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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
DOUTORADO EM EDUCAÇÃO
A INSERÇÃO DE ACADÊMICOS E LICENCIADOS DO CURSO DE
PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE NO CAMPO
EDUCACIONAL SERGIPANO (1968-1978)
NAYARA ALVES DE OLIVEIRA
SÃO CRISTÓVÃO (SE)
2017
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
DOUTORADO EM EDUCAÇÃO
A INSERÇÃO DE ACADÊMICOS E LICENCIADOS DO CURSO DE
PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE NO CAMPO
EDUCACIONAL SERGIPANO (1968-1978)
NAYARA ALVES DE OLIVEIRA
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal de Sergipe, como
requisito parcial para obtenção do título de Doutor em
Educação, Linha de Pesquisa: “Historia, Sociedade e
Pensamento Educacional”.
Orientadora: Profª. Drª. Anamaria Gonçalves Bueno de
Freitas
SÃO CRISTÓVÃO (SE)
2017
AGRADECIMENTOS
A Deus por me amparar nos momentos difíceis, me dar força interior para superar as
dificuldades, mostrar os caminhos nas horas incertas e me suprir em todas as minhas
necessidades.
Aos meus pais não só este trabalho, mais tudo o que tenho de melhor, pois são nas minhas
melhores qualidades que vejo a presença constante dos valores que me ensinaram durante
toda a vida. Mãe e Pai, eu amo muito vocês, sou grata por quem sou e por tudo o que me
tornei. Sou grata pelas minhas conquistas e pela oportunidade que me deram para que eu
buscasse o conhecimento como forma de conquistar meus sonhos e de me tornar uma
verdadeira cidadã.
Ao meu companheiro Jeová, peço desculpas pelos sucessivos rompantes diante das
dificuldades. Agradeço sua calma, seu carinho, seu amor e sua dedicação. Obrigada por
sempre acreditar em mim, pelo orgulho com que fala de meus feitos e por nunca podar
minha incessante participação em várias atividades sociais, negligenciando, muitas vezes,
minha presença em sua vida.
A professora Anamaria, mais...muito mais, do que uma simples orientadora. Obrigada
por existir na minha vida.... Infelizmente, não existe palavras suficientes e significativas
que me permitam agradecer a você com justiça e com o devido merecimento. Sua ajuda
e seu apoio foram decisivos no momento de desânimo e desistência. Jamais irei esquecer
sua paciência, zelo, dedicação e preocupação.
Ao professor Jorge Carvalho do Nascimento, obrigada por oportunizar os primeiros
passos na pesquisa em História da Educação. Nunca me sentirei merecedora do grande
privilégio de estar ao seu lado.
Ao meu irmão Makey, minha cunhada Ana Paula e sobrinho Mateus pelo carinho,
preocupação e atenção que sempre tiveram comigo, sempre me apoiando em todos os
momentos, enfim por todos os conselhos e pela confiança em mim depositada meu
imenso agradecimento.
As minhas irmãs de coração: Ligia Menezes, Mary Lourdes Santana, Ana Carla Menezes,
Elma, Nirlen, Samara, Dijane, Taiana, Joice, Marta, Aline, Elizângela e Pâmela, pelos
momentos felizes e por ajudar a me livrar do stress tão comum entre os doutorandos.
A banca de qualificação, representada pelos professores Maria Neide Sobral, Marizete
Lucine, Solyane Silveira Lima, Maria José Dantas e Jorge Carvalho do Nascimento.
Obrigada pelas sugestões destinadas ao aprimoramento do trabalho e pela participação no
desenvolvimento deste estudo.
Agradeço a todos os professores que participaram da minha formação acadêmica no
Departamento de Educação da UFS, em especial aos que impulsionaram em mim a paixão
pela docência: Anamaria Gonçalves Bueno de Freitas, Wilma Pôrto de Prior, Maria José
Nascimento Soares, Sônia Meire Santos Azevedo de Jesus, Liana de Melo Torres e Dilma
Maria Andrade. Vocês estarão para sempre cultivados na minha memória.
Todos os entrevistados foram magnânimos em sua ajuda para esta pesquisa. Agradeço
profundamente pela disponibilidade e atenção dedicada ao meu estudo e as minhas
constantes visitas (telefonemas, mensagens no whatsapp e e-mails) em busca de
informações.
Aos amigos da turma de doutorado PPGED-UFS/2013. Obrigada pela companhia durante
esses quatros anos, em especial: Ana Márcia Barbosa dos Santos e Elaine Maria Santos.
Aos colegas do Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação: intelectuais da
educação, instituições educacionais e práticas escolares da Universidade Federal de
Sergipe. Em especial a: Josineide Siqueira, Maria Carolina Barcelos, Maria do Socorro
Lima, France Robertson Pereira da Silva, Claudileuza, Márcia Terezinha Jerônimo,
Renilfran Cardoso de Souza , Miriam Ferreira de Matos, Joaquim Tavares, Marluce de
Souza Lopes Santos e Milena Cristina Aragão Ribeiro de Souza.
A todos os familiares residentes em “Itabaiana City”, que mesmo longe estavam sempre
presentes e na torcida para que tudo ocorresse da melhor maneira...amo vocês.
A todos, que de forma direta e indireta contribuíram para a realização desta pesquisa,
minha profunda gratidão.
RESUMO
Esta tese tem como objetivo central analisar como ocorreu na prática a inserção e a
atuação dos alunos e licenciados do curso de Pedagogia da Universidade Federal de
Sergipe (1968-1978) no campo educacional sergipano. Nesse sentido, também pretende-
se compreender o processo de criação, funcionamento e legitimação desse subcampo
acadêmico no âmbito local e sua contribuição para a formação de docentes e especialistas
em Educação. Para tal, foi realizada uma pesquisa histórica por meio das análises
bibliográfica e documental, ambas ancoradas nos pressupostos teórico-metodológicos
da Nova História, mais precisamente da nova corrente historiográfica denominada
História Cultural. Além disso, o estudo foi direcionado pelas concepções de campo,
capital e habitus, de Pierre Bourdieu, e memória de Le Goff e Pollak. De acordo com a
pesquisa, podemos constatar que dentre os cursos autorizados para o funcionamento da
Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe (FAFI), a partir de 1951, estava o de
Pedagogia. No entanto, esse curso só passou a funcionar em 1968, após a criação da
Universidade Federal de Sergipe (em 1967) e a certeza da incorporação da FAFI à nova
unidade de ensino superior. A concretização no funcionamento do curso foi uma
determinação do Governo Civil Militar para a criação da UFS, o qual exigia o
desmembramento da FAFI e a implantação do Instituto de Letras, de Filosofia e Ciências
Humanas e a Faculdade de Educação. Após sua implantação, o curso permaneceu durante
as décadas de 60 e 70 do século XX sendo a graduação mais procurada na área de
formação do magistério da Universidade Federal de Sergipe. Um dos motivos para essa
demanda estava associada a reformulação nacional do curso, em 1969, a qual ampliou o
campo de atuação dos pedagogos mediante a criação das habilitações em Supervisão,
Administração, Orientação e Inspeção Escolar. Nesse processo, docentes e especialistas,
atuaram em funções estratégicas do campo educacional sergipano, contribuindo com a
modernização e expansão do ensino. Assim, partimos da tese de que, apesar do curso ter
sido instalado mediante recomendações do Governo Civil Militar, e dominar
interpretações que o reduzem aos interesses de controle social/ideológico desse Governo,
não podemos omitir e nem silenciar as contribuições de seus alunos e diplomados na
implantação de políticas educacionais que visavam à melhoria e ampliação do ensino.
Palavras-chave: Curso de Pedagogia. Licenciados. História da Educação. Sergipe.
Trajetórias docentes.
ABSTRACT
The major purpose of this dissertation is to analyse the insertion and practice of students
and graduates on Pedagogy of the Universidade Federal de Sergipe (1968-1978) in the
educational field in Sergipe. Another goal is to comprehend the opening of this academic
field and its functioning and legitimation in the local sphere, and its contribution to the
formation of teachers and Education specialists. For which it was donne a historical
research based on bibliographic and documental analyses, both on the framework of the
New History theoretical and methodological premises, more precisely of the new
historiographic school named Cultural History. Besides, the study was oriented by the
concept of field, capital and habitus, on Bourdieu’s account, and the concept of memory
on Le Goff’s and Pollak’s account. According to the research, it is possible to conclude
that the graduation on Pedagogy was among the courses authorized to be offered by the
Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe (FAFI), from 1951. However, the course had
only been given to the public on 1968 after the inauguration of the Universidade Federal
de Sergipe in 1967. The graduation course was opened by a determination of the civil-
military government in order to inaugurate the Universidade Federal de Sergipe which
required the FAFI’s fragmentation and the implementation of the Institute of Languages,
Philosophy and Human Sciences and the Faculty of Education. After its implementation
it was the most popular graduation course during the decades of 1960 and 1970 on the
field of Education in the Universidade Federal de Sergipe. One of the reasons for it is
associated to the national reformulation in 1969, which included the broadening of the
field of expertise for educators by creating the habilitations: coordination, administration,
supervision, and school inspection. Educators and specialists had worked in strategic
functions of the educational field in this process, contributing to the modernization and
expansion of teaching. In this sense, it is not possible to omit or deny the students’ and
graduates’ contributions in the implementation of educational polices on the improvement
of teaching, despite the fact that the course was implemented after an imposition of the
civil-military government, and of the dominant interpretation of social and ideologic
control as the main interest of the government.
Key words: Pedagogy degree. Graduates. History of Education. Sergipe. Teaching
trajectories
RÉSUMÉ
Cette thèse vise principalement à analyser la façon dont a eu lieu l'intégration et la
performance des étudiants et diplômés du cours de pédagogie de l'Université Fédérale de
Sergipe (1968-1978) dans le domaine de l'éducation en Sergipe. En ce sens, elle vise
également à comprendre le processus de création, le fonctionnement et la légitimité de
cette sous-zone académique au niveau local et leur contribution à la formation des
enseignants et des experts en matière d'Education. Pour ça, on a été réalisée une recherche
historique à travers de l'analyse bibliographique et documentaire, à la fois ancrés dans les
hypothèses théoriques et méthodologiques de la Nouvelle Histoire, en particulier le
nouveau courant historiographique appelé Histoire Culturelle. En outre, l'étude a été
dirigée par le domaine des idées, des capitaux et habitus de Pierre Bourdieu, et la mémoire
de Le Goff et Pollak. Selon la recherche, nous pouvons voir que des cours autorisés pour
le fonctionnement de la Faculté Catholique de Philosophie de Sergipe (FAFI), à partir de
1951, était la Pédagogie. Cependant, ce cours a commencé à foncionner en 1968, après la
création de l'Université Fédérale de Sergipe (en 1967) et la certitude de l'intégration de la
FAFI à le plus jeune institution de l'enseignement supérieur. Le fonctionnement du cours
était une décision du gouvernement militaire civile pour la création de l'UFS, qui exigeait
le démembrement de la FAFI et l’impantation de l’ Institut des Lettres, de Philosophie et
des Sciences Humaines et de la Faculté d'Éducation. Après sa mise en œuvre, le cours est
resté pendant les années 60 et 70 du XXe siècle le cours le plus populaire dans la
formation de l'Université Fédérale de Sergipe. Une des raisons de cette demande a été
associée à la reforme nationale du cours en 1969, qui a élargi le champ de travaille des
pédagogues par l’établissant les qualifications dans la Supervision, l'Administration,
d'Orientation et d'Inspection Scolaire. Dans ce processus, les enseignants et les experts,
ont travaillé dans des rôles stratégiques du domaine de l'éducation en Sergipe, contribuant
à la modernisation et à l'expansion de l'éducation. Donc, nous partons de l'idée que, même
si le cours a été installé par une imposition du gouvernement militaire civile et ces règles
des interprétations qui réduisent les intérêts de contrôle social / idéologique de ce
gouvernement, nous ne pouvons pas omettre et ni taire pas les contributions de leurs
élèves et diplômés dans la mise en œuvre des politiques éducatives visant à l'amélioration
et à l'expansion de l'éducation.
Mots-clés: Cours de Pédagogie. Diplômés. Histoire de l'Éducation. Sergipe. Trajectoires
pédagogiques.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 01 - Padre Luciano José Cabral Duarte..................................................................................... 33
Figura 02 – Autorização para funcionamento dos cursos da FAFI (1951).......................................... 36
Figura 03 - Colégio Nossa Senhora de Lourdes, década de 40 do século XX.................................... 38
Figura 04 – Chamada para defesa de Tese na FAFI (1961)................................................................ 43
.
Figura 05 – Reconhecimento dos cursos da FAFI (1954)................................................................... 44
Figura 06 – Solicitação de inspeção para a FAFI (1954).................................................................... 46
Figura 07 – Solenidade de incorporação das faculdades isoladas à Fundação Universidade Federal de
Sergipe (1968).................................................................................................................................... 49
Figura 08 – Solenidade de instalação da UFS (1968)......................................................................... 50
Figura 09 – Sessão de encerramento da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe........................ 57
Figura 10 – Nomeação da primeira diretora da FACED/UFS (1968)................................................. 60
Figura 11 – Nomeação de Dom Luciano Duarte para o CFE (1968).................................................. 65
.
Figura 12 – Banca examinadora do curso de Pedagogia da FAFI (1968)........................................... 74
Figura 13 – Edital do Concurso de Habilitação da FAFI (1968)......................................................... 76
Figura 14 – Atestado de sanidade mental para o ingresso na FAFI (1968)......................................... 77
Figura 15 – Exames vestibulares da UFS (1969)................................................................................. 82
Figura 16 – Estádio Estadual Lourival Baptista - Vestibular da UFS (1970)...................................... 87
.
Figura 17 – Vestibular unificado da UFS (1971)................................................................................. 91
Figura 18 – A divisão de cursos por grupamento no vestibular da UFS (1973).................................. 94
Figura 19 – Vestibular da UFS realizado no Estádio Lourival Baptista.............................................. 96
Figura 20 – A quebra de sigilo de provas do vestibular (1974)........................................................... 98
Figura 21 – Charge sobre fraudes no vestibular (1976)....................................................................... 99
Figura 22 – O inimigo no Vestibular da UFS - o fiscal (1977).......................................................... 103
Figura 23 – Guia de instrução para o vestibular da UFS (1978)........................................................ 104
Figura 24 – Medalha de participação no Projeto Rondon (1970)...................................................... 117
Figura 25 – Certificado do 1º Simpósio Estadual do Projeto Rondon/Sergipe (1970)....................... 118
Figura 26 – Embarque de estudantes da UFS para a cidade de Tabatinga/Amazonas (1972)............ 122
Figura 27 – Campanha do Exército Brasileiro em Tabatinga/Amazonas (1972)............................... 123
Figura 28 – Portaria de louvor a integrante do Projeto Rondon (1973).............................................. 125
Figura 29 – Organograma do CECAC-UFS (1976)........................................................................... 128
Figura 30 – Resumo de atividades dos estágios do CECAC/UFS (1976).......................................... 131
Figura 31 – Certificado de docência no curso promovido pelo CECAC/UFS (1972)........................ 132
Figura 32 – Estagiários do curso de Pedagogia/UFS na equipe do CECAC (1976)........................... 133
Figura 33 – Símbolo do CECAC/UFS............................................................................................... 134
Figura 34 – Contratação de professores para a Cruzada ABC............................................................ 144
Figura 35 – Contrato firmado entre SEC/SE e Cruzada ABC (1968)................................................. 147
Figura 36 –Convênio entre SEC/SE, prefeituras e MOBRAL (1970)................................................ 149
Figura 37 – Acidente automobilístico dos integrantes do MOBRAL (1971)..................................... 151
Figura 38 – Fascículo do Projeto Minerva/curso supletivo de 1º grau (1971).................................... 155
Figura 39 – Treinamento de alunos do curso de Pedagogia para atuar no Projeto Minerva (1970)... 157
Figura 40 – Comunicado da Inspetoria Seccional de Sergipe (1969)................................................. 165
Figura 41 – Carteira de Registro de Professor (1973)........................................................................ 172
Figura 42 – Divulgação do curso de Estudos Adicionais (1972)........................................................ 175
Figura 43 – Certificado do curso de Estudos Adicionais (1972)........................................................ 176
.
Figura 44 – Notícia sobre a falta de pessoal qualificado para a implantação da reforma do ensino.. 178
Figura 45 – Posse de novo diretor no Colégio Castelo Branco (1970)............................................ 184
Figura 46 – Concurso para supervisores (1969)................................................................................. 186
Figura 47 – Divulgação de cursos para professores da SEC-SE (1969)............................................. 190
Figura 48 – Recrutamento de professores para o Ginásio Polivalente (1971).................................... 198
Figura 49 – Preparação de pessoal para o Ginásio Polivalente de Sergipe (1972)............................. 199
Figura 50 – Contrato para o cargo de orientador educacional do CODAP/UFS (1972)..................... 201
Figura 51 – Implantação do serviço de assistência ao educando na SEC/SE (1974)......................... 203
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
APLB – Associação de Professores Licenciados do Brasil – Seção Sergipe CADES – campanha de aperfeiçoamento e difusão do ensino secundário CCCH – Comissão Central do Concurso de Habilitação
CEP – Conselho de Ensino e Pesquisa
CECAC- Centro de Extensão Cultural e Atuação Comunitária
CFE - Conselho Federal de Educação
CNE – Conselho Nacional de Educação
CRUTAC – Coordenação Urbana de Treinamento e Ação Comunitária
Cf. - Conforme
CODAP - Colégio de Aplicação
CONEP – Conselho de Ensino e Pesquisa
CONSU - Conselho Universitário
CNPq – Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CURBITAC – Coordenação Urbana de Treinamento e Ação Comunitária
DAA – Departamento de Administração Acadêmica
DAU – Departamento de Assuntos Educacionais
DEAPE – Departamento de Apoio Didático Pedagógico
DEC – Departamento de Educação e Cultura
DED – Departamento de Educação
EUS – Estatuto da Universidade de Sergipe
ENERGIPE - Empresa Energética de Sergipe
FAB – Força Aérea Brasileira
FACED – Faculdade de Educação
FCFS – Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe
FAFI – Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe
FECL – Faculdade de Educação, Ciências e Letras
FNFCL – Faculdade Nacional de Filosofia, Ciências e Letras
FUFS - Fundação Universidade Federal de Sergipe
FUNRURAL - Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural
HEM – Habilitação Específica do Magistério
IDLD - Instituto Dom Luciano Duarte
IERB – Instituto de Educação Rui Barbosa
IHGS - Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe
INEP – Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos
IPES – Instituto de Promoção e de Assistência à Saúde
JUC – Juventude Universitária Católica
LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
MEB – Movimento Educacional Brasileiro
MEC - Ministério da Educação e Cultura
MINTER – Ministério do Interior
MOBRAL - Movimento Brasileiro de Alfabetização
PIBIC - Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica
PIPIMO - Programa Intensivo de Preparação de Mão-de-Obra
SEC – Secretaria Estadual de Educação
SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SUDENE – Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
UFS – Universidade Federal de Sergipe
UFPE – Universidade Federal de Pernambuco
UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
USAID - United States Agency for International Development
SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO...................................................................................................... 15
2 – O SURGIMENTO DO CURSO DE PEDAGOGIA EM SERGIPE................... 29
2.1 – A CRIAÇÃO NA FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA................. 29
2. 2 – A INCORPORAÇÃO NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE.... 51
3 – O INGRESSO NO CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL
DE SERGIPE (1968-1978)........................................................................................... 72
3.1 - A OPÇÃO PELO CURSO E O PROCESSO SELETIVO............................. 72
4 – O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DE ACADÊMICOS E LICENCIADOS DO
CURSO DE PEDAGOGIA (1968-1978)................................................................... 108
4.1 - EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: A ATUAÇÃO DOS ALUNOS PARA
ALÉM DOS LIMITES CURRICULARES .................................................................. 108
4.2 - A PRESENÇA DE ACADÊMICOS E LICENCIADOS EM PEDAGOGIA
NA IMPLANTAÇÃO DE PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
...................................................................................................................................... 136
4.3 - O EXERCÍCIO DOCENTE DOS LICENCIADOS: PROFESSORES DO
CURSO NORMAL E DA HABILITAÇÃO ESPECÍFICA PARA O MAGISTÉRIO
(HEM)........................................................................................................................... 160
4.4 - A DEDICAÇÃO ÀS HABILITAÇÕES: CONTRIBUIÇÕES DO
SUPERVISOR, ORIENTADOR, ADMINISTRADOR E INSPETOR ESCOLAR..... 179
CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................... 206
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 210
APÊNDICES .............................................................................................................. 234
APÊNDICE A – DADOS DOS ENTREVISTADOS................................................ 235
APÊNDICE B – APROVADOS NO VESTIBULAR PARA O CURSO DE
PEDAGOGIA DA UFS (1968-1978).......................................................................... 238
APÊNDICE C – NÚMERO DE CANDIDATOS INSCRITOS NO VESTIBULAR
PARA O CURSO DE PEDAGOGIA DA UFS E O NÚMERO DE VAGAS
OFERTADAS (1968-1978)......................................................................................... 261
15
1 - INTRODUÇÃO
Ao iniciar o curso de Pedagogia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), em
2004, fui contagiada pelo sentimento de alegria e entusiasmo, primeiro por ingressar
numa instituição pública de nível superior; segundo, pelo perfil profissional assegurado
aos licenciados dessa graduação. Tornar-me professora da pré-escola e das primeiras
séries do ensino fundamental era algo que me seduzia e despertava uma intensa
expectativa de contribuições ao campo educacional.
Nos primeiros períodos passei a vivenciar duras críticas ao curso, especialmente
relacionadas ao seu processo histórico de indefinição da identidade e à crença de sua
adesão ao Regime Militar (1964-1985). Diante das obras e autores que eram utilizados
para abordar essas interpretações, fui convencida de que essa versão era algo que de fato
explicava uma parcela das críticas1.
Ao ser convidada pelo professor Jorge Carvalho do Nascimento para participar do
seu projeto de pesquisa financiado pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
Científica (PIBIC), ainda durante a graduação, escolhi estudar a história do curso de
Pedagogia no Brasil e em Sergipe no período da Ditadura Militar. A intenção era mostrar
essa relação de controle associada ao perfil profissional dos seus licenciados e como
aquele grupo monolítico de militares determinou a disposição local.
Nessa pesquisa, a formação dos pedagogos licenciados pela UFS, nas habilitações
de Magistério, Supervisão Escolar, Orientação Educacional e Administração Escolar,
estava associada ao papel burocratizado do Governo e às suas ações de vigilância e
punição exercidas sobre os professores, alunos, funcionários e pais. A base para sustentar
tal interpretação era fundamentada, especialmente, nos aspectos legais, elaborados de
forma autoritária e voltados aos interesses de controle dos militares, e nas obras que
sustentavam essa versão. Assim, os cinco meses que foram dedicados a essa pesquisa
limitaram-se a aquela análise.
Durante o mestrado (2009-2011), decidi estudar a história da Faculdade de
Educação da Universidade Federal de Sergipe (1967-1971), pois acreditava que já havia
finalizado minha pesquisa com relação ao curso de Pedagogia no Brasil e em Sergipe.
