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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA E ZOOLOGIA
ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL PARA O BEM ESTAR NA RECUPERAÇÃO DE PINGUINS-DE-MAGALHÃES (Spheniscus magellanicus)
Larissa Daminelli
Florianópolis, agosto de 2017. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA E ZOOLOGIA
ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL PARA O BEM ESTAR NA RECUPERAÇÃO DE PINGUINS-DE-MAGALHÃES (Spheniscus magellanicus)
Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Curso de Graduação em
Ciências Biológicas da Universidade
Federal de Santa Catarina como requisito da
disciplina Projeto de Trabalho de Conclusão
de Curso.
Larissa Daminelli
Orientador: Prof. Dr. Renato Hajenius Aché de Freitas
Florianópolis, agosto de 2017.
RESUMO
Os pinguins-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus) são aves marinhas
que formam grandes colônias nas costas da Argentina, do Chile e nas Ilhas Malvinas.
Ao longo do litoral sul do Brasil, é frequente encontrar pinguim-de-Magalhães
encalhados, principalmente no período entre julho a dezembro, época em que a espécie
se encontra no período de migração de suas colônias. Nas praias do litoral sul
catarinense há um número significativo de encalhe destas aves e geralmente esses
indivíduos apresentam óleo na plumagem, alguns encontram-se doentes ou até feridos.
Por ser uma espécie com risco de ameaça, é necessário o recolhimento do animal para
tratamento e posteriormente reintrodução ao seu ambiente natural. Em cativeiro,
pinguins-de-Magalhães deixam de exibir comportamentos típicos da espécie, sendo
descritos como sedentários, pouco interativos, propícios a ficarem obesos, um tanto
apáticos e índice de reprodução quase nulo. Por passarem muito tempo fora da água
sustentando o peso do corpo sobre as patas apoiadas em piso firme, os pinguins acabam
desenvolvendo lesões denominadas pododermatite. São poucos os estudos existentes
relacionados a pinguins de cativeiro, dificultando o trabalho de manejo e conservação.
O objetivo deste estudo é ver o efeito do enriquecimento ambiental sobre a recuperação
de pinguins passando de um ambiente cativo pouco adequado para a introdução em um
novo ambiente cativo desenvolvido para melhor suprir as necessidades do animal
enquanto em tratamento. Acredita-se que seja necessário a criação de um protocolo de
ações conjuntas que visem o enriquecimento do ambiente cativo para que seja mais
adequado à recuperação do animal, visando seu bem-estar a fim de contribuir para a
conservação da espécie e reduzir os índices de mortalidade.
Palavras chave: Aves marinhas, Sphenicidae, Reintrodução, Ambiente cativo
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 6
1.1 CARACTERIZAÇÃO DA ESPÉCIE ESTUDADA 6 1.2 COMPORTAMENTO E BEM ESTAR ANIMAL 8 1.3 ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL 9
2 HIPÓTESE E OBJETIVOS 12 2.1 HIPÓTESE 13 2.2 OBJETIVOS GERAIS 13 2.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 13
3 MATERIAIS E MÉTODOS 14 3.1 LOCAL DE ESTUDO 14 3.2 ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL E RECINTOS 14 3.3 OS ESPÉCIMES E O DELINEAMENTO DO ESTUDO 16 3.4 COMISSÃO DE ÉTICA 16
4 RESULTADOS ESPERADOS 18
5 CRONOGRAMA 19
6 REFÊRENCIAS 20
ANEXOS 24
1 INTRODUÇÃO
1.1 CARACTERIZAÇÃO DA ESPÉCIE ESTUDADA
Pinguins são animais carismáticos. Tanto em vida livre como em parques
zoológicos e, chamam a atenção de milhares de pessoas que se encantam por eles, sendo
como uma das principais atrações.
Atualmente são conhecidas 18 espécies de pinguins agrupadas na família
Spheniscidae, cuja a distribuição abrange regiões do Continente Antártico até as Ilhas
Galápagos (SICK, 1997). Como são aves marinhas, apresentam diversas adaptações
para este modo de vida, entre elas, destaca-se o fato de não possuírem ossos
pneumáticos. Possuem membros superiores modificados para o nado e patas curtas com
membranas interdigitais. As patas estão localizadas na extremidade posterior do corpo
fazendo com que os pinguins apresentem uma postura característica em terra, com o
corpo erguido verticalmente (Williams e Boersma, 1995).
