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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
CAMPUS DE JI-PARANÁ
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA AMBIENTAL
RAFAEL ALMEIDA FELISBERTO
AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DO PROCESSO DE
URBANIZAÇÃO DO BAIRRO JARDIM SÃO CRISTÓVÃO
NO MUNICÍPIO DE JI-PARANÁ-RO
Ji-Paraná
2012
RAFAEL ALMEIDA FELISBERTO
AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DO PROCESSO DE
URBANIZAÇÃO DO BAIRRO JARDIM SÃO CRISTÓVÃO
NO MUNICÍPIO DE JI-PARANÁ-RO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Departamento de Engenharia Ambiental,
Fundação Universidade Federal de Rondônia,
Campus de Ji-Paraná, como parte dos
requisitos para obtenção do título de Bacharel
em Engenharia Ambiental.
Orientadora: Margarita María Dueñas Orozco
Ji-Paraná
2012
Felisberto, Rafael Almeida
F315a 2012
Avaliação dos impactos ambientais decorrentes do processo de urbanização do Bairro Jardim São Cristóvão no município de Ji-Paraná – RO / Rafael Almeida Felisberto; orientadora, Margarita María Dueñas Orozco. -- Ji-Paraná, 2012
66 f.: 30cm Trabalho de conclusão do curso de Engenharia Ambiental. –
Universidade Federal de Rondônia, 2012 Inclui referências 1. Planejamento urbano. 2. Urbanização e meio ambiente –
Rondônia. 3. Bioengenharia. 4. Gestão urbana e meio ambiente. I. Orozco, Margarita María Dueñas. II. Universidade Federal de Rondônia. III. Titulo
CDU 714.4 (811.1) Bibliotecária: Marlene da Silva Modesto Deguchi CRB 11/ 601
UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
CAMPUS DE JI-PARANÁ
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA AMBIENTAL
TÍTULO: AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DO
PROCESSO DE URBANIZAÇÃO DO BAIRRO JARDIM SÃO CRISTÓVÃO NO
MUNICÍPIO DE JI-PARANÁ-RO.
AUTOR: RAFAEL ALMEIDA FELISBERTO
O presente Trabalho de Conclusão de Curso foi defendido como parte dos requisitos
para obtenção do título de Bacharel em Engenharia Ambiental e aprovado pelo Departamento
de Engenharia Ambiental, Fundação Universidade Federal de Rondônia, Campus de Ji-
Paraná, no dia 20 de junho de 2012.
______________________________________________________
Jeferson Alberto de Lima (Membro)
Professor do Departamento de Engenharia Ambiental
Universidade Federal de Rondônia
______________________________________________________
João Gilberto de Souza Ribeiro (Membro)
Professor do Departamento de Engenharia Ambiental
Universidade Federal de Rondônia
______________________________________________________
Margarita María Duenãs Orozco (Orientadora)
Professora do Departamento de Engenharia Ambiental
Universidade Federal de Rondônia
Ji-Paraná, 20 de junho de 2012.
Dedicatória
Dedico esta monografia a toda a minha família, em
especial aos meus pais Nelson Felisberto Pinto, Darlene de
Almeida Ferreira, ao meu irmão Danilo Almeida Felisberto, e a
minha futura e única mulher, Hilana Cristinna Gomes
Nascimento. Obrigado por me darem apoio em todas as etapas
da minha vida.
AGRADECIMENTOS
À Deus, por sua presença constante na minha vida.
À Jesus Cristo, por seu amor incondicional.
Aos meus pais, Nelson Felisberto Pinto e Darlene de Almeida Ferreira, pelo o amor,
pela a dedicação e por me acompanharem em todas as etapas da minha vida.
Ao meu irmão, Danilo Almeida Felisberto, o “tiquinho” da família.
À minha futura mulher, Hilana Cristinna Gomes Nascimento, à que me ama e me faz
feliz a cada dia e àquela que me deu a oportunidade de ama - lá e fazê-la igualmente feliz.
À Prof.ª Margarita María Dueñas Orozco, pela orientação e, principalmente, pela a
aceitação, incentivo e dedicação dada a toda a etapa desta pesquisa. Agradeço ao Prof. João
Gilberto de Souza Ribeiro e ao Prof. Jeferson Alberto de Lima por aceitarem a participar na
função de atuar no aprimoramento através de suas valiosas sugestões e ao trabalho dedicado
na avaliação deste estudo
Aos meus amigos e colegas das turmas de 2007 e 2008. Em especial, agradeço àqueles
que sempre se fizeram presentes na minha vida e que irão viver na minha história, destaco
pelo imenso apoio aos amigos: Harrison C. S. Coltre, Rhayanna K. do Nascimento, Felipe A.
G. do Nascimento, Douglas S. Gomes, Priscylla L. Bezerra, Luiz A. M. Macaro, Emilson P.
Tavares, Alberto D. Webler, Angélica Salame, João P. P. C. Moreira, Alyne F. Helbel,
Emerson A. de Souza, Josiane B. Gomes, Rafael H. S. Dias, Sandra F. Francener, Thiago E.
P. F. Nascimento, Leonardo R. Andrade, Nairo R. da Silva, Marcos L. A. Nunes, Bruno I.
Dinato, Marcus V. R. Dambros, Marco A. P. M. de Antonio.
Agradeço aos meus inestimáveis amigos Ronei da Silva Furtado e Vinicius A. S. de
Souza, por todo apoio e por todas as contribuições que forneceram para que esta obra pudesse
ser realizada
Enfim, a todos que de alguma forma contribuíram para tornar esta pesquisa em
realidade, seja pela ajuda constante ou por uma palavra de amizade. Meu muito obrigado!
RESUMO
As áreas urbanas constituem ambientes onde a ocupação e a concentração humana intensa e
muitas vezes desordenada tornam esses espaços sensíveis às gradativas transformações
antrópicas, quando aumentam em frequência e intensidade, a exemplo, o desmatamento, a
ocupação irregular e os processos de erosão. Este estudo teve como objetivo fazer uma
avaliação das implicações ambientais decorrentes das ocupações urbanas no Bairro Jardim
São Cristóvão, localizado no 2° distrito do perímetro urbano do município de Ji-Paraná,
Rondônia. Para tanto, foram utilizadas imagens do Satélite LANDSAT 5, sensor TM-5,
distribuídas em série dos anos de 1986, 1996, 2006 e 2011, com as quais foi possível realizar
uma análise multitemporal do uso e ocupação do solo da área de estudo. Em termos
quantitativos, por meio da interpretação e da classificação visual supervisionada sobre as
imagens do satélite LANDSAT 5 – TM5, foram definidas quatro classes temáticas para a
análise do uso e ocupação do solo da área: Áreas Arenizadas; Cursos D‟Água; Remanescentes
Florestais Urbanos e Áreas Antropizadas. Para a avaliação dos impactos ambientais foi
utilizado o método matricial baseado em Amorim (2004) e Carrara (2010). Para isso a
estrutura contemplou em suas categorias de informação, uma associação entre os
equipamentos urbanos (causa) e os impactos ambientais (efeito) identificados na área. Os
resultados apontaram uma redução de 24% dos remascentes florestais encontrados no ano de
1986, destacando a redução dos buritizais, ecossistemas nativos característicos da região e de
grande importância para a biodiversidade. Os cursos de água diminuíram de 30% do total de
área no ano de 1986 para 5% no ano de 2011. As observações relacionadas às áreas
arenizadas no bairro em estudo, tiveram um aumento considerável de 9% para 45% entre os
anos de 1986 e 2011. Devido à expansão das áreas ocupadas pela população as quais
aumentaram de 20%, em 1986, para 32% no ano de 2011. A matriz de avaliação de impacto
ambiental demonstrou que o equipamento urbano “malha urbana”, deflagrou o maior número
de impactos de forma mais intensa nos meios biótico e físico, fato esse devido à ocupação
desordenada e irregular. Portanto, a partir dos resultados obtidos permitiu-se um melhor
detalhamento da superfície da área de interesse e posterior proposição de medidas de controle
ambiental fundamentadas por técnicas de bioengenharia de solos na tentativa de mitigar os
principais impactos ambientais identificados, apresentando assim, informações mais precisas
e confiáveis em relação à área de implantação do Bairro Jardim São Cristóvão. Do mesmo
modo, este trabalho se mostrou útil para subsidiar o planejamento urbano local, e promover a
orientação de políticas públicas em direção a uma expansão urbana organizada em equilíbrio
com o ambiente natural.
Palavras-chave: Áreas urbanas; Impactos ambientais; Análise multitemporal; Matriz de
avaliação de impactos ambientais; Bioengenharia.
EVALUATION OF THE ENVIRONMENTAL IMPACTS OF THE PROCESS OF
URBANIZATION OF THE NEIGHBORHOOD GARDEN SAINT KITTS IN THE
MUNICIPALITY OF JI-PARANA - RO
ABSTRACT
The Urban areas constitute environments where occupation and human concentration is often
disorderly, thus making it these sensitive areas the gradual anthropic transformations, when
they increase in frequency and intensity, the example, deforestation, illegal occupation and
erosion processes. This study aimed to do an analyze of environmental implications urban
arising from the occupations in the Neighborhood garden St. Christopher, located in the 2nd
district of the urban perimeter of Ji-Parana - RO. For both, were used Landsat 5 satellite
images, sensor TM-5, distributed in series between the years 1986, 1996, 2006 and 2011, with
which was possible to perform a multitemporal analysis of the use and occupation of the soil
of the study area. . In quantitative terms, by means of interpretation and visual classification
supervised of satellite images LANDSAT 5 - TM5, were defined four thematic classes for the
analysis of the use and occupation of the soil of the area: Arenizadas Areas; Water Courses;
Urban Forest Remnants and Occupied Areas. For the assessment of environmental impacts
was used the Method matrix based in Amorim (2004) and Carrara (2010). For this the
structure contemplated in their of information categories, an association between the urban
equipments (cause) and the environmental impacts (effect) identified in the area. The results
pointed a 24% reduction of forest remascentes found in 1986, highlighting the reduction of
the buritizais, native ecosystems characteristic of the region and of great importance for
biodiversity. The waterways decreased from 30% of the total area in 1986 to 5% in 2011. The
observations related the areas arenizadas in the neighborhood in study, had a considerable
increase from 9% to 45% between 1986 and 2011. Due to the expansion of the areas occupied
by the population which increased from 20% in 1986 to 32% in 2011. The array of
environmental impact assessment demonstrated that the equipment urban "urban mesh",
triggered the largest number of impacts of more intense in the biotic and physical media, this
fact was due to the disorderly occupation and irregular. Therefore, from the results obtained
allowed a better detailed of the surface area of the interest and posterior proposition of the
measures environmental control substantiated by soil bioengineering techniques of the soil in
the attempt of the mitigate the main environmental impacts identified, thus present, more
precise information and reliable in relation to area of the implementation of the Neighborhood
Garden St. Kitts. Likewise, this job showed useful for subsidize the planning place urban, and
promote the orientation of public policies toward urban sprawl organized in balance with the
natural environment.
Keywords: Urban Areas, Environmental Impacts, Multitemporal analysis; Matrix
Assessment of Environmental Impacts; Bioengineering.
15
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 16
OBJETIVOS ........................................................................................................................................ 18
Objetivo geral ...................................................................................................................................... 18
Objetivos específicos ........................................................................................................................... 18
1 REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................................... 19
1.1 URBANIZAÇÃO NO BRASIL .................................................................................................... 19
1.1.1 Urbanização e Ciclo da Água .................................................................................................... 21
1.2 PLANEJAMENTO URBANO ..................................................................................................... 23
1.2.1 Instrumentos de Gestão Urbana ............................................................................................... 24
1.3 AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL (AIA) ................................................................. 28
2 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................................. 31
2.1 ÁREA DE ESTUDO...................................................................................................................... 31
2.1.1 Localização e Características Gerais ........................................................................................ 31
2.1.2 Localização e Características da Área Pesquisada ................................................................. 32
2.1.3 Aspectos Físicos da Região ........................................................................................................ 33
2.2. ANÁLISE MULTITEMPORAL DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO .................................. 36
2.3 MATRIZ DE AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS................................................. 37
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................................................... 39
3.1 ANÁLISE MULTITEMPORAL DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO ................................... 39
3.2 MATRIZ DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL .................................................... 50
3.3 MEDIDAS DE CONTROLE AMBIENTAL .............................................................................. 57
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................. 64
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 66
16
INTRODUÇÃO
Na função de ser um instrumento fundamental para a orientação do desenvolvimento
social e ambiental dentro do território brasileiro, o Estatuto da Cidade, instituído pela Lei
Federal N.° 10.257 de 10 de julho de 2001, condiciona que os municípios a promovam a
devida coerência entre planejamento, legislação e gestão urbano-ambiental, de forma a
democratizar o processo de tomada de decisões e legitimar plenamente a nova ordem jurídico-
urbanística de natureza socioambiental.
