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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MESTRADO EM EDUCAÇÃO LINHA DE PESQUISA: SUBJETIVIDADES COLETIVAS, MOVIMENTOS SOCIAIS E EDUCAÇÃO POPULAR MANUELA DIAS DE MELO EDUCAÇÃO MUSEAL: REFLEXÃO SOBRE SEMELHANÇAS E CONTRASTES COM UMA FORMA ESCOLAR Recife, 2015

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE … · 2016-07-01 · E EDUCAÇÃO POPULAR MANUELA DIAS DE MELO ... Gaston Bachelard . ... 2.3 A construção do conhecimento na perspectiva

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

MESTRADO EM EDUCAÇÃO

LINHA DE PESQUISA: SUBJETIVIDADES COLETIVAS, MOVIMENTOS SOCIAIS

E EDUCAÇÃO POPULAR

MANUELA DIAS DE MELO

EDUCAÇÃO MUSEAL: REFLEXÃO SOBRE SEMELHANÇAS E CONTRASTES COM

UMA FORMA ESCOLAR

Recife, 2015

MANUELA DIAS DE MELO

EDUCAÇÃO MUSEAL: REFLEXÃO SOBRE SEMELHANÇAS E CONTRASTES COM

UMA FORMA ESCOLAR

Orientador: Profº. Drº. Rui Gomes de Mattos de Mesquita

Recife, 2015

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Educação da Universidade

Federal de Pernambuco como parte dos requisitos

básicos para obtenção do título de mestre em

Educação.

M528e Melo, Manuela Dias de.

Educação museal: reflexão sobre semelhanças e contrastes com uma forma

escolar / Manuela Dias de Melo. – Recife: O autor, 2015.

175 f. : il. ; 30 cm.

Orientador: Rui Gomes de Mattos Mesquita.

Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal de Pernambuco,

CE. Programa de Pós-graduação em Educação, 2015.

Inclui Referências e Apêndices.

1. Museus - aspectos educacionais. 2. Museus e Escolas

3. Educação museal. 4. UFPE - Pós-graduação. I. Mesquita, Rui Gomes de

Mattos. II. Título.

069.15 CDD (23. ed.) UFPE (CE2016-07)

Catalogação na fonte

Bibliotecária Andréia Alcântara CRB-4/1460

MANUELA DIAS DE MELO

EDUCAÇÃO MUSEAL: REFLEXÃO SOBRE SEMELHANÇAS

E CONTRASTES COM UMA FORMA ESCOLAR

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Educação da Universidade

Federal de Pernambuco, como requisito parcial

para a obtenção do título de Mestre em

Educação.

Aprovada em: 31/07/2015.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Rui Gomes de Mattos de Mesquita (Orientador) Universidade Federal de Pernambuco

Prof. Dr. Francisco Sá Barreto dos Santos (Examinador Externo)

Universidade Federal de Pernambuco

Prof. Dr. Flávio Henrique Albert Brayner ( Examinador Interno)

Universidade Federal de Pernambuco

Dedico este trabalho as pessoas que acreditam na necessidade e na

possibilidade de ressignificar a educação.

AGRADECIMENTOS

A Deus por tornar todas as coisas possíveis.

A minha mãe Beatriz Maria por seu amor, por acreditar, auxiliar e respeitar minhas escolhas.

Ao meu pai Manoel Dias (in memorian) por me ensinar a valorizar cada momento da vida.

A minhas irmãs Eliane, Elisângela, sobrinhos Matheus e Pedro, cunhado(a)s Valmina, Beatriz

e Alexandre e todos os familiares agradeço profundamente todo apoio, afeto e compreensão

nos diversos momentos de ausência.

A Paulo Correia por seu amor, apoio constante e por tornar meus dias mais ensolarados e

felizes.

Ao professor e orientador Rui Gomes de Mattos Mesquita, meus sinceros agradecimentos não

apenas pelas orientações, mas pelo apoio, paciência, incentivo, amizade, e por respeitar meu

tempo de escrita.

Aos professores Francisco Sá Barreto, Alexandro Jesus, Flávio Henrique Albert Brayner e

Adriana Maria Paulo pela paciência, incentivo e aulas espetaculares.

A todos os amigos e professores da Museologia e do Mestrado que generosamente

contribuíram para o enriquecimento desse trabalho. Em especial aos amigo(a)s Tatiana, Joice,

Danielle, Max, André, Gilvanildo, Marcela, Reginaldo, Severino, Luiz, Vinicius, Gilmara ...

Aos queridos amigos Josanias, Marilena , Ricardo, Ana Grace, Bruna , Maria, Gabriela,

Priscila, Adriano, Edvânia, Raissa, Hermínio, Fábio Rafael, Luana, Luciana, Suzana, Elaine ...

por toda motivação.

Gostaria de agradecer à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(CAPES) pela concessão da bolsa de estudos sem a qual eu não poderia ter me dedicado ao

curso da maneira que o fiz.

Ao meu cachorro Pingo, fiel companheiro na produção das madrugadas.

―A razão recomeça, mas é a imaginação que começa‖

Gaston Bachelard

RESUMO

O tema da educação está presente como um dos pressupostos na ação dos museus, que não

tem como finalidade apenas armazenar e conservar objetos. A partir do século XX, existe um

deslocamento da ênfase da Salvaguarda (documentação/conservação) para a Comunicação

(expografia/ação-educativa). Assim, os museus passam a exercer uma função educativa. No

entanto, até o momento presente, o uso do próprio termo educação museal, ―se mostra como

uma necessidade de explicitação daquilo que o diferencia de outros termos utilizados para

qualificar o tipo de educação que se faz nos museus‖ (PNEM, 2013). Desse modo, o presente

estudo tem como objetivo refletir sobre a construção de conceitos a respeito da educação

museal vis-à-vis os elementos constitutivos da forma escolar- fenômeno que caracteriza um

processo de escolarização de outros espaços/relações, e provoca um borramento das fronteiras

entre educação e escolarização. A invenção da escola, enquanto projeto da modernidade, está

relacionado à ideia de um acesso seguro ao saber, que se refere a uma tentativa de tornar as

ações e os sujeitos mais disciplinados. Com a experiência moderna de ciência e educação, o

ato de imaginar não é entendido como a capacidade de construir novas relações entre objetos,

valores, palavras e imagens, a imaginação é deslocada da função de produzir conhecimento

(JESUS, 2014). Para Paul Ricoeur a imaginação é um meio para a abertura de novos modelos

explicativos, tem um papel ontológico. Assim, o conhecimento não é fundado apenas em

critérios dotados de razão, mas também de imaginação. Uma das intenções da pesquisa é

pensar em que medida a configuração de um campo conceitual sobre educação museal está

relacionado com a forma escolar, e como essa modalidade educativa pode contribuir com um

processo de construção do conhecimento, que valorize mais a imaginação. Para Ernesto

Laclau, a materialidade do social ganha novos sentidos a partir de diferentes maneiras de

produzir discursos. Museus e escolas são importantes dispositivos de manutenção da

memória, alvo de muitas demandas e disputas de significações. Ao propor um estudo sobre a

dimensão educativa desses espaços, direta ou indiretamente estamos propondo uma reflexão

crítica sobre os desafios políticos de analisar a educação no nosso tempo. A pesquisa terá

como aporte teórico metodológico aspectos da teoria do discurso de Ernesto Laclau em

articulação com o pensamento hermenêutico de Paul Ricoeur.

Palavras-chave: Educação Museal. Forma Escolar. Conhecimento. Imaginação. Disciplina.

ABSTRACT

The topic of education is present as one of the assumptions in the action of museums, which

not only aims to store and preserve objects. From the twentieth century, there is a change of

emphasis of Safeguard (documentation / conservation) for Communication (expography /

action-educational). Thus, museums begin to exert an educational function. However, to date,

the use of the term itself museum education, "appears as a need to clarify what differentiates it

from other terms used to describe the type of education that is in museums" (Pnem, 2013).

Thus, this study aims to reflect on the construction of concepts about vis-à-vis the museum

education of the elements of form escolar- phenomenon featuring an educational process to

other areas / relationships, and causes a blurring of boundaries between education and

schooling. The invention of the school, while the modernity project is related to the idea of a

secure access to knowledge, which refers to an attempt to make the actions and the most

disciplined subjects. With modern experience of science and education, the act of imagining is

not understood as the ability to build new relationships between objects, values, words and

images, the imagination is moved from the role of producing knowledge (Jesus, 2014). For

Paul Ricoeur imagination is a way for the opening of new explanatory models, has an

ontological role. Thus, knowledge is based not only on criteria endowed with reason, but of

imagination. One of the survey's intentions is to think to what extent the configuration of a

conceptual field of museum education is related to the school form, and how this educational

modality can contribute to a process of knowledge construction, which puts more emphasis

imagination. Ernesto Laclau, the materiality of the social gains new meanings from different

ways of producing discourse. Museums and schools are important in maintaining memory

devices, the subject of many demands and meanings disputes. In proposing a study on the

educational dimension of these spaces, directly or indirectly we are proposing a critical

reflection on the political challenges of analyzing education in our time. The research will

have as methodological theoretical support aspects of Ernesto Laclau discourse theory in

conjunction with the hermeneutical thought of Paul Ricoeur.

Keywords: Education museum; School form; Knowledge; Imagination; Discipline.

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Ilustração de um Gabinete de Curiosidades (publicada por

Ferrante Imperato em Dell‘Historia Naturale, Nápoles 1599).

54

Figura 02 – Relação habitantes por número de museus (2015)

Cadastro Nacional de Museus (CNM)

83

Figura 03 – Imagem de uma campanha publicitária: ―armário não é museu‖

85

Figura 04 –Detalhe da imagem, campanha publicitária: ―armário não é

museu‖

86

Figura 05 –―Willy Wonka Irônico‖ Museu de Memes

86

Figura 06 – Imagem Museu de Memes

87

Figura 07 – Intervenção Campanha: ―NÃO QUEREMOS MAIS UM

MUSEU‖

145

Figura 08 – Logotipo Campanha: “NÃO QUEREMOS MAIS UM MUSEU‖

146

LISTA DE GRAFICOS, QUADROS E TABELAS

GRAFICOS

Gráfico 01- Porcentagem (%) de museus por tipologia de acervo, Brasil,

2010

67

Gráfico 02- Crescimento do número de museus, de 1910 até 2009.

74

QUADROS

Quadro 01 - Museus cadastrados, fundados até o ano de 1900, Brasil, 2010

73

Quadro 02- Conceitos referentes à Educação Museal

94

Quadro 03- Duas formas de conhecimento científico no estudo da ação

humana, de acordo com Jerone Bruner.

119

Quadro 04- Contraste entre dois tipos de análise de dados: Narrativo e

Paradigmático.

121

Quadro 05- Teses e Dissertações do banco do programa de Pós-Graduação

em educação da UFPE (temas referentes à educação e/em museus)

164

Quadro 06- Teses, Dissertações e Artigos – Portal Capes

(temas referentes à educação museal)

165

Quadro 07- Teses, Dissertações e Artigos – Portal Capes

(temas referentes à educação e/em museus)

166

Quadro 08- Teses e Dissertações do banco da biblioteca digital brasileira de

teses e dissertações (temas referentes à Educação Museal)

170

Quadro 09- Textos bases da Plataforma de Educação Museal

171

Quadro 10: Banco de Projetos Educativos do PNEM

175

TABELAS

Tabela 01- Relação habitantes por número de museus (2015)

Cadastro Nacional de Museus (CNM)

84

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

CNM- Cadastro Nacional de Museus

IBRAM- Instituto Brasileiro de Museus

ICOM – Conselho Internacional de Museus

ICOFOM- International Committe for Museology (Comitê Internacional Para a Museologia)

IPHAN- Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

MINC- Ministério da Cultura

MINOM- Movimento Internacional para uma Nova Museologia

PNC- Política Nacional de Cultura

PNM- Política nacional de Museus

PNSM- Plano Nacional Setorial de Museus

PNEM- Plano Nacional de Educação Museal

REM- Rede de Educadores de Museus

TD- Teoria do Discurso

UNESCO- United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (Organização

das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura)

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO

14

2. O SURGIMENTO DE UMA FORMA ESCOLAR

24

2.1 A escola enquanto uma organização, uma instituição e uma forma 25

2.2 A escolarização das atividades educativas não escolares: o sentido político da

hegemonia de uma forma

30

2.3 A construção do conhecimento na perspectiva de uma forma escolar 35

2.4 Algumas contradições da forma escolar

41

3. O PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO DO MUSEU

46

3.1 Escola e Museu: dispositivos na construção de um discurso nacional 47

3.2 Institucionalização do museu: aproximações com uma forma escolar 52

3.3 Escolarização: algumas relações entre educação, escolas e museus 57

3.4 Educação formal, não formal e informal: limites e fragilidades

62

4. NOÇÕES SOBRE A DIMENSÃO EDUCATIVA DO CAMPO MUSEAL

BRASILEIRO

70

4.1 O Educativo no museu: noções sobre a experiência educativa museal brasileira 71

4.2 A composição de sentidos sobre o conceito de educação museal 90

4.3 Princípios e Parâmetros para a criação da Política Nacional de Educação

Museal/PNEM

101

5. ASPECTOS TEÓRICO/METODOLÓGICOS

114

5.1 O método de pesquisa documental 115

5.2 O Pensamento Paradigmático e o Narrativo 118

5.3 Pós-estruturalismo: o discurso como uma prática de significação do mundo 124

5.4 Formação discursiva em torno da Educação Museal: considerações da Teoria do

discurso de Ernesto Laclau

127

5.5 A construção do conhecimento: a imaginação como produtora de sentido, através do

uso metafórico da linguagem no pensamento de Paul Ricoeur.

134

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

139

REFERENCIAS 153

APÊNDICES 164

14

1. INTRODUÇÃO

―All sorrows can be borne if you put them into a story or tell a story about it1‖.

Isak Dinesen

A construção social da realidade é feita através de estruturações simbólicas. O modo

como compomos nossas falas, nos permite ter muitas maneiras de contar uma história. A

Teoria do Discurso (TD), situada em um paradigma pós-estruturalista, defende a ideia de que

todo e qualquer sentido só pode ser criado dentro de sistemas de linguagem ou de

significação. Ernesto Laclau (ANO) conceitua o social em um nível de discursividade. Com

isso, entende a noção de identidade como resultado de uma articulação discursiva. O conceito

de discurso para Laclau não se restringe a uma dimensão lingüística, compreende as ações

envolvidas, ou seja, engloba uma dimensão não lingüística. Assim:

Para o autor argentino, discurso deve ser entendido como uma categoria que

une palavras e ações, que tem natureza material e simbólica

simultaneamente, porque o material não existe separado de sua significação.

Discurso é prática – daí a ideia de prática discursiva – uma vez que

quaisquer ações empreendidas por sujeitos, identidades e grupos sociais são

ações de significação (OLIVEIRA, 2013, p.03).

As práticas sociais expressam ou comunicam um significado. Para Stuart Hall (1997) os

sistemas ou códigos de significado dão sentido as nossas ações, eles constituem nossas

―culturas‖. Assim, as ações sociais são culturais2. Os processos de socialização e a maneira

como internalizamos os aspectos da cultura estão presentes em nossos discursos e instituições,

não como algo linear, mas em um estado constante de transformação. A modernidade, período

com início entre os séculos XVII e XVIII, têm como marco um conjunto de modificações na

concepção de indivíduo e sua identidade. A educação, de maneira sistematizada, passou a ser

uma das principais preocupações humanas.

Para Carlos Ernesto Ramirez, em sua análise sobre a história da educação, é preciso ver

a modernidade como o inicio de uma sociedade educativa: ―não que tenha tido uma causa

1―Todas as dores podem ser suportadas se você colocá-las em uma história ou contar uma história sobre isso‖.

2 Esse papel constitutivo e ―central‖ da cultura na vida social, segundo Hall (1997) só acontece na segunda

metade do século XX, principalmente pelo amplo poder analítico e explicativo que o conceito de cultura adquiriu

na teorização social.

15

educativa ou que a educação tenha sido a causa" (RAMIREZ, 2009, P.23). Mas porque as

problematizações educacionais e pedagógicas trouxeram implicações, políticas, econômicas,

culturais e sociais. Nesse sentido, para Ramirez:

Ler a modernidade na perspectiva da educação é ler o processo de

constituição de uma ―sociedade educativa‖ como não existia antes uma

sociedade onde, pela primeira vez na história, se pensou que a educação de

todos e cada um era a condição necessária para a salvação, o progresso, ou o

desenvolvimento econômico e social, uma sociedade onde era preciso

ensinar tudo a todos, ou onde cada um deveria aprender, não só durante sua

passagem pela família ou pela escola, mas durante toda sua vida; uma

sociedade onde não foi suficiente aprender, mas aprender a aprender; uma

sociedade, enfim, onde o indivíduo, o sujeito, na medida que requereu uma

ampla e especializada educação – como condição para sua `humanização`-

constituiu-se como um Homo Educabilis (RAMIREZ, 2009, p.23).

A invenção da escola, enquanto projeto da modernidade, está relacionada à ideia de um

acesso seguro ao saber. Uma adequação do pensamento ao fato, com o uso de uma razão

instrumental3, compreensão em que os processos racionais são plenamente operacionalizados.

Em que: ―seria possível uma pedagogia baseada nos conhecimentos científicos e que

permitiria não só adaptar perfeitamente as crianças às exigências da sociedade, como também

educá-las segundo suas vocações e potencialidades psicológicas‖. (CHAUÍ, 2000, p.60). Para

Chauí:

No século XIX, entusiasmada com as ciências e as técnicas, bem como com

a Segunda Revolução Industrial, a Filosofia afirmava a confiança plena e

total no saber científico e na tecnologia para dominar e controlar a Natureza,

a sociedade e os indivíduos. Acreditava-se que a sociologia, por exemplo,

nos ofereceria um saber seguro e definitivo sobre o modo de funcionamento

das sociedades e que os seres humanos poderiam organizar racionalmente o

social, evitando revoluções, revoltas e desigualdades. (CHAUÍ, 2000, p.60).

Marilena Chauí, ao analisar o desenvolvimento da ciência e as técnicas nas questões

discutidas pela Filosofia contemporânea, coloca que: ―acreditava-se, também, que a

psicologia ensinaria definitivamente como é, e como funciona a psique humana, quais as

causas dos comportamentos e os meios de controlá-los, quais as causas das emoções e os

3 ―A Escola de Frankfurt, elaborou uma concepção conhecida como Teoria Crítica, na qual distingue duas

formas da razão: a razão instrumental e a razão crítica. A razão instrumental é a razão técnico-científica, que faz

das ciências e das técnicas não um meio de liberação dos seres humanos, mas um meio de intimidação, medo,

terror e desespero. Ao contrário, a razão crítica é aquela que analisa e interpreta os limites e os perigos do

pensamento instrumental e afirma que as mudanças sociais, políticas e culturais só se realizarão verdadeiramente

se tiverem como finalidade a emancipação do gênero humano e não as idéias de controle e domínio técnico-

científico sobre a natureza, a sociedade e a cultura‖. (CHAUÍ, 2000, p.60).

16

meios de controlá-las, de tal modo que seria possível livrar-nos das angústias, do medo, da

loucura‖. (CHAUÍ, 2000, p.60).

Da mitologia à ciência, tentou-se substituir, por completo, uma crença ―mágica-

mitológica‖, pela constatação científica. O iluminismo4 foi um movimento importante nessa

transição. O programa do esclarecimento tinha como meta dissolver os ―mitos‖ e substituir a

imaginação por um conhecimento utilitário, objetivo. Na experiência moderna de ciência e

educação: ―a imaginação é deslocada de um lugar importante na função de produzir

conhecimento, trata-se da desqualificação da fantasia pela estrutura moderna‖. (JESUS, 2014,

p. 08). Não são facilmente absorvidos na construção do conhecimento, concepções como:

emoção, afeto, fruição, imaginação.

O ato de imaginar pode ser entendido como a capacidade de construir novas relações

entre objetos, valores, palavras e imagens. Um meio para a abertura de novos mundos e

paradigmas explicativos. Assim, o conhecimento não é fundado apenas em critérios dotados

de razão, mas também de imaginação.Paul Ricoeur (1990) considera a imaginação uma

categoria central na construção de narrativas, ela tem um papel ontológico. O autor aborda a

imaginação como produtora de sentido através do uso metafórico da linguagem.

Para Ricoeur mais do que descrever, as narrativas agenciam os fatos, elas são

constitutivas, (RICOEUR, 1990). Pode-se dizer que, a imaginação amplia o pensamento e a

possibilidade de criar analogias, ou seja, metáforas. A imaginação é um ponto fundamental

para a construção de histórias, pois á medida que as narrativas se deparam com novas tramas,

são capazes de gerar alterações, inovações que ―jogam‖ com as regras existentes em nome de

sua própria coerência: ―na formação histórica própria a experiência tradicional, a imaginação

exercia a mediação entre o mundo sensível e o intelecto‖. (JESUS, 2014, P. 08).

O conhecimento produzido a partir da experiência escolar tornou possível um tipo de

―pedagogização‖ das relações sociais, uma forma escolar de conceber os processos de

aprendizagem, que se refere a uma tentativa de tornar as ações e os sujeitos mais previsíveis,

disciplinados (FOUCAULT,2005). Um modo de conhecimento ―apartado da vida‖, que

pressupõe a exterioridade do primeiro em relação à segunda; uma maneira específica de

relação com o conhecimento, que não se pode confundir com a educação de um modo mais

amplo.

4 Para o projeto iluminista, quando tudo estivesse ―esclarecido‖, o homem atingiria a plena felicidade, pois não

haveria sombras; tudo seria desvendado, e a educação aliada à ciência era um instrumento para essa finalidade.

17

A escolarização torna-se uma etapa fundamental no processo de construção de vínculos

sociais, a partir de relações salariais, quantificação e regulação diferenciada do tempo. A

escola tornou-se a instância formal de aprendizagem, o espaço legitimador de práticas sociais.

Ela marca a passagem de uma sociedade em que o estatuto social era transmitido pela via

familiar para uma sociedade que o estatuto social passa a ser adquirido pela escola.

Esse modelo escolar pode-se dizer, tinha o objetivo de atender às demandas das novas

configurações sociais. Segundo Rui Canário (2005, p. 67): ―do ponto de vista econômico, a

escola participa historicamente da construção de uma sociedade industrial tendo como

referencia o capitalismo livre concorrencial‖. É uma escola que surge da necessidade de

ampliar a mão de obra para o novo mercado industrial, inspirada em uma idéia fragmentada

do conhecimento. Assim, como uma linha de montagem as pessoas deveriam saber para dar

conta dessas demandas, com atividades cada vez mais distantes de uma relação com suas

próprias vidas. Na análise de Rui Canário:

A forma escola representa uma nova maneira de conceber a aprendizagem,

em ruptura com os processos de continuidade com a experiência e de

imersão social que prevaleciam anteriormente. Esta modalidade de

aprendizagem, baseada na revelação, na cumulatividade e na exterioridade,

possui autonomia própria e pode, portanto, existir independentemente da

organização e da instituição escolar, como acontece nos nossos dias. É neste

sentido que podemos falar de uma escolarização das atividades educativas

não escolares. (CANÁRIO, 2005, p. 62).

Em nosso contexto atual, no processo de construção de significados e valores, as

trajetórias sociais, ainda, parecem indissociáveis dos espaços escolares. Segundo Rui Canário

(2005), a expansão continua da escolarização compreende um movimento contraditório, no

qual a insatisfação com a escola se traduz em uma intensificação da procura por percursos

escolares cada vez mais longos. Diz-se há um bom tempo que a instituição escolar: "passa por

um momento de crise" (NÓVOA, 2001, apud CANÁRIO, 2005, p. 59). Entretanto, não se

trata de um fenômeno novo, discursos sobre a crise da escola são recorrentes e atravessam o

pensamento sobre a mesma desde o final do século XIX, como se pode notar,a partir, de

sucessivas reformas. E: ―se a escola está em crise e pode vir a desaparecer como instituição

social, é porque a forma escolar de socialização é hoje hegemônica‖ (VINCENT; LAHIRE &

THIN, 2001, p. 07).

Essa nova maneira de ―construir‖ relações sociais, promovida pela forma escolar, afeta

outros espaços. "estabelece relações entre a forma escolar e outras formas sociais,

principalmente, políticas". (VINCENT; LAHIRE & THIN, 2001, p. 16-17). São diversos os

18

campos de pesquisa sobre a instituição escolar, e múltipla as questões e compreensões que

envolvem esses espaços. Embora este estudo lide diretamente com a noção da escolarização,

não vai pesquisar diretamente a instituição escolar, o enfoque é analisar como a forma escolar,

tornou-se exterior, a própria instituição escolar. Um dos desafios, nesse estudo, é pensar o

impacto de uma forma escolar de socialização no cenário contemporâneo. De modo mais

específico, como essa hegemonia da forma escolar afeta a educação em um espaço social

como o museu.

A relação entre educação e museus não é recente, os museus possuem um caráter

educacional ligado à sua própria origem, uma vez que, desde o início, se configuravam como

espaços de pesquisa e ensino. A caracterização dos museus como espaços educativos é parte

do entendimento da educação como um processo amplo de socialização, no qual os museus

podem promover conhecimentos e o desenvolvimento de competências. O tema da educação

está presente como um dos pressupostos na ação dos museus, uma vez que esses espaços não

tem como finalidade apenas armazenar e conservar objetos.

A abertura dos museus ao público, no século XVIII, começou a ampliar de alguma

maneira o acesso ao conhecimento produzido, e à divulgação da ciência. O desenvolvimento

científico nos séculos XVIII e XIX estava vinculado ao surgimento e consolidação dos

museus de história natural. Antes, os Gabinetes de Curiosidade, ou Quartos de Maravilha,

como eram chamados os antecessores dos museus modernos; já tinham alguma atuação como

espaços de pesquisa, eram vinculados a particulares, ou a centros acadêmicos, universidades,

escolas e governos. (SUANO, 1986)

O final do século XIX e início do século XX foi marcado por uma concepção de museu

vinculado à preservação, e testemunho da memória, para guarda de acervos artísticos e

históricos (CÂNDIDO, 2014). Mas ao longo do século XX, foi fortalecido o aspecto público e

educativo da instituição, existiu um deslocamento da ênfase da Salvaguarda

(documentação/conservação) para a Comunicação (expografia/ação-educativa cultural), Na

análise de Manuellina Duarte Cândido (2014), esse deslocamento aproximou esses espaços,

ainda mais de uma função educativa.

Cada museu representar um saber, uma tipologia, uma constituição diferente. Nos

últimos anos a ideia ou a definição do que é um museu passou por muitas modificações,

houve uma ampliação do seu conceito. Atualmente, abrigam tipologias, temas, plataformas

muito diversas. É enorme a possibilidade de espaços que podem ser considerados museus. O

que torna ainda mais complexa a compreensão de educação que ocorre nesses espaços. A

Organização Internacional de Museus e Profissionais de Museus, International Council of

19

Museums – ICOM define o museu como: uma Instituição sem fins lucrativos, permanente, a

serviço da sociedade e de seu desenvolvimento, e aberta ao público, que adquire, conserva,

pesquisa, divulga e expõe, para fins de estudo, educação e divertimento, testemunhos

materiais do povo e seu meio ambiente. (ICOM, 2001).5

Independente da tipologia do museu, plataforma, ou composição das exposições, existe

uma conditio sine qua non com uma dimensão educativa. No entanto, até o momento

presente, o uso do próprio termo educação museal, ―se mostra como uma necessidade de

explicitação daquilo que o diferencia de outros termos utilizados para qualificar o tipo de

educação que se faz nos museus‖ (PNEM, 2013). É uma área que vem se consolidando como

um espaço aparentemente autônomo entre as instituições que representam, embora faça parte

das demandas de políticas culturais na atual estrutura de organização governamental (LOPES,

1991; SANTOS, 2001, CASTRO, 2013).

O processo de ―escolarização do museu‖ se refere a um critica feita ao modo de

conceber o museu como uma continuação do espaço educacional escolar. Maria Margaret

Lopes (1991) aborda algumas implicações que o termo escolarização pode trazer para o

museu. Para Lopes essa expressão ganhou uma conotação pejorativa, devido à forma como a

escola, extremamente influenciada por um modelo tradicional e tecnicista, estava sendo

questionada, com seus métodos e pressupostos distantes da realidade do aluno e de seu

entorno, com isso trazer a escola, isto é, seus métodos e suas orientações, para dentro do

museu, seria, então, trazer algo que estava sendo questionado socialmente, para orientar as

instituições museais. Nesse sentido:

Um dos riscos que se corre nessas atividades é o de ―escolarizar‖ os museus,

impregnando-os com métodos e finalidades escolares, confundindo-os e

―reduzindo-os a instituições que são usadas apenas para ilustração dos

conhecimentos ministrados pela escola‖ (ANGELI, 1993, p. 47 apud LEITE,

2005, p. 36)

A educação em seu formato escolar, de modo geral, fornece muito mais experiências de

não contemplação; favorecem muitos processos de reprodução que criação/imaginação. Os

5 Essa definição de museu do ICOM, apesar de ampla, não contempla a abrangência que essas instituições

tomaram e o caráter político dos museus. O ICOM trabalha com uma definição de museu, cuja abrangência

propõe-se mundial, mas alguns países têm suas próprias conceituações, bem menos genéricas. Essa ampliação,

na compreensão dos espaços que podem ser considerados museus, traz implicações para entender o que significa

o processo de musealização.

20

museus inspirados nesse modelo escolar diminuem as atividades que envolvam

sensibilização, emoção e prazer.

A cientifização de praticamente todas as áreas do conhecimento, por um lado, nos

trouxe respostas para várias questões e a possibilidade de aprofundar diversas áreas do saber,

por outro, tenta nos tornar cada vez mais ―racionalmente insensíveis‖ à contemplação.

Nesse estudo, partimos da concepção de que há uma forma escolar que se impõe para

além do espaço escolar, em um processo de escolarização de outros ambientes educacionais

(CANÁRIO, 2005; BRAYNER, 2001; VINCENT; LAHIRE & THIN, 2001). Desse modo,

acreditamos que existe um borramento da função educativa dos museus, com a forma escolar.

Assim, essa pesquisa investiga de que maneira a configuração de um campo conceitual

sobre educação museal está conformado por essa forma escolar? Ainda, até que ponto a

proximidade do museu com essa forma escolar limita-o a reproduzir uma experiência

escolar, ao invés de uma experiência museal?

O estudo tem como objetivo geral:

Refletir sobre a construção de conceitos a respeito da educação museal vis-à-vis os

elementos constitutivos da forma escolar.

E como objetivos específicos:

Identificar aproximações e distanciamentos na relação histórica entre escolas, educação e

museus;

Observar como a proximidade do museu com essa “forma” escolar pode limitá-lo a

reproduzir uma experiência escolar, ao invés de uma “experiência museal”;

Discutir os atuais embates políticos e teóricos da educação museal através do Plano

Nacional de Educação Museal/PNEM e da Plataforma Nacional de Educação Museal;

Não é intenção desse estudo, procurar ou construir um conceito fechado sobre educação

museal. Mas observar como o adjetivo museal pode qualificar a educação que ocorre nos

21

museus, ou seja, como a educação museal, pode ser uma maneira especifica dos museus

lidarem com o conhecimento, e como essa modalidade educativa pode contribuir com um

modo de construção do conhecimento, que valorize mais os processos imaginativos.

Como aporte teórico/metodológico serão utilizados os conceitos de discurso, hegemonia

e a lógica dos significantes da Teoria do Discurso (TD) na compreensão de Ernesto Laclau e

Chantal Mouffe, articulados à concepção de narrativa e imaginação de Paul Ricoeur, tendo em

vista, uma noção não representacionista de narrativa.

O corpus da pesquisa foi selecionado com o objetivo de pensar sobre as estruturas

discursivas que compõe o campo da educação museal, assim, o campo semântico inclui: a

Plataforma virtual do PNEM, em específico as discussões do Fórum e dos grupos de trabalho

específicos sobre educação museal; os documentos de referência do PNEM: Documento

Preliminar do PNEM, Carta de Belém, Carta de Petrópolis – Subsídios para a construção de

uma Política Nacional de Educação Museal, Metas do Plano Nacional de Cultura, Plano

Nacional de Cultura – PNC, Plano Nacional Setorial de Museus – PNSM, Politica Nacional

de Museus – PNM. Além de artigos, teses, dissertações, revistas / periódicos sobre educação e

museus / educação museal.

Para construir a análise das questões referidas, o texto está dividido em cinco capítulos:

O primeiro capítulo faz a introdução do tema, e uma contextualização das questões que

o texto pretende abordar. No segundo capítulo o interesse é explorar as concepções sobre o

surgimento de uma forma escolar, fenômeno que atua no social e provoca um tipo de

escolarização das atividades educativas não escolares, com isso, limita outros espaços a um

formato de construção do conhecimento na perspectiva de uma forma escolar. Assim, a

educação parece exclusiva desse formato; a escola enquanto uma organização, uma instituição

e uma forma de conduzir as relações sociais. Nesse sentido, uma questão que atravessa nosso

texto se refere a entender como a influência de uma forma escolar, interfere nos vínculos entre

a produção do conhecimento e a imaginação.

No terceiro capítulo, o intuito é observar quais sentidos podem ser atribuídos ao

processo de escolarização do museu. Assim, evidenciar as relações entre educação, escolas e

museus Com isso, compreender melhor a construção de uma dimensão pedagógica dos

museus. Para isso, analisaremos, através, de elementos históricos que conformaram um

22

determinado modelo de construção de conhecimentos, que permeou o campo escolar e museal

as aproximações e distanciamentos entre a institucionalização da escola e do museu, e como

esses espaços atuaram enquanto dispositivos do projeto moderno, na tentativa de consolidação

de um discurso nacionalista, tornando-se mais próximos.

No quarto capítulo, o objetivo é fazer uma análise sobre a dimensão educativa do campo

museal brasileiro, é entender melhor a composição dos discursos sobre Educação Museal.

Para isso vamos analisar a significação política e os atuais embates teóricos na configuração

de um campo conceitual sobre educação museal, realizada pelo Plano Nacional de Educação

Museal/PNEM e através da Plataforma Nacional de Educação Museal/PNEM. O intuito é

observar o processo de institucionalização desse campo. Assim como, a formação do conceito

de educação museal, e quais os significados atribuídos a uma epistemologia museal, em

relação à forma escolar.

O quinto e último capítulo, concentrará o desenho metodológico construído para a

pesquisa. Ao que já adiantamos aqui em linhas mais gerais, uma articulação entre os conceitos

de discurso, hegemonia e a lógica dos significantes da TD, na compreensão de Ernesto Laclau

e Chantal Mouffe, articulados à concepção de narrativa e imaginação de Paul Ricoeur, com

objetivo de construir um método analítico adequado para refletir sobre a educação museal.

Para a TD cada ato individual de significação está relacionado a uma totalidade da

língua na medida em que esta, como um sistema de diferenças comporta valores (identidades

lingüísticas) que são essencialmente relacionais. A "realidade" é para Laclau da ordem do

discurso, com isso, a ―materialidade do social‖ ganha novos sentidos a partir de diferentes

formas de produzir discursos. Portanto, não há ato de significação que se dê de forma isolada

e autônoma; só existe comunicação em um sistema de diferenças.

Museu e escola serão compreendidos enquanto instituições políticas, campos

discursivos construídos por diferentes narrativas, dispositivos6, que não têm significados sem

a constituição humana. Paul Ricoeur faz um deslocamento da noção de texto para os fenômenos

sociais, isso nos permite criar conexões entre a narrativa e os dispositivos escolar e museal.

Nesse sentido, analisar as escolas e os museus, enquanto dispositivos de disciplinarização

compreende a percepção desses espaços como estruturas discursivas, permeados por muitas

representações disciplinares.

6 O dispositivo, aqui entendido no sentido de Giorgio Agamben (2009), como um conjunto heterogêneo,

linguístico e não linguístico, que inclui virtualmente qualquer coisa no mesmo título: discursos, instituições,

edifícios, leis, medidas de polícia, proposições filosóficas, etc.

23

Os espaços escolares, assim como a maior parte dos museus, da maneira como estão

formatados, estabelecem uma relação com a construção do conhecimento que parece estar

distante de uma experiência estética voltada para a imaginação, uma categoria importante no

processo de percepção da realidade e na produção de novos sentidos. O modelo escolar que

prevalece, constitui-se como "um espaço de tolhimento do pensamento artístico, de seu não

desenvolvimento, do impedimento crítico e do isolamento social visando à reprodução da

ordem vigente‖. (GRAMSCI, 2001 apud CASTRO, 2013). A imaginação parece ser um

elemento não absorvido no campo semântico da forma escolar hegemônica.

A educação do olhar é um exercício, uma construção na qual a percepção e a

sensibilidade estão imbricadas na construção do conhecimento. Tornar

visível o que se olha é uma concepção do sensível. Pensar a educação do

olhar é posicionar-se questionar-se diante do processo de aprendizagem, para

despertar o caráter sensitivo, afetivo e sensorial, como uma viagem ao

mundo da imaginação e das informações adquiridas. (GANZER, 2005, p.85)

Para Rui Canário, a hegemonia levada a cabo pela própria escola levou à desvalorização

de "todos os saberes que não são ensinados por profissionais e, portanto, do processo

educativo como um trabalho que o educando realiza sobre si próprio, em interação com os

outros e com o mundo, a partir do seu patrimônio experiencial" (CANÁRIO, 2005, p. 192). A

educação enquanto um fenômeno mais amplo, intergeracional, não está restrito apenas ao

espaço escolar. Neste sentido, a educação escolar não deveria ser considerada como o espaço

mais significativo onde o processo educativo acontece, nem tão pouco a única instituição

responsável pelos processos de formação pessoal, pela formação das identidades, pela

construção dos projetos de vida.

A aprendizagem é um processo difuso, não formal, que é coincidente com um sistema

largo e multiforme de socialização. Para Canário: ―decorre daqui que a aprendizagem ocorre

em todos os cenários, o que significa que a maior parte dos contextos educativos não são

contextos escolares‖ (CANÁRIO, 2005, p.70). Mas no cenário atual, existe uma

supervalorização do que é aprendido nos espaços formais, no caso específico, a educação

formal escolar, em detrimento a outros espaços e maneiras de construir conhecimento.

Inclusive, a classificação das diferentes tipologias de educação, entre formal, não formal e

informal, em nossa leitura apresenta certa fragilidade em seus limites de diferenciação. Sabe-

se que existe um nível de hierarquização, que não só diferencia, mas desqualifica.

24

2. O SURGIMENTO DE UMA FORMA ESCOLAR

Este capítulo analisa como o surgimento de uma forma escolar, fenômeno que se

desenvolveu de modo particular, de certa maneira autônomo à própria instituição escolar,

tornou possível a ―escolarização‖ de outros espaços educacionais, ou até não educacionais. A

escola enquanto uma organização, uma instituição e uma forma de conduzir as relações

sociais. Nesse sentido, uma questão que atravessa o texto, se refere a entender como a

influência dessa forma escolar, interfere nos vínculos entre a construção do conhecimento, a

disciplina e a imaginação. De que maneira essa forma está relacionada a um modo específico

de construção do conhecimento, que, parece limitar outros espaços a um formato de educação

escolarizada.

Pretende-se destacar como a experiência moderna de ciência e educação promoveu uma

nova maneira de se relacionar com o tempo; um tipo de disciplinarização no modo de

conhecer, com um sistema escolar inspirado no modelo industrial/fabril- valorização da

repetição, fragmentação. Uma educação longe da facticidade da vida, que tende a favorecer a

concepção de uma ―razão instrumental‖. Isso, em detrimento, a processos que privilegiem a

imaginação, a criatividade, o afeto, a contemplação. A imaginação, não é vista como um meio

para a abertura de novos paradigmas explicativos. (Ricoeur, 1990). É colocada como algo que

não faz parte da construção da realidade, muitas vezes associada ao escape, à fuga da

inexorabilidade da vida.

Apesar da condição hegemônica da forma escolar, de acordo com uma leitura

laclauniana, há, em torno desse elemento, uma disputa por significações, ou seja, por fixação

de sentidos, por hegemonia. A instituição escolar nesses moldes atuais mostra-se fragilizada, e

há muito tempo dá sinais que não vai dar conta de todas as atribuições que foram sendo

depositadas em uma única instituição. Ela representa um empreendimento de dupla face; por

um lado ainda é o espaço, aclamado por uma parte do social, como o lugar de acesso e

construção da cidadania, por outro é vista como um lugar ultrapassado, que não corresponde

aos anseios sociais, de acesso a essa mesma cidadania.

25

2.1 A escola enquanto uma organização, uma instituição e uma forma de conduzir as

relações sociais

A construção histórica da escola moderna supõe, por um lado a invenção da infância

e, por outro, a emergência de uma relação social inédita, a relação pedagógica,

exercida num lugar e num tempo distinto das outras atividades sociais, submetidos a

regras de natureza impessoal e que definem a especificidade do modo de

socialização escolar.

Rui Canário

A historiografia das instituições escolares e das idéias pedagógicas conduzem a

diferentes modos de pensar o que significa educar. Não existe uma linearidade na concepção

do que é o espaço escolar, ela atende a estados e condições sociais particulares. Para Veiga

Neto (2004) não existe um aperfeiçoamento ou evolução dos saberes e práticas educacionais,

mas uma verdadeira revolução na maneira de entender a educação e praticá-la, existe uma

série de rupturas e continuidades estabelecidas entre a Idade Média e o século XVI. E, apesar

da aparente estabilidade da ideia do que é a escola nos dois últimos séculos e do seu caráter

refratário a mudanças deliberadas, qualquer imobilismo sobre a história das escolas é ilusório.

Rui Canário faz uma análise sociológica da escola e dos paradoxais sentimentos que

acompanham a trajetória desses espaços, com o intuito de compreender suas especificidades e

contradições. O autor faz uma distinção analítica entre três dimensões da escola, que pode

corresponder a uma tentativa de definição desse espaço: a escola como uma organização, uma

instituição e uma forma. Essas faces da dimensão escolar, para Canário, remetem a campos de

análise e de debate que devem ser distinguidos. ―As dimensões pedagógicas, organizacional e

institucional, faces diversas de uma mesma realidade, remetem para campos de análise que

podem e devem ser distinguidos‖. (CANÁRIO, 2005, p.63).

Em relação à organização, a escola torna possível a transição de um modo de ensino

individualizado (um mestre, um aprendiz) para modos de ensino simultâneo (um mestre, uma

classe): ―o que aparece numa certa época, nas sociedades européias, é uma forma de relação

social inédita entre um ―mestre‖ (num sentido novo do termo) e um ―escolar‖, relação que

chamamos ‗pedagógica‘‖. (BRAYNER, 2001, p.02). Esse novo formato viabiliza a

emergência dos sistemas escolares modernos: ―a organização escolar que historicamente

conhecemos corresponde a modos específicos de organizar, os tempos, os agrupamentos dos

alunos e as modalidades de relação com o saber‖ (CANÁRIO, 2005, p.62). Isto é, um

disciplinamento por via da impessoalidade das normas, a transformação de uma relação

26

comunitária entre mestres e alunos, em uma relação de governo dos alunos pelos mestres.

(VINCENT; LAHIRE & THIN, 2001).

Não há dúvida de que estamos em presença de uma invenção histórica,

contemporânea da dupla revolução industrial e liberal que baliza o início da

modernidade e que introduz como novidades o aparecimento de uma

instância educativa que separa o aprender do fazer; a criação de uma relação

social inédita, a relação pedagógica no quadro da classe, superando a relação

dual entre o mestre e o aluno; uma nova forma de socialização (escolar) que

progressivamente viria a tornar-se hegemônica. (CANÁRIO, 2005, p.61)

A organização escolar corresponde a uma maneira específica de ordenar o tempo e a

construção do conhecimento; por conteúdos, separados por disciplinas, e a sala de aula é

eleita o local privilegiado, e exclusivo, para aprender. A dimensão organizacional da escola

passou por um processo de naturalização, o que contribuiu para a estabilidade da formar

escolar. Essa naturalização em relação à dimensão organizacional da escola constitui-se como

uma matriz que condiciona a não variação do modelo organizacional. Assim, existem

diferentes métodos pedagógicos, mas eles, de alguma maneira, se adaptam, a essa estrutura

organizacional.

Isso possibilita a estabilidade da escola nesse molde tradicional e limita uma perspectiva

mais crítica sobre projetos de mudanças. Em termos organizacionais, a escola funciona como

um modelo que estabelece uma mediação entre as orientações gerais vindas das esferas

sociais, com os professores e as práticas efetivas em sala de aula. A escola é uma matriz

organizacional responsável por mais do que o conteúdo que é ensinado, mas constitui um

importante instrumento de controle social, um dispositivo que ―socializa e educa‖:

A concepção de aprendizagem que está subjacente a esta forma de

organização exprime, não apenas uma relação especifica com o saber, mas

também uma dada forma de organizar as relações de poder. A organização

escolar não tem de ser apreciada, apenas ou sobretudo, de um ponto de vista

pedagógico, mas na óptica da sua articulação com a vocação institucional da

escola, enquanto instância de socialização normativa que além de funcionar

como uma ―máquina de ensinar‖, funciona, ainda, na concepção de Foucault,

como uma máquina de ―vigiar, de hierarquizar, de recompensar". (RAMOS

do Ò, 2001, p. 39 apud CANÁRIO, 2005, p.78).

Enquanto instituição, a escola remete a uma maneira diferente de ―fabricar o ser social‖,

a partir de um conjunto de valores estáveis e intrínsecos. A instituição define padrões de

comportamento, práticas ou processos que se mantêm estáveis e relativamente constantes em

um determinado grupo social: ―do ponto de vista histórico, enquanto instituição, a escola

27

desempenha um papel fundamental na construção dos modernos estados-nação‖. (CANÁRIO,

2005, p. 61).

Michel Foucault (2005) destaca o aspecto disciplinar das instituições na formação dos

indivíduos, o elemento disciplinar faz da instituição escolar, e dos museus, espaços de

vigilância, que produzem experiências disciplinares semelhantes às demais instituições. A

sociedade disciplinar para Foucault não é só uma prática social, mas a formação de uma

subjetividade, posto que em todos os níveis sociais existe um tipo de experiência disciplinar.

