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Universidade Federal de Ouro Preto Instituto de Ciências Exatas e Biológicas Departamento de Biodiversidade, Evolução e Meio Ambiente Programa de Pós-Graduação Ecologia de Biomas Tropicais Ecologia de Discocactus pseudoinsignis e Discocactus placentiformis simpátricos e endêmicos da Serra do Espinhaço, MG, Brasil. Rodrigo Assunção da Silveira Ouro Preto 2015

Universidade Federal de Ouro Preto Instituto de Ciências ...‡ÃO... · A Deus, por ter me permitido ... Carlos Humberto da Silveira e meu irmão Camilo Assunção da Silveira,

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Universidade Federal de Ouro Preto

Instituto de Ciências Exatas e Biológicas

Departamento de Biodiversidade, Evolução e Meio Ambiente

Programa de Pós-Graduação Ecologia de Biomas Tropicais

Ecologia de Discocactus pseudoinsignis e Discocactus

placentiformis simpátricos e endêmicos da Serra do Espinhaço,

MG, Brasil.

Rodrigo Assunção da Silveira

Ouro Preto

2015

Rodrigo Assunção da Silveira

Ecologia de Discocactus pseudoinsignis e Discocactus placentiformis

simpátricos e endêmicos da Serra do Espinhaço, MG, Brasil.

Dissertação apresentada ao Curso de

Mestrado em Ecologia de Biomas

Tropicais da Universidade Federal de

Ouro Preto, como parte dos requisitos

para obtenção do título de Mestre em

Ecologia.

Orientadora: Profª Drª Yasmine

Antonini

Co-orientadora: Drª Reisla Oliveira

Ouro Preto

2015

S587e Silveira, Rodrigo Assunção da.

Ecologia

deDiscocactuspseudoinsigniseDiscocactusplacentiformissimpátricose

endêmicos da Serra do Espinhaço, MG, Brasil [manuscrito] /

Rodrigo Assunção da Silveira. - 2015. 68f.: il.: color;grafs;tabs; mapas.

Orientadora: Profa. Dra.

YasmineAntonini. Coorientadora: Profa.

Dra.ReislaOliveira.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Instituto

de Ciências Exata e Biológicas. Departamento de Biodiversidade,

Evolução e Meio Ambiente. Programa de Pós-Graduação Ecologia de Biomas Tropicais. Área de Concentração: Ecologia.

1.Discocactus. 2. Endemias. 3. Espinhaço, Serra do (MG e BA).

I.Antonini, Yasmine. II. Oliveira,Reisla. III. Universidade Federal de

Ouro Preto. IV. Titulo.

CDU: 591.9:616.9

Catalogação: www.sisbin.ufop.br

AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me permitido viver a experiência incrível que tive nesses dois anos e de

conhecer todas as pessoas listadas abaixo.

A toda a minha amada família, especialmente minha mãe, Áurea Matos Assunção, meu pai

Carlos Humberto da Silveira e meu irmão Camilo Assunção da Silveira, pela compreensão,

apoio e incentivo.

À Adenice, pelo carinho, dedicação e amor que não diminuíram com a distância, além do

companheirismo no campo suportando noites inteiras na esperança de ver alguma mariposa

apaixonada pela flor do Discocactus.

Á Fapemig pela bolsa de mestrado concedida e ao apoio financeiro (APQ 00907-12).

Agradeço muito a todos do Laboratório de Biodiversidade que me ajudaram bastante no

campo: Ricardo, Brehna, Ana Laura, Gustavo, Nathália, Luana, Rafael e Renzo.

Agradeço a onça por não ter atacado a mim e ao Ricardo.

Á minha co-orientadora Reisla Oliveira pelos conselhos teóricos e além do auxílio no campo.

Agradeço muito a minha incansável orientadora, Yasmine Antonini, que esteve comigo na

maioria dos trabalhos de campo, me auxiliando sempre, tanto na prática quanto na teoria, para

a realização deste trabalho.

Ao meu auxiliar de campo com pós doutorado Sisenando Itabaiana pela ajuda no campo.

À Graziella pela ajuda com as análises estatística.

Ao Tonhão pela disponibilidade do Parque Estadual do Rio Preto permitindo desfrutar das

mais belas paisagens que já conheci.

Aos funcionários do Parque que me auxiliaram bastante.

E ao Discocactus que apesar dos dedos furados, me proporcionou muitas emoções.

Sumário Resumo ................................................................................................................................................... 1

1. Introdução .......................................................................................................................................... 2

2. Objetivo Geral ................................................................................................................................... 7

2.1. Objetivos específicos................................................................................................................... 7

3. HIPÓTESES ...................................................................................................................................... 7

4. Materiais e Métodos .......................................................................................................................... 8

4.1 Local de estudo ............................................................................................................................ 8

4.2 Espécies estudadas ..................................................................................................................... 10

4.3 Habitat ........................................................................................................................................ 11

4.4 Morfologia e Biologia floral ...................................................................................................... 11

4.5 Fenologia .................................................................................................................................... 12

4.6 Biologia Reprodutiva ................................................................................................................ 13

4.7 Germinação de sementes ........................................................................................................... 14

4.8 Visitantes Florais ....................................................................................................................... 14

4.9 Dispersão de sementes ............................................................................................................... 15

4.10 Densidade e Estrutura etária .................................................................................................. 16

5. RESULTADOS ................................................................................................................................ 16

5.1 Morfologia e Biologia floral ...................................................................................................... 16

5.2 Fenologia .................................................................................................................................... 22

5.3 Biologia Reprodutiva ................................................................................................................ 26

5.4 Germinação de sementes ........................................................................................................... 30

5.5 Visitantes florais ........................................................................................................................ 32

5.6 Dispersão de sementes ............................................................................................................... 34

5.7 Densidade Estrutura etária ...................................................................................................... 37

6. Discussão .......................................................................................................................................... 39

6.1 Fenologia .................................................................................................................................... 39

6.2 Morfologia e Biologia floral ...................................................................................................... 41

6.3 Sistema Reprodutivo ................................................................................................................. 45

6.4 Germinação de sementes ........................................................................................................... 47

6.5 Dispersores de sementes ............................................................................................................ 50

6.6 Densidade demográfica e Estrutura etária ............................................................................. 51

7. Conclusão: ........................................................................................................................................ 53

8. Referências bibliográficas: ............................................................................................................. 54

1

Resumo

Estudos sobre a ecologia de espécies de cactáceas são bem raros no Brasil, considerando o

grande número de espécies que aqui ocorrem. Informações sobre fenologia, biologia

reprodutiva e distribuição espacial são importantes para subsidiar os planos de conservação

dessas espécies. Nesse trabalho são descritos aspectos relacionados a história de vida, como

biologia floral e reprodutiva, fenologia, germinação de sementes e estrutura etária de

Discocactus placentiformis e D. pseudoinsignis, que ocorrem em simpatria e sintopia no

Parque Estadual do Rio Preto, Minas Gerais. Os estudos foram conduzidos entre março de

2013 a dezembro de 2014. As duas espécies florescem simultaneamente e com maior

intensidade entre setembro e novembro, principalmente nos períodos de maior precipitação. A

biologia e morfologia florais confirmam a síndrome de esfingofilia. Ambas espécies são

auto-incompatíveis sendo a fecundação cruzada realizada primariamente pelos esfingídeos

Callionima parce, Nyceryx sp e Manduca dalia anthina. Discocactus placentiformis quando

ocorre em sintopia com D. pseudoinsignis apresenta performance reprodutiva melhor do que

quando ocorre isoladamente. A taxa de frutificação é baixa devida ao alto nível de predação

dos frutos. No entanto, o sucesso reprodutivo de ambas espécies é compensado pelas altas

taxas de germinação de sementes. As sementes são dispersas por formigas Camponotus sp1 e

Dorymyrmex sp e a polpa dos frutos é consumida por formigas Monomorium sp, Camponotus

sp2 e Cephalotes sp. O padrão espacial das espécies de Discocactus é agregado com

proporção de plântulas e indivíduos juvenis quase igual à de adultos.

2

1. Introdução

A família Cactaceae, com mais de 2000 espécies (Zappi et al. 2011), representa a

segunda em ordem de tamanho entre as plantas vasculares endêmicas das Américas. No

continente americano as Cactaceae possuem quatro principais centros de diversidade dos

quais México e Estados unidos são os mais significativos (Oldfield 1997). O terceiro centro

de diversidade, em termos de importância, situa-se no leste do Brasil (região nordeste e a

maioria do Sudeste, excluindo o sul do Rio de Janeiro e São Paulo) ou Brasil oriental, uma

região ampla mas separada das outras áreas de diversidade da família devido a extensas áreas

ecologicamente inadequadas ao estabelecimento da maioria dos membros das Cactaceae,

primariamente distribuídas em zonas áridas.

A família Cactaceae está dividida atualmente em quatro subfamílias (Anderson 2001):

Cactoideae que agrupa a maioria das espécies que podem ser classificadas em globular e

colunar; Opuntioideae que inclui as espécies com “palmas” livres de espinhos ou com

espinhos farpados; Pereskioideae que representa um grupo com as características mais

primitivas, apresentando folhas e Maihuenioideae caracterizada por apresentar folhas

pequenas e persistentes.

Além da ampla distribuição, as espécies dessa família apresentam grande variedade de

formas e tamanhos (formas simples, ramificada, globosa, colunares, epífita e até mesmo

subterrânea) (Anderson 2001). Essa variabilidade morfológica, na combinação de formas,

tamanho e número de costelas (estriamento do caule fotossintetizante), pode ter sido

importante para as linhagens ancestrais (Mauseth 2000, Luttge 2004, Arakaki et al. 2011),

com ocupação e expansão dos núcleos áridos no leste do Brasil (Velloso et al. 2002).

3

Além de servir de fonte de alimento e água para animais em regiões secas, os cactos

são cada vez mais utilizados como produto agrícola e ornamental nos países com condições

climáticas e de solo favoráveis ao cultivo destas plantas (Nassar et al, 2007). Espécies de

Cactaceae tem importância no tratamento de várias doenças com atividades antioxidantes,

antibióticas e, principalmente, citotóxicas e preventivas em linhagens de células cancerígenas

de cobaias (Tan et al. 2005, Abdelwahab 2013, Harlev et al. 2013).

