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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
INSTITUTO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS E APLICADAS - ICSA
NATHAacuteLIA MOURA VIANA
VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR DE SERVICcedilOS FINANCEIROS UMA
ANAacuteLISE DAS PRAacuteTICAS DE MARKETING DOS INTERMEDIAacuteRIOS
BANCAacuteRIOS
Mariana MG
2017
NATHAacuteLIA MOURA VIANA
VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR DE SERVICcedilOS FINANCEIROS UMA
ANAacuteLISE DAS PRAacuteTICAS DE MARKETING DOS INTERMEDIAacuteRIOS
BANCAacuteRIOS
Artigo cientiacutefico apresentado agrave Universidade
Federal de Ouro Preto como parte das
exigecircncias para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de
administrador
Orientador Profordf Karla Costa
Mariana MG
2017
Catalogaccedilatildeo fichasisbinufopbr
V614v Viana Nathaacutelia Moura Vulnerabilidade do consumidor de serviccedilos financeiros uma anaacutelise das
praacuteticas de marketing dos intermediaacuterios bancaacuterios [manuscrito] Nathaacutelia Moura Viana - 2017
30f
Orientadora Prof Dr Karla Luisa Costa e Costa
Monografia (Graduaccedilatildeo) Universidade Federal de Ouro Preto Instituto de Ciecircncias Sociais Aplicadas Departamento de Ciecircncias Econocircmicas e Gerenciais
1 Intermediaacuterios bancaacuterios 2 Creacutedito consignado 3 Consumidor vulneraacutevel 4 Consumidores hipervulneraacuteveis I Costa Karla Luisa Costa e II Universidade Federal de Ouro Preto III Titulo
CDU 33677(0423)
AGRADECIMENTOS
A Deus e a Satildeo Geraldo por estarem sempre presentes no meu dia-a-dia dando-me proteccedilatildeo
para prosseguir e nunca me desemparando nos momentos difiacuteceis
Aos meus avoacutes meu porto seguro e exemplo de vida
Aos meus pais presentes em boa parte da graduaccedilatildeo
Ao meu irmatildeo pela amizade
Aos meus tios e tias em especial agrave Clecircnia pelo apoio e compreensatildeo
Ao meu namorado pela confianccedila e companheirismo
Agraves sinceras amizades construiacutedas na Repuacuteblica Luluzinhas responsaacuteveis pela retomada da
minha caminhada e por tornar a Repuacuteblica minha segunda famiacutelia
Ao professor Faacutebio pelo o estiacutemulo disponibilidade e contribuiccedilatildeo em grande parte da
pesquisa
Agrave professora Karla orientadora pela colaboraccedilatildeo no artigo
Aos professores pelos ensinamentos adquiridos
Aos membros da banca pela presenccedila e disponibilidade
Agrave Universidade pela oportunidade da realizaccedilatildeo deste curso de graduaccedilatildeo
A todos os colaboradores direccedilatildeo teacutecnicos administraccedilatildeo e terceirizados desta Instituiccedilatildeo
por contribuiacuterem no funcionamento da UFOP na qual satildeo importantes para a caminhada de
cada discente
Aos colegas de curso durante o percurso na UFOP
Em suma agradeccedilo a todos que de forma direta e indireta contribuiacuteram para a concretizaccedilatildeo
deste trabalho
RESUMO
O presente estudo busca analisar as praacuteticas de Marketing empregadas pelos intermediaacuterios
bancaacuterios com relaccedilatildeo aos contratadores do creacutedito consignado Esta modalidade de
empreacutestimo tem sido utilizada por idosos aposentados e pensionistas do INSS pelo fato de
apresentar um acesso faacutecil ao puacuteblico em questatildeo mas por outro lado verifica-se que nessa
relaccedilatildeo de consumidor e fornecedor o segundo eacute o mais beneficiado jaacute que o primeiro
encontra-se em um estado de vulnerabilidade O objetivo do trabalho eacute compreender ateacute que
ponto essas estrateacutegias satildeo desenhadas visando tirar proveito dos consumidores vulneraacuteveis
Contudo por se tratar de uma pesquisa descritiva foi possiacutevel efetivar uma pesquisa de
campo atraveacutes de entrevistas realizadas com sete bancaacuterios (as) e trecircs estagiaacuterios (as) da
regiatildeo de Mariana Ouro Preto e Itabirito Os resultados contidos indicaram que os
consumidores do creacutedito consignado satildeo atraiacutedos pelos bancaacuterios (as) e estagiaacuterios (as)
atraveacutes de teacutecnicas como artifiacutecios de linguagem isto eacute modificam a forma de comunicar
para exercer uma forte influecircncia na hora da compra Outro aspecto eacute a omissatildeo de
informaccedilotildees visto que o cliente natildeo possui as informaccedilotildees suficientes sobre qual produto que
estaacute contratando Aleacutem disso o puacuteblico idoso que utiliza do empreacutestimo consignado eacute
caracterizado como consumidor hipervulneraacutevel uma vez que circunstacircncias como fator
idade niacutevel de instruccedilatildeo formal e analfabetismo acarreta o grau de vulnerabilidade Dessa
forma as instituiccedilotildees financeiras tendem a persuadir e influenciar o consumidor idoso nas
relaccedilotildees consumeristas buscando estimular maiores vendas na contrataccedilatildeo do creacutedito
consignado
PALAVRAS-CHAVE
Intermediaacuterios Bancaacuterios Creacutedito Consignado Consumidor Vulneraacutevel Consumidores
Hipervulneraacuteveis
ABSTRACT
The present study seeks to analyze the marketing practices appointed by banking
intermediaries in relation to contractors of payroll loans This type of loan has been used by
the elderly retirees and pensioners of the INSS because it presents easy access to these
public but on the other hand it is verified that in this relation of consumer and supplier the
second is the most benefited whereas the former is in a state of vulnerability The purpose of
the essay is to understand the extent to which these strategies are designed aiming to take
advantage of vulnerable consumers However because it was a descriptive research it was
possible to actualize a field research through interviews made with seven bankers and three
interns from the regions of Mariana Ouro Preto and Itabirito The results indicated that the
consumers of payroll loans are attracted by bankers and interns through techniques such as
language artifices that is they modify the way of communicating to practise a strong
influence on the time of purchase Another aspect is the omission of informations since the
customer does not have sufficient information about which product he is hiring In addition to
that the elderly public that uses the payroll loan are characterized as hypervulnerable
consumers since circumstances such as age level of formal education and illiteracy brings
the degree of vulnerability This way financial institutions tend to persuade and influence the
elderly consumer in consumer relations seeking to stimulate higher sales in the contracting of
payroll
KEY WORDS
Banking Intermediary Payroll loans Vulnerable Consumer Hypervulnerable Consumers
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 7
2 REVISAtildeO DE LITERATURA 9
21 Creacutedito Consignado 9
22 Consumidor (Hiper) Vulneraacutevel e o Coacutedigo de Defesa do Consumidor 10
221 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal como fator de
vulnerabilidade 12
3 METODOLOGIA 13
31 Descriccedilatildeo da Amostra 15
4 ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 17
41 Categoria I 17
411 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos serviccedilos
financeiros 17
42 Categoria II 19
421 Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito 19
43 Categoria III 23
431 Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito 23
5 CONCLUSAtildeO 25
REFEREcircNCIAS 26
APEcircNDICE A 29
7
1 INTRODUCcedilAtildeO
No cenaacuterio brasileiro o termo creacutedito teve notoriedade somente apoacutes 1994 com a
alteraccedilatildeo do Plano Real Posteriormente a esse periacuteodo notou-se que uma parcela da
populaccedilatildeo brasileira estava sendo excluiacuteda do sistema financeiro de creacuteditos A partir desse
momento surge a preocupaccedilatildeo de dar acesso ao creacutedito agraves classes mais desfavorecidas na
qual as famiacutelias mais pobres deveriam ser incluiacutedas no mercado de creacutedito (BERTONCELLO
e LIMA 2008)
De acordo com Bertoncello e Lima (2008) o governo Lula proporcionou uma poliacutetica
de estiacutemulo ao creacutedito popular isto eacute motivou o consumo da populaccedilatildeo de baixa renda Os
aposentados tambeacutem tiveram notoriedade nesse momento econocircmico Conforme o autor estes
estavam sendo seduzidos por publicidade veiculada aos meios de comunicaccedilatildeo como tambeacutem
estavam sendo assediados por agenciadores e correspondentes dos bancos
Conforme Cavalcante (2015) essa maior notoriedade da terceira idade no mercado de
creacutedito eacute em razatildeo do aumento da populaccedilatildeo idosa e a maior expectativa de vida aleacutem disso
esse puacuteblico contabiliza 16 milhotildees de idosos que utilizam do creacutedito consignado Mas o que
seria o empreacutestimo consignado
O creacutedito consignado surgiu no contexto explicitado acima esse tipo de creacutedito eacute
definido como um empreacutestimo disponibilizado para pessoas fiacutesicas onde o valor das parcelas
eacute descontado diretamente na folha de pagamento as pessoas que utilizam desse creacutedito satildeo
idosos aposentados e pensionistas do INSS Aleacutem disso essa operaccedilatildeo eacute realizada por
intermediaacuterios bancaacuterios (COSTA 2014)
Os autores Barone e Sader (2008 p1258) definem o esse tipo de creacutedito como
ldquoum tipo de creacutedito oferecido para os empregados do setor formal eou aposentados
e pensionistas do INSS com baixas taxas de juros (bem menores que as praticadas
para empreacutestimo pessoal no mercado) em que as prestaccedilotildees satildeo descontadas
diretamente de seus salaacuterios eou aposentadorias e pensotildeesrdquo
Segundo os autores retrocitados o programa de empreacutestimo a esse tipo de puacuteblico
com consignaccedilatildeo foi autorizado pela Lei ndeg 10820 sendo publicada no Diaacuterio Oficial da
Uniatildeo em dezembro de 2003 As primeiras operaccedilotildees foram realizadas em maio de 2004
inicialmente pela Caixa Econocircmica Federal
Pode-se perceber o estiacutemulo da concessatildeo do creacutedito consignado esse estiacutemulo ao
creacutedito ocorre por meio de estrateacutegias de marketing De acordo com Bertoncello e Lima
(2008) as estrateacutegias utilizadas pelas instituiccedilotildees financeiras possuem argumentos
convincentes isto eacute creacutedito faacutecil e raacutepido sem consultas agraves entidades de proteccedilatildeo ao creacutedito
8
acessiacutevel a quem tem restriccedilotildees creditiacutecias e prazos maiores para pagamento Contudo eacute
dessa forma que os bancos visam atrair atuais e futuros consumidores do creacutedito consignado
Atraveacutes da concessatildeo do empreacutestimo consignado surge a relaccedilatildeo de consumo entre os
intermediaacuterios bancaacuterios (fornecedores) e os tomadores de creacutedito consignado
(consumidores) Nessa relaccedilatildeo pode-se dizer que os consumidores satildeo vistos como
vulneraacuteveis Conforme Chertman (2011) o consumidor vulneraacutevel eacute fraacutegil pois natildeo conhece
todas as informaccedilotildees existentes num processo de compra Sendo assim os fornecedores tiram
vantagens na contrataccedilatildeo de um produto ou serviccedilo
Logo pode-se inferir que os fornecedores do empreacutestimo consignado detecircm maiores
informaccedilotildees sobre o serviccedilo oferecido desta maneira os consumidores do empreacutestimo satildeo
considerados a parte mais fraca da relaccedilatildeo jaacute que natildeo possuem na maior parte das vezes
informaccedilatildeo necessaacuteria para uma segura contrataccedilatildeo do creacutedito
Visando mitigar tais problemas ou oferecer apoio a parte vulneraacutevel na relaccedilatildeo de
consumo foi criado o CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) Ele busca reduzir os
problemas existentes entre o fornecedor-consumidor uma vez que os consumidores
necessitam de proteccedilatildeo em especial aqueles chamados (hiper)vulneraacuteveis
Desse modo a vulnerabilidade do consumidor quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito seraacute o
assunto principal abordado ao longo deste trabalho Mais especificamente esta proposta de
pesquisa buscou analisar possiacuteveis accedilotildees de marketing de instituiccedilotildees financeiras e seus
intermediaacuterios que de alguma forma se aproveitam da fragilidade do consumidor de serviccedilos
financeiros O tema em questatildeo eacute multifacetado isto eacute percebe-se que o puacuteblico ao adquirir
um produto ou serviccedilo acaba sendo influenciado pelos bancaacuterios e seus equivalentes estes satildeo
pressionados e induzidos pelas instituiccedilotildees financeiras a utilizarem de praacuteticas de marketing
para efetuaccedilatildeo de maiores nuacutemeros de vendas do creacutedito consignado Logo eacute possiacutevel
concluir que os bancos estatildeo compreendendo que esse tipo de puacuteblico idosos aposentados e
pensionistas pode ser responsaacutevel pela expansatildeo dos negoacutecios bancaacuterios (BUAES 2015)
Por conseguinte este estudo eacute relevante para que a sociedade possa entender e
compreender o efeito que as estrateacutegias de marketing exercem sobre as suas escolhas Aleacutem
disso pode-se salientar conforme Buaes (2015) que a educaccedilatildeo financeira eacute significativa
para a equidade da relaccedilatildeo entre consumidor e fornecedor onde o primeiro possa agir com
discernimento e conhecimento sobre suas atitudes Mas para que esse cenaacuterio se modifique
haacute a necessidade de uma maior atenccedilatildeo a esse tema por parte do governo dando importacircncia
agraves praacuteticas educativas voltadas para alfabetizaccedilatildeo financeira
9
Em virtude dos fatos mencionados acima pode-se indagar Ateacute que ponto agraves praacuteticas
de Marketing dos bancos satildeo desenhadas visando tirar proveito da vulnerabilidade dos
consumidores de serviccedilos financeiros Deste modo tem-se por objetivo geral analisar esse
problema enfrentado pela sociedade desfavorecida Aleacutem disso busca-se explicar as
caracteriacutesticas desses consumidores bem como buscar evidecircncias na qual os bancos se
aproveitam dessa vulnerabilidade
2 REVISAtildeO DE LITERATURA
21 Creacutedito consignado
A expansatildeo do creacutedito no Brasil foi fomentada nos uacuteltimos 10 anos provocando um
aumento na demanda por tal serviccedilo financeiro e consequentemente um aumento do
endividamento das classes menos favorecidas (SBICCA FLORIANI JUK 2012) Por outro
lado o maior acesso ao creacutedito pela populaccedilatildeo acarretou um aumento no consumo bens e
serviccedilos jaacute que as classes desfavorecidas comeccedilaram a ter maior participaccedilatildeo na economia
Com relaccedilatildeo ao cenaacuterio brasileiro a economia do paiacutes se expandiu fortemente no
periacuteodo compreendido entre os anos de 2004 e 2007 provocando relevante impacto sobre a
ampliaccedilatildeo do creacutedito bancaacuterio Dentre os serviccedilos que contribuiacuteram para a ampliaccedilatildeo do
creacutedito bancaacuterio podemos destacar a criaccedilatildeo do empreacutestimo consignado que por sua vez
ajudou a estimular o ambiente econocircmico (ARAUacuteJO 2012) Ainda segundo Arauacutejo (2012) a
introduccedilatildeo do creacutedito consignado foi autorizada atraveacutes da Medida Provisoacuteria nordm130 de
setembro de 2003 convertida na Lei nordm 10820 logo no mecircs de dezembro
O creacutedito consignado eacute um empreacutestimo realizado pelos intermediaacuterios bancaacuterios onde
as parcelas satildeo descontadas diretamente na folha de pagamento do tomador do empreacutestimo
Aleacutem disso deve-se salientar que o desconto maacuteximo na folha para operaccedilotildees desta natureza
eacute de ateacute 30 do valor da remuneraccedilatildeo ou benefiacutecio previsto na Lei Nordm10820 de 17 de
dezembro de 2003
Gonccedilalves e Saacute (2013 p08) explicitam quem satildeo os principais consumidores do
serviccedilo financeiro de empreacutestimo consignado descrevendo como ldquoo puacuteblico alvo da
modalidade de consignados satildeo as pessoas idosas beneficiaacuterios da Previdecircncia Social quer
aposentados quer pensionistasrdquo
Os contratadores de creacutedito consignado geralmente satildeo idosos pessoas de baixa renda
e baixa escolaridade Os consumidores dessa modalidade de serviccedilo financeiro satildeo geralmente
atraiacutedos pelas instituiccedilotildees financeiras que costumam apresentar serviccedilos ldquovantajososrdquo como
10
juros mensais inferiores aos do mercado tradicional e a natildeo necessidade de avalista haja vista
que o risco do negoacutecio eacute pequeno para o fornecedor jaacute que o valor retido eacute descontado na
fonte o que reduz os riscos de inadimplecircncia
A facilidade que os consumidores tecircm de adquirir dinheiro via creacutedito consignado e
dos bancos realizarem tais operaccedilotildees de baixiacutessimo risco faz com que os bancos tirem
vantagem na contrataccedilatildeo do creacutedito consignado Visto que os idosos ao contratarem esse tipo
de creacutedito desconhecem a quantidade de parcelas e o periacuteodo que levaratildeo para quitaacute-las
Aleacutem disso estes natildeo compreendem qual o valor dos juros mensal preocupam-se apenas com
o valor da parcela a ser liquidada (GONCcedilALVES SAacute 2013)
22 Consumidor (Hiper) Vulneraacutevel e o Coacutedigo de Defesa do Consumidor
O termo vulnerabilidade estaacute relacionado com as relaccedilotildees de consumo na aquisiccedilatildeo de
um bem Desta maneira pode-se definir o termo como uma incapacidade ou fragilidade no
ato do consumo Ou seja essa vulnerabilidade do consumo traz como consequecircncia situaccedilotildees
em que os consumidores se enganam erram ou desconhecem todas as informaccedilotildees que
existem num processo de compra Logo a vulnerabilidade do consumidor faz com que os
fornecedores tirem vantagens na contrataccedilatildeo de um produto ou serviccedilo Isto eacute os fornecedores
omitem certas informaccedilotildees sobre os produtos aos clientes (CHERTMAN 2011)
Na contrataccedilatildeo do creacutedito consignado deve-se ressaltar diante do exposto acima que
os tomadores de creacutedito estatildeo em desvantagem com relaccedilatildeo aos fornecedores desse serviccedilo jaacute
que as instituiccedilotildees natildeo transferem as informaccedilotildees necessaacuterias quando esses consumidores
estatildeo obtendo o serviccedilo Segundo Barbosa (2002 p4)
O consumidor eacute a parte mais fraca nas relaccedilotildees de consumo Por isso tem ele direito
agrave boa informaccedilatildeo sobre os produtos e serviccedilos que recebe e quanto aos contratos que
assina Tem tambeacutem direito de ser protegido quando se dirige ao Poder Judiciaacuterio
podendo o Juiz determinar medidas para assegurar os seus direitos no tocante agraves
soluccedilotildees alternativas que a Justiccedila pode encontrar para dar - ao Consumidor - o
resultado equivalente ao do adimplemento das obrigaccedilotildees do fornecedor
Nessa relaccedilatildeo onde o fornecedor ganha vantagem sobre o consumidor de creacutedito
consignado o segundo tem direito a ser amparado no acircmbito judiciaacuterio atraveacutes do Coacutedigo de
Defesa do Consumidor De acordo com o CDC no artigo 4 da Lei ndeg 8078 (BRASIL 1990)
pode-se afirmar que todos os consumidores satildeo vulneraacuteveis
Conforme Pfeiffer (2010) o Coacutedigo de Defesa do Consumidor preocupa-se com a
isonomia na relaccedilatildeo de consumo reconhecendo a vulnerabilidade do consumidor Dessa
forma atraveacutes das normas estabelecidas pelo CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) os
consumidores possuem amparo seguranccedila e proteccedilatildeo na contrataccedilatildeo de um bem ou serviccedilo
11
Com relaccedilatildeo ao CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) um aspecto que deve ser
ressaltado dentro desse coacutedigo eacute o direito agrave informaccedilatildeo De acordo com Tribunal de Justiccedila do
Distrito Federal e dos Territoacuterios (2016)
O direito agrave informaccedilatildeo eacute direito baacutesico do consumidor e visa assegurar ao mesmo
tempo uma escolha consciente permitindo que suas expectativas em relaccedilatildeo ao
produto ou ao serviccedilo sejam de fato atingidas manifestando o que vem sendo
denominado de consentimento informado ou vontade qualificada
Em outras palavras o consumidor ao adquirir um bem ou produto tem como direito a
informaccedilatildeo necessaacuteria para que faccedila uma compra consciente isto eacute o consumidor deve ter
clareza das condiccedilotildees favoraacuteveis e desfavoraacuteveis do produto Dessa forma eacute relevante que o
fornecedor na hora da compra informe para o cliente o que eacute de fato o seu produto natildeo
omitindo informaccedilotildees que prejudique o consumidor na hora da compra
O artigo 6ordm da Lei nordm 8078 incIII (BRASIL 1990) que retrata o CDC apresenta os
direitos baacutesicos do consumidor dentre eles pode-se destacar o direito ldquoa informaccedilatildeo adequada
e clara sobre os diferentes produtos e serviccedilos com especificaccedilatildeo correta de quantidade
caracteriacutesticas composiccedilatildeo qualidade tributos incidentes e preccedilo bem como sobre os riscos
que apresentamrdquo
Aleacutem da vulnerabilidade do consumidor ser defendida no CDC (Coacutedigo de Defesa do
Consumidor) os idosos contam com a proteccedilatildeo do Estatuto do idoso prevista em Lei nordm
1074103 (BRASIL 2003) no artigo 20 eacute possiacutevel inferir que ldquoo idoso tem direito a
educaccedilatildeo cultura esporte lazer diversotildees espetaacuteculos produtos e serviccedilos que respeitem
sua peculiar condiccedilatildeo de idaderdquo Desse modo para assegurar os direitos do consumidor idoso
eacute importante que o fornecedor seja claro com esse tipo de puacuteblico visando facilitar as
relaccedilotildees consumeristas
Quando a vulnerabilidade do consumidor eacute agravada ou possui condiccedilotildees para uma
maior fragilidade nas relaccedilotildees de consumo podemos definir que este consumidor eacute
hipervulneraacutevel De acordo com Meire e Alves (2016) circunstacircncias como fator idade
conhecimento ou condiccedilatildeo social afetam no grau da vulnerabilidade isto eacute os idosos por
exemplo estatildeo mais propensos a se enquadrar no estado de hipervulnerabilidade
Os autores Rosa Bernardes e Feacutelix (2017 p548) afirmam que
[] fatores tais quais idade avanccedilada ou reduzida situaccedilatildeo de enfermidade e outros
mais que importem fragilizaccedilatildeo e vulnerabilidade do consumidor em niacutevel maior
que o comum na exposiccedilatildeo ao produto ou serviccedilo oferecido pelo fornecedor
ocasionam um grau intensificado de inferioridade na relaccedilatildeo de consumo e assim
configuram um tipo de vulnerabilidade mais grave ao que se convencionou chamar
hipervulnerabilidade
12
Conforme o exposto relato os consumidores hipervulneraacuteveis possuem certa
fragilidade Dessa forma a abordagem dos fornecedores aos idosos eacute visando tirar proveito da
situaccedilatildeo na qual se encontram Os autores citados anteriormente destacam
O puacuteblico idoso revela-se como alvo potencial de propagandas e praacuteticas comerciais
abusivas que se aproveitam da reduzida capacidade de discernimento do idoso para
impor a contrataccedilatildeo de serviccedilos Um dos exemplos mais paradigmaacuteticos eacute a
celebraccedilatildeo de contratos de empreacutestimos consignados entre instituiccedilotildees financeiras e
consumidores idosos pois a loacutegica da sociedade de consumo visualizou lucros
certeiros com tal contrataccedilatildeo eis que via de regra idosos possuem rendimentos
mensais fixos sendo por isso a contrataccedilatildeo mais segura (ROSA BERNARDES
E FEacuteLIX 2017 p548)
Gonccedilalves e Saacute (2015) tambeacutem expotildeem a vulnerabilidade do consumidor em meio agraves
publicidades agressivas antieacuteticas onde o consumo eacute apelado utilizando um conteuacutedo forte
emotivo para atrair os consumidores agrave adquirirem determinado produtoserviccedilo
O Projeto de Lei do Senado nordm283 (BRASIL 2012) presume a alteraccedilatildeo do CDC
(BRASIL1990) visando combater essas praacuteticas de marketing com referecircncia a oferta de
creacutedito Logo esse Projeto de Lei no inciso IV do paraacutegrafo 4 recomenda que ldquoEacute vedado
expressa ou implicitamente na oferta de creacutedito ao consumidor publicitaacuteria ou natildeo [] IV ndash
ocultar por qualquer forma os ocircnus e riscos da contrataccedilatildeo de creacutedito dificultar sua
compreensatildeo ou estimular o endividamento do consumidor em especial se idoso ou
adolescenterdquo (BRASIL 2012)
Desta forma nota-se que o Coacutedigo de Defesa do Consumidor (CDC) e os estatutos
funcionam como paracircmetros para garantir a isonomia Com isso os hipervulneraacuteveis possuem
um maior amparo com relaccedilatildeo agraves praacuteticas abusivas de marketing vendas omissatildeo de
informaccedilotildees como tambeacutem as propagandas enganosas sobre o produto ou serviccedilo na qual
estatildeo contratando
221 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal como fator de vulnerabilidade
Na conjuntura atual brasileira eacute possiacutevel observar a ascensatildeo das classes populares
para as camadas meacutedias como tambeacutem o aumento de poder de compra dos idosos Logo eacute
possiacutevel perceber uma maior atenccedilatildeo dada pelas empresas a esse tipo de puacuteblico em especial
as instituiccedilotildees financeiras Esse poder de compra dos idosos fez com que as empresas
bancaacuterias estimulassem a contrataccedilatildeo de creacutedito por parte dessas pessoas em especial o
creacutedito consignado (BUAES 2015) Atraveacutes disso pode-se indagar Por que o interesse dos
bancos nesse puacuteblico
13
Conforme Buaes (2015) o aumento do poder de compra do idoso fez com que esse
puacuteblico apresentasse interesse na contrataccedilatildeo de produtos e serviccedilos financeiros visto que os
bancos apresentam certa facilidade na obtenccedilatildeo de creacuteditos Um fato destacado por Buaes
(2015) eacute a falta de percepccedilatildeo dos idosos quanto a suas limitaccedilotildees financeiras ou ateacute mesmo a
dificuldade em aceitar essa insuficiecircncia Desta maneira pode-se observar a vulnerabilidade
em duas dimensotildees neste perfil do consumidor idoso isto eacute a falta de conhecimento formal e
a anaacutelise na contrataccedilatildeo de um creacutedito
Quanto a vulnerabilidade do consumidor Chertman (2011) afirma que pode ser
identificada atraveacutes de caracteriacutesticas natildeo observaacuteveis o que eacute o caso do analfabetismo
Entende-se por analfabeto a pessoa com a incapacidade da linguagem de forma geral seja na
leitura intepretaccedilatildeo compreensatildeo e na produccedilatildeo de conhecimento Logo o analfabetismo
possibilita o indiviacuteduo tornar-se um consumidor vulneraacutevel
Aleacutem da questatildeo de pessoas analfabetas tomadores de creacuteditos haacute tambeacutem o perfil de
consumidores de baixa instruccedilatildeo Essas pessoas satildeo capazes de assinar seu proacuteprio nome
quanto agrave leitura apresentam alguma dificuldade no entendimento ou necessitam de ajuda para
uma melhor compreensatildeo Esse tipo consumidor como foi dito acima tambeacutem se enquadra
como vulneraacutevel
Dado o exposto compreende-se que o analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo
formal agravam ainda mais a vulnerabilidade do consumidor em questatildeo Os idosos aleacutem de
possuiacuterem o fator idade na qual afeta a relaccedilatildeo entre consumidorfornecedor (MEIRE
ALVES 2016) apresentam tambeacutem a presenccedila dessas duas caracteriacutesticas que podem
delimitar uma escolha consciente e clara no momento da contrataccedilatildeo de um produto ou
serviccedilo
3 METODOLOGIA
O estudo foi embasado em pesquisas bibliograacuteficas online e impressas como tambeacutem
trabalhos acadecircmicos e perioacutedicos A metodologia utilizada foi qualitativa do tipo descritiva
de acordo Godoy (1995 p62) os pesquisadores de orientaccedilatildeo qualitativadescritiva executam
suas pesquisas baseadas em trabalho de campo a partir de entrevistas e observaccedilotildees aleacutem
disso os pesquisadores possuem um contato direto com o local da pesquisa e seus sujeitos
portanto eacute possiacutevel analisar dados escrever resultados obtidos e descrever o que foi dito
pelos entrevistados
14
A pesquisa de campo foi realizada atraveacutes de entrevistas semi-estruturadas
(APEcircNDICE A) sendo composta por treze questotildees discursivas Segundo Boni e Quaresma
(2005 p 75) as teacutecnicas desse tipo de entrevista
[] tecircm como vantagem a sua elasticidade quanto agrave duraccedilatildeo permitindo uma
cobertura mais profunda sobre determinados assuntos Aleacutem disso a interaccedilatildeo entre
o entrevistador e o entrevistado favorece as respostas espontacircneas Elas tambeacutem satildeo
possibilitadoras de uma abertura e proximidade maior entre entrevistador e
entrevistado o que permite ao entrevistador tocar em assuntos mais complexos e
delicados ou seja quanto menos estruturada a entrevista maior seraacute o favorecimento
de uma troca mais afetiva entre as duas partes Desse modo estes tipos de entrevista
colaboram muito na investigaccedilatildeo dos aspectos afetivos e valorativos dos informantes
que determinam significados pessoais de suas atitudes e comportamentos As
respostas espontacircneas dos entrevistados e a maior liberdade que estes tecircm podem
fazer surgir questotildees inesperadas ao entrevistador que poderatildeo ser de grande
utilidade em sua pesquisa
Em suma pode-se perceber que esse tipo de entrevista proporcionou aos entrevistados
certa autonomia em discutir sobre o tema em questatildeo Visto que no percorrer das
interlocuccedilotildees houve a possibilidade de introduzir novos assuntos sobre o estudo como
tambeacutem a exemplificaccedilatildeo de situaccedilotildees vivenciadas pelos entrevistados
Para a realizaccedilatildeo das entrevistas no presente estudo foi indispensaacutevel entrevistar um
nuacutemero de sete bancaacuterios(as) e trecircs estagiaacuterios(as) de instituiccedilotildees financeiras privadas da
cidade de Mariana Ouro Preto e Itabirito visto que cinco deles eram do sexo masculino e os
demais do sexo feminino Visando buscar nesses gecircneros perspectivas diversas sobre as
teacutecnicas utilizadas na operaccedilatildeo do empreacutestimo consignado agrave aposentados e pensionistas Estas
entrevistas realizadas tiveram duraccedilatildeo meacutedia de quinze a trinta minutos sendo que todas as
interlocuccedilotildees foram gravadas e posteriormente transcritas para entatildeo serem analisadas
Portanto as anaacutelises das respostas foram fundamentadas em anaacutelises de conteuacutedos e
posteriormente buscou-se categorizar os elementos relevantes discutidos durante as
interlocuccedilotildees
De acordo com Cavalcante Calixto e Pinheiro (2014) a anaacutelise de conteuacutedo permite a
ldquoanaacutelise do fenocircmeno em profundidade elencando as subjetividades suas relaccedilotildees bem
como interlocuccedilotildees na malha socialrdquo logo atraveacutes das entrevistas com os bancaacuterios pode-se
verificar suas percepccedilotildees
Conforme Caregnato e Mutti (2006 p 683)
A teacutecnica de anaacutelise de conteuacutedo se compotildee de trecircs grandes etapas 1) a preacute-anaacutelise
2) a exploraccedilatildeo do material 3) o tratamento dos resultados e interpretaccedilatildeo A
mencionada autora descreve a primeira etapa como a fase de organizaccedilatildeo que pode
utilizar vaacute- rios procedimentos tais como leitura flutuante hipoacuteteses objetivos e
elaboraccedilatildeo de indicadores que fundamentem a interpretaccedilatildeo Na segunda etapa os
dados satildeo codificados a partir das unidades de registro Na uacuteltima etapa se faz a
categorizaccedilatildeo que consiste na classificaccedilatildeo dos elementos segundo suas
semelhanccedilas e por diferenciaccedilatildeo com posterior reagrupamento em funccedilatildeo de
15
caracteriacutesticas comuns Portanto a codificaccedilatildeo e a categorizaccedilatildeo fazem parte da AC
As autoras afirmam que aleacutem das teacutecnicas utilizadas na anaacutelise de conteuacutedo o
pesquisador pode categorizar fragmentos do texto que se repetem atraveacutes de frases ou
expressotildees Atraveacutes disso as entrevistas realizadas com os bancaacuterios foram categorizadas da
seguinte maneira
Categoria I- O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Categoria II- Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Categoria III- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por conseguinte essas respostas foram analisadas com o intuito de verificar como os
consumidores hipervulneraacuteveis satildeo abordados pelos(as) bancaacuterios(as) e quais as praacuteticas que
as instituiccedilotildees financeiras adotam para convencer esse puacuteblico Contudo compreende-se que
por meio das entrevistas pode-se construir consideraccedilotildees em relaccedilatildeo ao objetivo da pesquisa
31 Descriccedilatildeo da Amostra
Para a anaacutelise das praacuteticas de marketing utilizadas pelos intermediaacuterios bancaacuterios
estudaram-se sete bancaacuterios(as) e trecircs estagiaacuterios(as) atuantes na concessatildeo de empreacutestimos
consignados Estes operam nas localidades de Mariana Ouro Preto e Itabirito Em vista disso
para a execuccedilatildeo da pesquisa foi relevante a realizaccedilatildeo de entrevistas a partir desse
pressuposto foi possiacutevel inferir interpretaccedilotildees diversas sobre esses sujeitos no momento da
concessatildeo do creacutedito
As interlocuccedilotildees com os bancaacuterios e seus correspondentes foram marcadas
antecipadamente via celular informando-lhes a data o local a preferir a duraccedilatildeo em meacutedia e
do que se tratava o estudo As entrevistas foram sucedidas no periacuteodo de julho a agosto de
2016 Outro aspecto a ser relatado aos entrevistados sobre o estudo foi a importacircncia destes
para pesquisa visto que o nuacutemero de informaccedilotildees fornecidas possibilitaria uma anaacutelise
satisfatoacuteria para a exploraccedilatildeo do tema O quadro a seguir resume as caracteriacutesticas da amostra
analisada
16
Quadro 1 Caracteriacutesticas da amostra analisada
Bancaacuterios Estagiaacuterios Nomes Fictiacutecios Idade Cidades
B1 Maria Claacuteudia 41 Mariana (MG)
B2 Carlos Eduardo 22 Ouro Preto (MG)
B3 Daniel 25 Ouro Preto (MG)
B4 Leandro 27 Mariana (MG)
B5 Maacutercia 34 Mariana (MG)
B6 Antocircnio 38 Mariana (MG)
B7 Camila 27 Mariana (MG)
E1 Ana Luiacuteza 25 Itabirito (MG)
E2 Marcela 22 Itabirito (MG)
E3 Marcos 24 Ouro Preto (MG)
Fonte Dados da pesquisa
Com relaccedilatildeo a populaccedilatildeo do estudo foram levantados dados buscando alcanccedilar a
quantidade aproximada de bancaacuterios e estagiaacuterios na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e
Itabirito Para a identificaccedilatildeo dos dados foi necessaacuterio entrar em contato via telefone em todas
as agecircncias privadas dessas localidades Atraveacutes do quadro abaixo pode-se concluir o nuacutemero
da populaccedilatildeo desse puacuteblico
Quadro 2 Quantidade da populaccedilatildeo de bancaacuterios e estagiaacuterios
Localidade Bancaacuterios Estagiaacuterios
Mariana 55 3
Ouro Preto 63 3
Itabirito 52 8
TOTAL 170 14
Fonte Dados da pesquisa
Em suma a pesquisa de campo foi desenvolvida nessas localidades visto que esses
municiacutepios possuem um nuacutemero representativo de idosos puacuteblico alvo das instituiccedilotildees
financeiras De acordo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2010) a cidade de
Mariana conta com proximamente 5200 idosos jaacute Ouro Preto possui cerca de 7994 idosos e
Itabirito dispotildee em meacutedia 4998 idosos Por conseguinte surge a iniciativa de analisar os perfis
dos bancaacuterios visando compreender as praacuteticas que estes utilizam para alcanccedilar um maior nuacutemero
de idosos para efetivar a contrataccedilatildeo do creacutedito
17
4 ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
Como explicitado anteriormente a vulnerabilidade do consumidor existe a partir da
relaccedilatildeo entre empresa e cliente E considerando todas as peculiaridades e caracteriacutesticas que
fazem do consumidor de serviccedilos financeiros um consumidor vulneraacutevel esta seccedilatildeo do texto
tem por propoacutesito retratar por meio da apresentaccedilatildeo e anaacutelise dos dados extraiacutedos das
entrevistas realizadas ao longo deste estudo a forma como os bancaacuterios e seus
correspondentes operam na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e Itabirito especialmente no que se
refere ao modo como oferecem e conduzem as negociaccedilotildees de serviccedilos financeiros Quanto agrave
anaacutelise dos resultados o estudo utilizou a categorizaccedilatildeo dos discursos dos entrevistados em I
II III Logo as categorias baseiam-se em fragmentos das interlocuccedilotildees aspectos recorrentes
mencionados pelos bancaacuterios
A seguir satildeo apresentados trechos das falas dos dez respondentes que participaram
desta pesquisa Tais falas foram gravadas durante as entrevistas Os nomes adotados a seguir
para marcar que os trechos transcritos satildeo de falas de diferentes entrevistados satildeo fictiacutecios
Todas as entrevistas foram transcritas respeitando integralmente a linguagem e sinais
transmitidos por cada entrevistado
41 Categoria I
411 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos serviccedilos
financeiros
O analfabetismo e falta de instruccedilatildeo impactam no momento da contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros visto que esse tipo de puacuteblico eacute persuadido pelos bancaacuterios a tomar
determinadas decisotildees pois este natildeo possui informaccedilotildees necessaacuterias sobre o que seria esse
creacutedito o qual estaacute contratando Atraveacutes dos trechos das entrevistas foi possiacutevel identificar
que os bancaacuterios estagiaacuterios influenciam na hora da aquisiccedilatildeo do serviccedilo ateacute mesmo nas
formas como os clientes iratildeo pagar o empreacutestimo O quadro abaixo apresenta trechos da
entrevista que demonstram a falta de conhecimento financeiro dos consumidores do
empreacutestimo consignado
18
Quadro 3 - O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Entrevistados Trechos da entrevista
Maria Claacuteudia ldquoTem muita gente eacute Natildeo tatildeo instruiacuteda gente mais
simples Bom existem vaacuterias pessoas que pegam
aqui com a gente que satildeo analfabetas entendeurdquo
Ana Luiacuteza ldquoMuitas pessoas natildeo satildeo instruiacutedas poucas
pessoas sabem assinar seu proacuteprio nome mas
existem pessoas alfabetizadas simrdquo
ldquoA maioria acredito que natildeo tenha uma noccedilatildeo
esclarecimento ateacute porque quanto mais vezes vocecirc
dividir mais juros incidem e eacute melhor para o
bancordquo
Marcela ldquoEu acho que a grande maioria tinha um grau de
instruccedilatildeo reduzido e isso facilitava na hora de
vender neacuterdquo
ldquoEntatildeo a gente sempre tentava colocar de setenta
e duas vezes ou setenta e cinco satildeo seis anos de
consignado Entatildeo quanto maior o prazo maior a
taxa de juros Agraves vezes vocecirc pegava um capital
um volume muito pequeno e virava pra pessoa e
falava assim -Natildeo Por que aiacute soacute vai descontar
soacute R$3000 reais no seu pagamento e a pessoa natildeo
tinha dimensatildeo que por a gente taacute dividindo
aquele valor pequeninho sai muito grande depois
por conta da taxa que ela aumentava de acordo
com o prazordquo
Carlos Eduardo ldquoO mais comum satildeo pessoas de baixa renda e sem
informaccedilatildeo Exemplo A maioria dos consignados
os clientes nem perguntam as taxas de juros ele
natildeo estaacute preocupado com o prazo ele estaacute
preocupado com o valor da parcela se ele vai
conseguir pagar ou natildeo e o valor que vai sobrar
pra ele vai conseguir passar o mecircsrdquo
Leandro ldquoGrande parte natildeo satildeo instruiacutedas mas eu atendo
mais alta renda entatildeo meus clientes satildeo mais
seletivos eles pegam valores maiores natildeo eacute
qualquer empreacutestimo que ele pega eacute mais para
investimento mesmo ou pra sair de alguma coisardquo
19
Aacutercia ldquoEntatildeo assim muitas vezes as pessoas natildeo vem
com o conhecimento financeiro real eles querem
o imediato querem o empreacutestimo naquele
momento Muita gente natildeo tem a noccedilatildeo de como
vai ficar aquilordquo
Antocircnio ldquoEntatildeo no puacuteblico de menor renda esse
discernimento eacute menos eles olham mais se a
parcela cabe no bolso deles do que no montante
de juros que eles vatildeo pagar no finalrdquo
Fonte Dados da pesquisa
Diante destes dois perfis de consumidores vulneraacuteveis os analfabetos e os com baixa
instruccedilatildeo pode-se verificar por meio das gravaccedilotildees que tanto as pessoas analfabetas e as com
baixa instruccedilatildeo natildeo possuem compreensatildeo suficiente para realizar uma contrataccedilatildeo de creacutedito
A entrevistada Marcela afirma que vender para esse determinado tipo puacuteblico facilitava pelo
fato da falta de conhecimento financeiro
Outra situaccedilatildeo comentada durante a gravaccedilatildeo das entrevistas foi sobre as parcelas dos
empreacutestimos os bancaacuterios e os estagiaacuterios induzem os clientes a dividirem em mais vezes A
entrevistada Marcela tambeacutem afirma que sempre propunha aos seus clientes dividir em
setenta e duas vezes alegando para essas pessoas que o valor iria ldquocaber no bolsordquo Mas na
verdade os bancaacuterios aproveitam do analfabetismo financeiro dos tomadores de creacutedito
visando a lucratividade das instituiccedilotildees financeiras dado que as taxas aumentam de acordo
com prazo
A partir dessa anaacutelise eacute possiacutevel perceber de forma clara as limitaccedilotildees dos idosos no
processo de compra Conforme Chertman (2011 p21) as consequecircncias da idade
ldquopotencializam a vulnerabilidade de compra pela dificuldade de comprar em escala (podendo
negociar preccedilos)rdquo De fato nota-se que a questatildeo do analfabetismo baixa instruccedilatildeo e idade
afetam na tomada de decisatildeo consciente do consumidor
42 Categoria II
421 Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
A informaccedilatildeo no momento da compra eacute essencial para que o cliente natildeo faccedila uma
escolha errocircnea quanto ao produto Em relaccedilatildeo as entrevistas realizadas foi possiacutevel inferir
que na contrataccedilatildeo de creacutedito os bancaacuterios e seus intermediaacuterios natildeo informam o valor da
taxa de juros e acabam focando nos valores das parcelas no prazo e em quantas vezes o
parcelamento ficaraacute Sendo assim os atendentes procuram natildeo informar aos consumidores
20
quanto ficaraacute o valor total do empreacutestimo ao incidirem os juros Atraveacutes do quadro abaixo
pode-se comprovar que no momento da contrataccedilatildeo do creacutedito os bancaacuterios e estagiaacuterios
omitem determinadas informaccedilotildees aos clientes
Quadro 4 - Omissatildeo de informaccedilotildees na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Ana Luiacuteza ldquoNormalmente eu natildeo falo o valor dos juros
dificilmente eu falo o valor do juros soacute falo que
ele eacute mais baixo e informo que independe do que
a aconteccedila na economia brasileira a partir do
momento que a pessoa estaacute fazendo o contrato o
juros nunca vai aumentar que aquele juros e
sempre seraacute aquelerdquo
Marcela ldquoEntatildeo na verdade o que eu aprendi no Banco X
a regra clara Eu tinha que omitir Eu natildeo
precisava mentir mas eu precisava omitir
algumas informaccedilotildees Entatildeo eu abordava o
cliente sempre eacute Buscando saber do sonho dele
para depois eu vender o empreacutestimo Eu tentava
omitir informaccedilotildees como taxas prazo de
pagamento que eram coisas que eu soacute falava se o
cliente me perguntasse Eu achava muito
tranquilo assim vender Eu natildeo tinha muita
dificuldade natildeordquo
ldquoA gente omitia o valor total que o cliente ia
pagar justamente porque se vocecirc falar ele natildeo vai
levar entatildeo eacute A gente omitia e tentava fazer o
cliente fechar a venda na hora Principalmente
quando a venda era no caixa eletrocircnico que era
muito mais faacutecil porque agraves vezes o cliente
fechava a venda ali naquele momento naquele
instante natildeo refletia muito era mais faacutecil vender e
muitas vezes eles tavam sozinho muitas vezes os
aposentados vatildeo para agecircncia sozinho natildeo
estavam acompanhados dos filhos de ningueacutemrdquo
Carlos Eduardo ldquoNo contrato fala dos juros mas eu soacute respondo
quando o cliente perguntardquo
Marcos ldquoQuando o cliente fazia por exemplo um
empreacutestimo a gente falava o valor da parcela
21
quanto que ele vai pegar quando vai descontar do
pagamento falava a taxa de juros tambeacutem mas
acabava que eles nem sabiamrdquo
ldquoSe perguntasse alguma coisa a gente falavardquo
Fonte Dados da pesquisa
Como jaacute foi dito o cliente tem como direito obter informaccedilotildees necessaacuterias do que ele
estaacute adquirindo mas quando isso natildeo ocorre pode-se dizer que estaacute ocorrendo uma omissatildeo
dos fatos O autor Silva (2009 p146) expotildee o art 14 do CDC destacando ldquoo dever de
informaccedilatildeo cuja omissatildeo caracteriza defeito do serviccedilo ensejador do dever de indenizarrdquo
Logo pode-se concluir que quando o cliente natildeo eacute alertado sobre o produto ou serviccedilo e este
causa danos o consumidor deve ser reparado
Diante do que foi explicitado acima pode-se perceber atraveacutes das gravaccedilotildees feitas
quatro entrevistados falaram que natildeo davam as informaccedilotildees necessaacuterias para os contratadores
de creacuteditos A entrevistada Marcela usa o termo ldquoomissatildeordquo ela afirma que agraves vezes era
necessaacuterio omitir para que a venda do empreacutestimo consignado fosse realizada mais
rapidamente Jaacute os demais entrevistados alegam que normalmente natildeo falam as taxas de juros
eles informam as taxas apenas se o cliente perguntar Percebe-se tambeacutem que por se tratar de
um puacuteblico mais vulneraacutevel os bancaacuteriosestagiaacuterios tinham maior facilidade em convencecirc-
los na hora da compra jaacute que grande parte desse puacuteblico natildeo possui instruccedilotildees suficientes
para adquirir esse tipo de produto
Dessa forma eacute expliacutecito que os bancaacuterios e os estagiaacuterios natildeo davam as informaccedilotildees
necessaacuterias aos seus clientes pelo fato de terem que apresentar maior lucratividade aos
bancos Uma vez que como foi relatado por Marcela a instituiccedilatildeo financeira onde trabalhava
alegava que certas informaccedilotildees deveriam ser ldquoomitidasrdquo Dessa forma pode-se evidenciar a
violaccedilatildeo do direito do consumidor
Dentre a vulnerabilidade do consumidor quanto a omissatildeo dos fatos por partes dos
bancaacuterios e seus correspondentes haacute tambeacutem outro recurso utilizado pelos fornecedores o
linguiacutestico Isto eacute satildeo termos palavras usadas que suavizam na hora da contrataccedilatildeo de
creacutedito Pode-se dizer que eacute a comunicaccedilatildeo existente entre o fornecedor e o cliente a fim de
que o primeiro consiga induzir o segundo a comprar seu produto
O marketing de vendas retrata esta relaccedilatildeo citada acima de consumidor e fornecedor
De acordo com Bernardi (2012 p75) ldquoo marketing de vendas possui uma relaccedilatildeo estreita com
o elemento do composto mercadoloacutegico denominado de promoccedilatildeo que se refere a todas as
accedilotildees relativas agrave comunicaccedilatildeo e agrave venda dos produtos de uma organizaccedilatildeordquo
22
Atraveacutes dessa relaccedilatildeo construiacuteda pela comunicaccedilatildeo pode-se verificar por parte das
entrevistas que os bancaacuterios e os estagiaacuterios utilizam de recursos linguiacutesticos para convencer o
cliente a comprar tal produto Isto eacute estes tinham certo cuidado na maneira de falar para que
os clientes se sentissem agrave vontade e consequentemente efetivar a venda do produto
A comunicaccedilatildeo exerce influecircncia na venda de um produto ou seja esse diaacutelogo entre
cliente e fornecedor facilita a compra de um produto por parte do consumidor O autor
Bernardi (2012 p77) acresce o termo merchandising este eacute visto como um dos principais
meacutetodos de marketing associado agrave venda
Eacute um termo que pode ser usado como instrumento de comunicaccedilatildeo que apresenta o
produto ao consumidor e favorece a sua compra Merchandising no entanto eacute criar
um cenaacuterio de um produto serviccedilo ou marca de forma casual Os principais
conceitos do merchandising estatildeo voltados agrave boa estrateacutegia de comunicaccedilatildeo no
ponto de venda pois visa destacar o produto ou serviccedilo buscando assim motivar as
compras por impulso jaacute que possui uma comunicaccedilatildeo muito proacutexima agrave venda
Logo compreende-se que o merchandising eacute uma ferramenta que aproxima o cliente e
o fornecedor atraveacutes da comunicaccedilatildeo
Como jaacute foi mencionado anteriormente a forma de comunicar exerce uma forte
influecircncia no ato da compra Todavia atraveacutes das entrevistas pode-se notar certa preocupaccedilatildeo
em como abordar o cliente ou seja a forma de dialogar com seus clientes Percebeu-se entatildeo
que determinadas palavras eram trocadas por outras como por exemplo o termo
ldquoempreacutestimordquo muitas vezes era substituiacutedo pelo termo ldquodinheirinhordquo ou creacutedito A partir do
quadro abaixo pode-se concluir que a forma de falar eacute utilizada como um artifiacutecio na hora da
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado
23
43 Categoria III
431 Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por se tratar de um puacuteblico de idade com baixo grau de instruccedilatildeo ou ateacute mesmo analfabetos
os bancaacuterios estagiaacuterios se beneficiam dessa relaccedilatildeo A forma de falar induz os consumidores
de serviccedilos financeiros a adquirirem certo produto O Quadro 5 apresenta as respostas
referentes agrave forma de falar dos intermediaacuterios bancaacuterios
Quadro 5- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Marcela ldquoAcredito que para vender esse tipo de produto que eacute
um produto difiacutecil que as pessoas agraves vezes quando
vocecirc fala ldquoempreacutestimordquo a pessoa fica com o peacute atraacutes
entatildeo tem que ser assim Coisas que a gente natildeo usa eacute
falar empreacutestimo natildeo existe no banco entendeu Eacute
um dinheirinho suavizar realmente a expressatildeo
empreacutestimo porque quando vocecirc fala a expressatildeo
empreacutestimo as pessoas se fechamrdquo
ldquoMuitas vezes eles natildeo entendiam o que vocecirc estava
falando entatildeo Ah fulano vocecirc tem um dinheirinho
aqui disponiacutevel para vocecirc pegar aiacute eles perguntavam
Mas vocecirc estaacute me dando esse dinheirordquo
Marcos ldquoOutra coisa o termo empreacutestimo o pessoal mesmo
falava que era uma coisa muito pesada de se dizer a
maioria das pessoas natildeo vecirc com bons olhos entatildeo a
gente falava um dinheirinho pro cliente pois ameniza
um pouco o termo Querendo ou natildeo o modo de falar
influencia um poucordquo
Daniel ldquoEu por exemplo falo creacutedito porque eu tocirc
conversando com o cliente e ele vecirc que tem outras
pessoas em volta agraves vezes eu falar empreacutestimo ele
pode ficar um pouco chateado daquilo nem todo
mundo gosta de ir no banco pra pegar empreacutestimo
gosta de ir laacute para sacar dinheiro Eu prefiro trabalhar
com a palavra creacutedito rdquo
Antocircnio ldquoGeralmente a gente utiliza o termo creacutedito vocecirc tem
um creacutedito aprovado Porque agraves vezes a pessoa tem
ateacute medo resistecircncia em empreacutestimo Geralmente a
24
gente fala que vocecirc tem um creacutedito aprovado e aiacute a
gente fala em qual linha a pessoa tem creacutedito
pessoal financiamento para veiacuteculos financiamento
imobiliaacuterio consignado que eacute o creacutedito que vem da
folha de pagamento Entatildeo a gente normalmente
oferta creacutedito ldquo
Fonte Dados da pesquisa
Conforme alguns entrevistados esses natildeo utilizam o termo correto que eacute ldquoempreacutestimo
consignadordquo Nas gravaccedilotildees os bancaacuterios e seus correspondentes alegam que os clientes tecircm
eacute um ldquodinheirinhordquo disponiacutevel para pegarem no banco Outros afirmam que o vocaacutebulo
empregado por eles eacute o ldquocreacuteditordquo pois ameniza um pouco o termo Este possui o mesmo
significado do primeiro mas para muitos o termo quer dizer credibilidade ldquocreacutedito na praccedilardquo
apesar de ser sinocircnimo do vocaacutebulo ldquoempreacutestimordquo essa palavra soa de forma positiva
Ao verificar a forma de comunicaccedilatildeo com os clientes do empreacutestimo consignado
pode-se perceber que essa substituiccedilatildeo de ldquopalavrasrdquo ocorre com o intuito amenizar o termo
ldquoempreacutestimordquo visto que por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel as pessoas assustam quando
pronunciam a palavra empreacutestimo Para muitos esse termo soa de forma negativa como
pessoas que possuem desorganizaccedilatildeo financeira ou inadimplecircncia Por este fato tanto os
bancaacuterios quanto os estagiaacuterios procuram utilizar vocaacutebulos que suavizem e que soem de uma
forma positiva para o cliente Sendo assim a forma de se comunicar pode alterar a venda de
determinado produto ofertado Mas essa forma de suavizar os termos empregados durante a
venda do serviccedilo financeiro fora de certos limites eacutetico-legais pode ser vista como uma
espeacutecie de ldquoomissatildeordquo do que realmente esses tomadores de creacutedito estatildeo comprando Pois
como jaacute foi retratado de acordo com o CDC os termos devem ser informados de forma clara
ao cliente
Podemos exemplificar de acordo com um entrevistado que afirma utilizar o termo
ldquodinheirinhordquo por ser mais faacutecil dos aposentados e pensionistas entenderem jaacute que muitos
desses clientes possuiacuteam dificuldades sobre o que de fato estavam comprando Aleacutem disso o
bancaacuterio acredita que modo de falar pode alterar a execuccedilatildeo da venda
Tendo em vista os aspectos observados tanto o artifiacutecio linguiacutestico quanto a omissatildeo
das informaccedilotildees pelos bancaacuteriosestagiaacuterios possui objetivos em comum pelas instituiccedilotildees
financeiras na qual visam a obtenccedilatildeo de maiores lucros para essas empresas Aleacutem disso os
bancos satildeo os maiores beneficiados pois natildeo levam em consideraccedilatildeo a isonomia das relaccedilotildees
entre consumidor e fornecedor Portanto conclui-se que em meio a essa relaccedilatildeo o consumidor
eacute parte mais fraca onde seus direitos satildeo violados pelos fornecedores de creacutedito
25
5 CONCLUSAtildeO
O creacutedito consignado eacute um tipo de empreacutestimo recente que vem sendo utilizado com
maior frequecircncia por um determinado puacuteblico (LOPES et al2014) Com isso as instituiccedilotildees
bancaacuterias estatildeo apresentando certo interesse sobre esse ldquonovordquo tipo de puacuteblico em ascensatildeo
Os intermediaacuterios bancaacuterios vecircm buscando formas para atrair os idosos seja atraveacutes das
facilidades da obtenccedilatildeo do creacutedito ou ateacute mesmo no modo de comunicar utilizando de
artifiacutecios de linguagem Em suma os bancos utilizam de praacuteticas de marketing tensionados a
obter vantagens sobre esses consumidores De acordo com o Coacutedigo de Consumidor (CDC)
estes satildeo considerados como vulneraacuteveis
Perante o estudo notou-se que a vulnerabilidade do idoso eacute agravada jaacute que
enquadram como consumidores hipervulneraacuteveis Essa vulnerabilidade acontece atraveacutes das
relaccedilotildees de consumo onde os fornecedores do empreacutestimo tiram proveito do estado em que
esses consumidores se encontram Para que estes cidadatildeos hipervulneraacuteveis sejam amparados
haacute o Estatuto do idoso e Coacutedigo do Consumidor ambos dispotildeem de normas que regem a
relaccedilatildeo entre consumidor-fornecedor Deve-se ressaltar que apesar da existecircncia das
legislaccedilotildees os bancos continuam praticando ldquoexcessosrdquo com os consumidores no momento da
contrataccedilatildeo do creacutedito Eacute relevante a imposiccedilatildeo do Estado visando inibir a lesatildeo do direito
sendo especificado ao idoso
Logo atraveacutes dos resultados da pesquisa pode-se concluir que essa vulnerabilidade
acentuada ocorre atraveacutes de fatores como idade baixa escolaridade e baixo grau de instruccedilatildeo
que interferem nas relaccedilotildees consumeristas isto eacute os contratadores de creacutedito consignado natildeo
possuem domiacutenio para realizar uma compra consciente Sendo assim os consumidores
apresentam limitaccedilotildees sobre o serviccedilo financeiro na qual estaacute adquirindo A partir da anaacutelise
foi possiacutevel verificar atraveacutes dos entrevistados que o puacuteblico idoso natildeo possuiacutea conhecimento
sobre as taxas juros que incidiam sobre as parcelas Aleacutem disso os bancaacuterios afirmavam que
iriam dividir em mais pagamentos para natildeo atrapalhar no orccedilamento mensal do consumidor
Por conseguinte aspectos como estes facilitavam a induzir os idosos a adquirem o creacutedito
mostrando a estes o quatildeo era vantajoso o produto oferecido
Tambeacutem deve-se ressaltar que por se tratar de um puacuteblico com baixo grau de instruccedilatildeo
e alguns analfabetos tanto os bancaacuterios quanto os estagiaacuterios omitiam informaccedilotildees bem
como tambeacutem utilizavam os recursos linguiacutesticos Estas duas formas contribuiacuteram para que as
vendas fossem efetuadas de uma maneira mais raacutepida Uma vez que a forma de falar ou a
26
omissatildeo influenciavam aos idosos comprarem o produto de uma forma irrefletida visto que
esses consumidores acreditavam no que estava sendo falado por parte do fornecedor
Portanto diante da fragilidade do consumidor em questatildeo eacute perceptiacutevel que na
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado boa parte dos idosos muitas vezes natildeo estatildeo acompanhados
por nenhum membro da famiacutelia Desta maneira para os bancaacuteriosestagiaacuterios a forma de
abordar o cliente fica mais acessiacutevel ainda mais por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel com
pouco grau de instruccedilatildeo ou conhecimento Logo situaccedilotildees como estas contribuem para os
fornecedores tirarem proveito do puacuteblico idoso Outro fato que deve ser destacado eacute a
presenccedila do Estado incentivando programas de alfabetizaccedilatildeo financeira independente do fator
idade para que a sociedade no geral saiba ter consciecircncia clareza sobre as relaccedilotildees de
consumo
6 REFEREcircNCIAS
ARAUacuteJO V L D Preferecircncia pela liquidez dos bancos puacuteblicos no ciclo de expansatildeo do
creacutedito no Brasil Revista Anaacutelise Econocircmica n 59 2013
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29
APEcircNDICE A
Roteiro de Entrevista qualitativa aplicada aos bancaacuterios e seus correspondentes
1 Idade
2 Formaccedilatildeo acadecircmica ( ) Ensino Meacutedio
( ) Superior
3 Haacute quanto tempo vocecirc trabalha ou jaacute trabalhou vendendo serviccedilos financeiros Em
qual cidade Descreva os serviccedilos financeiros que vocecirc mais estava habituado a
venda
4 Fale um pouco sobre as atividades que vocecirc realizava dentro da empresa Me conte
como era o seu dia a dia como era o processo de venda Da captaccedilatildeo do cliente ao
fechamento do contrato ou da venda do serviccedilo DEcirc EXEMPLOS
5 Quais produtos financeiros vocecirc estava ou estaacute mais habituado a vender
Creacutedito consignado creacutedito pessoal seguros empreacutestimos financiamentos
Qual vocecirc eacute mais estimulado a fazer
Tem diferenccedila na venda desses produtos
A abordagem ao cliente muda Quais satildeo mais diferentes
Vocecirc pode descrever para mim cada um deles por favor
Quais produtos satildeo os mais procurados
6 Qual eacute o tipo de puacuteblico que busca pelo empreacutestimo Descreva para mim as
caracteriacutesticas que vocecirc julga como mais marcantes Geralmente satildeo pessoas de que
faixa etaacuteria Satildeo pessoas de classe baixa meacutedia ou alta Satildeo pessoas instruiacutedas
7 Essas pessoas possuem um esclarecimento sobre o que seria esse tipo creacutedito
Compreendem as vantagens e as desvantagens relacionadas ao serviccedilo O que vocecirc
acha disso
8 No momento da contrataccedilatildeo de creacutedito o que eacute falado Como se daacute Todos os temos
do contrato ficam claros Vocecircs bancaacuterios explicitam o que estaacute no contrato Haacute
30
alguma avaliaccedilatildeo criteriosa do perfil do cliente de suas condiccedilotildees financeiras
9 O que vocecirc jaacute verificou por parte das pessoas que tomam esse creacutedito Qual seria os
maiores motivos para a procura do creacutedito consignado
10 Quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito vocecirc concorda com as vantagens oferecidas no
contrato ou acredita que algo deveria ser alterado O que vocecirc natildeo estaria de acordo
11 Qual o limite de desconto mensal da folha de pagamento do trabalhador o banco
oferece Por algum momento o banco excedeu o valor de desconto da folha Comente
essefato
12 Quanto agraves poliacuteticas bancaacuterias proposta pelos bancos para a venda de produtos
financeiros vocecirc concorda Ou algum momento jaacute discordou Discorra sobre o fato
13 Frequentemente vocecircs bancaacuterios satildeo estimulados a bater metas sobre os produtos que
vocecircs oferecem Vocecirc concorda que existe uma certa pressatildeo em vender cada vez mais
produtos Em alguma situaccedilatildeo vocecirc natildeo esteve de acordo como a forma que deveria
induzir os clientes a comprar um produto na qual vocecirc estaria oferecendo
NATHAacuteLIA MOURA VIANA
VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR DE SERVICcedilOS FINANCEIROS UMA
ANAacuteLISE DAS PRAacuteTICAS DE MARKETING DOS INTERMEDIAacuteRIOS
BANCAacuteRIOS
Artigo cientiacutefico apresentado agrave Universidade
Federal de Ouro Preto como parte das
exigecircncias para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de
administrador
Orientador Profordf Karla Costa
Mariana MG
2017
Catalogaccedilatildeo fichasisbinufopbr
V614v Viana Nathaacutelia Moura Vulnerabilidade do consumidor de serviccedilos financeiros uma anaacutelise das
praacuteticas de marketing dos intermediaacuterios bancaacuterios [manuscrito] Nathaacutelia Moura Viana - 2017
30f
Orientadora Prof Dr Karla Luisa Costa e Costa
Monografia (Graduaccedilatildeo) Universidade Federal de Ouro Preto Instituto de Ciecircncias Sociais Aplicadas Departamento de Ciecircncias Econocircmicas e Gerenciais
1 Intermediaacuterios bancaacuterios 2 Creacutedito consignado 3 Consumidor vulneraacutevel 4 Consumidores hipervulneraacuteveis I Costa Karla Luisa Costa e II Universidade Federal de Ouro Preto III Titulo
CDU 33677(0423)
AGRADECIMENTOS
A Deus e a Satildeo Geraldo por estarem sempre presentes no meu dia-a-dia dando-me proteccedilatildeo
para prosseguir e nunca me desemparando nos momentos difiacuteceis
Aos meus avoacutes meu porto seguro e exemplo de vida
Aos meus pais presentes em boa parte da graduaccedilatildeo
Ao meu irmatildeo pela amizade
Aos meus tios e tias em especial agrave Clecircnia pelo apoio e compreensatildeo
Ao meu namorado pela confianccedila e companheirismo
Agraves sinceras amizades construiacutedas na Repuacuteblica Luluzinhas responsaacuteveis pela retomada da
minha caminhada e por tornar a Repuacuteblica minha segunda famiacutelia
Ao professor Faacutebio pelo o estiacutemulo disponibilidade e contribuiccedilatildeo em grande parte da
pesquisa
Agrave professora Karla orientadora pela colaboraccedilatildeo no artigo
Aos professores pelos ensinamentos adquiridos
Aos membros da banca pela presenccedila e disponibilidade
Agrave Universidade pela oportunidade da realizaccedilatildeo deste curso de graduaccedilatildeo
A todos os colaboradores direccedilatildeo teacutecnicos administraccedilatildeo e terceirizados desta Instituiccedilatildeo
por contribuiacuterem no funcionamento da UFOP na qual satildeo importantes para a caminhada de
cada discente
Aos colegas de curso durante o percurso na UFOP
Em suma agradeccedilo a todos que de forma direta e indireta contribuiacuteram para a concretizaccedilatildeo
deste trabalho
RESUMO
O presente estudo busca analisar as praacuteticas de Marketing empregadas pelos intermediaacuterios
bancaacuterios com relaccedilatildeo aos contratadores do creacutedito consignado Esta modalidade de
empreacutestimo tem sido utilizada por idosos aposentados e pensionistas do INSS pelo fato de
apresentar um acesso faacutecil ao puacuteblico em questatildeo mas por outro lado verifica-se que nessa
relaccedilatildeo de consumidor e fornecedor o segundo eacute o mais beneficiado jaacute que o primeiro
encontra-se em um estado de vulnerabilidade O objetivo do trabalho eacute compreender ateacute que
ponto essas estrateacutegias satildeo desenhadas visando tirar proveito dos consumidores vulneraacuteveis
Contudo por se tratar de uma pesquisa descritiva foi possiacutevel efetivar uma pesquisa de
campo atraveacutes de entrevistas realizadas com sete bancaacuterios (as) e trecircs estagiaacuterios (as) da
regiatildeo de Mariana Ouro Preto e Itabirito Os resultados contidos indicaram que os
consumidores do creacutedito consignado satildeo atraiacutedos pelos bancaacuterios (as) e estagiaacuterios (as)
atraveacutes de teacutecnicas como artifiacutecios de linguagem isto eacute modificam a forma de comunicar
para exercer uma forte influecircncia na hora da compra Outro aspecto eacute a omissatildeo de
informaccedilotildees visto que o cliente natildeo possui as informaccedilotildees suficientes sobre qual produto que
estaacute contratando Aleacutem disso o puacuteblico idoso que utiliza do empreacutestimo consignado eacute
caracterizado como consumidor hipervulneraacutevel uma vez que circunstacircncias como fator
idade niacutevel de instruccedilatildeo formal e analfabetismo acarreta o grau de vulnerabilidade Dessa
forma as instituiccedilotildees financeiras tendem a persuadir e influenciar o consumidor idoso nas
relaccedilotildees consumeristas buscando estimular maiores vendas na contrataccedilatildeo do creacutedito
consignado
PALAVRAS-CHAVE
Intermediaacuterios Bancaacuterios Creacutedito Consignado Consumidor Vulneraacutevel Consumidores
Hipervulneraacuteveis
ABSTRACT
The present study seeks to analyze the marketing practices appointed by banking
intermediaries in relation to contractors of payroll loans This type of loan has been used by
the elderly retirees and pensioners of the INSS because it presents easy access to these
public but on the other hand it is verified that in this relation of consumer and supplier the
second is the most benefited whereas the former is in a state of vulnerability The purpose of
the essay is to understand the extent to which these strategies are designed aiming to take
advantage of vulnerable consumers However because it was a descriptive research it was
possible to actualize a field research through interviews made with seven bankers and three
interns from the regions of Mariana Ouro Preto and Itabirito The results indicated that the
consumers of payroll loans are attracted by bankers and interns through techniques such as
language artifices that is they modify the way of communicating to practise a strong
influence on the time of purchase Another aspect is the omission of informations since the
customer does not have sufficient information about which product he is hiring In addition to
that the elderly public that uses the payroll loan are characterized as hypervulnerable
consumers since circumstances such as age level of formal education and illiteracy brings
the degree of vulnerability This way financial institutions tend to persuade and influence the
elderly consumer in consumer relations seeking to stimulate higher sales in the contracting of
payroll
KEY WORDS
Banking Intermediary Payroll loans Vulnerable Consumer Hypervulnerable Consumers
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 7
2 REVISAtildeO DE LITERATURA 9
21 Creacutedito Consignado 9
22 Consumidor (Hiper) Vulneraacutevel e o Coacutedigo de Defesa do Consumidor 10
221 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal como fator de
vulnerabilidade 12
3 METODOLOGIA 13
31 Descriccedilatildeo da Amostra 15
4 ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 17
41 Categoria I 17
411 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos serviccedilos
financeiros 17
42 Categoria II 19
421 Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito 19
43 Categoria III 23
431 Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito 23
5 CONCLUSAtildeO 25
REFEREcircNCIAS 26
APEcircNDICE A 29
7
1 INTRODUCcedilAtildeO
No cenaacuterio brasileiro o termo creacutedito teve notoriedade somente apoacutes 1994 com a
alteraccedilatildeo do Plano Real Posteriormente a esse periacuteodo notou-se que uma parcela da
populaccedilatildeo brasileira estava sendo excluiacuteda do sistema financeiro de creacuteditos A partir desse
momento surge a preocupaccedilatildeo de dar acesso ao creacutedito agraves classes mais desfavorecidas na
qual as famiacutelias mais pobres deveriam ser incluiacutedas no mercado de creacutedito (BERTONCELLO
e LIMA 2008)
De acordo com Bertoncello e Lima (2008) o governo Lula proporcionou uma poliacutetica
de estiacutemulo ao creacutedito popular isto eacute motivou o consumo da populaccedilatildeo de baixa renda Os
aposentados tambeacutem tiveram notoriedade nesse momento econocircmico Conforme o autor estes
estavam sendo seduzidos por publicidade veiculada aos meios de comunicaccedilatildeo como tambeacutem
estavam sendo assediados por agenciadores e correspondentes dos bancos
Conforme Cavalcante (2015) essa maior notoriedade da terceira idade no mercado de
creacutedito eacute em razatildeo do aumento da populaccedilatildeo idosa e a maior expectativa de vida aleacutem disso
esse puacuteblico contabiliza 16 milhotildees de idosos que utilizam do creacutedito consignado Mas o que
seria o empreacutestimo consignado
O creacutedito consignado surgiu no contexto explicitado acima esse tipo de creacutedito eacute
definido como um empreacutestimo disponibilizado para pessoas fiacutesicas onde o valor das parcelas
eacute descontado diretamente na folha de pagamento as pessoas que utilizam desse creacutedito satildeo
idosos aposentados e pensionistas do INSS Aleacutem disso essa operaccedilatildeo eacute realizada por
intermediaacuterios bancaacuterios (COSTA 2014)
Os autores Barone e Sader (2008 p1258) definem o esse tipo de creacutedito como
ldquoum tipo de creacutedito oferecido para os empregados do setor formal eou aposentados
e pensionistas do INSS com baixas taxas de juros (bem menores que as praticadas
para empreacutestimo pessoal no mercado) em que as prestaccedilotildees satildeo descontadas
diretamente de seus salaacuterios eou aposentadorias e pensotildeesrdquo
Segundo os autores retrocitados o programa de empreacutestimo a esse tipo de puacuteblico
com consignaccedilatildeo foi autorizado pela Lei ndeg 10820 sendo publicada no Diaacuterio Oficial da
Uniatildeo em dezembro de 2003 As primeiras operaccedilotildees foram realizadas em maio de 2004
inicialmente pela Caixa Econocircmica Federal
Pode-se perceber o estiacutemulo da concessatildeo do creacutedito consignado esse estiacutemulo ao
creacutedito ocorre por meio de estrateacutegias de marketing De acordo com Bertoncello e Lima
(2008) as estrateacutegias utilizadas pelas instituiccedilotildees financeiras possuem argumentos
convincentes isto eacute creacutedito faacutecil e raacutepido sem consultas agraves entidades de proteccedilatildeo ao creacutedito
8
acessiacutevel a quem tem restriccedilotildees creditiacutecias e prazos maiores para pagamento Contudo eacute
dessa forma que os bancos visam atrair atuais e futuros consumidores do creacutedito consignado
Atraveacutes da concessatildeo do empreacutestimo consignado surge a relaccedilatildeo de consumo entre os
intermediaacuterios bancaacuterios (fornecedores) e os tomadores de creacutedito consignado
(consumidores) Nessa relaccedilatildeo pode-se dizer que os consumidores satildeo vistos como
vulneraacuteveis Conforme Chertman (2011) o consumidor vulneraacutevel eacute fraacutegil pois natildeo conhece
todas as informaccedilotildees existentes num processo de compra Sendo assim os fornecedores tiram
vantagens na contrataccedilatildeo de um produto ou serviccedilo
Logo pode-se inferir que os fornecedores do empreacutestimo consignado detecircm maiores
informaccedilotildees sobre o serviccedilo oferecido desta maneira os consumidores do empreacutestimo satildeo
considerados a parte mais fraca da relaccedilatildeo jaacute que natildeo possuem na maior parte das vezes
informaccedilatildeo necessaacuteria para uma segura contrataccedilatildeo do creacutedito
Visando mitigar tais problemas ou oferecer apoio a parte vulneraacutevel na relaccedilatildeo de
consumo foi criado o CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) Ele busca reduzir os
problemas existentes entre o fornecedor-consumidor uma vez que os consumidores
necessitam de proteccedilatildeo em especial aqueles chamados (hiper)vulneraacuteveis
Desse modo a vulnerabilidade do consumidor quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito seraacute o
assunto principal abordado ao longo deste trabalho Mais especificamente esta proposta de
pesquisa buscou analisar possiacuteveis accedilotildees de marketing de instituiccedilotildees financeiras e seus
intermediaacuterios que de alguma forma se aproveitam da fragilidade do consumidor de serviccedilos
financeiros O tema em questatildeo eacute multifacetado isto eacute percebe-se que o puacuteblico ao adquirir
um produto ou serviccedilo acaba sendo influenciado pelos bancaacuterios e seus equivalentes estes satildeo
pressionados e induzidos pelas instituiccedilotildees financeiras a utilizarem de praacuteticas de marketing
para efetuaccedilatildeo de maiores nuacutemeros de vendas do creacutedito consignado Logo eacute possiacutevel
concluir que os bancos estatildeo compreendendo que esse tipo de puacuteblico idosos aposentados e
pensionistas pode ser responsaacutevel pela expansatildeo dos negoacutecios bancaacuterios (BUAES 2015)
Por conseguinte este estudo eacute relevante para que a sociedade possa entender e
compreender o efeito que as estrateacutegias de marketing exercem sobre as suas escolhas Aleacutem
disso pode-se salientar conforme Buaes (2015) que a educaccedilatildeo financeira eacute significativa
para a equidade da relaccedilatildeo entre consumidor e fornecedor onde o primeiro possa agir com
discernimento e conhecimento sobre suas atitudes Mas para que esse cenaacuterio se modifique
haacute a necessidade de uma maior atenccedilatildeo a esse tema por parte do governo dando importacircncia
agraves praacuteticas educativas voltadas para alfabetizaccedilatildeo financeira
9
Em virtude dos fatos mencionados acima pode-se indagar Ateacute que ponto agraves praacuteticas
de Marketing dos bancos satildeo desenhadas visando tirar proveito da vulnerabilidade dos
consumidores de serviccedilos financeiros Deste modo tem-se por objetivo geral analisar esse
problema enfrentado pela sociedade desfavorecida Aleacutem disso busca-se explicar as
caracteriacutesticas desses consumidores bem como buscar evidecircncias na qual os bancos se
aproveitam dessa vulnerabilidade
2 REVISAtildeO DE LITERATURA
21 Creacutedito consignado
A expansatildeo do creacutedito no Brasil foi fomentada nos uacuteltimos 10 anos provocando um
aumento na demanda por tal serviccedilo financeiro e consequentemente um aumento do
endividamento das classes menos favorecidas (SBICCA FLORIANI JUK 2012) Por outro
lado o maior acesso ao creacutedito pela populaccedilatildeo acarretou um aumento no consumo bens e
serviccedilos jaacute que as classes desfavorecidas comeccedilaram a ter maior participaccedilatildeo na economia
Com relaccedilatildeo ao cenaacuterio brasileiro a economia do paiacutes se expandiu fortemente no
periacuteodo compreendido entre os anos de 2004 e 2007 provocando relevante impacto sobre a
ampliaccedilatildeo do creacutedito bancaacuterio Dentre os serviccedilos que contribuiacuteram para a ampliaccedilatildeo do
creacutedito bancaacuterio podemos destacar a criaccedilatildeo do empreacutestimo consignado que por sua vez
ajudou a estimular o ambiente econocircmico (ARAUacuteJO 2012) Ainda segundo Arauacutejo (2012) a
introduccedilatildeo do creacutedito consignado foi autorizada atraveacutes da Medida Provisoacuteria nordm130 de
setembro de 2003 convertida na Lei nordm 10820 logo no mecircs de dezembro
O creacutedito consignado eacute um empreacutestimo realizado pelos intermediaacuterios bancaacuterios onde
as parcelas satildeo descontadas diretamente na folha de pagamento do tomador do empreacutestimo
Aleacutem disso deve-se salientar que o desconto maacuteximo na folha para operaccedilotildees desta natureza
eacute de ateacute 30 do valor da remuneraccedilatildeo ou benefiacutecio previsto na Lei Nordm10820 de 17 de
dezembro de 2003
Gonccedilalves e Saacute (2013 p08) explicitam quem satildeo os principais consumidores do
serviccedilo financeiro de empreacutestimo consignado descrevendo como ldquoo puacuteblico alvo da
modalidade de consignados satildeo as pessoas idosas beneficiaacuterios da Previdecircncia Social quer
aposentados quer pensionistasrdquo
Os contratadores de creacutedito consignado geralmente satildeo idosos pessoas de baixa renda
e baixa escolaridade Os consumidores dessa modalidade de serviccedilo financeiro satildeo geralmente
atraiacutedos pelas instituiccedilotildees financeiras que costumam apresentar serviccedilos ldquovantajososrdquo como
10
juros mensais inferiores aos do mercado tradicional e a natildeo necessidade de avalista haja vista
que o risco do negoacutecio eacute pequeno para o fornecedor jaacute que o valor retido eacute descontado na
fonte o que reduz os riscos de inadimplecircncia
A facilidade que os consumidores tecircm de adquirir dinheiro via creacutedito consignado e
dos bancos realizarem tais operaccedilotildees de baixiacutessimo risco faz com que os bancos tirem
vantagem na contrataccedilatildeo do creacutedito consignado Visto que os idosos ao contratarem esse tipo
de creacutedito desconhecem a quantidade de parcelas e o periacuteodo que levaratildeo para quitaacute-las
Aleacutem disso estes natildeo compreendem qual o valor dos juros mensal preocupam-se apenas com
o valor da parcela a ser liquidada (GONCcedilALVES SAacute 2013)
22 Consumidor (Hiper) Vulneraacutevel e o Coacutedigo de Defesa do Consumidor
O termo vulnerabilidade estaacute relacionado com as relaccedilotildees de consumo na aquisiccedilatildeo de
um bem Desta maneira pode-se definir o termo como uma incapacidade ou fragilidade no
ato do consumo Ou seja essa vulnerabilidade do consumo traz como consequecircncia situaccedilotildees
em que os consumidores se enganam erram ou desconhecem todas as informaccedilotildees que
existem num processo de compra Logo a vulnerabilidade do consumidor faz com que os
fornecedores tirem vantagens na contrataccedilatildeo de um produto ou serviccedilo Isto eacute os fornecedores
omitem certas informaccedilotildees sobre os produtos aos clientes (CHERTMAN 2011)
Na contrataccedilatildeo do creacutedito consignado deve-se ressaltar diante do exposto acima que
os tomadores de creacutedito estatildeo em desvantagem com relaccedilatildeo aos fornecedores desse serviccedilo jaacute
que as instituiccedilotildees natildeo transferem as informaccedilotildees necessaacuterias quando esses consumidores
estatildeo obtendo o serviccedilo Segundo Barbosa (2002 p4)
O consumidor eacute a parte mais fraca nas relaccedilotildees de consumo Por isso tem ele direito
agrave boa informaccedilatildeo sobre os produtos e serviccedilos que recebe e quanto aos contratos que
assina Tem tambeacutem direito de ser protegido quando se dirige ao Poder Judiciaacuterio
podendo o Juiz determinar medidas para assegurar os seus direitos no tocante agraves
soluccedilotildees alternativas que a Justiccedila pode encontrar para dar - ao Consumidor - o
resultado equivalente ao do adimplemento das obrigaccedilotildees do fornecedor
Nessa relaccedilatildeo onde o fornecedor ganha vantagem sobre o consumidor de creacutedito
consignado o segundo tem direito a ser amparado no acircmbito judiciaacuterio atraveacutes do Coacutedigo de
Defesa do Consumidor De acordo com o CDC no artigo 4 da Lei ndeg 8078 (BRASIL 1990)
pode-se afirmar que todos os consumidores satildeo vulneraacuteveis
Conforme Pfeiffer (2010) o Coacutedigo de Defesa do Consumidor preocupa-se com a
isonomia na relaccedilatildeo de consumo reconhecendo a vulnerabilidade do consumidor Dessa
forma atraveacutes das normas estabelecidas pelo CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) os
consumidores possuem amparo seguranccedila e proteccedilatildeo na contrataccedilatildeo de um bem ou serviccedilo
11
Com relaccedilatildeo ao CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) um aspecto que deve ser
ressaltado dentro desse coacutedigo eacute o direito agrave informaccedilatildeo De acordo com Tribunal de Justiccedila do
Distrito Federal e dos Territoacuterios (2016)
O direito agrave informaccedilatildeo eacute direito baacutesico do consumidor e visa assegurar ao mesmo
tempo uma escolha consciente permitindo que suas expectativas em relaccedilatildeo ao
produto ou ao serviccedilo sejam de fato atingidas manifestando o que vem sendo
denominado de consentimento informado ou vontade qualificada
Em outras palavras o consumidor ao adquirir um bem ou produto tem como direito a
informaccedilatildeo necessaacuteria para que faccedila uma compra consciente isto eacute o consumidor deve ter
clareza das condiccedilotildees favoraacuteveis e desfavoraacuteveis do produto Dessa forma eacute relevante que o
fornecedor na hora da compra informe para o cliente o que eacute de fato o seu produto natildeo
omitindo informaccedilotildees que prejudique o consumidor na hora da compra
O artigo 6ordm da Lei nordm 8078 incIII (BRASIL 1990) que retrata o CDC apresenta os
direitos baacutesicos do consumidor dentre eles pode-se destacar o direito ldquoa informaccedilatildeo adequada
e clara sobre os diferentes produtos e serviccedilos com especificaccedilatildeo correta de quantidade
caracteriacutesticas composiccedilatildeo qualidade tributos incidentes e preccedilo bem como sobre os riscos
que apresentamrdquo
Aleacutem da vulnerabilidade do consumidor ser defendida no CDC (Coacutedigo de Defesa do
Consumidor) os idosos contam com a proteccedilatildeo do Estatuto do idoso prevista em Lei nordm
1074103 (BRASIL 2003) no artigo 20 eacute possiacutevel inferir que ldquoo idoso tem direito a
educaccedilatildeo cultura esporte lazer diversotildees espetaacuteculos produtos e serviccedilos que respeitem
sua peculiar condiccedilatildeo de idaderdquo Desse modo para assegurar os direitos do consumidor idoso
eacute importante que o fornecedor seja claro com esse tipo de puacuteblico visando facilitar as
relaccedilotildees consumeristas
Quando a vulnerabilidade do consumidor eacute agravada ou possui condiccedilotildees para uma
maior fragilidade nas relaccedilotildees de consumo podemos definir que este consumidor eacute
hipervulneraacutevel De acordo com Meire e Alves (2016) circunstacircncias como fator idade
conhecimento ou condiccedilatildeo social afetam no grau da vulnerabilidade isto eacute os idosos por
exemplo estatildeo mais propensos a se enquadrar no estado de hipervulnerabilidade
Os autores Rosa Bernardes e Feacutelix (2017 p548) afirmam que
[] fatores tais quais idade avanccedilada ou reduzida situaccedilatildeo de enfermidade e outros
mais que importem fragilizaccedilatildeo e vulnerabilidade do consumidor em niacutevel maior
que o comum na exposiccedilatildeo ao produto ou serviccedilo oferecido pelo fornecedor
ocasionam um grau intensificado de inferioridade na relaccedilatildeo de consumo e assim
configuram um tipo de vulnerabilidade mais grave ao que se convencionou chamar
hipervulnerabilidade
12
Conforme o exposto relato os consumidores hipervulneraacuteveis possuem certa
fragilidade Dessa forma a abordagem dos fornecedores aos idosos eacute visando tirar proveito da
situaccedilatildeo na qual se encontram Os autores citados anteriormente destacam
O puacuteblico idoso revela-se como alvo potencial de propagandas e praacuteticas comerciais
abusivas que se aproveitam da reduzida capacidade de discernimento do idoso para
impor a contrataccedilatildeo de serviccedilos Um dos exemplos mais paradigmaacuteticos eacute a
celebraccedilatildeo de contratos de empreacutestimos consignados entre instituiccedilotildees financeiras e
consumidores idosos pois a loacutegica da sociedade de consumo visualizou lucros
certeiros com tal contrataccedilatildeo eis que via de regra idosos possuem rendimentos
mensais fixos sendo por isso a contrataccedilatildeo mais segura (ROSA BERNARDES
E FEacuteLIX 2017 p548)
Gonccedilalves e Saacute (2015) tambeacutem expotildeem a vulnerabilidade do consumidor em meio agraves
publicidades agressivas antieacuteticas onde o consumo eacute apelado utilizando um conteuacutedo forte
emotivo para atrair os consumidores agrave adquirirem determinado produtoserviccedilo
O Projeto de Lei do Senado nordm283 (BRASIL 2012) presume a alteraccedilatildeo do CDC
(BRASIL1990) visando combater essas praacuteticas de marketing com referecircncia a oferta de
creacutedito Logo esse Projeto de Lei no inciso IV do paraacutegrafo 4 recomenda que ldquoEacute vedado
expressa ou implicitamente na oferta de creacutedito ao consumidor publicitaacuteria ou natildeo [] IV ndash
ocultar por qualquer forma os ocircnus e riscos da contrataccedilatildeo de creacutedito dificultar sua
compreensatildeo ou estimular o endividamento do consumidor em especial se idoso ou
adolescenterdquo (BRASIL 2012)
Desta forma nota-se que o Coacutedigo de Defesa do Consumidor (CDC) e os estatutos
funcionam como paracircmetros para garantir a isonomia Com isso os hipervulneraacuteveis possuem
um maior amparo com relaccedilatildeo agraves praacuteticas abusivas de marketing vendas omissatildeo de
informaccedilotildees como tambeacutem as propagandas enganosas sobre o produto ou serviccedilo na qual
estatildeo contratando
221 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal como fator de vulnerabilidade
Na conjuntura atual brasileira eacute possiacutevel observar a ascensatildeo das classes populares
para as camadas meacutedias como tambeacutem o aumento de poder de compra dos idosos Logo eacute
possiacutevel perceber uma maior atenccedilatildeo dada pelas empresas a esse tipo de puacuteblico em especial
as instituiccedilotildees financeiras Esse poder de compra dos idosos fez com que as empresas
bancaacuterias estimulassem a contrataccedilatildeo de creacutedito por parte dessas pessoas em especial o
creacutedito consignado (BUAES 2015) Atraveacutes disso pode-se indagar Por que o interesse dos
bancos nesse puacuteblico
13
Conforme Buaes (2015) o aumento do poder de compra do idoso fez com que esse
puacuteblico apresentasse interesse na contrataccedilatildeo de produtos e serviccedilos financeiros visto que os
bancos apresentam certa facilidade na obtenccedilatildeo de creacuteditos Um fato destacado por Buaes
(2015) eacute a falta de percepccedilatildeo dos idosos quanto a suas limitaccedilotildees financeiras ou ateacute mesmo a
dificuldade em aceitar essa insuficiecircncia Desta maneira pode-se observar a vulnerabilidade
em duas dimensotildees neste perfil do consumidor idoso isto eacute a falta de conhecimento formal e
a anaacutelise na contrataccedilatildeo de um creacutedito
Quanto a vulnerabilidade do consumidor Chertman (2011) afirma que pode ser
identificada atraveacutes de caracteriacutesticas natildeo observaacuteveis o que eacute o caso do analfabetismo
Entende-se por analfabeto a pessoa com a incapacidade da linguagem de forma geral seja na
leitura intepretaccedilatildeo compreensatildeo e na produccedilatildeo de conhecimento Logo o analfabetismo
possibilita o indiviacuteduo tornar-se um consumidor vulneraacutevel
Aleacutem da questatildeo de pessoas analfabetas tomadores de creacuteditos haacute tambeacutem o perfil de
consumidores de baixa instruccedilatildeo Essas pessoas satildeo capazes de assinar seu proacuteprio nome
quanto agrave leitura apresentam alguma dificuldade no entendimento ou necessitam de ajuda para
uma melhor compreensatildeo Esse tipo consumidor como foi dito acima tambeacutem se enquadra
como vulneraacutevel
Dado o exposto compreende-se que o analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo
formal agravam ainda mais a vulnerabilidade do consumidor em questatildeo Os idosos aleacutem de
possuiacuterem o fator idade na qual afeta a relaccedilatildeo entre consumidorfornecedor (MEIRE
ALVES 2016) apresentam tambeacutem a presenccedila dessas duas caracteriacutesticas que podem
delimitar uma escolha consciente e clara no momento da contrataccedilatildeo de um produto ou
serviccedilo
3 METODOLOGIA
O estudo foi embasado em pesquisas bibliograacuteficas online e impressas como tambeacutem
trabalhos acadecircmicos e perioacutedicos A metodologia utilizada foi qualitativa do tipo descritiva
de acordo Godoy (1995 p62) os pesquisadores de orientaccedilatildeo qualitativadescritiva executam
suas pesquisas baseadas em trabalho de campo a partir de entrevistas e observaccedilotildees aleacutem
disso os pesquisadores possuem um contato direto com o local da pesquisa e seus sujeitos
portanto eacute possiacutevel analisar dados escrever resultados obtidos e descrever o que foi dito
pelos entrevistados
14
A pesquisa de campo foi realizada atraveacutes de entrevistas semi-estruturadas
(APEcircNDICE A) sendo composta por treze questotildees discursivas Segundo Boni e Quaresma
(2005 p 75) as teacutecnicas desse tipo de entrevista
[] tecircm como vantagem a sua elasticidade quanto agrave duraccedilatildeo permitindo uma
cobertura mais profunda sobre determinados assuntos Aleacutem disso a interaccedilatildeo entre
o entrevistador e o entrevistado favorece as respostas espontacircneas Elas tambeacutem satildeo
possibilitadoras de uma abertura e proximidade maior entre entrevistador e
entrevistado o que permite ao entrevistador tocar em assuntos mais complexos e
delicados ou seja quanto menos estruturada a entrevista maior seraacute o favorecimento
de uma troca mais afetiva entre as duas partes Desse modo estes tipos de entrevista
colaboram muito na investigaccedilatildeo dos aspectos afetivos e valorativos dos informantes
que determinam significados pessoais de suas atitudes e comportamentos As
respostas espontacircneas dos entrevistados e a maior liberdade que estes tecircm podem
fazer surgir questotildees inesperadas ao entrevistador que poderatildeo ser de grande
utilidade em sua pesquisa
Em suma pode-se perceber que esse tipo de entrevista proporcionou aos entrevistados
certa autonomia em discutir sobre o tema em questatildeo Visto que no percorrer das
interlocuccedilotildees houve a possibilidade de introduzir novos assuntos sobre o estudo como
tambeacutem a exemplificaccedilatildeo de situaccedilotildees vivenciadas pelos entrevistados
Para a realizaccedilatildeo das entrevistas no presente estudo foi indispensaacutevel entrevistar um
nuacutemero de sete bancaacuterios(as) e trecircs estagiaacuterios(as) de instituiccedilotildees financeiras privadas da
cidade de Mariana Ouro Preto e Itabirito visto que cinco deles eram do sexo masculino e os
demais do sexo feminino Visando buscar nesses gecircneros perspectivas diversas sobre as
teacutecnicas utilizadas na operaccedilatildeo do empreacutestimo consignado agrave aposentados e pensionistas Estas
entrevistas realizadas tiveram duraccedilatildeo meacutedia de quinze a trinta minutos sendo que todas as
interlocuccedilotildees foram gravadas e posteriormente transcritas para entatildeo serem analisadas
Portanto as anaacutelises das respostas foram fundamentadas em anaacutelises de conteuacutedos e
posteriormente buscou-se categorizar os elementos relevantes discutidos durante as
interlocuccedilotildees
De acordo com Cavalcante Calixto e Pinheiro (2014) a anaacutelise de conteuacutedo permite a
ldquoanaacutelise do fenocircmeno em profundidade elencando as subjetividades suas relaccedilotildees bem
como interlocuccedilotildees na malha socialrdquo logo atraveacutes das entrevistas com os bancaacuterios pode-se
verificar suas percepccedilotildees
Conforme Caregnato e Mutti (2006 p 683)
A teacutecnica de anaacutelise de conteuacutedo se compotildee de trecircs grandes etapas 1) a preacute-anaacutelise
2) a exploraccedilatildeo do material 3) o tratamento dos resultados e interpretaccedilatildeo A
mencionada autora descreve a primeira etapa como a fase de organizaccedilatildeo que pode
utilizar vaacute- rios procedimentos tais como leitura flutuante hipoacuteteses objetivos e
elaboraccedilatildeo de indicadores que fundamentem a interpretaccedilatildeo Na segunda etapa os
dados satildeo codificados a partir das unidades de registro Na uacuteltima etapa se faz a
categorizaccedilatildeo que consiste na classificaccedilatildeo dos elementos segundo suas
semelhanccedilas e por diferenciaccedilatildeo com posterior reagrupamento em funccedilatildeo de
15
caracteriacutesticas comuns Portanto a codificaccedilatildeo e a categorizaccedilatildeo fazem parte da AC
As autoras afirmam que aleacutem das teacutecnicas utilizadas na anaacutelise de conteuacutedo o
pesquisador pode categorizar fragmentos do texto que se repetem atraveacutes de frases ou
expressotildees Atraveacutes disso as entrevistas realizadas com os bancaacuterios foram categorizadas da
seguinte maneira
Categoria I- O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Categoria II- Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Categoria III- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por conseguinte essas respostas foram analisadas com o intuito de verificar como os
consumidores hipervulneraacuteveis satildeo abordados pelos(as) bancaacuterios(as) e quais as praacuteticas que
as instituiccedilotildees financeiras adotam para convencer esse puacuteblico Contudo compreende-se que
por meio das entrevistas pode-se construir consideraccedilotildees em relaccedilatildeo ao objetivo da pesquisa
31 Descriccedilatildeo da Amostra
Para a anaacutelise das praacuteticas de marketing utilizadas pelos intermediaacuterios bancaacuterios
estudaram-se sete bancaacuterios(as) e trecircs estagiaacuterios(as) atuantes na concessatildeo de empreacutestimos
consignados Estes operam nas localidades de Mariana Ouro Preto e Itabirito Em vista disso
para a execuccedilatildeo da pesquisa foi relevante a realizaccedilatildeo de entrevistas a partir desse
pressuposto foi possiacutevel inferir interpretaccedilotildees diversas sobre esses sujeitos no momento da
concessatildeo do creacutedito
As interlocuccedilotildees com os bancaacuterios e seus correspondentes foram marcadas
antecipadamente via celular informando-lhes a data o local a preferir a duraccedilatildeo em meacutedia e
do que se tratava o estudo As entrevistas foram sucedidas no periacuteodo de julho a agosto de
2016 Outro aspecto a ser relatado aos entrevistados sobre o estudo foi a importacircncia destes
para pesquisa visto que o nuacutemero de informaccedilotildees fornecidas possibilitaria uma anaacutelise
satisfatoacuteria para a exploraccedilatildeo do tema O quadro a seguir resume as caracteriacutesticas da amostra
analisada
16
Quadro 1 Caracteriacutesticas da amostra analisada
Bancaacuterios Estagiaacuterios Nomes Fictiacutecios Idade Cidades
B1 Maria Claacuteudia 41 Mariana (MG)
B2 Carlos Eduardo 22 Ouro Preto (MG)
B3 Daniel 25 Ouro Preto (MG)
B4 Leandro 27 Mariana (MG)
B5 Maacutercia 34 Mariana (MG)
B6 Antocircnio 38 Mariana (MG)
B7 Camila 27 Mariana (MG)
E1 Ana Luiacuteza 25 Itabirito (MG)
E2 Marcela 22 Itabirito (MG)
E3 Marcos 24 Ouro Preto (MG)
Fonte Dados da pesquisa
Com relaccedilatildeo a populaccedilatildeo do estudo foram levantados dados buscando alcanccedilar a
quantidade aproximada de bancaacuterios e estagiaacuterios na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e
Itabirito Para a identificaccedilatildeo dos dados foi necessaacuterio entrar em contato via telefone em todas
as agecircncias privadas dessas localidades Atraveacutes do quadro abaixo pode-se concluir o nuacutemero
da populaccedilatildeo desse puacuteblico
Quadro 2 Quantidade da populaccedilatildeo de bancaacuterios e estagiaacuterios
Localidade Bancaacuterios Estagiaacuterios
Mariana 55 3
Ouro Preto 63 3
Itabirito 52 8
TOTAL 170 14
Fonte Dados da pesquisa
Em suma a pesquisa de campo foi desenvolvida nessas localidades visto que esses
municiacutepios possuem um nuacutemero representativo de idosos puacuteblico alvo das instituiccedilotildees
financeiras De acordo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2010) a cidade de
Mariana conta com proximamente 5200 idosos jaacute Ouro Preto possui cerca de 7994 idosos e
Itabirito dispotildee em meacutedia 4998 idosos Por conseguinte surge a iniciativa de analisar os perfis
dos bancaacuterios visando compreender as praacuteticas que estes utilizam para alcanccedilar um maior nuacutemero
de idosos para efetivar a contrataccedilatildeo do creacutedito
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4 ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
Como explicitado anteriormente a vulnerabilidade do consumidor existe a partir da
relaccedilatildeo entre empresa e cliente E considerando todas as peculiaridades e caracteriacutesticas que
fazem do consumidor de serviccedilos financeiros um consumidor vulneraacutevel esta seccedilatildeo do texto
tem por propoacutesito retratar por meio da apresentaccedilatildeo e anaacutelise dos dados extraiacutedos das
entrevistas realizadas ao longo deste estudo a forma como os bancaacuterios e seus
correspondentes operam na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e Itabirito especialmente no que se
refere ao modo como oferecem e conduzem as negociaccedilotildees de serviccedilos financeiros Quanto agrave
anaacutelise dos resultados o estudo utilizou a categorizaccedilatildeo dos discursos dos entrevistados em I
II III Logo as categorias baseiam-se em fragmentos das interlocuccedilotildees aspectos recorrentes
mencionados pelos bancaacuterios
A seguir satildeo apresentados trechos das falas dos dez respondentes que participaram
desta pesquisa Tais falas foram gravadas durante as entrevistas Os nomes adotados a seguir
para marcar que os trechos transcritos satildeo de falas de diferentes entrevistados satildeo fictiacutecios
Todas as entrevistas foram transcritas respeitando integralmente a linguagem e sinais
transmitidos por cada entrevistado
41 Categoria I
411 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos serviccedilos
financeiros
O analfabetismo e falta de instruccedilatildeo impactam no momento da contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros visto que esse tipo de puacuteblico eacute persuadido pelos bancaacuterios a tomar
determinadas decisotildees pois este natildeo possui informaccedilotildees necessaacuterias sobre o que seria esse
creacutedito o qual estaacute contratando Atraveacutes dos trechos das entrevistas foi possiacutevel identificar
que os bancaacuterios estagiaacuterios influenciam na hora da aquisiccedilatildeo do serviccedilo ateacute mesmo nas
formas como os clientes iratildeo pagar o empreacutestimo O quadro abaixo apresenta trechos da
entrevista que demonstram a falta de conhecimento financeiro dos consumidores do
empreacutestimo consignado
18
Quadro 3 - O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Entrevistados Trechos da entrevista
Maria Claacuteudia ldquoTem muita gente eacute Natildeo tatildeo instruiacuteda gente mais
simples Bom existem vaacuterias pessoas que pegam
aqui com a gente que satildeo analfabetas entendeurdquo
Ana Luiacuteza ldquoMuitas pessoas natildeo satildeo instruiacutedas poucas
pessoas sabem assinar seu proacuteprio nome mas
existem pessoas alfabetizadas simrdquo
ldquoA maioria acredito que natildeo tenha uma noccedilatildeo
esclarecimento ateacute porque quanto mais vezes vocecirc
dividir mais juros incidem e eacute melhor para o
bancordquo
Marcela ldquoEu acho que a grande maioria tinha um grau de
instruccedilatildeo reduzido e isso facilitava na hora de
vender neacuterdquo
ldquoEntatildeo a gente sempre tentava colocar de setenta
e duas vezes ou setenta e cinco satildeo seis anos de
consignado Entatildeo quanto maior o prazo maior a
taxa de juros Agraves vezes vocecirc pegava um capital
um volume muito pequeno e virava pra pessoa e
falava assim -Natildeo Por que aiacute soacute vai descontar
soacute R$3000 reais no seu pagamento e a pessoa natildeo
tinha dimensatildeo que por a gente taacute dividindo
aquele valor pequeninho sai muito grande depois
por conta da taxa que ela aumentava de acordo
com o prazordquo
Carlos Eduardo ldquoO mais comum satildeo pessoas de baixa renda e sem
informaccedilatildeo Exemplo A maioria dos consignados
os clientes nem perguntam as taxas de juros ele
natildeo estaacute preocupado com o prazo ele estaacute
preocupado com o valor da parcela se ele vai
conseguir pagar ou natildeo e o valor que vai sobrar
pra ele vai conseguir passar o mecircsrdquo
Leandro ldquoGrande parte natildeo satildeo instruiacutedas mas eu atendo
mais alta renda entatildeo meus clientes satildeo mais
seletivos eles pegam valores maiores natildeo eacute
qualquer empreacutestimo que ele pega eacute mais para
investimento mesmo ou pra sair de alguma coisardquo
19
Aacutercia ldquoEntatildeo assim muitas vezes as pessoas natildeo vem
com o conhecimento financeiro real eles querem
o imediato querem o empreacutestimo naquele
momento Muita gente natildeo tem a noccedilatildeo de como
vai ficar aquilordquo
Antocircnio ldquoEntatildeo no puacuteblico de menor renda esse
discernimento eacute menos eles olham mais se a
parcela cabe no bolso deles do que no montante
de juros que eles vatildeo pagar no finalrdquo
Fonte Dados da pesquisa
Diante destes dois perfis de consumidores vulneraacuteveis os analfabetos e os com baixa
instruccedilatildeo pode-se verificar por meio das gravaccedilotildees que tanto as pessoas analfabetas e as com
baixa instruccedilatildeo natildeo possuem compreensatildeo suficiente para realizar uma contrataccedilatildeo de creacutedito
A entrevistada Marcela afirma que vender para esse determinado tipo puacuteblico facilitava pelo
fato da falta de conhecimento financeiro
Outra situaccedilatildeo comentada durante a gravaccedilatildeo das entrevistas foi sobre as parcelas dos
empreacutestimos os bancaacuterios e os estagiaacuterios induzem os clientes a dividirem em mais vezes A
entrevistada Marcela tambeacutem afirma que sempre propunha aos seus clientes dividir em
setenta e duas vezes alegando para essas pessoas que o valor iria ldquocaber no bolsordquo Mas na
verdade os bancaacuterios aproveitam do analfabetismo financeiro dos tomadores de creacutedito
visando a lucratividade das instituiccedilotildees financeiras dado que as taxas aumentam de acordo
com prazo
A partir dessa anaacutelise eacute possiacutevel perceber de forma clara as limitaccedilotildees dos idosos no
processo de compra Conforme Chertman (2011 p21) as consequecircncias da idade
ldquopotencializam a vulnerabilidade de compra pela dificuldade de comprar em escala (podendo
negociar preccedilos)rdquo De fato nota-se que a questatildeo do analfabetismo baixa instruccedilatildeo e idade
afetam na tomada de decisatildeo consciente do consumidor
42 Categoria II
421 Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
A informaccedilatildeo no momento da compra eacute essencial para que o cliente natildeo faccedila uma
escolha errocircnea quanto ao produto Em relaccedilatildeo as entrevistas realizadas foi possiacutevel inferir
que na contrataccedilatildeo de creacutedito os bancaacuterios e seus intermediaacuterios natildeo informam o valor da
taxa de juros e acabam focando nos valores das parcelas no prazo e em quantas vezes o
parcelamento ficaraacute Sendo assim os atendentes procuram natildeo informar aos consumidores
20
quanto ficaraacute o valor total do empreacutestimo ao incidirem os juros Atraveacutes do quadro abaixo
pode-se comprovar que no momento da contrataccedilatildeo do creacutedito os bancaacuterios e estagiaacuterios
omitem determinadas informaccedilotildees aos clientes
Quadro 4 - Omissatildeo de informaccedilotildees na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Ana Luiacuteza ldquoNormalmente eu natildeo falo o valor dos juros
dificilmente eu falo o valor do juros soacute falo que
ele eacute mais baixo e informo que independe do que
a aconteccedila na economia brasileira a partir do
momento que a pessoa estaacute fazendo o contrato o
juros nunca vai aumentar que aquele juros e
sempre seraacute aquelerdquo
Marcela ldquoEntatildeo na verdade o que eu aprendi no Banco X
a regra clara Eu tinha que omitir Eu natildeo
precisava mentir mas eu precisava omitir
algumas informaccedilotildees Entatildeo eu abordava o
cliente sempre eacute Buscando saber do sonho dele
para depois eu vender o empreacutestimo Eu tentava
omitir informaccedilotildees como taxas prazo de
pagamento que eram coisas que eu soacute falava se o
cliente me perguntasse Eu achava muito
tranquilo assim vender Eu natildeo tinha muita
dificuldade natildeordquo
ldquoA gente omitia o valor total que o cliente ia
pagar justamente porque se vocecirc falar ele natildeo vai
levar entatildeo eacute A gente omitia e tentava fazer o
cliente fechar a venda na hora Principalmente
quando a venda era no caixa eletrocircnico que era
muito mais faacutecil porque agraves vezes o cliente
fechava a venda ali naquele momento naquele
instante natildeo refletia muito era mais faacutecil vender e
muitas vezes eles tavam sozinho muitas vezes os
aposentados vatildeo para agecircncia sozinho natildeo
estavam acompanhados dos filhos de ningueacutemrdquo
Carlos Eduardo ldquoNo contrato fala dos juros mas eu soacute respondo
quando o cliente perguntardquo
Marcos ldquoQuando o cliente fazia por exemplo um
empreacutestimo a gente falava o valor da parcela
21
quanto que ele vai pegar quando vai descontar do
pagamento falava a taxa de juros tambeacutem mas
acabava que eles nem sabiamrdquo
ldquoSe perguntasse alguma coisa a gente falavardquo
Fonte Dados da pesquisa
Como jaacute foi dito o cliente tem como direito obter informaccedilotildees necessaacuterias do que ele
estaacute adquirindo mas quando isso natildeo ocorre pode-se dizer que estaacute ocorrendo uma omissatildeo
dos fatos O autor Silva (2009 p146) expotildee o art 14 do CDC destacando ldquoo dever de
informaccedilatildeo cuja omissatildeo caracteriza defeito do serviccedilo ensejador do dever de indenizarrdquo
Logo pode-se concluir que quando o cliente natildeo eacute alertado sobre o produto ou serviccedilo e este
causa danos o consumidor deve ser reparado
Diante do que foi explicitado acima pode-se perceber atraveacutes das gravaccedilotildees feitas
quatro entrevistados falaram que natildeo davam as informaccedilotildees necessaacuterias para os contratadores
de creacuteditos A entrevistada Marcela usa o termo ldquoomissatildeordquo ela afirma que agraves vezes era
necessaacuterio omitir para que a venda do empreacutestimo consignado fosse realizada mais
rapidamente Jaacute os demais entrevistados alegam que normalmente natildeo falam as taxas de juros
eles informam as taxas apenas se o cliente perguntar Percebe-se tambeacutem que por se tratar de
um puacuteblico mais vulneraacutevel os bancaacuteriosestagiaacuterios tinham maior facilidade em convencecirc-
los na hora da compra jaacute que grande parte desse puacuteblico natildeo possui instruccedilotildees suficientes
para adquirir esse tipo de produto
Dessa forma eacute expliacutecito que os bancaacuterios e os estagiaacuterios natildeo davam as informaccedilotildees
necessaacuterias aos seus clientes pelo fato de terem que apresentar maior lucratividade aos
bancos Uma vez que como foi relatado por Marcela a instituiccedilatildeo financeira onde trabalhava
alegava que certas informaccedilotildees deveriam ser ldquoomitidasrdquo Dessa forma pode-se evidenciar a
violaccedilatildeo do direito do consumidor
Dentre a vulnerabilidade do consumidor quanto a omissatildeo dos fatos por partes dos
bancaacuterios e seus correspondentes haacute tambeacutem outro recurso utilizado pelos fornecedores o
linguiacutestico Isto eacute satildeo termos palavras usadas que suavizam na hora da contrataccedilatildeo de
creacutedito Pode-se dizer que eacute a comunicaccedilatildeo existente entre o fornecedor e o cliente a fim de
que o primeiro consiga induzir o segundo a comprar seu produto
O marketing de vendas retrata esta relaccedilatildeo citada acima de consumidor e fornecedor
De acordo com Bernardi (2012 p75) ldquoo marketing de vendas possui uma relaccedilatildeo estreita com
o elemento do composto mercadoloacutegico denominado de promoccedilatildeo que se refere a todas as
accedilotildees relativas agrave comunicaccedilatildeo e agrave venda dos produtos de uma organizaccedilatildeordquo
22
Atraveacutes dessa relaccedilatildeo construiacuteda pela comunicaccedilatildeo pode-se verificar por parte das
entrevistas que os bancaacuterios e os estagiaacuterios utilizam de recursos linguiacutesticos para convencer o
cliente a comprar tal produto Isto eacute estes tinham certo cuidado na maneira de falar para que
os clientes se sentissem agrave vontade e consequentemente efetivar a venda do produto
A comunicaccedilatildeo exerce influecircncia na venda de um produto ou seja esse diaacutelogo entre
cliente e fornecedor facilita a compra de um produto por parte do consumidor O autor
Bernardi (2012 p77) acresce o termo merchandising este eacute visto como um dos principais
meacutetodos de marketing associado agrave venda
Eacute um termo que pode ser usado como instrumento de comunicaccedilatildeo que apresenta o
produto ao consumidor e favorece a sua compra Merchandising no entanto eacute criar
um cenaacuterio de um produto serviccedilo ou marca de forma casual Os principais
conceitos do merchandising estatildeo voltados agrave boa estrateacutegia de comunicaccedilatildeo no
ponto de venda pois visa destacar o produto ou serviccedilo buscando assim motivar as
compras por impulso jaacute que possui uma comunicaccedilatildeo muito proacutexima agrave venda
Logo compreende-se que o merchandising eacute uma ferramenta que aproxima o cliente e
o fornecedor atraveacutes da comunicaccedilatildeo
Como jaacute foi mencionado anteriormente a forma de comunicar exerce uma forte
influecircncia no ato da compra Todavia atraveacutes das entrevistas pode-se notar certa preocupaccedilatildeo
em como abordar o cliente ou seja a forma de dialogar com seus clientes Percebeu-se entatildeo
que determinadas palavras eram trocadas por outras como por exemplo o termo
ldquoempreacutestimordquo muitas vezes era substituiacutedo pelo termo ldquodinheirinhordquo ou creacutedito A partir do
quadro abaixo pode-se concluir que a forma de falar eacute utilizada como um artifiacutecio na hora da
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado
23
43 Categoria III
431 Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por se tratar de um puacuteblico de idade com baixo grau de instruccedilatildeo ou ateacute mesmo analfabetos
os bancaacuterios estagiaacuterios se beneficiam dessa relaccedilatildeo A forma de falar induz os consumidores
de serviccedilos financeiros a adquirirem certo produto O Quadro 5 apresenta as respostas
referentes agrave forma de falar dos intermediaacuterios bancaacuterios
Quadro 5- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Marcela ldquoAcredito que para vender esse tipo de produto que eacute
um produto difiacutecil que as pessoas agraves vezes quando
vocecirc fala ldquoempreacutestimordquo a pessoa fica com o peacute atraacutes
entatildeo tem que ser assim Coisas que a gente natildeo usa eacute
falar empreacutestimo natildeo existe no banco entendeu Eacute
um dinheirinho suavizar realmente a expressatildeo
empreacutestimo porque quando vocecirc fala a expressatildeo
empreacutestimo as pessoas se fechamrdquo
ldquoMuitas vezes eles natildeo entendiam o que vocecirc estava
falando entatildeo Ah fulano vocecirc tem um dinheirinho
aqui disponiacutevel para vocecirc pegar aiacute eles perguntavam
Mas vocecirc estaacute me dando esse dinheirordquo
Marcos ldquoOutra coisa o termo empreacutestimo o pessoal mesmo
falava que era uma coisa muito pesada de se dizer a
maioria das pessoas natildeo vecirc com bons olhos entatildeo a
gente falava um dinheirinho pro cliente pois ameniza
um pouco o termo Querendo ou natildeo o modo de falar
influencia um poucordquo
Daniel ldquoEu por exemplo falo creacutedito porque eu tocirc
conversando com o cliente e ele vecirc que tem outras
pessoas em volta agraves vezes eu falar empreacutestimo ele
pode ficar um pouco chateado daquilo nem todo
mundo gosta de ir no banco pra pegar empreacutestimo
gosta de ir laacute para sacar dinheiro Eu prefiro trabalhar
com a palavra creacutedito rdquo
Antocircnio ldquoGeralmente a gente utiliza o termo creacutedito vocecirc tem
um creacutedito aprovado Porque agraves vezes a pessoa tem
ateacute medo resistecircncia em empreacutestimo Geralmente a
24
gente fala que vocecirc tem um creacutedito aprovado e aiacute a
gente fala em qual linha a pessoa tem creacutedito
pessoal financiamento para veiacuteculos financiamento
imobiliaacuterio consignado que eacute o creacutedito que vem da
folha de pagamento Entatildeo a gente normalmente
oferta creacutedito ldquo
Fonte Dados da pesquisa
Conforme alguns entrevistados esses natildeo utilizam o termo correto que eacute ldquoempreacutestimo
consignadordquo Nas gravaccedilotildees os bancaacuterios e seus correspondentes alegam que os clientes tecircm
eacute um ldquodinheirinhordquo disponiacutevel para pegarem no banco Outros afirmam que o vocaacutebulo
empregado por eles eacute o ldquocreacuteditordquo pois ameniza um pouco o termo Este possui o mesmo
significado do primeiro mas para muitos o termo quer dizer credibilidade ldquocreacutedito na praccedilardquo
apesar de ser sinocircnimo do vocaacutebulo ldquoempreacutestimordquo essa palavra soa de forma positiva
Ao verificar a forma de comunicaccedilatildeo com os clientes do empreacutestimo consignado
pode-se perceber que essa substituiccedilatildeo de ldquopalavrasrdquo ocorre com o intuito amenizar o termo
ldquoempreacutestimordquo visto que por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel as pessoas assustam quando
pronunciam a palavra empreacutestimo Para muitos esse termo soa de forma negativa como
pessoas que possuem desorganizaccedilatildeo financeira ou inadimplecircncia Por este fato tanto os
bancaacuterios quanto os estagiaacuterios procuram utilizar vocaacutebulos que suavizem e que soem de uma
forma positiva para o cliente Sendo assim a forma de se comunicar pode alterar a venda de
determinado produto ofertado Mas essa forma de suavizar os termos empregados durante a
venda do serviccedilo financeiro fora de certos limites eacutetico-legais pode ser vista como uma
espeacutecie de ldquoomissatildeordquo do que realmente esses tomadores de creacutedito estatildeo comprando Pois
como jaacute foi retratado de acordo com o CDC os termos devem ser informados de forma clara
ao cliente
Podemos exemplificar de acordo com um entrevistado que afirma utilizar o termo
ldquodinheirinhordquo por ser mais faacutecil dos aposentados e pensionistas entenderem jaacute que muitos
desses clientes possuiacuteam dificuldades sobre o que de fato estavam comprando Aleacutem disso o
bancaacuterio acredita que modo de falar pode alterar a execuccedilatildeo da venda
Tendo em vista os aspectos observados tanto o artifiacutecio linguiacutestico quanto a omissatildeo
das informaccedilotildees pelos bancaacuteriosestagiaacuterios possui objetivos em comum pelas instituiccedilotildees
financeiras na qual visam a obtenccedilatildeo de maiores lucros para essas empresas Aleacutem disso os
bancos satildeo os maiores beneficiados pois natildeo levam em consideraccedilatildeo a isonomia das relaccedilotildees
entre consumidor e fornecedor Portanto conclui-se que em meio a essa relaccedilatildeo o consumidor
eacute parte mais fraca onde seus direitos satildeo violados pelos fornecedores de creacutedito
25
5 CONCLUSAtildeO
O creacutedito consignado eacute um tipo de empreacutestimo recente que vem sendo utilizado com
maior frequecircncia por um determinado puacuteblico (LOPES et al2014) Com isso as instituiccedilotildees
bancaacuterias estatildeo apresentando certo interesse sobre esse ldquonovordquo tipo de puacuteblico em ascensatildeo
Os intermediaacuterios bancaacuterios vecircm buscando formas para atrair os idosos seja atraveacutes das
facilidades da obtenccedilatildeo do creacutedito ou ateacute mesmo no modo de comunicar utilizando de
artifiacutecios de linguagem Em suma os bancos utilizam de praacuteticas de marketing tensionados a
obter vantagens sobre esses consumidores De acordo com o Coacutedigo de Consumidor (CDC)
estes satildeo considerados como vulneraacuteveis
Perante o estudo notou-se que a vulnerabilidade do idoso eacute agravada jaacute que
enquadram como consumidores hipervulneraacuteveis Essa vulnerabilidade acontece atraveacutes das
relaccedilotildees de consumo onde os fornecedores do empreacutestimo tiram proveito do estado em que
esses consumidores se encontram Para que estes cidadatildeos hipervulneraacuteveis sejam amparados
haacute o Estatuto do idoso e Coacutedigo do Consumidor ambos dispotildeem de normas que regem a
relaccedilatildeo entre consumidor-fornecedor Deve-se ressaltar que apesar da existecircncia das
legislaccedilotildees os bancos continuam praticando ldquoexcessosrdquo com os consumidores no momento da
contrataccedilatildeo do creacutedito Eacute relevante a imposiccedilatildeo do Estado visando inibir a lesatildeo do direito
sendo especificado ao idoso
Logo atraveacutes dos resultados da pesquisa pode-se concluir que essa vulnerabilidade
acentuada ocorre atraveacutes de fatores como idade baixa escolaridade e baixo grau de instruccedilatildeo
que interferem nas relaccedilotildees consumeristas isto eacute os contratadores de creacutedito consignado natildeo
possuem domiacutenio para realizar uma compra consciente Sendo assim os consumidores
apresentam limitaccedilotildees sobre o serviccedilo financeiro na qual estaacute adquirindo A partir da anaacutelise
foi possiacutevel verificar atraveacutes dos entrevistados que o puacuteblico idoso natildeo possuiacutea conhecimento
sobre as taxas juros que incidiam sobre as parcelas Aleacutem disso os bancaacuterios afirmavam que
iriam dividir em mais pagamentos para natildeo atrapalhar no orccedilamento mensal do consumidor
Por conseguinte aspectos como estes facilitavam a induzir os idosos a adquirem o creacutedito
mostrando a estes o quatildeo era vantajoso o produto oferecido
Tambeacutem deve-se ressaltar que por se tratar de um puacuteblico com baixo grau de instruccedilatildeo
e alguns analfabetos tanto os bancaacuterios quanto os estagiaacuterios omitiam informaccedilotildees bem
como tambeacutem utilizavam os recursos linguiacutesticos Estas duas formas contribuiacuteram para que as
vendas fossem efetuadas de uma maneira mais raacutepida Uma vez que a forma de falar ou a
26
omissatildeo influenciavam aos idosos comprarem o produto de uma forma irrefletida visto que
esses consumidores acreditavam no que estava sendo falado por parte do fornecedor
Portanto diante da fragilidade do consumidor em questatildeo eacute perceptiacutevel que na
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado boa parte dos idosos muitas vezes natildeo estatildeo acompanhados
por nenhum membro da famiacutelia Desta maneira para os bancaacuteriosestagiaacuterios a forma de
abordar o cliente fica mais acessiacutevel ainda mais por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel com
pouco grau de instruccedilatildeo ou conhecimento Logo situaccedilotildees como estas contribuem para os
fornecedores tirarem proveito do puacuteblico idoso Outro fato que deve ser destacado eacute a
presenccedila do Estado incentivando programas de alfabetizaccedilatildeo financeira independente do fator
idade para que a sociedade no geral saiba ter consciecircncia clareza sobre as relaccedilotildees de
consumo
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29
APEcircNDICE A
Roteiro de Entrevista qualitativa aplicada aos bancaacuterios e seus correspondentes
1 Idade
2 Formaccedilatildeo acadecircmica ( ) Ensino Meacutedio
( ) Superior
3 Haacute quanto tempo vocecirc trabalha ou jaacute trabalhou vendendo serviccedilos financeiros Em
qual cidade Descreva os serviccedilos financeiros que vocecirc mais estava habituado a
venda
4 Fale um pouco sobre as atividades que vocecirc realizava dentro da empresa Me conte
como era o seu dia a dia como era o processo de venda Da captaccedilatildeo do cliente ao
fechamento do contrato ou da venda do serviccedilo DEcirc EXEMPLOS
5 Quais produtos financeiros vocecirc estava ou estaacute mais habituado a vender
Creacutedito consignado creacutedito pessoal seguros empreacutestimos financiamentos
Qual vocecirc eacute mais estimulado a fazer
Tem diferenccedila na venda desses produtos
A abordagem ao cliente muda Quais satildeo mais diferentes
Vocecirc pode descrever para mim cada um deles por favor
Quais produtos satildeo os mais procurados
6 Qual eacute o tipo de puacuteblico que busca pelo empreacutestimo Descreva para mim as
caracteriacutesticas que vocecirc julga como mais marcantes Geralmente satildeo pessoas de que
faixa etaacuteria Satildeo pessoas de classe baixa meacutedia ou alta Satildeo pessoas instruiacutedas
7 Essas pessoas possuem um esclarecimento sobre o que seria esse tipo creacutedito
Compreendem as vantagens e as desvantagens relacionadas ao serviccedilo O que vocecirc
acha disso
8 No momento da contrataccedilatildeo de creacutedito o que eacute falado Como se daacute Todos os temos
do contrato ficam claros Vocecircs bancaacuterios explicitam o que estaacute no contrato Haacute
30
alguma avaliaccedilatildeo criteriosa do perfil do cliente de suas condiccedilotildees financeiras
9 O que vocecirc jaacute verificou por parte das pessoas que tomam esse creacutedito Qual seria os
maiores motivos para a procura do creacutedito consignado
10 Quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito vocecirc concorda com as vantagens oferecidas no
contrato ou acredita que algo deveria ser alterado O que vocecirc natildeo estaria de acordo
11 Qual o limite de desconto mensal da folha de pagamento do trabalhador o banco
oferece Por algum momento o banco excedeu o valor de desconto da folha Comente
essefato
12 Quanto agraves poliacuteticas bancaacuterias proposta pelos bancos para a venda de produtos
financeiros vocecirc concorda Ou algum momento jaacute discordou Discorra sobre o fato
13 Frequentemente vocecircs bancaacuterios satildeo estimulados a bater metas sobre os produtos que
vocecircs oferecem Vocecirc concorda que existe uma certa pressatildeo em vender cada vez mais
produtos Em alguma situaccedilatildeo vocecirc natildeo esteve de acordo como a forma que deveria
induzir os clientes a comprar um produto na qual vocecirc estaria oferecendo
Catalogaccedilatildeo fichasisbinufopbr
V614v Viana Nathaacutelia Moura Vulnerabilidade do consumidor de serviccedilos financeiros uma anaacutelise das
praacuteticas de marketing dos intermediaacuterios bancaacuterios [manuscrito] Nathaacutelia Moura Viana - 2017
30f
Orientadora Prof Dr Karla Luisa Costa e Costa
Monografia (Graduaccedilatildeo) Universidade Federal de Ouro Preto Instituto de Ciecircncias Sociais Aplicadas Departamento de Ciecircncias Econocircmicas e Gerenciais
1 Intermediaacuterios bancaacuterios 2 Creacutedito consignado 3 Consumidor vulneraacutevel 4 Consumidores hipervulneraacuteveis I Costa Karla Luisa Costa e II Universidade Federal de Ouro Preto III Titulo
CDU 33677(0423)
AGRADECIMENTOS
A Deus e a Satildeo Geraldo por estarem sempre presentes no meu dia-a-dia dando-me proteccedilatildeo
para prosseguir e nunca me desemparando nos momentos difiacuteceis
Aos meus avoacutes meu porto seguro e exemplo de vida
Aos meus pais presentes em boa parte da graduaccedilatildeo
Ao meu irmatildeo pela amizade
Aos meus tios e tias em especial agrave Clecircnia pelo apoio e compreensatildeo
Ao meu namorado pela confianccedila e companheirismo
Agraves sinceras amizades construiacutedas na Repuacuteblica Luluzinhas responsaacuteveis pela retomada da
minha caminhada e por tornar a Repuacuteblica minha segunda famiacutelia
Ao professor Faacutebio pelo o estiacutemulo disponibilidade e contribuiccedilatildeo em grande parte da
pesquisa
Agrave professora Karla orientadora pela colaboraccedilatildeo no artigo
Aos professores pelos ensinamentos adquiridos
Aos membros da banca pela presenccedila e disponibilidade
Agrave Universidade pela oportunidade da realizaccedilatildeo deste curso de graduaccedilatildeo
A todos os colaboradores direccedilatildeo teacutecnicos administraccedilatildeo e terceirizados desta Instituiccedilatildeo
por contribuiacuterem no funcionamento da UFOP na qual satildeo importantes para a caminhada de
cada discente
Aos colegas de curso durante o percurso na UFOP
Em suma agradeccedilo a todos que de forma direta e indireta contribuiacuteram para a concretizaccedilatildeo
deste trabalho
RESUMO
O presente estudo busca analisar as praacuteticas de Marketing empregadas pelos intermediaacuterios
bancaacuterios com relaccedilatildeo aos contratadores do creacutedito consignado Esta modalidade de
empreacutestimo tem sido utilizada por idosos aposentados e pensionistas do INSS pelo fato de
apresentar um acesso faacutecil ao puacuteblico em questatildeo mas por outro lado verifica-se que nessa
relaccedilatildeo de consumidor e fornecedor o segundo eacute o mais beneficiado jaacute que o primeiro
encontra-se em um estado de vulnerabilidade O objetivo do trabalho eacute compreender ateacute que
ponto essas estrateacutegias satildeo desenhadas visando tirar proveito dos consumidores vulneraacuteveis
Contudo por se tratar de uma pesquisa descritiva foi possiacutevel efetivar uma pesquisa de
campo atraveacutes de entrevistas realizadas com sete bancaacuterios (as) e trecircs estagiaacuterios (as) da
regiatildeo de Mariana Ouro Preto e Itabirito Os resultados contidos indicaram que os
consumidores do creacutedito consignado satildeo atraiacutedos pelos bancaacuterios (as) e estagiaacuterios (as)
atraveacutes de teacutecnicas como artifiacutecios de linguagem isto eacute modificam a forma de comunicar
para exercer uma forte influecircncia na hora da compra Outro aspecto eacute a omissatildeo de
informaccedilotildees visto que o cliente natildeo possui as informaccedilotildees suficientes sobre qual produto que
estaacute contratando Aleacutem disso o puacuteblico idoso que utiliza do empreacutestimo consignado eacute
caracterizado como consumidor hipervulneraacutevel uma vez que circunstacircncias como fator
idade niacutevel de instruccedilatildeo formal e analfabetismo acarreta o grau de vulnerabilidade Dessa
forma as instituiccedilotildees financeiras tendem a persuadir e influenciar o consumidor idoso nas
relaccedilotildees consumeristas buscando estimular maiores vendas na contrataccedilatildeo do creacutedito
consignado
PALAVRAS-CHAVE
Intermediaacuterios Bancaacuterios Creacutedito Consignado Consumidor Vulneraacutevel Consumidores
Hipervulneraacuteveis
ABSTRACT
The present study seeks to analyze the marketing practices appointed by banking
intermediaries in relation to contractors of payroll loans This type of loan has been used by
the elderly retirees and pensioners of the INSS because it presents easy access to these
public but on the other hand it is verified that in this relation of consumer and supplier the
second is the most benefited whereas the former is in a state of vulnerability The purpose of
the essay is to understand the extent to which these strategies are designed aiming to take
advantage of vulnerable consumers However because it was a descriptive research it was
