguiacutestica sobre modalidade que apresenta a depender da orientaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica
diferentes tipologias para o estudo dos modais O repertoacuterio de significados modais estaacute longe
de ser estaacutevel entre as liacutenguas no entanto observamos que haacute consenso entre todas as
abordagens em relaccedilatildeo ao significado epistecircmico e o que as difere satildeo as nuances nos
significados natildeo-epistecircmicos (cf seccedilatildeo 23 do capiacutetulo 2)
Retomo brevemente aqui os valores modais que seratildeo utilizados para fins de anotaccedilatildeo
a saber os valores epistecircmico deocircntico e dinacircmico115
Para o estabelecimento dos subvalores
de cada tipo de modalidade partiu-se da definiccedilatildeo de modalidade discutida neste trabalho e
dos valores apresentados em diferentes projetos de anotaccedilatildeo como descrito na seccedilatildeo 52 deste
capiacutetulo aleacutem de os proacuteprios dados analisados revelarem pelo contexto sutilezas de
interpretaccedilatildeo que aqui foram consideradas
115
Os termos que se referem ao esquema de anotaccedilatildeo da modalidade a saber os valores e subvalores modais o
iacutendice modal disparador a expressatildeo no escopo do item modal e a fonte (do evento e da modalidade) seratildeo
mantidos em liacutengua inglesa uma vez que no domiacutenio da anotaccedilatildeo semacircntica eacute consenso o uso do inglecircs nos
sistemas de anotaccedilatildeo Desta forma quando necessaacuterio seraacute apresentada em nota de peacute de paacutegina uma legenda
com a traduccedilatildeo dos roacutetulos para o portuguecircs e das suas definiccedilotildees
169
(a) Epistecircmicos o significado epistecircmico estaacute relacionado com o grau de certeza de um
conceptualizador sobre o material locutoacuterio enunciado e tambeacutem se refere agraves noccedilotildees de
possibilidade probabilidade e necessidade Como exemplificado em (51) (52) (53) e (54)
(51) LAU [195] tambeacutem nũ tem certeza de nada =COM=$ (bfamdl03)
(52) BAL [107] ltsoacute que eacute aquela coisa =INT= eu nũ amppogt [3]=EMP= eu nũ
posso esperar crescer dentro disso =COM=$ (bfamdl02)
(53) GIL [36] neacute es deve meter o pau $ (bfamcv01)
(54) REN [223] oito =COM=$ [224] mas olha o preccedilo =COM=$ [225] quatorze
e oitenta-e-nove =COM=$ [226] esse daqui eacute quatro e noventa-e-oito
=COM=$
FLA [227] eacute =COM=$ [228] oh =COM=$ [229] natildeo =CMM= mas aiacute tem
[2]=SCA= aqui tem o [1]=SCA= lto dobrogt =CMM=$
REN [230] o ltdobrogt =COM=$ [231] pois eacute =CMM= mas teria que ser uns
dez reais =CMM= neacute =PHA=$
(bfamdl01)
Em (51) o falante ―LAU descreve uma situaccedilatildeo que eacute apresentada como uma crenccedila
ou opiniatildeo com nenhum (ou baixo) grau de certeza O exemplo seguinte (52) dada
determinada evidecircncia ―BAL apresenta a impossibilidade (―nũ posso) de que ―esperar
crescer dentro disso seja o caso O verbo ―dever em (53) carrega o significado de que a
partir de um conhecimento preacutevio sobre ―es chega-se agrave conclusatildeo de que eacute provaacutevel que um
grupo (―es) critique uma determinada situaccedilatildeo em outras palavras o exemplo expressa um
julgamento epistecircmico da probabilidade de uma determinada situaccedilatildeo ocorrer No excerto em
(54) os participantes comparam o preccedilo de dois produtos A participante ―REN chega
entatildeo agrave conclusatildeo de que haacute a necessidade (disparada pelo semimodal ―ter que) do preccedilo do
produto ser ―uns dez reais para que fosse coerente a quantidade do produto com o seu preccedilo
Para este tipo foram identificados seis subvalores conhecimento crenccedila
possibilidade probabilidade necessidade e verificaccedilatildeo Segundo Palmer (2001 p 24)
existem trecircs tipos de julgamento epistecircmico possiacuteveis o especulativo (que expressa