Dessa forma, o princípio do planejamento urbano considera que a implantação de
políticas públicas direcione o desenvolvimento urbanístico por meio da promoção da
sustentabilidade entre os interesses econômicos, sociais e ambientais. Para isso, a gestão do
planejamento deve recorrer aos instrumentos básicos voltados ao plano diretor do município,
onde, consolida-se um sistema de informações interligado à avaliação do desempenho urbano.
Para tanto, a fim de realizar qualquer avaliação destinada a levantar informações da
atual situação e das perspectivas futuras de um determinado loteamento ou de um conjunto
deles, torna-se indispensável o conhecimento sobre a legislação ambiental aplicável e as
normatizações complementares relativas à adequação do empreendimento, considerando que
o lote, ou seja, o terreno, sirva de infraestrutura básica cujas dimensões atendam aos índices
urbanísticos definidos pelo plano diretor ou lei municipal para a zona em que se situe
(BARROS et al., 2003).
No intuito de se compreender o espaço urbano, ou a cidade, estudar e analisar a
forma de ocupação urbana e seu crescimento caracteriza-se como subsídios às políticas de
planejamento. Frequentemente, estes estudos mostram que o crescimento de cidades é um
processo dinâmico, invadindo, constantemente, áreas que não são adequadas para usos do solo
urbano, conduzindo o crescimento da mancha urbana o qual usualmente não é planejado
(NAGARATHINAM et al., 1988).
Neste contexto, pode-se citar o município de Ji-Paraná, situado na região central do
estado de Rondônia, sendo o mesmo um exemplo de cidade na qual o seu crescimento vem se
17
estabelecendo de forma acelerada e desorganizada, sem planejamento e, ou prévias diretrizes
urbanísticas, criando dessa forma situações de confronto direto entre o meio urbano e
conservação do meio natural.
Neste sentido, Costa e Cintra (1999) apontam que as geotecnologias, representadas
pela análise multitemporal, têm sido utilizadas como um método de gestão importante de
auxílio aos planejadores urbanos, o qual evidencia a dinâmica espacial e a forma de
urbanização das cidades. As mesmas, podem fornecer aos planejadores materiais visuais
impactantes e um método de monitoramento de áreas urbanas, os quais são importantes na
formulação e monitoramento de estratégias de planejamento urbano e de políticas municipais.
Este ferramental tem sido aplicado com sucesso em diferentes estudos urbanos.
Na questão da urbanização, a avaliação de impacto ambiental propõe investigar a
viabilidade ambiental, assim como planos, políticas e programas, analisando para isso suas
diferentes etapas: projeto, implantação, operação e desativação, sendo dessa forma um
instrumento de fundamental importância para a tomada de decisão.
Dessa forma, no desenvolvimento das funções da avaliação de impacto ambiental
(AIA) para o planejamento urbano, em síntese aos loteamentos residenciais, relaciona-se
como um instrumento da política ambiental formado por um conjunto de procedimentos
adequados a sistematizar os impactos ambientais e, a buscar alternativas apropriadas cujos
resultados possam ser apresentados de forma prática e concisa ao público e as responsáveis
pela tomada de decisão, e assim, considerar os procedimentos que garantam a adoção de
medidas de proteção e gestão do meio ambiente, determinado a decisão de implantação e
operação dos projetos de habitação.
Portanto, agregar ao planejamento urbano o uso da análise multitemporal
desenvolve-se como uma forma de obter e representar informações geográficas relevantes,
por meio de imagens de satélite e mapas, sejam elas digitais ou analógicas, tornando-as aos
responsáveis em avaliar e propor medidas de controle e recuperação de impactos ambientais.
Deste modo, as geotecnologias complementam a avaliação de impacto ambiental (AIA),
permitindo uma compreensão integrada entre possíveis programas de mitigação, de
compensação, de prevenção de riscos, de resposta a contingências, de monitoramento, de
participação comunitária e de capacitação, resultando em uma melhoria contínua e
direcionando a sustentabilidade urbana.
18
OBJETIVOS
Objetivo geral
Avaliar os impactos ambientais associados ao meio físico e biótico, decorrentes do
processo de urbanização do Bairro Jardim São Cristóvão no município de Ji-Paraná/RO.
Objetivos específicos
- Identificar as alterações no uso e ocupação do solo da área de estudo;
- Diagnosticar localmente os impactos ambientais a partir da interação matricial de avaliação
de impactos ambientais;
- Propor medidas de controle para os principais impactos ambientais.
19
1 REFERENCIAL TEÓRICO
1.1 URBANIZAÇÃO NO BRASIL
A urbanização é um conceito geográfico que representa o desenvolvimento urbano,
acompanhado pelo crescimento populacional e demográfico das cidades (BOTTARI, 2004).
No Brasil, a partir década de 1950, o processo de urbanização tornou-se cada vez
mais intenso e acelerado, isso porque o modelo de desenvolvimento econômico da época
baseou-se, sobretudo, em uma política desenvolvimentista que intensificou o processo de
industrialização, deixando que os investimentos no setor agrícola, especialmente no setor
cafeeiro, deixassem de ser rentáveis, além disso, por dificuldades de importação ocasionadas
pela Primeira e Segunda Guerra Mundial, passou-se então a empregar mais investimentos no
setor industrial (GAROTTI, 2008).
Dessa forma, com a escassez de recursos, acompanhada das mudanças na produção e
mecanização do campo, entre outros aspectos, contribuiu para a ocupação dos espaços
urbanos a partir do êxodo rural que desencadeou a migração e a redistribuição das populações
vindas das zonas rurais para as zonas urbanas, intensificando ainda mais o processo de
urbanização. Na maior parte dos casos, a falta de infraestrutura das cidades para receber esse
novo contingente populacional resulta em inúmeros problemas e prejuízos para os habitantes
e para o poder público local (GAROTTI, 2008).
Neste contexto, Santos (1991 apud BASTOS 2006) afirma que o crescimento
populacional e posteriormente a urbanização de áreas, promove então uma produção espacial
cada vez mais extensa e articulada dos espaços construídos em detrimento dos espaços
naturais, sendo estes reduzidos e fragmentados com consequente perda do seu valor ecológico
enquanto se configuravam como sistemas de sustentação da vida em determinado ecossistema
mundial.
Por falta de planejamento para a ocupação dos espaços urbanos estes concentram
também os maiores problemas ambientais, tais como poluição do ar, hídrica, degradação dos
solos; destruição dos recursos naturais; desintegração social, desemprego; perda de identidade
cultural e de produtividade econômica. Muitas vezes, ou na maioria das vezes, as formas de
ocupação do solo urbano, principalmente o gerenciamento de áreas de risco, deixam de ser
tratados pelo poder público com a prioridade necessária (BASTOS 2006).
Evidenciando esta tendência de urbanização, Bastos (2006) cita que o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou no censo realizado no ano de 2000 que
20
entre as décadas de 1950 e 1990, a parcela da população brasileira que vivia em cidades saltou
de 36% para 75%. Já em 2010, em uma nova pesquisa, o IBGE revelou que apenas 15,65% da
população vive em áreas rurais, contra 84,35% em áreas urbanas.
De acordo com a População Sustentável (2011), grupo de discussão sobre a questão
demográfica e o meio ambiente, baseado em dados do IBGE, a taxa de crescimento da
população da Região Norte contraria a tendência de queda verificada em todo país. Nos
censos compreendidos entre os intervalos de 1991 – 2000 e de 2001 – 2010, quando
comparados, a taxa de crescimento populacional da região saltou de uma escala de 1,63 para
2,09 e, respectivamente, a taxa de urbanização aumentou de 59,05% para 69,83%.
Portanto, o processo de urbanização provoca modificações no meio ambiente,
alterando suas características, causando impactos com reflexos indesejáveis ao próprio
homem. Torna-se então, imprescindível entender como tem ocorrido o processo de
desenvolvimento urbano para poder contribuir para um planejamento em consonância com os
novos modelos de desenvolvimento e preservação ambiental.
Por esse fato, a urbanização é um processo que evidentemente reflete as mudanças
no meio ambiente em nome da melhoria das condições e qualidade de vida para o homem,
transformando o meio ambiente natural em meio ambiente construído. Na maioria dos casos
esse processo ocorre a partir de um planejamento inadequado gerando um crescimento
desordenado, acompanhado da falta de uma infraestrutura capaz de garantir a mínima
qualidade e segurança ambiental.
Em consequência, evidentes desequilíbrios ambientais decorrem a partir desta
dinâmica, e entre eles, concentram a degradação progressiva de áreas de mananciais, a
remobilização e exposição do solo, a remoção de árvores ou vegetação, cortes em taludes e
encostas, o surgimento dos processos de erosão, entre outros impactos.
As consequências sobre o meio ambiente no Brasil ainda são maiores quando se
relacionam os fenômenos climáticos aos desequilíbrios provocados pela ação antrópica e aos
desastres naturais, dentre os comuns as inundações, os escorregamentos e os processos
erosivos, sendo que esses processos estão fortemente associados, segundo Maricato (2000)
apud Garotti (2008) à degradação de áreas ambientalmente consideradas frágeis (beira de
córregos, rios e reservatórios, encostas íngremes, mangues e áreas alagáveis, fundos de vale),
ou seja, sucintos à degradação tanto natural, quanto antrópica, potencializada pelo
desmatamento e ocupação irregular (MAFFRA e MAZZOLA, 2007).
Contudo, todo novo processo de ocupação significa um impacto ambiental, ou seja,
um risco ambiental (MORETTI, 2000).
21
1.1.1 Urbanização e Ciclo da Água
O ciclo hidrológico deriva diferentes caminhos para a água proveniente da
precipitação. Garcia (2005) afirma que parte desta precipitação pode ser interceptada pela
vegetação, uma parte da água interceptada evapora-se, retornando à atmosfera, e outra parte
cai entre as plantas ou goteja das folhas para o solo, podendo ser absorvida pela vegetação.
Com relação à parte que atinge o solo, uma parte infiltra no solo em quantidade e
velocidade derivada da “capacidade de infiltração do solo”, e se constitui no fluxo
subsuperficial. A partir do momento que a intensidade da chuva ultrapassa a capacidade de
infiltração do solo, passa a ocorrer o escoamento superficial. Conforme Ide (2009) aborda que
o processo erosivo é deflagrado pela chuva através do impacto das gotas, provocando a
desagregação das partículas, por salpicamento, e o escoamento superficial, pelo o efeito
“runoff” , o qual é o responsável pela sua remoção e transporte.
Ide (2009) ainda argumenta sobre a importância da existência da cobertura vegetal
para a proteção contra o impacto de gotas de chuva, a dispersão e perda de energia das águas
de escoamento superficial, o aumento da infiltração devido à maior porosidade do solo
causada pelas raízes e aumento da capacidade de retenção de água por efeito da produção e
incorporação de matéria orgânica pelo solo.
A partir do escoamento superficial, a capacidade da água de erodir o solo depende da
velocidade que o fluxo adquire, também relacionada à inclinação das encostas, da quantidade
de escoamento e da sua concentração de sulcos, canais e ravinas (PRANDI, 1996).
Em uma análise realizada sobre os efeitos da urbanização sobre o ciclo hidrológico,
Alves (2004) destaca ainda que a expansão urbana ameaça os recursos hídricos e a
estabilidade do ecossistema na bacia hidrográfica, isso porque o processo de urbanização
provoca a impermeabilização do solo, a retirada de vegetação e a canalização dos corpos
d‟água. Neste processo, a água que antes infiltrava ou era retida pelas plantas, passa a escoar
por canais, aumentando o escoamento superficial e gerando vários efeitos e prejuízos que
modificam os componentes do ciclo hidrológico natural.
Iwasa e Fendrich (1998) apud Araujo (2008) aconselham na Tabela 1 importantes
diretrizes para implantação de loteamentos, especialmente em locais com terrenos de alta
suscetibilidade aos processos erosivos.
22
Tabela 1 - Relação entre as diretrizes de execução e as fases de implantação.
FASE DIRETRIZES
Concepção do projeto
Manter as áreas verdes existentes;
Impedir à concentração das águas pluviais nas cabeceiras
da drenagem natural;
Evitar longos traçados viários que se situem
perpendicular às curvas de nível;
Evitar que ao redor das drenagens naturais se tenha
movimentos de terra;
Procurar situar as vias principais paralelamente às curvas
de nível;
Prever, nas extremidades inferiores dos loteamentos,
estruturas de dissipação que impeçam a ocorrência de
processos erosivos.
