Upload
dangdung
View
216
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA - NPGEO
RONILSE PEREIRA DE AQUINO TORRES
O SENTIDO DE SER PESCADOR: SIGNOS E MARCAS NO POVOADO
PEDREIRAS – SÃO CRISTÓVÃO/SE
São Cristovão/SE 2014
RONILSE PEREIRA DE AQUINO TORRES
O SENTIDO DE SER PESCADOR: SIGNOS E MARCAS NO POVOADO
PEDREIRAS – SÃO CRISTÓVÃO/SE
Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Sergipe, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Maria Augusta Mundim Vargas, como requisito à obtenção do título de Mestre em Geografia. Área de concentração: Dinâmica Ambiental
São Cristovão/SE 2014
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
T693s
Torres, Ronilse Pereira de Aquino
O sentido de ser pescador : signos e marcas no povoado
Pedreiras – São Cristóvão/SE / Ronilse Pereira de Aquino Torres ;
orientadora Maria Augusta Mudim Vargas. – São Cristóvão, 2014.
140 f. : il.
Dissertação (mestrado em Geografia) – Universidade Federal
de Sergipe, 2014.
1. Geografia humana. 2. Territorialidade humana. 3. Identidade.
4. Pesca. 5. Pescadores – São Cristóvão (SE). I. Vargas, Maria
Augusta Mudim, orient. II. Título.
CDU 911.372.3:639.2.057(813.7)
AGRADECIMENTOS
Às vezes é difícil encontrar palavras na medida certa, para expressar gratidão
àquelas pessoas que contribuíram, incentivaram, torceram e oraram por nós. Penso
que neste momento deixamos de usar a razão e damos voz ao coração. Porque
quando começamos a escrever, as lembranças de vários momentos compartilhados
com tantas pessoas preenchem nossa mente. Pessoas amigas, companheiras,
pessoas que nos mostram como é bom amar e ser amado.
Pessoas como meu amado pai José Batista, “Seu Duduca”, que já
desencarnou, mas que continua vivo dentro de mim. Sua presença se fará para
sempre em meus caminhos. Meu exemplo de honestidade e dignidade, o ser mais
otimista que já conheci, que me ensinou a nunca perder as esperanças, porque dias
melhores sempre virão e “nada está perdido”. Te amo pra sempre meu pai!
Obrigada. Obrigada, obrigada!
Pessoas como minha mãe Maria da Luz, a LUZ que ilumina meus dias. Com
sua simplicidade, humildade e generosidade, sempre estendendo a mão e quem
precisa e também a quem não precisa. Tenho muito orgulho em ser sua filha. O meu
amor e respeito pela senhora só cresce cada dia mais. Obrigada minha mãe pelo
seu mais puro e sincero amor!
Pessoas como meus irmãos de sangue e verdadeiros amigos, Rosana
“Nanana”, Luíza “Lulu”, Rosemir “Mimi”, Romilson “Sinho”, Rômulo “Minho” e
meus irmãos de coração José “Zé” (in memorian) e Valéria. Estamos e estaremos
sempre juntos, unidos, nos apoiando, pois o maior ensinamento que nossos pais nos
deram foi o da união e é essa união que fortalece nosso amor. Amo-os demais!
Obrigada por estarem sempre comigo!
Pessoas queridas como meus “pequenos grandes” amores, meus sobrinhos:
Anna Paula “Paulinha”, Vítor César “Vitinho”, Matheus José “Veiti”, Miguel
“Miguelito”, Ana Vitória, Lorena, Catarina, Letícia, Laís, Rômulo Filho, Lívia
“Livinha” e Alice, pessoinhas que vieram para alegrar minha vida, que me fazem ter
a certeza que minha passagem neste plano terreno não é em vão. Obrigada meus
queridos!
Pessoas como meu “Amor”, José Severino Torres, meu companheiro de
todas as horas e todos os momentos, com quem compartilho meus sonhos, meus
medos, minhas angústias. Aquele que me protege, que está sempre demonstrando
a importância que tenho em sua vida, me provando seu amor desmedido,
compreensivo e acima de tudo generoso. A pessoa que segura minha mão e me
ajuda a seguir nessa estrada da vida com tantos altos e baixos. Tudo que eu disser
aqui é pouco pra expressar tudo que eu tenho a lhe agradecer e dizer o quanto eu
TE AMO. Obrigada por ter me oferecido sua mão para seguirmos juntos nessa
estrada! EU AMO VOCÊ!
O que dizer de pessoas como a professora Maria Augusta Mundim Vargas.
Faltam palavras para agradecer e falar sobre uma pessoa tão especial como ela.
Sempre tão calma e serena, respeitando as limitações e o tempo de cada um, que
com sua delicadeza e perspicácia percebe nossos melhores e piores momentos.
Tem sempre um olhar ou palavra para nos incentivar e acalmar. Obrigada pelos
ensinamentos, pela paciência, por sua amizade e companheirismo! Sem sua ajuda
eu não teria chegado até aqui. À senhora toda minha gratidão e admiração!
Minha amiga Anna Patrícia, pessoa querida, amiga-irmã. Muito bom ter sua
amizade incondicional nos momentos difíceis pelos quais passei e só você sabe.
Obrigada pela paciência em me ouvir nos momentos de angústia e por compreender
minhas ausências! Te amo minha amiga!
Denise Renata e Viviane Rocha minhas companheiras, amigas inseparáveis
da graduação e da especialização, sempre ali, juntas uma apoiando a outra. Como
sinto em não ter tido vocês nesta fase do mestrado, acredito que teria sido bem mais
fácil com vocês ao meu lado, mas... “É vida que segue”. Saudades das nossas
aventuras e das nossas risadas. Obrigada pela torcida “Denisona” e “Vivimaravilha”.
Beijos... de longe.
Pessoas de boa vontade como meu querido amigo Rodrigo Lima, sempre ali
ajudando no que for possível com suas valiosas contribuições. Minhas amigas
Maryane Meneses e Rosana Batista também sempre me apoiando. Obrigada
pelos momentos de reflexão, pelas contribuições e palavras de incentivo!
A todos os membros do Grupo de Pesquisa Sociedade e Cultura,
especialmente aqueles com que tive a oportunidade de estreitar laços de amizade e
companheirismo: Eliete, Auceia, Vanessa, Roseane, Rodrigo Herles, Angela,
Jorgenaldo, Ivan, Isabella, enfim, a todos que fazem o grupo Sociedade e Cultura.
Meus sinceros agradecimentos pelas contribuições para a realização desta
dissertação e pelos momentos de descontração.
Meus agradecimentos especiais aos moradores do povoado Pedreiras, os
quais me proporcionaram a realização deste projeto, quando abriram suas casas
para me receber, quando deixaram seus afazeres e sentaram comigo na calçada,
embaixo de uma árvore para falaram de suas vidas, seus anseios, frustrações e
esperanças. Muitíssimo obrigada a cada um deles!
Muito obrigada à Prof.ª Dr.ª Rosemeri Melo e Souza pelas contribuições nas
fases de qualificação e agora na defesa, sempre tão disposta a colaborar. Obrigada
à Prof.ª Dr.ª Maria Lucia da Silva Sodré por ter aceitado participar da banca de
defesa desta dissertação e com certeza pelas contribuições que surgirão.
Pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para que este momento se
concretizasse como os professores da graduação e pós-graduação, aos funcionários
do NPGEO e, aos meus colegas de curso. Obrigada também à CAPES por ter me
proporcionado a bolsa de estudos com qual eu pude realizar meus trabalhos de
campo e a demanda logística da dissertação.
Acima de tudo, agradeço imensamente a DEUS, força maior e divina, por
me proporcionar momento tão singular em minha vida como este que estou vivendo
que é a realização de um projeto de vida e por colocar pessoas tão especiais como
todas estas que citei e tantas outras tão especiais quanto, que não foram citadas,
mas que também são importantes em minha vida. Pessoas que me ensinaram o
significado de amizade, companheirismo, compaixão, solidariedade, respeito, enfim
o significado do AMOR.
É Proibido
É proibido chorar sem aprender,
Levantar-se um dia sem saber o que fazer Ter medo de suas lembranças.
É proibido não rir dos problemas
Não lutar pelo que se quer, Abandonar tudo por medo,
Não transformar sonhos em realidade.
É proibido não demonstrar amor Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor.
É proibido deixar os amigos
Não tentar compreender o que viveram juntos Chamá-los somente quando necessita deles.
É proibido não ser você mesmo diante das pessoas, Fingir que elas não te importam,
Ser gentil só para que se lembrem de você,
Esquecer aqueles que gostam de você. É proibido não fazer as coisas por si mesmo,
Não crer em Deus e fazer seu destino,
Ter medo da vida e de seus compromissos, Não viver cada dia como se fosse um último suspiro.
É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar,
Esquecer seus olhos, seu sorriso, só porque seus caminhos se desencontraram,
Esquecer seu passado e pagá-lo com seu presente. É proibido não tentar compreender as pessoas,
Pensar que as vidas deles valem mais que a sua,
Não saber que cada um tem seu caminho e sua sorte. É proibido não criar sua história,
Deixar de dar graças a Deus por sua vida,
Não ter um momento para quem necessita de você, Não compreender que o que a vida te dá, também te tira.
É proibido não buscar a felicidade,
Não viver sua vida com uma atitude positiva, Não pensar que podemos ser melhores,
Não sentir que sem você este mundo não seria igual.
Pablo Neruda
Dedico este trabalho ao meu pai (in memorian). Meu amor maior.
RESUMO
Esse trabalho teve como objetivo analisar a identidade dos pescadores do povoado Pedreiras situado no município de São Cristóvão/SE e das formas de apropriação simbólica e funcional empreendidas na construção dos territórios da pesca. Para alcançar tal análise, estabelecemos como objetivos específicos: i) investigar os elementos e as práticas de identificação dos pescadores do Povoado Pedreiras; ii) apreender os significados e as ressignificações das práticas e do “ser pescador”; iii) compreender as formas identitárias dos pescadores a partir do meio e das práticas desenvolvidas; iv) avaliar a identidade dos pescadores do povoado. As categorias território e identidade balizam a análise para a identificação das práticas e da percepção dos significados de ser pescador artesanal. O levantamento de campo realizado no período de 2012-2014, ancorado na abordagem qualitativa possibilitou apreender o cotidiano e as expectativas da comunidade, ou seja, como vivem e suas visões de mundo. Foram desvelados desde a pesca artesanal até o sentido de ser pescador na comunidade, a relação com o meio natural pela investigação do que se pesca como e quando, assim como, pelas memórias e percepções sobre o passado e o presente da pesca. Identificou-se que o território e as territorialidades no povoado Pedreiras se constroem e se reconstroem pela pesca, sendo o rio e a maré seus signos de referência afetiva com o lugar, e, portanto, propulsores de um forte sentimento de pertença e de identidade de seus moradores. Palavras-Chaves: Território; Identidade; Pesca e pescadores.
ABSTRACT
This paper had as a goal analyzing the identity of fishermen from the thorp called Pedreiras located in the city of São Cristóvão/SE and identity of the forms of symbolic and functional appropriation engaged on the construction of fishing territories. To achieve this analysis, we established specific objectives: i) to investigate the elements and practices of identifying the fishermen the thorp Pedreiras; ii) understanding the meanings and the reinterpretation of the practices and "be a fisherman"; iii) understand the identity forms of fishermen from the middle and practices developed; iv) evaluate the identity of the fishermen of the thorp.The categories called territory and identity beacon the analysis to the identification of the practices and the perception of meanings of being a handmade fisherman. The field data collection realized during the period of 2012-2014, anchored by the qualitative approach, made possible the apprehension of the daily life and the expectations of the community, in other words, how they live and their views of the world. It has been unveiled since the handmade fishing until the sense of being a fisherman in the community, the relationship with the natural ambient through the investigation of what is fished by them, how and when, and also, through the memories and perceptions of the past and the present days of fishing. It was identified that the territory and the territorialities of the Pedreiras thorp are built and rebuilt by fishing, being the river and the tide their signs of affective reference with the place, and, thus, propellants of a strong feeling of belonging and identity to its tenants. Keywords: Territory, Identity, Fishing, Fishermen.
LISTAS DE FIGURAS
Figura 01 – Oficina “O Povoado Pedreiras em minha vida” 46
Figura 02 – Desenho do Povoado Pedreiras 46
Figura 03 – Oficina “Minhas Referências” 47
Figura 04 – Foto tirada por um morador 47
Figura 05 - Localização do Município de São Cristóvão no Estado de Sergipe 51
Figura 06 – Imagem aérea parcial do município de São Cristóvão – situação do
Povoado Pedreiras 53
Figura 07 – Imagem de Satélite do Povoado Pedreiras. 55
Figura 08 – Unidade de Saúde da Família “Alice Freire” – Povoado Pedreiras 56
Figura 09 – Prédio da Associação de Desenvolvimento Comunitário do Povoado
Pedreiras – ADCPP 56
Figura 10 – Rua principal do Povoado Pedreiras 57
Figura 11 – Casas de alvenaria no Povoado Pedreiras 58
Figura 12 – Casa de taipa no Povoado Pedreiras 58
Figura 13 – Cotidiano do Povoado Pedreiras 60
Figura 14 – Portos de Pesca no Povoado Pedreiras 76
Figura 15 – Depósito de barcos e apetrechos de pesca no Povoado Pedreiras 77
Figura 16 – Barcos motorizados e a remo – Povoado Pedreiras 78
Figura 17 – No presente, tal como no passado: estudar, brincar e depois pescar 96
Figura 18 – Término da estrada na entrada do Povoado Pedreiras 99
Figura 19 – Estação Coletora da Petrobrás – Povoado Pedreiras 100
Figura 20 – Protestos dos moradores dos Povoados Pedreiras e Tinharé 101
Figura 21 – Igreja de Santa Cruz – Povoado Pedreiras 109
Figura 22 – Templo Evangélico – “Assembleia de Deus” – Povoado Pedreiras 110
Figura 23 – Vista do “Rio das Pedreiras” (Rio Vaza Barris) 111
Figura 24 – Paisagem do rio Vaza Barris (manhã) 112
Figura 25 – Paisagem do rio Vaza Barris (fim de tarde) 112
Figura 26 – Escola de ensino Fundamental Terezita de Paiva Lima no Povoado
Pedreiras 113
Figura 27 - Fazer e refazer, dia a dia na pesca em Pedreiras 114
LISTAS DE GRÁFICOS
Gráfico 01 – Faixa etária dos entrevistados 61
Gráfico 02 – Estado civil dos entrevistados 63
Gráfico 03 – Escolaridade dos entrevistados 65
Gráfico 04 – A pesca no cotidiano do povoado Pedreiras 68
Gráfico 05 – Tempos de pescaria 70
Gráfico 06 – Horas empregadas na pesca 72
Gráfico 07 – Apetrechos de pesca – Povoado Pedreiras 78
Gráfico 08 – Tipos de pescado 80
Gráfico 09 – Espécie de pescado que maior produção – Povoado Pedreiras 81
Gráfico 10 – Espécie de pescado de maior renda – Povoado Pedreiras 82
Gráfico 11 – Espécie de pescado que mais gosta de pescar – Povoado Pedreiras 82
Gráfico 12 – Locais de venda do pescado 83
Gráfico 13 – Tempo de registrado na Colônia de Pescadores – Z2 90
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 – Análise dos conteúdos 50
Quadro 02 – Locais de pesca 75
Quadro 03 – Materiais de coleta por espécie – Povoado Pedreiras 81
Quadro 04 – Percepção ambiental dos entrevistados 88
Quadro 05 – Signos e marcas do Povoado Pedreiras 108
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 – Tempo de residência dos entrevistados 62
SIGLAS
ANP – Agência Nacional de Petróleo
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais e
Renováveis
IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDHM – Índice de Desenvolvimento Humano
INSS – Instituto Nacional de Seguro Social
MPA – Ministério da Pesca e Aquicultura
MTE - Ministério do Trabalho e Emprego
NIT – Número de Identificação do Trabalhador
NPGEO – Núcleo de Pós-Graduação em Geografia
PIB – Produto Interno Bruto
PIS/PASEP - Programa de Integração Social / Programa de Formação do Patrimônio
do Servidor Público
PSF – Programa de Saúde da Família
RGP – Registro Geral da Pesca
SAAE – Serviço Autônomo de Água e Esgoto
SUDEPE – Superintendência de Desenvolvimento da Pesca
UN-SEAL – Unidade de Negócio de Exploração e Produção de Sergipe e Alagoas
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO....................................................................................................... 17
1 – REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................... 22
1.1Território e Identidade....................................................................................... 22
1.2 Comunidades Tradicionais Pesqueiras............................................................ 31
1.3 A Pesca e o Pescador Artesanal...................................................................... 32
1.4 Estado da Arte................................................................................................. 34
2 – A CONSTRUÇÃO DA PESQUISA.................................................................. 38
2.1 A Ancoragem Fenomenológica da Percepção................................................. 38
2.2 A Pesquisa Qualitativa..................................................................................... 41
2.3 Os Procedimentos............................................................................................ 43
2.4 Tratamento dos Dados..................................................................................... 49
2.5 Caracterização da Área de Estudo.................................................................. 50
3 – O COTIDIANO E A PESCA NO COTIDIANO EM PEDREIRAS..................... 67
3.1 Viver da Pesca “é tradição a tradição”............................................................. 67
3.2 Os Tempos e os Territórios da Pesca “depende da maré”.............................. 71
3.3 Embarcações e Artes de Pesca “tem que levar todos os artifícios”.................... 77
3.4 O que se Pesca “de tudo um pouco”................................................................ 80
3.5 Mudanças na Pesca “mudou muito”................................................................. 84
3.6 As Políticas Públicas da Pesca........................................................................ 88
4 – SIGNIFICADOS E RESSIGNIFICAÇÕES DA PESCA EM PEDREIRAS....... 95
4.1 As Memórias.................................................................................................... 95
4.2 O Presente....................................................................................................... 98
4.3 A Percepção do Lugar: signos e marcas.......................................................... 105
4.4 O Sentido de Ser Pescador.............................................................................. 113
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. 119
REFERÊNCIAS...................................................................................................... 123
APÊNDICES........................................................................................................... 130
P á g i n a | 16
INTRODUÇÃO
P á g i n a | 17
INTRODUÇÃO
Em face da mudança de comportamento da sociedade moderna
desencadeada pelo intenso processo de globalização, muito se tem discutido no
meio acadêmico sobre as identidades. Seus constituintes tem suscitado debates nos
mais diversos campos das ciências humanas, inclusive na Geografia, mais
precisamente pela da abordagem cultural, pois argumenta-se que as velhas
identidades estão sendo substituídas por novas identidades (HALL, 2011).
Buscamos na Geografia Humana, sobretudo na abordagem cultural, subsídios
para entender estas questões, bem como a formação de um território identitário.
Entendemos que é a partir do processo de apropriação de um território que as
relações de identidade e pertencimento são desenvolvidas.
Por isso, citamos Bonnemaison (2002) quando este destaca que a ideia de
cultura traduzida em termos de espaço não pode ser separada da ideia de território.
O mesmo ainda diz que é pela existência de uma cultura que se cria um território e é
por ele que se fortalece e se exprime a relação simbólica entre cultura e espaço. (p.
101-102)
Paul Claval (2002, p. 20) defende a ideia que a abordagem cultural impõe a
necessidade de repensar a Geografia Humana, onde esta não pode ser
desvinculada da cultura. A abordagem cultural nos leva a refletir sobre as
peculiaridades espaciais que o homem através de artefatos técnicos, materializa nas
paisagens tornando-as singulares.
Ainda de acordo com Claval (2001) a abordagem cultural enriqueceu ainda
mais a ciência geográfica quando passou a considerar a dialética das relações
sociais em detrimento da perspectiva material, onde o papel do geógrafo era fazer
apenas uma mera descrição dos fatores físicos das paisagens, deixando de
interpretar as paisagens humanas.
Atualmente a Geografia não se pauta apenas em estudar a diversidade
cultural com base nos seus conteúdos materiais, mas de admitir que a cultura esteja
intimamente ligada ao sistema de representações, de significados, de valores que
criam uma identidade que se manifesta mediante construções compartilhadas
P á g i n a | 18
socialmente e expressas espacialmente, ou seja, de admitir que a cultura no seu
sentido mais amplo representa todo o modo de vida de uma sociedade, que não diz
respeito somente a produção de objetos materiais, mas a um sistema cultural
carregado de valores morais, éticos, hábitos e significados expressos nas práticas
sociais.
E é dentro dessa perspectiva geográfica e cultural que surge este trabalho, no
sentido de lançar um olhar sob os pescadores artesanais do povoado Pedreiras no
município de São Cristóvão, seu modo de vida, sua identidade com à atividade
pesqueira e com seu território.
Diante das considerações apresentadas, as indagações que nos levaram a
refletir foram:
A pesca tem identificação e significação na vida laboral e cultural dos
moradores do Povoado Pedreiras/São Cristóvão/SE?
O saber-fazer da prática pesqueira é uma tradição passada de geração
para geração?
É possível apreender o sentimento de pertencimento com o lugar
associado à atividade pesqueira?
A opção pelo tema desta pesquisa partiu da participação no projeto de
pesquisa “Grandes Projetos e Identidades Locais: possibilidades e desafios de
pequenas comunidades costeiras”, do Grupo de Pesquisa Sociedade e Cultura,
desenvolvido no laboratório de Dinâmica Ambiental do Núcleo de Pós-Graduação
em Geografia – NPGEO da Universidade Federal de Sergipe - UFS, que tem como
proposta ampliar a abordagem cultural em análises socioeconômicas ainda pouco
internalizadas em projetos e planos de desenvolvimento.
No entanto, a escolha também foi pessoal, visto o encantamento com o lugar
e seu cotidiano, com sua história, com sua gente, com a pesca e principalmente com
a natureza, ou seja, a paisagem em si da região, banhada pelo rio Vaza Barris. O
desafio de trabalhar com comunidades ribeirinhas também foi um dos fatores
determinantes para a escolha do objeto de estudo. No sentido de conhecer a
percepção das pessoas que vivenciam o lugar, como veem, interpretam e interferem
no meio em que vivem.
P á g i n a | 19
Com esta perspectiva buscamos apresentar contribuições à Geografia
Cultural e ao NPGEO no que diz respeito a discussões sobre território e identidade,
com o desenvolvimento de um estudo balizado pelos seguintes objetivos.
Nosso objetivo geral ficou estabelecido na análise da identidade dos
pescadores do povoado Pedreiras/São Cristóvão/SE e das formas de apropriação
simbólica e funcional empreendidas na construção dos territórios da pesca. Para
alcançar tal análise, estabelecemos como objetivos específicos: i) investigar os
elementos e as práticas de identificação dos pescadores do Povoado Pedreiras; ii)
apreender os significados e as ressignificações das práticas e do “ser pescador”; iii)
compreender as formas identitárias dos pescadores a partir do meio e das práticas
desenvolvidas; iv) compreender a identidade dos pescadores do povoado.
Os estudos sobre território receberam contribuições da Geografia Cultural
num momento em que surgiu a necessidade de compreender que as realidades
sociais são influenciadas por elementos histórico-culturais de grupos responsáveis
pela apropriação e construção de determinado espaço geográfico, aspecto este,
relevante para a compreensão das dinâmicas dos locais em que se destacam os
sentimentos, as intuições, os ideais, os anseios, as experiências e os símbolos de
vida cotidiana como elementos territorializantes.
Para o seu desenvolvimento procuramos ancorar a pesquisa, isto é, a
reflexão sobre território e identidade pela abordagem da análise da percepção com o
intuito de descrever os costumes e as tradições de um grupo humano. A
contribuição das outras ciências enriquece este trabalho no sentido de explicar
conceitos aqui trabalhados, ao mesmo tempo em que estabelece um diálogo dentro
da abordagem cultural na Geografia Humanista. A Fenomenologia nos possibilitou
apreender a percepção e os saberes dos pescadores e a compreender a realidade
dando relevância aos trabalhos de campo com a vivência com o ambiente
pesquisado.
Iniciamos o primeiro capítulo apresentando o referencial teórico, abordando
os principais conceitos e categorias trabalhadas na pesquisa, quais sejam, território
e identidade. Em um segundo momento, discorremos sobre comunidades
tradicionais pesqueiras, a pesca e o pescador artesanal apresentando o estado da
arte sobre o tema no estado de Sergipe, através de autores que tratam do assunto e
P á g i n a | 20
mostram a importância e as características mais marcantes sobre os conhecimentos
tradicionais de pescadores artesanais.
O segundo capítulo trata da construção da pesquisa. Nele descrevemos o
método ancorado na Fenomenologia e a abordagem qualitativa da pesquisa. Os
procedimentos de campo, assim como o tratamento dos dados expõem a intrínseca
relação entre os instrumentais adotados (entrevistas, diário de campo) e a análise de
conteúdo.
Os capítulos três e quatro apresentam os resultados da pesquisa empírica
ressaltando, respectivamente “o cotidiano e a pesca no cotidiano” e “significados e
ressignificações da pesca em Pedreiras”. Esses capítulos trazem desde a pesca
artesanal até o sentido de ser pescador na comunidade, desvelados pelo cotidiano
atual, pela relação com o meio natural (o que se pesca, como, quando), pelas
memórias e percepções sobre o passado e o presente da pesca.
Nas considerações finais procuramos tecer reflexões sobre as questões
postas nos limites dos objetivos da pesquisa. O território e as territorialidades são
apreendidas pela dimensão afetiva com o lugar e com a prática laboral: a pesca.
P á g i n a | 21
CAPÍTULO I
REFERENCIAL TEÓRICO
P á g i n a | 22
1 – REFERENCIAL TEÓRICO
1.1 Território e Identidade
O conceito de território desponta como um conceito-chave na análise da
sociedade e como forma de entender o território e suas derivações. Várias são as
acepções propostas acerca deste conceito nas ciências sociais e humanas, dentre
estas, a Geografia, pois desde sua constituição que o território vem permeando seus
estudos nos diferentes métodos.
Esta discussão tem sua raiz na chamada Geografia Clássica e permaneceu,
durante muito tempo, intrinsecamente relacionada de forma quase exclusiva à ideia
de território nacional, ou vinculada à natureza, elemento fundamental do conceito de
espaço vital estudado por Friedrich Ratzel com sua Antropogeografia, o qual era
para este, aquela fração de território necessária para o desenvolvimento social e
econômico de um povo. Para Ratzel, o território é o espaço desde o qual uma
família encontra sua subsistência, até o espaço necessário a evolução de um
Estado, que deve assim, sempre pensar na aquisição de mais espaços territoriais.
Com o fortalecimento da Geografia Crítica, sobretudo a Geografia Humanista,
a partir da década de 1970, o território ganha um sentido diferente, mais amplo, ao
abordar questões pertinentes ao controle físico e simbólico de determinada área.
Entre alguns autores que retomam a discussão sobre o conceito de território,
está o geógrafo norte-americano Jean Gottmann (1973), que centraliza sua
abordagem no significado do território para as nações e sustenta que a relação das
pessoas com o seu território apresenta-se de diversas formas sejam geográficas,
políticas ou econômicas.
A discussão sobre o conceito de território na Geografia, também trouxe
algumas reflexões e considerações por parte de outros autores no tocante a
diferenciação entre território e espaço. Esta diferenciação muitas das vezes está
pautada no método, em que o território seria um conceito, enquanto que espaço
seria uma categoria geral de análise da Geografia, ou até mesmo seu objeto.
Na proposta de Raffestin (1993) há uma diferenciação conceitual entre
espaço e território. Para ele, o espaço e o território não são termos equivalentes e
P á g i n a | 23
que se faz necessária uma distinção para melhor compreensão dos processos
espaciais e das projeções territoriais resultantes das formas de apropriação da
natureza pelos diferentes grupos sociais.
É essencial compreender bem que o espaço é anterior ao território. O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente (por exemplo, pela representação), o ator "territorializa" o espaço (RAFFESTIN, 1993, p. 143).
Nesta perspectiva, Raffestin op. cit. nos possibilita pensar o território em pelo
menos quatro níveis e situações distintas e complementares, as quais podem ser: a)
território do cotidiano, o qual é o da territorialidade imediata, banal e original,
previsível e imprevisível; b) território das trocas é o da descontinuidade (ruptura)
temporal, espacial e linguística; c) território de referência, de caráter histórico e
imaginário, é material e imaterial, e, d) território sagrado, ligado diretamente às
religiões.