O gênero Discocactus Pfeiff. (Trichocereae) é formado por plantas com hábito

globoso-achatado ou discóide, onde a região florífera é diferenciada em um cefálio (região

onde as aréolas são dispostas de forma mais compacta, sendo reprodutivamente ativas)

posicionado no ápice do caule, de onde emergem flores noturnas, brancas e frutos com

deiscência lateral. O gênero Discocactus tem sido associado ao gênero Melocactus Link &

Otto (Cereae), por ambos apresentarem hábito globoso e desenvolverem um cefálio terminal.

Porém, o cefálio de Melocactus difere do Discocactus por ser mais cerdoso e desenvolvido,

além de apresentar flores diurnas e vermelhas e de possuir frutos indeiscentes.

Taylor & Zappi (2004) posicionam o gênero Discocactus na subfamília Cactoideae

inserido na tribo Trichocereae, próximo ao gênero Gymnocalycium Pfeiff. ex Mittler. As

espécies do gênero Discocactus são endêmicas da Cadeia do Espinhaço, especificamente da

porção inserida em Minas Gerais (Taylor & Zappi 2004), onde metade das espécies de

Discocactus está presente (Gontijo 2008).

Outros gêneros de Cactaceae também são exclusivos do Espinhaço, como Cipocereus

Ritter, algumas espécies de Pilosocereus Byles & Rowley (Pilosocereus fulvilanatus (Buining

& Brederoo) Ritter e P. aurisetus (Werderm.) Byles & G.D.Rowley) e todas as espécies do

gênero Uebelmannia que são endêmicas do Planalto da Diamantina – MG (Schulz e Machado

2000).

4

Todas as espécies de Discocactus estão ameaçadas de extinção em maior ou menor

grau, devido ao reduzido número de populações conhecidas para cada espécie, o tamanho em

geral pequeno destas populações, e especificidade de hábitat fazendo com que as populações

ocorram em áreas bastante restritas. Estes fatores tornam as populações de Discocactus

extremamente vulneráveis à modificação e destruição de seu hábitat e à coleta de plantas para

satisfazer o comércio de plantas ornamentais. Como resultado, todas as espécies do gênero

encontram-se na listagem da Convenção Internacional sobre o Comércio de Espécies

Silvestres (CITES) (Lüthy 2001).

Estudos relacionados à biologia floral e reprodutiva de Cactaceae perfazem menos de

10% das 162 espécies ocorrentes no Brasil. A grande variedade de caracteres florais, como

forma, cor, tamanho, odor, duração da antese e posição das partes florais, indicam polinização

por vários agentes bióticos (Hunt & Taylor 1990, Locatelli et al. 1997, Aona et al. 2006;

Rocha 2007). A família é predominantemente zoófila (Locatelli & Machado 1999) e seus

polinizadores são insetos como abelhas (Grant & Grant 1979, Gibson & Nobel 1986,

Schlindwein & Wittman 1995), mariposas (Petit 1997, Locatelli et al. 1997, 1999) e

vertebrados, como aves (Raw 1996, Sahley 1996, Fleming et al. 2001) e morcegos (Nassar et

al. 1997, Valient-Banuet et al. 1996, 1997a, b, Fleming et al. 2001, Molina-Freaner et al.

2004).

Algumas espécies globosas como Melocactus, apresentam flores pequenas, possuindo

2/3 ou mais de seu comprimento dentro do cefálio, com antese diurna, abrindo a tarde e

fechando no crepúsculo, com flores vermelhas indicando adaptação à ornitofilia (Nassar &

Ramírez 2004), mas também outros polinizadores visitam as flores como os lagartos de

Melocactus ernestii Vaupel subsp. ernestii (Gomes et al. 2013).

Apesar de Discocactus zehntneri subsp. boomianus apresentar flores pequenas

inseridas em parte dentro do cefálio como no gênero Melocactus e a antese noturna suas

5

flores são brancas, indicando adaptação à esfingofilia, além de relatos de serem também

visitadas por coleópteros (Oliveira, 2009).

Devido à grande variedade de características florais e de frutos, perturbações nas

comunidades de Cactaceae podem afetar a disponibilidade de recursos energéticos a vários

agentes biológicos (Zappi et al. 2011). Para se estabelecer medidas efetivas de conservação e

manejo das cactáceas, além de estudos de biologia reprodutiva, informações sobre a fenologia

e demografia e distribuição espacial são fundamentais.

As plantas possuem ritmos fenológicos próprios que podem ser ativados com

determinadas condições ambientais. Assim, variações no padrão climático interferem no

desenvolvimento da floração e da frutificação (Hamann, 2004). Estudos relacionados à

fenologia das cactáceas são de grande importância para entender quando e com qual

intensidade os eventos de floração e frutificação ocorrem, e permite entender a organização

temporal dos recursos vegetais disponíveis para polinizadores e dispersores que dependem

deles para alimentação (Morellato & Leitão-Filho 1992, Costa 2003).

A demografia é a base para o entendimento da dinâmica populacional e história de

vida das espécies (Silvertown et al. 1993). Cactaceae inclui espécies de vida longa que

habitam áreas secas tropicais, mal representados na literatura demográfica. Os estudos

demográficos e de distribuição espacial são elementos importantes para a conservação, como

instrumentos analíticos úteis para o entendimento de como o tamanho das populações afeta a

probabilidade de extinção.

Em locais favoráveis, as espécies encontram condições climáticas e ecológicas ótimas

para germinação, estabelecimento e reprodução. Estas condições acabam por determinar o

padrão de distribuição em geral agregado dos indivíduos nas populações de Cactaceae

(Godínez-Álvarez et al. 2003, Clark-Tapia et al. 2005, Oliveira et al. 2007, Oliveira 2009,

Hughes et al. 2011, Suzán-Azpiri et al. 2011, Barbosa et al. 2013).

6

Espécies congenéricas e simpátricas tendem a apresentar diversos mecanismos de

isolamento reprodutivo que visam impedir o fluxo gênico interespecífico. Tais mecanismos

podem ser pre-zigóticos (e.g. diferença na forma de vida, divergência no período de floração,

barreiras no gineceu que impedem a germinação do grão de pólen e crescimento do tubo

polínico) ou pós-zigóticos (e.g. impedimento na formação de sementes, formação de híbridos

inviáveis). Na natureza, espécies simpátricas geralmente combinam estes dois tipos de

barreiras reprodutivas (Sigrist & Sazima 2014).

Em ambientes sazonais, espécies simpátricas muitas vezes florescem simultaneamente

(Ollerton et al. 2003), o que eventualmente pode gerar partilha de visitantes florais e

polinizadores. Supõe-se que espécies de plantas que compartilham visitantes possam enfrentar

concorrência interespecífica, resultando na redução das visitas às unidades de polinização,

desperdício do pólen e/ou redução da área estigmática com pólen interespecífico (Waser

1978). Esta interferência deverá ser maior entre espécies que também compartilham

semelhanças na morfologia floral (Armbruster et al. 1994).

Em alguns casos, efeitos positivos podem ser fortes o suficiente para compensar

quaisquer efeitos negativos da concorrência, resultando num efeito benéfico de uma espécie

de planta sobre uma outra. Facilitação poderia ocorrer se a apresentação de flores pelas

primeiras espécies atraísse polinizadores para a vizinhança da segunda espécie (Schemske

1981, Laverty 1992).

Estudos realizados no Brasil e em outros países indicam que táxons relacionados de

Cactaceae, especialmente táxons irmãos, são raramente simpátricos e sugerem que a

especiação na família ocorreu por meio de alopatria na maioria dos casos, com exceção das

espécies encontradas no Rio Grande do Sul (ex. Parodia ottonis sensu lato) (Zappi et al.

2011).

7

Dessa forma, estudos que incluam dados sobre fenologia, biologia reprodutiva,

distribuição espacial são importantes para fornecer subsídios para os planos de conservação

dessas espécies.

2. Objetivos Gerais

Descrever aspectos relacionados a história de vida, como biologia floral e reprodutiva,

fenologia, germinação de sementes e estrutura etária de Discocactus placentiformis e D.

pseudoinsignis que ocorrem em simpatria e sintopia no Parque Estadual do Rio Preto, Minas

Gerais.

2.1. Objetivos específicos

1- Descrever as características florais das duas espécies.

2- Descrever o comportamento fenológico das duas espécies.

3-Caracterizar a biologia reprodutiva das duas espécies.

4- Determinar quais são os visitantes florais, polinizadores e dispersores de sementes.

5- Descrever a estrutura etária das populações das duas espécies.

6- Verificar se existe diferença no sucesso reprodutivo das espécies em sintopia e simpatria.

3. HIPÓTESES

Foram testadas as seguintes hipóteses:

(1) As fenofases das duas espécies de Discocactus se correlacionam positivamente

com a precipitação.

8

(2) Visitantes florais diurnos e noturnos diferem quanto a sua contribuição na

reprodução de Discocatus.

(3) Floração sincrônica de Cactos interespecíficos em populações sintópicas atraem

mais visitantes florais e produzem mais frutos que os de populações isoladas.

(4) O padrão de associação intra-específico (plântulas-juvenis vs. adultos) é similar ao

encontrado para outras espécies de cactus globulares.

4. Materiais e Métodos

4.1 Local de estudo

Figura 1. Localização das áreas de estudo de D. placentiformis (áreas 1, 2, 3, 4 e 5) e D.

pseudoinsignis (áreas 1, 2 e 3) no Parque Estadual do Rio Preto, MG, Brasil.

9

O estudo foi realizado no período de março de 2013 a dezembro de 2014, no Parque

Estadual do Rio Preto (PERP) (18º07’12,9”S, 43º20’36,9”W) (Figura 1). O PERP possui uma

área de 12.185 hectares e está localizado na porção sul da Cadeia do Espinhaço, em Minas

Gerais. As formações vegetais da área incluem porções de Cerrado com a presença de

formações campestres e savânicas, além de floresta estacional semidecidual nas vertentes de

rios e córregos. Suas altitudes variam entre 750 e 1825 m. O clima da região é caracterizado

como mesotérmico, do tipo Cwb de acordo com a classificação de Köppen, com verões

amenos e com estação úmida ocorrendo de outubro a março e a seca de abril a setembro

(Figura 2). A precipitação pluviométrica média foi de 100,9 mm na estação úmida e 11,1 mm

na estação seca com temperatura média anual em torno dos 20,6 ºC durante o ano de 2014 de

acordo com dados obtidos da estação meteorológica instalada no Parque.

Figura 2. Precipitação acumulada mensal, temperaturas mensais máximas

e mínimas em 2014 no Parque Estadual do Rio Preto, MG.