Implantação do Projeto
Implantar loteamentos em sub-bacias de drenagem;
A implantação deve ser realizada de jusante para
montante;
Obras de terraplanagem devem ser realizadas
simultaneamente com as obras de drenagem e proteção
superficial;
Na execução das obras, as redes de drenagem devem
estar devidamente protegidas contra o assoreamento e a
obstrução;
Prever sistemas provisórios de drenagem em áreas de
grandes movimentações de terra;
Evitar a execução das obras de terra e implantação do
sistema de drenagem nos períodos chuvosos.
Manutenção
Devem ser periodicamente inspecionados todos os
sistemas de drenagem, realizando-se os reparos das
partes destruídas e a desobstrução e o desassoreamento
dos coletores;
Devem ser mantidos com cobertura vegetal todos os
lotes vazios;
As vias de circulação e os demais espaços públicos
devem ser mantidos limpos, equacionando-se o problema
do lixo.
Fonte: Adaptado de Iwasa e Fendrich (1998) apud Araujo (2008).
23
1.2 PLANEJAMENTO URBANO
A partir da intensa urbanização verificada no Brasil, especialmente, a partir da
segunda metade do século XX, o crescimento populacional aliado ao processo de urbanização
acelerado e descontrolado tem trazido para realidade a atual necessidade de se regulamentar
as questões urbanas e ambientais, para que o espaço territorial da cidade, como um todo,
passasse a ser organizado, possibilitando a criação de cidades sustentáveis.
Neste contexto “o planejamento urbano tem sido realizado a partir da ordenação do
crescimento e adensamento de áreas urbanas com o intuito de minimizar, corrigir e prevenir
os problemas provenientes da urbanização” (GAROTTI, 2008, p. 29).
Experiências recentes têm demonstrado que entre os instrumentos de planejamentos
urbanos mais difundidos no Brasil, segundo Braga e Carvalho (2003) apud Garotti (2008), o
zoneamento urbano é aquele capaz de ser a forma preventiva mais adequada de se controlar
determinados problemas ambientais.
Mas, ao contrário, o planejamento urbano tem evidenciado sua própria ineficiência
quanto aos efeitos da degradação ambiental, e de forma limitada tem pouco contribuído para a
preservação e proteção dos recursos naturais, isso porque, na sua prática, tem sido
impulsionado por caráter fundamentalmente econômico, atendendo principalmente às
demandas do mercado imobiliário, por onde pode ser observado que na maioria dos casos os
lotes são direcionados a padrões específicos, através de diretrizes de crescimento urbano e
interesses comerciais, segundo o poder aquisitivo, e suas necessidades (LIMA, 2004).
Dentro dos limites urbanos, Maricato (2000) apud Garotti (2008) aponta que possíveis
exclusões territoriais podem estar sendo ocasionadas perantes determinadas legislações que antes
deveriam proporcionar proteção ambiental, mas que, hoje, acabam causando uma maior exclusão
social e degradação do meio ambiente natural e urbano. Maricato (2000) apud Garotti (2008),
afirma que áreas consideradas ambientalmente frágeis e por sua então condição ambiental, são
mais sucintas às alterações ambientais devido à ineficiência da legislação e, a autora assim
considera que essas áreas são então os pontos fracos e indesejáveis na abordagem do
planejamento e do zoneamento urbano.
Não obstante, Maricato (2000) apud Garotti (2008) cita que o planejamento urbano
deve sobremaneira integrar em termos ecológicos, físicos – territoriais, econômicos, sociais e
administrativos, considerando cada um dos aspectos até o conjunto geral de um sistema ou
ecossistema de maneira que o desenvolvimento urbano seja de forma ordenado, fazendo com
que o mesmo se torne o mais racional, eficiente e econômico possível.
24
Do mesmo modo, Garotti (2008) conclui que, “a gestão das cidades deve ater-se às
diversas questões ambientais, sociais e econômicas, que envolvem o município, buscando
soluções holísticas para as diversas esferas da administração e do planejamento, em especial
às normas e legislação de parcelamento do solo e aos planos de formação do espaço urbano,
onde a fiscalização deve ser um ponto forte para o controle das irregularidades e ações que
causem prejuízos ao poder público e aos munícipes, contribuindo para maximizar os
investimentos públicos”.
Portanto, o planejamento urbano deve procurar abordar a localização das áreas
destinadas ao espaço público e à distribuição dos serviços e dos equipamentos urbanos (malha
urbana, sistema viário, dispositivos de drenagem, gerenciamento de resíduos sólidos e
similares), evitando ao máximo o desequilíbrio na distribuição destes, em especial, nas
periferias, onde a situação é agravada quando há o distanciamento do agente prestador de
serviços.
Com isso, uma cidade bem planejada vai possibilitar o desenvolvimento humano e a
consequente melhoria da qualidade de vida da população.
1.2.1 Instrumentos de Gestão Urbana
1.2.1.1 Zoneamento ambiental
O Zoneamento ambiental, um instrumento previsto na Política Nacional de Meio
Ambiente pela Lei n°. 6.938 de 31 de agosto de 1981, consiste em um procedimento de
divisão do território em áreas onde, segundo Machado (2003) “se autorizam determinadas
atividades ou se interdita, de modo absoluto ou relativo, o exercício de outras em razão das
características ambientais e socioeconômicas do local”.
A regulamentação desse instrumento se deu pelo decreto n°. 4.297 de 10 de julho de
2002, que estabelece os critérios para o zoneamento ecológico-econômico – ZEE do Brasil,
ou seja, um zoneamento de abrangência nacional.
A definição legal do zoneamento ambiental encontra-se no art. 2º do referido decreto
que o descreve como sendo “instrumento de organização do território a ser obrigatoriamente
seguido na implantação de planos, obras e atividades públicas e privadas” estabelecendo
“medidas e padrões de proteção ambiental” com vistas a “assegurar a qualidade ambiental,
dos recursos hídricos e do solo e a conservação da biodiversidade, garantindo o
desenvolvimento sustentável e a melhoria das condições de vida da população”.
25
Desta forma, ao distribuir espacialmente as atividades econômicas, o zoneamento
ambiental levará em conta a importância ecológica, as potencialidades, limitações e
fragilidades dos ecossistemas, estabelecendo vedações, restrições e alternativas de exploração
do território podendo, até mesmo, determinar, sendo o caso, quais as atividades compatíveis
conforme as diretrizes gerais de determinada área.
Assim, como cita Oliveira (2004), o zoneamento ambiental funciona principalmente
como instrumento de planejamento territorial com vistas ao desenvolvimento sustentável. Isso
porque a divisão de determinado território em zonas com diferentes regimes de uso, gozo e
fruição da propriedade será fruto de estudos ambientais e socioeconômicos e de negociações
democráticas entre o governo, o setor privado e a sociedade civil sobre estratégias e
alternativas que serão adotadas para que se alcance o objetivo maior desse instrumento que é a
promoção do desenvolvimento sustentável.
Ao mesmo tempo, o zoneamento ambiental é um instrumento, conforme Araujo
(2008, p.13) “cuja finalidade é auxiliar a formulação de políticas e estratégicas de
desenvolvimento, o que possibilita a visualização, por meio de cenários, da distribuição das
áreas suscetíveis a processos naturais e também das áreas com maior ou menor potencial para
a implantação de atividades, de forma bastante clara e sempre em função da capacidade de
suporte do meio.
Em concordância ao acelerado processo de uso e ocupação, e da inexistência de
medidas de planejamento urbano e rural, o estado de Rondônia no dia 06 de junho de 2000,
aprovou a Lei Complementar n°. 233, que constituiu o principal instrumento indicativo de
condutas, de planejamento territorial e de ordenamento territorial dos recursos naturais do
Estado, então estabelecendo o Zoneamento Socioeconômico - Ecológico do Estado de
Rondônia (ZSEE-RO).
O ZSEE-RO foi elaborado a fim de servir como um instrumento de planejamento do
estado, no qual o mesmo foi desmembrado em zonas onde por suas características
evidenciassem possíveis influências das fragilidades e, ou, potencialidades e uso de cada
região que compõe o Estado.
Á nível municipal, Ji-Paraná, conforme o ZSEE-RO do Estado foi particionado em
duas zonas e quatro subzonas. A área urbana do município, em sua grande maioria, em
relação à própria extensão, se localiza na subzona 1.1, a qual compreende as áreas de intensa
ocupação, e contrariamente, ainda engloba uma pequena porção de terras na subzona 1.3,
onde mesma referencia às áreas de baixa densidade populacional. O município de Ji-Paraná,
em sua totalidade, compreende conjuntamente a zona 3, em que a subzona 3.2 e a subzona
26
3.3, se referem as áreas constituídas por unidades de conservação de uso indireto e as terras
indígenas, respectivamente.
Portanto, observa-se na prática que a partir do uso deste zoneamento é possível
orientar a implementação de medidas de elevação do padrão socioeconômico das populações,
por meio de ações que levem em conta as potencialidades, as restrições de uso e a proteção
dos recursos naturais, permitindo que se realize o pleno desenvolvimento das funções sociais
e do bem estar de todos, de forma sustentável (Rondônia, 2007).
1.2.1.2 Plano diretor
Conforme estabelece o art. 182, § 1°, da constituição federal brasileira, o plano
diretor é um dos mais importantes instrumentos de responsabilidade da administração
municipal, o qual sendo “aprovado pela Câmara Municipal é obrigatório para cidades com mais
de vinte mil habitantes, e é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão
urbana”. Assim, torna “a propriedade urbana cumpridora de sua função social quando se atende às
exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor”, e a partir disso,
ordena o desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantindo o bem estar de seus
habitantes.
Não obstante à definição, e pelo qual institui o plano diretor, a Lei 10.257, de 10 de
julho de 2001 vem estabelecer as diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências,
no intuito de ordenar a estrutura urbana do município e atender as determinações da mesma.
Com relação à expressão “desenvolvimento e expansão urbana”, Carvalho e Braga
(2001, p. 97) afirmam que ambas podem ser entendidas de diversas formas, sendo o plano
diretor aquele responsável em constituir um instrumento básico e “definidor das diretrizes de
planejamento e gestão territorial urbana, ou seja, do controle do uso, ocupação, parcelamento
e expansão do solo urbano, além da frequente a inclusão de diretrizes, sobre habitação,
saneamento, sistema viário e transporte urbano”.
Dentro das discussões salientadas por Carvalho e Braga (2001), ambos ressaltam que
além do plano diretor se constituir um extraordinário instrumento político, preliminarmente o
plano diretor é um instrumento de transparência e de gestão democrática. Esses dois aspectos
são garantidos pela Constituição Federal, especificamente no art. 29, e representados no
Estatuto da Cidade, no qual determina que a democratização efetiva o planejamento urbano, e
a partir da transparência, consolidam a política urbana pela participação da sociedade em todo
27
o processo de elaboração e implementação do plano diretor, por meio de audiências públicas,
debates e publicidade e acesso aos documentos produzidos.
No Brasil, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) estabelece para a formulação e
implementação de políticas públicas compatíveis com os princípios de desenvolvimento
sustentável, o documento intitulado “Cidades Sustentáveis” preconizado pela Agenda 21,
evidencia a nível municipal, que o plano diretor além de servir como um instrumento de
gestão territorial urbana, e conjuntamente, se torna um instrumento de gestão ambiental que
ordena na forma de sustentabilidade urbana através das seguintes estratégias:
1. Aperfeiçoar a regulação do uso e da ocupação do solo urbano e promover o
ordenamento do território, contribuindo para a melhoria das condições de vida da
população, considerando a promoção da eqüidade, eficiência e qualidade ambiental;
2. Promover o desenvolvimento institucional e o fortalecimento da capacidade
de planejamento e gestão democrática da cidade, incorporando no processo a
dimensão ambiental urbana e assegurando a efetiva participação da sociedade [...]
(CIDADES SUSTENTÁVEIS, 2000, p.15).
No município de Ji-Paraná, estado de Rondônia, o atual Plano Diretor, instituído pela
Lei Municipal nº 2.187, de 24 de agosto de 2011, disciplina o desenvolvimento urbano do
município abordando: o Sistema Viário, o Uso do Solo, o Ambiente e o Saneamento Básico,
com Planejamento Econômico e Urbano. Deste modo, o plano diretor se caracteriza como um
instrumento “integrante do processo de planejamento municipal”, e estratégico e determinante
da política de desenvolvimento urbano para “todos os agentes públicos e privados que atuam
no município”.
A fim de estabelecer as normas de uso e ocupação e orientar e determinar a direção
de crescimento da malha urbana do município, o Plano Diretor, dividiu qualitativamente a
cidade em duas macrozonas: Macrozona Urbana e Macrozona Expansão Urbana. Com a
implantação do macrozoneamento vem a contribuir na delimitação das zonas urbanas, de
expansão urbana, rural e macrozonas que abrangem as áreas de proteção ambiental.