incerteza) o dedutivo (que expressa uma inferecircncia a partir de uma evidecircncia) e o
assumptivo (que indica uma inferecircncia no senso comum) Assim os subvalores que seratildeo
descritos abaixo foram definidos a partir destes trecircs tipos de julgamento
(a1) epistemic_knowledge o conceptualizador (o falante ou uma outra entidade) expressa o
seu conhecimento ou compreensatildeo sobre algo
170
(55) ANE [152] ltagt gente nũ ltsabia que eragt essa [1]=SCA= essa ltruagt
=COM=$ (bfamdl05)
(a2) epitemic_belief o conceptualizador expressa a sua crenccedila ou opiniatildeo sobre algo
(56) JAE [84] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs =COM= uai =PHA=$
(bfamcv02)
(a3) epistemic_possibility O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma
possibilidade
(57) TON [173] daacute pra ampma [3]=EMP= daacute pra jogar ela aqui =CMM= ela vem na
frente da quatro o =CMM=$ (bfamcv03)
(a5) epistemic_probability O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma
probabilidade baseado em alguma evidecircncia
(58) CAR [95] deve ser ltumgt [1]=SCA= alguns milhares de reais a conta
=COM= neacute =PHA=$ (bpubcv02)
(a6) epistemic_necessity O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma
necessidade baseado em conhecimento anterior
(59) DFL [121] meu avocirc falava com papai =INT= ele eacute doido =CMM_r= soacute pode
ser doido =CMM_r= neacute =PHA= amppo +=EMP=$ (bfammn02)
(a7) epistemic_verification O conceptualizador expressa incerteza em relaccedilatildeo a um estado-
de-coisas evento ou atividade em foco
(510) ANE [390] olha aiacute se nũ tem ningueacutem =COM= Ceacutesar =ALL=$
(bfamdl05)
(b) Deocircnticos o valor deocircntico normalmente estaacute associado agraves convenccedilotildees morais e sociais e
portanto normalmente eacute usado para indicar obrigaccedilatildeo permissatildeo ou proibiccedilatildeo Os exemplos
(511) e (512) ilustram respectivamente uma obrigaccedilatildeo e uma permissatildeo
(511) RUT [257] cecirc tem que ir chique =COM=$ (bfamcv02)
(512) BAL [127] ltcecirc podegt deixar o cabo bater no chatildeo =COM=$ (bfamdl02)
171
Na ocorrecircncia em (511) o falante impotildee a obrigaccedilatildeo ao sujeito ―cecirc de ―ir chique a
um determinado evento Jaacute em (512) excerto de um diaacutelogo em que um participante daacute
instruccedilotildees para uma outra pessoa de como utilizar um equipamento eacute o falante ―BAL que
garante a permissatildeo para que o sujeito da sentenccedila ―cecirc esteja autorizado a realizar uma
determinada accedilatildeo no caso ―deixar o cabo bater no chatildeo
Como subvalores os deocircnticos abrangem obrigaccedilatildeo permissatildeo proibiccedilatildeo e
necessidade Apesar de a literatura sobre os deocircnticos normalmente classificarem tais modais
como uma necessidade que gera uma obrigaccedilatildeo (imposta pelo falante ou por uma autoridade
mas tambeacutem uma mera obrigaccedilatildeo a ser cumprida por um conceptualizador) ou uma
permissatildeo a partir dos dados em contexto foram identificados significados que sugeriam
proibiccedilatildeo (uma permissatildeo mais fortemente negada) e necessidade (pessoal ou de um grupo)
que natildeo gera necessariamente uma obrigaccedilatildeo ou permissatildeo Estes subvalores estatildeo descritos
abaixo
(b1) deontic_obligation O conceptualizador obriga a algueacutem se vecirc obrigado ou obriga a si
mesmo a realizar uma atividade por uma determinada razatildeo
(513) CAR [220] ltaiacutegt tem que olhar os vizinhos =COM=$ (bpubcv02)
(b2) deontic_permission O conceptualizador permite algueacutem ou se permite realizar uma
atividade ou permite que algo aconteccedila
(514) BAL [134] ltcecirc podegt deixar o cabo bater no chatildeo =COM=$ (bfamdl02)
(b3) deontic_prohibition O conceptualizador proiacutebe algueacutem ou a si mesmo de fazer algo ou
