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Universidade Federal de Sergipe Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Núcleo de Pós-Graduação e Pesquisa em Psicologia Social Mestrado em Psicologia Social PATRÍCIA ELAINE SANTANA MOTA UM ESTUDO SOBRE A COMPOSIÇÃO DO CONSTRUTO BEM-ESTAR NO TRABALHO SÃO CRISTÓVÃO/SE NOVEMBRO, 2014

Universidade Federal de Sergipe Pró-Reitoria de Pós-Graduação e ... · E quando estiveres perto eu arrancarei os seus olhos e os colocarei no lugar dos meus. E tu arrancará os

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Universidade Federal de Sergipe

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Núcleo de Pós-Graduação e Pesquisa em Psicologia Social

Mestrado em Psicologia Social

PATRÍCIA ELAINE SANTANA MOTA

UM ESTUDO SOBRE A COMPOSIÇÃO DO CONSTRUTO

BEM-ESTAR NO TRABALHO

SÃO CRISTÓVÃO/SE

NOVEMBRO, 2014

PATRÍCIA ELAINE SANTANA MOTA

UM ESTUDO SOBRE A COMPOSIÇÃO DO CONSTRUTO

BEM-ESTAR NO TRABALHO

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Psicologia Social do

Centro de Educação e Ciências Humanas da

Universidade Federal de Sergipe como

requisito parcial para obtenção do título de

mestre em Psicologia Social.

Orientadora: Profª. Drª. Marley R. Melo de

Araújo

São Cristóvão – Sergipe

2014

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

M917e

Mota, Patrícia Elaine Santana

Um estudo sobre a composição do construto bem-estar no

trabalho / Patrícia Elaine Santana Mota ; orientadora Marley R. Melo

de Araújo. – São Cristóvão, 2014.

135 f. : Il.

Dissertação (mestrado em Psicologia Social) –

Universidade Federal de Sergipe, 2014.

1. Psicologia organizacional. 2. Trabalho. 3. Satisfação. 4.

Qualidade de vida no trabalho. 5. Comprometimento organizacional. I.

Araújo, Marley R. Melo de, orient. II. Título.

CDU 159.944:005.32

COMISSÃO JULGADORA

Dissertação da Discente PATRÍCIA ELAINE SANTANA MOTA, intitulada UM

ESTUDO SOBRE A COMPOSIÇÃO DO CONSTRUTO BEM-ESTAR NO

TRABALHO defendida e aprovada em 14/11/2014, pela Banca Examinadora constituída

pelos Professores Doutores:

______________________________________________________

PROFª. DRª. MARLEY R. MELO DE ARAÚJO

Orientadora/ Presidente – UFS

________________________________________________________

PROF. DR. ANDRÉ FARO DOS SANTOS

Membro Interno – UFS

________________________________________________________

PROF. DR. SINÉSIO GOMIDE JÚNIOR

Membro Externo – Universidade Federal de Uberlândia

AGRADECIMENTOS

Finalmente é hora de fechar mais um ciclo. Após tantos desafios e experiências

inusitadas...

Agradecer a Deus, por inúmeras vezes ter me carregado no colo, ter me dado forças para

dar conta e suportar dores quase insuportáveis, mas que me fizeram crescer como pessoa e

como profissional.

Agradecer a meus pais, pelo carinho, pelo apoio, pelo suporte. Sem vocês eu não teria

chegado até aqui.

Agradecer a meus irmãos, companheiros de jornada, Alisson, Marcelio e Gilvânia, que,

mesmo calados e distantes fisicamente, acolhiam minhas angústias e minha dor.

Agradecer a uma pessoa mais que especial, Professora, Pesquisadora, Supervisora,

Orientadora e, muito mais que isso, um Referencial para mim de pessoa, de profissional, de

ser humano a ser seguido. Agradecer pelos incentivos constantes, pelo acolhimento, pelas

confidências, pelos ensinamentos, pelos puxões de orelha nessa jornada de mais de quatro

anos trabalhando juntas. Obrigada por ser minha mestra!

Agradecer aos demais mestres que colaboraram para que eu chegasse até aqui, os

professores do Arqui, que me ensinaram a ser gente. Os professores da UFS, com os quais

tive a honra de conviver e aprender os caminhos da Psicologia. Os professores da vida, que

mesmo não sendo docentes, ensinam muito!

Agradecer os ensinamentos daquele que serviu de exemplo para mim, um mestre com

conselhos magníficos e uma sabedoria incrível, que se foi fisicamente, mas ainda se faz

presente no meu cotidiano, o Dr. José Carlos Nunes Mota (Tio Zé Carlos) (In Memorian).

Um cidadão sábio que sempre lutou, à sua maneira, para o bem de todos ao seu redor.

Lembro quando ele mesmo falava: "eu que iniciei esse caminho", quando se referia à vida

acadêmica. Sempre o tive como modelo de exigência em tudo o que me ponho a fazer.

Queria muito que presenciasse esse momento! Meu “muito obrigada”, onde estiver!

Agradecer o acolhimento que recebi dos integrantes do Grupo de Pesquisa Bases

Normativas do Comportamento Social (BNCS), do curso de Psicologia da UFPB,

capitaneado pelo Prof. Dr. Valdiney V. Gouveia. Foi uma experiência única!

Agradecer aos amigos velhos e novos, que me incentivaram e me abraçaram na alegria e na

tristeza, principalmente quando coloriam meus dias cinza-escuro. Em especial àquelas que

ora foram meu porto seguro, ora foram ‘copilotas’ quando meu barco se encontrava à

deriva: Débora Ramos, Aurea Rodrigues, Thalita Fernandes, Aline Silva, Isadora Araújo e

Larissa Franco.

Agradecer àquela que foi um espírito-guia, que com seu jeito meigo e cativante colaborou

para o meu processo de autoconhecimento e crescimento pelas veias psicodramáticas e

humanas, Tatiana Torres, sempre ascendendo minha centelha de vida nos momentos mais

difíceis, quando me aceitou incondicionalmente, porque houve um...

“Encontro de dois. Olho no olho. Cara a cara.

E quando estiveres perto eu arrancarei os seus olhos e os colocarei no lugar dos meus.

E tu arrancará os meus olhos e os colocará no lugar dos teus.

Então, eu te olharei com teus olhos e tu me olharás com os meus.”

(Jacob Levy Moreno)

Eis que alcanço mais uma corujinha!!

Agradecer aos tios pelos conselhos valiosos e aos primos, parceiros de folia, de viagens, de

conversas e de cumplicidade.

Agradecer aos que foram protagonistas das pesquisas. Sem vocês nada disso seria possível!

Agradecer a André Faro pelas incalculáveis colaborações, pela disposição e pelo tempo

doado em prol da ciência!

Agradecer à banca examinadora, Prof. Sinésio e Prof. André Faro, por aceitar o convite de

um momento importante e coroar com contribuições ímpares.

Aos colegas de profissão, que no papel de alunos me ensinaram a MAGIA de "Ser

Docente".

Ao Colégio Integrado AGES e à Faculdade AGES pela oportunidade de me aperfeiçoar,

nessa reta final, como profissional e como pessoa, com ética e amor pela profissão.

Agradecer à CAPES pelo fomento à pesquisa no país.

Por fim, agradecer a todos que contribuíram e que torceram por mim nessa experiência

mais que única em minha vida!

Muito obrigada!

“Não sei se a vida é curta ou longa demais para nós.

Mas sei que nada do que vivemos tem sentido se não

tocarmos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser colo que acolhe, braço que

envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita,

alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que

acaricia, desejo que sacia, amor que promove; e isso

não é coisa de outro mundo.

É o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não

seja nem curta nem longa demais.

Mas que seja intensa, verdadeira e pura enquanto

durar.”

(Cora Coralina)

“Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim

decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar;

porque descobri no caminho incerto da vida, que o mais

importante é o decidir.”

(Cora Coralina)

RESUMO

Mota, P. E. S. Um estudo sobre a composição do construto bem-estar no trabalho.

Dissertação de mestrado. Programa de Pós Graduação em Psicologia Social.

Universidade Federal de Sergipe.

O dinamismo da vida moderna trouxe complexidade e ênfase ao trabalho, aliados à

preocupação com o bem-estar. Há várias abordagens desse construto, seja pela

perspectiva subjetiva, cognitiva, social ou laboral. O bem-estar no trabalho descreve a

relação existente entre o sujeito e seu trabalho. Diversos autores propuseram estruturas

para ele, com modelo teórico, dimensões e comprovações empíricas. Todavia, um

modelo não havia sido testado empiricamente, composto pelas variáveis satisfações no

trabalho (ST), envolvimento com o trabalho (ET) e comprometimento organizacional

afetivo (COA). Essa dissertação objetivou testar empiricamente tal modelo teórico para

bem-estar no trabalho (BET) composto por COA, ST e ET, a partir da realização de dois

estudos. No primeiro, com o objetivo de analisar a dimensionalidade das escalas de cada

variável - COA, ST e ET -, foram feitas análises fatoriais exploratórias por meio da

análise de componentes principais. A amostra foi composta por 259 trabalhadores que

nesse estudo responderam presencial e virtualmente aos instrumentos: Escala de

Comprometimento Organizacional Afetivo (ECOA), Escala de Satisfação no Trabalho

(EST), Escala de Envolvimento com o Trabalho (EET) e um questionário

socioprofissional. Os resultados apontaram que ECOA e EET permaneceram

unidimensionais, com 5 itens cada uma das escalas. A EST apresentou 4 fatores,

congregando 15 itens ao todo. Notou-se relação significativa entre COA e o tipo de

empresa em que trabalha, pois quem está alocado no âmbito privado está mais

comprometido afetivamente que quem se encontra em emprego público. Houve também

significância entre COA e quantidade de funcionários da empresa, em que quanto menos

funcionários a empresa tiver, maior o COA. Existiu ainda relação significativa entre ST

e aumento salarial, de modo que quem obteve aumento sente-se mais satisfeito que quem

não o recebeu. O ET apresentou relação com aumento salarial, em que aqueles que não

receberam aumento estão mais envolvidos com o trabalho do que quem recebeu. O

segundo estudo foi composto por 206 respondentes, também trabalhadores, que

responderam ao questionário online. Ao avaliar as estruturas fatoriais encontradas no

estudo 1 para cada escala, mediante análise fatorial confirmatória, obteve-se ratificação

das mesmas, contudo com a retirada de alguns itens. A ECOA e a EET permaneceram

unidimensionais, porém, com 4 itens cada uma. A EST, após diversos ajustes

recomendados nas análises, reuniu 12 itens distribuídos em 4 fatores. Realizou-se ainda

modelagem por equação estrutural para verificar se as variáveis apresentadas pelo

modelo teórico de BET confirmam-se empiricamente no modelo explicativo de BET. Os

índices de ajuste apontaram a existência de BET, ficando o modelo com 20 itens

distribuídos desigualmente em 3 variáveis. Portanto, os dados demonstram que quando o

funcionário está satisfeito com o trabalho, sente-se envolvido com o mesmo e ainda se

mostra comprometido afetivamente em relação à organização em que trabalha e tende a

apresentar bem-estar no trabalho. Sugere-se a elaboração de mais estudos, com

populações específicas de trabalhadores, a fim de corroborar a influência destas variáveis

na constituição do construto e, além disso, verificar correlações entre o BET e outros

construtos.

Palavras-chave: Bem-estar no trabalho, Comprometimento organizacional afetivo

Satisfação no trabalho, Envolvimento com o trabalho.

ABSTRACT

Mota, P. E. S. (2014) A STUDY ON THE COMPOSITION OF WELL-BEING AT

WORK CONSTRUCT. Masters’ Dissertation. Social Psychology Postgraduate

Programme. Federal University of Sergipe.

The dynamism of modern life brought complexity and emphasis on work, along with the

concern for well-being. There are several approaches to that construct, either by

subjective, cognitive, social or labor perspective. Well-being at work describes the

relationship between an individual and his work. Several authors have proposed

structures for it, with theoretical models, dimensions and empirical evidence. However,

any model was not empirically tested or it was composed of the variables such as job

satisfaction (JS), job involvement (JI) and Affective Commitment to the Organization

(ACO). This dissertation aimed to empirically test this theoretical model for well-being

at work (WBW) composed of ACO, JS and JI from two studies. In the first, aiming at

analyzing the dimensionality of the scales of each variable, exploratory factor analyses

were performed by the analysis of the principal components. The sample consisted of

259 workers who responded in person and virtually to the following instruments:

Affective Organizational Commitment Scale (AOCS), Job Satisfaction Scale (JSS), Job

Involvement Scale (JIS) and an occupational questionnaire. The results showed that

AOCS and JIS remained one-dimensional, with 5 items each scale. The JSS presented

four factors, bringing 15 items in total. It was noted a significant relationship between

ACO and the type of company, because the ones allocated in the private sector is more

affectively committed than whoever is in public sector employment. There was also a

significant association between ACO and the number of employees of the company, the

fewer employees a company has, the greater the ACO. Moreover, there was a significant

relationship between JS and wage increase, so that those who had an increase feel more

satisfied than those who did not. The JI was related to salary increase, those who

received no raise are more involved with work than those who received. The second

study consisted of 206 respondents, also workers and those responded to the online

questionnaire as well. When evaluating the factor structure found in Study 1 for each

scale by confirmatory factor analysis, we obtained ratification of the data. However, the

AOCS and JIS remained one-dimensional with 4 items each one. The JSS, after several

adjustments recommended in the analysis, gathered 12 items distributed in 4 factors. In

addition, a structural equation modeling was carried out to verify if the variables

presented by the theoretical model of WBW is confirmed empirically in the explanatory

model of WBW. The adjustment indexes indicated the existence of WBW, remaining the

model with 20 items distributed unevenly in three variables. Therefore, the data show

that when the employee is satisfied with the job, he feels more involved with it, shows

affectively committed to the organization and tends to present well-being at work. It is

thereby suggested the development of more studies on specific populations of workers in

order to corroborate the influence of these variables on the constitution of the construct

and, in addition, examine correlations between the WBW and other constructs.

Keywords: Well-being at work, Affective organizational commitment, Job Satisfaction,

Job involvement.

SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS .......................................................................................................... 4

RESUMO .............................................................................................................................. 7

ABSTRACT .......................................................................................................................... 9

ÍNDICE DE TABELAS ...................................................................................................... 13

ÍNDICE DE FIGURAS ....................................................................................................... 14

INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 14

CAPÍTULO I ....................................................................................................................... 20

1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................... 20

1.1 Uma introdução ao Bem-Estar .................................................................................. 23

1.2 Bem-Estar no Trabalho (BET) .................................................................................. 33

1.2.1 Definições Teóricas Bem-estar no trabalho ........................................................ 36

1.2.2 Instrumentos de Bem-estar no trabalho ............................................................... 51

1.2.3 Dimensões constituintes do modelo de Siqueira e Padovam (2008) para BET .. 55

1.2.3.1 Comprometimento Organizacional .............................................................. 55

1.2.3.2 Satisfação no trabalho .................................................................................. 60

1.2.3.3 Envolvimento com o trabalho ...................................................................... 63

1.3 Modelo Teórico de BET ........................................................................................... 67

CAPÍTULO II ...................................................................................................................... 73

2 MÉTODO DOS ESTUDOS EMPÍRICOS ....................................................................... 73

2.1 Estudo 1: Propriedades psicométricas das escalas: análises exploratórias ............... 73

2.1.1 Método ................................................................................................................ 74

2.1.1.1 Local, População e Amostra ........................................................................ 75

2.1.1.2 Instrumentos ................................................................................................ 76

2.1.1.3 Procedimento ............................................................................................... 78

2.1.1.4 Análise dos dados ........................................................................................ 79

2.2 Estudo 2: Análise Confirmatória da estrutura interna das escalas e Teste do Modelo

Explicativo para Bem-estar no Trabalho ........................................................................ 81

2.2.1 Método ................................................................................................................ 81

2.2.1.1 Local, População e Amostra ........................................................................ 82

2.2.1.2 Instrumentos ................................................................................................ 82

2.2.1.3 Procedimento ............................................................................................... 83

2.2.1.4 Análise dos dados ........................................................................................ 83

CAPÍTULO III .................................................................................................................... 86

3 DESCRIÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ..................................................... 86

3.1 Estudo 1 .................................................................................................................... 86

3.1.1 Caracterização da amostra ................................................................................... 86

3.1.2 Resultados ........................................................................................................... 87

3.2 Estudo 2 .................................................................................................................. 103

3.2.1 Caracterização da Amostra................................................................................ 103

3.2.2 Resultados ......................................................................................................... 104

CAPÍTULO IV .................................................................................................................. 118

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 118

REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 121

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO UTILIZADO NA PESQUISA ................................ 129

ANEXO 1: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO .................... 134

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1. Estrutura Fatorial da Escala de Comprometimento Organizacional Afetivo ...... 88

Tabela 2. Distribuição dos itens da EST em cinco fatores. ................................................. 91

Tabela 3. Estrutura Fatorial da Escala de Satisfação no Trabalho ...................................... 93

Tabela 4. Comparação das Estruturas Fatoriais da Escala de Satisfação no Trabalho. ....... 94

Tabela 5. Média e desvio-padrão dos fatores de satisfação no trabalho. ............................. 96

Tabela 6. Estrutura fatorial da Escala de Envolvimento com o Trabalho ......................... 100

Tabela 7. Correlações entre os fatores que indicam a existência de BET ......................... 102

Tabela 8. Índices de ajuste para a ECOA .......................................................................... 106

Tabela 9. Efeitos diretos padronizados para o modelo ECOA (com 4 itens, sem item 2). 107

Tabela 10. Índices de ajuste para a EST e comparação de modelos para ST. ................... 109

Tabela 11. Índices de comparação de modelos para ST .................................................... 110

Tabela 12. Efeitos diretos padronizados para o modelo ST (4 fatores, 12 itens). ............. 112

Tabela 13. Lambdas dos itens quanto ao construto ST e ao fator de 1ª ordem

correspondente ................................................................................................................... 113

Tabela 14. Índices de ajuste para a EET. ........................................................................... 114

Tabela 15. Efeitos diretos padronizados para o modelo EET (4 itens, sem item 4). ......... 115

Tabela 16. Índices de ajuste para o modelo de BET .......................................................... 116

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1. Estrutura para o modelo teórico de BET .............................................................. 72

Figura 2. Modelo estrutural do construto Comprometimento Organizacional Afetivo ..... 107

Figura 3. Modelo estrutural do construto Satisfação no trabalho. ..................................... 111

Figura 4. Modelo estrutural do construto Envolvimento com o trabalho. ......................... 114

Figura 5. Modelo estrutural do construto Bem-estar no trabalho ...................................... 117

14

INTRODUÇÃO

As constantes transformações no mundo contemporâneo vêm levando as organizações

de trabalho a se adaptarem ao novo modelo mercadológico, o qual afeta a relação do

indivíduo/trabalho. Segundo Araújo e Oliveira (2008), estas transformações atreladas às

mudanças socioeconômicas e tecnológicas provocaram grandes alterações no mundo

organizacional, que reverberaram na interação empregado-empregador. Desta forma, o

advento de novas tecnologias e de sistemas de produção a elas atrelado reflete em

modificações. Estas podem vir a ser comprovadas por estudos acerca da organização do

trabalho e dos fatores psicossociais a partir da década 60, com um interesse mais intenso

tanto no setor administrativo quanto no industrial (Guimarães, 2013).

Ressalta-se que as referidas alterações trouxeram exigências de produtividade e

qualidade, que demandaram novas abordagens para os recursos humanos (Meleiro, 2005).

Assim, surgiu a necessidade de tratar o funcionário de forma diferenciada, não apenas por

este ser o realizador do trabalho, mas também porque tem buscado se aperfeiçoar, com

conhecimento teórico e prático, à procura de destaque no mercado de trabalho.

Neste contexto, Leal (2008) considera o trabalho como diverso, ambíguo e complexo,

visto que funciona como produção de vida e medeia a integração social através do valor

econômico, além do seu aspecto cultural intrínseco. Para a autora, tais fatores podem

explicar a importância do trabalho na vida, na constituição da subjetividade e na saúde

física e mental das pessoas.

Leal (2008) pontua ainda que o trabalho cria sentidos existenciais e contribui para a

estruturação da personalidade e a organização da sociedade. Já Covacs (2006) destaca a

contribuição da estruturação do trabalho para promover metas pessoais e colaborar para a

identidade do trabalhador enquanto ser humano. Barros et al. (2007) defende o trabalho

15

como uma ação que gerencia a variabilidade e o imprevisto cotidiano ao escolher as ações

a serem executadas, ao inventar e se arriscar. Para estes autores, a saúde pode ser resultante

da instabilidade cotidiana laboral, que necessita da ação-criação para elaborar formas de

viver diante das condições propiciadas pelo trabalho.

Assim, diante da flexibilidade que o trabalho solicita do empregado, ele também

contribui com a procura de modos adaptativos e equilibrados e com o gerenciamento de

prioridades para a saúde, seja das pessoas, da família, da organização ou da sociedade em

geral, sendo considerado importante para a compreensão sistêmica da vida (Leal, 2008).

Vale ressaltar que, apesar do esforço que o trabalhador empreende para a busca do

equilíbrio no ambiente laboral, o trabalho por ele executado pode provocar mal-estar ou

prejudicar sua saúde, como também pode colaborar positivamente para a saúde e o bem-

estar do trabalhador (Harter et al., 2002).

Fortalecendo essa perspectiva, Seligmann (1994) acrescenta que o trabalho atua

duplamente, pois tanto pode beneficiar a saúde mental quanto colaborar para o

aparecimento de formas de desgaste, que podem gerar como consequências o sofrimento

psíquico e distúrbios individuais e psicossociais. Borges e Argolo (2002) esclarecem ainda

que o trabalho promove aspectos positivos de estruturação do ser humano como

identidade, traços de personalidade, fortalecimento com as demais esferas da vida, e

aspectos negativos, a exemplo dos problemas oriundos da relação do funcionário com a

organização.

Para Covacs (2006), é preciso entender os motivos e as condições que eliciam estados

mentais positivos no trabalho, uma vez que favorecem a saúde e se tornam importantes

para a produção organizacional como um todo. Quanto aos aspectos negativos que o

trabalho promove, Camelo (2006) aponta que os riscos psicossociais somados aos fatores

físicos podem afetar o desempenho no trabalho e a saúde do trabalhador. Assim, tem-se

16

que o trabalho realiza um importante papel para a saúde do indivíduo, tanto em relação à

manutenção da saúde quanto no tocante à diminuição desta e ao aparecimento de

enfermidades físicas e psicológicas.

Salienta-se que dentre os aspectos positivos que o trabalho pode despertar, o bem-estar

pode ser apontado como uma das variáveis observadas no ambiente organizacional, que

analisa aspectos fisiológicos e psicológicos do trabalhador através da saúde deste. O bem-

estar no trabalho, segundo Van Horn et al. (2004), é uma forma de avaliar positivamente

aspectos relativos ao trabalho, sobretudo no que se refere às questões afetivas,

motivacionais, comportamentais, cognitivas e psicossomáticas.

As consequências da vivência de bem-estar no trabalho são elencadas por Siqueira e

Gomide Jr. (2004. p. 302): “(...) indivíduos satisfeitos e envolvidos com o trabalho tendem

a gerar como resultados organizacionais alta produtividade, alto desempenho, baixo

absenteísmo e baixa rotatividade”. Neste contexto, Covacs (2006) acrescenta que

funcionários envolvidos e comprometidos funcionam como impulsionadores para o

crescimento qualitativo e quantitativo da empresa e seu respectivo destaque no mercado

em que está inserida.

O bem-estar é uma vertente nova de estudos e vários autores já se debruçaram sobre

ela, a exemplo de Siqueira e Padovam (2008), as quais, preocupadas com o comportamento

organizacional, defendem um modelo teórico para bem-estar no ambiente laboral integrado

por três variáveis: comprometimento organizacional afetivo (COA), satisfação no trabalho

(ST) e envolvimento com o trabalho (ET).

Desta forma, entende-se que bem-estar no trabalho compreende um fenômeno a ser

considerado através dos vínculos afetivos positivos que o trabalhador mantém com o

trabalho e com a organização. Entretanto, até o momento, não há comprovação empírica

17

para este modelo ternário, o que se torna um fator importante de ser investigado, ao passo

que essa abordagem teórica é bastante difundida e utilizada entre os estudiosos no assunto.

Para tanto, este trabalho teve como objetivo testar empiricamente o modelo teórico

ternário proposto por Siqueira e Padovam (2008) para o construto bem-estar no trabalho.

Por isso, traçou-se um caminho teórico que teve como ponto de partida o bem-estar e,

como ponto de chegada, o bem-estar no trabalho, ao fazer uma análise através dos sete

modelos teóricos disponíveis, a exemplo de bem-estar afetivo no trabalho defendido por

Daniels (2000) e por Warr (2007), bem-estar ocupacional abordado por Van Horn, Taris,

Schaufeli e Schreurs (2004) e por Rocha Sobrinho e Porto (2012), bem-estar pessoal nas

organizações apresentado por Paz (2004) e bem-estar no trabalho exposto tanto por

Paschoal e Tamayo (2008) como por Siqueira e Padovam (2008), porém todos os modelos

com estruturas e dimensões diferentes.

Nesta trajetória, priorizou-se a ideia destas autoras, com destaque para a configuração

tridimensional proposta por Siqueira e Padovam (2008), seguida de uma descrição de cada

uma das variáveis constituintes desse modelo teórico de bem-estar no trabalho. Mais

adiante são descritos os estudos empíricos que foram realizados para testar estatisticamente

o modelo tridimensional.

No primeiro estudo, empreendeu-se uma análise fatorial exploratória a partir de

extração por componentes principais das escalas validadas para os construtos COA, ST e

ET. O segundo estudo buscou confirmar a estrutura encontrada no primeiro, através de

análises fatoriais confirmatórias, para, então, proceder à modelagem de equação estrutural

do modelo ternário de BET proposto pelas autoras.

O estudo proposto busca colaborar com o conhecimento acerca do bem-estar no

ambiente de trabalho no sentido de entender os questionamentos: O bem-estar no trabalho

18

tem natureza afetiva? O que compõe esse construto? Será que esse modelo teórico é

corroborável empiricamente? Tal fenômeno é realmente composto por COA, ST e ET?

