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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO DOUTORADO EM EDUCAÇÃO A INSERÇÃO DE ACADÊMICOS E LICENCIADOS DO CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE NO CAMPO EDUCACIONAL SERGIPANO (1968-1978) NAYARA ALVES DE OLIVEIRA SÃO CRISTÓVÃO (SE) 2017

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · As minhas irmãs de coração: Ligia Menezes, Mary Lourdes Santana, Ana Carla Menezes, Elma, Nirlen, Samara, Dijane, Taiana,

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

DOUTORADO EM EDUCAÇÃO

A INSERÇÃO DE ACADÊMICOS E LICENCIADOS DO CURSO DE

PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE NO CAMPO

EDUCACIONAL SERGIPANO (1968-1978)

NAYARA ALVES DE OLIVEIRA

SÃO CRISTÓVÃO (SE)

2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

DOUTORADO EM EDUCAÇÃO

A INSERÇÃO DE ACADÊMICOS E LICENCIADOS DO CURSO DE

PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE NO CAMPO

EDUCACIONAL SERGIPANO (1968-1978)

NAYARA ALVES DE OLIVEIRA

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Educação da Universidade Federal de Sergipe, como

requisito parcial para obtenção do título de Doutor em

Educação, Linha de Pesquisa: “Historia, Sociedade e

Pensamento Educacional”.

Orientadora: Profª. Drª. Anamaria Gonçalves Bueno de

Freitas

SÃO CRISTÓVÃO (SE)

2017

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AGRADECIMENTOS

A Deus por me amparar nos momentos difíceis, me dar força interior para superar as

dificuldades, mostrar os caminhos nas horas incertas e me suprir em todas as minhas

necessidades.

Aos meus pais não só este trabalho, mais tudo o que tenho de melhor, pois são nas minhas

melhores qualidades que vejo a presença constante dos valores que me ensinaram durante

toda a vida. Mãe e Pai, eu amo muito vocês, sou grata por quem sou e por tudo o que me

tornei. Sou grata pelas minhas conquistas e pela oportunidade que me deram para que eu

buscasse o conhecimento como forma de conquistar meus sonhos e de me tornar uma

verdadeira cidadã.

Ao meu companheiro Jeová, peço desculpas pelos sucessivos rompantes diante das

dificuldades. Agradeço sua calma, seu carinho, seu amor e sua dedicação. Obrigada por

sempre acreditar em mim, pelo orgulho com que fala de meus feitos e por nunca podar

minha incessante participação em várias atividades sociais, negligenciando, muitas vezes,

minha presença em sua vida.

A professora Anamaria, mais...muito mais, do que uma simples orientadora. Obrigada

por existir na minha vida.... Infelizmente, não existe palavras suficientes e significativas

que me permitam agradecer a você com justiça e com o devido merecimento. Sua ajuda

e seu apoio foram decisivos no momento de desânimo e desistência. Jamais irei esquecer

sua paciência, zelo, dedicação e preocupação.

Ao professor Jorge Carvalho do Nascimento, obrigada por oportunizar os primeiros

passos na pesquisa em História da Educação. Nunca me sentirei merecedora do grande

privilégio de estar ao seu lado.

Ao meu irmão Makey, minha cunhada Ana Paula e sobrinho Mateus pelo carinho,

preocupação e atenção que sempre tiveram comigo, sempre me apoiando em todos os

momentos, enfim por todos os conselhos e pela confiança em mim depositada meu

imenso agradecimento.

As minhas irmãs de coração: Ligia Menezes, Mary Lourdes Santana, Ana Carla Menezes,

Elma, Nirlen, Samara, Dijane, Taiana, Joice, Marta, Aline, Elizângela e Pâmela, pelos

momentos felizes e por ajudar a me livrar do stress tão comum entre os doutorandos.

A banca de qualificação, representada pelos professores Maria Neide Sobral, Marizete

Lucine, Solyane Silveira Lima, Maria José Dantas e Jorge Carvalho do Nascimento.

Obrigada pelas sugestões destinadas ao aprimoramento do trabalho e pela participação no

desenvolvimento deste estudo.

Agradeço a todos os professores que participaram da minha formação acadêmica no

Departamento de Educação da UFS, em especial aos que impulsionaram em mim a paixão

pela docência: Anamaria Gonçalves Bueno de Freitas, Wilma Pôrto de Prior, Maria José

Nascimento Soares, Sônia Meire Santos Azevedo de Jesus, Liana de Melo Torres e Dilma

Maria Andrade. Vocês estarão para sempre cultivados na minha memória.

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Todos os entrevistados foram magnânimos em sua ajuda para esta pesquisa. Agradeço

profundamente pela disponibilidade e atenção dedicada ao meu estudo e as minhas

constantes visitas (telefonemas, mensagens no whatsapp e e-mails) em busca de

informações.

Aos amigos da turma de doutorado PPGED-UFS/2013. Obrigada pela companhia durante

esses quatros anos, em especial: Ana Márcia Barbosa dos Santos e Elaine Maria Santos.

Aos colegas do Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação: intelectuais da

educação, instituições educacionais e práticas escolares da Universidade Federal de

Sergipe. Em especial a: Josineide Siqueira, Maria Carolina Barcelos, Maria do Socorro

Lima, France Robertson Pereira da Silva, Claudileuza, Márcia Terezinha Jerônimo,

Renilfran Cardoso de Souza , Miriam Ferreira de Matos, Joaquim Tavares, Marluce de

Souza Lopes Santos e Milena Cristina Aragão Ribeiro de Souza.

A todos os familiares residentes em “Itabaiana City”, que mesmo longe estavam sempre

presentes e na torcida para que tudo ocorresse da melhor maneira...amo vocês.

A todos, que de forma direta e indireta contribuíram para a realização desta pesquisa,

minha profunda gratidão.

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RESUMO

Esta tese tem como objetivo central analisar como ocorreu na prática a inserção e a

atuação dos alunos e licenciados do curso de Pedagogia da Universidade Federal de

Sergipe (1968-1978) no campo educacional sergipano. Nesse sentido, também pretende-

se compreender o processo de criação, funcionamento e legitimação desse subcampo

acadêmico no âmbito local e sua contribuição para a formação de docentes e especialistas

em Educação. Para tal, foi realizada uma pesquisa histórica por meio das análises

bibliográfica e documental, ambas ancoradas nos pressupostos teórico-metodológicos

da Nova História, mais precisamente da nova corrente historiográfica denominada

História Cultural. Além disso, o estudo foi direcionado pelas concepções de campo,

capital e habitus, de Pierre Bourdieu, e memória de Le Goff e Pollak. De acordo com a

pesquisa, podemos constatar que dentre os cursos autorizados para o funcionamento da

Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe (FAFI), a partir de 1951, estava o de

Pedagogia. No entanto, esse curso só passou a funcionar em 1968, após a criação da

Universidade Federal de Sergipe (em 1967) e a certeza da incorporação da FAFI à nova

unidade de ensino superior. A concretização no funcionamento do curso foi uma

determinação do Governo Civil Militar para a criação da UFS, o qual exigia o

desmembramento da FAFI e a implantação do Instituto de Letras, de Filosofia e Ciências

Humanas e a Faculdade de Educação. Após sua implantação, o curso permaneceu durante

as décadas de 60 e 70 do século XX sendo a graduação mais procurada na área de

formação do magistério da Universidade Federal de Sergipe. Um dos motivos para essa

demanda estava associada a reformulação nacional do curso, em 1969, a qual ampliou o

campo de atuação dos pedagogos mediante a criação das habilitações em Supervisão,

Administração, Orientação e Inspeção Escolar. Nesse processo, docentes e especialistas,

atuaram em funções estratégicas do campo educacional sergipano, contribuindo com a

modernização e expansão do ensino. Assim, partimos da tese de que, apesar do curso ter

sido instalado mediante recomendações do Governo Civil Militar, e dominar

interpretações que o reduzem aos interesses de controle social/ideológico desse Governo,

não podemos omitir e nem silenciar as contribuições de seus alunos e diplomados na

implantação de políticas educacionais que visavam à melhoria e ampliação do ensino.

Palavras-chave: Curso de Pedagogia. Licenciados. História da Educação. Sergipe.

Trajetórias docentes.

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ABSTRACT

The major purpose of this dissertation is to analyse the insertion and practice of students

and graduates on Pedagogy of the Universidade Federal de Sergipe (1968-1978) in the

educational field in Sergipe. Another goal is to comprehend the opening of this academic

field and its functioning and legitimation in the local sphere, and its contribution to the

formation of teachers and Education specialists. For which it was donne a historical

research based on bibliographic and documental analyses, both on the framework of the

New History theoretical and methodological premises, more precisely of the new

historiographic school named Cultural History. Besides, the study was oriented by the

concept of field, capital and habitus, on Bourdieu’s account, and the concept of memory

on Le Goff’s and Pollak’s account. According to the research, it is possible to conclude

that the graduation on Pedagogy was among the courses authorized to be offered by the

Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe (FAFI), from 1951. However, the course had

only been given to the public on 1968 after the inauguration of the Universidade Federal

de Sergipe in 1967. The graduation course was opened by a determination of the civil-

military government in order to inaugurate the Universidade Federal de Sergipe which

required the FAFI’s fragmentation and the implementation of the Institute of Languages,

Philosophy and Human Sciences and the Faculty of Education. After its implementation

it was the most popular graduation course during the decades of 1960 and 1970 on the

field of Education in the Universidade Federal de Sergipe. One of the reasons for it is

associated to the national reformulation in 1969, which included the broadening of the

field of expertise for educators by creating the habilitations: coordination, administration,

supervision, and school inspection. Educators and specialists had worked in strategic

functions of the educational field in this process, contributing to the modernization and

expansion of teaching. In this sense, it is not possible to omit or deny the students’ and

graduates’ contributions in the implementation of educational polices on the improvement

of teaching, despite the fact that the course was implemented after an imposition of the

civil-military government, and of the dominant interpretation of social and ideologic

control as the main interest of the government.

Key words: Pedagogy degree. Graduates. History of Education. Sergipe. Teaching

trajectories

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RÉSUMÉ

Cette thèse vise principalement à analyser la façon dont a eu lieu l'intégration et la

performance des étudiants et diplômés du cours de pédagogie de l'Université Fédérale de

Sergipe (1968-1978) dans le domaine de l'éducation en Sergipe. En ce sens, elle vise

également à comprendre le processus de création, le fonctionnement et la légitimité de

cette sous-zone académique au niveau local et leur contribution à la formation des

enseignants et des experts en matière d'Education. Pour ça, on a été réalisée une recherche

historique à travers de l'analyse bibliographique et documentaire, à la fois ancrés dans les

hypothèses théoriques et méthodologiques de la Nouvelle Histoire, en particulier le

nouveau courant historiographique appelé Histoire Culturelle. En outre, l'étude a été

dirigée par le domaine des idées, des capitaux et habitus de Pierre Bourdieu, et la mémoire

de Le Goff et Pollak. Selon la recherche, nous pouvons voir que des cours autorisés pour

le fonctionnement de la Faculté Catholique de Philosophie de Sergipe (FAFI), à partir de

1951, était la Pédagogie. Cependant, ce cours a commencé à foncionner en 1968, après la

création de l'Université Fédérale de Sergipe (en 1967) et la certitude de l'intégration de la

FAFI à le plus jeune institution de l'enseignement supérieur. Le fonctionnement du cours

était une décision du gouvernement militaire civile pour la création de l'UFS, qui exigeait

le démembrement de la FAFI et l’impantation de l’ Institut des Lettres, de Philosophie et

des Sciences Humaines et de la Faculté d'Éducation. Après sa mise en œuvre, le cours est

resté pendant les années 60 et 70 du XXe siècle le cours le plus populaire dans la

formation de l'Université Fédérale de Sergipe. Une des raisons de cette demande a été

associée à la reforme nationale du cours en 1969, qui a élargi le champ de travaille des

pédagogues par l’établissant les qualifications dans la Supervision, l'Administration,

d'Orientation et d'Inspection Scolaire. Dans ce processus, les enseignants et les experts,

ont travaillé dans des rôles stratégiques du domaine de l'éducation en Sergipe, contribuant

à la modernisation et à l'expansion de l'éducation. Donc, nous partons de l'idée que, même

si le cours a été installé par une imposition du gouvernement militaire civile et ces règles

des interprétations qui réduisent les intérêts de contrôle social / idéologique de ce

gouvernement, nous ne pouvons pas omettre et ni taire pas les contributions de leurs

élèves et diplômés dans la mise en œuvre des politiques éducatives visant à l'amélioration

et à l'expansion de l'éducation.

Mots-clés: Cours de Pédagogie. Diplômés. Histoire de l'Éducation. Sergipe. Trajectoires

pédagogiques.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 01 - Padre Luciano José Cabral Duarte..................................................................................... 33

Figura 02 – Autorização para funcionamento dos cursos da FAFI (1951).......................................... 36

Figura 03 - Colégio Nossa Senhora de Lourdes, década de 40 do século XX.................................... 38

Figura 04 – Chamada para defesa de Tese na FAFI (1961)................................................................ 43

.

Figura 05 – Reconhecimento dos cursos da FAFI (1954)................................................................... 44

Figura 06 – Solicitação de inspeção para a FAFI (1954).................................................................... 46

Figura 07 – Solenidade de incorporação das faculdades isoladas à Fundação Universidade Federal de

Sergipe (1968).................................................................................................................................... 49

Figura 08 – Solenidade de instalação da UFS (1968)......................................................................... 50

Figura 09 – Sessão de encerramento da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe........................ 57

Figura 10 – Nomeação da primeira diretora da FACED/UFS (1968)................................................. 60

Figura 11 – Nomeação de Dom Luciano Duarte para o CFE (1968).................................................. 65

.

Figura 12 – Banca examinadora do curso de Pedagogia da FAFI (1968)........................................... 74

Figura 13 – Edital do Concurso de Habilitação da FAFI (1968)......................................................... 76

Figura 14 – Atestado de sanidade mental para o ingresso na FAFI (1968)......................................... 77

Figura 15 – Exames vestibulares da UFS (1969)................................................................................. 82

Figura 16 – Estádio Estadual Lourival Baptista - Vestibular da UFS (1970)...................................... 87

.

Figura 17 – Vestibular unificado da UFS (1971)................................................................................. 91

Figura 18 – A divisão de cursos por grupamento no vestibular da UFS (1973).................................. 94

Figura 19 – Vestibular da UFS realizado no Estádio Lourival Baptista.............................................. 96

Figura 20 – A quebra de sigilo de provas do vestibular (1974)........................................................... 98

Figura 21 – Charge sobre fraudes no vestibular (1976)....................................................................... 99

Figura 22 – O inimigo no Vestibular da UFS - o fiscal (1977).......................................................... 103

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Figura 23 – Guia de instrução para o vestibular da UFS (1978)........................................................ 104

Figura 24 – Medalha de participação no Projeto Rondon (1970)...................................................... 117

Figura 25 – Certificado do 1º Simpósio Estadual do Projeto Rondon/Sergipe (1970)....................... 118

Figura 26 – Embarque de estudantes da UFS para a cidade de Tabatinga/Amazonas (1972)............ 122

Figura 27 – Campanha do Exército Brasileiro em Tabatinga/Amazonas (1972)............................... 123

Figura 28 – Portaria de louvor a integrante do Projeto Rondon (1973).............................................. 125

Figura 29 – Organograma do CECAC-UFS (1976)........................................................................... 128

Figura 30 – Resumo de atividades dos estágios do CECAC/UFS (1976).......................................... 131

Figura 31 – Certificado de docência no curso promovido pelo CECAC/UFS (1972)........................ 132

Figura 32 – Estagiários do curso de Pedagogia/UFS na equipe do CECAC (1976)........................... 133

Figura 33 – Símbolo do CECAC/UFS............................................................................................... 134

Figura 34 – Contratação de professores para a Cruzada ABC............................................................ 144

Figura 35 – Contrato firmado entre SEC/SE e Cruzada ABC (1968)................................................. 147

Figura 36 –Convênio entre SEC/SE, prefeituras e MOBRAL (1970)................................................ 149

Figura 37 – Acidente automobilístico dos integrantes do MOBRAL (1971)..................................... 151

Figura 38 – Fascículo do Projeto Minerva/curso supletivo de 1º grau (1971).................................... 155

Figura 39 – Treinamento de alunos do curso de Pedagogia para atuar no Projeto Minerva (1970)... 157

Figura 40 – Comunicado da Inspetoria Seccional de Sergipe (1969)................................................. 165

Figura 41 – Carteira de Registro de Professor (1973)........................................................................ 172

Figura 42 – Divulgação do curso de Estudos Adicionais (1972)........................................................ 175

Figura 43 – Certificado do curso de Estudos Adicionais (1972)........................................................ 176

.

Figura 44 – Notícia sobre a falta de pessoal qualificado para a implantação da reforma do ensino.. 178

Figura 45 – Posse de novo diretor no Colégio Castelo Branco (1970)............................................ 184

Figura 46 – Concurso para supervisores (1969)................................................................................. 186

Figura 47 – Divulgação de cursos para professores da SEC-SE (1969)............................................. 190

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Figura 48 – Recrutamento de professores para o Ginásio Polivalente (1971).................................... 198

Figura 49 – Preparação de pessoal para o Ginásio Polivalente de Sergipe (1972)............................. 199

Figura 50 – Contrato para o cargo de orientador educacional do CODAP/UFS (1972)..................... 201

Figura 51 – Implantação do serviço de assistência ao educando na SEC/SE (1974)......................... 203

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

APLB – Associação de Professores Licenciados do Brasil – Seção Sergipe CADES – campanha de aperfeiçoamento e difusão do ensino secundário CCCH – Comissão Central do Concurso de Habilitação

CEP – Conselho de Ensino e Pesquisa

CECAC- Centro de Extensão Cultural e Atuação Comunitária

CFE - Conselho Federal de Educação

CNE – Conselho Nacional de Educação

CRUTAC – Coordenação Urbana de Treinamento e Ação Comunitária

Cf. - Conforme

CODAP - Colégio de Aplicação

CONEP – Conselho de Ensino e Pesquisa

CONSU - Conselho Universitário

CNPq – Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico

CURBITAC – Coordenação Urbana de Treinamento e Ação Comunitária

DAA – Departamento de Administração Acadêmica

DAU – Departamento de Assuntos Educacionais

DEAPE – Departamento de Apoio Didático Pedagógico

DEC – Departamento de Educação e Cultura

DED – Departamento de Educação

EUS – Estatuto da Universidade de Sergipe

ENERGIPE - Empresa Energética de Sergipe

FAB – Força Aérea Brasileira

FACED – Faculdade de Educação

FCFS – Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe

FAFI – Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe

FECL – Faculdade de Educação, Ciências e Letras

FNFCL – Faculdade Nacional de Filosofia, Ciências e Letras

FUFS - Fundação Universidade Federal de Sergipe

FUNRURAL - Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural

HEM – Habilitação Específica do Magistério

IDLD - Instituto Dom Luciano Duarte

IERB – Instituto de Educação Rui Barbosa

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IHGS - Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe

INEP – Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos

IPES – Instituto de Promoção e de Assistência à Saúde

JUC – Juventude Universitária Católica

LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEB – Movimento Educacional Brasileiro

MEC - Ministério da Educação e Cultura

MINTER – Ministério do Interior

MOBRAL - Movimento Brasileiro de Alfabetização

PIBIC - Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica

PIPIMO - Programa Intensivo de Preparação de Mão-de-Obra

SEC – Secretaria Estadual de Educação

SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SUDENE – Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

UFS – Universidade Federal de Sergipe

UFPE – Universidade Federal de Pernambuco

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

USAID - United States Agency for International Development

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SUMÁRIO

1 – INTRODUÇÃO...................................................................................................... 15

2 – O SURGIMENTO DO CURSO DE PEDAGOGIA EM SERGIPE................... 29

2.1 – A CRIAÇÃO NA FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA................. 29

2. 2 – A INCORPORAÇÃO NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE.... 51

3 – O INGRESSO NO CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL

DE SERGIPE (1968-1978)........................................................................................... 72

3.1 - A OPÇÃO PELO CURSO E O PROCESSO SELETIVO............................. 72

4 – O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DE ACADÊMICOS E LICENCIADOS DO

CURSO DE PEDAGOGIA (1968-1978)................................................................... 108

4.1 - EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: A ATUAÇÃO DOS ALUNOS PARA

ALÉM DOS LIMITES CURRICULARES .................................................................. 108

4.2 - A PRESENÇA DE ACADÊMICOS E LICENCIADOS EM PEDAGOGIA

NA IMPLANTAÇÃO DE PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

...................................................................................................................................... 136

4.3 - O EXERCÍCIO DOCENTE DOS LICENCIADOS: PROFESSORES DO

CURSO NORMAL E DA HABILITAÇÃO ESPECÍFICA PARA O MAGISTÉRIO

(HEM)........................................................................................................................... 160

4.4 - A DEDICAÇÃO ÀS HABILITAÇÕES: CONTRIBUIÇÕES DO

SUPERVISOR, ORIENTADOR, ADMINISTRADOR E INSPETOR ESCOLAR..... 179

CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................... 206

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 210

APÊNDICES .............................................................................................................. 234

APÊNDICE A – DADOS DOS ENTREVISTADOS................................................ 235

APÊNDICE B – APROVADOS NO VESTIBULAR PARA O CURSO DE

PEDAGOGIA DA UFS (1968-1978).......................................................................... 238

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APÊNDICE C – NÚMERO DE CANDIDATOS INSCRITOS NO VESTIBULAR

PARA O CURSO DE PEDAGOGIA DA UFS E O NÚMERO DE VAGAS

OFERTADAS (1968-1978)......................................................................................... 261

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1 - INTRODUÇÃO

Ao iniciar o curso de Pedagogia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), em

2004, fui contagiada pelo sentimento de alegria e entusiasmo, primeiro por ingressar

numa instituição pública de nível superior; segundo, pelo perfil profissional assegurado

aos licenciados dessa graduação. Tornar-me professora da pré-escola e das primeiras

séries do ensino fundamental era algo que me seduzia e despertava uma intensa

expectativa de contribuições ao campo educacional.

Nos primeiros períodos passei a vivenciar duras críticas ao curso, especialmente

relacionadas ao seu processo histórico de indefinição da identidade e à crença de sua

adesão ao Regime Militar (1964-1985). Diante das obras e autores que eram utilizados

para abordar essas interpretações, fui convencida de que essa versão era algo que de fato

explicava uma parcela das críticas1.

Ao ser convidada pelo professor Jorge Carvalho do Nascimento para participar do

seu projeto de pesquisa financiado pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação

Científica (PIBIC), ainda durante a graduação, escolhi estudar a história do curso de

Pedagogia no Brasil e em Sergipe no período da Ditadura Militar. A intenção era mostrar

essa relação de controle associada ao perfil profissional dos seus licenciados e como

aquele grupo monolítico de militares determinou a disposição local.

Nessa pesquisa, a formação dos pedagogos licenciados pela UFS, nas habilitações

de Magistério, Supervisão Escolar, Orientação Educacional e Administração Escolar,

estava associada ao papel burocratizado do Governo e às suas ações de vigilância e

punição exercidas sobre os professores, alunos, funcionários e pais. A base para sustentar

tal interpretação era fundamentada, especialmente, nos aspectos legais, elaborados de

forma autoritária e voltados aos interesses de controle dos militares, e nas obras que

sustentavam essa versão. Assim, os cinco meses que foram dedicados a essa pesquisa

limitaram-se a aquela análise.

Durante o mestrado (2009-2011), decidi estudar a história da Faculdade de

Educação da Universidade Federal de Sergipe (1967-1971), pois acreditava que já havia

finalizado minha pesquisa com relação ao curso de Pedagogia no Brasil e em Sergipe.

Além disso, como esse curso estava inserido na Faculdade de Educação, considerei que

tal conhecimento me ajudaria a compreender a história da instituição.

1 Dentre as obras utilizadas para justificar essa interpretação estavam as de Paro (2001), Silva (2003) e

Pimenta (1995).

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No entanto, durante o mestrado, passei a analisar o período que abrangia os anos

de 1964 a 1985, a partir de uma nova denominação de “Regime Civil Militar”, por

entender que o grupo que o legitimava não era formado somente por militares2. Esta nova

compreensão permitiu representar a trama e as disputas do campo educacional sergipano,

especificamente no processo de criação da Universidade Federal de Sergipe.

A pesquisa para a dissertação proporcionou questionamentos acerca do curso e a

certeza de que não havia finalizado o estudo do PIBIC, pois surgiu a hipótese de que o

descrédito e as críticas ao curso de Pedagogia3 poderiam estar associados às

interpretações construídas, especialmente, a partir da década de 80 do século XX4, as

quais destacavam um possível “fracasso” da graduação e a causa de todas as mazelas do

ensino ao projeto educacional do Governo Militar.

Além disso, poderia haver outras razões para a criação de um projeto de curso

com aquela disposição, instituindo os perfis profissionais do professor, orientador,

supervisor, administrador e inspetor escolar. Nesse sentido, a interpretação construída

durante a pesquisa do PIBIC não atendia mais aos meus questionamentos, pois precisava

analisar até que ponto o perfil profissional do curso de Pedagogia da Universidade Federal

de Sergipe (1968-1978) havia se estruturado “apenas” para atender aos anseios de

controle e autoritarismo da Ditadura Militar.

A partir dessa questão central, outras interrogações foram sendo formuladas: Será

que o projeto nacional do curso implantado em 1969 seria uma ruptura com o que vinha

sendo planejado antes do Golpe? Não havia a necessidade de profissionais especializados

no campo educacional para atender ao projeto político desenvolvimentista e

modernizador5 do Governo? Como se materializou a atuação dos professores e

especialistas em Educação no campo educacional sergipano? Quais as contribuições dos

egressos do curso de Pedagogia da UFS para o cenário educacional local?

2 De acordo com Motta (2014) e Reis (2014), o Governo Civil Militar compreendeu uma ampla aliança

entre grupos civis e militares. Segundo eles, era uma aliança heterogênea e contraditória, representada por

diferenças tanto sociais quanto ideológicas: “Liberais, conservadores, reacionários, nacionalistas

autoritários e até alguns reformistas moderados receberam com alívio o golpe, pois haviam perdido a

confiança no governo de João Goulart” (MOTTA, 2014, p. 8). 3 Especialmente ao modelo de curso implantado com o parecer do CFE nº. 252/69, o qual cria as habilitações

em Supervisão Escolar, Administração Escolar, Inspeção Escolar e Orientação Educacional. 4 Referencial bibliográfico emergente após a década de 80 do século XX, fundamentado nas teorias crítico-

reprodutivistas. 5 De acordo com Motta (2014) o projeto desenvolvimentista-modernizador do Governo Civil Militar se

concentrava na perspectiva econômica, social e administrativa, com vistas ao crescimento, aceleração da

industrialização e a melhoria da máquina pública. Para a implantação desse plano, o setor educacional

tornou-se área prioritária do Governo. Nesse sentido, escolas e universidades transformaram-se no lócus de

formação de mão de obra qualificada de técnicos e dirigentes.

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Assim, durante o curso de Doutorado, passei a realizar uma nova investigação,

com o objetivo de analisar como ocorreram na prática, a inserção e a atuação dos

acadêmicos e licenciados do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Sergipe

(1968-1978) no campo educacional sergipano6.

A proposta deste estudo não é ignorar a repressão do período e os interesses

camuflados que moviam as medidas governamentais, mas sim apresentar uma proposta

de análise das sutilezas do Regime. É importante que se entenda que as medidas

educacionais aqui discutidas não foram o produto direto e descuidado do projeto

desenvolvimentista e modernizador almejado somente pelas autoridades militares. Antes,

devem ser entendidas como resposta da esfera educacional às demandas de diferentes

grupos, que, de uma maneira geral, ansiavam por melhores oportunidades de emprego e

formação.

Assim, defendo a Tese de que apesar do curso de Pedagogia da Universidade

Federal de Sergipe ter sido instalado durante o Governo Civil Militar (1964-1985), e

predominar interpretações que o reduzem aos interesses de controle social/ideológico

desse Governo, não podemos omitir e nem silenciar as contribuições de seus acadêmicos

e licenciados na implantação de políticas educacionais que visavam à melhoria e

ampliação do ensino durante o período de 1968 a 1978.

Entretanto, com a intenção de compreender de forma mais aprofundada o

surgimento desse subcampo acadêmico e posicionar melhor o leitor diante do objeto de

estudo, foi necessário recuar no tempo, para contextualizar com mais precisão a temática

da pesquisa. Esta breve ampliação do marco temporal, permitiu uma investigação sobre

a Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe7, instituição responsável pela formação

docente em nível superior no Estado, de 1951 até 1968, quando foi incorporada à

Universidade Federal de Sergipe e fragmentada em três novas unidades: Faculdade de

6 Ao ingressar no PPGED/UFS, havia elaborado um projeto de doutorado com o objetivo de analisar as

divergências e disputas entre o projeto do curso de Pedagogia definido pelo Conselho Federal de Educação,

e o projeto implantado na Universidade Federal de Sergipe. Ao analisar a falta de autonomia da congregação

para elaborar um projeto local diferenciado, e diante das sugestões dos professores da banca, do Exame de

Qualificação, um novo direcionamento foi dado ao projeto de Tese. 7 Até 1968, a Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe ou FAFI, como passou a ser conhecida, era uma

instituição de ensino superior privada que funcionava de maneira isolada e autônoma. Nessa faculdade

funcionaram os cursos de Geografia e História (1951), Filosofia (1951), Matemática (1951), Letras Neo-

latinas (1952), Letras Anglo Germânicas (1953), Didática (1954) e Pedagogia (1968). Após 1968, a FAFI

foi inserida à Universidade Federal de Sergipe e desmembrada em três novas unidades: Faculdade de

Educação, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas e Instituto de Letras, Artes e Comunicação. Nesse

contexto, os cursos em funcionamento da FAFI foram transferidos para as novas unidades.

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Educação, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas e Instituto de Letras, Artes e

Comunicação.

Essa iniciativa era a condição estabelecida para a implantação da Universidade

Federal de Sergipe, respeitando as reivindicações da Reforma Universitária publicada em

novembro de 1968:

Art. 8° Os estabelecimentos isolados de ensino superior deverão,

sempre que possível, incorporar-se às universidades ou congregar-se

com estabelecimentos isolados da mesma localidade ou de

localidades próximas, constituindo, neste último caso, federações de

escolas, regidas por uma administração superior e com regimento

unificado que lhes permita adotar critérios comuns de organização e

funcionamento. (BRASIL, 1968, p. 2).

Com a incorporação da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe (FAFI) à

Universidade Federal de Sergipe, e com o desmembramento dessa Faculdade em outras

três unidades, dentre elas a Faculdade de Educação, fez-se necessária a transferência do

então curso de Pedagogia da FAFI para a nova Faculdade de Educação da UFS. Após 10

anos de funcionamento (1968-1978), a Faculdade de Educação foi transformada em

Departamento de Educação da Universidade Federal de Sergipe, e a graduação em

Pedagogia foi inserida nessa nova unidade acadêmica.

Para o desenvolvimento do estudo foram formuladas algumas etapas, a partir dos

objetivos específicos: analisar o processo de criação e implantação do curso de Pedagogia

da Universidade Federal de Sergipe; verificar os aspectos legais que definiram o perfil

profissional do curso; conhecer a motivação dos ex-alunos pela área da Pedagogia e o

processo de seleção para o ingresso nesse subcampo acadêmico; relatar memórias de ex-

alunos e ex-professores do curso, sobre o processo de inserção no campo educacional

sergipano; e destacar, a partir das memórias de ex-alunos, a atuação profissional no

âmbito das políticas educacionais em Sergipe.

Nesse sentido, para atingir os objetivos da tese, iniciou-se uma pesquisa histórica

por meio da análise bibliográfica e documental, ambas ancoradas nos pressupostos

teórico-metodológicos da Nova História8, mais precisamente da corrente historiográfica

denominada História Cultural.

8 Segundo Burke (1992), essa corrente historiográfica surgiu na década de 1970, correspondendo à terceira

geração da chamada Escola dos Annales. Esse movimento seria basicamente ocasionado por uma crise

geral dos paradigmas, especialmente concentrados em algumas críticas: à política pensada além das

instituições e à história pensada além da política; uma preocupação maior com as estruturas do que com a

narrativa dos acontecimentos; deslocamento do interesse pela vida e obra dos grandes homens e grandes

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O historiador inglês Burke (2005) abordou uma extensa discussão sobre esse

referencial teórico-metodológico em sua obra publicada em 20049. Nela, o autor analisa

o surgimento da História Cultural, seus problemas, suas relações com a antropologia, seus

principais teóricos, os procedimentos de pesquisa e conceitos fundamentais. Em sua

concepção:

A necessidade de uma história mais abrangente e totalizante nascia

do fato de que o homem se sentia como um ser cuja complexidade em

sua maneira de sentir, pensar e agir, não podia reduzir-se a um pálido

reflexo de jogos de poder, ou de maneiras de sentir, pensar e agir dos

poderosos do momento. (BURKE, 2005, p. 77).

Outro entendimento adotado nesta tese é a explicação apresentada por Chartier

(1990, p. 16-17), que esclarece, de forma objetiva, que a História Cultural “[...] tem por

principal objetivo identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma

realidade social é construída, pensada, dada a ler”.

Dessa forma, Chartier (1990), distanciando-se de modelos explicativos

reducionistas e deterministas, esboça um novo projeto historiográfico em que a cultura é

concebida como significações que os homens atribuem à sua realidade, às suas práticas e

a si mesmos. Para ele, a História da Cultura, tal como era praticada no passado, era uma

história elitizada, tanto nos sujeitos como nos objetos estudados. A noção de “cultura”

que perpassava era demasiado restrita, a qual os avanços da reflexão antropológica vieram

desautorizar.

Os historiadores Chartier (1990) e Burke (2005) alertam-nos que a História

Cultural, assim definida, possibilitou novos objetos e domínios de investigação com a

fidelidade aos postulados da história social, buscando uma nova legitimidade científica,

e tendo como substrato as aquisições intelectuais que fortaleceram o domínio institucional

do passado.

No Brasil, esse referencial teórico e metodológico vem conquistando

pesquisadores e expandindo sua área de atuação, sobretudo no subcampo científico da

História da Educação. Sobre a produção da historiografia educacional brasileira, Vidal &

Faria Filho (2005) informam que:

datas para as pessoas e acontecimentos comuns; à necessidade de se ir além dos documentos escritos e

registros oficiais; à história não seria objetiva, mas sujeita a referenciais sociais e culturais de um período. 9 No Brasil essa obra foi publicada em 2005.

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No âmbito dos estudos históricos, a influência mais reconhecida

refere-se à chamada nova história cultural francesa. Às vezes difusa

no corpo dos textos analisados pelos balanços realizados, outras vezes

explícita apenas na bibliografia e, em muitos outros casos, aparecendo

no diálogo substantivo desenvolvido em trabalhos de cunho mais

historiográfico. [...] as tendências verificadas no conjunto dos

resumos indicam a crescente consolidação de um campo disciplinar

que se desenvolve no interior do campo pedagógico, mas que

nitidamente inscreve-se no âmbito da chamada História Cultural.

(VIDAL & FARIA FILHO, 2005, p. 124).

Diante desse panorama teórico, o objeto de estudo deste trabalho foi analisado

com base nos conceitos elaborados por Bourdieu (1983, 1990, 2004, 2007), como campo,

habitus e capital, além da concepção de memória desenvolvida por Le Goff (2003) e

Pollak (1992).

Na definição de campo10, Bourdieu (1983a, p. 89) explica que são "[...] espaços

estruturados de posições (ou de postos) cujas propriedades dependem das posições dos

agentes nestes espaços, podendo ser analisadas independentemente das características de

seus ocupantes (em parte determinadas por elas)". Para ele, campo compreende um

universo social particular constituído de agentes ocupando posições específicas

dependentes do volume e da estrutura do capital eficiente dentro do campo considerado.

O campo consiste no espaço onde ocorrem as relações sociais entre os agentes.

Cada campo é dinâmico e obedece a regras próprias, definidas pelas disputas e consensos

ocorridos em seu próprio espaço, onde todos os pares têm interesse em ter sucesso diante

das relações estabelecidas com os outros; representa um espaço simbólico, com leis

próprias.

Essa concepção traz subsídios para entender as disputas, resistências, consensos e

as relações de poder no processo de implantação do curso de Pedagogia da Universidade

Federal de Sergipe (agência formadora), a inserção de seus acadêmicos e egressos no

campo educacional sergipano, a constituição do perfil profissional do pedagogo e a

formulação das políticas educacionais do período de 1968-1978.

Para Bourdieu (2007), o funcionamento de um campo é consolidado devido à

existência de capitais, os quais configuram os objetos de disputa, e de um habitus, que

define traços legitimados no campo. O habitus seria um princípio de um conhecimento

10 Em cada campo específico existe um conjunto de interesses fundamentais compartilhados que garantem

sua existência e funcionamento. Neste estudo foram utilizadas as concepções dos seguintes campos: social,

religioso, político, acadêmico e educacional.

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sem consciência, de uma intencionalidade sem intenção, podendo ser transferido e

adquirido de maneira explícita ou implícita, através da aprendizagem.

Dessa forma, habitus deve ser entendido como:

[...] um sistema de disposições duráveis e transferíveis que,

integrando todas as experiências passadas, funciona a cada momento

com uma matriz de percepções, apreciações e ações e torna possível

a realização de tarefas insignificantes diferenciadas, graças às

transferências analógicas de esquemas que permitem resolver os

problemas da mesma forma e graças às correções incessantes dos

resultados obtidos, dialeticamente produzidos por estes resultados.

(BOURDIEU, 2007, p. XLI).

Esse entendimento permite observar como o habitus adquirido pelos acadêmicos

e egressos de Pedagogia da UFS vai implicar na sua escolha pelo curso, nas condições

para o reconhecimento dos pares no campo educacional (traços distintivos) e nas

estratégias para inserir-se no campo educacional sergipano.

O ingresso no curso concedia a permissão para atuar no campo educacional, mais

especificamente no subcampo do ensino e das funções especializadas da Pedagogia. A

aquisição de títulos (certificados de monitoria, cursos de extensão) e o conhecimento a

respeito das diretrizes do ensino vão resultar no volume de capital acumulado, permitindo

o ingresso dos licenciados no campo acadêmico, mediante a docência no curso de

Pedagogia da UFS.

O capital é o responsável pelas disputas e consensos dentro de um campo11.

Consistem em instrumentos de acumulação, que, de posse dos indivíduos, inseridos em

um determinado campo, passam a servir como objetos de diferenciação entre os sujeitos.

Entre os diferentes tipos de capital, destacam-se: o cultural, econômico, social e

simbólico.

Para Bourdieu (1983a), alguns mecanismos e estratégias são utilizados pelos

agentes em sua constante busca por diferenciação, distinção, visibilidade ou legitimidade

dentro do campo. Diante dessa concepção, ele ressalta que

[...] acumular capital é fazer um 'nome', um nome próprio, um nome

conhecido e reconhecido, marca que distingue imediatamente seu

portador, arrancando-o como forma visível do fundo indiferenciado,

despercebido, obscuro, no qual se perde o homem

comum. (BOURDIEU, 1983a, p. 132).

11 As posições (dominante-dominado) que os agentes ocupam em determinado campo dependem da

estrutura e do volume de capital específico que eles acumulam. Em qualquer campo, é necessária a

existência de objetos de disputa e pessoas que conheçam e reconheçam as leis imanentes do jogo, os objetos

de disputa, e estejam dispostas a disputar o jogo (BOURDIEU, 2007).

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Neste estudo, também foi incorporado o conceito de memória de Le Goff (2003)

e Pollak (1992), para colaborar com a análise acerca da inserção dos acadêmicos e

egressos do curso de Pedagogia da UFS no campo educacional sergipano e a respeito das

práticas profissionais que foram realizadas por eles no interior desse campo, destacando

a implantação de políticas educacionais e o discurso de controle no período da Ditadura

Civil Militar.

Para definir o conceito, Le Goff (2003) desenvolveu uma contextualização,

utilizando obras históricas e de outras áreas do conhecimento para a observação das

respectivas e singulares noções de memória. Para o autor, a memória “como propriedade

de conservar certas informações, remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de funções

psíquicas, graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas,

ou que ele representa como passadas” (LE GOFF, 2003, p. 419).

Segundo Le Goff (2003), a partir dos anos 50 do século XX, psicólogos e

psicanalistas passaram a destacar as manipulações da memória individual de acordo com

os interesses sociais, a afetividade, a inibição e a censura.

Do mesmo modo, a memória coletiva foi posta em jogo de forma

importante na luta das forças sociais pelo poder. Tornar-se senhores

da memória e do esquecimento é uma das grandes preocupações das

classes, dos grupos, dos indivíduos que dominaram e dominam as

sociedades históricas. Os esquecimentos e os silêncios da história são

reveladores desses mecanismos de manipulação da memória coletiva.

(LE GOFF, 2003, p. 422).

Pollak (1992, p. 4-5) acentua a seletividade de toda memória, bem como seu

processo de negociação para conciliar a memória coletiva e as memórias individuais:

Esse último elemento da memória - a sua organização em função das

preocupações pessoais e políticas do momento - mostra que a

memória é um fenômeno construído. Quando falo em construção, em

nível individual, quero dizer que os modos de construção podem tanto

ser conscientes como inconscientes. O que a memória individual

grava, recalca, exclui, relembra, é evidentemente o resultado de um

verdadeiro trabalho de organização. (POLLAK, 1992, p. 4-5).

O autor acrescenta que a memória não se resume exclusivamente à vida de uma

pessoa, pois é uma construção coletiva, um fenômeno construído, organizado a partir do

presente, e em parte herdada:

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A memória é, em parte, herdada, não se refere apenas à vida física da

pessoa. A memória também sofre flutuações que são função do

momento em que ela é articulada, em que ela está sendo expressa. As

preocupações do momento constituem um elemento de estruturação

da memória. Isso é verdade também em relação à memória coletiva,

ainda que esta seja bem mais organizada. Todos sabem que até as

datas oficiais são fortemente estruturadas do ponto de vista político.

Quando se procura enquadrar a memória nacional por meio de datas

oficialmente selecionadas para as festas nacionais, há muitas vezes

problemas de luta política. (POLLAK, 1992, p. 4).

No tocante à seleção da historiografia analisada neste trabalho, enfatizamos a

apreciação de obras que tratam da história do curso de Pedagogia no Brasil e em Sergipe.

A razão dessa escolha foi compreender a trajetória do curso no âmbito nacional, os

aspectos legais que delinearam o currículo e o perfil profissional dos egressos, as

discussões em volta das reformulações e a atuação dos movimentos docentes que

surgiram a partir de 1978.

Na produção sergipana foi localizado o livro intitulado História e memória: o

curso de Pedagogia da Universidade Federal de Sergipe (1968-2008)12, elaborado por

professores do curso de Pedagogia da UFS para comemorar os 40 anos da graduação. A

obra foi constituída a partir de um conjunto de artigos que aborda a história do curso,

enfatizando a formação e as reformulações ocorridas até 2006, com a aprovação das

Diretrizes Nacionais Curriculares. Dentre os assuntos abordados, também se destacam as

produções acadêmicas realizadas por ex-alunos e professores do curso.

Ao analisar a bibliografia nacional, foram enfatizadas três obras que abordam a

trajetória histórica desse curso no Brasil. A primeira foi o estudo de Silva (2003),

intitulado Curso de Pedagogia no Brasil – história e identidade, que analisa a história do

curso de Pedagogia no Brasil e as discussões a respeito de sua identidade, no período de

1939-1998. Para isso, ela utilizou como fontes as diretrizes normativas instituídas pelo

governo federal e as que foram sustadas antes de sua implantação.

A autora narra a trajetória dessa graduação com o objetivo de esclarecer alguns

problemas relativos à identidade e ao perfil profissional do pedagogo, elegendo a estrutura

curricular como foco de análise. Além disso, abordou as propostas e as disputas

12 Essa obra foi organizada pelas professoras Anamaria G. Bueno de Freitas e Maria Neide Sobral. Os

artigos que compõem o livro são dos seguintes autores: Maria Neide Sobral, Silvana Aparecida Bretas,

Judite Oliveira Aragão, Sônia Meire Santos Azevedo Jesus, Maria Cristina Martins, Maria José Nascimento

Soares, Lianna de Melo Torres e Miguel André Berger. Cf. FREITAS, Anamaria Gonçalves Bueno de;

SOBRAL, Maria Neide (Orgs.). História e memória: o Curso de Pedagogia da Universidade Federal de

Sergipe. São Cristóvão/SE: Editora UFS, 2009.

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produzidas no interior do Conselho Federal de Educação e dos movimentos docentes

visando às reformulações. Para ela, durante o período de 1938 a 1998 a identidade do

curso apresentou características distintas, mas não excludentes.

O segundo texto foi produzido por Cruz (2011), com o título O Curso de

Pedagogia no Brasil na visão de pedagogos primordiais. Este estudo focaliza a história

do Curso de Pedagogia no Brasil a partir da visão de um grupo de 17 pedagogos

considerados primordiais. Segundo ela, primordiais no sentido amplo de terem tomado

parte como alunos no período inicial do curso nas décadas de 40, 50 e 60 do século XX e

de se manterem atuantes e influentes desde então, destacando-se pela longa e expressiva

trajetória como formadores e pesquisadores em educação13.

A investigação buscou levantar, junto aos participantes, algumas características

do início do Curso de Pedagogia no Brasil e as mutações por eles vivenciadas. A partir

dessa análise, a autora verificou qual a visão predominante acerca da pedagogia, enquanto

domínio do conhecimento e processo de formação docente.

Cruz (2011) conclui que, devido às mutações experimentadas pelo curso, a

densidade teórica perdeu força, sem que se tivesse consolidado uma outra força capaz de

contribuir para o processo de afirmação de um conhecimento específico da pedagogia e,

consequentemente, para uma maior visibilidade da sua posição no campo acadêmico.

O último trabalho em destaque é o texto de Saviani (2008), A Pedagogia no Brasil:

História e Teoria, que, mesmo divergindo do referencial teórico e metodológico adotado

nesta Tese, contribui de certa forma para entender o processo histórico do curso.

Nessa obra, o autor situa a pedagogia em duas perspectivas: histórica e teórica. Na

primeira parte, dedicada ao aspecto histórico, o foco centra-se na constituição do espaço

acadêmico da pedagogia no Brasil. A segunda parte situa a pedagogia como teoria da

educação no âmbito das principais concepções educativas.

Com relação à história do curso, o autor aborda o surgimento do subcampo

acadêmico da Pedagogia no Brasil, a partir dos cursos de formação docente superior

instalados na Universidade de São Paulo e na Universidade do Distrito Federal, na década

de 30, do século XX. Além disso, enfatiza as diretrizes legais responsáveis pela

implantação da graduação (Decreto nº. 1.190/39) e pelas reformulações ocorridas até

2006, com a aprovação das Diretrizes Curriculares do curso de Pedagogia.

13 Dentre os entrevistados, estavam: Leonor Maria Tanuri, Bernardete Angelina Gatti, Carmem Silvia

Bissoli da Silva, Ilma Passos Alencastro Veiga, Jorge Nagle, Maria Amélia Santoro Franco, Selma Garrido

Pimenta e Vera Maria Candau.

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Além dessa seleção na historiografia educacional, a análise bibliográfica deste

estudo compreendeu o levantamento e apreciação de produções14 que abordam a história

do ensino superior no Brasil e em Sergipe, as políticas educacionais do Governo Civil

Militar (1964-1985) e a atuação do Conselho Federal de Educação (1962-1978).

A análise documental foi desenvolvida por meio da observação crítica das fontes15

relacionadas ao objeto de estudo e ao marco temporal desta tese. Essas fontes

compreendem os seguintes documentos: ofícios, portarias, artigos, grade curricular,

decretos, leis, convites de formatura, diplomas, correspondências, entrevistas, cadernetas,

regulamentos, resoluções, pareceres, cartas, registro de matrícula, avaliações, regimentos,

editais de vestibulares, fotografias, livros, atas, ementas, jornais, programas de ensino,

relatórios e diários.

Na disposição das fontes, a imprensa teve um papel fundamental para

compreender a circulação de informações acerca do funcionamento do campo

educacional e acadêmico, a inserção dos alunos e licenciados de Pedagogia/UFS nesses

campos e a atuação na implantação de políticas educacionais. Nesse sentido, foram

utilizados os jornais em circulação no Estado de Sergipe durante o marco temporal16, e as

revistas “A Documenta” e a “Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos” 17.

A revista “A Documenta” era uma produção oficial do Conselho Federal de

Educação que abordava documentos informativos e as disposições normativas elaboradas

por integrantes do Conselho. Além disso, era um espaço destinado à publicação de artigos

referentes às reformas educacionais do ensino no Brasil. Já a “Revista Brasileira de

Estudos Pedagógicos”, de produção do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais, apresentava artigos de vários intelectuais da área da educação sobre

inúmeras temáticas.

No que se refere aos estudos com esses objetos de análise, Nóvoa (1997) afirma

que:

14 Essas produções abrangem: monografias, dissertações, teses, livros, artigos de revistas e de publicações

científicas. 15 Le Goff (2003) mostrou que a construção de nosso objeto de estudo é subjetiva e depende das fontes;

estas, por sua vez, também são uma construção humana intencional e, portanto, uma montagem. 16 Jornal “A Cruzada” (1950-1970), “Diário de Aracaju” (1968-1978) e “Gazeta de Sergipe” (1968-1978). 17 Os jornais foram pesquisados no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, e as revistas foram

localizadas no setor de periódicos da Biblioteca Central da UFS.

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A imprensa é, provavelmente, o local que facilita um melhor

conhecimento das realidades educativas, uma vez que aqui se

manifesta, de um ou de outro modo, o conjunto de problemas desta

área. É difícil imaginar um meio mais útil para compreender as

relações entre a teoria e a prática, entre os projetos e as realidades,

entre a tradição e a inovação [...] São as características próprias da

imprensa (a proximidade em relação ao acontecimento, o caráter

fugaz e polêmico, a vontade de intervir na realidade) que lhe

conferem este estatuto único e insubstituível como fonte para o estudo

histórico e sociológico da educação e da pedagogia. (NÓVOA, 1997,

p. 31).

A documentação foi pesquisada nos acervos do Instituto Histórico e Geográfico

de Sergipe, Arquivo do Centro de Educação e Ciências Humanas/UFS, Arquivo do

Conselho Diretor/UFS, Arquivo do Conselho Universitário/UFS, Arquivo do Conselho

de Ensino e Pesquisa/UFS, Biblioteca Pública Epifânio Dória, Instituto Dom Luciano

Duarte, Arquivo e Biblioteca Central da UFS, Arquivo do Conselho Estadual de

Educação, Arquivo da Cúria Metropolitana de Aracaju, acervos particulares, Arquivo do

Programa de Documentação e Pesquisa Histórica/UFS, Arquivo do Departamento de

Educação/UFS e nas home pages do Ministério da Educação, do Senado Federal e da

Universidade Federal de Sergipe18.

Nesse sentido, Nunes e Carvalho (1993) tratam sobre a importância da coleta de

fontes e do seu manuseio de forma crítica para a produção do conhecimento histórico.

Segundo as autoras:

Não fazemos bons trabalhos na área sem respeitar a empiria contra a

qual lutamos; e todos já deparamos com a dificuldade de recolher

fontes impressas e arquivísticas, geralmente lacunares, parcelares e

residuais. Apesar dessas dificuldades, é justamente no manuseio

crítico das fontes que o pedagogo ganha a distância necessária para

olhar de uma nova maneira a pedagogia, tornando-se, pela sua prática

e pelo seu projeto, um historiador. (NUNES & CARVALHO, 1993,

p. 23).

Assim, concluímos que o documento é o ponto de partida para se conhecer um

fato histórico. Entretanto, é necessário enfatizar que a história não é produzida somente

por meio de documentos escritos. Como adverte Le Goff (2003, p. 530): “Há que tomar

a palavra documento no sentido mais amplo, documento escrito, ilustrado, transmitido

18 Na home page do Senado e do Ministério da Educação foi pesquisada a legislação federal, relacionada

ao ensino superior. Disponível em: http://www.senado.gov.br/legislacao/ e

http://www4.planalto.gov.br/legislacao. Na home page da UFS foram analisadas todas as resoluções do

Conselho de Ensino e Pesquisa (CONEP) e do Conselho Universitário (CONSU) aprovadas entre os anos

de 1968 a 1978. Disponível em: http://posgrap.ufs.br/scar/.

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pelo som, imagem, ou de qualquer outra maneira”.

Diante dessa perspectiva, também utilizamos o procedimento metodológico da

História Oral, com o intuito de desenvolver análises e interpretações acerca da escolha

pelo subcampo da Pedagogia e das atividades profissionais que eram desenvolvidas por

ex-alunos e licenciados19, além de responder a questionamentos lançados pelos

documentos escritos. De acordo com Meihy e Holanda (2007), as pesquisas que adotam

esse método se respaldam num conjunto de procedimentos iniciados a partir da

elaboração de um projeto e no envolvimento de atores sociais.

História oral é um conjunto de procedimentos que se inicia com a

elaboração de um projeto e que continua com o estabelecimento de

um grupo de pessoas a serem entrevistadas. O projeto prevê:

planejamento da condução das gravações com definições de locais,

tempo de duração e demais fatores ambientais; transcrição e

estabelecimento de textos; conferência do produto escrito;

autorização para o uso; arquivamento e, sempre que possível, a

publicação dos resultados que devem, em primeiro lugar, voltar ao

grupo que gerou as entrevistas. (MEIHY & HOLANDA, 2007, p. 15).

A entrevista20 é incorporada pela história oral como processo dialógico e como

instrumento que objetiva compreender representações do vivido pela via da

documentação oral, ou seja, da linguagem verbalizada dos atores participantes. Sendo

assim, a documentação oral, quando apreendida por meio de gravações eletrônicas feitas

com o propósito de registro, torna-se fonte oral (MEIHY & HOLANDA, 2007).

Quanto à organização estrutural, esta Tese encontra-se dividida em cinco seções,

incluindo a introdução e as considerações finais. Na introdução é apresentado o objeto de

estudo, a periodização, a questão central, as finalidades da investigação, os procedimentos

metodológicos utilizados para o desenvolvimento da pesquisa, as fontes, os locais de

pesquisa e as categorias de análise.

Na segunda seção, foi analisado o surgimento do curso de Pedagogia da

Universidade Federal de Sergipe, enfatizando o processo de criação, reconhecimento,

funcionamento e legitimação desse subcampo acadêmico no espaço do ensino superior.

Além disso, foi desenvolvida uma discussão sobre a exigência do Governo Civil Militar

19 As entrevistas foram realizadas com ex-professores e ex-alunos que estavam vinculados ao curso de

Pedagogia da UFS, no período de 1968-1978. O quadro com o nome de todos eles e informações acerca do

ano de ingresso e conclusão do curso está disponível no apêndice A. 20 Neste estudo, as entrevistas foram semiestruturadas e obedeceram a um roteiro previamente elaborado,

que serviu como guia para direcionar a conversa.

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na implantação da Faculdade de Educação e, consequentemente, do curso de Pedagogia

para a criação da UFS.

A terceira seção aborda os motivos que determinaram a escolha dos candidatos pelo

subcampo acadêmico da Pedagogia, o processo de ingresso na graduação, a demanda por

matrícula e o crescimento no número de vagas do curso.

Na quarta seção, foi analisada a inserção de acadêmicos e licenciados do curso de

Pedagogia/UFS no campo educacional sergipano e a participação desses agentes na

implantação de políticas educacionais, que visavam atender ao projeto modernizador e

desenvolvimentista do Governo Civil Militar.

No último texto, apresentamos as considerações finais acerca da Tese e a sugestão

para outros estudos.

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2.0 – O SURGIMENTO DO CURSO DE PEDAGOGIA EM SERGIPE

2.1 – A CRIAÇÃO NA FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA

A preocupação com a formação de professores no Brasil foi um dos eixos das

discussões sobre o projeto de universidade nos anos de 1920 e 1930, tendo os primeiros

cursos para docentes em nível superior surgido no bojo das diferentes propostas

emergentes na década de 193021.

Em Sergipe, as primeiras apreciações sobre o tema ocorreram na década de 1940

após a criação e legitimação das Faculdades de Filosofia22, no Brasil, como espaços de

formação de professores em nível superior23. As reivindicações acerca dessas unidades

de ensino eram frequentes em matérias jornalísticas sobre educação, como podemos

observar no noticiário da época:

Mais do que qualquer outra, Sergipe precisa quanto antes de uma

Faculdade de Filosofia [...] O magistério secundário, como o

primário, estão cheios de professores pouco mais que semi-

alfabetizados. Muitos deles não têm sequer o curso secundário

completo e já se instituíam professores, garbosamente, exibindo

títulos e diplomas com lastro em atestados graciosos, fornecidos por

diretores de estabelecimentos pouco amantes dos seus deveres.

Outros fugiram a exames de suficiência24, apesar de inscritos,

dissertando de um simplismo teste de capacidade intelectual e

didática, e se arvoram agora, em mestres, líderes de movimentos

educacionais. Trazem seus títulos e eiva de graciosidade e do

favoritismo político. Dessa mesma graciosidade e desse mesmo

favoritismo que são a desgraça maior do ensino em Sergipe, a recrutar

professores dentro dos quadros partidários dominantes [...].

(SERGIPE - JORNAL, 29/03/1949).

21 Durante as décadas de 1920 e 1930 um amplo movimento com membros de diversas entidades

educacionais e científicas (Politécnica do Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Educação, Academia

Brasileira de Ciências, Instituto Franco-Brasileiro de Alta Cultura e da imprensa, através do jornal “O

Estado de São Paulo”) buscou analisar e propor modelos de universidade para o Brasil, incluindo sugestões

relativas à preparação do magistério. Em 1932, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova também

destacou a importância da formação docente em nível superior. 22 A criação dos núcleos de ensino superior foi vista como ampla oportunidade para a participação da

intelectualidade católica na formação das elites dirigentes e a expansão de sua área de influência. Diante

disso, os católicos hegemonizaram a formação superior do professor em Faculdades de Filosofia, pois na

concepção desse grupo essas instituições representavam por natureza um campo católico

(SCHAWATZMAN et al, 2000). 23 As Faculdades de Filosofia não tinham somente o objetivo de formar professores em nível superior, mas

essa característica destacou-se em relação às demais, o que provocou severas críticas à instituição na década

de 1960 (SUCUPIRA, 1969). 24 Os exames de suficiência eram destinados aos professores secundaristas que não possuíam diplomas

universitários e gostariam de lecionar onde não houvesse docentes formados pelas Faculdades de Filosofia.

O processo avaliativo consistia em provas escrita e didática (BRASIL, 1946).

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Até esse período a formação de professores era realizada especialmente no curso

Normal de nível secundário25, ministrado no Instituto de Educação Rui Barbosa26. Esta

instituição, localizada em Aracaju, formava professores para atuar no ensino primário da

capital e em diferentes municípios do Estado27. De acordo com o estudo de Freitas (2003),

a trajetória profissional das ex-normalistas estava relacionada ao capital social e político

de suas famílias:

[...] São três as possibilidades principais de ingresso no magistério, em

Aracaju, no período analisado: a ida para o interior, iniciando a

carreira em escolas de primeira entrância; a espera de uma vaga na

capital (enquanto aguardavam esta possibilidade, as ex-normalistas

realizavam cursos e/ou trabalhos em outras atividades); ou a

nomeação como presente na formatura [...] Todas as ex-normalistas,

apesar das diferentes trajetórias vivenciadas no ingresso profissional,

buscaram ascender na carreira e deixar o trabalho como professoras

primárias através de cursos de especialização, aperfeiçoamento e

graduação. (FREITAS, 2003, p. 214).

Na década de 1940, algumas transformações foram nítidas no sistema educacional

sergipano. Essas alterações se tornaram claras mais precisamente a partir de 1947, com a

posse do novo governador do Estado, José Rollemberg Leite (1947- 1951), como afirma

Araújo:

A instrução pública mereceu, nesta administração, todo o amparo e

atenção carinhosa do governo do estado. Estava certo o governador

José Rollemberg Leite de que é nas escolas que se preparam as

inteligências e as energias cívicas dos povos [...]. Todos os esforços,

portanto, foram empregados para desenvolver o sistema educacional

do estado em relação aos ensinos primário, secundário, comercial e

superior. (ARAÚJO, 1966, p. 207).

Dessa forma, o crescimento no número de escolas e vagas nos ensinos primário,

secundário e técnico (modalidades agrícola, industrial, normal e comercial) tornou-se

25 Nesse período o ensino secundário compreendia o curso ginasial, composto por quatro séries, e um

segundo ciclo, subdividido em curso clássico e curso científico, ambos com três séries (BRASIL, 1942). 26 De acordo com as obras de Freitas (2003) e Brito (2001), podemos verificar que outros cursos Normal

foram ministrados em diferentes escolas sergipanas, desde o final do século XIX e início do século XX, a

exemplo do Atheneu Sergipense (Aracaju), Colégio Sagrado Coração de Jesus (Estância), Nossa Senhora

das Graças (Propriá), Imaculada Conceição (Capela) e a Escola Nossa Senhora de Lourdes (Aracaju).

Entretanto, verificamos que a Escola Normal Rui Barbosa (1923-1945), posteriormente denominada de

Instituto Pedagógico Rui Barbosa (1945-1947) e Instituto de Educação Rui Barbosa (1947 – 2013) foi a

instituição que apresentou o maior período em funcionamento, sem interrupções. 27 De acordo com Brito (2001) a formação do magistério sergipano, durante a década de 1940, não estava

restrita apenas ao curso Normal, pois outros cursos de aperfeiçoamento e especialização docente eram

promovidos, sobretudo, em convênio com o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP).

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evidente nessa administração28. Na época, a expansão escolar ocorria tanto na capital

como no interior, e a população conquistava novas oportunidades de estudos.

No entanto, a qualidade do ensino não conseguia acompanhar esse crescimento

quantitativo, pois muitos professores não apresentavam a formação pedagógica

necessária para desenvolver a docência29. Além disso, o número de professores

diplomados no curso Normal não conseguia suprir as necessidades das escolas primárias,

o que consequentemente favorecia o ingresso de professores leigos nessas instituições.

Sobre esse insuficiente campo de formação docente em Sergipe, Nunes Mendonça30

esclarece que:

O número de professores leigos, incapazes, semi-analfabetos e

desinteressados é alarmante. E grande parte dos diplomados não

dispõe das habilidades específicas, indispensáveis ao magistério, em

virtude de formação incompleta e inadequada, e da falta de um sistema

de aperfeiçoamento profissional, próprio para corrigir as deficiências

de preparação [...]. O número de leigos atinge a cifra de 968, ou seja,

em têrmos percentuais, 67,3%, o que representa índice bem alto de

improvisação. (NUNES MENDONÇA, 1958, p. 159).

Desse modo, tornou-se indispensável a criação de uma faculdade que formasse

professores para atuar no magistério sergipano com o intuito de atender ao crescimento

no número de escolas primárias e secundárias, já que até 1950 não havia nenhum curso

superior com essa finalidade, conforme podemos verificar no registro do periódico a

seguir:

Uma Faculdade de Filosofia preencheria essa lacuna, preparando

professores para todas essas escolas. Que adianta abrir ginásios,

instalar escolas normais, ampliar os nossos estabelecimentos de

ensino, se, na verdade, apesar dos grandes mestres de que dispomos

não temos professores em número suficiente e com capacidade

didática e intelectual para o desempenho de todas as tarefas que hão

de ser distribuídas? Lancemos, pois a base de uma Faculdade de

Filosofia, e tenhamos a coragem de realizá-la, com desprendimento e

estoicismo para o desenvolvimento e para o renome do ensino em

terras de Tobias Barreto e de Fausto Cardoso. (SERGIPE - JORNAL,

29/03/1950).

28 Segundo Nunes Mendonça (1958), no ano de 1943 existiam 635 escolas de diferentes modalidades

distribuídas em todo o Estado, sendo que 150 estavam sob administração municipal, 361 pertenciam ao

poder estadual e 124 eram particulares. Em 1948 o número de escolas subiu para 747, compreendendo 188

da rede municipal, 424 da rede estadual, 134 particulares e 1 de administração federal. 29 Essa conclusão foi possível após a análise de severas críticas sobre a qualidade do ensino e a formação

de professores divulgadas na imprensa sergipana. 30 No momento da pesquisa, que resultou no livro A educação em Sergipe, publicado em 1958, Nunes

Mendonça atuava como professor de Pedagogia no 1º ano do curso de formação de professores primários

do Instituto de Educação Rui Barbosa.

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Nesse período, a Faculdade de Filosofia representava a instituição oficial de nível

superior destinada à formação do magistério dos ensinos secundário e Normal, no país.

Dentre suas atribuições, acumulava a responsabilidade pelo funcionamento dos cursos de

bacharelado e licenciatura em Letras Neo-latinas, Letras Anglo-germânicas, Letras

Clássicas, Química, Física, Matemática, História Natural, Filosofia, História e Geografia,

Pedagogia, Ciências Sociais e Didática (BRASIL, 1939).

Com o objetivo de criar tal instituição em Sergipe, um importante acordo foi

firmado entre o Estado e a Igreja Católica respectivamente, na figura do governador, José

Rollemberg Leite (1947-1951), e o bispo da Diocese de Aracaju, Dom Fernando Gomes

(1949-1957).

Nesse acordo, realizado mais precisamente em 1950, o Governo Estadual garantiu

um subsídio anual de cem mil cruzeiros (Cr$ 100.000,00)31 e o auxílio financeiro na

compra do terreno e na construção do prédio da unidade. Já a Diocese se responsabilizaria

pelo processo de criação e funcionamento da instituição, que seria chamada de Faculdade

Católica de Filosofia de Sergipe ou carinhosamente de FAFI32.