proiacutebe que algo aconteccedila
(515) CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ porsquo falar natildeo =COM=$ (bfamcv03)
(b4) deontic_necessity O conceptualizador expressa suas necessidades ou a necessidade de
uma outra pessoa ou grupo
(516) JOR [50] noacutes precisamo criar esse haacutebito =COM=$ (bfammn06)
172
(c) Dinacircmicos o tipo dinacircmico apesar de ser menos central nos trabalhos sobre modalidade
(HUDDLESTON PULLUM 2002 KIEFER 1994 SALKIE 2009) se relaciona agrave capacidade
habilidade e voliccedilatildeointenccedilatildeo de um conceptualizador como mostram as ocorrecircncias em
(517) (518) e (519)
(517) BRU [383] ltcecirc conseguiu sergt pior =COM=$ (bfamcv04)
(518) JOR [51] eacute a mesma coisa que vocecirc comprar hoje um celular com tanta
tecnologia =CMB= e vocecirc nũ consegue usaacute-lo porque vocecirc nũ aprende a usar
=SCA= aqueles manuais tatildeo extenso pra poder =SCA= ter =SCA= o =EMP=
o ampus [1]=SCA= uso =i-COB= neacute =PHA= da proacutepria tecnologia =COM=$
(bfammn06)
(519) GIL [78] cecircs querem olhar com a gente =COB= cecircs querem sugerir um
lugar =COB= ltqualquergt coisa desse tipo =COM=$
No exemplo (517) o verbo ―conseguir se refere agrave capacidade do experienciador de
realizar uma atividade no caso a capacidade de ―ser pior dentre os participantes de um
grupo expressa pelo falante ―BRU Em (518) o mesmo verbo indica que o falante expressa
a falta de habilidade (generalizada) de um conjunto de pessoas (marcado pelo uso impessoal
do pronome ―vocecirc) de cumprir uma determinada tarefa (―usar o celular) Por uacuteltimo em
(519) ―GIL reporta a necessidade de se consultar um grupo para que expressem sua
vontade A perspectiva levada em conta aqui eacute a do endereccedilado ―cecircs
O tipo dinacircmico expressa dois subvalores habilidadecapacidade e voliccedilatildeointenccedilatildeo
Palmer (2001 p 76) define duas categorias para a modalidade dinacircmica habilitativo e
volitivo De acordo com Palmer (2001 p 10) a categoria da habilidade ―tem que ser
interpretada mais amplamente do que em termos dos poderes fiacutesico e mental dos sujeitos para
incluir circunstacircncias que imediatamente os afetam (mas natildeo claro a permissatildeo
deocircntica)116
Abaixo a descriccedilatildeo de cada um dos subvalores
(c1) dynamic_ability O conceptualizador expressa a sua proacutepria habilidadecapacidade ou a
habilidadecapacidade de uma outra pessoa para realizar ou alcanccedilar algo
(520) CEL [85] elsquo nũ ltconsegue fazer isso nunca taacute meio de hhhgt [3]=SCA= lttaacute
de ladinhogt =COM=$ (bfamcv03)
116
No original ―has to be interpreted rather more widely than in terms of the subjectlsquos physical and mental
powers to include circumstances that immediately affect them (but not of course deontic permission
(PALMER 2001 p 10)
173
(521) CAR [150] porque ele ama =COB= ele chama ela de =SCA= fuminho
=COB= neacute =COB= meu pretinho =COB= papai nũ guumlenta carregar mais
=COB= mas =DCT= nũ guumlenta pegar mais =COB= porque taacute muito grande
=COB= mas eacute [1]=SCA= eacute essa eacute a histoacuteria =SCA= e eacute a vida =SCA= que
noacutes temos aqui em casa =COM=$ (bfammn05)
(c2) dynamic_volition O conceptualizador expressa as suas vontades desejos esperanccedilas e
intenccedilotildees
(522) REN [550] espero que eu natildeo tinha [1]=SCA= tenha perdido =COM=$
(bfamdl01)
Na tabela abaixo apresento em resumo os valores modais os subvalores a eles
associados e a definiccedilatildeo de cada um
Valores Subvalores Definiccedilatildeo
Epistecircmico
conhecimento
O conceptualizador (o falante ou uma outra entidade)
expressa o grau de conhecimento ou compreensatildeo sobre
algo
crenccedila O conceptualizador expressa a sua crenccedila ou sua
opiniatildeo sobre algo
