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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR
CAMPUS DE VILHENA
DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA
ROSÂNGELA DA SILVA SOARES SANTOS
CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO: UM ESTUDO
EXPLORATÓRIO NA CIDADE DE VILHENA - RO
VILHENA - RO
Julho, 2018
ROSÂNGELA DA SILVA SOARES SANTOS
CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO: UM ESTUDO
EXPLORATÓRIO NA CIDADE DE VILHENA - RO
Monografia apresentada a Universidade
Federal de Rondônia, como requisito avaliativo
para conclusão do curso de Pedagogia.
Orientador: Prof. Dr. Fábio Santos de Andrade.
VILHENA - RO
Julho, 2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR
CAMPUS DE VILHENA
DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA
CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO: UM ESTUDO
EXPLORATÓRIO NA CIDADE DE VILHENA - RO
ROSÂNGELA DA SILVA SOARES SANTOS
Este trabalho foi julgado adequado para obtenção do título de Graduação em
Pedagogia e aprovado pelo Departamento Acadêmico de Ciências da Educação (DACIE) da
Universidade Federal de Rondônia.
__________________________________
Prof.ª M.ª Cláudia Justus Tôrres Pereira
Chefe do Departamento Acadêmico de Ciências da Educação
Professores que compuseram a banca:
__________________________________
Presidente: Profª. Esp. Fernanda Emanuele Souza de Azevedo - UNIR
__________________________________
Membro: Prof. Dr. Júlio Robson Azevedo Gambarra - UNIR
__________________________________
Membro: Profª. Mª. Daiane Trindade da Silva - UNIR
Vilhena, 02 de julho de 2018.
Agradeço a Deus em primeiro lugar e à minha
família! Em especial ao meu Pai que esteve
comigo durante todo esse tempo,
compreendendo minha ausência durante as
aulas e os constantes trabalhos. À minha Mãe
pelo constante incentivo. À minha amiga e
Pastora, Vânia Fontes Teixeira, uma das
pessoas que me estimularam a iniciar a
graduação. Aos meus amigos Stelia e
Giovander Salles que em todo tempo me
apoiaram, ajudaram a continuar prosseguindo
e não desistir nos momentos difíceis. Ao meu
companheiro e amigo Angiel Rodrigues que
desde que chegou em minha vida me apoiou a
prosseguir. Aos meus colegas de turma, que
mesmo de maneira direta ou indireta fizeram
parte dessa conquista, em especial meu amigo
mais chegado que irmão Elimar Junior
Gonçalves, meu companheiro de curso. E de
maneira muito especial ao meu orientador e
amigo, Prof. Dr. Fábio Santos de Andrade, um
dos principais personagens dessa “história”,
que me auxiliou, compreendeu, foi amigo,
irmão, professor, orientador e aquele que me
possibilitou muito crescimento nessa
caminhada acadêmica, a pessoa que é hoje
minha referência de Educador Social. A todos
os Professores do DACIE, os meus singelos
agradecimentos.
RESUMO
Este trabalho consiste em uma pesquisa qualitativa vinculada ao projeto “Crianças e
adolescentes em situação risco pessoal e social no município de Vilhena: cotidiano, trajetórias
e políticas públicas”, apoiado pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica
(PIBIC) patrocinado pelo Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq). O município de Vilhena
(RO) configura-se como um polo regional em desenvolvimento e em consequência enfrenta
diversos problemas envolvendo a violação de direitos de crianças e adolescentes, as
colocando em situação de risco. Nota-se, com base nessa informação, o aumento do número
de programas e instituições que compõem a Rede de Proteção e Garantia de Direitos,
governamentais e não governamentais. Dessa forma, justificou-se a realização deste trabalho
baseado na análise dos resultados de pesquisas realizadas entre os anos de 2015 a 2017.
Buscando compreender os motivos dessas violações de direitos é que se justifica este trabalho
que foi desenvolvido em duas etapas. Na primeira foi feita a análise de bibliografias que
tratam de algumas conceituações sobre pobreza, crianças e adolescentes em situação de risco
e de temas correlatos. A segunda tratou da análise dos resultados da pesquisa de campo. Essas
análises objetivaram levantar dados que nos possibilitou compreender as principais situações
de risco a que estão submetidas às crianças e adolescentes do município, em seus bairros de
origem e que podem ser influenciadores da saída de casa, da ocorrência de atos infracionais e
de outros casos de violência.
Palavras-Chave: Defesa. Garantia de direitos. Crianças e adolescentes. Situação de risco.
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Por idade..............................................................................................................36
Gráfico 2 – Por sexo................................................................................................................36
Gráfico 3 – Por Cor/raça.........................................................................................................37
Gráfico 4 – Composição familiar............................................................................................38
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Sobreas instituições..................................................................................
Perfil das instituições................................................................................
34
Quadro 2 - 35
Quadro 3 - Bairros onde foram aplicados os questionários........................................ 39
LISTA DE SIGLAS
ACCMV Ação Contra a Miséria e pela Vida
CAM Casa de Atendimento a Mulher
CECA Conselho Estadual de Direito da Criança e Adolescente
CMDCA Conselho Municipal de Direito da Criança e Adolescente
CNPq Conselho Nacional de Pesquisa
CONANDA Conselho Nacional de Direito da Criança e Adolescente
CRAS Centro de Referência em Assistência Social
CRECA Centro de Referência Especializada da Criança e Adolescente
CUT Central Única dos Trabalhadores
ECA Estatuto da Criança e Adolescente
FEBEM Fundação Estadual do Bem Estar do Menor
FENABEM Fundação Nacional do Bem Estar do Menor
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terras
ONG Organização Não Governamental
ONG‟s Organizações Não Governamentais
ONU Organização das Nações Unidas
PETI Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
PIBIC Programa de Bolsa de Iniciação Científica
PNBM Política Nacional do Bem do Menor
PT Partido dos Trabalhadores
SEMAS Secretaria Municipal de Assistência Social (Vilhena)
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura
UNIR Universidade Federal de Rondônia
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...............................................................................................................10
2 BREVE ABORDAGEM DE ALGUMAS CONCEITUAÇÕES SOBRE
POBREZA ......................................................................................................................12
2.1 Reflexões sobre a História Social da pobreza...............................................................12
2.2 Conceitos de pobreza no século XX e XXI....................................................................14
2.3 Considerações sobre a pobreza no Brasil contemporâneo..........................................16
3 CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO NO BRASIL.........22
3.1 A política de defesa e garantia de direitos de crianças e adolescentes no Brasil.......24
3.2 O Estatuto da Criança e do Adolescente e a nova política de proteção e
garantia de direitos..........................................................................................................28
4 CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO EM
VILHENA: REFLEXÕES SOBRE O COTIDIANO..................................................31
4.1 Compreendendo o campo de pesquisa...........................................................................31
4.2 A ida a campo: reconhecendo as crianças e adolescentes em situação de
risco em Vilhena...............................................................................................................33
4.3 Novas trilhas da pesquisa...............................................................................................38
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................41
REFERÊNCIAS............................................................................................................43
10
1 INTRODUÇÃO
A quantidade de crianças e adolescentes em situação de risco vem aumentando
gradativamente em todo país e, consequentemente, amplia-se a rede socioassistencial através
dos projetos, programas e instituições governamentais e não governamentais que são criados a
cada dia com o objetivo de atender esse público. Pode-se entender por situação de risco a
possibilidade de ocorrências danosas, no plano físico, mental ou social, daqueles sujeitos, que
vivendo em condições próprias da imaturidade, necessitam de medidas de proteção e defesas
especiais garantidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) (BRASIL, 2016).
Normalmente a rede socioassistencial busca garantir direitos e defender as crianças e
adolescentes em situação de risco e em suas atividades atendem diariamente os que foram
abandonados pela família, sofreram abuso, foram vítimas de violência, submetidos ao
trabalho abusivo e explorador, estão em dependências de substancias químicas e álcool,
sofreram exploração sexual e ou estão em conflito com a lei.
Vilhena, enquanto cidade em desenvolvimento e polo regional começa a enfrentar
diversos problemas envolvendo um alto numero de crianças e adolescentes em situação de
risco. Nota-se, com base nessa informação, o aumento do numero de ações de atendimento
aos que se encontram em situação de risco, seja por meio de ações governamentais ou não
governamentais.
Este trabalho de cunho qualitativo é resultado da análise e reflexão dos resultados de
duas pesquisas realizadas entre os anos de 2015 e 2017, vinculado ao Projeto de Pesquisa
“Crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e social no município de Vilhena:
cotidiano, trajetórias e políticas públicas”, com apoio do Programa de Iniciação Científica
(PIBIC) patrocinado pelo Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), o qual justificou-se no
anseio em compreender os motivos das violações de direitos e seus fatores influenciadores.
Neste sentido a metodologia do trabalho, de cunho qualitativo, foi desenvolvida em
duas etapas. Na primeira foi feita a análise de bibliografias que tratam de algumas
conceituações sobre pobreza, crianças e adolescentes em situação de risco e de temas
correlatos e na segunda, a análise dos resultados das pesquisas de campo realizadas nas
pesquisas anteriores. Essas análises objetivaram levantar dados que nos possibilitou
compreender as principais situações de risco a que estão submetidas as crianças e
adolescentes do município em seus bairros e que podem ser influenciadores da saída de casa,
da ocorrência de atos infracionais e de outros casos de violência. Buscamos também
11
compreender o motivo do exorbitante crescimento da rede socioassistencial voltado para a
defesa e garantia de direitos das crianças e adolescentes.
Tendo como base as pesquisas realizadas anteriormente foi possível a elaboração deste
trabalho apresentado em cinco seções, sendo que a primeira se constitui na presente
introdução a qual explica de maneira breve a problemática, objetivo central e a justificativa.
Na segunda seção buscamos compreender algumas conceituações sobre pobreza a
qual, é um fenômeno social que têm um peso bastante significante quanto à situação de risco
de crianças e adolescentes trazendo uma reflexão sobre sua história social a partir da Idade
Média até o século XXI, concluindo a seção com algumas considerações sobre a pobreza no
Brasil contemporâneo.