10

4.2 Espécies estudadas

O gênero Discocactus pertence à subfamília Cactoideae, tribo Trichocereae e engloba

seis espécies (Taylor & Zappi 2004). As plantas do gênero são globosas a discoides, com

espinhos recurvos e região florífera diferenciada em um cefálio posicionado no ápice do caule

de onde emergem flores noturnas, brancas, tubulosas e longas e o fruto é globoso, branco,

rosa ao vermelho brilhante quando maduro, nu, levemente carnoso (Taylor & Zappi 2004).

Discocactus placentiformis (Lehmann) K. Schumann (Figura 3A) e Discocactus

pseudoinsignis (Figura 3B) ocorrem em Minas Gerais, Brasil, restritos a Cadeia do

Espinhaço, ocorrendo em áreas com rochas areníticas, quartzo, areia e cascalho (Taylor &

Zappi, 2004). Suas flores são infundibuliformes e os frutos são globosos, de coloração

geralmente branca (Taylor & Zappi 2004). Ambas espécies Discocactus estão listados no

Apêndice I da CITES (Taylor & Zappi 2004)

Figura 3. Discocactus placentiformis (Lehmann) K. Schumann (A) e Discocactus

pseudoinsignis N.P. Taylor & Zappi (B), em solos rasos arenosos no Parque Estadual do Rio

Preto MG.

A

A

B

11

4.3 Habitat

As populações de Discocactus placentiformis ocorrem em solos compostos por

mosaicos de afloramentos rochosos contínuos (os lajedos) em solos rasos arenosos (Figura 4).

Figura 4. Discocactus placentiformis em afloramentos rochosos (A) e solos rasos pedregosos

(B) do Parque Estadual do Rio Preto MG.

Na área de estudo existe uma população de D. pseudoinsignis ocorrendo em manchas

de solo arenoso, separadas por “ilhas” de vegetação densa. Em algumas dessas manchas

ocorre em sintopia com D. placentiformis (Áreas 1 à 3, Figura 1). Este por sua vez, apresenta

ainda duas populações (Áreas 4 e 5, Figura 1) ocorrendo isoladamente em simpátria com D.

pseudoinsignis. Assim na área de ocorrência de D. pseudoinsignis delimitamos três áreas de

amostragem (Áreas 1 à 3). Para o D. placentiformis os estudos foram feitos na área 2, (onde

eles ocorrem juntos com D. pseudoinsignis) e na área 4 (onde ocorrem isoladamente).

4.4 Morfologia e Biologia floral

Foram mensuradas 27 flores de oito indivíduos de Discocactus placentiformis e 29

flores de sete indivíduos de Discocactus pseudoinsignis fixadas em FAA 70% de acordo com

Nassar e Ramirez (2004). Foram tomadas medidas do comprimento da flor da base do ovário

ao ápice das tépalas; profundidade da câmara de néctar; o número e o comprimento dos

A

A

B

12

lóbulos do estigma e dos estames com o auxílio de paquímetro digital e estereomicroscópio

óptico. Em campo, foram observados coloração, odor, horário de antese e duração das flores.

O teste de receptividade do estigma foi realizado utilizando peróxido de hidrogênio a 10%,

em diferentes horários durante a pré-antese, antese total e senescência das flores previamente

ensacadas seguindo o método de Kearns & Inouye (1993).

Modelos lineares generalizados (GLM) foram utilizados para avaliar se existe

diferença entre as características florais tamanho da corola, do estilete, do estame, da câmara

nectarífera e do número de estames entre as duas espécies e entre as populações.

Para estimar a produção de néctar, foram utilizadas 29 flores previamente ensacadas,

de 7 indivíduos de cada espécie. O néctar foi extraído usando microseringa (para determinar o

volume) e a concentração foi medida com um refratômetro. Além disso foi estimada a

reposição do néctar com a retirada do volume total a cada duas horas das 18h às 5h do dia

seguinte. O volume total acumulado também foi avaliado em 71 flores ensacadas em antese,

de 24 indivíduos. GLM foram utilizados para avaliar se volume e concentração do néctar

diferem entre as populações.

4.5 Fenologia

Os estudos sobre a fenologia de ambas as espécies se iniciaram em fevereiro de 2013 e

em cada uma das cinco áreas, 400 indivíduos de cada espécie foram etiquetados com placas

de alumínio e monitorados quinzenalmente. Após um ano de monitoramento das plantas,

verificou-se que a floração ocorreu no mês de maio a novembro. Então, entre maio e

novembro de 2014 esses indivíduos foram acompanhados para a quantificação do total de

botões florais em desenvolvimento inicial (diâmetro <1,5 cm), botões maduros, e frutos

maduros. Para cada fenofase foi estimada a percentagem de ocorrência [número de plantas na

13

fenofase em cada mês/total de plantas] X 100 como utilizado por Lopes (2012). O padrão de

floração das espécies foi caracterizado de acordo com a frequência dos eventos, como

mostrado na classificação de Newstrom et al. (1994).

A correlação de Spearman (rs) foi usada para relacionar o número de flores e frutos

das duas espécies Discocactus pseudoinsignis e D. placentiformis com temperatura e

precipitação para cada área.

4.6 Biologia Reprodutiva

Com a finalidade de caracterizar o sistema reprodutivo das duas espécies de

Discocactus foram realizados os seguintes tratamentos: (1) autopolinização espontânea:

botões florais foram ensacados e as flores foram mantidas ensacadas até a senescência; (2)

autopolinização manual: flores foram polinizadas com pólen da mesma flor e novamente

ensacadas; (3) autopolinização manual- geitonogamia: flores foram polinizadas com pólen de

outras flores do mesmo indivíduo e novamente ensacadas; (4) polinização cruzada: flores

foram polinizadas manualmente com pólen de flores de três diferentes indivíduos separados

por pelo menos 20 m em relação às plantas que receberiam o pólen; (5) controle: flores

marcadas, não manipuladas e ensacadas após fechamento. Todas as flores submetidas aos

tratamentos foram ensacadas em pré-antese e foram utilizadas no mínimo 23 flores e 34 flores

para polinização cruzada, mínimo 27 flores e máximo 35 para autopolinização manual, nas

diferentes populações (Tabela 2).

Para as duas espécies foram calculados o IAS = índice de autopolinização espontânea

(razão entre a porcentagem de frutos formados por flores autopolinizadas espontaneamente

pela porcentagem de flores autopolinizadas manualmente); ISI = índice de auto-

incompatibilidade (razão entre a porcentagem de frutos formados por flores autopolinizadas

14

manualmente pela porcentagem de frutos formados por flores submetidas à polinização

cruzada); ER = eficácia reprodutiva (razão entre a porcentagem de frutos formados em

condições naturais pela porcentagem de frutos formados por polinização cruzada de acordo

com Sobrevila & Arroyo (1982). GLM foram utilizados para comparação das porcentagens de

frutos produzidos onde houve formação de frutos e para os números de sementes formadas em

cada tratamento.

4.7 Germinação de sementes

As sementes foram transferidas para placas de Petri, forradas com areia proveniente da

área de estudo, e tratadas com solução fungicida de Nistatina (100 UI/L). As sementes foram

colocadas para germinar em câmara germinadora, B.O.D. sob temperatura de 35 °C, e

fotoperíodo de 12 horas. A germinação foi acompanhada diariamente por um período de 150

dias e a emergência da radícula foi o critério utilizado para a germinação.

4.8 Visitantes Florais

Visitantes florais diurnos e noturnos foram observados para ambas as espécies, entre

setembro e novembro de 2014. Visitantes diurnos foram fotografados, filmados e capturados

com rede entomológica, para posterior identificação.

Visitantes noturnos foram capturados com duas armadilhas luminosas, modelo “Luiz

de Queiroz” (Silveira Neto & Silveira 1969) durante o período de floração de ambas espécies

de Discocactus, totalizando 156 horas. As armadilhas foram instaladas próximas às

populações das duas espécies de Discocactus. Do corpo e probóscide dos esfingídeos

capturados foram coletadas amostras de pólen utilizando uma porção de gelatina glicerinada

15

corada com fucsina e aderida a ponta de uma agulha. Com a gelatina foram confeccionadas

lâminas de pólen à fresco de acordo com Louveaux et al. 1978 e Wittmann & Schlindwein

1995. Os grãos de pólen foram comparados com os de lâminas de referência para se avaliar a

presença de pólen de Discocactus.

Uma filmadora com sistema “Nightshot” (sensível à radiação infa-vermelha) foi usada

para avaliar os visitantes noturnos, totalizando 30 horas de filmagem. Os visitantes diurnos e

os esfingídeos capturados foram montados em alfinetes entomológicos, secos em estufa à 40

ºC e encontram-se depositados na coleção entomológica da Universidade Federal de Ouro

Preto. A efetividade dos visitantes diurnos e noturno, como polinizadores das espécies de

Cactaceae estudadas, foi avaliada realizando os seguintes tratamentos: (1) Polinização natural:

flores não manipuladas; (2) Polinização natural noturna: flores disponibilizadas somente para

polinizadores noturnos, e polinizadores diurnos foram excluídos usando sacos de organza; (3)

Polinização natural diurna: flores disponibilizadas somente para polinizadores diurnos, e

polinizadores noturnos foram excluídos usando sacos de organza. A produção de frutos e

sementes foi avaliada em cada tratamento para determinar quais visitantes contribuem

efetivamente para o sucesso reprodutivo. O número de flores e indivíduos utilizados em cada

tratamento nas populações de cada espécie encontra-se na Tabela 3. GLM foi utilizado para

comparação das porcentagens de frutos produzidos onde houve formação de frutos e para os

números de sementes formadas em cada tratamento.

4.9 Dispersão de sementes

Os dispersores de sementes foram registrados entre outubro e novembro de 2014,

durante o período de frutificação. Para isso foram realizadas 18 horas de filmagens noturnas e

16

observações diurnas. Foram coletados exemplares dos dispersores para posterior

identificação. Foram analisadas as características morfológicas dos diásporos que poderiam

facilitar a remoção ou transporte dos mesmos por diferentes agentes.

4.10 Densidade e estrutura etária

Para avaliar a estrutura etária das duas espécies em quatro áreas foram sorteadas 5

parcelas 25 x 25m, de um total de 12 previamente demarcadas. Em cada parcela contou-se o

número de indivíduos medindo o diâmetro do indivíduo e do cefálio. Os indivíduos foram

classificados em três categorias de tamanho: juvenis (1 mm < plântulas ≤ 50 mm), adultos

pequenos (50 mm < juvenil ≤ 100 mm, com presença de cefálio) e adultos grandes

(>100mm). Indivíduos mortos foram também contabilizados. ANOVA de dois fatores foi

usada para avaliar a existência de variação de tamanho dos indivíduos entre as duas espécies e

entre as áreas de estudo.