possibilidade O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma
possibilidade
probabilidade O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma
probabilidade
necessidade O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma
necessidade
verificaccedilatildeo O conceptualizador expressa incerteza em relaccedilatildeo a um
estado-de-coisas evento ou atividade em foco
Deocircntico
obrigaccedilatildeo
O conceptualizador se vecirc obrigado ou obriga a si
mesmo a realizar uma atividade por uma determinada
razatildeo
permissatildeo O conceptualizador permite algueacutem ou a si mesmo a
fazer algo ou permite que algo aconteccedila
proibiccedilatildeo O conceptualizador proiacutebe algueacutem ou a si mesmo a
fazer algo ou proiacutebe que algo aconteccedila
necessidade O conceptualizador expressa suas necessidades ou a
necessidade de uma outra pessoa ou grupo
Dinacircmico
habilidade
O conceptualizador expressa a sua proacutepria
habilidadecapacidade ou a habilidadecapacidade de
uma outra pessoa para realizar ou alcanccedilar algo
voliccedilatildeo O conceptualizador expressa as suas vontades
necessidades desejos esperanccedilas e intenccedilotildees
Tabela 54 ndash Valores e subvalores modais e suas definiccedilotildees
174
533 Triggers Sources e Targets elementos a serem anotados
5331 Triggers
Os triggers satildeo as ―palavras ou sequecircncia de palavras que expressam modalidade
(BAKER et al 2010) Considero como triggers os verbos auxiliares e semi-auxiliares
modais os verbos epistecircmicos os adveacuterbios modais as expressotildees adjetivas as expressotildees
lexicais que carregam modalidade Para este esquema que proponho seratildeo anotados apenas os
iacutendices lexicais deixando de lado por ora os gramaticais
Como descrito no capiacutetulo 3 deste trabalho os iacutendices modais mais frequentes satildeo os
verbos auxiliares e semi-auxiliares (―poder ―dever ―ter que ―parecer ―precisar ―dar
―conseguir ―aguentar ―querer ―valer ―adiantar) bem como os verbos de crenccedila ou
espietecircmicos (―achar ―acreditar ―crer ―imaginar ―julgar ―pensar) verbos de
conhecimento e compreensatildeo (―saber ―ver ―perceber) Na nossa amostra ainda
encontramos os seguintes types para os adveacuterbios e as locuccedilotildees adverbiais ―certamente
―com certeza ―exatamente ―justamente ―logicamente ―mesmo ―na verdade ―oacutebvio
―potencialmente ―realmente ―sem chance ―sem duacutevida ―sinceramente ―talvez ―agraves
vezes e para os adjetivos e locuccedilotildees adjetivas ―capaz ―eacute capaz ―claro ―eacute claro ―eacute
loacutegico ―eacute verdade ―eacute verdadeira ―foi verdade ―loacutegico ―mais certo eacute que taacute
―verdade Ainda as expressotildees com valor modal ―era pra ―pode saber ―seraacute ―seraacute
que ―tem certeza ―tem chance ―tem condiccedilatildeo ―tem condiccedilotildees ―tem jeito ―tenho
certeza ―tinha condiccedilotildees ―tinha jeito
Para fins de anotaccedilatildeo levo em conta aqui apenas os iacutendices lexicais Natildeo seratildeo
anotados os marcadores morfoloacutegicos e gramaticais nem os itens que expressam
evidencialidade (cf definiccedilatildeo no capiacutetulo 2 desta tese) Desta forma natildeo estatildeo codificados os
marcadores de futuro perifraacutestico futuro do presente futuro do preteacuterito (com significado
condicional) o subjuntivo e as construccedilotildees condicionais117
A partir de agora apresento as regras para anotaccedilatildeo do trigger
117
Avalio que para a anotaccedilatildeo das construccedilotildees condicionais do tipo factual e contrafactual por exemplo um
sistema de anotaccedilatildeo deveria levar em conta natildeo apenas a sua epistemicidade mas tambeacutem um conjunto de
valores distintivos da factualidade dos eventos nos moldes do FactBank (cf SAURIacute PUSTEJOVSKY 2009)