Essa empreitada empírica torna-se relevante cientificamente para compreender o

construto, identificar e confirmar sua estrutura e contribuir para a seara de conhecimento

deste, de modo que se possa:

Verificar as variáveis antecedentes e as consequentes, a partir da confirmação da

estrutura teórica;

Elaborar e validar instrumentos capazes de mensurá-lo de modo conciso e objetivo;

Possibilitar a realização de diagnósticos organizacionais;

Realizar intervenções.

A realização deste estudo é relevante socialmente no sentido de fornecer orientações

ao setor de recursos humanos para fomentar ações adequadas, que contribuam para

alcançar bem-estar no trabalho. Experimentar esse estado torna-se benéfico tanto para a

organização quanto para o indivíduo, pois acredita-se que as consequências podem ser

traduzidas em saúde, felicidade e bom desempenho no ambiente de trabalho.

É importante ressaltar que a costura teórica desse estudo fundamentou a elaboração de

dois estudos empíricos, cujos objetivos versaram sobre verificar a dimensionalidade de

cada escala proposta para as variáveis: comprometimento organizacional afetivo, satisfação

no trabalho e envolvimento com o trabalho (Estudo 1) e avaliar se as estruturas fatoriais

encontradas para cada escala são corroboradas em análises fatoriais confirmatórias, bem

como verificar se as estruturas confirmadas colaboram para o entendimento de BET num

único modelo explicativo (Estudo 2).

Enfim, este estudo buscou como objetivo máximo verificar a colaboração dos

construtos comprometimento organizacional afetivo, satisfação no trabalho e envolvimento

com o trabalho para a existência do bem-estar no ambiente de trabalho através da análise

19

de sua estrutura interna, pois, parte-se do pressuposto que este seja um indicativo de saúde

no ambiente laboral.

20

CAPÍTULO I

_____________________________________________

1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Acompanhando as mutações do mundo contemporâneo, as instituições como a família,

a escola, a igreja e o Estado também sofrem modificações ao longo do tempo e, portanto,

com as organizações não seria diferente. Elas, inseridas num mundo capitalista cada vez

mais veloz e competitivo, precisam se adequar às mudanças e superar os desafios impostos

de modo dinâmico e flexível em prol da sobrevivência no mercado.

Dessa forma, além das tarefas organizacionais habituais, que culminam em

produtividade e rentabilidade e do esforço em lidar com as constantes mudanças, surgem

exigências mais recentes no âmbito da educação, da saúde, da segurança e da promoção de

sucesso e de realização, para que a organização invista em prol de seus funcionários (Paz,

2004). As novas exigências ampliam o campo de atuação das organizações e influenciam

na necessidade de entendimento dos fenômenos que transcorrem neste ambiente, por isso

estas instituições possuem atividades estudadas pelos mais variados ramos da ciência. Um

desses ramos é o Comportamento Organizacional, o qual pretende explicar, compreender e

modificar o comportamento humano no ambiente laboral (Wagner III & Hollenbeck,

2003).

Staw (1984) definiu esse campo interdisciplinar como aquele que observa os

comportamentos dos indivíduos no contexto organizacional, além da estrutura e do

comportamento das próprias organizações. Já Robbins (2009, p. 02) o entende por um

“estudo sistemático das ações e das atitudes que as pessoas apresentam dentro das

21

organizações”, que recebe a influência de áreas como a sociologia, a psicologia social, a

antropologia e as ciências políticas. Este estudo sistemático é baseado em pesquisas

realizadas sob rigor metodológico para entender os construtos que se processam nesse

espaço, aplicar os instrumentos necessários para mensuração e possibilitar a interpretação

dos dados, a fim de entender as relações de causa e efeito que envolvem os fenômenos.

Robbins (2009) ainda explicita que o comportamento nas organizações visa o

desenvolvimento de habilidades interpessoais e objetiva elaborar formas de explicação,

previsão e controle para o comportamento humano, no intuito de aprimorar o desempenho

da organização, através da associação entre comportamentos e atitudes dos trabalhadores

frente à satisfação dos clientes. Desta forma, estudar os processos psicológicos da

organização colabora para a saúde dos trabalhadores, no sentido de acionar políticas e

práticas que facilitem o alcance das metas (Araújo & Oliveira, 2008). Os autores

demonstram também a importância do estudo do comportamento nas organizações e as

influências que recebe dos diversos campos de estudo.

A respeito das organizações, Paz (2004, p. 128) identifica nesse ambiente um sistema

de cooperação, composto por um “coletivo que produz significados e significações”,

produzidos por contexto, atores e relações sociais, numa interação de influência mútua

entre indivíduo e organização. Por isso, é importante considerar a cultura em que tanto os

atores-trabalhadores quanto as organizações-relações sociais estão imersos, pois colabora

para a construção desses significantes. Além disso, é interessante entender o que se faz

importante para que o trabalhador se sinta bem no ambiente de trabalho.

Para Paz (2004), a organização disponibiliza o ambiente para a construção dos

significados, a qual é construída por ações que, por sua vez, viabilizam ambientes que

possibilitam a execução das ações. Ou seja, há uma relação de interdependência entre as

ações realizadas na organização e o clima que essas ações geram na organização, de modo

22

que essa organização, afetada pelas ações e pelo clima que nela se constitui, permite que o

funcionário experimente afetos no trabalho, sejam positivos ou negativos.

Essa reciprocidade entre as ações e a dinâmica que se constitui com as ações é

observada na organização em que as relações políticas e simbólicas colaboram com as

atividades cotidianas e com a manutenção da organização, por meio de fatos objetivos,

causais e deterministas ou não causais e subjetivos (Paz, 2004). Desse modo, a autora

conclui que a organização precisa conviver com situações mais diferenciadas possíveis,

quiçá opostas, como indivíduo e equipe, novo e velho, flexibilidade e rigidez, a fim de

pensar limites e estratégias que facilitem a convivência com o interno e o externo e dê

continuidade às atividades.

Nesse contexto, as organizações propiciam o ambiente onde normalmente o trabalho é

realizado e, por sua vez, fornecem o cenário, com estrutura, espaço e contexto para que as

relações ocorram. Para Schein (1977), as organizações se tornam focos de pesquisa, pois

possibilitam a observação e a pesquisa de fenômenos individuais, interpessoais e

intergrupais e se configuram em sistemas abertos existentes em ambientes instáveis e,

mesmo assim, precisam conservar a estabilidade, face às pressões desintegradoras geradas

no ambiente para sobreviver no mercado.

Schein (1977) destaca ainda que as organizações são compostas por sistemas

permanentes, temporários, de coordenação e os que viabilizam os processos. Os sistemas

permanentes se referem às linhas de produtos, grupos de produtos, produção, finanças,

vendas, comitês executivos. Os sistemas temporários condizem com forças-tarefa, comitês

de revisão, grupos de resolução de problemas. Os sistemas de coordenação são traduzidos

pelos grupos envolvidos em projetos, grupos de engenharia de produção, comitês com

responsabilidades funcionais. Os últimos sistemas viabilizam os processos organizacionais

e contribuem para intervir sobre eles.

23

Desse modo, o referido autor percebe a organização como uma estrutura sistemática

de atividades realizadas por sujeitos que visam o alcance de um mesmo objetivo, em que

cada um ocupa lugar e executa tarefas de acordo com a estrutura hierárquica imposta

(Schein, 1977). De acordo com estas características, Bastos et al. (2004) afirmam que as

organizações se tornaram centro das atenções e seu estudo abarca uma infinidade de

conceitos, com distintos modelos teórico-metodológicos.

comportamento As atividades desempenhadas pelos trabalhadores traduzem o

organizacional, o qual está dividido em níveis: macro (comportamentos de empresas

inteiras), meso (compreensão dos comportamentos em grupos e equipes) e micro

(comportamento do indivíduo). O presente estudo encontra-se no nível micro, priorizando

a análise individual acerca do trabalho, e pretende fazer um passeio entre as diversas

, inclusiveconcepções de bem-estar , enfatizando as aplicações nos diversos campos de

estudo, como o trabalho.

Para tanto, fez-se uma visita aos conceitos de bem-estar, bem-estar subjetivo, bem-

estar psicológico, bem estar social e, finalmente, bem-estar no trabalho. Em seguida, são

apresentados os modelos teóricos mais conhecidos de bem-estar no trabalho, dimensões,

instrumentos, antecedentes e consequentes, inclusive as variáveis que subsidiam o modelo

enfatizado neste estudo, composto por comprometimento organizacional afetivo,

envolvimento com o trabalho e satisfação no trabalho.

1.1 Uma introdução ao Bem-Estar

Dentre as temáticas investigadas na área do Comportamento Organizacional, pode-

se destacar o bem-estar. Inicialmente, esse fenômeno foi estudado por áreas médicas,

pois estaria associado à ausência de doença. Em uma análise da concepção de doença ao

24

longo do tempo, a medicina pré-histórica admitia que o mal-estar era causado pelos

espíritos; em seguida, passou a ser um fenômeno natural, capaz de apresentar causas,

tratamento e prevenção.

A Idade Média propiciou um retorno às explicações sobrenaturais relativas à saúde e à

doença e ainda criticou a utilização do corpo humano para análises científicas. No

Renascimento, as ideias de Descartes (1596-1650) acerca do dualismo mente-corpo

possibilitaram o estudo do corpo biológico, dissociado da mente, numa liberdade para

tratar o corpo e abrir precedentes para o modelo biomédico, em que saúde seria a não

ocorrência de doenças biológicas.

Os avanços científicos na medicina e em outros campos de estudo permitiram um

questionamento desse modelo e provocaram uma mudança de paradigma, em que não mais

se falava em saúde apenas pela ausência de doença, mas a doença seria um fenômeno

multicausal e a saúde abarcaria uma complexidade maior, pois além da perspectiva

biológica, incluiria a psicológica e a social, dando suporte ao nascimento do modelo

biopsicossocial. E assim, a saúde com conotação negativa, antes vista como falta de

enfermidades, passou a ser encarada numa perspectiva positiva e estaria relacionada a um

completo bem-estar biopsicossocial (Mendonça et al., 2012).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu saúde como “um estado de completo

bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de doença ou enfermidade”

(WHO, 2005, p.23), num completo bem-estar biopsicossocial, que contribuiu para

solidificar o bem-estar. Considerando a aproximação entre o conceito de saúde e de bem-

estar, Basílio (2005) entende que o bem-estar possui concepções provenientes de campos

variados, mas que convergem no sentido de se preocuparem com a vida e com a saúde das

pessoas. Mendonça et al. (2012) acrescentam que o bem-estar abrange situações coletivas

de saúde, nos variados setores vitais: trabalho, família, lazer, finanças e o próprio self.

25

A diferenciação saúde-doença contribuiu para enfatizar conceitos ligados à saúde,

como qualidade de vida e bem-estar (Meleiro, 2005). Sugere-se o bem-estar como um

estado em que não há a presença de estresse, preocupação ou sentimentos negativos.

Contudo, esse entendimento homeostático merece ressalvas, pela dificuldade em alcançá-

lo, posto que estresse e preocupação são aspectos intrínsecos ao cotidiano pessoal e/ ou

profissional de qualquer ser humano.

Desde então, o conceito de saúde foi bastante abordado nos estudos, vindo inclusive a

ser comparado com felicidade, com qualidade de vida e com bem-estar, em investigações

que ora aproximam, ora diferenciam tais construtos. Paz et al. (2012) sugerem que a

comparação entre bem-estar e felicidade sirva para avaliar bem-estar, principalmente ao

considera-los um mesmo fenômeno. Para Albuquerque e Tróccoli (2004), o bem-estar

reflete o “estudo científico da felicidade: o que a causa, o que a destrói e quem a tem”

(p.154).

Ryan e Deci (2001) entendem que a compreensão das vivências que geram prazer e

desprazer seria uma forma de estudar a felicidade. Contextualizando essa discussão para o

ambiente laboral, há autores que defendem que o trabalho contribui fortemente para

construir e desenvolver o bem-estar pessoal e a felicidade (Tamayo, 2004), por entender

que a felicidade é construída a partir das atividades que o ser humano vivencia e tem como

consequência a realização do potencial humano, potencial esse evidenciado pelo trabalho.

Já Warr (2007) defende que o ambiente laboral contribui para a percepção e o

aproveitamento de experiências positivas, à medida que as tarefas apresentem

características desejáveis aos seus executores, situação que possibilita a percepção de

felicidade através de processos mentais dos trabalhadores, e colabora para a saúde mental e

o bem-estar das pessoas.

26

Entende-se que há uma forte relação entre bem-estar e felicidade e a influência do

trabalho para a felicidade é considerada crucial para o ser humano. O estudo desses

construtos ajuda a entendê-los, pois o sujeito ao se sentir bem e experienciar situações de

prazer, tende a vivenciar estados de completude e de felicidade, numa relação de

complementaridade em que vivencia o bem-estar.

Houve um maior interesse nas questões que aproximam o trabalho e o ser humano a

partir da década de 90, as quais passaram a ser estudadas pela Psicologia da Saúde

Ocupacional, a fim de promover qualidade de vida, saúde, segurança e bem-estar, de

modo a proporcionar contextos laborais saudáveis e seguros (Mendonça et al., 2012).

Outra vertente mais atual de estudos sobre o bem-estar é a Psicologia Positiva, a qual

preconiza que o trabalho de prevenção deve partir da compreensão das forças e virtudes

humanas, e estuda as consequências das experiências positivas, das características

pessoais e do tipo de instituição que beneficiem o desenvolvimento pessoal (Seligman &

Csikszentmihalyi, 2000).

Diante desse panorama, os referidos autores conceituam bem-estar como dinâmico e

multifacetado, composto por dimensões cognitivas e afetivas (Diener, 2000) e resultante de

fatores que geram prazer para o indivíduo (Medeiros, 2001). Outros autores consideram

que a satisfação das necessidades psicológicas básicas de autonomia, competência e

relação promove bem-estar (Ryan & Deci, 2000). Assim, o funcionamento e a experiência

psicológica adequados geram saúde e bem-estar, mediante o contentamento com a própria

pessoa e seu entorno. Desta forma, as diversas definições demonstram que o bem-estar se

refere à felicidade, às experiências positivas e ao prazer, em que as pessoas podem

aproveitar esse contexto para desenvolver sua vida pessoal e profissional, tendo o trabalho

como uma experiência existencial que contribui como principal foco para o bem-estar.

27

A intensificação de estudos sobre o bem-estar suscitou controvérsias conceituais e

empíricas acerca das dimensões do bem-estar e das variáveis que o influenciam. No

tocante às dimensões, por um lado, ele foi analisado sob a perspectiva física e a

psicológica. Por outro, a visão psicológica, por sua vez, foi bipartida em aspectos

cognitivos, subsidiando o bem-estar psicológico, e aspectos afetivos, respaldando o bem

estar subjetivo (Mendonça et al., 2012).

Chaves (2003) classifica o bem-estar enquanto Físico (saúde física), Material ou

Objetivo (soma de posses de uma pessoa, segurança financeira e econômica) e Subjetivo

(aspectos internos do indivíduo que propiciam tranquilidade emocional), e não diferencia

bem-estar subjetivo e psicológico. Essa diferença é observada na proposta de Siqueira e

Padovam (2008), as quais separam o bem-estar em subjetivo (compreende o estado

psicológico e contribui para a percepção de qualidade de vida) e objetivo (ligado ao padrão

de vida – educação, emprego, finanças, moradia, indica qualidade de vida e prediz bem-

estar subjetivo). Assim, os autores entendem que as variáveis que colaboram para o bem-

estar são as sociodemográficas (idade, escolaridade atrelada à renda ou ao status

ocupacional e estado civil), as individuais (traços de personalidade – extroversão e

neuroticismo, metas individuais de afiliação e sucesso financeiro) e as sociais (percepção

de suporte social e organizacional).

Quanto às medidas para o bem-estar, destacam-se o Questionário de Saúde Geral

(QSG) proposto por Goldberg (1972) e validado por Gouveia et al. (2003), utilizado para

mensurar bem-estar psicológico a partir de uma estrutura bifatorial. Outra medida

conhecida é a Positive Affect/Negative Affect Scale (PANAS), desenvolvida e validada

por Watson et al. (1988), com vinte itens acerca de afetos positivos e negativos.

Observa-se que o bem-estar já foi associado à saúde, diante da dicotomia saúde x

doença, foi entendido como felicidade e até analisado no contexto organizacional.

28

Atualmente, entretanto, nota-se uma reafirmação do bem-estar enquanto felicidade ao

perceber que os estudos mais recentes sobre a felicidade fornecem conhecimento sobre o

bem-estar e revelam-no um fenômeno multidimensional composto pelas concepções

hedonista e eudaimonista.

Diante desse contexto, Ryan e Deci (2001) expõem que o estado psicológico do bem-

estar apresenta as concepções de bem-estar hedônico (estado subjetivo de felicidade, com a

intenção de obter prazer e evitar dor) e bem-estar eudaimônico (autorrealização, potencial

humano em funcionamento). A visão hedonista oferece suporte ao bem-estar subjetivo e

tem o foco na felicidade (Rocha Sobrinho & Porto, 2012) e ainda tem foco nos prazeres

corporais e nos interesses pessoais, observando experiências agradáveis e desagradáveis

(Ryan & Deci, 2001).

Já a eudaimonia seria para Aristóteles a expressão ativa de virtudes, expressividade do

que o sujeito tem de melhor (Paschoal & Tamayo, 2008), com foco no significado da

autorrealização e do potencial humano e, conforme Covacs (2006), a eudaimonia define

bem-estar em relação ao grau em que um sujeito funciona perfeitamente. Desse modo, essa

concepção determinaria bem-estar psicológico através do grau de satisfação acerca da vida

em geral, sendo a diferença entre elas a compreensão aceita de felicidade.

Ao detalhar o bem-estar, Siqueira e Martins (2013) acreditam que este possui quatro

concepções teóricas, a saber: bem-estar subjetivo, bem-estar psicológico, bem-estar social

e bem-estar no trabalho. As três primeiras abordagens se referem às percepções acerca da

vida em geral. A última, objeto deste trabalho, trata de relações organizacionais e dos

vínculos que o indivíduo estabelece com a organização e com o seu trabalho.

A diferenciação dos componentes subjetivos e objetivos do bem-estar respalda dois

tipos de bem-estar: subjetivo e psicológico. O bem-estar subjetivo (BES) corresponde ao

estudo científico da felicidade, que traduz os componentes afetivos do bem-estar e pode ser

29

identificado através da alta frequência de afetos positivos, baixa frequência de afetos

negativos (depressão e ansiedade) e da satisfação com a vida em geral (Albuquerque &

Tróccoli, 2004).

Diener (1984) ao tratar da definição de bem-estar subjetivo, identificou e agrupou três

categorias para diferenciar BES, visto como avaliação global da vida (diversos segmentos

da vida de um sujeito), afetos positivos (prevalência de fatores positivos sobre os

negativos) e avaliação subjetiva da felicidade (experiências internas do sujeito: emoções,

afetos e bem-estar). Contudo, assume que BES seria definido pela avaliação subjetiva da

felicidade. Para Diener (2000), os autorrelatos com avaliações afetivas e cognitivas sobre a

vida traduzem BES. Já Covacs (2006) o entende como avaliação pessoal sobre a própria

vida, inclusive quanto às expectativas, valores e experiências anteriores (Araújo &

Oliveira, 2008).

Há autores como Albuquerque e Tróccoli (2004) e Diener (2000) que entendem BES

composto por satisfação global com a vida (domínio cognitivo) e experiências emocionais

positivas e negativas (domínio afetivo). O bem-estar subjetivo recebe algumas

denominações tais como satisfação, felicidade e avaliação subjetiva da qualidade de vida,

por explicitar uma anál1ise da vida que prioriza a felicidade, os afetos, o estar bem consigo

mesmo e com os aspectos que são considerados importantes na vida de uma pessoa.

Albuquerque e Tróccoli (2004) se baseiam em Emmons para entender a satisfação

com a vida através da avaliação de algum domínio específico da vida. Os afetos positivos

constituem “contentamento hedônico puro experimentado em um determinado momento

como um estado de alerta, de entusiasmo e de atividade” (Albuquerque & Tróccoli, 2004,

p.154). Os afetos negativos traduzem um estado de distração passageiro e pouco

engajamento e podem ser percebidos a partir de emoções desagradáveis como ansiedade,

30

depressão, agitação, aborrecimento, pessimismo e outros estados psicológicos que geram

aflição e angústia (Albuquerque & Tróccoli, 2004).

Outra análise dividiria o BES em quatro elementos: satisfação com a vida (avaliação

geral da vida da pessoa), satisfação com áreas importantes da vida (por exemplo, satisfação

no trabalho), afetos positivos (por exemplo, experiências emocionais prazerosas) e baixos

níveis de afetos negativos (poucas experiências de emoções prazerosas) (Diener, 2000). É

interessante ressaltar que, diante de tantas subdivisões para BES, o último modelo com

quatro fatores se apresenta mais completo, por abordar a vida e seus domínios específicos

como educação, saúde, recursos financeiros e, principalmente, trabalho.

A mensuração de BES normalmente ocorre com escalas específicas a partir de

autorrelato, como a Escala de Afetos Positivos e Negativos (EAPN) (Siqueira, Martins &

Moura, 1999). Outra escala foi construída e validada por Albuquerque e Tróccoli (2004):

a Escala de Bem-estar Subjetivo (EBES) a partir das informações de várias escalas e a

criação de outros itens, mediante realização de grupos focais.

O bem-estar subjetivo deriva da perspectiva hedônica, a qual depende dos afetos e

se refere a ser agradável ou não, ou seja, as emoções são cruciais para o BES. Desse

modo, é preciso ter uma elevada satisfação com a vida, alta incidência de vivências

emocionais positivas e baixa incidência de fatos emocionais negativos para obter um

nível de bem-estar subjetivo adequado (Siqueira & Padovam, 2008).

Nota-se que a presença da felicidade é uma característica marcante para identificar

bem-estar subjetivo e, segundo Diener et al. (1999), as pesquisas tentam entender a

interação entre os fatores psicológicos e as circunstâncias da vida na produção de bem-

estar subjetivo e, assim, compreender o processo que respalda a felicidade. Observa-se,

portanto, que o bem-estar subjetivo tem sido amplamente estudado, principalmente pela

psicologia, por se tratar de um fenômeno complexo que envolve satisfação com a vida,

31

afetos e felicidade, construtos muito enfatizados atualmente em virtude da busca pelo

prazer, pelo contentamento, pelo estar bem consigo e com os outros.

A outra vertente de bem-estar trazida por Ryan e Deci (2000) é o bem-estar

psicológico (BEP), fundamentado na perspectiva eudaimônica de felicidade, a qual busca

demonstrar expressividade pessoal e autorrealização (Dessen & Paz, 2010). Surgiu tanto

porque o BES não abarcava algumas explicações sobre o funcionamento positivo das

pessoas (Covacs, 2006), quanto porque o bem-estar precisava de uma perspectiva cognitiva

que considerasse a vitalidade e a saúde mental.

Paschoal e Tamayo (2008) defendem a visão eudaimônica como a “realização do

potencial pessoal e das metas fundamentais de vida” (p.12). Dessa maneira, a concepção

eudaimônica se refere ao contentamento pessoal quanto às realizações do próprio

indivíduo, que, consciente de suas capacidades, propõe-se a suplantar os desafios que

poderiam ser considerados irrealizáveis. Assim, à medida que o sujeito consegue atravessar

atinge o pleno funcionamento, alcança suas metas e experiencia estados de os obstáculos,

bem-estar psicológico, utilizando seu potencial e suas características físicas, psicológicas e

sociais, através de estratégias e atributos cognitivos que possui.

Keyes, Shmotkin e Ryff (2002) entendem BEP como a percepção de compromisso

com os desafios existenciais da vida e um nível pleno de funcionamento psicológico

positivo, atuantes no sujeito, associado ao ajustamento emocional e social adequado e a

suficiente maturidade individual. O bem-estar psicológico é entendido em termos

cognitivos e analisado de acordo com as competências individuais que o sujeito

apresenta para solucionar os obstáculos cotidianos, tendo como motivação central a

busca pela excelência pessoal. Para os autores, o BEP é constituído por seis dimensões:

autonomia, propósito de vida, domínio do ambiente, crescimento pessoal, autoaceitação

e relações positivas com os outros. Paschoal e Tamayo (2008) comentam que as

32

como e em que nível o dimensões identificam BEP teórica e operacionalmente e avaliam

sujeito lida com os desafios e obstáculos de sua vida.

No ambiente organizacional, torna-se relevante identificar as forças psíquicas dos

trabalhadores e apreender em que domínio-dimensão essas forças poderiam estar

atuando (Siqueira & Martins, 2013), para que a gestão de recursos humanos possa

identificar e potencializar essa força, a fim de colaborar positivamente com o

trabalhador, ao fomentar o campo em que esse sujeito tenha mais aptidões e, assim,

possa diminuir seu esforço laboral e contribuir para o crescimento da organização. Dessa

maneira, mesmo com uma incipiente literatura, o bem-estar psicológico apresenta uma

ênfase na sua origem, no seu conceito e nos seus componentes, os quais contribuem para

bem como entender esse fenômeno e relacioná-lo a outros, respaldar o estudo de

fenômenos observados a partir deste, como o bem-estar no trabalho.

através da avaliação sobre como uma Outra forma de entender bem-estar pode ser

pessoa funciona na sociedade e se situa diante dela (Covacs, 2006), denominado de bem-

estar social, no intento de teorizar a percepção de bem-estar do sujeito enquanto membro

e contribuinte da sociedade em que se encontra inserido com base em critérios sociais. O

bem-estar social surgiu como uma alternativa ao entendimento de processos psicológicos

e apresenta dimensões indicativas de bom funcionamento da vida social, a saber:

integração social, aceitação social, contribuição social, realização social e coerência

. social

Configura-se num fenômeno multidimensional, o qual traduz a saúde social positiva

mediante a percepção da integração e da coesão com a sociedade e o enfrentamento das

tarefas e dos desafios sociais. Leal (2008) interpreta que o fato de estar bem socialmente

interfere na percepção que as pessoas possuem do mundo, quando o percebem com

potencial a desenvolver, com previsibilidade e com significado.

33

Esses indivíduos a quem o autor se refere consideram que “pertencem a um grupo

maior do qual deriva o conforto, aceitam as outras pessoas e sentem que suas

contribuições ao grupo são valorizadas” (Leal, 2008, p.38). De uma forma simplista, o

bem-estar social poderia refletir o quanto o sujeito se sente bem na

sociedade/comunidade em que vive, o quanto ele acredita nela e no que pode fazer por

ela.