5. RESULTADOS

5.1 Morfologia e Biologia floral

As flores de ambas espécies são bissexuadas, actinomorfas, conspícuas, perfeitas,

solitárias, tubulares com ampla abertura da corola. A corola de D. pseudoinsignis apresenta

tépalas de coloração branca, levemente rosada a rosa escuro. Verificamos uma grande

variação de coloração nas tépalas, predominando a cor branca (80,8%) seguida pela cor rosa

escuro (10,2%) e levemente rosada (8,8%) (Figura 5). Em D. placentiformis as tépalas

17

apresentam coloração variando do creme a fortemente rosada, predominando a cor creme

(60,2%) seguida pela cor levemente rosada (33,3%) a fortemente rosada (7,3%) (Figura 5).

Figura 5. Padrão de coloração das tépalas das duas espécies, Discocactus pseudoinsignis (A e

B) e Discocactus placentiformis (C) no Parque Estadual do Rio Preto, MG.

As flores possuem antese noturna, sincrônica dentro e entre as plantas, iniciando-se

por volta das 16:00 horas. As flores estão totalmente abertas três horas após o início da

antese, que perdura até as 11 horas do dia seguinte.

As características das flores das espécies de Discocactus encontram-se resumidas na

Tabela 1).

B

A

C A

18

Tabela 1. Dimensões das estruturas florais de indivíduos de D. pseudoinsignis, D. placentiformis em populações sintópicas e de D.

placentiformis em população isolada no Parque Estadual do Rio Preto, MG. (Média (X), desvio padrão (Dp), valores mínimo (Mín) e máximo

(Máx)).

D. pseudoinsignis D. placentiformis em sintopia D. placentiformis isolado

n X ± Dp Mín. Máx. n X ± Dp Mín. Máx. n X ± Dp Mín. Máx.

Comp. externo flor 29 66.4 ± 7.7 50.3 82.8 12 62.6 ± 5.2 49.9 69.5 15 61.7 ± 6.6 49.8 72.8

Comp. câmara nectarífera 29 19.2 ± 3.2 13.9 27.0 12 18.6 ± 3.9 12.2 23.1 15 17.7 ± 3.6 12.2 27.3

Comp. lóbulos estigma 29 6.2 ± 1.4 4.3 9.4 12 5.6 ± 1.0 4.4 8.1 15 5.4 ± 0.9 3.9 7.2

Comp. estilete 29 28.2 ± 4.5 19.8 35.9 12 30 ± 3.5 23.7 34.7 15 29.9 ± 2.7 26.4 35.3

Nº lóbulos estigma 29 7.6 ± 0.8 6.0 10.0 12 7.7 ± 1.1 6.0 10.0 15 7.4 ± 0.8 7.0 10.0

Comp. estames 29 3.2 ± 0.4 2.4 4.4 12 3.9 ± 0.8 2.9 5.6 15 2.7 ± 0.4 2.1 3.8

Nº estames/flor 29 279.7± 51.8 204.0 427.0 12 319.6 ± 80.8 177.0 403.0 15 306.7 ± 39.8 225.0 365.0

Nº óvulos/flor 10 307 ± 59.4 218.0 416.0 3 243.3 ± 111.6 164.0 371.0 6 181.6 ± 20.6 154.0 207.0

19

Durante a antese, a flor exala um odor levemente adocicado e por volta das

19:00 as flores alcançam sua abertura máxima, com anteras abertas, o estigma receptivo

e já ocorrendo a produção e armazenamento de néctar floral no interior do hipanto

(câmera nectarífera) (Figura 6). As flores de D. pseudoinsignis produziram em média

40,0 ± 26,8,0 μL de néctar, com concentração média de solutos de 17,8 ± 4% (n = 42).

Logo após a antese, a produção de néctar aumenta (Figura 6 A) e decresce

gradativamente na manhã do dia seguinte por volta das 07:00 horas quando tem início o

processo de fechamento da flor que não abre novamente (Figura 6 B). A concentração

de solutos decresce logo após a antese (Figura 6 C) e gradativamente na manhã do dia

seguinte antes do processo de fechamento da flor (Figura 6 D). A partir das 11:00 horas

não se observam flores abertas. Assim, D. pseudoinsignis apresenta um ciclo floral de

aproximadamente 19 horas. As flores após o fechamento entram em senescência por

exposição ao sol e/ou pela elevação da temperatura. As flores de D. placentiformis

produziram 43,5 ± 23,9 μL de néctar, com concentração média de solutos de 19,2 ±

2,7% (n = 55). Logo após a antese, há um aumento na produção de néctar (Figura 7 A)

que decresce gradativamente na manhã do dia seguinte por volta das 07:00 horas

quando tem início o processo de fechamento da flor que não abre novamente (Figura 7

B). A concentração de solutos decresce relativamente pouco logo após a antese (Figura

7 C) e ocorre um pequeno acréscimo na concentração de solutos na manhã do dia

seguinte antes do processo de fechamento da flor em comparação com Discocactus

pseudoinsignis (Figura 7 D).

A partir das 9:00 horas, a maioria das flores (81,3%) de D. placentiformis em

sintopia encontravam-se fechadas, enquanto que na espécie isolada (75,9%)

permaneceram abertas até cerca de 10:00 horas. Após 11:00 horas não se observam

flores abertas. Assim, as flores de D. placentiformis quando em sintopia acompanharam

20

o ciclo floral de D. pseudoinsignis de aproximadamente 17:00 horas e quando isoladas,

na área 5 apresentaram um ciclo floral mais prolongado de 19:00 horas. Não foram

encontradas diferenças significativas do volume e concentração do néctar entre as duas

espécies e nem entre as diferentes populações.

Figura 6. Volume (A e B) e concentração de solutos (C e D) no néctar floral de D.

pseudoinsignis em dois períodos (19:00-20:00 e 07:00-09:00), na área 2 do Parque

Estadual do Rio Preto, MG. Barras = erro padrão.

21

Figura 7. Volume (A e B) e concentração de solutos (C e D) no néctar floral de D.

placentifomis em dois períodos (19:00-20:00 e 06:00-08:00), na área 2 do Parque

Estadual do Rio Preto, MG. Barras = erro padrão.

Os frutos são alongados de coloração branca, levemente rosados a rosados

inseridos em sua maior proporção no interior do cefálio apresentando uma abertura em

fenda na sua extremidade que revelam as sementes em seu interior (Figura 8). Medem

4,1 ± 0,3 cm de comprimento em média (Figura 14) e apresentam em média 110.7 ±

77.9 sementes.

22

Figura 8. Frutos de Discocactus das espécies localizadas no Parque Estadual do Rio

Preto, MG.

5.2 Fenologia

Discocactus pseudoinsignis e D. placentiformis em sintopia apresentaram

floração sincrônica durante sete meses consecutivos, com início em maio (começo da

estação seca) com flores (menos de 80) e término no início de novembro (início da

estação chuvosa), com floração expressiva, maior número de eventos (próximo de 6000

para as duas espécies que florescem juntas em sintopia, e próximo de 500 para a

população isolada) entre o final da estação seca e início da estação chuvosa entre

setembro e outubro (Figura 9 A, B), correspondendo ao mês de maior precipitação. No

final da estação seca, em setembro, cerca de 45% dos indivíduos de Discocactus, em

sintopia, floresceram na área 2. Sendo que nos picos de floração na estação chuvosa em

23

outubro e novembro cerca de 90% dos indivíduos floresceram na área 2 (Figura 10 A).

Já na área 4 cerca de 55% dos indivíduos floresceram no final da estação seca em

setembro, com pico de floração na estação chuvosa com cerca de 65% dos indivíduos

floridos em novembro (Figura 10 B). Quando em sintopia com D.pseudoinsignis

D.placentiformis apresentou um número maior de eventos no final da floração do que

quando suas populações ocorrem isoladamente (Figura 11).

Figura 9. Fenologia da floração de duas espécies de Discocactus em sintopia (A) e de

população isolada de D. placentiformis (B) e precipitação média mensal em 2014, no Parque

Estadual de Rio Preto, MG.

Figura 10. Variação diária na proporção de indivíduos em floração das duas espécies de

Discocactus em sintopia (A) e D. placentiformis isolado (B) no Parque Estadual do Rio Preto,

MG.

24

Figura 11. Sobreposição dos ciclos florais das duas espécies de Discocactus em

sintopia e da espécie D. placentiformis em simpatria na área 4 no Parque Estadual do

Rio Preto, MG.

O intervalo entre o surgimento dos botões florais das duas espécies de

Discocactus, até a antese é de aproximadamente três a quatro dias. Após a polinização,

os frutos surgem em média em 39,8 ± 2,8 dias para as duas espécies de Discocactus em

sintopia e 39,1 ± 1,5 dias para D.placentiformis em simpatria. A intensidade máxima de

frutificação para as duas espécies de Discocactus quando em sintopia, ocorreu em

outubro, no início da estação úmida (Figura 12 A), assim como para a população isolada

(Figura 12 B). Como as duas espécies de Discocactus em sintopia, iniciam o período de

floração logo após o término da floração de Discocactus placentiformis na área 4, seus

frutos também surgem cerca de três a cinco dias após a frutificação de Discocactus

placentiformis na área 2 (Figura 13). Foi encontrada relação positiva significativa entre

a precipitação e o número de flores (r2=0.56, p=0.05) e com o número de indivíduos

floridos (r2=0.61, p=0.032) (Figura 14).

25

Figura 12. Fenologia da frutificação das duas espécies de Discocactus em sintopia (A),

e D. placentiformis em simpatria (B) e precipitação média mensal em 2014, no Parque

Estadual de Rio Preto, MG.

Figura 13. Períodos de frutificação das duas espécies de Discocactus em sintopia (D.

pseudoinsignis sp1 e D. placentiformis sp2) e da espécie Discocactus placentiformis

isolada na área 4 (em simpatria) em 2014, no Parque Estadual de Rio Preto, MG.

26

Figura 14. Correlação entre precipitação e número de indivíduos floridos (A) e número de

flores (B) das duas espécies de Discocactus em sintopia no Parque Estadual do Rio Preto,

MG.