possible to actualize a field research through interviews made with seven bankers and three
interns from the regions of Mariana Ouro Preto and Itabirito The results indicated that the
consumers of payroll loans are attracted by bankers and interns through techniques such as
language artifices that is they modify the way of communicating to practise a strong
influence on the time of purchase Another aspect is the omission of informations since the
customer does not have sufficient information about which product he is hiring In addition to
that the elderly public that uses the payroll loan are characterized as hypervulnerable
consumers since circumstances such as age level of formal education and illiteracy brings
the degree of vulnerability This way financial institutions tend to persuade and influence the
elderly consumer in consumer relations seeking to stimulate higher sales in the contracting of
payroll
KEY WORDS
Banking Intermediary Payroll loans Vulnerable Consumer Hypervulnerable Consumers
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 7
2 REVISAtildeO DE LITERATURA 9
21 Creacutedito Consignado 9
22 Consumidor (Hiper) Vulneraacutevel e o Coacutedigo de Defesa do Consumidor 10
221 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal como fator de
vulnerabilidade 12
3 METODOLOGIA 13
31 Descriccedilatildeo da Amostra 15
4 ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 17
41 Categoria I 17
411 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos serviccedilos
financeiros 17
42 Categoria II 19
421 Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito 19
43 Categoria III 23
431 Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito 23
5 CONCLUSAtildeO 25
REFEREcircNCIAS 26
APEcircNDICE A 29
7
1 INTRODUCcedilAtildeO
No cenaacuterio brasileiro o termo creacutedito teve notoriedade somente apoacutes 1994 com a
alteraccedilatildeo do Plano Real Posteriormente a esse periacuteodo notou-se que uma parcela da
populaccedilatildeo brasileira estava sendo excluiacuteda do sistema financeiro de creacuteditos A partir desse
momento surge a preocupaccedilatildeo de dar acesso ao creacutedito agraves classes mais desfavorecidas na
qual as famiacutelias mais pobres deveriam ser incluiacutedas no mercado de creacutedito (BERTONCELLO
e LIMA 2008)
De acordo com Bertoncello e Lima (2008) o governo Lula proporcionou uma poliacutetica
de estiacutemulo ao creacutedito popular isto eacute motivou o consumo da populaccedilatildeo de baixa renda Os
aposentados tambeacutem tiveram notoriedade nesse momento econocircmico Conforme o autor estes
estavam sendo seduzidos por publicidade veiculada aos meios de comunicaccedilatildeo como tambeacutem
estavam sendo assediados por agenciadores e correspondentes dos bancos
Conforme Cavalcante (2015) essa maior notoriedade da terceira idade no mercado de
creacutedito eacute em razatildeo do aumento da populaccedilatildeo idosa e a maior expectativa de vida aleacutem disso
esse puacuteblico contabiliza 16 milhotildees de idosos que utilizam do creacutedito consignado Mas o que
seria o empreacutestimo consignado
O creacutedito consignado surgiu no contexto explicitado acima esse tipo de creacutedito eacute
definido como um empreacutestimo disponibilizado para pessoas fiacutesicas onde o valor das parcelas
eacute descontado diretamente na folha de pagamento as pessoas que utilizam desse creacutedito satildeo
idosos aposentados e pensionistas do INSS Aleacutem disso essa operaccedilatildeo eacute realizada por
intermediaacuterios bancaacuterios (COSTA 2014)
Os autores Barone e Sader (2008 p1258) definem o esse tipo de creacutedito como
ldquoum tipo de creacutedito oferecido para os empregados do setor formal eou aposentados
e pensionistas do INSS com baixas taxas de juros (bem menores que as praticadas
para empreacutestimo pessoal no mercado) em que as prestaccedilotildees satildeo descontadas
diretamente de seus salaacuterios eou aposentadorias e pensotildeesrdquo
Segundo os autores retrocitados o programa de empreacutestimo a esse tipo de puacuteblico
com consignaccedilatildeo foi autorizado pela Lei ndeg 10820 sendo publicada no Diaacuterio Oficial da
Uniatildeo em dezembro de 2003 As primeiras operaccedilotildees foram realizadas em maio de 2004
inicialmente pela Caixa Econocircmica Federal
Pode-se perceber o estiacutemulo da concessatildeo do creacutedito consignado esse estiacutemulo ao
creacutedito ocorre por meio de estrateacutegias de marketing De acordo com Bertoncello e Lima
(2008) as estrateacutegias utilizadas pelas instituiccedilotildees financeiras possuem argumentos
convincentes isto eacute creacutedito faacutecil e raacutepido sem consultas agraves entidades de proteccedilatildeo ao creacutedito
8
acessiacutevel a quem tem restriccedilotildees creditiacutecias e prazos maiores para pagamento Contudo eacute
dessa forma que os bancos visam atrair atuais e futuros consumidores do creacutedito consignado
Atraveacutes da concessatildeo do empreacutestimo consignado surge a relaccedilatildeo de consumo entre os
intermediaacuterios bancaacuterios (fornecedores) e os tomadores de creacutedito consignado
(consumidores) Nessa relaccedilatildeo pode-se dizer que os consumidores satildeo vistos como
vulneraacuteveis Conforme Chertman (2011) o consumidor vulneraacutevel eacute fraacutegil pois natildeo conhece
todas as informaccedilotildees existentes num processo de compra Sendo assim os fornecedores tiram
vantagens na contrataccedilatildeo de um produto ou serviccedilo
Logo pode-se inferir que os fornecedores do empreacutestimo consignado detecircm maiores
informaccedilotildees sobre o serviccedilo oferecido desta maneira os consumidores do empreacutestimo satildeo
considerados a parte mais fraca da relaccedilatildeo jaacute que natildeo possuem na maior parte das vezes
informaccedilatildeo necessaacuteria para uma segura contrataccedilatildeo do creacutedito
Visando mitigar tais problemas ou oferecer apoio a parte vulneraacutevel na relaccedilatildeo de
consumo foi criado o CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) Ele busca reduzir os
problemas existentes entre o fornecedor-consumidor uma vez que os consumidores
necessitam de proteccedilatildeo em especial aqueles chamados (hiper)vulneraacuteveis
Desse modo a vulnerabilidade do consumidor quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito seraacute o
assunto principal abordado ao longo deste trabalho Mais especificamente esta proposta de
pesquisa buscou analisar possiacuteveis accedilotildees de marketing de instituiccedilotildees financeiras e seus
intermediaacuterios que de alguma forma se aproveitam da fragilidade do consumidor de serviccedilos
financeiros O tema em questatildeo eacute multifacetado isto eacute percebe-se que o puacuteblico ao adquirir
um produto ou serviccedilo acaba sendo influenciado pelos bancaacuterios e seus equivalentes estes satildeo
pressionados e induzidos pelas instituiccedilotildees financeiras a utilizarem de praacuteticas de marketing
para efetuaccedilatildeo de maiores nuacutemeros de vendas do creacutedito consignado Logo eacute possiacutevel
concluir que os bancos estatildeo compreendendo que esse tipo de puacuteblico idosos aposentados e
pensionistas pode ser responsaacutevel pela expansatildeo dos negoacutecios bancaacuterios (BUAES 2015)
Por conseguinte este estudo eacute relevante para que a sociedade possa entender e
compreender o efeito que as estrateacutegias de marketing exercem sobre as suas escolhas Aleacutem
disso pode-se salientar conforme Buaes (2015) que a educaccedilatildeo financeira eacute significativa
para a equidade da relaccedilatildeo entre consumidor e fornecedor onde o primeiro possa agir com
discernimento e conhecimento sobre suas atitudes Mas para que esse cenaacuterio se modifique
haacute a necessidade de uma maior atenccedilatildeo a esse tema por parte do governo dando importacircncia
agraves praacuteticas educativas voltadas para alfabetizaccedilatildeo financeira
9
Em virtude dos fatos mencionados acima pode-se indagar Ateacute que ponto agraves praacuteticas
de Marketing dos bancos satildeo desenhadas visando tirar proveito da vulnerabilidade dos
consumidores de serviccedilos financeiros Deste modo tem-se por objetivo geral analisar esse
problema enfrentado pela sociedade desfavorecida Aleacutem disso busca-se explicar as
caracteriacutesticas desses consumidores bem como buscar evidecircncias na qual os bancos se
aproveitam dessa vulnerabilidade
2 REVISAtildeO DE LITERATURA
21 Creacutedito consignado
A expansatildeo do creacutedito no Brasil foi fomentada nos uacuteltimos 10 anos provocando um
aumento na demanda por tal serviccedilo financeiro e consequentemente um aumento do
endividamento das classes menos favorecidas (SBICCA FLORIANI JUK 2012) Por outro
lado o maior acesso ao creacutedito pela populaccedilatildeo acarretou um aumento no consumo bens e
serviccedilos jaacute que as classes desfavorecidas comeccedilaram a ter maior participaccedilatildeo na economia
Com relaccedilatildeo ao cenaacuterio brasileiro a economia do paiacutes se expandiu fortemente no
periacuteodo compreendido entre os anos de 2004 e 2007 provocando relevante impacto sobre a
ampliaccedilatildeo do creacutedito bancaacuterio Dentre os serviccedilos que contribuiacuteram para a ampliaccedilatildeo do
creacutedito bancaacuterio podemos destacar a criaccedilatildeo do empreacutestimo consignado que por sua vez
ajudou a estimular o ambiente econocircmico (ARAUacuteJO 2012) Ainda segundo Arauacutejo (2012) a
introduccedilatildeo do creacutedito consignado foi autorizada atraveacutes da Medida Provisoacuteria nordm130 de
setembro de 2003 convertida na Lei nordm 10820 logo no mecircs de dezembro
O creacutedito consignado eacute um empreacutestimo realizado pelos intermediaacuterios bancaacuterios onde
as parcelas satildeo descontadas diretamente na folha de pagamento do tomador do empreacutestimo
Aleacutem disso deve-se salientar que o desconto maacuteximo na folha para operaccedilotildees desta natureza
eacute de ateacute 30 do valor da remuneraccedilatildeo ou benefiacutecio previsto na Lei Nordm10820 de 17 de
dezembro de 2003
Gonccedilalves e Saacute (2013 p08) explicitam quem satildeo os principais consumidores do
serviccedilo financeiro de empreacutestimo consignado descrevendo como ldquoo puacuteblico alvo da
modalidade de consignados satildeo as pessoas idosas beneficiaacuterios da Previdecircncia Social quer
aposentados quer pensionistasrdquo
Os contratadores de creacutedito consignado geralmente satildeo idosos pessoas de baixa renda
e baixa escolaridade Os consumidores dessa modalidade de serviccedilo financeiro satildeo geralmente
atraiacutedos pelas instituiccedilotildees financeiras que costumam apresentar serviccedilos ldquovantajososrdquo como
10
juros mensais inferiores aos do mercado tradicional e a natildeo necessidade de avalista haja vista
que o risco do negoacutecio eacute pequeno para o fornecedor jaacute que o valor retido eacute descontado na
fonte o que reduz os riscos de inadimplecircncia
A facilidade que os consumidores tecircm de adquirir dinheiro via creacutedito consignado e
dos bancos realizarem tais operaccedilotildees de baixiacutessimo risco faz com que os bancos tirem
vantagem na contrataccedilatildeo do creacutedito consignado Visto que os idosos ao contratarem esse tipo
de creacutedito desconhecem a quantidade de parcelas e o periacuteodo que levaratildeo para quitaacute-las
Aleacutem disso estes natildeo compreendem qual o valor dos juros mensal preocupam-se apenas com
o valor da parcela a ser liquidada (GONCcedilALVES SAacute 2013)
22 Consumidor (Hiper) Vulneraacutevel e o Coacutedigo de Defesa do Consumidor
O termo vulnerabilidade estaacute relacionado com as relaccedilotildees de consumo na aquisiccedilatildeo de
um bem Desta maneira pode-se definir o termo como uma incapacidade ou fragilidade no
ato do consumo Ou seja essa vulnerabilidade do consumo traz como consequecircncia situaccedilotildees
em que os consumidores se enganam erram ou desconhecem todas as informaccedilotildees que
existem num processo de compra Logo a vulnerabilidade do consumidor faz com que os
fornecedores tirem vantagens na contrataccedilatildeo de um produto ou serviccedilo Isto eacute os fornecedores
omitem certas informaccedilotildees sobre os produtos aos clientes (CHERTMAN 2011)
Na contrataccedilatildeo do creacutedito consignado deve-se ressaltar diante do exposto acima que
os tomadores de creacutedito estatildeo em desvantagem com relaccedilatildeo aos fornecedores desse serviccedilo jaacute
que as instituiccedilotildees natildeo transferem as informaccedilotildees necessaacuterias quando esses consumidores
estatildeo obtendo o serviccedilo Segundo Barbosa (2002 p4)
O consumidor eacute a parte mais fraca nas relaccedilotildees de consumo Por isso tem ele direito
agrave boa informaccedilatildeo sobre os produtos e serviccedilos que recebe e quanto aos contratos que
assina Tem tambeacutem direito de ser protegido quando se dirige ao Poder Judiciaacuterio
podendo o Juiz determinar medidas para assegurar os seus direitos no tocante agraves
soluccedilotildees alternativas que a Justiccedila pode encontrar para dar - ao Consumidor - o
resultado equivalente ao do adimplemento das obrigaccedilotildees do fornecedor
Nessa relaccedilatildeo onde o fornecedor ganha vantagem sobre o consumidor de creacutedito
consignado o segundo tem direito a ser amparado no acircmbito judiciaacuterio atraveacutes do Coacutedigo de
Defesa do Consumidor De acordo com o CDC no artigo 4 da Lei ndeg 8078 (BRASIL 1990)
pode-se afirmar que todos os consumidores satildeo vulneraacuteveis
Conforme Pfeiffer (2010) o Coacutedigo de Defesa do Consumidor preocupa-se com a
isonomia na relaccedilatildeo de consumo reconhecendo a vulnerabilidade do consumidor Dessa
forma atraveacutes das normas estabelecidas pelo CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) os
consumidores possuem amparo seguranccedila e proteccedilatildeo na contrataccedilatildeo de um bem ou serviccedilo
11
Com relaccedilatildeo ao CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) um aspecto que deve ser
ressaltado dentro desse coacutedigo eacute o direito agrave informaccedilatildeo De acordo com Tribunal de Justiccedila do
Distrito Federal e dos Territoacuterios (2016)
O direito agrave informaccedilatildeo eacute direito baacutesico do consumidor e visa assegurar ao mesmo
tempo uma escolha consciente permitindo que suas expectativas em relaccedilatildeo ao
produto ou ao serviccedilo sejam de fato atingidas manifestando o que vem sendo
denominado de consentimento informado ou vontade qualificada
Em outras palavras o consumidor ao adquirir um bem ou produto tem como direito a
informaccedilatildeo necessaacuteria para que faccedila uma compra consciente isto eacute o consumidor deve ter
clareza das condiccedilotildees favoraacuteveis e desfavoraacuteveis do produto Dessa forma eacute relevante que o
fornecedor na hora da compra informe para o cliente o que eacute de fato o seu produto natildeo
omitindo informaccedilotildees que prejudique o consumidor na hora da compra
O artigo 6ordm da Lei nordm 8078 incIII (BRASIL 1990) que retrata o CDC apresenta os
direitos baacutesicos do consumidor dentre eles pode-se destacar o direito ldquoa informaccedilatildeo adequada
e clara sobre os diferentes produtos e serviccedilos com especificaccedilatildeo correta de quantidade
caracteriacutesticas composiccedilatildeo qualidade tributos incidentes e preccedilo bem como sobre os riscos
que apresentamrdquo
Aleacutem da vulnerabilidade do consumidor ser defendida no CDC (Coacutedigo de Defesa do
Consumidor) os idosos contam com a proteccedilatildeo do Estatuto do idoso prevista em Lei nordm
1074103 (BRASIL 2003) no artigo 20 eacute possiacutevel inferir que ldquoo idoso tem direito a
educaccedilatildeo cultura esporte lazer diversotildees espetaacuteculos produtos e serviccedilos que respeitem
sua peculiar condiccedilatildeo de idaderdquo Desse modo para assegurar os direitos do consumidor idoso
eacute importante que o fornecedor seja claro com esse tipo de puacuteblico visando facilitar as
relaccedilotildees consumeristas
Quando a vulnerabilidade do consumidor eacute agravada ou possui condiccedilotildees para uma
maior fragilidade nas relaccedilotildees de consumo podemos definir que este consumidor eacute
hipervulneraacutevel De acordo com Meire e Alves (2016) circunstacircncias como fator idade
conhecimento ou condiccedilatildeo social afetam no grau da vulnerabilidade isto eacute os idosos por
exemplo estatildeo mais propensos a se enquadrar no estado de hipervulnerabilidade
Os autores Rosa Bernardes e Feacutelix (2017 p548) afirmam que
[] fatores tais quais idade avanccedilada ou reduzida situaccedilatildeo de enfermidade e outros
mais que importem fragilizaccedilatildeo e vulnerabilidade do consumidor em niacutevel maior
que o comum na exposiccedilatildeo ao produto ou serviccedilo oferecido pelo fornecedor
ocasionam um grau intensificado de inferioridade na relaccedilatildeo de consumo e assim
configuram um tipo de vulnerabilidade mais grave ao que se convencionou chamar
hipervulnerabilidade
12
Conforme o exposto relato os consumidores hipervulneraacuteveis possuem certa
fragilidade Dessa forma a abordagem dos fornecedores aos idosos eacute visando tirar proveito da
situaccedilatildeo na qual se encontram Os autores citados anteriormente destacam
O puacuteblico idoso revela-se como alvo potencial de propagandas e praacuteticas comerciais
abusivas que se aproveitam da reduzida capacidade de discernimento do idoso para
impor a contrataccedilatildeo de serviccedilos Um dos exemplos mais paradigmaacuteticos eacute a
celebraccedilatildeo de contratos de empreacutestimos consignados entre instituiccedilotildees financeiras e
consumidores idosos pois a loacutegica da sociedade de consumo visualizou lucros
certeiros com tal contrataccedilatildeo eis que via de regra idosos possuem rendimentos
mensais fixos sendo por isso a contrataccedilatildeo mais segura (ROSA BERNARDES
E FEacuteLIX 2017 p548)
Gonccedilalves e Saacute (2015) tambeacutem expotildeem a vulnerabilidade do consumidor em meio agraves
publicidades agressivas antieacuteticas onde o consumo eacute apelado utilizando um conteuacutedo forte
emotivo para atrair os consumidores agrave adquirirem determinado produtoserviccedilo
O Projeto de Lei do Senado nordm283 (BRASIL 2012) presume a alteraccedilatildeo do CDC
(BRASIL1990) visando combater essas praacuteticas de marketing com referecircncia a oferta de
creacutedito Logo esse Projeto de Lei no inciso IV do paraacutegrafo 4 recomenda que ldquoEacute vedado
expressa ou implicitamente na oferta de creacutedito ao consumidor publicitaacuteria ou natildeo [] IV ndash
ocultar por qualquer forma os ocircnus e riscos da contrataccedilatildeo de creacutedito dificultar sua
compreensatildeo ou estimular o endividamento do consumidor em especial se idoso ou
adolescenterdquo (BRASIL 2012)
Desta forma nota-se que o Coacutedigo de Defesa do Consumidor (CDC) e os estatutos
funcionam como paracircmetros para garantir a isonomia Com isso os hipervulneraacuteveis possuem
um maior amparo com relaccedilatildeo agraves praacuteticas abusivas de marketing vendas omissatildeo de
informaccedilotildees como tambeacutem as propagandas enganosas sobre o produto ou serviccedilo na qual
estatildeo contratando
221 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal como fator de vulnerabilidade
Na conjuntura atual brasileira eacute possiacutevel observar a ascensatildeo das classes populares
para as camadas meacutedias como tambeacutem o aumento de poder de compra dos idosos Logo eacute
possiacutevel perceber uma maior atenccedilatildeo dada pelas empresas a esse tipo de puacuteblico em especial
as instituiccedilotildees financeiras Esse poder de compra dos idosos fez com que as empresas
bancaacuterias estimulassem a contrataccedilatildeo de creacutedito por parte dessas pessoas em especial o
creacutedito consignado (BUAES 2015) Atraveacutes disso pode-se indagar Por que o interesse dos
bancos nesse puacuteblico
13
Conforme Buaes (2015) o aumento do poder de compra do idoso fez com que esse
puacuteblico apresentasse interesse na contrataccedilatildeo de produtos e serviccedilos financeiros visto que os
bancos apresentam certa facilidade na obtenccedilatildeo de creacuteditos Um fato destacado por Buaes
(2015) eacute a falta de percepccedilatildeo dos idosos quanto a suas limitaccedilotildees financeiras ou ateacute mesmo a
dificuldade em aceitar essa insuficiecircncia Desta maneira pode-se observar a vulnerabilidade
em duas dimensotildees neste perfil do consumidor idoso isto eacute a falta de conhecimento formal e
a anaacutelise na contrataccedilatildeo de um creacutedito
Quanto a vulnerabilidade do consumidor Chertman (2011) afirma que pode ser
identificada atraveacutes de caracteriacutesticas natildeo observaacuteveis o que eacute o caso do analfabetismo
Entende-se por analfabeto a pessoa com a incapacidade da linguagem de forma geral seja na
leitura intepretaccedilatildeo compreensatildeo e na produccedilatildeo de conhecimento Logo o analfabetismo
possibilita o indiviacuteduo tornar-se um consumidor vulneraacutevel
Aleacutem da questatildeo de pessoas analfabetas tomadores de creacuteditos haacute tambeacutem o perfil de
consumidores de baixa instruccedilatildeo Essas pessoas satildeo capazes de assinar seu proacuteprio nome
quanto agrave leitura apresentam alguma dificuldade no entendimento ou necessitam de ajuda para
uma melhor compreensatildeo Esse tipo consumidor como foi dito acima tambeacutem se enquadra
como vulneraacutevel
Dado o exposto compreende-se que o analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo
formal agravam ainda mais a vulnerabilidade do consumidor em questatildeo Os idosos aleacutem de
possuiacuterem o fator idade na qual afeta a relaccedilatildeo entre consumidorfornecedor (MEIRE
ALVES 2016) apresentam tambeacutem a presenccedila dessas duas caracteriacutesticas que podem
delimitar uma escolha consciente e clara no momento da contrataccedilatildeo de um produto ou
serviccedilo
3 METODOLOGIA
O estudo foi embasado em pesquisas bibliograacuteficas online e impressas como tambeacutem
trabalhos acadecircmicos e perioacutedicos A metodologia utilizada foi qualitativa do tipo descritiva
de acordo Godoy (1995 p62) os pesquisadores de orientaccedilatildeo qualitativadescritiva executam
suas pesquisas baseadas em trabalho de campo a partir de entrevistas e observaccedilotildees aleacutem
disso os pesquisadores possuem um contato direto com o local da pesquisa e seus sujeitos
portanto eacute possiacutevel analisar dados escrever resultados obtidos e descrever o que foi dito
pelos entrevistados
14
A pesquisa de campo foi realizada atraveacutes de entrevistas semi-estruturadas
(APEcircNDICE A) sendo composta por treze questotildees discursivas Segundo Boni e Quaresma
(2005 p 75) as teacutecnicas desse tipo de entrevista
[] tecircm como vantagem a sua elasticidade quanto agrave duraccedilatildeo permitindo uma
cobertura mais profunda sobre determinados assuntos Aleacutem disso a interaccedilatildeo entre
o entrevistador e o entrevistado favorece as respostas espontacircneas Elas tambeacutem satildeo
possibilitadoras de uma abertura e proximidade maior entre entrevistador e
entrevistado o que permite ao entrevistador tocar em assuntos mais complexos e
delicados ou seja quanto menos estruturada a entrevista maior seraacute o favorecimento
de uma troca mais afetiva entre as duas partes Desse modo estes tipos de entrevista
colaboram muito na investigaccedilatildeo dos aspectos afetivos e valorativos dos informantes
que determinam significados pessoais de suas atitudes e comportamentos As
respostas espontacircneas dos entrevistados e a maior liberdade que estes tecircm podem
fazer surgir questotildees inesperadas ao entrevistador que poderatildeo ser de grande
utilidade em sua pesquisa
Em suma pode-se perceber que esse tipo de entrevista proporcionou aos entrevistados
certa autonomia em discutir sobre o tema em questatildeo Visto que no percorrer das
interlocuccedilotildees houve a possibilidade de introduzir novos assuntos sobre o estudo como
tambeacutem a exemplificaccedilatildeo de situaccedilotildees vivenciadas pelos entrevistados
Para a realizaccedilatildeo das entrevistas no presente estudo foi indispensaacutevel entrevistar um
nuacutemero de sete bancaacuterios(as) e trecircs estagiaacuterios(as) de instituiccedilotildees financeiras privadas da
cidade de Mariana Ouro Preto e Itabirito visto que cinco deles eram do sexo masculino e os
demais do sexo feminino Visando buscar nesses gecircneros perspectivas diversas sobre as
teacutecnicas utilizadas na operaccedilatildeo do empreacutestimo consignado agrave aposentados e pensionistas Estas
entrevistas realizadas tiveram duraccedilatildeo meacutedia de quinze a trinta minutos sendo que todas as
interlocuccedilotildees foram gravadas e posteriormente transcritas para entatildeo serem analisadas
Portanto as anaacutelises das respostas foram fundamentadas em anaacutelises de conteuacutedos e
posteriormente buscou-se categorizar os elementos relevantes discutidos durante as
interlocuccedilotildees
De acordo com Cavalcante Calixto e Pinheiro (2014) a anaacutelise de conteuacutedo permite a
ldquoanaacutelise do fenocircmeno em profundidade elencando as subjetividades suas relaccedilotildees bem
como interlocuccedilotildees na malha socialrdquo logo atraveacutes das entrevistas com os bancaacuterios pode-se
verificar suas percepccedilotildees
Conforme Caregnato e Mutti (2006 p 683)
A teacutecnica de anaacutelise de conteuacutedo se compotildee de trecircs grandes etapas 1) a preacute-anaacutelise
2) a exploraccedilatildeo do material 3) o tratamento dos resultados e interpretaccedilatildeo A
mencionada autora descreve a primeira etapa como a fase de organizaccedilatildeo que pode
utilizar vaacute- rios procedimentos tais como leitura flutuante hipoacuteteses objetivos e
elaboraccedilatildeo de indicadores que fundamentem a interpretaccedilatildeo Na segunda etapa os
dados satildeo codificados a partir das unidades de registro Na uacuteltima etapa se faz a
categorizaccedilatildeo que consiste na classificaccedilatildeo dos elementos segundo suas
semelhanccedilas e por diferenciaccedilatildeo com posterior reagrupamento em funccedilatildeo de
15
caracteriacutesticas comuns Portanto a codificaccedilatildeo e a categorizaccedilatildeo fazem parte da AC
As autoras afirmam que aleacutem das teacutecnicas utilizadas na anaacutelise de conteuacutedo o
pesquisador pode categorizar fragmentos do texto que se repetem atraveacutes de frases ou
expressotildees Atraveacutes disso as entrevistas realizadas com os bancaacuterios foram categorizadas da
seguinte maneira
Categoria I- O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Categoria II- Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Categoria III- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por conseguinte essas respostas foram analisadas com o intuito de verificar como os
consumidores hipervulneraacuteveis satildeo abordados pelos(as) bancaacuterios(as) e quais as praacuteticas que
as instituiccedilotildees financeiras adotam para convencer esse puacuteblico Contudo compreende-se que
por meio das entrevistas pode-se construir consideraccedilotildees em relaccedilatildeo ao objetivo da pesquisa
31 Descriccedilatildeo da Amostra
Para a anaacutelise das praacuteticas de marketing utilizadas pelos intermediaacuterios bancaacuterios
estudaram-se sete bancaacuterios(as) e trecircs estagiaacuterios(as) atuantes na concessatildeo de empreacutestimos
consignados Estes operam nas localidades de Mariana Ouro Preto e Itabirito Em vista disso
para a execuccedilatildeo da pesquisa foi relevante a realizaccedilatildeo de entrevistas a partir desse
pressuposto foi possiacutevel inferir interpretaccedilotildees diversas sobre esses sujeitos no momento da
concessatildeo do creacutedito
As interlocuccedilotildees com os bancaacuterios e seus correspondentes foram marcadas
antecipadamente via celular informando-lhes a data o local a preferir a duraccedilatildeo em meacutedia e
do que se tratava o estudo As entrevistas foram sucedidas no periacuteodo de julho a agosto de
2016 Outro aspecto a ser relatado aos entrevistados sobre o estudo foi a importacircncia destes
para pesquisa visto que o nuacutemero de informaccedilotildees fornecidas possibilitaria uma anaacutelise
satisfatoacuteria para a exploraccedilatildeo do tema O quadro a seguir resume as caracteriacutesticas da amostra
analisada
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Quadro 1 Caracteriacutesticas da amostra analisada
Bancaacuterios Estagiaacuterios Nomes Fictiacutecios Idade Cidades
B1 Maria Claacuteudia 41 Mariana (MG)
B2 Carlos Eduardo 22 Ouro Preto (MG)
B3 Daniel 25 Ouro Preto (MG)
B4 Leandro 27 Mariana (MG)
B5 Maacutercia 34 Mariana (MG)
B6 Antocircnio 38 Mariana (MG)
B7 Camila 27 Mariana (MG)
E1 Ana Luiacuteza 25 Itabirito (MG)
E2 Marcela 22 Itabirito (MG)
E3 Marcos 24 Ouro Preto (MG)
Fonte Dados da pesquisa
Com relaccedilatildeo a populaccedilatildeo do estudo foram levantados dados buscando alcanccedilar a
quantidade aproximada de bancaacuterios e estagiaacuterios na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e
Itabirito Para a identificaccedilatildeo dos dados foi necessaacuterio entrar em contato via telefone em todas
as agecircncias privadas dessas localidades Atraveacutes do quadro abaixo pode-se concluir o nuacutemero
da populaccedilatildeo desse puacuteblico
Quadro 2 Quantidade da populaccedilatildeo de bancaacuterios e estagiaacuterios
Localidade Bancaacuterios Estagiaacuterios
Mariana 55 3
Ouro Preto 63 3
Itabirito 52 8
TOTAL 170 14
Fonte Dados da pesquisa
Em suma a pesquisa de campo foi desenvolvida nessas localidades visto que esses
municiacutepios possuem um nuacutemero representativo de idosos puacuteblico alvo das instituiccedilotildees
financeiras De acordo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2010) a cidade de
Mariana conta com proximamente 5200 idosos jaacute Ouro Preto possui cerca de 7994 idosos e
Itabirito dispotildee em meacutedia 4998 idosos Por conseguinte surge a iniciativa de analisar os perfis
dos bancaacuterios visando compreender as praacuteticas que estes utilizam para alcanccedilar um maior nuacutemero
de idosos para efetivar a contrataccedilatildeo do creacutedito
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4 ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
Como explicitado anteriormente a vulnerabilidade do consumidor existe a partir da
relaccedilatildeo entre empresa e cliente E considerando todas as peculiaridades e caracteriacutesticas que
fazem do consumidor de serviccedilos financeiros um consumidor vulneraacutevel esta seccedilatildeo do texto
tem por propoacutesito retratar por meio da apresentaccedilatildeo e anaacutelise dos dados extraiacutedos das
entrevistas realizadas ao longo deste estudo a forma como os bancaacuterios e seus
correspondentes operam na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e Itabirito especialmente no que se
refere ao modo como oferecem e conduzem as negociaccedilotildees de serviccedilos financeiros Quanto agrave
anaacutelise dos resultados o estudo utilizou a categorizaccedilatildeo dos discursos dos entrevistados em I
II III Logo as categorias baseiam-se em fragmentos das interlocuccedilotildees aspectos recorrentes
mencionados pelos bancaacuterios
A seguir satildeo apresentados trechos das falas dos dez respondentes que participaram
desta pesquisa Tais falas foram gravadas durante as entrevistas Os nomes adotados a seguir
para marcar que os trechos transcritos satildeo de falas de diferentes entrevistados satildeo fictiacutecios
Todas as entrevistas foram transcritas respeitando integralmente a linguagem e sinais
transmitidos por cada entrevistado
41 Categoria I
411 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos serviccedilos
financeiros
O analfabetismo e falta de instruccedilatildeo impactam no momento da contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros visto que esse tipo de puacuteblico eacute persuadido pelos bancaacuterios a tomar
determinadas decisotildees pois este natildeo possui informaccedilotildees necessaacuterias sobre o que seria esse
creacutedito o qual estaacute contratando Atraveacutes dos trechos das entrevistas foi possiacutevel identificar
que os bancaacuterios estagiaacuterios influenciam na hora da aquisiccedilatildeo do serviccedilo ateacute mesmo nas
formas como os clientes iratildeo pagar o empreacutestimo O quadro abaixo apresenta trechos da
entrevista que demonstram a falta de conhecimento financeiro dos consumidores do
empreacutestimo consignado
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Quadro 3 - O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Entrevistados Trechos da entrevista
Maria Claacuteudia ldquoTem muita gente eacute Natildeo tatildeo instruiacuteda gente mais
simples Bom existem vaacuterias pessoas que pegam
aqui com a gente que satildeo analfabetas entendeurdquo
Ana Luiacuteza ldquoMuitas pessoas natildeo satildeo instruiacutedas poucas
pessoas sabem assinar seu proacuteprio nome mas
existem pessoas alfabetizadas simrdquo
ldquoA maioria acredito que natildeo tenha uma noccedilatildeo
esclarecimento ateacute porque quanto mais vezes vocecirc
dividir mais juros incidem e eacute melhor para o
bancordquo
Marcela ldquoEu acho que a grande maioria tinha um grau de
instruccedilatildeo reduzido e isso facilitava na hora de
vender neacuterdquo
ldquoEntatildeo a gente sempre tentava colocar de setenta
e duas vezes ou setenta e cinco satildeo seis anos de
consignado Entatildeo quanto maior o prazo maior a
taxa de juros Agraves vezes vocecirc pegava um capital
um volume muito pequeno e virava pra pessoa e
falava assim -Natildeo Por que aiacute soacute vai descontar
soacute R$3000 reais no seu pagamento e a pessoa natildeo
tinha dimensatildeo que por a gente taacute dividindo
aquele valor pequeninho sai muito grande depois
por conta da taxa que ela aumentava de acordo
com o prazordquo
Carlos Eduardo ldquoO mais comum satildeo pessoas de baixa renda e sem
informaccedilatildeo Exemplo A maioria dos consignados
os clientes nem perguntam as taxas de juros ele
natildeo estaacute preocupado com o prazo ele estaacute
preocupado com o valor da parcela se ele vai
conseguir pagar ou natildeo e o valor que vai sobrar
pra ele vai conseguir passar o mecircsrdquo
Leandro ldquoGrande parte natildeo satildeo instruiacutedas mas eu atendo
mais alta renda entatildeo meus clientes satildeo mais
seletivos eles pegam valores maiores natildeo eacute
qualquer empreacutestimo que ele pega eacute mais para
investimento mesmo ou pra sair de alguma coisardquo
19
Aacutercia ldquoEntatildeo assim muitas vezes as pessoas natildeo vem
com o conhecimento financeiro real eles querem
o imediato querem o empreacutestimo naquele
momento Muita gente natildeo tem a noccedilatildeo de como
vai ficar aquilordquo
Antocircnio ldquoEntatildeo no puacuteblico de menor renda esse
discernimento eacute menos eles olham mais se a
parcela cabe no bolso deles do que no montante
de juros que eles vatildeo pagar no finalrdquo
Fonte Dados da pesquisa
Diante destes dois perfis de consumidores vulneraacuteveis os analfabetos e os com baixa
instruccedilatildeo pode-se verificar por meio das gravaccedilotildees que tanto as pessoas analfabetas e as com
baixa instruccedilatildeo natildeo possuem compreensatildeo suficiente para realizar uma contrataccedilatildeo de creacutedito
A entrevistada Marcela afirma que vender para esse determinado tipo puacuteblico facilitava pelo
fato da falta de conhecimento financeiro
Outra situaccedilatildeo comentada durante a gravaccedilatildeo das entrevistas foi sobre as parcelas dos
empreacutestimos os bancaacuterios e os estagiaacuterios induzem os clientes a dividirem em mais vezes A
entrevistada Marcela tambeacutem afirma que sempre propunha aos seus clientes dividir em
setenta e duas vezes alegando para essas pessoas que o valor iria ldquocaber no bolsordquo Mas na
verdade os bancaacuterios aproveitam do analfabetismo financeiro dos tomadores de creacutedito
visando a lucratividade das instituiccedilotildees financeiras dado que as taxas aumentam de acordo
com prazo
A partir dessa anaacutelise eacute possiacutevel perceber de forma clara as limitaccedilotildees dos idosos no
processo de compra Conforme Chertman (2011 p21) as consequecircncias da idade
ldquopotencializam a vulnerabilidade de compra pela dificuldade de comprar em escala (podendo
negociar preccedilos)rdquo De fato nota-se que a questatildeo do analfabetismo baixa instruccedilatildeo e idade
afetam na tomada de decisatildeo consciente do consumidor
42 Categoria II
421 Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
A informaccedilatildeo no momento da compra eacute essencial para que o cliente natildeo faccedila uma
escolha errocircnea quanto ao produto Em relaccedilatildeo as entrevistas realizadas foi possiacutevel inferir
que na contrataccedilatildeo de creacutedito os bancaacuterios e seus intermediaacuterios natildeo informam o valor da
taxa de juros e acabam focando nos valores das parcelas no prazo e em quantas vezes o
parcelamento ficaraacute Sendo assim os atendentes procuram natildeo informar aos consumidores
20
quanto ficaraacute o valor total do empreacutestimo ao incidirem os juros Atraveacutes do quadro abaixo
pode-se comprovar que no momento da contrataccedilatildeo do creacutedito os bancaacuterios e estagiaacuterios
omitem determinadas informaccedilotildees aos clientes
Quadro 4 - Omissatildeo de informaccedilotildees na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Ana Luiacuteza ldquoNormalmente eu natildeo falo o valor dos juros
dificilmente eu falo o valor do juros soacute falo que
ele eacute mais baixo e informo que independe do que
a aconteccedila na economia brasileira a partir do
momento que a pessoa estaacute fazendo o contrato o
juros nunca vai aumentar que aquele juros e
sempre seraacute aquelerdquo
Marcela ldquoEntatildeo na verdade o que eu aprendi no Banco X
a regra clara Eu tinha que omitir Eu natildeo
precisava mentir mas eu precisava omitir
algumas informaccedilotildees Entatildeo eu abordava o
cliente sempre eacute Buscando saber do sonho dele
para depois eu vender o empreacutestimo Eu tentava
omitir informaccedilotildees como taxas prazo de
pagamento que eram coisas que eu soacute falava se o
cliente me perguntasse Eu achava muito
tranquilo assim vender Eu natildeo tinha muita
dificuldade natildeordquo
ldquoA gente omitia o valor total que o cliente ia
pagar justamente porque se vocecirc falar ele natildeo vai
levar entatildeo eacute A gente omitia e tentava fazer o
cliente fechar a venda na hora Principalmente
quando a venda era no caixa eletrocircnico que era
muito mais faacutecil porque agraves vezes o cliente
fechava a venda ali naquele momento naquele
instante natildeo refletia muito era mais faacutecil vender e
muitas vezes eles tavam sozinho muitas vezes os
aposentados vatildeo para agecircncia sozinho natildeo
estavam acompanhados dos filhos de ningueacutemrdquo
Carlos Eduardo ldquoNo contrato fala dos juros mas eu soacute respondo
quando o cliente perguntardquo
Marcos ldquoQuando o cliente fazia por exemplo um
empreacutestimo a gente falava o valor da parcela
21
quanto que ele vai pegar quando vai descontar do
pagamento falava a taxa de juros tambeacutem mas
acabava que eles nem sabiamrdquo
ldquoSe perguntasse alguma coisa a gente falavardquo
Fonte Dados da pesquisa
Como jaacute foi dito o cliente tem como direito obter informaccedilotildees necessaacuterias do que ele
estaacute adquirindo mas quando isso natildeo ocorre pode-se dizer que estaacute ocorrendo uma omissatildeo
dos fatos O autor Silva (2009 p146) expotildee o art 14 do CDC destacando ldquoo dever de
informaccedilatildeo cuja omissatildeo caracteriza defeito do serviccedilo ensejador do dever de indenizarrdquo
Logo pode-se concluir que quando o cliente natildeo eacute alertado sobre o produto ou serviccedilo e este
causa danos o consumidor deve ser reparado
Diante do que foi explicitado acima pode-se perceber atraveacutes das gravaccedilotildees feitas
quatro entrevistados falaram que natildeo davam as informaccedilotildees necessaacuterias para os contratadores
de creacuteditos A entrevistada Marcela usa o termo ldquoomissatildeordquo ela afirma que agraves vezes era
necessaacuterio omitir para que a venda do empreacutestimo consignado fosse realizada mais
rapidamente Jaacute os demais entrevistados alegam que normalmente natildeo falam as taxas de juros
eles informam as taxas apenas se o cliente perguntar Percebe-se tambeacutem que por se tratar de
um puacuteblico mais vulneraacutevel os bancaacuteriosestagiaacuterios tinham maior facilidade em convencecirc-
los na hora da compra jaacute que grande parte desse puacuteblico natildeo possui instruccedilotildees suficientes
para adquirir esse tipo de produto
Dessa forma eacute expliacutecito que os bancaacuterios e os estagiaacuterios natildeo davam as informaccedilotildees
necessaacuterias aos seus clientes pelo fato de terem que apresentar maior lucratividade aos
bancos Uma vez que como foi relatado por Marcela a instituiccedilatildeo financeira onde trabalhava
alegava que certas informaccedilotildees deveriam ser ldquoomitidasrdquo Dessa forma pode-se evidenciar a
violaccedilatildeo do direito do consumidor
Dentre a vulnerabilidade do consumidor quanto a omissatildeo dos fatos por partes dos
bancaacuterios e seus correspondentes haacute tambeacutem outro recurso utilizado pelos fornecedores o
linguiacutestico Isto eacute satildeo termos palavras usadas que suavizam na hora da contrataccedilatildeo de
creacutedito Pode-se dizer que eacute a comunicaccedilatildeo existente entre o fornecedor e o cliente a fim de
que o primeiro consiga induzir o segundo a comprar seu produto
O marketing de vendas retrata esta relaccedilatildeo citada acima de consumidor e fornecedor
De acordo com Bernardi (2012 p75) ldquoo marketing de vendas possui uma relaccedilatildeo estreita com
o elemento do composto mercadoloacutegico denominado de promoccedilatildeo que se refere a todas as
accedilotildees relativas agrave comunicaccedilatildeo e agrave venda dos produtos de uma organizaccedilatildeordquo
22
Atraveacutes dessa relaccedilatildeo construiacuteda pela comunicaccedilatildeo pode-se verificar por parte das
entrevistas que os bancaacuterios e os estagiaacuterios utilizam de recursos linguiacutesticos para convencer o
cliente a comprar tal produto Isto eacute estes tinham certo cuidado na maneira de falar para que
os clientes se sentissem agrave vontade e consequentemente efetivar a venda do produto
A comunicaccedilatildeo exerce influecircncia na venda de um produto ou seja esse diaacutelogo entre
cliente e fornecedor facilita a compra de um produto por parte do consumidor O autor
Bernardi (2012 p77) acresce o termo merchandising este eacute visto como um dos principais
meacutetodos de marketing associado agrave venda
Eacute um termo que pode ser usado como instrumento de comunicaccedilatildeo que apresenta o
produto ao consumidor e favorece a sua compra Merchandising no entanto eacute criar
um cenaacuterio de um produto serviccedilo ou marca de forma casual Os principais
conceitos do merchandising estatildeo voltados agrave boa estrateacutegia de comunicaccedilatildeo no
ponto de venda pois visa destacar o produto ou serviccedilo buscando assim motivar as
compras por impulso jaacute que possui uma comunicaccedilatildeo muito proacutexima agrave venda
Logo compreende-se que o merchandising eacute uma ferramenta que aproxima o cliente e
o fornecedor atraveacutes da comunicaccedilatildeo
Como jaacute foi mencionado anteriormente a forma de comunicar exerce uma forte
influecircncia no ato da compra Todavia atraveacutes das entrevistas pode-se notar certa preocupaccedilatildeo
em como abordar o cliente ou seja a forma de dialogar com seus clientes Percebeu-se entatildeo
que determinadas palavras eram trocadas por outras como por exemplo o termo
ldquoempreacutestimordquo muitas vezes era substituiacutedo pelo termo ldquodinheirinhordquo ou creacutedito A partir do
quadro abaixo pode-se concluir que a forma de falar eacute utilizada como um artifiacutecio na hora da
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado
23
43 Categoria III
431 Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por se tratar de um puacuteblico de idade com baixo grau de instruccedilatildeo ou ateacute mesmo analfabetos
os bancaacuterios estagiaacuterios se beneficiam dessa relaccedilatildeo A forma de falar induz os consumidores
de serviccedilos financeiros a adquirirem certo produto O Quadro 5 apresenta as respostas
referentes agrave forma de falar dos intermediaacuterios bancaacuterios
Quadro 5- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Marcela ldquoAcredito que para vender esse tipo de produto que eacute
um produto difiacutecil que as pessoas agraves vezes quando
vocecirc fala ldquoempreacutestimordquo a pessoa fica com o peacute atraacutes
entatildeo tem que ser assim Coisas que a gente natildeo usa eacute
falar empreacutestimo natildeo existe no banco entendeu Eacute
um dinheirinho suavizar realmente a expressatildeo
empreacutestimo porque quando vocecirc fala a expressatildeo
empreacutestimo as pessoas se fechamrdquo
ldquoMuitas vezes eles natildeo entendiam o que vocecirc estava
falando entatildeo Ah fulano vocecirc tem um dinheirinho
aqui disponiacutevel para vocecirc pegar aiacute eles perguntavam
Mas vocecirc estaacute me dando esse dinheirordquo
Marcos ldquoOutra coisa o termo empreacutestimo o pessoal mesmo
falava que era uma coisa muito pesada de se dizer a
maioria das pessoas natildeo vecirc com bons olhos entatildeo a
gente falava um dinheirinho pro cliente pois ameniza
um pouco o termo Querendo ou natildeo o modo de falar
influencia um poucordquo
Daniel ldquoEu por exemplo falo creacutedito porque eu tocirc
conversando com o cliente e ele vecirc que tem outras
pessoas em volta agraves vezes eu falar empreacutestimo ele
pode ficar um pouco chateado daquilo nem todo
mundo gosta de ir no banco pra pegar empreacutestimo
gosta de ir laacute para sacar dinheiro Eu prefiro trabalhar
com a palavra creacutedito rdquo
Antocircnio ldquoGeralmente a gente utiliza o termo creacutedito vocecirc tem
um creacutedito aprovado Porque agraves vezes a pessoa tem
ateacute medo resistecircncia em empreacutestimo Geralmente a
24
gente fala que vocecirc tem um creacutedito aprovado e aiacute a
gente fala em qual linha a pessoa tem creacutedito
pessoal financiamento para veiacuteculos financiamento
imobiliaacuterio consignado que eacute o creacutedito que vem da
folha de pagamento Entatildeo a gente normalmente
oferta creacutedito ldquo
Fonte Dados da pesquisa
Conforme alguns entrevistados esses natildeo utilizam o termo correto que eacute ldquoempreacutestimo
consignadordquo Nas gravaccedilotildees os bancaacuterios e seus correspondentes alegam que os clientes tecircm
eacute um ldquodinheirinhordquo disponiacutevel para pegarem no banco Outros afirmam que o vocaacutebulo
empregado por eles eacute o ldquocreacuteditordquo pois ameniza um pouco o termo Este possui o mesmo
significado do primeiro mas para muitos o termo quer dizer credibilidade ldquocreacutedito na praccedilardquo
apesar de ser sinocircnimo do vocaacutebulo ldquoempreacutestimordquo essa palavra soa de forma positiva
Ao verificar a forma de comunicaccedilatildeo com os clientes do empreacutestimo consignado
pode-se perceber que essa substituiccedilatildeo de ldquopalavrasrdquo ocorre com o intuito amenizar o termo
ldquoempreacutestimordquo visto que por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel as pessoas assustam quando
pronunciam a palavra empreacutestimo Para muitos esse termo soa de forma negativa como
pessoas que possuem desorganizaccedilatildeo financeira ou inadimplecircncia Por este fato tanto os
bancaacuterios quanto os estagiaacuterios procuram utilizar vocaacutebulos que suavizem e que soem de uma
forma positiva para o cliente Sendo assim a forma de se comunicar pode alterar a venda de
determinado produto ofertado Mas essa forma de suavizar os termos empregados durante a
venda do serviccedilo financeiro fora de certos limites eacutetico-legais pode ser vista como uma
espeacutecie de ldquoomissatildeordquo do que realmente esses tomadores de creacutedito estatildeo comprando Pois
como jaacute foi retratado de acordo com o CDC os termos devem ser informados de forma clara
ao cliente
Podemos exemplificar de acordo com um entrevistado que afirma utilizar o termo
ldquodinheirinhordquo por ser mais faacutecil dos aposentados e pensionistas entenderem jaacute que muitos
desses clientes possuiacuteam dificuldades sobre o que de fato estavam comprando Aleacutem disso o
bancaacuterio acredita que modo de falar pode alterar a execuccedilatildeo da venda
Tendo em vista os aspectos observados tanto o artifiacutecio linguiacutestico quanto a omissatildeo
das informaccedilotildees pelos bancaacuteriosestagiaacuterios possui objetivos em comum pelas instituiccedilotildees
financeiras na qual visam a obtenccedilatildeo de maiores lucros para essas empresas Aleacutem disso os
bancos satildeo os maiores beneficiados pois natildeo levam em consideraccedilatildeo a isonomia das relaccedilotildees
entre consumidor e fornecedor Portanto conclui-se que em meio a essa relaccedilatildeo o consumidor
eacute parte mais fraca onde seus direitos satildeo violados pelos fornecedores de creacutedito
25
5 CONCLUSAtildeO
O creacutedito consignado eacute um tipo de empreacutestimo recente que vem sendo utilizado com
maior frequecircncia por um determinado puacuteblico (LOPES et al2014) Com isso as instituiccedilotildees
bancaacuterias estatildeo apresentando certo interesse sobre esse ldquonovordquo tipo de puacuteblico em ascensatildeo
Os intermediaacuterios bancaacuterios vecircm buscando formas para atrair os idosos seja atraveacutes das
facilidades da obtenccedilatildeo do creacutedito ou ateacute mesmo no modo de comunicar utilizando de
artifiacutecios de linguagem Em suma os bancos utilizam de praacuteticas de marketing tensionados a
obter vantagens sobre esses consumidores De acordo com o Coacutedigo de Consumidor (CDC)
estes satildeo considerados como vulneraacuteveis
Perante o estudo notou-se que a vulnerabilidade do idoso eacute agravada jaacute que
enquadram como consumidores hipervulneraacuteveis Essa vulnerabilidade acontece atraveacutes das
relaccedilotildees de consumo onde os fornecedores do empreacutestimo tiram proveito do estado em que
esses consumidores se encontram Para que estes cidadatildeos hipervulneraacuteveis sejam amparados
haacute o Estatuto do idoso e Coacutedigo do Consumidor ambos dispotildeem de normas que regem a
relaccedilatildeo entre consumidor-fornecedor Deve-se ressaltar que apesar da existecircncia das
legislaccedilotildees os bancos continuam praticando ldquoexcessosrdquo com os consumidores no momento da
contrataccedilatildeo do creacutedito Eacute relevante a imposiccedilatildeo do Estado visando inibir a lesatildeo do direito
sendo especificado ao idoso
Logo atraveacutes dos resultados da pesquisa pode-se concluir que essa vulnerabilidade
acentuada ocorre atraveacutes de fatores como idade baixa escolaridade e baixo grau de instruccedilatildeo
que interferem nas relaccedilotildees consumeristas isto eacute os contratadores de creacutedito consignado natildeo
possuem domiacutenio para realizar uma compra consciente Sendo assim os consumidores
apresentam limitaccedilotildees sobre o serviccedilo financeiro na qual estaacute adquirindo A partir da anaacutelise
foi possiacutevel verificar atraveacutes dos entrevistados que o puacuteblico idoso natildeo possuiacutea conhecimento
sobre as taxas juros que incidiam sobre as parcelas Aleacutem disso os bancaacuterios afirmavam que
iriam dividir em mais pagamentos para natildeo atrapalhar no orccedilamento mensal do consumidor
Por conseguinte aspectos como estes facilitavam a induzir os idosos a adquirem o creacutedito
mostrando a estes o quatildeo era vantajoso o produto oferecido
Tambeacutem deve-se ressaltar que por se tratar de um puacuteblico com baixo grau de instruccedilatildeo
e alguns analfabetos tanto os bancaacuterios quanto os estagiaacuterios omitiam informaccedilotildees bem
como tambeacutem utilizavam os recursos linguiacutesticos Estas duas formas contribuiacuteram para que as
vendas fossem efetuadas de uma maneira mais raacutepida Uma vez que a forma de falar ou a
26
omissatildeo influenciavam aos idosos comprarem o produto de uma forma irrefletida visto que
esses consumidores acreditavam no que estava sendo falado por parte do fornecedor
Portanto diante da fragilidade do consumidor em questatildeo eacute perceptiacutevel que na
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado boa parte dos idosos muitas vezes natildeo estatildeo acompanhados
por nenhum membro da famiacutelia Desta maneira para os bancaacuteriosestagiaacuterios a forma de
abordar o cliente fica mais acessiacutevel ainda mais por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel com
pouco grau de instruccedilatildeo ou conhecimento Logo situaccedilotildees como estas contribuem para os
fornecedores tirarem proveito do puacuteblico idoso Outro fato que deve ser destacado eacute a
presenccedila do Estado incentivando programas de alfabetizaccedilatildeo financeira independente do fator
idade para que a sociedade no geral saiba ter consciecircncia clareza sobre as relaccedilotildees de
consumo
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29
APEcircNDICE A
Roteiro de Entrevista qualitativa aplicada aos bancaacuterios e seus correspondentes
1 Idade
2 Formaccedilatildeo acadecircmica ( ) Ensino Meacutedio
( ) Superior
3 Haacute quanto tempo vocecirc trabalha ou jaacute trabalhou vendendo serviccedilos financeiros Em
qual cidade Descreva os serviccedilos financeiros que vocecirc mais estava habituado a
venda
4 Fale um pouco sobre as atividades que vocecirc realizava dentro da empresa Me conte
como era o seu dia a dia como era o processo de venda Da captaccedilatildeo do cliente ao
fechamento do contrato ou da venda do serviccedilo DEcirc EXEMPLOS
5 Quais produtos financeiros vocecirc estava ou estaacute mais habituado a vender
Creacutedito consignado creacutedito pessoal seguros empreacutestimos financiamentos
Qual vocecirc eacute mais estimulado a fazer
Tem diferenccedila na venda desses produtos
A abordagem ao cliente muda Quais satildeo mais diferentes
Vocecirc pode descrever para mim cada um deles por favor
Quais produtos satildeo os mais procurados
6 Qual eacute o tipo de puacuteblico que busca pelo empreacutestimo Descreva para mim as
caracteriacutesticas que vocecirc julga como mais marcantes Geralmente satildeo pessoas de que
faixa etaacuteria Satildeo pessoas de classe baixa meacutedia ou alta Satildeo pessoas instruiacutedas
7 Essas pessoas possuem um esclarecimento sobre o que seria esse tipo creacutedito
Compreendem as vantagens e as desvantagens relacionadas ao serviccedilo O que vocecirc
acha disso
8 No momento da contrataccedilatildeo de creacutedito o que eacute falado Como se daacute Todos os temos
do contrato ficam claros Vocecircs bancaacuterios explicitam o que estaacute no contrato Haacute
30
alguma avaliaccedilatildeo criteriosa do perfil do cliente de suas condiccedilotildees financeiras
9 O que vocecirc jaacute verificou por parte das pessoas que tomam esse creacutedito Qual seria os
maiores motivos para a procura do creacutedito consignado
10 Quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito vocecirc concorda com as vantagens oferecidas no
contrato ou acredita que algo deveria ser alterado O que vocecirc natildeo estaria de acordo
11 Qual o limite de desconto mensal da folha de pagamento do trabalhador o banco
oferece Por algum momento o banco excedeu o valor de desconto da folha Comente
essefato
12 Quanto agraves poliacuteticas bancaacuterias proposta pelos bancos para a venda de produtos
financeiros vocecirc concorda Ou algum momento jaacute discordou Discorra sobre o fato
13 Frequentemente vocecircs bancaacuterios satildeo estimulados a bater metas sobre os produtos que
vocecircs oferecem Vocecirc concorda que existe uma certa pressatildeo em vender cada vez mais
produtos Em alguma situaccedilatildeo vocecirc natildeo esteve de acordo como a forma que deveria
induzir os clientes a comprar um produto na qual vocecirc estaria oferecendo
AGRADECIMENTOS
A Deus e a Satildeo Geraldo por estarem sempre presentes no meu dia-a-dia dando-me proteccedilatildeo
para prosseguir e nunca me desemparando nos momentos difiacuteceis
Aos meus avoacutes meu porto seguro e exemplo de vida
Aos meus pais presentes em boa parte da graduaccedilatildeo
Ao meu irmatildeo pela amizade
Aos meus tios e tias em especial agrave Clecircnia pelo apoio e compreensatildeo
Ao meu namorado pela confianccedila e companheirismo
Agraves sinceras amizades construiacutedas na Repuacuteblica Luluzinhas responsaacuteveis pela retomada da
minha caminhada e por tornar a Repuacuteblica minha segunda famiacutelia
Ao professor Faacutebio pelo o estiacutemulo disponibilidade e contribuiccedilatildeo em grande parte da
pesquisa
Agrave professora Karla orientadora pela colaboraccedilatildeo no artigo
Aos professores pelos ensinamentos adquiridos
Aos membros da banca pela presenccedila e disponibilidade
Agrave Universidade pela oportunidade da realizaccedilatildeo deste curso de graduaccedilatildeo
A todos os colaboradores direccedilatildeo teacutecnicos administraccedilatildeo e terceirizados desta Instituiccedilatildeo
por contribuiacuterem no funcionamento da UFOP na qual satildeo importantes para a caminhada de
cada discente
Aos colegas de curso durante o percurso na UFOP
Em suma agradeccedilo a todos que de forma direta e indireta contribuiacuteram para a concretizaccedilatildeo
deste trabalho
RESUMO
O presente estudo busca analisar as praacuteticas de Marketing empregadas pelos intermediaacuterios
bancaacuterios com relaccedilatildeo aos contratadores do creacutedito consignado Esta modalidade de
empreacutestimo tem sido utilizada por idosos aposentados e pensionistas do INSS pelo fato de
apresentar um acesso faacutecil ao puacuteblico em questatildeo mas por outro lado verifica-se que nessa
relaccedilatildeo de consumidor e fornecedor o segundo eacute o mais beneficiado jaacute que o primeiro
encontra-se em um estado de vulnerabilidade O objetivo do trabalho eacute compreender ateacute que
ponto essas estrateacutegias satildeo desenhadas visando tirar proveito dos consumidores vulneraacuteveis
Contudo por se tratar de uma pesquisa descritiva foi possiacutevel efetivar uma pesquisa de
campo atraveacutes de entrevistas realizadas com sete bancaacuterios (as) e trecircs estagiaacuterios (as) da
regiatildeo de Mariana Ouro Preto e Itabirito Os resultados contidos indicaram que os
consumidores do creacutedito consignado satildeo atraiacutedos pelos bancaacuterios (as) e estagiaacuterios (as)
atraveacutes de teacutecnicas como artifiacutecios de linguagem isto eacute modificam a forma de comunicar
para exercer uma forte influecircncia na hora da compra Outro aspecto eacute a omissatildeo de
informaccedilotildees visto que o cliente natildeo possui as informaccedilotildees suficientes sobre qual produto que
estaacute contratando Aleacutem disso o puacuteblico idoso que utiliza do empreacutestimo consignado eacute
caracterizado como consumidor hipervulneraacutevel uma vez que circunstacircncias como fator
idade niacutevel de instruccedilatildeo formal e analfabetismo acarreta o grau de vulnerabilidade Dessa
forma as instituiccedilotildees financeiras tendem a persuadir e influenciar o consumidor idoso nas
relaccedilotildees consumeristas buscando estimular maiores vendas na contrataccedilatildeo do creacutedito
consignado
PALAVRAS-CHAVE
Intermediaacuterios Bancaacuterios Creacutedito Consignado Consumidor Vulneraacutevel Consumidores
Hipervulneraacuteveis
ABSTRACT
The present study seeks to analyze the marketing practices appointed by banking
intermediaries in relation to contractors of payroll loans This type of loan has been used by
the elderly retirees and pensioners of the INSS because it presents easy access to these
public but on the other hand it is verified that in this relation of consumer and supplier the
second is the most benefited whereas the former is in a state of vulnerability The purpose of
the essay is to understand the extent to which these strategies are designed aiming to take
advantage of vulnerable consumers However because it was a descriptive research it was
possible to actualize a field research through interviews made with seven bankers and three
interns from the regions of Mariana Ouro Preto and Itabirito The results indicated that the
consumers of payroll loans are attracted by bankers and interns through techniques such as
language artifices that is they modify the way of communicating to practise a strong
influence on the time of purchase Another aspect is the omission of informations since the
customer does not have sufficient information about which product he is hiring In addition to
that the elderly public that uses the payroll loan are characterized as hypervulnerable
consumers since circumstances such as age level of formal education and illiteracy brings
the degree of vulnerability This way financial institutions tend to persuade and influence the
elderly consumer in consumer relations seeking to stimulate higher sales in the contracting of
payroll
KEY WORDS
Banking Intermediary Payroll loans Vulnerable Consumer Hypervulnerable Consumers
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 7
2 REVISAtildeO DE LITERATURA 9
21 Creacutedito Consignado 9
22 Consumidor (Hiper) Vulneraacutevel e o Coacutedigo de Defesa do Consumidor 10
221 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal como fator de
vulnerabilidade 12
3 METODOLOGIA 13
31 Descriccedilatildeo da Amostra 15
4 ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 17
41 Categoria I 17
411 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos serviccedilos
financeiros 17
42 Categoria II 19
421 Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito 19
43 Categoria III 23
431 Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito 23
5 CONCLUSAtildeO 25
REFEREcircNCIAS 26
APEcircNDICE A 29
7
1 INTRODUCcedilAtildeO
No cenaacuterio brasileiro o termo creacutedito teve notoriedade somente apoacutes 1994 com a
alteraccedilatildeo do Plano Real Posteriormente a esse periacuteodo notou-se que uma parcela da
populaccedilatildeo brasileira estava sendo excluiacuteda do sistema financeiro de creacuteditos A partir desse
momento surge a preocupaccedilatildeo de dar acesso ao creacutedito agraves classes mais desfavorecidas na
qual as famiacutelias mais pobres deveriam ser incluiacutedas no mercado de creacutedito (BERTONCELLO
e LIMA 2008)
De acordo com Bertoncello e Lima (2008) o governo Lula proporcionou uma poliacutetica
de estiacutemulo ao creacutedito popular isto eacute motivou o consumo da populaccedilatildeo de baixa renda Os
aposentados tambeacutem tiveram notoriedade nesse momento econocircmico Conforme o autor estes
estavam sendo seduzidos por publicidade veiculada aos meios de comunicaccedilatildeo como tambeacutem
estavam sendo assediados por agenciadores e correspondentes dos bancos
Conforme Cavalcante (2015) essa maior notoriedade da terceira idade no mercado de
creacutedito eacute em razatildeo do aumento da populaccedilatildeo idosa e a maior expectativa de vida aleacutem disso
esse puacuteblico contabiliza 16 milhotildees de idosos que utilizam do creacutedito consignado Mas o que
seria o empreacutestimo consignado
O creacutedito consignado surgiu no contexto explicitado acima esse tipo de creacutedito eacute
definido como um empreacutestimo disponibilizado para pessoas fiacutesicas onde o valor das parcelas
eacute descontado diretamente na folha de pagamento as pessoas que utilizam desse creacutedito satildeo
idosos aposentados e pensionistas do INSS Aleacutem disso essa operaccedilatildeo eacute realizada por
intermediaacuterios bancaacuterios (COSTA 2014)
Os autores Barone e Sader (2008 p1258) definem o esse tipo de creacutedito como
ldquoum tipo de creacutedito oferecido para os empregados do setor formal eou aposentados
e pensionistas do INSS com baixas taxas de juros (bem menores que as praticadas
para empreacutestimo pessoal no mercado) em que as prestaccedilotildees satildeo descontadas
diretamente de seus salaacuterios eou aposentadorias e pensotildeesrdquo
Segundo os autores retrocitados o programa de empreacutestimo a esse tipo de puacuteblico
com consignaccedilatildeo foi autorizado pela Lei ndeg 10820 sendo publicada no Diaacuterio Oficial da
Uniatildeo em dezembro de 2003 As primeiras operaccedilotildees foram realizadas em maio de 2004
inicialmente pela Caixa Econocircmica Federal
Pode-se perceber o estiacutemulo da concessatildeo do creacutedito consignado esse estiacutemulo ao
creacutedito ocorre por meio de estrateacutegias de marketing De acordo com Bertoncello e Lima
(2008) as estrateacutegias utilizadas pelas instituiccedilotildees financeiras possuem argumentos
convincentes isto eacute creacutedito faacutecil e raacutepido sem consultas agraves entidades de proteccedilatildeo ao creacutedito
8
acessiacutevel a quem tem restriccedilotildees creditiacutecias e prazos maiores para pagamento Contudo eacute
dessa forma que os bancos visam atrair atuais e futuros consumidores do creacutedito consignado
Atraveacutes da concessatildeo do empreacutestimo consignado surge a relaccedilatildeo de consumo entre os
intermediaacuterios bancaacuterios (fornecedores) e os tomadores de creacutedito consignado
(consumidores) Nessa relaccedilatildeo pode-se dizer que os consumidores satildeo vistos como
vulneraacuteveis Conforme Chertman (2011) o consumidor vulneraacutevel eacute fraacutegil pois natildeo conhece
todas as informaccedilotildees existentes num processo de compra Sendo assim os fornecedores tiram
vantagens na contrataccedilatildeo de um produto ou serviccedilo
Logo pode-se inferir que os fornecedores do empreacutestimo consignado detecircm maiores
informaccedilotildees sobre o serviccedilo oferecido desta maneira os consumidores do empreacutestimo satildeo
considerados a parte mais fraca da relaccedilatildeo jaacute que natildeo possuem na maior parte das vezes
informaccedilatildeo necessaacuteria para uma segura contrataccedilatildeo do creacutedito
Visando mitigar tais problemas ou oferecer apoio a parte vulneraacutevel na relaccedilatildeo de
consumo foi criado o CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) Ele busca reduzir os
problemas existentes entre o fornecedor-consumidor uma vez que os consumidores
necessitam de proteccedilatildeo em especial aqueles chamados (hiper)vulneraacuteveis
Desse modo a vulnerabilidade do consumidor quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito seraacute o
assunto principal abordado ao longo deste trabalho Mais especificamente esta proposta de
pesquisa buscou analisar possiacuteveis accedilotildees de marketing de instituiccedilotildees financeiras e seus
intermediaacuterios que de alguma forma se aproveitam da fragilidade do consumidor de serviccedilos
financeiros O tema em questatildeo eacute multifacetado isto eacute percebe-se que o puacuteblico ao adquirir
um produto ou serviccedilo acaba sendo influenciado pelos bancaacuterios e seus equivalentes estes satildeo
pressionados e induzidos pelas instituiccedilotildees financeiras a utilizarem de praacuteticas de marketing
para efetuaccedilatildeo de maiores nuacutemeros de vendas do creacutedito consignado Logo eacute possiacutevel
concluir que os bancos estatildeo compreendendo que esse tipo de puacuteblico idosos aposentados e
pensionistas pode ser responsaacutevel pela expansatildeo dos negoacutecios bancaacuterios (BUAES 2015)
Por conseguinte este estudo eacute relevante para que a sociedade possa entender e
compreender o efeito que as estrateacutegias de marketing exercem sobre as suas escolhas Aleacutem
disso pode-se salientar conforme Buaes (2015) que a educaccedilatildeo financeira eacute significativa
para a equidade da relaccedilatildeo entre consumidor e fornecedor onde o primeiro possa agir com
discernimento e conhecimento sobre suas atitudes Mas para que esse cenaacuterio se modifique
haacute a necessidade de uma maior atenccedilatildeo a esse tema por parte do governo dando importacircncia
agraves praacuteticas educativas voltadas para alfabetizaccedilatildeo financeira
9
Em virtude dos fatos mencionados acima pode-se indagar Ateacute que ponto agraves praacuteticas
de Marketing dos bancos satildeo desenhadas visando tirar proveito da vulnerabilidade dos
consumidores de serviccedilos financeiros Deste modo tem-se por objetivo geral analisar esse
problema enfrentado pela sociedade desfavorecida Aleacutem disso busca-se explicar as
caracteriacutesticas desses consumidores bem como buscar evidecircncias na qual os bancos se
aproveitam dessa vulnerabilidade
2 REVISAtildeO DE LITERATURA
21 Creacutedito consignado
A expansatildeo do creacutedito no Brasil foi fomentada nos uacuteltimos 10 anos provocando um
aumento na demanda por tal serviccedilo financeiro e consequentemente um aumento do
endividamento das classes menos favorecidas (SBICCA FLORIANI JUK 2012) Por outro
lado o maior acesso ao creacutedito pela populaccedilatildeo acarretou um aumento no consumo bens e
serviccedilos jaacute que as classes desfavorecidas comeccedilaram a ter maior participaccedilatildeo na economia
Com relaccedilatildeo ao cenaacuterio brasileiro a economia do paiacutes se expandiu fortemente no
periacuteodo compreendido entre os anos de 2004 e 2007 provocando relevante impacto sobre a
ampliaccedilatildeo do creacutedito bancaacuterio Dentre os serviccedilos que contribuiacuteram para a ampliaccedilatildeo do
creacutedito bancaacuterio podemos destacar a criaccedilatildeo do empreacutestimo consignado que por sua vez
ajudou a estimular o ambiente econocircmico (ARAUacuteJO 2012) Ainda segundo Arauacutejo (2012) a
introduccedilatildeo do creacutedito consignado foi autorizada atraveacutes da Medida Provisoacuteria nordm130 de
setembro de 2003 convertida na Lei nordm 10820 logo no mecircs de dezembro
O creacutedito consignado eacute um empreacutestimo realizado pelos intermediaacuterios bancaacuterios onde
as parcelas satildeo descontadas diretamente na folha de pagamento do tomador do empreacutestimo
Aleacutem disso deve-se salientar que o desconto maacuteximo na folha para operaccedilotildees desta natureza
eacute de ateacute 30 do valor da remuneraccedilatildeo ou benefiacutecio previsto na Lei Nordm10820 de 17 de
dezembro de 2003
Gonccedilalves e Saacute (2013 p08) explicitam quem satildeo os principais consumidores do
serviccedilo financeiro de empreacutestimo consignado descrevendo como ldquoo puacuteblico alvo da
modalidade de consignados satildeo as pessoas idosas beneficiaacuterios da Previdecircncia Social quer
aposentados quer pensionistasrdquo
Os contratadores de creacutedito consignado geralmente satildeo idosos pessoas de baixa renda
e baixa escolaridade Os consumidores dessa modalidade de serviccedilo financeiro satildeo geralmente
atraiacutedos pelas instituiccedilotildees financeiras que costumam apresentar serviccedilos ldquovantajososrdquo como
10
juros mensais inferiores aos do mercado tradicional e a natildeo necessidade de avalista haja vista
que o risco do negoacutecio eacute pequeno para o fornecedor jaacute que o valor retido eacute descontado na
fonte o que reduz os riscos de inadimplecircncia
A facilidade que os consumidores tecircm de adquirir dinheiro via creacutedito consignado e
dos bancos realizarem tais operaccedilotildees de baixiacutessimo risco faz com que os bancos tirem
vantagem na contrataccedilatildeo do creacutedito consignado Visto que os idosos ao contratarem esse tipo
de creacutedito desconhecem a quantidade de parcelas e o periacuteodo que levaratildeo para quitaacute-las
Aleacutem disso estes natildeo compreendem qual o valor dos juros mensal preocupam-se apenas com
o valor da parcela a ser liquidada (GONCcedilALVES SAacute 2013)
22 Consumidor (Hiper) Vulneraacutevel e o Coacutedigo de Defesa do Consumidor
O termo vulnerabilidade estaacute relacionado com as relaccedilotildees de consumo na aquisiccedilatildeo de
um bem Desta maneira pode-se definir o termo como uma incapacidade ou fragilidade no
ato do consumo Ou seja essa vulnerabilidade do consumo traz como consequecircncia situaccedilotildees
em que os consumidores se enganam erram ou desconhecem todas as informaccedilotildees que
existem num processo de compra Logo a vulnerabilidade do consumidor faz com que os
fornecedores tirem vantagens na contrataccedilatildeo de um produto ou serviccedilo Isto eacute os fornecedores
omitem certas informaccedilotildees sobre os produtos aos clientes (CHERTMAN 2011)
Na contrataccedilatildeo do creacutedito consignado deve-se ressaltar diante do exposto acima que
os tomadores de creacutedito estatildeo em desvantagem com relaccedilatildeo aos fornecedores desse serviccedilo jaacute
que as instituiccedilotildees natildeo transferem as informaccedilotildees necessaacuterias quando esses consumidores
estatildeo obtendo o serviccedilo Segundo Barbosa (2002 p4)
O consumidor eacute a parte mais fraca nas relaccedilotildees de consumo Por isso tem ele direito
agrave boa informaccedilatildeo sobre os produtos e serviccedilos que recebe e quanto aos contratos que
assina Tem tambeacutem direito de ser protegido quando se dirige ao Poder Judiciaacuterio
podendo o Juiz determinar medidas para assegurar os seus direitos no tocante agraves
soluccedilotildees alternativas que a Justiccedila pode encontrar para dar - ao Consumidor - o
resultado equivalente ao do adimplemento das obrigaccedilotildees do fornecedor
Nessa relaccedilatildeo onde o fornecedor ganha vantagem sobre o consumidor de creacutedito
consignado o segundo tem direito a ser amparado no acircmbito judiciaacuterio atraveacutes do Coacutedigo de
Defesa do Consumidor De acordo com o CDC no artigo 4 da Lei ndeg 8078 (BRASIL 1990)
pode-se afirmar que todos os consumidores satildeo vulneraacuteveis
Conforme Pfeiffer (2010) o Coacutedigo de Defesa do Consumidor preocupa-se com a
isonomia na relaccedilatildeo de consumo reconhecendo a vulnerabilidade do consumidor Dessa
forma atraveacutes das normas estabelecidas pelo CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) os
consumidores possuem amparo seguranccedila e proteccedilatildeo na contrataccedilatildeo de um bem ou serviccedilo
11
Com relaccedilatildeo ao CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) um aspecto que deve ser
ressaltado dentro desse coacutedigo eacute o direito agrave informaccedilatildeo De acordo com Tribunal de Justiccedila do
Distrito Federal e dos Territoacuterios (2016)
O direito agrave informaccedilatildeo eacute direito baacutesico do consumidor e visa assegurar ao mesmo
tempo uma escolha consciente permitindo que suas expectativas em relaccedilatildeo ao
produto ou ao serviccedilo sejam de fato atingidas manifestando o que vem sendo
denominado de consentimento informado ou vontade qualificada
Em outras palavras o consumidor ao adquirir um bem ou produto tem como direito a
informaccedilatildeo necessaacuteria para que faccedila uma compra consciente isto eacute o consumidor deve ter
clareza das condiccedilotildees favoraacuteveis e desfavoraacuteveis do produto Dessa forma eacute relevante que o
fornecedor na hora da compra informe para o cliente o que eacute de fato o seu produto natildeo
omitindo informaccedilotildees que prejudique o consumidor na hora da compra
O artigo 6ordm da Lei nordm 8078 incIII (BRASIL 1990) que retrata o CDC apresenta os
direitos baacutesicos do consumidor dentre eles pode-se destacar o direito ldquoa informaccedilatildeo adequada
e clara sobre os diferentes produtos e serviccedilos com especificaccedilatildeo correta de quantidade
caracteriacutesticas composiccedilatildeo qualidade tributos incidentes e preccedilo bem como sobre os riscos
que apresentamrdquo
Aleacutem da vulnerabilidade do consumidor ser defendida no CDC (Coacutedigo de Defesa do
Consumidor) os idosos contam com a proteccedilatildeo do Estatuto do idoso prevista em Lei nordm
1074103 (BRASIL 2003) no artigo 20 eacute possiacutevel inferir que ldquoo idoso tem direito a
educaccedilatildeo cultura esporte lazer diversotildees espetaacuteculos produtos e serviccedilos que respeitem
sua peculiar condiccedilatildeo de idaderdquo Desse modo para assegurar os direitos do consumidor idoso
eacute importante que o fornecedor seja claro com esse tipo de puacuteblico visando facilitar as
relaccedilotildees consumeristas
Quando a vulnerabilidade do consumidor eacute agravada ou possui condiccedilotildees para uma
maior fragilidade nas relaccedilotildees de consumo podemos definir que este consumidor eacute
hipervulneraacutevel De acordo com Meire e Alves (2016) circunstacircncias como fator idade
conhecimento ou condiccedilatildeo social afetam no grau da vulnerabilidade isto eacute os idosos por
exemplo estatildeo mais propensos a se enquadrar no estado de hipervulnerabilidade
Os autores Rosa Bernardes e Feacutelix (2017 p548) afirmam que
[] fatores tais quais idade avanccedilada ou reduzida situaccedilatildeo de enfermidade e outros
mais que importem fragilizaccedilatildeo e vulnerabilidade do consumidor em niacutevel maior
que o comum na exposiccedilatildeo ao produto ou serviccedilo oferecido pelo fornecedor
ocasionam um grau intensificado de inferioridade na relaccedilatildeo de consumo e assim
configuram um tipo de vulnerabilidade mais grave ao que se convencionou chamar
hipervulnerabilidade
12
Conforme o exposto relato os consumidores hipervulneraacuteveis possuem certa
fragilidade Dessa forma a abordagem dos fornecedores aos idosos eacute visando tirar proveito da
situaccedilatildeo na qual se encontram Os autores citados anteriormente destacam
O puacuteblico idoso revela-se como alvo potencial de propagandas e praacuteticas comerciais
abusivas que se aproveitam da reduzida capacidade de discernimento do idoso para
impor a contrataccedilatildeo de serviccedilos Um dos exemplos mais paradigmaacuteticos eacute a
celebraccedilatildeo de contratos de empreacutestimos consignados entre instituiccedilotildees financeiras e
consumidores idosos pois a loacutegica da sociedade de consumo visualizou lucros
certeiros com tal contrataccedilatildeo eis que via de regra idosos possuem rendimentos
mensais fixos sendo por isso a contrataccedilatildeo mais segura (ROSA BERNARDES
E FEacuteLIX 2017 p548)
Gonccedilalves e Saacute (2015) tambeacutem expotildeem a vulnerabilidade do consumidor em meio agraves
publicidades agressivas antieacuteticas onde o consumo eacute apelado utilizando um conteuacutedo forte
emotivo para atrair os consumidores agrave adquirirem determinado produtoserviccedilo
O Projeto de Lei do Senado nordm283 (BRASIL 2012) presume a alteraccedilatildeo do CDC
(BRASIL1990) visando combater essas praacuteticas de marketing com referecircncia a oferta de
creacutedito Logo esse Projeto de Lei no inciso IV do paraacutegrafo 4 recomenda que ldquoEacute vedado
expressa ou implicitamente na oferta de creacutedito ao consumidor publicitaacuteria ou natildeo [] IV ndash
ocultar por qualquer forma os ocircnus e riscos da contrataccedilatildeo de creacutedito dificultar sua
compreensatildeo ou estimular o endividamento do consumidor em especial se idoso ou
adolescenterdquo (BRASIL 2012)
Desta forma nota-se que o Coacutedigo de Defesa do Consumidor (CDC) e os estatutos
funcionam como paracircmetros para garantir a isonomia Com isso os hipervulneraacuteveis possuem
um maior amparo com relaccedilatildeo agraves praacuteticas abusivas de marketing vendas omissatildeo de
informaccedilotildees como tambeacutem as propagandas enganosas sobre o produto ou serviccedilo na qual
estatildeo contratando
221 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal como fator de vulnerabilidade
Na conjuntura atual brasileira eacute possiacutevel observar a ascensatildeo das classes populares
para as camadas meacutedias como tambeacutem o aumento de poder de compra dos idosos Logo eacute
possiacutevel perceber uma maior atenccedilatildeo dada pelas empresas a esse tipo de puacuteblico em especial
as instituiccedilotildees financeiras Esse poder de compra dos idosos fez com que as empresas
bancaacuterias estimulassem a contrataccedilatildeo de creacutedito por parte dessas pessoas em especial o
creacutedito consignado (BUAES 2015) Atraveacutes disso pode-se indagar Por que o interesse dos
bancos nesse puacuteblico
13
Conforme Buaes (2015) o aumento do poder de compra do idoso fez com que esse
puacuteblico apresentasse interesse na contrataccedilatildeo de produtos e serviccedilos financeiros visto que os
bancos apresentam certa facilidade na obtenccedilatildeo de creacuteditos Um fato destacado por Buaes
(2015) eacute a falta de percepccedilatildeo dos idosos quanto a suas limitaccedilotildees financeiras ou ateacute mesmo a
dificuldade em aceitar essa insuficiecircncia Desta maneira pode-se observar a vulnerabilidade
em duas dimensotildees neste perfil do consumidor idoso isto eacute a falta de conhecimento formal e
a anaacutelise na contrataccedilatildeo de um creacutedito
Quanto a vulnerabilidade do consumidor Chertman (2011) afirma que pode ser
identificada atraveacutes de caracteriacutesticas natildeo observaacuteveis o que eacute o caso do analfabetismo
Entende-se por analfabeto a pessoa com a incapacidade da linguagem de forma geral seja na
leitura intepretaccedilatildeo compreensatildeo e na produccedilatildeo de conhecimento Logo o analfabetismo
possibilita o indiviacuteduo tornar-se um consumidor vulneraacutevel
Aleacutem da questatildeo de pessoas analfabetas tomadores de creacuteditos haacute tambeacutem o perfil de
consumidores de baixa instruccedilatildeo Essas pessoas satildeo capazes de assinar seu proacuteprio nome
quanto agrave leitura apresentam alguma dificuldade no entendimento ou necessitam de ajuda para
uma melhor compreensatildeo Esse tipo consumidor como foi dito acima tambeacutem se enquadra
como vulneraacutevel
Dado o exposto compreende-se que o analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo
formal agravam ainda mais a vulnerabilidade do consumidor em questatildeo Os idosos aleacutem de
possuiacuterem o fator idade na qual afeta a relaccedilatildeo entre consumidorfornecedor (MEIRE
ALVES 2016) apresentam tambeacutem a presenccedila dessas duas caracteriacutesticas que podem
delimitar uma escolha consciente e clara no momento da contrataccedilatildeo de um produto ou
serviccedilo
3 METODOLOGIA
O estudo foi embasado em pesquisas bibliograacuteficas online e impressas como tambeacutem
trabalhos acadecircmicos e perioacutedicos A metodologia utilizada foi qualitativa do tipo descritiva
de acordo Godoy (1995 p62) os pesquisadores de orientaccedilatildeo qualitativadescritiva executam
suas pesquisas baseadas em trabalho de campo a partir de entrevistas e observaccedilotildees aleacutem
disso os pesquisadores possuem um contato direto com o local da pesquisa e seus sujeitos
portanto eacute possiacutevel analisar dados escrever resultados obtidos e descrever o que foi dito
pelos entrevistados
14
A pesquisa de campo foi realizada atraveacutes de entrevistas semi-estruturadas
(APEcircNDICE A) sendo composta por treze questotildees discursivas Segundo Boni e Quaresma
(2005 p 75) as teacutecnicas desse tipo de entrevista
[] tecircm como vantagem a sua elasticidade quanto agrave duraccedilatildeo permitindo uma
cobertura mais profunda sobre determinados assuntos Aleacutem disso a interaccedilatildeo entre
o entrevistador e o entrevistado favorece as respostas espontacircneas Elas tambeacutem satildeo
possibilitadoras de uma abertura e proximidade maior entre entrevistador e
entrevistado o que permite ao entrevistador tocar em assuntos mais complexos e
delicados ou seja quanto menos estruturada a entrevista maior seraacute o favorecimento
de uma troca mais afetiva entre as duas partes Desse modo estes tipos de entrevista
colaboram muito na investigaccedilatildeo dos aspectos afetivos e valorativos dos informantes
que determinam significados pessoais de suas atitudes e comportamentos As
respostas espontacircneas dos entrevistados e a maior liberdade que estes tecircm podem
fazer surgir questotildees inesperadas ao entrevistador que poderatildeo ser de grande
utilidade em sua pesquisa
Em suma pode-se perceber que esse tipo de entrevista proporcionou aos entrevistados
certa autonomia em discutir sobre o tema em questatildeo Visto que no percorrer das
interlocuccedilotildees houve a possibilidade de introduzir novos assuntos sobre o estudo como
tambeacutem a exemplificaccedilatildeo de situaccedilotildees vivenciadas pelos entrevistados
Para a realizaccedilatildeo das entrevistas no presente estudo foi indispensaacutevel entrevistar um
nuacutemero de sete bancaacuterios(as) e trecircs estagiaacuterios(as) de instituiccedilotildees financeiras privadas da
cidade de Mariana Ouro Preto e Itabirito visto que cinco deles eram do sexo masculino e os
demais do sexo feminino Visando buscar nesses gecircneros perspectivas diversas sobre as
teacutecnicas utilizadas na operaccedilatildeo do empreacutestimo consignado agrave aposentados e pensionistas Estas
entrevistas realizadas tiveram duraccedilatildeo meacutedia de quinze a trinta minutos sendo que todas as
interlocuccedilotildees foram gravadas e posteriormente transcritas para entatildeo serem analisadas
Portanto as anaacutelises das respostas foram fundamentadas em anaacutelises de conteuacutedos e
posteriormente buscou-se categorizar os elementos relevantes discutidos durante as
interlocuccedilotildees
De acordo com Cavalcante Calixto e Pinheiro (2014) a anaacutelise de conteuacutedo permite a
ldquoanaacutelise do fenocircmeno em profundidade elencando as subjetividades suas relaccedilotildees bem
como interlocuccedilotildees na malha socialrdquo logo atraveacutes das entrevistas com os bancaacuterios pode-se
verificar suas percepccedilotildees
Conforme Caregnato e Mutti (2006 p 683)
A teacutecnica de anaacutelise de conteuacutedo se compotildee de trecircs grandes etapas 1) a preacute-anaacutelise
2) a exploraccedilatildeo do material 3) o tratamento dos resultados e interpretaccedilatildeo A
mencionada autora descreve a primeira etapa como a fase de organizaccedilatildeo que pode
utilizar vaacute- rios procedimentos tais como leitura flutuante hipoacuteteses objetivos e
elaboraccedilatildeo de indicadores que fundamentem a interpretaccedilatildeo Na segunda etapa os
dados satildeo codificados a partir das unidades de registro Na uacuteltima etapa se faz a
categorizaccedilatildeo que consiste na classificaccedilatildeo dos elementos segundo suas
semelhanccedilas e por diferenciaccedilatildeo com posterior reagrupamento em funccedilatildeo de
15
caracteriacutesticas comuns Portanto a codificaccedilatildeo e a categorizaccedilatildeo fazem parte da AC
As autoras afirmam que aleacutem das teacutecnicas utilizadas na anaacutelise de conteuacutedo o
pesquisador pode categorizar fragmentos do texto que se repetem atraveacutes de frases ou
expressotildees Atraveacutes disso as entrevistas realizadas com os bancaacuterios foram categorizadas da
seguinte maneira
Categoria I- O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Categoria II- Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Categoria III- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por conseguinte essas respostas foram analisadas com o intuito de verificar como os
consumidores hipervulneraacuteveis satildeo abordados pelos(as) bancaacuterios(as) e quais as praacuteticas que
as instituiccedilotildees financeiras adotam para convencer esse puacuteblico Contudo compreende-se que
por meio das entrevistas pode-se construir consideraccedilotildees em relaccedilatildeo ao objetivo da pesquisa
31 Descriccedilatildeo da Amostra
Para a anaacutelise das praacuteticas de marketing utilizadas pelos intermediaacuterios bancaacuterios
estudaram-se sete bancaacuterios(as) e trecircs estagiaacuterios(as) atuantes na concessatildeo de empreacutestimos
consignados Estes operam nas localidades de Mariana Ouro Preto e Itabirito Em vista disso
para a execuccedilatildeo da pesquisa foi relevante a realizaccedilatildeo de entrevistas a partir desse
pressuposto foi possiacutevel inferir interpretaccedilotildees diversas sobre esses sujeitos no momento da
concessatildeo do creacutedito
As interlocuccedilotildees com os bancaacuterios e seus correspondentes foram marcadas
antecipadamente via celular informando-lhes a data o local a preferir a duraccedilatildeo em meacutedia e
do que se tratava o estudo As entrevistas foram sucedidas no periacuteodo de julho a agosto de
2016 Outro aspecto a ser relatado aos entrevistados sobre o estudo foi a importacircncia destes
para pesquisa visto que o nuacutemero de informaccedilotildees fornecidas possibilitaria uma anaacutelise
satisfatoacuteria para a exploraccedilatildeo do tema O quadro a seguir resume as caracteriacutesticas da amostra
analisada
16
Quadro 1 Caracteriacutesticas da amostra analisada
Bancaacuterios Estagiaacuterios Nomes Fictiacutecios Idade Cidades
B1 Maria Claacuteudia 41 Mariana (MG)
B2 Carlos Eduardo 22 Ouro Preto (MG)
B3 Daniel 25 Ouro Preto (MG)
B4 Leandro 27 Mariana (MG)
B5 Maacutercia 34 Mariana (MG)
B6 Antocircnio 38 Mariana (MG)
B7 Camila 27 Mariana (MG)
E1 Ana Luiacuteza 25 Itabirito (MG)
E2 Marcela 22 Itabirito (MG)
E3 Marcos 24 Ouro Preto (MG)
Fonte Dados da pesquisa
Com relaccedilatildeo a populaccedilatildeo do estudo foram levantados dados buscando alcanccedilar a
quantidade aproximada de bancaacuterios e estagiaacuterios na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e
Itabirito Para a identificaccedilatildeo dos dados foi necessaacuterio entrar em contato via telefone em todas
as agecircncias privadas dessas localidades Atraveacutes do quadro abaixo pode-se concluir o nuacutemero
da populaccedilatildeo desse puacuteblico
Quadro 2 Quantidade da populaccedilatildeo de bancaacuterios e estagiaacuterios
Localidade Bancaacuterios Estagiaacuterios
Mariana 55 3
Ouro Preto 63 3
Itabirito 52 8
TOTAL 170 14
Fonte Dados da pesquisa
Em suma a pesquisa de campo foi desenvolvida nessas localidades visto que esses
municiacutepios possuem um nuacutemero representativo de idosos puacuteblico alvo das instituiccedilotildees
financeiras De acordo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2010) a cidade de
Mariana conta com proximamente 5200 idosos jaacute Ouro Preto possui cerca de 7994 idosos e
Itabirito dispotildee em meacutedia 4998 idosos Por conseguinte surge a iniciativa de analisar os perfis
dos bancaacuterios visando compreender as praacuteticas que estes utilizam para alcanccedilar um maior nuacutemero
de idosos para efetivar a contrataccedilatildeo do creacutedito
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4 ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
Como explicitado anteriormente a vulnerabilidade do consumidor existe a partir da
relaccedilatildeo entre empresa e cliente E considerando todas as peculiaridades e caracteriacutesticas que
fazem do consumidor de serviccedilos financeiros um consumidor vulneraacutevel esta seccedilatildeo do texto
tem por propoacutesito retratar por meio da apresentaccedilatildeo e anaacutelise dos dados extraiacutedos das
entrevistas realizadas ao longo deste estudo a forma como os bancaacuterios e seus
correspondentes operam na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e Itabirito especialmente no que se
refere ao modo como oferecem e conduzem as negociaccedilotildees de serviccedilos financeiros Quanto agrave
anaacutelise dos resultados o estudo utilizou a categorizaccedilatildeo dos discursos dos entrevistados em I
II III Logo as categorias baseiam-se em fragmentos das interlocuccedilotildees aspectos recorrentes
mencionados pelos bancaacuterios
A seguir satildeo apresentados trechos das falas dos dez respondentes que participaram
desta pesquisa Tais falas foram gravadas durante as entrevistas Os nomes adotados a seguir
para marcar que os trechos transcritos satildeo de falas de diferentes entrevistados satildeo fictiacutecios
Todas as entrevistas foram transcritas respeitando integralmente a linguagem e sinais
transmitidos por cada entrevistado
41 Categoria I
411 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos serviccedilos
financeiros
O analfabetismo e falta de instruccedilatildeo impactam no momento da contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros visto que esse tipo de puacuteblico eacute persuadido pelos bancaacuterios a tomar
determinadas decisotildees pois este natildeo possui informaccedilotildees necessaacuterias sobre o que seria esse
creacutedito o qual estaacute contratando Atraveacutes dos trechos das entrevistas foi possiacutevel identificar
que os bancaacuterios estagiaacuterios influenciam na hora da aquisiccedilatildeo do serviccedilo ateacute mesmo nas
formas como os clientes iratildeo pagar o empreacutestimo O quadro abaixo apresenta trechos da
entrevista que demonstram a falta de conhecimento financeiro dos consumidores do
empreacutestimo consignado
18
Quadro 3 - O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Entrevistados Trechos da entrevista
Maria Claacuteudia ldquoTem muita gente eacute Natildeo tatildeo instruiacuteda gente mais
simples Bom existem vaacuterias pessoas que pegam
aqui com a gente que satildeo analfabetas entendeurdquo
Ana Luiacuteza ldquoMuitas pessoas natildeo satildeo instruiacutedas poucas
pessoas sabem assinar seu proacuteprio nome mas
existem pessoas alfabetizadas simrdquo
ldquoA maioria acredito que natildeo tenha uma noccedilatildeo
esclarecimento ateacute porque quanto mais vezes vocecirc
dividir mais juros incidem e eacute melhor para o
bancordquo
Marcela ldquoEu acho que a grande maioria tinha um grau de
instruccedilatildeo reduzido e isso facilitava na hora de
vender neacuterdquo
ldquoEntatildeo a gente sempre tentava colocar de setenta
e duas vezes ou setenta e cinco satildeo seis anos de
consignado Entatildeo quanto maior o prazo maior a
taxa de juros Agraves vezes vocecirc pegava um capital
um volume muito pequeno e virava pra pessoa e
falava assim -Natildeo Por que aiacute soacute vai descontar
soacute R$3000 reais no seu pagamento e a pessoa natildeo
tinha dimensatildeo que por a gente taacute dividindo
aquele valor pequeninho sai muito grande depois
por conta da taxa que ela aumentava de acordo
com o prazordquo
Carlos Eduardo ldquoO mais comum satildeo pessoas de baixa renda e sem
informaccedilatildeo Exemplo A maioria dos consignados
os clientes nem perguntam as taxas de juros ele
natildeo estaacute preocupado com o prazo ele estaacute
preocupado com o valor da parcela se ele vai
conseguir pagar ou natildeo e o valor que vai sobrar
pra ele vai conseguir passar o mecircsrdquo
Leandro ldquoGrande parte natildeo satildeo instruiacutedas mas eu atendo
mais alta renda entatildeo meus clientes satildeo mais
seletivos eles pegam valores maiores natildeo eacute
qualquer empreacutestimo que ele pega eacute mais para
investimento mesmo ou pra sair de alguma coisardquo
19
Aacutercia ldquoEntatildeo assim muitas vezes as pessoas natildeo vem
com o conhecimento financeiro real eles querem
o imediato querem o empreacutestimo naquele
momento Muita gente natildeo tem a noccedilatildeo de como
vai ficar aquilordquo
Antocircnio ldquoEntatildeo no puacuteblico de menor renda esse
discernimento eacute menos eles olham mais se a
parcela cabe no bolso deles do que no montante
de juros que eles vatildeo pagar no finalrdquo
Fonte Dados da pesquisa
Diante destes dois perfis de consumidores vulneraacuteveis os analfabetos e os com baixa
instruccedilatildeo pode-se verificar por meio das gravaccedilotildees que tanto as pessoas analfabetas e as com
baixa instruccedilatildeo natildeo possuem compreensatildeo suficiente para realizar uma contrataccedilatildeo de creacutedito
A entrevistada Marcela afirma que vender para esse determinado tipo puacuteblico facilitava pelo
fato da falta de conhecimento financeiro
Outra situaccedilatildeo comentada durante a gravaccedilatildeo das entrevistas foi sobre as parcelas dos
empreacutestimos os bancaacuterios e os estagiaacuterios induzem os clientes a dividirem em mais vezes A
entrevistada Marcela tambeacutem afirma que sempre propunha aos seus clientes dividir em
setenta e duas vezes alegando para essas pessoas que o valor iria ldquocaber no bolsordquo Mas na
verdade os bancaacuterios aproveitam do analfabetismo financeiro dos tomadores de creacutedito
visando a lucratividade das instituiccedilotildees financeiras dado que as taxas aumentam de acordo
com prazo
A partir dessa anaacutelise eacute possiacutevel perceber de forma clara as limitaccedilotildees dos idosos no
processo de compra Conforme Chertman (2011 p21) as consequecircncias da idade
ldquopotencializam a vulnerabilidade de compra pela dificuldade de comprar em escala (podendo
negociar preccedilos)rdquo De fato nota-se que a questatildeo do analfabetismo baixa instruccedilatildeo e idade
afetam na tomada de decisatildeo consciente do consumidor
42 Categoria II
421 Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
A informaccedilatildeo no momento da compra eacute essencial para que o cliente natildeo faccedila uma
escolha errocircnea quanto ao produto Em relaccedilatildeo as entrevistas realizadas foi possiacutevel inferir
que na contrataccedilatildeo de creacutedito os bancaacuterios e seus intermediaacuterios natildeo informam o valor da
taxa de juros e acabam focando nos valores das parcelas no prazo e em quantas vezes o
parcelamento ficaraacute Sendo assim os atendentes procuram natildeo informar aos consumidores
20
quanto ficaraacute o valor total do empreacutestimo ao incidirem os juros Atraveacutes do quadro abaixo
pode-se comprovar que no momento da contrataccedilatildeo do creacutedito os bancaacuterios e estagiaacuterios
omitem determinadas informaccedilotildees aos clientes
Quadro 4 - Omissatildeo de informaccedilotildees na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Ana Luiacuteza ldquoNormalmente eu natildeo falo o valor dos juros
dificilmente eu falo o valor do juros soacute falo que
ele eacute mais baixo e informo que independe do que
a aconteccedila na economia brasileira a partir do
momento que a pessoa estaacute fazendo o contrato o
juros nunca vai aumentar que aquele juros e
sempre seraacute aquelerdquo
Marcela ldquoEntatildeo na verdade o que eu aprendi no Banco X
a regra clara Eu tinha que omitir Eu natildeo
precisava mentir mas eu precisava omitir
algumas informaccedilotildees Entatildeo eu abordava o
cliente sempre eacute Buscando saber do sonho dele
para depois eu vender o empreacutestimo Eu tentava
omitir informaccedilotildees como taxas prazo de
pagamento que eram coisas que eu soacute falava se o
cliente me perguntasse Eu achava muito
tranquilo assim vender Eu natildeo tinha muita
dificuldade natildeordquo
ldquoA gente omitia o valor total que o cliente ia
pagar justamente porque se vocecirc falar ele natildeo vai
levar entatildeo eacute A gente omitia e tentava fazer o
cliente fechar a venda na hora Principalmente
quando a venda era no caixa eletrocircnico que era
muito mais faacutecil porque agraves vezes o cliente
fechava a venda ali naquele momento naquele
instante natildeo refletia muito era mais faacutecil vender e
muitas vezes eles tavam sozinho muitas vezes os
aposentados vatildeo para agecircncia sozinho natildeo
estavam acompanhados dos filhos de ningueacutemrdquo
Carlos Eduardo ldquoNo contrato fala dos juros mas eu soacute respondo
quando o cliente perguntardquo
Marcos ldquoQuando o cliente fazia por exemplo um
empreacutestimo a gente falava o valor da parcela
21
quanto que ele vai pegar quando vai descontar do
pagamento falava a taxa de juros tambeacutem mas
acabava que eles nem sabiamrdquo
ldquoSe perguntasse alguma coisa a gente falavardquo
Fonte Dados da pesquisa
Como jaacute foi dito o cliente tem como direito obter informaccedilotildees necessaacuterias do que ele
estaacute adquirindo mas quando isso natildeo ocorre pode-se dizer que estaacute ocorrendo uma omissatildeo
dos fatos O autor Silva (2009 p146) expotildee o art 14 do CDC destacando ldquoo dever de
informaccedilatildeo cuja omissatildeo caracteriza defeito do serviccedilo ensejador do dever de indenizarrdquo
Logo pode-se concluir que quando o cliente natildeo eacute alertado sobre o produto ou serviccedilo e este
causa danos o consumidor deve ser reparado
Diante do que foi explicitado acima pode-se perceber atraveacutes das gravaccedilotildees feitas
quatro entrevistados falaram que natildeo davam as informaccedilotildees necessaacuterias para os contratadores
de creacuteditos A entrevistada Marcela usa o termo ldquoomissatildeordquo ela afirma que agraves vezes era
necessaacuterio omitir para que a venda do empreacutestimo consignado fosse realizada mais
rapidamente Jaacute os demais entrevistados alegam que normalmente natildeo falam as taxas de juros
eles informam as taxas apenas se o cliente perguntar Percebe-se tambeacutem que por se tratar de
um puacuteblico mais vulneraacutevel os bancaacuteriosestagiaacuterios tinham maior facilidade em convencecirc-
los na hora da compra jaacute que grande parte desse puacuteblico natildeo possui instruccedilotildees suficientes
para adquirir esse tipo de produto
Dessa forma eacute expliacutecito que os bancaacuterios e os estagiaacuterios natildeo davam as informaccedilotildees
necessaacuterias aos seus clientes pelo fato de terem que apresentar maior lucratividade aos
bancos Uma vez que como foi relatado por Marcela a instituiccedilatildeo financeira onde trabalhava
alegava que certas informaccedilotildees deveriam ser ldquoomitidasrdquo Dessa forma pode-se evidenciar a
violaccedilatildeo do direito do consumidor
Dentre a vulnerabilidade do consumidor quanto a omissatildeo dos fatos por partes dos
bancaacuterios e seus correspondentes haacute tambeacutem outro recurso utilizado pelos fornecedores o
linguiacutestico Isto eacute satildeo termos palavras usadas que suavizam na hora da contrataccedilatildeo de
creacutedito Pode-se dizer que eacute a comunicaccedilatildeo existente entre o fornecedor e o cliente a fim de
que o primeiro consiga induzir o segundo a comprar seu produto
O marketing de vendas retrata esta relaccedilatildeo citada acima de consumidor e fornecedor
De acordo com Bernardi (2012 p75) ldquoo marketing de vendas possui uma relaccedilatildeo estreita com
o elemento do composto mercadoloacutegico denominado de promoccedilatildeo que se refere a todas as
accedilotildees relativas agrave comunicaccedilatildeo e agrave venda dos produtos de uma organizaccedilatildeordquo
22
Atraveacutes dessa relaccedilatildeo construiacuteda pela comunicaccedilatildeo pode-se verificar por parte das
entrevistas que os bancaacuterios e os estagiaacuterios utilizam de recursos linguiacutesticos para convencer o
cliente a comprar tal produto Isto eacute estes tinham certo cuidado na maneira de falar para que
os clientes se sentissem agrave vontade e consequentemente efetivar a venda do produto
A comunicaccedilatildeo exerce influecircncia na venda de um produto ou seja esse diaacutelogo entre
cliente e fornecedor facilita a compra de um produto por parte do consumidor O autor
Bernardi (2012 p77) acresce o termo merchandising este eacute visto como um dos principais
meacutetodos de marketing associado agrave venda
Eacute um termo que pode ser usado como instrumento de comunicaccedilatildeo que apresenta o
produto ao consumidor e favorece a sua compra Merchandising no entanto eacute criar
um cenaacuterio de um produto serviccedilo ou marca de forma casual Os principais
conceitos do merchandising estatildeo voltados agrave boa estrateacutegia de comunicaccedilatildeo no
ponto de venda pois visa destacar o produto ou serviccedilo buscando assim motivar as
compras por impulso jaacute que possui uma comunicaccedilatildeo muito proacutexima agrave venda
Logo compreende-se que o merchandising eacute uma ferramenta que aproxima o cliente e
o fornecedor atraveacutes da comunicaccedilatildeo
Como jaacute foi mencionado anteriormente a forma de comunicar exerce uma forte
influecircncia no ato da compra Todavia atraveacutes das entrevistas pode-se notar certa preocupaccedilatildeo
em como abordar o cliente ou seja a forma de dialogar com seus clientes Percebeu-se entatildeo
que determinadas palavras eram trocadas por outras como por exemplo o termo
ldquoempreacutestimordquo muitas vezes era substituiacutedo pelo termo ldquodinheirinhordquo ou creacutedito A partir do
quadro abaixo pode-se concluir que a forma de falar eacute utilizada como um artifiacutecio na hora da
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado
23
43 Categoria III
431 Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por se tratar de um puacuteblico de idade com baixo grau de instruccedilatildeo ou ateacute mesmo analfabetos
os bancaacuterios estagiaacuterios se beneficiam dessa relaccedilatildeo A forma de falar induz os consumidores
de serviccedilos financeiros a adquirirem certo produto O Quadro 5 apresenta as respostas
referentes agrave forma de falar dos intermediaacuterios bancaacuterios
Quadro 5- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Marcela ldquoAcredito que para vender esse tipo de produto que eacute
um produto difiacutecil que as pessoas agraves vezes quando
vocecirc fala ldquoempreacutestimordquo a pessoa fica com o peacute atraacutes
entatildeo tem que ser assim Coisas que a gente natildeo usa eacute
falar empreacutestimo natildeo existe no banco entendeu Eacute
um dinheirinho suavizar realmente a expressatildeo
empreacutestimo porque quando vocecirc fala a expressatildeo
empreacutestimo as pessoas se fechamrdquo
ldquoMuitas vezes eles natildeo entendiam o que vocecirc estava
falando entatildeo Ah fulano vocecirc tem um dinheirinho
aqui disponiacutevel para vocecirc pegar aiacute eles perguntavam
Mas vocecirc estaacute me dando esse dinheirordquo
Marcos ldquoOutra coisa o termo empreacutestimo o pessoal mesmo
falava que era uma coisa muito pesada de se dizer a
maioria das pessoas natildeo vecirc com bons olhos entatildeo a
gente falava um dinheirinho pro cliente pois ameniza
um pouco o termo Querendo ou natildeo o modo de falar
influencia um poucordquo
Daniel ldquoEu por exemplo falo creacutedito porque eu tocirc
conversando com o cliente e ele vecirc que tem outras
pessoas em volta agraves vezes eu falar empreacutestimo ele
pode ficar um pouco chateado daquilo nem todo
mundo gosta de ir no banco pra pegar empreacutestimo
gosta de ir laacute para sacar dinheiro Eu prefiro trabalhar
com a palavra creacutedito rdquo
Antocircnio ldquoGeralmente a gente utiliza o termo creacutedito vocecirc tem
um creacutedito aprovado Porque agraves vezes a pessoa tem
ateacute medo resistecircncia em empreacutestimo Geralmente a
24
gente fala que vocecirc tem um creacutedito aprovado e aiacute a
gente fala em qual linha a pessoa tem creacutedito
pessoal financiamento para veiacuteculos financiamento
imobiliaacuterio consignado que eacute o creacutedito que vem da
folha de pagamento Entatildeo a gente normalmente
oferta creacutedito ldquo
Fonte Dados da pesquisa
Conforme alguns entrevistados esses natildeo utilizam o termo correto que eacute ldquoempreacutestimo
consignadordquo Nas gravaccedilotildees os bancaacuterios e seus correspondentes alegam que os clientes tecircm
eacute um ldquodinheirinhordquo disponiacutevel para pegarem no banco Outros afirmam que o vocaacutebulo
empregado por eles eacute o ldquocreacuteditordquo pois ameniza um pouco o termo Este possui o mesmo
significado do primeiro mas para muitos o termo quer dizer credibilidade ldquocreacutedito na praccedilardquo
apesar de ser sinocircnimo do vocaacutebulo ldquoempreacutestimordquo essa palavra soa de forma positiva
Ao verificar a forma de comunicaccedilatildeo com os clientes do empreacutestimo consignado
pode-se perceber que essa substituiccedilatildeo de ldquopalavrasrdquo ocorre com o intuito amenizar o termo
ldquoempreacutestimordquo visto que por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel as pessoas assustam quando
pronunciam a palavra empreacutestimo Para muitos esse termo soa de forma negativa como
pessoas que possuem desorganizaccedilatildeo financeira ou inadimplecircncia Por este fato tanto os
bancaacuterios quanto os estagiaacuterios procuram utilizar vocaacutebulos que suavizem e que soem de uma
forma positiva para o cliente Sendo assim a forma de se comunicar pode alterar a venda de
determinado produto ofertado Mas essa forma de suavizar os termos empregados durante a
venda do serviccedilo financeiro fora de certos limites eacutetico-legais pode ser vista como uma
espeacutecie de ldquoomissatildeordquo do que realmente esses tomadores de creacutedito estatildeo comprando Pois
como jaacute foi retratado de acordo com o CDC os termos devem ser informados de forma clara
ao cliente
Podemos exemplificar de acordo com um entrevistado que afirma utilizar o termo
ldquodinheirinhordquo por ser mais faacutecil dos aposentados e pensionistas entenderem jaacute que muitos
desses clientes possuiacuteam dificuldades sobre o que de fato estavam comprando Aleacutem disso o
bancaacuterio acredita que modo de falar pode alterar a execuccedilatildeo da venda
Tendo em vista os aspectos observados tanto o artifiacutecio linguiacutestico quanto a omissatildeo
das informaccedilotildees pelos bancaacuteriosestagiaacuterios possui objetivos em comum pelas instituiccedilotildees
financeiras na qual visam a obtenccedilatildeo de maiores lucros para essas empresas Aleacutem disso os
bancos satildeo os maiores beneficiados pois natildeo levam em consideraccedilatildeo a isonomia das relaccedilotildees
entre consumidor e fornecedor Portanto conclui-se que em meio a essa relaccedilatildeo o consumidor
eacute parte mais fraca onde seus direitos satildeo violados pelos fornecedores de creacutedito
25
5 CONCLUSAtildeO
O creacutedito consignado eacute um tipo de empreacutestimo recente que vem sendo utilizado com
maior frequecircncia por um determinado puacuteblico (LOPES et al2014) Com isso as instituiccedilotildees
bancaacuterias estatildeo apresentando certo interesse sobre esse ldquonovordquo tipo de puacuteblico em ascensatildeo
Os intermediaacuterios bancaacuterios vecircm buscando formas para atrair os idosos seja atraveacutes das
facilidades da obtenccedilatildeo do creacutedito ou ateacute mesmo no modo de comunicar utilizando de
artifiacutecios de linguagem Em suma os bancos utilizam de praacuteticas de marketing tensionados a
obter vantagens sobre esses consumidores De acordo com o Coacutedigo de Consumidor (CDC)
estes satildeo considerados como vulneraacuteveis
Perante o estudo notou-se que a vulnerabilidade do idoso eacute agravada jaacute que
enquadram como consumidores hipervulneraacuteveis Essa vulnerabilidade acontece atraveacutes das
relaccedilotildees de consumo onde os fornecedores do empreacutestimo tiram proveito do estado em que
esses consumidores se encontram Para que estes cidadatildeos hipervulneraacuteveis sejam amparados
haacute o Estatuto do idoso e Coacutedigo do Consumidor ambos dispotildeem de normas que regem a
relaccedilatildeo entre consumidor-fornecedor Deve-se ressaltar que apesar da existecircncia das
legislaccedilotildees os bancos continuam praticando ldquoexcessosrdquo com os consumidores no momento da
contrataccedilatildeo do creacutedito Eacute relevante a imposiccedilatildeo do Estado visando inibir a lesatildeo do direito
sendo especificado ao idoso
Logo atraveacutes dos resultados da pesquisa pode-se concluir que essa vulnerabilidade
acentuada ocorre atraveacutes de fatores como idade baixa escolaridade e baixo grau de instruccedilatildeo
que interferem nas relaccedilotildees consumeristas isto eacute os contratadores de creacutedito consignado natildeo
possuem domiacutenio para realizar uma compra consciente Sendo assim os consumidores
apresentam limitaccedilotildees sobre o serviccedilo financeiro na qual estaacute adquirindo A partir da anaacutelise
foi possiacutevel verificar atraveacutes dos entrevistados que o puacuteblico idoso natildeo possuiacutea conhecimento
sobre as taxas juros que incidiam sobre as parcelas Aleacutem disso os bancaacuterios afirmavam que
iriam dividir em mais pagamentos para natildeo atrapalhar no orccedilamento mensal do consumidor
Por conseguinte aspectos como estes facilitavam a induzir os idosos a adquirem o creacutedito
mostrando a estes o quatildeo era vantajoso o produto oferecido
Tambeacutem deve-se ressaltar que por se tratar de um puacuteblico com baixo grau de instruccedilatildeo
e alguns analfabetos tanto os bancaacuterios quanto os estagiaacuterios omitiam informaccedilotildees bem
como tambeacutem utilizavam os recursos linguiacutesticos Estas duas formas contribuiacuteram para que as
vendas fossem efetuadas de uma maneira mais raacutepida Uma vez que a forma de falar ou a
26
omissatildeo influenciavam aos idosos comprarem o produto de uma forma irrefletida visto que
esses consumidores acreditavam no que estava sendo falado por parte do fornecedor
Portanto diante da fragilidade do consumidor em questatildeo eacute perceptiacutevel que na
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado boa parte dos idosos muitas vezes natildeo estatildeo acompanhados
por nenhum membro da famiacutelia Desta maneira para os bancaacuteriosestagiaacuterios a forma de
abordar o cliente fica mais acessiacutevel ainda mais por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel com
pouco grau de instruccedilatildeo ou conhecimento Logo situaccedilotildees como estas contribuem para os
fornecedores tirarem proveito do puacuteblico idoso Outro fato que deve ser destacado eacute a
presenccedila do Estado incentivando programas de alfabetizaccedilatildeo financeira independente do fator
idade para que a sociedade no geral saiba ter consciecircncia clareza sobre as relaccedilotildees de
consumo
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29
APEcircNDICE A
Roteiro de Entrevista qualitativa aplicada aos bancaacuterios e seus correspondentes
1 Idade
2 Formaccedilatildeo acadecircmica ( ) Ensino Meacutedio
( ) Superior
3 Haacute quanto tempo vocecirc trabalha ou jaacute trabalhou vendendo serviccedilos financeiros Em
qual cidade Descreva os serviccedilos financeiros que vocecirc mais estava habituado a
venda
4 Fale um pouco sobre as atividades que vocecirc realizava dentro da empresa Me conte
como era o seu dia a dia como era o processo de venda Da captaccedilatildeo do cliente ao
fechamento do contrato ou da venda do serviccedilo DEcirc EXEMPLOS
5 Quais produtos financeiros vocecirc estava ou estaacute mais habituado a vender
Creacutedito consignado creacutedito pessoal seguros empreacutestimos financiamentos
Qual vocecirc eacute mais estimulado a fazer
Tem diferenccedila na venda desses produtos
A abordagem ao cliente muda Quais satildeo mais diferentes
Vocecirc pode descrever para mim cada um deles por favor
Quais produtos satildeo os mais procurados
6 Qual eacute o tipo de puacuteblico que busca pelo empreacutestimo Descreva para mim as
caracteriacutesticas que vocecirc julga como mais marcantes Geralmente satildeo pessoas de que
faixa etaacuteria Satildeo pessoas de classe baixa meacutedia ou alta Satildeo pessoas instruiacutedas
7 Essas pessoas possuem um esclarecimento sobre o que seria esse tipo creacutedito
Compreendem as vantagens e as desvantagens relacionadas ao serviccedilo O que vocecirc
acha disso
8 No momento da contrataccedilatildeo de creacutedito o que eacute falado Como se daacute Todos os temos
do contrato ficam claros Vocecircs bancaacuterios explicitam o que estaacute no contrato Haacute
30
alguma avaliaccedilatildeo criteriosa do perfil do cliente de suas condiccedilotildees financeiras
9 O que vocecirc jaacute verificou por parte das pessoas que tomam esse creacutedito Qual seria os
maiores motivos para a procura do creacutedito consignado
10 Quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito vocecirc concorda com as vantagens oferecidas no
contrato ou acredita que algo deveria ser alterado O que vocecirc natildeo estaria de acordo
11 Qual o limite de desconto mensal da folha de pagamento do trabalhador o banco
oferece Por algum momento o banco excedeu o valor de desconto da folha Comente
essefato
12 Quanto agraves poliacuteticas bancaacuterias proposta pelos bancos para a venda de produtos
financeiros vocecirc concorda Ou algum momento jaacute discordou Discorra sobre o fato
13 Frequentemente vocecircs bancaacuterios satildeo estimulados a bater metas sobre os produtos que
vocecircs oferecem Vocecirc concorda que existe uma certa pressatildeo em vender cada vez mais
produtos Em alguma situaccedilatildeo vocecirc natildeo esteve de acordo como a forma que deveria
induzir os clientes a comprar um produto na qual vocecirc estaria oferecendo
RESUMO
O presente estudo busca analisar as praacuteticas de Marketing empregadas pelos intermediaacuterios
bancaacuterios com relaccedilatildeo aos contratadores do creacutedito consignado Esta modalidade de
empreacutestimo tem sido utilizada por idosos aposentados e pensionistas do INSS pelo fato de
apresentar um acesso faacutecil ao puacuteblico em questatildeo mas por outro lado verifica-se que nessa
relaccedilatildeo de consumidor e fornecedor o segundo eacute o mais beneficiado jaacute que o primeiro
encontra-se em um estado de vulnerabilidade O objetivo do trabalho eacute compreender ateacute que
ponto essas estrateacutegias satildeo desenhadas visando tirar proveito dos consumidores vulneraacuteveis
Contudo por se tratar de uma pesquisa descritiva foi possiacutevel efetivar uma pesquisa de
campo atraveacutes de entrevistas realizadas com sete bancaacuterios (as) e trecircs estagiaacuterios (as) da
regiatildeo de Mariana Ouro Preto e Itabirito Os resultados contidos indicaram que os
consumidores do creacutedito consignado satildeo atraiacutedos pelos bancaacuterios (as) e estagiaacuterios (as)
atraveacutes de teacutecnicas como artifiacutecios de linguagem isto eacute modificam a forma de comunicar
para exercer uma forte influecircncia na hora da compra Outro aspecto eacute a omissatildeo de
informaccedilotildees visto que o cliente natildeo possui as informaccedilotildees suficientes sobre qual produto que
estaacute contratando Aleacutem disso o puacuteblico idoso que utiliza do empreacutestimo consignado eacute
caracterizado como consumidor hipervulneraacutevel uma vez que circunstacircncias como fator
idade niacutevel de instruccedilatildeo formal e analfabetismo acarreta o grau de vulnerabilidade Dessa
forma as instituiccedilotildees financeiras tendem a persuadir e influenciar o consumidor idoso nas
relaccedilotildees consumeristas buscando estimular maiores vendas na contrataccedilatildeo do creacutedito
consignado
PALAVRAS-CHAVE
Intermediaacuterios Bancaacuterios Creacutedito Consignado Consumidor Vulneraacutevel Consumidores
Hipervulneraacuteveis
ABSTRACT
The present study seeks to analyze the marketing practices appointed by banking
intermediaries in relation to contractors of payroll loans This type of loan has been used by
the elderly retirees and pensioners of the INSS because it presents easy access to these
public but on the other hand it is verified that in this relation of consumer and supplier the
second is the most benefited whereas the former is in a state of vulnerability The purpose of
the essay is to understand the extent to which these strategies are designed aiming to take
advantage of vulnerable consumers However because it was a descriptive research it was
possible to actualize a field research through interviews made with seven bankers and three
interns from the regions of Mariana Ouro Preto and Itabirito The results indicated that the
consumers of payroll loans are attracted by bankers and interns through techniques such as
language artifices that is they modify the way of communicating to practise a strong
influence on the time of purchase Another aspect is the omission of informations since the
customer does not have sufficient information about which product he is hiring In addition to
that the elderly public that uses the payroll loan are characterized as hypervulnerable
consumers since circumstances such as age level of formal education and illiteracy brings
the degree of vulnerability This way financial institutions tend to persuade and influence the
elderly consumer in consumer relations seeking to stimulate higher sales in the contracting of
payroll
KEY WORDS
Banking Intermediary Payroll loans Vulnerable Consumer Hypervulnerable Consumers
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 7
2 REVISAtildeO DE LITERATURA 9
21 Creacutedito Consignado 9
22 Consumidor (Hiper) Vulneraacutevel e o Coacutedigo de Defesa do Consumidor 10
221 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal como fator de
vulnerabilidade 12
3 METODOLOGIA 13
31 Descriccedilatildeo da Amostra 15
4 ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 17
41 Categoria I 17
411 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos serviccedilos
financeiros 17
42 Categoria II 19
421 Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito 19
43 Categoria III 23
431 Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito 23
5 CONCLUSAtildeO 25
REFEREcircNCIAS 26
APEcircNDICE A 29
7
1 INTRODUCcedilAtildeO
No cenaacuterio brasileiro o termo creacutedito teve notoriedade somente apoacutes 1994 com a
alteraccedilatildeo do Plano Real Posteriormente a esse periacuteodo notou-se que uma parcela da
populaccedilatildeo brasileira estava sendo excluiacuteda do sistema financeiro de creacuteditos A partir desse
momento surge a preocupaccedilatildeo de dar acesso ao creacutedito agraves classes mais desfavorecidas na
qual as famiacutelias mais pobres deveriam ser incluiacutedas no mercado de creacutedito (BERTONCELLO
e LIMA 2008)
De acordo com Bertoncello e Lima (2008) o governo Lula proporcionou uma poliacutetica
de estiacutemulo ao creacutedito popular isto eacute motivou o consumo da populaccedilatildeo de baixa renda Os
aposentados tambeacutem tiveram notoriedade nesse momento econocircmico Conforme o autor estes
estavam sendo seduzidos por publicidade veiculada aos meios de comunicaccedilatildeo como tambeacutem
estavam sendo assediados por agenciadores e correspondentes dos bancos
Conforme Cavalcante (2015) essa maior notoriedade da terceira idade no mercado de
creacutedito eacute em razatildeo do aumento da populaccedilatildeo idosa e a maior expectativa de vida aleacutem disso
esse puacuteblico contabiliza 16 milhotildees de idosos que utilizam do creacutedito consignado Mas o que
seria o empreacutestimo consignado
O creacutedito consignado surgiu no contexto explicitado acima esse tipo de creacutedito eacute
definido como um empreacutestimo disponibilizado para pessoas fiacutesicas onde o valor das parcelas
eacute descontado diretamente na folha de pagamento as pessoas que utilizam desse creacutedito satildeo
idosos aposentados e pensionistas do INSS Aleacutem disso essa operaccedilatildeo eacute realizada por
intermediaacuterios bancaacuterios (COSTA 2014)
Os autores Barone e Sader (2008 p1258) definem o esse tipo de creacutedito como
ldquoum tipo de creacutedito oferecido para os empregados do setor formal eou aposentados
e pensionistas do INSS com baixas taxas de juros (bem menores que as praticadas
para empreacutestimo pessoal no mercado) em que as prestaccedilotildees satildeo descontadas
diretamente de seus salaacuterios eou aposentadorias e pensotildeesrdquo
Segundo os autores retrocitados o programa de empreacutestimo a esse tipo de puacuteblico
com consignaccedilatildeo foi autorizado pela Lei ndeg 10820 sendo publicada no Diaacuterio Oficial da
Uniatildeo em dezembro de 2003 As primeiras operaccedilotildees foram realizadas em maio de 2004
inicialmente pela Caixa Econocircmica Federal
Pode-se perceber o estiacutemulo da concessatildeo do creacutedito consignado esse estiacutemulo ao
creacutedito ocorre por meio de estrateacutegias de marketing De acordo com Bertoncello e Lima
(2008) as estrateacutegias utilizadas pelas instituiccedilotildees financeiras possuem argumentos
convincentes isto eacute creacutedito faacutecil e raacutepido sem consultas agraves entidades de proteccedilatildeo ao creacutedito
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acessiacutevel a quem tem restriccedilotildees creditiacutecias e prazos maiores para pagamento Contudo eacute
dessa forma que os bancos visam atrair atuais e futuros consumidores do creacutedito consignado
Atraveacutes da concessatildeo do empreacutestimo consignado surge a relaccedilatildeo de consumo entre os
intermediaacuterios bancaacuterios (fornecedores) e os tomadores de creacutedito consignado
(consumidores) Nessa relaccedilatildeo pode-se dizer que os consumidores satildeo vistos como
vulneraacuteveis Conforme Chertman (2011) o consumidor vulneraacutevel eacute fraacutegil pois natildeo conhece
todas as informaccedilotildees existentes num processo de compra Sendo assim os fornecedores tiram
vantagens na contrataccedilatildeo de um produto ou serviccedilo
Logo pode-se inferir que os fornecedores do empreacutestimo consignado detecircm maiores
informaccedilotildees sobre o serviccedilo oferecido desta maneira os consumidores do empreacutestimo satildeo
considerados a parte mais fraca da relaccedilatildeo jaacute que natildeo possuem na maior parte das vezes
informaccedilatildeo necessaacuteria para uma segura contrataccedilatildeo do creacutedito
Visando mitigar tais problemas ou oferecer apoio a parte vulneraacutevel na relaccedilatildeo de
consumo foi criado o CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) Ele busca reduzir os
problemas existentes entre o fornecedor-consumidor uma vez que os consumidores
necessitam de proteccedilatildeo em especial aqueles chamados (hiper)vulneraacuteveis
Desse modo a vulnerabilidade do consumidor quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito seraacute o
assunto principal abordado ao longo deste trabalho Mais especificamente esta proposta de
pesquisa buscou analisar possiacuteveis accedilotildees de marketing de instituiccedilotildees financeiras e seus
intermediaacuterios que de alguma forma se aproveitam da fragilidade do consumidor de serviccedilos
financeiros O tema em questatildeo eacute multifacetado isto eacute percebe-se que o puacuteblico ao adquirir
um produto ou serviccedilo acaba sendo influenciado pelos bancaacuterios e seus equivalentes estes satildeo
pressionados e induzidos pelas instituiccedilotildees financeiras a utilizarem de praacuteticas de marketing
para efetuaccedilatildeo de maiores nuacutemeros de vendas do creacutedito consignado Logo eacute possiacutevel
concluir que os bancos estatildeo compreendendo que esse tipo de puacuteblico idosos aposentados e
pensionistas pode ser responsaacutevel pela expansatildeo dos negoacutecios bancaacuterios (BUAES 2015)
Por conseguinte este estudo eacute relevante para que a sociedade possa entender e
compreender o efeito que as estrateacutegias de marketing exercem sobre as suas escolhas Aleacutem
disso pode-se salientar conforme Buaes (2015) que a educaccedilatildeo financeira eacute significativa
para a equidade da relaccedilatildeo entre consumidor e fornecedor onde o primeiro possa agir com
discernimento e conhecimento sobre suas atitudes Mas para que esse cenaacuterio se modifique
haacute a necessidade de uma maior atenccedilatildeo a esse tema por parte do governo dando importacircncia
agraves praacuteticas educativas voltadas para alfabetizaccedilatildeo financeira
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Em virtude dos fatos mencionados acima pode-se indagar Ateacute que ponto agraves praacuteticas
de Marketing dos bancos satildeo desenhadas visando tirar proveito da vulnerabilidade dos
consumidores de serviccedilos financeiros Deste modo tem-se por objetivo geral analisar esse
problema enfrentado pela sociedade desfavorecida Aleacutem disso busca-se explicar as
caracteriacutesticas desses consumidores bem como buscar evidecircncias na qual os bancos se
aproveitam dessa vulnerabilidade
2 REVISAtildeO DE LITERATURA
21 Creacutedito consignado
A expansatildeo do creacutedito no Brasil foi fomentada nos uacuteltimos 10 anos provocando um
aumento na demanda por tal serviccedilo financeiro e consequentemente um aumento do
endividamento das classes menos favorecidas (SBICCA FLORIANI JUK 2012) Por outro
lado o maior acesso ao creacutedito pela populaccedilatildeo acarretou um aumento no consumo bens e
serviccedilos jaacute que as classes desfavorecidas comeccedilaram a ter maior participaccedilatildeo na economia