O aspecto disciplinar também é um aspecto subjetivo, é construído culturalmente, faz parte da

constituição identitária. Essa disciplina estende-se através de micro relações de poder, que não

são apenas judiciárias:

Para que servem essa rede e essas instituições? Podemos caracterizar a

função destas instituições da seguinte maneira. Primeiramente, estas

instituições - pedagógicas, médicas, penais ou industriais - têm a propriedade

muito curiosa de implicarem o controle, a responsabilidade sobre a

totalidade, ou a quase totalidade do tempo dos indivíduos; são, portanto,

instituições que, de certa forma, se encarregam de toda dimensão temporal

da vida dos indivíduos. (FOUCAULT, 2005, p.115)

A análise de Foucault sobre a disciplina e controle do Estado está diretamente ligada à

escolarização como projeto de civilização: ―para el filósofo francés, un sistema educativo

establece qué debe saberse, qué es importante para una sociedad, qué formas del habla se

consideran legítimas qué repartición debe hacerse entre saberes‖ (DUSSEL, 2014, p.04). O

processo de disciplinarização do conhecimento está relacionado, a uma concepção mais

ampla de disciplina, a social, que estabelece: ―qué comportamientos públicos son adecuados,

entre muchas otras cosas. (DUSSEL, 2014, p.04). O artigo ―Curriculum y autoridad cultural:

metaforas para pensar en los desafios contemporáneos‖, de Inés Dussel, ajuda a entender

como a autoridade cultural do currículo foi construída na instituição escolar e está diretamente

relacionada à disciplinarização do conhecimento:

Veamos cómo se configuró históricamente el curriculum moderno y qué

autoridad cultural produjo en su momento de auge. Siguiendo al historiador

de la educación David Hamilton, el curriculum surgió en la modernidad

temprana como expresión de la voluntad de ordenamiento y unificación de la

enseñanza, y de la centralización del saber en una institución legítima y

monopólica (HAMILTON, 1989 apud DUSSEL, 2014, p.06 ).

28

Ivor Goodson (2011) chama atenção para o fato do currículo não ser algo fixo, mas uma

construção um ―artefato social e histórico‖, passível a muitas modificações, estando em

constante processo de transformação, e não deve ser percebido, como um ―inocente processo

epistemológico‖.

uma história do currículo não deve tampouco cair na armadilha de ver o

processo de seleção e organização do conhecimento escolar como um

inocente processo epistemológico em que acadêmicos, cientistas, educadores

desinteressados e imparciais determinam, por dedução lógica e filosófica,

aquilo que melhor convém ensinar às crianças, jovens e adultos. O processo

de fabricação do currículo não é um processo lógico, mas um processo

social, no qual convivem lado a lado com fatores lógicos, epistemológicos,

intelectuais, determinantes sociais menos ―nobres‖ e menos ―formais‖, tais

como interesses, rituais, conflitos simbólicos e culturais, necessidades de

legitimação e controle, propósitos de dominação dirigidos à classe, à raça, ao

gênero. (GOODSON, 2011, p. 08).

Na modernidade a escola "unifica" maneiras distintas de educar através da noção de

conteúdos escolares, e depois com o currículo. No artigo “o esgotamento da forma escolar:

crítica aos currículos escolares a partir de Adorno‖, Guilherme Garcia Tommaselli (2009)

coloca a questão curricular como um elemento central na compreensão do conceito de forma

escolar, e na formação da instituição escolar, como conhecemos na atualidade:

Assim, a análise do currículo escolar pode ser utilizada pelos historiadores

da educação como um modo de captar os elementos fundamentais no

desenvolvimento da escola, da forma escolar e da institucionalização desta.

Para que esse processo se efetive com sucesso é importante que o historiador

da educação compreenda o currículo como fruto de relações conflituosas, de

lutas, entre as diferentes tradições que compõe a sociedade, e que buscam ser

hegemônicas no campo educacional. (TOMMASELLI, 2009, p. 02).

Tommaselli chama atenção para a necessidade de considerar os diversos elementos que

existem na composição do ambiente escolar, e se desenvolvem de modo particular, e

contribuem na constituição dessa estrutura. A instituição escolar tornou-se o lugar legitimador

da educação, responsável por dizer como conhecer e os limites do que se deve conhecer: ―la

educación, decía Foucault, es una ―ritualización del habla‖, una ―cualificación y una fijación

de las funciones para los sujetos que hablan‖, ―una distribución y una adecuación‖ Del

discurso con sus poderes y saberes‖ (FOUCAULT, 1973, p.38 apud DUSSEL, 2014, p.04):

29

En este proceso de selección, ordenamiento y jerarquización, el curriculum,

y la escuela en general, establece una ―autoridad cultural‖ que autoriza,

reconoce, valora, ciertas prácticas culturales, a la par que descalifica otras.

Qué conocimientos se van a considerar relevantes, qué metodologías y

discursos se jerarquizan como legítimos, quiénes pueden enseñar y quiénes

aprender, son todos elementos centrales de esta autoridad cultural, que puede

ser más o menos inclusiva, o más o menos democrática, según cómo se

articule a otras dinâmicas sociales. (DUSSEL, 2014, P.04).

Para Vincent; Lahire & Thin (2001, p. 15) a invenção da forma escolar se realiza

através da produção das disciplinas escolares. E essas são criadas e institucionalizadas por

meio dos currículos. Assim, falar de forma escolar como forma de relações sociais é relaciona

- lá a uma estrutura curricular. A forma escolar é, portanto, unidade de uma configuração

histórica particular, surgida em determinadas formações sociais: "precisamos reafirmar que a

forma escolar não é estritamente confundida com a instituição escolar, nem limitada por ela,

mas é transversal em relação a diversas instituições e grupos sociais" (VINCENT; LAHIRE &

THIN, 2001, p. 46). Na análise de Flávio Brayner (2001):

O problema é com uma determinada forma, a ―forma escolar‖, surgida por

volta do século XVI, se impõe como um modelo hegemônico e superior a

todos os outros, um modelo que, claro, nós achamos ―natural‖ e universal,

com sua pedagogia, seus horários, disciplinas, manuais, espaços, etc. Modelo

que se estendeu até o limite extremo da pedagogização da maioria de nossas

relações sociais (BRAYNER, 2001, p.02).

Nesse sentido, existe, portanto, uma forma escolar que não se restringe apenas à escola,

uma forma escolar que ultrapassou as paredes da escola e se expandiu, suscitando uma

sociedade ―escolarizada‖, gerando muitas problemáticas. A forma escolar para Rui Canário

estabelece um formato escolar de conceber os processos de aprendizagem. Essa nova maneira

de lidar com o conhecimento funciona atrelada a outras redes de significações políticas,

sociais, econômicas, culturais. Há, em torno do significante forma escolar, uma disputa por

significações, ou seja, por fixação de sentidos, por hegemonia. Pois a condição hegemônica da

forma escolar, não tem um fechamento, com isso, abre espaço para negociações de sentidos

em busca da hegemonia de outros discursos. Com isso:

Na medida em que o discursivo é um campo de indecidibilidade, ele se torna

condição simultânea de possibilidade e impossibilidade de cada discurso

particular. Dessa forma, há sempre um excesso de sentido que escapa, ao

mesmo tempo em que determinadas enunciações assumem a função de

fechamento contingente do sistema. Nas palavras de Laclau e Mouffe, atuam

como ponto nodal que articula em torno de si uma cadeia de equivalências

30

que atravessa, também numa relação de indecidibilidade, a lógica diferencial

do sistema. Numa perspectiva anti-essencialista, os autores postulam que

essa equivalência não pode ter nenhum sentido essencial, sendo criada pela

presença de uma diferença radical, um exterior constitutivo que fecha

momentaneamente o sistema. (MACEDO, et al, 2008, p.40)

Assim, todo sistema de diferenças é excludente. O real, funciona como um bloqueio na

expansão contínua de um processo de significação. Ele é ao mesmo tempo a condição de

possibilidade de um sistema de significação (seus limites) e sua condição de impossibilidade.

A próxima sessão vai observar os sentidos políticos da hegemonia de uma forma escolar

de conduzir as relações sociais e analisar algumas das conseqüências da escolarização de

atividades educativas não escolares para a educação.

2.2 A escolarização das atividades educativas não escolares: sentido político da

hegemonia de uma forma

Mas, paradoxalmente, é no momento em que boa parte dos autores

apontam a crise mundial da educação notadamente da educação

escolar-, que se tem a impressão de que toda a sociedade é vítima do

modelo escolar (...).

Flávio Brayner

O processo de universalização do atendimento educacional, promovido inicialmente

pelos discursos de consolidação dos estados-nação, tornou a modalidade escolar ―o modo‖ de

educar. Podemos dizer que essa maneira de conceber a aprendizagem tem sua origem na

expansão dos sistemas de ensino, em conjunto com a obrigatoriedade da educação

escolarizada, isso generalizou uma maneira específica de educar. Segundo Canário, a forma

escolar encarnou uma organização do espaço e do tempo pedagógico. Para Flávio Brayner

(2001) ―entra-se cada vez mais cedo neste universo institucional e prospectivamente sai-se

cada vez mais tarde‖:

(...) Assim, uma relação antes restrita a este domínio invadiu nossas relações

sociais mais amplas: saúde, a ecologia, a política, o amor, o sexo, a etiqueta,

o estilo de vida, o consumo, o lazer, domínio e práticas sociais que foram

anexadas a um modelo propriamente pedagógico em que precisamos de

orientação em tudo: daí a profusão de gurus guias, auto-ajuda,

aconselhamento existencial, amoroso, familiar, sexual, profissional.

(BRAYNER, 2001, p.02).

31

Flávio Brayner chama atenção para o fato de que, através de mecanismos sutis de

infantilização, fomos transformados em eternos ―escolares‖, incapazes de resolvermos

questões sozinhos, estamos sempre tutelados por algum especialista, para ele a conclusão é

inevitável: ―a sociedade dos especialistas é contemporânea da sociedade dos menorizados e

incapazes, uma produzindo a outra numa dialética perversa da incompetência programada e

da manipulação sistemática de psiques desorientadas ou afetos em frangalhos‖ (BRAYNER,

2001, p.02).

Na análise de Brayner (2001), essa forma ultrapassou as paredes da escola e se

expandiu, tornou a ―sociedade escolarizada‖, prolonga-se sob a forma de ―atividades‖ extra,

peri, e para escolar ou sob a forma de estágio, formação, capacitação, aperfeiçoamento,

workshop, seminários, palestras, entre outras. Para Brayner: ―isso demonstra que a escola

perdeu o monopólio da ‗forma‘ que inicialmente lhe pertencia.‖ (BRAYNER, 2001, p.04).

Expandiu-se, deslocou-se de seu lugar de origem.

A escolarização das atividades educativas não escolares atua como uma maneira de

limitar outros espaços a uma construção escolarizada do conhecimento; com isso, a educação

permanece ―refém‖ do espaço escolar (Canário, 2005). A escola tem um tempo e um espaço

específicos destinados à aprendizagem, só o que ocorre na sala de aula é institucionalmente

considerado válido. A escolarização está muito relacionada á expansão de uma arquitetura

específica, com a presença de salas de aula, a própria disposição das cadeiras, a separação por

classes, e regida por uma ideia avaliativa em que todos devem aprender a mesma coisa, ao

mesmo tempo, com a mesma velocidade.

Independente do tema, assunto, categoria, ―a escola é o lugar de aprender‖; existem

escolas para praticamente todos os segmentos: escola de games, de gastronomia, de moda, de

vinhos, futebol, balé, capoeira, entre tantas outras, ―escola de tudo‖. Ao se falar de um

processo de aprendizagem, o modelo proposto, geralmente, é o escolar. Existe uma

naturalização dessas relações. Quase todos os espaços educacionais, funcionam a partir de

uma estrutura física, hierárquica, aproximada. Exceto as experiências diferenciadas de

escolas7, que não corresponde ao estereótipo construído sobre o que a escola deveria ser. E

funcionam como exceções. Essas novas experiências escolares são de extrema importância

para propor outros modos de pensar a educação escolar.

7 As escolas classificadas como ―diferentes‖ que não se encaixam no estereótipo mais tradicional de escola, são

experiências pontuais, existem poucas referências, geralmente são ―perseguidas‖ por não obedecerem aos

programas oficiais. Um exemplo interessante é a Escola Básica da Ponte, em Portugal, para maiores informações

http://www.escoladaponte.com.pt

32

O significante escola é alvo de muitas disputas discursivas. Existem diversos tipos

diferentes de escolas, e muitas maneiras de entender esses espaços. Desde os abismos

iniciais entre a escola ser pública ou privada; as suas posições pedagógicas: Tradicional,

Construtivista, Montessoriana, Waldorf, entre tantas outras. Mas quando nos referimos a

uma socialização através da forma escolar, entende-se que ela atua, independente do tipo de

escola, existe um conjunto de características que delimitam esse formato. Que apesar de ser

interpretado e absorvido, de acordo com cada contexto, cultural, econômico, social,

algumas especificidades dessa forma serão mantidas. Nessa concepção de forma escolar,

não prevalece à imagem de uma escola sem salas de aula, sem classes separadas, sem

programa curricular oficial a cumprir, com a ausência de campainhas separando os tempos

do pensamento, sem disciplinas escolares fixas, um saber conectado com a vida, sem notas.

Existe um tipo de engessamento nas atividades educativas escolares, indissociável de

um modo escritural do saber: ―historicamente, a pedagogização, a escolarização das relações

sociais de aprendizagem é indissociável de uma escrituralização-codificação dos saberes e das

práticas" (VINCENT; LAHIRE & THIN, 2001, p.28). A instituição escolar estabelece um

modo particular de socialização e de apropriação do saber: "o modo de socialização escolar é,

portanto, indissociável da natureza escritural dos saberes a transmitir" (IBIDEM, p.28). Uma

relação distante de uma aprendizagem marcada pela tradição oral, e próxima a formas

escriturais. Essa maneira de sistematizar o ensino, típico da forma escolar, caracterizou um

novo tipo de socialização. A separação dos letrados e não- letrados. De acordo com Vincent,

Lahire & Thin:

A forma escolar é solidária de outras transformações do todo sócio-histórico:

a constituição do Estado Moderno, a progressiva autonomização de campos

de práticas heterogêneas, a generalização da alfabetização e da forma escolar

e a construção de uma relação distanciada da linguagem e do mundo (relação

escritural-escolar com a linguagem e com o mundo). São formas de relações

sociais tramadas por práticas de escrita e/ou tornadas possíveis pelas práticas

de escrita e pela relação com a linguagem e com o mundo que lhes é

indissociável (IBIDEM, p. 27).

Uma outra característica da escolarização das atividades educativas não escolares que

demonstram a hegemonia da forma escolar, é a hiper valorização da educação formal em

detrimento a outras maneiras de educação. As atividades e experiências não-escolares são

colocadas como instâncias menores de aprendizagem, ou não são consideradas importantes na

construção do conhecimento e na formação pessoal. Osmar Fávero (2007) observa que as

distinções entre educação formal e não formal, e mais recentemente informal, são

33

insuficientes para explicar as diferentes formas de educação, e que essa falta de consenso se

deve basicamente à semelhança nos objetivos e compromissos com os indivíduos. É

importante sinalizar, antecipadamente, que essa classificação, parece já estar naturalizada 8.

A forma escolar goza de certa estabilidade hegemônica, mas essa condensação que

hegemonizava alguns desses sentidos em detrimento de outros é precária. Na concepção de

Ernesto Laclau e Chantal Mouffe (2001) o conceito de hegemonia se refere a um particular

que se universaliza. Diz respeito a um processo retórico permanente cujo objetivo é a fixação

de determinados significados particulares, de maneira que eles passam a representar uma

universalidade inalcançável. No entanto, a fixação desses sentidos será sempre contingente e

provisória, e acontecerá a partir de determinadas condições específicas. (BURITY, 1997).

Essa abordagem cria aproximações entre a política e a linguagem. Assim:

A compreensão de política como discurso, para Ernesto Laclau, implica o

entendimento das negociações de sentidos em busca da hegemonia de um

determinado sentido que, provisória e contingencialmente, ocupa um centro

capaz de aglutinar os sentidos postos em disputa, mas que nunca é pleno

nem implica a possibilidade de fechamento total da

significação.(OLIVEIRA, 2013, p.03).

O conceito de hegemonia composto por Laclau e Mouffe, nos permite fazer uma leitura

da forma escolar como hegemônica, enquanto uma particular que se universalizou, que se

desloca de uma situação particular e passa a representar uma totalidade/universalidade, que é

provisória, mas fixa muitos sentidos. As narrativas produzidas em diferentes espaços

negociam sua existência, sentidos e transformações na lógica das lutas e hegemonias.

―intervenções produzidas por sujeitos cuja identidade também não é dada a priori por

nenhuma estrutura. Num tal quadro, a discussão sobre hegemonia é, portanto, também uma

discussão sobre a constituição do sujeito e de sua agência‖ (MACEDO, et al, 2008, p. 41).

No caso dos modelos liberais formais de democracia, nas sociedades capitalistas

contemporâneas, o efeito político da escola é feito pelo viés da subjetivação, através de uma

noção de indivíduo ―desterritorializado‖. Nesse contexto, o sentido político da hegemonia de

uma forma, está ligado à instituição escolar enquanto um dispositivo de subjetivação que

funciona como uma "máquina de cidadãos" – como chamou atenção Canário (2005), isso, em

articulação com outras formas, como colocou Vicent, Lahire e Thin (2001).

Os dispositivos de controle continuam presentes no acesso e no tipo de conhecimento

acessado. Agora de maneira mais sofisticada. O discurso de escola para todos, inclui,

8 Essas diferentes classificações sobre a educação serão aprofundadas no segundo capítulo.

34

excluindo. A escola é herdeira das promessas de um futuro iluminista que não se cumpriu,

uma preparação constante para o amanhã, que parece não chegar. A instituição escolar tinha,

ou podemos dizer que ainda tem permeada em seu discurso a missão de interligar, num

mesmo modelo: a integração social do indivíduo, a sua autonomia, a ampliação de sua

consciência, permitir o acesso à: cidadania, progresso, humanização, liberdade, entre tantos

outros anseios. O sentimento de frustração em relação às promessas não realizadas pela escola

alimenta alguns paradoxos. Sobre a pergunta se a ela escola é contemporânea? Flávio Brayner

responde:

Na verdade a escola nunca o foi: ela foi a instituição (moderna) criada para,

de uma certa maneira, frear a vertiginosa aceleração do mundo introduzida

pela modernidade, a instituição que nos daria âncoras para que pudéssemos

nos guiar no universo que havia perdido sua sólida ancoragem na tríade

tradição- autoridade- religião e iniciava um processo irresistível de

secularização de ―desencantamento‖. Daí o sentido ―conservador‖ (mas não

necessariamente social e político) de seus rituais, de seu tempo, de sua

avaliação, de sua didática, de sua arquitetura, de sua hierarquia.

(BRAYNER, 2001, p.09).

Podemos dizer que existe uma grande dependência da sociedade com os espaços

educacionais escolares, a estrutura social atual não é pensada sem a existência desses locais,

que da maneira como são organizados, estão mais preocupadas em seguir padrões, moldar o

comportamento. Utilizam mecanismos para reproduzir controles sociais. Diversos autores já

apontaram questões sobre a forma como se estrutura e se conduz a educação escolar nas

sociedades ocidentais. As atribuições dadas à escola ainda demonstram a hegemonia dessa

instituição.

A educação, enquanto fenômeno cultural, construída nas relações sociais, deve ser

entendida como formação humana, e não deveria ser reduzida à simples formalidade de um

currículo ou tempo e espaço escolar: ―o conhecimento do mundo é também construído a partir

de um processo de aproximações sucessivas, em que a capacidade de mobilizar e conectar

informações diversas se revela mais importante do que acumular informações segmentadas‖.

(CANÁRIO, 2005, p.70). A escolarização das atividades educativas não escolares reforça a

hegemonia da forma escolar, que não tem apenas um sentido pedagógico, é um poderoso

campo discursivo, com delimitações políticas, culturais, econômicas, sociais. Na próxima

seção vamos destacar a construção e os limites do conhecimento na perspectiva da forma

escolar. Em que, a desvalorização de outras vivencias educativas, limita a possibilidade dos

indivíduos terem experiências diferenciadas, no processo de construção de suas narrativas.

35

2.3 A construção do conhecimento na perspectiva da forma escolar

Aprender é passar da potência ao ato, por determinação e vontade própria.

Tomás de Aquino,

O tipo de conhecimento e a maneira como o produzimos é um tema caro à filosofia.

Pode-se dizer que no século XVII realizou-se uma virada epistemológica, virada essa que

Kant prosseguiu no século seguinte com seu projeto fundacionalista de busca das fontes

transcendentais, universais e necessárias do conhecimento, dos princípios puros da razão e

dos juízos do entendimento. Com objetivo de obter verdades apodíticas, essa racionalidade

com interesse em chegar a um tipo de conhecimento seguro, tem início no pensamento grego:

De modo muito resumido e simplificado, pode-se dizer que uma parte do

pensamento grego antigo, no seu empenho pela construção de uma

racionalidade cujo objetivo era o conhecimento seguro (episteme) acerca da

natureza e do ser humano, acabou instituindo filosoficamente a noção de que

a realidade é dual. Sobre a realidade, seriam possíveis duas maneiras de

conhecer algo: ou ter uma opinião (doxa) que, por não ser fundamentada,

não passaria de uma crença ou ilusão; ou ter um conhecimento seguro

(episteme) que, por ser racionalmente fundamentado, seria uma verdade em

si mesma, ou nos levaria a ela. (VEIGA-NETO, 2008, p.26)

Em grande medida, essa virada epistemológica, que caracteriza e lastreia o surgimento

da própria noção de ciência, em seu sentido moderno, fundamenta-se na busca de um ―acesso

imediato às coisas mesmas‖ (LACLAU 2005, p. 80). A ideia Moderna de conhecimento,

nascida e desenvolvida sob o abrigo desse arco platônico, incorporou acriticamente à noção

de que vivemos uma realidade: ―que tem, acima de si, um mundo ideal, habitado por idéias e

formas perfeitas, um mundo inteligível, que pode reger o que acontece aqui nesse nosso

mundo imperfeito e grosseiro, um mundo sensível‖ (VEIGA-NETO, 2008, p.85). Assim:

A chamada doutrina dos dois mundos ajustou-se como uma luva à tradição

cristã medieval e acabou norteando os desdobramentos posteriores do

pensamento humano, chegando à Modernidade como uma verdade por si

mesma, como algo natural —e, por isso mesmo, inquestionável e quase

―invisível‖. É mais do que evidente a correspondência entre mundo

sensível—mundo profano e mundo inteligível—mundo sagrado (IBIDEM,

p.26)

36

A modernidade foi marcada por um modo de construir conhecimentos, inspirada pela

hegemonia do pensamento científico9. O discurso moderno enfatizou um modo de conhecer,

apartado da doxa e centrado na episteme com saberes formalizados, delimitados.

Racionalismo, formalismo lógico, precisão conceitual e objetivismo, são temas que remetem à

relação que a modernidade enseja com o conhecimento e que remete a crenças sobre como se

estrutura o social. Para Mesquita (2010):

As narrativas modernas caracterizam-se, nessa esteira, por operar uma

dicotomia entre sujeito e objeto, de forma a separarem a ontologia (que

remete à estruturação dos seres e entes da sociedade) da epistemologia

(conjuntos de conceitos que se mobilizam para representar a estruturação

social). (IBIDEM, p. 209)

Uma concepção cara à modernidade é a existência de leis imanentes que regem as

relações sociais (IBIDEM, 2010). Assim, politizar uma dessas partes– remete a um

descompasso entre o local e o universal – e significa colocar problemas, epistemológicos e

políticos, à lógica relacional em questão:

Na epistemologia moderna, as partes da estrutura social (escola, fábrica,

igreja, parlamento, etc), assim como as esferas sociais que as perpassam

(economia, política, religião) estão, em tese, regidas por uma lógica

relacional (lógica da diferença nos termos de Laclau) que, ao mesmo tempo

em que diferencia uma das outras (o que dá ensejo a noções como a de

autonomia da esfera política ou da educação), estabelece, nesse jogo

relacional, suas identidades e/ ou funções em relação ao conjunto da

sociedade. (IBIDEM, p. 209)

As abordagens teóricas de Ernesto Laclau e Paul Ricoeur se contrapõem às concepções

que dicotomizam a relação sujeito-objeto, assim como a ideia da existência de leis imanentes

que regem as relações sociais. Desse modo, a ideia que o ser dos objetos é construído

discursivamente no devir, pressupõe afirmar uma ontologia antiessencialista e pós-

fundacionista. O significado das palavras e seus conceitos estão intimamente relacionados a

seus contextos, não há nenhum fato que possa ser lido de maneira dissociada.

Propor pensar o tipo de relação que se enseja com o conhecimento a partir da

consolidação da forma escolar, implica perceber a estabilização de lógicas sociais que se

hegemonizam através desse discurso escolar institucionalizado. Assim, uma das maneiras de

9 O esclarecimento é um importante dispositivo da episteme moderna, e um forte instrumento na

institucionalização das escolas e dos museus.

37

estruturar o conhecimento, e ter um saber objetivado, foi através do currículo. "A escola como

espaço específico, separado das outras práticas sociais, está vinculada à existência de saberes

objetivados" (VINCENT; LAHIRE & THIN, 2001, p. 28). Para esses autores:

A escola e a pedagogização das relações sociais de aprendizagem estão

ligadas à constituição de saberes escriturais formalizados, saberes

objetivados, delimitados, codificados, concernentes tanto ao que é ensinado

quanto à maneira de ensinar, tanto às práticas dos alunos quanto à prática

dos mestres. A pedagogia (no sentido restrito da palavra) se articula a um

modelo explícito, objetivado e fixo de saber (...). (VINCENT; LAHIRE &

THIN, 2001, p. 28-29).

Pensar a maneira como construímos e acessamos o conhecimento, e o que é o próprio

conhecimento é uma etapa essencial para refletir sobre os diferentes modos de existir. A

construção do conhecimento na perspectiva de uma forma escolar está relacionada a uma

segmentação do saber, a um modo de conhecer objetivado, inspirado em um modelo fabril.

Na modernidade, o conhecimento foi objeto de disciplina, transformando-se em

informação e processado pelo elemento escolar. Em nosso contexto atual o conhecimento

parece limitado à informação. A vida moderna é tomada por novos marcadores, esse período

inaugura uma maneira específica de relação com a construção do conhecimento, e com a

temporalidade. A instituição escolar, que se consolida como sistema nacional de ensino

apenas na segunda metade do século XIX, inaugura uma forma escolar de socialização que

acaba por ―engessar‖ outras maneiras de construir o conhecimento:

Como acontece em todos os domínios científicos, a emergência das ciências

da educação obedece a uma dinâmica de caráter histórico concomitante com

o desenvolvimento, durante os séculos XIX e XX, dos sistemas educativos

no âmbito dos estados-nação. O processo de institucionalização de um

domínio específico de produção de conhecimento sobre os fatos educativos

processa-se em articulação estreita com a emergência de campos

profissionais correspondentes, tendo-se a institucionalização ao nível

universitário ampliado e consolidado com a ―explosão escolar‖ que

caracterizou a década de 60. (CANÁRIO, 2005, p. 25)

As concepções sobre o surgimento de uma forma escolar estão intimamente

relacionadas à ideia de escolarização como projeto de subjetivação. O movimento de

escolarização que se instala na Modernidade permitiu a emergência de diversos discursos

pedagógicos, e a instauração de relações sociais pautadas na escrita, em detrimento da cultura

oral. Isso tem um rebatimento na relação com a noção que se constrói sobre o conhecimento,

que é um tema importante nessa pesquisa. ―La especificidad de lo pedagógico supone una

38

especialización de los lenguajes y las agencias que sólo se alcanzó en la modernidad clásica

(FOUCAULT, 1968 apud DUSSEL, 2014, p.05 ).

A difusão da escrita, em detrimento a tradição oral, tende a ignorar os saberes locais; em

prol de generalizações. Para Martin Jay (2009) essas mudanças tem relação com a construção

de uma noção laboratorial de experiência - ato de não dar um sentido à experiência vivida. Em

nosso modelo social, abrimos mão do encantamento, a ordem transforma o encantamento em

informação, e as experiências produzidas a partir do encantamento não dialogam com o

conhecimento científico.

Foucault, em as Palavras e as Coisas (1999), traz o ―encantamento‖ como um elemento

importante na construção de narrativas. Em nosso contexto atual o conhecimento está limitado

à informação, conhecer o mundo não é aproximar, mas ordenar. Na obra ―Dialética do

Esclarecimento‖, Theodor Adorno e Max Horkheimer (2006), incomodados com o fato de

vivermos sob o predomínio de um conhecimento técnico-cientifico fundamentado em uma

razão excessivamente instrumentalizada, propõem um debate sobre o dilema do projeto

iluminista. Porque a humanidade ao invés de atingir o estado pleno de desenvolvimento dos

ideais iluministas está adentrando em uma nova espécie de barbárie? Para Adorno e

Horkheimer:

No sentido mais amplo do progresso do pensamento, o esclarecimento tem

perseguido sempre o objetivo de livrar os homens do medo e de investi-los

na posição de senhores. Mas a terra totalmente esclarecida resplandece sob o

signo de uma calamidade triunfal. O programa do esclarecimento era o

desencantamento do mundo. Sua meta era dissolver os mitos e substituir a

imaginação pelo saber. (ADORNO; HORKHEIMER,2006, p. 06)

Tratava-se, portanto de um tipo de técnica como instrumentalização da vida. Theodor

Adorno (2003) critica essa visão, em que o esclarecimento promove o fim da dúvida, o

esgotamento do saber em oposto à emancipação, que é um percurso, que só se realiza

enquanto projeto. Adorno enfatiza como a percepção que se tem da educação determinará e

influenciará os indivíduos. Ele critica o formato de educação que não valoriza o homem como

ser ativo, autor de sua própria história, uma educação que promove uma aprendizagem

técnica, voltada a atender demandas mercadológicas:

39

Um mundo em que a técnica ocupa uma posição tão decisiva como acontece

atualmente gera pessoas tecnológicas, afinadas com a técnica. Isto tem a sua

racionalidade boa: em seu plano mais restrito elas serão menos

influenciáveis, com as correspondentes conseqüências no plano geral. Por

outro lado, na relação atual com a técnica existe algo de exagerado,

irracional, patogênico. (ADORNO, 1995, p.8).

Após a virada lingüístico pragmática que se deu a partir do final do século XIX, a

filosofia não é mais vista como tribunal da razão, nem a epistemologia limita-se ao objetivo é

chegar à verdade, tampouco o conhecimento resulta de uma representação especular do real.

Cai o modelo fundacionalista que preconiza a busca da verdade e de certeza pela relação entre

sujeito cognoscente e mundo/objeto. Conhecer não é algo fundado em critérios seguros.

(ARAÚJO, 2004).

No livro ―A árvore do conhecimento- As bases biológicas do entendimento humano”,

Humberto Maturana e Francisco Varela, examinam o fenômeno do conhecer, em especial a

situação de se conhecer como se conhece: ―queremos examinar o fenômeno do conhecer

tomando a universalidade do fazer no conhecer‖ (MATURAMA, VARELA, 1995, p. 70). Os

autores chamam atenção para o fato da cultura ocidental, em grande parte, está apartada da

construção das experiências individuais, está mais centrada na ação, e não na reflexão.

A visão de Maturama e Varela, sobre a natureza cognoscitiva do ser humano é integrada

a outras dimensões. O modo como o conhecimento é construído não é dissociado das questões

culturais, orgânicas, da linguagem, da comunicação. Existe uma valorização da

autoconsciência, e da percepção na aprendizagem. A escola, nesse molde que conhecemos

inspirada em um modelo fabril, guiada por uma organização do conhecimento apartada da

vida e voltada para o mercado de trabalho, não parece disposta a discutir questões

relacionadas à reflexão que propõem Maturama e Varela.

Para Edgar Morin o conhecimento, pode ser concebido como produto de interações bio-

antropo-socioculturais. Assim, existe um tronco comum indistinto entre conhecimento,

cultura e sociedade. As práticas sociais expressam ou comunicam um significado. Edgar

Morin (2002) faz uma tríade da relação indivíduo/espécie/sociedade, tendo como produto a

cultura, formando uma inter-relação. ―Cada um desses termos é ao mesmo tempo meio e fim:

é a cultura e a sociedade que garantem a realização dos indivíduos, e são as interações entre

indivíduos que permitem a perpetuação da cultura e a auto-organização da sociedade‖ Morin

(2002, p.54). A maneira como Edgar Morin vê o conhecimento, aproxima-se da visão de

Maturama e Varela.

40

De acordo com Morin:

O conhecimento está na cultura e a cultura está no conhecimento. Um ato

cognitivo individual é, ipso facto, um fenômeno cultural e todo elemento do

complexo cultural coletivo atualiza-se em um ato cognitivo individual (...) os

indivíduos só podem formar e desenvolver o seu conhecimento no seio da

cultura, a qual só ganha vida a partir das inter- retroações cognitivas entre os

indivíduos: as interações cognitivas dos indivíduos regenera a cultura que as

regenera. (MORIN, 2005, p.24).

Os desvios criam a possibilidade de produzir algo novo. Assim como, para a atenuação

da normalização. A forma escolar não reconhece a instabilidade do saber. Tenta controlar os

desvios. Com isso, não abre a possibilidade de criar outros investimentos narrativos. A

educação inspirada em um sistema fabril, ao invés de estimular, limita a capacidade

imaginativa, contemplação, propiciar processos reflexivos, e negociar suas estratégias de

aprendizagem, e promove um conhecimento baseado na representação passiva do acumulo de

conteúdos. ―Assim, geralmente nossa vida pessoal é cega a si mesma. É como se um tabu nos

disse-se: ‗É proibido conhecer o conhecer‘, é uma vergonha. Há muitas vergonhas no mundo,

mas essa ignorância está entre as piores.‖ (MATURAMA, VARELA, 1995, p. 67).

A forma escolar expandiu-se para as relações culturais, está presente na maneira que nos

relacionamos, no entanto, o espaço da hegemonia abre caminho para a construção de uma

nova lógica do social, Ernesto Laclau e Chantal Mouffe. (2001). A noção do significante

escola, já é de alguma maneira, uma generalização, pois ela é aprendida de diferentes

maneiras nos contextos culturais. Nesse sentido, podemos ler a escola como um ―significante

vazio,‖ uma vez que há, em torno desse elemento, uma disputa por hegemonia em curso, ou

seja, por fixação de sentidos. Na próxima seção o intuito é explicitar algumas contradições da

forma escolar, e destacar a necessidade de refletir sobre as novas concepções.

41

2.4 Algumas contradições da forma escolar

(...) o conhecimento não poderá entrar com passo firme no recinto das ciências

sociais, se pretender fazê-lo sob a concepção do que o conhecer é‖.

Humberto Maturama e Francisco Varela

A generalização da forma escolar proporcionou uma visão "objetiva" de acesso ao

conhecimento. Conferiu um modo escolar de atribuir significado às experiências. Os limites

do conhecimento na perspectiva dessa forma escolar estão relacionados à própria superação

do modelo de conhecimento baseado na dominação e no controle, de que, através da ―luz da

razão‖, é possível conhecer profundamente e esclarecer tudo. Humberto Maturama e

FranciscoVarela analisam as impossibilidades e as implicações de conhecer ―objetivamente‖

o mundo e, portanto, independente daquele que faz a descrição de tal atividade:

A reflexão é um processo de conhecer como conhecemos, um ato de nos

voltarmos sobre nós mesmos, a única oportunidade que temos de descobrir

nossas cegueiras e de reconhecer que as certezas e os conhecimentos dos

outros são, respectivamente, tão nebulosos e tênues quanto os nossos.

(MATURAMA, VARELA, 1995, p. 66-67)

Maturama e Varela chamam atenção para o fato de não ser possível conhecer

"objetivamente" os fenômenos (sociais) nos quais o próprio observador-pesquisador que

descreve o fenômeno está envolvido. Para eles: ―foi justamente essa noção do ‗conhecer‘ que

bloqueou firmemente a passagem do conhecimento humano para a compreensão dos seus

próprios fenômenos sociais, mentais e culturais (IBIDEM, p. 17). A reflexão teórico-política

de Ernesto Laclau faz uma critica a tríade essencialismo-objetivismo-determinismo, aos

próprios limites da modernidade. Sobre essa questão, Na leitura de Joanildo Burity:

Neste contexto, pode-se dizer que, para Laclau, parte substancial da tarefa é

o acerto de contas com o legado do século passado. A esse respeito, a grande

ferida aberta pela experiência do nosso século incidiria sobre o objetivismo,

o essencialismo e o determinismo do discurso social e político (inclusive o

sociológico) do legado oitocentista. As primeiras linhas da principal obra de

Laclau, em colaboração com Chantal Mouffe, deixam clara essa

preocupação. (BURITY, 1997, p.05).

A aposta moderna da construção de uma epistemé -, que se propunha a minimizar os

riscos em detrimento da doxa, é um projeto que se mostra falho, precário, prioriza uma noção

42

empobrecida de experiência. Com isso, abre um deslocamento que materializa novas disputas

de sentido.

Ivan Illich, crítico feroz do modelo escolar, se colocava a favor de um processo de

desescolarização da sociedade. O autor questiona o sistema que impõe uma visão de educação

como um produto pré-formatado, em que seu acesso está atrelado e dominado por relações

apartadas da vida, pensadas de maneira objetivada, e primordialmente relacionadas a questões

sócio-econômicas. Segundo Illich, o ensino escolar é o principal expropriador da autonomia

individual. Para ele:

(...) o ideal da escola para todos foi uma utopia criadora. (...) Mas aquela

mesma escola que trabalhou no século passado para derrubar o feudalismo

tornou-se agora um ídolo opressor que só protege aqueles que já educou. As

escolas qualificam e, portanto, desqualificam. E elas fazem o desqualificado

aceitar a sua própria sujeição. A categoria social é concedida de acordo com

o nível de educação escolar alcançado. Por toda a parte, na América Latina,

mais dinheiro para as escolas significa mais privilégio para uns poucos à

custa de muitos, e este patrocínio de uma escola é justificado como um ideal

político. Este ideal está escrito nas leis que estabelecem aquilo que é

claramente impossível: a igualdade de oportunidades escolares para todos.

(ILLICH, 1977, p.45).

Para Illich não é possível uma educação universal através da escola. Pois ela é

equalizadora, mas não é igualitária, pode oferecer as mesmas condições, mas o contexto de

cada aluno é diferente. Essa questão da instituição escola como fábrica de cidadãos está ligada

a um determinado modelo liberal-formal de democracia. Existe uma confusão entre a

transmissão de conteúdos com a construção do conhecimento, com isso os alunos tornam-se

escolarizados, mas são incapazes de abordar e aprofundar temas relevantes para sua realidade.

No fim do Século XIX, a escola pública, classificada enquanto educação formal

assumiu diversas características. O adjetivo público aqui é visto no sentido de ensino coletivo

por oposição ao ensino individual. Esse percurso é marcado por muitos eventos distintos, de

maneira bem sucinta, essa institucionalização pode ser dividida três momentos históricos.

Esse esquema é proposto por Paulo Rogério de Souza, et al (2009), no texto a ―História da

criação da escola pública como instrumento da formação da educação burguesa‖. Assim:

No primeiro momento a educação institucionalizada estava atrelada à Igreja

e voltava-se à formação do clero e dos membros de uma classe privilegiada.

As crianças provenientes da nobreza eram educadas em seus lares. Esse

período se destacou por uma educação elitizada a qual poucos tinham

acesso. Em um segundo momento, no período de transição do Feudalismo

para o Capitalismo, com a ascensão da classe burguesa, ao tomar o poder,

exigiu-se a educação fosse voltada para todos os homens, passando a ser um

43

direito desses, deixando de ser apenas privilégio da classe nobre. (SOUZA,

2009, p. 489-490)

A divisão proposta por Paulo Rogério de Souza mostra como a educação escolarizada

passa de um direito a um dever.

Assim, a educação moderna, historicamente deixou de ser privilégio para se

tornar um direito. Mas é necessário ressaltar que o modo de acesso a

educação formal assume diversas características e intencionalidades. E o

terceiro momento quando a burguesia revolucionária havia se firmado

definitivamente no poder como classe dominante e dirigente da sociedade:

instituiu-se a educação como um dever. Isso porque o homem dessa

sociedade precisava ser educado para se adaptar ao novo modo de produção

Capitalista e também de acordo com uma nova moral burguesa, ou seja, para

manutenção da ordem e do ideário burguês: a propriedade privada. (SOUZA,

2009, p. 489-490)

Esse modelo de escola nasceu com o intuito de preparar para, o que podemos chamar de

mercado de trabalho, que ganhou contornos mais nítidos depois do processo de

industrialização, e parece continuar regido por essa lógica. Apesar de todas as modificações e

reformas curriculares, a escola continua com a função, de atender as demandas do mercado. A

instituição escolar tornou-se a detentora da responsabilidade por todas as instâncias referentes

à educação.

A escola promove um tipo de disciplina do corpo, instaura uma passividade ligada a

ideia que só é possível aprender parado. Educa o corpo e afasta o saber da vida pratica. Essa

fragmentação tem conseqüências na maneira de viver. A disciplina é, antes de tudo, a análise

do espaço. É a individualização pelo espaço, a inserção dos corpos em um espaço

individualizado, classificatório, combinatório. (Foucault, 2005).

O enfoque é, em um conhecimento abstrato, fragmentado. È preciso superar a influência

do idealismo platônico, na racionalidade ocidental, que entende que quanto mais o

conhecimento for abstrato, distante do movimento dos corpos, da vida, mais grandioso ele é.

Esse processo exclui emoções e sentimentos, como o afeto, a imaginação, a alegria, entre

outros relacionados à sensação de prazer, não combinam com a forma escolar. Por exemplo, o

afeto, não é considerado fundamental para o processo educativo, na realidade, ele é colocado

a parte dessa construção. Afeto é coisa da família, da igreja, não da escola. Partindo das

reflexões engendradas por Freud (laço social → laço libidinal), Laclau defende a ideia que é o

―afeto‖ que organiza e, ao mesmo tempo, compõe o todo social.

44

As contradições da forma escolar estão relacionadas às próprias contradições do social,

a escola não é problema da escola, a escola é um problema social. Tentamos explicitar

algumas dessas questões, nesse primeiro momento do texto. Não com o intuito de respondê-

las, ou esgotá-las, mas de provocar algumas reflexões. Dentre tantos paradoxos inscritos no

social, podemos dizer que a forma escolar, se não compromete, minimiza o desenvolvimento

da autonomia da "liberdade" individual de pensamento. Segundo Canário (2005) apesar do

imenso desenvolvimento tecnológico vivenciado existe uma grande imaturidade político

social. Para Canário essa imaturidade, em grande parte é conseqüência do modelo escolar.

Esse modelo escolar ainda funciona através de mecanismo de exclusão, uma escola

fragmentada e passiva, que ensina executar sem pensar.

Na análise de Brayner:

A escola era aquilo que, num mundo permanentemente ―em crise‖ produzido

pela modernidade, quer dizer um mundo efêmero, da moda (Baudelaire), da

critica, da obsolescência do presente, da utopia, neste mundo a escola

aparecia como a ilha que nos ligava a ao passado e nos preparava para o

―porvir‖ . No entanto, essa mesma modernidade depositou nela um conjunto

amplíssimo de expectativas que terminou se revelando como promessas

(sociais, culturais, morais) de difícil realização, porque talvez incompatíveis

com a sua própria ―alma‖ institucional: não exijamos da escola aquilo que

ela não pode nos dar. Se hoje ela nos lança uma espécie de pedido de

socorro, é porque ele quer nos fazer ver que seu imenso poder simbólico,

ideológico, cultural. É apenas a contra face de suas compreensíveis

impotências. (BRAYNER, 2001, p.04)

Em uma breve síntese do capítulo, podemos dizer: que a experiência moderna de ciência

e educação promoveu uma disciplinarização dos modos de conhecer, uma educação longe da

facticidade da vida. Com uma visão "objetiva" do conhecimento, uma concepção privilegiada,

de ―razão instrumental‖, em detrimento a outros sentidos, como, por exemplo, a

contemplação, a fruição, o afeto, a criatividade e a imaginação. E a forma escolar como um

fenômeno autônomo a própria instituição escolar, torna possível a ―escolarização‖ de outros

espaços educacionais, ou até não educacionais. Mas apesar de gozar de certa hegemonia, essa

não tem os sentidos inalteráveis, e apresenta muitas contradições.

A ênfase atribuída à forma escolar, nesse capítulo, não está relacionada à definição que

esse sistema esteja fechado, ou que exista uma homogeneização do social, mas, destacar que a

tessitura dos processos educacionais encontra-se mobilizada por uma forma escolar que não

privilegia as vozes dos múltiplos sujeitos, no processo dialógico de construção de identidades

e subjetividades. As características que regem os modelos educacionais são preponderantes da

forma escolar.

45

Interessa-nos, nesse terceiro capítulo perceber como alguns elementos históricos

aproximaram o museu moderno, do modelo escolar, desde seu processo de

institucionalização, com isso, esses espaços já estariam relacionados a um modo de

conhecimento escolarizado desde sua formação inicial.

46

3 O PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO DO MUSEU

No capítulo anterior, analisamos como o surgimento de uma forma escolar está

relacionado ao processo de escolarização de espaços não escolares, no qual, as relações

típicas de uma forma escolar se expandem a diversos lugares sociais. Assim, a forma escolar

se articula com "outras formas". Entretanto, os limites, não são plenamente rígidos, o que

remeteria a uma noção estruturalista, de totalidade estável e fechada. A forma escolar, como

qualquer outra relação hegemônica, estabelece limites, opera exclusões, no entanto, podem-se

criar desvios.