Dessa forma, entende-se que o bem-estar social é um construto preocupado com o

em pertencimento à sociedade, com as características e qualidades das pessoas volta,

com o grau de confiança que as pessoas depositam umas nas outras, com a crença de que

um sujeito, enquanto membro da sociedade, pode contribuir para o crescimento e o

destadesenvolvimento . Diante de tais explicações, nota-se que o bem-estar social ainda

é um construto recente que busca entender como o sujeito se sente diante da sociedade

da qual faz parte.

1.2 Bem-Estar no Trabalho (BET)

Ao continuar o estudo sobre bem-estar, chega-se ao ponto chave: o bem-estar no

trabalho (BET), o qual pode ser reportado a quanto o trabalhador se sente bem no ambiente

laboral. O BET possui diversas abordagens teóricas, todavia, o modelo priorizado neste

estudo foi proposto por Siqueira e Padovam (2008) e defende a concepção teórica de que

este construto é composto pelas variáveis satisfação no trabalho, envolvimento com o

trabalho e comprometimento organizacional afetivo.

Para tanto, foi necessário contemplar as perspectivas teóricas do bem-estar, já que,

consoante Siqueira e Martins (2013), o bem-estar experienciado na vida pessoal estabelece

relações estreitas com o bem-estar vivenciado no contexto laboral. Por isso, fez-se uma

34

breve revisão teórica de cada uma dessas variáveis, apresentando definições,

dimensionalidades e instrumentos disponíveis na literatura. Aqui pretende-se expor o bem-

estar no trabalho, foco do presente estudo.

Após abordar três concepções de bem-estar (BES, BEP, BESocial) para entender o

quanto as pessoas se sentem saudáveis nos diversos âmbitos da vida, faz-se importante

considerar também o ambiente laboral como um local onde as pessoas podem experienciar

bem-estar, sentir-se saudáveis neste contexto e perceber quais as características que

importam para as pessoas. O construto bem-estar no trabalho resulta de uma análise teórica

e filosófica, que se inicia com a tentativa de entender e definir bem-estar enquanto

sinônimo de felicidade, como alguns autores apontam.

Diante da atual diversidade de conceitos e entendimentos envolvendo o bem-estar,

tem-se buscado uma compreensão mais convergente, ou coerente, na tentativa de facilitar a

construção teórica e empírica acerca do bem-estar no trabalho. Nesse sentido, dentre as

subdivisões para o conceito bem-estar, conforme descritas acima, as que mais colaboram

para o bem-estar no trabalho são as concepções bem-estar subjetivo e bem-estar

psicológico, consoante entendimento das bases teóricas desse construto para Siqueira e

Padovam (2008).

Ao investigar o bem-estar no trabalho, caso os sujeitos não se sintam bem, é preciso

compreender quais as possíveis causas e o que pode ser feito pela organização de trabalho

e pelo setor de recursos humanos para uma melhoria no quadro. Desta forma, ações

poderiam ser planejadas tanto no intuito de promovê-lo quanto de mantê-lo, contribuindo,

portanto, para a saúde e o melhor desempenho de seus funcionários e, consequentemente,

aumento da produção e obtenção de resultados favoráveis para a organização e para o

sujeito que realiza as tarefas.

35

Além das construções teóricas acerca do bem-estar, estudos mais recentes sobre o

bem-estar no trabalho revelam contribuições de uma área que vem se consolidando: a

psicologia positiva. Segundo Gomide Jr. e Hernandez (2005), este campo “prevê, entre

outras coisas, a ‘despatologização’ da relação do indivíduo com seu sistema empregador”

(p.33), o que segue a tendência observada no modelo biopsicossocial de saúde.

Nesse modelo há uma priorização dos aspectos positivos e de setores que fazem parte

da existência humana, como o biológico, o psicológico e o social, em detrimento de avaliar

a saúde por um viés negativo, como a doença. Posto isso, esses autores destacam que há

construtos na psicologia positiva que podem ser importantes antecedentes de desempenhos

desejados nas organizações.

A psicologia positiva demonstra formas diferenciadas de analisar cada variável, com

nuances que não somente ressaltam os aspectos negativos, como tradicionalmente foi feito,

mas revelam novas possibilidades de percepção. Todavia, deve-se ter cuidado com essa

nova concepção investigativa, pois suas contribuições foram pouco analisadas e precisam

de confirmação mediante dados empíricos.

Covacs (2006) expõe que o bem-estar no trabalho pode ser entendido através da

relação entre o sujeito e seu trabalho. Para isso, o estudo desse construto relativamente

recente se faz importante pelo fato de o ser humano dedicar uma parte significativa de seu

tempo ao trabalho, sendo interessante, portanto, desenvolver modelos teóricos e empíricos

que expliquem sua estrutura, as variáveis situacionais e pessoais que o compõem e o

determinam, os fatores antecedentes e os consequentes (Rocha Sobrinho & Porto, 2012).

Tamayo (2004) também ressalta que “o tempo consagrado ao trabalho, que representa

uma parte significativa da vida de uma pessoa, seja um componente fundamental para a

construção e o desenvolvimento do bem-estar pessoal e da felicidade” (p.12). Outra

justificativa dada por Covacs (2006) para o estudo desse fenômeno reside no fato de que

36

viabilizar a ocorrência deste colabora financeira e produtivamente para a organização e

ainda influencia na retenção dos funcionários e na promoção e manutenção da saúde no

contexto laboral.

Após uma revisão da literatura, a partir dos estudos de bem-estar subjetivo e

psicológico, alguns autores elaboraram entendimentos na tentativa de explicar bem-estar

no trabalho (BET). Dentre eles, DeJoy e Wilson (2003) entendem que os elementos físicos,

emocionais e mentais, correspondentes à saúde do trabalhador, interagem e geram

complexos efeitos para a saúde deste. Para tanto, a teoria e os instrumentos para este

construto foram expostos.

1.2.1 Definições Teóricas Bem-estar no trabalho

O bem-estar no trabalho recebeu muitas contribuições teóricas, as quais se

preocuparam em apresentar explicações para este construto. Ferreira, Souza e Silva (2012)

apontam Warr (2007) como um dos principais contribuintes da teoria de bem-estar no

trabalho, pois colaborou para sua teorização e forneceu respaldo a vários estudos. Nesta

abordagem, tal construto recebeu a denominação de bem-estar afetivo no trabalho e foi

teorizado a partir da elaboração do modelo de saúde mental.

Esse modelo de saúde mental sugerido por Warr (1987 em Paschoal, 2008) é

classificado nas seguintes dimensões: bem-estar (estado afetivo do indivíduo, formado

pelos elementos prazer e excitação); competência (recursos psicológicos do sujeito para

lidar com as situações cotidianas); autonomia (capacidade de enfrentar as pressões

ambientais e decidir acerca de opiniões e ações); aspiração (interesse pelo ambiente através

da elaboração de metas e do empenho em alcançá-las) e funcionamento integrado

(funcionamento geral do sujeito aliado à relação com as demais dimensões). Sendo assim,

37

a concepção positiva prevalece para essa classificação de saúde mental, segundo Dessen e

Paz (2010).

Warr (2007), ao contribuir para a teoria de bem-estar no trabalho, considera

enquanto elementos centrais tanto a felicidade hedônica, relativa aos sentimentos de

prazer experimentados pelo sujeito, quanto a visão eudaimônica de felicidade, referente

ao aprimoramento de qualidades pessoais, exploração do potencial, realização e

expressão de si mesmo. Nesse sentido, o autor ressalta a necessidade de considerar as

visões hedônicas e eudaimônicas para o estudo do bem-estar no trabalho, em detrimento

de utilizar apenas uma das abordagens.

O modelo oferecido por Warr (2007), no que diz respeito à categorização de bem-estar

afetivo no trabalho, apresenta três eixos provenientes de duas dimensões ortogonais, a

saber: prazer e vigilância/ excitação. O primeiro eixo traduz sentimentos de prazer e

desprazer, não levando em conta a excitação, associando-se, dessa forma, à satisfação ou

insatisfação no trabalho. O segundo trata dos sentimentos de ansiedade (alta excitação e

baixo prazer) ou contentamento (alto prazer e baixa excitação). O terceiro eixo, por sua

vez, aborda sentimentos de depressão (baixo prazer e excitação) ou entusiasmo (alto prazer

e excitação) (Warr, 2007). Oliveira e Gomide Jr. (2012) corroboram essa abordagem ao

afirmar que “a interpretação dos eventos como desejáveis ou prazerosos (afeto positivo) ou

como indesejáveis ou desprazerosos (afeto negativo) é que parece influenciar o bem-estar

no trabalho” (p.219).

Outros fatores, além dos afetos, foram apontados como influências no bem-estar

ocupacional. A exemplo de Rocha Sobrinho e Porto (2012), baseados na teoria de Warr,

que apontam alguns elementos a serem observados para considerar o bem-estar

ocupacional, a saber: “(a) o processo cognitivo usado para interpretar a situação; (b)

opiniões de outras pessoas; e, (c) traços de personalidade” (p.256).

38

Em relação à configuração de bem-estar afetivo no trabalho, Ferreira, Souza e Silva

(2012) fizeram um levantamento dos antecedentes trazidos pelos vários estudos e

enfatizam como características organizacionais as oportunidades de controle pessoal,

oportunidades de uso das próprias habilidades, variedade do trabalho, metas geradas pelo

ambiente, segurança física, clareza sobre o ambiente, disponibilidade financeira,

valorização social da função e oportunidades de contato pessoal (Ferreira, Souza &

Silva, 2012). Além das variáveis citadas, Warr (2007) acrescentou as perspectivas de

carreira, o suporte do supervisor e a equidade ao panorama de antecedentes do bem-estar

afetivo no trabalho. É importante ressaltar as especificidades de cada ambiente de

trabalho, bem como influência exercida nos comportamentos organizacionais, na saúde

mental e no bem-estar do trabalhador (Warr, 2007).

O surgimento de BET fomentou estudos empíricos com o objetivo de identificar as

variáveis que o prediziriam, uma vez que identificar fatores que influenciam no bem-estar

no trabalho colabora na ampliação do repertório de ações dos gestores e levam a saber o

que eles e as organizações podem fazer para promover a saúde do funcionário (Covacs,

2006). Dentre estes estudos, há o entendimento de que as características do ambiente de

trabalho, que facilitam a realização de metas pessoais, colaboram para determinar o bem-

estar do empregado. Outra interpretação é interligar o bem-estar no trabalho ao afeto no

trabalho e à satisfação no trabalho, estabelecendo uma perspectiva positiva (Rocha

Sobrinho & Porto, 2012).

Fato confirmado por Daniels (2000) ao vincular bem-estar ocupacional e bem-estar

afetivo no trabalho, de modo que toma o modelo proposto por Warr como base teórica,

por tomar as emoções positivas como preponderantes. Nessa mesma linha de raciocínio,

Harter, Schmidt e Keyes (2002) afirmam que o bem-estar propicia ao sujeito percepções

de saúde e, enquanto força de trabalho salutar, resulta dos sentimentos positivos do

39

trabalhador, que propiciam funcionários contentes e fecundos. Covacs (2006) acrescenta

que o trabalho influencia e é influenciado pela rotina pessoal, com implicações

individuais e organizacionais, daí a relevância de estudar e compreender o bem-estar e a

saúde no trabalho. Nesse ínterim, é preciso entender a composição do construto bem-

estar no trabalho.

Um dos autores foi Daniels (2000), o qual entende bem-estar afetivo no trabalho

enquanto predomínio de emoções positivas no trabalho, ao justificar que as emoções no

trabalho definem bem-estar laboral e a satisfação no trabalho é correlata às emoções. O

construto é denominado pelo autor de bem-estar afetivo no trabalho porque este se

preocupou em destacar a essência e os limites do construto, uma vez que resgata as

opiniões dos sujeitos e as vivências advindas do contexto laboral e das características

pessoais. O autor fala sobre a importância de delimitar o fenômeno para que não seja

confundido com outros conceitos, antecedentes ou consequentes numa mesma análise.

Esse teórico destaca que é preciso cautela ao adotar os fundamentos do bem-estar

psicológico ao trabalho para evitar misturar os conceitos, pois é recorrente encontrar na

literatura definições e operacionalizações errôneas e confusas, uma vez que as concepções

de BET são derivadas do BES e não de BEP. Outra ressalva quanto a aplicar bem-estar

psicológico no contexto laboral é que, segundo ele, pode incorrer em confusão entre o

conceito de bem-estar e seus antecedentes cognitivos, por exemplo (Daniels, 2000).

Van Horn, Taris, Schaufeli e Schreurs (2004) também adotaram uma explicação para o

bem-estar no trabalho que prioriza o estado afetivo e emocional do trabalhador. Os autores

se basearam na teoria de bem-estar psicológico, no modelo de Warr (1987) para saúde

mental e na teoria de Ryff (1989) acerca do bem-estar geral. Esses autores entendem o

bem-estar ocupacional por avaliações positivas de características afetivas, motivacionais,

comportamentais, cognitivas e psicossomáticas subjacentes ao contexto laboral, ou seja, o

40

bem-estar no trabalho está ligado a uma ponderação positiva de fatores do trabalho,

ultrapassando a dimensão afetiva e abarcando a motivacional, a comportamental, a

cognitiva e a psicossomática (Van Horn, Taris, Schaufeli & Schreurs, 2004).

Segundo Van Horn et al. (2004), o bem-estar ocupacional é um construto

multidimensional, identificado por elementos afetivos, motivacionais, comportamentais,

cognitivos e psicossomáticos correspondentes aos fatores: dimensão afetiva, bem-estar

profissional, bem-estar social, cansaço cognitivo e dimensão psicossomática.

A definição das dimensões foi explicitada pelos autores, onde a dimensão afetiva

abarca as variáveis afeto, exaustão emocional, satisfação no trabalho e comprometimento

organizacional. O bem-estar profissional diz respeito ao aspecto motivacional da estrutura

com as variáveis autonomia, aspiração e competência profissional. O bem-estar social

reflete o aspecto comportamental a partir dos conceitos de despersonalização, a qual

condiz com a falta de personalização no ambiente de trabalho, e de qualidade das relações

sociais na organização.

O cansaço cognitivo, como outra dimensão para o bem-estar ocupacional, compreende

o aspecto cognitivo, referindo-se ao funcionamento cognitivo do trabalhador, a partir do

acréscimo de conhecimentos, que pode intervir na sua capacidade de se concentrar no

trabalho. A dimensão psicossomática traduz a existência ou não de reclamações

psicossomáticas, as quais se manifestam no organismo geralmente sem uma causa

fisiológica definida (Van Horn, Taris, Schaufeli & Schreurs, 2004).

Uma ponderação importante quanto à satisfação no trabalho é o fato de ser vista como

indicador de bem-estar laboral, apenas como um fenômeno relacionado a ele. E ainda, ser

considerada constituinte da dimensão afetiva, diferentemente dos demais autores, que a

classificam como componente cognitivo do bem-estar no trabalho. Van Horn, Taris,

Schaufeli e Schreurs (2004) justificam a ênfase no estado emocional por considerar a

41

dimensão afetiva a mais representativa do BET, sendo essencial para a investigação desse

construto.

Outra autora que escreveu sobre o bem-estar no trabalho foi Paz (2004), a qual se

diferenciou do modelo proposto por Warr e se norteou pela abordagem sistêmica e pelos

entendimentos acerca de saúde do trabalhador. Ela o assume conforme um balanceamento

entre estrutura e funcionamento da organização e bem-estar dos funcionários nas

organizações, ressaltando, inclusive, aspectos que seriam indissociáveis do bem-estar e

denominando-o de bem-estar pessoal nas organizações.

Esta autora traz uma nomenclatura diferenciada de bem-estar no trabalho, ressaltando

que a percepção de bem-estar no ambiente laboral (o quanto os funcionários se sentem bem

nesse contexto) seria intermediada pelas características pessoais e subjetivas de cada um,

por isso o considerou como bem-estar pessoal nas organizações (Rocha Sobrinho & Porto,

2012). Portanto, a autora define o bem-estar pessoal nas organizações por meio da

“satisfação de necessidades e a realização de desejos dos indivíduos ao desempenhar seu

papel na organização” (Paz, 2004, p.138). Dessen e Paz (2010) acreditam que ocorre uma

relação de mútua influência entre organização e funcionário e a análise desse

relacionamento recíproco resulta no bem-estar percebido pelo trabalhador.

A organização exerce seu papel ao apresentar suas características mediante sistemas

abertos que interagem com o meio. Além disso, deve fornecer um recinto que favoreça a

saúde do funcionário e o alcance das metas necessárias à sobrevivência e ao crescimento

da própria organização. Já o trabalhador possui atributos que levam a um funcionamento

ativo com o cumprimento de suas tarefas, a fim de atingir as metas estabelecidas pela e

para a organização.

Nesse sentido, nem sempre o empregado sente bem-estar no tocante a sua organização

de trabalho, posto que, segundo Paz (2004), utilizando fatores que traduzem bem-estar para

42

medí-lo, o sujeito pode experienciar gratificação acerca de alguns elementos

organizacionais e descontentamento em relação a outros. Medir os fatores que condizem

com o bem-estar pessoal no trabalho possibilita entender aqueles que influenciam os

trabalhadores e elaborar modos de agir, no intuito de favorecer o aumento da percepção de

bem-estar destes indivíduos (Paz, 2004).

Nota-se então, que a preocupação trazida pela autora se refere a priorizar o momento e

o motivo dos funcionários sentirem bem-estar, bem como os procedimentos que os

promovem, em detrimento de pensar quem o vivencia (Dessen & Paz, 2010). Paz (2004)

parte da definição que estabeleceu para bem-estar pessoal no trabalho, a partir da satisfação

de necessidades e da realização de desejos, e do seu oposto (mal-estar pela insatisfação de

necessidades e não realização de desejos dos trabalhadores na sua função laboral), para

postular as dimensões que defende comporem BET.

Desse modo, acredita na existência de dois polos: “gratificação (realização de desejos

e necessidades individuais) e descontentamento (não realização de desejos e necessidades

individuais)” (Dessen & Paz, 2010, p.412). O polo gratificação é explicado por meio de

sete fatores, conforme a percepção do trabalhador: valorização do trabalho (percepção da

importância de seu trabalho para si mesmo, para a organização e para a sociedade),

reconhecimento pessoal (percepção de admiração e recompensa por sua competência),

autonomia (percepção de liberdade para executar o trabalho ao seu estilo pessoal),

expectativa de crescimento (percepção de possibilidades de desenvolvimento pessoal e

profissional), recursos financeiros (percepção de justa relação de troca entre o trabalho

realizado e o salário recebido), suporte ambiental (percepção de segurança, apoio material,

tecnológico e social) e orgulho por pertencer à organização (Paz, 2004).

O polo descontentamento colabora para o reconhecimento de mal-estar no trabalho e

se configura justamente no inverso de gratificação, mediante os indicadores escritos por

43

Paz (2004): perceber indiferença e desvalorização do seu trabalho; temer não atender às

exigências da organização relativas às atividades que desempenha; não conseguir imprimir

o seu estilo pessoal na execução de suas tarefas; não ter perspectivas de crescimento

pessoal e profissional; não ter condições adequadas de trabalho para o alcance do

desempenho esperado; perceber injustiça salarial; sentir frustração por pertencer à

organização.

A autonomia, tal como preconizada por Paz (2004), é justificada enquanto fator

contribuinte para o bem-estar sob o argumento de que à medida que o trabalhador

consegue tomar decisões sobre a realização de suas tarefas e a estruturação dos papéis que

desempenha no trabalho, menores são os efeitos psicossomáticos e os afetos negativos,

conforme interpretação de diversos estudos, trazida por Paschoal e Tamayo (2008). Para

tanto, entende-se que a autonomia colabora para menos vivências de situações de mal-estar

no trabalho, facilitando a percepção oposta e desejável, portanto.

A investigação da proximidade entre o bem-estar no trabalho e outros construtos tem

sido cada vez mais constante, a exemplo do estudo realizado por Paz, Neiva e Dessen

(2012), que concluíram que o bem-estar e a felicidade nas organizações constituiriam um

único construto. Apesar de terem denominações diferentes a partir desse estudo, elas

teriam em comum elementos de subjetividade, de relacionamentos e de condições do

ambiente físico.

Para essa construção, constatou-se que o crescimento e o alcance de objetivos pessoais

através da organização levam o sujeito a firmar uma relação de instrumento com esta, por

necessitar dela para ser feliz, ou seja, o trabalhador aguarda que “a organização lhe

assegure um ambiente de trabalho físico e social que promova a sua felicidade enquanto

sujeito e assegure o seu bem-estar, ao mesmo tempo em que se responsabiliza por manter a

produtividade e alcançar metas organizacionais” (Paz, Neiva & Dessen, 2012, p.126).

44

Outro resultado observado foi a felicidade ter sido marcada pela realização profissional

(ajuste das atividades ao potencial do indivíduo) e pela aproximação do empregado com o

trabalho e com a organização, esta “responsável por fazer os ajustes necessários, oferecer

conforto físico, salário adequado à competência, relacionamentos positivos e boa

convivência entre as pessoas para assegurar bons desempenhos” (Paz, Neiva & Dessen,

2012, p.125).

Nesse caso, a felicidade está sujeita ao contexto laboral, no aspecto físico e no social.

Essa análise entende o trabalho como elemento central na vida de uma pessoa, capaz de ser

fonte de felicidade. Entretanto, acredita-se que o trabalho não seja integralmente

responsável pela felicidade do indivíduo, partindo-se do pressuposto de que aqueles que

não trabalham ou exercem atividades remuneradas em outros contextos diversos do

organizacional também podem vivenciar estados de felicidade. Dito de outro modo, a

felicidade não está circunscrita, inerente à esfera do trabalho, uma vez que as pessoas

também extraem vivências de felicidade de outras esferas da vida.

Gomide Jr. e Hernandez (2005) enfatizam que “os principais determinantes para o

bem-estar no trabalho são fatores do próprio trabalho” (p.33), diferentemente da ênfase

dada aos fatores pessoais, como a personalidade, posto que as características do contexto

laboral apresentam maior influência para se alcançar relações de trabalho satisfatórias e

comprometidas. Esse fato pode ser confirmado por Danna e Griffin (1999), ao

lembrarem que o trabalhador passa cerca de um terço de suas horas diárias no trabalho,

ou seja, o trabalho é onde as pessoas passam a maior parte do seu tempo, contribuindo de

forma significativa, portanto, no bem-estar delas, seja enfatizando aspectos positivos ou

negativos. Assim, o bem-estar no trabalho é um fenômeno amplo e abrangente, que

engloba o indivíduo em sua totalidade, influenciado pelas características físicas e

45

estruturais do ambiente, pelo entendimento que esse ambiente desperta no trabalhador e

pelo suporte psicológico do trabalhador para elaborar esse entendimento.

Já Ferreira, Pacheco, Pinto, Fernandes e Silva (2007) designam BET enquanto

construto superordenado, amparado na teoria de bem-estar subjetivo, com dimensão

cognitiva (satisfação no trabalho) e dimensão afetiva (afetos positivos e negativos

direcionados ao trabalho).

Paschoal e Tamayo (2008) também discorreram acerca do bem-estar no trabalho e

entenderam-no mediante “a prevalência de emoções positivas no trabalho e a percepção do

indivíduo de que, no seu trabalho, expressa e desenvolve seus potenciais/habilidades e

avança no alcance de suas metas de vida” (p.16). Essa definição leva a entender que o

bem-estar no trabalho abarca elementos afetivos (emoções e humores), cognitivos

(percepção de expressividade e realização), além das perspectivas hedonista (bem-estar

subjetivo) e eudaimonista (bem-estar psicológico).

Assim, considera a junção de emoções e percepções individuais para identificar o

bem-estar no trabalho (Paschoal, 2008). Desse modo, conforme Paschoal (2008), “a

tendência recente da literatura organizacional em considerar o afeto no trabalho como um

fenômeno distinto da satisfação, tem influenciado os estudos sobre o bem-estar no referido

contexto” (p.21) e assim, três fatores podem ser considerados para o bem-estar no trabalho:

afeto positivo, afeto negativo e realização pessoal no trabalho.

Apesar de apontar as variáveis pessoais (traços de personalidade, necessidades, metas

e valores) enquanto fortes preditoras que influenciam a direção e a força do bem-estar no

trabalho, Paschoal (2008) enfatiza, apoiada na literatura organizacional, que são as

variáveis situacionais relacionadas ao trabalho que determinam este fenômeno. Ela destaca

ainda que o bem-estar no trabalho, por vezes, é visto como satisfação no trabalho,

46

esgotamento profissional e estresse ocupacional em razão de os estudos utilizarem

diferentes referenciais teóricos, definições e medidas (Paschoal, 2008).

É importante ressaltar que avaliar bem-estar no trabalho por vias negativas, como o

esgotamento ou o estresse, vai de encontro a toda a teoria proposta na literatura da área.

Por outro lado, pode-se verificar o bem-estar no trabalho pela presença ou ausência de

aspectos positivos ou pela presença ou ausência de aspectos negativos, o que contemplaria

a análise do esgotamento profissional e do estresse ocupacional.

Watson, Clark e Tellegen (1988) destacam que os afetos positivos traduzem

sentimentos de entusiasmo, alerta e disposição, onde elevados índices levam a um estado

de grande energia, concentração e prazer, e níveis menores suscitam tristeza e letargia. Já

os afetos negativos expressam situações de desprazer e distress, em que maiores graus

desses afetos resultam em raiva, desgosto e nervosismo, e medidas menores favorecem

estados de calma e serenidade.

Outra questão relevante é que tanto a dimensionalidade quanto as definições em muito

se assemelham à teorização das vertentes bem-estar subjetivo e bem-estar psicológico.

Nota-se, portanto, que a teoria pensada por Paschoal e Tamayo (2008) segue a estrutura

preconizada pelos diversos autores diante da contribuição de BES e de BEP para o

entendimento e a configuração de BET, apesar de as contribuições de BEP serem menos

frequentes.

Siqueira e Padovam (2008) também teorizaram sobre o construto psicológico bem-

estar no trabalho (BET) num modelo que muito se aproxima do estilo afetivo defendido

por Warr. A ausência de uma definição formal faz pensar que as autoras compreendem

BET pela proposição de que seria um construto com uma configuração multidimensional,

composta por três elementos: satisfação no trabalho, envolvimento com o trabalho e

comprometimento organizacional afetivo.