que definem a factualidade de um evento como ―o niacutevel de informaccedilatildeo que expressa o comprometimento de
fontes relevantes em relaccedilatildeo agrave natureza factual de eventos mencionados no discurso (SAURIacute PUSTEJOVSKY
2009 p 231) O termo evento eacute tratado em termos amplos para designar tanto processos como estados bem
como outros objetos abstratos como proposiccedilotildees fatos e possibilidades Adicionar uma segunda camada de
anotaccedilatildeo de factualidade para a interpretaccedilatildeo de eventos eacute um dos objetivos para trabalhos futuros
175
A Se o trigger eacute
A1 um verbo auxiliar ou semi-auxiliar modal anota-se o verbo modalizador como trigger
(523) FLA [104] lthhh natildeo =INP= e a gente tem quegt pesar a bolsa de novo
=COM=$ (bpubcv01)
trigger tem que
(524) CAR [38] e =DCT= falei com Deus tambeacutem que eu nũ queria buscar
=COM_r (bfammn05)
trigger queria
Se o verbo modalizador estaacute em uma construccedilatildeo com os verbos auxiliares ser estar ou
terhaver anota-se apenas o modal
(525) [99] jaacute sofri o suficiente =COB_r= agora eu tocirc querendo relaxar =COM_r=$
trigger querendo
(526) [271] eu tocirc achando que vai ltchovergt =COM=$
trigger achando
A2 um adveacuterbio anota-se o adveacuterbio ou locuccedilatildeo adverbial como trigger
(527) LEO [247] lttalvez o Racinggt =COM=$ (bfamcv01)
trigger talvez
(528) [44] que agraves vezes a gente sente uma dor numa hora =COM=$ (bfamdl02)
trigger agraves vezes
A3 um adjetivo ou uma construccedilatildeo adjetival anota-se o adjetivo ou toda a expressatildeo
adjetival inclusive o auxiliar ―ser porque eacute parte do predicado nominal Apenas os adjetivos
com valor modal satildeo considerados neste esquema de anotaccedilatildeo uma vez que natildeo
consideramos como modais os ―avaliativos118
118
O esquema de anotaccedilatildeo para o portuguecircs europeu considera o valor ―Evaluation definido como ―[t]he
speaker expresses his or someone elselsquos evaluation of facts and propositions (HENDRICKX et al 2012a)
176
(529) PAU [146] capaz =COM=$ (bpubldl01)
trigger capaz
(530) JAE [84] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs =COM= uai =PHA=$
(bfamcv02)
trigger eacute loacutegico
A4 uma expressatildeo modal anota-se toda a expressatildeo inclusive se for o caso o verbo
suporte
(531) [64] esquenta =SCA= comida =CMB= ltyyyy =CMB= tem a possibilidade
de umgt monte de produto =COM= olsquo =CNT=$ (bfamdl01)
trigger tem a possibilidade
(532) LUZ [1] porque =DCT= eu soacute soube que eu nũ eu tive certeza absoluta que
eu nũ era daqui quando eu saiacute =COM=$ (bfamdl03)
trigger tive certeza absoluta
B O trigger natildeo inclui as partiacuteculas negativas119
A negaccedilatildeo eacute um fenocircmeno que interage
diretamente com a modalidade
(533) [16] nũ sei se eu jogo aiacute na trecircs =COB= nũ posso =COM=$ (bfamcv03)
trigger sei
C As preposiccedilotildees e conectivos natildeo satildeo incluiacutedos no trigger A uacutenica exceccedilatildeo eacute o verbo
semimodal ter que
(534) [108] e eu sei que ea devia =TOP= porque =SCA= amphe =TMT= foi
[1]=EMP= foi ampq [1]=SCA= nas veacutespera dlsquo eu vim embora =COM=$
trigger sei
(535) BAL [38] taacute vendo =CNT= a setinha tem que taacute no cento-e-dez =COM
(bfamdl02)
trigger tem que
119
No PB existem trecircs possibilidades de realizaccedilatildeo da negaccedilatildeo negaccedilatildeo simples preposta negaccedilatildeo simples
posposta e dupla negaccedilatildeo
177
(536) [80] e =DCT= teve que amputar as duas perna aqui =COB= hoje anda numa
cadeira de roda =COB= entatildeo a gente levava ela pra avoacute =COM=$
(bfammn05)
trigger teve que
D Se no trigger vier intercalada qualquer partiacutecula natildeo se considera esta palavra como parte
do trigger
(537) [81] porque eu nunca confundo letras com ltinformaacuteticagt =COB= nũ tem nem
como =COM=$ (bfamdl02)