Com relaccedilatildeo ao cenaacuterio brasileiro a economia do paiacutes se expandiu fortemente no
periacuteodo compreendido entre os anos de 2004 e 2007 provocando relevante impacto sobre a
ampliaccedilatildeo do creacutedito bancaacuterio Dentre os serviccedilos que contribuiacuteram para a ampliaccedilatildeo do
creacutedito bancaacuterio podemos destacar a criaccedilatildeo do empreacutestimo consignado que por sua vez
ajudou a estimular o ambiente econocircmico (ARAUacuteJO 2012) Ainda segundo Arauacutejo (2012) a
introduccedilatildeo do creacutedito consignado foi autorizada atraveacutes da Medida Provisoacuteria nordm130 de
setembro de 2003 convertida na Lei nordm 10820 logo no mecircs de dezembro
O creacutedito consignado eacute um empreacutestimo realizado pelos intermediaacuterios bancaacuterios onde
as parcelas satildeo descontadas diretamente na folha de pagamento do tomador do empreacutestimo
Aleacutem disso deve-se salientar que o desconto maacuteximo na folha para operaccedilotildees desta natureza
eacute de ateacute 30 do valor da remuneraccedilatildeo ou benefiacutecio previsto na Lei Nordm10820 de 17 de
dezembro de 2003
Gonccedilalves e Saacute (2013 p08) explicitam quem satildeo os principais consumidores do
serviccedilo financeiro de empreacutestimo consignado descrevendo como ldquoo puacuteblico alvo da
modalidade de consignados satildeo as pessoas idosas beneficiaacuterios da Previdecircncia Social quer
aposentados quer pensionistasrdquo
Os contratadores de creacutedito consignado geralmente satildeo idosos pessoas de baixa renda
e baixa escolaridade Os consumidores dessa modalidade de serviccedilo financeiro satildeo geralmente
atraiacutedos pelas instituiccedilotildees financeiras que costumam apresentar serviccedilos ldquovantajososrdquo como
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juros mensais inferiores aos do mercado tradicional e a natildeo necessidade de avalista haja vista
que o risco do negoacutecio eacute pequeno para o fornecedor jaacute que o valor retido eacute descontado na
fonte o que reduz os riscos de inadimplecircncia
A facilidade que os consumidores tecircm de adquirir dinheiro via creacutedito consignado e
dos bancos realizarem tais operaccedilotildees de baixiacutessimo risco faz com que os bancos tirem
vantagem na contrataccedilatildeo do creacutedito consignado Visto que os idosos ao contratarem esse tipo
de creacutedito desconhecem a quantidade de parcelas e o periacuteodo que levaratildeo para quitaacute-las
Aleacutem disso estes natildeo compreendem qual o valor dos juros mensal preocupam-se apenas com
o valor da parcela a ser liquidada (GONCcedilALVES SAacute 2013)
22 Consumidor (Hiper) Vulneraacutevel e o Coacutedigo de Defesa do Consumidor
O termo vulnerabilidade estaacute relacionado com as relaccedilotildees de consumo na aquisiccedilatildeo de
um bem Desta maneira pode-se definir o termo como uma incapacidade ou fragilidade no
ato do consumo Ou seja essa vulnerabilidade do consumo traz como consequecircncia situaccedilotildees
em que os consumidores se enganam erram ou desconhecem todas as informaccedilotildees que
existem num processo de compra Logo a vulnerabilidade do consumidor faz com que os
fornecedores tirem vantagens na contrataccedilatildeo de um produto ou serviccedilo Isto eacute os fornecedores
omitem certas informaccedilotildees sobre os produtos aos clientes (CHERTMAN 2011)
Na contrataccedilatildeo do creacutedito consignado deve-se ressaltar diante do exposto acima que
os tomadores de creacutedito estatildeo em desvantagem com relaccedilatildeo aos fornecedores desse serviccedilo jaacute
que as instituiccedilotildees natildeo transferem as informaccedilotildees necessaacuterias quando esses consumidores
estatildeo obtendo o serviccedilo Segundo Barbosa (2002 p4)
O consumidor eacute a parte mais fraca nas relaccedilotildees de consumo Por isso tem ele direito
agrave boa informaccedilatildeo sobre os produtos e serviccedilos que recebe e quanto aos contratos que
assina Tem tambeacutem direito de ser protegido quando se dirige ao Poder Judiciaacuterio
podendo o Juiz determinar medidas para assegurar os seus direitos no tocante agraves
soluccedilotildees alternativas que a Justiccedila pode encontrar para dar - ao Consumidor - o
resultado equivalente ao do adimplemento das obrigaccedilotildees do fornecedor
Nessa relaccedilatildeo onde o fornecedor ganha vantagem sobre o consumidor de creacutedito
consignado o segundo tem direito a ser amparado no acircmbito judiciaacuterio atraveacutes do Coacutedigo de
Defesa do Consumidor De acordo com o CDC no artigo 4 da Lei ndeg 8078 (BRASIL 1990)
pode-se afirmar que todos os consumidores satildeo vulneraacuteveis
Conforme Pfeiffer (2010) o Coacutedigo de Defesa do Consumidor preocupa-se com a
isonomia na relaccedilatildeo de consumo reconhecendo a vulnerabilidade do consumidor Dessa
forma atraveacutes das normas estabelecidas pelo CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) os
consumidores possuem amparo seguranccedila e proteccedilatildeo na contrataccedilatildeo de um bem ou serviccedilo
11
Com relaccedilatildeo ao CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) um aspecto que deve ser
ressaltado dentro desse coacutedigo eacute o direito agrave informaccedilatildeo De acordo com Tribunal de Justiccedila do
Distrito Federal e dos Territoacuterios (2016)
O direito agrave informaccedilatildeo eacute direito baacutesico do consumidor e visa assegurar ao mesmo
tempo uma escolha consciente permitindo que suas expectativas em relaccedilatildeo ao
produto ou ao serviccedilo sejam de fato atingidas manifestando o que vem sendo
denominado de consentimento informado ou vontade qualificada
Em outras palavras o consumidor ao adquirir um bem ou produto tem como direito a
informaccedilatildeo necessaacuteria para que faccedila uma compra consciente isto eacute o consumidor deve ter
clareza das condiccedilotildees favoraacuteveis e desfavoraacuteveis do produto Dessa forma eacute relevante que o
fornecedor na hora da compra informe para o cliente o que eacute de fato o seu produto natildeo
omitindo informaccedilotildees que prejudique o consumidor na hora da compra
O artigo 6ordm da Lei nordm 8078 incIII (BRASIL 1990) que retrata o CDC apresenta os
direitos baacutesicos do consumidor dentre eles pode-se destacar o direito ldquoa informaccedilatildeo adequada
e clara sobre os diferentes produtos e serviccedilos com especificaccedilatildeo correta de quantidade
caracteriacutesticas composiccedilatildeo qualidade tributos incidentes e preccedilo bem como sobre os riscos
que apresentamrdquo
Aleacutem da vulnerabilidade do consumidor ser defendida no CDC (Coacutedigo de Defesa do
Consumidor) os idosos contam com a proteccedilatildeo do Estatuto do idoso prevista em Lei nordm
1074103 (BRASIL 2003) no artigo 20 eacute possiacutevel inferir que ldquoo idoso tem direito a
educaccedilatildeo cultura esporte lazer diversotildees espetaacuteculos produtos e serviccedilos que respeitem
sua peculiar condiccedilatildeo de idaderdquo Desse modo para assegurar os direitos do consumidor idoso
eacute importante que o fornecedor seja claro com esse tipo de puacuteblico visando facilitar as
relaccedilotildees consumeristas
Quando a vulnerabilidade do consumidor eacute agravada ou possui condiccedilotildees para uma
maior fragilidade nas relaccedilotildees de consumo podemos definir que este consumidor eacute
hipervulneraacutevel De acordo com Meire e Alves (2016) circunstacircncias como fator idade
conhecimento ou condiccedilatildeo social afetam no grau da vulnerabilidade isto eacute os idosos por
exemplo estatildeo mais propensos a se enquadrar no estado de hipervulnerabilidade
Os autores Rosa Bernardes e Feacutelix (2017 p548) afirmam que
[] fatores tais quais idade avanccedilada ou reduzida situaccedilatildeo de enfermidade e outros
mais que importem fragilizaccedilatildeo e vulnerabilidade do consumidor em niacutevel maior
que o comum na exposiccedilatildeo ao produto ou serviccedilo oferecido pelo fornecedor
ocasionam um grau intensificado de inferioridade na relaccedilatildeo de consumo e assim
configuram um tipo de vulnerabilidade mais grave ao que se convencionou chamar
hipervulnerabilidade
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Conforme o exposto relato os consumidores hipervulneraacuteveis possuem certa
fragilidade Dessa forma a abordagem dos fornecedores aos idosos eacute visando tirar proveito da
situaccedilatildeo na qual se encontram Os autores citados anteriormente destacam
O puacuteblico idoso revela-se como alvo potencial de propagandas e praacuteticas comerciais
abusivas que se aproveitam da reduzida capacidade de discernimento do idoso para
impor a contrataccedilatildeo de serviccedilos Um dos exemplos mais paradigmaacuteticos eacute a
celebraccedilatildeo de contratos de empreacutestimos consignados entre instituiccedilotildees financeiras e
consumidores idosos pois a loacutegica da sociedade de consumo visualizou lucros
certeiros com tal contrataccedilatildeo eis que via de regra idosos possuem rendimentos
mensais fixos sendo por isso a contrataccedilatildeo mais segura (ROSA BERNARDES
E FEacuteLIX 2017 p548)
Gonccedilalves e Saacute (2015) tambeacutem expotildeem a vulnerabilidade do consumidor em meio agraves
publicidades agressivas antieacuteticas onde o consumo eacute apelado utilizando um conteuacutedo forte
emotivo para atrair os consumidores agrave adquirirem determinado produtoserviccedilo
O Projeto de Lei do Senado nordm283 (BRASIL 2012) presume a alteraccedilatildeo do CDC
(BRASIL1990) visando combater essas praacuteticas de marketing com referecircncia a oferta de
creacutedito Logo esse Projeto de Lei no inciso IV do paraacutegrafo 4 recomenda que ldquoEacute vedado
expressa ou implicitamente na oferta de creacutedito ao consumidor publicitaacuteria ou natildeo [] IV ndash
ocultar por qualquer forma os ocircnus e riscos da contrataccedilatildeo de creacutedito dificultar sua
compreensatildeo ou estimular o endividamento do consumidor em especial se idoso ou
adolescenterdquo (BRASIL 2012)
Desta forma nota-se que o Coacutedigo de Defesa do Consumidor (CDC) e os estatutos
funcionam como paracircmetros para garantir a isonomia Com isso os hipervulneraacuteveis possuem
um maior amparo com relaccedilatildeo agraves praacuteticas abusivas de marketing vendas omissatildeo de
informaccedilotildees como tambeacutem as propagandas enganosas sobre o produto ou serviccedilo na qual
estatildeo contratando
221 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal como fator de vulnerabilidade
Na conjuntura atual brasileira eacute possiacutevel observar a ascensatildeo das classes populares
para as camadas meacutedias como tambeacutem o aumento de poder de compra dos idosos Logo eacute
possiacutevel perceber uma maior atenccedilatildeo dada pelas empresas a esse tipo de puacuteblico em especial
as instituiccedilotildees financeiras Esse poder de compra dos idosos fez com que as empresas
bancaacuterias estimulassem a contrataccedilatildeo de creacutedito por parte dessas pessoas em especial o
creacutedito consignado (BUAES 2015) Atraveacutes disso pode-se indagar Por que o interesse dos
bancos nesse puacuteblico
13
Conforme Buaes (2015) o aumento do poder de compra do idoso fez com que esse
puacuteblico apresentasse interesse na contrataccedilatildeo de produtos e serviccedilos financeiros visto que os
bancos apresentam certa facilidade na obtenccedilatildeo de creacuteditos Um fato destacado por Buaes
(2015) eacute a falta de percepccedilatildeo dos idosos quanto a suas limitaccedilotildees financeiras ou ateacute mesmo a
dificuldade em aceitar essa insuficiecircncia Desta maneira pode-se observar a vulnerabilidade
em duas dimensotildees neste perfil do consumidor idoso isto eacute a falta de conhecimento formal e
a anaacutelise na contrataccedilatildeo de um creacutedito
Quanto a vulnerabilidade do consumidor Chertman (2011) afirma que pode ser
identificada atraveacutes de caracteriacutesticas natildeo observaacuteveis o que eacute o caso do analfabetismo
Entende-se por analfabeto a pessoa com a incapacidade da linguagem de forma geral seja na
leitura intepretaccedilatildeo compreensatildeo e na produccedilatildeo de conhecimento Logo o analfabetismo
possibilita o indiviacuteduo tornar-se um consumidor vulneraacutevel
Aleacutem da questatildeo de pessoas analfabetas tomadores de creacuteditos haacute tambeacutem o perfil de
consumidores de baixa instruccedilatildeo Essas pessoas satildeo capazes de assinar seu proacuteprio nome
quanto agrave leitura apresentam alguma dificuldade no entendimento ou necessitam de ajuda para
uma melhor compreensatildeo Esse tipo consumidor como foi dito acima tambeacutem se enquadra
como vulneraacutevel
Dado o exposto compreende-se que o analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo
formal agravam ainda mais a vulnerabilidade do consumidor em questatildeo Os idosos aleacutem de
possuiacuterem o fator idade na qual afeta a relaccedilatildeo entre consumidorfornecedor (MEIRE
ALVES 2016) apresentam tambeacutem a presenccedila dessas duas caracteriacutesticas que podem
delimitar uma escolha consciente e clara no momento da contrataccedilatildeo de um produto ou
serviccedilo
3 METODOLOGIA
O estudo foi embasado em pesquisas bibliograacuteficas online e impressas como tambeacutem
trabalhos acadecircmicos e perioacutedicos A metodologia utilizada foi qualitativa do tipo descritiva
de acordo Godoy (1995 p62) os pesquisadores de orientaccedilatildeo qualitativadescritiva executam
suas pesquisas baseadas em trabalho de campo a partir de entrevistas e observaccedilotildees aleacutem
disso os pesquisadores possuem um contato direto com o local da pesquisa e seus sujeitos
portanto eacute possiacutevel analisar dados escrever resultados obtidos e descrever o que foi dito
pelos entrevistados
14
A pesquisa de campo foi realizada atraveacutes de entrevistas semi-estruturadas
(APEcircNDICE A) sendo composta por treze questotildees discursivas Segundo Boni e Quaresma
(2005 p 75) as teacutecnicas desse tipo de entrevista
[] tecircm como vantagem a sua elasticidade quanto agrave duraccedilatildeo permitindo uma
cobertura mais profunda sobre determinados assuntos Aleacutem disso a interaccedilatildeo entre
o entrevistador e o entrevistado favorece as respostas espontacircneas Elas tambeacutem satildeo
possibilitadoras de uma abertura e proximidade maior entre entrevistador e
entrevistado o que permite ao entrevistador tocar em assuntos mais complexos e
delicados ou seja quanto menos estruturada a entrevista maior seraacute o favorecimento
de uma troca mais afetiva entre as duas partes Desse modo estes tipos de entrevista
colaboram muito na investigaccedilatildeo dos aspectos afetivos e valorativos dos informantes
que determinam significados pessoais de suas atitudes e comportamentos As
respostas espontacircneas dos entrevistados e a maior liberdade que estes tecircm podem
fazer surgir questotildees inesperadas ao entrevistador que poderatildeo ser de grande
utilidade em sua pesquisa
Em suma pode-se perceber que esse tipo de entrevista proporcionou aos entrevistados
certa autonomia em discutir sobre o tema em questatildeo Visto que no percorrer das
interlocuccedilotildees houve a possibilidade de introduzir novos assuntos sobre o estudo como
tambeacutem a exemplificaccedilatildeo de situaccedilotildees vivenciadas pelos entrevistados
Para a realizaccedilatildeo das entrevistas no presente estudo foi indispensaacutevel entrevistar um
nuacutemero de sete bancaacuterios(as) e trecircs estagiaacuterios(as) de instituiccedilotildees financeiras privadas da
cidade de Mariana Ouro Preto e Itabirito visto que cinco deles eram do sexo masculino e os
demais do sexo feminino Visando buscar nesses gecircneros perspectivas diversas sobre as
teacutecnicas utilizadas na operaccedilatildeo do empreacutestimo consignado agrave aposentados e pensionistas Estas
entrevistas realizadas tiveram duraccedilatildeo meacutedia de quinze a trinta minutos sendo que todas as
interlocuccedilotildees foram gravadas e posteriormente transcritas para entatildeo serem analisadas
Portanto as anaacutelises das respostas foram fundamentadas em anaacutelises de conteuacutedos e
posteriormente buscou-se categorizar os elementos relevantes discutidos durante as
interlocuccedilotildees
De acordo com Cavalcante Calixto e Pinheiro (2014) a anaacutelise de conteuacutedo permite a
ldquoanaacutelise do fenocircmeno em profundidade elencando as subjetividades suas relaccedilotildees bem
como interlocuccedilotildees na malha socialrdquo logo atraveacutes das entrevistas com os bancaacuterios pode-se
verificar suas percepccedilotildees
Conforme Caregnato e Mutti (2006 p 683)
A teacutecnica de anaacutelise de conteuacutedo se compotildee de trecircs grandes etapas 1) a preacute-anaacutelise
2) a exploraccedilatildeo do material 3) o tratamento dos resultados e interpretaccedilatildeo A
mencionada autora descreve a primeira etapa como a fase de organizaccedilatildeo que pode
utilizar vaacute- rios procedimentos tais como leitura flutuante hipoacuteteses objetivos e
elaboraccedilatildeo de indicadores que fundamentem a interpretaccedilatildeo Na segunda etapa os
dados satildeo codificados a partir das unidades de registro Na uacuteltima etapa se faz a
categorizaccedilatildeo que consiste na classificaccedilatildeo dos elementos segundo suas
semelhanccedilas e por diferenciaccedilatildeo com posterior reagrupamento em funccedilatildeo de
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caracteriacutesticas comuns Portanto a codificaccedilatildeo e a categorizaccedilatildeo fazem parte da AC
As autoras afirmam que aleacutem das teacutecnicas utilizadas na anaacutelise de conteuacutedo o
pesquisador pode categorizar fragmentos do texto que se repetem atraveacutes de frases ou
expressotildees Atraveacutes disso as entrevistas realizadas com os bancaacuterios foram categorizadas da
seguinte maneira
Categoria I- O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Categoria II- Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Categoria III- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por conseguinte essas respostas foram analisadas com o intuito de verificar como os
consumidores hipervulneraacuteveis satildeo abordados pelos(as) bancaacuterios(as) e quais as praacuteticas que
as instituiccedilotildees financeiras adotam para convencer esse puacuteblico Contudo compreende-se que
por meio das entrevistas pode-se construir consideraccedilotildees em relaccedilatildeo ao objetivo da pesquisa
31 Descriccedilatildeo da Amostra
Para a anaacutelise das praacuteticas de marketing utilizadas pelos intermediaacuterios bancaacuterios
estudaram-se sete bancaacuterios(as) e trecircs estagiaacuterios(as) atuantes na concessatildeo de empreacutestimos
consignados Estes operam nas localidades de Mariana Ouro Preto e Itabirito Em vista disso
para a execuccedilatildeo da pesquisa foi relevante a realizaccedilatildeo de entrevistas a partir desse
pressuposto foi possiacutevel inferir interpretaccedilotildees diversas sobre esses sujeitos no momento da
concessatildeo do creacutedito
As interlocuccedilotildees com os bancaacuterios e seus correspondentes foram marcadas
antecipadamente via celular informando-lhes a data o local a preferir a duraccedilatildeo em meacutedia e
do que se tratava o estudo As entrevistas foram sucedidas no periacuteodo de julho a agosto de
2016 Outro aspecto a ser relatado aos entrevistados sobre o estudo foi a importacircncia destes
para pesquisa visto que o nuacutemero de informaccedilotildees fornecidas possibilitaria uma anaacutelise
satisfatoacuteria para a exploraccedilatildeo do tema O quadro a seguir resume as caracteriacutesticas da amostra
analisada
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Quadro 1 Caracteriacutesticas da amostra analisada
Bancaacuterios Estagiaacuterios Nomes Fictiacutecios Idade Cidades
B1 Maria Claacuteudia 41 Mariana (MG)
B2 Carlos Eduardo 22 Ouro Preto (MG)
B3 Daniel 25 Ouro Preto (MG)
B4 Leandro 27 Mariana (MG)
B5 Maacutercia 34 Mariana (MG)
B6 Antocircnio 38 Mariana (MG)
B7 Camila 27 Mariana (MG)
E1 Ana Luiacuteza 25 Itabirito (MG)
E2 Marcela 22 Itabirito (MG)
E3 Marcos 24 Ouro Preto (MG)
Fonte Dados da pesquisa
Com relaccedilatildeo a populaccedilatildeo do estudo foram levantados dados buscando alcanccedilar a
quantidade aproximada de bancaacuterios e estagiaacuterios na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e
Itabirito Para a identificaccedilatildeo dos dados foi necessaacuterio entrar em contato via telefone em todas
as agecircncias privadas dessas localidades Atraveacutes do quadro abaixo pode-se concluir o nuacutemero
da populaccedilatildeo desse puacuteblico
Quadro 2 Quantidade da populaccedilatildeo de bancaacuterios e estagiaacuterios
Localidade Bancaacuterios Estagiaacuterios
Mariana 55 3
Ouro Preto 63 3
Itabirito 52 8
TOTAL 170 14
Fonte Dados da pesquisa
Em suma a pesquisa de campo foi desenvolvida nessas localidades visto que esses
municiacutepios possuem um nuacutemero representativo de idosos puacuteblico alvo das instituiccedilotildees
financeiras De acordo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2010) a cidade de
Mariana conta com proximamente 5200 idosos jaacute Ouro Preto possui cerca de 7994 idosos e
Itabirito dispotildee em meacutedia 4998 idosos Por conseguinte surge a iniciativa de analisar os perfis
dos bancaacuterios visando compreender as praacuteticas que estes utilizam para alcanccedilar um maior nuacutemero
de idosos para efetivar a contrataccedilatildeo do creacutedito
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4 ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
Como explicitado anteriormente a vulnerabilidade do consumidor existe a partir da
relaccedilatildeo entre empresa e cliente E considerando todas as peculiaridades e caracteriacutesticas que
fazem do consumidor de serviccedilos financeiros um consumidor vulneraacutevel esta seccedilatildeo do texto
tem por propoacutesito retratar por meio da apresentaccedilatildeo e anaacutelise dos dados extraiacutedos das
entrevistas realizadas ao longo deste estudo a forma como os bancaacuterios e seus
correspondentes operam na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e Itabirito especialmente no que se
refere ao modo como oferecem e conduzem as negociaccedilotildees de serviccedilos financeiros Quanto agrave
anaacutelise dos resultados o estudo utilizou a categorizaccedilatildeo dos discursos dos entrevistados em I
II III Logo as categorias baseiam-se em fragmentos das interlocuccedilotildees aspectos recorrentes
mencionados pelos bancaacuterios
A seguir satildeo apresentados trechos das falas dos dez respondentes que participaram
desta pesquisa Tais falas foram gravadas durante as entrevistas Os nomes adotados a seguir
para marcar que os trechos transcritos satildeo de falas de diferentes entrevistados satildeo fictiacutecios
Todas as entrevistas foram transcritas respeitando integralmente a linguagem e sinais
transmitidos por cada entrevistado
41 Categoria I
411 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos serviccedilos
financeiros
O analfabetismo e falta de instruccedilatildeo impactam no momento da contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros visto que esse tipo de puacuteblico eacute persuadido pelos bancaacuterios a tomar
determinadas decisotildees pois este natildeo possui informaccedilotildees necessaacuterias sobre o que seria esse
creacutedito o qual estaacute contratando Atraveacutes dos trechos das entrevistas foi possiacutevel identificar
que os bancaacuterios estagiaacuterios influenciam na hora da aquisiccedilatildeo do serviccedilo ateacute mesmo nas
formas como os clientes iratildeo pagar o empreacutestimo O quadro abaixo apresenta trechos da
entrevista que demonstram a falta de conhecimento financeiro dos consumidores do
empreacutestimo consignado
18
Quadro 3 - O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Entrevistados Trechos da entrevista
Maria Claacuteudia ldquoTem muita gente eacute Natildeo tatildeo instruiacuteda gente mais
simples Bom existem vaacuterias pessoas que pegam
aqui com a gente que satildeo analfabetas entendeurdquo
Ana Luiacuteza ldquoMuitas pessoas natildeo satildeo instruiacutedas poucas
pessoas sabem assinar seu proacuteprio nome mas
existem pessoas alfabetizadas simrdquo
ldquoA maioria acredito que natildeo tenha uma noccedilatildeo
esclarecimento ateacute porque quanto mais vezes vocecirc
dividir mais juros incidem e eacute melhor para o
bancordquo
Marcela ldquoEu acho que a grande maioria tinha um grau de
instruccedilatildeo reduzido e isso facilitava na hora de
vender neacuterdquo
ldquoEntatildeo a gente sempre tentava colocar de setenta
e duas vezes ou setenta e cinco satildeo seis anos de
consignado Entatildeo quanto maior o prazo maior a
taxa de juros Agraves vezes vocecirc pegava um capital
um volume muito pequeno e virava pra pessoa e
falava assim -Natildeo Por que aiacute soacute vai descontar
soacute R$3000 reais no seu pagamento e a pessoa natildeo
tinha dimensatildeo que por a gente taacute dividindo
aquele valor pequeninho sai muito grande depois
por conta da taxa que ela aumentava de acordo
com o prazordquo
Carlos Eduardo ldquoO mais comum satildeo pessoas de baixa renda e sem
informaccedilatildeo Exemplo A maioria dos consignados
os clientes nem perguntam as taxas de juros ele
natildeo estaacute preocupado com o prazo ele estaacute
preocupado com o valor da parcela se ele vai
conseguir pagar ou natildeo e o valor que vai sobrar
pra ele vai conseguir passar o mecircsrdquo
Leandro ldquoGrande parte natildeo satildeo instruiacutedas mas eu atendo
mais alta renda entatildeo meus clientes satildeo mais
seletivos eles pegam valores maiores natildeo eacute
qualquer empreacutestimo que ele pega eacute mais para
investimento mesmo ou pra sair de alguma coisardquo
19
Aacutercia ldquoEntatildeo assim muitas vezes as pessoas natildeo vem
com o conhecimento financeiro real eles querem
o imediato querem o empreacutestimo naquele
momento Muita gente natildeo tem a noccedilatildeo de como
vai ficar aquilordquo
Antocircnio ldquoEntatildeo no puacuteblico de menor renda esse
discernimento eacute menos eles olham mais se a
parcela cabe no bolso deles do que no montante
de juros que eles vatildeo pagar no finalrdquo
Fonte Dados da pesquisa
Diante destes dois perfis de consumidores vulneraacuteveis os analfabetos e os com baixa
instruccedilatildeo pode-se verificar por meio das gravaccedilotildees que tanto as pessoas analfabetas e as com
baixa instruccedilatildeo natildeo possuem compreensatildeo suficiente para realizar uma contrataccedilatildeo de creacutedito
A entrevistada Marcela afirma que vender para esse determinado tipo puacuteblico facilitava pelo
fato da falta de conhecimento financeiro
Outra situaccedilatildeo comentada durante a gravaccedilatildeo das entrevistas foi sobre as parcelas dos
empreacutestimos os bancaacuterios e os estagiaacuterios induzem os clientes a dividirem em mais vezes A
entrevistada Marcela tambeacutem afirma que sempre propunha aos seus clientes dividir em
setenta e duas vezes alegando para essas pessoas que o valor iria ldquocaber no bolsordquo Mas na
verdade os bancaacuterios aproveitam do analfabetismo financeiro dos tomadores de creacutedito
visando a lucratividade das instituiccedilotildees financeiras dado que as taxas aumentam de acordo
com prazo
A partir dessa anaacutelise eacute possiacutevel perceber de forma clara as limitaccedilotildees dos idosos no
processo de compra Conforme Chertman (2011 p21) as consequecircncias da idade
ldquopotencializam a vulnerabilidade de compra pela dificuldade de comprar em escala (podendo
negociar preccedilos)rdquo De fato nota-se que a questatildeo do analfabetismo baixa instruccedilatildeo e idade
afetam na tomada de decisatildeo consciente do consumidor
42 Categoria II
421 Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
A informaccedilatildeo no momento da compra eacute essencial para que o cliente natildeo faccedila uma
escolha errocircnea quanto ao produto Em relaccedilatildeo as entrevistas realizadas foi possiacutevel inferir
que na contrataccedilatildeo de creacutedito os bancaacuterios e seus intermediaacuterios natildeo informam o valor da
taxa de juros e acabam focando nos valores das parcelas no prazo e em quantas vezes o
parcelamento ficaraacute Sendo assim os atendentes procuram natildeo informar aos consumidores
20
quanto ficaraacute o valor total do empreacutestimo ao incidirem os juros Atraveacutes do quadro abaixo
pode-se comprovar que no momento da contrataccedilatildeo do creacutedito os bancaacuterios e estagiaacuterios
omitem determinadas informaccedilotildees aos clientes
Quadro 4 - Omissatildeo de informaccedilotildees na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Ana Luiacuteza ldquoNormalmente eu natildeo falo o valor dos juros
dificilmente eu falo o valor do juros soacute falo que
ele eacute mais baixo e informo que independe do que
a aconteccedila na economia brasileira a partir do
momento que a pessoa estaacute fazendo o contrato o
juros nunca vai aumentar que aquele juros e
sempre seraacute aquelerdquo
Marcela ldquoEntatildeo na verdade o que eu aprendi no Banco X
a regra clara Eu tinha que omitir Eu natildeo
precisava mentir mas eu precisava omitir
algumas informaccedilotildees Entatildeo eu abordava o
cliente sempre eacute Buscando saber do sonho dele
para depois eu vender o empreacutestimo Eu tentava
omitir informaccedilotildees como taxas prazo de
pagamento que eram coisas que eu soacute falava se o
cliente me perguntasse Eu achava muito
tranquilo assim vender Eu natildeo tinha muita
dificuldade natildeordquo
ldquoA gente omitia o valor total que o cliente ia
pagar justamente porque se vocecirc falar ele natildeo vai
levar entatildeo eacute A gente omitia e tentava fazer o
cliente fechar a venda na hora Principalmente
quando a venda era no caixa eletrocircnico que era
muito mais faacutecil porque agraves vezes o cliente
fechava a venda ali naquele momento naquele
instante natildeo refletia muito era mais faacutecil vender e
muitas vezes eles tavam sozinho muitas vezes os
aposentados vatildeo para agecircncia sozinho natildeo
estavam acompanhados dos filhos de ningueacutemrdquo
Carlos Eduardo ldquoNo contrato fala dos juros mas eu soacute respondo
quando o cliente perguntardquo
Marcos ldquoQuando o cliente fazia por exemplo um
empreacutestimo a gente falava o valor da parcela
21
quanto que ele vai pegar quando vai descontar do
pagamento falava a taxa de juros tambeacutem mas
acabava que eles nem sabiamrdquo
ldquoSe perguntasse alguma coisa a gente falavardquo
Fonte Dados da pesquisa
Como jaacute foi dito o cliente tem como direito obter informaccedilotildees necessaacuterias do que ele
estaacute adquirindo mas quando isso natildeo ocorre pode-se dizer que estaacute ocorrendo uma omissatildeo
dos fatos O autor Silva (2009 p146) expotildee o art 14 do CDC destacando ldquoo dever de
informaccedilatildeo cuja omissatildeo caracteriza defeito do serviccedilo ensejador do dever de indenizarrdquo
Logo pode-se concluir que quando o cliente natildeo eacute alertado sobre o produto ou serviccedilo e este
causa danos o consumidor deve ser reparado
Diante do que foi explicitado acima pode-se perceber atraveacutes das gravaccedilotildees feitas
quatro entrevistados falaram que natildeo davam as informaccedilotildees necessaacuterias para os contratadores
de creacuteditos A entrevistada Marcela usa o termo ldquoomissatildeordquo ela afirma que agraves vezes era
necessaacuterio omitir para que a venda do empreacutestimo consignado fosse realizada mais
rapidamente Jaacute os demais entrevistados alegam que normalmente natildeo falam as taxas de juros
eles informam as taxas apenas se o cliente perguntar Percebe-se tambeacutem que por se tratar de
um puacuteblico mais vulneraacutevel os bancaacuteriosestagiaacuterios tinham maior facilidade em convencecirc-
los na hora da compra jaacute que grande parte desse puacuteblico natildeo possui instruccedilotildees suficientes
para adquirir esse tipo de produto
Dessa forma eacute expliacutecito que os bancaacuterios e os estagiaacuterios natildeo davam as informaccedilotildees
necessaacuterias aos seus clientes pelo fato de terem que apresentar maior lucratividade aos
bancos Uma vez que como foi relatado por Marcela a instituiccedilatildeo financeira onde trabalhava
alegava que certas informaccedilotildees deveriam ser ldquoomitidasrdquo Dessa forma pode-se evidenciar a
violaccedilatildeo do direito do consumidor
Dentre a vulnerabilidade do consumidor quanto a omissatildeo dos fatos por partes dos
bancaacuterios e seus correspondentes haacute tambeacutem outro recurso utilizado pelos fornecedores o
linguiacutestico Isto eacute satildeo termos palavras usadas que suavizam na hora da contrataccedilatildeo de
creacutedito Pode-se dizer que eacute a comunicaccedilatildeo existente entre o fornecedor e o cliente a fim de
que o primeiro consiga induzir o segundo a comprar seu produto
O marketing de vendas retrata esta relaccedilatildeo citada acima de consumidor e fornecedor
De acordo com Bernardi (2012 p75) ldquoo marketing de vendas possui uma relaccedilatildeo estreita com
o elemento do composto mercadoloacutegico denominado de promoccedilatildeo que se refere a todas as
accedilotildees relativas agrave comunicaccedilatildeo e agrave venda dos produtos de uma organizaccedilatildeordquo
22
Atraveacutes dessa relaccedilatildeo construiacuteda pela comunicaccedilatildeo pode-se verificar por parte das
entrevistas que os bancaacuterios e os estagiaacuterios utilizam de recursos linguiacutesticos para convencer o
cliente a comprar tal produto Isto eacute estes tinham certo cuidado na maneira de falar para que
os clientes se sentissem agrave vontade e consequentemente efetivar a venda do produto
A comunicaccedilatildeo exerce influecircncia na venda de um produto ou seja esse diaacutelogo entre
cliente e fornecedor facilita a compra de um produto por parte do consumidor O autor
Bernardi (2012 p77) acresce o termo merchandising este eacute visto como um dos principais
meacutetodos de marketing associado agrave venda
Eacute um termo que pode ser usado como instrumento de comunicaccedilatildeo que apresenta o
produto ao consumidor e favorece a sua compra Merchandising no entanto eacute criar
um cenaacuterio de um produto serviccedilo ou marca de forma casual Os principais
conceitos do merchandising estatildeo voltados agrave boa estrateacutegia de comunicaccedilatildeo no
ponto de venda pois visa destacar o produto ou serviccedilo buscando assim motivar as
compras por impulso jaacute que possui uma comunicaccedilatildeo muito proacutexima agrave venda
Logo compreende-se que o merchandising eacute uma ferramenta que aproxima o cliente e
o fornecedor atraveacutes da comunicaccedilatildeo
Como jaacute foi mencionado anteriormente a forma de comunicar exerce uma forte
influecircncia no ato da compra Todavia atraveacutes das entrevistas pode-se notar certa preocupaccedilatildeo
em como abordar o cliente ou seja a forma de dialogar com seus clientes Percebeu-se entatildeo
que determinadas palavras eram trocadas por outras como por exemplo o termo
ldquoempreacutestimordquo muitas vezes era substituiacutedo pelo termo ldquodinheirinhordquo ou creacutedito A partir do
quadro abaixo pode-se concluir que a forma de falar eacute utilizada como um artifiacutecio na hora da
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado
23
43 Categoria III
431 Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por se tratar de um puacuteblico de idade com baixo grau de instruccedilatildeo ou ateacute mesmo analfabetos
os bancaacuterios estagiaacuterios se beneficiam dessa relaccedilatildeo A forma de falar induz os consumidores
de serviccedilos financeiros a adquirirem certo produto O Quadro 5 apresenta as respostas
referentes agrave forma de falar dos intermediaacuterios bancaacuterios
Quadro 5- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Marcela ldquoAcredito que para vender esse tipo de produto que eacute
um produto difiacutecil que as pessoas agraves vezes quando
vocecirc fala ldquoempreacutestimordquo a pessoa fica com o peacute atraacutes
entatildeo tem que ser assim Coisas que a gente natildeo usa eacute
falar empreacutestimo natildeo existe no banco entendeu Eacute
um dinheirinho suavizar realmente a expressatildeo
empreacutestimo porque quando vocecirc fala a expressatildeo
empreacutestimo as pessoas se fechamrdquo
ldquoMuitas vezes eles natildeo entendiam o que vocecirc estava
falando entatildeo Ah fulano vocecirc tem um dinheirinho
aqui disponiacutevel para vocecirc pegar aiacute eles perguntavam
Mas vocecirc estaacute me dando esse dinheirordquo
Marcos ldquoOutra coisa o termo empreacutestimo o pessoal mesmo
falava que era uma coisa muito pesada de se dizer a
maioria das pessoas natildeo vecirc com bons olhos entatildeo a
gente falava um dinheirinho pro cliente pois ameniza
um pouco o termo Querendo ou natildeo o modo de falar
influencia um poucordquo
Daniel ldquoEu por exemplo falo creacutedito porque eu tocirc
conversando com o cliente e ele vecirc que tem outras
pessoas em volta agraves vezes eu falar empreacutestimo ele
pode ficar um pouco chateado daquilo nem todo
mundo gosta de ir no banco pra pegar empreacutestimo
gosta de ir laacute para sacar dinheiro Eu prefiro trabalhar
com a palavra creacutedito rdquo
Antocircnio ldquoGeralmente a gente utiliza o termo creacutedito vocecirc tem
um creacutedito aprovado Porque agraves vezes a pessoa tem
ateacute medo resistecircncia em empreacutestimo Geralmente a
24
gente fala que vocecirc tem um creacutedito aprovado e aiacute a
gente fala em qual linha a pessoa tem creacutedito
pessoal financiamento para veiacuteculos financiamento
imobiliaacuterio consignado que eacute o creacutedito que vem da
folha de pagamento Entatildeo a gente normalmente
oferta creacutedito ldquo
Fonte Dados da pesquisa
Conforme alguns entrevistados esses natildeo utilizam o termo correto que eacute ldquoempreacutestimo
consignadordquo Nas gravaccedilotildees os bancaacuterios e seus correspondentes alegam que os clientes tecircm
eacute um ldquodinheirinhordquo disponiacutevel para pegarem no banco Outros afirmam que o vocaacutebulo
empregado por eles eacute o ldquocreacuteditordquo pois ameniza um pouco o termo Este possui o mesmo
significado do primeiro mas para muitos o termo quer dizer credibilidade ldquocreacutedito na praccedilardquo
apesar de ser sinocircnimo do vocaacutebulo ldquoempreacutestimordquo essa palavra soa de forma positiva
Ao verificar a forma de comunicaccedilatildeo com os clientes do empreacutestimo consignado
pode-se perceber que essa substituiccedilatildeo de ldquopalavrasrdquo ocorre com o intuito amenizar o termo
ldquoempreacutestimordquo visto que por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel as pessoas assustam quando
pronunciam a palavra empreacutestimo Para muitos esse termo soa de forma negativa como
pessoas que possuem desorganizaccedilatildeo financeira ou inadimplecircncia Por este fato tanto os
bancaacuterios quanto os estagiaacuterios procuram utilizar vocaacutebulos que suavizem e que soem de uma
forma positiva para o cliente Sendo assim a forma de se comunicar pode alterar a venda de
determinado produto ofertado Mas essa forma de suavizar os termos empregados durante a
venda do serviccedilo financeiro fora de certos limites eacutetico-legais pode ser vista como uma
espeacutecie de ldquoomissatildeordquo do que realmente esses tomadores de creacutedito estatildeo comprando Pois
como jaacute foi retratado de acordo com o CDC os termos devem ser informados de forma clara
ao cliente
Podemos exemplificar de acordo com um entrevistado que afirma utilizar o termo
ldquodinheirinhordquo por ser mais faacutecil dos aposentados e pensionistas entenderem jaacute que muitos
desses clientes possuiacuteam dificuldades sobre o que de fato estavam comprando Aleacutem disso o
bancaacuterio acredita que modo de falar pode alterar a execuccedilatildeo da venda
Tendo em vista os aspectos observados tanto o artifiacutecio linguiacutestico quanto a omissatildeo
das informaccedilotildees pelos bancaacuteriosestagiaacuterios possui objetivos em comum pelas instituiccedilotildees
financeiras na qual visam a obtenccedilatildeo de maiores lucros para essas empresas Aleacutem disso os
bancos satildeo os maiores beneficiados pois natildeo levam em consideraccedilatildeo a isonomia das relaccedilotildees
entre consumidor e fornecedor Portanto conclui-se que em meio a essa relaccedilatildeo o consumidor
eacute parte mais fraca onde seus direitos satildeo violados pelos fornecedores de creacutedito
25
5 CONCLUSAtildeO
O creacutedito consignado eacute um tipo de empreacutestimo recente que vem sendo utilizado com
maior frequecircncia por um determinado puacuteblico (LOPES et al2014) Com isso as instituiccedilotildees
bancaacuterias estatildeo apresentando certo interesse sobre esse ldquonovordquo tipo de puacuteblico em ascensatildeo
Os intermediaacuterios bancaacuterios vecircm buscando formas para atrair os idosos seja atraveacutes das
facilidades da obtenccedilatildeo do creacutedito ou ateacute mesmo no modo de comunicar utilizando de
artifiacutecios de linguagem Em suma os bancos utilizam de praacuteticas de marketing tensionados a
obter vantagens sobre esses consumidores De acordo com o Coacutedigo de Consumidor (CDC)
estes satildeo considerados como vulneraacuteveis
Perante o estudo notou-se que a vulnerabilidade do idoso eacute agravada jaacute que
enquadram como consumidores hipervulneraacuteveis Essa vulnerabilidade acontece atraveacutes das
relaccedilotildees de consumo onde os fornecedores do empreacutestimo tiram proveito do estado em que
esses consumidores se encontram Para que estes cidadatildeos hipervulneraacuteveis sejam amparados
haacute o Estatuto do idoso e Coacutedigo do Consumidor ambos dispotildeem de normas que regem a
relaccedilatildeo entre consumidor-fornecedor Deve-se ressaltar que apesar da existecircncia das
legislaccedilotildees os bancos continuam praticando ldquoexcessosrdquo com os consumidores no momento da
contrataccedilatildeo do creacutedito Eacute relevante a imposiccedilatildeo do Estado visando inibir a lesatildeo do direito
sendo especificado ao idoso
Logo atraveacutes dos resultados da pesquisa pode-se concluir que essa vulnerabilidade
acentuada ocorre atraveacutes de fatores como idade baixa escolaridade e baixo grau de instruccedilatildeo
que interferem nas relaccedilotildees consumeristas isto eacute os contratadores de creacutedito consignado natildeo
possuem domiacutenio para realizar uma compra consciente Sendo assim os consumidores
apresentam limitaccedilotildees sobre o serviccedilo financeiro na qual estaacute adquirindo A partir da anaacutelise
foi possiacutevel verificar atraveacutes dos entrevistados que o puacuteblico idoso natildeo possuiacutea conhecimento
sobre as taxas juros que incidiam sobre as parcelas Aleacutem disso os bancaacuterios afirmavam que
iriam dividir em mais pagamentos para natildeo atrapalhar no orccedilamento mensal do consumidor
Por conseguinte aspectos como estes facilitavam a induzir os idosos a adquirem o creacutedito
mostrando a estes o quatildeo era vantajoso o produto oferecido
Tambeacutem deve-se ressaltar que por se tratar de um puacuteblico com baixo grau de instruccedilatildeo
e alguns analfabetos tanto os bancaacuterios quanto os estagiaacuterios omitiam informaccedilotildees bem
como tambeacutem utilizavam os recursos linguiacutesticos Estas duas formas contribuiacuteram para que as
vendas fossem efetuadas de uma maneira mais raacutepida Uma vez que a forma de falar ou a
26
omissatildeo influenciavam aos idosos comprarem o produto de uma forma irrefletida visto que
esses consumidores acreditavam no que estava sendo falado por parte do fornecedor
Portanto diante da fragilidade do consumidor em questatildeo eacute perceptiacutevel que na
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado boa parte dos idosos muitas vezes natildeo estatildeo acompanhados
por nenhum membro da famiacutelia Desta maneira para os bancaacuteriosestagiaacuterios a forma de
abordar o cliente fica mais acessiacutevel ainda mais por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel com
pouco grau de instruccedilatildeo ou conhecimento Logo situaccedilotildees como estas contribuem para os
fornecedores tirarem proveito do puacuteblico idoso Outro fato que deve ser destacado eacute a
presenccedila do Estado incentivando programas de alfabetizaccedilatildeo financeira independente do fator
idade para que a sociedade no geral saiba ter consciecircncia clareza sobre as relaccedilotildees de
consumo
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29
APEcircNDICE A
Roteiro de Entrevista qualitativa aplicada aos bancaacuterios e seus correspondentes
1 Idade
2 Formaccedilatildeo acadecircmica ( ) Ensino Meacutedio
( ) Superior
3 Haacute quanto tempo vocecirc trabalha ou jaacute trabalhou vendendo serviccedilos financeiros Em
qual cidade Descreva os serviccedilos financeiros que vocecirc mais estava habituado a
venda
4 Fale um pouco sobre as atividades que vocecirc realizava dentro da empresa Me conte
como era o seu dia a dia como era o processo de venda Da captaccedilatildeo do cliente ao
fechamento do contrato ou da venda do serviccedilo DEcirc EXEMPLOS
5 Quais produtos financeiros vocecirc estava ou estaacute mais habituado a vender
Creacutedito consignado creacutedito pessoal seguros empreacutestimos financiamentos
Qual vocecirc eacute mais estimulado a fazer
Tem diferenccedila na venda desses produtos
A abordagem ao cliente muda Quais satildeo mais diferentes
Vocecirc pode descrever para mim cada um deles por favor
Quais produtos satildeo os mais procurados
6 Qual eacute o tipo de puacuteblico que busca pelo empreacutestimo Descreva para mim as
caracteriacutesticas que vocecirc julga como mais marcantes Geralmente satildeo pessoas de que
faixa etaacuteria Satildeo pessoas de classe baixa meacutedia ou alta Satildeo pessoas instruiacutedas
7 Essas pessoas possuem um esclarecimento sobre o que seria esse tipo creacutedito
Compreendem as vantagens e as desvantagens relacionadas ao serviccedilo O que vocecirc
acha disso
8 No momento da contrataccedilatildeo de creacutedito o que eacute falado Como se daacute Todos os temos
do contrato ficam claros Vocecircs bancaacuterios explicitam o que estaacute no contrato Haacute
30
alguma avaliaccedilatildeo criteriosa do perfil do cliente de suas condiccedilotildees financeiras
9 O que vocecirc jaacute verificou por parte das pessoas que tomam esse creacutedito Qual seria os
maiores motivos para a procura do creacutedito consignado
10 Quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito vocecirc concorda com as vantagens oferecidas no
contrato ou acredita que algo deveria ser alterado O que vocecirc natildeo estaria de acordo
11 Qual o limite de desconto mensal da folha de pagamento do trabalhador o banco
oferece Por algum momento o banco excedeu o valor de desconto da folha Comente
essefato
12 Quanto agraves poliacuteticas bancaacuterias proposta pelos bancos para a venda de produtos
financeiros vocecirc concorda Ou algum momento jaacute discordou Discorra sobre o fato
13 Frequentemente vocecircs bancaacuterios satildeo estimulados a bater metas sobre os produtos que
vocecircs oferecem Vocecirc concorda que existe uma certa pressatildeo em vender cada vez mais
produtos Em alguma situaccedilatildeo vocecirc natildeo esteve de acordo como a forma que deveria
induzir os clientes a comprar um produto na qual vocecirc estaria oferecendo
ABSTRACT
The present study seeks to analyze the marketing practices appointed by banking
intermediaries in relation to contractors of payroll loans This type of loan has been used by
the elderly retirees and pensioners of the INSS because it presents easy access to these
public but on the other hand it is verified that in this relation of consumer and supplier the
second is the most benefited whereas the former is in a state of vulnerability The purpose of
the essay is to understand the extent to which these strategies are designed aiming to take
advantage of vulnerable consumers However because it was a descriptive research it was
possible to actualize a field research through interviews made with seven bankers and three
interns from the regions of Mariana Ouro Preto and Itabirito The results indicated that the
consumers of payroll loans are attracted by bankers and interns through techniques such as
language artifices that is they modify the way of communicating to practise a strong
influence on the time of purchase Another aspect is the omission of informations since the
customer does not have sufficient information about which product he is hiring In addition to
that the elderly public that uses the payroll loan are characterized as hypervulnerable
consumers since circumstances such as age level of formal education and illiteracy brings
the degree of vulnerability This way financial institutions tend to persuade and influence the
elderly consumer in consumer relations seeking to stimulate higher sales in the contracting of
payroll
KEY WORDS
Banking Intermediary Payroll loans Vulnerable Consumer Hypervulnerable Consumers
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 7
2 REVISAtildeO DE LITERATURA 9
21 Creacutedito Consignado 9
22 Consumidor (Hiper) Vulneraacutevel e o Coacutedigo de Defesa do Consumidor 10
221 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal como fator de
vulnerabilidade 12
3 METODOLOGIA 13
31 Descriccedilatildeo da Amostra 15
4 ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 17
41 Categoria I 17
411 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos serviccedilos
financeiros 17
42 Categoria II 19
421 Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito 19
43 Categoria III 23
431 Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito 23
5 CONCLUSAtildeO 25
REFEREcircNCIAS 26
APEcircNDICE A 29
7
1 INTRODUCcedilAtildeO
No cenaacuterio brasileiro o termo creacutedito teve notoriedade somente apoacutes 1994 com a
alteraccedilatildeo do Plano Real Posteriormente a esse periacuteodo notou-se que uma parcela da
populaccedilatildeo brasileira estava sendo excluiacuteda do sistema financeiro de creacuteditos A partir desse
momento surge a preocupaccedilatildeo de dar acesso ao creacutedito agraves classes mais desfavorecidas na
qual as famiacutelias mais pobres deveriam ser incluiacutedas no mercado de creacutedito (BERTONCELLO
e LIMA 2008)
De acordo com Bertoncello e Lima (2008) o governo Lula proporcionou uma poliacutetica
de estiacutemulo ao creacutedito popular isto eacute motivou o consumo da populaccedilatildeo de baixa renda Os
aposentados tambeacutem tiveram notoriedade nesse momento econocircmico Conforme o autor estes
estavam sendo seduzidos por publicidade veiculada aos meios de comunicaccedilatildeo como tambeacutem
estavam sendo assediados por agenciadores e correspondentes dos bancos
Conforme Cavalcante (2015) essa maior notoriedade da terceira idade no mercado de
creacutedito eacute em razatildeo do aumento da populaccedilatildeo idosa e a maior expectativa de vida aleacutem disso
esse puacuteblico contabiliza 16 milhotildees de idosos que utilizam do creacutedito consignado Mas o que
seria o empreacutestimo consignado
O creacutedito consignado surgiu no contexto explicitado acima esse tipo de creacutedito eacute
definido como um empreacutestimo disponibilizado para pessoas fiacutesicas onde o valor das parcelas
eacute descontado diretamente na folha de pagamento as pessoas que utilizam desse creacutedito satildeo
idosos aposentados e pensionistas do INSS Aleacutem disso essa operaccedilatildeo eacute realizada por
intermediaacuterios bancaacuterios (COSTA 2014)
Os autores Barone e Sader (2008 p1258) definem o esse tipo de creacutedito como
ldquoum tipo de creacutedito oferecido para os empregados do setor formal eou aposentados
e pensionistas do INSS com baixas taxas de juros (bem menores que as praticadas
para empreacutestimo pessoal no mercado) em que as prestaccedilotildees satildeo descontadas
diretamente de seus salaacuterios eou aposentadorias e pensotildeesrdquo
Segundo os autores retrocitados o programa de empreacutestimo a esse tipo de puacuteblico
com consignaccedilatildeo foi autorizado pela Lei ndeg 10820 sendo publicada no Diaacuterio Oficial da
Uniatildeo em dezembro de 2003 As primeiras operaccedilotildees foram realizadas em maio de 2004
inicialmente pela Caixa Econocircmica Federal
Pode-se perceber o estiacutemulo da concessatildeo do creacutedito consignado esse estiacutemulo ao
creacutedito ocorre por meio de estrateacutegias de marketing De acordo com Bertoncello e Lima
(2008) as estrateacutegias utilizadas pelas instituiccedilotildees financeiras possuem argumentos
convincentes isto eacute creacutedito faacutecil e raacutepido sem consultas agraves entidades de proteccedilatildeo ao creacutedito
8
acessiacutevel a quem tem restriccedilotildees creditiacutecias e prazos maiores para pagamento Contudo eacute
dessa forma que os bancos visam atrair atuais e futuros consumidores do creacutedito consignado
Atraveacutes da concessatildeo do empreacutestimo consignado surge a relaccedilatildeo de consumo entre os
intermediaacuterios bancaacuterios (fornecedores) e os tomadores de creacutedito consignado
(consumidores) Nessa relaccedilatildeo pode-se dizer que os consumidores satildeo vistos como
vulneraacuteveis Conforme Chertman (2011) o consumidor vulneraacutevel eacute fraacutegil pois natildeo conhece
todas as informaccedilotildees existentes num processo de compra Sendo assim os fornecedores tiram
vantagens na contrataccedilatildeo de um produto ou serviccedilo
Logo pode-se inferir que os fornecedores do empreacutestimo consignado detecircm maiores
informaccedilotildees sobre o serviccedilo oferecido desta maneira os consumidores do empreacutestimo satildeo
considerados a parte mais fraca da relaccedilatildeo jaacute que natildeo possuem na maior parte das vezes
informaccedilatildeo necessaacuteria para uma segura contrataccedilatildeo do creacutedito
Visando mitigar tais problemas ou oferecer apoio a parte vulneraacutevel na relaccedilatildeo de
consumo foi criado o CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) Ele busca reduzir os
problemas existentes entre o fornecedor-consumidor uma vez que os consumidores
necessitam de proteccedilatildeo em especial aqueles chamados (hiper)vulneraacuteveis
Desse modo a vulnerabilidade do consumidor quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito seraacute o
assunto principal abordado ao longo deste trabalho Mais especificamente esta proposta de
pesquisa buscou analisar possiacuteveis accedilotildees de marketing de instituiccedilotildees financeiras e seus
intermediaacuterios que de alguma forma se aproveitam da fragilidade do consumidor de serviccedilos
financeiros O tema em questatildeo eacute multifacetado isto eacute percebe-se que o puacuteblico ao adquirir
um produto ou serviccedilo acaba sendo influenciado pelos bancaacuterios e seus equivalentes estes satildeo
pressionados e induzidos pelas instituiccedilotildees financeiras a utilizarem de praacuteticas de marketing
para efetuaccedilatildeo de maiores nuacutemeros de vendas do creacutedito consignado Logo eacute possiacutevel
concluir que os bancos estatildeo compreendendo que esse tipo de puacuteblico idosos aposentados e
pensionistas pode ser responsaacutevel pela expansatildeo dos negoacutecios bancaacuterios (BUAES 2015)
Por conseguinte este estudo eacute relevante para que a sociedade possa entender e
compreender o efeito que as estrateacutegias de marketing exercem sobre as suas escolhas Aleacutem
disso pode-se salientar conforme Buaes (2015) que a educaccedilatildeo financeira eacute significativa
para a equidade da relaccedilatildeo entre consumidor e fornecedor onde o primeiro possa agir com
discernimento e conhecimento sobre suas atitudes Mas para que esse cenaacuterio se modifique
haacute a necessidade de uma maior atenccedilatildeo a esse tema por parte do governo dando importacircncia
agraves praacuteticas educativas voltadas para alfabetizaccedilatildeo financeira
9
Em virtude dos fatos mencionados acima pode-se indagar Ateacute que ponto agraves praacuteticas
de Marketing dos bancos satildeo desenhadas visando tirar proveito da vulnerabilidade dos
consumidores de serviccedilos financeiros Deste modo tem-se por objetivo geral analisar esse
problema enfrentado pela sociedade desfavorecida Aleacutem disso busca-se explicar as
caracteriacutesticas desses consumidores bem como buscar evidecircncias na qual os bancos se
aproveitam dessa vulnerabilidade
2 REVISAtildeO DE LITERATURA
21 Creacutedito consignado
A expansatildeo do creacutedito no Brasil foi fomentada nos uacuteltimos 10 anos provocando um
aumento na demanda por tal serviccedilo financeiro e consequentemente um aumento do
endividamento das classes menos favorecidas (SBICCA FLORIANI JUK 2012) Por outro
lado o maior acesso ao creacutedito pela populaccedilatildeo acarretou um aumento no consumo bens e
serviccedilos jaacute que as classes desfavorecidas comeccedilaram a ter maior participaccedilatildeo na economia
Com relaccedilatildeo ao cenaacuterio brasileiro a economia do paiacutes se expandiu fortemente no
periacuteodo compreendido entre os anos de 2004 e 2007 provocando relevante impacto sobre a
ampliaccedilatildeo do creacutedito bancaacuterio Dentre os serviccedilos que contribuiacuteram para a ampliaccedilatildeo do
creacutedito bancaacuterio podemos destacar a criaccedilatildeo do empreacutestimo consignado que por sua vez
ajudou a estimular o ambiente econocircmico (ARAUacuteJO 2012) Ainda segundo Arauacutejo (2012) a
introduccedilatildeo do creacutedito consignado foi autorizada atraveacutes da Medida Provisoacuteria nordm130 de
setembro de 2003 convertida na Lei nordm 10820 logo no mecircs de dezembro
O creacutedito consignado eacute um empreacutestimo realizado pelos intermediaacuterios bancaacuterios onde
as parcelas satildeo descontadas diretamente na folha de pagamento do tomador do empreacutestimo
Aleacutem disso deve-se salientar que o desconto maacuteximo na folha para operaccedilotildees desta natureza
eacute de ateacute 30 do valor da remuneraccedilatildeo ou benefiacutecio previsto na Lei Nordm10820 de 17 de
dezembro de 2003
Gonccedilalves e Saacute (2013 p08) explicitam quem satildeo os principais consumidores do
serviccedilo financeiro de empreacutestimo consignado descrevendo como ldquoo puacuteblico alvo da
modalidade de consignados satildeo as pessoas idosas beneficiaacuterios da Previdecircncia Social quer
aposentados quer pensionistasrdquo
Os contratadores de creacutedito consignado geralmente satildeo idosos pessoas de baixa renda
e baixa escolaridade Os consumidores dessa modalidade de serviccedilo financeiro satildeo geralmente
atraiacutedos pelas instituiccedilotildees financeiras que costumam apresentar serviccedilos ldquovantajososrdquo como
10
juros mensais inferiores aos do mercado tradicional e a natildeo necessidade de avalista haja vista
que o risco do negoacutecio eacute pequeno para o fornecedor jaacute que o valor retido eacute descontado na
fonte o que reduz os riscos de inadimplecircncia
A facilidade que os consumidores tecircm de adquirir dinheiro via creacutedito consignado e
dos bancos realizarem tais operaccedilotildees de baixiacutessimo risco faz com que os bancos tirem
vantagem na contrataccedilatildeo do creacutedito consignado Visto que os idosos ao contratarem esse tipo
de creacutedito desconhecem a quantidade de parcelas e o periacuteodo que levaratildeo para quitaacute-las
Aleacutem disso estes natildeo compreendem qual o valor dos juros mensal preocupam-se apenas com
o valor da parcela a ser liquidada (GONCcedilALVES SAacute 2013)
22 Consumidor (Hiper) Vulneraacutevel e o Coacutedigo de Defesa do Consumidor
O termo vulnerabilidade estaacute relacionado com as relaccedilotildees de consumo na aquisiccedilatildeo de
um bem Desta maneira pode-se definir o termo como uma incapacidade ou fragilidade no
ato do consumo Ou seja essa vulnerabilidade do consumo traz como consequecircncia situaccedilotildees
em que os consumidores se enganam erram ou desconhecem todas as informaccedilotildees que
existem num processo de compra Logo a vulnerabilidade do consumidor faz com que os
fornecedores tirem vantagens na contrataccedilatildeo de um produto ou serviccedilo Isto eacute os fornecedores
omitem certas informaccedilotildees sobre os produtos aos clientes (CHERTMAN 2011)
Na contrataccedilatildeo do creacutedito consignado deve-se ressaltar diante do exposto acima que
os tomadores de creacutedito estatildeo em desvantagem com relaccedilatildeo aos fornecedores desse serviccedilo jaacute
que as instituiccedilotildees natildeo transferem as informaccedilotildees necessaacuterias quando esses consumidores
estatildeo obtendo o serviccedilo Segundo Barbosa (2002 p4)
O consumidor eacute a parte mais fraca nas relaccedilotildees de consumo Por isso tem ele direito
agrave boa informaccedilatildeo sobre os produtos e serviccedilos que recebe e quanto aos contratos que
assina Tem tambeacutem direito de ser protegido quando se dirige ao Poder Judiciaacuterio
podendo o Juiz determinar medidas para assegurar os seus direitos no tocante agraves
soluccedilotildees alternativas que a Justiccedila pode encontrar para dar - ao Consumidor - o
resultado equivalente ao do adimplemento das obrigaccedilotildees do fornecedor
Nessa relaccedilatildeo onde o fornecedor ganha vantagem sobre o consumidor de creacutedito
consignado o segundo tem direito a ser amparado no acircmbito judiciaacuterio atraveacutes do Coacutedigo de
Defesa do Consumidor De acordo com o CDC no artigo 4 da Lei ndeg 8078 (BRASIL 1990)
pode-se afirmar que todos os consumidores satildeo vulneraacuteveis
Conforme Pfeiffer (2010) o Coacutedigo de Defesa do Consumidor preocupa-se com a
isonomia na relaccedilatildeo de consumo reconhecendo a vulnerabilidade do consumidor Dessa
forma atraveacutes das normas estabelecidas pelo CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) os
consumidores possuem amparo seguranccedila e proteccedilatildeo na contrataccedilatildeo de um bem ou serviccedilo
11
Com relaccedilatildeo ao CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) um aspecto que deve ser
ressaltado dentro desse coacutedigo eacute o direito agrave informaccedilatildeo De acordo com Tribunal de Justiccedila do
Distrito Federal e dos Territoacuterios (2016)
O direito agrave informaccedilatildeo eacute direito baacutesico do consumidor e visa assegurar ao mesmo
tempo uma escolha consciente permitindo que suas expectativas em relaccedilatildeo ao
produto ou ao serviccedilo sejam de fato atingidas manifestando o que vem sendo
denominado de consentimento informado ou vontade qualificada
Em outras palavras o consumidor ao adquirir um bem ou produto tem como direito a
informaccedilatildeo necessaacuteria para que faccedila uma compra consciente isto eacute o consumidor deve ter
clareza das condiccedilotildees favoraacuteveis e desfavoraacuteveis do produto Dessa forma eacute relevante que o
fornecedor na hora da compra informe para o cliente o que eacute de fato o seu produto natildeo
omitindo informaccedilotildees que prejudique o consumidor na hora da compra
O artigo 6ordm da Lei nordm 8078 incIII (BRASIL 1990) que retrata o CDC apresenta os
direitos baacutesicos do consumidor dentre eles pode-se destacar o direito ldquoa informaccedilatildeo adequada
e clara sobre os diferentes produtos e serviccedilos com especificaccedilatildeo correta de quantidade
caracteriacutesticas composiccedilatildeo qualidade tributos incidentes e preccedilo bem como sobre os riscos
que apresentamrdquo
Aleacutem da vulnerabilidade do consumidor ser defendida no CDC (Coacutedigo de Defesa do
Consumidor) os idosos contam com a proteccedilatildeo do Estatuto do idoso prevista em Lei nordm
1074103 (BRASIL 2003) no artigo 20 eacute possiacutevel inferir que ldquoo idoso tem direito a
educaccedilatildeo cultura esporte lazer diversotildees espetaacuteculos produtos e serviccedilos que respeitem
sua peculiar condiccedilatildeo de idaderdquo Desse modo para assegurar os direitos do consumidor idoso
eacute importante que o fornecedor seja claro com esse tipo de puacuteblico visando facilitar as
relaccedilotildees consumeristas
Quando a vulnerabilidade do consumidor eacute agravada ou possui condiccedilotildees para uma
maior fragilidade nas relaccedilotildees de consumo podemos definir que este consumidor eacute
hipervulneraacutevel De acordo com Meire e Alves (2016) circunstacircncias como fator idade
conhecimento ou condiccedilatildeo social afetam no grau da vulnerabilidade isto eacute os idosos por
exemplo estatildeo mais propensos a se enquadrar no estado de hipervulnerabilidade
Os autores Rosa Bernardes e Feacutelix (2017 p548) afirmam que
[] fatores tais quais idade avanccedilada ou reduzida situaccedilatildeo de enfermidade e outros
mais que importem fragilizaccedilatildeo e vulnerabilidade do consumidor em niacutevel maior
que o comum na exposiccedilatildeo ao produto ou serviccedilo oferecido pelo fornecedor
ocasionam um grau intensificado de inferioridade na relaccedilatildeo de consumo e assim
configuram um tipo de vulnerabilidade mais grave ao que se convencionou chamar
hipervulnerabilidade
12
Conforme o exposto relato os consumidores hipervulneraacuteveis possuem certa
fragilidade Dessa forma a abordagem dos fornecedores aos idosos eacute visando tirar proveito da
situaccedilatildeo na qual se encontram Os autores citados anteriormente destacam
O puacuteblico idoso revela-se como alvo potencial de propagandas e praacuteticas comerciais
abusivas que se aproveitam da reduzida capacidade de discernimento do idoso para
impor a contrataccedilatildeo de serviccedilos Um dos exemplos mais paradigmaacuteticos eacute a
celebraccedilatildeo de contratos de empreacutestimos consignados entre instituiccedilotildees financeiras e
consumidores idosos pois a loacutegica da sociedade de consumo visualizou lucros
certeiros com tal contrataccedilatildeo eis que via de regra idosos possuem rendimentos
mensais fixos sendo por isso a contrataccedilatildeo mais segura (ROSA BERNARDES
E FEacuteLIX 2017 p548)
Gonccedilalves e Saacute (2015) tambeacutem expotildeem a vulnerabilidade do consumidor em meio agraves
publicidades agressivas antieacuteticas onde o consumo eacute apelado utilizando um conteuacutedo forte
emotivo para atrair os consumidores agrave adquirirem determinado produtoserviccedilo
O Projeto de Lei do Senado nordm283 (BRASIL 2012) presume a alteraccedilatildeo do CDC
(BRASIL1990) visando combater essas praacuteticas de marketing com referecircncia a oferta de
creacutedito Logo esse Projeto de Lei no inciso IV do paraacutegrafo 4 recomenda que ldquoEacute vedado
expressa ou implicitamente na oferta de creacutedito ao consumidor publicitaacuteria ou natildeo [] IV ndash
ocultar por qualquer forma os ocircnus e riscos da contrataccedilatildeo de creacutedito dificultar sua
compreensatildeo ou estimular o endividamento do consumidor em especial se idoso ou
adolescenterdquo (BRASIL 2012)
Desta forma nota-se que o Coacutedigo de Defesa do Consumidor (CDC) e os estatutos
funcionam como paracircmetros para garantir a isonomia Com isso os hipervulneraacuteveis possuem
um maior amparo com relaccedilatildeo agraves praacuteticas abusivas de marketing vendas omissatildeo de
informaccedilotildees como tambeacutem as propagandas enganosas sobre o produto ou serviccedilo na qual
estatildeo contratando
221 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal como fator de vulnerabilidade
Na conjuntura atual brasileira eacute possiacutevel observar a ascensatildeo das classes populares
para as camadas meacutedias como tambeacutem o aumento de poder de compra dos idosos Logo eacute
possiacutevel perceber uma maior atenccedilatildeo dada pelas empresas a esse tipo de puacuteblico em especial
as instituiccedilotildees financeiras Esse poder de compra dos idosos fez com que as empresas
bancaacuterias estimulassem a contrataccedilatildeo de creacutedito por parte dessas pessoas em especial o
creacutedito consignado (BUAES 2015) Atraveacutes disso pode-se indagar Por que o interesse dos
bancos nesse puacuteblico
13
Conforme Buaes (2015) o aumento do poder de compra do idoso fez com que esse
puacuteblico apresentasse interesse na contrataccedilatildeo de produtos e serviccedilos financeiros visto que os
bancos apresentam certa facilidade na obtenccedilatildeo de creacuteditos Um fato destacado por Buaes
(2015) eacute a falta de percepccedilatildeo dos idosos quanto a suas limitaccedilotildees financeiras ou ateacute mesmo a
dificuldade em aceitar essa insuficiecircncia Desta maneira pode-se observar a vulnerabilidade
em duas dimensotildees neste perfil do consumidor idoso isto eacute a falta de conhecimento formal e
a anaacutelise na contrataccedilatildeo de um creacutedito
Quanto a vulnerabilidade do consumidor Chertman (2011) afirma que pode ser
identificada atraveacutes de caracteriacutesticas natildeo observaacuteveis o que eacute o caso do analfabetismo
Entende-se por analfabeto a pessoa com a incapacidade da linguagem de forma geral seja na
leitura intepretaccedilatildeo compreensatildeo e na produccedilatildeo de conhecimento Logo o analfabetismo
possibilita o indiviacuteduo tornar-se um consumidor vulneraacutevel
Aleacutem da questatildeo de pessoas analfabetas tomadores de creacuteditos haacute tambeacutem o perfil de
consumidores de baixa instruccedilatildeo Essas pessoas satildeo capazes de assinar seu proacuteprio nome
quanto agrave leitura apresentam alguma dificuldade no entendimento ou necessitam de ajuda para
uma melhor compreensatildeo Esse tipo consumidor como foi dito acima tambeacutem se enquadra
como vulneraacutevel
Dado o exposto compreende-se que o analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo
formal agravam ainda mais a vulnerabilidade do consumidor em questatildeo Os idosos aleacutem de
possuiacuterem o fator idade na qual afeta a relaccedilatildeo entre consumidorfornecedor (MEIRE
ALVES 2016) apresentam tambeacutem a presenccedila dessas duas caracteriacutesticas que podem
delimitar uma escolha consciente e clara no momento da contrataccedilatildeo de um produto ou
serviccedilo
3 METODOLOGIA
O estudo foi embasado em pesquisas bibliograacuteficas online e impressas como tambeacutem
trabalhos acadecircmicos e perioacutedicos A metodologia utilizada foi qualitativa do tipo descritiva
de acordo Godoy (1995 p62) os pesquisadores de orientaccedilatildeo qualitativadescritiva executam
suas pesquisas baseadas em trabalho de campo a partir de entrevistas e observaccedilotildees aleacutem
disso os pesquisadores possuem um contato direto com o local da pesquisa e seus sujeitos
portanto eacute possiacutevel analisar dados escrever resultados obtidos e descrever o que foi dito
pelos entrevistados
14
A pesquisa de campo foi realizada atraveacutes de entrevistas semi-estruturadas
(APEcircNDICE A) sendo composta por treze questotildees discursivas Segundo Boni e Quaresma
(2005 p 75) as teacutecnicas desse tipo de entrevista
[] tecircm como vantagem a sua elasticidade quanto agrave duraccedilatildeo permitindo uma
cobertura mais profunda sobre determinados assuntos Aleacutem disso a interaccedilatildeo entre
o entrevistador e o entrevistado favorece as respostas espontacircneas Elas tambeacutem satildeo
possibilitadoras de uma abertura e proximidade maior entre entrevistador e
entrevistado o que permite ao entrevistador tocar em assuntos mais complexos e
delicados ou seja quanto menos estruturada a entrevista maior seraacute o favorecimento
de uma troca mais afetiva entre as duas partes Desse modo estes tipos de entrevista
colaboram muito na investigaccedilatildeo dos aspectos afetivos e valorativos dos informantes
que determinam significados pessoais de suas atitudes e comportamentos As
respostas espontacircneas dos entrevistados e a maior liberdade que estes tecircm podem
fazer surgir questotildees inesperadas ao entrevistador que poderatildeo ser de grande
utilidade em sua pesquisa
Em suma pode-se perceber que esse tipo de entrevista proporcionou aos entrevistados
certa autonomia em discutir sobre o tema em questatildeo Visto que no percorrer das
interlocuccedilotildees houve a possibilidade de introduzir novos assuntos sobre o estudo como
tambeacutem a exemplificaccedilatildeo de situaccedilotildees vivenciadas pelos entrevistados
Para a realizaccedilatildeo das entrevistas no presente estudo foi indispensaacutevel entrevistar um
nuacutemero de sete bancaacuterios(as) e trecircs estagiaacuterios(as) de instituiccedilotildees financeiras privadas da
cidade de Mariana Ouro Preto e Itabirito visto que cinco deles eram do sexo masculino e os
demais do sexo feminino Visando buscar nesses gecircneros perspectivas diversas sobre as
teacutecnicas utilizadas na operaccedilatildeo do empreacutestimo consignado agrave aposentados e pensionistas Estas
entrevistas realizadas tiveram duraccedilatildeo meacutedia de quinze a trinta minutos sendo que todas as
interlocuccedilotildees foram gravadas e posteriormente transcritas para entatildeo serem analisadas
Portanto as anaacutelises das respostas foram fundamentadas em anaacutelises de conteuacutedos e
posteriormente buscou-se categorizar os elementos relevantes discutidos durante as
interlocuccedilotildees
De acordo com Cavalcante Calixto e Pinheiro (2014) a anaacutelise de conteuacutedo permite a
ldquoanaacutelise do fenocircmeno em profundidade elencando as subjetividades suas relaccedilotildees bem
como interlocuccedilotildees na malha socialrdquo logo atraveacutes das entrevistas com os bancaacuterios pode-se
verificar suas percepccedilotildees
Conforme Caregnato e Mutti (2006 p 683)
A teacutecnica de anaacutelise de conteuacutedo se compotildee de trecircs grandes etapas 1) a preacute-anaacutelise
2) a exploraccedilatildeo do material 3) o tratamento dos resultados e interpretaccedilatildeo A
mencionada autora descreve a primeira etapa como a fase de organizaccedilatildeo que pode
utilizar vaacute- rios procedimentos tais como leitura flutuante hipoacuteteses objetivos e
elaboraccedilatildeo de indicadores que fundamentem a interpretaccedilatildeo Na segunda etapa os
dados satildeo codificados a partir das unidades de registro Na uacuteltima etapa se faz a
categorizaccedilatildeo que consiste na classificaccedilatildeo dos elementos segundo suas
semelhanccedilas e por diferenciaccedilatildeo com posterior reagrupamento em funccedilatildeo de
15
caracteriacutesticas comuns Portanto a codificaccedilatildeo e a categorizaccedilatildeo fazem parte da AC
As autoras afirmam que aleacutem das teacutecnicas utilizadas na anaacutelise de conteuacutedo o
pesquisador pode categorizar fragmentos do texto que se repetem atraveacutes de frases ou
expressotildees Atraveacutes disso as entrevistas realizadas com os bancaacuterios foram categorizadas da
seguinte maneira
Categoria I- O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Categoria II- Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Categoria III- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por conseguinte essas respostas foram analisadas com o intuito de verificar como os
consumidores hipervulneraacuteveis satildeo abordados pelos(as) bancaacuterios(as) e quais as praacuteticas que
as instituiccedilotildees financeiras adotam para convencer esse puacuteblico Contudo compreende-se que
por meio das entrevistas pode-se construir consideraccedilotildees em relaccedilatildeo ao objetivo da pesquisa
31 Descriccedilatildeo da Amostra
Para a anaacutelise das praacuteticas de marketing utilizadas pelos intermediaacuterios bancaacuterios
estudaram-se sete bancaacuterios(as) e trecircs estagiaacuterios(as) atuantes na concessatildeo de empreacutestimos
consignados Estes operam nas localidades de Mariana Ouro Preto e Itabirito Em vista disso
para a execuccedilatildeo da pesquisa foi relevante a realizaccedilatildeo de entrevistas a partir desse
pressuposto foi possiacutevel inferir interpretaccedilotildees diversas sobre esses sujeitos no momento da
concessatildeo do creacutedito
As interlocuccedilotildees com os bancaacuterios e seus correspondentes foram marcadas
antecipadamente via celular informando-lhes a data o local a preferir a duraccedilatildeo em meacutedia e
do que se tratava o estudo As entrevistas foram sucedidas no periacuteodo de julho a agosto de
2016 Outro aspecto a ser relatado aos entrevistados sobre o estudo foi a importacircncia destes
para pesquisa visto que o nuacutemero de informaccedilotildees fornecidas possibilitaria uma anaacutelise
satisfatoacuteria para a exploraccedilatildeo do tema O quadro a seguir resume as caracteriacutesticas da amostra
analisada
16
Quadro 1 Caracteriacutesticas da amostra analisada
Bancaacuterios Estagiaacuterios Nomes Fictiacutecios Idade Cidades
B1 Maria Claacuteudia 41 Mariana (MG)
B2 Carlos Eduardo 22 Ouro Preto (MG)
B3 Daniel 25 Ouro Preto (MG)
B4 Leandro 27 Mariana (MG)
B5 Maacutercia 34 Mariana (MG)
B6 Antocircnio 38 Mariana (MG)
B7 Camila 27 Mariana (MG)
E1 Ana Luiacuteza 25 Itabirito (MG)
E2 Marcela 22 Itabirito (MG)
E3 Marcos 24 Ouro Preto (MG)
Fonte Dados da pesquisa
Com relaccedilatildeo a populaccedilatildeo do estudo foram levantados dados buscando alcanccedilar a
quantidade aproximada de bancaacuterios e estagiaacuterios na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e
Itabirito Para a identificaccedilatildeo dos dados foi necessaacuterio entrar em contato via telefone em todas
as agecircncias privadas dessas localidades Atraveacutes do quadro abaixo pode-se concluir o nuacutemero
da populaccedilatildeo desse puacuteblico
Quadro 2 Quantidade da populaccedilatildeo de bancaacuterios e estagiaacuterios
Localidade Bancaacuterios Estagiaacuterios
Mariana 55 3
Ouro Preto 63 3
Itabirito 52 8
TOTAL 170 14
Fonte Dados da pesquisa
Em suma a pesquisa de campo foi desenvolvida nessas localidades visto que esses
municiacutepios possuem um nuacutemero representativo de idosos puacuteblico alvo das instituiccedilotildees
financeiras De acordo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2010) a cidade de
Mariana conta com proximamente 5200 idosos jaacute Ouro Preto possui cerca de 7994 idosos e
Itabirito dispotildee em meacutedia 4998 idosos Por conseguinte surge a iniciativa de analisar os perfis
dos bancaacuterios visando compreender as praacuteticas que estes utilizam para alcanccedilar um maior nuacutemero
de idosos para efetivar a contrataccedilatildeo do creacutedito
17
4 ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
Como explicitado anteriormente a vulnerabilidade do consumidor existe a partir da
relaccedilatildeo entre empresa e cliente E considerando todas as peculiaridades e caracteriacutesticas que
fazem do consumidor de serviccedilos financeiros um consumidor vulneraacutevel esta seccedilatildeo do texto
tem por propoacutesito retratar por meio da apresentaccedilatildeo e anaacutelise dos dados extraiacutedos das
entrevistas realizadas ao longo deste estudo a forma como os bancaacuterios e seus
correspondentes operam na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e Itabirito especialmente no que se
refere ao modo como oferecem e conduzem as negociaccedilotildees de serviccedilos financeiros Quanto agrave
anaacutelise dos resultados o estudo utilizou a categorizaccedilatildeo dos discursos dos entrevistados em I
II III Logo as categorias baseiam-se em fragmentos das interlocuccedilotildees aspectos recorrentes
mencionados pelos bancaacuterios
A seguir satildeo apresentados trechos das falas dos dez respondentes que participaram
desta pesquisa Tais falas foram gravadas durante as entrevistas Os nomes adotados a seguir
para marcar que os trechos transcritos satildeo de falas de diferentes entrevistados satildeo fictiacutecios
Todas as entrevistas foram transcritas respeitando integralmente a linguagem e sinais
transmitidos por cada entrevistado
41 Categoria I
411 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos serviccedilos
financeiros
O analfabetismo e falta de instruccedilatildeo impactam no momento da contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros visto que esse tipo de puacuteblico eacute persuadido pelos bancaacuterios a tomar
determinadas decisotildees pois este natildeo possui informaccedilotildees necessaacuterias sobre o que seria esse
creacutedito o qual estaacute contratando Atraveacutes dos trechos das entrevistas foi possiacutevel identificar
que os bancaacuterios estagiaacuterios influenciam na hora da aquisiccedilatildeo do serviccedilo ateacute mesmo nas
formas como os clientes iratildeo pagar o empreacutestimo O quadro abaixo apresenta trechos da
entrevista que demonstram a falta de conhecimento financeiro dos consumidores do
empreacutestimo consignado
18
Quadro 3 - O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Entrevistados Trechos da entrevista
Maria Claacuteudia ldquoTem muita gente eacute Natildeo tatildeo instruiacuteda gente mais
simples Bom existem vaacuterias pessoas que pegam
aqui com a gente que satildeo analfabetas entendeurdquo
Ana Luiacuteza ldquoMuitas pessoas natildeo satildeo instruiacutedas poucas
pessoas sabem assinar seu proacuteprio nome mas
existem pessoas alfabetizadas simrdquo
ldquoA maioria acredito que natildeo tenha uma noccedilatildeo
esclarecimento ateacute porque quanto mais vezes vocecirc
dividir mais juros incidem e eacute melhor para o
bancordquo
Marcela ldquoEu acho que a grande maioria tinha um grau de
instruccedilatildeo reduzido e isso facilitava na hora de
vender neacuterdquo
ldquoEntatildeo a gente sempre tentava colocar de setenta
e duas vezes ou setenta e cinco satildeo seis anos de
consignado Entatildeo quanto maior o prazo maior a
taxa de juros Agraves vezes vocecirc pegava um capital
um volume muito pequeno e virava pra pessoa e
falava assim -Natildeo Por que aiacute soacute vai descontar
soacute R$3000 reais no seu pagamento e a pessoa natildeo
tinha dimensatildeo que por a gente taacute dividindo
aquele valor pequeninho sai muito grande depois
por conta da taxa que ela aumentava de acordo
com o prazordquo
Carlos Eduardo ldquoO mais comum satildeo pessoas de baixa renda e sem
informaccedilatildeo Exemplo A maioria dos consignados
os clientes nem perguntam as taxas de juros ele
natildeo estaacute preocupado com o prazo ele estaacute
preocupado com o valor da parcela se ele vai
conseguir pagar ou natildeo e o valor que vai sobrar
pra ele vai conseguir passar o mecircsrdquo
Leandro ldquoGrande parte natildeo satildeo instruiacutedas mas eu atendo
mais alta renda entatildeo meus clientes satildeo mais
seletivos eles pegam valores maiores natildeo eacute
qualquer empreacutestimo que ele pega eacute mais para
investimento mesmo ou pra sair de alguma coisardquo
19
Aacutercia ldquoEntatildeo assim muitas vezes as pessoas natildeo vem
com o conhecimento financeiro real eles querem
o imediato querem o empreacutestimo naquele
momento Muita gente natildeo tem a noccedilatildeo de como
vai ficar aquilordquo
Antocircnio ldquoEntatildeo no puacuteblico de menor renda esse
discernimento eacute menos eles olham mais se a
parcela cabe no bolso deles do que no montante
de juros que eles vatildeo pagar no finalrdquo
Fonte Dados da pesquisa
Diante destes dois perfis de consumidores vulneraacuteveis os analfabetos e os com baixa
instruccedilatildeo pode-se verificar por meio das gravaccedilotildees que tanto as pessoas analfabetas e as com
baixa instruccedilatildeo natildeo possuem compreensatildeo suficiente para realizar uma contrataccedilatildeo de creacutedito
A entrevistada Marcela afirma que vender para esse determinado tipo puacuteblico facilitava pelo
fato da falta de conhecimento financeiro
Outra situaccedilatildeo comentada durante a gravaccedilatildeo das entrevistas foi sobre as parcelas dos
empreacutestimos os bancaacuterios e os estagiaacuterios induzem os clientes a dividirem em mais vezes A
entrevistada Marcela tambeacutem afirma que sempre propunha aos seus clientes dividir em
setenta e duas vezes alegando para essas pessoas que o valor iria ldquocaber no bolsordquo Mas na
verdade os bancaacuterios aproveitam do analfabetismo financeiro dos tomadores de creacutedito
visando a lucratividade das instituiccedilotildees financeiras dado que as taxas aumentam de acordo
com prazo
A partir dessa anaacutelise eacute possiacutevel perceber de forma clara as limitaccedilotildees dos idosos no
processo de compra Conforme Chertman (2011 p21) as consequecircncias da idade
ldquopotencializam a vulnerabilidade de compra pela dificuldade de comprar em escala (podendo
negociar preccedilos)rdquo De fato nota-se que a questatildeo do analfabetismo baixa instruccedilatildeo e idade
afetam na tomada de decisatildeo consciente do consumidor
42 Categoria II
421 Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
A informaccedilatildeo no momento da compra eacute essencial para que o cliente natildeo faccedila uma
escolha errocircnea quanto ao produto Em relaccedilatildeo as entrevistas realizadas foi possiacutevel inferir
que na contrataccedilatildeo de creacutedito os bancaacuterios e seus intermediaacuterios natildeo informam o valor da
taxa de juros e acabam focando nos valores das parcelas no prazo e em quantas vezes o
parcelamento ficaraacute Sendo assim os atendentes procuram natildeo informar aos consumidores
20
quanto ficaraacute o valor total do empreacutestimo ao incidirem os juros Atraveacutes do quadro abaixo
pode-se comprovar que no momento da contrataccedilatildeo do creacutedito os bancaacuterios e estagiaacuterios
omitem determinadas informaccedilotildees aos clientes
Quadro 4 - Omissatildeo de informaccedilotildees na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Ana Luiacuteza ldquoNormalmente eu natildeo falo o valor dos juros
dificilmente eu falo o valor do juros soacute falo que
ele eacute mais baixo e informo que independe do que
a aconteccedila na economia brasileira a partir do
momento que a pessoa estaacute fazendo o contrato o
juros nunca vai aumentar que aquele juros e
sempre seraacute aquelerdquo
Marcela ldquoEntatildeo na verdade o que eu aprendi no Banco X
a regra clara Eu tinha que omitir Eu natildeo
precisava mentir mas eu precisava omitir
algumas informaccedilotildees Entatildeo eu abordava o
cliente sempre eacute Buscando saber do sonho dele
para depois eu vender o empreacutestimo Eu tentava
omitir informaccedilotildees como taxas prazo de
pagamento que eram coisas que eu soacute falava se o
cliente me perguntasse Eu achava muito
tranquilo assim vender Eu natildeo tinha muita
dificuldade natildeordquo
ldquoA gente omitia o valor total que o cliente ia
pagar justamente porque se vocecirc falar ele natildeo vai
levar entatildeo eacute A gente omitia e tentava fazer o
cliente fechar a venda na hora Principalmente
quando a venda era no caixa eletrocircnico que era
muito mais faacutecil porque agraves vezes o cliente
fechava a venda ali naquele momento naquele
instante natildeo refletia muito era mais faacutecil vender e
muitas vezes eles tavam sozinho muitas vezes os
aposentados vatildeo para agecircncia sozinho natildeo
estavam acompanhados dos filhos de ningueacutemrdquo
Carlos Eduardo ldquoNo contrato fala dos juros mas eu soacute respondo
quando o cliente perguntardquo
Marcos ldquoQuando o cliente fazia por exemplo um
empreacutestimo a gente falava o valor da parcela
21
quanto que ele vai pegar quando vai descontar do
pagamento falava a taxa de juros tambeacutem mas
acabava que eles nem sabiamrdquo
ldquoSe perguntasse alguma coisa a gente falavardquo
Fonte Dados da pesquisa
Como jaacute foi dito o cliente tem como direito obter informaccedilotildees necessaacuterias do que ele
estaacute adquirindo mas quando isso natildeo ocorre pode-se dizer que estaacute ocorrendo uma omissatildeo
dos fatos O autor Silva (2009 p146) expotildee o art 14 do CDC destacando ldquoo dever de
informaccedilatildeo cuja omissatildeo caracteriza defeito do serviccedilo ensejador do dever de indenizarrdquo
Logo pode-se concluir que quando o cliente natildeo eacute alertado sobre o produto ou serviccedilo e este
causa danos o consumidor deve ser reparado
Diante do que foi explicitado acima pode-se perceber atraveacutes das gravaccedilotildees feitas
quatro entrevistados falaram que natildeo davam as informaccedilotildees necessaacuterias para os contratadores
de creacuteditos A entrevistada Marcela usa o termo ldquoomissatildeordquo ela afirma que agraves vezes era
necessaacuterio omitir para que a venda do empreacutestimo consignado fosse realizada mais
rapidamente Jaacute os demais entrevistados alegam que normalmente natildeo falam as taxas de juros
eles informam as taxas apenas se o cliente perguntar Percebe-se tambeacutem que por se tratar de
um puacuteblico mais vulneraacutevel os bancaacuteriosestagiaacuterios tinham maior facilidade em convencecirc-
los na hora da compra jaacute que grande parte desse puacuteblico natildeo possui instruccedilotildees suficientes
para adquirir esse tipo de produto
Dessa forma eacute expliacutecito que os bancaacuterios e os estagiaacuterios natildeo davam as informaccedilotildees
necessaacuterias aos seus clientes pelo fato de terem que apresentar maior lucratividade aos
bancos Uma vez que como foi relatado por Marcela a instituiccedilatildeo financeira onde trabalhava
alegava que certas informaccedilotildees deveriam ser ldquoomitidasrdquo Dessa forma pode-se evidenciar a
violaccedilatildeo do direito do consumidor
Dentre a vulnerabilidade do consumidor quanto a omissatildeo dos fatos por partes dos
bancaacuterios e seus correspondentes haacute tambeacutem outro recurso utilizado pelos fornecedores o
linguiacutestico Isto eacute satildeo termos palavras usadas que suavizam na hora da contrataccedilatildeo de
creacutedito Pode-se dizer que eacute a comunicaccedilatildeo existente entre o fornecedor e o cliente a fim de
que o primeiro consiga induzir o segundo a comprar seu produto
O marketing de vendas retrata esta relaccedilatildeo citada acima de consumidor e fornecedor
De acordo com Bernardi (2012 p75) ldquoo marketing de vendas possui uma relaccedilatildeo estreita com
o elemento do composto mercadoloacutegico denominado de promoccedilatildeo que se refere a todas as
accedilotildees relativas agrave comunicaccedilatildeo e agrave venda dos produtos de uma organizaccedilatildeordquo
22
Atraveacutes dessa relaccedilatildeo construiacuteda pela comunicaccedilatildeo pode-se verificar por parte das
entrevistas que os bancaacuterios e os estagiaacuterios utilizam de recursos linguiacutesticos para convencer o
cliente a comprar tal produto Isto eacute estes tinham certo cuidado na maneira de falar para que
os clientes se sentissem agrave vontade e consequentemente efetivar a venda do produto
A comunicaccedilatildeo exerce influecircncia na venda de um produto ou seja esse diaacutelogo entre
cliente e fornecedor facilita a compra de um produto por parte do consumidor O autor
Bernardi (2012 p77) acresce o termo merchandising este eacute visto como um dos principais
meacutetodos de marketing associado agrave venda
Eacute um termo que pode ser usado como instrumento de comunicaccedilatildeo que apresenta o
produto ao consumidor e favorece a sua compra Merchandising no entanto eacute criar
um cenaacuterio de um produto serviccedilo ou marca de forma casual Os principais
conceitos do merchandising estatildeo voltados agrave boa estrateacutegia de comunicaccedilatildeo no
ponto de venda pois visa destacar o produto ou serviccedilo buscando assim motivar as
compras por impulso jaacute que possui uma comunicaccedilatildeo muito proacutexima agrave venda
Logo compreende-se que o merchandising eacute uma ferramenta que aproxima o cliente e
o fornecedor atraveacutes da comunicaccedilatildeo
Como jaacute foi mencionado anteriormente a forma de comunicar exerce uma forte
influecircncia no ato da compra Todavia atraveacutes das entrevistas pode-se notar certa preocupaccedilatildeo
em como abordar o cliente ou seja a forma de dialogar com seus clientes Percebeu-se entatildeo
que determinadas palavras eram trocadas por outras como por exemplo o termo
ldquoempreacutestimordquo muitas vezes era substituiacutedo pelo termo ldquodinheirinhordquo ou creacutedito A partir do
quadro abaixo pode-se concluir que a forma de falar eacute utilizada como um artifiacutecio na hora da
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado
23
43 Categoria III
431 Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por se tratar de um puacuteblico de idade com baixo grau de instruccedilatildeo ou ateacute mesmo analfabetos
os bancaacuterios estagiaacuterios se beneficiam dessa relaccedilatildeo A forma de falar induz os consumidores
de serviccedilos financeiros a adquirirem certo produto O Quadro 5 apresenta as respostas
referentes agrave forma de falar dos intermediaacuterios bancaacuterios
Quadro 5- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Marcela ldquoAcredito que para vender esse tipo de produto que eacute
um produto difiacutecil que as pessoas agraves vezes quando
vocecirc fala ldquoempreacutestimordquo a pessoa fica com o peacute atraacutes
entatildeo tem que ser assim Coisas que a gente natildeo usa eacute
falar empreacutestimo natildeo existe no banco entendeu Eacute
um dinheirinho suavizar realmente a expressatildeo
empreacutestimo porque quando vocecirc fala a expressatildeo
empreacutestimo as pessoas se fechamrdquo
ldquoMuitas vezes eles natildeo entendiam o que vocecirc estava
falando entatildeo Ah fulano vocecirc tem um dinheirinho
aqui disponiacutevel para vocecirc pegar aiacute eles perguntavam
Mas vocecirc estaacute me dando esse dinheirordquo
Marcos ldquoOutra coisa o termo empreacutestimo o pessoal mesmo
falava que era uma coisa muito pesada de se dizer a
maioria das pessoas natildeo vecirc com bons olhos entatildeo a
gente falava um dinheirinho pro cliente pois ameniza
um pouco o termo Querendo ou natildeo o modo de falar
influencia um poucordquo
Daniel ldquoEu por exemplo falo creacutedito porque eu tocirc
conversando com o cliente e ele vecirc que tem outras
pessoas em volta agraves vezes eu falar empreacutestimo ele
pode ficar um pouco chateado daquilo nem todo
mundo gosta de ir no banco pra pegar empreacutestimo
gosta de ir laacute para sacar dinheiro Eu prefiro trabalhar
com a palavra creacutedito rdquo
Antocircnio ldquoGeralmente a gente utiliza o termo creacutedito vocecirc tem
um creacutedito aprovado Porque agraves vezes a pessoa tem
ateacute medo resistecircncia em empreacutestimo Geralmente a
24
gente fala que vocecirc tem um creacutedito aprovado e aiacute a
gente fala em qual linha a pessoa tem creacutedito
pessoal financiamento para veiacuteculos financiamento
imobiliaacuterio consignado que eacute o creacutedito que vem da
folha de pagamento Entatildeo a gente normalmente
oferta creacutedito ldquo
Fonte Dados da pesquisa
Conforme alguns entrevistados esses natildeo utilizam o termo correto que eacute ldquoempreacutestimo
consignadordquo Nas gravaccedilotildees os bancaacuterios e seus correspondentes alegam que os clientes tecircm
eacute um ldquodinheirinhordquo disponiacutevel para pegarem no banco Outros afirmam que o vocaacutebulo
empregado por eles eacute o ldquocreacuteditordquo pois ameniza um pouco o termo Este possui o mesmo
significado do primeiro mas para muitos o termo quer dizer credibilidade ldquocreacutedito na praccedilardquo
apesar de ser sinocircnimo do vocaacutebulo ldquoempreacutestimordquo essa palavra soa de forma positiva
Ao verificar a forma de comunicaccedilatildeo com os clientes do empreacutestimo consignado
pode-se perceber que essa substituiccedilatildeo de ldquopalavrasrdquo ocorre com o intuito amenizar o termo
ldquoempreacutestimordquo visto que por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel as pessoas assustam quando
pronunciam a palavra empreacutestimo Para muitos esse termo soa de forma negativa como
pessoas que possuem desorganizaccedilatildeo financeira ou inadimplecircncia Por este fato tanto os
bancaacuterios quanto os estagiaacuterios procuram utilizar vocaacutebulos que suavizem e que soem de uma
forma positiva para o cliente Sendo assim a forma de se comunicar pode alterar a venda de
determinado produto ofertado Mas essa forma de suavizar os termos empregados durante a
venda do serviccedilo financeiro fora de certos limites eacutetico-legais pode ser vista como uma
espeacutecie de ldquoomissatildeordquo do que realmente esses tomadores de creacutedito estatildeo comprando Pois
como jaacute foi retratado de acordo com o CDC os termos devem ser informados de forma clara
ao cliente
Podemos exemplificar de acordo com um entrevistado que afirma utilizar o termo
ldquodinheirinhordquo por ser mais faacutecil dos aposentados e pensionistas entenderem jaacute que muitos
desses clientes possuiacuteam dificuldades sobre o que de fato estavam comprando Aleacutem disso o
bancaacuterio acredita que modo de falar pode alterar a execuccedilatildeo da venda
Tendo em vista os aspectos observados tanto o artifiacutecio linguiacutestico quanto a omissatildeo
das informaccedilotildees pelos bancaacuteriosestagiaacuterios possui objetivos em comum pelas instituiccedilotildees
financeiras na qual visam a obtenccedilatildeo de maiores lucros para essas empresas Aleacutem disso os
bancos satildeo os maiores beneficiados pois natildeo levam em consideraccedilatildeo a isonomia das relaccedilotildees
entre consumidor e fornecedor Portanto conclui-se que em meio a essa relaccedilatildeo o consumidor
eacute parte mais fraca onde seus direitos satildeo violados pelos fornecedores de creacutedito
25
5 CONCLUSAtildeO
O creacutedito consignado eacute um tipo de empreacutestimo recente que vem sendo utilizado com
maior frequecircncia por um determinado puacuteblico (LOPES et al2014) Com isso as instituiccedilotildees
bancaacuterias estatildeo apresentando certo interesse sobre esse ldquonovordquo tipo de puacuteblico em ascensatildeo
Os intermediaacuterios bancaacuterios vecircm buscando formas para atrair os idosos seja atraveacutes das
facilidades da obtenccedilatildeo do creacutedito ou ateacute mesmo no modo de comunicar utilizando de
artifiacutecios de linguagem Em suma os bancos utilizam de praacuteticas de marketing tensionados a
obter vantagens sobre esses consumidores De acordo com o Coacutedigo de Consumidor (CDC)
estes satildeo considerados como vulneraacuteveis
Perante o estudo notou-se que a vulnerabilidade do idoso eacute agravada jaacute que
enquadram como consumidores hipervulneraacuteveis Essa vulnerabilidade acontece atraveacutes das
relaccedilotildees de consumo onde os fornecedores do empreacutestimo tiram proveito do estado em que
esses consumidores se encontram Para que estes cidadatildeos hipervulneraacuteveis sejam amparados
haacute o Estatuto do idoso e Coacutedigo do Consumidor ambos dispotildeem de normas que regem a
relaccedilatildeo entre consumidor-fornecedor Deve-se ressaltar que apesar da existecircncia das
legislaccedilotildees os bancos continuam praticando ldquoexcessosrdquo com os consumidores no momento da
contrataccedilatildeo do creacutedito Eacute relevante a imposiccedilatildeo do Estado visando inibir a lesatildeo do direito
sendo especificado ao idoso
Logo atraveacutes dos resultados da pesquisa pode-se concluir que essa vulnerabilidade
acentuada ocorre atraveacutes de fatores como idade baixa escolaridade e baixo grau de instruccedilatildeo
que interferem nas relaccedilotildees consumeristas isto eacute os contratadores de creacutedito consignado natildeo
possuem domiacutenio para realizar uma compra consciente Sendo assim os consumidores
apresentam limitaccedilotildees sobre o serviccedilo financeiro na qual estaacute adquirindo A partir da anaacutelise
foi possiacutevel verificar atraveacutes dos entrevistados que o puacuteblico idoso natildeo possuiacutea conhecimento
sobre as taxas juros que incidiam sobre as parcelas Aleacutem disso os bancaacuterios afirmavam que
iriam dividir em mais pagamentos para natildeo atrapalhar no orccedilamento mensal do consumidor
Por conseguinte aspectos como estes facilitavam a induzir os idosos a adquirem o creacutedito
mostrando a estes o quatildeo era vantajoso o produto oferecido
Tambeacutem deve-se ressaltar que por se tratar de um puacuteblico com baixo grau de instruccedilatildeo
e alguns analfabetos tanto os bancaacuterios quanto os estagiaacuterios omitiam informaccedilotildees bem
como tambeacutem utilizavam os recursos linguiacutesticos Estas duas formas contribuiacuteram para que as
vendas fossem efetuadas de uma maneira mais raacutepida Uma vez que a forma de falar ou a
26
omissatildeo influenciavam aos idosos comprarem o produto de uma forma irrefletida visto que
esses consumidores acreditavam no que estava sendo falado por parte do fornecedor
Portanto diante da fragilidade do consumidor em questatildeo eacute perceptiacutevel que na
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado boa parte dos idosos muitas vezes natildeo estatildeo acompanhados
por nenhum membro da famiacutelia Desta maneira para os bancaacuteriosestagiaacuterios a forma de
abordar o cliente fica mais acessiacutevel ainda mais por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel com
pouco grau de instruccedilatildeo ou conhecimento Logo situaccedilotildees como estas contribuem para os
fornecedores tirarem proveito do puacuteblico idoso Outro fato que deve ser destacado eacute a
presenccedila do Estado incentivando programas de alfabetizaccedilatildeo financeira independente do fator
idade para que a sociedade no geral saiba ter consciecircncia clareza sobre as relaccedilotildees de
consumo
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29
APEcircNDICE A
Roteiro de Entrevista qualitativa aplicada aos bancaacuterios e seus correspondentes
1 Idade
2 Formaccedilatildeo acadecircmica ( ) Ensino Meacutedio
( ) Superior
3 Haacute quanto tempo vocecirc trabalha ou jaacute trabalhou vendendo serviccedilos financeiros Em
qual cidade Descreva os serviccedilos financeiros que vocecirc mais estava habituado a
venda
4 Fale um pouco sobre as atividades que vocecirc realizava dentro da empresa Me conte
como era o seu dia a dia como era o processo de venda Da captaccedilatildeo do cliente ao
fechamento do contrato ou da venda do serviccedilo DEcirc EXEMPLOS
5 Quais produtos financeiros vocecirc estava ou estaacute mais habituado a vender
Creacutedito consignado creacutedito pessoal seguros empreacutestimos financiamentos
Qual vocecirc eacute mais estimulado a fazer
Tem diferenccedila na venda desses produtos
A abordagem ao cliente muda Quais satildeo mais diferentes
Vocecirc pode descrever para mim cada um deles por favor
Quais produtos satildeo os mais procurados
6 Qual eacute o tipo de puacuteblico que busca pelo empreacutestimo Descreva para mim as
caracteriacutesticas que vocecirc julga como mais marcantes Geralmente satildeo pessoas de que
faixa etaacuteria Satildeo pessoas de classe baixa meacutedia ou alta Satildeo pessoas instruiacutedas
7 Essas pessoas possuem um esclarecimento sobre o que seria esse tipo creacutedito
Compreendem as vantagens e as desvantagens relacionadas ao serviccedilo O que vocecirc
acha disso
8 No momento da contrataccedilatildeo de creacutedito o que eacute falado Como se daacute Todos os temos
do contrato ficam claros Vocecircs bancaacuterios explicitam o que estaacute no contrato Haacute
30
alguma avaliaccedilatildeo criteriosa do perfil do cliente de suas condiccedilotildees financeiras
9 O que vocecirc jaacute verificou por parte das pessoas que tomam esse creacutedito Qual seria os
maiores motivos para a procura do creacutedito consignado
10 Quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito vocecirc concorda com as vantagens oferecidas no
contrato ou acredita que algo deveria ser alterado O que vocecirc natildeo estaria de acordo
11 Qual o limite de desconto mensal da folha de pagamento do trabalhador o banco
oferece Por algum momento o banco excedeu o valor de desconto da folha Comente
essefato
12 Quanto agraves poliacuteticas bancaacuterias proposta pelos bancos para a venda de produtos
financeiros vocecirc concorda Ou algum momento jaacute discordou Discorra sobre o fato
13 Frequentemente vocecircs bancaacuterios satildeo estimulados a bater metas sobre os produtos que
vocecircs oferecem Vocecirc concorda que existe uma certa pressatildeo em vender cada vez mais
produtos Em alguma situaccedilatildeo vocecirc natildeo esteve de acordo como a forma que deveria
induzir os clientes a comprar um produto na qual vocecirc estaria oferecendo
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 7
2 REVISAtildeO DE LITERATURA 9
21 Creacutedito Consignado 9
22 Consumidor (Hiper) Vulneraacutevel e o Coacutedigo de Defesa do Consumidor 10
221 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal como fator de
vulnerabilidade 12
3 METODOLOGIA 13
31 Descriccedilatildeo da Amostra 15
4 ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 17
41 Categoria I 17
411 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos serviccedilos
financeiros 17
42 Categoria II 19
421 Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito 19
43 Categoria III 23
431 Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito 23
5 CONCLUSAtildeO 25
REFEREcircNCIAS 26
APEcircNDICE A 29
7
1 INTRODUCcedilAtildeO
No cenaacuterio brasileiro o termo creacutedito teve notoriedade somente apoacutes 1994 com a
alteraccedilatildeo do Plano Real Posteriormente a esse periacuteodo notou-se que uma parcela da
populaccedilatildeo brasileira estava sendo excluiacuteda do sistema financeiro de creacuteditos A partir desse
momento surge a preocupaccedilatildeo de dar acesso ao creacutedito agraves classes mais desfavorecidas na
qual as famiacutelias mais pobres deveriam ser incluiacutedas no mercado de creacutedito (BERTONCELLO
e LIMA 2008)
De acordo com Bertoncello e Lima (2008) o governo Lula proporcionou uma poliacutetica
de estiacutemulo ao creacutedito popular isto eacute motivou o consumo da populaccedilatildeo de baixa renda Os
aposentados tambeacutem tiveram notoriedade nesse momento econocircmico Conforme o autor estes
estavam sendo seduzidos por publicidade veiculada aos meios de comunicaccedilatildeo como tambeacutem
estavam sendo assediados por agenciadores e correspondentes dos bancos
Conforme Cavalcante (2015) essa maior notoriedade da terceira idade no mercado de
creacutedito eacute em razatildeo do aumento da populaccedilatildeo idosa e a maior expectativa de vida aleacutem disso
esse puacuteblico contabiliza 16 milhotildees de idosos que utilizam do creacutedito consignado Mas o que
seria o empreacutestimo consignado
O creacutedito consignado surgiu no contexto explicitado acima esse tipo de creacutedito eacute
definido como um empreacutestimo disponibilizado para pessoas fiacutesicas onde o valor das parcelas
eacute descontado diretamente na folha de pagamento as pessoas que utilizam desse creacutedito satildeo
idosos aposentados e pensionistas do INSS Aleacutem disso essa operaccedilatildeo eacute realizada por
intermediaacuterios bancaacuterios (COSTA 2014)
Os autores Barone e Sader (2008 p1258) definem o esse tipo de creacutedito como
ldquoum tipo de creacutedito oferecido para os empregados do setor formal eou aposentados
e pensionistas do INSS com baixas taxas de juros (bem menores que as praticadas
para empreacutestimo pessoal no mercado) em que as prestaccedilotildees satildeo descontadas
diretamente de seus salaacuterios eou aposentadorias e pensotildeesrdquo
Segundo os autores retrocitados o programa de empreacutestimo a esse tipo de puacuteblico
com consignaccedilatildeo foi autorizado pela Lei ndeg 10820 sendo publicada no Diaacuterio Oficial da
Uniatildeo em dezembro de 2003 As primeiras operaccedilotildees foram realizadas em maio de 2004
inicialmente pela Caixa Econocircmica Federal
Pode-se perceber o estiacutemulo da concessatildeo do creacutedito consignado esse estiacutemulo ao
creacutedito ocorre por meio de estrateacutegias de marketing De acordo com Bertoncello e Lima
(2008) as estrateacutegias utilizadas pelas instituiccedilotildees financeiras possuem argumentos
convincentes isto eacute creacutedito faacutecil e raacutepido sem consultas agraves entidades de proteccedilatildeo ao creacutedito
8
acessiacutevel a quem tem restriccedilotildees creditiacutecias e prazos maiores para pagamento Contudo eacute
dessa forma que os bancos visam atrair atuais e futuros consumidores do creacutedito consignado
Atraveacutes da concessatildeo do empreacutestimo consignado surge a relaccedilatildeo de consumo entre os
intermediaacuterios bancaacuterios (fornecedores) e os tomadores de creacutedito consignado
(consumidores) Nessa relaccedilatildeo pode-se dizer que os consumidores satildeo vistos como
vulneraacuteveis Conforme Chertman (2011) o consumidor vulneraacutevel eacute fraacutegil pois natildeo conhece
todas as informaccedilotildees existentes num processo de compra Sendo assim os fornecedores tiram
vantagens na contrataccedilatildeo de um produto ou serviccedilo
Logo pode-se inferir que os fornecedores do empreacutestimo consignado detecircm maiores
informaccedilotildees sobre o serviccedilo oferecido desta maneira os consumidores do empreacutestimo satildeo
considerados a parte mais fraca da relaccedilatildeo jaacute que natildeo possuem na maior parte das vezes
informaccedilatildeo necessaacuteria para uma segura contrataccedilatildeo do creacutedito
Visando mitigar tais problemas ou oferecer apoio a parte vulneraacutevel na relaccedilatildeo de
consumo foi criado o CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) Ele busca reduzir os
problemas existentes entre o fornecedor-consumidor uma vez que os consumidores
necessitam de proteccedilatildeo em especial aqueles chamados (hiper)vulneraacuteveis
Desse modo a vulnerabilidade do consumidor quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito seraacute o
assunto principal abordado ao longo deste trabalho Mais especificamente esta proposta de
pesquisa buscou analisar possiacuteveis accedilotildees de marketing de instituiccedilotildees financeiras e seus
intermediaacuterios que de alguma forma se aproveitam da fragilidade do consumidor de serviccedilos
financeiros O tema em questatildeo eacute multifacetado isto eacute percebe-se que o puacuteblico ao adquirir
um produto ou serviccedilo acaba sendo influenciado pelos bancaacuterios e seus equivalentes estes satildeo
pressionados e induzidos pelas instituiccedilotildees financeiras a utilizarem de praacuteticas de marketing
para efetuaccedilatildeo de maiores nuacutemeros de vendas do creacutedito consignado Logo eacute possiacutevel
concluir que os bancos estatildeo compreendendo que esse tipo de puacuteblico idosos aposentados e
pensionistas pode ser responsaacutevel pela expansatildeo dos negoacutecios bancaacuterios (BUAES 2015)
Por conseguinte este estudo eacute relevante para que a sociedade possa entender e
compreender o efeito que as estrateacutegias de marketing exercem sobre as suas escolhas Aleacutem
disso pode-se salientar conforme Buaes (2015) que a educaccedilatildeo financeira eacute significativa
para a equidade da relaccedilatildeo entre consumidor e fornecedor onde o primeiro possa agir com
discernimento e conhecimento sobre suas atitudes Mas para que esse cenaacuterio se modifique
haacute a necessidade de uma maior atenccedilatildeo a esse tema por parte do governo dando importacircncia
agraves praacuteticas educativas voltadas para alfabetizaccedilatildeo financeira
9
Em virtude dos fatos mencionados acima pode-se indagar Ateacute que ponto agraves praacuteticas
de Marketing dos bancos satildeo desenhadas visando tirar proveito da vulnerabilidade dos
consumidores de serviccedilos financeiros Deste modo tem-se por objetivo geral analisar esse
problema enfrentado pela sociedade desfavorecida Aleacutem disso busca-se explicar as
caracteriacutesticas desses consumidores bem como buscar evidecircncias na qual os bancos se
aproveitam dessa vulnerabilidade
2 REVISAtildeO DE LITERATURA
21 Creacutedito consignado
A expansatildeo do creacutedito no Brasil foi fomentada nos uacuteltimos 10 anos provocando um
aumento na demanda por tal serviccedilo financeiro e consequentemente um aumento do
endividamento das classes menos favorecidas (SBICCA FLORIANI JUK 2012) Por outro
lado o maior acesso ao creacutedito pela populaccedilatildeo acarretou um aumento no consumo bens e
serviccedilos jaacute que as classes desfavorecidas comeccedilaram a ter maior participaccedilatildeo na economia
Com relaccedilatildeo ao cenaacuterio brasileiro a economia do paiacutes se expandiu fortemente no
periacuteodo compreendido entre os anos de 2004 e 2007 provocando relevante impacto sobre a
ampliaccedilatildeo do creacutedito bancaacuterio Dentre os serviccedilos que contribuiacuteram para a ampliaccedilatildeo do
creacutedito bancaacuterio podemos destacar a criaccedilatildeo do empreacutestimo consignado que por sua vez
ajudou a estimular o ambiente econocircmico (ARAUacuteJO 2012) Ainda segundo Arauacutejo (2012) a
introduccedilatildeo do creacutedito consignado foi autorizada atraveacutes da Medida Provisoacuteria nordm130 de
setembro de 2003 convertida na Lei nordm 10820 logo no mecircs de dezembro
O creacutedito consignado eacute um empreacutestimo realizado pelos intermediaacuterios bancaacuterios onde
as parcelas satildeo descontadas diretamente na folha de pagamento do tomador do empreacutestimo
Aleacutem disso deve-se salientar que o desconto maacuteximo na folha para operaccedilotildees desta natureza
eacute de ateacute 30 do valor da remuneraccedilatildeo ou benefiacutecio previsto na Lei Nordm10820 de 17 de
dezembro de 2003
Gonccedilalves e Saacute (2013 p08) explicitam quem satildeo os principais consumidores do
serviccedilo financeiro de empreacutestimo consignado descrevendo como ldquoo puacuteblico alvo da
modalidade de consignados satildeo as pessoas idosas beneficiaacuterios da Previdecircncia Social quer
aposentados quer pensionistasrdquo
Os contratadores de creacutedito consignado geralmente satildeo idosos pessoas de baixa renda
e baixa escolaridade Os consumidores dessa modalidade de serviccedilo financeiro satildeo geralmente
atraiacutedos pelas instituiccedilotildees financeiras que costumam apresentar serviccedilos ldquovantajososrdquo como
10
juros mensais inferiores aos do mercado tradicional e a natildeo necessidade de avalista haja vista
que o risco do negoacutecio eacute pequeno para o fornecedor jaacute que o valor retido eacute descontado na
fonte o que reduz os riscos de inadimplecircncia
A facilidade que os consumidores tecircm de adquirir dinheiro via creacutedito consignado e
dos bancos realizarem tais operaccedilotildees de baixiacutessimo risco faz com que os bancos tirem
vantagem na contrataccedilatildeo do creacutedito consignado Visto que os idosos ao contratarem esse tipo
de creacutedito desconhecem a quantidade de parcelas e o periacuteodo que levaratildeo para quitaacute-las
Aleacutem disso estes natildeo compreendem qual o valor dos juros mensal preocupam-se apenas com
o valor da parcela a ser liquidada (GONCcedilALVES SAacute 2013)
22 Consumidor (Hiper) Vulneraacutevel e o Coacutedigo de Defesa do Consumidor
O termo vulnerabilidade estaacute relacionado com as relaccedilotildees de consumo na aquisiccedilatildeo de
um bem Desta maneira pode-se definir o termo como uma incapacidade ou fragilidade no
ato do consumo Ou seja essa vulnerabilidade do consumo traz como consequecircncia situaccedilotildees
em que os consumidores se enganam erram ou desconhecem todas as informaccedilotildees que
existem num processo de compra Logo a vulnerabilidade do consumidor faz com que os
fornecedores tirem vantagens na contrataccedilatildeo de um produto ou serviccedilo Isto eacute os fornecedores
omitem certas informaccedilotildees sobre os produtos aos clientes (CHERTMAN 2011)
Na contrataccedilatildeo do creacutedito consignado deve-se ressaltar diante do exposto acima que
os tomadores de creacutedito estatildeo em desvantagem com relaccedilatildeo aos fornecedores desse serviccedilo jaacute
que as instituiccedilotildees natildeo transferem as informaccedilotildees necessaacuterias quando esses consumidores
estatildeo obtendo o serviccedilo Segundo Barbosa (2002 p4)
O consumidor eacute a parte mais fraca nas relaccedilotildees de consumo Por isso tem ele direito
agrave boa informaccedilatildeo sobre os produtos e serviccedilos que recebe e quanto aos contratos que
assina Tem tambeacutem direito de ser protegido quando se dirige ao Poder Judiciaacuterio
podendo o Juiz determinar medidas para assegurar os seus direitos no tocante agraves
soluccedilotildees alternativas que a Justiccedila pode encontrar para dar - ao Consumidor - o
resultado equivalente ao do adimplemento das obrigaccedilotildees do fornecedor
Nessa relaccedilatildeo onde o fornecedor ganha vantagem sobre o consumidor de creacutedito
consignado o segundo tem direito a ser amparado no acircmbito judiciaacuterio atraveacutes do Coacutedigo de
Defesa do Consumidor De acordo com o CDC no artigo 4 da Lei ndeg 8078 (BRASIL 1990)
pode-se afirmar que todos os consumidores satildeo vulneraacuteveis
Conforme Pfeiffer (2010) o Coacutedigo de Defesa do Consumidor preocupa-se com a
isonomia na relaccedilatildeo de consumo reconhecendo a vulnerabilidade do consumidor Dessa
forma atraveacutes das normas estabelecidas pelo CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) os
consumidores possuem amparo seguranccedila e proteccedilatildeo na contrataccedilatildeo de um bem ou serviccedilo
11
Com relaccedilatildeo ao CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) um aspecto que deve ser
ressaltado dentro desse coacutedigo eacute o direito agrave informaccedilatildeo De acordo com Tribunal de Justiccedila do
Distrito Federal e dos Territoacuterios (2016)
O direito agrave informaccedilatildeo eacute direito baacutesico do consumidor e visa assegurar ao mesmo
tempo uma escolha consciente permitindo que suas expectativas em relaccedilatildeo ao
produto ou ao serviccedilo sejam de fato atingidas manifestando o que vem sendo
denominado de consentimento informado ou vontade qualificada
Em outras palavras o consumidor ao adquirir um bem ou produto tem como direito a
informaccedilatildeo necessaacuteria para que faccedila uma compra consciente isto eacute o consumidor deve ter
clareza das condiccedilotildees favoraacuteveis e desfavoraacuteveis do produto Dessa forma eacute relevante que o
fornecedor na hora da compra informe para o cliente o que eacute de fato o seu produto natildeo
omitindo informaccedilotildees que prejudique o consumidor na hora da compra
O artigo 6ordm da Lei nordm 8078 incIII (BRASIL 1990) que retrata o CDC apresenta os
direitos baacutesicos do consumidor dentre eles pode-se destacar o direito ldquoa informaccedilatildeo adequada
e clara sobre os diferentes produtos e serviccedilos com especificaccedilatildeo correta de quantidade
caracteriacutesticas composiccedilatildeo qualidade tributos incidentes e preccedilo bem como sobre os riscos
que apresentamrdquo
Aleacutem da vulnerabilidade do consumidor ser defendida no CDC (Coacutedigo de Defesa do
Consumidor) os idosos contam com a proteccedilatildeo do Estatuto do idoso prevista em Lei nordm
1074103 (BRASIL 2003) no artigo 20 eacute possiacutevel inferir que ldquoo idoso tem direito a
educaccedilatildeo cultura esporte lazer diversotildees espetaacuteculos produtos e serviccedilos que respeitem
sua peculiar condiccedilatildeo de idaderdquo Desse modo para assegurar os direitos do consumidor idoso
eacute importante que o fornecedor seja claro com esse tipo de puacuteblico visando facilitar as
relaccedilotildees consumeristas
Quando a vulnerabilidade do consumidor eacute agravada ou possui condiccedilotildees para uma
maior fragilidade nas relaccedilotildees de consumo podemos definir que este consumidor eacute
hipervulneraacutevel De acordo com Meire e Alves (2016) circunstacircncias como fator idade
conhecimento ou condiccedilatildeo social afetam no grau da vulnerabilidade isto eacute os idosos por
exemplo estatildeo mais propensos a se enquadrar no estado de hipervulnerabilidade
Os autores Rosa Bernardes e Feacutelix (2017 p548) afirmam que
[] fatores tais quais idade avanccedilada ou reduzida situaccedilatildeo de enfermidade e outros
mais que importem fragilizaccedilatildeo e vulnerabilidade do consumidor em niacutevel maior
que o comum na exposiccedilatildeo ao produto ou serviccedilo oferecido pelo fornecedor
ocasionam um grau intensificado de inferioridade na relaccedilatildeo de consumo e assim
configuram um tipo de vulnerabilidade mais grave ao que se convencionou chamar
hipervulnerabilidade
12
Conforme o exposto relato os consumidores hipervulneraacuteveis possuem certa
fragilidade Dessa forma a abordagem dos fornecedores aos idosos eacute visando tirar proveito da
situaccedilatildeo na qual se encontram Os autores citados anteriormente destacam
O puacuteblico idoso revela-se como alvo potencial de propagandas e praacuteticas comerciais
abusivas que se aproveitam da reduzida capacidade de discernimento do idoso para
impor a contrataccedilatildeo de serviccedilos Um dos exemplos mais paradigmaacuteticos eacute a
celebraccedilatildeo de contratos de empreacutestimos consignados entre instituiccedilotildees financeiras e
consumidores idosos pois a loacutegica da sociedade de consumo visualizou lucros
certeiros com tal contrataccedilatildeo eis que via de regra idosos possuem rendimentos
mensais fixos sendo por isso a contrataccedilatildeo mais segura (ROSA BERNARDES
E FEacuteLIX 2017 p548)
Gonccedilalves e Saacute (2015) tambeacutem expotildeem a vulnerabilidade do consumidor em meio agraves
publicidades agressivas antieacuteticas onde o consumo eacute apelado utilizando um conteuacutedo forte
emotivo para atrair os consumidores agrave adquirirem determinado produtoserviccedilo
O Projeto de Lei do Senado nordm283 (BRASIL 2012) presume a alteraccedilatildeo do CDC
(BRASIL1990) visando combater essas praacuteticas de marketing com referecircncia a oferta de
creacutedito Logo esse Projeto de Lei no inciso IV do paraacutegrafo 4 recomenda que ldquoEacute vedado
expressa ou implicitamente na oferta de creacutedito ao consumidor publicitaacuteria ou natildeo [] IV ndash
ocultar por qualquer forma os ocircnus e riscos da contrataccedilatildeo de creacutedito dificultar sua
compreensatildeo ou estimular o endividamento do consumidor em especial se idoso ou
adolescenterdquo (BRASIL 2012)
Desta forma nota-se que o Coacutedigo de Defesa do Consumidor (CDC) e os estatutos
funcionam como paracircmetros para garantir a isonomia Com isso os hipervulneraacuteveis possuem
um maior amparo com relaccedilatildeo agraves praacuteticas abusivas de marketing vendas omissatildeo de
informaccedilotildees como tambeacutem as propagandas enganosas sobre o produto ou serviccedilo na qual
estatildeo contratando
221 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal como fator de vulnerabilidade
Na conjuntura atual brasileira eacute possiacutevel observar a ascensatildeo das classes populares
para as camadas meacutedias como tambeacutem o aumento de poder de compra dos idosos Logo eacute
possiacutevel perceber uma maior atenccedilatildeo dada pelas empresas a esse tipo de puacuteblico em especial
as instituiccedilotildees financeiras Esse poder de compra dos idosos fez com que as empresas
bancaacuterias estimulassem a contrataccedilatildeo de creacutedito por parte dessas pessoas em especial o
creacutedito consignado (BUAES 2015) Atraveacutes disso pode-se indagar Por que o interesse dos
bancos nesse puacuteblico
13
Conforme Buaes (2015) o aumento do poder de compra do idoso fez com que esse
puacuteblico apresentasse interesse na contrataccedilatildeo de produtos e serviccedilos financeiros visto que os
bancos apresentam certa facilidade na obtenccedilatildeo de creacuteditos Um fato destacado por Buaes
(2015) eacute a falta de percepccedilatildeo dos idosos quanto a suas limitaccedilotildees financeiras ou ateacute mesmo a
dificuldade em aceitar essa insuficiecircncia Desta maneira pode-se observar a vulnerabilidade
em duas dimensotildees neste perfil do consumidor idoso isto eacute a falta de conhecimento formal e
a anaacutelise na contrataccedilatildeo de um creacutedito
Quanto a vulnerabilidade do consumidor Chertman (2011) afirma que pode ser
identificada atraveacutes de caracteriacutesticas natildeo observaacuteveis o que eacute o caso do analfabetismo
Entende-se por analfabeto a pessoa com a incapacidade da linguagem de forma geral seja na
leitura intepretaccedilatildeo compreensatildeo e na produccedilatildeo de conhecimento Logo o analfabetismo
possibilita o indiviacuteduo tornar-se um consumidor vulneraacutevel
Aleacutem da questatildeo de pessoas analfabetas tomadores de creacuteditos haacute tambeacutem o perfil de
consumidores de baixa instruccedilatildeo Essas pessoas satildeo capazes de assinar seu proacuteprio nome
quanto agrave leitura apresentam alguma dificuldade no entendimento ou necessitam de ajuda para
uma melhor compreensatildeo Esse tipo consumidor como foi dito acima tambeacutem se enquadra
como vulneraacutevel
Dado o exposto compreende-se que o analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo
formal agravam ainda mais a vulnerabilidade do consumidor em questatildeo Os idosos aleacutem de
possuiacuterem o fator idade na qual afeta a relaccedilatildeo entre consumidorfornecedor (MEIRE
ALVES 2016) apresentam tambeacutem a presenccedila dessas duas caracteriacutesticas que podem
delimitar uma escolha consciente e clara no momento da contrataccedilatildeo de um produto ou
serviccedilo
3 METODOLOGIA
O estudo foi embasado em pesquisas bibliograacuteficas online e impressas como tambeacutem
trabalhos acadecircmicos e perioacutedicos A metodologia utilizada foi qualitativa do tipo descritiva
de acordo Godoy (1995 p62) os pesquisadores de orientaccedilatildeo qualitativadescritiva executam
suas pesquisas baseadas em trabalho de campo a partir de entrevistas e observaccedilotildees aleacutem
disso os pesquisadores possuem um contato direto com o local da pesquisa e seus sujeitos
portanto eacute possiacutevel analisar dados escrever resultados obtidos e descrever o que foi dito
pelos entrevistados
14
A pesquisa de campo foi realizada atraveacutes de entrevistas semi-estruturadas
(APEcircNDICE A) sendo composta por treze questotildees discursivas Segundo Boni e Quaresma
(2005 p 75) as teacutecnicas desse tipo de entrevista
[] tecircm como vantagem a sua elasticidade quanto agrave duraccedilatildeo permitindo uma
cobertura mais profunda sobre determinados assuntos Aleacutem disso a interaccedilatildeo entre
o entrevistador e o entrevistado favorece as respostas espontacircneas Elas tambeacutem satildeo
possibilitadoras de uma abertura e proximidade maior entre entrevistador e
entrevistado o que permite ao entrevistador tocar em assuntos mais complexos e
delicados ou seja quanto menos estruturada a entrevista maior seraacute o favorecimento
de uma troca mais afetiva entre as duas partes Desse modo estes tipos de entrevista
colaboram muito na investigaccedilatildeo dos aspectos afetivos e valorativos dos informantes
que determinam significados pessoais de suas atitudes e comportamentos As
respostas espontacircneas dos entrevistados e a maior liberdade que estes tecircm podem
fazer surgir questotildees inesperadas ao entrevistador que poderatildeo ser de grande
utilidade em sua pesquisa
Em suma pode-se perceber que esse tipo de entrevista proporcionou aos entrevistados
certa autonomia em discutir sobre o tema em questatildeo Visto que no percorrer das
interlocuccedilotildees houve a possibilidade de introduzir novos assuntos sobre o estudo como
tambeacutem a exemplificaccedilatildeo de situaccedilotildees vivenciadas pelos entrevistados
Para a realizaccedilatildeo das entrevistas no presente estudo foi indispensaacutevel entrevistar um
nuacutemero de sete bancaacuterios(as) e trecircs estagiaacuterios(as) de instituiccedilotildees financeiras privadas da
cidade de Mariana Ouro Preto e Itabirito visto que cinco deles eram do sexo masculino e os
demais do sexo feminino Visando buscar nesses gecircneros perspectivas diversas sobre as
teacutecnicas utilizadas na operaccedilatildeo do empreacutestimo consignado agrave aposentados e pensionistas Estas
entrevistas realizadas tiveram duraccedilatildeo meacutedia de quinze a trinta minutos sendo que todas as
interlocuccedilotildees foram gravadas e posteriormente transcritas para entatildeo serem analisadas
Portanto as anaacutelises das respostas foram fundamentadas em anaacutelises de conteuacutedos e
posteriormente buscou-se categorizar os elementos relevantes discutidos durante as