5.3 Biologia Reprodutiva

As duas espécies de Discocactus estudadas são alógamas, ou seja de reprodução

predominantemente cruzada, a fecundação é mais viável quando o estigma recebe pólen

proveniente de uma outra planta. Ambas são auto-incompatíveis, uma vez que os

experimentos de autopolinização espontânea não resultaram na formação de fruto (IAS

= 0) e os de autopolinização em apenas um fruto (taxa de frutificação = 2.89%),

ocasionando o baixo valor de ISI = 0,03, em um indivíduo de D. pseudoinsignis (Tabela

3).

Em D. pseudoinsignis o número de sementes resultante de autopolinização

manual foi muito inferior ao observado para flores submetidas à polinização cruzada,

bem como entre frutos resultantes de flores submetidas à polinização natural. Em D.

placentiformis, não houve formação de frutos resultante de autopolinização manual,

tanto para as espécies em sintopia como simpatria.

Nas três populações estudadas, a taxa de frutificação por flores submetidas à

polinização natural foi inferior à de flores submetidas à polinização cruzada manual (F

27

= 138, p = 0,001, ER = 0,15 para D. placentiformis em sintopia; F = 26.035, p<0.001,

ER = 0,056 para D. placentiformis isolado e F=22.3, p=0.032, ER = 0,14 para D.

pseudoinsignis), indicando limitação da polinização.

Tanto na população isolada de D. placentiformis, quanto na espécie em sintopia

o número de sementes formadas a partir de flores submetidas a polinização cruzada foi

significativamente maior do que flores submetidas a condições naturais. O mesmo

resultado foi verificado para D. pseudoinsignis (Figura 15).

Figura 15. Número de sementes produzidas por indivíduos de D. placentiformis e D.

pseudoinsignis quando as flores foram submetidas a polinização cruzada e polinização

natural.

28

Como verificado na Tabela 2 houve baixa porcentagem de frutos formados na

polinização natural nas duas espécies de Discocactus, no entanto a porcentagem de

frutos formados por D.placentiformis em sintopia (9,4%), foi superior ao formado por

D.placentiformis em simpatria (3,1%). Além disso, a população controle de

D.placentiformis em sintopia formou o dobro de frutos se comparado com a população

em isolada em simpatria (Tabela 2), mostrando que em sintopia, a espécie

D.placentiformis possui maior sucesso reprodutivo.

29

Tabela 2. Resultados dos tratamentos de polinização feitos em D. pseudoinsignis na área 2 e D. placentiformis nas áreas 2 e 4 respectivamente

do Parque Estadual do Rio Preto, MG. (x = média; DP = desvio padrão)

Tratamento

D. pseudoinsignis D. placentiformis em sintopia D. placentiformis isolado

Flores/

indivíduos

%

(Frutos/Flores)

Sementes x ± DP

(Frutos intactos)

Flores/

indivíduos

%

(Frutos/Flores)

Sementes x ± Dp

(Frutos intactos)

Flores/

indivíduos

%

(Frutos/Flores)

Sementes x ± Dp

(Frutos intactos)

Autopolinização

manual 35/22 2,8 (1/35) 9 (1) 27/13 0 0 29/8 0 0

Autopolinização

espontânea 32/17 0 0 55/32 0 0 32/5 0 0

Geitonogamia 36/12 0 0 26/9 0 0 17/5 0 0

Polinização natural

marcado 37/18 13.5 (5/37) 132 ± 115.5 (3) 32/18 9,4 (3/32) 244.5 ± 98.3 (2) 32/14 3,1 (1/32) 69

Polinização natural

não marcado - 17 110.7 ± 77.9 (10) - 4 157.7 ± 98.9 (3) - 2 94,5 ± 89,8 (2)

Polinização cruzada

manual 34/9 94,1 (32/34) 191.3 ± 108.8 (23) 27/11 60,8 (14/23) 233 ± 1.4 (2) 34/14 55,8 (19/34) 143.9 ± 57.2 (14)

Polinizador noturno 62/21 20,9 (13/62) 199 (1) 34/16 8,8 (3/34) 0 26/19 0 0

Polinizador diurno 59/27 5,0 10 ± 1.7 (2) 32/16 6,2 (2/32) 0 25/7 4 (1/25) 0

30

D.placentiformis apresentou diferenças na produção de frutos, em flores

expostas a polinizadores diurnos e noturnos quando ocorre em sintopia (F=13.04

p<0,001) (Figura 16). No entanto todos os frutos foram consumidos por formigas,

impedindo a contagem de sementes. Já a espécie em simpatria só houve formação de

um fruto em flores expostas a polinizadores diurnos que também foi consumido por

formigas.

D. pseudoinsignis produziu maior número de frutos em flores expostas a

visitantes noturnos do que a visitantes diurnos (F= 35.56, p<0.001 (Figura 16). No

entanto, dos 13 frutos formados em flores expostas a polinizadores noturnos, apenas um

não foi consumido por formigas, sendo que o número médio de sementes formadas nos

frutos intactos de polinizador diurno de D. pseudoinsignis foi muito inferior se

comparado ao proveniente de polinização noturna (Tabela 2).

31

Figura 16. Número de frutos produzidos por flores expostas aos visitantes

diurnos e noturnos para D. placentiformis em sintopia com D. pseudoinsignis na

área 2 .

32

5.4 Germinação de sementes

As sementes de D. pseudoinsignis resultantes de frutos coletados de flores submetidas

aos tratamentos de polinização cruzada manual, reprodução natural (controle marcado e não

marcado), polinizador diurno, polinizador noturno e auto-polinização manual em 2014

apresentaram, respectivamente 56% (106,4 ± 55,6 sementes em média de 191,3 ± 108,8

provenientes de 23 frutos), 82 (94,8 ± 76 de 115,6 ± 92,9 provenientes de 13 frutos), 100

(10,5 ± 7,8 de 10,5 ± 7,8 resultantes de 2 frutos), 46,2% (92 sementes de 199 resultante de

apenas um fruto) e 33% (3 sementes de 9 resultante de um fruto) de germinação. As sementes

de D. placentiformis em sintopia germinaram 38% (88 ± 42,4 sementes de 233 ± 1,4

resultantes de 2 frutos) e 39% (75,6 ± 37,7 sementes de 192,4 ± 97,8 resultantes de 5 frutos)

para os tratamentos de reprodução cruzada e reprodução natural respectivamente. Já as

sementes de D. placentiformis em simpatria germinaram 55% (79 ± 43,1 sementes de 143,9 ±

57,2 resultantes de 14 frutos) e 13% (25,3 ± 16,5 sementes de 119,2 ± 68,3 resultantes de 3

frutos) para os tratamentos de reprodução cruzada e reprodução natural respectivamente. As

sementes começaram a germinar entre o segundo e quinto dia após o semeio sendo que o

maior número (74%) de sementes germinou no fim da segunda semana após o semeio.

5.5 Visitantes florais

Foram capturados nove esfingídeos pertencentes à três espécies e registrou-se grãos de

pólen de Discocactus na probóscide de dois indivíduos da espécie Manduca dalia anthina

considerado o polinizador principal. Pela amostragem sistemática de visitantes noturnos,

registramos três visitas de esfingídeos em diferentes horários nas populações em sintopia

33

(Figura 17 B). A mariposa apresentou comportamento de vôo adejado, pairando defronte à

flor, introduzindo a probóscide já distendida no interior da flor com finalidade de alcançar a

câmera nectarífera e retirar néctar. Ao retirar néctar contatava estigma e anteras com a

probóscide e a porção ventral do corpo. A visita durou 5 segundos. Nenhuma visita de

esfingídeo foi registrada na população de Discocactus placentiformis isolada.

Em duas horas de observação sistemática durante o dia (Figura 17 A) foram

observadas 53 visitas de Apis mellífera, seis visitas de Trigona spinipes e duas visitas de

Augochlora sp.

Entre os diurnos registramos quatro espécies de abelhas, (Apis mellifera, Trigona

spinipes, Euglossa sp. e Augochlora sp.) e entre os noturnos três espécies de coleópteros

(Cyclocephala melanocephala e Cyclocephala sp.1 e Scarabeidae sp.1), Orthoptera

(Euconocephalus sp.) além de formigas (Figura 18). Abelhas e vespas coletaram pólen, as

espécies de Orthoptera e formigas Atta predaram as flores. Coleóptera e formigas do gênero

Camponotus se alimentavam de pólen.

Os besouros do gênero Cyclocephala (Figura 18E e F) entram na câmara nectarífera,

onde realizam cópula e permaneceram até o dia seguinte. Não foi observado o deslocamento

desses insetos entre as flores.

Figura 17. Número de visitantes diurnos (A) e noturnos (B) ao longo do tempo nas flores de

Discocactus no Parque Estadual do Rio Preto, MG.

34

Figura 18. Visitantes florais diurnos das duas espécies de Discocactus ocorrentes no Parque

Estadual do Rio Preto, MG: (A) Apis mellifera (Hymenoptera, Apidae), (B) Trigona spinipes

(Hymenoptera, Apidae), (C) Augochlora sp. (Hymenoptera, Halictidae), (D) Euglossa sp.

(Hymenoptera, Apidae), (E) e (F) Cyclocephala spp (Coleoptera, Scarabaeidae), (G) formas

jovens de Orthoptera e (H) Monomorium (Hymenoptera, Formicidae).

5.6 Dispersão de sementes

Foi observado nos meses de frutificação em outubro e novembro de 2014 por meio de

registros fotográficos que as duas espécies de Discocactus apresentaram dispersão primária de

sementes exclusivamente por formigas pertencentes aos gêneros Monomorium sp,

Dorymyrmex sp, Camponotus sp e Cephalotes sp (Figura 19), e dispersão secundária pela

água onde ocorria declividade do relevo, evidenciando um gradiente crescente de densidade

de indivíduos com a declividade. Das espécies de formigas registradas, as do gênero

35

Monomorium, (Fig. 19 A,) eram as primeiras a visitar os frutos, mas não removiam as

sementes, não sendo dispersoras, da mesma forma que as espécies Camponotus sp2 e

Cephalotes sp (Fig. 19 D e E) que eram as últimas a consumir partes do fruto já sem

sementes. A segunda espécie que chegava aos frutos era Camponotus sp1 (Fig. 19 B) que

juntamente como a terceira espécie, Dorymyrmex sp (Fig. 19 C), removiam as sementes e as

transportavam por meio de estruturas gordurosas presas em suas extremidades chamadas

elaiossomos (Figura 19 F). As espécies dispersoras coletavam todas as sementes do fruto (Fig.