Além disso, como esse curso estava inserido na Faculdade de Educação, considerei que
tal conhecimento me ajudaria a compreender a história da instituição.
1 Dentre as obras utilizadas para justificar essa interpretação estavam as de Paro (2001), Silva (2003) e
Pimenta (1995).
16
No entanto, durante o mestrado, passei a analisar o período que abrangia os anos
de 1964 a 1985, a partir de uma nova denominação de “Regime Civil Militar”, por
entender que o grupo que o legitimava não era formado somente por militares2. Esta nova
compreensão permitiu representar a trama e as disputas do campo educacional sergipano,
especificamente no processo de criação da Universidade Federal de Sergipe.
A pesquisa para a dissertação proporcionou questionamentos acerca do curso e a
certeza de que não havia finalizado o estudo do PIBIC, pois surgiu a hipótese de que o
descrédito e as críticas ao curso de Pedagogia3 poderiam estar associados às
interpretações construídas, especialmente, a partir da década de 80 do século XX4, as
quais destacavam um possível “fracasso” da graduação e a causa de todas as mazelas do
ensino ao projeto educacional do Governo Militar.
Além disso, poderia haver outras razões para a criação de um projeto de curso
com aquela disposição, instituindo os perfis profissionais do professor, orientador,
supervisor, administrador e inspetor escolar. Nesse sentido, a interpretação construída
durante a pesquisa do PIBIC não atendia mais aos meus questionamentos, pois precisava
analisar até que ponto o perfil profissional do curso de Pedagogia da Universidade Federal
de Sergipe (1968-1978) havia se estruturado “apenas” para atender aos anseios de
controle e autoritarismo da Ditadura Militar.
A partir dessa questão central, outras interrogações foram sendo formuladas: Será
que o projeto nacional do curso implantado em 1969 seria uma ruptura com o que vinha
sendo planejado antes do Golpe? Não havia a necessidade de profissionais especializados
no campo educacional para atender ao projeto político desenvolvimentista e
modernizador5 do Governo? Como se materializou a atuação dos professores e
especialistas em Educação no campo educacional sergipano? Quais as contribuições dos
egressos do curso de Pedagogia da UFS para o cenário educacional local?
2 De acordo com Motta (2014) e Reis (2014), o Governo Civil Militar compreendeu uma ampla aliança
entre grupos civis e militares. Segundo eles, era uma aliança heterogênea e contraditória, representada por
diferenças tanto sociais quanto ideológicas: “Liberais, conservadores, reacionários, nacionalistas
autoritários e até alguns reformistas moderados receberam com alívio o golpe, pois haviam perdido a
confiança no governo de João Goulart” (MOTTA, 2014, p. 8). 3 Especialmente ao modelo de curso implantado com o parecer do CFE nº. 252/69, o qual cria as habilitações
em Supervisão Escolar, Administração Escolar, Inspeção Escolar e Orientação Educacional. 4 Referencial bibliográfico emergente após a década de 80 do século XX, fundamentado nas teorias crítico-
reprodutivistas. 5 De acordo com Motta (2014) o projeto desenvolvimentista-modernizador do Governo Civil Militar se
concentrava na perspectiva econômica, social e administrativa, com vistas ao crescimento, aceleração da
industrialização e a melhoria da máquina pública. Para a implantação desse plano, o setor educacional
tornou-se área prioritária do Governo. Nesse sentido, escolas e universidades transformaram-se no lócus de
formação de mão de obra qualificada de técnicos e dirigentes.
17
Assim, durante o curso de Doutorado, passei a realizar uma nova investigação,
com o objetivo de analisar como ocorreram na prática, a inserção e a atuação dos
acadêmicos e licenciados do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Sergipe
(1968-1978) no campo educacional sergipano6.
A proposta deste estudo não é ignorar a repressão do período e os interesses
camuflados que moviam as medidas governamentais, mas sim apresentar uma proposta
de análise das sutilezas do Regime. É importante que se entenda que as medidas
educacionais aqui discutidas não foram o produto direto e descuidado do projeto
desenvolvimentista e modernizador almejado somente pelas autoridades militares. Antes,
devem ser entendidas como resposta da esfera educacional às demandas de diferentes
grupos, que, de uma maneira geral, ansiavam por melhores oportunidades de emprego e
formação.
Assim, defendo a Tese de que apesar do curso de Pedagogia da Universidade
Federal de Sergipe ter sido instalado durante o Governo Civil Militar (1964-1985), e
predominar interpretações que o reduzem aos interesses de controle social/ideológico
desse Governo, não podemos omitir e nem silenciar as contribuições de seus acadêmicos
e licenciados na implantação de políticas educacionais que visavam à melhoria e
ampliação do ensino durante o período de 1968 a 1978.
Entretanto, com a intenção de compreender de forma mais aprofundada o
surgimento desse subcampo acadêmico e posicionar melhor o leitor diante do objeto de
estudo, foi necessário recuar no tempo, para contextualizar com mais precisão a temática
da pesquisa. Esta breve ampliação do marco temporal, permitiu uma investigação sobre
a Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe7, instituição responsável pela formação
docente em nível superior no Estado, de 1951 até 1968, quando foi incorporada à
Universidade Federal de Sergipe e fragmentada em três novas unidades: Faculdade de
6 Ao ingressar no PPGED/UFS, havia elaborado um projeto de doutorado com o objetivo de analisar as
divergências e disputas entre o projeto do curso de Pedagogia definido pelo Conselho Federal de Educação,
e o projeto implantado na Universidade Federal de Sergipe. Ao analisar a falta de autonomia da congregação
para elaborar um projeto local diferenciado, e diante das sugestões dos professores da banca, do Exame de
Qualificação, um novo direcionamento foi dado ao projeto de Tese. 7 Até 1968, a Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe ou FAFI, como passou a ser conhecida, era uma
instituição de ensino superior privada que funcionava de maneira isolada e autônoma. Nessa faculdade
funcionaram os cursos de Geografia e História (1951), Filosofia (1951), Matemática (1951), Letras Neo-
latinas (1952), Letras Anglo Germânicas (1953), Didática (1954) e Pedagogia (1968). Após 1968, a FAFI
foi inserida à Universidade Federal de Sergipe e desmembrada em três novas unidades: Faculdade de
Educação, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas e Instituto de Letras, Artes e Comunicação. Nesse
contexto, os cursos em funcionamento da FAFI foram transferidos para as novas unidades.
18
Educação, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas e Instituto de Letras, Artes e
Comunicação.
Essa iniciativa era a condição estabelecida para a implantação da Universidade
Federal de Sergipe, respeitando as reivindicações da Reforma Universitária publicada em
novembro de 1968:
Art. 8° Os estabelecimentos isolados de ensino superior deverão,
sempre que possível, incorporar-se às universidades ou congregar-se
com estabelecimentos isolados da mesma localidade ou de
localidades próximas, constituindo, neste último caso, federações de
escolas, regidas por uma administração superior e com regimento
unificado que lhes permita adotar critérios comuns de organização e
funcionamento. (BRASIL, 1968, p. 2).
Com a incorporação da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe (FAFI) à
Universidade Federal de Sergipe, e com o desmembramento dessa Faculdade em outras
três unidades, dentre elas a Faculdade de Educação, fez-se necessária a transferência do
então curso de Pedagogia da FAFI para a nova Faculdade de Educação da UFS. Após 10
anos de funcionamento (1968-1978), a Faculdade de Educação foi transformada em
Departamento de Educação da Universidade Federal de Sergipe, e a graduação em
Pedagogia foi inserida nessa nova unidade acadêmica.
Para o desenvolvimento do estudo foram formuladas algumas etapas, a partir dos
objetivos específicos: analisar o processo de criação e implantação do curso de Pedagogia
da Universidade Federal de Sergipe; verificar os aspectos legais que definiram o perfil
profissional do curso; conhecer a motivação dos ex-alunos pela área da Pedagogia e o
processo de seleção para o ingresso nesse subcampo acadêmico; relatar memórias de ex-
alunos e ex-professores do curso, sobre o processo de inserção no campo educacional
sergipano; e destacar, a partir das memórias de ex-alunos, a atuação profissional no
âmbito das políticas educacionais em Sergipe.
Nesse sentido, para atingir os objetivos da tese, iniciou-se uma pesquisa histórica
por meio da análise bibliográfica e documental, ambas ancoradas nos pressupostos
teórico-metodológicos da Nova História8, mais precisamente da corrente historiográfica
denominada História Cultural.
8 Segundo Burke (1992), essa corrente historiográfica surgiu na década de 1970, correspondendo à terceira
geração da chamada Escola dos Annales. Esse movimento seria basicamente ocasionado por uma crise
geral dos paradigmas, especialmente concentrados em algumas críticas: à política pensada além das
instituições e à história pensada além da política; uma preocupação maior com as estruturas do que com a
narrativa dos acontecimentos; deslocamento do interesse pela vida e obra dos grandes homens e grandes
19
O historiador inglês Burke (2005) abordou uma extensa discussão sobre esse
referencial teórico-metodológico em sua obra publicada em 20049. Nela, o autor analisa
o surgimento da História Cultural, seus problemas, suas relações com a antropologia, seus
principais teóricos, os procedimentos de pesquisa e conceitos fundamentais. Em sua
concepção:
A necessidade de uma história mais abrangente e totalizante nascia
do fato de que o homem se sentia como um ser cuja complexidade em
sua maneira de sentir, pensar e agir, não podia reduzir-se a um pálido
reflexo de jogos de poder, ou de maneiras de sentir, pensar e agir dos
poderosos do momento. (BURKE, 2005, p. 77).
Outro entendimento adotado nesta tese é a explicação apresentada por Chartier
(1990, p. 16-17), que esclarece, de forma objetiva, que a História Cultural “[...] tem por
principal objetivo identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma
realidade social é construída, pensada, dada a ler”.
Dessa forma, Chartier (1990), distanciando-se de modelos explicativos
reducionistas e deterministas, esboça um novo projeto historiográfico em que a cultura é
concebida como significações que os homens atribuem à sua realidade, às suas práticas e
a si mesmos. Para ele, a História da Cultura, tal como era praticada no passado, era uma
história elitizada, tanto nos sujeitos como nos objetos estudados. A noção de “cultura”
que perpassava era demasiado restrita, a qual os avanços da reflexão antropológica vieram
desautorizar.
Os historiadores Chartier (1990) e Burke (2005) alertam-nos que a História
Cultural, assim definida, possibilitou novos objetos e domínios de investigação com a
fidelidade aos postulados da história social, buscando uma nova legitimidade científica,
e tendo como substrato as aquisições intelectuais que fortaleceram o domínio institucional
do passado.
No Brasil, esse referencial teórico e metodológico vem conquistando
pesquisadores e expandindo sua área de atuação, sobretudo no subcampo científico da
História da Educação. Sobre a produção da historiografia educacional brasileira, Vidal &
Faria Filho (2005) informam que:
datas para as pessoas e acontecimentos comuns; à necessidade de se ir além dos documentos escritos e
registros oficiais; à história não seria objetiva, mas sujeita a referenciais sociais e culturais de um período. 9 No Brasil essa obra foi publicada em 2005.
20
No âmbito dos estudos históricos, a influência mais reconhecida
refere-se à chamada nova história cultural francesa. Às vezes difusa
no corpo dos textos analisados pelos balanços realizados, outras vezes
explícita apenas na bibliografia e, em muitos outros casos, aparecendo
no diálogo substantivo desenvolvido em trabalhos de cunho mais
historiográfico. [...] as tendências verificadas no conjunto dos
resumos indicam a crescente consolidação de um campo disciplinar
que se desenvolve no interior do campo pedagógico, mas que
nitidamente inscreve-se no âmbito da chamada História Cultural.
(VIDAL & FARIA FILHO, 2005, p. 124).
Diante desse panorama teórico, o objeto de estudo deste trabalho foi analisado
com base nos conceitos elaborados por Bourdieu (1983, 1990, 2004, 2007), como campo,
habitus e capital, além da concepção de memória desenvolvida por Le Goff (2003) e
Pollak (1992).
Na definição de campo10, Bourdieu (1983a, p. 89) explica que são "[...] espaços
estruturados de posições (ou de postos) cujas propriedades dependem das posições dos
agentes nestes espaços, podendo ser analisadas independentemente das características de
seus ocupantes (em parte determinadas por elas)". Para ele, campo compreende um
universo social particular constituído de agentes ocupando posições específicas
dependentes do volume e da estrutura do capital eficiente dentro do campo considerado.
O campo consiste no espaço onde ocorrem as relações sociais entre os agentes.
Cada campo é dinâmico e obedece a regras próprias, definidas pelas disputas e consensos
ocorridos em seu próprio espaço, onde todos os pares têm interesse em ter sucesso diante
das relações estabelecidas com os outros; representa um espaço simbólico, com leis
próprias.
Essa concepção traz subsídios para entender as disputas, resistências, consensos e
as relações de poder no processo de implantação do curso de Pedagogia da Universidade
Federal de Sergipe (agência formadora), a inserção de seus acadêmicos e egressos no
campo educacional sergipano, a constituição do perfil profissional do pedagogo e a
formulação das políticas educacionais do período de 1968-1978.
Para Bourdieu (2007), o funcionamento de um campo é consolidado devido à
existência de capitais, os quais configuram os objetos de disputa, e de um habitus, que
define traços legitimados no campo. O habitus seria um princípio de um conhecimento
10 Em cada campo específico existe um conjunto de interesses fundamentais compartilhados que garantem
sua existência e funcionamento. Neste estudo foram utilizadas as concepções dos seguintes campos: social,
religioso, político, acadêmico e educacional.
21
sem consciência, de uma intencionalidade sem intenção, podendo ser transferido e
adquirido de maneira explícita ou implícita, através da aprendizagem.
Dessa forma, habitus deve ser entendido como:
[...] um sistema de disposições duráveis e transferíveis que,
integrando todas as experiências passadas, funciona a cada momento
com uma matriz de percepções, apreciações e ações e torna possível
a realização de tarefas insignificantes diferenciadas, graças às
transferências analógicas de esquemas que permitem resolver os
problemas da mesma forma e graças às correções incessantes dos
resultados obtidos, dialeticamente produzidos por estes resultados.
(BOURDIEU, 2007, p. XLI).
Esse entendimento permite observar como o habitus adquirido pelos acadêmicos
e egressos de Pedagogia da UFS vai implicar na sua escolha pelo curso, nas condições
para o reconhecimento dos pares no campo educacional (traços distintivos) e nas
estratégias para inserir-se no campo educacional sergipano.
O ingresso no curso concedia a permissão para atuar no campo educacional, mais
especificamente no subcampo do ensino e das funções especializadas da Pedagogia. A
aquisição de títulos (certificados de monitoria, cursos de extensão) e o conhecimento a
respeito das diretrizes do ensino vão resultar no volume de capital acumulado, permitindo
o ingresso dos licenciados no campo acadêmico, mediante a docência no curso de
Pedagogia da UFS.
O capital é o responsável pelas disputas e consensos dentro de um campo11.
Consistem em instrumentos de acumulação, que, de posse dos indivíduos, inseridos em
um determinado campo, passam a servir como objetos de diferenciação entre os sujeitos.
Entre os diferentes tipos de capital, destacam-se: o cultural, econômico, social e
simbólico.
Para Bourdieu (1983a), alguns mecanismos e estratégias são utilizados pelos
agentes em sua constante busca por diferenciação, distinção, visibilidade ou legitimidade
dentro do campo. Diante dessa concepção, ele ressalta que
[...] acumular capital é fazer um 'nome', um nome próprio, um nome
conhecido e reconhecido, marca que distingue imediatamente seu
portador, arrancando-o como forma visível do fundo indiferenciado,
despercebido, obscuro, no qual se perde o homem
comum. (BOURDIEU, 1983a, p. 132).
11 As posições (dominante-dominado) que os agentes ocupam em determinado campo dependem da
estrutura e do volume de capital específico que eles acumulam. Em qualquer campo, é necessária a
existência de objetos de disputa e pessoas que conheçam e reconheçam as leis imanentes do jogo, os objetos
de disputa, e estejam dispostas a disputar o jogo (BOURDIEU, 2007).
22
Neste estudo, também foi incorporado o conceito de memória de Le Goff (2003)
e Pollak (1992), para colaborar com a análise acerca da inserção dos acadêmicos e
egressos do curso de Pedagogia da UFS no campo educacional sergipano e a respeito das
práticas profissionais que foram realizadas por eles no interior desse campo, destacando
a implantação de políticas educacionais e o discurso de controle no período da Ditadura
Civil Militar.
Para definir o conceito, Le Goff (2003) desenvolveu uma contextualização,
utilizando obras históricas e de outras áreas do conhecimento para a observação das
respectivas e singulares noções de memória. Para o autor, a memória “como propriedade
de conservar certas informações, remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de funções
psíquicas, graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas,
ou que ele representa como passadas” (LE GOFF, 2003, p. 419).
Segundo Le Goff (2003), a partir dos anos 50 do século XX, psicólogos e
psicanalistas passaram a destacar as manipulações da memória individual de acordo com
os interesses sociais, a afetividade, a inibição e a censura.
Do mesmo modo, a memória coletiva foi posta em jogo de forma
importante na luta das forças sociais pelo poder. Tornar-se senhores
da memória e do esquecimento é uma das grandes preocupações das
classes, dos grupos, dos indivíduos que dominaram e dominam as
sociedades históricas. Os esquecimentos e os silêncios da história são
reveladores desses mecanismos de manipulação da memória coletiva.
(LE GOFF, 2003, p. 422).
Pollak (1992, p. 4-5) acentua a seletividade de toda memória, bem como seu
processo de negociação para conciliar a memória coletiva e as memórias individuais:
Esse último elemento da memória - a sua organização em função das
preocupações pessoais e políticas do momento - mostra que a
memória é um fenômeno construído. Quando falo em construção, em
nível individual, quero dizer que os modos de construção podem tanto
ser conscientes como inconscientes. O que a memória individual
grava, recalca, exclui, relembra, é evidentemente o resultado de um
verdadeiro trabalho de organização. (POLLAK, 1992, p. 4-5).
O autor acrescenta que a memória não se resume exclusivamente à vida de uma
pessoa, pois é uma construção coletiva, um fenômeno construído, organizado a partir do
presente, e em parte herdada:
23
A memória é, em parte, herdada, não se refere apenas à vida física da
pessoa. A memória também sofre flutuações que são função do
momento em que ela é articulada, em que ela está sendo expressa. As
preocupações do momento constituem um elemento de estruturação
da memória. Isso é verdade também em relação à memória coletiva,
ainda que esta seja bem mais organizada. Todos sabem que até as
datas oficiais são fortemente estruturadas do ponto de vista político.
Quando se procura enquadrar a memória nacional por meio de datas
oficialmente selecionadas para as festas nacionais, há muitas vezes
problemas de luta política. (POLLAK, 1992, p. 4).
No tocante à seleção da historiografia analisada neste trabalho, enfatizamos a
apreciação de obras que tratam da história do curso de Pedagogia no Brasil e em Sergipe.
A razão dessa escolha foi compreender a trajetória do curso no âmbito nacional, os
aspectos legais que delinearam o currículo e o perfil profissional dos egressos, as
discussões em volta das reformulações e a atuação dos movimentos docentes que
surgiram a partir de 1978.
Na produção sergipana foi localizado o livro intitulado História e memória: o
curso de Pedagogia da Universidade Federal de Sergipe (1968-2008)12, elaborado por
professores do curso de Pedagogia da UFS para comemorar os 40 anos da graduação. A
obra foi constituída a partir de um conjunto de artigos que aborda a história do curso,
enfatizando a formação e as reformulações ocorridas até 2006, com a aprovação das
Diretrizes Nacionais Curriculares. Dentre os assuntos abordados, também se destacam as
produções acadêmicas realizadas por ex-alunos e professores do curso.
Ao analisar a bibliografia nacional, foram enfatizadas três obras que abordam a
trajetória histórica desse curso no Brasil. A primeira foi o estudo de Silva (2003),
intitulado Curso de Pedagogia no Brasil – história e identidade, que analisa a história do
curso de Pedagogia no Brasil e as discussões a respeito de sua identidade, no período de
1939-1998. Para isso, ela utilizou como fontes as diretrizes normativas instituídas pelo
governo federal e as que foram sustadas antes de sua implantação.
A autora narra a trajetória dessa graduação com o objetivo de esclarecer alguns
problemas relativos à identidade e ao perfil profissional do pedagogo, elegendo a estrutura
curricular como foco de análise. Além disso, abordou as propostas e as disputas
12 Essa obra foi organizada pelas professoras Anamaria G. Bueno de Freitas e Maria Neide Sobral. Os
artigos que compõem o livro são dos seguintes autores: Maria Neide Sobral, Silvana Aparecida Bretas,
Judite Oliveira Aragão, Sônia Meire Santos Azevedo Jesus, Maria Cristina Martins, Maria José Nascimento
Soares, Lianna de Melo Torres e Miguel André Berger. Cf. FREITAS, Anamaria Gonçalves Bueno de;
SOBRAL, Maria Neide (Orgs.). História e memória: o Curso de Pedagogia da Universidade Federal de
Sergipe. São Cristóvão/SE: Editora UFS, 2009.
24
produzidas no interior do Conselho Federal de Educação e dos movimentos docentes
visando às reformulações. Para ela, durante o período de 1938 a 1998 a identidade do
curso apresentou características distintas, mas não excludentes.
O segundo texto foi produzido por Cruz (2011), com o título O Curso de
Pedagogia no Brasil na visão de pedagogos primordiais. Este estudo focaliza a história
do Curso de Pedagogia no Brasil a partir da visão de um grupo de 17 pedagogos
considerados primordiais. Segundo ela, primordiais no sentido amplo de terem tomado
parte como alunos no período inicial do curso nas décadas de 40, 50 e 60 do século XX e
de se manterem atuantes e influentes desde então, destacando-se pela longa e expressiva
trajetória como formadores e pesquisadores em educação13.
A investigação buscou levantar, junto aos participantes, algumas características
do início do Curso de Pedagogia no Brasil e as mutações por eles vivenciadas. A partir
dessa análise, a autora verificou qual a visão predominante acerca da pedagogia, enquanto
domínio do conhecimento e processo de formação docente.
Cruz (2011) conclui que, devido às mutações experimentadas pelo curso, a
densidade teórica perdeu força, sem que se tivesse consolidado uma outra força capaz de
contribuir para o processo de afirmação de um conhecimento específico da pedagogia e,
consequentemente, para uma maior visibilidade da sua posição no campo acadêmico.
O último trabalho em destaque é o texto de Saviani (2008), A Pedagogia no Brasil:
História e Teoria, que, mesmo divergindo do referencial teórico e metodológico adotado
nesta Tese, contribui de certa forma para entender o processo histórico do curso.
Nessa obra, o autor situa a pedagogia em duas perspectivas: histórica e teórica. Na
primeira parte, dedicada ao aspecto histórico, o foco centra-se na constituição do espaço
acadêmico da pedagogia no Brasil. A segunda parte situa a pedagogia como teoria da
educação no âmbito das principais concepções educativas.