interlocuccedilotildees
De acordo com Cavalcante Calixto e Pinheiro (2014) a anaacutelise de conteuacutedo permite a
ldquoanaacutelise do fenocircmeno em profundidade elencando as subjetividades suas relaccedilotildees bem
como interlocuccedilotildees na malha socialrdquo logo atraveacutes das entrevistas com os bancaacuterios pode-se
verificar suas percepccedilotildees
Conforme Caregnato e Mutti (2006 p 683)
A teacutecnica de anaacutelise de conteuacutedo se compotildee de trecircs grandes etapas 1) a preacute-anaacutelise
2) a exploraccedilatildeo do material 3) o tratamento dos resultados e interpretaccedilatildeo A
mencionada autora descreve a primeira etapa como a fase de organizaccedilatildeo que pode
utilizar vaacute- rios procedimentos tais como leitura flutuante hipoacuteteses objetivos e
elaboraccedilatildeo de indicadores que fundamentem a interpretaccedilatildeo Na segunda etapa os
dados satildeo codificados a partir das unidades de registro Na uacuteltima etapa se faz a
categorizaccedilatildeo que consiste na classificaccedilatildeo dos elementos segundo suas
semelhanccedilas e por diferenciaccedilatildeo com posterior reagrupamento em funccedilatildeo de
15
caracteriacutesticas comuns Portanto a codificaccedilatildeo e a categorizaccedilatildeo fazem parte da AC
As autoras afirmam que aleacutem das teacutecnicas utilizadas na anaacutelise de conteuacutedo o
pesquisador pode categorizar fragmentos do texto que se repetem atraveacutes de frases ou
expressotildees Atraveacutes disso as entrevistas realizadas com os bancaacuterios foram categorizadas da
seguinte maneira
Categoria I- O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Categoria II- Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Categoria III- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por conseguinte essas respostas foram analisadas com o intuito de verificar como os
consumidores hipervulneraacuteveis satildeo abordados pelos(as) bancaacuterios(as) e quais as praacuteticas que
as instituiccedilotildees financeiras adotam para convencer esse puacuteblico Contudo compreende-se que
por meio das entrevistas pode-se construir consideraccedilotildees em relaccedilatildeo ao objetivo da pesquisa
31 Descriccedilatildeo da Amostra
Para a anaacutelise das praacuteticas de marketing utilizadas pelos intermediaacuterios bancaacuterios
estudaram-se sete bancaacuterios(as) e trecircs estagiaacuterios(as) atuantes na concessatildeo de empreacutestimos
consignados Estes operam nas localidades de Mariana Ouro Preto e Itabirito Em vista disso
para a execuccedilatildeo da pesquisa foi relevante a realizaccedilatildeo de entrevistas a partir desse
pressuposto foi possiacutevel inferir interpretaccedilotildees diversas sobre esses sujeitos no momento da
concessatildeo do creacutedito
As interlocuccedilotildees com os bancaacuterios e seus correspondentes foram marcadas
antecipadamente via celular informando-lhes a data o local a preferir a duraccedilatildeo em meacutedia e
do que se tratava o estudo As entrevistas foram sucedidas no periacuteodo de julho a agosto de
2016 Outro aspecto a ser relatado aos entrevistados sobre o estudo foi a importacircncia destes
para pesquisa visto que o nuacutemero de informaccedilotildees fornecidas possibilitaria uma anaacutelise
satisfatoacuteria para a exploraccedilatildeo do tema O quadro a seguir resume as caracteriacutesticas da amostra
analisada
16
Quadro 1 Caracteriacutesticas da amostra analisada
Bancaacuterios Estagiaacuterios Nomes Fictiacutecios Idade Cidades
B1 Maria Claacuteudia 41 Mariana (MG)
B2 Carlos Eduardo 22 Ouro Preto (MG)
B3 Daniel 25 Ouro Preto (MG)
B4 Leandro 27 Mariana (MG)
B5 Maacutercia 34 Mariana (MG)
B6 Antocircnio 38 Mariana (MG)
B7 Camila 27 Mariana (MG)
E1 Ana Luiacuteza 25 Itabirito (MG)
E2 Marcela 22 Itabirito (MG)
E3 Marcos 24 Ouro Preto (MG)
Fonte Dados da pesquisa
Com relaccedilatildeo a populaccedilatildeo do estudo foram levantados dados buscando alcanccedilar a
quantidade aproximada de bancaacuterios e estagiaacuterios na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e
Itabirito Para a identificaccedilatildeo dos dados foi necessaacuterio entrar em contato via telefone em todas
as agecircncias privadas dessas localidades Atraveacutes do quadro abaixo pode-se concluir o nuacutemero
da populaccedilatildeo desse puacuteblico
Quadro 2 Quantidade da populaccedilatildeo de bancaacuterios e estagiaacuterios
Localidade Bancaacuterios Estagiaacuterios
Mariana 55 3
Ouro Preto 63 3
Itabirito 52 8
TOTAL 170 14
Fonte Dados da pesquisa
Em suma a pesquisa de campo foi desenvolvida nessas localidades visto que esses
municiacutepios possuem um nuacutemero representativo de idosos puacuteblico alvo das instituiccedilotildees
financeiras De acordo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2010) a cidade de
Mariana conta com proximamente 5200 idosos jaacute Ouro Preto possui cerca de 7994 idosos e
Itabirito dispotildee em meacutedia 4998 idosos Por conseguinte surge a iniciativa de analisar os perfis
dos bancaacuterios visando compreender as praacuteticas que estes utilizam para alcanccedilar um maior nuacutemero
de idosos para efetivar a contrataccedilatildeo do creacutedito
17
4 ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
Como explicitado anteriormente a vulnerabilidade do consumidor existe a partir da
relaccedilatildeo entre empresa e cliente E considerando todas as peculiaridades e caracteriacutesticas que
fazem do consumidor de serviccedilos financeiros um consumidor vulneraacutevel esta seccedilatildeo do texto
tem por propoacutesito retratar por meio da apresentaccedilatildeo e anaacutelise dos dados extraiacutedos das
entrevistas realizadas ao longo deste estudo a forma como os bancaacuterios e seus
correspondentes operam na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e Itabirito especialmente no que se
refere ao modo como oferecem e conduzem as negociaccedilotildees de serviccedilos financeiros Quanto agrave
anaacutelise dos resultados o estudo utilizou a categorizaccedilatildeo dos discursos dos entrevistados em I
II III Logo as categorias baseiam-se em fragmentos das interlocuccedilotildees aspectos recorrentes
mencionados pelos bancaacuterios
A seguir satildeo apresentados trechos das falas dos dez respondentes que participaram
desta pesquisa Tais falas foram gravadas durante as entrevistas Os nomes adotados a seguir
para marcar que os trechos transcritos satildeo de falas de diferentes entrevistados satildeo fictiacutecios
Todas as entrevistas foram transcritas respeitando integralmente a linguagem e sinais
transmitidos por cada entrevistado
41 Categoria I
411 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos serviccedilos
financeiros
O analfabetismo e falta de instruccedilatildeo impactam no momento da contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros visto que esse tipo de puacuteblico eacute persuadido pelos bancaacuterios a tomar
determinadas decisotildees pois este natildeo possui informaccedilotildees necessaacuterias sobre o que seria esse
creacutedito o qual estaacute contratando Atraveacutes dos trechos das entrevistas foi possiacutevel identificar
que os bancaacuterios estagiaacuterios influenciam na hora da aquisiccedilatildeo do serviccedilo ateacute mesmo nas
formas como os clientes iratildeo pagar o empreacutestimo O quadro abaixo apresenta trechos da
entrevista que demonstram a falta de conhecimento financeiro dos consumidores do
empreacutestimo consignado
18
Quadro 3 - O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Entrevistados Trechos da entrevista
Maria Claacuteudia ldquoTem muita gente eacute Natildeo tatildeo instruiacuteda gente mais
simples Bom existem vaacuterias pessoas que pegam
aqui com a gente que satildeo analfabetas entendeurdquo
Ana Luiacuteza ldquoMuitas pessoas natildeo satildeo instruiacutedas poucas
pessoas sabem assinar seu proacuteprio nome mas
existem pessoas alfabetizadas simrdquo
ldquoA maioria acredito que natildeo tenha uma noccedilatildeo
esclarecimento ateacute porque quanto mais vezes vocecirc
dividir mais juros incidem e eacute melhor para o
bancordquo
Marcela ldquoEu acho que a grande maioria tinha um grau de
instruccedilatildeo reduzido e isso facilitava na hora de
vender neacuterdquo
ldquoEntatildeo a gente sempre tentava colocar de setenta
e duas vezes ou setenta e cinco satildeo seis anos de
consignado Entatildeo quanto maior o prazo maior a
taxa de juros Agraves vezes vocecirc pegava um capital
um volume muito pequeno e virava pra pessoa e
falava assim -Natildeo Por que aiacute soacute vai descontar
soacute R$3000 reais no seu pagamento e a pessoa natildeo
tinha dimensatildeo que por a gente taacute dividindo
aquele valor pequeninho sai muito grande depois
por conta da taxa que ela aumentava de acordo
com o prazordquo
Carlos Eduardo ldquoO mais comum satildeo pessoas de baixa renda e sem
informaccedilatildeo Exemplo A maioria dos consignados
os clientes nem perguntam as taxas de juros ele
natildeo estaacute preocupado com o prazo ele estaacute
preocupado com o valor da parcela se ele vai
conseguir pagar ou natildeo e o valor que vai sobrar
pra ele vai conseguir passar o mecircsrdquo
Leandro ldquoGrande parte natildeo satildeo instruiacutedas mas eu atendo
mais alta renda entatildeo meus clientes satildeo mais
seletivos eles pegam valores maiores natildeo eacute
qualquer empreacutestimo que ele pega eacute mais para
investimento mesmo ou pra sair de alguma coisardquo
19
Aacutercia ldquoEntatildeo assim muitas vezes as pessoas natildeo vem
com o conhecimento financeiro real eles querem
o imediato querem o empreacutestimo naquele
momento Muita gente natildeo tem a noccedilatildeo de como
vai ficar aquilordquo
Antocircnio ldquoEntatildeo no puacuteblico de menor renda esse
discernimento eacute menos eles olham mais se a
parcela cabe no bolso deles do que no montante
de juros que eles vatildeo pagar no finalrdquo
Fonte Dados da pesquisa
Diante destes dois perfis de consumidores vulneraacuteveis os analfabetos e os com baixa
instruccedilatildeo pode-se verificar por meio das gravaccedilotildees que tanto as pessoas analfabetas e as com
baixa instruccedilatildeo natildeo possuem compreensatildeo suficiente para realizar uma contrataccedilatildeo de creacutedito
A entrevistada Marcela afirma que vender para esse determinado tipo puacuteblico facilitava pelo
fato da falta de conhecimento financeiro
Outra situaccedilatildeo comentada durante a gravaccedilatildeo das entrevistas foi sobre as parcelas dos
empreacutestimos os bancaacuterios e os estagiaacuterios induzem os clientes a dividirem em mais vezes A
entrevistada Marcela tambeacutem afirma que sempre propunha aos seus clientes dividir em
setenta e duas vezes alegando para essas pessoas que o valor iria ldquocaber no bolsordquo Mas na
verdade os bancaacuterios aproveitam do analfabetismo financeiro dos tomadores de creacutedito
visando a lucratividade das instituiccedilotildees financeiras dado que as taxas aumentam de acordo
com prazo
A partir dessa anaacutelise eacute possiacutevel perceber de forma clara as limitaccedilotildees dos idosos no
processo de compra Conforme Chertman (2011 p21) as consequecircncias da idade
ldquopotencializam a vulnerabilidade de compra pela dificuldade de comprar em escala (podendo
negociar preccedilos)rdquo De fato nota-se que a questatildeo do analfabetismo baixa instruccedilatildeo e idade
afetam na tomada de decisatildeo consciente do consumidor
42 Categoria II
421 Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
A informaccedilatildeo no momento da compra eacute essencial para que o cliente natildeo faccedila uma
escolha errocircnea quanto ao produto Em relaccedilatildeo as entrevistas realizadas foi possiacutevel inferir
que na contrataccedilatildeo de creacutedito os bancaacuterios e seus intermediaacuterios natildeo informam o valor da
taxa de juros e acabam focando nos valores das parcelas no prazo e em quantas vezes o
parcelamento ficaraacute Sendo assim os atendentes procuram natildeo informar aos consumidores
20
quanto ficaraacute o valor total do empreacutestimo ao incidirem os juros Atraveacutes do quadro abaixo
pode-se comprovar que no momento da contrataccedilatildeo do creacutedito os bancaacuterios e estagiaacuterios
omitem determinadas informaccedilotildees aos clientes
Quadro 4 - Omissatildeo de informaccedilotildees na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Ana Luiacuteza ldquoNormalmente eu natildeo falo o valor dos juros
dificilmente eu falo o valor do juros soacute falo que
ele eacute mais baixo e informo que independe do que
a aconteccedila na economia brasileira a partir do
momento que a pessoa estaacute fazendo o contrato o
juros nunca vai aumentar que aquele juros e
sempre seraacute aquelerdquo
Marcela ldquoEntatildeo na verdade o que eu aprendi no Banco X
a regra clara Eu tinha que omitir Eu natildeo
precisava mentir mas eu precisava omitir
algumas informaccedilotildees Entatildeo eu abordava o
cliente sempre eacute Buscando saber do sonho dele
para depois eu vender o empreacutestimo Eu tentava
omitir informaccedilotildees como taxas prazo de
pagamento que eram coisas que eu soacute falava se o
cliente me perguntasse Eu achava muito
tranquilo assim vender Eu natildeo tinha muita
dificuldade natildeordquo
ldquoA gente omitia o valor total que o cliente ia
pagar justamente porque se vocecirc falar ele natildeo vai
levar entatildeo eacute A gente omitia e tentava fazer o
cliente fechar a venda na hora Principalmente
quando a venda era no caixa eletrocircnico que era
muito mais faacutecil porque agraves vezes o cliente
fechava a venda ali naquele momento naquele
instante natildeo refletia muito era mais faacutecil vender e
muitas vezes eles tavam sozinho muitas vezes os
aposentados vatildeo para agecircncia sozinho natildeo
estavam acompanhados dos filhos de ningueacutemrdquo
Carlos Eduardo ldquoNo contrato fala dos juros mas eu soacute respondo
quando o cliente perguntardquo
Marcos ldquoQuando o cliente fazia por exemplo um
empreacutestimo a gente falava o valor da parcela
21
quanto que ele vai pegar quando vai descontar do
pagamento falava a taxa de juros tambeacutem mas
acabava que eles nem sabiamrdquo
ldquoSe perguntasse alguma coisa a gente falavardquo
Fonte Dados da pesquisa
Como jaacute foi dito o cliente tem como direito obter informaccedilotildees necessaacuterias do que ele
estaacute adquirindo mas quando isso natildeo ocorre pode-se dizer que estaacute ocorrendo uma omissatildeo
dos fatos O autor Silva (2009 p146) expotildee o art 14 do CDC destacando ldquoo dever de
informaccedilatildeo cuja omissatildeo caracteriza defeito do serviccedilo ensejador do dever de indenizarrdquo
Logo pode-se concluir que quando o cliente natildeo eacute alertado sobre o produto ou serviccedilo e este
causa danos o consumidor deve ser reparado
Diante do que foi explicitado acima pode-se perceber atraveacutes das gravaccedilotildees feitas
quatro entrevistados falaram que natildeo davam as informaccedilotildees necessaacuterias para os contratadores
de creacuteditos A entrevistada Marcela usa o termo ldquoomissatildeordquo ela afirma que agraves vezes era
necessaacuterio omitir para que a venda do empreacutestimo consignado fosse realizada mais
rapidamente Jaacute os demais entrevistados alegam que normalmente natildeo falam as taxas de juros
eles informam as taxas apenas se o cliente perguntar Percebe-se tambeacutem que por se tratar de
um puacuteblico mais vulneraacutevel os bancaacuteriosestagiaacuterios tinham maior facilidade em convencecirc-
los na hora da compra jaacute que grande parte desse puacuteblico natildeo possui instruccedilotildees suficientes
para adquirir esse tipo de produto
Dessa forma eacute expliacutecito que os bancaacuterios e os estagiaacuterios natildeo davam as informaccedilotildees
necessaacuterias aos seus clientes pelo fato de terem que apresentar maior lucratividade aos
bancos Uma vez que como foi relatado por Marcela a instituiccedilatildeo financeira onde trabalhava
alegava que certas informaccedilotildees deveriam ser ldquoomitidasrdquo Dessa forma pode-se evidenciar a
violaccedilatildeo do direito do consumidor
Dentre a vulnerabilidade do consumidor quanto a omissatildeo dos fatos por partes dos
bancaacuterios e seus correspondentes haacute tambeacutem outro recurso utilizado pelos fornecedores o
linguiacutestico Isto eacute satildeo termos palavras usadas que suavizam na hora da contrataccedilatildeo de
creacutedito Pode-se dizer que eacute a comunicaccedilatildeo existente entre o fornecedor e o cliente a fim de
que o primeiro consiga induzir o segundo a comprar seu produto
O marketing de vendas retrata esta relaccedilatildeo citada acima de consumidor e fornecedor
De acordo com Bernardi (2012 p75) ldquoo marketing de vendas possui uma relaccedilatildeo estreita com
o elemento do composto mercadoloacutegico denominado de promoccedilatildeo que se refere a todas as
accedilotildees relativas agrave comunicaccedilatildeo e agrave venda dos produtos de uma organizaccedilatildeordquo
22
Atraveacutes dessa relaccedilatildeo construiacuteda pela comunicaccedilatildeo pode-se verificar por parte das
entrevistas que os bancaacuterios e os estagiaacuterios utilizam de recursos linguiacutesticos para convencer o
cliente a comprar tal produto Isto eacute estes tinham certo cuidado na maneira de falar para que
os clientes se sentissem agrave vontade e consequentemente efetivar a venda do produto
A comunicaccedilatildeo exerce influecircncia na venda de um produto ou seja esse diaacutelogo entre
cliente e fornecedor facilita a compra de um produto por parte do consumidor O autor
Bernardi (2012 p77) acresce o termo merchandising este eacute visto como um dos principais
meacutetodos de marketing associado agrave venda
Eacute um termo que pode ser usado como instrumento de comunicaccedilatildeo que apresenta o
produto ao consumidor e favorece a sua compra Merchandising no entanto eacute criar
um cenaacuterio de um produto serviccedilo ou marca de forma casual Os principais
conceitos do merchandising estatildeo voltados agrave boa estrateacutegia de comunicaccedilatildeo no
ponto de venda pois visa destacar o produto ou serviccedilo buscando assim motivar as
compras por impulso jaacute que possui uma comunicaccedilatildeo muito proacutexima agrave venda
Logo compreende-se que o merchandising eacute uma ferramenta que aproxima o cliente e
o fornecedor atraveacutes da comunicaccedilatildeo
Como jaacute foi mencionado anteriormente a forma de comunicar exerce uma forte
influecircncia no ato da compra Todavia atraveacutes das entrevistas pode-se notar certa preocupaccedilatildeo
em como abordar o cliente ou seja a forma de dialogar com seus clientes Percebeu-se entatildeo
que determinadas palavras eram trocadas por outras como por exemplo o termo
ldquoempreacutestimordquo muitas vezes era substituiacutedo pelo termo ldquodinheirinhordquo ou creacutedito A partir do
quadro abaixo pode-se concluir que a forma de falar eacute utilizada como um artifiacutecio na hora da
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado
23
43 Categoria III
431 Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por se tratar de um puacuteblico de idade com baixo grau de instruccedilatildeo ou ateacute mesmo analfabetos
os bancaacuterios estagiaacuterios se beneficiam dessa relaccedilatildeo A forma de falar induz os consumidores
de serviccedilos financeiros a adquirirem certo produto O Quadro 5 apresenta as respostas
referentes agrave forma de falar dos intermediaacuterios bancaacuterios
Quadro 5- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Marcela ldquoAcredito que para vender esse tipo de produto que eacute
um produto difiacutecil que as pessoas agraves vezes quando
vocecirc fala ldquoempreacutestimordquo a pessoa fica com o peacute atraacutes
entatildeo tem que ser assim Coisas que a gente natildeo usa eacute
falar empreacutestimo natildeo existe no banco entendeu Eacute
um dinheirinho suavizar realmente a expressatildeo
empreacutestimo porque quando vocecirc fala a expressatildeo
empreacutestimo as pessoas se fechamrdquo
ldquoMuitas vezes eles natildeo entendiam o que vocecirc estava
falando entatildeo Ah fulano vocecirc tem um dinheirinho
aqui disponiacutevel para vocecirc pegar aiacute eles perguntavam
Mas vocecirc estaacute me dando esse dinheirordquo
Marcos ldquoOutra coisa o termo empreacutestimo o pessoal mesmo
falava que era uma coisa muito pesada de se dizer a
maioria das pessoas natildeo vecirc com bons olhos entatildeo a
gente falava um dinheirinho pro cliente pois ameniza
um pouco o termo Querendo ou natildeo o modo de falar
influencia um poucordquo
Daniel ldquoEu por exemplo falo creacutedito porque eu tocirc
conversando com o cliente e ele vecirc que tem outras
pessoas em volta agraves vezes eu falar empreacutestimo ele
pode ficar um pouco chateado daquilo nem todo
mundo gosta de ir no banco pra pegar empreacutestimo
gosta de ir laacute para sacar dinheiro Eu prefiro trabalhar
com a palavra creacutedito rdquo
Antocircnio ldquoGeralmente a gente utiliza o termo creacutedito vocecirc tem
um creacutedito aprovado Porque agraves vezes a pessoa tem
ateacute medo resistecircncia em empreacutestimo Geralmente a
24
gente fala que vocecirc tem um creacutedito aprovado e aiacute a
gente fala em qual linha a pessoa tem creacutedito
pessoal financiamento para veiacuteculos financiamento
imobiliaacuterio consignado que eacute o creacutedito que vem da
folha de pagamento Entatildeo a gente normalmente
oferta creacutedito ldquo
Fonte Dados da pesquisa
Conforme alguns entrevistados esses natildeo utilizam o termo correto que eacute ldquoempreacutestimo
consignadordquo Nas gravaccedilotildees os bancaacuterios e seus correspondentes alegam que os clientes tecircm
eacute um ldquodinheirinhordquo disponiacutevel para pegarem no banco Outros afirmam que o vocaacutebulo
empregado por eles eacute o ldquocreacuteditordquo pois ameniza um pouco o termo Este possui o mesmo
significado do primeiro mas para muitos o termo quer dizer credibilidade ldquocreacutedito na praccedilardquo
apesar de ser sinocircnimo do vocaacutebulo ldquoempreacutestimordquo essa palavra soa de forma positiva
Ao verificar a forma de comunicaccedilatildeo com os clientes do empreacutestimo consignado
pode-se perceber que essa substituiccedilatildeo de ldquopalavrasrdquo ocorre com o intuito amenizar o termo
ldquoempreacutestimordquo visto que por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel as pessoas assustam quando
pronunciam a palavra empreacutestimo Para muitos esse termo soa de forma negativa como
pessoas que possuem desorganizaccedilatildeo financeira ou inadimplecircncia Por este fato tanto os
bancaacuterios quanto os estagiaacuterios procuram utilizar vocaacutebulos que suavizem e que soem de uma
forma positiva para o cliente Sendo assim a forma de se comunicar pode alterar a venda de
determinado produto ofertado Mas essa forma de suavizar os termos empregados durante a
venda do serviccedilo financeiro fora de certos limites eacutetico-legais pode ser vista como uma
espeacutecie de ldquoomissatildeordquo do que realmente esses tomadores de creacutedito estatildeo comprando Pois
como jaacute foi retratado de acordo com o CDC os termos devem ser informados de forma clara
ao cliente
Podemos exemplificar de acordo com um entrevistado que afirma utilizar o termo
ldquodinheirinhordquo por ser mais faacutecil dos aposentados e pensionistas entenderem jaacute que muitos
desses clientes possuiacuteam dificuldades sobre o que de fato estavam comprando Aleacutem disso o
bancaacuterio acredita que modo de falar pode alterar a execuccedilatildeo da venda
Tendo em vista os aspectos observados tanto o artifiacutecio linguiacutestico quanto a omissatildeo
das informaccedilotildees pelos bancaacuteriosestagiaacuterios possui objetivos em comum pelas instituiccedilotildees
financeiras na qual visam a obtenccedilatildeo de maiores lucros para essas empresas Aleacutem disso os
bancos satildeo os maiores beneficiados pois natildeo levam em consideraccedilatildeo a isonomia das relaccedilotildees
entre consumidor e fornecedor Portanto conclui-se que em meio a essa relaccedilatildeo o consumidor
eacute parte mais fraca onde seus direitos satildeo violados pelos fornecedores de creacutedito
25
5 CONCLUSAtildeO
O creacutedito consignado eacute um tipo de empreacutestimo recente que vem sendo utilizado com
maior frequecircncia por um determinado puacuteblico (LOPES et al2014) Com isso as instituiccedilotildees
bancaacuterias estatildeo apresentando certo interesse sobre esse ldquonovordquo tipo de puacuteblico em ascensatildeo
Os intermediaacuterios bancaacuterios vecircm buscando formas para atrair os idosos seja atraveacutes das
facilidades da obtenccedilatildeo do creacutedito ou ateacute mesmo no modo de comunicar utilizando de
artifiacutecios de linguagem Em suma os bancos utilizam de praacuteticas de marketing tensionados a
obter vantagens sobre esses consumidores De acordo com o Coacutedigo de Consumidor (CDC)
estes satildeo considerados como vulneraacuteveis
Perante o estudo notou-se que a vulnerabilidade do idoso eacute agravada jaacute que
enquadram como consumidores hipervulneraacuteveis Essa vulnerabilidade acontece atraveacutes das
relaccedilotildees de consumo onde os fornecedores do empreacutestimo tiram proveito do estado em que
esses consumidores se encontram Para que estes cidadatildeos hipervulneraacuteveis sejam amparados
haacute o Estatuto do idoso e Coacutedigo do Consumidor ambos dispotildeem de normas que regem a
relaccedilatildeo entre consumidor-fornecedor Deve-se ressaltar que apesar da existecircncia das
legislaccedilotildees os bancos continuam praticando ldquoexcessosrdquo com os consumidores no momento da
contrataccedilatildeo do creacutedito Eacute relevante a imposiccedilatildeo do Estado visando inibir a lesatildeo do direito
sendo especificado ao idoso
Logo atraveacutes dos resultados da pesquisa pode-se concluir que essa vulnerabilidade
acentuada ocorre atraveacutes de fatores como idade baixa escolaridade e baixo grau de instruccedilatildeo
que interferem nas relaccedilotildees consumeristas isto eacute os contratadores de creacutedito consignado natildeo
possuem domiacutenio para realizar uma compra consciente Sendo assim os consumidores
apresentam limitaccedilotildees sobre o serviccedilo financeiro na qual estaacute adquirindo A partir da anaacutelise
foi possiacutevel verificar atraveacutes dos entrevistados que o puacuteblico idoso natildeo possuiacutea conhecimento
sobre as taxas juros que incidiam sobre as parcelas Aleacutem disso os bancaacuterios afirmavam que
iriam dividir em mais pagamentos para natildeo atrapalhar no orccedilamento mensal do consumidor
Por conseguinte aspectos como estes facilitavam a induzir os idosos a adquirem o creacutedito
mostrando a estes o quatildeo era vantajoso o produto oferecido
Tambeacutem deve-se ressaltar que por se tratar de um puacuteblico com baixo grau de instruccedilatildeo
e alguns analfabetos tanto os bancaacuterios quanto os estagiaacuterios omitiam informaccedilotildees bem
como tambeacutem utilizavam os recursos linguiacutesticos Estas duas formas contribuiacuteram para que as
vendas fossem efetuadas de uma maneira mais raacutepida Uma vez que a forma de falar ou a
26
omissatildeo influenciavam aos idosos comprarem o produto de uma forma irrefletida visto que
esses consumidores acreditavam no que estava sendo falado por parte do fornecedor
Portanto diante da fragilidade do consumidor em questatildeo eacute perceptiacutevel que na
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado boa parte dos idosos muitas vezes natildeo estatildeo acompanhados
por nenhum membro da famiacutelia Desta maneira para os bancaacuteriosestagiaacuterios a forma de
abordar o cliente fica mais acessiacutevel ainda mais por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel com
pouco grau de instruccedilatildeo ou conhecimento Logo situaccedilotildees como estas contribuem para os
fornecedores tirarem proveito do puacuteblico idoso Outro fato que deve ser destacado eacute a
presenccedila do Estado incentivando programas de alfabetizaccedilatildeo financeira independente do fator
idade para que a sociedade no geral saiba ter consciecircncia clareza sobre as relaccedilotildees de
consumo
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SENADO FEDERAL Projeto de Lei do Senado n 283 2012 Disponiacutevel em
lthttpwww25senadolegbrwebatividadematerias-materia1067733Egt acesso em 27
de janeiro de 2017
SILVA L V L Contratos bancaaacuterios nas relaccedilotildees de consumo uma breve abodagem
Revista da EMERJ n 46 2009
SOUZA B O D MORETTO C F Entre a razatildeo e a emoccedilatildeo a tomada de creacutedito
consignado pelos idosos Revista Brasileira de Ciecircncias do Envelhecimento Humano v
11 n 1 2014
29
APEcircNDICE A
Roteiro de Entrevista qualitativa aplicada aos bancaacuterios e seus correspondentes
1 Idade
2 Formaccedilatildeo acadecircmica ( ) Ensino Meacutedio
( ) Superior
3 Haacute quanto tempo vocecirc trabalha ou jaacute trabalhou vendendo serviccedilos financeiros Em
qual cidade Descreva os serviccedilos financeiros que vocecirc mais estava habituado a
venda
4 Fale um pouco sobre as atividades que vocecirc realizava dentro da empresa Me conte
como era o seu dia a dia como era o processo de venda Da captaccedilatildeo do cliente ao
fechamento do contrato ou da venda do serviccedilo DEcirc EXEMPLOS
5 Quais produtos financeiros vocecirc estava ou estaacute mais habituado a vender
Creacutedito consignado creacutedito pessoal seguros empreacutestimos financiamentos
Qual vocecirc eacute mais estimulado a fazer
Tem diferenccedila na venda desses produtos
A abordagem ao cliente muda Quais satildeo mais diferentes
Vocecirc pode descrever para mim cada um deles por favor
Quais produtos satildeo os mais procurados
6 Qual eacute o tipo de puacuteblico que busca pelo empreacutestimo Descreva para mim as
caracteriacutesticas que vocecirc julga como mais marcantes Geralmente satildeo pessoas de que
faixa etaacuteria Satildeo pessoas de classe baixa meacutedia ou alta Satildeo pessoas instruiacutedas
7 Essas pessoas possuem um esclarecimento sobre o que seria esse tipo creacutedito
Compreendem as vantagens e as desvantagens relacionadas ao serviccedilo O que vocecirc
acha disso
8 No momento da contrataccedilatildeo de creacutedito o que eacute falado Como se daacute Todos os temos
do contrato ficam claros Vocecircs bancaacuterios explicitam o que estaacute no contrato Haacute
30
alguma avaliaccedilatildeo criteriosa do perfil do cliente de suas condiccedilotildees financeiras
9 O que vocecirc jaacute verificou por parte das pessoas que tomam esse creacutedito Qual seria os
maiores motivos para a procura do creacutedito consignado
10 Quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito vocecirc concorda com as vantagens oferecidas no
contrato ou acredita que algo deveria ser alterado O que vocecirc natildeo estaria de acordo
11 Qual o limite de desconto mensal da folha de pagamento do trabalhador o banco
oferece Por algum momento o banco excedeu o valor de desconto da folha Comente
essefato
12 Quanto agraves poliacuteticas bancaacuterias proposta pelos bancos para a venda de produtos
financeiros vocecirc concorda Ou algum momento jaacute discordou Discorra sobre o fato
13 Frequentemente vocecircs bancaacuterios satildeo estimulados a bater metas sobre os produtos que
vocecircs oferecem Vocecirc concorda que existe uma certa pressatildeo em vender cada vez mais
produtos Em alguma situaccedilatildeo vocecirc natildeo esteve de acordo como a forma que deveria
induzir os clientes a comprar um produto na qual vocecirc estaria oferecendo
7
1 INTRODUCcedilAtildeO
No cenaacuterio brasileiro o termo creacutedito teve notoriedade somente apoacutes 1994 com a
alteraccedilatildeo do Plano Real Posteriormente a esse periacuteodo notou-se que uma parcela da
populaccedilatildeo brasileira estava sendo excluiacuteda do sistema financeiro de creacuteditos A partir desse
momento surge a preocupaccedilatildeo de dar acesso ao creacutedito agraves classes mais desfavorecidas na
qual as famiacutelias mais pobres deveriam ser incluiacutedas no mercado de creacutedito (BERTONCELLO
e LIMA 2008)
De acordo com Bertoncello e Lima (2008) o governo Lula proporcionou uma poliacutetica
de estiacutemulo ao creacutedito popular isto eacute motivou o consumo da populaccedilatildeo de baixa renda Os
aposentados tambeacutem tiveram notoriedade nesse momento econocircmico Conforme o autor estes
estavam sendo seduzidos por publicidade veiculada aos meios de comunicaccedilatildeo como tambeacutem
estavam sendo assediados por agenciadores e correspondentes dos bancos
Conforme Cavalcante (2015) essa maior notoriedade da terceira idade no mercado de
creacutedito eacute em razatildeo do aumento da populaccedilatildeo idosa e a maior expectativa de vida aleacutem disso
esse puacuteblico contabiliza 16 milhotildees de idosos que utilizam do creacutedito consignado Mas o que
seria o empreacutestimo consignado
O creacutedito consignado surgiu no contexto explicitado acima esse tipo de creacutedito eacute
definido como um empreacutestimo disponibilizado para pessoas fiacutesicas onde o valor das parcelas
eacute descontado diretamente na folha de pagamento as pessoas que utilizam desse creacutedito satildeo
idosos aposentados e pensionistas do INSS Aleacutem disso essa operaccedilatildeo eacute realizada por
intermediaacuterios bancaacuterios (COSTA 2014)
Os autores Barone e Sader (2008 p1258) definem o esse tipo de creacutedito como
ldquoum tipo de creacutedito oferecido para os empregados do setor formal eou aposentados
e pensionistas do INSS com baixas taxas de juros (bem menores que as praticadas
para empreacutestimo pessoal no mercado) em que as prestaccedilotildees satildeo descontadas
diretamente de seus salaacuterios eou aposentadorias e pensotildeesrdquo
Segundo os autores retrocitados o programa de empreacutestimo a esse tipo de puacuteblico
com consignaccedilatildeo foi autorizado pela Lei ndeg 10820 sendo publicada no Diaacuterio Oficial da
Uniatildeo em dezembro de 2003 As primeiras operaccedilotildees foram realizadas em maio de 2004
inicialmente pela Caixa Econocircmica Federal
Pode-se perceber o estiacutemulo da concessatildeo do creacutedito consignado esse estiacutemulo ao
creacutedito ocorre por meio de estrateacutegias de marketing De acordo com Bertoncello e Lima
(2008) as estrateacutegias utilizadas pelas instituiccedilotildees financeiras possuem argumentos
convincentes isto eacute creacutedito faacutecil e raacutepido sem consultas agraves entidades de proteccedilatildeo ao creacutedito
8
acessiacutevel a quem tem restriccedilotildees creditiacutecias e prazos maiores para pagamento Contudo eacute
dessa forma que os bancos visam atrair atuais e futuros consumidores do creacutedito consignado
Atraveacutes da concessatildeo do empreacutestimo consignado surge a relaccedilatildeo de consumo entre os
intermediaacuterios bancaacuterios (fornecedores) e os tomadores de creacutedito consignado
(consumidores) Nessa relaccedilatildeo pode-se dizer que os consumidores satildeo vistos como
vulneraacuteveis Conforme Chertman (2011) o consumidor vulneraacutevel eacute fraacutegil pois natildeo conhece
todas as informaccedilotildees existentes num processo de compra Sendo assim os fornecedores tiram
vantagens na contrataccedilatildeo de um produto ou serviccedilo
Logo pode-se inferir que os fornecedores do empreacutestimo consignado detecircm maiores
informaccedilotildees sobre o serviccedilo oferecido desta maneira os consumidores do empreacutestimo satildeo
considerados a parte mais fraca da relaccedilatildeo jaacute que natildeo possuem na maior parte das vezes
informaccedilatildeo necessaacuteria para uma segura contrataccedilatildeo do creacutedito
Visando mitigar tais problemas ou oferecer apoio a parte vulneraacutevel na relaccedilatildeo de
consumo foi criado o CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) Ele busca reduzir os
problemas existentes entre o fornecedor-consumidor uma vez que os consumidores
necessitam de proteccedilatildeo em especial aqueles chamados (hiper)vulneraacuteveis
Desse modo a vulnerabilidade do consumidor quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito seraacute o
assunto principal abordado ao longo deste trabalho Mais especificamente esta proposta de
pesquisa buscou analisar possiacuteveis accedilotildees de marketing de instituiccedilotildees financeiras e seus
intermediaacuterios que de alguma forma se aproveitam da fragilidade do consumidor de serviccedilos
financeiros O tema em questatildeo eacute multifacetado isto eacute percebe-se que o puacuteblico ao adquirir
um produto ou serviccedilo acaba sendo influenciado pelos bancaacuterios e seus equivalentes estes satildeo
pressionados e induzidos pelas instituiccedilotildees financeiras a utilizarem de praacuteticas de marketing
para efetuaccedilatildeo de maiores nuacutemeros de vendas do creacutedito consignado Logo eacute possiacutevel
concluir que os bancos estatildeo compreendendo que esse tipo de puacuteblico idosos aposentados e
pensionistas pode ser responsaacutevel pela expansatildeo dos negoacutecios bancaacuterios (BUAES 2015)
Por conseguinte este estudo eacute relevante para que a sociedade possa entender e
compreender o efeito que as estrateacutegias de marketing exercem sobre as suas escolhas Aleacutem
disso pode-se salientar conforme Buaes (2015) que a educaccedilatildeo financeira eacute significativa
para a equidade da relaccedilatildeo entre consumidor e fornecedor onde o primeiro possa agir com
discernimento e conhecimento sobre suas atitudes Mas para que esse cenaacuterio se modifique
haacute a necessidade de uma maior atenccedilatildeo a esse tema por parte do governo dando importacircncia
agraves praacuteticas educativas voltadas para alfabetizaccedilatildeo financeira
9
Em virtude dos fatos mencionados acima pode-se indagar Ateacute que ponto agraves praacuteticas
de Marketing dos bancos satildeo desenhadas visando tirar proveito da vulnerabilidade dos
consumidores de serviccedilos financeiros Deste modo tem-se por objetivo geral analisar esse
problema enfrentado pela sociedade desfavorecida Aleacutem disso busca-se explicar as
caracteriacutesticas desses consumidores bem como buscar evidecircncias na qual os bancos se
aproveitam dessa vulnerabilidade
2 REVISAtildeO DE LITERATURA
21 Creacutedito consignado
A expansatildeo do creacutedito no Brasil foi fomentada nos uacuteltimos 10 anos provocando um
aumento na demanda por tal serviccedilo financeiro e consequentemente um aumento do
endividamento das classes menos favorecidas (SBICCA FLORIANI JUK 2012) Por outro
lado o maior acesso ao creacutedito pela populaccedilatildeo acarretou um aumento no consumo bens e
serviccedilos jaacute que as classes desfavorecidas comeccedilaram a ter maior participaccedilatildeo na economia
Com relaccedilatildeo ao cenaacuterio brasileiro a economia do paiacutes se expandiu fortemente no
periacuteodo compreendido entre os anos de 2004 e 2007 provocando relevante impacto sobre a
ampliaccedilatildeo do creacutedito bancaacuterio Dentre os serviccedilos que contribuiacuteram para a ampliaccedilatildeo do
creacutedito bancaacuterio podemos destacar a criaccedilatildeo do empreacutestimo consignado que por sua vez
ajudou a estimular o ambiente econocircmico (ARAUacuteJO 2012) Ainda segundo Arauacutejo (2012) a
introduccedilatildeo do creacutedito consignado foi autorizada atraveacutes da Medida Provisoacuteria nordm130 de
setembro de 2003 convertida na Lei nordm 10820 logo no mecircs de dezembro
O creacutedito consignado eacute um empreacutestimo realizado pelos intermediaacuterios bancaacuterios onde
as parcelas satildeo descontadas diretamente na folha de pagamento do tomador do empreacutestimo
Aleacutem disso deve-se salientar que o desconto maacuteximo na folha para operaccedilotildees desta natureza
eacute de ateacute 30 do valor da remuneraccedilatildeo ou benefiacutecio previsto na Lei Nordm10820 de 17 de
dezembro de 2003
Gonccedilalves e Saacute (2013 p08) explicitam quem satildeo os principais consumidores do
serviccedilo financeiro de empreacutestimo consignado descrevendo como ldquoo puacuteblico alvo da
modalidade de consignados satildeo as pessoas idosas beneficiaacuterios da Previdecircncia Social quer
aposentados quer pensionistasrdquo
Os contratadores de creacutedito consignado geralmente satildeo idosos pessoas de baixa renda
e baixa escolaridade Os consumidores dessa modalidade de serviccedilo financeiro satildeo geralmente
atraiacutedos pelas instituiccedilotildees financeiras que costumam apresentar serviccedilos ldquovantajososrdquo como
10
juros mensais inferiores aos do mercado tradicional e a natildeo necessidade de avalista haja vista
que o risco do negoacutecio eacute pequeno para o fornecedor jaacute que o valor retido eacute descontado na
fonte o que reduz os riscos de inadimplecircncia
A facilidade que os consumidores tecircm de adquirir dinheiro via creacutedito consignado e
dos bancos realizarem tais operaccedilotildees de baixiacutessimo risco faz com que os bancos tirem
vantagem na contrataccedilatildeo do creacutedito consignado Visto que os idosos ao contratarem esse tipo
de creacutedito desconhecem a quantidade de parcelas e o periacuteodo que levaratildeo para quitaacute-las
Aleacutem disso estes natildeo compreendem qual o valor dos juros mensal preocupam-se apenas com
o valor da parcela a ser liquidada (GONCcedilALVES SAacute 2013)
22 Consumidor (Hiper) Vulneraacutevel e o Coacutedigo de Defesa do Consumidor
O termo vulnerabilidade estaacute relacionado com as relaccedilotildees de consumo na aquisiccedilatildeo de
um bem Desta maneira pode-se definir o termo como uma incapacidade ou fragilidade no
ato do consumo Ou seja essa vulnerabilidade do consumo traz como consequecircncia situaccedilotildees
em que os consumidores se enganam erram ou desconhecem todas as informaccedilotildees que
existem num processo de compra Logo a vulnerabilidade do consumidor faz com que os
fornecedores tirem vantagens na contrataccedilatildeo de um produto ou serviccedilo Isto eacute os fornecedores
omitem certas informaccedilotildees sobre os produtos aos clientes (CHERTMAN 2011)
Na contrataccedilatildeo do creacutedito consignado deve-se ressaltar diante do exposto acima que
os tomadores de creacutedito estatildeo em desvantagem com relaccedilatildeo aos fornecedores desse serviccedilo jaacute
que as instituiccedilotildees natildeo transferem as informaccedilotildees necessaacuterias quando esses consumidores
estatildeo obtendo o serviccedilo Segundo Barbosa (2002 p4)
O consumidor eacute a parte mais fraca nas relaccedilotildees de consumo Por isso tem ele direito
agrave boa informaccedilatildeo sobre os produtos e serviccedilos que recebe e quanto aos contratos que
assina Tem tambeacutem direito de ser protegido quando se dirige ao Poder Judiciaacuterio
podendo o Juiz determinar medidas para assegurar os seus direitos no tocante agraves
soluccedilotildees alternativas que a Justiccedila pode encontrar para dar - ao Consumidor - o
resultado equivalente ao do adimplemento das obrigaccedilotildees do fornecedor
Nessa relaccedilatildeo onde o fornecedor ganha vantagem sobre o consumidor de creacutedito
consignado o segundo tem direito a ser amparado no acircmbito judiciaacuterio atraveacutes do Coacutedigo de
Defesa do Consumidor De acordo com o CDC no artigo 4 da Lei ndeg 8078 (BRASIL 1990)
pode-se afirmar que todos os consumidores satildeo vulneraacuteveis
Conforme Pfeiffer (2010) o Coacutedigo de Defesa do Consumidor preocupa-se com a
isonomia na relaccedilatildeo de consumo reconhecendo a vulnerabilidade do consumidor Dessa
forma atraveacutes das normas estabelecidas pelo CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) os
consumidores possuem amparo seguranccedila e proteccedilatildeo na contrataccedilatildeo de um bem ou serviccedilo
11
Com relaccedilatildeo ao CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) um aspecto que deve ser
ressaltado dentro desse coacutedigo eacute o direito agrave informaccedilatildeo De acordo com Tribunal de Justiccedila do
Distrito Federal e dos Territoacuterios (2016)
O direito agrave informaccedilatildeo eacute direito baacutesico do consumidor e visa assegurar ao mesmo
tempo uma escolha consciente permitindo que suas expectativas em relaccedilatildeo ao
produto ou ao serviccedilo sejam de fato atingidas manifestando o que vem sendo
denominado de consentimento informado ou vontade qualificada
Em outras palavras o consumidor ao adquirir um bem ou produto tem como direito a
informaccedilatildeo necessaacuteria para que faccedila uma compra consciente isto eacute o consumidor deve ter
clareza das condiccedilotildees favoraacuteveis e desfavoraacuteveis do produto Dessa forma eacute relevante que o
fornecedor na hora da compra informe para o cliente o que eacute de fato o seu produto natildeo
omitindo informaccedilotildees que prejudique o consumidor na hora da compra
O artigo 6ordm da Lei nordm 8078 incIII (BRASIL 1990) que retrata o CDC apresenta os
direitos baacutesicos do consumidor dentre eles pode-se destacar o direito ldquoa informaccedilatildeo adequada
e clara sobre os diferentes produtos e serviccedilos com especificaccedilatildeo correta de quantidade
caracteriacutesticas composiccedilatildeo qualidade tributos incidentes e preccedilo bem como sobre os riscos
que apresentamrdquo
Aleacutem da vulnerabilidade do consumidor ser defendida no CDC (Coacutedigo de Defesa do
Consumidor) os idosos contam com a proteccedilatildeo do Estatuto do idoso prevista em Lei nordm
1074103 (BRASIL 2003) no artigo 20 eacute possiacutevel inferir que ldquoo idoso tem direito a
educaccedilatildeo cultura esporte lazer diversotildees espetaacuteculos produtos e serviccedilos que respeitem
sua peculiar condiccedilatildeo de idaderdquo Desse modo para assegurar os direitos do consumidor idoso
eacute importante que o fornecedor seja claro com esse tipo de puacuteblico visando facilitar as
relaccedilotildees consumeristas
Quando a vulnerabilidade do consumidor eacute agravada ou possui condiccedilotildees para uma
maior fragilidade nas relaccedilotildees de consumo podemos definir que este consumidor eacute
hipervulneraacutevel De acordo com Meire e Alves (2016) circunstacircncias como fator idade
conhecimento ou condiccedilatildeo social afetam no grau da vulnerabilidade isto eacute os idosos por
exemplo estatildeo mais propensos a se enquadrar no estado de hipervulnerabilidade
Os autores Rosa Bernardes e Feacutelix (2017 p548) afirmam que
[] fatores tais quais idade avanccedilada ou reduzida situaccedilatildeo de enfermidade e outros
mais que importem fragilizaccedilatildeo e vulnerabilidade do consumidor em niacutevel maior
que o comum na exposiccedilatildeo ao produto ou serviccedilo oferecido pelo fornecedor
ocasionam um grau intensificado de inferioridade na relaccedilatildeo de consumo e assim
configuram um tipo de vulnerabilidade mais grave ao que se convencionou chamar
hipervulnerabilidade
12
Conforme o exposto relato os consumidores hipervulneraacuteveis possuem certa
fragilidade Dessa forma a abordagem dos fornecedores aos idosos eacute visando tirar proveito da
situaccedilatildeo na qual se encontram Os autores citados anteriormente destacam
O puacuteblico idoso revela-se como alvo potencial de propagandas e praacuteticas comerciais
abusivas que se aproveitam da reduzida capacidade de discernimento do idoso para
impor a contrataccedilatildeo de serviccedilos Um dos exemplos mais paradigmaacuteticos eacute a
celebraccedilatildeo de contratos de empreacutestimos consignados entre instituiccedilotildees financeiras e
consumidores idosos pois a loacutegica da sociedade de consumo visualizou lucros
certeiros com tal contrataccedilatildeo eis que via de regra idosos possuem rendimentos
mensais fixos sendo por isso a contrataccedilatildeo mais segura (ROSA BERNARDES
E FEacuteLIX 2017 p548)
Gonccedilalves e Saacute (2015) tambeacutem expotildeem a vulnerabilidade do consumidor em meio agraves
publicidades agressivas antieacuteticas onde o consumo eacute apelado utilizando um conteuacutedo forte
emotivo para atrair os consumidores agrave adquirirem determinado produtoserviccedilo
O Projeto de Lei do Senado nordm283 (BRASIL 2012) presume a alteraccedilatildeo do CDC
(BRASIL1990) visando combater essas praacuteticas de marketing com referecircncia a oferta de
creacutedito Logo esse Projeto de Lei no inciso IV do paraacutegrafo 4 recomenda que ldquoEacute vedado
expressa ou implicitamente na oferta de creacutedito ao consumidor publicitaacuteria ou natildeo [] IV ndash
ocultar por qualquer forma os ocircnus e riscos da contrataccedilatildeo de creacutedito dificultar sua
compreensatildeo ou estimular o endividamento do consumidor em especial se idoso ou
adolescenterdquo (BRASIL 2012)
Desta forma nota-se que o Coacutedigo de Defesa do Consumidor (CDC) e os estatutos
funcionam como paracircmetros para garantir a isonomia Com isso os hipervulneraacuteveis possuem
um maior amparo com relaccedilatildeo agraves praacuteticas abusivas de marketing vendas omissatildeo de
informaccedilotildees como tambeacutem as propagandas enganosas sobre o produto ou serviccedilo na qual
estatildeo contratando
221 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal como fator de vulnerabilidade
Na conjuntura atual brasileira eacute possiacutevel observar a ascensatildeo das classes populares
para as camadas meacutedias como tambeacutem o aumento de poder de compra dos idosos Logo eacute
possiacutevel perceber uma maior atenccedilatildeo dada pelas empresas a esse tipo de puacuteblico em especial
as instituiccedilotildees financeiras Esse poder de compra dos idosos fez com que as empresas
bancaacuterias estimulassem a contrataccedilatildeo de creacutedito por parte dessas pessoas em especial o
creacutedito consignado (BUAES 2015) Atraveacutes disso pode-se indagar Por que o interesse dos
bancos nesse puacuteblico
13
Conforme Buaes (2015) o aumento do poder de compra do idoso fez com que esse
puacuteblico apresentasse interesse na contrataccedilatildeo de produtos e serviccedilos financeiros visto que os
bancos apresentam certa facilidade na obtenccedilatildeo de creacuteditos Um fato destacado por Buaes
(2015) eacute a falta de percepccedilatildeo dos idosos quanto a suas limitaccedilotildees financeiras ou ateacute mesmo a
dificuldade em aceitar essa insuficiecircncia Desta maneira pode-se observar a vulnerabilidade
em duas dimensotildees neste perfil do consumidor idoso isto eacute a falta de conhecimento formal e
a anaacutelise na contrataccedilatildeo de um creacutedito
Quanto a vulnerabilidade do consumidor Chertman (2011) afirma que pode ser
identificada atraveacutes de caracteriacutesticas natildeo observaacuteveis o que eacute o caso do analfabetismo
Entende-se por analfabeto a pessoa com a incapacidade da linguagem de forma geral seja na
leitura intepretaccedilatildeo compreensatildeo e na produccedilatildeo de conhecimento Logo o analfabetismo
possibilita o indiviacuteduo tornar-se um consumidor vulneraacutevel
Aleacutem da questatildeo de pessoas analfabetas tomadores de creacuteditos haacute tambeacutem o perfil de
consumidores de baixa instruccedilatildeo Essas pessoas satildeo capazes de assinar seu proacuteprio nome
quanto agrave leitura apresentam alguma dificuldade no entendimento ou necessitam de ajuda para
uma melhor compreensatildeo Esse tipo consumidor como foi dito acima tambeacutem se enquadra
como vulneraacutevel
Dado o exposto compreende-se que o analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo
formal agravam ainda mais a vulnerabilidade do consumidor em questatildeo Os idosos aleacutem de
possuiacuterem o fator idade na qual afeta a relaccedilatildeo entre consumidorfornecedor (MEIRE
ALVES 2016) apresentam tambeacutem a presenccedila dessas duas caracteriacutesticas que podem
delimitar uma escolha consciente e clara no momento da contrataccedilatildeo de um produto ou
serviccedilo
3 METODOLOGIA
O estudo foi embasado em pesquisas bibliograacuteficas online e impressas como tambeacutem
trabalhos acadecircmicos e perioacutedicos A metodologia utilizada foi qualitativa do tipo descritiva
de acordo Godoy (1995 p62) os pesquisadores de orientaccedilatildeo qualitativadescritiva executam
suas pesquisas baseadas em trabalho de campo a partir de entrevistas e observaccedilotildees aleacutem
disso os pesquisadores possuem um contato direto com o local da pesquisa e seus sujeitos
portanto eacute possiacutevel analisar dados escrever resultados obtidos e descrever o que foi dito
pelos entrevistados
14
A pesquisa de campo foi realizada atraveacutes de entrevistas semi-estruturadas
(APEcircNDICE A) sendo composta por treze questotildees discursivas Segundo Boni e Quaresma
(2005 p 75) as teacutecnicas desse tipo de entrevista
[] tecircm como vantagem a sua elasticidade quanto agrave duraccedilatildeo permitindo uma
cobertura mais profunda sobre determinados assuntos Aleacutem disso a interaccedilatildeo entre
o entrevistador e o entrevistado favorece as respostas espontacircneas Elas tambeacutem satildeo
possibilitadoras de uma abertura e proximidade maior entre entrevistador e
entrevistado o que permite ao entrevistador tocar em assuntos mais complexos e
delicados ou seja quanto menos estruturada a entrevista maior seraacute o favorecimento
de uma troca mais afetiva entre as duas partes Desse modo estes tipos de entrevista
colaboram muito na investigaccedilatildeo dos aspectos afetivos e valorativos dos informantes
que determinam significados pessoais de suas atitudes e comportamentos As
respostas espontacircneas dos entrevistados e a maior liberdade que estes tecircm podem
fazer surgir questotildees inesperadas ao entrevistador que poderatildeo ser de grande
utilidade em sua pesquisa
Em suma pode-se perceber que esse tipo de entrevista proporcionou aos entrevistados
certa autonomia em discutir sobre o tema em questatildeo Visto que no percorrer das
interlocuccedilotildees houve a possibilidade de introduzir novos assuntos sobre o estudo como
tambeacutem a exemplificaccedilatildeo de situaccedilotildees vivenciadas pelos entrevistados
Para a realizaccedilatildeo das entrevistas no presente estudo foi indispensaacutevel entrevistar um
nuacutemero de sete bancaacuterios(as) e trecircs estagiaacuterios(as) de instituiccedilotildees financeiras privadas da
cidade de Mariana Ouro Preto e Itabirito visto que cinco deles eram do sexo masculino e os
demais do sexo feminino Visando buscar nesses gecircneros perspectivas diversas sobre as
teacutecnicas utilizadas na operaccedilatildeo do empreacutestimo consignado agrave aposentados e pensionistas Estas
entrevistas realizadas tiveram duraccedilatildeo meacutedia de quinze a trinta minutos sendo que todas as
interlocuccedilotildees foram gravadas e posteriormente transcritas para entatildeo serem analisadas
Portanto as anaacutelises das respostas foram fundamentadas em anaacutelises de conteuacutedos e
posteriormente buscou-se categorizar os elementos relevantes discutidos durante as
interlocuccedilotildees
De acordo com Cavalcante Calixto e Pinheiro (2014) a anaacutelise de conteuacutedo permite a
ldquoanaacutelise do fenocircmeno em profundidade elencando as subjetividades suas relaccedilotildees bem
como interlocuccedilotildees na malha socialrdquo logo atraveacutes das entrevistas com os bancaacuterios pode-se
verificar suas percepccedilotildees
Conforme Caregnato e Mutti (2006 p 683)
A teacutecnica de anaacutelise de conteuacutedo se compotildee de trecircs grandes etapas 1) a preacute-anaacutelise
2) a exploraccedilatildeo do material 3) o tratamento dos resultados e interpretaccedilatildeo A
mencionada autora descreve a primeira etapa como a fase de organizaccedilatildeo que pode
utilizar vaacute- rios procedimentos tais como leitura flutuante hipoacuteteses objetivos e
elaboraccedilatildeo de indicadores que fundamentem a interpretaccedilatildeo Na segunda etapa os
dados satildeo codificados a partir das unidades de registro Na uacuteltima etapa se faz a
categorizaccedilatildeo que consiste na classificaccedilatildeo dos elementos segundo suas
semelhanccedilas e por diferenciaccedilatildeo com posterior reagrupamento em funccedilatildeo de
15
caracteriacutesticas comuns Portanto a codificaccedilatildeo e a categorizaccedilatildeo fazem parte da AC
As autoras afirmam que aleacutem das teacutecnicas utilizadas na anaacutelise de conteuacutedo o
pesquisador pode categorizar fragmentos do texto que se repetem atraveacutes de frases ou
expressotildees Atraveacutes disso as entrevistas realizadas com os bancaacuterios foram categorizadas da
seguinte maneira
Categoria I- O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Categoria II- Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Categoria III- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por conseguinte essas respostas foram analisadas com o intuito de verificar como os
consumidores hipervulneraacuteveis satildeo abordados pelos(as) bancaacuterios(as) e quais as praacuteticas que
as instituiccedilotildees financeiras adotam para convencer esse puacuteblico Contudo compreende-se que
por meio das entrevistas pode-se construir consideraccedilotildees em relaccedilatildeo ao objetivo da pesquisa
31 Descriccedilatildeo da Amostra
Para a anaacutelise das praacuteticas de marketing utilizadas pelos intermediaacuterios bancaacuterios
estudaram-se sete bancaacuterios(as) e trecircs estagiaacuterios(as) atuantes na concessatildeo de empreacutestimos
consignados Estes operam nas localidades de Mariana Ouro Preto e Itabirito Em vista disso
para a execuccedilatildeo da pesquisa foi relevante a realizaccedilatildeo de entrevistas a partir desse
pressuposto foi possiacutevel inferir interpretaccedilotildees diversas sobre esses sujeitos no momento da
concessatildeo do creacutedito
As interlocuccedilotildees com os bancaacuterios e seus correspondentes foram marcadas
antecipadamente via celular informando-lhes a data o local a preferir a duraccedilatildeo em meacutedia e
do que se tratava o estudo As entrevistas foram sucedidas no periacuteodo de julho a agosto de
2016 Outro aspecto a ser relatado aos entrevistados sobre o estudo foi a importacircncia destes
para pesquisa visto que o nuacutemero de informaccedilotildees fornecidas possibilitaria uma anaacutelise
satisfatoacuteria para a exploraccedilatildeo do tema O quadro a seguir resume as caracteriacutesticas da amostra
analisada
16
Quadro 1 Caracteriacutesticas da amostra analisada
Bancaacuterios Estagiaacuterios Nomes Fictiacutecios Idade Cidades
B1 Maria Claacuteudia 41 Mariana (MG)
B2 Carlos Eduardo 22 Ouro Preto (MG)
B3 Daniel 25 Ouro Preto (MG)
B4 Leandro 27 Mariana (MG)
B5 Maacutercia 34 Mariana (MG)
B6 Antocircnio 38 Mariana (MG)
B7 Camila 27 Mariana (MG)
E1 Ana Luiacuteza 25 Itabirito (MG)
E2 Marcela 22 Itabirito (MG)
E3 Marcos 24 Ouro Preto (MG)
Fonte Dados da pesquisa
Com relaccedilatildeo a populaccedilatildeo do estudo foram levantados dados buscando alcanccedilar a
quantidade aproximada de bancaacuterios e estagiaacuterios na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e
Itabirito Para a identificaccedilatildeo dos dados foi necessaacuterio entrar em contato via telefone em todas
as agecircncias privadas dessas localidades Atraveacutes do quadro abaixo pode-se concluir o nuacutemero
da populaccedilatildeo desse puacuteblico
Quadro 2 Quantidade da populaccedilatildeo de bancaacuterios e estagiaacuterios
Localidade Bancaacuterios Estagiaacuterios
Mariana 55 3
Ouro Preto 63 3
Itabirito 52 8
TOTAL 170 14
Fonte Dados da pesquisa
Em suma a pesquisa de campo foi desenvolvida nessas localidades visto que esses
municiacutepios possuem um nuacutemero representativo de idosos puacuteblico alvo das instituiccedilotildees
financeiras De acordo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2010) a cidade de
Mariana conta com proximamente 5200 idosos jaacute Ouro Preto possui cerca de 7994 idosos e
Itabirito dispotildee em meacutedia 4998 idosos Por conseguinte surge a iniciativa de analisar os perfis
dos bancaacuterios visando compreender as praacuteticas que estes utilizam para alcanccedilar um maior nuacutemero
de idosos para efetivar a contrataccedilatildeo do creacutedito
17
4 ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
Como explicitado anteriormente a vulnerabilidade do consumidor existe a partir da
relaccedilatildeo entre empresa e cliente E considerando todas as peculiaridades e caracteriacutesticas que
fazem do consumidor de serviccedilos financeiros um consumidor vulneraacutevel esta seccedilatildeo do texto
tem por propoacutesito retratar por meio da apresentaccedilatildeo e anaacutelise dos dados extraiacutedos das
entrevistas realizadas ao longo deste estudo a forma como os bancaacuterios e seus
correspondentes operam na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e Itabirito especialmente no que se
refere ao modo como oferecem e conduzem as negociaccedilotildees de serviccedilos financeiros Quanto agrave
anaacutelise dos resultados o estudo utilizou a categorizaccedilatildeo dos discursos dos entrevistados em I
II III Logo as categorias baseiam-se em fragmentos das interlocuccedilotildees aspectos recorrentes
mencionados pelos bancaacuterios
A seguir satildeo apresentados trechos das falas dos dez respondentes que participaram
desta pesquisa Tais falas foram gravadas durante as entrevistas Os nomes adotados a seguir
para marcar que os trechos transcritos satildeo de falas de diferentes entrevistados satildeo fictiacutecios
Todas as entrevistas foram transcritas respeitando integralmente a linguagem e sinais
transmitidos por cada entrevistado
41 Categoria I
411 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos serviccedilos
financeiros
O analfabetismo e falta de instruccedilatildeo impactam no momento da contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros visto que esse tipo de puacuteblico eacute persuadido pelos bancaacuterios a tomar
determinadas decisotildees pois este natildeo possui informaccedilotildees necessaacuterias sobre o que seria esse
creacutedito o qual estaacute contratando Atraveacutes dos trechos das entrevistas foi possiacutevel identificar
que os bancaacuterios estagiaacuterios influenciam na hora da aquisiccedilatildeo do serviccedilo ateacute mesmo nas
formas como os clientes iratildeo pagar o empreacutestimo O quadro abaixo apresenta trechos da
entrevista que demonstram a falta de conhecimento financeiro dos consumidores do
empreacutestimo consignado
18
Quadro 3 - O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Entrevistados Trechos da entrevista
Maria Claacuteudia ldquoTem muita gente eacute Natildeo tatildeo instruiacuteda gente mais
simples Bom existem vaacuterias pessoas que pegam
aqui com a gente que satildeo analfabetas entendeurdquo
Ana Luiacuteza ldquoMuitas pessoas natildeo satildeo instruiacutedas poucas
pessoas sabem assinar seu proacuteprio nome mas
existem pessoas alfabetizadas simrdquo
ldquoA maioria acredito que natildeo tenha uma noccedilatildeo
esclarecimento ateacute porque quanto mais vezes vocecirc
dividir mais juros incidem e eacute melhor para o
bancordquo
Marcela ldquoEu acho que a grande maioria tinha um grau de
instruccedilatildeo reduzido e isso facilitava na hora de
vender neacuterdquo
ldquoEntatildeo a gente sempre tentava colocar de setenta
e duas vezes ou setenta e cinco satildeo seis anos de
consignado Entatildeo quanto maior o prazo maior a
taxa de juros Agraves vezes vocecirc pegava um capital
um volume muito pequeno e virava pra pessoa e
falava assim -Natildeo Por que aiacute soacute vai descontar
soacute R$3000 reais no seu pagamento e a pessoa natildeo
tinha dimensatildeo que por a gente taacute dividindo
aquele valor pequeninho sai muito grande depois
por conta da taxa que ela aumentava de acordo
com o prazordquo
Carlos Eduardo ldquoO mais comum satildeo pessoas de baixa renda e sem
informaccedilatildeo Exemplo A maioria dos consignados
os clientes nem perguntam as taxas de juros ele
natildeo estaacute preocupado com o prazo ele estaacute
preocupado com o valor da parcela se ele vai
conseguir pagar ou natildeo e o valor que vai sobrar
pra ele vai conseguir passar o mecircsrdquo
Leandro ldquoGrande parte natildeo satildeo instruiacutedas mas eu atendo
mais alta renda entatildeo meus clientes satildeo mais
seletivos eles pegam valores maiores natildeo eacute
qualquer empreacutestimo que ele pega eacute mais para
investimento mesmo ou pra sair de alguma coisardquo
19
Aacutercia ldquoEntatildeo assim muitas vezes as pessoas natildeo vem
com o conhecimento financeiro real eles querem
o imediato querem o empreacutestimo naquele
momento Muita gente natildeo tem a noccedilatildeo de como
vai ficar aquilordquo
Antocircnio ldquoEntatildeo no puacuteblico de menor renda esse
discernimento eacute menos eles olham mais se a
parcela cabe no bolso deles do que no montante
de juros que eles vatildeo pagar no finalrdquo
Fonte Dados da pesquisa
Diante destes dois perfis de consumidores vulneraacuteveis os analfabetos e os com baixa
instruccedilatildeo pode-se verificar por meio das gravaccedilotildees que tanto as pessoas analfabetas e as com
baixa instruccedilatildeo natildeo possuem compreensatildeo suficiente para realizar uma contrataccedilatildeo de creacutedito
A entrevistada Marcela afirma que vender para esse determinado tipo puacuteblico facilitava pelo
fato da falta de conhecimento financeiro
Outra situaccedilatildeo comentada durante a gravaccedilatildeo das entrevistas foi sobre as parcelas dos
empreacutestimos os bancaacuterios e os estagiaacuterios induzem os clientes a dividirem em mais vezes A
entrevistada Marcela tambeacutem afirma que sempre propunha aos seus clientes dividir em
setenta e duas vezes alegando para essas pessoas que o valor iria ldquocaber no bolsordquo Mas na
verdade os bancaacuterios aproveitam do analfabetismo financeiro dos tomadores de creacutedito
visando a lucratividade das instituiccedilotildees financeiras dado que as taxas aumentam de acordo
com prazo
A partir dessa anaacutelise eacute possiacutevel perceber de forma clara as limitaccedilotildees dos idosos no
processo de compra Conforme Chertman (2011 p21) as consequecircncias da idade
ldquopotencializam a vulnerabilidade de compra pela dificuldade de comprar em escala (podendo
negociar preccedilos)rdquo De fato nota-se que a questatildeo do analfabetismo baixa instruccedilatildeo e idade
afetam na tomada de decisatildeo consciente do consumidor
42 Categoria II
421 Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
A informaccedilatildeo no momento da compra eacute essencial para que o cliente natildeo faccedila uma
escolha errocircnea quanto ao produto Em relaccedilatildeo as entrevistas realizadas foi possiacutevel inferir
que na contrataccedilatildeo de creacutedito os bancaacuterios e seus intermediaacuterios natildeo informam o valor da
taxa de juros e acabam focando nos valores das parcelas no prazo e em quantas vezes o
parcelamento ficaraacute Sendo assim os atendentes procuram natildeo informar aos consumidores
20
quanto ficaraacute o valor total do empreacutestimo ao incidirem os juros Atraveacutes do quadro abaixo
pode-se comprovar que no momento da contrataccedilatildeo do creacutedito os bancaacuterios e estagiaacuterios
omitem determinadas informaccedilotildees aos clientes
Quadro 4 - Omissatildeo de informaccedilotildees na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Ana Luiacuteza ldquoNormalmente eu natildeo falo o valor dos juros
dificilmente eu falo o valor do juros soacute falo que
ele eacute mais baixo e informo que independe do que
a aconteccedila na economia brasileira a partir do
momento que a pessoa estaacute fazendo o contrato o
juros nunca vai aumentar que aquele juros e
sempre seraacute aquelerdquo
Marcela ldquoEntatildeo na verdade o que eu aprendi no Banco X
a regra clara Eu tinha que omitir Eu natildeo
precisava mentir mas eu precisava omitir
algumas informaccedilotildees Entatildeo eu abordava o
cliente sempre eacute Buscando saber do sonho dele
para depois eu vender o empreacutestimo Eu tentava
omitir informaccedilotildees como taxas prazo de
pagamento que eram coisas que eu soacute falava se o
cliente me perguntasse Eu achava muito
tranquilo assim vender Eu natildeo tinha muita
dificuldade natildeordquo
ldquoA gente omitia o valor total que o cliente ia
pagar justamente porque se vocecirc falar ele natildeo vai
levar entatildeo eacute A gente omitia e tentava fazer o
cliente fechar a venda na hora Principalmente
quando a venda era no caixa eletrocircnico que era
muito mais faacutecil porque agraves vezes o cliente
fechava a venda ali naquele momento naquele
instante natildeo refletia muito era mais faacutecil vender e
muitas vezes eles tavam sozinho muitas vezes os
aposentados vatildeo para agecircncia sozinho natildeo
estavam acompanhados dos filhos de ningueacutemrdquo
Carlos Eduardo ldquoNo contrato fala dos juros mas eu soacute respondo
quando o cliente perguntardquo
Marcos ldquoQuando o cliente fazia por exemplo um
empreacutestimo a gente falava o valor da parcela
21
quanto que ele vai pegar quando vai descontar do
pagamento falava a taxa de juros tambeacutem mas
acabava que eles nem sabiamrdquo
ldquoSe perguntasse alguma coisa a gente falavardquo
Fonte Dados da pesquisa
Como jaacute foi dito o cliente tem como direito obter informaccedilotildees necessaacuterias do que ele
estaacute adquirindo mas quando isso natildeo ocorre pode-se dizer que estaacute ocorrendo uma omissatildeo
dos fatos O autor Silva (2009 p146) expotildee o art 14 do CDC destacando ldquoo dever de
informaccedilatildeo cuja omissatildeo caracteriza defeito do serviccedilo ensejador do dever de indenizarrdquo
Logo pode-se concluir que quando o cliente natildeo eacute alertado sobre o produto ou serviccedilo e este
causa danos o consumidor deve ser reparado
Diante do que foi explicitado acima pode-se perceber atraveacutes das gravaccedilotildees feitas
quatro entrevistados falaram que natildeo davam as informaccedilotildees necessaacuterias para os contratadores
de creacuteditos A entrevistada Marcela usa o termo ldquoomissatildeordquo ela afirma que agraves vezes era
necessaacuterio omitir para que a venda do empreacutestimo consignado fosse realizada mais
rapidamente Jaacute os demais entrevistados alegam que normalmente natildeo falam as taxas de juros
eles informam as taxas apenas se o cliente perguntar Percebe-se tambeacutem que por se tratar de
um puacuteblico mais vulneraacutevel os bancaacuteriosestagiaacuterios tinham maior facilidade em convencecirc-
los na hora da compra jaacute que grande parte desse puacuteblico natildeo possui instruccedilotildees suficientes
para adquirir esse tipo de produto
Dessa forma eacute expliacutecito que os bancaacuterios e os estagiaacuterios natildeo davam as informaccedilotildees
necessaacuterias aos seus clientes pelo fato de terem que apresentar maior lucratividade aos
bancos Uma vez que como foi relatado por Marcela a instituiccedilatildeo financeira onde trabalhava
alegava que certas informaccedilotildees deveriam ser ldquoomitidasrdquo Dessa forma pode-se evidenciar a
violaccedilatildeo do direito do consumidor
Dentre a vulnerabilidade do consumidor quanto a omissatildeo dos fatos por partes dos
bancaacuterios e seus correspondentes haacute tambeacutem outro recurso utilizado pelos fornecedores o
linguiacutestico Isto eacute satildeo termos palavras usadas que suavizam na hora da contrataccedilatildeo de
creacutedito Pode-se dizer que eacute a comunicaccedilatildeo existente entre o fornecedor e o cliente a fim de
que o primeiro consiga induzir o segundo a comprar seu produto
O marketing de vendas retrata esta relaccedilatildeo citada acima de consumidor e fornecedor
De acordo com Bernardi (2012 p75) ldquoo marketing de vendas possui uma relaccedilatildeo estreita com
o elemento do composto mercadoloacutegico denominado de promoccedilatildeo que se refere a todas as
accedilotildees relativas agrave comunicaccedilatildeo e agrave venda dos produtos de uma organizaccedilatildeordquo
22
Atraveacutes dessa relaccedilatildeo construiacuteda pela comunicaccedilatildeo pode-se verificar por parte das
entrevistas que os bancaacuterios e os estagiaacuterios utilizam de recursos linguiacutesticos para convencer o
cliente a comprar tal produto Isto eacute estes tinham certo cuidado na maneira de falar para que
os clientes se sentissem agrave vontade e consequentemente efetivar a venda do produto
A comunicaccedilatildeo exerce influecircncia na venda de um produto ou seja esse diaacutelogo entre
cliente e fornecedor facilita a compra de um produto por parte do consumidor O autor
Bernardi (2012 p77) acresce o termo merchandising este eacute visto como um dos principais
meacutetodos de marketing associado agrave venda
Eacute um termo que pode ser usado como instrumento de comunicaccedilatildeo que apresenta o
produto ao consumidor e favorece a sua compra Merchandising no entanto eacute criar
um cenaacuterio de um produto serviccedilo ou marca de forma casual Os principais
conceitos do merchandising estatildeo voltados agrave boa estrateacutegia de comunicaccedilatildeo no
ponto de venda pois visa destacar o produto ou serviccedilo buscando assim motivar as
compras por impulso jaacute que possui uma comunicaccedilatildeo muito proacutexima agrave venda
Logo compreende-se que o merchandising eacute uma ferramenta que aproxima o cliente e
o fornecedor atraveacutes da comunicaccedilatildeo
Como jaacute foi mencionado anteriormente a forma de comunicar exerce uma forte
influecircncia no ato da compra Todavia atraveacutes das entrevistas pode-se notar certa preocupaccedilatildeo
em como abordar o cliente ou seja a forma de dialogar com seus clientes Percebeu-se entatildeo
que determinadas palavras eram trocadas por outras como por exemplo o termo
ldquoempreacutestimordquo muitas vezes era substituiacutedo pelo termo ldquodinheirinhordquo ou creacutedito A partir do
quadro abaixo pode-se concluir que a forma de falar eacute utilizada como um artifiacutecio na hora da
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado
23
43 Categoria III
431 Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por se tratar de um puacuteblico de idade com baixo grau de instruccedilatildeo ou ateacute mesmo analfabetos
os bancaacuterios estagiaacuterios se beneficiam dessa relaccedilatildeo A forma de falar induz os consumidores
de serviccedilos financeiros a adquirirem certo produto O Quadro 5 apresenta as respostas
referentes agrave forma de falar dos intermediaacuterios bancaacuterios
Quadro 5- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Marcela ldquoAcredito que para vender esse tipo de produto que eacute
um produto difiacutecil que as pessoas agraves vezes quando
vocecirc fala ldquoempreacutestimordquo a pessoa fica com o peacute atraacutes
entatildeo tem que ser assim Coisas que a gente natildeo usa eacute
falar empreacutestimo natildeo existe no banco entendeu Eacute
um dinheirinho suavizar realmente a expressatildeo
empreacutestimo porque quando vocecirc fala a expressatildeo
empreacutestimo as pessoas se fechamrdquo
ldquoMuitas vezes eles natildeo entendiam o que vocecirc estava
falando entatildeo Ah fulano vocecirc tem um dinheirinho
aqui disponiacutevel para vocecirc pegar aiacute eles perguntavam
Mas vocecirc estaacute me dando esse dinheirordquo
Marcos ldquoOutra coisa o termo empreacutestimo o pessoal mesmo
falava que era uma coisa muito pesada de se dizer a
maioria das pessoas natildeo vecirc com bons olhos entatildeo a
gente falava um dinheirinho pro cliente pois ameniza
um pouco o termo Querendo ou natildeo o modo de falar
influencia um poucordquo
Daniel ldquoEu por exemplo falo creacutedito porque eu tocirc
conversando com o cliente e ele vecirc que tem outras
pessoas em volta agraves vezes eu falar empreacutestimo ele
pode ficar um pouco chateado daquilo nem todo
mundo gosta de ir no banco pra pegar empreacutestimo
gosta de ir laacute para sacar dinheiro Eu prefiro trabalhar
com a palavra creacutedito rdquo
Antocircnio ldquoGeralmente a gente utiliza o termo creacutedito vocecirc tem
um creacutedito aprovado Porque agraves vezes a pessoa tem
ateacute medo resistecircncia em empreacutestimo Geralmente a
24
gente fala que vocecirc tem um creacutedito aprovado e aiacute a
gente fala em qual linha a pessoa tem creacutedito
pessoal financiamento para veiacuteculos financiamento
imobiliaacuterio consignado que eacute o creacutedito que vem da
folha de pagamento Entatildeo a gente normalmente
oferta creacutedito ldquo
Fonte Dados da pesquisa
Conforme alguns entrevistados esses natildeo utilizam o termo correto que eacute ldquoempreacutestimo
consignadordquo Nas gravaccedilotildees os bancaacuterios e seus correspondentes alegam que os clientes tecircm
eacute um ldquodinheirinhordquo disponiacutevel para pegarem no banco Outros afirmam que o vocaacutebulo
empregado por eles eacute o ldquocreacuteditordquo pois ameniza um pouco o termo Este possui o mesmo
significado do primeiro mas para muitos o termo quer dizer credibilidade ldquocreacutedito na praccedilardquo
apesar de ser sinocircnimo do vocaacutebulo ldquoempreacutestimordquo essa palavra soa de forma positiva
Ao verificar a forma de comunicaccedilatildeo com os clientes do empreacutestimo consignado
pode-se perceber que essa substituiccedilatildeo de ldquopalavrasrdquo ocorre com o intuito amenizar o termo
ldquoempreacutestimordquo visto que por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel as pessoas assustam quando
pronunciam a palavra empreacutestimo Para muitos esse termo soa de forma negativa como
pessoas que possuem desorganizaccedilatildeo financeira ou inadimplecircncia Por este fato tanto os
bancaacuterios quanto os estagiaacuterios procuram utilizar vocaacutebulos que suavizem e que soem de uma
forma positiva para o cliente Sendo assim a forma de se comunicar pode alterar a venda de
determinado produto ofertado Mas essa forma de suavizar os termos empregados durante a
venda do serviccedilo financeiro fora de certos limites eacutetico-legais pode ser vista como uma
espeacutecie de ldquoomissatildeordquo do que realmente esses tomadores de creacutedito estatildeo comprando Pois
como jaacute foi retratado de acordo com o CDC os termos devem ser informados de forma clara
ao cliente
Podemos exemplificar de acordo com um entrevistado que afirma utilizar o termo
ldquodinheirinhordquo por ser mais faacutecil dos aposentados e pensionistas entenderem jaacute que muitos
desses clientes possuiacuteam dificuldades sobre o que de fato estavam comprando Aleacutem disso o
bancaacuterio acredita que modo de falar pode alterar a execuccedilatildeo da venda
Tendo em vista os aspectos observados tanto o artifiacutecio linguiacutestico quanto a omissatildeo
das informaccedilotildees pelos bancaacuteriosestagiaacuterios possui objetivos em comum pelas instituiccedilotildees
financeiras na qual visam a obtenccedilatildeo de maiores lucros para essas empresas Aleacutem disso os
bancos satildeo os maiores beneficiados pois natildeo levam em consideraccedilatildeo a isonomia das relaccedilotildees
entre consumidor e fornecedor Portanto conclui-se que em meio a essa relaccedilatildeo o consumidor
eacute parte mais fraca onde seus direitos satildeo violados pelos fornecedores de creacutedito
25
5 CONCLUSAtildeO
O creacutedito consignado eacute um tipo de empreacutestimo recente que vem sendo utilizado com
maior frequecircncia por um determinado puacuteblico (LOPES et al2014) Com isso as instituiccedilotildees
bancaacuterias estatildeo apresentando certo interesse sobre esse ldquonovordquo tipo de puacuteblico em ascensatildeo
Os intermediaacuterios bancaacuterios vecircm buscando formas para atrair os idosos seja atraveacutes das
facilidades da obtenccedilatildeo do creacutedito ou ateacute mesmo no modo de comunicar utilizando de
artifiacutecios de linguagem Em suma os bancos utilizam de praacuteticas de marketing tensionados a
obter vantagens sobre esses consumidores De acordo com o Coacutedigo de Consumidor (CDC)
estes satildeo considerados como vulneraacuteveis
Perante o estudo notou-se que a vulnerabilidade do idoso eacute agravada jaacute que
enquadram como consumidores hipervulneraacuteveis Essa vulnerabilidade acontece atraveacutes das
relaccedilotildees de consumo onde os fornecedores do empreacutestimo tiram proveito do estado em que
esses consumidores se encontram Para que estes cidadatildeos hipervulneraacuteveis sejam amparados
haacute o Estatuto do idoso e Coacutedigo do Consumidor ambos dispotildeem de normas que regem a
relaccedilatildeo entre consumidor-fornecedor Deve-se ressaltar que apesar da existecircncia das
legislaccedilotildees os bancos continuam praticando ldquoexcessosrdquo com os consumidores no momento da
contrataccedilatildeo do creacutedito Eacute relevante a imposiccedilatildeo do Estado visando inibir a lesatildeo do direito
sendo especificado ao idoso
Logo atraveacutes dos resultados da pesquisa pode-se concluir que essa vulnerabilidade
acentuada ocorre atraveacutes de fatores como idade baixa escolaridade e baixo grau de instruccedilatildeo
que interferem nas relaccedilotildees consumeristas isto eacute os contratadores de creacutedito consignado natildeo
possuem domiacutenio para realizar uma compra consciente Sendo assim os consumidores
apresentam limitaccedilotildees sobre o serviccedilo financeiro na qual estaacute adquirindo A partir da anaacutelise
foi possiacutevel verificar atraveacutes dos entrevistados que o puacuteblico idoso natildeo possuiacutea conhecimento
sobre as taxas juros que incidiam sobre as parcelas Aleacutem disso os bancaacuterios afirmavam que
iriam dividir em mais pagamentos para natildeo atrapalhar no orccedilamento mensal do consumidor
Por conseguinte aspectos como estes facilitavam a induzir os idosos a adquirem o creacutedito
mostrando a estes o quatildeo era vantajoso o produto oferecido
Tambeacutem deve-se ressaltar que por se tratar de um puacuteblico com baixo grau de instruccedilatildeo
e alguns analfabetos tanto os bancaacuterios quanto os estagiaacuterios omitiam informaccedilotildees bem
como tambeacutem utilizavam os recursos linguiacutesticos Estas duas formas contribuiacuteram para que as
vendas fossem efetuadas de uma maneira mais raacutepida Uma vez que a forma de falar ou a
26
omissatildeo influenciavam aos idosos comprarem o produto de uma forma irrefletida visto que
esses consumidores acreditavam no que estava sendo falado por parte do fornecedor
Portanto diante da fragilidade do consumidor em questatildeo eacute perceptiacutevel que na
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado boa parte dos idosos muitas vezes natildeo estatildeo acompanhados
por nenhum membro da famiacutelia Desta maneira para os bancaacuteriosestagiaacuterios a forma de
abordar o cliente fica mais acessiacutevel ainda mais por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel com
pouco grau de instruccedilatildeo ou conhecimento Logo situaccedilotildees como estas contribuem para os
fornecedores tirarem proveito do puacuteblico idoso Outro fato que deve ser destacado eacute a
presenccedila do Estado incentivando programas de alfabetizaccedilatildeo financeira independente do fator
idade para que a sociedade no geral saiba ter consciecircncia clareza sobre as relaccedilotildees de
consumo
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SENADO FEDERAL Projeto de Lei do Senado n 283 2012 Disponiacutevel em
lthttpwww25senadolegbrwebatividadematerias-materia1067733Egt acesso em 27
de janeiro de 2017
SILVA L V L Contratos bancaaacuterios nas relaccedilotildees de consumo uma breve abodagem
Revista da EMERJ n 46 2009
SOUZA B O D MORETTO C F Entre a razatildeo e a emoccedilatildeo a tomada de creacutedito
consignado pelos idosos Revista Brasileira de Ciecircncias do Envelhecimento Humano v
11 n 1 2014
29
APEcircNDICE A
Roteiro de Entrevista qualitativa aplicada aos bancaacuterios e seus correspondentes
1 Idade
2 Formaccedilatildeo acadecircmica ( ) Ensino Meacutedio
( ) Superior
3 Haacute quanto tempo vocecirc trabalha ou jaacute trabalhou vendendo serviccedilos financeiros Em
qual cidade Descreva os serviccedilos financeiros que vocecirc mais estava habituado a
venda
4 Fale um pouco sobre as atividades que vocecirc realizava dentro da empresa Me conte
como era o seu dia a dia como era o processo de venda Da captaccedilatildeo do cliente ao
fechamento do contrato ou da venda do serviccedilo DEcirc EXEMPLOS
5 Quais produtos financeiros vocecirc estava ou estaacute mais habituado a vender
Creacutedito consignado creacutedito pessoal seguros empreacutestimos financiamentos
Qual vocecirc eacute mais estimulado a fazer
Tem diferenccedila na venda desses produtos
A abordagem ao cliente muda Quais satildeo mais diferentes
Vocecirc pode descrever para mim cada um deles por favor
Quais produtos satildeo os mais procurados
6 Qual eacute o tipo de puacuteblico que busca pelo empreacutestimo Descreva para mim as
caracteriacutesticas que vocecirc julga como mais marcantes Geralmente satildeo pessoas de que
faixa etaacuteria Satildeo pessoas de classe baixa meacutedia ou alta Satildeo pessoas instruiacutedas
7 Essas pessoas possuem um esclarecimento sobre o que seria esse tipo creacutedito
Compreendem as vantagens e as desvantagens relacionadas ao serviccedilo O que vocecirc
acha disso
8 No momento da contrataccedilatildeo de creacutedito o que eacute falado Como se daacute Todos os temos
do contrato ficam claros Vocecircs bancaacuterios explicitam o que estaacute no contrato Haacute
30
alguma avaliaccedilatildeo criteriosa do perfil do cliente de suas condiccedilotildees financeiras
9 O que vocecirc jaacute verificou por parte das pessoas que tomam esse creacutedito Qual seria os
maiores motivos para a procura do creacutedito consignado
10 Quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito vocecirc concorda com as vantagens oferecidas no
contrato ou acredita que algo deveria ser alterado O que vocecirc natildeo estaria de acordo
11 Qual o limite de desconto mensal da folha de pagamento do trabalhador o banco
oferece Por algum momento o banco excedeu o valor de desconto da folha Comente
essefato
12 Quanto agraves poliacuteticas bancaacuterias proposta pelos bancos para a venda de produtos
financeiros vocecirc concorda Ou algum momento jaacute discordou Discorra sobre o fato
13 Frequentemente vocecircs bancaacuterios satildeo estimulados a bater metas sobre os produtos que
vocecircs oferecem Vocecirc concorda que existe uma certa pressatildeo em vender cada vez mais
produtos Em alguma situaccedilatildeo vocecirc natildeo esteve de acordo como a forma que deveria
induzir os clientes a comprar um produto na qual vocecirc estaria oferecendo
8
acessiacutevel a quem tem restriccedilotildees creditiacutecias e prazos maiores para pagamento Contudo eacute
dessa forma que os bancos visam atrair atuais e futuros consumidores do creacutedito consignado
Atraveacutes da concessatildeo do empreacutestimo consignado surge a relaccedilatildeo de consumo entre os
intermediaacuterios bancaacuterios (fornecedores) e os tomadores de creacutedito consignado
(consumidores) Nessa relaccedilatildeo pode-se dizer que os consumidores satildeo vistos como
vulneraacuteveis Conforme Chertman (2011) o consumidor vulneraacutevel eacute fraacutegil pois natildeo conhece
todas as informaccedilotildees existentes num processo de compra Sendo assim os fornecedores tiram
vantagens na contrataccedilatildeo de um produto ou serviccedilo
Logo pode-se inferir que os fornecedores do empreacutestimo consignado detecircm maiores
informaccedilotildees sobre o serviccedilo oferecido desta maneira os consumidores do empreacutestimo satildeo
considerados a parte mais fraca da relaccedilatildeo jaacute que natildeo possuem na maior parte das vezes
informaccedilatildeo necessaacuteria para uma segura contrataccedilatildeo do creacutedito
Visando mitigar tais problemas ou oferecer apoio a parte vulneraacutevel na relaccedilatildeo de
consumo foi criado o CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) Ele busca reduzir os
problemas existentes entre o fornecedor-consumidor uma vez que os consumidores
necessitam de proteccedilatildeo em especial aqueles chamados (hiper)vulneraacuteveis
Desse modo a vulnerabilidade do consumidor quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito seraacute o
assunto principal abordado ao longo deste trabalho Mais especificamente esta proposta de
pesquisa buscou analisar possiacuteveis accedilotildees de marketing de instituiccedilotildees financeiras e seus
intermediaacuterios que de alguma forma se aproveitam da fragilidade do consumidor de serviccedilos
financeiros O tema em questatildeo eacute multifacetado isto eacute percebe-se que o puacuteblico ao adquirir
um produto ou serviccedilo acaba sendo influenciado pelos bancaacuterios e seus equivalentes estes satildeo
pressionados e induzidos pelas instituiccedilotildees financeiras a utilizarem de praacuteticas de marketing
para efetuaccedilatildeo de maiores nuacutemeros de vendas do creacutedito consignado Logo eacute possiacutevel
concluir que os bancos estatildeo compreendendo que esse tipo de puacuteblico idosos aposentados e
pensionistas pode ser responsaacutevel pela expansatildeo dos negoacutecios bancaacuterios (BUAES 2015)
Por conseguinte este estudo eacute relevante para que a sociedade possa entender e
compreender o efeito que as estrateacutegias de marketing exercem sobre as suas escolhas Aleacutem
disso pode-se salientar conforme Buaes (2015) que a educaccedilatildeo financeira eacute significativa
para a equidade da relaccedilatildeo entre consumidor e fornecedor onde o primeiro possa agir com
discernimento e conhecimento sobre suas atitudes Mas para que esse cenaacuterio se modifique
haacute a necessidade de uma maior atenccedilatildeo a esse tema por parte do governo dando importacircncia
agraves praacuteticas educativas voltadas para alfabetizaccedilatildeo financeira
9
Em virtude dos fatos mencionados acima pode-se indagar Ateacute que ponto agraves praacuteticas
de Marketing dos bancos satildeo desenhadas visando tirar proveito da vulnerabilidade dos
consumidores de serviccedilos financeiros Deste modo tem-se por objetivo geral analisar esse
problema enfrentado pela sociedade desfavorecida Aleacutem disso busca-se explicar as
caracteriacutesticas desses consumidores bem como buscar evidecircncias na qual os bancos se
aproveitam dessa vulnerabilidade
2 REVISAtildeO DE LITERATURA
21 Creacutedito consignado
A expansatildeo do creacutedito no Brasil foi fomentada nos uacuteltimos 10 anos provocando um
aumento na demanda por tal serviccedilo financeiro e consequentemente um aumento do
endividamento das classes menos favorecidas (SBICCA FLORIANI JUK 2012) Por outro
lado o maior acesso ao creacutedito pela populaccedilatildeo acarretou um aumento no consumo bens e
serviccedilos jaacute que as classes desfavorecidas comeccedilaram a ter maior participaccedilatildeo na economia
Com relaccedilatildeo ao cenaacuterio brasileiro a economia do paiacutes se expandiu fortemente no
periacuteodo compreendido entre os anos de 2004 e 2007 provocando relevante impacto sobre a
ampliaccedilatildeo do creacutedito bancaacuterio Dentre os serviccedilos que contribuiacuteram para a ampliaccedilatildeo do
creacutedito bancaacuterio podemos destacar a criaccedilatildeo do empreacutestimo consignado que por sua vez
ajudou a estimular o ambiente econocircmico (ARAUacuteJO 2012) Ainda segundo Arauacutejo (2012) a
introduccedilatildeo do creacutedito consignado foi autorizada atraveacutes da Medida Provisoacuteria nordm130 de
setembro de 2003 convertida na Lei nordm 10820 logo no mecircs de dezembro
O creacutedito consignado eacute um empreacutestimo realizado pelos intermediaacuterios bancaacuterios onde
as parcelas satildeo descontadas diretamente na folha de pagamento do tomador do empreacutestimo
Aleacutem disso deve-se salientar que o desconto maacuteximo na folha para operaccedilotildees desta natureza
eacute de ateacute 30 do valor da remuneraccedilatildeo ou benefiacutecio previsto na Lei Nordm10820 de 17 de
dezembro de 2003
Gonccedilalves e Saacute (2013 p08) explicitam quem satildeo os principais consumidores do
serviccedilo financeiro de empreacutestimo consignado descrevendo como ldquoo puacuteblico alvo da
modalidade de consignados satildeo as pessoas idosas beneficiaacuterios da Previdecircncia Social quer
aposentados quer pensionistasrdquo
Os contratadores de creacutedito consignado geralmente satildeo idosos pessoas de baixa renda
e baixa escolaridade Os consumidores dessa modalidade de serviccedilo financeiro satildeo geralmente
atraiacutedos pelas instituiccedilotildees financeiras que costumam apresentar serviccedilos ldquovantajososrdquo como
10
juros mensais inferiores aos do mercado tradicional e a natildeo necessidade de avalista haja vista
que o risco do negoacutecio eacute pequeno para o fornecedor jaacute que o valor retido eacute descontado na
fonte o que reduz os riscos de inadimplecircncia
A facilidade que os consumidores tecircm de adquirir dinheiro via creacutedito consignado e
dos bancos realizarem tais operaccedilotildees de baixiacutessimo risco faz com que os bancos tirem
vantagem na contrataccedilatildeo do creacutedito consignado Visto que os idosos ao contratarem esse tipo
de creacutedito desconhecem a quantidade de parcelas e o periacuteodo que levaratildeo para quitaacute-las
Aleacutem disso estes natildeo compreendem qual o valor dos juros mensal preocupam-se apenas com
o valor da parcela a ser liquidada (GONCcedilALVES SAacute 2013)
22 Consumidor (Hiper) Vulneraacutevel e o Coacutedigo de Defesa do Consumidor
O termo vulnerabilidade estaacute relacionado com as relaccedilotildees de consumo na aquisiccedilatildeo de
um bem Desta maneira pode-se definir o termo como uma incapacidade ou fragilidade no
ato do consumo Ou seja essa vulnerabilidade do consumo traz como consequecircncia situaccedilotildees
em que os consumidores se enganam erram ou desconhecem todas as informaccedilotildees que
existem num processo de compra Logo a vulnerabilidade do consumidor faz com que os
fornecedores tirem vantagens na contrataccedilatildeo de um produto ou serviccedilo Isto eacute os fornecedores
omitem certas informaccedilotildees sobre os produtos aos clientes (CHERTMAN 2011)
Na contrataccedilatildeo do creacutedito consignado deve-se ressaltar diante do exposto acima que
os tomadores de creacutedito estatildeo em desvantagem com relaccedilatildeo aos fornecedores desse serviccedilo jaacute
que as instituiccedilotildees natildeo transferem as informaccedilotildees necessaacuterias quando esses consumidores
estatildeo obtendo o serviccedilo Segundo Barbosa (2002 p4)
O consumidor eacute a parte mais fraca nas relaccedilotildees de consumo Por isso tem ele direito
agrave boa informaccedilatildeo sobre os produtos e serviccedilos que recebe e quanto aos contratos que
assina Tem tambeacutem direito de ser protegido quando se dirige ao Poder Judiciaacuterio
podendo o Juiz determinar medidas para assegurar os seus direitos no tocante agraves
soluccedilotildees alternativas que a Justiccedila pode encontrar para dar - ao Consumidor - o
resultado equivalente ao do adimplemento das obrigaccedilotildees do fornecedor
Nessa relaccedilatildeo onde o fornecedor ganha vantagem sobre o consumidor de creacutedito
consignado o segundo tem direito a ser amparado no acircmbito judiciaacuterio atraveacutes do Coacutedigo de
Defesa do Consumidor De acordo com o CDC no artigo 4 da Lei ndeg 8078 (BRASIL 1990)
pode-se afirmar que todos os consumidores satildeo vulneraacuteveis
Conforme Pfeiffer (2010) o Coacutedigo de Defesa do Consumidor preocupa-se com a
isonomia na relaccedilatildeo de consumo reconhecendo a vulnerabilidade do consumidor Dessa
forma atraveacutes das normas estabelecidas pelo CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) os
consumidores possuem amparo seguranccedila e proteccedilatildeo na contrataccedilatildeo de um bem ou serviccedilo
11
Com relaccedilatildeo ao CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) um aspecto que deve ser
ressaltado dentro desse coacutedigo eacute o direito agrave informaccedilatildeo De acordo com Tribunal de Justiccedila do
Distrito Federal e dos Territoacuterios (2016)
O direito agrave informaccedilatildeo eacute direito baacutesico do consumidor e visa assegurar ao mesmo
tempo uma escolha consciente permitindo que suas expectativas em relaccedilatildeo ao
produto ou ao serviccedilo sejam de fato atingidas manifestando o que vem sendo
denominado de consentimento informado ou vontade qualificada
Em outras palavras o consumidor ao adquirir um bem ou produto tem como direito a
informaccedilatildeo necessaacuteria para que faccedila uma compra consciente isto eacute o consumidor deve ter
clareza das condiccedilotildees favoraacuteveis e desfavoraacuteveis do produto Dessa forma eacute relevante que o
fornecedor na hora da compra informe para o cliente o que eacute de fato o seu produto natildeo
omitindo informaccedilotildees que prejudique o consumidor na hora da compra
O artigo 6ordm da Lei nordm 8078 incIII (BRASIL 1990) que retrata o CDC apresenta os
direitos baacutesicos do consumidor dentre eles pode-se destacar o direito ldquoa informaccedilatildeo adequada
e clara sobre os diferentes produtos e serviccedilos com especificaccedilatildeo correta de quantidade
caracteriacutesticas composiccedilatildeo qualidade tributos incidentes e preccedilo bem como sobre os riscos
que apresentamrdquo
Aleacutem da vulnerabilidade do consumidor ser defendida no CDC (Coacutedigo de Defesa do
Consumidor) os idosos contam com a proteccedilatildeo do Estatuto do idoso prevista em Lei nordm
1074103 (BRASIL 2003) no artigo 20 eacute possiacutevel inferir que ldquoo idoso tem direito a
educaccedilatildeo cultura esporte lazer diversotildees espetaacuteculos produtos e serviccedilos que respeitem
sua peculiar condiccedilatildeo de idaderdquo Desse modo para assegurar os direitos do consumidor idoso
eacute importante que o fornecedor seja claro com esse tipo de puacuteblico visando facilitar as
relaccedilotildees consumeristas
Quando a vulnerabilidade do consumidor eacute agravada ou possui condiccedilotildees para uma
maior fragilidade nas relaccedilotildees de consumo podemos definir que este consumidor eacute
hipervulneraacutevel De acordo com Meire e Alves (2016) circunstacircncias como fator idade
conhecimento ou condiccedilatildeo social afetam no grau da vulnerabilidade isto eacute os idosos por
exemplo estatildeo mais propensos a se enquadrar no estado de hipervulnerabilidade
Os autores Rosa Bernardes e Feacutelix (2017 p548) afirmam que
[] fatores tais quais idade avanccedilada ou reduzida situaccedilatildeo de enfermidade e outros
mais que importem fragilizaccedilatildeo e vulnerabilidade do consumidor em niacutevel maior
que o comum na exposiccedilatildeo ao produto ou serviccedilo oferecido pelo fornecedor
ocasionam um grau intensificado de inferioridade na relaccedilatildeo de consumo e assim
configuram um tipo de vulnerabilidade mais grave ao que se convencionou chamar
hipervulnerabilidade
12
Conforme o exposto relato os consumidores hipervulneraacuteveis possuem certa
fragilidade Dessa forma a abordagem dos fornecedores aos idosos eacute visando tirar proveito da
situaccedilatildeo na qual se encontram Os autores citados anteriormente destacam
O puacuteblico idoso revela-se como alvo potencial de propagandas e praacuteticas comerciais
abusivas que se aproveitam da reduzida capacidade de discernimento do idoso para
impor a contrataccedilatildeo de serviccedilos Um dos exemplos mais paradigmaacuteticos eacute a
celebraccedilatildeo de contratos de empreacutestimos consignados entre instituiccedilotildees financeiras e
consumidores idosos pois a loacutegica da sociedade de consumo visualizou lucros
certeiros com tal contrataccedilatildeo eis que via de regra idosos possuem rendimentos
mensais fixos sendo por isso a contrataccedilatildeo mais segura (ROSA BERNARDES
E FEacuteLIX 2017 p548)
Gonccedilalves e Saacute (2015) tambeacutem expotildeem a vulnerabilidade do consumidor em meio agraves
publicidades agressivas antieacuteticas onde o consumo eacute apelado utilizando um conteuacutedo forte
emotivo para atrair os consumidores agrave adquirirem determinado produtoserviccedilo
O Projeto de Lei do Senado nordm283 (BRASIL 2012) presume a alteraccedilatildeo do CDC
(BRASIL1990) visando combater essas praacuteticas de marketing com referecircncia a oferta de
creacutedito Logo esse Projeto de Lei no inciso IV do paraacutegrafo 4 recomenda que ldquoEacute vedado
expressa ou implicitamente na oferta de creacutedito ao consumidor publicitaacuteria ou natildeo [] IV ndash
ocultar por qualquer forma os ocircnus e riscos da contrataccedilatildeo de creacutedito dificultar sua
compreensatildeo ou estimular o endividamento do consumidor em especial se idoso ou
adolescenterdquo (BRASIL 2012)
Desta forma nota-se que o Coacutedigo de Defesa do Consumidor (CDC) e os estatutos
funcionam como paracircmetros para garantir a isonomia Com isso os hipervulneraacuteveis possuem
um maior amparo com relaccedilatildeo agraves praacuteticas abusivas de marketing vendas omissatildeo de
informaccedilotildees como tambeacutem as propagandas enganosas sobre o produto ou serviccedilo na qual
estatildeo contratando
221 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal como fator de vulnerabilidade
Na conjuntura atual brasileira eacute possiacutevel observar a ascensatildeo das classes populares
para as camadas meacutedias como tambeacutem o aumento de poder de compra dos idosos Logo eacute
possiacutevel perceber uma maior atenccedilatildeo dada pelas empresas a esse tipo de puacuteblico em especial
as instituiccedilotildees financeiras Esse poder de compra dos idosos fez com que as empresas
bancaacuterias estimulassem a contrataccedilatildeo de creacutedito por parte dessas pessoas em especial o
creacutedito consignado (BUAES 2015) Atraveacutes disso pode-se indagar Por que o interesse dos
bancos nesse puacuteblico
13
Conforme Buaes (2015) o aumento do poder de compra do idoso fez com que esse
puacuteblico apresentasse interesse na contrataccedilatildeo de produtos e serviccedilos financeiros visto que os
bancos apresentam certa facilidade na obtenccedilatildeo de creacuteditos Um fato destacado por Buaes
(2015) eacute a falta de percepccedilatildeo dos idosos quanto a suas limitaccedilotildees financeiras ou ateacute mesmo a
dificuldade em aceitar essa insuficiecircncia Desta maneira pode-se observar a vulnerabilidade
em duas dimensotildees neste perfil do consumidor idoso isto eacute a falta de conhecimento formal e
a anaacutelise na contrataccedilatildeo de um creacutedito
Quanto a vulnerabilidade do consumidor Chertman (2011) afirma que pode ser
identificada atraveacutes de caracteriacutesticas natildeo observaacuteveis o que eacute o caso do analfabetismo
Entende-se por analfabeto a pessoa com a incapacidade da linguagem de forma geral seja na
leitura intepretaccedilatildeo compreensatildeo e na produccedilatildeo de conhecimento Logo o analfabetismo
possibilita o indiviacuteduo tornar-se um consumidor vulneraacutevel
Aleacutem da questatildeo de pessoas analfabetas tomadores de creacuteditos haacute tambeacutem o perfil de
consumidores de baixa instruccedilatildeo Essas pessoas satildeo capazes de assinar seu proacuteprio nome
quanto agrave leitura apresentam alguma dificuldade no entendimento ou necessitam de ajuda para
uma melhor compreensatildeo Esse tipo consumidor como foi dito acima tambeacutem se enquadra
como vulneraacutevel
Dado o exposto compreende-se que o analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo
formal agravam ainda mais a vulnerabilidade do consumidor em questatildeo Os idosos aleacutem de
possuiacuterem o fator idade na qual afeta a relaccedilatildeo entre consumidorfornecedor (MEIRE
ALVES 2016) apresentam tambeacutem a presenccedila dessas duas caracteriacutesticas que podem
delimitar uma escolha consciente e clara no momento da contrataccedilatildeo de um produto ou
serviccedilo
3 METODOLOGIA
O estudo foi embasado em pesquisas bibliograacuteficas online e impressas como tambeacutem
trabalhos acadecircmicos e perioacutedicos A metodologia utilizada foi qualitativa do tipo descritiva
de acordo Godoy (1995 p62) os pesquisadores de orientaccedilatildeo qualitativadescritiva executam
suas pesquisas baseadas em trabalho de campo a partir de entrevistas e observaccedilotildees aleacutem
disso os pesquisadores possuem um contato direto com o local da pesquisa e seus sujeitos
portanto eacute possiacutevel analisar dados escrever resultados obtidos e descrever o que foi dito
pelos entrevistados
14
A pesquisa de campo foi realizada atraveacutes de entrevistas semi-estruturadas
(APEcircNDICE A) sendo composta por treze questotildees discursivas Segundo Boni e Quaresma
(2005 p 75) as teacutecnicas desse tipo de entrevista
[] tecircm como vantagem a sua elasticidade quanto agrave duraccedilatildeo permitindo uma
cobertura mais profunda sobre determinados assuntos Aleacutem disso a interaccedilatildeo entre
o entrevistador e o entrevistado favorece as respostas espontacircneas Elas tambeacutem satildeo
possibilitadoras de uma abertura e proximidade maior entre entrevistador e
entrevistado o que permite ao entrevistador tocar em assuntos mais complexos e
delicados ou seja quanto menos estruturada a entrevista maior seraacute o favorecimento
de uma troca mais afetiva entre as duas partes Desse modo estes tipos de entrevista
colaboram muito na investigaccedilatildeo dos aspectos afetivos e valorativos dos informantes
que determinam significados pessoais de suas atitudes e comportamentos As
respostas espontacircneas dos entrevistados e a maior liberdade que estes tecircm podem
fazer surgir questotildees inesperadas ao entrevistador que poderatildeo ser de grande
utilidade em sua pesquisa
Em suma pode-se perceber que esse tipo de entrevista proporcionou aos entrevistados
certa autonomia em discutir sobre o tema em questatildeo Visto que no percorrer das
interlocuccedilotildees houve a possibilidade de introduzir novos assuntos sobre o estudo como
tambeacutem a exemplificaccedilatildeo de situaccedilotildees vivenciadas pelos entrevistados
Para a realizaccedilatildeo das entrevistas no presente estudo foi indispensaacutevel entrevistar um
nuacutemero de sete bancaacuterios(as) e trecircs estagiaacuterios(as) de instituiccedilotildees financeiras privadas da
cidade de Mariana Ouro Preto e Itabirito visto que cinco deles eram do sexo masculino e os
demais do sexo feminino Visando buscar nesses gecircneros perspectivas diversas sobre as
teacutecnicas utilizadas na operaccedilatildeo do empreacutestimo consignado agrave aposentados e pensionistas Estas
entrevistas realizadas tiveram duraccedilatildeo meacutedia de quinze a trinta minutos sendo que todas as
interlocuccedilotildees foram gravadas e posteriormente transcritas para entatildeo serem analisadas
Portanto as anaacutelises das respostas foram fundamentadas em anaacutelises de conteuacutedos e
posteriormente buscou-se categorizar os elementos relevantes discutidos durante as
interlocuccedilotildees
De acordo com Cavalcante Calixto e Pinheiro (2014) a anaacutelise de conteuacutedo permite a
ldquoanaacutelise do fenocircmeno em profundidade elencando as subjetividades suas relaccedilotildees bem
como interlocuccedilotildees na malha socialrdquo logo atraveacutes das entrevistas com os bancaacuterios pode-se
verificar suas percepccedilotildees
Conforme Caregnato e Mutti (2006 p 683)
A teacutecnica de anaacutelise de conteuacutedo se compotildee de trecircs grandes etapas 1) a preacute-anaacutelise
2) a exploraccedilatildeo do material 3) o tratamento dos resultados e interpretaccedilatildeo A
mencionada autora descreve a primeira etapa como a fase de organizaccedilatildeo que pode
utilizar vaacute- rios procedimentos tais como leitura flutuante hipoacuteteses objetivos e
elaboraccedilatildeo de indicadores que fundamentem a interpretaccedilatildeo Na segunda etapa os
dados satildeo codificados a partir das unidades de registro Na uacuteltima etapa se faz a
categorizaccedilatildeo que consiste na classificaccedilatildeo dos elementos segundo suas
semelhanccedilas e por diferenciaccedilatildeo com posterior reagrupamento em funccedilatildeo de
15
caracteriacutesticas comuns Portanto a codificaccedilatildeo e a categorizaccedilatildeo fazem parte da AC
As autoras afirmam que aleacutem das teacutecnicas utilizadas na anaacutelise de conteuacutedo o
pesquisador pode categorizar fragmentos do texto que se repetem atraveacutes de frases ou
expressotildees Atraveacutes disso as entrevistas realizadas com os bancaacuterios foram categorizadas da
seguinte maneira
Categoria I- O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Categoria II- Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Categoria III- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por conseguinte essas respostas foram analisadas com o intuito de verificar como os
consumidores hipervulneraacuteveis satildeo abordados pelos(as) bancaacuterios(as) e quais as praacuteticas que
as instituiccedilotildees financeiras adotam para convencer esse puacuteblico Contudo compreende-se que
por meio das entrevistas pode-se construir consideraccedilotildees em relaccedilatildeo ao objetivo da pesquisa
31 Descriccedilatildeo da Amostra
Para a anaacutelise das praacuteticas de marketing utilizadas pelos intermediaacuterios bancaacuterios
estudaram-se sete bancaacuterios(as) e trecircs estagiaacuterios(as) atuantes na concessatildeo de empreacutestimos
consignados Estes operam nas localidades de Mariana Ouro Preto e Itabirito Em vista disso
para a execuccedilatildeo da pesquisa foi relevante a realizaccedilatildeo de entrevistas a partir desse
pressuposto foi possiacutevel inferir interpretaccedilotildees diversas sobre esses sujeitos no momento da
concessatildeo do creacutedito
As interlocuccedilotildees com os bancaacuterios e seus correspondentes foram marcadas
antecipadamente via celular informando-lhes a data o local a preferir a duraccedilatildeo em meacutedia e
do que se tratava o estudo As entrevistas foram sucedidas no periacuteodo de julho a agosto de
2016 Outro aspecto a ser relatado aos entrevistados sobre o estudo foi a importacircncia destes
para pesquisa visto que o nuacutemero de informaccedilotildees fornecidas possibilitaria uma anaacutelise
satisfatoacuteria para a exploraccedilatildeo do tema O quadro a seguir resume as caracteriacutesticas da amostra
analisada
16
Quadro 1 Caracteriacutesticas da amostra analisada
Bancaacuterios Estagiaacuterios Nomes Fictiacutecios Idade Cidades
B1 Maria Claacuteudia 41 Mariana (MG)
B2 Carlos Eduardo 22 Ouro Preto (MG)
B3 Daniel 25 Ouro Preto (MG)
B4 Leandro 27 Mariana (MG)
B5 Maacutercia 34 Mariana (MG)
B6 Antocircnio 38 Mariana (MG)
B7 Camila 27 Mariana (MG)
E1 Ana Luiacuteza 25 Itabirito (MG)
E2 Marcela 22 Itabirito (MG)
E3 Marcos 24 Ouro Preto (MG)
Fonte Dados da pesquisa
Com relaccedilatildeo a populaccedilatildeo do estudo foram levantados dados buscando alcanccedilar a
quantidade aproximada de bancaacuterios e estagiaacuterios na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e
Itabirito Para a identificaccedilatildeo dos dados foi necessaacuterio entrar em contato via telefone em todas
as agecircncias privadas dessas localidades Atraveacutes do quadro abaixo pode-se concluir o nuacutemero
da populaccedilatildeo desse puacuteblico
Quadro 2 Quantidade da populaccedilatildeo de bancaacuterios e estagiaacuterios
Localidade Bancaacuterios Estagiaacuterios
Mariana 55 3
Ouro Preto 63 3
Itabirito 52 8
TOTAL 170 14
Fonte Dados da pesquisa
Em suma a pesquisa de campo foi desenvolvida nessas localidades visto que esses
municiacutepios possuem um nuacutemero representativo de idosos puacuteblico alvo das instituiccedilotildees
financeiras De acordo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2010) a cidade de
Mariana conta com proximamente 5200 idosos jaacute Ouro Preto possui cerca de 7994 idosos e
Itabirito dispotildee em meacutedia 4998 idosos Por conseguinte surge a iniciativa de analisar os perfis
dos bancaacuterios visando compreender as praacuteticas que estes utilizam para alcanccedilar um maior nuacutemero
de idosos para efetivar a contrataccedilatildeo do creacutedito
17
4 ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
Como explicitado anteriormente a vulnerabilidade do consumidor existe a partir da
relaccedilatildeo entre empresa e cliente E considerando todas as peculiaridades e caracteriacutesticas que
fazem do consumidor de serviccedilos financeiros um consumidor vulneraacutevel esta seccedilatildeo do texto
tem por propoacutesito retratar por meio da apresentaccedilatildeo e anaacutelise dos dados extraiacutedos das
entrevistas realizadas ao longo deste estudo a forma como os bancaacuterios e seus
correspondentes operam na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e Itabirito especialmente no que se
refere ao modo como oferecem e conduzem as negociaccedilotildees de serviccedilos financeiros Quanto agrave
anaacutelise dos resultados o estudo utilizou a categorizaccedilatildeo dos discursos dos entrevistados em I
II III Logo as categorias baseiam-se em fragmentos das interlocuccedilotildees aspectos recorrentes
mencionados pelos bancaacuterios
A seguir satildeo apresentados trechos das falas dos dez respondentes que participaram
desta pesquisa Tais falas foram gravadas durante as entrevistas Os nomes adotados a seguir
para marcar que os trechos transcritos satildeo de falas de diferentes entrevistados satildeo fictiacutecios
Todas as entrevistas foram transcritas respeitando integralmente a linguagem e sinais
transmitidos por cada entrevistado
41 Categoria I
411 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos serviccedilos
financeiros
O analfabetismo e falta de instruccedilatildeo impactam no momento da contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros visto que esse tipo de puacuteblico eacute persuadido pelos bancaacuterios a tomar
determinadas decisotildees pois este natildeo possui informaccedilotildees necessaacuterias sobre o que seria esse
creacutedito o qual estaacute contratando Atraveacutes dos trechos das entrevistas foi possiacutevel identificar
que os bancaacuterios estagiaacuterios influenciam na hora da aquisiccedilatildeo do serviccedilo ateacute mesmo nas
formas como os clientes iratildeo pagar o empreacutestimo O quadro abaixo apresenta trechos da
entrevista que demonstram a falta de conhecimento financeiro dos consumidores do
empreacutestimo consignado
18
Quadro 3 - O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Entrevistados Trechos da entrevista
Maria Claacuteudia ldquoTem muita gente eacute Natildeo tatildeo instruiacuteda gente mais
simples Bom existem vaacuterias pessoas que pegam
aqui com a gente que satildeo analfabetas entendeurdquo
Ana Luiacuteza ldquoMuitas pessoas natildeo satildeo instruiacutedas poucas
pessoas sabem assinar seu proacuteprio nome mas
existem pessoas alfabetizadas simrdquo
ldquoA maioria acredito que natildeo tenha uma noccedilatildeo
esclarecimento ateacute porque quanto mais vezes vocecirc
dividir mais juros incidem e eacute melhor para o
bancordquo
Marcela ldquoEu acho que a grande maioria tinha um grau de
instruccedilatildeo reduzido e isso facilitava na hora de
vender neacuterdquo
ldquoEntatildeo a gente sempre tentava colocar de setenta
e duas vezes ou setenta e cinco satildeo seis anos de
consignado Entatildeo quanto maior o prazo maior a
taxa de juros Agraves vezes vocecirc pegava um capital
um volume muito pequeno e virava pra pessoa e
falava assim -Natildeo Por que aiacute soacute vai descontar
soacute R$3000 reais no seu pagamento e a pessoa natildeo
tinha dimensatildeo que por a gente taacute dividindo
aquele valor pequeninho sai muito grande depois
por conta da taxa que ela aumentava de acordo
com o prazordquo
Carlos Eduardo ldquoO mais comum satildeo pessoas de baixa renda e sem
informaccedilatildeo Exemplo A maioria dos consignados
os clientes nem perguntam as taxas de juros ele
natildeo estaacute preocupado com o prazo ele estaacute
preocupado com o valor da parcela se ele vai
conseguir pagar ou natildeo e o valor que vai sobrar
pra ele vai conseguir passar o mecircsrdquo
Leandro ldquoGrande parte natildeo satildeo instruiacutedas mas eu atendo
mais alta renda entatildeo meus clientes satildeo mais
seletivos eles pegam valores maiores natildeo eacute
qualquer empreacutestimo que ele pega eacute mais para
investimento mesmo ou pra sair de alguma coisardquo
19
Aacutercia ldquoEntatildeo assim muitas vezes as pessoas natildeo vem
com o conhecimento financeiro real eles querem
o imediato querem o empreacutestimo naquele
momento Muita gente natildeo tem a noccedilatildeo de como
vai ficar aquilordquo
Antocircnio ldquoEntatildeo no puacuteblico de menor renda esse
discernimento eacute menos eles olham mais se a
parcela cabe no bolso deles do que no montante
de juros que eles vatildeo pagar no finalrdquo
Fonte Dados da pesquisa
Diante destes dois perfis de consumidores vulneraacuteveis os analfabetos e os com baixa
instruccedilatildeo pode-se verificar por meio das gravaccedilotildees que tanto as pessoas analfabetas e as com
baixa instruccedilatildeo natildeo possuem compreensatildeo suficiente para realizar uma contrataccedilatildeo de creacutedito
A entrevistada Marcela afirma que vender para esse determinado tipo puacuteblico facilitava pelo
fato da falta de conhecimento financeiro
Outra situaccedilatildeo comentada durante a gravaccedilatildeo das entrevistas foi sobre as parcelas dos
empreacutestimos os bancaacuterios e os estagiaacuterios induzem os clientes a dividirem em mais vezes A
entrevistada Marcela tambeacutem afirma que sempre propunha aos seus clientes dividir em
setenta e duas vezes alegando para essas pessoas que o valor iria ldquocaber no bolsordquo Mas na
verdade os bancaacuterios aproveitam do analfabetismo financeiro dos tomadores de creacutedito
visando a lucratividade das instituiccedilotildees financeiras dado que as taxas aumentam de acordo
com prazo
A partir dessa anaacutelise eacute possiacutevel perceber de forma clara as limitaccedilotildees dos idosos no
processo de compra Conforme Chertman (2011 p21) as consequecircncias da idade
ldquopotencializam a vulnerabilidade de compra pela dificuldade de comprar em escala (podendo
negociar preccedilos)rdquo De fato nota-se que a questatildeo do analfabetismo baixa instruccedilatildeo e idade
afetam na tomada de decisatildeo consciente do consumidor
42 Categoria II
421 Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
A informaccedilatildeo no momento da compra eacute essencial para que o cliente natildeo faccedila uma
escolha errocircnea quanto ao produto Em relaccedilatildeo as entrevistas realizadas foi possiacutevel inferir
que na contrataccedilatildeo de creacutedito os bancaacuterios e seus intermediaacuterios natildeo informam o valor da
taxa de juros e acabam focando nos valores das parcelas no prazo e em quantas vezes o
parcelamento ficaraacute Sendo assim os atendentes procuram natildeo informar aos consumidores
20
quanto ficaraacute o valor total do empreacutestimo ao incidirem os juros Atraveacutes do quadro abaixo
pode-se comprovar que no momento da contrataccedilatildeo do creacutedito os bancaacuterios e estagiaacuterios
omitem determinadas informaccedilotildees aos clientes
Quadro 4 - Omissatildeo de informaccedilotildees na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Ana Luiacuteza ldquoNormalmente eu natildeo falo o valor dos juros
dificilmente eu falo o valor do juros soacute falo que
ele eacute mais baixo e informo que independe do que
a aconteccedila na economia brasileira a partir do
momento que a pessoa estaacute fazendo o contrato o
juros nunca vai aumentar que aquele juros e
sempre seraacute aquelerdquo
Marcela ldquoEntatildeo na verdade o que eu aprendi no Banco X
a regra clara Eu tinha que omitir Eu natildeo
precisava mentir mas eu precisava omitir
algumas informaccedilotildees Entatildeo eu abordava o
cliente sempre eacute Buscando saber do sonho dele
para depois eu vender o empreacutestimo Eu tentava
omitir informaccedilotildees como taxas prazo de
pagamento que eram coisas que eu soacute falava se o
cliente me perguntasse Eu achava muito
tranquilo assim vender Eu natildeo tinha muita
dificuldade natildeordquo
ldquoA gente omitia o valor total que o cliente ia
pagar justamente porque se vocecirc falar ele natildeo vai
levar entatildeo eacute A gente omitia e tentava fazer o
cliente fechar a venda na hora Principalmente
quando a venda era no caixa eletrocircnico que era
muito mais faacutecil porque agraves vezes o cliente
fechava a venda ali naquele momento naquele
instante natildeo refletia muito era mais faacutecil vender e
muitas vezes eles tavam sozinho muitas vezes os
aposentados vatildeo para agecircncia sozinho natildeo
estavam acompanhados dos filhos de ningueacutemrdquo
Carlos Eduardo ldquoNo contrato fala dos juros mas eu soacute respondo
quando o cliente perguntardquo
Marcos ldquoQuando o cliente fazia por exemplo um
empreacutestimo a gente falava o valor da parcela
21
quanto que ele vai pegar quando vai descontar do
pagamento falava a taxa de juros tambeacutem mas
acabava que eles nem sabiamrdquo
ldquoSe perguntasse alguma coisa a gente falavardquo
Fonte Dados da pesquisa
Como jaacute foi dito o cliente tem como direito obter informaccedilotildees necessaacuterias do que ele
estaacute adquirindo mas quando isso natildeo ocorre pode-se dizer que estaacute ocorrendo uma omissatildeo
dos fatos O autor Silva (2009 p146) expotildee o art 14 do CDC destacando ldquoo dever de
informaccedilatildeo cuja omissatildeo caracteriza defeito do serviccedilo ensejador do dever de indenizarrdquo
Logo pode-se concluir que quando o cliente natildeo eacute alertado sobre o produto ou serviccedilo e este
causa danos o consumidor deve ser reparado
Diante do que foi explicitado acima pode-se perceber atraveacutes das gravaccedilotildees feitas
quatro entrevistados falaram que natildeo davam as informaccedilotildees necessaacuterias para os contratadores
de creacuteditos A entrevistada Marcela usa o termo ldquoomissatildeordquo ela afirma que agraves vezes era
necessaacuterio omitir para que a venda do empreacutestimo consignado fosse realizada mais
rapidamente Jaacute os demais entrevistados alegam que normalmente natildeo falam as taxas de juros
eles informam as taxas apenas se o cliente perguntar Percebe-se tambeacutem que por se tratar de
um puacuteblico mais vulneraacutevel os bancaacuteriosestagiaacuterios tinham maior facilidade em convencecirc-
los na hora da compra jaacute que grande parte desse puacuteblico natildeo possui instruccedilotildees suficientes
para adquirir esse tipo de produto
Dessa forma eacute expliacutecito que os bancaacuterios e os estagiaacuterios natildeo davam as informaccedilotildees
necessaacuterias aos seus clientes pelo fato de terem que apresentar maior lucratividade aos
bancos Uma vez que como foi relatado por Marcela a instituiccedilatildeo financeira onde trabalhava
alegava que certas informaccedilotildees deveriam ser ldquoomitidasrdquo Dessa forma pode-se evidenciar a
violaccedilatildeo do direito do consumidor
Dentre a vulnerabilidade do consumidor quanto a omissatildeo dos fatos por partes dos
bancaacuterios e seus correspondentes haacute tambeacutem outro recurso utilizado pelos fornecedores o
linguiacutestico Isto eacute satildeo termos palavras usadas que suavizam na hora da contrataccedilatildeo de
creacutedito Pode-se dizer que eacute a comunicaccedilatildeo existente entre o fornecedor e o cliente a fim de
que o primeiro consiga induzir o segundo a comprar seu produto
O marketing de vendas retrata esta relaccedilatildeo citada acima de consumidor e fornecedor
De acordo com Bernardi (2012 p75) ldquoo marketing de vendas possui uma relaccedilatildeo estreita com
o elemento do composto mercadoloacutegico denominado de promoccedilatildeo que se refere a todas as
accedilotildees relativas agrave comunicaccedilatildeo e agrave venda dos produtos de uma organizaccedilatildeordquo
22
Atraveacutes dessa relaccedilatildeo construiacuteda pela comunicaccedilatildeo pode-se verificar por parte das
entrevistas que os bancaacuterios e os estagiaacuterios utilizam de recursos linguiacutesticos para convencer o
cliente a comprar tal produto Isto eacute estes tinham certo cuidado na maneira de falar para que
os clientes se sentissem agrave vontade e consequentemente efetivar a venda do produto
A comunicaccedilatildeo exerce influecircncia na venda de um produto ou seja esse diaacutelogo entre
cliente e fornecedor facilita a compra de um produto por parte do consumidor O autor
Bernardi (2012 p77) acresce o termo merchandising este eacute visto como um dos principais
meacutetodos de marketing associado agrave venda
Eacute um termo que pode ser usado como instrumento de comunicaccedilatildeo que apresenta o
produto ao consumidor e favorece a sua compra Merchandising no entanto eacute criar
um cenaacuterio de um produto serviccedilo ou marca de forma casual Os principais
conceitos do merchandising estatildeo voltados agrave boa estrateacutegia de comunicaccedilatildeo no
ponto de venda pois visa destacar o produto ou serviccedilo buscando assim motivar as
compras por impulso jaacute que possui uma comunicaccedilatildeo muito proacutexima agrave venda
Logo compreende-se que o merchandising eacute uma ferramenta que aproxima o cliente e
o fornecedor atraveacutes da comunicaccedilatildeo
Como jaacute foi mencionado anteriormente a forma de comunicar exerce uma forte
influecircncia no ato da compra Todavia atraveacutes das entrevistas pode-se notar certa preocupaccedilatildeo
em como abordar o cliente ou seja a forma de dialogar com seus clientes Percebeu-se entatildeo
que determinadas palavras eram trocadas por outras como por exemplo o termo
ldquoempreacutestimordquo muitas vezes era substituiacutedo pelo termo ldquodinheirinhordquo ou creacutedito A partir do
quadro abaixo pode-se concluir que a forma de falar eacute utilizada como um artifiacutecio na hora da
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado
23
43 Categoria III
431 Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por se tratar de um puacuteblico de idade com baixo grau de instruccedilatildeo ou ateacute mesmo analfabetos
os bancaacuterios estagiaacuterios se beneficiam dessa relaccedilatildeo A forma de falar induz os consumidores
de serviccedilos financeiros a adquirirem certo produto O Quadro 5 apresenta as respostas
referentes agrave forma de falar dos intermediaacuterios bancaacuterios
Quadro 5- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Marcela ldquoAcredito que para vender esse tipo de produto que eacute
um produto difiacutecil que as pessoas agraves vezes quando
vocecirc fala ldquoempreacutestimordquo a pessoa fica com o peacute atraacutes
entatildeo tem que ser assim Coisas que a gente natildeo usa eacute
falar empreacutestimo natildeo existe no banco entendeu Eacute
um dinheirinho suavizar realmente a expressatildeo
empreacutestimo porque quando vocecirc fala a expressatildeo
empreacutestimo as pessoas se fechamrdquo
ldquoMuitas vezes eles natildeo entendiam o que vocecirc estava
falando entatildeo Ah fulano vocecirc tem um dinheirinho
aqui disponiacutevel para vocecirc pegar aiacute eles perguntavam
Mas vocecirc estaacute me dando esse dinheirordquo
Marcos ldquoOutra coisa o termo empreacutestimo o pessoal mesmo
falava que era uma coisa muito pesada de se dizer a
maioria das pessoas natildeo vecirc com bons olhos entatildeo a
gente falava um dinheirinho pro cliente pois ameniza
um pouco o termo Querendo ou natildeo o modo de falar
influencia um poucordquo
Daniel ldquoEu por exemplo falo creacutedito porque eu tocirc
conversando com o cliente e ele vecirc que tem outras
pessoas em volta agraves vezes eu falar empreacutestimo ele
pode ficar um pouco chateado daquilo nem todo
mundo gosta de ir no banco pra pegar empreacutestimo
gosta de ir laacute para sacar dinheiro Eu prefiro trabalhar
com a palavra creacutedito rdquo
Antocircnio ldquoGeralmente a gente utiliza o termo creacutedito vocecirc tem
um creacutedito aprovado Porque agraves vezes a pessoa tem
ateacute medo resistecircncia em empreacutestimo Geralmente a
24
gente fala que vocecirc tem um creacutedito aprovado e aiacute a
gente fala em qual linha a pessoa tem creacutedito
pessoal financiamento para veiacuteculos financiamento
imobiliaacuterio consignado que eacute o creacutedito que vem da
folha de pagamento Entatildeo a gente normalmente
oferta creacutedito ldquo
Fonte Dados da pesquisa
Conforme alguns entrevistados esses natildeo utilizam o termo correto que eacute ldquoempreacutestimo