47

Os dois primeiros se referem a vínculos afetivos positivos, que geram percepções de

prazer no trabalho, constituindo as dimensões psicossociais de bem-estar no trabalho e

podem ser identificados pelo trabalhador ao relatar contentamento com o trabalho e se

reconhecer envolvido com as atividades realizadas. Já o comprometimento organizacional

afetivo ilustra um vínculo com a organização ao demonstrar compromisso com o

empregador.

Esse modelo teórico para BET estaria fundamentado nos pressupostos que

identificam a influência funcional das emoções positivas sobre a promoção de saúde e de

bem-estar (Fredrickson, 1998 em Siqueira & Martins, 2013). Um dado relevante é que,

assim como Van Horn et al. (2004), essas autoras também consideram a satisfação no

trabalho como aspecto afetivo do BET, diferentemente dos demais autores que a

entendem enquanto componente cognitivo.

Siqueira e Padovam (2008) descrevem BET como um construto psicológico composto

por afetos positivos do empregado em relação ao seu trabalho e a sua organização,

relegando a dimensão cognitiva. Há, por sua vez, ênfase na dimensão cognitiva para

Ferreira, Souza e Silva (2012) quando a satisfação do funcionário com seu trabalho e com

a vida em geral é associada à qualidade de vida no trabalho e à BET.

As autoras abordam que para que esses componentes discriminem o bem-estar no

trabalho, seria necessário que os trabalhadores “relatassem estar satisfeitos com o trabalho,

reconhecessem envolvimento com as tarefas que realizam e, finalmente, revelassem que

mantêm compromisso afetivo com a organização empregadora” (p.207). Outra

interpretação demonstra que a satisfação no trabalho traria um direcionamento afetivo dos

funcionários no que se refere a um determinado trabalho e o comprometimento

organizacional afetivo, também enquanto componente do bem-estar no trabalho, colabora

48

para uma ampla avaliação do quanto o funcionário se identifica e se envolve na

organização (Covacs, 2006).

A partir dessas considerações, ao constatar que numa conjuntura laboral adequada o

funcionário apresenta altos níveis de satisfação no trabalho, de envolvimento com o

trabalho e de comprometimento organizacional afetivo, entende-se que ele estará

predisposto a implementar ideias que sejam condizentes com o curso de ações eliciados

pelo trabalho. E ainda, usufruir de recursos pessoais para lidar com dificuldades laborais

cotidianas, diminuir a incidência de enfermidades psíquicas, tais como estresse, ansiedade

e depressão, ao fomentar estados psicológicos positivos, além de aproveitar suas

potencialidades para realizar suas atividades e atingir as metas da organização (Siqueira &

Martins, 2013).

O modelo apresentado por Siqueira e Padovam (2008) é relevante ao passo que

enaltece a importância dos vínculos positivos que o trabalhador estabelece com questões

concernentes a sua atividade laboral e apresenta as variáveis constituintes do modelo de

BET. Entretanto, essa abordagem se mostra delicada, principalmente por dois aspectos, a

saber: a falta de comprovação empírica para ela e o fato de negligenciar os aspectos

cognitivos presentes no cotidiano do trabalhador ao vivenciar bem-estar no trabalho.

É notório que as autoras priorizaram a construção teórica do modelo em detrimento da

constatação empírica. Esse fato soa estranho, ao levar em conta o ano de publicação da

teoria (2008) até o presente, adicionado à questão de existirem publicações que sinalizam

que esta concepção teórica de BET vinha sendo gestada há um tempo e estava para ser

publicada desde 2004, como se observou nas referências consultadas, em que há menção a

essa construção teórica quatro anos antes de sua publicação efetiva.

Outro fator a ser considerado é que as autoras, no momento da elaboração do modelo,

enfatizaram os aspectos afetivos que poderiam compor BET, em detrimento de questões

49

cognitivas do sujeito. Entretanto, numa tentativa de dirimir essa lacuna teórica, Siqueira e

Martins (2013) afirmaram que esse modelo não é composto por emoções positivas, mas

que os vínculos positivos contidos nele “são componentes psicológicos cognitivos e não

emocionais. Tais vínculos, representados por diversos sentimentos, são construídos

cognitivamente (ou mentalmente) quando o indivíduo organiza seus pensamentos acerca de

relações, experiências e vivências no contexto organizacional de trabalho” (Siqueira &

Martins, 2013, p.634).

Esse entendimento vai na contramão das teorias vistas até então, pois em sua maioria

priorizam o aspecto afetivo do bem-estar no trabalho, por entender que esse fenômeno

estaria muito mais ligado às sensações e percepções que o trabalhador experimenta no

local de trabalho, que culminam em saúde e felicidade. Adicionado a isso, Siqueira e

Padovam (2008, p.206) identificaram BET como “construto psicológico multidimensional,

integrado por vínculos afetivos positivos com o trabalho (satisfação e envolvimento) e com

a organização (comprometimento organizacional afetivo)”.

O bem-estar no trabalho colabora positivamente para o desempenho organizacional e,

por isso, tem suscitado interesse crescente por parte dos empregadores e dos pesquisadores

(Harter, Schmidt & Keyes, 2002). Mendonça, Ferreira, Porto e Zanini (2012) realçam que

experienciar bem-estar colabora para a melhoria da qualidade de vida e da saúde física e

psicológica do trabalhador, além de reduzir enfermidades somáticas, apesar de

desacreditarem numa constância de bem-estar laboral.

Quanto à relação entre bem-estar no trabalho e qualidade de vida, Ferreira, Souza e

Silva (2012) consideram-nos fenômenos equivalentes, em decorrência da influência

recíproca entre o ambiente organizacional e o sujeito, através da percepção subjetiva de

dimensões externas e internas. Nessa abordagem, a dimensão externa equivale às

características do contexto laboral traduzidas por: “natureza da tarefa (variedade de tarefas,

50

grau de autonomia, etc), ambiente físico de trabalho (barulho, temperatura, etc), ambiente

interpessoal (relacionamento com colegas, com supervisor etc) e ambiente organizacional

(valores, práticas e políticas organizacionais)” (p.98).

A dimensão interna, por sua vez, envolve “indicadores físicos (sintomas

psicossomáticos – dores de cabeça, problemas musculoesqueléticos) e psicológicos”

(p.98), estes divididos em elementos cognitivos (atitudes sobre o trabalho), afetivos (afetos

e emoções positivas e negativas) e comportamentais (absenteísmo e rotatividade) (Ferreira,

Souza & Silva, 2012). Para os autores, o funcionário que se sente contente com a qualidade

de vida que vivencia, aliada às percepções de bem-estar no trabalho, contribui grandemente

para o êxito da instituição da qual participa, pois costuma apresentar melhor desempenho e

maior produtividade.

Quanto às influências recebidas pelo bem-estar no trabalho, Leal (2008) justifica que a

interpretação dos eventos como prazerosos ou desprazerosos, entendendo como afeto

positivo ou afeto negativo, respectivamente, influenciam no bem-estar no trabalho.

Contudo, é relevante assinalar que tanto o afeto positivo quanto o negativo colaboram para

a constituição do bem-estar no trabalho, fato que pode ser corroborado pelas diversas

abordagens de BET.

O bem-estar no trabalho é influenciado pelas percepções de suporte organizacional e

social que o trabalhador tem da organização, funcionando como antecedentes diretos. Ou

seja, conforme Eisenberger, Huntigton, Hutchison, Sowa e Perceived (1986 em Covacs,

2006), depende das crenças elaboradas acerca da valorização e da preocupação com o bem-

estar que as organizações demonstram em relação a seus funcionários. Covacs (2006)

entende que a valorização do funcionário por parte da organização pode ser evidenciada

através de benefícios como aprovação, respeito, aumentos de salário ou até promoções.

51

Outro antecedente para o bem-estar no trabalho, embora indireto, apresentado por

Araújo & Oliveira (2008), são as percepções de justiça organizacional. Assim, o bem-estar

no trabalho está ligado a procedimentos equitativos, que, por sua vez, podem subsidiar o

suporte organizacional e promover vínculos positivos com o trabalho e a organização.

Assim, apesar de os autores considerarem diferentes nomenclaturas, os modelos

propostos para BET se referem a um mesmo fenômeno, que, em diferentes graus,

priorizam os afetos (sentimentos positivos e negativos) e a satisfação frente às questões de

trabalho. Esses modelos ajudam a entender o fenômeno, a identificar o que colabora para

ele e, por sua vez, subsidiar o alcance de objetivos pessoais e profissionais.

Ao considerar que o principal foco deste trabalho é a composição do bem-estar no

trabalho trazida por Siqueira e Padovam (2008), é preciso discorrer sobre cada construto

com a literatura específica, através de um breve apanhado teórico de cada um deles, a fim

de dar subsídios teóricos e empíricos ao objetivo deste estudo.

1.2.2 Instrumentos de Bem-estar no trabalho

Alguns autores se debruçaram sobre esse construto e elaboraram modelos teóricos

para explicá-lo, a fim de construir medidas que possam mensurá-lo e, assim, fornecer

respaldo a intervenções que visem à proteção e à saúde do trabalhador (Covacs, 2006).

A proposta de Daniels (2000) para a mensuração de bem-estar afetivo no trabalho é

composta por cinco dimensões bipolares, organizadas em fatores com emoções positivas e

negativas: ansiedade (ex: ansioso, preocupado, tenso) versus conforto (ex: relaxado,

calmo), depressão (deprimido) versus prazer (feliz, alegre), tédio (entediado) versus

entusiasmo (otimista, motivado), cansaço (cansado) versus vigor (ativo) e cólera

(agressivo) versus placidez (paciente).

52

A escala baseada nessa abordagem possui uma orientação: “pensando na semana

passada, quantas vezes seu trabalho fez com que você se sentisse de cada forma descrita a

seguir?”, acompanhada da descrição de trinta emoções consideradas relevantes, avaliadas

numa escala graduada em seis níveis, onde o primeiro é ‘nunca’ e o último, ‘sempre’. O

resultado é aferido pelo somatório das respostas, observando a inversão da pontuação para

os itens negativos, em que haverá maior o bem-estar afetivo no trabalho quanto maior a

pontuação (Paschoal, 2008).

Quanto a instrumentos para mensurar bem-estar afetivo no trabalho, Gouveia,

Fonseca, Lins, Lima & Gouveia (2008) procederam à adaptação e construíram uma

escala para avaliá-lo, a Job-related Affective Well-being Scale (JAWS). Gouveia et al.

(2008) procederam a uma adaptação, verificação da validade fatorial e da consistência

interna dessa escala para o contexto brasileiro, em que encontraram as adequações

necessárias. A JAWS apresenta vantagens em relação aos demais instrumentos

disponíveis na literatura, a exemplo de focar na emoção pura e simples, abranger

especificamente o contexto afetivo do trabalho e abordar um extenso leque de respostas

afetivas (Gouveia et al., 2008).

O instrumento proposto por Van Horn, Taris, Schaufeli & Schreurs (2004) para o

bem-estar ocupacional contém 105 itens a fim de avaliar as onze variáveis que compõem

as 5 dimensões desse construto, conforme Paschoal (2008). Esta autora critica a inclusão

de comprometimento e exaustão emocional na dimensão afetiva desse modelo, uma vez

que tais construtos estão relacionados ao bem-estar no trabalho, mas não o definem.

Paz (2005) sugeriu e validou um instrumento unifatorial a fim de mensurar o bem-

estar no trabalho, denominado Escala de Bem-estar Pessoal nas Organizações, com 15

itens que abarcam dimensões cognitivas e afetivas e captam a percepção do funcionário

sobre as relações recíprocas entre ele e a organização, além de incluir elementos

53

organizacionais que constituiriam o bem-estar (Paschoal & Tamayo, 2008). Dessen e Paz

(2010), por sua vez, criticam essa escala por apresentar uma mensuração muito generalista.

Paschoal e Tamayo (2008) construíram e validaram um instrumento que buscou

operacionalizar o aspecto afetivo e hedônico e o aspecto cognitivo e eudaimônico de bem-

estar no trabalho, permitindo o uso em diferentes contextos laborais, não somente

organizações, e priorizando as experiências do trabalhador. Para tanto elaboraram a Escala

de Bem-estar no Trabalho (EBET), baseada em duas subescalas: afeto e expressividade/

realização no trabalho.

A subescala afeto consiste em avaliar emoções e humores positivos e negativos no

trabalho e derivou da adaptação da Escala de Bem-estar Subjetivo de Albuquerque e

Tróccoli (2004), restando 38 itens para a EBET, a serem respondidos numa variação de

cinco pontos desde ‘nem um pouco’ a ‘extremamente’. A subescala destinada à realização

no trabalho mensura a percepção de desenvolvimento das habilidades e do potencial, a fim

de atingir os objetivos de vida. Resultou de proposições feitas por Waterman (1993 em

Paschoal, 2008), de considerações da literatura e de análise de entrevistas com

trabalhadores em funções variadas.

Esta subescala foi estruturada com 9 itens, com cinco possibilidades de respostas

obedecendo aos extremos ‘discordo totalmente’ e ‘concordo totalmente’. Após análise de

juízes e procedimentos estatísticos, verificou-se que a escala geral para EBET mostrou

ótimas propriedades psicométricas e distinguiu três fatores: afeto positivo (9 itens; α

=0,93; r2=39,97%), afeto negativo (12 itens; α =,91; r

2=10,98%) e realização (9 itens; α

=0,88; r2=6,34%) (Paschoal & Tamayo, 2008).

Os autores investigaram aspectos distintos que acreditam compor a estrutura de BET,

uma vez que o instrumento mencionado não integra os dois fatores e não tem uma escala

de resposta uniforme. Adicionado a esse fato, no relato deste estudo não há alusão às

54

análises confirmatórias ou à modelagem por equação estrutural, o que denota que a EBET

não se remete diretamente ao construto BET, mas sim, de uma forma indireta, através de

dois fatores apresentados nas subescalas desse instrumento.

Assim, para investigar conteúdos de bem-estar subjetivo, Paschoal (2008) ressalta que

a obtenção de dados em instrumentos de BET é alcançada através de autorrelatos. No caso

da EBET, as orientações para a autoaplicação da subescala de afetos continham “nos

últimos seis meses, meu trabalho tem me deixado” (Paschoal, 2008, p.85). Essa consigna

era seguida pelos itens com os sentimentos equivalentes a denotações positivas e negativas,

a exemplo de itens como orgulhoso, animado, irritado, nervoso, respondidos numa escala

de cinco pontos variando entre ‘nem um pouco’ (1) e ‘extremamente’ (5).

Já a subescala de realização no trabalho contém a padronização “neste trabalho”,

acompanhada de itens como “realizo o meu potencial”, “avanço nas metas que estabeleci

para minha vida” e “expresso o que há de melhor em mim”, com as opiniões expressas

numa gradação de cinco pontos, desde ‘discordo totalmente’ (1) a ‘concordo totalmente’

(5) (Paschoal, 2008). Desse modo, a EBET se configura sob os construtos afeto e

expressividade/ realização no trabalho e pode ser usada na prática de contextos

organizacionais e em pesquisas no âmbito científico-teórico, onde para este caso, averigua

a resultante de elementos situacionais e pessoais acerca desse construto (Paschoal &

Tamayo, 2008).

55

1.2.3 Dimensões constituintes do modelo de Siqueira e Padovam (2008) para BET

1.2.3.1 Comprometimento Organizacional

Comprometimento, de acordo com Bastos (1994), originou da palavra latina

‘comprommittere’, que na língua portuguesa apresenta dois eixos de significado. Um

estaria relacionado à ocorrência de ações que impedem ou dificultam a consecução de

certo objetivo. O outro eixo se relacionaria a engajamento, agregamento, envolvimento,

colocar-se junto. Assim, comprometimento pode ser remetido a compromisso, lealdade ou

impedimento.

Bastos (1994) também aponta que o comprometimento já esteve associado a outros

construtos, a exemplo de envolvimento, identificação e apego, mas que remetem a um

engajamento em um curso de ação. Baseado no segundo eixo de sentido da palavra, pode-

se pensar o comprometimento com a organização, em que o colaborador estabelece

vínculos com esta, a ponto de diversos autores se debruçarem sobre esse construto para

entendê-lo.

Ribeiro e Bastos (2010) ressaltam a importância do comprometimento organizacional

no sentido de viabilizar as mudanças internas de uma empresa, uma vez que funciona

como um amálgama para facilitar a adaptação e a competitividade, sustentar os negócios e,

assim, fortalecer a empresa. O fenômeno do comprometimento tem sido amplamente

estudado, o que pode suscitar uma variedade conceitual e, por conseguinte, proporcionar

diversos modelos teóricos e instrumentos para analisá-lo e explicá-lo, por isso o

comprometimento adquire fragmentação e redundância conceitual para Bastos, Siqueira,

Medeiros e Menezes (2008).

56

A fragmentação pode ser exemplificada pelas abordagens utilizadas para compreender

o comprometimento organizacional, uma de natureza atitudinal e outra de natureza

comportamental, segundo Mowday, Porter e Steers (1979). A primeira se refere aos

valores e objetivos dos funcionários estarem coerentes com a organização em que

trabalham. A segunda esclarece acerca dos procedimentos que levam uma pessoa a se

sentir presa à organização.

Siqueira (1995) define a primeira abordagem (atitudinal) mediante ligações afetivas

com a organização, e a segunda “representa uma dimensão cognitiva da relação entre

empregado e organização, envolvendo as percepções do empregado sobre suas relações

sociais de troca com a organização” (p.31). Para Jaros, Jermier, Koehler e Sincich (1993

em Bastos et al., 2008), o conceito de comprometimento organizacional abrange tanto as

discordâncias, no que se refere a sua natureza atitudinal ou comportamental, quanto o

crescimento do consenso na vertente atitudinal.

O comprometimento organizacional é entendido por Bastos (1994) como um conjunto

de fenômenos comportamentais e atitudinais voltados para a compreensão da adaptação e

persistência do indivíduo na sua relação com o trabalho. Meyer e Allen (1991) em Covacs,

2006) entendem-no por “estado psicológico que caracteriza o relacionamento do

empregado com a organização, sua ligação afetiva com ela, os custos percebidos em deixá-

la e o quanto se sente obrigado a nela permanecer” (p.31).

Ribeiro e Bastos (2010) demonstram que as percepções dos funcionários e as relações

que estabelecem com aspectos do ambiente de trabalho levam a um enlace psicológico que

pode ser chamado de comprometimento organizacional. Este, enquanto construto

atitudinal, é definido como o “vínculo psicológico que liga o indivíduo à organização,

refletindo uma identificação do mesmo com sua cultura, valores e políticas” (Meyer &

Allen, 1997 em Fernandes & Ferreira, 2009, p.342).

57

A respeito da multiplicidade de conceitos, Bastos et al. (2008) enumeram semelhanças

e diferenças entre eles e sugerem que as definições convergem nos aspectos de

comprometimento ser uma força que estabiliza e coage e de fornecer direção a um

comportamento. Em contrapartida, as diferenças se referem à natureza ou à origem dessa

força que direciona o comportamento. Outro ponto comum aos conceitos de

comprometimento reflete uma ligação psicológica entre a empresa e seu funcionário, à

medida que há uma internalização dos valores organizacionais e um envolvimento com as

tarefas designadas.

O estudo do comprometimento evidencia a existência de cinco facetas: afetiva

(identificação e envolvimento com a organização), instrumental (avaliação de

investimentos e de recompensas), normativa (internalização de pressões normativas de

comportamento), sociológica (relação de autoridade e subordinação) e comportamental

(manutenção de condutas e consistência entre estas e certas crenças) (Bastos, 1994). Dentre

elas, três dimensões constituintes deste construto se destacam: afetiva, instrumental e

normativa. Essas facetas sugerem a multidimensionalidade do construto e incitam um

leque de oportunidades para estudá-lo.

O comprometimento afetivo ou atitudinal foi organizado com base no estudo de

Mowday, Steers e Porter (1979) e foi definido como “um estado no qual um indivíduo se

identifica com uma organização particular e com seus objetivos, desejando manter-se

afiliado a ela com vistas a realizar tais objetivos” (p.316). Ribeiro e Bastos (2010)

entendem a base afetiva do comprometimento organizacional como uma forte relação de

identificação do indivíduo com determinada organização e seus objetivos.

Ribeiro e Bastos (2010) trazem que uma ligação mais intensa com a organização que

emerge e se nutre dos sentimentos do empregado, da aceitação de crenças, da identificação

e da assimilação de valores colaboram para entender o comprometimento afetivo ou

58

atitudinal, o qual para Fernandes e Ferreira (2009) ainda pode se identificar com os valores

e a missão da organização. Leal (2008) entende tal construto por uma “relação ativa do

sujeito com os valores e objetivos da organização, funcionando como uma espécie de laço

psicológico entre o indivíduo e a organização a que este pertence” (p.49).

Siqueira e Padovam (2008) demonstram que essa ligação afetiva “pode incluir

experiências emocionais positivas, que se traduzem em sentimentos positivos como

entusiasmo, orgulho, contentamento, confiança, apego e dedicação” (p.207). Mowday,

Steers e Porter (1979) afirmaram que “o comprometimento organizacional afetivo

compreende (a) a aceitação dos valores, normas e objetivos da organização, (b) a

disposição de investir esforços em favor da organização, e (c) o desejo e a vontade de se

manter membro da organização” (p.32).

Além de apresentar essas condições, o comprometimento organizacional afetivo

possui como referências a identificação do sujeito com a organização, o envolvimento com

o papel organizacional e a afetividade do trabalhador para com a empresa (Siqueira, 1995).

Desse modo, para se estabelecer um vínculo predominantemente afetivo é necessário

querer permanecer membro da organização, acreditar e comungar das metas

organizacionais e ter a intenção de se esforçar pela organização e ainda, implicar-se com o

cargo e ser leal à empresa.

Adicionada à base afetiva de comprometimento organizacional, esse construto

apresenta ainda outras duas bases, a calculativa e a normativa, mediante a estrutura

tridimensional proposta por Meyer e Allen, aqui brevemente citadas visando um

entendimento global do comprometimento organizacional. A base calculativa iniciou com

os estudos de Becker (1960 em Ribeiro & Bastos, 2010), o qual a caracterizou como uma

tendência do colaborador se firmar na organização a partir da participação de cursos de

59

ação a fim de diminuir a probabilidade de ter custos por sair da empresa ou despender

energia com sacrifícios advindos dessa situação.

Outra base de comprometimento organizacional, dentro do modelo ternário sugerido

para comprometimento organizacional é a normativa, sugerida por Wiener (1982 em

Ribeiro & Bastos, 2010). Esta resgata os valores, a moral e as crenças do colaborador no

sentido de se aliarem a valores, requisitos, modos de funcionar da organização, tendo a

cultura e a estratégia organizacionais como fatores influentes para o elo normativo (Ribeiro

& Bastos, 2010).

Diversos instrumentos foram organizados para mensurar o comprometimento, a

exemplo do Organizational Commitment Questionnaire (OCQ), elaborado por Porter e

Smith (1970 em Bastos et al., 2008), na fase em que se acreditava ser o comprometimento

unidimensional e, portanto, afetivo. Segundo Dias (2005), o OCQ é um instrumento

unidimensional de 15 itens que busca determinar o quanto o empregado quer permanecer

associado à organização, o quanto ele está disposto a oferecer altos esforços pela

organização e também o quanto ele acredita nas normas e valores da mesma.

Entretanto, outras escalas foram criadas a fim de medir o comprometimento

organizacional. Siqueira (2008) propõe uma escala para cada base desse construto: Escala

de Comprometimento Organizacional Afetivo (ECOA), Escala de Comprometimento

Organizacional Calculativo (ECOC) e a Escala de Comprometimento Organizacional

Normativo (ECON).

A ênfase neste estudo é para a ECOA, por se tratar de uma variável do bem-estar no

trabalho. Essa escala (α=0,93) é composta por 5 itens na versão reduzida, que mensuram os

sentimentos e emoções que o funcionário nutre em relação à empresa em que trabalha,

dispostos em escala Likert de 5 pontos, variando desde “nada” até “extremamente”.

60

Enfatizando o modelo tridimensional, Bastos, Pinho, Aguiar e Menezes (2011)

propõem uma escala mais atual, a qual apresenta propriedades psicométricas bastante

satisfatórias e é composta por 23 itens, sendo dez deles voltados à base afetiva (α=0,88;

r²=29,14), oito direcionados para mensurar a base calculativa (α=0,80; r²=12,77) e cinco

que avaliam a base normativa (α=0,76; r²=6,80). Estes devem ser respondidos com base em

escala Likert de 6 pontos, variando de 1 (discordo totalmente) a 6 (concordo totalmente).

Ressalta-se que o modelo de bem-estar no trabalho proposto por Siqueira e Padovam

(2008) utiliza apenas a base afetiva do comprometimento organizacional na sua

configuração, por isso foi priorizada. Entretanto, buscou-se uma explanação do

comprometimento organizacional como um todo, em sua tridimensionalidade, para então

se entender as bases constituintes do construto e perceber as diferenciações inerentes à

base afetiva, componente do conceito de bem-estar no trabalho abordado neste estudo.

1.2.3.2 Satisfação no trabalho

A satisfação no trabalho remonta a um processo histórico, em que no início do século

XX, houve uma aproximação entre satisfação e o processo motivacional, a fim de explicar

os sentimentos que surgiam entre os trabalhadores, vindo a satisfação a se transformar em

um componente da motivação. Nas décadas de 70 e 80, a satisfação veio a ser considerada

como atitude, capaz de prenunciar diversos comportamentos de trabalho, por conta da

prevalência desse conceito para explicar o comportamento humano. Num momento

posterior e em outra abordagem teórica, a satisfação revelou a proteção e a promoção da

saúde e do bem-estar dos funcionários pela empresa. Mais recentemente, no início do

século XXI, a satisfação é vista como mais um vínculo afetivo que liga o indivíduo a seu

trabalho (Siqueira, 2008).

61

A compreensão inicial do construto satisfação levou a percebê-la como de natureza

afetiva e por isso, Locke (1976 em Siqueira & Padovam, 2008) a definiu a partir de “um

estado emocional positivo ou de prazer, resultante de um trabalho ou de experiências de

trabalho” (p.206), conceito até hoje utilizado pela comunidade científica para tal construto.