19 G). Algumas removiam as sementes dos frutos descartando-as próximo à planta mãe, por

contato acidental entre os espinhos do cefálio até a base da planta. Outras derrubavam

sementes no caminho da planta mãe até o ninho, enquanto outras depositavam as sementes no

interior dos ninhos (Figura 19 H). As formigas Camponotus sp depositavam as sementes até

0,76 metros da planta mãe ao ninho. Enquanto que a Dorymyrmex sp depositavam as

sementes em até 4,32 metros de distância (Figura 20).

36

Figura 19. Formigas frugívoras Monomorium sp.1, Camponotus sp.2 e Cephalores sp.1 (A,

D e E) e dispersoras de sementes Camponotus sp.1 e Dorymirmex sp1(B e C) e distância de

dispersão até o ninho (H) das duas espécies de Discocactus no Parque Estadual do Rio Preto,

MG.

37

Figura 20. Distância percorrida pelas duas espécies de formigas dispersoras de sementes de

Discocactus, da planta mãe até o ninho.

5.7 Densidade e Demografia

As espécies de Discocactus apresentaram densidades diferentes em cada área (Figura

21), com maior densidade na área 2 seguida das áreas 3, 1 e 5 respectivamente, apresentando

em torno de 1.600 indivíduos/ha.

Ambas espécies apresentaram estrutura etária muito semelhante, com grande maioria

de indivíduos juvenis a adultos. A área 1 apresentou uma maior proporção de indivíduos

adultos (adulto > 100 mm) ( n= 212 indivíduos) (Figura 22A) atingindo 13,6 ± 21,8 cm de

comprimento, seguido pela área 3 com 169 indivíduos adultos (Figura 22C) medindo 13,9 ±

32,4 cm. Já as áreas com maior número de indivíduos juvenis na população (50 mm < juvenil

≤ 100 mm) foi a área 5 com 104 indivíduos (Figura 22D) medindo em média 7,74 ± 14,7 cm

de comprimento, seguido por área 2 com 172 indivíduos juvenis na população (Figura 22B)

medindo 7,15 ± 13,6 cm de comprimento. As parcelas da área de estudo 5, apresentaram

diferentes graus de declividade com aumento progressivo na densidade de indivíduos de

38

Discocactus em direção às porções mais baixas do terreno (15.2 % indivíduos na altura

superior, 22.1 % na intermediária e 40% na altura inferior).

Figura 21. Densidade média de Discocactus pseudoinsignis e D. placentiformis em sintopia

(Áreas 1 a 3) e D. placentiformis em simpatria (Área 5) no Parque Estadual do Rio Preto,

MG.

Figura 22. Histogramas de frequência da estrutura etária (1 mm < plântulas ≤ 50 mm, 50 mm

< juvenil ≤ 100 mm e adulto > 100 mm) dos indivíduos das duas espécies de Discocactus em

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

0.16

0.18

0.20

Área 1 Área 2 Área 3 Área 5

Ind

ivíd

uio

s/m

²

39

quatro áreas do Parque Estadual do Rio Preto, MG. (A) – área 2 (B) área 3, (C) área 1, (D)

área 5.

Não encontramos diferenças significativas das médias dos tamanhos dos individuos

entre áreas de amostragem, porém em cada área encontramos diferenças entre as parcelas

amostradas (F3,40= 5.18, p=0.004) (Figura 23).

Figura 23. Médias dos tamanhos dos indivíduos de Discocactus em quatro das cinco áreas de

estudo. Áreas 1 a 3 ambas espécies em sintopia e área 5 Discocactus placentiformis isolado.

6. Discussão

6.1 Fenologia

As espécies simpátricas de Discocatus florescem uma vez por ano, por mais de cinco

meses apresentando padrão de floração anual estendido (Newstrom et al. 1994), observado

também para a maioria das espécies esfingófilas da Costa Rica (Haber & Frankie 1989) e no

cerrado do Brasil Central (Oliveira et al. 2004). O florescimento por longo período, é menos

frequente em espécies polinizadas por esfingídeos, predominando floração por menos de dois

40

meses ou por até quatro meses (Haber & Frankie 1989, Oliveira et al. 2004). O padrão de

floração estendido aparentemente favorece as duas espécies de Discocactus pois ao florescer

na estação chuvosa, aumentam as chances das flores serem polinizadas pelos esfingídeos que,

segundo Darrault & Schlindwein (2002), são sazonais e dependem das flores como fonte de

alimento.

Segundo alguns autores (Alencar et al. 1979, Terborgh 1990, Lima 2007), a floração

de muitas espécies ocorre na época seca ou no início da estação chuvosa, para que a

maturação dos frutos e a dispersão de suas sementes ocorram durante a época das chuvas, o

que facilitaria o estabelecimento e a perpetuação dessas plantas. Esta pode ser a estratégia

utilizada por ambas espécies de Discocactus, já que os frutos começam a amadurecer no auge

da estação chuvosa. Em estudos realizados por Frankie et al. (1974) e van Schaik et al. (1993)

para florestas tropicais secas, o pico de frutificação da comunidade ocorria, na estação

chuvosa, fazendo com que o pico de floração se desloque para o final da estação seca.

O número observado de flores abertas por noite em cada planta foi variável durante a

floração, em função principalmente da idade e tamanho da planta. Foi notado que nos

indivíduos menores, devido ao menor diâmetro do cefálio para suportar maior produção de

botões, poucas flores abriam de cada vez, enquanto que nos indivíduos cujos cefálios eram

maiores, foram registradas até 19 flores em um único indivíduo. Mesmo com essa variação

individual, foi observado que em cada planta apenas uma pequena parcela do total de botões

produzidos abria a cada noite, provavelmente devido ao fato da produção de botões ser

contínua, não restrita a um único dia. Deste modo, o potencial reprodutivo da planta é

geralmente regular ao longo de todo o período de floração, com maior porcentagem de

indivíduos floridos em período de maior intensidade de floração do que verificado no início e

fim dessa fase. Para alguns autores (Soriano et al. 1991), a falta de sincronia entre os picos de

floração e frutificação intra-específicos seria uma possível consequência da competição por

41

dispersores ou polinizadores. Isto parece estar ocorrendo com as espécies em sintopia e

simpatria de Discocactus placentiformis nos locais de estudo, uma vez que estas apresentam

características florais similares e partilham os mesmos polinizadores e dispersores. Além

disso pelo fato de florescerem na época seca, essas espécies de Discocactus podem, inclusive,

estar atuando na manutenção da fauna local. Portanto, as duas espécies de Discocactus

produzem néctar e pólen que podem alimentar várias espécies de animais durante os meses

secos, quando muitas outras plantas não estão se desenvolvendo na região. O intervalo entre a

antese e maturação dos frutos é relativamente curto, como visto em outras espécies de cactos

(Pimienta-Barrios & del Castillo 2002). Flores fertilizadas das duas espécies se desenvolvem

em frutos maduros dentro de 43 dias em média, semelhantes a outras espécies de cactáceas

como Pilosocereus lanuginosus, Stenocereus griseus e Cereus [Subpilocereus] repandus

(Petit 1995).

6.2 Morfologia e Biologia floral

As flores de Discocacuts apresentam características florais que confirmam a síndrome

de polinização por esfingídeos. Flores tubulares, predominantemente brancas, antese

crepuscular a noturna e emissão de odores adocicados (Faegri & van de Pijl 1979, Haber &

Frankie 1989 e Baker 1961). O néctar fica armazenado no interior da câmara nectarífera

escondido pelos estames na base de tubos florais estreitos, acessíveis somente a visitantes

portadores de língua longa conforme já relatado por Alexandersson e Johnson (2002) e

Darrault e Schlindwein (2005) para outras espécies esfingófilas.

Apesar de flores quiropterófilas e esfingófilas geralmente apresentarem morfologia e

biologia similares (Faegri & van der Pijl 1979), excluímos a possibilidade da polinização por

morcegos já que as flores de Discocactus apresentam menor quantidade de néctar que as

42

quiropterófilas, são delicadas e com ausência de plataforma de pouso. A ausência da

plataforma de pouso por exemplo é uma das características atribuídas às flores cujos os

polinizadores possuem voo adejado, como mariposas (Faegri & van de Pijl 1979, Haber &

Frankie 1989 e Baker 1961). Segundo Brantjes (1978) o odor é o estímulo que impulsiona o

comportamento alimentar dos esfingídeos, sendo a coloração um estímulo secundário e

inespecífico, que atuaria posteriormente na sequência do comportamento alimentar, como

orientação visual para a inserção da probóscide no hipanto, sendo que a coloração branca das

duas espécies de Discocactus contrasta com o restante do cacto destacando a flor durante a

noite.

Os estames e o estigma ocupam posição favorável na entrada do tubo da flor das

espécies de Discocactus, que aumenta a possibilidade de contato desses órgãos com a língua e

o corpo do esfingídeo, durante as visitas favorecendo o carreamento de grãos de pólen. Além

de estar estrategicamente situado na mesma altura ou abaixo do nível das anteras, o estigma é

formado por vários lóbulos que contribuem para aumentar a superfície receptora de pólen.

Estudos demonstraram que a existência de hercogamia é um dos indicativos de fecundação

cruzada obrigatória em plantas auto-incompatíveis (Cruden e Lyon 1989, Raguso 2003).

A concentração do néctar das duas espécies de Discocactus também sugere o descrito

para outras espécies de cactáceas esfingófilas. Scogin (1985) comparou a concentração de

solutos no néctar em algumas espécies de Cactaceae, obtendo 22-30% para flores polinizadas

por beija-flores, 15-34% para flores polinizadas por mariposas e 17-26% para flores

polinizadas por morcegos.

Ambas espécies produzem néctar continuamente durante todo o período da antese,

com significativa redução no início da manhã. A presença de néctar nas flores pela manhã

pode favorecer a atração de polinizadores diurnos. Mesmo sendo baixa, verificamos a

produção de frutos nos experimentos com exclusão de visitantes noturnos. Essa estratégia

43

pode ser importante para aumentar o sucesso reprodutivo das plantas. O aumento de produção

de néctar no início da noite após a antese também foram observados em espécies polinizadas

por esfingídeos por Munin et al. 2008 em Bauhinia curvula e por Silva et al (1983) em

Cereus peruvianus, com diminuição na produção de néctar na manhã seguinte, como

observado para as espécies estudadas.