Com relação à história do curso, o autor aborda o surgimento do subcampo
acadêmico da Pedagogia no Brasil, a partir dos cursos de formação docente superior
instalados na Universidade de São Paulo e na Universidade do Distrito Federal, na década
de 30, do século XX. Além disso, enfatiza as diretrizes legais responsáveis pela
implantação da graduação (Decreto nº. 1.190/39) e pelas reformulações ocorridas até
2006, com a aprovação das Diretrizes Curriculares do curso de Pedagogia.
13 Dentre os entrevistados, estavam: Leonor Maria Tanuri, Bernardete Angelina Gatti, Carmem Silvia
Bissoli da Silva, Ilma Passos Alencastro Veiga, Jorge Nagle, Maria Amélia Santoro Franco, Selma Garrido
Pimenta e Vera Maria Candau.
25
Além dessa seleção na historiografia educacional, a análise bibliográfica deste
estudo compreendeu o levantamento e apreciação de produções14 que abordam a história
do ensino superior no Brasil e em Sergipe, as políticas educacionais do Governo Civil
Militar (1964-1985) e a atuação do Conselho Federal de Educação (1962-1978).
A análise documental foi desenvolvida por meio da observação crítica das fontes15
relacionadas ao objeto de estudo e ao marco temporal desta tese. Essas fontes
compreendem os seguintes documentos: ofícios, portarias, artigos, grade curricular,
decretos, leis, convites de formatura, diplomas, correspondências, entrevistas, cadernetas,
regulamentos, resoluções, pareceres, cartas, registro de matrícula, avaliações, regimentos,
editais de vestibulares, fotografias, livros, atas, ementas, jornais, programas de ensino,
relatórios e diários.
Na disposição das fontes, a imprensa teve um papel fundamental para
compreender a circulação de informações acerca do funcionamento do campo
educacional e acadêmico, a inserção dos alunos e licenciados de Pedagogia/UFS nesses
campos e a atuação na implantação de políticas educacionais. Nesse sentido, foram
utilizados os jornais em circulação no Estado de Sergipe durante o marco temporal16, e as
revistas “A Documenta” e a “Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos” 17.
A revista “A Documenta” era uma produção oficial do Conselho Federal de
Educação que abordava documentos informativos e as disposições normativas elaboradas
por integrantes do Conselho. Além disso, era um espaço destinado à publicação de artigos
referentes às reformas educacionais do ensino no Brasil. Já a “Revista Brasileira de
Estudos Pedagógicos”, de produção do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais, apresentava artigos de vários intelectuais da área da educação sobre
inúmeras temáticas.
No que se refere aos estudos com esses objetos de análise, Nóvoa (1997) afirma
que:
14 Essas produções abrangem: monografias, dissertações, teses, livros, artigos de revistas e de publicações
científicas. 15 Le Goff (2003) mostrou que a construção de nosso objeto de estudo é subjetiva e depende das fontes;
estas, por sua vez, também são uma construção humana intencional e, portanto, uma montagem. 16 Jornal “A Cruzada” (1950-1970), “Diário de Aracaju” (1968-1978) e “Gazeta de Sergipe” (1968-1978). 17 Os jornais foram pesquisados no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, e as revistas foram
localizadas no setor de periódicos da Biblioteca Central da UFS.
26
A imprensa é, provavelmente, o local que facilita um melhor
conhecimento das realidades educativas, uma vez que aqui se
manifesta, de um ou de outro modo, o conjunto de problemas desta
área. É difícil imaginar um meio mais útil para compreender as
relações entre a teoria e a prática, entre os projetos e as realidades,
entre a tradição e a inovação [...] São as características próprias da
imprensa (a proximidade em relação ao acontecimento, o caráter
fugaz e polêmico, a vontade de intervir na realidade) que lhe
conferem este estatuto único e insubstituível como fonte para o estudo
histórico e sociológico da educação e da pedagogia. (NÓVOA, 1997,
p. 31).
A documentação foi pesquisada nos acervos do Instituto Histórico e Geográfico
de Sergipe, Arquivo do Centro de Educação e Ciências Humanas/UFS, Arquivo do
Conselho Diretor/UFS, Arquivo do Conselho Universitário/UFS, Arquivo do Conselho
de Ensino e Pesquisa/UFS, Biblioteca Pública Epifânio Dória, Instituto Dom Luciano
Duarte, Arquivo e Biblioteca Central da UFS, Arquivo do Conselho Estadual de
Educação, Arquivo da Cúria Metropolitana de Aracaju, acervos particulares, Arquivo do
Programa de Documentação e Pesquisa Histórica/UFS, Arquivo do Departamento de
Educação/UFS e nas home pages do Ministério da Educação, do Senado Federal e da
Universidade Federal de Sergipe18.
Nesse sentido, Nunes e Carvalho (1993) tratam sobre a importância da coleta de
fontes e do seu manuseio de forma crítica para a produção do conhecimento histórico.
Segundo as autoras:
Não fazemos bons trabalhos na área sem respeitar a empiria contra a
qual lutamos; e todos já deparamos com a dificuldade de recolher
fontes impressas e arquivísticas, geralmente lacunares, parcelares e
residuais. Apesar dessas dificuldades, é justamente no manuseio
crítico das fontes que o pedagogo ganha a distância necessária para
olhar de uma nova maneira a pedagogia, tornando-se, pela sua prática
e pelo seu projeto, um historiador. (NUNES & CARVALHO, 1993,
p. 23).
Assim, concluímos que o documento é o ponto de partida para se conhecer um
fato histórico. Entretanto, é necessário enfatizar que a história não é produzida somente
por meio de documentos escritos. Como adverte Le Goff (2003, p. 530): “Há que tomar
a palavra documento no sentido mais amplo, documento escrito, ilustrado, transmitido
18 Na home page do Senado e do Ministério da Educação foi pesquisada a legislação federal, relacionada
ao ensino superior. Disponível em: http://www.senado.gov.br/legislacao/ e
http://www4.planalto.gov.br/legislacao. Na home page da UFS foram analisadas todas as resoluções do
Conselho de Ensino e Pesquisa (CONEP) e do Conselho Universitário (CONSU) aprovadas entre os anos
de 1968 a 1978. Disponível em: http://posgrap.ufs.br/scar/.
27
pelo som, imagem, ou de qualquer outra maneira”.
Diante dessa perspectiva, também utilizamos o procedimento metodológico da
História Oral, com o intuito de desenvolver análises e interpretações acerca da escolha
pelo subcampo da Pedagogia e das atividades profissionais que eram desenvolvidas por
ex-alunos e licenciados19, além de responder a questionamentos lançados pelos
documentos escritos. De acordo com Meihy e Holanda (2007), as pesquisas que adotam
esse método se respaldam num conjunto de procedimentos iniciados a partir da
elaboração de um projeto e no envolvimento de atores sociais.
História oral é um conjunto de procedimentos que se inicia com a
elaboração de um projeto e que continua com o estabelecimento de
um grupo de pessoas a serem entrevistadas. O projeto prevê:
planejamento da condução das gravações com definições de locais,
tempo de duração e demais fatores ambientais; transcrição e
estabelecimento de textos; conferência do produto escrito;
autorização para o uso; arquivamento e, sempre que possível, a
publicação dos resultados que devem, em primeiro lugar, voltar ao
grupo que gerou as entrevistas. (MEIHY & HOLANDA, 2007, p. 15).
A entrevista20 é incorporada pela história oral como processo dialógico e como
instrumento que objetiva compreender representações do vivido pela via da
documentação oral, ou seja, da linguagem verbalizada dos atores participantes. Sendo
assim, a documentação oral, quando apreendida por meio de gravações eletrônicas feitas
com o propósito de registro, torna-se fonte oral (MEIHY & HOLANDA, 2007).
Quanto à organização estrutural, esta Tese encontra-se dividida em cinco seções,
incluindo a introdução e as considerações finais. Na introdução é apresentado o objeto de
estudo, a periodização, a questão central, as finalidades da investigação, os procedimentos
metodológicos utilizados para o desenvolvimento da pesquisa, as fontes, os locais de
pesquisa e as categorias de análise.
Na segunda seção, foi analisado o surgimento do curso de Pedagogia da
Universidade Federal de Sergipe, enfatizando o processo de criação, reconhecimento,
funcionamento e legitimação desse subcampo acadêmico no espaço do ensino superior.
Além disso, foi desenvolvida uma discussão sobre a exigência do Governo Civil Militar
19 As entrevistas foram realizadas com ex-professores e ex-alunos que estavam vinculados ao curso de
Pedagogia da UFS, no período de 1968-1978. O quadro com o nome de todos eles e informações acerca do
ano de ingresso e conclusão do curso está disponível no apêndice A. 20 Neste estudo, as entrevistas foram semiestruturadas e obedeceram a um roteiro previamente elaborado,
que serviu como guia para direcionar a conversa.
28
na implantação da Faculdade de Educação e, consequentemente, do curso de Pedagogia
para a criação da UFS.
A terceira seção aborda os motivos que determinaram a escolha dos candidatos pelo
subcampo acadêmico da Pedagogia, o processo de ingresso na graduação, a demanda por
matrícula e o crescimento no número de vagas do curso.
Na quarta seção, foi analisada a inserção de acadêmicos e licenciados do curso de
Pedagogia/UFS no campo educacional sergipano e a participação desses agentes na
implantação de políticas educacionais, que visavam atender ao projeto modernizador e
desenvolvimentista do Governo Civil Militar.
No último texto, apresentamos as considerações finais acerca da Tese e a sugestão
para outros estudos.
29
2.0 – O SURGIMENTO DO CURSO DE PEDAGOGIA EM SERGIPE
2.1 – A CRIAÇÃO NA FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA
A preocupação com a formação de professores no Brasil foi um dos eixos das
discussões sobre o projeto de universidade nos anos de 1920 e 1930, tendo os primeiros
cursos para docentes em nível superior surgido no bojo das diferentes propostas
emergentes na década de 193021.
Em Sergipe, as primeiras apreciações sobre o tema ocorreram na década de 1940
após a criação e legitimação das Faculdades de Filosofia22, no Brasil, como espaços de
formação de professores em nível superior23. As reivindicações acerca dessas unidades
de ensino eram frequentes em matérias jornalísticas sobre educação, como podemos
observar no noticiário da época:
Mais do que qualquer outra, Sergipe precisa quanto antes de uma
Faculdade de Filosofia [...] O magistério secundário, como o
primário, estão cheios de professores pouco mais que semi-
alfabetizados. Muitos deles não têm sequer o curso secundário
completo e já se instituíam professores, garbosamente, exibindo
títulos e diplomas com lastro em atestados graciosos, fornecidos por
diretores de estabelecimentos pouco amantes dos seus deveres.
Outros fugiram a exames de suficiência24, apesar de inscritos,
dissertando de um simplismo teste de capacidade intelectual e
didática, e se arvoram agora, em mestres, líderes de movimentos
educacionais. Trazem seus títulos e eiva de graciosidade e do
favoritismo político. Dessa mesma graciosidade e desse mesmo
favoritismo que são a desgraça maior do ensino em Sergipe, a recrutar
professores dentro dos quadros partidários dominantes [...].
(SERGIPE - JORNAL, 29/03/1949).
21 Durante as décadas de 1920 e 1930 um amplo movimento com membros de diversas entidades
educacionais e científicas (Politécnica do Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Educação, Academia
Brasileira de Ciências, Instituto Franco-Brasileiro de Alta Cultura e da imprensa, através do jornal “O
Estado de São Paulo”) buscou analisar e propor modelos de universidade para o Brasil, incluindo sugestões
relativas à preparação do magistério. Em 1932, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova também
destacou a importância da formação docente em nível superior. 22 A criação dos núcleos de ensino superior foi vista como ampla oportunidade para a participação da
intelectualidade católica na formação das elites dirigentes e a expansão de sua área de influência. Diante
disso, os católicos hegemonizaram a formação superior do professor em Faculdades de Filosofia, pois na
concepção desse grupo essas instituições representavam por natureza um campo católico
(SCHAWATZMAN et al, 2000). 23 As Faculdades de Filosofia não tinham somente o objetivo de formar professores em nível superior, mas
essa característica destacou-se em relação às demais, o que provocou severas críticas à instituição na década
de 1960 (SUCUPIRA, 1969). 24 Os exames de suficiência eram destinados aos professores secundaristas que não possuíam diplomas
universitários e gostariam de lecionar onde não houvesse docentes formados pelas Faculdades de Filosofia.
O processo avaliativo consistia em provas escrita e didática (BRASIL, 1946).
30
Até esse período a formação de professores era realizada especialmente no curso
Normal de nível secundário25, ministrado no Instituto de Educação Rui Barbosa26. Esta
instituição, localizada em Aracaju, formava professores para atuar no ensino primário da
capital e em diferentes municípios do Estado27. De acordo com o estudo de Freitas (2003),
a trajetória profissional das ex-normalistas estava relacionada ao capital social e político
de suas famílias:
[...] São três as possibilidades principais de ingresso no magistério, em
Aracaju, no período analisado: a ida para o interior, iniciando a
carreira em escolas de primeira entrância; a espera de uma vaga na
capital (enquanto aguardavam esta possibilidade, as ex-normalistas
realizavam cursos e/ou trabalhos em outras atividades); ou a
nomeação como presente na formatura [...] Todas as ex-normalistas,
apesar das diferentes trajetórias vivenciadas no ingresso profissional,
buscaram ascender na carreira e deixar o trabalho como professoras
primárias através de cursos de especialização, aperfeiçoamento e
graduação. (FREITAS, 2003, p. 214).
Na década de 1940, algumas transformações foram nítidas no sistema educacional
sergipano. Essas alterações se tornaram claras mais precisamente a partir de 1947, com a
posse do novo governador do Estado, José Rollemberg Leite (1947- 1951), como afirma
Araújo:
A instrução pública mereceu, nesta administração, todo o amparo e
atenção carinhosa do governo do estado. Estava certo o governador
José Rollemberg Leite de que é nas escolas que se preparam as
inteligências e as energias cívicas dos povos [...]. Todos os esforços,
portanto, foram empregados para desenvolver o sistema educacional
do estado em relação aos ensinos primário, secundário, comercial e
superior. (ARAÚJO, 1966, p. 207).
Dessa forma, o crescimento no número de escolas e vagas nos ensinos primário,
secundário e técnico (modalidades agrícola, industrial, normal e comercial) tornou-se
25 Nesse período o ensino secundário compreendia o curso ginasial, composto por quatro séries, e um
segundo ciclo, subdividido em curso clássico e curso científico, ambos com três séries (BRASIL, 1942). 26 De acordo com as obras de Freitas (2003) e Brito (2001), podemos verificar que outros cursos Normal
foram ministrados em diferentes escolas sergipanas, desde o final do século XIX e início do século XX, a
exemplo do Atheneu Sergipense (Aracaju), Colégio Sagrado Coração de Jesus (Estância), Nossa Senhora
das Graças (Propriá), Imaculada Conceição (Capela) e a Escola Nossa Senhora de Lourdes (Aracaju).
Entretanto, verificamos que a Escola Normal Rui Barbosa (1923-1945), posteriormente denominada de
Instituto Pedagógico Rui Barbosa (1945-1947) e Instituto de Educação Rui Barbosa (1947 – 2013) foi a
instituição que apresentou o maior período em funcionamento, sem interrupções. 27 De acordo com Brito (2001) a formação do magistério sergipano, durante a década de 1940, não estava
restrita apenas ao curso Normal, pois outros cursos de aperfeiçoamento e especialização docente eram
promovidos, sobretudo, em convênio com o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP).
31
evidente nessa administração28. Na época, a expansão escolar ocorria tanto na capital
como no interior, e a população conquistava novas oportunidades de estudos.
No entanto, a qualidade do ensino não conseguia acompanhar esse crescimento
quantitativo, pois muitos professores não apresentavam a formação pedagógica
necessária para desenvolver a docência29. Além disso, o número de professores
diplomados no curso Normal não conseguia suprir as necessidades das escolas primárias,
o que consequentemente favorecia o ingresso de professores leigos nessas instituições.
Sobre esse insuficiente campo de formação docente em Sergipe, Nunes Mendonça30
esclarece que:
O número de professores leigos, incapazes, semi-analfabetos e
desinteressados é alarmante. E grande parte dos diplomados não
dispõe das habilidades específicas, indispensáveis ao magistério, em
virtude de formação incompleta e inadequada, e da falta de um sistema
de aperfeiçoamento profissional, próprio para corrigir as deficiências
de preparação [...]. O número de leigos atinge a cifra de 968, ou seja,
em têrmos percentuais, 67,3%, o que representa índice bem alto de
improvisação. (NUNES MENDONÇA, 1958, p. 159).
Desse modo, tornou-se indispensável a criação de uma faculdade que formasse
professores para atuar no magistério sergipano com o intuito de atender ao crescimento
no número de escolas primárias e secundárias, já que até 1950 não havia nenhum curso
superior com essa finalidade, conforme podemos verificar no registro do periódico a
seguir:
Uma Faculdade de Filosofia preencheria essa lacuna, preparando
professores para todas essas escolas. Que adianta abrir ginásios,
instalar escolas normais, ampliar os nossos estabelecimentos de
ensino, se, na verdade, apesar dos grandes mestres de que dispomos
não temos professores em número suficiente e com capacidade
didática e intelectual para o desempenho de todas as tarefas que hão
de ser distribuídas? Lancemos, pois a base de uma Faculdade de
Filosofia, e tenhamos a coragem de realizá-la, com desprendimento e
estoicismo para o desenvolvimento e para o renome do ensino em
terras de Tobias Barreto e de Fausto Cardoso. (SERGIPE - JORNAL,
29/03/1950).
28 Segundo Nunes Mendonça (1958), no ano de 1943 existiam 635 escolas de diferentes modalidades
distribuídas em todo o Estado, sendo que 150 estavam sob administração municipal, 361 pertenciam ao
poder estadual e 124 eram particulares. Em 1948 o número de escolas subiu para 747, compreendendo 188
da rede municipal, 424 da rede estadual, 134 particulares e 1 de administração federal. 29 Essa conclusão foi possível após a análise de severas críticas sobre a qualidade do ensino e a formação
de professores divulgadas na imprensa sergipana. 30 No momento da pesquisa, que resultou no livro A educação em Sergipe, publicado em 1958, Nunes
Mendonça atuava como professor de Pedagogia no 1º ano do curso de formação de professores primários
do Instituto de Educação Rui Barbosa.
32
Nesse período, a Faculdade de Filosofia representava a instituição oficial de nível
superior destinada à formação do magistério dos ensinos secundário e Normal, no país.
Dentre suas atribuições, acumulava a responsabilidade pelo funcionamento dos cursos de
bacharelado e licenciatura em Letras Neo-latinas, Letras Anglo-germânicas, Letras
Clássicas, Química, Física, Matemática, História Natural, Filosofia, História e Geografia,
Pedagogia, Ciências Sociais e Didática (BRASIL, 1939).
Com o objetivo de criar tal instituição em Sergipe, um importante acordo foi
firmado entre o Estado e a Igreja Católica respectivamente, na figura do governador, José
Rollemberg Leite (1947-1951), e o bispo da Diocese de Aracaju, Dom Fernando Gomes
(1949-1957).
Nesse acordo, realizado mais precisamente em 1950, o Governo Estadual garantiu
um subsídio anual de cem mil cruzeiros (Cr$ 100.000,00)31 e o auxílio financeiro na
compra do terreno e na construção do prédio da unidade. Já a Diocese se responsabilizaria
pelo processo de criação e funcionamento da instituição, que seria chamada de Faculdade
Católica de Filosofia de Sergipe ou carinhosamente de FAFI32.
Diante dessa iniciativa, a Faculdade foi fundada em 12 de julho de 1950 pela
Diocese de Aracaju e passou a ser administrada pela Entidade Mantenedora Sociedade
Sergipana de Cultura33, instituição responsável por manter e dirigir as faculdades de
caráter cultural e social, as quais futuramente integrariam a Universidade Católica de
Sergipe. Entretanto, a implantação e o funcionamento dos cursos ainda não haviam sido
autorizados pelo Governo Federal:
Todos sabem que está em vésperas de funcionar uma Faculdade de
Filosofia em Sergipe, criada e mantida sob a égide da Igreja.
Entretanto, é possível que muita gente não tenha compreendido o
alcance deste fato, que valeu grandes sacrifícios. (A CRUZADA,
19/11/1950).
31 A subvenção foi instituída pelo Decreto nº 221, de 15 de junho de 1950, publicada no Diário Oficial do
Estado de Sergipe em 17 de junho de 1950. No ano de 1959, o presidente da Sociedade Sergipana de
Cultura, Dom José Vicente Távora, e o diretor da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, Monsenhor
Luciano Duarte, solicitaram ao então governador Luiz Garcia o aumento da subvenção estadual para Cr$
500.000,00. Em 1963, o mesmo governador aumentou a subvenção estadual para Cr$ 1.200,000,00. 32 É importante salientar que durante a trajetória histórica da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe,
outros recursos financeiros foram disponibilizados pelos governos federal, estadual e municipal. 33 A Entidade Mantenedora Sociedade Sergipana de Cultura era responsável pelo funcionamento e
administração financeira da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. Foi criada em 20 de setembro de
1950 por D. Fernando Gomes, segundo bispo de Aracaju, o qual alegou tratar-se “[...] de uma corporação
civil, de fins não econômicos, mas culturais e sociais, cujo objetivo é instruir, manter e dirigir as Faculdades
e Institutos de caráter cultural e social que poderão, mais tarde, integrar a futura Universidade Católica de
Sergipe” (SOCIEDADE SERGIPANA DE CULTURA, 1950, s/p).
33
Logo, a responsabilidade da Igreja em tal acordo foi direcionada ao Padre Luciano
José Cabral Duarte34. Este, ao receber a notícia de que seria o responsável pela
implantação da unidade de ensino, viajou até Recife para conhecer a Faculdade Católica
de Filosofia de Pernambuco35.
Figura 01 - Padre Luciano José Cabral Duarte
Acervo: Instituto Dom Luciano Duarte (IDLD).
Após analisar as estruturas acadêmica e administrativa da Faculdade de
Pernambuco, o Padre Luciano Duarte elaborou o projeto exigido pelo Governo Federal
para conceder a autorização do funcionamento dos cursos da Faculdade Católica de
34 O Padre Luciano José Cabral Duarte nasceu em 1925, na cidade de Aracaju, e ordenou-se sacerdote em
1948, conciliando durante muitos anos a sua vida eclesiástica com o magistério superior. Atualmente é
Arcebispo Emérito de Aracaju. A referência ao sacerdote, no decorrer do texto, será de acordo com sua
posição na hierarquia de sua congregação religiosa: padre (1948-1958), monsenhor (1958-1966), bispo
(1966-1970) e arcebispo (1971-1998). Sua biografia completa pode ser consultada na obra de Morais
(2008). 35 Para elaborar o projeto da faculdade sergipana, Padre Luciano Duarte entrou em contato com o também
padre sergipano Francisco Tavares de Bragança, que acumulava o cargo de professor e diretor da Faculdade
Católica de Filosofia de Pernambuco. Essa instituição havia sido criada em 1943 pelos padres jesuítas.