Diante dessa iniciativa, a Faculdade foi fundada em 12 de julho de 1950 pela

Diocese de Aracaju e passou a ser administrada pela Entidade Mantenedora Sociedade

Sergipana de Cultura33, instituição responsável por manter e dirigir as faculdades de

caráter cultural e social, as quais futuramente integrariam a Universidade Católica de

Sergipe. Entretanto, a implantação e o funcionamento dos cursos ainda não haviam sido

autorizados pelo Governo Federal:

Todos sabem que está em vésperas de funcionar uma Faculdade de

Filosofia em Sergipe, criada e mantida sob a égide da Igreja.

Entretanto, é possível que muita gente não tenha compreendido o

alcance deste fato, que valeu grandes sacrifícios. (A CRUZADA,

19/11/1950).

31 A subvenção foi instituída pelo Decreto nº 221, de 15 de junho de 1950, publicada no Diário Oficial do

Estado de Sergipe em 17 de junho de 1950. No ano de 1959, o presidente da Sociedade Sergipana de

Cultura, Dom José Vicente Távora, e o diretor da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, Monsenhor

Luciano Duarte, solicitaram ao então governador Luiz Garcia o aumento da subvenção estadual para Cr$

500.000,00. Em 1963, o mesmo governador aumentou a subvenção estadual para Cr$ 1.200,000,00. 32 É importante salientar que durante a trajetória histórica da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe,

outros recursos financeiros foram disponibilizados pelos governos federal, estadual e municipal. 33 A Entidade Mantenedora Sociedade Sergipana de Cultura era responsável pelo funcionamento e

administração financeira da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. Foi criada em 20 de setembro de

1950 por D. Fernando Gomes, segundo bispo de Aracaju, o qual alegou tratar-se “[...] de uma corporação

civil, de fins não econômicos, mas culturais e sociais, cujo objetivo é instruir, manter e dirigir as Faculdades

e Institutos de caráter cultural e social que poderão, mais tarde, integrar a futura Universidade Católica de

Sergipe” (SOCIEDADE SERGIPANA DE CULTURA, 1950, s/p).

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Logo, a responsabilidade da Igreja em tal acordo foi direcionada ao Padre Luciano

José Cabral Duarte34. Este, ao receber a notícia de que seria o responsável pela

implantação da unidade de ensino, viajou até Recife para conhecer a Faculdade Católica

de Filosofia de Pernambuco35.

Figura 01 - Padre Luciano José Cabral Duarte

Acervo: Instituto Dom Luciano Duarte (IDLD).

Após analisar as estruturas acadêmica e administrativa da Faculdade de

Pernambuco, o Padre Luciano Duarte elaborou o projeto exigido pelo Governo Federal

para conceder a autorização do funcionamento dos cursos da Faculdade Católica de

34 O Padre Luciano José Cabral Duarte nasceu em 1925, na cidade de Aracaju, e ordenou-se sacerdote em

1948, conciliando durante muitos anos a sua vida eclesiástica com o magistério superior. Atualmente é

Arcebispo Emérito de Aracaju. A referência ao sacerdote, no decorrer do texto, será de acordo com sua

posição na hierarquia de sua congregação religiosa: padre (1948-1958), monsenhor (1958-1966), bispo

(1966-1970) e arcebispo (1971-1998). Sua biografia completa pode ser consultada na obra de Morais

(2008). 35 Para elaborar o projeto da faculdade sergipana, Padre Luciano Duarte entrou em contato com o também

padre sergipano Francisco Tavares de Bragança, que acumulava o cargo de professor e diretor da Faculdade

Católica de Filosofia de Pernambuco. Essa instituição havia sido criada em 1943 pelos padres jesuítas.

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Filosofia de Sergipe, e o encaminhou à Diretoria do Ensino Superior do Ministério de

Educação e Cultura (MEC), então a cargo do Dr. Jurandi Lodi, que o conduziu aos

membros do Conselho Nacional de Educação (CNE)36 para ser avaliado.

O projeto deveria atender uma sequência de solicitações recomendadas pelo

Conselho Nacional de Educação: 1- Relatório mostrando as reais possibilidades do

Estado e a necessidade de uma Faculdade de Filosofia; 2 - Demonstração da capacidade

financeira para o custeio do curso; 3 - Entidade caracterizada como uma fundação,

apresentando os recursos fundamentais para garantia das instalações e funcionamento

regular dos cursos; 4 - Possibilidade do corpo docente com títulos suficientes para ser

aprovado (LUDOVICO, 2011).

Ao receber e analisar tal documento, o Conselho Nacional de Educação enviou a

Sergipe um inspetor federal do ensino superior para elaborar um relatório com

informações registradas “in loco” da Faculdade e verificar a possibilidade de tal

instalação. A visita oficial do inspetor ocorreu em outubro de 1950, com o objetivo de

realizar a vistoria da instituição e elaborar o relatório com o seu parecer37.

De acordo com o jornal “A Cruzada”38, os cursos pleiteados no projeto enviado

ao Ministério da Educação e Cultura para a licença de funcionamento, ainda em 1951,

eram39:

(Como se sabe esperamos autorização para seis cursos: Filosofia,

Línguas neo-latinas, Línguas anglo-germânicas, Geografia e História,

Matemática e Pedagogia). Os interessados poderão procurar o referido

programa com o secretário da Faculdade, Pe. Luciano Duarte, ou na

Cúria Diocesana. (A CRUZADA, 26/11/1950).

O curioso é que, mesmo sem a certeza da autorização por parte do Conselho

Nacional de Educação para o funcionamento da Faculdade, foi divulgado na imprensa

36 O Conselho Nacional da Educação foi criado pelo Decreto-Lei nº. 19.850, de 1931, com a finalidade de

ser o órgão consultivo do ministro da Educação e Saúde Pública nos assuntos relativos ao ensino. Em 1961,

com a Lei nº. 4.024, passou a ser denominado de Conselho Federal de Educação (CFE). 37 O inspetor federal indicado para vistoriar a Faculdade Católica de Filosofia, foi o Dr. Hermilo Guerreiro.

O inspetor federal da Universidade da Bahia já havia sido o verificador credenciado pelo MEC no processo

de instalação da Faculdade de Ciências Econômicas de Sergipe (A CRUZADA, 29/10/1950). 38 O Jornal “A Cruzada” foi criado em 1918 pela Igreja Católica com o intuito de propagar o discurso

católico sobre a sociedade sergipana. Publicado até fins da década de 1960, teve duas fases: a primeira vai

de 1918-1926 e a segunda de 1935-1970. Outras informações, consultar Sales (2005). 39 Não foram encontrados registros que expliquem a preferência do Padre Luciano Duarte pelos cursos

pleiteados no projeto enviado ao MEC. Supõe-se que a escolha pelo curso de Pedagogia estava relacionada

à formação de professores para atuar nas disciplinas do curso Normal, pois o Regimento da FAFI apresentou

como finalidade da instituição “[...] preparar candidatos ao magistério do ensino secundário e normal”

(FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE SERGIPE, s/d, s/p.).

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sergipana, em dezembro de 1950, um curso pré-vestibular gratuito aos interessados em

pleitear uma vaga nos cursos da FAFI. Além disso, o programa para o exame vestibular

já estava disponível e a data do exame marcada para fevereiro de 1951. De acordo com o

noticiário do jornal A Cruzada:

No intuito de ajudar os candidatos ao exame vestibular da nossa

Faculdade de Filosofia, exame que será na segunda quinzena de

fevereiro, surgiu à idéia de organizar-se um pequeno curso pré-

vestibular, abrangendo aquelas matérias em que os examinados iriam

encontrar maiores dificuldades em, sozinhos, prepararem o programa

do exame. É verdade que uma portaria do exmo. Sr. Ministro da

Educação proíbe, sob pena de nulidade, que sejam examinadores

aqueles professores que tenham lecionado aos alunos que se

submetem ao vestibular. (A CRUZADA, 31/12/1950).

A hipótese é de que o Bispo Dom Fernando Gomes e o Padre Luciano Duarte

exerciam autoridade sobre alguns membros do Ministério da Educação e Cultura. Dessa

forma, entendemos que o volume de capital que ambos tinham no campo religioso

conseguiam transcender para os campos acadêmico e político.

Para Bourdieu (1999) cada campo, operando dentro de sua autonomia relativa e

obedecendo a sua lógica específica, os agentes, posicionados de acordo com seu volume

e composição de capitais, interagem como jogadores em um mercado, enfrentando-se

para conservar e acumular as formas de capital que permitem o reconhecimento dos pares

e a dominação do campo.

Diante disso, foi com muita confiança que entre os meses de novembro de 1950 e

fevereiro de 1951 os sergipanos aguardavam a publicação no Diário Oficial da União do

Decreto Presidencial que autorizava oficialmente a instalação da FAFI40:

Aguardamos para breve a palavra final e definitiva do Ministério de

Educação, concedendo, segundo esperamos, a autorização oficial para

o funcionamento da nossa vitoriosa Faculdade Católica de Filosofia

de Sergipe. (A CRUZADA, 26/11/1950).

O esperado decreto do Governo Federal nº. 29.311 foi finalmente publicado no

Diário Oficial da União no dia 2 de março de 1951 e datava de 28 de fevereiro desse

mesmo ano:

40 De acordo com o Decreto-Lei nº. 421/38, para que um curso superior pudesse funcionar no país era

necessária a autorização prévia do Governo Federal. O pedido de autorização era dirigido ao ministro da

Educação e Saúde, que, ouvido o Conselho Nacional de Educação, o submeteria à decisão do Presidente da

República.

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Figura 02 - Autorização para funcionamento dos cursos da FAFI (1951)

Fonte: Decreto nº. 29.311, de 28/02/1951

Acervo: Instituto Dom Luciano Duarte (IDLD).

O documento, assinado pelo presidente Getúlio Vargas e pelo ministro da

Educação e Saúde Pública Ernesto Simões Filho, autorizava a abertura de cinco cursos:

Geografia e História, Pedagogia, Filosofia, Letras Anglo Germânicas e Matemática.

Inicialmente só funcionaram as graduações em Geografia e História41, Filosofia e

Matemática42, sendo que anos depois começaram a atuar os cursos de Letras Anglo

Germânicas (1953) e Pedagogia (1968).

Diante do decreto, também podemos visualizar que não foi concedida a

autorização para o funcionamento do curso de Letras Neo-latinas43, pleiteado no plano de

funcionamento da Faculdade. Esse curso era um dos mais procurados pelos candidatos:

41 O curso de Geografia e História constituía uma única disciplina até o ano de 1963. No ano seguinte os

cursos de Geografia e História ganharam autonomia assegurada em novo Regimento Interno da FAFI.

Sobre o curso de Geografia e História, consultar Oliveira (2008). 42 Mais informações a respeito do curso de Matemática da FAFI, consultar Oliveira (2009). 43 A autorização para o funcionamento do curso de Letras Neo-latinas foi concedida pelo Governo Federal

em abril de 1952. Nesse mesmo ano, realizou-se a seleção para o ingresso de alunos e iniciaram as

atividades do curso.

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Está sendo relativamente grande o número de pessoas interessadas em

cursar a Faculdade de Filosofia, no próximo ano, e que tem procurado

o secretário da mesma a cata de informações. [...] Candidatos para

todos os seis cursos já se apresentaram, notadamente para neo-latinas

e Geografia e História. (A CRUZADA, 26/11/1950).

Destaca-se que apesar da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe apresentar

como objetivo principal, a formação de professores, não foi solicitada no projeto de

criação a abertura do curso de Didática44.

Tal curso era o responsável pela formação de todos os licenciados nas Faculdades

de Filosofia, ou seja, mais precisamente dos professores de diferentes áreas do

conhecimento. Provavelmente, o autor do projeto “Padre Luciano Duarte” entendeu que

não seria necessária a abertura de Didática até 1954, pois a formatura da primeira turma

de bacharéis da Faculdade só ocorreria em dezembro de 195345.

Assim, após a autorização para implantação dos cursos, a FAFI começou a

funcionar provisoriamente em março de 1951 no prédio do Colégio Nossa Senhora de

Lourdes, localizado na capital46, sob a licença da Ordem das Irmãs Sacramentinas47. Os

cursos da Faculdade eram ministrados no turno da noite devido às atividades do Colégio

no período diurno48.

Em comemoração aos 40 anos da FAFI, sua história foi narrada com o seguinte

texto:

Ela nasceu na noite, esta sombra que se dramatiza nos cenários do

universo há milhões de anos. Um passo no escuro e na esperança. A

noite da dificuldade, das lutas, os fundos do esforço, do idealismo: nos

fundos de um prédio, no fundo das noites, ela engatinha pequenina e

silenciosa, atraindo a si as primeiras inteligências. A noite amanheceu,

geradora e irreversível: a manhã dos novos professores de Sergipe, dos

Seminários, Conferências, a manhã da Cultura Francesa, da Revista

da Faculdade. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, 1991,

s/p.).

44 É importante lembrar que os diversos cursos ofertados pelas Faculdades de Filosofia formavam bacharéis

respeitando o “padrão federal curricular” chamado 3 + 1, no qual o bacharel formado em um curso com

duração de três anos que desejasse se licenciar completaria seus estudos com mais um ano no curso de

Didática. 45 A solicitação para o funcionamento do curso de Didática da FAFI foi enviada em dezembro de 1953,

sendo a autorização concedida em janeiro de 1954, através do Decreto-Lei nº 34.961. Já o reconhecimento

só ocorreu com o Decreto-Lei nº. 39.039, de 18 de abril de 1956. 46 Rua Itabaianinha, nº 586, Aracaju-Sergipe. 47 A congregação religiosa das Irmãs Sacramentinas era responsável pelo Colégio Nossa Senhora de

Lourdes. Informações a respeito da Congregação e do Colégio, consultar Costa (2003). 48 A concretização de um prédio próprio só ocorreu a partir de 1954, após a compra do terreno e o início

das obras de construção da sede com o apoio do então governador de Sergipe, Arnaldo Rollemberg Garcez

(1951-1955). O novo prédio localizado em Aracaju (Rua de Campos, nº 177, São José) foi inaugurado em

1959.

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O poema elaborado pela ex-professora da FAFI, Carmelita Pinto Fontes, buscava

retratar a origem da instituição mediante metáforas que lembram o período noturno das

aulas, as dificuldades em encontrar professores para lecionar nas disciplinas, as limitações

financeiras da instituição, a formação de novos docentes e a utilização das salas do

Colégio Nossa Senhora de Lourdes:

Figura 03 - Colégio Nossa Senhora de Lourdes, década de 40 do século XX

Fonte: Fotografia do Ginásio Nossa Senhora de Lourdes. Acervo: Arquivo particular do professor Miguel

André Berger.

Ainda no mês de março de 1951, iniciaram-se os preparativos para o primeiro

vestibular. As inscrições foram realizadas no período de 5 a 9 do corrente mês, e o exame

para o ingresso ocorreu entre os dias 16 a 19 de março. As aulas iniciaram sete dias depois,

com um calendário especial:

A divisão do Ensino superior, a cuja testa está o Dr. Jurandir Lodi,

logo após a publicação do decreto abriu um calendário especial para o

funcionamento da Faculdade ainda neste ano, e designou o Sr. inspetor

da Faculdade de Direito de Sergipe Dr. A. Temporal, para responder

pelo expediente da Faculdade de Filosofia. (A CRUZADA,

18/03/1951).

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De acordo com essa informação, podemos observar mais uma vez a relação de

poder do Padre Luciano Duarte perante os campos acadêmico e político, pois, durante

esse período, havia um calendário fixo e rígido definido pelo Ministério da Educação e

Cultura para as instituições de ensino superior, evitando medidas extraordinárias com

relação a modificações do calendário oficial.

Durante as inscrições para o vestibular foram disponibilizadas vagas somente para

os cursos de Filosofia, Matemática e Geografia e História. Na oportunidade, não houve

seleção para os cursos de Letras Anglo Germânicas49 e de Pedagogia.

Com relação ao curso de Pedagogia, várias suposições sinalizam a ausência dessa

graduação nos primeiros exames para o ingresso de alunos na Faculdade Católica de

Filosofia de Sergipe.

A primeira delas diz respeito às dificuldades financeiras frequentemente

divulgadas em atas de reuniões e cartas destinadas a políticos e ao procurador da própria

instituição de ensino50. Em uma das cartas, o Padre Luciano Duarte relata ao procurador

Armando Barcelos o seu descontentamento ao ser questionado pela conselheira Nair

Fortes Abu-Merhy e o titular da Diretoria do Ensino Superior, Dr. Jurandi Lodi51, sobre

a incapacidade financeira da Sociedade Mantenedora em sustentar a Faculdade, e por

terem recusado o plano anual de aplicação do auxílio financeiro da FAFI, concedido pelo

Governo Federal52:

Agora o assunto mais importante desta: nós mandamos o plano de

aplicação do auxílio, e a Drª Nair fez um papel triste com a gente.

Imagine o Sr.: fizemos o plano dentro daquele esquema que o Sr. nos

mandou: Pessoal, equipamento, diversos, etc. [...] Pois sabe o Sr. qual

foi o parecer da dona Nair, homologado pelo Dr. Lodi, que o disse

pessoalmente ao Sr. Bispo D. Fernando? Nada mais, nada menos: que

não era admissível que uma Faculdade tão nova gastasse mais de 30%

da verba do auxílio com o pessoal... E ainda: que parecia que a

Faculdade estava vivendo exclusivamente de subvenções, como se a

Mantenedora de fato não pudesse manter, etc. Veja o Sr. que lógica

admirável: justamente porque é tão nova, a Faculdade merece

49 O curso de Letras Anglo Germânicas só passou a funcionar em 1963, com sua primeira turma formada

em dezembro de 1966. 50 O procurador da FAFI, Dr. Armando Barcelos, residia no Rio de Janeiro. Diversas cartas endereçadas a

ele foram encontradas no Arquivo Central da UFS e no Instituto Dom Luciano Duarte. 51 Nair Fortes Abu-Merhy atuava no Conselho Nacional de Educação e Jurandi Lodi era o responsável pela

Diretoria do Ensino Superior. 52 Além de recusar o plano de orçamento da FAFI, o Dr. Jurandi Lodi enviou um “desatencioso telegrama”,

de acordo com o Padre Luciano Duarte, pedindo que enviasse provas de que a mantenedora estava

fornecendo meios para que os professores pudessem receber salários condignos. Entretanto, o diretor da

Faculdade não apresentou nenhuma prova, pois justificou que as constantes inspeções que eram realizadas

por uma comissão do próprio Conselho Nacional de Educação já provavam a eficiência e honestidade da

instituição.

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estranheza se gasta mais de 30% com professorado!!! Magnífico

paradoxo! Entretanto, lembramos de sua advertência de que não adianta

discutir, mas é obedecer e pronto, aí vai um novo plano de aplicação.

(DUARTE, 1953a, s/p).

Em outra correspondência enviada em 1959 ao deputado federal de Sergipe, Dr.

Leite Neto, o monsenhor Luciano Duarte explicou a situação econômica da FAFI e a

necessidade do funcionamento do curso de Filosofia53, solicitando maiores investimentos

para a sua manutenção:

Ora, no próximo ano somos obrigados a reabrir o curso de Filosofia,

temporariamente suspenso. Será um novo curso, com novo quadro de

professores e novas despesas. [...] Muita coisa conspira, em Sergipe,

contra nossas escolas superiores. Uma das maiores dificuldades é a

financeira. Nossos professores têm trabalhado com salários puramente

simbólicos54, até hoje. Entretanto, também o idealismo cansa, e eu

sinto a necessidade urgente de melhorar a situação em que nos

debatemos. (DUARTE, 1959, s/p).

Assim, apesar de ter um caráter privado55 e uma sociedade mantenedora amparada

financeiramente pela Igreja Católica, além dos investimentos advindos dos governos

federal, estadual e municipal, a Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe lidava com

diversos problemas financeiros, desde a sua criação até a incorporação à Universidade

Federal de Sergipe, em 1968.

Além das limitações financeiras, a Faculdade também apresentava dificuldades

em encontrar recursos humanos, pois faltavam professores formados e especializados

para lecionar nas disciplinas obrigatórias do currículo. Isso ocorria devido à falta de

interesse de muitos diplomados em permanecer na capital sergipana, visto que muitos

deles se ausentavam para estudar em outros Estados e não retornavam. Segundo a

pesquisa de Oliveira (2011), a necessidade dos diplomados em dedicar-se as suas

profissões legais também dificultava a constituição do corpo docente:

53 O curso de Filosofia começou a funcionar em 1951. Entretanto, em 1958 o diretor, monsenhor Luciano

Duarte, e o Conselho Técnico-Administrativo da FAFI decidiram suspender temporariamente o curso

devido ao pequeno número de alunos e às dificuldades financeiras da Faculdade (FACULDADE

CATÓLICA DE FILOSOFIA DE SERGIPE, 1961b). 54 É necessário frisar que apesar dos registros documentais demonstrarem o pagamento de salários

simbólicos aos professores que atuavam na FAFI, nota-se a importância dessa atuação para a acumulação

de capital simbólico e social. Além disso, a atividade docente nesse período, especialmente no ensino

superior, concebia a caracterização de intelectualidade. 55 Apesar da FAFI ter um caráter privado, é importante notificar que todos os ex-alunos entrevistados

durante a pesquisa de doutorado não pagavam mensalidades, devido à distribuição de bolsas de estudo.

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A carência de docentes com uma formação acadêmica para lecionar

na faculdade era grande, tendo em vista que todos eles tinham feito

suas graduações em outros estados, e ao retornar assumiam suas

diferentes profissões. Preencher o quadro de todas as disciplinas e

contar para isso com modestos recursos era uma tarefa difícil. À

medida que os alunos terminavam seus cursos, alguns eram

convidados para retornar à instituição. (OLIVEIRA, 2011a, p. 37).

Outro aspecto relevante foi o pequeno número de candidatos interessados em

cursos de licenciatura, pois a baixa remuneração e a cultura do favoritismo político56,

provocavam o desinteresse dos jovens por essa área profissional. Este fato era

constantemente denunciado na imprensa sergipana.

Vale ressaltar que o baixo salário pago ao professor, num verdadeiro

desconhecimento de sua função, é o principal responsável pela pouca

procura dos cursos da Faculdade de Filosofia – apesar da necessidade

de professores – e mentalidades de que só servem para moças, pois o

rapaz não vai perder tempo estudando para depois não ganhar

suficientemente para sustentar a família, um emprego federal é mais

rentoso e mais fácil. (A CRUZADA, 09/06/1963).

Segundo Nunes (2007), a localização da FAFI no centro da cidade (nas

proximidades do mercado e da zona de prostituição), associada ao funcionamento dos

cursos no período noturno, também contribuíram para essa baixa procura57.

Além de todos esses fatores, ainda existia a indefinição do campo de atuação dos

licenciados ou bacharéis do curso de Pedagogia. De acordo com a Lei nº 1.190/1939, o

profissional formado nessa área poderia atuar nas disciplinas pedagógicas do Curso

Normal e/ou como técnico em educação, cuja função no mercado de trabalho nunca foi

precisamente definida. Paralelo a isso, como em Sergipe o corpo docente dos cursos

normais era constituído por professores renomados e legitimados no campo do

magistério, dificilmente haveria espaço disponível para os novos egressos.

Mesmo diante de todos esses empecilhos, verificou-se o empenho de alguns

professores da Faculdade Católica de Filosofia na instalação desse curso, ainda em 1961,

sem sucesso:

56 A pesquisadora Maria Thétis Nunes completa que, além da baixa remuneração do magistério, havia

também a tradição do favoritismo político que podia transformar qualquer pessoa em professor primário ou

secundário (NUNES, 1984). 57 Vale ressaltar que a FAFI funcionou nas dependências do Colégio Nossa Senhora de Lourdes até 1958.

Em 1959, o prédio da Faculdade foi inaugurado, permitindo o funcionamento dos cursos no período diurno.

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Argumentando a falta de professores de Pedagogia, o Dr. José Silvério

Leite Fontes sugere que entre em funcionamento o curso de

Pedagogia. O problema é debatido pelos presentes, tendo por fim o Sr.

Diretor58 demonstrado que no momento era impossível, haja vista, as

elevadas despesas para a criação de mais um curso em nossa

faculdade. (FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE

SERGIPE, 1961a, s/p.).

O professor José Silvério Leite Fontes59 já havia indagado sobre a ausência desse

curso no ano anterior, quando foi relator de um processo que solicitava a defesa de uma

tese de doutorado em Pedagogia na Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. No seu

parecer, ele alegou que o não funcionamento do curso de Pedagogia da FAFI e a ausência

de um corpo docente constituído dificultariam a orientação e avaliação do trabalho, além

da triagem de professores para a banca avaliadora. Apesar disso, no seu parecer solicitou

uma consulta ao inspetor federal da Faculdade e ao Conselho Nacional de Educação para

analisar a legalidade do pedido e os pré-requisitos que o candidato deveria ter para

defender tal tese60.

Mesmo sem o corpo docente constituído, o Conselho Nacional de Educação

autorizou a FAFI compor a banca de doutorado em Pedagogia e promover a defesa na

Faculdade. Para participar da comissão examinadora foram indicados os professores

Gonçalo Rollemberg Leite, Luciano José Cabral Duarte e José Silvério Leite Fontes.

A defesa61 foi bastante divulgada na imprensa sergipana, como podemos observar

no Jornal A Cruzada:

58 Monsenhor Luciano Duarte. 59 O professor José Silvério Leite Fontes iniciou o curso de Pedagogia na Universidade da Sorbonne, na

França, em novembro de 1959, mas infelizmente não concluiu o curso por motivo de doença. 60 Em 1960, o bacharel em Pedagogia e Direito, José Silvio Barreto de Macêdo, solicitou à direção da FAFI

autorização para a sua defesa de tese de doutorado em Pedagogia, amparado no Regimento Interno da

Faculdade e no Decreto-Lei nº. 9.092/1946. No ano seguinte, o Conselho Nacional de Educação se

pronunciou favoravelmente à defesa de tesa na citada instituição de ensino, sendo realizada em 06 de abril

de 1961. 61 O autor da tese de doutorado, era José Sílvio Barreto de Macedo. Este era natural de Penedo-Alagoas, e

havia cursado o ensino ginasial em Aracaju. Cursou a Faculdade de Direito do Recife, tornando-se professor

da instituição. Além do curso de Direito, formou-se em Pedagogia, Filosofia, Letras Neolatinas, Teologia,

Biologia, Economia e Letras Anglogermânicas. Também foi professor e diretor da Faculdade de Direito da

Universidade Federal de Alagoas (TEIXEIRA, 2008).

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Figura 04 - Chamada para defesa de Tese na FAFI (1961)

Fonte: Jornal A Cruzada de 25/03/1961.

Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGS).

Embora o curso de Pedagogia não entrasse em funcionamento até 1968, o

reconhecimento do Governo Federal foi concedido através do Decreto nº. 34.963, de 19

de janeiro de 1954. Tal decreto também abrangia o reconhecimento dos cursos de

Filosofia, Letras Anglo-germânicas, Geografia e História, Matemática e Letras Neo-

latinas, como podemos visualizar na íntegra:

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Figura 05 - Reconhecimento dos cursos da FAFI (1954)

Fonte: Decreto-Lei nº. 34.963, de 19/01/1954.

Acervo: Instituto Dom Luciano Duarte (IDLD).

Ressalta-se que o pedido de reconhecimento do curso de Pedagogia somente

poderia ser solicitado ao Conselho Nacional de Educação após a instalação e

funcionamento da graduação, mais precisamente no segundo ano do curso. Logo, essa

prática foi de encontro com à Lei que regulava o funcionamento das unidades de ensino

superior da época, a qual determinava:

Art. 6º O estabelecimento de ensino superior, que obtiver autorização

para funcionamento de um ou mais cursos, ficará obrigado a requerer

ao ministro da Educação e Saúde o respectivo reconhecimento, dentro

do segundo ano de sua instalação. Se o não fizer, será cassada a

autorização de funcionamento. Se, requerido o reconhecimento, e for

este negado, poderá ser novamente solicitado, dentro de um ano. A

contar da publicação do ato denegatório. Decorrido este prazo sem que

tenha sido feito novo pedido de reconhecimento, e na hipótese de ser

o reconhecimento denegado pela segunda vez, será cassada a

autorização de funcionamento. (BRASIL, 1938, s/p).

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Outro fato revelador é que ao elaborar o projeto enviado ao MEC para o

reconhecimento dos cursos, o Padre Luciano Duarte questionou ao procurador da FAFI e

ao diretor da Faculdade Católica de Filosofia do Recife sobre a legalidade de incluir o

curso de Pedagogia no pedido de reconhecimento. Em carta, o diretor da FAFI comenta:

Estou aguardando a cada hora uma resposta sua a uma carta que lhe

fiz há 4 dias, indagando se devia ou não incluir no pedido de

reconhecimento os cursos de Letras Anglo-Germânicas (que está no

1º ano de funcionamento) e o de Pedagogia, que não começou a

funcionar. Lembro-me do Sr. me ter dito que incluísse, mas o Pe.

Bragança62 me aconselhou o contrário. (DUARTE, 1953b, s/p.).

Acredita-se que embora o diretor da FAFI suspeitasse da ilegalidade nos pedidos

de reconhecimento dos cursos de Letras Anglo-Germânicas e de Pedagogia, encaminhou

o projeto com as solicitações. Além disso, mesmo após duas inspeções da Comissão

indicada pelo Conselho Nacional de Educação para analisar a estrutura física, pedagógica

e administrativa da Faculdade, o projeto foi aprovado e o pedido de reconhecimento

concedido pelo Ministério da Educação e Cultura:

Como o Sr deve saber, foi designada a Comissão que veio verificar a

nossa Faculdade. Felizmente correu tudo bem, e eles deixaram

transparecer uma impressão lisonjeira. Deverão voltar no começo de

agosto, quando remeterão o nosso relatório. (DUARTE, 1953a, s/p.)

Esse fato reforça, mais uma vez, o poder simbólico e a autoridade do Padre

Luciano Duarte sobre as decisões tomadas pelos integrantes do Conselho Nacional de

Educação, principalmente os representantes da Igreja Católica, mediado muitas vezes,

por Dom Helder Câmara, Alceu de Amoroso Lima63, além dos bispos de Aracaju: Dom

Fernando Gomes (1949-1957) e Dom José Távora (1960-1970).

Por esse motivo, durante o processo de reconhecimento dos cursos da FAFI, ele

indicou o nome dos integrantes da comissão enviada pelo CNE para vistoriar a Faculdade,

como podemos verificar na carta enviada ao procurador Armando Barcelos:

62 Refere-se ao Padre sergipano Francisco Tavares de Bragança, diretor da Faculdade Católica de Filosofia

de Pernambuco. 63 No período da pesquisa documental foram encontradas cartas do diretor da FAFI, Luciano Duarte,

enviadas a Dom Helder Câmara e Alceu de Amoroso Lima. Essas cartas foram localizadas no Arquivo

Central da UFS.

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Figura 06 - Solicitação de inspeção para a FAFI (1954)

Fonte: Carta do Diretor da FAFI, Padre Luciano Duarte, destinada ao procurador da Faculdade,

Armando Barcelos, em 19/05/1954. Acervo: Arquivo Central da UFS.

Em outra correspondência, o Padre Luciano Duarte fala sobre a recomendação

do procurador da Faculdade, Armando Barcelos, e da vantagem de ter alcançado as

solicitações:

Tenho comigo sua carta última, que veio acompanhada da folha do

Diário Oficial que traz o decreto de reconhecimento de nossa

Faculdade. O Sr. tinha razão, ao dizer-nos que requerêssemos o

reconhecimento de todos os cursos, e é evidente a enorme vantagem

que representa o fato de já agora estarem todos reconhecidos.

(DUARTE, 1954, s/p.).

Depois de obter o reconhecimento das graduações, a Faculdade Católica de

Filosofia de Sergipe poderia confeccionar e emitir diplomas de bacharel do curso de

Pedagogia aos seus egressos, aceitos oficialmente em todo o território nacional. O

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diploma de licenciatura só poderia ser concedido a partir de 1956, após o reconhecimento

do curso de Didática. Segundo Oliveira:

O curso de Didática começou a funcionar na FCFS64 em 1954. Sua

primeira turma contou com alunos dos cursos de Matemática,

Filosofia e Geografia e História. Um ano depois acrescentava-se o

curso de Didática para Letras Neolatinas e a posteriori para Letras

Anglo-Germânicas. Sua existência segue até o ano de 1962, quando o

Conselho Federal de Educação instituiu o Parecer 292/62,

estabelecendo um currículo mínimo para os cursos de licenciatura, o

qual deveria ser de 1/8 do tempo de curso. Na FCFS as implicações

do parecer alteraram os currículos do curso já no ano de 1963.

(OLIVEIRA, 2011a, p. 135).

Desse modo, apesar da autorização para instalação em 1951 e o reconhecimento

em 1954 do Ministério da Educação e Cultura, o curso de Pedagogia da FAFI só passou

a funcionar em 1968, especialmente no último ano da Faculdade.

Isso ocorreu devido à procura dos candidatos pelo curso65, sobretudo por parte dos

jovens que já trabalhavam no campo do magistério ou haviam concluído o curso Normal

e pretendiam ascender na carreira docente. Além disso, iniciavam-se os preparativos para

a implantação da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e consequentemente a

incorporação da FAFI, transferindo para o Governo Federal as responsabilidades

administrativas e financeiras da nova graduação66.

Diante disso, ainda em 1967 teve início a organização pedagógica e curricular do

curso, definindo as disciplinas anuais, a carga horária, a disposição dos professores, o

programa das disciplinas e o edital para o primeiro concurso de habilitação, como

podemos verificar mediante relatos da professora Cacilda de Oliveira Barros67:

64 A FCFS é a sigla utilizada pelo autor para denominar a Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. 65 Durante a gestão do governador Lourival Baptista (1967-1971), intensificou-se uma política de

valorização profissional do magistério (qualificação e aumento salarial), com o objetivo de garantir a

formação docente e melhorar a qualidade do ensino. 66 Na próxima sessão será analisada, de maneira minuciosa, a determinação da Reforma Universitária na

instalação do primeiro curso de Pedagogia em Sergipe. Diante de uma conclusão preliminar, podemos

observar que a implantação do mencionado curso foi consequência da imposição do Conselho Federal, na

criação da Faculdade de Educação da UFS. 67 Cacilda de Oliveira Barros foi a primeira diretora da Faculdade de Educação da UFS (1968-1972).

Ingressou ainda na Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, em 1967, como professora da disciplina de

Didática e Elementos de Administração Escolar. Com a criação do curso de Pedagogia, assumiu também

as disciplinas da habilitação em Orientação Educacional. Além disso, implantou o primeiro Serviço de

Orientação Educacional em Sergipe, na Escola Agrotécnica Federal de São Cristóvão (1959-1979). Foi

professora do Instituto de Educação Rui Barbosa, no Colégio Tobias Barreto, no Colégio Municipal

Presidente Vargas, Colégio Atheneu – Núcleo do Bairro Industrial. Aposentou-se pela Universidade

Federal de Sergipe, em 1991, por tempo de serviço (BARROS, 2010, s/p).

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Fui contratada pelo Senhor Diretor da Faculdade Católica de Filosofia

Dom Luciano, para organizar o curso de Pedagogia, que até aquele

momento não havia funcionado. Fizemos o levantamento de alguns

programas de outras faculdades, olhamos o Regimento, a legislação e

definimos a nossa grade curricular para o curso. [...] Então, dividimos

os professores para lecionar nas disciplinas. Depois fui organizar o 1º

vestibular do curso. (BARROS, 2010, s/p.).

As inscrições para o concurso de habilitação68 foram abertas em janeiro de 1968

e as provas realizadas no mês seguinte. As aulas, ainda sob a direção da FAFI, iniciaram

em 18 de março de 1968, no prédio da própria Faculdade, localizada na Rua de Campos.

As disciplinas eram ofertadas de segunda a sábado no turno da manhã, enquanto os

demais cursos e o Colégio de Aplicação69 funcionavam no período da tarde.

Diante das dificuldades financeiras70, que prejudicavam o desenvolvimento da

Faculdade e ameaçavam constantemente o seu fechamento, intensificou-se a campanha

liderada por Dom Luciano Duarte em defesa da instalação da Universidade Federal de

Sergipe, com a finalidade de incorporar a FAFI e as demais faculdades isoladas do

Estado71.

Para a concretização desse projeto, Dom Luciano Duarte recorreu ao seu capital

religioso, social e cultural, na intenção de convencer os membros do Conselho Federal de

Educação (CFE) a votar em favor da instalação da Universidade, como podemos verificar

através da correspondência destinada ao conselheiro Dom Cândido Padin:

[...] nossas seis Faculdades (das quais a de Direito já é federalizada,

mas está com o seu processo embrulhado em complicações infindáveis

há mais de três anos) são mantidas pela generosidade heroica dos

professores, mas todas elas são sem recursos, e não podem pensar em

equipar-se, como conviria à Faculdades modernas, pois não há,

absolutamente, meios financeiros. A única esperança é a Universidade

Oficial de Sergipe. (DUARTE, 1965, s/p).

68 Na sessão 3.1 será apresentado um estudo detalhado dos concursos de habilitação realizados para o

ingresso no curso de Pedagogia da UFS (1969-1978). 69 O Colégio de Aplicação da Faculdade Católica de Filosofia foi criado em 30 de junho de 1959 pela

Sociedade Sergipana de Cultura. Essa instituição era integrada a FAFI e servia de laboratório pedagógico

e campo de estágio dos alunos da Faculdade (NUNES, 2008). 70 Em 1961, o Monsenhor Luciano Duarte solicitou ao Governo Federal uma verba permanente ou a

federalização da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, alegando dificuldades financeiras da

Sociedade Mantenedora. Em contrapartida, cederia a gratuidade da instituição, mas essa proposta não foi

atendida pelo Governo Federal. A partir de 1963, o Monsenhor Luciano Duarte iniciou a campanha para a

criação da Universidade Federal de Sergipe, com o apoio de políticos e do então governador do Estado

Seixas Dória. 71 A criação de universidades a partir da incorporação ou agrupamento de faculdades isoladas existentes foi

definida pela Lei nº. 5.540 de 1968. Em Sergipe seis faculdades isoladas deram origem a UFS: Faculdade

de Ciências Econômicas (1948), Escola de Química (1948), Faculdade de Direito (1950), Faculdade

Católica de Filosofia (1950), Escola de Serviço Social (1954) e Faculdade de Medicina (1961).

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Com a criação da Universidade Federal de Sergipe72, todas as faculdades isoladas

do Estado foram incorporadas à nova instituição, em 30 de abril de 1968. Na

oportunidade, a Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe e o seu curso de Pedagogia,

com pouco mais de um mês em funcionamento, também foram incorporados.

Na solenidade de incorporação, Dom Luciano Duarte ressaltou a importância

dessa iniciativa para combater o subdesenvolvimento em Sergipe, pois com a implantação

da UFS iniciava o caminho “[...] para libertar-se da peia da ignorância e da falta de

cultura73”. (DIÁRIO DE ARACAJU, 01 e 02/05/1968, p. 1).

Figura 07 - Solenidade de incorporação das Faculdades isoladas à Fundação

Universidade Federal de Sergipe (1968)

Fonte: Fotografia registrada em 30/04/1968. Da esquerda para a direita: Luiz Santana (escrivão), vice-

governador Manoel Cabral Machado, Dom Vicente Távora (arcebispo de Aracaju), governador Lourival

Batista, Dom Luciano Duarte, José Aquiles de Lima e Lauro de Brito Porto.

Acervo: Instituto Dom Luciano Duarte (IDLD).

72 A Universidade Federal de Sergipe foi criada em 28 de fevereiro de 1967, através do Decreto-Lei nº. 269.

Entretanto, a incorporação das faculdades isoladas ocorreu em 30 de abril de 1968 e a instalação da

Universidade em 15 de maio do mesmo ano. Mesmo após a criação e instalação da UFS, as faculdades

incorporadas permaneceram funcionando nos mesmos prédios (isolados) até 1980, quando foi concluída e

inaugurada a Cidade Universitária Profª José Aloísio de Campos. Mais informações, consultar Oliveira

(2011b). 73 Discurso de Dom Luciano Duarte apresentado na solenidade de incorporação das faculdades isoladas à

Fundação Universidade Federal de Sergipe, em 30 de abril de 1968, registrado no jornal Diário de Aracaju

em 01 e 02/05/1968.

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50

Entretanto, é importante notificar que a instalação da Universidade não se deu

naquele momento, mas 15 dias depois, após um ato solene, com a participação do

Governador do Estado, Lourival Baptista (1967-1970), o reitor João Cardoso Nascimento

Júnior (1968-1972) e do conselheiro federal e relator do processo de criação da UFS,

Newton Sucupira, no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Em matéria publicada

no jornal “A Cruzada”, Dom Luciano Duarte conclui:

No dia 15 que passou instalou-se a Universidade Federal de Sergipe.

Numa festa magnífica, que congregou no Instituto Histórico e

Geográfico o mundo universitário e a sociedade de Aracaju [...].

Terminou, assim, vitoriosamente a longa marcha, a penosa campanha

começada em abril de 1963, e que durou, exatamente, cinco anos e um

mês. (A CRUZADA, 18/05/1968).

Figura 08 - Solenidade de instalação da UFS (1968)

Fonte: Fotografia registrada em 15/05/1968. Da direita para a esquerda, estão: Carlos Alberto Sampaio, Dr.

Augusto Leite, Padre Mendonça, Dr. Waldemar Fortuna de Castro, Luciano José Cabral Duarte, governador

Lourival Baptista, vice-governador Manoel Cabral Machado, Dom José Vicente Távora e reitor João

Cardoso Nascimento Júnior.

Acervo: Instituto Dom Luciano Duarte (IDLD).

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De acordo com Oliveira (2011b), a incorporação da FAFI à Universidade Federal

de Sergipe não gerou grandes mudanças no cotidiano do curso de Pedagogia, no ano de

1968, pois os alunos continuaram estudando no mesmo prédio e horário, com a mesma

organização pedagógica e sem se desprenderem dos antigos professores, colegas de

classe, disciplinas e conteúdos:

Assim, com relação à organização pedagógica e ao cotidiano dos

alunos, nada aparentemente foi modificado. Esse fato confunde um

pouco as lembranças dos entrevistados naquele ano, visto que as

mudanças amparadas legalmente ocorreram direcionadas ao âmbito

administrativo. (OLIVEIRA, 2011b, p. 79).

Desse modo, apesar da primeira turma do curso de Pedagogia em Sergipe (1968 a

1971) ter iniciado na FAFI, em março de 1968, concluiu a graduação na Universidade

Federal de Sergipe, representando uma ponte entre a nova e a antiga instituição. Essa

proposta passou a vigorar com grande aceitação pelos estudantes e professores, os quais

acreditavam no compromisso de aperfeiçoamento do curso e na esperança de um futuro

intelectual melhor para a docência no Estado.

2.2 – A INCORPORAÇÃO NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

Como foi possível observar na subseção anterior, a Faculdade Católica de

Filosofia (FAFI) representou a primeira unidade de formação docente em nível superior

de Sergipe. Criada em 1950, possibilitou aos jovens74 provenientes da classe média e de

famílias menos favorecidas a chance de obter um diploma acadêmico na área do

magistério.

Nesse sentido, surgiu como mais uma oportunidade de educação superior no

Estado75 e de aperfeiçoamento na carreira docente. Além disso, esse projeto buscava

74 De acordo com o livro de matrículas da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe (1951-1968),

verificamos que grande parte dos alunos matriculados na Faculdade durante o período em funcionamento

pertencia a uma faixa etária entre 18 e 35 anos. Somente sete alunos tinham idade superior a 40 anos: João

Evangelista Cajueiro, Hilda Sobral de Faria, Gileno Francisco de Jesus, Consuêlo D’Avila Mello Silveira,

Enoy Figueiredo Magalhães, Giovanni Carvalho Oliveira e Francisco Moura. 75 Até a década de 40 do século XX, só existiam em Sergipe duas faculdades, a de Ciências Econômicas e

a Escola de Química, ambas criadas em 1948. Em 1950, foram criadas a Faculdade de Direito e a Faculdade

Católica de Filosofia de Sergipe; por último, foram criadas a Escola de Serviço Social (1954) e a Faculdade

de Ciências Médicas (1961). Com a criação da Universidade Federal de Sergipe, todas elas foram

efetivamente incorporadas em 1968.

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melhorar o nível de ensino das escolas e solucionar a deficiência no número de

professores diplomados para atender às redes públicas e privadas de ensino secundário.

Em um aspecto menos evidente, essa iniciativa representou um importante plano

firmado entre a Igreja Católica e o Estado que visava à formação de uma elite intelectual

docente, associada ao pensamento cristão76. E foi com o objetivo de garantir a presença

dessa elite que Dom Luciano Duarte não economizou esforços em recrutar jovens para

estudar na Faculdade, através da divulgação de propagandas em jornais e na forma oral,

por meio de missas e de conversas com os próprios jovens e seus familiares, como

podemos observar no depoimento da ex-aluna da FAFI, Maria Olga de Andrade77:

Eu morava em Capela e quando vim para Aracaju a minha ideia era

fazer um curso superior. Mas aí fui trabalhar no campo da saúde. Eu

era funcionária do Departamento Nacional de Endemias Rurais, e lá

eu trabalhava como educadora sanitária... [...] Eu trabalhava com

muitos médicos, então pensei: sou muito jovem, vou fazer Medicina.

Logo, comentei com Dona Zizi (tia de Dom Luciano) sobre o meu

interesse em fazer vestibular para Medicina, pois ela era muito amiga

da minha família e eu havia morado com ela. Então, ela disse a Dom

Luciano, e assim que ele soube, apareceu no meu trabalho e disse:

Olga, a Tia Zizi me disse que você gostaria de fazer Medicina, mas

eu vim aqui te convidar para fazer o curso de Filosofia na Faculdade

Católica de Filosofia. Você já foi professora, então, você deve fazer

o curso de Filosofia. Aí me disse essa frase: A Faculdade tá

precisando de alunos, e eu preciso de você, vá para a Faculdade de

Filosofia. E eu fui! E me inscrevi para fazer o vestibular de Letras

Anglo-Germânicas, havia somente 7 alunos. A função de professor

era muito desvalorizada nessa época, poucos queriam ser professor.

Imagine, ele ter que fazer isso, ir em porta e porta, buscar alunos, para

não fechar a Faculdade. (ANDRADE, 2010, s/p).

Muitos egressos tornaram-se respeitados professores no Estado78, exercendo a

docência em instituições de ensino públicas e privadas. Essa primeira iniciativa

76 Em carta enviada ao deputado federal Lemartine Távora, o Padre Luciano Duarte revela que: “A

Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe é uma das obras mais importante de Dom José Távora, aquela

justamente que vai formar a elite católica da Diocese” (DUARTE, 1960, s/p). 77 Maria Olga de Andrade formou-se no curso de Letras Anglo-Germânicas em 1966. No ano seguinte foi

convidada para ensinar na Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. Com a incorporação da Faculdade

Católica de Filosofia à Universidade Federal de Sergipe e seu desmembramento em três novas unidades, a

professora Maria Olga de Andrade foi incorporada à Faculdade de Educação, como professora da disciplina

de Didática e Administração Educacional nos cursos de Pedagogia e Licenciatura. Em 1973, assumiu a

direção da Faculdade de Educação, permanecendo até 1977. 78 Alguns professores renomados, egressos da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe: Olga Batista de

Andrade, Nalda Xavier de Oliveira, Artur Oliveira Fonseca, Josefina Sampaio Leite, Rosália Bispo dos

Santos, Maria Hermínia Caldas, João Evangelista Cajueiro, Maria da Glória Costa Monteiro, Possidônia

Maria da Rocha Santos, Maria Geovanni dos Santos Mendonça, Carmelita Pinto Fontes, Maria Lígia

Madureira Pina, Maria Auxiliadora Rosal Campos, Cacilda de Oliveira Barros, Yvone Mendonça de Souza,

Terezinha do Menino Jesus Leite Prado, Maria do Carmo Prado Lobão, José Alexandre Felizola Diniz,

Clodoaldo de Alencar Filho, João Costa, Maria Olga de Andrade, José Maria do Nascimento, Antônio

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aperfeiçoou o processo de ocupação de professores formados em nível superior nos

diversos espaços, como: escolas, faculdades e em cargos de gestão dos departamentos,

secretarias e órgãos do Ministério da Educação e Cultura.

Mas, apesar dos esforços e dedicação de Dom Luciano Duarte no processo de

criação e funcionamento do curso de Pedagogia, não houve diplomados pela Faculdade

Católica de Filosofia, pois a primeira turma havia iniciado o curso no mesmo ano em que

a Faculdade foi incorporada à Universidade Federal de Sergipe e desmembrada em outras

três unidades de ensino: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Instituto de Letras e

Faculdade de Educação79.

O desmembramento da FAFI era uma exigência do Conselho Federal de Educação

para a criação da UFS80. Essa condição atendia às diretrizes da Reforma Universitária81,

que determinava a desintegração das Faculdades de Filosofia para a criação das

Faculdades de Educação e institutos específicos de cada área do conhecimento. De acordo

com Sucupira:

Com a atual reforma das estruturas universitárias encerra-se o que

poderia chamar-se o ciclo da Faculdade de Filosofia, Ciências e

Letras, concebida como instituição destinada a conferir “um caráter

propriamente universitário” ao conjunto das faculdades profissionais

reunidas em Universidade. Em seu lugar surge agora um conjunto de

institutos que deve concentrar todos os estudos básicos dentro da

Universidade. (SUCUPIRA, 1969, p. 260).

Carlos Mangueira Viana, Ana Maria do Nascimento Fonseca Medina, Malba Almeida Vilas-Bôas, Selma

Vieira Duarte, Hortência Sales Cardoso, Juçara Leal, Magnória de Nazaret Magno, Maria Lígia de

Vasconcelos Aguiar, Iara Aves Menezes, Paulo Nascimento Fontes, Mirian Rabêlo, Ivanete Carvalho

Rocha, Maria Nely Santos, Paulo Almeida Machado, José Araújo Filho, Sônia Maria Rabelo Ramalho,

Beatriz Ribeiro de Góis, Diana Maria do Faro Leal (FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE

SERGIPE, 1951-1970) 79 O desmembramento da FAFI ocorreu no dia 22 de agosto de 1968. Diante da nova organização, as três

unidades de ensino assumiram os seguintes cursos: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas ficou

responsável pelos cursos de História, Geografia e Filosofia; o Instituto de Letras agregou os cursos de Letras

(Português, Francês, Inglês e Alemão) e a Faculdade de Educação incorporou o curso de Pedagogia e o de

Licenciatura. Informações sobre a incorporação da FAFI e seu desmembramento, consultar Oliveira

(2011b). 80 A fragmentação das Faculdades de Filosofia foi determinada pelo Artigo 4º do Decreto-Lei nº 53/66: “As

unidades existentes ou parte delas que atuem em um mesmo campo de estudo formarão uma única unidade

na Universidade [...] Nas Universidades em que houver Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras esta

sofrerá transformação adequada à observância do disposto neste artigo” (BRASIL, 1966, s/p). 81 Neste estudo, entendemos a Reforma Universitária como sendo o conjunto de normas que foram

estendidas aos estabelecimentos ou cursos de ensino superior, efetivadas com a promulgação dos Decretos-

Leis nº. 53/66, 252/67, 464/69 e 465/69, e das Leis nº. 5.539/68 e 5.540/68. Mesmo sabendo que as duas

primeiras diretrizes referem-se somente às instituições federais de ensino superior, vale ressaltar que ambas

foram adotadas por faculdades e universidades privadas do país, além disso, definiram a elaboração da Lei

nº. 5.540/68. A seleção desses dispositivos, para configurar o conceito de Reforma neste trabalho, foi

determinada pelas mudanças mais significativas na estrutura universitária durante o Regime Civil Militar

(1964-1985).

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Desde a década de 1930, as Faculdades de Filosofia tinham como papel principal

exercer o núcleo aglutinador das universidades brasileiras. Além disso, carregavam a

missão de desenvolver a pesquisa científica e formar professores para os ensinos

secundário e normal.

No entanto, essa concepção de universidade integrada pela Faculdade de Filosofia

foi descartada na década de 1960 pelos intelectuais de maior prestígio do Conselho

Federal de Educação82, os quais formularam o arcabouço jurídico da Reforma

Universitária, como podemos observar no artigo de Newton Sucupira:

Com efeito, a missão dessas faculdades não é somente a de formar

professores de ensino médio, mas também a de promover a pesquisa

científica básica e exercer a função integradora da universidade.

Infelizmente a tradição de nosso ensino superior à base de faculdades

profissionais não permitiu que ela pudesse realizar sua missão desde

quando foram fundadas83. Por isso mesmo tornou-se ela uma

faculdade como as demais, profissionalizou-se como as outras. Em

princípio uma reforma universitária poderia ser orientada no sentido

de restituir às faculdades de filosofia seu verdadeiro papel dentro da

universidade, reorganizando-se em departamentos que centralizariam

toda pesquisa científica básica. Contudo, nesta altura cremos que seria

muito difícil quebrar uma tradição já bem cristalizada. (SUCUPIRA,

1963, p. 4).

Por coincidência, Newton Sucupira, o conselheiro federal mais envolvido na

concretização dessa nova proposta, também era o relator do projeto de criação da UFS.

Diante disso, a desintegração da FAFI e, consequentemente, a criação da Faculdade de

Educação foram condições impostas para a implantação da Universidade Federal de

Sergipe84.

Contudo, o processo de desmembramento provocou resistência por parte de

professores e da imprensa local85, pois acreditavam que essa iniciativa não seria adequada

82 Alguns membros do Conselho Federal de Educação a favor do desmembramento das Faculdades de

Filosofia: Anísio Teixeira, Valnir Chagas e Newton Sucupira. Em contrapartida, essa nova proposta recebeu

severas críticas de professores e alunos de diferentes universidades brasileiras, a exemplo de Fernando de

Azevedo e Florestan Fernandes. 83 De acordo com Antunha (1974), a Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP)

desenvolveu o ensino associado à produção científica. Entretanto, não se constituiu um núcleo central e

integrador da USP, decompondo-se, na prática, em inúmeras seções, subseções e cursos afastados espacial

e filosoficamente. 84 A exigência do desmembramento gerou divergências entre Newton Sucupira e Dom Luciano Duarte,

pois este era contra a extinção da Faculdade de Filosofia. Segundo ele, ambas deveriam atuar juntas para

manter o “status quo”: Faculdade de Filosofia e Educação. Mais informações, consultar Oliveira (2011b). 85 Em 1968, o jornal “Diário de Aracaju” apresentou uma matéria sobre a reforma nacional da Educação,

em todos os níveis de ensino, e a fragilidade dessas reformas diante da realidade sergipana. No que se refere

ao ensino superior, ressaltou a incompatibilidade da legislação com o contexto sergipano: “A nossa

Universidade é um triste atestado dessa imposição de padrões de organização estranhos. A Faculdade de

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para a Faculdade Católica de Filosofia devido ao pequeno número de alunos, professores

e servidores, a ser repartido em três novas instituições, além do aumento de despesas.

Para manifestar sua opinião, a professora Maria Thétis Nunes86 publicou uma matéria no

jornal A Cruzada, ainda em 1967:

Assim, teoricamente, é justificável o desdobramento. Na prática,

porém, acreditamos ser impraticável para as pequenas Faculdades. É

o resultado dos nossos legisladores terem sempre os olhos fixos no

eixo Rio-São Paulo-Minas, desligado da realidade do resto do Brasil.

Porque não se procura estabelecer Faculdades segundo as regiões

geo-econômicas, facilitando o govêrno federal a montagem de

Centros de Pesquisa e aquisição de pessoal especializado, em vez de

criar tanto centros dispersos e com siglas sonoras? Será possível o

mesmo desmembramento, em três, numa Faculdade de mais de mil

alunos e numa de cem? Cremos que o deslocamento do estudo das

Ciências físico-biológicos e matemáticas para os institutos poderá dar

resultados práticos com a formação de pesquisadores e profissionais

especializados. Mas não acreditamos que os resultados sejam obtidos

como pensam, os legisladores, com o aparecimento das Mini-

Faculdades de Filosofia e Educação, Ciências Humanas, Letras e

Comunicações, como será, por exemplo, o caso da Universidade de

Sergipe. Trarão elas uma dispersão grande de esforços, gastos

consideráveis com a multiplicidade de centros administrativos que

exigirão, e não corresponderão à realidade do nosso Estado. Serão, no

final, apenas “Minis” Faculdades. (A CRUZADA, 18/11/67, p. 2).

Nesse sentido, vale ressaltar que, apesar das críticas direcionadas às Faculdades

de Filosofia e da ausência de diplomados em Pedagogia pela FAFI, a instituição

contribuiu com a formação de professores que atuaram na organização, direção e docência

do curso, como foi relatado pela primeira diretora da Faculdade de Educação da UFS,

Cacilda de Oliveira Barros:

Filosofia foi obrigada a desfazer-se em três unidades distintas, quando dispõe de cerca de 100 alunos. O

objetivo do fracionamento era a economia de meios. Mas o tiro saiu pela culatra. Encareceu o custeio e

tornou mais complexos os instrumentos de formação universitária. Isso é falta de realismo, de objetividade

e de senso comum dos nossos problemas” (DIÁRIO DE ARACAJU, 15 e 16/09/1968, p. 2). 86 Maria Thétis Nunes formou-se em Geografia e História na primeira turma da Faculdade de Filosofia da

Universidade Federal da Bahia e em Museologia no Museu Histórico Nacional. Em 1945, tornou-se

professora catedrática do Atheneu Sergipense, sendo a primeira mulher a fazer parte de sua Congregação.

Professora fundadora da Faculdade Católica de Filosofia, em 1951, tornava-se a primeira mulher sergipana

a ingressar no magistério superior. Com a instalação da Universidade Federal de Sergipe, em 1968, foi

incorporada como professora titular de História do Brasil, História Contemporânea e Cultura Brasileira.

Além disso, foi membro do Conselho Estadual de Educação, do Conselho Estadual de Cultura e do Instituto

Histórico e Geográfico de Sergipe. Faleceu em 2009, aos 86 anos de idade (SANTOS, 1999).

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Eu havia estudado e me formado na Faculdade Católica de Filosofia

de Sergipe, no curso de Letras Neolatinas. Ingressei em 1957 no curso

de Letras e em 1960 fiz o curso de Didática, para sair licenciada como

professora, e no final desse mesmo ano me formei. Em 1966, fui fazer

o curso de especialização em Orientação Educacional na Faculdade

Santa Úrsula/PUC do Rio de Janeiro, recomendada por Dom Luciano.

Então, quando retornei, em 1967, o próprio Dom Luciano me

convidou para ensinar a disciplina Elementos de Administração

Escolar, substituindo o professor José Rollemberg Leite. Então, ainda

em 1967, Dom Luciano Duarte pediu para que eu auxiliasse na

organização e direção do curso de Pedagogia, que ainda não havia

funcionado. (BARROS, 2010, s/p).

Sendo assim, podemos observar que o projeto da Igreja Católica em parceria com

o Estado alcançou êxito nos seus 17 anos de existência (1950-1968), pois muitos dos seus

professores, funcionários e ex-alunos constituíram o corpo docente e administrativo da

UFS. Apesar das dificuldades financeiras e de recrutamento de professores e alunos, o

padre Luciano Duarte resistiu ao fechamento da Faculdade cotidianamente, na

expectativa de contribuir com a qualidade do ensino no Estado e assegurar a legitimidade

católica, especialmente, nos campos cultural, religioso e político.

Para isso, o padre Luciano Duarte precisou usufruir de seu capital - social, cultural

e religioso – pois, de acordo com Bourdieu (1999), o prestígio e as posições diferenciadas

ocupadas pelos agentes são definidos segundo uma série de variáveis, notadamente o

volume e a composição de capital. Dessa forma, o acúmulo de diferentes capitais permitiu

ao padre, o exercício do poder no processo de criação e funcionamento da FAFI, mesmo

diante das dificuldades apresentadas.

Na cerimônia de desmembramento, o sacerdote foi homenageado por ex-

professores e ex-alunos. Em discurso, o professor José Silvério Leite Fontes ressaltou a

importância do sacerdote na história da FAFI e na criação da Universidade Federal de

Sergipe:

Todos sabem o que significou o período dedicado à direção da

Faculdade. A imensa luta para conseguir verbas. Para animar os que

desfaleciam. Para estimular a realização de cursos de

aperfeiçoamento. Para melhorar os métodos de ensino. Para guardar,

no meio de pessoas tão diversas, o quadro de mensagem cultural cristã

da Faculdade [...] Finalmente, Dom Luciano Duarte compreendeu que

a nossa Escola não poderia sobreviver senão ampliando-se e

reformulando-se numa estrutura mais extensa e compreensiva. Por

isso foi dos primeiros que abraçaram com entusiasmo a causa da

Universidade. (A CRUZADA, 02/11/68).

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Na oportunidade, Maria Thétis Nunes ressaltou sobre a importância da FAFI, e da

iniciativa de Dom Luciano Duarte em criar e manter a instituição durantes os 17 anos.

Ela também destacou o empenho do Arcebispo de Aracaju, Dom José Vicente Távora, e

de seu antecessor, Dom Fernando Gomes. A cerimônia foi divulgada na imprensa

sergipana:

Figura 09 - Sessão de encerramento da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe

Fonte: Jornal A Cruzada (02/11/1968). Detalhes da fotografia: José Silvério Leite Fonte. Sentados da

esquerda para a direita: Maria Thétis Nunes, Juracy Cardoso e seu esposo João Cardoso Nascimento Junior

(Reitor da UFS), Célia Cabral e Dom Luciano Duarte.

Acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

Após o desmembramento da FAFI e a criação de três novas unidades de ensino, o

curso de Pedagogia e todo o seu corpo docente e discente foram incorporados à Faculdade

de Educação (FACED), da Universidade Federal de Sergipe. Além do curso de

Pedagogia, essa Faculdade também era responsável pela administração e funcionamento

do curso de Licenciatura da UFS, destinado aos alunos provenientes dos cursos de

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bacharelado (Pedagogia, Matemática, Letras, História, Geografia, Filosofia, dentre

outros) que desejavam obter o diploma e a habilitação de licenciado em sua área87.

Contudo, a FACED dedicava uma atenção especial ao curso de Pedagogia, pois

sua missão principal era ofertar as disciplinas de seu currículo88. O mesmo não ocorria

com os alunos do curso de Licenciatura, os quais cursavam na Faculdade somente as

disciplinas pedagógicas, visto que a formação básica do bacharelado e suas disciplinas

específicas eram ministradas nos institutos específicos de cada área do conhecimento.

Esse cuidado especial destinado ao mencionado curso e à formação integral de

seus alunos foi deliberado pelo Conselho Federal de Educação ainda durante as

discussões sobre o desmembramento das Faculdades de Filosofia. Na ocasião, os

pedagogos requisitaram uma instituição própria, no campo do ensino superior, voltada

para a formação de professores do ensino médio e de especialistas em educação.

Segundo Cunha (2007), apesar das diversas críticas abordadas pelos integrantes

do Conselho Federal de Educação, a fragmentação representava nitidamente as disputas

ocorridas no interior do campo acadêmico, especialmente no subcampo das Faculdades

de Filosofia, e a busca de autonomia das diferentes áreas do conhecimento. No caso do

curso de Pedagogia, Cunha acreditava que:

A fragmentação das FFCLs resultou da ação dos pedagogos do

Conselho Federal de Educação, interessados na autonomização de sua

atividade profissional no âmbito das universidades. Entre eles estava

Anísio Teixeira, responsável pela criação da primeira Faculdade de

Educação do Brasil [...] Embora houvesse diferenças enormes entre

Anísio Teixeira, de um lado, e Newton Sucupira e Valnir Chagas de

outro [...] todos eles demonstravam antigas ou recentes devoções pela

educação escolar dos Estados Unidos, particularmente a instituição

do teachers’ colleges, fonte inspiradora de nossas faculdades de

Educação. Os interesses de autonomização dos pedagogos

convergiram, decerto, com os de outras seções, que aspiravam

transformar-se em institutos. (CUNHA, 2007, p. 78).

Cunha (2007) acrescenta ainda que havia interesse dos conselheiros em promover

o afastamento do curso de Pedagogia dos demais cursos, com o intuito de impedir a

87 A Faculdade de Educação também era responsável pela administração do Colégio de Aplicação da UFS,

o qual servia de laboratório das práticas pedagógicas dos cursos de Pedagogia e Licenciatura. 88 De acordo com Dom Luciano Duarte, o curso de Pedagogia representava “o eixo” da Faculdade de

Educação da UFS (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, 1968h, p. 7).

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contaminação dos seus estudantes pelo “vírus” ideológico das manifestações, propagada

por graduações mais tradicionais, como as Ciências Sociais89.

Desse modo, compreendemos de maneira mais nítida o interesse de Dom Luciano

Duarte em instalar o curso de Pedagogia no último ano da FAFI, pois, como a criação da

Faculdade de Educação era uma exigência da Reforma Universitária para a implantação

da UFS, e como essa Faculdade estava associada legalmente ao curso de Pedagogia, seria

indispensável o funcionamento da citada graduação90.

No âmbito local, a primeira iniciativa adotada pelo reitor da UFS para iniciar o

processo de implantação da nova faculdade, foi nomear “pro tempore”91 a professora

Cacilda de Oliveira Barros para dirigi-la e uma comissão para elaborar o seu Regimento

Interno, composta pelos professores: Ovídio Valois Correia, Maria Olga Andrade, Maria

Auxiliadora Rosal Campos e a representante do corpo discente do curso de Pedagogia,

Ana Maria Dantas.

De acordo com a primeira Resolução da UFS (nº 01/68), aprovada pelo Conselho

Universitário (CONSU)92, podemos visualizar tal nomeação:

89 Esse fato contribuiu para a construção de uma imagem hostilizada acerca do curso de Pedagogia no

período da Ditadura Civil Militar, pois reforçava a alegação de que seus alunos tinham uma formação

tecnicista, afastada de uma atuação política. 90 Vale ressaltar que as Faculdades de Educação só realizavam a formação integral dos alunos de Pedagogia. 91 Pro tempore é uma expressão de origem latina que se pode traduzir por temporariamente ou por enquanto.