trigger tem como120
E Quando uma unidade informacional ou um enunciado conteacutem mais de um trigger anota-se
cada um dos triggers separadamente
(538) [169] vatildeogt vatildeo =CNT= lteu acho que tem que ser essesgt =COM=$
(bfamcv01)
trigger acho
target tem que ser esses
trigger tem que
target ser esses
(539) [220] e nũ pode falar e nũ pode ltapontar o bagulhogt =COM=$ (bfamcv04)
trigger poder
target falar
trigger pode
target apontar o bagulho
F Quando um trigger estaacute em unidade de escansatildeo (SCA) anota-se a unidade da qual ela
herda as propriedades121
120
Utilizo o sinal ― para marcar sequecircncias natildeo-contiacutenuas Como proceder agrave anotaccedilatildeo de sequecircncias
descontiacutenuas com o software MMAX2 ver a seccedilatildeo 5313 deste capiacutetulo item (b4) 121
A unidade de escansatildeo constitui partes tonais diferentes de uma mesma unidade informacional Ela introduz a
unidade informacional que escande (escansatildeo agrave esquerda) de maneira que a parte final da UI escandida
especifica a funccedilatildeo informacional do todo
178
(540) [33] entatildeo assim =INT= espero que =SCA= isso nũ seja =SCA= coisa pros
times que jogam com a gente deixar de jogar com a gente =COM= $
(bfamcv01)
trigger espero
IU COM
(541) EVN [134] acho ltque a gentegt tem =SCA= que olhar direito =COM=$
(bfamcv02)
trigger tem que
IU COM
G Se um trigger estiver expresso em uma unidade de Apecircndice de Comentaacuterio (APC) ou no
Apecircndice de Toacutepico (APT) seja como uma repeticcedilatildeo de um iacutendice expresso no Comentaacuterio
ou Toacutepico ou como informaccedilatildeo atrasada quer dizer quando se adiciona informaccedilatildeo para
facilitar a compreensatildeo do enunciado pelo endereccedilado anota-se a unidade de Comentaacuterio ou
Toacutepico do qual eacute dependente
(542) [4] ele nũ eacute muito parente chegado natildeo =COB= mas ampt [1]=SCA= deve ser
=SCA= primo [1]=EMP= primo quarto =COM= por aiacute =PAR= deve ser
=APC=$ (bfammn01)
trigger deve
IU COM (APC como ―eco)
(543) [157] distancia =COM= que es queria ltcolocargt =APC=$ (bpubcv02)
trigger queria
IU COM (APC como ―informaccedilatildeo atrasada)
Como o trigger eacute o componente central na expressatildeo modal atribui-se as
especificaccedilotildees do tipo de modalidade a ele Especifica-se para cada trigger as seguintes
caracteriacutesticas
(a) valor modal (modal valuelsquo)
(b) polaridade (polarity‟)
(c) iacutendice de modalidade (polarity_cuelsquo)
(d) unidade informacional em que estaacute contido (―IU)
179
A polaridade (polarity‟) eacute o componente usado para marcar se haacute uma negaccedilatildeo
agindo sobre o valor modal Os valores atribuiacutedos a este traccedilo satildeo ―positivo e ―negativo O
iacutendice de polaridade (―polarity_cue) eacute um campo ―freetext isto eacute um campo em que se
pode digitar qualquer informaccedilatildeo desejada neste caso identificar a palavra ou palavras que
expressam a polaridade que afeta o trigger
Uma unidade informacional pode coincidir com um enunciado ou apenas ser uma
parte dele Cada unidade cumpre uma funccedilatildeo textual ou dialoacutegica As unidades
informacionais textuais que podem conter um trigger satildeo o Comentaacuterio (COM) Comentaacuterio
Muacuteltiplo (CMM) Comentaacuterio Ligado (COB) o Toacutepico (TOP) o Parenteacutetico (PAR) e o
Introdutor Locutivo (INT)122
Como os textos do minicorpus alimentados no MMAX2 natildeo
contecircm a anotaccedilatildeo da estrutura informacional para a anotaccedilatildeo deste traccedilo eacute necessaacuteria a
utilizaccedilatildeo da plataforma DB-IPIC (Database of Information Pattern of Italian C-ORAL-
ROM)123
uma plataforma de busca disponiacutevel gratuitamente composta de
(i) um corpus da seccedilatildeo informal do C-ORAL-ROM italiano com 124735
palavras e 74 sessotildees gravadas