Na terceira seção, buscamos realizar uma breve abordagem sobre a história da criança
e do adolescente em situação de risco no Brasil a partir do século XVIII, em que tivemos
como referencial teórico as obras de Marcílio (2003) e Andrade (2016), além da abordagem a
respeito da legislação de proteção e garantia de direito das crianças e adolescentes, sendo que
o marco inicial trata do ano de 1927, com a criação do Código de Menores, e finalizando-a
com uma sucinta explicação sobre o Estatuto da Criança e Adolescente.
Na quarta seção realizamos a apresentação do perfil das crianças e adolescentes em
situação de risco de Vilhena buscando compreender o campo de pesquisa através de uma
breve explanação do processo histórico do município de Vilhena-RO, como se deu a coleta de
dados e seu desenvolvimento. Assim, buscamos possibilitar a compreensão das pesquisas
realizadas entre os anos de 2015 e 2017, que constam neste trabalho como dados levantados
nos períodos supracitados, permitindo a discussão de seus resultados.
Na quinta e última seção encontra-se as Considerações Finais na qual buscamos pensar
sobre os resultados do trabalho com reflexões acerca do cotidiano das crianças e adolescentes
em situação de risco em Vilhena, bem como, as possibilidades de melhoria das atividades
desenvolvidas pela rede socioassistencial e as políticas públicas de proteção e garantia de
direito, contribuindo para a melhor formação dos acadêmicos da Universidade Federal de
Rondônia (UNIR), principalmente os futuros pedagogos.
12
2 BREVE ABORDAGEM DE ALGUMAS CONCEITUAÇÕES SOBRE POBREZA
Nesta seção abordaremos brevemente sobre a pobreza partindo do conceito de alguns
autores que fundamentaram essa pesquisa, tais como: Schwartzman (2004), Bajoit e Dubet
(2006), Filho (2009), Costa (2016), dentre outros. As percepções dos autores sobre a temática
nos possibilitou trilhar com maior clareza as nuances deste fenômeno social. O mesmo possui
uma conceituação ampla que se define de acordo com o contexto histórico, social, cultural,
político e econômico que se encontra. Apontaremos a seguir alguns deles, procurando
compreender de forma teórica e atemporal seu significado.
2.1 Reflexões sobre a História Social da pobreza
De acordo com estudos de Filho (2009), na Idade Média a pobreza era estritamente
ligada à religião e a aspectos espirituais, vista como fator essencial para a ação da caridade.
Nos séculos XII e XIII a pobreza passa a ser vista como plausível e apoiada pela
Igreja, porém a partir desse momento surgem três fenômenos estruturais que abalam os
padrões comuns da tradicional sociedade definidas como: a generalização das estruturas
feudais, o renascimento comercial e o crescimento urbano como destaca o autor, com os
quais:
No campo, as unidades familiares ampliadas e as comunais faziam com que
houvesse pobres, mas não miseráveis. O acentuado crescimento demográfico, que se
inicia já em finais do século XI, impõe uma expansão generalizada, quer em direção
às novas áreas de cultivo, quer rumo às cidades. A área rural literalmente transborda,
lançando para fora todos aqueles que já não cabem nos exíguos espaços do feudo. A
característica social básica desse transbordamento é ocasionar uma dupla perda, a da
proteção familiar e a da proteção senhorial. Praticamente não existiu a instituição da
servidão, nas novas áreas rurais, enquanto as cidades passaram a abrigar uma
multidão de homens livres. Sendo livre, o homem deve saldar todas suas obrigações
em dinheiro, uma vez que as obrigações em trabalho traduzem a marca da servidão.
E teve que fazê-lo em uma conjuntura extremamente desfavorável para o trabalhador
assalariado, na qual o contínuo crescimento demográfico, que fez a população
europeia passar de 48 milhões de habitantes, em 1100, para 73 milhões, em 1300
(BATISTA NETO, 1989, p. 42), acarretou uma contínua e enorme compressão nos
salários em geral. A título de exemplo, na Florença de finais do século XIII, um das
mais ricas cidades mercantis do período, enquanto um pão custava 10 soldos, o
salário diário médio era de apenas 8 soldos. (TENENTI, 1986 apud FILHO, 2009, p.
5).
A partir do século XIII a pobreza passa a não ser aceita Igreja (Católica) e assim pela
sociedade, sendo vista como um problema e os pobres como uma parte excluída da mesma. A
13
Igreja, no entanto, com o dogma de bondade e caridade começa com as ações de misericórdia
onde se iniciam os trabalhos de assistencialismo aos pobres com as casas de misericórdia,
casas de cura dos leprosos, hospitais urbanos, onde eram assistidos por freiras os enfermos,
necessitados e desamparados com o intuito de retirá-los das ruas que no caso deviriam,
“[...]esconder a pobreza, ela é feia e, com sua presença, envergonha a sociedade.” (FILHO,
2009, p. 6).
A partir de então, a Igreja passou a ver os pobres como rebeldes e tendo-os como
hereges, pois apoiava a burguesia e as ordens civis estabelecidas por ela. Assim sendo, a
conceituação de pobreza no século XV se denominava como pecado desprezível, tanto para a
Igreja como para a sociedade.
No Modernismo, que segundo Costa (2016), inicia seu desenvolvimento a partir do
século XVIII com as inovações na Europa-Ocidental a partir do final da Idade Média, como a
Revolução Francesa, a Industrialização e o Iluminismo a conceituação de pobreza têm suas
definições amplamente diversificadas e está cada vez mais presente no cenário das
sociedades. Se tratando disto, Bajoit (2006), nos leva a entender que, por conta dos avanços e
as transformações no mundo, devido a era da industrialização, temos a impressão de que esta
problemática teve seu início a partir desse período, o que se torna uma compreensão
equivocada, pois é sabido que o interesse em compreender esse fenômeno e até mesmo de
minimizá-lo, se faz presente há séculos como citamos anteriormente e através de estudos
realizados tanto por sociólogos quanto por economistas, a exemplo de Durkheim1 e Malthus
2
que contribuíram com perspectivas no âmbito social e econômico na tentativa de compreender
os problemas sociais vividos pelas sociedades ocidentais desde o final do século XVIII
(DUBET, 2006).
Reportando-se ao período da industrialização onde os camponeses começaram compor
as metrópoles e até aos nossos dias com a denominada globalização, a integração tem tentado
se instalar nas sociedades e a pobreza é um dos principais fatores a ser combatido para que
essa integração seja realmente estabelecida.
Já no final do século XIX “[...] os cientistas sociais e estatísticos coletavam
informações sobre a pobreza urbana e seus correlatos, tentando entender sua natureza – e,
quem sabe, ajudar a minorá-la.” (SCHWARTZMAN, 2004, p. 68), o que nos permite
compreender que essas preocupações e esses conceitos surgiram não dos “[...] países pobres
onde, o problema é mais crítico. A discussão sobre pobreza como a conhecemos hoje se
1 David Emile Durkheim 1858-1917: sociólogo francês considerado um dos fundadores da Sociologia Moderna.
2 Thomas Robert Malthus 1766-1784: economista inglês considerado primeiro professor de Economia Política.
14
iniciou nos países desenvolvidos [...]” (ROCHA, 2003, p.11). Dessa forma podemos entender
que a pobreza possui variáveis, podendo ser mensurada por meio das particularidades de cada
sociedade em que ela esta inserida.
2.2 Conceitos de pobreza no século XX e XXI
No decorrer do século XX dentre as concepções de pobreza desenvolvidas, três delas
ganham destaque no entendimento de Hullen (2014), e são definidas como: a pobreza de
sobrevivência, a das necessidades básicas e a de privação relativa. O conceito de pobreza de
sobrevivência consistia naquela em que o indivíduo possuía uma renda tão inferior que era
impossível manter suprida as necessidades físicas. O segundo conceito, a das necessidades
básicas, consistia naquele indivíduo que não possuía renda suficiente para suprir suas
necessidades básicas de sobrevivência, tais como água potável, sua saúde, a educação e
saneamento básico, o terceiro e último, que foi mais propriamente estabelecido na década de
1980 e se constituía em não possuir uma alimentação e um comportamento social adequado,
bem como, um certo nível de conforto, portanto além dos aspectos relacionados às
necessidades de sobrevivência física e alimentar, essa concepção se evidenciava também no
aspecto social do indivíduo.
É a partir dessa última concepção que vemos em sua grande maioria, as abordagens
sobre pobreza serem ampliadas. Para Amartya Sen (1999 apud HULLEN, 2014, p. 3), “A
pobreza pode ser definida como uma privação das capacidades básicas do indivíduo e não
apenas como uma renda inferior a um patamar pré-estabelecido.” significando assim para ela,
que as normativas e padrões sociais e econômicos de uma sociedade não são pressupostos
para conceituar um quadro de pobreza, e sim, às privações básicas de sobrevivência dos
indivíduos que constituem essa sociedade.
No século XXI podemos considerar que as concepções de pobreza continuaram sob
praticamente as mesmas perspectivas, porém, ganham enfoques embasados em estudos
relacionados às organizações institucionais mundiais, tais como, Organizações das Nações
Unidas (ONU), Banco Mundial, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
a Cultura (UNESCO) e importantes representantes políticos e econômicos mundiais todos na
pretensão de buscar soluções para a problemática (SILVA, 2002). Assim, Jorge Werthein,
representante da UNESCO no Brasil, afirma que a pobreza é o “[...] resultado da combinação
de fatores socioeconômicos e políticos diversos, revela-se uma das mais perversas – e
15
históricas - faces da desigualdade social [...]” (WETHEIN, 2004, p. 11), o que nos induz
compreender que a pobreza não se define apenas baseada no fator econômico, mas sim no
conjunto formado também pela política e o fator social.
Para Pierre Sané (2004), pobreza se configura em uma violação aos Direitos Humanos
e afirma ainda que esta “[...] não pode ser definida como um padrão de vida, ou como
determinados tipos de condições de vida: ela é, simultaneamente, a causa e o efeito da
sonegação, total ou parcial, dos direitos humanos”. (SANÉ, 2002 apud NOLETO;
WERTCHEIN, 2004, p. 29). Em sentido variado Silva (2002) define pobreza como sendo:
[...] fenômeno dinâmico, heterogêneo, multidimensional, pela interferência de
aspectos quantitativos e qualitativos representados por um acúmulo de deficiências
socioeconômicas e culturais. Além do problema de deficiência de renda, ao conceito
de pobreza agregam-se problemas de saúde, educação, moradia, desemprego e
grande dificuldade de fazer valer direitos no meio profissional e extraprofissional.