Geralmente é utilizada na linguagem comum para indicar uma situação transitória ou de intervenção.

Durante o Governo Civil-Militar (1964-1985) foi muito utilizada com o objetivo de nomear interventores

para assumirem cargos de gestão (a exemplo de reitor e diretor) nas faculdades e universidades federais. 92 O Conselho Universitário (CONSU) é o órgão superior deliberativo da administração da Universidade

Federal de Sergipe. Dentre suas atividades, compete: “a) exercer, como órgão deliberativo, a jurisdição

superior da Universidade; b) aprovar os regimentos e suas modificações, das unidades, dos órgãos

suplementares; c) aprovar a proposta do orçamento-programa da Universidade; d) aprovar convênios,

contratos e acordos entre a Universidade e órgãos da administração pública ou entidades de direito privado,

nacionais ou estrangeiras; e) aprovar o Quadro único de Pessoal da Universidade e respectivo regulamento;

entre outras atribuições” (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, 1968a).

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Figura 10 - Nomeação da primeira diretora da FACED/UFS (1968)

Fonte: Resolução CONSU/UFS nº. 01/68.

Acervo: Arquivo do Departamento de Educação/UFS.

Dentre suas finalidades, a construção do Regimento Interno visava orientar a

organização e a administração do curso de Pedagogia, definindo suas funções, os

objetivos, o currículo e as diretrizes para o funcionamento dessa graduação na

Universidade Federal de Sergipe93. Na elaboração, era obrigatória a participação dos

integrantes do Conselho de Ensino e Pesquisa (CEP)94, pois este era o órgão competente

da Universidade para fixar normas com relação às decisões do ensino, como: carga

horária, currículo, distribuição de disciplinas e professores, assuntos didáticos-científicos,

os estágios e desenvolvimento de pesquisa.

93 O prazo de conclusão do Regimento Interno da Faculdade de Educação era de 60 dias após a aprovação

do Regimento Geral da UFS, pelo Conselho Universitário. Esse Conselho havia iniciado a elaboração de

tal documento no dia 03/08/1968 e aprovado em 23/08/1968. No entanto, de acordo com a Resolução nº.

01/1969 do CONSU/UFS, o prazo foi prorrogado para 13/04/1969. Enquanto não fosse aprovado tal

regimento, a FACED não poderia indicar representantes do seu corpo docente para atuar no CONSU e CEP. 94 O Conselho de Ensino e Pesquisa (CEP) era responsável pela coordenação central das atividades

didáticas, culturais e de pesquisa da Universidade Federal de Sergipe. Atualmente, esse órgão é apresentado

com a sigla CONEP.

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Para tal, a primeira iniciativa da comissão foi adquirir regimentos de faculdades

similares ao da Faculdade de Educação da UFS, por meio da solicitação em universidades

que tinham os regulamentos atualizados de acordo com a legislação educacional vigente.

Além disso, a comissão enviou um dos seus integrantes para observar “in locu”, outras

unidades que já estivessem enquadradas nos parâmetros da Reforma Universitária.

Para realizar tal viagem, a direção da Faculdade ingressou com um processo

interno destinado à Reitoria, solicitando autorização para o afastamento do professor e

ajuda financeira para arcar com os gastos:

No parecer do Professor Luís Carlos Rollemberg Dantas referente ao

Processo nº. 273/68, no qual a Faculdade de Educação solicita que

seja enviado um professor a Recife, o relator opinou pela aprovação

do pedido, mas com as seguintes restrições: Que a Reitoria solicitasse

o nome do professor que irá viajar, o prazo de sua permanência em

Recife, e que lhe fossem concedidas passagens e diárias [...].

(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, 1968g, p. 19).

Na oportunidade, o professor Ovídio Valois Correia foi enviado à Faculdade de

Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) para observar a administração

e o funcionamento da unidade de ensino e do seu curso de Pedagogia. Também foram

analisados os programas das disciplinas, recursos pedagógicos, metodologias de ensino,

bibliografias, currículos e o regimento.

O interesse em observar tal faculdade foi consensual entre os integrantes da

comissão, pois sabiam que o Regimento da UFS havia sido elaborado de acordo com o

regulamento da Universidade Federal de Pernambuco, como foi proposto pelo

conselheiro Newton Sucupira.

Vale lembrar que esse mesmo conselheiro era professor titular do curso de

Pedagogia da UFPE, diretor da Faculdade de Educação e um dos responsáveis pela

elaboração do regimento desta, além disso, participou ativamente na elaboração das leis

que definiram a Reforma Universitária:

Apesar de ter sido resultado do trabalho de um grupo de especialistas

e pessoas envolvidas com o ensino superior, a Reforma ficou

definitivamente associada a Newton Sucupira, e não sem qualquer

fundamento. O prazo curto que o grupo teve para redigir o

anteprojeto, depois da solicitação feita ao conselheiro pelo presidente

da República, Costa e Silva, só pôde ser vencido com êxito pelas

incursões anteriores (Parecer 53/66 e Decreto 252/67) nas quais

Sucupira tivera atuação incisiva. Não foi gratuita, assim, a eleição de

Sucupira como interlocutor da presidência nessa matéria.

(BOMENY, 2001, p. 71).

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Diante de tanta credibilidade, a comissão entendeu que uma análise no

funcionamento da faculdade pernambucana seria muito importante para a adequação da

FACED/UFS à nova legislação educacional e para a elaboração do seu regimento. No

roteiro da viagem, também foi inclusa uma visita à Faculdade de Educação da

Universidade Federal da Paraíba para verificar os modelos administrativo, pedagógico e

curricular da unidade.

Além das viagens de observação, os integrantes da comissão também solicitaram

autorização ao reitor para participar de congressos nacionais, promovidos na sua maioria,

pelo Conselho Federal de Educação e outros órgãos vinculados ao MEC. Eles alegavam

a necessidade de manter-se atualizados sobre a nova política educacional do país e as

novas metodologias de ensino, para modernizar o curso de Pedagogia da UFS.

Mas, diante das dificuldades financeiras da Universidade, todas as solicitações

referentes à participação em congressos eram negadas. Nesse sentido, a diretora da

Faculdade decidiu arcar com suas próprias despesas para participar do I Seminário de

Extensão Universitária95, realizado em Minas Gerais.

Desse modo, além de estabelecer um novo parâmetro de organização e

administração, a elaboração desse regimento buscava também atender às orientações do

Ministério da Educação e Cultura, o qual determinava o enquadramento das faculdades e

dos cursos à nova organização do ensino superior, definida pela Reforma Universitária.

Como a Universidade Federal de Sergipe já havia sido criada, mediante amparo legal de

tal legislação, foi necessária a atualização e o enquadramento das faculdades e dos cursos

incorporados96:

A Universidade Federal de Sergipe foi constituída sob forma de

Fundação, pelo Decreto-Lei 269, de 28 de fevereiro de 1967. Seu

Estatuto foi redigido sob a orientação do ilustre Conselheiro Newton

Sucupira, e a Universidade já nasceu sob o signo da Reforma

Universitária, sendo concebida segundo as novas estruturas.

(BRASIL, 1970, s/p).

95 Durante o ano letivo de 1968, somente a professora Cacilda de Oliveira Barros participou de congressos.

O I Seminário de Extensão Universitária foi realizado entre os dias 18 a 21 de setembro de 1968. 96 Apesar da Lei nº. 5.540/1968 ser aprovada após a criação da Universidade Federal de Sergipe, esta já

havia sido instituída sob o respaldo dos Decretos-Lei nº. 53/1966 e 252/1967. Além disso, o conselheiro e

relator do projeto de criação da UFS, Newton Sucupira, já havia orientado a elaboração do Regimento Geral

da UFS de acordo com a Lei nº. 5.540 de 1968.

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No caso da Faculdade de Educação97, várias reuniões com professores da unidade

eram realizadas semanalmente com o objetivo de discutir e elaborar todos os capítulos do

seu regimento ainda no ano de 196898. De acordo com a ex-integrante da comissão, Maria

Auxiliadora Campos Medeiros99, a compreensão da legislação nacional foi o primeiro

desafio dos professores de Pedagogia:

De fato, a elaboração do nosso regimento foi o primeiro desafio dos

professores. Antes, ainda na FAFI, quem cuidava dos assuntos

administrativos e jurídicos era Dom Luciano, então quem era

professor e não tinha formação na área do Direito, não tinha muito

domínio com a lei. Com a criação da Faculdade e do curso de

Pedagogia, nós professores tivemos que estudar a legislação e

elaborar o regimento. Além disso, tivemos que administrar a nova

graduação e responsabilizar-nos pela formação dos alunos de

Pedagogia e das demais licenciaturas. (MEDEIROS, 2015, s/p).

Diante desse relato e de comentários registrados nas atas de reuniões, percebemos

as dificuldades apresentadas pelos professores do curso de Pedagogia da Universidade

Federal de Sergipe em compreender o novo arcabouço legal que orientava o curso e a

política educacional do país. Para tal, os integrantes da comissão realizaram pesquisas no

Diário Oficial da União e na revista Documenta, com a finalidade de obter as leis,

portarias e pareceres do MEC e do CFE, de 1964 a 1968. Além disso, analisavam os

artigos disponíveis na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos/INEP.

Nesse período, era difícil o acesso às leis referentes à educação, devido à sua

restrita divulgação no Diário Oficial da União e na revista Documenta, citados

anteriormente. Muitas dessas publicações não eram enviadas diretamente à Faculdade de

Educação, e por essa razão os professores também realizavam pesquisa aos acervos de

outras faculdades, da Inspetoria Federal e da assessoria jurídica da Universidade Federal

de Sergipe.

97 Inicialmente, as discussões e as deliberações a respeito da Reforma Universitária ocorreram

separadamente, entre as distintas faculdades e institutos da UFS. 98 A elaboração do Regimento da Faculdade de Educação foi concluída em 1968, mas a aprovação pela

congregação de professores ocorreu somente em abril de 1969, após várias discussões acaloradas, que

provocaram mudanças e a supressão de artigos. Nesse processo, “Dom Luciano Duarte elogiou o trabalho

da comissão, dizendo ser um trabalho de pioneiros e que os presentes apenas poliam o que a comissão

garimpou” (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, 1968h, p. 7). 99 A professora Maria Auxiliadora Campos Medeiros formou-se em Letras Francês pela Faculdade Católica

de Filosofia de Sergipe, em 1965. No ano de 1968, foi contratada pela mesma Faculdade para ensinar a

disciplina Prática de Ensino em Francês. Ao ser incorporada ao quadro único de pessoal da Universidade

Federal de Sergipe, passou a exercer a função de professora do Ginásio de Aplicação e da Faculdade de

Educação, nos cursos de Licenciatura e Pedagogia. Foi diretora do Departamento de Educação entre os

anos de 1979 e 1985. Aposentou-se pela UFS em 1991 (MEDEIROS, 2015).

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Além desses dispositivos jurídicos, os professores também precisaram consultar

o decreto de criação da UFS, o regimento geral e o seu estatuto, todos aprovados pelo

Conselho Federal de Educação. Assim, perante as contribuições e a ampla dimensão em

que o estudo vinha sendo realizado, a comissão solicitou ao Reitor a participação de todos

os professores do curso de Pedagogia100 na elaboração do Regimento:

O Regimento da Faculdade de Educação da Universidade Federal de

Sergipe contém as normas específicas da organização Didático-

Administrativa desta unidade, de acordo com o disposto no Estatuto

e Regimento Geral da Universidade. (UNIVERSIDADE FEDERAL

DE SERGIPE, 1969c, p. 1).

Vale ressaltar que apesar das dificuldades apresentadas pelos professores da

FACED/UFS na elaboração do Regimento, havia no corpo docente do curso de Pedagogia

um integrante muito experiente e com bastante propriedade sobre o assunto: o professor

Dom Luciano Duarte. O acúmulo de capitais incorporados ao campo religioso, garantiu

ao sacerdote, autoridade e prestígio em outros campos, especialmente no campo

educacional.

Pode-se concluir, então, que as trajetórias individuais e sociais percorridas por ele

garantiu-lhe a acumulação dos capitais necessários à aquisição do direito de entrada no

campo educacional, isto é, a acumulação das competências incorporadas, não apenas

como saberes, mas, sobretudo, como senso prático. Além da legitimação intelectual, essas

competências também proporcionaram o reconhecimento de seus pares perante sua

posição no interior dos diferentes campos – educacional, político e religioso.

(BOURDIEU, 2001).

Ainda em 1967, este sacerdote esteve à frente das discussões dos anteprojetos de

criação da UFS e de seu estatuto. No ano seguinte foi convidado para exercer a função de

membro do Conselho Federal de Educação, substituindo Alceu de Amoroso Lima101; e

como presidente do Conselho Diretor102, esteve envolvido na elaboração do Regimento

100 Professores dos cursos de Pedagogia e Licenciatura, incorporados ao quadro efetivo de docentes da

FACED/UFS: Cacilda de Oliveira Barros, Edgar Stanikowiski, Giselda Santana Morais, João Augusto

Souza Leão A. Bastos, João Costa, José Rollemberg Leite, Luciano José Cabral Duarte, Maria Lígia

Vasconcelos Aguiar, Maria Olga de Andrade, Maria Thétis Nunes, Maria Auxiliadora Campos Medeiros e

Ovídio Valois Correia. 101 A nomeação de Dom Luciano Duarte ocorreu em 05 de março de 1968, pelo então presidente da

República, Artur da Costa e Silva. Nesse ano, não foram renovadas as nomeações de Alceu de Amoroso

Lima e Anísio Teixeira, devido as divergências políticas. 102 O Conselho Diretor era responsável pela administração da Fundação Universidade Federal de Sergipe.

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da UFS. Diante do reconhecimento político do CFE, sua nomeação foi amplamente

divulgada pelos jornais sergipanos:

Figura 11 - Nomeação de Dom Luciano Duarte para o CFE (1968)

Fonte: Jornal Diário de Aracaju (06/03/1968). Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe/IHGS.

Dotado de muito prestígio no campo educacional, Dom Luciano Duarte contribuiu

com os debates e o entendimento acerca dos dispositivos normativos referentes ao ensino

superior. Como membro do CFE, antecipou discussões que já estavam sendo fomentadas

no próprio Conselho acerca das mudanças no currículo nacional do curso de Pedagogia,

as quais ocorreriam no ano seguinte103.

Desse modo, a construção do regimento proporcionou ao corpo docente de

Pedagogia/UFS maior clareza em relação às diretrizes legais e à organização

administrativa do curso. Essa iniciativa também permitiu o acesso e o conhecimento

acerca das novas propostas da Reforma Universitária104.

103 Dom Luciano Duarte participou das discussões e decisões acerca do currículo nacional do curso de

Pedagogia, aprovado em 1969 pelo Conselho Federal de Educação (Parecer nº. 252/69 e Resolução nº 2/69). 104 De acordo com a análise bibliográfica desenvolvida nesse trabalho, concluímos que a Reforma

Universitária teve três princípios norteadores: atender as reivindicações estudantis, implantar uma proposta

modernizadora de ensino superior e a formação de mão de obra especializada para o mercado de trabalho

e em sintonia com as novas demandas do país.

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Na estruturação do regulamento, várias foram as inovações inseridas no sentido

de superar o modelo de ensino superior, até então vigente na Faculdade Católica de

Filosofia. Constituído de 159 artigos, tal documento incluiu orientações sobre a

administração, a organização departamental, o corpo docente, o corpo discente, o regime

disciplinar e as disposições gerais da FACED.

No que se refere ao curso de Pedagogia, o regimento assegurou uma estrutura

organizacional capaz de promover a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.

Além disso, proporcionou a prestação de serviços e a integração entre o curso e os órgãos

de ensino no Estado com o objetivo de solucionar problemas educacionais e de formação

de professores, por meio de programas de atuação e cooperação.

Dentre outras medidas organizacionais, também foi determinado: a extinção da

cátedra e a criação da estrutura departamental, concebida como unidade operativa básica

da UFS e constituída por uma disposição administrativa, didático-científica e de

distribuição de pessoal, compreendendo disciplinas afins e relativas a um determinado

campo do conhecimento; a introdução de vestibulares105 classificatórios com exames

unificados, os quais abrangeriam os conhecimentos comuns às diversas modalidades do

ensino médio; o ciclo básico e profissional; e o sistema de créditos, permitindo a matrícula

por disciplinas e a participação do aluno na composição do seu currículo.

Outro ponto importante foi a criação de um regime de trabalho especial para os

professores, concedendo tempo integral e dedicação exclusiva as suas atividades.

Também estabeleceu o plano de carreira, permitindo novas possibilidades

socioeconômicas ao exercício docente e fragilizando o slogan de uma ocupação

secundária e improvisada.

Como nesse período ainda estava em discussão a nova regulamentação nacional

do curso de Pedagogia, a qual seria aprovada no ano seguinte (Parecer do CFE nº. 252/69),

a organização curricular e o perfil de formação do curso de Pedagogia da UFS

permaneceram associados aos pareceres n°. 251/62 e 292/62 do CFE. Enquanto o

primeiro estabelecia o currículo mínimo, o perfil profissional e a duração de todos os

cursos de Pedagogia do país, o segundo determinava as disciplinas pedagógicas da

formação do licenciado106.

105 No Regimento da FACED, o vestibular foi denominado de concurso de habilitação. 106 No ano de 1969, o currículo do curso foi reestruturado de acordo com o Parecer nº. 252/69 e a Resolução

nº 2/69 do Conselho Federal de Educação. Esses dispositivos criaram as habilitações (magistério,

orientação, supervisão, inspeção e administração), destinadas a assumirem a fragmentação das tarefas no

espaço escolar.

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Assim, podemos observar que no processo de instalação e funcionamento do curso

de Pedagogia na Universidade Federal de Sergipe, a primeira atividade dirigida ao seu

corpo docente e administrativo foi enquadrar o curso à nova política educacional do país,

associada ao arcabouço jurídico da UFS e as diretrizes da Reforma Universitária. No

entanto, vale ressaltar que na prática, a implantação dessa nova estrutura legal não ocorreu

de forma simples e imediata:

Sabe-se, entretanto, que para as Escolas de Nível Superior o presente

ano será particularmente difícil, tendo em vista as novas modificações

impostas através de diversas leis, necessitando de algum tempo para

que as mesmas se adaptem as novas exigências. (DIÁRIO DE

ARACAJU, 03/02/68).

Em meio à organização e ao ajustamento legal do aparelho administrativo e

acadêmico, os professores também passaram a preocupar-se com a proposta pedagógica

do curso para o ano letivo subsequente. Ainda no segundo semestre de 1968 foram

realizadas várias reuniões entre professores e o representante discente de Pedagogia, com

a finalidade de definir as disciplinas que seriam ministradas, a carga horária, a

bibliografia, os assuntos a serem trabalhados, as datas das avaliações e a disposição de

professores.

Nesse processo, a primeira decisão coletiva para a organização do ano letivo de

1969 foi permanecer com o sistema seriado107. Esse regime determinava a oferta de

disciplinas a partir de módulos anuais distribuídos pelas quatro séries do curso, não

permitindo ao aluno optar pelas matérias que desejava cursar108.

Os módulos eram constituídos por disciplinas fixas, determinadas pelo Conselho

Federal de Educação e pela congregação do curso109. Diante disso, os alunos eram

obrigados a cursar todas as disciplinas que compreendiam cada módulo durante o ano

letivo, sem direito ao trancamento no decorrer de cada série.

As provas seriam realizadas no final de cada semestre, compreendendo em cada

série duas avaliações. Além disso, o aluno teria direito aos exames de segunda época, os

quais representavam uma espécie de recuperação anual das matérias cuja média

acadêmica o aluno não havia alcançado110.

107 Nesse contexto, o sistema seriado era caracterizado pela oferta de módulos, constituídos por disciplinas

e distribuídos anualmente, para cada série do curso. A matrícula também era anual. 108 O curso de Pedagogia tinha duração de 4 anos. 109 A constituição da grade curricular do curso também deveria ser aprovada pelo Conselho de Ensino e

Pesquisa da UFS. 110 A média acadêmica correspondia à nota 7,1.

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Diante dessa organização, foi solicitada aos professores a elaboração dos

programas de ensino de todas as disciplinas, em andamento, que compreendia o currículo

do curso. Nesse período, havia apenas cinco delas em atividade, as quais correspondiam

ao primeiro ano da graduação. No ano seguinte, seriam ministradas dez disciplinas111,

devido à matrícula da segunda turma.

Para isso, foram analisados programas de ensino de outras universidades

brasileiras, como os da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de

Pernambuco (UFPE) e Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Na elaboração desses

planos, enfatizou-se uma atenção especial à construção da bibliografia, devido à escassez

de livros na Faculdade de Educação.

A preocupação com a bibliografia também estava associada à dificuldade de

encontrar nas livrarias de Aracaju obras referentes ao curso de Pedagogia. Este problema

era discutido constantemente em reuniões de professores, evidenciando as limitações

diante de uma atualizada literatura.

Os ex-alunos da primeira turma (1968-1971) também destacaram a carência de

livros e os obstáculos na aquisição de material bibliográfico para as disciplinas específicas

da Pedagogia. De acordo, com a ex-aluna e ex-professora da UFS Maria Lúcia Souza R.

Berger, a ausência de livros na área, dificultava inclusive os egressos do curso a prestarem

concursos públicos:

Nós íamos muito à biblioteca, mas a nossa biblioteca ainda era muito

carente, porque era o primeiro curso, a primeira turma. Lembro que

quando comecei a ensinar, eu não tinha bibliografia, então tive que

mandar buscar livros em Belo Horizonte. Depois que me formei, logo

fui ensinar na Universidade como auxiliar de ensino, e eu não tinha

bibliografia. Aliás, eu mandei buscar já para fazer o concurso... Eu

tive que procurar uns livros e mandar buscar, e com esses livros fui

estudar para dar aula, porque a biblioteca era muito precária para o

curso de Pedagogia. Já havia muitos livros para o curso de Letras,

História... cursos que estavam mais estruturados, mas para nós de

Pedagogia, era complicado, entendeu? (BERGER, 2011, s/p).

A solução para amenizar esse problema era o apelo a amigos e parentes que

viajavam ou moravam em outros estados, para a realização da compra e ao envio de livros

para Aracaju. Ainda em 1968, a Faculdade de Educação passou a receber recursos

111 As cinco disciplinas do primeiro ano do curso de Pedagogia, correspondente ao ano de 1968, eram:

Sociologia, Português, Introdução à Filosofia, Psicologia e Introdução à Economia. As cinco disciplinas da

segunda série (1969): História da Educação, Psicologia da Educação, Filosofia da Educação, Biologia e

Sociologia da Educação. Basta lembrar que essa disposição de disciplinas estava associada à

regulamentação nacional do curso, amparada pelo Parecer do CFE nº. 251/62.

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financeiros para a aquisição de obras atribuídas aos professores e à biblioteca para

disponibilidade dos alunos. Além da compra de livros, os professores também solicitaram

à secretaria do curso a reprodução de apostilas mimeografadas.

No tocante à orientação teórica, observamos que, apesar do clima tenso diante da

conjuntura política da época112, os professores tinham autonomia para escolher os

conteúdos e as obras que seriam utilizadas em suas disciplinas. De acordo com o

depoimento da ex-professora Cacilda de Oliveira Barros, podemos compreender como

ocorriam na prática, a elaboração e a aprovação de cada programa:

Nós tínhamos autonomia para escolher os nossos livros e os assuntos

que seriam abordados em sala de aula. Não presenciei, em nenhum

momento, a proibição de livros ou textos que eram utilizados, nem de

assuntos que eram tratados em sala de aula pelos professores do curso

de Pedagogia. É claro que antes sentávamos para discutir o que seria

trabalhado em cada disciplina e os textos que seriam utilizados, para

serem aprovados em equipe, até mesmo para haver uma harmonia no

conteúdo e não haver repetições de assuntos. (BARROS, 2010, s/p).

Suponhamos que diante da vigilância explícita e da repressão divulgada

cotidianamente nos meios sociais, os professores tivessem um “cuidado prévio” no

planejamento dos assuntos e na escolha das obras que seriam adotadas em sala de aula.

Mas isso não impedia a utilização de textos ou a abordagem sobre autores “considerados

subversivos”, como podemos observar em relatos da ex-aluna Liana de Melo Torres:

Por exemplo, Redin, foi meu professor de Psicologia, Introdução a

Psicologia, então ele levava textos sem o nome do autor e a gente não

entendia o porquê, era porque eram os autores censurados pela

Ditadura. Nós estudamos Paulo Freire em muitas disciplinas sem o

nome de Paulo Freire, a gente não sabia qual autor estávamos

estudando. (TORRES, 2015, s/p).

De acordo com as declarações da ex-professora e ex-aluna do curso de Pedagogia,

subtende-se que naquele momento não houve qualquer “impedimento formal” com

relação ao conteúdo e à literatura utilizada pelos professores do mencionado curso.

Entretanto, acrescentaram que o corpo docente se sentia intimidado diante da conjuntura

política da época para escolher o referencial teórico de suas disciplinas.

112 De acordo com Dantas (1997), com a instauração do Regime Civil Militar, a partir de abril de 1964,

intensificaram-se em Sergipe as prisões de estudantes e professores sem ordem judicial e marcadas de

arbitrariedade.

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Outro fato revelador foi a informação de que a tendência pedagógica tecnicista

estava em ascensão naquele momento e dominava boa parte dos conteúdos trabalhados

no curso. Essa abordagem atendia aos anseios da nova política educacional do país, o que

proporcionou uma grande aceitação de suas obras pelos professores e alunos.

Segundo depoimentos da ex-aluna e ex-professora Maria Lúcia Souza R. Berger,

o tecnicismo era uma tendência inovadora naquele período, inclusive havia sido

importada dos Estados Unidos e vinha produzindo bons resultados no seu país de origem,

o que despertava a confiança e o entusiasmo pela nova tendência:

Inclusive foi uma coisa que deu muito entusiasmo para a gente

trabalhar, porque realmente acreditávamos que aquilo iria contribuir

para a qualidade da educação. Então, pegamos uma fase em que havia

um entusiasmo, dentro daquele contexto, de que aquilo iria

funcionar... Aí diz: ah é alienado! Não, peraí vamos situar o contexto,

né! Agora a gente tinha na época, pessoas que já tinham toda uma

concepção político-filosófica esquerdista que estava silenciada por

força das circunstâncias, e que começou a discriminar esse grupo que

vinha trabalhando acreditando que iria contribuir para melhorar o

ensino. (BERGER, 2011, s/p.).

Além da bibliografia, os programas das disciplinas também deveriam informar os

assuntos que seriam trabalhados anualmente e sua carga horária. Nesse processo, cada

professor elaborava os planos de suas matérias de ensino e depois apresentava à

congregação do curso para ser avaliada e aprovada. Essa prática tinha a finalidade de

garantir a harmonia e o entrosamento entre as disciplinas, evitando repetições e a

desarticulação de conteúdo.

Em meio à construção dos programas, os professores demostravam preocupação

acerca do aproveitamento dos alunos com relação aos conteúdos discutidos em sala de

aula e às dificuldades para concluir todo o plano. Para o corpo docente, essas limitações

eram decorrentes do precário ensino nas escolas de nível médio113 e de sua falta de

conexão com o nível superior. Para amenizar tal problema, foi sugerida a realização de

revisões das matérias de nível médio, palestras semanais, organização de grupos de

estudos e o desenvolvimento de pesquisas.

A qualidade do ensino em escolas públicas e particulares, aliada a desintegração

entre o ensino médio e o superior, eram alvos de constantes críticas pela imprensa

113 O ensino médio era ministrado em dois ciclos, o ginasial e o colegial. Além disso, compreendia os cursos

secundários, técnicos e de formação de professores para o ensino primário e pré-primário. Essa nova

nomenclatura foi instituída pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1961 (Lei nº 4.024/61).

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sergipana, pois, de acordo com os noticiários da época, isso comprometia o acesso dos

estudantes, sua formação e o nível de ensino na Universidade Federal de Sergipe:

Estamos praticamente em fase de implantação da nossa Universidade

e não é possível esperar dela resultados satisfatórios, se deixarmos

como está a situação no ensino secundário e no médio. A

Universidade não vem para fazer milagres; se os alunos que saem dos

cursos colegiais não demonstram preparo para assimilar os

conhecimentos de nível superior, ministrados o esforço da

Universidade se perderá inutilmente e ela cairá no descrédito.

(DIÁRIO DE ARACAJU, 06/02/68).

Diante disso, percebemos que no processo de adaptação e organização do curso

de Pedagogia da UFS, as primeiras medidas adotadas pela sua congregação estavam

relacionadas aos setores administrativo, acadêmico e pedagógico da unidade.

Nesse contexto, foram fundamentais o estudo detalhado da legislação nacional do

ensino superior e a análise das experiências de outras unidades de ensino, já legitimadas

no campo acadêmico. Além disso, fez-se necessário associar essa conjuntura à legislação

educacional da Universidade Federal de Sergipe e à realidade sociocultural em que o

curso estava inserido.

Assim, podemos notar que, apesar do curso de Pedagogia da UFS permanecer com

a “aparente” organização da antiga FAFI até o final do ano letivo de 1968, nesse mesmo

ano novas medidas passaram a ser planejadas para o enquadramento da Faculdade de

Educação e do curso de Pedagogia da UFS à nova política educacional vigente, propagada

pelas diretrizes da Reforma Universitária.

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3 – O INGRESSO NO CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL

DE SERGIPE (1968-1978)

3.1 - A OPÇÃO PELO CURSO E O PROCESSO SELETIVO

Encerrado mais um ano letivo, iniciava-se em todo o Estado de Sergipe a

realização das festas de formatura do nível médio e de suas modalidades de ensino, a

exemplo dos cursos Normal, Agrícola, Industrial e de Comércio114. Em meio às

comemorações, muitos jovens pleiteavam algo a mais na sua formação: o ingresso no

curso superior.

Esse plano proporcionava outras oportunidades de ascensão econômica e social

aos jovens estudantes, pois poderiam exercer diferentes atividades na área do Direito,

Economia, Medicina, Serviço Social, Química e Magistério. Desta forma, a alegria e o

prestígio evidenciados nas festividades de formatura do ensino médio uniam-se às

preocupações e expectativas, ocasionadas pelos vestibulares115:

O mês de dezembro é dedicado às solenidades de conclusão de curso.

Hoje até alunos do curso pré-primário têm também a sua “formatura”.

[...] Em verdade, as únicas solenidades de curso de que tem algum

sentido, são as que conferem diplomas, quer de nível médio, ou de

nível superior. Significam o término de uma atividade estudantil e o

início de uma atividade profissional. Especial destaque merecem os

diplomas de nível superior, sobretudo com a instituição da

Universidade de Sergipe. (DIÁRIO DE ARACAJU, 10 e 11/12/1967,

p. 2).

No ano de 1968, esse clima de expectativa ampliou-se ainda mais devido à criação

da Universidade Federal de Sergipe e à campanha a favor de sua instalação, divulgada

cotidianamente em periódicos e programas de rádio. A imprensa ressaltava a importância

da federalização do ensino superior sergipano e a incorporação das faculdades isoladas

pela Universidade oficial.

Os intelectuais sergipanos e líderes do Governo acreditavam que esse novo

empreendimento iria oportunizar a qualificação intelectual e profissional para atender ao

novo modelo de desenvolvimento socioeconômico e cultural do Estado. De acordo com

114 Além dessas modalidades de ensino, também existiam os cursos de Madureza e de Contabilidade. 115 Nesse período, o processo seletivo para o ingresso nas instituições de nível superior poderia ser

denominado de vestibular ou concurso de habilitação.

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o memorial de agradecimento116 elaborado por Dom Luciano Duarte, destinado ao

presidente da República, Costa e Silva, e ao ministro da Educação e Cultura, Tarso Dutra,

podemos notar o entusiasmo acerca da criação da primeira universidade em Sergipe:

A UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE era a maior aspiração

dos estudantes, dos professores, das famílias, dos responsáveis pela

administração estadual, e, enfim de todos os que, em Sergipe, se

preocupam com o desenvolvimento do Estado, e procuram abrir

perspectivas de progresso para os anos próximos. Sergipe vive sob o

peso de todos os percalços que oprimem o subdesenvolvimento do

Nordeste brasileiro. [...] Faltam-nos médicos, professores, técnicos.

[...] Os jovens estudantes irão povoar a UNIVERSIDADE que Vossa

Excelência criou para Sergipe. Eles forjarão o nosso progresso

econômico e intelectual. (A CRUZADA, 04/03/1967).

A confiança na implantação desse projeto e o compromisso de financiamento do

Governo Federal proporcionaram a instalação do curso de Pedagogia, o qual havia sido

criado em 1950 na Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. O edital do primeiro

vestibular foi organizado ainda em novembro de 1967, compreendendo todos os cursos

em funcionamento da FAFI.

Diante da criação da Universidade Federal de Sergipe, professores e candidatos

ás vagas aguardavam mudanças na organização dos exames para o processo seletivo de

1968, mas em virtude do atraso na incorporação das faculdades e na instalação da UFS117,

o modelo de vestibular descentralizado permaneceu inalterado, como podemos observar

no jornal Diário de Aracaju:

Apesar de ter sido anunciado que os exames vestibulares para o

próximo ano sofreriam profundas modificações, sobretudo no que se

referia à data de realização em todas as Faculdades, tais exames não

deverão sofrer nenhuma alteração neste sentido, estando cada

Faculdade organizando seu programa particular, nos moldes dos anos

anteriores, cuja época tem variado sempre entre a 2ª quinzena do mês

de janeiro e os primeiros dias de fevereiro. (DIÁRIO DE ARACAJU,

14/12/1967).

116 O memorial de agradecimento foi elaborado por Dom Luciano Duarte a pedido do Governador de

Sergipe, Lourival Baptista. Assinaram a mensagem o próprio governador do Estado, o vice-governador

Manoel Cabral Machado, o arcebispo metropolitano Dom José Távora, o presidente do Tribunal de Justiça

desembargador Humberto Sobral, o prefeito da capital, Gileno Lima, e vários outros representantes de

instituições, diretórios acadêmicos e sindicatos. O documento foi entregue pessoalmente pelo governador

de Sergipe ao presidente da República, Humberto de Alencar Castelo Branco, e ao ministro da Educação e

Cultura, Tarso Dutra (A CRUZADA, 04/03/1967). 117 Isso ocorreu devido ao atraso na aprovação do Estatuto da Fundação e da Universidade Federal de

Sergipe, ocasionado pelas divergências entre professores e alunos. Além disso, houve demora no repasse

da verba federal para a instalação.

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Como não houve alterações no vestibular de 1968, o corpo docente de cada

faculdade organizou sua seleção e o edital de inscrição. Os professores da FAFI também

eram responsáveis por compor as bancas examinadoras, as quais elaboravam,

mimeografavam, aplicavam e corrigiam as provas escritas e orais. Para cada disciplina

havia uma banca compostas de três professores da área:

Figura 12 - Banca examinadora do curso de Pedagogia da FAFI (1968)

Fonte: Ata geral do concurso de habilitação de 1968. Acervo: Arquivo Central da UFS.

Diante da ata do concurso, é possível verificar a participação de Dom Luciano

Duarte em diferentes bancas (Português, Noções de Pedagogia e Francês), apesar de sua

formação acadêmica compreender, especialmente, a área da Filosofia. No entanto, a

detenção do poder simbólico e a concentração de diferentes capitais (cultural e social),

proporcionou a notoriedade intelectual do sacerdote no campo educacional e sua atuação

nas diferentes áreas do conhecimento.

De acordo Bourdieu (2007) o poder simbólico transfigura o uso de vários tipos de

capitais (econômico, cultural e social) constituídos como poderes que se exercem em

espaços socialmente definidos e por pessoas posicionadas distintamente, poderes que

atraem e que repelem outros sujeitos, que atuam mais fortemente em uns agentes do que

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em outros, mas que atingem a todos envolvidos na produção de sentido do próprio mundo

social. Para ele,

O poder simbólico como poder de constituir o dado pela enunciação,

de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de transformar a visão do

mundo e, deste modo, a ação sobre o mundo, portanto o mundo; poder

quase mágico que permite obter equivalente daquilo que é obtido pela

força (física ou econômica), graças ao efeito específico de

mobilização, só se exerce se for reconhecido, quer dizer, ignorado

como arbitrário. Isto significa que o poder simbólico não reside nos

sistemas simbólicos em forma de uma “illocutionary force” mas que

se define numa relação determinada – e por meio desta entre os que

exercem o poder e os que lhe estão sujeitos, quer dizer, isto é, na

própria estrutura do campo em que se produz e se reproduz a crença.

O que faz o poder das palavras e das palavras de ordem, poder de

manter a ordem ou de a subverter, é a crença na legitimidade das

palavras e daquele que as pronuncia, crença cuja produção não é da

competência das palavras. (BOURDIEU, 2007, p. 14 e 15).

As provas eram aplicadas nos prédios de cada unidade de ensino superior, em

diferentes datas e horários, possibilitando ao candidato participar dos vestibulares de

outras faculdades no mesmo ano. Mas, diante da pequena procura pelos cursos da FAFI,

seus organizadores davam preferência a datas posteriores às das demais faculdades

isoladas para que pudessem reaproveitar os estudantes reprovados.

Nesse vestibular, a Faculdade Católica de Filosofia divulgou seu edital na primeira

semana de 1968, mas as inscrições só podiam ser realizadas após a segunda quinzena do

mês. Além do curso de Pedagogia, também foram oferecidas vagas para os cursos de

Geografia, História, Filosofia e Letras (Francês e Inglês)118, como podemos verificar no

edital a seguir:

118 O edital publicado no jornal A Cruzada (06/01/1968) incluía o curso de Letras-Alemão, mas esse curso

não foi ofertado no vestibular da FAFI de 1968.

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Figura 13 - Edital do Concurso de Habilitação da FAFI (1968)

Fonte: Edital do concurso de habilitação da FAFI. Acervo: Arquivo Central da UFS.

Aos candidatos do curso de Pedagogia foram oferecidas 30 vagas no turno

matutino. No ato da inscrição era necessário apresentar o certificado de conclusão do

curso secundário, carteira de identidade, atestado de idoneidade moral, folha corrida

fornecida pela Secretaria de Segurança Pública, atestados de sanidade física e mental,

certidão de nascimento, prova de quitação militar (para os candidatos do sexo masculino)

e pagamento da taxa de inscrição.

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Segundo depoimentos de ex-alunos, os atestados de idoneidade moral eram

fornecidos por diretores ou professores “reconhecidos socialmente e dotados de boa

conduta” das instituições escolares nas quais os vestibulandos haviam concluído o ensino

médio. Com relação aos atestados de sanidade mental, os candidatos precisavam solicitá-

los na Clínica Psiquiátrica Adauto Botelho, como podemos verificar na fotografia que

segue:

Figura 14 - Atestado de sanidade mental para o ingresso na FAFI (1968)

Fonte: jornal Diário de Aracaju, 18/01/1968. Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGS).

Na seleção para o curso de Pedagogia eram exigidos os conhecimentos das áreas

de Português, Noções de Pedagogia, História Geral e uma língua estrangeira (Francês ou

Inglês). De acordo com depoimentos da ex-aluna Lilian Leal Lago, cada uma dessas

quatro áreas compreendia provas escritas e orais, finalizando oito provas no total:

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No nosso vestibular havia prova escrita e prova oral. Lembro que

houve provas de História e de Português, nesta última achávamos que

teria uma redação e que o tema seria sobre universidades, porque

nessa época falava muito sobre a criação da nossa universidade, mas

quando chegou na hora da prova o tema da redação foi “Se eu fosse

Presidente...”. Lembro-me da colega Clara Angélica dizendo no

momento da prova: “eu achava que a redação seria sobre a

universidade”. Tinha também a prova de Noções de Pedagogia, com

a professora Cacilda. As colegas que haviam feito o curso Pedagógico

levavam vantagens, mas como eu havia feito o Clássico no Atheneu,

precisei pegar o material com uma prima que havia feito esse curso

no Colégio Nossa Senhora de Lourdes. Por último, era a prova de

Inglês ou Francês. Nós fazíamos a opção da língua estrangeira.

(LAGO, 2015, s/p).

Diante do caráter eliminatório, as provas eram realizadas no turno da manhã119 e

suas notas divulgadas no período da tarde para que os candidatos pudessem comparecer

no dia seguinte e realizar os demais testes120. A ex-aluna Judite Oliveira Aragão recorda

a euforia e a preocupação em torno desse momento:

Quando saiu o resultado do vestibular lembro que estávamos no pátio

da Faculdade e foi aquela festa. Era muito engraçado, porque o

momento de seleção era um sofrimento, um nervosismo, candidatos

chorando para lá e para cá. Naquela época, ficávamos aguardando a

aprovação de cada disciplina, para no dia seguinte irmos fazer as

demais. Então, cada resultado era uma vitória e grande ansiedade para

a próxima prova. (ARAGÃO, 2015, s/p).

Nesse vestibular a procura pelo curso de Pedagogia conseguiu superar os demais

cursos da FAFI, com a inscrição de 34 candidatos e 21 aprovações121. Essa concorrência

expressiva foi ocasionada, especialmente, devido ao esforço do seu diretor em recrutar

alunos para a nova graduação, como podemos observar no depoimento da ex-aluna Lilian

Leal Lago:

119 As provas foram realizadas no período de 16 a 24 de fevereiro de 1968. 120 Eram considerados aprovados os candidatos que obtivessem média igual ou superior a 4,0 por disciplina.

Essa média aritmética era obtida a partir das provas oral e escrita de cada disciplina. 121 No vestibular de 1968 (referente às duas seleções) foram registrados os seguintes números de candidatos,

por curso: 17 História, 7 Geografia, 8 Letras-Francês, 11 Letras-Inglês e 1 Filosofia. O número de

aprovados foi: 9 de História, 5 de Geografia, 4 Letras-Francês, 10 Letras-Inglês e nenhum em Filosofia

(FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE SERGIPE, 1968a, s/p).

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Nesse dia ele122 estava com a Kombi da rádio Cultura, então viemos

de Nossa Senhora das Dores até Aracaju conversando, e nessa

conversa falei para ele que trabalhava no Educandário Brasília e que

tinha interesse em fazer o vestibular para Geografia. E aí, ele disse:

Por que você não faz Pedagogia, já que trabalha e gosta tanto de

crianças? Então, respondi que não havia esse curso em Aracaju, e ele

respondeu: agora vai ter, pois vamos criar uma Faculdade de

Educação, porque nosso sonho é instalar a Universidade, e para isso

vamos oferecer o curso de Pedagogia e instalar a Faculdade de

Educação. (LAGO, 2015, s/p).

Diante desse relato, podemos observar a preocupação de Dom Luciano Duarte em

atrair candidatos para o curso de Pedagogia, devido à exigência dos membros do

Conselho Federal na instalação da Faculdade de Educação. Como essa instituição estava

associada especialmente ao referido curso e às disciplinas pedagógicas das licenciaturas,

seria inviável a sua instalação para poucos alunos.

O único candidato ao curso de Filosofia nesse ano, Wilder Santos, também lembra

que foi abordado por Dom Luciano Duarte com o propósito de convencê-lo a prestar o

vestibular para o curso de Pedagogia, pois alegou que seria dispendioso à FAFI aprovar

somente um aluno para Filosofia. Na intenção de solucionar o problema, recomendou a

inscrição do candidato no curso de Pedagogia, mas este não aceitou:

Lembro que quando fui fazer vestibular para o curso de Filosofia na

Faculdade Católica, não havia outros candidatos. Então Dom Luciano

me chamou e perguntou se eu tinha interesse em fazer a seleção para

o curso de Pedagogia, pois seria muito oneroso para a Faculdade abrir

uma turma do curso de Filosofia para um aluno, somente. E eu

respondi que não, pois naquele momento eu não tinha interesse por

Pedagogia. (SANTOS, 2016, s/p).

Outra candidata da época ressaltou a determinação de Dom Luciano Duarte em

alcançar o número suficiente de alunos para instalar a mencionada graduação. Segundo

ela, o diretor foi ao cursinho pré-vestibular promovido pela própria Faculdade Católica

de Filosofia para apresentar o novo curso e a área de atuação deste:

Dom Luciano sempre foi muito próximo do curso de Pedagogia. Eu

lembro que nessa época eu estava fazendo um cursinho pré-vestibular

para História e ele foi pessoalmente falar sobre o novo curso de

Pedagogia. [...] O que era o curso de Pedagogia e tal... Eu acho que

ele era muito entusiasmado por esse curso, entendeu? Lembro que ele

foi lá no cursinho, aí foi quando eu comecei a pensar em fazer

Pedagogia. (BERGER, 2011, s/p).

122 Dom Luciano Duarte.

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Em Sergipe, a criação dos cursos pré-vestibulares tornou-se comum no final da

década de 40 do século XX, devido ao surgimento das faculdades isoladas e à

obrigatoriedade da seleção para seu ingresso. Por isso, muitos deles surgiram associados

às próprias faculdades isoladas, sendo organizados pelos diretórios acadêmicos, alunos e

professores dessas instituições.

Eu fazia o curso pré-vestibular à noite na Faculdade de Filosofia, e eu

lembro que estava fazendo umas disciplinas lá. Não lembro se

naquela época chamava pré-vestibular, mas recordo que havia

disciplinas noturnas e que você podia fazer para se preparar para o

vestibular da própria FAFI. (BERGER, 2011, s/p).

Nesse período, muitos candidatos costumavam fazer cursinhos ou aulas

particulares em disciplinas isoladas com a intenção de reduzir as dificuldades nas provas

da seleção e a falta de articulação entre o ensino médio e os exames do vestibular. Mesmo

com essa iniciativa, a imprensa sergipana publicava matérias anunciando o alto índice de

reprovação:

Nunca será demais chamar a atenção das autoridades educacionais

para a decadência que vem se acentuando de ano para ano, no ensino

secundário e médio em Sergipe. [...] O caso se evidencia de maior

gravidade, quando se verifica, como neste último ano, o elevado

percentual de reprovações nos exames vestibulares das faculdades, a

que se submeteram os estudantes que passaram nos cursos colegiais.

[...] O resultado é esta decadência que se acentua de ano para ano e

que neste último ano atingiu um grau alarmante. Nem os cursinhos

particulares que os estudantes fazem dos chamados pré-vestibulares,

ou de preparativos para exames de 2ª época, salvam do fracasso.

Aliás, estes cursinhos estão se transformando num aspecto da

indústria do ensino [...]. (DIÁRIO DE ARACAJU, 06/02/1968).

Diante do alto índice de reprovações e o insuficiente número de candidatos

aprovados no vestibular de 1968123, exames de segunda época também foram realizados

para preencher as vagas ociosas de todos os cursos da Faculdade Católica de Filosofia de

Sergipe. Nesses exames, alunos inabilitados no primeiro vestibular para o curso de

Pedagogia ou que não tiveram a oportunidade de inscrição, adquiriram uma nova chance,

como podemos verificar no depoimento da ex-aluna Judite de Oliveira Aragão:

123 No vestibular de 1968, a FAFI registrou o montante de 44% de reprovações, sendo o maior número no

curso de História (DIÁRIO DE ARACAJU, 01/03/1968).

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Ao concluir o curso Pedagógico, soube que naquele ano haveria

vestibular para o curso de Pedagogia que seria implantado na então

Faculdade Católica de Filosofia. [...] Então tentei o primeiro

vestibular, mas não fui aprovada porque não havia estudado o

suficiente. Mas, sobraram vagas, e a direção resolveu fazer uma

segunda chamada, era uma espécie de segundo vestibular. Foi nesse

momento que fui aprovada. Lembro que constava de prova escrita e

oral das disciplinas História Geral, Português, Noções de Pedagogia

e Francês. Todas as provas eram eliminatórias, ou seja, o candidato

só fazia a prova seguinte se obtivesse aprovação na anterior.

(ARAGÃO, 2010, s/p).

No ano seguinte, mudanças foram realizadas na organização do vestibular devido

à instalação da Universidade Federal de Sergipe e à consequente incorporação das

faculdades isoladas. Diante disso, implantou-se uma padronização no processo seletivo

de todas as faculdades e cursos incorporados.

A primeira medida adotada foi a uniformização dos editais de cada faculdade,

estabelecendo datas semelhantes para a realização das inscrições e aplicações das provas.

Desta forma, os vestibulares das faculdades passaram a ser realizados no mesmo

período124, impedindo a seleção de candidatos aos diferentes cursos, como no ano

anterior.

De acordo com o depoimento da ex-candidata ao curso de Pedagogia, Maria José

Santos Araújo, o vestibular de 1969 foi revestido pela tensão dos vestibulandos durante a

realização das provas:

Eu lembro que fazíamos provas escritas e orais, com dois

examinadores. Português, por exemplo, foram José Araújo e João

Costa. Era um nervoso! Fizemos prova de História, Português,

Pedagogia e Línguas... O meu francês era uma miséria, inclusive fiz

a prova com a professora Rosália Bispo, História com Manoel Cabral

Machado e Thétis. (ARAÚJO, 2015, s/p).

A implantação da UFS, ocasionou uma maior procura de estudantes interessados

em cursar o ensino superior em Sergipe. A imprensa local (escrita e oral) tornou-se um

importante meio de divulgação das informações a respeito dos vestibulares, cobrindo com

matérias jornalísticas desde a divulgação do edital, aos resultados finais. Nesse sentido

vários registros fotográficos também eram realizados durante o processo seletivo, como

podemos verificar na imagem a seguir:

124 Entre os dias 15 e 28 de janeiro de 1969.

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Figura 15 - Exames vestibulares da UFS (1969)

Fonte: jornal Diário de Aracaju, 17/01/1969. Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGS).

Nesse processo, o vestibular para o curso de Pedagogia passou a ser promovido

pela Faculdade de Educação, disponibilizando 30 vagas aos 24 concorrentes125. Mas, de

acordo com a ex-aluna, Maria José Santos Araújo, apesar de o número de vagas ser

superior à quantidade de candidatos, apenas sete deles foram aprovados, o que motivou a

realização de uma segunda chamada126:

Quando nós fizemos o vestibular de 1969, lembro que eram 24

pessoas inscritas para 30 vagas. Então pensei né! Vamos todos passar.

Só que todas as provas escritas e orais naquele tempo eram

eliminatórias, por isso que tinha 30 vagas e só entraram sete pessoas.

Lembro que ainda fizeram a 2ª chamada, aí foram aprovadas mais

algumas pessoas. (ARAÚJO, 2015, s/p).

125 Com a incorporação da FAFI à Universidade Federal de Sergipe (em abril de 1968), e seu

desmembramento em três novas unidades de ensino (em agosto de 1968), o curso de Pedagogia foi

incorporado à Faculdade de Educação. 126 Os editais de inscrição para o concurso de habilitação de todas as faculdades da UFS enfatizavam a

informação de que não haveria segunda chamada para o vestibular de 1969.

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O segundo vestibular foi realizado no mês de fevereiro, obedecendo às mesmas

exigências da primeira seleção127. Poderiam inscrever-se alunos novos e candidatos

reprovados, sendo que estes ficariam dispensados de prestar os exames das disciplinas

que tinham obtido a média igual ou superior a quatro128. Nessa seleção, mais nove

vestibulandos foram admitidos, totalizando 16 aprovados no curso.

Os mecanismos de seleção utilizados para o ingresso em instituições de ensino

superior em Sergipe, eram empregados para filtrar os alunos que almejavam ingressar,

especialmente, na UFS. O ingresso nessa unidade acadêmica garantia o acúmulo de

capital cultural, proporcionando aos diplomados em Pedagogia, atuação profissional num

amplo mercado de trabalho e prestígio no campo educacional.

De acordo com Bourdieu (1999) a noção de capital cultural remete a um conjunto

multidimensional de competências e de disposições. Ela institucionaliza-se por meio de

diversas entidades legais (a exemplo dos diplomas escolares e acadêmicos, qualificações)

e uma cultura tida como legítima, isto é, constituída pelos produtos simbólicos

socialmente valorizados. Nesse sentido, o capital cultural em seu estado

institucionalizado, manifesta-se como atestado e reconhecimento institucional de

competências culturais adquiridas, a exemplo, de diplomas acadêmicos e certificados

escolares.

Além do ingresso por meio do vestibular, a legislação da UFS permitia que

candidatos ao curso de Pedagogia fossem provenientes da transferência de outras

faculdades ou portadores de diplomas de nível superior, reconhecidos pelo Conselho

Federal de Educação. Para solicitar uma vaga, era necessário que o aluno transferido ou

diplomado requeresse sua matrícula à Faculdade de Educação, mas a inscrição só era

efetuada se houvesse vagas disponíveis ao final do processo seletivo129.

Na oportunidade, a estudante Maria Veneranda Corado aproveitou para requerer

a matrícula na primeira turma do curso, pois já havia cursado um ano dessa graduação na

Universidade Federal de Alagoas:

127 Para ambas as seleções foram exigidos os conhecimentos de Português, História, Noções de Pedagogia

e uma Língua Estrangeira (Francês ou Inglês). Além disso, as provas permaneceram sendo realizadas de

forma escrita e oral, com a média mínima de aprovação 4,0 para cada disciplina. 128 Resolução CONSU/UFS nº. 02/69. 129 Para os portadores de diplomas, as inscrições foram realizadas no período de 10 a 20 de janeiro de 1969.

Caso o número de inscritos ultrapassasse o número de vagas disponíveis, teria preferência, pela seguinte

ordem: 1º) O candidato diplomado em curso da mesma área do curso em que pleiteava a matrícula; 2º) O

candidato diplomado em curso de outras áreas cujo currículo tivesse maior número de disciplinas iguais,

ou correlatas às disciplinas do currículo do curso pretendido. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE,

1969d, s/p).

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Eu comecei a fazer o curso de Pedagogia em Maceió e quando vim

morar em Aracaju já estava no segundo ano, mas ainda não havia esse

curso aqui. Quando o curso foi aberto fiquei com vontade de retornar,

mas não tinha com quem deixar meus filhos, então meu marido disse

que se alguém da minha família viesse morar conosco, eu poderia

retornar para dar continuidade aos estudos. Então, quando eu retornei

para concluir o curso, a turma em que ingressei já estava em

andamento. (CORADO, 2015).

Ainda no ano letivo de 1969, foi criada a Comissão Central do Concurso de

Habilitação (CCCH) com a finalidade de adaptar e organizar o próximo vestibular da UFS

de acordo com as exigências da Reforma Universitária. Para facilitar o trabalho, seus

membros realizaram um estudo acerca da Lei nº 5.540/68 e analisaram as experiências de

universidades federais que já haviam adotado os preceitos da legislação vigente nos

exames vestibulares.

O Magnifico Reitor apresentou um trabalho do Reitor da

Universidade Federal do Ceará, Professor Valnir Chagas, como ponto

de apoio para facilitar o trabalho dessa comissão que será constituída

de um professor de cada uma das unidades responsáveis pelo ensino

básico na nossa Universidade (DIÁRIO DE ARACAJU, 08 e

09/06/69).

Na constituição da Comissão foram indicados professores de unidades

responsáveis pelo ensino básico da UFS: Faculdade de Educação, Instituto de Letras,

Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Instituto de Biologia e Instituto de Química130.

No caso da FACED, o escolhido pela congregação para representá-la foi o professor João

Costa, que também foi eleito pelo Conselho Universitário para assumir a presidência da

citada Comissão.

De acordo com as diretrizes da Reforma Universitária, o concurso vestibular

deveria ser unificado em todas as universidades brasileiras, abolindo a realização de

seleções independentes para cada uma das faculdades, como vinha sendo realizado na

UFS. A orientação era promover o vestibular unificado por meio dos determinados ciclos

básicos e em conformidade com as áreas pré-estabelecidas. Com relação à unificação do

vestibular da UFS, o jornal “Diário de Aracaju” ressaltou:

130 A Comissão era composta dos seguintes professores: João Costa (Faculdade de Educação), Rosália

Bispo dos Santos (Instituto de Letras), Adelci Figueiredo Santos (Instituto de Filosofia e Ciências

Humanas), Esmeraldino Casali (Instituto de Química) e Raimundo Araújo (Instituto de Biologia).

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A propósito do novo sistema pela Universidade de Sergipe, para os

exames vestibulares, somos de parecer que ele representa um passo

acertado no sentido da unificação prevista na Lei de Reforma

Universitária para estes exames e do verdadeiro significado que tais

exames devem ter. A Lei que estabelece a reforma universitária,

baixada em 1968, prevê um prazo de três anos, ou seja, até 1971, para

que os vestibulares, até então diferentes para cada curso, venham a

ser unificados num só sistema e num único programa para todos os

cursos de nível universitário131. Tal disposição legal vem

corresponder justamente à nova sistemática e a nova concepção

introduzida com a reforma, no ensino superior. (DIÁRIO DE

ARACAJU, 18/07/69).

Diante da nova proposta132, o vestibular da UFS passou a compreender 4 áreas:

Letras e Artes, Biomédica, Ciências Físico-Matemáticas e Ciências Humanas, sendo esta

última na qual a Faculdade de Educação e seu curso de Pedagogia estavam inseridos133.

Além disso, o vestibular de 1970 foi dividido em duas etapas: prova única, de

conhecimentos gerais para todos os cursos da Universidade; e provas específicas, comuns

às grandes áreas do ciclo básico. Para o curso de Pedagogia, a seleção foi dividida da

seguinte maneira: 1ª etapa - prova de conhecimentos gerais134 e 2ª etapa - provas de

Português, Matemática, Francês ou Inglês (opcional), História Geral e do Brasil e

Geografia Geral e do Brasil. Inicialmente, o novo modelo foi bastante elogiado pela

imprensa local:

131 De acordo com o Art. 21 da Lei nº. 5.540/68, “Parágrafo único. Dentro do prazo de três anos a contar

da vigência desta Lei o concurso vestibular será idêntico em seu conteúdo para todos os cursos ou áreas de

conhecimentos afins e unificado em sua execução, na mesma universidade ou federação de escolas ou no

mesmo estabelecimento isolado de organização pluricurricular de acordo com os estatutos e regimentos”.

(BRASIL, 1968a, s/p). 132 As normas gerais para o vestibular de 1970 da Universidade Federal de Sergipe foram definidas pela

Resolução do CONSU/UFS nº 29/69. O anteprojeto desse documento foi elaborado pela Comissão Central

do Concurso de Habilitação e aprovado pelo CONSU. 133 As áreas de Letras e Artes compreendiam o Instituto de Letras e Artes (cursos de Letras Francês, Inglês

e Alemão); a área Biomédica compreendia o Instituto de Biologia (cursos de Medicina e Odontologia); a

área das Ciências Físico-Matemáticas compreendia o Instituto de Química (curso de Química) e o Instituto

de Física e Matemática; e por último a área das Ciências Humanas: Instituto de Filosofia e Ciências

Humanas (cursos de História, Geografia e Filosofia), Faculdade de Ciências Econômicas (curso de Ciências

Econômicas), Faculdade de Direito (curso de Direito), Faculdade de Educação (curso de Pedagogia) e

Faculdade de Serviço Social (curso de Serviço Social). (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE,

1969e, s/p). 134 A prova de Conhecimentos Gerais abordava noções de Política, História, Artes, Música, Economia,

Cultura, cinema, teatro e esporte, no contexto internacional, nacional e local.

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É neste caminho verdadeiro que se coloca a decisão do Conselho de

Ensino e Pesquisa da Universidade de Sergipe ao entrar numa nova

etapa para a unificação dos vestibulares. A inclusão de português e

matemática nestes exames nos parecem especiais como matérias

básicas de cultura geral do nível médio. Por outro lado, a ponderação

das notas obtidas nesta matéria, relacionando o seu peso com a

importância que cada uma delas terão especificamente para cada

curso, corrigirá qualquer distorção. (DIÁRIO DE ARACAJU,

18/07/69).

Com a unificação do vestibular da UFS, as provas passaram a ser objetivas e iguais

para as disciplinas comuns aos diferentes cursos e às específicas das respectivas áreas135,

sendo aplicadas no mesmo local, data e horário. Os pesos referentes a cada disciplina136

e o número de vagas do curso de Pedagogia foram determinados pela congregação da

Faculdade de Educação.

Para cada prova havia uma comissão examinadora composta de três professores

da Universidade e seus suplentes, os quais ficavam responsáveis por elaborar,

mimeografar e corrigir as provas. O professor José Araújo Filho, um dos componentes da

comissão examinadora de Português, lembrou como foi organizado o vestibular daquele

ano:

Para elaborar as primeiras provas do vestibular “no início da UFS”,

ficávamos presos em salas de aula, eu e os demais professores

responsáveis pela disciplina e pela banca examinadora. Então

ficávamos até dois dias ali, elaborando provas, sem dormir e só

saíamos no momento de aplicar as provas... Fazíamos isso para que

as questões não fossem divulgadas, para ter o maior sigilo possível e

não haver desconfiança de fraudes. (ARAÚJO FILHO, 2015, s/p).

As provas eram elaboradas durante o dia e mimeografadas no horário noturno,

ficando os membros da banca examinadora e da comissão em vigília até o momento da

aplicação dos exames. Vale frisar que esse confinamento atendia às recomendações da

Resolução do CONSU nº 29/69, a qual estabelecia as normas gerais para o vestibular de

1970 da Universidade Federal de Sergipe:

135 A partir de 1970, a avaliação dos candidatos passou a ser realizada por meio de provas objetivas, sendo

extintas as provas oral e subjetivas. Esse novo modelo de avaliação foi alvo de críticas pela professora

Maria Thétis Nunes, integrante da comissão examinadora das provas de História Geral e do Brasil pois,

segundo ela, os testes de múltipla escolha vinham sendo aplicados no país de forma inadequada e artificial,

uma vez que eram dissociados de nossa realidade e não demonstravam o grau de conhecimento dos

candidatos (A CRUZADA, 14/03/1970). 136 O peso de cada disciplina variava de acordo com o curso optado. No caso do curso de Pedagogia, os

pesos foram distribuídos da seguinte maneira: Conhecimentos Gerais 1, Português 3, Matemática 1,

História 3, Geografia 1 e Línguas 1.

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Art. 12 – As questões das provas serão elaboradas em nível

progressivo de conhecimentos comuns ao ensino médio.

§ 3º - As provas devem ser aplicadas imediatamente após a sua

elaboração, correndo à conta de comissão examinadora a

responsabilidade da preservação do sigilo, nas fases de elaboração e

julgamento;

§ 4º - A CCCH e as comissões examinadoras ficarão em reunião

permanente e sigilosa desde a elaboração das provas até a entrega das

mesmas aos responsáveis pela sua aplicação. (UNIVERSIDADE

FEDERAL DE SERGIPE, 1969e, s/p).

Com a implantação do vestibular unificado, os exames seriam realizados no

Colégio Estadual de Sergipe e no prédio da antiga FAFI, mas diante do grande número

de alunos inscritos, as provas foram aplicadas no Estádio Estadual Lourival Baptista,

como podemos visualizar na fotografia a seguir:

Figura 16 - Estádio Estadual Lourival Baptista - Vestibular da UFS (1970)

Fonte: Fotografia do vestibular da UFS, feita em 1970. Acervo: Arquivo Central da UFS.

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Outra medida adotada pela UFS em consonância com as diretrizes da Reforma

Universitária foi a implantação do vestibular classificatório137. Este sistema visava

eliminar os candidatos que não haviam sido aprovados dentro das vagas, sem futuros

problemas judiciais138.

Na inscrição, os candidatos de Pedagogia podiam indicar outros dois cursos de

diferentes faculdades na área das Ciências Humanas. A escolha era colocada em ordem

de preferência pelo vestibulando, pois, se este não alcançasse a pontuação necessária para

a admissão no curso favorito, poderia solicitar o ingresso nas outras duas opções, em caso

de vagas disponíveis.

Para alcançar a classificação na primeira opção, os candidatos precisavam obter a

maior pontuação possível nas provas, pois seriam selecionados de acordo com o valor da

média obtida. Além disso, não podiam ter menos de 30 pontos na prova de Português,

zerar qualquer prova ou faltar a algum exame.

Os vestibulandos que não haviam sido classificados dentro do número de vagas

não eram oficialmente considerados excedentes. Entretanto, a Comissão Central do

Concurso de Habilitação também disponibilizava o nome dos 10 primeiros alunos que

não haviam sido classificados no limite de vagas, pois poderiam ser reaproveitados.

Na seleção para o curso de Pedagogia foram inscritos 42 candidatos para concorrer

às 30 vagas disponíveis. Destes, apenas seis foram desclassificados por não terem

alcançado a pontuação mínima na prova de Português, restando 36 finalistas. No processo

de matrícula houve uma desistência, ingressando a primeira colocada dentre os candidatos

classificados que excederam o número de vagas139.

137 O vestibular classificatório foi implantado pela Lei n°. 5.540/68: “Art. 17. Nas universidades e nos

estabelecimentos isolados de ensino superior poderão ser ministradas as seguintes modalidades de cursos:

a) de graduação, abertos à matrícula de candidatos que hajam concluído o ciclo colegial ou equivalente e

tenham sido classificados em concurso vestibular”. No entanto, esse modelo de seleção ficou mais evidente

após o Decreto-Lei nº 68.908/71: “Art. 2º O Concurso Vestibular far-se-á rigorosamente pelo processo

classificatório, com o aproveitamento dos candidatos até o limite das vagas fixadas no edital, excluindo-se

o candidato com resultado nulo em qualquer das provas”. 138 Os candidatos também eram orientados a assinarem um termo aceitando as normas estabelecidas pelo

concurso, reconhecendo não ter direito de pleitear matrícula se não fosse classificado no limite das vagas

anunciadas nos editais. 139 Nessa seleção, a candidata desistente foi Humbelina Acioly do Bomfim e a vestibulanda “excedente”,

convocada para a matrícula no curso, foi Edilma Menezes Santos. Nesse sentido, restaram cinco candidatas

“excedentes”, três das quais foram matriculadas na segunda opção, ou seja, nos cursos que tinham vagas

disponíveis: Clese Nadja da Costa Borges e Clemildes Tavares no curso de Letras Francês e Maria Celuta

Figueiredo de Meneses no curso de Geografia. As duas restantes (Maria dos Remédios L. de Figueiredo e

Maria Ieda Farias) não foram matriculadas em nenhum curso. O quadro com o nome de todos os aprovados

no curso de Pedagogia/UFS, no período de 1968-1978, está disponível no apêndice B.