No presente capítulo, pretende-se explicitar alguns sentidos atribuídos ao processo de

escolarização do museu. Fenômeno que seria provocado pela forma escolar, e possibilitaria

conceber o museu como uma continuação do espaço educacional formal. Acreditamos que

alguns elementos históricos tornaram o museu moderno, mais próximo de um modelo escolar,

desde seu processo de institucionalização; ao serem utilizados como dispositivos na

construção de um discurso nacional, no projeto de subjetivação dos modernos Estado-Nação.

Deseja-se compreender melhor a influência da forma escolar na construção de uma

dimensão pedagógica dos museus. E refletir sobre as possibilidades do museu moderno, já

esta relacionado a um modo de conhecimento escolarizado desde sua formação inicial. O

intuito é observar os limites de um determinado modelo de construção de conhecimentos, que

permearia o campo escolar e museal. Sublinhando contrastes entre imaginação, conhecimento,

experiência e informação.

O modo de "acessar" e construir conhecimentos contemporaneamente, ainda está

relacionado à escola e aos Museus, através de um modo disciplinador de construir

conhecimento, como parte de uma política de memória. A não valorização do que não é

aprendido no espaço escolar torna o conhecimento classificado como formal mais importante.

A própria classificação da educação em categorias como formal, não formal e informal,

apresenta certa fragilidade em seus limites de diferenciação. Sabe-se que existe um nível de

hierarquização, que não só diferencia, mas desqualifica.

47

3.1 Escola e Museu: dispositivos na construção de um discurso nacional

Ao nos definirmos, algumas vezes dizemos que somos ingleses ou galeses ou

indianos ou jamaicanos. Obviamente, ao fazer isso estamos falando de forma

metafórica. Essas identidades não estão literalmente impressas em nossos genes.

Entretanto, nós efetivamente pensamos nelas como se fossem parte de nossa

natureza essencial.

Stuart Hall

A modernidade inaugura ―um novo espírito do tempo‖ (SIMMEL, 2006), configura-se

por um aprimoramento das técnicas de produção, mas não apenas, a modernidade inaugura

também uma nova maneira de produzir experiências, controlar as relações humanas e

relacionar-se com o tempo. A constituição da identidade cultural moderna é formada através

do pertencimento a uma cultura nacional, essa identidade é ―modificada‖ de acordo com a

forma como o sujeito é interpretado ou representado. Segundo a análise de Reinhard Bendix

(1996) sobre a modernidade:

―Modernização‖ é um termo que ficou em moda após a Segunda Guerra

Mundial. Ele é útil, apesar de vago, pois tende a evocar associações

semelhantes nos leitores contemporâneos. Seu primeiro impulso pode ser

pensar em ―moderno‖ em termos da tecnologia atual, com suas viagens a

jato, exploração do espaço e energia nuclear. Mas o senso comum da palavra

―moderno‖ engloba toda a era desde o século XVIII, quando invenções

como a máquina a vapor e a máquina de tecer forneceram a base técnica

inicial para a industrialização das sociedades. A transformação econômica da

Inglaterra coincidiu com o movimento de independência nas colônias

americanas e a criação do Estado-nação na revolução Francesa.

Consequentemente a palavra ―moderno‖ evoca também associações com a

democratização das sociedades, especialmente a destruição do privilégio

herdado e a declaração de igualdade dos direitos de cidadania. (BENDIX,

1996, p. 329)

Para Stuart Hall a noção de Estado-nação é uma concepção simbólica, é um sistema de

representação que produziu uma ―ideia‖ de nação como ―comunidade imaginada‖. Hobsbawm

e Ranger (1997) reforçam que a estabilidade de uma identidade nacional também depende de

estratégias discursivas. A criação/invenção de algo que ―sempre fomos‖:

Por ―tradição inventada‖ entende-se um conjunto de práticas, normalmente

reguladas por regras tácitas ou abertamente aceitas; tais práticas, de natureza

ritual ou simbólica, visam inculcar certos valores e normas de

comportamento através da repetição, o que implica, automaticamente, uma

continuidade em relação ao passado (HOBSBAWM & RANGER, 1997, p.9

apud SÁ BARRETO, 2012, p. 62).

48

Stuart Hall (2005) destaca que a necessidade de ênfase nas origens é um esforço de

produção do ―elemento atemporal‖, no que diz respeito à nação. Que não fica restrita a um

âmbito político, produz e reproduz relações de significado e filiações. A identidade cultural

moderna está assim atrelada ao significado de uma cultura nacional.

As culturas nacionais são uma forma distintivamente moderna. A

lealdade e a identificação que, numa era pré-moderna ou em sociedades

mais tradicionais, eram dadas à tribo, ao povo, à religião e à região,

foram transferidas, gradualmente, nas sociedades ocidentais, à cultura

nacional. As diferenças regionais e étnicas foram gradualmente sendo

colocadas, de forma subordinada, sob aquilo que Gellner chama de "teto

político" do estado-nação, que se tornou, assim, uma fonte poderosa de

significados para as identidades culturais modernas. (Hall, 2003, p. 47).

Para Homi Bhabha (1998) não existe uma unidade simbólica na ideia de nação, mas um

campo de produção de sentidos, e significados culturais, vistos de uma perspectiva relacional,

híbrida e ambivalente, sempre atravessados por relações de poder. São discursos com um forte

apelo de legitimação Para Bhaba:

Los orígenes de las naciones, como los de las narraciones, se pierden en los

mitos del tiempo, y recién alcanzan su horizonte, en el ―ojo de la mente‖.

Esta imagen de la nación – o de la narración – podría parecer romántica en

extremo y metafórica por demás, pero es precisamente de esas tradiciones

del pensamiento político y el lenguaje literario de donde surge la idea de

nación como una idea histórica poderosa en Occidente. Una representación

cuya compulsión cultural reside en la unidad imposible de la nación como

fuerza simbólica (BHABHA, 2010, p.11).

Não percamos de vista, nesse contexto, a compreensão da nação como produto de "um

esforço narrativo" (SÁ BARRETO, 2012). A linguagem tanto para Laclau quanto para

Ricoeur deve ser compreendida em seu dinamismo criador. Para Laclau os sentidos só podem

ser criados dentro de sistemas de linguagem ou de significação e para Ricoeur é a narrativa

que torna acessível à experiência humana do tempo, assim o tempo só se torna humano

através da narrativa. Para ambos é explícita a importância da linguagem nos processos

discursivos de significação social. A construção de pertencimento a uma nação funciona

através de dispositivos, que atuam na produção de subjetividades.

Para Stuart Hall, no mundo moderno, as culturas nacionais em que nascemos se

constituem em uma das principais fontes de identidade cultural. Hall analisa a ideia de

nações como comunidades imaginadas:

49

Segue-se que a nação não é apenas uma entidade política mas algo que

produz sentidos - um sistema de representação cultural. As pessoas não

são apenas cidadãos/ãs legais de uma nação; elas participam da idéia da

nação tal como representada em sua cultura nacional. Uma nação é uma

comunidade simbólica e é isso que explica seu "poder para gerar um

sentimento de identidade e lealdade" (Schwarz, 1986, p.106 apud Hall,

2003, p. 47).

A formação de uma ―sociedade civil‖ com regras e a tentativa de ter comportamentos

definidos e legitimados opera com vínculos escolares, que estruturam a organização da nossa

vida pessoal, sobretudo nas relações sociais, a partir dos gestos, das linguagens, etc. (CAMBI,

1999). No processo histórico de emergência dos Estados-nação, a institucionalização da

escola desempenhou um papel importante na construção de uma ―coesão e uma

solidariedade‖ nacional. Ou seja, ―a subjetividade dos indivíduos e a objetividade das funções

sociais são percebidas como duas faces de uma mesma realidade‖ (DUBET E

MARTUCELLI, 1996, p. 528 apud CANÁRIO, 2005, p. 64).

Assim, como os espaços escolares, a consolidação do museu enquanto instituição

pública está, de maneira geral, atrelada à concepção da educação como o grande diferencial

dos países modernos. A valorização do elemento nacional foi um fator decisivo para criação

dos museus públicos na Europa e na América do Norte: ―como tal, o 'museu disciplinar', o

'museu endoutrinador', é uma instituição particularmente importante já que pode ser associada

à formação dos modernos Estados-nação‖ (SEMEDO, 2004, p. 133). Podemos estender esse

fenômeno ao Brasil, que tinha como fonte de inspiração as idéias que permeavam os museus

Europeus.

Pensar as proximidades entre escola e o museu enquanto dispositivos na construção de

um discurso nacional - guardadas as devidas proporções entre o alcance de público de ambas

as instituições - é considerar esses espaços como ambientes importantes para a "manutenção",

sempre inventada, da memória de uma nação. De um grupo social. Ambas as instituições

passaram por inúmeras transformações, mas as mudanças que aproximaram o modelo escolar,

ao que conhecemos até os dias atuais, foram mais intensas nos séculos XIX e XX, com a

universalização do acesso a um saber escolarizado. Não mais um privilégio de uma ―elite‖ 10

.

10 È importante salientar que o modelo escolar proposto para educar as massas é diferente em diversos sentidos,

da escola voltada para as ―elites‖. A forma escolar esta presente nos dois tipos escolares, mas não seguia um

padrão equitativo, seguia uma lógica de distribuição social e econômica.

50

A idéia da escolarização como o grande diferencial dos países modernos, está

intimamente relacionada à tentativa de utilizar a educação como instrumento de construção de

um elemento nacional. Dessa forma, ―processos políticos, econômicos e educacionais se

articulam mutuamente constituindo culturas políticas que delimitam, por exemplo, qual deve

ser a finalidade da escola e quais as metodologias de ensino que atendem a tais finalidades‖

(MESQUITA, 2010, p. 210). A escola e o museu enquanto dispositivos na construção de um

discurso nacional marcam uma transição no processo de produção de memória entre um

domínio privado, para o público11

.

No caso especifico das escolas, como já mencionamos no segundo capítulo, a

instauração dos sistemas escolares marca o deslocamento, de um ensino centrado em uma

experiência (particular), para outro modo de entender a construção do conhecimento, que

deveria ser (universalizante). Laclau (2011) em ―Emancipação e Diferença‖ explorar a relação

entre particularismo, universalismo e a questão da identidade. Para ele essas relações tem sido

pensada de modos diferentes no decorrer da história, de maneira resumida:

Uma primeira abordagem afirma: (a) que há uma linha divisória

incontaminada entre o universal e o particular; e (b) que o pólo do universal

é inteiramente compreensível pela razão. Neste caso, não há qualquer

mediação possível entre universalidade e particularidade. (...) A segunda

possibilidade de pensar essa relação está ligada ao cristianismo. O ponto de

vista da totalidade existe, mas pertence a Deus, não a nós, de modo que não

é acessível à razão humana. Credo quia absurdum. Assim, o universal é um

mero evento numa sequencia escatológica, apenas acessível a nós por meio

da revelação. (...) esse tipo de relação foi chamada de encarnação, cuja

característica distintiva é a seguinte: entre o universal e o corpo que o

encarna, não há qualquer vínculo racional. Deus é o único e absoluto

mediador. Assim, começava uma lógica sutil, destinada a ter profunda

influência em nossa tradição intelectual: a do agente privilegiado da História.

Aquele cujo corpo particular era a expressão de uma universalidade que o

transcendia. A ideia moderna de uma ―classe universal‖ e as varias formas

de eurocentrismo nada mais são do que os efeitos históricos longínquos da

lógica da encarnação. (LACLAU, 2011, p. 51).

A consolidação da educação, enquanto sistema, na Idade Moderna, tornou categorias

como racionalização, universalismo, particularismo, disciplinarização, entre outros, como

valores fundantes da pedagogia moderna. Os discursos que compõem a construção dessa

11

Nesse sentido, a ideia de ―espaço público‖ é fundamental, nessa transição, e também está relacionado com o

um tipo de redefinição do próprio conceito do que é ―público‖ e ―privado‖. Em que essas fronteiras são

percebidas de diferentes modos, de acordo com os contextos históricos: ―a estabilidade dessas fronteiras

corresponde ao que Laclau chama de hegemonia, uma prática política (articulatória) que só existe por conta do

caráter contingente e aberto das relações sociais‖ (Howarth, 2000: 110 apud MESQUITA, 2010, p. 73).

51

identidade cultural nacional passam, em boa parte, pela institucionalização dos dispositivos

escolar e museal. O tipo de conhecimento produzido a partir da experiência escolar passa a

dialogar com outras esferas da vida. E, mais do que isso, essa maneira de lidar com o

conhecimento cria implicações da relação historicamente desenvolvida entre escolas, museus

e educação.

Observamos uma inextricabilidade entre os arranjos institucionais, as "formas" e as

―ações‖ praticadas nesses dispositivos. A escolarização, como produto do Estado Moderno,

aproximou os museus da estrutura escolar, e ajudou a difundir uma ideologia burguesa,

contribuindo para a reprodução das relações vigentes na sociedade capitalista.

Nesse contexto, escolas e museus são espaços que possuem especificidades e

características que lhes são próprias, porém ambos possuem pontos de convergência, que

podem gerar implicações na forma como esses espaços são compreendidos. Relacionar a

produção de uma experiência nacional, que surge com a constituição dos estados-nação, com

os espaços escolares e museais, remete à importância desses dispositivos para a formação de

uma identidade cultural.

Os discursos construídos nas escolas e nos museus podem ser considerados como

importantes componentes da vida social. A possível articulação dos museus com uma forma

escolar pode influenciar a construção de uma dimensão pedagógica dos museus e o próprio

conceito de educação museal. Na próxima seção, vamos observar as possibilidades do museu

moderno, já, estar, relacionado a um modo de conhecimento escolarizado desde seu processo

de institucionalização. Não de maneira determinista, mas influenciado por um determinado

modelo de construção de conhecimentos, que permearia o campo escolar e museal.

52

3.2 Institucionalização do museu: aproximações com uma forma escolar

As instituições implicam, além disso, a historicidade e o controle. As tipificações

recíprocas das ações são construídas no curso de uma história compartilhada. Não

podem ser criadas instantaneamente. As instituições têm sempre uma história da

qual são produto.

Peter Berger e Thomas Luckmann

Segundo Peter Berger e Thomas Luckmann ―a institucionalização ocorre sempre que há

uma tipificação recíproca de ações habituais por tipos de atores‖ (BERGER e LUCKMANN,

1973, p.79). Os autores atribuem a origem da institucionalização, inicialmente, ao hábito, pois

as ações quando tornadas habituais conservam um caráter de significado para os indivíduos,

tornando-se um padrão. Assim é possível não só reproduzi-las, mas criar estratégias de

controle sobre essas relações. ―Dizer que um segmento da atividade humana foi

institucionalizado, que dizer que este segmento da atividade humana foi submetido ao

controle social‖. (IBIDEM, p. 80).

O processo de institucionalização dos espaços escolares e museais, de alguma maneira,

estão ligados, a uma ideia de pertencimento e a produção de uma experiência nacional - que

surge com as narrativas de constituição dos Estados-nação. A institucionalização tem uma

função de interdição, as instituições organizam e redistribuem a produção de discursos. Esse

controle está presente nos recortes realizados sobre a memória, e no que deve ser preservado.

Escolas e principalmente os museus, considerados até hoje como ―guardiões da memória‖,

são instituições marcadas por uma forte política de memória.

A história do sujeito humano está intimamente relacionada ao hábito de guardar objetos,

em diferentes épocas, e por diversos motivos. Não existe um consenso em relação ao

surgimento dos museus, e qual deles deve ser considerado o primeiro. Segundo Lewis

Geoffrey (2004), em uma breve contextualização histórica do surgimento dos museus:

O desenvolvimento da ideia de museu ocorre no princípio do segundo

milênio AC em Larsa, na Mesopotâmia, onde cópias de antigas inscrições

foram reproduzidas para uso educativo nas escolas daquele tempo. Os níveis

de evidência arqueológica do século sexto AC em Ur, sugerem que não eram

só os reis Nebuchadrezzar e Nabonidus que colecionavam antiguidades

naquele tempo, mas também, pela mesma altura, existia uma coleção de

antiguidades numa sala próxima da escola do templo, com uma lápide que

descrevia inscrições mais antigas em tijolo, encontradas no local. Isto

poderia ser considerado como uma ―etiqueta de museu‖ (GEOFFREY, 2004,

P. 01).

53

A vertente mais tradicional de pesquisas na área museológica considera o Museu uma

palavra de origem latina proveniente do termo Museum, que deriva do grego, mouseion, que

era o templo dedicado às nove Musas, filhas de Zeus com Mnemosine, a deusa da Memória

(LE GOFF, 1996). Eram considerados como um espaço sagrado, que tinham a função de local

de devoção, de guarda, conservação e adoração das peças sagradas. Para alguns autores é

nesse contexto que aparece pela primeira vez a função de Museu; para outros estudiosos os

museus teriam começado com a lendária Biblioteca de Alexandria, o Museion, com seu

complexo de salas de estudo, bibliotecas, jardim botânico, parque zoológico e observatório

astronômico, (GEOFFREY, 2004).

Ao longo da Idade Média, a noção de museu quase desapareceu, mas o colecionismo

continuou a existir, e os acervos considerados preciosos eram tidos como patrimônio, e

poderiam ser convertidos, se necessário, para financiamento de guerras ou outras atividades

estatais; outras coleções se formaram com objetos ligados ao cristianismo, tais como: relíquias

de santos, manuscritos, aparatos litúrgicos, que eram guardados em catedrais e mosteiros. No

renascimento com a volta dos ideais clássicos e a consolidação do humanismo, ressurgiu o

colecionismo privado através de grandes comerciantes, integrantes da burguesia em ascensão.

(SUANO, 1986.).

A constituição dos museus atuais está intimamente relacionada ao colecionismo dos

Gabinetes de Curiosidade, ou Câmaras de Maravilhas, como eram conhecidos esses espaços.

No século XVII, predominava nos gabinetes de curiosidade, simplesmente, o ato de

colecionar, de juntar objetos, criava-se a possibilidade de conhecer o mundo desconhecido,

exótico, sem o deslocamento físico. (SUANO, 1986.). Como uma forma de conhecer o que

existia no mundo, os gabinetes não apresentavam uma preocupação com a nomeação e com a

classificação, aspecto marcante nos museus atualmente.

Segundo Helga Cristina Gonçalves (2005), a falta de ordenamento e de classificação

existiu apenas no início dos gabinetes. Com o tempo, essas coleções foram virando sinônimos

de poder e de destaque social, sendo cada vez mais respaldadas pelo caráter científico. O

aumento das coleções de estudo e investigação por ordenamento e classificação, fortalecia o

esquema taxonômico proposto antes por Lineu, e muitos colecionadores tornaram-se

especialistas em zoologia, botânica e história natural. Com isso, era preciso locais menos

precários de conservação e mais adequados para abrigar os novos conhecimentos. A figura

abaixo ilustra a diversidade do acervo de um Gabinete de Curiosidades:

54

Figura 01 Ilustração de um Gabinete de Curiosidades- 1599

Os gabinetes de curiosidade expressavam a cultura do colecionador e representavam

uma estreita relação entre poder e conhecimento. Com o tempo, eles modificaram seu

processo de ordenamento e classificação, para a formação de coleções mais específicas, e o

estabelecimento de novos procedimentos de coleta e conservação. Esses espaços criavam a

possibilidade de conhecer o mundo desconhecido, exótico, sem o deslocamento físico, e a

classificação tornava possível o conhecimento de algo que antes era obscuro, portanto, não

podia ser nomeado, dominado. De acordo com Maria Margaret Lopes (1997), é nesse

contexto que os museus adquirem força e visibilidade:

[...] Constituindo um legado incrivelmente centralizado do entusiasmo pela

classificação e pelo conhecimento enciclopédico do século XVIII, os

museus foram espaços para a articulação do olhar dos naturalistas,

transformando-se de gabinetes de curiosidades em instituições de produção

e disseminação de conhecimentos, nos moldes que lhes exigiam as

concepções científicas vigentes, alterando-se com elas em seus objetivos,

programas de investigação, métodos de coleta, armazenamento e exposição

de coleções. (LOPES, 1997, p. 18).

Figura 1: Ilustração de um Gabinete de Curiosidades (publicada por Ferrante Imperato em

Dell‘Historia Naturale, Nápoles 1599)

55

Dessa maneira, os museus configuravam-se para além do simples caráter de

armazenamento. Nesse momento, os museus atuavam principalmente como espaços restritos e

elitizados de pesquisa, não existia um conceito sobre educação museal, mas era explicita a

relação do museu com aspectos educativos. Nas primeiras experiências de museus, ainda não

havia a discussão do museu como um espaço aberto, educativo, era restrito a estudos

científicos, apenas para especialistas. Os primeiros movimentos que vão identificar e

reconhecer o museu como um espaço educativo datam da segunda metade do século XX. A

incorporação da comunicação, como elemento constitutivo do museu, junto á pesquisa,

conservação, preservação, pode ser visto como um marco de transição, uma nova filiação

conceitual e empírica.

Em um panorama mais geral, a primeira ideia de museu público, como espaço

educativo, foi com Ashmolean Museum, criado em 1683, Oxford, no entanto, ele teve sua

ação ligada mais à pesquisa do que ao público como agente do processo educacional. (Cury,

2013, p. 24). Mas a culminância do museu enquanto instituição pública com a finalidade de

―educar‖ os cidadãos foi com o Museu do Louvre (1793), em Paris. Existia a preocupação

com o papel que os monumentos, as obras de arte, e os museus cumpriam na estrutura do

antigo regime, se essas memórias deveriam ser preservadas ou destruídas, por representar os

gostos e estilo de vida da burguesia e da nobreza.

No século XVIII, as idéias de que a transmissão do conhecimento seria a

condição para o progresso influenciaram a criação de instituições científicas,

onde se discutiam e divulgavam as descobertas da ciência. Assim, as

coleções foram abertas à pesquisa, especializaram-se e passaram a ser

utilizadas por outros segmentos sociais, como os cientistas, naturalistas e

filósofos (VALENTE, 2003 apud BERTELLI, 2010, p.21).

Essas coleções foram repudiadas e muitas vezes até destruídas, mas depois foram

compreendidas como um patrimônio nacional. Nesse período, a Europa passava por muitas

transformações, o autoritarismo dos reis e da nobreza atingia níveis altíssimos, e tornava-se

crescente a tensão popular, que iniciou um movimento de oposição na Inglaterra que se

espalhou, até a culminância da Revolução Francesa. Esses movimentos foram importantes

para a abertura dos museus e o acesso as grandes coleções clássicas, tornando-as efetivamente

públicas. Essa abertura foi um ato político e tinha o intuito de ―educar‖ a nação francesa, a

partir do renascimento.

A partir do século XIX, principalmente após a Revolução Francesa, os museus e as

coleções passam a ter um novo papel na vida das nações e os objetos passam a ser valorizados

56

a partir de uma compreensão de patrimônio cultural e preservação do passado (VALENTE,

2003). O final do século XIX e início do século XX foram marcados por uma concepção de

museu vinculada à função de preservação e de testemunho da memória, para guarda de

acervos artísticos e históricos e, ao longo do século XX, foram fortalecidos os aspectos

público e educativo da instituição (VALENTE, 2003). Houve um deslocamento da função

inicial do museu de preservação para a de comunicação. Tal deslocamento aproximou esses

espaços ainda mais de um modelo educativo.

O projeto de escolarização representou um instrumento decisivo de integração social, no

quadro da simultânea construção dos estados e das nações, fornecendo-lhes novas fontes de

legitimidade, por referência a uma soberania popular (CANÁRIO, 2005, p. 64). Os museus

públicos em sua concepção inicial viveram um misto de templo do saber, e representantes do

caráter nacional. Acreditamos que a proximidade dos museus com a estrutura de um modelo

escolar, em seus processo de institucionalização, marcou a maneira do museu moderno pensar

a educação, uma visão mais escolarizada. Não como um determinante, mas como um aspecto

importante em sua composição.

A instituição escolar e museal apresentam claramente diferenças, em suas propostas, sua

interação com o público, a forma de apresentar o conteúdo, o tempo e a periodicidade das

ações, inclusive em relação à natureza das suas atividades. No entanto, são espaços quee

apresentam pontos em comum. Nesse sentido, de acordo com Luis Oliveira Henriques:

―apenas à primeira vista, escola e museu nada terão em comum. Uma breve pausa e, logo,

surgirão relações possíveis. Uma pausa maior e o título deste trabalho assemelhar-se-á à ponta

visível do ‗iceberg‘‖. (HENRIQUES, 1996, p.13).

No processo de institucionalização museu, pelo menos em sua concepção inicial, as

aproximações com a forma escolar são bem mais visíveis que os distanciamentos. A

hegemonia da forma escolar é um fator que merece destaque, no modo como os museus têm

assumido seu caráter educativo, reduzindo seu campo de atuação do ―vasto âmbito da cultura

para o de complemento à escola, segundo os padrões e normas que regem a prática escolar‖

(LOPES, 1991, 448 apud BERTELLI, 2010, p.15).

A próxima seção vai analisar alguns sentidos atribuídos ao processo de escolarização

do museu. Uma questão relevante nesse contexto é pensar se a aproximação do museu com

uma estrutura escolar o distancia de uma especificidade do museal.

57

3.3 Escolarização: relações entre educação, escolas e museus

(...) museus importantes do país costumam receber levas e mais levas de escolares

cuja missão, imposta por seus mestres e passivamente aceita pelos responsáveis da

instituição, é simplesmente copiar legendas, etiquetas e textos de painéis. Para tanto,

não teria sido necessário deslocar-se da escola.

Ulpiano Bezerra de Meneses

A partir da segunda metade do século XX os museus passam a ser reconhecidos como

instituições educativas, com atendimentos específicos para diversos públicos, muitas vezes,

explicitando objetivos pedagógicos (KÖPTKE, 2003). Nesse contexto, existe uma mudança

no enfoque das exposições, do ensino para a aprendizagem do visitante. Para Maria Margaret

Lopes (1991) essas modificações têm influência de teorias pedagógicas, principalmente

escolanovistas12

:

―o escolanovismo introduzido no Brasil a partir da década de 1920,

diferentemente das teorias educacionais anteriores, voltadas para a

disseminação da escola, vai preocupar-se mais com as mudanças e os novos

modelos para o interior das escolas, do que com a generalização da

instrução‖ (IBIDEM, p. 444).

Dessa maneira, é o movimento da escola nova que traz as práticas escolares para o

interior dos museus. Para Lopes:

Nessa época, em que o todo educacional estava voltado para o interior das

escolas e não mais para a ampliação da rede escolar, a preocupação

pedagógica adentrou explicitamente os museus, influenciando-os para que

passassem a dar prioridade ao apoio à escola. Nesse contexto, perderam

terreno nos museus suas funções de disseminação de conhecimento para

públicos amplos, independentemente da escola. Em razão desse apoio,

chegou-se até propor a subordinação da escola ao museu. Em sua

preocupação de colaborar com materiais que permitissem uma ―fixação‖ dos

conteúdos desenvolvidos em sala de aula, particularmente no ensino de

ciências naturais, Leontsinis (1959) chegou a propor que o ideal seria

algumas escolas fizessem uma ―inversão no currículo‖, de modo que fosse

possível atender a um número maior de escolas com exposições circulantes.

(LOPES, 1991, p. 446)

12

O escolanovismo está relacionado ao movimento da Escola Nova, um modelo pedagógico, que faz uma crítica

a escola tradicional, é influenciado por pensadores europeus e norte-americanos, e fortemente inspirado nas

idéias de modernização/industrialização do período. Na proposta da nova pedagogia, o centro da ação educativa

passa a situar-se na relação professor-aluno. A iniciativa do processo educacional desloca-se para o aluno, e o

professor torna-se um coordenador e incentivador. (LOPES, 1991)

58

Lopes chama atenção para o problema dos museus serem valorizados apenas como um

espaço educacional: ―a questão colocada diz respeito à contribuição do museu- com ou sem,

ou apesar da escola_ para o processo de construção do conhecimento em nossa realidade‖.

(IBIDEM, p.454). Uma abordagem que utiliza o museu apenas para comprovar, ilustrar ou

complementar aspectos envolvidos com os conteúdos trabalhados em sala de aula, é restringi-

lo a um papel de outra modalidade educacional. No entanto:

É preciso deixar claro que não discordamos da contribuição que

efetivamente os museus podem, devem e dão a escola. Campo, inclusive, em

que os professores poderiam, como já vêm fazendo em experiências

renovadoras, dar grandes contribuições, trabalhando em estreita cooperação

com museólogos, educadores, especialistas de diferentes áreas de

conhecimento e monitores. O problema está em que a questão da

contribuição dos museus à educação não deveria ser tratada como de

costume nem apenas do ponto de vista de enriquecer ou complementar

currículos, ou ilustrar conhecimentos teóricos, nem tampouco valedo-se de

propostas de intervenção direta no processo educacional que dificilmente

não se comprometeriam com o desempenho como um todo das sequências

longas e rotineira das relações formais de aprendizagem escolar. (IBIDEM,

p. 452-453).

As atividades educativas que podem ser desenvolvidas nos museus assemelham-se as

desenvolvidas nos espaços escolares. Segundo Alice Bemvenuti (2004) é extensa a lista de

atividades que podem ser entendidas como ações educativas13

em espaços museais: visitas

―orientadas‖, ―guiadas‖, ―monitoradas‖ ou mesmo ―dramatizadas‖, programas de atendimento

e preparo dos professores, oficinas, cursos e conferências, mostras de filmes, vídeos, práticas

de leitura, contação de histórias, exposições itinerantes, além de projetos específicos

desenvolvidos para comemorar determinadas datas e servir de suporte para algumas

exposições.

Além dos materiais educativos e informativos editados com a finalidade de servir a

estas práticas, como: edição de livros, jogos, guias, folders e folhetos diversos, folhas de

atividades, kits de materiais pedagógicos, áudio-guide (guia auditivo), aplicativos multimídia,

CD-ROM, site institucional na internet, etc. Ou seja, Isto não é apontado como um problema,

ou um domínio irredutível a forma escolar, mas é preciso chamar atenção para as maneiras

13

O glossário do Documento Preliminar do PNEM diferencia Atividade Educativa de Ação Educativa: a

primeira: é uma ação educativa pontual que pode ser desenvolvida em projetos educativos, ações continuadas,

esporádicas ou realizadas por demanda; já a Ação Educativa – Ação que produz interfaces entre os diferentes

processos museais, tais como a pesquisa, a conservação, a preservação e a comunicação, prevenindo a

dissociação entre meios e fins nas ações museais e contribuindo para a integração entre museu e sociedade.

Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/164917226/SANTOS-Maria-Celia-Museus-e-Educacao.

59

que diferenciam o uso desses recursos em cada espaço, se não: ―aquilo de específico que

caracterizaria o museu – e que falta à escola – perde, assim, qualquer serventia‖. (MENESES,

2000, p. 99). De acordo com Lopes, o abandono da dimensão educativa e cultural do museu e

a acomodação com os métodos da educação escolar tradicional estariam provocando a

escolarização dessa instituição.

Chamamos escolarização a esse processo de incorporação pelos museus das

finalidades e métodos do ensino escolar, cujas manifestações iniciais

surgiram com os movimentos escolanovistas e vêm se aprofundando no bojo

das propostas de educação permanente para museus. (IBIDEM, p. 449).

Em todo o mundo, o público escolar representa um dos principais públicos dos museus.

Estima-se que na Europa e nos Estados Unidos os escolares representem, em média, de 15% a

30% do total dos visitantes. No Brasil, essa participação varia entre 50% a 90%, dependendo

da instituição (KÖPTCKE, 2001/2002). Atualmente, é possível perceber um aumento de

estruturas específicas de atendimento ao público escolar nos museus, em ações direcionadas

prioritariamente aos escolares (KÖPTCKE, 2001/2002). Para Maria Izabel Leite:

Esse atendimento especializado pode, também, suscitar uma leitura crítica,

quando se percebe que o caráter educativo acabou se tornando,

exclusivamente, atendimento às escolas, deixando de fora o contigente que

não freqüenta o sistema formal de ensino, ―como se a própria existência da

exposição museológica não fosse educativa para qualquer visitante‖ (Angeli,

1993, p. 44), fazendo parecer que, mais do que a qualidade da experiência, o

que permeia esse trabalho seria a elevação estatística do número de visitantes

da instituição. (LEITE, 2005, p. 36)

Para Lopes (1991), existe um círculo vicioso na relação museu-escola: o fenômeno de

escolarização do museu seria o reflexo da demanda dos professores por elementos ilustrativos

de suas aulas e, de forma recíproca, a escolarização do museu sustentaria as expectativas dos

professores em relação ao papel complementar do museu. De maneira geral, a escola interage

com os espaços museológicos por meio de visitas esporádicas, e não sistemáticas. Torna-se

evidente, então, uma tensão existente entre identidades e papéis demandados e assumidos na

relação entre museu e escola.

Acreditamos que o processo de escolarização do museu, não é um fenômeno recente,

ele está relacionado, a proximidade histórica entre as escolas e os museus - desde seus

processos de institucionalização. Está ligado a um determinado modelo de construção de

conhecimento, que permearia o campo escolar e museal. Podemos dizer que a construção da

identidade da educação museal está atrelada com a forma escolar hegemônica: ―os museus

60

brasileiros mantêm até hoje sua identidade no campo da educação escolar, com posições

escolanovistas, e no campo da educação não escolar alinham-se as propostas de educação

permanente introduzidas no país pela Unesco‖. (LOPES, 1991, p. 444).

Os museus também estão a serviço das formas oficiais e tradicionais de educação, por

isso, em boa parte, comprometidos com a escolarização, mesmo sendo essencialmente

diferente da escola. Ou, como algo complementar através da ideia de educação permanente:

―la educación permanente no es ni un sistema, ni um sector educativo, sino el principio en el

cual se funda la organización global de un sistema y, por tanto, la elaboración de cada una de

sus partes (UNESCO, 1972). Segundo o Relatório da UNESCO:

O museu é um importante instrumento no processo de educação permanente

do indivíduo, contribuindo para o desenvolvimento de sua inteligência e

capacidades crítica e cognitiva, assim como para o desenvolvimento da

comunidade, fortalecendo sua identidade, consciência crítica e auto-estima, e

enriquecendo a qualidade de vida individual e coletiva (UNESCO,1972).

Além do museu, a escolarização tem influenciado, sobremaneira, a visão cultural da

educação e a organização de ações educativas fora do âmbito escolar, como afirma

Philippe Perrenoud: ―(...) nossa sociedade está escolarizada, incapaz de pensar educação a não

ser segundo o modelo escolar‖ (PERRENOUD apud VINCENT; LAHIRE; THIN, 2001, p.

39). Essa generalização da forma escolar conferiu um modo escolar de atribuir significados,

baseado principalmente na mediação e na disciplina. Na análise de Lopes:

Aí estão aspectos das origens do papel pedagógico atualmente assumido

pelos museus. Embora as idéias escolanovistas tenham significado um

avanço para o rompimento da inércia em que viviam os museus brasileiros,

inserindo-os nos esforços internacionais por modernizações, essas

concepções impregnaram desde então nossos museus de seu papel de

complemento do ensino escolar. (LOPES, 1991, p. 446)

Um dos objetivos dessa pesquisa é observar as especificidades da educação museal e

como essa modalidade educativa pode, potencialmente, estabelecer outras maneiras de lidar

com a construção do conhecimento. Nesse sentido, acreditamos que esse processo de

escolarização do museu, remete a uma perda da especificidade do museal. Éric Triquet (2000)

ao analisar a relação entre escola e museu, destaca essa perda de especificidade: ―le musée

doit-il s'inscrire dans le prolongement des enseignements menés à l'école ou rompre avec ces

derniers en instaurant une expérience originale et nouvelle‖

61

As escolas enquanto espaços formais de aprendizagem oferecem um conhecimento

relacionado a um programa oficial, um currículo programático já estruturado e estabelecido,

com temáticas específicas para cada idade. Já os museus são espaços educativos classificados

como não formais, que não atendem a um currículo programático oficial. A princípio, não

teriam que atender demandas formais, estruturas curriculares. Mas, quando é preciso fazer

uma diferenciação entre o tipo de conhecimento oferecido nas escolas e o oferecido nos

museus, percebe-se que ambas são regidas por uma dimensão pedagógica. De acordo com

Bertelli:

Essa forma diferenciada de educar, entretanto, nem sempre tem sido

encontrada nos museus. Muitas instituições, ao se preocuparem com a

educação, buscam na escola os referenciais para desenvolver suas atividades

(MARANDINO, 2001). Existem, por exemplo, ocasiões em que as

exposições e práticas educativas dos museus sofrem influência tão forte da

cultura escolar que acabam perdendo suas especificidades. (BERTELLI,

2010, p. 17)

A educação que ocorre no espaço dos museus é classificada como não formal o que já

seria em sua essência diferente da educação formal realizada pelas instituições escolares. No

entanto, essas classificações apresentam certa fragilidade, na próxima seção pretende-se

discutir algumas implicações e limites dessas concepções. Acreditamos que existe uma super

valorização da educação formal em detrimento a outras maneiras de educação.

62

3.4 Educação formal, não formal e informal: limites e fragilidades

Havia em Estância um sobradão colonial maltratado pelo tempo e pelo descaso, todo

pintado de azul, e o Doutor, na calma da tarde, chamava a atenção de Tereza para

aquela maravilha de arquitetura, apontando detalhes da construção, ensinando sem

parecer fazê-lo. levando-a a enxergar o que sozinha não saberia reconhecer e

estimar.

Jorge Amado, Tereza Batista cansada de guerra.

De acordo com a Série de Estudos e Pesquisas ―Tipologia da educação extra-escolar no

Brasil” (1980), o termo extra-escolar14

, não equivale a um fenômeno novo; pois sempre

existiram formas de educação fora do espaço escolar. O estudo chama a atenção para a

diversidade de ações e a relatividade das distinções entre formal e não-formal ou escolar e

extra-escolar. A expressão extra-escolar indica um tipo de paradoxo, pois tenta representar a

ideia de algo para além do modo de aprender escolar: ―como um tipo de educação exterior a

ela‖. (CASTRO, 2013, p. 21). No entanto, de alguma maneira, continua como uma

complementação da educação na escola:

O extra-escolar não é um fenômeno novo; sempre existiram formas de

educação e de ensino desenvolvidas fora da escola. Mais a escolarização

ainda é um fato recente; os sistemas escolares do ocidente existem a mais ou

menos 200 anos. Foram estruturados ao mesmo tempo em que se

reestruturou a sociedade pela reorganização do trabalho em função da

industrialização. Dessa perspectiva, o fundamental não seria a existência de

formas escolares e não-escolares; ou formais e não-formais, mas sim o ato da

sociedade, em determinado período histórico, ter institucionalizado os

sistemas escolares, que passaram a polarizar o educativo. (Tipologia da

educação extra-escolar no Brasil, 1980, p.21)

A educação, no âmbito escolar, ou extra-escolar, teve um papel importante na tentativa

de construção de um sentimento nacionalista e no reconhecimento de uma identidade

nacional, é importante fazer essa leitura atrelada ao momento político, cultural, econômico do

País. Em 1930, é criado o Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública (MNESP),

responsável pelo ―estudo e despacho de todos os assuntos relativos ao ensino, saúde pública e

14

Nos anos de 1970, o Internacional Council for Educacional Development (IECD), atendendo a solicitações da

UNESCO e do Banco Mundial, e algumas universidades americanas, especialmente a Michigan State Univerty,

financiadas pela Aliança para o Progresso, realizou centenas de pesquisas em todo o mundo para descobrir as

formas mais interessantes e mais "produtivas" de educação não-formal ou extra-escolar. Período em que a

educação escolar, vivenciava a ―crise educacional‖. No Brasil, esses estudos foram pouco divulgados. O Instituto

de Estudos Avançados em Educação (IESAE), que abrigava o mestrado em educação da Fundação Getúlio

Vargas, no Rio de Janeiro, realizou seminário sobre a temática, cujos resultados estão publicados em Tipologia

da educação extra-escolar no Brasil, editada pelo MEC/INEP em 1980.

63

assistência hospitalar‖15

. Esse Ministério sofre uma reformulação em 1937, e passa a se

chamar Ministério da Educação e Saúde (MES) Todas as instituições federais de ensino desde

as escolas até as universidades, e os museus. Estavam sob a tutela do MNESP e subordinadas

a um Departamento Nacional de Ensino, responsável pela administração das atividades

relativas à educação escolar e à educação extra-escolar. (CASTRO, 2013, p. 21).

O termo extra-escolar apresentava uma estrutura curricular de conhecimento próximo ao

escolar. A educação que ocorria fora do espaço escolar, de alguma maneira, estava balizada

por uma forma escolar de transmissão de conhecimentos, centrada na mediação. Osmar

Fávero (2007) no texto ―Educação não-formal: contextos, percursos e sujeito‖, trata dos

paradoxos de conceituar a educação não formal, antes classificada como extra-escolar. Para

ele:

O não-formal tem sido uma categoria utilizada com bastante freqüência na

área de educação para situar atividades e experiências diversas, distintas das

atividades e experiências que ocorrem nas escolas, por sua vez classificadas

como formais e muitas vezes a elas referidas. Na verdade, desde há muito

tempo classificava-se como extra-escolares atividades que ocorriam à

margem das escolas, mas que reforçavam a aprendizagem escolar, nas

bibliotecas, no cinema, no esporte, na arte. (FÁVERO, 2007, p.49)

Uma questão importante, digamos que necessária, a ser problematizada nesse momento

é pensar alguns limites/fragilidades, entre as diferentes classificações educacionais, do que é

formal, não formal e informal. Essa terminologia formal/não-formal/informal, de origem

anglo-saxônica foi introduzida no Brasil, a partir dos anos de 1960. Osmar Fávero (2007)

destaca a polarização da educação, pela educação formal. Com isso, provoca uma super

valorização dos processos educativos que ocorrem no ambiente escolar, e deslegitima outras

maneiras de pensar e educar. Nosso intuito não é fazer uma critica simplesmente a essa

classificação dos tipos de educação, mas analisar a como essa fragmentação fortalece a forma

escolar e desvaloriza outras construções de experiências e conhecimento.

Autores como GOHN (2006), BIANCONI e CARUSO (2005), MARANDINO (2009),

GASPAR (1990), FAVERO (2007), LIBÂNEO (2004), entre outros, lidam com os conceitos

de educação formal, não formal e informal. Entre os diferentes conceitos dos autores, alguns

citados logo abaixo. Existe um tipo de consenso, que versa, sobre a presença ou ausência de

uma ―intencionalidade e sistematicidade‖ nos tipos de educação. Para José Carlos Libâneo

(2004); a educação não-formal e formal são distinguidas pelo seu caráter intencional e

sistemático, Caracterizadas como processos educativos que implicam: ―objetivos

15

Decreto 19.444 de 1o de dezembro de 1930.

64

sociopolíticos explícitos, conteúdos, métodos, lugares e condições específicas de educação,

precisamente para possibilitar aos indivíduos a participação consciente, ativa, crítica na vida

social global‖ (LIBÂNEO, 2004, p. 87,88). Já a educação informal, é reconhecida pela

ausência de intencionalidade e sistematicidade: ―por contar com um processo educativo que

ocorre de modo não intencional, não-sistemático, não-planejado, disperso, difuso e de caráter

informal‖. (LIBÂNEO, 2004, p. 87,88).

Alberto Gaspar (1990) define a educação formal como um sistema institucionalizado,

hierarquicamente estruturado. É cronologicamente graduado, oferecido nas escolas, se dá de

forma intencional, com objetivos determinados e reconhecimento oficial. Que vai da

Educação Infantil à Pós Graduação, com níveis, graus, programas, currículos e diplomas. Para

Libâneo (2004) diferente de concepção de Alberto Gaspar, as atividades educativas formais,

podem ocorrer fora do espaço escolar, desde que esteja presente a intencionalidade, e a

sistematicidade. Para Libâneo:

Formal refere-se a tudo o que implica uma forma, isto é, algo inteligível,

estruturado, o modo como algo se configura. Educação formal seria, pois,

aquela estruturada, organizada, planejada intencionalmente, sistemática. Mas

isso não significa dizer que não ocorra educação formal em outros tipos de

educação intencional (vamos chamá-las de não-convencionais). Entende-se

assim, que onde haja ensino (escolar ou não) há educação formal. Nesse

caso, são atividades educativas formais também a educação de adultos, a

educação sindical, a educação profissional, desde que nelas estejam

presentes a intencionalidade, a sistematicidade e condições previamente

preparadas, atributos que caracterizam um trabalho pedagógico-didático,

ainda que realizadas fora do marco do escolar propriamente dito

(LIBÂNEO, 2004, p. 88,89).

Em relação à educação informal, Osmar Fávero descreve-a como a modalidade

educativa que ocorre de maneira espontânea, sem lugar específico, horários ou currículos. Os

conhecimentos são partilhados em meio a uma interação sociocultural que tem como única

condição necessária e suficiente, existir quem saiba e quem queira ou precise saber: ―nela,

ensino e aprendizagem ocorrem espontaneamente, sem que, na maioria das vezes, os próprios

participantes do processo tenham consciência‖. (FARELO, 2007, p. 43). A transmissão

regular e disciplinar desses conhecimentos foi sendo, com o tempo, delegada à escola, ou

melhor, à educação formal.

Fávero apresenta uma visão generalista do que é a educação não formal. Ele define

como toda atividade sistemática e organizada, que acontece fora do quadro do formal da

educação, para promover a aprendizagem, acontecendo em cursos não escolarizados, em

65

programas de formação, no dia-a-dia, no cotidiano do cidadão. A visão de Martha Marandino

(2009) sobre a educação não formal, não difere muito da concepção de Fávero, Bianconi e

Caruso:

Considera-se então que a educação não formal é qualquer atividade que, fora

do sistema formal de ensino opera separadamente como parte de algo mais

amplo que se pretende realizar com públicos específicos e com objetivos

pedagógicos específicos. (MARANDINO, apud CASTRO 2013, p. 22).