Os pinguins realizam a migração invernal, que se estende pelos meses de
maio, junho e julho. O retorno à colônia nos meses de agosto e setembro marca o fim da
fase migratória, e inicia-se então o período de reprodução (Williams e Boersma, 1995).
Alguns pinguins alcançam o litoral sul e sudeste do Brasil no final do inverno.
Geralmente, são animais jovens que se afastam de seu grupo e chegam bastante
debilitados, sendo encaminhados a centros de reabilitação (Garcia-Borboroglu et al.,
2006, 2010). São quatro espécies já registradas na costa brasileira durante a migração
invernal: pinguim-rei (Aptenodytes patagonicus Miller, 1778),
pinguim-de-penacho-amarelo (Eudyptes chrysocome Sibley e Monroe 1990, 1993),
pinguim-de-testa-amarela (Eudyptes chrysolophus Brandt, 1837) e
pinguim-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus Forster, 1781) (BRASIL, 2010) sendo
este último o mais abundante na nossa costa (YORIO et al., 2001).
O pinguim-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus) pertence ao Reino
Animalia, Filo Chordata, Classe Aves, Ordem Sphenisciformes, Família Sphenicidae e
Gênero Spheniscus (SICK, 1997). Medem cerca de 65 cm de comprimento e apresentar
peso médio entre quatro e cinco quilos (SICK, 1997). São encontrados tanto na costa do
oceano Pacífico quanto na costa do oceano Atlântico no sul da América do sul. As
colônias de acasalamento ocorrem na costa leste da Argentina até a costa do Chile e
ilhas Malvinas (IUCN, 2016).
De acordo com Williams (1995), espécimes juvenis e adultos apresentam
diversas distinções físicas (Figura 1), como a cor de sua cabeça, bico e dorso, que
costuma ser preto nos animais adultos e acinzentado nos animais juvenis. Além disso,
pode-se observar nos adultos uma faixa preta na área do peito e uma branca na área da
barriga. A característica que melhor destaca indivíduos adultos de juvenis é uma faixa
branca sobre os olhos que circunda sua face até a parte inferior do bico, ausente nos
juvenis (WILLIAMS, 1995). O tempo de vida de um espécime pode variar de 8 a 10
anos de idade (VOOREN; ILHA, 1995).
Tanto o macho como a fêmea do pinguim auxiliam na defesa do ninho,
incubam os ovos e alimentam os filhotes. Sua dieta consiste basicamente de anchovas
(Engraulis anchoita), merluzas (Merluccius hubbsi), pejerrey (Austroatherina sp.) e
diversas espécies de lulas (Illex sp.).
Após o período de reprodução dos pinguins, estes deslocam-se sob
influência da corrente das Malvinas, por ser mais fria e rica em nutrientes e, por
conseguinte, muitas aves acabam por atingir a costa do território brasileiro (MÄDER;
SANDER; CASA, 2010).
Atualmente a espécie se encontra em declínio populacional por conta de sua
natureza migratória, que expõe os animais a situações adversas como objetos oriundos
do homem, diminuição da fartura de alimentos em virtude da pesca comercial e contato
com óleo provindo de vazamentos (MÄDER; SANDER; CASA, 2010).
Um dos fatores enumerados por Sick (1997) que contribui para o grau de
mortalidade ao migrar pode ser a condição de saúde enfraquecida dos animais ao
abandonar o local de reprodução, em busca de ambientes ricos em alimentos. Outro
fator seria o desligamento acidental de um indivíduo do grupo. O estado de debilidade
física ou baixa temperatura corporal influenciam esses animais a se distanciarem do
grupo e saírem da água (MEDEIROS; AMATO, 2010) e sabe-se que muitos exemplares
dessa espécie são encontrados debilitados ou até mortos pela costa brasileira,
principalmente no Sul no período entre julho a novembro (SICK, 1997).
Figura 1 - Indivíduos adultos de pinguim-de-Magalhães e um único juvenil no centro, perceber as diferenças na coloração acinzentada na cabeça do juvenil e os padrões de faixas brancas nos adultos.