(SILVA, 2002, p. 8).
Há ainda duas concepções que são relevantes mencionar neste estudo para que as
perspectivas sobre pobreza possam ser ampliadas, que são: Pobreza Relativa e a Pobreza
Absoluta que no entendimento da autora Sônia Rocha (2003, p. 11), se define da seguinte
forma: a Relativa como sendo aquela que “[...] define necessidades a serem satisfeitas em
função do modo de vida predominante na sociedade em questão [...].” e a Absoluta como a
pobreza que “[...] está estreitamente vinculada às questões de sobrevivência físicas; portanto,
ao não atendimento das necessidades vinculadas ao mínimo vital.” diante dessa perspectiva
podemos compreender que este fenômeno, a pobreza, está estritamente ligado às questões de
desigualdades sociais, resultando, portanto à exclusão social que se evidencia especificamente
neste contexto na definição de pobreza relativa.
Diante da breve abordagem histórica sobre a conceituação de pobreza é necessário
compreender as estatísticas que esta possuí em pleno século XXI mesmo após constantes
estudos e investimentos na tentativa de minimiza-la ocorridos desde a Idade Média conforme
relato mencionado acima.
Assim, podemos citar algumas estatísticas da pobreza no mundo levantadas nos
últimos anos. No final do século XX estimavam-se 1,3 bilhões de pobres no mundo
resultando assim aproximadamente 22% da população mundial que no momento se
contabilizava em 6 bilhões de habitantes. (NOLETO; WERTCHEIN, 2004). Ainda de acordo
com os autores, nos anos 2000, 220 milhões de pessoas na América Latina viviam na pobreza.
Já em 2008 o Banco Mundial apontou que 1,4 bilhões de pessoas viviam nessa linha e
16
recentemente de acordo com seus dados 1,3 bilhões de pessoas vivem com 1,25 dólares por
dia, além de 2, 6 bilhões viverem diariamente com menos de 2 dólares (VALÉRIO, 2015).
Segundo Crespo (2014) jornalista e cientista social, a porcentagem de pessoas vivendo
na linha da pobreza no mundo em 2014 era de 1,5 bilhões dados esses, do Relatório de
Desenvolvimento Mundial publicado neste mesmo ano. Porém, os dados mais recentes sobre
a estatística da pobreza mundial está no Relatório de 2016 do Banco Mundial, que de acordo
com o Tavares (2016), são de 766 milhões de pessoas de um total de aproximadamente 7,6
bilhões da população mundial, dados esses registrados no site da ONU (2017).
Com tudo, ao observarmos as estatísticas listadas acima podemos observar que do
final do século XX até o momento, meados do século XXI, as estatísticas tem mudado e no
que se trata de algarismos a resistível problemática tem diminuído no âmbito global.
2.3 Considerações sobre a pobreza no Brasil contemporâneo
Na tentativa de ampliar a compreensão desse fenômeno social no Brasil, precisamos
recorrer às abordagens de alguns pesquisadores que estudam essa temática, na busca de
algumas considerações sobre este fenômeno no Brasil e sua trajetória até os dias atuais, tais
como, Andrade (2008; 2014; 2016), Silva (1999), sobre trabalho e pobreza, que em suas
análises atribui ao capitalismo a responsabilidade de termos constantemente a grande
necessidade de sanar com os problemas deste fenômeno social tão presente em nosso país,
bem como, de Henriques (2004) e Lechat (2006).
Assim, para elucidar sobre a questão capitalista como fator preponderante para a
pobreza, Andrade afirma:
Na história do Brasil, o trabalhador sempre foi uma importante ferramenta de
fortalecimento da economia; no entanto, sua ação é marcada pela exploração que
apenas fortaleceu a construção do mercado capitalista. O capital foi para o Brasil a
grande alavanca de desenvolvimento que o transformou de atrasado, em 1930, na
oitava economia mundial da década de 1980. (SOUZA, 2002 apud ANDRADE,
2014, p. 36).
Com isso, apesar dos trabalhadores serem os grandes responsáveis pelo crescimento
econômico do país através de sua exploração pelo mercado capitalista, estes, sempre foram os
menos favorecidos com o tal avanço, enquanto os ricos se tornavam mais abastados de
riqueza os pobres se tornavam cada vez mais desprovidos, o que ficou evidente com a
Revolução da década de 1930 que teve como fator principal, no contexto aqui destacado
(pobreza), “[...] o novo processo de modernização brasileira baseado na estrutura produtiva
17
de base urbano-industrial e não mais, no processo urbanizador e comercial [...]” (ANDRADE,
2014, p. 38) como o do século passado. Diante disso, o país sofre uma consideravél mudança
demográfica, decorrente da expansão industrial que se defini na ocupação dos grandes centros
urbanos pelas industrias, com isso, a população de trabalhadores rurais que até então
contribuia com a economia do país através do ambito agrário se veêm condicionados a sairem
do campo para ocupar as grandes cidades (Rio de Janeiro e São Paulo).
A partir de então, o Estado cria uma legislação trabalhista que visa garantir ao
trabalhador asseguridade e estabilidade quanto aos seus direitos e aos empregadores os seus
deveres organizando assim, as relações de trabalho do Brasil que se encontrava envolto na
inserção industrial (SILVA, 1999).
Seguindo essa linha de raciocínio, Andrade (2008) enfatiza que dentre essas garantias
o salário minímo, o que cabe destacarmos nesse contexto, que no entanto, era tão minímo que
apenas possibilitava os trabalhadores adquirir minimamente os recursos de sobrevivência
como a alimentação e que “[...] todas as ações do Estado e do mercado capitalista, referentes
aos trabalhadores, apenas os reprimiram e os isolaram em seus „guetos‟ – ambientes próprios
à sua classe social.” (ANDRADE, 2008, p. 20), e destaca ainda que:
A expansão industrial provocou a criação de um comércio de serviços dentro das
comunidades, destinado a abastecer essa população pobre. Dessa forma, os baixos
salários dos trabalhadores geravam novas formas de empregos, porém era a
condição de compra dos trabalhadores que definia o nível de ganho dos pequenos
comerciantes. Conforme Oliveira(2003a: 69), essa situação criava „bolsões de
subsistência no nível das populações de baixo poder aquisitivo‟. Os principais
reflexos do poder de controle e exploração do capital foram sentidos principalmente
a partir da segunda metade do século XX, sobretudo com a deteriorização do salário
mínimo, que se agravou após 1964. Nesse período, a abertura de novas rodovias
inter-estaduais possibilitou a migração para o Estado de São Paulo, principal centro
da industrialização brasileira na época, de um grande contingente de novos
trabalhadores, constituído principalmente de migrantes nordestinos que
abandonavam o defasado setor agrícola e buscavam sua sobrevivência como
trabalhadores da indústria.Essa população migrante apenas via São Paulo como o
espaço temporário de trabalho que lhes possibilitaria acumular valores que lhes
garantiriam uma melhor condição de vida ao retornarem para seus locais de origem.
Seguindo essa trilha pode-se afirmar que o alto número de migrantes transformou-se
em poupança rentável para o capital, tendo em vista que, com o aumento do
„exército industrial de reserva‟, era possível reduzirem-se ainda mais os salários
devido à ampla oferta de mão-de-obra. (OLIVEIRA, 2003 apud ANDRADE, 2012,
p. 20-21).
É importante aqui esclarecer que a citação acima, se faz necessário para elucidar com
maior clareza o pensamento do autor quanto ao exposto, assim sendo, podemos afirmar com
maior propriedade o que já vinhamos apontando, que cada vez mais o aumento da
desigualdade social do país caminha apoiada ao sistema capitalista.
18
Acompanhando a linha do tempo sobre o fenômeno pobreza (esclarecemos aqui, que
daremos destaque apenas alguns anos dos séculos XX e XXI, aos quais em nosso
entendimento merece o enfoque para melhor compreensão do fenômeno) e já na perspectiva
de mudar essa realidade Lechat (2006), traz sua contribuição quanto os anos de 1970 e 1990,
enfatizando que o conceito de pobreza no país nesse período continuou, “como temos visto ao
decorrer das abordagens realizadas até o presente momento deste estudo”, sendo construído
embasado por três importantes fatores, os quais são: político, econômico e o social.
No âmbito político os movimentos sociais que desde os anos de 1970 lutavam por uma
melhor qualidade de vida e direitos das minorias do país tais como, o Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terras (MST), os movimentos de bairros, das comunidades das
igrejas, como por exemplo, Pastorais da Igreja Católica, de feministas e de sindicatos. Com
relação ao movimento sindicalista o autor afirma que “É deste movimento que vai originar-se
a Central Única dos Trabalhadores (CUT) [...]” (LECHAT, 2006, p. 146), que dessa central
surge o Partido dos Trabalhadores (PT). Cabe enfatizar que o apoio da Igreja Católica esteve
sempre presente, e se assim pode-se dizer, embasaram as grandes conquistas políticas do país.
Os movimentos sociais acumularam um certo capital político e apresentaram-se
como „novos sujeitos de mudanças sociais‟. Assim a luta popular no Brasil
organizou-se ao redor da reconquista de direitos civis e políticos sociais e da
construção de novos direitos sociais; essas lutas levaram à formação de novos
sujeitos políticos, culminando na Constituinte de 1988 [...]. (STEIL, 2001 apud
LECHAT, 2006, p. 146-147).
No fator econômico Lechat (2006), afirma que o Brasil a partir da década de 1980
sofre uma desaceleração na economia, decorrente também da retomada do pagamento da
dívida externa e da aquisição do modelo neoliberal, o trabalho informal começa a tomar o
cenário como um recurso de sobrevivência dos trabalhadores que se apropriam das ruas como
ambiente de trabalho resultando assim no que conhecemos hoje como ambulantes.
Prosseguindo com a perspectiva do autor acima mencionado, na década de 1990 com o
acentuado desemprego e com o aumento populacional os indivíduos que antes tinham seus
direitos garantidos pelas conquistas salariais agora se deparam com uma significante redução
salarial e um elevado índice de desempregos, os quais são obrigados a submeter-se a
sobreviver com recursos mínimos ficando evidente o aumento da população pobre do país.