Seguindo o raciocínio que relaciona satisfação no trabalho a afetos, ou ainda, estado

emocional positivo, apesar das diversas formas de perceber a satisfação, para Brief e

Roberson (1989 em Meleiro, 2005) ela estaria ligada a sentimentos de satisfação

envolvendo aspectos gerais e/ ou específicos do trabalho, correspondendo a uma resposta

afetiva.

De acordo com Harter, Schmidt e Keyes (2002), as emoções que colaboram para

definir a satisfação no trabalho possibilitam o surgimento de vínculos entre as pessoas,

entre elas e o trabalho e entre elas e a organização. Siqueira e Martins (2013) destacam

que a satisfação no trabalho seria provocada por três fontes: o relacionamento com as

pessoas, as tarefas desempenhadas e as retribuições organizacionais.

Estas mesmas emoções permitem a elaboração de estratégias pessoais referentes ao

campo físico, intelectual e social, as quais concorrem positivamente para ‘reparar os danos’

psicológicos e fisiológicos causados pelas emoções negativas e assim, gerar bem-estar e

saúde (Covacs, 2006). Porém, há autores que consideram a satisfação no trabalho pode ser

de natureza cognitiva, em que é diferenciada da resposta afetiva, segundo a interpretação

de Meleiro (2005), pois a cognição é demonstrada através das atitudes, que são distintas

dos afetos.

Este construto é de difícil definição, contudo, fundamental. É difícil por se tratar de

um construto subjetivo que depende do sujeito e do seu contexto (Martinez, Paraguay &

Latorre, 2004). E é relevante no sentido de considerar aspectos que propiciam o

desempenho e o aperfeiçoamento profissional do trabalhador e contribuem para o

62

desenvolvimento da organização (Leal, 2008). Contudo, deve-se observar que o principal

objetivo de se estudar os aspectos laborais é buscar melhores condições de trabalho, onde o

bom desempenho comparece como consequência e o trabalho gera satisfação e bem-estar.

Sob o ponto de vista de Siqueira (2008), a “satisfação no trabalho representa a

totalização do quanto o indivíduo que trabalha vivencia experiências prazerosas no

contexto das organizações” (p.267). Essa mesma autora traz a satisfação enquanto

multidimensional, por apresentar como fontes a satisfação no relacionamento com as

chefias, com os colegas de trabalho, com o salário pago pela empresa, com a oportunidade

de promoção gerada pela política organizacional adotada e com as tarefas realizadas no

trabalho (Siqueira & Padovam, 2008).

Conforme essas autoras, os dois primeiros domínios se referem ao ambiente de

trabalho, os dois posteriores condizem com a recompensa e o último, com a própria tarefa.

É interessante ressaltar que, considerada como um dos elementos da satisfação no trabalho,

a promoção é vista como uma valorização do funcionário, ao apresentar uma relação

positiva com a percepção de suporte organizacional, consoante Wayne, Shore e Liden

(1997 em Covacs, 2006).

Diante das definições e das dimensionalidades, Siqueira (2008) descreve que

investigar satisfação no trabalho “significa avaliar o quanto os retornos ofertados pela

empresa em forma de salários e promoção, o quanto a convivência com os colegas e as

chefias e o quanto a realização das tarefas propiciam ao empregado sentimentos

gratificantes e prazerosos” (p.267). Assim, pode-se entender que a satisfação, apesar de ter

diversas origens e focos, fundamenta-se na busca pelo prazer e pelo bem-estar no trabalho.

Em relação à mensuração da satisfação no trabalho, Siqueira (1995) colaborou com a

elaboração de subescalas, as quais mapeiam a percepção global de satisfação no trabalho,

considerando o conjunto de avaliações individuais e elementos peculiares ao trabalho. A

63

fim de medir tal construto, Siqueira (1995) construiu e validou a Escala de Satisfação no

Trabalho (EST) composta pelas cinco dimensões teóricas do construto anteriormente

mencionadas, com o “objetivo de avaliar o grau de contentamento do trabalhador frente a

cinco dimensões de seu trabalho” (Siqueira, 2008, p.268).

A EST inicialmente era composta por 28 itens e seis fatores, contudo após as análises,

permaneceram 25 itens na forma completa divididos igualmente em cinco fatores. A forma

reduzida ficou composta por 15 itens, identicamente distribuídos entre as cinco dimensões.

Os fatores são: satisfação com os colegas de trabalho (α=0,81), satisfação com o salário

(α=0,90), satisfação com a chefia (α=0,84), satisfação com a natureza do trabalho (α=0,77)

e satisfação com promoções (α=0,81) (Siqueira, 2008).

Esse instrumento obedece a uma escala de respostas tipo Likert, com 7 pontos,

variando desde totalmente insatisfeito (1) a totalmente satisfeito (7). Diante do exposto,

nota-se que a satisfação no trabalho apresenta não só uma fonte ou origem, atitudinal ou

afetiva, mas cinco, e mesmo com toda essa diversidade verificou-se pouca variação no

construto ao longo do tempo. Esta variação apenas dependente dos elementos que

envolvem o trabalho.

1.2.3.3 Envolvimento com o trabalho

A ênfase conceitual dada ao envolvimento com o trabalho foi proposta por Lodahl e

Kejner (1965 em Siqueira & Padovam, 2008), que definiram-no como “[...] grau em que o

desempenho de uma pessoa no trabalho afeta sua autoestima” (p.206). Outra definição foi

elaborada por Muckinsky (2004 em Siqueira, 2008), em que seria o “grau de identificação

psicológica da pessoa com seu trabalho e a importância do trabalho para a autoimagem”

(p.139). Siqueira (1995) sugeriu que tal construto evidenciaria o quanto o trabalho é

64

importante e envolvente para o trabalhador. Atualmente, o envolvimento com o trabalho é

visto “como um estado de completa absorção e assimilação pelo trabalho” (Siqueira, 2008,

p.139).

Outra concepção contemporânea para entender o envolvimento com o trabalho foi

proposta por Csikszentmihalyi (1999 citado por Siqueira, 2008), acerca do estado de fluxo

que “acontece no momento em que se harmoniza o que se pensa, sente e deseja” (p.41), ou

seja, os pensamentos, sentimentos e desejos entram em sintonia. Ou ainda, entendido

quando “o trabalho executado é capaz de absorver e manter o trabalhador imerso na tarefa”

(Csikszentmihalyi, 2004 citado por Leal, 2008, p.41).

Esse mesmo autor entende estado de fluxo por momentos que costumam ocorrer

quando alguém encara metas que exigem respostas apropriadas. É fácil entrar em fluxo em

jogos de xadrez, tênis ou pôquer, porque eles possuem metas e regras para a ação que

tornam possível ao jogador agir sem questionar o que deve ser feito e como fazê-lo

(Csikszentmihalyi, 1997/1999 em Siqueira & Padovam, 2008).

Para ocorrer envolvimento no trabalho com os funcionários em estado de fluxo, é

preciso concentrar-se em um conjunto de metas claras, receber feedback interno acerca de

suas atividades no trabalho (reconhecimento da atividade e do desempenho da tarefa) e ter

habilidades especiais estimuladas por altos desafios. Ou melhor, encarar desafios

condizentes com a sua habilidade e capacidade (Covacs, 2006), de modo que permita

executar tarefas situadas no limiar entre o dominar o conhecimento necessário para tal

execução e ter o desafio apresentado (Csikszentmihalyi, 2004 em Leal, 2008).

Dominar a função plenamente contribui para “elevar o nível de concentração do

empregado, uma vez que ele não precisa se preocupar com os passos que deve obedecer

para a realização desta, pois ele já a conhece bem” (Csikszentmihalyi, 2004 em Leal, 2008,

p.42). Assim, entende-se que, à medida que o funcionário possui o domínio pleno da sua

65

função e tem sua atenção integralmente dedicada à realização da tarefa, atinge um grau de

concentração que o permite entrar em estado de fluxo e realizar suas tarefas sem necessitar

se preocupar com cada etapa de realização do trabalho.

Dito de outra forma por Resende, Martins e Siqueira (2010), no estado de fluxo “a

energia psíquica volta-se para a realização da tarefa, o que mantém o trabalhador

completamente imerso, concentrado na atividade que realiza” (p.48). Outra interpretação

para a teoria do estado de fluxo seria o quanto as pessoas se sentem engajadas à medida

que realizem atividades que considerem importantes, e estimuladas por desafios

alcançáveis (Covacs, 2006).

Portanto, o envolvimento com o trabalho se refere a um estado de fluxo porque

apresenta, principalmente, uma sensação de perda da noção do tempo, a partir do fato de o

sujeito estar absorto pelas atividades laborais, as quais controlam suas ações mediante o

estado de fluxo que encapsula o sujeito. Dessa forma, no estado de fluxo as ações dos

sujeitos são limitadas pela atividade laboral, que englobam o sujeito, controlam suas ações

e impõem-lhe limites.

Dessa maneira, o envolvimento com o trabalho é entendido como uma medida que

descreve o quanto o trabalhador se encontra absorvido pelo seu trabalho, mergulhado nele,

ou ainda, o grau em que o trabalho realizado consegue prover satisfações para o indivíduo,

absorvê-lo completamente enquanto realiza as tarefas e ser importante para a sua vida

(Siqueira, 2008). O envolvimento com o trabalho se torna importante por buscar descrever

a ligação que o indivíduo tem com o seu trabalho e essa ligação, mediante Lodahl e Kejner

(1965 em Siqueira & Gomide Jr., 2004), começa ainda no período de socialização do

indivíduo, fase de transmissão de valores sociais relativos ao trabalho.

De acordo com Siqueira (2008), esse fenômeno condizente com o ambiente laboral,

fomenta consequências positivas para o indivíduo e para a organização em que trabalha.

66

Resulta ao indivíduo experimentar uma percepção satisfatória de realização das aptidões,

alcançar objetivos pessoais e profissionais e verificar adequações entre a tarefa executada e

o trabalho designado, por meio da execução de tarefas ao entrar em um estado de fluxo.

À organização o envolvimento proporciona o aumento de possibilidades de

atendimento de metas e ainda colabora para a competitividade empresarial e a conquista de

mercados (Siqueira, 2008). Os indivíduos ainda ganham forças para suplantar “as

expectativas normais de seu desempenho no trabalho” (Moorhead & Griffin, 1995 em

Covacs, 2006, p.30).

O envolvimento com o trabalho possui uma escala construída e validada por Lodahl e

Kejner (1965 em Siqueira, 2008) e adaptada ao Brasil por Siqueira (1995). Inicialmente, a

escala foi proposta com 20 itens, sendo escolhidos oito dentre estes e adicionados dois para

a análise brasileira. Após os cálculos estatísticos de uma aplicação da escala, verificou-se

que havia cinco itens com uma frágil homogeneidade, o que reduziu a Escala de

Envolvimento com o Trabalho (EET) a cinco itens (α=0,78) a serem respondidos numa

escala de 7 pontos, variando de 1 (discordo totalmente) a 7 (concordo totalmente).

É interessante ressaltar que, como qualquer construto psicológico, o envolvimento não

é estável e é influenciado pelas características da tarefa e do líder no ambiente de trabalho,

além das características pessoais do trabalhador (Siqueira, 2008). Para tanto, deve-se

analisar o contexto a ser estudado e levar em conta os movimentos e as ações que

abrangem o indivíduo no contexto laboral.

Esta pesquisa teve por objetivo geral testar empiricamente um modelo teórico

desenvolvido para o construto bem-estar no trabalho como fenômeno determinado por

comprometimento organizacional afetivo, satisfação no trabalho e envolvimento com o

trabalho.

67

1.3 Modelo Teórico de BET

Para realizar o teste empírico do modelo de bem-estar no trabalho é necessário

demonstrar que as variáveis que supostamente o compõem se vinculam de algum modo.

Esta seção tem a pretensão de expor algumas pesquisas que demonstram existir uma

relação entre os construtos comprometimento organizacional afetivo, satisfação no trabalho

e envolvimento com o trabalho.

Deve-se destacar que há estudos que simplesmente assumem bem-estar no trabalho

como constituído pelos construtos citados acima, sem, contudo, ter comprovação empírica

para o referido modelo. Apesar de não terem evidências empíricas, esses estudos se apoiam

nas relações próximas que as variáveis COA, ET e ST possuem, pois quando o sujeito

experiencia bem-estar no ambiente de trabalho tende a apresentar altos índices de

comprometimento organizacional afetivo, satisfação no trabalho e envolvimento com o

trabalho.

Numa pesquisa empreendida por Traldi (2009) para identificar a influência do

comprometimento organizacional na satisfação no trabalho, a autora identificou junto a

docentes do curso de Administração de uma IES, que o componente afetivo do

comprometimento organizacional se relaciona com algumas dimensões da satisfação no

trabalho. Através de regressão múltipla, ela encontrou que o COA colabora para explicar

23% da satisfação com a chefia, em que ao passo que o professor se mantém na instituição

porque gosta dela, tende a ser mais satisfeito com a capacidade profissional de seu chefe,

além do entendimento e do relacionamento com a figura de comando.

O COA também ajuda a explicar a satisfação com promoções em 16,2%, ou seja, o

professor que se mantém ligado afetivamente à instituição tende a se sentir satisfeito com

as oportunidades de promoção e a forma como é realizada. Outra relação encontrada foi

68

entre o comprometimento organizacional afetivo e a satisfação com a natureza do trabalho,

em que o COA contribui para explicar 14,9% deste fator da satisfação. Nesse caso, o

docente que se sente ligado afetivamente ao seu local de trabalho, tem maior interesse

pelas suas atividades e pela variedade que elas apresentam, de modo que se sente satisfeito

pela capacidade de absorção destas tarefas.

Há ainda a influência do COA na satisfação com os colegas, o qual explica também

14,9% deste fator, ao passo que esse profissional que mantém uma relação afetiva com a

instituição tende a se sentir satisfeito com os colegas de trabalho a partir de uma relação de

amizade e cooperação. Uma ressalva a ser feita é que o estudo de Traldi (2009) considera a

satisfação no trabalho composta por cinco fatores, diferentemente da dimensionalidade

encontrada na presente pesquisa, a ser demonstrada mais adiante.

Diante de tais resultados, neste empreendimento feito por Traldi (2009), COA se

mostrou o melhor preditor do construto satisfação no trabalho tal como concebido por

Siqueira (2008). Esse construto colabora para explicar quatro dos cinco fatores de

satisfação no trabalho, a saber: satisfação com a chefia, satisfação com as promoções,

satisfação com a natureza do trabalho e satisfação com os colegas, ou seja, observa-se que

o COA contribui para explicar a ST. O único fator que COA não explica é a satisfação com

o salário. Desse modo, nota-se a partir do relato de Traldi (2009), uma forte interação entre

os construtos comprometimento organizacional afetivo e satisfação no trabalho, relação

que colabora para justificar a composição de bem-estar no trabalho proposta por Siqueira e

Padovam (2008).

Um estudo realizado por Traldi e Demo (2012) com docentes de uma universidade

pública apontou que comprometimento organizacional afetivo se vincula positivamente

com satisfação no trabalho, pois entendeu-se que quanto maior o comprometimento

organizacional afetivo, maior a satisfação no trabalho. Encontrou-se correlações

69

moderadas estatisticamente significativas e positivas entre COA e satisfação com colegas;

COA e satisfação com chefia; COA e satisfação com as promoções; COA e satisfação com

a natureza do trabalho.

Sendo assim, este tipo de comprometimento ultrapassa a simples lealdade passiva à

organização, perfazendo uma relação ativa onde o colaborador deseja dar algo de si a fim

de contribuir para sua satisfação no ambiente de trabalho. Logo, entende-se para este

estudo que quanto maior o compromisso afetivo do docente com a organização, ao gostar e

se identificar com ela, maior é a percepção de humores positivos no ambiente de trabalho e

satisfação nas várias dimensões que a constituem (Traldi & Demo, 2012).

Outro estudo observou a ligação entre os construtos COA, ST, ET e a intenção de

rotatividade, em que os três construtos se relacionam negativamente com a intenção em

deixar a organização. Explica ainda que, à medida que o funcionário está comprometido

com a empresa onde trabalha, tende a estar satisfeito com o trabalho e a demonstrar baixa

intenção de rotatividade. Assim, ao constatar que esses construtos psicológicos ajudam a

entender a ideia que a intenção em deixar a organização quer transmitir, pode-se entender a

forte relação existente entre esses fenômenos (Ferreira & Siqueira, 2005).

Deve-se ressaltar que poucos estudos relacionavam essas variáveis entre si e os que

foram encontrados e aqui relatados referem-se a um grupo seleto de pesquisadores, que

convergem tanto em relação a conteúdo investigado quanto a modos de análise. Por outro

lado, torna-se curiosa a alta incidência de estudos que assumem que o construto bem-estar

no trabalho é composto teoricamente por COA, ST e ET, mesmo sem publicação de

comprovação estatística. A forma mais comum encontrada na literatura para mensurar esse

construto era através do uso das escalas validadas para cada um dos construtos que

Siqueira e Padovam (2008) disseram compor este fenômeno.

70

Num estudo empreendido por Ferreira e Siqueira (2005), elas buscaram averiguar a

intenção de rotatividade e hipotetizaram que teria como antecedentes diretos o

comprometimento organizacional afetivo e a satisfação no trabalho e, como indireto, a

percepção de justiça de remuneração. Participaram do estudo 81 profissionais de

indústrias, sendo 75% deles homens e 53,2% dos respondentes casados e obteve-se que a

intenção de deixar a organização estabelece uma relação inversa significativa com COA e

ST. À medida que o funcionário está satisfeito com a empresa em que trabalha e

comprometido com a mesma, tende a reduzir sua intenção em sair da empresa e assim,

permanecer na organização.

Outro dado interessante nesse estudo é que COA apresentou uma relação significativa

e positiva com satisfação no trabalho e com percepção de justiça de remuneração. Tais

resultados permitem entender que há uma linha de raciocínio que aproxima COA e ST,

razão pela qual essas variáveis respaldam a composição do construto BET.

Vários trabalhos trazem essa concepção tridimensional de BET, inclusive teses e

dissertações. Um exemplo de estudo que assumiu essa composição de BET constituído por

COA, ST e ET pode ser visto em Alves, Neves, Coleta e Oliveira (2012). Neste, as autoras

investigaram o nível de bem-estar no trabalho entre profissionais de enfermagem de um

hospital universitário, considerando tais construtos como integrantes de BET.

Elas encontraram que o nível de satisfação com os colegas e de satisfação com a

natureza da tarefa foi indiferente, ou seja, situou-se no ponto médio da escala; esses

profissionais de enfermagem estão levemente satisfeitos com a chefia e levemente

insatisfeitos com o salário e as promoções. O ET mostrou-se no ponto médio e a média

obtida para COA indicou frágil compromisso afetivo com a organização. Diante dos dados,

as autoras apontaram que tais construtos evidenciariam bem-estar entre os trabalhadores de

enfermagem do hospital em estudo.

71

Pereira e Gomide Jr (s/d) também escreveram sobre o bem-estar dos trabalhadores, ao

testar o impacto exercido nele pelas variáveis: comportamentos éticos organizacionais,

saúde organizacional, justiça no trabalho e confiança do empregado na organização. O

estudo foi realizado com 97 trabalhadores de uma empresa privada mineira, usando escalas

para cada uma das variáveis, no sentido de verificar aquelas que explicam as variáveis

componentes de bem-estar dos trabalhadores.

Os autores encontraram que o fator promoção do crescimento do empregado

proveniente do construto confiança do empregado na organização explica 62% de ST, 56%

de COA e 26% de ET. A justiça distributiva fornece suporte a 9% de ST e 6% de COA. E,

por fim, a orientação para o cliente, integrante dos comportamentos éticos organizacionais,

justifica 6% para ET e 3% para ST. Além destas variáveis, justiça interacional, advinda do

construto justiça organizacional, esclareceu 2% de ST e normas relativas à demissão de

empregados, também componente da confiança do empregado na organização, respaldou

1% de ST.

Diante do exposto, nota-se a forte relação entre os construtos, tanto que as construções

teóricas estabelecem sentido com a realidade e conseguem explicá-las. Outro dado que

contribui para entender a relação entre as variáveis para essa configuração de BET está na

aproximação entre satisfação no trabalho e saúde (Assmar & Ferreira, 2004), bem como

saúde e bem-estar no trabalho (Pereira & Gomide Jr., s/d), além da influência destes

construtos na vivência da felicidade, considerada tanto pelo viés hedônico quanto

eudaimônico, conforme apontado anteriormente. Abaixo segue o modelo teórico para

representar a ideia do construto.

72

Figura 1. Estrutura para o modelo teórico de BET

ST COA ET

BET

73

CAPÍTULO II

_____________________________________________

2 MÉTODO DOS ESTUDOS EMPÍRICOS

Bem-estar no trabalho constitui uma variável do comportamento organizacional

ilustrativa do nível micro organizacional de análise. Considerando o objetivo deste trabalho

de testar empiricamente um modelo teórico desenvolvido para o construto bem-estar no

trabalho, em face de este construto ser identificado por três componentes (satisfação no

trabalho, envolvimento com o trabalho e comprometimento organizacional afetivo), esta

dissertação caracteriza-se por um estudo de validade de natureza quantitativa. Para atingir

o objetivo proposto, foram realizados dois estudos empíricos, ambos com delineamento

transversal tipo survey. Segue a descrição dos estudos empreendidos, assim como seu

desenho metodológico.

2.1 Estudo 1: Propriedades psicométricas das escalas: análises exploratórias

O bem-estar no trabalho é entendido por Siqueira e Padovam (2008) como um

construto multidimensional a ser considerado mediante os vínculos afetivos positivos que o

trabalhador mantém com o trabalho e com a organização. Apesar de esse construto ter

diversas abordagens na literatura, essas autoras entendem BET pela percepção de

satisfação no trabalho, envolvimento com o trabalho e comprometimento organizacional

afetivo, ainda que este modelo teórico nunca tenha recebido provas empíricas de sua

existência.

74

Diante dessa ausência de comprovação, esta dissertação insere-se nesta lacuna da

literatura com a finalidade de agregar conhecimento e provas fundamentadas para uma

teoria recorrentemente usada na investigação do bem-estar no trabalho. Este trabalho

tomou como base os construtos que supõem-se compor BET: COA, ET e ST. Para isso, foi

realizada revisão bibliográfica a fim de descrever as definições, as dimensões e as medidas

de cada construto. Contudo, as medidas propostas por Siqueira (1995) para tais construtos

foram validadas há aproximadamente 20 anos, tempo que ultrapassa o limite aceitável para

garantir a validade, a fidedignidade e a precisão de testes e instrumentos psicológicos,

conforme disposto no Artigo 14, da Resolução nº 002/20031.

Sendo assim, o objetivo deste primeiro estudo impõe investigar as propriedades

psicométricas das medidas Escala de Comprometimento Organizacional Afetivo (ECOA),

Escala de Satisfação no Trabalho (EST) e Escala de Envolvimento com o Trabalho (EET).

De acordo com recomendações para a utilização de medidas e testes psicológicos, antes de

lançar mão dos conceitos comprometimento afetivo, satisfação e envolvimento com o

trabalho como sinalizadores de bem-estar no trabalho, é imperioso verificar se a teorização

e provas empíricas acerca da estrutura fatorial gerada pelas medidas concebidas para cada

construto há duas décadas sofreu perda de validade e/ou confiabilidade com a passagem

deste intervalo de tempo.

2.1.1 Método

1 Disponível em: http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2003/03/resolucao2003_02_Anexo.pdf.

75

2.1.1.1 Local, População e Amostra

O local de referência para esse estudo foi a cidade de João Pessoa, capital do Estado

da Paraíba. A população investigada neste estudo constou de trabalhadores com vínculo

empregatício. A amostra foi contemplada virtual e presencialmente. O ambiente virtual

consistiu em um questionário online hospedado num site e a amostra presencial consistiu

em abordagem mista, feita com cidadãos trabalhadores, abordados em seu local de

trabalho, quais sejam funcionários de estabelecimentos comerciais ou servidores de uma

universidade pública na cidade de João Pessoa/PB.

A quantidade mínima de respondentes necessária para essa primeira etapa foi

estipulada pelo critério de 10 respondentes por item, ao considerar a escala com maior

quantidade de itens. Assim, seria necessário um mínimo de 150 sujeitos, acrescidos de

10% desse total, perfazendo 165 questionários respondidos, equivalente às perdas

decorrentes de possível preenchimento incompleto do instrumento (Pasquali, 1999). Os

critérios de inclusão na amostra foram ter idade acima de 18 anos e ter ou ter tido

experiências de trabalho, com exceção de trabalhadores autônomos.

A amostragem foi não-probabilística por conveniência, ou seja, tipo de amostragem

organizada sem cálculo amostral ou seleção randômica de participantes. Nesse ínterim,

foram coletados 274 questionários, entre presenciais e online, com uma amostra formada

por pessoas que aceitaram participar do estudo voluntariamente. Desse total, 15 foram

descartados em virtude de os respondentes terem deixado pelo menos uma das escalas em

branco.

76

2.1.1.2 Instrumentos

Para esse estudo foi elaborado questionário autoaplicável em versões impressa e

virtual, composto por três escalas (Apêndice A):

Escala de Comprometimento Organizacional Afetivo (ECOA): construída e

validada por Siqueira (1995).

Esta escala busca mensurar a intensidade de sentimentos positivos e negativos que o

funcionário nutre em relação à organização em que trabalha. A versão reduzida e

unifatorial contém 5 itens, a escala de respostas varia de ‘nada’ (1) a ‘extremamente’ (5) e

o índice de precisão da escala na sua forma reduzida é 0,93 (Siqueira, 2008). O escore total

da escala é obtido através da soma dos valores atribuídos a cada item dividido pelo número

de itens da escala, onde quanto maior o escore obtido, mais forte é o compromisso afetivo

com a organização.

Escala de Satisfação no Trabalho (EST): construída e validada por Siqueira (1995).

Objetiva mensurar o nível de contentamento do trabalhador quanto a cinco dimensões

de seu trabalho. Foi utilizada a versão reduzida e multidimensional com cinco fatores,

constituídos por 3 itens cada um: satisfação com colegas de trabalho (α=0,81), satisfação

com o salário (α=0,90), satisfação com a chefia (α=0,84), satisfação com a natureza do

trabalho (α =0,77) e satisfação com promoções (α=0,81) (Siqueira, 2008). As respostas

podem ser dadas em escala Likert de 7 pontos, que varia entre ‘totalmente insatisfeito’ (1)

e ‘totalmente satisfeito’ (7). A escala é avaliada pela média aritmética em cada fator, em

que quanto maior o valor obtido, maior será a satisfação dos respondentes no fator

observado.