consignadordquo Nas gravaccedilotildees os bancaacuterios e seus correspondentes alegam que os clientes tecircm
eacute um ldquodinheirinhordquo disponiacutevel para pegarem no banco Outros afirmam que o vocaacutebulo
empregado por eles eacute o ldquocreacuteditordquo pois ameniza um pouco o termo Este possui o mesmo
significado do primeiro mas para muitos o termo quer dizer credibilidade ldquocreacutedito na praccedilardquo
apesar de ser sinocircnimo do vocaacutebulo ldquoempreacutestimordquo essa palavra soa de forma positiva
Ao verificar a forma de comunicaccedilatildeo com os clientes do empreacutestimo consignado
pode-se perceber que essa substituiccedilatildeo de ldquopalavrasrdquo ocorre com o intuito amenizar o termo
ldquoempreacutestimordquo visto que por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel as pessoas assustam quando
pronunciam a palavra empreacutestimo Para muitos esse termo soa de forma negativa como
pessoas que possuem desorganizaccedilatildeo financeira ou inadimplecircncia Por este fato tanto os
bancaacuterios quanto os estagiaacuterios procuram utilizar vocaacutebulos que suavizem e que soem de uma
forma positiva para o cliente Sendo assim a forma de se comunicar pode alterar a venda de
determinado produto ofertado Mas essa forma de suavizar os termos empregados durante a
venda do serviccedilo financeiro fora de certos limites eacutetico-legais pode ser vista como uma
espeacutecie de ldquoomissatildeordquo do que realmente esses tomadores de creacutedito estatildeo comprando Pois
como jaacute foi retratado de acordo com o CDC os termos devem ser informados de forma clara
ao cliente
Podemos exemplificar de acordo com um entrevistado que afirma utilizar o termo
ldquodinheirinhordquo por ser mais faacutecil dos aposentados e pensionistas entenderem jaacute que muitos
desses clientes possuiacuteam dificuldades sobre o que de fato estavam comprando Aleacutem disso o
bancaacuterio acredita que modo de falar pode alterar a execuccedilatildeo da venda
Tendo em vista os aspectos observados tanto o artifiacutecio linguiacutestico quanto a omissatildeo
das informaccedilotildees pelos bancaacuteriosestagiaacuterios possui objetivos em comum pelas instituiccedilotildees
financeiras na qual visam a obtenccedilatildeo de maiores lucros para essas empresas Aleacutem disso os
bancos satildeo os maiores beneficiados pois natildeo levam em consideraccedilatildeo a isonomia das relaccedilotildees
entre consumidor e fornecedor Portanto conclui-se que em meio a essa relaccedilatildeo o consumidor
eacute parte mais fraca onde seus direitos satildeo violados pelos fornecedores de creacutedito
25
5 CONCLUSAtildeO
O creacutedito consignado eacute um tipo de empreacutestimo recente que vem sendo utilizado com
maior frequecircncia por um determinado puacuteblico (LOPES et al2014) Com isso as instituiccedilotildees
bancaacuterias estatildeo apresentando certo interesse sobre esse ldquonovordquo tipo de puacuteblico em ascensatildeo
Os intermediaacuterios bancaacuterios vecircm buscando formas para atrair os idosos seja atraveacutes das
facilidades da obtenccedilatildeo do creacutedito ou ateacute mesmo no modo de comunicar utilizando de
artifiacutecios de linguagem Em suma os bancos utilizam de praacuteticas de marketing tensionados a
obter vantagens sobre esses consumidores De acordo com o Coacutedigo de Consumidor (CDC)
estes satildeo considerados como vulneraacuteveis
Perante o estudo notou-se que a vulnerabilidade do idoso eacute agravada jaacute que
enquadram como consumidores hipervulneraacuteveis Essa vulnerabilidade acontece atraveacutes das
relaccedilotildees de consumo onde os fornecedores do empreacutestimo tiram proveito do estado em que
esses consumidores se encontram Para que estes cidadatildeos hipervulneraacuteveis sejam amparados
haacute o Estatuto do idoso e Coacutedigo do Consumidor ambos dispotildeem de normas que regem a
relaccedilatildeo entre consumidor-fornecedor Deve-se ressaltar que apesar da existecircncia das
legislaccedilotildees os bancos continuam praticando ldquoexcessosrdquo com os consumidores no momento da
contrataccedilatildeo do creacutedito Eacute relevante a imposiccedilatildeo do Estado visando inibir a lesatildeo do direito
sendo especificado ao idoso
Logo atraveacutes dos resultados da pesquisa pode-se concluir que essa vulnerabilidade
acentuada ocorre atraveacutes de fatores como idade baixa escolaridade e baixo grau de instruccedilatildeo
que interferem nas relaccedilotildees consumeristas isto eacute os contratadores de creacutedito consignado natildeo
possuem domiacutenio para realizar uma compra consciente Sendo assim os consumidores
apresentam limitaccedilotildees sobre o serviccedilo financeiro na qual estaacute adquirindo A partir da anaacutelise
foi possiacutevel verificar atraveacutes dos entrevistados que o puacuteblico idoso natildeo possuiacutea conhecimento
sobre as taxas juros que incidiam sobre as parcelas Aleacutem disso os bancaacuterios afirmavam que
iriam dividir em mais pagamentos para natildeo atrapalhar no orccedilamento mensal do consumidor
Por conseguinte aspectos como estes facilitavam a induzir os idosos a adquirem o creacutedito
mostrando a estes o quatildeo era vantajoso o produto oferecido
Tambeacutem deve-se ressaltar que por se tratar de um puacuteblico com baixo grau de instruccedilatildeo
e alguns analfabetos tanto os bancaacuterios quanto os estagiaacuterios omitiam informaccedilotildees bem
como tambeacutem utilizavam os recursos linguiacutesticos Estas duas formas contribuiacuteram para que as
vendas fossem efetuadas de uma maneira mais raacutepida Uma vez que a forma de falar ou a
26
omissatildeo influenciavam aos idosos comprarem o produto de uma forma irrefletida visto que
esses consumidores acreditavam no que estava sendo falado por parte do fornecedor
Portanto diante da fragilidade do consumidor em questatildeo eacute perceptiacutevel que na
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado boa parte dos idosos muitas vezes natildeo estatildeo acompanhados
por nenhum membro da famiacutelia Desta maneira para os bancaacuteriosestagiaacuterios a forma de
abordar o cliente fica mais acessiacutevel ainda mais por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel com
pouco grau de instruccedilatildeo ou conhecimento Logo situaccedilotildees como estas contribuem para os
fornecedores tirarem proveito do puacuteblico idoso Outro fato que deve ser destacado eacute a
presenccedila do Estado incentivando programas de alfabetizaccedilatildeo financeira independente do fator
idade para que a sociedade no geral saiba ter consciecircncia clareza sobre as relaccedilotildees de
consumo
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29
APEcircNDICE A
Roteiro de Entrevista qualitativa aplicada aos bancaacuterios e seus correspondentes
1 Idade
2 Formaccedilatildeo acadecircmica ( ) Ensino Meacutedio
( ) Superior
3 Haacute quanto tempo vocecirc trabalha ou jaacute trabalhou vendendo serviccedilos financeiros Em
qual cidade Descreva os serviccedilos financeiros que vocecirc mais estava habituado a
venda
4 Fale um pouco sobre as atividades que vocecirc realizava dentro da empresa Me conte
como era o seu dia a dia como era o processo de venda Da captaccedilatildeo do cliente ao
fechamento do contrato ou da venda do serviccedilo DEcirc EXEMPLOS
5 Quais produtos financeiros vocecirc estava ou estaacute mais habituado a vender
Creacutedito consignado creacutedito pessoal seguros empreacutestimos financiamentos
Qual vocecirc eacute mais estimulado a fazer
Tem diferenccedila na venda desses produtos
A abordagem ao cliente muda Quais satildeo mais diferentes
Vocecirc pode descrever para mim cada um deles por favor
Quais produtos satildeo os mais procurados
6 Qual eacute o tipo de puacuteblico que busca pelo empreacutestimo Descreva para mim as
caracteriacutesticas que vocecirc julga como mais marcantes Geralmente satildeo pessoas de que
faixa etaacuteria Satildeo pessoas de classe baixa meacutedia ou alta Satildeo pessoas instruiacutedas
7 Essas pessoas possuem um esclarecimento sobre o que seria esse tipo creacutedito
Compreendem as vantagens e as desvantagens relacionadas ao serviccedilo O que vocecirc
acha disso
8 No momento da contrataccedilatildeo de creacutedito o que eacute falado Como se daacute Todos os temos
do contrato ficam claros Vocecircs bancaacuterios explicitam o que estaacute no contrato Haacute
30
alguma avaliaccedilatildeo criteriosa do perfil do cliente de suas condiccedilotildees financeiras
9 O que vocecirc jaacute verificou por parte das pessoas que tomam esse creacutedito Qual seria os
maiores motivos para a procura do creacutedito consignado
10 Quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito vocecirc concorda com as vantagens oferecidas no
contrato ou acredita que algo deveria ser alterado O que vocecirc natildeo estaria de acordo
11 Qual o limite de desconto mensal da folha de pagamento do trabalhador o banco
oferece Por algum momento o banco excedeu o valor de desconto da folha Comente
essefato
12 Quanto agraves poliacuteticas bancaacuterias proposta pelos bancos para a venda de produtos
financeiros vocecirc concorda Ou algum momento jaacute discordou Discorra sobre o fato
13 Frequentemente vocecircs bancaacuterios satildeo estimulados a bater metas sobre os produtos que
vocecircs oferecem Vocecirc concorda que existe uma certa pressatildeo em vender cada vez mais
produtos Em alguma situaccedilatildeo vocecirc natildeo esteve de acordo como a forma que deveria
induzir os clientes a comprar um produto na qual vocecirc estaria oferecendo
9
Em virtude dos fatos mencionados acima pode-se indagar Ateacute que ponto agraves praacuteticas
de Marketing dos bancos satildeo desenhadas visando tirar proveito da vulnerabilidade dos
consumidores de serviccedilos financeiros Deste modo tem-se por objetivo geral analisar esse
problema enfrentado pela sociedade desfavorecida Aleacutem disso busca-se explicar as
caracteriacutesticas desses consumidores bem como buscar evidecircncias na qual os bancos se
aproveitam dessa vulnerabilidade
2 REVISAtildeO DE LITERATURA
21 Creacutedito consignado
A expansatildeo do creacutedito no Brasil foi fomentada nos uacuteltimos 10 anos provocando um
aumento na demanda por tal serviccedilo financeiro e consequentemente um aumento do
endividamento das classes menos favorecidas (SBICCA FLORIANI JUK 2012) Por outro
lado o maior acesso ao creacutedito pela populaccedilatildeo acarretou um aumento no consumo bens e
serviccedilos jaacute que as classes desfavorecidas comeccedilaram a ter maior participaccedilatildeo na economia
Com relaccedilatildeo ao cenaacuterio brasileiro a economia do paiacutes se expandiu fortemente no
periacuteodo compreendido entre os anos de 2004 e 2007 provocando relevante impacto sobre a
ampliaccedilatildeo do creacutedito bancaacuterio Dentre os serviccedilos que contribuiacuteram para a ampliaccedilatildeo do
creacutedito bancaacuterio podemos destacar a criaccedilatildeo do empreacutestimo consignado que por sua vez
ajudou a estimular o ambiente econocircmico (ARAUacuteJO 2012) Ainda segundo Arauacutejo (2012) a
introduccedilatildeo do creacutedito consignado foi autorizada atraveacutes da Medida Provisoacuteria nordm130 de
setembro de 2003 convertida na Lei nordm 10820 logo no mecircs de dezembro
O creacutedito consignado eacute um empreacutestimo realizado pelos intermediaacuterios bancaacuterios onde
as parcelas satildeo descontadas diretamente na folha de pagamento do tomador do empreacutestimo
Aleacutem disso deve-se salientar que o desconto maacuteximo na folha para operaccedilotildees desta natureza
eacute de ateacute 30 do valor da remuneraccedilatildeo ou benefiacutecio previsto na Lei Nordm10820 de 17 de
dezembro de 2003
Gonccedilalves e Saacute (2013 p08) explicitam quem satildeo os principais consumidores do
serviccedilo financeiro de empreacutestimo consignado descrevendo como ldquoo puacuteblico alvo da
modalidade de consignados satildeo as pessoas idosas beneficiaacuterios da Previdecircncia Social quer
aposentados quer pensionistasrdquo
Os contratadores de creacutedito consignado geralmente satildeo idosos pessoas de baixa renda
e baixa escolaridade Os consumidores dessa modalidade de serviccedilo financeiro satildeo geralmente
atraiacutedos pelas instituiccedilotildees financeiras que costumam apresentar serviccedilos ldquovantajososrdquo como
10
juros mensais inferiores aos do mercado tradicional e a natildeo necessidade de avalista haja vista
que o risco do negoacutecio eacute pequeno para o fornecedor jaacute que o valor retido eacute descontado na
fonte o que reduz os riscos de inadimplecircncia
A facilidade que os consumidores tecircm de adquirir dinheiro via creacutedito consignado e
dos bancos realizarem tais operaccedilotildees de baixiacutessimo risco faz com que os bancos tirem
vantagem na contrataccedilatildeo do creacutedito consignado Visto que os idosos ao contratarem esse tipo
de creacutedito desconhecem a quantidade de parcelas e o periacuteodo que levaratildeo para quitaacute-las
Aleacutem disso estes natildeo compreendem qual o valor dos juros mensal preocupam-se apenas com
o valor da parcela a ser liquidada (GONCcedilALVES SAacute 2013)
22 Consumidor (Hiper) Vulneraacutevel e o Coacutedigo de Defesa do Consumidor
O termo vulnerabilidade estaacute relacionado com as relaccedilotildees de consumo na aquisiccedilatildeo de
um bem Desta maneira pode-se definir o termo como uma incapacidade ou fragilidade no
ato do consumo Ou seja essa vulnerabilidade do consumo traz como consequecircncia situaccedilotildees
em que os consumidores se enganam erram ou desconhecem todas as informaccedilotildees que
existem num processo de compra Logo a vulnerabilidade do consumidor faz com que os
fornecedores tirem vantagens na contrataccedilatildeo de um produto ou serviccedilo Isto eacute os fornecedores
omitem certas informaccedilotildees sobre os produtos aos clientes (CHERTMAN 2011)
Na contrataccedilatildeo do creacutedito consignado deve-se ressaltar diante do exposto acima que
os tomadores de creacutedito estatildeo em desvantagem com relaccedilatildeo aos fornecedores desse serviccedilo jaacute
que as instituiccedilotildees natildeo transferem as informaccedilotildees necessaacuterias quando esses consumidores
estatildeo obtendo o serviccedilo Segundo Barbosa (2002 p4)
O consumidor eacute a parte mais fraca nas relaccedilotildees de consumo Por isso tem ele direito
agrave boa informaccedilatildeo sobre os produtos e serviccedilos que recebe e quanto aos contratos que
assina Tem tambeacutem direito de ser protegido quando se dirige ao Poder Judiciaacuterio
podendo o Juiz determinar medidas para assegurar os seus direitos no tocante agraves
soluccedilotildees alternativas que a Justiccedila pode encontrar para dar - ao Consumidor - o
resultado equivalente ao do adimplemento das obrigaccedilotildees do fornecedor
Nessa relaccedilatildeo onde o fornecedor ganha vantagem sobre o consumidor de creacutedito
consignado o segundo tem direito a ser amparado no acircmbito judiciaacuterio atraveacutes do Coacutedigo de
Defesa do Consumidor De acordo com o CDC no artigo 4 da Lei ndeg 8078 (BRASIL 1990)
pode-se afirmar que todos os consumidores satildeo vulneraacuteveis
Conforme Pfeiffer (2010) o Coacutedigo de Defesa do Consumidor preocupa-se com a
isonomia na relaccedilatildeo de consumo reconhecendo a vulnerabilidade do consumidor Dessa
forma atraveacutes das normas estabelecidas pelo CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) os
consumidores possuem amparo seguranccedila e proteccedilatildeo na contrataccedilatildeo de um bem ou serviccedilo
11
Com relaccedilatildeo ao CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) um aspecto que deve ser
ressaltado dentro desse coacutedigo eacute o direito agrave informaccedilatildeo De acordo com Tribunal de Justiccedila do
Distrito Federal e dos Territoacuterios (2016)
O direito agrave informaccedilatildeo eacute direito baacutesico do consumidor e visa assegurar ao mesmo
tempo uma escolha consciente permitindo que suas expectativas em relaccedilatildeo ao
produto ou ao serviccedilo sejam de fato atingidas manifestando o que vem sendo
denominado de consentimento informado ou vontade qualificada
Em outras palavras o consumidor ao adquirir um bem ou produto tem como direito a
informaccedilatildeo necessaacuteria para que faccedila uma compra consciente isto eacute o consumidor deve ter
clareza das condiccedilotildees favoraacuteveis e desfavoraacuteveis do produto Dessa forma eacute relevante que o
fornecedor na hora da compra informe para o cliente o que eacute de fato o seu produto natildeo
omitindo informaccedilotildees que prejudique o consumidor na hora da compra
O artigo 6ordm da Lei nordm 8078 incIII (BRASIL 1990) que retrata o CDC apresenta os
direitos baacutesicos do consumidor dentre eles pode-se destacar o direito ldquoa informaccedilatildeo adequada
e clara sobre os diferentes produtos e serviccedilos com especificaccedilatildeo correta de quantidade
caracteriacutesticas composiccedilatildeo qualidade tributos incidentes e preccedilo bem como sobre os riscos
que apresentamrdquo
Aleacutem da vulnerabilidade do consumidor ser defendida no CDC (Coacutedigo de Defesa do
Consumidor) os idosos contam com a proteccedilatildeo do Estatuto do idoso prevista em Lei nordm
1074103 (BRASIL 2003) no artigo 20 eacute possiacutevel inferir que ldquoo idoso tem direito a
educaccedilatildeo cultura esporte lazer diversotildees espetaacuteculos produtos e serviccedilos que respeitem
sua peculiar condiccedilatildeo de idaderdquo Desse modo para assegurar os direitos do consumidor idoso
eacute importante que o fornecedor seja claro com esse tipo de puacuteblico visando facilitar as
relaccedilotildees consumeristas
Quando a vulnerabilidade do consumidor eacute agravada ou possui condiccedilotildees para uma
maior fragilidade nas relaccedilotildees de consumo podemos definir que este consumidor eacute
hipervulneraacutevel De acordo com Meire e Alves (2016) circunstacircncias como fator idade
conhecimento ou condiccedilatildeo social afetam no grau da vulnerabilidade isto eacute os idosos por
exemplo estatildeo mais propensos a se enquadrar no estado de hipervulnerabilidade
Os autores Rosa Bernardes e Feacutelix (2017 p548) afirmam que
[] fatores tais quais idade avanccedilada ou reduzida situaccedilatildeo de enfermidade e outros
mais que importem fragilizaccedilatildeo e vulnerabilidade do consumidor em niacutevel maior
que o comum na exposiccedilatildeo ao produto ou serviccedilo oferecido pelo fornecedor
ocasionam um grau intensificado de inferioridade na relaccedilatildeo de consumo e assim
configuram um tipo de vulnerabilidade mais grave ao que se convencionou chamar
hipervulnerabilidade
12
Conforme o exposto relato os consumidores hipervulneraacuteveis possuem certa
fragilidade Dessa forma a abordagem dos fornecedores aos idosos eacute visando tirar proveito da
situaccedilatildeo na qual se encontram Os autores citados anteriormente destacam
O puacuteblico idoso revela-se como alvo potencial de propagandas e praacuteticas comerciais
abusivas que se aproveitam da reduzida capacidade de discernimento do idoso para
impor a contrataccedilatildeo de serviccedilos Um dos exemplos mais paradigmaacuteticos eacute a
celebraccedilatildeo de contratos de empreacutestimos consignados entre instituiccedilotildees financeiras e
consumidores idosos pois a loacutegica da sociedade de consumo visualizou lucros
certeiros com tal contrataccedilatildeo eis que via de regra idosos possuem rendimentos
mensais fixos sendo por isso a contrataccedilatildeo mais segura (ROSA BERNARDES
E FEacuteLIX 2017 p548)
Gonccedilalves e Saacute (2015) tambeacutem expotildeem a vulnerabilidade do consumidor em meio agraves
publicidades agressivas antieacuteticas onde o consumo eacute apelado utilizando um conteuacutedo forte
emotivo para atrair os consumidores agrave adquirirem determinado produtoserviccedilo
O Projeto de Lei do Senado nordm283 (BRASIL 2012) presume a alteraccedilatildeo do CDC
(BRASIL1990) visando combater essas praacuteticas de marketing com referecircncia a oferta de
creacutedito Logo esse Projeto de Lei no inciso IV do paraacutegrafo 4 recomenda que ldquoEacute vedado
expressa ou implicitamente na oferta de creacutedito ao consumidor publicitaacuteria ou natildeo [] IV ndash
ocultar por qualquer forma os ocircnus e riscos da contrataccedilatildeo de creacutedito dificultar sua
compreensatildeo ou estimular o endividamento do consumidor em especial se idoso ou
adolescenterdquo (BRASIL 2012)
Desta forma nota-se que o Coacutedigo de Defesa do Consumidor (CDC) e os estatutos
funcionam como paracircmetros para garantir a isonomia Com isso os hipervulneraacuteveis possuem
um maior amparo com relaccedilatildeo agraves praacuteticas abusivas de marketing vendas omissatildeo de
informaccedilotildees como tambeacutem as propagandas enganosas sobre o produto ou serviccedilo na qual
estatildeo contratando
221 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal como fator de vulnerabilidade
Na conjuntura atual brasileira eacute possiacutevel observar a ascensatildeo das classes populares
para as camadas meacutedias como tambeacutem o aumento de poder de compra dos idosos Logo eacute
possiacutevel perceber uma maior atenccedilatildeo dada pelas empresas a esse tipo de puacuteblico em especial
as instituiccedilotildees financeiras Esse poder de compra dos idosos fez com que as empresas
bancaacuterias estimulassem a contrataccedilatildeo de creacutedito por parte dessas pessoas em especial o
creacutedito consignado (BUAES 2015) Atraveacutes disso pode-se indagar Por que o interesse dos
bancos nesse puacuteblico
13
Conforme Buaes (2015) o aumento do poder de compra do idoso fez com que esse
puacuteblico apresentasse interesse na contrataccedilatildeo de produtos e serviccedilos financeiros visto que os
bancos apresentam certa facilidade na obtenccedilatildeo de creacuteditos Um fato destacado por Buaes
(2015) eacute a falta de percepccedilatildeo dos idosos quanto a suas limitaccedilotildees financeiras ou ateacute mesmo a
dificuldade em aceitar essa insuficiecircncia Desta maneira pode-se observar a vulnerabilidade
em duas dimensotildees neste perfil do consumidor idoso isto eacute a falta de conhecimento formal e
a anaacutelise na contrataccedilatildeo de um creacutedito
Quanto a vulnerabilidade do consumidor Chertman (2011) afirma que pode ser
identificada atraveacutes de caracteriacutesticas natildeo observaacuteveis o que eacute o caso do analfabetismo
Entende-se por analfabeto a pessoa com a incapacidade da linguagem de forma geral seja na
leitura intepretaccedilatildeo compreensatildeo e na produccedilatildeo de conhecimento Logo o analfabetismo
possibilita o indiviacuteduo tornar-se um consumidor vulneraacutevel
Aleacutem da questatildeo de pessoas analfabetas tomadores de creacuteditos haacute tambeacutem o perfil de
consumidores de baixa instruccedilatildeo Essas pessoas satildeo capazes de assinar seu proacuteprio nome
quanto agrave leitura apresentam alguma dificuldade no entendimento ou necessitam de ajuda para
uma melhor compreensatildeo Esse tipo consumidor como foi dito acima tambeacutem se enquadra
como vulneraacutevel
Dado o exposto compreende-se que o analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo
formal agravam ainda mais a vulnerabilidade do consumidor em questatildeo Os idosos aleacutem de
possuiacuterem o fator idade na qual afeta a relaccedilatildeo entre consumidorfornecedor (MEIRE
ALVES 2016) apresentam tambeacutem a presenccedila dessas duas caracteriacutesticas que podem
delimitar uma escolha consciente e clara no momento da contrataccedilatildeo de um produto ou
serviccedilo
3 METODOLOGIA
O estudo foi embasado em pesquisas bibliograacuteficas online e impressas como tambeacutem
trabalhos acadecircmicos e perioacutedicos A metodologia utilizada foi qualitativa do tipo descritiva
de acordo Godoy (1995 p62) os pesquisadores de orientaccedilatildeo qualitativadescritiva executam
suas pesquisas baseadas em trabalho de campo a partir de entrevistas e observaccedilotildees aleacutem
disso os pesquisadores possuem um contato direto com o local da pesquisa e seus sujeitos
portanto eacute possiacutevel analisar dados escrever resultados obtidos e descrever o que foi dito
pelos entrevistados
14
A pesquisa de campo foi realizada atraveacutes de entrevistas semi-estruturadas
(APEcircNDICE A) sendo composta por treze questotildees discursivas Segundo Boni e Quaresma
(2005 p 75) as teacutecnicas desse tipo de entrevista
[] tecircm como vantagem a sua elasticidade quanto agrave duraccedilatildeo permitindo uma
cobertura mais profunda sobre determinados assuntos Aleacutem disso a interaccedilatildeo entre
o entrevistador e o entrevistado favorece as respostas espontacircneas Elas tambeacutem satildeo
possibilitadoras de uma abertura e proximidade maior entre entrevistador e
entrevistado o que permite ao entrevistador tocar em assuntos mais complexos e
delicados ou seja quanto menos estruturada a entrevista maior seraacute o favorecimento
de uma troca mais afetiva entre as duas partes Desse modo estes tipos de entrevista
colaboram muito na investigaccedilatildeo dos aspectos afetivos e valorativos dos informantes
que determinam significados pessoais de suas atitudes e comportamentos As
respostas espontacircneas dos entrevistados e a maior liberdade que estes tecircm podem
fazer surgir questotildees inesperadas ao entrevistador que poderatildeo ser de grande
utilidade em sua pesquisa
Em suma pode-se perceber que esse tipo de entrevista proporcionou aos entrevistados
certa autonomia em discutir sobre o tema em questatildeo Visto que no percorrer das
interlocuccedilotildees houve a possibilidade de introduzir novos assuntos sobre o estudo como
tambeacutem a exemplificaccedilatildeo de situaccedilotildees vivenciadas pelos entrevistados
Para a realizaccedilatildeo das entrevistas no presente estudo foi indispensaacutevel entrevistar um
nuacutemero de sete bancaacuterios(as) e trecircs estagiaacuterios(as) de instituiccedilotildees financeiras privadas da
cidade de Mariana Ouro Preto e Itabirito visto que cinco deles eram do sexo masculino e os
demais do sexo feminino Visando buscar nesses gecircneros perspectivas diversas sobre as
teacutecnicas utilizadas na operaccedilatildeo do empreacutestimo consignado agrave aposentados e pensionistas Estas
entrevistas realizadas tiveram duraccedilatildeo meacutedia de quinze a trinta minutos sendo que todas as
interlocuccedilotildees foram gravadas e posteriormente transcritas para entatildeo serem analisadas
Portanto as anaacutelises das respostas foram fundamentadas em anaacutelises de conteuacutedos e
posteriormente buscou-se categorizar os elementos relevantes discutidos durante as
interlocuccedilotildees
De acordo com Cavalcante Calixto e Pinheiro (2014) a anaacutelise de conteuacutedo permite a
ldquoanaacutelise do fenocircmeno em profundidade elencando as subjetividades suas relaccedilotildees bem
como interlocuccedilotildees na malha socialrdquo logo atraveacutes das entrevistas com os bancaacuterios pode-se
verificar suas percepccedilotildees
Conforme Caregnato e Mutti (2006 p 683)
A teacutecnica de anaacutelise de conteuacutedo se compotildee de trecircs grandes etapas 1) a preacute-anaacutelise
2) a exploraccedilatildeo do material 3) o tratamento dos resultados e interpretaccedilatildeo A
mencionada autora descreve a primeira etapa como a fase de organizaccedilatildeo que pode
utilizar vaacute- rios procedimentos tais como leitura flutuante hipoacuteteses objetivos e
elaboraccedilatildeo de indicadores que fundamentem a interpretaccedilatildeo Na segunda etapa os
dados satildeo codificados a partir das unidades de registro Na uacuteltima etapa se faz a
categorizaccedilatildeo que consiste na classificaccedilatildeo dos elementos segundo suas
semelhanccedilas e por diferenciaccedilatildeo com posterior reagrupamento em funccedilatildeo de
15
caracteriacutesticas comuns Portanto a codificaccedilatildeo e a categorizaccedilatildeo fazem parte da AC
As autoras afirmam que aleacutem das teacutecnicas utilizadas na anaacutelise de conteuacutedo o
pesquisador pode categorizar fragmentos do texto que se repetem atraveacutes de frases ou
expressotildees Atraveacutes disso as entrevistas realizadas com os bancaacuterios foram categorizadas da
seguinte maneira
Categoria I- O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Categoria II- Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Categoria III- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por conseguinte essas respostas foram analisadas com o intuito de verificar como os
consumidores hipervulneraacuteveis satildeo abordados pelos(as) bancaacuterios(as) e quais as praacuteticas que
as instituiccedilotildees financeiras adotam para convencer esse puacuteblico Contudo compreende-se que
por meio das entrevistas pode-se construir consideraccedilotildees em relaccedilatildeo ao objetivo da pesquisa
31 Descriccedilatildeo da Amostra
Para a anaacutelise das praacuteticas de marketing utilizadas pelos intermediaacuterios bancaacuterios
estudaram-se sete bancaacuterios(as) e trecircs estagiaacuterios(as) atuantes na concessatildeo de empreacutestimos
consignados Estes operam nas localidades de Mariana Ouro Preto e Itabirito Em vista disso
para a execuccedilatildeo da pesquisa foi relevante a realizaccedilatildeo de entrevistas a partir desse
pressuposto foi possiacutevel inferir interpretaccedilotildees diversas sobre esses sujeitos no momento da
concessatildeo do creacutedito
As interlocuccedilotildees com os bancaacuterios e seus correspondentes foram marcadas
antecipadamente via celular informando-lhes a data o local a preferir a duraccedilatildeo em meacutedia e
do que se tratava o estudo As entrevistas foram sucedidas no periacuteodo de julho a agosto de
2016 Outro aspecto a ser relatado aos entrevistados sobre o estudo foi a importacircncia destes
para pesquisa visto que o nuacutemero de informaccedilotildees fornecidas possibilitaria uma anaacutelise
satisfatoacuteria para a exploraccedilatildeo do tema O quadro a seguir resume as caracteriacutesticas da amostra
analisada
16
Quadro 1 Caracteriacutesticas da amostra analisada
Bancaacuterios Estagiaacuterios Nomes Fictiacutecios Idade Cidades
B1 Maria Claacuteudia 41 Mariana (MG)
B2 Carlos Eduardo 22 Ouro Preto (MG)
B3 Daniel 25 Ouro Preto (MG)
B4 Leandro 27 Mariana (MG)
B5 Maacutercia 34 Mariana (MG)
B6 Antocircnio 38 Mariana (MG)
B7 Camila 27 Mariana (MG)
E1 Ana Luiacuteza 25 Itabirito (MG)
E2 Marcela 22 Itabirito (MG)
E3 Marcos 24 Ouro Preto (MG)
Fonte Dados da pesquisa
Com relaccedilatildeo a populaccedilatildeo do estudo foram levantados dados buscando alcanccedilar a
quantidade aproximada de bancaacuterios e estagiaacuterios na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e
Itabirito Para a identificaccedilatildeo dos dados foi necessaacuterio entrar em contato via telefone em todas
as agecircncias privadas dessas localidades Atraveacutes do quadro abaixo pode-se concluir o nuacutemero
da populaccedilatildeo desse puacuteblico
Quadro 2 Quantidade da populaccedilatildeo de bancaacuterios e estagiaacuterios
Localidade Bancaacuterios Estagiaacuterios
Mariana 55 3
Ouro Preto 63 3
Itabirito 52 8
TOTAL 170 14
Fonte Dados da pesquisa
Em suma a pesquisa de campo foi desenvolvida nessas localidades visto que esses
municiacutepios possuem um nuacutemero representativo de idosos puacuteblico alvo das instituiccedilotildees
financeiras De acordo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2010) a cidade de
Mariana conta com proximamente 5200 idosos jaacute Ouro Preto possui cerca de 7994 idosos e
Itabirito dispotildee em meacutedia 4998 idosos Por conseguinte surge a iniciativa de analisar os perfis
dos bancaacuterios visando compreender as praacuteticas que estes utilizam para alcanccedilar um maior nuacutemero
de idosos para efetivar a contrataccedilatildeo do creacutedito
17
4 ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
Como explicitado anteriormente a vulnerabilidade do consumidor existe a partir da
relaccedilatildeo entre empresa e cliente E considerando todas as peculiaridades e caracteriacutesticas que
fazem do consumidor de serviccedilos financeiros um consumidor vulneraacutevel esta seccedilatildeo do texto
tem por propoacutesito retratar por meio da apresentaccedilatildeo e anaacutelise dos dados extraiacutedos das
entrevistas realizadas ao longo deste estudo a forma como os bancaacuterios e seus
correspondentes operam na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e Itabirito especialmente no que se
refere ao modo como oferecem e conduzem as negociaccedilotildees de serviccedilos financeiros Quanto agrave
anaacutelise dos resultados o estudo utilizou a categorizaccedilatildeo dos discursos dos entrevistados em I
II III Logo as categorias baseiam-se em fragmentos das interlocuccedilotildees aspectos recorrentes
mencionados pelos bancaacuterios
A seguir satildeo apresentados trechos das falas dos dez respondentes que participaram
desta pesquisa Tais falas foram gravadas durante as entrevistas Os nomes adotados a seguir
para marcar que os trechos transcritos satildeo de falas de diferentes entrevistados satildeo fictiacutecios
Todas as entrevistas foram transcritas respeitando integralmente a linguagem e sinais
transmitidos por cada entrevistado
41 Categoria I
411 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos serviccedilos
financeiros
O analfabetismo e falta de instruccedilatildeo impactam no momento da contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros visto que esse tipo de puacuteblico eacute persuadido pelos bancaacuterios a tomar
determinadas decisotildees pois este natildeo possui informaccedilotildees necessaacuterias sobre o que seria esse
creacutedito o qual estaacute contratando Atraveacutes dos trechos das entrevistas foi possiacutevel identificar
que os bancaacuterios estagiaacuterios influenciam na hora da aquisiccedilatildeo do serviccedilo ateacute mesmo nas
formas como os clientes iratildeo pagar o empreacutestimo O quadro abaixo apresenta trechos da
entrevista que demonstram a falta de conhecimento financeiro dos consumidores do
empreacutestimo consignado
18
Quadro 3 - O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Entrevistados Trechos da entrevista
Maria Claacuteudia ldquoTem muita gente eacute Natildeo tatildeo instruiacuteda gente mais
simples Bom existem vaacuterias pessoas que pegam
aqui com a gente que satildeo analfabetas entendeurdquo
Ana Luiacuteza ldquoMuitas pessoas natildeo satildeo instruiacutedas poucas
pessoas sabem assinar seu proacuteprio nome mas
existem pessoas alfabetizadas simrdquo
ldquoA maioria acredito que natildeo tenha uma noccedilatildeo
esclarecimento ateacute porque quanto mais vezes vocecirc
dividir mais juros incidem e eacute melhor para o
bancordquo
Marcela ldquoEu acho que a grande maioria tinha um grau de
instruccedilatildeo reduzido e isso facilitava na hora de
vender neacuterdquo
ldquoEntatildeo a gente sempre tentava colocar de setenta
e duas vezes ou setenta e cinco satildeo seis anos de
consignado Entatildeo quanto maior o prazo maior a
taxa de juros Agraves vezes vocecirc pegava um capital
um volume muito pequeno e virava pra pessoa e
falava assim -Natildeo Por que aiacute soacute vai descontar
soacute R$3000 reais no seu pagamento e a pessoa natildeo
tinha dimensatildeo que por a gente taacute dividindo
aquele valor pequeninho sai muito grande depois
por conta da taxa que ela aumentava de acordo
com o prazordquo
Carlos Eduardo ldquoO mais comum satildeo pessoas de baixa renda e sem
informaccedilatildeo Exemplo A maioria dos consignados
os clientes nem perguntam as taxas de juros ele
natildeo estaacute preocupado com o prazo ele estaacute
preocupado com o valor da parcela se ele vai
conseguir pagar ou natildeo e o valor que vai sobrar
pra ele vai conseguir passar o mecircsrdquo
Leandro ldquoGrande parte natildeo satildeo instruiacutedas mas eu atendo
mais alta renda entatildeo meus clientes satildeo mais
seletivos eles pegam valores maiores natildeo eacute
qualquer empreacutestimo que ele pega eacute mais para
investimento mesmo ou pra sair de alguma coisardquo
19
Aacutercia ldquoEntatildeo assim muitas vezes as pessoas natildeo vem
com o conhecimento financeiro real eles querem
o imediato querem o empreacutestimo naquele
momento Muita gente natildeo tem a noccedilatildeo de como
vai ficar aquilordquo
Antocircnio ldquoEntatildeo no puacuteblico de menor renda esse
discernimento eacute menos eles olham mais se a
parcela cabe no bolso deles do que no montante
de juros que eles vatildeo pagar no finalrdquo
Fonte Dados da pesquisa
Diante destes dois perfis de consumidores vulneraacuteveis os analfabetos e os com baixa
instruccedilatildeo pode-se verificar por meio das gravaccedilotildees que tanto as pessoas analfabetas e as com
baixa instruccedilatildeo natildeo possuem compreensatildeo suficiente para realizar uma contrataccedilatildeo de creacutedito
A entrevistada Marcela afirma que vender para esse determinado tipo puacuteblico facilitava pelo
fato da falta de conhecimento financeiro
Outra situaccedilatildeo comentada durante a gravaccedilatildeo das entrevistas foi sobre as parcelas dos
empreacutestimos os bancaacuterios e os estagiaacuterios induzem os clientes a dividirem em mais vezes A
entrevistada Marcela tambeacutem afirma que sempre propunha aos seus clientes dividir em
setenta e duas vezes alegando para essas pessoas que o valor iria ldquocaber no bolsordquo Mas na
verdade os bancaacuterios aproveitam do analfabetismo financeiro dos tomadores de creacutedito
visando a lucratividade das instituiccedilotildees financeiras dado que as taxas aumentam de acordo
com prazo
A partir dessa anaacutelise eacute possiacutevel perceber de forma clara as limitaccedilotildees dos idosos no
processo de compra Conforme Chertman (2011 p21) as consequecircncias da idade
ldquopotencializam a vulnerabilidade de compra pela dificuldade de comprar em escala (podendo
negociar preccedilos)rdquo De fato nota-se que a questatildeo do analfabetismo baixa instruccedilatildeo e idade
afetam na tomada de decisatildeo consciente do consumidor
42 Categoria II
421 Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
A informaccedilatildeo no momento da compra eacute essencial para que o cliente natildeo faccedila uma
escolha errocircnea quanto ao produto Em relaccedilatildeo as entrevistas realizadas foi possiacutevel inferir
que na contrataccedilatildeo de creacutedito os bancaacuterios e seus intermediaacuterios natildeo informam o valor da
taxa de juros e acabam focando nos valores das parcelas no prazo e em quantas vezes o
parcelamento ficaraacute Sendo assim os atendentes procuram natildeo informar aos consumidores
20
quanto ficaraacute o valor total do empreacutestimo ao incidirem os juros Atraveacutes do quadro abaixo
pode-se comprovar que no momento da contrataccedilatildeo do creacutedito os bancaacuterios e estagiaacuterios
omitem determinadas informaccedilotildees aos clientes
Quadro 4 - Omissatildeo de informaccedilotildees na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Ana Luiacuteza ldquoNormalmente eu natildeo falo o valor dos juros
dificilmente eu falo o valor do juros soacute falo que
ele eacute mais baixo e informo que independe do que
a aconteccedila na economia brasileira a partir do
momento que a pessoa estaacute fazendo o contrato o
juros nunca vai aumentar que aquele juros e
sempre seraacute aquelerdquo
Marcela ldquoEntatildeo na verdade o que eu aprendi no Banco X
a regra clara Eu tinha que omitir Eu natildeo
precisava mentir mas eu precisava omitir
algumas informaccedilotildees Entatildeo eu abordava o
cliente sempre eacute Buscando saber do sonho dele
para depois eu vender o empreacutestimo Eu tentava
omitir informaccedilotildees como taxas prazo de
pagamento que eram coisas que eu soacute falava se o
cliente me perguntasse Eu achava muito
tranquilo assim vender Eu natildeo tinha muita
dificuldade natildeordquo
ldquoA gente omitia o valor total que o cliente ia
pagar justamente porque se vocecirc falar ele natildeo vai
levar entatildeo eacute A gente omitia e tentava fazer o
cliente fechar a venda na hora Principalmente
quando a venda era no caixa eletrocircnico que era
muito mais faacutecil porque agraves vezes o cliente
fechava a venda ali naquele momento naquele
instante natildeo refletia muito era mais faacutecil vender e
muitas vezes eles tavam sozinho muitas vezes os
aposentados vatildeo para agecircncia sozinho natildeo
estavam acompanhados dos filhos de ningueacutemrdquo
Carlos Eduardo ldquoNo contrato fala dos juros mas eu soacute respondo
quando o cliente perguntardquo
Marcos ldquoQuando o cliente fazia por exemplo um
empreacutestimo a gente falava o valor da parcela
21
quanto que ele vai pegar quando vai descontar do
pagamento falava a taxa de juros tambeacutem mas
acabava que eles nem sabiamrdquo
ldquoSe perguntasse alguma coisa a gente falavardquo
Fonte Dados da pesquisa
Como jaacute foi dito o cliente tem como direito obter informaccedilotildees necessaacuterias do que ele
estaacute adquirindo mas quando isso natildeo ocorre pode-se dizer que estaacute ocorrendo uma omissatildeo
dos fatos O autor Silva (2009 p146) expotildee o art 14 do CDC destacando ldquoo dever de
informaccedilatildeo cuja omissatildeo caracteriza defeito do serviccedilo ensejador do dever de indenizarrdquo
Logo pode-se concluir que quando o cliente natildeo eacute alertado sobre o produto ou serviccedilo e este
causa danos o consumidor deve ser reparado
Diante do que foi explicitado acima pode-se perceber atraveacutes das gravaccedilotildees feitas
quatro entrevistados falaram que natildeo davam as informaccedilotildees necessaacuterias para os contratadores
de creacuteditos A entrevistada Marcela usa o termo ldquoomissatildeordquo ela afirma que agraves vezes era
necessaacuterio omitir para que a venda do empreacutestimo consignado fosse realizada mais
rapidamente Jaacute os demais entrevistados alegam que normalmente natildeo falam as taxas de juros
eles informam as taxas apenas se o cliente perguntar Percebe-se tambeacutem que por se tratar de
um puacuteblico mais vulneraacutevel os bancaacuteriosestagiaacuterios tinham maior facilidade em convencecirc-
los na hora da compra jaacute que grande parte desse puacuteblico natildeo possui instruccedilotildees suficientes
para adquirir esse tipo de produto
Dessa forma eacute expliacutecito que os bancaacuterios e os estagiaacuterios natildeo davam as informaccedilotildees
necessaacuterias aos seus clientes pelo fato de terem que apresentar maior lucratividade aos
bancos Uma vez que como foi relatado por Marcela a instituiccedilatildeo financeira onde trabalhava
alegava que certas informaccedilotildees deveriam ser ldquoomitidasrdquo Dessa forma pode-se evidenciar a
violaccedilatildeo do direito do consumidor
Dentre a vulnerabilidade do consumidor quanto a omissatildeo dos fatos por partes dos
bancaacuterios e seus correspondentes haacute tambeacutem outro recurso utilizado pelos fornecedores o
linguiacutestico Isto eacute satildeo termos palavras usadas que suavizam na hora da contrataccedilatildeo de
creacutedito Pode-se dizer que eacute a comunicaccedilatildeo existente entre o fornecedor e o cliente a fim de
que o primeiro consiga induzir o segundo a comprar seu produto
O marketing de vendas retrata esta relaccedilatildeo citada acima de consumidor e fornecedor
De acordo com Bernardi (2012 p75) ldquoo marketing de vendas possui uma relaccedilatildeo estreita com
o elemento do composto mercadoloacutegico denominado de promoccedilatildeo que se refere a todas as
accedilotildees relativas agrave comunicaccedilatildeo e agrave venda dos produtos de uma organizaccedilatildeordquo
22
Atraveacutes dessa relaccedilatildeo construiacuteda pela comunicaccedilatildeo pode-se verificar por parte das
entrevistas que os bancaacuterios e os estagiaacuterios utilizam de recursos linguiacutesticos para convencer o
cliente a comprar tal produto Isto eacute estes tinham certo cuidado na maneira de falar para que
os clientes se sentissem agrave vontade e consequentemente efetivar a venda do produto
A comunicaccedilatildeo exerce influecircncia na venda de um produto ou seja esse diaacutelogo entre
cliente e fornecedor facilita a compra de um produto por parte do consumidor O autor
Bernardi (2012 p77) acresce o termo merchandising este eacute visto como um dos principais
meacutetodos de marketing associado agrave venda
Eacute um termo que pode ser usado como instrumento de comunicaccedilatildeo que apresenta o
produto ao consumidor e favorece a sua compra Merchandising no entanto eacute criar
um cenaacuterio de um produto serviccedilo ou marca de forma casual Os principais
conceitos do merchandising estatildeo voltados agrave boa estrateacutegia de comunicaccedilatildeo no
ponto de venda pois visa destacar o produto ou serviccedilo buscando assim motivar as
compras por impulso jaacute que possui uma comunicaccedilatildeo muito proacutexima agrave venda
Logo compreende-se que o merchandising eacute uma ferramenta que aproxima o cliente e
o fornecedor atraveacutes da comunicaccedilatildeo
Como jaacute foi mencionado anteriormente a forma de comunicar exerce uma forte
influecircncia no ato da compra Todavia atraveacutes das entrevistas pode-se notar certa preocupaccedilatildeo
em como abordar o cliente ou seja a forma de dialogar com seus clientes Percebeu-se entatildeo
que determinadas palavras eram trocadas por outras como por exemplo o termo
ldquoempreacutestimordquo muitas vezes era substituiacutedo pelo termo ldquodinheirinhordquo ou creacutedito A partir do
quadro abaixo pode-se concluir que a forma de falar eacute utilizada como um artifiacutecio na hora da
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado
23
43 Categoria III
431 Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por se tratar de um puacuteblico de idade com baixo grau de instruccedilatildeo ou ateacute mesmo analfabetos
os bancaacuterios estagiaacuterios se beneficiam dessa relaccedilatildeo A forma de falar induz os consumidores
de serviccedilos financeiros a adquirirem certo produto O Quadro 5 apresenta as respostas
referentes agrave forma de falar dos intermediaacuterios bancaacuterios
Quadro 5- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Marcela ldquoAcredito que para vender esse tipo de produto que eacute
um produto difiacutecil que as pessoas agraves vezes quando
vocecirc fala ldquoempreacutestimordquo a pessoa fica com o peacute atraacutes
entatildeo tem que ser assim Coisas que a gente natildeo usa eacute
falar empreacutestimo natildeo existe no banco entendeu Eacute
um dinheirinho suavizar realmente a expressatildeo
empreacutestimo porque quando vocecirc fala a expressatildeo
empreacutestimo as pessoas se fechamrdquo
ldquoMuitas vezes eles natildeo entendiam o que vocecirc estava
falando entatildeo Ah fulano vocecirc tem um dinheirinho
aqui disponiacutevel para vocecirc pegar aiacute eles perguntavam
Mas vocecirc estaacute me dando esse dinheirordquo
Marcos ldquoOutra coisa o termo empreacutestimo o pessoal mesmo
falava que era uma coisa muito pesada de se dizer a
maioria das pessoas natildeo vecirc com bons olhos entatildeo a
gente falava um dinheirinho pro cliente pois ameniza
um pouco o termo Querendo ou natildeo o modo de falar
influencia um poucordquo
Daniel ldquoEu por exemplo falo creacutedito porque eu tocirc
conversando com o cliente e ele vecirc que tem outras
pessoas em volta agraves vezes eu falar empreacutestimo ele
pode ficar um pouco chateado daquilo nem todo
mundo gosta de ir no banco pra pegar empreacutestimo
gosta de ir laacute para sacar dinheiro Eu prefiro trabalhar
com a palavra creacutedito rdquo
Antocircnio ldquoGeralmente a gente utiliza o termo creacutedito vocecirc tem
um creacutedito aprovado Porque agraves vezes a pessoa tem
ateacute medo resistecircncia em empreacutestimo Geralmente a
24
gente fala que vocecirc tem um creacutedito aprovado e aiacute a
gente fala em qual linha a pessoa tem creacutedito
pessoal financiamento para veiacuteculos financiamento
imobiliaacuterio consignado que eacute o creacutedito que vem da
folha de pagamento Entatildeo a gente normalmente
oferta creacutedito ldquo
Fonte Dados da pesquisa
Conforme alguns entrevistados esses natildeo utilizam o termo correto que eacute ldquoempreacutestimo
consignadordquo Nas gravaccedilotildees os bancaacuterios e seus correspondentes alegam que os clientes tecircm
eacute um ldquodinheirinhordquo disponiacutevel para pegarem no banco Outros afirmam que o vocaacutebulo
empregado por eles eacute o ldquocreacuteditordquo pois ameniza um pouco o termo Este possui o mesmo
significado do primeiro mas para muitos o termo quer dizer credibilidade ldquocreacutedito na praccedilardquo
apesar de ser sinocircnimo do vocaacutebulo ldquoempreacutestimordquo essa palavra soa de forma positiva
Ao verificar a forma de comunicaccedilatildeo com os clientes do empreacutestimo consignado
pode-se perceber que essa substituiccedilatildeo de ldquopalavrasrdquo ocorre com o intuito amenizar o termo
ldquoempreacutestimordquo visto que por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel as pessoas assustam quando
pronunciam a palavra empreacutestimo Para muitos esse termo soa de forma negativa como
pessoas que possuem desorganizaccedilatildeo financeira ou inadimplecircncia Por este fato tanto os
bancaacuterios quanto os estagiaacuterios procuram utilizar vocaacutebulos que suavizem e que soem de uma
forma positiva para o cliente Sendo assim a forma de se comunicar pode alterar a venda de
determinado produto ofertado Mas essa forma de suavizar os termos empregados durante a
venda do serviccedilo financeiro fora de certos limites eacutetico-legais pode ser vista como uma
espeacutecie de ldquoomissatildeordquo do que realmente esses tomadores de creacutedito estatildeo comprando Pois
como jaacute foi retratado de acordo com o CDC os termos devem ser informados de forma clara
ao cliente
Podemos exemplificar de acordo com um entrevistado que afirma utilizar o termo
ldquodinheirinhordquo por ser mais faacutecil dos aposentados e pensionistas entenderem jaacute que muitos
desses clientes possuiacuteam dificuldades sobre o que de fato estavam comprando Aleacutem disso o
bancaacuterio acredita que modo de falar pode alterar a execuccedilatildeo da venda
Tendo em vista os aspectos observados tanto o artifiacutecio linguiacutestico quanto a omissatildeo
das informaccedilotildees pelos bancaacuteriosestagiaacuterios possui objetivos em comum pelas instituiccedilotildees
financeiras na qual visam a obtenccedilatildeo de maiores lucros para essas empresas Aleacutem disso os
bancos satildeo os maiores beneficiados pois natildeo levam em consideraccedilatildeo a isonomia das relaccedilotildees
entre consumidor e fornecedor Portanto conclui-se que em meio a essa relaccedilatildeo o consumidor
eacute parte mais fraca onde seus direitos satildeo violados pelos fornecedores de creacutedito
25
5 CONCLUSAtildeO
O creacutedito consignado eacute um tipo de empreacutestimo recente que vem sendo utilizado com
maior frequecircncia por um determinado puacuteblico (LOPES et al2014) Com isso as instituiccedilotildees
bancaacuterias estatildeo apresentando certo interesse sobre esse ldquonovordquo tipo de puacuteblico em ascensatildeo
Os intermediaacuterios bancaacuterios vecircm buscando formas para atrair os idosos seja atraveacutes das
facilidades da obtenccedilatildeo do creacutedito ou ateacute mesmo no modo de comunicar utilizando de
artifiacutecios de linguagem Em suma os bancos utilizam de praacuteticas de marketing tensionados a
obter vantagens sobre esses consumidores De acordo com o Coacutedigo de Consumidor (CDC)
estes satildeo considerados como vulneraacuteveis
Perante o estudo notou-se que a vulnerabilidade do idoso eacute agravada jaacute que
enquadram como consumidores hipervulneraacuteveis Essa vulnerabilidade acontece atraveacutes das
relaccedilotildees de consumo onde os fornecedores do empreacutestimo tiram proveito do estado em que
esses consumidores se encontram Para que estes cidadatildeos hipervulneraacuteveis sejam amparados
haacute o Estatuto do idoso e Coacutedigo do Consumidor ambos dispotildeem de normas que regem a
relaccedilatildeo entre consumidor-fornecedor Deve-se ressaltar que apesar da existecircncia das
legislaccedilotildees os bancos continuam praticando ldquoexcessosrdquo com os consumidores no momento da
contrataccedilatildeo do creacutedito Eacute relevante a imposiccedilatildeo do Estado visando inibir a lesatildeo do direito
sendo especificado ao idoso
Logo atraveacutes dos resultados da pesquisa pode-se concluir que essa vulnerabilidade
acentuada ocorre atraveacutes de fatores como idade baixa escolaridade e baixo grau de instruccedilatildeo
que interferem nas relaccedilotildees consumeristas isto eacute os contratadores de creacutedito consignado natildeo
possuem domiacutenio para realizar uma compra consciente Sendo assim os consumidores
apresentam limitaccedilotildees sobre o serviccedilo financeiro na qual estaacute adquirindo A partir da anaacutelise
foi possiacutevel verificar atraveacutes dos entrevistados que o puacuteblico idoso natildeo possuiacutea conhecimento
sobre as taxas juros que incidiam sobre as parcelas Aleacutem disso os bancaacuterios afirmavam que
iriam dividir em mais pagamentos para natildeo atrapalhar no orccedilamento mensal do consumidor
Por conseguinte aspectos como estes facilitavam a induzir os idosos a adquirem o creacutedito
mostrando a estes o quatildeo era vantajoso o produto oferecido
Tambeacutem deve-se ressaltar que por se tratar de um puacuteblico com baixo grau de instruccedilatildeo
e alguns analfabetos tanto os bancaacuterios quanto os estagiaacuterios omitiam informaccedilotildees bem
como tambeacutem utilizavam os recursos linguiacutesticos Estas duas formas contribuiacuteram para que as
vendas fossem efetuadas de uma maneira mais raacutepida Uma vez que a forma de falar ou a
26
omissatildeo influenciavam aos idosos comprarem o produto de uma forma irrefletida visto que
esses consumidores acreditavam no que estava sendo falado por parte do fornecedor
Portanto diante da fragilidade do consumidor em questatildeo eacute perceptiacutevel que na
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado boa parte dos idosos muitas vezes natildeo estatildeo acompanhados
por nenhum membro da famiacutelia Desta maneira para os bancaacuteriosestagiaacuterios a forma de
abordar o cliente fica mais acessiacutevel ainda mais por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel com
pouco grau de instruccedilatildeo ou conhecimento Logo situaccedilotildees como estas contribuem para os
fornecedores tirarem proveito do puacuteblico idoso Outro fato que deve ser destacado eacute a
presenccedila do Estado incentivando programas de alfabetizaccedilatildeo financeira independente do fator
idade para que a sociedade no geral saiba ter consciecircncia clareza sobre as relaccedilotildees de
consumo
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29
APEcircNDICE A
Roteiro de Entrevista qualitativa aplicada aos bancaacuterios e seus correspondentes
1 Idade
2 Formaccedilatildeo acadecircmica ( ) Ensino Meacutedio
( ) Superior
3 Haacute quanto tempo vocecirc trabalha ou jaacute trabalhou vendendo serviccedilos financeiros Em
qual cidade Descreva os serviccedilos financeiros que vocecirc mais estava habituado a
venda
4 Fale um pouco sobre as atividades que vocecirc realizava dentro da empresa Me conte
como era o seu dia a dia como era o processo de venda Da captaccedilatildeo do cliente ao
fechamento do contrato ou da venda do serviccedilo DEcirc EXEMPLOS
5 Quais produtos financeiros vocecirc estava ou estaacute mais habituado a vender
Creacutedito consignado creacutedito pessoal seguros empreacutestimos financiamentos
Qual vocecirc eacute mais estimulado a fazer
Tem diferenccedila na venda desses produtos
A abordagem ao cliente muda Quais satildeo mais diferentes
Vocecirc pode descrever para mim cada um deles por favor
Quais produtos satildeo os mais procurados
6 Qual eacute o tipo de puacuteblico que busca pelo empreacutestimo Descreva para mim as
caracteriacutesticas que vocecirc julga como mais marcantes Geralmente satildeo pessoas de que
faixa etaacuteria Satildeo pessoas de classe baixa meacutedia ou alta Satildeo pessoas instruiacutedas
7 Essas pessoas possuem um esclarecimento sobre o que seria esse tipo creacutedito
Compreendem as vantagens e as desvantagens relacionadas ao serviccedilo O que vocecirc
acha disso
8 No momento da contrataccedilatildeo de creacutedito o que eacute falado Como se daacute Todos os temos
do contrato ficam claros Vocecircs bancaacuterios explicitam o que estaacute no contrato Haacute
30
alguma avaliaccedilatildeo criteriosa do perfil do cliente de suas condiccedilotildees financeiras
9 O que vocecirc jaacute verificou por parte das pessoas que tomam esse creacutedito Qual seria os
maiores motivos para a procura do creacutedito consignado
10 Quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito vocecirc concorda com as vantagens oferecidas no
contrato ou acredita que algo deveria ser alterado O que vocecirc natildeo estaria de acordo
11 Qual o limite de desconto mensal da folha de pagamento do trabalhador o banco
oferece Por algum momento o banco excedeu o valor de desconto da folha Comente
essefato
12 Quanto agraves poliacuteticas bancaacuterias proposta pelos bancos para a venda de produtos
financeiros vocecirc concorda Ou algum momento jaacute discordou Discorra sobre o fato
13 Frequentemente vocecircs bancaacuterios satildeo estimulados a bater metas sobre os produtos que
vocecircs oferecem Vocecirc concorda que existe uma certa pressatildeo em vender cada vez mais
produtos Em alguma situaccedilatildeo vocecirc natildeo esteve de acordo como a forma que deveria
induzir os clientes a comprar um produto na qual vocecirc estaria oferecendo
10
juros mensais inferiores aos do mercado tradicional e a natildeo necessidade de avalista haja vista
que o risco do negoacutecio eacute pequeno para o fornecedor jaacute que o valor retido eacute descontado na
fonte o que reduz os riscos de inadimplecircncia
A facilidade que os consumidores tecircm de adquirir dinheiro via creacutedito consignado e
dos bancos realizarem tais operaccedilotildees de baixiacutessimo risco faz com que os bancos tirem
vantagem na contrataccedilatildeo do creacutedito consignado Visto que os idosos ao contratarem esse tipo
de creacutedito desconhecem a quantidade de parcelas e o periacuteodo que levaratildeo para quitaacute-las
Aleacutem disso estes natildeo compreendem qual o valor dos juros mensal preocupam-se apenas com
o valor da parcela a ser liquidada (GONCcedilALVES SAacute 2013)
22 Consumidor (Hiper) Vulneraacutevel e o Coacutedigo de Defesa do Consumidor
O termo vulnerabilidade estaacute relacionado com as relaccedilotildees de consumo na aquisiccedilatildeo de
um bem Desta maneira pode-se definir o termo como uma incapacidade ou fragilidade no
ato do consumo Ou seja essa vulnerabilidade do consumo traz como consequecircncia situaccedilotildees
em que os consumidores se enganam erram ou desconhecem todas as informaccedilotildees que
existem num processo de compra Logo a vulnerabilidade do consumidor faz com que os
fornecedores tirem vantagens na contrataccedilatildeo de um produto ou serviccedilo Isto eacute os fornecedores
omitem certas informaccedilotildees sobre os produtos aos clientes (CHERTMAN 2011)
Na contrataccedilatildeo do creacutedito consignado deve-se ressaltar diante do exposto acima que
os tomadores de creacutedito estatildeo em desvantagem com relaccedilatildeo aos fornecedores desse serviccedilo jaacute
que as instituiccedilotildees natildeo transferem as informaccedilotildees necessaacuterias quando esses consumidores
estatildeo obtendo o serviccedilo Segundo Barbosa (2002 p4)
O consumidor eacute a parte mais fraca nas relaccedilotildees de consumo Por isso tem ele direito
agrave boa informaccedilatildeo sobre os produtos e serviccedilos que recebe e quanto aos contratos que
assina Tem tambeacutem direito de ser protegido quando se dirige ao Poder Judiciaacuterio
podendo o Juiz determinar medidas para assegurar os seus direitos no tocante agraves
soluccedilotildees alternativas que a Justiccedila pode encontrar para dar - ao Consumidor - o
resultado equivalente ao do adimplemento das obrigaccedilotildees do fornecedor
Nessa relaccedilatildeo onde o fornecedor ganha vantagem sobre o consumidor de creacutedito
consignado o segundo tem direito a ser amparado no acircmbito judiciaacuterio atraveacutes do Coacutedigo de
Defesa do Consumidor De acordo com o CDC no artigo 4 da Lei ndeg 8078 (BRASIL 1990)
pode-se afirmar que todos os consumidores satildeo vulneraacuteveis
Conforme Pfeiffer (2010) o Coacutedigo de Defesa do Consumidor preocupa-se com a
isonomia na relaccedilatildeo de consumo reconhecendo a vulnerabilidade do consumidor Dessa
forma atraveacutes das normas estabelecidas pelo CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) os
consumidores possuem amparo seguranccedila e proteccedilatildeo na contrataccedilatildeo de um bem ou serviccedilo
11
Com relaccedilatildeo ao CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) um aspecto que deve ser
ressaltado dentro desse coacutedigo eacute o direito agrave informaccedilatildeo De acordo com Tribunal de Justiccedila do
Distrito Federal e dos Territoacuterios (2016)
O direito agrave informaccedilatildeo eacute direito baacutesico do consumidor e visa assegurar ao mesmo
tempo uma escolha consciente permitindo que suas expectativas em relaccedilatildeo ao
produto ou ao serviccedilo sejam de fato atingidas manifestando o que vem sendo
denominado de consentimento informado ou vontade qualificada
Em outras palavras o consumidor ao adquirir um bem ou produto tem como direito a
informaccedilatildeo necessaacuteria para que faccedila uma compra consciente isto eacute o consumidor deve ter
clareza das condiccedilotildees favoraacuteveis e desfavoraacuteveis do produto Dessa forma eacute relevante que o
fornecedor na hora da compra informe para o cliente o que eacute de fato o seu produto natildeo
omitindo informaccedilotildees que prejudique o consumidor na hora da compra
O artigo 6ordm da Lei nordm 8078 incIII (BRASIL 1990) que retrata o CDC apresenta os
direitos baacutesicos do consumidor dentre eles pode-se destacar o direito ldquoa informaccedilatildeo adequada
e clara sobre os diferentes produtos e serviccedilos com especificaccedilatildeo correta de quantidade
caracteriacutesticas composiccedilatildeo qualidade tributos incidentes e preccedilo bem como sobre os riscos
que apresentamrdquo
Aleacutem da vulnerabilidade do consumidor ser defendida no CDC (Coacutedigo de Defesa do
Consumidor) os idosos contam com a proteccedilatildeo do Estatuto do idoso prevista em Lei nordm
1074103 (BRASIL 2003) no artigo 20 eacute possiacutevel inferir que ldquoo idoso tem direito a
educaccedilatildeo cultura esporte lazer diversotildees espetaacuteculos produtos e serviccedilos que respeitem
sua peculiar condiccedilatildeo de idaderdquo Desse modo para assegurar os direitos do consumidor idoso
eacute importante que o fornecedor seja claro com esse tipo de puacuteblico visando facilitar as
relaccedilotildees consumeristas
Quando a vulnerabilidade do consumidor eacute agravada ou possui condiccedilotildees para uma
maior fragilidade nas relaccedilotildees de consumo podemos definir que este consumidor eacute
hipervulneraacutevel De acordo com Meire e Alves (2016) circunstacircncias como fator idade
conhecimento ou condiccedilatildeo social afetam no grau da vulnerabilidade isto eacute os idosos por
exemplo estatildeo mais propensos a se enquadrar no estado de hipervulnerabilidade
Os autores Rosa Bernardes e Feacutelix (2017 p548) afirmam que
[] fatores tais quais idade avanccedilada ou reduzida situaccedilatildeo de enfermidade e outros
mais que importem fragilizaccedilatildeo e vulnerabilidade do consumidor em niacutevel maior
que o comum na exposiccedilatildeo ao produto ou serviccedilo oferecido pelo fornecedor
ocasionam um grau intensificado de inferioridade na relaccedilatildeo de consumo e assim
configuram um tipo de vulnerabilidade mais grave ao que se convencionou chamar
hipervulnerabilidade
12
Conforme o exposto relato os consumidores hipervulneraacuteveis possuem certa
fragilidade Dessa forma a abordagem dos fornecedores aos idosos eacute visando tirar proveito da
situaccedilatildeo na qual se encontram Os autores citados anteriormente destacam
O puacuteblico idoso revela-se como alvo potencial de propagandas e praacuteticas comerciais
abusivas que se aproveitam da reduzida capacidade de discernimento do idoso para
impor a contrataccedilatildeo de serviccedilos Um dos exemplos mais paradigmaacuteticos eacute a
celebraccedilatildeo de contratos de empreacutestimos consignados entre instituiccedilotildees financeiras e
consumidores idosos pois a loacutegica da sociedade de consumo visualizou lucros
certeiros com tal contrataccedilatildeo eis que via de regra idosos possuem rendimentos
mensais fixos sendo por isso a contrataccedilatildeo mais segura (ROSA BERNARDES
E FEacuteLIX 2017 p548)
Gonccedilalves e Saacute (2015) tambeacutem expotildeem a vulnerabilidade do consumidor em meio agraves
publicidades agressivas antieacuteticas onde o consumo eacute apelado utilizando um conteuacutedo forte
emotivo para atrair os consumidores agrave adquirirem determinado produtoserviccedilo
O Projeto de Lei do Senado nordm283 (BRASIL 2012) presume a alteraccedilatildeo do CDC
(BRASIL1990) visando combater essas praacuteticas de marketing com referecircncia a oferta de
creacutedito Logo esse Projeto de Lei no inciso IV do paraacutegrafo 4 recomenda que ldquoEacute vedado
expressa ou implicitamente na oferta de creacutedito ao consumidor publicitaacuteria ou natildeo [] IV ndash
ocultar por qualquer forma os ocircnus e riscos da contrataccedilatildeo de creacutedito dificultar sua
compreensatildeo ou estimular o endividamento do consumidor em especial se idoso ou
adolescenterdquo (BRASIL 2012)
Desta forma nota-se que o Coacutedigo de Defesa do Consumidor (CDC) e os estatutos
funcionam como paracircmetros para garantir a isonomia Com isso os hipervulneraacuteveis possuem
um maior amparo com relaccedilatildeo agraves praacuteticas abusivas de marketing vendas omissatildeo de
informaccedilotildees como tambeacutem as propagandas enganosas sobre o produto ou serviccedilo na qual
estatildeo contratando
221 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal como fator de vulnerabilidade
Na conjuntura atual brasileira eacute possiacutevel observar a ascensatildeo das classes populares
para as camadas meacutedias como tambeacutem o aumento de poder de compra dos idosos Logo eacute
possiacutevel perceber uma maior atenccedilatildeo dada pelas empresas a esse tipo de puacuteblico em especial
as instituiccedilotildees financeiras Esse poder de compra dos idosos fez com que as empresas
bancaacuterias estimulassem a contrataccedilatildeo de creacutedito por parte dessas pessoas em especial o
creacutedito consignado (BUAES 2015) Atraveacutes disso pode-se indagar Por que o interesse dos
bancos nesse puacuteblico
13
Conforme Buaes (2015) o aumento do poder de compra do idoso fez com que esse
puacuteblico apresentasse interesse na contrataccedilatildeo de produtos e serviccedilos financeiros visto que os
bancos apresentam certa facilidade na obtenccedilatildeo de creacuteditos Um fato destacado por Buaes
(2015) eacute a falta de percepccedilatildeo dos idosos quanto a suas limitaccedilotildees financeiras ou ateacute mesmo a
dificuldade em aceitar essa insuficiecircncia Desta maneira pode-se observar a vulnerabilidade
em duas dimensotildees neste perfil do consumidor idoso isto eacute a falta de conhecimento formal e
a anaacutelise na contrataccedilatildeo de um creacutedito
Quanto a vulnerabilidade do consumidor Chertman (2011) afirma que pode ser
identificada atraveacutes de caracteriacutesticas natildeo observaacuteveis o que eacute o caso do analfabetismo
Entende-se por analfabeto a pessoa com a incapacidade da linguagem de forma geral seja na
leitura intepretaccedilatildeo compreensatildeo e na produccedilatildeo de conhecimento Logo o analfabetismo
possibilita o indiviacuteduo tornar-se um consumidor vulneraacutevel
Aleacutem da questatildeo de pessoas analfabetas tomadores de creacuteditos haacute tambeacutem o perfil de
consumidores de baixa instruccedilatildeo Essas pessoas satildeo capazes de assinar seu proacuteprio nome
quanto agrave leitura apresentam alguma dificuldade no entendimento ou necessitam de ajuda para
uma melhor compreensatildeo Esse tipo consumidor como foi dito acima tambeacutem se enquadra
como vulneraacutevel
Dado o exposto compreende-se que o analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo
formal agravam ainda mais a vulnerabilidade do consumidor em questatildeo Os idosos aleacutem de
possuiacuterem o fator idade na qual afeta a relaccedilatildeo entre consumidorfornecedor (MEIRE
ALVES 2016) apresentam tambeacutem a presenccedila dessas duas caracteriacutesticas que podem
delimitar uma escolha consciente e clara no momento da contrataccedilatildeo de um produto ou
serviccedilo
3 METODOLOGIA
O estudo foi embasado em pesquisas bibliograacuteficas online e impressas como tambeacutem
trabalhos acadecircmicos e perioacutedicos A metodologia utilizada foi qualitativa do tipo descritiva
de acordo Godoy (1995 p62) os pesquisadores de orientaccedilatildeo qualitativadescritiva executam
suas pesquisas baseadas em trabalho de campo a partir de entrevistas e observaccedilotildees aleacutem
disso os pesquisadores possuem um contato direto com o local da pesquisa e seus sujeitos
portanto eacute possiacutevel analisar dados escrever resultados obtidos e descrever o que foi dito
pelos entrevistados
14
A pesquisa de campo foi realizada atraveacutes de entrevistas semi-estruturadas
(APEcircNDICE A) sendo composta por treze questotildees discursivas Segundo Boni e Quaresma
(2005 p 75) as teacutecnicas desse tipo de entrevista
[] tecircm como vantagem a sua elasticidade quanto agrave duraccedilatildeo permitindo uma
cobertura mais profunda sobre determinados assuntos Aleacutem disso a interaccedilatildeo entre
o entrevistador e o entrevistado favorece as respostas espontacircneas Elas tambeacutem satildeo
possibilitadoras de uma abertura e proximidade maior entre entrevistador e
entrevistado o que permite ao entrevistador tocar em assuntos mais complexos e
delicados ou seja quanto menos estruturada a entrevista maior seraacute o favorecimento
de uma troca mais afetiva entre as duas partes Desse modo estes tipos de entrevista
colaboram muito na investigaccedilatildeo dos aspectos afetivos e valorativos dos informantes
que determinam significados pessoais de suas atitudes e comportamentos As
respostas espontacircneas dos entrevistados e a maior liberdade que estes tecircm podem
fazer surgir questotildees inesperadas ao entrevistador que poderatildeo ser de grande
utilidade em sua pesquisa
Em suma pode-se perceber que esse tipo de entrevista proporcionou aos entrevistados
certa autonomia em discutir sobre o tema em questatildeo Visto que no percorrer das
interlocuccedilotildees houve a possibilidade de introduzir novos assuntos sobre o estudo como
tambeacutem a exemplificaccedilatildeo de situaccedilotildees vivenciadas pelos entrevistados
Para a realizaccedilatildeo das entrevistas no presente estudo foi indispensaacutevel entrevistar um
nuacutemero de sete bancaacuterios(as) e trecircs estagiaacuterios(as) de instituiccedilotildees financeiras privadas da
cidade de Mariana Ouro Preto e Itabirito visto que cinco deles eram do sexo masculino e os
demais do sexo feminino Visando buscar nesses gecircneros perspectivas diversas sobre as
teacutecnicas utilizadas na operaccedilatildeo do empreacutestimo consignado agrave aposentados e pensionistas Estas
entrevistas realizadas tiveram duraccedilatildeo meacutedia de quinze a trinta minutos sendo que todas as
interlocuccedilotildees foram gravadas e posteriormente transcritas para entatildeo serem analisadas
Portanto as anaacutelises das respostas foram fundamentadas em anaacutelises de conteuacutedos e
posteriormente buscou-se categorizar os elementos relevantes discutidos durante as
interlocuccedilotildees
De acordo com Cavalcante Calixto e Pinheiro (2014) a anaacutelise de conteuacutedo permite a
ldquoanaacutelise do fenocircmeno em profundidade elencando as subjetividades suas relaccedilotildees bem
como interlocuccedilotildees na malha socialrdquo logo atraveacutes das entrevistas com os bancaacuterios pode-se
verificar suas percepccedilotildees
Conforme Caregnato e Mutti (2006 p 683)
A teacutecnica de anaacutelise de conteuacutedo se compotildee de trecircs grandes etapas 1) a preacute-anaacutelise
2) a exploraccedilatildeo do material 3) o tratamento dos resultados e interpretaccedilatildeo A
mencionada autora descreve a primeira etapa como a fase de organizaccedilatildeo que pode
utilizar vaacute- rios procedimentos tais como leitura flutuante hipoacuteteses objetivos e
elaboraccedilatildeo de indicadores que fundamentem a interpretaccedilatildeo Na segunda etapa os
dados satildeo codificados a partir das unidades de registro Na uacuteltima etapa se faz a
categorizaccedilatildeo que consiste na classificaccedilatildeo dos elementos segundo suas
semelhanccedilas e por diferenciaccedilatildeo com posterior reagrupamento em funccedilatildeo de
15
caracteriacutesticas comuns Portanto a codificaccedilatildeo e a categorizaccedilatildeo fazem parte da AC
As autoras afirmam que aleacutem das teacutecnicas utilizadas na anaacutelise de conteuacutedo o
pesquisador pode categorizar fragmentos do texto que se repetem atraveacutes de frases ou
expressotildees Atraveacutes disso as entrevistas realizadas com os bancaacuterios foram categorizadas da
seguinte maneira
Categoria I- O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Categoria II- Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Categoria III- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por conseguinte essas respostas foram analisadas com o intuito de verificar como os
consumidores hipervulneraacuteveis satildeo abordados pelos(as) bancaacuterios(as) e quais as praacuteticas que
as instituiccedilotildees financeiras adotam para convencer esse puacuteblico Contudo compreende-se que
por meio das entrevistas pode-se construir consideraccedilotildees em relaccedilatildeo ao objetivo da pesquisa
31 Descriccedilatildeo da Amostra
Para a anaacutelise das praacuteticas de marketing utilizadas pelos intermediaacuterios bancaacuterios
estudaram-se sete bancaacuterios(as) e trecircs estagiaacuterios(as) atuantes na concessatildeo de empreacutestimos
consignados Estes operam nas localidades de Mariana Ouro Preto e Itabirito Em vista disso
para a execuccedilatildeo da pesquisa foi relevante a realizaccedilatildeo de entrevistas a partir desse
pressuposto foi possiacutevel inferir interpretaccedilotildees diversas sobre esses sujeitos no momento da
concessatildeo do creacutedito
As interlocuccedilotildees com os bancaacuterios e seus correspondentes foram marcadas
antecipadamente via celular informando-lhes a data o local a preferir a duraccedilatildeo em meacutedia e
do que se tratava o estudo As entrevistas foram sucedidas no periacuteodo de julho a agosto de
2016 Outro aspecto a ser relatado aos entrevistados sobre o estudo foi a importacircncia destes
para pesquisa visto que o nuacutemero de informaccedilotildees fornecidas possibilitaria uma anaacutelise
satisfatoacuteria para a exploraccedilatildeo do tema O quadro a seguir resume as caracteriacutesticas da amostra
analisada
16
Quadro 1 Caracteriacutesticas da amostra analisada
Bancaacuterios Estagiaacuterios Nomes Fictiacutecios Idade Cidades
B1 Maria Claacuteudia 41 Mariana (MG)
B2 Carlos Eduardo 22 Ouro Preto (MG)
B3 Daniel 25 Ouro Preto (MG)
B4 Leandro 27 Mariana (MG)
B5 Maacutercia 34 Mariana (MG)
B6 Antocircnio 38 Mariana (MG)
B7 Camila 27 Mariana (MG)
E1 Ana Luiacuteza 25 Itabirito (MG)
E2 Marcela 22 Itabirito (MG)
E3 Marcos 24 Ouro Preto (MG)
Fonte Dados da pesquisa
Com relaccedilatildeo a populaccedilatildeo do estudo foram levantados dados buscando alcanccedilar a
quantidade aproximada de bancaacuterios e estagiaacuterios na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e
Itabirito Para a identificaccedilatildeo dos dados foi necessaacuterio entrar em contato via telefone em todas
as agecircncias privadas dessas localidades Atraveacutes do quadro abaixo pode-se concluir o nuacutemero
da populaccedilatildeo desse puacuteblico
Quadro 2 Quantidade da populaccedilatildeo de bancaacuterios e estagiaacuterios
Localidade Bancaacuterios Estagiaacuterios
Mariana 55 3
Ouro Preto 63 3
Itabirito 52 8
TOTAL 170 14
Fonte Dados da pesquisa
Em suma a pesquisa de campo foi desenvolvida nessas localidades visto que esses
municiacutepios possuem um nuacutemero representativo de idosos puacuteblico alvo das instituiccedilotildees
financeiras De acordo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2010) a cidade de
Mariana conta com proximamente 5200 idosos jaacute Ouro Preto possui cerca de 7994 idosos e
Itabirito dispotildee em meacutedia 4998 idosos Por conseguinte surge a iniciativa de analisar os perfis
dos bancaacuterios visando compreender as praacuteticas que estes utilizam para alcanccedilar um maior nuacutemero
de idosos para efetivar a contrataccedilatildeo do creacutedito
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4 ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
Como explicitado anteriormente a vulnerabilidade do consumidor existe a partir da
relaccedilatildeo entre empresa e cliente E considerando todas as peculiaridades e caracteriacutesticas que
fazem do consumidor de serviccedilos financeiros um consumidor vulneraacutevel esta seccedilatildeo do texto
tem por propoacutesito retratar por meio da apresentaccedilatildeo e anaacutelise dos dados extraiacutedos das
entrevistas realizadas ao longo deste estudo a forma como os bancaacuterios e seus
correspondentes operam na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e Itabirito especialmente no que se
refere ao modo como oferecem e conduzem as negociaccedilotildees de serviccedilos financeiros Quanto agrave
anaacutelise dos resultados o estudo utilizou a categorizaccedilatildeo dos discursos dos entrevistados em I
II III Logo as categorias baseiam-se em fragmentos das interlocuccedilotildees aspectos recorrentes
mencionados pelos bancaacuterios
A seguir satildeo apresentados trechos das falas dos dez respondentes que participaram
desta pesquisa Tais falas foram gravadas durante as entrevistas Os nomes adotados a seguir
para marcar que os trechos transcritos satildeo de falas de diferentes entrevistados satildeo fictiacutecios
Todas as entrevistas foram transcritas respeitando integralmente a linguagem e sinais
transmitidos por cada entrevistado
41 Categoria I
411 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos serviccedilos
financeiros
O analfabetismo e falta de instruccedilatildeo impactam no momento da contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros visto que esse tipo de puacuteblico eacute persuadido pelos bancaacuterios a tomar
determinadas decisotildees pois este natildeo possui informaccedilotildees necessaacuterias sobre o que seria esse
creacutedito o qual estaacute contratando Atraveacutes dos trechos das entrevistas foi possiacutevel identificar
que os bancaacuterios estagiaacuterios influenciam na hora da aquisiccedilatildeo do serviccedilo ateacute mesmo nas
formas como os clientes iratildeo pagar o empreacutestimo O quadro abaixo apresenta trechos da
entrevista que demonstram a falta de conhecimento financeiro dos consumidores do
empreacutestimo consignado
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Quadro 3 - O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Entrevistados Trechos da entrevista
Maria Claacuteudia ldquoTem muita gente eacute Natildeo tatildeo instruiacuteda gente mais
simples Bom existem vaacuterias pessoas que pegam
aqui com a gente que satildeo analfabetas entendeurdquo
Ana Luiacuteza ldquoMuitas pessoas natildeo satildeo instruiacutedas poucas
pessoas sabem assinar seu proacuteprio nome mas
existem pessoas alfabetizadas simrdquo
ldquoA maioria acredito que natildeo tenha uma noccedilatildeo
esclarecimento ateacute porque quanto mais vezes vocecirc
dividir mais juros incidem e eacute melhor para o
bancordquo
Marcela ldquoEu acho que a grande maioria tinha um grau de
instruccedilatildeo reduzido e isso facilitava na hora de
vender neacuterdquo
ldquoEntatildeo a gente sempre tentava colocar de setenta
e duas vezes ou setenta e cinco satildeo seis anos de
consignado Entatildeo quanto maior o prazo maior a
taxa de juros Agraves vezes vocecirc pegava um capital
um volume muito pequeno e virava pra pessoa e
falava assim -Natildeo Por que aiacute soacute vai descontar
soacute R$3000 reais no seu pagamento e a pessoa natildeo
tinha dimensatildeo que por a gente taacute dividindo
aquele valor pequeninho sai muito grande depois
por conta da taxa que ela aumentava de acordo
com o prazordquo
Carlos Eduardo ldquoO mais comum satildeo pessoas de baixa renda e sem
informaccedilatildeo Exemplo A maioria dos consignados
os clientes nem perguntam as taxas de juros ele
natildeo estaacute preocupado com o prazo ele estaacute
preocupado com o valor da parcela se ele vai
conseguir pagar ou natildeo e o valor que vai sobrar
pra ele vai conseguir passar o mecircsrdquo
Leandro ldquoGrande parte natildeo satildeo instruiacutedas mas eu atendo
mais alta renda entatildeo meus clientes satildeo mais
seletivos eles pegam valores maiores natildeo eacute
qualquer empreacutestimo que ele pega eacute mais para
investimento mesmo ou pra sair de alguma coisardquo
19
Aacutercia ldquoEntatildeo assim muitas vezes as pessoas natildeo vem
com o conhecimento financeiro real eles querem
o imediato querem o empreacutestimo naquele
momento Muita gente natildeo tem a noccedilatildeo de como
vai ficar aquilordquo
Antocircnio ldquoEntatildeo no puacuteblico de menor renda esse
discernimento eacute menos eles olham mais se a
parcela cabe no bolso deles do que no montante
de juros que eles vatildeo pagar no finalrdquo
Fonte Dados da pesquisa
Diante destes dois perfis de consumidores vulneraacuteveis os analfabetos e os com baixa
instruccedilatildeo pode-se verificar por meio das gravaccedilotildees que tanto as pessoas analfabetas e as com
baixa instruccedilatildeo natildeo possuem compreensatildeo suficiente para realizar uma contrataccedilatildeo de creacutedito
A entrevistada Marcela afirma que vender para esse determinado tipo puacuteblico facilitava pelo
fato da falta de conhecimento financeiro
Outra situaccedilatildeo comentada durante a gravaccedilatildeo das entrevistas foi sobre as parcelas dos
empreacutestimos os bancaacuterios e os estagiaacuterios induzem os clientes a dividirem em mais vezes A
entrevistada Marcela tambeacutem afirma que sempre propunha aos seus clientes dividir em
setenta e duas vezes alegando para essas pessoas que o valor iria ldquocaber no bolsordquo Mas na
verdade os bancaacuterios aproveitam do analfabetismo financeiro dos tomadores de creacutedito
visando a lucratividade das instituiccedilotildees financeiras dado que as taxas aumentam de acordo
com prazo
A partir dessa anaacutelise eacute possiacutevel perceber de forma clara as limitaccedilotildees dos idosos no
processo de compra Conforme Chertman (2011 p21) as consequecircncias da idade
ldquopotencializam a vulnerabilidade de compra pela dificuldade de comprar em escala (podendo
negociar preccedilos)rdquo De fato nota-se que a questatildeo do analfabetismo baixa instruccedilatildeo e idade
afetam na tomada de decisatildeo consciente do consumidor
42 Categoria II
421 Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
A informaccedilatildeo no momento da compra eacute essencial para que o cliente natildeo faccedila uma
escolha errocircnea quanto ao produto Em relaccedilatildeo as entrevistas realizadas foi possiacutevel inferir
que na contrataccedilatildeo de creacutedito os bancaacuterios e seus intermediaacuterios natildeo informam o valor da
taxa de juros e acabam focando nos valores das parcelas no prazo e em quantas vezes o
parcelamento ficaraacute Sendo assim os atendentes procuram natildeo informar aos consumidores
20
quanto ficaraacute o valor total do empreacutestimo ao incidirem os juros Atraveacutes do quadro abaixo
pode-se comprovar que no momento da contrataccedilatildeo do creacutedito os bancaacuterios e estagiaacuterios
omitem determinadas informaccedilotildees aos clientes
Quadro 4 - Omissatildeo de informaccedilotildees na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Ana Luiacuteza ldquoNormalmente eu natildeo falo o valor dos juros
dificilmente eu falo o valor do juros soacute falo que
ele eacute mais baixo e informo que independe do que
a aconteccedila na economia brasileira a partir do
momento que a pessoa estaacute fazendo o contrato o
juros nunca vai aumentar que aquele juros e
sempre seraacute aquelerdquo
Marcela ldquoEntatildeo na verdade o que eu aprendi no Banco X
a regra clara Eu tinha que omitir Eu natildeo
precisava mentir mas eu precisava omitir
algumas informaccedilotildees Entatildeo eu abordava o
cliente sempre eacute Buscando saber do sonho dele
para depois eu vender o empreacutestimo Eu tentava
omitir informaccedilotildees como taxas prazo de
pagamento que eram coisas que eu soacute falava se o
cliente me perguntasse Eu achava muito
tranquilo assim vender Eu natildeo tinha muita
dificuldade natildeordquo
ldquoA gente omitia o valor total que o cliente ia
pagar justamente porque se vocecirc falar ele natildeo vai
levar entatildeo eacute A gente omitia e tentava fazer o
cliente fechar a venda na hora Principalmente
quando a venda era no caixa eletrocircnico que era
muito mais faacutecil porque agraves vezes o cliente
fechava a venda ali naquele momento naquele
instante natildeo refletia muito era mais faacutecil vender e
muitas vezes eles tavam sozinho muitas vezes os
aposentados vatildeo para agecircncia sozinho natildeo
estavam acompanhados dos filhos de ningueacutemrdquo
Carlos Eduardo ldquoNo contrato fala dos juros mas eu soacute respondo
quando o cliente perguntardquo
Marcos ldquoQuando o cliente fazia por exemplo um
empreacutestimo a gente falava o valor da parcela
21
quanto que ele vai pegar quando vai descontar do
pagamento falava a taxa de juros tambeacutem mas
acabava que eles nem sabiamrdquo
ldquoSe perguntasse alguma coisa a gente falavardquo
Fonte Dados da pesquisa
Como jaacute foi dito o cliente tem como direito obter informaccedilotildees necessaacuterias do que ele
estaacute adquirindo mas quando isso natildeo ocorre pode-se dizer que estaacute ocorrendo uma omissatildeo
dos fatos O autor Silva (2009 p146) expotildee o art 14 do CDC destacando ldquoo dever de
informaccedilatildeo cuja omissatildeo caracteriza defeito do serviccedilo ensejador do dever de indenizarrdquo
Logo pode-se concluir que quando o cliente natildeo eacute alertado sobre o produto ou serviccedilo e este
causa danos o consumidor deve ser reparado
Diante do que foi explicitado acima pode-se perceber atraveacutes das gravaccedilotildees feitas
quatro entrevistados falaram que natildeo davam as informaccedilotildees necessaacuterias para os contratadores
de creacuteditos A entrevistada Marcela usa o termo ldquoomissatildeordquo ela afirma que agraves vezes era
necessaacuterio omitir para que a venda do empreacutestimo consignado fosse realizada mais
rapidamente Jaacute os demais entrevistados alegam que normalmente natildeo falam as taxas de juros
eles informam as taxas apenas se o cliente perguntar Percebe-se tambeacutem que por se tratar de
um puacuteblico mais vulneraacutevel os bancaacuteriosestagiaacuterios tinham maior facilidade em convencecirc-
los na hora da compra jaacute que grande parte desse puacuteblico natildeo possui instruccedilotildees suficientes
para adquirir esse tipo de produto
Dessa forma eacute expliacutecito que os bancaacuterios e os estagiaacuterios natildeo davam as informaccedilotildees
necessaacuterias aos seus clientes pelo fato de terem que apresentar maior lucratividade aos
bancos Uma vez que como foi relatado por Marcela a instituiccedilatildeo financeira onde trabalhava
alegava que certas informaccedilotildees deveriam ser ldquoomitidasrdquo Dessa forma pode-se evidenciar a
violaccedilatildeo do direito do consumidor
Dentre a vulnerabilidade do consumidor quanto a omissatildeo dos fatos por partes dos
bancaacuterios e seus correspondentes haacute tambeacutem outro recurso utilizado pelos fornecedores o
linguiacutestico Isto eacute satildeo termos palavras usadas que suavizam na hora da contrataccedilatildeo de
creacutedito Pode-se dizer que eacute a comunicaccedilatildeo existente entre o fornecedor e o cliente a fim de
que o primeiro consiga induzir o segundo a comprar seu produto
O marketing de vendas retrata esta relaccedilatildeo citada acima de consumidor e fornecedor
De acordo com Bernardi (2012 p75) ldquoo marketing de vendas possui uma relaccedilatildeo estreita com
o elemento do composto mercadoloacutegico denominado de promoccedilatildeo que se refere a todas as
accedilotildees relativas agrave comunicaccedilatildeo e agrave venda dos produtos de uma organizaccedilatildeordquo
22
Atraveacutes dessa relaccedilatildeo construiacuteda pela comunicaccedilatildeo pode-se verificar por parte das
entrevistas que os bancaacuterios e os estagiaacuterios utilizam de recursos linguiacutesticos para convencer o
cliente a comprar tal produto Isto eacute estes tinham certo cuidado na maneira de falar para que
os clientes se sentissem agrave vontade e consequentemente efetivar a venda do produto
A comunicaccedilatildeo exerce influecircncia na venda de um produto ou seja esse diaacutelogo entre
cliente e fornecedor facilita a compra de um produto por parte do consumidor O autor
Bernardi (2012 p77) acresce o termo merchandising este eacute visto como um dos principais
meacutetodos de marketing associado agrave venda
Eacute um termo que pode ser usado como instrumento de comunicaccedilatildeo que apresenta o
produto ao consumidor e favorece a sua compra Merchandising no entanto eacute criar
um cenaacuterio de um produto serviccedilo ou marca de forma casual Os principais
conceitos do merchandising estatildeo voltados agrave boa estrateacutegia de comunicaccedilatildeo no
ponto de venda pois visa destacar o produto ou serviccedilo buscando assim motivar as
compras por impulso jaacute que possui uma comunicaccedilatildeo muito proacutexima agrave venda
Logo compreende-se que o merchandising eacute uma ferramenta que aproxima o cliente e
o fornecedor atraveacutes da comunicaccedilatildeo
Como jaacute foi mencionado anteriormente a forma de comunicar exerce uma forte
influecircncia no ato da compra Todavia atraveacutes das entrevistas pode-se notar certa preocupaccedilatildeo
em como abordar o cliente ou seja a forma de dialogar com seus clientes Percebeu-se entatildeo
que determinadas palavras eram trocadas por outras como por exemplo o termo
ldquoempreacutestimordquo muitas vezes era substituiacutedo pelo termo ldquodinheirinhordquo ou creacutedito A partir do
quadro abaixo pode-se concluir que a forma de falar eacute utilizada como um artifiacutecio na hora da
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado
23
43 Categoria III
431 Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por se tratar de um puacuteblico de idade com baixo grau de instruccedilatildeo ou ateacute mesmo analfabetos
os bancaacuterios estagiaacuterios se beneficiam dessa relaccedilatildeo A forma de falar induz os consumidores
de serviccedilos financeiros a adquirirem certo produto O Quadro 5 apresenta as respostas
referentes agrave forma de falar dos intermediaacuterios bancaacuterios
Quadro 5- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Marcela ldquoAcredito que para vender esse tipo de produto que eacute
um produto difiacutecil que as pessoas agraves vezes quando
vocecirc fala ldquoempreacutestimordquo a pessoa fica com o peacute atraacutes
entatildeo tem que ser assim Coisas que a gente natildeo usa eacute
falar empreacutestimo natildeo existe no banco entendeu Eacute
um dinheirinho suavizar realmente a expressatildeo
empreacutestimo porque quando vocecirc fala a expressatildeo
empreacutestimo as pessoas se fechamrdquo
ldquoMuitas vezes eles natildeo entendiam o que vocecirc estava
falando entatildeo Ah fulano vocecirc tem um dinheirinho
aqui disponiacutevel para vocecirc pegar aiacute eles perguntavam
Mas vocecirc estaacute me dando esse dinheirordquo
Marcos ldquoOutra coisa o termo empreacutestimo o pessoal mesmo
falava que era uma coisa muito pesada de se dizer a
maioria das pessoas natildeo vecirc com bons olhos entatildeo a
gente falava um dinheirinho pro cliente pois ameniza
um pouco o termo Querendo ou natildeo o modo de falar
influencia um poucordquo
Daniel ldquoEu por exemplo falo creacutedito porque eu tocirc
conversando com o cliente e ele vecirc que tem outras
pessoas em volta agraves vezes eu falar empreacutestimo ele
pode ficar um pouco chateado daquilo nem todo
mundo gosta de ir no banco pra pegar empreacutestimo
gosta de ir laacute para sacar dinheiro Eu prefiro trabalhar
com a palavra creacutedito rdquo
Antocircnio ldquoGeralmente a gente utiliza o termo creacutedito vocecirc tem
um creacutedito aprovado Porque agraves vezes a pessoa tem
ateacute medo resistecircncia em empreacutestimo Geralmente a
24
gente fala que vocecirc tem um creacutedito aprovado e aiacute a
gente fala em qual linha a pessoa tem creacutedito
pessoal financiamento para veiacuteculos financiamento
imobiliaacuterio consignado que eacute o creacutedito que vem da
folha de pagamento Entatildeo a gente normalmente
oferta creacutedito ldquo
Fonte Dados da pesquisa
Conforme alguns entrevistados esses natildeo utilizam o termo correto que eacute ldquoempreacutestimo
consignadordquo Nas gravaccedilotildees os bancaacuterios e seus correspondentes alegam que os clientes tecircm
eacute um ldquodinheirinhordquo disponiacutevel para pegarem no banco Outros afirmam que o vocaacutebulo
empregado por eles eacute o ldquocreacuteditordquo pois ameniza um pouco o termo Este possui o mesmo
significado do primeiro mas para muitos o termo quer dizer credibilidade ldquocreacutedito na praccedilardquo
apesar de ser sinocircnimo do vocaacutebulo ldquoempreacutestimordquo essa palavra soa de forma positiva
Ao verificar a forma de comunicaccedilatildeo com os clientes do empreacutestimo consignado
pode-se perceber que essa substituiccedilatildeo de ldquopalavrasrdquo ocorre com o intuito amenizar o termo
ldquoempreacutestimordquo visto que por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel as pessoas assustam quando
pronunciam a palavra empreacutestimo Para muitos esse termo soa de forma negativa como
pessoas que possuem desorganizaccedilatildeo financeira ou inadimplecircncia Por este fato tanto os
bancaacuterios quanto os estagiaacuterios procuram utilizar vocaacutebulos que suavizem e que soem de uma
forma positiva para o cliente Sendo assim a forma de se comunicar pode alterar a venda de
determinado produto ofertado Mas essa forma de suavizar os termos empregados durante a
venda do serviccedilo financeiro fora de certos limites eacutetico-legais pode ser vista como uma
espeacutecie de ldquoomissatildeordquo do que realmente esses tomadores de creacutedito estatildeo comprando Pois
como jaacute foi retratado de acordo com o CDC os termos devem ser informados de forma clara
ao cliente
Podemos exemplificar de acordo com um entrevistado que afirma utilizar o termo
ldquodinheirinhordquo por ser mais faacutecil dos aposentados e pensionistas entenderem jaacute que muitos
desses clientes possuiacuteam dificuldades sobre o que de fato estavam comprando Aleacutem disso o
bancaacuterio acredita que modo de falar pode alterar a execuccedilatildeo da venda
Tendo em vista os aspectos observados tanto o artifiacutecio linguiacutestico quanto a omissatildeo
das informaccedilotildees pelos bancaacuteriosestagiaacuterios possui objetivos em comum pelas instituiccedilotildees
financeiras na qual visam a obtenccedilatildeo de maiores lucros para essas empresas Aleacutem disso os
bancos satildeo os maiores beneficiados pois natildeo levam em consideraccedilatildeo a isonomia das relaccedilotildees
entre consumidor e fornecedor Portanto conclui-se que em meio a essa relaccedilatildeo o consumidor
eacute parte mais fraca onde seus direitos satildeo violados pelos fornecedores de creacutedito
25
5 CONCLUSAtildeO
O creacutedito consignado eacute um tipo de empreacutestimo recente que vem sendo utilizado com
maior frequecircncia por um determinado puacuteblico (LOPES et al2014) Com isso as instituiccedilotildees
bancaacuterias estatildeo apresentando certo interesse sobre esse ldquonovordquo tipo de puacuteblico em ascensatildeo
Os intermediaacuterios bancaacuterios vecircm buscando formas para atrair os idosos seja atraveacutes das
facilidades da obtenccedilatildeo do creacutedito ou ateacute mesmo no modo de comunicar utilizando de
artifiacutecios de linguagem Em suma os bancos utilizam de praacuteticas de marketing tensionados a
obter vantagens sobre esses consumidores De acordo com o Coacutedigo de Consumidor (CDC)
estes satildeo considerados como vulneraacuteveis
Perante o estudo notou-se que a vulnerabilidade do idoso eacute agravada jaacute que
enquadram como consumidores hipervulneraacuteveis Essa vulnerabilidade acontece atraveacutes das
relaccedilotildees de consumo onde os fornecedores do empreacutestimo tiram proveito do estado em que
esses consumidores se encontram Para que estes cidadatildeos hipervulneraacuteveis sejam amparados
haacute o Estatuto do idoso e Coacutedigo do Consumidor ambos dispotildeem de normas que regem a
relaccedilatildeo entre consumidor-fornecedor Deve-se ressaltar que apesar da existecircncia das
legislaccedilotildees os bancos continuam praticando ldquoexcessosrdquo com os consumidores no momento da
contrataccedilatildeo do creacutedito Eacute relevante a imposiccedilatildeo do Estado visando inibir a lesatildeo do direito
sendo especificado ao idoso
Logo atraveacutes dos resultados da pesquisa pode-se concluir que essa vulnerabilidade
acentuada ocorre atraveacutes de fatores como idade baixa escolaridade e baixo grau de instruccedilatildeo
que interferem nas relaccedilotildees consumeristas isto eacute os contratadores de creacutedito consignado natildeo
possuem domiacutenio para realizar uma compra consciente Sendo assim os consumidores
apresentam limitaccedilotildees sobre o serviccedilo financeiro na qual estaacute adquirindo A partir da anaacutelise
foi possiacutevel verificar atraveacutes dos entrevistados que o puacuteblico idoso natildeo possuiacutea conhecimento
sobre as taxas juros que incidiam sobre as parcelas Aleacutem disso os bancaacuterios afirmavam que
iriam dividir em mais pagamentos para natildeo atrapalhar no orccedilamento mensal do consumidor
Por conseguinte aspectos como estes facilitavam a induzir os idosos a adquirem o creacutedito
mostrando a estes o quatildeo era vantajoso o produto oferecido
Tambeacutem deve-se ressaltar que por se tratar de um puacuteblico com baixo grau de instruccedilatildeo
e alguns analfabetos tanto os bancaacuterios quanto os estagiaacuterios omitiam informaccedilotildees bem
como tambeacutem utilizavam os recursos linguiacutesticos Estas duas formas contribuiacuteram para que as
vendas fossem efetuadas de uma maneira mais raacutepida Uma vez que a forma de falar ou a
26
omissatildeo influenciavam aos idosos comprarem o produto de uma forma irrefletida visto que
esses consumidores acreditavam no que estava sendo falado por parte do fornecedor
Portanto diante da fragilidade do consumidor em questatildeo eacute perceptiacutevel que na
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado boa parte dos idosos muitas vezes natildeo estatildeo acompanhados
por nenhum membro da famiacutelia Desta maneira para os bancaacuteriosestagiaacuterios a forma de
abordar o cliente fica mais acessiacutevel ainda mais por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel com
pouco grau de instruccedilatildeo ou conhecimento Logo situaccedilotildees como estas contribuem para os
fornecedores tirarem proveito do puacuteblico idoso Outro fato que deve ser destacado eacute a
presenccedila do Estado incentivando programas de alfabetizaccedilatildeo financeira independente do fator
idade para que a sociedade no geral saiba ter consciecircncia clareza sobre as relaccedilotildees de
consumo
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29
APEcircNDICE A
Roteiro de Entrevista qualitativa aplicada aos bancaacuterios e seus correspondentes
1 Idade
2 Formaccedilatildeo acadecircmica ( ) Ensino Meacutedio
( ) Superior
3 Haacute quanto tempo vocecirc trabalha ou jaacute trabalhou vendendo serviccedilos financeiros Em
qual cidade Descreva os serviccedilos financeiros que vocecirc mais estava habituado a
venda
4 Fale um pouco sobre as atividades que vocecirc realizava dentro da empresa Me conte
como era o seu dia a dia como era o processo de venda Da captaccedilatildeo do cliente ao
fechamento do contrato ou da venda do serviccedilo DEcirc EXEMPLOS
5 Quais produtos financeiros vocecirc estava ou estaacute mais habituado a vender
Creacutedito consignado creacutedito pessoal seguros empreacutestimos financiamentos
Qual vocecirc eacute mais estimulado a fazer
Tem diferenccedila na venda desses produtos
A abordagem ao cliente muda Quais satildeo mais diferentes
Vocecirc pode descrever para mim cada um deles por favor
Quais produtos satildeo os mais procurados
6 Qual eacute o tipo de puacuteblico que busca pelo empreacutestimo Descreva para mim as
caracteriacutesticas que vocecirc julga como mais marcantes Geralmente satildeo pessoas de que
faixa etaacuteria Satildeo pessoas de classe baixa meacutedia ou alta Satildeo pessoas instruiacutedas
7 Essas pessoas possuem um esclarecimento sobre o que seria esse tipo creacutedito
Compreendem as vantagens e as desvantagens relacionadas ao serviccedilo O que vocecirc
acha disso
8 No momento da contrataccedilatildeo de creacutedito o que eacute falado Como se daacute Todos os temos
do contrato ficam claros Vocecircs bancaacuterios explicitam o que estaacute no contrato Haacute
30
alguma avaliaccedilatildeo criteriosa do perfil do cliente de suas condiccedilotildees financeiras
9 O que vocecirc jaacute verificou por parte das pessoas que tomam esse creacutedito Qual seria os
maiores motivos para a procura do creacutedito consignado
10 Quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito vocecirc concorda com as vantagens oferecidas no
contrato ou acredita que algo deveria ser alterado O que vocecirc natildeo estaria de acordo
11 Qual o limite de desconto mensal da folha de pagamento do trabalhador o banco
oferece Por algum momento o banco excedeu o valor de desconto da folha Comente
essefato
12 Quanto agraves poliacuteticas bancaacuterias proposta pelos bancos para a venda de produtos
financeiros vocecirc concorda Ou algum momento jaacute discordou Discorra sobre o fato
13 Frequentemente vocecircs bancaacuterios satildeo estimulados a bater metas sobre os produtos que
vocecircs oferecem Vocecirc concorda que existe uma certa pressatildeo em vender cada vez mais
produtos Em alguma situaccedilatildeo vocecirc natildeo esteve de acordo como a forma que deveria
induzir os clientes a comprar um produto na qual vocecirc estaria oferecendo
11
Com relaccedilatildeo ao CDC (Coacutedigo de Defesa do Consumidor) um aspecto que deve ser
ressaltado dentro desse coacutedigo eacute o direito agrave informaccedilatildeo De acordo com Tribunal de Justiccedila do
Distrito Federal e dos Territoacuterios (2016)
O direito agrave informaccedilatildeo eacute direito baacutesico do consumidor e visa assegurar ao mesmo
tempo uma escolha consciente permitindo que suas expectativas em relaccedilatildeo ao
produto ou ao serviccedilo sejam de fato atingidas manifestando o que vem sendo
denominado de consentimento informado ou vontade qualificada
Em outras palavras o consumidor ao adquirir um bem ou produto tem como direito a
informaccedilatildeo necessaacuteria para que faccedila uma compra consciente isto eacute o consumidor deve ter
clareza das condiccedilotildees favoraacuteveis e desfavoraacuteveis do produto Dessa forma eacute relevante que o
fornecedor na hora da compra informe para o cliente o que eacute de fato o seu produto natildeo
omitindo informaccedilotildees que prejudique o consumidor na hora da compra
O artigo 6ordm da Lei nordm 8078 incIII (BRASIL 1990) que retrata o CDC apresenta os
direitos baacutesicos do consumidor dentre eles pode-se destacar o direito ldquoa informaccedilatildeo adequada
e clara sobre os diferentes produtos e serviccedilos com especificaccedilatildeo correta de quantidade
caracteriacutesticas composiccedilatildeo qualidade tributos incidentes e preccedilo bem como sobre os riscos
que apresentamrdquo
Aleacutem da vulnerabilidade do consumidor ser defendida no CDC (Coacutedigo de Defesa do
Consumidor) os idosos contam com a proteccedilatildeo do Estatuto do idoso prevista em Lei nordm
1074103 (BRASIL 2003) no artigo 20 eacute possiacutevel inferir que ldquoo idoso tem direito a
educaccedilatildeo cultura esporte lazer diversotildees espetaacuteculos produtos e serviccedilos que respeitem
sua peculiar condiccedilatildeo de idaderdquo Desse modo para assegurar os direitos do consumidor idoso
eacute importante que o fornecedor seja claro com esse tipo de puacuteblico visando facilitar as
relaccedilotildees consumeristas
Quando a vulnerabilidade do consumidor eacute agravada ou possui condiccedilotildees para uma
maior fragilidade nas relaccedilotildees de consumo podemos definir que este consumidor eacute
hipervulneraacutevel De acordo com Meire e Alves (2016) circunstacircncias como fator idade
conhecimento ou condiccedilatildeo social afetam no grau da vulnerabilidade isto eacute os idosos por
exemplo estatildeo mais propensos a se enquadrar no estado de hipervulnerabilidade
Os autores Rosa Bernardes e Feacutelix (2017 p548) afirmam que
[] fatores tais quais idade avanccedilada ou reduzida situaccedilatildeo de enfermidade e outros
mais que importem fragilizaccedilatildeo e vulnerabilidade do consumidor em niacutevel maior
que o comum na exposiccedilatildeo ao produto ou serviccedilo oferecido pelo fornecedor
ocasionam um grau intensificado de inferioridade na relaccedilatildeo de consumo e assim
configuram um tipo de vulnerabilidade mais grave ao que se convencionou chamar
hipervulnerabilidade
12
Conforme o exposto relato os consumidores hipervulneraacuteveis possuem certa
fragilidade Dessa forma a abordagem dos fornecedores aos idosos eacute visando tirar proveito da
situaccedilatildeo na qual se encontram Os autores citados anteriormente destacam
O puacuteblico idoso revela-se como alvo potencial de propagandas e praacuteticas comerciais
abusivas que se aproveitam da reduzida capacidade de discernimento do idoso para
impor a contrataccedilatildeo de serviccedilos Um dos exemplos mais paradigmaacuteticos eacute a
celebraccedilatildeo de contratos de empreacutestimos consignados entre instituiccedilotildees financeiras e
consumidores idosos pois a loacutegica da sociedade de consumo visualizou lucros
certeiros com tal contrataccedilatildeo eis que via de regra idosos possuem rendimentos
mensais fixos sendo por isso a contrataccedilatildeo mais segura (ROSA BERNARDES
E FEacuteLIX 2017 p548)
Gonccedilalves e Saacute (2015) tambeacutem expotildeem a vulnerabilidade do consumidor em meio agraves
publicidades agressivas antieacuteticas onde o consumo eacute apelado utilizando um conteuacutedo forte
emotivo para atrair os consumidores agrave adquirirem determinado produtoserviccedilo
O Projeto de Lei do Senado nordm283 (BRASIL 2012) presume a alteraccedilatildeo do CDC
(BRASIL1990) visando combater essas praacuteticas de marketing com referecircncia a oferta de
creacutedito Logo esse Projeto de Lei no inciso IV do paraacutegrafo 4 recomenda que ldquoEacute vedado
expressa ou implicitamente na oferta de creacutedito ao consumidor publicitaacuteria ou natildeo [] IV ndash
ocultar por qualquer forma os ocircnus e riscos da contrataccedilatildeo de creacutedito dificultar sua
compreensatildeo ou estimular o endividamento do consumidor em especial se idoso ou
adolescenterdquo (BRASIL 2012)
Desta forma nota-se que o Coacutedigo de Defesa do Consumidor (CDC) e os estatutos
funcionam como paracircmetros para garantir a isonomia Com isso os hipervulneraacuteveis possuem
um maior amparo com relaccedilatildeo agraves praacuteticas abusivas de marketing vendas omissatildeo de
informaccedilotildees como tambeacutem as propagandas enganosas sobre o produto ou serviccedilo na qual
estatildeo contratando
221 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal como fator de vulnerabilidade
Na conjuntura atual brasileira eacute possiacutevel observar a ascensatildeo das classes populares
para as camadas meacutedias como tambeacutem o aumento de poder de compra dos idosos Logo eacute
possiacutevel perceber uma maior atenccedilatildeo dada pelas empresas a esse tipo de puacuteblico em especial
as instituiccedilotildees financeiras Esse poder de compra dos idosos fez com que as empresas
bancaacuterias estimulassem a contrataccedilatildeo de creacutedito por parte dessas pessoas em especial o
creacutedito consignado (BUAES 2015) Atraveacutes disso pode-se indagar Por que o interesse dos
bancos nesse puacuteblico
13
Conforme Buaes (2015) o aumento do poder de compra do idoso fez com que esse
puacuteblico apresentasse interesse na contrataccedilatildeo de produtos e serviccedilos financeiros visto que os
bancos apresentam certa facilidade na obtenccedilatildeo de creacuteditos Um fato destacado por Buaes
(2015) eacute a falta de percepccedilatildeo dos idosos quanto a suas limitaccedilotildees financeiras ou ateacute mesmo a
dificuldade em aceitar essa insuficiecircncia Desta maneira pode-se observar a vulnerabilidade
em duas dimensotildees neste perfil do consumidor idoso isto eacute a falta de conhecimento formal e
a anaacutelise na contrataccedilatildeo de um creacutedito
Quanto a vulnerabilidade do consumidor Chertman (2011) afirma que pode ser
identificada atraveacutes de caracteriacutesticas natildeo observaacuteveis o que eacute o caso do analfabetismo
Entende-se por analfabeto a pessoa com a incapacidade da linguagem de forma geral seja na
leitura intepretaccedilatildeo compreensatildeo e na produccedilatildeo de conhecimento Logo o analfabetismo
possibilita o indiviacuteduo tornar-se um consumidor vulneraacutevel
Aleacutem da questatildeo de pessoas analfabetas tomadores de creacuteditos haacute tambeacutem o perfil de
consumidores de baixa instruccedilatildeo Essas pessoas satildeo capazes de assinar seu proacuteprio nome
quanto agrave leitura apresentam alguma dificuldade no entendimento ou necessitam de ajuda para
uma melhor compreensatildeo Esse tipo consumidor como foi dito acima tambeacutem se enquadra
como vulneraacutevel
Dado o exposto compreende-se que o analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo
formal agravam ainda mais a vulnerabilidade do consumidor em questatildeo Os idosos aleacutem de
possuiacuterem o fator idade na qual afeta a relaccedilatildeo entre consumidorfornecedor (MEIRE
ALVES 2016) apresentam tambeacutem a presenccedila dessas duas caracteriacutesticas que podem
delimitar uma escolha consciente e clara no momento da contrataccedilatildeo de um produto ou
serviccedilo
3 METODOLOGIA
O estudo foi embasado em pesquisas bibliograacuteficas online e impressas como tambeacutem
trabalhos acadecircmicos e perioacutedicos A metodologia utilizada foi qualitativa do tipo descritiva
de acordo Godoy (1995 p62) os pesquisadores de orientaccedilatildeo qualitativadescritiva executam
suas pesquisas baseadas em trabalho de campo a partir de entrevistas e observaccedilotildees aleacutem
disso os pesquisadores possuem um contato direto com o local da pesquisa e seus sujeitos
portanto eacute possiacutevel analisar dados escrever resultados obtidos e descrever o que foi dito
pelos entrevistados
14
A pesquisa de campo foi realizada atraveacutes de entrevistas semi-estruturadas
(APEcircNDICE A) sendo composta por treze questotildees discursivas Segundo Boni e Quaresma
(2005 p 75) as teacutecnicas desse tipo de entrevista
[] tecircm como vantagem a sua elasticidade quanto agrave duraccedilatildeo permitindo uma
cobertura mais profunda sobre determinados assuntos Aleacutem disso a interaccedilatildeo entre
o entrevistador e o entrevistado favorece as respostas espontacircneas Elas tambeacutem satildeo
possibilitadoras de uma abertura e proximidade maior entre entrevistador e
entrevistado o que permite ao entrevistador tocar em assuntos mais complexos e
delicados ou seja quanto menos estruturada a entrevista maior seraacute o favorecimento
de uma troca mais afetiva entre as duas partes Desse modo estes tipos de entrevista
colaboram muito na investigaccedilatildeo dos aspectos afetivos e valorativos dos informantes
que determinam significados pessoais de suas atitudes e comportamentos As
respostas espontacircneas dos entrevistados e a maior liberdade que estes tecircm podem
fazer surgir questotildees inesperadas ao entrevistador que poderatildeo ser de grande
utilidade em sua pesquisa
Em suma pode-se perceber que esse tipo de entrevista proporcionou aos entrevistados
certa autonomia em discutir sobre o tema em questatildeo Visto que no percorrer das
interlocuccedilotildees houve a possibilidade de introduzir novos assuntos sobre o estudo como
tambeacutem a exemplificaccedilatildeo de situaccedilotildees vivenciadas pelos entrevistados
Para a realizaccedilatildeo das entrevistas no presente estudo foi indispensaacutevel entrevistar um
nuacutemero de sete bancaacuterios(as) e trecircs estagiaacuterios(as) de instituiccedilotildees financeiras privadas da
cidade de Mariana Ouro Preto e Itabirito visto que cinco deles eram do sexo masculino e os
demais do sexo feminino Visando buscar nesses gecircneros perspectivas diversas sobre as
teacutecnicas utilizadas na operaccedilatildeo do empreacutestimo consignado agrave aposentados e pensionistas Estas
entrevistas realizadas tiveram duraccedilatildeo meacutedia de quinze a trinta minutos sendo que todas as
interlocuccedilotildees foram gravadas e posteriormente transcritas para entatildeo serem analisadas
Portanto as anaacutelises das respostas foram fundamentadas em anaacutelises de conteuacutedos e
posteriormente buscou-se categorizar os elementos relevantes discutidos durante as
interlocuccedilotildees
De acordo com Cavalcante Calixto e Pinheiro (2014) a anaacutelise de conteuacutedo permite a
ldquoanaacutelise do fenocircmeno em profundidade elencando as subjetividades suas relaccedilotildees bem
como interlocuccedilotildees na malha socialrdquo logo atraveacutes das entrevistas com os bancaacuterios pode-se
verificar suas percepccedilotildees
Conforme Caregnato e Mutti (2006 p 683)
A teacutecnica de anaacutelise de conteuacutedo se compotildee de trecircs grandes etapas 1) a preacute-anaacutelise
2) a exploraccedilatildeo do material 3) o tratamento dos resultados e interpretaccedilatildeo A
mencionada autora descreve a primeira etapa como a fase de organizaccedilatildeo que pode
utilizar vaacute- rios procedimentos tais como leitura flutuante hipoacuteteses objetivos e
elaboraccedilatildeo de indicadores que fundamentem a interpretaccedilatildeo Na segunda etapa os
dados satildeo codificados a partir das unidades de registro Na uacuteltima etapa se faz a
categorizaccedilatildeo que consiste na classificaccedilatildeo dos elementos segundo suas
semelhanccedilas e por diferenciaccedilatildeo com posterior reagrupamento em funccedilatildeo de
15
caracteriacutesticas comuns Portanto a codificaccedilatildeo e a categorizaccedilatildeo fazem parte da AC
As autoras afirmam que aleacutem das teacutecnicas utilizadas na anaacutelise de conteuacutedo o
pesquisador pode categorizar fragmentos do texto que se repetem atraveacutes de frases ou
expressotildees Atraveacutes disso as entrevistas realizadas com os bancaacuterios foram categorizadas da
seguinte maneira
Categoria I- O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Categoria II- Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Categoria III- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por conseguinte essas respostas foram analisadas com o intuito de verificar como os
consumidores hipervulneraacuteveis satildeo abordados pelos(as) bancaacuterios(as) e quais as praacuteticas que
as instituiccedilotildees financeiras adotam para convencer esse puacuteblico Contudo compreende-se que
por meio das entrevistas pode-se construir consideraccedilotildees em relaccedilatildeo ao objetivo da pesquisa
31 Descriccedilatildeo da Amostra
Para a anaacutelise das praacuteticas de marketing utilizadas pelos intermediaacuterios bancaacuterios
estudaram-se sete bancaacuterios(as) e trecircs estagiaacuterios(as) atuantes na concessatildeo de empreacutestimos
consignados Estes operam nas localidades de Mariana Ouro Preto e Itabirito Em vista disso
para a execuccedilatildeo da pesquisa foi relevante a realizaccedilatildeo de entrevistas a partir desse
pressuposto foi possiacutevel inferir interpretaccedilotildees diversas sobre esses sujeitos no momento da
concessatildeo do creacutedito
As interlocuccedilotildees com os bancaacuterios e seus correspondentes foram marcadas
antecipadamente via celular informando-lhes a data o local a preferir a duraccedilatildeo em meacutedia e
do que se tratava o estudo As entrevistas foram sucedidas no periacuteodo de julho a agosto de
2016 Outro aspecto a ser relatado aos entrevistados sobre o estudo foi a importacircncia destes
para pesquisa visto que o nuacutemero de informaccedilotildees fornecidas possibilitaria uma anaacutelise
satisfatoacuteria para a exploraccedilatildeo do tema O quadro a seguir resume as caracteriacutesticas da amostra
analisada
16
Quadro 1 Caracteriacutesticas da amostra analisada
Bancaacuterios Estagiaacuterios Nomes Fictiacutecios Idade Cidades
B1 Maria Claacuteudia 41 Mariana (MG)
B2 Carlos Eduardo 22 Ouro Preto (MG)
B3 Daniel 25 Ouro Preto (MG)
B4 Leandro 27 Mariana (MG)
B5 Maacutercia 34 Mariana (MG)
B6 Antocircnio 38 Mariana (MG)
B7 Camila 27 Mariana (MG)
E1 Ana Luiacuteza 25 Itabirito (MG)
E2 Marcela 22 Itabirito (MG)
E3 Marcos 24 Ouro Preto (MG)
Fonte Dados da pesquisa
Com relaccedilatildeo a populaccedilatildeo do estudo foram levantados dados buscando alcanccedilar a
quantidade aproximada de bancaacuterios e estagiaacuterios na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e
Itabirito Para a identificaccedilatildeo dos dados foi necessaacuterio entrar em contato via telefone em todas
as agecircncias privadas dessas localidades Atraveacutes do quadro abaixo pode-se concluir o nuacutemero
da populaccedilatildeo desse puacuteblico
Quadro 2 Quantidade da populaccedilatildeo de bancaacuterios e estagiaacuterios
Localidade Bancaacuterios Estagiaacuterios
Mariana 55 3
Ouro Preto 63 3
Itabirito 52 8
TOTAL 170 14
Fonte Dados da pesquisa
Em suma a pesquisa de campo foi desenvolvida nessas localidades visto que esses
municiacutepios possuem um nuacutemero representativo de idosos puacuteblico alvo das instituiccedilotildees
financeiras De acordo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2010) a cidade de
Mariana conta com proximamente 5200 idosos jaacute Ouro Preto possui cerca de 7994 idosos e
Itabirito dispotildee em meacutedia 4998 idosos Por conseguinte surge a iniciativa de analisar os perfis
dos bancaacuterios visando compreender as praacuteticas que estes utilizam para alcanccedilar um maior nuacutemero
de idosos para efetivar a contrataccedilatildeo do creacutedito
17
4 ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
Como explicitado anteriormente a vulnerabilidade do consumidor existe a partir da
relaccedilatildeo entre empresa e cliente E considerando todas as peculiaridades e caracteriacutesticas que
fazem do consumidor de serviccedilos financeiros um consumidor vulneraacutevel esta seccedilatildeo do texto
tem por propoacutesito retratar por meio da apresentaccedilatildeo e anaacutelise dos dados extraiacutedos das
entrevistas realizadas ao longo deste estudo a forma como os bancaacuterios e seus
correspondentes operam na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e Itabirito especialmente no que se
refere ao modo como oferecem e conduzem as negociaccedilotildees de serviccedilos financeiros Quanto agrave
anaacutelise dos resultados o estudo utilizou a categorizaccedilatildeo dos discursos dos entrevistados em I
II III Logo as categorias baseiam-se em fragmentos das interlocuccedilotildees aspectos recorrentes
mencionados pelos bancaacuterios
A seguir satildeo apresentados trechos das falas dos dez respondentes que participaram
desta pesquisa Tais falas foram gravadas durante as entrevistas Os nomes adotados a seguir
para marcar que os trechos transcritos satildeo de falas de diferentes entrevistados satildeo fictiacutecios
Todas as entrevistas foram transcritas respeitando integralmente a linguagem e sinais
transmitidos por cada entrevistado
41 Categoria I
411 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos serviccedilos
financeiros
O analfabetismo e falta de instruccedilatildeo impactam no momento da contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros visto que esse tipo de puacuteblico eacute persuadido pelos bancaacuterios a tomar
determinadas decisotildees pois este natildeo possui informaccedilotildees necessaacuterias sobre o que seria esse
creacutedito o qual estaacute contratando Atraveacutes dos trechos das entrevistas foi possiacutevel identificar
que os bancaacuterios estagiaacuterios influenciam na hora da aquisiccedilatildeo do serviccedilo ateacute mesmo nas
formas como os clientes iratildeo pagar o empreacutestimo O quadro abaixo apresenta trechos da
entrevista que demonstram a falta de conhecimento financeiro dos consumidores do
empreacutestimo consignado
18
Quadro 3 - O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Entrevistados Trechos da entrevista
Maria Claacuteudia ldquoTem muita gente eacute Natildeo tatildeo instruiacuteda gente mais
simples Bom existem vaacuterias pessoas que pegam
aqui com a gente que satildeo analfabetas entendeurdquo
Ana Luiacuteza ldquoMuitas pessoas natildeo satildeo instruiacutedas poucas
pessoas sabem assinar seu proacuteprio nome mas
existem pessoas alfabetizadas simrdquo
ldquoA maioria acredito que natildeo tenha uma noccedilatildeo
esclarecimento ateacute porque quanto mais vezes vocecirc
dividir mais juros incidem e eacute melhor para o
bancordquo
Marcela ldquoEu acho que a grande maioria tinha um grau de
instruccedilatildeo reduzido e isso facilitava na hora de
vender neacuterdquo
ldquoEntatildeo a gente sempre tentava colocar de setenta
e duas vezes ou setenta e cinco satildeo seis anos de
consignado Entatildeo quanto maior o prazo maior a
taxa de juros Agraves vezes vocecirc pegava um capital
um volume muito pequeno e virava pra pessoa e
falava assim -Natildeo Por que aiacute soacute vai descontar
soacute R$3000 reais no seu pagamento e a pessoa natildeo
tinha dimensatildeo que por a gente taacute dividindo
aquele valor pequeninho sai muito grande depois
por conta da taxa que ela aumentava de acordo
com o prazordquo
Carlos Eduardo ldquoO mais comum satildeo pessoas de baixa renda e sem
informaccedilatildeo Exemplo A maioria dos consignados
os clientes nem perguntam as taxas de juros ele
natildeo estaacute preocupado com o prazo ele estaacute
preocupado com o valor da parcela se ele vai
conseguir pagar ou natildeo e o valor que vai sobrar
pra ele vai conseguir passar o mecircsrdquo
Leandro ldquoGrande parte natildeo satildeo instruiacutedas mas eu atendo
mais alta renda entatildeo meus clientes satildeo mais
seletivos eles pegam valores maiores natildeo eacute
qualquer empreacutestimo que ele pega eacute mais para
investimento mesmo ou pra sair de alguma coisardquo
19
Aacutercia ldquoEntatildeo assim muitas vezes as pessoas natildeo vem
com o conhecimento financeiro real eles querem
o imediato querem o empreacutestimo naquele
momento Muita gente natildeo tem a noccedilatildeo de como
vai ficar aquilordquo
Antocircnio ldquoEntatildeo no puacuteblico de menor renda esse
discernimento eacute menos eles olham mais se a
parcela cabe no bolso deles do que no montante
de juros que eles vatildeo pagar no finalrdquo
Fonte Dados da pesquisa
Diante destes dois perfis de consumidores vulneraacuteveis os analfabetos e os com baixa
instruccedilatildeo pode-se verificar por meio das gravaccedilotildees que tanto as pessoas analfabetas e as com
baixa instruccedilatildeo natildeo possuem compreensatildeo suficiente para realizar uma contrataccedilatildeo de creacutedito
A entrevistada Marcela afirma que vender para esse determinado tipo puacuteblico facilitava pelo
fato da falta de conhecimento financeiro
Outra situaccedilatildeo comentada durante a gravaccedilatildeo das entrevistas foi sobre as parcelas dos
empreacutestimos os bancaacuterios e os estagiaacuterios induzem os clientes a dividirem em mais vezes A
entrevistada Marcela tambeacutem afirma que sempre propunha aos seus clientes dividir em
setenta e duas vezes alegando para essas pessoas que o valor iria ldquocaber no bolsordquo Mas na
verdade os bancaacuterios aproveitam do analfabetismo financeiro dos tomadores de creacutedito
visando a lucratividade das instituiccedilotildees financeiras dado que as taxas aumentam de acordo
com prazo
A partir dessa anaacutelise eacute possiacutevel perceber de forma clara as limitaccedilotildees dos idosos no
processo de compra Conforme Chertman (2011 p21) as consequecircncias da idade
ldquopotencializam a vulnerabilidade de compra pela dificuldade de comprar em escala (podendo
negociar preccedilos)rdquo De fato nota-se que a questatildeo do analfabetismo baixa instruccedilatildeo e idade
afetam na tomada de decisatildeo consciente do consumidor
42 Categoria II
421 Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
A informaccedilatildeo no momento da compra eacute essencial para que o cliente natildeo faccedila uma
escolha errocircnea quanto ao produto Em relaccedilatildeo as entrevistas realizadas foi possiacutevel inferir
que na contrataccedilatildeo de creacutedito os bancaacuterios e seus intermediaacuterios natildeo informam o valor da
taxa de juros e acabam focando nos valores das parcelas no prazo e em quantas vezes o
parcelamento ficaraacute Sendo assim os atendentes procuram natildeo informar aos consumidores
20
quanto ficaraacute o valor total do empreacutestimo ao incidirem os juros Atraveacutes do quadro abaixo
pode-se comprovar que no momento da contrataccedilatildeo do creacutedito os bancaacuterios e estagiaacuterios
omitem determinadas informaccedilotildees aos clientes
Quadro 4 - Omissatildeo de informaccedilotildees na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Ana Luiacuteza ldquoNormalmente eu natildeo falo o valor dos juros
dificilmente eu falo o valor do juros soacute falo que
ele eacute mais baixo e informo que independe do que
a aconteccedila na economia brasileira a partir do
momento que a pessoa estaacute fazendo o contrato o
juros nunca vai aumentar que aquele juros e
sempre seraacute aquelerdquo
Marcela ldquoEntatildeo na verdade o que eu aprendi no Banco X
a regra clara Eu tinha que omitir Eu natildeo
precisava mentir mas eu precisava omitir
algumas informaccedilotildees Entatildeo eu abordava o
cliente sempre eacute Buscando saber do sonho dele
para depois eu vender o empreacutestimo Eu tentava
omitir informaccedilotildees como taxas prazo de
pagamento que eram coisas que eu soacute falava se o
cliente me perguntasse Eu achava muito
tranquilo assim vender Eu natildeo tinha muita
dificuldade natildeordquo
ldquoA gente omitia o valor total que o cliente ia
pagar justamente porque se vocecirc falar ele natildeo vai
levar entatildeo eacute A gente omitia e tentava fazer o
cliente fechar a venda na hora Principalmente
quando a venda era no caixa eletrocircnico que era
muito mais faacutecil porque agraves vezes o cliente
fechava a venda ali naquele momento naquele
instante natildeo refletia muito era mais faacutecil vender e
muitas vezes eles tavam sozinho muitas vezes os
aposentados vatildeo para agecircncia sozinho natildeo
estavam acompanhados dos filhos de ningueacutemrdquo
Carlos Eduardo ldquoNo contrato fala dos juros mas eu soacute respondo
quando o cliente perguntardquo
Marcos ldquoQuando o cliente fazia por exemplo um