(ii) um minicorpus da seccedilatildeo informal do C-ORAL-ROM italiano com 32589
palavras e 20 sessotildees para comparaccedilatildeo interlinguiacutestica com o minicorpus
brasileiro
(iii) um minicorpus da seccedilatildeo informal do C-ORAL-BRASIL com 31464 palavras
e 20 sessotildees
Os arquivos estatildeo divididos por enunciados e para cada enunciado aleacutem da
transcriccedilatildeo estatildeo disponiacuteveis o arquivo de som a anotaccedilatildeo da estrutura informacional e a
anotaccedilatildeo de PoS
122
Excepcionalmente a unidade de Apecircndice de Comentaacuterio (APC) pode conter um iacutendice modal Esta unidade
integra o texto do Comentaacuterio e conclui o enunciado Eacute dependente da unidade informacional de Comentaacuterio
Para a anotaccedilatildeo das ocorrecircncias do trigger nesta unidade ver regra ―G desta seccedilatildeo 123
Disponiacutevel em httplablitaditunifiitappdbipicindexphp Uacuteltimo acesso 01 dez 2013
180
5332 Sources
Uma sourcelsquo eacute definida em sentido amplo como ―um agente ou uma organizaccedilatildeo
que toma uma atitude em relaccedilatildeo a um evento em uma sentenccedila124
(MATSUYOSHI et al
2010 p 1459) Vaacuterios estudos levam em consideraccedilatildeo este componente em suas anaacutelises tais
como Bethard et al (2004) Breck amp Cardie (2004) Choi et al (2005) Wiebe et al (2005)
Rubin et al (2005) Prasad et al (2007) Sauriacute e Pustejovsky (2007) Inui et al (2008) Baker
et al (2010) Wiebe et al (2005) em seu trabalho sobre a anotaccedilatildeo de opiniotildees emoccedilotildees e
outros estados privados consideram a source do evento de fala isto eacute o falante ou escritor a
source do estado privado isto eacute a source cujo estado privado estaacute sendo expresso e apontam
o aninhamento de sources uma propriedade que reflete o fato de que eventos e estados
privados podem estar encaixados um no outro
De acordo com Matsuyoshi et al (2010 p 1459) a source eacute um importante traccedilo da
modalidade estendida porque ―[esta] informaccedilatildeo ajuda o leitor a julgar a credibilidade dos
conteuacutedos expressos em uma determinada sentenccedila125
O esquema desenvolvido para o portuguecircs europeu (HENDRICX et al 2012a 2012b)
anota a source of the event mention (o falante ou o produtor do evento) e a source of the
modality (a quem a modalidade eacute atribuiacuteda) Segundo os autores a decisatildeo de anotar duas
sources se deve agrave necessidade de se distinguir entre aquele que produz a sentenccedilalsquo e aquele
que expressa a modalidadelsquo Em muitas ocorrecircncias estes dois elementos satildeo coincidentes
mas natildeo necessariamente este eacute o caso como em ―Os portugueses necessitam em meacutedia de
180 contos por mecircs para a manutenccedilatildeo de uma famiacutelia de quatro pessoas Neste exemplo ―Os
portugueses eacute a entidade com a necessidade interna disparada pelo verbo ―necessitar O
produtor do evento natildeo estaacute expliacutecito aqui e assume-se que eacute o produtor da sentenccedila
Inspirada neste uacuteltimo trabalho e ciente dos diferentes niacuteveis de concepualizaccedilatildeo na
expressatildeo da modalidade utilizo as mesmas categorias para o esquema proposto aqui
53321 Source of the event mention
A source of the event mention eacute o produtor do evento
124
No original ―an agent or an organization that takes an attitude toward an event mention in a sentence
(MATSUYOSHI et al 2010 p 1459) 125
Traduccedilatildeo para ―[this] information helps a reader judge credibility of contents conveyed from a given
sentence (MATSUYOSHI et al 2010 p 1459)
181
A O produtor eacute normalmente o falante que enuncia um determinado conteuacutedo locutoacuterio
B A pessoa que produz o evento modal pode ser identificada no texto como a palavra em
caixa alta no iniacutecio de cada enunciado