Fonte: (RUOPPOLO, V., 2016)
1.2 COMPORTAMENTO E BEM ESTAR ANIMAL
O comportamento animal é de grande curiosidade para o homem,
despertando grande interesse científico (Volpato, 2011). A curiosidade permitiu
chegarmos no que hoje conhecemos como o estudo do comportamento animal (Freitas e
Nishida, 2011; Del-Claro, 2004).
De acordo com Gonyou (1991) os animais fazem escolhas através da
avaliação do ambiente relacionado às suas necessidades. Desta forma, dentro da
capacidade genética, ajustam o metabolismo, reações fisiológicas e comportamentais,
para obter respostas adequadas às diversas características e condições do ambiente. Para
isso, recursos necessários devem estar presentes no ambiente para a ocorrência das
respostas, sujeito ao estresse decorrente da falha de adaptação do animal ao (BROOM;
JOHNSON, 1993).
A gama de comportamentos apresentados pelos animais é bastante diversa e
podem ser instintivos, aprendidos ou até geneticamente determinados (WEBER;
KRAUSE, 2008). O estudo comportamental pode ser feito “in situ”, no local que o
animal habita, que com o uso de dispositivos para acompanhar de forma detalhada os
animais até mesmo de longe, dispensa a manipulação dos mesmos (DAWKINS, 2007).
É importante que o pesquisador esteja familiarizado com o animal e o comportamento
natural para se fazer o uso dos equipamentos devidos como câmeras, gravadores,
planilhas e outras técnicas para serem aplicadas no estudo da melhor forma, e a
proporcionar segurança nos dados obtidos, para assim, produzir etogramas feitos da
descrição detalhada dos comportamentos observados (FREITAS; NISHIDA, 2011).
Bem-estar é um termo não só usado para seres humanos como também para
os animais silvestres, cativos, animais de produção e dos lares (BROOM; MOLENTO,
2004).
O bem-estar do animal pode ser proporcionado e melhorar como resultado
de algo que lhe seja fornecido, porém, o que pode ser oferecido não é em si o bem-estar.
Algumas condições refletem sobre o bem-estar, como doenças e traumatismos, fome,
estimulação, interações sociais, condições de alojamento, tratamento e manejo
inadequado, transporte, procedimentos laboratoriais, mutilações variadas, até mesmo
tratamento veterinário ou alterações genéticas através de seleção genética convencional
ou por engenharia genética (BROOM; MOLENTO, 2004).
Segundo Broom e Molento (2004), pode-se definir bem-estar de forma que
permita pronta relação com outros conceitos, tais como: necessidades, liberdades,
felicidade, adaptação, controle, capacidade de previsão, sentimentos, sofrimento, dor,
ansiedade, medo, tédio, estresse e saúde. Caso um dado animal não estiver apto a
satisfazer uma necessidade, a consequência será um prejuízo no bem-estar. Com ênfase
nisso, sabe-se que privações a estímulos ambientais resultam em frustração que refletem
em comportamentos anômalos.
1.3 ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL
O enriquecimento ambiental foi reconhecido como importante ferramenta
primeiramente por Yerkes (1925), o qual mencionou o ambiente físico e social de
animais cativos importante ao impacto e bem-estar do animal. Para Yerkes (1925), o
animal cativo deve exercitar diferentes reações diante de aparatos provenientes de
enriquecimento ambiental, colocados em seu ambiente e responder mesmo que não seja
para a sua sobrevivência.
Medidas e técnicas que transformam o ambiente físico e social de ambientes
cativos são provenientes do enriquecimento ambiental, que podem melhor a qualidade
de vida dos animais em cativeiro e as interações entre si, resultando em condições mais
adequadas para o desempenho de suas necessidades etológicas (BOERE, 2001). O
Enriquecimento ambiental contempla a complexidade do ambiente, onde esses
ambientes dinâmicos têm como objetivo o desenvolvimento da flexibilidade
comportamental nos animais em resposta a esses ambientes (RUMBAUGH et al.,
1989). As técnicas se dividem em cinco categorias: enriquecimento social,
enriquecimento físico, enriquecimento cognitivo, enriquecimento sensorial e
enriquecimento nutricional (YOUNG, 2003).