empreacutestimo a gente falava o valor da parcela
21
quanto que ele vai pegar quando vai descontar do
pagamento falava a taxa de juros tambeacutem mas
acabava que eles nem sabiamrdquo
ldquoSe perguntasse alguma coisa a gente falavardquo
Fonte Dados da pesquisa
Como jaacute foi dito o cliente tem como direito obter informaccedilotildees necessaacuterias do que ele
estaacute adquirindo mas quando isso natildeo ocorre pode-se dizer que estaacute ocorrendo uma omissatildeo
dos fatos O autor Silva (2009 p146) expotildee o art 14 do CDC destacando ldquoo dever de
informaccedilatildeo cuja omissatildeo caracteriza defeito do serviccedilo ensejador do dever de indenizarrdquo
Logo pode-se concluir que quando o cliente natildeo eacute alertado sobre o produto ou serviccedilo e este
causa danos o consumidor deve ser reparado
Diante do que foi explicitado acima pode-se perceber atraveacutes das gravaccedilotildees feitas
quatro entrevistados falaram que natildeo davam as informaccedilotildees necessaacuterias para os contratadores
de creacuteditos A entrevistada Marcela usa o termo ldquoomissatildeordquo ela afirma que agraves vezes era
necessaacuterio omitir para que a venda do empreacutestimo consignado fosse realizada mais
rapidamente Jaacute os demais entrevistados alegam que normalmente natildeo falam as taxas de juros
eles informam as taxas apenas se o cliente perguntar Percebe-se tambeacutem que por se tratar de
um puacuteblico mais vulneraacutevel os bancaacuteriosestagiaacuterios tinham maior facilidade em convencecirc-
los na hora da compra jaacute que grande parte desse puacuteblico natildeo possui instruccedilotildees suficientes
para adquirir esse tipo de produto
Dessa forma eacute expliacutecito que os bancaacuterios e os estagiaacuterios natildeo davam as informaccedilotildees
necessaacuterias aos seus clientes pelo fato de terem que apresentar maior lucratividade aos
bancos Uma vez que como foi relatado por Marcela a instituiccedilatildeo financeira onde trabalhava
alegava que certas informaccedilotildees deveriam ser ldquoomitidasrdquo Dessa forma pode-se evidenciar a
violaccedilatildeo do direito do consumidor
Dentre a vulnerabilidade do consumidor quanto a omissatildeo dos fatos por partes dos
bancaacuterios e seus correspondentes haacute tambeacutem outro recurso utilizado pelos fornecedores o
linguiacutestico Isto eacute satildeo termos palavras usadas que suavizam na hora da contrataccedilatildeo de
creacutedito Pode-se dizer que eacute a comunicaccedilatildeo existente entre o fornecedor e o cliente a fim de
que o primeiro consiga induzir o segundo a comprar seu produto
O marketing de vendas retrata esta relaccedilatildeo citada acima de consumidor e fornecedor
De acordo com Bernardi (2012 p75) ldquoo marketing de vendas possui uma relaccedilatildeo estreita com
o elemento do composto mercadoloacutegico denominado de promoccedilatildeo que se refere a todas as
accedilotildees relativas agrave comunicaccedilatildeo e agrave venda dos produtos de uma organizaccedilatildeordquo
22
Atraveacutes dessa relaccedilatildeo construiacuteda pela comunicaccedilatildeo pode-se verificar por parte das
entrevistas que os bancaacuterios e os estagiaacuterios utilizam de recursos linguiacutesticos para convencer o
cliente a comprar tal produto Isto eacute estes tinham certo cuidado na maneira de falar para que
os clientes se sentissem agrave vontade e consequentemente efetivar a venda do produto
A comunicaccedilatildeo exerce influecircncia na venda de um produto ou seja esse diaacutelogo entre
cliente e fornecedor facilita a compra de um produto por parte do consumidor O autor
Bernardi (2012 p77) acresce o termo merchandising este eacute visto como um dos principais
meacutetodos de marketing associado agrave venda
Eacute um termo que pode ser usado como instrumento de comunicaccedilatildeo que apresenta o
produto ao consumidor e favorece a sua compra Merchandising no entanto eacute criar
um cenaacuterio de um produto serviccedilo ou marca de forma casual Os principais
conceitos do merchandising estatildeo voltados agrave boa estrateacutegia de comunicaccedilatildeo no
ponto de venda pois visa destacar o produto ou serviccedilo buscando assim motivar as
compras por impulso jaacute que possui uma comunicaccedilatildeo muito proacutexima agrave venda
Logo compreende-se que o merchandising eacute uma ferramenta que aproxima o cliente e
o fornecedor atraveacutes da comunicaccedilatildeo
Como jaacute foi mencionado anteriormente a forma de comunicar exerce uma forte
influecircncia no ato da compra Todavia atraveacutes das entrevistas pode-se notar certa preocupaccedilatildeo
em como abordar o cliente ou seja a forma de dialogar com seus clientes Percebeu-se entatildeo
que determinadas palavras eram trocadas por outras como por exemplo o termo
ldquoempreacutestimordquo muitas vezes era substituiacutedo pelo termo ldquodinheirinhordquo ou creacutedito A partir do
quadro abaixo pode-se concluir que a forma de falar eacute utilizada como um artifiacutecio na hora da
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado
23
43 Categoria III
431 Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por se tratar de um puacuteblico de idade com baixo grau de instruccedilatildeo ou ateacute mesmo analfabetos
os bancaacuterios estagiaacuterios se beneficiam dessa relaccedilatildeo A forma de falar induz os consumidores
de serviccedilos financeiros a adquirirem certo produto O Quadro 5 apresenta as respostas
referentes agrave forma de falar dos intermediaacuterios bancaacuterios
Quadro 5- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Marcela ldquoAcredito que para vender esse tipo de produto que eacute
um produto difiacutecil que as pessoas agraves vezes quando
vocecirc fala ldquoempreacutestimordquo a pessoa fica com o peacute atraacutes
entatildeo tem que ser assim Coisas que a gente natildeo usa eacute
falar empreacutestimo natildeo existe no banco entendeu Eacute
um dinheirinho suavizar realmente a expressatildeo
empreacutestimo porque quando vocecirc fala a expressatildeo
empreacutestimo as pessoas se fechamrdquo
ldquoMuitas vezes eles natildeo entendiam o que vocecirc estava
falando entatildeo Ah fulano vocecirc tem um dinheirinho
aqui disponiacutevel para vocecirc pegar aiacute eles perguntavam
Mas vocecirc estaacute me dando esse dinheirordquo
Marcos ldquoOutra coisa o termo empreacutestimo o pessoal mesmo
falava que era uma coisa muito pesada de se dizer a
maioria das pessoas natildeo vecirc com bons olhos entatildeo a
gente falava um dinheirinho pro cliente pois ameniza
um pouco o termo Querendo ou natildeo o modo de falar
influencia um poucordquo
Daniel ldquoEu por exemplo falo creacutedito porque eu tocirc
conversando com o cliente e ele vecirc que tem outras
pessoas em volta agraves vezes eu falar empreacutestimo ele
pode ficar um pouco chateado daquilo nem todo
mundo gosta de ir no banco pra pegar empreacutestimo
gosta de ir laacute para sacar dinheiro Eu prefiro trabalhar
com a palavra creacutedito rdquo
Antocircnio ldquoGeralmente a gente utiliza o termo creacutedito vocecirc tem
um creacutedito aprovado Porque agraves vezes a pessoa tem
ateacute medo resistecircncia em empreacutestimo Geralmente a
24
gente fala que vocecirc tem um creacutedito aprovado e aiacute a
gente fala em qual linha a pessoa tem creacutedito
pessoal financiamento para veiacuteculos financiamento
imobiliaacuterio consignado que eacute o creacutedito que vem da
folha de pagamento Entatildeo a gente normalmente
oferta creacutedito ldquo
Fonte Dados da pesquisa
Conforme alguns entrevistados esses natildeo utilizam o termo correto que eacute ldquoempreacutestimo
consignadordquo Nas gravaccedilotildees os bancaacuterios e seus correspondentes alegam que os clientes tecircm
eacute um ldquodinheirinhordquo disponiacutevel para pegarem no banco Outros afirmam que o vocaacutebulo
empregado por eles eacute o ldquocreacuteditordquo pois ameniza um pouco o termo Este possui o mesmo
significado do primeiro mas para muitos o termo quer dizer credibilidade ldquocreacutedito na praccedilardquo
apesar de ser sinocircnimo do vocaacutebulo ldquoempreacutestimordquo essa palavra soa de forma positiva
Ao verificar a forma de comunicaccedilatildeo com os clientes do empreacutestimo consignado
pode-se perceber que essa substituiccedilatildeo de ldquopalavrasrdquo ocorre com o intuito amenizar o termo
ldquoempreacutestimordquo visto que por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel as pessoas assustam quando
pronunciam a palavra empreacutestimo Para muitos esse termo soa de forma negativa como
pessoas que possuem desorganizaccedilatildeo financeira ou inadimplecircncia Por este fato tanto os
bancaacuterios quanto os estagiaacuterios procuram utilizar vocaacutebulos que suavizem e que soem de uma
forma positiva para o cliente Sendo assim a forma de se comunicar pode alterar a venda de
determinado produto ofertado Mas essa forma de suavizar os termos empregados durante a
venda do serviccedilo financeiro fora de certos limites eacutetico-legais pode ser vista como uma
espeacutecie de ldquoomissatildeordquo do que realmente esses tomadores de creacutedito estatildeo comprando Pois
como jaacute foi retratado de acordo com o CDC os termos devem ser informados de forma clara
ao cliente
Podemos exemplificar de acordo com um entrevistado que afirma utilizar o termo
ldquodinheirinhordquo por ser mais faacutecil dos aposentados e pensionistas entenderem jaacute que muitos
desses clientes possuiacuteam dificuldades sobre o que de fato estavam comprando Aleacutem disso o
bancaacuterio acredita que modo de falar pode alterar a execuccedilatildeo da venda
Tendo em vista os aspectos observados tanto o artifiacutecio linguiacutestico quanto a omissatildeo
das informaccedilotildees pelos bancaacuteriosestagiaacuterios possui objetivos em comum pelas instituiccedilotildees
financeiras na qual visam a obtenccedilatildeo de maiores lucros para essas empresas Aleacutem disso os
bancos satildeo os maiores beneficiados pois natildeo levam em consideraccedilatildeo a isonomia das relaccedilotildees
entre consumidor e fornecedor Portanto conclui-se que em meio a essa relaccedilatildeo o consumidor
eacute parte mais fraca onde seus direitos satildeo violados pelos fornecedores de creacutedito
25
5 CONCLUSAtildeO
O creacutedito consignado eacute um tipo de empreacutestimo recente que vem sendo utilizado com
maior frequecircncia por um determinado puacuteblico (LOPES et al2014) Com isso as instituiccedilotildees
bancaacuterias estatildeo apresentando certo interesse sobre esse ldquonovordquo tipo de puacuteblico em ascensatildeo
Os intermediaacuterios bancaacuterios vecircm buscando formas para atrair os idosos seja atraveacutes das
facilidades da obtenccedilatildeo do creacutedito ou ateacute mesmo no modo de comunicar utilizando de
artifiacutecios de linguagem Em suma os bancos utilizam de praacuteticas de marketing tensionados a
obter vantagens sobre esses consumidores De acordo com o Coacutedigo de Consumidor (CDC)
estes satildeo considerados como vulneraacuteveis
Perante o estudo notou-se que a vulnerabilidade do idoso eacute agravada jaacute que
enquadram como consumidores hipervulneraacuteveis Essa vulnerabilidade acontece atraveacutes das
relaccedilotildees de consumo onde os fornecedores do empreacutestimo tiram proveito do estado em que
esses consumidores se encontram Para que estes cidadatildeos hipervulneraacuteveis sejam amparados
haacute o Estatuto do idoso e Coacutedigo do Consumidor ambos dispotildeem de normas que regem a
relaccedilatildeo entre consumidor-fornecedor Deve-se ressaltar que apesar da existecircncia das
legislaccedilotildees os bancos continuam praticando ldquoexcessosrdquo com os consumidores no momento da
contrataccedilatildeo do creacutedito Eacute relevante a imposiccedilatildeo do Estado visando inibir a lesatildeo do direito
sendo especificado ao idoso
Logo atraveacutes dos resultados da pesquisa pode-se concluir que essa vulnerabilidade
acentuada ocorre atraveacutes de fatores como idade baixa escolaridade e baixo grau de instruccedilatildeo
que interferem nas relaccedilotildees consumeristas isto eacute os contratadores de creacutedito consignado natildeo
possuem domiacutenio para realizar uma compra consciente Sendo assim os consumidores
apresentam limitaccedilotildees sobre o serviccedilo financeiro na qual estaacute adquirindo A partir da anaacutelise
foi possiacutevel verificar atraveacutes dos entrevistados que o puacuteblico idoso natildeo possuiacutea conhecimento
sobre as taxas juros que incidiam sobre as parcelas Aleacutem disso os bancaacuterios afirmavam que
iriam dividir em mais pagamentos para natildeo atrapalhar no orccedilamento mensal do consumidor
Por conseguinte aspectos como estes facilitavam a induzir os idosos a adquirem o creacutedito
mostrando a estes o quatildeo era vantajoso o produto oferecido
Tambeacutem deve-se ressaltar que por se tratar de um puacuteblico com baixo grau de instruccedilatildeo
e alguns analfabetos tanto os bancaacuterios quanto os estagiaacuterios omitiam informaccedilotildees bem
como tambeacutem utilizavam os recursos linguiacutesticos Estas duas formas contribuiacuteram para que as
vendas fossem efetuadas de uma maneira mais raacutepida Uma vez que a forma de falar ou a
26
omissatildeo influenciavam aos idosos comprarem o produto de uma forma irrefletida visto que
esses consumidores acreditavam no que estava sendo falado por parte do fornecedor
Portanto diante da fragilidade do consumidor em questatildeo eacute perceptiacutevel que na
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado boa parte dos idosos muitas vezes natildeo estatildeo acompanhados
por nenhum membro da famiacutelia Desta maneira para os bancaacuteriosestagiaacuterios a forma de
abordar o cliente fica mais acessiacutevel ainda mais por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel com
pouco grau de instruccedilatildeo ou conhecimento Logo situaccedilotildees como estas contribuem para os
fornecedores tirarem proveito do puacuteblico idoso Outro fato que deve ser destacado eacute a
presenccedila do Estado incentivando programas de alfabetizaccedilatildeo financeira independente do fator
idade para que a sociedade no geral saiba ter consciecircncia clareza sobre as relaccedilotildees de
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ROSA L C G BERNARDES L F FEacuteLIX V C O idoso como consumidor
hipervulneraacutevel na sociedade de consumo poacutes moderna Revista Juriacutedica da Presidecircncia v
18 n 116 p 533-558 2017
SENADO FEDERAL Projeto de Lei do Senado n 283 2012 Disponiacutevel em
lthttpwww25senadolegbrwebatividadematerias-materia1067733Egt acesso em 27
de janeiro de 2017
SILVA L V L Contratos bancaaacuterios nas relaccedilotildees de consumo uma breve abodagem
Revista da EMERJ n 46 2009
SOUZA B O D MORETTO C F Entre a razatildeo e a emoccedilatildeo a tomada de creacutedito
consignado pelos idosos Revista Brasileira de Ciecircncias do Envelhecimento Humano v
11 n 1 2014
29
APEcircNDICE A
Roteiro de Entrevista qualitativa aplicada aos bancaacuterios e seus correspondentes
1 Idade
2 Formaccedilatildeo acadecircmica ( ) Ensino Meacutedio
( ) Superior
3 Haacute quanto tempo vocecirc trabalha ou jaacute trabalhou vendendo serviccedilos financeiros Em
qual cidade Descreva os serviccedilos financeiros que vocecirc mais estava habituado a
venda
4 Fale um pouco sobre as atividades que vocecirc realizava dentro da empresa Me conte
como era o seu dia a dia como era o processo de venda Da captaccedilatildeo do cliente ao
fechamento do contrato ou da venda do serviccedilo DEcirc EXEMPLOS
5 Quais produtos financeiros vocecirc estava ou estaacute mais habituado a vender
Creacutedito consignado creacutedito pessoal seguros empreacutestimos financiamentos
Qual vocecirc eacute mais estimulado a fazer
Tem diferenccedila na venda desses produtos
A abordagem ao cliente muda Quais satildeo mais diferentes
Vocecirc pode descrever para mim cada um deles por favor
Quais produtos satildeo os mais procurados
6 Qual eacute o tipo de puacuteblico que busca pelo empreacutestimo Descreva para mim as
caracteriacutesticas que vocecirc julga como mais marcantes Geralmente satildeo pessoas de que
faixa etaacuteria Satildeo pessoas de classe baixa meacutedia ou alta Satildeo pessoas instruiacutedas
7 Essas pessoas possuem um esclarecimento sobre o que seria esse tipo creacutedito
Compreendem as vantagens e as desvantagens relacionadas ao serviccedilo O que vocecirc
acha disso
8 No momento da contrataccedilatildeo de creacutedito o que eacute falado Como se daacute Todos os temos
do contrato ficam claros Vocecircs bancaacuterios explicitam o que estaacute no contrato Haacute
30
alguma avaliaccedilatildeo criteriosa do perfil do cliente de suas condiccedilotildees financeiras
9 O que vocecirc jaacute verificou por parte das pessoas que tomam esse creacutedito Qual seria os
maiores motivos para a procura do creacutedito consignado
10 Quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito vocecirc concorda com as vantagens oferecidas no
contrato ou acredita que algo deveria ser alterado O que vocecirc natildeo estaria de acordo
11 Qual o limite de desconto mensal da folha de pagamento do trabalhador o banco
oferece Por algum momento o banco excedeu o valor de desconto da folha Comente
essefato
12 Quanto agraves poliacuteticas bancaacuterias proposta pelos bancos para a venda de produtos
financeiros vocecirc concorda Ou algum momento jaacute discordou Discorra sobre o fato
13 Frequentemente vocecircs bancaacuterios satildeo estimulados a bater metas sobre os produtos que
vocecircs oferecem Vocecirc concorda que existe uma certa pressatildeo em vender cada vez mais
produtos Em alguma situaccedilatildeo vocecirc natildeo esteve de acordo como a forma que deveria
induzir os clientes a comprar um produto na qual vocecirc estaria oferecendo
12
Conforme o exposto relato os consumidores hipervulneraacuteveis possuem certa
fragilidade Dessa forma a abordagem dos fornecedores aos idosos eacute visando tirar proveito da
situaccedilatildeo na qual se encontram Os autores citados anteriormente destacam
O puacuteblico idoso revela-se como alvo potencial de propagandas e praacuteticas comerciais
abusivas que se aproveitam da reduzida capacidade de discernimento do idoso para
impor a contrataccedilatildeo de serviccedilos Um dos exemplos mais paradigmaacuteticos eacute a
celebraccedilatildeo de contratos de empreacutestimos consignados entre instituiccedilotildees financeiras e
consumidores idosos pois a loacutegica da sociedade de consumo visualizou lucros
certeiros com tal contrataccedilatildeo eis que via de regra idosos possuem rendimentos
mensais fixos sendo por isso a contrataccedilatildeo mais segura (ROSA BERNARDES
E FEacuteLIX 2017 p548)
Gonccedilalves e Saacute (2015) tambeacutem expotildeem a vulnerabilidade do consumidor em meio agraves
publicidades agressivas antieacuteticas onde o consumo eacute apelado utilizando um conteuacutedo forte
emotivo para atrair os consumidores agrave adquirirem determinado produtoserviccedilo
O Projeto de Lei do Senado nordm283 (BRASIL 2012) presume a alteraccedilatildeo do CDC
(BRASIL1990) visando combater essas praacuteticas de marketing com referecircncia a oferta de
creacutedito Logo esse Projeto de Lei no inciso IV do paraacutegrafo 4 recomenda que ldquoEacute vedado
expressa ou implicitamente na oferta de creacutedito ao consumidor publicitaacuteria ou natildeo [] IV ndash
ocultar por qualquer forma os ocircnus e riscos da contrataccedilatildeo de creacutedito dificultar sua
compreensatildeo ou estimular o endividamento do consumidor em especial se idoso ou
adolescenterdquo (BRASIL 2012)
Desta forma nota-se que o Coacutedigo de Defesa do Consumidor (CDC) e os estatutos
funcionam como paracircmetros para garantir a isonomia Com isso os hipervulneraacuteveis possuem
um maior amparo com relaccedilatildeo agraves praacuteticas abusivas de marketing vendas omissatildeo de
informaccedilotildees como tambeacutem as propagandas enganosas sobre o produto ou serviccedilo na qual
estatildeo contratando
221 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal como fator de vulnerabilidade
Na conjuntura atual brasileira eacute possiacutevel observar a ascensatildeo das classes populares
para as camadas meacutedias como tambeacutem o aumento de poder de compra dos idosos Logo eacute
possiacutevel perceber uma maior atenccedilatildeo dada pelas empresas a esse tipo de puacuteblico em especial
as instituiccedilotildees financeiras Esse poder de compra dos idosos fez com que as empresas
bancaacuterias estimulassem a contrataccedilatildeo de creacutedito por parte dessas pessoas em especial o
creacutedito consignado (BUAES 2015) Atraveacutes disso pode-se indagar Por que o interesse dos
bancos nesse puacuteblico
13
Conforme Buaes (2015) o aumento do poder de compra do idoso fez com que esse
puacuteblico apresentasse interesse na contrataccedilatildeo de produtos e serviccedilos financeiros visto que os
bancos apresentam certa facilidade na obtenccedilatildeo de creacuteditos Um fato destacado por Buaes
(2015) eacute a falta de percepccedilatildeo dos idosos quanto a suas limitaccedilotildees financeiras ou ateacute mesmo a
dificuldade em aceitar essa insuficiecircncia Desta maneira pode-se observar a vulnerabilidade
em duas dimensotildees neste perfil do consumidor idoso isto eacute a falta de conhecimento formal e
a anaacutelise na contrataccedilatildeo de um creacutedito
Quanto a vulnerabilidade do consumidor Chertman (2011) afirma que pode ser
identificada atraveacutes de caracteriacutesticas natildeo observaacuteveis o que eacute o caso do analfabetismo
Entende-se por analfabeto a pessoa com a incapacidade da linguagem de forma geral seja na
leitura intepretaccedilatildeo compreensatildeo e na produccedilatildeo de conhecimento Logo o analfabetismo
possibilita o indiviacuteduo tornar-se um consumidor vulneraacutevel
Aleacutem da questatildeo de pessoas analfabetas tomadores de creacuteditos haacute tambeacutem o perfil de
consumidores de baixa instruccedilatildeo Essas pessoas satildeo capazes de assinar seu proacuteprio nome
quanto agrave leitura apresentam alguma dificuldade no entendimento ou necessitam de ajuda para
uma melhor compreensatildeo Esse tipo consumidor como foi dito acima tambeacutem se enquadra
como vulneraacutevel
Dado o exposto compreende-se que o analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo
formal agravam ainda mais a vulnerabilidade do consumidor em questatildeo Os idosos aleacutem de
possuiacuterem o fator idade na qual afeta a relaccedilatildeo entre consumidorfornecedor (MEIRE
ALVES 2016) apresentam tambeacutem a presenccedila dessas duas caracteriacutesticas que podem
delimitar uma escolha consciente e clara no momento da contrataccedilatildeo de um produto ou
serviccedilo
3 METODOLOGIA
O estudo foi embasado em pesquisas bibliograacuteficas online e impressas como tambeacutem
trabalhos acadecircmicos e perioacutedicos A metodologia utilizada foi qualitativa do tipo descritiva
de acordo Godoy (1995 p62) os pesquisadores de orientaccedilatildeo qualitativadescritiva executam
suas pesquisas baseadas em trabalho de campo a partir de entrevistas e observaccedilotildees aleacutem
disso os pesquisadores possuem um contato direto com o local da pesquisa e seus sujeitos
portanto eacute possiacutevel analisar dados escrever resultados obtidos e descrever o que foi dito
pelos entrevistados
14
A pesquisa de campo foi realizada atraveacutes de entrevistas semi-estruturadas
(APEcircNDICE A) sendo composta por treze questotildees discursivas Segundo Boni e Quaresma
(2005 p 75) as teacutecnicas desse tipo de entrevista
[] tecircm como vantagem a sua elasticidade quanto agrave duraccedilatildeo permitindo uma
cobertura mais profunda sobre determinados assuntos Aleacutem disso a interaccedilatildeo entre
o entrevistador e o entrevistado favorece as respostas espontacircneas Elas tambeacutem satildeo
possibilitadoras de uma abertura e proximidade maior entre entrevistador e
entrevistado o que permite ao entrevistador tocar em assuntos mais complexos e
delicados ou seja quanto menos estruturada a entrevista maior seraacute o favorecimento
de uma troca mais afetiva entre as duas partes Desse modo estes tipos de entrevista
colaboram muito na investigaccedilatildeo dos aspectos afetivos e valorativos dos informantes
que determinam significados pessoais de suas atitudes e comportamentos As
respostas espontacircneas dos entrevistados e a maior liberdade que estes tecircm podem
fazer surgir questotildees inesperadas ao entrevistador que poderatildeo ser de grande
utilidade em sua pesquisa
Em suma pode-se perceber que esse tipo de entrevista proporcionou aos entrevistados
certa autonomia em discutir sobre o tema em questatildeo Visto que no percorrer das
interlocuccedilotildees houve a possibilidade de introduzir novos assuntos sobre o estudo como
tambeacutem a exemplificaccedilatildeo de situaccedilotildees vivenciadas pelos entrevistados
Para a realizaccedilatildeo das entrevistas no presente estudo foi indispensaacutevel entrevistar um
nuacutemero de sete bancaacuterios(as) e trecircs estagiaacuterios(as) de instituiccedilotildees financeiras privadas da
cidade de Mariana Ouro Preto e Itabirito visto que cinco deles eram do sexo masculino e os
demais do sexo feminino Visando buscar nesses gecircneros perspectivas diversas sobre as
teacutecnicas utilizadas na operaccedilatildeo do empreacutestimo consignado agrave aposentados e pensionistas Estas
entrevistas realizadas tiveram duraccedilatildeo meacutedia de quinze a trinta minutos sendo que todas as
interlocuccedilotildees foram gravadas e posteriormente transcritas para entatildeo serem analisadas
Portanto as anaacutelises das respostas foram fundamentadas em anaacutelises de conteuacutedos e
posteriormente buscou-se categorizar os elementos relevantes discutidos durante as
interlocuccedilotildees
De acordo com Cavalcante Calixto e Pinheiro (2014) a anaacutelise de conteuacutedo permite a
ldquoanaacutelise do fenocircmeno em profundidade elencando as subjetividades suas relaccedilotildees bem
como interlocuccedilotildees na malha socialrdquo logo atraveacutes das entrevistas com os bancaacuterios pode-se
verificar suas percepccedilotildees
Conforme Caregnato e Mutti (2006 p 683)
A teacutecnica de anaacutelise de conteuacutedo se compotildee de trecircs grandes etapas 1) a preacute-anaacutelise
2) a exploraccedilatildeo do material 3) o tratamento dos resultados e interpretaccedilatildeo A
mencionada autora descreve a primeira etapa como a fase de organizaccedilatildeo que pode
utilizar vaacute- rios procedimentos tais como leitura flutuante hipoacuteteses objetivos e
elaboraccedilatildeo de indicadores que fundamentem a interpretaccedilatildeo Na segunda etapa os
dados satildeo codificados a partir das unidades de registro Na uacuteltima etapa se faz a
categorizaccedilatildeo que consiste na classificaccedilatildeo dos elementos segundo suas
semelhanccedilas e por diferenciaccedilatildeo com posterior reagrupamento em funccedilatildeo de
15
caracteriacutesticas comuns Portanto a codificaccedilatildeo e a categorizaccedilatildeo fazem parte da AC
As autoras afirmam que aleacutem das teacutecnicas utilizadas na anaacutelise de conteuacutedo o
pesquisador pode categorizar fragmentos do texto que se repetem atraveacutes de frases ou
expressotildees Atraveacutes disso as entrevistas realizadas com os bancaacuterios foram categorizadas da
seguinte maneira
Categoria I- O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Categoria II- Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Categoria III- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por conseguinte essas respostas foram analisadas com o intuito de verificar como os
consumidores hipervulneraacuteveis satildeo abordados pelos(as) bancaacuterios(as) e quais as praacuteticas que
as instituiccedilotildees financeiras adotam para convencer esse puacuteblico Contudo compreende-se que
por meio das entrevistas pode-se construir consideraccedilotildees em relaccedilatildeo ao objetivo da pesquisa
31 Descriccedilatildeo da Amostra
Para a anaacutelise das praacuteticas de marketing utilizadas pelos intermediaacuterios bancaacuterios
estudaram-se sete bancaacuterios(as) e trecircs estagiaacuterios(as) atuantes na concessatildeo de empreacutestimos
consignados Estes operam nas localidades de Mariana Ouro Preto e Itabirito Em vista disso
para a execuccedilatildeo da pesquisa foi relevante a realizaccedilatildeo de entrevistas a partir desse
pressuposto foi possiacutevel inferir interpretaccedilotildees diversas sobre esses sujeitos no momento da
concessatildeo do creacutedito
As interlocuccedilotildees com os bancaacuterios e seus correspondentes foram marcadas
antecipadamente via celular informando-lhes a data o local a preferir a duraccedilatildeo em meacutedia e
do que se tratava o estudo As entrevistas foram sucedidas no periacuteodo de julho a agosto de
2016 Outro aspecto a ser relatado aos entrevistados sobre o estudo foi a importacircncia destes
para pesquisa visto que o nuacutemero de informaccedilotildees fornecidas possibilitaria uma anaacutelise
satisfatoacuteria para a exploraccedilatildeo do tema O quadro a seguir resume as caracteriacutesticas da amostra
analisada
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Quadro 1 Caracteriacutesticas da amostra analisada
Bancaacuterios Estagiaacuterios Nomes Fictiacutecios Idade Cidades
B1 Maria Claacuteudia 41 Mariana (MG)
B2 Carlos Eduardo 22 Ouro Preto (MG)
B3 Daniel 25 Ouro Preto (MG)
B4 Leandro 27 Mariana (MG)
B5 Maacutercia 34 Mariana (MG)
B6 Antocircnio 38 Mariana (MG)
B7 Camila 27 Mariana (MG)
E1 Ana Luiacuteza 25 Itabirito (MG)
E2 Marcela 22 Itabirito (MG)
E3 Marcos 24 Ouro Preto (MG)
Fonte Dados da pesquisa
Com relaccedilatildeo a populaccedilatildeo do estudo foram levantados dados buscando alcanccedilar a
quantidade aproximada de bancaacuterios e estagiaacuterios na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e
Itabirito Para a identificaccedilatildeo dos dados foi necessaacuterio entrar em contato via telefone em todas
as agecircncias privadas dessas localidades Atraveacutes do quadro abaixo pode-se concluir o nuacutemero
da populaccedilatildeo desse puacuteblico
Quadro 2 Quantidade da populaccedilatildeo de bancaacuterios e estagiaacuterios
Localidade Bancaacuterios Estagiaacuterios
Mariana 55 3
Ouro Preto 63 3
Itabirito 52 8
TOTAL 170 14
Fonte Dados da pesquisa
Em suma a pesquisa de campo foi desenvolvida nessas localidades visto que esses
municiacutepios possuem um nuacutemero representativo de idosos puacuteblico alvo das instituiccedilotildees
financeiras De acordo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2010) a cidade de
Mariana conta com proximamente 5200 idosos jaacute Ouro Preto possui cerca de 7994 idosos e
Itabirito dispotildee em meacutedia 4998 idosos Por conseguinte surge a iniciativa de analisar os perfis
dos bancaacuterios visando compreender as praacuteticas que estes utilizam para alcanccedilar um maior nuacutemero
de idosos para efetivar a contrataccedilatildeo do creacutedito
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4 ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
Como explicitado anteriormente a vulnerabilidade do consumidor existe a partir da
relaccedilatildeo entre empresa e cliente E considerando todas as peculiaridades e caracteriacutesticas que
fazem do consumidor de serviccedilos financeiros um consumidor vulneraacutevel esta seccedilatildeo do texto
tem por propoacutesito retratar por meio da apresentaccedilatildeo e anaacutelise dos dados extraiacutedos das
entrevistas realizadas ao longo deste estudo a forma como os bancaacuterios e seus
correspondentes operam na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e Itabirito especialmente no que se
refere ao modo como oferecem e conduzem as negociaccedilotildees de serviccedilos financeiros Quanto agrave
anaacutelise dos resultados o estudo utilizou a categorizaccedilatildeo dos discursos dos entrevistados em I
II III Logo as categorias baseiam-se em fragmentos das interlocuccedilotildees aspectos recorrentes
mencionados pelos bancaacuterios
A seguir satildeo apresentados trechos das falas dos dez respondentes que participaram
desta pesquisa Tais falas foram gravadas durante as entrevistas Os nomes adotados a seguir
para marcar que os trechos transcritos satildeo de falas de diferentes entrevistados satildeo fictiacutecios
Todas as entrevistas foram transcritas respeitando integralmente a linguagem e sinais
transmitidos por cada entrevistado
41 Categoria I
411 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos serviccedilos
financeiros
O analfabetismo e falta de instruccedilatildeo impactam no momento da contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros visto que esse tipo de puacuteblico eacute persuadido pelos bancaacuterios a tomar
determinadas decisotildees pois este natildeo possui informaccedilotildees necessaacuterias sobre o que seria esse
creacutedito o qual estaacute contratando Atraveacutes dos trechos das entrevistas foi possiacutevel identificar
que os bancaacuterios estagiaacuterios influenciam na hora da aquisiccedilatildeo do serviccedilo ateacute mesmo nas
formas como os clientes iratildeo pagar o empreacutestimo O quadro abaixo apresenta trechos da
entrevista que demonstram a falta de conhecimento financeiro dos consumidores do
empreacutestimo consignado
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Quadro 3 - O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Entrevistados Trechos da entrevista
Maria Claacuteudia ldquoTem muita gente eacute Natildeo tatildeo instruiacuteda gente mais
simples Bom existem vaacuterias pessoas que pegam
aqui com a gente que satildeo analfabetas entendeurdquo
Ana Luiacuteza ldquoMuitas pessoas natildeo satildeo instruiacutedas poucas
pessoas sabem assinar seu proacuteprio nome mas
existem pessoas alfabetizadas simrdquo
ldquoA maioria acredito que natildeo tenha uma noccedilatildeo
esclarecimento ateacute porque quanto mais vezes vocecirc
dividir mais juros incidem e eacute melhor para o
bancordquo
Marcela ldquoEu acho que a grande maioria tinha um grau de
instruccedilatildeo reduzido e isso facilitava na hora de
vender neacuterdquo
ldquoEntatildeo a gente sempre tentava colocar de setenta
e duas vezes ou setenta e cinco satildeo seis anos de
consignado Entatildeo quanto maior o prazo maior a
taxa de juros Agraves vezes vocecirc pegava um capital
um volume muito pequeno e virava pra pessoa e
falava assim -Natildeo Por que aiacute soacute vai descontar
soacute R$3000 reais no seu pagamento e a pessoa natildeo
tinha dimensatildeo que por a gente taacute dividindo
aquele valor pequeninho sai muito grande depois
por conta da taxa que ela aumentava de acordo
com o prazordquo
Carlos Eduardo ldquoO mais comum satildeo pessoas de baixa renda e sem
informaccedilatildeo Exemplo A maioria dos consignados
os clientes nem perguntam as taxas de juros ele
natildeo estaacute preocupado com o prazo ele estaacute
preocupado com o valor da parcela se ele vai
conseguir pagar ou natildeo e o valor que vai sobrar
pra ele vai conseguir passar o mecircsrdquo
Leandro ldquoGrande parte natildeo satildeo instruiacutedas mas eu atendo
mais alta renda entatildeo meus clientes satildeo mais
seletivos eles pegam valores maiores natildeo eacute
qualquer empreacutestimo que ele pega eacute mais para
investimento mesmo ou pra sair de alguma coisardquo
19
Aacutercia ldquoEntatildeo assim muitas vezes as pessoas natildeo vem
com o conhecimento financeiro real eles querem
o imediato querem o empreacutestimo naquele
momento Muita gente natildeo tem a noccedilatildeo de como
vai ficar aquilordquo
Antocircnio ldquoEntatildeo no puacuteblico de menor renda esse
discernimento eacute menos eles olham mais se a
parcela cabe no bolso deles do que no montante
de juros que eles vatildeo pagar no finalrdquo
Fonte Dados da pesquisa
Diante destes dois perfis de consumidores vulneraacuteveis os analfabetos e os com baixa
instruccedilatildeo pode-se verificar por meio das gravaccedilotildees que tanto as pessoas analfabetas e as com
baixa instruccedilatildeo natildeo possuem compreensatildeo suficiente para realizar uma contrataccedilatildeo de creacutedito
A entrevistada Marcela afirma que vender para esse determinado tipo puacuteblico facilitava pelo
fato da falta de conhecimento financeiro
Outra situaccedilatildeo comentada durante a gravaccedilatildeo das entrevistas foi sobre as parcelas dos
empreacutestimos os bancaacuterios e os estagiaacuterios induzem os clientes a dividirem em mais vezes A
entrevistada Marcela tambeacutem afirma que sempre propunha aos seus clientes dividir em
setenta e duas vezes alegando para essas pessoas que o valor iria ldquocaber no bolsordquo Mas na
verdade os bancaacuterios aproveitam do analfabetismo financeiro dos tomadores de creacutedito
visando a lucratividade das instituiccedilotildees financeiras dado que as taxas aumentam de acordo
com prazo
A partir dessa anaacutelise eacute possiacutevel perceber de forma clara as limitaccedilotildees dos idosos no
processo de compra Conforme Chertman (2011 p21) as consequecircncias da idade
ldquopotencializam a vulnerabilidade de compra pela dificuldade de comprar em escala (podendo
negociar preccedilos)rdquo De fato nota-se que a questatildeo do analfabetismo baixa instruccedilatildeo e idade
afetam na tomada de decisatildeo consciente do consumidor
42 Categoria II
421 Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
A informaccedilatildeo no momento da compra eacute essencial para que o cliente natildeo faccedila uma
escolha errocircnea quanto ao produto Em relaccedilatildeo as entrevistas realizadas foi possiacutevel inferir
que na contrataccedilatildeo de creacutedito os bancaacuterios e seus intermediaacuterios natildeo informam o valor da
taxa de juros e acabam focando nos valores das parcelas no prazo e em quantas vezes o
parcelamento ficaraacute Sendo assim os atendentes procuram natildeo informar aos consumidores
20
quanto ficaraacute o valor total do empreacutestimo ao incidirem os juros Atraveacutes do quadro abaixo
pode-se comprovar que no momento da contrataccedilatildeo do creacutedito os bancaacuterios e estagiaacuterios
omitem determinadas informaccedilotildees aos clientes
Quadro 4 - Omissatildeo de informaccedilotildees na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Ana Luiacuteza ldquoNormalmente eu natildeo falo o valor dos juros
dificilmente eu falo o valor do juros soacute falo que
ele eacute mais baixo e informo que independe do que
a aconteccedila na economia brasileira a partir do
momento que a pessoa estaacute fazendo o contrato o
juros nunca vai aumentar que aquele juros e
sempre seraacute aquelerdquo
Marcela ldquoEntatildeo na verdade o que eu aprendi no Banco X
a regra clara Eu tinha que omitir Eu natildeo
precisava mentir mas eu precisava omitir
algumas informaccedilotildees Entatildeo eu abordava o
cliente sempre eacute Buscando saber do sonho dele
para depois eu vender o empreacutestimo Eu tentava
omitir informaccedilotildees como taxas prazo de
pagamento que eram coisas que eu soacute falava se o
cliente me perguntasse Eu achava muito
tranquilo assim vender Eu natildeo tinha muita
dificuldade natildeordquo
ldquoA gente omitia o valor total que o cliente ia
pagar justamente porque se vocecirc falar ele natildeo vai
levar entatildeo eacute A gente omitia e tentava fazer o
cliente fechar a venda na hora Principalmente
quando a venda era no caixa eletrocircnico que era
muito mais faacutecil porque agraves vezes o cliente
fechava a venda ali naquele momento naquele
instante natildeo refletia muito era mais faacutecil vender e
muitas vezes eles tavam sozinho muitas vezes os
aposentados vatildeo para agecircncia sozinho natildeo
estavam acompanhados dos filhos de ningueacutemrdquo
Carlos Eduardo ldquoNo contrato fala dos juros mas eu soacute respondo
quando o cliente perguntardquo
Marcos ldquoQuando o cliente fazia por exemplo um
empreacutestimo a gente falava o valor da parcela
21
quanto que ele vai pegar quando vai descontar do
pagamento falava a taxa de juros tambeacutem mas
acabava que eles nem sabiamrdquo
ldquoSe perguntasse alguma coisa a gente falavardquo
Fonte Dados da pesquisa
Como jaacute foi dito o cliente tem como direito obter informaccedilotildees necessaacuterias do que ele
estaacute adquirindo mas quando isso natildeo ocorre pode-se dizer que estaacute ocorrendo uma omissatildeo
dos fatos O autor Silva (2009 p146) expotildee o art 14 do CDC destacando ldquoo dever de
informaccedilatildeo cuja omissatildeo caracteriza defeito do serviccedilo ensejador do dever de indenizarrdquo
Logo pode-se concluir que quando o cliente natildeo eacute alertado sobre o produto ou serviccedilo e este
causa danos o consumidor deve ser reparado
Diante do que foi explicitado acima pode-se perceber atraveacutes das gravaccedilotildees feitas
quatro entrevistados falaram que natildeo davam as informaccedilotildees necessaacuterias para os contratadores
de creacuteditos A entrevistada Marcela usa o termo ldquoomissatildeordquo ela afirma que agraves vezes era
necessaacuterio omitir para que a venda do empreacutestimo consignado fosse realizada mais
rapidamente Jaacute os demais entrevistados alegam que normalmente natildeo falam as taxas de juros
eles informam as taxas apenas se o cliente perguntar Percebe-se tambeacutem que por se tratar de
um puacuteblico mais vulneraacutevel os bancaacuteriosestagiaacuterios tinham maior facilidade em convencecirc-
los na hora da compra jaacute que grande parte desse puacuteblico natildeo possui instruccedilotildees suficientes
para adquirir esse tipo de produto
Dessa forma eacute expliacutecito que os bancaacuterios e os estagiaacuterios natildeo davam as informaccedilotildees
necessaacuterias aos seus clientes pelo fato de terem que apresentar maior lucratividade aos
bancos Uma vez que como foi relatado por Marcela a instituiccedilatildeo financeira onde trabalhava
alegava que certas informaccedilotildees deveriam ser ldquoomitidasrdquo Dessa forma pode-se evidenciar a
violaccedilatildeo do direito do consumidor
Dentre a vulnerabilidade do consumidor quanto a omissatildeo dos fatos por partes dos
bancaacuterios e seus correspondentes haacute tambeacutem outro recurso utilizado pelos fornecedores o
linguiacutestico Isto eacute satildeo termos palavras usadas que suavizam na hora da contrataccedilatildeo de
creacutedito Pode-se dizer que eacute a comunicaccedilatildeo existente entre o fornecedor e o cliente a fim de
que o primeiro consiga induzir o segundo a comprar seu produto
O marketing de vendas retrata esta relaccedilatildeo citada acima de consumidor e fornecedor
De acordo com Bernardi (2012 p75) ldquoo marketing de vendas possui uma relaccedilatildeo estreita com
o elemento do composto mercadoloacutegico denominado de promoccedilatildeo que se refere a todas as
accedilotildees relativas agrave comunicaccedilatildeo e agrave venda dos produtos de uma organizaccedilatildeordquo
22
Atraveacutes dessa relaccedilatildeo construiacuteda pela comunicaccedilatildeo pode-se verificar por parte das
entrevistas que os bancaacuterios e os estagiaacuterios utilizam de recursos linguiacutesticos para convencer o
cliente a comprar tal produto Isto eacute estes tinham certo cuidado na maneira de falar para que
os clientes se sentissem agrave vontade e consequentemente efetivar a venda do produto
A comunicaccedilatildeo exerce influecircncia na venda de um produto ou seja esse diaacutelogo entre
cliente e fornecedor facilita a compra de um produto por parte do consumidor O autor
Bernardi (2012 p77) acresce o termo merchandising este eacute visto como um dos principais
meacutetodos de marketing associado agrave venda
Eacute um termo que pode ser usado como instrumento de comunicaccedilatildeo que apresenta o
produto ao consumidor e favorece a sua compra Merchandising no entanto eacute criar
um cenaacuterio de um produto serviccedilo ou marca de forma casual Os principais
conceitos do merchandising estatildeo voltados agrave boa estrateacutegia de comunicaccedilatildeo no
ponto de venda pois visa destacar o produto ou serviccedilo buscando assim motivar as
compras por impulso jaacute que possui uma comunicaccedilatildeo muito proacutexima agrave venda
Logo compreende-se que o merchandising eacute uma ferramenta que aproxima o cliente e
o fornecedor atraveacutes da comunicaccedilatildeo
Como jaacute foi mencionado anteriormente a forma de comunicar exerce uma forte
influecircncia no ato da compra Todavia atraveacutes das entrevistas pode-se notar certa preocupaccedilatildeo
em como abordar o cliente ou seja a forma de dialogar com seus clientes Percebeu-se entatildeo
que determinadas palavras eram trocadas por outras como por exemplo o termo
ldquoempreacutestimordquo muitas vezes era substituiacutedo pelo termo ldquodinheirinhordquo ou creacutedito A partir do
quadro abaixo pode-se concluir que a forma de falar eacute utilizada como um artifiacutecio na hora da
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado
23
43 Categoria III
431 Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por se tratar de um puacuteblico de idade com baixo grau de instruccedilatildeo ou ateacute mesmo analfabetos
os bancaacuterios estagiaacuterios se beneficiam dessa relaccedilatildeo A forma de falar induz os consumidores
de serviccedilos financeiros a adquirirem certo produto O Quadro 5 apresenta as respostas
referentes agrave forma de falar dos intermediaacuterios bancaacuterios
Quadro 5- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Marcela ldquoAcredito que para vender esse tipo de produto que eacute
um produto difiacutecil que as pessoas agraves vezes quando
vocecirc fala ldquoempreacutestimordquo a pessoa fica com o peacute atraacutes
entatildeo tem que ser assim Coisas que a gente natildeo usa eacute
falar empreacutestimo natildeo existe no banco entendeu Eacute
um dinheirinho suavizar realmente a expressatildeo
empreacutestimo porque quando vocecirc fala a expressatildeo
empreacutestimo as pessoas se fechamrdquo
ldquoMuitas vezes eles natildeo entendiam o que vocecirc estava
falando entatildeo Ah fulano vocecirc tem um dinheirinho
aqui disponiacutevel para vocecirc pegar aiacute eles perguntavam
Mas vocecirc estaacute me dando esse dinheirordquo
Marcos ldquoOutra coisa o termo empreacutestimo o pessoal mesmo
falava que era uma coisa muito pesada de se dizer a
maioria das pessoas natildeo vecirc com bons olhos entatildeo a
gente falava um dinheirinho pro cliente pois ameniza
um pouco o termo Querendo ou natildeo o modo de falar
influencia um poucordquo
Daniel ldquoEu por exemplo falo creacutedito porque eu tocirc
conversando com o cliente e ele vecirc que tem outras
pessoas em volta agraves vezes eu falar empreacutestimo ele
pode ficar um pouco chateado daquilo nem todo
mundo gosta de ir no banco pra pegar empreacutestimo
gosta de ir laacute para sacar dinheiro Eu prefiro trabalhar
com a palavra creacutedito rdquo
Antocircnio ldquoGeralmente a gente utiliza o termo creacutedito vocecirc tem
um creacutedito aprovado Porque agraves vezes a pessoa tem
ateacute medo resistecircncia em empreacutestimo Geralmente a
24
gente fala que vocecirc tem um creacutedito aprovado e aiacute a
gente fala em qual linha a pessoa tem creacutedito
pessoal financiamento para veiacuteculos financiamento
imobiliaacuterio consignado que eacute o creacutedito que vem da
folha de pagamento Entatildeo a gente normalmente
oferta creacutedito ldquo
Fonte Dados da pesquisa
Conforme alguns entrevistados esses natildeo utilizam o termo correto que eacute ldquoempreacutestimo
consignadordquo Nas gravaccedilotildees os bancaacuterios e seus correspondentes alegam que os clientes tecircm
eacute um ldquodinheirinhordquo disponiacutevel para pegarem no banco Outros afirmam que o vocaacutebulo
empregado por eles eacute o ldquocreacuteditordquo pois ameniza um pouco o termo Este possui o mesmo
significado do primeiro mas para muitos o termo quer dizer credibilidade ldquocreacutedito na praccedilardquo
apesar de ser sinocircnimo do vocaacutebulo ldquoempreacutestimordquo essa palavra soa de forma positiva
Ao verificar a forma de comunicaccedilatildeo com os clientes do empreacutestimo consignado
pode-se perceber que essa substituiccedilatildeo de ldquopalavrasrdquo ocorre com o intuito amenizar o termo
ldquoempreacutestimordquo visto que por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel as pessoas assustam quando
pronunciam a palavra empreacutestimo Para muitos esse termo soa de forma negativa como
pessoas que possuem desorganizaccedilatildeo financeira ou inadimplecircncia Por este fato tanto os
bancaacuterios quanto os estagiaacuterios procuram utilizar vocaacutebulos que suavizem e que soem de uma
forma positiva para o cliente Sendo assim a forma de se comunicar pode alterar a venda de
determinado produto ofertado Mas essa forma de suavizar os termos empregados durante a
venda do serviccedilo financeiro fora de certos limites eacutetico-legais pode ser vista como uma
espeacutecie de ldquoomissatildeordquo do que realmente esses tomadores de creacutedito estatildeo comprando Pois
como jaacute foi retratado de acordo com o CDC os termos devem ser informados de forma clara
ao cliente
Podemos exemplificar de acordo com um entrevistado que afirma utilizar o termo
ldquodinheirinhordquo por ser mais faacutecil dos aposentados e pensionistas entenderem jaacute que muitos
desses clientes possuiacuteam dificuldades sobre o que de fato estavam comprando Aleacutem disso o
bancaacuterio acredita que modo de falar pode alterar a execuccedilatildeo da venda
Tendo em vista os aspectos observados tanto o artifiacutecio linguiacutestico quanto a omissatildeo
das informaccedilotildees pelos bancaacuteriosestagiaacuterios possui objetivos em comum pelas instituiccedilotildees
financeiras na qual visam a obtenccedilatildeo de maiores lucros para essas empresas Aleacutem disso os
bancos satildeo os maiores beneficiados pois natildeo levam em consideraccedilatildeo a isonomia das relaccedilotildees
entre consumidor e fornecedor Portanto conclui-se que em meio a essa relaccedilatildeo o consumidor
eacute parte mais fraca onde seus direitos satildeo violados pelos fornecedores de creacutedito
25
5 CONCLUSAtildeO
O creacutedito consignado eacute um tipo de empreacutestimo recente que vem sendo utilizado com
maior frequecircncia por um determinado puacuteblico (LOPES et al2014) Com isso as instituiccedilotildees
bancaacuterias estatildeo apresentando certo interesse sobre esse ldquonovordquo tipo de puacuteblico em ascensatildeo
Os intermediaacuterios bancaacuterios vecircm buscando formas para atrair os idosos seja atraveacutes das
facilidades da obtenccedilatildeo do creacutedito ou ateacute mesmo no modo de comunicar utilizando de
artifiacutecios de linguagem Em suma os bancos utilizam de praacuteticas de marketing tensionados a
obter vantagens sobre esses consumidores De acordo com o Coacutedigo de Consumidor (CDC)
estes satildeo considerados como vulneraacuteveis
Perante o estudo notou-se que a vulnerabilidade do idoso eacute agravada jaacute que
enquadram como consumidores hipervulneraacuteveis Essa vulnerabilidade acontece atraveacutes das
relaccedilotildees de consumo onde os fornecedores do empreacutestimo tiram proveito do estado em que
esses consumidores se encontram Para que estes cidadatildeos hipervulneraacuteveis sejam amparados
haacute o Estatuto do idoso e Coacutedigo do Consumidor ambos dispotildeem de normas que regem a
relaccedilatildeo entre consumidor-fornecedor Deve-se ressaltar que apesar da existecircncia das
legislaccedilotildees os bancos continuam praticando ldquoexcessosrdquo com os consumidores no momento da
contrataccedilatildeo do creacutedito Eacute relevante a imposiccedilatildeo do Estado visando inibir a lesatildeo do direito
sendo especificado ao idoso
Logo atraveacutes dos resultados da pesquisa pode-se concluir que essa vulnerabilidade
acentuada ocorre atraveacutes de fatores como idade baixa escolaridade e baixo grau de instruccedilatildeo
que interferem nas relaccedilotildees consumeristas isto eacute os contratadores de creacutedito consignado natildeo
possuem domiacutenio para realizar uma compra consciente Sendo assim os consumidores
apresentam limitaccedilotildees sobre o serviccedilo financeiro na qual estaacute adquirindo A partir da anaacutelise
foi possiacutevel verificar atraveacutes dos entrevistados que o puacuteblico idoso natildeo possuiacutea conhecimento
sobre as taxas juros que incidiam sobre as parcelas Aleacutem disso os bancaacuterios afirmavam que
iriam dividir em mais pagamentos para natildeo atrapalhar no orccedilamento mensal do consumidor
Por conseguinte aspectos como estes facilitavam a induzir os idosos a adquirem o creacutedito
mostrando a estes o quatildeo era vantajoso o produto oferecido
Tambeacutem deve-se ressaltar que por se tratar de um puacuteblico com baixo grau de instruccedilatildeo
e alguns analfabetos tanto os bancaacuterios quanto os estagiaacuterios omitiam informaccedilotildees bem
como tambeacutem utilizavam os recursos linguiacutesticos Estas duas formas contribuiacuteram para que as
vendas fossem efetuadas de uma maneira mais raacutepida Uma vez que a forma de falar ou a
26
omissatildeo influenciavam aos idosos comprarem o produto de uma forma irrefletida visto que
esses consumidores acreditavam no que estava sendo falado por parte do fornecedor
Portanto diante da fragilidade do consumidor em questatildeo eacute perceptiacutevel que na
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado boa parte dos idosos muitas vezes natildeo estatildeo acompanhados
por nenhum membro da famiacutelia Desta maneira para os bancaacuteriosestagiaacuterios a forma de
abordar o cliente fica mais acessiacutevel ainda mais por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel com
pouco grau de instruccedilatildeo ou conhecimento Logo situaccedilotildees como estas contribuem para os
fornecedores tirarem proveito do puacuteblico idoso Outro fato que deve ser destacado eacute a
presenccedila do Estado incentivando programas de alfabetizaccedilatildeo financeira independente do fator
idade para que a sociedade no geral saiba ter consciecircncia clareza sobre as relaccedilotildees de
consumo
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29
APEcircNDICE A
Roteiro de Entrevista qualitativa aplicada aos bancaacuterios e seus correspondentes
1 Idade
2 Formaccedilatildeo acadecircmica ( ) Ensino Meacutedio
( ) Superior
3 Haacute quanto tempo vocecirc trabalha ou jaacute trabalhou vendendo serviccedilos financeiros Em
qual cidade Descreva os serviccedilos financeiros que vocecirc mais estava habituado a
venda
4 Fale um pouco sobre as atividades que vocecirc realizava dentro da empresa Me conte
como era o seu dia a dia como era o processo de venda Da captaccedilatildeo do cliente ao
fechamento do contrato ou da venda do serviccedilo DEcirc EXEMPLOS
5 Quais produtos financeiros vocecirc estava ou estaacute mais habituado a vender
Creacutedito consignado creacutedito pessoal seguros empreacutestimos financiamentos
Qual vocecirc eacute mais estimulado a fazer
Tem diferenccedila na venda desses produtos
A abordagem ao cliente muda Quais satildeo mais diferentes
Vocecirc pode descrever para mim cada um deles por favor
Quais produtos satildeo os mais procurados
6 Qual eacute o tipo de puacuteblico que busca pelo empreacutestimo Descreva para mim as
caracteriacutesticas que vocecirc julga como mais marcantes Geralmente satildeo pessoas de que
faixa etaacuteria Satildeo pessoas de classe baixa meacutedia ou alta Satildeo pessoas instruiacutedas
7 Essas pessoas possuem um esclarecimento sobre o que seria esse tipo creacutedito
Compreendem as vantagens e as desvantagens relacionadas ao serviccedilo O que vocecirc
acha disso
8 No momento da contrataccedilatildeo de creacutedito o que eacute falado Como se daacute Todos os temos
do contrato ficam claros Vocecircs bancaacuterios explicitam o que estaacute no contrato Haacute
30
alguma avaliaccedilatildeo criteriosa do perfil do cliente de suas condiccedilotildees financeiras
9 O que vocecirc jaacute verificou por parte das pessoas que tomam esse creacutedito Qual seria os
maiores motivos para a procura do creacutedito consignado
10 Quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito vocecirc concorda com as vantagens oferecidas no
contrato ou acredita que algo deveria ser alterado O que vocecirc natildeo estaria de acordo
11 Qual o limite de desconto mensal da folha de pagamento do trabalhador o banco
oferece Por algum momento o banco excedeu o valor de desconto da folha Comente
essefato
12 Quanto agraves poliacuteticas bancaacuterias proposta pelos bancos para a venda de produtos
financeiros vocecirc concorda Ou algum momento jaacute discordou Discorra sobre o fato
13 Frequentemente vocecircs bancaacuterios satildeo estimulados a bater metas sobre os produtos que
vocecircs oferecem Vocecirc concorda que existe uma certa pressatildeo em vender cada vez mais
produtos Em alguma situaccedilatildeo vocecirc natildeo esteve de acordo como a forma que deveria
induzir os clientes a comprar um produto na qual vocecirc estaria oferecendo
13
Conforme Buaes (2015) o aumento do poder de compra do idoso fez com que esse
puacuteblico apresentasse interesse na contrataccedilatildeo de produtos e serviccedilos financeiros visto que os
bancos apresentam certa facilidade na obtenccedilatildeo de creacuteditos Um fato destacado por Buaes
(2015) eacute a falta de percepccedilatildeo dos idosos quanto a suas limitaccedilotildees financeiras ou ateacute mesmo a
dificuldade em aceitar essa insuficiecircncia Desta maneira pode-se observar a vulnerabilidade
em duas dimensotildees neste perfil do consumidor idoso isto eacute a falta de conhecimento formal e
a anaacutelise na contrataccedilatildeo de um creacutedito
Quanto a vulnerabilidade do consumidor Chertman (2011) afirma que pode ser
identificada atraveacutes de caracteriacutesticas natildeo observaacuteveis o que eacute o caso do analfabetismo
Entende-se por analfabeto a pessoa com a incapacidade da linguagem de forma geral seja na
leitura intepretaccedilatildeo compreensatildeo e na produccedilatildeo de conhecimento Logo o analfabetismo
possibilita o indiviacuteduo tornar-se um consumidor vulneraacutevel
Aleacutem da questatildeo de pessoas analfabetas tomadores de creacuteditos haacute tambeacutem o perfil de
consumidores de baixa instruccedilatildeo Essas pessoas satildeo capazes de assinar seu proacuteprio nome
quanto agrave leitura apresentam alguma dificuldade no entendimento ou necessitam de ajuda para
uma melhor compreensatildeo Esse tipo consumidor como foi dito acima tambeacutem se enquadra
como vulneraacutevel
Dado o exposto compreende-se que o analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo
formal agravam ainda mais a vulnerabilidade do consumidor em questatildeo Os idosos aleacutem de
possuiacuterem o fator idade na qual afeta a relaccedilatildeo entre consumidorfornecedor (MEIRE
ALVES 2016) apresentam tambeacutem a presenccedila dessas duas caracteriacutesticas que podem
delimitar uma escolha consciente e clara no momento da contrataccedilatildeo de um produto ou
serviccedilo
3 METODOLOGIA
O estudo foi embasado em pesquisas bibliograacuteficas online e impressas como tambeacutem
trabalhos acadecircmicos e perioacutedicos A metodologia utilizada foi qualitativa do tipo descritiva
de acordo Godoy (1995 p62) os pesquisadores de orientaccedilatildeo qualitativadescritiva executam
suas pesquisas baseadas em trabalho de campo a partir de entrevistas e observaccedilotildees aleacutem
disso os pesquisadores possuem um contato direto com o local da pesquisa e seus sujeitos
portanto eacute possiacutevel analisar dados escrever resultados obtidos e descrever o que foi dito
pelos entrevistados
14
A pesquisa de campo foi realizada atraveacutes de entrevistas semi-estruturadas
(APEcircNDICE A) sendo composta por treze questotildees discursivas Segundo Boni e Quaresma
(2005 p 75) as teacutecnicas desse tipo de entrevista
[] tecircm como vantagem a sua elasticidade quanto agrave duraccedilatildeo permitindo uma
cobertura mais profunda sobre determinados assuntos Aleacutem disso a interaccedilatildeo entre
o entrevistador e o entrevistado favorece as respostas espontacircneas Elas tambeacutem satildeo
possibilitadoras de uma abertura e proximidade maior entre entrevistador e
entrevistado o que permite ao entrevistador tocar em assuntos mais complexos e
delicados ou seja quanto menos estruturada a entrevista maior seraacute o favorecimento
de uma troca mais afetiva entre as duas partes Desse modo estes tipos de entrevista
colaboram muito na investigaccedilatildeo dos aspectos afetivos e valorativos dos informantes
que determinam significados pessoais de suas atitudes e comportamentos As
respostas espontacircneas dos entrevistados e a maior liberdade que estes tecircm podem
fazer surgir questotildees inesperadas ao entrevistador que poderatildeo ser de grande
utilidade em sua pesquisa
Em suma pode-se perceber que esse tipo de entrevista proporcionou aos entrevistados
certa autonomia em discutir sobre o tema em questatildeo Visto que no percorrer das
interlocuccedilotildees houve a possibilidade de introduzir novos assuntos sobre o estudo como
tambeacutem a exemplificaccedilatildeo de situaccedilotildees vivenciadas pelos entrevistados
Para a realizaccedilatildeo das entrevistas no presente estudo foi indispensaacutevel entrevistar um
nuacutemero de sete bancaacuterios(as) e trecircs estagiaacuterios(as) de instituiccedilotildees financeiras privadas da
cidade de Mariana Ouro Preto e Itabirito visto que cinco deles eram do sexo masculino e os
demais do sexo feminino Visando buscar nesses gecircneros perspectivas diversas sobre as
teacutecnicas utilizadas na operaccedilatildeo do empreacutestimo consignado agrave aposentados e pensionistas Estas
entrevistas realizadas tiveram duraccedilatildeo meacutedia de quinze a trinta minutos sendo que todas as
interlocuccedilotildees foram gravadas e posteriormente transcritas para entatildeo serem analisadas
Portanto as anaacutelises das respostas foram fundamentadas em anaacutelises de conteuacutedos e
posteriormente buscou-se categorizar os elementos relevantes discutidos durante as
interlocuccedilotildees
De acordo com Cavalcante Calixto e Pinheiro (2014) a anaacutelise de conteuacutedo permite a
ldquoanaacutelise do fenocircmeno em profundidade elencando as subjetividades suas relaccedilotildees bem
como interlocuccedilotildees na malha socialrdquo logo atraveacutes das entrevistas com os bancaacuterios pode-se
verificar suas percepccedilotildees
Conforme Caregnato e Mutti (2006 p 683)
A teacutecnica de anaacutelise de conteuacutedo se compotildee de trecircs grandes etapas 1) a preacute-anaacutelise
2) a exploraccedilatildeo do material 3) o tratamento dos resultados e interpretaccedilatildeo A
mencionada autora descreve a primeira etapa como a fase de organizaccedilatildeo que pode
utilizar vaacute- rios procedimentos tais como leitura flutuante hipoacuteteses objetivos e
elaboraccedilatildeo de indicadores que fundamentem a interpretaccedilatildeo Na segunda etapa os
dados satildeo codificados a partir das unidades de registro Na uacuteltima etapa se faz a
categorizaccedilatildeo que consiste na classificaccedilatildeo dos elementos segundo suas
semelhanccedilas e por diferenciaccedilatildeo com posterior reagrupamento em funccedilatildeo de
15
caracteriacutesticas comuns Portanto a codificaccedilatildeo e a categorizaccedilatildeo fazem parte da AC
As autoras afirmam que aleacutem das teacutecnicas utilizadas na anaacutelise de conteuacutedo o
pesquisador pode categorizar fragmentos do texto que se repetem atraveacutes de frases ou
expressotildees Atraveacutes disso as entrevistas realizadas com os bancaacuterios foram categorizadas da
seguinte maneira
Categoria I- O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Categoria II- Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Categoria III- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por conseguinte essas respostas foram analisadas com o intuito de verificar como os
consumidores hipervulneraacuteveis satildeo abordados pelos(as) bancaacuterios(as) e quais as praacuteticas que
as instituiccedilotildees financeiras adotam para convencer esse puacuteblico Contudo compreende-se que
por meio das entrevistas pode-se construir consideraccedilotildees em relaccedilatildeo ao objetivo da pesquisa
31 Descriccedilatildeo da Amostra
Para a anaacutelise das praacuteticas de marketing utilizadas pelos intermediaacuterios bancaacuterios
estudaram-se sete bancaacuterios(as) e trecircs estagiaacuterios(as) atuantes na concessatildeo de empreacutestimos
consignados Estes operam nas localidades de Mariana Ouro Preto e Itabirito Em vista disso
para a execuccedilatildeo da pesquisa foi relevante a realizaccedilatildeo de entrevistas a partir desse
pressuposto foi possiacutevel inferir interpretaccedilotildees diversas sobre esses sujeitos no momento da
concessatildeo do creacutedito
As interlocuccedilotildees com os bancaacuterios e seus correspondentes foram marcadas
antecipadamente via celular informando-lhes a data o local a preferir a duraccedilatildeo em meacutedia e
do que se tratava o estudo As entrevistas foram sucedidas no periacuteodo de julho a agosto de
2016 Outro aspecto a ser relatado aos entrevistados sobre o estudo foi a importacircncia destes
para pesquisa visto que o nuacutemero de informaccedilotildees fornecidas possibilitaria uma anaacutelise
satisfatoacuteria para a exploraccedilatildeo do tema O quadro a seguir resume as caracteriacutesticas da amostra
analisada
16
Quadro 1 Caracteriacutesticas da amostra analisada
Bancaacuterios Estagiaacuterios Nomes Fictiacutecios Idade Cidades
B1 Maria Claacuteudia 41 Mariana (MG)
B2 Carlos Eduardo 22 Ouro Preto (MG)
B3 Daniel 25 Ouro Preto (MG)
B4 Leandro 27 Mariana (MG)
B5 Maacutercia 34 Mariana (MG)
B6 Antocircnio 38 Mariana (MG)
B7 Camila 27 Mariana (MG)
E1 Ana Luiacuteza 25 Itabirito (MG)
E2 Marcela 22 Itabirito (MG)
E3 Marcos 24 Ouro Preto (MG)
Fonte Dados da pesquisa
Com relaccedilatildeo a populaccedilatildeo do estudo foram levantados dados buscando alcanccedilar a
quantidade aproximada de bancaacuterios e estagiaacuterios na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e
Itabirito Para a identificaccedilatildeo dos dados foi necessaacuterio entrar em contato via telefone em todas
as agecircncias privadas dessas localidades Atraveacutes do quadro abaixo pode-se concluir o nuacutemero
da populaccedilatildeo desse puacuteblico
Quadro 2 Quantidade da populaccedilatildeo de bancaacuterios e estagiaacuterios
Localidade Bancaacuterios Estagiaacuterios
Mariana 55 3
Ouro Preto 63 3
Itabirito 52 8
TOTAL 170 14
Fonte Dados da pesquisa
Em suma a pesquisa de campo foi desenvolvida nessas localidades visto que esses
municiacutepios possuem um nuacutemero representativo de idosos puacuteblico alvo das instituiccedilotildees
financeiras De acordo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2010) a cidade de
Mariana conta com proximamente 5200 idosos jaacute Ouro Preto possui cerca de 7994 idosos e
Itabirito dispotildee em meacutedia 4998 idosos Por conseguinte surge a iniciativa de analisar os perfis
dos bancaacuterios visando compreender as praacuteticas que estes utilizam para alcanccedilar um maior nuacutemero
de idosos para efetivar a contrataccedilatildeo do creacutedito
17
4 ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
Como explicitado anteriormente a vulnerabilidade do consumidor existe a partir da
relaccedilatildeo entre empresa e cliente E considerando todas as peculiaridades e caracteriacutesticas que
fazem do consumidor de serviccedilos financeiros um consumidor vulneraacutevel esta seccedilatildeo do texto
tem por propoacutesito retratar por meio da apresentaccedilatildeo e anaacutelise dos dados extraiacutedos das
entrevistas realizadas ao longo deste estudo a forma como os bancaacuterios e seus
correspondentes operam na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e Itabirito especialmente no que se
refere ao modo como oferecem e conduzem as negociaccedilotildees de serviccedilos financeiros Quanto agrave
anaacutelise dos resultados o estudo utilizou a categorizaccedilatildeo dos discursos dos entrevistados em I
II III Logo as categorias baseiam-se em fragmentos das interlocuccedilotildees aspectos recorrentes
mencionados pelos bancaacuterios
A seguir satildeo apresentados trechos das falas dos dez respondentes que participaram
desta pesquisa Tais falas foram gravadas durante as entrevistas Os nomes adotados a seguir
para marcar que os trechos transcritos satildeo de falas de diferentes entrevistados satildeo fictiacutecios
Todas as entrevistas foram transcritas respeitando integralmente a linguagem e sinais
transmitidos por cada entrevistado
41 Categoria I
411 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos serviccedilos
financeiros
O analfabetismo e falta de instruccedilatildeo impactam no momento da contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros visto que esse tipo de puacuteblico eacute persuadido pelos bancaacuterios a tomar
determinadas decisotildees pois este natildeo possui informaccedilotildees necessaacuterias sobre o que seria esse
creacutedito o qual estaacute contratando Atraveacutes dos trechos das entrevistas foi possiacutevel identificar
que os bancaacuterios estagiaacuterios influenciam na hora da aquisiccedilatildeo do serviccedilo ateacute mesmo nas
formas como os clientes iratildeo pagar o empreacutestimo O quadro abaixo apresenta trechos da
entrevista que demonstram a falta de conhecimento financeiro dos consumidores do
empreacutestimo consignado
18
Quadro 3 - O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Entrevistados Trechos da entrevista
Maria Claacuteudia ldquoTem muita gente eacute Natildeo tatildeo instruiacuteda gente mais
simples Bom existem vaacuterias pessoas que pegam
aqui com a gente que satildeo analfabetas entendeurdquo
Ana Luiacuteza ldquoMuitas pessoas natildeo satildeo instruiacutedas poucas
pessoas sabem assinar seu proacuteprio nome mas
existem pessoas alfabetizadas simrdquo
ldquoA maioria acredito que natildeo tenha uma noccedilatildeo
esclarecimento ateacute porque quanto mais vezes vocecirc
dividir mais juros incidem e eacute melhor para o
bancordquo
Marcela ldquoEu acho que a grande maioria tinha um grau de
instruccedilatildeo reduzido e isso facilitava na hora de
vender neacuterdquo
ldquoEntatildeo a gente sempre tentava colocar de setenta
e duas vezes ou setenta e cinco satildeo seis anos de
consignado Entatildeo quanto maior o prazo maior a
taxa de juros Agraves vezes vocecirc pegava um capital
um volume muito pequeno e virava pra pessoa e
falava assim -Natildeo Por que aiacute soacute vai descontar
soacute R$3000 reais no seu pagamento e a pessoa natildeo
tinha dimensatildeo que por a gente taacute dividindo
aquele valor pequeninho sai muito grande depois
por conta da taxa que ela aumentava de acordo
com o prazordquo
Carlos Eduardo ldquoO mais comum satildeo pessoas de baixa renda e sem
informaccedilatildeo Exemplo A maioria dos consignados
os clientes nem perguntam as taxas de juros ele
natildeo estaacute preocupado com o prazo ele estaacute
preocupado com o valor da parcela se ele vai
conseguir pagar ou natildeo e o valor que vai sobrar
pra ele vai conseguir passar o mecircsrdquo
Leandro ldquoGrande parte natildeo satildeo instruiacutedas mas eu atendo
mais alta renda entatildeo meus clientes satildeo mais
seletivos eles pegam valores maiores natildeo eacute
qualquer empreacutestimo que ele pega eacute mais para
investimento mesmo ou pra sair de alguma coisardquo
19
Aacutercia ldquoEntatildeo assim muitas vezes as pessoas natildeo vem
com o conhecimento financeiro real eles querem
o imediato querem o empreacutestimo naquele
momento Muita gente natildeo tem a noccedilatildeo de como
vai ficar aquilordquo
Antocircnio ldquoEntatildeo no puacuteblico de menor renda esse
discernimento eacute menos eles olham mais se a
parcela cabe no bolso deles do que no montante
de juros que eles vatildeo pagar no finalrdquo
Fonte Dados da pesquisa
Diante destes dois perfis de consumidores vulneraacuteveis os analfabetos e os com baixa
instruccedilatildeo pode-se verificar por meio das gravaccedilotildees que tanto as pessoas analfabetas e as com
baixa instruccedilatildeo natildeo possuem compreensatildeo suficiente para realizar uma contrataccedilatildeo de creacutedito
A entrevistada Marcela afirma que vender para esse determinado tipo puacuteblico facilitava pelo
fato da falta de conhecimento financeiro
Outra situaccedilatildeo comentada durante a gravaccedilatildeo das entrevistas foi sobre as parcelas dos
empreacutestimos os bancaacuterios e os estagiaacuterios induzem os clientes a dividirem em mais vezes A
entrevistada Marcela tambeacutem afirma que sempre propunha aos seus clientes dividir em
setenta e duas vezes alegando para essas pessoas que o valor iria ldquocaber no bolsordquo Mas na
verdade os bancaacuterios aproveitam do analfabetismo financeiro dos tomadores de creacutedito
visando a lucratividade das instituiccedilotildees financeiras dado que as taxas aumentam de acordo
com prazo
A partir dessa anaacutelise eacute possiacutevel perceber de forma clara as limitaccedilotildees dos idosos no
processo de compra Conforme Chertman (2011 p21) as consequecircncias da idade
ldquopotencializam a vulnerabilidade de compra pela dificuldade de comprar em escala (podendo
negociar preccedilos)rdquo De fato nota-se que a questatildeo do analfabetismo baixa instruccedilatildeo e idade
afetam na tomada de decisatildeo consciente do consumidor
42 Categoria II
421 Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
A informaccedilatildeo no momento da compra eacute essencial para que o cliente natildeo faccedila uma
escolha errocircnea quanto ao produto Em relaccedilatildeo as entrevistas realizadas foi possiacutevel inferir
que na contrataccedilatildeo de creacutedito os bancaacuterios e seus intermediaacuterios natildeo informam o valor da
taxa de juros e acabam focando nos valores das parcelas no prazo e em quantas vezes o
parcelamento ficaraacute Sendo assim os atendentes procuram natildeo informar aos consumidores
20
quanto ficaraacute o valor total do empreacutestimo ao incidirem os juros Atraveacutes do quadro abaixo
pode-se comprovar que no momento da contrataccedilatildeo do creacutedito os bancaacuterios e estagiaacuterios
omitem determinadas informaccedilotildees aos clientes
Quadro 4 - Omissatildeo de informaccedilotildees na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Ana Luiacuteza ldquoNormalmente eu natildeo falo o valor dos juros
dificilmente eu falo o valor do juros soacute falo que
ele eacute mais baixo e informo que independe do que
a aconteccedila na economia brasileira a partir do
momento que a pessoa estaacute fazendo o contrato o
juros nunca vai aumentar que aquele juros e
sempre seraacute aquelerdquo
Marcela ldquoEntatildeo na verdade o que eu aprendi no Banco X
a regra clara Eu tinha que omitir Eu natildeo
precisava mentir mas eu precisava omitir
algumas informaccedilotildees Entatildeo eu abordava o
cliente sempre eacute Buscando saber do sonho dele
para depois eu vender o empreacutestimo Eu tentava
omitir informaccedilotildees como taxas prazo de
pagamento que eram coisas que eu soacute falava se o
cliente me perguntasse Eu achava muito
tranquilo assim vender Eu natildeo tinha muita
dificuldade natildeordquo
ldquoA gente omitia o valor total que o cliente ia
pagar justamente porque se vocecirc falar ele natildeo vai
levar entatildeo eacute A gente omitia e tentava fazer o
cliente fechar a venda na hora Principalmente
quando a venda era no caixa eletrocircnico que era
muito mais faacutecil porque agraves vezes o cliente
fechava a venda ali naquele momento naquele
instante natildeo refletia muito era mais faacutecil vender e
muitas vezes eles tavam sozinho muitas vezes os
aposentados vatildeo para agecircncia sozinho natildeo
estavam acompanhados dos filhos de ningueacutemrdquo
Carlos Eduardo ldquoNo contrato fala dos juros mas eu soacute respondo
quando o cliente perguntardquo
Marcos ldquoQuando o cliente fazia por exemplo um
empreacutestimo a gente falava o valor da parcela
21
quanto que ele vai pegar quando vai descontar do
pagamento falava a taxa de juros tambeacutem mas
acabava que eles nem sabiamrdquo
ldquoSe perguntasse alguma coisa a gente falavardquo
Fonte Dados da pesquisa
Como jaacute foi dito o cliente tem como direito obter informaccedilotildees necessaacuterias do que ele
estaacute adquirindo mas quando isso natildeo ocorre pode-se dizer que estaacute ocorrendo uma omissatildeo
dos fatos O autor Silva (2009 p146) expotildee o art 14 do CDC destacando ldquoo dever de
informaccedilatildeo cuja omissatildeo caracteriza defeito do serviccedilo ensejador do dever de indenizarrdquo
Logo pode-se concluir que quando o cliente natildeo eacute alertado sobre o produto ou serviccedilo e este
causa danos o consumidor deve ser reparado
Diante do que foi explicitado acima pode-se perceber atraveacutes das gravaccedilotildees feitas
quatro entrevistados falaram que natildeo davam as informaccedilotildees necessaacuterias para os contratadores
de creacuteditos A entrevistada Marcela usa o termo ldquoomissatildeordquo ela afirma que agraves vezes era
necessaacuterio omitir para que a venda do empreacutestimo consignado fosse realizada mais
rapidamente Jaacute os demais entrevistados alegam que normalmente natildeo falam as taxas de juros
eles informam as taxas apenas se o cliente perguntar Percebe-se tambeacutem que por se tratar de
um puacuteblico mais vulneraacutevel os bancaacuteriosestagiaacuterios tinham maior facilidade em convencecirc-
los na hora da compra jaacute que grande parte desse puacuteblico natildeo possui instruccedilotildees suficientes
para adquirir esse tipo de produto
Dessa forma eacute expliacutecito que os bancaacuterios e os estagiaacuterios natildeo davam as informaccedilotildees
necessaacuterias aos seus clientes pelo fato de terem que apresentar maior lucratividade aos
bancos Uma vez que como foi relatado por Marcela a instituiccedilatildeo financeira onde trabalhava
alegava que certas informaccedilotildees deveriam ser ldquoomitidasrdquo Dessa forma pode-se evidenciar a
violaccedilatildeo do direito do consumidor
Dentre a vulnerabilidade do consumidor quanto a omissatildeo dos fatos por partes dos
bancaacuterios e seus correspondentes haacute tambeacutem outro recurso utilizado pelos fornecedores o
linguiacutestico Isto eacute satildeo termos palavras usadas que suavizam na hora da contrataccedilatildeo de
creacutedito Pode-se dizer que eacute a comunicaccedilatildeo existente entre o fornecedor e o cliente a fim de
que o primeiro consiga induzir o segundo a comprar seu produto
O marketing de vendas retrata esta relaccedilatildeo citada acima de consumidor e fornecedor
De acordo com Bernardi (2012 p75) ldquoo marketing de vendas possui uma relaccedilatildeo estreita com
o elemento do composto mercadoloacutegico denominado de promoccedilatildeo que se refere a todas as
accedilotildees relativas agrave comunicaccedilatildeo e agrave venda dos produtos de uma organizaccedilatildeordquo
22
Atraveacutes dessa relaccedilatildeo construiacuteda pela comunicaccedilatildeo pode-se verificar por parte das
entrevistas que os bancaacuterios e os estagiaacuterios utilizam de recursos linguiacutesticos para convencer o
cliente a comprar tal produto Isto eacute estes tinham certo cuidado na maneira de falar para que
os clientes se sentissem agrave vontade e consequentemente efetivar a venda do produto
A comunicaccedilatildeo exerce influecircncia na venda de um produto ou seja esse diaacutelogo entre
cliente e fornecedor facilita a compra de um produto por parte do consumidor O autor
Bernardi (2012 p77) acresce o termo merchandising este eacute visto como um dos principais
meacutetodos de marketing associado agrave venda
Eacute um termo que pode ser usado como instrumento de comunicaccedilatildeo que apresenta o
produto ao consumidor e favorece a sua compra Merchandising no entanto eacute criar
um cenaacuterio de um produto serviccedilo ou marca de forma casual Os principais
conceitos do merchandising estatildeo voltados agrave boa estrateacutegia de comunicaccedilatildeo no
ponto de venda pois visa destacar o produto ou serviccedilo buscando assim motivar as
compras por impulso jaacute que possui uma comunicaccedilatildeo muito proacutexima agrave venda
Logo compreende-se que o merchandising eacute uma ferramenta que aproxima o cliente e
o fornecedor atraveacutes da comunicaccedilatildeo
Como jaacute foi mencionado anteriormente a forma de comunicar exerce uma forte
influecircncia no ato da compra Todavia atraveacutes das entrevistas pode-se notar certa preocupaccedilatildeo
em como abordar o cliente ou seja a forma de dialogar com seus clientes Percebeu-se entatildeo
que determinadas palavras eram trocadas por outras como por exemplo o termo
ldquoempreacutestimordquo muitas vezes era substituiacutedo pelo termo ldquodinheirinhordquo ou creacutedito A partir do
quadro abaixo pode-se concluir que a forma de falar eacute utilizada como um artifiacutecio na hora da
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado
23
43 Categoria III
431 Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por se tratar de um puacuteblico de idade com baixo grau de instruccedilatildeo ou ateacute mesmo analfabetos
os bancaacuterios estagiaacuterios se beneficiam dessa relaccedilatildeo A forma de falar induz os consumidores
de serviccedilos financeiros a adquirirem certo produto O Quadro 5 apresenta as respostas
referentes agrave forma de falar dos intermediaacuterios bancaacuterios
Quadro 5- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Marcela ldquoAcredito que para vender esse tipo de produto que eacute
um produto difiacutecil que as pessoas agraves vezes quando
vocecirc fala ldquoempreacutestimordquo a pessoa fica com o peacute atraacutes
entatildeo tem que ser assim Coisas que a gente natildeo usa eacute
falar empreacutestimo natildeo existe no banco entendeu Eacute
um dinheirinho suavizar realmente a expressatildeo
empreacutestimo porque quando vocecirc fala a expressatildeo
empreacutestimo as pessoas se fechamrdquo
ldquoMuitas vezes eles natildeo entendiam o que vocecirc estava
falando entatildeo Ah fulano vocecirc tem um dinheirinho
aqui disponiacutevel para vocecirc pegar aiacute eles perguntavam
Mas vocecirc estaacute me dando esse dinheirordquo
Marcos ldquoOutra coisa o termo empreacutestimo o pessoal mesmo
falava que era uma coisa muito pesada de se dizer a
maioria das pessoas natildeo vecirc com bons olhos entatildeo a
gente falava um dinheirinho pro cliente pois ameniza
um pouco o termo Querendo ou natildeo o modo de falar
influencia um poucordquo
Daniel ldquoEu por exemplo falo creacutedito porque eu tocirc
conversando com o cliente e ele vecirc que tem outras
pessoas em volta agraves vezes eu falar empreacutestimo ele
pode ficar um pouco chateado daquilo nem todo
mundo gosta de ir no banco pra pegar empreacutestimo
gosta de ir laacute para sacar dinheiro Eu prefiro trabalhar
com a palavra creacutedito rdquo
Antocircnio ldquoGeralmente a gente utiliza o termo creacutedito vocecirc tem
um creacutedito aprovado Porque agraves vezes a pessoa tem
ateacute medo resistecircncia em empreacutestimo Geralmente a
24
gente fala que vocecirc tem um creacutedito aprovado e aiacute a
gente fala em qual linha a pessoa tem creacutedito
pessoal financiamento para veiacuteculos financiamento
imobiliaacuterio consignado que eacute o creacutedito que vem da
folha de pagamento Entatildeo a gente normalmente
oferta creacutedito ldquo
Fonte Dados da pesquisa
Conforme alguns entrevistados esses natildeo utilizam o termo correto que eacute ldquoempreacutestimo
consignadordquo Nas gravaccedilotildees os bancaacuterios e seus correspondentes alegam que os clientes tecircm
eacute um ldquodinheirinhordquo disponiacutevel para pegarem no banco Outros afirmam que o vocaacutebulo
empregado por eles eacute o ldquocreacuteditordquo pois ameniza um pouco o termo Este possui o mesmo
significado do primeiro mas para muitos o termo quer dizer credibilidade ldquocreacutedito na praccedilardquo
apesar de ser sinocircnimo do vocaacutebulo ldquoempreacutestimordquo essa palavra soa de forma positiva
Ao verificar a forma de comunicaccedilatildeo com os clientes do empreacutestimo consignado
pode-se perceber que essa substituiccedilatildeo de ldquopalavrasrdquo ocorre com o intuito amenizar o termo
ldquoempreacutestimordquo visto que por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel as pessoas assustam quando
pronunciam a palavra empreacutestimo Para muitos esse termo soa de forma negativa como
pessoas que possuem desorganizaccedilatildeo financeira ou inadimplecircncia Por este fato tanto os
bancaacuterios quanto os estagiaacuterios procuram utilizar vocaacutebulos que suavizem e que soem de uma
forma positiva para o cliente Sendo assim a forma de se comunicar pode alterar a venda de
determinado produto ofertado Mas essa forma de suavizar os termos empregados durante a
venda do serviccedilo financeiro fora de certos limites eacutetico-legais pode ser vista como uma
espeacutecie de ldquoomissatildeordquo do que realmente esses tomadores de creacutedito estatildeo comprando Pois
como jaacute foi retratado de acordo com o CDC os termos devem ser informados de forma clara
ao cliente
Podemos exemplificar de acordo com um entrevistado que afirma utilizar o termo
ldquodinheirinhordquo por ser mais faacutecil dos aposentados e pensionistas entenderem jaacute que muitos
desses clientes possuiacuteam dificuldades sobre o que de fato estavam comprando Aleacutem disso o
bancaacuterio acredita que modo de falar pode alterar a execuccedilatildeo da venda
Tendo em vista os aspectos observados tanto o artifiacutecio linguiacutestico quanto a omissatildeo
das informaccedilotildees pelos bancaacuteriosestagiaacuterios possui objetivos em comum pelas instituiccedilotildees
financeiras na qual visam a obtenccedilatildeo de maiores lucros para essas empresas Aleacutem disso os
bancos satildeo os maiores beneficiados pois natildeo levam em consideraccedilatildeo a isonomia das relaccedilotildees
entre consumidor e fornecedor Portanto conclui-se que em meio a essa relaccedilatildeo o consumidor
eacute parte mais fraca onde seus direitos satildeo violados pelos fornecedores de creacutedito
25
5 CONCLUSAtildeO
O creacutedito consignado eacute um tipo de empreacutestimo recente que vem sendo utilizado com
maior frequecircncia por um determinado puacuteblico (LOPES et al2014) Com isso as instituiccedilotildees
bancaacuterias estatildeo apresentando certo interesse sobre esse ldquonovordquo tipo de puacuteblico em ascensatildeo
Os intermediaacuterios bancaacuterios vecircm buscando formas para atrair os idosos seja atraveacutes das
facilidades da obtenccedilatildeo do creacutedito ou ateacute mesmo no modo de comunicar utilizando de
artifiacutecios de linguagem Em suma os bancos utilizam de praacuteticas de marketing tensionados a
obter vantagens sobre esses consumidores De acordo com o Coacutedigo de Consumidor (CDC)
estes satildeo considerados como vulneraacuteveis
Perante o estudo notou-se que a vulnerabilidade do idoso eacute agravada jaacute que
enquadram como consumidores hipervulneraacuteveis Essa vulnerabilidade acontece atraveacutes das
relaccedilotildees de consumo onde os fornecedores do empreacutestimo tiram proveito do estado em que
esses consumidores se encontram Para que estes cidadatildeos hipervulneraacuteveis sejam amparados
haacute o Estatuto do idoso e Coacutedigo do Consumidor ambos dispotildeem de normas que regem a
relaccedilatildeo entre consumidor-fornecedor Deve-se ressaltar que apesar da existecircncia das
legislaccedilotildees os bancos continuam praticando ldquoexcessosrdquo com os consumidores no momento da
contrataccedilatildeo do creacutedito Eacute relevante a imposiccedilatildeo do Estado visando inibir a lesatildeo do direito
sendo especificado ao idoso
Logo atraveacutes dos resultados da pesquisa pode-se concluir que essa vulnerabilidade
acentuada ocorre atraveacutes de fatores como idade baixa escolaridade e baixo grau de instruccedilatildeo
que interferem nas relaccedilotildees consumeristas isto eacute os contratadores de creacutedito consignado natildeo
possuem domiacutenio para realizar uma compra consciente Sendo assim os consumidores
apresentam limitaccedilotildees sobre o serviccedilo financeiro na qual estaacute adquirindo A partir da anaacutelise
foi possiacutevel verificar atraveacutes dos entrevistados que o puacuteblico idoso natildeo possuiacutea conhecimento
sobre as taxas juros que incidiam sobre as parcelas Aleacutem disso os bancaacuterios afirmavam que
iriam dividir em mais pagamentos para natildeo atrapalhar no orccedilamento mensal do consumidor
Por conseguinte aspectos como estes facilitavam a induzir os idosos a adquirem o creacutedito
mostrando a estes o quatildeo era vantajoso o produto oferecido
Tambeacutem deve-se ressaltar que por se tratar de um puacuteblico com baixo grau de instruccedilatildeo
e alguns analfabetos tanto os bancaacuterios quanto os estagiaacuterios omitiam informaccedilotildees bem
como tambeacutem utilizavam os recursos linguiacutesticos Estas duas formas contribuiacuteram para que as
vendas fossem efetuadas de uma maneira mais raacutepida Uma vez que a forma de falar ou a
26
omissatildeo influenciavam aos idosos comprarem o produto de uma forma irrefletida visto que
esses consumidores acreditavam no que estava sendo falado por parte do fornecedor
Portanto diante da fragilidade do consumidor em questatildeo eacute perceptiacutevel que na
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado boa parte dos idosos muitas vezes natildeo estatildeo acompanhados
por nenhum membro da famiacutelia Desta maneira para os bancaacuteriosestagiaacuterios a forma de
abordar o cliente fica mais acessiacutevel ainda mais por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel com
pouco grau de instruccedilatildeo ou conhecimento Logo situaccedilotildees como estas contribuem para os
fornecedores tirarem proveito do puacuteblico idoso Outro fato que deve ser destacado eacute a
presenccedila do Estado incentivando programas de alfabetizaccedilatildeo financeira independente do fator
idade para que a sociedade no geral saiba ter consciecircncia clareza sobre as relaccedilotildees de
consumo
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29
APEcircNDICE A
Roteiro de Entrevista qualitativa aplicada aos bancaacuterios e seus correspondentes
1 Idade
2 Formaccedilatildeo acadecircmica ( ) Ensino Meacutedio
( ) Superior
3 Haacute quanto tempo vocecirc trabalha ou jaacute trabalhou vendendo serviccedilos financeiros Em
qual cidade Descreva os serviccedilos financeiros que vocecirc mais estava habituado a
venda
4 Fale um pouco sobre as atividades que vocecirc realizava dentro da empresa Me conte
como era o seu dia a dia como era o processo de venda Da captaccedilatildeo do cliente ao
fechamento do contrato ou da venda do serviccedilo DEcirc EXEMPLOS
5 Quais produtos financeiros vocecirc estava ou estaacute mais habituado a vender
Creacutedito consignado creacutedito pessoal seguros empreacutestimos financiamentos
Qual vocecirc eacute mais estimulado a fazer
Tem diferenccedila na venda desses produtos
A abordagem ao cliente muda Quais satildeo mais diferentes
Vocecirc pode descrever para mim cada um deles por favor
Quais produtos satildeo os mais procurados
6 Qual eacute o tipo de puacuteblico que busca pelo empreacutestimo Descreva para mim as
caracteriacutesticas que vocecirc julga como mais marcantes Geralmente satildeo pessoas de que
faixa etaacuteria Satildeo pessoas de classe baixa meacutedia ou alta Satildeo pessoas instruiacutedas
7 Essas pessoas possuem um esclarecimento sobre o que seria esse tipo creacutedito
Compreendem as vantagens e as desvantagens relacionadas ao serviccedilo O que vocecirc
acha disso
8 No momento da contrataccedilatildeo de creacutedito o que eacute falado Como se daacute Todos os temos
do contrato ficam claros Vocecircs bancaacuterios explicitam o que estaacute no contrato Haacute
30
alguma avaliaccedilatildeo criteriosa do perfil do cliente de suas condiccedilotildees financeiras
9 O que vocecirc jaacute verificou por parte das pessoas que tomam esse creacutedito Qual seria os
maiores motivos para a procura do creacutedito consignado
10 Quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito vocecirc concorda com as vantagens oferecidas no
contrato ou acredita que algo deveria ser alterado O que vocecirc natildeo estaria de acordo
11 Qual o limite de desconto mensal da folha de pagamento do trabalhador o banco
oferece Por algum momento o banco excedeu o valor de desconto da folha Comente
essefato
12 Quanto agraves poliacuteticas bancaacuterias proposta pelos bancos para a venda de produtos
financeiros vocecirc concorda Ou algum momento jaacute discordou Discorra sobre o fato
13 Frequentemente vocecircs bancaacuterios satildeo estimulados a bater metas sobre os produtos que
vocecircs oferecem Vocecirc concorda que existe uma certa pressatildeo em vender cada vez mais
produtos Em alguma situaccedilatildeo vocecirc natildeo esteve de acordo como a forma que deveria
induzir os clientes a comprar um produto na qual vocecirc estaria oferecendo
14
A pesquisa de campo foi realizada atraveacutes de entrevistas semi-estruturadas
(APEcircNDICE A) sendo composta por treze questotildees discursivas Segundo Boni e Quaresma
(2005 p 75) as teacutecnicas desse tipo de entrevista
[] tecircm como vantagem a sua elasticidade quanto agrave duraccedilatildeo permitindo uma
cobertura mais profunda sobre determinados assuntos Aleacutem disso a interaccedilatildeo entre
o entrevistador e o entrevistado favorece as respostas espontacircneas Elas tambeacutem satildeo
possibilitadoras de uma abertura e proximidade maior entre entrevistador e
entrevistado o que permite ao entrevistador tocar em assuntos mais complexos e
delicados ou seja quanto menos estruturada a entrevista maior seraacute o favorecimento
de uma troca mais afetiva entre as duas partes Desse modo estes tipos de entrevista
colaboram muito na investigaccedilatildeo dos aspectos afetivos e valorativos dos informantes
que determinam significados pessoais de suas atitudes e comportamentos As
respostas espontacircneas dos entrevistados e a maior liberdade que estes tecircm podem
fazer surgir questotildees inesperadas ao entrevistador que poderatildeo ser de grande
utilidade em sua pesquisa
Em suma pode-se perceber que esse tipo de entrevista proporcionou aos entrevistados
certa autonomia em discutir sobre o tema em questatildeo Visto que no percorrer das
interlocuccedilotildees houve a possibilidade de introduzir novos assuntos sobre o estudo como
tambeacutem a exemplificaccedilatildeo de situaccedilotildees vivenciadas pelos entrevistados
Para a realizaccedilatildeo das entrevistas no presente estudo foi indispensaacutevel entrevistar um
nuacutemero de sete bancaacuterios(as) e trecircs estagiaacuterios(as) de instituiccedilotildees financeiras privadas da
cidade de Mariana Ouro Preto e Itabirito visto que cinco deles eram do sexo masculino e os
demais do sexo feminino Visando buscar nesses gecircneros perspectivas diversas sobre as
teacutecnicas utilizadas na operaccedilatildeo do empreacutestimo consignado agrave aposentados e pensionistas Estas
entrevistas realizadas tiveram duraccedilatildeo meacutedia de quinze a trinta minutos sendo que todas as
interlocuccedilotildees foram gravadas e posteriormente transcritas para entatildeo serem analisadas
Portanto as anaacutelises das respostas foram fundamentadas em anaacutelises de conteuacutedos e
posteriormente buscou-se categorizar os elementos relevantes discutidos durante as
interlocuccedilotildees
De acordo com Cavalcante Calixto e Pinheiro (2014) a anaacutelise de conteuacutedo permite a
ldquoanaacutelise do fenocircmeno em profundidade elencando as subjetividades suas relaccedilotildees bem
como interlocuccedilotildees na malha socialrdquo logo atraveacutes das entrevistas com os bancaacuterios pode-se
verificar suas percepccedilotildees
Conforme Caregnato e Mutti (2006 p 683)
A teacutecnica de anaacutelise de conteuacutedo se compotildee de trecircs grandes etapas 1) a preacute-anaacutelise
2) a exploraccedilatildeo do material 3) o tratamento dos resultados e interpretaccedilatildeo A
mencionada autora descreve a primeira etapa como a fase de organizaccedilatildeo que pode
utilizar vaacute- rios procedimentos tais como leitura flutuante hipoacuteteses objetivos e
elaboraccedilatildeo de indicadores que fundamentem a interpretaccedilatildeo Na segunda etapa os
dados satildeo codificados a partir das unidades de registro Na uacuteltima etapa se faz a
categorizaccedilatildeo que consiste na classificaccedilatildeo dos elementos segundo suas
semelhanccedilas e por diferenciaccedilatildeo com posterior reagrupamento em funccedilatildeo de
15
caracteriacutesticas comuns Portanto a codificaccedilatildeo e a categorizaccedilatildeo fazem parte da AC
As autoras afirmam que aleacutem das teacutecnicas utilizadas na anaacutelise de conteuacutedo o
pesquisador pode categorizar fragmentos do texto que se repetem atraveacutes de frases ou
expressotildees Atraveacutes disso as entrevistas realizadas com os bancaacuterios foram categorizadas da
seguinte maneira
Categoria I- O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Categoria II- Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Categoria III- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por conseguinte essas respostas foram analisadas com o intuito de verificar como os
consumidores hipervulneraacuteveis satildeo abordados pelos(as) bancaacuterios(as) e quais as praacuteticas que
as instituiccedilotildees financeiras adotam para convencer esse puacuteblico Contudo compreende-se que
por meio das entrevistas pode-se construir consideraccedilotildees em relaccedilatildeo ao objetivo da pesquisa
31 Descriccedilatildeo da Amostra
Para a anaacutelise das praacuteticas de marketing utilizadas pelos intermediaacuterios bancaacuterios
estudaram-se sete bancaacuterios(as) e trecircs estagiaacuterios(as) atuantes na concessatildeo de empreacutestimos
consignados Estes operam nas localidades de Mariana Ouro Preto e Itabirito Em vista disso
para a execuccedilatildeo da pesquisa foi relevante a realizaccedilatildeo de entrevistas a partir desse
pressuposto foi possiacutevel inferir interpretaccedilotildees diversas sobre esses sujeitos no momento da
concessatildeo do creacutedito
As interlocuccedilotildees com os bancaacuterios e seus correspondentes foram marcadas
antecipadamente via celular informando-lhes a data o local a preferir a duraccedilatildeo em meacutedia e
do que se tratava o estudo As entrevistas foram sucedidas no periacuteodo de julho a agosto de
2016 Outro aspecto a ser relatado aos entrevistados sobre o estudo foi a importacircncia destes
para pesquisa visto que o nuacutemero de informaccedilotildees fornecidas possibilitaria uma anaacutelise
satisfatoacuteria para a exploraccedilatildeo do tema O quadro a seguir resume as caracteriacutesticas da amostra
analisada
16
Quadro 1 Caracteriacutesticas da amostra analisada
Bancaacuterios Estagiaacuterios Nomes Fictiacutecios Idade Cidades
B1 Maria Claacuteudia 41 Mariana (MG)
B2 Carlos Eduardo 22 Ouro Preto (MG)
B3 Daniel 25 Ouro Preto (MG)
B4 Leandro 27 Mariana (MG)
B5 Maacutercia 34 Mariana (MG)
B6 Antocircnio 38 Mariana (MG)
B7 Camila 27 Mariana (MG)
E1 Ana Luiacuteza 25 Itabirito (MG)
E2 Marcela 22 Itabirito (MG)
E3 Marcos 24 Ouro Preto (MG)
Fonte Dados da pesquisa
Com relaccedilatildeo a populaccedilatildeo do estudo foram levantados dados buscando alcanccedilar a
quantidade aproximada de bancaacuterios e estagiaacuterios na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e
Itabirito Para a identificaccedilatildeo dos dados foi necessaacuterio entrar em contato via telefone em todas
as agecircncias privadas dessas localidades Atraveacutes do quadro abaixo pode-se concluir o nuacutemero
da populaccedilatildeo desse puacuteblico
Quadro 2 Quantidade da populaccedilatildeo de bancaacuterios e estagiaacuterios
Localidade Bancaacuterios Estagiaacuterios
Mariana 55 3
Ouro Preto 63 3
Itabirito 52 8
TOTAL 170 14
Fonte Dados da pesquisa
Em suma a pesquisa de campo foi desenvolvida nessas localidades visto que esses
municiacutepios possuem um nuacutemero representativo de idosos puacuteblico alvo das instituiccedilotildees
financeiras De acordo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2010) a cidade de
Mariana conta com proximamente 5200 idosos jaacute Ouro Preto possui cerca de 7994 idosos e
Itabirito dispotildee em meacutedia 4998 idosos Por conseguinte surge a iniciativa de analisar os perfis
dos bancaacuterios visando compreender as praacuteticas que estes utilizam para alcanccedilar um maior nuacutemero
de idosos para efetivar a contrataccedilatildeo do creacutedito
17
4 ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
Como explicitado anteriormente a vulnerabilidade do consumidor existe a partir da
relaccedilatildeo entre empresa e cliente E considerando todas as peculiaridades e caracteriacutesticas que
fazem do consumidor de serviccedilos financeiros um consumidor vulneraacutevel esta seccedilatildeo do texto
tem por propoacutesito retratar por meio da apresentaccedilatildeo e anaacutelise dos dados extraiacutedos das
entrevistas realizadas ao longo deste estudo a forma como os bancaacuterios e seus
correspondentes operam na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e Itabirito especialmente no que se
refere ao modo como oferecem e conduzem as negociaccedilotildees de serviccedilos financeiros Quanto agrave
anaacutelise dos resultados o estudo utilizou a categorizaccedilatildeo dos discursos dos entrevistados em I
II III Logo as categorias baseiam-se em fragmentos das interlocuccedilotildees aspectos recorrentes
mencionados pelos bancaacuterios
A seguir satildeo apresentados trechos das falas dos dez respondentes que participaram
desta pesquisa Tais falas foram gravadas durante as entrevistas Os nomes adotados a seguir
para marcar que os trechos transcritos satildeo de falas de diferentes entrevistados satildeo fictiacutecios
Todas as entrevistas foram transcritas respeitando integralmente a linguagem e sinais
transmitidos por cada entrevistado
41 Categoria I
411 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos serviccedilos
financeiros
O analfabetismo e falta de instruccedilatildeo impactam no momento da contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros visto que esse tipo de puacuteblico eacute persuadido pelos bancaacuterios a tomar
determinadas decisotildees pois este natildeo possui informaccedilotildees necessaacuterias sobre o que seria esse
creacutedito o qual estaacute contratando Atraveacutes dos trechos das entrevistas foi possiacutevel identificar
que os bancaacuterios estagiaacuterios influenciam na hora da aquisiccedilatildeo do serviccedilo ateacute mesmo nas
formas como os clientes iratildeo pagar o empreacutestimo O quadro abaixo apresenta trechos da
entrevista que demonstram a falta de conhecimento financeiro dos consumidores do
empreacutestimo consignado
18
Quadro 3 - O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Entrevistados Trechos da entrevista
Maria Claacuteudia ldquoTem muita gente eacute Natildeo tatildeo instruiacuteda gente mais
simples Bom existem vaacuterias pessoas que pegam
aqui com a gente que satildeo analfabetas entendeurdquo
Ana Luiacuteza ldquoMuitas pessoas natildeo satildeo instruiacutedas poucas
pessoas sabem assinar seu proacuteprio nome mas
existem pessoas alfabetizadas simrdquo
ldquoA maioria acredito que natildeo tenha uma noccedilatildeo
esclarecimento ateacute porque quanto mais vezes vocecirc
dividir mais juros incidem e eacute melhor para o
bancordquo
Marcela ldquoEu acho que a grande maioria tinha um grau de
instruccedilatildeo reduzido e isso facilitava na hora de
vender neacuterdquo
ldquoEntatildeo a gente sempre tentava colocar de setenta
e duas vezes ou setenta e cinco satildeo seis anos de
consignado Entatildeo quanto maior o prazo maior a
taxa de juros Agraves vezes vocecirc pegava um capital
um volume muito pequeno e virava pra pessoa e
falava assim -Natildeo Por que aiacute soacute vai descontar
soacute R$3000 reais no seu pagamento e a pessoa natildeo
tinha dimensatildeo que por a gente taacute dividindo
aquele valor pequeninho sai muito grande depois
por conta da taxa que ela aumentava de acordo
com o prazordquo
Carlos Eduardo ldquoO mais comum satildeo pessoas de baixa renda e sem
informaccedilatildeo Exemplo A maioria dos consignados
os clientes nem perguntam as taxas de juros ele
natildeo estaacute preocupado com o prazo ele estaacute
preocupado com o valor da parcela se ele vai
conseguir pagar ou natildeo e o valor que vai sobrar
pra ele vai conseguir passar o mecircsrdquo
Leandro ldquoGrande parte natildeo satildeo instruiacutedas mas eu atendo
mais alta renda entatildeo meus clientes satildeo mais
seletivos eles pegam valores maiores natildeo eacute
qualquer empreacutestimo que ele pega eacute mais para
investimento mesmo ou pra sair de alguma coisardquo
19
Aacutercia ldquoEntatildeo assim muitas vezes as pessoas natildeo vem
com o conhecimento financeiro real eles querem
o imediato querem o empreacutestimo naquele
momento Muita gente natildeo tem a noccedilatildeo de como
vai ficar aquilordquo
Antocircnio ldquoEntatildeo no puacuteblico de menor renda esse
discernimento eacute menos eles olham mais se a
parcela cabe no bolso deles do que no montante
de juros que eles vatildeo pagar no finalrdquo
Fonte Dados da pesquisa
Diante destes dois perfis de consumidores vulneraacuteveis os analfabetos e os com baixa
instruccedilatildeo pode-se verificar por meio das gravaccedilotildees que tanto as pessoas analfabetas e as com
baixa instruccedilatildeo natildeo possuem compreensatildeo suficiente para realizar uma contrataccedilatildeo de creacutedito
A entrevistada Marcela afirma que vender para esse determinado tipo puacuteblico facilitava pelo
fato da falta de conhecimento financeiro
Outra situaccedilatildeo comentada durante a gravaccedilatildeo das entrevistas foi sobre as parcelas dos
empreacutestimos os bancaacuterios e os estagiaacuterios induzem os clientes a dividirem em mais vezes A
entrevistada Marcela tambeacutem afirma que sempre propunha aos seus clientes dividir em
setenta e duas vezes alegando para essas pessoas que o valor iria ldquocaber no bolsordquo Mas na
verdade os bancaacuterios aproveitam do analfabetismo financeiro dos tomadores de creacutedito
visando a lucratividade das instituiccedilotildees financeiras dado que as taxas aumentam de acordo
com prazo
A partir dessa anaacutelise eacute possiacutevel perceber de forma clara as limitaccedilotildees dos idosos no
processo de compra Conforme Chertman (2011 p21) as consequecircncias da idade
ldquopotencializam a vulnerabilidade de compra pela dificuldade de comprar em escala (podendo
negociar preccedilos)rdquo De fato nota-se que a questatildeo do analfabetismo baixa instruccedilatildeo e idade
afetam na tomada de decisatildeo consciente do consumidor
42 Categoria II
421 Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
A informaccedilatildeo no momento da compra eacute essencial para que o cliente natildeo faccedila uma
escolha errocircnea quanto ao produto Em relaccedilatildeo as entrevistas realizadas foi possiacutevel inferir
que na contrataccedilatildeo de creacutedito os bancaacuterios e seus intermediaacuterios natildeo informam o valor da
taxa de juros e acabam focando nos valores das parcelas no prazo e em quantas vezes o
parcelamento ficaraacute Sendo assim os atendentes procuram natildeo informar aos consumidores
20
quanto ficaraacute o valor total do empreacutestimo ao incidirem os juros Atraveacutes do quadro abaixo
pode-se comprovar que no momento da contrataccedilatildeo do creacutedito os bancaacuterios e estagiaacuterios
omitem determinadas informaccedilotildees aos clientes
Quadro 4 - Omissatildeo de informaccedilotildees na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Ana Luiacuteza ldquoNormalmente eu natildeo falo o valor dos juros
dificilmente eu falo o valor do juros soacute falo que
ele eacute mais baixo e informo que independe do que
a aconteccedila na economia brasileira a partir do
momento que a pessoa estaacute fazendo o contrato o
juros nunca vai aumentar que aquele juros e
sempre seraacute aquelerdquo
Marcela ldquoEntatildeo na verdade o que eu aprendi no Banco X
a regra clara Eu tinha que omitir Eu natildeo
precisava mentir mas eu precisava omitir
algumas informaccedilotildees Entatildeo eu abordava o
cliente sempre eacute Buscando saber do sonho dele
para depois eu vender o empreacutestimo Eu tentava
omitir informaccedilotildees como taxas prazo de
pagamento que eram coisas que eu soacute falava se o
cliente me perguntasse Eu achava muito
tranquilo assim vender Eu natildeo tinha muita
dificuldade natildeordquo
ldquoA gente omitia o valor total que o cliente ia
pagar justamente porque se vocecirc falar ele natildeo vai
levar entatildeo eacute A gente omitia e tentava fazer o
cliente fechar a venda na hora Principalmente
quando a venda era no caixa eletrocircnico que era
muito mais faacutecil porque agraves vezes o cliente
fechava a venda ali naquele momento naquele
instante natildeo refletia muito era mais faacutecil vender e
muitas vezes eles tavam sozinho muitas vezes os
aposentados vatildeo para agecircncia sozinho natildeo
estavam acompanhados dos filhos de ningueacutemrdquo
Carlos Eduardo ldquoNo contrato fala dos juros mas eu soacute respondo
quando o cliente perguntardquo
Marcos ldquoQuando o cliente fazia por exemplo um
empreacutestimo a gente falava o valor da parcela
21
quanto que ele vai pegar quando vai descontar do
pagamento falava a taxa de juros tambeacutem mas
acabava que eles nem sabiamrdquo
ldquoSe perguntasse alguma coisa a gente falavardquo
Fonte Dados da pesquisa
Como jaacute foi dito o cliente tem como direito obter informaccedilotildees necessaacuterias do que ele
estaacute adquirindo mas quando isso natildeo ocorre pode-se dizer que estaacute ocorrendo uma omissatildeo
dos fatos O autor Silva (2009 p146) expotildee o art 14 do CDC destacando ldquoo dever de
informaccedilatildeo cuja omissatildeo caracteriza defeito do serviccedilo ensejador do dever de indenizarrdquo
Logo pode-se concluir que quando o cliente natildeo eacute alertado sobre o produto ou serviccedilo e este
causa danos o consumidor deve ser reparado
Diante do que foi explicitado acima pode-se perceber atraveacutes das gravaccedilotildees feitas
quatro entrevistados falaram que natildeo davam as informaccedilotildees necessaacuterias para os contratadores
de creacuteditos A entrevistada Marcela usa o termo ldquoomissatildeordquo ela afirma que agraves vezes era
necessaacuterio omitir para que a venda do empreacutestimo consignado fosse realizada mais
rapidamente Jaacute os demais entrevistados alegam que normalmente natildeo falam as taxas de juros
eles informam as taxas apenas se o cliente perguntar Percebe-se tambeacutem que por se tratar de
um puacuteblico mais vulneraacutevel os bancaacuteriosestagiaacuterios tinham maior facilidade em convencecirc-
los na hora da compra jaacute que grande parte desse puacuteblico natildeo possui instruccedilotildees suficientes
para adquirir esse tipo de produto
Dessa forma eacute expliacutecito que os bancaacuterios e os estagiaacuterios natildeo davam as informaccedilotildees
necessaacuterias aos seus clientes pelo fato de terem que apresentar maior lucratividade aos
bancos Uma vez que como foi relatado por Marcela a instituiccedilatildeo financeira onde trabalhava
alegava que certas informaccedilotildees deveriam ser ldquoomitidasrdquo Dessa forma pode-se evidenciar a
violaccedilatildeo do direito do consumidor
Dentre a vulnerabilidade do consumidor quanto a omissatildeo dos fatos por partes dos
bancaacuterios e seus correspondentes haacute tambeacutem outro recurso utilizado pelos fornecedores o
linguiacutestico Isto eacute satildeo termos palavras usadas que suavizam na hora da contrataccedilatildeo de
creacutedito Pode-se dizer que eacute a comunicaccedilatildeo existente entre o fornecedor e o cliente a fim de
que o primeiro consiga induzir o segundo a comprar seu produto
O marketing de vendas retrata esta relaccedilatildeo citada acima de consumidor e fornecedor
De acordo com Bernardi (2012 p75) ldquoo marketing de vendas possui uma relaccedilatildeo estreita com
o elemento do composto mercadoloacutegico denominado de promoccedilatildeo que se refere a todas as
accedilotildees relativas agrave comunicaccedilatildeo e agrave venda dos produtos de uma organizaccedilatildeordquo
22
Atraveacutes dessa relaccedilatildeo construiacuteda pela comunicaccedilatildeo pode-se verificar por parte das
entrevistas que os bancaacuterios e os estagiaacuterios utilizam de recursos linguiacutesticos para convencer o
cliente a comprar tal produto Isto eacute estes tinham certo cuidado na maneira de falar para que
os clientes se sentissem agrave vontade e consequentemente efetivar a venda do produto
A comunicaccedilatildeo exerce influecircncia na venda de um produto ou seja esse diaacutelogo entre
cliente e fornecedor facilita a compra de um produto por parte do consumidor O autor
Bernardi (2012 p77) acresce o termo merchandising este eacute visto como um dos principais
meacutetodos de marketing associado agrave venda
Eacute um termo que pode ser usado como instrumento de comunicaccedilatildeo que apresenta o
produto ao consumidor e favorece a sua compra Merchandising no entanto eacute criar
um cenaacuterio de um produto serviccedilo ou marca de forma casual Os principais
conceitos do merchandising estatildeo voltados agrave boa estrateacutegia de comunicaccedilatildeo no
ponto de venda pois visa destacar o produto ou serviccedilo buscando assim motivar as
compras por impulso jaacute que possui uma comunicaccedilatildeo muito proacutexima agrave venda
Logo compreende-se que o merchandising eacute uma ferramenta que aproxima o cliente e
o fornecedor atraveacutes da comunicaccedilatildeo
Como jaacute foi mencionado anteriormente a forma de comunicar exerce uma forte
influecircncia no ato da compra Todavia atraveacutes das entrevistas pode-se notar certa preocupaccedilatildeo
em como abordar o cliente ou seja a forma de dialogar com seus clientes Percebeu-se entatildeo
que determinadas palavras eram trocadas por outras como por exemplo o termo
ldquoempreacutestimordquo muitas vezes era substituiacutedo pelo termo ldquodinheirinhordquo ou creacutedito A partir do
quadro abaixo pode-se concluir que a forma de falar eacute utilizada como um artifiacutecio na hora da
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado
23
43 Categoria III
431 Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por se tratar de um puacuteblico de idade com baixo grau de instruccedilatildeo ou ateacute mesmo analfabetos
os bancaacuterios estagiaacuterios se beneficiam dessa relaccedilatildeo A forma de falar induz os consumidores
de serviccedilos financeiros a adquirirem certo produto O Quadro 5 apresenta as respostas
referentes agrave forma de falar dos intermediaacuterios bancaacuterios
Quadro 5- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Marcela ldquoAcredito que para vender esse tipo de produto que eacute
um produto difiacutecil que as pessoas agraves vezes quando
vocecirc fala ldquoempreacutestimordquo a pessoa fica com o peacute atraacutes
entatildeo tem que ser assim Coisas que a gente natildeo usa eacute
falar empreacutestimo natildeo existe no banco entendeu Eacute
um dinheirinho suavizar realmente a expressatildeo
empreacutestimo porque quando vocecirc fala a expressatildeo
empreacutestimo as pessoas se fechamrdquo
ldquoMuitas vezes eles natildeo entendiam o que vocecirc estava
falando entatildeo Ah fulano vocecirc tem um dinheirinho
aqui disponiacutevel para vocecirc pegar aiacute eles perguntavam
Mas vocecirc estaacute me dando esse dinheirordquo
Marcos ldquoOutra coisa o termo empreacutestimo o pessoal mesmo
falava que era uma coisa muito pesada de se dizer a
maioria das pessoas natildeo vecirc com bons olhos entatildeo a
gente falava um dinheirinho pro cliente pois ameniza
um pouco o termo Querendo ou natildeo o modo de falar
influencia um poucordquo
Daniel ldquoEu por exemplo falo creacutedito porque eu tocirc
conversando com o cliente e ele vecirc que tem outras
pessoas em volta agraves vezes eu falar empreacutestimo ele
pode ficar um pouco chateado daquilo nem todo
mundo gosta de ir no banco pra pegar empreacutestimo
gosta de ir laacute para sacar dinheiro Eu prefiro trabalhar
com a palavra creacutedito rdquo
Antocircnio ldquoGeralmente a gente utiliza o termo creacutedito vocecirc tem
um creacutedito aprovado Porque agraves vezes a pessoa tem
ateacute medo resistecircncia em empreacutestimo Geralmente a
24
gente fala que vocecirc tem um creacutedito aprovado e aiacute a
gente fala em qual linha a pessoa tem creacutedito
pessoal financiamento para veiacuteculos financiamento
imobiliaacuterio consignado que eacute o creacutedito que vem da
folha de pagamento Entatildeo a gente normalmente
oferta creacutedito ldquo
Fonte Dados da pesquisa
Conforme alguns entrevistados esses natildeo utilizam o termo correto que eacute ldquoempreacutestimo
consignadordquo Nas gravaccedilotildees os bancaacuterios e seus correspondentes alegam que os clientes tecircm
eacute um ldquodinheirinhordquo disponiacutevel para pegarem no banco Outros afirmam que o vocaacutebulo
empregado por eles eacute o ldquocreacuteditordquo pois ameniza um pouco o termo Este possui o mesmo
significado do primeiro mas para muitos o termo quer dizer credibilidade ldquocreacutedito na praccedilardquo
apesar de ser sinocircnimo do vocaacutebulo ldquoempreacutestimordquo essa palavra soa de forma positiva
Ao verificar a forma de comunicaccedilatildeo com os clientes do empreacutestimo consignado
pode-se perceber que essa substituiccedilatildeo de ldquopalavrasrdquo ocorre com o intuito amenizar o termo
ldquoempreacutestimordquo visto que por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel as pessoas assustam quando
pronunciam a palavra empreacutestimo Para muitos esse termo soa de forma negativa como
pessoas que possuem desorganizaccedilatildeo financeira ou inadimplecircncia Por este fato tanto os
bancaacuterios quanto os estagiaacuterios procuram utilizar vocaacutebulos que suavizem e que soem de uma
forma positiva para o cliente Sendo assim a forma de se comunicar pode alterar a venda de
determinado produto ofertado Mas essa forma de suavizar os termos empregados durante a
venda do serviccedilo financeiro fora de certos limites eacutetico-legais pode ser vista como uma
espeacutecie de ldquoomissatildeordquo do que realmente esses tomadores de creacutedito estatildeo comprando Pois
como jaacute foi retratado de acordo com o CDC os termos devem ser informados de forma clara
ao cliente
Podemos exemplificar de acordo com um entrevistado que afirma utilizar o termo
ldquodinheirinhordquo por ser mais faacutecil dos aposentados e pensionistas entenderem jaacute que muitos
desses clientes possuiacuteam dificuldades sobre o que de fato estavam comprando Aleacutem disso o
bancaacuterio acredita que modo de falar pode alterar a execuccedilatildeo da venda
Tendo em vista os aspectos observados tanto o artifiacutecio linguiacutestico quanto a omissatildeo
das informaccedilotildees pelos bancaacuteriosestagiaacuterios possui objetivos em comum pelas instituiccedilotildees
financeiras na qual visam a obtenccedilatildeo de maiores lucros para essas empresas Aleacutem disso os
bancos satildeo os maiores beneficiados pois natildeo levam em consideraccedilatildeo a isonomia das relaccedilotildees
entre consumidor e fornecedor Portanto conclui-se que em meio a essa relaccedilatildeo o consumidor
eacute parte mais fraca onde seus direitos satildeo violados pelos fornecedores de creacutedito
25
5 CONCLUSAtildeO
O creacutedito consignado eacute um tipo de empreacutestimo recente que vem sendo utilizado com
maior frequecircncia por um determinado puacuteblico (LOPES et al2014) Com isso as instituiccedilotildees
bancaacuterias estatildeo apresentando certo interesse sobre esse ldquonovordquo tipo de puacuteblico em ascensatildeo
Os intermediaacuterios bancaacuterios vecircm buscando formas para atrair os idosos seja atraveacutes das
facilidades da obtenccedilatildeo do creacutedito ou ateacute mesmo no modo de comunicar utilizando de
artifiacutecios de linguagem Em suma os bancos utilizam de praacuteticas de marketing tensionados a
obter vantagens sobre esses consumidores De acordo com o Coacutedigo de Consumidor (CDC)
estes satildeo considerados como vulneraacuteveis
Perante o estudo notou-se que a vulnerabilidade do idoso eacute agravada jaacute que
enquadram como consumidores hipervulneraacuteveis Essa vulnerabilidade acontece atraveacutes das
relaccedilotildees de consumo onde os fornecedores do empreacutestimo tiram proveito do estado em que
esses consumidores se encontram Para que estes cidadatildeos hipervulneraacuteveis sejam amparados
haacute o Estatuto do idoso e Coacutedigo do Consumidor ambos dispotildeem de normas que regem a
relaccedilatildeo entre consumidor-fornecedor Deve-se ressaltar que apesar da existecircncia das
legislaccedilotildees os bancos continuam praticando ldquoexcessosrdquo com os consumidores no momento da
contrataccedilatildeo do creacutedito Eacute relevante a imposiccedilatildeo do Estado visando inibir a lesatildeo do direito
sendo especificado ao idoso
Logo atraveacutes dos resultados da pesquisa pode-se concluir que essa vulnerabilidade
acentuada ocorre atraveacutes de fatores como idade baixa escolaridade e baixo grau de instruccedilatildeo
que interferem nas relaccedilotildees consumeristas isto eacute os contratadores de creacutedito consignado natildeo
possuem domiacutenio para realizar uma compra consciente Sendo assim os consumidores
apresentam limitaccedilotildees sobre o serviccedilo financeiro na qual estaacute adquirindo A partir da anaacutelise
foi possiacutevel verificar atraveacutes dos entrevistados que o puacuteblico idoso natildeo possuiacutea conhecimento
sobre as taxas juros que incidiam sobre as parcelas Aleacutem disso os bancaacuterios afirmavam que
iriam dividir em mais pagamentos para natildeo atrapalhar no orccedilamento mensal do consumidor
Por conseguinte aspectos como estes facilitavam a induzir os idosos a adquirem o creacutedito
mostrando a estes o quatildeo era vantajoso o produto oferecido
Tambeacutem deve-se ressaltar que por se tratar de um puacuteblico com baixo grau de instruccedilatildeo
e alguns analfabetos tanto os bancaacuterios quanto os estagiaacuterios omitiam informaccedilotildees bem
como tambeacutem utilizavam os recursos linguiacutesticos Estas duas formas contribuiacuteram para que as
vendas fossem efetuadas de uma maneira mais raacutepida Uma vez que a forma de falar ou a
26
omissatildeo influenciavam aos idosos comprarem o produto de uma forma irrefletida visto que
esses consumidores acreditavam no que estava sendo falado por parte do fornecedor
Portanto diante da fragilidade do consumidor em questatildeo eacute perceptiacutevel que na
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado boa parte dos idosos muitas vezes natildeo estatildeo acompanhados
por nenhum membro da famiacutelia Desta maneira para os bancaacuteriosestagiaacuterios a forma de
abordar o cliente fica mais acessiacutevel ainda mais por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel com
pouco grau de instruccedilatildeo ou conhecimento Logo situaccedilotildees como estas contribuem para os
fornecedores tirarem proveito do puacuteblico idoso Outro fato que deve ser destacado eacute a
presenccedila do Estado incentivando programas de alfabetizaccedilatildeo financeira independente do fator
idade para que a sociedade no geral saiba ter consciecircncia clareza sobre as relaccedilotildees de
consumo
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29
APEcircNDICE A
Roteiro de Entrevista qualitativa aplicada aos bancaacuterios e seus correspondentes
1 Idade
2 Formaccedilatildeo acadecircmica ( ) Ensino Meacutedio
( ) Superior
3 Haacute quanto tempo vocecirc trabalha ou jaacute trabalhou vendendo serviccedilos financeiros Em
qual cidade Descreva os serviccedilos financeiros que vocecirc mais estava habituado a
venda
4 Fale um pouco sobre as atividades que vocecirc realizava dentro da empresa Me conte
como era o seu dia a dia como era o processo de venda Da captaccedilatildeo do cliente ao
fechamento do contrato ou da venda do serviccedilo DEcirc EXEMPLOS
5 Quais produtos financeiros vocecirc estava ou estaacute mais habituado a vender
Creacutedito consignado creacutedito pessoal seguros empreacutestimos financiamentos
Qual vocecirc eacute mais estimulado a fazer
Tem diferenccedila na venda desses produtos
A abordagem ao cliente muda Quais satildeo mais diferentes
Vocecirc pode descrever para mim cada um deles por favor
Quais produtos satildeo os mais procurados
6 Qual eacute o tipo de puacuteblico que busca pelo empreacutestimo Descreva para mim as
caracteriacutesticas que vocecirc julga como mais marcantes Geralmente satildeo pessoas de que
faixa etaacuteria Satildeo pessoas de classe baixa meacutedia ou alta Satildeo pessoas instruiacutedas
7 Essas pessoas possuem um esclarecimento sobre o que seria esse tipo creacutedito
Compreendem as vantagens e as desvantagens relacionadas ao serviccedilo O que vocecirc
acha disso
8 No momento da contrataccedilatildeo de creacutedito o que eacute falado Como se daacute Todos os temos
do contrato ficam claros Vocecircs bancaacuterios explicitam o que estaacute no contrato Haacute
30
alguma avaliaccedilatildeo criteriosa do perfil do cliente de suas condiccedilotildees financeiras
9 O que vocecirc jaacute verificou por parte das pessoas que tomam esse creacutedito Qual seria os
maiores motivos para a procura do creacutedito consignado
10 Quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito vocecirc concorda com as vantagens oferecidas no
contrato ou acredita que algo deveria ser alterado O que vocecirc natildeo estaria de acordo
11 Qual o limite de desconto mensal da folha de pagamento do trabalhador o banco
oferece Por algum momento o banco excedeu o valor de desconto da folha Comente
essefato
12 Quanto agraves poliacuteticas bancaacuterias proposta pelos bancos para a venda de produtos
financeiros vocecirc concorda Ou algum momento jaacute discordou Discorra sobre o fato
13 Frequentemente vocecircs bancaacuterios satildeo estimulados a bater metas sobre os produtos que
vocecircs oferecem Vocecirc concorda que existe uma certa pressatildeo em vender cada vez mais
produtos Em alguma situaccedilatildeo vocecirc natildeo esteve de acordo como a forma que deveria
induzir os clientes a comprar um produto na qual vocecirc estaria oferecendo
15
caracteriacutesticas comuns Portanto a codificaccedilatildeo e a categorizaccedilatildeo fazem parte da AC
As autoras afirmam que aleacutem das teacutecnicas utilizadas na anaacutelise de conteuacutedo o
pesquisador pode categorizar fragmentos do texto que se repetem atraveacutes de frases ou
expressotildees Atraveacutes disso as entrevistas realizadas com os bancaacuterios foram categorizadas da
seguinte maneira
Categoria I- O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Categoria II- Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Categoria III- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por conseguinte essas respostas foram analisadas com o intuito de verificar como os
consumidores hipervulneraacuteveis satildeo abordados pelos(as) bancaacuterios(as) e quais as praacuteticas que
as instituiccedilotildees financeiras adotam para convencer esse puacuteblico Contudo compreende-se que
por meio das entrevistas pode-se construir consideraccedilotildees em relaccedilatildeo ao objetivo da pesquisa
31 Descriccedilatildeo da Amostra
Para a anaacutelise das praacuteticas de marketing utilizadas pelos intermediaacuterios bancaacuterios
estudaram-se sete bancaacuterios(as) e trecircs estagiaacuterios(as) atuantes na concessatildeo de empreacutestimos
consignados Estes operam nas localidades de Mariana Ouro Preto e Itabirito Em vista disso
para a execuccedilatildeo da pesquisa foi relevante a realizaccedilatildeo de entrevistas a partir desse
pressuposto foi possiacutevel inferir interpretaccedilotildees diversas sobre esses sujeitos no momento da
concessatildeo do creacutedito