A Macrozona Expansão Urbana, segundo o art. 77, vem a orientar o
desenvolvimento urbano e a aplicação dos instrumentos urbanísticos e jurídicos
“apresentando diferentes graus de consolidação e qualificação”. Esta macrozona se delimita
em três zonas: de proteção integral, de uso sustentável e de expansão urbana. Vale ressaltar
que a Zona de Expansão Urbana, art. 81, delimita as áreas não ou com ocupação de baixa
densidade, próximas de eixos estruturais, passíveis de ocupação.
28
No mesmo intuito, o art. 83, estabelece que a Macrozona Urbana, fica subdividida
em sete zonas: comercial densa, comercial, residencial densa, residencial, especial de
interesse habitacional, industrial, especial e institucional.
Portanto, com a aplicação desta lei cria-se a necessidade de manter ou restaurar a
qualidade do ambiente natural, respeitando a fragilidade dos seus terrenos, garantindo a
manutenção de atividades econômicas não-impactantes importantes para o município.
1.3 AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL (AIA)
Pode-se definir o processo de Avaliação de Impacto Ambiental como um conjunto de
procedimentos emendados de maneira lógica, com a finalidade de avaliar a viabilidade
ambiental de projetos, planos e programas, a fim de fundamentar uma decisão a respeito
(SÁNCHES, 2008).
Na prática, a AIA consiste em um processo sistemático que efetua a avaliação das
características do meio possibilitando a proposição de alternativas tecnológicas, buscando
adequá-las e, posteriormente, estabelecendo medidas de mitigação e monitoramento
necessárias para a minimização destes impactos.
É imprescindível que se saiba avaliar a importância dos impactos previstos, isso
porque essa avaliação tende a ser subjetiva, por não haver critérios estabelecidos (SÁNCHEZ,
2008 e SANTOS, 2004).
Há diversas técnicas e métodos para essa tarefa. As estratégias dos métodos
existentes propõem ordenar, qualificar, quantificar, comparar, relacionar e espacializar os
impactos. As listagens de sistematização das informações possuem a capacidade de sumarizar
os resultados, a rapidez da aplicação e o baixo custo são pontos positivos dessas avaliações,
entretanto, apresentam como desvantagens o reducionismo dos fatos e a limitação de relações
que podem ser feitas (SANTOS, 2004).
Entre as metodologias de Avaliação de Impactos Ambientais mais utilizadas na
atualidade para associar efeitos e aspectos ambientais às alterações no meio ambiente estão as
matrizes de interação e/ou as matrizes de avaliação de impacto ambiental. Por meio dessas
matrizes podem ser avaliados os impactos a serem gerados no empreendimento. Podem ser
conhecidas as ações propostas que causam o maior número de impactos e aquelas que afetam
os fatores ambientais mais relevantes.
29
A partir da matriz de Leopold, contínuas adaptações foram realizadas a fim de
fortalecer as interações entre as ações e fatores que podem ser visualizadas na interseção entre
linhas e colunas, denominadas quadrículas, para as quais se pode atribuir fatores de
ponderação. Por essas adaptações, a matriz reformulada passa a empregar uma escala de
cores, substituindo a escala de valores, a ponto de ambas representarem os níveis de
relevância decorrentes do produto da interação de magnitude e importância dos diversos
impactos identificados (AMORIM, 2004).
Neste trabalho, a matriz de avaliação dos impactos ambientais utilizada foi idealizada
e elaborada a partir de adaptações dos métodos aplicados por Amorim (2004) e Carrara
(2010).
Em conformidade às contínuas adaptações realizadas na matriz original de Leopold,
Amorim (2004), em sua pesquisa, realizou uma listagem dos principais impactos identificados
sobre o Córrego do Mineirinho, em São Carlos, no estado de São Paulo, para facilitar sua
avaliação e posterior discussão a respeito da ocupação de fundos de vale em áreas urbanas. Na
matriz utilizada pela a autora, a mesma procurou promover a visualização e a valoração dos
impactos sobre os diferentes componentes do ambiente, organizando-a em meio geo-físico,
meio biológico e meio antrópico.
Amorim (2004) então propôs em sua pesquisa que as ações de implantação do
projeto fossem substituídas por tipologias de ocupação de fundos de vale urbanos,
constituindo os objetos da avaliação. Dessa forma, o método utilizado pela autora contribuiu
para a visualização geral dos possíveis impactos de cada ocupação, enfatizando que para cada
caso concreto de uma distinta ocupação de fundo de vale seria necessária uma nova avaliação,
que considerasse as características específicas do local.
Na construção de sua matriz, Amorim (2004) então substituiu a escala de valor de 1 a
10 por uma escala de cores, facilitando a visualização dos impactos. Em sua hierarquização, a
autora estabeleceu que o vermelho, o laranja e o amarelo fossem associados aos impactos
negativos, e uma escala de três tons de verde, para os impactos considerados positivos, e para
os impactos designados não significativos ou inexistentes, foi selecionada a cor cinza. Vale
ressaltar que a gradação adotada por Amorim (2004) foi de impacto alto, médio e baixo, a fim
de dispor uma escala de valoração e de interação da magnitude e importância dos impactos
ambientais identificados.
Na mesma perspectiva de adaptação para a idealização e elaboração da matriz de
avaliação deste trabalho, a matriz de avaliação de impactos ambientais, ou seja, matriz de
interação proposta por Carrara (2010) veio a contribuir como uma ferramenta de padronização
30
e de síntese geral dos vários aspectos e impactos a serem considerados para a proposição de
estudo.
Em seu trabalho, Carrara (2010) representou de forma clara e concisa através das
matrizes de avaliação a relação entre os impactos ambientais identificados na bacia
hidrográfica do Córrego Água Quente, localizada no município de São Carlos, do estado de
São Paulo, e sendo os mesmos avaliados quanto aos processos decorrentes da implantação e
operação dos equipamentos urbanos que iniciou à deflagração dos impactos ambientais.
Em termos de conceituação, tanto para este presente estudo, quanto à matriz de
Carrara (2010), para uma análise geral dos impactos ambientais sobre as interfaces entre a
urbanização e o meio natural, para esta abordagem define-se equipamentos urbanos como os
dispositivos urbanos requeridos e obrigatórios que compõem toda a infraestrutura básica de
uma cidade, conforme a legislação federal aplicada e no que é previsto em todo o Plano
Diretor Municipal, sendo estes: “a Malha Urbana”, “o Esgotamento Sanitário”, “o
Gerenciamento de Resíduos”, “os Dispositivos de Drenagem” e “o Sistema Viário”.
Os impactos encontrados foram classificados de acordo com meio biofísico ou
antrópico afetado. Nesta matriz, a autora estabeleceu uma associação entre os diversos
elementos e atributos dos impactos verificados considerando a importância da agregação das
informações defendidas por SÁNCHES (2008) e SANTOS (2004).
Portanto, as matrizes de avaliação dos impactos ambientais utilizadas por Carrara
(2010), serviram tanto para a caracterização dos impactos, quanto à verificação aos requisitos
legais que envolvem o licenciamento ambiental para os equipamentos urbanos.
Contudo, como parte desta análise, a autora realizou a verificação da existência de
medidas de controle e monitoramento estabelecidas e implantadas, a fim de delimitar os
mecanismos de gestão ambiental praticados. Em contribuição a essa verificação, Carrara
(2010) elaborou um possível cenário futuro de expansão urbana da bacia estudada, de forma
que as matrizes de avaliação auxiliaram na investigação de possibilidades de adoção de um
enfoque direcionado ao planejamento e gestão ambiental de cidades, vindo a contribuir na
obtenção de um desejado desempenho ambiental para o cenário atual.
31
2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 ÁREA DE ESTUDO
2.1.1 Localização e Características Gerais
O Estado de Rondônia (FIGURA 1) localiza-se na Amazônia Ocidental entre os
paralelos de 7º 58‟ e 13º 43‟ de Latitude Sul e meridianos de 59º 50‟ e 66º 48‟ de Longitude
Oeste. Rondônia é composto por 52 municípios, sendo o mais populoso a capital do estado,
Porto Velho, o qual possui 428.527 habitantes (IBGE, 2010).
O município de Ji-Paraná está localizado na região centro-leste do estado de
Rondônia (FIGURA 1), distribuído em uma área territorial de 6.896,744 Km² representado
2,9% da área do estado. A cidade é dividida em dois distritos pelo Rio Ji-Paraná e/ou
Figura 1 – Localização do município de Ji-Paraná.
32
Machado. O município possui uma população de 116. 587 habitantes, sendo 89,93%
concentrada na zona urbana e os outros 10,07% na zona rural (IBGE, 2010).
2.1.2 Localização e Características da Área Pesquisada
A área de estudo selecionada compreende o Bairro Jardim São Cristóvão (FIGURA
2), localizado no 2° distrito do perímetro urbano do município de Ji-Paraná. A área recortada
para análise se encontra entre as coordenadas geográficas 61° 55‟ 46,4”, a oeste e 10° 54‟
43.6”, a sul, ocupando uma área de 1.633,45 Km².
Partindo de uma segregação de usos – agropecuário, industrial e residencial –, ou
seja, iniciado o processo de uso e ocupação da área, a partir dos anos de 1985 e 1986, por
interesse econômico, vindo pela especulação imobiliária, no respectivo ano de 1987, o então
Bairro Jardim São Cristóvão foi regularizado administrativamente por escritura pública
Figura 2 – Localização do Bairro Jardim São Cristóvão.
33
devidamente registrada e averbada em cartório de registro imobiliário municipal. A partir daí,
a área foi loteada, ou seja, parcelada em lotes destinados a edificação, com a abertura e o
prolongamento de novas vias de circulação e de logradouros públicos, a fim ser incorporada e
comercializada pelo mercado imobiliário.
Atualmente, a área de estudo está praticamente loteada e estima-se que existam
aproximadamente 1100 lotes em condições edificáveis, representando 60,43% da área total.
No geral, o Bairro Jardim São Cristóvão possui trechos com ocupação urbana e algumas áreas
constituídas por remascentes florestais urbanos.
2.1.3 Aspectos Físicos da Região
2.1.3.1 Aspectos climáticos
A partir da classificação climática de Köppen, o clima do estado de Rondônia é
caracterizado no domínio climático AW (tropical-quente e úmido), com média climatológica
da temperatura do ar durante o mês mais frio superior a 18 °C (megatérmico) e um período
seco bem definido durante a estação de inverno, quando ocorre no Estado um moderado
déficit hídrico com índices pluviométricos inferiores a 50 mm/mês. (RONDÔNIA, 2009).
A chuva em Rondônia é de monções e, portanto, só ocorre durante a época do
ano em que o continente é aquecido acima dos níveis de temperatura da superfície do
oceano e se torna um centro de convecção, onde há uma ampla oferta de umidade para a
condensação (BUTT; OLIVEIRA; COSTA, 2011).
Na região central do estado, a precipitação pluviométrica anual atinge, em média,
valores acima de 2.000 mm, com umidade relativa do ar média representando 82% e uma
temperatura média anual oscilando de 24 ºC na estação chuvosa a 25 ºC na seca (AGUIAR et
al., 2006; WEBLER; AGUIAR; AGUIAR, 2007). Em meio a essas características físicas e
locacionais, o município de Ji-Paraná possui um clima que é predominantemente tropical,
úmido e quente, durante todo o ano, com insignificante amplitude térmica anual e notável
amplitude térmica diurna, principalmente no inverno (BRASIL, 2007).
A média de temperatura anual no Município de Ji-Paraná é de 26°C, a umidade
relativa média do ar em torno de 85 % e a precipitação de chuvas na sede do município em
torno de 1700 a 1800 mm/ ano (FERNANDES E GUIMARÃES, 2002). As temperaturas
máximas podem chegar a 33°C e as mínimas a 16°C, sendo comum nos meses de junho e
34
julho a ocorrência de temperaturas mais baixas devido a frentes frias oriundas das regiões sul
e sudeste do país. Em relação à umidade relativa do ar, nos meses de junho a setembro, esse
parâmetro pode vir a atingir valores abaixo de 20%, sendo então considerada baixa, podendo
representar riscos à saúde da população (RONDÔNIA, 1998).
2.1.3.2 Aspectos geológicos e geomorfológicos
O estado de Rondônia apresenta altitudes que variam entre 70 e 600 metros, sendo
suas principais unidades de relevo: Planícies Amazônicas; Depressões (Amazônia Meridional,
Guaporé e Solimões); Planaltos (Amazônia Meridional e dos Parecis); Pantanal do Guaporé
(BRASIL, 1978, p. SC - 20).