34
Filosofia de Sergipe, e o encaminhou à Diretoria do Ensino Superior do Ministério de
Educação e Cultura (MEC), então a cargo do Dr. Jurandi Lodi, que o conduziu aos
membros do Conselho Nacional de Educação (CNE)36 para ser avaliado.
O projeto deveria atender uma sequência de solicitações recomendadas pelo
Conselho Nacional de Educação: 1- Relatório mostrando as reais possibilidades do
Estado e a necessidade de uma Faculdade de Filosofia; 2 - Demonstração da capacidade
financeira para o custeio do curso; 3 - Entidade caracterizada como uma fundação,
apresentando os recursos fundamentais para garantia das instalações e funcionamento
regular dos cursos; 4 - Possibilidade do corpo docente com títulos suficientes para ser
aprovado (LUDOVICO, 2011).
Ao receber e analisar tal documento, o Conselho Nacional de Educação enviou a
Sergipe um inspetor federal do ensino superior para elaborar um relatório com
informações registradas “in loco” da Faculdade e verificar a possibilidade de tal
instalação. A visita oficial do inspetor ocorreu em outubro de 1950, com o objetivo de
realizar a vistoria da instituição e elaborar o relatório com o seu parecer37.
De acordo com o jornal “A Cruzada”38, os cursos pleiteados no projeto enviado
ao Ministério da Educação e Cultura para a licença de funcionamento, ainda em 1951,
eram39:
(Como se sabe esperamos autorização para seis cursos: Filosofia,
Línguas neo-latinas, Línguas anglo-germânicas, Geografia e História,
Matemática e Pedagogia). Os interessados poderão procurar o referido
programa com o secretário da Faculdade, Pe. Luciano Duarte, ou na
Cúria Diocesana. (A CRUZADA, 26/11/1950).
O curioso é que, mesmo sem a certeza da autorização por parte do Conselho
Nacional de Educação para o funcionamento da Faculdade, foi divulgado na imprensa
36 O Conselho Nacional da Educação foi criado pelo Decreto-Lei nº. 19.850, de 1931, com a finalidade de
ser o órgão consultivo do ministro da Educação e Saúde Pública nos assuntos relativos ao ensino. Em 1961,
com a Lei nº. 4.024, passou a ser denominado de Conselho Federal de Educação (CFE). 37 O inspetor federal indicado para vistoriar a Faculdade Católica de Filosofia, foi o Dr. Hermilo Guerreiro.
O inspetor federal da Universidade da Bahia já havia sido o verificador credenciado pelo MEC no processo
de instalação da Faculdade de Ciências Econômicas de Sergipe (A CRUZADA, 29/10/1950). 38 O Jornal “A Cruzada” foi criado em 1918 pela Igreja Católica com o intuito de propagar o discurso
católico sobre a sociedade sergipana. Publicado até fins da década de 1960, teve duas fases: a primeira vai
de 1918-1926 e a segunda de 1935-1970. Outras informações, consultar Sales (2005). 39 Não foram encontrados registros que expliquem a preferência do Padre Luciano Duarte pelos cursos
pleiteados no projeto enviado ao MEC. Supõe-se que a escolha pelo curso de Pedagogia estava relacionada
à formação de professores para atuar nas disciplinas do curso Normal, pois o Regimento da FAFI apresentou
como finalidade da instituição “[...] preparar candidatos ao magistério do ensino secundário e normal”
(FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE SERGIPE, s/d, s/p.).
35
sergipana, em dezembro de 1950, um curso pré-vestibular gratuito aos interessados em
pleitear uma vaga nos cursos da FAFI. Além disso, o programa para o exame vestibular
já estava disponível e a data do exame marcada para fevereiro de 1951. De acordo com o
noticiário do jornal A Cruzada:
No intuito de ajudar os candidatos ao exame vestibular da nossa
Faculdade de Filosofia, exame que será na segunda quinzena de
fevereiro, surgiu à idéia de organizar-se um pequeno curso pré-
vestibular, abrangendo aquelas matérias em que os examinados iriam
encontrar maiores dificuldades em, sozinhos, prepararem o programa
do exame. É verdade que uma portaria do exmo. Sr. Ministro da
Educação proíbe, sob pena de nulidade, que sejam examinadores
aqueles professores que tenham lecionado aos alunos que se
submetem ao vestibular. (A CRUZADA, 31/12/1950).
A hipótese é de que o Bispo Dom Fernando Gomes e o Padre Luciano Duarte
exerciam autoridade sobre alguns membros do Ministério da Educação e Cultura. Dessa
forma, entendemos que o volume de capital que ambos tinham no campo religioso
conseguiam transcender para os campos acadêmico e político.
Para Bourdieu (1999) cada campo, operando dentro de sua autonomia relativa e
obedecendo a sua lógica específica, os agentes, posicionados de acordo com seu volume
e composição de capitais, interagem como jogadores em um mercado, enfrentando-se
para conservar e acumular as formas de capital que permitem o reconhecimento dos pares
e a dominação do campo.
Diante disso, foi com muita confiança que entre os meses de novembro de 1950 e
fevereiro de 1951 os sergipanos aguardavam a publicação no Diário Oficial da União do
Decreto Presidencial que autorizava oficialmente a instalação da FAFI40:
Aguardamos para breve a palavra final e definitiva do Ministério de
Educação, concedendo, segundo esperamos, a autorização oficial para
o funcionamento da nossa vitoriosa Faculdade Católica de Filosofia
de Sergipe. (A CRUZADA, 26/11/1950).
O esperado decreto do Governo Federal nº. 29.311 foi finalmente publicado no
Diário Oficial da União no dia 2 de março de 1951 e datava de 28 de fevereiro desse
mesmo ano:
40 De acordo com o Decreto-Lei nº. 421/38, para que um curso superior pudesse funcionar no país era
necessária a autorização prévia do Governo Federal. O pedido de autorização era dirigido ao ministro da
Educação e Saúde, que, ouvido o Conselho Nacional de Educação, o submeteria à decisão do Presidente da
República.
36
Figura 02 - Autorização para funcionamento dos cursos da FAFI (1951)
Fonte: Decreto nº. 29.311, de 28/02/1951
Acervo: Instituto Dom Luciano Duarte (IDLD).
O documento, assinado pelo presidente Getúlio Vargas e pelo ministro da
Educação e Saúde Pública Ernesto Simões Filho, autorizava a abertura de cinco cursos:
Geografia e História, Pedagogia, Filosofia, Letras Anglo Germânicas e Matemática.
Inicialmente só funcionaram as graduações em Geografia e História41, Filosofia e
Matemática42, sendo que anos depois começaram a atuar os cursos de Letras Anglo
Germânicas (1953) e Pedagogia (1968).
Diante do decreto, também podemos visualizar que não foi concedida a
autorização para o funcionamento do curso de Letras Neo-latinas43, pleiteado no plano de
funcionamento da Faculdade. Esse curso era um dos mais procurados pelos candidatos:
41 O curso de Geografia e História constituía uma única disciplina até o ano de 1963. No ano seguinte os
cursos de Geografia e História ganharam autonomia assegurada em novo Regimento Interno da FAFI.
Sobre o curso de Geografia e História, consultar Oliveira (2008). 42 Mais informações a respeito do curso de Matemática da FAFI, consultar Oliveira (2009). 43 A autorização para o funcionamento do curso de Letras Neo-latinas foi concedida pelo Governo Federal
em abril de 1952. Nesse mesmo ano, realizou-se a seleção para o ingresso de alunos e iniciaram as
atividades do curso.
37
Está sendo relativamente grande o número de pessoas interessadas em
cursar a Faculdade de Filosofia, no próximo ano, e que tem procurado
o secretário da mesma a cata de informações. [...] Candidatos para
todos os seis cursos já se apresentaram, notadamente para neo-latinas
e Geografia e História. (A CRUZADA, 26/11/1950).
Destaca-se que apesar da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe apresentar
como objetivo principal, a formação de professores, não foi solicitada no projeto de
criação a abertura do curso de Didática44.
Tal curso era o responsável pela formação de todos os licenciados nas Faculdades
de Filosofia, ou seja, mais precisamente dos professores de diferentes áreas do
conhecimento. Provavelmente, o autor do projeto “Padre Luciano Duarte” entendeu que
não seria necessária a abertura de Didática até 1954, pois a formatura da primeira turma
de bacharéis da Faculdade só ocorreria em dezembro de 195345.
Assim, após a autorização para implantação dos cursos, a FAFI começou a
funcionar provisoriamente em março de 1951 no prédio do Colégio Nossa Senhora de
Lourdes, localizado na capital46, sob a licença da Ordem das Irmãs Sacramentinas47. Os
cursos da Faculdade eram ministrados no turno da noite devido às atividades do Colégio
no período diurno48.
Em comemoração aos 40 anos da FAFI, sua história foi narrada com o seguinte
texto:
Ela nasceu na noite, esta sombra que se dramatiza nos cenários do
universo há milhões de anos. Um passo no escuro e na esperança. A
noite da dificuldade, das lutas, os fundos do esforço, do idealismo: nos
fundos de um prédio, no fundo das noites, ela engatinha pequenina e
silenciosa, atraindo a si as primeiras inteligências. A noite amanheceu,
geradora e irreversível: a manhã dos novos professores de Sergipe, dos
Seminários, Conferências, a manhã da Cultura Francesa, da Revista
da Faculdade. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, 1991,
s/p.).
44 É importante lembrar que os diversos cursos ofertados pelas Faculdades de Filosofia formavam bacharéis
respeitando o “padrão federal curricular” chamado 3 + 1, no qual o bacharel formado em um curso com
duração de três anos que desejasse se licenciar completaria seus estudos com mais um ano no curso de
Didática. 45 A solicitação para o funcionamento do curso de Didática da FAFI foi enviada em dezembro de 1953,
sendo a autorização concedida em janeiro de 1954, através do Decreto-Lei nº 34.961. Já o reconhecimento
só ocorreu com o Decreto-Lei nº. 39.039, de 18 de abril de 1956. 46 Rua Itabaianinha, nº 586, Aracaju-Sergipe. 47 A congregação religiosa das Irmãs Sacramentinas era responsável pelo Colégio Nossa Senhora de
Lourdes. Informações a respeito da Congregação e do Colégio, consultar Costa (2003). 48 A concretização de um prédio próprio só ocorreu a partir de 1954, após a compra do terreno e o início
das obras de construção da sede com o apoio do então governador de Sergipe, Arnaldo Rollemberg Garcez
(1951-1955). O novo prédio localizado em Aracaju (Rua de Campos, nº 177, São José) foi inaugurado em
1959.
38
O poema elaborado pela ex-professora da FAFI, Carmelita Pinto Fontes, buscava
retratar a origem da instituição mediante metáforas que lembram o período noturno das
aulas, as dificuldades em encontrar professores para lecionar nas disciplinas, as limitações
financeiras da instituição, a formação de novos docentes e a utilização das salas do
Colégio Nossa Senhora de Lourdes:
Figura 03 - Colégio Nossa Senhora de Lourdes, década de 40 do século XX
Fonte: Fotografia do Ginásio Nossa Senhora de Lourdes. Acervo: Arquivo particular do professor Miguel
André Berger.
Ainda no mês de março de 1951, iniciaram-se os preparativos para o primeiro
vestibular. As inscrições foram realizadas no período de 5 a 9 do corrente mês, e o exame
para o ingresso ocorreu entre os dias 16 a 19 de março. As aulas iniciaram sete dias depois,
com um calendário especial:
A divisão do Ensino superior, a cuja testa está o Dr. Jurandir Lodi,
logo após a publicação do decreto abriu um calendário especial para o
funcionamento da Faculdade ainda neste ano, e designou o Sr. inspetor
da Faculdade de Direito de Sergipe Dr. A. Temporal, para responder
pelo expediente da Faculdade de Filosofia. (A CRUZADA,
18/03/1951).
39
De acordo com essa informação, podemos observar mais uma vez a relação de
poder do Padre Luciano Duarte perante os campos acadêmico e político, pois, durante
esse período, havia um calendário fixo e rígido definido pelo Ministério da Educação e
Cultura para as instituições de ensino superior, evitando medidas extraordinárias com
relação a modificações do calendário oficial.
Durante as inscrições para o vestibular foram disponibilizadas vagas somente para
os cursos de Filosofia, Matemática e Geografia e História. Na oportunidade, não houve
seleção para os cursos de Letras Anglo Germânicas49 e de Pedagogia.
Com relação ao curso de Pedagogia, várias suposições sinalizam a ausência dessa
graduação nos primeiros exames para o ingresso de alunos na Faculdade Católica de
Filosofia de Sergipe.
A primeira delas diz respeito às dificuldades financeiras frequentemente
divulgadas em atas de reuniões e cartas destinadas a políticos e ao procurador da própria
instituição de ensino50. Em uma das cartas, o Padre Luciano Duarte relata ao procurador
Armando Barcelos o seu descontentamento ao ser questionado pela conselheira Nair
Fortes Abu-Merhy e o titular da Diretoria do Ensino Superior, Dr. Jurandi Lodi51, sobre
a incapacidade financeira da Sociedade Mantenedora em sustentar a Faculdade, e por
terem recusado o plano anual de aplicação do auxílio financeiro da FAFI, concedido pelo
Governo Federal52:
Agora o assunto mais importante desta: nós mandamos o plano de
aplicação do auxílio, e a Drª Nair fez um papel triste com a gente.
Imagine o Sr.: fizemos o plano dentro daquele esquema que o Sr. nos
mandou: Pessoal, equipamento, diversos, etc. [...] Pois sabe o Sr. qual
foi o parecer da dona Nair, homologado pelo Dr. Lodi, que o disse
pessoalmente ao Sr. Bispo D. Fernando? Nada mais, nada menos: que
não era admissível que uma Faculdade tão nova gastasse mais de 30%
da verba do auxílio com o pessoal... E ainda: que parecia que a
Faculdade estava vivendo exclusivamente de subvenções, como se a
Mantenedora de fato não pudesse manter, etc. Veja o Sr. que lógica
admirável: justamente porque é tão nova, a Faculdade merece
49 O curso de Letras Anglo Germânicas só passou a funcionar em 1963, com sua primeira turma formada
em dezembro de 1966. 50 O procurador da FAFI, Dr. Armando Barcelos, residia no Rio de Janeiro. Diversas cartas endereçadas a
ele foram encontradas no Arquivo Central da UFS e no Instituto Dom Luciano Duarte. 51 Nair Fortes Abu-Merhy atuava no Conselho Nacional de Educação e Jurandi Lodi era o responsável pela
Diretoria do Ensino Superior. 52 Além de recusar o plano de orçamento da FAFI, o Dr. Jurandi Lodi enviou um “desatencioso telegrama”,
de acordo com o Padre Luciano Duarte, pedindo que enviasse provas de que a mantenedora estava
fornecendo meios para que os professores pudessem receber salários condignos. Entretanto, o diretor da
Faculdade não apresentou nenhuma prova, pois justificou que as constantes inspeções que eram realizadas
por uma comissão do próprio Conselho Nacional de Educação já provavam a eficiência e honestidade da
instituição.
40
estranheza se gasta mais de 30% com professorado!!! Magnífico
paradoxo! Entretanto, lembramos de sua advertência de que não adianta
discutir, mas é obedecer e pronto, aí vai um novo plano de aplicação.
(DUARTE, 1953a, s/p).
Em outra correspondência enviada em 1959 ao deputado federal de Sergipe, Dr.
Leite Neto, o monsenhor Luciano Duarte explicou a situação econômica da FAFI e a
necessidade do funcionamento do curso de Filosofia53, solicitando maiores investimentos
para a sua manutenção:
Ora, no próximo ano somos obrigados a reabrir o curso de Filosofia,
temporariamente suspenso. Será um novo curso, com novo quadro de
professores e novas despesas. [...] Muita coisa conspira, em Sergipe,
contra nossas escolas superiores. Uma das maiores dificuldades é a
financeira. Nossos professores têm trabalhado com salários puramente
simbólicos54, até hoje. Entretanto, também o idealismo cansa, e eu
sinto a necessidade urgente de melhorar a situação em que nos
debatemos. (DUARTE, 1959, s/p).
Assim, apesar de ter um caráter privado55 e uma sociedade mantenedora amparada
financeiramente pela Igreja Católica, além dos investimentos advindos dos governos
federal, estadual e municipal, a Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe lidava com
diversos problemas financeiros, desde a sua criação até a incorporação à Universidade
Federal de Sergipe, em 1968.
Além das limitações financeiras, a Faculdade também apresentava dificuldades
em encontrar recursos humanos, pois faltavam professores formados e especializados
para lecionar nas disciplinas obrigatórias do currículo. Isso ocorria devido à falta de
interesse de muitos diplomados em permanecer na capital sergipana, visto que muitos
deles se ausentavam para estudar em outros Estados e não retornavam. Segundo a
pesquisa de Oliveira (2011), a necessidade dos diplomados em dedicar-se as suas
profissões legais também dificultava a constituição do corpo docente:
53 O curso de Filosofia começou a funcionar em 1951. Entretanto, em 1958 o diretor, monsenhor Luciano
Duarte, e o Conselho Técnico-Administrativo da FAFI decidiram suspender temporariamente o curso
devido ao pequeno número de alunos e às dificuldades financeiras da Faculdade (FACULDADE
CATÓLICA DE FILOSOFIA DE SERGIPE, 1961b). 54 É necessário frisar que apesar dos registros documentais demonstrarem o pagamento de salários
simbólicos aos professores que atuavam na FAFI, nota-se a importância dessa atuação para a acumulação
de capital simbólico e social. Além disso, a atividade docente nesse período, especialmente no ensino
superior, concebia a caracterização de intelectualidade. 55 Apesar da FAFI ter um caráter privado, é importante notificar que todos os ex-alunos entrevistados
durante a pesquisa de doutorado não pagavam mensalidades, devido à distribuição de bolsas de estudo.
41
A carência de docentes com uma formação acadêmica para lecionar
na faculdade era grande, tendo em vista que todos eles tinham feito
suas graduações em outros estados, e ao retornar assumiam suas
diferentes profissões. Preencher o quadro de todas as disciplinas e
contar para isso com modestos recursos era uma tarefa difícil. À
medida que os alunos terminavam seus cursos, alguns eram
convidados para retornar à instituição. (OLIVEIRA, 2011a, p. 37).
Outro aspecto relevante foi o pequeno número de candidatos interessados em
cursos de licenciatura, pois a baixa remuneração e a cultura do favoritismo político56,
provocavam o desinteresse dos jovens por essa área profissional. Este fato era
constantemente denunciado na imprensa sergipana.
Vale ressaltar que o baixo salário pago ao professor, num verdadeiro
desconhecimento de sua função, é o principal responsável pela pouca
procura dos cursos da Faculdade de Filosofia – apesar da necessidade
de professores – e mentalidades de que só servem para moças, pois o
rapaz não vai perder tempo estudando para depois não ganhar
suficientemente para sustentar a família, um emprego federal é mais
rentoso e mais fácil. (A CRUZADA, 09/06/1963).
Segundo Nunes (2007), a localização da FAFI no centro da cidade (nas
proximidades do mercado e da zona de prostituição), associada ao funcionamento dos
cursos no período noturno, também contribuíram para essa baixa procura57.
Além de todos esses fatores, ainda existia a indefinição do campo de atuação dos
licenciados ou bacharéis do curso de Pedagogia. De acordo com a Lei nº 1.190/1939, o
profissional formado nessa área poderia atuar nas disciplinas pedagógicas do Curso
Normal e/ou como técnico em educação, cuja função no mercado de trabalho nunca foi
precisamente definida. Paralelo a isso, como em Sergipe o corpo docente dos cursos
normais era constituído por professores renomados e legitimados no campo do
magistério, dificilmente haveria espaço disponível para os novos egressos.
Mesmo diante de todos esses empecilhos, verificou-se o empenho de alguns
professores da Faculdade Católica de Filosofia na instalação desse curso, ainda em 1961,
sem sucesso:
56 A pesquisadora Maria Thétis Nunes completa que, além da baixa remuneração do magistério, havia
também a tradição do favoritismo político que podia transformar qualquer pessoa em professor primário ou
secundário (NUNES, 1984). 57 Vale ressaltar que a FAFI funcionou nas dependências do Colégio Nossa Senhora de Lourdes até 1958.
Em 1959, o prédio da Faculdade foi inaugurado, permitindo o funcionamento dos cursos no período diurno.
42
Argumentando a falta de professores de Pedagogia, o Dr. José Silvério
Leite Fontes sugere que entre em funcionamento o curso de
Pedagogia. O problema é debatido pelos presentes, tendo por fim o Sr.
Diretor58 demonstrado que no momento era impossível, haja vista, as
elevadas despesas para a criação de mais um curso em nossa
faculdade. (FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE
SERGIPE, 1961a, s/p.).
O professor José Silvério Leite Fontes59 já havia indagado sobre a ausência desse
curso no ano anterior, quando foi relator de um processo que solicitava a defesa de uma
tese de doutorado em Pedagogia na Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. No seu
parecer, ele alegou que o não funcionamento do curso de Pedagogia da FAFI e a ausência
de um corpo docente constituído dificultariam a orientação e avaliação do trabalho, além
da triagem de professores para a banca avaliadora. Apesar disso, no seu parecer solicitou
uma consulta ao inspetor federal da Faculdade e ao Conselho Nacional de Educação para
analisar a legalidade do pedido e os pré-requisitos que o candidato deveria ter para
defender tal tese60.
Mesmo sem o corpo docente constituído, o Conselho Nacional de Educação
autorizou a FAFI compor a banca de doutorado em Pedagogia e promover a defesa na
Faculdade. Para participar da comissão examinadora foram indicados os professores
Gonçalo Rollemberg Leite, Luciano José Cabral Duarte e José Silvério Leite Fontes.
A defesa61 foi bastante divulgada na imprensa sergipana, como podemos observar
no Jornal A Cruzada:
58 Monsenhor Luciano Duarte. 59 O professor José Silvério Leite Fontes iniciou o curso de Pedagogia na Universidade da Sorbonne, na
França, em novembro de 1959, mas infelizmente não concluiu o curso por motivo de doença. 60 Em 1960, o bacharel em Pedagogia e Direito, José Silvio Barreto de Macêdo, solicitou à direção da FAFI
autorização para a sua defesa de tese de doutorado em Pedagogia, amparado no Regimento Interno da
Faculdade e no Decreto-Lei nº. 9.092/1946. No ano seguinte, o Conselho Nacional de Educação se
pronunciou favoravelmente à defesa de tesa na citada instituição de ensino, sendo realizada em 06 de abril
de 1961. 61 O autor da tese de doutorado, era José Sílvio Barreto de Macedo. Este era natural de Penedo-Alagoas, e
havia cursado o ensino ginasial em Aracaju. Cursou a Faculdade de Direito do Recife, tornando-se professor
da instituição. Além do curso de Direito, formou-se em Pedagogia, Filosofia, Letras Neolatinas, Teologia,
Biologia, Economia e Letras Anglogermânicas. Também foi professor e diretor da Faculdade de Direito da
Universidade Federal de Alagoas (TEIXEIRA, 2008).