Escala de Envolvimento com o Trabalho (EET): elaborada a partir da escala de

Lodahl e Kejner (1965) e validada no Brasil por Siqueira (1995).

77

Esta escala pretende avaliar o grau de envolvimento do sujeito com seu trabalho, à

medida que o trabalho executado é importante para o trabalhador, consegue satisfazê-lo e

absorvê-lo no momento de execução de suas tarefas. A versão reduzida e unifatorial desta

escala apresenta 5 itens e as respostas podem ser dadas em escala Likert de 7 pontos,

variando entre ‘discordo totalmente’ (1) e ‘concordo totalmente’ (7), com α=0,78

(Siqueira, 2008). A apuração da escala deve ser feita ao somar os valores atribuídos aos

itens e dividir pela quantidade de itens desta, ao passo que quanto maior o valor obtido,

mais forte o grau de envolvimento com o trabalho.

Questões Sociodemográficas e funcionais para caracterização da amostra.

As perguntas relativas ao perfil sociodemográfico referiram-se a sexo

(masculino/feminino), idade (anos) e estado civil (solteiro, casado, viúvo, separado). Já a

contextualização laboral foi obtida pelo tempo em que trabalha na empresa (mensurado em

anos, com uma alternativa objetiva para o caso de ter menos de um ano) e pelo salário

atual. Adicionado a isso, buscou saber se o participante já tinha recebido aumento salarial,

o cargo ocupado e se já houve mudança do posto de trabalho desde a entrada na

organização, o tipo de empresa em que trabalha (pública/ privada), o setor econômico em

que a organização se encaixa (indústria ou comércio e serviços), além de questionar sobre

o porte da empresa, mensurado a partir da quantidade de funcionários existentes na

organização, com as categorias: até 9 funcionários, de 10 a 19 funcionários, de 20 a 49

funcionários, de 50 a 99 funcionários, de 100 a 499 funcionários, 500 funcionários ou mais

e não sei.

Estas categorias se basearam numa classificação empreendida pelo Sebrae2, o qual

identifica para o setor industrial as classificações: micro (até 19 funcionários), pequena (de

20 a 99 funcionários), média (de 100 a 499 funcionários) e grande (mais de 500

2 Disponível em http://www.sebrae-sc.com.br/leis/default.asp?vcdtexto=4154. Acessado em 18/09/2012.

78

funcionários). Já o setor de comércio e serviços obedece ao ranking: micro (até 09

funcionários), pequena (de 10 a 49 funcionários), média (de 50 a 99 funcionários) e grande

(mais de 100 funcionários).

2.1.1.3 Procedimento

Foi elaborado um questionário online, o qual poderia ser acessado através do link:

http://www.vvgouveia.net/limesurvey/index.php?sid=79789&lang=pt-BR.² Os possíveis

respondentes foram sensibilizados tanto virtual quanto presencialmente. Via internet, os

sujeitos foram contatados por conveniência através de redes sociais e de emails, sendo

informados acerca do objetivo, das instruções necessárias ao preenchimento, das condições

de inclusão na amostra e do endereço eletrônico do questionário para a pesquisa, bem

como a solicitação de reenvio aos contatos do respondente, numa tentativa de ampliar a

população mobilizada.

A coleta via internet ocorreu de outubro a dezembro de 2012, e foi empreendida na

expectativa de agilizar a abordagem aos participantes, uma vez que esta modalidade

demanda menos inserções em ambientes organizacionais, evita gastos com condução e

impressões gráficas e despende menos tempo com deslocamentos e pedidos de autorização

ao gestor responsável pela organização, já que o público alvo eram trabalhadores. Na

forma presencial, os respondentes foram abordados no seu local de trabalho e recebiam as

mesmas orientações quanto ao objetivo da pesquisa e critério de inclusão na amostra.

Para o prosseguimento na pesquisa, era necessária a adesão ao Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Anexo I), momento em que eram ressaltados

o anonimato dos participantes e da empresa e o sigilo dos dados, exclusivamente tomados

em conjunto e voltados para publicações acadêmicas, e eram fornecidas as instruções

79

necessárias ao preenchimento do questionário, mediante a autorização de seu superior

hierárquico do local de trabalho. Quando necessário, o questionário era deixado com o

respondente em potencial para que fosse respondido num momento mais tranquilo, e

resgatado numa ocasião posterior pela pesquisadora, ou assim que os trabalhadores o

respondessem.

2.1.1.4 Análise dos dados

Os dados foram organizados e analisados no programa estatístico PASW Statistics 18,

onde foram feitas análises descritivas e inferenciais. Foram ainda inspecionados quanto a

erros de digitação, dados faltosos e casos extremos, de maneira a preparar o banco de

dados para análises multivariadas. Os itens com respostas ausentes foram preenchidos pela

média aritmética da variável, quando a ausência de respostas não ultrapassavam 5% do

tamanho total da amostra. Procedeu-se a análises de componentes principais para cada

escala, a verificação da fatorabilidade da matriz de correlações dos itens das escalas por

meio do índice Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e do teste de esfericidade de Bartlet, e o

cálculo da consistência interna dos fatores, no intuito de averiguar se os fatores

preconizados há quase vinte anos ainda perduram.

Para a Escala de Comprometimento Organizacional Afetivo, realizou-se análise

fatorial exploratória por meio de extração dos componentes principais, rotação oblíqua,

critério de eingenvalue ≥ 1 para retenção de fator e de carga fatorial acima de 0,40. Esta

solução fatorial segue em parte as mesmas prerrogativas usadas por Siqueira (1995)

quando do primeiro estudo de validade da escala, pois também utiliza a análise de

componentes principais e a rotação oblíqua.

80

No que se refere à Escala de Satisfação no Trabalho, realizou-se análise fatorial

exploratória por meio de extração dos componentes principais, rotação oblíqua, critério de

eingenvalue ≥ 1 para retenção do fator e de carga fatorial acima de 0,40. Esta solução

fatorial segue parcialmente as prerrogativas usadas por Siqueira (2008) à época do

primeiro estudo de validade da escala, posto que além da rotação oblíqua, a referida autora

também utilizou a rotação ortogonal.

Outra técnica implementada para investigar a estrutura interna do construto Satisfação

no Trabalho e auxiliar na tomada de decisão quanto ao número de fatores a serem retidos

foi a Análise Paralela (critério de Horn (1965)). Após esta etapa, foram calculados os

coeficientes de consistência interna (Alfa de Cronbach) para cada dimensão da escala.

Quanto à Escala de Envolvimento com o Trabalho, realizou-se análise fatorial

exploratória mediante extração dos componentes principais, rotação oblíqua, critério de

eingenvalue ≥ 1 para retenção do fator e de carga fatorial acima de 0,40. Esta solução

fatorial segue as mesmas prerrogativas usadas por Siqueira (2008) quando do primeiro

estudo de validade da escala.

Os dados sociodemográficos e ocupacionais dispostos em variáveis categóricas (sexo,

estado civil, concretização de aumento salarial, mudança de cargo, quantidade de

funcionários na empresa) tiveram sua frequência analisada. Para as variáveis contínuas

(idade, tempo de trabalho na empresa, salário atual, fatores dos instrumentos) foram

calculadas médias e desvio-padrão. Em relação ao cargo ocupado, as respostas foram

categorizadas (atividades educacionais, atividades administrativas, atividades de gestão,

atividades de saúde e atividades operacionais) e a distribuição da frequência foi calculada.

81

2.2 Estudo 2: Análise Confirmatória da estrutura interna das escalas e Teste do

Modelo Explicativo para Bem-estar no Trabalho

De acordo com a fundamentação teórica abordada sobre bem-estar no trabalho, a

perspectiva teórica de que o bem-estar de trabalhadores seria adequadamente representado

por avaliações dos aspectos comprometimento organizacional afetivo, satisfação no

trabalho e envolvimento com o trabalho ainda não recebeu nenhuma comprovação

empírica, encontrando-se na literatura apenas pesquisas correlacionais. Este estudo

pretendeu contribuir para o entendimento empírico do fenômeno bem-estar no trabalho no

sentido de testar este modelo teórico.

Ainda que existam dados de pesquisa que sustentem a validade dos instrumentos

utilizados para investigar tais aspectos separadamente (ECOA; EST e EET), a reunião

destes aspectos em um único construto de segunda ordem intitulado bem-estar no trabalho

nunca foi corroborada.

Assim, para sanar esta lacuna teórica, o segundo estudo propôs dois objetivos

específicos:

a) verificar se as estruturas apontadas pelas análises fatoriais exploratórias

empreendidas para comprometimento organizacional afetivo, satisfação no trabalho e

envolvimento com o trabalho se confirmam, através de um estudo com nova amostra;

b) testar o modelo teórico de bem-estar no trabalho como fenômeno determinado por

comprometimento organizacional afetivo, satisfação no trabalho e envolvimento com o

trabalho.

2.2.1 Método

82

2.2.1.1 Local, População e Amostra

A população investigada neste estudo constou de trabalhadores com vínculo

empregatício. Os respondentes foram contatados através de e-mail e de redes sociais no

período de dezembro de 2012 a fevereiro de 2013. A quantidade mínima de respondentes

estipulada foi 200, a partir do critério de 10 respondentes por item da maior escala, além de

Byrne (2008), entre outros autores, defender assa quantidade de respondentes quanto à

realização de análises fatoriais confirmatórias, de maneira a garantir o atendimento de

parâmetros quantitativos necessários para tal análise.

A quantidade de respostas alcançada, inicialmente, foi de 223 respondentes. Destes,

alguns questionários foram excluídos da amostra em virtude da ausência de algumas

respostas nas escalas, perfazendo um total de 206 sujeitos após as exclusões. Foram

priorizados como critérios de inclusão trabalhadores maiores de idade e com vínculo

empregatício, excetuando autônomos, empresários e estagiários. A coleta de dados foi não-

probabilística, numa amostra por conveniência.

2.2.1.2 Instrumentos

Os instrumentos foram os mesmos utilizados e descritos no estudo anterior, inseridos

num questionário autoaplicável virtual, quais sejam, Escala de Comprometimento

Organizacional Afetivo (ECOA), Escala de Satisfação no Trabalho (EST) e Escala de

Envolvimento no Trabalho (EET).

83

2.2.1.3 Procedimento

Um questionário online foi elaborado com os instrumentos supracitados para que os

prováveis respondentes pudessem acessá-lo através de um link. Esses sujeitos foram

convidados virtualmente, contatados pela internet através de redes sociais e de e-mails,

sendo informados sobre objetivo, instruções de preenchimento, condições de inclusão na

amostra e endereço eletrônico do questionário (http://marleymelo.limeask.com/76549/lang-

pt-BR) para a coleta da pesquisa, além da solicitação de reenvio aos contatos do

respondente, a fim de ampliar a população participante. Para o prosseguimento na pesquisa

era necessária a adesão ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Anexo

2), obtido ao passo que o sujeito concordava em participar da pesquisa e avançava as

etapas disponibilizadas.

2.2.1.4 Análise dos dados

Por meio do programa estatístico PASW (versão 18) foram utilizadas estatísticas

descritivas (medidas de tendência central, dispersão e frequência). Os dados dessa amostra

também foram inspecionados quanto a erros de digitação, dados faltosos e casos extremos,

de maneira a preparar o banco de dados para análises multivariadas. Os itens com respostas

ausentes até o limite de 5% do total de participantes foram preenchidos pela média

aritmética da variável. Utilizou-se também o programa Analysis of Moment Structures

(Amos) (versão 18) para a análise fatorial confirmatória das escalas ECOA, EST e EET e

para a Equação por Modelagem Estrutural. Foram considerados os seguintes indicadores

de ajuste (Byrne, 2010; Tabachnick & Fidel, 2007):

84

Qui-Quadrado (X²): Averigua a possibilidade de o modelo teórico se ajustar aos

dados, em que quanto menor, melhor o ajuste, pois será estatisticamente significativo com

a discrepância entre os dados e o modelo analisado. Por ser sensível ao tamanho da

amostra (n > 200 pode favorecer descartar um modelo adequado), deve-se interpretá-lo

com alguma reserva, valendo-se de sua razão em relação aos graus de liberdade (χ²/g.l.). A

razão do qui-quadrado em função dos graus de liberdade (χ²/g.l.) colabora para a avaliação

do modelo, uma vez que ajusta o valor do teste proporcionalmente ao número de

parâmetros existentes, sendo bons valores abaixo de 5 e excelentes ajustes entre 1 e 3.

Contudo, a prática sugere que poderá padecer de viés quando a amostra for superior a

1.000 participantes.

Índice de Bondade do Ajuste (Goodness of Fit Index - GFI): Este indicador, como

sua versão ponderada (Adjusted Goodness of Fit Index - AGFI), funciona como a

estatística R² na análise de regressão. O GFI explicita o quanto o modelo teórico pode ser

explicado pela extensão da matriz de variância e covariância, a partir do modelo testado, e

não depende do tamanho da amostra. Os valores transitam de 0 (ajuste nulo) a 1 (ajuste

perfeito), sendo ideais valores próximos ou superiores a 0,90, em que o modelo se ajusta

aos dados.

Índice de Comparação do Ajuste (Comparative Fit Index - CFI): Compreende um

indicador comparativo adicional de ajuste do modelo. Compara o ajuste do modelo ao

ajuste do modelo nulo, com valores mais adequados próximos ou maiores que 0,90.

Raiz Quadrada da Média dos Quadrados dos Erros de Aproximação (Root Mean

Square Error of Aproximation - RMSEA): calcula a divergência entre o modelo teórico e

os dados empíricos disponíveis, de modo a identificar o tamanho do erro entre as matrizes

amostral e populacional. Valores altos são indicativos de um modelo não ajustado.

85

Recomenda-se valores próximos ou inferiores a 0,05, variando entre 0 e 0,08 como escores

aceitáveis.

Desse modo, a partir da Análise Fatorial Confirmatória realizada para cada construto

(COA, ST, ET), e da Modelagem por Equação Estrutural realizada para testar o modelo

teórico de BET, são destacados os indicadores de ajuste utilizados como parâmetros para a

análise dos dados. A entrada da matriz de variância-covariância adotou o estimador ML

(Maximum Likelihood), o qual a partir da maximização das probabilidades obtidas na

matriz de covariância amostral estipula parâmetros que a aproximam da matriz de

covariância populacional (Byrne, 2010).

86

CAPÍTULO III

_____________________________________________

3 DESCRIÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Nesta seção serão descritos a caracterização das amostras de cada estudo e os dados

obtidos nas análises realizadas, obedecendo à ordem descrita no método, qual seja: análises

de componentes principais dos construtos comprometimento organizacional afetivo,

satisfação no trabalho e envolvimento no trabalho, seguidas de suas respectivas discussões.

Posteriormente, serão descritos os dados obtidos no estudo 2, subdivididos em tópicos:

análise fatorial confirmatória realizada para cada construto citado e o teste do modelo

explicativo de BET por meio da modelagem por equação estrutural, discutidos à luz da

bibliografia pertinente.

3.1 Estudo 1

3.1.1 Caracterização da amostra

Considerando os questionários válidos, participaram dessa etapa 259 respondentes de

setores diversos, com idade média de 32,34 anos (DP=9,57), divididos entre solteiros

(61,2%) e casados (30,6%), sendo preponderante o sexo feminino (73,7%). Algumas das

características organizacionais dispostas no questionário estão contidas numa classificação

proposta pelo Sebrae3, conforme especificado abaixo.

3 Disponível em http://www.sebrae-sc.com.br/leis/default.asp?vcdtexto=4154. Acessado em 18/09/2012.

87

Quanto ao setor em que trabalha, a maioria dos profissionais está alocada no setor de

comércio e serviços (91,2%), na esfera privada (52,6%) e em organizações de grande porte

(25,5%). Quanto ao cargo em que trabalha, foi feita uma categorização diante das variadas

respostas obtidas. Para isso, as categorias dos cargos foram organizadas de acordo com o

ramo de atividade desempenhada, distribuídos em: atividades educacionais, atividades

administrativas, atividades de gestão, atividades de saúde e atividades operacionais. A

maioria realiza atividades operacionais (32%), seguidos daqueles que executam atividades

administrativas (27,2%), com média de tempo na empresa de 7,2 anos (DP=8,54) e média

de salário de R$ 2.325,18 (DP=2.362,06). Em relação a ter mudado de cargo na empresa,

70,4% afirmaram não ter mudado, embora 64,5% tenham informado já ter recebido

aumento salarial desde que entraram na empresa.

3.1.2 Resultados

Inicialmente, análises de componentes principais foram rodadas para os três construtos

descritos. A medida de adequação da amostra para o comprometimento organizacional

afetivo pelo teste de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) foi bastante aceitável (KMO=0,88) e o

teste de esfericidade de Bartlet igual a 1147,57 (p<0,001; gl=10) foi significativo, dados

que indicam boa adequação da amostra para realização da análise fatorial. A solução inicial

demonstrou a retenção de um único fator, com autovalor de 4,02 explicando 80,43% da

variância dos dados, com cargas fatoriais expressivas entre 0,859 e 0,933, conforme Tabela

1.

88

Tabela 1. Estrutura Fatorial da Escala de Comprometimento Organizacional Afetivo

Itens Cargas fatoriais

3. A empresa onde trabalho faz me sentir entusiasmado com ela 0,933

5. A empresa onde trabalho faz me sentir animado com ela 0,916

2. A empresa onde trabalho faz me sentir contente com ela 0,893

4. A empresa onde trabalho faz me sentir interessado por ela 0,882

1. A empresa onde trabalho faz me sentir orgulhoso dela 0,859

Quantidade de itens 5

Variância explicada (%) 80,43

Alpha de Cronbach 0,939

Quanto à constituição fatorial da ECOA, os resultados obtidos demonstram que esta

variável não sofreu alterações na sua constituição desde sua primeira validação há quase

vinte anos. No tocante aos dados descritivos, o escore médio para o comprometimento

organizacional afetivo foi 3,16 (DP=1,0).

A pontuação da amostra em comprometimento organizacional afetivo situa-se no

ponto médio da escala, conduzindo à inferência de que os respondentes não se sentem nem

totalmente comprometidos nem totalmente descomprometidos com a organização em que

trabalham. Ao realizar teste t, esta variável mostrou relação significativa com o tipo de

empresa [t(251) =-2,949; p=0,003], em que aqueles que trabalham em empresa privada

(M=3,32; DP=1,0) se mostraram mais comprometidos afetivamente que os trabalhadores

de empresa pública (M=2,96; DP=0,96).

No Brasil, a estabilidade conferida pelo serviço público pode explicar esse dado, pois

quando se torna servidor público, o trabalhador geralmente reluta para não pedir

exoneração, mesmo que não goste do trabalho que executa, uma vez que a estabilidade

permitida pelo emprego público elimina uma série de incertezas, principalmente

financeiras, no tocante ao planejamento da vida. Por outro lado, ao pleitear uma vaga de

cargo público através de certame, o candidato já tem noção de quais atividades irá executar

no local de trabalho. Os funcionários de empresa privada, de outro modo, uma vez

89

descontentes com o emprego, também podem pedir demissão ou se comportar de modo a

alcançar esse intento, o que leva a inferir que quem permanece em empresa privada pode

se sentir mais comprometido afetivamente.

No teste de Anova, COA se diferenciou significativamente em função da quantidade

de funcionários [F(6)=2,549; p=0,02] principalmente na categoria “até 9 funcionários”

(M=3,48, DP=1,04), a qual obteve maior média, em relação às categorias: “de 100 a 499

funcionários” (M=3,26; DP=0,90), “a partir de 500 funcionários” (M=3,20; DP=0,86), “de

10 a 19 funcionários” (M=2,90; DP=1,10), “de 20 a 49 funcionários” (M=2,79; DP=0,73) e

“de 50 a 99 funcionários” (M=2,74; DP=1,14). Desse modo, apreende-se que os

funcionários se mostram mais comprometidos afetivamente com a organização à medida

que esta é menor ou apresenta menos trabalhadores. Em empresas pequenas, as relações

estabelecidas entre lideranças e subordinados tendem a ser mais próximas em função da

menor hierarquização da estrutura. Se estes contatos forem caracterizados por

demonstrações de apoio e colaboração por parte das gerências, há grande chance de que os

trabalhadores desenvolvam respostas afetivas positivas para com a organização.

No que se refere à variável satisfação no trabalho, foi calculada a medida de

adequação da amostra, no intuito de verificar se os dados sinalizam a viabilidade de

executar análises estatísticas que dependem da matriz de correlações. Obteve-se, portanto,

KMO=0,875 e teste de esfericidade de Bartlet significativo [X² (105) = 2155,08; p<0,001],

os quais autorizam a realização de análises estatísticas fatoriais.

Realizou-se a extração de componentes principais, a fim de identificar quantos e quais

fatores comporiam esse construto, com vistas a alcançar a solução mais parcimoniosa.

Sendo assim, a solução inicial apontou a possibilidade de extrair até quatro fatores com

autovalor maior que 1 (6,68; 1,81; 1,38; 1,11), com variância explicada total de 73,2%. O

gráfico scree plot (critério de Cattel) apresentou mais de 4 pontos de inflexão, sugerindo 4

90

fatores e corroborando a informação baseada no critério de Kaiser (autovalor superior ou

igual a 1).

A solução inicial e a análise paralela foram calculadas e, após análise dos dados, a

extração de componentes principais com rotação oblíqua e carga fatorial igual a 0,40

apresentou um melhor resultado, com índice de confiabilidade da escala de 0,909, além dos

itens apresentarem a saturação das cargas fatoriais em fatores únicos, sendo que as cargas

oscilaram entre 0,477 e 0,911.

As rotações se referem às interações que são provocadas entre os itens na matriz de

correlações da escala, a fim de identificar respostas semelhantes que possam apontar a

existência de fatores. Portanto, esses dados demonstram que diante das interações

encontradas entre os itens, a rotação oblíqua, não-ortogonal, foi aquela que agrupou os

itens de uma forma mais lógica e coerente com a ideia a que se propõe o construto e a

mensuração deste. Além disso, as correlações entre os fatores resultantes foram superiores

a 0,40.

No entanto, é preciso fazer uma comparação entre o modelo disponível na literatura

com uma distribuição equitativa de 15 itens em 5 fatores e o modelo extraído nesse estudo

(15 itens em 4 fatores). É interessante expor a estrutura original do construto satisfação no

trabalho (Siqueira, 2008), anterior a esse estudo, com seus respectivos itens, descritos na

tabela 2, onde os fatores são: satisfação com colegas de trabalho (1), satisfação com o

salário (2), satisfação com a chefia (3), satisfação com a natureza do trabalho (4) e

satisfação com promoções (5).

91

Tabela 2. Distribuição dos itens da EST em cinco fatores.

Itens Fatores

1 2 3 4 5

9. No meu trabalho atual sinto-me com as oportunidades de ser promovido nessa empresa X

2. No meu trabalho atual sinto-me com o número de vezes que já fui promovido nessa empresa X

7. No meu trabalho atual sinto-me com a maneira como esta empresa realiza promoções X

5. No meu trabalho atual sinto-me com o grau de interesse que minhas tarefas me despertam X

8. No meu trabalho atual sinto-me com a capacidade de meu trabalho absorver-me X

13. No meu trabalho atual sinto-me com a variedade de tarefas que realizo X

12. No meu trabalho atual sinto-me com a maneira como meu chefe me trata X

10. No meu trabalho atual sinto-me com o entendimento entre meu chefe e eu X

15. No meu trabalho atual sinto-me com a capacidade profissional de meu chefe X

6. No meu trabalho atual sinto-me com o salário comparado a minha capacidade profissional X

3. No meu trabalho atual sinto-me com o meu salário comparado com o quanto eu trabalho X

11. No meu trabalho atual sinto-me com meu salário comparado aos meus esforços no trabalho X

14. No meu trabalho atual sinto-me com a confiança que eu posso ter em meus colegas de trabalho X

4. No meu trabalho atual sinto-me com o tipo de amizade que meus colegas demonstram por mim X

1. No meu trabalho atual sinto-me com o espírito de colaboração dos meus colegas de trabalho X

A decisão sobre a estrutura alcançada neste estudo considerou os critérios de Kaiser,

de Cattel e de Horn, assim como a interpretabilidade conceitual do agrupamento de itens.

Esta composição fatorial difere do formato preconizado por Siqueira (1995),

principalmente no que tange à distribuição dos itens em componentes.

É importante observar que o construto satisfação no trabalho é considerado

multidimensional na literatura. A estrutura do modelo para esse construto assumida por

quase 20 anos composta por cinco dimensões – satisfação com o salário, satisfação com a

chefia, satisfação com os colegas de trabalho, satisfação com as promoções contidas na

política organizacional e satisfação com a natureza das tarefas desempenhadas – não foi a

solução mais parcimoniosa encontrada neste estudo.

Contudo, os resultados obtidos neste estudo se diferenciam apenas parcialmente da

literatura, pois nota-se que as pessoas estão entendendo satisfação no trabalho sob outro

arranjo estrutural, embora com uma linha de raciocínio parecida. Além de que as

92

dimensões encontradas neste estudo em muito se assemelham, em termos semânticos, às

dimensões já preconizadas outrora por Siqueira (2008).

Diante dos fatos, a análise fatorial exploratória empreendida neste estudo obteve

excelentes indicadores psicométricos, todos dentro das estimativas recomendadas pela

literatura, quais sejam: KMO, teste de esfericidade de Bartlet, nível de variância explicada,

cargas fatoriais e alfas de Cronbach. Propomos, então, que satisfação no trabalho pode ser

avaliada a partir de quatro fatores, a saber: satisfação com a meritocracia e com conteúdos

do trabalho (1), satisfação com o salário (2), satisfação com colegas de trabalho (3) e

satisfação com a chefia (4).