Segundo Bosso (2013), o enriquecimento social resulta na relação das
interações inter e intra-específicas. O cognitivo estimula a capacidade mental do
indivíduo, assim como a sensorial busca incentivar o uso dos sentidos do animal. Já o
físico está relacionado com a mudança na estrutura do recinto. E por fim o
enriquecimento alimentar, relacionado a mudanças na alimentação, no alimento em si
ou na forma em como é apresentado. Como em ambiente natural diversas são as
situações com as quais os animais se deparam, a aplicação de técnicas combinadas de
enriquecimento ambiental deve ser considerada (POWELL, 1997).
As técnicas utilizadas para enriquecimento têm se mostrado eficaz tanto
para a redução de comportamentos considerados anormais (WILSON, 1982) como para
o aparecimento de desempenhos típicos da espécie (NOVAK; SUOMI, 1988;
NEWBERRY, 1995), porém, é imprescindível a cautela na escolha do enriquecimento
ambiental a ser utilizado e adequá-lo ao ambiente e sua complexidade, às características
comportamentais e à capacidade pela espécie de interação com o objeto introduzido
(MAPLE; STINE, 1982). De acordo com Maple e Stine (1982), ambientes que lembram
o habitat natural mostram uma maior expressão de comportamentos que são típicos da
espécie e um aumento da reprodução.
É comum em ambientes cativos que os animais deixem de exibir
comportamentos típicos da espécie na vida selvagem, como o forrageamento, e passam
a desenvolver comportamentos estereotipados ou deslocados do contexto (Shepherdson
et al., 1998; Young, 2003). Em cativeiro, pinguins são designados como animais
excessivamente sedentários, pois praticam pouco o nado, ficam com sobrepeso, se
mostram pouco interativos e apáticos, e dificilmente ocorrerá reprodução (AZAA, 2005;
Souza e Andrade, 2012).
De acordo com Azaa (2005) um problema de saúde comum, principalmente,
em cativeiro são as pododermatites, também conhecida como “bumblefoot”. Como não
recebem muitos estímulos, os pinguins em cativeiro ficam muito tempo fora da água e
sustentam o peso de seu corpo sobre as patas que geralmente estão sobre um piso firme.
A pododermatite é caracterizada por um processo inflamatório nos membros
posteriores que se inicia como um pequeno calo e pode progredir formando abscessos
crônicos que atingem o tecido ósseo. Uma vez estabelecida a lesão da pododermatite,
pode ocorrer a colonização por microorganismos. Quando somente uma das patas é
afetada, o animal sustenta todo o peso do corpo sobre a outra, aumentando a
predisposição de a outra pata desenvolver a pododermatite (AZAA, 2005; OSÓRIO,
2010). Uma estratégia de prevenção para lidar com essa condição é a implementação de
métodos de enriquecimento ambiental.
As novidades introduzidas para a complexidade no ambiente cativo, são
consideradas elementos básicos de enriquecimento para proporcionar a redução de
comportamentos adversos. Modificações na estrutura, mudanças na rotina e a
socialização são medidas que estimulam e melhoram a condição psicológica e o
bem-estar (COE, 1985; BOERE, 2001). Alguns tipos de enriquecimento do ambiente
físico geraram resultados positivos nas mudanças comportamentais tais como: materiais
para atividades motoras, galhos e árvores, substratos para manipulação, quebra-cabeça
alimentar e outras novidades (MAKI et al., 1989; WESTERGAARD; FRAGASZY,
1985; BAKER, 1997; CHAMPOUX et al., 1990).
Com o propósito de recuperar a espécie e evitar que os riscos de extinção do
pinguim-de-Magalhães aumentem, diversos órgãos e organizações como o NUTRAS
(Núcleo de Tratamento de Animais Silvestres) de Florianópolis participam em projetos
de recolhimento desses animais e tratamento para a recuperação e reintrodução dos
mesmos. O processo durante a recuperação em recintos é muito importante para obter o
maior índice de reintrodução ao ambiente natural, e para isso, esse estudo visa a
melhoria dos ambientes com a implementação de técnicas de enriquecimento ambiental,
para influenciar de maneira positiva o repertório comportamental dos indivíduos cativos
de pinguins-de-Magalhães, auxiliando em uma recuperação mais eficaz e para o
bem-estar do animal enquanto em tratamento.