43
Figura 04 - Chamada para defesa de Tese na FAFI (1961)
Fonte: Jornal A Cruzada de 25/03/1961.
Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGS).
Embora o curso de Pedagogia não entrasse em funcionamento até 1968, o
reconhecimento do Governo Federal foi concedido através do Decreto nº. 34.963, de 19
de janeiro de 1954. Tal decreto também abrangia o reconhecimento dos cursos de
Filosofia, Letras Anglo-germânicas, Geografia e História, Matemática e Letras Neo-
latinas, como podemos visualizar na íntegra:
44
Figura 05 - Reconhecimento dos cursos da FAFI (1954)
Fonte: Decreto-Lei nº. 34.963, de 19/01/1954.
Acervo: Instituto Dom Luciano Duarte (IDLD).
Ressalta-se que o pedido de reconhecimento do curso de Pedagogia somente
poderia ser solicitado ao Conselho Nacional de Educação após a instalação e
funcionamento da graduação, mais precisamente no segundo ano do curso. Logo, essa
prática foi de encontro com à Lei que regulava o funcionamento das unidades de ensino
superior da época, a qual determinava:
Art. 6º O estabelecimento de ensino superior, que obtiver autorização
para funcionamento de um ou mais cursos, ficará obrigado a requerer
ao ministro da Educação e Saúde o respectivo reconhecimento, dentro
do segundo ano de sua instalação. Se o não fizer, será cassada a
autorização de funcionamento. Se, requerido o reconhecimento, e for
este negado, poderá ser novamente solicitado, dentro de um ano. A
contar da publicação do ato denegatório. Decorrido este prazo sem que
tenha sido feito novo pedido de reconhecimento, e na hipótese de ser
o reconhecimento denegado pela segunda vez, será cassada a
autorização de funcionamento. (BRASIL, 1938, s/p).
45
Outro fato revelador é que ao elaborar o projeto enviado ao MEC para o
reconhecimento dos cursos, o Padre Luciano Duarte questionou ao procurador da FAFI e
ao diretor da Faculdade Católica de Filosofia do Recife sobre a legalidade de incluir o
curso de Pedagogia no pedido de reconhecimento. Em carta, o diretor da FAFI comenta:
Estou aguardando a cada hora uma resposta sua a uma carta que lhe
fiz há 4 dias, indagando se devia ou não incluir no pedido de
reconhecimento os cursos de Letras Anglo-Germânicas (que está no
1º ano de funcionamento) e o de Pedagogia, que não começou a
funcionar. Lembro-me do Sr. me ter dito que incluísse, mas o Pe.
Bragança62 me aconselhou o contrário. (DUARTE, 1953b, s/p.).
Acredita-se que embora o diretor da FAFI suspeitasse da ilegalidade nos pedidos
de reconhecimento dos cursos de Letras Anglo-Germânicas e de Pedagogia, encaminhou
o projeto com as solicitações. Além disso, mesmo após duas inspeções da Comissão
indicada pelo Conselho Nacional de Educação para analisar a estrutura física, pedagógica
e administrativa da Faculdade, o projeto foi aprovado e o pedido de reconhecimento
concedido pelo Ministério da Educação e Cultura:
Como o Sr deve saber, foi designada a Comissão que veio verificar a
nossa Faculdade. Felizmente correu tudo bem, e eles deixaram
transparecer uma impressão lisonjeira. Deverão voltar no começo de
agosto, quando remeterão o nosso relatório. (DUARTE, 1953a, s/p.)
Esse fato reforça, mais uma vez, o poder simbólico e a autoridade do Padre
Luciano Duarte sobre as decisões tomadas pelos integrantes do Conselho Nacional de
Educação, principalmente os representantes da Igreja Católica, mediado muitas vezes,
por Dom Helder Câmara, Alceu de Amoroso Lima63, além dos bispos de Aracaju: Dom
Fernando Gomes (1949-1957) e Dom José Távora (1960-1970).
Por esse motivo, durante o processo de reconhecimento dos cursos da FAFI, ele
indicou o nome dos integrantes da comissão enviada pelo CNE para vistoriar a Faculdade,
como podemos verificar na carta enviada ao procurador Armando Barcelos:
62 Refere-se ao Padre sergipano Francisco Tavares de Bragança, diretor da Faculdade Católica de Filosofia
de Pernambuco. 63 No período da pesquisa documental foram encontradas cartas do diretor da FAFI, Luciano Duarte,
enviadas a Dom Helder Câmara e Alceu de Amoroso Lima. Essas cartas foram localizadas no Arquivo
Central da UFS.
46
Figura 06 - Solicitação de inspeção para a FAFI (1954)
Fonte: Carta do Diretor da FAFI, Padre Luciano Duarte, destinada ao procurador da Faculdade,
Armando Barcelos, em 19/05/1954. Acervo: Arquivo Central da UFS.
Em outra correspondência, o Padre Luciano Duarte fala sobre a recomendação
do procurador da Faculdade, Armando Barcelos, e da vantagem de ter alcançado as
solicitações:
Tenho comigo sua carta última, que veio acompanhada da folha do
Diário Oficial que traz o decreto de reconhecimento de nossa
Faculdade. O Sr. tinha razão, ao dizer-nos que requerêssemos o
reconhecimento de todos os cursos, e é evidente a enorme vantagem
que representa o fato de já agora estarem todos reconhecidos.
(DUARTE, 1954, s/p.).
Depois de obter o reconhecimento das graduações, a Faculdade Católica de
Filosofia de Sergipe poderia confeccionar e emitir diplomas de bacharel do curso de
Pedagogia aos seus egressos, aceitos oficialmente em todo o território nacional. O
47
diploma de licenciatura só poderia ser concedido a partir de 1956, após o reconhecimento
do curso de Didática. Segundo Oliveira:
O curso de Didática começou a funcionar na FCFS64 em 1954. Sua
primeira turma contou com alunos dos cursos de Matemática,
Filosofia e Geografia e História. Um ano depois acrescentava-se o
curso de Didática para Letras Neolatinas e a posteriori para Letras
Anglo-Germânicas. Sua existência segue até o ano de 1962, quando o
Conselho Federal de Educação instituiu o Parecer 292/62,
estabelecendo um currículo mínimo para os cursos de licenciatura, o
qual deveria ser de 1/8 do tempo de curso. Na FCFS as implicações
do parecer alteraram os currículos do curso já no ano de 1963.
(OLIVEIRA, 2011a, p. 135).
Desse modo, apesar da autorização para instalação em 1951 e o reconhecimento
em 1954 do Ministério da Educação e Cultura, o curso de Pedagogia da FAFI só passou
a funcionar em 1968, especialmente no último ano da Faculdade.
Isso ocorreu devido à procura dos candidatos pelo curso65, sobretudo por parte dos
jovens que já trabalhavam no campo do magistério ou haviam concluído o curso Normal
e pretendiam ascender na carreira docente. Além disso, iniciavam-se os preparativos para
a implantação da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e consequentemente a
incorporação da FAFI, transferindo para o Governo Federal as responsabilidades
administrativas e financeiras da nova graduação66.
Diante disso, ainda em 1967 teve início a organização pedagógica e curricular do
curso, definindo as disciplinas anuais, a carga horária, a disposição dos professores, o
programa das disciplinas e o edital para o primeiro concurso de habilitação, como
podemos verificar mediante relatos da professora Cacilda de Oliveira Barros67:
64 A FCFS é a sigla utilizada pelo autor para denominar a Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. 65 Durante a gestão do governador Lourival Baptista (1967-1971), intensificou-se uma política de
valorização profissional do magistério (qualificação e aumento salarial), com o objetivo de garantir a
formação docente e melhorar a qualidade do ensino. 66 Na próxima sessão será analisada, de maneira minuciosa, a determinação da Reforma Universitária na
instalação do primeiro curso de Pedagogia em Sergipe. Diante de uma conclusão preliminar, podemos
observar que a implantação do mencionado curso foi consequência da imposição do Conselho Federal, na
criação da Faculdade de Educação da UFS. 67 Cacilda de Oliveira Barros foi a primeira diretora da Faculdade de Educação da UFS (1968-1972).
Ingressou ainda na Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, em 1967, como professora da disciplina de
Didática e Elementos de Administração Escolar. Com a criação do curso de Pedagogia, assumiu também
as disciplinas da habilitação em Orientação Educacional. Além disso, implantou o primeiro Serviço de
Orientação Educacional em Sergipe, na Escola Agrotécnica Federal de São Cristóvão (1959-1979). Foi
professora do Instituto de Educação Rui Barbosa, no Colégio Tobias Barreto, no Colégio Municipal
Presidente Vargas, Colégio Atheneu – Núcleo do Bairro Industrial. Aposentou-se pela Universidade
Federal de Sergipe, em 1991, por tempo de serviço (BARROS, 2010, s/p).
48
Fui contratada pelo Senhor Diretor da Faculdade Católica de Filosofia
Dom Luciano, para organizar o curso de Pedagogia, que até aquele
momento não havia funcionado. Fizemos o levantamento de alguns
programas de outras faculdades, olhamos o Regimento, a legislação e
definimos a nossa grade curricular para o curso. [...] Então, dividimos
os professores para lecionar nas disciplinas. Depois fui organizar o 1º
vestibular do curso. (BARROS, 2010, s/p.).
As inscrições para o concurso de habilitação68 foram abertas em janeiro de 1968
e as provas realizadas no mês seguinte. As aulas, ainda sob a direção da FAFI, iniciaram
em 18 de março de 1968, no prédio da própria Faculdade, localizada na Rua de Campos.
As disciplinas eram ofertadas de segunda a sábado no turno da manhã, enquanto os
demais cursos e o Colégio de Aplicação69 funcionavam no período da tarde.
Diante das dificuldades financeiras70, que prejudicavam o desenvolvimento da
Faculdade e ameaçavam constantemente o seu fechamento, intensificou-se a campanha
liderada por Dom Luciano Duarte em defesa da instalação da Universidade Federal de
Sergipe, com a finalidade de incorporar a FAFI e as demais faculdades isoladas do
Estado71.
Para a concretização desse projeto, Dom Luciano Duarte recorreu ao seu capital
religioso, social e cultural, na intenção de convencer os membros do Conselho Federal de
Educação (CFE) a votar em favor da instalação da Universidade, como podemos verificar
através da correspondência destinada ao conselheiro Dom Cândido Padin:
[...] nossas seis Faculdades (das quais a de Direito já é federalizada,
mas está com o seu processo embrulhado em complicações infindáveis
há mais de três anos) são mantidas pela generosidade heroica dos
professores, mas todas elas são sem recursos, e não podem pensar em
equipar-se, como conviria à Faculdades modernas, pois não há,
absolutamente, meios financeiros. A única esperança é a Universidade
Oficial de Sergipe. (DUARTE, 1965, s/p).
68 Na sessão 3.1 será apresentado um estudo detalhado dos concursos de habilitação realizados para o
ingresso no curso de Pedagogia da UFS (1969-1978). 69 O Colégio de Aplicação da Faculdade Católica de Filosofia foi criado em 30 de junho de 1959 pela
Sociedade Sergipana de Cultura. Essa instituição era integrada a FAFI e servia de laboratório pedagógico
e campo de estágio dos alunos da Faculdade (NUNES, 2008). 70 Em 1961, o Monsenhor Luciano Duarte solicitou ao Governo Federal uma verba permanente ou a
federalização da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, alegando dificuldades financeiras da
Sociedade Mantenedora. Em contrapartida, cederia a gratuidade da instituição, mas essa proposta não foi
atendida pelo Governo Federal. A partir de 1963, o Monsenhor Luciano Duarte iniciou a campanha para a
criação da Universidade Federal de Sergipe, com o apoio de políticos e do então governador do Estado
Seixas Dória. 71 A criação de universidades a partir da incorporação ou agrupamento de faculdades isoladas existentes foi
definida pela Lei nº. 5.540 de 1968. Em Sergipe seis faculdades isoladas deram origem a UFS: Faculdade
de Ciências Econômicas (1948), Escola de Química (1948), Faculdade de Direito (1950), Faculdade
Católica de Filosofia (1950), Escola de Serviço Social (1954) e Faculdade de Medicina (1961).
49
Com a criação da Universidade Federal de Sergipe72, todas as faculdades isoladas
do Estado foram incorporadas à nova instituição, em 30 de abril de 1968. Na
oportunidade, a Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe e o seu curso de Pedagogia,
com pouco mais de um mês em funcionamento, também foram incorporados.
Na solenidade de incorporação, Dom Luciano Duarte ressaltou a importância
dessa iniciativa para combater o subdesenvolvimento em Sergipe, pois com a implantação
da UFS iniciava o caminho “[...] para libertar-se da peia da ignorância e da falta de
cultura73”. (DIÁRIO DE ARACAJU, 01 e 02/05/1968, p. 1).
Figura 07 - Solenidade de incorporação das Faculdades isoladas à Fundação
Universidade Federal de Sergipe (1968)
Fonte: Fotografia registrada em 30/04/1968. Da esquerda para a direita: Luiz Santana (escrivão), vice-
governador Manoel Cabral Machado, Dom Vicente Távora (arcebispo de Aracaju), governador Lourival
Batista, Dom Luciano Duarte, José Aquiles de Lima e Lauro de Brito Porto.
Acervo: Instituto Dom Luciano Duarte (IDLD).
72 A Universidade Federal de Sergipe foi criada em 28 de fevereiro de 1967, através do Decreto-Lei nº. 269.
Entretanto, a incorporação das faculdades isoladas ocorreu em 30 de abril de 1968 e a instalação da
Universidade em 15 de maio do mesmo ano. Mesmo após a criação e instalação da UFS, as faculdades
incorporadas permaneceram funcionando nos mesmos prédios (isolados) até 1980, quando foi concluída e
inaugurada a Cidade Universitária Profª José Aloísio de Campos. Mais informações, consultar Oliveira
(2011b). 73 Discurso de Dom Luciano Duarte apresentado na solenidade de incorporação das faculdades isoladas à
Fundação Universidade Federal de Sergipe, em 30 de abril de 1968, registrado no jornal Diário de Aracaju
em 01 e 02/05/1968.
50
Entretanto, é importante notificar que a instalação da Universidade não se deu
naquele momento, mas 15 dias depois, após um ato solene, com a participação do
Governador do Estado, Lourival Baptista (1967-1970), o reitor João Cardoso Nascimento
Júnior (1968-1972) e do conselheiro federal e relator do processo de criação da UFS,
Newton Sucupira, no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Em matéria publicada
no jornal “A Cruzada”, Dom Luciano Duarte conclui:
No dia 15 que passou instalou-se a Universidade Federal de Sergipe.
Numa festa magnífica, que congregou no Instituto Histórico e
Geográfico o mundo universitário e a sociedade de Aracaju [...].
Terminou, assim, vitoriosamente a longa marcha, a penosa campanha
começada em abril de 1963, e que durou, exatamente, cinco anos e um
mês. (A CRUZADA, 18/05/1968).
Figura 08 - Solenidade de instalação da UFS (1968)
Fonte: Fotografia registrada em 15/05/1968. Da direita para a esquerda, estão: Carlos Alberto Sampaio, Dr.
Augusto Leite, Padre Mendonça, Dr. Waldemar Fortuna de Castro, Luciano José Cabral Duarte, governador
Lourival Baptista, vice-governador Manoel Cabral Machado, Dom José Vicente Távora e reitor João
Cardoso Nascimento Júnior.
Acervo: Instituto Dom Luciano Duarte (IDLD).
51
De acordo com Oliveira (2011b), a incorporação da FAFI à Universidade Federal
de Sergipe não gerou grandes mudanças no cotidiano do curso de Pedagogia, no ano de
1968, pois os alunos continuaram estudando no mesmo prédio e horário, com a mesma
organização pedagógica e sem se desprenderem dos antigos professores, colegas de
classe, disciplinas e conteúdos:
Assim, com relação à organização pedagógica e ao cotidiano dos
alunos, nada aparentemente foi modificado. Esse fato confunde um
pouco as lembranças dos entrevistados naquele ano, visto que as
mudanças amparadas legalmente ocorreram direcionadas ao âmbito
administrativo. (OLIVEIRA, 2011b, p. 79).
Desse modo, apesar da primeira turma do curso de Pedagogia em Sergipe (1968 a
1971) ter iniciado na FAFI, em março de 1968, concluiu a graduação na Universidade
Federal de Sergipe, representando uma ponte entre a nova e a antiga instituição. Essa
proposta passou a vigorar com grande aceitação pelos estudantes e professores, os quais
acreditavam no compromisso de aperfeiçoamento do curso e na esperança de um futuro
intelectual melhor para a docência no Estado.
2.2 – A INCORPORAÇÃO NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
Como foi possível observar na subseção anterior, a Faculdade Católica de
Filosofia (FAFI) representou a primeira unidade de formação docente em nível superior
de Sergipe. Criada em 1950, possibilitou aos jovens74 provenientes da classe média e de
famílias menos favorecidas a chance de obter um diploma acadêmico na área do
magistério.
Nesse sentido, surgiu como mais uma oportunidade de educação superior no
Estado75 e de aperfeiçoamento na carreira docente. Além disso, esse projeto buscava
74 De acordo com o livro de matrículas da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe (1951-1968),
verificamos que grande parte dos alunos matriculados na Faculdade durante o período em funcionamento
pertencia a uma faixa etária entre 18 e 35 anos. Somente sete alunos tinham idade superior a 40 anos: João
Evangelista Cajueiro, Hilda Sobral de Faria, Gileno Francisco de Jesus, Consuêlo D’Avila Mello Silveira,
Enoy Figueiredo Magalhães, Giovanni Carvalho Oliveira e Francisco Moura. 75 Até a década de 40 do século XX, só existiam em Sergipe duas faculdades, a de Ciências Econômicas e
a Escola de Química, ambas criadas em 1948. Em 1950, foram criadas a Faculdade de Direito e a Faculdade
Católica de Filosofia de Sergipe; por último, foram criadas a Escola de Serviço Social (1954) e a Faculdade
de Ciências Médicas (1961). Com a criação da Universidade Federal de Sergipe, todas elas foram
efetivamente incorporadas em 1968.
52
melhorar o nível de ensino das escolas e solucionar a deficiência no número de
professores diplomados para atender às redes públicas e privadas de ensino secundário.
Em um aspecto menos evidente, essa iniciativa representou um importante plano
firmado entre a Igreja Católica e o Estado que visava à formação de uma elite intelectual
docente, associada ao pensamento cristão76. E foi com o objetivo de garantir a presença
dessa elite que Dom Luciano Duarte não economizou esforços em recrutar jovens para
estudar na Faculdade, através da divulgação de propagandas em jornais e na forma oral,
por meio de missas e de conversas com os próprios jovens e seus familiares, como
podemos observar no depoimento da ex-aluna da FAFI, Maria Olga de Andrade77:
Eu morava em Capela e quando vim para Aracaju a minha ideia era
fazer um curso superior. Mas aí fui trabalhar no campo da saúde. Eu
era funcionária do Departamento Nacional de Endemias Rurais, e lá
eu trabalhava como educadora sanitária... [...] Eu trabalhava com
muitos médicos, então pensei: sou muito jovem, vou fazer Medicina.
Logo, comentei com Dona Zizi (tia de Dom Luciano) sobre o meu
interesse em fazer vestibular para Medicina, pois ela era muito amiga
da minha família e eu havia morado com ela. Então, ela disse a Dom
Luciano, e assim que ele soube, apareceu no meu trabalho e disse:
Olga, a Tia Zizi me disse que você gostaria de fazer Medicina, mas
eu vim aqui te convidar para fazer o curso de Filosofia na Faculdade
Católica de Filosofia. Você já foi professora, então, você deve fazer
o curso de Filosofia. Aí me disse essa frase: A Faculdade tá
precisando de alunos, e eu preciso de você, vá para a Faculdade de
Filosofia. E eu fui! E me inscrevi para fazer o vestibular de Letras
Anglo-Germânicas, havia somente 7 alunos. A função de professor
era muito desvalorizada nessa época, poucos queriam ser professor.
Imagine, ele ter que fazer isso, ir em porta e porta, buscar alunos, para
não fechar a Faculdade. (ANDRADE, 2010, s/p).
Muitos egressos tornaram-se respeitados professores no Estado78, exercendo a
docência em instituições de ensino públicas e privadas. Essa primeira iniciativa
76 Em carta enviada ao deputado federal Lemartine Távora, o Padre Luciano Duarte revela que: “A
Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe é uma das obras mais importante de Dom José Távora, aquela
justamente que vai formar a elite católica da Diocese” (DUARTE, 1960, s/p). 77 Maria Olga de Andrade formou-se no curso de Letras Anglo-Germânicas em 1966. No ano seguinte foi
convidada para ensinar na Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. Com a incorporação da Faculdade
Católica de Filosofia à Universidade Federal de Sergipe e seu desmembramento em três novas unidades, a
professora Maria Olga de Andrade foi incorporada à Faculdade de Educação, como professora da disciplina
de Didática e Administração Educacional nos cursos de Pedagogia e Licenciatura. Em 1973, assumiu a
direção da Faculdade de Educação, permanecendo até 1977. 78 Alguns professores renomados, egressos da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe: Olga Batista de
Andrade, Nalda Xavier de Oliveira, Artur Oliveira Fonseca, Josefina Sampaio Leite, Rosália Bispo dos
Santos, Maria Hermínia Caldas, João Evangelista Cajueiro, Maria da Glória Costa Monteiro, Possidônia
Maria da Rocha Santos, Maria Geovanni dos Santos Mendonça, Carmelita Pinto Fontes, Maria Lígia
Madureira Pina, Maria Auxiliadora Rosal Campos, Cacilda de Oliveira Barros, Yvone Mendonça de Souza,
Terezinha do Menino Jesus Leite Prado, Maria do Carmo Prado Lobão, José Alexandre Felizola Diniz,
Clodoaldo de Alencar Filho, João Costa, Maria Olga de Andrade, José Maria do Nascimento, Antônio
53
aperfeiçoou o processo de ocupação de professores formados em nível superior nos
diversos espaços, como: escolas, faculdades e em cargos de gestão dos departamentos,
secretarias e órgãos do Ministério da Educação e Cultura.
Mas, apesar dos esforços e dedicação de Dom Luciano Duarte no processo de
criação e funcionamento do curso de Pedagogia, não houve diplomados pela Faculdade
Católica de Filosofia, pois a primeira turma havia iniciado o curso no mesmo ano em que
a Faculdade foi incorporada à Universidade Federal de Sergipe e desmembrada em outras
três unidades de ensino: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Instituto de Letras e
Faculdade de Educação79.
O desmembramento da FAFI era uma exigência do Conselho Federal de Educação
para a criação da UFS80. Essa condição atendia às diretrizes da Reforma Universitária81,
que determinava a desintegração das Faculdades de Filosofia para a criação das
Faculdades de Educação e institutos específicos de cada área do conhecimento. De acordo
com Sucupira:
Com a atual reforma das estruturas universitárias encerra-se o que
poderia chamar-se o ciclo da Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras, concebida como instituição destinada a conferir “um caráter
propriamente universitário” ao conjunto das faculdades profissionais
reunidas em Universidade. Em seu lugar surge agora um conjunto de
institutos que deve concentrar todos os estudos básicos dentro da
Universidade. (SUCUPIRA, 1969, p. 260).