No fator social, diante da realidade em que o país se encontrava em 1993, o governo
que então ocupava a cadeira da República, Itamar Franco, o qual sucedeu Fernando Collor de
Mello após o impeachment, lança o programa de combate à fome no país intitulado Ação da
19
Cidadania Contra a Miséria e pela Vida (ACCMV), (LECHAT, 2006). E a partir de então,
começa-se a pensar em estratégias de auxílio social para essas pessoas que estavam
necessitadas.
O autor ainda expõe que em 1996 já então, no governo de Fernando Henrique
Cardoso, o fator social se apropria de um cenário de Economia Solidária, com o objetivo de
difundir a ideia de sociedade solidaria para camuflar sua estratégia de descentralizar suas
responsabilidades sociais e induzindo a mesma ao pensamento que Andrade explica com
muita clareza:
[...] deve apoiar a iniciativa privada que investe em Organizações Não-
Governamentais (ONG´s) destinadas à garantia de direitos, como educação, vida,
dignidade, trabalho, entre outros, substituindo o Estado nas suas obrigações políticas
e sociais. O Estado, por sua vez, estimula o „cidadão‟ à responsabilidade social,
destacando a importância de se doar parte do tempo livre ao trabalho voluntário.
(ANDRADE, 2012, p. 25).
De acordo com a citação acima mencionada, observa-se a existência de várias ONG‟s
financiadas pelo comércio capitalista que veem na população pobre e excluída a facilidade de
explora-los e condiciona-los cada vez mais a essa realidade.
Antes de prosseguirmos com a abordagem deste fenômeno social no Brasil, é
importante deixarmos claro, que de acordo com o raciocínio de Lechat (2006, p. 130), em sua
discussão sobre: “A economia solidária no Brasil: formação de um novo protagonista
sociopolítico, o trabalhador associado” nos possibilita entender que o país a começar dos 30
últimos anos do século XX caminha sua trajetória nesse ideal solidário passando aos
sucessivos governos essa herança, o que em nossa visão, enraíza cada vez mais a cultura de
que o indivíduo “cidadão” é o responsável pela sua condição e que há que sempre haver por
parte dele essa união, ou seja, solidariedade para mudar sua realidade e por trás de tudo isso o
crescimento capitalista é o único favorecido.
No século XXI, século no qual o Estado começa a deixar cada vez mais evidente sua
“preocupação” com relação a essa população desfavorecida da sociedade, começa a criar
várias alternativas na perspectiva de sanar com as problemáticas decorrentes desse fenômeno
social. É então, no governo de José Luiz Inácio Lula da Silva que essa preocupação se destaca
apoiado como alega Henriques (2004), à vergonhosa classificação de um dos países mundiais
campeões de desigualdade, tendo como justificativa a essa classificação o legado de injustiças
sociais. Partindo disso, inicia o processo de ações públicas voltadas para mudar essa
realidade. Assim o autor ainda elucida que muitos programas e projetos sociais foram
20
instituídos em prol do bem-estar desta população, dentre eles, o Fome Zero, Auxilio-gás o
Bolsa-alimentação, atual Bolsa Família, bem como outros pensados para idosos e as crianças,
como os Benefícios para idosos, o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) e o
Bolsa Escola.
Porém, além de toda essa preocupação e essas iniciativas o país ainda continua em
grande desigualdade social e o que é importante ressaltar aqui neste contexto, seguindo a ideia
de Andrade (2008), é que tudo isso apenas fortalece a concepção de pobreza e exclusão, os
agrupando cada vez mais em guetos e ao pensamento de que são mesmo a menor fatia do bolo
da sociedade, ficando evidente que:
[...] Todas as políticas do Estado são de Exceção: bolsa-família, por reconhecer que
o salário é insuficiente, mas não pode ser aumentado; vale-gás, por reconhecer que o
gás de cozinha é insubstituível, mas não se tem dinheiro para comprá-lo; bolsa-
escola, para melhorar o salário insuficiente e evitar a evasão escolar, que ao mesmo
tempo pode punir o pai que não manda o filho para a escola; fome-zero por
reconhecer que não se pode zerar a fome. Vale-transporte já vem de longe. E o
salário mínimo não pode aumentar porque arromba as contas da previdência.
(OLIVEIRA, 2000 apud ANDRADE, 2012, p. 29).
Desde então o Brasil segue na trilha da política social sendo apoiado, ou melhor, sendo
subjugado, pelo grande mercado capitalista o qual, praticamente conduz o mundo e que
subordina a classe pobre ficar cada vez mais pobre e a classe rica cada vez mais rica.
Se tratando do Brasil de 2018 do presente século, podemos afirmar que é um país
atualmente formado de 27 unidades federativas e de 5.570 municípios, possuí uma estimativa
de 207.660.929 milhões de habitantes, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatísticas (IBGE) (2017), classificado pela ONU como um país subdesenvolvido e um dos
dez países mais desiguais do mundo (PIRES, 2017), prossegue na luta de combate a pobreza
junta às grandes organizações mundiais, tais como a já citada ONU e a UNESCO contando
também, com colaboração de grandes organizações econômicas mundiais, como o Banco
Mundial (VALÉRIO, 2015).
Quanto às estatísticas referentes à linha de pobreza atual do Brasil conforme dados da
Síntese de Indicadores Sociais do IBGE divulgados em 2017, no site da Empresa Brasil de
Comunicações (EBC), em que Oliveira (2017) afirma se encontrar em 50 milhões de pessoas,
ou seja, o equivalente a 25,4% da população. Isso nos leva a supor que a quantidade de
pessoas pobres e excluídas do Brasil ainda continua alarmante.
21
A essa realidade de pobreza tão enraizada no país é importante falarmos sobre a
história da criança e adolescentes que desde o nascimento herdam essa condição tendo-os
como ponto de partida para o foco principal deste trabalho, e que iremos expor adiante.
22
3 CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO NO BRASIL
Delimitaremos o estudo sobre crianças e adolescentes em situação de risco no Brasil
realizando um breve relato a partir do século XVIII, tendo como destaque o fator social
Pobreza como sendo um significativo influenciador de risco para as crianças e adolescentes.
Como apoio teórico contaremos com Marcílio (2003) pesquisadora e escritora da área a qual
nos auxiliará na explanação deste tema, bem como, de Andrade (2016) e outros autores que
contribuem para esta abordagem.
De acordo com Marcílio (2003), é possível compreender que as crianças, e
consequentemente os adolescentes pobres do Brasil a partir do século XVIII, surgiram
especificamente pelo abandono de bebês na Roda dos Expostos, que no caso,
[...] foi instituída para garantir o anonimato do expositor, evitando-se, na ausência
daquela instituição e na crença de todas as épocas, o mal maior, que seria o aborto e
o infanticídio. Além disso, a roda poderia servir para defender a honra das famílias
cujas filhas teriam engravidado fora do casamento. (MARCÍLIO, 2003, p. 74).
Assim, para garantir a moral das famílias acometidas por uma gravidez indesejada
sendo ela por mulheres solteiras, gravidez extraconjugal ou proveniente de relações sexuais
com escravos, o que na época era inadmissível e infringia as regras da Igreja. Descrevendo
esse artifício a autora prossegue:
O nome da roda provém do dispositivo onde se colocavam os bebês que se queriam
abandonar. Sua forma cilíndrica, dividida ao meio por uma divisória, era fixada no
muro ou na janela da instituição. No tabuleiro inferior e em sua abertura externa, o
expositor depositava a criancinha que enjeitava. A seguir ele girava a roda e a
criança já estava do outro lado do muro. Puxava-se uma cordinha com uma sineta,
para avisar a vigilante ou rodeira que um bebê acabava de ser abandonado e o
expositor furtivamente retirava-se do local, sem ser identificado. (MARCÍLIO,
2003, p. 57).
Ainda segundo a autora, a Roda dos Expostos considerada como uma instituição
instalada nas Santas Casas de Misericórdia a qual, acolhia os bebês abandonados teve sua
origem na Europa ainda na era Medieval e no Brasil iniciou sua efetivação no período
Colonial estando presente no período Imperial e Republicano até os anos de 1950, década na
qual foi abolida.
No período Colonial a primeira Santa Casa de Misericórdia a receber a Roda dos
Expostos foi em Salvador (BA) em 1726, após 12 anos foi instalada a segunda Roda na
cidade do Rio de Janeiro no ano de 1738 e a última desse período foi a de Recife em 1789.
23
Cabe destacar que neste período essa atitude de acolhimento às crianças abandonadas possuía
sua função baseada na caridade.
No período Imperial a primeira Roda dos Expostos foi instalada no ano de 1825 na
Casa de Misericórdia de São Paulo, é neste período que essas ações de acolhimentos passaram
a ser obrigação do Estado, “Perdia-se, assim, o caráter caritativo da assistência, para
inaugurar-se sua fase filantrópica, associando-se o público e o particular.” (MARCÍLIO,
2003, p. 62), diante de tal responsabilidade do Estado surgiram no país nesse período mais 9
rodas distribuídas entre os estados de Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro,
Espírito Santo, Santa Catarina e Cuiabá.
Segundo Andrade (2016), mesmo no final do século XIX, as mulheres negras ainda
viviam sob a escravidão e seus filhos, no entanto, eram escravos e não poderiam ser entregues
à roda, por serem propriedades e vistos como mercadorias. Sendo assim, os abandonados e
pobres eram as crianças brancas que viviam em situações de vulnerabilidade nas ruas por não
terem casa, e tampouco famílias, pois a obrigatoriedade das Rodas era de acolhê-los quando
bebês, realizar os cuidados de amamentação com as amas de leite que ali viviam, depois eram
entregues a outras amas, as quais se denominavam amas de fora pelo fato de serem mulheres
que possuíam residência própria e os acolhia criando-os até os 7 anos de idade. “Após os sete
anos as crianças e adolescentes, órfãos, eram encaminhados para servir em seminários,
conventos ou entregues aos cuidados de pessoas „caridosas‟ que podiam explorar seus
serviços em troca de „cuidados‟.” (ANDRADE, 2016, p. 4), essas pessoas, no entanto, eram
pobres e careciam de ajuda de mão de obra na labuta diária para o sustento da família.