Conforme afirma Raffestin (1993, p. 143-144), há uma passagem do espaço
ao território, destacando que:
O território, nessa perspectiva, é um espaço onde se projetou um trabalho seja energia e informação, e que, por consequência, revela relações marcadas pelo poder. O espaço é a prisão original e o território é a prisão que os homens constroem para si.
Neste sentido, o território apoia-se no espaço, mas não é o espaço. É uma
projeção a partir dele que envolve relações, sejam sociais, políticas, econômicas e
culturais, inscrevendo-se em um campo de forças, manifestando-se como escala de
manifestação do poder. Dessa forma o espaço é concreto, o território é abstrato.
Na visão de Souza (2001), o território também deve ser apreendido em
múltiplas vertentes com diversas funções. Mesmo privilegiando as transformações
provenientes do poder no território, o autor aponta a existência de múltiplos
territórios, principalmente nas grandes cidades, como o território da prostituição, do
narcotráfico, dos homossexuais, das gangues e outros que podem ser temporários
ou permanentes.
P á g i n a | 24
Territórios são construídos e desconstruídos, dentro de escalas temporais as
mais diferentes: séculos, décadas, anos, meses ou dias; territórios podem ter um
caráter permanente, mas também podem ter uma existência periódica, cíclica.
(SOUZA, 2001, p. 81).
Ainda para Souza (2001:84),
ocupação do território é vista como algo gerador de raízes e identidade, ou seja, um grupo não pode mais ser compreendido sem o seu território, no sentido de que a identidade sócio-cultural das pessoas estaria inarredavelmente ligada aos atributos do espaço concreto (natureza, patrimônio arquitetônico, “paisagem)”.
Saquet (2004) menciona a classificação jurídico-política, cultural e econômica
do conceito de território mencionada por Haesbaert (2002) como sendo essencial
para se fazer as interligações necessárias. Considera também a vertente da
natureza, que sempre estará presente dentro do território. A natureza está no
território, e dele é indissociável.
Assim como Claude Raffestin, a ideia de poder também é uma constante na
discussão sobre território feita por Marcos Aurélio Saquet:
O território é produzido espaço-temporalmente pelas relações de poder engendradas por um determinado grupo social. Dessa forma, pode ser temporário ou permanente e se efetiva em diferentes escalas, portanto, não apenas naquela convencionalmente conhecida como o “território nacional” sob gestão do Estado-Nação. (SAQUET apud CANDIOTTO, 2004, p. 81).
Saquet (2010, p. 56) ainda corrobora com a ideia que “tanto as relações de
poder como as identidades e os processos de territorialização, desterritorialização e
reterritorialização1 são relacionais e historicamente instituídos”. Portanto, para este
autor o tempo histórico pode ser usado como uma categoria fundamental na análise
e interpretação dos territórios e suas derivações.
1 Para Saquet, (2003, p. 218) a “(...) des-territorialização num lugar significa re-territorialização noutro,
promovendo a mobilidade da força de trabalho e suas características culturais. É um processo inerente à natureza contraditória do espaço e do território”. Assim, a desterritorialização tem o sentido de perda do território apropriado e vivido, decorrente de diferentes processos capazes de desconstruírem territórios, ao passo que reterritorialização refere-se à criação de novos territórios.
P á g i n a | 25
Saquet destaca que o território é produto do “entrelaçamento do sujeito com o
território”. Tal fato nos remete a uma construção humana, cultural, essencialmente
histórica, integrando tempo e espaço.
O território e a territorialidade são produtos do entrelaçamento dos sujeitos de cada lugar, destes com o ambiente e com indivíduos de outros lugares, efetivando tramas transescalares em diferentes níveis territoriais. O território é uma construção coletiva e multidimensional, com múltiplas territorialidades (poderes, comportamentos, ações), [...] (SAQUET, 2010, p. 118).
O território enche o espaço com conteúdos particulares, relacionados a
construções históricas entre pessoas, organizações e Estado. Para Corrêa (1996), o
território é o espaço revestido da dimensão política, afetiva ou ambas, assim como a
territorialidade refere-se ao conjunto de práticas e suas expressões materiais e
simbólicas, que garantiriam uma apropriação e uma permanência em um dado
espaço por determinados grupos sociais, organizacionais.
Nesta perspectiva, Sack (1986, p. 216) conceitua que mesmo o território
sendo um espaço de poder, reflete uma dimensão simbólica, e ainda aponta para a
territorialidade. Ainda na concepção do mesmo o território caracteriza-se como
expressão de intencionalidades de um indivíduo ou grupo de afetar/influenciar o
comportamento humano a fim de controlar o acesso, fenômenos e pessoas
afirmando controle sobre uma área geográfica que assim será identificada, segundo
ele, como um território. A territorialidade é uma expressão básica de poder, provê
uma sociedade essencial de ligação entre a sociedade, tempo e espaço (SACK,
1986, p. 216).
Para Saquet (2010, p. 129) a territorialidade é o acontecer de todas as
atividades cotidianas, seja no espaço do trabalho, do lazer, da igreja, da família, da
escola etc, é o resultado do processo de produção de cada território, de cada lugar.
Ela é múltipla, como também os territórios os são, revelam a complexidade social e
as relações de dominação de indivíduos ou grupos sociais com o espaço geográfico,
com outros indivíduos, objetos e relações.
A territorialidade diz respeito às relações econômicas e culturais e relaciona-
se ao modo de vida, como as pessoas se organizam no espaço e como elas dão
significado ao lugar em que vivem. Portanto, a construção da territorialidade é um
P á g i n a | 26
fenômeno eminentemente cultural. A territorialidade nada mais é que as
manifestações sociais dentro do território (HAESBAERT, 2004).
Bonnemaison (2002, p. 96-97) destaca que territorialidade é a expressão de
um comportamento vivido: ela engloba, ao mesmo tempo, a relação com o território
e, a partir dela, a relação com o espaço ‘estrangeiro’. Para ele a territorialidade
emana do grupo produtor, no sentido de que ela é, antes de tudo, “a relação
culturalmente vivida entre um grupo humano e uma trama de lugares hierarquizados
e interdependentes, cujo traçado no solo constitui um sistema espacial – dito de
outra forma, um território”.
Ainda neste sentido, Bonnemaison (2002, p.126) afirma que:
O território apela para tudo aquilo que no homem se furta ao discurso científico e se aproxima do irracional: ele é vivido, é afetividade, subjetividade e muitas vezes o nó de uma religiosidade terrestre, pagã ou deísta. Enquanto o espaço tende à uniformidade e ao nivelamento, o território lembra as ideias de diferença, de etnia e de identidade cultural.
Para Haesrbeart (2002) a etimologia da palavra território se aproxima de
terra-territorium quanto de terreo-territor (terror, aterrorizar), tem a ver com poder,
dominação (jurídico-política) com inspiração do terror – especialmente para aqueles
que, com esta dominação, ficam alijados da terra, ou no “territorium” são impedidos
de entrar. Concomitantemente, tem os que têm o privilegio de usufruírem do
território no sentido da identificação seja (positiva) e a efetiva “apropriação”.
Desta forma para Haesbaert o território tem a ver com poder, não apenas do
poder tradicional, diz respeito tanto ao poder no sentido mais concreto, de
dominação, quanto ao poder no sentido mais simbólico, de apropriação.
Neste sentido, o território aqui abordado nesta pesquisa fundamenta-se no
conceito de território de Rogério Haesrbeart, em que esclarece que o conceito de
território desde sua origem já nasceu com dupla conotação material e simbólica.
Haesbaert (2002, p. 18) classifica o território sob três prismas básicos: 1)
jurídico-política, segundo a qual “(...) o território é visto como um espaço delimitado e
controlado sobre o qual se exerce um determinado poder, especialmente o de
caráter estatal”; 2) cultural(ista), que “(...) prioriza dimensões simbólicas e mais
subjetivas, o território visto fundamentalmente como produto da apropriação feita
P á g i n a | 27
através do imaginário e/ou identidade social sobre o espaço”: 3) econômica, “(...)
que destaca a desterritorialização em sua perspectiva material, como produto
espacial do embate entre classes sociais e da relação capital-trabalho”.
Assim:
O território, imerso em relações de dominação e/ou de apropriação sociedade-espaço, desdobra-se ao longo de um continuum que vai da dominação político-econômica mais “concreta” e “funcional” à apropriação mais subjetiva e/ou “cultural-simbólica” (HAESBAERT, 2004, 95-96).
Sendo assim, o território é apreendido não unicamente enquanto área
controlada para obtenção dos recursos naturais, mas também como conjunto de
referentes espaciais indissociáveis na criação e recriação de mitos e símbolos de um
grupo.
Todo território é, ao mesmo tempo e obrigatoriamente, em diferentes combinações, funcional e simbólico, pois exercemos domínio sobre o espaço tanto para realizar “funções” quanto para produzir “significados”. O território é funcional a começar pelo território como recurso, seja como proteção ou abrigo (“lar” para o nosso repouso), seja como fonte de “recursos naturais” – “matérias-primas” que variam em importância de acordo com o(s) modelo(s) de sociedade(s) vigente(s) (como é o caso do petróleo no atual modelo energético capitalista) (HAESBAERT, 2005, p.3).
É importante distinguir os territórios de acordo com aqueles que os
constroem, sejam eles indivíduos, grupos sociais/culturais, o Estado, empresas,
instituições como a Igreja entre outros, tal qual como coloca Haersbaert (2005, p.
22): “Os objetivos do controle social através de sua territorialização variam conforme
a sociedade ou cultura, o grupo e, muitas vezes, com o próprio indivíduo.”
Assim, pode-se interpretar a ambiguidade do “(...) território como múltiplo,
diverso, subjetivo e complexo, tanto no lado homogeneizador da globalização como
no lado diversificador da cultura” (HAESBAERT, 2004, p. 40).
Para Haesbaert (2004), a territorialidade, além de incorporar uma dimensão
estritamente política, diz respeito também às relações econômicas e culturais, pois
está ligada ao modo como as pessoas utilizam a terra, se organizam no espaço e
dão significado ao lugar.
Ousamos dizer que a territorialidade está para além da dimensão do poder,
pois compreende o conjunto de relações que se desencadeiam na complexidade do
P á g i n a | 28
território. Aí estão inseridas todas as manifestações humanas que incluem o saber, o
fazer, as disputas, os equilíbrios, os símbolos, as representações coletivas, políticas
e sociais.
Haesbaert (2006) trata o fenômeno da territorialidade como um conceito
simbólico cultural, o que a nosso ver possui extremo significado para a análise da
territorialidade que propomos. Segundo ele:
(...) mais do que território, a territorialidade é o conceito utilizado para enfatizar as questões de ordem simbólico-cultural. Territorialidade, além da acepção genérica ou sentido lato, onde é vista como a simples ‘qualidade de ser território’ é muitas vezes concebida em um sentido estrito como a dimensão simbólica do território (HAESBAERT, 2006, p. 73-74).
Independente da linha de pensamento que o pesquisador seguir, o que
constatamos foi a relevância do conceito de território para as pesquisas referentes à
pesca, em especial, à pesca artesanal. Principalmente na tentativa de aprofundar a
discussão sobre território e identidade às práticas cotidianas dos pescadores
artesanais.
O debate sobre território e identidade permite evidenciar as ações e
experiências concretas dos pescadores artesanais, os aspectos simbólicos das
relações sócio territoriais e os códigos nativos. Por meio de depoimentos, os
pescadores traduzem seus sentimentos em relação à realidade da pesca
“antigamente” e nos dias atuais.
Ao realizar a atividade pesqueira, os homens constroem saberes e acabam
constituindo uma cultura distinta, dentro de um cotidiano muito particular. Essa
especificidade nos remete ao conceito de identidade sócio territorial, conforme
empregado por Haesbaert (1999, p.172):
Toda identidade territorial é uma identidade social definida fundamentalmente por meio do território, ou seja, dentro de uma relação de apropriação que se dá tanto no campo das ideias quanto no da realidade concreta. O espaço geográfico constitui assim, parte fundamental dos processos de identificação social.
A identidade não tem tanto a ver com as questões de “quem nós somos” ou
“de onde nós viemos”, mas “quem podemos nos tornar”, “como nós temos sido
P á g i n a | 29
representados” e “como essa representação afeta a forma como nós podemos
representar a nós próprios” (...). As identidades são construídas dentro e não fora do
discurso que nós precisamos compreendê-las como produzidas em locais históricos
e institucionais específicos, no interior de formações e práticas discursivas
especificas, por estratégias e iniciativas especificas (HALL, 2011).
Para Hall (2011), a construção do conceito de identidade perpassa pela
percepção de concepções distintas sobre a identidade e o sujeito. Essas percepções
seriam a do sujeito do Iluminismo, do sujeito sociológico e do sujeito pós-moderno.
O sujeito do iluminismo tende a perceber o indivíduo como portador de uma razão,
sendo que o desenvolvimento desta viria a se constituir como base para a sua
identidade. O sujeito sociológico parte de que a identidade é formada na interação
do “eu” com e o outro. Nesta concepção, a identidade seria determinada pela ação
tanto do indivíduo quanto do outro que com ele interage. O sujeito na pós-
modernidade defende a ideia de que as identidades não estariam relacionadas ao
fator biológico e sim ao histórico. Desta forma, as identidades se apresentariam
como uma estrutura flexível e mutante.
Hall (1996, p. 68) afirma que ao invés de tomar a identidade por um fato que,
uma vez consumado, passa, em seguida, a ser representado pelas novas práticas
culturais, deveríamos pensá-la, talvez, como uma “produção” que nunca se
completa, que está sempre em processo e é sempre constituída interna e não
externamente à representação. Esta visão problematiza a própria autoridade e a
autenticidade que a expressão “identidade cultural” reivindica como sua.
Segundo Hall (1996, p. 70), a identidade cultural não possui:
(...) uma origem fixa à qual podemos fazer um retorno final e absoluto. (...) Tem suas histórias – e as histórias, por sua vez, têm seus efeitos reais, materiais e simbólicos. O passado continua a nos falar. (...) As identidades culturais são pontos de identificação, os pontos instáveis de identificação ou sutura, feitos no interior dos discursos da cultura e da história. Não uma essência, mas um posicionamento.
As diferentes identidades construídas nos diferentes territórios estão também
relacionadas com a forma de ocupação e de apropriação. Nesse sentido, a definição
de territórios imbrica aspectos ecológicos, históricos, sociais, culturais, políticos e
P á g i n a | 30
econômicos, fundamentalmente ligados às bases materiais e simbólicas da vida.
Fundada na territorialidade, a construção da identidade coletiva dos pescadores,
remete a uma determinada relação com a natureza.
A origem da identidade de um povo pode ser formada de diferentes maneiras.
Tanto pode ser a partir de histórias contadas e recontadas nas literaturas nacionais,
na cultura popular e de outras formas, como pode ter base nas suas origens, na
continuidade, na tradição e na intemporalidade. E também as identidades
inventadas, que são baseadas num conjunto de práticas que buscam dar certos
valores e normas de comportamentos através da repetição (HALL, 2011).
Remetemo-nos a Bauman (2005) quando o mesmo afirma que, o
“pertencimento” e a “identidade” não têm a solidez de uma rocha, não são
garantidos para toda a vida, são bastante negociáveis, os caminhos que percorre, a
maneira como age, são cruciais tanto para o “pertencimento” quanto para a
“identidade”, ou seja, não são definitivos nem tão sólidos assim, mas negociáveis e
revogáveis, depende das decisões que o indivíduo toma, do caminho que percorre e
da maneira como age.
Silva (2009) destaca o pertencimento como elemento da identidade.
(...) por “identidade”, compreende-se que o conteúdo é a pertença e também que ela define as dimensões das comparações sociais, que (re)alimentam o seu conteúdo. Além disso, incorpora também o conteúdo de normas específicas do grupo. Mesmo atitudes ou comportamentos que não sejam explicitamente reconhecidos como valores do grupo, podem ser fontes relevantes de expressão de identidade, desde que sejam vistos como típicos ou característicos de membros de um grupo particular e guiem as atitudes e comportamentos dos membros desse grupo (p. 121).
Destarte, esse sentimento acontece em função dos conteúdos que são
próprios, específicos do grupo social, ou seja, que aparecem em um modo de vida
particular.
Nesta perspectiva, é interessante analisar nas comunidades pesqueiras o
significado cultural e a identidade que o pescador e a comunidade local têm da
pesca, assim como as práticas socioculturais que dão a estas comunidades
pesqueiras características identitárias e culturais.
P á g i n a | 31
1.2 Comunidades Tradicionais Pesqueiras
A definição de comunidade de acordo com o Dicionário Aurélio da Língua
Portuguesa (FERREIRA, 1988, p. 165) é “quaisquer grupos sociais, cujos membros
habitam uma região determinada, possuem um mesmo governo e estão irmanados
por uma mesma herança cultural e histórica”. Ou ainda, como “um conjunto
populacional considerado como um todo, em virtude de aspectos geográficos,
econômicos e/ou culturais comuns” ou que compreendem um “grupo de pessoas
considerado, dentro de uma formação social complexa, em suas características
específicas e individualizantes; grupo de pessoas que comungam uma mesma
crença ou ideal; grupo de pessoas que desenvolvem uma mesma atividade
profissional”.
No Brasil são considerados comunidades ou povos tradicionais de acordo
com o DECRETO Nº 6.040 de 07 de ferreiro de 2007 os povos indígenas, os
quilombolas, as comunidades de terreiro, os extrativistas, os ribeirinhos, os
pescadores artesanais, os pomeranos, dentre outros.
Na perspectiva do estado brasileiro de acordo com o referido decreto, o qual
instituiu a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável e Povos e
Comunidades Tradicionais, compreende-se que uma comunidade tradicional é
aquela que se diferencia culturalmente das demais formas de organização social e,
portanto, se reconhecem como tais; possuem formas próprias de organização social,
ocupam e usam o território e recursos naturais para sua “reprodução cultural, social,
religiosa, ancestral e econômica”; para tanto, utilizam-se de inovações e práticas
geradas e transmitidas pela tradição de geração para geração.
Entendemos que o Estado Brasileiro aufere direitos às comunidades
tradicionais o que é por eles sabido. Assim, empreendemos no nosso estudo no
povoado Pedreiras com a expectativa de encontrar cidadãos cônscios de seus
direitos enquanto comunidade tradicional tal qual definida/delimitada por Diegues
(1983; 2004a) e Brandão (2010).
Na perspectiva de Diegues (1995) é difícil caracterizar uma comunidade
tradicional, uma vez que não encontramos comunidades que exerçam todas as
atividades da mesma forma como as realizavam há várias gerações atrás; na
maioria das vezes já sofrem com influências externas e se modernizaram bastante.
P á g i n a | 32
Mas dentro do contexto deste estudo, entende-se por comunidades tradicionais
aqueles grupos sociais que tem um "modo de vida" diferenciado das populações
urbano-industrial e que, via de regra mantém uma relação direta com os recursos
naturais.
É o que Diegues (1983) salienta que nenhuma cultura tradicional se acha em
estado puro, intocado, havendo uma contínua reestruturação social, cultural e
econômica que depende de uma maior ou menor articulação e dependência do
modo de produção capitalista e da capacidade de assimilação cultural de elementos
culturais externos.
Comunidades tradicionais são aquelas que apresentam distinções em relação
ao seu modo de viver, possuem uma cultura rica em costumes e crenças que são
construídas no decorrer dos anos e transmitidas de geração para geração.
Geralmente vivem em áreas afastadas, buscam obter meios de sobrevivência
desenvolvendo seus próprios conhecimentos em relação à natureza e o seu próprio
modo de viver.
Com isolamento relativo, essas populações desenvolveram modos de vida particulares que envolvem grande dependência dos ciclos naturais, conhecimento profundo dos ciclos biológicos e dos recursos naturais, tecnologias patrimoniais, simbologias, mitos e até uma linguagem específica, com sotaques e inúmeras palavras de origem indígena e negra. (DIEGUES, 2004a, p.14).
Brandão (2010, p. 347) coloca que a sociedade tradicional e/ou a comunidade
tradicional não surge como oposta a sociedade moderna ou ao mundo urbano, mas
sim como um lugar diferente da sociedade primitiva, indígena, tribal. Elas são
anteriores às cidades, e podem se reproduzir sem elas. São sociedades que
ocupam territórios, e que “(...) realizam-se sem, fora da ou à margem da sociedade
regional e de sua melhor representante: a cidade”.
1.3 A Pesca e o Pescador Artesanal
A pesca tem permeado os estudos geográficos no Brasil, ora como questão
central, ora como pano de fundo no estudo de comunidades e áreas litorâneas e
ribeirinhas (CARDOSO, 2003), buscando sempre compreender como os pescadores
vêm produzindo seus espaços e sua relação com a natureza.
P á g i n a | 33
Em geral a pesca é representada sob duas formas. A forma
industrial/mercantil realizada por empresas privadas com alto grau de produtividade
e investimentos, tanto econômico como também tecnológico, em todo o processo de
produção envolvido. E da forma artesanal, a qual se caracteriza principalmente pela
mão de obra familiar ou não assalariada, com embarcações e aparelhagem utilizadas
em muitos casos ainda rudimentares. No Brasil, então, coexistem desde a pesca em
modelos modernos e de alta produtividade e os tipos de pesca que não atingem,
sequer o nível de subsistência, sendo esta, a pesca predominante no Brasil
(PIMENTA, 2001).
De acordo com o Ministério da Pesca e Aquicultura – MPA, o(a) pescador(a)
artesanal é o profissional que, devidamente licenciado por este órgão, exerce a
pesca com fins comerciais, de forma autônoma ou em regime de economia familiar,
com meios de produção próprios ou mediante contrato de parcerias, desembarcada
ou com embarcações de pequeno porte.
A pesca é uma atividade humana que tem articulações entre os meios
aquáticos e terrestres, representando uma forma de uso do território e uma forte
relação sociedade-natureza. O Código da Pesca, Lei 9605, Capítulo V, Art. 36 de
1998, define a pesca como sendo:
(...) todo ato tendente a retirar, extrair, coletar, apanhar, apreender, ou capturar espécies de grupos de peixes, crustáceos, moluscos ou vegetais hidróbios suscetíveis ou não ao aproveitamento econômico ressalvado as espécies ameaçadas de extinção, constantes nas listas oficiais de fauna e flora (IBAMA, 1998, p.9).
Historicamente a pesca artesanal está ligada à influência de três correntes
étnicas que contribuíram para a formação da cultura das comunidades litorâneas e
ribeirinhas no Brasil: a indígena, a portuguesa e a negra (SILVA et. al, 1990). Dos
índios vem os conhecimentos culinários como o preparo do peixe para a
alimentação, a confecção das canoas e jangadas, as flechas, os arpões e as
tapagens; dos portugueses os métodos e instrumentos mais comuns como anzóis,
pesos de metal, redes de arremessar e de arrastar; e da cultura negra, herdaram a
variedade de cestos e outros utensílios utilizados para a captura dos peixes
(DIEGUES, 1983).
P á g i n a | 34
Com a colonização, a chegada de diferentes povos no território nacional e a
miscigenação, essa atividade se desenvolveu de forma significativa, o que configura
que a pesca sempre fez parte das culturas humanas, não só como fonte de
alimento, mas também como um modo de vida, fornecendo identidade a inúmeras
comunidades.
A pesca teve um papel importante no que diz respeito ao aspecto
socioeconômico do país, visto que várias cidades litorâneas se formaram a partir de
núcleo de pescadores, no decorrer dos distintos ciclos de nossa história.
O tipo de pesca apreendido neste estudo refere-se à artesanal, que é
realizada por pequenos produtores pesqueiros que utilizam instrumentos
rudimentares para exercer a atividade e tem um modo de vida baseado
principalmente na pesca ainda que exerçam outras atividades, ou seja, nosso
enforque é no “ser” pescador artesanal, mais precisamente o pescador e morador do
povoado Pedreiras, localizado no município de São Cristóvão no estado de Sergipe-
Brasil.
1.4 Estado da Arte
A obra de Antonio Carlos Diegues (1983; 1995; 1999; 2002; 2004a e 2004b)
apresentou-se fundamental para a compreensão do universo da pesca artesanal.
Seus textos tratam de temas transversais que traduzem a dinâmica da realidade de
comunidades e de pescadores que se deparam com, por exemplo, a escassez de
recursos pesqueiros, política de conservação e preservação de áreas ocupadas por
comunidades tradicionais; a organização social dos pescadores frente ao turismo e
ao papel da mulher, dentre outros.
Para ele (1995) o manejo dos recursos ocorre através de um complexo de
conhecimentos adquiridos pela tradição herdada dos mais velhos, resultando na
adequação de uso e manutenção dos ecossistemas naturais. Além disso, nas
comunidades tradicionais há uma reduzida divisão técnica e social do trabalho,
sobressaindo o trabalho artesanal, onde o produtor e sua família domina o processo
de trabalho até o produto final, o que é o caso da comunidade estudada.
Ainda de acordo com o referido autor (1983) populações que possuem um
conhecimento adquirido e experimentado, através de gerações, para o uso e manejo
P á g i n a | 35
de recursos naturais, bem como do espaço vivido e concebido social e
culturalmente, geralmente possuem uma forma específica de apropriação e relação
entre grupos sociais e ambientes naturais. Seus conhecimentos se baseiam na
transmissão oral, quer das formas produtivas quanto organizativas e culturais, como
garantia da manutenção dos grupos sociais distintos; fazem uso de tecnologia
simples, reduzida acumulação de capital, relações de produção definidas no âmbito
da unidade familiar nuclear ou extensa, com reduzida divisão de trabalho.
Nesse contexto, as obras de Simone Carneiro Maldonado (1993), Eduardo
Schiavone Cardoso (2001; 2003; 2004) e José Geraldo Wanderley Marques (1995)
complementam nosso levantamento referencial posto que tratam do modo de vida
do pescador artesanal: divisão do trabalho, formas de apropriação do meio,
conhecimentos e conflitos
Vanessa Marion Andreoli (2006; 2010) salienta que “a tradição integra e
monitora a ação à organização tempo-espacial de uma comunidade, ou seja, ela é
parte do passado, presente e futuro; é um elemento intrínseco e inseparável da
comunidade”. Esta vincula-se à compreensão do mundo fundada na superstição,
religião e nos costumes; pressupõe uma atitude de resignação diante do destino, o
qual, em última instância, não depende da intervenção humana, do “fazer a história”.
A ordem social sedimentada na tradição expressa a valorização da cultura oral, do
passado e dos símbolos enquanto fatores que perpetuam a experiência das
gerações.
No que se refere aos estudos sobre pesca no estado de Sergipe, procedemos
levantamento nas bancas de dissertação do Núcleo de Pós-Graduação em
Geografia – NPGEO e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente – PRODEMA da Universidade Federal de Sergipe – UFS. Destacamos a
dissertação de Roseli Pereira Nunes “A formação socioambiental de jovens filhos de
pescador: percepções e relações culturais” defendida pelo PRODEMA (2013). Ela
ressalta como os jovens filhos de pescadores do povoado Rua da Palha no
município de Santa Luzia do Itanhy percebem as relações socioambientais do seu
entorno, e a ligação existente entre a atividade pesqueira e o cotidiano
socioeconômico da comunidade. A autora coloca que para trabalhar com questões
socioambientais em comunidades cuja pesca é a principal atividade econômica, faz-
P á g i n a | 36
se necessário analisar a percepção ambiental dos envolvidos na atividade, portanto,
com abordagem próxima à que assumimos em nossa pesquisa.
A dissertação de mestrado de Eline Almeida Santos intitulada “(Re) Produção
Social e Dinâmica Ambiental no Espaço da Pesca: reconstruindo a territorialidade
das marisqueiras em Taiçoca de Fora- Nossa Senhora do Socorro/SE” foi defendida
no NPGEO (2012). Ela aborda sobre a (re) produção da pesca pelo trabalho
feminino, sobretudo, busca retratar as territorialidades das marisqueiras do Povoado
Taiçoca de Fora em Nossa Senhora do Socorro, a partir da análise das suas
vivências na terra e na água. A análise perpassa ainda pela discussão da dinâmica
ambiental e permanência na atividade por parte das mulheres marisqueiras; sobre a
divisão do trabalho e espaço da pesca. As manifestações culturais e religiosas no
ambiente pesqueiro, também são destaques nesta dissertação, visto que o folclore
faz parte da história de comunidades pesqueiras e sendo que esta não foge à regra.