Carlos Mangueira Viana, Ana Maria do Nascimento Fonseca Medina, Malba Almeida Vilas-Bôas, Selma
Vieira Duarte, Hortência Sales Cardoso, Juçara Leal, Magnória de Nazaret Magno, Maria Lígia de
Vasconcelos Aguiar, Iara Aves Menezes, Paulo Nascimento Fontes, Mirian Rabêlo, Ivanete Carvalho
Rocha, Maria Nely Santos, Paulo Almeida Machado, José Araújo Filho, Sônia Maria Rabelo Ramalho,
Beatriz Ribeiro de Góis, Diana Maria do Faro Leal (FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE
SERGIPE, 1951-1970) 79 O desmembramento da FAFI ocorreu no dia 22 de agosto de 1968. Diante da nova organização, as três
unidades de ensino assumiram os seguintes cursos: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas ficou
responsável pelos cursos de História, Geografia e Filosofia; o Instituto de Letras agregou os cursos de Letras
(Português, Francês, Inglês e Alemão) e a Faculdade de Educação incorporou o curso de Pedagogia e o de
Licenciatura. Informações sobre a incorporação da FAFI e seu desmembramento, consultar Oliveira
(2011b). 80 A fragmentação das Faculdades de Filosofia foi determinada pelo Artigo 4º do Decreto-Lei nº 53/66: “As
unidades existentes ou parte delas que atuem em um mesmo campo de estudo formarão uma única unidade
na Universidade [...] Nas Universidades em que houver Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras esta
sofrerá transformação adequada à observância do disposto neste artigo” (BRASIL, 1966, s/p). 81 Neste estudo, entendemos a Reforma Universitária como sendo o conjunto de normas que foram
estendidas aos estabelecimentos ou cursos de ensino superior, efetivadas com a promulgação dos Decretos-
Leis nº. 53/66, 252/67, 464/69 e 465/69, e das Leis nº. 5.539/68 e 5.540/68. Mesmo sabendo que as duas
primeiras diretrizes referem-se somente às instituições federais de ensino superior, vale ressaltar que ambas
foram adotadas por faculdades e universidades privadas do país, além disso, definiram a elaboração da Lei
nº. 5.540/68. A seleção desses dispositivos, para configurar o conceito de Reforma neste trabalho, foi
determinada pelas mudanças mais significativas na estrutura universitária durante o Regime Civil Militar
(1964-1985).
54
Desde a década de 1930, as Faculdades de Filosofia tinham como papel principal
exercer o núcleo aglutinador das universidades brasileiras. Além disso, carregavam a
missão de desenvolver a pesquisa científica e formar professores para os ensinos
secundário e normal.
No entanto, essa concepção de universidade integrada pela Faculdade de Filosofia
foi descartada na década de 1960 pelos intelectuais de maior prestígio do Conselho
Federal de Educação82, os quais formularam o arcabouço jurídico da Reforma
Universitária, como podemos observar no artigo de Newton Sucupira:
Com efeito, a missão dessas faculdades não é somente a de formar
professores de ensino médio, mas também a de promover a pesquisa
científica básica e exercer a função integradora da universidade.
Infelizmente a tradição de nosso ensino superior à base de faculdades
profissionais não permitiu que ela pudesse realizar sua missão desde
quando foram fundadas83. Por isso mesmo tornou-se ela uma
faculdade como as demais, profissionalizou-se como as outras. Em
princípio uma reforma universitária poderia ser orientada no sentido
de restituir às faculdades de filosofia seu verdadeiro papel dentro da
universidade, reorganizando-se em departamentos que centralizariam
toda pesquisa científica básica. Contudo, nesta altura cremos que seria
muito difícil quebrar uma tradição já bem cristalizada. (SUCUPIRA,
1963, p. 4).
Por coincidência, Newton Sucupira, o conselheiro federal mais envolvido na
concretização dessa nova proposta, também era o relator do projeto de criação da UFS.
Diante disso, a desintegração da FAFI e, consequentemente, a criação da Faculdade de
Educação foram condições impostas para a implantação da Universidade Federal de
Sergipe84.
Contudo, o processo de desmembramento provocou resistência por parte de
professores e da imprensa local85, pois acreditavam que essa iniciativa não seria adequada
82 Alguns membros do Conselho Federal de Educação a favor do desmembramento das Faculdades de
Filosofia: Anísio Teixeira, Valnir Chagas e Newton Sucupira. Em contrapartida, essa nova proposta recebeu
severas críticas de professores e alunos de diferentes universidades brasileiras, a exemplo de Fernando de
Azevedo e Florestan Fernandes. 83 De acordo com Antunha (1974), a Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP)
desenvolveu o ensino associado à produção científica. Entretanto, não se constituiu um núcleo central e
integrador da USP, decompondo-se, na prática, em inúmeras seções, subseções e cursos afastados espacial
e filosoficamente. 84 A exigência do desmembramento gerou divergências entre Newton Sucupira e Dom Luciano Duarte,
pois este era contra a extinção da Faculdade de Filosofia. Segundo ele, ambas deveriam atuar juntas para
manter o “status quo”: Faculdade de Filosofia e Educação. Mais informações, consultar Oliveira (2011b). 85 Em 1968, o jornal “Diário de Aracaju” apresentou uma matéria sobre a reforma nacional da Educação,
em todos os níveis de ensino, e a fragilidade dessas reformas diante da realidade sergipana. No que se refere
ao ensino superior, ressaltou a incompatibilidade da legislação com o contexto sergipano: “A nossa
Universidade é um triste atestado dessa imposição de padrões de organização estranhos. A Faculdade de
55
para a Faculdade Católica de Filosofia devido ao pequeno número de alunos, professores
e servidores, a ser repartido em três novas instituições, além do aumento de despesas.
Para manifestar sua opinião, a professora Maria Thétis Nunes86 publicou uma matéria no
jornal A Cruzada, ainda em 1967:
Assim, teoricamente, é justificável o desdobramento. Na prática,
porém, acreditamos ser impraticável para as pequenas Faculdades. É
o resultado dos nossos legisladores terem sempre os olhos fixos no
eixo Rio-São Paulo-Minas, desligado da realidade do resto do Brasil.
Porque não se procura estabelecer Faculdades segundo as regiões
geo-econômicas, facilitando o govêrno federal a montagem de
Centros de Pesquisa e aquisição de pessoal especializado, em vez de
criar tanto centros dispersos e com siglas sonoras? Será possível o
mesmo desmembramento, em três, numa Faculdade de mais de mil
alunos e numa de cem? Cremos que o deslocamento do estudo das
Ciências físico-biológicos e matemáticas para os institutos poderá dar
resultados práticos com a formação de pesquisadores e profissionais
especializados. Mas não acreditamos que os resultados sejam obtidos
como pensam, os legisladores, com o aparecimento das Mini-
Faculdades de Filosofia e Educação, Ciências Humanas, Letras e
Comunicações, como será, por exemplo, o caso da Universidade de
Sergipe. Trarão elas uma dispersão grande de esforços, gastos
consideráveis com a multiplicidade de centros administrativos que
exigirão, e não corresponderão à realidade do nosso Estado. Serão, no
final, apenas “Minis” Faculdades. (A CRUZADA, 18/11/67, p. 2).
Nesse sentido, vale ressaltar que, apesar das críticas direcionadas às Faculdades
de Filosofia e da ausência de diplomados em Pedagogia pela FAFI, a instituição
contribuiu com a formação de professores que atuaram na organização, direção e docência
do curso, como foi relatado pela primeira diretora da Faculdade de Educação da UFS,
Cacilda de Oliveira Barros:
Filosofia foi obrigada a desfazer-se em três unidades distintas, quando dispõe de cerca de 100 alunos. O
objetivo do fracionamento era a economia de meios. Mas o tiro saiu pela culatra. Encareceu o custeio e
tornou mais complexos os instrumentos de formação universitária. Isso é falta de realismo, de objetividade
e de senso comum dos nossos problemas” (DIÁRIO DE ARACAJU, 15 e 16/09/1968, p. 2). 86 Maria Thétis Nunes formou-se em Geografia e História na primeira turma da Faculdade de Filosofia da
Universidade Federal da Bahia e em Museologia no Museu Histórico Nacional. Em 1945, tornou-se
professora catedrática do Atheneu Sergipense, sendo a primeira mulher a fazer parte de sua Congregação.
Professora fundadora da Faculdade Católica de Filosofia, em 1951, tornava-se a primeira mulher sergipana
a ingressar no magistério superior. Com a instalação da Universidade Federal de Sergipe, em 1968, foi
incorporada como professora titular de História do Brasil, História Contemporânea e Cultura Brasileira.
Além disso, foi membro do Conselho Estadual de Educação, do Conselho Estadual de Cultura e do Instituto
Histórico e Geográfico de Sergipe. Faleceu em 2009, aos 86 anos de idade (SANTOS, 1999).
56
Eu havia estudado e me formado na Faculdade Católica de Filosofia
de Sergipe, no curso de Letras Neolatinas. Ingressei em 1957 no curso
de Letras e em 1960 fiz o curso de Didática, para sair licenciada como
professora, e no final desse mesmo ano me formei. Em 1966, fui fazer
o curso de especialização em Orientação Educacional na Faculdade
Santa Úrsula/PUC do Rio de Janeiro, recomendada por Dom Luciano.
Então, quando retornei, em 1967, o próprio Dom Luciano me
convidou para ensinar a disciplina Elementos de Administração
Escolar, substituindo o professor José Rollemberg Leite. Então, ainda
em 1967, Dom Luciano Duarte pediu para que eu auxiliasse na
organização e direção do curso de Pedagogia, que ainda não havia
funcionado. (BARROS, 2010, s/p).
Sendo assim, podemos observar que o projeto da Igreja Católica em parceria com
o Estado alcançou êxito nos seus 17 anos de existência (1950-1968), pois muitos dos seus
professores, funcionários e ex-alunos constituíram o corpo docente e administrativo da
UFS. Apesar das dificuldades financeiras e de recrutamento de professores e alunos, o
padre Luciano Duarte resistiu ao fechamento da Faculdade cotidianamente, na
expectativa de contribuir com a qualidade do ensino no Estado e assegurar a legitimidade
católica, especialmente, nos campos cultural, religioso e político.
Para isso, o padre Luciano Duarte precisou usufruir de seu capital - social, cultural
e religioso – pois, de acordo com Bourdieu (1999), o prestígio e as posições diferenciadas
ocupadas pelos agentes são definidos segundo uma série de variáveis, notadamente o
volume e a composição de capital. Dessa forma, o acúmulo de diferentes capitais permitiu
ao padre, o exercício do poder no processo de criação e funcionamento da FAFI, mesmo
diante das dificuldades apresentadas.
Na cerimônia de desmembramento, o sacerdote foi homenageado por ex-
professores e ex-alunos. Em discurso, o professor José Silvério Leite Fontes ressaltou a
importância do sacerdote na história da FAFI e na criação da Universidade Federal de
Sergipe:
Todos sabem o que significou o período dedicado à direção da
Faculdade. A imensa luta para conseguir verbas. Para animar os que
desfaleciam. Para estimular a realização de cursos de
aperfeiçoamento. Para melhorar os métodos de ensino. Para guardar,
no meio de pessoas tão diversas, o quadro de mensagem cultural cristã
da Faculdade [...] Finalmente, Dom Luciano Duarte compreendeu que
a nossa Escola não poderia sobreviver senão ampliando-se e
reformulando-se numa estrutura mais extensa e compreensiva. Por
isso foi dos primeiros que abraçaram com entusiasmo a causa da
Universidade. (A CRUZADA, 02/11/68).
57
Na oportunidade, Maria Thétis Nunes ressaltou sobre a importância da FAFI, e da
iniciativa de Dom Luciano Duarte em criar e manter a instituição durantes os 17 anos.
Ela também destacou o empenho do Arcebispo de Aracaju, Dom José Vicente Távora, e
de seu antecessor, Dom Fernando Gomes. A cerimônia foi divulgada na imprensa
sergipana:
Figura 09 - Sessão de encerramento da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe
Fonte: Jornal A Cruzada (02/11/1968). Detalhes da fotografia: José Silvério Leite Fonte. Sentados da
esquerda para a direita: Maria Thétis Nunes, Juracy Cardoso e seu esposo João Cardoso Nascimento Junior
(Reitor da UFS), Célia Cabral e Dom Luciano Duarte.
Acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
Após o desmembramento da FAFI e a criação de três novas unidades de ensino, o
curso de Pedagogia e todo o seu corpo docente e discente foram incorporados à Faculdade
de Educação (FACED), da Universidade Federal de Sergipe. Além do curso de
Pedagogia, essa Faculdade também era responsável pela administração e funcionamento
do curso de Licenciatura da UFS, destinado aos alunos provenientes dos cursos de
58
bacharelado (Pedagogia, Matemática, Letras, História, Geografia, Filosofia, dentre
outros) que desejavam obter o diploma e a habilitação de licenciado em sua área87.
Contudo, a FACED dedicava uma atenção especial ao curso de Pedagogia, pois
sua missão principal era ofertar as disciplinas de seu currículo88. O mesmo não ocorria
com os alunos do curso de Licenciatura, os quais cursavam na Faculdade somente as
disciplinas pedagógicas, visto que a formação básica do bacharelado e suas disciplinas
específicas eram ministradas nos institutos específicos de cada área do conhecimento.
Esse cuidado especial destinado ao mencionado curso e à formação integral de
seus alunos foi deliberado pelo Conselho Federal de Educação ainda durante as
discussões sobre o desmembramento das Faculdades de Filosofia. Na ocasião, os
pedagogos requisitaram uma instituição própria, no campo do ensino superior, voltada
para a formação de professores do ensino médio e de especialistas em educação.
Segundo Cunha (2007), apesar das diversas críticas abordadas pelos integrantes
do Conselho Federal de Educação, a fragmentação representava nitidamente as disputas
ocorridas no interior do campo acadêmico, especialmente no subcampo das Faculdades
de Filosofia, e a busca de autonomia das diferentes áreas do conhecimento. No caso do
curso de Pedagogia, Cunha acreditava que:
A fragmentação das FFCLs resultou da ação dos pedagogos do
Conselho Federal de Educação, interessados na autonomização de sua
atividade profissional no âmbito das universidades. Entre eles estava
Anísio Teixeira, responsável pela criação da primeira Faculdade de
Educação do Brasil [...] Embora houvesse diferenças enormes entre
Anísio Teixeira, de um lado, e Newton Sucupira e Valnir Chagas de
outro [...] todos eles demonstravam antigas ou recentes devoções pela
educação escolar dos Estados Unidos, particularmente a instituição
do teachers’ colleges, fonte inspiradora de nossas faculdades de
Educação. Os interesses de autonomização dos pedagogos
convergiram, decerto, com os de outras seções, que aspiravam
transformar-se em institutos. (CUNHA, 2007, p. 78).
Cunha (2007) acrescenta ainda que havia interesse dos conselheiros em promover
o afastamento do curso de Pedagogia dos demais cursos, com o intuito de impedir a
87 A Faculdade de Educação também era responsável pela administração do Colégio de Aplicação da UFS,
o qual servia de laboratório das práticas pedagógicas dos cursos de Pedagogia e Licenciatura. 88 De acordo com Dom Luciano Duarte, o curso de Pedagogia representava “o eixo” da Faculdade de
Educação da UFS (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, 1968h, p. 7).
59
contaminação dos seus estudantes pelo “vírus” ideológico das manifestações, propagada
por graduações mais tradicionais, como as Ciências Sociais89.
Desse modo, compreendemos de maneira mais nítida o interesse de Dom Luciano
Duarte em instalar o curso de Pedagogia no último ano da FAFI, pois, como a criação da
Faculdade de Educação era uma exigência da Reforma Universitária para a implantação
da UFS, e como essa Faculdade estava associada legalmente ao curso de Pedagogia, seria
indispensável o funcionamento da citada graduação90.
No âmbito local, a primeira iniciativa adotada pelo reitor da UFS para iniciar o
processo de implantação da nova faculdade, foi nomear “pro tempore”91 a professora
Cacilda de Oliveira Barros para dirigi-la e uma comissão para elaborar o seu Regimento
Interno, composta pelos professores: Ovídio Valois Correia, Maria Olga Andrade, Maria
Auxiliadora Rosal Campos e a representante do corpo discente do curso de Pedagogia,
Ana Maria Dantas.
De acordo com a primeira Resolução da UFS (nº 01/68), aprovada pelo Conselho
Universitário (CONSU)92, podemos visualizar tal nomeação:
89 Esse fato contribuiu para a construção de uma imagem hostilizada acerca do curso de Pedagogia no
período da Ditadura Civil Militar, pois reforçava a alegação de que seus alunos tinham uma formação
tecnicista, afastada de uma atuação política. 90 Vale ressaltar que as Faculdades de Educação só realizavam a formação integral dos alunos de Pedagogia. 91 Pro tempore é uma expressão de origem latina que se pode traduzir por temporariamente ou por enquanto.
Geralmente é utilizada na linguagem comum para indicar uma situação transitória ou de intervenção.
Durante o Governo Civil-Militar (1964-1985) foi muito utilizada com o objetivo de nomear interventores
para assumirem cargos de gestão (a exemplo de reitor e diretor) nas faculdades e universidades federais. 92 O Conselho Universitário (CONSU) é o órgão superior deliberativo da administração da Universidade
Federal de Sergipe. Dentre suas atividades, compete: “a) exercer, como órgão deliberativo, a jurisdição
superior da Universidade; b) aprovar os regimentos e suas modificações, das unidades, dos órgãos
suplementares; c) aprovar a proposta do orçamento-programa da Universidade; d) aprovar convênios,
contratos e acordos entre a Universidade e órgãos da administração pública ou entidades de direito privado,
nacionais ou estrangeiras; e) aprovar o Quadro único de Pessoal da Universidade e respectivo regulamento;
entre outras atribuições” (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, 1968a).
60
Figura 10 - Nomeação da primeira diretora da FACED/UFS (1968)
Fonte: Resolução CONSU/UFS nº. 01/68.
Acervo: Arquivo do Departamento de Educação/UFS.
Dentre suas finalidades, a construção do Regimento Interno visava orientar a
organização e a administração do curso de Pedagogia, definindo suas funções, os
objetivos, o currículo e as diretrizes para o funcionamento dessa graduação na
Universidade Federal de Sergipe93. Na elaboração, era obrigatória a participação dos
integrantes do Conselho de Ensino e Pesquisa (CEP)94, pois este era o órgão competente
da Universidade para fixar normas com relação às decisões do ensino, como: carga
horária, currículo, distribuição de disciplinas e professores, assuntos didáticos-científicos,
os estágios e desenvolvimento de pesquisa.
93 O prazo de conclusão do Regimento Interno da Faculdade de Educação era de 60 dias após a aprovação
do Regimento Geral da UFS, pelo Conselho Universitário. Esse Conselho havia iniciado a elaboração de
tal documento no dia 03/08/1968 e aprovado em 23/08/1968. No entanto, de acordo com a Resolução nº.
01/1969 do CONSU/UFS, o prazo foi prorrogado para 13/04/1969. Enquanto não fosse aprovado tal
regimento, a FACED não poderia indicar representantes do seu corpo docente para atuar no CONSU e CEP. 94 O Conselho de Ensino e Pesquisa (CEP) era responsável pela coordenação central das atividades
didáticas, culturais e de pesquisa da Universidade Federal de Sergipe. Atualmente, esse órgão é apresentado
com a sigla CONEP.
61
Para tal, a primeira iniciativa da comissão foi adquirir regimentos de faculdades
similares ao da Faculdade de Educação da UFS, por meio da solicitação em universidades
que tinham os regulamentos atualizados de acordo com a legislação educacional vigente.
Além disso, a comissão enviou um dos seus integrantes para observar “in locu”, outras
unidades que já estivessem enquadradas nos parâmetros da Reforma Universitária.
Para realizar tal viagem, a direção da Faculdade ingressou com um processo
interno destinado à Reitoria, solicitando autorização para o afastamento do professor e
ajuda financeira para arcar com os gastos:
No parecer do Professor Luís Carlos Rollemberg Dantas referente ao
Processo nº. 273/68, no qual a Faculdade de Educação solicita que
seja enviado um professor a Recife, o relator opinou pela aprovação
do pedido, mas com as seguintes restrições: Que a Reitoria solicitasse
o nome do professor que irá viajar, o prazo de sua permanência em
Recife, e que lhe fossem concedidas passagens e diárias [...].
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, 1968g, p. 19).
Na oportunidade, o professor Ovídio Valois Correia foi enviado à Faculdade de
Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) para observar a administração
e o funcionamento da unidade de ensino e do seu curso de Pedagogia. Também foram
analisados os programas das disciplinas, recursos pedagógicos, metodologias de ensino,
bibliografias, currículos e o regimento.
O interesse em observar tal faculdade foi consensual entre os integrantes da
comissão, pois sabiam que o Regimento da UFS havia sido elaborado de acordo com o
regulamento da Universidade Federal de Pernambuco, como foi proposto pelo
conselheiro Newton Sucupira.
Vale lembrar que esse mesmo conselheiro era professor titular do curso de
Pedagogia da UFPE, diretor da Faculdade de Educação e um dos responsáveis pela
elaboração do regimento desta, além disso, participou ativamente na elaboração das leis
que definiram a Reforma Universitária:
Apesar de ter sido resultado do trabalho de um grupo de especialistas
e pessoas envolvidas com o ensino superior, a Reforma ficou
definitivamente associada a Newton Sucupira, e não sem qualquer
fundamento. O prazo curto que o grupo teve para redigir o
anteprojeto, depois da solicitação feita ao conselheiro pelo presidente
da República, Costa e Silva, só pôde ser vencido com êxito pelas
incursões anteriores (Parecer 53/66 e Decreto 252/67) nas quais
Sucupira tivera atuação incisiva. Não foi gratuita, assim, a eleição de
Sucupira como interlocutor da presidência nessa matéria.
(BOMENY, 2001, p. 71).
62
Diante de tanta credibilidade, a comissão entendeu que uma análise no
funcionamento da faculdade pernambucana seria muito importante para a adequação da
FACED/UFS à nova legislação educacional e para a elaboração do seu regimento. No
roteiro da viagem, também foi inclusa uma visita à Faculdade de Educação da
Universidade Federal da Paraíba para verificar os modelos administrativo, pedagógico e
curricular da unidade.
Além das viagens de observação, os integrantes da comissão também solicitaram
autorização ao reitor para participar de congressos nacionais, promovidos na sua maioria,
pelo Conselho Federal de Educação e outros órgãos vinculados ao MEC. Eles alegavam
a necessidade de manter-se atualizados sobre a nova política educacional do país e as
novas metodologias de ensino, para modernizar o curso de Pedagogia da UFS.
Mas, diante das dificuldades financeiras da Universidade, todas as solicitações
referentes à participação em congressos eram negadas. Nesse sentido, a diretora da
Faculdade decidiu arcar com suas próprias despesas para participar do I Seminário de
Extensão Universitária95, realizado em Minas Gerais.