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Em Sergipe, assim como nos demais estados brasileiros, o insuficiente número de

vagas nos cursos de ensino superior ocasionou reclamações dos candidatos “excedentes”.

Diante disso, várias reuniões foram realizadas entre os estudantes, o governador do

Estado, Lourival Baptista, e o reitor da UFS, João Cardoso Nascimento Júnior, a fim de

solucionar essa carência.

Os estudantes não classificados no último vestibular da Universidade

Federal de Sergipe divulgaram ontem um “manifesto” – cujo original

foi entregue ao Magnífico Reitor – no qual solicitam maior empenho

daquela Universidade para a matrícula do maior número possível de

candidatos, ao tempo em que se dispõem a constituir uma comissão

visando estudar a fórmula pela qual seria possível essa matrícula.

(DIÁRIO DE ARACAJU, 18/02/1970).

No entanto, a concorrência não incomodava a maioria dos candidatos aos cursos

de formação docente, como Letras (Francês, Alemão e Inglês), História, Geografia e

Filosofia, pois a demanda por essas graduações era inferior à quantidade de vagas

oferecidas. Nessa área, somente o curso de Pedagogia tinha uma demanda superior à

oferta de vagas.

Desse modo, como a maior parte dessa demanda era constituída pelos diplomados

nos cursos pedagógicos, o professor Ovídio Valois apresentou uma proposta à

Congregação da Faculdade de Educação sugerindo a admissão desses egressos sem a

realização do vestibular. Mas a maioria dos professores e o representante discente foram

contra tal proposta, alegando o baixo índice de aproveitamento pelo curso de

Pedagogia140.

Embora a Congregação não tenha aceitado a sugestão, essa tendência ao curso de

Pedagogia ficou mais evidente no decorrer da década de 1970, tornando-se uma

continuidade natural para os aprovados:

Eu escolhi Pedagogia, no vestibular de 1972, primeiro porque havia

feito o curso Pedagógico e era uma sequência natural, e segundo

porque era um curso novo. Então, entendia que haveria mais

possibilidade de emprego. Uma nova profissão, uma demanda nova

das escolas e do sistema educacional, com possibilidades maiores.

(CAETANO, 2015, s/p).

140 A seleção dos diplomados no curso Pedagógico seria realizada por meio da análise das notas no histórico

escolar (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, 1968h, p. 16).

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Além dos transtornos com o número de vagas, outro aspecto criticado estava

relacionado aos diferentes pesos das disciplinas no vestibular e à prova de Português

como único exame eliminatório para todos os cursos. De acordo com a congregação da

FACED, a falta de eliminação nas matérias específicas para o ingresso no curso de

Pedagogia prejudicava o rendimento dos alunos aprovados.

Diante das críticas, a Comissão do Concurso decidiu alterar essa norma no

vestibular de 1971, ampliando a eliminação para todas as provas através de uma

pontuação mínima de 40 pontos para Português e 30 para as demais disciplinas141. Nesse

ano, as provas foram corrigidas em Salvador142 por computadores eletrônicos através dos

cartões de respostas, e seus resultados foram divulgados antes da realização da prova

subsequente, pois, a depender do desempenho, os candidatos realizavam os demais

exames:

No ano que fiz o vestibular todas as provas eram eliminatórias. A

correção já era computadorizada e o resultado indicava quem foi

aprovado para a fase seguinte. Nesse ano, alguns cursos não

preencheram todas as vagas, a exemplo do curso de Pedagogia. [...]

No ano seguinte já foi classificatório. (ANDRADE, 2015, s/p).

A utilização dos cartões de resposta para a aplicação do gabarito e a correção das

provas exigiam a participação de poucos professores e aceleravam a divulgação do

resultado. Ao final de cada exame, a comissão organizadora preservava somente os

cartões, sendo a prova disponibilizada aos candidatos:

141 A partir de 1971, o vestibular foi organizado em duas áreas: Ciências Exatas e Naturais e Humanidades,

sendo esta última responsável pela seleção do curso de Pedagogia. As provas comuns às duas áreas

compreendiam: Português, Matemática e Conhecimentos Gerais; já as provas específicas da área de

Humanidades abrangiam: História Geral e do Brasil, Geografia Geral e do Brasil e Línguas (Francês ou

Inglês). Todas as provas eram compostas de 100 questões objetivas e quatro alternativas de respostas. 142 A partir do vestibular de 1972, a correção das provas foi realizada por computadores do Centro de

Processamento de Dados instalados no Instituto de Química da UFS.

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Figura 17 - Vestibular unificado da UFS

Fonte: Acervo do Arquivo Central da UFS.

Além do sistema eliminatório, o vestibular de 1971 foi realizado na mesma data

em que ocorreram os vestibulares das demais universidades federais do Nordeste,

evitando assim o deslocamento de candidatos de um estado para outro. O vestibular

unificado a partir da regionalização havia sido planejado pelo Conselho Federal de

Educação e estava fundamentado nas normas complementares à Lei nº. 5.540/68143:

[...] O senhor Newton Sucupira manifestou o seu entusiasmo pela

adoção de vestibulares simultâneos que vão permitir que haja mais

chances para todos nos exames. De cada vez, um aluno só poderá

tentar a admissão em uma universidade federal. Assim os alunos que

se candidatarem na Universidade de Brasília não poderão tentar entrar

na Universidade de Goiás. (GAZETA DE SERGIPE, 05/01/1971).

Nessa seleção foram inscritos 70 candidatos para o curso de Pedagogia a fim de

disputarem as 30 vagas disponíveis144. Entretanto, somente 18 deles foram classificados,

143 De acordo com o artigo 4º do Decreto-Lei nº 464/69: “O Ministério da Educação e Cultura atuará junto

às instituições de ensino superior, visando à realização, mediante convênio, de concursos vestibulares

unificados em âmbito regional”. (BRASIL, 1969a, s/d). 144 Ainda em 1970, o conselheiro federal Newton Sucupira enviou um ofício solicitando empenho da

inspetora do ensino superior em Sergipe, Alvina Marques da Silva, no atendimento às normas legais

referentes ao vestibular, aprovadas pelo CFE. No documento, o conselheiro enfatizou a proibição da

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e outros dois foram incorporados ao curso pelo direcionamento à segunda opção,

totalizando o ingresso de 20 estudantes.

No vestibular de 1972145, a Congregação da Faculdade de Educação elevou para

40 o número de vagas para o curso de Pedagogia, alegando carência de técnicos e

professores formados em nível superior para assumirem os cargos nos setores

educacionais, com ênfase na Secretaria Estadual de Educação e nos cursos pedagógicos.

Esta iniciativa também apresentava afinidade com os interesses do Conselho Federal de

Educação, referentes à expansão do ensino superior e a formação docente:

Art. 3º O Governo Federal proporcionará auxílio financeiro aos

estabelecimentos de ensino superior compreendidos nas áreas de

saúde, de tecnologia e de formação de professores de ensino médio

que dele carecerem para aumentar o número de vagas no primeiro ano

de seus cursos. (BRASIL, 1968b, s/p).

Para isso, o curso foi dividido em duas turmas semestrais, sendo que ficariam no

primeiro período os 20 alunos que obtivessem as maiores notas e ocupassem os primeiros

lugares; e no segundo semestre seriam matriculados os 20 candidatos que ficassem em

posições posteriores146. Na intenção de preencher o número total de vagas, o Conselho de

Ensino e Pesquisa da UFS extinguiu as provas eliminatórias, devido às dificuldades

apresentadas pelos candidatos em alcançar a pontuação mínima em todos os exames.

Durante o processo seletivo foram inscritos 196 candidatos, evidenciando uma

demanda maior do que nos anos anteriores e a sua permanência na liderança das

graduações mais procuradas na área do magistério.

Naturalmente essa visibilidade na procura pelo curso foi resultado da sua

reestruturação realizada a partir de 1970, de acordo com as determinações do artigo 30 da

Lei nº 5.540/68147. Essa organização estabeleceu novos aspectos com relação à formação

e ao campo de atuação dos egressos do curso, a partir da preparação de professores para

o ensino Normal e da oferta das habilitações em Supervisão Escolar (1º e 2º graus),

Administração Escolar (1º e 2º graus) e Orientação Educacional (1º e 2º graus). Na visão

matrícula de alunos que não tinham o certificado de nível secundário completo, sendo vedada, inclusive, a

concessão de qualquer prazo que estivesse fora do período de matrícula na UFS. 145 Em 1972 foi eliminada a prova de Conhecimentos Gerais, devido às críticas dos professores e

vestibulandos referentes à diversidade do conteúdo explorado. As disciplinas comuns a todos os cursos da

UFS passaram a compreender somente Português e Matemática. 146 O candidato não tinha autonomia para escolher o semestre acadêmico em que gostaria de ingressar na

UFS, pois o que definia era a sua pontuação e colocação na lista de aprovados. 147 Além da Lei nº. 5.540/68, essa reestruturação também foi amparada pelo Parecer nº. 252/69 e pela

Resolução nº. 2/69, ambos do CFE.

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da ex-aluna Liana de Melo Torres, essa disposição permitiu ao profissional formado em

Pedagogia diferentes atuações no campo educacional:

A política de educação dos militares vai prever um curso de

Pedagogia que irá formar profissionais para atuar nas escolas como

especialistas em educação, ou seja, uma equipe pedagógica para

cuidar da gestão da escola como um todo. Daí vem o administrador

para administrar a escola, o orientador para orientar os alunos, o

supervisor para assessorar os professores e o inspetor para trabalhar

na parte da documentação escolar e administrativa, inclusive

pensando em um secretário especializado que entendesse de leis e

cuidasse da documentação. (TORRES, 2016, s/p).

No entanto, até 1972 o curso de Pedagogia da UFS ofertou apenas a formação no

Magistério para o ensino Normal e as habilitações em Administração Escolar (1º e 2º

graus) e Orientação Educacional (1º e 2º graus)148, sendo que a licenciatura era obrigatória

para o preparo nas habilitações.

Aliado a esses fatores, ainda houve a promulgação da Lei nº. 5.692/71, que

valorizou a formação docente e de especialistas educacionais em nível superior para a

atuação nas escolas de 1º e 2º graus. Nesse contexto, a ex-aluna Ana Lúcia Menezes

Vieira destacou a mobilização dos professores e supervisores que já atuavam nas escolas

de 1º grau, em realizar o curso de Pedagogia para ascender na carreira docente.

Muitos dos nossos colegas de turma já eram professores ou

supervisores de escolas, e eles vão fazer o curso de Pedagogia

justamente por causa da carreira, né! Nesse período estava em

processo de implantação da Lei 5.692/71, a qual vai valorizar a

carreira docente e reconhecer a função técnica do pedagogo, porque

até então a ênfase era na formação do professor. É a partir daí que eles

também serão valorizados pelo Estatuto do Magistério do Estado de

Sergipe, de 1973. (VIEIRA, 2015, s/p).

Em 1973, o número de vagas disponíveis para o curso de Pedagogia subiu para

60, sendo que em proporção ainda maior foi a soma dos concorrentes, a qual atingiu o

total de 319 candidatos. As vagas eram preenchidas em duas etapas, metade no primeiro

semestre letivo e outra metade no segundo período.

Na oportunidade, Iara Maria Campêlo, candidata ao vestibular desse ano e ex-

aluna do curso, relata como foi seu processo de envolvimento com o magistério e sua

preferência pela graduação em Pedagogia:

148 A habilitação em Supervisão Escolar passou a ser ofertada a partir de 1973 e a habilitação em Inspeção

Escolar não foi ofertada para o curso de Pedagogia em Licenciatura Plena na UFS.

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Nunca passou pela minha cabeça fazer Pedagogia, mas minha mãe

sonhava que eu fosse professora e eu precisava trabalhar para me

manter porque eu vinha de família pobre. Então, por essa razão minha

mãe conversou com Aglaé Fontes e conseguiu uma vaga como

auxiliar de ensino, uma vez que eu não tinha formação como

professora. A escola de Aglaé era a “Escolinha de Música”, uma

escola de educação infantil, com as quatro primeiras series do ensino

fundamental e ensino de música. Foi nessa escola que me descobri

professora e decidi fazer Pedagogia. (CAMPELO, 2015, s/p).

Além de Pedagogia, os candidatos tinham o direito de indicar uma segunda opção

entre os cursos associados no mesmo grupamento149. Deste modo, como tal graduação

estava associada ao grupamento III, seus aspirantes ficavam limitados a escolher como

alternativas secundárias, os cursos de História, Geografia ou Letras (Vernáculas e

Estrangeiras)150.

Figura 18 - A divisão de cursos por grupamento no vestibular da UFS (1973)

Fonte: jornal Gazeta de Sergipe, em 05/10/1972.

Acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGS)

149 A partir de 1973 os vestibulandos tinham o direito de escolher até duas opções por ordem de preferência. 150 Nesse vestibular os cursos foram distribuídos em quatro grupamentos, correspondendo os dois primeiros

à área das Ciências Exatas e Naturais e os dois últimos a área de Humanidades.

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No ano seguinte, o Estádio Estadual Lourival Baptista foi novamente palco do

vestibular realizado pela UFS e de aplicação dos exames aos 405 candidatos ao curso de

Pedagogia. Essa procura, permitiu ao curso permanecer entre as lideranças na lista das

graduações mais procuradas, ao lado de Medicina, Direito e Economia.

A demanda pelo curso era decorrente da variedade de opções no campo de atuação

e de um mercado de trabalho amplo, possibilitando várias atividades na área educacional.

Além disso, havia o encantamento dos candidatos que desejavam ser professores ou

especialistas em educação:

Eu havia feito o científico no Atheneu, mas o meu sonho era ser

professora. Se eu não fosse professora seria uma atriz, porque eu

sempre via na atividade docente uma atuação artística, uma

representação. [...] Eu estava seguindo a minha vocação, não era

muito por uma questão financeira, mas não deixava de ter prestígio,

porque eu não estava me formando para ser professora primária, eu

estava me formando para ser uma especialista em educação. À época

isso era muito valorizado! (TORRES, 2015, s/p).

Durante a seleção, muitos vestibulandos realizavam suas provas nas

arquibancadas do Estádio de Futebol ou na parte térrea do prédio, ficando expostos ao sol

e ao calor. A ex-aluna do curso de Pedagogia/UFS, Ednalva Freire Caetano, abordou sua

experiência na realização do vestibular prestado no Estádio Lourival Baptista151:

Na minha época fiz o vestibular no Estádio Estadual Lourival Batista

- Batistão, onde colocavam cadeiras na parte coberta das

arquibancadas, nos degraus. Eu acho que as provas começavam no

domingo e acabavam na quarta-feira. Nesse período o vestibular já

era unificado e havia pesos diferentes para as disciplinas, em função

do curso que você iria fazer. (CAETANO, 2015, s/p).

Para a comissão organizadora do vestibular, a distribuição espacial do estádio

facilitava a realização das provas, devido ao número de candidatos que aquele espaço

podia abranger. De acordo com a imagem a seguir, podemos visualizar o processo de

seleção na unidade esportiva:

151 Ednalva Freire Caetano prestou o vestibular de 1972, no Estádio Estadual Lourival Baptista, para o

ingresso no curso de Pedagogia da UFS.

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Figura 19 - Vestibular da UFS realizado no Estádio Estadual Lourival Baptista

Fonte: Acervo do Arquivo Central da UFS.

A semana do vestibular era algo muito relevante para uma parcela da sociedade

sergipana, o que ocasionava a suspensão de várias atividades nos órgãos dos governos

municipal e estadual, além das instituições privadas, devido à participação dos

funcionários e dirigentes na seleção. O dia do resultado também era bastante prestigiado

pelos vestibulandos e familiares, os quais esperavam ansiosos pela lista dos classificados,

divulgada no rádio e em jornais:

700 pessoas fizeram festa desde a madrugada de ontem, reunindo

amigos e familiares em todos os pontos da Cidade. Eram os felizardos

do vestibular, os que conseguiram aprovação para as vagas oferecidas

pela Universidade Federal de Sergipe. Desde que saiu o resultado que

os 700 aprovados começaram a percorrer a Cidade, acordando amigos

e familiares para a comemoração da vitória suada. (GAZETA DE

SERGIPE, 12/01/1974, p. 4).

Como vimos, o resultado era divulgado ainda na madrugada do último dia da

seleção, por isso os estudantes ficavam de plantão aguardando a divulgação no rádio ou

nas mediações da Reitoria da UFS, esperando a publicação da lista. Para muitos

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candidatos ao curso de Pedagogia, limitados pela situação econômica e educacional, a

aprovação era sinônimo de emprego garantido, e/ou ascensão na carreira docente.

Eu vinha de uma família pobre, e sabia que indo para o campo do

magistério seria o meio mais fácil para ter emprego, além disso eu

gostava muito dessa área... Então, precisei trabalhar muito cedo, e o

magistério oportunizou isso. Como eu já trabalhava na área, e sabia

que não faltaria emprego, eu aproveitei para fazer o curso de

Pedagogia. (PINTO, 2015, s/p).

No entanto, a realização dessa seleção foi marcada por incertezas devido às

suspeitas e escândalos de fraudes com a quebra de sigilo da prova de Francês. Com a

grave denúncia, uma comissão de inquérito foi formada a fim de apurar as irregularidades

que ocasionaram a violação do segredo e as responsabilidades dos organizadores, como

foi noticiado pela imprensa local:

O sigilo de uma das provas do vestibular de 1974 foi quebrado e por

isso o reitor Luiz Bispo decidiu anular todas os quesitos formulados

ao tempo em que abriu inquérito para apurar os responsáveis pela

irregularidade. [...] O caso do sigilo rompido já está sendo

denominado “vestibulargate”, e provocando mal-estar entre os

componentes das comissões organizadoras do vestibular, pois não se

sabe ainda qual o responsável ou responsáveis pela ruptura do sigilo.

(DIÁRIO DE ARACAJU, 21/12/73, p. 1).

Apesar de as provas de Francês já estarem confeccionadas, não foram utilizadas

naquele vestibular, pois, com a denúncia de fraude, o reitor criou uma nova comissão de

professores para elaborar outros exames. Mesmo assim, esse episódio causou indignação

e desconfiança entre os candidatos inscritos para o vestibular daquele ano, os quais

questionavam a seriedade da seleção e a injustiça perante os sacrifícios e os investimentos

financeiros para alcançar uma vaga na UFS.

Diante de tanta repercussão, a sociedade sergipana aguardava com expectativa a

conclusão do inquérito e a apresentação do responsável pela divulgação da prova. Além

disso, solicitava medidas cabíveis para dificultar esse tipo de fraude e resgatar a

moralidade do vestibular da UFS:

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Figura 20 - A quebra de sigilo de provas do vestibular - 1974

Fonte: jornal Diário de Aracaju, 26/01/1974. Acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGS).

Dentre os envolvidos na quebra de sigilo no vestibular de 1974 estavam o

candidato ao curso de Economia, Oscar Sillas Colic, e o professor do curso de Pedagogia,

João Costa152, mas somente o estudante foi indiciado e julgado de acordo com o Código

Penal. O professor João Costa recebeu uma suspensão do reitor, mas foi absolvido das

acusações do Inquérito pelo Juiz Lauro Pacheco de Oliveira, o qual alegou que a Justiça

existia para corrigir os abusos e excessos da autoridade153.

No ano seguinte154 novas suspeitas de fraudes foram divulgadas devido à quebra

do computador que realizava as correções das provas e aos erros na transcrição do

152 O professor João Costa era membro da comissão de elaboração da prova de Francês do vestibular de

1974. 153 Mesmo com o acompanhamento de tal inquérito pela imprensa, não foi possível identificar a pena

aplicada ao estudante. 154 No vestibular de 1975, as provas exigidas na seleção passaram a ser as mesmas para todos os cursos,

mudando apenas o peso delas: Estudos Sociais (História, Geografia e OSPB), Língua Estrangeira (Inglês e

Francês), Comunicação e Expressão (Literatura Portuguesa e Gramática), Ciências (Biologia, Química e

Física) e Matemática.

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gabarito. Segundo muitos candidatos, o atraso na correção facilitava a troca de cartões de

respostas, beneficiando os vestibulandos oriundos de famílias abastadas.

Durante a organização do vestibular de 1976, uma nova denúncia foi feita por

estudantes que haviam encontrado a capa de uma das provas nas ruas da capital, meses

antes de sua aplicação. Apesar dos indícios, o reitor da UFS negou a criação de uma

comissão de inquérito para apurar a denúncia, pois, segundo ele, o desaparecimento da

capa não significava quebra de sigilo.

Diante das suspeitas contínuas de corrupção na elaboração e correção das provas

do vestibular da UFS, muitos estudantes e a imprensa local encontravam meios divertidos

de satirizar a falta de credibilidade das comissões organizadoras, através de piadas e

charges:

Figura 21 - Charge sobre fraudes no vestibular de 1976

Fonte: Jornal da Cidade, 21/11/1975. Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGS).

Assim, com as constantes suposições de fraudes nas provas e a manipulação dos

resultados do vestibular da Universidade Federal de Sergipe, o reitor Aloísio de Campos

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decidiu contratar a Fundação Carlos Chagas para elaborar os exames155. A medida

adotada para a realização do vestibular de 1977 foi alvo de elogios e críticas pelos

candidatos daquela seleção:

Para nós não foi nenhuma surpresa a lisura e o bom andamento do

concurso vestibular realizado pela “Universidade Federal de Sergipe”

neste ano de 1977, considerando que em anos anteriores – ainda paira

na lembrança uma série de irregularidades que atingiram o

conhecimento de toda a comunidade. É que as provas eram realizadas

aqui mesmo em Aracaju, e geralmente filhos de algumas classes

profissionais, tinham como certa a sua aprovação. (JORNAL DE

SERGIPE, 16/01/77, p. 4).

Apesar dos elogios, muitos alunos questionaram a falta de afinidade entre as

questões exigidas nas provas e os conteúdos abordados em sala de aula, já que as provas

eram elaboradas no Sul do país. Os vestibulandos alegavam que havia diferenças

regionais e que os currículos trabalhados pelas escolas locais não eram condizentes com

a proposta educacional de outros estados.

Na oportunidade, os vestibulandos também criticaram o currículo escolar

implantado nas escolas de Sergipe, destacando o nível de 2º grau. Para eles, a proposta

curricular local enfatizava um projeto de valorização do ensino técnico, prejudicando o

desempenho dos candidatos nas provas.

Essa diversidade curricular prejudicava também os aspirantes a uma vaga no curso

de Pedagogia, pois sua maioria era oriunda do curso Pedagógico de 2º grau. Esta

modalidade de ensino formava professores primários, que viam nesse curso uma

oportunidade para a ascensão social e econômica na carreira docente.

Acredito que a grande procura pelo curso de Pedagogia era decorrente

do desejo de muitos professores em ascender na carreira docente,

deixar de ser professor do primário para ser um especialista em

Educação. Então, além de ter a questão financeira, pois o especialista

ganhava o dobro, também havia a questão social, porque aí iria

participar das equipes técnicas formadas por especialistas, ou seja,

dava a impressão de estar sendo promovido. Ser técnico era mais

importante do que ser professor. (TORRES, 2015, s/p).

O ingresso no curso de Pedagogia e, consequentemente a aquisição do diploma

garantia a ascensão profissional e social de professores que já atuavam no campo

155 O reitor também alegou falta de infraestrutura adequada para elaborar e reproduzir as provas. O critério

para a escolha de tal instituição foi a credibilidade e experiência perante a elaboração dos exames de outras

universidades federais do país (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, 1972, p. 176).

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educacional, ou que tinham interesse de ingressar nessa área. A formação docente, em

nível superior, atribuía o reconhecimento dos demais professores, e especialmente de

políticos, os quais necessitavam de agentes capacitados para assumir os cargos de gestão

na área da Educação.

Deste modo, essa formação em Pedagogia pela UFS, durante as décadas de 60 e

70 do século XX, resultaram na distribuição de capital e de poder simbólico aos seus

formandos, para integrar aos diferentes campos e atuar em diferentes funções, a exemplo,

do docente, técnicos em Educação e nas atividades de gestão.

Para Bourdieu (1999) o diploma constitui um capital cultural institucionalizado,

uma certidão de competência cultural que confere ao seu portador um valor convencional,

constante e juridicamente garantido no que diz respeito à cultura. Sendo um tipo

específico de capital, o diploma também pode ser convertido em outros tipos de capital,

a exemplo, do capital econômico, simbólico e social.

Mas, embora essa formação técnica motivasse o ingresso na profissão docente,

prejudicava seu desempenho na promoção ao ensino superior, devido à valorização das

disciplinas de humanidades em detrimento da redução na carga horária das disciplinas

referentes às ciências exatas e biológicas. Para corrigir essas dificuldades, muitos

candidatos ao curso de Pedagogia matriculavam-se em pré-vestibulares ou disciplinas

isoladas das áreas de Matemática, Física, Biologia e Química156.

Eu lembro que, para fazer o vestibular para Pedagogia, eu fiz o curso

pré-vestibular GCM, preparatório para as disciplinas de Matemática,

Química, Física e Biologia. Além disso, eu participava de um grupo

de estudos com alguns colegas do próprio GCM e, nesse grupo, tinha

um rapaz chamado Bitani, que já era estudante de Medicina, e nos

dava aula de Biologia e Química. Então, ficávamos até tarde

estudando na casa da minha avó. O curso GCM era muito famoso e

um dos melhores do Estado; lá estudei com Almir Santana, Augusto

Bezerra, Travassos... (GRAÇA, 2015, s/p).

Vale ressaltar que as limitações no desempenho do vestibular pelos egressos do

curso Pedagógico eram notórias desde as primeiras seleções para o curso de Pedagogia

na UFS, agravando-se a partir de 1970 com a implantação do vestibular unificado, que

156 No vestibular de 1977 foram aplicadas as mesmas provas para os diversos cursos, diferenciando somente

os pesos delas. Nesse ano, as disciplinas abordadas na seleção foram: Comunicação e Expressão I

(Literatura Brasileira e Gramática); Comunicação e Expressão II (Línguas - Inglês ou Francês); Estudos

Sociais (História, Geografia e OSPB); Matemática e Física; Química e Biologia.

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passou a explorar os conhecimentos básicos do nível médio157 aos diferentes cursos da

área de humanidades:

Eu terminei o curso Pedagógico em 1968, mas esse curso não dava

estrutura nenhuma para fazer o vestibular, pois até mesmo os

conteúdos de Português, Geografia e História abordavam somente o

básico que ensinávamos nas primeiras séries. Então passei o ano

seguinte estudando e fazendo o cursinho pré-vestibular de Hunaldo

Alencar para a seleção de Pedagogia. E aí, fiz no início de 1970 e

ingressei em março do mesmo ano. [...] Eu sabia que não tinha como

concorrer no ano em que concluí o Pedagógico, porque no vestibular

para Pedagogia entravam as disciplinas de Matemática e

Conhecimentos Gerais. Além disso, o que víamos das disciplinas de

Português, Geografia e História era algo muito superficial e básico

para o ensino das primeiras séries. (VIEIRA, 2015, s/p).

No vestibular de 1977 verificamos que, além das dificuldades com o conteúdo das

provas, os vestibulandos também precisavam lidar com o temor dos fiscais e o nervosismo

durante o processo seletivo. Nos jornais da época podemos observar essa dupla apreensão:

Faz exatamente uma hora que se iniciou a prova, até o momento

ninguém terminou, o silêncio é profundo, perturbado apenas pelos

passos dos fiscais, eles são em números de dois para cada sala. Vez

por outra um fiscal é solicitado para dar alguma explicação, muitos

fingem não ouvir os chamados. O ambiente é de tal nervosismo, que

uma garota, junto a porta, em menos de 15 minutos acendeu três

cigarros. Muitos fumam; um rapaz já desprovido de cigarros encontra

dificuldade em arranjar um, olha para os lados, nervoso, temendo os

fiscais. (JORNAL DA CIDADE, 12/01/77).

O assédio psicológico exercido por fiscais era bastante presente durante a

resolução das provas, e legitimado culturalmente por calouros, veteranos e professores.

No entanto, críticas também eram realizadas a esse modelo de acompanhamento e

fiscalização, como podemos visualizar nas representações visuais e verbais da charge a

seguir:

157 De acordo com a Lei nº. 5.540/68, as provas elaboradas para os concursos vestibulares deveriam

corresponder ao nível do ensino médio: “Art. 21. O concurso vestibular, referido na lêtra a do artigo 17,

abrangerá os conhecimentos comuns às diversas formas de educação do segundo grau sem ultrapassar êste

nível de complexidade para avaliar a formação recebida pelos candidatos e sua aptidão intelectual para

estudos superiores” (BRASIL, 1968a, s/n).

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Figura 22 - O inimigo no Vestibular da UFS – o fiscal (1977)

Fonte: Jornal Diário de Sergipe, 12/01/1977. Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGS).

No ano seguinte, as limitações de muitos candidatos iniciaram-se ainda no

processo de inscrição, devido ao reajuste no valor das taxas da Universidade Federal de

Sergipe. Para os estudantes, essa iniciativa impossibilitava o acesso de muitos jovens à

UFS, já que, além da taxa de inscrição, os candidatos também precisavam adquirir um

guia de instruções para o processo seletivo, vendido pela própria Universidade.

Ao efetuar a inscrição no vestibular de 1978, o candidato deveria pagar uma taxa

de Cr$ 300,00 cruzeiros158, acrescidos de Cr$ 12,00 cruzeiros para a aquisição do caderno

de normas do processo seletivo. Caso fosse aprovado, teria um gasto de mais Cr$ 66,00

cruzeiros de matrícula por disciplina, totalizando um montante de Cr$ 396,00, já que estes

deveriam efetuar a matrícula em seis disciplinas. Dessa forma, no primeiro semestre o

aluno investia um total de Cr$ 708,00 cruzeiros159, além das demais despesas com o

material didático e o deslocamento.

De acordo com a figura a seguir, podemos visualizar o guia de instruções para o

vestibular da UFS, naquele ano:

158 No vestibular de 1977 o valor da inscrição era de C$ 150,00 cruzeiros. 159 O salário mínimo local desse período correspondia a R$ 750 cruzeiros. Já o salário mínimo nacional era

de Cr$ 1,560.00.

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Figura 23 - Guia de instruções para o vestibular da UFS (1978)

Fonte: Guia de instruções para a inscrição no vestibular da UFS (1978).

Acervo: Arquivo Central da UFS.

Diante disso, os estudantes alegavam que estava ocorrendo um processo de

privatização da UFS, porém essa arrecadação era consequência do regime de fundação

adotado na Universidade Federal de Sergipe, o qual permitia gerar suas próprias fontes

de renda por meio da cobrança de taxas e mensalidades aos alunos. Esse contexto não

amedrontava somente os alunos, pois os professores também ficavam receosos perante

tal regime:

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O novo sistema de pagamento das mensalidades da Universidade

Federal de Sergipe também não agrada aos professores que temem

passar os mesmos vexames que passam os mestres dos

estabelecimentos particulares, como dentre outros prejuízos, atrasos

nos vencimentos. [...] Os estudantes da UFS na sua maioria pobres,

cujos pais não ultrapassam em renda a três salários mínimos, não se

conformam em ter de pagar mensalidade a Universidade. (DIÁRIO

DE ARACAJU, 19 e 20/03/78)

Para justificar a cobrança, a comissão organizadora do vestibular alegava que

havia altas despesas com o pagamento das provas elaboradas pela Fundação Carlos

Chagas e com a organização do evento. Mesmo assim, os estudantes criticavam os altos

custos exigidos para ingressar e se manter na Universidade. Alegavam também que a

renda per capita do Estado não permitia o pagamento abusivo de tantas taxas e seus

constantes aumentos.

Apesar das justificativas apresentadas pelos membros da comissão, as críticas em

torno das taxas e aumentos abusivos da UFS já vinham sendo questionadas há alguns anos

por estudantes e professores.

As matrículas na UFS todo ano tem um aumento considerável; já que

sempre alcança a taxa de no mínimo 30%. Os alunos nada podem

fazer; e as reclamações de nada adiantam; pois a UFS se mantem

alheia aos problemas de cada um. Tirando-se a média por mês; fica

quase o preço de uma faculdade particular e; pelo menos nas taxas;

ela não tem nada de federal. (DIÁRIO DE ARACAJU, 12/02/76).

Nesse vestibular, além da preocupação com o reajuste de várias taxas para o

ingresso e permanência na Universidade Federal de Sergipe, os candidatos ao curso de

Pedagogia depararam-se com outra novidade: a inclusão da prova de Redação entre os

exames do vestibular.

Essa iniciativa buscava atender ao Decreto-Lei nº. 79.298/77, que estabelecia a

inclusão dessa prática nos programas de seleção de todos os vestibulares realizados no

país. Essa determinação encaminhada pelo Conselho Federal de Educação, visava

incentivar os estudantes a redigirem e empregarem corretamente a língua escrita.

Na Universidade Federal de Sergipe, a introdução da Redação proporcionou uma

experiência nova e temida pelos vestibulandos, pois, diante da subjetividade da correção

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e o envolvimento pessoal do avaliador, questionavam a imparcialidade dos professores160

no momento da pontuação:

Parece que os jovens esquecem-se de tudo e no momento só pensam

no vestibular. O assunto dominante nas rodas de bate-papos não é

outro e hoje é o último dia para início das provas. A cidade quase que

inteira vive esta emoção, pois, a tensão e expectativa envolve não só

os candidatos como as pessoas mais próximas e também aqueles que

ainda farão o vestibular ou já o fizeram. [...] A redação como

experiência nova é temida pelos candidatos em todos os seus

aspectos, inclusive a correção. (GAZETA DE SERGIPE, 07/01/78, p.

1).

Deste modo, podemos verificar que a partir de 1968 tornaram-se mais evidentes

as orientações do Conselho Federal de Educação na definição e padronização dos

vestibulares realizados no país, especialmente com a publicação da Lei nº 5.540/68.

Dentre as medidas acatadas pelos membros da Comissão do Concurso na UFS, até o ano

de 1978 sobressaíram o vestibular unificado e classificatório, o pagamento de taxas, a

elaboração das provas proporcionais ao nível do ensino médio e a valorização da

expansão universitária.

Além da normatização do vestibular, o Conselho Federal de Educação e suas

diretrizes legais também ocasionaram mudanças na estrutura do curso de Pedagogia,

possibilitando ao seu egresso uma variedade de funções no campo da educação e

consequentemente um amplo mercado de trabalho.

No âmbito local, a nova estrutura baseada na formação do magistério e de

especialistas em educação estimulou a procura pelo curso. Outras razões também

motivaram essa preferência, a exemplo da noção de continuidade do ensino pedagógico,

a simpatia pelo magistério, a condição de ser uma profissão respeitada para mulheres, a

garantia de emprego durante a formação e o desejo de ascender socialmente e

economicamente na carreira docente.

De acordo com a ex-aluna, Tereza Cristina Cerqueira da Graça, a limitação da

UFS em oferecer alguns cursos de graduação, a exemplo, da Psicologia também

favoreceu a escolha pela área:

160 A correção das redações do vestibular de 1978 foi realizada pelos professores do Instituto de Letras da

UFS.

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Eu fiz Pedagogia, não foi porque eu queria ser professora ou porque

eu gostava dessa área... Durante o curso da Escola Normal, eu gostava

muito de Psicologia e era metida a vidente e astróloga. Então, quando

comecei a ter aula de Psicologia me encantei e queria ser psicóloga.

[...] Então, eu escolhi Pedagogia porque eu queria fazer Psicologia, e

como esse curso só tinha na Bahia ou em Pernambuco e eu não tinha

condições financeiras de ir estudar lá, uma professora da Escola

Normal me orientou a fazer Pedagogia. (GRAÇA, 2015, s/p).

Nesse sentido, vale ressaltar que a escolha por esse curso nem sempre foi

intencional, pois alguns alunos optaram por esse campo devido à ausência de outras

graduações no Estado, a exemplo da Psicologia, e as limitações que o curso Pedagógico

do 2º grau conferia aos seus estudantes no ingresso em áreas mais conceituadas, como o

Direito, Engenharia Civil, Enfermagem, Economia e Medicina.

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4 – O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DE ACADÊMICOS E LICENCIADOS DO

CURSO DE PEDAGOGIA (1968-1978)

4.1 - EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: A ATUAÇÃO DOS ALUNOS PARA ALÉM

DOS LIMITES CURRICULARES

Em meio às atividades curriculares obrigatórias desenvolvidas no decorrer do curso

de Pedagogia da Universidade Federal de Sergipe, outras práticas extracurriculares

também proporcionavam a aquisição de experiências aos estudantes do curso e

contribuições ao campo educacional. Essas práticas eram estimuladas pela política de

extensão acadêmica amparada pela Reforma Universitária, a partir do Decreto-Lei nº.

252/67, artigo 10161:

Art. 10. A Universidade, em sua missão educativa, deverá estender à

comunidade, sob a forma de cursos e serviços, as atividades de ensino

e pesquisa que lhe são inerentes.

Parágrafo único. Os cursos e serviços de extensão universitária

podem ter coordenação própria e devem ser desenvolvidos mediante

a plena utilização dos recursos materiais e humanos da Universidade,

na forma do que dispõe o art. 1º do Decreto-Lei número 53162, de 18

de novembro de 1966. (BRASIL, 1967, s/p).

No ano seguinte, essa orientação foi retomada de maneira mais abrangente pela

Comissão Mista de deputados e senadores, responsável pelo estudo e reformulação do

projeto163 que originou a Lei nº. 5.540/68164. Além de reforçar o comprometimento da

161 Vale ressaltar que as discussões e as reivindicação acerca da extensão universitária antecedem a década

de 1960. A primeira referência legal foi registrada no Estatuto das Universidades Brasileiras, a partir do

Decreto-Lei nº. 19.851/31 (em seus artigos nº. 34, 42, 109). Entretanto, esse projeto ganha projeção nacional

com a Reforma Universitária. 162 De acordo com o Decreto-Lei nº. 53/66, Art 1º: “As universidades federais organizar-se-ão com estrutura

e métodos de funcionamento que preservem a unidade das suas funções de ensino e pesquisa e assegurem

a plena utilização dos seus recursos materiais e humanos, vedada a duplicação de meios para fins idênticos

ou equivalentes” (BRASIL, 1966, s/p). 163 O anteprojeto de lei foi elaborado pelo Grupo de Trabalho da Reforma Universitária (GTRU), instituído

pelo Decreto-Lei n°. 62.937/68. De acordo como o art. 1º, esse grupo seria composto de 11 membros “[...]

designados pelo Presidente da República, para acelerar a reforma da Universidade brasileira, visando à sua

eficiência, modernização, flexibilidade administrativa e formação de recursos humanos de alto nível para

o desenvolvimento do País” (BRASIL, 1968, s/p). Nesse sentido, o Grupo foi formado pelos seguintes

membros: Ministro Tarso Dutra, da Educação e Cultura; Antônio Moreira Couceiro, Presidente do CNPq;

Pe. Fernando Bastos D´Avila, vice- reitor da PUC/RJ; João Lyra Filho, reitor da Universidade do Estado

da Guanabara; João Paulo dos Reis Velloso, representante do Planejamento; Fernando Riveiro do Val,

representante do ministro da Fazenda; Roque Spencer Maciel de Barros, professor da Universidade de São

Paulo, Newton Sucupira, membro do CFE; Valnir Chagas, membro do CFE, e Haroldo Leon Perez,

representante do Congresso Nacional (NICOLATO, 1986, p. 272 apud GURGEL, 1986). 164 A Lei nº. 5.540/68 foi elaborada de acordo com os Decretos-Leis nº. 53/66 e 252/67. Isso ocorreu porque

todos esses dispositivos seguiam o mesmo projeto educacional do Governo Federal, sendo intenção do

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prestação de serviços pelas universidades, a comissão estendeu esse compromisso aos

demais estabelecimentos isolados de ensino superior, através do artigo 20: “As

universidades e os estabelecimentos isolados de ensino superior estenderão à

comunidade, sob forma de cursos e serviços especiais, as atividades de ensino e os

resultados da pesquisa que lhes são inerentes”. (BRASIL, 1968a, s/p.).

A intenção principal dessa política era integrar as universidades à sua comunidade e

estimular a participação dos estudantes e docentes no desenvolvimento do país, a partir

da implantação de projetos sociais e prestação de serviços, disponibilizando ao público

externo o conhecimento adquirido com o ensino e a pesquisa fomentada nas instituições

superiores165.

Apesar da legislação apresentar, de maneira mais enfática, a contribuição das

instituições superiores para a comunidade externa, também é importante verificar a

colaboração desse espaço externo na formação dos estudantes, pois a extensão

universitária permitia aplicar os conhecimentos adquiridos na universidade e explorar um

campo de atuação bastante coerente com o futuro exercício profissional dos

universitários.

A participação dos professores166 nessa iniciativa estimulava a análise e a reflexão

do corpo discente com relação a sua formação, à produção científica e à realidade do país.

Essa relação também instigava a produção do conhecimento e a busca de soluções para

problemas regionais e locais. Dessa forma, a extensão universitária proporcionava

contribuições recíprocas entre a universidade e a comunidade.

Contudo, méritos e críticas foram direcionados às atividades de extensão realizadas

durante o Governo Civil-Militar (1964-1985). De acordo com o estudo bibliográfico

realizado por Vieira (2014), a produção acadêmica elaborada até 1985 retrata um projeto

nacional pautado na responsabilidade social de alunos e professores com o

desenvolvimento da nação, qualificando como positiva e necessária tanto para a formação

do aluno quanto para o desenvolvimento do país. Mas, na produção pós 1985, percebe-se

Poder Executivo apenas a legitimação por parte do legislativo. Além disso, alguns membros responsáveis

pela construção do anteprojeto de Lei (a exemplo de Newton Sucupira e Valnir Chagas) também haviam

elaborado os decretos-leis mencionados. No entanto, vale lembrar que o resultado desses dispositivos não

se deu de maneira harmônica, pois os interesses prevalecentes são o resultado da luta entre os indivíduos

ou grupos que pretendem impor suas concepções e projetos. 165 De acordo com Gurgel (1986), a presença da Extensão Universitária na Lei 5.540/68 deve-se à influência

do movimento estudantil. 166 Na seção 4.3 será analisada a atuação dos docentes do curso de Pedagogia da UFS, nos cursos de

extensão desenvolvidos em parceria com a Secretaria Estadual de Educação e Cultura de Sergipe e

Ministério da Educação e Cultura.

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a construção de uma representação em que predomina o caráter assistencialista167 e de

controle aos atos subversivos dos estudantes168:

Esses trabalhos que datam dos anos de 1980 formulam em suas

análises uma crítica, e constroem uma representação assistencialista

da Extensão como determinante em um dado momento histórico,

sendo demarcada neste período como uma prática negativa. Esta

versão pós-ditadura sobre a Extensão Universitária parece se revelar

como um estereótipo de que as práticas da Extensão Universitária no

período da ditadura eram puramente assistencialistas e negativas.

(VIEIRA, 2014, p. 29).

Em Sergipe169, alguns programas de extensão universitária oficiais e bastante

conhecidos durante as décadas de 1960 e 1970 foram implantados pelo Governo Federal,

a exemplo da Operação Mauá170 e da Operação Rondon171. Essa iniciativa oportunizou a

participação de alunos dos diferentes cursos da Universidade Federal de Sergipe, em

ambos os projetos172.

167 Para Vieira (2014, p. 32): “O uso do termo “assistencialista” remete a uma política de atendimento à

população que gera dependência e não emancipação dos sujeitos e que reitera a desigualdade e a tutela do

Estado, pois contribui na conformação social e na legitimação do sistema de poder vigente. Suas intenções

são pautadas pela ótica do favor e da benesse, transformando os usuários em "assistidos", "favorecidos", e

não em cidadãos de direito”. 168 Apesar da autora afirmar que os programas de extensão também eram utilizados com a intenção de

afastar os estudantes das atividades consideradas subversivas, ela ressalta em seu estudo as contribuições

das ações extensionistas para as comunidades assistidas e para a formação dos estudantes. 169 As primeiras manifestações de extensão universitária em Sergipe ocorreram na década de 1950, com a

criação da Juventude Universitária Católica (JUC). A partir da parceria entre universitários das faculdades

isoladas sergipanas e a Igreja Católica, esse projeto realizou a implantação do Movimento de Educação de

Base (MEB) e da assistência social nos hospitais e nos bairros de Aracaju (MORAIS, 2008). 170 Criada através do Decreto nº 64.918 de 1969, a Operação Mauá foi um programa governamental que se

iniciou com a proposta de integração dos estudantes à problemática dos transportes no país, ampliando-se

posteriormente essa integração às empresas e indústrias brasileiras. Seu objetivo era a formação técnica dos

estudantes das áreas de Engenharia, Química, Administração e Economia, para a atuação em

estabelecimentos empresariais e industriais. O nome dado a operação buscou homenagear Irineu

Evangelista de Souza, mais conhecido como Barão de Mauá, devido a sua atuação como empresário e

político de meados do século XIX. Nesse texto não iremos realizar um estudo aprofundado da Operação

Mauá devido à ausência de alunos de Pedagogia da UFS em tal projeto (LIMA, 2015). 171 O Projeto Rondon foi criado legalmente em 1968, por meio do Decreto nº 62.927, de 28 de junho de

1968, e estabeleceu um Grupo de Trabalho (GT) denominado de “Grupo de Trabalho Projeto Rondon”,

subordinado ao Ministério do Interior. No entanto, suas atividades iniciaram-se ainda em julho de 1967

quando um grupo de 30 estudantes coordenado por dois professores da Universidade do Estado da

Guanabara (UEG) viajaram para Rondônia com a finalidade de conhecer a realidade amazônica e trabalhar

em benefício das comunidades carentes daquela região. Posteriormente, em 1970, esse GT foi transformado

em Órgão Autônomo da Administração Direta pelo Decreto n° 67.505, e em 1975 foi instituída a Fundação

Projeto Rondon pela Lei n° 6.310. O nome de tal programa buscou homenagear Marechal Cândido Mariano

da Silva Rondon, bandeirante do século XX que fazia expedições pelo sertão do País, estendendo linhas

telegráficas (LIMA, 2015). 172 Em 1971, alunos de Química e Economia da UFS também participaram da Operação Mauá. A comissão

formada por 40 estudantes e 4 professores realizou sua prática no Estado de Minas Gerais (DIÁRIO DE

ARACAJU, 05/01/1971).

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Enquanto o primeiro enfatizava a integração entre os universitários e as empresas

brasileiras, o segundo173 destacava a relação entre os estudantes e a comunidade, com o

objetivo de promover as práticas de interiorização e conduzir a juventude para participar

do processo de integração e desenvolvimento nacional. A diferença entre os dois projetos

foi apresentada por Portugal da seguinte maneira:

A Operação Mauá tinha como intuito mostrar para os estudantes as

grandes empresas em atuação no país, especialmente aquelas

empresas do governo ou subvencionadas por ele. Enquanto o Projeto

Rondon se voltava a prestar uma ajuda a um Brasil esquecido e

atrasado, a Operação Mauá mantinha seu foco no Brasil que dava

certo, que crescia economicamente, que era responsável por um

grande salto tecnológico no país. A Operação Mauá trabalhava com

o Brasil do futuro que os militares queriam construir ainda no

presente. (PORTUGAL, 2008, p. 70-71).

Apesar das particularidades, ambas as operações174 apresentavam interesses em

comum, dentre os quais, promover meios amistosos para atrair a simpatia dos jovens

estudantes e professores, pois o Governo precisava da adesão da “elite dirigente” no

processo de integração e desenvolvimento do país. Além disso, não desejava se restringir

apenas ao uso das práticas repressivas para afastar a subversão dos meios acadêmicos e

construir uma base de legitimação175 (LIMA, 2015).

Atendendo a essa nova política nacional de extensão, a primeira comissão de

rondonistas a atuar em Sergipe chegou a este Estado em janeiro de 1968 transportada por

avião especial da Força Aérea Brasileira (FAB)176. O grupo era constituído de sete

universitários oriundos da Guanabara177, os quais pertenciam a diferentes cursos, como

Engenharia, Geografia, Geologia e Química.

173 O Projeto Rondon tornou-se referência com relação às atividades extensionistas universitárias durante a

década de 1970. 174 A criação do Projeto Rondon e da Operação Mauá, respectivamente, pelo Ministério do Interior e

Ministério dos Transportes, gerou descontentamento entre os integrantes do Ministério da Educação e

Cultura, pois asseguravam que somente o MEC era responsável legalmente pela criação e manutenção dos

projetos de extensão desenvolvidos nas instituições acadêmicas. 175 De acordo com Lima (2015), a participação dos estudantes e professores nos programas de extensão

supria demandas variadas de estudantes com interesses muito heterogêneos, o que desmistifica a afirmação

de que se tornar um rondonista, por exemplo, implicava necessariamente a adesão ao regime ou aceitação

da tutela e da ideologia oficiais. Em seu estudo, o autor identificou a participação de alguns militantes dos

movimentos estudantis de esquerda, com o objetivo de infiltrar-se no interior do país para conscientizar o

“homem do campo” sobre a luta contra a ditadura. 176 A recepção ao grupo foi realizada com solenidade de confraternização promovida pelos universitários

sergipanos na Faculdade de Serviço Social. 177 A Guanabara foi um estado do Brasil de 1960 a 1975, que existiu no território do atual município do Rio

de Janeiro. Em 1974, após sancionada a Lei complementar nº 20, de 1º de julho de 1974, durante a

presidência do general Ernesto Geisel, decidiu-se realizar a fusão dos estados da Guanabara e do Rio de

Janeiro, a partir de 15 de março de 1975 (BRASIL, 1974).

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As atividades desenvolvidas por eles visavam realizar o levantamento

socioeconômico do Estado, a integração universitária, o conhecimento “in loco” do

problema de integração nacional e a prática de campo. A comissão também pretendia

apresentar soluções para os possíveis problemas locais178, como mostra o jornal sergipano

Diário de Aracaju:

A comissão guanabariana, cognominada de Grupo Aracaju, tentará

durante a sua estada em nossa Capital, conhecer, estudar e apresentar

soluções possíveis para problemas que afligem a infraestrutura

sergipana, colocando-se por outro lado, à disposição de qualquer

órgão que necessite de cooperação dentro da especialidade do grupo.

(DIÁRIO DE ARACAJU, 18/01/1968).

A imprensa sergipana realizava uma campanha positiva acerca da Operação. Os

jornais que circulavam na época destacavam sua relevância na formação dos estudantes

que se tornariam a “elite” dirigente do país. Além disso, exaltavam a participação dos

universitários nesse projeto nacional e enfatizavam suas contribuições para o

desenvolvimento do Brasil. No entanto, quase nada foi encontrado com relação ao

resultado das ações para a população sergipana naquele ano:

O Projeto Rondon nº 1179 comprovou que a sociedade deste país deve

ter orgulho dos seus moços universitários, que na plena consciência

dos enormes e múltiplos problemas que retardam o desenvolvimento,

se juntaram em grupos para ir pesquisá-los “in loco”, trazendo

contribuições, algumas consideradas notáveis, no terreno do

saneamento. Mostraram como coragem e idealismo, que estão

prontos a aceitar o desafio do Brasil continental. Deixaram os padrões

de vida seguros, a que estão acostumados e penetraram por regiões

despreparadas e solitárias onde, nos grandes rios e belas matas se

escondem a traição da morte. Assim fizeram por amar o Brasil e aos

infelizes dizimados por moléstias, seus irmãos desprotegidos.

(DIÁRIO DE ARACAJU, 11/07/1968).

No ano seguinte, não foram localizados registros da presença de rondonistas em

Sergipe, porém foi realizada a primeira seleção destinada aos estudantes sergipanos

178 Em entrevista ao jornal Diário de Aracaju (18/01/1968), os rondonistas afirmaram que o Estado de

Sergipe possuía muitas riquezas inexploradas, mas não detalharam a natureza dessas riquezas (DIÁRIO DE

ARACAJU, 18/01/1968). 179 A vinda da comissão e as atividades realizadas no Estado de Sergipe em 1968 faziam parte de uma

operação nacional denominada de Projeto Rondon nº 1. As ações foram desenvolvidas por estudantes da

Guanabara, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo, nas cidades das regiões Norte e Nordeste do

país. A primeira atuação do Projeto Rondon no Brasil foi realizada em julho de 1967 e denominada de

“Operação Zero”. Durante essa ação, 30 jovens viajaram para a região Amazônica, onde participaram de

rituais cívicos e realizaram atividades de levantamento, pesquisa e assistência médica (LIMA, 2015).

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interessados em integrar as comissões de universitários do Projeto Rondon nacional180. A

seleção181 foi iniciada no mês de outubro, com a solicitação de uma redação e a realização

de entrevistas. Durante esse processo, os candidatos também participaram de palestras e

encontros promovidos pela coordenação do Projeto Rondon estadual, com o objetivo de

divulgar tal programa, mostrar seu plano de ação, realizar o treinamento e atender aos

questionamentos dos estudantes.

Nessa seleção, apenas dois alunos182 do curso de Pedagogia efetuaram inscrições

para concorrer às 26 vagas disponíveis aos estudantes da Universidade Federal de

Sergipe. Para participar do programa era necessário ter vínculo estudantil com a UFS,

exercer a função de professor do ensino médio183 e estar cursando, no mínimo, o 2º ano

de qualquer graduação.

No entanto, denúncias de irregularidades foram apresentadas publicamente184 pelo

estudante do curso de Pedagogia, Manoel Messias Porto, durante o processo seletivo.

Além de ser aluno desse curso, o universitário também acumulava a função de presidente

do Diretório Acadêmico Dom Luciano Duarte185 e era candidato a uma vaga nessa

seleção.

Segundo ele, alguns candidatos selecionados nas primeiras etapas do concurso não

atendiam às exigências determinadas pelos organizadores, pois foram escolhidos sem ter

vínculo discente com a Universidade Federal de Sergipe. Provavelmente, Manoel Messias

Porto estivesse se referindo ao colega de profissão Manoel Messias Vasconcelos186, que

apesar de exercer a função de professor do ensino médio e ter feito a inscrição no processo

seletivo, não era aluno da UFS. Diante desse impasse, o candidato foi desclassificado.

Durante a seleção foram inscritos mais de 100 alunos das diferentes faculdades

integradas à Universidade Federal de Sergipe, mas somente 26 deles foram classificados

180 O Projeto Rondon tinha operações nacionais e estaduais. As operações nacionais eram realizadas durante

as férias de janeiro e fevereiro por meio do deslocamento de universitários de seus estados de origem para

outras regiões. Já as operações estaduais eram desenvolvidas no âmbito local, durante as férias de julho,

por estudantes da própria região. 181 A seleção foi realizada pela coordenação do Projeto Rondon estadual, a qual estava subordinada à

coordenação geral do programa. 182 Manoel Messias Porto e Maria Ivanda Bezerra Sant’anna, eram estudantes do 2º ano do curso de

Pedagogia. 183 Possivelmente, essa exigência estava direcionada apenas aos estudantes dos cursos de licenciatura. 184 As denúncias foram publicadas no Jornal Diário de Aracaju em 05/12/1969. 185 O Diretório Acadêmico Dom Luciano Duarte foi criado em 1968 pelos estudantes da primeira turma do

curso de Pedagogia da UFS. Essa entidade estudantil visava representar os estudantes do curso de

Pedagogia da FACED/UFS e seus interesses. 186 Manoel Messias Vasconcelos foi aprovado no vestibular para o curso de Pedagogia da UFS em 1970 e

formou-se em dezembro de 1973. No ano de 1971, foi selecionado para participar do Projeto Rondon.

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para atuar nas regiões pobres da Amazônia, Pará, Alagoas, Pernambuco, Maranhão, Piauí,

Mato Grosso e Goiás.

A adesão dos estudantes ao Programa era estimulada pela imprensa sergipana e

nacional, através de uma campanha positiva referente à atuação universitária e divulgação

do Projeto187. Essa tendência também destacava a importância do programa na formação

dos acadêmicos e o comprometimento da futura elite dirigente no desenvolvimento do

país:

O projeto Rondon está proporcionando a juventude universitária, a

oportunidade para um contato com o Brasil, para um relacionamento

com os brasileiros, dando a futura elite dirigente, uma visão exata das

nossas potencialidades, e da real situação da grande massa que habita

o interior. O projeto, é também uma oportunidade para que as energias

e o idealismo dos jovens se manifestem em toda sua plenitude, na

ação de servir e ao mesmo tempo de contribuir direta e efetivamente

para um processo de transformação. (DIÁRIO DE ARACAJU,

29/11/69).

Do curso de Pedagogia, somente a aluna Maria Ivanda Bezerra Sant’Anna foi

selecionada para participar do programa, em 1970. Segundo ela, ao concluir o processo

seletivo, a coordenação nacional decidiu o seu local de atuação, o período de permanência

e a data de embarque:

Eu fui para Salgueiro no Estado de Pernambuco, passamos um mês

lá. Levamos alunos da área de Educação e das demais áreas... Então,

foram alunos de Geografia, Letras-Português, Serviço Social, Direito,

Medicina, Química. Os estudantes de Química inclusive trabalharam

com um projeto de tratamento de água. Tinha a área da saúde,

educação e tecnologia, que estava voltada para os alunos de Química

e Física. Também tinha uma assistente social. (SANT’ANNA, 2011,

s/p).

A estudante de Pedagogia foi escolhida para atuar na Operação Chapéu de Couro,

realizada na cidade de Salgueiro, em Pernambuco. Dentre os preparativos da viagem,

marcada para dia 09 de janeiro de 1970, estava a fase da imunização que compreendia a

vacinação antivaríolica, antitetânica, antitífica e contra febre amarela. Além disso, era

necessário apresentar exames que identificassem o grupo sanguíneo:

187 De acordo com a análise das obras de Lima (2015) e Portugal (2008), verificamos que a campanha

positiva da imprensa sergipana, acerca da Operação Rondon, seguia um movimento nacional. Para Lima

(2015), a presença do Projeto Rondon na imprensa nacional e internacional foi incentivada pelos

coordenadores do programa de extensão, que financiavam e premiavam jornalistas e universitários que

produziam reportagens “espontâneas” sobre o programa.

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Eu lembro que a gente tomava vacina e eles exigiam tanta coisa,

inclusive exames. O estudante de Medicina Fernando Maynard foi

com a gente. Nessa equipe foram mais ou menos 12 pessoas. Lembro

que passamos carnaval lá. [...] Essa experiência foi ótima, um mês em

Salgueiro-Pernambuco. Visitamos a penitenciária, porque era uma

ação educativa, então fazíamos palestras para os presos com normas

de saúde e higiene. Lembro que elaborei o projeto. Íamos também

para a feira, vacináva-mos, fizemos um trabalho sobre verminoses e

fornecíamos remédios de verme. Agora, ficamos hospedados em um

daqueles espaços para capacitação de professores, centros de

treinamento. Almoçamos no hotel, tudo pago pelo Projeto Rondon.

(SANT’ANNA, 2015, s/p).

O Projeto Rondon garantia transporte, alojamento, alimentos, medicamentos,

segurança pessoal, infraestrutura para realizar as ações e médicos, em caso de

necessidade. Em contrapartida, a ex-aluna Maria Ivanda Bezerra Sant’anna participava,

especialmente, de atividades direcionadas à área da Educação, a exemplo de cursos e

palestras para professores que trabalhavam nas escolas isoladas da região e orientações à

comunidade sobre educação sanitária:

Eu fui dirigir a parte de Educação [...]. Então, lá eu ensinei as

professoras a fazer os fantoches e criar as peças teatrais, e aí doutor

Sóstenes188 deu a ideia de fazer uma peça com Pelé que estava no

auge, aí modelei Pelé. A peça foi doutor Sóstenes entrevistando

Pelé.... Foi muito bom. Eu fiz doutor Sóstenes vestido de branco,

porque ele era médico, e Pelé com roupa de futebol. Os bonecos

interagiam com a plateia, então os professores e os alunos que

assistiam à peça tiravam dúvidas com o médico e com Pelé sobre

diferentes assuntos. Lembro que deixamos todo o material da

marionete lá na escola, mas o boneco de Pelé dei a doutor Sóstenes.

(SANT’ANNA, 2015, s/p).

O planejamento das atividades foi elaborado antes da viagem, em parceria entre o

coordenador da comissão, professor Cleovansóstenes Pereira de Aguiar, e os demais

integrantes do grupo. Apesar de enfatizar as áreas da Educação e da Saúde, o roteiro

compreendia as diferentes formações acadêmicas dos estudantes para que todos tivessem

a oportunidade de colaborar e colocar em prática o conhecimento adquirido na

Universidade:

188 A ex-aluna Maria Ivanda Bezerra se refere ao professor Cleovansóstenes Pereira de Aguiar. Este era

professor do curso de Medicina da UFS, e foi coordenador da equipe do Projeto Rondon enviada para o

município de Salgueiro-Pernambuco, em 1970. No ano seguinte, foi eleito Prefeito de Aracaju (1971-1975).

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Antes de viajar traçamos o plano de ação de cada dia, e quando

chegamos lá executamos essas atividades em conjunto. Havia dias

que íamos para as escolas isoladas, em outros íamos para feiras,

penitenciária, hospitais, mas não interferíamos em doentes,

trabalhávamos mais a parte da educação e orientação. Lembro que nas

escolas orientamos os professores com relação às noções de higiene,

de disciplina, psicologia infantil, como trabalhar com os alunos,

metodologias de ensino, como se propagavam as doenças e as

verminoses, e como isso era combatido, para que esses professores

disseminassem esse conhecimento aos alunos. Produzíamos cartazes

e transparências para ilustrar as doenças, suas causas e formas de

prevenção. Ao mesmo tempo realizávamos atendimento aos alunos,

com a realização de exames, vacinação, e fornecimento de remédios.

Na equipe havia dois estudantes de Medicina e uma de Serviço Social.

Mas, cada um tinha a sua atuação no projeto. (SANT’ANNA, 2015,

s/p).

Diante desse relato, podemos constatar a preocupação dos professores e

estudantes em solucionar problemas e promover mudanças mediante um trabalho

educativo. O objetivo era que o conhecimento abordado pela intervenção universitária

fosse propagado ao maior número de pessoas das comunidades assistidas, para o

fortalecimento da autonomia na solução dos problemas locais e do desenvolvimento

social.

Nesse processo, os rondonistas de Pedagogia desenvolviam, prioritariamente,

atividades no campo da Educação, sobressaindo-se cursos de capacitação docente. No

entanto, esses universitários também atuavam nos projetos multidisciplinares ou

auxiliavam nas atividades referentes às demais áreas de formação.

Ao retornarem a Aracaju, os rondonistas sergipanos foram recebidos com um

jantar oferecido pelo reitor da UFS, João Cardoso do Nascimento Júnior189. Na

oportunidade foram elogiados publicamente pelo coordenador estadual da Operação

Rondon, Antero Pales Carozo, e pelo coordenador da equipe, Cleovansóstenes Aguiar.

Em outra solenidade, realizada pelos oficias do Exército, os rondonistas sergipanos e

autoridades estaduais190 receberam medalhas e diplomas correspondentes aos serviços

prestados à comunidade. Na figura a seguir, é possível verificar o modelo da medalha

recebida pelas autoridades, no ano de 1970:

189 Manchete no jornal: “Reitoria deu jantar a estudantes” (DIÁRIO DE ARACAJU, 08 e 09/03/1970). 190 O Reitor da UFS, João Cardoso do Nascimento Júnior; Secretário Estadual de Saúde, Eduardo Vital;

Comandante do 28º BC, João Neiva Távora; coordenador estadual do Projeto Rondon, Antero Pales Carozo,

e o Comandante da Polícia Militar de Sergipe, Cel. Milton Santos (DIÁRIO DE ARACAJU, 07/05/1970).

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Figura 24 - Medalha de participação no Projeto Rondon (Frente e verso) (1970)

Fonte: acervo disponível em https://www.antonioferreira.lel.br/peca.asp?ID=69561&ctd=4&tot=

A medalha trazia o símbolo do Projeto Rondon representado pelo mapa do Brasil

com setas em toda a sua extensão. As setas que saíam da zona central do país,

provavelmente da capital federal (Brasília), representavam a integração de todas as

regiões. Já o slogan “Integrar para não entregar” associava a importância da Extensão

Universitária na concretização do desenvolvimento e da segurança nacional.

Rondonistas de outros estados191 também atuaram em Sergipe durante, os meses

de janeiro e fevereiro de 1970. A comissão composta por 100 universitários desenvolveu

atividades nas áreas da Educação, Saúde, Arqueologia, Geologia e Agropecuária, em

municípios das regiões norte e sul do Estado192. Com essa atuação, o programa passou a

ganhar simpatia dos governos locais e da comunidade:

O Projeto Rondon está, na realidade funcionando como um

verdadeiro “campus avançado” da universidade brasileira. Em

diversas regiões do país, desde a Amazônia aos pampas, os

universitários tomam contato direto com a realidade nacional e ao

mesmo tempo desenvolvem uma ação positiva em benefício das

populações. Em Sergipe, além do trabalho de assistência através da

vacinação em massa, de orientação sanitária, tratamento médico, os

integrantes do Rondon, realizando pesquisas geológicas, conseguiram

localizar uma jazida de alumínio em Simão Dias. Naquele município,

também foram descobertas pelos estudantes, antiguíssimas inscrições

rupestres, em cavernas que pela primeira vez foram exploradas com

objetivos científicos. (DIÁRIO DE ARACAJU, 06/02/1970).

191 A comissão era composta por 100 universitários, oriundos dos estados de Pernambuco, Paraíba e Minas

Gerais. 192 No Norte, as cidades atendidas foram: Canindé do São Francisco, Propriá, Poço Redondo, Aquidabã,

Cedro de São João, Carira e Porto da Folha. Na região Sul, atuaram em: Itabaiana, Lagarto, Simão Dias,

Tobias Barreto, Itabaianinha e Estância.