O município de Ji-Paraná, situado na região central do estado de Rondônia, possui
um relevo predominantemente constituído sobre rochas do embasamento cristalino (BRASIL,
2007), e conforme Dias (2011) cita, o município se insere sobre uma altitude média variando
entre os 130 a 580 metros. No perímetro urbano, a altitude varia de 130 a 230 metros, com
relevo predominante caracterizado como suave e ondulado.
2.1.3.3 Aspectos pedológicos
De acordo com Leite (2004), os solos da bacia do Rio Machado, regionalmente no
domínio do município de Ji-Paraná, apresentam uma distribuição espacial bastante
heterogenia, com áreas onde predominam solos muitos arenosos (pobres em cátions) e
“manchas” isoladas de solos com maiores teores de argilas (rico em cátions).
Conforme o Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentado (PTDRS, 2007,
p. 26), “os solos encontrados na região são na grande parte compostos por latossolos e
argissolos. Os latossolos são solos bem intemperizados, ou seja, bem desenvolvidos: solos
profundos (de 1 a 2 metros) ou muito profundos (mais de 2 metros), bem drenados e com
pouca diversidade de cor e textura”. Por essas características, “apresentam maiores
resistências aos processos erosivos e, ao todo, são solos com baixa fertilidade sendo
necessária correção e adubação, exceto o latossolo vermelho com fertilidade natural”.
Segundo Krusche et al. (2005), 60% da área de drenagem do rio Ji-Paraná possui
solos eutróficos, predominantemente latossolos e podzólicos, com potencial agrícola, ao
contrário do que ocorre na maior parte do estado, em que há predominância de solos antigos e
extremamente intemperizados, com baixos níveis de nutrientes, elevada acidez, baixa
35
capacidade de troca catiônica e condições de drenagem pobre, favorecendo, por exemplo, o
surgimento e, ou intensificando, os processos erosivos, e consequentemente, o assoreamento
dos recursos hídricos.
2.1.3.4 Aspectos hidrográficos e vegetação
Conforme Zimpel Neto (2009) a hidrografia da região é constituída pela bacia do Rio
Machado. Os maiores rios que compõem sua hidrografia são o Urupá e o Machado, estes por
sua vez abrangem uma superfície de aproximadamente 92.500 km², atravessando o estado
sentido sudoeste-norte, sendo o mais extenso do estado.
A bacia do Rio Machado apresenta um diversificado regime hidrográfico. No
período de cheia, de dezembro a maio, as áreas localizadas próximas as 33 margens existentes
costumam ser alagadas e no período de seca, de junho a agosto, o volume diminui, a ponto de
ser possível andar em algumas partes do rio por cima de pedras que se elevam até a superfície.
Nada obstante, esses mesmos aspectos podem ser verificados nos diversos corpos hídricos da
região.
A bacia do Rio Machado apresenta um regime hidrográfico como muitos outros rios
da região. No período de cheia, de dezembro a maio, as áreas localizadas próximas as 33
margens costumam ser alagadas e no período de seca, de junho a agosto, o volume diminui,
sendo possível andar em algumas partes por cima de pedras que chegam até a superfície.
Krusche et al. (2005) assinalam que, a hidrologia é um dos principais agentes de
modelagem do terreno, contribuindo também para alteração dos tipos de solo. Neste sentido, a
hidrologia é responsável por dissecar o relevo em rochas mais resistentes e depositar o
material menos resistente nas calhas dos principais rios, no caso, o rio Machado e seus
tributários, dentre os quais se encontra o rio Urupá.
Os tipos de vegetação encontrados na região são as Florestas Ombrófila Aberta,
Florestas Ombrófilas Densas (Floresta Amazônica), Florestas Estacionais Semidecidual,
Savanas e Vegetação Aluvial, com predominância de Florestas Densas a noroeste do estado.
Naturalmente, a vegetação predominante do estado de Rondônia é a floresta fluvial
amazônica. Já a região central a vegetação predominante é a do tipo floresta ombrófila densa,
formada basicamente por palmeiras, trepadeiras lenhosas, epífitas e árvores de médio e grande
porte (BRASIL, 1978).
36
2.2. ANÁLISE MULTITEMPORAL DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO
Uma análise multitemporal é composta por imagens de satélite organizadas sob o
formato de um mapa. A partir desta análise é possível explorar e compreender a evolução
física paisagística da área analisada, e, além disso, vem a fornecer um eficiente suporte
técnico e aplicado a fim de subsidiar futuras propostas e medidas que buscam por soluções
que condizem à realidade ambiental (BENEDETTI, 2010).
A obtenção destes mapas temporais de cobertura da terra, permite identificar a
dinâmica da paisagem, bem como avaliar “os rumos tomados pela sociedade no que diz
respeito ao crescimento espacial e à exploração dos recursos naturais” (TORRES, 2011, p.
30).
Neste trabalho será realizada uma análise multitemporal na área de implantação do
Bairro Jardim São Cristóvão, a partir do uso de imagens do satélite LANDSAT 5, sensor TM
(Thematic Mapper), Banda 5, fornecidas pela U.S. Geological Survey Global Visualization
Viewer (USGS Glovis), com o objetivo de identificar e quantificar as diferentes classes de uso
da terra encontradas na área da pesquisa nos anos de 1986, 1996, 2006 e 2011; além de cruzar
as informações das classes temáticas com a do uso da terra, evidenciando se a cobertura
vegetal e os usos afins sofreram alterações no decorrer dos 25 anos de análise. É importante
ressaltar que a escolha das imagens não foi aleatória, e sim devida à disponibilidade de
imagens nos anos selecionados.
Para tanto, foi utilizado o software intitulado “Sistema de Processamento de
Informações Georreferenciadas” (SPRING, versão 5.2) para a execução do processo de
classificação visual supervisionada das imagens de satélite, no qual se determina uma classe
temática que utiliza diferentes informações de um determinado grupo de pixels das imagens
selecionadas para o estudo. Nesta função o software fornece um quadro de referência para a
organização e hierarquização destas informações (NOVO, 1992 apud ARAÚJO, 2006).
A partir do uso do SPRING 5.2 para a classificação visual supervisionada, o software
se utiliza das informações espectrais de cada pixel da imagem e as informações espaciais que
envolvem a relação entre o pixel e seus vizinhos, procurando reconhecer as áreas homogêneas
nos dados orbitais, para então serem baseados nas propriedades espectrais e espaciais dessas
áreas na imagem (MOREIRA, 2001).
Para elaborar a classificação, neste trabalho, e a partir do conhecimento prévio da
área de estudo e de critérios de análise visual como: textura, tonalidade, cor e forma, foram
37
definidas 04 (quatro) classes de uso e ocupação do solo: Remanescentes Florestais Urbanos;
Cursos D‟Água; Áreas Antropizadas; Áreas Arenizadas.
2.3 MATRIZ DE AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS
A matriz de avaliação de impactos ambientais elaborada para a área de estudo, no
caso, o Bairro Jardim São Cristóvão, representa uma ferramenta prática de aplicação
responsável em permitir que os impactos identificados sejam avaliados, e, independentemente
da fase de implantação e operação da atual área de estudo, seja possível uma importante
discussão que represente a real qualidade ambiental.
A matriz utilizada foi “desenhada” com base nas matrizes propostas por Carrara
(2010) e Amorim (2004), porém algumas adaptações foram realizadas, de forma a adequar a
matriz à realidade do trabalho.
A estrutura contemplará em suas categorias de informação, uma associação entre os
equipamentos urbanos (causa) e os impactos ambientais (efeito) identificados na área de
estudo, no caso, a área de implantação do bairro Jardim São Cristóvão, conforme a aplicação
de Carrara (2010). Os equipamentos urbanos escolhidos são a malha urbana; o esgotamento
sanitário; o gerenciamento de resíduos; os dispositivos de drenagem; e o sistema viário. Para
auxiliar na identificação e avaliação dos impactos ambientais será utilizada a escala de cores
proposta por Amorim (2004), a fim de facilitar a visualização e melhor interpretar os impactos
deflagrados.
Em relação à escala de cores para o preenchimento e visualização da matriz de
interação a ser utilizada, será composta, basicamente, por quatro cores distintas, vermelho,
amarelo, verde e cinza, sendo estas relacionadas à percepção dos impactos. Respectivamente,
as cores selecionadas para a escala possuirá a seguinte gradação: impacto alto (cor vermelha),
impacto médio (cor amarela), impacto baixo (cor verde) e o impacto não significativo ou
inexistente (cor cinza).
Portanto, a critério compatível das condições específicas da área de estudo, o método a
ser empregado nesta pesquisa será o das matrizes de interações que relacionam as ações com
os fatores ambientais. Este método se utiliza de uma referência estudada e de critérios para se
possa determinar de forma mais precisa a significância das diferentes alterações ambientais.
Entre os critérios utilizados para a execução da avaliação de impactos ambientais
proposta para a área de estudo, destacam-se da análise multitemporal de imagens de satélite,
em conjunto com as visitas a campo, tanto para a observação local, quanto para entrevistas
38
com os moradores do bairro, e, do conhecimento prévio da área observando pessoalmente as
diversas alterações transcorridas no decorrer do tempo, demonstrou ao pesquisador uma
relação e uma oportunidade de suma importância em agregar esse conjunto de informações
para melhor preencher a matriz de avaliação no que condiz com a verdadeira realidade
ambiental.
Outro critério utilizado, e não obstante ao que foi citado anteriormente, mas a nível
formal, foi realizada uma visita ao bairro com o proprietário de um referenciado escritório
imobiliário da cidade de Ji-Paraná. Ele foi o fundador e o primeiro proprietário da atual área
de implantação do Bairro Jardim São Cristóvão. Nesta conversa, o proprietário revelou toda a
problemática ambiental e as dificuldades deparadas em função da implantação e operação de
uma antiga área que atualmente tem-se proposto uma nova expansão.
A partir desta conversa, foi possível constatar as observações e as alterações no
decorrer dos anos, assim, afirma os resultados pretendidos desta pesquisa.
Para o conceito da avaliação de impacto ambiental e do proposto uso da matriz de
interação, é importante destacar que, os valores a serem atribuídos neste trabalho estão de
acordo com a observação individual, resultado do estudo bibliográfico e da pesquisa, e não se
configuram como a as únicas possibilidades de associação.
Deste modo, em toda a linha metodológica a ser utilizada neste estudo constituirá de
mecanismos estruturados para comparar, organizar e analisar as informações relacionadas aos
impactos ambientais, inserindo alguns meios de apresentação escrita e visual de determinadas
informações.
39
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 ANÁLISE MULTITEMPORAL DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO
A partir do uso de imagens do satélite LANDSAT 5, sensor TM-5, foi possível
realizar uma análise multitemporal do uso e ocupação do solo do Bairro Jardim São
Cristóvão. Para tanto, esta análise temporal utilizou-se de quatro imagens de satélite
distribuídas em série entre os anos de 1986, 1996, 2006 e 2011 (FIGURA 3). Essa série
temporal foi escolhida a fim de avaliar, de maneira cronológica, a expansão urbana e a forma
de ocupação, e, disponibilizar informações referentes aos impactos ambientais da área de
estudo.
Figura 3 – Carta imagem representando a análise multitemporal dos anos 1986, 1996, 2006 e 2011 de
imagens do satélite LANDSAT 5 - TM5.
Visualmente, as imagens do satélite LANDSAT 5 – TM5 representadas pela a
análise multitemporal acima, mas isso é por conta da própria resolução das imagens
fornecidas, ou melhor, as imagens de satélite são dispostas com uma resolução já definida.
40
Logo, quando se aplica um “zoom”, isso quer dizer, um aumento na distância, para
melhor diferenciar as classes e posteriormente as mudanças, tem-se uma pequena distorção.
Fica claro que mesmo com essas alterações, não se altera a interpretação visual das imagens
de satélite selecionadas. Não obstante, proporciona condições eficazes para a realização da
interpretação dos dados por meio de suas cores e texturas.
Ao observarem-se os resultados da análise multitemporal dos anos de 1986, 1996,
2006 e 2011 (FIGURA 3) e da caracterização das classes temáticas de uso e ocupação do solo
discutida anteriormente, na área do Bairro Jardim São Cristóvão, percebe-se uma notável
situação de alteração do ambiente, envolvendo o uso e a ocupação do solo da área em relação
à dinâmica de supressão dos remascentes florestais urbanos e de degradação do meio natural.
Das quatro classes analisadas, a primeira classe definida como “áreas arenizadas”,
constitui, segundo Klamt (1994), aquela onde os solos apresentam reduzido conteúdo de
argila e de matéria orgânica, com baixos níveis de fertilidade e baixo grau de agregação –
características relacionadas ao material geológico e aos processos de evolução das superfícies
geomórficas e de retrabalhamento de sedimentos.