Desse modo, além de estabelecer um novo parâmetro de organização e
administração, a elaboração desse regimento buscava também atender às orientações do
Ministério da Educação e Cultura, o qual determinava o enquadramento das faculdades e
dos cursos à nova organização do ensino superior, definida pela Reforma Universitária.
Como a Universidade Federal de Sergipe já havia sido criada, mediante amparo legal de
tal legislação, foi necessária a atualização e o enquadramento das faculdades e dos cursos
incorporados96:
A Universidade Federal de Sergipe foi constituída sob forma de
Fundação, pelo Decreto-Lei 269, de 28 de fevereiro de 1967. Seu
Estatuto foi redigido sob a orientação do ilustre Conselheiro Newton
Sucupira, e a Universidade já nasceu sob o signo da Reforma
Universitária, sendo concebida segundo as novas estruturas.
(BRASIL, 1970, s/p).
95 Durante o ano letivo de 1968, somente a professora Cacilda de Oliveira Barros participou de congressos.
O I Seminário de Extensão Universitária foi realizado entre os dias 18 a 21 de setembro de 1968. 96 Apesar da Lei nº. 5.540/1968 ser aprovada após a criação da Universidade Federal de Sergipe, esta já
havia sido instituída sob o respaldo dos Decretos-Lei nº. 53/1966 e 252/1967. Além disso, o conselheiro e
relator do projeto de criação da UFS, Newton Sucupira, já havia orientado a elaboração do Regimento Geral
da UFS de acordo com a Lei nº. 5.540 de 1968.
63
No caso da Faculdade de Educação97, várias reuniões com professores da unidade
eram realizadas semanalmente com o objetivo de discutir e elaborar todos os capítulos do
seu regimento ainda no ano de 196898. De acordo com a ex-integrante da comissão, Maria
Auxiliadora Campos Medeiros99, a compreensão da legislação nacional foi o primeiro
desafio dos professores de Pedagogia:
De fato, a elaboração do nosso regimento foi o primeiro desafio dos
professores. Antes, ainda na FAFI, quem cuidava dos assuntos
administrativos e jurídicos era Dom Luciano, então quem era
professor e não tinha formação na área do Direito, não tinha muito
domínio com a lei. Com a criação da Faculdade e do curso de
Pedagogia, nós professores tivemos que estudar a legislação e
elaborar o regimento. Além disso, tivemos que administrar a nova
graduação e responsabilizar-nos pela formação dos alunos de
Pedagogia e das demais licenciaturas. (MEDEIROS, 2015, s/p).
Diante desse relato e de comentários registrados nas atas de reuniões, percebemos
as dificuldades apresentadas pelos professores do curso de Pedagogia da Universidade
Federal de Sergipe em compreender o novo arcabouço legal que orientava o curso e a
política educacional do país. Para tal, os integrantes da comissão realizaram pesquisas no
Diário Oficial da União e na revista Documenta, com a finalidade de obter as leis,
portarias e pareceres do MEC e do CFE, de 1964 a 1968. Além disso, analisavam os
artigos disponíveis na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos/INEP.
Nesse período, era difícil o acesso às leis referentes à educação, devido à sua
restrita divulgação no Diário Oficial da União e na revista Documenta, citados
anteriormente. Muitas dessas publicações não eram enviadas diretamente à Faculdade de
Educação, e por essa razão os professores também realizavam pesquisa aos acervos de
outras faculdades, da Inspetoria Federal e da assessoria jurídica da Universidade Federal
de Sergipe.
97 Inicialmente, as discussões e as deliberações a respeito da Reforma Universitária ocorreram
separadamente, entre as distintas faculdades e institutos da UFS. 98 A elaboração do Regimento da Faculdade de Educação foi concluída em 1968, mas a aprovação pela
congregação de professores ocorreu somente em abril de 1969, após várias discussões acaloradas, que
provocaram mudanças e a supressão de artigos. Nesse processo, “Dom Luciano Duarte elogiou o trabalho
da comissão, dizendo ser um trabalho de pioneiros e que os presentes apenas poliam o que a comissão
garimpou” (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, 1968h, p. 7). 99 A professora Maria Auxiliadora Campos Medeiros formou-se em Letras Francês pela Faculdade Católica
de Filosofia de Sergipe, em 1965. No ano de 1968, foi contratada pela mesma Faculdade para ensinar a
disciplina Prática de Ensino em Francês. Ao ser incorporada ao quadro único de pessoal da Universidade
Federal de Sergipe, passou a exercer a função de professora do Ginásio de Aplicação e da Faculdade de
Educação, nos cursos de Licenciatura e Pedagogia. Foi diretora do Departamento de Educação entre os
anos de 1979 e 1985. Aposentou-se pela UFS em 1991 (MEDEIROS, 2015).
64
Além desses dispositivos jurídicos, os professores também precisaram consultar
o decreto de criação da UFS, o regimento geral e o seu estatuto, todos aprovados pelo
Conselho Federal de Educação. Assim, perante as contribuições e a ampla dimensão em
que o estudo vinha sendo realizado, a comissão solicitou ao Reitor a participação de todos
os professores do curso de Pedagogia100 na elaboração do Regimento:
O Regimento da Faculdade de Educação da Universidade Federal de
Sergipe contém as normas específicas da organização Didático-
Administrativa desta unidade, de acordo com o disposto no Estatuto
e Regimento Geral da Universidade. (UNIVERSIDADE FEDERAL
DE SERGIPE, 1969c, p. 1).
Vale ressaltar que apesar das dificuldades apresentadas pelos professores da
FACED/UFS na elaboração do Regimento, havia no corpo docente do curso de Pedagogia
um integrante muito experiente e com bastante propriedade sobre o assunto: o professor
Dom Luciano Duarte. O acúmulo de capitais incorporados ao campo religioso, garantiu
ao sacerdote, autoridade e prestígio em outros campos, especialmente no campo
educacional.
Pode-se concluir, então, que as trajetórias individuais e sociais percorridas por ele
garantiu-lhe a acumulação dos capitais necessários à aquisição do direito de entrada no
campo educacional, isto é, a acumulação das competências incorporadas, não apenas
como saberes, mas, sobretudo, como senso prático. Além da legitimação intelectual, essas
competências também proporcionaram o reconhecimento de seus pares perante sua
posição no interior dos diferentes campos – educacional, político e religioso.
(BOURDIEU, 2001).
Ainda em 1967, este sacerdote esteve à frente das discussões dos anteprojetos de
criação da UFS e de seu estatuto. No ano seguinte foi convidado para exercer a função de
membro do Conselho Federal de Educação, substituindo Alceu de Amoroso Lima101; e
como presidente do Conselho Diretor102, esteve envolvido na elaboração do Regimento
100 Professores dos cursos de Pedagogia e Licenciatura, incorporados ao quadro efetivo de docentes da
FACED/UFS: Cacilda de Oliveira Barros, Edgar Stanikowiski, Giselda Santana Morais, João Augusto
Souza Leão A. Bastos, João Costa, José Rollemberg Leite, Luciano José Cabral Duarte, Maria Lígia
Vasconcelos Aguiar, Maria Olga de Andrade, Maria Thétis Nunes, Maria Auxiliadora Campos Medeiros e
Ovídio Valois Correia. 101 A nomeação de Dom Luciano Duarte ocorreu em 05 de março de 1968, pelo então presidente da
República, Artur da Costa e Silva. Nesse ano, não foram renovadas as nomeações de Alceu de Amoroso
Lima e Anísio Teixeira, devido as divergências políticas. 102 O Conselho Diretor era responsável pela administração da Fundação Universidade Federal de Sergipe.
65
da UFS. Diante do reconhecimento político do CFE, sua nomeação foi amplamente
divulgada pelos jornais sergipanos:
Figura 11 - Nomeação de Dom Luciano Duarte para o CFE (1968)
Fonte: Jornal Diário de Aracaju (06/03/1968). Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe/IHGS.
Dotado de muito prestígio no campo educacional, Dom Luciano Duarte contribuiu
com os debates e o entendimento acerca dos dispositivos normativos referentes ao ensino
superior. Como membro do CFE, antecipou discussões que já estavam sendo fomentadas
no próprio Conselho acerca das mudanças no currículo nacional do curso de Pedagogia,
as quais ocorreriam no ano seguinte103.
Desse modo, a construção do regimento proporcionou ao corpo docente de
Pedagogia/UFS maior clareza em relação às diretrizes legais e à organização
administrativa do curso. Essa iniciativa também permitiu o acesso e o conhecimento
acerca das novas propostas da Reforma Universitária104.
103 Dom Luciano Duarte participou das discussões e decisões acerca do currículo nacional do curso de
Pedagogia, aprovado em 1969 pelo Conselho Federal de Educação (Parecer nº. 252/69 e Resolução nº 2/69). 104 De acordo com a análise bibliográfica desenvolvida nesse trabalho, concluímos que a Reforma
Universitária teve três princípios norteadores: atender as reivindicações estudantis, implantar uma proposta
modernizadora de ensino superior e a formação de mão de obra especializada para o mercado de trabalho
e em sintonia com as novas demandas do país.
66
Na estruturação do regulamento, várias foram as inovações inseridas no sentido
de superar o modelo de ensino superior, até então vigente na Faculdade Católica de
Filosofia. Constituído de 159 artigos, tal documento incluiu orientações sobre a
administração, a organização departamental, o corpo docente, o corpo discente, o regime
disciplinar e as disposições gerais da FACED.
No que se refere ao curso de Pedagogia, o regimento assegurou uma estrutura
organizacional capaz de promover a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.
Além disso, proporcionou a prestação de serviços e a integração entre o curso e os órgãos
de ensino no Estado com o objetivo de solucionar problemas educacionais e de formação
de professores, por meio de programas de atuação e cooperação.
Dentre outras medidas organizacionais, também foi determinado: a extinção da
cátedra e a criação da estrutura departamental, concebida como unidade operativa básica
da UFS e constituída por uma disposição administrativa, didático-científica e de
distribuição de pessoal, compreendendo disciplinas afins e relativas a um determinado
campo do conhecimento; a introdução de vestibulares105 classificatórios com exames
unificados, os quais abrangeriam os conhecimentos comuns às diversas modalidades do
ensino médio; o ciclo básico e profissional; e o sistema de créditos, permitindo a matrícula
por disciplinas e a participação do aluno na composição do seu currículo.
Outro ponto importante foi a criação de um regime de trabalho especial para os
professores, concedendo tempo integral e dedicação exclusiva as suas atividades.
Também estabeleceu o plano de carreira, permitindo novas possibilidades
socioeconômicas ao exercício docente e fragilizando o slogan de uma ocupação
secundária e improvisada.
Como nesse período ainda estava em discussão a nova regulamentação nacional
do curso de Pedagogia, a qual seria aprovada no ano seguinte (Parecer do CFE nº. 252/69),
a organização curricular e o perfil de formação do curso de Pedagogia da UFS
permaneceram associados aos pareceres n°. 251/62 e 292/62 do CFE. Enquanto o
primeiro estabelecia o currículo mínimo, o perfil profissional e a duração de todos os
cursos de Pedagogia do país, o segundo determinava as disciplinas pedagógicas da
formação do licenciado106.
105 No Regimento da FACED, o vestibular foi denominado de concurso de habilitação. 106 No ano de 1969, o currículo do curso foi reestruturado de acordo com o Parecer nº. 252/69 e a Resolução
nº 2/69 do Conselho Federal de Educação. Esses dispositivos criaram as habilitações (magistério,
orientação, supervisão, inspeção e administração), destinadas a assumirem a fragmentação das tarefas no
espaço escolar.
67
Assim, podemos observar que no processo de instalação e funcionamento do curso
de Pedagogia na Universidade Federal de Sergipe, a primeira atividade dirigida ao seu
corpo docente e administrativo foi enquadrar o curso à nova política educacional do país,
associada ao arcabouço jurídico da UFS e as diretrizes da Reforma Universitária. No
entanto, vale ressaltar que na prática, a implantação dessa nova estrutura legal não ocorreu
de forma simples e imediata:
Sabe-se, entretanto, que para as Escolas de Nível Superior o presente
ano será particularmente difícil, tendo em vista as novas modificações
impostas através de diversas leis, necessitando de algum tempo para
que as mesmas se adaptem as novas exigências. (DIÁRIO DE
ARACAJU, 03/02/68).
Em meio à organização e ao ajustamento legal do aparelho administrativo e
acadêmico, os professores também passaram a preocupar-se com a proposta pedagógica
do curso para o ano letivo subsequente. Ainda no segundo semestre de 1968 foram
realizadas várias reuniões entre professores e o representante discente de Pedagogia, com
a finalidade de definir as disciplinas que seriam ministradas, a carga horária, a
bibliografia, os assuntos a serem trabalhados, as datas das avaliações e a disposição de
professores.
Nesse processo, a primeira decisão coletiva para a organização do ano letivo de
1969 foi permanecer com o sistema seriado107. Esse regime determinava a oferta de
disciplinas a partir de módulos anuais distribuídos pelas quatro séries do curso, não
permitindo ao aluno optar pelas matérias que desejava cursar108.
Os módulos eram constituídos por disciplinas fixas, determinadas pelo Conselho
Federal de Educação e pela congregação do curso109. Diante disso, os alunos eram
obrigados a cursar todas as disciplinas que compreendiam cada módulo durante o ano
letivo, sem direito ao trancamento no decorrer de cada série.
As provas seriam realizadas no final de cada semestre, compreendendo em cada
série duas avaliações. Além disso, o aluno teria direito aos exames de segunda época, os
quais representavam uma espécie de recuperação anual das matérias cuja média
acadêmica o aluno não havia alcançado110.
107 Nesse contexto, o sistema seriado era caracterizado pela oferta de módulos, constituídos por disciplinas
e distribuídos anualmente, para cada série do curso. A matrícula também era anual. 108 O curso de Pedagogia tinha duração de 4 anos. 109 A constituição da grade curricular do curso também deveria ser aprovada pelo Conselho de Ensino e
Pesquisa da UFS. 110 A média acadêmica correspondia à nota 7,1.
68
Diante dessa organização, foi solicitada aos professores a elaboração dos
programas de ensino de todas as disciplinas, em andamento, que compreendia o currículo
do curso. Nesse período, havia apenas cinco delas em atividade, as quais correspondiam
ao primeiro ano da graduação. No ano seguinte, seriam ministradas dez disciplinas111,
devido à matrícula da segunda turma.
Para isso, foram analisados programas de ensino de outras universidades
brasileiras, como os da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE) e Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Na elaboração desses
planos, enfatizou-se uma atenção especial à construção da bibliografia, devido à escassez
de livros na Faculdade de Educação.
A preocupação com a bibliografia também estava associada à dificuldade de
encontrar nas livrarias de Aracaju obras referentes ao curso de Pedagogia. Este problema
era discutido constantemente em reuniões de professores, evidenciando as limitações
diante de uma atualizada literatura.
Os ex-alunos da primeira turma (1968-1971) também destacaram a carência de
livros e os obstáculos na aquisição de material bibliográfico para as disciplinas específicas
da Pedagogia. De acordo, com a ex-aluna e ex-professora da UFS Maria Lúcia Souza R.
Berger, a ausência de livros na área, dificultava inclusive os egressos do curso a prestarem
concursos públicos:
Nós íamos muito à biblioteca, mas a nossa biblioteca ainda era muito
carente, porque era o primeiro curso, a primeira turma. Lembro que
quando comecei a ensinar, eu não tinha bibliografia, então tive que
mandar buscar livros em Belo Horizonte. Depois que me formei, logo
fui ensinar na Universidade como auxiliar de ensino, e eu não tinha
bibliografia. Aliás, eu mandei buscar já para fazer o concurso... Eu
tive que procurar uns livros e mandar buscar, e com esses livros fui
estudar para dar aula, porque a biblioteca era muito precária para o
curso de Pedagogia. Já havia muitos livros para o curso de Letras,
História... cursos que estavam mais estruturados, mas para nós de
Pedagogia, era complicado, entendeu? (BERGER, 2011, s/p).
A solução para amenizar esse problema era o apelo a amigos e parentes que
viajavam ou moravam em outros estados, para a realização da compra e ao envio de livros
para Aracaju. Ainda em 1968, a Faculdade de Educação passou a receber recursos
111 As cinco disciplinas do primeiro ano do curso de Pedagogia, correspondente ao ano de 1968, eram:
Sociologia, Português, Introdução à Filosofia, Psicologia e Introdução à Economia. As cinco disciplinas da
segunda série (1969): História da Educação, Psicologia da Educação, Filosofia da Educação, Biologia e
Sociologia da Educação. Basta lembrar que essa disposição de disciplinas estava associada à
regulamentação nacional do curso, amparada pelo Parecer do CFE nº. 251/62.
69
financeiros para a aquisição de obras atribuídas aos professores e à biblioteca para
disponibilidade dos alunos. Além da compra de livros, os professores também solicitaram
à secretaria do curso a reprodução de apostilas mimeografadas.
No tocante à orientação teórica, observamos que, apesar do clima tenso diante da
conjuntura política da época112, os professores tinham autonomia para escolher os
conteúdos e as obras que seriam utilizadas em suas disciplinas. De acordo com o
depoimento da ex-professora Cacilda de Oliveira Barros, podemos compreender como
ocorriam na prática, a elaboração e a aprovação de cada programa:
Nós tínhamos autonomia para escolher os nossos livros e os assuntos
que seriam abordados em sala de aula. Não presenciei, em nenhum
momento, a proibição de livros ou textos que eram utilizados, nem de
assuntos que eram tratados em sala de aula pelos professores do curso
de Pedagogia. É claro que antes sentávamos para discutir o que seria
trabalhado em cada disciplina e os textos que seriam utilizados, para
serem aprovados em equipe, até mesmo para haver uma harmonia no
conteúdo e não haver repetições de assuntos. (BARROS, 2010, s/p).
Suponhamos que diante da vigilância explícita e da repressão divulgada
cotidianamente nos meios sociais, os professores tivessem um “cuidado prévio” no
planejamento dos assuntos e na escolha das obras que seriam adotadas em sala de aula.
Mas isso não impedia a utilização de textos ou a abordagem sobre autores “considerados
subversivos”, como podemos observar em relatos da ex-aluna Liana de Melo Torres:
Por exemplo, Redin, foi meu professor de Psicologia, Introdução a
Psicologia, então ele levava textos sem o nome do autor e a gente não
entendia o porquê, era porque eram os autores censurados pela
Ditadura. Nós estudamos Paulo Freire em muitas disciplinas sem o
nome de Paulo Freire, a gente não sabia qual autor estávamos
estudando. (TORRES, 2015, s/p).
De acordo com as declarações da ex-professora e ex-aluna do curso de Pedagogia,
subtende-se que naquele momento não houve qualquer “impedimento formal” com
relação ao conteúdo e à literatura utilizada pelos professores do mencionado curso.
Entretanto, acrescentaram que o corpo docente se sentia intimidado diante da conjuntura
política da época para escolher o referencial teórico de suas disciplinas.
112 De acordo com Dantas (1997), com a instauração do Regime Civil Militar, a partir de abril de 1964,
intensificaram-se em Sergipe as prisões de estudantes e professores sem ordem judicial e marcadas de
arbitrariedade.
70
Outro fato revelador foi a informação de que a tendência pedagógica tecnicista
estava em ascensão naquele momento e dominava boa parte dos conteúdos trabalhados
no curso. Essa abordagem atendia aos anseios da nova política educacional do país, o que
proporcionou uma grande aceitação de suas obras pelos professores e alunos.
Segundo depoimentos da ex-aluna e ex-professora Maria Lúcia Souza R. Berger,
o tecnicismo era uma tendência inovadora naquele período, inclusive havia sido
importada dos Estados Unidos e vinha produzindo bons resultados no seu país de origem,
o que despertava a confiança e o entusiasmo pela nova tendência:
Inclusive foi uma coisa que deu muito entusiasmo para a gente
trabalhar, porque realmente acreditávamos que aquilo iria contribuir
para a qualidade da educação. Então, pegamos uma fase em que havia
um entusiasmo, dentro daquele contexto, de que aquilo iria
funcionar... Aí diz: ah é alienado! Não, peraí vamos situar o contexto,
né! Agora a gente tinha na época, pessoas que já tinham toda uma
concepção político-filosófica esquerdista que estava silenciada por
força das circunstâncias, e que começou a discriminar esse grupo que
vinha trabalhando acreditando que iria contribuir para melhorar o
ensino. (BERGER, 2011, s/p.).
Além da bibliografia, os programas das disciplinas também deveriam informar os
assuntos que seriam trabalhados anualmente e sua carga horária. Nesse processo, cada
professor elaborava os planos de suas matérias de ensino e depois apresentava à
congregação do curso para ser avaliada e aprovada. Essa prática tinha a finalidade de
garantir a harmonia e o entrosamento entre as disciplinas, evitando repetições e a
desarticulação de conteúdo.
Em meio à construção dos programas, os professores demostravam preocupação
acerca do aproveitamento dos alunos com relação aos conteúdos discutidos em sala de
aula e às dificuldades para concluir todo o plano. Para o corpo docente, essas limitações
eram decorrentes do precário ensino nas escolas de nível médio113 e de sua falta de
conexão com o nível superior. Para amenizar tal problema, foi sugerida a realização de
revisões das matérias de nível médio, palestras semanais, organização de grupos de
estudos e o desenvolvimento de pesquisas.
A qualidade do ensino em escolas públicas e particulares, aliada a desintegração
entre o ensino médio e o superior, eram alvos de constantes críticas pela imprensa
113 O ensino médio era ministrado em dois ciclos, o ginasial e o colegial. Além disso, compreendia os cursos
secundários, técnicos e de formação de professores para o ensino primário e pré-primário. Essa nova
nomenclatura foi instituída pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1961 (Lei nº 4.024/61).
71
sergipana, pois, de acordo com os noticiários da época, isso comprometia o acesso dos
estudantes, sua formação e o nível de ensino na Universidade Federal de Sergipe:
Estamos praticamente em fase de implantação da nossa Universidade
e não é possível esperar dela resultados satisfatórios, se deixarmos
como está a situação no ensino secundário e no médio. A
Universidade não vem para fazer milagres; se os alunos que saem dos
cursos colegiais não demonstram preparo para assimilar os
conhecimentos de nível superior, ministrados o esforço da
Universidade se perderá inutilmente e ela cairá no descrédito.
(DIÁRIO DE ARACAJU, 06/02/68).
Diante disso, percebemos que no processo de adaptação e organização do curso
de Pedagogia da UFS, as primeiras medidas adotadas pela sua congregação estavam
relacionadas aos setores administrativo, acadêmico e pedagógico da unidade.
Nesse contexto, foram fundamentais o estudo detalhado da legislação nacional do
ensino superior e a análise das experiências de outras unidades de ensino, já legitimadas
no campo acadêmico. Além disso, fez-se necessário associar essa conjuntura à legislação
educacional da Universidade Federal de Sergipe e à realidade sociocultural em que o
curso estava inserido.