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A fim de aperfeiçoar a atuação do programa, a coordenação estadual promoveu um

simpósio para analisar as dificuldades que envolviam a Operação Rondon, buscar

alternativas para superá-las, discutir a integração local com a UFS e com o governo

estadual, e elaborar novos projetos relacionados às diferentes áreas, enfatizando o setor

da Educação. Nesse evento, realizado em maio de 1970, os organizadores também

decidiram realizar uma operação local com os universitários da UFS.

A imagem a seguir apresenta o certificado emitido pelos organizadores do simpósio

aos participantes do evento, naquele ano:

Figura 25 - Certificado do 1º Simpósio Estadual do Projeto Rondon/ Sergipe (1970)

Fonte: Certificado de participação no 1º Simpósio Estadual do Projeto Rondon/Sergipe (1970).

Acervo: particular de Zenilde Soares Pinto.

Na oportunidade, representantes do MEC, da Universidade Federal de Sergipe e da

Secretaria Estadual de Educação e Cultura apoiaram a iniciativa da operação local e

defenderam a integração das instituições na implantação de projetos na área da Educação.

A finalidade era promover a formação de professores leigos, estimular a ampliação do

sistema educacional e melhorar a qualidade de ensino dos diferentes níveis.

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Dessa forma, o simpósio permitiu o planejamento de metas para as ações do Projeto

Rondon em Sergipe e estimulou a participação de estudantes nos programas que seriam

desenvolvidos em julho de 1970. Durante o evento também foi divulgada a seleção para

os universitários interessados em compor a comissão que atuaria nos municípios

sergipanos. A realização do simpósio despertou a simpatia dos universitários com relação

ao Projeto:

Maria Ivanda Bezerra Sant’Anna da Faculdade de Educação

considerou válida a experiência do estudante no simpósio do Projeto

Rondon, porque deu margem a que um grande número de

universitários conhecesse e participasse da problemática nacional,

estudada em relação ao Projeto Rondon. Para Silvana Maria de Melo

Souza, da Faculdade de Serviço Social, foi válido porque serviu de

meio de propagação do Rondon, para um número maior de estudantes

e também uma oportunidade de um estudo mais aprofundado do que

foi realizado e uma reflexão para a não repetição de erros passados,

em operações posteriores. (DIÁRIO DE ARACAJU, 02/06/1970).

Para integrar a comissão do Projeto Rondon estadual, foram selecionados cinco

estudantes do curso de Pedagogia da UFS193. Durante as ações, esse grupo ficou

responsável pelo levantamento do número de escolas194 e pela oferta de cursos para os

professores leigos da região. De acordo com o ex-rondonista de Pedagogia, Manoel

Messias Porto, o projeto também atendia aos interesses do governo local:

Lembro que participei do Projeto Rondon Estadual e alguns colegas

do curso também participaram comigo. Na época fomos atuar em

Japaratuba, e ficamos alojados numa escola de freiras por volta de 20

dias. Foi menos de um mês, no recesso de julho. Eu lembro que

andavam uns estrangeiros por lá, então, fomos verificar o que eles

estavam sondando. Depois descobrimos que eram missionários que

estavam analisando as terras daquele município. Mas, também fomos

ministrar cursos para professores leigos daquela região. (PORTO,

2016, s/p).

Na área da Educação, o programa estadual também era responsável pela formação

de clube de pais e mestres, organização de bibliotecas, produção de material pedagógico,

preparação de professores para concursos e cursos intensivos de diferentes disciplinas, a

exemplo de Português e Matemática. A operação era desenvolvida em parceria com o

Governo do Estado e as prefeituras dos municípios assistidos:

193 Foram selecionados para a operação local os estudantes: Ada Augusta Celestino Bezerra, Maria das

Graças Tavares Barreto, Evanda Maria dos Santos, Judite Oliveira Aragão e Manoel Messias Porto.

Entretanto, Ada Augusta Celestino Bezerra e Judite Oliveira Aragão não participaram do Projeto. 194 Essa informação havia sido solicitada pela Secretaria Estadual de Educação/Sergipe, com o intuito de

fundamentar algumas mudanças na rede de ensino.

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Segundo revelou o coordenador [do Projeto Rondon] Estadual Drº.

Antero Carozo, em julho vindouro, estará mantendo contatos com

órgãos governamentais, no sentido de colocar mão de obra

universitária, altamente qualificada e motivada, para execução de

projetos específicos de desenvolvimento do Estado de Sergipe.

(DIÁRIO DE ARACAJU, 18/05/71).

Essa iniciativa oportunizou o primeiro contato de muitos professores do interior

sergipano com uma orientação pedagógica, a partir de cursos destinados ao

aperfeiçoamento didático e de conteúdo. Além disso, proporcionou assessoria técnica na

área da administração escolar e organização de bibliotecas.

As ações desenvolvidas pelos universitários de Pedagogia, com relação aos projetos

nacionais e estaduais, atendiam às determinações do Decreto-Lei nº. 67.505/70. Esse

dispositivo apresentava as finalidades do Projeto Rondon por meio de três campos de

ação: o Desenvolvimento e a Integração Nacional; atividades complementares de ensino,

em coordenação com o Ministério da Educação e Cultura; e capacitação para o mercado

de trabalho e mão de obra. De acordo com Gurgel:

Na medida em que o Projeto Rondon se institucionalizava, seus

componentes doutrinários eram afirmados: integração nacional,

serviço às comunidades e treinamento profissional. Foram

estabelecidos os seus princípios básicos: voluntariado,

aproveitamento do tempo livre do estudante (especialmente período

de férias), rejeição da política partidária, aprendizado indireto através

da prestação de serviços e conhecimento da realidade. (GURGEL,

1986, p. 118).

A partir de 1970, outras seleções foram realizadas anualmente pela coordenação

local, com a finalidade de recrutar estudantes para integrar as equipes da Operação

Rondon estadual e nacional195. Na oportunidade, alguns estudantes de Pedagogia foram

selecionados pelo programa para atuar no interior sergipano e em diferentes estados do

país.

Diante desse processo, a imprensa sergipana continuou publicando textos e notas

sobre a operação, com o objetivo de prestigiar a campanha e incentivar a participação

universitária:

195 De acordo com os depoimentos dos ex-rondonistas do curso de Pedagogia da UFS, vários motivos

conduziram os estudantes a participarem da Operação Rondon, durante a década de 1970. Dentre os

principais, estavam a curiosidade em conhecer o projeto, a chance de viajar de forma segura e gratuita e a

oportunidade de contribuir com os planos de ações.

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Pois o Projeto Rondon sobretudo isso, uma oportunidade ímpar para

que se tenha uma visão melhor do Brasil, suas conquistas e

necessidades, suas belezas, o universo encantador de seus costumes

regionais, a fibra e a capacidade de resistência dos sertanejos, o

mundo de possibilidades que vão sendo gradualmente identificadas e

exploradas, com vistas à transformação das expectativas em

realidades concretas, refletidas na melhoria do padrão de vida dos

brasileiros. (DIÁRIO DE ARACAJU, 09/01/1971).

A preparação dos candidatos era feita mediante a presença em conferências e

palestras realizadas por professores da UFS, com temáticas relacionadas à atuação dos

estudantes na Operação. Além disso, era obrigatória a participação nas reuniões com os

coordenadores das equipes para a elaboração dos projetos que seriam desenvolvidos nas

comunidades.

Dentre os estudantes de Pedagogia selecionados para integrar tal programa, a ex-

aluna Zenilde Soares Pinto participou durante três anos consecutivos nos estados de

Minas Gerais (1971), Amazonas (1972) e Rio Grande do Sul (1973) 196.

Para ela, a intervenção mais marcante foi realizada no Estado do Amazonas,

região de fronteira entre o Brasil e a Colômbia. Além dela, outros três estudantes da

UFS197 foram alojados na colônia militar da cidade de Tabatinga, entre os meses de

janeiro e fevereiro de 1972. Essa equipe foi coordenada pelo professor do curso de

Medicina da UFS, José Augusto Bezerra. Na fotografia a seguir, foi registrado o momento

de embarque da equipe sergipana para a cidade de Tabatinga/Amazonas:

196 A primeira participação deu-se no ano de 1971, na cidade de Rubelita-Minas Gerais; a segunda foi em

1972, no município de Tabatinga-Amazonas; e por último, no ano de 1973, em Campo Novo-Rio Grande

do Sul. 197 Os três estudantes eram dos cursos de Medicina e Serviço Social.

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Figura 26 - Embarque de estudantes da UFS para a cidade de Tabatinga/Amazonas

(1972)

Fonte: Fotografia dos estudantes da UFS/Projeto Rondon. Acervo: particular de Zenilde Soares Pinto

Nessa operação, a representante de Pedagogia, Zenilde Soares Pinto, desenvolveu

suas atividades exclusivamente nas escolas, mediante a promoção de cursos para

professores leigos da região. Em depoimento, a ex-rondonista relatou sua impressão sobre

a formação dos professores daquela localidade e as práticas adotadas por ela para

aprimorar o conhecimento desses docentes:

Os professores que trabalhavam nas escolas da região não tinham nem

o primário, na verdade eles não tinham era nada (risos). Mas era muito

boa a iniciativa.... No curso que ministrei passei uma semana

ensinando passo a passo como eles deveriam fazer para alfabetizar.

Na semana seguinte pedi que eles repetissem tudo que ensinei, para

ver se tinham aprendido. Era um trabalho muito intenso; passava o

dia todo nas escolas; a diretora e as professoras aproveitavam cada

segundo. Eu adorei. (PINTO, 2015, s/p).

A ênfase dos cursos ministrados concentrava-se nos métodos de alfabetização e

na confecção de material pedagógico para o aperfeiçoamento dessa técnica e a

propagação pelos professores do ensino primário. Essa iniciativa colaborava com a

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campanha educacional do Exército Brasileiro no município de Tabatinga, como pode ser

observado neste folheto:

Figura 27 - Campanha do Exército Brasileiro em Tabatinga/AM (1972)

Fonte: Sentinelas da Amazônia. Acervo: particular de Zenilde Soares Pinto.

A ex-rondonista não soube informar se houve continuidade do projeto de formação

docente nos anos seguintes, mas enfatizou a importância de seu trabalho durante os 40

dias de permanência naquele local. Lembrou que foi retribuída pela sua dedicação e pelo

trabalho executado, mediante premiação do Exército Brasileiro e o conhecimento

adquirido sobre os aspectos culturais daquela região. Contudo, sua prática não foi

marcada apenas por alegrias:

Você acredita que na véspera de vir embora deu uma chuva tão braba

que molhou todo o material que a gente tinha confeccionado. Eu

chorei tanto, fiquei tão triste, você imagina! Aí o comandante do

Exército na despedida chegou e disse que ali era um simples papel, se

eles aprenderam de verdade, iriam reproduzir tudo novamente.

(PINTO, 2015, s/p).

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A última participação no Projeto Rondon foi realizada no Rio Grande do Sul, no

ano de 1973. Essa experiência estimulou a estudante a realizar o curso de Mestrado no

município gaúcho de Santa Maria, no ano seguinte, como relatou em depoimento:

A primeira viagem foi para o município de Rubelita, em Minas

Gerais. Eram dois dias de jipe para chegar a cidade, um balança mais

não cai (risos). Aí, ministrei aulas, para as professoras da região. Aqui

quem ajudou na hospedagem, alimentação e transporte foi a

Prefeitura. No ano seguinte (1972) fui para Tabatinga, no Amazonas.

[...] A terceira e última participação foi em Campo Novo, no Rio

Grande do Sul, no ano de 1973. Lá também fui dar aula para

professores, para ensinar a alfabetizar, ensinar novos métodos

pedagógicos e elaborar material didático. Essa terceira viagem

estimulou a minha ida para Santa Maria no ano seguinte, fazer o curso

de Mestrado. (PINTO, 2015, s/p).

Segundo os ex-rondonistas do curso de Pedagogia da UFS, os trabalhos voltados

à área da Educação deixaram marcas significativas nas comunidades assistidas,

especialmente por estarem direcionadas ao corpo docente. Para eles, apesar dos projetos

serem realizados entre 20 e 40 dias, isso não impedia a produção e circulação do

conhecimento, pois eram práticas intensas e planejadas para capacitar os profissionais

que já atuavam nas escolas.

Dessa forma, foi possível compreender que as práticas desenvolvidas pela

Operação Rondon não se restringiam somente ao assistencialismo e ao afastamento da

subversão, pois foi através dessa iniciativa que muitos professores tiveram a primeira

oportunidade de questionar e conhecer novos modelos pedagógicos, noções de psicologia

e desenvolvimento infantil, metodologias de ensino, materiais didáticos e técnicas de

alfabetização.

Diante desse trabalho, muitos ex-estudantes da UFS foram prestigiados pelos

coordenadores do Projeto Rondon, oficiais do Exército Brasileiro, gestores da

Universidade Federal de Sergipe, além das autoridades políticas dos municípios

assessorados:

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Figura 28 - Portaria de louvor a integrante do Projeto Rondon (1973)

Fonte: Portaria nº. 09 de 17/02/1973. Acervo: particular de Zenilde Soares Pinto.

Além dessas iniciativas de âmbito nacional, outras oportunidades de pesquisa e

extensão acadêmicas foram criadas e mantidas pela Universidade Federal de Sergipe, em

parceria com órgãos dos setores público e privado. Esses projetos buscavam a integração

entre a UFS e a comunidade, através do treinamento universitário e da prestação de

serviços.

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No rol dessas iniciativas foi criado o Centro de Extensão Cultural e Atuação

Comunitária (CECAC) 198 da Universidade Federal de Sergipe. Instalado em 1971199,

como órgão suplementar200 da UFS, passou a ser responsável por atividades de extensão

direcionadas às necessidades da capital, Aracaju, e dos demais municípios sergipanos:

Artigo 1º - O CECAC – Centro de Extensão Cultural e Atuação

Comunitária, órgão suplementar, essencialmente de extensão do

ensino, da pesquisa e da cultura, ligado diretamente à Reitoria, sob a

coordenação e supervisão do Vice-Reitor, tem por finalidade a

difusão dos conhecimentos técnicos e científicos na comunidade, pela

prestação de serviços especiais, através do treinamento do pessoal

discente, apoiando-se basicamente na ação comunitária.

Parágrafo único: visando a integração da Universidade na

comunidade, o CECAC dará execução a convênios celebrados pela

UFS com entidades locais, regionais, nacionais e estrangeiras, que

tenham relações com seus objetivos. (UNIVERSIDADE FEDERAL

DE SERGIPE, 1971b, s/p).

De acordo com seu regimento201, o CECAC/UFS era constituído de outros dois

órgãos: Coordenação Rural Universitária de Treinamento e Ação Comunitária

(CRUTAC)202 e Coordenação Urbana de Treinamento e Ação Comunitária

(CURBITAC). Enquanto a missão do primeiro era concentrar suas atividades na região

rural, com o intuito de promover a prestação de serviços, a formação dos estudantes e a

interiorização da Universidade; a incumbência do segundo era desenvolver ações na área

urbana.

Mas na prática as atividades do programa eram concentradas, especialmente, no

CRUTAC. Talvez essa centralização fosse ocasionada pelo número restrito de

198 O Centro de Extensão Cultural e Atuação Comunitária (CECAC) foi criado pelo Conselho Universitário

da Universidade Federal de Sergipe, em 1971, para atender as diretrizes (Lei nº 5.540/68, o Decreto nº.

916/69 e o Estatuto da UFS), que deliberavam sobre a necessidade dos projetos de extensão nas

universidades, e justificar o repasse de verbas do Ministério da Educação e Cultura para as atividades de

extensão. Diante desse contexto, o CECAC/UFS surgiu com a intenção de promover a formação

profissional dos universitários e estimular a integração entre a UFS e a comunidade, a partir da prestação

de serviços. 199 Apesar de ter sido instalado em 1971, os planos de ações só passaram a ser executados a partir de 1972. 200 De acordo com o Estatuto da UFS, art. 22: “o órgão suplementar é aquele que se destina a exercer

atividades de natureza técnica, cultural, recreativa e de assistência ao estudante” (Estatuto da UFS, 1968). 201 O regimento do CECAC/UFS foi aprovado mediante a Resolução nº. 14/71 do CONSU/UFS. Essa

mesma Resolução determinou a instalação do órgão. 202 O CRUTAC foi criado em 1965 pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) com apoio

da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE). O objetivo de tal programa era

proporcionar a atuação dos estudantes universitários nas comunidades rurais, para o treinamento e a

participação na solução de problemas locais. O projeto ganhou projeção nacional com a criação da

Comissão Incentivadora dos Centros Rurais Universitários de Treinamento e Ação Comunitária

(CINCRUTAC), pelo Decreto-Lei nº 916, de 7 de outubro de 1969. Esse órgão, em parceria com o MEC,

proporcionava incentivo, apoio financeiro, condições materiais e assessoramento técnico aos CRUTACs

(BRASIL, 1969, s/p).

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professores e técnicos integrados ao CECAC, pois, ao ser criado, absorveu servidores de

outros setores da UFS com acúmulo de funções e adicional de horas extras. Além disso,

o CRUTAC recebia maiores investimentos financeiros do MEC e do CINCRUTAC203.

Essa dinâmica de investimentos ao CRUTAC/UFS era uma estratégia do MEC

para garantir prestígio no campo acadêmico, pois queria assumir sua posição legal e

legítima perante os programas de extensão promovidos pelos estudantes e professores

universitários. Além disso, visava concorrer com a atuação do Projeto Rondon, órgão

criado e mantido pelo Ministério do Interior (MINTER):

[...] Anos depois, o Ministério da Educação começou a apoiar o

Crutac, oferecendo verbas para que fossem implantadas iniciativas

semelhantes em outros estados nordestinos. Alguns funcionários do

MEC desenvolveram antipatia pelo Projeto Rondon, preferindo pelo

modelo do Crutac, que era gerido pelas universidades, enquanto o

Rondon estava sob controle dos militares. Os funcionários do MEC

achavam que esses programas deveriam ser conduzidos pelas próprias

instituições sediadas nas regiões “atrasadas”, não deveriam funcionar

como pacotes vindos do Sul e do Sudeste. (MOTTA, 2014, p. 89).

Bourdieu (2004) buscou compreender o campo acadêmico a partir das relações

sociais entre seus agentes. Para ele, esse espaço possui uma dinâmica singular, marcada

pelas relações de força, interesses, divergências, crises, rupturas e estratégias. É um lugar

de constantes disputas, em que se encontram e se confrontam interesses políticos,

acadêmicos e econômicos.

Na Universidade Federal de Sergipe, o CECAC oferecia serviços à comunidade e

treinamento profissional aos estudantes através dos estágios supervisionados. De acordo

com o organograma a seguir, podemos verificar a composição do órgão e a distribuição

dos setores subordinados:

203 Diante disso, foram encontrados vários relatórios do CRUTAC/UFS relacionados ao planejamento e às

atividades desenvolvidas pelo órgão. Com esses relatórios, foi possível identificar investimentos

financeiros do MEC, SUDENE, CINCRUTAC, FUNRURAL, MOBRAL, SUCAM e de órgãos dos

governos estadual e municipais.

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Figura 29 - Organograma do CECAC/UFS (1976)

Fonte: Plano de trabalho do CECAC/UFS para o ano de 1976. Acervo: Arquivo Central da UFS.

O Centro de Extensão da UFS desenvolvia atividades em diversas áreas

profissionais, como: Saúde, Educação, Administração, Cultura, Economia,

Associativismo e Direito204; além disso, atuava nos centros urbano e rural do Estado

sergipano205. Para tanto, esse programa contou com a participação de professores e alunos

da UFS que se deslocavam para municípios do interior e bairros carentes da capital, com

o objetivo de estudar e colaborar com o enfrentamento aos diferentes problemas das

comunidades locais.

Segundo depoimentos da ex-aluna de Pedagogia e ex-integrante do CECAC/UFS,

Tereza Cristina Cerqueira da Graça, dentre as ações do projeto estava o envio de

estudantes de diferentes licenciaturas, denominados pelo programa de “estagiários”, para

a promoção de cursos voltados ao aperfeiçoamento e à formação pedagógica de

professores no interior sergipano:

204 Para desenvolver os projetos, eram selecionados estudantes dos seguintes cursos: Medicina,

Odontologia, Direito, Serviço Social, Pedagogia, História, Geografia, Letras, Educação Física, Matemática,

Química, Biologia, Administração, Engenharia Química e Economia. 205 O CECAC/UFS desenvolveu atividades nas cidades de Japaratuba, Boquim, Pirambu, Lagarto (Povoado

Colônia Treze) e Aracaju (Bairro América).

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No final da década de 1970 apareceram os estágios do CECAC. A

gente se inscrevia num setor da Reitoria. Eles nos mandavam para o

interior para ministrar aulas, e colocavam uma Kombi à disposição da

gente. Eram estudantes de várias áreas, tinha de Matemática, História,

Geografia... Professores de várias áreas, né! (GRAÇA, 2015, sp).

Além de cursos direcionados ao aperfeiçoamento da atividade docente, os

estudantes de Pedagogia da UFS206 atuavam no CECAC desenvolvendo outros serviços

na área da Educação, a exemplo da orientação educacional com pais e alunos, supervisão

escolar, alfabetização de jovens e adultos, cursos para a administração escolar, educação

sanitária e regência de classe207:

Foi evidenciada através de contatos e coletas de dados uma grande

necessidade por parte das instituições que atuam na zona urbana e

sobretudo na zona rural de: Assistência técnica ligada à educação,

escolarização a nível de 1º grau, alfabetização, reciclagem de

professores, etc. Desta maneira, o aproveitamento de estagiários dos

cursos de Pedagogia e Licenciatura são de relevante importância não

só na qualificação do futuro profissional como também no processo

de sua formação, levando-lhes o conhecimento de sua realidade

estadual e municipal. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE,

1976b, p. 4).

No entanto, a aderência de professores e alunos do curso de Pedagogia aos projetos

de extensão do CECAC/UFS não ocorreu de forma espontânea, devido ao reduzido

número de professores da Faculdade de Educação e a proibição no aproveitamento

curricular:

O professor Ovídio explicou para os professores a insistência que o

MEC vem tendo no cumprimento dos programas de Extensão e que o

DAU208 só libera verbas com um plano a ser executado. Por isso,

pediu subsídio aos presentes, comentando que o CECAC não pode

continuar inventando programas, embora válidos para a comunidade,

mas pobres pedagogicamente. A seu ver o problema é definir o plano

a ser executado. A área em que a Faculdade pode agir é na regência

de classe. A professora Lígia disse que a Faculdade de Educação tem

até vontade, mas os seus professores têm acúmulo de tarefas, sempre,

apesar dos contratos de 40 horas. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE

SERGIPE, 1969-76, p. 97).

206 O professor do curso de Pedagogia da UFS, Ovídio Valois Correia, atuou como diretor do CECAC

durante a gestão de 1975-1979. A primeira gestão (1971-1975) foi realizada pela professora do curso de

Serviço Social, Albertina Brasil Santos. Vale ressaltar que o diretor do CECAC era escolhido e nomeado

pelo Reitor da UFS para exercer um mandato de quatro anos. 207 Nas demais áreas, o CECAC desenvolveu projetos associados à orientação econômica e administrativa,

orientação jurídica, promoção de festivais culturais, criação de associações e sindicatos, orientação aos

dirigentes, saúde bucal, tratamento odontológico, exames biomédicos, assistência médica, educação

comunitária, práticas esportivas e palestras para prevenções de doenças. 208 Departamento de Assuntos Universitários do MEC.

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O deslocamento para o interior do Estado também representava um dos motivos da

resistência a adesão dos professores e estudantes de Pedagogia ao programa, pois

alegavam a excessiva disponibilidade de tempo que era necessário para a viagem:

A professora Ligia aludiu ter sido uma experiência cujo desempenho

por parte do aluno foi bom, mas ao mesmo tempo aludiu aos

problemas sobre o número de aulas ao ser observadas e o número

exigido para o acompanhamento do aluno. Fez ver ainda o tempo que

o próprio professor e aluno se dedica para ir até o local do estágio

quase sempre supera o número de horas. Doze horas por mês.

(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, 1969-76, p. 28).

Outra justificativa para a rejeição aos projetos de extensão do CECAC estava

relacionada à falta da exigência curricular. Por não servir como créditos cursados, muitos

alunos e professores do curso se negavam a participar do programa, optando pelas práticas

de ensino, as quais representavam as disciplinas obrigatórias no currículo do curso. Além

disso, muitos estudantes já atuavam como professores de escolas das redes pública e

particular:

A professora Lígia continuando também falou sobre a dificuldade de

deslocamento do professor para o interior, pois no caso deixaria sua

cátedra para atuar juntamente com os interioranos. A professora

Maria Auxiliadora levou em consideração que o estágio da FACED é

curricular, e o do CECAC é de extensão. (UNIVERSIDADE

FEDERAL DE SERGIPE, 1969-76, p. 78).

Contudo, a divulgação do projeto e a solicitação de colaboração aos professores e

alunos do curso de Pedagogia eram frequentes entre os anos de 1972 a 1978. Várias

reuniões eram realizadas na FACED com o intuito de estimular a participação do corpo

docente e discente da Faculdade nos planos de atividades do CECAC/UFS:

O prof. Ovídio agradeceu a oportunidade que lhe foi dada para falar

da programação do CECAC. Disse que o MEC através do DAU

procurou dar neste ano maior ênfase à extensão, em virtude de

constatação de que a Universidade Brasileira fez grande progresso na

área do ensino, mas que na área da extensão havia muito a fazer.

Explicou ainda que foi verificado que a extensão não atingiu ainda os

departamentos das unidades e como medida retificadora não mais

haverá verbas específicas para o pessoal da extensão, devendo estes

fazerem parte dos Departamentos. Comentou que a partir do próximo

ano, se não houver uma programação dos Departamentos, o CECAC

não terá razão de existir; sabe que a nossa Universidade, como outras

maiores ou menores, não está montada para tal e que este se tornou

um problema geral, de cúpula e de base. (UNIVERSIDADE

FEDERAL DE SERGIPE, 1969-78, p. 42).

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Diante da dificuldade em recrutar professores e alunos de Pedagogia, a partir de

1976, os estágios realizados no CECAC/UFS passaram a ser aceitos pela Faculdade de

Educação como créditos cursados no campo das práticas de ensino. Isso estimulou a

participação dos professores e estudantes no referido projeto de extensão, como pode ser

verificado na figura que segue:

Figura 30 - Resumo de atividades dos estágios do CECAC/UFS (1976)

Fonte: Relatório do CECAC/UFS de 1976. Acervo: Arquivo Central da UFS.

Para participar do programa era necessário estar cursando os quatro últimos

semestres do ciclo profissional, ter disponibilidade de horário e participar de um

treinamento prévio promovido pelos supervisores e gestores do CECAC/UFS. A adesão

ao projeto trazia benefícios aos egressos dos diferentes cursos, pois conquistavam o

reconhecimento da comunidade, experiência profissional, remuneração e eram disputados

para ocupar cargos em instituições públicas e privadas do Estado. Ao término dos

trabalhos, os estagiários recebiam um certificado emitido pelo CECAC/UFS para

comprovar a participação deles em tal programa:

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Figura 31 - Certificado de docência no curso promovido pelo CECAC/UFS (1972)

Fonte: Certificado de atuação no curso promovido pelo CECAC/UFS, realizado em Lagarto/Sergipe.

Acervo: particular de Zenilde Soares Pinto.

Nas ações direcionadas ao CRUTAC209, os estagiários de Pedagogia precisavam

se deslocar aos sábados ou durante a semana no turno da noite, para o interior do Estado,

a fim de promover cursos de formação pedagógica para professores. Depoimentos

retratam como esse deslocamento210 era realizado e as primeiras experiências como

docente do curso Pedagógico:

A gente pegava a Kombi lá na própria Faculdade, onde hoje é o

IPES211. Aí, pegava lá e, de lá, íamos direto para Boquim. Então,

chegávamos lá 7 e pouca da noite, dávamos aula e saíamos de lá 15

para às 11 da noite, chegávamos em casa quase 1 da manhã. A aula

era à noite, como já era por disciplina, fui dar aula no curso

pedagógico [...]. Então, lembro que dei aula de Metodologia do

209 Os planos de ação eram elaborados de forma coletiva, a partir de simpósios. Essa iniciativa permitia a

participação de professores, estudantes, dirigentes do CECAC/UFS, técnicos da SUDENE, MOBRAL,

FUNRURAL e dirigentes do Governo do Estado e das prefeituras assistidas, na construção das linhas de

ações do programa e na posição dos diferentes cursos nas tarefas a serem desenvolvidas na comunidade. 210 O deslocamento dos professores e estagiários para o interior sergipano era realizado através de transporte

disponibilizado pelo CECAC/UFS. 211 A ex-aluna do curso de Pedagogia, Tereza Cristina Cerqueira da Graça, referia-se ao prédio da Faculdade

Católica de Filosofia, e posteriormente Faculdade da Educação, localizado na rua de Campos, Bairro São

José.

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Ensino, Didática, Estrutura e Funcionamento do Ensino e História da

Educação. Foi aí que comecei a me encantar pela História da

Educação. (GRAÇA, 2015, s/p).

Muitos estagiários partiam logo após o término das aulas do curso, que ocorriam

no turno da tarde. Na figura a seguir podemos observar a presença dos estudantes que

integravam a comissão de estagiários do CECAC, no ano de 1976, aguardando o

momento da viagem para o município de Boquim:

Figura 32 - Estagiários do curso de Pedagogia/UFS na equipe do CECAC (1976)

Fonte: Fotografias do CECAC/UFS. Acervo: Arquivo Central da UFS.

Os estagiários de Pedagogia que realizavam suas atividades nos finais de semana,

atuavam no sábado, no período da manhã. Essa iniciativa visava impedir privações dos

estudantes às aulas do curso e às práticas de ensino curriculares realizadas durante a

semana no turno vespertino.

Assim, o CECAC representava a UFS atuando no seu próprio Estado, com o

objetivo de promover a integração, o treinamento discente, formação de mão de obra e a

prestação de serviços. Além disso, era também uma forma de aparelhar a Universidade

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para identificar os problemas regionais e pensar soluções, conforme indicava o processo

de modernização do ensino superior.

Na imagem a seguir, podemos visualizar o emblema do CECAC, na década de 1970,

representado pelo brasão da UFS, centralizado no interior do mapa de Sergipe:

Figura 33 - Símbolo do CECAC/UFS

Fonte: Relatório do CECAC/UFS, 1973. Acervo: Arquivo Central da UFS.

Para os estagiários de Pedagogia, além de promover uma formação prática, esse

programa proporcionava uma experiência profissional realista, permitindo uma reflexão

sobre as dificuldades que envolviam sua área de atuação e as possíveis soluções enquanto

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estudante. Esse caráter funcional também era difundido entre as comunidades assistidas

para que pudessem participar ativamente do seu próprio desenvolvimento.

A presente programação objetiva tornar cada estudante um

profissional capaz de intervir na realidade sergipana com um mínimo

de eficiência e enfatiza a intervenção técnica em dois aspectos

fundamentais: a) em relação ao estudante, no sentido de adequar seus

conhecimentos teóricos à realidade prática; b) em relação à

comunidade, no sentido de educá-la para que possa participar do seu

desenvolvimento. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE,

1974, s/p).

Assim, durante a década de 1970, vários projetos de extensão foram

desenvolvidos na capital e no interior sergipano, a partir de cursos promovidos para a

formação de mão de obra, assistência pedagógica, qualificação docente, orientação

sanitária e alfabetização de jovens e adultos. Nesse processo, professores e estudantes de

Pedagogia contribuíram com o estudo, elaboração dos planos de ação e realização das

práticas. Ao mesmo tempo foram beneficiados com o conhecimento e a experiência

adquirida em tal programa:

Aqui na capital, o CECAC já tem pronta a programação de atividades

no bairro América, que tem dois objetivos gerais: propiciar condições

para participação da população na solução de seus problemas e

favorecer o entrosamento de todas as entidades que atuam ou possam

atuar na área, objetivando a economia de recursos humanos e

financeiros, evitando o paralelismo de ação e assegurando a

integração de programas em nível local. (DIÁRIO DE ARACAJU,

13/01/73).

Diante dessas iniciativas, é possível entender que no âmbito local as atividades de

extensão desenvolvidas pelos estudantes de Pedagogia da UFS no Projeto Rondon e

CECAC/UFS não estavam associadas unicamente ao assistencialismo ou controle

estudantil, pois a essência do projeto era promover mudanças locais e preparar a

comunidade para o seu desenvolvimento. Em Sergipe, tais programas destacaram-se pelo

estímulo à integração entre a UFS e a comunidade, pelo fomento à interdisciplinaridade

entre as diferentes áreas acadêmicas e pela aproximação dos universitários com seu

campo de atuação, a realidade social e os problemas a serem enfrentados.

Essa disposição também oportunizou o primeiro contato de muitos professores do

interior com uma formação pedagógica, qualificando-os para a sua permanência na

profissão, e assessorou as secretarias de Educação com informações a respeito da logística

das escolas para as modificações na organização do ensino.

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Nesse processo, os estudantes de Pedagogia que aderiram a esse movimento foram

beneficiados com a formação acadêmica e profissional. Em contrapartida esses

acadêmicos contribuíram com o desenvolvimento dos programas, através da participação

em planos de ação que promoviam levantamentos do número de escolas, cursos de

formação para professores, cursos de alfabetização e organização de bibliotecas. Além

disso, atuaram na identificação dos problemas da comunidade, apresentaram soluções, e

proporcionaram à população o acesso ao conhecimento e serviços necessário para a

melhoria das condições de vida e seu desenvolvimento.

4.2 – A PRESENÇA DE ACADÊMICOS E LICENCIADOS EM PEDAGOGIA NA

IMPLANTAÇÃO DE PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

A ênfase destinada à alfabetização e a formação de mão de obra qualificada para

atender ao projeto modernizador e desenvolvimentista do Regime Civil Militar (1964-

1985), possibilitou uma série de iniciativas direcionadas a expansão escolar, formação

docente, implantação de programas educacionais e a melhoria da qualidade do ensino no

decorrer das décadas de 60 e 70 do século XX.

Em discurso proferido na Universidade do Ceará em 1964, o Presidente Castelo

Branco (1964-67), revelou o seu desconforto com o índice de analfabetismo do país e

anunciou medidas para garantir oportunidades educacionais em todos os níveis de

ensino212:

Nenhum problema mais grave do que o deste ensino, pois o Brasil

não pode continuar a apresentar-se entre as nações com mais de trinta

milhões de analfabetos. Relegar ao analfabetismo metade das novas

gerações equivale a perdermos metade de precioso elemento com que

poderemos contar para o progresso econômico, cultural e social.

Governos anteriores já assumiram compromissos internacionais no

sentido de proporcionar escolas a toda nossa população em idade

escolar. Agora vamos criar condições para que tal objetivo seja

alcançado. É o que prometemos hoje solenemente perante a Nação,

que não suporta ser enganada na observância dos direitos mais

sagrados do povo. (CASTELO BRANCO, 1964, p. 189-194).

212 Assim, foram cada vez mais frequentes as críticas direcionadas ao analfabetismo no Brasil. Em 11 de

novembro de 1966, ao lançar o Dia Nacional da Alfabetização, o ministro Raimundo Moniz de Aragão

proferiu discurso, em que ressaltava a “[...] grave, vexatório e doloroso problema do analfabetismo, [...]

mancha vergonhosa a desfigurar as faces da sociedade brasileira que se apresenta, no conceito dos povos,

como constituída em grande parte, por cidadãos incultos e ignorantes" (OLIVEIRA, 1989, p. 88).

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Em Sergipe, o índice de analfabetismo durante a década de 60 do século XX,

atingia mais de 50% da população. Além disso, o Estado apresentava déficit no número

de técnicos e profissionais habilitados para atuar em diferentes áreas, a exemplo da Saúde,

Educação, Saneamento, Administração, Engenharia e na exploração de minérios:

Sergipe vive sob o peso de todos os percalços que oprimem no

subdesenvolvimento o Nordeste brasileiro. O índice de analfabetismo

ultrapassa 50% da nossa população. Faltam-nos médicos, professores,

técnicos. Entretanto, nos últimos cinco anos um verdadeiro sopro de

esperança sacode nosso pequenino Estado. (A CRUZADA,

04/02/1967).

As escolas públicas não conseguiam suprir a demanda de crianças e jovens em

idade escolar213, também apresentavam limitações de recursos materiais, estrutura física

para o aparelhamento pedagógico e de investimentos financeiros para a manutenção de

um corpo docente bem remunerado e preparado legalmente para atuar nos diferentes

níveis de ensino, como retrata a imprensa sergipana, através do jornal Diário de Aracaju

(1967):

Realmente, os estudantes não se sentem motivados materialmente, em

Sergipe, para escolherem a carreira do magistério, quando analisa a

situação econômica de nosso professor. Todos sabemos que o

magistério é, antes de tudo vocação, que exige abnegação e renúncia.

Mas tudo isto não dispensa uma condição mínima de estabilidade

econômica que garanta ao professor a manutenção de si mesmo e de

sua família com dignidade, sua integração como elemento da

sociedade e seu próprio equilíbrio psíquico, necessário a uma conduta

exemplar de educador e ao maior rendimento técnico de sua profissão,

em benefício dos alunos. Será que está condição mínima existe em

Sergipe? (DIÁRIO DE ARACAJU, 17/10/1967).

Mesmo diante do funcionamento de cursos Normais e da Faculdade Católica de

Filosofia214, ainda era evidente nas escolas primárias, a incorporação de professores

leigos, sem nenhuma formação pedagógica e na maioria dos casos sem a conclusão do

213 Diante do número insuficiente de escolas públicas para atender jovens e crianças, algumas estratégias

eram lançadas para selecionar os alunos que seriam beneficiados com as vagas, a exemplo dos exames de

admissão. Além disso, as três esferas do governo distribuíam bolsas de estudos para que os estudantes

pudessem ingressar nas escolas particulares. Essa iniciativa era assegurada pela Constituição Federal de

1967. 214 Apesar da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe funcionar desde 1951, verificamos uma atuação

tímida em relação as prestações de serviços e parcerias com os órgãos educacionais das esferas federal,

estadual e municipal. No entanto, ressaltamos sua contribuição na formação de professores para atuar no

ensino secundário e superior.

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ensino médio215. No caso do ensino secundário predominava a atuação de professores que

haviam realizado os exames de suficiência da Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão

do Ensino Secundário (CADES)216, padres, normalistas, egressos do ensino médio,

estudantes universitários e profissionais liberais, a exemplo, de advogados,

farmacêuticos, médicos e engenheiros217:

Ultimamente chamamos a atenção dos leitores para o desrespeito que

vem sofrendo no Estado, professores formados e que vem exercendo

a profissão, nos diversos níveis de ensino, - o número de não

diplomados ultrapassa ao de professores diplomados. Esta situação

por aí mesma representa uma situação de desprestígio para a classe,

pois rebaixa o seu nível de eficiência como classe, em virtude da

predominância de elementos leigos, que não recebera o treinamento

completo – ou nenhum treinamento para a difícil arte de ensinar e, por

outro lado, dilui a responsabilidade dos próprios diplomados na

aferição de suas próprias falhas pedagógicas. (DIÁRIO DE

ARACAJU, 17/10/1967).

Situação semelhante ocorria com os técnicos em Educação que atuavam nas

escolas e órgãos do Estado, a exemplo dos supervisores, inspetores, diretores e

bibliotecários. Nessas atividades, predominava a ação de profissionais de nível médio,

que haviam sido incorporados por apadrinhamento político ou habilitados a partir de

cursos intensivos realizados em parceria com o MEC218.

Essas estratégias buscavam amparar os planos emergenciais de recrutamento

docente para atender as escolas públicas e privadas do Estado, preservar a atividade

secundária de padres e profissionais liberais ou servir à acordos políticos com a

distribuições de vagas do magistério na capital e no interior, independentemente do nível

escolar dos beneficiados.

Ao divergir dessas práticas, a professora Maria Thétis Nunes passou a relacioná-

las com as deficiências do ensino e a criticá-las por meio de artigos na imprensa sergipana,

215 É importante lembrar que a incorporação de professores leigos não se devia apenas aos baixos salários

e às deficiências físicas e materiais da escola, mas também aos acordos políticos da época. 216 A Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário (CADES) foi criada pelo Presidente

Getúlio Vargas em 1953, com o objetivo de difundir e melhorar a qualidade do ensino secundário no país

(BRASIL, 1953). 217 Ao estudar o ofício docente e a elite letrada no Brasil do século XIX, especificando o caso de Sergipe,

Santos (2013) ressaltou que essa elite era constituída por intelectuais de diferentes formações e que atuavam

em diversos campos, inclusive o até então indefinido campo educacional. 218 Durante a pesquisa foram entrevistadas ex-supervisoras da rede municipal e estadual de ensino que

haviam realizado os cursos de Supervisão Escolar em outros estados, promovidos pelo Instituto Nacional

de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).

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denunciando sobretudo, os baixos salários, a desvalorização profissional219, a ausência de

plano de carreira, o descaso do governo, o apadrinhamento político e a falta de preparo

didático dos professores para lecionarem nas escolas220:

Um dos mais graves problemas é o referente ao professor secundário.

Mal pagos, sem formação didática, em grande parte, sem tempo para

melhorar seus conhecimentos, vivem os professores secundários

acima e abaixo, chegam alguns a dá 10 a 12 aulas diárias para

sobreviver. [...] A situação do professor secundário é uma Babel de

desorganização. As cátedras vagas, sem candidatos aos concursos por

falta de estímulo dos vencimentos, muitas vezes levam os diretores

recorrerem a quem apareça para resolver o problema que surge. (A

CRUZADA, 02/09/67).

Diante desse cenário, egressos da Faculdade Católica de Filosofia criaram a

Associação dos Professores Licenciados do Brasil – Secção de Sergipe (APLB-SE)221

com o objetivo de reivindicar o campo de atuação docente, especialmente o do ensino

secundário, e a valorização da classe. Segundo eles, a docência no estado ainda era

praticada por diferentes profissionais liberais e professores leigos, infringindo as

diretrizes educacionais da época. Isso também fragilizava a aquisição salarial dos

professores, a autoridade dos licenciados sobre a carreira do magistério e a procura dos

estudantes pelos seus cursos superiores, já que qualquer formação acadêmica ou exames

de suficiência da CADES, habilitaria à profissão docente.

Esse movimento, iniciado durante a década 60 do século XX foi embasado

juridicamente pela LDB de 1961 (Lei nº 4024/1961) e pela Portaria nº 142 de 1965, as

quais estabeleciam a prioridade da atividade docente aos licenciados das Faculdades de

Filosofia. Somente nas regiões onde houvesse carência desses diplomados poderiam ser

aproveitados professores habilitados por exame de suficiência. De acordo com a ex-

219 Torna-se necessário ressaltar que o prestígio social e econômica dos professores durante a década de

1960 tinha proporções diferenciadas, pois um professor catedrático do Colégio Estadual de Sergipe possuía

notoriedade superior ao professor primário do município sergipano de Canhoba. 220 Devemos acrescentar que para Maria Thétis Nunes a má qualidade do ensino não se restringia somente

a esses fatores. Para ela, a indisciplina estudantil, a falta de material pedagógico e a deficiência física das

escolas também contribuíam para essa disposição. 221 A Associação dos Professores Licenciados do Brasil – Seção de Sergipe, foi criada em 1966 com a

intensão de proporcionar a união, defesa e a valorização da classe docente. A entidade era constituída,

especialmente, por professores licenciados da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, os quais

defendiam a melhoria da qualidade do ensino, a garantia de direitos profissionais, campanhas de formação

do magistério sergipano, segurança no exercício da função, estudo dos problemas educacionais, soluções

para os problemas do ensino e estímulo a formação dos professores sem diploma de nível superior (A

CRUZADA, 26/04/1969).

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presidente da APLB-SE, Maria Olga de Andrade (1968-1969), a Associação visava

garantir especialmente, incentivo a formação docente e seus direitos profissionais:

A Associação dos Licenciados do Brasil – Secção Sergipe havia sido

criada principalmente para chamar a atenção da sociedade a respeito

da nossa prioridade, enquanto diplomados da Faculdade de Filosofia,

para assumir os cargos docente nas escolas de ensino médio e na

Secretaria de Educação. Então, lembro que na época foi instituída

uma lei que garantia a prioridade da convocação de licenciados

diplomados pelas Faculdades de Filosofia, em detrimento dos demais

profissionais, pois naquela época não havia essa preferência, era

comum convidar o médico, o engenheiro, o bacharel em Direito para

assumir a sala de aula, e nós ficávamos em último lugar.

(ANDRADE, 2010, s/p).

O movimento a favor dos licenciados e as reivindicações acerca do campo

educacional sergipano se fortaleceram com a implantação da UFS em 1968, pois essa

iniciativa ampliou o número de cursos do magistério em funcionamento, a exemplo da

Pedagogia, e o de diplomados em nível superior para integrar ao corpo docente do estado.

Nesse sentido, estratégias foram desenvolvidas pelos acadêmicos e licenciados em

cursos do magistério para ingressar no campo educacional sergipano e para disputar o

domínio da concorrência interna. No caso dos profissionais da Pedagogia da Universidade

Federal de Sergipe, as disputas e o ingresso ocorreram por duas vias, através da docência

nos cursos Normais, de formação de professores primários, e na área técnica como

especialistas em Educação.

A compreensão desse processo ocorreu por meio da análise nos aspectos legais,

na trajetória percorrida pelos acadêmicos até inserir-se profissionalmente no campo

educacional e nas condições para a permanência nesse campo. Assim, também foi

contemplado o subcampo da Pedagogia, como espaços regidos pelos interesses e

particularidades disciplinares, funcionando como microcosmos e submetido às leis gerais

de funcionamento do macrocosmo no qual estão inseridos (BOURDIEU, 2004).

Mesmo diante das disputas no campo educacional para assumir as funções

garantidas por lei e das dificuldades com relação aos aspectos físicos e materiais para

desempenhar a profissão docente, muitos estudantes optaram por essa carreira

profissional, proporcionando ao curso de Pedagogia o domínio na concorrência pelas

vagas, entre as licenciaturas da UFS durante os anos de 1968 a 1978222.

222 De acordo com o item 3.1, verificamos que essa procura pelo curso estava associada a alguns fatores:

muitos candidatos já atuavam na área da Educação, haviam estudado no curso Normal, a simpatia pelo

magistério, a condição de ser uma profissão respeitada para mulheres e a facilidade em adquirir empregos,

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A este respeito, Bourdieu (2004, p. 130) esclarece que nas nossas vidas fazemos

escolhas aparentemente racionais, quando na verdade são escolhas produzidas pela nossa

história individual ou coletiva, decorrentes das experiências vividas ao longo de nossa

trajetória pessoal e social: “[...] Os agentes de algum modo caem na sua própria prática,

mais do que a escolhem de acordo com um livre projeto, ou do que são empurrados para

ela por uma coação mecânica [...]”. (BOURDIEU, 2004, p. 130).

De acordo com Bourdieu (1983), o habitus é o que faz um agente ser detentor de

um gosto, porque as preferências estão associadas às condições objetivas de existência.

Nesse sentido, o gosto ou as preferências manifestadas através das práticas de consumo

é, então, o produto dos condicionamentos associados a uma classe social ou fração de

classe:

As experiências se integram na unidade de uma biografia sistemática que

se organiza a partir da situação originária de classe, experimentada num

tipo determinado de estrutura familiar. Desde que a história do indivíduo

nunca é mais do que uma certa especificação da história coletiva de seu

grupo ou de sua classe, podemos ver nos sistemas de disposições

individuais variantes estruturais do habitus de grupo ou de classe [...]. O

estilo pessoal, isto é, essa marca particular que carregam todos os

produtos de um mesmo habitus, práticas ou obras, não é senão um desvio,

ele próprio regulado e às vezes mesmo codificado, em relação ao estilo

próprio a uma época ou a uma classe. (BOURDIEU, 1983a, p. 80-81).

Aos interessados pela profissão, a instalação da Universidade Federal de Sergipe

trouxe consigo a garantia de uma formação acadêmica estável, sem riscos de possíveis

interrupções durante o andamento dos cursos, como ocorrido na FAFI223. Além disso,

proporcionou o funcionamento do curso de Pedagogia, para a formação de professores do

curso Normal e técnicos em educação:

[...] De há muito que vem sendo esperada a criação da Universidade. Foi

uma batalha empreendida pelos intelectuais da terra que, vencendo

obstáculos e incompreensões, conseguiram levar a bom termo essa

iniciativa que agora concretizada, na realidade, abre para Sergipe, largos

horizontes de cultura, apresentando um campo maior de especialização,

mormente para a juventude ávida do saber que povoa as nossas

faculdades. Sergipe ganhou uma Universidade para se integrar no

processo histórico e cultural da região, uma universidade que virá inserir-

se em nossa região subdesenvolvida, aparelhada para formar

especialistas e técnicos do desenvolvimento [...]. (A CRUZADA,

04/03/67).

pois apesar das disputas no campo educacional, verificou-se que os licenciados não apresentavam

dificuldades para atuar na área. 223 Na FAFI, os cursos de Matemática e Filosofia foram interrompidos no ano de 1957, por causa do

pequeno número de alunos e das limitações financeiras da Faculdade (OLIVEIRA, 2009).

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Nesse sentido, convênios passaram a ser selados entre a UFS e outras unidades do

Governo Federal, assim como acordos com órgãos públicos e privados das diferentes

esferas224. As atividades concentravam-se, sobretudo, na prestação de serviços da

Universidade, como: pesquisas, elaboração de projetos, levantamento de informações e

dados, programas de intercâmbio, assessoria técnica e qualificação de mão de obra.

Diante da legitimidade da Universidade Federal de Sergipe, muitos acordos

também foram celebrados com órgãos relacionados à Educação, favorecendo a atuação

do corpo docente e discente de Pedagogia. Nesse processo, estudantes e egressos do curso

passaram a atuar em diferentes espaços associados ao ensino, desenvolvendo atividades

docentes, serviços técnicos e administrativos.

Os alunos do curso também tinham autonomia para adotar vínculos e realizar o

exercício da profissão nas instituições educacionais. Na maioria das vezes essa iniciava

ocorria no primeiro ano da graduação, devido ao reduzido número de professores e

técnicos da área, e pelo fato de serem as primeiras turmas de Pedagogia do estado. De

acordo com a ex-aluna, Ada Augusta Celestino B. da Silva, ela e outros colegas de

classe225 atuaram, ainda no início da formação acadêmica, em projetos de alfabetização,

a exemplo da Cruzada ABC (Ação Básica Cristã)226:

[...] Parte do meu Curso Superior foi acompanhada da experiência na

Cruzada ABC, assim como aconteceu com a colega de turma, desde

o IERB, Angélica Vieira Donald. Sua mãe, Profª Aurita Vieira

Donald, integrava a direção dessa Campanha de Alfabetização de

Jovens e Adultos e nos conduziu a uma capacitação inicial; daí

passamos a trabalhar, inclusive como supervisores da Educação de

Jovens e Adultos. Eu era supervisora da comunidade do bairro Santo

Antônio e, depois, do bairro Suíssa, em Aracaju. Foi um trabalho que

fiz com muito amor e no qual aprendi muito. (SILVA, 2015, s/p).

224 De acordo com os registros do Conselho Universitário, os convênios da UFS passaram a serem

realizados a partir de 1970, com órgãos públicos e privados. Esses convênios eram respaldados pelo regime

jurídico de Fundação. 225 A exemplo das ex-alunas do curso de Pedagogia, Angélica Vieira Donald e Maria Lucia Souza Ramos

Berger. 226 O projeto Cruzada ABC (Ação Básica Cristã) foi oficializado em 1965, na cidade de Recife-

Pernambuco. Coordenado por missionários protestantes e técnicos norte-americanos, o programa visava

erradicar o analfabetismo, especialmente, na região Nordeste do país, com a colaboração financeira da

SUDENE, Ministério da Educação e USAID/Brasil. A partir de 1966, a Cruzada ABC tornou-se um

programa do governo brasileiro, encarregado de substituir e combater, em termos políticos e pedagógicos,

os programas de alfabetização existentes antes do golpe de 1964 (SCOCUGLIA, 2002).

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O projeto Cruzada ABC iniciou suas atividades em Sergipe no ano de 1966, por

meio de cursos intensivos de alfabetização de jovens e adultos227. O objetivo era [...]

“capacitar o homem analfabeto-marginalizado, a ser participante na sua sociedade

contemporânea, como contribuinte do desenvolvimento sócio-econômico e recebedor de

seus bens” (SCOCUGLIA, 2002, p. 4).

Diante do alto percentual de analfabetos em Sergipe, o movimento foi recebido

com entusiasmo pela população, pois buscava reparar a ausência do ensino primário

durante a infância. Com essa inciativa, surgia uma nova oportunidade de aprender a ler,

escrever e contar, sem custos financeiros e com a disponibilidade de material escolar e

profissionais treinados para essa finalidade. Nesse contexto, alunos de Pedagogia foram

requisitados para contribuir:

Diante daquele contexto sabíamos que poderíamos dar a nossa

contribuição, e na verdade estávamos estudando para isso. Como

houve a oportunidade e éramos jovens, com uma consciência crítica

ainda embrionária, aproveitamos para obter experiência e contribuir

com o projeto. De fato, o método de alfabetização foi o Laubach.

Acreditávamos ser possível contribuir para reparar essa dívida do

Estado Brasileiro; por isso nos esforçamos muito. (SILVA, 2015,

s/p).

A participação dos estudantes de Pedagogia tinha o propósito de orientar os

professores e supervisionar os cursos intensivos do programa, realizados na capital e no

interior. Para isso, os acadêmicos passavam por um processo de seleção e cursos para

conhecer o projeto e suas técnicas metodológicas:

[...] Tudo isso, precedido por um longo e intensivo curso de Formação

que nos preparava desde o aperfeiçoamento da caligrafia até a

metodologia do Programa, incluindo o desenvolvimento comunitário.

Nosso trabalho era de organizar comunidades, localizar voluntários,

espaços físicos e analfabetos. Em seguida organizávamos as turmas.

O forte mesmo era a formação de voluntários para a alfabetização de

jovens e adultos, ao lado do acompanhamento às turmas que se dava

semanalmente. (SILVA, 2015, s/p).

Após a participação nos cursos que habilitavam ao cargo de supervisor, os

acadêmicos passavam a realizar o treinamento para a formação dos professores do projeto

e orientar as atividades pedagógicas desses docentes no processo de alfabetização de

227 Desde 1959, Sergipe viveu o impacto da experiência das escolas radiofônicas, implementadas pelo

Arcebispo do Estado Dom José Vicente Távora. A partir de 1961, esse projeto foi adotado nacionalmente,

com a criação do MEB (Movimento de Educação de Base) (FARIAS, 1996).

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jovens e adultos. Além disso, participavam do recrutamento de analfabetos e na

organização do processo seletivo de professores interessados em atuar na Cruzada ABC:

Figura 34 - Contratação de professores para a Cruzada ABC

Fonte: jornal Diário de Aracaju, 27/03/1968. Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

Dessa forma, os estudantes de Pedagogia que assumiam a função de supervisor,

desfrutavam de muitas reponsabilidades no funcionamento e organização do programa.

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Dentre suas funções, eram designados a desempenhar todo o controle do processo

pedagógico, desde o acompanhamento diário das diferentes fases, até a aplicação do

material didático. Nesse sentido, realizavam a orientação e o monitoramento das práticas

pedagógicas desenvolvidas em sala de aula pelos professores.

A coordenação geral era realizada pela professora Aurita Vieira Donald228, a qual

executava os planos previamente estabelecidos pela direção nacional da Cruzada ABC,

através da programação técnica e administrativa. Além disso, realizava os acordos e

contatos com as autoridades políticas, a integração com a comunidade local e a

distribuição de alimentos aos professores e alunos229:

Os trabalhos da Cruzada ABC, coordenados pela professora Aurita

Donald, prosseguem em Sergipe com absoluto êxito, estando também

merecendo maior cuidado a distribuição de alimentos aos escolares

pobres dos mais sofridos bairros da Capital. Com os recursos

provenientes do convênio firmado entre o Município e o MEC no

valor de 35 mil cruzeiros novos, as Escolas municipais serão

recuperadas, recebendo móveis novos e outros equipamentos mais

condignos. (DIÁRIO DE ARACAJU, 13/01/68).

As primeiras experiências foram realizadas nas escolas estaduais e municipais da

capital, no período noturno, para atender jovens e adultos que trabalhavam durante o dia.

Mas, diante do alto índice de analfabetos no Estado, as atividades do projeto se

estenderam ao interior, sendo o espaço físico das aulas compartilhado com as escolas

diurnas para crianças e adolescentes.

Como o curso de Pedagogia desfrutava de uma relação direta com a formação de

professores alfabetizadores e do conhecimento acerca dos fundamentos da educação, isso

facilitava a habilidade dos estudantes com relação as práticas nos programas de

alfabetização. Além disso, muitos acadêmicos de Pedagogia já haviam realizado o curso

Pedagógico de nível médio, o que possibilitava experiência com os métodos de ensino.

No caso do programa Cruzada ABC, foi implantado com uma proposta

metodológica baseada no Método Laubach230 e material didático próprio. No entanto, o

projeto também apresentava suas contradições, pois apesar de ter sido adotado pelo

228 Aurita Vieira Donald formou-se em Pedagogia pela UFS, e exerceu as funções de supervisora

educacional do Departamento de Educação e Cultura de Aracaju e técnica em assuntos educacionais da

Escola Técnica Federal de Sergipe. 229 De acordo com Ada Augusta Celestino Bezerra da Silva, a distribuição de alimentos era realizada com

o objetivo de evitar a evasão dos alunos. Segundo ela, a doação das cestas básicas ocorria quinzenalmente,

aos jovens e adultos que se mantivessem na escola, sem nenhuma falta durante todo o mês. 230 Método de alfabetização de adultos criado pelo missionário protestante norte-americano Frank Charles

Laubach (1884-1970).

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Governo Civil Militar (1964-1985) para substituir os programas de alfabetização

existentes antes do Golpe de 1964231, a ex-aluna de Pedagogia e ex-alfabetizadora da

Cruzada ABC, Ednalva Freire Caetano, alegou ter usado as técnicas de alfabetização de

jovens e adultos propostas por Paulo Freire:

Trabalhei inicialmente com alfabetização de adultos, no programa

Cruzada ABC. Trabalhamos com o método Paulo Freire, em plena

Ditadura, o que é em tese, um contrassenso. Lembro que também

havia financiamento dos norte-americanos, acredito que o programa

tinha uma ligação com a Igreja Protestante, porque tudo tinha a ver

[...]. Eu era protestante, então como fui líder da comunidade de

jovens, havia realizado curso de Teologia em Pernambuco e era

militante da Igreja, provavelmente essa militância me levou a

trabalhar no Educandário Americano Batista e no Programa Cruzada

ABC. (CAETANO, 2015, s/p).

Para a implantação do programa em Sergipe foram firmados convênios com a

Secretaria de Educação e Cultura do Estado (SEC-SE) e o Departamento de Educação e

Cultura de Aracaju (DEC). Enquanto a Cruzada ABC disponibilizava o material didático

próprio, alimentação e orientação pedagógica ao corpo docente; os dois órgãos

governamentais providenciavam prédios (no período noturno), transporte, professores e

material escolar.

Diante da importância social do projeto, as solenidades de celebração dos

convênios eram prestigiadas por jornalistas, intelectuais, dirigentes da Superintendência

de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), Governador do Estado, Reitor da UFS e

coordenadores da Cruzada ABC. Assim, o lançamento das campanhas de alfabetização

de jovens e adultos tornou-se garantia de prestígio político232:

231 De acordo com Oliveira (1989), o programa Cruzada ABC, a partir de 1966, tornou-se um programa

oficial do governo brasileiro, encarregado de substituir e combater, em termos políticos e pedagógicos, os

programas existentes antes do golpe de 1964. No entanto, salienta que antes do Golpe de 1964, não havia

somente programas de alfabetização de adultos associados aos grupos de esquerda, pois segundo ele setores

da direita também se interessavam por essa modalidade de ensino, a exemplo, da Fundação João Batista do

Amaral. 232 Os lançamentos de campanhas de alfabetização e as formaturas unificadas desses programas eram

cenários de autopromoção e propaganda política. As solenidades demonstravam a preocupação do governo

com a educação escolar das famílias pobres e com o desenvolvimento do Estado.

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Figura 35 - Contrato firmado entre SEC/SE e Cruzada ABC (1968)

Fonte: jornal Diário de Aracaju, 14/08/68. Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

Em Sergipe, o programa permaneceu funcionando até 1970233, quando passou a

ser substituído pelo Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL)234. No entanto,

sua projeção ficou registrada na história das políticas governamentais de alfabetização de

jovens e adultos, como uma das iniciativas de expressão social promovida na década de

60 do século XX235, no estado.

Nesse processo, estudantes de Pedagogia da UFS tiveram oportunidade de

contribuir com o projeto de alfabetização e adquirir experiência profissional. Essa

participação também garantiu o primeiro contato de jovens e adultos com a leitura e a

233 Desde sua implantação, o programa Cruzada ABC foi alvo de críticas dos órgãos financiadores:

Enquanto, os dirigentes da SUDENE, discordavam da atuação político-pedagógica e dos gastos excessivos

do programa; o Ministério do Planejamento, da Fazenda e a USAID recusavam as prestações de contas,

limitando a liberação de verbas ao cumprimento da programação (SCOCUGLIA, 2002). 234 O Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) foi um projeto do Governo Civil Militar criado

pela Lei nº. 5.379, de 15 de dezembro de 1967. O objetivo era a alfabetização funcional e a educação

continuada de jovens e adultos, mediante práticas de leitura, escrita e cálculo (BRASIL, 1967).

235 De acordo com Scocuglia (2002), em apenas um semestre letivo de 1969, a Cruzada ABC conseguiu

matricular 298.422 alunos, distribuídos nos Estados do Ceará, Pernambuco, Bahia, Guanabara, Rio de

Janeiro, Paraíba, Alagoas, Sergipe, Goiás e do Distrito Federal.

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escrita, possibilitando uma atuação profissional mais abrangente e a continuidade de

estudos em cursos supletivos e/ou profissionalizantes.

O Programa teve sua importância para aquele momento, pois

devemos lembrar que o número de analfabetos naquela época era

muito grande, inclusive na capital. Muitos jovens e adultos não

tinham acesso ao trabalho, nem a formação de mão de obra por meio

de cursos profissionalizantes. Não havia perspectivas, e isso era

transmitido aos filhos, pois sem saber ler e escrever não matriculavam

suas crianças na escola. Não davam muita importância aos estudos.

(CAETANO, 2015, s/p).

Em Sergipe a ausência de programas educacionais voltadas a formação de jovens

e adultos, e a omissão de iniciativas que atendessem a ampliação do ensino, levaria o

Estado a expandir o número de analfabetos. O acesso de trabalhadores a tais programas,

além de oportunizar ao conhecimento sistemático e a novas oportunidades de emprego,

possibilitou uma nova compreensão com relação a importância da educação escolar e ao

ingresso dos seus filhos nas escolas.

Com a implantação do MOBRAL em 1970, acadêmicos de Pedagogia

permaneceram atuando em programas de alfabetização de jovens e adultos no estado. A

proposta era aproveitar universitários e professores experientes que haviam trabalhado

nos programas anteriores, a exemplo, do Movimento de Educação de Base (MEB) e

Cruzada ABC.

Durante o planejamento, a direção nacional do MOBRAL realizou encontros com

o secretário de Educação, Nestor Piva, para divulgar os objetivos e a modalidade

operacional do movimento e solicitar dele a indicação de nomes para a seleção dos

coordenadores estaduais236. Nessa escolha deveriam imperar os critérios técnicos em

detrimento aos interesses políticos, prevalecendo o recrutamento de profissionais

experientes.

Para o desenvolvimento do programa vários convênios foram firmados entre o

MOBRAL, a Secretaria Estadual de Educação e prefeituras de Sergipe:

236 Os coordenadores estaduais eram responsáveis pela administração do MOBRAL em seus estados. O

coordenador local era José Luiz de Oliveira.

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Figura 36 - Convênio entre SEC/SE, prefeituras e MOBRAL (1970)

Fonte: jornal Diário de Aracaju, em 07/08/1970. Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

A nova campanha era otimista com relação ao combate ao analfabetismo no

Brasil, tanto com relação as metas a serem atingidas, quanto no tocante aos recursos a

serem obtidos237. A intenção era erradicar o analfabetismo em 10 anos, mediante o ensino

de noções básicas de leitura, escrita e cálculo:

Retornou do Rio de Janeiro o Coordenador Estadual do MOBRAL

José Luiz de Oliveira, que participou do Encontro Nacional de

coordenadores. O referido encontro foi presidido pelo Secretário

Executivo do MOBRAL Arlindo Lopes Correia, cujo objetivo foi

definir as metas quantitativas do MOBRAL na década de 1970. Ficou

determinado que o analfabetismo será erradicado do país, até 1980.

Ambiciosa meta para Sergipe que ainda conta com 52% de sua

população adulta analfabeta, sendo destes 27% na zona urbana e 76%

na zona rural. A meta de Sergipe para o ano de 1972 é escolarizar

57.000 adolescentes adultos. (DIÁRIO DE ARACAJU, 08/07/1972).

Lançado com ampla divulgação pela imprensa falada e escrita, logo mobilizou

professores e acadêmicos para atuar na organização e implantação do projeto. No entanto,

cabia a todos o dever de contribuir com a erradicação do analfabetismo no país,

237 De acordo com Oliveira (1989) os recursos financeiros do MOBRAL eram oriundos do MEC, Caixa

Econômica Federal, USAID, Loteria esportiva, imposto de renda e iniciativas privadas.

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destacando o caráter comunitário para o sucesso do programa. Para os estudantes do curso

de Pedagogia da UFS, era mais uma oportunidade de aprendizagem e formação

profissional.

Dessa forma, acadêmicos de Pedagogia passaram a ser requisitados para participar

do MOBRAL, na função de supervisão. Para isso, era necessário realizar treinamentos

promovidos pela administração nacional com o objetivo de conhecer as propostas do

programa, as orientações operacionais e os aspectos metodológicos de alfabetização.