Embora com foco de análise direcionado ao trabalho da mulher no universo
da pesca, sua abordagem sobre território e territorialidade auxiliou em nossas
observações e reflexões sobre a realidade no povoado Pedreiras.
Nesse contexto, extraímos das obras levantadas que o significado cultural e a
identidade que o pescador e as comunidades pesqueiras têm da pesca. As práticas
socioculturais dão às comunidades pesqueiras características identitárias e culturais,
passam a fazer parte da vida social dos pescadores, um espaço de crenças, mitos,
além de adquirir valor simbólico e material para a reprodução da condição humana
desses pescadores.
P á g i n a | 37
CAPÍTULO II
A CONSTRUÇÃO DA PESQUISA
P á g i n a | 38
2 – A CONSTRUÇÃO DA PESQUISA
2.1 A Ancoragem Fenomenológica da Percepção
A abordagem fenomenológica vem ganhando espaço nas pesquisas
qualitativas, aplicada aos estudos dos fenômenos importantes em vários campos,
mais ainda quando se quer dar destaque à experiência de vida das pessoas.
(MOREIRA, 2002, p. 60).
A contribuição da Fenomenologia dada a Geografia parte da forma como ela
possibilita analisar o espaço geográfico, levando em consideração as experiências
cotidianas, os significados e os valores que o homem atribui ao espaço vivido.
Dessa forma (ROCHA, 2006, p. 25), coloca que:
(...) a Geografia embasada na Fenomenologia procura salientar os significados e valores que as pessoas dão ao espaço, ao mundo que os rodeia, colocando, portanto, o homem em primeiro plano, como o individuo e o seu lugar, preocupação com a forma como vive, com seu cotidiano, com o mundo no qual está inserido.
O método fenomenológico consiste em mostrar e esclarecer determinado
fenômeno. Para a Fenomenologia um objeto é como o sujeito o percebe, e tudo tem
que ser estudado tal como é para o sujeito, pois tendo como objeto de estudo o
fenômeno em si, estuda-se, literalmente, o que aparece. Um objeto, uma sensação,
uma recordação, tem que ser estudado tal como é para o espectador, no caso o
pesquisador.
O termo Fenomenologia provém do grego “phainesthai” que é tudo aquilo que
se revela, e logos que significa estudo. É uma ciência subjetiva, estuda o próprio
fenômeno em si, tal qual como ele se apresenta.
Emanuel Kant em 1770 já usava o termo “fenomenologia”, mas surgiu na
filosofia a partir do século XIX e se consolidou no meio acadêmico no inicio do
século XX com os estudos de filósofos como Edmund Husserl, Martin Heidegger,
Jean-Paul Sartre e Maurice Merleau-Ponty (GONÇALVES, 2008).
A Fenomenologia, por Edmund Husserl, é a ciência dos fenômenos e das
suas essências ou das “ideias puras”. Um fenômeno é o que aparece à consciência,
P á g i n a | 39
o que implica que existe uma relação íntima entre o fenômeno e a consciência que o
descobre. Podemos dizer então que a Fenomenologia analisa a forma como as
coisas aparecem.
O que para Husserl é uma ciência, para outros estudiosos a Fenomenologia,
é uma escola de Filosofia ou ainda um movimento filosófico. No entanto, é possível
reconhecê-la como método e até mesmo como um movimento, por ter um sentido
mais abrangente. (MOREIRA, 2002)2.
Holzer (1992) salienta que a fenomenologia consiste em um procedimento
para descrever o mundo cotidiano do homem a partir da experiência imediata, suas
ações, lembranças, desejos e percepções.
Merleau-Ponty (1999) destaca que a Fenomenologia “é uma tentativa de uma
descrição direta de nossa experiência tal como ela é, e sem nenhuma deferência à
sua gênese psicológica e às explicações causais que o cientista, o historiador, o
sociólogo, (e o geógrafo), dela possam fornecer”. Reforça ainda que “o sentido da
Fenomenologia está em nós mesmos, no mundo vivido e na relação espaço-tempo”.
Seja ela uma ciência, uma escola, um movimento ou um método, todos
concordam numa coisa, que ela se ocupa de fenômenos que são os vividos de atos
e dos correlatos da consciência.
Segundo Lecione (2003), a Geografia inspirada na fenomenologia enfoca de
forma subjetiva a realidade na qual a intuição constitui um elemento importante no
processo de conhecimento. Para tal, a abordagem da percepção apresenta-se como
valioso instrumento de pesquisa fenomenológica.
O homem interage com o mundo através de sensações e percepções. É por
meio de nossos órgãos sensitivos: visão, tato, audição, paladar e olfato que
estabelecemos um conhecimento e uma experiência sensível com o que nos rodeia.
A percepção é a forma de encontro com o mundo e com o outro. Isso só é possível
por ser o homem um ser ativo. Aliado à percepção está também o conjunto de
representações construídas e reconstruídas na vivência cotidiana que em sua
2 Moreira (2002, p. 62) diz que o conceito de fenômeno representa, a nosso ver, a primeira grande
dificuldade no estudo da Fenomenologia. Isso se deve em parte ao fato de que a palavra tem mais de um sentido, e o sentido conhecido pela pessoa depende de certa forma, da sua formação; além disso, em fenomenologia, o sentido de fenômeno não é de maneira alguma um conceito claro, simples e indisputável. Um esclarecimento nesse ponto é da mais alta relevância.
P á g i n a | 40
essência revela um outro conjunto de elementos influentes nestas reconstruções.
Então, a percepção ambiental do espaço vivido constitui-se num ponto fundamental
para o entendimento da realidade estudada.
Existem vários termos para definir o conceito de percepção ambiental, mas
todos eles possuem em comum a relação entre o homem e o meio ambiente, como
cada indivíduo percebe e reconhece o meio em que vive como o utiliza e o que
espera dele e sua ação cultural sobre esse meio.
O estudo da percepção ambiental é de fundamental importância para que
possamos compreender melhor as inter-relações entre o homem e o ambiente, suas
expectativas, anseios, satisfações e insatisfações, julgamentos e condutas. O estudo
da percepção ambiental possibilita levantar informações relevantes em relação à
comunidade que se quer estudar ou qualquer que seja o objeto de investigação.
Na Geografia, essa abordagem tem grande relevância nas bases
humanística, as quais enfocam a relação homem-natureza, onde o homem é um
elemento em constate interação com o ambiente, modificando tanto a si mesmo
como o meio o qual está inserido. Apoiada nessa concepção, o estudo da percepção
ambiental permite revelar a visão de mundo do sujeito, seus sentimentos, seus
valores, suas crenças.
O homem sempre observou rios, montanhas, florestas, matas, campo etc. Porém, em um dado momento houve a consciência de que se viam tais elementos, ou seja, é exatamente nesse instante que percebe sua capacidade de mudança em suas relações com o meio natural, de transformação. Cada grupo humano tem uma maneira própria de representar, de interpretar e agir sobre o meio natural, afinal, a representação é a construção de uma visão de mundo. (GOBIRA, 2009, p. 38-39).
Tuan (1980, p. 4) define a “(...) percepção como sendo tanto a resposta dos
sentidos aos estímulos externos, como a atividade proposital em que certos
fenômenos são claramente registrados, enquanto outros retrocedem ou são
bloqueados”.
Para Ferrara (1999) a percepção ambiental é uma atividade de interação do
homem com seu meio, levando em consideração as trocas de informações e
P á g i n a | 41
conhecimentos prévios, a partir das experiências, das escolhas e dos
comportamentos que irão caracterizar aquele ambiente.
Nesse contexto, buscamos apreender a percepção ambiental dos pescadores
do povoado Pedreiras, ou seja, se suas formas de representar, interpretar e agir
sobre o meio natural pela pesca revelam suas visões de mundo; se estão (e quanto)
imbricadas com a construção de suas identidades.
2.2 A Pesquisa Qualitativa
A elaboração de uma metodologia de pesquisa para que seus resultados
sejam satisfatórios, necessita de um planejamento cuidadoso e reflexões conceituais
sólidas. O método e seus instrumentais de pesquisa exigem o escopo de um
conjunto de ações sistematizadas de forma a nortear o caminho da pesquisa.
Nossa abordagem é qualitativa, pois se preocupa com os aspectos da
realidade estudada que não podem ser quantificados como a interpretação e
explicação das relações sociais, contudo sem menosprezar o quantitativo. Com
relação ao tipo de nossa pesquisa nos baseamos nas obras de (LAKATOS;
MARCONI, 1991; RICHARDSON, 1999; GIL, 2006, GODOY, 1995, MINAYO, 1994 e
DEMO, 2000), identificando-a como pesquisa descritiva e estudo de caso.
É uma pesquisa que visa à descrição dos fenômenos sociais, econômicos,
culturais, políticos e ambientais do objeto de estudo. A descrição e vantagiosa
porque possibilita o conhecimento da realidade estudada, mas, sobretudo, a análise
e o entendimento da interação da comunidade com seu meio e suas instituições.
O caráter exploratório da pesquisa permite o pesquisador lançar um olhar
para além do que se vê em relação aos aspectos subjetivos dos sujeitos, atingindo
motivações não explícitas ou, mesmo, consciente. Desse modo, o sujeito da
percepção faz parte do fenômeno. É por isso que Moreira (2002) coloca que o
método de investigação crítico, rigoroso e sistemático da Fenomenologia tem
paulatinamente ganho reconhecimento como uma abordagem da pesquisa
qualitativa.
A pesquisa qualitativa se preocupa com princípios, leis e generalizações,
sempre voltada à qualidade, aos elementos que sejam significativos para o
investigador. Desta maneira, encontra na Fenomenologia suporte para sua
P á g i n a | 42
investigação. Sendo assim, o método fenomenológico é uma excelente estratégia
para a pesquisa quando se pretende coletar dados referentes à experiencia vivida
de pessoas e comunidades. Assim, a pesquisa qualitativa ocupa um reconhecido
lugar entre as várias possibilidades de se estudar os fenômenos que envolvem os
seres humanos e suas intrincadas relações sociais, estabelecidas em diversos
ambientes (GODOY, 1995, p. 21).
Por ser esta uma pesquisa qualitativa, nosso intuito foi o de conhecer e
compreender as percepções dos sujeitos pescadores da pesquisa e saber como
eles vivem, quais são suas crenças, sentimentos e valores. Suas visões de mundo
têm sempre um sentido, um significado, que não são revelados de imediato, mas
precisam ser desvelados.
Nosso estudo pode ser considerado também como pesquisa bibliográfica e
documental tal como classificada por Demo, (2000) e Gil, (2006). Ora, toda pesquisa
necessita de levantamento documental prévio para a sua execução e é nesse
sentido que a pesquisa bibliográfica encerra o passo inicial, analisando as
referências técnicas e os meios disponíveis. Ela se utiliza de materiais elaborados
com tratamento analítico de suas fontes tais como livros, artigos científicos, censos,
dentre outros. Já a pesquisa documental se cerca de fontes variadas sem
tratamento analítico anunciado, como jornais, revistas, filmes, manuais, relatórios de
empresas e de órgãos públicos, por exemplo o Diagnostico do Povoado Pedreiras –
Banco do Brasil (1993); Diagnóstico Do Município de São Cristóvão – Governo de
Sergipe, 2002; Relatório de Informações Básicas Municipais do Município de São
Cristóvão - Governo de Sergipe (2008); Plano de Metas do Município de São
Cristóvão – (EMDAGRO, 2011).
Segundo Minayo (1994) e Gil, (2006) nossa pesquisa encerra um estudo de
caso. Um estudo de caso é amplamente realizado em pesquisas sociais e sua
característica é o mergulho no seu objeto, seja ele coletivo, de organização, de um
conjunto de organização, seja ele escalar, numa comunidade ou num conjunto de
comunidades. O estudo de caso procura discernir “como” e “porque” ocorre tal
situação ou fenômeno, descrevendo o contexto que se insere. Assim, coloca-se
como valioso instrumento para a apreensão dos aspectos culturais dos pescadores
e como se dá a apropriação dos espaços bem como os territórios da pesca e suas
territorialidades. Nesse sentido, entendemos que o arcabouço de nosso estudo
P á g i n a | 43
revela-se como etnográfico corroborando para o campo das pesquisas qualitativas.
Entendido como método pela sociologia consiste em compreender o estudo pela
observação direta e por um período de tempo, das formas costumeiras de viver de
um determinado grupo social. Isto é, o que procuramos fazer no povoado Pedreiras.
2.3 Os Procedimentos
As abordagens qualitativas devem ser usadas quando buscamos percepção e
entendimento sobre a natureza geral de uma questão, abrindo espaço para
interpretação. Por isso, a coleta das informações, nesse tipo de pesquisa, deve ser
feita diretamente pelo pesquisador no local dos levantamentos, para que ele tenha
maior compreensão dos fenômenos que quer estudar, ou seja, é o próprio
pesquisador que deve fazer a pesquisa de campo.
A pesquisa teve como principal instrumento de investigação a realização de
entrevistas semiestruturadas aplicadas com 28 moradores do povoado prioritária e
intencionalmente sendo 23 pescadores artesanais.
Conforme Minayo (2003, p. 57-59), a entrevista é a forma mais comum
utilizada nos trabalhos de pesquisa de campo e é através dela que o pesquisador
busca colher informações contidas nas falas dos entrevistados. Minayo op. cit ainda
coloca que as entrevistas estruturadas e não-estruturadas, podem ser mais ou
menos dirigidas, de abordagem livre ou com perguntas previamente elaboradas.
Quando se articulam essas duas formas, a entrevista caracteriza a entrevista como
semiestruturada, tal como procedemos em nosso estudo.
A observação direta também foi uma técnica bastante importante nesse
estudo, uma vez que quando tratamos de percepções e olhares diferenciados, o
método da observação se torna muito valioso, já que é possível perceber se as
afirmações feitas em entrevista realmente se concretizam no dia-a-dia.
Elaboramos dois roteiros de entrevistas. O primeiro com conteúdos
direcionados à pesca e aos pescadores. E o segundo com questões sobre o lugar, o
meio. O roteiro voltado aos pescadores (Apêndice A) pode ser sintetizado com os
seguintes conteúdos:
Dados pessoais;
P á g i n a | 44
Linha do tempo: se pescou na infância, aprendizado da pesca,
juventude e dias atuais (memória); convivência;
A pesca: tempo dedicado, apetrechos, embarcações, locais de pesca,
época de pescaria, tipo de pescado, produção, renda, comercialização;
Percepção do ser pescador: preferências de lugares e tipos de pesca,
inserção na colônia de pescadores, benefícios de políticas públicas;
Percepção do lugar: percepção das mudanças; sentidos e estímulos
para com o lugar.
O segundo roteiro (Apêndice B) foi elaborado no contexto metodológico do
projeto de pesquisa “Grande Projetos e Identidades Locais: possibilidades e desafios
de pequenas comunidades costeiras”, e absolvido em nossa metodologia para à
avaliação da percepção sobre o meio e a pesca constando dos seguintes conteúdos:
Identificação/percepção dos bens materiais: prédios, praças,
equipamentos, dentre outros;
Identificação/percepção dos bens imateriais: danças, artesanatos,
comidas, música, festas dentre outros.
Identificação/percepção da base socioeconômica: a pesca, as roças,
comércio, serviços dentre outros.
Ancorados nessa estratégia metodológica de trabalho, demos início às
atividades de campo com o contato com o espaço vivido pela comunidade pesqueira
em questão, observando, sentindo e desvelando o lugar, seus habitantes e suas
práticas socioculturais. Paralelamente com a realização das entrevistas realizamos o
registro fotográfico e nossas observações em um caderno de campo. Tal
procedimento foi valioso, pois o método de observação se prestou como ferramenta
para a apreensão de nossas percepções e a dos entrevistados.
A pesquisa ocorreu de outubro de 2012 a março de 2014. Consistiu em
diversas visitas ao povoado Pedreiras, quando pudemos explorar melhor o lugar,
participar de conversações informais com moradores e pescadores.
Nos primeiros meses realizamos visitas exploratórias a Pedreiras e a outros
povoados do litoral sergipano correspondendo, ao momento de nossa participação
no referido projeto. No município de São Cristóvão visitamos Pedreiras, Arame I e II,
Rita Cacete e Coqueiro, até definirmos e decidirmos pela escolha de Pedreiras por
P á g i n a | 45
apreender lá uma pesca artesanal realizada por pequenos produtores pesqueiros
(DIEGUES,1983; CARDOSO, 2003), que nos instigou compreender e avaliar as
formas identitárias dos pescadores ai residentes, territorial e simbólica
(HAERSBEART, 1999), bem como suas percepções sobre o sentido de ser
pescador (TUAN, 1980; BONNEMAISON, 2002).
Nesse período visitamos o povoado 27 vezes, salientando que, a totalidade
das entrevistas (28) foram realizadas nos meses de julho a agosto de 2013.
Outro instrumental valioso para a apreensão e compreensão da realidade
estudada constou de nossa participação nas oficinas realizadas no Projeto. Foram
realizadas duas oficinas, uma na Escola Municipal de Ensino Fundamental Terezita
de Paiva Lima com alunos do 1º ao 5º; a outra, com moradores associados da
Associação de Desenvolvimento Comunitário do Povoado Pedreiras – ADCPP.
Ainda, participamos da reunião da equipe do Programa de Educação Ambiental com
Comunidades Costeira – PEAC3 com a comunidade.
As oficinas tiveram como objetivo desenvolver reflexões sobre o patrimônio
cultural e a identidade da comunidade. Para isso, foi utilizado como instrumental de
pesquisa: desenhos, fotografias e redações, que retrataram o cotidiano de cada
indivíduo e da própria comunidade, bem como e os símbolos considerados como
referência do povoado para os entrevistados.
As oficinas de desenhos e fotografias foram momentos profícuos, pois
proporcionaram momentos de análise das relações entre os moradores e o povoado,
em que a territorialidade na sua dimensão simbólica apareceu nitidamente, através
dos desenhos e textos produzidos e do olhar fotográfico dos participantes.
A oficina na escola ocorreu em maio de 2013 e reforçou nossa escolha por
Pedreiras, pois 53 desenhos estamparam a paisagem ribeirinha e a pesca no
cotidiano das crianças e suas famílias, conforme figuras 01 e 02.
3 O PEAC é o Programa de Educação Ambiental com Comunidades Costeiras e existe para atender
às condicionantes específicas do IBAMA em educação ambiental, para compensar as comunidades da área de abrangência dos empreendimentos marítimos da PETROBRÁS – Unidade de Negócio de Exploração e Produção de Sergipe e Alagoas – UN-SEAL e diminuir ou eliminar os impactos negativos gerados desses empreendimentos.
P á g i n a | 46
Figura 01 – Oficina “O Povoado Pedreiras em minha vida”. Organização: SANTOS, R. H. Fonte: Projetos de Pesquisa “Grandes Projetos”, 2013.
Figura 02 – Desenho do Povoado Pedreiras. Fonte: Projeto de Pesquisa “Grandes Projetos”, 2013.
A segunda oficina contou com a participação de 19 moradores associados,
realizada em março de 2014 e, portanto, posterior às nossas entrevistas (Figura 03).
Ela foi importante para validar nossa compreensão e analise sobre a identidade dos
P á g i n a | 47
pescadores com o lugar e com a pesca. O ambiente e a importância da pesca estão
expostos na figura 04.
Figura 03 – Oficina “Minhas Referências” Fonte: Projeto de Pesquisa “Grandes Projetos”, 2013. Organização: TORRES, R. P. de A.
Figura 04 – Foto tirada por morador – Povoado Pedreiras. Fonte: Projeto de Pesquisa “Grandes Projetos”, 2013.
P á g i n a | 48
Nossa participação na reunião do PEAC teve o intuito de acompanhar as
discussões sobre as demandas da comunidade para posteriores análises dos
relatórios do Projeto “Grandes Projetos”. O PEAC corresponde ao Projeto de
Compensação Ambiental financiado pela Petrobrás em todo litoral sergipano desde
1999 e é executado pelo departamento de Serviço Social da Universidade Federal
de Sergipe. Sua execução consiste no fornecimento de instrumentos, equipamentos
e até prédios às associações existentes e de acordo com as demandas. Em
Pedreiras a reunião contou com a presença 15 associados e os encaminhamentos
conduziram para a eleição de representantes no Conselho Regional do PEAC e,
como reivindicação sugeriram melhoramentos na estrada.
Outro procedimento realizado diz respeito à amostra. Como é muito difícil
pesquisar a totalidade da população, selecionamos uma amostra com menor
número de entrevistados para executar a pesquisa, pois a escolha e definição do
tipo de amostragem é uma das principais fases do processo. Malhorta (2006)
escreve que as características relevantes e a homogeneidade da população em
relação às variáveis de interesse podem ser representativas da população
interessada.
Inicialmente a amostra foi definida pela técnica metodológica snowball
também chamada snowball sampling (BIERNACKI, P.; WALDORF, 1981) a qual
consiste no recrutamento dos sujeitos da pesquisa. Esta técnica é conhecida no
Brasil pelo nome de “bola de neve”, utilizada em pesquisas sociais em que os
participantes iniciais de um estudo indicam novos participantes que por sua vez
indicam novos participantes e assim sucessivamente, até que seja alcançado o
objetivo proposto. No entanto, realizamos também entrevistas com
moradores/pescadores, cuja abordagem deu-se espontaneamente, em momentos
quando percorríamos o povoado, ou seja, a partir de encontros em mercearia ou no
trajeto para casa de algum indicado pelo entrevistado anterior. Com o consentimento
dos moradores/pescadores as entrevistas foram gravadas e os fragmentos mais
marcantes dos depoimentos obtidos estão presentes ao longo do texto da
dissertação. Todos os entrevistados assinaram uma declaração (Apêndice C),
autorizando a utilização de seus depoimentos na dissertação.
P á g i n a | 49
2.4 Tratamento dos Dados
Por se tratar de uma pesquisa qualitativa, utilizamos para o tratamento das
informações a Análise de Conteúdo, a qual foi conceituada por Bardin (1977), como
"um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando obter, por
procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição de conteúdo das mensagens,
indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos
relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas
mensagens".
Para Bardin (1977 p. 95), a análise de conteúdo basicamente desdobra-se
em três fases, a saber:
A Pré-análise: é a fase de organização propriamente dita, a qual
haverá a escolha dos documentos; formulação das hipóteses e dos objetivos e a
elaboração de indicadores que fundamentam a interpretação final;
Exploração do Material: consiste essencialmente de operações de
codificação, desconto ou enumeração, em função de regras previamente
formuladas;
Tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação: consiste no
tratamento dos resultados brutos de maneira a serem significativos e válidos.
A relação dos conteúdos dos roteiros com a análise de conteúdo proposta por
Bardin (1977) é apresentada no quadro 01.
P á g i n a | 50
Quadro 01- Análise dos Conteúdos
ROTEIRO DE ENTREVISTAS CONCEITOS E CATEGORIAS
Perfil;
A pesca: tempo dedicado, apetrechos, embarcações, locais de pesca, época de pescaria, tipo de pescado, produção, renda, comercialização;
Identificação/percepção da base socioeconômica: a pesca, as roças, comércio, serviços dentre outros.
SOCIOECONOMIA COTIDIANO
Linha do tempo: se pescou na infância, aprendizado da pesca, juventude (memória); dias atuais e convivência;
HERANÇA E PERTENCIMENTO
Percepção do ser pescador: preferências de lugares e tipos de pesca, inserção na colônia de pescadores, benefícios de políticas publicas;
Percepção do lugar: percepção das mudanças; sentidos e estímulos para com o lugar;
Identificação/percepção dos bens materiais: prédios, praças, equipamentos, dentre outros;
Identificação/percepção dos bens imateriais: danças, artesanatos, comidas, musica, festas dentre outros.
SIGNIFICADOS E RESSIGNIFICAÇÕES
Organização: TORRES, R. P. de A. Fonte: Trabalho de campo, 2013; (BARDIN, 1977).
Os dados coletados nas entrevistas foram tratados numa matriz Excel
(Apêndice D), construída de forma que nos possibilitasse a visualização de todas as
respostas, possibilitando cruzar as respostas ou mesmo agrupar algumas. Esta
ferramenta ajudou ainda na construção de gráficos, tabelas e quadros que
auxiliaram na demonstração dos conteúdos tratados.
2.5 Caracterização da Área de Estudo
Conforme é colocado por Haersbaert (2005) é importante perceber a
historicidade do território, sua variação conforme o contexto histórico e geográfico.
Dessa forma, iniciamos abordando os aspectos gerais do município de São
Cristóvão, onde se insere o povoado Pedreiras de maneira a relacionar a história do
P á g i n a | 51
município com a do povoado. Assim, este capítulo trata dos aspectos geo-históricos
do município de São Cristóvão e do povoado Pedreiras.
Nos dias atuais o município de São Cristóvão faz parte do Território de
Planejamento Grande Aracaju e também da região metropolitana de Aracaju.
Localizado no setor Este do estado de Sergipe, limita-se a Norte com Nossa
Senhora do Socorro, a Sul e Oeste com Itaporanga D’Ajuda e a Este com Aracaju. O
acesso a sede do município a partir de Aracaju dá-se pela, rodovia BR-101, mais a
Oeste, construída na década de 1960 ou, pela e SE-212, conhecida como Rodovia
João Bebe Água, com traçado próximo da estrada colonial (Figura 05).
Figura 05 – Localização do município de São Cristóvão no Estado de Sergipe. Fonte: Atlas Digital sobre os Recursos Hídricos do Estado de Sergipe, 2011.
O município de São Cristóvão foi criado pela Lei Provincial de 17/03/1855 e
Lei Estadual nº 554 de 06/02/1954. No entanto, sua fundação foi em 1590, mais
precisamente em 1º de janeiro, por Cristóvão de Barros. É conhecida como a 4ª
cidade mais antiga do Brasil tendo sido capital do estado de Sergipe até o ano de
1855, quando o então presidente da província Inácio Joaquim Barbosa, transferiu a
capital para Aracaju em 17 de março. Em 2010 o conjunto arquitetônico da Praça de
P á g i n a | 52
São Francisco foi tombado pela UNESCO como patrimônio histórico da humanidade,
em reconhecimento ao seu valor histórico.
De acordo com o IBGE, a população são-cristovense na última contagem
(2013) foi de aproximadamente 84.620 habitantes, com densidade populacional de
193,7 hab/km². Seu IDHM é de 0,662 considerado médio, a renda per capita é de R$
6 359,95 e o PIB do município de é de R$ 501 647, 590 mil. (IBGE, 2010). Seu PIB
encontra-se nessa posição, reafirmando a tendência de concentração da riqueza e
de melhores condições socioeconômicas no núcleo metropolitano e de seu entorno.
No entanto, o município de São Cristóvão vem enfrentando ao longo das últimas
décadas uma crise socioeconômica e política que se reflete principalmente nos
setores da educação, da saúde e infraestrutura.
Com relação aos aspectos ambientais o rio Vaza Barris traduz-se no
elemento mais marcante na paisagem, pois corta o município já próximo a sua foz
com terraços e planícies fluviais bem demarcados e ilhas predominantemente
dominadas por manguezais. Por sua posição próxima ao litoral o relevo suave
ondulado e dissecado em colinas e interflúvios tabulares domina a paisagem,
assentado sobre solos do grupo Barreiras (terciário). O sitio de São Cristóvão
(Figura - 06) foi instalado na foz do rio Paramopama, principal afluente do baixo
curso do rio Vaza Barris, com distinção entre a cidade baixa, onde situou-se o porto,
e a cidade alta, onde edificaram-se casarios, igrejas enfim o centro
religioso/administrativo e comercial da então capital da província.
P á g i n a | 53
Figura 06 - Imagem aérea parcial do município de São Cristóvão – situação do Povoado Pedreiras. Fonte: Base Cartográfica dos Municípios Litorâneos – Secretaria de Estado do Planejamento, Governo de Sergipe, 2013.