Outro fator preponderante que propicia o estabelecimento deste processo de
degradação é a perda da cobertura vegetal, expondo o material arenoso à incidência dos
agentes erosivos. Um dos principais agentes da arenização é a erosão hídrica, cujo efeito
destrutivo é proporcional à velocidade das águas e à redução da cobertura vegetal (SOUTO,
1984), tendo sua capacidade erosiva potencializada pela própria fragilidade e incapacidade de
resistência dos sítios de arenização (AB‟SABER, 1995).
A classe “Cursos D‟Água” compreende principalmente córregos e igarapés, como
também, áreas sazonalmente alagadas ou inundadas. Em sua totalidade, o município de Ji-
Paraná e a área em estudo, encontram-se inseridas na zona de planície inundável do Rio Ji-
Paraná ou Machado, fato que favorece, conforme Santos (2011), o desenvolvimento de
inundações em períodos de intensa precipitação.
A classe “Remascentes Florestais” representa toda a extensão vegetativa constituída
por diferentes formações arbóreas, sejam áreas em formação inicial ou espécies adultas.
Na área de influência do Bairro Jardim São Cristóvão a vegetação predominante é a
do tipo buritizal (Mauritia vinifera e M. flexuosa), em transição a floresta estacional arbóreo-
arbustiva (vegetação de baixo a médio porte), ambas distribuídas de forma isolada e
circunscritas por lençóis d‟água aflorantes.
Segundo Eiten (1994), o buritizal é um importante e responsável ecossistema
dependente de um equilíbrio ambiental influenciado pela disponibilidade hídrica local. É
41
importante também no que se refere à biodiversidade, sendo uma área fundamental de
localização específica de diversas espécies da flora e fauna, com a função de proporcionar um
corredor ecológico que interliga diversos fragmentos florestais.
No município de Ji-Paraná, os buritizais que compõem este ecossistema são
protegidos legalmente pela lei municipal n° 1.113, de 19 de novembro de 2001 que dispõe
sobre a política ambiental, o sistema municipal de meio ambiente e de controle ambiental,
instituindo neste ato o código ambiental do município de Ji-Paraná.
Em conformidade a este código a lei n° 2.187, de 24 de agosto de 2011, que dispõe
sobre o desenvolvimento urbano no município de Ji-Paraná, revisa e atualiza o Plano Diretor
do município, insere este ecossistema como parte integrante dos espaços territoriais
especialmente protegidos, classificando-os como “ecossistemas frágeis” e considerando-os
como uma “zona de proteção paisagística natural (ZPPn)” com a finalidade de implementar as
estratégicas da Política de Urbanização e Uso do Solo do município.
Portanto, a vegetação formada por buritizais compõem as características de formação
de zonas úmidas, ou seja, áreas que são sazonalmente alagadas ou inundadas e constituídas
por solos hidromórficos, resultando em brejos estacionais e/ou permanentes.
Dessa forma, os buritizais podem ser classificados como um Ecossistema
Dependente das Águas Subterrâneas (EDAS) ou internacionalmente conhecida como uma
zona de GDE (Groundwater Dependent Ecosystems), já que produz uma interface com a
hidrogeologia local. Vale ressaltar que por possuir esta relação direta com a hidrogeologia
local, qualquer alteração seguida por alguma forma de poluição deste ecossistema, pode
acarretar sérios problemas ambientais relacionados com a poluição no nível d‟água.
Para uma área de EDAS, Ab‟Saber (1971), caracteriza-se como aquela que
tipicamente apresenta um sistema de drenagem superficial, geralmente mal definido,
regulado pelo regime climático regional, composto de uma rede fina e mal definida de
caminhos d‟água intermitentes, em que, na estação seca, o lençol d‟água permanece abaixo
dos talvegues desses pequenos vales, somente contornando as cabeceiras de forma rasa e
pantanosa com a presença de veredas de buritizais.
Por fim, a classe definida como “Áreas Antropizadas” configura-se como todo e
qualquer tipo de ocupação ou alteração das condições naturais do solo da área do Bairro
Jardim São Cristóvão. Ou seja, cuja área onde as suas características originais (solo,
vegetação, relevo e regime hídrico) foram alteradas por consequência de atividade humana.
42
A Figura 4, a seguir, apresenta uma carta imagem que representa a
multitemporalidade temática em contribuição de cada uma das classes selecionadas na área
total do Bairro Jardim São Cristóvão.
Figura 4 - Carta imagem representando a classificação temática dos anos 1986, 1996, 2006 e 2011 de
imagens LANDSAT - TM5.
Ao examinar o gráfico da Figura 5, originado a partir da quantificação das classes
temáticas em relação à área ocupada em percentagem, pode-se observar que a maior diferença
encontrada, no período de 1986 a 2011, está entre as classes áreas arenizadas e cursos d‟água.
Em relação à área antropizada, observa-se um aumento acentuado na região leste, ocorrendo
uma notável substituição desta classe em relação à área arenizada, enquanto na mesma região,
nota-se a diminuição dos cursos d‟água. Já a classe “Remanescentes Florestais”, observa-se
uma intensa diminuição da área de cobertura na região central do Bairro Jardim São
Cristóvão, entre os anos de 1986 e 2011.
43
Para a classe “Remanescentes Florestais”, em 1986, existia uma cobertura vegetal
sobre uma área de 41% da região onde atualmente está inserido o Bairro Jardim São
Cristóvão. A partir deste ano, houve uma remoção acelerada das áreas de remascentes
florestais, relacionada com o aumento da ocupação urbana sobre a área de influência do
bairro, e ao longo do tempo, consequentemente esta tendência pode ser verificada para o ano
de 2011, onde da área total do Bairro Jardim São Cristóvão, estes remascentes agora são
representados por 24%, quando comparado ao ano de 1986.
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
50%
1986 1996 2006 2011
CURSOS D' ÁGUA ÁREAS ANTROPIZADAS
ÁREAS ARENIZADAS REMANESCENTES FLORESTAIS
Figura 5 – Gráfico representando a quantificação das classes temáticas em relação à área
ocupada.
Área (%)
44
Com a degradação da região, do mesmo modo as veredas de buritizais também têm
sido atingidas (FIGURA 7), não se respeitando a legislação em vigor, na qual está
estabelecido que as mesmas sejam áreas de preservação permanente, portanto áreas
intocáveis, conforme consta na Resolução Conama N.° 303, de 20 de Março de 2002, que
Figura 7 – Implantação das vias de acesso.
Maio de 2012. Fonte: Autor.
Figura 8 – Ocupação urbana. Maio de 2012.
Fonte: Autor.
Figura 6 – Gráfico representando a quantificação da classe “Remanescentes Florestais” em
relação à área ocupada.
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
50%
1986 1996 2006 2011
41%38%
28%
17%
CURSOS D' ÁGUA ÁREAS ANTROPIZADAS
ÁREAS ARENIZADAS REMANESCENTES FLORESTAIS
Área (%)
45
dispõe sobre parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente (APP), em
seus artigos 2°, inciso III, e 3° diz:
Art. 2º [...] III – vereda: espaço brejoso ou encharcado, que contêm nascentes ou
cabeceiras de cursos d‟água, onde há ocorrência de solos hidromórficos,
caracterizados predominantemente por renques de buritis do brejo (Mauritia
flexuosa) e outras formas de vegetação típica.
Art. 3º - Constitui Área de Preservação Permanente a área situada: [...]
IV – em vereda e em faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima de
cinquenta metros, a partir do limite do espaço brejoso e encharcado. [...] (BRASIL,
2002).
Não obstante desta situação, tanto o Plano Diretor, pela Lei N.° 2.187, de 24 de
agosto de 2011, quanto o Código Ambiental do Município de Ji-Paraná, instituído pela Lei
N.° 1.136, de 21 de dezembro de 2001, confirmam que estes fragmentos florestais urbanos,
em especial as áreas de nascentes, áreas de várzeas, buritizais, igarapés e outras relevantes
para a manutenção do ciclo biológico, estão inseridas na Zona de Proteção Paisagística
Natural (ZPPn), onde são áreas de proteção de paisagem com características excepcionais de
qualidade e fragilidade visual.
Mais adequadamente, o plano diretor enfatiza ainda em seu Art. 33, inciso XXII,
“b”diz:
Art. 33, XXII, “b” [...] fica vedado o parcelamento de terrenos sujeitos a inundação,
situados à beira do curso d'água periodicamente invadidos pelas cheias, ficando
também vedada a implantação de equipamentos domésticos, industriais e agro-
industriais na zona de entorno dos canais fluviais para a defesa da mata galeria.
Em consonância a essa situação, a classe “Cursos D‟Água” também sofreu drásticos
efeitos de degradação ao longo do tempo, alterando principalmente os níveis de umidade dos
solos desta região. Isso pode ser verificado a partir do ano de 1986, quando a área ocupada
por esta classe representava 30%. Por seguidas reduções, no ano de 2011, esta classe
representava 5% da de implantação do bairro. Este acréscimo de 1% relacionado ao ano de
2006 pode ser explicado pelo fato que na atual área, mais precisamente, ao sul da área de
estudo, foram implantados alguns represamentos de água por proprietários circunvizinhos a
área total de influência do Bairro Jardim São Cristóvão.
46
Em relação aos córregos e igarapés inseridos na área de influência do Bairro Jardim
São Cristóvão, as matas ciliares foram totalmente devastadas, e consequentemente, propiciou-
se o carreamento de sedimentos, contribuindo desta maneira para o assoreamento destes
corpos d„águas (FIGURA 11). Outro fator relevante está relacionado ao aterramento destes
recursos hídricos, para instalar, operar, ampliar qualquer tipo de obras ou atividades
relacionadas às intervenções urbanísticas.
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
50%
1986 1996 2006 2011
30%
13%
4% 5%
CURSOS D' ÁGUA ÁREAS ANTROPIZADAS
ÁREAS ARENIZADAS REMANESCENTES FLORESTAIS
Figura 9 – Gráfico representando a quantificação da classe “Cursos D‟Água” em relação à
área ocupada.
Figura 10 – Principal curso d‟água do Bairro
Jardim São Cristóvão. Maio de 2012.
Fonte: Autor.
Figura 11 – Curso d‟água degradado. Maio de
2012. Fonte: Autor.
Área (%)
47
Ao observar a evolução do processo de remoção dos remascentes florestais e da
degradação dos corpos d‟água da área de influência do Bairro Jardim São Cristóvão,
consequentemente, propiciou-se o estabelecimento de novos processos de degradação, neste
caso, representado pela classe áreas arenizadas.
Diante do gráfico apresentado, a classe “Áreas Arenizadas”, no ano de 1986,
constituía 9% do total da área de estudo, onde atualmente se localiza o Bairro Jardim São
Cristóvão. Já no ano de 2011, verificou-se um aumento de 36%, em relação ao ano de 1986,
representando desta forma os atuais 45% da presença de áreas arenizadas inseridas na
localidade do bairro, constatando o avanço de maneira generalizada e gradativa (FIGURA
14).
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
50%
1986 1996 2006 2011
9%
16%
39%
45%
CURSOS D' ÁGUA ÁREAS ANTROPIZADAS
ÁREAS ARENIZADAS REMANESCENTES FLORESTAIS
Figura 12 – Gráfico representando a quantificação da classe “Áreas Arenizadas” em relação
à área ocupada.
Área (%)
48
Essa situação não é tão precisa nas regiões mais a Oeste, onde, a partir do ano de
2006, como pode ser visualizado na Figura 4, as áreas quando classificadas como arenizadas
foram substituídas por áreas antropizadas, fato esse relacionado ao incentivo de abertura de
novos loteamentos a partir do programa do governo federal “Minha Casa Minha Vida”, onde
a população é beneficiada com descontos, subsídios e redução dos valores para comprar ou
financiar empreendimentos habitacionais e outros projetos.
Em março de 2010 o Governo Federal lançou o segundo Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC 2) com o objetivo de para a priorizar a melhoria de vários setores de
infraestrutura urbana por uma previsão de investimentos de aproximadamente R$ 1,59 trilhão.
A partir daí, potencializou-se programas como “Água e luz para todos”, “Cidade melhor”,
“Comunidade cidadã”, “Minha casa, minha vida” e “Transportes”.
Por conta desses programas governamentais, e também por conta do cenário
econômico nacional favorável, houve então um significativo crescimento do mercado
imobiliário.
Com relação a esses cenários, a classe “Áreas Antropizadas” aplicada à análise
multitemporal, ao longo do tempo, nota-se uma relação de absorção desses efeitos de
aceleração do crescimento para região em estudo (FIGURA 16).
Figura 6 – Área iniciando o processo de arenização.
Maio de 2012.