O fator 1 se refere a quanto o trabalhador se sente satisfeito com o reconhecimento da

organização demonstrado através das oportunidades de promoção e pelas características

das tarefas inerentes ao seu trabalho. O fator 2 traduz o quanto o funcionário se sente

satisfeito com o salário que recebe pelas suas atribuições. O terceiro fator identifica a

satisfação que o sujeito sente frente ao relacionamento com seus colegas. O último fator

corresponde a quanto o empregado se sente satisfeito com o relacionamento entre ele e o

chefe e com a capacidade profissional que seu chefe demonstra. A distribuição dos itens

nos fatores pode ser observada abaixo, com a respectiva carga fatorial (Tabela 3).

93

Tabela 3. Estrutura Fatorial da Escala de Satisfação no Trabalho

Itens Cargas Fatoriais

1 2 3 4

9. No meu trabalho atual sinto-me com as oportunidades de ser promovido nessa

empresa

0,784 -0,138

2. No meu trabalho atual sinto-me com o número de vezes que já fui promovido nessa

empresa

0,748 -0,170

5. No meu trabalho atual sinto-me com o grau de interesse que minhas tarefas me

despertam

0,647 0,263 0,167 -0,210

7. No meu trabalho atual sinto-me com a maneira como esta empresa realiza

promoções

0,641 -0,314 0,133

8. No meu trabalho atual sinto-me com a capacidade de meu trabalho absorver-me 0,625 -0,246

13. No meu trabalho atual sinto-me com a variedade de tarefas que realizo 0,477 0,146 -0,461

3. No meu trabalho atual sinto-me com o meu salário comparado com o quanto eu

trabalho -0,876

11. No meu trabalho atual sinto-me com meu salário comparado aos meus esforços no

trabalho -0,828 -0,183

6. No meu trabalho atual sinto-me com o salário comparado a minha capacidade

profissional

0,180 -0,783

14. No meu trabalho atual sinto-me com a confiança que eu posso ter em meus

colegas de trabalho 0,896

4. No meu trabalho atual sinto-me com o tipo de amizade que meus colegas

demonstram por mim 0,890

1. No meu trabalho atual sinto-me com o espírito de colaboração dos meus colegas de

trabalho -0,129 0,827

12. No meu trabalho atual sinto-me com a maneira como meu chefe me trata -0,103 -0,911

10. No meu trabalho atual sinto-me com o entendimento entre meu chefe e eu -0,893

15. No meu trabalho atual sinto-me com a capacidade profissional de meu chefe -0,217 0,161 -0,652

Quantidade de itens 6 3 3 3

Variância explicada (%) 44,51 12,06 9,22 7,41

Alpha de Cronbach 0,848 0,913 0,843 0,875

Esta nova perspectiva se diferencia da anterior, pois entende o construto de modo que

aglutina alguns itens e altera a configuração dos fatores do primeiro estudo de validação,

de acordo com os aspectos que se revelam importantes para os trabalhadores da amostra.

Ao comparar a estrutura deste estudo, de quatro dimensões, com a estrutura anterior, com

cinco fatores, verifica-se que houve a junção de duas dimensões (satisfação com a natureza

das tarefas desempenhadas e satisfação com as promoções contidas na política

94

organizacional) em uma única dimensão (satisfação com a meritocracia e com o conteúdo

do trabalho). Esta estrutura demonstra que a prioridade dos trabalhadores mudou ao longo

dos anos, uma vez que passaram a considerar a relação que estabelecem com os colegas de

trabalho, com a chefia, com o salário e com a meritocracia e os conteúdos do trabalho para

identificar o grau de satisfação que sentem em relação ao trabalho. Abaixo há uma tabela

(Tabela 4) que compara as estruturas fatoriais obtidas para o construto satisfação no

trabalho, quais sejam: a defendida por Siqueira (2008) e a encontrada neste estudo.

Tabela 4. Comparação das Estruturas Fatoriais da Escala de Satisfação no Trabalho.

Estrutura fatorial existente na literatura (Siqueira, 2008) Estrutura fatorial encontrada neste estudo

Satisfação com colegas de trabalho Satisfação com colegas de trabalho

Satisfação com o salário Satisfação com o salário

Satisfação com a chefia Satisfação com a chefia

Satisfação com a natureza do trabalho Satisfação com a meritocracia e

com conteúdos do trabalho Satisfação com promoções

Desse modo, houve uma sintetização da avaliação da satisfação com as promoções

desenvolvidas pela organização e da avaliação da satisfação com a natureza das tarefas

desempenhadas para os trabalhadores que participaram do estudo, sem, contudo, deixar de

considerá-las como importantes componentes da satisfação no trabalho. A análise das

respostas mostrou que para os respondentes não há diferenciação de fatores, ou seja, a

natureza das tarefas e as promoções estariam num mesmo campo semântico. Pode-se

entender, assim, que estes aspectos estabelecem uma relação de continuidade, em que o

tipo de tarefa executada leva a um estado de satisfação em realizá-la, de modo que tende a

desencadear uma promoção como consequência e, por conseguinte, gera nos trabalhadores

um sentimento de satisfação com as políticas de promoção das quais participam.

95

Outro ponto a ser destacado é que os fatores satisfação com o salário e satisfação com

a chefia apresentaram cargas fatoriais negativas. Esse dado informa que há uma sensação

de insatisfação apresentada pelos respondentes tanto em relação ao chefe, quanto no

tocante às questões salariais. Os trabalhadores sinalizaram que estão insatisfeitos acerca da

capacidade profissional do chefe, do entendimento entre eles e o chefe e da maneira como

o chefe os trata, o que leva a inferir que a relação hierárquica atrapalha na satisfação com o

trabalho.

Essa realidade é muito comum no contexto laboral brasileiro, pois se observa uma

grande variedade de chefes que fazem questão de diminuir a importância de seus

funcionários, que não se preocupam com os mesmos, que até mesmo dificultam a

realização do trabalho, além de fornecer informações insuficientes para o desempenho da

tarefa e, por conta disso, solicitar que o serviço seja refeito, dentre inúmeras situações.

Nesse âmbito, nota-se a importância de um processo seletivo alinhado às necessidades do

cargo, bem como a identificação da diferença entre um gestor e um líder, pois para ocupar

um cargo de gestão não é preciso apenas saber o conteúdo, mas também conduzir o corpo

de funcionários a realizar as tarefas de maneira produtiva e prazerosa, preferencialmente

exercendo a liderança participativa.

No tocante ao salário, essa insatisfação é bem conhecida dos brasileiros, pois a grande

maioria das pessoas tem seu pagamento baseado no salário mínimo estipulado pelo

governo federal. Porém, sabe-se que esse valor é insuficiente para suprir as necessidades

básicas dos trabalhadores, o que pode vir a gerar insatisfação. Outra questão a ser

considerada é o contexto socioeconômico em que estes respondentes estão inseridos. São

funcionários do setor de comércio e serviços, os quais geralmente recebem salário mínimo,

em empresas de grande porte e que executam atividades operacionais e administrativas.

96

No entanto, boa parte desses respondentes já recebeu aumento salarial desde que

começou a trabalhar na empresa a que se refere. Essa situação pode suscitar algumas

suspeitas: a primeira delas é que a pessoa recebe um salário razoável, mas que não supre

suas necessidades, sejam básicas ou secundárias. A segunda é que esses salários são tão

pequenos, que mesmo após uma promoção, essa quantia mensal ainda se mostra

insuficiente para pagar as contas, e essa insuficiência pode ser proveniente do tamanho da

família, por exemplo, porém não foi uma informação investigada nesse estudo.

Deve-se considerar o sexo nesse contexto, pois sabe-se que no Brasil a média de

salário das mulheres é menor proporcionalmente aos homens que ocupam o mesmo cargo.

Esses pontos ajudam a compreender os motivos que levam à insatisfação salarial,

consideradas as devidas ressalvas para evitar generalização de uma informação específica a

um grupo de trabalhadores num dado momento histórico.

Ainda no que diz respeito às análises descritivas dos fatores que compõem a satisfação

no trabalho, foram calculadas as médias e desvios padrão para cada um deles. Esses

valores podem ser conferidos na tabela abaixo (Tabela 5).

Tabela 5. Média e desvio-padrão dos fatores de satisfação no trabalho.

Satisfação com Meritocracia e com o

conteúdo do trabalho

Satisfação com

Salário

Satisfação com

Colegas

Satisfação com

Chefia

Média 3,80 3,65 4,64 4,75

Desvio-padrão 1,24 1,57 1,33 1,44

Considerando que a gradação de respostas da EST variava entre 1 e 7, em que quanto

maior a média, maior a satisfação no trabalho, nota-se que a média das respostas se

concentrou no ponto médio da escala, de modo que os respondentes nem se mostraram

totalmente satisfeitos nem totalmente insatisfeitos com seu trabalho. Esse dado deve ser

visto com reservas, por, no mínimo, três motivos. O primeiro deles é a omissão de

97

posicionamento crítico, talvez por medo de expressar seus pensamentos para não sofrer

retaliações no trabalho, uma vez que para a amostra presencial, o questionário foi deixado

no estabelecimento e, a depender do local onde fora guardado, poderia estar acessível ao

patrão e este se deparar com informações indesejadas, podendo inclusive incorrer em

demissões. Tal situação assusta qualquer trabalhador, diante do contexto socioeconômico

atual de dificuldade de colocação no mercado de trabalho, por conta das altas taxas de

desemprego.

Um segundo aspecto a ser considerado é a indiferença quanto à satisfação no trabalho,

provavelmente sentida por trabalhadores que não sentem prazer ou desprazer em trabalhar.

Apenas trabalham. Cumprem horários e executam tarefas, quase mecanicamente,

funcionando como máquinas que operam, que são ligadas ao despertar e desligadas para

repouso. Outra possível explicação seria a desejabilidade social, de forma que os

trabalhadores expressaram aquilo que eles achavam que seria ‘certo’ ou ‘esperado’, em

detrimento da sua real opinião para a situação dada.

No que diz respeito às medias obtidas para os fatores satisfação com o salário e

satisfação com a meritocracia e com os conteúdos do trabalho tiveram médias praticamente

no ponto médio da escala (3,80 e 3,65, respectivamente). Situação parecida ocorreu com as

dimensões satisfação com colegas e satisfação com a chefia, mas as médias destas

mostraram uma leve satisfação (4,64 e 4,75, respectivamente). Todavia, as cargas fatoriais

do aspecto satisfação com a chefia e satisfação com salário foram negativas, o que solicita

que a interpretação desse fator seja inversa, de modo que a amostra de trabalhadores estaria

expressando uma leve insatisfação com a chefia.

Além da análise dos componentes principais realizada para satisfação no trabalho,

também foram empreendidas análises inferenciais, a partir do teste t, as quais

demonstraram relações significativas entre o fator satisfação com salário e aumento salarial

98

[t(249)=2,71; p=0,007], pois quem recebeu aumento salarial se diz mais satisfeito com o

salário (M=3,84; DP=1,50) do que quem não recebeu (M=3,28; DP=1,66). Associações

marginalmente significativas foram encontradas ainda entre o fator satisfação com salário e

mudança de cargo na empresa [t(251)=1,87; p=0,63], pois aqueles que mudaram de cargo

(M=3,92; DP=1,46) evidenciaram mais satisfação com seu salário em relação aos que não

mudaram (M=3,52; DP=1,60).

Tais associações eram esperadas, pois entende-se que quem recebe aumento salarial se

mostra satisfeito com a adição financeira, influenciando assim na satisfação do trabalhador

com seu salário. Por sua vez, quem muda de cargo tende a ter seu salário acrescido e, por

conseguinte, sentir-se satisfeito com o acréscimo. É interessante ressaltar que está em jogo

não apenas a adição salarial, mas encontra-se implícita a perspectiva de crescimento e de

contentamento de ego, principalmente por considerar o contexto capitalista, o qual fomenta

nas pessoas a busca incessante por sucesso na carreira profissional, maiores salários e mais

status social.

Essa realidade é benéfica, posto que à medida que as pessoas buscam aprimorar seu

exercício profissional e, em consequência, intencionam receber melhores salários, elas

estão melhorando a si mesmas, ao passo que buscam fazer o seu melhor, não em nome

exclusivamente de uma empresa, mas em prol de si mesmas. Porém, a busca de constante

melhoria deve ser cautelosa para não gerar adoecimento e sofrimento mental, por isso é

preciso encontrar um equilíbrio entre a vida profissional e pessoal.

Outra relação significativa encontrada no teste t foi entre o fator satisfação com a

meritocracia e com o conteúdo do trabalho e mudança de cargo na empresa [t(251)=2,824;

p=0,005], posto que aqueles que já mudaram de cargo desde que entraram na empresa

(M=4,13; DP=1,18) estão mais satisfeitos que os funcionários que não mudaram (M=3,65;

DP=1,25). Essa associação é positiva porque traduz merecimento, ao passo que a tendência

99

é o aumento de responsabilidade do funcionário e sua ascensão profissional na empresa,

pois o contrário poderia prejudicar a autoestima do trabalhador e, por conseguinte, seu

rendimento.

Já a relação entre satisfação com a meritocracia e com o conteúdo do trabalho e o tipo

de empresa foi marginalmente significativa [t(251)=-1,94; p=0,054], uma vez que quem

trabalha em empresa privada (M=3,93; DP=1,21) se mostrou mais satisfeito que quem

labuta no serviço público (M=3,63; DP=1,26). Esse fato pode ser explicado pela política

inerente à iniciativa privada, a qual estimula o trabalhador a demonstrar maiores resultados

e desempenho com recompensas financeiras ou através de benefícios, no sentido de

retribuir o esforço desse trabalhador. Diferentemente da empresa pública, onde, na maioria

dos casos, o funcionário estará destinado a exercer as mesmas atividades, definidas por

edital, até que se submeta a outro certame e seja aprovado para uma função diferente, ou

seja, removido para outra unidade laboral e ainda tende a ter maior flexibilidade. Essa

relação entre satisfação com a meritocracia e com o conteúdo do trabalho e o tipo de

empresa se assemelha à ligação descrita acima entre COA e o tipo de empresa.

A terceira variável abordada na análise de componentes principais foi o envolvimento

com o trabalho. Também para ela foram feitos cálculos prévios a fim de autorizar ou não o

prosseguimento às análises, de maneira que a medida de adequação da amostra mostrou-se

eficiente (KMO=0,847) e o teste de esfericidade foi significativo (X²(10)=464,57;

p<0,001) para proceder a tais análises. A solução inicial indicou unidimensionalidade do

construto, com autovalor maior que um (Eigenvalue=3,06) e 61,16% de variância

explicada.

O gráfico scree plot apresentou apenas um ponto de inflexão antes de atingir o traçado

horizontal, o que corrobora a existência de um único fator. Entende-se, portanto, diante de

tais evidências estatísticas, a viabilidade de um fator para a Escala de Envolvimento no

100

Trabalho. Os itens que compõem a variável apresentaram cargas fatoriais entre 0,714 e

0,825, conforme tabela a seguir.

Tabela 6. Estrutura fatorial da Escala de Envolvimento com o Trabalho

Itens Cargas Fatoriais

3. As coisas mais importantes que acontecem em minha vida envolvem o meu trabalho 0,825

1. As maiores satisfações vêm do meu trabalho 0,813

2. As horas que passo trabalhando são as melhores horas do meu dia 0,790

5. Eu estou pessoalmente muito ligado ao meu trabalho 0,765

4. Eu como, vivo e respiro o meu trabalho 0,714

Quantidade de itens 5

Variância explicada (%) 61,16

Alpha de Cronbach 0,839

No que diz respeito às análises descritivas, a variável envolvimento com o trabalho

obteve a média de respostas da amostra igual a 3,72 (DP=1,49), numa escala que variou de

1 a 7. Essa média permanece na lógica das demais variáveis, pelo fato de estar situada no

ponto médio da escala, o que indica que os respondentes não revelaram se estão envolvidos

ou não com o trabalho, não se posicionaram.

Considerando o estado de fluxo defendido por Csikszentmihalyi (2004) em que as

atividades de trabalho absorvem o trabalhador a ponto de ele utilizar os conhecimentos que

domina para atingir as metas e superar os desafios, possibilita uma interpretação para o

escore médio desta variável. Assim, poderia transpor a intensidade de experimentação do

estado de fluxo para a aferição da escala, onde o extremo inferior (1) equivaleria a não

vivência de estado de fluxo e o extremo superior (7) estaria relacionado à vivência plena.

Observando-se que o escore situou-se no meio da escala, infere-se que os trabalhadores

usufruem de um estado de fluxo, mas não de forma intensa, como seria o ideal. Eles

possivelmente entram num estado tal que possibilita a realização do trabalho, mas não há

uma imersão total e absoluta no trabalho, as atenções permanecem difusas, distribuídas nos

101

demais setores da vida, como uma preocupação com a família ou com os estudos, por

exemplo.

Este dado mostrou que os trabalhadores ficaram imparciais em relação ao

envolvimento com o trabalho, posto que não se sentem plenamente envolvidos com o

trabalho, mas também não se mostraram totalmente desvinculados da atividade laboral.

Pode-se interpretar que eles se envolvem o suficiente para realizar as atividades, apenas.

Sobre a escala de envolvimento com o trabalho, o construto permanece constituído por

cinco itens que tratam sobre o quanto o trabalho elicia prazer na vida do sujeito e o quanto

o labor perpassa a vida pessoal do sujeito. Essa composição é a mesma apresentada outrora

na literatura.

Quanto às análises inferenciais que atrelam envolvimento com o trabalho e os dados

sociodemográficos e laborais, notou-se uma tendência a uma relação próxima do que pode

ser considerado significativo entre essa variável e aumento salarial [t(249)=-1,79;

p=0,075], em que os funcionários que não receberam aumento salarial (M=3,91; DP= 1,55)

mostraram uma tendência a estarem mais envolvidos com o trabalho que aqueles que já o

receberam (M=3,57; DP=1,43). Essa informação sugere que os funcionários que ainda não

receberam aumento salarial se sentem estimulados a desempenhar melhor suas atividades

laborais, a fim de lograr êxito, alcançar as metas e obter maiores rendimentos financeiros.

Por meio de correlação de Pearson, encontrou-se que todos os construtos estudados

(com seus respectivos fatores) estão correlacionados significativamente, de tal modo que a

ligação entre estas variáveis pressupõe a possibilidade de existência de um construto mais

amplo, que pode ser denominado de bem-estar no trabalho, a partir da teorização de

Siqueira e Padovam (2008).

Os resultados apresentaram predominância de correlações moderadas, com exceção de

algumas correlações fracas, a exemplo de satisfação com salário e satisfação com colegas

102

(r=0,28); satisfação com salário e envolvimento com o trabalho (r=0,24); satisfação com

colegas e envolvimento com o trabalho (r=0,22). Houve ainda uma correlação forte entre

satisfação com a meritocracia e com conteúdos do trabalho e comprometimento

organizacional afetivo (r=0,71). A partir desses dados, pode-se inferir que a aproximação

entre as variáveis supõe a existência de BET. Todas as correlações encontradas foram

positivas, indicando que as variâncias ocorrem na mesma direção, ou seja, à medida que

um aspecto aumenta o outro tende a aumentar na mesma proporção (Tabela 7).

Tabela 7. Correlações entre os fatores que indicam a existência de BET

Satisfação

Meritocracia e

Cont. do Trab.

Satisfação

Salário

Satisfação

Colegas

Satisfação

Chefia

Comprometimento

Org. Afetivo

Envolvimento

Trabalho

Satisfação Meritocracia 1

Satisfação Salário 0,55** 1

Satisfação Colegas 0,44** 0,28** 1

Satisfação Chefia 0,59** 0,46** 0,44** 1

Comprometimento Org.

Afetivo

0,71** 0,44** 0,40** 0,51** 1

Envolvimento Trabalho 0,53** 0,24** 0,22** 0,30** 0,48** 1

**Correlação significativa para p<0,001.

Nota-se, de acordo com a tabela, que todos os fatores apresentam relações bastante

significativas (p<0,001) entre si. As correlações fracas envolveram as variáveis satisfação

no trabalho e envolvimento com o trabalho. A díade satisfação com salário e satisfação

com colegas pode ter sido fraca porque, na prática, é mais difícil relacionar colegas e

salário, pois o vínculo com colegas depende muito mais de uma perspectiva interpessoal

que financeira. A recompensa salarial, por outro lado, depende do desempenho do

indivíduo no ambiente de trabalho.

103

A relação fraca para o par satisfação com colegas e envolvimento com o trabalho pode

ser explicada pelo fato do envolvimento se referir a um estado de fluxo experienciado

exclusivamente pelo trabalhador, ou seja, uma perspectiva individual e o relacionamento

com os colegas se referir a uma ênfase interpessoal. Já a relação satisfação com salário e

envolvimento com o trabalho foi fraca provavelmente porque as pessoas, quando se

envolvem com o trabalho, se sentem imersas nas atividades que realizam, concentram-se

de tal modo que não observam os demais setores da vida, inclusive do próprio trabalho. E é

preciso situar que o salário pode figurar apenas como consequência desse envolvimento, de

forma que um não depende exclusivamente do outro.

Para tanto, o Estudo 1 foi uma etapa preliminar para o objetivo principal desta

pesquisa e contribuiu para apresentar a estrutura das variáveis comprometimento

organizacional afetivo, envolvimento com o trabalho e satisfação no trabalho, sendo este

último multidimensional, a partir do entendimento dos trabalhadores e revelando que as

prioridades destes se diferenciam com o tempo. Apesar de a identificação das variáveis

ocorrer por itens já conhecidos pela literatura, os índices de confiabilidade das escalas e as

cargas fatoriais tanto das escalas quanto dos itens se diferenciaram, demonstrando uma

visão atual desses construtos que colaboram para entender o ambiente laboral.

3.2 Estudo 2

3.2.1 Caracterização da Amostra

Quanto à caracterização da amostra a partir dos 206 questionários válidos, os

colaboradores da pesquisa são predominantemente do sexo feminino (56,9%), com idade

média de 34,51 anos (DP=10,14), divididos entre solteiros e casados (48% e 46,5%,

104

respectivamente) e com alta escolaridade (pós-graduação: 64,5%). Os quesitos que

investigavam questões laborais tomaram como base as informações contidas no site do

Sebrae4. Em relação aos dados ocupacionais, a média de tempo de trabalho na organização

atual dos respondentes é de 6,10 anos (DP=7,27), com uma média salarial de R$ 3.854,29

(DP=R$3.105,00), alocados em organização pública (64%), no setor de comércio e

serviços (88%), em organizações de grande porte (51%). Em relação ao cargo ocupado,

após a categorização das respostas obtidas, a maioria executa atividades educacionais ou

de assessoria e gestão (28% e 19,5%, respectivamente).

3.2.2 Resultados

Neste estudo foram empreendidas duas etapas de análise, a saber, a análise fatorial

confirmatória das variáveis integrantes do estudo e a modelagem por equação estrutural.

Para demonstrar a existência do modelo de BET foi feito teste empírico a partir da

Modelagem por Equação Estrutural (SEM), a qual envolve teoria de mensuração e teoria

estrutural. A teoria de mensuração especifica como variáveis medidas representam lógica e

sistematicamente construtos envolvidos em um modelo teórico.

Assim, especifica uma série de relações que sugerem que as variáveis medidas

representam um construto latente que não é diretamente medido (Hair et al., 2009). A

teoria estrutural condiz com a formatação gráfica dessa teoria. Especificar um número de

fatores a priori, pela teoria de mensuração, se refere à maneira como os construtos

conceituais em um modelo de mensuração são operacionalizados.

A AFC do construto comprometimento organizacional afetivo apresentou índices de

ajuste não muito bons para o formato com 5 itens contidos na escala, conforme pode ser

4 Disponível em http://www.sebrae-sc.com.br/leis/default.asp?vcdtexto=4154. Acessado em 18/09/2012.

105

visto na Tabela 8, além da sugestão de ajustes a serem feitos em função da covariância

entre alguns itens.

Ao analisar as sugestões de modificação e as estimativas dos itens, notou-se que o

item 1 da ECOA covariou com o item 2. Diante dessa informação, decidiu-se retirar o item

1 do modelo (‘A empresa onde trabalho faz-me sentir orgulhoso dela’), por colaborar com

menor peso de regressão, e recalcular as análises, obtendo índices um pouco melhores, mas

que ainda não correspondiam aos valores recomendados pela literatura, além de ainda

haver a sugestão de modificação de itens.

Ao analisar as estimativas de cada item, resolveu-se reconsiderar o item 1 e retirar o

item 2 (‘A empresa onde trabalho faz-me sentir contente com ela’). Essa alternativa

forneceu ótimos índices de ajuste e obteve 10 parâmetros fixos e 8 parâmetros livres,

resultando em 2 graus de liberdade, com o qui-quadrado não significativo e a razão entre

ele e o grau de liberdade igual a 0,189 como pode ser verificado na Tabela 7.

Esse dado deve ser considerado com ressalvas, já que os valores obtidos fugiram aos

escores sugeridos pela literatura, em que o qui-quadrado deve ser significativo e a razão

entre este e os graus de liberdade deve estar entre 1 e 5, sendo os valores entre 1 e 3

recomendados como excelentes (Byrne, 2010). No entanto, os índices GFI e CFI foram

bastante satisfatórios por serem bem próximos a 1, ponto máximo sugerido pela literatura.

O RMSEA não foi muito adequado, contudo o p-close foi não significativo (0,892),

conforme recomenda a literatura.

106

Tabela 8. Índices de ajuste para a ECOA

X² G

l

P X²/gl GFI CFI RMSEA (IC*) PClose

COA (5 itens) 24,441 5 <0,001 4,888 0,956 0,982 0,138 (0,086-0,194) 0,004

COA (4 itens: s/item 1) 10,739 2 0,005 5,370 0,975 0,990 0,146 (0,069-0,237) 0,023

COA (4 itens: s/item 2) 0,379 2 0,827 0,189 0,999 1,00 0,000 (0,000-0,081) 0,892

*IC: Intervalo de confiança.

Quatro itens permaneceram no modelo estrutural de comprometimento organizacional

afetivo, a serem respondidos a partir do comando ‘A empresa onde trabalho faz-me sentir’:

orgulhoso dela; entusiasmado com ela; interessado por ela e animado com ela. A

manutenção do item 1 e retirada do item 2 faz sentido, ao observar que a ideia de ‘estar

contente’ com a organização (item 2) pode ser representada por ‘estar animado com ela’

(item 5), diferentemente de ‘sentir orgulho’ (item 1), uma vez que não há nos demais itens

uma aproximação com essa ideia, por isso se justifica a retirada do item 2. Observa-se que

no entendimento dos respondentes, estar ‘contente com a empresa’ é dispensável para

descrever o comprometimento organizacional afetivo, ou ainda, esse entendimento pode se

aproximar do sentido dos demais ou estar embutido e implícito neles.