A produção média de néctar das duas espécies de Discocactus foi consistente com o

observado para cactáceas polinizadas por esfingídeos. O volume é semelhante ao verificado

em Echinopsis terscheckii 28.79 μl, apesar de suas flores serem maiores podendo chegar a

medir até 20 cm de comprimento (Ortega-Baes et al. 2010) mas foi superior ao encontrado

para as cactáceas esfingófilas de dimensões florais semelhantes como Lophocereus schottii,

(podendo chegar a 5 cm de comprimento) e Upiga virescens (com até 4 cm de comprimento)

(Fleming & Holland 1998) e dimensões florais bem menores como Micranthocereus

flaviflorus e Micranthocereus streckeri que possuem em média 1,23 e 1,31 cm, produzindo

5.17 μl e 7.3 μl de néctar respectivamente (Aona et al. 2006) e inferior ao encontrado para

Peniocereus greggii (80.2 μl, Raguso et al. 2003) com 13,7 cm de comprimento da flor,

Cereus peruvianus com até 20 cm de comprimento (123.6 μl, Silva 1983) e Echinopsis

ancistrophora com flores entre 6-16 cm de comprimento (170 μl, Schlumpberger 2009).

Como a quantidade de néctar armazenado depende do tamanho da câmara nectarífera, as

espécies de cactus com flores maiores poderiam armazenar mais néctar.

A concentração média de solutos no néctar (17.8% para D. pseudoinsignis e 19.2 para

D. placentiformis) foi semelhante ao registrado para cactáceas esfingófilas como

Micranthocereus flaviflorus e Micranthocereus streckeri (23.3 % e 19.3% respectivamente,

Aona et al. 2006), Cereus peruvians (27.7 %, Silva 1983), Peniocereus greggii (29%, Raguso

et al. 2003) e Echinopsis terscheckii (26.10 %, Ortega-Baes et al. 2010). Os valores

estimados da concentração do néctar das duas espécies estudadas se encontram dentro do

44

verificado para a maioria das plantas polinizadas por esfingídeos. Haber & Frankie (1989)

estudando na Costa Rica 23 espécies de plantas polinizadas por mariposas, relataram que a

concentração média de solutos do néctar foi 20.5%.

Na antese crepuscular ou noturna das duas espécies, as flores atingiram abertura

máxima, por volta das 19:00, semelhante ao observado em outras cactáceas de antese

crepuscular e noturna (Alcorn et al. 1962, Silva 1983). O fato da antese iniciar por volta das

16h (com duração de aproximadamente três horas até sua abertura completa), pode trazer

desvantagens para as plantas, pois o pólen permanece exposto a outros visitantes não

polinizadores como abelhas, a pilhadores de pólen reduzindo a quantidade de pólen por flor

que estaria disponível aos esfingídeos. É provável que o processo de fechamento da flor, por

volta das 6:00 h da manhã, coincida com o fim da receptividade do estigma. Pelo fato das

flores das duas espécies receberem visitas de abelhas durante o fechamento da flor (que

termina entre 10:00 e 11:00 da manhã), a polinização por esses insetos pode ocorrer, mesmo

com menor eficiência. Muitas cactáceas com antese noturna apresentam tempo de antese

longo para maximizar a polinização e aumentar as chances de visitas também durante um

período do dia seguinte. Na área de estudo, duas outras espécies de cactáceas com antese

noturna (Cipocereus crassisepalus e Cipocereus minensis) também apresentaram ciclos

florais que duraram até o dia seguinte. Nessas duas espécies foram registradas visitas de

abelhas e beija flores (Martins, 2013). A polinização no período matinal por abelhas foi

observada em Lemaireocereus thurberi, no Arizona, cujas flores fecham completamente por

volta de 10:00 h da manhã seguinte (Alcorn et al. 1959).

45

6.3 Sistema Reprodutivo

Os resultados dos tratamento de polinização manual e o índice de incompatibilidade

(ISI) sugerem que as duas espécies de Discocactus são fortemente auto-estéreis. Em D.

pseudoinsignis detectamos baixo grau de compatibilidade, com apenas 2.8% de frutificação

após autopolinização manual. A auto-incompatibilidade parece ser predominante na família

Cactaceae (Boyle & Idnurm 2001, Pimienta-Barros & Castilho 2002). É comum a formação

de frutos provenientes de auto-polinização em espécies auto-incompatíveis, podendo ser

necessária para garantir a reprodução na ausência de polinizadores adequados. Menor

quantidade de sementes em frutos resultantes de auto-polinização em comparação com frutos

alogâmicos foi observado em Cereus peruvianus (Silva, 1983), Opuntia monacantha

(Schlindwein & Wittmann, 1997), além de outras espécies de plantas como Swertia perennis

L. (Gentianaceae, Lienert & Fischer 2004). A ausência de formação de frutos após

autopolinização espontânea (IAS = 0) indica que as duas espécies de Discocactus dependem

de polinizadores e provavelmente a autopolinização espontânea é evitada pela posição do

estigma em relação às anteras (hercogamia) que restringe ou evita a autopolinização

promovendo a polinização cruzada. Além disso de acordo com Webb & Lloyd (1986) em

espécies auto-incompatíveis, a hercogamia evitaria o contato do estigma com pólen da própria

planta, além de posicionar as anteras e estigma de modo a entrar em contato com o visitante

em uma única visita.

Os menores valores da taxa de frutificação, em condições naturais, em relação ao das

flores submetidas a polinização cruzada de D. pseudoinsignis (ER = 0.14), D. placentiformis

em sintopia (ER = 0.15) e D. placentiformis em populações isoladas (ER = 0.05) indicam o

serviço ineficiente de polinização, devido, provavelmente, a baixa frequência de visitas. De

46

fato, verificamos baixa frequência de visitas por esfingídeos, que são os principais

polinizadores dessas espécies. De acordo com Raguso et al. (2003), Darrault & Schlindwein

(2005) e Munin et al. (2008) a baixa frequência de esfingídeos ocasiona produção limitada de

frutos em condições naturais de plantas esfingofilas.

Segundo Larson e Barret (2000), o menor número de sementes provenientes de frutos

em condições naturais em relação aos frutos provenientes de polinização cruzada demonstra

limitação de pólen, como observado para ambas as espécies.

Discocactus pseudoinsignis apresenta distribuição ampla no local de estudo com sub-

populações numerosas nas áreas 1 a 3 (veja resultados distribuição).

D. placentiformis, no entanto, ocorre isoladamente em duas pequenas sub-populações

(áreas 4 e 5) e também em sintopia com D. pseudoinsignis na área 1, 2 e 3 onde foi notado

maior número de indivíduos se comparado com as áreas 4 e 5. O maior número de indivíduos

de D. placentiformis em sintopia em relação as áreas isoladas, provavelmente pode estar

relacionado com o seu sucesso reprodutivo quando ocorre com D. pseudoinsignis, que

durante a floração, o maior número de flores das duas espécies em sintopia atrairia os

esfingídeos para a região facilitando a polinização da população em sintopia.

Foi verificado, por exemplo, que frutos de D. placentiformis em sintopia produzem,

em média o mesmo número de sementes quando provenientes de polinização cruzada e de

condições naturais, indicando que, em sintopia, a espécie D. placentiformis apresenta menor

limitação polínica. Segundo Ashman et al. (2004), a limitação polínica é proveniente de

quantidade e qualidade inadequada de pólen depositado no estigma, e pode ser resultado de

serviço inadequado de polinização decorrente de poucas visitas e/ou pouca quantidade de

pólen depositado por visita. Segundo Seres & Ramírez (1995) a sincronia no horário da antese

forneceria um maior número de flores disponíveis aumentando as chances de polinização

cruzada. Deste modo, pelo fato das duas espécies em sintopia florescerem na mesma época,

47

provavelmente D.placentiformis em sintopia, teria vantagens em relação a espécie em

simpatria isolada (área 4), pois somaria sua floração com D.pseudoinsignis, produzindo maior

número de flores durante a antese que, possivelmente, atrairia maior número de esfingídeos

(que provavelmente não distinguem as duas espécies) de modo a compensar os riscos da

limitação polínica. Como observado por Stone et al. (1988, 1999), a coexistência de espécies

floridas simultaneamente, podem aumentar a atratividade aos animais, bem como funcionar

como mancha de recurso, favorecendo a manutenção da comunidade de visitantes locais.

6.4 Germinação de sementes

Foi constatado que as duas espécies de Discocactus estudadas apresentam maior

número de sementes formadas e germinadas, oriundas de frutos dos testes de polinização

natural e polinização cruzada manual. Resultado semelhante foi encontrado em sementes de

espécies do gênero Opuntia por Osborn et al. (1988) que afirmam que sementes provenientes

de xenogamia possuem maior viabilidade quando comparadas aos outros modos de

polinização. No entanto D. placentiformis quando em população isolada (área 4), além de

apresentar menor número de sementes nos frutos em condições naturais em relação aos frutos

resultantes de polinização cruzada, apresentaram também menor porcentagem de germinação

das sementes resultantes de condições naturais. Esse seria mais um elemento que evidencia a

existência de facilitação quando essa espécie ocorre juntamente com D. pseudoinsignis.

A germinação das espécies de Discocactus observada em sementes coletadas iniciou

entre o segundo e o quinto dia após o semeio e a maior taxa de germinação ocorreu no início

da segunda semana, fato semelhante ao encontrado por Reis (2008) e Lopes (2012) em

sementes de Cipocereus minensis armazenadas por seis meses.

48

Visitantes florais

As flores de Discocactus fornecem recurso para uma variada fauna de insetos que

partilham esse recurso de forma bastante interessante. Besouros são pilhadores de pólen e

néctar e sua presença pode atrapalhar as visitas dos polinizadores efetivos, uma vez que ficam

posicionados na entrada do hipanto se alimentando de pólen ou em copula. Besouros foram

observados em flores de espécies esfingófilas (Silva & Sazima 1995, Munin et al. 2008,

Raguso et al. 2003) nas quais aparentemente se alimentavam de partes florais, o que segundo

Silva & Sazima (1995) é comportamento característico da espécie. Não se sabe se os besouros

são polinizadores efetivos. Euconocephalus sp. (Acriidae) se alimentam das peças florais

atuam de modo negativo no sucesso reprodutivo das espécies de Discocactus, pois reduzem a

quantidade de flores por planta. Segundo Heithaus et al. (1982) herbívoros que consomem

flores causam grande perda no potencial reprodutivo de algumas plantas.