Fonte: Autor.
Figura 13 – Área sob influência do processo de
arenização. Maio de 2012.
Fonte: Autor.
Figura 14 – Área iniciando o processo de
arenização. Maio de 2012.
Fonte: Autor.
49
Anteriormente a isso, no ano de 1985, a área hoje denominada como Bairro Jardim
São Cristóvão ainda não existia, mas, já havia algumas habitações clandestinas e irregulares
implantados na área e constituídos na sua grande maioria por propriedades rurais. Percebendo
uma possível dinâmica imobiliária, o proprietário então decidiu, no ano de 1986, legalizar
administrativamente a área de interesse registrando-a em cartório de registros de imóveis do
município de Ji-Paraná, para dessa forma, ser averbada toda e qualquer tipo de área
construída.
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
50%
1986 1996 2006 2011
20%
33%
28%
32%
CURSOS D' ÁGUA ÁREAS ANTROPIZADAS
ÁREAS ARENIZADAS REMANESCENTES FLORESTAIS
Área (%)
Figura 17 – Gráfico representando a quantificação da classe “Áreas Antropizadas” em
relação à área ocupada.
Figura 15 – Implantação das vias de acesso.
Maio de 2012. Fonte: Autor.
Figura 16 – Ocupação urbana. Maio de 2012.
Fonte: Autor.
50
Não obstante, a partir da análise multitemporal e temática, em 1986 a área
antropizada constituía apenas 20% da totalidade da região. Em 2006, nota-se uma redução de
5% das localidades antropizadas, totalizando 28%. Essa diminuição destaca-se pelo fato do
aumento da degradação por arenização. Diferentemente, no ano de 2011, com o aumento do
poder de compra da população em conjunto à facilidade de aquisição adquiridos pelos
programas do governo federal, houve então um aumento de 4% das áreas antropizadas,
resultando em 32% da área total do então Bairro Jardim São Cristóvão.
Portanto, a partir dos resultados da análise multitemporal permitiu-se um melhor
detalhamento da superfície da área de interesse, apresentando assim, informações mais
precisas e confiáveis em relação à área de implantação do Bairro Jardim São Cristóvão.
3.2 MATRIZ DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL
Neste tópico, será feita apenas uma breve discussão dos impactos identificados para
cada meio (físico e biótico), destacando apenas os impactos ambientais de maior relevância,
no intuito de comparar os impactos em relação aos equipamentos urbanos.
A seguir, a legenda e a estrutura matricial utilizada e preenchida.
LEGENDA
Impacto alto
Impacto médio
Impacto baixo
Impacto não significativo ou não se aplica
51
Tabela 1 – Matriz utilizada na avaliação de impactos ambientais.
Causa Efeito
Equipamentos Urbanos
M
alh
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to
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Me
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o
Alteração da paisagem natural
Alteração das feições naturais da topografia
Aumento da superfície impermeável
Alteração da drenagem natural das águas
Intensificação de processos erosivos
Assoreamento dos cursos d‟água
Entupimento do sistema de drenagem
Intervenção nos cursos d‟água
Redução da disponibilidade hídrica local
Perda da qualidade dos solos
Alteração da qualidade das águas superficiais
Poluição do ar por material particulado
Poluição sonora por ruídos e vibrações
Alteração do microclima
Me
io
Bió
tic
o Fragmentação e Perda de habitats
Interferência na diversidade de espécies e de ecossistemas
Redução da cobertura vegetal
Supressão da mata ciliar
Ao analisar a matriz de avaliação dos impactos ambientais, observa-se que o
equipamento urbano “Malha Urbana” é um dos maiores responsáveis pela deflagração do
maior número de impactos identificados nos meios físicos e bióticos.
O fato da malha urbana trazer tantos impactos à área do Bairro Jardim São Cristóvão
pode ser explicado, principalmente, pela ocupação desordenada sobre uma área com
fragilidades para suportar as atividades antrópicas e susceptível aos processos erosivos, por
exemplo, no que consta a Figura 18. Pode-se também observar a ineficácia da gestão
municipal aplicada no que se refere à drenagem das águas pluviais, conjuntamente à falta de
medidas de controle e monitoramento e/ou de medidas mitigadoras.
52
Com relação aos equipamentos urbanos “Sistemas Viários e Dispositivos de
Drenagem”, observa-se que os mesmos possivelmente foram implantados perpendicularmente
às curvas de nível e em áreas suscetíveis a erosão, assim, como as habitações, atingindo o
máximo de escoamento por um grande volume de água superficial insustentável pelas vias
(FIGURA 19). Outro fator importante sobre os dispositivos de drenagem que também pode
ser destacado está a ineficiência de remoção das águas pluviais, na qual acarreta a diminuição
da durabilidade do pavimento, aumentando dessa forma, os prejuízos aos moradores locais.
Figura 18 – Área susceptível à erosão. Abril de 2012.
Fonte: Autor.
Figura 19 – Deterioração do pavimento das vias de acesso.
Abril de 2012. Fonte: Autor.
53
Em contribuição ao sistema viário e de drenagem da área do Bairro Jardim São
Cristóvão nota-se que parte do fluxo de água, ou seja, do escoamento superficial existente é
direcionado para os principais córregos e igarapés que circundam o bairro. Em consequência
disso, tem-se um aumento da energia dos fluxos de água e uma intensificação do transporte de
sedimentos para o leito dos corpos hídricos, como pode ser visto na Figura 20.
Contribuindo para a impermeabilização do solo, a malha urbana, juntamente com os
dispositivos de drenagem irão colaborar para a diminuição da infiltração no solo e o aumento
do escoamento superficial, que leva consigo os sedimentos (incluindo resíduos sólidos
urbanos) para o curso d‟água. Possivelmente, com o carreamento de sedimentos acelera e a
velocidade do fluxo do curso d‟água diminui, ocasionando o assoreamento dos cursos d‟água
e neste mesmo aspecto as regiões a jusante aonde são mais atingidas (FIGURA 20).
Na inexistência da mata ciliar, diminui-se a capacidade de filtragem e de proteção do
solo, evitando possíveis processos erosivos e a chegada de sedimentos no curso d‟água, além
de contribuir para o escoamento superficial e desfavorecendo a infiltração.
No uso da canalização e do tamponamento dos cursos d‟água, principalmente quando
empregados nas avenidas marginais ou nas ruas asfaltadas, nota-se que tais acarretam a
eliminação da maioria dos habitats terrestres e aquáticos no Bairro Jardim São Cristóvão.
Dessa forma, a biodiversidade diminui e o ecossistema natural é profundamente alterado,
assim como também, provocam alterações na topografia, juntamente com o aumento
significativo da velocidade do fluxo no curso d‟água.
Figura 20 – Assoreamento do leito do igarapé principal da
região. Maio de 2012. Fonte: Autor.
54
A mata ciliar auxilia muito na manutenção da biodiversidade e possibilita uma maior
harmonia no convívio entre o ambiente natural e o construído. Porém, a mata ciliar natural é a
responsável em criar um grande número de hábitats terrestres e por auxiliar na manutenção
dos hábitats aquáticos, proporcionando sombreamento e favorecendo a manutenção de um
microclima adequado. Além disso, funciona também como um corredor ecológico, facilitando
a conectividade entre as áreas de vegetação, protegendo, assim, a biodiversidade (EITEN,
1994).
Outro fator preponderante é a questão da proliferação de vetores e as doenças de
veiculação hídricas, que de certa forma, podem aumentar consideravelmente com as
enchentes, principalmente se o curso d‟água estiver poluído.
Na Figura 22 é possível ressaltar a inexistência de um conciso sistema de drenagem
do empreendimento funciona como um concentrador de energia que acelera os processos de
erosão do solo, ocasionando a formação de sulcos e ravinas. Isso é possível em função da
associação de um solo desprotegido pela retirada da vegetação e impermeabilizado pela
própria implantação da malha urbana, tendo então o aumento do escoamento superficial
potencializado pela ineficiência do sistema de drenagem.
Figura 21 – Canalização e Tamponamento do principal curso
d‟água do Bairro Jardim São Cristóvão. Maio de 2012.
Fonte: Autor.
55
Percebe-se que a origem da erosão está associada à falta de planejamento adequado
que considere as particularidades do meio físico e às condições sociais e econômicas das
tendências de desenvolvimento da área urbana.
No Bairro Jardim São Cristóvão as principais causas de desencadeamento e evolução
da erosão está na indicação do traçado inadequado do sistema viário, que é agravado pela falta
de pavimentação, guias e sarjetas, intensificando a deficiência do sistema de drenagem de
águas pluviais e servidas.
Em resposta a esta deficiência, no momento da ocorrência de chuvas de grande
intensidade, o fluxo atinge rapidamente as áreas a jusante, nas quais haverá maior
possibilidade de enchentes e inundações, e o efeito da erosão será mais intenso.
Possivelmente, as antigas áreas ocupadas por meandros serão pontos de alagamento,
conforme a figura a seguir.
Figura 22 – Feição erosiva sobre uma das principais vias de
acesso. Abril de 2012. Fonte: Autor.
56
A fim de promover e assegurar a gestão integrada de infraestrutura e saneamento o
plano diretor do município de Ji-Paraná, estabelece que uma moradia digna seja aquela que
dispõe de instalações sanitárias adequadas, que garanta as condições de habitabilidade, e que
seja atendida por serviços públicos essenciais, entre eles: água, esgoto, energia elétrica,
iluminação pública, coleta de lixo, pavimentação e transporte coletivo, com acesso aos
equipamentos sociais básicos.
O sistema de esgotamento sanitário implantado no Bairro Jardim São Cristóvão é
composto somente por dispositivos individuais de tratamento primário domiciliar. As
unidades que constituem todo o sistema são apenas as chamadas “fossas negras”, que nada
mais é do uma espécie de fossa séptica, mas diferentemente em seu método construtivo é
realizada por uma escavação sem revestimento interno onde os dejetos, ou seja, todo o esgoto
doméstico cai no terreno, parte se infiltrando e parte sendo decomposta na superfície de
fundo. Neste dispositivo não existe qualquer volume de água ou dejeto que escoe em uma
determinada superfície de área.
A respeito do gerenciamento dos resíduos, nesse caso, a construção civil se mostra
como a maior indutora da grande quantidade de entulhos gerados na área de implantação do
Bairro Jardim São Cristóvão. Por não haver pontos de coleta ou acondicionamento destes
resíduos da construção civil, a disposição é realizada nas margens dos cursos d‟água. Já os
resíduos domésticos não possuem tantas irregularidades, isso porque são coletados e
transportados por uma empresa particular contratada para pelo município de Ji-Paraná.
Figura 23 – Antigo meandro do igarapé principal. Abril de
2012. Fonte: Autor.
57
3.3 MEDIDAS DE CONTROLE AMBIENTAL
As medidas de controle ambiental recomendadas para a presente área de estudo
partem do objetivo conceitual da bioengenharia de solos.
A bioengenharia de solos é uma tecnologia ambiental que utiliza de práticas
vegetativas associadas a técnicas flexíveis de engenharia para aliviar os principais problemas
ambientais relacionados a diferentes situações, onde, para a maioria dos casos, ocorrem nas
margens de cursos d‟água comprometidas pela instabilidade de taludes provocada
principalmente por processos erosivos. Distintamente de outras tecnologias, onde as plantas
são simplesmente utilizadas como um componente estético de projeto, nos sistemas de
bioengenharia de solos as plantas são importantes componentes estruturais (LEWIS, 2000, p.
2 apud PINTO, 2009, p. 19).
No contexto da valoração ambiental, Solera (2012) cita que “a bioengenharia de
solos surge como uma solução inovadora. Tecnologia esta utilizada desde a antiguidade, em
que se associa materiais naturais (sementes, estacas e feixes de plantas vivas) a inertes
(pedras, madeiras, metais, geotêxteis) nos quais formam sistemas estruturais vivos que
contribuem para estabilizar, proteger, recuperar e recompor diversificados segmentos”
ambientais.
Em relação aos principais impactos ambientais observados na área de implantação do
Bairro Jardim São Cristóvão tem-se a proposição das seguintes técnicas de bioengenharia:
a) Recobertura Vegetal
Bertoni e Lobardi Neto (1993) recomendam que para áreas de baixa produtividade e,
ao mesmo tempo, muito susceptíveis à erosão, adotar práticas vegetativas é uma das melhores
medidas de prevenção contra os efeitos da degradação por erosão e assoreamento.
Para isso Bertoni e Lobardi Neto (1993); Galerani et al. (1995) atribuem às
leguminosas a capacidade de estabilização do solo, controle da erosão, rápido uso e acúmulo
de água, nutrientes e de matéria orgânica, favorecendo ao estabelecimento de uma vegetação
densa e permanente e a formação do solo.