Sua economia está baseada na agricultura com cultivos de coco da baía e
outras frutas como: manga, banana, mangaba, além de milho, feijão, mandioca etc;
na pecuária destacam-se os pequenos produtores com a criação de gado de corte e
leite, suínos e aves, esta última em grande escala comercial e, na pesca no modo
artesanal, a qual abastece toda região e Aracaju (SERGIPE, 2002). Todavia, a
exploração de petróleo mesmo que em menor escala em relação a outros
municípios do estado são significativos para a indústria extrativa do município,
confirmado pela arrecadação de royalties da Petrobrás.
A população se distribui em 45 povoados e inúmeros povoamentos dispersos,
além dos bairros Rosa Elze e Eduardo Gomes com população significativa que se
situam contíguos ao município de Aracaju configurando a expansão urbana da
capital.
Já o povoado Pedreiras, pelos dados levantados, surgiu como ponto de
referência, possivelmente com essa denominação, desde o inicio da colonização.
Conta-se que o primeiro porto atracadouro de Sergipe surgiu no povoado
Pedreiras e que se chamava “Porto das Pedras”. Navios com enormes cargas de
carne, sabão, alcatrão, breu e louças finas, entre outros produtos atravancavam
neste porto; em seguida eram levados até a sede do município, na época capital de
Sergipe, por pequenas embarcações (BANCO DO BRASIL, 1993). Tal informação
parece consistente, pois as pedras do leito do rio neste local realmente constituem
obstáculo à passagem de embarcações de porte. Ainda sobre essas pedras os
P á g i n a | 54
moradores relataram (pela historia oral de seus antepassados) que “muitas pedras
foram tiradas daqui para a construção de casas de São Cristóvão”.
De acordo com relatos de moradores mais antigos e do documento
Diagnostico do Povoado Pedreiras (BANCO DO BRASIL, 1993) o povoado surge em
meados do século XIX, a partir do povoamento de duas propriedades: Tinharé e
Pedreiras, esta última de propriedade de Dona Iaiá que foi a primeira a ser loteada e
posta venda. Posteriormente, a propriedade Tinharé também foi loteada e vendida.
Estes lotes foram adquiridos por famílias que construíram as primeiras casas na
localidade, que mais tarde se transformaram em povoados.
Nesta época a comunicação com a sede de São Cristóvão se dava pelo rio.
Há relatos que a estrada só foi construída em meados de 1940, bastante precária,
carroçável, “a mando de um ‘poderoso’ da região”, descendente de um dos
fundadores do povoado, aberta “pelas mãos dos próprios moradores”.
O Povoado Pedreiras dista 8 km da sede do município de São Cristóvão. O
acesso ao povoado se dá pela estrada municipal São Cristóvão-Pedreiras, cujo
traçado aproveitou o leito da estrada carroçável e foi construída em meados da
década de 1970 pela Petrobrás para que máquinas e caminhões pudessem ter
acesso à base da subestação coletora instalada no povoado. No percurso sentido
São Cristóvão-Pedreiras a estrada corta aos povoados Chica e Tinharé, que assim
como Pedreiras, assentados sobre elevados terraços do rio Vaza Barris.
No trecho da estrada entre o povoado Chica e Pedreiras, a estrada é paralela
ao vale, sobre o terreno do grupo Barreiras, pouco sinuosa, mas com sucessivos
aclives e declives, o que proporciona uma bela vista das águas do rio Vaza Barris.
(Figura 07)
P á g i n a | 55
Figura 07 - Imagem de Satélite do Povoado Pedreiras Fonte: Base Cartográfica dos Municípios Litorâneos – Secretaria de Estado do Planejamento, Governo de Sergipe, 2013.
O povoado possui área aproximada de 1.900 ha e conta com um quantitativo
populacional de 1.055 habitantes (IBGE, 2010). Distante da capital Aracaju 33 km,
sua principal ocupação é a pesca nos moldes artesanais. Em seguida destaca
agricultura de pequenas roças de subsistência de feijão, milho, macaxeira e
mandioca e fruteiras como mangueiras, jaqueiras, cajueiros e coqueiros dentre
outras.
O povoado é dotado de uma Unidade de Saúde da Família ‘Alice Freire’, que
oferece o PSF – Programa de Saúde da Família (Figura 08); uma Escola Municipal
de Ensino Fundamental Terezita de Paiva Lima, que oferece apenas o ensino
fundamental, do 1º ao 5º ano; ADCPP – Associação de Desenvolvimento
Comunitário do Povoado Pedreiras, onde acontecem os encontros dos pescadores
com a Colônia de Pescadores de São Cristóvão – Z2, na ocasião do
recadastramento da pesca ou para empréstimos, reuniões do PEAC, até mesmo
festas (Figura 09).
P á g i n a | 56
Figura 08 – Unidade de Saúde da Família “Alice Freire” – Povoado Pedreiras Organização: TORRES, R. P. de A. Fonte: Trabalho de campo, 2013.
Figura 09 – Prédio da Associação de Desenvolvimento Comunitário do Povoado Pedreiras. Organização: TORRES, R. P. de A. Fonte: Trabalho de campo, 2013.
As demais construções no povoado são: Igreja Católica de Santa Cruz; Igreja
Evangélica Assembleia de Deus; Estação Coletora da Petrobrás, IP-02 (Campo
P á g i n a | 57
Petrolífero de Ilha Pequena). Tem como pontos comerciais pequenas mercearias
que vendem produtos básicos de higiene e alimentação, além de alguns bares e
pequenos restaurantes que servem comida caseira, principalmente para funcionários
e terceirizados da Petrobrás. O povoado não possui cemitério servindo-se daquele
do povoado Tinharé.
Quanto a situação e tipos de domicílios existentes no povoado Pedreiras, a
maioria encontra-se na área urbana e, são do tipo particular permanente. As
construções são na maioria de alvenaria, mas ainda existem casas de taipa,
principalmente as construções mais velhas o que denuncia o passado rural da
comunidade. Nas áreas mais afastadas da área urbana, também encontramos casas
de taipa, algumas bastantes deterioradas pela ação do tempo (Tabela 1; Figuras 10,
11 e 12).
Figura 10 – Rua principal do Povoado Pedreiras Organização: TORRES, R. P. de A. Fonte: Trabalho de campo, 2013.
P á g i n a | 58
Figura 11 – Casa de alvenaria no Povoado Pedreiras. Organização: TORRES, R. P. de A. Fonte: Trabalho de campo, 2013.
Figura 12 – Casa de taipa no Povoado Pedreiras Organização: TORRES, R. P. de A. Fonte: Trabalho de campo, 2013.
O abastecimento de água é precário e constitui um problema antigo. A
empresa responsável é do poder municipal a SAEE – Serviço Autônomo de Água e
Esgoto e de acordo com os moradores não atende a demanda e as necessidades da
P á g i n a | 59
população, pois falta água todos os dias no povoado. Esta situação se arrasta há
anos e até o momento atual nada foi resolvido. Com relação ao fornecimento de
energia elétrica a Energisa é a responsável pelo abastecimento do povoado.
A rua principal do povoado é uma continuação da estrada. Salientamos que
somente a rua principal que começa em frente a igreja católica e termina na
bifurcação entre a subestação da Petrobrás e a estrada de acesso ao porto do
Maninho possui calçamento. A rua é calçada de paralelepípedo, mesmo assim
precariamente, pois devido ao fluxo de caminhões e máquinas pesadas da
Petrobrás a estrada apresenta buracos e pedras soltas. Duas outras ruas cortam o
barranco do rio, onde algumas casas foram assentadas de forma a compor o
arruamento do povoado. Embora predomine casas com fachada frontal e com
poucos metros – 5 a 7 metros, a grande maioria possui quintais, com criação de
aves e fruteiras. São poucas as casas com recuo, mas em todas, arbustos e
pequenas plantas ornamentais enfeitam as fachadas. Os sítios e as casas de
“veraneio” são identificadas nos arredores do povoado pelo porte, geralmente
maiores do que as casas da sede, e pelas condições de estarem com portas e
janelas fechadas. Nos sítios, identificamos algumas construções anexas para
caseiros e, pelas informações colhidas os “veranistas” são predominantemente
pessoas nascidas no povoado ou parentes.
O que prende a atenção de quem visita o povoado pela primeira vez é a
simplicidade do arranjo em conformidade com sua beleza cênica, beleza esta, que
encanta quem chega. Observam-se jardins floridos, muitas cores, texturas, cheiros;
cenas de um cotidiano carregado de significados e singularidades como: pescadores
tecendo suas redes em suas varandas; crianças aqui e acolá brincando na rua,
subindo em árvores, barcos ancorados nos portos, ou saindo para a pescaria. A
paisagem do rio vista de cima do barranco, de onde se avistam as ilhas: Grande e
Pequena, os apicuns e a exuberância dos manguezais, enchem os olhos,
completando a tranquilidade que reina no ambiente e sua gente humilde. (Figura 13)
P á g i n a | 60
Figura 13 – Cotidiano do Povoado Pedreiras – o que se vê: a) crianças brincando de “pega pega”; b) pessoas e animais pelas ruas; c) aratu no manguezal; d) pescadores tecendo/consertando redes; e) e f) canoas nos portos e; g) saída para a pesca. Organização: TORRES, R. P. de A. Fonte: Trabalho de campo, 2013.
Levantamos a idade, sexo, naturalidade, estado civil, educação e condições
de habitação dos moradores/pescadores artesanais do povoado Pedreiras.
Dos 28 entrevistados 23 se declararam pescadores. Entre os entrevistados,
20 são do sexo masculino e 8 do sexo feminino. Embora prevaleça o sexo
masculino, a participação das mulheres na pesca é muito significativa. Isso se
somado aos depoimentos dos homens que afirmam terem a ajuda das
companheiras na pescaria e na vida com as atividades outras da pesca.
Minha esposa é quem coleta os mariscos, limpa e vende. Ela me ajuda bastante (José dos S. Filho, pescador, 46 anos).
a) b)
c) d) e)
f) g)
P á g i n a | 61
Minha esposa é marisqueira do aratu, do siri ela quebra, ela também faz o catado de caranguejo. Ela quem limpa e vende, mas não ajuda muito na pescaria porque ela é especial (deficiente) (José Obtério, pescador, 42 anos).
É sabido que a mulher sempre exerceu papel importante, seja na cadeia
produtiva, no tratamento do pescado para a venda e na confecção e remendo das
malhas de pescar, seja como pescadora ou marisqueira. Ademais, essas mulheres
complementam a renda familiar. Algumas até são responsáveis diretamente pelo
sustento familiar. Há considerável atuação das mulheres na atividade pesqueira,
inclusive profissionalmente documentadas.
Os entrevistados tem idade entre 27 e 70 anos de idade. Apesar do
predomínio de pessoas mais velhas entre os entrevistados, os mais jovens também
participaram da pesquisa. Intencionalmente procuramos pessoas com mais tempo
de residência e que tenha ou tenha tido a pesca como atividade principal. Daí 11
(39%) terem mais de 51 anos (Gráfico 01).
Gráfico 01 – Faixa etária dos entrevistados
Organização. TORRES, R. P. de A. Fonte: Trabalho de campo, 2013.
Com relação a naturalidade, grande parte é natural de Pedreiras, 26 pessoas
ou 93% dos entrevistados. Apenas duas pessoas se declararam naturais de outros
locais, mas possuem forte vinculo afetivo com o lugar. Dona Maria José ou mais
comumente ‘Dona Maria do Peixe’, de 64 anos, mudou-se para o Pedreiras com sua
mãe quando tinha apenas 12 anos de idade e lá vive até hoje, onde constituiu
família e se estabilizou economicamente. Outra é Dona Edvânia de 43 anos, há 13
morando em Pedreiras, pois casou-se com um nativo do povoado e desde então,
0
2
4
6
8
10
12
27 a 40 41 a 50 51 a 60 61 a 70
P á g i n a | 62
reside lá. Seu marido é filho do Sr. Dedé, pescador aposentado, um dos mais
antigos e experientes do lugar. Não foi possível entrevistá-lo devido suas condições
de saúde, que segundo sua nora, o impossibilita de falar, ouvir e se locomover.
O tempo de residência dos entrevistados é superior a 10 anos, tendo em vista
que a maioria é nascida e criada no povoado (Tabela 02).
Tabela 01 - Tempo de residência dos entrevistados
Tempo de residência (anos) Quantidade de entrevistas
01 a 10 --
11 a 20 1
21 a 30 3
31 a 40 8
Mais de 40 16
Total 28
Organização. TORRES, R. P. de A. Fonte: Trabalho de campo, 2013.
Como no povoado não existe maternidade, boa parte dos moradores nasceu
pelas mãos de parteiras. Poucos nasceram na sede, a maioria prontamente afirma
“(...) sou nascido e criado aqui”. Há o relato de Dona Áurea (84 anos), que conta que
sua filha, hoje com 64 anos, nasceu na canoa a caminho de São Cristóvão:
“(...) eu fui pra lá com duas parteiras na canoa, porque ela tava demorando muito pra sair, mas não deu tempo. A parteira disse: encalhe essa canoa aí no mangue. Foi só a canoa parar e a menina nasceu”.
Em pequenas comunidades de pescadores, é comum tratarem-se por
apelidos que são muitas vezes recebidos no cotidiano de suas atividades pesqueiras
ou na infância. Alguns soam “estranhos e engraçados”. Em Pedreiras não é
diferente, encontramos apelidos como: Bequelé, Fier, Bibi, Bubu, Preta, Pôpô,
Tecoteco e tantos outros. Quando perguntados se possuíam algum apelido, alguns
respondiam sorrindo, pois os próprios achavam graça dos seus apelidos. Esses
surgem devido a convivência e ao parentesco, por terem se criado próximos ou
alguma coisa a ver com a pesca. A Dona Maria do Peixe, já citada, muito conhecida
no povoado, seu apelido vem de sua profissão, ex-pescadora, vendedora de peixe
na feira e atualmente dona de bar, que tem no cardápio mariscos e peixes.
P á g i n a | 63
Com relação ao estado civil, 19 se declararam casados (aí incluídos os
relacionamentos estáveis), 6 se declararam solteiros, 2 viúvos e apenas 1 separado.
(Gráfico 02)
Gráfico 02 – Estado Civil dos entrevistados
Organização: TORRES, R. P. de A. Fonte: trabalho de campo, 2013.
Dentre os casados e viúvos chamou atenção a declaração de estarem unidos
pelo matrimonio e pela pesca, ambos se dedicam à pesca pois:
Tinha vez que eu saia a boca da noite, chegava de manhã pescando mais o marido pra poder arranjar um bichinho pra comer [...] só fiz pescar, meu marido não deixou fazer outra coisa [...] A gente passava necessidade, tinha vez que não tinha nem nada pra comê, nada. Eu criei 9 fios [...] Nesse tempo não tinha carro aqui, não tinha nada, a gente saia daqui com a bacia de peixe pra Aracaju, caminhando, saia 2 horas da madrugada pra pegar o carro de São Cristóvão pra ir pra Aracaju pra vender. Tinha vez que eu deixava a mistura, mas não tinha farinha, não tinha arroz pra dá aos "fios". Chegava aqui 5 horas da tarde, ai quando eu chegava ia fazer arroz, fazer comida pra dá os fios pra comê (Nair Silva dos Santos, marisqueira, 62 anos).
Dona Nair relatou falou a convivência com seu falecido marido que também
era pescador. Suas lembranças são carregadas de saudosismo, seu olhar transmite
tristeza. Relata os momentos felizes, mas também aqueles difíceis. Seu marido era
também seu companheiro de pescaria, foi com quem aprimorou seus conhecimentos
da pesca, iniciados com seu pai.
Muitas uniões se deram em idade precoce, a maioria com menos de 20 anos.
Interessante observar o sobrenome dos entrevistados: Silva, Santos e Silva, Santos
predominam, reafirmando o depoimento de muitos de que “a Pedreiras é uma
0
5
10
15
20
Casado Solteiro Viúvo Separado
P á g i n a | 64
grande família”. As famílias se constituem a partir do matrimônio entre pessoas da
própria comunidade. Então é muito comum que a comunidade se transforme em
uma grande família, onde quase todas as famílias possuem laços de parentesco
entre si.
É muito comum encontrarmos famílias grandes, compostas por duas ou mais
gerações vivendo no mesmo terreno. São famílias que vão estabelecendo laços
sociais entre si através dos casamentos. Constroem suas casas e estabelecem seus
territórios através da sua produção. Em geral a média de residentes é de 4
habitantes por domicilio.
A maioria dos entrevistados 57% (16) declarou ser alfabetizado, saber ler e
escrever, pelo menos o nome próprio. Cinco (18%) disseram ter frequentado todo o
ensino fundamental completo, a exemplo de Cristina de 28 anos, que sonha em
terminar os estudos e ser tornar bióloga. O Sr. Edmilson de 50 anos, também possui
o ensino fundamental, trabalhou por muitos anos em uma empresa terceirizada da
Petrobrás. Recentemente se desempregou da empresa em que trabalhava como
plataformista e decidiu voltar a trabalhar com a pesca, atividade que exerce desde a
adolescência, por isso se considera pescador, embora ainda não possua o registro
de pescador profissional artesanal. Cinco entrevistados (18%) declararam não saber
ler nem escrever. Apenas 2 (7%) declararam ter ensino médio completo: Cristiano de
37 anos e o Sr. José Valdir de 67 anos. Cristiano justifica-se pela idade e por tido
condições de acesso à escola na sede do município. O Sr. Valdir é um dos
entrevistados que não é pescador. Ele é um migrante de retorno, pois trabalhou por
muitos anos no estado do Rio de Janeiro a serviço da Petrobrás até se aposentar,
foi quando decidiu regressar a sua terra natal e, hoje reside em um sitio no povoado,
do seu jeito tranquilo de falar diz “pesco por lazer”.
Não houve registro de pessoas que tenham cursado graduação entre os
entrevistados, conforme pode ser constatado no gráfico 03.
P á g i n a | 65
Gráfico 03 – Escolaridade dos entrevistados
Organização. TORRES, R. P. de A. Fonte: trabalho de campo, 2013.
A escolaridade não só dos pescadores, dos moradores do povoado é baixa,
tendo muitos analfabetos e pessoas que estudaram somente as séries iniciais,
devido à dificuldade de acesso à educação, pois segundo relatos dos moradores
mais antigos, existia um grupo escolar “Escola Municipal Colômbia” que oferecia
apenas o ensino primário e como não existia transporte escolar nem outro tipo de
transporte para leva-los até a sede do município foram impossibilitados de continuar
seus estudos.
Atualmente para garantir o acesso à educação das crianças de Pedreiras, a
prefeitura de São Cristóvão disponibiliza o transporte escolar até a sede do
município, para cursarem o ensino básico e o médio completo.
Dentre os entrevistados alguns disseram já ter morado fora do povoado e os
destinos mais procurados foram os estados do Rio de Janeiro e São Paulo, outros
estiveram mais perto, em bairros de Aracaju a exemplo do bairro Santa Maria. As
razões que os fizeram migrar, mesmo que temporariamente, estão relacionadas à
busca por oportunidades de emprego e melhoria de vida. Apreendemos que a
migração temporária do trabalho é pouca entre os pescadores entrevistados. Ela se
dá mais entre membros da família, e é pelo menos por três razões: porque não
pescam, porque pescam só quando não tem alternativa, ou por não se conformarem
em viver somente da pesca.
0 5 10 15 20
Graduação
Ensino médio completo
Não alfabetizado
Ensino fundamental completo
Alfabetizado
P á g i n a | 66
CAPÍTULO III
O COTIDIANO E A PESCA NO COTIDIANO
P á g i n a | 67
3 – O COTIDIANO E A PESCA NO COTIDIANO EM PEDREIRAS
3.1 Viver da Pesca é “de tradição a tradição”
Para compreender o modo de vida de algumas comunidades ou de qualquer
grupo social, é preciso observar o seu cotidiano. Estudar o cotidiano de um grupo ou
apenas de um indivíduo de modo geral nos leva a compreender as relações que
permeiam o ambiente. Esta compreensão, já está submetida à compreensão
imediata do mundo vivido, que é a soma de todas as ações e intervenções junto ao
meio onde o individuo vive, criando dessa forma uma experiência de vida, cada qual
com a sua experiência (GIL FILHO, 2003, p. 106).
Falar do cotidiano é falar das relações que se constroem nas tramas do dia a
dia e se materializam enquanto elemento identitário de um determinado grupo social.
É o espaço vivido, dotado de sentimentos, comportamentos, atitudes e significados,
onde os atos diários produzem a continuidade da vida de cada um. Nesse sentido,
Agnes Heller (2008, p. 31) salienta que:
A vida cotidiana é a vida de todo homem. Todos a vivem, sem nenhuma exceção, qualquer que seja seu posto na divisão do trabalho intelectual e físico. Ninguém consegue identificar-se com sua atividade humano-genérica a ponto de poder desligar-se inteiramente da cotidianidade.
Assim, as relações de trabalho, a vida social, as decisões políticas, os
discursos formadores de marcas identitárias e todas as ações, quando destacadas,
partem da vida cotidiana. As tradições, as identidades e as representações são
então a concretização do conhecimento e dos saberes sobre o cotidiano, sendo,
pois, a cotidianidade a mais pura manifestação da realidade.
Os pescadores do povoado Pedreiras vivenciam o cotidiano da pesca
artesanal. Neste sentido, há uma produção de significados. Estes significados estão
relacionados principalmente ao fazer, ao trabalho cotidiano motivado pela pesca e
compartilhado entre todos.
Com base nas leituras de autores como Diegues (1983, 2004b) pode-se
traçar uma tipologia da pesca de pequenas comunidades situadas em ambientes
costeiros e estuarinos no Brasil, distinguindo: i) aquelas com atividade da pesca
P á g i n a | 68
predominantemente artesanal, mas que situada como alternativa de trabalho,
sobretudo quando não existe outra ocupação formal no mercado; ii) aquelas que
estruturam suas atividades econômicas, sociais e culturais em função do estuário,
preservando os costumes tradicionais, mas que também, são identificadas outras
práticas produtivas, no intuito de sobrevivência da própria comunidade.
Neste contexto, identificamos que em Pedreiras a maioria dos moradores são
pescadores, mas que somente uma minoria vive exclusivamente da pesca. Dentre
as atividades complementares a agricultura seguida de serviços esporádicos em
empresas e no comércio, como mostra o gráfico 04.
Gráfico 04 – Atividade principal – Povoado Pedreiras
Organização. TORRES, R. P. de A. Fonte: Trabalho de campo, 2013.
O perfil dos moradores que vivem apenas da pesca mostra a predominância
de homens com idade mais avançada entre 57 a 69 anos e, duas mulheres com 62
e 28 anos. Dentre os homens, um deles com apenas 46 anos situa-se como
exceção, pois nessa faixa etária predomina aqueles que praticam atividades
complementares ou exercem outras ocupações. Independente da idade o traço
comum do perfil dos moradores é a presença da pesca em suas vidas.
Se tivesse estudado gostaria de ter tido outra profissão (José dos Santos Filho, pescador, 46 anos).
Eu até procurei outra coisa pra trabalhar, mas não arranjei e fiquei só na pesca (Antonio da Paixão, 69 anos).
As mulheres são marisqueiras. As mais novas se dizem “por falta de opção”,
já as mais idosas:
A vida toda foi na pesca, não fiz outra coisa... Não posso nem dizer nada, porque se eu soubesse lê ainda arranjava um trabalhinho nera, mas num sei lê, num sei nada (Dona Nair, marisqueira, 62 anos)
5
6
17
0 5 10 15 20
Não pesca
Apenas pesca
Pesca + outra atividade
Nº
P á g i n a | 69
Exercer outras atividades econômicas para complementar a renda é uma
prática comum entre pescadores artesanais do Brasil tal como afirma Diegues
(2006). Como demonstrado a realidade do povoado Pedreiras aponta uma minoria
que vive exclusivamente da pesca com práticas de atividades complementares.
Todavia, não é possível afirmar se a pesca artesanal situa-se como alternativa de
trabalho ou como atividade principal associada a práticas complementares, mesmo
diante dos resultados apresentados no gráfico (a pesca no cotidiano).
A maioria dos entrevistados assim como a maioria dos moradores de
Pedreiras exerce a pesca combinada a outras atividades principalmente se
dedicando ao cultivo de roças de: mandioca, milho, feijão, batata, hortaliças e
fruteiras. Identificamos a comercialização de produtos (frutas) esporadicamente, pois
as roças são plantadas para a alimentação da família. Essa é uma pratica antiga e
comum como denota o relato de Dona Maria do Socorro (68 anos), residente em um
sitio nas imediações do povoado. Ela enfatiza que já pescou muito, hoje por
problemas de saúde não vai mais à maré, mas que na época em que pescava
mariscos, a pescaria não era suficiente para sustentar toda família, mesmo sendo o
marido também pescador. Ela relata que seguindo o conselho de uma amiga,
resolveu vender frutas cultivadas em seu sitio: manga, jaca, e goiaba principalmente,
na feira de São Cristóvão. Com o auxilio das filhas produz produtos derivados da
mandioca - beiju, pé-de-moleque e tapioca, valendo-se da casa de farinha existente
em seu sítio, que também são comercializados.
Assim, identificamos a prática de outras atividades de forma constante e de
forma esporádica. As atividades constantes que são praticadas juntamente com a
pesca são desenvolvidas por aqueles que tem roças, donos de bar, atendentes de
bar; artesão de rede e atividades esporádicas por aqueles que se declararam
vigilante, ambulante; doméstica/diarista; ajudante de serviços gerais. É importante
ressaltar que as atividades esporádicas ao contrario das constantes, não acontecem
no povoado, somente quando surge a oportunidade de trabalho em outro lugar.
Outro aspecto a ser considerado diz respeito ao período em que as atividades
esporádicas são exercidas, tendo sido identificadas principalmente nos períodos de
defeso, como serviços temporários a exemplo de caseiro em chácaras e sítios das
redondezas, servente de pedreiro, mecânico, ajudante de madeireira, dentre outras.
P á g i n a | 70
As atividades citadas geralmente não demandam escolaridade. Apesar de
mencionarem a importância dos estudos na vida de uma pessoa, disseram que a
falta de oportunidade os impediu de concluírem os seus, pois muitos, desde a
infância pescam para ajudar no sustento da família.
Com relação aos 5 que “não pescam” há que ressaltar tratarem-se de
desempregados (3), aposentado (1) e uma dona de bar, mas que sabem pescar
desde a infância e no presente de forma esporádica. Em comum são filhos de
Pedreiras que viveram em outros locais e retornaram para terra natal. O dia a dia
desses moradores a exceção da dona do bar é preenchido por caminhadas,
conversas, oração na igreja e a contemplação da paisagem.
A pesca apresenta-se desta maneira, como a principal atividade do povoado
exercida pela maioria há mais de 20 anos independentemente da sua condição de
pescador constante ou esporádico (Gráfico 05).
Gráfico 05 – Tempo de pescaria
Organização. TORRES, R. P. de A. Fonte: trabalho de campo, 2013.
Captamos apenas uma marisqueira de 37 anos com menos de 10 anos de
pratica da pesca que “comecei acompanhando meu marido, gostei e tô até hoje, foi
ele que me ensinou. Meu pai é pescador, mas dele quando eu era menina eu só
vendia o peixe” (Patricia Vitória, 37 anos). Dessa fala apreende-se os jovens adultos
e os pescadores com mais idade sendo a maioria do povoado tal como expresso em
nossa pesquisa.
0 5 10 15 20
<10 anos
11 a 20 anos
>20 anos
P á g i n a | 71
3.2 Os Tempos e os territórios da pesca no “rio das Pedreiras”
O pescador artesanal imprime seu próprio ritmo de trabalho. Como dono dos
meios de produção tem liberdade para fazer seus dias e horas de trabalho. Assim
escolhe quando e onde pescar. Tem aqueles que pescam durante a semana inteira,
no ritmo das marés, outros passam dias seguidos pescando, sem voltar para casa,
outros ainda saem pela manhã, nas primeiras horas, voltam para o almoço e a tarde
retornam para pescaria.
Em Pedreiras o tempo dedicado à pesca é apreendido desde o contexto mais
amplo do ritmo da natureza (marés, estações) até ao contexto de um cotidiano muito
particular:
O pescador não tem hora pra chegar, tem hora pra sair (Leopoldo, pescador, 59 anos).