Ainda sob o pensamento de Andrade (2016), em 1871 a Roda dos Expostos passa a ser
considerado abrigo de crianças abandonadas e enjeitadas acolhendo não só crianças brancas,
mas também crianças filhas de escravos devido a Lei do Ventre Livre promulgada em 28 de
setembro do mesmo ano, a qual definia que toda criança nascida de escravos a partir desta
data seriam livres, não herdando, portanto a herança de escravidão dos pais. Assim,
adquirindo o caráter de abrigo e recebendo brancos e negros a instituição passa a ser chamada
de Casa dos Expostos a partir dos anos de 1896.
Buscando entender melhor o desfecho aqui apresentado do processo e o surgimento de
crianças e adolescentes pobres no Brasil é importante destacar que:
Com a República em 1889, a Casa da Roda deixa de ser considerada um instrumento
importante no cuidado das crianças. O novo perfil social e cultural que se tenta
implantar inspirado no continente europeu provoca a crise da instituição. Contudo, a
mesma só passou a ser legalmente desativada após 1927, sendo a última Casa
fechada na década de 1950, na cidade do São Paulo. 1927 também é o ano que
24
marca o início das tentativas do Estado para sanar a problemática que envolvia as
crianças e adolescentes em situação irregular. (ANDRADE, 2016, p. 5).
Podemos assim, compreender que a partir do século XX o Estado começa a articular
estratégias mais objetivas para o amparo das crianças e adolescentes pobres e abandonados do
Brasil republicano, no qual surgiam “[...] novas exigências sociais, políticas, econômicas e
morais [...]” (MARCÍLIO, 2003, p. 78) que o novo século exigia.
3.1 A política de defesa e garantia de direitos de crianças e adolescentes no Brasil
O marco inicial no século XX a respeito da legislação de garantia de direitos de
crianças e adolescentes no Brasil o qual, podemos citar de acordo com Andrade (2014) surgiu
com o Código de Menores de 1927, o que, porém foi idealizado inicialmente baseado na
preocupação do Estado em relação às crianças pobres que eram vista por ele como um
indivíduo que precisava ser instruído e moldado para o mundo do trabalho, e a estas, não era
necessário, nesse pensamento, se ter uma educação de boa qualidade, pois o objetivo principal
desta seria de aperfeiçoa-los para o trabalho.
Portanto, segundo o autor, o termo “menor” usado nessa lei possui intrinsicamente
uma conotação de inferioridade, ou seja, menos capaz, pobre e perigoso, insinuando a este
“menor”, o sentido de marginal. É clara também segundo Andrade (2014), a disparidade dessa
palavra quanto às crianças ricas e as pobres, que no caso da primeira era atribuída a
perspectiva desta se tornar no futuro um possível administrador da sociedade, para tanto, as
políticas públicas de família e de boa educação eram pensadas para estas, o contrário da
segunda, que como já mencionado tinha outro objetivo.
Outra observação que o autor mencionado traz, e que é relevante abordar com relação
ao sentido da palavra “menor”, é o sentido literal desta, que se trata da ideia desse indivíduo
ser ainda pequeno, estar ainda em desenvolvimento de formar-se “maior”, não possuir
maturidade suficiente para responder por suas atitudes e obrigações como um adulto e assim,
necessitar de um tutor, sentido este, direcionado para as crianças ricas e de famílias mais
abastadas.
Segundo o raciocínio de Andrade (2014), o Código de Menores, foi articulado para o
atendimento dos menores infratores e abandonados e todos que se encontrava em situação
irregular diante das legislações do Estado.
Art 2º. Para efeito deste Código, considera-se em situação irregular o menor:
25
I – privado de condições essenciais à sua subsistência, saúde e instrução obrigatória,
ainda que eventualmente, em razão de: a) falta, ação ou omissão dos pais ou
responsável; b) manifesta impossibilidade dos pais ou responsável para prevê-las;
II – vítima de maus-tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou
responsável;
III - em perigo moral, devido a: a) encontrar-se, de modo habitual, em ambiente
contrário aos bons costumes; b) exploração em atividade contrária aos bons
costumes;
IV – privado de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos pais ou
responsável;
V – com desvio de conduta, em virtude de grave inadaptação familiar ou
comunitária;
VI – autor de infração penal.
Parágrafo único. Entende-se por responsável àquele que, não sendo pai ou mãe,
exerce, a qualquer título, vigilância, direção ou educação de menor, ou
voluntariamente o traz em seu poder ou companhia, independente de ato judicial
(MACHADO, 1986 apud ANDRADE, 2014, p. 27).
Além do mencionado acima, o Código também previa a articulação de várias
ferramentas para facilitar a execução do mesmo, tais como, a criação de celas especiais para
os menores denominados fraudulentos (destacamos aqui que essas celas especiais se
localizavam nas delegacias de polícia); hospitais psiquiátricos para os menores excepcionais;
abrigo para aqueles menores desamparados, desfavorecidos ou considerados inadaptados e
abandonados. Essa legislação também constitui o trabalho infantil como um trabalho
regulamentado, o que antes não era permitido (ANDRADE, 2014).
Ainda de acordo com Andrade (2014), é a partir desse período que o Estado começa a
dar mais atenção ao atendimento das crianças e adolescentes e assim, o Poder Judiciário cria o
Juizado de Menores com uma série de instituições auxiliares, nesse sentido o Estado passa a
ser o maior responsável pela tutela da criança e adolescente abandonada ou órfã até que estes
completassem 18 anos de idade. Em 1930 é criado o primeiro Ministério de Educação e
Saúde, no governo de Getúlio Vargas e em 1934 com a nova Constituição estabelece-se um
Plano Nacional de Educação que supervisionasse o ensino em todos seus níveis, fazendo
assim, a escola entrar em cena como uma instituição que mais auxiliaria na ordem e controle
dos indivíduos, os ensinando basicamente nos cuidados e higienização da casa, no
compromisso de realizar suas tarefas com mais zelo, objetivando assim garantir os padrões
aceitáveis de família e sociedade.
Cabe destacarmos, como anteriormente mencionado, que essa educação era
direcionada prioritariamente às crianças ricas, pois as pobres, as quais se enquadravam na
categoria de abandonadas, desprovidas e delinquentes, que na realidade viviam em situação
de risco tinham como “proteção do Estado” a punição e repreensão dos seus atos
delinquenciais.
26
Salientamos que essas iniciativas tiveram como ponto de partida a Declaração de
Genebra em 1924, que como explica Fuziwara (2013),
[...] afirmou „a necessidade de proclamar à criança uma proteção especial‟, abrindo
caminho para conquistas importantes que foram galgadas nas décadas seguintes. Em
1948, as Nações Unidas proclamaram o direito a cuidados e à assistência especial à
infância, através da Declaração Universal dos Direitos Humanos, considerada a
maior prova histórica do consensus omnium gentifum sobre um determinado sistema
de valores. Os Pactos Internacionais de Direitos Humanos, indiscutivelmente,
proporcionaram a mudança de paradigmas experimentada no final da década de
oitenta e início dos anos noventa na área da proteção da infância. (FIZIWARA,
2013, sem paginação).
Porém, de acordo com Andrade (2014), após alguns anos dessa declaração é que se
começa a por em execução aqui no país alguns princípios da declaração, bem como os demais
que a sucederam, e enfatiza que na maioria das vezes as medidas eram usadas mais no sentido
de puni-los e violenta-los do que protegê-los.
Assim, no decorrer das décadas surgem cada vez mais legislações voltadas às crianças
e adolescentes, pois com o aumento e a expansão do crescimento industrial e capitalista nos
países desenvolvidos e em desenvolvimento, no qual neste ultimo se enquadrava o Brasil,
surgem cada vez mais crianças e adolescentes em situação de risco, ocupando as ruas e os
centros das grandes cidades.
Dessa forma, como afirma Andrade (2014), em 1959 a ONU cria a Declaração
Universal do Direito da Criança, em 1964 aqui no país é criada a Política Nacional do Bem-
Estar do Menor (PNBM). Esta política tinha como princípio atender todos menores de 21
anos, sendo de qualquer classe social, porém os “menores” eram apenas os que procediam de
famílias pobres. Esta política posteriormente deu origem a criação da Fundação Nacional do
Bem Estar do Menor (FUNABEM) neste mesmo ano sob a Lei n. Lei nº. 4.513, de 1º de
setembro. Um pouco mais tarde o governo criou a Fundação Estadual do Bem Estar do
Menor (FEBEM) e as casas de isolamento.
Essas fundações e casas de isolamento, denominadas instituições de assistência de
garantia de direitos dessas crianças e adolescentes eram como afirma Andrade (2014), lugar
destinado à educação daqueles que fugiam às regras de padrões da sociedade, lugares esses
que serviam apenas para tortura e repreensão das crianças e adolescentes pobres, como é
explicito na citação a seguir:
Sob a denominação de setor educativo, agrupam-se categorias de profissionais
encarregados da reeducação de crianças e de adolescentes que apresentam
deficiências físicas ou psíquicas, distúrbios do caráter ou do comportamento;
27
infratores ou em vias de sê-los, confinados pelas autoridades judiciárias ou
administrativas, ou pelas próprias famílias. Em outras palavras, é o que se denomina,
oficialmente, a infância inadaptada (VERDÉS-LEROUX, 1986 apud ANDRADE,
2014, p. 31).