Machado et al. (2005) afirmam que, a fim de melhorar a fertilidade do solo, o uso de
plantas leguminosas surge como alternativa interessante, já que têm a capacidade de se
associarem com microorganismos fixadores de nitrogênio (rizóbios), convertendo este
elemento em um tipo assimilável às plantas. Além disso, fósforo, fungos micorrízicos
arbusculares aumentam, com suas hifas, aumentam a área de contato e o volume de solo
58
explorado pelas raízes das plantas, aumentando assim a absorção de água e nutrientes com
destaque para o elemento fósforo, por sua baixa mobilidade nos solos tropicais.
Para a estabilização de taludes, pode ser utilizado o plantio da vegetação, tais como
gramíneas e leguminosas, ou intercaladas com espécies de crescimento rápido e lento
(GALERANI et al., 1995). Condizentes, Weill e Pires Neto (2007) acreditam que a vegetação
pode ser muito eficiente na estabilização de taludes por meio de cordões de vegetação
permanente. Os autores definem ainda que tal prática como sendo fileiras de plantas perenes e
de crescimento denso, dispostas com determinado espaçamento horizontal e sempre em
contorno ou em nível. Desta forma, atuam diminuindo a velocidade de escorrimento da
enxurrada, promovendo a infiltração e a deposição dos sedimentos transportados para o solo.
b) Parede vegetada de madeira (Parede de Krainer)
Durlo e Sutili (2005, p. 171) apresentam alguns dos métodos mais concretos e
objetivos da bioengenharia de solos, que foram testados, experimentalmente, para a
estabilidade de taludes fluviais no Arroio Guarda-Mor, localizados no estado do Rio Grande
do Sul. Os trechos escolhidos pelos autores apresentam certa similaridade com relação aos
principais problemas identificados nos taludes dos igarapés situados na área de implantação
do Bairro Jardim São Cristóvão. E, segundo os autores essa biotécnica se justifica por ser uma
alternativa economicamente e tecnicamente viável quando executadas.
Conforme os autores, a parede de Krainer é uma parede vegetada de madeira muito
eficiente para o revestimento de taludes fluviais, cujas funções compreendem ações conjuntas
entre a intervenção física e para o tratamento vegetativo, a fim de produzir na margem do
curso d‟água em estudo um efeito similar ao da Figura 24.
Figura 24 – Efeito esperado após o revestimento com madeira
e revegetação da margem. Fonte: Durlo e Sutili (2005, p. 173)
59
Como visto, esta biotécnica consiste na “cravação de estacas de madeira sobre o
talude, intercaladas por troncos no sentido longitudinal do talude e entre as estacas são
colocados feixes vivos”, ou seja, feixes constituídos por diversificadas espécies vegetativas,
que “após a degradação da madeira a vegetação presente assuma o papel de proteção física da
solução proposta” (DURLO; SURTILI, 2005, p. 176).
Para este estudo, o ponto a ser escolhido para a construção da parede vegetada de
madeira deve compreender um trecho suavemente curvo, formado por um talude instável,
como pode ser verificado na figura abaixo.
Neste sentido, a solução proposta por Durlo e Sutili (2005, p. 173 – 174) objetivou
através da intervenção física modificar o leito do curso d‟água, readequando sua caixa natural,
e sua margem, no intuito de estabilizar o talude e modificar a distribuição da velocidade da
água (FIGURA 26). Com relação ao tratamento vegetativo, de acordo com os princípios da
bioengenharia de solos, o mesmo deve ser executado em conjunto aos ajustes físicos sobre a
área, isso porque possibilita o desenvolvimento da vegetação, em um primeiro momento,
conjugando com o auxílio das proteções físicas, sendo suficiente até o momento em que sua
ação de proteção se consolide e seja suficiente para manter a estabilidade do talude conforme
a figura a seguir.
Figura 25 - Aspecto do trecho do Arroio Grande-Mor, antes da estabilização na
margem direita. Fonte: Durlo e Sutili (2005, p. 172).
60
Por fim, Durlo e Sutili (2005, p. 181) afirmam que esta biotécnica da engenharia
natural se mostra realmente executável e “capaz de resolver problemas com razoável grau de
dificuldade, mantendo o talude estável em um ângulo bastante alto (50 a 55°) e suportando
eventos torrenciais de proporções catastróficas”.
c) Soluções geossintéticas para a drenagem superficial
Entre as soluções em geossintéticos mais utilizadas para proteção de taludes e
superfícies são as geomantas (também conhecidas como TRM ou Turf Reinforcement Mats)
em polipropileno e as biomantas antierosivas fabricadas com fibra de côco e, ou palha
agrícola (FIGURA 27). As geomantas possuem resistência à fração superior às biomantas e,
por esse motivo, são indicadas para aplicação em taludes mais íngremes (>45º) e até mesmo
para revestimentos de margem, enquanto que as biomantas são indicadas para as inclinações
moderadas (<45º) e superfícies que se encontram em processo de erosão. Neste sentido, as
biomantas combatem principalmente os processos erosivos, contribuindo no controle de
sedimentos, função esta muito similar a uma cobertura constituída por serrapilheira.
Figura 26 - Aspecto atual do trecho tratado do Arroio Guarda-Mor.
Fonte: Durlo e Sutili (2005, p. 178)
61
Com relação às diversas aplicações das biomantas, Couto et al. (2010, p. 73) afirmam
que, ultimamente a utilização das biomantas não se restringindo apenas para o recobrimento
do solo, mas que podem “ser utilizadas em operações de drenagem superficial e sub-
superficial, proteção de cursos d‟água, construção de estradas, outras práticas de controle de
erosão, filtração, separação, contenção, membrana têxtil, reforçamento mecânico e
amortecimento de solos”.
Para a aplicação desta técnica de bioengenharia na área de implantação do Bairro
Jardim São Cristóvão poderá ser realizada através de determinados dispositivos de drenagem
superficiais – canaletas e escadaria hidráulica – sendo estes aplicados pontualmente sobre as
áreas que vem sendo alteradas principalmente pelos processos erosivos.
As canaletas são uma espécie de dispositivo de drenagem superficial instalados na
forma de canais de pequenas dimensões, destinados à captação das águas que, de algum
modo, poderiam afetar a estrutura do solo ou danificar os taludes.
Para cumprirem suas funcionalidades para algumas situações identificadas no bairro
Jardim São Cristóvão, as canaletas de drenagem deverão ter a capacidade suficiente para
captarem boa parte das taxas de escoamento superficial de pico. Em projetos de recuperação
ambiental, como é neste caso, Couto et al. (2010) recomendam para o dimensionamento
destas canaletas, serem consideradas as precipitações máximas ocorridas em 1 hora, sobre um
histórico de tempo de retorno de 5 a 10 anos.
A construção das canaletas se iniciará primeiramente pela escavação sobre o solo
local, em dimensões a serem definidas pelo responsável técnico, e imediatamente, serão
Figura 27 – Biomantas antierosivas, tendo como matérias-
prima fibra de côco e palha agrícola.
Fonte: Couto et al. (2010, p. 72).
62
compactadas para, posteriormente, serem revestidas com as biomantas antierosivas, como
pode ser verificado na figura abaixo.
Couto et al. (2010) ainda aconselham para o completo êxito desta técnica de
bioengenharia, que sob as biomantas deverá ser semeada uma mistura de sementes de
espécies de herbáceas (espécies de capim) com sistemas radiculares densos e profundos, e que
apresentem com baixa rugosidade superficial. Ressalta-se que as espécies de herbáceas mais
comuns na região são aquelas que abrangem o gênero Brachiaria, gramínea conhecida mais
popularmente como o capim braquiária, na qual caracteriza- se como uma espécie forrageira.
Em continuidade, para uma adubação adequada nestas canaletas, os autores orientam que
devem ser efetuadas em proporções conforme as características orgânicas das espécies
selecionadas.
Assim, segundo Couto et al. (2010, p.101) as canaletas exercerão sobre a área de
implantação do Bairro Jardim São Cristóvão “a função de atuarem como dispositivos de
drenagem secundária em áreas de menor declividade”, proporcionando “menor custo de
implantação; menor impacto ambiental para implantação; e dispensa de manutenção, após
estabelecimento definitivo da vegetação”.
Na função de complementar à implantação das canaletas na área de influência do
Bairro Jardim São Cristóvão, Costa et al. (2010) destaca que a escada hidráulica vem a
orientar o escoamento das águas superficiais captadas pelas canaletas, e que
consequentemente, tornando-se um dissipador de energia (FIGURA 29). Isto ocorre devido
que este dispositivo potencializa a dissipação das velocidades do escoamento, ou seja, vem a
Figura 28 – Canaletas revestidas com biomanta.
Fonte: Couto et al. (2010, p. 72).
63
dissipar a energia da componente velocidade das águas superficiais, impedindo dessa forma
os principais danos relacionados aos processos erosivos. Portanto, segundo os autores esta
estrutura “desenvolve o escoamento em condições favoráveis até os pontos de deságue,
previamente selecionados” que pare este estudo se aplicaria ao principal curso d‟água que se
insere na área de implantação do Bairro Jardim São Cristóvão.
Deste modo, quando adequadamente construídas, a escada hidráulica garante a
proteção superficial do solo, reduzindo o “escorrimento superficial da água por atuarem como
dissipadores de energia do escorrimento superficial, já que ao manterem contato direto com o
solo fornecem obstáculo ao escoamento, reduzindo a velocidade do escoamento superficial e
eliminando a ação erosiva presente” (COUTO et al., 2010, p.74).
Com relação aos preceitos da bioengenharia de solos, estes dispositivos de drenagem
reduzem substancialmente a erosividade da chuva, uma vez que o impacto das gotas de chuva
(raindrop impact) é responsável, em alguns casos, por até 98% dos processos de mobilização
de sedimentos. Conjuntamente, evitam o carreamento de vegetação em margens de canais
durante inundações, garantindo que a vegetação permaneça fixada ao solo, podendo-se ajustar
os diferentes modelos de biomantas biodegradáveis de acordo com o regime hídrico do curso
d‟água no qual serão instaladas (MacCULLAH, 1994 apud COUTO et al., 2010, p. 74).
Figura 29 – Escada hidráulica na função de dissipador de energia.
Fonte: Couto et al. (2010, p. 72).
64
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da elaboração deste trabalho foi possível identificar a inexistência de um
planejamento urbano dentro da área de estudo, evidenciando a importância da gestão
ambiental na busca por soluções sustentáveis e compatíveis entre o uso, ocupação e a
preservação ambiental.
Diante da análise multitemporal utilizada sobre a área de implantação do Bairro
Jardim São Cristóvão, foi possível identificar, através das imagens de satélite, distribuídas em
série, que os cursos d‟água e os remanescentes florestais foram aqueles que apresentaram as
maiores taxas de redução e que, ao mesmo tempo, as áreas arenizadas tiveram um acréscimo
relevante quando comparados. A dinâmica da expansão urbana e a forma de ocupação
representada pela análise dispuseram de informações referentes aos impactos ambientais da
área de estudo. Tudo isso, devido ao aumento das áreas ocupadas pela população que reside
no bairro.
Com base na matriz de avaliação dos impactos ambientais foi possível diagnosticar
localmente as alterações ambientais, destacando o equipamento “Malha Urbana” como aquele
que maior deflagrou os efeitos sobre os meio analisados. A partir disso, constatou-se a
qualidade ambiental em que a área de estudo se encontra e o entendimento da relação entre a
urbanização e o meio natural.
Vale salientar que entre as principais limitações apresentadas neste estudo estão
relacionadas ao preenchimento da matriz de avaliação dos impactos ambientais. Pôde se
perceber que neste quesito, para se melhor apurar os impactos identificados seria necessário a
atuação de uma equipe multidisciplinar para se determinar de forma mais específica cada
alteração observada. Dessa forma, a avaliação se torna substancialmente limitada quando
apenas um profissional a realiza.
Contudo, observa-se que entre os principais fatores ineficazes da gestão ambiental e
do planejamento urbano inseridos sobre o Bairro Jardim São Cristóvão, destaca-se a falta de
65
implantação de medidas de controle aplicado aos equipamentos urbanos responsáveis ao
funcionamento e à expansão urbana, que garanta um desempenho ambiental.
Portanto, com relação ao meio ambiente, a elaboração de políticas de planejamento
urbano é imprescindível, além de se fazer necessária uma fiscalização eficaz, incluindo a
cobrança de multas aos infratores e a imperativa realização de estudos que auxiliem o
ordenamento territorial da cidade de Ji-Paraná. Espera-se que a partir deste trabalho o
desenvolvimento sustentável seja visto como meta, incentivando novos empreendimentos a
priorizar a qualidade de vida.
66
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