Varia, às vezes pesco a semana toda ou só 4 dias. Depende da maré, saio 7 horas da manhã e volto depois das 5 da tarde. Às vezes passo 3 dias pescando direto. (José Santos Filho “Di”, pescador, 46 anos).
Os finais de semanas são reservados para o descanso, mas dependendo da
necessidade, todo dia é dia de pescaria.
Depende da maré, às vezes pesco os cinco dias da semana, mais não tem dia certo, depende da precisão (Cristina, marisqueira, 28 anos).
Quando eu ia, ia de domingo até sexta, só não ia no sábado porque ia vender na feira. Pescava a noite toda quando pegava camarão, de dia pra pegava tainha também o dia todo (Maria do Peixe, pescadora aposentada, 64 anos).
Pescava de domingo a domingo, pescava de 4 a 5 horas direto, dependendo da maré (Antônio da Paixão, pescador aposentado, 69 anos).
Depende da maré. Pesco de segunda a sexta, no sábado vou vender e o domingo tiro pra descansar.... (Patrícia Vitória “Pipita”, marisqueira, 37 anos).
P á g i n a | 72
Assim, em Pedreiras os pescadores e marisqueiras dedicam mais de 6 horas
diárias à atividade pesqueira (Gráfico 06), o que denota serem por um lado muito
dedicados e por outro tratar-se de atividade importante do povoado.
Gráfico 06 - Horas por dia empregadas na pesca
Organização. TORRES, R. P. de A. Fonte: Trabalho de campo, 2013.
São muitas as horas dedicadas à pesca, também muitos os anos. A vida na
pesca começa cedo para os moradores do povoado Pedreiras, já na infância são
introduzidos na pesca, seja por necessidade ou por curiosidade, mas principalmente
inserida no “fazer” tradicional. Alguns relataram que o início da lida na pesca
aconteceu na infância, por influência dos pais, também pescadores, parentes
próximos e de outras pessoas da vizinhança que praticavam a atividade. Esses
dados serão detalhados no capitulo 4.
A estação do verão é a melhor época para pescar, pois é quando espécies
como a tainha e a pescada aparecem em maior quantidade.
Pra mim, o peixe que eu pesco no verão é melhor, porque no inverno
o peixe some (Cristiano F. Santos, 37 anos, pescador).
Tem espécie de peixe que ele dá no tempo de Sol, em dezembro pra
janeiro, fevereiro. A pescada mesmo ela gosta mais do verão, agora
o robalo e a carabepa é agora no inverno, tempo de chuva, sem
contar outros tipos de peixe, a tainha gosta do inverno, o pampo já
gosta mais do verão é que nem a pescada (Alessandro S. Oliveira
‘Fier’, 34 anos, pescador)
Tem vezes que nois vamo de chuva, vamo de sol. Quando a gente
vai com a chuva não pega nada não, porque chuvendo não dá n/é,
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%
4 horas p/dia
5 horas p/dia
> 6 horas p/dia
P á g i n a | 73
só dá quando o sol tá alto, aí dá mais uma coisinha, mais assim
chuvendo não dá nada. A maré tá aí, quando a gente vai pro aratu
tem uns que pega pouquinho, quando o sol mesmo fica alto, fica
mesmo o ‘solão’ a gente pega um bocado, é assim (Nair S. dos
Santos, 62 anos, pescadora).
A maré também tem grande influência nas pescarias. A “maré grande” é a
ideal para grandes pescarias, pois quando a maré está em movimento, os peixes
aparecem com mais facilidade e em grande quantidade.
Nois pesca de vazante, e pesca de tempo. Quando é maré morta ‘as vez’ dá e também ‘as vez’ não dá bem. Bom mesmo é a maré grande (Josenite dos Santos, 70 anos, pescador aposentado).
A maré morta não é boa para os mariscos. No calor a água é mais quente, a maré grande é melhor para marisco (Gilda Silva Santos ‘Preta”, 41 anos, marisqueira).
No entanto, para o pescador José Santos Filho:
Com a chuva o peixe desaparece. Pra mim maré grande demais não presta não, pra mim só maré morta.
Para outros, não tem de tempo ruim, a necessidade fala mais alto:
O tempo influencia sim na pesca, na maré, porque quando a gente corre pra mais longe, a gente vai correr atrás de uma coisa a mais n/é, aí tem mais tempo também, porque quando é mais longe, a gente leva gelo, passa 3, 4, 5 dia, no máximo sai na segunda chega na sexta quando é pra poder no sábado vendê o pescado. Tem que ir de qualquer jeito, porque nois tamo no inverno, hoje choveu a de manhã todinha, mas eu tive que ir fazê de baixo de chuva, que é precisão n/é. Graças a Deus a maré influencia, porque toda semana a gente tem. (Adenilson Obitério, ‘Pôpô’, 42 anos, pescador).
Os conhecimentos em relação aos ciclos da natureza, os peixes, as marés e
o clima (os ventos e a chuva) são adquiridos e passados pela oralidade. O pescador
conhece o local apropriado para a pesca, o período ideal e as técnicas adequadas
ao tipo de pesca. Segundo Diegues (1995), são esses conhecimentos que formam a
essência do pescador artesanal, é através desses saberes que eles se configuram
como profissionais da pesca.
P á g i n a | 74
Destarte, Marques (1995 p. 62) coloca que a aquisição de informações sobre
meio ambiente e seus recursos, assim como o modo de lidar com eles é
estabelecido através de uma transmissão cultural que se processa em dois sentidos:
verticalmente (tradição) e horizontalmente (meio), processa-se também pelo
aprendizado individual experenciado pela vivência.
Segundo Diegues (1995), os conhecimentos sobre o meio de exploração, as
condições de marés, o uso e manipulação dos apetrechos e a identificação dos
pontos de pesca, são em conjunto os elementos que caracterizam a pesca
artesanal. Sendo assim, considera-se que o que define uma pesca como sendo
artesanal não é a exclusividade da atividade, mas a lógica que a sustenta. Dentro
dessa lógica consideramos as condições ambientais para a prática da pesca, a
influência da lua e das marés e da chuva na atividade pesqueira, bem como o
domínio/conhecimento sobre as técnicas aplicadas na atividade.
Desse modo, o pescador artesanal possui um conhecimento empírico, o qual
lhe dá propriedade para falar quais as espécies a se pode extrair nesse ou naquele
momento, nesse ou naquele local; qual apetrecho a utilizar para ter-se êxito; os
melhores horários; os sons para atrair o peixe; tamanhos e quantidades a que se
pode capturar.
Assim,
(...) quanto mais ajustado o pescador com seu ambiente, mais condições cognitivas tem ele para desvendar e se apropriar da natureza. É por aí que ele tem acesso objetivo ao conhecimento das relações existentes entre sua atividade e as faunas aquáticas e terrestres; a flora; os ventos e os mares; as nuvens e a chuva e assim por diante, cujos sinais são decodificados com sabedoria (FURTADO, 1993, p. 206).
A pesca artesanal e consequentemente o conhecimento do ambiente em que
se pesca é fator primordial para a reprodução social do grupo que caracteriza a
comunidade de Pedreiras. São os ciclos da natureza que regulam a vida do
pescador artesanal; este é um mediador da natureza e a apropriação desta se
expressa na figura do pescador com o conhecimento e o domínio da praticas de
pesca (CARDOSO, 2001).
Maldonado (1993) ao estudar pescadores marítimos paraibanos observou que
os territórios são mais do que espaços delimitados. São lugares conhecidos, usados,
P á g i n a | 75
nomeados e defendidos. Assim também acontece entre os pescadores do povoado
Pedreiras. Os locais de pesca são territórios específicos e apropriados pelo
conhecimento adquirido sobre o meio.
As diferentes formas de apropriação e de manutenção desses territórios
podem ser entendidas como expressão de uma territorialidade, da qual Cardoso
(2004, p. 144) coloca que “Se em primeiro nível a apropriação da natureza pode ser
entendida como um processo de conhecimento construído pelos pescadores a
respeito do ambiente onde se opera as pescarias, esta apropriação pode gerar
indícios de uma territorialidade pesqueira”.
Nesta perspectiva a pesca praticada em Pedreiras é realizada somente no
estuário do Vaza Barris, mesmo que alguns tenham mencionado o “mar”, não
encontramos e não tivemos informações da prática de pesca oceânica. Acrescenta-
se, identificamos pontos de pesca utilizados pelos pescadores do povoado Pedreiras
que distinguem o rio e a maré (áreas de mangue). Para Marques (1995, p.158), isto
é o indicio de territorialidade na pesca que se expressa sob vários aspectos:
“inclusive, na forma de espaços possuídos que, sendo consuetudinariamente
aceitos, explicitam-se em locuções do tipo “lugá certo de” (“o Zezinho tem um lugá
certo de pescá”)”.
Os locais de pesca citados, referente aos diferentes “pontos/partes” desse
ambiente são mostrados no quadro 02.
Quadro 02 – Locais de Pesca
RIO MARÉ PONTOS DE REFERÊNCIA “PORTOS”
Vaza Barris: rio das Pedreiras, rio de Dentro
Ilha Mém de Sá,
Em São Cristóvão: Sarafina Grande e
Porto do Maninho; Porto do Dedé; Porto de Elze; Porto de Josenite; Porto do finado Chicão; Porto de Miguelzinho; Porto do Matias; Porto do finado Paulo; Porto do finado Pedro de Malta Porto do Zequinha Porto do Trapiche
Santa Maria Ilha Paraiso No Mosqueiro: Boca da Barra; Ponta da Veia; Baleia; Ribeira; Caju Taipú
Paruí
Ilha do Veiga
Outros: Ponta do Davi, Caruara, Malacabado, Purga e Chica
Água Boa
Tejupeba
Coqueiro
Riacho do Carmo
Rio do Dendê
Adaptado de MARQUES, J.G.V. (1995) Organização. TORRES, R. P. de A. Fonte: Trabalho de campo, 2013.
P á g i n a | 76
Observa-se o conhecimento do meio e o domínio sobre o mesmo. A
apropriação dos territórios dá-se pelo domínio da Geografia do estuário do Vaza
Barris atestado pela pluralidade de pontos de referência dos rios, das marés e dos
lugares.
Os bosques de mangue encontram-se em bom estado de conservação seja
aqueles de franja ou borda (popularmente nomeados de mangue sapateiro), seja os
bosques mais distantes onde ocorrem os mangues branco e preto4, que ocupam
grandes extensões das ilhas.
Para Marques (1995, p. 161) “Há todo um rol de topônimos relacionados a
águas ou portos que são altamente sugestivos quanto a codificação de relações
sociais de posse”. Assim, afora os locais de pesca, encontramos também
denominações para os portos e atracadouros, complementando a “rica” toponímia
apresentada no quadro 02. Os “portos” ficam às margens do rio Vaza Barris, em
terrenos particulares, porém são de uso comum entre os pescadores do povoado.
(Figura 14).
Figura 14 - Portos de Pesca no Povoado Pedreiras. a) Porto do Maninho; Figura b) Porto do Dedé – povoado Pedreiras. Organização: TORRES, R. P. de A. Fonte: Trabalho de campo, 2013.
Às margens do rio também encontramos barracos de taipa, utilizados para
guardar as embarcações e os apetrechos de pesca, muitos deles de uso comum, o
que se configura também como um território da pesca (Figura 15).
4 Onde ocorrem as espécies Rhizophora mangle, Laguncularia racemosa e Avicennia schaueriana,
respectivamente mangue vermelho sapateiro, mangue branco e mangue preto.
a) 1
b) 1
P á g i n a | 77
Figura 15 – Depósitos de barcos e apetrechos de pesca. Organização. TORRES, R. P. de A. Fonte: Trabalho de campo, 2013.
3.3 Embarcações e Artes de Pesca “tem que levar todos os artifícios”
Para desenvolver a atividade, os pescadores do povoado Pedreiras utilizam
embarcações de pequeno porte. As embarcações se caracterizam por barcos
confeccionados de madeira, alguns com motores acoplados outros a remo, e a vela
(Figuras 16). Encontramos um pescador que diz ainda usar barco a vela
diferentemente dos demais que já se utilizam de barco a motor. Usualmente, o motor
dos barcos funcionam a diesel ou gasolina e têm potência entre 6 e 12 hps.
Segundo os pescadores, os barcos são confeccionados por eles, mas há aqueles
que preferem comprar o barco no bairro Industrial em Aracaju, em local que já é
referência para eles.
P á g i n a | 78
Figura 16 – Barcos: a) barco a motor; b) barco a remo. Organização: TORRES, R. P. de A. Fonte: Trabalho de campo, 2013.
Para cada tipo de pesca ou até mesmo para cada espécie existe um
apetrecho apropriado. Dentre as artes de pesca utilizadas na captura do pescado,
estão: as redes, redinhas, tarrafas, linhas, varas, covos dentre outros.
Em Pedreiras a rede é o apetrecho mais utilizado pelos pescadores conforme
consta no gráfico 07. Isso justifica-se por:
Com rede é melhor, porque é mais fácil de pegar o pescado, tanto faz pelo dia como pela noite (Antônio F. Santos, pescador, 57 anos)
As redes grandes para pegar peixes maiores, e redes menores pra pegar peixes menores (Antônio da Paixão, pescador aposentado, 69 anos)
Gráfico 07 – Apetrechos de pesca – Povoado Pedreiras
Fonte: Trabalho de campo, 2013. Organização. TORRES, R. P. de A.
0% 20% 40% 60% 80% 100%
Covo
Vara
Linha
Redinha
Outros
Tarrafa
Rede
a) 2
b) 2
P á g i n a | 79
Vários tipos de rede de espera foram encontrados. São redes de forma
retangular, confeccionadas e com comprimento, altura e tamanho da malha variando
conforme a espécie-alvo, profundidade da pescaria e velocidade da corrente.
As redes vão desde as que se prestam a pesca de camarão até as
apropriadas para captura de peixes de médio e grande porte. De acordo com essas
características os pescadores as nomeiam como redes de emalhar ou “caçoeira” ou
“caceia”.
As redes para peixes de pequeno porte geralmente são confeccionadas com
nylon de número 20 a 35, que medem entre 30 a 105 m de comprimento; com altura
entre 1,0 e 2,5 m; com malhas medindo de 1,0 cm a 3,0 cm de nó a nó. As tralhas
superior e inferior dessas redes são de nylon polietileno de números 140 a 200. Já
as redes para peixes de médio e grande porte são confeccionadas com nylon de
numeração 40 a 60, medem entre 40 m e 120 m de comprimento; possuem malha
que pode variar de 3,0 cm a 6,5 cm de nó a nó. (IBAMA, 1999 e 2006).
Eu gosto mais de pescar de rede [...] é melhor de pegar pescada (Leopoldo F. dos Santos, pescador, 59 anos).
De rede porque é uma pescaria que não mata muito a gente. Se fô caceando é só espaiá a rede e fica dentro da canoa. Só vai na hora de pegá ela pra botá na canoa e tirá os peixe n/é. Boto um lance aqui, boto outro lá embaxo, outro lá mais na frente e dá pra quebra o gaio (Josenite dos Santos, pescador, 70 anos)
Mas há de se ressaltar que os pescadores não se limitam a usar apenas um
tipo de apetrecho em suas pescarias, eles utilizam aos mais variados tipos de redes
e tarrafas e eles gostam de diversificar seus métodos e artes de pesca, pois:
Tem rede de camarão, também tem tarrafa pra camarão. Tem que levar todos os artifícios. As vezes não acha um peixe grande, acha um médio, as vezes não acha o médio, acha um menorzinho. Por isso aí que tem que levar o que tiver (Izabolon dos Santos, pescador aposentado, 53 anos).
Estes apetrechos muitas vezes possuem características idênticas, porém
como explicitado, apresentam variações de tamanho, malha no caso das redes,
procedimento e espécie-alvo da captura, o local das pescarias e, principalmente a
profundidade, daí a diversidade de nomenclaturas. Esta variedade de métodos e
artes de pesca enriquece a atividade.
P á g i n a | 80
3.4 O que se Pesca “de tudo um pouco”
A diversidade de espécies potencialmente exploráveis pela pesca artesanal
na comunidade em questão é grande, porém algumas espécies são mais capturadas
e mais comercializadas do que outras. Entre as espécies capturadas, houve uma
unanimidade quando perguntados quais tipo de pescado que mais coletam. Todos,
responderam que é o peixe (Gráfico 06).
Gráfico 08 – Tipos de pescado – Povoado Pedreiras
Organização. TORRES, R. P de A. Fonte: Trabalho de campo , 2013.
As espécies de peixes mais citadas foram: tainha; carapeba; robalo; bagre;
vermelha; barbudo; pampo; parú; xareu; pescada dentre outras. Esse tipo de
pescaria utiliza apetrechos como: redes de camboa; redes de emalhe e a tarrafa. As
espécies de crustáceos e moluscos mais citadas foram: camarão, siri, aratu, sururu e
maçunim. Para a coleta do camarão, são utilizados apetrechos como a tarrafa,
redinha e outros tipos de redes. A coleta de mariscos é realizada manualmente,
geralmente por marisqueiras que fazem este trabalho, que utilizam: varas, baldes,
linhas e outras armadilhas próprias para cada tipo de pescaria (Quadro 03). O
caranguejo também é capturado manualmente ou com o auxilio de armadilhas
confeccionadas pelos próprios catadores como a redinha feita de plástico.
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
peixe camarão aratu caranguejo sururu outros
P á g i n a | 81
Quadro 03 – Materiais de coleta por espécie – Povoado Pedreiras
Nome vulgar das espécies Nome científico Apetrechos e materiais para
coleta
Tainha Mugil spp.
Linhas Redes
Tarrafas
Carapeba Diapterus spp
Robalo Centropomus spp
Bagre Bagre bagre
Vermelha Lutjanus spp
Barbudo Polydactylus virginicus
Pampo Trachinotus carolinus
Paru Chaetodipterus faber
Xaréu Caranx spp
Pescada Cynoscion virescens
Camarão Farfantepenaeus brasiliensis Balde Covo
Linhas
Mãos
Redinha Tarrafa Vara
Siri Callinectes spp
Aratu Goniospsis cruentata
Sururu Mytella spp.
Maçunim Anomalocardia brasiliana
Caranguejo Ucides cordatus
Organização. Torres, R. P. de A. Fonte: Estatística Pesqueira da Costa do Estado de Sergipe e Extremo Norte da Bahia, 2011; Trabalho de campo, 2013.
A pescaria que oferece maior produção, maior renda, e por esse motivo “mais
apreciada” pelos pescadores de Pedreiras é o peixe (Gráficos 07, 08 e 09).
Gráfico 09 – Espécies de maior produção – Povoado Pedreiras
Organização. TORRES, R. P. de A. Fonte: Trabalho de campo, 2013.
0% 20% 40% 60% 80% 100%
Caranguejo
Sururu
Camarão
Outros
Aratu
Peixe
P á g i n a | 82
Gráfico 10 – Espécies de maior renda – Povoado Pedreiras
Organização. TORRES, R. P. de A. Fonte: Trabalho de campo, 2013.
Gráfico 11 – Espécies que mais gosta de pescar – Povoado Pedreiras
Organização. TORRES, R. P. de A. Fonte: Trabalho de campo, 2013.
De forma simples e direta tem-se que “o peixe sai mais caro”, ou seja, oferece
maior renda, como constatado nos depoimentos:
Onde você chegar com o peixe todo mundo quer comprar, mesmo que já tenha na geladeira, sempre quer mais (Izabolon dos Santos, pescador aposentado, 53 anos).
Gosto de pescar tainha, porque é bom de tirar e é o que eu pesco mais (Moacir S. Santos, pescador aposentado, 64 anos).
Embora sejam unânimes quanto a pesca do peixe com relação ao rendimento
aqueles que se dedicam a mariscagem, sobretudo as mulheres afirmam que:
Gosto mais de pegar aratu, porque dá mais renda, mais um dinheirinho (Marleide S. dos Santos “Tuquinha”, marisqueira, 45 anos)
0% 20% 40% 60% 80% 100%
Sururu
Caranguejo
Outros
Aratu
Camarão
Peixe
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%
Outros
Caranguejo
Camarão
Sururu
Aratu
Peixe
P á g i n a | 83
A pescaria dá-se em todo o estuário, nos rios e nos mangues e, em todos os
ambientes condicionados pelas marés, mas margens, nas “crôas”, nas águas rasas
e profundas, daí a diversidade.
No tocante a venda da produção, 96% dos entrevistados disseram
comercializar o pescado e apenas 4% pesca para o consumo. Entre estes últimos
está o Sr. José da Cruz, que apesar de se considerar pescador, não vive da
atividade, ele é empregado da prefeitura de São Cristóvão, trabalha como vigilante
escolar, e disse ainda que só pesca quando sente vontade de comer peixe e destina
toda sua produção ao consumo próprio.
A comercialização da produção é feita diretamente pelo pescador ou por um
membro de sua família preferencialmente nas feiras de São Cristóvão (sede e
conjunto Eduardo Gomes), nos mercados de Aracaju (Mercado Central e Atalaia), e
na própria comunidade. Outra forma de comercialização é a venda para
atravessadores que pegam a mercadoria na casa dos pescadores, assim que estes
chegam da pescaria, tudo combinado com antecedência entre as partes, o pescador
e o atravessador (Gráfico 12).
Gráfico 12 – Locais de venda do pescado
Organização. TORRES, R P. de A. Fonte: Trabalho de Campo. 2013.
Os 20% especificados como outros correspondem ao direcionamento da
produção a bares de Aracaju e São Cristóvão e até mesmo ao atendimento de
“encomendas” de particulares que embora não seja uma prática acertada
antecipadamente como ocorre com os atravessadores, é significativa como renda
não desprezada pelos pescadores de Pedreiras.
O armazenamento dos estoques da produção geralmente é feito utilizando
caixas de isopor com gelo, sendo que o gelo comprado do fornecedor da
0% 20% 40% 60% 80%
Outros
Comunidade
Atravessador
Feiras
P á g i n a | 84
comunidade ou “fabricado” por eles utilizando garrafas pets com água e colocando
no congelador, para depois usar na conservação do pescado até a comercialização.
Alguns dos entrevistados (oito) disseram possuir freezer em suas residências para
armazenar a produção, outros modestamente mencionaram estocar no congelador
da geladeira de casa, pois não possuem freezer ou não tem condições de comprar
gelo.
O transporte utilizado por aqueles que comercializam diretamente é o ônibus
coletivo que faz a linha Pedreiras/Terminal Zona Oeste (Aracaju). Em seus
depoimentos relatam que pegam o primeiro ônibus do dia, que sai ás 04 horas da
manhã. Outra alternativa encontrada para o transporte da produção, são os táxis
lotação que fazem o trajeto até a sede do município. Os que vendem diretamente
para o atravessador tem certa comodidade com relação ao escoamento da
produção, já que o atravessador pega na porta do pescador a mercadoria. De
acordo com os pesquisados atualmente fazer o transporte da mercadoria está
melhor em termos de mobilidade, porque surgiram essas alternativas. Antes, num
passado recente eles tinha, que fazer o trajeto até a sede de São Cristóvão à pé
com uma bacia ou cesto na cabeça, de bicicleta ou a cavalo já que não existia opção
de transporte coletivo naquele povoado e que as canoas estava ocupadas com o
pescador na pescaria.
Diante do exposto observa-se que a comercialização do pescado do povoado
Pedreiras abrange área restrita com alcance local.
3.5 Mudanças na Pesca “mudou muito”
Face às complexas transformações tecnológicas e econômicas ocorridas no
mundo nas ultimas décadas questiona-se: será que o pescador ainda mantém suas
características? Tais transformações afetam seu modo de vida, seu lugar, seus
hábitos, seus costumes, seus valores, seu trabalho e de certa forma impacta seu
ambiente de trabalho? Abordamos questões relacionadas ao meio ambiente de
forma a apreendermos a visão dos pescadores com relação ao meio ambiente, ao
meio da pesca. Consideramos estas questões como fundamentais para
compreendermos como se processa essa relação, já que os pescadores dependem
do meio natural.
P á g i n a | 85
Com relação aos problemas ambientais e como estes tem afetado seu modo
de vida, perguntamos aos pescadores se houve algum tipo de mudança no
ambiente, no tocante à água do rio, ao ar, aos pescados, entre outros.
A concentração de dejetos domésticos e industriais no ambiente estuarino um
dos fatores mencionados tem causado transtornos para os pescadores, pois a
poluição das águas afeta a qualidade do peixe, moluscos e crustáceos. Foram feitas
acusações direcionadas à prefeitura por parte dos entrevistados, quando dizem que
esta é a responsável pelo despejo dos dejetos domésticos no rio.
[...] o que nunca existia, tá existindo agora, com esse prefeito novo de São Cristóvão. Ali é uma poluição no mar, porque aqui não tinha poluição, hoje em dia tá tendo. Fossa despejando pro ‘mar’. (Adenilson Santos da Silva, pescador, 48 anos)
Produtos químicos usados nos tanques de viveiros de camarões também
foram citados, pois segundos alguns depoimentos, estes produtos influenciam na
escassez dos moluscos.
“O sururu diminuiu na maré por causa das químicas que jogam na maré, dos tanques de camarão que usam drogas”. (Edvânia dos Santos, marisqueira, 43 anos).
Atestam que a quantidade do pescado está diminuindo gradativamente em
virtude do grande número de pescadores que atuam naquela região. "A quantidade
diminuiu, antes o peixe era aí à vontade, mas hoje em dia diminuiu muito" (Cristiano
Ferreira, pescador).
Assim como a qualidade, a quantidade,
Diminuiu muito minha fia. Tinha siri, tudo, hoje pra pegar 50 siri, é uma mão de obra. 30 ano atrás você ia ali pra Ilha Pequena e era siri, hoje não, é uns siris que faz até vergonha levar pro mercado, miudinho (Maria do Peixe, pescadora/marisqueira aposentada, 64 anos). Antes não tinha tantos pescadores como tem hoje, pra pescar hoje tem que marcar o ponto [...] Era um dos rio mais limpo, hoje tem fossa, esgoto, tudo agora é jogado na maré, vão acabar de lascar o rio agora. Era um rio sadio que existia aqui, agora com esse negócio de jogar dejetos pra as águas. O prefeito agora inventou o negócio de jogar esgoto pra maré (José Santos Filho, pescador, 46 anos).
P á g i n a | 86
Tá ruim de peixe. Não sei não porque. Tem a vez que a gente vai e pega, tem a vez que não pega nada. É tanto pescador por isso que tá assim ruim de peixe. Sabe lá tanto pescador batendo rede aí o peixe cisma n/é, aí quer encostar não pode (Nair S. dos Santos, marisqueira, 62 anos). Tem diminuido, os tanques tão maltratando tudo, as drogas que colocam nos tanques de camarão que acabam escapulindo para o rio e prejudica os peixes. Eles estão acabando com a natureza de Deus (Rosenise Gonzaga, marisqueira, 32 anos)
O uso indiscriminado da pesca de camboa5 por parte de alguns pescadores
também é um fator no tocante à escassez do pescado. Estas muitas vezes acabam
atrapalhando a pescaria de outros pescadores, que não são usuários deste método.
Segundo alguns depoimentos a camboa prejudica a reprodução dos peixes
pequenos, pois estes ficam presos pelo tamanho reduzido da malha o que leva à
captura de forma não seletiva de todo o pescado que é cercado pela rede, tornando
a pesca com esse tipo de método uma prática com relevantes impactos para as
espécies capturadas.
Acho errado o uso da camboa, os peixes pequenos acabam morrendo e são descartados, só pegam os peixes grandes que tem mais valor (Edvania dos Santos, marisqueira, 43 anos).
A camboa além de afetar a reprodução dos peixes, também é prejudicial para
a mata ciliar. As varas usadas na confecção das camboas muitas vezes são
retiradas do próprio mangue. “Quem tem camboa, desmata a mata do rio pra usar”
(Cristina Santana da Hora, marisqueira).
Há quem diga que as mudanças no ambiente também se dão por conta de
conflitos entre os pescadores, quando acontece de alguns pescadores cortarem o
mangue e jogar no meio do rio os galhos, só pra prejudicar os demais, quando não é
isso são os roubos, pois roubam os covos ou outros apetrechos uns dos outros.