Essa “infância inadaptada” significava aquela criança e adolescente que não se
enquadrava, como já bem supracitado, aos “padrões” da sociedade, ou seja, àquelas que
ameaçavam a integridade da sociedade. Geralmente àquelas denominadas fraudulentas e
marginais. E essa proteção da criança e adolescente pautada nas ações desses princípios,
percorreu longos anos, porém com as mudanças governamentais e exigências no âmbito
mundial, essas também sofreram alterações como explica o autor:
O Regime Militar, que aumentou o índice de maus-tratos aos „menores‟, só terminou
em 1985, período marcado por uma crise nacional, pela alta inflação, pela dívida
externa que atingia o mais alto nível da história, pelo baixo índice de escolaridade e
pela fragilidade das instituições. A retratação aos males causados às crianças e aos
adolescentes nos anos supracitados começou a acontecer na década de 1980. No
entanto, aquelas instituições que os puniam continuaram a ser os meios mais viáveis
para o trabalho com os mesmos. Sob o ecoar das vozes do povo que manifestavam o
pensamento sobre um novo contexto de proteção e garantia de direitos e por meio da
Convocação da Assembleia Nacional Constituinte é que surgiu a possibilidade de
alterar de forma definitiva a legislação voltada à criança e ao adolescente. O Estado
deveria extinguir a Doutrina da Situação Irregular e gerar a Doutrina da Proteção
Integral, cuja base vinha sendo discutida em âmbito mundial desde 1979 e no Brasil
já era bandeira de luta dos movimentos sociais de 1959. Assim, em 1988, por meio
da Constituição brasileira, os direitos das crianças e dos adolescentes começaram a
ser, teoricamente, respeitados. Com o Artigo 227 temos a implementação da
Doutrina da Proteção Integral e do Princípio da Prioridade Absoluta para o
atendimento às crianças e aos adolescentes, sem distinção de cor, raça, idade ou
condição social. Todos passam a ser tratados como crianças e adolescentes e não
mais como menores. (ANDRADE, 2014, p. 33, grifo nosso.).
A citação acima se faz necessária pelo fato do autor explicitar de forma sucinta o
processo em que se deu às mudanças necessárias nas legislações referentes à proteção e
garantia de direitos às crianças e adolescentes. Portanto, os grifos se fazem necessários para
que possamos destacar nossa reflexão sobre os mesmos. Se tratando da extinção da Doutrina
da Situação Irregular para a Doutrina de Proteção Integral, podemos afirmar que essa
mudança foi de suma importância, já que como vimos anteriormente, a questão “Irregular” se
definia literalmente à questão de formatar o indivíduo aos padrões que o Estado estabelecia
para a sociedade, se referindo à criança e adolescente pobre um indivíduo fora do padrão.
Quanto à Doutrina da Proteção Integral e do Princípio da Prioridade Absoluta, contido no
Artigo 227 da nova Constituição de 1988, este foi mais um salto nas conquistas desses
direitos, pois além de garantir a proteção, garante a inclusão, a igualdade entre os indivíduos e
28
principalmente, extingui a palavra “menor”, na tentativa de junto com ela extinguir a
conotação a ela imposta, como abordamos anteriormente neste trabalho na página 21.
Entretanto, com grandes avanços e mudanças nas legislações de proteção e direito da
criança e adolescente, de acordo com Andrade (2014), essas ainda não exerciam de fato sua
função, pois ainda até o final do século XX no Brasil o olhar sobre esses só tiveram mesmo
destaque com a elaboração e aprovação da Lei nº. 8069/90 de 13 de julho de 1990, o Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA) (BRASIL, 1990).
3.2 O Estatuto da Criança e do Adolescente e a nova política de proteção e garantia de
direitos
Ainda se tratando da abordagem sobre a legislação de proteção e garantia de direitos
das crianças e adolescentes do Brasil, como mencionado anteriormente, o Estatuto da Criança
e Adolescente (ECA) é uma legislação decorrente das reivindicações e manifestações de
movimentos sociais e da sociedade civil quanto à seguridade das crianças e adolescentes do
país. (ANDRADE, 2014). Neste subtítulo iremos abordar a respeito deste estatuto,
procurando compreender e entender sua estrutura, princípios e objetivos. Para tanto,
recorreremos diretamente ao documento, bem como a alguns autores, tais como, Andrade
(2014) e Fiziwara (2013), que colaborarão para que alcancemos com êxito o desígnio aqui
proposto.
O ECA (1990) define como criança toda pessoa com idade de 0 a 12 anos de idade
incompletos e adolescentes aquela de 12 a 18 anos de idade. Também é expresso no parágrafo
único desta lei que o Estatuto aplica-se em caso excepcionais a pessoa entre 18 e 21 anos de
idade. Destacaremos abaixo alguns Artigos do Estatuto que consideramos pertinentes para
nossa abordagem.
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes
à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei,
assegurando sê-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual
e social, em condições de liberdade e de dignidade.
Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as crianças e
adolescentes, sem discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça,
etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e
aprendizagem, condição econômica, ambiente social, região e local de moradia ou
outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que
vivem. (incluído pela Lei nº 13.257, de 2016).
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público
assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à
29
saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;
c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a
proteção à infância e à juventude.
Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na
forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.
Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se
dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e
a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento.
(BRASIL, 2016, sem paginação).
O fragmento citado acima nos permite elucidar de maneira clara alguns princípios
importantes do Estatuto, evidenciando que a responsabilidade com relação à criança e
adolescente no país é de cunho coletivo, sendo esse conjunto formado pela família,
comunidade, sociedade civil e o Poder Público, os quais têm por obrigação possibilitar a
garantia destes quanto a diversos direitos a começar pela vida e ao seu pleno desenvolvimento
físico, mental, moral, social e espiritual, todos esses em condições de liberdade e dignidade,
sem qualquer tipo de discriminação racial, social e cultural, todos pertinentes à sua faixa
etária.
Para tanto, o ECA, conta com o trabalho de outros, como “[...] agentes sociais e
públicos, responsáveis pela correção de desvios entre a realidade e a norma legal, e toda a
comunidade (pais, responsáveis, Conselhos de Direitos, Conselhos Tutelares, Polícias,
Ministério Público, Defensoria Pública, Advogados e Juizado da Infância e Juventude).”
(ANDRADE, 2014, p. 34), os quais possuem suas funções bem definidas para a garantia de
direito das crianças e adolescentes. Dessa maneira, o Conselho de Direito deve funcionar nos
três níveis da nação, ou seja, Nacional, Estatual e Municipal. A nível nacional denominado
Conselho Nacional de Direito das Crianças e Adolescentes (CONANDA), estadual
denominado Conselho Estadual de Direito das Crianças e Adolescentes (CECA) e a nível
municipal Conselho Municipal do Direito da Criança e Adolescente (CMDCA).
Esses Conselhos segundo o Título II, Artigo 88 deste Estatuto, são denominados
órgãos deliberativos os quais possuem como função, como aborda Andrade (2014),
[...] projetar as grandes ações para garantir, a médio e longo prazo, o atendimento
aos direitos fundamentais das crianças e dos adolescentes. Acompanham a situação
dos mesmos no município, no Estado e no país e trabalham para a elaboração,
implementação e manutenção das políticas públicas e serviços sociais básicos,
sendo, por isso, denominados órgãos deliberativos. Possuem a competência para
deliberar, controlar, articular e gerenciar e devem ser compostos por representantes,
30
em igual número, dos movimentos sociais e dos órgãos públicos, daí serem
chamados partidários. (ANDRADE, 2014, p. 34).
Ainda de acordo com o autor citado, esses conselhos operam como articuladores das
atuações no atendimento e defesa dessas crianças e adolescentes com o objetivo de instituir
uma rede de profissionais capacitados para os atendimentos. O que é importante destacar
também é que essas atuações podem ser vinculadas tanto a programas e organizações
governamentais e não governamentais.
Para além dos conselhos já citados o ECA, também estabelece os Conselhos Tutelares,
objetivando a estes, a vigilância do comprimento dos princípios do estatuto quanto à proteção
e garantia dos direitos das crianças e adolescentes, atribuindo a esses Conselhos Tutelares
prioritariamente a função resolver os problemas que envolvem cotidianamente esses
indivíduos, seja esses em qualquer âmbito como o familiar, o da comunidade, o escolar, além
de conhecer e promover este estatuto, o qual é base de sua atuação (ANDRADE, 2014).
Diante do exposto aqui sobre as legislações de garantia de direito das crianças e
adolescentes do Brasil é importante destacar que estes não são apenas sujeitos de direitos e
saberes, mas também de deveres, e quanto a esses deveres, precisam começar pelo respeito às
pessoas com quem convivem, compreendendo que só assim este respeito será recíproco.
Outro dever é a preparação para vida futura, sendo esta pautada nos estudos e permanência na
escola, compreendendo que a sociedade lhes exigirá uma série de responsabilidades que hoje
ainda não possuem. O respeito à diversidade, seja ela religiosa, nacionalidade, etnia, idade,
sexo, deficiência física ou mental, opção sexual, etc. Cabe considerar que o não cumprimento
dos deveres pode se configurar como ato infracional, o qual é considerado violação de direitos
individuais ou coletivos e que para tais ações o ECA estabelece medidas a serem tomadas de
acordo com a gravidade do ato.
Assim vale salientar de acordo com o autor acima citado, que o ECA desde sua
aprovação tem cumprido seu papel e realizado seus objetivos, porém de maneira vagarosa
pelo fato de ainda a sociedade o conhecer pouco e de este ser também mal compreendido por
ela. Entretanto além de todos os processos de desenvolvimento políticos, administrativos e
sociais que o país viveu e continua vivendo no século XXI, e que afetou e afeta de maneira
considerável crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e social, têm alcançado, se é
que podemos dizer, não só grandes centros urbanos, como também cidades do interior do país
que passavam e hoje passam por processos de desenvolvimento social, político e econômico,
como é o caso da cidade de Vilhena do estado de Rondônia, cidade foco de nosso trabalho.
31
4 CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO EM VILHENA:
REFLEXÕES SOBRE O COTIDIANO
Compreender o cotidiano do público alvo do nosso trabalho, isto é, as crianças e
adolescentes do munícipio de Vilhena-Ro, é de suma importância para que possamos refletir
sobre sua realidade, assim a presente seção buscará possibilitar esta reflexão através das
abordagens sobre a compreensão do campo de pesquisa, a identificação do perfil dessas
crianças e adolescentes, além das trilhas percorridas para o resultado das mesmas. É
importante ressaltar que é a partir da mencionada seção que abordaremos toda problemática
deste trabalho.
4.1 Compreendendo o campo de pesquisa
Estabelecemos como campo de pesquisa para este trabalho Vilhena, um município do
interior do estado de Rondônia. Cidade sul do estado conhecida como a cidade portal da
Amazônia, sendo a quarta cidade mais populosa do estado de Rondônia, Vilhena possui
atualmente cerca de 95.630 habitantes de um total de 1.805.788 habitantes que compõem o
estado, o que permite este, ser o terceiro estado mais populoso da região norte do país (IBGE,
2017).