As atividades da campanha eram desenvolvidas em diferentes postos de

alfabetização da capital e do interior, representados por escolas, centros comunitários,

núcleos de cooperativas, associações de trabalhadores, empresas privadas, templos

religiosos e órgãos públicos238:

Agora mesmo, uma turma de 30 alunos está sendo alfabetizada no

Reformatório Penal do Estado, enquanto outra turma, é mantida na

Polícia Militar, atuando o MOBRAL, desta forma, nos mais

diferentes setores da sociedade. (DIÁRIO DE ARACAJU,

26/06/71).

Diante da abrangência do programa e do acompanhamento desenvolvido pelos

supervisores, constantes viagens eram realizadas por eles para os municípios do

interior239. O deslocamento era promovido pela Secretaria Estadual de Educação, com a

disponibilidade de transporte para orientação e acompanhamento dos monitores em

diferentes municípios. Em umas das viagens, três estudantes de Pedagogia da UFS240, que

exerciam função de supervisora, sofreram um acidente automobilístico durante o trajeto:

238 Os cursos de alfabetização também eram realizados em residências particulares, numa colaboração do

proprietário com a campanha. 239 A sede da coordenação estadual estava localizada em Aracaju. 240 As estudantes de Pedagogia envolvidas no acidente, pertenciam a primeira turma do curso (1968-1971):

Maria Lúcia Souza Ramos, Angélica Vieira Donald e Evanda Maria dos Santos. Entretanto, na matéria

jornalística somente o nome da primeira estudante estava escrito corretamente.

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Figura 37 - Acidente automobilístico dos integrantes do MOBRAL (1971)

Fonte: jornal Diário de Aracaju, 23/09/1971. Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

De acordo com a ex-aluna do curso de Pedagogia e ex-integrante do MOBRAL,

Maria Lúcia Souza Ramos Berger241, esses descolamentos faziam parte do processo de

implantação e funcionamento do programa nos municípios do interior242. Para isso, os

estudantes de Pedagogia eram requisitados ainda na Faculdade de Educação, durante a

formação no curso superior. Em depoimento, a ex-aluna aborda a colaboração dos

acadêmicos na implantação do programa e o acidente sofrido durante a viagem de

supervisão:

Nós trabalhávamos na implantação do MOBRAL aqui em Sergipe,

erámos umas 4 ou 5 pessoas do curso. [...] Quando estava sendo

implantado o MOBRAL, os coordenadores através da Secretaria da

Educação, foram lá na diretoria da Faculdade para pedir alunos para

formar uma equipe do MOBRAL local, e aí tinha umas 3 de lá que

trabalharam, eu, Angélica, Evanda e as outras 2 eram de Serviço

Social, e a gente trabalhou na implantação do MOBRAL aqui. [...]

Não era uma instituição de pesquisa, era através do MOBRAL. E aí

fizemos a implantação em todo o Estado, e aí numa dessas viagens,

nós sofremos um acidente de Rural. Porque a Secretaria de Educação

colocava a disposição uma Rural (BERGER, 2011, s/p).

241 Maria Lúcia Souza Ramos Berger também foi coordenadora do MEB em Sergipe (1973 a 1978). 242 Em 1973 o programa conseguiu estender-se a todos os 73 municípios do interior sergipano (DIÁRIO

DE ARACAJU, 10/07/1973).

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A ex-aluna destacou a responsabilidade das estudantes de Pedagogia diante da

instalação e funcionamento do MOBRAL em Sergipe, enfatizando as atividades

desenvolvidas por elas no processo de recrutar professores e treiná-los para exercer a

função de monitoria. Além disso, supervisionavam a atuação pedagógica dos monitores

e orientava-os para o uso do material didático do programa, produzido pela Editora Abril.

Os supervisores também intermediavam a comunicação entre a coordenação

estadual do MOBRAL e as comissões municipais, auxiliando na seleção dos espaços

físicos, implantação dos postos de alfabetização e na mobilização de monitores e

analfabetos. Para a concretização do projeto, a ex-aluna Maria Lúcia Souza Ramos

Berger, ressaltou a importância da parceria realizada entre MOBRAL, o governo do

Estado e prefeitos dos municípios sergipanos243:

A secretaria de Educação colocava a disposição uma Rural e o espaço

físico; o material vinha de Brasília e o nosso trabalho era recrutar

professor, arranjar sala, treinar o professor e acompanhar,

supervisionando. Nós que comandávamos, e recebíamos orientação

do MOBRAL nacional. Esse MOBRAL nacional treinava a gente, e

íamos implantar nos municípios. As prefeituras também recrutavam

os professores, arrumavam o espaço físico e a gente ia treinar os

professores para utilizar o material didático. (BERGER, 2011, s/p).

Dessa forma, as atividades desenvolvidas pelas supervisoras do MOBRAL

concentravam-se, sobretudo, no recrutamento e orientação aos monitores, para que eles

promovessem a alfabetização de jovens e adultos, em pouco tempo. Essa iniciativa

concedia a oportunidade da alfabetização funcional e educação continuada aos que não

tiveram oportunidade de estudar durante a infância, em cursos com duração mínima de

cinco meses244:

As turmas de servidores da ENERGIPE estão funcionando nas

dependências do SENAI, devendo o curso durar cinco meses. Por

outro lado, dezenas de domésticas, em apenas dois meses de

alfabetização, já estão lendo e escrevendo graças ao posto do

MOBRAL que funciona na Escola da Doméstica “Dom José Vicente

Távora”. (DIÁRIO DE ARACAJU, 15/07/1971).

243 Na organização administrativa, o Mobral nacional firmava e fiscalizava os convênios, fornecendo

material didático, orientação técnica, repasse de verbas para os estados e municípios, e avaliando os

resultados obtidos pelo Movimento. Em contrapartida, cada estado tinha sua Comissão Estadual (COEST),

com as funções de planejar, coordenar, formar monitores e controlar as atividades em nível de Estado. Os

munícipios através da COMUN (Comissão Municipal) agiam como agentes executivos dos programas do

MOBRAL, mobilizando analfabetos, alfabetizadores, monitores, providenciando locais para salas de aula

e instalando postos de alfabetização (OLIVEIRA, 1989). 244 Se caso, o aluno ainda encontrasse dificuldades durante os cinco meses de alfabetização, o programa

disponibilizava mais um mês de curso intensivo.

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Ao concluir o curso de alfabetização o aluno tinha a oportunidade de prosseguir

os estudos, por meio de programas adicionais ao MOBRAL245 ou cursos supletivos e

profissionalizantes ofertados por outras instituições246. A finalidade era promover a

sequência do ensino e estimular a profissionalização desses estudantes:

O MOBRAL não só alfabetiza; ele desenvolve em convênio com a

SEC/Estado e as Prefeituras Municipais, o Programa de Educação

Integrada, que permite ao aluno recém-alfabetizado a continuidade

dos seus serviços, e assim cursar em 1 ou 2 anos os 4 primeiros anos

de 1º ciclo, através das técnicas de aceleração. (DIÁRIO DE

ARACAJU, 12/09/73).

Apesar das críticas direcionadas ao programa247, postos do MOBRAL foram

implantados em todos os municípios sergipanos, inclusive em povoados que possuíam

toda a população analfabeta. A intensão era realizar a alfabetização em massa,

abrangendo áreas desprovidas de escola, como assentamentos rurais e presídios. Nesse

processo, estudantes de Pedagogia contribuíram com a instalação e o funcionamento do

programa, mediante o exercício nas funções de supervisão.

Para a continuidade dos estudos, foi implantado em 1970 o Projeto Minerva248,

com a finalidade de preparar alunos para os exames de madureza249 do ensino ginasial250.

Em Sergipe, o programa de governo era desenvolvido pelo ensino a distância, através de

cursos transmitidos por emissoras de rádio, com o auxílio de um monitor:

Teríamos que pensar num supletivo com grandes inovações. Os

quatro primeiros anos ficavam a cargo do Mobral, mas os alunos

saíam do Mobral e queriam continuar os estudos, então o governo

tinha que oferecer alguma coisa que desse terminalidade de 1º Grau,

e era essa a função do Minerva, que estava inserido nessa proposta de

Brasil Grande, onde era preciso dar educação à massa, melhorar as

condições de escolaridade do trabalhador. Na perspectiva da época, o

Brasil só crescia se tivesse pessoas qualificadas. (BLOIS, s/d, s/p).

245 Plano de Educação Continuada para Adolescentes e Adultos, Programa de Educação Integrada,

Programa Cultural, Programa de Profissionalização, Programa de Diversificação Comunitária, Programa

de Educação Comunitária para a Saúde, Programa de Esporte e Programa de Autodidatismo. 246 Em 1973, um convênio entre o MOBRAL e o Programa Intensivo de Preparação de Mão-de-Obra

(PIPMO), promoveu a qualificação profissional de 910 recém-alfabetizados (DIÁRIO DE ARACAJU, 12

de setembro de 73). 247 Para alguns pesquisadores o MOBRAL se limitava a um ensino de caráter tecnicista, utilizado pelo

Regime Civil Militar para controlar as massas (SANTOS, 2014). 248 Em 26 de setembro de 1969, o Decreto nº. 25.239 criou a estrutura administrativa para a implementação

do Projeto Minerva em nível nacional, com a finalidade de oferecer formação supletiva ginasial através do

rádio (BRASIL, 1969). 249 O exame de Madureza atendia a Lei nº 4.024 de 1961, art. 99, que determinava aos maiores de 16 anos

a obtenção de certificado de conclusão de curso ginasial mediante a prestação de exames de Madureza.

Com a Lei nº. 5.672 de 1971, foi chamado de curso e exame supletivo, destinados aos maiores de 18 anos. 250 Com a reforma de 1971, foi estendido ao ensino de 1º e 2º graus.

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O governo do Estado ficou encarregado de organizar os rádiopostos251 e recrutar

supervisores e monitores para o funcionamento dos cursos, enquanto o Projeto Minerva

disponibilizava o material didático (fascículos), a transmissão das aulas e realizava o

treinamento dos coordenadores e supervisores. De acordo com Marta Viera Cruz252, ex-

coordenadora estadual do Projeto Minerva em Sergipe (1973-1977) e ex-professora do

curso de Pedagogia da UFS, a nova proposta de ensino foi implantada na capital e no

interior253:

Na década de 1970, atuei na Secretaria de Estado da Educação e

Cultura, exercendo as funções de supervisora do Projeto Minerva e

posteriormente, a sua coordenação. Na oportunidade, acompanhei as

atividades de Radiodifusão no Estado, no formato de Radiopostos

(salas de aula). A Secretaria de Educação cobria à época não só o

município de Aracaju, bem como diversos municípios no interior do

Estado. As aulas (elaboradas pelo PRONTEL) eram transmitidas via

Rádio MEC no período noturno, sob a presença de monitores

universitários e treinados para a função. (CRUZ, 2015, s/p).

Estudantes de Pedagogia da UFS foram requisitados para participar do programa

como monitores, com a função de intermediar o ensino, através das aulas transmitidas

diariamente via rádio. Nesse sentido, os acadêmicos auxiliavam os alunos do Minerva no

acompanhamento do curso pelo rádio, na explicação do conteúdo e na resolução das

atividades dos fascículos254, distribuídos gratuitamente pelo programa:

251 Os rádiopostos era o local disponibilizado para a transmissão das aulas aos alunos, e as orientações

diárias dos monitores. 252 Marta Vieira Cruz, é graduada em Letras Vernáculas pela UFS (1973), mestre em Ciências Sociais

Aplicada a Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (1982) e doutora em História e Filosofia

da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1992). Integrou-se ao corpo docente do

curso de Pedagogia da Universidade Federal de Sergipe, em 1976, mediante concurso público de provas e

títulos. 253 O Projeto Minerva foi implantado na capital, e em alguns munícipios do interior: Estância, Itabaiana,

Lagarto e Tobias Barreto. Em Sergipe, recebeu investimentos dos governos federal e estadual. 254 Os fascículos compreendiam as disciplinas obrigatórias do ensino de 1º e 2º graus, com conteúdo e

atividades relacionadas às exigências dos exames. O 1º grau compreendia as disciplinas: língua Portuguesa,

Matemática, Ciências, Estudos Sociais e Moral e Cívica.

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Figura 38 - Fascículo do Projeto Minerva/curso supletivo de 1º grau (1971)

Fonte: acervo disponível em projetominerva.blogspot.com/2012/03/em-busca-de-fasciculos.html

De acordo com a ex-aluna de Pedagogia e ex-monitora do Projeto Minerva (1973-

1975), Maria de Fátima Monte Lima, o monitor também acompanhava a aula do

professor-locutor juntamente com os estudantes, e em seguida explicava o conteúdo

abordado:

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As aulas eram transmitidas pelo rádio com o suporte das apostilas e

da monitoria. Os professores eram selecionados por currículo. Os

conteúdos abrangiam as diversas disciplinas do currículo regular das

escolas públicas. Iniciava logo depois da transmissão da Hora do

Brasil, as 19:30 min, para se adequar ao horário de alunos

trabalhadores, que configurava a maioria da clientela. Os alunos

ouviam a transmissão das aulas, através do rádio, com o suporte das

apostilas e, depois faziam os exercícios também nas apostilas. A

turma apresentava sempre muita dificuldade no entendimento dos

conteúdos e, muitas vezes, a monitora terminava dando aulas

expositivas para suprir as necessidades de aprendizagem dos alunos.

O Rádioposto em que eu trabalhava era em uma Unidade do SESC,

localizada no bairro 18 do Forte, bem distante de onde eu morava. No

entanto, eu já realizava a minha prática no ensino regular,

indispensável à conclusão do Curso de Pedagogia. (LIMA, 2015, s/p).

O ex-aluno de Pedagogia e também ex-monitor do Minerva, José dos Anjos,

ressaltou a importância do projeto e a qualidade dos fascículos utilizados no programa,

emitidos pelo governo federal. Segundo ele, o monitor tinha uma atuação fundamental no

processo de ensino-aprendizagem dos alunos, pois atuava como um complementador de

informações:

O curso do projeto Minerva foi um curso extraordinário, tinha

apostilas, era um material didático muito bom, que vinha do governo

federal. Ele era transmitido pelo rádio, era tudo uniforme, e o monitor

era para tirar dúvidas e prestar esclarecimentos, seria uma espécie de

complementador das informações. Na terminologia era monitor, mas

no contrato vinha como professor. (ANJOS, 2015, s/p).

Os monitores também esclareciam dúvidas e promoviam debates acerca dos

assuntos propostos pelos professores-locutores, associando o conteúdo a realidade dos

estudantes. Dessa forma, os alunos frequentavam diariamente os rádiopostos, sob a

supervisão de um monitor para acompanhar as rádioaulas e desenvolver as atividades dos

fascículos distribuídos pelo programa. A transmissão via rádio ocorria à noite, das 20:00

as 20:30, mas após as aulas os alunos permaneciam nos postos até às 22:00 horas para a

resolução e correção das atividades, como narra a ex-coordenadora do Projeto Minerva

nacional, Marlene Bois:

Aquele monitor era orientado a aplicar, sempre que possível, os

conhecimentos abordados no curso à realidade onde o aluno vivia.

[...]A dinâmica era a seguinte: o aluno chegava às sete e meia, lia o

conteúdo da aula, ele sabia qual era a aula, tinha o mapa de que aula

ia ouvir; das 8 às 8:30, ele ouvia a aula, depois ficava para trabalhar

os conteúdos e os exercícios que estavam no fascículo. Nós estávamos

garantindo qualidade da informação, porque nós não tínhamos

professores formados no Brasil inteiro em número suficiente.

(BLOIS, s/d, s/p).

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Desta forma, a atuação dos monitores de Pedagogia era indispensável ao

programa, devido a sua mediação entre as aulas, desenvolvidas via rádio e fascículos, e

os alunos. O objetivo era prepará-los para realizar os exames supletivos ao final do curso,

caso aprovado recebiam o diploma de conclusão do ensino de 1º ou 2º graus.

Para utilizar os recursos disponíveis nos rádiopostos e o material de apoio,

acadêmicos participavam de cursos de treinamento promovidos pela coordenação

estadual do Projeto Minerva, em parceria com a Secretaria Estadual de Educação.

Estudantes de Pedagogia integravam ao programa, ainda no 1º ano do curso, como

ocorreu com quatro alunos da turma de 1970255:

Figura 39 - Treinamento de alunos do curso de Pedagogia para atuar no Projeto Minerva

(1970)

Fonte: Comunicado do Secretário de Educação e Cultura do Estado de Sergipe, Nestor Piva. Acervo: Arquivo Central da UFS.

255 Maria Valdecir Dantas, Elizabete Melo, José dos Anjos e Maria Pereira Santos.

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Outros estudantes de Pedagogia, também atuaram como monitores do Projeto

Minerva ainda no primeiro ano da graduação. Isso ocorria, sobretudo, devido a ampliação

do campo de atuação do curso, após a regulamentação definida pelo Parecer CEF nº

252/69, e o pequeno número de profissionais formados na área:

Visto pelo lado prático da profissionalização, naquele momento

histórico, o Curso de Pedagogia era um curso bem reconhecido, tinha

pouco tempo de existência, no estado, portanto, com poucos

professores graduados na área. Tanto que éramos absorvidos pelo

mercado de trabalho, ainda como alunos. Muitos de nós saíamos do

Curso com o emprego certo. Os estágios ajudavam a fazer contratos

temporários, e, os concursos eram mais frequentes pela escassez de

profissionais, com grau em Pedagogia. No 2º semestre, de 1973 fui

selecionada para monitora do Projeto Minerva, do Ensino Supletivo,

e posteriormente, trabalhei no Ensino Supletivo na parte de Exames.

Havia facilidade para trabalhar nos programas do governo. (LIMA,

2015, s/p).

Para a formação dos monitores também eram realizados encontros e congressos

pela direção nacional a fim de promover a atualização das equipes locais e obter

informações a respeito do andamento do Minerva no Estado. Os coordenadores e

supervisores estaduais orientavam permanentemente os monitores na aplicação do

projeto, pois esses ficavam responsáveis pelos rádiopostos e pela assistência pedagógica

destinada aos alunos que os frequentavam:

Nós fizemos muitos encontros que chamávamos de Encontros

Regionais do Minerva. Começamos com encontros nacionais que, em

geral, eram aqui no Rio. Depois, passamos a promover os encontros

regionais – reunimos o pessoal do nordeste, do sudeste, do sul, do

norte e do centro-oeste, sempre numa capital da região. Chegamos

também a fazer os encontros estaduais, até pela própria iniciativa das

secretarias. Nós mandávamos um professor nosso para acompanhar e

ajudar a organizar o evento. Fazíamos isso antes de cada novo

lançamento dos cursos e quando o curso já estava pela metade ou

mais. (BLOIS, s/d, s/p).

Dessa forma, o Projeto Minerva nacional em parceria com a Secretaria Estadual

de Educação, disponibilizava os rádiopostos, a transmissão das aulas, os fascículos e a

presença diária do monitor, na capital e nos municípios sergipanos, para oportunizar o

ensino de jovens e adultos. Nesse contexto, o egresso do curso de Pedagogia, José dos

Anjos, narrou as contribuições do programa em Sergipe, destacando a formação de

policiais miliares e de presidiários que não tiveram acesso à escola durante a infância e

juventude:

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Marta Cruz foi uma das pioneiras do projeto Minerva aqui em Sergipe

e eu era monitor do curso ainda como estudante de Pedagogia, e a

gente deu uma contribuição muito forte na qualificação de muitos

soldados que não sabiam nem assinar o nome. Para a polícia, o projeto

Minerva teve essa contribuição, inclusive nos presídios, é porque essa

história não foi contada, mas o curso do Minerva alcançou, naquela

época, até os presídios. Os policiais que prestavam serviços nos

presídios também vinham para o prédio da Polícia Militar aqui no

Quartel Central para ter aulas que eram realizadas a noite. Na época

eu era monitor, o termo era esse, monitor do projeto Minerva, e recebi

inclusive remuneração. (ANJOS, 2015, s/p).

Nesse sentido, podemos observar as particularidades e as contribuições dos

programas de alfabetização e de educação de jovens e adultos para a implantação do

projeto desenvolvimentista e modernizador daquele período. Apesar das falhas e críticas

direcionadas aos projetos da Cruzada ABC, MOBRAL e Minerva, desenvolvidos durante

as décadas de 60 e 70 do século XX no Brasil, é necessário ressaltar a importância de tais

iniciativas para a construção do modelo de nação planejada pelo Governo Civil-Militar

(1964-1985).

Dentre as principais preocupações e questões a serem priorizadas para a

implantação do novo projeto, estava o combate ao analfabetismo e a formação de mão de

obra qualificada:

A utilização de todos os instrumentos à mão para melhorar a política

educacional na área do ensino primário e da alfabetização de adultos

foi preconizada pelo Ministro da Educação, Sr. Jarbas Passarinho, que

divulgou seu plano de ação para o ano de 1970 naquela pasta. O

Ministro Jarbas Passarinho diante da qualificação deplorável da mão-

de –obra brasileira, tornam-se imperiosos o aumento dos índices de

escolarização na faixa etária dos 7 aos 14 anos e o combate radial ao

analfabetismo, visando em 1972, a sua redução de 19 para 10 milhões.

[...] A redução que se propõe fazer o Ministro da Educação, em dois

anos – de 19 para 10 milhões de analfabetos – surpreendeu aos

técnicos daquele Ministério, que vêem na decisão “uma firme vontade

de produzir uma dinamização violenta no processo educacional do

país. (GAZETA DE SERGIPE, 13/01/1970).

Diante dessa iniciativa, estudantes de Pedagogia da Universidade Federal de

Sergipe foram requisitados para participar da implantação e funcionamento dos projetos

referentes ao processo de alfabetização e o ensino de 1º e 2º graus de jovens e adultos. No

que se refere ao Minerva, a ex-coordenadora Marta Vieira Cruz, ressaltou a importância

deste programa na formação profissional de ex-alunos do referido curso:

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Destaque importante foi a contribuição do Projeto Minerva para a

formação de profissionais da mais alta competência no cenário

sergipano em várias áreas do conhecimento. A saber: Dr. Evandro de

Sena e Silva (Medicina), Tereza Souza Cruz (Geografia), Dilma

Maria Andrade de Oliveira (Pedagogia), Maria de Fátima Monte

Lima (Pedagogia), Diná Andrade (Serviço Social), Diana Andrade

(Medicina), José dos Anjos (Pedagogia), entre outros. (CRUZ, 2015,

s/p).

No âmbito local, esses programas representavam para muitos sergipanos o único

acesso à escolarização, especialmente, para os moradores de bairros pobres, pequenas

cidades e povoados que não possuíam escolas.

O envolvimento dos acadêmicos nessas campanhas, possibilitou contribuições

para a própria formação profissional, experiência remunerada enquanto estudante, e a

oportunidade de ocupar diferentes áreas do campo educacional sergipano. Além disso,

favoreceu a atuação em programas oficiais do governo e a permanência nesses órgãos,

mesmo após a conclusão do curso.

4.3 – O EXERCÍCIO DOCENTE DOS LICENCIADOS: PROFESSORES DO CURSO

NORMAL E DA HABILITAÇÃO ESPECÍFICA PARA O MAGISTÉRIO (HEM)

Entre meados da década de 60 e início da década de 70 do século XX reformas

educacionais foram planejadas para atender a todos os níveis de ensino, do primário ao

superior. A mobilização do Governo Federal em efetuar tais mudanças foi despertada

pelas reivindicações estudantis e pela necessidade de adequar o programa educacional ao

seu projeto político modernizador e desenvolvimentista.

No que se refere ao ensino superior, Motta (2014) ressaltou o esforço do Governo

Civil Militar para aplacar os descontentes e seduzir as elites intelectuais, destacando as

medidas contraditórias do plano modernizador-autoritário. Segundo esse autor, as

políticas estatais para esse nível de ensino foram elaboradas com estratégias de

moderação, pois as relações da ditadura com o meio acadêmico não foram permeadas

somente do autoritarismo, mas também dos “jogos de acomodação”. Esta flexibilidade

derivou-se da própria estrutura política do regime, a qual desfrutava da aproximação de

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grupos ideologicamente distintos e, consequentemente, das pressões exercidas por eles

para atender a interesses diversos256.

No seu estudo, Motta (2014) acrescenta que o governo da época apropriou-se do

projeto de reforma universitária reivindicada pela classe estudantil e planejada pelo grupo

político pré-64, os quais defendiam, dentre outras iniciativas, a democratização do acesso

às faculdades, criação da carreira docente, aumento do número de cursos e vagas, fomento

à pesquisa e à extensão, criação de cursos de pós-graduação e dedicação de tempo integral

dos professores.

Em Suma o projeto modernizador-autoritário conduzido pelos

militares e seus aliados civis se inscreveu na cultura política do país,

que é propícia à flexibilidade, a jogos de acomodação e a práticas

ambíguas, principalmente como estratégia para evitar grandes

conflitos sociais e para excluir os setores subalternos. Ele foi um

experimento paradoxal, que aliou modernização e conservação,

repressão e acomodação, violência e negociação. Inevitavelmente, os

resultados desse processo trouxeram também as marcas da

ambiguidade: ao mesmo passo em que consolidaram disparidades

sociais e regionais e intensificaram relações de poder autoritárias,

lançaram as bases para a criação de instituições de ensino superior e

de pesquisa úteis ao desenvolvimento do país. (MOTTA, 2014, p.

355).

Dessa forma, compreendemos que o governo ditatorial (1964-1985) não foi

constituído somente por militares, uma vez que aliados civis participaram ativamente da

elaboração e implantação de projetos durante aquele regime. Além disso, muitas decisões

foram tomadas mediante acordos e divergências entre os diferentes grupos que

permeavam militares e civis.

Apesar de compreender que a intervenção política dos grupos militares era mais

evidente, verificamos que as medidas adotadas para a reformulação do ensino também

estavam associadas aos acordos e disputas, a fim de atender às demandas dos estudantes,

professores e Governo. Esta disposição refletiu nas deliberações acerca das políticas

educacionais do país, mediante leis e decretos.

Nesse sentido, a legislação associada ao ensino de 1º e 2º graus257 também foi

construída a partir dos anseios de diferentes grupos, pois o Governo entendia que era

256 Segundo Motta (2014), a flexibilidade e a acomodação contribuíram para que os agentes do Governo

Civil Militar saíssem do poder sem julgamentos ou punições. No entanto, vale ressaltar que em Sergipe

muitos desses agentes não saíram do poder, e permanecem atuando politicamente até os dias atuais. 257 De acordo com o relatório do Grupo de Trabalho para a Reforma do Ensino de 1º e 2º graus, a proposta

do anteprojeto era promover a atualização e expansão do ensino, considerando as diferenças regionais e a

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necessário garantir legitimidade ao projeto para ser implantado com a mínima resistência.

Para isso, algumas estratégias foram utilizadas a fim de facilitar a adesão de estudantes e

professores à reforma do ensino, a exemplo do envio do anteprojeto de lei aos conselhos

estaduais de educação, a promoção de debates com estudantes universitários e o uso da

imprensa como um importante meio de divulgação e discussão dos trabalhos.

No caso da implantação da Lei 5.692/71, apesar de vir de um regime

ditatorial, centralizador verifica-se que, para implantá-la, usou-se de

várias estratégias, conferindo grandes espaços às negociações, a

articulação com diferentes grupos, com distintos interesses, por saber

que o sucesso da reforma, especialmente no âmbito da formação de

professores, também precisava se apresentar como a implantação de

uma nova ordem. Essas estratégias ficam evidentes na formação do

GT responsável pela composição das linhas gerais do que veio a ser

a Lei 5692/71 [...]. (FRANKFURT, 2011, p. 202).

O investimento para legitimar a reforma mediante o argumento da consulta

pública era a estratégia mais eficaz do Governo para convencer a população sobre os

encaminhamentos que se pretendia dar à educação e implantar seu projeto com o mínimo

de desgaste político. No entanto, a autonomia nas discussões e sugestões não significava

uma construção democrática, visto que as deliberações apresentadas no anteprojeto de lei

passavam pelo crivo do Ministro da Educação e Cultura, Jarbas Passarinho258, e dos

integrantes do Conselho Federal da Educação259:

Percebe-se, assim, que a metodologia utilizada pelos membros do GT

não se limitava à elaboração de uma proposta técnica para o ensino

de 1º e 2º graus, mas contemplava também posturas políticas, a fim

de preparar a opinião pública para receber favoravelmente as medidas

a serem implantadas, não como uma imposição do governo, mas

como uma necessidade reconhecida e clamada pela sociedade.

(FRANKFURT, 2011, p. 97).

As leis nº. 5.540/68 e 5.692/71, implementadas durante o Governo Civil Militar

(1964-1985), estabeleceram diretrizes para a organização e funcionamento do ensino,

qualidade do ensino. Para isso, a primeira decisão tomada pelo grupo foi a extinção do exame de admissão

(FRANKFURT, 2011). 258 Dentre as recomendações do ministro da Educação e Cultura, Jarbas Passarinho, estava a erradicação do

analfabetismo, a extinção dos exames de admissão e a formação de mão de obra especializada para atender

às necessidades sociais e econômicas dos estudantes e do país. Segundo Jarbas Passarinho, o Estado deveria

promover iniciativas que corrigissem a desigualdade social e garantissem oportunidades aos trabalhadores

e aos seus filhos, a partir do aumento da obrigatoriedade do ensino (7 a 14 anos), incentivo aos programas

de alfabetização de adultos e a ênfase nas habilitações profissionais de 2º grau. (FRANKFURT, 2011). 259 Segundo Frankfurt (2011), o ministro da Educação e Cultura, Jarbas Passarinho, e integrantes do

Conselho Federal de Educação sugeriram emendas ao anteprojeto.

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respectivamente, do nível superior e das escolas de 1º e 2º graus260. Para legalizar suas

ações políticas, outros instrumentos normativos foram instituídos, através de decretos-

leis editados pelos presidentes da República, portarias ministeriais do MEC, além de

pareceres, indicações e resoluções261 aprovados pelo Conselho Federal de Educação. Este

executava suas atribuições legais da seguinte maneira:

Pareceres são proposições em que as Câmaras e as Comissões se

pronunciam sobre a matéria a elas submetidas. As indicações são de

iniciativa dos próprios conselheiros e, em muitos casos, vêm

acompanhadas de propostas de resolução. As resoluções aprovadas

pelo plenário do Conselho são atos de caráter normativo firmados

pelo presidente. (FERREIRA, 1990, p. 127).

Em Sergipe, tais diretrizes possibilitaram a ampliação no número de escolas e

vagas, permitindo aos estudantes um maior acesso aos diferentes níveis de ensino262. Para

isso, cursos destinados à formação dos professores passaram a ser realizados com maior

frequência na capital e no interior, em parceria entre a Secretaria Estadual de Educação,

o Ministério da Educação e Cultura263 e a Universidade Federal de Sergipe.

Dessa forma, empenhado em garantir a formação de dirigentes e técnicos para

contribuir com o projeto modernizador e desenvolvimentista do país, o Governo Civil

Militar investiu na ampliação de escolas e no corpo docente. No que se refere a este

último, o Governo intensificou a valorização profissional e sua formação, por meio da

implementação de programas de ensino, a obrigatoriedade de concursos, planos de

carreira, piso salarial, cursos de aperfeiçoamento e dedicação de tempo integral. Ao

reiterar legalmente essas vantagens, os professores licenciados pela Faculdade de

260 O ensino primário na lei nº. 4.024/61 era formado de quatro séries anuais, e o ensino médio compreendia

dois ciclos: ginasial de quatro séries e colegial de três anos. Na lei 5.692/71 unem-se o primário e o ginásio,

formando o ensino de 1º grau (1ª a 8ª série), e o 2º grau substituiu o antigo colegial. Portanto, no decorrer

do trabalho também se utilizam os termos 1º e 2º graus. 261 Os pareceres do CFE procuravam assegurar a lei, complementando seus artigos quando estes eram

considerados passíveis de errôneas interpretações. 262 Durante a década de 70 do século XX, a Secretaria de Educação e Cultura do Estado, detentora da maior

rede de ensino de Sergipe, ampliou o número de escolas e matrículas. Para isso, além de construir unidades

de ensino, como o Colégio Leite Neto (1969), Castelo Branco (1970), Costa e Silva (1970), Batistão (1970)

John Kenedy (1972), Leandro Maciel (1972), Médici (1974); alugou e comprou instituições particulares, a

exemplo do Colégio Tobias Barreto (1976), Walter Franco (1972) e Nossa Senhora de Lourdes (1974). 263 Especialmente, através de órgãos como INEP, Programa de Expansão e Melhoria do Ensino (PREMEN),

Programa de Aperfeiçoamento do Magistério Primário (PAMP), Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão

do Ensino Secundário (CADES) e Inspetoria Seccional do Ensino Secundário. Também havia convênios

com agências internacionais, como a United States Agency for International Development (USAID)

e International Bank for Reconstruction and Development (BIRD).

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Filosofia passaram a reivindicar seus direitos, mediante a Associação dos Professores

Licenciados do Brasil – Seção Sergipe,

Professores licenciados pela Faculdade de Filosofia da Universidade

de Sergipe reuniram-se no início da semana, para debaterem o

problema da prioridade para a admissão de professores por parte dos

ginásios da capital, que estão preterindo os professores licenciados,

em favor dos que realizaram o curso da CADES. Os professores

pretendem ir a Seccional e ao Secretário de Educação para debaterem

o problema, e no momento realizam pesquisas para saber realmente

quantos professores licenciados pela FFUFS264 estão sendo

aproveitados. [...] Segundo os formandos em Filosofia, o

aproveitamento de pessoal recentemente licenciado pela CADES, é

feito por razões de economia por parte dos diretores de

estabelecimentos de ensino, que preferem estes últimos contratando-

os por preço mais acessível. [...] Os problemas se estende também aos

acadêmicos da Faculdade de Filosofia – em número de 100 nos

diversos institutos – que também reivindicam a prioridade na

contratação para o professorado nos ginásios oficiais e particulares.

(DIÁRIO DE ARACAJU, 08/03/69).

Diante das reivindicações acerca da prioridade no exercício docente do ensino

médio, a Inspetoria Seccional do Ensino Secundário de Aracaju, órgão representante do

MEC em Sergipe, precisou posicionar-se acerca do assunto, saindo em defesa dos

professores diplomados pelas FAFIs, devido à determinação da Portaria Ministerial nº

142, de 27 de maio de 1965265.

264 O jornal Diário de Aracaju (08/03/69) utilizou a sigla FFUFS para referir-se à Faculdade de Filosofia da

UFS. 265 Os professores habilitados pelos exames da CADES podiam atuar em colégios do ensino médio, desde

que houvesse vagas e a ausência do professor formado pela Faculdade Católica de Filosofia para lecionar.

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Figura 40 - Comunicado da Inspetoria Seccional de Sergipe (1969)

Fonte: Diário de Aracaju, 24/08/1969. Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

Na prática, professores licenciados pela Faculdade Católica de Filosofia e,

posteriormente, pela Faculdade de Educação da UFS, empenharam-se para conquistar a

autoridade sobre os direitos garantidos legalmente e serem incorporados

profissionalmente nas instituições de ensino266 e nos órgãos administrativos da área

educacional. A mobilização mediante campanhas na imprensa e o apoio de professores

da Faculdade de Filosofia267, foram um importante recurso utilizado nesse processo de

legitimação268.

266 Pela análise compreende-se que os professores “licenciados” exerciam suas atividades em escolas, mas

não havia a prioridade da docência, o que desprestigiava o grupo. 267 Os professores da Faculdade de Filosofia exerciam autoridade no campo educacional e político, inclusive

possuíam cargos de gestão nos órgãos de Educação, tanto do Governo Federal quanto do Estadual. 268 O movimento produziu efeitos positivos para a categoria, sobretudo com relação à admissão dos

licenciados e a realização de concursos destinados à estabilidade de professores e especialistas interessados

em atuar nas escolas e órgãos oficias do Estado. No entanto, a cultura do “pistolão” permaneceu durante a

década de 70 do século XX.

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Ao mesmo tempo iniciamos uma campanha junto as autoridades e à

imprensa no sentido de que se cumpra as portarias do Sr. Ministro da

Educação e do Sr. Diretor de Ensino Secundário dando prioridade ao

licenciado nas funções magisteriais. [...] Fizemos entrega ao Sr.

Governador do Estado de um abaixo assinado contendo setenta e

cinco assinaturas, solicitando o cumprimento das ditas portarias e

fazendo sentir a situação de desprestígio do licenciado, igualado

aquele que apenas recebeu uma simples autorização da Inspetoria

Seccional para lecionar. (A CRUZADA, 05/04/69).

Para Nunes (1969), o prestígio do exercício docente nas escolas de nível médio

não era o mesmo após a década de 50 do século XX269, pois a prática da docência nessas

instituições de ensino não se restringia prioritariamente aos professores com elevada

formação acadêmica e notoriedade intelectual. Segundo ela, a contratação do corpo

docente era mediada, sobretudo, por indicação política, permitindo o ingresso de

estudantes universitários sem compromisso com o magistério e profissionais liberais sem

preparo didático para lecionar:

O magistério secundário ao qual pertencia a elite intelectual sergipana

se foi esvaziando. Só permaneceram alguns idealistas. Afinal

chegamos aos dias atuais em meio a uma situação caótica quando o

magistério é apenas um “bico”270 que serve de complementação ao

orçamento. Domina a improvisação com profundas repercussões na

formação da juventude, despreparada para enfrentar os vestibulares

ou os concursos que surgem. (A CRUZADA, 01/11/69).

A professora Maria Thétis Nunes, titular da disciplina Cultura Brasileira do curso

de Pedagogia da UFS, participou do movimento dos licenciados da FAFI, publicando

várias matérias nos jornais sergipanos com o objetivo de criticar essa prática, divulgar a

prioridade legal dos diplomados na regência de aulas do ensino médio, mobilizar os

docentes e pressionar as autoridades políticas ao cumprimento da lei:

269 A partir de 1948, com a criação das instituições de nível superior, muitos intelectuais passaram a atuar

nas faculdades. 270 Em 1968, a autora já havia publicado uma matéria denunciando o descaso com o exercício docente,

utilizando pela primeira vez a expressão “bico”: “O interessante - ou desinteressante – é que a maioria

desses últimos não se constitui dos verdadeiros profissionais do magistério. São professores eventuais,

entrosados com maior frequência no ensino médio, que dão aulas para fazerem “bicos”, pois se dedicam

evidentemente com maior interesse a outras profissões mais rendosas. Alguns deles são bacharéis, altos

funcionários do Governo, médicos, deputados e até fazendeiros, que cavaram uma nomeação para ensinar

quando era mais pobre, ou mesmo recentemente, a fim de vencer mais uns cruzeiros para suas despesas”

(DIÁRIO DE ARACAJU, 15/03/68).

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Nós somos contra o curso da C.A.D.E.S. Através de experiência

pessoal como professora de muitos deles realizados em diversas

capitais do Brasil, conhecemos sua utilidade para aquelas localidades

onde não existem egressos da Faculdades de Filosofia. Mas onde elas

existem, seus alunos tem o direito garantido pela legislação vigente.

[...] É imprescindível e urgente que entre nós se “profissionalize” o

professor como vem fazendo nos demais estados brasileiros, porque

a Medicina, a Engenharia, a Advocacia, a Assistência Social, por

exemplo, só podem ser exercidos por egressos das respectivas

Faculdades, enquanto o professor secundário pode ser qualquer leigo

apesar da existência entre nós, há 18 anos, de uma Faculdade

especializada271, atualmente integrada na Universidade e gozando dos

mesmos direitos das demais? (A CRUZADA, 15/03/1969).

Apesar da Faculdade Católica de Filosofia licenciar professores desde 1954, a

primeira turma de Pedagogia formou-se apenas em 1971, devido ao atraso na instalação

do curso. Nesse processo, acadêmicos enfrentaram resistência para lecionar nas

disciplinas pedagógicas do Instituto de Educação Rui Barbosa272, mesmo compreendendo

um espaço legalmente definido para a atuação dos licenciados em Pedagogia desde 1939,

como retrata esta ex-aluna:

Então, pela lógica, teríamos que ir para a Escola Normal, porque era

o órgão do Estado que tinha os cursos pedagógicos, e aí chamávamos

esse pessoal que já tinham esses cursos para também fazer o

Adicional. Mas, devido a alguns problemas políticos, não foi possível

realizar o curso Adicional lá [...]. Quando nossa turma começou a

ocupar espaço, isso amedrontou muitos professores que já atuavam e

não tinham formação superior, principalmente da Escola Normal.

Mas a diretora da época era uma ótima profissional e as professoras

que já atuavam lá faziam um trabalho belíssimo na escola. (LAGO,

2015, s/p).

Tal divergência foi motivada pelo fato de o Instituto de Educação Rui Barbosa ter

sido, desde sua criação, reduto de diferentes profissionais liberais e por ter conservado

até a década de 60 do século XX um corpo docente formado, especialmente, por padres,

engenheiros, professores habilitados pela CADES, médicos e bacharéis em Direito.

Entretanto, diante da implantação do curso de Pedagogia em 1968 e da prioridade legal

dos seus estudantes na docência daquela unidade de ensino, iniciou-se uma campanha de

regulamentação mediante as reivindicações da Associação dos Professores Licenciados:

271 A professora Maria Thétis Nunes se refere à Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. 272 Também conhecida como Escola Normal.

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Na última quinta-feira, o Sr. Secretário ainda convidou o Diretório da

Associação, para com ele, estudar a situação dos professores da

Escola Normal, conforme relação enviada à Secretaria pela sua

Diretoria, a fim de que sejam feitas as possíveis substituições de

professores apenas autorizados (CADES), pelos licenciados.

Achamos que a atitude do Sr. Secretário demonstra zelo pela causa da

Educação. E nós, prontos a colaborar, daremos a esta causa, o máximo

de nós mesmo. Este é o pensamento da Diretoria da Associação dos

Professores Licenciados de Sergipe. Nesta hora em que todas as

profissões se impõem, em que o técnico é valorizado, nós, “técnicos”

da engenharia humana, não poderíamos deixar de exigir o nosso lugar

ao sol, já que para isso trabalhamos. (A CRUZADA, 05/04/69).

Dessa forma, a atenção das autoridades políticas dedicada à causa dos licenciados

gerou um desconforto entre os professores que já atuavam no Instituto de Educação e não

tinham a formação superior em Pedagogia para permanecer lecionando. Tais disputas

foram divulgadas publicamente por meio da imprensa, que também tratou de harmonizá-

las imediatamente:

Estivemos em visita de cordialidade no Colégio Jackson de

Figueiredo, no Ginásio Pio X, no Instituto de Educação Rui Barbosa

e no Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Sergipe. Estas

foram algumas das visitas que havíamos programado fazer aos

Diretores de Estabelecimentos de Ensino Médio da Capital, numa

tentativa de entrosá-los com os objetivos e fins da nossa Associação.

No Instituto de Educação Rui Barbosa aproveitamos da oportunidade

para esclarecer à ilustre Diretora o mal entendido que havia surgido

em virtude de uma nota do Jornal Diário de Aracaju sem que a

Associação tivesse fornecido qualquer informação ou autorização

para tal. D. Maria das Graças sensibilizada, levou-nos a visitar toda a

Escola em funcionamento num clima de muita ordem e solidariedade

[...]. (A CRUZADA, 19/04/69).

Na oportunidade, professores que lecionavam no curso Pedagógico do Instituto de

Educação Rui Barbosa e não tinham diplomas de nível superior foram sendo substituídos

paulatinamente. O aumento no número de turmas decorrente da ampliação do prédio em

1968 e a necessidade de substituir professores afastados e/ou em processo de

aposentadoria facilitaram o ingresso dos licenciados em Pedagogia e a aquisição de

prestígio perante a instituição.

A partir do segundo ano de faculdade a lei dava o direito de ter o título

precário de professor, então enquanto estudante universitário, você já

podia ser professor porque não havia professor suficiente para lecionar.

Então, quando eu estava no 4º ano, fiz meu cadastro na DEA e fui

selecionada para ensinar Sociologia, substituindo o professor Joviniano,

porque ele era professor da Universidade Federal, do curso de Direito, e

era catedrático da Escola Normal na área de Sociologia. Então, ele havia

se aposentado e eu o substituí. (VIEIRA, 2015, s/p).

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Apesar das divergências e disputas para assumir a docência no Instituto de

Educação Rui Barbosa, os acadêmicos e diplomados do curso de Pedagogia da UFS não

apresentaram dificuldades para ingressar profissionalmente no campo educacional

sergipano. Inclusive, convites foram destinados aos estudantes e egressos para lecionar

nos demais cursos pedagógicos da capital, ofertados no Colégio Patrocínio de São José,

Instituto Dom Jose Tomaz, Colégio Pio Décimo, Colégio Nossa Senhora de Lourdes e

Colégio Tiradentes273.

Após a implantação da Lei nº. 5.692 de 1971, o campo de atuação dos licenciados

em Pedagogia expandiu-se, pois, a obrigatoriedade das habilitações profissionais no

ensino do 2º grau, sendo o Magistério uma delas274, proporcionou o crescimento do

número de instituições destinadas a atender a essa nova política de formação docente. Em

Sergipe, licenciados em Pedagogia pela Universidade Federal de Sergipe foram

convidados pela Secretaria de Educação e Cultura (SEC) para implantar as escolas

experimentais dessa habilitação e lecionar nos cursos.

Quando nós formamos em 72, fomos para o Colégio Arício Fortes,

Lucinha como diretora, porque havia feito Administração Escolar.

Em 1971, saiu a Lei nº. 5.692, então essa lei criou o 1º e o 2º graus, e

os professores do curso Normal poderiam fazer mais um ano, que

seria o 4º ano, o qual chamava de curso Adicional que dava direito a

elas de ensinar a 5ª e a 6ª séries do 1º grau. Então, para ensinar a esses

professores da 5ª e 6ª séries do 1º grau teria que ser nós, que éramos

pedagogos [...]. Como tinham criado o Arício Fortes, uma escola

novinha, então passou a ter o curso Pedagógico de 2º grau. Em vez de

ser de 1º grau, ele era como um laboratório onde funcionavam os três

turnos e tinha o Adicional, no turno da noite. Aí quem não tinha

vínculo com a Escola Normal foi trabalhar no Arício Fortes. Fomos

eu, Edmar, Lucinha e Aninha275, que era a orientadora educacional. O

Arício Fortes foi implantado como mandava o figurino: a Lei n°.

5.692. (LAGO, 2015, s/p).

A Lei nº. 5.692/71, ao estabelecer a escolaridade obrigatória dos 7 aos 14 anos e

extinguir o exame de admissão, que impedia uma parcela dos estudantes a prosseguir seus

273 O curso Normal do Colégio Nossa Senhora de Lourdes, do Colégio Patrocínio São José e do Colégio

Tiradentes haviam sido instalados, respectivamente, nos anos de 1932, 1949 e 1962. 274 O Parecer nº. 349/72 do CFE, aprovado em 6 de abril de 1972, organizou a Habilitação Específica para

o Magistério (HEM) em duas modalidades básicas: uma com a duração de três anos (2.200 horas), que

habilitaria a lecionar até a 4ª série; e outra com a duração de quatro anos (2.900 horas), habilitando ao

magistério até a 6ª série do 1º grau, para ensinar as matérias de Comunicação e Expressão, Ciências ou

Estudos Sociais. O currículo mínimo compreendia o núcleo comum, obrigatório em todo o território

nacional para todo o ensino de 1º e 2º graus, destinado a garantir a formação geral; e uma parte diversificada,

visando à formação especial nas diferentes habilitações (BRASIL, 1972b). 275 A ex-aluna Lilian Leal do Lago se refere a Maria Lúcia Souza Ramos Berger (1968-71), Ana Maria

Dantas Soares de Carvalho (1968-71) e Edmar Neris dos Santos (1969-1972).

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estudos, proporcionou o aumento no número de escolas de 1º e 2º graus276 e intensificou

a qualificação do corpo docente para atuar nessas instituições277. Diante disso, a mesma

lei determinou que o curso de formação de professores primários ofertados,

especialmente, nas Escolas Normais e Institutos Pedagógicos fosse ministrado nas escolas

do 2º grau, como habilitação profissional278.

Assim as medidas e argumentos apresentados no relatório revelam

que, além de não promover a ruptura na escolarização até os 14 anos,

buscava-se expandir a formação de professores, especialmente no que

se refere à formação média, para outras instituições de ensino, sem

que fosse preciso estar restrita às escolas Normais. Com isso o intuito

era aumentar o quantitativo formado. Pelos argumentos dos relatores

verifica-se que a preocupação com o quantitativo não estava

deslocada da preocupação com o qualitativo. (FRANKFURT, 2011,

p. 113).

Diante desse novo arranjo na formação do professor primário, os profissionais de

Pedagogia, que até então eram autorizados a lecionar no curso Normal, passaram a

exercer sua docência nas disciplinas específicas da habilitação279. Neste caso, licenciados

da primeira turma de Pedagogia da UFS, que haviam se formado em dezembro de 1971,

passaram a atuar na instalação da Habilitação Específica para o Magistério (HEM), em

nível de 2º grau, no ano seguinte280.

Antes de iniciar o processo de implantação nas escolas oficiais do Estado, a

SEC/SE selecionou uma equipe constituída de diplomados e alunos de Pedagogia para

elaborar um plano de trabalho. Na ocasião, integrantes desse grupo foram a Belo

276 De acordo com Nascimento (2005), no período que compreende os anos de 1964 a 1984, a oferta de

vagas para o ensino público de primeiro grau havia crescido 156,16%, e o segundo grau experimentou um

crescimento de 833,54%. 277 A intenção do ministro da Educação, Jarbas Passarinho, e do Grupo de Trabalho era reduzir a presença

de professores leigos, especialmente no ensino primário. Para isso, era necessário garantir a formação e

valorização do corpo docente. 278 Em Sergipe, a formação de professores em nível médio já era realizada em algumas escolas da capital e

do interior, a exemplo, dos colégios São José, Nossa Senhora de Lourdes e Tiradentes, em Aracaju; e dos

colégios Nossa Senhora das Graças e Sagrado Coração de Jesus, respectivamente, nos municípios de

Propriá e Estância. Além disso, outros cursos profissionalizantes também já eram ofertados associados ao

ensino médio, como o ensino agrícola, comercial e industrial. 279 De acordo com o Parecer 45/72 do CFE, as disciplinas específicas da habilitação, compreendiam: Os

Fundamentos da Educação (Psicologia da Educação, Sociologia da Educação e História da Educação),

Estrutura e Funcionamento de 1º Grau e Didática (incluindo Prática de Ensino). Já o núcleo comum do

ensino de 2º grau era constituído pelas seguintes matérias: Comunicação e Expressão, Ciências, Estudos

Sociais, Educação Moral e Cívica, Educação Física, Educação Artística e Ensino Religioso (facultativo)

(BRASIL, 1972a). 280 As estudantes da primeira turma de licenciados de Pedagogia que atuaram na implantação da Habilitação

Específica para o Magistério (HEM) em Sergipe foram: Evanda Maria dos Santos, Maria Lúcia Souza

Ramos, Maria das Graças Tavares, Ester de Oliveira Souza, Lilian Leal do Lago, Judite Oliveira Aragão e

Ana Maria Dantas Soares de Carvalho.

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Horizonte participar de cursos sobre as diretrizes que regulamentavam a Reforma do

Ensino de 1º e 2º Graus e a Habilitação Específica para o Magistério:

[...] Por outro lado a equipe que foi a Belo Horizonte treinar para a

implantação da reforma do ensino de 2º grau nas escolas Normais de

Aracaju está se reunindo diariamente na SEC para elaboração do

Plano de Implantação, sob a coordenação da profª. Ester de Oliveira

Souza. São coordenadores das áreas as professoras Aurita Vieira

Donald, Ciências; Maria das Graças Tavares, Linguagem; Evanda

Maria dos Santos, Matemática; Edmar Neves dos Santos, Estudos

Sociais; e Maria Lúcia Souza Ramos, diretora do Plano de

Implantação do Ensino Normal. (DIÁRIO DE ARACAJU, 18/04/72).

Além de criar escolas experimentais do Magistério e instalar a habilitação em

escolas de 2º grau já existentes, esse grupo orientou a reformulação do Instituto de

Educação Rui Barbosa e do Colégio Estadual Murilo Braga, os quais ofertavam o ensino

Normal281. Para o aprimoramento pedagógico desses cursos e do corpo docente eram

realizadas reuniões periódicas com as pedagogas que atuavam nessas instituições.

Nesse caso, o atributo legal da docência conferido pelo curso de Pedagogia aos

seus egressos autorizava-os a administrar e lecionar nas disciplinas específicas do

Magistério em nível de 2º grau. No entanto, para o exercício profissional, era necessário

o estudo contínuo, mediante a participação em cursos, congressos e encontros.

Segundo Bourdieu (2007) o diploma escolar é uma representação de um elevado

poder simbólico, devido a disponibilidade de capital cultural e econômico. A obtenção

do diploma, por definição, “fixa” as disposições dominantes. Trata-se de uma delegação

simbólica que desapossa e separa os menos instruídos, em favor dos mais instruídos. No

entanto, o autor ressalta que o acesso a formação e a aquisição de diplomas não garantem,

necessariamente, igualdade social a todos.

A prática docente também exigia “legalmente” o certificado de registro de

professor emitido pelo MEC, detalhando as disciplinas que poderiam ser ministradas por

eles282. A definição dessas matérias de ensino era de competência dos inspetores daquele

órgão, os quais, após a análise do diploma e do histórico do curso de cada licenciado,

emitiam seu parecer ao setor de representação do Ministério de Educação e Cultura, em

281 Maria Lúcia Souza Ramos também contribuiu com a reformulação do curso Pedagógico ministrado na

instituição particular Colégio Patrocínio de São José. 282 De acordo com o Art. 40 da Lei nº. 5.692/71: “Será condição para exercício de magistério ou

especialidade pedagógica o registro profissional, em órgão do Ministério da Educação e Cultura, dos

titulares sujeitos à formação de grau superior” (BRASIL, 1971a).

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Sergipe. Em caso favorável ao registro profissional, era providenciado o certificado em

forma de carteira, como observado no modelo a seguir:

Figura 41 - Carteira de Registro de Professor – 1973 (frente e verso)

Fonte: Certificado de registro de professor. Acervo: particular de Zenilde Soares Pinto.

Contudo, o limitado número de licenciados do curso superior e a expansão das

habilitações do Magistério nas escolas de 2º grau permitiam aos profissionais de

Pedagogia lecionar nas demais disciplinas específicas da habilitação. A demanda também

implicava a contratação de acadêmicos para suprir a ausência dos licenciados.

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Com a formação no Curso de Pedagogia o Estado lhe designava para

ensinar qualquer disciplina do curso Pedagógico. [...] Na época havia

uma carteirinha que definia as disciplinas, mas não havia um rigor com

relação a isso. Você podia ensinar qualquer disciplina; tinha a carteira

definindo as disciplinas, mas isso não qualificava somente para a

docência nelas. (ANDRADE, 2015, s/p).

Dessa forma, como a adesão ao ensino profissionalizante de 2º grau passou a ser

obrigatória283, e também como as escolas públicas necessitavam de professores

diplomados para ensinar, o Governo buscou aliar as necessidades locais às exigências da

Reforma de 1971, instituindo a formação docente em unidades de ensino da capital e do

interior. Nesse contexto, os profissionais de Pedagogia conquistaram prestígio perante o

campo educacional, pois representavam os principais agentes dessa formação.

De acordo com Berger (1993), outro fator determinante para a implantação das

habilitações do Magistério nas escolas sergipana estava associado ao pouco investimento

financeiro que era necessário para o seu funcionamento.

Em Sergipe, a terceira etapa na história do ensino normal caracteriza-se

pela proliferação de cursos que oferecem a habilitação em Magistério no

estado, principalmente no interior, por não exigir grandes investimentos

para sua implantação. Em 1978 existiam 49 unidades escolares que

ofereciam o ensino profissionalizante, 20 das quais ofereciam habilitação

em Magistério, sendo que quatro284 localizadas na capital. (BERGER,

1993, p. 228).

Esse pesquisador acrescentou que dentre as quatros escolas que ofertavam a

Habilitação Específica do Magistério na capital, o Colégio Médici teve o curso

estruturado com algumas características inovadoras, uma das quais, estava relacionada à

presença da disciplina Prática de Ensino, nas três séries. Dilma Maria de Andrade, ex-

aluna de Pedagogia, comentou sobre a qualidade do curso e sua participação na docência

das disciplinas:

Eu sempre ensinei em escolas públicas. Lecionei na Escola Normal e no

curso Pedagógico do Colégio Médici. Esse curso funcionou por algum

tempo e era um bom curso. Mas a Escola Normal era o grande celeiro na

formação de professores primários. Com muitos alunos, funcionava pela

manhã, a tarde e à noite. Creio que nos primórdios do curso de Pedagogia

da UFS, muitos alunos iniciaram sua formação profissional no IERB285.

(ANDRADE, 2015, s/p).

283 De acordo com Valério (2007), um dos fatores que motivou a obrigatoriedade do ensino

profissionalizante estava associado à demanda de estudantes interessados nessa formação. 284 De acordo com o autor do estudo, as quatro escolas públicas da capital que possuíam a HEM,

compreendiam: Escola Normal Rui Barbosa, Colégio Castelo Branco, Colégio Médici e o Colégio Arício

Fortes. 285 A ex-aluna se refere ao Instituto de Educação Rui Barbosa (IERB).

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Com a implantação das habilitações nas escolas do interior sergipano e a

reformulação dos cursos existentes, licenciados em Pedagogia também passaram a atuar

nesses municípios para ministrar as disciplinas específicas da formação especial. Judite

de Oliveira Aragão, ex-aluna de Pedagogia, ensinou no Colégio Estadual de 2º grau

Murilo Braga, localizado em Itabaiana, com o objetivo de capacitar professores para atuar

naquela região:

Em 1969, eu comecei a dar aulas na Escola Normal como professora

contratada, porque era contrato de 20 horas. Trabalhava também

como professora efetiva do Município de Aracaju. Em 1970, pedi

licença da Prefeitura de Aracaju, licença sem remuneração, e fui dar

aulas no Curso Normal do Colégio Murilo Braga, em Itabaiana.

Naquela época, o secretário de Educação estava retirando da rede os

estudantes de outras áreas e professores sem formação superior, e

colocando os alunos de Pedagogia da Universidade. Foi assim que

surgiu a oportunidade de trabalhar lá. (ARAGÃO, 2015, s/p).

Apesar das críticas direcionadas à Habilitação Específica do Magistério de 2º

grau286, faz-se necessário ressaltar a sua importância na formação de professores para

atender à demanda escolar no âmbito local. Além de contribuir com a expansão do ensino,

essa habilitação oportunizou aos seus concludentes a continuidade dos estudos por meio

do ingresso em cursos superiores, especialmente o de Pedagogia287.

Os egressos das habilitações estruturadas em três anos letivos também podiam

complementar por mais um ano sua formação docente através dos Estudos Adicionais.

Esse curso havia sido criado pela Lei nº. 5.692/71 com a intenção de ampliar a atuação

desses professores no ensino de 1º grau. No entendimento do Conselho Federal de

Educação, esses estudos concediam aos professores primários a autorização para ensinar

na 5ª e 6ª séries do 1º grau, a partir da complementação de disciplinas nas áreas de

Comunicação e Expressão, Ciências e Estudos Sociais.

Em Sergipe, acadêmicos e licenciados em Pedagogia participaram da implantação

desses cursos e da docência em suas disciplinas pedagógicas. A primeira iniciativa foi

realizada em 1971, pela Faculdade de Educação/UFS, em parceria com a SEC/SE, cujo

286 Para Tanuri (2000) e Savianni (1982), essa reestruturação do curso Normal descaracterizou e acarretou

prejuízos à qualidade da formação docente. No entanto, para Frankfurt, essas críticas estão mais associadas

à sua relação com o Governo Militar do que propriamente pela análise das práticas de formação instituídas

com a Lei nº 5.692/71. 287 Era facultado aos egressos do ensino de 2º grau, formado em qualquer habilitação profissional, optar

pelos diferentes cursos superiores.

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objetivo era formar professores para atender à expansão e à melhoria do ensino de 1º grau

da rede oficial do Estado288.

De acordo com a diretora da Faculdade, Cacilda de Oliveira Barros, e o secretário

da Educação do Estado, João Cardoso Nascimento Junior289, essa disposição era

transitória, apenas enquanto a FACED/UFS não formava todos os professores do Estado

em nível superior. A execução do curso foi divulgada pela imprensa sergipana:

Figura 42 - Divulgação do curso de Estudos Adicionais (1972)

Fonte: jornal Diário de Aracaju, 06/04/1972.

Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGS).

A participação dos pedagogos concentrava-se na docência das disciplinas

pedagógicas do curso, a exemplo da Psicologia da Aprendizagem, Didática Geral,

Estrutura e Funcionamento do Ensino e Metodologia do Ensino290. Esta última foi

288 O convênio entre a FACED/UFS e a SEC/SE foi firmado mediante resoluções do CONSU/UFS nº. 05/72

e do CEP/UFS nº. 32/72. Os cursos eram realizados no prédio da FACED/UFS, de segunda a sexta-feira

no turno da tarde, e aos sábados pela manhã. Enquanto a Faculdade de Educação se responsabilizava pela

organização pedagógica, recrutamento de professores e espaço físico, a SEC-SE disponibilizava os recursos

financeiros necessários e o campo de estágio. 289 O professor João Cardoso Nascimento Júnior foi reitor da Universidade Federal de Sergipe entre os anos

de 1968 a 1971, isso facilitava sua intermediação com professores da instituição (SILVEIRA, 2008). 290 O currículo do curso compreendia disciplinas de conteúdo específico para cada área, disciplinas

pedagógicas, Educação Moral e Cívica e as práticas de ensino. Nesse sentido, os diplomados em

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lecionada pelo ex-acadêmico de Pedagogia José dos Anjos (1970-1973), quando este

cursava o 5º período da graduação:

Durante o curso de pedagogia eu já dava aula na Pio X e no Colégio

de Aplicação, lecionando nos cursos de formação do magistério. Na

Rua de Campos, era destinado ao pessoal que havia estudado na

escola Normal e que gostaria de ensinar até a 6º série. Então, para o

pessoal ensinar até essa série era necessário concluir o curso de

Estudos Adicionais, do qual participei lecionando, com outros

colegas. (ANJOS, 2015, s/p).

Desse modo, o curso permitiu que professores habilitados para ensinar de 1ª a 4ª

série (do 1º grau), os quais já atuavam nas escolas públicas do Estado, pudessem lecionar

nas duas séries seguintes, mediante a escolha de uma das três áreas de ensino:

Comunicação e Expressão, Ciências e Estudos Sociais. De acordo com a imagem a seguir,

podemos verificar o certificado do citado curso emitido pela FACED/UFS:

Figura 43 - Certificado do curso de Estudos Adicionais (1972)

Fonte: Certificado do curso de Estudos Adicionais, habilitação em Ciências – 1972.

Acervo: Arquivo do Departamento de Educação da UFS.

Pedagogia/UFS que lecionaram no curso, especialmente nas disciplinas pedagógicas, foram: Nádia Fraga

Vilas-Bôas, Maria Cândida Aragão, Maria das Graças Tavares Barreto, Evanda Maria dos Santos e Gerson

Vilas-Bôas. O acadêmico José dos Anjos (1970-1973) participou da docência da disciplina Metodologia e

Prática de Ensino.

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De acordo com a ex-aluna e ex-professora do curso de Pedagogia, Maria de Fátima

Monte Lima, a articulação entre a UFS, estudantes de Pedagogia e a Secretaria de

Educação buscava contribuir com a qualificação docente e a implantação de políticas

educacionais que sinalizavam a expansão e a melhoria na qualidade do ensino no

Estado291.

A articulação entre a Secretaria de Educação e a Universidade Federal

de Sergipe, era grande e promissora. Vários projetos foram

desenvolvidos em parceria com as duas instituições. Tanto o Curso

de Pedagogia, quanto os Cursos das Licenciaturas se beneficiaram

com os estágios nas escolas públicas de 1º e 2º graus, facilitando o

exercício docente do pedagogo em formação. [...] O Departamento de

Educação, inclusive, se especializou tanto em programas de

qualificação para professores do Estado, que pouco se destacava na

produção científica, na área pedagógica. (LIMA, 2015, s/p).

Após a primeira iniciativa realizada mediante convênio entre FACED/UFS e

SEC/SE (1972-1973), os cursos de Estudos Adicionais passaram a ser realizados nas

escolas públicas e privadas, autorizadas pelo Conselho Estadual de Educação. Na

oportunidade, acadêmicos de Pedagogia também atuaram nas demais unidades de ensino:

Enquanto aluna, eu já trabalhava no SENAC, Escola Normal e no

Instituto Dom José Tomaz [...]. No Instituto Dom José Tomaz eu

gostava muito porque funcionava a noite, e era um pessoal muito

comprometido. Na época, eu ensinava no Pedagógico e no Adicional.

Você fazia o Pedagógico e se quisesse ensinar até a 6ª série, o

Adicional te dava direito de lecionar na 5ª e 6ª série. (MELO, 2015,

s/p).

A formação de professores para assumir a docência das escolas de 1º grau era

indispensável a concretização do projeto educacional concebido pelos intelectuais do

Conselho Federal de Educação, pois acreditavam que esse critério era decisivo para o

desenvolvimento quantitativo e qualitativo da escola. No entanto, a presença de

professores leigos ainda era um obstáculo ao funcionamento das instituições de ensino e

a implantação das políticas educacionais do Governo.

291 Essa tendência do curso de Pedagogia da UFS em priorizar a prestação de serviços para a qualificação

docente e de técnicos em Educação implicou na limitação da produção científica, algo que seria superado

a partir de 1980.