A mudança desse rio é tem a galhada que a turma corta do mangue todinho e joga dentro do meio do rio pra atrapalhar os pescadô, atrapalha até eles mesmo. Quem corta hoje, amanhã prejudica eles mesmo (Izabolon dos Santos, pescador aposentado, 53 anos).
5 A camboa é um instrumento de pesca muito utilizado onde os pescadores constroem uma extensa
cerca de varas ou de grossas estacas, implantadas na lama ou no leito do rio.
P á g i n a | 87
Tem mais pescador. Porque semana passada mesmo a gente foi até pra lá da ponte da Caueira, na boca da barra, a gente já foi essa semana pra lá e não molhemo nem a rede, é tanto que essa semana a gente trouxe tudinho pra casa, porque se deixar no porto, no outro dia não amanhece que levam, roubam, aí quando a gente vai pra maré tem que levar um cadeado pra amarrar, aí hoje mesmo a gente já trouxe, porque é só eu e ele pra costurar pra quarta-feira descer pra baixo de novo (Patricia Vitória, marisqueira, 37 anos).
As mudanças se estendem aos apetrechos, como por exemplo: as redes.
Segundo os pescadores hoje para cada tipo de peixe existe um tipo de rede.
Hoje em dia tem outros tipo de rede, que naquele tempo não existia, essa rede mesmo de carapeba. Naquele tempo só existia mermo a rede de malha e acabo-se. Hoje em dia tem vários tipos de pescaria” (José Santos Filho “Di”, 46 anos, pescador). Mudou muito, tá as coisa diferente, moderno. Naquele tempo fazia rede de camarão era de tucum, agora é de nylon, rede de camboa de cana braba, agora é de nylon. Tudo ficou moderno. Era de um negocio chamada cana braba, ia comprar longe, vinha de caminhão até São Cristóvão, botava nas canoas pra vim praqui, hoje não, vai em Aracaju e já compra feito na casa da pesca (Maria do Peixe, pescadora/marisqueira aposentada, 64 anos).
Com base na percepção ambiental do pescador de Pedreiras, elaboramos o
quadro 04 com os principais impactos e causas das mudanças ambientais no
povoado Pedreiras.
Quadro 04 – Percepção ambiental dos entrevistados Impactos Percebidos Possíveis Causas
Despejo de dejetos químicos Esgotos e fabricas de São Cristóvão
Desmatamento do mangue Para uso na fabricação da camboa; conflitos internos
Diminuição das espécies Aumento do contingente de pescadores; uso da camboa;
Mudanças nos apetrechos e métodos de pesca Diferentes tamanhos e alvo de captura de redes, uso da camboas
Organização. TORRES, R P. de A. Fonte: Trabalho de campo, 2013.
A preocupação com a escassez do pescado é recorrente nos depoimentos.
Essa escassez é atribuída ao grande número de pescadores que pescam na região
do Vaza Barris, ao despejo de dejetos provenientes dos esgotos e fábricas do
município de São Cristóvão, bem como os produtos químicos usados nos tanques
de camarão.
P á g i n a | 88
Ainda que os moradores/pescadores do povoado Pedreiras não tenham o
conhecimento formal sobre as leis ambientais do país, existe “consciência”
ambiental por parte destes e, atestam que problemas como os que foram citados
futuramente vão afetar ainda mais a atividade pesqueira alterando dessa forma seu
ritmo de vida e trabalho.
Diante do que apresentamos em relação às mudanças que veem ocorrendo
na pesca e no ambiente estuarino do povoado Pedreiras, nos permite entender a
maneira como os pescadores artesanais estão se relacionando com o meio
ambiente e a percepção que eles têm dos problemas causados pelas alterações
ocorridas no ambiente provenientes do mau uso e manejo deste por parte de alguns
segmentos, inclusive deles próprios. Apreendemos que essas mudanças imprimem
uma reestruturação no seu modo de vida de forma a garantir sua sobrevivência.
3.6 As Políticas Públicas da Pesca
No Brasil as políticas públicas relacionadas à proteção dos recursos
pesqueiros e aos pescadores sempre foram insuficientes diante da necessidade de
se preservar esses recursos e permitir a reprodução social das comunidades
pesqueiras. Porém, para minimizar os impactos causados pelo uso muitas vezes
indiscriminado desses recursos e a preservação destas comunidades, foram criadas
algumas diretrizes, no sentido de implementar políticas voltadas às necessidades
das comunidades pesqueiras e a conservação/preservação dos recursos, que
pudessem contribuir para melhorar a qualidade de vida destas comunidades.
Toda a regulamentação jurídica do setor pesqueiro estava baseada no
Decreto-Lei nº 221, de 28 de fevereiro de 1967, até o ano de 2003, quando foi
instituído o Registro Geral de Pesca – RGP que facilitou a comprovação da atividade
pesqueira e consequentemente acesso a benefícios como aposentadoria com menor
tempo de contribuição para a Previdência Social, seguro-defeso, de auxílio doença e
auxilio por acidente de trabalho. Em 26 de junho de 2009 este Decreto foi ratificado
pela Lei nº 11.959, que ficou conhecida como a nova lei da pesca, ou melhor,
dizendo a Lei da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Pesca e
Aquicultura.
P á g i n a | 89
O Seguro Defeso é uma política estratégica instituída pelo Governo Federal
através do Ministério da Pesca e Aquicultura - MPA, que protege as espécies e
garante renda aos pescadores. Todo pescador profissional que exerce suas
atividades de forma individual ou em regime de economia familiar fica impedido de
pescar durante a reprodução das espécies. Nesse período, em que o tempo de
proibição é definido por lei, os pescadores profissionais recebem o seguro
mensalmente, na quantia de um salário mínimo.
Conforme a mencionada lei nº 11.959, o pescador comercial artesanal é
aquele que exerce a atividade de pesca profissional de forma autônoma ou em
regime de economia familiar, com meios de produção próprios ou mediante contrato
de parceria, utilizando embarcação de pequeno porte, podendo também atuar de
forma desembarcada. Ainda de acordo com essa lei, também é permitido que o MPA
tenha informações sobre todas as categorias de profissionais e atividades ligadas ao
setor, proporcionando a inscrição apenas dos verdadeiros pescadores.
No que concerne ao RGP, esse é um instrumento do Governo Federal que
permite legalizar os respectivos usuários para o exercício da atividade pesqueira,
com o credenciamento das pessoas físicas ou jurídicas e também das embarcações
para exercerem atividades de pesca e aquicultura. De acordo com a lei nº 11.959,
qualquer pessoa pode ser pescador (a), bastando que exerça a pesca com fins
comerciais.
Para a obtenção do RGP o pescador precisa estar matriculado na Colônia de
Pescadores, possuir toda documentação pessoal atualizada: documento de
identidade, CPF, comprovante de residência, PIS/PASEP, NIT foto 3x4 e duas
testemunhas que também sejam pescadores e registradas na pesca. O pescador ou
a pescadora interessado em obter o registro deve se dirigir ao escritório da
Superintendência do MPA do seu estado, neste caso Sergipe, com toda
documentação atualizada.
De qualquer forma, o pescador artesanal depende da declaração das
Colônias de Pescadores para efetivar seu registro junto MPA. No caso dos
pescadores do povoado Pedreiras, todos os trâmites para obtenção do registro de
pescador são mediados pela Colônia de Pescadores de São Cristóvão - Z2 que os
auxiliam no momento do cadastramento ou no recadastramento ou de qualquer
outro assunto de interesse dos pescadores do povoado, como acesso aos
P á g i n a | 90
programas sociais do Governo Federal, como microcrédito, assistência social, além
do seguro-defeso.
Em visita à Colônia de Pescadores de São Cristóvão a Z-2, localizada na
sede daquele município, obtivemos a informação que o quantitativo de pescadores
do povoado Pedreiras não poderia ser especificado porque o cadastramento destes
é feito juntamente com os pescadores do povoado Tinharé, e que soma 264
pescadores.
Entre estes 264 pescadores matriculados na Colônia Z-2 estão 20 dos
nossos entrevistados, pois dos 23 que se declararam pescador profissional
artesanal, 3 responderam não estarem matriculados na Colônia e nem possuírem o
registro do Ministério da Pesca, estes foram: o Seu José da Cruz, por ser funcionário
público do município de São Cristóvão,; Gilberto Santos, 49 anos, que justificou que
não possui o registro porque nunca quis se registrar, mas que comercializa o que
pesca; e José Edmilson Santos “Bequelé” de 50 anos, segundo ele ainda não possui
o registro porque era empregado de carteira assinada em uma empresa terceirizada
da Petrobrás, mas que agora que está desempregado, irá legalizar sua situação na
pesca pra se somar à sua esposa que é marisqueira registrada.
Quanto ao tempo de registro na pesca, dos 20 legalizados 45% possui o
registro há mais de 20 anos (Gráfico 13). Todos responderam que o tempo que
possuem de matriculados na colônia de pescadores corresponde ao mesmo tempo
do registro no MPA, o que lhes confere o direito de receber os benefícios de seguro
defeso e auxílios de acidente.
Gráfico 13 – Tempo de registrado na Colônia Z-2 – Povoado Pedreiras
Organização. TORRES, R. P. de A. Fonte: Trabalho de campo, 2013.
0% 10% 20% 30% 40% 50%
<2
6 a 10
10 a 20
> 20
P á g i n a | 91
Quanto ao recebimento do seguro-defeso constatou-se que dos pescadores
entrevistados 61% recebem o beneficio, pois ainda encontram-se na ativa; 26% já
não recebem mais por terem se aposentado e 13% nunca receberam por não serem
registrados. Este benefício é destinado ao pescador profissional que exerça suas
atividades de forma artesanal, individualmente ou em regime de economia familiar.
Para ter acesso ao Seguro-defeso, o pescador precisa estar inscrito o MPA há pelo
menos um ano, ter cadastro no INSS; não possuir nenhum vínculo empregatício;
não ser beneficiário de nenhum outro programa do Governo Federal. O pagamento é
feito em duas parcelas anuais nos meses de duração do defeso, conforme portaria
fixada pelo IBAMA. O valor de cada parcela é de um salário mínimo. O pagamento é
feito nas casas Lotéricas ou nas agências da Caixa Econômica Federal - CEF
através do Cartão do Cidadão após 30 dias do início do defeso, seguindo o mesmo
critério do seguro-desemprego do trabalhador formal. Essa política é importante,
porque ampara os pescadores e ao mesmo tempo protege os recursos pesqueiros,
uma vez que proíbe a pesca nos períodos de reprodução das espécies.
Os trabalhadores da pesca do povoado Pedreiras declararam em suas falas a
importância desse dinheiro do seguro-defeso, já que com ele, podem comprar coisas
que de outra maneira não conseguiriam apenas com o que tiram da pesca. Esse
dinheiro na maioria das vezes é aplicado na compra de insumos e equipamentos
para a atividade rotineira da pesca, bem como para melhorar sua qualidade de vida.
Mudou, agora mudou, tá mais melhorzinho, que a pesca não tinha nada, agora tem tudo. Porque melhorô mais a vida da gente, porque hoje em dia graças a Deus eu recebo esse dinheirinho já dá pra quebrar o gaio (Nair S. dos Santos, marisqueira, 62 anos).
Eles inventaram aí esse negócio do INSS, aí a gente paga todo ano pra quando chegar uma certa idade a gente ter o direito de se aposentar. Antes o pescador aqui ele não tinha recurso nenhum, e hoje em dia chega final do ano a gente tem direito ao beneficio (Alessandro S. Oliveira ‘Fier’, pescador, 34 anos)
Perguntados se recebem outro tipo de auxilio financeiro por parte do Governo
Federal, os entrevistados responderam que recebem bolsa-família6. Geralmente são
6 Bolsa família é um programa do Governo Federal direcionado às famílias de baixa renda. O
programa visa à inclusão social dessa faixa da população brasileira, por meio da transferência de renda e da garantia de acesso a serviços essenciais, como o direito à alimentação e o acesso à educação e à saúde.
P á g i n a | 92
as esposas dos pescadores as responsáveis pelo recebimento deste benefício, mas
somente as que não estejam registradas na pesca.
Segundo o que apuramos na nossa pesquisa não existe no povoado quem os
represente coletivamente, ou seja, não existe uma associação de pescadores
instituída no povoado Pedreiras que lute diretamente pelos interesses dos
pescadores locais. Estes são representados apenas pela Colônia Z-2, pois a
Associação de Desenvolvimento Comunitário do Povoado Pedreiras – ADCPP
possui uma fraca organização política e social, funciona de forma muito tímida
enquanto instituição. Sua fragilidade reside na fraca participação dos
moradores/pescadores em torno de questões que dizem respeito aos seus
interesses coletivos. Tal como afirma Diegues (1995) sociedades ou comunidades
como Pedreiras possuem fraco poder político, geralmente esse poder está
concentrado nos centros urbanos.
Nesse interim, a ADCPP conta com a pouca participação dos moradores no
tocante a contribuição mensal para a manutenção do prédio e dos demais interesses
dos moradores/pescadores. Na versão dos entrevistados essa pouca participação se
dá pelos “traumas” causados pelas administrações anteriores e também da atual,
pois alegam não ver benefícios para o povoado nem para os pescadores. Insinuam
que administrações passadas tiravam proveito em beneficio próprio com os recursos
da Associação. Apuramos ainda que ADCPP comporta uma dívida que gira em torno
de R$ 1, 500,00, mas não consegue saldar sua dívida porque não tem respaldo dos
associados.
Num passado recente esta associação já foi palco de momentos importantes
para a comunidade, pois eram oferecidos cursos de corte e costura e de culinária
para as mulheres como forma desta terem outra profissão que ajudasse no
complemento da renda familiar; as apresentações do reisado do “Seu Antônio” e de
outros grupos folclóricos de fora que lá se apresentavam como as Caceteiras e o
Langa de São Cristóvão. Uma das fundadoras e ex-presidente da ADCPP, Dona
Inês se lembra desses momentos com os olhos marejados, pois hoje as máquinas
de costura que ela lutou com suas companheiras para conseguir quando estava a
frente da Associação estão “encostadas” em uma sala da própria Associação.
Atualmente o espaço serve apenas para festas particulares e para reuniões da
P á g i n a | 93
Colônia Z-2 com os interessados para informações a respeito o RGP, Seguro-defeso
ou sobre microcréditos para pescadores.
Essa fragilidade política apresentada no povoado Pedreiras os impedem de
se fazerem reconhecer enquanto atores sociais organizados política e socialmente.
P á g i n a | 94
CAPÍTULO IV
SIGNIFICADOS E RESSIGNIFICAÇÕES DA
PESCA EM PEDREIRAS
P á g i n a | 95
4 – SIGNIFICADOS E RESSIGNIFICAÇÕES DA PESCA EM PEDREIRAS
4.1 As Memórias
Buscamos na memória dos entrevistados lembranças que remetessem às
suas infâncias e juventudes no povoado, incluindo as boas e más lembranças. Ao
fazermos esse resgate observamos como a historia do lugar deixou e ainda deixa
marcas em seus moradores, pois através da história de vida de cada
morador/pescador foi possível captar tanto sua vida pessoal como o modo de vida
da comunidade. Entendemos que a memória é a construção do presente a partir de
vivências ocorridas no passado.
Para melhor compreender como as memórias podem revelar histórias de vida
de um individuo e de seu mesmo grupo, baseamo-nos em Le Goff (2003, p. 419)
que a traz a ideia de que a memória é vista como “[...] propriedade de conservar
certas informações, remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de funções
psíquicas, graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações
passadas, ou que ele representa como passadas”.
Para Le Goof (1992) “a memória é um elemento essencial do que se costuma
chamar de identidade, individual e coletiva então somente com o resgate da
memória é que podemos reconstituir a identidade, os signos e símbolos de unidade
e unificação dos grupos sociais”.
Também para Delgado (2010) a história e a memória são suportes na
formação de identidades individuais e coletivas, formadas no processo das vidas em
sociedade.
Esta foi uma forma que encontramos para entender a identificação dos
pescadores e moradores com a atividade pesqueira e com o lugar, através de suas
historias de vida. Pois, “(...) não é na história aprendida, é na história vivida que se
apoia nossa memória” (HALBWACHS, 1990, p.60).
Ao ouvir seus relatos, observamos suas expressões faciais e corporais, para
apreender o que aquelas lembranças causavam, pois a linguagem do corpo muitas
vezes fala mais que as palavras.
P á g i n a | 96
Assim, apreendemos que lembranças da infância estão relacionadas aos
momentos em família, a convivência com os pais; a inserção na pesca ainda
criança, acompanhando os pais ou algum parente nas pescarias; as brincadeiras na
rua e na escola; as festas que aconteciam no povoado, sempre com muito alegria; a
tranquilidade que reinava no lugar diferente da violência que hoje que vem se
instalando no povoado; a paisagem cênica do lugar (rio, mangue, ilhas, pôr do sol).
Os momentos de sociabilidade, de alegria e lazer ainda estão impregnados em suas
memórias (Figura 17).
Estudava, trabalhava, brincava de esconde-esconde, bola de gude, carrinho, brincava na maré. No povoado só tinha mato e pouca gente, hoje em dia a população cresceu mais que o próprio povoado. (Luciano, morador). Minha infância foi aqui mesmo no povoado, brincando com meus irmãos. Eu tenho 10 irmãos, a gente brincava sempre junto, nem precisava brincar com os vizinhos, só a gente já bastava [...] Nossa brincadeira era por aqui mesmo na rua ou então no rio quando meu pai ou minha mãe levava a gente (Rosenise G. dos Santos, marisqueira).
Figura 17 – No presente tal como no passado: estudar, brincar e depois, pescar. Organização: TORRES, R. P. de A. Fonte: Trabalho de Campo, 2013,
P á g i n a | 97
Contudo suas lembranças também remetem a tempos difíceis, no que diz
respeito à sobrevivência. A maioria dos depoimentos expõem as dificuldades
enfrentadas pela família, o trabalho na pesca e na roça:
Ia pescar no Paruí, no mundo todo. Quando chegava me montava num burro e ia até São Cristóvão de lá ia pra Aracaju vendê [...] Minha vida só foi na maré, só pra trabalhá, até hoje eu digo que meu nome é trabalho (Maria do Peixe, pescadora aposentada)
Pra falar a verdade eu nunca tive infância. Minha infância era montado de enxada pra ir pra roça ai que era nossa infância. Não teve esse negocio que tem hoje em dia de carrinho, sair por ai se divertindo não (Izabolon dos Santos ‘Bubu”, pescador)
Aqui quase não tinha infância nenhuma n/é? Eu ia tirar manga pra ganhar um ‘realzinho’ e minha pescaria mesmo (Antônio da Paixão, pescador aposentado).
A juventude não foi muito diferente da infância no tocante às dificuldades e ao
trabalho, principalmente para os mais velhos. A pesca que na infância era mais uma
diversão passa a ser uma obrigação, pois logo vieram as responsabilidades de
sustentar a família, já que muitos casaram-se novos e logo vieram os filhos e, a
pesca a única opção de trabalho e renda. Mãos que coçam a cabeça ou resvalam a
testa foram os gestos mais comuns que antecederam as falas.
Não tive adolescência nenhuma, casei logo cedo, arranjei família ai pronto, fui pescar direto" (Antônio da Paixão, pescador aposentado, 69 anos).
Na juventude foi na maré também. Minha vida é uma novela, eu não sei o que foi uma festa. Eu vivo alegre porque sou alegre mesmo. E hoje graças a Deus eu sou rica, mas já sofri muito na polpa de uma canoa comendo farinha seca. Hoje não, hoje eu como o que quero (Maria do Peixe, pescadora aposentada, 64 anos).
Porém, para os mais jovens a “segunda infância”, mais próxima para eles é
pontuada pela saudade e, mais que gestos, sorrisos abertos que trazem boas
lembranças.
Aqui antigamente tinha muita festa, o pessoal brincava, ia pra maré pescar, tomava banho no rio. Pra mim só teve coisas boas, de ruim não teve não. Graças a Deus! (Cristiano F. Santos, pescador, 37 anos).
P á g i n a | 98
Eu gostava de pescar de rede com meu pai, ajudava ele a puxar a rede, também ia com minha mãe pra maré catar marisco (sururu). Ajudava minha mãe a vender peixe e ainda ajudo [...] Pra falar a verdade, não tenho lembranças ruim não, só penso nas boas, pensar nas ruins é sofrer duas vezes (Rosenise G. dos Santos, marisqueira, 32 anos).
A distinção dos relatos, em que pese a idade dos entrevistados remete-nos a
pontuar as condições de acesso ao povoado assim como as melhorias (e a
introdução) de equipamentos e infraestrutura. Como já colocado, a comunicação se
dava por canoa, a pé ou a cavalo o que tornava a comercialização do pescado
penosa como colocado por Dona Maria do Peixe. Aqueles com idade inferior a 40
anos vivenciaram infância com interligação pela estrada, linha de ônibus, escola,
posto de saúde e Associação de Moradores.
É interessante observar como a pesca permeia todos os momentos da vida
dos moradores. Os relatos sobre suas memórias dão suporte para compreender
como a pesca está enraizada no cotidiano dessa gente, desde muito cedo, seja nos
momentos bons e de alegrias como também nos momentos de dificuldades.
4.2 O Presente
À medida que se muda o contexto histórico e estrutural de um lugar,
concomitantemente altera-se a paisagem, surgem novas funções e novos elementos
que revelam características mais modernas condizentes com a contemporaneidade.
Neste sentido, foi pedido aos entrevistados que fizessem uma comparação entre sua
infância, juventude e o momento atual, no sentido de apreendermos a percepção
deles frente às mudanças ocorridas no povoado no decorrer dos últimos anos.
Essas mudanças se referem às questões sociais, culturais, educacionais, saúde,
infraestrutura e política do lugar. os relatos foram longos:
Hoje está bem melhor, mas continua a falta de transporte, falta de interesse do prefeito, a educação e saúde no povoado tá tudo péssimo, não tem médico, falta remédio, só tem uma enfermeira e um dentista que chegou agora no posto (Adenilson Obitério, ‘Popô’, pescador, 42 anos).
Hoje tá pior, não tem comparação não, há uns 12 anos atrás era melhor. Agora tá pior, porque aqui hoje em dia evolui tudo n/é, a tecnologia tá avançada, então significa que aqui tá pior. Não tem nada aqui. Praça não tem, um asfalto não tem aqui, que deveria ter há muito tempo. A Petrobrás, ela explora aqui há mais de 35 anos,
P á g i n a | 99
só tirando petróleo daqui e nada, e nada vem acontecer aqui. A educação é fraquinha aqui, a professora ensina os menino ai e é mesmo que não ensinar. A saúde aqui é devagar também, eu acho que devia ser mais evoluido, porque não tem só aqui o povoado Pedreiras, tem o Tinharé, que o povo do Tinharé vem pra cá, tem o Malacabado que vem pra cá, então deveria ser mais evoluído (Alessandro S. Oliveira “Fier”, pescador, 34 anos).
O passado mais distante e o mais próximo são postos como marcos da vida.
é evidente que o cotidiano está melhor, com energia e/ou possibilidades de congelar
o pescado, com linha de ônibus regular que facilita a comercialização no principal
mercado que é a sede, São Cristóvão. No entanto, as benfeitorias que facilitaram a
vida há 40 ou 30 anos atrás já não mais satisfazem as exigências dos dias atuais.
Por ser um povoado antigo há a percepção da centralidade de Pedreiras com
relação aos arredores e, consequentemente, a preocupação da pressão no uso dos
serviços aí existentes o que confere maior legitimidade nas reivindicações.
Uma das maiores queixas da comunidade diz respeito a estrada que liga o
povoado a sede do município de São Cristóvão. Esta, ainda é de terra batida,
apenas a área urbana do povoado possui calçamento (Figura 18). Em épocas de
muita chuva são muitos os transtornos para os motoristas e moradores do povoado
Pedreiras, bem como do povoado Tinharé e das localidades Olhos d’Água,
Malacabado e Purga que também são interligados à sede por esta estrada.
es
Figura 18 - Término da estrada na entrada do Povoado Pedreiras. Organização: TORRES, R. P. de A. Fonte: Trabalho de campo, 2013.
Como já mencionado uma estrada precária foi construída no inicio do século
passado, pelas mãos dos próprios moradores, encabeçada por uma figura muito
P á g i n a | 100
importante da região da época. Naquela época foi um marco ao permitir o tráfego de
carroças, carros de aluguel e “até caminhões”! Ainda de acordo com os relatos, essa
estrada já deveria ter sido asfaltada, já que a Petrobrás, que possui uma estação
coletora de gás e petróleo no povoado há mais de 35 anos e que melhorou o leito da
estrada, repassa os royalties para a Prefeitura Municipal. O valor dos royalties pago
pela Petrobrás à prefeitura de São Cristóvão gira em torno dos R$ 100, 000.007. Os
moradores tem conhecimento desse repasse e cobram que este dinheiro seja
empregado em obras de infraestrutura no povoado, principalmente a cobertura
asfáltica da estrada.
A presença da Petrobrás (Figura 19) no povoado é de grande importância
para alguns moradores, estes até atribuem o relativo “desenvolvimento” do lugar à
empresa. Pois, alegam que foi partir de sua instalação que surgiram as primeiras
mudanças na rotina do povoado.
Está mais desenvolvido por causa da Petrobrás, tem transporte, telefone, lotação. Se a Petrobrás acabar, a Pedreira acaba junto [...] (Rosenise Gonzaga dos Santos, marisqueira, 32 anos).
Figuras 19 – Estação Coletora da Petrobrás – Povoado Pedreiras. Organização. TORRES, R. P. de A. Fonte: Trabalho de campo, 2013.
No bojo das manifestações de rua em 2013 no Brasil, causadas pela
insatisfação popular frente a uma série de problemas no país, os moradores dos
Povoados Pedreiras e Tinharé organizaram um protesto contra as más condições da
via de acesso que liga a sede de São Cristóvão ao povoado Pedreiras. Em julho de
7 Agência Nacional de Petróleo – ANP. Agosto de 2013.
P á g i n a | 101
2013, mais precisamente no dia 18, acompanhamos momentos tensos em que
população interditou a estrada com a queima de pneus, arbustos e galhos secos,
impedindo a passagem de caminhões da Petrobrás para retirada dos produtos,
como forma de protesto e reivindicação da pavimentação asfáltica da estrada
(Figura 20). Na ocasião membros da Petrobrás juntamente com representantes da
prefeitura de São Cristóvão estiveram no local e ouviram as reivindicações.
Posteriormente foram feitas algumas reuniões entre moradores e os órgãos
envolvidos para discutir melhorias, mas até o fechamento desta pesquisa nada tinha
sido feito em relação pavimentação da estrada. Eles ainda esperam Este
acontecimento foi noticiado em sites de noticias do estado, a exemplo de: Infonet,
Jornal do Dia online, Cajunews.
Figuras 20 – Protestos dos moradores dos Povoados Pedreiras e Tinharé Organização: TORRES, R. P. de A. Fonte: Trabalho de campo, 2013.
A violência também é fato recorrente no local, assim como a falta de respeito
dos mais jovens em relação aos mais velhos, como podemos observar nos relatos:
Tá tudo mais difícil, pescaria tá fraca. Tudo mudado hoje em dia, antigamente "nera" as pessoas respeitava os outros, hoje em dia respeita não, é problema um com o outro, só "vevi" na delegacia. Tudo vai mal, posto de saúde falta remédio, colégio passou muito tempo sem professora, os alunos tudo sem estudar, sem gás, sem merenda. A diretora preocupada, na casa de um na casa de outro pedindo. Rodagem ruim, se não for a Petrobrás com esse prefeito que tá aí, tá destruindo é tudo, só faz o que? Só panha a laminha da
P á g i n a | 102
Pedreira, o “roialte” de petróleo e passa pro bolsinho dele. (Adenilson Santos da Silva, pescador, 48 anos). A diferença é muito grande em tudo, no modo de viver. Hoje você num pode ficar com sua porta aberta até 10, 11 horas da noite. Antigamente se fosse possível. Se fosse possível não, você dormia com tudo aberto, porta e janela aberta aí, hoje você não tem mais esse direito. Hoje você sai pra de divertir, vai ter uma coisinha ali, você sai, quando chega ali, só tem briga. É briga, é um querendo matar o outro. Hoje em dia graças a Deus sou evangélico, a coisa já é diferente. É de casa pra igreja, da igreja pra pescaria. É isso aí. Deixa muito a desejar educação e saúde, porque você vê passar na televisão, o dinheiro do governo vai investir na educação e saúde, não vê nada, vai pros hospitais, vai tá morrendo nos corredô. Enquanto isso, o que tá lá preso ganha dinheiro, a mulher tá lá recebendo, e o pai de família se acabando aí. A estrada deixa muito a desejar (José Santos Filho, pescador, 46 anos).