Quanto à história de Vilhena, o início do século XX é datado como marco inicial de
sua existência. Por volta dos anos de 1910, quando o Tenente-Coronel Cândido Mariano da
Silva Rondon construiu nos campos do Planalto dos Parecis um posto telegráfico, dentre os
diversos que tinham como objetivo ligar Cuiabá (MT) a Porto-Velho (RO), hoje então a
capital do estado. Com a instalação deste posto surge então nas proximidades vilas que em
seguida se tornaria a cidade de Vilhena. Em 11 de outubro de 1977, o então presidente da
República Ernesto Geisel sancionou a Lei nº 6.448, que criou o Município de Vilhena e o
governador de Rondônia, Humberto da Silva Guedes, nomeou e empossou o primeiro
prefeito, Renato Coutinho dos Santos, que teve o final de sua gestão no dia 3 de março de
1980. (IBGE, 2018).
Entretanto, com todo seu desenvolvimento político, social e econômico, Vilhena
também passou a enfrentar problemas comuns de outras cidades, dentre eles o aumento do
número de crianças e adolescentes em situação de risco e de instituições e programas
direcionados ao atendimento desses. Consideramos aqui “situação de risco”, de acordo com o
ECA (BRASIL, 2016), a possibilidade de ocorrências danosas, no plano físico, mental ou
32
social, àqueles sujeitos, que vivendo em condições próprias da imaturidade, necessitam de
medidas de proteção e defesas especiais garantidas por esta legislação.
É importante destacarmos, que a trajetória da garantia de direitos das crianças e dos
adolescentes passou por importantes e grandes modificações no fim do século XX, como já
bem explicitado no capitulo anterior deste trabalho, estas modificações possibilitaram o
surgimento de politicas públicas, com a função de garantir a proteção integral da criança e do
adolescente. Ressaltamos ainda que, a existência dessas políticas apenas reafirma a violação
dos direitos inerentes às crianças e adolescentes, pois caso esses direitos fossem efetivados e
cumpridos não seria necessário à existência e a constante criação das mesmas.
Quanto ao que envolve a garantia de direito das crianças e adolescentes, Vilhena conta
atualmente com uma ampla rede composta por Juizado da Infância e da Juventude,
Promotoria da Infância e da Juventude, Delegacia Especializada, Conselho Municipal dos
Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), Conselho Tutelar, além de vários programas
e instituições, governamentais e não governamentais de garantia de direitos e ação educativa
complementar. Entretanto, o que nos chama atenção é o número de programas e instituições
governamentais e não governamentais que existem. Quantitativamente, o alto número de
ações de proteção e garantia de direitos de crianças e adolescentes significa um número
elevando de violações de direitos. Nesse contexto, a quantidade de crianças e adolescentes em
situação de risco vem aumentando gradativamente em todo país e, consequentemente, amplia-
se a Rede Sócioassistencial através dos projetos, programas e instituições governamentais e
não governamentais.
Diante do exposto e do exorbitante crescimento da Rede Sócioassistencial voltado
para a defesa e garantia de direitos das crianças e adolescentes do município é que surgiu o
interesse de buscar conhecer quem são as crianças e adolescentes em situação de risco de
Vilhena, bem como, quais são os influenciadores da violação da garantia de direito desses, em
que essas informações foram resultados de duas pesquisas realizadas entre os anos de 2015 à
2017 do Programa de Bolsa de Iniciação Científica (PIBIC) patrocinada pelo Conselho
Nacional de Pesquisa (CNPq) e que neste trabalho esses resultados são objetivo central de
discussão.
33
4.2 A ida a campo: reconhecendo as crianças e adolescentes em situação de risco em
Vilhena
A partir das pesquisas realizadas entre os anos de 2015 a 2017, como descrito na
subseção anterior, esclarecemos que ambas foram realizadas em duas etapas. Primeiramente o
estudo e análise de teorias bibliográficas que falam sobre crianças e adolescentes em situação
de risco e de temas correlatos e posteriormente foi realizada a pesquisa de campo.
As pesquisas de campo foram realizadas da seguinte forma: na primeira realizada entre
2015 e 2016 realizamos visitas às instituições, programas e projetos para coleta de dados
significativos para a compreensão do objeto de estudo, assim, nos debruçamos sobre os
arquivos e documentos dos programas e instituições para tentar compreender quem são essas
crianças e adolescentes atendidas, apresentando um perfil sócio econômico. Para tanto, a
primeira ação em campo foi conseguir as autorizações para realização das pesquisas, assim
encaminhamos termo de autorização para apreciação e assinatura da Secretária Municipal de
Assistência Social (SEMAS), responsável pelos programas municipais de atendimento à
crianças e adolescentes em situação de risco; ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança
e do Adolescente (CMDCA), articulador dos programas e instituições governamentais e não
governamentais. Na segunda realizada no período de 2016 a 2017 foram realizadas visitas aos
bairros de origem das crianças e adolescentes identificadas na primeira pesquisa e aplicação
de questionário com os familiares. Esses questionários objetivaram levantar dados que nos
possibilitassem compreender as principais situações de risco a que estão submetidas às
crianças e adolescentes em seus bairros e que podem ser influenciadores da saída de casa, da
ocorrência de atos infracionais e de outros casos de violência.
É importante ressaltarmos que todos os materiais coletados na ida ao campo, tanto da
primeira quanto da primeira pesquisa foram qualitativamente analisados sob a luz do
referencial teórico delimitado nas primeiras fases das pesquisas.
Quanto aos resultados das pesquisas, é importante destacamos que os programas não
governamentais possuem representatividade no CMDCA e aprovação da pesquisa foi feita em
reunião. Outro fator importante ressaltar aqui é que a autorização não obrigava os programas e
instituições a fornecerem dados para a pesquisa, apenas respaldava a coleta de dados enquanto
parte de uma pesquisa científica de importância significativa para o município.
Assim, dentre as 10 (dez) instituições de atendimento a crianças e adolescentes
existentes em Vilhena, vinculadas a SEMAS ou ao CMDCA, apenas 07 (sete) concordaram
em fornecer os dados, sendo elas: 1) Associação Agente Mirim; 2) Centro de Atendimento a
34
Mulher – CAM; 3) Centro Socioeducativo de Vilhena; 4) Projeto Bombeiro Mirim; 5) Centro
de Referência Especializada da Criança e Adolescente - CRECA; 6) O Caminho e 7) Abrigo
Municipal.
Para levantamento dos dados fizemos vistas as instituições, apresentamos os objetivos
da pesquisa e os termos de autorização. Posteriormente agendamos dias e horários para
levantamento de dados. Elaboramos uma ficha para registro dos dados e todo o levantamento
foi feito a partir dos registros das crianças e adolescentes, bem como, de acordo com
informações cedidas pelos representantes e responsáveis pelas instituições.
QUADRO 01 - Sobre as instituições
INTITUIÇAO NATUREZA MANTENEDOR
FINANCEIRO
1 Associação Agente Mirim Não governamental Convênio com a prefeitura e
com CMDCA
2 Centro de Atendimento a Mulher – CAM Governamental Secretária Municipal de
Assistência Social
3 Centro Socioeducativo de Vilhena Governamental Governo do Estado
4 Projeto Bombeiro Mirim Não Governamental Convênio com a prefeitura e
com o CMDCA
5 Centro de Referencia Especializada da
Criança e Adolescente (CRECA)
Governamental Secretária Municipal de
Assistência Social
6 O Caminho Não governamental Convênio com a prefeitura,
com CMDCA e recebe
doações.
7 Abrigo Municipal Governamental Convênio com a prefeitura e
com CMDCA
Fonte: Elaborado pela autora (2016).
As instituições contam com uma ampla rede de apoio formada pelos órgãos de defesa
e garantia de direitos articulados por meio do CMDCA e Conselho Tutelar. Todas possuem
estrutura física de atendimento e corpo de profissionais. No entanto, conforme os dados
levantados e as informações adquiridas pelo responsável da instituição, apenas Centro
Socioeducativo oferece formação continuada aos profissionais, as demais instituições não
oferecem ou nunca ofereceram nenhum curso de formação específico para atuação com
crianças e adolescentes em situação de risco.
35
QUADRO 02 – Perfil das instituições
INTITUIÇAO ATENDIMENTO
1 Associação Agente Mirim Atende adolescentes a partir dos 12 anos em atividades
educativas e formação para atuação como Guarda Mirim.
2 Centro de Atendimento a Mulher – CAM Atende crianças e adolescentes vítimas de violências
3 Centro Socioeducativo de Vilhena Atende adolescentes em cumprimento de medidas sócio
educativas
4 Projeto Bombeiro Mirim Atende adolescentes a partir dos 12 anos em atividades
educativas.
5 Centro de Referencia Especializada da
Criança e Adolescente (CRECA)
Concentra ações da SEMAS de atendimento à criança e o
adolescente, com destaque à erradicação do trabalho
infantil. Desenvolve atividades de ação educativa
complementar.
6 O Caminho Atende crianças a partir dos 07 anos e adolescentes em
atividades educativas.
7 Abrigo Municipal Atende crianças e adolescentes em situação de abandono
ou em medida cautelar
Fonte: Elaborado pela autora (2016).
Após levantamento de dados, dentre as sete instituições listadas consideramos para a
pesquisa apenas seis em atendimento ao objetivo de levantar o perfil das crianças e
adolescentes em situação de risco. O projeto Bombeiro Mirim, apesar de ser uma instituição
não governamental, vinculada ao Corpo de Bombeiros, atende apenas adolescentes de classe
média e cobra uma taxa mensal de 50 reais dos educandos. Assim, o perfil atendido pelo
projeto não se enquadra à pesquisa, pois os adolescentes não estão em situação de risco.