2 HIPÓTESE E OBJETIVOS
2.1 HIPÓTESE
Temos como hipótese central que a implementação de técnicas de
enriquecimento ambiental influenciará de maneira positiva o repertório
comportamental, refletindo na recuperação mais eficaz dos indivíduos cativos de
pinguins-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus).
2.2 OBJETIVOS GERAIS
Avaliar o efeito do enriquecimento ambiental sobre a recuperação dos
pinguins e seu bem-estar no ambiente cativo.
2.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
● Caracterizar o etograma da espécie em cativeiro;
● Verificar diferenças comportamentais em relação ao tipo, frequência e
tempo no ambiente cativo pobre e após o enriquecimento feito em um novo
ambiente;
● Analisar efeito de diminuição no índice de mortalidade e doenças dos
pinguins-de-Magalhães.
● Verificar a incidência de doenças e animais afetados antes e depois do
enriquecimento ambiental;
● Incentivar nados mais prolongados na piscina;
3 MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 LOCAL DE ESTUDO
O estudo será realizado no Parque Estadual do Rio Vermelho (PAERVE), o
parque foi criado pelo Decreto nº 308 de 24 de maio de 2007 e está localizado na costa
leste da Ilha de Santa Catarina, no município de Florianópolis, Estado de Santa
Catarina. Seus limites são o distrito de São João do Rio Vermelho ao norte, a Lagoa da
Conceição ao oeste, a praia de Moçambique ao leste e o distrito da Barra da Lagoa ao
sul. Foi criado com o objetivo de conservar toda a vegetação presente de Floresta
Ombrófila Densa (Mata Atlântica), a vegetação de restinga, e toda a fauna associada e
manter o equilíbrio do complexo hídrico da região, contando com uma área 1.532
hectares.
Desde o ano de 2014 a administração do NUTRAS é feita pela Fundação do
Meio Ambiente de Santa Catarina (FATMA-SC). A Associação R3 animal (Resgatar,
Reabilitar, Reintroduzir) é uma ONG sem fins lucrativos formada por voluntários
profissionais que auxilia a FATMA e a Polícia Militar Ambiental não só no resgate e
tratamento de animais apreendidos e vítimas da ação humana em Santa Catarina no
NUTRAS como no resgate e tratamento de animais encontrados debilitados fora de seu
ambiente de origem. O trabalho realizado no NUTRAS tem como objetivo proporcionar
uma reabilitação para que os animais possam ser reintroduzidos em seu habitat natural.
Quando não há uma recuperação das habilidades necessárias para reintrodução, os
animais são encaminhados para criadouros ou zoológicos licenciados pela FATMA
(http://www.r3animal.org). Há uma equipe de biólogos e veterinários competentes que
trabalham para a reabilitação e reintrodução dos animais e contam ainda com o auxílio
de voluntários da comunidade, que podem participar no tratamento dos animais.
3.2 ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL E RECINTOS
As técnicas de enriquecimento ambiental para se utilizar previstas no estudo
consistirá na mudança física do ambiente associadas às mudanças sensoriais. Para isso,
haverá a troca de recinto onde os pinguins se encontram, para um novo. O recinto atual
(Figura 2) é caracterizado por um pequeno cativeiro em frente a lagoa com 9x10m, o
espaço para a circulação dos animais consiste parte num piso feito de cimento duro e
parte com pallet de plástico com seixos de pedras, e no centro do cativeiro encontra-se
uma pequena piscina com quase 3m de comprimento e 80cm de profundidade.
Encontra-se ainda, envolvendo o recinto, telas contra insetos. Para o novo ambiente,
será maior para abrigar mais animais e para que os mesmos desfrutem de mais espaço.