A preocupação com a violência não está mais apenas nas grandes cidades. O
medo da violência vem crescendo e já atinge pequenas localidades a exemplo de
Pedreiras. Antes se podia dormir com as portas das casas abertas que não oferecia
nenhum perigo, mas hoje isso já não é mais possível. Algumas casas já possuem
grades nas portas e janelas. O álcool e as drogas são os principais fatores responsáveis
pela mudança na tranquilidade do lugar. Ressaltamos que não existe posto policial na
comunidade, mas que a comunidade evangélica empenha-se cotidianamente no
“combate” à bebida.
A igreja evangélica foi uma coisa que Deus mandou pra aqui e que tirou muita gente das drogas, tirou muitas pessoas dos caminhos ruins, é a única coisa em prol que tá sendo até agora é essa igreja evangélica, que tá "recadando" muitos jovens, levando pra lá pra ouvir a palavra de Deus [...] (Miriam, moradora, 42 anos).
A religiosidade no povoado demarca territórios e territorialidades. Os cristãos
se colocam como fundadores enraizados e os evangélicos como aqueles que tem
como missão a ordem social, zelosos pelos bons costumes. A convivência pacífica
entre os grupos dá-se pelo respeito familiar com relação à opção religiosa, pois é
comum membros de uma mesma família frequentarem as duas igrejas.
De poucos anos pra cá Nita chegou botando na cabeça do povo pra ficar crente e dizem que fica mais direito, dizem [...] Acho que a maioria do povoado hoje tem como ocupação ser crente, eram todos do apostolado como eu [...] Acho que não melhorou não, pois é desse tempo que os roubos começaram por aqui (Dona Áurea, moradora, 84 anos)
P á g i n a | 103
No contexto relacional entre o passado e presente há aqueles que
reconhecem os avanços e as melhorias e tal como colocado por Le Goff (1992)
reforça a identidade individual e coletiva valorizando os bens materiais e imateriais:
Tá muito mudado, muito diferente. O povoado cresceu. Antigamente eram poucas casas, hoje parece uma cidade. antes era tudo mais difícil. Antigamente quem quisesse vender peixe tinha que colocar na bacia e ir andando até São Cristóvão, hoje tem ônibus, lotação. Tem posto médico, é bom, tem enfermeira, médico. A escola é boa, e que não estuda na escola do povoado, tem ônibus escolar que leve pra São Cristóvão. (Antonio Ferreira Santos, pescador, 57 anos).
Mudou muita coisa, porque antigamente a gente ia pra São Cristóvão, pagava uma pessoa pra dormir lá pra marcar uma ficha. Até hoje a gente paga, é 15 reais no Valadares, que aqui não tem médico. Agora melhorou, dentista tem, dia de terça e quinta tem. Tem uma enfermeira pra acompanhar quem é hipertenso, eu mesma sou uma. E os taxistas, porque o povo antigamente, meu pai sempre dizia que saia de pé pra ir pra São Cristóvão, porque antigamente não tinha carro, que era de trem, que iam de trem. Ele mesmo já foi muitas vezes pra São Cristóvão pra pegar o trem pra ir pra Aracaju pra vender o pescado, e melhorou muito. Os ônibus não tem não é de vez em quando, tem os horários, mas taxistas melhorou muito (Patrícia Vitória da Paixão, marisqueira, 37 anos).
Com efeito, o fluxo de automóveis aumentou, principalmente de caminhões,
os quais fazem o transporte dos produtos extraídos, não só o fluxo de automóveis,
mas também de pessoas, funcionários da empresa e terceirizados circulam
diariamente pelo lugar. Como consequência desse processo intenso, surgiram
pequenos restaurantes, mercearias, para atender a nova demanda. Mas a
importância maior que os moradores atribuem à Petrobrás é porque estes têm
conhecimento acerca dos royalties pagos pela empresa à Prefeitura de São
Cristóvão, e esperam que estes sejam revertidos em benefícios para a população.
A vida social do povoado é comandada pelas práticas religiosas das igrejas
católica e evangélica.
Com exceção da festa da padroeira Santa Cruz no mês de maio, não há
outras festas de grande relevância no povoado. As outras festas são geralmente
festas particulares que acontecem no espaço da Associação Comunitária. O São
João é comemorado pelas famílias em suas próprias casas, assim como o Natal e o
Ano Novo. No passado, quem animava as festas juninas era um senhor chamado
P á g i n a | 104
Antônio “Sanfoneiro” que com sua sanfona “colocava todo mundo pra dançar forró”.
O Sr. Antônio é, pois uma referência. As festas cívicas são comemoradas na escola,
assim como os dias das mães, dos pais, das crianças dentre outras. As festas na
escola contam com a participação dos pais dos alunos.
As festas da igreja evangélica são festas fechadas que acontecem dentro do
templo e mobilizam a comunidade evangélica do lugar.
Percebe-se veladamente as relações de poder estabelecidas a partir destas
duas religiões: a católica e a evangélica, presentes no povoado. Observamos essa
luta pelo domínio do território religioso entre a igreja católica e a igreja evangélica no
cotidiano por meio de suas práticas, como também por meio dos símbolos presentes
no povoado, a exemplo da imponência do templo evangélico e da Santa Cruz em
frente a igreja católica. Estes símbolos auxiliam na construção de suas
representações.
Atualmente não existe nenhum tipo de manifestação cultural no povoado. Mas
no passado existiu um reisado, que era comandado por Seu Antônio, falecido
recentemente (não é o sanfoneiro). O reisado do Seu Antônio aos poucos foi
acabando até deixar de existir, mesmo porque os mais jovens não quiseram dar
continuidade, mas ele ainda existe na lembrança dos mais velhos que lembram com
nostalgia das danças e das cores dos brincantes. Hoje, algumas pessoas do
Pedreiras participam do samba de coco da Ilha Grande, cujo grupo é reconhecido no
Estado devido as suas apresentações em eventos culturais.
A atividade artesanal do lugar está ligada à pesca, desde a prática em si, até
a confecção dos apetrechos e embarcações, pois, não foi registrado nenhum outro
tipo de artesanato. No passado sim, já houve quem fizesse bordados, crochê e até
mesmo rendas.
O peixe e o camarão são os ingredientes principais dos pratos servidos nos
bares do povoado, os bares mais frequentados são: Bar Maria do Peixe; Bar da
Miriam e Bar do Dedé. O pirão de peixe é o carro-chefe desses bares, mas também
são servidos outros pratos, como galinha de capoeira, o camarão ao alho e óleo,
aratu dentre outros frutos do mar. Os bares movimentam o povoado nos finais de
semana quando recebem frequentadores dos arredores, de São Cristóvão, Aracaju,
bem como os proprietários de segunda residência e seus convidados. Uma
P á g i n a | 105
pequena fabriqueta de queijadinhas foi identificada ao acaso, embora não tenha sido
mencionada nas entrevistas. As “queijadinhas de São Cristóvão” são reconhecidas
por sergipanos como típica, singular desse município, elas são comercializadas em
feiras, mercados, lojas de produtos regionais e, sazonalmente em barracas de festas
religiosas de padroeiros.
4.3 A Percepção do Lugar: signos e marcas
A percepção do lugar muitas vezes depende do interesse do individuo com o
local em que vive e da sua relação com esse lugar. Desta forma, ele percebe e
vivencia-o, atribuindo a ele significados, valores e símbolos. Um lugar pode ser
compreendido por meio daqueles que vivem sua realidade, que lhe significa e
ressignifica. Foi com este propósito que buscamos por meio da oralidade dos
moradores, compreender a realidade onde vivem.
Para Tuan (1983), o lugar é marcado pela percepção, pela experiência e
pelos valores. Os lugares são núcleos de valor, por isso eles podem ser totalmente
apreendidos por meio das relações de quem ali vive (insider) e relações externas
(outsider).
Apreendemos que a percepção que os moradores possuem do povoado
relaciona-se à “tranquilidade” e à “passividade” do local. De uma forma geral,
gostam do local onde moram, sentem-se bem, embora existam as dificuldades de
ordem financeira e social que enfrentam.
São as relações estabelecidas entre o homem e o seu lugar e o sentimento
de apego ao local de moradia que Tuan (1980), caracteriza como sentimento de
topofilia. Esse sentimento inclui todos os laços afetivos dos seres humanos como
meio ambiente material. Relph (1979) acrescenta mais, que as experiências tanto
podem ser topofílicas, as agradáveis, quanto topofóbicas, as desagradáveis.
Para Del Rio (1996, p. 4), embora as percepções sejam “subjetivas para cada
indivíduo, admite-se que existam recorrências comuns, seja em relação às
percepções e imagens, seja em relação às condutas possíveis”.
Destarte, não apreendemos diferenças nas falas quando referenciam o lugar;
enfatizam a tranqüilidade, o ar puro, fazem comparação entre o clima e os modos de
vida da cidade grande e do interior, que apesar das dificuldades, ainda oferece boas
P á g i n a | 106
condições de se viver, mas também não deixaram de mencionar as mazelas, as
dificuldades, o abandono do poder público. Mesmo assim, o sentimento de
pertencimento é notório, é pulsante:
Pra mim, eu descrevo como um lugar bom de se viver n/é, assim como a gente vive, não tem coisa melhor pra se viver. Agora o problema daqui só é mesmo o emprego, a falta de emprego, aqui não tem nada, não tem uma fazenda, não tem nada, só tem a maré e pronto, o recurso daqui é só a maré. A maré, uma roça, a não ser isso aí, mais nada (José Santos Filho ‘Di’, pescador, 46 anos)
[...] eu amo isso aqui. Já pedi aos meus fios, meu fio, quando eu morrê não venda isso aqui não [...] só saio daqui no meu caixão [...] eu só saio morta, eu nem sei, o corpo vai, mas eu tô todo dia aqui sentada, todo mundo que passar me vê lá sentada. Vai o corpo pro cemitério, mas o ‘isprito’ fica aqui" Eu gosto demais, eu acho se eu sair, vendê isso aqui no outro dia eu morro, só o desgosto que eu vou ter. É tão bom você se senti bem num lugar, n/é não? (Maria José ‘Maria do Peixe’, pescadora aposentada, 64 anos)
Eu gosto daqui porque aqui é um lugar sossegado [...]De tudo aqui se planta, você quer comer uma fruta, você vai ali num pé de mangueira tira a fruta pra chupar, aqui tem bananeira, você quer comer uma ostra, você vai ali na maré tirar ostra. Aqui mesmo é uma grandeza de Deus. A pessoa tendo disposição pra trabalhar, aqui mesmo é um lugar abençoado de Deus. Daqui mesmo só tenho vontade de ir pra cidade dos pés juntos porque não tem outro jeito (Patrícia Vitória ‘Pipita’, marisqueira, 37 anos).
O sentimento de “pertencimento” pode significar que precisamos nos sentir
como pertencentes a um lugar e ao mesmo tempo sentir que esse lugar nos
pertence. Assim, não somente os nascidos e criados em Pedreiras carregam esse
sentimento, mas também os que optaram viver no povoado. Pessoas que
conheceram o lugar e se “apaixonaram” pela paisagem natural, pela tranquilidade,
ou mesmo por algum nativo e acabaram se casando e, o que antes para eles era
apenas espaço de trabalho ou de lazer, foi se tornando lugar, no sentido de
pertencer a algo, a alguém ou algum lugar, ao seu lugar.
Nasci em Aracaju, mas me criei em São Cristóvão, vim pra cá depois que me casei, meu esposo é nascido e criado aqui em Pedreiras, ele é filho de Seu Dedé. Aprendi a gostar daqui, acho um lugar sossegado, tranquilo, tem tudo de graça, o peixe, tem de onde tirar o sustento. Estou satisfeita com minha vida aqui, não tenho vontade de sair daqui não (Edvania dos Santos, marisqueira, 43 anos).
P á g i n a | 107
Dessa forma Tuan (1983) coloca “o que começa como espaço indiferenciado
transforma-se em lugar à medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor,
ou seja, o lugar é carregado de experiências e desejos pessoais, é uma realidade
que deve ser compreendida da perspectiva dos que lhe dão significado”.
Moradores que no passado partiram à procura de melhores condições de vida
em outros lugares voltaram ao seu lugar de origem. Para estes, “passar dificuldades
na sua terra junto aos seus é bem melhor que viver numa terra que não é sua”.
Os lugares têm suas especificidades, tanto nas características naturais, como
culturais, distinguem-se por seus símbolos e marcas, que dão sentido de pertença e
identidade a seus moradores. Ao se fazer um levantamento sobre dados referentes
à história de um lugar, observa-se como esta deixa marcas nos sujeitos inseridos no
contexto. Estes traduzem suas experiências com seu modo de viver, com suas
vivências com a natureza, como representam e demonstram sua religiosidade e
misticismo, os quais devem ser respeitados. Assim, Bonnemaison (2002, p. 109)
coloca que o geossímbolo pode ser definido como um lugar, um itinerário, uma
extensão que, por razões religiosas, políticas ou culturais, aos olhos de certas
pessoas e grupos étnicos assume uma dimensão simbólica que os fortalece em sua
identidade.
Diante disto, lançamos a pergunta: Se o(a) senhor(a) fosse pintar um quadro
do povoado Pedreiras, o que desenharia e quais as marcas não poderiam faltar na
descrição do quadro? O quadro 04 expõe referenciais de Pedreiras. Econômicos nas
colocações citaram um ou dois elementos e concluíram: “é só isso; é isso”!
P á g i n a | 108
Quadro 05 – Signos e marcas do Povoado Pedreiras Paisagem Religioso Atividade Equipamentos Pessoas Outros
Rio
Maré
Pôr do sol
Paisagem
Igreja de
Santa Cruz
Igreja
Evangélica
Pesca
Escola
Posto de Saúde
Casas
Estrada
Mercearias
Petrobrás
Quadra de Esportes
Esposa Símbolo do
Flamengo
12 8 1 11 1 1
Organização. TORRES, R. P. de A. Fonte: Trabalho de campo, 2013.
Os signos são uma construção social, eles só existem dentro de um contexto
que lhe dá sentido e seus significados dependem do contexto social, histórico e
cultural em que o individuo está inserido. Cada elemento ajuda a compreender
também a cultura do lugar. Assim, a igreja católica, o rio, a escola e a paisagem
enquanto natureza são os elementos mais significativos. Embora a pesca tenha sido
citada apenas uma vez, entendemos que isso justifica-se porque “a pesca não se
pinta”, ela se traduz pela importância dada ao rio e à maré.
Estes elementos representam o povoado e produzem os sentidos de
pertencimento e identidade territorial, os caracterizando como pertencentes a
Pedreiras. Podem ser considerados geossímbolos de valor individual ou coletivo,
isto é, referenciais que dizem respeito às histórias de vida particular, bem como de
toda a coletividade.
Dessa forma, a igreja de Santa Cruz é um símbolo do povoado, foi construída
há mais de 100 anos. Seu nome é uma alusão à Padroeira do lugar, a Santa Cruz, a
qual é comemorada todo mês de maio. É uma construção singela, mas tida como
“um patrimônio do povoado" (Figura 21).
P á g i n a | 109
Figura 21 – Igreja de Santa Cruz – Povoado Pedreiras Organização: TORRES, R. P. de A. Fonte: Trabalho de campo, 2013.
Com efeito, o depoimento a seu respeito é enfático:
Pintaria a igreja católica, é o que tem pra se olhar [...] (Adenilson S. da Silva, pescador)
Na ocasião da festa da Santa Cruz em maio, acontecem: leilão, novenas,
missas e uma bonita procissão com a participação de moradores e visitantes, pelas
ruas do povoado. Esta é uma festa mobilizadora, é um momento de comunhão para
os fiéis, tendo em vista seu caráter religioso e social.
A igreja evangélica é representada pela Assembleia de Deus e constitui
referência importante, pois, tem grande significado para seus seguidores. O número
de evangélicos no povoado cresceu significativamente nos últimos anos a adesão se
dá por vários motivos, dentre eles, o de oferecer consolo e proteção nos momentos
de dificuldades enfrentadas por algumas pessoas. De acordo com relatos de
evangélicos, essa adesão é próxima a 60% da população do povoado (Figuras 22).
P á g i n a | 110
Figuras 22 – Templo evangélico “Assembleia de Deus” Organização. TORRES, R. P. de A. Fonte: Trabalho de campo, 2013.
.
O rio possui uma simbologia que representa o sustento e a tradição “é a
sobrevivência do povoado”, mas também traz um conteúdo afetivo, que reforça a
identidade territorial do morador. Tal como expresso por Bonnemaison (2002) o rio e
a maré, o “rio da Pedreiras” contempla os elementos materiais e imateriais. Ele
traduz a organização e a produção da base material e, também, a significação e a
relação simbólica que dá sentido à vida (Figura 23), pois: “O rio que é representado
pela pesca, é a sobrevivência do povoado” (Cristina S. da Hora, marisqueira).
P á g i n a | 111
Figura 23 – Vista do “Rio da Pedreira” (Rio Vaza-barris) Organização: TORRES, R. P. de A. Fonte: Trabalho de campo, 2013.
A paisagem enquanto natureza representa a beleza cênica, a simplicidade e
a singularidade do lugar. É considerada pelos moradores como um patrimônio do
povoado. Um bem a ser preservado, que possui um potencial turístico que “poderia
ser utilizado no “desenvolvimento” do povoado” (Figuras 24 e 25). A paisagem
enquadra Pedreiras como exuberante para o visitante. No entanto, ela é viva e
dinâmica para seus moradores. É nela que está o rio e a maré: Aqui só tem coisa
boa, a paz de Deus e a paisagem da maré [...] (Damião Santos da Silva, morador,
41 anos); Aqui tudo eu pintava. Pintava essas árvores, tão bonito n/é. Ali a frente da
igreja católica eu pintava também (Antonio da Paixão, pescador aposentado, 69
anos).
Todavia, o sentido de patrimônio colocado tanto para a paisagem (nela o rio)
como para a igreja se aproxima mais do sentido de pertencimento quando se avalia
os depoimentos sobre Pedreiras: ”eu amo isso aqui!”.
P á g i n a | 112
Figura 24 – Paisagem do rio Vaza Barris (manhã) Organização: TORRES, R. P. de A. Fonte: Trabalho de campo, 2013.
Figura 25 – Paisagem do rio Vaza Barris (fim de tarde) Organização: TORRES, R. P. de A. Fonte: Trabalho de campo, 2013.
Dentre os equipamentos a escola destaca-se, sobretudo pela historia da
educação em Pedreiras. “Quando não tinha escola era Dona Joventina da Paixão
que ensinava na casa dela”. A primeira escola era muito precária, funcionava onde
P á g i n a | 113
hoje é o campinho de futebol na entrada do povoado. Daí a importância dada a
Escola Municipal de Ensino Fundamental Teresita de Paiva Lima: é a escola que
traz educação para o povoado (Figura 26).
Figura 26 – Escola de Ensino Fundamental no Povoado Pedreiras Organização: TORRES, R. P. de A. Fonte: Trabalho de campo, 2013.
4.4 O Sentido de Ser Pescador
Entendemos que a identidade cultural de um determinado grupo social, parte
do seu sentimento de pertencimento a um grupo especifico. Dessa forma, os
sentidos da tradição, do pertencimento e da identidade na pesca ganham contornos
nas falas dos entrevistados quando perguntados sobre “Qual o sentido de ser
pescador?” e se “Gosta de ser pescador?”. Percebe-se que a pesca para eles é
mais que uma atividade, é uma relação afetuosa, onde os sentimentos afloram e se
confundem. Para Haesbaert (1999) a busca do reconhecimento é fundamental para
a afirmação da identidade.
O sentido da pesca como profissão caracteriza-se como o domínio de um
conjunto de conhecimentos e técnicas que permite o pescador subsistir e se
reproduzir enquanto pescador (DIEGUES, 1983). Todavia, a atividade da pesca
artesanal está para além de um meio de produção e sustento familiar. Conforma
P á g i n a | 114
também um modo de vida que envolve uma relação singular para com o meio
ambiente em termos ecológicos e simbólicos, a apropriação e representação do
espaço realizada pelos pescadores.
Para Diegues (1995), o processo de construção da identidade do pescador
artesanal ocorre, em primeiro, pela alteridade e pelas formas como reconhecem seu
semelhante; em segundo, pelos rituais de reafirmação dos significados e sentidos
partilhados por seu coletivo; e, em terceiro lugar, pela afirmação do sentido de
pertencimento ao lugar. A figura 27 mostra o retorno de um dia de pescaria que se
faz e se refaz afirmando no processo de construção da identidade do pescador
artesanal de Pedreiras.
Figura 27 – Fazer e refazer, dia a dia na pesca em Pedreiras. Organização: TORRES, R. P. de A. Fonte: Trabalho de campo, 2013.
As práticas de trabalho, com características tradicionais, dizem respeito à
detenção de um determinado saber sobre a natureza por parte dos pescadores.
Portanto, esse conjunto de conhecimentos, técnicas, práticas e a pertença conforme
já mencionados configura a identidade em “ser” pescador.
Eu me considero pescador, porque nasci e me criei dentro dessas água. Desde idade de 12 anos que eu pesco... "Já nasci e se criei lá, acho que é de dentro mesmo... Gosto, gosto demais, eu amo pescar" (Alessandro S. de Oliveira, pescador, 34 anos).
P á g i n a | 115
A sincronia do presente com a tradição tal como exposta por Claval (2002,
p.172) “O que garante ao individuo a autenticidade de suas escolhas é o sentimento
que ele tem de estar de acordo com uma tradição que interiorizou”, pois:
Aqui é tradição, que vem de família em família (Izabolon dos Santos, pescador aposentado, 53 anos).
Já Valencio (2007), afirma que a identidade do pescador artesanal repousa na
afirmação da sua territorialidade, do seu direito de estar no lugar para daí retirar seu
sustento e exercer um conjunto de práticas sociais extraeconômicas que dão sentido
à sua existência individual e coletiva.
Tenho orgulho, tenho um lugar pra sobreviver. Vivo perto do meu trabalho, aprendi uma profissão, não passo necessidade (Cristina S. da Hora, marisqueira, 28 anos).
A identidade do pescador é apreendida no processo de formação desde sua
iniciação até o conjunto de conhecimento que vai sendo adquirido com o passar dos
anos, pela oralidade entre as gerações, pela observação e pela prática.
O aprendizado não é formal, letrado, é o do dia a dia, do cotidiano, da prática,
da tradição. É o aprendizado que se constrói a partir das relações de parentesco
(pais e mães), vizinhança ou de compadrio que muitas das vezes se inicia ainda na
infância. Começa como um processo lúdico e vai se constituindo e se interiorizando
como identidade em ser pescador artesanal. Assim:
Pais, avós, tios, cunhados, irmãos, colegas. A iniciação na pesca perpassa vários níveis de parentesco e as teias de relações que se estabelecem nas comunidades pesqueiras, fundamentais na socialização da criança no mundo da pesca. (CARDOSO, 2005, p. 5).
No povoado Pedreiras, geralmente essa inserção tem inicio ainda na infância
entre os 8 a 13 anos de idade. As crianças começam acompanhando os pais, ficam
na beira do rio brincando ou apenas observando o labor dos seus pais, ou mesmo
ajudando na pescaria e na mariscagem.
Nasci e me criei na pescaria. Meu pai era pescador, desde menino que vivo na pesca (Leopoldo F. dos Santos, pescador, 59 anos)
Comecei a pescar com meu pai e meus irmãos mais velho indo pra maré (Adenilson S. Silva ‘Bibi’, pescador, 48 anos)
P á g i n a | 116
Os ensinamentos não partem somente de pais para filhos homens, muitas
mulheres também aprendem a pescar através da figura do pai, assim como os
homens aprendem a pescar com suas mães:
Aprendi com meu pai, indo para pescaria com ele e vendo ele ‘pescar’, assim fui aprendendo (Rosenise Gonzaga, marisqueira, 32 anos); Aprendi com meu pai, sempre que ele ia pra maré levava a gente (Gilda Silva ‘Preta’, pescadora, 42 anos). Aprendi com minha mãe, pescando siri de linha e de rede (Antônio da Paixão de 69 anos, pescador aposentado).
Tem aqueles que aprendem a pescar sozinhos, como o Seu José dos Santos
‘Zé Loreto’, pescador, apesar de ter começado a frequentar a maré com seu tio,
começou a pescar sozinho e ao longo do tempo foi adquirido sua maneira própria de
pescar e a mantém até hoje.
Visto que aprenderam em outra época com os pais e outras pessoas mais
velhas e que estes tinham seu próprio modo de pescar, conforme ocorrem as
mudanças nos apetrechos e na dinâmica do rio e das marés, os mais jovens vão
moldando seu jeito próprio de pescar, ainda que “a pescaria seja uma só”.
"Geralmente a pesca tem uma maneira só, mas cada um pesca do seu jeito" (Cristina S. da Hora, 28 anos, marisqueira).
O conhecimento adquirido atrelado à percepção faz com que o pescador crie
habilidades que o leva a identificar espécies de peixes, pelos simples barulho que
fazem; a relacionar a dinâmica das marés à lua e a criar métodos de captura que
vão desde a confecção dos apetrechos de pesca até a construção e manutenção de
pequenas embarcações.
Assim começou a vida de pescador do Seu Adenilson Obitério ‘Popô’
pescador, que começou pescando com seu pai, primeiro catando caranguejo e, só
depois aprendeu outras pescarias. Com isso foi desenvolvendo seu jeito próprio,
sempre observando os outros pescadores com seus apetrechos e técnicas e, vendo
o jeito de um, o jeito de outro, adquiriu habilidades que carrega até hoje.
Os conhecimentos produzidos, trocados e transmitidos no cotidiano de vida e
de trabalho dos pescadores artesanais, caracterizam a pesca como um saber
tradicional. Estes saberes são adquiridos e construídos no interior do ambiente
P á g i n a | 117
pesqueiro. São conhecimentos repassados de geração a geração e readaptados
conforme as práticas, os costumes, crenças e valores de cada indivíduo. É no
convívio que o saber flui pela atitude de quem sabe e faz para quem não sabe e
aprende. A esse respeito Brandão (2003) enfatiza que o saber é fruto da convivência
das pessoas umas com as outras e, Andreoli e Anacleto (2006, p.4) dizem que:
Esses conhecimentos permitem ao pescador se reproduzir enquanto tal, através da ação, onde experimentam, contrastam, atualizam e aprendem novos saberes no meio em que atuam, que vão servir para confirmar ou modificar algumas crenças, possibilitando um contínuo aprendizado.
Destarte, a pesca artesanal tradicional no povoado Pedreiras representa um
conjunto de práticas cognitivas e culturais, que vai se construindo pelo saber-fazer
diário, ao mesmo tempo em que é transmitido pela oralidade com a função de
assegurar a reprodução de o modo de vida do pescador e de seus descendentes.
P á g i n a | 118
CONSIDERAÇÕES FINAIS
P á g i n a | 119
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nossa pesquisa buscou entender a percepção ambiental dos pescadores do
povoado Pedreiras, suas formas de representação, interpretação e ação sobre o
meio natural pela pesca. Apreendemos que a pesca está imbricada nessas formas,
que revela suas visões de mundos e, portanto, prática material e simbólica na
construção das identidades individual e coletiva.
A pesca é artesanal e tradicional embora não se encontre em estado “puro” e
“intocado” Diegues (1983), mas identificamos um certo isolamento, tal como Diegues
(2004b) qualifica como uma das características de comunidades tradicionais. A
pesca em Pedreiras é praticada somente no estuário do rio Vaza Barris, nos
arredores ou nos “territórios” próximos ao povoado e, a comercialização do pescado
realiza-se nos bares e em portos do povoado por atravessadores, na feira da sede e,
em menor escala, na capital.