Durante a coleta de dados, apesar de as demais instituições atenderem aos objetivos da
pesquisa, nos deparamos com os seguintes problemas: 1) a Associação Agente Mirim e a
ONG O Caminho não possuem em seus registros dados sobre o perfil dos atendidos, possuem
apenas dados mínimos como nome e idade e não possuem um controle sobre o número de
atendimentos. 2) O Centro de Referência Especializada da Criança e Adolescente, apesar de
possuir os dados, protelou em fornece-los, assim, tendo em vista o prazo para finalizar a
pesquisa na época, não dispomos dos dados. Dessa forma, apresentaremos o perfil das
crianças e adolescentes em situação de risco tendo como base os dados do Centro de
Atendimento a Mulher, do Centro Socioeducativo de Vilhena e do Abrigo Municipal. Assim,
no primeiro semestre de 2016 as instituições atenderam um total de 37 crianças e
adolescentes, distribuídos da seguinte maneira: 15 no Centro de Atendimento a Mulher, 11 no
Centro Socioeducativo de Vilhena e 11 no Abrigo Municipal, do total consideramos os
seguintes dados:
36
Gráfico 01 - Por idade
Fonte: Elaborado pela autora (2016).
Do total de 37 atendimentos 20 eram crianças e 17 adolescentes. Cabe considerar que
o Centro Socioeducativo de Vilhena atende apenas adolescentes do sexo masculino, o que
influencia também os dados referentes à categoria sexo, como demonstra o gráfico abaixo:
Gráfico 02 - Por sexo
Fonte: Elaborado pela autora (2016).
0
5
10
15
20
25
Crianças Adolescentes
0
5
10
15
20
25
30
Masculino Feminino
37
No que se refere ao item Cor/raça do total de 37 atendidos, tendo como base a auto
identificação no momento de preenchimento do cadastro, 18 se identificaram pardos, 13
brancos e 06 pretos.
Gráfico 03 - Por Cor/raça
Fonte: Elaborado pela autora (2016).
No que se refere à configuração familiar, destacam-se as famílias formadas por novos
arranjos, assim as crianças e adolescentes tem como seus responsáveis: avós, apenas mãe,
apenas pai, mãe e padrasto, pai e madrasta, irmão.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
Pardos Brancos Pretos
38
Gráfico 04 – Composição familiar
Fonte: Elaborado pela autora (2016).
No que se refere à situação sócio econômica 26 vêm de situações de pobreza e 11 são
oriundos de classe média. Cabe destacar que os 11 correspondem a atendidos pelo CAM,
vítimas de violências. Sobre as situações de risco que provocaram os atendimentos
destacamos: o roubo e homicídio para os atendidos pelo Centro Socioeducativo, violência
física e abuso sexual para os atendidos pelo Centro de Atendimento a Mulher e abandono e
afastamento da família por medida de segurança para os atendidos pelo Abrigo Municipal.
Dentre os registros nenhum dos atendidos possui algum tipo de deficiência.
É importante destacar que a pesquisa revelou que a maioria das crianças e adolescentes
(35) residem em bairros periféricos de Vilhena. Estes dados revelaram que os bairros
periféricos ainda são provocadores de violências diversas, o que mereceu uma pesquisa mais
aprofundada e que nos instigou a realizar a segunda pesquisa, a qual ocorreu durante segundo
semestre de 2016 ao primeiro semestre de 2017.
4.3 Novas trilhas da pesquisa
Tendo como base os dados da pesquisa anterior e explicitada no subtítulo anterior,
demos continuidade à pesquisa tentando compreender as principais situações de
vulnerabilidade enfrentadas pelas crianças e adolescentes em seus bairros de origem. Para
0
2
4
6
8
10
12
Pai e mãe Apenas mãe Apenas pai Mãe e padrasto Pai e madrasta Avós
39
isso, aplicamos questionários aos 31 familiares das crianças e adolescentes residentes nos
bairros Cristo Rei, Embratel, COHAB, Alto Alegre, Vila Operária e Jardim Primavera, com o
objetivo de obter uma amostragem sobre os problemas enfrentados pelas famílias.
Sobre as condições de moradia das famílias das crianças e adolescentes entrevistados
constatamos que todos os bairros periféricos da cidade possuem alto índice de pobreza e
precárias condições de infraestrutura.
QUADRO 03: Bairros onde foram aplicados os questionários
BAIRROS QUESTIONÁRIOS
Cristo Rei 06
Embratel 08
COHAB 03
Alto Alegre 07
Jardim Primavera 04
Vila Operária 03
Fonte: Elaborado pela autora (2017).
No que se refere à moradia das 31 famílias, constatamos que: 09 vivem em casa de
madeira, 21 vivem em casas de alvenaria e 01 vive em barraco feito com sobras de madeira,
papelão e plástico. Todas as casas possuem rede elétrica e agua encanada, no entanto,
nenhuma possui rede de esgotamento sanitário. Quanto ao que se refere à coleta de lixo, o
mesmo é coletado pela prefeitura uma vez por semana e sem regularidade o que faz com que,
muitas vezes, o lixo se acumule em na frente das residências. Ainda sobre a infraestrutura dos
bairros, todos possuem acesso à escola e creches públicas, no entanto só os bairros Cristo Rei
e Jardim Primavera possuem posto de saúde. O Cristo Rei é o único que possui posto de
polícia e nenhum possui área de lazer para crianças e adolescentes.
Com os dados obtidos percebemos que as famílias das crianças e adolescentes são
formadas: 24 por pai e mãe biológicos, 04 apenas pela mãe biológica, 01 só o pai biológico e
02 por avós. Das 31 famílias 19 têm mais de 03 filhos. A renda média per capita de todas as
famílias não ultrapassa trezentos reais. Em 12 das famílias existe, pelo menos, uma pessoa
sem trabalho fixo ou com diretos empregatícios garantidos, vivendo de trabalhos temporários.
Sobre a questão educacional, todas as crianças e adolescentes estão na escola. No
entanto a violência é o que mais preocupa todas as famílias e todas relataram já ter
presenciado e/ou vivenciado situação de violência no bairro.
Os bairros COHAB, Alto Alegre e Vila Operária foram os que relataram a existência
de tráfico e consumo de drogas e o envolvimento das crianças e adolescentes com esses
40
fenômenos. Dentre as famílias, 22 apresentam a falta de segurança e estrutura de lazer os
principais motivos para a saída das crianças e adolescentes dos bairros a procura de atividades
em outros locais o que os expõem a diversas situações de violência. Nesse contexto, os
programas de ação educativa complementar se tornam a melhor alternativa para ocupação do
tempo oposto ao da escola.
41
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como vimos a problemática da violação da garantia de direitos de crianças e
adolescentes no Brasil é uma constante desde o século XVIII e isto, também se deve a alguns
fatores, o qual o presente trabalho aponta a pobreza um fenômeno socioeconômico, como um
dos fatores de considerável peso quanto ao que se trata de violação de garantia de direitos,
bem como, um dos fatores influenciadores de situação de risco à que essas crianças e
adolescentes são submetidos.
O Brasil passou, da década de 1920 à de 1980, por um processo de transformações
relacionadas ao atendimento às crianças e aos adolescentes em situação de risco pessoal e
social, os chamados “menores”. Essas transformações, baseadas nos Códigos de Menores de
1927 e 1979, que, teoricamente, se justificavam por oferecerem melhoria na qualidade de vida
dos “menores”, na prática, apenas os retiravam das ruas e os trancafiavam em instituições,
submetendo-os a situações dolorosas. Essa situação só se modificou no final da década de
1980, quando o país passou por um processo de “Redemocratização”, em que a sociedade
civil se mobilizou na defesa da igualdade de direitos garantidos pela Declaração Mundial dos
Direitos Humanos, elaborada desde 1959, e por outras mudanças constitucionais.
Com base nessa mobilização, surgiu a Constituição Brasileira de 1988 e nela o Artigo
227 direcionado a todas as crianças e adolescentes sem quaisquer distinções. A partir do
Artigo 227, originou-se, em 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
considerado uma das mais modernas leis direcionadas à questão da criança e do adolescente,
servindo de referência para vários países do mundo. O ECA consiste na visualização das
crianças e adolescentes como sujeitos de direitos e deveres, independentemente de sua
condição social ou racial.
O município de Vilhena não esteve isolado dos problemas que atingiram o país e as
mudanças que começaram a atingir o Brasil, principalmente a partir da década de 1990,
também afetaram o município. O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece que é dever
da família, da comunidade, da sociedade e do poder público zelar pelos direitos, no entanto o
que temos visto é um “empurra, empurra” de funções sem ações concretas direcionadas as
crianças e adolescentes em situação de risco. Mesmo com mais de 27 anos de implementação
do ECA os governos têm condenado gerações de crianças e adolescentes a diversos tipos de
violências.
Por fim, devemos afirmar que se faz necessário, urgentemente, a elaboração de
políticas públicas direcionadas as crianças e adolescentes em situação de risco e que
42
compreendam seu cotidiano e utilize as peculiaridades das comunidades impulsoras para a
mudança e não como fator de degradação social.
Só a partir de ações conjuntas e levando em consideração que as crianças e
adolescentes, possuem direitos, deveres e principalmente saberes capazes de modificar suas
vidas é que conseguiremos resultados qualitativos.
Diante de todo exposto ao decorrer do desenvolvimento deste trabalho acreditamos
que os resultados deste atendem ao objetivo inicial nos permitindo refletir sobre esses
resultados relacionando-os com a reflexão sobre o cotidiano das crianças e adolescentes em
situação de risco em Vilhena, bem como, as possibilidades de melhoria das atividades
desenvolvidas pelas Redes Socioassistenciais e as políticas públicas de proteção e garantia de
direito desses, contribuindo assim, para a melhor formação dos acadêmicos da Universidade
Federal de Rondônia (UNIR), principalmente os futuros pedagogos quanto às crianças e
adolescentes pertencentes a essa sociedade, às quais será público alvo de sua futura profissão.
Assim, com o presente estudo, não se pretende oferecer respostas exatas à todas
questões aqui levantadas e abordadas, tampouco encerrar as discussões acerca da temática
aqui abordada, mas sim, servir de suporte para novas pesquisas no anseio de que essas,
possam contribuir para a melhoria de vida das crianças e adolescentes de Vilhena (RO).
Por fim, explicitamos aqui também, nossos agradecimentos ao Conselho Nacional de
Pesquisa (CNPq), pela concessão das bolsas de pesquisa de iniciação científica, o que
contribuiu significativamente para alcançarmos o resultado deste trabalho.
43
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