Maria da Glória Gohn (2006) em seu texto ―Educação não-formal na pedagogia social‖

destaca a finalidade e os objetivos das diferentes formas de educação. Para a autora, essa

classificação, parece clara. Para Gohn:

Na educação formal, entre outros objetivos destacam-se os relativos ao

ensino e aprendizagem de conteúdos historicamente sistematizados,

normalizados por leis, dentre os quais destacam-se o de formar o indivíduo

como um cidadão ativo, desenvolver habilidades e competências várias,

desenvolver a criatividade, percepção, motricidade etc. A educação informal

socializa os indivíduos, desenvolve hábitos, atitudes, comportamentos,

modos de pensar e de se expressar no uso da linguagem, segundo valores e

crenças de grupos que se frequenta ou que pertence por herança, desde o

nascimento. Trata-se do processo de socialização dos indivíduos. A

educação não-formal capacita os indivíduos a se tornarem cidadãos do

mundo, no mundo. Sua finalidade é abrir janelas de conhecimento sobre o

mundo que circunda os indivíduos e suas relações sociais. Seus objetivos

não são dados a priori, eles se constroem no processo interativo, gerando um

processo educativo. Um modo de educar surge como resultado do processo

voltado para os interesses e as necessidades que dele participam. (GOHN,

2006, p. 19)

Esse tipo de concepção demonstra-se limitador, pois o conhecimento não é construído

apenas em condições especificadas. Não é apenas na educação formal, que pode-se ―aprender

conteúdos historicamente sistematizados‖ ou ―desenvolver a criatividade‖, inclusive, essa

modalidade aponta fortes indícios, de ser, a que mais cria, impeditivos, para os processos

criativos. A educação não formal também ―desenvolve modos de pensar e se expressar no uso

da linguagem‖, e a educação informal, pode sim, ―abrir janelas de conhecimento sobre o

mundo que circunda os indivíduos e suas relações sociais‖.

Segundo M. Lucia Bianconi e Francisco Caruso (2005), no artigo, ―Educação não-

formal. Ciência e Cultura‖, não existe um fechamento sobre os limites das diferentes

modalidades educacionais, que para eles podem ser classificadas, de uma maneira geral,

como:

66

[...] educação formal, educação não-formal e educação informal. A educação

formal pode ser resumida como aquela que está presente no ensino escolar

institucionalizado, cronologicamente gradual e hierarquicamente estruturado,

e a informal como aquela na qual qualquer pessoa adquire e acumula

conhecimentos, através de experiência diária em casa, no trabalho e no lazer.

A educação não-formal, porém, define-se como qualquer tentativa

educacional organizada e sistemática que, normalmente, se realiza fora dos

quadros do sistema formal de ensino Posto que espaço formal de Educação é

um espaço escolar, é possível inferir que espaço não-formal é qualquer

espaço diferente da escola onde pode ocorrer uma ação educativa. Embora

pareça simples, essa definição é difícil porque há infinitos lugares não-

escolares. Qualquer lugar é espaço não-formal de Educação? Há espaços

não-formais e informais de Educação? O que define cada um? Da mesma

forma que a discussão sobre as conceituações de Educação formal, Educação

não-formal e Educação informal estão em aberto. (BIANCONI, CARUSO,

2005, p. 18)

De modo sintético, a partir dos conceitos abordados, podemos dizer que a classificação

entre os tipos de educação formal, informal e não formal, seria assim: a educação formal- são

os espaços escolares, definidos pela Lei 9394/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,

o espaço formal diz respeito a um local onde a educação realizada é formalizada, garantida

por Lei e organizada de acordo com uma padronização; a educação informal- é a que decorre

de processos naturais e espontâneos, transmitida pela família e demais espaços sociais; e a

educação não-formal- seriam aquelas práticas educativas estruturadas que ocorrem fora da

instituição escolar, em espaços como museus, zoológicos, galerias de arte, jardins botânicos,

etc.

A partir destas definições, e das questões já discutidas sobre a forma escolar, percebe-

se, uma valorização da educação formal, o que amplia as responsabilidades da escola. As

delimitações sobre o que seria cada tipo de educação não parece muito consistente. Claro que

essas concepções não são totalmente fixas, e de alguma maneira, uma permeia a outra. Mas

uma das problemáticas dessa divisão é uma fragmentação e uma hierarquização dos modos de

conhecer.

Museus são espaços com múltiplas dimensões, a educação que acontece nos museus é

caracterizada como não formal, mas os limites entre as concepções entre formal, não formal e

informal tem aspectos tênues. Não queremos com isso, afirmar, que escolas e museus, ou

outros espaços educativos são iguais, mas nos referimos ao modo de construir conhecimento.

As diferenciações de categorização não deveriam ser hierarquizadas. A educação que ocorre

nos museus pode ser sistematizada, através de atividades educativas intencionais, com

metodologias e análises específicas, mas esses dados encaixam-se na definição de educação

formal.

67

Os museus, assim, como outros espaços, para proporcionarem uma experiência de

aprendizagem, não precisam necessariamente, ter uma atividade programada intencional. O

potencial educativo do museu está nas relações que podem ser construídas, sejam, entre as

pessoas, ou entre as pessoas e os objetos, com a arquitetura, ou dependendo da tipologia do

museu, de for um museu virtual, de percurso. A educação museal, nesse caso, se enquadraria,

em um modelo informal?

Nos últimos anos a ideia ou a definição do que é um museu passou por muitas

modificações, houve uma ampliação do seu conceito. Atualmente, abrigam tipologias, temas,

plataformas muito diversas. De acordo com o gráfico do Cadastro Nacional de Museus:

Gráfico 01- Porcentagem (%) de museus por tipologia de acervo, Brasil, 2010.

São Instituições com perfis e propostas museológicas variadas, pensar a educação

museal, nesses diferentes contextos, é um exercício complexo. Cada museu representa um

saber, uma tipologia, uma constituição diferente.

Além das instituições designadas como ―Museus‖, incluem-se também nesta definição:

os sítios e monumentos naturais, arqueológicos e etnográficos; as instituições que conservam

coleções e exibem exemplares vivos de vegetais e animais - como os jardins zoológicos,

botânicos, aquários e vivários, os centros de ciência e planetários; as galerias de exposição

Fonte: Cadastro Nacional de Museus (2010). Gráfico 12

68

não comerciais; os institutos de conservação e galerias de exposição, que dependam de

bibliotecas e centros arquivísticos; os parques naturais; as organizações internacionais,

nacionais, regionais e locais de museus;

Os ministérios ou as administrações sem fins lucrativos, que realizem atividades de

pesquisa, educação, formação, documentação e de outro tipo, relacionadas aos museus e à

Museologia; os centros culturais e demais entidades que facilitem a conservação e a

continuação e gestão de bens patrimoniais, materiais ou imateriais. Qualquer outra instituição

que reúna algumas ou todas as características do museu, ou que ofereça aos museus e aos

profissionais de museus os meios para realizar pesquisas nos campos da Museologia, da

Educação ou da Formação. IPHAN/MinC- (2005). A diversidade das plataformas e

instituições que podem ser compreendidas como museu generalizou o conceito do que pode

ser um museu. Esse fator traz várias questões para o campo museal.

Na perspectiva de Martha Marandino (2005) as instituições museais devem ser

analisadas por seu viés cultural, para ela seria muito mais promissor e produtivo do que

entendê-las apenas pela perspectiva da racionalidade técnica, pois a cultura funciona como

produto e produtora das relações, a cultura é dinâmica e continua. Assim como os processos

educativos, a educação transmite parte da cultura, refletir sobre uma é inevitavelmente

remeter a outra.

Nossa reflexão sobre educação museal, parte do pressuposto que existe um potencial

educativo no museu, mas que essa dimensão para ser educativa, não precisa ou deva se

assemelhar à escolar. Assim como Kramer acreditamos que:

(...) para ser educativa, a arte precisa ser arte e não arte educativa; do mesmo

modo, para ser educativo, o museu precisa ser espaço de cultura e não um

museu educativo. È na sua precípua ação cultural que se apresenta

possibilidades de ser educativo. O museu não é lugar de se ensinar a cultura,

mas, sim, lugar de cultura. (KRAMER, 1998, p. 20 apud LEITE, 2005, p.

36)

O museu precisa ser museu, não um museu educativo, predomina a ideia da educação

sempre mediada, como se a própria composição da exposição não fosse educativa. Para

proporcionar uma experiência com o conhecimento o museu não precisa ser educacional. Não

queremos dizer para ignorar as atividades sistematizadas, ou abolir os setores educativos dos

museus, mas que esses deveriam estar preocupados em fornecer uma experiência menos

escolarizada. Neste contexto, é importante a refletir sobre o tipo de experiência que os

espaços escolares estão filiados.

69

Em nosso contexto social existe a super valorização de uma modalidade educativa, a

formal, essa divisão burocratiza e reforça o distanciamento entre educação e a vida. Como um

ato de poder em prol de uma episteme que proporcionaria segurança. Há uma relação nem

sempre explicitada entre a construção de determinada topografia do social, que passa pela

institucionalização e delimitação hierarquizante das práticas educacionais:

(...) Percebe-se que essas classificações foram elaboradas sobre aqueles

objetivos que dão peso maior ao "aumento de produtividade", em detrimento

de uma "mudança de atitudes". Essa posição traduz uma conformidade com

a estrutura atual da sociedade, em geral, e do sistema educacional em

particular — que leva a considerar o extra-escolar como mero complemento

do escolar. (Tipologia da educação extra-escolar no Brasil, 1980, P.22)

Essa breve análise da relação entre educação e museus, aponta para a proximidade dos

espaços museais com uma dimensão educativa; muito próxima de uma dimensão pedagógica,

o que de alguma maneira afasta a educação museal de um processo educativo digamos

museológico. O próximo capítulo tem o objetivo de fazer uma reflexão sobre as diferentes

noções que acompanham a concepção de educação museal. Com destaque para as

especificidades da experiência educativa museal brasileira. O intuito é entender melhor o que

significa o processo museológico como ação educativa. Para isso, vamos fazer uma análise de

alguns conceitos sobre educação museal.

70

4. NOÇÕES SOBRE A DIMENSÃO EDUCATIVA DO CAMPO MUSEAL

BRASILEIRO

No capítulo anterior, observamos que as escolas e os museus, em seu processo inicial de

institucionalização, atuaram como dispositivos voltados a educar a população, com narrativas

destinadas à construção de um discurso nacional, guardadas as devidas proporções, em

relação, ao acesso pela população, e às especificidades de cada espaço. Há semelhanças entre

os elementos históricos que conformaram um determinado modelo de construção de

conhecimentos, que permeou o campo escolar e museal. Esses fatores favoreceram a tentativa

de escolarização do museu. Isso, em uma ótica ocidental; pois, essa discussão é ampla, e não

pretende-se fazer uma generalização. O texto não deseja ter um caráter universalista, mas

traçar um panorama do período, com o tema proposto.

Este capítulo tem o objetivo de fazer uma reflexão sobre a construção de conceitos a

respeito da educação museal, com destaque para as especificidades da experiência educativa

museal brasileira. O intuito é compreender como/se o museal pode significar uma maneira

diferente de construir o conhecimento. Pretende-se capitalizar algumas definições sobre

educação museal, e refletir sobre as possíveis relações que esses discursos estabelecem. Em

paralelo, ao que já apresentamos sobre a forma escolar.

E observar algumas significações do processo de institucionalização desse campo,

através da Plataforma de diálogos para construção do Programa Nacional de Educação

Museal /PNEM; e através da análise das Cartas de Petrópolis (2010) e Carta de Belém (2014)

consideradas, os documentos, que sintetizam os princípios e parâmetros, para a construção de

uma Política Nacional de Educação Museal, pelo Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM.

No estudo optamos pelo uso da expressão educação museal, ao invés de educação em

museus, ou educação e museus, não apenas por uma questão de nomenclatura, mas pelo

potencial que está aberto na constituição desse conceito, na medida em que o campo está em

formação. É preciso ressaltar que ao propor uma análise sobre o conceito de educação museal,

não que dizer que lidamos com uma concepção acabada, mas de discursos que se tornaram

arquivos, e continuam em processo de construção. Essa percepção é importante para observar

as múltiplas narrativas que compõem esse cenário, com isso, construir críticas e diferentes

perspectivas sobre o tema.

71

4.1 O educativo no museu: noções sobre a experiência museal brasileira

Uma mudança conceitual se operou dentro dos museus, com reflexos na atuação

dessas instituições e na forma como elas se relacionam com a sociedade. Essa

mudança em andamento até os dias atuais, teve inicio na segunda metade do século

XX e transferiu a principal vertente de atuação dos museus, historicamente voltada

para guarda e estudo dois seus acervos para o público.

Luciana Conrado Martins

A relação entre coleções especializadas, museus, divulgação do conhecimento e a

valorização de uma memória nacional, estabelecidas na Europa, nos séculos XVII e XVIII.

No Brasil ganha contornos mais nítidos no século XIX, com o surgimento dos primeiros

museus brasileiros. (SUANO, 1986, p.38). No entanto, a primeira ação, de cunho

museológico no Brasil, de acordo com Mario Chagas (2009), ocorreu durante a invasão

Holandesa em Pernambuco, uma experiência isolada; a instalação de um museu no grande

parque do Palácio de Vrijburg 16

, no século XVIII. Podendo essa ação, dentro do contexto

museal brasileiro, ser entendida como um ato educacional, ―parte de um projeto civilizador de

modernidade‖ (CHAGAS, 2008, p. 64.).

A transferência da posse privada, dos colecionadores, restrita ao acesso de algumas

pessoas às coleções, para um espaço público, através da gestão do Estado, é paralela aos

novos princípios de surgimento do Estado-nação moderno. As exposições serviam para

educação das populações, para expor os símbolos do Antigo Regime, transformando o museu

em instrumento que servia para o bem do Estado. Os primeiros museus brasileiros foram

diretamente influenciados pelo modelo dos grandes centros europeus e atuaram como

importantes espaços de pesquisa e valorização das Ciências Naturais. Influenciado por uma

visão positivista.

16

―O Palácio também era conhecido como Palácio das Torres pelas duas partes quadrangulares elevadas nas

laterias do prédio. Estas torres serviam como posto de observação e farol para os navios em demanda ao porto do

Recife. Seus salões estavam decorados com pinturas de motivos do País e objetos trazidos de várias partes do

mundo, formando uma coleção de curiosidades, como era moda na Europa. O Conde Mauricio de Nassau, alem

de tratar dos assuntos oficiais da conquista Holandesa, recebia as pessoas gradas nos jardins do palácio para

festas e encontros culturais. Friburgo serviu de residência oficial a vários governadores da província de

Pernambuco passando por diversas reformas até ser demolido em 1786. No local foi construído o prédio do

Erário Régio, que por sua vez também foi demolido, surgindo em 1840 à nova sede do governo. O edifício

passou por reformas em 1852, 1873 e 1922 quando assumiu o aspecto atual. O Palácio do Campo das Princesas,

como é denominado hoje‖.

Maiores informações em: http://mauritsstadtblog.blogspot.com.br/2013/09/vrijburg.html

72

O primeiro museu com objetivo de forjar uma identidade nacional, ―civilizar o Brasil‖

(SANTOS, 2002), através do seu desenvolvimento científico, com princípios educativos, foi o

Museu Real17

(1818) que depois passou a se chamar Museu Imperial e Nacional (1824); e

posteriormente Museu Nacional (1890). Essas mudanças de denominação do Museu Real

acompanham aspectos das transformações, políticas, econômicas, culturais, sociais. O Museu

Real foi fundado sob o comando do imperador D. Pedro II, e tinha a função de:

Propagar os conhecimentos e estudos das ciências naturais no Reino do

Brasil, que encerra em si milhares de objetos dignos de observação e exame

e que podem ser empregados em benefício do comércio, da indústria e das

artes. BRASIL, 1818 (Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da

Saúde no Brasil 1832-1930).

Segundo Mario Chagas (2009). O Museu Real passa a contribuir na composição do

cenário museológico internacional, ao lado de outros grandes museus de tradição européia,

preocupados com a classificação e com a formação de um acervo que representa-se a nação

que se formava (SANTOS, 2002). Nesse período, muitos museus europeus aumentaram suas

coleções, por intermédio de saques e transferência de bens de suas colônias em todas as partes

do mundo. (CÂNDIDO, 2013, p.35). Até os dias atuais, muitos grupos sociais tentam reaver,

juridicamente, objetos, subtraídos de seus contextos originais.

Posteriormente, surgem outros museus, marcados com o tema do discurso nacionalista

como: o museu do exército (1846), o da Marinha (1868), o Museu do Instituto Histórico

Brasileiro (1894), Museu Histórico Nacional (1922), entre outros. São instituições que

buscam no passado os elementos responsáveis para se construir a imagem de nação. Os

museus etnográficos também surgem nessa época, como: o Museu Paraense Emílio Goeldi

(1866), o Museu Paulista (1894); junto com outras tipologias de museus, em sua maioria

museus ―enciclopédicos‖, com enfoque: na visão de preservação do patrimônio nacional,

valorização e resgate da memória. Alguns desses museus, fundados até o ano de 1900, podem

ser visualizados no quadro abaixo:

17

Incorporou o acervo da extinta Casa de História Natural (1784), uma das primeiras experiências de museu,

popularmente conhecida como Casa dos Pássaros devido à grande quantidade de aves empalhadas. Criada em

1784 pelo Vice-Rei D. Luiz de Vasconcellos e Sousa, a Casa de História Natural colecionou, armazenou e

preparou, por mais de vinte anos, produtos naturais e adornos indígenas para enviar a Lisboa. Em 22 de junho de

1813, o Príncipe-Regente D. João mandou extinguir todos os cargos daquela instituição, e seus móveis e

produtos de mineralogia e de história natural foram para a Academia Real Militar, no Largo de São Francisco de

Paula. Somente cinco anos mais tarde o Príncipe-Regente criaria o Museu Real do Rio de Janeiro, que

incorporou aquele acervo da Casa dos Pássaros. (Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no

Brasil, 1832-1930). Atualmente, o museu está aberto, após ter sido fechado por não pagamento de funcionários,

esse fato, ilustra a realidade em que se encontram muitos museus brasileiros.

73

Podemos dizer que, enquanto instituições públicas, os museus chegaram até a metade

do século XIX com uma postura elitista, e uma mistura de conceitos mal compreendidos. Na

análise de Manuellina Duarte Cândido:

O modelo é, portanto, enciclopedista, classificatório e evolucionista. Além

dessas balizas, os museus do século XIX em geral se caracterizam por:

localização nas grandes metrópoles coloniais, profusão de referências a

conquista territoriais, poder político, exploração científica, gosto estético

afinado com a representação das elites e de seus valores. (CÂNDIDO, 2013,

p. 35)

Nas primeiras concepções de museu público os discursos eram voltados para a

valorização de uma cultura material, centrada em objetos que representavam um gosto

burguês. E apesar da abertura, o acesso a esses espaços continuava limitado; freqüentado por

pequenos grupos de intelectuais, burgueses, pesquisadores e artistas:

―É certo que nessa época, no Brasil, apesar de abertos, os museus tinham

como público apenas especialistas, seja pela ideia que se tinha de sua função

social, seja pela sua expografia ou pelos objetos que colecionava como

exemplos de uma ideia de nação a ser inventada e consolidada. (SANTOS,

2006, apud CASTRO, 2013, p. 21).

Nome do Museu Cidade UF Ano de Criação

Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro

Rio de Janeiro RJ 1808

Museu Nacional Rio de Janeiro RJ 1818

Museu do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro Rio de Janeiro RJ 1838

Museu do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambucano

Recife PE 1862

Museu Paraense Emílio Goeldi Belém PA 1866

Museu Naval Rio de Janeiro RJ 1868

Museu do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas Maceió AL 1869

Museu Paranaense Curitiba PR 1874

Museu de Ciência e Técnica da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto

Ouro Preto MG 1876

Museu Inaldo de Lyra Neves - Manta Rio de Janeiro RJ 1889

Museu de Numismática Bernardo Ramos Manaus AM 1900

Quadro 01 - Museus cadastrados, fundados até o ano de 1900

Quadro 1 - Museus cadastrados que foram fundados até o ano de 1900.

Fonte: Cadastro Nacional de Museus, Brasil, 2010

74

Existiam vários fatores que excluíam a maior parte da população brasileira, que não era

letrada, e não tinha acesso aos círculos fechados de discussão científico-cultural. Portanto, a

divulgação da ciência era feita por uma pequena parcela da sociedade, para outra pequena

parcela da sociedade. A ideia de museu como uma instituição administrada pelo Estado e

voltada para a instrução ganhou terreno na última metade do séc. XIX. Muitos museus foram

abertos com objetivos políticos, e com o intuito de manter essa nova ordem, instruir a

população18

.

As transformações econômicas, sociais e culturais ocorridas nas últimas décadas do

século XIX e início do século XX, aliadas aos desdobramentos do período pós Guerra

mundial, suscitaram novas questões sobre o papel da educação. O gráfico abaixo demonstra o

Crescimento do número de museus, de 1910 até 2009. Observa-se um maior crescimento de

museus, a partir da década de 60/70, e um aumento ainda maior dos anos 90 aos anos 2000:

Gráfico 02- Crescimento do número de museus, de 1910 até 2009.

18

O Louvre (1793) foi um desses museus, assim como o Belvedere de Viena (1783), o Museu Real dos Países

Baixos, em Amsterdam (1808), o Museu do Prado, em Madri (1819), o Altes Museum, em Berlim (1810), e o

Museu do Hermitage, em Lenigrado (1852). O termo museu passou a ser aplicado em relação a coleções de

objetos de valor histórico e artístico. (SUANO, 1986).

Fonte: Cadastro Nacional de Museus (2010)

75

O aumento significativo no número de museus, principalmente no século XX, e o

destaque do seu aspecto social/educativo, está associado ao processo de preservação da

memória. Nas experiências iniciais de museus, ainda não havia a discussão do museu como

um espaço aberto, educativo. No entanto, os museus eram vistos como um ambiente favorável

de discussão do uso da educação para o desenvolvimento da sociedade. Isso reforçou seu

potencial educativo, e deu início ao processo de institucionalização da sua função educativa.

Os primeiros movimentos que vão identificar e reconhecer o museu como um espaço

educativo datam da segunda metade do século XX. Influenciados por uma visão construtivista

de educação e inspirado pelas idéias do escolanovismo. Para Cury (2013) o museu há muito

tempo tem seu caráter educativo definido, mas teve sua ação por muito tempo mais ligada a

pesquisa. A incorporação da comunicação, como elemento constitutivo do museu, junto á

pesquisa, conservação, preservação, pode ser visto como um marco de transição, uma nova

filiação conceitual e empírica para a instituição.

Não existe um consenso em relação à história das ações educativas nos museus, devido

à diversidade de instituições, à natureza dos acervos, assim como as diversas formas de

interação que estabelecem com o público, não sendo possível traçarmos uma cronologia única

das ações educativas. No Brasil, podemos dizer que elas englobam desde ações pontuais de

caráter experimental local até estratégias institucionais e políticas de abrangência nacional.

Trata-se de um campo bastante amplo e muito diversificado. Para Alice Bemvenuti (2008): ―a

história das ações educativas nos museus brasileiros percorre desde a realização de ações

experimentais isoladas até as intenções políticas, inicialmente desenvolvidas em museus de

história‖. (BEMVENUTI, 2008, p.23).

O primeiro setor educativo, no Brasil, foi criado em 1927, por Edgard Roquette Pinto19

,

uma Seção de Assistência ao Ensino de História Natural, no Museu Nacional, antigo Museu

Real, já com o intuito de auxiliar a formação escolar oferecendo, porém, uma forma

alternativa de ensino, centrado no objeto, uma educação extra-escolar. Um pouco antes desse

período, a Semana de Arte Moderna de 1922, movimento cultural que reuniu os principais

artistas modernistas brasileiros; questionava: a noção de nação que estava sendo imposta, a

exclusão, a desigualdade social brasileira, e o elitismo da arte e sua função social. Nesse

contexto, os museus eram vistos como espaços legitimadores do discurso oficial, da ascensão

progressiva da burguesia.

19

Roquette-Pinto fez parte de um grupo de intelectuais e cientistas, no início do século 20, que tinham como

propósito a valorização da pesquisa. Ele desenvolveu atividades de divulgação científica no museu – instituição

que, para ele, deveria ter também caráter educativo. (MOREIRA; MASSARANI, ARANHA, 2008).

76

A educação nos museus, nesse período é usada como sinônimo de educação

patrimonial existe uma clara associação da dimensão educativa museal para a valorização do

patrimônio cultural brasileiro. Em 1946, é criado o conselho Internacional de Museus (ICOM)

e sua vinculação a Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura

(UNESCO) é realizada em 1947. A criação dessas instituições e suas possíveis vinculações

influenciaram a composição de um cenário museal nacional. Segundo o Relatório de gestão

da Política Nacional de Museus (2010):

Se existem gestos divisores de águas no campo museal brasileiro, eles

podem ser identificados na criação do Curso de Museus (1932) e na criação

da Inspetoria de Monumentos Nacionais (1934), dois acontecimentos já

produzidos no âmbito do Museu Histórico Nacional. O primeiro foi

responsável pela institucionalização da Museologia e dos estudos de museus

no Brasil, enquanto o segundo acabou se tornando um dos embriões do

Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), criado em

1936. (RELATÓRIO DE GESTÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE

MUSEUS, 2010, p. 22)

O aspecto educativo, no Brasil, ganha contornos mais nítidos relacionado com a

concepção de que Preservar o Patrimônio Histórico é um ato educativo, em 1936, e foi

proposto por Mário de Andrade, no período da criação do anteprojeto de criação do Serviço

do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN). Posteriormente, transformado no

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional- IPHAN: ―nesse e em outros

documentos, Mário de Andrade fez questão de valorizar os pequenos museus, os museus

populares, os museus como espaços privilegiados da república e também a dimensão

educacional dos museus‖. (IBIDEM, p. 22).

O documento ―A memória do pensamento museológico contemporâneo‖, publicado

pelo Comitê Brasileiro do ICOM, organizado por Marcelo Mattos Araújo e Maria Cristina

Oliveira Bruno (1995), conta a história do pensamento Museológico Brasileiro entre as

décadas de 1950 e 1990. Os eventos considerados mais relevantes para as mudanças

sociais/educativas no campo museal são: Seminário Regional da Unesco sobre a função

educativa dos museus, ocorrido no Rio de Janeiro em 1958; a Mesa Redonda de Santiago do

Chile de 1972; a Declaração de Quebec de 1984 e a Declaração de Caracas de 1992.

A Declaração do Rio de Janeiro foi promovida pelo Seminário Regional da UNESCO.

Neste documento, a definição de museu já contém como uma das suas funções, a missão

educativa, e a exposição como a principal forma de comunicação. E o responsável pelo

trabalho educativo em museus é o ―pedagogo do museu ou um serviço pedagógico, cujo chefe

77

é ajudado por pedagogos especializados ou não, nas diversas atividades didáticas: visitas

guiadas e outras atividades internas ou externas20

‖. Sobre a relação entre museu e educação, o

documento diz:

O Museu pode trazer muitos benefícios à educação. Esta importância não

deixa de crescer. Trata-se de dar à função educativa toda a importância que

merece, sem diminuir o nível da instituição, nem colocar em perigo o

cumprimento de outras finalidades não menos essenciais: conservação física,

investigação científica, deleite, etc (ARAÚJO; BRUNO, 1995, p. 11 apud

BERTELLI, 2010, 23).

A publicação do folheto intitulado ―O museu Ideal‖, também em 1958, de Regina

Real21

, reforça a visão da Declaração do Rio, de uma concepção de museu centrada no objeto,

com a função de ilustrar os conteúdos abstratos do ensino escolar. O folheto apresenta o

trabalho educativo como um ―serviço complementar‖ dos museus, e indica que o trabalho no

educativo deveria ser feito por conservadores ou naturalistas especializados em pedagogia,

com o objetivo de: ―a) organizar cursos e conferências; b) orientar visitas guiadas; c) dar

atenção especial aos escolares; d) preparar gráficos, selecionar material técnico ou

reproduções para escolas e instituições congêneres‖ (REAL, 1958, p. 19-20). Regina aposta

em uma colaboração entre Museologia e Pedagogia. As primeiras experiências educativas, no

campo museal brasileiro, de maneira institucionalizada, estão relacionadas a concepções

pedagógicas.

A reunião de 1958 no Rio, com a finalidade de discutir a função educativa dos museus,

é considerada um marco importante no processo de transformação das instituições

museológicas na América Latina. Mas é o encontro da Mesa-Redonda de Santiago do Chile,

ICOM, 1972. Que demarca um lugar de maior representabilidade do museu. Quando é

questionado seu lugar social, e lançada às bases para o movimento em prol da Nova

Museologia, e os Princípios de Base do Museu Integral: ―o museu integral proposto na

ocasião levava em consideração a totalidade dos problemas da sociedade, pois os museus

passam a ser compreendidos como ação e como instrumentos dinâmicos de mudança social‖.

(BERTELLI, 2010, p.73).

20

Declaração do Rio de Janeiro de 1958 In: Legislação de Museus, IBRAM, 2012, p. 90.

21

Museóloga, formada pelo Curso de Museus do Museu Histórico Nacional, membro do International Council

of Museums (ICOM).

78

A mesa de Santiago teve a influência do pensamento de Paulo Freire, o educador foi

convidado para comparecer ao evento, mas não pôde estar presente. No entanto, alguns dos

temas abordados na Declaração podem ser filiados as concepções que Freire defendia como

importante no cenário educacional: uma educação politizada; a busca de uma liberdade, que

da voz aos ―oprimidos‖. Sobre a relevância da mesa de Santiago:

Este encontro propôs mudanças substanciais como a revisão dos estatutos e

da definição dos museus; propôs maior ênfase na cooperação internacional

entre os museus; afirmou a importância do meio ambiente na vocação dos

museus. No entanto, a identificação da dimensão política no conceito dos

museus e o questionamento sobre qual seja o papel do museu na sociedade,

nortearam e deram o tom para a mesa de Santiago do Chile no ano seguinte.

Com a diferença de ter sido realizada em país da América do Sul, no idioma

oficial espanhol e juntando museólogos e especialistas das Américas, a mesa

redonda, trouxe para o universo dos museus a preocupação com o rumo dos

museus no mundo e tentou sintetizar na noção de museu integral todo o

potencial político e social dos museus frente a demandas sociais.

(BERTELLI, 2010, p.73).

Ainda sobre as reformulações a respeito do papel social dos museus, A Declaração de

Québec, 1984, inaugura uma preocupação específica e sistemática a respeito da Nova

Museologia, e estabelece as diretrizes deste movimento, retomando questões da Mesa de

Santiago. Para Mario Canova Moutinho (1995), a Declaração de Quebec confrontou a

comunidade museal com práticas que revelavam uma museologia ativa e aberta ao diálogo. O

documento da Declaração de Quebec afirma a função social dos museus e o caráter global de

suas intervenções. De acordo com a Declaração:

A museologia deve procurar, num mundo contemporâneo que tenta integrar

todos os meios de desenvolvimento, estender suas atribuições e funções

tradicionais de identificação, de conservação e de educação, a práticas mais

vastas que estes objetivos, para melhor inserir sua ação naquelas ligadas ao

meio humano e físico. (ARAÚJO; BRUNO, 1995, p. 30 apud BERTELLI,

2010, 24).

E a Declaração de Caracas, 1992, reforça o museu como um espaço comunicacional. O

documento de Caracas traz como função museológica fundamental o processo de

comunicação que orienta as atividades específicas do museu, como a coleção, conservação e

exibição do patrimônio cultural e natural. Mais do que fontes de informação ou instrumentos

de educação, os museus são ―espaços e meios de comunicação que servem ao estabelecimento

da interação da comunidade com o processo e com os produtos culturais‖ (HORTA, 1995,

p.39 apud BERTELLI, 2010, p.73). Para Maria de Lourdes Horta, em 1992 os museus

79

―procuram ‗se situar‘, descobrir o seu espaço no território social em que estão inseridos, e

enfrentam as dificuldades deste processo‖ (HORTA, 1995, p. 34).

A noção de museu como instrumento de desenvolvimento social; e o surgimento de

museus locais, de iniciativa comunitária, desconhecidos antes de 1972. È a noção da função

social do museu, que traz a responsabilidade política para o esses espaços. De acordo Hugues

de Varine, (1995) que esteve presente na Mesa-Redonda de Santiago, à revisão de estatutos e

a afirmação da importância do meio ambiente na vocação dos museus, proporcionou o

surgimento da dimensão ―política‖ no conceito de museu. Essas modificações iniciadas na

maneira de compreender o papel social dos museus é uma condição essencial para a tentativa

de integração dos mesmos à sociedade:

O monólogo transforma-se em diálogo, a função pedagógica (afirmada em

1958 no Rio de Janeiro) transforma-se em ‗missão comprometida‘, não mais

com a sociedade, em termos vagos, mas com a comunidade em que estão

inseridos, ou em que buscam inserir-se para ter alguma razão de existir

(HORTA, 1995, p.34 apud BERTELLI, 2010, 25).

As Declarações consideram que os museus podem e devem desempenhar um papel

importante na educação da comunidade. E tornaram-se norteadores das práticas do universo

museal brasileiro. No final da década de 70, Aloísio de Magalhães, consolidou o lema ―a

comunidade é a melhor guardiã de seu patrimônio‖ e o tema da educação foi recolocado em

pauta nas diferentes ações promovidas pelo Centro Nacional de Referência Cultural- CNRC.

Mas foi a partir da década de 80, que, o tema da educação veio a ser novamente

colocado, como uma alternativa determinante no processo de preservação de bens culturais,

através de ações educativas, um referencial neste processo foi o encontro técnico coordenado

por Maria de Lourdes Horta, com a participação de especialistas do English Heritage, da

Inglaterra, realizado em 1983 pelo Museu Imperial, em Petrópolis. O primeiro programa

institucionalizado e estruturado em âmbito nacional nesta área, envolvendo escolas, cultura

popular e patrimônio foi o Projeto Interação, criado pelo Governo Federal, dentro do III Plano

Setorial para a Educação, Cultura e Desporto (1980 -1985), ele pretendia a interação entre a

educação e os contextos culturais populares22

.

22

A proposta consistia em propiciar às comunidades uma forma de participar dos processos educacionais, de

maneira que a apreensão de outros conteúdos culturais se fizesse a partir dos valores próprios da comunidade, e a

escola deveria refletir o contexto no qual estava inserida, utilizando a própria realidade na construção dos

currículos, que deveriam utilizar teatro, dança cinema, música, artes plásticas, fotografia, desportos, museus e

casas históricas, na geração de situações de aprendizagem. (HORTA,1983)

80

A década de 1980 é marcada por grandes lutas em prol de uma educação libertadora,

crítica e autônoma, em contraste a educação ―bancária‖, transmissiva, que dominava a escola

no Brasil. Esse período marca o questionamento ao processo de ―escolarização‖ do museu. A

Nova Museologia buscava espaço entre as práticas e a legitimação legal, essa corrente

posicionava-se exatamente contra as práticas tradicionais, questionava-se os métodos, os

referenciais teóricos, os conteúdos trabalhados nas ações educativas, consideradas:

descritivas, transmissivas, e atreladas ao currículo escolar.

O Programa Nacional de Museus, instalado, em 1983, visava à revitalização dos museus

brasileiros, através do desenvolvimento de projetos inspirados no Movimento Internacional da

Nova Museologia (MINOM), que se organizou na década de 1980. Mas as discussões sobre

políticas governamentais em museus só se intensificaram nos anos 2000. Esse período,

comparado a outros, foi o que mais consolidou políticas, leis e programas para a área museal,

inaugurando uma verdadeira institucionalização da questão das políticas públicas em museus

no Brasil. A Política Nacional de Museus- PNM, criada em 2003, estabelece novos marcos

conceituais e práticos para a gestão da cultura brasileira. Em 2004, é criado o Sistema

Nacional de Museus23

, com o objetivo de articular e apoiar financeiramente projetos

museológicos:

Um dos primeiros desdobramentos institucionais da Política Nacional de

Museus foi a criação do Departamento de Museus e Centros Culturais

(DEMU) no âmbito do IPHAN, em 2003. A singularidade do conjunto de

museus do IPHAN e a inexistência formal de um setor na área federal

voltado às ações no campo da museologia eram motivos suficientes para a

criação do DEMU. Seu surgimento no cenário museal brasileiro acarretou,

de imediato, o fortalecimento de todos os museus do MinC. Na sequência

deste processo, foi criado o Sistema Brasileiro de Museus, outra ação

fundamental para a implantação da Política Nacional de Museus.

(RELATÓRIO DE GESTÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE MUSEUS,

2010, p. 28)

A missão da Política Nacional de Museus de promover melhorias no setor museológico,

é reiterada, no âmbito político, com a criação, em 2009, do Instituto Brasileiro de Museus-

IBRAM24

, autarquia vinculada ao Ministério da Cultura (MinC). O IBRAM é o órgão federal

responsável pela elaboração, implementação e fiscalização das ações museais no Brasil, é o

23

Criado pelo decreto n° 5.264, de 05 de novembro de 2004, e revogado pelo decreto nº 8.124, de 17 de outubro

de 2013.

24

O decreto presidencial nº 8.124, de 17 de outubro de 2013, regulamenta a Lei 11.904/2009, denominada

Estatuto de Museus, e a Lei 11.906/2009, de criação do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM).

81

responsável direto pela administração de trinta museus pelo país. O Estatuto de Museus25

(2009) considerado uma das principais ferramentas de gestão do IBRAM, regulamenta o

funcionamento dos museus desde a criação até o fechamento.

Em 2010, aconteceu o I Encontro de Educadores do IBRAM. O resultado desse evento

foi à elaboração da Carta de Petrópolis, considerada documento referencia para debater e

implementar uma Política Nacional de Educação Museal. Em 2012, o IBRAM lançou um

Fórum Virtual para o debate de um Programa Nacional de Educação Museal26

. No ano de

2010, também foi apresentado o Plano Nacional Setorial de Museus, que contém propostas de

políticas a serem implementadas no campo museal durante o decênio 2010-2020 e apresenta

Diretrizes, Estratégias e Ações para a educação museal.

No entanto, em relação ao aspecto educativo, ele é pouco citado, tanto o Estatuto de

Museus quanto o IBRAM, deixam muitas questões a desejar, não apresentam propostas

especificas, mas concepções generalistas.

Na lei de criação do IBRAM ele é mencionado em seu artigo terceiro, no inciso VIII:

VIII – desenvolver processos de comunicação, educação e ação cultural, relativos ao

patrimônio cultural sob a guarda das instituições museológicas para o reconhecimento dos

diferentes processos identitários, sejam eles de caráter nacional, regional ou local, e o respeito

à diferença e à diversidade cultural do povo brasileiro;

E em seu artigo quarto, sobre as competências do IBRAM, é referido nos incisos IV e

VII:

IV – promover o fortalecimento das instituições museológicas como espaços de produção e

disseminação de conhecimento e de comunicação;

25

O Estatuto torna obrigatória a elaboração e implementação de um plano museológico para cada instituição,

que deve conter um diagnóstico participativo, sistemas de segurança, identificação dos espaços conjuntos e

patrimoniais e a identificação dos públicos-alvos. O estatuto tem o objetivo de democratização do espaço não

apenas para o público, mas para o financiamento das unidades museais, pois inclui museus de todos os portes, os

comunitários e os ecomuseus. No entanto, a maior parte dos museus, atualmente, não possui plano museológico

e não recebe assistência financeira suficiente.

26

Essas questões serão abordadas na seção 4.3 Programa Nacional de Educação Museal /PNEM: Plataforma de

diálogos, deste capítulo.

82

VII – estimular o desenvolvimento de programas, projetos e atividades educativas e culturais

das instituições museológicas.

O Estatuto de Museus também apresenta uma preocupação suscita no que diz respeito à

educação museal. Existe dois artigos que versam sobre a educação:

Art. 29. Os museus deverão promover ações educativas, fundamentadas no respeito à

diversidade cultural e na participação comunitária, contribuindo para ampliar o acesso da

sociedade às manifestações culturais e ao patrimônio material e imaterial da Nação.

Art. 30. Os museus deverão disponibilizar oportunidades de prática profissional aos

estabelecimentos de ensino que ministrem cursos de Museologia e afins, nos campos

disciplinares relacionados às funções museológicas e à sua vocação.

Os artigos destacados identificam o papel educativo dos museus, mas não discutem

sobre as problemáticas da institucionalização do campo de educação museal. Na análise de

Castro (2013) apesar de importantes para o funcionamento das instituições, essa posição não

garante nem a obrigatoriedade da existência de setores educativos nos museus, com espaço

nos organogramas institucionais, na distribuição de verbas etc., nem a garantia da realização

de uma formação específica para os educadores em museus, uma vez que não se tem a

obrigatoriedade da existência de trabalho educativo nos museus.

Em relação as ausência de questões mais especificas sobre a educação museal e o

trabalho educativo nos museus no Estatuto dos Museus e no IBRAM, o Plano Nacional

Setorial de Museus, (2010) apresenta uma formulação mais específicas:

Diretriz 01: Assegurar fomento para pesquisas que contemplem a produção simbólica, a

diversidade cultural no espaço museológico e para o desenvolvimento de ações educativo-

culturais e formação na área dos museus [...]; Estratégia 02: Implantar política federal,

estadual e municipal visando à legitimação do educador no museu; Ações: […] Contratar por

meio de concurso público e CLT recursos humanos qualificados para trabalhar na área da

educação em museu; Meta quantitativa: Dispor de ao menos um profissional por museu

atuando na área de educação; Meta temporal: 5 anos (IBRAM, 2012, p. 44).

83

Neste curto panorama, percebe-se um crescente interesse político/governamental por

práticas museológicas. Mas, esse fato não é uma unanimidade, e apesar dos esforços, essas

políticas ainda estão distantes da realidade dos museus. O Relatório de gestão da Política

Nacional de Museus aponta, em termos de pontos críticos e ameaças:

Destacam-se: a precariedade de nível jurídico e administrativo de muitos

museus; a falta de eficácia nos procedimentos técnicos de documentação e

gestão de acervos; a carência de políticas de segurança e conservação

preventiva; a fragilidade dos instrumentos de gestão dos museus e o

desempenho pouco eficaz da sua função social; a pouca valorização da

função pesquisa; coleções deficientemente inventariadas, conservadas,

estudadas e divulgadas; a baixa ocorrência de periódicos especializados para

a divulgação da produção de conhecimento e práticas museais.

(RELATÓRIO DE GESTÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE MUSEUS,

2010, p. 29).

Apesar do aumento do volume no número de museus nos últimos anos, eles não são

consensos, ainda existe um afastamento da população em relação aos museus. Também

existem muitas disparidades regionais, a imagem abaixo, a partir dos dados do Cadastro

Nacional de Museus (2010), demonstra a relação entre habitantes por número de museus:

FIGURA 02- Relação habitantes por número de museus (2015):

Fonte: Cadastro Nacional de Museus (CNM)

84

Das 3.586 instituições cadastradas e mapeadas no país, até junho de 2015, 2.408 desses

museus estão no Sul e no Sudeste. Essas regiões concentram 67,2% dos museus do país, segundo

os dados do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). As regiões com as menores concentrações de

museus são as mais pobres, a Norte (4,7%) e a Centro-Oeste (7,42%). Esses dados são de alguma

maneira, conseqüência das disparidades das regiões do país, em diversas estâncias.

Tabela 01- Relação habitantes por número de museus:

Fonte: Instituto Brasileiro de Museus –IBRAM, 2015.

85

Existe muita desproporção no cenário museal, seja em relação a número de museus por

estado, e a própria condição estrutural dos mesmos, entre tantos outros aspectos. Ocorre uma

mistura de compreensões, sobre a própria noção do que é um museu, um dilema vivenciado

até hoje. Apesar da ampliação, em relação ao acesso, as novas tipologias e plataformas, esses

só atingem uma pequena parcela da população. Até os dias atuais, mesmo com a abertura dos

museus ao grande público; ainda existe um distanciamento do mesmo com as atividades

museais.

Perdura em boa parte do imaginário social nacional, uma relação do museu com um

discurso de preservação do passado, associada à vida pessoal de maneira negativa. A frase:

―quem vive de passado é museu‖, recorrentemente aparece em músicas e campanhas

publicitárias. As imagens (03,04,05), abaixo servem de ilustração:

Figura 03- Imagem de uma Campanha Publicitária: ―Armário não é Museu‖

Fonte: acervo pessoal da pesquisadora, 2015.

86

Figura 04- Detalhe da imagem Campanha Publicitária: ―Armário não é Museu‖

Figura 05- “Willy Wonka Irônico” Museu do Memes27

27 A montagem do ―Willy Wonka Irônico‖, sintetiza uma critica ao museu como algo ligado apenas ao passado,

mas ao mesmo tempo ele é capturado para estar no museu dos Memes.

Fonte: http://www.museudememes.com.br/

Fonte: acervo fotográfico pessoal da pesquisadora, 2015.

87

No cenário contemporâneo é necessário considerar as mudanças ligadas ao

desenvolvimento da tecnologia, e as diferentes possibilidades de relações com a memória, da

impressionante velocidade em produzir arquivos. Em uma época marcada por um projeto de

virtualidade forte, o museu de Memes (figura 06) por exemplo, se enquadra em uma tipologia

de museu virtual, fortemente marcado pelo efêmeros fenômenos de internet. A questão de

maior interesse nesse trabalho, a educação museal, está inserida, em um panorama mais

amplo, pois o modo como o patrimônio é compreendido, vai repercutir na maneira de

entender a educação.

Figura 06- Imagem Museu de Memes28

28

―meme (uma abreviação do grego μίμημα [míːmɛːma]) · é um fenômeno típico da internet, e pode se

apresentar como uma coleção de textos, imagens ou analogias, comportamentos difundidos, desafios ou

memórias compartilhadas. memes são geralmente efêmeros mas no #MUSEUdeMEMES eles se tornam

memória‖. Fonte: http://www.museudememes.com.br/

Fonte: http://www.museudememes.com.br/

88

É preciso destacar, que, neste estudo, não pretendemos, ou pensamos ser possível,

discutir sobre todas as problemáticas e experiências educativas do campo museal brasileiro.

Nesta breve reflexão o intuito foi compreender melhor o cenário museal nacional e levantar

algumas questões e perspectivas. Além disso, vale ressaltar que não limitamos nossa

compreensão de educação museal apenas a caracterização dos setores educativos dos

museus29

.