As interlocuccedilotildees com os bancaacuterios e seus correspondentes foram marcadas
antecipadamente via celular informando-lhes a data o local a preferir a duraccedilatildeo em meacutedia e
do que se tratava o estudo As entrevistas foram sucedidas no periacuteodo de julho a agosto de
2016 Outro aspecto a ser relatado aos entrevistados sobre o estudo foi a importacircncia destes
para pesquisa visto que o nuacutemero de informaccedilotildees fornecidas possibilitaria uma anaacutelise
satisfatoacuteria para a exploraccedilatildeo do tema O quadro a seguir resume as caracteriacutesticas da amostra
analisada
16
Quadro 1 Caracteriacutesticas da amostra analisada
Bancaacuterios Estagiaacuterios Nomes Fictiacutecios Idade Cidades
B1 Maria Claacuteudia 41 Mariana (MG)
B2 Carlos Eduardo 22 Ouro Preto (MG)
B3 Daniel 25 Ouro Preto (MG)
B4 Leandro 27 Mariana (MG)
B5 Maacutercia 34 Mariana (MG)
B6 Antocircnio 38 Mariana (MG)
B7 Camila 27 Mariana (MG)
E1 Ana Luiacuteza 25 Itabirito (MG)
E2 Marcela 22 Itabirito (MG)
E3 Marcos 24 Ouro Preto (MG)
Fonte Dados da pesquisa
Com relaccedilatildeo a populaccedilatildeo do estudo foram levantados dados buscando alcanccedilar a
quantidade aproximada de bancaacuterios e estagiaacuterios na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e
Itabirito Para a identificaccedilatildeo dos dados foi necessaacuterio entrar em contato via telefone em todas
as agecircncias privadas dessas localidades Atraveacutes do quadro abaixo pode-se concluir o nuacutemero
da populaccedilatildeo desse puacuteblico
Quadro 2 Quantidade da populaccedilatildeo de bancaacuterios e estagiaacuterios
Localidade Bancaacuterios Estagiaacuterios
Mariana 55 3
Ouro Preto 63 3
Itabirito 52 8
TOTAL 170 14
Fonte Dados da pesquisa
Em suma a pesquisa de campo foi desenvolvida nessas localidades visto que esses
municiacutepios possuem um nuacutemero representativo de idosos puacuteblico alvo das instituiccedilotildees
financeiras De acordo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2010) a cidade de
Mariana conta com proximamente 5200 idosos jaacute Ouro Preto possui cerca de 7994 idosos e
Itabirito dispotildee em meacutedia 4998 idosos Por conseguinte surge a iniciativa de analisar os perfis
dos bancaacuterios visando compreender as praacuteticas que estes utilizam para alcanccedilar um maior nuacutemero
de idosos para efetivar a contrataccedilatildeo do creacutedito
17
4 ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
Como explicitado anteriormente a vulnerabilidade do consumidor existe a partir da
relaccedilatildeo entre empresa e cliente E considerando todas as peculiaridades e caracteriacutesticas que
fazem do consumidor de serviccedilos financeiros um consumidor vulneraacutevel esta seccedilatildeo do texto
tem por propoacutesito retratar por meio da apresentaccedilatildeo e anaacutelise dos dados extraiacutedos das
entrevistas realizadas ao longo deste estudo a forma como os bancaacuterios e seus
correspondentes operam na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e Itabirito especialmente no que se
refere ao modo como oferecem e conduzem as negociaccedilotildees de serviccedilos financeiros Quanto agrave
anaacutelise dos resultados o estudo utilizou a categorizaccedilatildeo dos discursos dos entrevistados em I
II III Logo as categorias baseiam-se em fragmentos das interlocuccedilotildees aspectos recorrentes
mencionados pelos bancaacuterios
A seguir satildeo apresentados trechos das falas dos dez respondentes que participaram
desta pesquisa Tais falas foram gravadas durante as entrevistas Os nomes adotados a seguir
para marcar que os trechos transcritos satildeo de falas de diferentes entrevistados satildeo fictiacutecios
Todas as entrevistas foram transcritas respeitando integralmente a linguagem e sinais
transmitidos por cada entrevistado
41 Categoria I
411 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos serviccedilos
financeiros
O analfabetismo e falta de instruccedilatildeo impactam no momento da contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros visto que esse tipo de puacuteblico eacute persuadido pelos bancaacuterios a tomar
determinadas decisotildees pois este natildeo possui informaccedilotildees necessaacuterias sobre o que seria esse
creacutedito o qual estaacute contratando Atraveacutes dos trechos das entrevistas foi possiacutevel identificar
que os bancaacuterios estagiaacuterios influenciam na hora da aquisiccedilatildeo do serviccedilo ateacute mesmo nas
formas como os clientes iratildeo pagar o empreacutestimo O quadro abaixo apresenta trechos da
entrevista que demonstram a falta de conhecimento financeiro dos consumidores do
empreacutestimo consignado
18
Quadro 3 - O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Entrevistados Trechos da entrevista
Maria Claacuteudia ldquoTem muita gente eacute Natildeo tatildeo instruiacuteda gente mais
simples Bom existem vaacuterias pessoas que pegam
aqui com a gente que satildeo analfabetas entendeurdquo
Ana Luiacuteza ldquoMuitas pessoas natildeo satildeo instruiacutedas poucas
pessoas sabem assinar seu proacuteprio nome mas
existem pessoas alfabetizadas simrdquo
ldquoA maioria acredito que natildeo tenha uma noccedilatildeo
esclarecimento ateacute porque quanto mais vezes vocecirc
dividir mais juros incidem e eacute melhor para o
bancordquo
Marcela ldquoEu acho que a grande maioria tinha um grau de
instruccedilatildeo reduzido e isso facilitava na hora de
vender neacuterdquo
ldquoEntatildeo a gente sempre tentava colocar de setenta
e duas vezes ou setenta e cinco satildeo seis anos de
consignado Entatildeo quanto maior o prazo maior a
taxa de juros Agraves vezes vocecirc pegava um capital
um volume muito pequeno e virava pra pessoa e
falava assim -Natildeo Por que aiacute soacute vai descontar
soacute R$3000 reais no seu pagamento e a pessoa natildeo
tinha dimensatildeo que por a gente taacute dividindo
aquele valor pequeninho sai muito grande depois
por conta da taxa que ela aumentava de acordo
com o prazordquo
Carlos Eduardo ldquoO mais comum satildeo pessoas de baixa renda e sem
informaccedilatildeo Exemplo A maioria dos consignados
os clientes nem perguntam as taxas de juros ele
natildeo estaacute preocupado com o prazo ele estaacute
preocupado com o valor da parcela se ele vai
conseguir pagar ou natildeo e o valor que vai sobrar
pra ele vai conseguir passar o mecircsrdquo
Leandro ldquoGrande parte natildeo satildeo instruiacutedas mas eu atendo
mais alta renda entatildeo meus clientes satildeo mais
seletivos eles pegam valores maiores natildeo eacute
qualquer empreacutestimo que ele pega eacute mais para
investimento mesmo ou pra sair de alguma coisardquo
19
Aacutercia ldquoEntatildeo assim muitas vezes as pessoas natildeo vem
com o conhecimento financeiro real eles querem
o imediato querem o empreacutestimo naquele
momento Muita gente natildeo tem a noccedilatildeo de como
vai ficar aquilordquo
Antocircnio ldquoEntatildeo no puacuteblico de menor renda esse
discernimento eacute menos eles olham mais se a
parcela cabe no bolso deles do que no montante
de juros que eles vatildeo pagar no finalrdquo
Fonte Dados da pesquisa
Diante destes dois perfis de consumidores vulneraacuteveis os analfabetos e os com baixa
instruccedilatildeo pode-se verificar por meio das gravaccedilotildees que tanto as pessoas analfabetas e as com
baixa instruccedilatildeo natildeo possuem compreensatildeo suficiente para realizar uma contrataccedilatildeo de creacutedito
A entrevistada Marcela afirma que vender para esse determinado tipo puacuteblico facilitava pelo
fato da falta de conhecimento financeiro
Outra situaccedilatildeo comentada durante a gravaccedilatildeo das entrevistas foi sobre as parcelas dos
empreacutestimos os bancaacuterios e os estagiaacuterios induzem os clientes a dividirem em mais vezes A
entrevistada Marcela tambeacutem afirma que sempre propunha aos seus clientes dividir em
setenta e duas vezes alegando para essas pessoas que o valor iria ldquocaber no bolsordquo Mas na
verdade os bancaacuterios aproveitam do analfabetismo financeiro dos tomadores de creacutedito
visando a lucratividade das instituiccedilotildees financeiras dado que as taxas aumentam de acordo
com prazo
A partir dessa anaacutelise eacute possiacutevel perceber de forma clara as limitaccedilotildees dos idosos no
processo de compra Conforme Chertman (2011 p21) as consequecircncias da idade
ldquopotencializam a vulnerabilidade de compra pela dificuldade de comprar em escala (podendo
negociar preccedilos)rdquo De fato nota-se que a questatildeo do analfabetismo baixa instruccedilatildeo e idade
afetam na tomada de decisatildeo consciente do consumidor
42 Categoria II
421 Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
A informaccedilatildeo no momento da compra eacute essencial para que o cliente natildeo faccedila uma
escolha errocircnea quanto ao produto Em relaccedilatildeo as entrevistas realizadas foi possiacutevel inferir
que na contrataccedilatildeo de creacutedito os bancaacuterios e seus intermediaacuterios natildeo informam o valor da
taxa de juros e acabam focando nos valores das parcelas no prazo e em quantas vezes o
parcelamento ficaraacute Sendo assim os atendentes procuram natildeo informar aos consumidores
20
quanto ficaraacute o valor total do empreacutestimo ao incidirem os juros Atraveacutes do quadro abaixo
pode-se comprovar que no momento da contrataccedilatildeo do creacutedito os bancaacuterios e estagiaacuterios
omitem determinadas informaccedilotildees aos clientes
Quadro 4 - Omissatildeo de informaccedilotildees na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Ana Luiacuteza ldquoNormalmente eu natildeo falo o valor dos juros
dificilmente eu falo o valor do juros soacute falo que
ele eacute mais baixo e informo que independe do que
a aconteccedila na economia brasileira a partir do
momento que a pessoa estaacute fazendo o contrato o
juros nunca vai aumentar que aquele juros e
sempre seraacute aquelerdquo
Marcela ldquoEntatildeo na verdade o que eu aprendi no Banco X
a regra clara Eu tinha que omitir Eu natildeo
precisava mentir mas eu precisava omitir
algumas informaccedilotildees Entatildeo eu abordava o
cliente sempre eacute Buscando saber do sonho dele
para depois eu vender o empreacutestimo Eu tentava
omitir informaccedilotildees como taxas prazo de
pagamento que eram coisas que eu soacute falava se o
cliente me perguntasse Eu achava muito
tranquilo assim vender Eu natildeo tinha muita
dificuldade natildeordquo
ldquoA gente omitia o valor total que o cliente ia
pagar justamente porque se vocecirc falar ele natildeo vai
levar entatildeo eacute A gente omitia e tentava fazer o
cliente fechar a venda na hora Principalmente
quando a venda era no caixa eletrocircnico que era
muito mais faacutecil porque agraves vezes o cliente
fechava a venda ali naquele momento naquele
instante natildeo refletia muito era mais faacutecil vender e
muitas vezes eles tavam sozinho muitas vezes os
aposentados vatildeo para agecircncia sozinho natildeo
estavam acompanhados dos filhos de ningueacutemrdquo
Carlos Eduardo ldquoNo contrato fala dos juros mas eu soacute respondo
quando o cliente perguntardquo
Marcos ldquoQuando o cliente fazia por exemplo um
empreacutestimo a gente falava o valor da parcela
21
quanto que ele vai pegar quando vai descontar do
pagamento falava a taxa de juros tambeacutem mas
acabava que eles nem sabiamrdquo
ldquoSe perguntasse alguma coisa a gente falavardquo
Fonte Dados da pesquisa
Como jaacute foi dito o cliente tem como direito obter informaccedilotildees necessaacuterias do que ele
estaacute adquirindo mas quando isso natildeo ocorre pode-se dizer que estaacute ocorrendo uma omissatildeo
dos fatos O autor Silva (2009 p146) expotildee o art 14 do CDC destacando ldquoo dever de
informaccedilatildeo cuja omissatildeo caracteriza defeito do serviccedilo ensejador do dever de indenizarrdquo
Logo pode-se concluir que quando o cliente natildeo eacute alertado sobre o produto ou serviccedilo e este
causa danos o consumidor deve ser reparado
Diante do que foi explicitado acima pode-se perceber atraveacutes das gravaccedilotildees feitas
quatro entrevistados falaram que natildeo davam as informaccedilotildees necessaacuterias para os contratadores
de creacuteditos A entrevistada Marcela usa o termo ldquoomissatildeordquo ela afirma que agraves vezes era
necessaacuterio omitir para que a venda do empreacutestimo consignado fosse realizada mais
rapidamente Jaacute os demais entrevistados alegam que normalmente natildeo falam as taxas de juros
eles informam as taxas apenas se o cliente perguntar Percebe-se tambeacutem que por se tratar de
um puacuteblico mais vulneraacutevel os bancaacuteriosestagiaacuterios tinham maior facilidade em convencecirc-
los na hora da compra jaacute que grande parte desse puacuteblico natildeo possui instruccedilotildees suficientes
para adquirir esse tipo de produto
Dessa forma eacute expliacutecito que os bancaacuterios e os estagiaacuterios natildeo davam as informaccedilotildees
necessaacuterias aos seus clientes pelo fato de terem que apresentar maior lucratividade aos
bancos Uma vez que como foi relatado por Marcela a instituiccedilatildeo financeira onde trabalhava
alegava que certas informaccedilotildees deveriam ser ldquoomitidasrdquo Dessa forma pode-se evidenciar a
violaccedilatildeo do direito do consumidor
Dentre a vulnerabilidade do consumidor quanto a omissatildeo dos fatos por partes dos
bancaacuterios e seus correspondentes haacute tambeacutem outro recurso utilizado pelos fornecedores o
linguiacutestico Isto eacute satildeo termos palavras usadas que suavizam na hora da contrataccedilatildeo de
creacutedito Pode-se dizer que eacute a comunicaccedilatildeo existente entre o fornecedor e o cliente a fim de
que o primeiro consiga induzir o segundo a comprar seu produto
O marketing de vendas retrata esta relaccedilatildeo citada acima de consumidor e fornecedor
De acordo com Bernardi (2012 p75) ldquoo marketing de vendas possui uma relaccedilatildeo estreita com
o elemento do composto mercadoloacutegico denominado de promoccedilatildeo que se refere a todas as
accedilotildees relativas agrave comunicaccedilatildeo e agrave venda dos produtos de uma organizaccedilatildeordquo
22
Atraveacutes dessa relaccedilatildeo construiacuteda pela comunicaccedilatildeo pode-se verificar por parte das
entrevistas que os bancaacuterios e os estagiaacuterios utilizam de recursos linguiacutesticos para convencer o
cliente a comprar tal produto Isto eacute estes tinham certo cuidado na maneira de falar para que
os clientes se sentissem agrave vontade e consequentemente efetivar a venda do produto
A comunicaccedilatildeo exerce influecircncia na venda de um produto ou seja esse diaacutelogo entre
cliente e fornecedor facilita a compra de um produto por parte do consumidor O autor
Bernardi (2012 p77) acresce o termo merchandising este eacute visto como um dos principais
meacutetodos de marketing associado agrave venda
Eacute um termo que pode ser usado como instrumento de comunicaccedilatildeo que apresenta o
produto ao consumidor e favorece a sua compra Merchandising no entanto eacute criar
um cenaacuterio de um produto serviccedilo ou marca de forma casual Os principais
conceitos do merchandising estatildeo voltados agrave boa estrateacutegia de comunicaccedilatildeo no
ponto de venda pois visa destacar o produto ou serviccedilo buscando assim motivar as
compras por impulso jaacute que possui uma comunicaccedilatildeo muito proacutexima agrave venda
Logo compreende-se que o merchandising eacute uma ferramenta que aproxima o cliente e
o fornecedor atraveacutes da comunicaccedilatildeo
Como jaacute foi mencionado anteriormente a forma de comunicar exerce uma forte
influecircncia no ato da compra Todavia atraveacutes das entrevistas pode-se notar certa preocupaccedilatildeo
em como abordar o cliente ou seja a forma de dialogar com seus clientes Percebeu-se entatildeo
que determinadas palavras eram trocadas por outras como por exemplo o termo
ldquoempreacutestimordquo muitas vezes era substituiacutedo pelo termo ldquodinheirinhordquo ou creacutedito A partir do
quadro abaixo pode-se concluir que a forma de falar eacute utilizada como um artifiacutecio na hora da
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado
23
43 Categoria III
431 Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por se tratar de um puacuteblico de idade com baixo grau de instruccedilatildeo ou ateacute mesmo analfabetos
os bancaacuterios estagiaacuterios se beneficiam dessa relaccedilatildeo A forma de falar induz os consumidores
de serviccedilos financeiros a adquirirem certo produto O Quadro 5 apresenta as respostas
referentes agrave forma de falar dos intermediaacuterios bancaacuterios
Quadro 5- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Marcela ldquoAcredito que para vender esse tipo de produto que eacute
um produto difiacutecil que as pessoas agraves vezes quando
vocecirc fala ldquoempreacutestimordquo a pessoa fica com o peacute atraacutes
entatildeo tem que ser assim Coisas que a gente natildeo usa eacute
falar empreacutestimo natildeo existe no banco entendeu Eacute
um dinheirinho suavizar realmente a expressatildeo
empreacutestimo porque quando vocecirc fala a expressatildeo
empreacutestimo as pessoas se fechamrdquo
ldquoMuitas vezes eles natildeo entendiam o que vocecirc estava
falando entatildeo Ah fulano vocecirc tem um dinheirinho
aqui disponiacutevel para vocecirc pegar aiacute eles perguntavam
Mas vocecirc estaacute me dando esse dinheirordquo
Marcos ldquoOutra coisa o termo empreacutestimo o pessoal mesmo
falava que era uma coisa muito pesada de se dizer a
maioria das pessoas natildeo vecirc com bons olhos entatildeo a
gente falava um dinheirinho pro cliente pois ameniza
um pouco o termo Querendo ou natildeo o modo de falar
influencia um poucordquo
Daniel ldquoEu por exemplo falo creacutedito porque eu tocirc
conversando com o cliente e ele vecirc que tem outras
pessoas em volta agraves vezes eu falar empreacutestimo ele
pode ficar um pouco chateado daquilo nem todo
mundo gosta de ir no banco pra pegar empreacutestimo
gosta de ir laacute para sacar dinheiro Eu prefiro trabalhar
com a palavra creacutedito rdquo
Antocircnio ldquoGeralmente a gente utiliza o termo creacutedito vocecirc tem
um creacutedito aprovado Porque agraves vezes a pessoa tem
ateacute medo resistecircncia em empreacutestimo Geralmente a
24
gente fala que vocecirc tem um creacutedito aprovado e aiacute a
gente fala em qual linha a pessoa tem creacutedito
pessoal financiamento para veiacuteculos financiamento
imobiliaacuterio consignado que eacute o creacutedito que vem da
folha de pagamento Entatildeo a gente normalmente
oferta creacutedito ldquo
Fonte Dados da pesquisa
Conforme alguns entrevistados esses natildeo utilizam o termo correto que eacute ldquoempreacutestimo
consignadordquo Nas gravaccedilotildees os bancaacuterios e seus correspondentes alegam que os clientes tecircm
eacute um ldquodinheirinhordquo disponiacutevel para pegarem no banco Outros afirmam que o vocaacutebulo
empregado por eles eacute o ldquocreacuteditordquo pois ameniza um pouco o termo Este possui o mesmo
significado do primeiro mas para muitos o termo quer dizer credibilidade ldquocreacutedito na praccedilardquo
apesar de ser sinocircnimo do vocaacutebulo ldquoempreacutestimordquo essa palavra soa de forma positiva
Ao verificar a forma de comunicaccedilatildeo com os clientes do empreacutestimo consignado
pode-se perceber que essa substituiccedilatildeo de ldquopalavrasrdquo ocorre com o intuito amenizar o termo
ldquoempreacutestimordquo visto que por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel as pessoas assustam quando
pronunciam a palavra empreacutestimo Para muitos esse termo soa de forma negativa como
pessoas que possuem desorganizaccedilatildeo financeira ou inadimplecircncia Por este fato tanto os
bancaacuterios quanto os estagiaacuterios procuram utilizar vocaacutebulos que suavizem e que soem de uma
forma positiva para o cliente Sendo assim a forma de se comunicar pode alterar a venda de
determinado produto ofertado Mas essa forma de suavizar os termos empregados durante a
venda do serviccedilo financeiro fora de certos limites eacutetico-legais pode ser vista como uma
espeacutecie de ldquoomissatildeordquo do que realmente esses tomadores de creacutedito estatildeo comprando Pois
como jaacute foi retratado de acordo com o CDC os termos devem ser informados de forma clara
ao cliente
Podemos exemplificar de acordo com um entrevistado que afirma utilizar o termo
ldquodinheirinhordquo por ser mais faacutecil dos aposentados e pensionistas entenderem jaacute que muitos
desses clientes possuiacuteam dificuldades sobre o que de fato estavam comprando Aleacutem disso o
bancaacuterio acredita que modo de falar pode alterar a execuccedilatildeo da venda
Tendo em vista os aspectos observados tanto o artifiacutecio linguiacutestico quanto a omissatildeo
das informaccedilotildees pelos bancaacuteriosestagiaacuterios possui objetivos em comum pelas instituiccedilotildees
financeiras na qual visam a obtenccedilatildeo de maiores lucros para essas empresas Aleacutem disso os
bancos satildeo os maiores beneficiados pois natildeo levam em consideraccedilatildeo a isonomia das relaccedilotildees
entre consumidor e fornecedor Portanto conclui-se que em meio a essa relaccedilatildeo o consumidor
eacute parte mais fraca onde seus direitos satildeo violados pelos fornecedores de creacutedito
25
5 CONCLUSAtildeO
O creacutedito consignado eacute um tipo de empreacutestimo recente que vem sendo utilizado com
maior frequecircncia por um determinado puacuteblico (LOPES et al2014) Com isso as instituiccedilotildees
bancaacuterias estatildeo apresentando certo interesse sobre esse ldquonovordquo tipo de puacuteblico em ascensatildeo
Os intermediaacuterios bancaacuterios vecircm buscando formas para atrair os idosos seja atraveacutes das
facilidades da obtenccedilatildeo do creacutedito ou ateacute mesmo no modo de comunicar utilizando de
artifiacutecios de linguagem Em suma os bancos utilizam de praacuteticas de marketing tensionados a
obter vantagens sobre esses consumidores De acordo com o Coacutedigo de Consumidor (CDC)
estes satildeo considerados como vulneraacuteveis
Perante o estudo notou-se que a vulnerabilidade do idoso eacute agravada jaacute que
enquadram como consumidores hipervulneraacuteveis Essa vulnerabilidade acontece atraveacutes das
relaccedilotildees de consumo onde os fornecedores do empreacutestimo tiram proveito do estado em que
esses consumidores se encontram Para que estes cidadatildeos hipervulneraacuteveis sejam amparados
haacute o Estatuto do idoso e Coacutedigo do Consumidor ambos dispotildeem de normas que regem a
relaccedilatildeo entre consumidor-fornecedor Deve-se ressaltar que apesar da existecircncia das
legislaccedilotildees os bancos continuam praticando ldquoexcessosrdquo com os consumidores no momento da
contrataccedilatildeo do creacutedito Eacute relevante a imposiccedilatildeo do Estado visando inibir a lesatildeo do direito
sendo especificado ao idoso
Logo atraveacutes dos resultados da pesquisa pode-se concluir que essa vulnerabilidade
acentuada ocorre atraveacutes de fatores como idade baixa escolaridade e baixo grau de instruccedilatildeo
que interferem nas relaccedilotildees consumeristas isto eacute os contratadores de creacutedito consignado natildeo
possuem domiacutenio para realizar uma compra consciente Sendo assim os consumidores
apresentam limitaccedilotildees sobre o serviccedilo financeiro na qual estaacute adquirindo A partir da anaacutelise
foi possiacutevel verificar atraveacutes dos entrevistados que o puacuteblico idoso natildeo possuiacutea conhecimento
sobre as taxas juros que incidiam sobre as parcelas Aleacutem disso os bancaacuterios afirmavam que
iriam dividir em mais pagamentos para natildeo atrapalhar no orccedilamento mensal do consumidor
Por conseguinte aspectos como estes facilitavam a induzir os idosos a adquirem o creacutedito
mostrando a estes o quatildeo era vantajoso o produto oferecido
Tambeacutem deve-se ressaltar que por se tratar de um puacuteblico com baixo grau de instruccedilatildeo
e alguns analfabetos tanto os bancaacuterios quanto os estagiaacuterios omitiam informaccedilotildees bem
como tambeacutem utilizavam os recursos linguiacutesticos Estas duas formas contribuiacuteram para que as
vendas fossem efetuadas de uma maneira mais raacutepida Uma vez que a forma de falar ou a
26
omissatildeo influenciavam aos idosos comprarem o produto de uma forma irrefletida visto que
esses consumidores acreditavam no que estava sendo falado por parte do fornecedor
Portanto diante da fragilidade do consumidor em questatildeo eacute perceptiacutevel que na
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado boa parte dos idosos muitas vezes natildeo estatildeo acompanhados
por nenhum membro da famiacutelia Desta maneira para os bancaacuteriosestagiaacuterios a forma de
abordar o cliente fica mais acessiacutevel ainda mais por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel com
pouco grau de instruccedilatildeo ou conhecimento Logo situaccedilotildees como estas contribuem para os
fornecedores tirarem proveito do puacuteblico idoso Outro fato que deve ser destacado eacute a
presenccedila do Estado incentivando programas de alfabetizaccedilatildeo financeira independente do fator
idade para que a sociedade no geral saiba ter consciecircncia clareza sobre as relaccedilotildees de
consumo
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29
APEcircNDICE A
Roteiro de Entrevista qualitativa aplicada aos bancaacuterios e seus correspondentes
1 Idade
2 Formaccedilatildeo acadecircmica ( ) Ensino Meacutedio
( ) Superior
3 Haacute quanto tempo vocecirc trabalha ou jaacute trabalhou vendendo serviccedilos financeiros Em
qual cidade Descreva os serviccedilos financeiros que vocecirc mais estava habituado a
venda
4 Fale um pouco sobre as atividades que vocecirc realizava dentro da empresa Me conte
como era o seu dia a dia como era o processo de venda Da captaccedilatildeo do cliente ao
fechamento do contrato ou da venda do serviccedilo DEcirc EXEMPLOS
5 Quais produtos financeiros vocecirc estava ou estaacute mais habituado a vender
Creacutedito consignado creacutedito pessoal seguros empreacutestimos financiamentos
Qual vocecirc eacute mais estimulado a fazer
Tem diferenccedila na venda desses produtos
A abordagem ao cliente muda Quais satildeo mais diferentes
Vocecirc pode descrever para mim cada um deles por favor
Quais produtos satildeo os mais procurados
6 Qual eacute o tipo de puacuteblico que busca pelo empreacutestimo Descreva para mim as
caracteriacutesticas que vocecirc julga como mais marcantes Geralmente satildeo pessoas de que
faixa etaacuteria Satildeo pessoas de classe baixa meacutedia ou alta Satildeo pessoas instruiacutedas
7 Essas pessoas possuem um esclarecimento sobre o que seria esse tipo creacutedito
Compreendem as vantagens e as desvantagens relacionadas ao serviccedilo O que vocecirc
acha disso
8 No momento da contrataccedilatildeo de creacutedito o que eacute falado Como se daacute Todos os temos
do contrato ficam claros Vocecircs bancaacuterios explicitam o que estaacute no contrato Haacute
30
alguma avaliaccedilatildeo criteriosa do perfil do cliente de suas condiccedilotildees financeiras
9 O que vocecirc jaacute verificou por parte das pessoas que tomam esse creacutedito Qual seria os
maiores motivos para a procura do creacutedito consignado
10 Quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito vocecirc concorda com as vantagens oferecidas no
contrato ou acredita que algo deveria ser alterado O que vocecirc natildeo estaria de acordo
11 Qual o limite de desconto mensal da folha de pagamento do trabalhador o banco
oferece Por algum momento o banco excedeu o valor de desconto da folha Comente
essefato
12 Quanto agraves poliacuteticas bancaacuterias proposta pelos bancos para a venda de produtos
financeiros vocecirc concorda Ou algum momento jaacute discordou Discorra sobre o fato
13 Frequentemente vocecircs bancaacuterios satildeo estimulados a bater metas sobre os produtos que
vocecircs oferecem Vocecirc concorda que existe uma certa pressatildeo em vender cada vez mais
produtos Em alguma situaccedilatildeo vocecirc natildeo esteve de acordo como a forma que deveria
induzir os clientes a comprar um produto na qual vocecirc estaria oferecendo
16
Quadro 1 Caracteriacutesticas da amostra analisada
Bancaacuterios Estagiaacuterios Nomes Fictiacutecios Idade Cidades
B1 Maria Claacuteudia 41 Mariana (MG)
B2 Carlos Eduardo 22 Ouro Preto (MG)
B3 Daniel 25 Ouro Preto (MG)
B4 Leandro 27 Mariana (MG)
B5 Maacutercia 34 Mariana (MG)
B6 Antocircnio 38 Mariana (MG)
B7 Camila 27 Mariana (MG)
E1 Ana Luiacuteza 25 Itabirito (MG)
E2 Marcela 22 Itabirito (MG)
E3 Marcos 24 Ouro Preto (MG)
Fonte Dados da pesquisa
Com relaccedilatildeo a populaccedilatildeo do estudo foram levantados dados buscando alcanccedilar a
quantidade aproximada de bancaacuterios e estagiaacuterios na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e
Itabirito Para a identificaccedilatildeo dos dados foi necessaacuterio entrar em contato via telefone em todas
as agecircncias privadas dessas localidades Atraveacutes do quadro abaixo pode-se concluir o nuacutemero
da populaccedilatildeo desse puacuteblico
Quadro 2 Quantidade da populaccedilatildeo de bancaacuterios e estagiaacuterios
Localidade Bancaacuterios Estagiaacuterios
Mariana 55 3
Ouro Preto 63 3
Itabirito 52 8
TOTAL 170 14
Fonte Dados da pesquisa
Em suma a pesquisa de campo foi desenvolvida nessas localidades visto que esses
municiacutepios possuem um nuacutemero representativo de idosos puacuteblico alvo das instituiccedilotildees
financeiras De acordo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2010) a cidade de
Mariana conta com proximamente 5200 idosos jaacute Ouro Preto possui cerca de 7994 idosos e
Itabirito dispotildee em meacutedia 4998 idosos Por conseguinte surge a iniciativa de analisar os perfis
dos bancaacuterios visando compreender as praacuteticas que estes utilizam para alcanccedilar um maior nuacutemero
de idosos para efetivar a contrataccedilatildeo do creacutedito
17
4 ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
Como explicitado anteriormente a vulnerabilidade do consumidor existe a partir da
relaccedilatildeo entre empresa e cliente E considerando todas as peculiaridades e caracteriacutesticas que
fazem do consumidor de serviccedilos financeiros um consumidor vulneraacutevel esta seccedilatildeo do texto
tem por propoacutesito retratar por meio da apresentaccedilatildeo e anaacutelise dos dados extraiacutedos das
entrevistas realizadas ao longo deste estudo a forma como os bancaacuterios e seus
correspondentes operam na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e Itabirito especialmente no que se
refere ao modo como oferecem e conduzem as negociaccedilotildees de serviccedilos financeiros Quanto agrave
anaacutelise dos resultados o estudo utilizou a categorizaccedilatildeo dos discursos dos entrevistados em I
II III Logo as categorias baseiam-se em fragmentos das interlocuccedilotildees aspectos recorrentes
mencionados pelos bancaacuterios
A seguir satildeo apresentados trechos das falas dos dez respondentes que participaram
desta pesquisa Tais falas foram gravadas durante as entrevistas Os nomes adotados a seguir
para marcar que os trechos transcritos satildeo de falas de diferentes entrevistados satildeo fictiacutecios
Todas as entrevistas foram transcritas respeitando integralmente a linguagem e sinais
transmitidos por cada entrevistado
41 Categoria I
411 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos serviccedilos
financeiros
O analfabetismo e falta de instruccedilatildeo impactam no momento da contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros visto que esse tipo de puacuteblico eacute persuadido pelos bancaacuterios a tomar
determinadas decisotildees pois este natildeo possui informaccedilotildees necessaacuterias sobre o que seria esse
creacutedito o qual estaacute contratando Atraveacutes dos trechos das entrevistas foi possiacutevel identificar
que os bancaacuterios estagiaacuterios influenciam na hora da aquisiccedilatildeo do serviccedilo ateacute mesmo nas
formas como os clientes iratildeo pagar o empreacutestimo O quadro abaixo apresenta trechos da
entrevista que demonstram a falta de conhecimento financeiro dos consumidores do
empreacutestimo consignado
18
Quadro 3 - O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Entrevistados Trechos da entrevista
Maria Claacuteudia ldquoTem muita gente eacute Natildeo tatildeo instruiacuteda gente mais
simples Bom existem vaacuterias pessoas que pegam
aqui com a gente que satildeo analfabetas entendeurdquo
Ana Luiacuteza ldquoMuitas pessoas natildeo satildeo instruiacutedas poucas
pessoas sabem assinar seu proacuteprio nome mas
existem pessoas alfabetizadas simrdquo
ldquoA maioria acredito que natildeo tenha uma noccedilatildeo
esclarecimento ateacute porque quanto mais vezes vocecirc
dividir mais juros incidem e eacute melhor para o
bancordquo
Marcela ldquoEu acho que a grande maioria tinha um grau de
instruccedilatildeo reduzido e isso facilitava na hora de
vender neacuterdquo
ldquoEntatildeo a gente sempre tentava colocar de setenta
e duas vezes ou setenta e cinco satildeo seis anos de
consignado Entatildeo quanto maior o prazo maior a
taxa de juros Agraves vezes vocecirc pegava um capital
um volume muito pequeno e virava pra pessoa e
falava assim -Natildeo Por que aiacute soacute vai descontar
soacute R$3000 reais no seu pagamento e a pessoa natildeo
tinha dimensatildeo que por a gente taacute dividindo
aquele valor pequeninho sai muito grande depois
por conta da taxa que ela aumentava de acordo
com o prazordquo
Carlos Eduardo ldquoO mais comum satildeo pessoas de baixa renda e sem
informaccedilatildeo Exemplo A maioria dos consignados
os clientes nem perguntam as taxas de juros ele
natildeo estaacute preocupado com o prazo ele estaacute
preocupado com o valor da parcela se ele vai
conseguir pagar ou natildeo e o valor que vai sobrar
pra ele vai conseguir passar o mecircsrdquo
Leandro ldquoGrande parte natildeo satildeo instruiacutedas mas eu atendo
mais alta renda entatildeo meus clientes satildeo mais
seletivos eles pegam valores maiores natildeo eacute
qualquer empreacutestimo que ele pega eacute mais para
investimento mesmo ou pra sair de alguma coisardquo
19
Aacutercia ldquoEntatildeo assim muitas vezes as pessoas natildeo vem
com o conhecimento financeiro real eles querem
o imediato querem o empreacutestimo naquele
momento Muita gente natildeo tem a noccedilatildeo de como
vai ficar aquilordquo
Antocircnio ldquoEntatildeo no puacuteblico de menor renda esse
discernimento eacute menos eles olham mais se a
parcela cabe no bolso deles do que no montante
de juros que eles vatildeo pagar no finalrdquo
Fonte Dados da pesquisa
Diante destes dois perfis de consumidores vulneraacuteveis os analfabetos e os com baixa
instruccedilatildeo pode-se verificar por meio das gravaccedilotildees que tanto as pessoas analfabetas e as com
baixa instruccedilatildeo natildeo possuem compreensatildeo suficiente para realizar uma contrataccedilatildeo de creacutedito
A entrevistada Marcela afirma que vender para esse determinado tipo puacuteblico facilitava pelo
fato da falta de conhecimento financeiro
Outra situaccedilatildeo comentada durante a gravaccedilatildeo das entrevistas foi sobre as parcelas dos
empreacutestimos os bancaacuterios e os estagiaacuterios induzem os clientes a dividirem em mais vezes A
entrevistada Marcela tambeacutem afirma que sempre propunha aos seus clientes dividir em
setenta e duas vezes alegando para essas pessoas que o valor iria ldquocaber no bolsordquo Mas na
verdade os bancaacuterios aproveitam do analfabetismo financeiro dos tomadores de creacutedito
visando a lucratividade das instituiccedilotildees financeiras dado que as taxas aumentam de acordo
com prazo
A partir dessa anaacutelise eacute possiacutevel perceber de forma clara as limitaccedilotildees dos idosos no
processo de compra Conforme Chertman (2011 p21) as consequecircncias da idade
ldquopotencializam a vulnerabilidade de compra pela dificuldade de comprar em escala (podendo
negociar preccedilos)rdquo De fato nota-se que a questatildeo do analfabetismo baixa instruccedilatildeo e idade
afetam na tomada de decisatildeo consciente do consumidor
42 Categoria II
421 Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
A informaccedilatildeo no momento da compra eacute essencial para que o cliente natildeo faccedila uma
escolha errocircnea quanto ao produto Em relaccedilatildeo as entrevistas realizadas foi possiacutevel inferir
que na contrataccedilatildeo de creacutedito os bancaacuterios e seus intermediaacuterios natildeo informam o valor da
taxa de juros e acabam focando nos valores das parcelas no prazo e em quantas vezes o
parcelamento ficaraacute Sendo assim os atendentes procuram natildeo informar aos consumidores
20
quanto ficaraacute o valor total do empreacutestimo ao incidirem os juros Atraveacutes do quadro abaixo
pode-se comprovar que no momento da contrataccedilatildeo do creacutedito os bancaacuterios e estagiaacuterios
omitem determinadas informaccedilotildees aos clientes
Quadro 4 - Omissatildeo de informaccedilotildees na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Ana Luiacuteza ldquoNormalmente eu natildeo falo o valor dos juros
dificilmente eu falo o valor do juros soacute falo que
ele eacute mais baixo e informo que independe do que
a aconteccedila na economia brasileira a partir do
momento que a pessoa estaacute fazendo o contrato o
juros nunca vai aumentar que aquele juros e
sempre seraacute aquelerdquo
Marcela ldquoEntatildeo na verdade o que eu aprendi no Banco X
a regra clara Eu tinha que omitir Eu natildeo
precisava mentir mas eu precisava omitir
algumas informaccedilotildees Entatildeo eu abordava o
cliente sempre eacute Buscando saber do sonho dele
para depois eu vender o empreacutestimo Eu tentava
omitir informaccedilotildees como taxas prazo de
pagamento que eram coisas que eu soacute falava se o
cliente me perguntasse Eu achava muito
tranquilo assim vender Eu natildeo tinha muita
dificuldade natildeordquo
ldquoA gente omitia o valor total que o cliente ia
pagar justamente porque se vocecirc falar ele natildeo vai
levar entatildeo eacute A gente omitia e tentava fazer o
cliente fechar a venda na hora Principalmente
quando a venda era no caixa eletrocircnico que era
muito mais faacutecil porque agraves vezes o cliente
fechava a venda ali naquele momento naquele
instante natildeo refletia muito era mais faacutecil vender e
muitas vezes eles tavam sozinho muitas vezes os
aposentados vatildeo para agecircncia sozinho natildeo
estavam acompanhados dos filhos de ningueacutemrdquo
Carlos Eduardo ldquoNo contrato fala dos juros mas eu soacute respondo
quando o cliente perguntardquo
Marcos ldquoQuando o cliente fazia por exemplo um
empreacutestimo a gente falava o valor da parcela
21
quanto que ele vai pegar quando vai descontar do
pagamento falava a taxa de juros tambeacutem mas
acabava que eles nem sabiamrdquo
ldquoSe perguntasse alguma coisa a gente falavardquo
Fonte Dados da pesquisa
Como jaacute foi dito o cliente tem como direito obter informaccedilotildees necessaacuterias do que ele
estaacute adquirindo mas quando isso natildeo ocorre pode-se dizer que estaacute ocorrendo uma omissatildeo
dos fatos O autor Silva (2009 p146) expotildee o art 14 do CDC destacando ldquoo dever de
informaccedilatildeo cuja omissatildeo caracteriza defeito do serviccedilo ensejador do dever de indenizarrdquo
Logo pode-se concluir que quando o cliente natildeo eacute alertado sobre o produto ou serviccedilo e este
causa danos o consumidor deve ser reparado
Diante do que foi explicitado acima pode-se perceber atraveacutes das gravaccedilotildees feitas
quatro entrevistados falaram que natildeo davam as informaccedilotildees necessaacuterias para os contratadores
de creacuteditos A entrevistada Marcela usa o termo ldquoomissatildeordquo ela afirma que agraves vezes era
necessaacuterio omitir para que a venda do empreacutestimo consignado fosse realizada mais
rapidamente Jaacute os demais entrevistados alegam que normalmente natildeo falam as taxas de juros
eles informam as taxas apenas se o cliente perguntar Percebe-se tambeacutem que por se tratar de
um puacuteblico mais vulneraacutevel os bancaacuteriosestagiaacuterios tinham maior facilidade em convencecirc-
los na hora da compra jaacute que grande parte desse puacuteblico natildeo possui instruccedilotildees suficientes
para adquirir esse tipo de produto
Dessa forma eacute expliacutecito que os bancaacuterios e os estagiaacuterios natildeo davam as informaccedilotildees
necessaacuterias aos seus clientes pelo fato de terem que apresentar maior lucratividade aos
bancos Uma vez que como foi relatado por Marcela a instituiccedilatildeo financeira onde trabalhava
alegava que certas informaccedilotildees deveriam ser ldquoomitidasrdquo Dessa forma pode-se evidenciar a
violaccedilatildeo do direito do consumidor
Dentre a vulnerabilidade do consumidor quanto a omissatildeo dos fatos por partes dos
bancaacuterios e seus correspondentes haacute tambeacutem outro recurso utilizado pelos fornecedores o
linguiacutestico Isto eacute satildeo termos palavras usadas que suavizam na hora da contrataccedilatildeo de
creacutedito Pode-se dizer que eacute a comunicaccedilatildeo existente entre o fornecedor e o cliente a fim de
que o primeiro consiga induzir o segundo a comprar seu produto
O marketing de vendas retrata esta relaccedilatildeo citada acima de consumidor e fornecedor
De acordo com Bernardi (2012 p75) ldquoo marketing de vendas possui uma relaccedilatildeo estreita com
o elemento do composto mercadoloacutegico denominado de promoccedilatildeo que se refere a todas as
accedilotildees relativas agrave comunicaccedilatildeo e agrave venda dos produtos de uma organizaccedilatildeordquo
22
Atraveacutes dessa relaccedilatildeo construiacuteda pela comunicaccedilatildeo pode-se verificar por parte das
entrevistas que os bancaacuterios e os estagiaacuterios utilizam de recursos linguiacutesticos para convencer o
cliente a comprar tal produto Isto eacute estes tinham certo cuidado na maneira de falar para que
os clientes se sentissem agrave vontade e consequentemente efetivar a venda do produto
A comunicaccedilatildeo exerce influecircncia na venda de um produto ou seja esse diaacutelogo entre
cliente e fornecedor facilita a compra de um produto por parte do consumidor O autor
Bernardi (2012 p77) acresce o termo merchandising este eacute visto como um dos principais
meacutetodos de marketing associado agrave venda
Eacute um termo que pode ser usado como instrumento de comunicaccedilatildeo que apresenta o
produto ao consumidor e favorece a sua compra Merchandising no entanto eacute criar
um cenaacuterio de um produto serviccedilo ou marca de forma casual Os principais
conceitos do merchandising estatildeo voltados agrave boa estrateacutegia de comunicaccedilatildeo no
ponto de venda pois visa destacar o produto ou serviccedilo buscando assim motivar as
compras por impulso jaacute que possui uma comunicaccedilatildeo muito proacutexima agrave venda
Logo compreende-se que o merchandising eacute uma ferramenta que aproxima o cliente e
o fornecedor atraveacutes da comunicaccedilatildeo
Como jaacute foi mencionado anteriormente a forma de comunicar exerce uma forte
influecircncia no ato da compra Todavia atraveacutes das entrevistas pode-se notar certa preocupaccedilatildeo
em como abordar o cliente ou seja a forma de dialogar com seus clientes Percebeu-se entatildeo
que determinadas palavras eram trocadas por outras como por exemplo o termo
ldquoempreacutestimordquo muitas vezes era substituiacutedo pelo termo ldquodinheirinhordquo ou creacutedito A partir do
quadro abaixo pode-se concluir que a forma de falar eacute utilizada como um artifiacutecio na hora da
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado
23
43 Categoria III
431 Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por se tratar de um puacuteblico de idade com baixo grau de instruccedilatildeo ou ateacute mesmo analfabetos
os bancaacuterios estagiaacuterios se beneficiam dessa relaccedilatildeo A forma de falar induz os consumidores
de serviccedilos financeiros a adquirirem certo produto O Quadro 5 apresenta as respostas
referentes agrave forma de falar dos intermediaacuterios bancaacuterios
Quadro 5- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Marcela ldquoAcredito que para vender esse tipo de produto que eacute
um produto difiacutecil que as pessoas agraves vezes quando
vocecirc fala ldquoempreacutestimordquo a pessoa fica com o peacute atraacutes
entatildeo tem que ser assim Coisas que a gente natildeo usa eacute
falar empreacutestimo natildeo existe no banco entendeu Eacute
um dinheirinho suavizar realmente a expressatildeo
empreacutestimo porque quando vocecirc fala a expressatildeo
empreacutestimo as pessoas se fechamrdquo
ldquoMuitas vezes eles natildeo entendiam o que vocecirc estava
falando entatildeo Ah fulano vocecirc tem um dinheirinho
aqui disponiacutevel para vocecirc pegar aiacute eles perguntavam
Mas vocecirc estaacute me dando esse dinheirordquo
Marcos ldquoOutra coisa o termo empreacutestimo o pessoal mesmo
falava que era uma coisa muito pesada de se dizer a
maioria das pessoas natildeo vecirc com bons olhos entatildeo a
gente falava um dinheirinho pro cliente pois ameniza
um pouco o termo Querendo ou natildeo o modo de falar
influencia um poucordquo
Daniel ldquoEu por exemplo falo creacutedito porque eu tocirc
conversando com o cliente e ele vecirc que tem outras
pessoas em volta agraves vezes eu falar empreacutestimo ele
pode ficar um pouco chateado daquilo nem todo
mundo gosta de ir no banco pra pegar empreacutestimo
gosta de ir laacute para sacar dinheiro Eu prefiro trabalhar
com a palavra creacutedito rdquo
Antocircnio ldquoGeralmente a gente utiliza o termo creacutedito vocecirc tem
um creacutedito aprovado Porque agraves vezes a pessoa tem
ateacute medo resistecircncia em empreacutestimo Geralmente a
24
gente fala que vocecirc tem um creacutedito aprovado e aiacute a
gente fala em qual linha a pessoa tem creacutedito
pessoal financiamento para veiacuteculos financiamento
imobiliaacuterio consignado que eacute o creacutedito que vem da
folha de pagamento Entatildeo a gente normalmente
oferta creacutedito ldquo
Fonte Dados da pesquisa
Conforme alguns entrevistados esses natildeo utilizam o termo correto que eacute ldquoempreacutestimo
consignadordquo Nas gravaccedilotildees os bancaacuterios e seus correspondentes alegam que os clientes tecircm
eacute um ldquodinheirinhordquo disponiacutevel para pegarem no banco Outros afirmam que o vocaacutebulo
empregado por eles eacute o ldquocreacuteditordquo pois ameniza um pouco o termo Este possui o mesmo
significado do primeiro mas para muitos o termo quer dizer credibilidade ldquocreacutedito na praccedilardquo
apesar de ser sinocircnimo do vocaacutebulo ldquoempreacutestimordquo essa palavra soa de forma positiva
Ao verificar a forma de comunicaccedilatildeo com os clientes do empreacutestimo consignado
pode-se perceber que essa substituiccedilatildeo de ldquopalavrasrdquo ocorre com o intuito amenizar o termo
ldquoempreacutestimordquo visto que por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel as pessoas assustam quando
pronunciam a palavra empreacutestimo Para muitos esse termo soa de forma negativa como
pessoas que possuem desorganizaccedilatildeo financeira ou inadimplecircncia Por este fato tanto os
bancaacuterios quanto os estagiaacuterios procuram utilizar vocaacutebulos que suavizem e que soem de uma
forma positiva para o cliente Sendo assim a forma de se comunicar pode alterar a venda de
determinado produto ofertado Mas essa forma de suavizar os termos empregados durante a
venda do serviccedilo financeiro fora de certos limites eacutetico-legais pode ser vista como uma
espeacutecie de ldquoomissatildeordquo do que realmente esses tomadores de creacutedito estatildeo comprando Pois
como jaacute foi retratado de acordo com o CDC os termos devem ser informados de forma clara
ao cliente
Podemos exemplificar de acordo com um entrevistado que afirma utilizar o termo
ldquodinheirinhordquo por ser mais faacutecil dos aposentados e pensionistas entenderem jaacute que muitos
desses clientes possuiacuteam dificuldades sobre o que de fato estavam comprando Aleacutem disso o
bancaacuterio acredita que modo de falar pode alterar a execuccedilatildeo da venda
Tendo em vista os aspectos observados tanto o artifiacutecio linguiacutestico quanto a omissatildeo
das informaccedilotildees pelos bancaacuteriosestagiaacuterios possui objetivos em comum pelas instituiccedilotildees
financeiras na qual visam a obtenccedilatildeo de maiores lucros para essas empresas Aleacutem disso os
bancos satildeo os maiores beneficiados pois natildeo levam em consideraccedilatildeo a isonomia das relaccedilotildees
entre consumidor e fornecedor Portanto conclui-se que em meio a essa relaccedilatildeo o consumidor
eacute parte mais fraca onde seus direitos satildeo violados pelos fornecedores de creacutedito
25
5 CONCLUSAtildeO
O creacutedito consignado eacute um tipo de empreacutestimo recente que vem sendo utilizado com
maior frequecircncia por um determinado puacuteblico (LOPES et al2014) Com isso as instituiccedilotildees
bancaacuterias estatildeo apresentando certo interesse sobre esse ldquonovordquo tipo de puacuteblico em ascensatildeo
Os intermediaacuterios bancaacuterios vecircm buscando formas para atrair os idosos seja atraveacutes das
facilidades da obtenccedilatildeo do creacutedito ou ateacute mesmo no modo de comunicar utilizando de
artifiacutecios de linguagem Em suma os bancos utilizam de praacuteticas de marketing tensionados a
obter vantagens sobre esses consumidores De acordo com o Coacutedigo de Consumidor (CDC)
estes satildeo considerados como vulneraacuteveis
Perante o estudo notou-se que a vulnerabilidade do idoso eacute agravada jaacute que
enquadram como consumidores hipervulneraacuteveis Essa vulnerabilidade acontece atraveacutes das
relaccedilotildees de consumo onde os fornecedores do empreacutestimo tiram proveito do estado em que
esses consumidores se encontram Para que estes cidadatildeos hipervulneraacuteveis sejam amparados
haacute o Estatuto do idoso e Coacutedigo do Consumidor ambos dispotildeem de normas que regem a
relaccedilatildeo entre consumidor-fornecedor Deve-se ressaltar que apesar da existecircncia das
legislaccedilotildees os bancos continuam praticando ldquoexcessosrdquo com os consumidores no momento da
contrataccedilatildeo do creacutedito Eacute relevante a imposiccedilatildeo do Estado visando inibir a lesatildeo do direito
sendo especificado ao idoso
Logo atraveacutes dos resultados da pesquisa pode-se concluir que essa vulnerabilidade
acentuada ocorre atraveacutes de fatores como idade baixa escolaridade e baixo grau de instruccedilatildeo
que interferem nas relaccedilotildees consumeristas isto eacute os contratadores de creacutedito consignado natildeo
possuem domiacutenio para realizar uma compra consciente Sendo assim os consumidores
apresentam limitaccedilotildees sobre o serviccedilo financeiro na qual estaacute adquirindo A partir da anaacutelise
foi possiacutevel verificar atraveacutes dos entrevistados que o puacuteblico idoso natildeo possuiacutea conhecimento
sobre as taxas juros que incidiam sobre as parcelas Aleacutem disso os bancaacuterios afirmavam que
iriam dividir em mais pagamentos para natildeo atrapalhar no orccedilamento mensal do consumidor
Por conseguinte aspectos como estes facilitavam a induzir os idosos a adquirem o creacutedito
mostrando a estes o quatildeo era vantajoso o produto oferecido
Tambeacutem deve-se ressaltar que por se tratar de um puacuteblico com baixo grau de instruccedilatildeo
e alguns analfabetos tanto os bancaacuterios quanto os estagiaacuterios omitiam informaccedilotildees bem
como tambeacutem utilizavam os recursos linguiacutesticos Estas duas formas contribuiacuteram para que as
vendas fossem efetuadas de uma maneira mais raacutepida Uma vez que a forma de falar ou a
26
omissatildeo influenciavam aos idosos comprarem o produto de uma forma irrefletida visto que
esses consumidores acreditavam no que estava sendo falado por parte do fornecedor
Portanto diante da fragilidade do consumidor em questatildeo eacute perceptiacutevel que na
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado boa parte dos idosos muitas vezes natildeo estatildeo acompanhados
por nenhum membro da famiacutelia Desta maneira para os bancaacuteriosestagiaacuterios a forma de
abordar o cliente fica mais acessiacutevel ainda mais por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel com
pouco grau de instruccedilatildeo ou conhecimento Logo situaccedilotildees como estas contribuem para os
fornecedores tirarem proveito do puacuteblico idoso Outro fato que deve ser destacado eacute a
presenccedila do Estado incentivando programas de alfabetizaccedilatildeo financeira independente do fator
idade para que a sociedade no geral saiba ter consciecircncia clareza sobre as relaccedilotildees de
consumo
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29
APEcircNDICE A
Roteiro de Entrevista qualitativa aplicada aos bancaacuterios e seus correspondentes
1 Idade
2 Formaccedilatildeo acadecircmica ( ) Ensino Meacutedio
( ) Superior
3 Haacute quanto tempo vocecirc trabalha ou jaacute trabalhou vendendo serviccedilos financeiros Em
qual cidade Descreva os serviccedilos financeiros que vocecirc mais estava habituado a
venda
4 Fale um pouco sobre as atividades que vocecirc realizava dentro da empresa Me conte
como era o seu dia a dia como era o processo de venda Da captaccedilatildeo do cliente ao
fechamento do contrato ou da venda do serviccedilo DEcirc EXEMPLOS
5 Quais produtos financeiros vocecirc estava ou estaacute mais habituado a vender
Creacutedito consignado creacutedito pessoal seguros empreacutestimos financiamentos
Qual vocecirc eacute mais estimulado a fazer
Tem diferenccedila na venda desses produtos
A abordagem ao cliente muda Quais satildeo mais diferentes
Vocecirc pode descrever para mim cada um deles por favor
Quais produtos satildeo os mais procurados
6 Qual eacute o tipo de puacuteblico que busca pelo empreacutestimo Descreva para mim as
caracteriacutesticas que vocecirc julga como mais marcantes Geralmente satildeo pessoas de que
faixa etaacuteria Satildeo pessoas de classe baixa meacutedia ou alta Satildeo pessoas instruiacutedas
7 Essas pessoas possuem um esclarecimento sobre o que seria esse tipo creacutedito
Compreendem as vantagens e as desvantagens relacionadas ao serviccedilo O que vocecirc
acha disso
8 No momento da contrataccedilatildeo de creacutedito o que eacute falado Como se daacute Todos os temos
do contrato ficam claros Vocecircs bancaacuterios explicitam o que estaacute no contrato Haacute
30
alguma avaliaccedilatildeo criteriosa do perfil do cliente de suas condiccedilotildees financeiras
9 O que vocecirc jaacute verificou por parte das pessoas que tomam esse creacutedito Qual seria os
maiores motivos para a procura do creacutedito consignado
10 Quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito vocecirc concorda com as vantagens oferecidas no
contrato ou acredita que algo deveria ser alterado O que vocecirc natildeo estaria de acordo
11 Qual o limite de desconto mensal da folha de pagamento do trabalhador o banco
oferece Por algum momento o banco excedeu o valor de desconto da folha Comente
essefato
12 Quanto agraves poliacuteticas bancaacuterias proposta pelos bancos para a venda de produtos
financeiros vocecirc concorda Ou algum momento jaacute discordou Discorra sobre o fato
13 Frequentemente vocecircs bancaacuterios satildeo estimulados a bater metas sobre os produtos que
vocecircs oferecem Vocecirc concorda que existe uma certa pressatildeo em vender cada vez mais
produtos Em alguma situaccedilatildeo vocecirc natildeo esteve de acordo como a forma que deveria
induzir os clientes a comprar um produto na qual vocecirc estaria oferecendo
17
4 ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
Como explicitado anteriormente a vulnerabilidade do consumidor existe a partir da
relaccedilatildeo entre empresa e cliente E considerando todas as peculiaridades e caracteriacutesticas que
fazem do consumidor de serviccedilos financeiros um consumidor vulneraacutevel esta seccedilatildeo do texto
tem por propoacutesito retratar por meio da apresentaccedilatildeo e anaacutelise dos dados extraiacutedos das
entrevistas realizadas ao longo deste estudo a forma como os bancaacuterios e seus
correspondentes operam na regiatildeo de Mariana Ouro Preto e Itabirito especialmente no que se
refere ao modo como oferecem e conduzem as negociaccedilotildees de serviccedilos financeiros Quanto agrave
anaacutelise dos resultados o estudo utilizou a categorizaccedilatildeo dos discursos dos entrevistados em I
II III Logo as categorias baseiam-se em fragmentos das interlocuccedilotildees aspectos recorrentes
mencionados pelos bancaacuterios
A seguir satildeo apresentados trechos das falas dos dez respondentes que participaram
desta pesquisa Tais falas foram gravadas durante as entrevistas Os nomes adotados a seguir
para marcar que os trechos transcritos satildeo de falas de diferentes entrevistados satildeo fictiacutecios
Todas as entrevistas foram transcritas respeitando integralmente a linguagem e sinais
transmitidos por cada entrevistado
41 Categoria I
411 O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos serviccedilos
financeiros
O analfabetismo e falta de instruccedilatildeo impactam no momento da contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros visto que esse tipo de puacuteblico eacute persuadido pelos bancaacuterios a tomar
determinadas decisotildees pois este natildeo possui informaccedilotildees necessaacuterias sobre o que seria esse
creacutedito o qual estaacute contratando Atraveacutes dos trechos das entrevistas foi possiacutevel identificar
que os bancaacuterios estagiaacuterios influenciam na hora da aquisiccedilatildeo do serviccedilo ateacute mesmo nas
formas como os clientes iratildeo pagar o empreacutestimo O quadro abaixo apresenta trechos da
entrevista que demonstram a falta de conhecimento financeiro dos consumidores do
empreacutestimo consignado
18
Quadro 3 - O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Entrevistados Trechos da entrevista
Maria Claacuteudia ldquoTem muita gente eacute Natildeo tatildeo instruiacuteda gente mais
simples Bom existem vaacuterias pessoas que pegam
aqui com a gente que satildeo analfabetas entendeurdquo
Ana Luiacuteza ldquoMuitas pessoas natildeo satildeo instruiacutedas poucas
pessoas sabem assinar seu proacuteprio nome mas
existem pessoas alfabetizadas simrdquo
ldquoA maioria acredito que natildeo tenha uma noccedilatildeo
esclarecimento ateacute porque quanto mais vezes vocecirc
dividir mais juros incidem e eacute melhor para o
bancordquo
Marcela ldquoEu acho que a grande maioria tinha um grau de
instruccedilatildeo reduzido e isso facilitava na hora de
vender neacuterdquo
ldquoEntatildeo a gente sempre tentava colocar de setenta
e duas vezes ou setenta e cinco satildeo seis anos de
consignado Entatildeo quanto maior o prazo maior a
taxa de juros Agraves vezes vocecirc pegava um capital
um volume muito pequeno e virava pra pessoa e
falava assim -Natildeo Por que aiacute soacute vai descontar
soacute R$3000 reais no seu pagamento e a pessoa natildeo
tinha dimensatildeo que por a gente taacute dividindo
aquele valor pequeninho sai muito grande depois
por conta da taxa que ela aumentava de acordo
com o prazordquo
Carlos Eduardo ldquoO mais comum satildeo pessoas de baixa renda e sem
informaccedilatildeo Exemplo A maioria dos consignados
os clientes nem perguntam as taxas de juros ele
natildeo estaacute preocupado com o prazo ele estaacute
preocupado com o valor da parcela se ele vai
conseguir pagar ou natildeo e o valor que vai sobrar
pra ele vai conseguir passar o mecircsrdquo
Leandro ldquoGrande parte natildeo satildeo instruiacutedas mas eu atendo
mais alta renda entatildeo meus clientes satildeo mais
seletivos eles pegam valores maiores natildeo eacute
qualquer empreacutestimo que ele pega eacute mais para
investimento mesmo ou pra sair de alguma coisardquo
19
Aacutercia ldquoEntatildeo assim muitas vezes as pessoas natildeo vem
com o conhecimento financeiro real eles querem
o imediato querem o empreacutestimo naquele
momento Muita gente natildeo tem a noccedilatildeo de como
vai ficar aquilordquo
Antocircnio ldquoEntatildeo no puacuteblico de menor renda esse
discernimento eacute menos eles olham mais se a
parcela cabe no bolso deles do que no montante
de juros que eles vatildeo pagar no finalrdquo
Fonte Dados da pesquisa
Diante destes dois perfis de consumidores vulneraacuteveis os analfabetos e os com baixa
instruccedilatildeo pode-se verificar por meio das gravaccedilotildees que tanto as pessoas analfabetas e as com
baixa instruccedilatildeo natildeo possuem compreensatildeo suficiente para realizar uma contrataccedilatildeo de creacutedito
A entrevistada Marcela afirma que vender para esse determinado tipo puacuteblico facilitava pelo
fato da falta de conhecimento financeiro
Outra situaccedilatildeo comentada durante a gravaccedilatildeo das entrevistas foi sobre as parcelas dos
empreacutestimos os bancaacuterios e os estagiaacuterios induzem os clientes a dividirem em mais vezes A
entrevistada Marcela tambeacutem afirma que sempre propunha aos seus clientes dividir em
setenta e duas vezes alegando para essas pessoas que o valor iria ldquocaber no bolsordquo Mas na
verdade os bancaacuterios aproveitam do analfabetismo financeiro dos tomadores de creacutedito
visando a lucratividade das instituiccedilotildees financeiras dado que as taxas aumentam de acordo
com prazo
A partir dessa anaacutelise eacute possiacutevel perceber de forma clara as limitaccedilotildees dos idosos no
processo de compra Conforme Chertman (2011 p21) as consequecircncias da idade
ldquopotencializam a vulnerabilidade de compra pela dificuldade de comprar em escala (podendo
negociar preccedilos)rdquo De fato nota-se que a questatildeo do analfabetismo baixa instruccedilatildeo e idade
afetam na tomada de decisatildeo consciente do consumidor
42 Categoria II
421 Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
A informaccedilatildeo no momento da compra eacute essencial para que o cliente natildeo faccedila uma
escolha errocircnea quanto ao produto Em relaccedilatildeo as entrevistas realizadas foi possiacutevel inferir
que na contrataccedilatildeo de creacutedito os bancaacuterios e seus intermediaacuterios natildeo informam o valor da
taxa de juros e acabam focando nos valores das parcelas no prazo e em quantas vezes o
parcelamento ficaraacute Sendo assim os atendentes procuram natildeo informar aos consumidores
20
quanto ficaraacute o valor total do empreacutestimo ao incidirem os juros Atraveacutes do quadro abaixo
pode-se comprovar que no momento da contrataccedilatildeo do creacutedito os bancaacuterios e estagiaacuterios
omitem determinadas informaccedilotildees aos clientes
Quadro 4 - Omissatildeo de informaccedilotildees na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Ana Luiacuteza ldquoNormalmente eu natildeo falo o valor dos juros
dificilmente eu falo o valor do juros soacute falo que
ele eacute mais baixo e informo que independe do que
a aconteccedila na economia brasileira a partir do
momento que a pessoa estaacute fazendo o contrato o
juros nunca vai aumentar que aquele juros e
sempre seraacute aquelerdquo
Marcela ldquoEntatildeo na verdade o que eu aprendi no Banco X
a regra clara Eu tinha que omitir Eu natildeo
precisava mentir mas eu precisava omitir
algumas informaccedilotildees Entatildeo eu abordava o
cliente sempre eacute Buscando saber do sonho dele
para depois eu vender o empreacutestimo Eu tentava
omitir informaccedilotildees como taxas prazo de
pagamento que eram coisas que eu soacute falava se o
cliente me perguntasse Eu achava muito
tranquilo assim vender Eu natildeo tinha muita
dificuldade natildeordquo
ldquoA gente omitia o valor total que o cliente ia
pagar justamente porque se vocecirc falar ele natildeo vai
levar entatildeo eacute A gente omitia e tentava fazer o
cliente fechar a venda na hora Principalmente
quando a venda era no caixa eletrocircnico que era
muito mais faacutecil porque agraves vezes o cliente
fechava a venda ali naquele momento naquele
instante natildeo refletia muito era mais faacutecil vender e
muitas vezes eles tavam sozinho muitas vezes os
aposentados vatildeo para agecircncia sozinho natildeo
estavam acompanhados dos filhos de ningueacutemrdquo
Carlos Eduardo ldquoNo contrato fala dos juros mas eu soacute respondo
quando o cliente perguntardquo
Marcos ldquoQuando o cliente fazia por exemplo um
empreacutestimo a gente falava o valor da parcela
21
quanto que ele vai pegar quando vai descontar do
pagamento falava a taxa de juros tambeacutem mas
acabava que eles nem sabiamrdquo
ldquoSe perguntasse alguma coisa a gente falavardquo
Fonte Dados da pesquisa
Como jaacute foi dito o cliente tem como direito obter informaccedilotildees necessaacuterias do que ele
estaacute adquirindo mas quando isso natildeo ocorre pode-se dizer que estaacute ocorrendo uma omissatildeo
dos fatos O autor Silva (2009 p146) expotildee o art 14 do CDC destacando ldquoo dever de
informaccedilatildeo cuja omissatildeo caracteriza defeito do serviccedilo ensejador do dever de indenizarrdquo
Logo pode-se concluir que quando o cliente natildeo eacute alertado sobre o produto ou serviccedilo e este
causa danos o consumidor deve ser reparado
Diante do que foi explicitado acima pode-se perceber atraveacutes das gravaccedilotildees feitas
quatro entrevistados falaram que natildeo davam as informaccedilotildees necessaacuterias para os contratadores
de creacuteditos A entrevistada Marcela usa o termo ldquoomissatildeordquo ela afirma que agraves vezes era
necessaacuterio omitir para que a venda do empreacutestimo consignado fosse realizada mais
rapidamente Jaacute os demais entrevistados alegam que normalmente natildeo falam as taxas de juros
eles informam as taxas apenas se o cliente perguntar Percebe-se tambeacutem que por se tratar de
um puacuteblico mais vulneraacutevel os bancaacuteriosestagiaacuterios tinham maior facilidade em convencecirc-
los na hora da compra jaacute que grande parte desse puacuteblico natildeo possui instruccedilotildees suficientes
para adquirir esse tipo de produto
Dessa forma eacute expliacutecito que os bancaacuterios e os estagiaacuterios natildeo davam as informaccedilotildees
necessaacuterias aos seus clientes pelo fato de terem que apresentar maior lucratividade aos
bancos Uma vez que como foi relatado por Marcela a instituiccedilatildeo financeira onde trabalhava
alegava que certas informaccedilotildees deveriam ser ldquoomitidasrdquo Dessa forma pode-se evidenciar a
violaccedilatildeo do direito do consumidor
Dentre a vulnerabilidade do consumidor quanto a omissatildeo dos fatos por partes dos
bancaacuterios e seus correspondentes haacute tambeacutem outro recurso utilizado pelos fornecedores o
linguiacutestico Isto eacute satildeo termos palavras usadas que suavizam na hora da contrataccedilatildeo de
creacutedito Pode-se dizer que eacute a comunicaccedilatildeo existente entre o fornecedor e o cliente a fim de
que o primeiro consiga induzir o segundo a comprar seu produto
O marketing de vendas retrata esta relaccedilatildeo citada acima de consumidor e fornecedor
De acordo com Bernardi (2012 p75) ldquoo marketing de vendas possui uma relaccedilatildeo estreita com
o elemento do composto mercadoloacutegico denominado de promoccedilatildeo que se refere a todas as
accedilotildees relativas agrave comunicaccedilatildeo e agrave venda dos produtos de uma organizaccedilatildeordquo
22
Atraveacutes dessa relaccedilatildeo construiacuteda pela comunicaccedilatildeo pode-se verificar por parte das
entrevistas que os bancaacuterios e os estagiaacuterios utilizam de recursos linguiacutesticos para convencer o
cliente a comprar tal produto Isto eacute estes tinham certo cuidado na maneira de falar para que
os clientes se sentissem agrave vontade e consequentemente efetivar a venda do produto
A comunicaccedilatildeo exerce influecircncia na venda de um produto ou seja esse diaacutelogo entre
cliente e fornecedor facilita a compra de um produto por parte do consumidor O autor
Bernardi (2012 p77) acresce o termo merchandising este eacute visto como um dos principais
meacutetodos de marketing associado agrave venda
Eacute um termo que pode ser usado como instrumento de comunicaccedilatildeo que apresenta o
produto ao consumidor e favorece a sua compra Merchandising no entanto eacute criar
um cenaacuterio de um produto serviccedilo ou marca de forma casual Os principais
conceitos do merchandising estatildeo voltados agrave boa estrateacutegia de comunicaccedilatildeo no
ponto de venda pois visa destacar o produto ou serviccedilo buscando assim motivar as
compras por impulso jaacute que possui uma comunicaccedilatildeo muito proacutexima agrave venda
Logo compreende-se que o merchandising eacute uma ferramenta que aproxima o cliente e
o fornecedor atraveacutes da comunicaccedilatildeo
Como jaacute foi mencionado anteriormente a forma de comunicar exerce uma forte
influecircncia no ato da compra Todavia atraveacutes das entrevistas pode-se notar certa preocupaccedilatildeo
em como abordar o cliente ou seja a forma de dialogar com seus clientes Percebeu-se entatildeo
que determinadas palavras eram trocadas por outras como por exemplo o termo
ldquoempreacutestimordquo muitas vezes era substituiacutedo pelo termo ldquodinheirinhordquo ou creacutedito A partir do
quadro abaixo pode-se concluir que a forma de falar eacute utilizada como um artifiacutecio na hora da
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado
23
43 Categoria III
431 Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por se tratar de um puacuteblico de idade com baixo grau de instruccedilatildeo ou ateacute mesmo analfabetos
os bancaacuterios estagiaacuterios se beneficiam dessa relaccedilatildeo A forma de falar induz os consumidores
de serviccedilos financeiros a adquirirem certo produto O Quadro 5 apresenta as respostas
referentes agrave forma de falar dos intermediaacuterios bancaacuterios
Quadro 5- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Marcela ldquoAcredito que para vender esse tipo de produto que eacute
um produto difiacutecil que as pessoas agraves vezes quando
vocecirc fala ldquoempreacutestimordquo a pessoa fica com o peacute atraacutes
entatildeo tem que ser assim Coisas que a gente natildeo usa eacute
falar empreacutestimo natildeo existe no banco entendeu Eacute
um dinheirinho suavizar realmente a expressatildeo
empreacutestimo porque quando vocecirc fala a expressatildeo
empreacutestimo as pessoas se fechamrdquo
ldquoMuitas vezes eles natildeo entendiam o que vocecirc estava
falando entatildeo Ah fulano vocecirc tem um dinheirinho
aqui disponiacutevel para vocecirc pegar aiacute eles perguntavam
Mas vocecirc estaacute me dando esse dinheirordquo
Marcos ldquoOutra coisa o termo empreacutestimo o pessoal mesmo
falava que era uma coisa muito pesada de se dizer a
maioria das pessoas natildeo vecirc com bons olhos entatildeo a
gente falava um dinheirinho pro cliente pois ameniza
um pouco o termo Querendo ou natildeo o modo de falar
influencia um poucordquo
Daniel ldquoEu por exemplo falo creacutedito porque eu tocirc
conversando com o cliente e ele vecirc que tem outras
pessoas em volta agraves vezes eu falar empreacutestimo ele
pode ficar um pouco chateado daquilo nem todo
mundo gosta de ir no banco pra pegar empreacutestimo
gosta de ir laacute para sacar dinheiro Eu prefiro trabalhar
com a palavra creacutedito rdquo
Antocircnio ldquoGeralmente a gente utiliza o termo creacutedito vocecirc tem
um creacutedito aprovado Porque agraves vezes a pessoa tem
ateacute medo resistecircncia em empreacutestimo Geralmente a
24
gente fala que vocecirc tem um creacutedito aprovado e aiacute a
gente fala em qual linha a pessoa tem creacutedito
pessoal financiamento para veiacuteculos financiamento
imobiliaacuterio consignado que eacute o creacutedito que vem da
folha de pagamento Entatildeo a gente normalmente
oferta creacutedito ldquo
Fonte Dados da pesquisa
Conforme alguns entrevistados esses natildeo utilizam o termo correto que eacute ldquoempreacutestimo
consignadordquo Nas gravaccedilotildees os bancaacuterios e seus correspondentes alegam que os clientes tecircm
eacute um ldquodinheirinhordquo disponiacutevel para pegarem no banco Outros afirmam que o vocaacutebulo
empregado por eles eacute o ldquocreacuteditordquo pois ameniza um pouco o termo Este possui o mesmo
significado do primeiro mas para muitos o termo quer dizer credibilidade ldquocreacutedito na praccedilardquo
apesar de ser sinocircnimo do vocaacutebulo ldquoempreacutestimordquo essa palavra soa de forma positiva
Ao verificar a forma de comunicaccedilatildeo com os clientes do empreacutestimo consignado
pode-se perceber que essa substituiccedilatildeo de ldquopalavrasrdquo ocorre com o intuito amenizar o termo
ldquoempreacutestimordquo visto que por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel as pessoas assustam quando
pronunciam a palavra empreacutestimo Para muitos esse termo soa de forma negativa como
pessoas que possuem desorganizaccedilatildeo financeira ou inadimplecircncia Por este fato tanto os
bancaacuterios quanto os estagiaacuterios procuram utilizar vocaacutebulos que suavizem e que soem de uma
forma positiva para o cliente Sendo assim a forma de se comunicar pode alterar a venda de
determinado produto ofertado Mas essa forma de suavizar os termos empregados durante a
venda do serviccedilo financeiro fora de certos limites eacutetico-legais pode ser vista como uma
espeacutecie de ldquoomissatildeordquo do que realmente esses tomadores de creacutedito estatildeo comprando Pois
como jaacute foi retratado de acordo com o CDC os termos devem ser informados de forma clara
ao cliente
Podemos exemplificar de acordo com um entrevistado que afirma utilizar o termo
ldquodinheirinhordquo por ser mais faacutecil dos aposentados e pensionistas entenderem jaacute que muitos
desses clientes possuiacuteam dificuldades sobre o que de fato estavam comprando Aleacutem disso o
bancaacuterio acredita que modo de falar pode alterar a execuccedilatildeo da venda
Tendo em vista os aspectos observados tanto o artifiacutecio linguiacutestico quanto a omissatildeo
das informaccedilotildees pelos bancaacuteriosestagiaacuterios possui objetivos em comum pelas instituiccedilotildees
financeiras na qual visam a obtenccedilatildeo de maiores lucros para essas empresas Aleacutem disso os
bancos satildeo os maiores beneficiados pois natildeo levam em consideraccedilatildeo a isonomia das relaccedilotildees
entre consumidor e fornecedor Portanto conclui-se que em meio a essa relaccedilatildeo o consumidor
eacute parte mais fraca onde seus direitos satildeo violados pelos fornecedores de creacutedito
25
5 CONCLUSAtildeO
O creacutedito consignado eacute um tipo de empreacutestimo recente que vem sendo utilizado com
maior frequecircncia por um determinado puacuteblico (LOPES et al2014) Com isso as instituiccedilotildees
bancaacuterias estatildeo apresentando certo interesse sobre esse ldquonovordquo tipo de puacuteblico em ascensatildeo
Os intermediaacuterios bancaacuterios vecircm buscando formas para atrair os idosos seja atraveacutes das
facilidades da obtenccedilatildeo do creacutedito ou ateacute mesmo no modo de comunicar utilizando de
artifiacutecios de linguagem Em suma os bancos utilizam de praacuteticas de marketing tensionados a
obter vantagens sobre esses consumidores De acordo com o Coacutedigo de Consumidor (CDC)
estes satildeo considerados como vulneraacuteveis
Perante o estudo notou-se que a vulnerabilidade do idoso eacute agravada jaacute que
enquadram como consumidores hipervulneraacuteveis Essa vulnerabilidade acontece atraveacutes das
relaccedilotildees de consumo onde os fornecedores do empreacutestimo tiram proveito do estado em que
esses consumidores se encontram Para que estes cidadatildeos hipervulneraacuteveis sejam amparados
haacute o Estatuto do idoso e Coacutedigo do Consumidor ambos dispotildeem de normas que regem a
relaccedilatildeo entre consumidor-fornecedor Deve-se ressaltar que apesar da existecircncia das
legislaccedilotildees os bancos continuam praticando ldquoexcessosrdquo com os consumidores no momento da
contrataccedilatildeo do creacutedito Eacute relevante a imposiccedilatildeo do Estado visando inibir a lesatildeo do direito
sendo especificado ao idoso
Logo atraveacutes dos resultados da pesquisa pode-se concluir que essa vulnerabilidade
acentuada ocorre atraveacutes de fatores como idade baixa escolaridade e baixo grau de instruccedilatildeo
que interferem nas relaccedilotildees consumeristas isto eacute os contratadores de creacutedito consignado natildeo
possuem domiacutenio para realizar uma compra consciente Sendo assim os consumidores
apresentam limitaccedilotildees sobre o serviccedilo financeiro na qual estaacute adquirindo A partir da anaacutelise
foi possiacutevel verificar atraveacutes dos entrevistados que o puacuteblico idoso natildeo possuiacutea conhecimento
sobre as taxas juros que incidiam sobre as parcelas Aleacutem disso os bancaacuterios afirmavam que
iriam dividir em mais pagamentos para natildeo atrapalhar no orccedilamento mensal do consumidor
Por conseguinte aspectos como estes facilitavam a induzir os idosos a adquirem o creacutedito
mostrando a estes o quatildeo era vantajoso o produto oferecido
Tambeacutem deve-se ressaltar que por se tratar de um puacuteblico com baixo grau de instruccedilatildeo
e alguns analfabetos tanto os bancaacuterios quanto os estagiaacuterios omitiam informaccedilotildees bem
como tambeacutem utilizavam os recursos linguiacutesticos Estas duas formas contribuiacuteram para que as
vendas fossem efetuadas de uma maneira mais raacutepida Uma vez que a forma de falar ou a
26
omissatildeo influenciavam aos idosos comprarem o produto de uma forma irrefletida visto que
esses consumidores acreditavam no que estava sendo falado por parte do fornecedor
Portanto diante da fragilidade do consumidor em questatildeo eacute perceptiacutevel que na
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado boa parte dos idosos muitas vezes natildeo estatildeo acompanhados
por nenhum membro da famiacutelia Desta maneira para os bancaacuteriosestagiaacuterios a forma de
abordar o cliente fica mais acessiacutevel ainda mais por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel com
pouco grau de instruccedilatildeo ou conhecimento Logo situaccedilotildees como estas contribuem para os
fornecedores tirarem proveito do puacuteblico idoso Outro fato que deve ser destacado eacute a
presenccedila do Estado incentivando programas de alfabetizaccedilatildeo financeira independente do fator
idade para que a sociedade no geral saiba ter consciecircncia clareza sobre as relaccedilotildees de
consumo
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29
APEcircNDICE A
Roteiro de Entrevista qualitativa aplicada aos bancaacuterios e seus correspondentes
1 Idade
2 Formaccedilatildeo acadecircmica ( ) Ensino Meacutedio
( ) Superior
3 Haacute quanto tempo vocecirc trabalha ou jaacute trabalhou vendendo serviccedilos financeiros Em
qual cidade Descreva os serviccedilos financeiros que vocecirc mais estava habituado a
venda
4 Fale um pouco sobre as atividades que vocecirc realizava dentro da empresa Me conte
como era o seu dia a dia como era o processo de venda Da captaccedilatildeo do cliente ao
fechamento do contrato ou da venda do serviccedilo DEcirc EXEMPLOS
5 Quais produtos financeiros vocecirc estava ou estaacute mais habituado a vender
Creacutedito consignado creacutedito pessoal seguros empreacutestimos financiamentos
Qual vocecirc eacute mais estimulado a fazer
Tem diferenccedila na venda desses produtos
A abordagem ao cliente muda Quais satildeo mais diferentes
Vocecirc pode descrever para mim cada um deles por favor
Quais produtos satildeo os mais procurados
6 Qual eacute o tipo de puacuteblico que busca pelo empreacutestimo Descreva para mim as
caracteriacutesticas que vocecirc julga como mais marcantes Geralmente satildeo pessoas de que
faixa etaacuteria Satildeo pessoas de classe baixa meacutedia ou alta Satildeo pessoas instruiacutedas
7 Essas pessoas possuem um esclarecimento sobre o que seria esse tipo creacutedito
Compreendem as vantagens e as desvantagens relacionadas ao serviccedilo O que vocecirc
acha disso
8 No momento da contrataccedilatildeo de creacutedito o que eacute falado Como se daacute Todos os temos
do contrato ficam claros Vocecircs bancaacuterios explicitam o que estaacute no contrato Haacute
30
alguma avaliaccedilatildeo criteriosa do perfil do cliente de suas condiccedilotildees financeiras
9 O que vocecirc jaacute verificou por parte das pessoas que tomam esse creacutedito Qual seria os
maiores motivos para a procura do creacutedito consignado
10 Quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito vocecirc concorda com as vantagens oferecidas no
contrato ou acredita que algo deveria ser alterado O que vocecirc natildeo estaria de acordo
11 Qual o limite de desconto mensal da folha de pagamento do trabalhador o banco
oferece Por algum momento o banco excedeu o valor de desconto da folha Comente
essefato
12 Quanto agraves poliacuteticas bancaacuterias proposta pelos bancos para a venda de produtos
financeiros vocecirc concorda Ou algum momento jaacute discordou Discorra sobre o fato
13 Frequentemente vocecircs bancaacuterios satildeo estimulados a bater metas sobre os produtos que
vocecircs oferecem Vocecirc concorda que existe uma certa pressatildeo em vender cada vez mais
produtos Em alguma situaccedilatildeo vocecirc natildeo esteve de acordo como a forma que deveria
induzir os clientes a comprar um produto na qual vocecirc estaria oferecendo
18
Quadro 3 - O analfabetismo e o baixo niacutevel de instruccedilatildeo formal na contrataccedilatildeo dos
serviccedilos financeiros
Entrevistados Trechos da entrevista
Maria Claacuteudia ldquoTem muita gente eacute Natildeo tatildeo instruiacuteda gente mais
simples Bom existem vaacuterias pessoas que pegam
aqui com a gente que satildeo analfabetas entendeurdquo
Ana Luiacuteza ldquoMuitas pessoas natildeo satildeo instruiacutedas poucas
pessoas sabem assinar seu proacuteprio nome mas
existem pessoas alfabetizadas simrdquo
ldquoA maioria acredito que natildeo tenha uma noccedilatildeo
esclarecimento ateacute porque quanto mais vezes vocecirc
dividir mais juros incidem e eacute melhor para o
bancordquo
Marcela ldquoEu acho que a grande maioria tinha um grau de
instruccedilatildeo reduzido e isso facilitava na hora de
vender neacuterdquo
ldquoEntatildeo a gente sempre tentava colocar de setenta
e duas vezes ou setenta e cinco satildeo seis anos de
consignado Entatildeo quanto maior o prazo maior a
taxa de juros Agraves vezes vocecirc pegava um capital
um volume muito pequeno e virava pra pessoa e
falava assim -Natildeo Por que aiacute soacute vai descontar
soacute R$3000 reais no seu pagamento e a pessoa natildeo
tinha dimensatildeo que por a gente taacute dividindo
aquele valor pequeninho sai muito grande depois
por conta da taxa que ela aumentava de acordo
com o prazordquo
Carlos Eduardo ldquoO mais comum satildeo pessoas de baixa renda e sem
informaccedilatildeo Exemplo A maioria dos consignados
os clientes nem perguntam as taxas de juros ele
natildeo estaacute preocupado com o prazo ele estaacute
preocupado com o valor da parcela se ele vai
conseguir pagar ou natildeo e o valor que vai sobrar
pra ele vai conseguir passar o mecircsrdquo
Leandro ldquoGrande parte natildeo satildeo instruiacutedas mas eu atendo
mais alta renda entatildeo meus clientes satildeo mais
seletivos eles pegam valores maiores natildeo eacute
qualquer empreacutestimo que ele pega eacute mais para
investimento mesmo ou pra sair de alguma coisardquo
19
Aacutercia ldquoEntatildeo assim muitas vezes as pessoas natildeo vem
com o conhecimento financeiro real eles querem
o imediato querem o empreacutestimo naquele
momento Muita gente natildeo tem a noccedilatildeo de como
vai ficar aquilordquo
Antocircnio ldquoEntatildeo no puacuteblico de menor renda esse
discernimento eacute menos eles olham mais se a
parcela cabe no bolso deles do que no montante
de juros que eles vatildeo pagar no finalrdquo
Fonte Dados da pesquisa
Diante destes dois perfis de consumidores vulneraacuteveis os analfabetos e os com baixa
instruccedilatildeo pode-se verificar por meio das gravaccedilotildees que tanto as pessoas analfabetas e as com
baixa instruccedilatildeo natildeo possuem compreensatildeo suficiente para realizar uma contrataccedilatildeo de creacutedito
A entrevistada Marcela afirma que vender para esse determinado tipo puacuteblico facilitava pelo
fato da falta de conhecimento financeiro
Outra situaccedilatildeo comentada durante a gravaccedilatildeo das entrevistas foi sobre as parcelas dos
empreacutestimos os bancaacuterios e os estagiaacuterios induzem os clientes a dividirem em mais vezes A
entrevistada Marcela tambeacutem afirma que sempre propunha aos seus clientes dividir em
setenta e duas vezes alegando para essas pessoas que o valor iria ldquocaber no bolsordquo Mas na
verdade os bancaacuterios aproveitam do analfabetismo financeiro dos tomadores de creacutedito
visando a lucratividade das instituiccedilotildees financeiras dado que as taxas aumentam de acordo
com prazo
A partir dessa anaacutelise eacute possiacutevel perceber de forma clara as limitaccedilotildees dos idosos no
processo de compra Conforme Chertman (2011 p21) as consequecircncias da idade
ldquopotencializam a vulnerabilidade de compra pela dificuldade de comprar em escala (podendo
negociar preccedilos)rdquo De fato nota-se que a questatildeo do analfabetismo baixa instruccedilatildeo e idade
afetam na tomada de decisatildeo consciente do consumidor
42 Categoria II
421 Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
A informaccedilatildeo no momento da compra eacute essencial para que o cliente natildeo faccedila uma
escolha errocircnea quanto ao produto Em relaccedilatildeo as entrevistas realizadas foi possiacutevel inferir
que na contrataccedilatildeo de creacutedito os bancaacuterios e seus intermediaacuterios natildeo informam o valor da
taxa de juros e acabam focando nos valores das parcelas no prazo e em quantas vezes o
parcelamento ficaraacute Sendo assim os atendentes procuram natildeo informar aos consumidores
20
quanto ficaraacute o valor total do empreacutestimo ao incidirem os juros Atraveacutes do quadro abaixo
pode-se comprovar que no momento da contrataccedilatildeo do creacutedito os bancaacuterios e estagiaacuterios
omitem determinadas informaccedilotildees aos clientes
Quadro 4 - Omissatildeo de informaccedilotildees na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Ana Luiacuteza ldquoNormalmente eu natildeo falo o valor dos juros
dificilmente eu falo o valor do juros soacute falo que
ele eacute mais baixo e informo que independe do que
a aconteccedila na economia brasileira a partir do
momento que a pessoa estaacute fazendo o contrato o
juros nunca vai aumentar que aquele juros e
sempre seraacute aquelerdquo
Marcela ldquoEntatildeo na verdade o que eu aprendi no Banco X
a regra clara Eu tinha que omitir Eu natildeo
precisava mentir mas eu precisava omitir
algumas informaccedilotildees Entatildeo eu abordava o
cliente sempre eacute Buscando saber do sonho dele
para depois eu vender o empreacutestimo Eu tentava
omitir informaccedilotildees como taxas prazo de
pagamento que eram coisas que eu soacute falava se o
cliente me perguntasse Eu achava muito
tranquilo assim vender Eu natildeo tinha muita
dificuldade natildeordquo
ldquoA gente omitia o valor total que o cliente ia
pagar justamente porque se vocecirc falar ele natildeo vai
levar entatildeo eacute A gente omitia e tentava fazer o
cliente fechar a venda na hora Principalmente
quando a venda era no caixa eletrocircnico que era
muito mais faacutecil porque agraves vezes o cliente
fechava a venda ali naquele momento naquele
instante natildeo refletia muito era mais faacutecil vender e
muitas vezes eles tavam sozinho muitas vezes os
aposentados vatildeo para agecircncia sozinho natildeo
estavam acompanhados dos filhos de ningueacutemrdquo
Carlos Eduardo ldquoNo contrato fala dos juros mas eu soacute respondo
quando o cliente perguntardquo
Marcos ldquoQuando o cliente fazia por exemplo um
empreacutestimo a gente falava o valor da parcela
21
quanto que ele vai pegar quando vai descontar do
pagamento falava a taxa de juros tambeacutem mas
acabava que eles nem sabiamrdquo
ldquoSe perguntasse alguma coisa a gente falavardquo
Fonte Dados da pesquisa
Como jaacute foi dito o cliente tem como direito obter informaccedilotildees necessaacuterias do que ele
estaacute adquirindo mas quando isso natildeo ocorre pode-se dizer que estaacute ocorrendo uma omissatildeo
dos fatos O autor Silva (2009 p146) expotildee o art 14 do CDC destacando ldquoo dever de
informaccedilatildeo cuja omissatildeo caracteriza defeito do serviccedilo ensejador do dever de indenizarrdquo
Logo pode-se concluir que quando o cliente natildeo eacute alertado sobre o produto ou serviccedilo e este
causa danos o consumidor deve ser reparado
Diante do que foi explicitado acima pode-se perceber atraveacutes das gravaccedilotildees feitas
quatro entrevistados falaram que natildeo davam as informaccedilotildees necessaacuterias para os contratadores
de creacuteditos A entrevistada Marcela usa o termo ldquoomissatildeordquo ela afirma que agraves vezes era
necessaacuterio omitir para que a venda do empreacutestimo consignado fosse realizada mais
rapidamente Jaacute os demais entrevistados alegam que normalmente natildeo falam as taxas de juros
eles informam as taxas apenas se o cliente perguntar Percebe-se tambeacutem que por se tratar de
um puacuteblico mais vulneraacutevel os bancaacuteriosestagiaacuterios tinham maior facilidade em convencecirc-
los na hora da compra jaacute que grande parte desse puacuteblico natildeo possui instruccedilotildees suficientes
para adquirir esse tipo de produto
Dessa forma eacute expliacutecito que os bancaacuterios e os estagiaacuterios natildeo davam as informaccedilotildees
necessaacuterias aos seus clientes pelo fato de terem que apresentar maior lucratividade aos
bancos Uma vez que como foi relatado por Marcela a instituiccedilatildeo financeira onde trabalhava
alegava que certas informaccedilotildees deveriam ser ldquoomitidasrdquo Dessa forma pode-se evidenciar a
violaccedilatildeo do direito do consumidor
Dentre a vulnerabilidade do consumidor quanto a omissatildeo dos fatos por partes dos
bancaacuterios e seus correspondentes haacute tambeacutem outro recurso utilizado pelos fornecedores o
linguiacutestico Isto eacute satildeo termos palavras usadas que suavizam na hora da contrataccedilatildeo de
creacutedito Pode-se dizer que eacute a comunicaccedilatildeo existente entre o fornecedor e o cliente a fim de
que o primeiro consiga induzir o segundo a comprar seu produto
O marketing de vendas retrata esta relaccedilatildeo citada acima de consumidor e fornecedor
De acordo com Bernardi (2012 p75) ldquoo marketing de vendas possui uma relaccedilatildeo estreita com
o elemento do composto mercadoloacutegico denominado de promoccedilatildeo que se refere a todas as
accedilotildees relativas agrave comunicaccedilatildeo e agrave venda dos produtos de uma organizaccedilatildeordquo
22
Atraveacutes dessa relaccedilatildeo construiacuteda pela comunicaccedilatildeo pode-se verificar por parte das
entrevistas que os bancaacuterios e os estagiaacuterios utilizam de recursos linguiacutesticos para convencer o
cliente a comprar tal produto Isto eacute estes tinham certo cuidado na maneira de falar para que
os clientes se sentissem agrave vontade e consequentemente efetivar a venda do produto
A comunicaccedilatildeo exerce influecircncia na venda de um produto ou seja esse diaacutelogo entre
cliente e fornecedor facilita a compra de um produto por parte do consumidor O autor
Bernardi (2012 p77) acresce o termo merchandising este eacute visto como um dos principais
meacutetodos de marketing associado agrave venda
Eacute um termo que pode ser usado como instrumento de comunicaccedilatildeo que apresenta o
produto ao consumidor e favorece a sua compra Merchandising no entanto eacute criar
um cenaacuterio de um produto serviccedilo ou marca de forma casual Os principais
conceitos do merchandising estatildeo voltados agrave boa estrateacutegia de comunicaccedilatildeo no
ponto de venda pois visa destacar o produto ou serviccedilo buscando assim motivar as
compras por impulso jaacute que possui uma comunicaccedilatildeo muito proacutexima agrave venda
Logo compreende-se que o merchandising eacute uma ferramenta que aproxima o cliente e
o fornecedor atraveacutes da comunicaccedilatildeo
Como jaacute foi mencionado anteriormente a forma de comunicar exerce uma forte
influecircncia no ato da compra Todavia atraveacutes das entrevistas pode-se notar certa preocupaccedilatildeo
em como abordar o cliente ou seja a forma de dialogar com seus clientes Percebeu-se entatildeo
que determinadas palavras eram trocadas por outras como por exemplo o termo
ldquoempreacutestimordquo muitas vezes era substituiacutedo pelo termo ldquodinheirinhordquo ou creacutedito A partir do
quadro abaixo pode-se concluir que a forma de falar eacute utilizada como um artifiacutecio na hora da
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado
23
43 Categoria III
431 Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por se tratar de um puacuteblico de idade com baixo grau de instruccedilatildeo ou ateacute mesmo analfabetos
os bancaacuterios estagiaacuterios se beneficiam dessa relaccedilatildeo A forma de falar induz os consumidores
de serviccedilos financeiros a adquirirem certo produto O Quadro 5 apresenta as respostas
referentes agrave forma de falar dos intermediaacuterios bancaacuterios
Quadro 5- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Marcela ldquoAcredito que para vender esse tipo de produto que eacute
um produto difiacutecil que as pessoas agraves vezes quando
vocecirc fala ldquoempreacutestimordquo a pessoa fica com o peacute atraacutes
entatildeo tem que ser assim Coisas que a gente natildeo usa eacute
falar empreacutestimo natildeo existe no banco entendeu Eacute
um dinheirinho suavizar realmente a expressatildeo
empreacutestimo porque quando vocecirc fala a expressatildeo
empreacutestimo as pessoas se fechamrdquo
ldquoMuitas vezes eles natildeo entendiam o que vocecirc estava
falando entatildeo Ah fulano vocecirc tem um dinheirinho
aqui disponiacutevel para vocecirc pegar aiacute eles perguntavam
Mas vocecirc estaacute me dando esse dinheirordquo
Marcos ldquoOutra coisa o termo empreacutestimo o pessoal mesmo
falava que era uma coisa muito pesada de se dizer a
maioria das pessoas natildeo vecirc com bons olhos entatildeo a
gente falava um dinheirinho pro cliente pois ameniza
um pouco o termo Querendo ou natildeo o modo de falar
influencia um poucordquo
Daniel ldquoEu por exemplo falo creacutedito porque eu tocirc
conversando com o cliente e ele vecirc que tem outras
pessoas em volta agraves vezes eu falar empreacutestimo ele
pode ficar um pouco chateado daquilo nem todo
mundo gosta de ir no banco pra pegar empreacutestimo
gosta de ir laacute para sacar dinheiro Eu prefiro trabalhar
com a palavra creacutedito rdquo
Antocircnio ldquoGeralmente a gente utiliza o termo creacutedito vocecirc tem
um creacutedito aprovado Porque agraves vezes a pessoa tem
ateacute medo resistecircncia em empreacutestimo Geralmente a
24
gente fala que vocecirc tem um creacutedito aprovado e aiacute a
gente fala em qual linha a pessoa tem creacutedito
pessoal financiamento para veiacuteculos financiamento
imobiliaacuterio consignado que eacute o creacutedito que vem da
folha de pagamento Entatildeo a gente normalmente
oferta creacutedito ldquo
Fonte Dados da pesquisa
Conforme alguns entrevistados esses natildeo utilizam o termo correto que eacute ldquoempreacutestimo
consignadordquo Nas gravaccedilotildees os bancaacuterios e seus correspondentes alegam que os clientes tecircm
eacute um ldquodinheirinhordquo disponiacutevel para pegarem no banco Outros afirmam que o vocaacutebulo
empregado por eles eacute o ldquocreacuteditordquo pois ameniza um pouco o termo Este possui o mesmo
significado do primeiro mas para muitos o termo quer dizer credibilidade ldquocreacutedito na praccedilardquo
apesar de ser sinocircnimo do vocaacutebulo ldquoempreacutestimordquo essa palavra soa de forma positiva
Ao verificar a forma de comunicaccedilatildeo com os clientes do empreacutestimo consignado
pode-se perceber que essa substituiccedilatildeo de ldquopalavrasrdquo ocorre com o intuito amenizar o termo
ldquoempreacutestimordquo visto que por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel as pessoas assustam quando
pronunciam a palavra empreacutestimo Para muitos esse termo soa de forma negativa como
pessoas que possuem desorganizaccedilatildeo financeira ou inadimplecircncia Por este fato tanto os
bancaacuterios quanto os estagiaacuterios procuram utilizar vocaacutebulos que suavizem e que soem de uma
forma positiva para o cliente Sendo assim a forma de se comunicar pode alterar a venda de
determinado produto ofertado Mas essa forma de suavizar os termos empregados durante a
venda do serviccedilo financeiro fora de certos limites eacutetico-legais pode ser vista como uma
espeacutecie de ldquoomissatildeordquo do que realmente esses tomadores de creacutedito estatildeo comprando Pois
como jaacute foi retratado de acordo com o CDC os termos devem ser informados de forma clara
ao cliente
Podemos exemplificar de acordo com um entrevistado que afirma utilizar o termo
ldquodinheirinhordquo por ser mais faacutecil dos aposentados e pensionistas entenderem jaacute que muitos
desses clientes possuiacuteam dificuldades sobre o que de fato estavam comprando Aleacutem disso o
bancaacuterio acredita que modo de falar pode alterar a execuccedilatildeo da venda
Tendo em vista os aspectos observados tanto o artifiacutecio linguiacutestico quanto a omissatildeo
das informaccedilotildees pelos bancaacuteriosestagiaacuterios possui objetivos em comum pelas instituiccedilotildees
financeiras na qual visam a obtenccedilatildeo de maiores lucros para essas empresas Aleacutem disso os
bancos satildeo os maiores beneficiados pois natildeo levam em consideraccedilatildeo a isonomia das relaccedilotildees
entre consumidor e fornecedor Portanto conclui-se que em meio a essa relaccedilatildeo o consumidor
eacute parte mais fraca onde seus direitos satildeo violados pelos fornecedores de creacutedito
25
5 CONCLUSAtildeO
O creacutedito consignado eacute um tipo de empreacutestimo recente que vem sendo utilizado com
maior frequecircncia por um determinado puacuteblico (LOPES et al2014) Com isso as instituiccedilotildees
bancaacuterias estatildeo apresentando certo interesse sobre esse ldquonovordquo tipo de puacuteblico em ascensatildeo
Os intermediaacuterios bancaacuterios vecircm buscando formas para atrair os idosos seja atraveacutes das
facilidades da obtenccedilatildeo do creacutedito ou ateacute mesmo no modo de comunicar utilizando de
artifiacutecios de linguagem Em suma os bancos utilizam de praacuteticas de marketing tensionados a
obter vantagens sobre esses consumidores De acordo com o Coacutedigo de Consumidor (CDC)
estes satildeo considerados como vulneraacuteveis
Perante o estudo notou-se que a vulnerabilidade do idoso eacute agravada jaacute que
enquadram como consumidores hipervulneraacuteveis Essa vulnerabilidade acontece atraveacutes das
relaccedilotildees de consumo onde os fornecedores do empreacutestimo tiram proveito do estado em que
esses consumidores se encontram Para que estes cidadatildeos hipervulneraacuteveis sejam amparados
haacute o Estatuto do idoso e Coacutedigo do Consumidor ambos dispotildeem de normas que regem a
relaccedilatildeo entre consumidor-fornecedor Deve-se ressaltar que apesar da existecircncia das
legislaccedilotildees os bancos continuam praticando ldquoexcessosrdquo com os consumidores no momento da
contrataccedilatildeo do creacutedito Eacute relevante a imposiccedilatildeo do Estado visando inibir a lesatildeo do direito
sendo especificado ao idoso
Logo atraveacutes dos resultados da pesquisa pode-se concluir que essa vulnerabilidade
acentuada ocorre atraveacutes de fatores como idade baixa escolaridade e baixo grau de instruccedilatildeo
que interferem nas relaccedilotildees consumeristas isto eacute os contratadores de creacutedito consignado natildeo
possuem domiacutenio para realizar uma compra consciente Sendo assim os consumidores
apresentam limitaccedilotildees sobre o serviccedilo financeiro na qual estaacute adquirindo A partir da anaacutelise
foi possiacutevel verificar atraveacutes dos entrevistados que o puacuteblico idoso natildeo possuiacutea conhecimento
sobre as taxas juros que incidiam sobre as parcelas Aleacutem disso os bancaacuterios afirmavam que
iriam dividir em mais pagamentos para natildeo atrapalhar no orccedilamento mensal do consumidor
Por conseguinte aspectos como estes facilitavam a induzir os idosos a adquirem o creacutedito
mostrando a estes o quatildeo era vantajoso o produto oferecido
Tambeacutem deve-se ressaltar que por se tratar de um puacuteblico com baixo grau de instruccedilatildeo
e alguns analfabetos tanto os bancaacuterios quanto os estagiaacuterios omitiam informaccedilotildees bem
como tambeacutem utilizavam os recursos linguiacutesticos Estas duas formas contribuiacuteram para que as
vendas fossem efetuadas de uma maneira mais raacutepida Uma vez que a forma de falar ou a
26
omissatildeo influenciavam aos idosos comprarem o produto de uma forma irrefletida visto que
esses consumidores acreditavam no que estava sendo falado por parte do fornecedor
Portanto diante da fragilidade do consumidor em questatildeo eacute perceptiacutevel que na
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado boa parte dos idosos muitas vezes natildeo estatildeo acompanhados
por nenhum membro da famiacutelia Desta maneira para os bancaacuteriosestagiaacuterios a forma de
abordar o cliente fica mais acessiacutevel ainda mais por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel com
pouco grau de instruccedilatildeo ou conhecimento Logo situaccedilotildees como estas contribuem para os
fornecedores tirarem proveito do puacuteblico idoso Outro fato que deve ser destacado eacute a
presenccedila do Estado incentivando programas de alfabetizaccedilatildeo financeira independente do fator
idade para que a sociedade no geral saiba ter consciecircncia clareza sobre as relaccedilotildees de
consumo
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29
APEcircNDICE A
Roteiro de Entrevista qualitativa aplicada aos bancaacuterios e seus correspondentes
1 Idade
2 Formaccedilatildeo acadecircmica ( ) Ensino Meacutedio
( ) Superior
3 Haacute quanto tempo vocecirc trabalha ou jaacute trabalhou vendendo serviccedilos financeiros Em
qual cidade Descreva os serviccedilos financeiros que vocecirc mais estava habituado a
venda
4 Fale um pouco sobre as atividades que vocecirc realizava dentro da empresa Me conte
como era o seu dia a dia como era o processo de venda Da captaccedilatildeo do cliente ao
fechamento do contrato ou da venda do serviccedilo DEcirc EXEMPLOS
5 Quais produtos financeiros vocecirc estava ou estaacute mais habituado a vender
Creacutedito consignado creacutedito pessoal seguros empreacutestimos financiamentos
Qual vocecirc eacute mais estimulado a fazer
Tem diferenccedila na venda desses produtos
A abordagem ao cliente muda Quais satildeo mais diferentes
Vocecirc pode descrever para mim cada um deles por favor
Quais produtos satildeo os mais procurados
6 Qual eacute o tipo de puacuteblico que busca pelo empreacutestimo Descreva para mim as
caracteriacutesticas que vocecirc julga como mais marcantes Geralmente satildeo pessoas de que
faixa etaacuteria Satildeo pessoas de classe baixa meacutedia ou alta Satildeo pessoas instruiacutedas
7 Essas pessoas possuem um esclarecimento sobre o que seria esse tipo creacutedito
Compreendem as vantagens e as desvantagens relacionadas ao serviccedilo O que vocecirc
acha disso
8 No momento da contrataccedilatildeo de creacutedito o que eacute falado Como se daacute Todos os temos
do contrato ficam claros Vocecircs bancaacuterios explicitam o que estaacute no contrato Haacute
30
alguma avaliaccedilatildeo criteriosa do perfil do cliente de suas condiccedilotildees financeiras
9 O que vocecirc jaacute verificou por parte das pessoas que tomam esse creacutedito Qual seria os
maiores motivos para a procura do creacutedito consignado
10 Quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito vocecirc concorda com as vantagens oferecidas no
contrato ou acredita que algo deveria ser alterado O que vocecirc natildeo estaria de acordo
11 Qual o limite de desconto mensal da folha de pagamento do trabalhador o banco
oferece Por algum momento o banco excedeu o valor de desconto da folha Comente
essefato
12 Quanto agraves poliacuteticas bancaacuterias proposta pelos bancos para a venda de produtos
financeiros vocecirc concorda Ou algum momento jaacute discordou Discorra sobre o fato
13 Frequentemente vocecircs bancaacuterios satildeo estimulados a bater metas sobre os produtos que
vocecircs oferecem Vocecirc concorda que existe uma certa pressatildeo em vender cada vez mais
produtos Em alguma situaccedilatildeo vocecirc natildeo esteve de acordo como a forma que deveria
induzir os clientes a comprar um produto na qual vocecirc estaria oferecendo
19
Aacutercia ldquoEntatildeo assim muitas vezes as pessoas natildeo vem
com o conhecimento financeiro real eles querem
o imediato querem o empreacutestimo naquele
momento Muita gente natildeo tem a noccedilatildeo de como
vai ficar aquilordquo
Antocircnio ldquoEntatildeo no puacuteblico de menor renda esse
discernimento eacute menos eles olham mais se a
parcela cabe no bolso deles do que no montante
de juros que eles vatildeo pagar no finalrdquo
Fonte Dados da pesquisa
Diante destes dois perfis de consumidores vulneraacuteveis os analfabetos e os com baixa
instruccedilatildeo pode-se verificar por meio das gravaccedilotildees que tanto as pessoas analfabetas e as com
baixa instruccedilatildeo natildeo possuem compreensatildeo suficiente para realizar uma contrataccedilatildeo de creacutedito
A entrevistada Marcela afirma que vender para esse determinado tipo puacuteblico facilitava pelo
fato da falta de conhecimento financeiro
Outra situaccedilatildeo comentada durante a gravaccedilatildeo das entrevistas foi sobre as parcelas dos
empreacutestimos os bancaacuterios e os estagiaacuterios induzem os clientes a dividirem em mais vezes A
entrevistada Marcela tambeacutem afirma que sempre propunha aos seus clientes dividir em
setenta e duas vezes alegando para essas pessoas que o valor iria ldquocaber no bolsordquo Mas na
verdade os bancaacuterios aproveitam do analfabetismo financeiro dos tomadores de creacutedito
visando a lucratividade das instituiccedilotildees financeiras dado que as taxas aumentam de acordo
com prazo
A partir dessa anaacutelise eacute possiacutevel perceber de forma clara as limitaccedilotildees dos idosos no
processo de compra Conforme Chertman (2011 p21) as consequecircncias da idade
ldquopotencializam a vulnerabilidade de compra pela dificuldade de comprar em escala (podendo
negociar preccedilos)rdquo De fato nota-se que a questatildeo do analfabetismo baixa instruccedilatildeo e idade
afetam na tomada de decisatildeo consciente do consumidor
42 Categoria II
421 Omissatildeo de dados na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
A informaccedilatildeo no momento da compra eacute essencial para que o cliente natildeo faccedila uma
escolha errocircnea quanto ao produto Em relaccedilatildeo as entrevistas realizadas foi possiacutevel inferir
que na contrataccedilatildeo de creacutedito os bancaacuterios e seus intermediaacuterios natildeo informam o valor da
taxa de juros e acabam focando nos valores das parcelas no prazo e em quantas vezes o
parcelamento ficaraacute Sendo assim os atendentes procuram natildeo informar aos consumidores
20
quanto ficaraacute o valor total do empreacutestimo ao incidirem os juros Atraveacutes do quadro abaixo
pode-se comprovar que no momento da contrataccedilatildeo do creacutedito os bancaacuterios e estagiaacuterios
omitem determinadas informaccedilotildees aos clientes
Quadro 4 - Omissatildeo de informaccedilotildees na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Ana Luiacuteza ldquoNormalmente eu natildeo falo o valor dos juros
dificilmente eu falo o valor do juros soacute falo que
ele eacute mais baixo e informo que independe do que
a aconteccedila na economia brasileira a partir do
momento que a pessoa estaacute fazendo o contrato o
juros nunca vai aumentar que aquele juros e
sempre seraacute aquelerdquo
Marcela ldquoEntatildeo na verdade o que eu aprendi no Banco X
a regra clara Eu tinha que omitir Eu natildeo
precisava mentir mas eu precisava omitir
algumas informaccedilotildees Entatildeo eu abordava o
cliente sempre eacute Buscando saber do sonho dele
para depois eu vender o empreacutestimo Eu tentava
omitir informaccedilotildees como taxas prazo de
pagamento que eram coisas que eu soacute falava se o
cliente me perguntasse Eu achava muito
tranquilo assim vender Eu natildeo tinha muita
dificuldade natildeordquo
ldquoA gente omitia o valor total que o cliente ia
pagar justamente porque se vocecirc falar ele natildeo vai
levar entatildeo eacute A gente omitia e tentava fazer o
cliente fechar a venda na hora Principalmente
quando a venda era no caixa eletrocircnico que era
muito mais faacutecil porque agraves vezes o cliente
fechava a venda ali naquele momento naquele
instante natildeo refletia muito era mais faacutecil vender e
muitas vezes eles tavam sozinho muitas vezes os
aposentados vatildeo para agecircncia sozinho natildeo
estavam acompanhados dos filhos de ningueacutemrdquo
Carlos Eduardo ldquoNo contrato fala dos juros mas eu soacute respondo
quando o cliente perguntardquo
Marcos ldquoQuando o cliente fazia por exemplo um
empreacutestimo a gente falava o valor da parcela
21
quanto que ele vai pegar quando vai descontar do
pagamento falava a taxa de juros tambeacutem mas
acabava que eles nem sabiamrdquo
ldquoSe perguntasse alguma coisa a gente falavardquo
Fonte Dados da pesquisa
Como jaacute foi dito o cliente tem como direito obter informaccedilotildees necessaacuterias do que ele
estaacute adquirindo mas quando isso natildeo ocorre pode-se dizer que estaacute ocorrendo uma omissatildeo
dos fatos O autor Silva (2009 p146) expotildee o art 14 do CDC destacando ldquoo dever de
informaccedilatildeo cuja omissatildeo caracteriza defeito do serviccedilo ensejador do dever de indenizarrdquo
Logo pode-se concluir que quando o cliente natildeo eacute alertado sobre o produto ou serviccedilo e este
causa danos o consumidor deve ser reparado
Diante do que foi explicitado acima pode-se perceber atraveacutes das gravaccedilotildees feitas
quatro entrevistados falaram que natildeo davam as informaccedilotildees necessaacuterias para os contratadores
de creacuteditos A entrevistada Marcela usa o termo ldquoomissatildeordquo ela afirma que agraves vezes era
necessaacuterio omitir para que a venda do empreacutestimo consignado fosse realizada mais
rapidamente Jaacute os demais entrevistados alegam que normalmente natildeo falam as taxas de juros
eles informam as taxas apenas se o cliente perguntar Percebe-se tambeacutem que por se tratar de
um puacuteblico mais vulneraacutevel os bancaacuteriosestagiaacuterios tinham maior facilidade em convencecirc-
los na hora da compra jaacute que grande parte desse puacuteblico natildeo possui instruccedilotildees suficientes
para adquirir esse tipo de produto
Dessa forma eacute expliacutecito que os bancaacuterios e os estagiaacuterios natildeo davam as informaccedilotildees
necessaacuterias aos seus clientes pelo fato de terem que apresentar maior lucratividade aos
bancos Uma vez que como foi relatado por Marcela a instituiccedilatildeo financeira onde trabalhava
alegava que certas informaccedilotildees deveriam ser ldquoomitidasrdquo Dessa forma pode-se evidenciar a
violaccedilatildeo do direito do consumidor
Dentre a vulnerabilidade do consumidor quanto a omissatildeo dos fatos por partes dos
bancaacuterios e seus correspondentes haacute tambeacutem outro recurso utilizado pelos fornecedores o
linguiacutestico Isto eacute satildeo termos palavras usadas que suavizam na hora da contrataccedilatildeo de
creacutedito Pode-se dizer que eacute a comunicaccedilatildeo existente entre o fornecedor e o cliente a fim de
que o primeiro consiga induzir o segundo a comprar seu produto
O marketing de vendas retrata esta relaccedilatildeo citada acima de consumidor e fornecedor
De acordo com Bernardi (2012 p75) ldquoo marketing de vendas possui uma relaccedilatildeo estreita com
o elemento do composto mercadoloacutegico denominado de promoccedilatildeo que se refere a todas as
accedilotildees relativas agrave comunicaccedilatildeo e agrave venda dos produtos de uma organizaccedilatildeordquo
22
Atraveacutes dessa relaccedilatildeo construiacuteda pela comunicaccedilatildeo pode-se verificar por parte das
entrevistas que os bancaacuterios e os estagiaacuterios utilizam de recursos linguiacutesticos para convencer o
cliente a comprar tal produto Isto eacute estes tinham certo cuidado na maneira de falar para que
os clientes se sentissem agrave vontade e consequentemente efetivar a venda do produto
A comunicaccedilatildeo exerce influecircncia na venda de um produto ou seja esse diaacutelogo entre
cliente e fornecedor facilita a compra de um produto por parte do consumidor O autor
Bernardi (2012 p77) acresce o termo merchandising este eacute visto como um dos principais
meacutetodos de marketing associado agrave venda
Eacute um termo que pode ser usado como instrumento de comunicaccedilatildeo que apresenta o
produto ao consumidor e favorece a sua compra Merchandising no entanto eacute criar
um cenaacuterio de um produto serviccedilo ou marca de forma casual Os principais
conceitos do merchandising estatildeo voltados agrave boa estrateacutegia de comunicaccedilatildeo no
ponto de venda pois visa destacar o produto ou serviccedilo buscando assim motivar as
compras por impulso jaacute que possui uma comunicaccedilatildeo muito proacutexima agrave venda
Logo compreende-se que o merchandising eacute uma ferramenta que aproxima o cliente e
o fornecedor atraveacutes da comunicaccedilatildeo
Como jaacute foi mencionado anteriormente a forma de comunicar exerce uma forte
influecircncia no ato da compra Todavia atraveacutes das entrevistas pode-se notar certa preocupaccedilatildeo
em como abordar o cliente ou seja a forma de dialogar com seus clientes Percebeu-se entatildeo
que determinadas palavras eram trocadas por outras como por exemplo o termo
ldquoempreacutestimordquo muitas vezes era substituiacutedo pelo termo ldquodinheirinhordquo ou creacutedito A partir do
quadro abaixo pode-se concluir que a forma de falar eacute utilizada como um artifiacutecio na hora da
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado
23
43 Categoria III
431 Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por se tratar de um puacuteblico de idade com baixo grau de instruccedilatildeo ou ateacute mesmo analfabetos
os bancaacuterios estagiaacuterios se beneficiam dessa relaccedilatildeo A forma de falar induz os consumidores
de serviccedilos financeiros a adquirirem certo produto O Quadro 5 apresenta as respostas
referentes agrave forma de falar dos intermediaacuterios bancaacuterios
Quadro 5- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Marcela ldquoAcredito que para vender esse tipo de produto que eacute
um produto difiacutecil que as pessoas agraves vezes quando
vocecirc fala ldquoempreacutestimordquo a pessoa fica com o peacute atraacutes
entatildeo tem que ser assim Coisas que a gente natildeo usa eacute
falar empreacutestimo natildeo existe no banco entendeu Eacute
um dinheirinho suavizar realmente a expressatildeo
empreacutestimo porque quando vocecirc fala a expressatildeo
empreacutestimo as pessoas se fechamrdquo
ldquoMuitas vezes eles natildeo entendiam o que vocecirc estava
falando entatildeo Ah fulano vocecirc tem um dinheirinho
aqui disponiacutevel para vocecirc pegar aiacute eles perguntavam
Mas vocecirc estaacute me dando esse dinheirordquo
Marcos ldquoOutra coisa o termo empreacutestimo o pessoal mesmo
falava que era uma coisa muito pesada de se dizer a
maioria das pessoas natildeo vecirc com bons olhos entatildeo a
gente falava um dinheirinho pro cliente pois ameniza
um pouco o termo Querendo ou natildeo o modo de falar
influencia um poucordquo
Daniel ldquoEu por exemplo falo creacutedito porque eu tocirc
conversando com o cliente e ele vecirc que tem outras
pessoas em volta agraves vezes eu falar empreacutestimo ele
pode ficar um pouco chateado daquilo nem todo
mundo gosta de ir no banco pra pegar empreacutestimo
gosta de ir laacute para sacar dinheiro Eu prefiro trabalhar
com a palavra creacutedito rdquo
Antocircnio ldquoGeralmente a gente utiliza o termo creacutedito vocecirc tem
um creacutedito aprovado Porque agraves vezes a pessoa tem
ateacute medo resistecircncia em empreacutestimo Geralmente a
24
gente fala que vocecirc tem um creacutedito aprovado e aiacute a
gente fala em qual linha a pessoa tem creacutedito
pessoal financiamento para veiacuteculos financiamento
imobiliaacuterio consignado que eacute o creacutedito que vem da
folha de pagamento Entatildeo a gente normalmente
oferta creacutedito ldquo
Fonte Dados da pesquisa
Conforme alguns entrevistados esses natildeo utilizam o termo correto que eacute ldquoempreacutestimo
consignadordquo Nas gravaccedilotildees os bancaacuterios e seus correspondentes alegam que os clientes tecircm
eacute um ldquodinheirinhordquo disponiacutevel para pegarem no banco Outros afirmam que o vocaacutebulo
empregado por eles eacute o ldquocreacuteditordquo pois ameniza um pouco o termo Este possui o mesmo
significado do primeiro mas para muitos o termo quer dizer credibilidade ldquocreacutedito na praccedilardquo
apesar de ser sinocircnimo do vocaacutebulo ldquoempreacutestimordquo essa palavra soa de forma positiva
Ao verificar a forma de comunicaccedilatildeo com os clientes do empreacutestimo consignado
pode-se perceber que essa substituiccedilatildeo de ldquopalavrasrdquo ocorre com o intuito amenizar o termo
ldquoempreacutestimordquo visto que por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel as pessoas assustam quando
pronunciam a palavra empreacutestimo Para muitos esse termo soa de forma negativa como
pessoas que possuem desorganizaccedilatildeo financeira ou inadimplecircncia Por este fato tanto os
bancaacuterios quanto os estagiaacuterios procuram utilizar vocaacutebulos que suavizem e que soem de uma
forma positiva para o cliente Sendo assim a forma de se comunicar pode alterar a venda de
determinado produto ofertado Mas essa forma de suavizar os termos empregados durante a
venda do serviccedilo financeiro fora de certos limites eacutetico-legais pode ser vista como uma
espeacutecie de ldquoomissatildeordquo do que realmente esses tomadores de creacutedito estatildeo comprando Pois
como jaacute foi retratado de acordo com o CDC os termos devem ser informados de forma clara
ao cliente
Podemos exemplificar de acordo com um entrevistado que afirma utilizar o termo
ldquodinheirinhordquo por ser mais faacutecil dos aposentados e pensionistas entenderem jaacute que muitos
desses clientes possuiacuteam dificuldades sobre o que de fato estavam comprando Aleacutem disso o
bancaacuterio acredita que modo de falar pode alterar a execuccedilatildeo da venda
Tendo em vista os aspectos observados tanto o artifiacutecio linguiacutestico quanto a omissatildeo
das informaccedilotildees pelos bancaacuteriosestagiaacuterios possui objetivos em comum pelas instituiccedilotildees
financeiras na qual visam a obtenccedilatildeo de maiores lucros para essas empresas Aleacutem disso os
bancos satildeo os maiores beneficiados pois natildeo levam em consideraccedilatildeo a isonomia das relaccedilotildees
entre consumidor e fornecedor Portanto conclui-se que em meio a essa relaccedilatildeo o consumidor
eacute parte mais fraca onde seus direitos satildeo violados pelos fornecedores de creacutedito
25
5 CONCLUSAtildeO
O creacutedito consignado eacute um tipo de empreacutestimo recente que vem sendo utilizado com
maior frequecircncia por um determinado puacuteblico (LOPES et al2014) Com isso as instituiccedilotildees
bancaacuterias estatildeo apresentando certo interesse sobre esse ldquonovordquo tipo de puacuteblico em ascensatildeo
Os intermediaacuterios bancaacuterios vecircm buscando formas para atrair os idosos seja atraveacutes das
facilidades da obtenccedilatildeo do creacutedito ou ateacute mesmo no modo de comunicar utilizando de
artifiacutecios de linguagem Em suma os bancos utilizam de praacuteticas de marketing tensionados a
obter vantagens sobre esses consumidores De acordo com o Coacutedigo de Consumidor (CDC)
estes satildeo considerados como vulneraacuteveis
Perante o estudo notou-se que a vulnerabilidade do idoso eacute agravada jaacute que
enquadram como consumidores hipervulneraacuteveis Essa vulnerabilidade acontece atraveacutes das
relaccedilotildees de consumo onde os fornecedores do empreacutestimo tiram proveito do estado em que
esses consumidores se encontram Para que estes cidadatildeos hipervulneraacuteveis sejam amparados
haacute o Estatuto do idoso e Coacutedigo do Consumidor ambos dispotildeem de normas que regem a
relaccedilatildeo entre consumidor-fornecedor Deve-se ressaltar que apesar da existecircncia das
legislaccedilotildees os bancos continuam praticando ldquoexcessosrdquo com os consumidores no momento da
contrataccedilatildeo do creacutedito Eacute relevante a imposiccedilatildeo do Estado visando inibir a lesatildeo do direito
sendo especificado ao idoso
Logo atraveacutes dos resultados da pesquisa pode-se concluir que essa vulnerabilidade
acentuada ocorre atraveacutes de fatores como idade baixa escolaridade e baixo grau de instruccedilatildeo
que interferem nas relaccedilotildees consumeristas isto eacute os contratadores de creacutedito consignado natildeo
possuem domiacutenio para realizar uma compra consciente Sendo assim os consumidores
apresentam limitaccedilotildees sobre o serviccedilo financeiro na qual estaacute adquirindo A partir da anaacutelise
foi possiacutevel verificar atraveacutes dos entrevistados que o puacuteblico idoso natildeo possuiacutea conhecimento
sobre as taxas juros que incidiam sobre as parcelas Aleacutem disso os bancaacuterios afirmavam que
iriam dividir em mais pagamentos para natildeo atrapalhar no orccedilamento mensal do consumidor
Por conseguinte aspectos como estes facilitavam a induzir os idosos a adquirem o creacutedito
mostrando a estes o quatildeo era vantajoso o produto oferecido
Tambeacutem deve-se ressaltar que por se tratar de um puacuteblico com baixo grau de instruccedilatildeo
e alguns analfabetos tanto os bancaacuterios quanto os estagiaacuterios omitiam informaccedilotildees bem
como tambeacutem utilizavam os recursos linguiacutesticos Estas duas formas contribuiacuteram para que as
vendas fossem efetuadas de uma maneira mais raacutepida Uma vez que a forma de falar ou a
26
omissatildeo influenciavam aos idosos comprarem o produto de uma forma irrefletida visto que
esses consumidores acreditavam no que estava sendo falado por parte do fornecedor
Portanto diante da fragilidade do consumidor em questatildeo eacute perceptiacutevel que na
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado boa parte dos idosos muitas vezes natildeo estatildeo acompanhados
por nenhum membro da famiacutelia Desta maneira para os bancaacuteriosestagiaacuterios a forma de
abordar o cliente fica mais acessiacutevel ainda mais por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel com
pouco grau de instruccedilatildeo ou conhecimento Logo situaccedilotildees como estas contribuem para os
fornecedores tirarem proveito do puacuteblico idoso Outro fato que deve ser destacado eacute a
presenccedila do Estado incentivando programas de alfabetizaccedilatildeo financeira independente do fator
idade para que a sociedade no geral saiba ter consciecircncia clareza sobre as relaccedilotildees de
consumo
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29
APEcircNDICE A
Roteiro de Entrevista qualitativa aplicada aos bancaacuterios e seus correspondentes
1 Idade
2 Formaccedilatildeo acadecircmica ( ) Ensino Meacutedio
( ) Superior
3 Haacute quanto tempo vocecirc trabalha ou jaacute trabalhou vendendo serviccedilos financeiros Em
qual cidade Descreva os serviccedilos financeiros que vocecirc mais estava habituado a
venda
4 Fale um pouco sobre as atividades que vocecirc realizava dentro da empresa Me conte
como era o seu dia a dia como era o processo de venda Da captaccedilatildeo do cliente ao
fechamento do contrato ou da venda do serviccedilo DEcirc EXEMPLOS
5 Quais produtos financeiros vocecirc estava ou estaacute mais habituado a vender
Creacutedito consignado creacutedito pessoal seguros empreacutestimos financiamentos
Qual vocecirc eacute mais estimulado a fazer
Tem diferenccedila na venda desses produtos
A abordagem ao cliente muda Quais satildeo mais diferentes
Vocecirc pode descrever para mim cada um deles por favor
Quais produtos satildeo os mais procurados
6 Qual eacute o tipo de puacuteblico que busca pelo empreacutestimo Descreva para mim as
caracteriacutesticas que vocecirc julga como mais marcantes Geralmente satildeo pessoas de que
faixa etaacuteria Satildeo pessoas de classe baixa meacutedia ou alta Satildeo pessoas instruiacutedas
7 Essas pessoas possuem um esclarecimento sobre o que seria esse tipo creacutedito
Compreendem as vantagens e as desvantagens relacionadas ao serviccedilo O que vocecirc
acha disso
8 No momento da contrataccedilatildeo de creacutedito o que eacute falado Como se daacute Todos os temos
do contrato ficam claros Vocecircs bancaacuterios explicitam o que estaacute no contrato Haacute
30
alguma avaliaccedilatildeo criteriosa do perfil do cliente de suas condiccedilotildees financeiras
9 O que vocecirc jaacute verificou por parte das pessoas que tomam esse creacutedito Qual seria os
maiores motivos para a procura do creacutedito consignado
10 Quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito vocecirc concorda com as vantagens oferecidas no
contrato ou acredita que algo deveria ser alterado O que vocecirc natildeo estaria de acordo
11 Qual o limite de desconto mensal da folha de pagamento do trabalhador o banco
oferece Por algum momento o banco excedeu o valor de desconto da folha Comente
essefato
12 Quanto agraves poliacuteticas bancaacuterias proposta pelos bancos para a venda de produtos
financeiros vocecirc concorda Ou algum momento jaacute discordou Discorra sobre o fato
13 Frequentemente vocecircs bancaacuterios satildeo estimulados a bater metas sobre os produtos que
vocecircs oferecem Vocecirc concorda que existe uma certa pressatildeo em vender cada vez mais
produtos Em alguma situaccedilatildeo vocecirc natildeo esteve de acordo como a forma que deveria
induzir os clientes a comprar um produto na qual vocecirc estaria oferecendo
20
quanto ficaraacute o valor total do empreacutestimo ao incidirem os juros Atraveacutes do quadro abaixo
pode-se comprovar que no momento da contrataccedilatildeo do creacutedito os bancaacuterios e estagiaacuterios
omitem determinadas informaccedilotildees aos clientes
Quadro 4 - Omissatildeo de informaccedilotildees na hora da contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Ana Luiacuteza ldquoNormalmente eu natildeo falo o valor dos juros
dificilmente eu falo o valor do juros soacute falo que
ele eacute mais baixo e informo que independe do que
a aconteccedila na economia brasileira a partir do
momento que a pessoa estaacute fazendo o contrato o
juros nunca vai aumentar que aquele juros e
sempre seraacute aquelerdquo
Marcela ldquoEntatildeo na verdade o que eu aprendi no Banco X
a regra clara Eu tinha que omitir Eu natildeo
precisava mentir mas eu precisava omitir
algumas informaccedilotildees Entatildeo eu abordava o
cliente sempre eacute Buscando saber do sonho dele
para depois eu vender o empreacutestimo Eu tentava