(544) CAR [98] lteugt consigo =COM= neacute =PHA=$ (bfamcv03)
trigger consigo
modal value dynamic_ability
polarity pos
IU COM
source of the event mention CAR
(545) JAN [291] na verdade eu queria levar as duas =COM= neacute =PHA=$
(bpubdl02)
trigger na verdade
modal value epistemic_belief
polarity pos
IU COM
source of the event mention JAN
(546) EMM [79] esperamos ltque essegt novo programa ltquegt vai vim =TOP= ele
=TOP=$ (bpucv01)
trigger esperamos
modal value dynamic_volition
polarity pos
IU TOP
source of the event mention EMM
53322 Source of the modality
A source of the modality eacute o agente experenciador ou cognoscente que veicula a
modalidade
As sources correspondentes a cada um dos valores modais satildeo assim descritas
182
Valores Subvalores Source
Epistecircmico
conhecimento
O conceptualizador (o falante ou uma outra entidade)
que expressa o grau de conhecimento ou compreensatildeo
sobre algo
crenccedila O conceptualizador que expressa a sua crenccedila ou sua
opiniatildeo sobre algo
possibilidade O conceptualizador que apresenta o que enuncia como
uma possibilidade
probabilidade O conceptualizador que apresenta o que enuncia como
uma probabilidade baseado em alguma evidecircncia
necessidade
O conceptualizador que apresenta o material enunciado
como uma necessidade baseado em conhecimento
anterior
verificaccedilatildeo O conceptualizador que expressa incerteza em relaccedilatildeo a
um estado-de-coisas evento ou atividade em foco
Deocircntico
obrigaccedilatildeo
O conceptualizador que obriga algueacutem se vecirc obrigado
ou obriga a si mesmo a realizar uma atividade por uma
determinada razatildeo
permissatildeo O conceptualizador que permite algueacutem ou a si mesmo
a fazer algo ou permite que algo aconteccedila
proibiccedilatildeo O conceptualizador que proiacutebe algueacutem ou a si mesmo a
fazer algo ou proiacutebe que algo aconteccedila
necessidade O conceptualizador que expressa suas necessidades ou
a necessidade de uma outra pessoa ou grupo
Dinacircmico
habilidade
O conceptualizador que expressa a sua proacutepria
habilidadecapacidade ou a habilidadecapacidade de
uma outra pessoa para realizar ou alcanccedilar algo
voliccedilatildeo O conceptualizador que expressa as suas vontades
necessidades desejos esperanccedilas e intenccedilotildees
Tabela 55 ndash Sources correspondentes a cada valor e subvalor modais
As regras para a source of the modality satildeo as seguintes
A A source of the modality e a source of the event mention satildeo normalmente coincidentes
(547) LUI [53] eu quero fazer o proacuteximo campeonato no Arnaldinum =CMM= e
foda-se ltpro seu Joaquimgt =CMM=$ (bfamcv01)
trigger quero
modal value dynamic_volition
polarity pos
IU CMM
source of the event mention LUI
source of the modality eu
183
(548) GIL [74] que eu acho que deu muito pau =COM= nessa taccedila =APC=$
(bfamcv01)
trigger acho
modal value epistemic_belief
polarity pos
IU COM
source of the event mention GIL
source of the modality eu
(549) GIL [94] a gente podia fazer a taccedila aqui =COB= todo mundo vai adorar
=COB= e tal =COM=$ (bfamcv01)
trigger podia
modal value epistemic_possibility
polarity pos
IU COB
source of the event mention GIL
source of the modality A gente
B Casos difiacuteceis
1 Se a source of the modality natildeo estaacute expliacutecita anota-se
(a) o falante se coincidir com ele ou com o grupo em que estaacute inserido
(550) TIQ [227] deve ser da =SCA= ltda irmatildegt Geni =COM= ltneacutegt =PHA=$
(bpubcv02)
trigger deve
modal value epistemic_probability
polarity pos
IU COM
source of the event mention TIQ
source of the modality TIQ
(551) REN [136] sabatildeo em poacute nũ precisa natildeo =COM= neacute =PHA=$
trigger precisa
modal value deontic_necessity
polarity pos
IU COM
source of the event mention REN
source of the modality REN