O potencial educativo do museu, não pode ser restrito só ao ato intencional de educar,

pois toda a atmosfera museal, as características específicas dos museus, acervo, arquitetura,

etc. podem ser fonte de conhecimento. Funcionam a partir da comunicação, produção e

apresentação de muitas mensagens visíveis e invisíveis (o que as peças/objetos representam

materialmente e simbolicamente). No entanto, também deve ser dito, que não existem

maneiras infalíveis de determinar essa intenção, ou de investigá-la.

No universo museal, as exposições desempenham um importante papel comunicacional,

de representação e produção de narrativas. Museus são espaços do imaginário, fazem

mediações entre a imaginação e os espaços reais. Representam um tipo de ponte, entre o que

se conhece e o que se imagina. Na definição de Krzysztof Pomian (1984), existe uma relação

entre o visível e o invisível, deste modo, não importa tanto o objeto em si no museu, mas a

função que ele representa ao incorporar-se a um conjunto de objetos, em uma coleção.

Thereza Scheiner (2003) lembra que a principal característica entre os museus e a

sociedade é a comunicação. As exposições são os instrumentos de comunicação dos museus.

Para Scheiner:

[...] principal veículo de comunicação dos museus com a sociedade, a

atividade que caracteriza e legitima o museu como tal. Sem as exposições, os

museus poderiam ser coleções de estudo, centros de documentação,

arquivos; poderiam ser também eficientes reservas técnicas, centros de

pesquisa ou laboratórios de conservação; poderiam ser ainda, centros

educativos cheios de recursos, mas não museus (SCHEINER, 2003, p.06).

Muitas investigações no campo do ensino-aprendizagem, realizadas em museus, têm

escolhido como objeto de pesquisa as exposições, elas são um dos principais meios de

comunicação dos museus. Os objetos expostos produzem discursos, de acordo com a

expografia, criam narrativas diferentes, podendo construir diferentes maneiras de aprender. O

29

Alguns autores fazem uma diferenciação entre o museu ter uma dimensão e uma função educativa. Assim, o

museu ter uma função educativa é uma conseqüência do processo de institucionalização, a expressão dimensão

tem um sentido polissêmico, mas de maneira geral, a dimensão educativa do museu está relacionada a um

sentido mais amplo. A dimensão educativa, inclusive é uma das dimensões do museu, que não tem apenas um

aspecto educativo. (BERTELLI, 2010)

89

encontro do visitante com os objetos expostos pode despertar inúmeros sentimentos,

sensações e experiências, podendo favorecer a curiosidade e a vontade de saber. Para Luciana

Köptcke:

Se comunicar consiste em desenvolver ligações através de processos

interativos compreendidos enquanto condutas que se modificam

reciprocamente, a articulação entre as dimensões de comunicação e

representação da exposição é também uma situação de construção do

conhecimento, onde se age sobre o real para modificá-lo de modo a

compreendê-lo segundo os sistemas de transformação ligados às ações em

questão. (KÖPTCKE, 2003, p. 115).

Existem muitos discursos em relação ao que significa a educação museal. Alguns

conceitos apontam para o fortalecimento de uma epistemologia museal, enquanto lugar de fala

da ação educativa no museu, em oposição, a outro pólo, que visa uma aproximação ainda

maior com o pedagógico. O que aproxima, da forma escolar, e do modelo Paradigmático de

conhecimento, na visão de Ernesto Laclau.

Nessa seção, destacamos alguns eventos históricos importantes para compreender o

percurso da educação nesses espaços, e o processo de institucionalização que ocorre

contemporaneamente. Na próxima seção pretende-se analisar a construção de conceitos a

cerca da educação museal.

90

4.2 A composição de sentidos sobre o conceito de educação museal

Certamente, os novos conceitos devem estar em relação aos problemas que são os

nossos, com nossa história e, sobretudo com nossos devires. Mas que significam os

conceitos de nosso tempo ou de um tempo qualquer?

Gilles Deleuze e Félix Guattari

O exercício de entender a construção de conceitos a respeito da educação museal30

nos

leva a refletir sobre a própria concepção de conceito, e como lidamos contemporaneamente

com eles. Em um contexto social, marcado pela transitoriedade, efemeridade, descontinuidade

das informações. Para Gilles Deleuze e Félix Guattari (1992) a maneira como um conceito é

construído altera as percepções e a possibilidades de construir experiências em relação a ele.

Todo conceito tem componentes, mas não existe um conceito que tenha todos os

componentes, (mesmo os pretensos universais); não há conceito simples: ―em primeiro lugar,

cada conceito remete a outros conceitos, não somente em sua história, mas em seu devir ou

suas conexões presentes‖. (DELEUZE, GUATTARI, 1992, p. 30.): Para os autores:

Todo conceito tem um contorno irregular, definido pela cifra de seus

componentes. È por isso que, de Platão a Bergson, encontramos a ideia de

que o conceito é questão de articulação, corte e superposição. È um todo,

porque totaliza seus componentes, mas um todo fragmentário. È apenas sob

essa condição que pode sair do caos mental, que não cessa de espreitá-lo, de

aderir a ele, para reabsorvê-lo. (DELEUZE, GUATTARI, 1992, p. 27)

As problemáticas e disputas que suscitam a concepção de novos conceitos estão filiadas

a diferentes maneiras de produzir discursos. Um ―conceito tem sempre a verdade que lhe

advém em função das condições de sua criação‖ (DELEUZE, GUATTARI, 1992, p. 40.).

De acordo com o Documento Preliminar do Programa Nacional de Educação

Museal/PNEM. O uso do termo Educação Museal, ―se mostra como uma necessidade de

explicitação daquilo que o diferencia de outras expressões utilizadas para qualificar o tipo de

educação que se faz nos museus‖ (PNEM, 2013). Podemos dizer que ainda é um vocábulo

recente, está em debate, nos últimos 30 anos, inspirado na expressão ―Museum Education‖ -

30

O uso dos termos: educação em museus, educação e museus e educação museal, aparecem no contexto geral,

como sinônimos. Apesar de parecer só uma questão de nomenclatura, acreditamos que essas escolhas são

discursivas, e denotam posicionamentos. No entanto, isso não significa dizer que os estudos que utilizem a

expressão educação em museus, educação e museus, ao invés de educação museal, não compreendam o mesmo

fenômeno. A escolha, nesse texto, pela expressão educação museal, está no potencial, que acreditamos estar

aberto com esse termo, e pode ser investigado.

91

de uma linha de pesquisa anglo-saxónica. No geral, o uso, com a denominação especifica

educação museal, surgem no século XXI, mas não existe uma exatidão em relação a isso.

Sobre a tentativa de consolidação do termo, o PNEM é um programa voltado

especificamente para discutir questões referentes à Educação Museal, teve suas bases

lançadas em 2011, através do Instituto Brasileiro de Museus/IBRAM, com a apresentação

pública da Carta de Petrópolis (2010), documento considerado marco inicial para a

construção de uma Política Nacional de Educação Museal. E sua continuidade com a Carta de

Belém (2014), documento responsável por sintetizar os Princípios e Parâmetros para a criação

e posterior implementação da Política Nacional de Educação Museal. Acreditamos que essa é

uma área de conhecimento em disputa de sentidos, na qual, os significantes mobilizados e/ou

construídos não estão com seus significados fixados.

Antes de analisar as composições de conceitos referentes à educação museal, uma

consideração relevante, é destacar que a formação da educação que ocorre nos museus está

relacionada, inicialmente, ao conceito de educação patrimonial. A noção de educar para

preservar, está presente nas primeiras noções de museu moderno. Que tinham, e ainda, tem a

missão de proteger monumentos, obras de arte, etc. não apenas fisicamente, mas sua memória.

O texto de Magaly Cabral (2012) ―Educação Patrimonial x Educação Museal?‖ de um

modo geral, levanta questões sobre as diferenças e semelhanças entre Educação Patrimonial e

Educação Museal. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) tem uma

definição ampla sobre Patrimônio Cultural31

. Baseado nessa definição de Patrimônio Cultural,

podemos dizer que o conceito de Educação Patrimonial é expansivo, tem uma dimensão

tangível e intangível, não tem um lugar especifico para acontecer, ou está preso a uma

plataforma:

―Toda vez que as pessoas se reúnem para construir e dividir novos

conhecimentos, investigam para conhecer melhor, entender e transformar a

realidade que nos cerca, estamos falando de uma ação educativa. Quando

fazemos tudo isso levando em conta alguma coisa que tenha relação com

nosso patrimônio cultural, então estamos falando de Educação Patrimonial.

(IPHAN, apud CABRAL, 2012, p.40).

31

Compreende um conjunto de manifestações, realizações e representações de um povo, de uma comunidade.

Ele está presente em todos os lugares e atividades: nas ruas, em nossas casas, em nossas danças e músicas, nas

artes, nos museus e escolas, igrejas e praças. Nos nossos modos de fazer, criar e trabalhar. Nos livros que

escrevemos, na poesia que declamamos, nas brincadeiras que organizamos, nos cultos que professamos.

(IPHAN, apud CABRAL, 2012, p.37).

92

Apesar de contemplar inúmeros aspectos das ações humanas, tidas como culturais, o

conceito de Educação Patrimonial ainda é fortemente, usado como referencia a um Patrimônio

monumentalizado. Nesse sentido, é alvo de um distanciamento de sua própria proposta, no

que diz respeito sobre a legitimidade do patrimônio.

Cabral destaca alguns pontos de interseção entre as relações do campo museal, e do

patrimonial, domínios esses atravessados por diversos outros conceitos, compartilhados por

ambas as adjetivações: museal e patrimonial. A tensão entre uma ―linguagem museal‖ e uma

―linguagem patrimonial‖, como propõem Mário Chagas (2009), não está reduzida a uma

especificidade da linguagem, e sim indica um lugar (ou um campo) de manifestação:

―O campo museal, como se costuma dizer, está em movimento, tanto quanto

o domínio patrimonial. Esses dois terrenos - que ora se casam, ora se

divorciam, ora se interpenetram, ora se desconectam - constituem corpos em

movimento. E, como corpos, também são instrumentos de mediação, espaços

de negociação de sentidos, portas (ou portais) que ligam e desligam mundos,

indivíduos e tempos diferentes. O que está em jogo nos museus e também no

domínio do patrimônio cultural é memória, esquecimento, resistência e

poder, perigo e valor, múltiplos significados e funções, silêncio e fala,

destruição e preservação. Por tudo isso, interessa compreendê-los em sua

dinâmica social e interessa compreender o que se pode fazer com eles e a

partir deles.‖ (CHAGAS, 2009, p. 53 apud CABRAL, 2012, p. 42)

Chagas ressalta os múltiplos significados que acompanham as duas noções de educação

e destaca a importância de perceber esses campos de atuação a partir de sua dinâmica social.

Em sua análise sobre as semelhanças entre as propostas da Educação Patrimonial e da

Educação Museal, Cabral percebe muito mais semelhanças que distanciamentos. Para ela o

campo – Museu, está contido no Patrimônio, com isso, muda o campo onde a ação educativa

se desenvolve, mas não mudam os conceitos e os objetivos: ―podem variar as metodologias

desenvolvidas. A adjetivação patrimonial ou museal não implica diferenças, apenas indicação

de campos de atuação‖. (CABRAL, 2012, p.41). Segundo a autora:

Posso concluir que as semelhanças são fortes Tanto a Educação Patrimonial

quanto a Educação Museal estão comprometidas com o homem em

transformação e com o desenvolvimento da sua capacidade do conhecer sua

realidade e poder transformá-la. Ambas falam de uma educação em que o

educador esteja em sintonia com a sociedade, que tem direito a processos de

mudança e não a simples acúmulo de atendimento paternalista. Entretanto,

ainda assim, sem uma visão reducionista, mas apenas para enfatizar o

campo, defendo o uso da expressão Educação Museal para indicar aquela

ação educativa que se dá no museu. (CABRAL, 2012, p.43)

93

Mário Chagas no artigo ―Educação, museu e patrimônio: tensão, devoração e

adjetivação‖ chama atenção para a necessidade de abolir toda e qualquer ingenuidade em

relação ao museu, ao patrimônio e à educação. E ao lado dessa abolição é desejável

desenvolver uma perspectiva crítica, interessada em investigar ao serviço de quem estão

sendo acionados: a memória, o patrimônio, a educação e o museu. Para Cabral:

Por essa picada, podemos sustentar também, e concordando com Chagas

quando diz que o uso descuidado do termo museal ou patrimonial

adjetivando a linguagem e a comunicação, válido também para a educação,

periga implantar uma visão reducionista do problema, que a "Educação

Museal" ou "Educação Patrimonial" não é a educação sobre as coisas, mas a

educação desenvolvida por seres interessados em se comunicar

poeticamente, lançando mão dos recursos disponíveis. Concordando com

Chagas, podemos compreender que o que se quer preservar e comunicar não

são objetos, monumentos, sítios, prédios, manifestações, mas sim

pensamentos, sentimentos, sensações e intuições. (CABRAL, 2012, p.43).

A noção de Educar para preservar, o Patrimônio, caracterizou a educação que ocorria

nos museus, por muito tempo, e está presente até os dias atuais, de diferentes maneiras. A

noção de patrimônio é muito ampla - Patrimônio digital, genético, biopatrimônio,

etnopatrimônio, comunitário, entre outros. Os museus, independente da plataforma,

estabelecem uma forte relação com o patrimônio, são inclusive, diferentes tipos de

patrimônios, mas a educação museal não está limitada apenas a uma ideia de preservação

patrimonial.

Acredito que apesar de muitas semelhanças, o conceito de Educação Museal não deva

ser usado como sinônimo de Educação Patrimonial.

A construção de conceitos sobre Educação Museal não segue uma linearidade, devido, a

diversos fatores, é grande, à diversidade e a complexidade das ações educativas nas

exposições e museus. Esse trabalho de catalogação, mais que compor um pequeno acervo

sobre os conceitos em relação à educação museal, visa refletir sobre as implicações dessas

concepções. Os conceitos foram selecionados a partir da análise dos textos que compõem o

referencial teórico da pesquisa32

. No primeiro momento vamos expor os conceitos no quadro

abaixo, e posteriormente criar relações e reflexões sobre eles.

32

Apesar da análise minuciosa, estamos cientes da possibilidade de não ter tido acesso a todos os documentos,

textos, arquivos, que possam existir algum conceito sobre educação museal.

94

Quadro 02- Conceitos Referentes à Educação Museal

CONCEITOS REFERENTES À EDUCAÇÃO MUSEAL REFERENCIAS

A educação museal pode ser entendida primeiramente, num sentido

amplo, como quase todas as práticas educativas que acontecem no

museu, tanto promovidas pelos museus, pelos departamentos

educativos dos museus, e também por outros setores. Caberia mais

falar de práticas educativas do que exatamente de atividades

educativas. Porque o sentido de práticas educativas nos permite

considerar também, dentro do trabalho de educação museal, tanto

os serviços oferecidos ao público, como também os materiais

produzidos de apoio a exposição, folhetos, catálogos, os próprios

programas e projetos educativos fornecidos a determinadas

instituições, algumas que dizem diretamente ao professor, outras

que dizem respeito ao público, que eles chamam de visitação livre,

que não é aquela que vai através da escola. Esse conceito de

educação museal abrangeria todas as práticas educativas que

acontecem no museu e são oferecidas pelas instituições

museológicas. Ou seja, a educação museal é um conceito

extremamente abrangente, eu acho que a tendência atual tem sido

de que maneira há uma correspondência com as práticas que são

oferecidas pelos museus e aquelas que também são apropriadas,

promovidas e oferecidas pelas escolas e por outras instituições

dentro desses espaços museológicos. (FALCÃO, 2009)

Andréia Falcão (2009)

Assim, a mesma definição adotada pela Coordenação de Educação

Patrimonial do Iphan poderia ser adotada pela Coordenação de

Museologia Social e Educação do Ibram para a Educação em

Museus, ou Educação Museal: quando, no museu, profissionais do

museu com profissionais do museu e profissionais do museu com

usuários do museu, nos reunimos para construir e dividir novos

conhecimentos, quando investigamos para conhecer melhor,

entender e transformar a realidade que nos cerca, então estamos

falando de Educação Museal. (CABRAL, 2012, p.41).

Magaly Cabral (2012)

A formação integral, politécnica ou omnilateral, que aqui

apresentamos e defendemos como sendo uma possível diretriz

teórica para a educação museal, envolve a formação intelectual,

científica, tecnológica, corporal, artística e cultural estabelecida em

diferentes locus educativos. (CASTRO, 2003, p.108)

Fernanda Santana Rabelo

Castro (2013)

A educação museal pode ser definida como um conjunto de

valores, de conceitos, de saberes e de práticas que têm como fim o

desenvolvimento do visitante; como um trabalho de aculturação,

ela apoia-se notadamente sobre a pedagogia, o desenvolvimento, o

florescimento e a aprendizagem de novos saberes. (CONCEITOS

CHAVES MUSEOLOGIA, 2013, p.38).

Conceitos Chaves da

Museologia (2013)

A educação museal compreende um processo de múltiplas

dimensões de ordem teórica, prática e de planejamento, em

permanente diálogo com o museu e a sociedade. (CARTA DE

BELÉM, 2014).

Carta de Belém (2014)

Fonte: Quadro feito a partir da consignação de conceitos a respeito da Educação Museal,- extraídos da

bibliografia utilizada na pesquisa.

95

Feita essa breve consignação de conceitos sobre a educação museal, o intuito, é

desenvolver algumas percepções sobre essas definições. A constituição de um novo conceito

implica uma nova forma de significação, que não está completamente apartada da anterior,

mas de alguma maneira, diz algo diferente. A transposição de uma palavra para outra, produz

sentidos, e provoca alterações no que elas significam. O uso da expressão educação museal, é

uma construção discursiva, que denota algum tipo de posicionamento. È um termo potente,

que atende a diferentes demandas em relação aos museus.

Os conceitos, referentes à educação museal, citados acima, Em termos gerais, reforçam

a importância do aspecto educativo no museu e do mesmo no contexto social, aproximam a

educação museal de uma noção multidimensional, na atuação dos museus. Cada conceito

ressalta um modo particular de entender a educação museal, no entanto, podemos dizer que,

eles apresentam uma visão generalista sobre o que seria a especificidade da educação museal,

e existem mais semelhanças que distanciamentos nesses discursos. Sem seguir uma ordem

cronológica para observação dos conceitos.

A publicação Conceitos Chaves da Museologia33

, (2013), é uma tradução, publicada

originalmente em outros idiomas pelo ICOFOMU. Produto de uma iniciativa do Comitê

Brasileiro do Conselho Internacional de Museus, em parceria com a Pinacoteca do Estado de

São Paulo, e a Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo. O texto é descrito pelo Comitê

como a disponibilização de uma ferramenta de referência que contribui para a reflexão teórica

e crítica sobre o mundo dos museus, direcionada para profissionais e estudantes de

Museologia. Essa publicação não versa apenas sobre o aspecto educativo do museu, mas

vamos dar destaque a esse tema, já que é nosso objeto de interesse nesse estudo.

O conceito proposto é uma definição institucional em relação à educação museal, e

apresenta algumas implicações para o campo dos museus, no sentido de, ao invés que lançar

novos horizontes discursivos, sobre o tema, fixa a educação museal em uma visão limitadora

e engessada de educação. Ele reforça que a educação museal deve estar, ou já está, ―ancorada

notadamente sobre a pedagogia‖, esse tipo de percepção, torna os espaços museais mais

escolarizados. Isso, em um cenário em que já existe uma supervaloralização da educação

formal/ escolar.

Ainda em relação à definição cunhada pelo Conceitos Chaves da Museologia, Outra

questão que precisa ver vista com cuidado, é a associação da atuação educativa do museu

como um: ―conjunto de valores, de conceitos, de saberes e de práticas que têm como fim o

33

Comitê Internacional para Museologia do ICOM- ICOFOM e Comitê Nacional Português do ICOM.

96

desenvolvimento do visitante; como um trabalho de aculturação‖. (IBIDEM, p.38) . O termo

aculturação enquanto a finalidade de um processo de desenvolvimento educativo; demonstra

uma visão impositiva do museu em relação ao visitante. A expressão aculturação coloca-se

como uma expressão polêmica, e porque não dizer problemática, pois existem muitas visões

diferentes sobre o termo, mas em uma ótica mais critica tem um sentido pejorativo e de

dominação.

Segundo o Dicionário de Filosofia (1996) a expressão aculturação, em um sentido mais

comum, designa o aprendizado no qual um indivíduo adquire gradualmente desde o

nascimento os elementos constitutivos da cultura de seu grupo. Nesse sentido, a aculturação,

propõe ao sujeito uma cultura como a única legítima, senão "natural", encontra-se dessa

forma, a origem de um etnocentrismo. Em uma ótica mais critica, aculturação designa o

desequilíbrio sofrido por um indivíduo ou por um grupo obrigado a modificar sua cultura ou a

adotar uma nova. Geralmente, obtida por meio de algum tipo de violência. Essa visão está

notadamente, na história dos museus tradicionais; um caráter elitista, impositivo, através de

diferentes formas de violências simbólicas e não simbólicas. È preciso refletir sobre os

desdobramentos de reafirmar, mesmo indiretamente, essas posições.

A definição do Conceitos Chaves da Museologia, sobre o que é a educação museal, é a

que mais aproxima o discurso educativo museal do discurso pedagógico. Está noção não é

algo novo no campo dos museus, inclusive existem algumas experiências de Museus

Pedagógicos34

, e Museus Escolares35

no Brasil. Que não será possível lidar da maneira

aprofundada, nesse estudo.

A Carta de Belém, outra concepção institucional, apresenta como conceito o

desenvolvimento de um pensamento que se encontra na DIRETRIZ 03 (Propostas do Fórum

Virtual do PNEM – GT Perspectivas Conceituais) do Documento Preliminar do Programa

Nacional de Educação Museal:

O conceito e terminologia orientadores das ações educativas implementadas

em museus a partir deste Programa é o de educação museal, que se define

por iniciativas de educação teoricamente referenciadas e desenvolvidas no

âmbito de processos museais. (DOCUMENTO PRELIMINAR DO

PROGRAMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO MUSEAL, 2013)

34

Mais informações- http://www.museupedagogico.uesb.br/drupal6/index.php

35

Mais informações- http://www.museuescolar.pt/museu/historia

97

De alguma maneira, essa Carta aponta para uma ruptura com um conceito que reforça o

pedagógico, como lugar, essencial, de fala do educativo no museu. Essa visão mais

pedagógica está presente na Carta de Petrópolis; na definição das bases conceituais que

deveriam orientar os museus- assim, os museus deveriam definir teorias educacionais e

correntes pedagógicas que melhor se aplicassem às ações do museu. Mas essa Carta não

chega a apresentar um conceito sobre educação museal.

A Carta de Belém, de alguma maneira, amplia as possibilidades de compreensão da

educação museal; e considera as diversas tipologias e plataformas de museus, pois ao defini -

lá como: ―um processo de múltiplas dimensões de ordem teórica, prática e de planejamento,

em permanente diálogo com o museu e a sociedade‖ (CARTA DE BELÉM, 2014). Permite

construir diferentes maneiras de entender a educação museal. No entanto, essa abertura, não

assegura construções que vão apostar em maneiras multidimensionais e não fragmentadas de

construir conhecimento.

Como na Carta de Belém, os conceitos apresentados nos textos de Magaly Cabral,

Fernanda Castro, e Andréia Falcão, apresentam, digamos, uma base comum, que aponta para

um sentido mais integral da educação museal. Magaly Cabral (2012) destaca a possibilidade

de perceber a educação museal como um instrumento para ―entender e transformar a realidade

que nos cerca‖ (CABRAL, 2012, p.41).

Fernanda Castro (2003), em sua dissertação, ―O que o museu tem a ver com educação?

Educação, cultura e formação integral: possibilidades e desafios de políticas públicas de

educação museal na atualidade‖, faz uma análise sobre os desafios das políticas públicas

voltadas para a educação museal, na atualidade. Com o objetivo de identificar as relações de

conflito entre o público e o privado nas ações educativas que se realizam entre museus e

escolas públicas, e como elas se inserem nas políticas públicas de educação e cultura no

Brasil. Castro da ênfase, a importância de uma formação integral, omnilateral, no sentido

Gramsciano, como sendo uma possível diretriz teórica para educação museal.

E Andréia Falcão (2009) em uma entrevista a revista Salto para o Futuro36

:, com o

tema: Museu e escola: educação formal e não-formal, destaca que é preciso entender a

educação museal, através de um sentido amplo, assim, caberia mais falar de práticas

educativas do que exatamente de atividades educativas, assim, a noção da educação que

36

Disponível em:

http://tvescola.mec.gov.br/tve/salto/interview.jsessionid=C66C4B33F8CEC7AEC987785B479CE894?idLntervi

ew=8217

98

ocorre nos museus não ficaria restrita aos setores educativos. Ela salienta a necessidade de

investigar as diferenças que existem, ou não, entre as práticas educativas que ocorrem nos

museus, das que ocorrem em outros espaços.

Nesse sentido, a tese de Luciana Conrado Martins (2011) ―A constituição da educação

em museus: o funcionamento do dispositivo pedagógico museal por meio de um estudo

comparativo entre museus de artes plásticas, ciências humanas e ciência e tecnologia‖, não

propõem uma definição sobre educação museal. A autora procura compreender a

especificidade da educação museal, a partir do conceito de dispositivo pedagógico em Basil

Bernstein. Sobre essa questão levantada por Andréia Falcão, Martins coloca:

O desafio como pesquisadora foi perceber que não existe uma educação em

museus - da mesma forma que não existe uma educação escolar - mas que

existem processos sociais nos quais as instituições museais se encontram

inseridos e que determinam um funcionamento específico para essa

educação. Esse funcionamento, descrito ao longo deste texto de conclusão,

tem como características principais a baixa ingerência do campo

recontextualizador oficial na determinação do discurso pedagógico de

reprodução; a presença de outras vozes externas reguladoras, responsáveis

pelo financiamento das ações educacionais dos museus; a forte autonomia

dos educadores, no duplo papel de agentes de recontextualização pedagógica

e produtores do discurso original sobre educação em museus; a existência de

um campo intelectual da educação em museus no qual os próprios

educadores têm um papel conformador; um discurso pedagógico de

reprodução fortemente marcado pelo caráter dialógico, no qual tempo,

espaço e objeto/discurso específico são constantemente negociados na

dualidade público/objetivos na pratica educacional museal. Essas

características são ao mesmo tempo determinantes, na medida em que

caracterizam o funcionamento atual dessa educação, e condicionadas, pelas

estruturas reguladoras que atuam de forma muitas vezes, diferente em cada

instituição.

Assim, como nesse estudo, Martins busca a definição dos aspectos que compõem e

singularizem a educação museal. Para ela um caminho possível para pensar essas questões é

não delimitar a educação em uma tipologia para cada espaço, e sim compreender que

―existem processos sociais nos quais as instituições museais se encontram inseridos e que

determinam um funcionamento específico para essa educação‖. Apesar de um tema comum as

duas pesquisas, os caminhos teórico/metodológicos, e os objetos escolhidos, são diferentes,

mas não apenas isso, as percepções de cada pesquisador estão filiadas a diversas outras

questões. Desse modo, sem questionar a validade das conclusões de Martins, penso que é

99

preciso refletir se ao reforçar o pedagógico37

no museu, se estabelece o melhor lugar de fala

para a educação museal.

Podemos dizer que um dos principais trabalhos do museu é conceitual, ele cria

narrativas, musealiza38

percepções de vida. Assim, o conceito de educação museal estaria

relacionado a entender o processo museológico como ação educativa. Pensar as

especificidades da educação museal, está relacionado a compreender, o museal como uma

maneira de construir o conhecimento- uma epistemologia museal.

Ernesto Laclau entende discurso como qualquer tipo de pratica significativa, e não

existe nenhum tipo de pratica humana que não tenha uma dimensão de significação. Nesse

sentido, a educação museal, é entendida nesse estudo, enquanto uma pratica discursiva. Com

isso, a formação desse campo conceitual, não compreende apenas um lingüístico, mas

também um extra- lingüístico.

De acordo com Paul Ricoeur (2010) a condição necessária para se compor algo

diferente é partir de algo que já está configurado, ele denomina de mimeses I esse momento de

pré- configuração. Nesse sentido, os conceitos sobre educação museal, não surgem de um

lugar vazio, são conseqüência, das demandas, de um campo. Para Ricoeur, essa condição é

necessária, para o agenciamento dos fatos na construção de narrativas, o que torna possível os

momentos de criação- mimeses II. Mas esses não ficam presos em um sistema circular, porque

existe a possibilidade de reconfiguração do que está sendo produzido, a mimeses III. As

mudanças de significações em relação ao conceito do que estamos denominando nesse estudo

de educação museal, demarcam pequenas transposições. Que tem efeitos contínuos.

37 O saber Pedagógico instaura uma relação vertical de poder, em relação à construção do conhecimento, pois há

alguém que sabe a consciência dos ―outros‖, o que estes ―outros‖ não sabem sobre si mesmos. Com isso, exerce

um mecanismo sofisticado de controle, e distribuição do saber. Mas é preciso não esquecer que os museus

também estão a serviço das formas oficiais e tradicionais de educação, por isso, em boa parte, comprometidos

com a escolarização, mesmo sendo essencialmente diferente da escola. São influenciados pela forma escolar.

38 Segundo o Dicionário de Conceitos Chaves da Museologia (2013) a musealização de um ponto de vista mais

estritamente museológico, é a operação de extração, física e conceitual, de uma coisa de seu meio natural ou

cultural de origem, conferindo a ela um estatuto museal – isto é, transformando-a em musealium ou musealia,

em um ―objeto de museu‖ que se integre no campo museal. A musealização, nesse sentido, designa o tornar-se

museu. Podemos dizer que, uma das controvérsias iniciais, sobre a especificidade do museal, revela-se na própria

conceituação de museu. Pois, no contexto brasileiro, é enorme a possibilidade de espaços que podem ser

concebidos enquanto museus.

100

Existem diversas significações sobre o tema da educação e museus. Assim, não existe

um único discurso sobre o que significa educação museal. No sentido laclaniano, é um campo

de disputas de sentido, que não está preso, a uma única significação, em um sentido

ontológico, ao invés de um sentido ôntico39

. Gilles Deleuze e Félix Guattari (1992) chamam

atenção para a instabilidade e as condições de criação dos conceitos, pois as filiações estão

relacionadas às problemáticas de cada tempo. Os autores fazem uma ligação do conceito com

o conhecimento, e com o ato de criar:

Os conceitos não são eternos, mas são por isso temporais? Qual é a forma

filosófica dos problemas desse tempo? Se um conceito é ―melhor‖ que o

precedente, é porque ele faz ouvir novas variações e ressonâncias

desconhecidas, opera recortes insólitos, suscita um acontecimento que nos

sobrevoa. Mas não é o que fazia o precedente? (DELEUZE, GUATTARI,

1992, p. 41.)

A construção de conceitos sobre educação museal apresenta diversas questões que

precisam ser refletidas, questionadas, criticadas; este estudo não pretende dar conta das

inúmeras lacunas e aspectos que podem/devem ser problematizados. A pesquisa não tem o

intuito de perseguir um conceito ideal sobre a educação que ocorre nos museus, o texto se

coloca como uma curiosidade, para assim, refletir sobre as possíveis relações que esses

discursos estabelecem.

Em especifico sobre a imaginação, categoria, importante na construção de narrativas,

ela simplesmente está distante do contexto museal. A partir dos conceitos consignados, nesse

estudo, e podemos dizer, de grande parte, das referencias sobre educação museal, os discursos

apontam para uma estrutura de acesso ao conhecimento, que não cria muitos contrastes com o

modelo proposto pela forma escolar. Centrado em um acesso imediato e fragmentado do

conhecimento.

Ainda, existem muitas questões sobre o papel social dos museus, no cenário

contemporâneo, o número de museus é crescente, e eles são criados por diversas demandas. A

construção de uma Política Nacional de Educação Museal, promovida pelo Instituto Brasileiro

de Museus – IBRAM. Reforçam a institucionalização do campo, e suscitam embates e

significações políticas. Esse é o ponto que discutiremos na próxima seção.

39

No sentido Heideggeriano

101

4.3 Princípios e Parâmetros para a criação da Política Nacional de Educação

Museal/PNEM

Nas últimas décadas avançamos na discussão referente aos princípios, mas

enfrentamos enormes dificuldades para sua implementação, no que se refere às

tarefas de conservação, documentação, exposição e ação educativa da herança

patrimonial que recebemos e temos a responsabilidade de legar para o futuro. Neste

contexto, os museus ainda são muito vulneráveis às oscilações políticas, à falta de

estrutura técnica e as imposições do marketing cultural.

Maria Cristina Oliveira Bruno,

Em 2010, uma política especifica para a área da educação museal começou a surgir,

através do I Encontro de Educadores do Instituto Brasileiro de Museus/Ibram. O resultado

desse evento foi à elaboração da Carta de Petrópolis (2010), documento considerado o marco

inicial para a construção de uma Política Nacional de Educação Museal. Em 2011, com a

apresentação pública da Carta de Petrópolis (2010), o Ibram divulgou as bases para o

Programa Nacional de Educação Museal/PNEM. Em 2012, o programa foi lançado, com os

objetivos de: favorecer a realização das práticas educacionais em instituições museológicas,

fortalecer a dimensão educativa em todos os espaços do museu e subsidiar a atuação dos

educadores.

Com o intuito de estimular a participação de todos os interessados no debate para a

construção do PNEM, foi feita uma plataforma virtual para o programa através do blog do

PNEM (2012). No entanto, o blog só foi aberto para receber propostas, após a realização do 5º

Fórum Nacional de Museus (FNM) em 2013. Através de um Fórum Virtual, criado para

debater o Programa Nacional de Educação Museal, e a partir dos documentos orientadores40

do PNEM, foram criados nove (9) eixos temáticos para o Programa, que deram origem a

Fóruns temáticos e Grupos de Trabalhos, com a mesma nomenclatura, são eles:

Perspectivas conceituais;

Gestão;

Profissionais de Educação Museal;

Formação,

40

O PNEM também tem como referencia os textos das: Metas do Plano Nacional de Cultura, o Plano Nacional

de Cultura /PNC, o Plano Nacional Setorial de Museus/PNSM e a Política Nacional de Museus/PNM.

102

Capacitação e qualificação;

Redes e parcerias;

Estudos e pesquisas;

Acessibilidade;

Sustentabilidade;

Museus e Comunidade.

A Coordenação de Museologia Social e Educação do Departamento de Processos

Museais do Ibram foi a responsável pela organização da condução do processo e da

moderação da plataforma de diálogo virtual. Para a metodologia dos Fóruns e construção do

PNEM, o IBRAM elaborou uma divisão entre os profissionais e voluntários, como:

moderadores, coordenadores de GTs e articuladores41

: O Fórum virtual ficou aberto ao

público de 26 de novembro de 2012 a 07 de abril de 2013. O Documento Preliminar do

Programa Nacional de Educação Museal (2013) reuniu as propostas surgidas nos fóruns de

discussão do Blog do PNEM

A estrutura do documento reuniu as propostas apresentadas nos fóruns de

discussão do Blog do PNEM, alocando-as em três grupos, seguindo o

formato do Plano Nacional Setorial de Museus: Diretrizes – Apresentam os

princípios que devem reger o trabalho educativo museal. Estratégias –

Formas como devem ser implementadas as diretrizes a médio e longo

prazos. Ações – Propõem o que de imediato pode ser implementado e que

concretizará os princípios norteadores do PNEM a partir de uma visão

estratégica de resultados. (DOCUMENTO PRELIMINAR DO

PROGRAMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO MUSEAL, 2013, p. 06)

A plataforma virtual do PNEM reuni um acervo diverso, um dos critérios de analise,

para esse estudo, foi a escolha dos tópicos voltados especificadamente para a educação

41

Moderadores: servidores da Coordenação de Museologia Social e Educação do IBRAM que atuaram na

condução técnica do blog e na gerência de seus conteúdos, bem como na coordenação geral das atividades

administrativas decorrentes. foi facultado a estes servidores o direito de colaborar com o PNEM por meio dos

fóruns virtuais, como toda e qualquer pessoa que tenha interesse. Caberá, ainda, aos moderadores a redação do

texto final do PNEM após a realização da Plenária presencial, sendo possível para tal consulta aos coordenadores

e articuladores; Coordenadores dos GTs: servidores das unidades museológicas do IBRAM, convidados pela

COMUSE por sua expressiva atuação na área de competência do Grupo de Trabalho, sob sua responsabilidade;

Articuladores: voluntários que atuam no campo museal brasileiro. Atuaram na mobilização da comunidade,

sensibilizando-a a participar das discussões promovidas no Blog, contribuindo para a construção do Programa

nos mais diversos espaços de atuação (redes sociais, reuniões com interessados, encontros locais, envio de e-

mails, articulação com organizações, etc). Blog Pnem: [email protected]

103

museal. Assim, concentramos as observações nos Grupos: Perspectivas Conceituais e

Profissionais de Educação Museal. Os pontos de cada GT estão destacados abaixo:

O GT Perspectivas Conceituais teve como propostas preliminares os seguintes pontos:

1. Explicitar as concepções de Museu, Museologia e Educação adotadas no desenvolvimento

das ações educacionais, contextualizando os métodos e técnicas, levando em consideração as

especificidades de cada museu, bem como o perfil e os anseios de seus públicos;

2. Fomentar ações educativas, a partir do conceito de patrimônio integral, voltadas para a

promoção da cidadania e ação social;

3. Assegurar que os museus e espaços de memória sejam importantes ferramentas de

educação, e que por meio de ações transversais colaborem para o desenvolvimento cultural,

social e econômico, regional e local.

Os principais debates desse GT versaram sobre:

―museus virtuais‖

―educação museal ou educação patrimonial nos museus?‖

―educação e patrimônio integral‖

―construção de uma política nacional de educação museal‖

―mediação ou visita guiada?‖

―planejamento participativo‖

―parceria e colaboração‖

―função dos museus‖

―museu como lugar ou espaço de memória?‖

O GT Profissionais de Educação Museal teve como propostas preliminares os seguintes

tópicos:

1. Preocupação com o lugar que o profissional de educação museal possa ocupar dentro das

instituições. Uma vez que sua função é muitas vezes desempenhada por outros atores

institucionais; é necessária uma sensibilização do próprio museu no sentido de perceber esta

como uma atividade profissional, com particularidades e conhecimentos específicos.

104

2- A necessidade da participação dos profissionais de educação museal na construção da

gestão, planejamento de programas, projetos e ações dos museus e instituições culturais,

tratando com a devida atenção os assuntos concernentes à educação museal.

3-Os setores educativos devem estar presentes no organograma institucional e, como tais,

precisam receber equipe, orçamento, espaço e ter participação efetiva nas ações desenvolvidas

pelo museu.

Os principais debates desse GT versaram sobre:

―reconhecimento do museu como instituição não formal de ensino‖.

―processos dialógicos entre os diferentes espaços, instituições e grupos sociais‖.

―parceria Museu-Escola‖

―profissionais de educação museal‖.

―novas práticas de educação museal‖

―professores especializados em educação museal‖

―desenvolvimento de práticas pedagógicas para os museus‖

―financiamentos exclusivos voltados para os educativos dos museus‖

Ao propor uma análise da educação museal, na Plataforma virtual do Pnem, nosso

intuito, não é descrever objetivamente dados, mas perceber como os discursos se articulam

nesse cenário; em relação, as aproximações ou distanciamentos com a forma escolar. Nessa

incursão, podemos dizer que, o museu é percebido como um lugar tópico para aprendizagem,

um espaço eminentemente educacional. Existe um destaque para uma dimensão instrumental

da educação, própria da ciência e da técnica moderna. No sentido, de promover a ideia de um

acesso direto e verdadeiro ao conhecimento.

As discussões proposta no Blog do Pnem, em relação à educação museal, em grande

parte, ainda atribuem aos museus o papel de complementar, direto, da educação escolar.

Mesmo quando a associação não é feita diretamente, a educação que ocorre nos museus,

classificada como não-formal, parece, só ter ―validade‖ se estiver voltada para a educação

formal. Como se, a construção do conhecimento por meio da educação museal; parti-se, e

tive-se como finalidade a educação escolar. Os investimentos para a construção de

experiências que se diferenciem da proposta pela forma escolar aparecem de modo bem

discreto.

105

A construção do Programa do PNEM foi organizada em duas etapas, a primeira refere-

se às reflexões, discussões do envio de propostas relacionadas aos eixos temáticos por meio

do Blog do Pnem. Como citado acima, e o segundo momento, estava relacionado à

apresentação do texto- Documento Preliminar, como resultado da primeira etapa, em uma

plenária presencial, voltada para consolidação das propostas42

.

Essa nova etapa, presencial, deu origem a Carta de Belém (2014), documento que

sintetiza os princípios centrais para a construção de uma Política Nacional de Educação

Museal, e não mais um Programa, como estava até o momento em debate. A polêmica sobre a

implantação de um Programa ou uma Política teve inicio com a apresentação pública da Carta

de Petrópolis (2010). Pois, o Ibram lançou as bases para um Programa, ao invés de uma

Política. O fato de não ser mais uma Política, como havia sido debatido no I Encontro de

Educadores do Ibram, trouxe algumas inquietações para o campo, como salienta Castro:

Analisando a Política Nacional de Museus e o Plano Nacional Setorial de

Museus concluímos que esta questão não é tão simples assim. É certo que a

educação museal está presente nesses dois documentos, com mais propostas

objetivas no PNSM do que no PNM, mas os apontamentos levantados pela

Carta de Petrópolis, reapresentados e ampliadas pelo Fórum Virtual do

PNEM apontam para um outro sentido. O de que essas políticas não são o

bastante. De que é necessária a consolidação de diretrizes para o campo

museal que passam obrigatoriamente pela votação de uma Política Nacional

de Educação Museal e não de um Programa. (CASTRO, 2013, p.78).

Essa discussão sobre as diferentes significações, das expressões ―Programa‖ e

―Política‖, demarcam os diferentes potenciais, atribuídos aos termos, e o tipo de construção

discursiva cada um pode alcançar. De acordo com Castro:

Se pensarmos que uma Política votada por um governo permanece, mesmo

que sujeita a alterações, em governos posteriores, estamos assim falando de

políticas públicas de Estado, enquanto um Programa, que na verdade é um

conjunto de ações a ser implementado em um determinado governo, que

pode ser facilmente suspenso por este mesmo governo ou outros, difere

bastante das necessidades apresentadas tanto pelo coletivo de educadores

reunidos em Petrópolis, em 2010, quanto pelos participantes do Fórum

Virtual do PNEM em 2012. (CASTRO, 2013, p.78).

42

Durante a Plenária presencial para consolidação do texto do PNEM, cada coordenador de GT encaminhou as

proposições oriundas dos debates realizados nos respectivos eixos sob sua responsabilidade, apresentando ao

término minuta de texto a ser discutido pelos presentes. Blog Pnem: [email protected]

106

No Documento Preliminar do Pnem (2013), em um texto de apoio, intitulado ―Por uma

Política Nacional de Educação em Museus‖ Luciana Conrado Martins, aponta argumentos

aproximados aos de Castro para rechaçar a ideia de um programa:

Um Programa, conforme apontamentos do debate, pode se restringir aos

limites temporais de um determinado mandato governamental, ao passo que

uma Política carrega em si a possibilidade e determinação legal de

transcender a estes limites. É desse modo que se destacam aqui as discussões

em torno do uso dos termos ―política‖ e ―programa‖, postulando a

necessidade de construção e constituição de uma ―Política Nacional de

Educação Museal‖ no Brasil, sem prejuízo às demais disposições legais já

existentes ou em complementação a elas. (MARTINS, 2013, 71)

Conforme Castro e Martins, a palavra ―Programa‖ remete a certa ideia de

temporalidade, mais passível a mudanças de determinado governo, e a palavra ―Política‖, é

entendida como algo mais estável. A permanência da expressão Política está relacionada às

necessidades de institucionalização do campo, alvo de diversas demandas; como a busca por

políticas governamentais, o reconhecimento da profissão de educador de museu.

Em relação aos Princípios e Parâmetros para a criação da Política Nacional de Educação

Museal/PNEM. As Cartas de Petrópolis (2010) e Belém (2014) sinalizam possíveis

direcionamentos/apontamentos para os caminhos da institucionalização do campo de

Educação Museal. Em relação a Cartas de Petrópolis, fruto da reunião de educadores e

gestores dos museus tutelados pelo IBRAM, realizada no Museu Imperial em Petrópolis, nos

dias 28, 29, 30 de junho e 1º de julho de 2010. Este Encontro teve como objetivo: traçar

diretrizes e estratégias para a elaboração de uma Política de Educação para os museus do

Ibram, como já foi mencionado, além de promover a integração, o intercâmbio de

experiências e a reflexão acerca de temas considerados prioritários.

A Carta de Petrópolis, enquanto síntese desse encontro lança as bases, para a posterior,

construção da Política Nacional de Educação Museal. O encontro teve com referência, as

propostas dos educadores dos museus do Ibram, aliada a Política Nacional de Museus (2003)

e a Lei 11.904/2009, que instituiu o Estatuto de Museus, com ênfase nos artigos:

Art. 2. São princípios fundamentais dos museus:

I – a valorização da dignidade humana;

II – a promoção da cidadania;

III – o cumprimento da função social;

107

IV – a valorização e preservação do patrimônio cultural e ambiental;

V – a universalidade do acesso, o respeito e a valorização à diversidade cultural;

VI – o intercâmbio institucional;

Parágrafo único- A aplicação deste artigo está vinculada aos princípios basilares do Plano

Nacional de Cultura e do regime de proteção e valorização do patrimônio cultural.

Art. 19. Todo museu deverá dispor de instalações adequadas ao cumprimento das funções

necessárias, bem como ao bem-estar dos usuários e funcionários.

Art. 20. Compete à direção dos museus assegurar o seu bom funcionamento, o cumprimento

do plano museológico por meio de funções especializadas, bem como planejar e coordenar a

execução do plano anual de atividades.