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Figura 44 - Notícia sobre a falta de pessoal qualificado para a implantação da reforma do

ensino

Fonte: jornal Gazeta de Sergipe, 05/01/1973. Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

Nesse sentido, acadêmicos e licenciados em Pedagogia passaram a ser referência

no planejamento e implantação dos cursos de formação e qualificação docente em

Sergipe. Esses profissionais também contribuíram com o estudo, elaboração e

implantação de políticas educacionais que visavam atender a uma demanda daquele

momento (melhoria e ampliação do ensino, formação de mão de obra, formação docente,

entre outras). Convém frisar que essa necessidade não atendia somente a interesses de

militares, mas também de diferentes grupos, dentre eles estudantes e professores.

Isso mostra que o projeto básico do Governo Civil Militar, o qual visava à

formação de mão de obra (técnico e dirigentes) para a modernização e desenvolvimento

do país, não estava dissociado da qualidade do ensino e da ampliação do acesso,

especialmente das camadas pobres, pois, além de investir na criação de escolas, valorizou

a formação do magistério.

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4.4 – A DEDICAÇÃO ÀS HABILITAÇÕES: CONTRIBUIÇÕES DO SUPERVISOR,

ORIENTADOR, ADMINISTRADOR E INSPETOR ESCOLAR

A reestruturação nacional do curso de Pedagogia aprovada em 1969 pelo

Conselho Federal de Educação292 permitiu aos seus licenciados e bacharéis transitarem

em diferentes espaços do campo educacional, habilitando-os para atuar, respectivamente,

nos cursos pedagógicos de formação de professores em nível de 2º grau e nas atividades

de Supervisão Escolar, Administração Escolar, Orientação Educacional e Inspeção

Escolar.

A finalidade em atender a uma demanda que ia além da sala de aula; proporcionou

aos seus diplomados um amplo mercado de trabalho, maior reponsabilidade e poder.

Nesse contexto, estudantes e licenciados em Pedagogia passaram a ocupar atividades

docentes e cargos técnicos-administrativos dos órgãos educacionais do estado,

participando na implantação de planejamentos do ensino, orientação pedagógica aos

professores e alunos, realização de cursos e concursos para docentes, promoção de

serviços especializados, levantamento de informações (pesquisas) e atividades de

inspeção.

Dessa forma, os diplomados que egressaram da UFS entre os anos de 1971 a 1977

aproveitaram algumas vantagens de suas posições no campo educacional sergipano, em

virtude da ampliação do perfil profissional do curso (docente e técnico), da carência de

pedagogos no estado, pois eram os pioneiros nessa formação e da conquista de direitos,

oriundos das reivindicações dos licenciados iniciadas ainda na década de 60 do século

XX293.

Dentre os direitos conquistados no âmbito local, os egressos do curso de

Pedagogia da UFS puderam desfrutar da criação dos cargos de Orientador Educacional,

Técnico em Educação e Inspetor de Ensino294, em consequência da aprovação do Estatuto

do Magistério do Ensino Médio de Sergipe, no ano de 1969. Tal documento havia sido

elaborado pelo Grupo de Trabalho destinado a estudar a reformulação das normas

292 De acordo com o parecer nº. 252/69 do Conselho Federal de Educação. 293 O curso de Pedagogia da UFS foi implantado em meio ao movimento de disputas e legitimação dos

licenciados perante o campo educacional. As conquistas impulsionaram a absorção dos licenciados e

bacharéis pelo campo educacional sergipano. 294 A função de inspetor de ensino era exercida pelos integrantes da Inspetoria Seccional do Ensino

Secundário de Aracaju (órgão vinculado ao MEC). Em 1973, quando foi extinta, parte de suas atividades

de inspeção foram transferidas para a SEC/SE, sendo exercidas especialmente por estudantes e diplomados

em Pedagogia.

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técnicas e administrativas do ensino médio, constituído por representantes da Secretaria

de Educação e Cultura do Estado, da Associação dos Professores Licenciados do Brasil

– Secção Sergipe, Faculdade de Educação da UFS e Conselho Estadual de Educação295.

A iniciativa de incorporar tais funções ao Estatuto ocorreu em virtude das

reformulações curriculares e do perfil profissional que permeavam o curso de Pedagogia

da Universidade Federal de Sergipe, naquele ano296. Além disso, a participação de

professoras dessa graduação na composição do Grupo de Trabalho, a exemplo de Maria

Thétis Nunes e Maria Olga de Andrade, foi fundamental para a inserção desses

serviços297.

Em matéria publicada no jornal A Cruzada298, a professora Maria Olga de

Andrade enfatizou a criação dos cargos e a necessidade de estes serem ocupados pelos

diplomados do curso de Pedagogia da Faculdade de Educação, através de concursos

públicos. Outros jornais locais também abordaram a aprovação do anteprojeto e sua

importância para o campo educacional sergipano.

Finalmente ao que nos parece a Lei também atendeu às aspirações da

Associação dos Professores do Ensino Médio, no que se refere aos

cargos criados nesta esfera do ensino e à forma do provimento dos

mesmos. Foi em suma um bom trabalho do atual governo que aqui

destacamos e louvamos como ato de justiça. Agora é esperar um bom

controle da Secretaria de Educação para que o funcionamento da lei

seja correto, produzindo os frutos que todos esperamos. (DIÁRIO DE

ARACAJU, 18/09/69).

O envolvimento da professora Giselda Morais299 com a Assessoria de

Planejamento (ASPLAN) da SEC-SE, no ano de 1970, e a participação de professores do

curso de Pedagogia no Conselho Estadual de Educação300 também contribuíram para a

295 De acordo com o Decreto nº. 1.468, de 14 de abril de 1969, o Grupo de Trabalho compreendeu os

seguintes membros: Lêda Maria Cabral Aguiar, Maria Olga de Andrade, Maria Thétis Nunes (presidente)

e Celina de Oliveira Lima, representantes respectivamente, da Secretaria de Educação e Cultura,

Associação dos Professores Licenciados, Faculdade de Educação da UFS e Conselho Estadual de

Educação. Também integrou o grupo o professor José Maria do Nascimento (A CRUZADA, 19/04/69). 296 Devido às determinações legais do Parecer nº 252/1969 e da Resolução CFE nº 2/1969. 297 Lêda Maria Cabral Aguiar, representante da SEC/SE, também era aluna do curso de Pedagogia da UFS. 298 Jornal A Cruzada (12/07/69, p. 3): “O Estatuto ainda prevê a criação dos cargos de Orientador Educativo,

Técnico de Educação e Inspetor do Ensino Médio, os quais deverão ser providos pelos licenciados em curso

de Pedagogia da Faculdade de Educação”. 299 A professora Giselda Morais, ao retornar do doutorado na França, em 1970, assume como professora

titular da disciplina de Didática do curso de Pedagogia da UFS. No mesmo ano, foi diretora da

ASPLAN/SEC/SE, elaborando o Plano Estadual de Educação (1970). Na ocasião, Giselda Morais,

convidou a estudante de Pedagogia Maria Veneranda Pereira Corado (1969-1971) para assessorá-la. 300 Durante a década de 70 do século XX, professores do curso de Pedagogia tornaram-se membros do

Conselho Estadual de Educação: Cacilda de Oliveira Barros, Maria Thétis Nunes, Maria Olga de Andrade

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implantação dessas diretrizes e para o ingresso de estudantes e diplomados em Pedagogia

no exercício da docência e das funções técnicas.

Os cargos de supervisor e administrador escolar já haviam sido criados

anteriormente pela Secretaria de Educação e Cultura do Estado de Sergipe (SEC/SE)301 e

pelo Departamento de Educação e Cultura de Aracaju (DEC), com o objetivo de

desempenhar as atividades, respectivamente, de orientação técnico-pedagógica aos

professores e de diretor de escolas.

A Administração Escolar era exercida, especialmente, por professores e outros

profissionais que mantinham vínculo com o grupo político que estava na gestão

governamental, sem critérios específicos de formação. Na prática, havia diretores de

escolas que não tinham sequer o ensino ginasial completo, desconhecendo aspectos da

formação educacional e administrativa.

No entanto, após a implantação da Lei nº 5.692/71, cursos intensivos passaram a

ser promovidos pela SEC/SE, em convênio com a UFS, para habilitar esses

profissionais302. De acordo com o ex-diretor do Conservatório de Música de Sergipe,

Rivaldo Dantas, era obrigatória a participação nesses cursos de qualificação para

permanecer na direção da unidade. No seu caso, como só havia cursado o ensino primário

e ginasial, foi necessário anteriormente prestar os exames supletivos para concluir o 2º

grau:

O turno das aulas era à noite, porque todos já eram diretores de escola

ou tinham funções semelhantes de supervisão. Então, com o advento

da Lei, a qual obrigava que as escolas fossem profissionalizantes, com

ensino técnico e ensino médio, nós que éramos diretores e como

exercíamos funções sem a devida habilidade, precisamos fazer o

curso, entendeu? Pois, éramos escolhidos por indicação de amizade

de Secretário, indicação de políticos e tal, então com o advento da

Lei, o administrador se viu obrigado a colocar pessoas que passassem

ao menos pelo curso de treinamento, e este treinamento exigiu de nós

uma licenciatura sob pena de não continuarmos nos cargos, uma coisa

quase compulsória, né![...] Para entrar no curso tive que fazer o

supletivo, para poder fazer a licenciatura curta em Administração,

pois minha formação era apenas musical. (DANTAS, 2015, s/p).

e Antônio Fontes Freitas. As professoras Cacilda de Oliveira Barros e Maria Olga de Oliveira lecionavam

as disciplinas, respectivamente, Práticas em Orientação Educacional e Supervisão Escolar. 301 O cargo de Supervisão Escolar havia sido criado pela SEC/SE e pelo DEC/Aracaju, em 1964. A

implantação havia sido realizada por professores que haviam participado dos cursos de Supervisão (de nível

médio), nos anos anteriores (A CRUZADA, 01/06/68). 302 A obrigatoriedade da formação superior para esse profissional foi mencionada pela primeira vez na Lei

nº. 5.540/68.

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Embora a Reforma do Ensino de 1º e 2º graus de 1971 recomendasse a formação

do administrador escolar em nível superior, ela permitia que na ausência de pedagogos

habilitados para exercer essa função, fosse autorizada a atuação de professores sem esse

grau de estudos:

Art. 79. Quando a oferta de profissionais legalmente habilitados para

o exercício das funções de direção dos estabelecimentos de um

sistema, ou parte dêste, não bastar para atender as suas necessidades,

permitir-se-á que as respectivas funções sejam exercidas por

professôres habilitados para o mesmo grau escolar, com experiência

de magistério. (BRASIL, 1971a, s/p).

O ex-membro do Conselho Federal de Educação, Anísio Teixeira (1961)303,

defendia a formação superior desse especialista, sobretudo em nível de pós-graduação,

pois acreditava que os diretores de escolas deveriam obter o conhecimento básico da

Administração Escolar para exercer uma função, a seu entender, importante para a

organização, funcionamento e a qualidade do ensino. Nesse sentido, críticas eram

direcionadas ao despreparo dos diretores de escolas, ao desprestígio da formação

acadêmica e às práticas de indicações políticas.

Não me consta que os administradores se preparem no Brasil. Parece

que não há administração no Brasil no sentido real de algo que se

possa aprender e, muito menos, em educação, onde, ao que parece,

nunca houve busca de administradores para as escolas. Qualquer

pessoa pode dirigir as escolas. Qualquer pessoa pode administrar o

ensino. É evidente que o país acha que para isso não é preciso preparo.

E por quê? Por que será que o país acha que realmente não se precisa

de preparo para dirigir escolas, nem dirigir a educação? Só percebo

dois motivos: um dêles é que os professôres são tão perfeitos, que

realmente não precisem de Administração, e segundo, que as escolas

também sejam tão pequenas, que tais professôres, perfeitíssimos,

podem realizar seu trabalho em perfeito estado, digamos, de anarquia,

cada um fazendo o que venha lhe parecer que deve fazer e resultando

disso uma admirável Administração. Ou isto, ou então que as nossas

atividades no ensino estejam de tal modo estabelecidas em leis,

regulamentos, instruções e programas, que não haja trabalho para

Administração. Cada um só tem que cumprir o que está escrito, e está

administrada a escola, está administrado o ensino, estão

administradas as nossas Universidades. (TEIXEIRA, 1961, p. 86).

Esse autor acrescenta que diante da ampliação progressiva de matrículas e escolas

no país, especialmente a partir da década de 50 do século XX, eram indispensáveis a

303 De acordo com Marinho (2014), os professores Anísio Spínola Teixeira, Antônio Carneiro Leão, José

Querino Ribeiro e Lourenço Filho são considerados os pioneiros da Administração Escolar no Brasil, por

serem os primeiros a realizar pesquisas sobre o tema.

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formação e integração dos especialistas em Educação nas instituições de ensino para

atender às necessidades técnico-pedagógicas da demanda de estudantes, professores e

escolas. No texto Que é administração escolar?, publicado em 1961, Anísio Teixeira

explica por que defende a formação acadêmica do administrador educacional e sua

valorização profissional:

Porque, se podíamos antigamente ter o grande professor primário que

sòzinho dirigia a sua classe, hoje, tendo que dar educação à população

inteira, sou forçado a buscar um magistério em camadas intelectuais

mais modestas. Quanto mais imperfeito fôr o magistério, mais preciso

de melhorar as condições de Administração. [...]Tais estudos e o

preparo do administrador é que irão permitir organizar o ensino em

rápido desenvolvimento e criar a consciência profissional necessária,

pela qual aquêle antigo pequeno sistema escolar, com o professor

onicompetente, precisando apenas de um guardião para sua escola,

hoje transformado no grande sistema moderno, no qual não se

encontra mais aquêle tipo de professor e as escolas complexas e

fluidas não dispõem sequer de estabilidade do magistério, possa

conservar as condições equivalentes àquelas anteriores e produzir

ensino com a mesma eficácia. (TEIXEIRA, 1961, p. 89).

Desse modo, o fomento à formação do administrador escolar em nível superior

foi evidenciado com as mudanças do ensino ocorridas nas décadas de 60 e 70 do século

XX. A necessidade de atender ao crescimento do número de escolas e de estruturá-las

para o “adequado” funcionamento implicou a formação de pedagogos para assumir

setores definidos das atividades de natureza técnico-pedagógica.

O objetivo era licenciar um profissional específico para exercer a função

administrativa das instituições de ensino, mediante noções do campo da Administração

Geral, Escolar e aspectos legais da Educação. A experiência pedagógica também era

necessária para gerenciar a adequação e o cumprimento dos programas escolares,

promover a organização central da unidade e conduzir estratégias de liderança e

integração da comunidade.

Em Sergipe, as primeiras formações acadêmicas em Administração Escolar foram

realizadas na UFS a partir de 1970. Nesse mesmo ano, estudantes de Pedagogia que

haviam optado pela habilitação foram convidados para dirigir escolas públicas das esferas

estadual e municipal. A nomeação para o cargo era efetivada mediante consentimento do

governador e prefeito, respectivamente. A iniciativa permitiu o exercício desses

acadêmicos nas escolas de Aracaju, a exemplo do Colégio Castelo Branco304

304 O primeiro estudante de Pedagogia, cursando a habilitação em Administração Escolar, a assumir a

direção de escolas da esfera estadual, foi o acadêmico da primeira turma da UFS (1968-1971), Manoel

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Figura 45 - Posse de novo diretor no Colégio Castelo Branco (1970)

Fonte: jornal Diário de Aracaju, 29/07/1970. Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

O amparo legal, a mediação do Conselho Estadual de Educação e a iniciativa da

SEC/SE, em ampliar e modernizar o ensino possibilitaram que os primeiros acadêmicos

do curso de Pedagogia, os quais haviam optado pela habilitação em Administração

Escolar, tivessem a oportunidade de assumir a direção de escolas ainda enquanto

estudantes. De acordo com Vera Lúcia de Azevedo Fontes, ex-aluna da segunda turma

(1969-1972), logo após a escolha pela habilitação foi convidada para dirigir unidades de

ensino.

Ainda no 1º ano, já havia saído a Lei que diretores de escolas tinham

que ter curso de Pedagogia, então o Estado já contratou a turma

inteira. Eu fui contratada, pelo menos na minha carteira, tá julho de

71, se não me engano. Antes de me formar, eu já estava contratada

pelo Estado. Então meu estágio, foi no Estado, eu já estava

trabalhando e já servia como estágio. Agora havia as aulas de estágios

que os professores iam supervisionar, entendeu? (FONTES, 2015,

s/p).

Messias Porto. Este assumiu a direção do Colégio Castelo Branco, localizado no Bairro Industrial, em 1970.

A referida instituição havia sido criada recentemente pelo Decreto n º 306, de 02 de março de 1970, assinado

pelo governador Dr. Lourival Batista.

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A ex-aluna também relatou sua experiência na gestão de escolas da capital,

destacando as inovações administrativas e pedagógicas. Segundo ela, em 1971 ao assumir

a direção do colégio Lourenço Filho, localizado no Bairro América, contribuiu com a

reorganização da unidade e a instalação de chafariz para atender aos alunos e à

comunidade.

Quando eu fui dirigir o Lourenço Filho, imagine isso, há mais de 40

anos atrás, ou seja, não havia água para a comunidade, era um

chafariz. A escola tinha porque havia encanamento, tinha caixa

d’agua, mas para o povo não tinha. Então, eu tive que trabalhar para

a escola e para a comunidade, porque tinha gente da comunidade que

ia destruir a escola. Começaram a tirar água da escola, tinha uma

torneira no lado de fora, um dia teve uma briga na fila, e ficou feio o

negócio. [...] Um dia eu mandei uma comunicação pelos filhos para

uma reunião com eles, o pessoal do bairro, lá na escola, num dia de

sábado. [...] Eu fiz um abaixo-assinado solicitando água para o bairro,

e fui com uma comissão na prefeitura. Na outra semana estavam

instalando chafariz, pelo menos a cada 100 metros das casas.

(FONTES, 2015, s/p).

Essa versão contraria interpretações que reduzem a Administração Escolar,

exercida durante o Governo Civil Militar, às funções burocráticas e ao autoritarismo, este

justificado mediante práticas de vigilância, controle e punições perante a clientela da

escola e sua comunidade305. Nesse sentido, outras compreensões podem esclarecer a

importância dessa função para o trabalho pedagógico e a preocupação com a dimensão

coletiva naquele período.

No entanto, a dependência política do Governo e a flexibilidade da lei perante o

exercício do diretor de escola inibiam a escolha dos acadêmicos de Pedagogia pela

habilitação em Administração Escolar, pois eles acreditavam que esses fatores poderiam

prejudicar o desenvolvimento de suas atividades profissionais. Diante disso, a preferência

dos estudantes era maior pelas áreas da Supervisão e Orientação Educacional.

No caso da Supervisão Escolar, a formação mínima exigida para desempenhar as

funções compreendia o diploma do curso Pedagógico de nível médio306 e do curso

305 Essa interpretação reduz o administrador educacional a um gerente de empresa: “Nesse contexto, é bem

possível que o diretor tenha sido, por vezes, cooptado pelo sistema econômico e político, exercendo uma

função análoga à do gerente de empresa, ou seja, atuando como agente controlador e fiscalizador das

atividades desenvolvidas na instituição escolar, com o intuito de assegurar a manutenção da ordem vigente”.

(CLARK, p. 24, 2015). 306 A Lei nº. 4.024/61 (Art. 52) autorizava professores diplomados no ensino Normal de grau colegial a

exercerem as atividades de supervisão, administração, orientação e inspeção em escolas primárias

(BRASIL, 1961).

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especial de supervisão307, desenvolvido em convênio com o Instituto Nacional de Estudos

e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) ou com o Programa de

Aperfeiçoamento do Magistério Primário (PAMP), como podemos verificar na matéria

de divulgação do concurso a seguir:

Figura 46 - Concurso para supervisores (1969)

Fonte: jornal Diário de Aracaju (20/11/1969). Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

A SEC/SE, diante da necessidade de formar supervisores para a orientação

pedagógica do corpo docente e implantação dos seus programas de ensino, selecionava

professores normalistas interessados em participar dos cursos especiais de Supervisão em

nível médio308. A partir de 1969, a Secretaria de Educação e Cultura passou a solicitar

307 Essa formação era realizada nos centros de treinamento do magistério, localizados em diferentes estados

do país (São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Paraíba e Paraná). De acordo com Nogueira (2005), esses cursos

foram implantados a partir de 1963, mediante atuação do Programa de Assistência Brasileiro-Americana

ao Ensino Elementar (PABAEE), em convênio com o INEP. A iniciativa era resultante do acordo assinado

entre o Brasil e os Estados Unidos, em junho de 1956, tendo por objetivo central a melhoria do ensino

primário brasileiro. Esses cursos foram extintos em 1971, com a implantação da Lei nº. 5.692, que instituía

a Supervisão Escolar em nível superior. 308 Segundo as ex-supervisoras Zenilde Soares Pinto e Olívia Maria Apolônio de Jesus, ao serem

selecionadas para participar do curso intensivo de Supervisão, receberam bolsas de estudos da Secretaria

de Educação e Cultura do Estado para ajudar nas despesas. O curso foi promovido em 1966, na cidade de

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convênios com a Universidade Federal de Sergipe para diplomá-los em nível superior,

como determinava a Lei n° 5.540/68309. Professores do curso de Pedagogia também

abordavam essa necessidade em reuniões da FACED/UFS e defendiam a criação de um

curso de Pedagogia noturno para formar às supervisoras de nível médio que já exerciam

a profissão.

A professora Maria Thétis Nunes, a seguir, sugeriu a possibilidade de

funcionamento de um curso noturno de Pedagogia para atender o

grande número de supervisores do Estado e, caso a Reitoria se incline

a atender, que seja feita na ocasião da inscrição ao concurso vestibular

a opção por curso diurno ou noturno. (UNIVERSIDADE FEDERAL

DE SERGIPE, 1969-1978, p. 18).

No entanto, a Supervisão Escolar só foi implantada pela Congregação do curso de

Pedagogia/UFS no ano de 1972, em virtude da carência de professores da área para

lecionar suas disciplinas específicas e organizar o currículo da habilitação. Até esse

período, essa função permaneceu sendo desempenhada, predominantemente, por

professores primários que haviam feito os cursos intensivos do INEP e PAMP310.

No ano seguinte311, ao iniciar os preparativos para requerer ao Ministério da

Educação e Cultura os primeiros diplomas de Pedagogia com habilitação em Supervisão

Escolar, os professores da FACED identificaram que o currículo aprovado pelo Conselho

de Ensino e Pesquisa da UFS autorizava a disponibilidade da formação apenas para o

ensino de 1º grau, sendo necessária a extensão do diploma ao nível de 2º grau. Para

justificar a solicitação ao CEP, a diretora da Faculdade de Educação enfatizou a

necessidade de supervisores para atender às atividades da SEC/SE, informando, inclusive,

o número de vagas disponíveis para essa ocupação.

Colatina/ES, com duração de 10 meses. Segundo elas, outros cursos foram promovidos em diferentes

estados com o objetivo de formar professores da SEC/SE e DEC-Aracaju para exercer a função de

supervisora da escola primária. 309 A partir de 1971 essas solicitações tornaram-se mais intensas devido à implantação da Lei nº. 5.692, que

impedia que os supervisores habilitados no ensino médio permanecessem exercendo a função. De acordo

com o Art. 84, apenas os diretores, inspetores, orientadores e administradores de estabelecimentos de ensino

poderiam permanecer atuando na área. 310 Aliás, a ocupação profissional desses supervisores na escola primária oportunizou muitos deles

buscarem a formação em nível superior na Universidade Federal de Sergipe, através da licenciatura de curta

duração ou plena, em Pedagogia. 311 Nos dois primeiros anos do curso eram ofertadas as disciplinas da formação do Magistério (licenciado),

comum a todas as habilitações do curso de Pedagogia. Nos dois últimos anos eram ministradas as disciplinas

comuns e específicas da habilitação escolhida pelo acadêmico. Então, como a Supervisão Escolar foi

implantada em 1972, os primeiros diplomados da habilitação concluíram o curso em 1973.

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Diante da vantagem que dará ao aluno a extensão de seu diploma até

o 2º grau e diante das necessidades da Secretaria de Educação que no

momento dispõe de 100 vagas para supervisores de 1º e 2º graus,

conforme nos afirmou o chefe da CODEX312, vimos solicitar de Vossa

Magnificência providenciar ao CEP o reexame do currículo de

Supervisão Escolar e conceder aos licenciandos deste ano, a extensão

do seu diploma para o 2º grau, já que todos os requisitos estão

completos e não haverá qualquer outro encargo para a Universidade.

(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, 1973, p. 2).

O caso foi encaminhado ao setor jurídico da UFS, que orientou a Faculdade de

Educação disponibilizar o diploma para a atuação no ensino de 2º grau aos concludentes

daquele ano, pois, segundo a assessoria, esses egressos ainda estavam cumprindo o

currículo do sistema seriado, que tinha no seu perfil profissional a Supervisão Escolar de

1º e 2º graus. Nesse sentido, como no currículo aprovado para o sistema de créditos

incluiu tal habilitação somente para o ensino de 1º grau, foi solicitada ao Conselho de

Ensino e Pesquisa a extensão desse exercício313.

Até a implantação das habilitações no curso de Pedagogia da UFS, as atividades

dos seus acadêmicos concentraram-se na docência do curso Normal e na coordenação

pedagógica de campanhas educacionais, a exemplo dos programas de alfabetização de

jovens e adultos. Após 1970, com a reestruturação curricular e instalação das habilitações,

os universitários conquistaram outras oportunidades para o exercício profissional.

A ampliação da rede pública de ensino e a ênfase dos aspectos legais sobre as

contribuições dos especialistas em Educação no apoio administrativo das escolas e para

o adequado desempenho pedagógico possibilitaram uma descentralização de funções no

perfil profissional do pedagogo. Essa tendência atribuiu serviços especializados aos

alunos e aos professores com o objetivo de assegurar o funcionamento “apropriado” das

instituições de ensino, tornando-os bastante requisitados pelos órgãos educacionais do

município de Aracaju e do Estado, especialmente pela Secretaria de Educação e Cultura.

De acordo com Teixeira (1958), a implantação dos serviços especializados em

supervisão, administração, orientação e planejamento, com pessoas qualificadas para

exercer tais atividades, passou a ser fundamental, especialmente, após a década de 50 do

312 Nesse período, o chefe da Coordenadoria Executiva dos Órgãos Regionais da Secretaria de Estado da

Educação – CODEX/SEC era o professor Antônio Fontes Freitas. 313 A Resolução do CEP nº. 03/70, ao aprovar a reestruturação da FACED/UFS, incluiu a Supervisão

Escolar de 1º e 2º graus no perfil profissional do curso de Pedagogia. Ao ser aprovada uma nova reforma

curricular (Resolução do CEP nº. 39/71), devido à implantação do sistema de créditos, foi omitida a

habilitação em nível de 2º grau. Em 1974, foi novamente estendida ao ensino de 2º grau.

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século XX. Segundo ele, essa iniciativa iria adaptar a escola para atender às orientações

do novo projeto educacional314 e à expansão do acesso ao ensino:

A primeira mudança é esta. Não podemos selecionar os alunos.

Temos que educar a todos. Não podemos selecionar os mestres.

Temos de escolhê-los em camadas cada vez mais comuns. Com

alunos comuns e mestres comuns, cresceram as necessidades de

planejamento, as necessidades de supervisão e as necessidades de

administração. Não foi, porém, somente isto que mudou. Mudaram

também os objetivos da educação escolar. Já não temos apenas que

preparar estudiosos e intelectuais para continuarem a estudar e a

ensinar e cada vez se fazerem mais competentes nesse indispensável

e maravilhoso círculo vicioso da cultura humana. Por certo que ainda

temos de fazer isto, mas, também, temos que preparar a grande massa

de meninos e jovens para as tarefas comuns da vida, tornadas técnicas

senão difíceis, pelo tipo de civilização que se desenvolveu em

conseqüência de nosso progresso em conhecimento, e, além disto, os

quadros vastos, complexos e diversificados das profissões e práticas

em que se expandiu o trabalho especializado. (TEIXEIRA, 1958, p.

1).

Dessa forma, o projeto idealizado por Anísio Teixeira inspirou o perfil

profissional implantado no curso de Pedagogia, a partir de 1969. A busca pela eficiência

e a modernização do ensino motivaram os conselheiros federais, Valnir Chagas e Newton

Sucupira, a adotar as especialidades projetadas pelo escolanovista na formação do

pedagogo:

[...] O professor administra a sua classe, ensina a seus alunos e os

orienta na vida e nos estudos. Hoje ainda faz tudo isto, mas, como não

pode ser tão selecionado, nem os estudos tão suficientemente simples,

temos de ajudá-lo com especialistas de administração, de

planejamento, de currículo, de supervisão e de orientação. Todos

êstes especialistas são outros tantos professôres especializados que

preparam o trabalho para que o mestre o possa executar. A diferença

decorre da complexidade e variedade da tarefa do mestre, que já não

pode sòzinho realizá-la. O administrador e planejador é o antigo

mestre na sua capacidade administrativa, o supervisor é o antigo

mestre na sua capacidade de ensinar e o orientador, o antigo mestre

na sua capacidade de orientar[...]. (TEIXEIRA, 1958, p. 1).

Diante da nova configuração do curso adotada em 1969, o diplomado em

Pedagogia com habilitação em Supervisão Escolar passou a exercer atividades de suporte

314 Para Teixeira (1958, p. 1), o novo projeto educacional estava associado ao ensino profissionalizante.

Nesse sentido, é possível verificar uma tendência a essa modalidade de ensino durante a década de 50 do

século XX: “Mudaram, pois, os alunos - hoje todos e não apenas alguns, - mudaram os mestres - hoje

numerosos e nem todos especialmente chamados pela paixão ao saber, - e mudaram os objetivos da escola

- hoje práticos, variados e mais profissionais e de ciência aplicada que de ciência desinteressada e pura”.

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técnico-pedagógico dedicado aos professores das escolas de 1º e 2º graus, contribuindo

com as ações de: planejamento escolar, cooperação no processo de ensino-aprendizagem,

medidas de avaliação e recuperação dos alunos, aperfeiçoamento de práticas e

instrumentos de ensino, organização do currículo e implantação de projetos educacionais.

Em Sergipe, outra importante atividade exercida pelos habilitados em Supervisão

era a promoção de congressos e cursos para a qualificação docente, destinados aos

professores titulados e não titulados315da rede pública de ensino. Esses cursos eram

realizados de forma intensiva durante as férias escolares, nos centros de treinamento

docente de Aracaju e do interior316, por meio do sistema de internato e semi-internato,

como divulgado na imprensa sergipana:

Figura 47 - Divulgação de cursos para professores da SEC/SE (1969)

Fonte: jornal Diário de Aracaju, 19/07/1969. Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

315 Os professores não diplomados correspondia aos docentes que exerciam a profissão sem a formação

“mínima” exigida para o magistério (o curso Normal). 316 Durante a década de 70 do século XX havia centros de treinamento docente em Aracaju, Estância,

Propriá, Lagarto e Itabaiana.

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Os congressos e cursos também eram realizados durante o ano letivo em diferentes

turnos para que os professores titulados e não titulados pudessem participar. A intenção

do Governo Estadual era moralizar o campo educacional e legitimar uma formação

especializada ao seu corpo docente, baseada no conhecimento científico e nas modernas

práticas pedagógicas317. Essa iniciativa também estava associada à melhoria da qualidade

do ensino e expansão da rede escolar.

Até 1972, a Secretaria de Educação e Cultura do Estado de Sergipe apresentava

no seu quadro do magistério de 1º grau 53.9% de professores não titulados318. Diante da

necessidade de qualificar esse corpo docente e atualizar professores que já tinham os

cursos exigidos para o seu exercício profissional, a SEC/SE recrutava supervisores para

planejar e desenvolver programas de formação319.

Na oportunidade, os acadêmicos e diplomados em Pedagogia/UFS atuaram nos

centros de treinamento docente da capital e do interior, promovendo cursos320 para a

formação de regentes de ensino, atualização pedagógica aos professores primários e

secundários, preparação para os exames de Madureza321 e abordagem das novas

metodologias de ensino, de acordo com as diretrizes do MEC e da legislação:

Art. 80. Os sistemas de ensino deverão desenvolver programas

especiais de recuperação para os professôres sem a formação prescrita

no artigo 29 desta Lei, a fim de que possam atingir gradualmente a

qualificação exigida. (BRASIL, 1971a, s/p).

Os supervisores estavam integrados ao Centro de Supervisão e aos seus núcleos

regionais criados pela Secretaria de Educação com o objetivo de mediar a relação entre o

Executivo e o corpo docente. Essa disposição visava à implantação das políticas

317 Durante o marco temporal deste estudo, verificam-se matérias jornalísticas criticando o ingresso de

professores leigos ou sem formação pedagógica, efetivados mediante recomendação política, vocação ou

pela necessidade de complementação de renda. Diante dessa disposição, em 1969 foi implantado um plano

de carreira para os regentes e professores primários da SEC-SE com o objetivo de valorizar e estimular a

formação docente. Além disso, foi intensificada a realização de concursos para o exercício docente, visando

combater a intervenção político-partidário (DIÁRIO DE ARACAJU, 08/10/69). 318 Dados apresentados na Programação Estadual Referente ao Empréstimo MEC/BIRD, de 1973

(GOVERNO DE SERGIPE, 1973). 319 O Governo Federal financiava campanhas de formação docente, especialmente através do Programa de

Aperfeiçoamento do Magistério Primário (PAMP) e PREMEN. O objetivo era qualificar professores para

atuar em seus projetos educacionais e melhorar a qualidade do ensino. 320 Os supervisores planejavam os cursos e lecionavam as disciplinas de Didática, Psicologia, Recreação,

Administração Escolar e Metodologias de Ensino. 321 Alguns professores primários não tinham o ensino secundário completo. Então, cursos eram promovidos

pelo Centro de Supervisão da SEC/SE para os professores candidatos aos exames de Madureza (ciclo

ginasial e colegial) (DIÁRIO DE ARACAJU, 21/02/70).

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educacionais, ao planejamento das atividades, ao levantamento de informações e ao

acompanhamento das práticas docentes realizadas nas salas de aula.

De acordo com a ex-aluna Ana Lúcia Menezes Vieira, ao cursar o último ano de

Pedagogia em 1973, foi convidada para assumir a coordenação do centro de supervisão

da SEC/SE, pois sua turma (1970-1973) apresentava os primeiros licenciados nessa

habilitação em nível superior. Ao aceitar o convite, coordenou a implantação de um novo

modelo de supervisão no Estado.

Assim que termino o estágio, doutor João Cardoso era o secretário de

Educação, e o Ministério da Educação estava criando o modelo

compatibilizado de supervisão. Por que era compatibilizado? Porque com

a influência norte-americana, eles fizeram um modelo de supervisão para

ter mais eficiência no controle do comportamento do professor e levar à

eficácia do ensino. Então, era um modelo bem tecnicista, e cada Estado

tinha que montar uma equipe de supervisão para fazer a compatibilização

desse modelo central. [...] Para isso deveria ter supervisores formados.

Então a 1ª turma de supervisão era a nossa, e eu tinha cerca de 6 ou 8

colegas de turma que eram também supervisores da rede, e que estavam

fazendo supervisão, e elas começaram a influenciar meu nome para a

Secretaria de Educação. [...] E aí doutor João Cardoso manda consultar a

Faculdade de Educação, e a professora Olga, que na época era diretora,

referendou meu nome. (VIEIRA, 2015, s/p).

Apesar de reforçar o caráter tecnicista e controlador do modelo de supervisão

adotado naquele momento pelo Governo Federal, percebemos a divergência entre o

discurso “reducionista” de autoritarismo propagado por uma parte da historiografia

educacional brasileira e a prática, pois, ao ser questionada sobre a importância desse

trabalho, a ex-aluna destacou a oportunidade de implantar um modelo de supervisão

direcionado ao diálogo e à participação docente.

Aí eu sou chamada para coordenar esse modelo de supervisão da

Secretaria de Educação. E aí foi uma experiência bem interessante

porque eu já tinha outras leituras da supervisão, né! E uma das coisas que

eu não aceitava era aquele modelo do MEC/USAID que era de você

entrar na sala de aula sem pedir autorização aos professores, isso era um

comportamento controlador. Então, eu fui chefiada pelo professor

Antônio Freitas e eu o convenci de pedir ao Secretário de Educação para

baixar uma portaria que determinasse que todo supervisor precisava

pedir licença para entrar na sala de aula e dizer o que ia fazer. E aí nós

formamos um grupo multidisciplinar; não era só supervisor. Então nós

tínhamos professores de diferentes áreas para fazer esse modelo

compatibilizado. Nós escutávamos todas as áreas e passamos a ter muitas

leituras, mas leituras da psicologia, da Sociologia. Foi uma experiência

bastante rica, baseada no diálogo com os professores [...]. E naquela

ocasião regulamentamos os horários de estudos, chamados de horários

de coordenação, é aí que começa a conquista das horas de estudos fora

da sala de aula, através desse modelo compatibilizado. (VIEIRA, 2015,

s/p).

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No decorrer da pesquisa, verificamos o frequente envolvimento de acadêmicos e

diplomados em Pedagogia/UFS no processo de implantação das políticas educacionais

em Sergipe, especialmente mediante a nomeação em cargos de confiança ou funções

estratégicas na Secretaria Estadual da Educação. As atividades concentravam-se,

sobretudo, nas áreas de planejamento, currículo, inspeção, supervisão, programas de

ensino e orientação. A ex-aluna Lilian Leal do Lago falou sobre a importância dos

profissionais de Pedagogia para a concretização de um novo modelo de planejamento e

execução das propostas de ensino:

Os grandes intelectuais da formação de professores, como Nunes

Mendonça e Acrísio Cruz, já haviam falecido, então precisava de

sangue novo. E aí começou justamente todo o plano, foi quando

começamos a elaborar os planejamentos, planos de aula, planos de

curso, porque até então nada disso existia. Isso aconteceu, não só na

Escola Normal, mas para a educação como um todo, para a Secretaria

de Educação também! [...]. A própria Secretaria de Educação pegou

o pessoal de Pedagogia para ajudar a implantar o ensino de 1º grau e

2º grau, entendeu? Para fazer os projetos e trabalhar com os outros

professores. (LAGO, 2015, s/p).

Nesse sentido, o Governo Civil Militar criou um projeto educacional que visava

ao desenvolvimento e à modernização do país, pautado na formação de mão de obra

qualificada. Para isso, investiu na formação docente e na expansão da oferta do ensino

público, com a implantação nacional de uma rede de escolas de 1º e 2º graus. Essa

iniciativa ampliou de uma maneira até então desconhecida as oportunidades de acesso à

escolarização para os grupos mais pobres da população brasileira322.

Em Sergipe, acadêmicos e licenciados em Pedagogia participaram do movimento

de planejamento e implantação dessa nova política, garantindo serviços especializados

para atender a estudantes, professores, funcionários e comunidade323.

No entanto, outras interpretações acerca da atuação do pedagogo durante o

Governo Civil Militar também foram verificadas na pesquisa, pois, para alguns

entrevistados, o curso estava associado ao aspecto tecnicista e ao aparato de controle

daquele Governo. Estas compreensões foram apropriadas por ex-alunos e ex-professores

322 De acordo com Carvalho (2005), a reforma do ensino de 1º e 2º graus fez com que houvesse um aumento

visível dos investimentos do setor público na expansão da sua rede escolar. Para embasar sua análise,

apresentou dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os quais comprovavam o

crescimento no número de matrículas nesses dois níveis de ensino. 323 Respondendo inclusive a demandas populares e às pressões de movimentos sociais.

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do curso de Pedagogia, fundamentadas especialmente em leituras de um referencial

bibliográfico emergente após a década de 80 do século XX:

Em 1971, com a reforma do ensino, surge a obrigatoriedade da

Orientação Educacional nas escolas de 1º e 2º graus, com o objetivo

de, justamente, exercer ações sobre os alunos, principalmente com

relação ao comportamento, para que eles pudessem se adaptar ao

regime! Não era a escola saber quem era aquele aluno para trabalhar

em função dele, para descobrir o que tinha que trabalhar com ele, mas

fazê-lo obedecer às normas da escola. Então, uma das funções do

Orientador Educacional era fazer o aluno adaptar-se à escola; uma

espécie de controle sobre eles. O supervisor ia exercer esse controle

junto aos professores. Era uma ação que já existia, porque o controle

primeiro foi em cima dos professores. A Orientação Educacional foi

instituída, posteriormente. Passava a ideia de que a função do

orientador estava sendo valorizada, e, desta forma, a escola estava

valorizando o aluno, mas na verdade era a necessidade do Regime

Militar em exercer o controle sobre o comportamento dos alunos, agir

sobre eles, em nome da adaptação [...] Em relação à Administração,

esta exercia o controle sobre todos. Dessa forma, o orientador exercia

o controle sobre os alunos, o supervisor sobre os professores e o

administrador sobre a escola em geral, os funcionários, inclusive, o

supervisor e o orientador. (ARAGÃO, 2015, s/p).

Nesse sentido, compreendemos que as recordações dos indivíduos são seletivas e

se formam a partir de uma construção social. Essa construção envolve não só experiências

vividas diretamente, mas também experiências herdadas, aprendidas e transmitidas pelos

grupos através do processo de socialização (POLLAK, 1992).

Por isso, para alguns ex-alunos do curso, a referência ao Regime Civil Militar

expressa um sentimento de vitimização, justificado por uma formação limitada e

autoritária daquele período. Esta interpretação também leva a compreender que suas

atividades estavam associadas a uma certa adesão a esse movimento, exercendo o controle

e a propagação desse projeto324.

324 Egressos do curso de Pedagogia, da década de 70 do século XX, irão liderar atos de reivindicação

docente a partir de 1978. O primeiro movimento liderado por eles foi criado oficialmente em 1979, dentro

da APMESE (Associação de Profissionais do Magistério do Estado de Sergipe), denominado de

Renovação. Presidido por Diomedes Santos da Silva (1976-79), outros ex-alunos de Pedagogia integraram

o grupo, a exemplo de: Tereza Cristina Cerqueira da Graça (1976-79), Ana Lúcia Menezes Vieira (1970-

73), Avilete Cruz de Almeida (1976-79) e José Alberto Gomes Varjão (1975-78). Com reivindicações

acerca de reajuste salarial e aprovação de um novo Estatuto, irão liderar a greve dos professores da

Secretaria Estadual de Educação, realizada em 1984.

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O tecnicismo foi incorporado nas nossas ações como a forma de

resolver os graves problemas educacionais do país. O otimismo com

a técnica fez parte de nossa formação. Vivíamos um momento de

euforia, apesar de ter sido efêmero. Com processo de abertura

democrática também veio novas leituras e outras análises da realidade

educacional brasileira. (ANDRADE, 2015, s/p).

Outro profissional de Pedagogia requisitado pelos órgãos educacionais de

Sergipe, após 1970, era o orientador educacional. Seus serviços concentravam-se na

assistência aos alunos das escolas públicas e privadas, mediante as atividades de

orientação vocacional, acompanhamento pedagógico, encaminhamento a outros

especialistas quando se exigisse assistência especial, integração escola-família-

comunidade, diagnóstico das dificuldades de aprendizagem, análise da repetência e

elaboração do currículo escolar.

A aprovação do Parecer nº. 542/70 do CFE concedeu maior prestígio a essa

carreira, pois estabeleceu a obrigatoriedade da orientação educacional e vocacional aos

alunos de escolas primárias e secundárias por meio da atuação individual ou de grupos

especializados. Para justificar o seu posicionamento, José Vieira de Vasconcellos, Relator

do Parecer e membro do Grupo de Trabalho da Reforma do Ensino de 1º e 2º graus,

destacou a trajetória histórica dessa função na legislação educacional, a necessidade de

especialistas para atender à escola moderna e a ênfase do tema nas discussões sobre a

Reforma que seria aprovada em 1971.

A exigência do Orientador Educacional e Vocacional nas escolas não

é desiderato recente nas nossas leis de educação. A LDB, ao enumerar

as normas que devem ser observadas na organização do ensino de

grau médio, exigia: “Instituição da orientação educativa e vocacional

em cooperação com a família” (art. 38, V). [...] O Grupo de Trabalho

que estuda a reforma do ensino primário e médio destaca em artigo

separado a necessidade de orientação, conduzida por especialistas

com o devido preparo, e feita em cooperação com os professores e a

família325. (VASCONCELOS, 1970, p. 29).

Um dos motivos que induziram a implantação obrigatória da Orientação

Educacional e Vocacional nas escolas estava associado à necessidade do

acompanhamento pedagógico à nova demanda de estudantes que estavam aderindo à

escolarização, sobretudo filhos de trabalhadores que não tiveram a oportunidade de

325 A ênfase do Grupo de Trabalho da Reforma sobre a necessidade da Orientação Educacional resultou no

artigo 10 da Lei nº 5.692/71: “Será instituída obrigatoriamente a Orientação Educacional, incluindo

aconselhamento vocacional, em cooperação com os professores, a família e a comunidade”.

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frequentar a escola durante a infância. Diante disso, o serviço de Orientação Educacional

foi complementado pelo Decreto nº. 72.846/73, o qual estabeleceu ao exercício da

profissão:

Art. 1º. Constitui o objeto da Orientação Educacional a assistência ao

educando, individualmente ou em grupo, no âmbito do ensino de 1º e

2º graus, visando o desenvolvimento integral e harmonioso de sua

personalidade, ordenando e integrando os elementos que exercem

influência em sua formação e preparando-o para o exercício das

opções básicas. (BRASIL, 1973, s/p).

Com a implantação dessa habilitação no curso de Pedagogia da UFS e da Reforma

do Ensino de 1º e 2º graus foi possível identificar a importância desse profissional para o

funcionamento das escolas locais. O crescimento no número dessas instituições e de

matrículas326, devido à obrigatoriedade do ensino aos estudantes de 7 a 14 anos e a

determinação dos cursos profissionalizantes associados à formação geral do 2º grau

motivaram o interesse e a demanda pelos serviços do orientador no ambiente educacional.

Na prática, esse especialista em Educação atuava em conjunto com o professor da

sala de aula, realizando o acompanhamento pedagógico dos estudantes e promovendo

atividades de adaptação dos alunos à escola e às suas normas, orientando-os com relação

ao horário, fardamento, disciplina e utilização do material didático. Também auxiliava os

estudantes de 1º e 2º graus com relação à escolha da profissão, a partir da orientação

vocacional.

Eu fui convidada para trabalhar no Estado, antes de terminar o curso

de Pedagogia. Estava no último ano. Porque eu sempre fui muito

organizada, e aí quando o Kenedy implantou a Lei nº. 5.692 em 1972,

precisava que tivesse uma equipe de Orientação Educacional, que na

época era o SOE (Serviço de Orientação Educacional). A gente dava

assistência ao aluno, então fulano faltou ontem e hoje, íamos atrás

para saber porque ele não veio, fazíamos visita domiciliar, a gente

fazia reunião com os pais. Eu consegui criar o conselho de pais e

mestres, sabe! Com muita dificuldade [...] Era um trabalho muito

grande porque para cada aluno a gente conversava sobre as oficinas e

aplicava o questionário perguntando das quatro oficinas327 a que ele

mais se interessava, e aí ele fazia a opção. Na época era tudo

documentado. Era uma orientação vocacional. Aí quando iam para o

segundo grau, muitos iam para as escolas que ofereciam o ramo que

eles tinham se interessado no 1º grau. (MELO, 2015, s/p).

326 De acordo com a análise da Assessoria de Planejamento da Secretaria Estadual de Educação, de 1968 a

1972 o número de matrículas das escolas estaduais de 1º grau subiu de 54.055 mil para 77.215 mil. O de 2º

grau elevou-se de 4.438 mil para 9.620 mil (GOVERNO DE SERGIPE, 1973). 327 Na época a Escola Experimental John Kenedy ofertava o ensino de 1º grau associado a quatro

habilitações profissionais: Técnicas Agrícolas, Técnicas Comerciais, Educação para o Lar e de Artes

Industriais.

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As atividades de orientação vocacional eram direcionadas aos estudantes de 1º

grau que estavam integrados ao projeto de iniciação para o trabalho e aos de 2º grau,

decorrente da obrigatoriedade do ensino profissionalizante. Como o corpo discente

deveria escolher o curso ainda durante esses níveis de ensino, o orientador buscava

aconselhar os alunos de acordo com as aptidões e aspirações individuais, relacionando-as

com a disponibilidade de cursos ofertados pelas redes de ensino.

Os orientadores educacionais também atuaram na implantação do ensino de 1º e

2º graus e na inclusão das habilitações profissionais mediante a instalação dos ginásios

polivalentes orientados para o trabalho e os colégios profissionalizantes de 2º grau. Além

de criar essa rede de escolas, a intenção dos Governos Federal e Estadual era reestruturar

o campo educacional, enquadrando todas as unidades “oficiais” existentes em Sergipe nas

diretrizes do novo programa.

Na oportunidade, pedagogos licenciados pela UFS participaram de cursos de

treinamento realizados em convênios entre o Programa de Expansão e Melhoria do

Ensino (PREMEN)/MEC e universidades federais, com o objetivo de contribuir com a

implantação do ensino de 1º e 2º graus, associado à formação profissionalizante. Ainda

em 1971, egressas da primeira turma realizaram o processo seletivo para exercer as

funções de orientadora educacional e coordenadora pedagógica do primeiro Ginásio

Polivalente criado em Sergipe.

Nós estávamos em plena reforma do ensino, com a Lei de 1971, a

famosa 5.692, e com ela a implantação de escolas polivalentes. Em

Aracaju, então, estava prevista a implantação de uma escola

polivalente no bairro Santos Dumont, e, a Secretaria de Estado da

Educação estava selecionando, administrador (diretor e vice-diretor),

orientador educacional, coordenador pedagógico, secretário e

bibliotecário e professores de Língua Portuguesa, Francês, Inglês

História e Geografia; os professores das outra áreas já estavam

fazendo cursos de licenciatura curta, em Matemática, Ciências,

Técnicas Agrícolas, Artes Industriais e Educação para o Lar, previstos

na nova lei! [...] Aí ao voltar dessa especialização, juntamente com

todo esse grupo que estava sendo qualificado, fomos implantar o

Ginásio Polivalente Olavo Bilac no Santos Dumont. Aí, assumimos

toda a estruturação e organização da escola para colocá-la em

funcionamento. (ARAGÃO, 2015, s/p).

Como não havia turmas de licenciados em Pedagogia até aquele ano, os estudantes

do último período do curso foram autorizados a participar da seleção e iniciar o

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treinamento na Universidade Federal de Pernambuco328. A chamada para participar de

tal programa foi divulgada na SEC/SE, UFS e imprensa local:

Figura 48 - Recrutamento de professores para o Ginásio Polivalente (1971)

Fonte: jornal Diário de Aracaju, 17/06/1971. Acervo: IHGS.

Os ginásios polivalentes, representavam a modernização do ensino das escolas

profissionalizantes de 1º grau, consideradas sinônimos de desenvolvimento social e

econômico tanto para os estudantes como para o país. Além de promoverem a formação

geral, essas instituições também ofereciam o ensino técnico, contribuindo para a

formação de uma mão de obra especializada nas áreas industriais, comerciais, agrícolas e

de economia doméstica. Em Sergipe, as primeiras movimentações acerca desse

empreendimento foram divulgadas ainda em 1969.

Os Ginásios Polivalentes, alterando uma tradicional filosofia, ainda

vigente no processo de ensino, visam além de proporcionar os

conhecimentos gerais necessários para a cultura geral, formar

técnicos especializados, que poderão constituir um núcleo de mão-de-

obra, para atender de imediato às exigências do processo de

desenvolvimento. Nos Ginásios Polivalentes haverá além das

matérias pré-vocacionais e disciplinas diversas, cursos especializados

de artes industriais, técnicas agrícolas, comerciais e de economia

doméstica. (DIÁRIO DE ARACAJU, 18/09/69).

328 As inscrições foram realizadas no mês de junho de 1971, mediante edital nº 1/71 do convênio

PREMEM/MEC/SEC/SE. As estudantes de Pedagogia selecionadas para os cargos de orientador

educacional e coordenador pedagógico já eram funcionárias do Estado e haviam sido cedidas para fazer o

curso de atualização com duração de dois meses, na cidade de Recife. Para isso, foram disponibilizadas

bolsas de estudos, passagens e alojamento.

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No âmbito local a primeira escola criada de acordo com as diretrizes da Reforma

do Ensino de 1º e 2º grau, foi implantada na capital em 1973. As egressas da primeira

turma de Pedagogia da UFS, Maria Ivanda Bezerra de Sant’Anna e Judite Oliveira

Aragão, ao concluírem os cursos de treinamento realizados em Recife, atuaram na

instalação e funcionamento da escola modelo.

Quem foi comigo fazer esse curso foi Ivanda, da minha turma, né!

Acho que da minha turma só foi Ivanda. [...] Eu não lembro quem

mais se inscreveu, eu só sei que quem foi selecionada fui eu, na área

de orientação, e Ivanda na área de coordenação. [...] No Olavo Bilac

disseminamos um pouco essas funções, promovendo uma maior

integração entre a Orientação Educacional e Coordenação

Pedagógica. Não tínhamos essa coisa rígida... aqui entra o supervisor

e aqui entra o orientador, não! Por quê? Porque eu trabalhava com os

professores enquanto elementos da orientação educacional, e aí eu me

entrosava com a coordenadora pedagógica, e os coordenadores de

áreas, então a gente fazia um trabalho integrado, inclusive com a

direção. Era um trabalho inovador. (ARAGÃO, 2015, s/p).

A realização do curso para o treinamento das licenciadas em Pedagogia e a

implantação da nova unidade de ensino foram divulgadas na imprensa sergipana, com o

objetivo de anunciar o processo de ampliação e modernização do ensino no estado.

Figura 49 - Preparação de pessoal para o Ginásio Polivalente de Sergipe (1972)

Fonte: jornal Diário de Aracaju (02/08/1972). Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

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Outras escolas com propostas similares as dos ginásios polivalentes de associar a

formação geral com o ensino profissionalizante, também foram implantadas em Sergipe

durante a década de 70 do século XX. A Escola de 1º Grau John Kenedy, localizada na

capital sergipana, foi um exemplo de unidades experimentais que aderiram a esse modelo

de ensino. De acordo com Vera Maria Carvalho de Melo, ex-coordenadora pedagógica e

egressa do curso de Pedagogia em 1972, a participação dos especialistas em Educação na

concretização do projeto era essencial.

Ainda em 1972, fui trabalhar no Kenedy porque só poderia funcionar

quando tivesse os serviços de Orientação Educacional, para ajudar na

organização da escola e para assessorar os alunos. [...] Na época, o

Kenedy era uma escola experimental e oferecia 4 opções de profissão,

tinha oficinas de Técnicas Agrícolas, Técnicas Comerciais, Educação

para o lar e de Artes Industriais. [...] Por exemplo, quem escolhia

técnicas agrícolas aprendia a criar galinhas, coelhos, fazer plantações.

De Artes Industriais aí tinha tornos, e eles faziam uma série de

equipamento e de objetos; de Educação para o Lar aí fazia uma parte

de biologia para estudar os alimentos, havia a parte de costura; e tinha

as Técnicas Comerciais, onde se criava um escritório, e aí era

interessante porque a professora criava um talão de cheque e ensinava

como preencher, então eles utilizavam na cantina da escola. (MELO,

2015, s/p).

Em Sergipe, acadêmicos e concludentes do curso de Pedagogia que haviam optado

pela Orientação Educacional também implantaram núcleos da habilitação329 nas escolas

públicas e privadas do Estado, oferecendo serviços especializados de assistência aos

alunos. No Colégio de Aplicação da UFS, egressos das primeiras turmas colaboraram

com essa iniciativa, a exemplo da ex-aluna Maria José de Almeida Soares330:

329 O primeiro núcleo de Orientação Educacional em Sergipe foi implantado em 1968 pela professora

Cacilda de Oliveira Barros, no Colégio Agrícola. Diante disso, estudantes de Pedagogia que haviam

escolhido tal habilitação eram encaminhados ao Colégio para realizar as práticas de ensino. 330 O núcleo de Orientação Educacional do Colégio de Aplicação foi criado em 1970 pela professora de

prática de ensino da FACED/UFS, Cacilda de Oliveira Barros, com o objetivo de tornar-se o centro de

estágios da citada habilitação. Além da ex-aluna da primeira turma de Pedagogia, Maria José de Almeida

Soares, o CODAP também contou com a colaboração de Manoel Messias Vasconcelos, egresso da turma

de 1973.

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Figura 50 - Contrato para o cargo de orientador educacional do CODAP/UFS (1972)

Fonte: Ofício do diretor do Colégio de Aplicação, destinado ao magnifico reitor da UFS – 1972. Acervo: Arquivo do Departamento de Educação da UFS.

Além dos serviços de Orientação, a diplomada em Pedagogia contribuiu com a

adaptação do colégio ao modelo de ensino classificado em 1º e 2º graus e com a

implantação das habilitações profissionais, mediante convênio com a Secretaria de

Educação e Cultura do Estado e Instituto de Tecnologia de Sergipe331. A orientadora

educacional também acompanhava os estágios dos estudantes das licenciaturas da UFS,

realizados no Colégio de Aplicação.

331 Inicialmente foi cogitada a possibilidade de ofertar a Habilitação Específica do Magistério de 2º grau,

mas a proposta não foi aceita pela maioria dos professores do CODAP e FACED/UFS. Dessa forma, o

Colégio de Aplicação ofertou inicialmente a formação profissionalizante em Estatística, Petroquímica e

Laboratorista de Análise Clínica, em convênio com o Instituto de Tecnologia de Sergipe e Instituto de

Química da UFS.

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Eu lembro que quando fui estagiar no Colégio de Aplicação, a

professora Deuzinha, Maria José, foi quem acompanhou o meu

estágio porque ela era a orientadora educacional do Colégio, então ela

nos acompanhava e orientava. Inclusive, ela também havia me

indicado para o cargo de Supervisão na Secretaria de Educação.

(VIEIRA, 2015, s/p).

Serviços de Orientação e Supervisão Escolar também foram implantados na

Escola Técnica Federal de Sergipe332 nos primeiros anos da década de 70 do século XX.

Para isso, licenciados em Pedagogia foram sendo admitidos pela instituição, a partir de

1974, com o objetivo de modernizá-la e qualificar o ensino.

Logo quando eu terminei o curso, fui trabalhar na Escola Técnica,

com alguns colegas da turma: eu, Maria Pereira e Romilda. [...] Então,

a Escola Técnica contratou estudantes de Pedagogia para implantar

os serviços pedagógicos, e aí convidou a mim, a Maria Pereira e

Bárbara Adão, da segunda turma. Romilda, que era esposa de Ireneu,

o diretor, também passou a compor esse grupo da Escola Técnica.

[...]. Isso foi por volta de 1974. Éramos os primeiros egressos e a

escola precisava desses profissionais. Entramos todos na mesma

portaria, para implantar a parte pedagógica, propriamente dita. Tinha

também os orientadores educacionais, que eram Ednalva, Manoel

Messias Vasconcelos, Marlene Calumby, então, esse pessoal todo

entrou no mesmo momento. Nessa época a Escola fez uma mudança

no seu quadro com o intuito de qualificar mesmo o ensino. Então, a

Escola Técnica criou um grupo forte de egressos de Pedagogia da

Universidade Federal de Sergipe. (ANJOS, 2015, s/p).

Nesse período, a Escola Técnica Federal de Sergipe passou a realizar convênios

com instituições de nível superior para a qualificação pedagógica de seus professores com

nível médio e bacharéis. Parcerias com as escolas públicas (1º e 2º graus) também foram

firmadas com o objetivo de oferecer as disciplinas das habilitações profissionais, já que a

instituição possuía laboratórios apropriados para realizar essa formação. A proposta da

Escola Técnica era concretizar a reestruturação e ampliação da oferta do ensino

profissionalizante associado ao 2º grau e implantar novos serviços na instituição para

assessorar professores e alunos.

Em 75 eu já estava na Escola Técnica Federal de Sergipe como

estagiária do CIEE (Centro de Integração Escola Empresa) que era

um serviço novo na época, então como eles estavam instalando eu fiz

o estágio de seis meses lá, e no final fui contratada. Fiquei nesse

serviço que trabalhava muito a questão da orientação para a profissão,

mantínhamos relação com as empresas porque como na escola os

cursos eram industriais e de serviços, como edificações,

332 Atualmente denominada de Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe (IFS/SE).

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telecomunicação e outros, eles estagiavam nas empresas. Em seguida

houve concurso para pedagoga, fui aprovada e fiquei trabalhando no

serviço de orientação educacional e vocacional, assumindo depois

alguns cargos diretivos na Instituição. (CAETANO, 2015, s/p).

Um núcleo central de Orientação Educacional foi implantado na SEC/SE, com o

objetivo de prestar assistência a todos os educandos que estudavam na rede estadual.

Essas atividades promoviam a aproximação de estudantes e egressos do curso de

Pedagogia da UFS com a Secretaria Estadual de Educação, como podemos observar na

composição do Grupo Tarefa constituído por diplomados do curso para a elaboração do

anteprojeto do mencionado serviço.

Figura 51 - Implantação do serviço de assistência ao educando na SEC/SE (1974)

Fonte: Portaria interna da Secretaria de Educação e Cultura de Sergipe – 1974.

Acervo: Arquivo do Departamento de Educação da UFS.

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Como a SEC/SE era o órgão de maior absorção dos estudantes e egressos em

Pedagogia da UFS, encontros e congressos eram realizados frequentemente, em parceria

entre técnicos da Secretaria de Educação e professores da FACED/UFS. Em um dos

encontros realizados no ano de 1976, o corpo docente da Faculdade e a equipe técnico-

pedagógica da SEC/SE apresentaram sugestões para a melhoria da formação dos

acadêmicos e da prestação de serviços à comunidade.

Na ocasião, a equipe técnica da Secretaria de Educação constituída por

diplomados em Pedagogia nas habilitações de Supervisão, Orientação e Administração,

também apresentaram fatores que prejudicavam o ensino, nos aspectos qualitativos e

quantitativos333. A intenção era estabelecer uma parceria com o lócus pedagógico da UFS

a fim de estudar e solucionar problemas relacionados aos altos índices de repetência,

evasão334 e professores leigos. De acordo com Sucupira, o sucesso da implantação de

políticas educacionais no ensino de 1º e 2º graus dependia da atuação das universidades.

Isto significa que toda Reforma de 1º e 2º graus estará seriamente

afetada se a universidade não se dá conta da responsabilidade de sua

participação no processo educativo, proporcionando a formação de

mestres, planejadores e administradores escolares, inspetores,

supervisores, orientadores educacionais, programadores didáticos,

bem como desenvolvendo a pesquisa educacional e contribuindo para

a elaboração do pensamento pedagógico. Daí a necessidade de um

perfeito entrosamento do ensino superior com os demais níveis e de

uma adequada articulação entre a reforma universitária e o ensino de

1º e 2º graus. (SUCUPIRA, 1973, p. 12).

Em contrapartida, a FACED/SE orientou sobre as atribuições peculiares de cada

habilitação e a importância desses especialistas assumirem suas atividades, criticando a

postura da SEC-SE em enquadrá-los em funções diversas, que não correspondiam às suas

formações. Os professores da Faculdade de Educação também ressaltaram a necessidade

desses licenciados ocuparem os cargos centrais da Secretaria Estadual de Educação,

devido ao conhecimento acadêmico e à experiência profissional.

333 A equipe era constituída por: Maria Auxiliadora de Carvalho Menezes – Assessora da equipe de

currículo; Maria Eunice de Carvalho Santos – Coordenadora da equipe de currículo; Ana Lúcia Meneses

Vieira – Coordenadora da equipe de supervisão; Edjan Soares de Souza – Técnica da Assessoria de

Planejamento; e Judite Oliveira Aragão – Técnica da equipe de Orientação. Algumas professoras da

FACED presentes nesse momento eram egressas do curso: Ada Augusta Celestino Bezerra, Nádia Fraga

Vilas-Bôas, Maria Consuêlo Maia Alcântara, Maria Lúcia Souza Ramos e Maria José de Almeida Soares. 334 No encontro entre técnicos da SEC/SE e professores da FACED/UFS, realizado em 1976, foi divulgado

que 50% dos estudantes de 1ª série do 1º grau da Rede Estadual de Educação não tinham condições de

promoção para a série seguinte. Segundo o chefe da Assessoria de Planejamento (ASPLAN) da Secretaria

de Educação, Antônio Dantas de Oliveira, a evasão e a repetência escolar eram os fatores que mais

preocupavam os técnicos da SEC (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, 1976c, p. 3).

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Diante da importância do trabalho especializado para a implantação de políticas

educacionais em Sergipe, até 1978 foram encontradas solicitações da Secretaria Estadual

de Educação e de instituições federais de ensino encaminhadas à Faculdade de Educação,

cujo objetivo era impulsionar a formação de administradores, supervisores e orientadores

educacionais. A demanda pelos egressos compreendia o preparo para a atuação no

magistério e nas áreas das habilitações.

Passando ao segundo assunto da pauta, o prof. Ovídio Valois

apresentou o ofício nº. 87/77 do PREMEN-SE, no qual a gerente

estadual335 solicita ao Magnifico Reitor o oferecimento de um curso

de complementação de estudos de 1.100 horas de Administração – 18

vagas, de Orientação Educacional – 21 vagas e Supervisão Escolar –

12 vagas, para habilitar e aperfeiçoar o pessoal docente e técnico

administrativo que atuará nas escolas que serão constituídas pelo

Programa, apresentando o problema aos presentes.

(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, 1968-1978, p. 59).

Os serviços desenvolvidos pelos pedagogos perpassavam diferentes áreas do

conhecimento, planejamento escolar e das práticas de ensino, compreendendo todos os

níveis, do primário ao superior. Nesse sentido, a expectativa de eficiência de um

profissional que lidava com diferentes áreas e níveis, e de um trabalho especializado

direcionado a estudantes, professores, funcionários e a comunidade, definiu a grande

demanda pelos acadêmicos e egressos do curso de Pedagogia, e o grande prestígio no

campo educacional sergipano, durante a década de 70 do século XX.