A procura e a descoberta de alimento provavelmente é induzida por odores florais

(Brantjes, 1978; Silva, 1983), que orientam os esfingídeos em direção ao odor de maior

concentração, demonstrando habilidade de distinguir entre diferentes concentrações de odores

(Brantjes, 1978). O comportamento de visita do esfingídeo registrado assemelha-se, de modo

geral, ao padrão observado nas flores de diversas outras espécies esfingófilas (Brantjes, 1973;

Brantjes & Bos, 1980; Silva, 1983). O esfingideo Manduca dalia anthina ao visitar a flor

apresentou comportamento tipo “dança”. Brantjes & Bos (1980) interpretam este tipo de

“dança” como uma fase de preparo para a inserção da probóscide, coordenada por estímulos

visuais. A flor que apresenta o estigma na mesma altura das anteras ocupando o centro da flor,

torna-se mais exposta ao contato com o esfingídeo que efetua a deposição do pólen aderido ao

seu corpo no estígma das flores. Desse modo, a hercogamia observada na maioria das flores

das duas espécies de Discocactus reduziria a auto-polinização promovendo a polinização

49

cruzada. Mecanismos semelhantes foram estudados por Brantjes & Bos (1980) em outras

plantas esfingófilas.

O número de registros de esfingídos nas flores foi extremamente baixo quando

comparado a outros estudos. Levantamentos de esfingídeos realizados durante 12 meses no

Parque do Rio Preto (Oliveira et al – dados não publicados) registraram uma baixa

abundância de esfingideos (n=81), sendo que, desses encontramos pólen de Discocatus em

apenas duas espécies (Callionima parce e Nyceryx sp.).

Durante o período de floração das duas espécies de Discocactus no Parque Estadual do

Rio Preto, noites frias eram relativamente frequentes, o que poderia limitar a atividade dos

esfingídeos, diminuindo assim o número de flores visitadas por esses polinizadores. Deste

modo segundo Baker (1961), as espécies esfingófilas desenvolveriam, então, mecanismos

fisiológicos, de modo a compensar os riscos na dependência exclusiva de polinizadores, como

por exemplo, a duração prolongada do período de floração, a produção de grande número de

flores, maior produção de sementes por fruto e um certo grau de auto-compatibilidade, no

caso das espécies predominantemente auto-incompatíveis. Esses mecanismos foram

observados nas duas espécies de Discocactus, no entanto, a auto-incompatibilidade depende

ainda de estudos subsequentes uma vez que foi produzido apenas um fruto no tratamento de

auto-polinização manual. Os resultados obtidos sugerem a existência de auto-

incompatibilidade já que os frutos apresentam dimensões menores e número bastante

reduzido de semente, quando comparado com os frutos provenientes de polinização natural ou

cruzada.

Considerando que as espécies de Discocactus são predominantemente auto-

incompatíveis e dependem de polinizadores, que a maioria dos visitantes florais são

pilhadores ou herbívoros e que visitas dos principais polinizadores, os esfingídeos, são pouco

freqüentes, não é surpresa que na população estudada ocorra limitação de pólen. Este fato

50

pode favorecer, a médio e longo prazo, a seleção de genótipos autogâmicos (Berjano et al.

2006).

6.5 Dispersores de sementes

Os frutos das duas espécies de Discocactus, atraíram várias espécies de formigas

classificadas como frugívoras (Camponotus sp2 e Cephalotes, alimentando da polpa do fruto)

e granívoras dispersoras (Camponotus sp1 e Dorymyrmex sp.1 coletando e transportando

sementes) além de Monomorium sp que também foi encontrada visitando as flores buscando

pólen.

As sementes de Discocactus foram transportadas para distâncias consideradas curtas e

variaram em função da distância do ninho. Camponotus sp1, por exemplo, transportavam

sementes em até 0,76 m da planta mãe, levando a semente para o interior do seu ninho. Já

Dorymyrmex sp percorreu distâncias maiores, transportando as sementes de Discocactus, por

até 4,32 m da planta mãe ao ninho. De acordo com Van der Pijl (1982) formigas dispersoras

tendem a realizar dispersão a curtas distâncias. Gómez & Espadaler (1998) encontraram

diferenças consistentes entre subfamílias de formigas no que se refere à distância de remoção

de sementes a curtas distâncias. Neste estudo, Camponotus distans transportavam as sementes

por até 1,86m, enquanto que Forelius maranhaoensis e Dorymirmex thoracicus por 1,76 até

15,7m respectivamente.

Os dois gêneros de formigas dispersoras também foram descritos por Oliveira (2009)

para Discocactus zehntneri subsp. boomianus e para outras espécies de plantas (Beattie &

Culver 1981, et al. 2003) dispersando as sementes de forma bem semelhante ao verificado

para as duas espécies de Discocactus estudadas, ou seja, pós a remoção do fruto, as sementes

podem cair próximo à planta-mãe, entre o percurso da planta mãe e o ninho e chegarem até o

51

interior do ninho. Estas diferenças no local de deposição das sementes pelas diferentes

espécies de formigas, podem influenciar no padrão agregado de distribuição espacial de

Discocactus, como observado por Oliveira (2009), no qual a mirmecocoria, como dispersão

primária, mostrou-se importante para o padrão agregado de distribuição espacial de

Discocactus zehntneri subsp. boomianus.

As sementes carregadas até o ninho podem ter dois destinos, dependendo do hábito

alimentar da espécie. Os indivíduos de Dorymyrmex sp provavelmente retiram fluídos da

polpa do fruto ainda aderido à semente, ou retiram o funículo e dispensam as sementes

limpas, que ficam menos suscetíveis ao ataque de patógenos (Oliveira 2009, Leal & Oliveira

1998). Camponotus sp1 provavelmente remove a polpa e descarta as sementes na pilha de

rejeitos.

A deposição de sementes pelas formigas no substrato também é essencial para que

haja dispersão secundária pelas águas das chuvas em locais com relevo acidentado. Essa

dispersão é influenciada pelas características do relevo (Dunkerley & Brown 1995), e pela

capacidade de retenção de barreiras naturais (Greig-Smith 1979).

6.6 Densidade demográfica e Estrutura etária

As características demográficas das populações de Discocactus estudadas se

mostraram variáveis nas áreas de estudo, com uma densidade média por hectare considerada

muito alta. No entanto a densidade média esteve um pouco abaixo do que foi encontrado para

Melocactus ernestii (0,67 indivíduos/ha). O elevado número de sementes produzidas

germinadas e a alta sobrevivência de plântulas de Discocactus pode estar condicionando a alta

densidade populacional. Hughes et al. (2011) observaram padrão semelhante para Melocactus

ernestii.

52

O menor número de plântulas (com diâmetro ≤ 50 mm) do que de indivíduos

observado em todas as áreas de estudo pode estar indicando uma baixa taxa de recrutamento

da população ou maior mortalidade nessa faixa etária. Uma maior proporção de indivíduos de

tamanho intermediários grande também foi verificado por Esparza-Olguín et al. (2002) para a

cactácea Neobuxbaumia macrocephala (Weber ex Schum.) e por Hughes et al. (2011) para

Melocactus ernestii subsp.ernestii. Segundo esses autores pode ocorrer um decréscimo da

mortalidade na medida em que as plantas incorporam fitomassa e aumentam de tamanho.

Nas populações das áreas de estudo, o estabelecimento de plântulas ocorre

preferencialmente em períodos de precipitação mais frequentes, próximos a adultos da mesma

espécie, e em fissuras das rochas, como observado em outras espécies de cactos (Munguía-

Rosas & Sosa 2008). Na área 5 que apresenta maior declividade que os demais e grandes

afloramentos rochosos, o transporte de sementes pela água das chuvas, seria facilitado,

depositando a maioria de suas sementes nas partes inferiores do relevo, nem sempre próximos

à adultos e provavelmente expostos à radiação intensa em áreas abertas, o que poderia

explicar o menor número de plântulas nesta área se comparado com as outras áreas de estudo

que não apresentam declividade topográfica acentuada e menor proporção de afloramentos

rochosos.

A influência da declividade sobre a distribuição dos indivíduos na população foi

observado por Oliveira (2009). Segundo esse autor, a declividade do relevo e capacidade de

retenção de barreiras naturais podem influenciar na estruturação da população de Discocactus

por faixas de altura.

Como observado por Hernández-Oria et al (2007), em populações com baixa

densidade populacional de indivíduos adultos e de plântulas sobreviventes, a ausência de

reprodução clonal e dependência de indivíduos adultos para manutenção da estrutura etária

53

representam os maiores riscos para o contingente de cactáceas como observado para

Discocactus placentifomis na área 5.

7. Conclusão:

Os eventos fenológicos de floração e frutificação das duas espécies de Discocactus

indicam um padrão anual estendido, com picos principalmente entre o fim da estação seca e

começo da estação chuvosa indicando que a precipitação é importante para a floração e

principalmente para a conversão de flores em frutos que foram maiores durante a estação

úmida.

As duas espécies de Discocactus são predominantemente auto-incompatíveis,

reproduzindo principalmente por xenogamia e a hercogamia observada na maioria das flores

pode provavelmente atuar na prevenção da autogamia, favorescendo a reprodução cruzada

nessas espécies. As características das flores das espécies de Discocactus, como volume de

néctar reduzido e baixas concentrações, antese noturna, flores brancas com odores moderados

e abertura de flores em noites diferentes, indicam tendência a síndrome de polinização por

esfingídeos, como verificado pela maior conversão de flores em frutos nos experimentos de

polinizadores noturnos. Os esfingídeos da espécie Manduca dalia anthina são considerados

os principais polinizadores das duas espécies de Discocactus estudadas. Devido a maior

proporção de frutos e sementes formadas e ao maior número observado de indivíduos de

D.placentiformis em sintopia, comparados com sua população isolada, provavelmente possa

estar ocorrendo facilitação da polinização.

A taxa de consumo dos frutos foi alta, devido as formigas que consomem todo o fruto,

sendo as espécies Dorymyrmex sp, e Camponotus sp, dispersoras das sementes das espécies

de Discocactus.

54

A menor densidade combinada com menor proporção de indivíduos em estágio de

plântulas e dependentes de indivíduos adultos para estabelecimento e recrutamento da

população, indicam que D.placentifomis na região 5, representa os maiores riscos e

necessidades de preservação para esta espécie endêmica e ameaçada de extinção da Cadeia do

Espinhaço, MG.

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