omitir informaccedilotildees como taxas prazo de
pagamento que eram coisas que eu soacute falava se o
cliente me perguntasse Eu achava muito
tranquilo assim vender Eu natildeo tinha muita
dificuldade natildeordquo
ldquoA gente omitia o valor total que o cliente ia
pagar justamente porque se vocecirc falar ele natildeo vai
levar entatildeo eacute A gente omitia e tentava fazer o
cliente fechar a venda na hora Principalmente
quando a venda era no caixa eletrocircnico que era
muito mais faacutecil porque agraves vezes o cliente
fechava a venda ali naquele momento naquele
instante natildeo refletia muito era mais faacutecil vender e
muitas vezes eles tavam sozinho muitas vezes os
aposentados vatildeo para agecircncia sozinho natildeo
estavam acompanhados dos filhos de ningueacutemrdquo
Carlos Eduardo ldquoNo contrato fala dos juros mas eu soacute respondo
quando o cliente perguntardquo
Marcos ldquoQuando o cliente fazia por exemplo um
empreacutestimo a gente falava o valor da parcela
21
quanto que ele vai pegar quando vai descontar do
pagamento falava a taxa de juros tambeacutem mas
acabava que eles nem sabiamrdquo
ldquoSe perguntasse alguma coisa a gente falavardquo
Fonte Dados da pesquisa
Como jaacute foi dito o cliente tem como direito obter informaccedilotildees necessaacuterias do que ele
estaacute adquirindo mas quando isso natildeo ocorre pode-se dizer que estaacute ocorrendo uma omissatildeo
dos fatos O autor Silva (2009 p146) expotildee o art 14 do CDC destacando ldquoo dever de
informaccedilatildeo cuja omissatildeo caracteriza defeito do serviccedilo ensejador do dever de indenizarrdquo
Logo pode-se concluir que quando o cliente natildeo eacute alertado sobre o produto ou serviccedilo e este
causa danos o consumidor deve ser reparado
Diante do que foi explicitado acima pode-se perceber atraveacutes das gravaccedilotildees feitas
quatro entrevistados falaram que natildeo davam as informaccedilotildees necessaacuterias para os contratadores
de creacuteditos A entrevistada Marcela usa o termo ldquoomissatildeordquo ela afirma que agraves vezes era
necessaacuterio omitir para que a venda do empreacutestimo consignado fosse realizada mais
rapidamente Jaacute os demais entrevistados alegam que normalmente natildeo falam as taxas de juros
eles informam as taxas apenas se o cliente perguntar Percebe-se tambeacutem que por se tratar de
um puacuteblico mais vulneraacutevel os bancaacuteriosestagiaacuterios tinham maior facilidade em convencecirc-
los na hora da compra jaacute que grande parte desse puacuteblico natildeo possui instruccedilotildees suficientes
para adquirir esse tipo de produto
Dessa forma eacute expliacutecito que os bancaacuterios e os estagiaacuterios natildeo davam as informaccedilotildees
necessaacuterias aos seus clientes pelo fato de terem que apresentar maior lucratividade aos
bancos Uma vez que como foi relatado por Marcela a instituiccedilatildeo financeira onde trabalhava
alegava que certas informaccedilotildees deveriam ser ldquoomitidasrdquo Dessa forma pode-se evidenciar a
violaccedilatildeo do direito do consumidor
Dentre a vulnerabilidade do consumidor quanto a omissatildeo dos fatos por partes dos
bancaacuterios e seus correspondentes haacute tambeacutem outro recurso utilizado pelos fornecedores o
linguiacutestico Isto eacute satildeo termos palavras usadas que suavizam na hora da contrataccedilatildeo de
creacutedito Pode-se dizer que eacute a comunicaccedilatildeo existente entre o fornecedor e o cliente a fim de
que o primeiro consiga induzir o segundo a comprar seu produto
O marketing de vendas retrata esta relaccedilatildeo citada acima de consumidor e fornecedor
De acordo com Bernardi (2012 p75) ldquoo marketing de vendas possui uma relaccedilatildeo estreita com
o elemento do composto mercadoloacutegico denominado de promoccedilatildeo que se refere a todas as
accedilotildees relativas agrave comunicaccedilatildeo e agrave venda dos produtos de uma organizaccedilatildeordquo
22
Atraveacutes dessa relaccedilatildeo construiacuteda pela comunicaccedilatildeo pode-se verificar por parte das
entrevistas que os bancaacuterios e os estagiaacuterios utilizam de recursos linguiacutesticos para convencer o
cliente a comprar tal produto Isto eacute estes tinham certo cuidado na maneira de falar para que
os clientes se sentissem agrave vontade e consequentemente efetivar a venda do produto
A comunicaccedilatildeo exerce influecircncia na venda de um produto ou seja esse diaacutelogo entre
cliente e fornecedor facilita a compra de um produto por parte do consumidor O autor
Bernardi (2012 p77) acresce o termo merchandising este eacute visto como um dos principais
meacutetodos de marketing associado agrave venda
Eacute um termo que pode ser usado como instrumento de comunicaccedilatildeo que apresenta o
produto ao consumidor e favorece a sua compra Merchandising no entanto eacute criar
um cenaacuterio de um produto serviccedilo ou marca de forma casual Os principais
conceitos do merchandising estatildeo voltados agrave boa estrateacutegia de comunicaccedilatildeo no
ponto de venda pois visa destacar o produto ou serviccedilo buscando assim motivar as
compras por impulso jaacute que possui uma comunicaccedilatildeo muito proacutexima agrave venda
Logo compreende-se que o merchandising eacute uma ferramenta que aproxima o cliente e
o fornecedor atraveacutes da comunicaccedilatildeo
Como jaacute foi mencionado anteriormente a forma de comunicar exerce uma forte
influecircncia no ato da compra Todavia atraveacutes das entrevistas pode-se notar certa preocupaccedilatildeo
em como abordar o cliente ou seja a forma de dialogar com seus clientes Percebeu-se entatildeo
que determinadas palavras eram trocadas por outras como por exemplo o termo
ldquoempreacutestimordquo muitas vezes era substituiacutedo pelo termo ldquodinheirinhordquo ou creacutedito A partir do
quadro abaixo pode-se concluir que a forma de falar eacute utilizada como um artifiacutecio na hora da
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado
23
43 Categoria III
431 Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por se tratar de um puacuteblico de idade com baixo grau de instruccedilatildeo ou ateacute mesmo analfabetos
os bancaacuterios estagiaacuterios se beneficiam dessa relaccedilatildeo A forma de falar induz os consumidores
de serviccedilos financeiros a adquirirem certo produto O Quadro 5 apresenta as respostas
referentes agrave forma de falar dos intermediaacuterios bancaacuterios
Quadro 5- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Marcela ldquoAcredito que para vender esse tipo de produto que eacute
um produto difiacutecil que as pessoas agraves vezes quando
vocecirc fala ldquoempreacutestimordquo a pessoa fica com o peacute atraacutes
entatildeo tem que ser assim Coisas que a gente natildeo usa eacute
falar empreacutestimo natildeo existe no banco entendeu Eacute
um dinheirinho suavizar realmente a expressatildeo
empreacutestimo porque quando vocecirc fala a expressatildeo
empreacutestimo as pessoas se fechamrdquo
ldquoMuitas vezes eles natildeo entendiam o que vocecirc estava
falando entatildeo Ah fulano vocecirc tem um dinheirinho
aqui disponiacutevel para vocecirc pegar aiacute eles perguntavam
Mas vocecirc estaacute me dando esse dinheirordquo
Marcos ldquoOutra coisa o termo empreacutestimo o pessoal mesmo
falava que era uma coisa muito pesada de se dizer a
maioria das pessoas natildeo vecirc com bons olhos entatildeo a
gente falava um dinheirinho pro cliente pois ameniza
um pouco o termo Querendo ou natildeo o modo de falar
influencia um poucordquo
Daniel ldquoEu por exemplo falo creacutedito porque eu tocirc
conversando com o cliente e ele vecirc que tem outras
pessoas em volta agraves vezes eu falar empreacutestimo ele
pode ficar um pouco chateado daquilo nem todo
mundo gosta de ir no banco pra pegar empreacutestimo
gosta de ir laacute para sacar dinheiro Eu prefiro trabalhar
com a palavra creacutedito rdquo
Antocircnio ldquoGeralmente a gente utiliza o termo creacutedito vocecirc tem
um creacutedito aprovado Porque agraves vezes a pessoa tem
ateacute medo resistecircncia em empreacutestimo Geralmente a
24
gente fala que vocecirc tem um creacutedito aprovado e aiacute a
gente fala em qual linha a pessoa tem creacutedito
pessoal financiamento para veiacuteculos financiamento
imobiliaacuterio consignado que eacute o creacutedito que vem da
folha de pagamento Entatildeo a gente normalmente
oferta creacutedito ldquo
Fonte Dados da pesquisa
Conforme alguns entrevistados esses natildeo utilizam o termo correto que eacute ldquoempreacutestimo
consignadordquo Nas gravaccedilotildees os bancaacuterios e seus correspondentes alegam que os clientes tecircm
eacute um ldquodinheirinhordquo disponiacutevel para pegarem no banco Outros afirmam que o vocaacutebulo
empregado por eles eacute o ldquocreacuteditordquo pois ameniza um pouco o termo Este possui o mesmo
significado do primeiro mas para muitos o termo quer dizer credibilidade ldquocreacutedito na praccedilardquo
apesar de ser sinocircnimo do vocaacutebulo ldquoempreacutestimordquo essa palavra soa de forma positiva
Ao verificar a forma de comunicaccedilatildeo com os clientes do empreacutestimo consignado
pode-se perceber que essa substituiccedilatildeo de ldquopalavrasrdquo ocorre com o intuito amenizar o termo
ldquoempreacutestimordquo visto que por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel as pessoas assustam quando
pronunciam a palavra empreacutestimo Para muitos esse termo soa de forma negativa como
pessoas que possuem desorganizaccedilatildeo financeira ou inadimplecircncia Por este fato tanto os
bancaacuterios quanto os estagiaacuterios procuram utilizar vocaacutebulos que suavizem e que soem de uma
forma positiva para o cliente Sendo assim a forma de se comunicar pode alterar a venda de
determinado produto ofertado Mas essa forma de suavizar os termos empregados durante a
venda do serviccedilo financeiro fora de certos limites eacutetico-legais pode ser vista como uma
espeacutecie de ldquoomissatildeordquo do que realmente esses tomadores de creacutedito estatildeo comprando Pois
como jaacute foi retratado de acordo com o CDC os termos devem ser informados de forma clara
ao cliente
Podemos exemplificar de acordo com um entrevistado que afirma utilizar o termo
ldquodinheirinhordquo por ser mais faacutecil dos aposentados e pensionistas entenderem jaacute que muitos
desses clientes possuiacuteam dificuldades sobre o que de fato estavam comprando Aleacutem disso o
bancaacuterio acredita que modo de falar pode alterar a execuccedilatildeo da venda
Tendo em vista os aspectos observados tanto o artifiacutecio linguiacutestico quanto a omissatildeo
das informaccedilotildees pelos bancaacuteriosestagiaacuterios possui objetivos em comum pelas instituiccedilotildees
financeiras na qual visam a obtenccedilatildeo de maiores lucros para essas empresas Aleacutem disso os
bancos satildeo os maiores beneficiados pois natildeo levam em consideraccedilatildeo a isonomia das relaccedilotildees
entre consumidor e fornecedor Portanto conclui-se que em meio a essa relaccedilatildeo o consumidor
eacute parte mais fraca onde seus direitos satildeo violados pelos fornecedores de creacutedito
25
5 CONCLUSAtildeO
O creacutedito consignado eacute um tipo de empreacutestimo recente que vem sendo utilizado com
maior frequecircncia por um determinado puacuteblico (LOPES et al2014) Com isso as instituiccedilotildees
bancaacuterias estatildeo apresentando certo interesse sobre esse ldquonovordquo tipo de puacuteblico em ascensatildeo
Os intermediaacuterios bancaacuterios vecircm buscando formas para atrair os idosos seja atraveacutes das
facilidades da obtenccedilatildeo do creacutedito ou ateacute mesmo no modo de comunicar utilizando de
artifiacutecios de linguagem Em suma os bancos utilizam de praacuteticas de marketing tensionados a
obter vantagens sobre esses consumidores De acordo com o Coacutedigo de Consumidor (CDC)
estes satildeo considerados como vulneraacuteveis
Perante o estudo notou-se que a vulnerabilidade do idoso eacute agravada jaacute que
enquadram como consumidores hipervulneraacuteveis Essa vulnerabilidade acontece atraveacutes das
relaccedilotildees de consumo onde os fornecedores do empreacutestimo tiram proveito do estado em que
esses consumidores se encontram Para que estes cidadatildeos hipervulneraacuteveis sejam amparados
haacute o Estatuto do idoso e Coacutedigo do Consumidor ambos dispotildeem de normas que regem a
relaccedilatildeo entre consumidor-fornecedor Deve-se ressaltar que apesar da existecircncia das
legislaccedilotildees os bancos continuam praticando ldquoexcessosrdquo com os consumidores no momento da
contrataccedilatildeo do creacutedito Eacute relevante a imposiccedilatildeo do Estado visando inibir a lesatildeo do direito
sendo especificado ao idoso
Logo atraveacutes dos resultados da pesquisa pode-se concluir que essa vulnerabilidade
acentuada ocorre atraveacutes de fatores como idade baixa escolaridade e baixo grau de instruccedilatildeo
que interferem nas relaccedilotildees consumeristas isto eacute os contratadores de creacutedito consignado natildeo
possuem domiacutenio para realizar uma compra consciente Sendo assim os consumidores
apresentam limitaccedilotildees sobre o serviccedilo financeiro na qual estaacute adquirindo A partir da anaacutelise
foi possiacutevel verificar atraveacutes dos entrevistados que o puacuteblico idoso natildeo possuiacutea conhecimento
sobre as taxas juros que incidiam sobre as parcelas Aleacutem disso os bancaacuterios afirmavam que
iriam dividir em mais pagamentos para natildeo atrapalhar no orccedilamento mensal do consumidor
Por conseguinte aspectos como estes facilitavam a induzir os idosos a adquirem o creacutedito
mostrando a estes o quatildeo era vantajoso o produto oferecido
Tambeacutem deve-se ressaltar que por se tratar de um puacuteblico com baixo grau de instruccedilatildeo
e alguns analfabetos tanto os bancaacuterios quanto os estagiaacuterios omitiam informaccedilotildees bem
como tambeacutem utilizavam os recursos linguiacutesticos Estas duas formas contribuiacuteram para que as
vendas fossem efetuadas de uma maneira mais raacutepida Uma vez que a forma de falar ou a
26
omissatildeo influenciavam aos idosos comprarem o produto de uma forma irrefletida visto que
esses consumidores acreditavam no que estava sendo falado por parte do fornecedor
Portanto diante da fragilidade do consumidor em questatildeo eacute perceptiacutevel que na
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado boa parte dos idosos muitas vezes natildeo estatildeo acompanhados
por nenhum membro da famiacutelia Desta maneira para os bancaacuteriosestagiaacuterios a forma de
abordar o cliente fica mais acessiacutevel ainda mais por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel com
pouco grau de instruccedilatildeo ou conhecimento Logo situaccedilotildees como estas contribuem para os
fornecedores tirarem proveito do puacuteblico idoso Outro fato que deve ser destacado eacute a
presenccedila do Estado incentivando programas de alfabetizaccedilatildeo financeira independente do fator
idade para que a sociedade no geral saiba ter consciecircncia clareza sobre as relaccedilotildees de
consumo
6 REFEREcircNCIAS
ARAUacuteJO V L D Preferecircncia pela liquidez dos bancos puacuteblicos no ciclo de expansatildeo do
creacutedito no Brasil Revista Anaacutelise Econocircmica n 59 2013
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28
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Juris Rationis v 8 n 2 p 29-40 2016 ISSN ISSN 2237-2249
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2006
Pfeiffer R A C Defesa da concorrecircncia e bem-estar do consumidor Diss Universidade de
Satildeo Paulo 2010
PINTO M F A Anaacutelise da abusividade contra consumidores hipervulneraacuteveis a partir de
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Pesquisas Juriacutedicas v IV n 1 2015
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hipervulneraacutevel na sociedade de consumo poacutes moderna Revista Juriacutedica da Presidecircncia v
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consignado pelos idosos Revista Brasileira de Ciecircncias do Envelhecimento Humano v
11 n 1 2014
29
APEcircNDICE A
Roteiro de Entrevista qualitativa aplicada aos bancaacuterios e seus correspondentes
1 Idade
2 Formaccedilatildeo acadecircmica ( ) Ensino Meacutedio
( ) Superior
3 Haacute quanto tempo vocecirc trabalha ou jaacute trabalhou vendendo serviccedilos financeiros Em
qual cidade Descreva os serviccedilos financeiros que vocecirc mais estava habituado a
venda
4 Fale um pouco sobre as atividades que vocecirc realizava dentro da empresa Me conte
como era o seu dia a dia como era o processo de venda Da captaccedilatildeo do cliente ao
fechamento do contrato ou da venda do serviccedilo DEcirc EXEMPLOS
5 Quais produtos financeiros vocecirc estava ou estaacute mais habituado a vender
Creacutedito consignado creacutedito pessoal seguros empreacutestimos financiamentos
Qual vocecirc eacute mais estimulado a fazer
Tem diferenccedila na venda desses produtos
A abordagem ao cliente muda Quais satildeo mais diferentes
Vocecirc pode descrever para mim cada um deles por favor
Quais produtos satildeo os mais procurados
6 Qual eacute o tipo de puacuteblico que busca pelo empreacutestimo Descreva para mim as
caracteriacutesticas que vocecirc julga como mais marcantes Geralmente satildeo pessoas de que
faixa etaacuteria Satildeo pessoas de classe baixa meacutedia ou alta Satildeo pessoas instruiacutedas
7 Essas pessoas possuem um esclarecimento sobre o que seria esse tipo creacutedito
Compreendem as vantagens e as desvantagens relacionadas ao serviccedilo O que vocecirc
acha disso
8 No momento da contrataccedilatildeo de creacutedito o que eacute falado Como se daacute Todos os temos
do contrato ficam claros Vocecircs bancaacuterios explicitam o que estaacute no contrato Haacute
30
alguma avaliaccedilatildeo criteriosa do perfil do cliente de suas condiccedilotildees financeiras
9 O que vocecirc jaacute verificou por parte das pessoas que tomam esse creacutedito Qual seria os
maiores motivos para a procura do creacutedito consignado
10 Quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito vocecirc concorda com as vantagens oferecidas no
contrato ou acredita que algo deveria ser alterado O que vocecirc natildeo estaria de acordo
11 Qual o limite de desconto mensal da folha de pagamento do trabalhador o banco
oferece Por algum momento o banco excedeu o valor de desconto da folha Comente
essefato
12 Quanto agraves poliacuteticas bancaacuterias proposta pelos bancos para a venda de produtos
financeiros vocecirc concorda Ou algum momento jaacute discordou Discorra sobre o fato
13 Frequentemente vocecircs bancaacuterios satildeo estimulados a bater metas sobre os produtos que
vocecircs oferecem Vocecirc concorda que existe uma certa pressatildeo em vender cada vez mais
produtos Em alguma situaccedilatildeo vocecirc natildeo esteve de acordo como a forma que deveria
induzir os clientes a comprar um produto na qual vocecirc estaria oferecendo
21
quanto que ele vai pegar quando vai descontar do
pagamento falava a taxa de juros tambeacutem mas
acabava que eles nem sabiamrdquo
ldquoSe perguntasse alguma coisa a gente falavardquo
Fonte Dados da pesquisa
Como jaacute foi dito o cliente tem como direito obter informaccedilotildees necessaacuterias do que ele
estaacute adquirindo mas quando isso natildeo ocorre pode-se dizer que estaacute ocorrendo uma omissatildeo
dos fatos O autor Silva (2009 p146) expotildee o art 14 do CDC destacando ldquoo dever de
informaccedilatildeo cuja omissatildeo caracteriza defeito do serviccedilo ensejador do dever de indenizarrdquo
Logo pode-se concluir que quando o cliente natildeo eacute alertado sobre o produto ou serviccedilo e este
causa danos o consumidor deve ser reparado
Diante do que foi explicitado acima pode-se perceber atraveacutes das gravaccedilotildees feitas
quatro entrevistados falaram que natildeo davam as informaccedilotildees necessaacuterias para os contratadores
de creacuteditos A entrevistada Marcela usa o termo ldquoomissatildeordquo ela afirma que agraves vezes era
necessaacuterio omitir para que a venda do empreacutestimo consignado fosse realizada mais
rapidamente Jaacute os demais entrevistados alegam que normalmente natildeo falam as taxas de juros
eles informam as taxas apenas se o cliente perguntar Percebe-se tambeacutem que por se tratar de
um puacuteblico mais vulneraacutevel os bancaacuteriosestagiaacuterios tinham maior facilidade em convencecirc-
los na hora da compra jaacute que grande parte desse puacuteblico natildeo possui instruccedilotildees suficientes
para adquirir esse tipo de produto
Dessa forma eacute expliacutecito que os bancaacuterios e os estagiaacuterios natildeo davam as informaccedilotildees
necessaacuterias aos seus clientes pelo fato de terem que apresentar maior lucratividade aos
bancos Uma vez que como foi relatado por Marcela a instituiccedilatildeo financeira onde trabalhava
alegava que certas informaccedilotildees deveriam ser ldquoomitidasrdquo Dessa forma pode-se evidenciar a
violaccedilatildeo do direito do consumidor
Dentre a vulnerabilidade do consumidor quanto a omissatildeo dos fatos por partes dos
bancaacuterios e seus correspondentes haacute tambeacutem outro recurso utilizado pelos fornecedores o
linguiacutestico Isto eacute satildeo termos palavras usadas que suavizam na hora da contrataccedilatildeo de
creacutedito Pode-se dizer que eacute a comunicaccedilatildeo existente entre o fornecedor e o cliente a fim de
que o primeiro consiga induzir o segundo a comprar seu produto
O marketing de vendas retrata esta relaccedilatildeo citada acima de consumidor e fornecedor
De acordo com Bernardi (2012 p75) ldquoo marketing de vendas possui uma relaccedilatildeo estreita com
o elemento do composto mercadoloacutegico denominado de promoccedilatildeo que se refere a todas as
accedilotildees relativas agrave comunicaccedilatildeo e agrave venda dos produtos de uma organizaccedilatildeordquo
22
Atraveacutes dessa relaccedilatildeo construiacuteda pela comunicaccedilatildeo pode-se verificar por parte das
entrevistas que os bancaacuterios e os estagiaacuterios utilizam de recursos linguiacutesticos para convencer o
cliente a comprar tal produto Isto eacute estes tinham certo cuidado na maneira de falar para que
os clientes se sentissem agrave vontade e consequentemente efetivar a venda do produto
A comunicaccedilatildeo exerce influecircncia na venda de um produto ou seja esse diaacutelogo entre
cliente e fornecedor facilita a compra de um produto por parte do consumidor O autor
Bernardi (2012 p77) acresce o termo merchandising este eacute visto como um dos principais
meacutetodos de marketing associado agrave venda
Eacute um termo que pode ser usado como instrumento de comunicaccedilatildeo que apresenta o
produto ao consumidor e favorece a sua compra Merchandising no entanto eacute criar
um cenaacuterio de um produto serviccedilo ou marca de forma casual Os principais
conceitos do merchandising estatildeo voltados agrave boa estrateacutegia de comunicaccedilatildeo no
ponto de venda pois visa destacar o produto ou serviccedilo buscando assim motivar as
compras por impulso jaacute que possui uma comunicaccedilatildeo muito proacutexima agrave venda
Logo compreende-se que o merchandising eacute uma ferramenta que aproxima o cliente e
o fornecedor atraveacutes da comunicaccedilatildeo
Como jaacute foi mencionado anteriormente a forma de comunicar exerce uma forte
influecircncia no ato da compra Todavia atraveacutes das entrevistas pode-se notar certa preocupaccedilatildeo
em como abordar o cliente ou seja a forma de dialogar com seus clientes Percebeu-se entatildeo
que determinadas palavras eram trocadas por outras como por exemplo o termo
ldquoempreacutestimordquo muitas vezes era substituiacutedo pelo termo ldquodinheirinhordquo ou creacutedito A partir do
quadro abaixo pode-se concluir que a forma de falar eacute utilizada como um artifiacutecio na hora da
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado
23
43 Categoria III
431 Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por se tratar de um puacuteblico de idade com baixo grau de instruccedilatildeo ou ateacute mesmo analfabetos
os bancaacuterios estagiaacuterios se beneficiam dessa relaccedilatildeo A forma de falar induz os consumidores
de serviccedilos financeiros a adquirirem certo produto O Quadro 5 apresenta as respostas
referentes agrave forma de falar dos intermediaacuterios bancaacuterios
Quadro 5- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Marcela ldquoAcredito que para vender esse tipo de produto que eacute
um produto difiacutecil que as pessoas agraves vezes quando
vocecirc fala ldquoempreacutestimordquo a pessoa fica com o peacute atraacutes
entatildeo tem que ser assim Coisas que a gente natildeo usa eacute
falar empreacutestimo natildeo existe no banco entendeu Eacute
um dinheirinho suavizar realmente a expressatildeo
empreacutestimo porque quando vocecirc fala a expressatildeo
empreacutestimo as pessoas se fechamrdquo
ldquoMuitas vezes eles natildeo entendiam o que vocecirc estava
falando entatildeo Ah fulano vocecirc tem um dinheirinho
aqui disponiacutevel para vocecirc pegar aiacute eles perguntavam
Mas vocecirc estaacute me dando esse dinheirordquo
Marcos ldquoOutra coisa o termo empreacutestimo o pessoal mesmo
falava que era uma coisa muito pesada de se dizer a
maioria das pessoas natildeo vecirc com bons olhos entatildeo a
gente falava um dinheirinho pro cliente pois ameniza
um pouco o termo Querendo ou natildeo o modo de falar
influencia um poucordquo
Daniel ldquoEu por exemplo falo creacutedito porque eu tocirc
conversando com o cliente e ele vecirc que tem outras
pessoas em volta agraves vezes eu falar empreacutestimo ele
pode ficar um pouco chateado daquilo nem todo
mundo gosta de ir no banco pra pegar empreacutestimo
gosta de ir laacute para sacar dinheiro Eu prefiro trabalhar
com a palavra creacutedito rdquo
Antocircnio ldquoGeralmente a gente utiliza o termo creacutedito vocecirc tem
um creacutedito aprovado Porque agraves vezes a pessoa tem
ateacute medo resistecircncia em empreacutestimo Geralmente a
24
gente fala que vocecirc tem um creacutedito aprovado e aiacute a
gente fala em qual linha a pessoa tem creacutedito
pessoal financiamento para veiacuteculos financiamento
imobiliaacuterio consignado que eacute o creacutedito que vem da
folha de pagamento Entatildeo a gente normalmente
oferta creacutedito ldquo
Fonte Dados da pesquisa
Conforme alguns entrevistados esses natildeo utilizam o termo correto que eacute ldquoempreacutestimo
consignadordquo Nas gravaccedilotildees os bancaacuterios e seus correspondentes alegam que os clientes tecircm
eacute um ldquodinheirinhordquo disponiacutevel para pegarem no banco Outros afirmam que o vocaacutebulo
empregado por eles eacute o ldquocreacuteditordquo pois ameniza um pouco o termo Este possui o mesmo
significado do primeiro mas para muitos o termo quer dizer credibilidade ldquocreacutedito na praccedilardquo
apesar de ser sinocircnimo do vocaacutebulo ldquoempreacutestimordquo essa palavra soa de forma positiva
Ao verificar a forma de comunicaccedilatildeo com os clientes do empreacutestimo consignado
pode-se perceber que essa substituiccedilatildeo de ldquopalavrasrdquo ocorre com o intuito amenizar o termo
ldquoempreacutestimordquo visto que por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel as pessoas assustam quando
pronunciam a palavra empreacutestimo Para muitos esse termo soa de forma negativa como
pessoas que possuem desorganizaccedilatildeo financeira ou inadimplecircncia Por este fato tanto os
bancaacuterios quanto os estagiaacuterios procuram utilizar vocaacutebulos que suavizem e que soem de uma
forma positiva para o cliente Sendo assim a forma de se comunicar pode alterar a venda de
determinado produto ofertado Mas essa forma de suavizar os termos empregados durante a
venda do serviccedilo financeiro fora de certos limites eacutetico-legais pode ser vista como uma
espeacutecie de ldquoomissatildeordquo do que realmente esses tomadores de creacutedito estatildeo comprando Pois
como jaacute foi retratado de acordo com o CDC os termos devem ser informados de forma clara
ao cliente
Podemos exemplificar de acordo com um entrevistado que afirma utilizar o termo
ldquodinheirinhordquo por ser mais faacutecil dos aposentados e pensionistas entenderem jaacute que muitos
desses clientes possuiacuteam dificuldades sobre o que de fato estavam comprando Aleacutem disso o
bancaacuterio acredita que modo de falar pode alterar a execuccedilatildeo da venda
Tendo em vista os aspectos observados tanto o artifiacutecio linguiacutestico quanto a omissatildeo
das informaccedilotildees pelos bancaacuteriosestagiaacuterios possui objetivos em comum pelas instituiccedilotildees
financeiras na qual visam a obtenccedilatildeo de maiores lucros para essas empresas Aleacutem disso os
bancos satildeo os maiores beneficiados pois natildeo levam em consideraccedilatildeo a isonomia das relaccedilotildees
entre consumidor e fornecedor Portanto conclui-se que em meio a essa relaccedilatildeo o consumidor
eacute parte mais fraca onde seus direitos satildeo violados pelos fornecedores de creacutedito
25
5 CONCLUSAtildeO
O creacutedito consignado eacute um tipo de empreacutestimo recente que vem sendo utilizado com
maior frequecircncia por um determinado puacuteblico (LOPES et al2014) Com isso as instituiccedilotildees
bancaacuterias estatildeo apresentando certo interesse sobre esse ldquonovordquo tipo de puacuteblico em ascensatildeo
Os intermediaacuterios bancaacuterios vecircm buscando formas para atrair os idosos seja atraveacutes das
facilidades da obtenccedilatildeo do creacutedito ou ateacute mesmo no modo de comunicar utilizando de
artifiacutecios de linguagem Em suma os bancos utilizam de praacuteticas de marketing tensionados a
obter vantagens sobre esses consumidores De acordo com o Coacutedigo de Consumidor (CDC)
estes satildeo considerados como vulneraacuteveis
Perante o estudo notou-se que a vulnerabilidade do idoso eacute agravada jaacute que
enquadram como consumidores hipervulneraacuteveis Essa vulnerabilidade acontece atraveacutes das
relaccedilotildees de consumo onde os fornecedores do empreacutestimo tiram proveito do estado em que
esses consumidores se encontram Para que estes cidadatildeos hipervulneraacuteveis sejam amparados
haacute o Estatuto do idoso e Coacutedigo do Consumidor ambos dispotildeem de normas que regem a
relaccedilatildeo entre consumidor-fornecedor Deve-se ressaltar que apesar da existecircncia das
legislaccedilotildees os bancos continuam praticando ldquoexcessosrdquo com os consumidores no momento da
contrataccedilatildeo do creacutedito Eacute relevante a imposiccedilatildeo do Estado visando inibir a lesatildeo do direito
sendo especificado ao idoso
Logo atraveacutes dos resultados da pesquisa pode-se concluir que essa vulnerabilidade
acentuada ocorre atraveacutes de fatores como idade baixa escolaridade e baixo grau de instruccedilatildeo
que interferem nas relaccedilotildees consumeristas isto eacute os contratadores de creacutedito consignado natildeo
possuem domiacutenio para realizar uma compra consciente Sendo assim os consumidores
apresentam limitaccedilotildees sobre o serviccedilo financeiro na qual estaacute adquirindo A partir da anaacutelise
foi possiacutevel verificar atraveacutes dos entrevistados que o puacuteblico idoso natildeo possuiacutea conhecimento
sobre as taxas juros que incidiam sobre as parcelas Aleacutem disso os bancaacuterios afirmavam que
iriam dividir em mais pagamentos para natildeo atrapalhar no orccedilamento mensal do consumidor
Por conseguinte aspectos como estes facilitavam a induzir os idosos a adquirem o creacutedito
mostrando a estes o quatildeo era vantajoso o produto oferecido
Tambeacutem deve-se ressaltar que por se tratar de um puacuteblico com baixo grau de instruccedilatildeo
e alguns analfabetos tanto os bancaacuterios quanto os estagiaacuterios omitiam informaccedilotildees bem
como tambeacutem utilizavam os recursos linguiacutesticos Estas duas formas contribuiacuteram para que as
vendas fossem efetuadas de uma maneira mais raacutepida Uma vez que a forma de falar ou a
26
omissatildeo influenciavam aos idosos comprarem o produto de uma forma irrefletida visto que
esses consumidores acreditavam no que estava sendo falado por parte do fornecedor
Portanto diante da fragilidade do consumidor em questatildeo eacute perceptiacutevel que na
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado boa parte dos idosos muitas vezes natildeo estatildeo acompanhados
por nenhum membro da famiacutelia Desta maneira para os bancaacuteriosestagiaacuterios a forma de
abordar o cliente fica mais acessiacutevel ainda mais por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel com
pouco grau de instruccedilatildeo ou conhecimento Logo situaccedilotildees como estas contribuem para os
fornecedores tirarem proveito do puacuteblico idoso Outro fato que deve ser destacado eacute a
presenccedila do Estado incentivando programas de alfabetizaccedilatildeo financeira independente do fator
idade para que a sociedade no geral saiba ter consciecircncia clareza sobre as relaccedilotildees de
consumo
6 REFEREcircNCIAS
ARAUacuteJO V L D Preferecircncia pela liquidez dos bancos puacuteblicos no ciclo de expansatildeo do
creacutedito no Brasil Revista Anaacutelise Econocircmica n 59 2013
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BARONE F M SADER E Acesso ao creacutedito no Brasil evoluccedilatildeo e perspectivas Revista
de Administraccedilatildeo Puacuteblica v 42 n 6 p 1249-1267 2008
BERNARDI A J Marketing de vendas Maiecircutica - Curso de Processos Gerenciais 27
Novembro 2012 75-79
BERTONCELLO K R D LIMA C C D Adesatildeo ao projeto conciliar eacute legal - CNJ
Projeto piloto tratamento das situaccedilotildees de superindividamento do consumidor Estado do
Rio Grande do Sul - Poder Judiciaacuterio 2007
BONI V Q JUREMA S Aprendendo a entrevistar como fazer entrevistas em ciecircncias
sociais Em Tese v 2 n 1 p 68-80 2005
BORGES L R A vulnerabilidade do consumidor e os contratos de relaccedilatildeo de consumo
Universidade de Mariacutelia 2010 127f Tese (Doutorado em Direito)
BRASIL Coacutedigo de Defesa do Consumidor Lei 8078 de 11 de setembro de 1990 Diaacuterio
Oficial da Uniatildeo 1990
27
BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Gestatildeo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatiacutestica Disponiacutevel em
httpwwwcidadesibgegovbrpainelpopulacaophplang=ampcodmun=314610ampsearch=mina
s-gerais|ouro-preto|infogrE1ficos-evoluE7E3o-populacional-e-pirE2mide-etE1ria
Acesso em 13022017
BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Gestatildeo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatiacutestica Disponiacutevel em
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as-gerais|itabirito gt Acesso em 12022017
BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Gestatildeo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatiacutestica Disponiacutevel em
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as-gerais|mariana gt Acesso em 12022017
BUAES C S Educaccedilatildeo financeira com idosos em um contexto popular Educaccedilatildeo amp
Realidade v 40 n 1 2015
CAVALCANTE R B CALIXTO P PINHEIRO M M K Anaacutelise de conteuacutedo
consideraccedilotildees gerais relaccedilotildees com a pergunta de pesquisa possibilidades e limitaccedilotildees do
meacutetodo Informaccedilatildeo amp Sociedade v 14 n 1 2014
CHERTMAN F Vulnerabilidade de consumo por analfabetos Dissertaccedilatildeo de Mestrado
Escola de Administraccedilatildeo de Empresas de Satildeo Paulo da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 217p 2011
CAREGNATO R C A MUTTI R Pesquisa qualitativa anaacutelise de discurso versus anaacutelise
de conteuacutedo Texto contexto enferm v15 n 4 p 679-84 2006
COSTA J H A possibilidade de anulaccedilatildeo dos contratos de empreacutestimo firmados pelo
microempresaacuterio individual a partir da caracterizaccedilatildeo do superendividamento Revista
Paradigma n 22 2014
DE SAacute R P R GONCcedilALVES G V Superindividamento do consumidor vulnerabilidade
dos idosos nos contratos de muacutetuo Revista de Estudos Juriacutedicos n 02 2015
GONCcedilALVES S Superendividamento do consumidor vulnerabilidade dos idosos nos
contratos de muacutetuo Revista de Estudos Juriacutedicos n 02 2013 VI
JOSEacute T S FERREIRA V H D A Centro Universitaacuterio Franciscano Disponivel em
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2016
LIMA BG FERREIRA V H A Tempos de consumo e vulnerabilidade potencializada a
necessaacuteria (re) leitura dos direitos fundamentais diante da proteccedilatildeo do consumidor idoso
superendividado XI Seminaacuterio Internacional de Demandas Sociais e Poliacuteticas Puacuteblicas
na Sociedade Contemporacircnea Santa Cruz do Sul 2015
LOPES P D L et al Associaccedilatildeo Educacional Dom Bosco 2014 Disponivel em
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28
MARIMPIETRI F A hipervulnerabilidade do consumidor frente aos contratos de
empreacutestimo bancaacuterio na contemporacircnea sociedade de consumo Revista Debate Virtual n
170 2014
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Juris Rationis v 8 n 2 p 29-40 2016 ISSN ISSN 2237-2249
OLIVEIRA J R F Lei 108202003 do empreacutestimo consignado e sua institucionalidade
2006
Pfeiffer R A C Defesa da concorrecircncia e bem-estar do consumidor Diss Universidade de
Satildeo Paulo 2010
PINTO M F A Anaacutelise da abusividade contra consumidores hipervulneraacuteveis a partir de
decisotildees do superior tribunal de justiccedila e do coacutedigo de defesa do consumidor Revista
Pesquisas Juriacutedicas v IV n 1 2015
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hipervulneraacutevel na sociedade de consumo poacutes moderna Revista Juriacutedica da Presidecircncia v
18 n 116 p 533-558 2017
SENADO FEDERAL Projeto de Lei do Senado n 283 2012 Disponiacutevel em
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de janeiro de 2017
SILVA L V L Contratos bancaaacuterios nas relaccedilotildees de consumo uma breve abodagem
Revista da EMERJ n 46 2009
SOUZA B O D MORETTO C F Entre a razatildeo e a emoccedilatildeo a tomada de creacutedito
consignado pelos idosos Revista Brasileira de Ciecircncias do Envelhecimento Humano v
11 n 1 2014
29
APEcircNDICE A
Roteiro de Entrevista qualitativa aplicada aos bancaacuterios e seus correspondentes
1 Idade
2 Formaccedilatildeo acadecircmica ( ) Ensino Meacutedio
( ) Superior
3 Haacute quanto tempo vocecirc trabalha ou jaacute trabalhou vendendo serviccedilos financeiros Em
qual cidade Descreva os serviccedilos financeiros que vocecirc mais estava habituado a
venda
4 Fale um pouco sobre as atividades que vocecirc realizava dentro da empresa Me conte
como era o seu dia a dia como era o processo de venda Da captaccedilatildeo do cliente ao
fechamento do contrato ou da venda do serviccedilo DEcirc EXEMPLOS
5 Quais produtos financeiros vocecirc estava ou estaacute mais habituado a vender
Creacutedito consignado creacutedito pessoal seguros empreacutestimos financiamentos
Qual vocecirc eacute mais estimulado a fazer
Tem diferenccedila na venda desses produtos
A abordagem ao cliente muda Quais satildeo mais diferentes
Vocecirc pode descrever para mim cada um deles por favor
Quais produtos satildeo os mais procurados
6 Qual eacute o tipo de puacuteblico que busca pelo empreacutestimo Descreva para mim as
caracteriacutesticas que vocecirc julga como mais marcantes Geralmente satildeo pessoas de que
faixa etaacuteria Satildeo pessoas de classe baixa meacutedia ou alta Satildeo pessoas instruiacutedas
7 Essas pessoas possuem um esclarecimento sobre o que seria esse tipo creacutedito
Compreendem as vantagens e as desvantagens relacionadas ao serviccedilo O que vocecirc
acha disso
8 No momento da contrataccedilatildeo de creacutedito o que eacute falado Como se daacute Todos os temos
do contrato ficam claros Vocecircs bancaacuterios explicitam o que estaacute no contrato Haacute
30
alguma avaliaccedilatildeo criteriosa do perfil do cliente de suas condiccedilotildees financeiras
9 O que vocecirc jaacute verificou por parte das pessoas que tomam esse creacutedito Qual seria os
maiores motivos para a procura do creacutedito consignado
10 Quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito vocecirc concorda com as vantagens oferecidas no
contrato ou acredita que algo deveria ser alterado O que vocecirc natildeo estaria de acordo
11 Qual o limite de desconto mensal da folha de pagamento do trabalhador o banco
oferece Por algum momento o banco excedeu o valor de desconto da folha Comente
essefato
12 Quanto agraves poliacuteticas bancaacuterias proposta pelos bancos para a venda de produtos
financeiros vocecirc concorda Ou algum momento jaacute discordou Discorra sobre o fato
13 Frequentemente vocecircs bancaacuterios satildeo estimulados a bater metas sobre os produtos que
vocecircs oferecem Vocecirc concorda que existe uma certa pressatildeo em vender cada vez mais
produtos Em alguma situaccedilatildeo vocecirc natildeo esteve de acordo como a forma que deveria
induzir os clientes a comprar um produto na qual vocecirc estaria oferecendo
22
Atraveacutes dessa relaccedilatildeo construiacuteda pela comunicaccedilatildeo pode-se verificar por parte das
entrevistas que os bancaacuterios e os estagiaacuterios utilizam de recursos linguiacutesticos para convencer o
cliente a comprar tal produto Isto eacute estes tinham certo cuidado na maneira de falar para que
os clientes se sentissem agrave vontade e consequentemente efetivar a venda do produto
A comunicaccedilatildeo exerce influecircncia na venda de um produto ou seja esse diaacutelogo entre
cliente e fornecedor facilita a compra de um produto por parte do consumidor O autor
Bernardi (2012 p77) acresce o termo merchandising este eacute visto como um dos principais
meacutetodos de marketing associado agrave venda
Eacute um termo que pode ser usado como instrumento de comunicaccedilatildeo que apresenta o
produto ao consumidor e favorece a sua compra Merchandising no entanto eacute criar
um cenaacuterio de um produto serviccedilo ou marca de forma casual Os principais
conceitos do merchandising estatildeo voltados agrave boa estrateacutegia de comunicaccedilatildeo no
ponto de venda pois visa destacar o produto ou serviccedilo buscando assim motivar as
compras por impulso jaacute que possui uma comunicaccedilatildeo muito proacutexima agrave venda
Logo compreende-se que o merchandising eacute uma ferramenta que aproxima o cliente e
o fornecedor atraveacutes da comunicaccedilatildeo
Como jaacute foi mencionado anteriormente a forma de comunicar exerce uma forte
influecircncia no ato da compra Todavia atraveacutes das entrevistas pode-se notar certa preocupaccedilatildeo
em como abordar o cliente ou seja a forma de dialogar com seus clientes Percebeu-se entatildeo
que determinadas palavras eram trocadas por outras como por exemplo o termo
ldquoempreacutestimordquo muitas vezes era substituiacutedo pelo termo ldquodinheirinhordquo ou creacutedito A partir do
quadro abaixo pode-se concluir que a forma de falar eacute utilizada como um artifiacutecio na hora da
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado
23
43 Categoria III
431 Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por se tratar de um puacuteblico de idade com baixo grau de instruccedilatildeo ou ateacute mesmo analfabetos
os bancaacuterios estagiaacuterios se beneficiam dessa relaccedilatildeo A forma de falar induz os consumidores
de serviccedilos financeiros a adquirirem certo produto O Quadro 5 apresenta as respostas
referentes agrave forma de falar dos intermediaacuterios bancaacuterios
Quadro 5- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Marcela ldquoAcredito que para vender esse tipo de produto que eacute
um produto difiacutecil que as pessoas agraves vezes quando
vocecirc fala ldquoempreacutestimordquo a pessoa fica com o peacute atraacutes
entatildeo tem que ser assim Coisas que a gente natildeo usa eacute
falar empreacutestimo natildeo existe no banco entendeu Eacute
um dinheirinho suavizar realmente a expressatildeo
empreacutestimo porque quando vocecirc fala a expressatildeo
empreacutestimo as pessoas se fechamrdquo
ldquoMuitas vezes eles natildeo entendiam o que vocecirc estava
falando entatildeo Ah fulano vocecirc tem um dinheirinho
aqui disponiacutevel para vocecirc pegar aiacute eles perguntavam
Mas vocecirc estaacute me dando esse dinheirordquo
Marcos ldquoOutra coisa o termo empreacutestimo o pessoal mesmo
falava que era uma coisa muito pesada de se dizer a
maioria das pessoas natildeo vecirc com bons olhos entatildeo a
gente falava um dinheirinho pro cliente pois ameniza
um pouco o termo Querendo ou natildeo o modo de falar
influencia um poucordquo
Daniel ldquoEu por exemplo falo creacutedito porque eu tocirc
conversando com o cliente e ele vecirc que tem outras
pessoas em volta agraves vezes eu falar empreacutestimo ele
pode ficar um pouco chateado daquilo nem todo
mundo gosta de ir no banco pra pegar empreacutestimo
gosta de ir laacute para sacar dinheiro Eu prefiro trabalhar
com a palavra creacutedito rdquo
Antocircnio ldquoGeralmente a gente utiliza o termo creacutedito vocecirc tem
um creacutedito aprovado Porque agraves vezes a pessoa tem
ateacute medo resistecircncia em empreacutestimo Geralmente a
24
gente fala que vocecirc tem um creacutedito aprovado e aiacute a
gente fala em qual linha a pessoa tem creacutedito
pessoal financiamento para veiacuteculos financiamento
imobiliaacuterio consignado que eacute o creacutedito que vem da
folha de pagamento Entatildeo a gente normalmente
oferta creacutedito ldquo
Fonte Dados da pesquisa
Conforme alguns entrevistados esses natildeo utilizam o termo correto que eacute ldquoempreacutestimo
consignadordquo Nas gravaccedilotildees os bancaacuterios e seus correspondentes alegam que os clientes tecircm
eacute um ldquodinheirinhordquo disponiacutevel para pegarem no banco Outros afirmam que o vocaacutebulo
empregado por eles eacute o ldquocreacuteditordquo pois ameniza um pouco o termo Este possui o mesmo
significado do primeiro mas para muitos o termo quer dizer credibilidade ldquocreacutedito na praccedilardquo
apesar de ser sinocircnimo do vocaacutebulo ldquoempreacutestimordquo essa palavra soa de forma positiva
Ao verificar a forma de comunicaccedilatildeo com os clientes do empreacutestimo consignado
pode-se perceber que essa substituiccedilatildeo de ldquopalavrasrdquo ocorre com o intuito amenizar o termo
ldquoempreacutestimordquo visto que por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel as pessoas assustam quando
pronunciam a palavra empreacutestimo Para muitos esse termo soa de forma negativa como
pessoas que possuem desorganizaccedilatildeo financeira ou inadimplecircncia Por este fato tanto os
bancaacuterios quanto os estagiaacuterios procuram utilizar vocaacutebulos que suavizem e que soem de uma
forma positiva para o cliente Sendo assim a forma de se comunicar pode alterar a venda de
determinado produto ofertado Mas essa forma de suavizar os termos empregados durante a
venda do serviccedilo financeiro fora de certos limites eacutetico-legais pode ser vista como uma
espeacutecie de ldquoomissatildeordquo do que realmente esses tomadores de creacutedito estatildeo comprando Pois
como jaacute foi retratado de acordo com o CDC os termos devem ser informados de forma clara
ao cliente
Podemos exemplificar de acordo com um entrevistado que afirma utilizar o termo
ldquodinheirinhordquo por ser mais faacutecil dos aposentados e pensionistas entenderem jaacute que muitos
desses clientes possuiacuteam dificuldades sobre o que de fato estavam comprando Aleacutem disso o
bancaacuterio acredita que modo de falar pode alterar a execuccedilatildeo da venda
Tendo em vista os aspectos observados tanto o artifiacutecio linguiacutestico quanto a omissatildeo
das informaccedilotildees pelos bancaacuteriosestagiaacuterios possui objetivos em comum pelas instituiccedilotildees
financeiras na qual visam a obtenccedilatildeo de maiores lucros para essas empresas Aleacutem disso os
bancos satildeo os maiores beneficiados pois natildeo levam em consideraccedilatildeo a isonomia das relaccedilotildees
entre consumidor e fornecedor Portanto conclui-se que em meio a essa relaccedilatildeo o consumidor
eacute parte mais fraca onde seus direitos satildeo violados pelos fornecedores de creacutedito
25
5 CONCLUSAtildeO
O creacutedito consignado eacute um tipo de empreacutestimo recente que vem sendo utilizado com
maior frequecircncia por um determinado puacuteblico (LOPES et al2014) Com isso as instituiccedilotildees
bancaacuterias estatildeo apresentando certo interesse sobre esse ldquonovordquo tipo de puacuteblico em ascensatildeo
Os intermediaacuterios bancaacuterios vecircm buscando formas para atrair os idosos seja atraveacutes das
facilidades da obtenccedilatildeo do creacutedito ou ateacute mesmo no modo de comunicar utilizando de
artifiacutecios de linguagem Em suma os bancos utilizam de praacuteticas de marketing tensionados a
obter vantagens sobre esses consumidores De acordo com o Coacutedigo de Consumidor (CDC)
estes satildeo considerados como vulneraacuteveis
Perante o estudo notou-se que a vulnerabilidade do idoso eacute agravada jaacute que
enquadram como consumidores hipervulneraacuteveis Essa vulnerabilidade acontece atraveacutes das
relaccedilotildees de consumo onde os fornecedores do empreacutestimo tiram proveito do estado em que
esses consumidores se encontram Para que estes cidadatildeos hipervulneraacuteveis sejam amparados
haacute o Estatuto do idoso e Coacutedigo do Consumidor ambos dispotildeem de normas que regem a
relaccedilatildeo entre consumidor-fornecedor Deve-se ressaltar que apesar da existecircncia das
legislaccedilotildees os bancos continuam praticando ldquoexcessosrdquo com os consumidores no momento da
contrataccedilatildeo do creacutedito Eacute relevante a imposiccedilatildeo do Estado visando inibir a lesatildeo do direito
sendo especificado ao idoso
Logo atraveacutes dos resultados da pesquisa pode-se concluir que essa vulnerabilidade
acentuada ocorre atraveacutes de fatores como idade baixa escolaridade e baixo grau de instruccedilatildeo
que interferem nas relaccedilotildees consumeristas isto eacute os contratadores de creacutedito consignado natildeo
possuem domiacutenio para realizar uma compra consciente Sendo assim os consumidores
apresentam limitaccedilotildees sobre o serviccedilo financeiro na qual estaacute adquirindo A partir da anaacutelise
foi possiacutevel verificar atraveacutes dos entrevistados que o puacuteblico idoso natildeo possuiacutea conhecimento
sobre as taxas juros que incidiam sobre as parcelas Aleacutem disso os bancaacuterios afirmavam que
iriam dividir em mais pagamentos para natildeo atrapalhar no orccedilamento mensal do consumidor
Por conseguinte aspectos como estes facilitavam a induzir os idosos a adquirem o creacutedito
mostrando a estes o quatildeo era vantajoso o produto oferecido
Tambeacutem deve-se ressaltar que por se tratar de um puacuteblico com baixo grau de instruccedilatildeo
e alguns analfabetos tanto os bancaacuterios quanto os estagiaacuterios omitiam informaccedilotildees bem
como tambeacutem utilizavam os recursos linguiacutesticos Estas duas formas contribuiacuteram para que as
vendas fossem efetuadas de uma maneira mais raacutepida Uma vez que a forma de falar ou a
26
omissatildeo influenciavam aos idosos comprarem o produto de uma forma irrefletida visto que
esses consumidores acreditavam no que estava sendo falado por parte do fornecedor
Portanto diante da fragilidade do consumidor em questatildeo eacute perceptiacutevel que na
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado boa parte dos idosos muitas vezes natildeo estatildeo acompanhados
por nenhum membro da famiacutelia Desta maneira para os bancaacuteriosestagiaacuterios a forma de
abordar o cliente fica mais acessiacutevel ainda mais por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel com
pouco grau de instruccedilatildeo ou conhecimento Logo situaccedilotildees como estas contribuem para os
fornecedores tirarem proveito do puacuteblico idoso Outro fato que deve ser destacado eacute a
presenccedila do Estado incentivando programas de alfabetizaccedilatildeo financeira independente do fator
idade para que a sociedade no geral saiba ter consciecircncia clareza sobre as relaccedilotildees de
consumo
6 REFEREcircNCIAS
ARAUacuteJO V L D Preferecircncia pela liquidez dos bancos puacuteblicos no ciclo de expansatildeo do
creacutedito no Brasil Revista Anaacutelise Econocircmica n 59 2013
BARBOSA H L P Intelligentia Juriacutedica 2002 Disponivel em
lthttpwwwintelligentiajuridicacombrartigosartigo4oldabr2002htmlgt Acesso em 12 jan
2017
BARONE F M SADER E Acesso ao creacutedito no Brasil evoluccedilatildeo e perspectivas Revista
de Administraccedilatildeo Puacuteblica v 42 n 6 p 1249-1267 2008
BERNARDI A J Marketing de vendas Maiecircutica - Curso de Processos Gerenciais 27
Novembro 2012 75-79
BERTONCELLO K R D LIMA C C D Adesatildeo ao projeto conciliar eacute legal - CNJ
Projeto piloto tratamento das situaccedilotildees de superindividamento do consumidor Estado do
Rio Grande do Sul - Poder Judiciaacuterio 2007
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httpwwwcidadesibgegovbrpainelpopulacaophplang=ampcodmun=314610ampsearch=mina
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Acesso em 13022017
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e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpwwwcidadesibgegovbrpainelpopulacaophplang=ampcodmun=313190ampsearch=min
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de conteuacutedo Texto contexto enferm v15 n 4 p 679-84 2006
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dos idosos nos contratos de muacutetuo Revista de Estudos Juriacutedicos n 02 2015
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JOSEacute T S FERREIRA V H D A Centro Universitaacuterio Franciscano Disponivel em
lthttpwwwunifrabreventossepe2012trabalhos5289pdfgt Acesso em 20 Dezembro
2016
LIMA BG FERREIRA V H A Tempos de consumo e vulnerabilidade potencializada a
necessaacuteria (re) leitura dos direitos fundamentais diante da proteccedilatildeo do consumidor idoso
superendividado XI Seminaacuterio Internacional de Demandas Sociais e Poliacuteticas Puacuteblicas
na Sociedade Contemporacircnea Santa Cruz do Sul 2015
LOPES P D L et al Associaccedilatildeo Educacional Dom Bosco 2014 Disponivel em
lthttpwwwaedbbrsegetarquivosartigos1422920308pdfgt Acesso em 01 Fevereiro 2017
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MARIMPIETRI F A hipervulnerabilidade do consumidor frente aos contratos de
empreacutestimo bancaacuterio na contemporacircnea sociedade de consumo Revista Debate Virtual n
170 2014
MEIRE R R ALVES F G Proteccedilatildeo juriacutedica especial dos consumidores hipervulneraacuteveis
Juris Rationis v 8 n 2 p 29-40 2016 ISSN ISSN 2237-2249
OLIVEIRA J R F Lei 108202003 do empreacutestimo consignado e sua institucionalidade
2006
Pfeiffer R A C Defesa da concorrecircncia e bem-estar do consumidor Diss Universidade de
Satildeo Paulo 2010
PINTO M F A Anaacutelise da abusividade contra consumidores hipervulneraacuteveis a partir de
decisotildees do superior tribunal de justiccedila e do coacutedigo de defesa do consumidor Revista
Pesquisas Juriacutedicas v IV n 1 2015
ROSA L C G BERNARDES L F FEacuteLIX V C O idoso como consumidor
hipervulneraacutevel na sociedade de consumo poacutes moderna Revista Juriacutedica da Presidecircncia v
18 n 116 p 533-558 2017
SENADO FEDERAL Projeto de Lei do Senado n 283 2012 Disponiacutevel em
lthttpwww25senadolegbrwebatividadematerias-materia1067733Egt acesso em 27
de janeiro de 2017
SILVA L V L Contratos bancaaacuterios nas relaccedilotildees de consumo uma breve abodagem
Revista da EMERJ n 46 2009
SOUZA B O D MORETTO C F Entre a razatildeo e a emoccedilatildeo a tomada de creacutedito
consignado pelos idosos Revista Brasileira de Ciecircncias do Envelhecimento Humano v
11 n 1 2014
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APEcircNDICE A
Roteiro de Entrevista qualitativa aplicada aos bancaacuterios e seus correspondentes
1 Idade
2 Formaccedilatildeo acadecircmica ( ) Ensino Meacutedio
( ) Superior
3 Haacute quanto tempo vocecirc trabalha ou jaacute trabalhou vendendo serviccedilos financeiros Em
qual cidade Descreva os serviccedilos financeiros que vocecirc mais estava habituado a
venda
4 Fale um pouco sobre as atividades que vocecirc realizava dentro da empresa Me conte
como era o seu dia a dia como era o processo de venda Da captaccedilatildeo do cliente ao
fechamento do contrato ou da venda do serviccedilo DEcirc EXEMPLOS
5 Quais produtos financeiros vocecirc estava ou estaacute mais habituado a vender
Creacutedito consignado creacutedito pessoal seguros empreacutestimos financiamentos
Qual vocecirc eacute mais estimulado a fazer
Tem diferenccedila na venda desses produtos
A abordagem ao cliente muda Quais satildeo mais diferentes
Vocecirc pode descrever para mim cada um deles por favor
Quais produtos satildeo os mais procurados
6 Qual eacute o tipo de puacuteblico que busca pelo empreacutestimo Descreva para mim as
caracteriacutesticas que vocecirc julga como mais marcantes Geralmente satildeo pessoas de que
faixa etaacuteria Satildeo pessoas de classe baixa meacutedia ou alta Satildeo pessoas instruiacutedas
7 Essas pessoas possuem um esclarecimento sobre o que seria esse tipo creacutedito
Compreendem as vantagens e as desvantagens relacionadas ao serviccedilo O que vocecirc
acha disso
8 No momento da contrataccedilatildeo de creacutedito o que eacute falado Como se daacute Todos os temos
do contrato ficam claros Vocecircs bancaacuterios explicitam o que estaacute no contrato Haacute
30
alguma avaliaccedilatildeo criteriosa do perfil do cliente de suas condiccedilotildees financeiras
9 O que vocecirc jaacute verificou por parte das pessoas que tomam esse creacutedito Qual seria os
maiores motivos para a procura do creacutedito consignado
10 Quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito vocecirc concorda com as vantagens oferecidas no
contrato ou acredita que algo deveria ser alterado O que vocecirc natildeo estaria de acordo
11 Qual o limite de desconto mensal da folha de pagamento do trabalhador o banco
oferece Por algum momento o banco excedeu o valor de desconto da folha Comente
essefato
12 Quanto agraves poliacuteticas bancaacuterias proposta pelos bancos para a venda de produtos
financeiros vocecirc concorda Ou algum momento jaacute discordou Discorra sobre o fato
13 Frequentemente vocecircs bancaacuterios satildeo estimulados a bater metas sobre os produtos que
vocecircs oferecem Vocecirc concorda que existe uma certa pressatildeo em vender cada vez mais
produtos Em alguma situaccedilatildeo vocecirc natildeo esteve de acordo como a forma que deveria
induzir os clientes a comprar um produto na qual vocecirc estaria oferecendo
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43 Categoria III
431 Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Por se tratar de um puacuteblico de idade com baixo grau de instruccedilatildeo ou ateacute mesmo analfabetos
os bancaacuterios estagiaacuterios se beneficiam dessa relaccedilatildeo A forma de falar induz os consumidores
de serviccedilos financeiros a adquirirem certo produto O Quadro 5 apresenta as respostas
referentes agrave forma de falar dos intermediaacuterios bancaacuterios
Quadro 5- Artifiacutecios de linguagem na contrataccedilatildeo de creacutedito
Entrevistados Trechos da entrevista
Marcela ldquoAcredito que para vender esse tipo de produto que eacute
um produto difiacutecil que as pessoas agraves vezes quando
vocecirc fala ldquoempreacutestimordquo a pessoa fica com o peacute atraacutes
entatildeo tem que ser assim Coisas que a gente natildeo usa eacute
falar empreacutestimo natildeo existe no banco entendeu Eacute
um dinheirinho suavizar realmente a expressatildeo
empreacutestimo porque quando vocecirc fala a expressatildeo
empreacutestimo as pessoas se fechamrdquo
ldquoMuitas vezes eles natildeo entendiam o que vocecirc estava
falando entatildeo Ah fulano vocecirc tem um dinheirinho
aqui disponiacutevel para vocecirc pegar aiacute eles perguntavam
Mas vocecirc estaacute me dando esse dinheirordquo
Marcos ldquoOutra coisa o termo empreacutestimo o pessoal mesmo
falava que era uma coisa muito pesada de se dizer a
maioria das pessoas natildeo vecirc com bons olhos entatildeo a
gente falava um dinheirinho pro cliente pois ameniza
um pouco o termo Querendo ou natildeo o modo de falar
influencia um poucordquo
Daniel ldquoEu por exemplo falo creacutedito porque eu tocirc
conversando com o cliente e ele vecirc que tem outras
pessoas em volta agraves vezes eu falar empreacutestimo ele
pode ficar um pouco chateado daquilo nem todo
mundo gosta de ir no banco pra pegar empreacutestimo
gosta de ir laacute para sacar dinheiro Eu prefiro trabalhar
com a palavra creacutedito rdquo
Antocircnio ldquoGeralmente a gente utiliza o termo creacutedito vocecirc tem
um creacutedito aprovado Porque agraves vezes a pessoa tem
ateacute medo resistecircncia em empreacutestimo Geralmente a
24
gente fala que vocecirc tem um creacutedito aprovado e aiacute a
gente fala em qual linha a pessoa tem creacutedito
pessoal financiamento para veiacuteculos financiamento
imobiliaacuterio consignado que eacute o creacutedito que vem da
folha de pagamento Entatildeo a gente normalmente
oferta creacutedito ldquo
Fonte Dados da pesquisa
Conforme alguns entrevistados esses natildeo utilizam o termo correto que eacute ldquoempreacutestimo
consignadordquo Nas gravaccedilotildees os bancaacuterios e seus correspondentes alegam que os clientes tecircm
eacute um ldquodinheirinhordquo disponiacutevel para pegarem no banco Outros afirmam que o vocaacutebulo
empregado por eles eacute o ldquocreacuteditordquo pois ameniza um pouco o termo Este possui o mesmo
significado do primeiro mas para muitos o termo quer dizer credibilidade ldquocreacutedito na praccedilardquo
apesar de ser sinocircnimo do vocaacutebulo ldquoempreacutestimordquo essa palavra soa de forma positiva
Ao verificar a forma de comunicaccedilatildeo com os clientes do empreacutestimo consignado
pode-se perceber que essa substituiccedilatildeo de ldquopalavrasrdquo ocorre com o intuito amenizar o termo
ldquoempreacutestimordquo visto que por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel as pessoas assustam quando
pronunciam a palavra empreacutestimo Para muitos esse termo soa de forma negativa como
pessoas que possuem desorganizaccedilatildeo financeira ou inadimplecircncia Por este fato tanto os
bancaacuterios quanto os estagiaacuterios procuram utilizar vocaacutebulos que suavizem e que soem de uma
forma positiva para o cliente Sendo assim a forma de se comunicar pode alterar a venda de
determinado produto ofertado Mas essa forma de suavizar os termos empregados durante a
venda do serviccedilo financeiro fora de certos limites eacutetico-legais pode ser vista como uma
espeacutecie de ldquoomissatildeordquo do que realmente esses tomadores de creacutedito estatildeo comprando Pois
como jaacute foi retratado de acordo com o CDC os termos devem ser informados de forma clara
ao cliente
Podemos exemplificar de acordo com um entrevistado que afirma utilizar o termo
ldquodinheirinhordquo por ser mais faacutecil dos aposentados e pensionistas entenderem jaacute que muitos
desses clientes possuiacuteam dificuldades sobre o que de fato estavam comprando Aleacutem disso o
bancaacuterio acredita que modo de falar pode alterar a execuccedilatildeo da venda
Tendo em vista os aspectos observados tanto o artifiacutecio linguiacutestico quanto a omissatildeo
das informaccedilotildees pelos bancaacuteriosestagiaacuterios possui objetivos em comum pelas instituiccedilotildees
financeiras na qual visam a obtenccedilatildeo de maiores lucros para essas empresas Aleacutem disso os
bancos satildeo os maiores beneficiados pois natildeo levam em consideraccedilatildeo a isonomia das relaccedilotildees
entre consumidor e fornecedor Portanto conclui-se que em meio a essa relaccedilatildeo o consumidor
eacute parte mais fraca onde seus direitos satildeo violados pelos fornecedores de creacutedito
25
5 CONCLUSAtildeO
O creacutedito consignado eacute um tipo de empreacutestimo recente que vem sendo utilizado com
maior frequecircncia por um determinado puacuteblico (LOPES et al2014) Com isso as instituiccedilotildees
bancaacuterias estatildeo apresentando certo interesse sobre esse ldquonovordquo tipo de puacuteblico em ascensatildeo
Os intermediaacuterios bancaacuterios vecircm buscando formas para atrair os idosos seja atraveacutes das
facilidades da obtenccedilatildeo do creacutedito ou ateacute mesmo no modo de comunicar utilizando de
artifiacutecios de linguagem Em suma os bancos utilizam de praacuteticas de marketing tensionados a
obter vantagens sobre esses consumidores De acordo com o Coacutedigo de Consumidor (CDC)
estes satildeo considerados como vulneraacuteveis
Perante o estudo notou-se que a vulnerabilidade do idoso eacute agravada jaacute que
enquadram como consumidores hipervulneraacuteveis Essa vulnerabilidade acontece atraveacutes das
relaccedilotildees de consumo onde os fornecedores do empreacutestimo tiram proveito do estado em que
esses consumidores se encontram Para que estes cidadatildeos hipervulneraacuteveis sejam amparados
haacute o Estatuto do idoso e Coacutedigo do Consumidor ambos dispotildeem de normas que regem a
relaccedilatildeo entre consumidor-fornecedor Deve-se ressaltar que apesar da existecircncia das
legislaccedilotildees os bancos continuam praticando ldquoexcessosrdquo com os consumidores no momento da
contrataccedilatildeo do creacutedito Eacute relevante a imposiccedilatildeo do Estado visando inibir a lesatildeo do direito
sendo especificado ao idoso
Logo atraveacutes dos resultados da pesquisa pode-se concluir que essa vulnerabilidade
acentuada ocorre atraveacutes de fatores como idade baixa escolaridade e baixo grau de instruccedilatildeo
que interferem nas relaccedilotildees consumeristas isto eacute os contratadores de creacutedito consignado natildeo
possuem domiacutenio para realizar uma compra consciente Sendo assim os consumidores
apresentam limitaccedilotildees sobre o serviccedilo financeiro na qual estaacute adquirindo A partir da anaacutelise
foi possiacutevel verificar atraveacutes dos entrevistados que o puacuteblico idoso natildeo possuiacutea conhecimento
sobre as taxas juros que incidiam sobre as parcelas Aleacutem disso os bancaacuterios afirmavam que
iriam dividir em mais pagamentos para natildeo atrapalhar no orccedilamento mensal do consumidor
Por conseguinte aspectos como estes facilitavam a induzir os idosos a adquirem o creacutedito
mostrando a estes o quatildeo era vantajoso o produto oferecido
Tambeacutem deve-se ressaltar que por se tratar de um puacuteblico com baixo grau de instruccedilatildeo
e alguns analfabetos tanto os bancaacuterios quanto os estagiaacuterios omitiam informaccedilotildees bem
como tambeacutem utilizavam os recursos linguiacutesticos Estas duas formas contribuiacuteram para que as
vendas fossem efetuadas de uma maneira mais raacutepida Uma vez que a forma de falar ou a
26
omissatildeo influenciavam aos idosos comprarem o produto de uma forma irrefletida visto que
esses consumidores acreditavam no que estava sendo falado por parte do fornecedor
Portanto diante da fragilidade do consumidor em questatildeo eacute perceptiacutevel que na
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado boa parte dos idosos muitas vezes natildeo estatildeo acompanhados
por nenhum membro da famiacutelia Desta maneira para os bancaacuteriosestagiaacuterios a forma de
abordar o cliente fica mais acessiacutevel ainda mais por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel com
pouco grau de instruccedilatildeo ou conhecimento Logo situaccedilotildees como estas contribuem para os
fornecedores tirarem proveito do puacuteblico idoso Outro fato que deve ser destacado eacute a
presenccedila do Estado incentivando programas de alfabetizaccedilatildeo financeira independente do fator
idade para que a sociedade no geral saiba ter consciecircncia clareza sobre as relaccedilotildees de
consumo
6 REFEREcircNCIAS
ARAUacuteJO V L D Preferecircncia pela liquidez dos bancos puacuteblicos no ciclo de expansatildeo do
creacutedito no Brasil Revista Anaacutelise Econocircmica n 59 2013
BARBOSA H L P Intelligentia Juriacutedica 2002 Disponivel em
lthttpwwwintelligentiajuridicacombrartigosartigo4oldabr2002htmlgt Acesso em 12 jan
2017
BARONE F M SADER E Acesso ao creacutedito no Brasil evoluccedilatildeo e perspectivas Revista
de Administraccedilatildeo Puacuteblica v 42 n 6 p 1249-1267 2008
BERNARDI A J Marketing de vendas Maiecircutica - Curso de Processos Gerenciais 27
Novembro 2012 75-79
BERTONCELLO K R D LIMA C C D Adesatildeo ao projeto conciliar eacute legal - CNJ
Projeto piloto tratamento das situaccedilotildees de superindividamento do consumidor Estado do
Rio Grande do Sul - Poder Judiciaacuterio 2007
BONI V Q JUREMA S Aprendendo a entrevistar como fazer entrevistas em ciecircncias
sociais Em Tese v 2 n 1 p 68-80 2005
BORGES L R A vulnerabilidade do consumidor e os contratos de relaccedilatildeo de consumo
Universidade de Mariacutelia 2010 127f Tese (Doutorado em Direito)
BRASIL Coacutedigo de Defesa do Consumidor Lei 8078 de 11 de setembro de 1990 Diaacuterio
Oficial da Uniatildeo 1990
27
BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Gestatildeo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatiacutestica Disponiacutevel em
httpwwwcidadesibgegovbrpainelpopulacaophplang=ampcodmun=314610ampsearch=mina
s-gerais|ouro-preto|infogrE1ficos-evoluE7E3o-populacional-e-pirE2mide-etE1ria
Acesso em 13022017
BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Gestatildeo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpwwwcidadesibgegovbrpainelpopulacaophplang=ampcodmun=313190ampsearch=min
as-gerais|itabirito gt Acesso em 12022017
BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Gestatildeo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpwwwcidadesibgegovbrpainelpopulacaophplang=ampcodmun=314000ampsearch=min
as-gerais|mariana gt Acesso em 12022017
BUAES C S Educaccedilatildeo financeira com idosos em um contexto popular Educaccedilatildeo amp
Realidade v 40 n 1 2015
CAVALCANTE R B CALIXTO P PINHEIRO M M K Anaacutelise de conteuacutedo
consideraccedilotildees gerais relaccedilotildees com a pergunta de pesquisa possibilidades e limitaccedilotildees do
meacutetodo Informaccedilatildeo amp Sociedade v 14 n 1 2014
CHERTMAN F Vulnerabilidade de consumo por analfabetos Dissertaccedilatildeo de Mestrado
Escola de Administraccedilatildeo de Empresas de Satildeo Paulo da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 217p 2011
CAREGNATO R C A MUTTI R Pesquisa qualitativa anaacutelise de discurso versus anaacutelise
de conteuacutedo Texto contexto enferm v15 n 4 p 679-84 2006
COSTA J H A possibilidade de anulaccedilatildeo dos contratos de empreacutestimo firmados pelo
microempresaacuterio individual a partir da caracterizaccedilatildeo do superendividamento Revista
Paradigma n 22 2014
DE SAacute R P R GONCcedilALVES G V Superindividamento do consumidor vulnerabilidade
dos idosos nos contratos de muacutetuo Revista de Estudos Juriacutedicos n 02 2015
GONCcedilALVES S Superendividamento do consumidor vulnerabilidade dos idosos nos
contratos de muacutetuo Revista de Estudos Juriacutedicos n 02 2013 VI
JOSEacute T S FERREIRA V H D A Centro Universitaacuterio Franciscano Disponivel em
lthttpwwwunifrabreventossepe2012trabalhos5289pdfgt Acesso em 20 Dezembro
2016
LIMA BG FERREIRA V H A Tempos de consumo e vulnerabilidade potencializada a
necessaacuteria (re) leitura dos direitos fundamentais diante da proteccedilatildeo do consumidor idoso
superendividado XI Seminaacuterio Internacional de Demandas Sociais e Poliacuteticas Puacuteblicas
na Sociedade Contemporacircnea Santa Cruz do Sul 2015
LOPES P D L et al Associaccedilatildeo Educacional Dom Bosco 2014 Disponivel em
lthttpwwwaedbbrsegetarquivosartigos1422920308pdfgt Acesso em 01 Fevereiro 2017
28
MARIMPIETRI F A hipervulnerabilidade do consumidor frente aos contratos de
empreacutestimo bancaacuterio na contemporacircnea sociedade de consumo Revista Debate Virtual n
170 2014
MEIRE R R ALVES F G Proteccedilatildeo juriacutedica especial dos consumidores hipervulneraacuteveis
Juris Rationis v 8 n 2 p 29-40 2016 ISSN ISSN 2237-2249
OLIVEIRA J R F Lei 108202003 do empreacutestimo consignado e sua institucionalidade
2006
Pfeiffer R A C Defesa da concorrecircncia e bem-estar do consumidor Diss Universidade de
Satildeo Paulo 2010
PINTO M F A Anaacutelise da abusividade contra consumidores hipervulneraacuteveis a partir de
decisotildees do superior tribunal de justiccedila e do coacutedigo de defesa do consumidor Revista
Pesquisas Juriacutedicas v IV n 1 2015
ROSA L C G BERNARDES L F FEacuteLIX V C O idoso como consumidor
hipervulneraacutevel na sociedade de consumo poacutes moderna Revista Juriacutedica da Presidecircncia v
18 n 116 p 533-558 2017
SENADO FEDERAL Projeto de Lei do Senado n 283 2012 Disponiacutevel em
lthttpwww25senadolegbrwebatividadematerias-materia1067733Egt acesso em 27
de janeiro de 2017
SILVA L V L Contratos bancaaacuterios nas relaccedilotildees de consumo uma breve abodagem
Revista da EMERJ n 46 2009
SOUZA B O D MORETTO C F Entre a razatildeo e a emoccedilatildeo a tomada de creacutedito
consignado pelos idosos Revista Brasileira de Ciecircncias do Envelhecimento Humano v
11 n 1 2014
29
APEcircNDICE A
Roteiro de Entrevista qualitativa aplicada aos bancaacuterios e seus correspondentes
1 Idade
2 Formaccedilatildeo acadecircmica ( ) Ensino Meacutedio
( ) Superior
3 Haacute quanto tempo vocecirc trabalha ou jaacute trabalhou vendendo serviccedilos financeiros Em
qual cidade Descreva os serviccedilos financeiros que vocecirc mais estava habituado a
venda
4 Fale um pouco sobre as atividades que vocecirc realizava dentro da empresa Me conte
como era o seu dia a dia como era o processo de venda Da captaccedilatildeo do cliente ao
fechamento do contrato ou da venda do serviccedilo DEcirc EXEMPLOS
5 Quais produtos financeiros vocecirc estava ou estaacute mais habituado a vender
Creacutedito consignado creacutedito pessoal seguros empreacutestimos financiamentos
Qual vocecirc eacute mais estimulado a fazer
Tem diferenccedila na venda desses produtos
A abordagem ao cliente muda Quais satildeo mais diferentes
Vocecirc pode descrever para mim cada um deles por favor
Quais produtos satildeo os mais procurados
6 Qual eacute o tipo de puacuteblico que busca pelo empreacutestimo Descreva para mim as
caracteriacutesticas que vocecirc julga como mais marcantes Geralmente satildeo pessoas de que
faixa etaacuteria Satildeo pessoas de classe baixa meacutedia ou alta Satildeo pessoas instruiacutedas
7 Essas pessoas possuem um esclarecimento sobre o que seria esse tipo creacutedito
Compreendem as vantagens e as desvantagens relacionadas ao serviccedilo O que vocecirc
acha disso
8 No momento da contrataccedilatildeo de creacutedito o que eacute falado Como se daacute Todos os temos
do contrato ficam claros Vocecircs bancaacuterios explicitam o que estaacute no contrato Haacute
30
alguma avaliaccedilatildeo criteriosa do perfil do cliente de suas condiccedilotildees financeiras
9 O que vocecirc jaacute verificou por parte das pessoas que tomam esse creacutedito Qual seria os
maiores motivos para a procura do creacutedito consignado
10 Quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito vocecirc concorda com as vantagens oferecidas no
contrato ou acredita que algo deveria ser alterado O que vocecirc natildeo estaria de acordo
11 Qual o limite de desconto mensal da folha de pagamento do trabalhador o banco
oferece Por algum momento o banco excedeu o valor de desconto da folha Comente
essefato
12 Quanto agraves poliacuteticas bancaacuterias proposta pelos bancos para a venda de produtos
financeiros vocecirc concorda Ou algum momento jaacute discordou Discorra sobre o fato
13 Frequentemente vocecircs bancaacuterios satildeo estimulados a bater metas sobre os produtos que
vocecircs oferecem Vocecirc concorda que existe uma certa pressatildeo em vender cada vez mais
produtos Em alguma situaccedilatildeo vocecirc natildeo esteve de acordo como a forma que deveria
induzir os clientes a comprar um produto na qual vocecirc estaria oferecendo
24
gente fala que vocecirc tem um creacutedito aprovado e aiacute a
gente fala em qual linha a pessoa tem creacutedito
pessoal financiamento para veiacuteculos financiamento
imobiliaacuterio consignado que eacute o creacutedito que vem da
folha de pagamento Entatildeo a gente normalmente
oferta creacutedito ldquo
Fonte Dados da pesquisa
Conforme alguns entrevistados esses natildeo utilizam o termo correto que eacute ldquoempreacutestimo
consignadordquo Nas gravaccedilotildees os bancaacuterios e seus correspondentes alegam que os clientes tecircm
eacute um ldquodinheirinhordquo disponiacutevel para pegarem no banco Outros afirmam que o vocaacutebulo
empregado por eles eacute o ldquocreacuteditordquo pois ameniza um pouco o termo Este possui o mesmo
significado do primeiro mas para muitos o termo quer dizer credibilidade ldquocreacutedito na praccedilardquo
apesar de ser sinocircnimo do vocaacutebulo ldquoempreacutestimordquo essa palavra soa de forma positiva
Ao verificar a forma de comunicaccedilatildeo com os clientes do empreacutestimo consignado
pode-se perceber que essa substituiccedilatildeo de ldquopalavrasrdquo ocorre com o intuito amenizar o termo
ldquoempreacutestimordquo visto que por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel as pessoas assustam quando
pronunciam a palavra empreacutestimo Para muitos esse termo soa de forma negativa como
pessoas que possuem desorganizaccedilatildeo financeira ou inadimplecircncia Por este fato tanto os
bancaacuterios quanto os estagiaacuterios procuram utilizar vocaacutebulos que suavizem e que soem de uma
forma positiva para o cliente Sendo assim a forma de se comunicar pode alterar a venda de
determinado produto ofertado Mas essa forma de suavizar os termos empregados durante a
venda do serviccedilo financeiro fora de certos limites eacutetico-legais pode ser vista como uma
espeacutecie de ldquoomissatildeordquo do que realmente esses tomadores de creacutedito estatildeo comprando Pois
como jaacute foi retratado de acordo com o CDC os termos devem ser informados de forma clara
ao cliente
Podemos exemplificar de acordo com um entrevistado que afirma utilizar o termo
ldquodinheirinhordquo por ser mais faacutecil dos aposentados e pensionistas entenderem jaacute que muitos
desses clientes possuiacuteam dificuldades sobre o que de fato estavam comprando Aleacutem disso o
bancaacuterio acredita que modo de falar pode alterar a execuccedilatildeo da venda
Tendo em vista os aspectos observados tanto o artifiacutecio linguiacutestico quanto a omissatildeo
das informaccedilotildees pelos bancaacuteriosestagiaacuterios possui objetivos em comum pelas instituiccedilotildees
financeiras na qual visam a obtenccedilatildeo de maiores lucros para essas empresas Aleacutem disso os
bancos satildeo os maiores beneficiados pois natildeo levam em consideraccedilatildeo a isonomia das relaccedilotildees
entre consumidor e fornecedor Portanto conclui-se que em meio a essa relaccedilatildeo o consumidor
eacute parte mais fraca onde seus direitos satildeo violados pelos fornecedores de creacutedito
25
5 CONCLUSAtildeO
O creacutedito consignado eacute um tipo de empreacutestimo recente que vem sendo utilizado com
maior frequecircncia por um determinado puacuteblico (LOPES et al2014) Com isso as instituiccedilotildees
bancaacuterias estatildeo apresentando certo interesse sobre esse ldquonovordquo tipo de puacuteblico em ascensatildeo
Os intermediaacuterios bancaacuterios vecircm buscando formas para atrair os idosos seja atraveacutes das
facilidades da obtenccedilatildeo do creacutedito ou ateacute mesmo no modo de comunicar utilizando de
artifiacutecios de linguagem Em suma os bancos utilizam de praacuteticas de marketing tensionados a
obter vantagens sobre esses consumidores De acordo com o Coacutedigo de Consumidor (CDC)
estes satildeo considerados como vulneraacuteveis
Perante o estudo notou-se que a vulnerabilidade do idoso eacute agravada jaacute que
enquadram como consumidores hipervulneraacuteveis Essa vulnerabilidade acontece atraveacutes das
relaccedilotildees de consumo onde os fornecedores do empreacutestimo tiram proveito do estado em que
esses consumidores se encontram Para que estes cidadatildeos hipervulneraacuteveis sejam amparados
haacute o Estatuto do idoso e Coacutedigo do Consumidor ambos dispotildeem de normas que regem a
relaccedilatildeo entre consumidor-fornecedor Deve-se ressaltar que apesar da existecircncia das
legislaccedilotildees os bancos continuam praticando ldquoexcessosrdquo com os consumidores no momento da
contrataccedilatildeo do creacutedito Eacute relevante a imposiccedilatildeo do Estado visando inibir a lesatildeo do direito
sendo especificado ao idoso
Logo atraveacutes dos resultados da pesquisa pode-se concluir que essa vulnerabilidade
acentuada ocorre atraveacutes de fatores como idade baixa escolaridade e baixo grau de instruccedilatildeo
que interferem nas relaccedilotildees consumeristas isto eacute os contratadores de creacutedito consignado natildeo
possuem domiacutenio para realizar uma compra consciente Sendo assim os consumidores
apresentam limitaccedilotildees sobre o serviccedilo financeiro na qual estaacute adquirindo A partir da anaacutelise
foi possiacutevel verificar atraveacutes dos entrevistados que o puacuteblico idoso natildeo possuiacutea conhecimento
sobre as taxas juros que incidiam sobre as parcelas Aleacutem disso os bancaacuterios afirmavam que
iriam dividir em mais pagamentos para natildeo atrapalhar no orccedilamento mensal do consumidor
Por conseguinte aspectos como estes facilitavam a induzir os idosos a adquirem o creacutedito
mostrando a estes o quatildeo era vantajoso o produto oferecido
Tambeacutem deve-se ressaltar que por se tratar de um puacuteblico com baixo grau de instruccedilatildeo
e alguns analfabetos tanto os bancaacuterios quanto os estagiaacuterios omitiam informaccedilotildees bem
como tambeacutem utilizavam os recursos linguiacutesticos Estas duas formas contribuiacuteram para que as
vendas fossem efetuadas de uma maneira mais raacutepida Uma vez que a forma de falar ou a
26
omissatildeo influenciavam aos idosos comprarem o produto de uma forma irrefletida visto que
esses consumidores acreditavam no que estava sendo falado por parte do fornecedor
Portanto diante da fragilidade do consumidor em questatildeo eacute perceptiacutevel que na
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado boa parte dos idosos muitas vezes natildeo estatildeo acompanhados
por nenhum membro da famiacutelia Desta maneira para os bancaacuteriosestagiaacuterios a forma de
abordar o cliente fica mais acessiacutevel ainda mais por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel com
pouco grau de instruccedilatildeo ou conhecimento Logo situaccedilotildees como estas contribuem para os
fornecedores tirarem proveito do puacuteblico idoso Outro fato que deve ser destacado eacute a
presenccedila do Estado incentivando programas de alfabetizaccedilatildeo financeira independente do fator
idade para que a sociedade no geral saiba ter consciecircncia clareza sobre as relaccedilotildees de
consumo
6 REFEREcircNCIAS
ARAUacuteJO V L D Preferecircncia pela liquidez dos bancos puacuteblicos no ciclo de expansatildeo do
creacutedito no Brasil Revista Anaacutelise Econocircmica n 59 2013
BARBOSA H L P Intelligentia Juriacutedica 2002 Disponivel em
lthttpwwwintelligentiajuridicacombrartigosartigo4oldabr2002htmlgt Acesso em 12 jan
2017
BARONE F M SADER E Acesso ao creacutedito no Brasil evoluccedilatildeo e perspectivas Revista
de Administraccedilatildeo Puacuteblica v 42 n 6 p 1249-1267 2008
BERNARDI A J Marketing de vendas Maiecircutica - Curso de Processos Gerenciais 27
Novembro 2012 75-79
BERTONCELLO K R D LIMA C C D Adesatildeo ao projeto conciliar eacute legal - CNJ
Projeto piloto tratamento das situaccedilotildees de superindividamento do consumidor Estado do
Rio Grande do Sul - Poder Judiciaacuterio 2007
BONI V Q JUREMA S Aprendendo a entrevistar como fazer entrevistas em ciecircncias
sociais Em Tese v 2 n 1 p 68-80 2005
BORGES L R A vulnerabilidade do consumidor e os contratos de relaccedilatildeo de consumo
Universidade de Mariacutelia 2010 127f Tese (Doutorado em Direito)
BRASIL Coacutedigo de Defesa do Consumidor Lei 8078 de 11 de setembro de 1990 Diaacuterio
Oficial da Uniatildeo 1990
27
BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Gestatildeo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatiacutestica Disponiacutevel em
httpwwwcidadesibgegovbrpainelpopulacaophplang=ampcodmun=314610ampsearch=mina
s-gerais|ouro-preto|infogrE1ficos-evoluE7E3o-populacional-e-pirE2mide-etE1ria
Acesso em 13022017
BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Gestatildeo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpwwwcidadesibgegovbrpainelpopulacaophplang=ampcodmun=313190ampsearch=min
as-gerais|itabirito gt Acesso em 12022017
BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Gestatildeo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpwwwcidadesibgegovbrpainelpopulacaophplang=ampcodmun=314000ampsearch=min
as-gerais|mariana gt Acesso em 12022017
BUAES C S Educaccedilatildeo financeira com idosos em um contexto popular Educaccedilatildeo amp
Realidade v 40 n 1 2015
CAVALCANTE R B CALIXTO P PINHEIRO M M K Anaacutelise de conteuacutedo
consideraccedilotildees gerais relaccedilotildees com a pergunta de pesquisa possibilidades e limitaccedilotildees do
meacutetodo Informaccedilatildeo amp Sociedade v 14 n 1 2014
CHERTMAN F Vulnerabilidade de consumo por analfabetos Dissertaccedilatildeo de Mestrado
Escola de Administraccedilatildeo de Empresas de Satildeo Paulo da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 217p 2011
CAREGNATO R C A MUTTI R Pesquisa qualitativa anaacutelise de discurso versus anaacutelise
de conteuacutedo Texto contexto enferm v15 n 4 p 679-84 2006
COSTA J H A possibilidade de anulaccedilatildeo dos contratos de empreacutestimo firmados pelo
microempresaacuterio individual a partir da caracterizaccedilatildeo do superendividamento Revista
Paradigma n 22 2014
DE SAacute R P R GONCcedilALVES G V Superindividamento do consumidor vulnerabilidade
dos idosos nos contratos de muacutetuo Revista de Estudos Juriacutedicos n 02 2015
GONCcedilALVES S Superendividamento do consumidor vulnerabilidade dos idosos nos
contratos de muacutetuo Revista de Estudos Juriacutedicos n 02 2013 VI
JOSEacute T S FERREIRA V H D A Centro Universitaacuterio Franciscano Disponivel em
lthttpwwwunifrabreventossepe2012trabalhos5289pdfgt Acesso em 20 Dezembro
2016
LIMA BG FERREIRA V H A Tempos de consumo e vulnerabilidade potencializada a
necessaacuteria (re) leitura dos direitos fundamentais diante da proteccedilatildeo do consumidor idoso
superendividado XI Seminaacuterio Internacional de Demandas Sociais e Poliacuteticas Puacuteblicas
na Sociedade Contemporacircnea Santa Cruz do Sul 2015
LOPES P D L et al Associaccedilatildeo Educacional Dom Bosco 2014 Disponivel em
lthttpwwwaedbbrsegetarquivosartigos1422920308pdfgt Acesso em 01 Fevereiro 2017
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MARIMPIETRI F A hipervulnerabilidade do consumidor frente aos contratos de
empreacutestimo bancaacuterio na contemporacircnea sociedade de consumo Revista Debate Virtual n
170 2014
MEIRE R R ALVES F G Proteccedilatildeo juriacutedica especial dos consumidores hipervulneraacuteveis
Juris Rationis v 8 n 2 p 29-40 2016 ISSN ISSN 2237-2249
OLIVEIRA J R F Lei 108202003 do empreacutestimo consignado e sua institucionalidade
2006
Pfeiffer R A C Defesa da concorrecircncia e bem-estar do consumidor Diss Universidade de
Satildeo Paulo 2010
PINTO M F A Anaacutelise da abusividade contra consumidores hipervulneraacuteveis a partir de
decisotildees do superior tribunal de justiccedila e do coacutedigo de defesa do consumidor Revista
Pesquisas Juriacutedicas v IV n 1 2015
ROSA L C G BERNARDES L F FEacuteLIX V C O idoso como consumidor
hipervulneraacutevel na sociedade de consumo poacutes moderna Revista Juriacutedica da Presidecircncia v
18 n 116 p 533-558 2017
SENADO FEDERAL Projeto de Lei do Senado n 283 2012 Disponiacutevel em
lthttpwww25senadolegbrwebatividadematerias-materia1067733Egt acesso em 27
de janeiro de 2017
SILVA L V L Contratos bancaaacuterios nas relaccedilotildees de consumo uma breve abodagem
Revista da EMERJ n 46 2009
SOUZA B O D MORETTO C F Entre a razatildeo e a emoccedilatildeo a tomada de creacutedito
consignado pelos idosos Revista Brasileira de Ciecircncias do Envelhecimento Humano v
11 n 1 2014
29
APEcircNDICE A
Roteiro de Entrevista qualitativa aplicada aos bancaacuterios e seus correspondentes
1 Idade
2 Formaccedilatildeo acadecircmica ( ) Ensino Meacutedio
( ) Superior
3 Haacute quanto tempo vocecirc trabalha ou jaacute trabalhou vendendo serviccedilos financeiros Em
qual cidade Descreva os serviccedilos financeiros que vocecirc mais estava habituado a
venda
4 Fale um pouco sobre as atividades que vocecirc realizava dentro da empresa Me conte
como era o seu dia a dia como era o processo de venda Da captaccedilatildeo do cliente ao
fechamento do contrato ou da venda do serviccedilo DEcirc EXEMPLOS
5 Quais produtos financeiros vocecirc estava ou estaacute mais habituado a vender
Creacutedito consignado creacutedito pessoal seguros empreacutestimos financiamentos
Qual vocecirc eacute mais estimulado a fazer
Tem diferenccedila na venda desses produtos
A abordagem ao cliente muda Quais satildeo mais diferentes
Vocecirc pode descrever para mim cada um deles por favor
Quais produtos satildeo os mais procurados
6 Qual eacute o tipo de puacuteblico que busca pelo empreacutestimo Descreva para mim as
caracteriacutesticas que vocecirc julga como mais marcantes Geralmente satildeo pessoas de que
faixa etaacuteria Satildeo pessoas de classe baixa meacutedia ou alta Satildeo pessoas instruiacutedas
7 Essas pessoas possuem um esclarecimento sobre o que seria esse tipo creacutedito
Compreendem as vantagens e as desvantagens relacionadas ao serviccedilo O que vocecirc
acha disso
8 No momento da contrataccedilatildeo de creacutedito o que eacute falado Como se daacute Todos os temos
do contrato ficam claros Vocecircs bancaacuterios explicitam o que estaacute no contrato Haacute
30
alguma avaliaccedilatildeo criteriosa do perfil do cliente de suas condiccedilotildees financeiras
9 O que vocecirc jaacute verificou por parte das pessoas que tomam esse creacutedito Qual seria os
maiores motivos para a procura do creacutedito consignado
10 Quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito vocecirc concorda com as vantagens oferecidas no
contrato ou acredita que algo deveria ser alterado O que vocecirc natildeo estaria de acordo
11 Qual o limite de desconto mensal da folha de pagamento do trabalhador o banco
oferece Por algum momento o banco excedeu o valor de desconto da folha Comente
essefato
12 Quanto agraves poliacuteticas bancaacuterias proposta pelos bancos para a venda de produtos
financeiros vocecirc concorda Ou algum momento jaacute discordou Discorra sobre o fato
13 Frequentemente vocecircs bancaacuterios satildeo estimulados a bater metas sobre os produtos que
vocecircs oferecem Vocecirc concorda que existe uma certa pressatildeo em vender cada vez mais
produtos Em alguma situaccedilatildeo vocecirc natildeo esteve de acordo como a forma que deveria
induzir os clientes a comprar um produto na qual vocecirc estaria oferecendo
25
5 CONCLUSAtildeO
O creacutedito consignado eacute um tipo de empreacutestimo recente que vem sendo utilizado com
maior frequecircncia por um determinado puacuteblico (LOPES et al2014) Com isso as instituiccedilotildees
bancaacuterias estatildeo apresentando certo interesse sobre esse ldquonovordquo tipo de puacuteblico em ascensatildeo
Os intermediaacuterios bancaacuterios vecircm buscando formas para atrair os idosos seja atraveacutes das
facilidades da obtenccedilatildeo do creacutedito ou ateacute mesmo no modo de comunicar utilizando de
artifiacutecios de linguagem Em suma os bancos utilizam de praacuteticas de marketing tensionados a
obter vantagens sobre esses consumidores De acordo com o Coacutedigo de Consumidor (CDC)
estes satildeo considerados como vulneraacuteveis
Perante o estudo notou-se que a vulnerabilidade do idoso eacute agravada jaacute que
enquadram como consumidores hipervulneraacuteveis Essa vulnerabilidade acontece atraveacutes das
relaccedilotildees de consumo onde os fornecedores do empreacutestimo tiram proveito do estado em que
esses consumidores se encontram Para que estes cidadatildeos hipervulneraacuteveis sejam amparados
haacute o Estatuto do idoso e Coacutedigo do Consumidor ambos dispotildeem de normas que regem a
relaccedilatildeo entre consumidor-fornecedor Deve-se ressaltar que apesar da existecircncia das
legislaccedilotildees os bancos continuam praticando ldquoexcessosrdquo com os consumidores no momento da
contrataccedilatildeo do creacutedito Eacute relevante a imposiccedilatildeo do Estado visando inibir a lesatildeo do direito
sendo especificado ao idoso
Logo atraveacutes dos resultados da pesquisa pode-se concluir que essa vulnerabilidade
acentuada ocorre atraveacutes de fatores como idade baixa escolaridade e baixo grau de instruccedilatildeo
que interferem nas relaccedilotildees consumeristas isto eacute os contratadores de creacutedito consignado natildeo
possuem domiacutenio para realizar uma compra consciente Sendo assim os consumidores
apresentam limitaccedilotildees sobre o serviccedilo financeiro na qual estaacute adquirindo A partir da anaacutelise
foi possiacutevel verificar atraveacutes dos entrevistados que o puacuteblico idoso natildeo possuiacutea conhecimento
sobre as taxas juros que incidiam sobre as parcelas Aleacutem disso os bancaacuterios afirmavam que
iriam dividir em mais pagamentos para natildeo atrapalhar no orccedilamento mensal do consumidor
Por conseguinte aspectos como estes facilitavam a induzir os idosos a adquirem o creacutedito
mostrando a estes o quatildeo era vantajoso o produto oferecido
Tambeacutem deve-se ressaltar que por se tratar de um puacuteblico com baixo grau de instruccedilatildeo
e alguns analfabetos tanto os bancaacuterios quanto os estagiaacuterios omitiam informaccedilotildees bem
como tambeacutem utilizavam os recursos linguiacutesticos Estas duas formas contribuiacuteram para que as
vendas fossem efetuadas de uma maneira mais raacutepida Uma vez que a forma de falar ou a
26
omissatildeo influenciavam aos idosos comprarem o produto de uma forma irrefletida visto que
esses consumidores acreditavam no que estava sendo falado por parte do fornecedor
Portanto diante da fragilidade do consumidor em questatildeo eacute perceptiacutevel que na
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado boa parte dos idosos muitas vezes natildeo estatildeo acompanhados
por nenhum membro da famiacutelia Desta maneira para os bancaacuteriosestagiaacuterios a forma de
abordar o cliente fica mais acessiacutevel ainda mais por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel com
pouco grau de instruccedilatildeo ou conhecimento Logo situaccedilotildees como estas contribuem para os
fornecedores tirarem proveito do puacuteblico idoso Outro fato que deve ser destacado eacute a
presenccedila do Estado incentivando programas de alfabetizaccedilatildeo financeira independente do fator
idade para que a sociedade no geral saiba ter consciecircncia clareza sobre as relaccedilotildees de
consumo
6 REFEREcircNCIAS
ARAUacuteJO V L D Preferecircncia pela liquidez dos bancos puacuteblicos no ciclo de expansatildeo do
creacutedito no Brasil Revista Anaacutelise Econocircmica n 59 2013
BARBOSA H L P Intelligentia Juriacutedica 2002 Disponivel em
lthttpwwwintelligentiajuridicacombrartigosartigo4oldabr2002htmlgt Acesso em 12 jan
2017
BARONE F M SADER E Acesso ao creacutedito no Brasil evoluccedilatildeo e perspectivas Revista
de Administraccedilatildeo Puacuteblica v 42 n 6 p 1249-1267 2008
BERNARDI A J Marketing de vendas Maiecircutica - Curso de Processos Gerenciais 27
Novembro 2012 75-79
BERTONCELLO K R D LIMA C C D Adesatildeo ao projeto conciliar eacute legal - CNJ
Projeto piloto tratamento das situaccedilotildees de superindividamento do consumidor Estado do
Rio Grande do Sul - Poder Judiciaacuterio 2007
BONI V Q JUREMA S Aprendendo a entrevistar como fazer entrevistas em ciecircncias
sociais Em Tese v 2 n 1 p 68-80 2005
BORGES L R A vulnerabilidade do consumidor e os contratos de relaccedilatildeo de consumo
Universidade de Mariacutelia 2010 127f Tese (Doutorado em Direito)
BRASIL Coacutedigo de Defesa do Consumidor Lei 8078 de 11 de setembro de 1990 Diaacuterio
Oficial da Uniatildeo 1990
27
BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Gestatildeo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatiacutestica Disponiacutevel em
httpwwwcidadesibgegovbrpainelpopulacaophplang=ampcodmun=314610ampsearch=mina
s-gerais|ouro-preto|infogrE1ficos-evoluE7E3o-populacional-e-pirE2mide-etE1ria
Acesso em 13022017
BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Gestatildeo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpwwwcidadesibgegovbrpainelpopulacaophplang=ampcodmun=313190ampsearch=min
as-gerais|itabirito gt Acesso em 12022017
BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Gestatildeo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpwwwcidadesibgegovbrpainelpopulacaophplang=ampcodmun=314000ampsearch=min
as-gerais|mariana gt Acesso em 12022017
BUAES C S Educaccedilatildeo financeira com idosos em um contexto popular Educaccedilatildeo amp
Realidade v 40 n 1 2015
CAVALCANTE R B CALIXTO P PINHEIRO M M K Anaacutelise de conteuacutedo
consideraccedilotildees gerais relaccedilotildees com a pergunta de pesquisa possibilidades e limitaccedilotildees do
meacutetodo Informaccedilatildeo amp Sociedade v 14 n 1 2014
CHERTMAN F Vulnerabilidade de consumo por analfabetos Dissertaccedilatildeo de Mestrado
Escola de Administraccedilatildeo de Empresas de Satildeo Paulo da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 217p 2011
CAREGNATO R C A MUTTI R Pesquisa qualitativa anaacutelise de discurso versus anaacutelise
de conteuacutedo Texto contexto enferm v15 n 4 p 679-84 2006
COSTA J H A possibilidade de anulaccedilatildeo dos contratos de empreacutestimo firmados pelo
microempresaacuterio individual a partir da caracterizaccedilatildeo do superendividamento Revista
Paradigma n 22 2014
DE SAacute R P R GONCcedilALVES G V Superindividamento do consumidor vulnerabilidade
dos idosos nos contratos de muacutetuo Revista de Estudos Juriacutedicos n 02 2015
GONCcedilALVES S Superendividamento do consumidor vulnerabilidade dos idosos nos
contratos de muacutetuo Revista de Estudos Juriacutedicos n 02 2013 VI
JOSEacute T S FERREIRA V H D A Centro Universitaacuterio Franciscano Disponivel em
lthttpwwwunifrabreventossepe2012trabalhos5289pdfgt Acesso em 20 Dezembro
2016
LIMA BG FERREIRA V H A Tempos de consumo e vulnerabilidade potencializada a
necessaacuteria (re) leitura dos direitos fundamentais diante da proteccedilatildeo do consumidor idoso
superendividado XI Seminaacuterio Internacional de Demandas Sociais e Poliacuteticas Puacuteblicas
na Sociedade Contemporacircnea Santa Cruz do Sul 2015
LOPES P D L et al Associaccedilatildeo Educacional Dom Bosco 2014 Disponivel em
lthttpwwwaedbbrsegetarquivosartigos1422920308pdfgt Acesso em 01 Fevereiro 2017
28
MARIMPIETRI F A hipervulnerabilidade do consumidor frente aos contratos de
empreacutestimo bancaacuterio na contemporacircnea sociedade de consumo Revista Debate Virtual n
170 2014
MEIRE R R ALVES F G Proteccedilatildeo juriacutedica especial dos consumidores hipervulneraacuteveis
Juris Rationis v 8 n 2 p 29-40 2016 ISSN ISSN 2237-2249
OLIVEIRA J R F Lei 108202003 do empreacutestimo consignado e sua institucionalidade
2006
Pfeiffer R A C Defesa da concorrecircncia e bem-estar do consumidor Diss Universidade de
Satildeo Paulo 2010
PINTO M F A Anaacutelise da abusividade contra consumidores hipervulneraacuteveis a partir de
decisotildees do superior tribunal de justiccedila e do coacutedigo de defesa do consumidor Revista
Pesquisas Juriacutedicas v IV n 1 2015
ROSA L C G BERNARDES L F FEacuteLIX V C O idoso como consumidor
hipervulneraacutevel na sociedade de consumo poacutes moderna Revista Juriacutedica da Presidecircncia v
18 n 116 p 533-558 2017
SENADO FEDERAL Projeto de Lei do Senado n 283 2012 Disponiacutevel em
lthttpwww25senadolegbrwebatividadematerias-materia1067733Egt acesso em 27
de janeiro de 2017
SILVA L V L Contratos bancaaacuterios nas relaccedilotildees de consumo uma breve abodagem
Revista da EMERJ n 46 2009
SOUZA B O D MORETTO C F Entre a razatildeo e a emoccedilatildeo a tomada de creacutedito
consignado pelos idosos Revista Brasileira de Ciecircncias do Envelhecimento Humano v
11 n 1 2014
29
APEcircNDICE A
Roteiro de Entrevista qualitativa aplicada aos bancaacuterios e seus correspondentes
1 Idade
2 Formaccedilatildeo acadecircmica ( ) Ensino Meacutedio
( ) Superior
3 Haacute quanto tempo vocecirc trabalha ou jaacute trabalhou vendendo serviccedilos financeiros Em
qual cidade Descreva os serviccedilos financeiros que vocecirc mais estava habituado a
venda
4 Fale um pouco sobre as atividades que vocecirc realizava dentro da empresa Me conte
como era o seu dia a dia como era o processo de venda Da captaccedilatildeo do cliente ao
fechamento do contrato ou da venda do serviccedilo DEcirc EXEMPLOS
5 Quais produtos financeiros vocecirc estava ou estaacute mais habituado a vender
Creacutedito consignado creacutedito pessoal seguros empreacutestimos financiamentos
Qual vocecirc eacute mais estimulado a fazer
Tem diferenccedila na venda desses produtos
A abordagem ao cliente muda Quais satildeo mais diferentes
Vocecirc pode descrever para mim cada um deles por favor
Quais produtos satildeo os mais procurados
6 Qual eacute o tipo de puacuteblico que busca pelo empreacutestimo Descreva para mim as
caracteriacutesticas que vocecirc julga como mais marcantes Geralmente satildeo pessoas de que
faixa etaacuteria Satildeo pessoas de classe baixa meacutedia ou alta Satildeo pessoas instruiacutedas
7 Essas pessoas possuem um esclarecimento sobre o que seria esse tipo creacutedito
Compreendem as vantagens e as desvantagens relacionadas ao serviccedilo O que vocecirc
acha disso
8 No momento da contrataccedilatildeo de creacutedito o que eacute falado Como se daacute Todos os temos
do contrato ficam claros Vocecircs bancaacuterios explicitam o que estaacute no contrato Haacute
30
alguma avaliaccedilatildeo criteriosa do perfil do cliente de suas condiccedilotildees financeiras
9 O que vocecirc jaacute verificou por parte das pessoas que tomam esse creacutedito Qual seria os
maiores motivos para a procura do creacutedito consignado
10 Quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito vocecirc concorda com as vantagens oferecidas no
contrato ou acredita que algo deveria ser alterado O que vocecirc natildeo estaria de acordo
11 Qual o limite de desconto mensal da folha de pagamento do trabalhador o banco
oferece Por algum momento o banco excedeu o valor de desconto da folha Comente
essefato
12 Quanto agraves poliacuteticas bancaacuterias proposta pelos bancos para a venda de produtos
financeiros vocecirc concorda Ou algum momento jaacute discordou Discorra sobre o fato
13 Frequentemente vocecircs bancaacuterios satildeo estimulados a bater metas sobre os produtos que
vocecircs oferecem Vocecirc concorda que existe uma certa pressatildeo em vender cada vez mais
produtos Em alguma situaccedilatildeo vocecirc natildeo esteve de acordo como a forma que deveria
induzir os clientes a comprar um produto na qual vocecirc estaria oferecendo
26
omissatildeo influenciavam aos idosos comprarem o produto de uma forma irrefletida visto que
esses consumidores acreditavam no que estava sendo falado por parte do fornecedor
Portanto diante da fragilidade do consumidor em questatildeo eacute perceptiacutevel que na
contrataccedilatildeo do creacutedito consignado boa parte dos idosos muitas vezes natildeo estatildeo acompanhados
por nenhum membro da famiacutelia Desta maneira para os bancaacuteriosestagiaacuterios a forma de
abordar o cliente fica mais acessiacutevel ainda mais por se tratar de um puacuteblico vulneraacutevel com
pouco grau de instruccedilatildeo ou conhecimento Logo situaccedilotildees como estas contribuem para os
fornecedores tirarem proveito do puacuteblico idoso Outro fato que deve ser destacado eacute a
presenccedila do Estado incentivando programas de alfabetizaccedilatildeo financeira independente do fator
idade para que a sociedade no geral saiba ter consciecircncia clareza sobre as relaccedilotildees de
consumo
6 REFEREcircNCIAS
ARAUacuteJO V L D Preferecircncia pela liquidez dos bancos puacuteblicos no ciclo de expansatildeo do
creacutedito no Brasil Revista Anaacutelise Econocircmica n 59 2013
BARBOSA H L P Intelligentia Juriacutedica 2002 Disponivel em
lthttpwwwintelligentiajuridicacombrartigosartigo4oldabr2002htmlgt Acesso em 12 jan
2017
BARONE F M SADER E Acesso ao creacutedito no Brasil evoluccedilatildeo e perspectivas Revista
de Administraccedilatildeo Puacuteblica v 42 n 6 p 1249-1267 2008
BERNARDI A J Marketing de vendas Maiecircutica - Curso de Processos Gerenciais 27
Novembro 2012 75-79
BERTONCELLO K R D LIMA C C D Adesatildeo ao projeto conciliar eacute legal - CNJ
Projeto piloto tratamento das situaccedilotildees de superindividamento do consumidor Estado do
Rio Grande do Sul - Poder Judiciaacuterio 2007
BONI V Q JUREMA S Aprendendo a entrevistar como fazer entrevistas em ciecircncias
sociais Em Tese v 2 n 1 p 68-80 2005
BORGES L R A vulnerabilidade do consumidor e os contratos de relaccedilatildeo de consumo
Universidade de Mariacutelia 2010 127f Tese (Doutorado em Direito)
BRASIL Coacutedigo de Defesa do Consumidor Lei 8078 de 11 de setembro de 1990 Diaacuterio
Oficial da Uniatildeo 1990
27
BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Gestatildeo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatiacutestica Disponiacutevel em
httpwwwcidadesibgegovbrpainelpopulacaophplang=ampcodmun=314610ampsearch=mina
s-gerais|ouro-preto|infogrE1ficos-evoluE7E3o-populacional-e-pirE2mide-etE1ria
Acesso em 13022017
BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Gestatildeo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpwwwcidadesibgegovbrpainelpopulacaophplang=ampcodmun=313190ampsearch=min
as-gerais|itabirito gt Acesso em 12022017
BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Gestatildeo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpwwwcidadesibgegovbrpainelpopulacaophplang=ampcodmun=314000ampsearch=min
as-gerais|mariana gt Acesso em 12022017
BUAES C S Educaccedilatildeo financeira com idosos em um contexto popular Educaccedilatildeo amp
Realidade v 40 n 1 2015
CAVALCANTE R B CALIXTO P PINHEIRO M M K Anaacutelise de conteuacutedo
consideraccedilotildees gerais relaccedilotildees com a pergunta de pesquisa possibilidades e limitaccedilotildees do
meacutetodo Informaccedilatildeo amp Sociedade v 14 n 1 2014
CHERTMAN F Vulnerabilidade de consumo por analfabetos Dissertaccedilatildeo de Mestrado
Escola de Administraccedilatildeo de Empresas de Satildeo Paulo da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 217p 2011
CAREGNATO R C A MUTTI R Pesquisa qualitativa anaacutelise de discurso versus anaacutelise
de conteuacutedo Texto contexto enferm v15 n 4 p 679-84 2006
COSTA J H A possibilidade de anulaccedilatildeo dos contratos de empreacutestimo firmados pelo
microempresaacuterio individual a partir da caracterizaccedilatildeo do superendividamento Revista
Paradigma n 22 2014
DE SAacute R P R GONCcedilALVES G V Superindividamento do consumidor vulnerabilidade
dos idosos nos contratos de muacutetuo Revista de Estudos Juriacutedicos n 02 2015
GONCcedilALVES S Superendividamento do consumidor vulnerabilidade dos idosos nos
contratos de muacutetuo Revista de Estudos Juriacutedicos n 02 2013 VI
JOSEacute T S FERREIRA V H D A Centro Universitaacuterio Franciscano Disponivel em
lthttpwwwunifrabreventossepe2012trabalhos5289pdfgt Acesso em 20 Dezembro
2016
LIMA BG FERREIRA V H A Tempos de consumo e vulnerabilidade potencializada a
necessaacuteria (re) leitura dos direitos fundamentais diante da proteccedilatildeo do consumidor idoso
superendividado XI Seminaacuterio Internacional de Demandas Sociais e Poliacuteticas Puacuteblicas
na Sociedade Contemporacircnea Santa Cruz do Sul 2015
LOPES P D L et al Associaccedilatildeo Educacional Dom Bosco 2014 Disponivel em
lthttpwwwaedbbrsegetarquivosartigos1422920308pdfgt Acesso em 01 Fevereiro 2017
28
MARIMPIETRI F A hipervulnerabilidade do consumidor frente aos contratos de
empreacutestimo bancaacuterio na contemporacircnea sociedade de consumo Revista Debate Virtual n
170 2014
MEIRE R R ALVES F G Proteccedilatildeo juriacutedica especial dos consumidores hipervulneraacuteveis
Juris Rationis v 8 n 2 p 29-40 2016 ISSN ISSN 2237-2249
OLIVEIRA J R F Lei 108202003 do empreacutestimo consignado e sua institucionalidade
2006
Pfeiffer R A C Defesa da concorrecircncia e bem-estar do consumidor Diss Universidade de
Satildeo Paulo 2010
PINTO M F A Anaacutelise da abusividade contra consumidores hipervulneraacuteveis a partir de
decisotildees do superior tribunal de justiccedila e do coacutedigo de defesa do consumidor Revista
Pesquisas Juriacutedicas v IV n 1 2015
ROSA L C G BERNARDES L F FEacuteLIX V C O idoso como consumidor
hipervulneraacutevel na sociedade de consumo poacutes moderna Revista Juriacutedica da Presidecircncia v
18 n 116 p 533-558 2017
SENADO FEDERAL Projeto de Lei do Senado n 283 2012 Disponiacutevel em
lthttpwww25senadolegbrwebatividadematerias-materia1067733Egt acesso em 27
de janeiro de 2017
SILVA L V L Contratos bancaaacuterios nas relaccedilotildees de consumo uma breve abodagem
Revista da EMERJ n 46 2009
SOUZA B O D MORETTO C F Entre a razatildeo e a emoccedilatildeo a tomada de creacutedito
consignado pelos idosos Revista Brasileira de Ciecircncias do Envelhecimento Humano v
11 n 1 2014
29
APEcircNDICE A
Roteiro de Entrevista qualitativa aplicada aos bancaacuterios e seus correspondentes
1 Idade
2 Formaccedilatildeo acadecircmica ( ) Ensino Meacutedio
( ) Superior
3 Haacute quanto tempo vocecirc trabalha ou jaacute trabalhou vendendo serviccedilos financeiros Em
qual cidade Descreva os serviccedilos financeiros que vocecirc mais estava habituado a
venda
4 Fale um pouco sobre as atividades que vocecirc realizava dentro da empresa Me conte
como era o seu dia a dia como era o processo de venda Da captaccedilatildeo do cliente ao
fechamento do contrato ou da venda do serviccedilo DEcirc EXEMPLOS
5 Quais produtos financeiros vocecirc estava ou estaacute mais habituado a vender
Creacutedito consignado creacutedito pessoal seguros empreacutestimos financiamentos
Qual vocecirc eacute mais estimulado a fazer
Tem diferenccedila na venda desses produtos
A abordagem ao cliente muda Quais satildeo mais diferentes
Vocecirc pode descrever para mim cada um deles por favor
Quais produtos satildeo os mais procurados
6 Qual eacute o tipo de puacuteblico que busca pelo empreacutestimo Descreva para mim as
caracteriacutesticas que vocecirc julga como mais marcantes Geralmente satildeo pessoas de que
faixa etaacuteria Satildeo pessoas de classe baixa meacutedia ou alta Satildeo pessoas instruiacutedas
7 Essas pessoas possuem um esclarecimento sobre o que seria esse tipo creacutedito
Compreendem as vantagens e as desvantagens relacionadas ao serviccedilo O que vocecirc
acha disso
8 No momento da contrataccedilatildeo de creacutedito o que eacute falado Como se daacute Todos os temos
do contrato ficam claros Vocecircs bancaacuterios explicitam o que estaacute no contrato Haacute
30
alguma avaliaccedilatildeo criteriosa do perfil do cliente de suas condiccedilotildees financeiras
9 O que vocecirc jaacute verificou por parte das pessoas que tomam esse creacutedito Qual seria os
maiores motivos para a procura do creacutedito consignado
10 Quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito vocecirc concorda com as vantagens oferecidas no
contrato ou acredita que algo deveria ser alterado O que vocecirc natildeo estaria de acordo
11 Qual o limite de desconto mensal da folha de pagamento do trabalhador o banco
oferece Por algum momento o banco excedeu o valor de desconto da folha Comente
essefato
12 Quanto agraves poliacuteticas bancaacuterias proposta pelos bancos para a venda de produtos
financeiros vocecirc concorda Ou algum momento jaacute discordou Discorra sobre o fato
13 Frequentemente vocecircs bancaacuterios satildeo estimulados a bater metas sobre os produtos que
vocecircs oferecem Vocecirc concorda que existe uma certa pressatildeo em vender cada vez mais
produtos Em alguma situaccedilatildeo vocecirc natildeo esteve de acordo como a forma que deveria
induzir os clientes a comprar um produto na qual vocecirc estaria oferecendo
27
BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Gestatildeo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatiacutestica Disponiacutevel em
httpwwwcidadesibgegovbrpainelpopulacaophplang=ampcodmun=314610ampsearch=mina
s-gerais|ouro-preto|infogrE1ficos-evoluE7E3o-populacional-e-pirE2mide-etE1ria
Acesso em 13022017
BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Gestatildeo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpwwwcidadesibgegovbrpainelpopulacaophplang=ampcodmun=313190ampsearch=min
as-gerais|itabirito gt Acesso em 12022017
BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Gestatildeo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpwwwcidadesibgegovbrpainelpopulacaophplang=ampcodmun=314000ampsearch=min
as-gerais|mariana gt Acesso em 12022017
BUAES C S Educaccedilatildeo financeira com idosos em um contexto popular Educaccedilatildeo amp
Realidade v 40 n 1 2015
CAVALCANTE R B CALIXTO P PINHEIRO M M K Anaacutelise de conteuacutedo
consideraccedilotildees gerais relaccedilotildees com a pergunta de pesquisa possibilidades e limitaccedilotildees do
meacutetodo Informaccedilatildeo amp Sociedade v 14 n 1 2014
CHERTMAN F Vulnerabilidade de consumo por analfabetos Dissertaccedilatildeo de Mestrado
Escola de Administraccedilatildeo de Empresas de Satildeo Paulo da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 217p 2011
CAREGNATO R C A MUTTI R Pesquisa qualitativa anaacutelise de discurso versus anaacutelise
de conteuacutedo Texto contexto enferm v15 n 4 p 679-84 2006
COSTA J H A possibilidade de anulaccedilatildeo dos contratos de empreacutestimo firmados pelo
microempresaacuterio individual a partir da caracterizaccedilatildeo do superendividamento Revista
Paradigma n 22 2014
DE SAacute R P R GONCcedilALVES G V Superindividamento do consumidor vulnerabilidade
dos idosos nos contratos de muacutetuo Revista de Estudos Juriacutedicos n 02 2015
GONCcedilALVES S Superendividamento do consumidor vulnerabilidade dos idosos nos
contratos de muacutetuo Revista de Estudos Juriacutedicos n 02 2013 VI
JOSEacute T S FERREIRA V H D A Centro Universitaacuterio Franciscano Disponivel em
lthttpwwwunifrabreventossepe2012trabalhos5289pdfgt Acesso em 20 Dezembro
2016
LIMA BG FERREIRA V H A Tempos de consumo e vulnerabilidade potencializada a
necessaacuteria (re) leitura dos direitos fundamentais diante da proteccedilatildeo do consumidor idoso
superendividado XI Seminaacuterio Internacional de Demandas Sociais e Poliacuteticas Puacuteblicas
na Sociedade Contemporacircnea Santa Cruz do Sul 2015
LOPES P D L et al Associaccedilatildeo Educacional Dom Bosco 2014 Disponivel em
lthttpwwwaedbbrsegetarquivosartigos1422920308pdfgt Acesso em 01 Fevereiro 2017
28
MARIMPIETRI F A hipervulnerabilidade do consumidor frente aos contratos de
empreacutestimo bancaacuterio na contemporacircnea sociedade de consumo Revista Debate Virtual n
170 2014
MEIRE R R ALVES F G Proteccedilatildeo juriacutedica especial dos consumidores hipervulneraacuteveis
Juris Rationis v 8 n 2 p 29-40 2016 ISSN ISSN 2237-2249
OLIVEIRA J R F Lei 108202003 do empreacutestimo consignado e sua institucionalidade
2006
Pfeiffer R A C Defesa da concorrecircncia e bem-estar do consumidor Diss Universidade de
Satildeo Paulo 2010
PINTO M F A Anaacutelise da abusividade contra consumidores hipervulneraacuteveis a partir de
decisotildees do superior tribunal de justiccedila e do coacutedigo de defesa do consumidor Revista
Pesquisas Juriacutedicas v IV n 1 2015
ROSA L C G BERNARDES L F FEacuteLIX V C O idoso como consumidor
hipervulneraacutevel na sociedade de consumo poacutes moderna Revista Juriacutedica da Presidecircncia v
18 n 116 p 533-558 2017
SENADO FEDERAL Projeto de Lei do Senado n 283 2012 Disponiacutevel em
lthttpwww25senadolegbrwebatividadematerias-materia1067733Egt acesso em 27
de janeiro de 2017
SILVA L V L Contratos bancaaacuterios nas relaccedilotildees de consumo uma breve abodagem
Revista da EMERJ n 46 2009
SOUZA B O D MORETTO C F Entre a razatildeo e a emoccedilatildeo a tomada de creacutedito
consignado pelos idosos Revista Brasileira de Ciecircncias do Envelhecimento Humano v
11 n 1 2014
29
APEcircNDICE A
Roteiro de Entrevista qualitativa aplicada aos bancaacuterios e seus correspondentes
1 Idade
2 Formaccedilatildeo acadecircmica ( ) Ensino Meacutedio
( ) Superior
3 Haacute quanto tempo vocecirc trabalha ou jaacute trabalhou vendendo serviccedilos financeiros Em
qual cidade Descreva os serviccedilos financeiros que vocecirc mais estava habituado a
venda
4 Fale um pouco sobre as atividades que vocecirc realizava dentro da empresa Me conte
como era o seu dia a dia como era o processo de venda Da captaccedilatildeo do cliente ao
fechamento do contrato ou da venda do serviccedilo DEcirc EXEMPLOS
5 Quais produtos financeiros vocecirc estava ou estaacute mais habituado a vender
Creacutedito consignado creacutedito pessoal seguros empreacutestimos financiamentos
Qual vocecirc eacute mais estimulado a fazer
Tem diferenccedila na venda desses produtos
A abordagem ao cliente muda Quais satildeo mais diferentes
Vocecirc pode descrever para mim cada um deles por favor
Quais produtos satildeo os mais procurados
6 Qual eacute o tipo de puacuteblico que busca pelo empreacutestimo Descreva para mim as
caracteriacutesticas que vocecirc julga como mais marcantes Geralmente satildeo pessoas de que
faixa etaacuteria Satildeo pessoas de classe baixa meacutedia ou alta Satildeo pessoas instruiacutedas
7 Essas pessoas possuem um esclarecimento sobre o que seria esse tipo creacutedito
Compreendem as vantagens e as desvantagens relacionadas ao serviccedilo O que vocecirc
acha disso
8 No momento da contrataccedilatildeo de creacutedito o que eacute falado Como se daacute Todos os temos
do contrato ficam claros Vocecircs bancaacuterios explicitam o que estaacute no contrato Haacute
30
alguma avaliaccedilatildeo criteriosa do perfil do cliente de suas condiccedilotildees financeiras
9 O que vocecirc jaacute verificou por parte das pessoas que tomam esse creacutedito Qual seria os
maiores motivos para a procura do creacutedito consignado
10 Quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito vocecirc concorda com as vantagens oferecidas no
contrato ou acredita que algo deveria ser alterado O que vocecirc natildeo estaria de acordo
11 Qual o limite de desconto mensal da folha de pagamento do trabalhador o banco
oferece Por algum momento o banco excedeu o valor de desconto da folha Comente
essefato
12 Quanto agraves poliacuteticas bancaacuterias proposta pelos bancos para a venda de produtos
financeiros vocecirc concorda Ou algum momento jaacute discordou Discorra sobre o fato
13 Frequentemente vocecircs bancaacuterios satildeo estimulados a bater metas sobre os produtos que
vocecircs oferecem Vocecirc concorda que existe uma certa pressatildeo em vender cada vez mais
produtos Em alguma situaccedilatildeo vocecirc natildeo esteve de acordo como a forma que deveria
induzir os clientes a comprar um produto na qual vocecirc estaria oferecendo
28
MARIMPIETRI F A hipervulnerabilidade do consumidor frente aos contratos de
empreacutestimo bancaacuterio na contemporacircnea sociedade de consumo Revista Debate Virtual n
170 2014
MEIRE R R ALVES F G Proteccedilatildeo juriacutedica especial dos consumidores hipervulneraacuteveis
Juris Rationis v 8 n 2 p 29-40 2016 ISSN ISSN 2237-2249
OLIVEIRA J R F Lei 108202003 do empreacutestimo consignado e sua institucionalidade
2006
Pfeiffer R A C Defesa da concorrecircncia e bem-estar do consumidor Diss Universidade de
Satildeo Paulo 2010
PINTO M F A Anaacutelise da abusividade contra consumidores hipervulneraacuteveis a partir de
decisotildees do superior tribunal de justiccedila e do coacutedigo de defesa do consumidor Revista
Pesquisas Juriacutedicas v IV n 1 2015
ROSA L C G BERNARDES L F FEacuteLIX V C O idoso como consumidor
hipervulneraacutevel na sociedade de consumo poacutes moderna Revista Juriacutedica da Presidecircncia v
18 n 116 p 533-558 2017
SENADO FEDERAL Projeto de Lei do Senado n 283 2012 Disponiacutevel em
lthttpwww25senadolegbrwebatividadematerias-materia1067733Egt acesso em 27
de janeiro de 2017
SILVA L V L Contratos bancaaacuterios nas relaccedilotildees de consumo uma breve abodagem
Revista da EMERJ n 46 2009
SOUZA B O D MORETTO C F Entre a razatildeo e a emoccedilatildeo a tomada de creacutedito
consignado pelos idosos Revista Brasileira de Ciecircncias do Envelhecimento Humano v
11 n 1 2014
29
APEcircNDICE A
Roteiro de Entrevista qualitativa aplicada aos bancaacuterios e seus correspondentes
1 Idade
2 Formaccedilatildeo acadecircmica ( ) Ensino Meacutedio
( ) Superior
3 Haacute quanto tempo vocecirc trabalha ou jaacute trabalhou vendendo serviccedilos financeiros Em
qual cidade Descreva os serviccedilos financeiros que vocecirc mais estava habituado a
venda
4 Fale um pouco sobre as atividades que vocecirc realizava dentro da empresa Me conte
como era o seu dia a dia como era o processo de venda Da captaccedilatildeo do cliente ao
fechamento do contrato ou da venda do serviccedilo DEcirc EXEMPLOS
5 Quais produtos financeiros vocecirc estava ou estaacute mais habituado a vender
Creacutedito consignado creacutedito pessoal seguros empreacutestimos financiamentos
Qual vocecirc eacute mais estimulado a fazer
Tem diferenccedila na venda desses produtos
A abordagem ao cliente muda Quais satildeo mais diferentes
Vocecirc pode descrever para mim cada um deles por favor
Quais produtos satildeo os mais procurados
6 Qual eacute o tipo de puacuteblico que busca pelo empreacutestimo Descreva para mim as
caracteriacutesticas que vocecirc julga como mais marcantes Geralmente satildeo pessoas de que
faixa etaacuteria Satildeo pessoas de classe baixa meacutedia ou alta Satildeo pessoas instruiacutedas
7 Essas pessoas possuem um esclarecimento sobre o que seria esse tipo creacutedito
Compreendem as vantagens e as desvantagens relacionadas ao serviccedilo O que vocecirc
acha disso
8 No momento da contrataccedilatildeo de creacutedito o que eacute falado Como se daacute Todos os temos
do contrato ficam claros Vocecircs bancaacuterios explicitam o que estaacute no contrato Haacute
30
alguma avaliaccedilatildeo criteriosa do perfil do cliente de suas condiccedilotildees financeiras
9 O que vocecirc jaacute verificou por parte das pessoas que tomam esse creacutedito Qual seria os
maiores motivos para a procura do creacutedito consignado
10 Quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito vocecirc concorda com as vantagens oferecidas no
contrato ou acredita que algo deveria ser alterado O que vocecirc natildeo estaria de acordo
11 Qual o limite de desconto mensal da folha de pagamento do trabalhador o banco
oferece Por algum momento o banco excedeu o valor de desconto da folha Comente
essefato
12 Quanto agraves poliacuteticas bancaacuterias proposta pelos bancos para a venda de produtos
financeiros vocecirc concorda Ou algum momento jaacute discordou Discorra sobre o fato
13 Frequentemente vocecircs bancaacuterios satildeo estimulados a bater metas sobre os produtos que
vocecircs oferecem Vocecirc concorda que existe uma certa pressatildeo em vender cada vez mais
produtos Em alguma situaccedilatildeo vocecirc natildeo esteve de acordo como a forma que deveria
induzir os clientes a comprar um produto na qual vocecirc estaria oferecendo
29
APEcircNDICE A
Roteiro de Entrevista qualitativa aplicada aos bancaacuterios e seus correspondentes
1 Idade
2 Formaccedilatildeo acadecircmica ( ) Ensino Meacutedio
( ) Superior
3 Haacute quanto tempo vocecirc trabalha ou jaacute trabalhou vendendo serviccedilos financeiros Em
qual cidade Descreva os serviccedilos financeiros que vocecirc mais estava habituado a
venda
4 Fale um pouco sobre as atividades que vocecirc realizava dentro da empresa Me conte
como era o seu dia a dia como era o processo de venda Da captaccedilatildeo do cliente ao
fechamento do contrato ou da venda do serviccedilo DEcirc EXEMPLOS
5 Quais produtos financeiros vocecirc estava ou estaacute mais habituado a vender
Creacutedito consignado creacutedito pessoal seguros empreacutestimos financiamentos
Qual vocecirc eacute mais estimulado a fazer
Tem diferenccedila na venda desses produtos
A abordagem ao cliente muda Quais satildeo mais diferentes
Vocecirc pode descrever para mim cada um deles por favor
Quais produtos satildeo os mais procurados
6 Qual eacute o tipo de puacuteblico que busca pelo empreacutestimo Descreva para mim as
caracteriacutesticas que vocecirc julga como mais marcantes Geralmente satildeo pessoas de que
faixa etaacuteria Satildeo pessoas de classe baixa meacutedia ou alta Satildeo pessoas instruiacutedas
7 Essas pessoas possuem um esclarecimento sobre o que seria esse tipo creacutedito
Compreendem as vantagens e as desvantagens relacionadas ao serviccedilo O que vocecirc
acha disso
8 No momento da contrataccedilatildeo de creacutedito o que eacute falado Como se daacute Todos os temos
do contrato ficam claros Vocecircs bancaacuterios explicitam o que estaacute no contrato Haacute
30
alguma avaliaccedilatildeo criteriosa do perfil do cliente de suas condiccedilotildees financeiras
9 O que vocecirc jaacute verificou por parte das pessoas que tomam esse creacutedito Qual seria os
maiores motivos para a procura do creacutedito consignado
10 Quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito vocecirc concorda com as vantagens oferecidas no
contrato ou acredita que algo deveria ser alterado O que vocecirc natildeo estaria de acordo
11 Qual o limite de desconto mensal da folha de pagamento do trabalhador o banco
oferece Por algum momento o banco excedeu o valor de desconto da folha Comente
essefato
12 Quanto agraves poliacuteticas bancaacuterias proposta pelos bancos para a venda de produtos
financeiros vocecirc concorda Ou algum momento jaacute discordou Discorra sobre o fato
13 Frequentemente vocecircs bancaacuterios satildeo estimulados a bater metas sobre os produtos que
vocecircs oferecem Vocecirc concorda que existe uma certa pressatildeo em vender cada vez mais
produtos Em alguma situaccedilatildeo vocecirc natildeo esteve de acordo como a forma que deveria
induzir os clientes a comprar um produto na qual vocecirc estaria oferecendo
30
alguma avaliaccedilatildeo criteriosa do perfil do cliente de suas condiccedilotildees financeiras
9 O que vocecirc jaacute verificou por parte das pessoas que tomam esse creacutedito Qual seria os
maiores motivos para a procura do creacutedito consignado
10 Quanto agrave contrataccedilatildeo de creacutedito vocecirc concorda com as vantagens oferecidas no
contrato ou acredita que algo deveria ser alterado O que vocecirc natildeo estaria de acordo
11 Qual o limite de desconto mensal da folha de pagamento do trabalhador o banco
oferece Por algum momento o banco excedeu o valor de desconto da folha Comente
essefato
12 Quanto agraves poliacuteticas bancaacuterias proposta pelos bancos para a venda de produtos
financeiros vocecirc concorda Ou algum momento jaacute discordou Discorra sobre o fato
13 Frequentemente vocecircs bancaacuterios satildeo estimulados a bater metas sobre os produtos que
vocecircs oferecem Vocecirc concorda que existe uma certa pressatildeo em vender cada vez mais
produtos Em alguma situaccedilatildeo vocecirc natildeo esteve de acordo como a forma que deveria
induzir os clientes a comprar um produto na qual vocecirc estaria oferecendo