―Art. 28. O estudo e a pesquisa fundamentam as ações desenvolvidas em todas as áreas dos

museus, no cumprimento das suas múltiplas competências.

§ 1o O estudo e a pesquisa nortearão a política de aquisições e descartes, a identificação e

caracterização dos bens culturais incorporados ou incorporáveis e as atividades com fins de

documentação, de conservação, de interpretação, exposição e de educação.

§ 2o Os museus deverão promover estudos de público, diagnóstico de participação e

avaliações periódicas objetivando a progressiva melhoria da qualidade de seu funcionamento

e o atendimento às necessidades dos visitantes.

Art. 29. Os museus deverão promover ações educativas, fundamentadas no respeito à

diversidade cultural e na participação comunitária, contribuindo para ampliar o acesso da

sociedade às manifestações culturais e ao patrimônio material e imaterial da Nação.

Art. 30. Os museus deverão disponibilizar oportunidades de prática profissional aos

estabelecimentos de ensino que ministrem cursos de Museologia e afins, nos campos

disciplinares relacionados às funções museológicas e à sua vocação.

108

Art. 35. Os museus caracterizar-se-ão pela acessibilidade universal dos diferentes públicos, na

forma da legislação vigente.

A Carta de Petrópolis (2010) traz como síntese das propostas apresentadas:

PLANO MUSEOLÓGICO:

Fomentar, programar e garantir o desenvolvimento dos Programas Educacionais

previamente apresentados no Plano Museológico do museu.

MISSÃO DA ÁREA EDUCACIONAL DOS MUSEUS:

A partir da missão institucional do museu, definir a missão da área educacional;

Compreender que a ação educacional é importante para o cumprimento da missão do

museu, bem como para o desenvolvimento do processo museológico;

Considerar o acervo institucional e operacional como referenciais importantes para o

desenvolvimento das ações educacionais do museu, levando em consideração a missão

da instituição e os anseios dos atores sociais com os quais os projetos estejam sendo

desenvolvidos.

BASES CONCEITUAIS QUE ORIENTAM OS MUSEUS:

Definir teorias educacionais e correntes pedagógicas que melhor se apliquem às ações

do museu;

Explicitar as concepções de Museu, Museologia e Educação adotadas no

desenvolvimento das ações educacionais, contextualizando os métodos e técnicas,

levando em consideração as especificidades de cada museu, bem como o perfil e os

anseios de seus usuários

ESTRUTURAÇÃO E IMPLANTAÇÃO DE SETORES/ SERVIÇOS / DIVISÕES /

NÚCLEOS EDUCACIONAIS NOS MUSEUS:

Garantir a presença do setor/área/coordenação/departamento educacional na estrutura

organizacional do museu, dotando-o de infra-estrutura necessária para sua

implementação e para o desenvolvimento de seus projetos;

Garantir no orçamento da instituição um percentual necessário à estrutura e ao

funcionamento do setor/área/coordenação/departamento;

109

Estimular a elaboração do Projeto Político-Pedagógico para orientar o planejamento, a

execução e a avaliação das ações educacionais oferecidas pelo museu;

Inventariar as ações educativas e sistematizar sua documentação e memória.

PROGRAMA DE FORMAÇÃO, CAPACITAÇÃO E QUALIFICAÇÃO:

Estimular a qualificação dos profissionais em todos os níveis de formação, a fim de

desenvolver um programa de formação continuada;

Promover e financiar estágios técnicos interinstitucionais nacionais e estrangeiros;

Criar cursos que possibilitem a qualificação dos profissionais, observando as

especificidades de cada museu e os contextos nos quais estão inseridos;

COMUNICAÇÃO, CRIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE REDES:

Estimular a promoção e a difusão do conhecimento produzido na área educacional do

museu;

Estimular a criação de redes de informação e de interação entre o museu e a sociedade,

a partir de variadas iniciativas, tais como a criação de blogs dos educadores, criação de

boletins informativos, a promoção de encontros periódicos de educadores de museus,

entre outras;

Propiciar o intercâmbio do repertório teórico e das práticas educacionais intra e

interinstitucionais

INCENTIVO À PESQUISA E AO DESENVOLVIMENTO DE PARCERIAS

ACADÊMICAS COM FOCO NA EDUCAÇÃO EM MUSEUS:

Criar mecanismos que favoreçam a produção de conhecimento a partir dos projetos e

das pesquisas desenvolvidas no âmbito dos setores educacionais do museu;

Incentivar o desenvolvimento de pesquisa acadêmica em seus diferentes níveis:

graduação, especialização, mestrado e doutorado.

ESTUDOS DE PÚBLICO E AVALIAÇÃO:

Promover periodicamente estudos de público e não-público, com caráter

qualitativo e quantitativo, além de diagnósticos de participação, com o intuito

de avaliar o cumprimento dos objetivos do museu, visando à progressiva

110

melhoria da qualidade de seu funcionamento e ao atendimento às necessidades

dos visitantes.

ACESSIBILIDADE:

Promover ações educacionais que garantam à acessibilidade ao museu;

Estimular a formação da equipe de educação do museu a partir de parcerias

com instituições especializadas no atendimento de pessoas com necessidades

especiais.

Em relação à Carta de Belém (2014), ela demarca a ampliação das discussões sobre

educação museal, inserindo no debate, não só os profissionais do Ibram, mas todos os

profissionais, ou interessados nessa área. A Carta tem como base a Carta de Petrópolis, e

documentos políticos da área museal, tais como: o Plano Nacional de Cultura, a Política

Nacional de Museus, o Estatuto de Museus e o Plano Nacional Setorial de Museus. Foram

formuladas propostas no Fórum Virtual do Programa Nacional de Educação Museal, contando

com 708 pessoas cadastradas e 55 articuladores, entre profissionais de educação museal e

representantes da sociedade civil e 23 Encontros Regionais, realizados em 13 estados, que

reuniram cerca de 650 pessoas, elencando 57 diretrizes.

O encontro realizou-se no Hangar Centro de Convenções, em Belém, nos dias 24 e 25

de novembro de 2014, durante o 6º Fórum Nacional de Museus, o Encontro Nacional do

Programa Nacional de Educação Museal-PNEM com o objetivo de definir os princípios e

parâmetros para a criação e posterior implementação da Política Nacional de Educação

Museal.

O primeiro setor educativo institucionalizado foi criado em 1927, no Museu Nacional

no Rio de Janeiro. Desde então existe diversas demandas por uma institucionalização no

campo. A construção de uma Política Nacional de Educação Museal foi evidenciada no I

Encontro de Educadores do Ibram, realizado em Petrópolis (2010). Tendo continuidade com

as ações do Programa Nacional de Educação Museal. Até a Plenária que resultou na Carta de

Belém (2014). E definiu os princípios e encaminhamentos na proposta de formulação da

minuta da Política Nacional de Educação Museal, que será elaborada pela equipe do PNEM,

tendo como base os documentos historicamente criados para a elaboração da Política. Os

Princípios foram:

111

PRINCÍPIO 1: Estabelecer a educação museal como função dos museus reconhecida nas leis

e explicitada nos documentos norteadores, juntamente com a preservação, conservação,

comunicação e pesquisa.

PRINCÍPIO 2: A educação museal compreende um processo de múltiplas dimensões de

ordem teórica, prática e de planejamento, em permanente diálogo com o museu e a sociedade.

PRINCÍPIO 3: Garantir que cada instituição possua setor de educação museal, composto por

uma equipe qualificada e multidisciplinar, com a mesma equivalência apontada no

organograma para os demais setores técnicos do museu, prevendo dotação orçamentária e

participação nas esferas decisórias do museu.

PRINCÍPIO 4: Cada museu deverá construir e atualizar sistematicamente a sua Política

Educacional, em consonância ao Plano Museológico, levando em consideração as

características institucionais e dos seus diferentes públicos, explicitando os conceitos e

referenciais teóricos e metodológicos que embasam o desenvolvimento das ações educativas.

PRINCÍPIO 5: Assegurar, a partir do conceito de Patrimônio Integral, que os museus sejam

espaços de educação, de promoção da cidadania e colaborem para o desenvolvimento regional

e local, de forma integrada com os diversos setores dos museus.

Os princípios norteadores, para a construção da Política Nacional de Educação Museal,

presente na Carta de Belém, não rompem com os princípios que fundamentam a Carta de

Petrópolis, ou os demais documentos que são referencias no campo, no entanto, como dito,

antes na analise dos conceitos sobre educação museal, eles apontam, de alguma maneira, para

uma abertura, que, possibilita uma construção que se distancie de um modo engessado de

compreender o que seria a educação no espaço do museu.

O texto final da Política Nacional de Educação Museal, estava previsto para o segundo

semestre de 2015, com a realização do II Encontro Nacional do PNEM. Mas ele ainda não

aconteceu, e não tem uma data exata para acontecer. Esse será o próximo passo para a criação

e posterior implementação da Política Nacional de Educação Museal. Esse texto será votado,

portanto, abre, uma leve fissura, em relação à democratização de acesso as questões discutidas

nesse âmbito museal. Digo leve, pois o fechamento do documento será realizado pelo Ibram,

de acordo com as seguintes premissas:

112

Garantir a sistematização de conteúdos dos documentos criados no processo de

construção da PNEM, para a construção da minuta em reuniões presenciais da equipe do

PNEM, no primeiro semestre de 2015;

Ampla divulgação da minuta da Política Nacional de Educação Museal e da realização

do II Encontro Nacional do Programa Nacional de Educação Museal (II ENPNEM), entre os

profissionais da educação museal, instituições culturais e educacionais, com antecedência

mínima de 3 meses;

● Parceria entre o Ministério da Cultura, em especial o IBRAM, e outros Ministérios, o

ICOM, os Sistemas Estaduais e Municipais de Museus, Secretarias de Educação, Cultura e

afins, REMs, Museus públicos e privados, entre outras instituições e organizações, para a

divulgação e construção do II ENPNEM;

● Garantia de ampla participação nacional nos fóruns de decisão e encaminhamento;

● Posterior garantia dos trâmites oficiais para a institucionalização da Política Nacional de

Educação Museal, com a publicação de Documento Norteador e devidos encaminhamentos

legais;

● Manutenção dos processos democráticos de consulta e participação dos educadores

museais e da sociedade civil na elaboração, implementação e avaliação da Política Nacional

de Educação Museal

O processo de institucionalização de um campo demanda muitas questões, as

problemáticas da institucionalização, ou da não institucionalização, não se restringe só ao

acesso a Políticas Governamentais. Mas a disputa de sentidos, a lutas por instaurar processos

hegemônicos. A institucionalização, no sentido laclauniano é marcada pela perca da

capacidade de produzir novas metáforas, passa a ser uma metonímia, marcada pela perda de

potencia.

No entanto, no contexto social atual, existem alguns acessos, permitidos apenas pela via

da institucionalização, os profissionais que atuam nos museus, marcam um lugar, nesse

campo. O PNEM busca estabelecer diretrizes unificadoras do campo e da atuação profissional

dos educadores em museus. Para Ernesto Laclau as instituições, são necessárias, mas a

institucionalização não. Para ele a institucionalização sacraliza as instituições, e torna-as

distantes. Ele tenciona o conceito de institucionalização com o de Populismo. Laclau

ressignifica o conceito de Populismo, em sua teoria o termo não tem um sentido pejorativo,

significa um modo de construir o político.

113

O campo sobre educação museal sai de um nível baixo de institucionalização, para o

aumento dessa institucionalidade. Esse movimento fica expresso, através da criação de: cursos

de especialização sobre educação museal, assim como o aumento nos cursos de Museologia,

centros, núcleos, cursos, currículos específicos, literatura específica, Programas, a Política

Nacional. Podemos dizer que, o momento atual, marca uma transição, no campo da educação

museal. No sentido, de afirmação da mesma, enquanto política pública.

Não só existem ganhos, ou perdas, nesse processo, mas, os dois, é um movimento de

dupla face. Podemos dizer, que quando uma concepção se institucionaliza, a ideia originaria,

perde a forma que alimentava sua legitimidade. A institucionalização significa que o caráter

subversivo, já não existe, está previsto no corpo institucional. No cenário contemporâneo,

uma questão que pode ser alvo de reflexão é: a institucionalização vive um momento de perca

de potência? Ou existe a ―institucionalidade‖ de nossa capacidade de subversão?

O Programa Nacional de Educação Museal/PNEM é um programa que se pretende

democrático e pautado na diversidade, no entanto, O Instituto Brasileiro de Museus é

responsável pela administração direta de 30 museus, em um universo de mais de três mil

museus. Maria Cristina Oliveira Bruno (2006) chama atenção para as distancias entre as

expectativas e desejos de realizar uma prática museal inclusiva e democrática, em contraste

com uma Museologia que muitas vezes reitera características elitistas e excludentes.

Paul Ricoeur considera a imaginação uma categoria central na construção de narrativas.

A palavra imaginação, simplesmente não aparece nos documentos, que são considerados

marcos para o campo, tanto nos Documentos do PNEM: Carta de Belém e Documento

Preliminar; como nos Documentos de referência: Carta de Petrópolis – Subsídios para a

construção de uma Política Nacional de Educação Museal, Metas do Plano Nacional de

Cultura, Plano Nacional de Cultura – PNC, Plano Nacional Setorial de Museus – PNSM,

Politica Nacional de Museus – PNM, Documento Preliminar do PNEM.

O discurso para Ricoeur tem inicio na palavra, posteriormente na frase, até compor um

discurso. A ausência da palavra imaginação, nesse cenário, limita as possibilidades de fazer

associações com a educação museal. A imaginação parece ser uma categoria, que está

ausente, não só do espaço do museu. O contexto social não fornece muitas possibilidades de

construir processos que favoreçam a imaginação, seja no âmbito escolar ou museal, parecem,

não considerar a imaginação como um elemento, relevante.

A próxima seção vai se concentrar nos aspectos teórico-metodológicos da pesquisa.

114

5. ASPECTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

Este capítulo, o último desta breve incursão sobre as potenciais semelhanças e

contrastes da relação entre educação museal e forma escolar, concentra o desenho teórico-

metodológico da pesquisa. A escolha, nesse estudo, por uma abordagem Pós-estruturalista

está relacionada aos potenciais críticos/reflexivos que essa teoria pode oferecer. Pois não é

pretensão desse texto promover fechamentos, anular diferenças, fornecer respostas

inquestionáveis e definitivas; mas identificar quais os principais discursos que se articularam

na construção da concepção de educação museal.

Paul Ricoeur e Ernesto Laclau abordam a constituição da subjetividade, por meio das

relações sócio culturais, em uma análise contemporânea da linguagem.O desafio

teórico/metodológico desta pesquisa é articular os conceitos de discurso, hegemonia, lógica

dos significantes- vazio e flutuante, no pensamento de Ernesto Laclau e Chantal Mouffe43

e a

concepção hermenêutica da teoria de Paul Ricoeur, com as narrativas que compõem o campo

conceitual sobre educação museal.

Em um primeiro momento, será feita uma breve análise sobre a ampliação da noção de

documento, no sentido de situar o método e as fontes de pesquisa. Em seguida, serão

explicitadas algumas diferenças entre o modelo de pensamento Paradigmático e o Narrativo,

Feito isso, serão criadas aproximações, da abordagem pós- estruturalista, em especifico da

Teoria do Discurso, com objeto de pesquisa. Posteriormente, a intenção é evidenciar a relação

da imaginação com a construção do conhecimento.O pensamento hermenêutico de Ricoeur-

se debruça de modo critico sobre a própria interpretação. Para Ricoeur a imaginação possui o

papel de interpretar o real, como uma função da ficção, na re-descrição da realidade, condição

fundamental no processo de inventar novos mundos.

43

Os conceitos em parceria com Chantal Mouffe são o de discurso e hegemonia.

115

5.1 O método de pesquisa documental:

Os caminhos e meios das ciências nunca poderão atingir a essência da ciência.

Todavia, como ser pensante, todo pesquisador e mestre da ciência, todo homem que

atravessa uma ciência, pode mover-se em diferentes níveis do sentido e manter-lhe

sempre vivo o pensamento.

Martin Heidegger

As noções do que é ou não documento passou por diversas modificações ao longo da

história No final do século XIX, com a escola positivista, a representação do registro

escolhido como documento, pela maioria dos historiadores era o escrito, sobretudo o oficial.

(SÁ-SILVA, ALMEIDA, GUINDANI, 2009). Esse documento assumia o peso da prova

histórica e para os pesquisadores ratificava a objetividade esperada da pesquisa.

A valorização do documento como garantia de objetividade, marca indelével

dos historiadores positivistas, exclui a noção de intencionalidade contida na

ação estudada e na ação do pesquisador, sendo esse processo construído

historicamente. A palavra documento com o sentido de prova jurídica,

representação que se mantém até a atualidade, já era usada pelos romanos,

tendo sido retomada na Europa Ocidental no século XVII. Assim, os

historiadores positivistas, ao se apropriarem do termo, conservam-lhe o

sentido de prova, agora não mais jurídica, e sim com status científico. O

próprio fato de nomear a palavra documento aos testemunhos históricos

traduz uma concepção de história que confunde o real com o documento e o

transforma em conhecimento histórico. Captar o real nessa lógica cartesiana

seria conhecer os fatos relevantes e fundamentais que se impõem por si

mesmos ao conhecimento do pesquisador. (SÁ-SILVA, ALMEIDA,

GUINDANI, 2009).

Mas esse conceito de documento foi modificado com as transformações ocorridas na

concepção da História, enquanto disciplina e método, tendo como principal impulsionador o

movimento feito pela Escola de Annales44

. Essa escola, ao privilegiar uma abordagem mais

globalizante, amplia consubstancialmente o conceito de documento: ―tudo o que é vestígio do

passado, tudo o que serve de testemunho, é considerado como documento ou fonte‖

(CELLARD, 2008, p.296 apud SÁ-SILVA, ALMEIDA, GUINDANI, 2009, p. 08). E mais:

pode tratar-se de textos escritos, mas também de documentos de natureza iconográfica e

cinematográfica, ou de qualquer outro tipo de testemunho registrado, objetos do cotidiano,

elementos folclóricos, etc.

44

A Escola dos Annales foi um movimento historiográfico surgido na França, durante a primeira metade do

século XX. Mais informações ver: BURKE, Peter. A Escola dos Annales: 1929-1989. São Paulo: Edit. Univ.

Estadual Paulista, 1991.

116

Pode-se, até, qualificar de documento um relatório de entrevista, ou anotações feitas

durante uma observação: ―Qualquer suporte que contenha informação registrada, formando

uma unidade, que possa servir para consulta, estudo ou prova. Incluem-se nesse universo os

impressos, os manuscritos, os registros audiovisuais e sonoros, as imagens, entre outros‖.

(CELLARD, 2008, apud SÁ-SILVA, ALMEIDA, GUINDANI, 2009). Essa visão amplia a

definição de documento. De acordo com o conceito técnico da Associação de Arquivistas

Brasileiros, o documento define-se como qualquer informação fixada em um suporte (AAB,

1990).

Mazzotti e Gewandsznajder (2002) consideram como ―documento qualquer registro

escrito que possa ser usado como fonte de informação‖ (MAZZOTI &

GEWANDSZNAJDER, 2002, p. 169). Marli André e Menga Ludke (1986) também

defendem uma visão ampla do que pode ser considerado documento, os autores colocam:

―São considerados documentos ‗quaisquer materiais escritos que possam ser

usados como fonte de informação sobre o comportamento

humano‘(PHILLIPS, 1974, p. 187). Estes incluem desde leis e regulamentos,

normas, pareceres, cartas, memorandos, diários pessoais, autobiografias,

jornais, revistas, discursos, roteiros de programas de rádio e televisão até

livros, estatísticas e arquivos escolares‖ (LÜDKE e ANDRÉ, 1986, p. 38).

Na perspectiva Museológica, de acordo com Ulpiano Bezerra de Meneses (1994)

qualquer objeto pode funcionar como documento. O documento histórico o é pela questão do

conhecimento, pois o documento não tem sua própria identidade ou uma alta carga de

informação. É o historiador quem fala pelo documento (por meio de uma operação retórica),

ele não faz o documento falar (MENESES, 1994). Se, ao invés de usar uma caneta para

escrever, lhe são colocadas questões sobre o que seus atributos informam relativamente à sua

matéria-prima e respectivo processamento, à tecnologia e condições sociais de fabricação,

forma, função, significação etc. - este objeto utilitário está sendo empregado como documento

(MENESES, 1994, p. 21).

O método de análise desta pesquisa foi o bibliográfico e documental, e inclui a:

Plataforma virtual do PNEM (em particular as discussões do Fórum e dos grupos de trabalho

específicos sobre educação museal); os documentos tomados como referência na construção

da PNEM: Documento Preliminar do PNEM, Carta de Belém, Carta de Petrópolis – Subsídios

para a construção de uma Política Nacional de Educação Museal, Metas do Plano Nacional

de Cultura, Plano Nacional de Cultura – PNC, Plano Nacional Setorial de Museus – PNSM,

117

Politica Nacional de Museus – PNM. Além de artigos, teses, dissertações, revistas /

periódicos sobre educação e museus / educação museal.

As Cartas Patrimoniais exercem um importante papel social, e tem estabelecido alguns

marcos no campo museal, são usadas como referência conceitual nas políticas de preservação

do patrimônio, em diferentes áreas: conservação, restauro, legislação. O primeiro documento

de recomendações internacionais de conservação, manutenção e utilização do bem cultural,

foi a Carta de Atenas (1931). No geral, as cartas têm caráter indicativo, são documentos

concisos e sintetizam os pontos a respeito dos quais foi possível obter consenso, oferecendo

indicações de modo geral. Possuem, portanto, condição indicativa, ou, no máximo,

prescritiva.

A Carta de Petrópolis (2010) é considerada o documento subsídios para a construção da

Política Nacional de Educação Museal e a Carta de Belém (2014) lança os Princípios e

Parâmetros para a criação e posterior implementação da Política Nacional de Educação

Museal. A análise das cartas, enquanto recurso metodológico possibilitou fazer um esboço

sobre o direcionamento das ações no campo museal. E observar como uma síntese das

discussões, quais processos de articulação permitem a hegemonização de determinados

sentidos.

As cartas são importantes instrumentos no campo museal. Algumas cartas, já

mencionadas no decorrer do texto, são utilizadas como marcos que estabeleceram mudanças

importantes. Manuellina Duarte Cândido (2003) ressalta a relevância de algumas dessas cartas

para renovação do cenário Museológico Porém, as Cartas não se constituem como um

modelo, pronto a ser aplicado, impõe uma análise crítica do documento. Também é necessário

considerar os limites das cartas, enquanto instrumentos de observação:

(...) três dos principais marcos do movimento da Nova Museologia – Cartas

de Santiago, Quebec e Caracas – e o documento final do Seminário Regional

da UNESCO sobre a Função Educativa dos Museus, do Rio de Janeiro, que

inaugura uma linha de seminários regionais e a perspectiva de pensar a

Museologia a partir de olhares não europeus. São documentos fundamentais

para o entendimento da renovação no cenário museológico internacional e,

notadamente, na América Latina, onde a maior parte deles tomou corpo.

(DUARTE, 2003, p.17)

118

5.2 O Pensamento Paradigmático e o Narrativo

A realidade não se reduz ao que pode ser visto. Identifica-se também ao que pode

ser dito. Há uma síntese do visto e do dito numa filosofia do discurso, mas que só se

aplica à ordem das coisas. No mundo humano, permanece uma dualidade: o dado e o

sentido são irredutíveis.

Paul Ricoeur

Para Paul Ricoeur (2010) a narrativa é constitutiva, agencia fatos, ou seja, não existe um

vínculo natural entre os acontecimentos. Segundo Ricoeur ao narrar uma história não se

separa a explicação da compreensão. Ricoeur não dicotomiza narração/compreensão e

explicação. Ele traz a explicação para dentro dos esquemas compreensivos, de maneira que a

explicação desempenha um papel ancilar, de apoio à compreensão. Nesse sentido, é que as

teorias servem às narrativas, ajudando na construção de verossimilhança e inteligibilidade.

Explicar melhor é compreender melhor:

Acompanhar uma história é, com efeito, compreender as ações, os

pensamentos e os sentimentos sucessivos como tendo uma direção particular

(directedness): entenda-se por isso que o desenvolvimento nos leva para

frente na medida em que respondemos a essa impulsão com expectativas

concernentes ao fim e ao desfecho do processo todo. Percebe-se desde já que

compreensão e explicação estão inextricavelmente mescladas nesse

processo. (IBIDEM, 2010, pg. 248)

O conceito de followability é um principio estrutural da narrativa (IBIDEM, 2010), pois,

preenche uma lacuna deixada pela analise da frase narrativa- o de explicar dentro de

esquemas de compreensão, para que as histórias possam ser acompanhadas. A followability é

a capacidade de seguir uma história Assim, tem que existir uma inteligibilidade na trama. O

Modelo nomológico45

, oposto ao sintagmático, não reconhece a inteligibilidade da narrativa.

Antonio Bolívar Botía (2002) analisa a perspectiva narrativista enquanto uma maneira

que altera o modo habitual de compreender o conhecimento, e do que importa conhecer. Sem

deixar de expor os limites epistemológicos que surgem no uso de apenas um enfoque

narrativo. Para Botía existem diferenças entre o modelo Paradigmático e o Narrativo, mas ―a

oposição entre o paradigmático e o narrativo não implica uma dicotomia‖ (BOTÍA, 2002,

pg.10). A não dicotomização defendida por Botía se articula com a proposta de Ricoeur de

não separação entre compreensão e explicação.

45

Nomológico tem origem na palavra Grega nomos- lei, Ricoeur faz uma critica a esse modelo, pois o modelo

nomológico é uma visão formaliza da explicação científica, assim o conhecimento histórico fica submetido a

leis. (Ricoeur, 2010) O termo paradigmático, neste texto, não é utilizado como sinônimo de modelo, mas em

relação à Nomológico.

119

O pensamento Paradigmático está relacionado: a busca de verdades universais;

convencimento através de provas empíricas; causalidade; formação de proposições;

consistência. E o pensamento Narrativo está em outro ponto; não pretende apresentar

verdades inquestionáveis, busca por verossimilhança. Assim, cria maiores possibilidades de

―engatilhar‖, mudanças de um plano para o outro. Para Jerome Bruner (2002), de acordo com

a ênfase dada a cada tipo de pensamento, a experiência pessoal do indivíduo e a construção da

realidade vão ter diferentes significações. De acordo com Bruner:

Cada uma das maneiras de conhecimento tem princípios operativos próprios

e seus próprios critérios de boa formação. [...] ambos podem ser usados

como meio de convencer o outro. Não obstante, do que eles convencem é

fundamentalmente diferente: os argumentos convencem alguém de sua

veracidade, as histórias de sua semelhança com a vida. O primeiro comprova

através de um possível apelo a procedimentos para estabelecer provas

formais e empíricas. O outro estabelece não a verdade, mas a

verossimilhança. (BRUNER, 2002, p.12)

O quadro abaixo ilustra algumas distinções entre os modelos Paradigmático e Narrativo,

na visão de Jerone Bruner:

Quadro 03: Duas formas de conhecimento científico no estudo da ação humana, de acordo com Jerone

Bruner.

Paradigmático

(Lógico-científico)

Narrativo

(Literário-histórico)

Carácteres Estudo ―científico‖ da conduta

humana. Proposicional.

Saber popular, Construído de

modo biográfico-narrativo.

Métodos de

verificação

Argumentos: procedimentos e métodos

estabelecidos pela tradição positivista.

Relato: Hermenêuticos,

interpretativos, etc.

Discursos Discurso da investigação: enunciados

objetivos, não valorização da

abstração.

Discurso da prática: expressado

em intenções, desejos, ações,

historia particulares.

Tipos de

conhecimento

Conhecimento formal, explicativo por

causa-efeito, segurança, previsível.

Conhecimento prático, que

representa intenções e

significados, verossímil, não

transferível.

Formas Proposicional: categorias, regras,

princípios. Desaparece a voz do

investigador.

Narrativo: particular e temporal,

metáforas, imagens.

Representadas pelas vozes dos

atores e investigadores.

Fonte: Revista Electrónica de Investigación Educativa Vol. 4, No. 1, 2002/ Botía (2002)

Tradução livre da autora.

120

Para Bruner os dois modos de funcionamento cognitivo constroem realidades e

experiências, cada uma da sua forma: Para ele, os dois modos de pensamento, são

complementares, porém, irredutíveis.

De acordo com Botía o modo Paradigmático:

El modo paradigmático de conocer y pensar, de acuerdo con la tradición

lógico científica heredada, se expresa en un conocimiento proposicional,

normalmente, normado por reglas, máximas o principios prescriptivos. Este

modo paradigmático no se identifica estrictamente con el positivismo

clásico, aunque lo comprende. (BOTÍA, 2002, p.08)

Enquanto o modelo Narrativo:

Por contraste, el segundo, emergente, es el modo narrativo (sintagmático),

caracterizado por presentar la experiencia concreta humana como una

descripción de las intenciones, mediante una secuencia de eventos en

tiempos y lugares, en donde los relatos biográfico-narrativos son los medios

privilegiados de conocimiento e investigación (BOTÍA, 2002, p. 08).

Botía não contrapõe um modelo ao outro, para ele cada modelo carrega em si suas

especificidades:

Los dos modos (si bien son complementarios) son irreductibles entre sí. Los

intentos de reducir una modalidad a la otra o de ignorar una a expensas de la

otra hacen perder inevitablemente la rica diversidad que encierra el

pensamiento. Además, esas dos maneras de conocer tienen principios

funcionales propios y sus propios critérios Difieren fundamentalmente en sus

procedimientos de verificación. (Bruner, 1988, p. 23 apud. BOTÍA, 2002, p.

08).

Bruner e Botía chamam atenção para os princípios fundamentais, de cada modo de

pensamento, e seus procedimentos de verificação. O modelo escolhido em cada pesquisa está

relacionado aos diferentes modos de compreender cada objeto, e filiações

teórico/metodológicas. A proposta narrativa, como caminho metodológico, rompe com as

noções de objetividade e totalidade sociais que informam as principais tradições políticas

modernas. Como explicita Botía:

Kant encabezaba la segunda edición de su Crítica de la razón pura con el

lema anterior (en formulación afirmativa), tomado de Francis Bacon, como

signo y garantia de objetividad de la obra. Sólo cuando se elimina la

individualidad se está realmente haciendo ciencia. ¿Qué ha ocurrido desde

entonces como para que consideremos que ―sobre nosotros mismos

callamos‖ deba, paradójicamente, ser cambiado por “de nobis ipsis

121

loquemur” (sobre nosotros mismos hablamos)? El ideal positivista fue

establecer una distancia entre investigador y objeto investigado,

correlacionando mayor despersonalización con incremento de objetividad.

La investigación narrativa viene justo a negar dicho supuesto, pues los

informantes hablan de ellos mismos, sin silenciar su subjetividad. (BOTÍA,

2002. P.02)

O esquema do quadro abaixo, proposto por Botía, baseado nas categorias de Bruner, faz

um paralelo entre a análise de dados, em um modelo Paradigmático e Narrativo:

Quadro 04: Contraste entre dois tipos de análise de dados: Narrativo/Paradigmático

Análise Paradigmático Análise Narrativo

Modo de análise Tipologias, categorias,

normalmente estabelecido de

modo indutivo.

Conjuntar dados e vozes em

uma historia o trama,

configurado em um novo relato

narrativo.

Interesses Tema comum, agrupamentos

conceituais, que facilitam a

comparação entre casos.

Generalizações.

Elementos distintos e

específicos. Revelar o caráter

único e próprio de cada caso.

Singularidade.

Critérios Comunidade científica

estabelecida: tratamento

formal e categorial.

Autenticidade, coerência,

compreensível, caráter único.

Resultados Informe ―objetivo‖: análises

comparativas. As vozes como

ilustração.

Gerar uma nova historia

narrativa conjunta – a partir

das distintas vozes- pelo

investigador.

Exemplos Análises de conteúdo

convencional, ―teoria

fundamentada‖.

Informes antropológicos, boas

reportagens, periódicos e

televisivas. Fonte: Revista Electrónica de Investigación Educativa Vol. 4, No. 1, 2002/ Botía (2002)

Tradução livre da autora.

Este estudo aponta para a importância metodológica dos processos narrativos, para a

dimensão ―performática‖ da narrativa, em que o sujeito vai se constituindo, a si e também ao

mundo, na hora de narrar. O performático, nessa linha, pode ser percebido em contraste a uma

enunciação que se pretende constatativa, é nesse sentido que nossa discussão sobre educação

museal é também performática. Pois tenta romper com uma noção representacionista da

narrativa, limitada a uma dimensão lingüística, que se realiza paralelamente aos processos

sociais reais. O conhecimento narrativo, nesse sentido, se assume como performático,

criativo, se distanciando de uma noção de ciência como discurso meramente constatativo.

Segundo Antonio Bolívar Botía (2002):

122

La narrativa no es sólo una metodología; como señaló Bruner (1988), es una

forma de construir realidad, por lo que la metodología se asienta, diríamos,

en uma ontología. En primer lugar, la individualidad no puede explicarse

únicamente por referentes extraterritoriales, por emplear los términos de

Julia Kristeva. La subjetividad es, más bien, una condición necesaria del

conocimiento social. La narrativa no sólo expresa importantes dimensiones

de la experiencia vivida, sino que, más radicalmente, media la propia

experiencia y configura la construcción social de la realidad. Además, un

enfoque narrativo prioriza un yo dialógico, su naturaleza relacional y

comunitaria, donde la subjetividad es una construcción social,

intersubjetivamente conformada por el discurso comunicativo. El juego de

subjetividades, en un proceso dialógico, se convierte en un modo

privilegiado de construir conocimiento. (BOTÍA, 2002, p.04)

Um fio condutor possível, no sentido de estabelecer diferenciações entre os elementos

estruturantes da forma escolar e a educação museal, consiste nessa abordagem dos modelos de

pensamento Narrativo e Paradigmático. Bruner destaca a narrativa, como um dos meios, pelos

quais é possível desenvolver um tipo de pensamento mais critico, o pensamento

metacognitivo, no sentido, do exercício de pensar sobre o próprio pensamento. Bruner

acredita que as escolas deveriam adotar a narrativa como ferramenta para o ensino das mais

diversas disciplinas Para ele é por meio das histórias que o indivíduo se conhece e conhece o

outro.

No universo escolar, existe uma predominância do modo Paradigmático de pensamento.

Podemos dizer que a forma escolar é baseada nesse modelo. A educação museal, parece, não,

estar muito distante dessa concepção. O aspecto disciplinar dos espaços escolar/museal,

mencionado anteriormente, cruza com o aspecto disciplinar social mais amplo que, por sua

vez, está associado à discussão acerca das formas de conhecimento Paradigmático.

A definição do que é ciência, e o que são métodos científicos, passou por diversas

concepções, não existe, e possivelmente não existira um consenso, devido a diversidade de

opiniões. De fato, o que podemos concluir é que os critérios utilizados anteriormente para

definir o que é ou não ciência, não conseguem atender as demandas do pensamento atual.

Alda Judith Mazzotti e Fernando Gewandsznajderv (2001) em seu texto discutem a

possibilidades de se construir conhecimentos confiáveis sobre as ciências sociais, não

restringindo à discussão a questão do que é ou não ciência.

Falar sobre ciência e conhecimento científico atualmente constitui uma

tarefa difícil. Novos paradigmas, gerados tanto no âmbito da própria ciência

como em outras áreas do conhecimento, vêm questionando pressupostos e

procedimentos que até então orientavam a atividade cientifica e conferiam

credibilidade a seus resultados. A visão de uma ciência objetiva, neutra, a-

histórica, capaz de formular leis gerais sobre o funcionamento da natureza,

123

leis estas cujo valor de verdade seria garantido pela aplicação criteriosa do

método já não se sustenta. Hoje, a maioria dos cientistas admite que o

conhecimento nunca é inteiramente objetivo, que os valores dos cientista

podem interferir no seu trabalho, que os conhecimentos gerados pela ciência

não são infalíveis e que mesmo os critérios para distinguir o que é, e o que

não é ciência variam ao longo da história. (MAZZOTTI,

GEWANDSZNAJDERV, 2001, p.109)

Boaventura de Souza Santos (1989) propõe um debate sobre a necessidade das

condições teóricas serem realizadas em conjunto com as condições sociais, pois as condições

teóricas serão de pouca ou nenhuma eficácia se não forem realizadas sob certas condições

sociais. Segundo Boaventura estamos em uma fase de transição paradigmática46

, que passa

por um período de ―reconceitualização‖ em função de uma nova concepção pós-moderna de

ciência. Onde a epistemologia representa, em qualquer uma das suas correntes, a consciência

da ciência moderna, devendo a mesma ser submetida à reflexão hermenêutica, levando a um

processo de ―desdogmatização‖ da ciência.

Mas para isso é preciso adotar uma concepção de ciência que facilite a reflexão

hermenêutica. Para Boaventura a concepção pragmática de ciência permite romper com a

circularidade da teoria, sendo completada e articulada com a concepção retórica do discurso

científico, assim tanto pela via do pragmatismo, como pela via da retórica, o saber científico

abre-se a outros saberes e assim se propicia a segunda ruptura epistemológica. Sendo o ato

epistemológico mais importante à ruptura com a ruptura epistemológica. Boaventura acredita

que a hegemonia incondicional do saber científico, marginalizou outros saberes, que estavam

em conjunto com a sabedoria prática (a phronesis). Botía reforça que:

La investigación biográfica y narrativa en educación se asienta, pues, dentro

del ―giro hermenéutico‖ producido en los años setenta en las ciencias

sociales. De la instancia positivista se pasa a una perspectiva interpretativa,

en la cual el significado de los actores se convierte en el foco central de la

investigación. Se entenderán los fenómenos sociales (y, dentro de ellos, la

educación) como ―textos‖, cuyo valor y significado, primariamente, vienen

dados por la autointerpretación que los sujetos relatan en primera persona,

donde la dimensión temporal y biográfica ocupa uma posición central.

(BOLIVAR, 2002. P.4)

46

Neste caso, Boaventura utiliza a expressão paradigmático como sinônimo de modelo.

124

5.3 Pós-estruturalismo: o discurso como uma prática de significação do mundo

Prestar atenção em um aspecto faz com que este salte para o primeiro

plano, invadindo o quadro, como em certos desenhos diante dos quais

basta fecharmos os olhos e ao abri-los a perspectiva já mudou.

Ìtalo Calvino

O pós‐estruturalismo não se refere a um movimento homogêneo, como uma escola de

princípios definidos. Em linhas gerais, é um modo de pensamento que questiona aspectos

centrais do projeto de modernidade, ligados a uma concepção essencialista de sujeito,

presente no pensamento Iluminista. Segundo Ernesto Laclau (1996) essa teoria procura

desconstruir a concepção de sujeito centrado, posicionado a partir de determinadas relações

estruturais, mas ainda mantém, com este, alguns pontos em comum.

Pois, o pós-estruturalismo emerge do estruturalismo. Assim, algumas questões de

ruptura, centrais na perspectiva estruturalista, continuam na abordagem pós-estruturalista, de

maneira ressignificada, como: a descentralização do sujeito; a importância fundamental

atribuída à lingüística- o caráter arbitrário do signo- de não existir um predomínio do

significante sobre o significado; a ênfase na natureza relacional das totalidades, e ao aspecto

temporal como algo constitutivo e integrante da natureza dos objetos e eventos; a critica aos

pressupostos universalistas da racionalidade; a valorização da ideia de inconsciente; e a

relevância das estruturas no comportamento humano.

Para Alice Casimiro Lopes e Elizabeth Macedo (2011), o estruturalismo elimina a ideia

de sujeito, enquanto um ser autônomo, livre e autoconsciente, como até então postulava a

modernidade. Entender o mundo passa a ser entender as estruturas que o constituem, seja

porque os sentidos estão na estrutura, ou porque a própria ―consciência humana" é também

ela produzida por estruturas invariantes; o que pode ser feito por intermédio da análise

estrutural da linguagem. Para elas: ―essa é uma análise que privilegia o sincrônico (termos

localizados em uma situação, sem historia), sem atenção ao diacrônico (sucessão dos termos

ao longo do tempo)‖. (LOPES, MACEDO, 2011, p. 39)

Lopes e Macedo (2011), reforçam as aproximações entre estruturalismo e pós-

estruturalismo no que concerne às críticas à Modernidade, mas chamam atenção para muitos

afastamentos. Para elas:

125

O estruturalismo tem uma pretensão científica de se constituir em método

para as ciências sociais e isso impacta fortemente sua capacidade de lidar

com a linguagem, Desenvolvido por autores como Saussure, no campo da

lingüística, Lévi-Strauss, na antropologia ou Piaget, na psicologia da

educação, o estruturalismo advoga a existência de uma estrutura ou sistema

ou conjunto de relações que subjaz aos fenômenos. É por isso que dizemos

que a realidade e constituída pela linguagem, entendida, em sentido amplo,

como um sistema abstrato de relações diferenciais entre as suas várias partes,

Qualquer sentido é dado por tal sistema, por uma estrutura invariante que

constitui ela mesma a realidade. A criação de sentidos só é possível tendo

em vista a estrutura do texto ou a estrutura cognitiva do leitor. (LOPES,

MACEDO, 2011, p. 38)

Para Ernesto Laclau o descentramento do sujeito anunciado pelo pós‐estruturalismo

possibilita pensar nas formas pelas quais múltiplas experiências que são vivenciadas em

diferentes contextos e neste movimento vão constituindo identidades que nos definem como

sujeitos. Nesta perspectiva, o pós‐estruturalismo reafirma a importância da estrutura, não na

constituição do sujeito, mas sim na determinação das diferentes posições de sujeito, que

emergem nos momentos de tomada de decisão (LACLAU, 1996). Para Joanildo A. Burity

(1997):

A partir dos anos 60, uma outra forma de habitar uma tradição se colocou

no horizonte intelectual e político de nosso tempo: trata-se da proposta de

Jacques Derrida, inspirada em Nietzsche e Heidegger, de desconstruir o

edifício que ora se apresenta como monumento dos diversos elementos

constitutivos da tradição, mostrando a contingência e historicidade última de

sua configuração. (BURITY, 1997, P. 02).

De acordo com Lopes e Macedo (2011), a partir da crítica à estrutura, o pós-

estruturalismo desconecta totalmente a ideia de significado do significante. Pois não há

relações estruturais entre dois significantes, não há relações diferenciais fixas entre eles e,

portanto, não há significados a eles associados. Assim, cada significante remete a outro

significante, indefinidamente, sendo impossível determinar-lhe um significado; este é sempre

adiado:

Todo significante é, portanto, flutuante e seu sentido somente pode ser

definido dentro de uma formação discursiva histórica e socialmente

contingente. A questão fundamental se toma: como e em que condições um

determinado discurso é capaz de constituir a realidade? (LOPES, MACEDO,

2011, p. 38)

A abordagem pós‐estruturalista possibilita uma reavaliação do lugar social do sujeito e

da prática social por meio de um pensamento que valorizava a ação. Segundo Laclau (1996)

esta reorientação intelectual pode ser entendida como uma mudança de modelo, marcada pela

126

incorporação do tema da historicidade que passa a ocupar o lugar o qual antes era da estrutura.

Assim, o discurso apresenta-se como uma prática de significação do mundo, não apenas de

sua representação. Não existe uma realidade dada a priori, ela é construída, e significada, a

partir de práticas discursivas.

A educação museal, observada na concepção da TD, é entendida como uma pratica

discursiva. Nesse sentido, refletir sobre a construção de conceitos a respeito da educação

museal vis-à-vis os elementos constitutivos da educação escolar hegemônica (representado

pela forma escolar). Implica incluir essa reflexão, em um patamar mais amplo, que considere

as próprias condições e discursos que possibilitaram a emergência da concepção hegemônica

da forma escolar. E como a atuação e articulação desses discursos passam a definir novas

possibilidades e limites.

A forma escolar valoriza a ideia de educação concebida como um dos modos de

submeter o pensamento humano a uma ordem objetiva. O acesso ao saber, ainda parece,

voltado para uma educação do logos, centrado no controle, fortemente marcado por uma

distância com a vida, com o prazer, a emoção, o afeto. ―imaginação esterilizada‖, des-

potencializada. De acordo com canário: ―a escola sofreu mutações que engendraram as

contradições estruturais e os paradoxos em que hoje se move‖. (CANÁRIO, 2005, P.61).

O cenário político contemporâneo apresenta-se como um terreno fértil para discutir

questões referentes aos contextos educacionais. Mostra-se como um campo marcado por

disputas institucionalizadas e por demandas isoladas. No qual, se travam "lutas‖ por lugares

hegemônicos, por fixação de sentidos. Deste modo, a concepção de significantes vazios é

central para a significação política. A noção de antagonismo e equivalências, proposta por

Laclau, reconhece, a heterogeneidade como constituinte do social. Resultado de práticas

articulatórias entre elementos diferentes. Essa consideração de um sistema diferencial como

condição necessária do social, não anula a presença de conflitos, mas destaca a

impossibilidade de um fechamento no social, nesse sentido:

Se, entretanto, a leitura desconstrutivista nos mostra que a ―ontologia‖ – a

plena reconciliação – é inalcançável, que o tempo esta constitutivamente

deslocado, que o fantasma é a condição de possibilidade de todo o presente,

a política torna-se também constitutiva do vínculo social. Poderíamos dizer

do espectro o que o Groucho Marx dizia sobre o sexo: é algo que vai

permanecer conosco por um tempo. (LACLAU, 2011, p, 112)

127

5.4 Teoria do discurso de Ernesto Laclau: formação discursiva em torno da Educação

Museal

Lembro que, durante minha infância na Argentina, havia um anúncio nos cinemas

que dizia: ―O espetáculo começa quando você chega‖. Bem penso que a

―emancipação‖ é o oposto: um espetáculo a que sempre chegamos tarde e que nos

força a advinhar, penosamente, suas origens míticas e impossíveis. Temos, contudo,

de nos engajar nessa tarefa impossível, que é entre outras coisas, o que dá à

desconstrução seu sentido.