O ser pescador artesanal em Pedreiras é traduzido pelo seu modo de viver e
se relacionar com a natureza. As famílias são donas de seus meios de produção,
possuem os equipamentos necessários para a pesca, como redes, tarrafas, linhas,
pequenas embarcações motorizadas, bem como a força de trabalho. No entanto, os
pescadores de Pedreiras se enquadram na realidade de sobrevivência ao buscarem
outras estratégias para garantir sua reprodução social: tem roças, se ocupam em
outras atividades, sobretudo, período de defeso.
Observada sob a perspectiva do território a pesca nos mostra em Pedreiras
um espaço revestido de dimensão política e afetiva (CORRÊA, 1996), material e
simbólica (HAERABAERT, 1999; BONNEMAISON, 2002).
A organização política e social é frágil em Pedreiras, visto que os maiores
anseios da comunidade em melhorar as condições da estrada e o abastecimento de
água não são concretizados, mesmo com a existência de Associação e ocorrência
de protestos. Desde a década de 1970 o subsolo do povoado é explorado pela
Petrobrás que transfere royalties para o município sem que seus investimentos
sejam aplicados na infraestrutura do povoado.
P á g i n a | 120
Um aspecto que fortemente caracteriza o povoado é a religiosidade que por
um lado aproxima as pessoas, mas por outro fragiliza a organização social no que
se refere à ausência de manifestações culturais. Os seguidores da religião católica e
da religião evangélica, esta introduzida há aproximadamente 30 anos, não se
conflituam no interior das famílias e entre os moradores, mas se “desfizeram” do
reisado, langa, das quadrilhas e das quermesses que movimentavam socialmente o
povoado.
Nesse sentido, as territorialidades enquanto conjunto de práticas e
expressões materiais e simbólicas que garantem a apropriação e a permanência em
um determinado espaço (CORRÊA, 1996), é sintetizada em Pedreiras pela pesca.
Identificamos Pedreiras como um “território de referência” (RAFFESTIN, 1993), pelo
caráter histórico e imaginário, material e imaterial dessa prática.
Ora, toda identidade territorial é uma identidade social definida por meio do
território, por uma relação de apropriação que se dá tanto no campo das ideias
quanto no campo da realidade concreta (HAERSBAERT, 1999). Os pescadores de
Pedreiras vivenciam o cotidiano da pesca produzindo significados relacionados ao
fazer, ao trabalho.
A formação da identidade em Pedreiras está enraizada no contexto social,
coletivo e histórico. Apreendemos o processo de produção simbólica e discursiva
dos moradores e dos pescadores que realçaram os valores próprios do lugar, dando
personalidade à identidade de Pedreiras, singularizando-a. Como observado por
(HALL, 2011) as identidades são construídas dentro e não fora do discurso,
produzidos em locais históricos e institucionais específicos, no interior de formações
e práticas discursivas especificas, por estratégias e iniciativas especificas. Assim,
entendemos como a religiosidade embora forte e significativa nos valores
comunitários não se sobrepôs ao sentido da pesca.
Pelos relatos da linha do tempo entre a infância e o presente apreendemos o
sentido de ser pescador como um posicionamento “um ponto de identificação”
(HALL, 1996). A pesca é praticada desde a infância, herdada, mas entendemos que
a origem dessa prática não é fixa e absoluta, pois foi-nos apresentada pelas
histórias e relatos de nossos entrevistados: “(...) tem suas histórias – e as histórias,
por sua vez tem seus efeitos reais, materiais e simbólicos” (HALL, 1996, p. 70).
P á g i n a | 121
Seus conhecimentos são amplos e complexos, pois envolvem desde o
domínio dos ritmos da maré e dos ritmos das estações, do ciclo de vida das
espécies, até as técnicas apropriadas para cada captura. Os instrumentos ou
métodos de trabalho da pesca são referencias carregadas de significados herdados
e vividos pelas histórias de vida que marcam e tipificam os espaços da pesca
(SILVA, 2009). Pescar no Paruí, atracar no porto do finado Chicão, ir além do rio das
Pedreiras, ficar só na maré nos revelaram referências herdadas e vividas.
O rio Vaza Barris traduz a organização e a produção da base material e,
também a significação e a relação simbólica (BONNEMAISON, 2002) que dá sentido
à vida em Pedreiras.
O sentimento de estar de acordo com a tradição de ser pescador (CLAVAL,
2002) é interiorizada pelo conjunto dos conhecimentos e práticas demonstrados, os
ensinamentos partem dos pais para filhos, das mães para as filhas, dos maridos
para as esposas, nas brincadeiras das crianças na maré, enfim, em todas as fases
da vida os moradores de Pedreiras, ensinam, aprendem e praticam a pesca.
A intrínseca relação com o meio natural estabelece os vínculos “cognitivos,
conectivos e conflitivos” (MARQUES, 1995), entre o passado e o presente; entre o
presente e a expectativa de futuro que foram retratados na exposição das marcas e
na percepção dos signos: o rio, a maré e a estrada distinguem o cotidiano e a pesca
nesses tempos. Daí, afirmamos que a construção da identidade em Pedreiras dá-se
a partir do pertencimento ao lugar e da herança da pesca como prática que dá
sentido à vida individual e coletiva.
P á g i n a | 122
REFERÊNCIAS
P á g i n a | 123
6 – REFERÊNCIAS
ANDREOLI, Vanessa Marion. Natureza, tradição e modernidade: a construção da identidade de um grupo de pescadores artesanais. 2010. ISSN 2175-6880 (Online). Disponível em: www.seminariosociologiapolitica.ufpr.br. Acesso em: 09 de janeiro. 2013.
ANDREOLI, Vanessa Marion. ANACLETO, Adilson. Compartilhando saberes: os conhecimentos tradicionais e a educação ambiental. 2006. Artigo registrado sob Nº 14. ISBN 85-89346-27-7. Disponível em: http://www.isepeguaratuba.com.br/inc/pdf/isepe_guaratuba_artigo007.pdf. Acesso em: 09 de janeiro. 2013. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. 4. ed. Edições 70 – Brasil, 1997. BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005. BIERNACKI, P.; WALDORF D. Snowball Sampling: Problems and techniques of Chain Referral Sampling. Sociological Methods & Research, vol. nº 2, November. 141-163p, 1981. BOLETIM ESTATÍSTICO DA PESCA MARÍTIMA E ESTUARINA DO NORDESTE DO BRASIL 1999. http://www4.icmbio.gov.br/cepene//index.php?id_menu=61. Acesso em: 23 de janeiro. 2013. BONNEMAISON, J. Viagem em torno do território. In: CORRÊA, R. L.; BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand, 2002. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação? São Paulo: Brasiliense, 2003. ______. A comunidade tradicional. In: Cerrado, Gerais, Sertão: comunidades. tradicionais dos sertões roseanos. Montes Claros: 2010 (Relatório de Pesquisa). BRASIL. Decreto que instituiu a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais – CNPCT, de 7 de fevereiro de 2007. Defensoria Pública da União. Comunidades Tradicionais. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6040.htm. Acesso em: 15 de janeiro. 2014. CAETANO, C. M. A Memória na Reconstrução da História da Educação. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, número especial, p.203-210, out2011 - ISSN: 1676-2584 2. Disponível em: http://www.histedbr.fae.unicamp.br/revista/edicoes/43e/art11_43e.pdf. Acesso em: 23 de fevereiro. 2014. CARDOSO, Eduardo Shiavone. Pescadores artesanais: natureza, território e movimento social. Universidade de São Paulo. São Paulo, 2001. (Tese de doutorado)
P á g i n a | 124
CARDOSO, Eduardo Shiavone. Trajetórias: a formação de pescadores e a apropriação da natureza. Londrina 2005. Artigo. Disponível em: http://geografiahumanista.files.wordpress.com/2009/11/eduardo_s_cardoso.pdf. Acesso em: 21 de fevereiro. 2013. CARDOSO, Eduardo Schiavone. O vento, o fundo, a marca: diálogos sobre a apropriação da natureza no universo pesqueiro. In: Antonio Carlos Diegues. (Org.). Enciclopédia Caiçara. 1ed.São Paulo: Hucitec/Nupaub, 2004, v. 1, p. 133-146. CASTRO, Iná Elias; GOMES, Paulo César da Costa; CORRÊA, Roberto Lobato (Orgs.). Geografia, conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. CLAVAL, P. A Volta do Cultural na Geografia. Mercator - Revista de Geografia da UFC, ano 01, número 01, 2002. ______. A Geografia cultural. 3. ed. – Florianópolis: Ed. Da UFSC, 2001. ______.. O território na transição da pós-modernidade. Revista GEOgraphia. Rio de Janeiro: Ano I, nº 2, p. 7 a 26, dez de 1999. CORRÊA, Roberto Lobato. Territorialidade e corporação. In: SANTOS, Milton; SOUZA, Maria Adélia; SILVEIRA, Maria Laura (Org.). Território, globalização e fragmentação. São Paulo: Hucitec, p. 251-256, ISBN: 8527102730. CORRÊA, Roberto L. ROSENDAHL, Zeny. (Orgs). Introdução a Geografia Cultural. Bertrand Brasil. Rio de Janeiro, 2003. DARTIGUES, A. O que é fenomenologia? São Paulo: Moraes, 1992. DEMO, Pedro. Metodologia do conhecimento científico. São Paulo: Atlas,2000. DELGADO, L. DE A. N. História oral: memória, tempo, identidade. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. DEL RIO, Vicente. OLIVEIRA, Lívia de. Percepção (Orgs.). Percepção ambiental a experiência brasileira. 2. ed. São Paulo: Studio Nobel, 1999. DIEGUES, A. C. Pescadores, camponeses e trabalhadores do mar. São Paulo. Ática, 1983. ______. Povos e mares. São Paulo: NUPAUB-USP. 269p. 1995. ______. Biodiversidade e comunidades tradicionais no Brasil. São Paulo: NUPAUB-USP; PROBIO-MMA; CNPq, 1999. ______. Povos e Águas: inventário de áreas úmidas. 2ª edição. São Paulo: NUPAUB-USP. 597p. 1995.
P á g i n a | 125
______. O mito moderno da natureza intocada. 4. ed. SP: Hucitec; NUPAUB-USP, 2004a. ______. (Org.) Enciclopédia Caiçara, vol. I, O Olhar do Pesquisador. São Paulo: Editora HUCITEC-NUPAUB-CEC/USP, 2004b. FERRARA, Lucrécia D‟Alessio. As cidades ilegíveis: percepção ambiental e cidadania. In: DEL RIO, Vicente. OLIVEIRA, Lívia de. Percepção ambiental: a experiência brasileira (Orgs.). 2. ed. – São Paulo: Studio Nobel, 1999. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio escolar da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988. 687p. FURTADO, Lourdes G. Pescadores do rio Amazonas: um estudo antropológico da pesca ribeirinha numa área amazônica. Belém: Museu Paraense Emilio Goeldi, 1993. 486p. GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC Editora S. A, 1997. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2006.
GIL FILHO, Sylvio Fausto. Geografia Cultural: estrutura e primado das representações. In: Espaço e Cultura, UERJ, RJ, Nº. 19-20, P. 51-59, JAN./DEZ. DE 2003. GOBIRA, N. C. M. S. Desvendando o rio Pardo: as marcas de uma paisagem ribeirinha. Percepções e práticas da comunidade tradicional em Itambé no Sudoeste da Bahia. Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2010. GODOY, A. S. Pesquisa qualitativa: tipos fundamentais. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 35, n. 3, p. 20-29, maio/jun. 1995. GONÇALVES, L. F. Geografia humanística e turismo: contribuições de enfoque humanista para o estudo do turismo. Artigo apresentado no V Seminário de Pesquisa em Turismo do MERCOSUL (SeminTUR). Universidade de Caxias do Sul, RS, Brasil, 27 e 28 de Junho de 2008. HAESBERT, R. Identidades Territoriais. In: ROSENDAHL, Zenny; CORRÊA, Roberto Lobato. Manifestações da cultura no espaço. Rio de Janeiro: Eduerj, 1999. 247 p. ______.. Território territórios: concepções de território para entender a desterritorializaçao. Niterói: PPGEO-UFF/AGB, 2002. ______. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. ______. Territórios alternativos. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2006.
P á g i n a | 126
______. Território e região na abordagem geográfica contemporânea. Recife: UFPE, 2011. HALBWACHS, Maurice, 1877-1945. A Memória Coletiva; Tradução de Beatriz Sidou. São Paulo: Centauro, 2003, 224p. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2011. ______. Identidade cultural e diáspora. In: Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Rio de Janeiro, IPHAN, 1996. HELLER, A. O cotidiano e a história. São Paulo: Paz e Terra, 2008. HOLZER, Werter. A Geografia Humanista - sua trajetória de 1950-1990. Dissertação de mestrado em Geografia. V. 1 e 2 Rio de Janeiro: UFRJ, 1992. LAKATOS, Eva M; MARCONI, Marina de A. Fundamentos de metodologia científica. 3 ed. São Paulo: Atlas, 1991. LEFEBVRE, Henry. Espaço e política. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008 LENCIONI, S. Região e geografia. São Paulo: Edusp, 1999. LOPES, E. S. A.; COSTA, José Eloízio . Impactos do Pronaf B nos municípios de São Cristóvão e Itabaiana, Estado de Sergipe: para além da dimensão econômica. 2007. (Relatório de pesquisa). LE GOFF, Jacques. História e memória. Tradução Bernardo Leitão. 2. ed. Campinas: UNICAMP, 1992. MALDONADO, Simone Carneiro. Mestres e mares: espaço e indivisão na pesca marítima. São Paulo: Annablume, 1993. MALHOTRA, Naresh K. Pesquisa de marketing: Uma orientação aplicada. 4. ed. Porto Alegre: Bookman. 2006. MARQUES, José. Geraldo. W. Pescando pescadores. 2. ed. São Paulo: NUPAUB/USP, 1995. MAY, Tim. Pesquisa social: questões, métodos e processos. Porto Alegre: Artmed, 2004. MCDOWELL, L. A transformação da Geografia Cultural. In: GREGORY, D. (Org.) Geografia Humana: Sociedade, Espaço e Ciência Social. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1996. MERLEAU-PONTY, Maurice. A Fenomenologia da percepção. 2. ed. Tradução de Carlos Alberto Ribeiro de Moura. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
P á g i n a | 127
MINAYO, Maria C. de S. O desafio do conhecimento: a pesquisa qualitativa em saúde. Rio de Janeiro: UCITEC-ABRASCO, 1994. MORAES, S. C. Uma Arqueologia dos Saberes da pesca: Amazônia e Nordeste. Belém: EDUFPA, 2007. MOREIRA, Daniel Augusto. O método fenomenológico na pesquisa. São Paulo: Pioneira Thompson Learining, 2002. NUNES, Roseli Pereira. Formação socioambiental de jovens filhos de pescador: percepções e relações culturais; orientador Ronaldo Gomes Alvim. – São Cristóvão, 2013. 177f.: il. Dissertação (mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) – Universidade Federal de Sergipe, 2013. PIMENTA, E. G. Análise estatística de acidentes com barcos de pesca. Grupo de Estudos e Projetos Especiais, GEPE. Rio de Janeiro: UFRJ, 2001. Plano de Metas do Município de São Cristóvão – EMDAGRO, 2011. RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. Tradução de Maria Cecília França. São Paulo: Ática, 1993. Relatório de Informações Básicas Municipais do Município de São Cristóvão - Governo de Sergipe, 2008. RELPH, E. As bases fenomenológicas da Geografia. Geografia, Rio Claro, v.7, p.1-26, 1979. RICHARDSON, Roberto J. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3 ed. São Paulo: Atlas 1999. ROCHA. L. B. A região cacaueira da Bahia: Uma abordagem fenomenológica. Aracaju, 2006. 290 f. Tese (Doutorado em Geografia). Universidade Federal de Sergipe. ROSENDAHL, Zeny; CORRÊA, Roberto Lobato (Orgs.). Religião, Identidade e Território. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 2001. SANTOS, Eline Almeida. (Re) produção social e dinâmica ambiental no espaço da pesca reconstruindo a territorialidade das marisqueiras em Taiçoca de Fora – Nossa Senhora do Socorro/SE; orientadora Rosemeri Melo e Souza. – São Cristóvão, 2012. 162f.: il. Dissertação (mestrado em Geografia) – Universidade Federal de Sergipe. SAQUET, Marcos Aurélio. Abordagens e concepções de território. 2. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2010.
P á g i n a | 128
______. Por uma abordagem territorial. In: M. A. SAQUET e E. S. SPOSITO. (Org.). Territórios e territorialidades: teorias, processos e conflitos. São Paulo: Expressão Popular, 2009, v. 1. ______. O território: diferentes interpretações na literatura italiana. In: RIBAS, A. D.; SPOSITO, Eliseu; SAQUET, Marco Aurélio. Território e desenvolvimento: diferentes abordagens. Francisco Beltrão: Unioeste, 2004. ______. Os tempos e os territórios da colonização italiana. Porto Alegre/RS: EST Edições, 2003 (2001). SANTOS, Milton. Por uma geografia nova: da crítica da geografia a uma geografia crítica. São Paulo: Edusp, 2002. ______.. O Papel ativo da Geografia: um manifesto. In: ENCONTRO NACIONAL DE GEOGRÁFOS, 17, 2000, Florianópolis. ______. Metamorfose do espaço habitado. 4. ed. São Paulo: Hucitec, 1996. SACK, D. R. Human territoriality, its theory and history. Cambridge: University Press, 1986. SERGIPE. Diagnostico do Povoado Pedreiras – Banco do Brasil,1993. ______.Diagnóstico do Município de São Cristóvão – Governo de Sergipe, 2002. SOUZA, Marcelo José Lopes de. O território: sobre espaço e poder. Autonomia e desenvolvimento. In CASTRO, I. E. de; GOMES, P. C. da C.; CORRÊA, R. L. (Orgs.). Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001, p.77- 116. SILVA, Anelino Francisco da. Pesca artesanal: seu significado cultural. Ateliê Geográfico. Goiania – GO, v. 1, n. 6, abril/2009, p. 119-136. SILVA, T. E.; TAKAHASHI, L. T.; VERAS, F. A. V.. 1990. As Várzeas ameaçadas: um estudo preliminar das relações entre as comunidades humanas e os recursos naturais da várzea da marituba no rio São Francisco. Programa de Pesquisas e Conservação de Áreas Úmidas no Brasil. Universidade de São Paulo. TUAN, Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção e valores do meio ambiente. São Paulo: Difel, 1980. TUAN, Yi-Fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. Tradução de Lívia de Oliveira. São Paulo: Difel, 1983.
VALENCIO, N. 2007. Pescadores do Rio São Francisco: a produção social da inexistência. São Carlos: RiMa Editora. 212p.
P á g i n a | 129
APÊNDICES
P á g i n a | 130
APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ REITORIA DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA
NÚCLEO DE PÓS GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
Dissertação de Mestrado
O sentido de ser pescador: signos e marcas no povoado pedreiras – São Cristóvão/SE
BLOCO I
DADOS PESSOAIS DO ENTREVISTADO
1) Nome Completo:___________________________ 2)(Apelido):___________
3) Idade: ___________ Sexo: ( ) M ( ) F
4) Estado civil: ( ) casado ( ) solteiro ( ) separado
5) Posição que ocupa na família: ( ) pai ( ) mãe ( ) filho ( ) outros
6) Tipo de edificação: ( ) casa ( ) sítio ( ) comercial ( ) outros _________________
7) Naturalidade:_______________
8) Há quanto tempo reside no povoado? _________
9) Residência: ( ) própria ( ) alugada ( ) cedida.
10) Quantidade de residentes: __________
11)Escolaridade:
( ) Não alfabetizado ( ) Alfabetizado ( ) Ensino fundamental ( ) Ensino médio
( ) Graduação ( ) Pós-graduação
LINHA DO TEMPO DO ENTREVISTADO
12) O(a) senhor(a) se considera pescador(a)? Por quê?
13) Quando começou a pescar? Há quanto tempo pesca?
14) Aprendeu com alguém? Quem? Como foi?
15) O(a) senhor(a) tem (desenvolveu) seu jeito próprio de pescar? Como é?
P á g i n a | 131
16) O(a) senhor(a) tem ou é parente de pescador?
( ) pai ( ) mãe ( ) filho ( ) tio ( ) outro:_____________________
17) Se pescador(a), desenvolve outra atividade? Se não, qual (ais) a atividade(s)
desenvolve?
18) Se pescador(a) gostaria de se ocupar em outra atividade? Se vê em outra atividade?
Sim ( ) Não ( )
Se sim, qual?
19) Como foi sua infância no povoado? (lembranças positivas e negativas - marcos)
20) Como foi sua juventude no povoado? (lembranças positivas e negativas - marcos)
21) Como vê o Povoado Pedreiras hoje quando compara com sua infância e juventude?
Social, cultural, infraestrutura, educação, política... (traçar um paralelo entre o passado e o
presente)
Aspectos Linha do tempo
Passado Presente
Social
Cultural
Educação
Saúde
Infraestrutura
Politica
22) Qual o sentido de ser pescador(a) para o(a) senhor(a)?
23) O(a) senhor(a) gosta de ser pescador(a)? Explique.
A PESCA E O ENTREVISTADO
24) Quantos dias por semana trabalha? Quantas horas por dia?
25) Quais os instrumentos são utilizados pelo(a) senhor(a) na pesca?
26) O(a) senhor(a) utiliza algum tipo de embarcação para pescar? Qual?
27) Quais os locais de pesca? (toponímia dos lugares, dos portos, denominações próprias).
28) Para o senhor(a) o tempo climático e a maré influenciam na atividade pesqueira?
29) Quais os tipos de pescado que o(a) senhor(a) coleta?
P á g i n a | 132
( ) peixe ( ) camarão ( ) caranguejo ( ) aratu ( ) sururu
( ) outros:________________________
30) Qual pesca o(a) senhor(a) tira maior produção? Por quê? Descreva instrumentos e
quantidades.
31) Qual pesca oferece maior renda? Por quê? (se outra descreva instrumentos).
32) Qual pesca o senhor mais gosta? Por quê? (se outra descreva instrumentos).
33) O senhor(a) vende o que pesca ou é apenas para consumo próprio?
34) Se vende, qual o destino da produção?
( ) atravessador ( ) vende na comunidade ( ) São Cristóvão ( ) outros:
35) Como faz para estocar a produção do pescado? Utiliza gelo na estocagem do produto?
Onde consegue gelo para estocar a produção?
36) Como faz o transporte da produção?
37) Tem registro no RGP (Registro Geral de Pescadores)? Se não por quê? Se sim, desde
quando?
38) O que é necessário para fazer o registro?
39) É cadastro na colônia de pescadores? Qual? Desde quando?
40) É associado na associação de pescadores do povoado? Desde quando?
41) Recebe seguro-defeso? Qual o período? Desde quando?
42) Recebe alguma outro tipo auxilio financeiro ? Qual? Desde quando?
43) Houve mudança nos petrechos da pesca?
44) Houve mudanças no ambiente?
45) Houve mudanças no pescado? Quantidade, novas espécies...
46) Se não fosse pescador, gostaria de ter tido outra profissão?
47) Como o(a) senhor(a) descreveria o Povoado Pedreiras?
48) Se o(a) senhor(a) fosse pintar um quadro do Povoado Pedreiras, o que desenharia e
quais as marcas não poderiam faltar na descrição do quadro?
P á g i n a | 133
APÊNDICE B - ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ REITORIA DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA
NÚCLEO DE PÓS GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
Dissertação de Mestrado
O sentido de ser pescador: signos e marcas no povoado pedreiras – São Cristóvão/SE
BLOCO II – O QUE TEM NO POVOADO
1)Prédios e construções antigos:
2)Prédios e construções mais importantes:
3)Lugares mais significativos: (praça, morro, campo de futebol, vegetação, denominação do
lugar, rio, etc).
4)Especialidade de comida: qual(is)? Quem faz?
5) Artesanato: qual(is)? Quem faz?
6) Atividade mais importante: Quem? Onde? (pesca, agricultura, turismo etc).
7) Grupo e ou artista de música: O quê? Quem? (cantor, sanfoneiro, pífano, coral).
8) Grupo de dança: O quê? Quem? (quadrilhas juninas, capoeira, samba de roda, etc).
9) Artistas plásticos: O quê? Quem? Onde? (pintor, escultor, poeta, cordelista, etc).
10) Artesanato tradicional: O quê? Quem? Onde? (cestos, redes, etc).
11) Artesanato moderno: O quê? Quem? Onde (pet, durepox, biscuit, bonecas, pano de
prato, almofadas, etc).
12) Festas religiosas: Quais? Quando? O que tem? Quem faz? (católica, evangélica,
protestante, indígena).
13) Festas populares: Quais? Quando? O que tem? Quem faz? (forró, cavalgada, micareta
etc).
14) Outras festas: Quais? Quando? O que tem? Quem faz? (nas escolas, data cívica do
município etc).
15) Está satisfeito com sua vida no povoado? Tem vontade de sair daqui no futuro?
P á g i n a | 134
APÊNDICE C – AUTORIZAÇÃO
P á g i n a | 135
P á g i n a | 136
APÊNDICE D – MATRIZ EM EXCEL PARA TRATAMENTO DOS DADOS
PERFIL DO ENTREVISTADO
1-Nome 2-Apelido 3-Idade
4-Sexo
5-Naturalidade UF 6-Estado Civil 7-Posição
8-Tipo de edificação
M F casa sítio comerc. outros
9-Tempo de residência
10-Residência 11-Escolaridade
própria alugada cedida Não alfabetizado Alfabetizado Ens.Fund. Ens. Médio Graduação
COTIDIANO: PESCA E OUTRAS PRÁTICAS
17-Pescador
Outra atividade
24-Trabalho na pesca 25-Instrumentos da pesca
Sim Não 5
h/dia 6
h/dia 3 a 4 h/dia Rede Tarrafa Covo Redinha Linha Ratoeira Vara Outros:
P á g i n a | 137
30a-Maior produção
30b-Justificativa
30c- Instrumentos
Peixe Camarão Caranguejo Aratu Sururu Outros: Rede Tarrafa Cove Redinha Linha Ratoeira Vara Outros:
31b- Melhor renda 31c-Outra com boa
renda
32-Pesca que gosta
Peixe Camarão Caranguejo Aratu Sururu Outros: Peixe Camarão Caranguejo Aratu Sururu Outros:
26-Tipo de embarcação 27-
Locais de pesca
28-Melhor tempo de pesca 29-Tipos de pescado
Barco a motor
Barco a remo
Canoa a vela
Maré grande
Maré morta Verão Outro: Peixe Camarão Caranguejo Aratu Sururu Outros:
33-Comercialização 34-Se vende, qual o destino da produção?
Sim Não Parte
consumo Parte venda
Total consumo
Total venda Atravessador
Vende na comunidade
Feira de São Cristóvão Outros:
P á g i n a | 138
35-Estoque da produção 36-Transporte da produção? 37-Registro Geral (Min. da Pesca)
Compra gelo Freezer próprio
Direto p/ atravessador Geladeira Ônibus
Taxi lotação Outros Sim
Desde quando? Não
< 5 6 a 10 10 a 20 >20
38-Documentação
para ter o registro? 39-Registro na colônia de pescadores
40-Associação comunitária 41-Seguro-defeso
42-Auxílios - Bolsa-família
Sim
Desde quando?
Não Sim Não Já fui Sim
Desde quando
Não Sim Não < 5 6 a 10 10 a 20 >20 < 5 6 a 10 > 10
SER PESCADOR: SIGNIFICADOS E RESSIGNIFICAÇÕES
12-Se SE CONSIDERA pescador
13-Tempo de pescaria
22-Sentido de ser pescador
23-Gosta de ser pescador
43-Mudança nos apetrechos
44-Mudança no ambiente
Respostas <10 11 a 20 > 20 Respostas Respostas Respostas Respostas
45-Mudança no pescado Quantidade,
novas espécies...
14-Aprendizado
da pesca 15-Destreza - estilo próprio
16-Tem ou é parente pescador 18-Querer outra atividade
46-Se não fosse pescador(a), o seria?
Respostas Respostas Respostas Pai Mãe Filho Outro: Sim Não Qual? Respostas
P á g i n a | 139
HERANÇA E PERTENCIMENTO
19-Infância 20-Juventude 21-Comparação 47-Descrição da Pedreira 48-Signos da Pedreira
Resposta Resposta Resposta Respostas Respostas