335 O cargo de gerente era ocupado pela ex-aluna da primeira turma de Pedagogia/UFS, Maria José de

Almeida Soares. Na ocasião, ela também acumulava a função docente como professora desse curso da UFS.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os primeiros cursos destinados a formação docente em nível superior no Estado

de Sergipe, foram implantados somente na década de 50, do século XX, após a criação

da Faculdade Católica de Filosofia. Até esse período a formação de professores era

realizada especialmente no curso Normal de nível secundário, ministrado no Instituto de

Educação Rui Barbosa ou mediante cursos de suficiência, promovidos pela CADES.

Dentre os cursos autorizados para o funcionamento da Faculdade Católica de

Filosofia, a partir de 1951, estava o de Pedagogia. No entanto, esse curso só passou a

funcionar em 1968, após a criação da Universidade Federal de Sergipe (em 1967) e a

certeza da incorporação da FAFI à nova instituição. O processo de integração acarretou

numa série de mudanças para adequar a graduação as diretrizes da Reforma Universitária,

pois a Universidade já havia sido instalada sob seu amparo legal.

A concretização no funcionamento do curso foi uma determinação do Governo

Civil Militar para a criação da UFS, o qual exigia o desmembramento da FAFI e a

implantação do Instituto de Letras, de Filosofia e Ciências Humanas e a Faculdade de

Educação. Essa imposição justifica o interesse de Dom Luciano Duarte em instalar o

curso de Pedagogia no último ano da FAFI, evidenciando as disputas no campo

acadêmico e o prestígio do conselheiro federal, Newton Sucupira, na tomada de decisões.

O curioso é que no intervalo entre o período de criação (1951) e implantação

(1968), o curso de Pedagogia recebeu reconhecimento definitivo em 1954 pelo Governo

Federal, mesmo sem nunca ter funcionado. Isso contrariava a legislação da época, a qual

exigia ao menos dois anos de funcionamento para a avaliação do Conselho Nacional de

Educação. Tal fato foi justificado pelo acúmulo de capital (religioso, social, cultural e

simbólico) que Dom Luciano Duarte detinha, e consequentemente, sua autoridade e

prestígio perante o campo político e educacional.

Após sua implantação, o curso permaneceu durante as décadas de 60 e 70 do

século XX sendo a graduação mais procurada na área de formação do magistério da

Universidade Federal de Sergipe. Um dos motivos para essa demanda estava associada a

reformulação nacional do curso, em 1969, a qual ampliou o campo de atuação dos

pedagogos mediante a criação das habilitações em Supervisão, Administração,

Orientação e Inspeção Escolar.

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Tal formação especializada visava contribuir com a adequação do programa

educacional do país ao projeto político modernizador-desenvolvimentista do Governo

Civil Militar, o qual buscava aprimorar a formação de mão de obra e atender aos

interesses de diferentes grupos. No entanto, a criação dessas habilitações na formação

acadêmica e a implantação desses serviços especializados nas escolas eram defendidas

por intelectuais da educação antes de 1964.

Em Sergipe, a implantação do curso e a formação dos primeiros licenciados

proporcionou a formação de professores para atuar no ensino Normal e na Habilitação

Específica para o Magistério (HEM). Essa iniciativa também colaborou com a

implantação dos serviços técnicos-pedagógicos de supervisão, administração,

planejamento, inspeção e orientação.

Dessa forma, a inserção dos primeiros pedagogos no campo educacional

sergipano ocorreu por duas vias: docência e atividades técnicas-pedagógicas. Na docência

contribuíram com a realização de cursos de formação e capacitação de professores leigos,

titulados e não titulados, especialmente, da rede pública estadual de ensino. Inclusive, a

Secretaria Estadual de Educação de Sergipe representava a instituição de maior absorção

de alunos e licenciados em Pedagogia da UFS (1971-1977).

Esses diplomados também exerceram atividades profissionais na Universidade

Federal de Sergipe, mediante à docência nas disciplinas do curso de Pedagogia336 e

funções técnicas na Assessoria de Planejamento da UFS, no CECAC/UFS, Departamento

de Apoio Didático Pedagógico (DEAPE/UFS) e Departamento de Administração

Acadêmica (DAA/UFS).

Além disso, contribuíram com a instalação e reorganização de núcleos

especializados de supervisão, planejamento, inspeção e orientação da Secretaria Estadual

de Educação e Cultura (SEC-SE), do Colégio de Aplicação (CODAP/UFS), da Escola

Técnica Federal de Sergipe e de escolas privadas. Nesse sentido, participaram na

elaboração e implantação de medidas educacionais direcionadas a criação de escolas e

matrículas, reorganização do ensino de acordo com as diretrizes vigentes, erradicação do

analfabetismo, formação especializada de mão de obra (dirigentes e técnicos), melhoria

da qualidade do ensino, integração entre pais e mestres, educação de jovens e adultos,

ampliação no acesso ao ensino na rede pública e aumento no período da escolarização.

336 Os licenciados em Pedagogia também exerceram à docência no curso de Pedagogia da Faculdade Pio

Décimo, implantado em 1976.

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Durante a pesquisa, apesar de ex-alunos e ex-professores de Pedagogia

demonstrarem hostilidade ao período do Regime Civil Militar e a adesão do curso aos

interesses da sua política ditatorial, não se tornou evidente as práticas de autoritarismo,

nem a cumplicidade das suas ações enquanto colaboradores da vigilância e punições

exercidas pelo governo. Quando questionados sobre suas ações nesse processo autoritário

e de controle social/ideológico, já que ocupavam funções estratégicas da docência,

técnica ou de coordenação nos núcleos de supervisão, orientação, planejamento, inspeção

e administração, não souberam exemplificar nas suas atividades práticas e nos serviços

prestados ao Governo, sinais de constrangimento, tortura, prisões e vigilância.

Ao serem questionados sobre o papel que o pedagogo exercia na fiscalização aos

professores, (a cargo dos supervisores) e aos estudantes (função dos orientadores), além

do controle sobre toda a comunidade escolar, inclusive pais de alunos ou responsáveis

(atividade do diretor), não demonstraram nenhuma cumplicidade com o Governo nesse

sentido, nem sabiam explicar como isso ocorria na prática. A única referência a adesão

ao controle e ao autoritarismo do Governo, estava associada as interpretações

bibliográficas que haviam se apropriado após a década de 80 do século XX.

Assim, a análise sobre a inserção e as práticas desenvolvidas por acadêmicos e/ou

licenciados em Pedagogia da UFS no campo educacional sergipano não evidenciaram

com clareza a interpretação de que a formação do pedagogo e o perfil profissional,

adotado em 1969, atendiam “apenas” aos anseios de controle social e autoritarismo do

Regime Militar.

No âmbito local, verificamos a eficiência e a contribuição desses agentes na

implantação de políticas educacionais que visavam, especialmente, a formação de mão

de obra qualificada para atender o projeto desenvolvimentista do Governo. No entanto,

essa formação não estava dissociada da qualidade do ensino e da ampliação ao acesso a

escolarização pública.

A partir desta Tese, espera-se que novas propostas de pesquisa sejam estimuladas

com o objetivo de compreender o trabalho dos especialistas em Educação após 1980, e as

disputas com os professores em nível de 1º e 2º graus, de diferentes áreas do

conhecimento no campo educacional sergipano. Além disso, outras possibilidades de

estudo, seria a análise do ingresso e da participação dos pedagogos da UFS nos

movimentos de reivindicação docente a partir de 1978, no Estado de Sergipe; a inserção

de ex-alunos do curso de Pedagogia da UFS na docência dos diferentes estabelecimentos

de ensino superior de Sergipe, e na própria UFS; a presença e a produção de egressos do

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curso de Pedagogia nos cursos de pós-graduação lato sensu e scrito sensu no Estado; a

contribuição de ex-alunos na criação e manutenção de estabelecimentos privados de

educação básica, entre outras temáticas.

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A CRUZADA. Rede Católica de Ensino Superior. Aracaju/SE, 07 de julho de 1956.

Ano XXI, nº 957.

A CRUZADA. 10 anos da Faculdade de Filosofia. Aracaju/SE, 23 de setembro de

1961. Ano XXV, nº. 1.220.

A CRUZADA. Licenciados em Filosofia vão fundar associação. Aracaju/SE, 09 de

junho de 1963. Ano XXVII, nº. 1.399.

A CRUZADA. Universidade no Horizonte. Aracaju/SE, 20 de agosto de 1966. Ano

48, nº. 1.465.

A CRUZADA. Relator do processo da Universidade em Sergipe. Aracaju/SE, 24 de

setembro de 1966. Ano 48, nº. 1.170.

A CRUZADA. Governador viaja levando memorial ao presidente. Aracaju/SE, 04

de fevereiro de 1967. Ano 48, nº. 190.

A CRUZADA. Governador viaja levando memorial ao presidente. Aracaju/SE, 04

de março de 1967. Ano 48, nº. 190.

A CRUZADA. Ensino em Sergipe: os grandes problemas. Aracaju/SE, 02 de

setembro de 1967. Ano 49, nº. 1.210.

A CRUZADA. As mini faculdades. Aracaju/SE, 18 de novembro de 1967. Ano 49, nº.

1.519.

A CRUZADA. Universidade em vias de instalação. Aracaju/SE, 06 de janeiro de

1968. Ano 49, nº. 1.326.

A CRUZADA. Concurso de Habilitação. Aracaju/SE, 06 de fevereiro de 1968. Ano

49, nº 1.446.

A CRUZADA. Instalada a Universidade. Aracaju/SE, 18 de maio de 1968. Ano 49,

nº 1.545.

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220

A CRUZADA. Solene instalação da FUFSE, marco cultural na vida intelectual

sergipana. Aracaju/SE, 18 de maio de 1968. Ano 49, nº. 1.545.

A CRUZADA. O que vai pela Educação e Cultura – supervisão. Aracaju/SE, 01 de

junho de 1968. Ano 49, nº. 1.547.

A CRUZADA. A realidade do professor em Sergipe. Aracaju/SE, 26 de agosto de

1968. Ano 49, nº. 1.968.

A CRUZADA. O desmembramento da Faculdade de Filosofia em três institutos é

“Lei da Dialética da Existência”. Aracaju/SE, 02 de novembro de 1968. Ano 50, nº.

1.566.

A CRUZADA. Uma mensagem de esperança para o jovem secundário. Aracaju/SE,

15 de março de 1969. Ano 50, nº. 1.582

A CRUZADA. Licenciados em Ação. Aracaju/SE, 19 de abril de 1969. Ano 50, nº.

1.587.

A CRUZADA. Objetivos da Associação dos professores Licenciados. Aracaju/SE, 26

de abril de 1969. Ano 50, nº. 1.588.

A CRUZADA. Grupo de Trabalho concluiu o anteprojeto do Estatuto do

Magistério do Ensino Médio de Sergipe. Aracaju/SE, 12 de julho de 1969. Ano 50, nº.

1.588.

A CRUZADA. O professor secundário ganha dignidade. Aracaju/SE, 01 de

novembro de 1969. Ano 50, nº. 1.963.

A CRUZADA. Considerações sobre os exames vestibulares. Aracaju/SE, 14 de

março de 1970. Ano 50, nº. 1.568.

DIÁRIO DE ARACAJU. Situação do professor em Sergipe. Aracaju/SE, 17 de

outubro de 1967. Ano II, nº. 475.

DIÁRIO DE ARACAJU. Diplomas Universitários Aracaju/SE, 10 e 11 de dezembro

de 1967. Ano II, nº. 525.

DIÁRIO DE ARACAJU. Vestibular das faculdades será o mesmo no dia nove pois

modificações não vigarão. Aracaju/SE, 14 de dezembro de 1967. Ano II, nº. 521.

DIÁRIO DE ARACAJU. Escolas Municipais atualmente fechadas serão reabertas.

Aracaju/SE, 13 de janeiro de 1968. Ano III, nº 545.

DIÁRIO DE ARACAJU. Estudantes do Projeto Rondon chegaram a Aracaju.

Aracaju/SE, 18 de janeiro de 1968. Ano III, nº 549.

DIÁRIO DE ARACAJU. Vestibulares de Direito, Filosofia e Economia serão

realizados na 1ª quinzena. Aracaju/SE, 3 de fevereiro de 1968. Ano III, nº. 557.

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221

DIÁRIO DE ARACAJU. Problemas do ensino. Aracaju/SE, 6 de fevereiro de 1968.

Ano III, nº. 559.

DIÁRIO DE ARACAJU. Filosofia. Aracaju/SE, 1 de março de 1968. Ano III, nº. 577.

DIÁRIO DE ARACAJU. Dom Luciano Cabral Duarte foi designado para o

Conselho Federal de Educação. Aracaju/SE, 6 de março de 1968. Ano III, nº. 576.

DIÁRIO DE ARACAJU. Sobre professores. Aracaju/SE, 15 de março de 1968. Ano

III, nº. 584.

DIÁRIO DE ARACAJU. Cruzada ABC contratará professores para dinamizar o

ensino supletivo no Estado. Aracaju/SE, 27 de março de 1968. Ano III, nº. 595.

DIÁRIO DE ARACAJU. Faculdades foram incorporadas à Universidade.

Aracaju/SE, 1 e 2 de maio de 1968. Ano III, nº. 622.

DIÁRIO DE ARACAJU. Projeto Rondon nº. II. Aracaju/SE, 11 de julho de 1968.

Ano III, nº. 560

DIÁRIO DE ARACAJU. Governo e Cruzada ABC fazem convênio para alfabetizar

adultos em Aracaju. Aracaju/SE, 14 de agosto de 1968. Ano III, nº. 707.

DIÁRIO DE ARACAJU. Reforma do sistema educacional. Aracaju/SE, 15 e 16 de

setembro de 1968. Ano III, nº. 752.

DIÁRIO DE ARACAJU. Licenciados da FFUFS querem prioridade para lecionar.

Aracaju/SE, 08 de março de 1969. Ano IV, nº. 869.

DIÁRIO DE ARACAJU. Universidade tem comissão para estudar inovações no

exame vestibular de 1970. Aracaju/SE, 08 e 09 de junho de 1969. Ano IV, nº. 959.

DIÁRIO DE ARACAJU. Exames Vestibulares. Aracaju/SE, 18 de julho de 1969. Ano

IV, nº. 990.

DIÁRIO DE ARACAJU. Cursos de férias beneficiam mais de 40 professoras;

atrasados do PAMP vão sair. Aracaju/SE, 19 de julho de 1969. Ano IV, nº. 991.

DIÁRIO DE ARACAJU. Ministério da Educação e Cultura. Aracaju/SE, 24 de

agosto de 1969. Ano IV, nº. 1022.

DIÁRIO DE ARACAJU. Restruturação da Secretaria de Educação. Aracaju/SE, 18

de setembro de 1969. Ano IV, nº. 1046.

DIÁRIO DE ARACAJU. Reclassificados 1.871 mestres do Magistério Estadual.

Aracaju/SE, 08 de outubro de 1969. Ano IV, nº. 1063.

DIÁRIO DE ARACAJU. SEC abre inscrição para concurso de supervisor do ensino

primário. Aracaju/SE, 20 de novembro de 1969. Ano IV, nº. 1098.

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222

DIÁRIO DE ARACAJU. Projeto Rondon. Aracaju/SE, 29 de novembro de 1969. Ano

IV, nº. 1006.

DIÁRIO DE ARACAJU. Universitários reclamam classificação do Rondon V.

Aracaju/SE, 05 de dezembro de 1969. Ano IV, nº 1111.

DIÁRIO DE ARACAJU. O resultado do Rondon. Aracaju/SE. 06 de fevereiro de

1970. Ano V, n°. 1161.

DIÁRIO DE ARACAJU. Excedentes da Universidade de Sergipe divulgaram

manifesto solicitando matrícula. Aracaju/SE, 18 de fevereiro de 1970. Ano V, nº.

1150.

DIÁRIO DE ARACAJU. DIÁRIO DE ARACAJU. Curso quase no fim. Aracaju/SE.

21 de fevereiro de 1970. Ano V, n°. 1120.

DIÁRIO DE ARACAJU. Reitoria deu jantar a estudantes. Aracaju/SE. 08 e 09 de

março de 1970. Ano V, n°. 1172.

DIÁRIO DE ARACAJU. Festa do Projeto Rondon foi prestigiada. 07 de maio de

1970. Ano V, nº. 1221.

DIÁRIO DE ARACAJU. Foi sucesso absoluto I Simpósio do Projeto Rondon. 02 de

junho de 1970. Ano V, nº. 1241.

DIÁRIO DE ARACAJU. Programa de expansão e melhoria do ensino médio. 17 de

junho de 1971. Ano VI, nº. 1453.

DIÁRIO DE ARACAJU. Colégio Castelo Branco: empossado novo diretor. 29 de

julho de 1970. Ano V, nº. 1285.

DIÁRIO DE ARACAJU. Programa de alfabetização será elaborado hoje. 07 de

agosto de 1970. Ano V, nº. 1293.

DIÁRIO DE ARACAJU. Estudantes vão a Operação Mauá. 05 de janeiro de 1971.

Ano VI, nº. 1308.

DIÁRIO DE ARACAJU. Projeto Rondon. 09 de janeiro de 1971. Ano VI, nº. 1312.

DIÁRIO DE ARACAJU. Projeto Rondon encerrou Simpósio e entregou diplomas.

18 de maio de 1971. Ano VI, nº. 1428.

DIÁRIO DE ARACAJU. MOBRAL faz alfabetização em massa. 26 de junho de

1971. Ano VI, nº. 1460.

DIÁRIO DE ARACAJU. MOBRAL abre dois postos para alfabetizar servidores de

empresas. Aracaju/SE, 15 de julho de 1971. Ano VI, nº. 1473.

DIÁRIO DE ARACAJU. Rural do MOBRAL capota no interior e fere passageiros.

23 de setembro de 1971. Ano VI, nº. 1530.

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223

DIÁRIO DE ARACAJU. Curso de Estudos Adicionais. 06 de abril de 1972. Ano VII,

nº. 1679.

DIÁRIO DE ARACAJU. Começou o seminário. 18 de abril de 1972. Ano VII, nº.

1689.

DIÁRIO DE ARACAJU. Retornou coordenador estadual do MOBRAL. 08 de julho

de 1972. Ano VII, nº. 2010.

DIÁRIO DE ARACAJU. Preparado pessoal que atuará no Ginásio Polivalente em

73. 02 de agosto de 1972. Ano VII, nº. 2030.

DIÁRIO DE ARACAJU. Sigilo rompido anula provas do vestibular. Aracaju/SE, 21

de dezembro de 1972. Ano VIII, nº. 3.235.

DIÁRIO DE ARACAJU. Estudantes do Paraná chegam dia oito para Projeto

Rondon. 04 de janeiro de 1973. Ano VII, nº. 2112.

DIÁRIO DE ARACAJU. Universitários sergipanos atuam no bairro América. 13 de

janeiro de 1973. Ano VII, nº. 1220.

DIÁRIO DE ARACAJU. Quase 41 mil sergipanos vão aprendendo no MOBRAL.

10 de julho de 1973. Ano VII, nº. 3216.

DIÁRIO DE ARACAJU. Programas do MOBRAL. 12 de setembro de 1973. Ano VII,

nº. 3261.

DIÁRIO DE ARACAJU. Universidade. Aracaju/SE, 12 de março de 1976. Ano XI, nº.

3.725.

DIÁRIO DE ARACAJU. Estudantes da UFS reclamam do alto custo dos estudos.

Aracaju/SE, 19 e 20 de março de 1978. Ano XIII, nº. 4.352.

GAZETA DE SERGIPE. Filosofia desmembrada em três Institutos. Aracaju/SE, 25

e 26 de agosto de 1968. Ano XIII, nº. 3.642.

GAZETA DE SERGIPE. Ensino primário é meta do Ministro da Educação.

Aracaju/SE, 13 de janeiro de 1970. Ano XV, nº. 4.034.

GAZETA DE SERGIPE. 70 mil vagas nas universidades brasileiras. Aracaju/SE, 05

de janeiro de 1971. Ano XV, nº. 4.326.

GAZETA DE SERGIPE. Reforma do ensino é difícil: falta de pessoal qualificado.

Aracaju/SE, 05 de janeiro de 19713. Ano XV, nº. 4.326.

GAZETA DE SERGIPE. Vestibular. Aracaju/SE, 12 de janeiro de 1974. Ano XIX, nº.

4.673.

GAZETA DE SERGIPE. Para vestibulandos, hoje é o dia do relaxar. Aracaju/SE, 07

de janeiro de 1978. Ano XXII, nº. 5.923.

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224

JORNAL DA CIDADE. Charge: vestibular 77 – inimigo nº 1: o fiscal. Aracaju/SE,

12 de janeiro de 1977. Ano V, nº. 1.313.

JORNAL DA CIDADE. Charge: vestibular 77 – inimigo nº 2: os nervos. Aracaju/SE,

13 de janeiro de 1977. Ano V, nº. 1.314.

NUNES, Maria Thétis. In: INFORME UFS. Dom Luciano e a Faculdade Católica de

Filosofia. São Cristóvão/SE, 26 de janeiro de 2007, p. 4-5.

SERGIPE – JORNAL. O magistério em Sergipe. Aracaju/SE, 29 de março de 1949.

s/n.

SERGIPE – JORNAL. Professores, professores, mais professores. Aracaju/SE, 29 de

março de 1950. s/n.

2 - Dispositivos normativos

BRASIL. Decreto-Lei n. 19.851, de 11 de abril de 1931a. Estatuto das Universidades

Brasileiras. In: FÁVERO, Maria de Lourdes. A Universidade do Brasil: Guia dos

Dispositivos Legais. Rio de Janeiro/RJ: Editora UFRJ/INEP, 2000. p. 51 a 84.

BRASIL. Decreto-Lei n. 19.852, de 11 de abril de 1931b. Dispõe sobre a organização

da Universidade do Rio de Janeiro. In: FÁVERO, Maria de Lourdes. A Universidade

do Brasil: Guia dos Dispositivos Legais. Rio de Janeiro/RJ: Editora UFRJ/INEP, 2000.

p. 84 a 102.

BRASIL. Lei 452, de 05 de julho de 1937. Organiza a Universidade do Brasil. In:

FÁVERO, M. L. A. Universidade e Poder: análise crítica, fundamentos históricos:

1930-45. Brasília/DF: Editora Plano, 2000. p. 249-260.

BRASIL. Lei nº 452, de 5 de Julho de 1937. Organiza a Universidade do Brasil. Diário

Oficial da União, Rio de Janeiro, 5 jul. 1937.

BRASIL. Decreto-Lei nº. 421, de 11 de maio de 1938. Regula o funcionamento dos

estabelecimentos de ensino superior. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 11 maio

1938.

BRASIL. Decreto-Lei nº. 1063, de 20 de janeiro de 1939. Dispõe sobre a transferência

de estabelecimentos de ensino da Universidade do Distrito Federal para a Universidade

do Brasil. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 20 jan. 1939.

BRASIL. Decreto-Lei nº 1.190, de 04 de abril de 1939. Dá organização à Faculdade

Nacional de Filosofia. Disponível em: http://www.senado.gov.br/legislacao/ Acesso

em 30 jul. 2015.

BRASIL. Decreto-Lei nº 4.244, de 9 de abril de 1942. Lei Orgânica do Ensino

Secundário. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 10 abr. 1942.

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225

BRASIL, Decreto-Lei nº 8.777, de 22 de janeiro de 1946. Dispõe sobre o registro

definitivo de professores de ensino secundário no Ministério da Educação e Saúde.

Diário Oficial da União, Brasília/DF, 24 de jan. de 1946.

BRASIL. Decreto-Lei nº. 9.092/46, de 26 de março de 1946. Amplia o regime didático

das faculdades de filosofia, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Rio de

Janeiro, 26 mar. 1946.

BRASIL. Decreto-Lei nº 29.311, de 28 de Fevereiro de 1951. Concede autorização para

funcionamento de cursos na Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. Diário Oficial

da União, Rio de Janeiro, 28 fev. 1951.

BRASIL. Decreto-Lei nº 34.638, de 17 de novembro de 1953. Institui a Campanha de

Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1950-1969/D34638.htm Acesso em 20

nov. 2016.

BRASIL. Decreto-Lei nº 34.961, de 19 de Janeiro de 1954. Fica autorização para

funcionamento do curso de didática da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe.

Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 19 jan. 1954.

BRASIL. Decreto-Lei nº 34.963, de 19 de Janeiro de 1954. Concede reconhecimento

aos cursos de filosofia letras anglo-germânicas, letras neo-latina, geografia e história,

matemática e pedagogia, da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. Diário Oficial

da União, Rio de Janeiro, 19 jan. 1954.

BRASIL. Decreto nº 39.039, de 18 de Abril de 1956. Concede reconhecimento ao

Curso de Didática da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. Diário Oficial da

União, Rio de Janeiro, 18 abril 1954.

BRASIL. Lei 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Fixa as Diretrizes e Bases da

Educação Nacional. Disponível em: http://www.senado.gov.br/legislacao/ Acesso em

30 jul. 2015.

BRASIL, Ministério da Educação e Cultura, Conselho Federal de Educação. Parecer

292/62. Revista Documenta, Rio de Janeiro, n. 10, p. 95-100, dez.,1962.

BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Federal de Educação. Parecer nº. 251/62.

Currículo mínimo e duração do curso de Pedagogia. Relator: Valnir Chagas. Revista

Documenta, Rio de Janeiro. (1-11), p.59-65, 1962.

BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Federal de Educação. Resolução nº. 01/62.

Revista Documenta, Rio de Janeiro. nº. 11, p. 59-66, 1962.

BRASIL. Decreto-Lei nº. 53, de 18 de novembro de 1966. Fixa princípios e normas de

organização para as universidades federais e dá outras providências. Diário Oficial da

União, Brasília/DF, 21 nov. 1966.

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226

BRASIL. Lei nº 5.379, de 15 de dezembro de 1967. Provê sôbre a alfabetização

funcional e a educação continuada a adolescentes e adultos. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/L5379.htm> Acesso em: 20 de

nov. 2016.

BRASIL. Decreto-Lei nº. 252, de 28 de fevereiro de 1967 (a). Estabelece normas

complementares ao Decreto-Lei nº 53, de 18 de novembro de 1966, e dá outras

providências. Diário Oficial da União, Brasília/DF, 28 fev. 1967.

BRASIL. Decreto-Lei nº. 269, de 28 de fevereiro de 1967 (b). Autoriza o Poder

Executivo a instituir a Fundação Universidade Federal de Sergipe e dá outras

providências. Diário Oficial da União, Brasília/DF, 28 fev. 1967.

BRASIL. Decreto-Lei nº. 228, de 28 de fevereiro de 1967 (d). Reformula a

organização da representação estudantil e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.senado.gov.br/legislacao/> Acesso em 30 jul. 2016.

BRASIL. Decreto-Lei nº. 62.927, de 28 de Junho de 1968. Institui, em caráter

permanente, o Grupo de Trabalho "Projeto Rondon", e dá outras providências. Diário

Oficial da União. 01 jul. 1968.

BRASIL. Lei nº. 5.540, de 28 de novembro de 1968a. Fixa normas de organização e

funcionamento do ensino superior e sua articulação com a escola média, e dá outras

providências. Diário Oficial da União, Brasília/DF, 28 nov. 1968.

BRASIL. Decreto-Lei nº. 405, de 31 de dezembro de1968b. Provê sobre o incremento

de matrículas em estabelecimentos de ensino superior, em 1969. Diário Oficial da

União, Brasília/DF, 31 de dez. 1968.

BRASIL. Decreto-Lei nº. 464, de 11 fevereiro de 1969a. Estabelece normas

complementares à Lei nº 5.540, de 28 de novembro de 1968, e dá outras providências.

Diário Oficial da União, Brasília/DF, 11 de fev. 1969.

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Conselho Federal de Educação. Parecer nº.

252/69b. Estudos pedagógicos superiores. Mínimos de conteúdo e duração para o curso

de graduação em pedagogia. Relator: Valnir Chagas. Revista Documenta, Brasília. (1-

100), p.101-117.

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Conselho Federal de Educação. Resolução

nº. 02/69c. Fixa os mínimos de conteúdo e duração a serem observados na organização

do curso de Pedagogia. Rio de Janeiro: Revista Documenta, 1969. n. 11, p. 101-112.

BRASIL. Decreto-Lei nº. 64.918, de 31 de agosto de 1969d. Institui, em caráter

permanente, a "Operação Mauá" (OPEMA), e dá outras providências. Diário Oficial da

União, Brasília/DF, 31 agosto 1969.

BRASIL. Decreto-Lei nº. 916, de 07 de outubro de 1969e. Cria a Comissão

Incentivadora dos Centros Rurais Universitários de Treinamento e Ação Comunitária

CINCRUTAC - e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília/DF, 08 out.

1969.

Page 229: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · As minhas irmãs de coração: Ligia Menezes, Mary Lourdes Santana, Ana Carla Menezes, Elma, Nirlen, Samara, Dijane, Taiana,

227

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Conselho Federal de Educação. Parecer nº.

178 de 10 de março de 1970a. Adaptação do estatuto da UFS à legislação universitária.

Relator: Alberto Deodato.

BRASIL. Decreto-Lei nº. 67.505, de 06 de novembro de 1970b. Reformula o Grupo de

Trabalho Projeto Rondon e assegura-lhe autonomia administrativa e financeira e dá

outras providências. Diário Oficial da União, Brasília/DF, 09 nov. 1970.

BRASIL. Lei nº. 5.692, de 11 de agosto de 1971a. Fixa Diretrizes e Bases para o ensino

de 1° e 2º graus, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília/DF, 11 de

agos. 1971a.

BRASIL. Lei nº. 68.908, de 13 de julho de 1971b. Dispõe sôbre Concurso Vestibular

para admissão aos cursos superiores de graduação. Diário Oficial da União,

Brasília/DF, 13 de jul. 1971b.

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Conselho Federal de Educação. Parecer nº.

45 de 12 de janeiro de 1972. Revista Documenta, Brasília. n. 134, janeiro de 1972a, p.

107-125.

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Conselho Federal de Educação. Parecer nº.

349 de 12 de abril de 1972. Revista Documenta, Brasília. n. 137, janeiro de 1972b, p.

155-173.

BRASIL. Decreto-Lei nº. 72.846, de 26 de setembro de 1973. Regulamenta a Lei nº

5.564, de 21 de dezembro de 1968, que provê sobre o exercício da profissão de

orientador educacional. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1970-1979/d72846.htm> Acesso em 30

jul. 2016.

BRASIL. Lei Complementar nº. 20, de 01 de julho de 1974. Dispões sobre a criação de

Estados e Territórios. Diário Oficial da União, Brasília/DF, 01 jul. 1974.

BRASIL. Decreto-Lei nº. 6.310, de 15 de dezembro de 1975. Autorizo a instituição da

Fundação Projeto Rondon, e dá outras providências. Diário Oficial da União,

Brasília/DF, 16 dez. 1974.

BRASIL. Decreto-Lei nº 79.298, de 24 de fevereiro de 1977. Altera o Decreto nº

68.908, de 13 de julho de 1971, e dá outras providências. Diário Oficial da União,

Brasília/DF, 24 de fev. 1977.

DISTRITO FEDERAL. Decreto-Lei nº. 5.513, de 4 de abril de 1935. Cria a

Universidade do Distrito Federal. Officinas Graphicas do Jornal do Brasil, Distrito

Federal, 4 fev. 1935.

SERGIPE. Decreto-Lei nº. 221, de 15 de junho de 1950. Concede subvenção anual à

Faculdade de Filosofia que venha a ser criada e organizada no Estado. Diário Oficial

do Estado de Sergipe. Aracaju/SE, 15 jun. 1950.

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228

3 - Correspondências:

DUARTE. Luciano José Cabral. Carta do Padre Luciano Duarte, destinada ao

Procurador da FAFI Armando Barcelos. São Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS,

14 de junho de 1953a, s/p.

DUARTE. Luciano José Cabral. Carta do Padre Luciano Duarte destinada ao

Procurador da FAFI Armando Barcelos. São Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS,

06 de agosto de 1953b, s/p.

DUARTE. Luciano José Cabral. Carta do Padre Luciano Duarte destinada ao

Procurador da FAFI Armando Barcelos. São Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS,

11 de fevereiro de 1954, s/p.

DUARTE. Luciano José Cabral. Carta do Monsenhor Luciano Duarte destinada ao

Deputado Federal Leite Neto. São Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS, 30 de

março de 1959, s/p.

DUARTE. Luciano José Cabral. Carta do Monsenhor Luciano Duarte destinada ao

Deputado Federal Lemartine Távora. São Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS, 13

de março de 1960, s/p.

DUARTE. Luciano José Cabral. Carta do Monsenhor Luciano Duarte destinada ao

Membro do Conselho Federal de Educação Dom Cândido PadIn: São

Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS, 28 de maio de 1965, s/p.

4 - Documentos

FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE SERGIPE. Ata da Faculdade

Católica de Filosofia de Sergipe. São Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS, 1961a,

s/p.

FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE SERGIPE. Revista da Faculdade

Católica de Filosofia de Sergipe, ANO I, 1961. São Cristóvão: Arquivo do Instituto

Histórico e Geográfico de Sergipe, 1961b, 84 pgs.

FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE SERGIPE. Ata da reunião do

Conselho Diretor da Sociedade Sergipana de Cultura. São Cristóvão/SE: Arquivo

Central da UFS, 1963, s/p.

FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE SERGIPE. Ata geral do concurso de

habilitação de 1968. São Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS, 1968a, s/p.

FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE SERGIPE. Livro de matrícula dos

alunos de Pedagogia de 1968. São Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS, 1968b, s/p.

FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE SERGIPE. Livro de matrícula da

Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. São Cristóvão/SE: Arquivo Central da

UFS, 1951-1970, 100 pgs.

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229

FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE SERGIPE. Livro de matrícula dos

alunos no curso de Didática. São Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS, 1954-1973,

100 pgs.

FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE SERGIPE. Regimento da FAFI. São

Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS, s/d, s/p.

GOVERNO DE SERGIPE. Programação Estadual Referente ao Empréstimo

MEC/BIRD. Aracaju/SE: Secretaria de Educação e Cultura, 1973.

GOVERNO DE SERGIPE. Portaria interna nº. 03/74. São Cristóvão/SE: Arquivo do

Departamento de Educação da UFS, 1974.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Estatuto da FUFS. São Cristóvão/SE:

Universidade Federal de Sergipe, 01 de outubro de 1967, s/p.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Estatuto da UFS. São Cristóvão/SE:

Universidade Federal de Sergipe, 01 de fevereiro de 1968a, s/p.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Escritura de instituição da FUFS. São

Cristóvão/SE: Arquivo do Conselho Diretor da UFS. 30 de abril de 1968b, s/p.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Relação das disciplinas do curso de

Licenciatura da FACED/UFS de 1968 a 1969. São Cristóvão/SE: Arquivo do

Departamento de Educação da UFS, 1968c, s/p.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Relação das disciplinas do curso de

Pedagogia da FACED/UFS de 1968 a 1971. São Cristóvão/SE: Arquivo do

Departamento de Educação da UFS, 1968d, s/p.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Resolução CONSU/UFS nº. 01/68. São

Cristóvão/SE: Arquivo do Centro de Educação e Ciências Humanas da UFS, 1968e, s/p.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Ata da sessão solene de instalação da

Universidade Federal de Sergipe mantida pela Fundação Universidade Federal de

Sergipe. São Cristóvão/SE: Arquivo do Conselho Diretor da UFS, 15 maio 1968f, s/p.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Ata do Conselho Universitário da

Universidade Federal de Sergipe. São Cristóvão/SE: Arquivo do Conselho

Universitário da UFS, 19 setembro1968g, p. 100 pgs.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Ata da Congregação da Faculdade de

Educação da UFS (1968-1978). São Cristóvão/SE: Arquivo do Centro de Educação e

Ciências Humanas da UFS, 30 agosto 1968h, 150 pgs.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Relatório das atividades da

FACED/UFS de 1968. São Cristóvão/SE: Arquivo do Centro de Educação e Ciências

Humanas da UFS, 1969a, s/p.

Page 232: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · As minhas irmãs de coração: Ligia Menezes, Mary Lourdes Santana, Ana Carla Menezes, Elma, Nirlen, Samara, Dijane, Taiana,

230

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Resolução CONSU/UFS nº. 01/69. São

Cristóvão/SE: Arquivo do Centro de Educação e Ciências Humanas da UFS, 1969b, s/p.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Regimento da Faculdade de Educação

da UFS. São Cristóvão/SE: Arquivo do Departamento de Educação da UFS, 1969c, 38

pgs.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Resolução do Conselho de Ensino e

Pesquisa nº. 01/69. São Cristóvão/SE: Arquivo do Centro de Educação e Ciências

Humanas da UFS, 1969d, s/p.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Resolução do Conselho Universitário

nº. 29/69. São Cristóvão/SE: Arquivo do Centro de Educação e Ciências Humanas da

UFS, 1969e, s/p.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Ata do Departamento de Didática da

FACED/UFS. São Cristóvão/SE: Arquivo do Centro de Educação e Ciências Humanas

(CECH), 1969-76, 100 pgs.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Ata do Conselho departamental da

FACED/UFS. São Cristóvão/SE: Arquivo do Centro de Educação e Ciências Humanas

(CECH), 1969-78, 100 pgs.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Comunicado do Secretário de

Educação e Cultura do Estado de Sergipe, Nestor Piva, informando sobre o

treinamento de alunos do curso de Pedagogia para atuar no Projeto Minerva. São

Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS, 1970.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Ata do Departamento de Ciências

Educacionais da FACED/UFS. São Cristóvão/SE: Arquivo do Centro de Educação e

Ciências Humanas (CECH), 1970-75, 100 pgs.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Resolução CONSU/UFS nº. 14/71. São

Cristóvão/SE: Arquivo do Centro de Educação e Ciências Humanas (CECH), 18 de

maio de 1971a, s/p.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Regimento do CECAC/UFS. Resolução

CONSU/UFS nº. 14/71. São Cristóvão/SE: Arquivo do Centro de Educação e Ciências

Humanas (CECH), 18 de maio de 1971b, s/p.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Certificado do curso de Estudos

Adicionais – 1972. São Cristóvão/SE: Arquivo do Departamento de Educação/UFS,

1972a.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Ofício do diretor do Colégio de

Aplicação, destinado ao Magnifico Reitor da UFS – 1972. São Cristóvão/SE:

Arquivo do Departamento de Educação/UFS, 1972b.

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231

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Ata de reunião do Conselho

Universitário da UFS (1972-1976). São Cristóvão/SE: Arquivo do Conselho

Universitário da UFS, 1972-1976, 100 pgs (reunião consultada: 21/09/76).

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Plano de atividades do CECAC/UFS de

1973. São Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS, 1973, 40 pgs.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Plano de atividades do CECAC/UFS de

1974. São Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS, 1974, s/p.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Plano de atividades do CECAC/UFS de

1976. São Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS, 1976a, 49 pgs.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Relatório de atividades do

CECAC/UFS de 1976. São Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS, 1976b, 50 pgs.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Relatório do I encontro entre técnicos

da Secretaria de Educação e Cultura e a Faculdade de Educação. São Cristóvão/SE:

Arquivo do Departamento de Educação da UFS, 1976c, 15 pgs.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Folder de exposição: 40 anos da FAFI.

Aracaju/SE: Instituto Dom Luciano, 1991, s/p.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Plano de trabalho do CECAC/UFS de

1977. São Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS, 1977, 48 pgs.

SOCIEDADE SERGIPANA DE CULTURA. Ata de fundação. São Cristóvão/SE:

Arquivo do CECH, 1950, s/p.

5 - Entrevistas realizadas:

ARAÚJO. Maria José Santos. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia

15 de setembro de 2015.

ARAÚJO FILHO, José. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia 15 de

agosto de 2015.

ANDRADE, Maria Olga de. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia 12

de maio de 2010.

ANDRADE, Dilma Maria. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia 05

de setembro de 2015.

ANJOS, José dos. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia 10 de

novembro de 2015.

ARAGÃO, Judite de Oliveira. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia

02 de outubro de 2010.

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232

ARAGÃO, Judite de Oliveira. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia

02 de outubro de 2015.

BARROS, Cacilda de Oliveira. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia

01 de outubro de 2010.

BERGER, Maria Lúcia Souza Ramos. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira

no dia 29 de janeiro de 2011.

CAETANO, Ednalva Freire. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia 25

de outubro de 2015.

CAMPELO, Iara Maria. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia 19 de

julho de 2015.

CORADO, Maria Veneranda Pereira. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira

no dia 14 de outubro de 2015.

CRUZ, Marta Vieira. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia 17 de

julho de 2015.

DANTAS, Rivaldo. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia 22 de

setembro de 2015.

FONTES, Vera Lúcia de Azevedo. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no

dia 25 de outubro de 2015.

GRAÇA, Tereza Cristina Cerqueira da. Entrevista concedida a Nayara Alves de

Oliveira no dia 25 de novembro de 2015.

LAGO, Lilian Leal. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia 05 de

setembro de 2015.

LIMA, Maria de Fátima Monte. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia

18 de outubro de 2015.

MEDEIROS, Maria Auxiliadora Campos. Entrevista concedida a Nayara Alves de

Oliveira no dia 15 de agosto de 2015.

MELO, Vera Maria Carvalho de. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no

dia 20 de setembro de 2015.

PINTO. Zenilde Soares. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia 05 de

outubro de 2015.

PORTO, Manoel Messias. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia 05

de setembro de 2016.

SANT’ANNA, Maria Ivanda Bezerra. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira

no dia 27 de janeiro de 2011.

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233

SANTOS, Vilder. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia 30 de janeiro

de 2016.

SILVA, Ada Augusta Celestino Bezerra da. Entrevista concedida a Nayara Alves de

Oliveira no dia 29 de novembro de 2015.

TORRES. Liana de Melo. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia 29 de

agosto de 2015.

VIEIRA. Ana Lúcia Menezes. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia

19 de agosto de 2015.

Page 236: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · As minhas irmãs de coração: Ligia Menezes, Mary Lourdes Santana, Ana Carla Menezes, Elma, Nirlen, Samara, Dijane, Taiana,

234

APÊNDICES

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APÊNDICE A - DADOS DOS ENTREVISTADOS

Nome de ex-professores e

ex-alunos do curso de

Pedagogia da

Universidade Federal de

Sergipe, entrevistados

durante a pesquisa

Ex-professores: ano de

ingresso no curso de

Pedagogia/UFS

Ex-alunos: ano de

ingresso e conclusão

Maria José Santos Araújo

1969-1972

José Araújo Filho

1968

Maria Olga de Andrade

1968

Dilma Maria Andrade

1992

1971-1974

José dos Anjos

1970-1973

Judite de Oliveira Aragão

1979

1968-1971

Cacilda de Oliveira Barros

1968

Maria Lúcia Souza Ramos

Berger

1974

1968-1971

Ednalva Freire Caetano

1972 -1975

Iara Maria Campelo337

1992

1973-1976

Maria Veneranda Pereira

Corado

1969-1971

337 Iara Maria Campelo e Yolanda Dantas de Oliveira são professoras, atualmente, do Departamento de

Educação da UFS.

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236

Marta Vieira Cruz

1976

Rivaldo Dantas338

1973-1975

Vera Lúcia de Azevedo

Fontes

1968-1972

Tereza Cristina Cerqueira da

Graça

1976-1979

Lilian Leal Lago

1968-1971

Maria de Fátima Monte

Lima

1982

1973-1976

Maria Auxiliadora Campos

Medeiros

1968

Vera Maria Carvalho de

Melo

1969-1972

Zenilde Soares Pinto

1970-1973

Manoel Messias Porto

1968-1971

Maria Ivanda Bezerra

Sant’anna

1976

1968-1971

Ada Augusta Celestino

Bezerra da Silva

1974

1968-1971

Liana de Melo Torres

1997

1976-1979

338 O professor Rivaldo Dantas concluiu o curso de Pedagogia Licenciatura curta-habilitação em

Administração Escolar 1973-1975.

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237

Ana Lúcia Menezes Vieira

1970-1973

Fonte: Depoimentos, currículo lattes e lista de conclusão da FACED (1968-1978). Acervo do arquivo do

Departamento de Educação da UFS.

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238

APÊNDICE B: APROVADOS NO VESTIBULAR PARA O CURSO DE

PEDAGOGIA DA UFS (1968-1978)

APROVADOS DE 1968

Ada Augusta Celestino Bezerra da Silva

Ana Maria Dantas Soares de Carvalho

Angélica Vieira Donald

Clara Angélica de Oliveira Porto

Ester Alves de Oliveira

Evanda Maria dos Santos

Gerson Vilas-Bôas

Ione Pais

Janice de Oliveira Sales

Judite Oliveira Aragão

Lílian Leal do Lago

Luci Ferreira de Andrade

Luiza Nascimento Costa

Manoel Messias Porto

Maria Ivanda Bezerra de Sant`Anna

Maria José de Almeida Soares

Maria Lúcia Souza Ramos

Nádia Fraga Vilas-Bôas

Vera Lúcia de Azevedo Fontes

Vera Lúcia Sobral

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239

APROVADOS DE 1969

Arlete da Conceição Costa

Bárbara Tereza Adão de Fontes Lima

Edmar Neris dos Santos

Gleide Selma Ferreira de Oliveira

Guiomar Lima Azevedo

José da Silva Queiroz

Lêda Maria Cabral Aguiar

Maria Cândida Aragão

Maria Consuelo Morais Maia

Maria Izabel Siqueira Santos

Maria José Santos Araújo

Marta Suzana Costa Ferreira

Nicária Matos do Nascimento

Rosa Cristina Valente Leite

Ubiraci de Souza Santos

Vera Maria Carvalho de Melo

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240

APROVADOS DE 1970

Maria Auxiliadora de Carvalho Menezes

Iracema Carvalho Silveira

Maria Eunice de Carvalho

Maria Nildete Lobão Costa

Eliude Siqueira

Silvia Franco Prado

Ana Lúcia de Menezes Vieira

Célia Hugenbeck

Elizabeth Leite Melo

Miralda Monteiro de Campos

Marlene Alves

Juliene Bastos Pereira

Gildete de Oliveira

Zenilde Soares Pinto

Telma Maria Vieira Leite

Maria Pereira Santos

Maria Elze dos Santos

Célia Maria Mascarenhas Martins

Maria Luci Barreto

Humbelina Aciole do Bomfim

Belizana Vieira Bomfim

Inês Caldas Leandro

Maria Auxiliadora Ferreira de Carvalho

Ana Maria Machado da Silva

Léa das Chagas Fortes

José dos Anjos

Maria Antônia de Menezes Silva

Vera Maria Trindade Freitas

Manoel Messias Vasconcelos

Maria Valdecir Dantas

Page 243: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · As minhas irmãs de coração: Ligia Menezes, Mary Lourdes Santana, Ana Carla Menezes, Elma, Nirlen, Samara, Dijane, Taiana,

241

APROVADOS DE 1971

Antônia de Oliveira Soares

Antônio Milton Dória Almeida

Daria Batalha Andrade

Dilma Maria Andrade

Edilde Gonçalves da Conceição

Edjan Soares de Souza

Edla Ribeiro Maynard Barreto

Elianne Costa Carvalho

Ivalci Silveira Costa

José Américo Silva de Souza

José Oliveira

Lea Mirian Fonseca Mota

Maria de Lourdes da C. Costa

Maria do Carmo Souza

Maria Edeilza Santos

Maria José de Jesus

Maria Marcília dos Santos

Sérvula Maria Soares Silva

Terezinha de Jesus Marques

Vera Lucia Silva de Jesus

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242

APROVADOS DE 1972

Ednalva Freire Caetano

Meires de Lourdes dos Santos

Maria da Conceição Couto Rezende

Telma Maria Vieira do Sacramento

Silvia Maria Machado

Maria Celeste de Figueiredo Oliveira

Ana Maria de Araújo Meneses

Humbelina Aciole do Bomfim

Maria Lúcia Vieira de Melo

Maria Ida Silveira Amorim

Aurélia Prado Ribeiro

Maria Prado Andrade

Fátima Maria Monteiro Nascimento

Antônia Lúcia dos Santos

Iunar Gomes dos Santos

Maria Joelina Dias Lima

Maria José Napomuceno Figuerôa

Yacaia Lopes de Oliveira

Maria Clemildes Oliveira

Maria Alice Leite Cruz

Lindete Silva dos Santos

Lygia Meneses Prudente

Lígia Angélica Dias Lemos

Maria Cleudes Dantas

Gresse Meyre Costa de Santana

Terezinha Santos Oliveira

Page 245: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · As minhas irmãs de coração: Ligia Menezes, Mary Lourdes Santana, Ana Carla Menezes, Elma, Nirlen, Samara, Dijane, Taiana,

243

Roberto Mendonça Maia

Rosa Mary Lima

Yara Winne de Almeida

Alinete de Andrade Morais

Maria Evanilde Alves de Oliveira

Maria Lúcia de Andrade Góis

Maria Lúcia Fraga Morais

Bernadete Souza Gouveia

Neuza Maria de Jesus Santos

Neuza Maria de Jesus Santos

Josenita Regina Meneses

Terezinha Souza Gouveia

Joarina Xavier Galvão

Juçara Bomfim Sampaio

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244

APROVADOS DE 1973

Walter Oliveira Ribeiro

Rosa Maria Machado de Farias

Maria Josefina Fontes Leite

Sylvia Tereza da Fonseca Prudente

Ana Luiza Barreto Mesquita

Leila Zilene de Farias Lemos

Heloisa Ribeiro dos Santos

Vanice Sá

Aurea Therezinha C. Borges de Oliveira

Iara Maria Campelo Lima

Laura Cecília de Almeida Fontes

Etelvina Lins Baptista

Antônia Gonçalves Maynard Dias

Lauro Rocha de Lima

Leda Sonia Oliveira Linhares

Rosa Maria Barros Telles

Rosália dos Santos

Antônio Fernando Vasconcelos de Paula

Maria Terezinha Silva

Maria Neide Machado de Oliveira

Maria do Carmo Deda Chagas

Josefa Mesquita de Santana

Ruth Prado Barreto

Hildete dos Santos

Ana Maria de Souza

Tereza Josefina de Carvalho Dantas

Eliana Melo Santos

Marleide dos Santos Leite

Maria de Fátima da Costa Monte

Page 247: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · As minhas irmãs de coração: Ligia Menezes, Mary Lourdes Santana, Ana Carla Menezes, Elma, Nirlen, Samara, Dijane, Taiana,

245

Margareth Barreto Nunes

Maria Nelma Santos Déda

Valda Souza Schmith

Maria Ilka Dantas Vieira

Marilda Araújo dos Santos

Eloíza Maria de Oliveira Costa

Marta Pinto Sampaio

Gleide Ferreira Cruz

Maria Adélia Cruz

Vanda Góis Cardoso

Carlos Henrique de Oliveira Porto

Ângela Maria Amaral Santos

Aldeci Andrade dos Santos

Josefa Olga dos Santos

Zilná Santana

Eunice Vieira de Melo

Ivanete dos Santos

Maria José Andrade

Marieta Ferreira Lima

Vilma Vasconcelos Freire

Maria Gilsa de Oliveira

Normélia Souza Almeida

Maria de Lourdes Andrade

Maria do Carmo Brito

Tânia Maria Lima Maynard

Maria Auxiliadora Silveira

Yeda Marisa Melo de Carvalho

Marivalda Menezes

Maria de Fátima Fontes de F. Fernandes

Isaura Meneses de Andrade

Page 248: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · As minhas irmãs de coração: Ligia Menezes, Mary Lourdes Santana, Ana Carla Menezes, Elma, Nirlen, Samara, Dijane, Taiana,

246

APROVADOS DE 1974

Alda Maria Duarte Araújo Castro

Maria das Neves Cabral de Resende

Marilza Willmersdorf Franco

Maia de Fátima Nabuco de Menezes

Aldemir Santos Campos

Terezinha dos Santos

Denise Costa Lima da Rocha

Mario dos Santos

Iva Margarida Montes Vieira

Adélia Ribeiro de Oliveira

Aglaé Ferreira de Araújo Ramos

Maria Antônia Santos

Rosa Helena Rocha

Laurinda Maia de Brito

Avelina Leila Santana de Lima

Lícia Maria Morais de Azevêdo

Vânia Mitidieri

Ângela Acácia Ribeiro de Menezes

Adeilde Figueiredo Santos

Tereza Cristina Ramos Prudente

Ângela Maria Feitosa

Marlene de Moura Carvalho Mendes

Rosa Maria Nascimento Freire

Natalina Ganhardella Nascimento

Antônio Moraes Nunes

Mirabel Araújo

Page 249: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · As minhas irmãs de coração: Ligia Menezes, Mary Lourdes Santana, Ana Carla Menezes, Elma, Nirlen, Samara, Dijane, Taiana,

247

Carmem da Silva Albuquerque

Maria Ivone Ramos

Maria Risoleta Sampaio Vasconcelos

Sônia Maria de Azevedo Viana

Francisca Cândida Peixoto Barbosa

José Paulo de Menezes

Maria de Fátima dos Anjos

Loíde Freire da Silva

Claudia Maria Lima da Silva

Enivalda Almira Santos

Maria Terezinha Cardoso

Angélica Nunes Barreto

Selma Maria Amorim Mota Santos

Rosângela Monte Santo Corbal

Maria de Lourdes Fraga

Clara Marta Costa da Silva

Maria Olga de Souza Santana

Maria Emília Teixeira de Morais

Ivanilde Moura

Cremilda Rodrigues de Lima Espinola

Thereza Christina Montalvão

Marcelina Ana Melo dos Santos

Hilda Alves da Silva

Claelber de Souza Dantas

Irene de Lourdes Pereira

Adeilde Teles dos Santos

Ana Maria Rosa Santos

Maria Nize Carvalho Matos

Page 250: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · As minhas irmãs de coração: Ligia Menezes, Mary Lourdes Santana, Ana Carla Menezes, Elma, Nirlen, Samara, Dijane, Taiana,

248

Maria Hênia de Oliveira

Sônia Maria de Santana

Suely Maria Prado Melo

Mércia de Morais Nunes

Maria Luiza Araújo Cardoso

Maria do Carmo Oliveira Souza

Page 251: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · As minhas irmãs de coração: Ligia Menezes, Mary Lourdes Santana, Ana Carla Menezes, Elma, Nirlen, Samara, Dijane, Taiana,

249

APROVADOS DE 1975

Alaíde de Meneses Tavares

Aleide Porto de Santana

Alice Moreira dos Santos

Anailde Melo Costa

Ariadne Nascimento de Souza

Cacilda Maria de Jesus

Cândida Raquel Lopes Cardoso

Célia Alves de Carvalho

Denise Maria Lima Ferreira

Edna Maria Gomes

Genildes Santos Oliveira

Grasiela Santos Mendonça

Heline Ribeiro Rezende

Ilza Santos Donald

Ivonete Bastos de Oliveira

José Alberto Gomes Varjão

Lindinalva Lopes Cruz

Lizete Figueiredo

Maria Carmem Alves de Andrade

Maria da Conceição Santos Cruz

Maria das Graças Santos D. Mendonça

Maria de Fátima Aragão Meneses

Maria de Fátima Mendonça de Jesus

Maria de Ampare Boaventura

Maria Iracy Dantas Pacheco

Maria Selma Franco Villar

Maria Vandete Machado

Marlene Cardoso Chagas

Rosa Maria de Oliveira Cardoso

Rosita Mascarenhas de Andrade Santos

Sandra Fernandes

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250

Sílvia Maria Duarte Moreira

Tamar Álvares Bezerra

Thereza Cristina Santos Bastos

Yolanda Dantas de Oliveira

Adelice Gomes Fontes

Alice Batista dos Santos

Ana Maria Lourenço de Azevedo

Deise Cortez dos Santos

Dalva Maria Ramos Souza

Elsa Souza Nunes

Fátima Cristina de Almeida Rocha

Gilene Santos

Ione Melo Borges

Jaime Costa Azevedo Filho

Jane Andrete Menezes

Lourdes Nery Damacena

Luzinete de Santana Lima

Magaly Lima Franco

Maria Balbina Batista dos Santos

Maria Conceição Carvalho Moura

Maria Cristina Franco Silva

Maria de Lourdes Santos

Maria Delci Oliveira de Góis

Maria José Santos Moura

Maria Stela Gonçalves

Maria Virgínia Vieira Santos

Marlúcia Maria Falcão Viana

Mirian do Carmo Barreto

Nazaré Santana dos Santos

Nirailde Souza Oliveira

Noélia Moraes Caldas de Melo

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251

Pedro Luiz Matos Moura

Rita Barbosa Souza

Rivanda Silva Carvalho

Sônia Maria Alves dos Anjos

Stelamaris Torres Melo

Terezinha de Jesus Gusmão

Thereza Santos Lemos

Yara Maria da Silva Rosa

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252

APROVADOS DE 1976

Marco Antônio Galvão Leite de Almeida

Silvana Maynard Garcez

Maria Nicelia Cunha

Rosaura Rocha de Melo

Lucila Menezes Reis

Inês dos Santos

Tereza Cristina Pinheiro Souza

Lívia Maria Vieira Fortes

Lilian Andrade Gomes

Dione de Oliveira Diedam

Tereza Franco Cabral

Clécia Rosa Nascimento

Tereza Cristina Cerqueira da Graça

Maria Socorro de Almeida Gonçalves

Francisca de Andrade

Maria do Socorro Rocha Santos

Daria Maria de Melo Santos

Avilete Cruz de Almeida

Icleda Maria Santos

Estela Maria Teles do Santos

Gilda Maria dos Santos Lelis

Diomedes Santos da Silva

Maria Clara Andrade Clara

Lucila Maurícia de Carvalho Lobão

Eulália Maria Pinto Lopes

Maria do Carmo de Jesus Menezes

Ana Alice de Jesus Brandão

Fátima Maria Paiva dos Santos

Maria Elba da Silva

Ana Maria Santos

Margarida Farias dos Santos

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253

Maria Célia Santos Santana

Lígia da Silva Ribeiro

Maria Angélica Menezes Freire

Iaci Mendes de Souza

Maria José Gois de Santana

Cacilda Maria Carreiro Viana

Lucivanda Maria de Lima Mendonça

Silvia Dantas do Espirito Santos

Maria Lúcia Silveira Martins

Maria Luiza Santos

Cleide de Albuquerque Ferro

Tereza de Jesus Hora

Maria Conceição Soares de Jesus

Maria Ligia Muricy Cajazeira

Lenilda Lucia Santos Torres

Lianna de Melo Torres

Ana Zélia da Rocha

Mirian Rocha

Marisete da Silva

Aurita Vieira Donald

Maria Nanci Ribeiro

Julieta Oliveira Campos

Evalda Barreto

Leonarda Eremita de Oliveira Andrade

Lucia Maria Lima Macedo

Rivandete Meneses Melo

Sandra Maria Resende

Maria Amélia Santos Vasconcelos

Silvana Jandira Alves

Vera Maria Dias Feitoza

Maria Julia dos Santos Cruz

Ilná Andrade Lobo

Maria Luciene dos Santos

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Verbena Maria Passos Nascimento

Vania Maria Dias Oliveira

Vanda Maria dos Santos

Neuza Lobão Aritiquiba Bezerra

Luci Macedo de Souza

Mauricea Moraes de Carvalho

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255

APROVADOS DE 1977

Ana Emília Nunes Vieira

Ariovaldo Alves da Silva

Aubiésio Felix de Azevedo

Durval José da Silva

Hosfelita dos Santos

Iara Madureira Rabelo

Ivanete Maria Santos

Jacira Maria de Souza

Jeanne Nunes de Jesus

José Esmeraldo de Oliveira

José Laércio Souza Matos

Josefa Givalda Passos

Jucia de Jesus

Laurinete Santos

Maria Alice Vilanova Rodrigues

Maria Angélica P. de A. Ramos

Maria Auxiliadora B. do

Nascimento

Maria Carmem de Melo Macedo

Maria da Glória dos Santos

Maria da Glória V. de Andrade

Maria das Merces V. Viana

Maria Gilzete V. Nascimento

Maria Inês Melo Soares

Maria Lucimar Pereira da Silva

Maria Vandete Santos de Jesus

Maria Virgínia dos Santos

Maria Yara Vieira Dórea

Marluce Paes de Menezes

Neli de Almeida Tavares

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Ninfa Maria Machado Lobo

Selma de Góis Feitosa

Sônia Mendonça de Oliveira

Tereza Augusta V. F. de Carvalho

Valdison Alberto Silveira Pinto

Zoraide Nascimento de Oliveira

Adeilde Batista Santos

Antônio César Santos

Aurea Maria Matos de Carvalho

Benjamin Rodrigues Franklin

Carlos Nascimento da Silva

Celuta dos Santos

Damares Dias dos Santos

Delucia Rodrigues Sobral

Elineuda Nascimento Silva

Erleides Maria Santos

Iolanda Santana Santos

Isabel Cristina Cruz dos Anjos

José Washington C. de Rezende

Maria Bernadete Mendonça Teles

Maria Cristina Moreira Cruz

Maria de Fátima Veiga

Maria de Lourdes de O. Silva

Maria do Carmo Machado

Maria Floraci de O. Moraes

Maria José da Silva

Maria José de A. Fernandes

Maria Lúcia de Araújo Carvalho

Maria Raquel dos Reis Morais

Maria Salete Cardoso de Souza

Maria Yolanda Barros dos Santos

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257

Maria Zuleide Moura

Marlene dos Santos

Reinaldo Menezes Valadão

Rosa Maria Lobo Santos

Rosângela Santana Santos

Sandra Regina Miranda Santos

Shirley Neuza Silva dos Santos

Sueli Batista do Carmo

Tereza Edvan Soares Bezerra

Unaldo Caetano Iglessias

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258

APROVADOS DE 1978

Annita Fátima de Aguiar

Bernadete Dias de Matos

Cordelia Santos

Damires Cortes Cardoso

Dilma Maria Tenório Silva

Eliane Barreto Silva

Eloídes dos Santos

Eloízia Alves de Melo

Jacirema Matos Vieira

Jovelina Vieira Santos

Leulira Silva Santana

Lindinalva de Oliveira Santos

Maria Auxiliadora dos Santos

Maria Auxiliadora Gomes

Maria Claudina dos Santos

Maria de Fátima Prata Barbosa

Maria de Lourdes Souza

Maria Inês Santos

Maria Ivânia Santos

Maria José Cruz dos Santos

Maria Judite Santos

Maria Luiza Santos de Aragão

Maria Zuleica Rollemberg Silva

Martha Maria Rodrigues Silva

Neide Aparecida Correia

Neide Valença Pereira

Nidia Maria Barreto Sampaio

Paulo Agripino dos Santos

Rosângela Santos Barbosa

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Tereza Cristina Silva Santos

Terezinha Maria C. de Oliveira

Valdelice Vieira Filha

Vasti da Cunha Lima Sales

Zélia Dantas de Barros

Zélia Guimarães de Franca

Ângela M. M. Garcia Moreno

Ângela Maria de Santana

Dagmar da Silva Costa

Dalva Maria da Mota

Damares Socorro Fontes

Divacy de Andrade Santos

Edna Oliveira dos Santos

Eliana Conceição e Silva

Elza Josefa de Carvalho

Geni de Marco

Gilberto José da Silva

Isabel Cristina Barros de Jesus

Ivanil Alves da Silva

Jorge Alberto Moura

Josefa Hilma Boaventura

Maria Conceição C. R. de Brito

Maria de Fátima F. de Rezende

Maria Dilma de Lima

Maria dos Prazeres A. Santos

Maria Gorete da Rocha Santos

Maria Ivonilde Santos

Maria Lúcia Nunes Souza Martins

Maria Neuza Nascimento

Maria Tereza de Araújo Concli

Marise Correia Menezes

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Marluce dos Santos Leite

Marluci Conceição e Silva

Miraldina Menezes Silveira

Nilza Correia dos Santos

Rose Mary Alves Santos

Rosiane Ferreira Chagas

Tereza Cristina M. Nascimento

Vanda Alves Vieira

Viceca Ramos Oliveira

Zuleica Cota

Page 263: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · As minhas irmãs de coração: Ligia Menezes, Mary Lourdes Santana, Ana Carla Menezes, Elma, Nirlen, Samara, Dijane, Taiana,

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APÊNDICE C – NÚMERO DE CANDIDATOS INSCRITOS NO VESTIBULAR

PARA O CURSO DE PEDAGOGIA DA UFS E O NÚMERO DE VAGAS

OFERTADAS (1968-1978) 339

VESTIBULAR

(1968-1978)

NÚMERO DE

CANDIDATOS

NÚMERO DE

VAGAS

OFERTADAS

NÚMERO DE

CANDIDATOS

APROVADOS340

Vestibular de 1968

34 candidatos

30 vagas

21 candidatos

Vestibular de 1969

21 candidatos

30 vagas

12 candidatos

Vestibular de 1970

42 candidatos

30 vagas

30 candidatos

Vestibular de 1971

70 candidatos

30 vagas

20 candidatos

Vestibular de 1972

196 candidatos

40 vagas

40 candidatos

Vestibular de 1973

319 candidatos

60 vagas

60 candidatos

Vestibular de 1974

405 candidatos

60 vagas

60 candidatos

Vestibular de 1975

444 candidatos

70 vagas

70 candidatos

Vestibular de 1976

497 candidatos

70 vagas

70 candidatos

Vestibular de 1977

393 candidatos

70 vagas

70 candidatos

Vestibular de 1978

295 candidatos

70 vagas

70 candidatos

Fonte: jornais Diário de Aracaju (1968-1978) e Gazeta de Sergipe (1968-1978). Acervo do Instituto

Histórico e Geográfico de Sergipe.

339 Vale ressaltar que no ano de 1968 o vestibular para o curso de Pedagogia foi realizado pela Faculdade

Católica de Filosofia de Sergipe. Somente a partir de 1969, passou a ser realizado pela Universidade Federal

de Sergipe. 340 A partir de 1970 foi adotado o sistema de classificação no vestibular da UFS.