Na tabela 8 constam os escores obtidos para os índices de ajuste de cada modelo de

COA testado. Sendo que os melhores aparecem para a versão com 4 itens, mas sem o item

2. A Figura 2 representa a estrutura encontrada através da análise de componentes

principais e confirmada por AFC para o construto comprometimento organizacional

afetivo.

107

Figura 2. Modelo estrutural do construto Comprometimento Organizacional Afetivo

De acordo com as estimativas apresentadas, observa-se que o item que melhor traduz a

ideia de comprometimento organizacional afetivo é o item 3, o qual versa sobre o

entusiasmo que o trabalhador sente em relação à empresa em que trabalha. Esse resultado

também é visto na análise de componentes principais para tal variável, a qual alcança CF=

0,933 e encabeça a lista de itens agregados no fator.

Tabela 9. Efeitos diretos padronizados para o modelo ECOA (com 4 itens, sem item 2).

Item ECOA1 ECOA3 ECOA4 ECOA5

Lambdas 0,757 0,947 0,902 0,939

Outro item que se mostrou importante nessa análise foi o quinto, o qual traduz o

quanto o funcionário se sente animado com a organização. A saturação dele na análise de

componentes principais foi 0,916. Para tanto, entende-se que a base afetiva do

comprometimento organizacional pode ser interpretada pela empolgação que o funcionário

sente frente à organização.

Para o construto Satisfação no Trabalho foram feitas diversas análises até chegar a um

modelo com índices de ajuste adequados e coerente com a proposta teórica. A análise de

componentes principais realizada previamente encontrou um modelo composto por quatro

108

fatores e este foi testado. Porém, para fins de contraste, inicialmente as estimativas foram

calculadas para o modelo de 5 fatores com 15 itens proposto por Siqueira (2008).

Nesta análise, os índices de modificação sugeriram alguns ajustes. Então, foi utilizado

o modelo apresentado na análise de componentes principais empreendida neste estudo, o

qual indicava que a satisfação no trabalho seria composta por 15 itens distribuídos

desigualmente em 4 fatores (satisfação com salário, satisfação com a chefia, satisfação com

colegas e satisfação com a meritocracia e com os conteúdos do trabalho). No entanto, os

índices de ajuste foram piores que os do primeiro modelo, recorrendo-se aos índices de

modificação para verificar sugestões viáveis e coerentes com a teoria.

Diante das recomendações do teste, foram feitas alterações que se encaminharam por

retirar os itens 2 (‘com o número de vezes que fui promovido nessa empresa’), 5 (‘com o

grau de interesse que minhas tarefas me despertam’) e 13 (‘com a variedade de tarefas que

realizo’), todos estes integrantes do fator satisfação com a meritocracia e com conteúdos do

trabalho. O item 13 foi excluído por ter apresentado carga fatorial duplicada e, ainda assim,

com baixo valor, pois ao aumentar o ‘ponto de corte’ da carga fatorial ele não permaneceu

na estrutura de referência para ST. Além disso, o modelo que continha esse item

apresentou índices de ajuste ruins e este item apresentou covariância com o fator satisfação

com a chefia e com os itens que o compõem. Ao retirar o item 13, os índices do modelo

resultante firam calculados, tendo que os outros dois itens (2 e 5) foram retirados por

sugestão dos índices de modificação, por terem covariado com vários outros itens e terem

menor peso de regressão entre os itens que covariaram.

Para tal formato, agora com 12 itens distribuídos em 4 fatores, foram encontrados

ótimos valores de ajuste (Tabela 10) na análise fatorial confirmatória, principalmente para

os índices de bondade e de comparação do ajuste.

109

Tabela 10. Índices de ajuste para a EST e comparação de modelos para ST.

X² Gl p X²/gl GFI CFI RMSEA (IC*) PClose

ST (5f/15 it) 176,349 85 <0,001 2,075 0,899 0,950 0,072 (0,057-0,087) 0,009

ST (4f/15 it) 280,046 86 <0,001 3,256 0,835 0,895 0,105 (0,091-0,119) <0,001

ST(4f/12 it) 103,047 50 <0,001 2,061 0,928 0,963 0,072 (0,052-0,092) 0,036

*IC: Intervalo de confiança.

Essas avaliações confirmam que a satisfação no trabalho pode ser explicada pela

satisfação com a meritocracia e com os conteúdos do trabalho, pela satisfação com a

chefia, pela satisfação com o salário e pela satisfação com os colegas. As análises

colaboram para uma escala mais concisa, que investiga o fenômeno num período de tempo

mais curto para o respondente.

Os indicadores de ajuste do modelo de ST foram muito bons, conforme demonstrado

acima. Dentre estes, destacam-se os índices X²/gl, CFI e GFI, que não sofrem alterações a

partir do número de fatores ou de itens a serem considerados e colaboram para comparar os

diferentes formatos de modelo, por serem índices independentes.

O modelo obteve 78 parâmetros fixos, 28 parâmetros livres e 50 graus de liberdade,

com escore do qui-quadrado significativo estatisticamente [X²(50)=103,047; p<0,001] e a

razão entre ele e os graus de liberdade igual a 2,061, o que corresponde à recomendação de

obter o menor valor para o X²/gl. Já o CFI e o GFI serão melhores quando seu valor estiver

mais próximo de 1 e foram alcançados escores adequados de 0,963 e de 0,928,

respectivamente. O RMSEA também foi apropriado com valor de 0,072 (IC: 0,052-0,092),

apesar de ter tido um p-close significativo estatisticamente (0,036). Para tanto, estas

informações permitem afirmar que o melhor modelo encontrado para a EST é o de 12 itens

distribuídos em 4 fatores.

Outra análise importante para confirmar o melhor modelo é analisar os valores

alcançados para o ECVI e o CAIC, os quais buscam comparar modelos a partir da

110

diferença entre o modelo amostral e o modelo esperado populacional. O primeiro é

denominado Índice Esperado de Validação Cruzada e o segundo é chamado de Critério de

Informação Consistente de Akaike. Ambos informam a probabilidade do modelo se

reproduzir ao ser analisado em outra amostra, em que quanto menores os valores do ECVI

e do CAIC, melhor será o ajuste do modelo analisado numa replicação posterior. Foi o que

aconteceu com o modelo de ST com 12 itens e 4 fatores, que obteve melhores índices de

ajuste, conforme mencionado:

Tabela 11. Índices de comparação de modelos para ST

Modelo ECVI CAIC

Satisfação (5 fat; 15 itens) 1,202 397,825

Satisfação (4 fat; 15 itens) 1,171 759,345

Satisfação (4 fat; 12 itens) 0,776 280,227

A Figura 3 apresenta a estrutura alcançada para o modelo final de ST em que, a partir

das análises anteriores, com retiradas de itens e concisão do modelo, manteve 12 itens,

porém divididos em 4 fatores, todos com igual quantidade de itens: satisfação com a

meritocracia e conteúdos do trabalho, satisfação com colegas, satisfação com salário e

satisfação com a chefia.

111

Figura 3. Modelo estrutural do construto Satisfação no trabalho.

Diante dos dados explicitados, o modelo que demonstrou melhor ajuste para a

composição de satisfação no trabalho contém 12 itens, distribuídos em quatro fatores, com

os lambdas (pesos de regressão) de cada fator descritos na Tabela 12. Observa-se que o

fator satisfação com salário é o que mais contribui para manifestar a variável latente ST,

pois apresentou o maior lambda, ou seja, os respondentes identificaram que sua satisfação

no trabalho pode comparecer mais claramente através da satisfação com o salário que

recebem.

No entanto, o fator satisfação com a meritocracia e com conteúdos do trabalho

também apresentou lambda alto, próximo ao fator que mais pontuou. Este fator se refere ao

quanto o trabalhador se sente satisfeito com o reconhecimento da organização demonstrada

através das oportunidades de promoção e pelas características das tarefas inerentes ao seu

trabalho. Desse modo, essa dimensão também colabora para representar a variável

satisfação no trabalho nessa amostra.

112

Tabela 12. Efeitos diretos padronizados para o modelo ST (4 fatores, 12 itens).

Fatores ST ST Colegas ST Chefia ST Salário ST Meritocracia Conteúdos Trab

Lambdas 0,476 0,574 0,833 0,815

Já os lambdas calculados para os itens em relação ao construto como um todo, ou seja,

os itens analisados quanto ao construto latente de segunda ordem, o escore mais alto

ocorreu no item 3 de satisfação no trabalho: “No meu trabalho atual sinto-me com o meu

salário comparado com o quanto eu trabalho” (λ=0,762), integrante do fator satisfação com

salário. Quando as estimativas dos itens foram calculadas em relação a cada fator, de modo

a entender os escores dos itens relativos aos fatores de primeira ordem, foi o item 10 que

obteve maior lambda (λ =0,946), o qual se refere à satisfação quanto ao entendimento entre

meu chefe e eu, componente do fator satisfação com a chefia. Esse dado informa que ao

pensar na satisfação no trabalho, os sujeitos dessa amostra avaliam-na a partir do

relacionamento existente entre o chefe e eles.

Na tabela 13 constam os lambdas para cada item da variável satisfação no trabalho, a

qual contempla tanto a relação entre o item e a variável como um todo, quanto a relação

entre o item e o fator do qual este faz parte.

113

Tabela 13. Lambdas dos itens quanto ao construto ST e ao fator de 1ª ordem correspondente

Itens Lambdas

ST Fatores

EST 14 0,389 0,818

ST Colegas EST 4 0,328 0,691

EST 1 0,328 0,691

EST 12 0,517 0,901

ST Chefia EST 10 0,543 0,946

EST 15 0,431 0,751

EST 3 0,762 0,915

ST Salário EST 6 0,716 0,859

EST 11 0,734 0,881

EST 9 0,681 0,836 ST Meritocracia e

Conteúdos do Trabalho EST 7 0,710 0,871

EST 8 0,447 0,549

A AFC para a EET também conduziu a alterações nos itens que compõem a escala,

tanto sugeridas pelos índices de modificação, quanto pela análise dos índices de ajuste.

Para a escala formada pelos 5 itens, a razão entre o qui-quadrado e os graus de liberdade

forneceu um valor alto e o p-close foi significativo, contrariando a recomendação da

literatura.

Diante dessas informações, analisou-se os índices de ajuste quanto às estimativas e

percebeu-se que o item 4 (‘eu como, vivo e respiro o meu trabalho’) obteve menores

estimativas e peso de regressão padronizado, decidindo por sua retirada do modelo, de

acordo com a Tabela 14. O cálculo de novas análises sem o item 4 mostrou bons índices de

ajuste e a análise dessa escala apresentou 10 parâmetros fixos e 8 parâmetros livres,

114

totalizando 2 graus de liberdade. O qui-quadrado foi estatisticamente significativo

[X²(2)=6,117; p=0,047] e a razão deste pelos graus de liberdade foi 3,058.

Tabela 14. Índices de ajuste para a EET.

X² gl p X²/gl GFI CFI RMSEA (IC*) P-Close

EET (5 itens) 42,871 5 <0,001 8,574 0,920 0,934 0,192 (0,142-0,247) 0,001

EET (4 itens: sem item 4) 6,117 2 0,047 3,058 0,985 0,991 0,100 (0,010-0,195) 0,129

*IC: Intervalo de confiança.

A estrutura do modelo permaneceu com 4 itens, como pode ser vista na Figura 4.

Figura 4. Modelo estrutural do construto Envolvimento com o trabalho.

A Tabela 15 apresenta os pesos de regressão para os itens da EET, em que o item EET

3 (“As coisas mais importantes que acontecem em minha vida envolvem o meu trabalho”),

é o que mais contribui para identificar envolvimento com o trabalho. Essa descrição

demonstra o grau de importância que o trabalho tem para a vida do respondente, pois

eventos que envolvem o cotidiano laboral se configuram em acontecimentos de grande

relevância para o sujeito.

115

Tabela 15. Efeitos diretos padronizados para o modelo EET (4 itens, sem item 4).

Item EET1 EET2 EET3 EET5

Lambdas 0,840 0,811 0,876 0,733

Diante dos resultados apresentados, verifica-se que as análises confirmatórias

apresentaram agrupamentos mais concisos e parcimoniosos para os construtos

considerados. Em todos os casos houve queda de itens, de modo a tornar as escalas mais

parcimoniosas, práticas e objetivas. Os construtos podem ser avaliados por uma quantidade

menor de itens, o que facilita a aplicação das escalas, cansa menos o leitor e aumenta as

chances de resposta, contribuindo de forma positiva para as pesquisas que se interessam

em investigar o comprometimento organizacional afetivo, a satisfação no trabalho e o

envolvimento com o trabalho.

O estudo foi proposto para analisar se as variáveis acima descritas indicariam a

existência de BET. Então, após a realização da análise fatorial confirmatória, procedeu-se à

modelagem por equação estrutural para o modelo de bem-estar no trabalho, de modo a

verificar se o comprometimento organizacional afetivo, a satisfação no trabalho e o

envolvimento com o trabalho indicam a presença desse fenômeno.

O modelo estrutural de BET, após as modificações sugeridas e analisadas, permaneceu

composto pelas três variáveis apresentadas pela teoria, de tal forma que as sugestões dos

índices de modificação não indicaram a exclusão de itens, como se observa na tabela 16.

Assim, permaneceram 20 itens, distribuídos em: comprometimento organizacional

afetivo (04 itens), satisfação no trabalho (12 itens) e envolvimento com o trabalho (04

itens), totalizando itens que sinalizam para a existência de BET. Esse modelo apresentou

210 parâmetros fixos e 47 parâmetros livres, resultando em 163 graus de liberdade, com

qui-quadrado significativo [X²(163)=250,54; p<0,001] e a razão entre este e os graus de

liberdade foi 1,537.

116

Tabela 16. Índices de ajuste para o modelo de BET

X² Gl p X²/gl GFI CFI RMSEA (IC*) P-close

BET (3 fatores/

20 itens)

250,54 163 <0,001 1,537 0,896 0,970 0,051 (0,038-0,063) 0,426

*IC: Intervalo de confiança.

O GFI e o CFI indicaram ajustes muito bons com escores de 0,896 e 0,970,

respectivamente, com RMSEA satisfatório [0,051 (IC: 0,038-0,063); p-close=0,426]. Além

desses índices, foram analisados aqueles que traduzem um modelo passível de replicação:

o ECVI e o CAIC.

Contudo, diante da ausência de modelos alternativos para proceder a comparações

com as informações que esses índices fornecem, pode-se relacionar os escores deles

extraídos do modelo amostral com os índices que projetam os dados caso não houvesse

relações, ou seja, com o modelo saturado. Desse modo, os escores dos índices precisam ser

menores que o escore do modelo saturado (MS) apresentado pelo AMOS para justificar

sua importância e supor a reprodutibilidade do modelo em outras amostras com bom

ajuste. Para esse estudo, obteve-se ECVI=1,681 (MS=2,049) e CAIC=547,950

(MS=1328,854), informando, portanto, que o modelo de BET pode ser replicado.

Quanto aos índices apresentados pelo modelo de BET, nota-se que os valores estão

dentro das recomendações da literatura, o que demonstra a viabilidade do construto BET

ser indicado pelas variáveis supracitadas, ou melhor, que essas variáveis evidenciem a

existência de BET, principalmente ao observar o GFI com valor próximo a 0,90 e o CFI,

próximo a 1. O RMSEA ficou dentro da variação do que seria ótimo para esse indicador e

não significativo. A estrutura do modelo de BET, composta por três variáveis, pode ser

observada na Figura 5:

117

Figura 5. Modelo estrutural do construto Bem-estar no trabalho

Conforme a teoria indicou outrora, as análises demonstram a existência do construto

BET a partir da observação de outras variáveis como indicadores. A Figura 5 apresenta a

estrutura alcançada para o modelo de BET em que, a partir das análises anteriores, ele

demonstrou ser composto pelas variáveis: COA (4 itens), ST (12 itens) e ET (4 itens).

118

CAPÍTULO IV

_____________________________________________

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Inicialmente, a proposta para esse manuscrito era realizar um estudo correlacional que

envolvesse o bem-estar no trabalho. Entretanto, notou-se, diante da literatura consultada, a

ausência de comprovação empírica para o construto, momento em que este se tornou o

principal objetivo deste estudo.

Esse manuscrito partiu do pressuposto de que o bem-estar no trabalho seria composto

por comprometimento organizacional afetivo, satisfação no trabalho e envolvimento com o

trabalho. As escalas para cada uma dessas variáveis foram testadas empiricamente e, ao

encontrar para cada uma estrutura coerente com a teoria, procedeu-se ao teste do modelo

(até então teórico) de BET.

Foi encontrada uma estrutura consistente que se aproxima do modelo pensado

previamente por Siqueira e Padovam (2008). Os índices de ajuste foram muito bons e se

constatou que as variáveis COA, ST e ET influenciam na constituição de construto BET,

mas que este é capaz de ter uma estrutura própria, sem empréstimos. Assim, quando a

pessoa pontua alto em COA, ET e ST, provavelmente há um traço latente que explica estes

resultados o qual é BET. Sendo esta a maior contribuição deste estudo tanto para o meio

social e organizacional quanto para o meio acadêmico, qual seja: identificar que tais

variáveis indicam a existência de bem-estar no trabalho, expressa e comprovada

empiricamente.

119

A intenção de constatar se as variáveis seriam base para BET pretende colaborar para

essa seara de conhecimento, de modo a fornecer orientação ao setor de recursos humanos

para fomentar ações que eliciam esse estado. Acredita-se que as consequências são

benéficas tanto para a empresa quanto para o indivíduo, pois ao se preocupar com o bem-

estar de seu funcionário, a organização demonstra estar atenta aos preceitos

organizacionais atuais. Essa tendência preconiza que o sujeito precisa experimentar um

estado tal que o permita produzir satisfeito, envolvido e comprometido com seu trabalho, a

fim de evitar adoecimentos, principalmente psíquicos, provocados por situações de

trabalho.

A realização deste estudo sofreu algumas alterações ao logo do caminho, mas que não

impediram sua realização. Modificações que se transformaram em limitações, a exemplo

de não ter diferenciado nas análises quem respondeu à pesquisa virtual ou presencialmente.

Outra situação que pode ter influenciado foi modos de coleta de dados diferenciados para

cada um dos estudos. E, por fim, o fato de não ter contemplado uma gama diversificada de

ocupações colabora para entender os resultados desse estudo com ressalvas, de modo a

evitar uma ampla generalização a trabalhadores dos mais variados setores.

Esse estudo demonstra que o BET recebe a influência de COA, ET e ST, e, portanto, é

importante considerar que haverá uma análise e mensuração mais qualificada desse

construto, será melhor analisado e mensurado se alcançar uma medida específica que

contemple as prerrogativas propostas pelas variáveis que influenciam na existência de

BET. A construção de um instrumento que mensure diretamente o bem-estar no trabalho

constitui um passo de fundamental importância para o avanço das pesquisas concernentes a

esse modo de entender o BET. Parte dessa etapa já foi contemplada por Siqueira, Orengo e

Peiró (2014) quando eles apresentam para a comunidade acadêmica o Inventário de Bem-

120

estar no Trabalho (IBET), contendo 13 itens a serem respondidos obedecendo a uma escala

Likert de 5 pontos, variando desde ‘discordo totalmente’ a ‘concordo totalmente’.

Diante do objetivo alcançado, sugere-se que mais estudos sejam feitos com o modelo

tridimensional de BET, principalmente no que se refere a contemplar categorias

profissionais específicas, a fim de corroborar e fortalecer a teoria. Além de realizar estudos

correlacionais que envolvam esse fenômeno e outros construtos, para assim, proporcionar

um maior entendimento sobre o bem-estar no trabalho.

121

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129

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO UTILIZADO NA PESQUISA

Escala de Comprometimento Organizacional Afetivo (ECOA)

Abaixo estão listados vários sentimentos e emoções que alguém poderia ter em relação

à empresa onde trabalha. Extinguir

INDIQUE O QUANTO VOCÊ SENTE ESTES SENTIMENTOS E EMOÇÕES.

Responda marcando na frase da tabela o número (de 1 a 5) que melhor representa sua

resposta.

A EMPRESA ONDE TRABALHO FAZ-ME SENTIR ...

Nada Pouco Mais ou

menos

Muito Extremamente

Orgulhoso dela 1 2 3 4 5

Contente com

ela

1 2 3 4 5

Entusiasmado

com ela

1 2 3 4 5

Interessado por

ela

1 2 3 4 5

Animado com

ela

1 2 3 4 5

Escala de Satisfação no Trabalho (EST)

As frases abaixo falam a respeito de alguns aspectos do seu trabalho atual.

INDIQUE O QUANTO VOCÊ SE SENTE SATISFEITO OU INSATISFEITO COM

CADA UM DELES.

130

Responda marcando na frase da tabela o número (de 1 a 7) que melhor representa sua

resposta, considerando o significado da numeração desde Totalmente insatisfeito até

Totalmente satisfeito.

Total

mente

insatisfeito

Muito

insatisfeito

Insatisfeito Indiferente Satisfeito Muito

Satis

feito

Total

mente

satisfeito

1 2 3 4 5 6 7

NO MEU TRABALHO ATUAL SINTO-ME...

1 2 3 4 5 6 7

Com o espírito de colaboração dos meus colegas

de trabalho 1 2 3 4 5 6 7

Com o número de vezes que já fui promovido

nessa empresa. 1 2 3 4 5 6 7

Com o meu salário comparado com o quanto eu

trabalho 1 2 3 4 5 6 7

Com o tipo de amizade que meus colegas

demonstram por mim 1 2 3 4 5 6 7

Com o grau de interesse que minhas tarefas me

despertam. 1 2 3 4 5 6 7

Com o meu salário comparado à minha

capacidade profissional 1 2 3 4 5 6 7

Com a maneira como esta empresa realiza

promoções de seu pessoal. 1 2 3 4 5 6 7

Com a capacidade de meu trabalho absorver-me 1 2 3 4 5 6 7

131

Com as oportunidades de ser promovido nessa

empresa 1 2 3 4 5 6 7

Com o entendimento entre meu chefe e eu 1 2 3 4 5 6 7

Com meu salário comparado aos meus esforços

no trabalho 1 2 3 4 5 6 7

Com a maneira como meu chefe me trata 1 2 3 4 5 6 7

Com a variedade de tarefas que realizo. 1 2 3 4 5 6 7

Com a confiança que eu posso ter em meus

colegas de trabalho 1 2 3 4 5 6 7

Com a capacidade profissional do meu chefe. 1 2 3 4 5 6 7

Escala de Envolvimento com o Trabalho (EET)

As frases a seguir falam a respeito de alguns aspectos do seu trabalho atual.

INDIQUE O QUANTO VOCÊ CONCORDA OU DISCORDA DE CADA UMA

DELAS.

Discordo

totalmente

Discordo

moderada

mente

Discordo

levemente

Nem

concordo

nem

discordo

Concordo

levemente

Concordo

moderada

mente

Concordo

totalmente

1 2 3 4 5 6 7

Responda marcando na frase da tabela o número (de 1 a 7) que melhor representa sua

resposta, considerando o significado da numeração desde discordo totalmente até concordo

totalmente.

132

1 2 3 4 5 6 7

As maiores satisfações de minha vida vêm de meu

trabalho 1 2 3 4 5 6 7

As horas que passo trabalhando são as melhores

horas de meu dia 1 2 3 4 5 6 7

As coisas mais importantes que acontecem em

minha vida envolvem o meu trabalho 1 2 3 4 5 6 7

Eu como, vivo e respiro o meu trabalho 1 2 3 4 5 6 7

Eu estou pessoalmente muito ligado ao meu

trabalho 1 2 3 4 5 6 7

Questões para os Dados Sóciodemográficos

Sexo: ( ) Feminino

( ) Masculino

Idade: _______ anos

Estado Civil: ( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Viúvo ( ) Separado

Há quanto tempo você trabalha na empresa? ______ anos

Se for menos de 1 ano, assinale com um X abaixo:

( ) Trabalho nesta empresa há menos de 1 ano

Qual o seu salário atual? R$________________________

Você já recebeu aumento salarial nesta empresa? ( ) Sim ( ) Não

133

Qual cargo você ocupa? ______________________________________________

Você já mudou de cargo desde quando entrou na empresa em que trabalha?

( ) Sim ( ) Não

Você trabalha em que tipo de empresa?

( ) Pública ( ) Privada

Em qual setor sua empresa se encaixa?

( ) Indústria ( ) Comércio e Serviços

Quantos funcionários existem aproximadamente na empresa em que você trabalha?

( ) Até 9 funcionários

( ) De 10 a 19 funcionários

( ) De 20 a 49 funcionários

( ) De 50 a 99 funcionários

( ) De 100 a 499 funcionários

( ) 500 funcionários ou mais

( ) Não sei

134

ANEXO 1: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Universidade Federal de Sergipe

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Núcleo de Pós-Graduação em Psicologia Social

Mestrado em Psicologia Social

Estudo sobre o Bem-estar no trabalho

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Prezado(a) participante,

Estamos realizando uma pesquisa com diversos profissionais, a fim de avaliar o bem-estar

no trabalho. Gostaríamos de contar com sua colaboração respondendo a este questionário.

Por favor, leia atentamente as instruções e marque a resposta mais apropriada à sua

experiência de trabalho, evitando deixar questões em branco.

Para que você possa respondê-lo com a máxima sinceridade e liberdade, garantimos o

caráter anônimo e confidencial de todas as suas respostas. Nesta direção, antes de

prosseguir, de acordo com o disposto na Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de

Saúde, faz-se necessário documentar seu consentimento.

Desde já agradecemos a sua participação!

Assinando este termo, estou concordando em participar do estudo acima mencionado, sob

a coordenação da Profª. Dr ª. Marley Rosana Melo de Araújo e de sua mestranda Patrícia

Elaine Santana Mota. Estou ciente de que os dados, no seu conjunto, poderão ser usados

para fins acadêmicos e científicos.

Em caso de maiores esclarecimentos, entrar em contato: (83) 8141-5515/ (79) 9117-6288

ou [email protected]/ [email protected]

Estou ciente de que meus dados terão caráter anônimo e confidencial, ao tempo em que

concordo em participar deste estudo.

__________________________________________________

ASSINATURA