Além da ampliação, ocorrerá o enriquecimento físico, com a adição um tapete de fibra
de coco (capacho náutico) no lugar de pisos abrasivos na maior parte do recinto, e outra
parte com seixos de variados tamanhos para que os pinguins se sintam mais
ambientados e a limpeza seja mais fácil de ser realizada. Para evitar que a espécie cativa
entre em contato com vetores responsáveis pela malária aviária, doença causada por
protozoários do gênero Plasmodium principalmente em aves como o pinguim
(VANSTREELS et al., 2014), as telas mosquiteiras continuarão a envolver o recinto, a
fim de impedir a entrada de insetos e o uso de ventiladores para manter os mesmos
longe. Novas piscinas serão adicionadas, maiores em tamanho com 10x4m e 1m de
profundidade, para o exercício do nado. Além disso, como enriquecimento sensorial,
serão utilizadas estratégias como a adição de sal na água e fazer com que a alimentação
ocorra enquanto o animal estiver na piscina para prolongar o tempo de nado dos
pinguins e assim evitar que permaneçam muito tempo de pé, já que os pinguins cativos
estão predispostos a pododermatite devido ao sedentarismo e tempo prolongado de
permanência em pisos duros e abrasivos (REISFELD et al., 2013).
Figura 2 - Recinto atual no Núcleo de Tratamento de Animais Silvestres (NUTRAS)
Fonte: R3 animal
3.3 OS ESPÉCIMES E O DELINEAMENTO DO ESTUDO
Serão analisados os comportamentos de um grupo (o grupo pode variar de 1
indivíduo até 12 geralmente antes de uma soltura) de indivíduos cativos de Spheniscus
magellanicus que se encontram no NUTRAS em tratamento, animais recolhidos nas
praias do litoral sul Catarinense. Os animais do NUTRAS não são distinguidos entre
machos e fêmeas e somente há diferenciação entre juvenis e adultos. A soltura dessas
aves marinhas pela ONG R3 animal ocorre em média duas vezes ao ano, quando há um
grupo de ao menos 4 indivíduos que já estão aptos para a soltura.
O estudo foi iniciado em outubro de 2017 com a coleta de dados, que será
realizada até abril de 2018. Dentro desse período serão realizadas eventuais filmagens
para a observação do comportamento dos pinguins-de-Magalhães, antes e após a
mudança de recinto, uma vez por semana no período da manhã durante duas horas.
Serão feitas as gravações também durante o processo de enriquecimento ambiental.
Antes de aplicar os enriquecimentos, serão registrados os comportamentos, que
possibilitarão a comparação com os resultados obtidos com a aplicação dos
enriquecimentos. Para a comparação serão analisadas as condições dos animais através
de exames e fotografias para registro no início da coleta de dados e após a introdução do
enriquecimento ambiental. A observação de todo o grupo será importante para obter
uma descrição detalhada do comportamento desses animais, alternando o animal focal a
cada 15 minutos registrados.
3.4 COMISSÃO DE ÉTICA
O projeto foi submetido para análise pela comissão de ética no uso de animais
(CEUA), para sua aprovação (anexo 1).
4 RESULTADOS ESPERADOS
É esperado que a introdução das técnicas de enriquecimento ambiental
potencialize a recuperação dos pinguins cativos e que diminua o índice de mortalidade e
assim mais indivíduos possam retornar ao seu lugar de origem mais preparados. Além
do retorno dos pinguins-de-Magalhães ao habitat natural, espera-se a partir das técnicas
adotadas e dos resultados obtidos, que os centros de tratamento dessas aves marinhas
possam adotar um protocolo baseado na transformação do cativeiro em um ambiente
mais adequado para o bem-estar do animal.
5 CRONOGRAMA
Etapas 2º Semestre de 2017 1º Semestre de 2018
Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul
Revisão bibliográfica X X X X X X X X X X X
Coleta de dados X X X X X X X
Analise de dados X X X X X X X
Redação do Trabalho X X X X X
Elaboração da apresentação do Trabalho
X X
Defesa do TCC X X
6 REFÊRENCIAS
ARGENTIN, V. F.. Perfil de atividade e uso do recinto de pinguim-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus) em cativeiro. 2015. 36 f. Tese (Doutorado) - Curso de Ciências Biológicas, Unesp, Rio Claro, 2015. Disponível em: <https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/132474/000857208.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 20 ago. 2017.
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ANEXOS
1. COMPROVANTE DE SUBMISSÃO - CEUA