Ernesto Laclau

Em uma concepção estruturalista, associada à semiótica de Ferdinand Saussure, um

signo corresponde a um acoplamento entre significante-significado, essa posição vislumbra

um sistema estável. Na abordagem, pós-estruturalista, existe um desacoplamento, uma não

naturalização do elo entre significante e significado, assim qualquer significante pode ter seu

significado alterado. Existe instabilidade no sistema de significação. Por não naturalizar essa

relação, a Teoria do Discurso, proposta por Ernesto Laclau, cria novas possibilidades de lidar

com as diferenças. Esse desacoplamento entre significante e significado remete a uma

impossibilidade estrutural de significação, porque sempre há uma interrupção (subversão,

distorção), na estrutura do signo (algo interno ao processo de significação). Ana Oliveira

(2013) em sua análise da TD de Laclau reforça que:

A defesa da impossibilidade de uma significação única, na TD, encontra

argumentos no conceito de jogos de linguagem de Wittgenstein, que os

definiu como um todo, um sistema, uma configuração composta de

linguagem oral e escrita e de ações com as quais a linguagem se imbrica e se

constitui. Os significados dos elementos são definidos no interior desses

jogos, e não a priori, pressupondo uma rede de semelhanças que se

sobrepõem e entrecruzam em movimentos de condensação e de

deslocamento (DE ALBA, 2007 apud OLIVEIRA, 2013, p. 04).

A produção de discursos não existe apenas em um nível metalinguístico, onde um

fundamento extra-discursivo possibilita uma crítica ideológica, existindo um lugar

neutro/seguro para tecer essas críticas. Para Laclau ―Categorías como ―distorsión‖ y ―falsa

representación‖ sólo tienen sentido en la medida en que algo ―verdadero‖ e ―no

distorsionado‖ esté al alcance humano‖ ( LACLAU, 2006, p. 12). Mas isto não significa que a

crítica ideológica seja impossível, o que não é possível para Laclau é uma crítica ―de la

ideología en cuanto tal; todas las críticas seran necessariamente intra-ideológicas.47

‖ Pois nos

47

―da ideologia como tal, todas as críticas serão necessariamente intra-ideológicos‖. (Tradução livre do autor).

128

encontramos ligados a mecanismos cujas operações ―extra-ideológicas‖ pertencem a um

―reino ideológico‖.

Segundo Mesquita ―O que caracteriza o discurso ideológico, para Laclau, é seu caráter

negativo, construído mediante as contingências do jogo político, ou seja, não se concebe a

existência de uma objetividade dada do social como uma realidade extra-ideológica‖

(MESQUITA, 2009, p. 20). O que está em questão não é a ―veracidade‖ ou ―falsidade‖ do

conteúdo que se afirma em determinada situação; o discurso é caracterizado como ideológico

quando ele é ―funcional com respeito a alguma relação de dominação social‖ (Zizek, 1996:

13-4 apud IBIDEM, p. 20). A ideologia se faz notar em situações de crise (deslocamento), em

que a estabilidade do social está sempre ameaçada. Procura, entretanto, naturalizar-se como

um discurso objetivo.

Três raízes filosóficas tem inicio no século XX,e partem de uma ―ilusão da

imediaticidade‖(de acesso direto às coisas tais como elas são): o referente (filosofia analítica),

o fenômeno (fenomenologia) e o signo (estruturalismo). Na TD as ―mediações‖ deixam de ser

derivativas e tornam-se constitutivas, isso na esteira de Wittgenstein (filosofia analítica), de

Heidegger (filosofia existencial), e Derrida, Barthes e Lacan (pós-estruturalismo). Para

Joanildo Burity:

A reflexão teórico-política de Ernesto Laclau e o nome com o qual a

designa, pós-marxismo. Situando-se resolutamente na picada aberta pela

crítica desconstrutiva de Derrida, com sua forte ênfase anti-essencialista e

seu renitente motivo da mútua implicação e deformação dos polos de uma

oposição, o trabalho de Laclau articula (num sentido que analisaremos

adiante) uma problemática que coloca a questão da atualidade da tradição à

qual se liga a partir de uma história do presente. Ao mesmo tempo em que o

exercício desta problemática, pela sua própria natureza articulatória, constrói

um outro campo onde as equivalências (ou similitudes) e as diferenças entre

os elementos dos diversos discursos trabalhados encontram um ponto de

condensação. Este é o campo do pós-marxismo. (BURITY, 1997, p.03)

A TD considera a heterogeneidade, como condição inicial para constituição do social.

Laclau pensa sua teoria a partir de um sistema de diferenças. Esse tipo de leitura, não

desconsidera os particularismos das demandas individuais. Assim, a constituição identitária

não fica presa a um sistema fechado. A topografia do social, estruturada desse modo,

possibilita a construção de novas relações e significados. Para Laclau existem dois tipos de

relações sociais fundamentalmente diferentes: de um lado, o particularismos das demandas

que são absorvidas pelo sistema; do outro, as demandas que não são absorvidas pelo sistema.

Essas demandas não absorvidas podem estabelecer uma relação de equivalência.

129

Laclau e Mouffe partem da junção da lógica política de Gramsci e de um conjunto de

categorias do pós-estruturalismo para elabora uma nova teoria da hegemonia. Partem do

conceito derridiano de indecibilidade do social, tudo depende de disputas hegemônicas. Para

os autores, a concepção de hegemonia como movimento político-tropológico, está filiada a

um processo permanente cujo objetivo é a fixação de determinados significados particulares,

desejando que eles possam representar a totalidade. Laclau e Mouffe (1998) assume a

constituição de processos hegemônicos em uma perspectiva que rompe com a lógica

essencialista, presente, em algumas, abordagens marxistas.

Em "Psicanálise e Marxismo" (1983), ―pós-marxismo‖ é apresentado como

"índice de comparação" entre os campos do marxismo e da psicanálise, um

campo novo, resultante do esforço de pensar rigorosamente a tradição

marxista a partir dos desenvolvimentos recentes do pensamento filosófico e

político, bem como das transformações do capitalismo, especialmente a

partir do segundo pós-guerra. Mais amplamente, tal pensar a tradição se

inscreve no caminho aberto pela "destruição da história do Ser" de

Heidegger. Destruição que significa um questionamento radical da face atual

da tradição, a fim de recuperar o sentido original das suas categorias, isto é,

das perguntas às quais ela se pôs a tarefa de responder, da constelação de

alternativas em relação às quais as categorias (e as instituições) da tradição

representam apenas um dos caminhos possíveis. Caminho marcado pela

ambiguidade irredutível de ser uma resposta constituída por/constituinte da

tradição (portanto, integral a ela) e ao mesmo tempo apenas uma das

respostas possíveis. Resposta e parte da tradição, mas não necessaria ou

inquestionavelmente requerida pelos elementos que a compõem - um hímen,

para usar o termo derridiano (Derrida, 1972, apud BURITY, 1997, p.04).

Assim, para ele, na lógica da diferença-as demandas individuais são absorvidas pelo

sistema, e na lógica da equivalência- as demandas não são absorvidas, isso, divide a sociedade

em dois campos. Cria-se um exterior e um interior. Por não serem absorvidas, algumas

identidades são rechaçadas pelo conjunto do sistema. È nesse contexto que Laclau entende o

Termo Populismo, para ele sempre que existir uma divisão de poder- cujas demandas não

podem ser integradas pelo sistema. Relações equivalências são fundadas na exclusão, se

existe algo como limite do sistema, vai haver uma ambigüidade, para Laclau essa é a natureza

da exclusão. Laclau ressignifica48

o termo Populismo, para ele, não tem um sentido

depreciativo.

48

A TD oferece um léxico especifico, de termos criados, ou ressignificados por Laclau. O que torna sua teoria

mais complexa, pois é preciso se apropriar desses novos sentidos. No entanto, isso a torna mais rica, pois cria

novas leituras sobre a realidade.

130

O cenário museal brasileiro é um campo diverso, marcado por demandas individuais;

por lutas por reconhecimento; questões identitária, afirmações de memória; em paralelo a

questões institucionais. Podemos dizer que nos museus a lógica da diferença e a lógica da

equivalência, dentre outras questões, podem ser representadas pelas novas composições de

museus. Que atuam, enquanto instrumentos de representação dos grupos que derivam das

praticas sociais não absorvidas pelo sistema. Assim, essas novas tipologias pretendem, em

grande parte, agregar os programas contemporâneos do fazer museu com as emergentes

mobilizações globais para extensões das políticas de reconhecimento.

Com o aumento do número museus após a segunda guerra e a necessidade de dar conta

de um grande crescimento de formas de representação identitária, se tornou necessário, novas

análises das maneiras de fazer museus. Por exemplo, os museus comunitários, e o conceito de

museologia social, se colocam como alternativas, para cobrir esses novos tipos de

representações.

O contexto atual é marcado pela emergência por reconhecimento, de novas identidades,

que escapavam, em grande medida, ao alcance das ferramentas de análise social oferecidas

pelas perspectivas tradicionais. Os museus comunitário, de tipologia virtual ou física, como

por exemplo: os museus Indígenas, Ecomuseus, Quilombolas, os movimentos de causas

LGBT, entre outros. Essas novas constituições de museus se colocam como narrativas

antagonísticas, enquanto alternativas ao que já está instituído, e faz parte do sistema

hegemônico de significação. Esses eventos tornam a noção de educação museal mais

complexa, e se faz necessário, novas problematizações.

Assim, uma questão importante a considerar é: essas novas formações de museus

passam a funcionar como dispositivos de reconstrução contemporânea da experiência

democrática, ou surgem com uma nova forma de fazer museu, mas que consolidam antigas e

engessadas práticas para lidar com a experiência democrática crescente?

É do diálogo entre Ernesto Laclau e Jacques Lacan que se desenvolve a lógica do

significante. Em Lacan, no sentido de compreender a relação entre inconsciente e linguagem,

o significante como unidade mínima do simbólico, terreno da ambiguidade e da polissemia.

Na filosofia de Laclau, como forma de se compreender os processos sociais de significação.

Segundo Oliveira:

Tomar o significante como unidade do simbólico é considerar a importância

da linguagem e sua sujeição ao discurso na elaboração desse simbólico,

possibilitando a compreensão dos processos sociais de significação, sempre

dependentes de uma articulação entre significantes. Na Teoria do Discurso,

131

essa articulação obedece a duas lógicas: na primeira, um significante é

substituído por outro, buscando manter a mesma significação; na segunda,

são processos de combinação que identificam as diferenças. Essas duas

lógicas, mantendo as aproximações com a forma como se estrutura a

linguagem permitem identificar metáforas que condensam sentidos em um

único significante, ao mesmo tempo em que permitem que um sentido

particular seja metonimicamente alçado à categoria de universal.

(OLIVEIRA, 2013, p. 04).

A abordagem laclaniana, considera o caráter político do social, marcado por diversas

demandas. No qual, se travam "lutas‖ por lugares hegemônicos, por fixação de sentidos.

Deste modo, a noção de significantes vazios é central para a significação política. A noção de

antagonismo e equivalências, proposta por Laclau e Mouffe, reconhece, a heterogeneidade

como constituinte do social, resultado de práticas articulatórias entre elementos diferentes49

.

Temos aqui a base para uma comparação entre essa dualidade política/gestão

e os dois eixos de significação – o das combinações e o das subsitituições.

Quanto mais a ordem social for estável e enconstada, mais as formas

institucionais prevalecerão e se organizarão num sistema sintagmático de

oposições diferenciais. Quanto mais os confrontos entre grupos definirem a

cena social, mais a sociedade será dividida em dois campos: no limite,

haverá uma total dicotomização do espaço social em torno de apenas duas

oposições sintagmáticas – ―nós e eles‖. Todos os elementos sociais teriam de

localizar suas identidades em tono de um desses dois polos os componentes

estariam em mera relação de equivalência. (LACLAU, 2011, p, 202)

Para Laclau qualquer sistema de significação está estruturado em torno de um lugar

vazio que resulta da impossibilidade de se ter um fundamento, assim, a questão de qual

significante pode assumir essa função é política. A Educação museal, enquanto pratica

discursiva, não tem seus sentidos fixados. O cenário museal brasileiro, esta em um momento

de construção de significados sobre essa modalidade educativa. Seja no campo teórico, com a

construção de conceitos, e no âmbito político, com o processo de construção da Política

Nacional de Educação Museal. Para TD o signo pode deslizar e assumir o caráter flutuante de

um elemento, que remete a sistemas de significação instáveis e relativamente abertos.

A definição do que é um museu, passou por muitas modificações, houve uma ampliação

do seu conceito. A Educação Museal, está relacionada a esse conjunto diverso de percepções

e modificações. Propor uma reflexão, através do pensamento laclauniano, sobre a formação

discursiva da educação museal, é incluir, a noção de educação museal, em um contexto

49

Elementos exteriores e internos – ao sistema significativo, para Laclau algumas demandas são absorvidas pelo

sistema, porém, outras demandas não. A criação dessa ambigüidade, não seria simplesmente diferenciais, mas

equivalentes.

132

histórico político. Os museus, assim como as escolas, afinal, a forma escolar é um tema caro a

esse estudo, são historicamente representados, como instrumentos de reprodução das

estruturas de desigualdade existente.

Através de uma leitura laclauniana, a forma escolar, configura-se como hegemônica-

uma particularidade, sem deixar de ser particular, que funciona em nome de uma

universalidade impossível. As atribuições dadas à escola demonstram a hegemonia dessa

instituição. A forma escolar constrói relações hegemônicas em torno do significante

―educação‖. Os discursos que intentam constituir o que venha a ser ―educação museal‖

também passam a mobilizar esse significante, de modo que, ―educação‖ pode ser

caracterizada como um significante vazio. Na concepção de que não tem um conteúdo

específico, já que existem várias formas de significação. Laclau (1996).

As metáforas são a possibilidade de criação de outro ambiente narrativo, de novas

cadeias de equivalências. A educação museal, nesse sentido, ensejaria a construção de uma

nova cadeia de equivalência, outro ambiente metonímico50

. Sabendo que a metáfora aparece

integrada a metonímia, a metáfora seria o detonador de determinado investimento

sintagmático. Para Laclau:

Sem metáfora, diz Proust (mais ou menos assim), não existem memórias

verdadeiras; acrescentamos a ele (e a todos): sem metonímia, não há

encadeamento de memórias, nem histórias, nem romance. Pois se é a

metáfora que recupera o tempo perdido, é a metonímia que o reanima, que o

põe de novo em movimento: que o devolve para si mesmo e para sua

‗essência‘ verdadeira, que é seu próprio escape e sua própria busca. Então

aqui, e só aqui- por meio da metáfora, mas dentro da metonímia-, que a

Narrativa (Récit) começa. (LACLAU, 2011, p, 186)

A Educação museal, ainda, não está com sua significação hegemonizada. Enquanto a

escola esta com seus sentidos mais fixados. Assim como o currículo que faz parte, não só na

relação de conteúdos, mas a própria estrutura da organização escolar. Nesse sentido, o

currículo também é uma construção hegemônica. O desenvolvimento e processo de

hegemonia pelo qual passou a forma escolar está intimamente marcado pelas reformas do

currículo. A ideia que se tem sobre educação está presente nessas mudanças. Elisabeth

Macedo propõe uma nova visão sobre o currículo, apartada de uma visão mais determinista,

que vê o currículo só como retrocesso. Ela aponta exatamente para um jogo que está aberto.

50

Os discurso metonímicos, segundo Laclau buscam fechamento, estabilidade, mas para existir coesão/

coerência na narrativa as metáforas são um telos da metonímia, são dois telos que dependem um do outro.

133

Assim, o currículo pode ser visto como um espaço-tempo híbrido de fronteira, para ela

―o entendimento do currículo como híbrido cultural parece crucial para pensar a diferença,

não como diversidade mas como um discurso relacional em que o próprio sistema de sua

representação está em questionamento. (MACEDO, 2006 p. 92)

Discursos homogeneizantes – do Iluminismo, do mercado, da nação –, o

currículo escolar é habitado por uma diferença que não se define como a

oposição ao homogêneo, que penso ser possível tratá-lo como uma espécie

de espaço-tempo cultural liminar. Um espaço tempo em que as culturas

presentes negociam com ―a diferença do outro‖, que explicita a insuficiência

de todo e qualquer sistema de significação. (MACEDO, 2006 p. 92)

Para Laclau as metáforas precisam de um ambiente metonímico para existir, mas apesar

da metonímia ter um efeito totalizante, ela é sempre precária. O que possibilita as construções

metafóricas, é o fato desses sentidos serem precários, que não existe um fechamento. Com

isso a forma escolar, apesar de parecer consolidada, seus sentidos não são totalmente fixos,

pode existir uma construção metafórica. Existem disputas nessas estruturas.

Nesse contexto, quais as possibilidades da educação museal construir um campo

Narrativo ao invés de fortalecer o Paradigmático. Essa não fixação de sentidos que está

relacionada à configuração desse campo, por ainda não ser uma conformidade metonímica,

pode criar mais facilmente a possibilidade de construção de novos discursos metafóricos. São

questões para refletir.

As significações sobre educação museal encontram-se desestabilizadas. Podemos

caracterizar a educação museal como um significante flutuante Pois o significante flutuante

promove mudanças na própria estrutura do signo, atua no significante – promove

deslocamento. Perdeu a coesão interna, abre-se para fazer novas analogias, não segue uma

direção prévia (telos) (LACLAU, 1996).

A educação museal pode ser um objeto de interpelação de construções sintagmáticas,

aumentando as possibilidades de construir metáforas. Assim, cria-se a possibilidade de uma

tendência maior a provocar a criatividade/imaginação?

134

5.5 A construção do conhecimento: a imaginação como produtora de sentido, através do

uso metafórico da linguagem no pensamento de Paul Ricoeur.

(...) A expressão reta não sonha. Não use o traço acostumado. A força

de um artista vem de suas derrotas. Só a alma atormentada pode trazer

para a voz um formato de pássaro. Arte não pensa: O olho vê, a

lembrança revê, e a imaginação transvê. È preciso transver o mundo.

(...)

Manoel de Barros

Em ―Tempo e Narrativa‖, Paul Ricoeur (2010), tendo como base as Confissões de

Agostinho sobre o tempo, no livro XI, e a Poética de Aristóteles (sem negar as distâncias

entre as obras, e responsabilizando-se por essa articulação), desenvolve a tese de que é a

narrativa que torna acessível à experiência humana do tempo, o tempo só se torna humano

através da narrativa. Assim, ―O tempo humano se articula de modo narrativo‖ (Ricoeur, 2010,

p.05). O autor divide a obra em três volumes, sendo eles: a intriga e a narrativa história, a

configuração do tempo na narrativa de ficção e o tempo narrado.

Para Ricoeur a partir da narrativa o ato da escrita historiográfica não só ganha similitude

com o verossímil, mas cria uma relação entre a intenção e a ação. Ricoeur analisa a

configuração das narrativas históricas, em particular o debate sobre o eclipse na abordagem da

historiografia francesa com a filosofia analítica inglesa, especialmente os autores W. Dray,

Von Wright e Danto. Esses autores, segundo Ricoeur, apesar de insistirem na dimensão

narrativa, ainda fazem uma separação entre explicar e compreender, diferente da posição de

Ricoeur, que não desvincula. Assim, Ricoeur demonstra a interdependência entre os fatos,

pressuposto essencial na estrutura das frases narrativas.

As frases narrativas não são propriamente narrativas, pois os fatos sem ligação entre si

não são a narrativa. Ricoeur traz a intriga enquanto elemento de ligação crucial nessa

construção. Ela faz parte da tessitura do texto histórico, faz uma referência cruzada entre a

narrativa de ficção e histórica. Existindo uma relação entre mythos (enredo, trama, intriga) e

mímesis (imitação, representação da ação). Sendo o mythos um agir sobre os esquemas

narrativos que conformam nossas ações, ―o agenciamento dos fatos em sistemas‖.

A compreensão dos conceitos de mímesis e mythos é fundamental para entender o

pensamento de Ricoeur. Para ele o entendimento de mímesis não se restringe somente a

réplica do idêntico, mas no sentido aristotélico, como parte da natureza humana. Deve-se

entender a mímesis como imitação criadora, não como representação, mas uma abertura para a

135

ficção. Nesse sentido, a educação museal pode ficar aberta ao conhecimento narrativo. Sendo

experiência e narrativa a construção discursiva de uma ficção. ―Al tratar la cualidad temporal

de la experiência como referente común de la historia y de la ficción, uno en un mismo

problema ficción, historia y tiempo‖ (RICOEUR, 2000a, p. 191). Para Ricoeur:

Decir que la ficción no carece de referencia supone desechar una concepción

estrecha de la misma que relegaría la ficción a desempeñar un papel

puramente emocional. De un modo u otro, todos los sistemas simbólicos

contribuyen a configurar la realidad. Muy especialmente, las tramas que

inventamos nos ayudan a configurar nuestra experiencia temporal confusa,

informe y, en última instancia, muda. «¿Qué es el tiempo? —se preguntaba

Agustín—. Si nadie me lo pregunta, lo sé; si alguien me lo pregunta, ya no lo

sé.» En la capacidad de la ficción para configurar esta experiencia temporal

casi muda, reside la función referencial de la trama. Volvemos a encontrar

aqui el vínculo entre mˆythos y mímesis en la Poética de Aristóteles: «La

fábula, dice él, es la imitación de la acción» (Poética, 1450 a 2). La fábula

imita la acción en la medida en que construye con los únicos recursos.

(IBIDEM, p. 194)

Paul Ricoeur em ―A Metáfora viva‖ (2000b) estrutura a metáfora em três níveis, assim,

as mudanças de significações, são feitas inicialmente no sentido da palavra, depois da frase,

até chegar ao sentido do discurso. A metáfora seria um desvio do uso habitual da palavra; um

empréstimo de sentido; uma substituição de uma palavra (ausente) por outra (metafórica)

Ricoeur (2000b). Em sua análise a atividade mimética (mímesis I, II e III), que de maneira

simplificada significa: mímesis I Pré – reflexivo- mundo prático, ainda não explorado pela

atividade poética, construir o passado- ainda não narrado (pré-figuração); a mímesis II é o ato

de construção poética e narrativa, nova composição de intrigas, de criação (configuração),

corte epistemológico, e mímesis III a atividade de leitura, centrada no leitor (refiguração):

Toda mímesis, mesmo criadora, sobretudo criadora, está no horizonte de um

ser no mundo que ela torna manifesto na mesma medida em que ela eleva ao

mythos. A verdade do imaginário, a potência de revelação ontológica da

poesia, eis o que, de minha parte, vejo na mímesis de Aristóteles. É por ela

que a léxis é enraizada e que os próprios desvios da metáfora pertencem à

grande tarefa de dizer o que é. Mas a mímesis não significa apenas que todo

discurso está no mundo. Ela não preserva apenas a função referencial do

discurso poético. Enquanto mímesis physeos, ela liga essa função referencial

à revelação do Real como ato. É função do conceito de physis, na expressão

mímesis physeos, servir como índice para esta dimensão da realidade que

não se manifesta na simples descrição do que nela é dado. Apresentar os

homens ―agindo‖ e todas as coisas ―como em ato‖, tal bem poderia ser a

função ontológica do discurso metafórico. Nele, toda potencialidade

adormecida de existência parece como eclodindo, toda capacidade latente de

ação, como efetiva (RICOEUR, 2005, p. 74-75).

136

A concepção da tríplice mímeses em Paul Ricoeur no ajudara a compreender quais

construções de sentidos estão sendo produzidas sobre as articulações narrativas que compõem

esse campo conceitual sobre educação museal. Lembrando que Ricoeur não desconsidera a

recepção - mimese III, o leitor. A Metáfora – evoca memórias, vai no passado para trazer

elementos. Nesse sentido, a educação museal - considerando a efetividade social enquanto

discurso, pode abrir a possibilidade para determinados investimentos narrativos.

Para Ricoeur existe um agenciamento dos fatos, não existe uma equivalência natural

entre as coisas. A narrativa agencia os fatos, a inteligibilidade é a lógica estrutural da

narrativa. Ricoeur coloca a importância de falar dentro de esquemas de compreensão, pois

toda explicação precisa de um ambiente de compreensão Essa visão de Ricoeur pode se

articular com o ambiente metonímico em Laclau, pois a existência de algo já configurado é a

condição necessária para surgirem novas concepções. O tempo para Ricoeur é construído na

alma, não existe isoladamente, é a narrativa que cria condições de estruturar o tempo.

Paul Ricoeur estendeu a noção de texto para todas as objetificações da existência humana, para ele, a

vida humana é análoga a um texto, pois assim como um texto, uma vida expressa um sentido que pode, em

princípio, ser explicitado por meio da interpretação. Assim, o problema da leitura e compreensão de um

―texto‖ se torna uma nova metáfora para todos os tipos de compreensão, incluindo a compreensão dos

fenômenos sociais e culturais. A metáfora é contaminada por movimento de contigüidade, precisa

estar dentro de esquemas de compreensão, é preciso existir uma relação entre metáfora e

metonímia para dar coerência ao texto.

Ricoeur estabelece uma complementariedade entre compreender e explicar. Compreender remete

a estrutura relacional. Sendo o conceito de followability um principio estrutural para existir

coesão/coerência na narrativa. O Modelo nomológico não reconhece a inteligibilidade da

narrativa. Nos processos metonímicos – tempo construído na alma (Agostinho). O

investimento metonímico é feito temporalmente - distentio - distensão na alma, enquanto o

discurso ideológico tenta promover o fechamento, sutura do social – intentio.

A imaginação é um ponto fundamental para a construção da história, segundo Ricoeur,

pois seria necessário construir relações entre o tempo vivido e o tempo do mundo, com o

intuito de tornar o tempo legível. A história é um encadeamento de memórias, os museus

representam um tipo de conhecimento institucionalizado, que se assemelha ao escolar. No

entanto, a educação museal pode ser uma possibilidade de agenciar os fatos de maneira

diferente, criar uma nova composição de intrigas. Pois, à medida que as narrativas se deparam

137

com contextos diversos, novas tramas, assim são capazes de gerar alterações, inovações que

―jogam‖ com as regras existentes em nome de sua própria coerência.

O conceito de imaginação, na tradição filosófica ocidental, é considerado um tema sem

muita relevância, ela distingue dois tipos de imaginação; a imaginação reprodutora, ou seja, a

faculdade mental de evocar, sob a forma de imagens, objetos conhecidos por uma sensação ou

experiência anteriores (memória); e a segunda como imaginação produtora, faculdade pela

qual a mente cria e recria, ainda que a partir de formas sensíveis e concretas, novas imagens,

sínteses originais de imagens, símbolos e poesia. Para Paul Ricoeur (2002) a imaginação

possui um papel de constituição e reinterpretação do real, não podendo ser considerada de

matriz inferior, pois ela é produtora de sentido.

Mesmo Husserl pode dizer: ―a ‗ficção‘ é o elemento vital da fenomenologia,

como de todas as ciências eidéticas‖. Em conclusão, o poder do ‗quase‘

parece ser a fonte comum da redução transcendental, ou epoché, e da

redução eidética. É mediante o próprio poder da ficção que a crença natural é

colocada à distância e que o fato é submetido às variações imaginativas

reveladoras do invariante eidético. Em ambos os casos, o imaginário é a

‗casa vazia‘, que permite ao jogo do sentido iniciar. (IBIDEM, p. 55)

Para Ricoeur, todas as teorias da imaginação (produtora e reprodutora) cometeram o

equívoco ou de identificar a imagem como uma percepção evanescente, ou de identificá-la

com a evocação de uma coisa ausente, obscurecendo a diferença entre imaginário e real.

Ricoeur aborda a imaginação como produtora de sentido através do uso metafórico da

linguagem, vinculando-a com sua teoria da metáfora viva.

A imaginação será o mediador entre esses dois termos, distantes em sentido lógico, e a

partir dessa função de síntese teremos a inovação semântica: o novo que surge na linguagem.

Essas metáforas vivas possuem a forma de uma tensão entre sujeito e predicado, portanto

requerem um ajuste em nossa compreensão. Do conflito semântico inicial produzimos, através

da imaginação, imagens poéticas que animam nossa experiência interior. Essa ligação entre o

esquema kantiano e o esquema que Ricoeur tem um papel ontológico. (SANFELICE, 2014).

Vinicius Oliveira Sanfelice (2014) em sua análise da ―Metáfora e imaginação poética em

Ricoeur‖, destaca:

Na hermenêutica fenomenológica de Paul Ricoeur, a imaginação faz parte do

projeto de revelação das estruturas humanas fundamentais. Também há uma

relação especial entre a hermenêutica e a arte: a obra de arte participa do

trabalho de compreensão pela sua capacidade de promover a passagem do

momento arqueológico da hermenêutica para o teleológico. Esta capacidade

138

é análoga ao sentido novo que é produzido pela metáfora através da mímesis

– a produção artística e o novo significado são instrumentos que promovem

sentido referindo à realidade, sim, mas também a ultrapassando. O engendrar

do escritor quando realiza uma poesia, por exemplo, causa um efeito de

ressonância que a primeira vista parece debilitar o sentido, como um

devaneio. Nessa estratégia do discurso metafórico está contida o poder

heurístico desdobrado pela ficção. A criação momentânea de sentido é o

fenômeno característico da linguagem, e através desse fenômeno se alcança

algo extralinguístico. (SANFELICE, 2014, p.13)

Ricoeur pensa o enunciado metafórico como uma atribuição predicativa impertinente,

transgressora, por relacionar campos semânticos heterogêneos e logicamente incompatíveis. A

linguagem contém um papel ontológico, e sabemos que sintetizar termos heterogêneos em um

enunciado metafórico é ver como, a suspensão dessa linguagem de primeira ordem também é

suspensão de um ―mundo‖ de primeira ordem, que Ricoeur denomina o mundo da vida. O

trabalho da imaginação produtora é permitir que experimentemos visões de mundo reveladas

pela leitura de textos poéticos e voltarmos para um mundo da vida transformado, redescrito.

Nesse sentido, para Ricoeur a criatividade pode ser entendida como o espírito em sentido

estético. Este espírito é o princípio vivificante no ânimo que caracteriza o gênio. Assim

entendida a criatividade está presente mais no esquema, produto da imaginação, que no

conceito:

O fundamento mais geral da dimensão estética no pensamento de Ricoeur é

a capacidade da imaginação de produzir significações e inteligibilidade para

a vida. O ―Ver como‖, constituído pela imaginação produtora e pela função

icônica da linguagem, é uma ampliação que ocorre ao nível linguístico, mas

o excede, na forma sensível, ao ―pôr sob os olhos‖. O caráter icônico da

semelhança entre termos opostos (impertinência da qual a metáfora é a

resolução, e a nova pertinência o ―ver‖ através da diferença) torna a

imaginação um momento semântico dentro do enunciado metafórico,

apresentando a dimensão verbal da imagem – este é o momento em que

sentido e sensível são articulados, tarefa que, para Ricoeur, pertence

essencialmente à metáfora (SANFELICE, 2014, p.77)

Pensar a construção do conhecimento a partir da imaginação, como propõe Ricoeur é

considerar que a imaginação ascende não apenas como síntese, mas como constituição dessa

identidade. A imaginação cria a possibilidade de surgir novas metáforas. A forma escolar não

promove vínculos com o favorecimento de processos imaginativos. Ela está centrada na

promoção de reproduções. A educação museal, tem potencial para explorar esse aspecto, mas,

parece não promover a imaginação enquanto uma categoria importante. A ausência da palavra

imaginação no cenário museal de alguma maneira explicita isso.

139

A maior parte das tecnologias disciplinares nasce da experiência social, os dispositivos,

implicam um processo de subjetivação, isto é, devem produzir o seu sujeito. Para Michel

Foucault (2005) a disciplina não tem só um aspecto negativo, nossa experiência com a

disciplina foi exacerbada na modernidade. Sendo o dispositivo em si mesmo o resultado do

cruzamento de relações de poder e de relações de saber, que sempre tem uma função

estratégica concreta. Nesse contexto, tanto a escola quanto o museu estão inscritos enquanto

dispositivos disciplinares.

A sociedade assume cada vez mais aspectos disciplinares, são criadas estratégias para

fazer do tempo, do corpo e da vida dos homens algo que seja força produtiva. A sociedade

disciplinar para Foucault não é só uma prática social, mas de uma subjetividade. Em todos os

níveis sociais existe a experiência disciplinar, o aspecto disciplinar também é um aspecto

subjetivo, é construído culturalmente, faz parte de nossa constituição identitária, não

nascemos indivíduos disciplinados, nos tornamos.

Para Foucault as relações de poder são a essência da sociedade, em suas conferências,

ele aborda a importância das relações sociais como forma de entender como foi instituído o

poder em nossa sociedade, mostrando que o mesmo abrange as restrições ao conhecimento,

que são formas de garantir a supremacia na realidade social, distinguindo as classes,

caracterizando o poder como parte fundamental na estruturação da sociedade. A disciplina,

desse modo exacerbado, que Foucault chama atenção, produz restrições ao modo como o

conhecimento, pode ser construído. E isso implica, em medidas restritivas a imaginação.

Dessa forma a imaginação é rechaçada.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Escrever é reescrever.

Paul Ricoeur

A escolha pelo tema educação museal, a priori, está relacionada com minha formação

acadêmica, Psicopedagoga e concluindo, atualmente, o curso de Bacharelado em Museologia.

Nesse sentido, os cursos influenciaram na escolha do tema, pois possibilitaram fazer uma

aproximação e uma reflexão entre as áreas de conhecimento, uma vez que, a educação é um

assunto que permeia os dois campos. Mas, o interesse pela temática dos museus não é recente,

140

esses espaços sempre despertaram minha curiosidade e continuam provocando novas

inquietações. Em relação à forma escolar, é um fenômeno social que está presente no

cotidiano, e chama atenção pelo processo de naturalização de seu formato.

Neste estudo, interessou exercitar algumas questões sobre a educação no campo museal

e escolar. Não chegamos a respostas definitivas, e também não era a pretensão, obtivemos

apontamentos parciais, pois não existe um fechamento ao observar o social. Esse olhar é fruto

da orientação teórico-Metodológica da teoria do discurso de Ernesto Laclau, em articulação

com o pensamento hermenêutico de Paul Ricoeur, com o objeto de pesquisa e o olhar pessoal

da pesquisadora, que não tem como ser dissociado deste processo.

Algumas questões que atravessaram o texto, direta ou indiretamente, se referem a

entender: como a influência da forma escolar, interfere nos vínculos entre a produção do

conhecimento e a imaginação; em que medida a configuração de um campo sobre educação

museal está conformado por essa forma escolar; quais as possibilidades da educação museal

construir narrativas que se diferenciem da proposta pela educação escolar, e fornecer

elementos para construir uma cognição mais próxima de processos criativos.

Nesse contexto, podemos dizer que não é possível mensurar, em que medida, a

configuração de um campo sobre educação museal está conformado por uma forma escolar,

mas que a maneira de definir a educação museal, aproxima-se da forma escola. Nos diversos

textos, e documentos que compõem o campo, os discursos convergem para uma clara

aproximação entre o museal e o pedagógico. Com isso, inferimos que a dimensão educativa

do museu tem uma grande proximidade com a forma escolar. Mas essas relações não estão

fixadas de maneira instransponível.

O cenário da educação museal, mostra-se muito diverso, em relação: a questões

estruturais, a presença ou não de setores educativos, a formação profissional, ao recebimento

de verbas públicas, dentre inúmeras outras questões. Existem muitas demandas no campo, e

acredita-se, que essas serão minimizadas, a partir da consolidação da educação museal no

campo das políticas públicas. No entanto, a Política Nacional de Educação Museal/PNEM,

que encontra-se em elaboração, é um empreendimento de dupla face para o campo; de um

lado vai tentar suprir demandas de profissionalização, por outra, retira a subversão que possa

haver no campo, pois a condiciona dentro da instituição.

Acredito que uma das contribuições do texto para o campo de Educação Museal,

consiste em, a partir dos referenciais escolhidos, fazer uma leitura desse cenário. Existem

muitas pesquisas sobre o tema educação e museus. A maior parte dos trabalhos concentra-se

em museus de ciência e arte, e relatam muitas formas de experiências e aprendizagens. É

141

grande o quantitativo de pesquisas que relacionam educação e museus, e museus ao espaço

escolar. Mas poucas utilizam a expressão educação museal51

. Não foram encontradas

pesquisas que utilizem de maneira direta o enfoque dando a este trabalho, isso não implica

algum mérito, mas um olhar sob o tema sob outro ponto.

O conceito de educação museal, de maneira geral, é recente, é aproxima-se da ideia de

Educação Permanente, que, surgiu a partir de década de 1960, sob influência da Unesco, e

reforça a ideia de ações complementares ao ensino formal. Observamos que as Políticas

voltadas para educação museal, em sua maioria, reforçam a ideia do museu como

complementar da educação formal.

Outro ponto importante nessa discussão é a classificação feita para designar as

modalidades educacionais, em: formal, informal e não formal. Existe uma centralidade

atribuída à educação formal, e uma desvalorização do que não é aprendido no espaço escolar.

Assim, o que se aprende no museu, só é considerado ―válido‖, importante, quando é

legitimado, tem utilidade para o que está em sala de aula. Com isso, os museus continuam

―tutelados‖ pela forma escolar.

Aproximar as ações educativas dos museus de uma pratica educativa escolarizada,

distancia a educação museal de expor/construir suas especificidades. Mas não estamos

afirmando que as instituições formais de educação não podem utilizar as visitas aos museus

como suporte a algum conteúdo programático de seu currículo, transformando posteriormente

a experiência construída no museu em conteúdos e debates. O que se coloca em questão é a

problemática desses espaços só serem utilizados como uma extensão da escola, pois a

impressão que fica, é que essa é a única dimensão possível para alguns museus. Não havendo

assim uma proposta de educação estética que prepara para a fruição desses equipamentos,

aumentando as possibilidades de situações prazerosas de construção de conhecimentos e

aprendizagens.

A ―cientifização‖ de praticamente todas as áreas de conhecimento, por um lado nos

trouxe conforto, respostas para várias questões e possibilidade de aprofundamento para várias

ramos do saber, por outro, nos tornou racionalmente insensíveis a fruição, digamos que houve

um empobrecimento da capacidade de vivenciarmos nossas experiências. (BENJAMIN,

1994).

Para Walter Benjamin estamos vivenciando o esvaziamento da capacidade de viver

experiências, e compartilhá-las. Digamos que houve um ―esvaziamento de nossa

51

Ver quadros em anexo no apêndice do trabalho.

142

subjetividade‖. Para Benjamin (1994), os fatos já nos chegam acompanhados de explicações.

Em outras palavras: quase nada do que acontece está a serviço da narrativa, e quase tudo está

a serviço da informação. A produção de experiência nos museu e na escola está mediada por

uma dimensão excessivamente disciplinar. Sabemos que é intima a relação entre

conhecimento e esclarecimento, em nosso contexto atual o conhecimento é limitado à

informação. Existe o predomínio do conhecimento técnico, instrumentalizado.

O museu é um dos espaços onde as memórias ganham sentido, um dos atos fundadores

do museu é a necessidade de catalogar, ordenar, e a ordem transforma o encantamento em

informação, fortalecendo a intrínseca relação entre poder e nomeação, com isso os momentos

para fruição e contemplação, parecem limitados a fornecer informações. A escola, em geral,

dedica-se à formação para o mundo do trabalho, um conhecimento técnico, para atender as

exigências do mercado, não existem muitas iniciativas para a formação cultural em geral

(música, artes, cultura). Existe um distanciamento da imaginação, assim, limita-se as

possibilidades de construir novas metáforas:

A metáfora permite um acesso privilegiado à compreensão de si ao ligar a

questão semântica à questão hermenêutica. A noção de referência duplicada

que provém, por sua vez, da noção de verdade metafórica, fornece os

argumentos a favor da função cognitiva da poesia. Trata-se de uma

referência metafórica própria da experiência estética, onde cognitivo e

emotivo não estão em contraste, e onde a linguagem torna manifesta outra

maneira do ―ser das coisas‖. (SANFELICE, 2014, p.50)

A imaginação deveria ser um elemento fundamental para compreensão dos espaços

museais, afinal, espera-se que ao visitar uma exposição às pessoas sintam-se envolvidas com

o espaço, inspiradas a construir novas experiências, narrativas. No entanto, o museu enquanto

parte do projeto iluminista (marcado pelo uso da razão), por muito tempo tem sido visto como

um espaço estático, ―sacralizado‖, destinado à preservação da memória da humanidade.

Os museus ainda estão muito relacionados à imagem de ―guardiões da memória‖. Com isso,

não ter um museu, em parte, está associado a não ter, ou perder a memória que deveria ser

preservada. No entanto, essa visão não é um consenso, existem muitas discussões sobre o uso dos

museus enquanto patrimônio/espaços públicos.

Em ―Espelho das Cidades‖, Henri-Pierre Jeudy (1990), trata da problemática material

do patrimônio, o que ele denomina de ―estado de petrificação monumental‖ numa crítica a

possibilidade de tudo se tornar arquivo, numa espécie de engessamento das comunidades

através da maquinaria patrimonial. Ele trata da problemática do patrimônio como reflexo da

143

―catástrofe de memória‖ contemporânea. Numa sociedade em que tudo pode ser

monumentalizado, a morte passa, também, a ser objeto da ―plasticidade museografica‖, numa

tentativa de atualização do passado.

Para Jeudy (1990) o processo de musealização faz com que o patrimônio perca sua

dinamicidade e torne-se algo artificial e estático, petrificando-o: ―Tudo pode ser dito da coisa

petrificada, o mistério e a descoberta não maculam, pois sua integridade torna-se atemporal.

Parada na imagem, parada no tempo: a memória moderna funciona como gás petrificante

projetado sobre aquilo que ameaça mexer-se.‖ (JEUDY, 1990, p. 132).

Jeudy vai construir sua crítica à maquinaria patrimonial, como o próprio autor utiliza o

termo para tratar desse dispositivo que, de forma direta, pode ser entendido também como

dispositivo museal. Para Jeudy o sentido mais atribuído a conservação patrimonial é o da

manutenção da ordem simbólica das sociedades, essa ―preservação‖ se tornou mundial,

―globalizada‖, e o que interessa para alguns grupos, é manter esse ―enquadramento

simbólico‖, que também interfere na construção de saberes. Segundo Jeudy:

Alguns etnólogos nos informam que a ordem simbólica é anterior ao

funcionamento de uma sociedade, e que ela o teria estruturado, mas o

desenvolvimento patrimonial contemporâneo revela como essa mesma

ordem simbólica, representada por objetos, monumentos e locais, impõe-se

como a aventura de nossa própria inteligibilidade. ‖(JEUDY, 1990, p.20)

Assim, a lógica museal torna-se um instrumento importante nas construções subjetivas

das sociedades. A partir do momento em que são delimitadas fronteiras culturais, localizando

indivíduos e coletividades, são impostos determinados padrões identitários que,

consequentemente, deverão ser aceitos pelos grupos, e tornar-se-ão regras, moldes identitários

aos quais os indivíduos se enquadrarão, mesmo que não consigam encontrar reflexo naqueles.

E o dispositivo museal se encarregará de produzir todo o resto: o espetáculo. Parte da crítica

de Jeudy recai, especificamente, sobre a espetacularização das cidades, a monumentalização

destas, que se rendem à lógica do consumo turístico, do capitalismo. Para Jeudy não é o

museu que deve ser criticado, mas o dispositivo museal.

O patrimônio e os saberes relacionados a ele mudam de acordo com o seu sistema, com

a diversificação dos grupos que integram a sociedade, talvez tenhamos que pensar a

preservação do patrimônio e do conhecimento, como a preservação do direito de cada grupo,

e de cada época de gerir as suas mudanças e memórias. Atualmente, não escolhemos mais o

que lembrar- preservar, e o que devemos esquecer. Jeudy traduz isso como uma

irresponsabilidade, esse ―Dever de memória‖, essa conservação patrimonial, muitas vezes

144

obsessiva, onde esquecer se torna uma impossibilidade, ―Não temos mais a liberdade de

esquecer, pois isto seria um crime‖ (JEUDY, 1990. p.15) Jeudy trata da problemática do

patrimônio como reflexo da ―catástofre de memória‖ contemporânea. Numa sociedade em

que tudo pode ser monumentalizado, a morte passa, também, a ser objeto da plasticidade

museográfica,, numa tentativa de atualização do passado.

Essa memória musealizada torna-se uma memória projetada que não corresponde mais

ao que ela representava antes de passar pelos processos de salvaguarda, nesse sentido,

podemos dizer que o processo de Musealizar o conhecimento seria uma forma de

institucionalizar o conhecimento, tornando-o estático, petrificado, assim como os patrimônios

materiais quando são musealizados,

Para Jeudy da mesma forma que a patrimonialização do objeto consegue retirá-lo do

uso, ―petrificá-lo‖, a patrimonialização do imaterial (os saberes, as técnicas, os lugares, etc.)

criará um lugar próprio para ele, é um dispositivo localizante que tornará engessada a

experiência imaterial. O processo de Musealização de conhecimentos, nesse contexto, nos

impossibilita de construir novas narrativas, faz com que os museus fiquem estáticos, sendo

instrumentos reforçadores de algumas identidades.

Sá Barreto (2011) no texto ―Museus qualificam cultura? Elementos para uma agenda de

comunicação e museus‖ toma como ponto de partida, o artigo intitulado ―Museus são bons

para pensar: o patrimônio em cena na Índia‖ de Arjun Appadurai e Carol Breckenridge

(2007), sobre a relevância dos museus contemporâneos, notadamente em espaços pós-

coloniais. Sá Barreto chama atenção para o duplo empreendimento na construção das noções

de patrimônio cultural em espaços pós-coloniais: por um lado, orientados por um projeto

tradicional de ensino/aprendizagem que tem, como eixo fundamental, a reprodução,

destacando instrumentos de conservação do elemento tradicional/colonial em realidades

urbanas; por outro lado, podem sinalizar alternativas às estruturas de cognição fortemente

orientadas pelo mundo do consumo.

Para Sá Barreto, uma questão perpassa ambos os setores, é como lidar com uma

memória institucional poderosa justamente por sua competência logística na construção de

espaços de estetização dos conflitos sociais e de monumentalização52

das lembranças?

(IBIDEM, 2011). De acordo com Sá Barreto, em espaços pós-coloniais – e podemos,

nesse sentido, tomar o caso brasileiro como exemplo-, há enormes discrepâncias entre a

52

Termo como discutido em Huyssen (2000).

145

apresentação do memorável institucionalizado e a compreensão popular de seus significados.

(IBIDEM, 2011).

As imagens abaixo ilustram a campanha ―NÃO QUEREMOS MAIS UM MUSEU‖:

Figura 03- Intervenção Campanha: “NÃO QUEREMOS MAIS UM MUSEU‖53

.

53

―Atualmente, o edifício da cadeia velha, é gerido pelo Governo Estadual, mas teria sua gestão compartilhada

com a Prefeitura assim que reabrir a partir de setembro de 2015. Antes de seu fechamento, o local era ocupado

pela Oficina Cultural Pagu e tinha salas reservadas para ensaios de grupos, apresentações de espetáculos, galeria

de artes plásticas e outros ambientes dedicados para festivais e movimentos da Baixada Santista. Desde o ano

passado, em reuniões estaduais de conselhos culturais, é ventilado que a Cadeia abrigaria o Museu da Baixada

Santista – o quinto no raio de dois quilômetros. E haveria sondagem de repasse para o Instituto de Preservação e

Difusão da História do Café e da Imigração (Inci). (...) Ponto histórico da povoação de Santos, a área central

contempla quatro museus num raio de dois quilômetros quadrados. O público dos quatro museus juntos ao mês

(22,5 mil visitas) equivale ao do Orquidário (22,4 mil) e a um terço do Aquário (65,7 mil). Mesmo com a falta

de público em comparativos, e também de raras atividades artísticas, ainda há a possibilidade de haver um

quinto equipamento museológico no bairro: a Cadeia Velha. Pode se tornar Museu da Baixada Santista o

principal edifício dos séculos 19 e 20 – que abrigava os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário do

município” Mais informações: https://revistarelevo.wordpress.com/2014/12/28/opiniao-razoes-para-cadeia-

velha-nao-se-prender-a-um-museu/,https://www.catarse.me/pt/intervencaomuseu,

http://www.revistasanatoriogeral.com.br/intervencao-artistica-nao-queremos-mais-um-museu-queremos-a-volta-

da-cadeia-velha/.

Fonte: http://www.revistasanatoriogeral.com.br/intervencao-nao-queremos-mais-um-museu/

146

Alguns pontos discutidos por Sá Barreto pode ser relacionado à Campanha: ―Não

queremos mais um Museu‖, movimento que reivindica a reabertura de um espaço cultural, a

Cadeia Velha, na baixada Santista/SP. E lança questões em relação à discussão sobre

patrimônio, o uso de espaços públicos, disputas de memórias, afirmações identitárias, e a

própria possibilidade do museu funcionar como dispositivo de reconstrução da experiência

democrática no cenário contemporâneo. Um posicionamento contrário a visão do museu

como um espaço de cultura integrado

Figura 04- Campanha: ―NÃO QUEREMOS MAIS UM MUSEU‖

Esse movimento explicita o fato de não existir uma unanimidade sobre o tema dos

museus. E levantas reflexões sobre o mesmo. A campanha: ―Não queremos mais um Museu‖

diz sobre um caso específico, na cidade de Santos/SP, no entanto, essas demandas isoladas,

antagônicas em uma leitura laclauniana, estão em uma relação de diferença, com um discurso

institucional hegemônico, mas também encontram-se em uma relação equivalencial com

outras demandas semelhantes. Para Laclau (2011), as demandas particulares, as divergências

políticas, são extremamente complexas e importantes na composição do social:

Fonte: http://www.revistasanatoriogeral.com.br/intervencao-nao-queremos-mais-um-museu/

147

O que Derrida está, enfim, dizendo é que demandas isoladas, queixas,

injustiças etc. não são resíduos empíricos de um estágio histórico que - em

todos os aspectos essenciais – foi superado. Eles são, ao contrário, os

sintomas de um impasse fundamental das sociedades contemporânea que

empurram as demandas isoladas para algum tipo de articulação fantasmática,

de que resultarão novas formas de reagregação política. (LACLAU, 2011, p,

121)

Para Laclau o social é marcado por uma descontinuidade entre a sociedade como um

todo e o pluralismo dos agentes sociais. O movimento contra a criação de mais um museu

lança questões para uma discussão sobre a legitimidade dos patrimônio, que é bem mais

ampla e complexa em espaços pós-coloniais. È importante considerar, nesse sentido, o fato de

que o julgamento estético é estruturado em uma lógica de dominação de classes. Para Jacques

Rancière: ―o cidadão, segundo Aristóteles, é aquele que toma parte no ato de governar e de

ser governado. Mas uma outra forma de partilhar precede este tomar parte: a que determina

quem vai tomar parte‖. (RANCIÈRE, 2010, p 13).

Em sua análise, sobre a aquisição dos diferentes tipos de capital, Pierre Bourdieu (2004)

coloca que, quanto mais ou menos ―capital‖ for mobilizado, serão estabelecidos diferentes

graus de apropriação desse ―capital‖. Para Bourdieu ―o volume do capital que um agente

individual possui depende então da extensão da rede de relações que ele pode efetivamente

mobilizar e do volume de capital (econômico, cultural e simbólico) que é posse exclusiva de

cada um daqueles a quem está ligado‖. (BOURDIEU, 2004, p. 67).

A maneira que nosso modelo social, está estruturado, ainda existe uma clara

separação/segregação dos indivíduos, de acordo com o capital adquirido no contexto social,

cultural, político, econômico, etc. De fato, nosso cenário social, cultura, econômico, político é

diferente do analisado por Bourdieu, mas podemos dizer que os espaços escolares ainda

atuam enquanto dispositivos de controle social, inclusive, fortalecendo estereótipos difíceis de

serem desvencilhados.

Os museus em sua concepção inicial foram espaços voltados à aquisição de um capital

cultural restrito, freqüentar museus explicitava um acumulo de experiência sensível,

simbolizava um gosto estético diferenciado, por isso mesmo, elitizado. Pois a partilha do

sensível é feita por quem faz os recortes, e esses não são feitos com neutralidade: ―um animal

que fala é segundo Aristóteles, um animal político. No entanto, embora o escravo compreenda

a linguagem, ele não a possui. Os artesão, diz-nos platão, não se podem ocupar de assuntos

comuns, porque não têm tempo para se consagrar a outra coisa que não seja o seu próprio

trabalho‖. (RANCIÈRE, 2010, p 13).

148

A partilha do sensível dá a ver quem pode tomar no comum em função

daquilo que faz, do tempo e do espaço em que essa atividade se exerce. Ter

esta ou aquela ocupação define assim à competência ou a incompetência

relativamente ao comum. (RANCIÈRE, 2010, p 14)

A apropriação diferenciada de capital é uma das maneiras de marcar desigualdades

sociais. Apesar da abertura dos museus ao grande público e da tentativa de educar a partir dos

museus, esses espaços mais tradicionais preservam um afastamento da população. As

múltiplas questões que sublinham o cenário museal brasileiro estão intimamente relacionadas

configurações do social, que não é marcado por uma linearidade, mas pela emergência de

contradições. De acordo Maria Cristina Oliveira Bruno (2006): ―refletir sobre os museus e

suas distintas inserções sociais significa, ainda tocar nas questões que são esquecidas, no

imenso universo dos valores que são excluídos, na partilha dos sentidos e significados e na

eficácia da amnésia cultural (BRUNO, 2006, p.17).

Vivemos em um projeto de humanidade regido por uma intensa lógica de consumo. O

conceito do que seria um museu, passou por muitas alterações. A modernidade consolida uma

nova maneira de conceber esses espaços. Inicialmente parece contraditório a discussão

proposta por Sonia Salcedo del Castillo (2008), de pensar um projeto de Modernidade

atrelado a um projeto museológico, pois a imagem e o lugar mais comum ocupado pelo

museu esta ligado diretamente ao passado. No entanto, essa aparente contradição ganha novos

contornos, pois o museu não está mais relacionado só a uma memória do passado, existe uma

transformação da concepção de museu e desse passado em produto, ou seja, produto de

mercado. Para Castillo:

Huyssen salienta que o museu, assim como descoberta da história, é um

efeito direto da modernização. Semelhante à imagem do escorpião por

Baudelaire para expressar os efeitos do progresso, a modernidade é

impensável sem um projeto museológico. Em outras palavras, assim como

na lógica progressista da modernidade, na origem do museu é o sentido da

tradição que prevalece, mas o da perda, aliado ao desejo de reconstrução.

(IBIDEM, Pg. 237)

O museu deixou de ser comprometido com o passado para ser comprometido com o

consumo, assim a museu mania, não oferece como produto só o passado, mas pode oferecer.

O museu, nesse sentido, tem uma forte dimensão empresarial, administrativa, que tem como

elemento fundador a comunicação de massa. O ―Boom dos museus‖, que Castillo analisa está

intimamente relacionado à indústria do entretenimento, uma inclusão no mundo do trabalho,

mesmo quando não se está trabalhando, vida que se traduz em produção. O

149

laser/entretenimento, enquanto imperativos da modernidade, existe um programa de

―trabalho‖ para o tempo que não estamos trabalhando, extremamente ligado ao consumo, que

transforma tudo em mercadoria/consumo/compras.

De acordo com Castillo, o museu deve responder ao ―novo mundo dos museus‖, uma

instituição comprometida com o consumo, o mercado, uma relação de dependência com a

indústria midiática, existe um padrão de comercialização, um museu que tem grandes

públicos e gera lucros. ―Isso acontece porque a finalidade dos novos museus não é tão-

somente exibir objetos, mas acima de tudo representar imagens. Daí, o tradicional museu dos

objetos ver-se substituído pelo museu de espectadores‖. (IBIDEM, Pg. 274)

O museu representa uma possibilidade de verdade, não é a realidade que está

representada no museu. As verdades são produzidas e a realidade é uma construção. O

conhecimento que os museus propõem, na maioria das vezes é predominantemente visual,

centrado nos objetos exibidos através das exposições. O valor que esses objetos adquirem está

na construção simbólica que é criada para eles, pois os objetos que habitam os museus são

considerados como partes, fragmentos ou vestígios dessas realidades.

Os processos de musealização desempenham um importante papel na valoração dos

objetos, o ato de musealizar não consiste apenas em procedimentos técnicos de salvaguarda, é

necessário que haja um plano mais amplo, é necessário que se compreenda o que, para que e

para quem se deseja musealizar. È preciso pensar essa forma museal disposta a cumprir

percursos, comprometido em construir experiências ligadas ao consumo, como problemática.

Postas essas questões, e muitas outras que não foi possível explicitar nesse estudo.

Acreditamos que é necessário refletir sobre as possibilidades e implicações do museu ser

compreendido como espaço ―apenas educativo‖, limitando-o a uma dimensão utilitarista.

Ressaltar a importância do museu enquanto um espaço com potencial educativo, mas não

necessariamente tendo que seguir uma lógica escolar. Por mais que o museu seja uma

instituição marcada por um aspecto disciplinar, a educação museal teria um maior potencial

de produzir contigüidade metafóricas, que a educação escolar.

Ainda existem muitas problemáticas envolvendo a forma como a instituição escolar é

concebida, pensada. No entanto, apesar das inúmeras complexidades que permeiam a

constituição desse universo escolar, esses dispositivos não têm apenas uma face; os espaços

escolares permitem a inserção de pequenas fissuras, mesmo com os limites impostos, pela

rigidez de sua estrutura. As instituições escolares, nesse cenário, não são apenas espaços de

reprodução social, não podemos limitar a existência desses espaços apenas a usos

disciplinares. Embora saibamos da disposição que os acompanha.

150

Devemos investir em um espaço educacional que não está pronto, mas que está disposto

a comunicação, a produção de experiências. Não contendo a responsabilidade de ser o espaço

de salvaguarda e resolução de todos os problemas sociais. Pensar a escola, nesse sentido da

contemporaneidade, implica tornar-se crítico desse espaço, critico de seu próprio tempo, um

afastar-se dele, mas ao mesmo tempo vivenciar-lo. Um afastar-se mesmo estando presente.

Esse afastamento pode possibilitar ver esses espaços com novas lentes. .

A escrita não pretendeu ser longa, mas deixo ao leito(a)r o papel de julgar, sobre as

sensações que o texto pode provocar. Assim como na concepção da tríplice mímesi em Paul

Ricoeur, a mimese III, não desconsidera, a recepção, a figura do leitor, no processo de

ressignificação, pois ele abre a possibilidade de criar outros investimentos narrativos.

As Epigrafes atribuídas a cada sessão, no decorrer do texto, tentam funcionar como algo

que está dentro dele, mas não totalmente preso a ele. Como uma citação que antecipa cada

sessão, não necessariamente, para negá-la, ou reafirmá-la. Mas como um exergo, no sentido

do pensamento de Jacques Derrida, é, portanto, a primeira figura de um arquivo, é ao mesmo

tempo intituidor e conservador. Revolucionário e tradicional:

Segundo uma convenção consagrada, o exergo se articula com a citação.

Citar antes de começar é dar o tom deixando ressoar algumas palavras cujo

sentido ou forma deveria dominar a cena. Dito de outra maneira, o exergo

consiste em capitalizar uma elipse. Acumular de antemão um capital e

preparar a mais valia de um arquivo. (DERRIDA, 2001, p.17).

No sentido foucaultiano o conceito de arquivo é compreendido como um espaço regido

por um conjunto de regras que delimitam os discursos que circulam em seu interior, não como

apenas um somatório de documentos/textos acumulados por um dado contexto social. Para

Jacques Derrida o principio arcôntico do arquivo é também um principio de consignação, isto

é de reunião. O arquivo representa ―a impaciência absoluta de um desejo de memória‖

(DERRIDA, 2001, p. 09). E sua democratização efetiva se mede por alguns critérios

essenciais: a participação e o acesso ao arquivo, á sua contribuição e a sua interpretação. O

acesso ao arquivo permite sua democratização, pois possibilita a abertura de múltiplas

interpretações, ou seja, uma leitura do que já está configurado e pode ser reconfigurado.

A temática da memória continua atual nos dias de hoje. Nossa relação com a memória

materializa-se de diversas formas, quase tudo se encontra indefinidamente sob a lógica do

arquivo; registrado nas memórias externas: dos computadores, celulares, pen-drives, escolas,

museus, etc. Vivemos um tempo onde a quantidade de informações excede nossa capacidade

151

de percepção e absorção. Nesse sentido, podemos dizer que existe uma proliferação cada vez

maior de espaços destinados à manutenção da memória, um processo de musealização54

e

revitalização de memórias, transformando alguns espaços em um grande ―museu a céu

aberto‖. Ressaltar a importância de espaços memorialista como, por exemplo, o museu não

implica dizer que os recortes de memória exibidos nesses espaços são verdades absolutas, ou

que tudo precise ser musealizado.

Os museus e as escolas não podem ser pensados desconectados da realidade social, não

são espaços neutros. De alguma maneira, são produto do espírito do nosso tempo. Em que um

dos nossos grandes desafios é capturar a intensidade da vida. Para Charles Baudelaire (2010)

um dos desejos, da vida moderna, é ultrapassar a dimensão fabril, a atitude blasé de uma

suspensão da percepção, de estar no mundo ―no piloto automático‖, como uma incapacidade

de reagir às novas sensações de maneira diferenciada, restrito a lógica disciplinar da vida

pública.

Um estar no mundo apenas para cumprir um circuito, diferente do flâneur que conserva

um olhar contemplativo, que habita no instante. Tentar traduzir a intensidade da vida e

representar seu tempo através dos traços e cores, da vida ordinária, do dia a dia. O museu é

um veículo de mídia, cada vez mais sujeito a construir percursos, comportamento

desinteressado - blasé e não experiências, tentar capturar o espírito de tempo, flanêur. Os

museus, a sociedade de consumo e as mídias entes da sociedade. Assim, considerando esse

cenário, se faz necessário pensar as categorias de construção do conhecimento que envolve a

educação, seja ela escolar ou museal e como esta pode estar conectada com a realidade social.

O museu tem um lugar tópico na sociedade contemporânea, o desenvolvimento de

lugares de memória, experimenta um grande crescimento desde os anos 1980. Andreas

Huyssen (...) descreve uma musealisação das sociedades ocidentais, o advento de uma

verdadeira obsessão memorial, uma ―cultura da memória‖, uma valorização do passado como

elemento que dá coerência à nossa própria experiência, em oposição a um presente fraturado

em instantes, que não nos oferece nenhum vislumbre de um futuro promissor. Em um

contexto social, que promove uma imaginação ―esterilizada‖, guiado por uma lógica

imperativa do consumo, que captura e despontecializa a valorização da cultura, e diante da

fragilidade e pobreza de narrar nossas experiências.

54

A musealização é o ato de dar sentido aos objetos, nesse sentido o museu é uma grande construção de

sentidos.

152

Para Hannah Arendt experiência, narrativa e pensamento estão indissoluvelmente

interligados, para a autora as teorias, por mais abstratas que sejam ou pareçam, têm em si

estórias e incidentes que temos a dizer. No texto ―A condição humana‖, Arendt escreve: ―a

fala e a ação (...) são os modos como os seres humanos se mostram uns aos outros, não na

verdade como objetos físicos, mas qua homens (...) uma vida sem fala e sem ação é

literalmente morta para o mundo‖ (SENETT, 2008, p. 15).

Merleau Ponty, (2006) fala que as nossas percepções podem ―entortar o mundo‖, Para

Ponty: ―Não diremos mais que a percepção é uma ciência iniciante, mas, inversamente, que a

ciência clássica é uma percepção que esquece suas origens e se acredita acabada‖. O sujeito

bricoleur representa o mundo através de infinitas conexões e redes. Podemos dizer que um

dos desafios no processo de ressignificação dos museus e das escolas é percebê-los como

processos de bricolagem, que podem proporcionar novas experiências através de diferentes

propostas, que possam ser sempre re-lidas.

O que aqui está em jogo é que a inefabilidade da experiência não deslegitima sua

narração, apenas chama a atenção para o fato de que ao narrar estaremos sempre a

constituindo – constituindo a experiência – de ―certa maneira‖, no sentido de que sempre

haverá outras maneiras. As estruturas narrativas a que acendemos para ―expressar‖ nossas

experiências terá uma influência direta nesse modo de expressão e no seu sentido. Forma

escolar e museal nos fornecem essa ―gramática‖, que podem e devem ser desafiadas. O direito

ao narrar, como possibilidade de poder aceder a outras estruturas narrativas.

Maria Isabel Leite (2005) chama atenção para a possibilidade das visitas aos museus

serem vistas como uma forma de educação estética, de educação visual; uma apropriação do

processo de construção histórica. Nesse sentido, a educação museal está relacionada aos

desafios de tessitura de processos educacionais que construam novas relações com o

conhecimento, que promovam a formação de sujeitos mais criativos: ―discutir vínculos entre

estética, política e educação significa, assim, refletir sobre a formação de sujeitos criativos.

Considerando que os sujeitos não são meros reflexos da estrutura‖ (MESQUITA, 2013, p.

100).

A atualidade do tema está na relevância que é dada a dimensão educativa das escolas e

museus. O papel social dos museus é educativo. Com isso, o tema da educação museal

mostra-se propício a novos olhares e discussões.

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164

APÊNDICE

Quadro 05 55

:

TESES E DISSERTAÇÕES DO BANCO DO PROGRAMA DE PÓS-

GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO DA UFPE

Teses56

e

dissertações

com temas

referentes à

Educação e

Museus57

TÍTULO/ AUTOR(A) ANO

A formação do arte/educador que atua com ensino de arte na educação não formal: um

estudo a partir de duas organizações do terceiro setor localizadas na Região

Metropolitana do Recife/ Freitas, Emília Patrícia de - 2011

Museus de Ciência: espaços não formais da construção de aprendizagens/ Leitão, Angela

Bezerra de Souza- 2009

A formação continuada do professor de arte nos museus de Recife/ Conrado, Silvana de

Souza- 2009

Museu como uma instituição guardiã e anfitriã: representações sociais de professoras das

séries iniciais do ensino fundamental da rede municipal do Recife/Silva, Shirleide Pereira

da- 2005

(Quadro feito a partir do catálogo de teses e dissertações do Programa de Pós- Graduação em Educação da

Universidade Federal de Pernambuco)

55

Optamos por construir as tabelas 1, 2, 3 e 4, com distinções entre educação e museus, educação em museus e

educação museal, os trabalhos foram separados de acordo com sua aparição no site de pesquisa, pois aparecem

diferentes resultados nas pesquisas de acordo com a nomenclatura colocada. Apesar de parecer só uma questão

de ortografia, acreditamos que a escolha é semântica, e denota posicionamentos, em relação a percepção do que

seria a relação entre educação/museus.

56 Ainda não existem teses com a temática.

57

As dissertações não tratam diretamente do tema educação museal, (compreendendo que essa é uma

nomenclatura recente, e em debate), mas de maneira direta/ indireta os trabalhos tem aspectos afins com a nossa

pesquisa, pois tratam da educação que acontece nos espaços de museus.

165

Quadro 06:

Teses58

Dissertações

com temas referentes

à Educação Museal

TESES,DISSERTAÇÕES E ARTIGOS – PORTAL CAPES

TÍTULO/ AUTOR(A) ANO

Redescobrir a educação artística. Da educação pela arte à educação museal-

Martinho, Sofia Vaz -2013

Casa das Histórias Paula Rego; uma proposta de ação educativa com públicos

seniores /Silva, Diana Rute Correia Da, 2013

Escultura em espaços públicos de Almada [1936-2005] : da colecção à proposta

de acção museal, educação patrimonial Lima, Filomena Maria Figueira Freire De

Amado, 2006

Artigos com temas

referentes Educação

Museal

Counterfeit and their museums: observation of the aesthetic categories of the pirate

consumption/Contrafacao e seus museus: observacao das categorias esteticas do

contrafeito/Contrafaccion y sus museos: observacion de las categorias esteticas de

lo pirata. Linares, Nicolas Llano ; Barreto, Eneus Trindade ;De Souza, Livia

Silva/Comunicacao, Midia E Consumo, May-August, 2013, Vol.10(28), p.169(20)

A escrita de Clio nos temp(l)os da Mnemósime: olhares sobre materiais

pedagógicos produzidos pelos museus Clio in time and at the shrine of

Mnemosyne: a view on pedagogical materials in historical museums

Costa, Carina Martins -Educação em Revista, 2008 (47), p.217

Inserção dos centros e museus de ciências na educação: estudo de caso do impacto

de uma atividade museal itinerante

Rodrigues Pereira, Grazielle ; Chinelli, Maura V. ; Coutinho - Silva, Robson-

Ciências & Cognição, 2008 ,Vol.13, pp.100-119 Periódico

A pesquisa educacional e a produção de saberes nos museus de ciência

Educational research and the production of knowledge at science museums

Martha Marandino- História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 2005, Vol.12, p.161

Periódico

A biologia nos museus de ciências: a questão dos textos em bioexposições /

Martha Marandino - Ciência & Educação, Vol.8(2), 2002, p.187

(Quadro feito a partir do catálogo de artigos do Portal Capes-Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível Superior)

58 Ainda não existem teses com a temática

166

Quadro 07:

Teses59

Dissertações

com temas

afins/referentes à

Educação e/em

Museus60

TESES, DISSERTAÇÕES E ARTIGOS – PORTAL CAPES

TÍTULO/ AUTOR(A) ANO

O lugar e o papel da educação nos museus municipais; O Ecomuseu Municipal do Seixal

Azevedo, Carla Patrícia De Oliveira, 1980 - Fróis, João Pedro, 1957 - 2010

Museus, educação e multiculturalismo: um estudo de caso Domingues, Susana Isabel

Antunes Dias, Nélia 2009

Exposições : formas de comunicar e educar em Museus Vieira, Helena Isabel Almeida ;

Semedo, Alice 2009

Concepções da educação em museus nas políticas culturais : Portugal 1974-2004

Alves, Cristina Isabel Martins De Oliveira 2007

Jovens,museus e redes sociais: intervir em prol da relação através de um serviço educativo

Cristina Alexandra Ramos Cardoso 2013

Museus centros de ciência virtuais : perspectivas e explorações de alunos e professores

Botelho, Agostinho De Jesus, 1967 - Chagas, Isabel, 1952 - 2010

Redescobrir a educação artística. Da educação pela arte à educação museal

Martinho, Sofia Vaz 2013

Pontes entre a escola e o museu : impacto de uma visita na aprendizagem sobre padrões,

sequências e simetrias Monteiro, Maria Ana De Almada De Arantes e Oliveira Santos, Sara

Bahia Dos, 1959 - 2013

A importância da mediação cultural na relação entre a escola e a instituição cultural

João, Joana Filipa Dos Santos, 1989 - Caetano, Ana Paula, 1962 - 2012

De Corpo e Alma : narrativas dos profissionais de educação em museus da cidade do Porto

Barros, Ana Bárbara Da Silva Magalhães Veríssimo De 2008

Experimenta arte.pt:proposta didáctica de educação estética e artística para crianças

Santos, Paulo César Mendes Dos, 1977 - Fróis, João Pedro, 1957 - 2007

No labirinto da infância: os museus e a construção cultural das crianças Leonor Dos

Santos Sousa 2003

Os mais pequenos descobrem o Museu da Água : visitas guiadas e outras atividades

Rocha, Vânia Lúcia Silva, 1986 - Alves, Natália, 1958 - 2009

59

Ainda não existem teses com a temática 60

As dissertações não tratam diretamente do tema educação museal, (compreendendo que essa é uma

nomenclatura recente, e em debate), mas de maneira direta/ indireta os trabalhos tem aspectos afins com a nossa

pesquisa, pois tratam da educação que acontece nos espaços de museus..

167

Diagnóstico e avaliação da formação : dois pontos-chave de um processo cíclico

Trabulo, Andreia Carolina Andrade, 1985 - Cabrito, Belmiro Gil, 1949 - 2009

Estudo de públicos do museu de São Roque Santana, Ana Patrícia Dos Santos Silva, Raquel

Henriques Da ; Silveira, Maria Da Graça Da ; Morna, Teresa Freitas 2010

Estudo exploratório para a construção de um projeto pedagógico-didático para a futura

Casa-Museu do Medronho Ferreira, Mónica Sofia De Jesus Neves, Cláudia 2013

Prática de ensino supervisionada, Geometria Descritiva A (11º ano) : LUPA, um serviço

educativo para Castelo Branco Silva, Cláudia Nunes Da 2013

O Museu da Resistência : museu transnacional Mendes, Carlos Jorge Silva 2010

Interação museu-escola: a importância dos programas de formação continuada de

professores em municípios afastados dos centros urbanos Grazielle Rodrigues Pereira ;

Kely Cristina Marciano Soares ; Livia Mascarenhas De Paula ; Robson Coutinho-silva

Field Actions Science Reports, 2011

O Pavilhão do Conhecimento : ciência viva como recurso educativo

Carvalho, António Alexandre Ferreira De Pereira, Alda 2006

O estágio. Curso de conservadores de Museu no Museu Nacional de Arte Antiga - O papel

educativo do MNAA na museologia portuguesa

Rocha, Ema Ramalheira 2013

Artigos com temas

referentes Educação

e/em Museus

Ciências e educação em museus no final do século XIX The sciences and education in

museums at the close of the nineteenth century Maria Margaret Lopes ; Sandra Elena Murriello História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 2005, Vol.12, p.13 Periódico

Museus, ciência e educação: novos desafios Museums, science, and education: new

challenges/ Maria Esther Valente ; Sibele Cazelli ; Fátima Alves/ História, Ciências, Saúde-

Manguinhos, 2005, Vol.12, p.183 Periódico

A presença de estudantes: o encontro de museus e escolas no Brasil a partir da década de

50 do século XX The students presence: the interface between museums and schools in

Brazil the 1950's Paulo Knauss Varia História, 2011, Vol.27(46), p.581

Prática de ensino de ciências: o museu como espaço formativo Daniel Fernando Bovolenta

Ovigli Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências, 2011, Vol.13(3), p.133

Os Museus de Arte e a Educação: Discursos e Práticas Contemporâneas

Fróis, João Pedro, 1957 - 2008

Espaço biodescoberta: uma exposição interativa em biologia Biodiscovery hall: an

interactive biology exhibit Carla Gruzman Gabriel ; Luiz Antonio Teixeira

História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 1999, Vol.6(2), p.377 [Periódico

Os museus históricos e pedagógicos do estado de São Paulo Simona Misan

Anais do Museu Paulista, 2008, Vol.16(2), p.175

Museus e instituição universitária; um exemplo de cooperação Lira, Sérgio 1999

O papel educativo dos museus: públicos, atividades e parcerias Delicadas, Ana, 1973 -

2013

O papel educacional do CEMAARQ: desafios e transformações conceituais, valorizando a

educação e atraindo mais público Juliana Da Luz Rocha ; Leonice Bigoni ; Ruth Künzli

Revista Ciência em Extensão, 2010, Vol.5(2)

168

Contrafacao e seus museus: observacao das categorias esteticas do contrafeito

Linares, Nicolas Llano ; Barreto, Eneus Trindade ; De Souza, Livia Silva

Comunicacao, Midia E Consumo, May-August, 2013, Vol.10(28), p.169(20)

Museus de Ciência e a popularização do conhecimento no Brasil Cecilia C.b. Cavalcanti ;

Pedro Muanis Persechini Field Actions Science Reports, 2011

Modos de habitar a história ou filosofia, cultura e arquitetura na fundação do Altes

Museum de Berlim Lemos, Fabiano Archivos Analíticos de Políticas Educativas=Education

Policy Analysis Archives, 2011, Vol.19(2) [Periódico

Museus de Ciência e a popularização do conhecimento no Brasil Cecilia C.b. Cavalcanti ;

Pedro Muanis Persechini Field Actions Science Reports, 2011

As ideias nascem do real: ensaio sobre museus de arte, João Pedro Educação, 2011,

Vol.34(3), p.263

Avaliação do grau de inserção dos museus de ciências na realidade escolar da Baixada

Fluminense, Rio de Janeiro Marciano Soares, Kely Cristina ; Rodrigues Pereira, Grazielle

; Coutinho - Silva, Robson Ciências & Cognição, 2011, Vol.16, pp.96-112

Exposições sobre Comunicação Humana em museus interativos de ciências, Tainá Soares

Ferreira ; Cláudia Regina Furquim De Andrade Revista da Sociedade Brasileira de

Fonoaudiologia, 2012, Vol.17(1), p.78

Internet, museu e educação: alguns exemplos de e para Portugal e Brasil

Moutinho, Ana Viale ; Ferreira, Isabel Cristina Rodrigues 2007

Conversas de aprendizagem em museus de ciências: como os deficientes visuais

interpretam os materiais educativos do museu de microbiologia? Alessandra Fernandes

Bizerra ; Juliana Bettini Verdiani Cizauskas ; Glaucia Colli Inglez ; Milene Tino De

Franco

Revista Educação Especial, 2012, Vol.25(42), p.57

Museus e famílias: percepçõe e comportamentos de crianças e seus familiares em

exposições para o público infantil, Denise C. Studart História, Ciências, Saúde-

Manguinhos, 2005, Vol.12, p.55 Periódico

Exposições em museus de ciências: reflexões e critérios para análise, Maria-júlia Estefânia

Chelini ; Sônia Godoy Bueno De Carvalho Lopes Anais do Museu Paulista, 2008,

Vol.16(2), p.205

Transposição ou recontextualização? Sobre a produção de saberes na educação em museus

de ciências Martha Marandino Revista Brasileira de Educação, 2004(026), p.95

Um museu como palco de cultura/culturas nos seus diferentes papéis: o Museu dos

Transportes e Comunicações Castro, Regina 2010

O retrato de um menino Bororo: narrativas sobre o destino dos índios e o horizonte politico

dos museus, seculos XIX e XXI Pacheco De Oliveira, Joao Tempo - Revista do

Departamento de Historia da UFF, July, 2007, p.73(27)

Crianças, velhos e museu: memória e descoberta Maria Isabel Leite Cadernos Cedes, 2006,

Vol.26(68), p.74 Periódico

Os museus: entre a pedagogia e a interpretação (um estudo de caso : o Museu de Alberto

Sampaio) Magalhães, Fernando Paulo Oliveira 2005

O papel educacional do Museu de Ciências: desafios e transformações conceituais

De Siqueira, Vera Helena F. ; Gruzman, Carla REEC: Revista electrónica de enseñanza de

las ciencias, 2007, Vol.6(2) Periódico

169

Avaliação da eficácia das intervenções educacionais em museus: uma proposta teórica

Bahia, Sara ; Janeiro, Isabel 2008

A biologia nos museus de ciências: a questão dos textos em bioexposições

Martha Marandino Ciência & Educação, 2002, Vol.8(2), p.187

Cv-muzar - um ambiente de suporte a comunidades virtuais para apoio à aprendizagem em

museus Antônio Carlos Da Rocha Costa ; Ana Carolina Bertoletti De Marchi

Método da lembrança estimulada: uma ferramenta de investigação sobre aprendizagem em

museus de ciências Douglas Falcão ; John Gilbert História, Ciências, Saúde-Manguinhos,

2005, Vol.12, p.93 Periódico

Avaliação da aprendizagem sobre saúde, em visita ao Museu da Vida,Vânia Rocha ;

Evelyse Dos Santos Lemos ; Virginia Schall História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 2010,

Vol.17(2), p.357 Periódico

A importância do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro para o

ensino não-formal em ciências Bianconi, M. Lucia ; Vieira, Valéria Ciências & Cognição,

2007, Vol.11, pp.21-36

Museos: dispositivos de curiosidad Tucherman, Ieda ; Cavalcanti, Cecilia C. B.

Comunicacao, Midia E Consumo, Nov, 2010, Vol.7(20), p.141(18)

Modelos de educação em ciências em museus: análise da visita orientada Martha

Marandino; Isabela Tacito Ianelli Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências, 2012,

Vol.14(1), p.17

Os Museus de Arte e a educação: Discursos e Práticas Contemporâneas

Fróis, João Pedro, 1957 - 2008

Conversas de aprendizagem em museus de ciências: como os deficientes visuais

interpretam os materiais educativos do museu de microbiologia? Alessandra Fernandes

Bizerra ; Juliana Bettini Verdiani Cizauskas ; Glaucia Colli Inglez ; Milene Tino De

Franco

Revista Educação Especial, 2012, Vol.25(42), p.57

Atividade de ensino nao-formal no museu de anatomia Moura, C. E. B. ; Silva, N. B. ;

Magalhaes, K. D. ; Miranda, M. T. M. ; Nascimento, R. S. S. International Journal of

Morphology, March, 2007, Vol.25(1), p.163(1) Periódico

O papel educacional do Museu de Ciências: desafios e transformações conceituais De

Siqueira, Vera Helena F. ; Gruzman, Carla REEC: Revista electrónica de enseñanza de las

ciencias, 2007, Vol.6(2) Periódico

Ata de congresso com

temas referentes

Educação e/em Museus

Encontro Museus e Educação Torres, Cláudio Mértola (Portugal) 2002

Os museus como espaços de sociabilidade: as experiências educativas do Museu de

Mértola Rafael, Lígia ; Palma, Maria De Fátima 2013

(Quadro feito a partir do catálogo de artigos do Portal Capes-Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível Superior)

170

Quadro 08:

TESES E DISSERTAÇÕES DO BANCO DA BIBLIOTECA

DIGITAL BRASILEIRA DE TESES E DISSERTAÇÕES

Teses com temas

referentes à

Educação Museal e

dissertações com temas

referentes às Reformas

Educacionais.

Musealização da natureza: exposições em museu de história natural

como representação cultural/ Mauricio Candido da Silva/ São Paulo

2013

A educação na fronteira entre museus e escolas [manuscrito]: um

estudo sobre as visitas escolares ao Museu Histórico Abílio Barreto /

Soraia Freitas Dutra. - UFMG/FaE, 2012.

A criança nos museus de ciência: análise da exposição Mundo da

criança, do Museu de Ciência e Tecnologia da PUCRS/ Cynthia

Iszlaiji/ São Paulo, 2012

O museu julio de castilhos no período 1960-1980: acervos,

discursos, representações e práticas através de uma exposição

museológica Andréa Reis da Silveira Santa Maria/RS 2011

A constituição da educação em museus: o funcionamento do

dispositivo pedagógico museal por meio de um estudo comparativo

entre museus de artes plásticas, ciências humanas e ciência e

tecnologia/ Luciana Conrado Martins – São Paulo- 2011

Museus e Centros de Ciência Virtuais Perspectivas e Explorações de

Alunos e Professores Agostinho de Jesus Botelho

Tese orientada pela Professora Doutora Maria Isabel Seixas Chagas

2010

Dissertações com

temas referentes à

Educação Museal e

dissertações com temas

referentes às Reformas

Educacionais.

Biodiversidade e museus de ciência: um estudo sobre transposição

museográfica nos dioramas/ Adriano Dias de Oliveira/ São Paulo,

2010

O processo de significação da experiência museal: um estudo

sobre o contexto pessoal de professores de ciências/ Charles Tiago

dos Santos Soares - PORTO ALEGRE 2010

Atividade de aprendizagem em museus de ciências Alessandra

Fernandes Bizerra São Paulo 2009

Jogando arte na web: educação em museus virtuais

Ana Beatriz Bahia Spinola Bittencourt Santa Catarina 2008

Ação educacional museal: marcas institucionais e registros

documentais/ Greciene Lopes dos Santos/ Belo Horizonte, 2008

A relação museu/escola: teoria e pratica educacionais nas visitas

escolares ao Museu de Zoologia da USP/ Luciana Conrado Martins/

São Paulo, 2006

(Quadro feito a partir do catálogo de Teses e Dissertações da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e

Dissertações)

171

Quadro 09 TEXTOS BASES DA PLATAFORMA DE EDUCAÇÃO MUSEAL

Documentos de

referência:

Bibliografia

recomendada:

Livros: Capítulos: Revistas/

Periódicos:

Teses /

Dissertações:

Carta de

Petrópolis –

Subsídios para

a construção de

uma Política

Nacional de

Educação

Museal

Comunicação,

Educação,

Exposição: novos

saberes, novos

sentidos – Tereza

Scheiner

Acessibilidade a

Museus- Regina

Cohen,

Cristiane Duarte

e Alice

Brasileiro

Articulação

entre Educação

e Museologia –

Gabriela

Ramos Figurelli

Dossiê Educação

em Museus –

Ensino em Re-

vista (Publicação

Semestral do

Programa de Pós-

graduação em

Educação da

Universidade

Federal de

Uberlândia)

Da avaliação

das

compreensões

às estratégias de

ensino: o caso

de uma pintura

histórica

brasileira –

Teresinha Sueli

Franz

Metas do Plano

Nacional de

Cultura

A comunicação

na escola e no

museu – Luis

Oliveira

Henriques

Manual de

atividades

práticas de

educação

patrimonial –

Evelina

Grunberg

Museum

Education in the

Context of

Museum

Functions –

Capítulo do

Livro ―Running

a Museum: A

Practical

Handbook‖ da

UNESCO

Educação

Patrimonial:

Orientações ao

professor –

Caderno Temático

nº1: Revista

publicada pela

Casa do

Patrimônio de

João Pessoa

(Iphan/PB e

Copac/PMJP)

Ciência, cultura,

museus, jovens

e escolas: quais

as relações? –

Sibele Cazelli

Plano Nacional

de Cultura -

PNC

Os diferentes

tipos de capital

mobilizados no

contexto escolar e

o acesso dos

jovens a museus –

Sibele Cazelli e

Creso Franco

Museologia

Roteiros

Práticos –

Educação em

museus – USP e

EdUSP

Educação

Patrimonial:

Reflexões e

práticas –

Caderno Temático

nº2: Revista

publicada pela

Casa do

Patrimônio de

João Pessoa

(Iphan/PB e

Copac/PMJP)

A constituição

da educação em

museus: o

funcionamento

do dispositivo

pedagógico

museal por meio

de um estudo

comparativo

entre museus de

artes plásticas,

ciências

humanas e

ciência e

tecnologia –

Luciana

Conrado

Martins

172

Plano Nacional

Setorial de

Museus –

PNSM

EaD como prática

educomunicativa:

emoção e

racionalidade

operativa - Ismar

de Oliveira Soares

Que público é

esse? Formação

de públicos de

museus e

centros

culturais –

Luciana

Conrado

Martins (Org.),

Ana Maria

Navas, Djana

Contier e Maria

Paula Correia de

Souza

Musas – revista

brasileira de

museus e

museologia nº 1:

Dossiê que aborda

temas referentes à

educação em

museus

organizado pelo

Comitê

Internacional

para Ação

Educativa e

Cultural (CECA)

do Conselho

Internacional de

Museus (ICOM)

Museus e

Educação em

Museus –

História,

Metodologias e

Projetos, com

análises de caso:

Museus de Arte

Contemporênea

de São Paulo,

Niterói e Rio

Grande do Sul -

Alice

Bemvenuti.

Política

Nacional de

Museus – PNM

Educação em

museus e

divulgação

científica –

Martha

Marandino

Museu e escola:

educação formal e

não-formal –

Salto para o

futuro

O museu na

perspectiva da

educação não

formal e as

tendências

políticas para o

campo da

museologia –

Roberto Sander

Educação, museu

e patrimônio:

tensão, devoração

e adjetivação –

Mário Chagas

Reflexões

museológicas:

caminhos de

vida – Maria

Célia Teixeira

Moura Santos

―O que o museu

tem a ver com

educação?‖

Educação,

cultura e

formação

integral:

possibilidades e

desafios de

políticas

públicas de

educação

museal na

atualidade -

Fernanda

Santana Rabello

de Castro

A Exposição

como ―obra

aberta‖: breves

reflexões sobre

interatividade –

Maria Lúcia de

Niemeyer

Matheus Loureiro

e Douglas Falcão

Silva

Por uma

didática museal:

propondo bases

sociológicas

para análise da

educação em

museu - Martha

Marandino

Interfaces na

relação museu-

escola – Martha

Marandino

A relação

museu/escola:

teoria e prática

educacionais

173

nas visitas

escolares ao

Museu de

Zoologia da

USP – Luciana

Conrado

Martins

Museus, ciência e

educação: novos

desafios – Maria

Esther Valente,

Sibele Cazelli e

Fátima Alves

Museu e

Educação:

conceitos e

métodos – Maria

Célia Teixeira

Moura Santos

Museu e escola:

responsabilidade

compartilhada na

formação de

públicos – Denise

Grinspum

Museus e

famílias:

percepções e

comportamentos

de crianças e seus

familiares em

exposições para o

público infantil. –

Denise C. Studart

Museus e Público

Jovem:

percepções e

receptividades –

Mário de Souza

Chagas, Denise

Coelho Studart,

Ana Carolina

Maciel Vieira,

Ana Carolina

Gelmini de Faria,

Ana Luiza

Amaral, Paula

Nunes Costa e

Newton Fabiano

Soares.

Museu,

imaginação e

formação dos

sujeitos: a

experiência da

Pinacoteca do

Estado de SP –

Mila Milene

174

Chiovatto

Museus: pontes

entre gerações –

Heloisa Helena

Fernandes

Gonçalves da

Costa

Políticas públicas

culturais de

inclusão de

públicos especiais

em museus –

Amanda Pinto da

Fonseca Tojal

Sociedade e

Educação

Patrimonial – Ana

Carmen Amorim

Jara Casco

A transposição

didática em

Chevallard: as

deformações/trans

formações

sofridas pelo

conceito de

função em sala de

aula – Maurício

A. Saraiva de

Matos Filho,

Josinalva Estácio

Menezes, Ronald

de Santana da

Silva e Simone

Moura Queiroz

175

Quadro 10: Banco de Projetos Educativos do PNEM

Banco de Projetos Educativos do PNEM

Ações Desenvolvidas no Goiás:

Universidade de Goiás/Museu Antropológico

Ações Desenvolvidas no Maranhão:

Museu Casa Histórica de Alcântara.

Ações Desenvolvidas em Minas Gerais:

Casa de Leitura Lya Maria Müller Botelho;

Casa do Baile ;

Instituto Imersão Latina;

Museu Casa dos Inconfidentes;

Museu Histórico de Contagem;

Museu Histórico Delfim Moreira;

Museu do Ouro;

Museu Regional Casa dos Ottoni;

Museu Regional de São João Del-Rei;

Ações desenvolvidas no Pará:

Museu de Arte de Belém – MABE.

Ações desenvolvidas no Rio de Janeiro: Museu Casa da Hera

Museu Chácara do Céu.

Museu de Arqueologia de Itaipu – MAI

Museu de Arte Religiosa e Tradicional – Cabo Frio

Ações desenvolvidas no Rio Grande do Sul:

Fundação Universidade de Passo Fundo – Instituto de

Ciências Biológicas – Museu Zoobotânico Arugusto

Ruschi

Fundação Vera Chaves Barcellos

Museu Antropológico do Rio Grande do Sul (MARS)

Museu de Arte de Montenegro

Museu do Trem – São Leopoldo

Museu e Arquivo Histórico Professor Hermann

Wegermann

Museu Histórico Regional

Ações Desenvolvidas em Santa Catarina:

Fundação Educacional de Criciúma mantenedora da

Universidade do Extremo Sul Catarinense

Fundação Cultural de Timbó- Museu do Imigrante.

Museu de Arqueologia e Etnologia Professor Oswaldo

Rodrigues Cabral (MArquE).

Museu de Arte de Joinville

Prefeitura de Pinhalzinho-SC

Ações Desenvolvidas em São Paulo:

Associação Amigos do Centro Cultural

Associação Nóbrega de Educação e Assistência Social –

ANEAS

Centro de Documentação da II Guerra Mundial ―Capitã

Altamira Pereira Valadares‖

Fundação Patrimônio Histórico da Energia e

Saneamento de Itu

Instituto de Arte do Futebol Brasileiro

Museu da Língua Portuguesa

Museu Lasar Segall

ONG Trilhas da Serra – Educação, Cultura e Cidadania

Ações Desenvolvidas em Sergipe:

Projeto Pescando Memórias.