Assim, podemos notar que, apesar do curso de Pedagogia da UFS permanecer com
a “aparente” organização da antiga FAFI até o final do ano letivo de 1968, nesse mesmo
ano novas medidas passaram a ser planejadas para o enquadramento da Faculdade de
Educação e do curso de Pedagogia da UFS à nova política educacional vigente, propagada
pelas diretrizes da Reforma Universitária.
72
3 – O INGRESSO NO CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL
DE SERGIPE (1968-1978)
3.1 - A OPÇÃO PELO CURSO E O PROCESSO SELETIVO
Encerrado mais um ano letivo, iniciava-se em todo o Estado de Sergipe a
realização das festas de formatura do nível médio e de suas modalidades de ensino, a
exemplo dos cursos Normal, Agrícola, Industrial e de Comércio114. Em meio às
comemorações, muitos jovens pleiteavam algo a mais na sua formação: o ingresso no
curso superior.
Esse plano proporcionava outras oportunidades de ascensão econômica e social
aos jovens estudantes, pois poderiam exercer diferentes atividades na área do Direito,
Economia, Medicina, Serviço Social, Química e Magistério. Desta forma, a alegria e o
prestígio evidenciados nas festividades de formatura do ensino médio uniam-se às
preocupações e expectativas, ocasionadas pelos vestibulares115:
O mês de dezembro é dedicado às solenidades de conclusão de curso.
Hoje até alunos do curso pré-primário têm também a sua “formatura”.
[...] Em verdade, as únicas solenidades de curso de que tem algum
sentido, são as que conferem diplomas, quer de nível médio, ou de
nível superior. Significam o término de uma atividade estudantil e o
início de uma atividade profissional. Especial destaque merecem os
diplomas de nível superior, sobretudo com a instituição da
Universidade de Sergipe. (DIÁRIO DE ARACAJU, 10 e 11/12/1967,
p. 2).
No ano de 1968, esse clima de expectativa ampliou-se ainda mais devido à criação
da Universidade Federal de Sergipe e à campanha a favor de sua instalação, divulgada
cotidianamente em periódicos e programas de rádio. A imprensa ressaltava a importância
da federalização do ensino superior sergipano e a incorporação das faculdades isoladas
pela Universidade oficial.
Os intelectuais sergipanos e líderes do Governo acreditavam que esse novo
empreendimento iria oportunizar a qualificação intelectual e profissional para atender ao
novo modelo de desenvolvimento socioeconômico e cultural do Estado. De acordo com
114 Além dessas modalidades de ensino, também existiam os cursos de Madureza e de Contabilidade. 115 Nesse período, o processo seletivo para o ingresso nas instituições de nível superior poderia ser
denominado de vestibular ou concurso de habilitação.
73
o memorial de agradecimento116 elaborado por Dom Luciano Duarte, destinado ao
presidente da República, Costa e Silva, e ao ministro da Educação e Cultura, Tarso Dutra,
podemos notar o entusiasmo acerca da criação da primeira universidade em Sergipe:
A UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE era a maior aspiração
dos estudantes, dos professores, das famílias, dos responsáveis pela
administração estadual, e, enfim de todos os que, em Sergipe, se
preocupam com o desenvolvimento do Estado, e procuram abrir
perspectivas de progresso para os anos próximos. Sergipe vive sob o
peso de todos os percalços que oprimem o subdesenvolvimento do
Nordeste brasileiro. [...] Faltam-nos médicos, professores, técnicos.
[...] Os jovens estudantes irão povoar a UNIVERSIDADE que Vossa
Excelência criou para Sergipe. Eles forjarão o nosso progresso
econômico e intelectual. (A CRUZADA, 04/03/1967).
A confiança na implantação desse projeto e o compromisso de financiamento do
Governo Federal proporcionaram a instalação do curso de Pedagogia, o qual havia sido
criado em 1950 na Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. O edital do primeiro
vestibular foi organizado ainda em novembro de 1967, compreendendo todos os cursos
em funcionamento da FAFI.
Diante da criação da Universidade Federal de Sergipe, professores e candidatos
ás vagas aguardavam mudanças na organização dos exames para o processo seletivo de
1968, mas em virtude do atraso na incorporação das faculdades e na instalação da UFS117,
o modelo de vestibular descentralizado permaneceu inalterado, como podemos observar
no jornal Diário de Aracaju:
Apesar de ter sido anunciado que os exames vestibulares para o
próximo ano sofreriam profundas modificações, sobretudo no que se
referia à data de realização em todas as Faculdades, tais exames não
deverão sofrer nenhuma alteração neste sentido, estando cada
Faculdade organizando seu programa particular, nos moldes dos anos
anteriores, cuja época tem variado sempre entre a 2ª quinzena do mês
de janeiro e os primeiros dias de fevereiro. (DIÁRIO DE ARACAJU,
14/12/1967).
116 O memorial de agradecimento foi elaborado por Dom Luciano Duarte a pedido do Governador de
Sergipe, Lourival Baptista. Assinaram a mensagem o próprio governador do Estado, o vice-governador
Manoel Cabral Machado, o arcebispo metropolitano Dom José Távora, o presidente do Tribunal de Justiça
desembargador Humberto Sobral, o prefeito da capital, Gileno Lima, e vários outros representantes de
instituições, diretórios acadêmicos e sindicatos. O documento foi entregue pessoalmente pelo governador
de Sergipe ao presidente da República, Humberto de Alencar Castelo Branco, e ao ministro da Educação e
Cultura, Tarso Dutra (A CRUZADA, 04/03/1967). 117 Isso ocorreu devido ao atraso na aprovação do Estatuto da Fundação e da Universidade Federal de
Sergipe, ocasionado pelas divergências entre professores e alunos. Além disso, houve demora no repasse
da verba federal para a instalação.
74
Como não houve alterações no vestibular de 1968, o corpo docente de cada
faculdade organizou sua seleção e o edital de inscrição. Os professores da FAFI também
eram responsáveis por compor as bancas examinadoras, as quais elaboravam,
mimeografavam, aplicavam e corrigiam as provas escritas e orais. Para cada disciplina
havia uma banca compostas de três professores da área:
Figura 12 - Banca examinadora do curso de Pedagogia da FAFI (1968)
Fonte: Ata geral do concurso de habilitação de 1968. Acervo: Arquivo Central da UFS.
Diante da ata do concurso, é possível verificar a participação de Dom Luciano
Duarte em diferentes bancas (Português, Noções de Pedagogia e Francês), apesar de sua
formação acadêmica compreender, especialmente, a área da Filosofia. No entanto, a
detenção do poder simbólico e a concentração de diferentes capitais (cultural e social),
proporcionou a notoriedade intelectual do sacerdote no campo educacional e sua atuação
nas diferentes áreas do conhecimento.
De acordo Bourdieu (2007) o poder simbólico transfigura o uso de vários tipos de
capitais (econômico, cultural e social) constituídos como poderes que se exercem em
espaços socialmente definidos e por pessoas posicionadas distintamente, poderes que
atraem e que repelem outros sujeitos, que atuam mais fortemente em uns agentes do que
75
em outros, mas que atingem a todos envolvidos na produção de sentido do próprio mundo
social. Para ele,
O poder simbólico como poder de constituir o dado pela enunciação,
de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de transformar a visão do
mundo e, deste modo, a ação sobre o mundo, portanto o mundo; poder
quase mágico que permite obter equivalente daquilo que é obtido pela
força (física ou econômica), graças ao efeito específico de
mobilização, só se exerce se for reconhecido, quer dizer, ignorado
como arbitrário. Isto significa que o poder simbólico não reside nos
sistemas simbólicos em forma de uma “illocutionary force” mas que
se define numa relação determinada – e por meio desta entre os que
exercem o poder e os que lhe estão sujeitos, quer dizer, isto é, na
própria estrutura do campo em que se produz e se reproduz a crença.
O que faz o poder das palavras e das palavras de ordem, poder de
manter a ordem ou de a subverter, é a crença na legitimidade das
palavras e daquele que as pronuncia, crença cuja produção não é da
competência das palavras. (BOURDIEU, 2007, p. 14 e 15).
As provas eram aplicadas nos prédios de cada unidade de ensino superior, em
diferentes datas e horários, possibilitando ao candidato participar dos vestibulares de
outras faculdades no mesmo ano. Mas, diante da pequena procura pelos cursos da FAFI,
seus organizadores davam preferência a datas posteriores às das demais faculdades
isoladas para que pudessem reaproveitar os estudantes reprovados.
Nesse vestibular, a Faculdade Católica de Filosofia divulgou seu edital na primeira
semana de 1968, mas as inscrições só podiam ser realizadas após a segunda quinzena do
mês. Além do curso de Pedagogia, também foram oferecidas vagas para os cursos de
Geografia, História, Filosofia e Letras (Francês e Inglês)118, como podemos verificar no
edital a seguir:
118 O edital publicado no jornal A Cruzada (06/01/1968) incluía o curso de Letras-Alemão, mas esse curso
não foi ofertado no vestibular da FAFI de 1968.
76
Figura 13 - Edital do Concurso de Habilitação da FAFI (1968)
Fonte: Edital do concurso de habilitação da FAFI. Acervo: Arquivo Central da UFS.
Aos candidatos do curso de Pedagogia foram oferecidas 30 vagas no turno
matutino. No ato da inscrição era necessário apresentar o certificado de conclusão do
curso secundário, carteira de identidade, atestado de idoneidade moral, folha corrida
fornecida pela Secretaria de Segurança Pública, atestados de sanidade física e mental,
certidão de nascimento, prova de quitação militar (para os candidatos do sexo masculino)
e pagamento da taxa de inscrição.
77
Segundo depoimentos de ex-alunos, os atestados de idoneidade moral eram
fornecidos por diretores ou professores “reconhecidos socialmente e dotados de boa
conduta” das instituições escolares nas quais os vestibulandos haviam concluído o ensino
médio. Com relação aos atestados de sanidade mental, os candidatos precisavam solicitá-
los na Clínica Psiquiátrica Adauto Botelho, como podemos verificar na fotografia que
segue:
Figura 14 - Atestado de sanidade mental para o ingresso na FAFI (1968)
Fonte: jornal Diário de Aracaju, 18/01/1968. Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGS).
Na seleção para o curso de Pedagogia eram exigidos os conhecimentos das áreas
de Português, Noções de Pedagogia, História Geral e uma língua estrangeira (Francês ou
Inglês). De acordo com depoimentos da ex-aluna Lilian Leal Lago, cada uma dessas
quatro áreas compreendia provas escritas e orais, finalizando oito provas no total:
78
No nosso vestibular havia prova escrita e prova oral. Lembro que
houve provas de História e de Português, nesta última achávamos que
teria uma redação e que o tema seria sobre universidades, porque
nessa época falava muito sobre a criação da nossa universidade, mas
quando chegou na hora da prova o tema da redação foi “Se eu fosse
Presidente...”. Lembro-me da colega Clara Angélica dizendo no
momento da prova: “eu achava que a redação seria sobre a
universidade”. Tinha também a prova de Noções de Pedagogia, com
a professora Cacilda. As colegas que haviam feito o curso Pedagógico
levavam vantagens, mas como eu havia feito o Clássico no Atheneu,
precisei pegar o material com uma prima que havia feito esse curso
no Colégio Nossa Senhora de Lourdes. Por último, era a prova de
Inglês ou Francês. Nós fazíamos a opção da língua estrangeira.
(LAGO, 2015, s/p).
Diante do caráter eliminatório, as provas eram realizadas no turno da manhã119 e
suas notas divulgadas no período da tarde para que os candidatos pudessem comparecer
no dia seguinte e realizar os demais testes120. A ex-aluna Judite Oliveira Aragão recorda
a euforia e a preocupação em torno desse momento:
Quando saiu o resultado do vestibular lembro que estávamos no pátio
da Faculdade e foi aquela festa. Era muito engraçado, porque o
momento de seleção era um sofrimento, um nervosismo, candidatos
chorando para lá e para cá. Naquela época, ficávamos aguardando a
aprovação de cada disciplina, para no dia seguinte irmos fazer as
demais. Então, cada resultado era uma vitória e grande ansiedade para
a próxima prova. (ARAGÃO, 2015, s/p).
Nesse vestibular a procura pelo curso de Pedagogia conseguiu superar os demais
cursos da FAFI, com a inscrição de 34 candidatos e 21 aprovações121. Essa concorrência
expressiva foi ocasionada, especialmente, devido ao esforço do seu diretor em recrutar
alunos para a nova graduação, como podemos observar no depoimento da ex-aluna Lilian
Leal Lago:
119 As provas foram realizadas no período de 16 a 24 de fevereiro de 1968. 120 Eram considerados aprovados os candidatos que obtivessem média igual ou superior a 4,0 por disciplina.
Essa média aritmética era obtida a partir das provas oral e escrita de cada disciplina. 121 No vestibular de 1968 (referente às duas seleções) foram registrados os seguintes números de candidatos,
por curso: 17 História, 7 Geografia, 8 Letras-Francês, 11 Letras-Inglês e 1 Filosofia. O número de
aprovados foi: 9 de História, 5 de Geografia, 4 Letras-Francês, 10 Letras-Inglês e nenhum em Filosofia
(FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE SERGIPE, 1968a, s/p).
79
Nesse dia ele122 estava com a Kombi da rádio Cultura, então viemos
de Nossa Senhora das Dores até Aracaju conversando, e nessa
conversa falei para ele que trabalhava no Educandário Brasília e que
tinha interesse em fazer o vestibular para Geografia. E aí, ele disse:
Por que você não faz Pedagogia, já que trabalha e gosta tanto de
crianças? Então, respondi que não havia esse curso em Aracaju, e ele
respondeu: agora vai ter, pois vamos criar uma Faculdade de
Educação, porque nosso sonho é instalar a Universidade, e para isso
vamos oferecer o curso de Pedagogia e instalar a Faculdade de
Educação. (LAGO, 2015, s/p).
Diante desse relato, podemos observar a preocupação de Dom Luciano Duarte em
atrair candidatos para o curso de Pedagogia, devido à exigência dos membros do
Conselho Federal na instalação da Faculdade de Educação. Como essa instituição estava
associada especialmente ao referido curso e às disciplinas pedagógicas das licenciaturas,
seria inviável a sua instalação para poucos alunos.
O único candidato ao curso de Filosofia nesse ano, Wilder Santos, também lembra
que foi abordado por Dom Luciano Duarte com o propósito de convencê-lo a prestar o
vestibular para o curso de Pedagogia, pois alegou que seria dispendioso à FAFI aprovar
somente um aluno para Filosofia. Na intenção de solucionar o problema, recomendou a
inscrição do candidato no curso de Pedagogia, mas este não aceitou:
Lembro que quando fui fazer vestibular para o curso de Filosofia na
Faculdade Católica, não havia outros candidatos. Então Dom Luciano
me chamou e perguntou se eu tinha interesse em fazer a seleção para
o curso de Pedagogia, pois seria muito oneroso para a Faculdade abrir
uma turma do curso de Filosofia para um aluno, somente. E eu
respondi que não, pois naquele momento eu não tinha interesse por
Pedagogia. (SANTOS, 2016, s/p).
Outra candidata da época ressaltou a determinação de Dom Luciano Duarte em
alcançar o número suficiente de alunos para instalar a mencionada graduação. Segundo
ela, o diretor foi ao cursinho pré-vestibular promovido pela própria Faculdade Católica
de Filosofia para apresentar o novo curso e a área de atuação deste:
Dom Luciano sempre foi muito próximo do curso de Pedagogia. Eu
lembro que nessa época eu estava fazendo um cursinho pré-vestibular
para História e ele foi pessoalmente falar sobre o novo curso de
Pedagogia. [...] O que era o curso de Pedagogia e tal... Eu acho que
ele era muito entusiasmado por esse curso, entendeu? Lembro que ele
foi lá no cursinho, aí foi quando eu comecei a pensar em fazer
Pedagogia. (BERGER, 2011, s/p).
122 Dom Luciano Duarte.
80
Em Sergipe, a criação dos cursos pré-vestibulares tornou-se comum no final da
década de 40 do século XX, devido ao surgimento das faculdades isoladas e à
obrigatoriedade da seleção para seu ingresso. Por isso, muitos deles surgiram associados
às próprias faculdades isoladas, sendo organizados pelos diretórios acadêmicos, alunos e
professores dessas instituições.
Eu fazia o curso pré-vestibular à noite na Faculdade de Filosofia, e eu
lembro que estava fazendo umas disciplinas lá. Não lembro se
naquela época chamava pré-vestibular, mas recordo que havia
disciplinas noturnas e que você podia fazer para se preparar para o
vestibular da própria FAFI. (BERGER, 2011, s/p).
Nesse período, muitos candidatos costumavam fazer cursinhos ou aulas
particulares em disciplinas isoladas com a intenção de reduzir as dificuldades nas provas
da seleção e a falta de articulação entre o ensino médio e os exames do vestibular. Mesmo
com essa iniciativa, a imprensa sergipana publicava matérias anunciando o alto índice de
reprovação:
Nunca será demais chamar a atenção das autoridades educacionais
para a decadência que vem se acentuando de ano para ano, no ensino
secundário e médio em Sergipe. [...] O caso se evidencia de maior
gravidade, quando se verifica, como neste último ano, o elevado
percentual de reprovações nos exames vestibulares das faculdades, a
que se submeteram os estudantes que passaram nos cursos colegiais.
[...] O resultado é esta decadência que se acentua de ano para ano e
que neste último ano atingiu um grau alarmante. Nem os cursinhos
particulares que os estudantes fazem dos chamados pré-vestibulares,
ou de preparativos para exames de 2ª época, salvam do fracasso.
Aliás, estes cursinhos estão se transformando num aspecto da
indústria do ensino [...]. (DIÁRIO DE ARACAJU, 06/02/1968).
Diante do alto índice de reprovações e o insuficiente número de candidatos
aprovados no vestibular de 1968123, exames de segunda época também foram realizados
para preencher as vagas ociosas de todos os cursos da Faculdade Católica de Filosofia de
Sergipe. Nesses exames, alunos inabilitados no primeiro vestibular para o curso de
Pedagogia ou que não tiveram a oportunidade de inscrição, adquiriram uma nova chance,
como podemos verificar no depoimento da ex-aluna Judite de Oliveira Aragão:
123 No vestibular de 1968, a FAFI registrou o montante de 44% de reprovações, sendo o maior número no
curso de História (DIÁRIO DE ARACAJU, 01/03/1968).
81
Ao concluir o curso Pedagógico, soube que naquele ano haveria
vestibular para o curso de Pedagogia que seria implantado na então
Faculdade Católica de Filosofia. [...] Então tentei o primeiro
vestibular, mas não fui aprovada porque não havia estudado o
suficiente. Mas, sobraram vagas, e a direção resolveu fazer uma
segunda chamada, era uma espécie de segundo vestibular. Foi nesse
momento que fui aprovada. Lembro que constava de prova escrita e
oral das disciplinas História Geral, Português, Noções de Pedagogia
e Francês. Todas as provas eram eliminatórias, ou seja, o candidato
só fazia a prova seguinte se obtivesse aprovação na anterior.
(ARAGÃO, 2010, s/p).
No ano seguinte, mudanças foram realizadas na organização do vestibular devido
à instalação da Universidade Federal de Sergipe e à consequente incorporação das
faculdades isoladas. Diante disso, implantou-se uma padronização no processo seletivo
de todas as faculdades e cursos incorporados.
A primeira medida adotada foi a uniformização dos editais de cada faculdade,
estabelecendo datas semelhantes para a realização das inscrições e aplicações das provas.
Desta forma, os vestibulares das faculdades passaram a ser realizados no mesmo
período124, impedindo a seleção de candidatos aos diferentes cursos, como no ano
anterior.
De acordo com o depoimento da ex-candidata ao curso de Pedagogia, Maria José
Santos Araújo, o vestibular de 1969 foi revestido pela tensão dos vestibulandos durante a
realização das provas:
Eu lembro que fazíamos provas escritas e orais, com dois
examinadores. Português, por exemplo, foram José Araújo e João
Costa. Era um nervoso! Fizemos prova de História, Português,
Pedagogia e Línguas... O meu francês era uma miséria, inclusive fiz
a prova com a professora Rosália Bispo, História com Manoel Cabral
Machado e Thétis. (ARAÚJO, 2015, s/p).
A implantação da UFS, ocasionou uma maior procura de estudantes interessados
em cursar o ensino superior em Sergipe. A imprensa local (escrita e oral) tornou-se um
importante meio de divulgação das informações a respeito dos vestibulares, cobrindo com
matérias jornalísticas desde a divulgação do edital, aos resultados finais. Nesse sentido
vários registros fotográficos também eram realizados durante o processo seletivo, como
podemos verificar na imagem a seguir:
124 Entre os dias 15 e 28 de janeiro de 1969.
82
Figura 15 - Exames vestibulares da UFS (1969)
Fonte: jornal Diário de Aracaju, 17/01/1969. Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGS).
Nesse processo, o vestibular para o curso de Pedagogia passou a ser promovido
pela Faculdade de Educação, disponibilizando 30 vagas aos 24 concorrentes125. Mas, de
acordo com a ex-aluna, Maria José Santos Araújo, apesar de o número de vagas ser
superior à quantidade de candidatos, apenas sete deles foram aprovados, o que motivou a
realização de uma segunda chamada126:
Quando nós fizemos o vestibular de 1969, lembro que eram 24
pessoas inscritas para 30 vagas. Então pensei né! Vamos todos passar.
Só que todas as provas escritas e orais naquele tempo eram
eliminatórias, por isso que tinha 30 vagas e só entraram sete pessoas.
Lembro que ainda fizeram a 2ª chamada, aí foram aprovadas mais
algumas pessoas. (ARAÚJO, 2015, s/p).
125 Com a incorporação da FAFI à Universidade Federal de Sergipe (em abril de 1968), e seu
desmembramento em três novas unidades de ensino (em agosto de 1968), o curso de Pedagogia foi
incorporado à Faculdade de Educação. 126 Os editais de inscrição para o concurso de habilitação de todas as faculdades da UFS enfatizavam a
informação de que não haveria segunda chamada para o vestibular de 1969.
83
O segundo vestibular foi realizado no mês de fevereiro, obedecendo às mesmas
exigências da primeira seleção127. Poderiam inscrever-se alunos novos e candidatos
reprovados, sendo que estes ficariam dispensados de prestar os exames das disciplinas
que tinham obtido a média igual ou superior a quatro128. Nessa seleção, mais nove
vestibulandos foram admitidos, totalizando 16 aprovados no curso.
Os mecanismos de seleção utilizados para o ingresso em instituições de ensino
superior em Sergipe, eram empregados para filtrar os alunos que almejavam ingressar,
especialmente, na UFS. O ingresso nessa unidade acadêmica garantia o acúmulo de
capital cultural, proporcionando aos diplomados em Pedagogia, atuação profissional num
amplo mercado de trabalho e prestígio no campo educacional.
De acordo com Bourdieu (1999) a noção de capital cultural remete a um conjunto
multidimensional de competências e de disposições. Ela institucionaliza-se por meio de
diversas entidades legais (a exemplo dos diplomas escolares e acadêmicos, qualificações)
e uma cultura tida como legítima, isto é, constituída pelos produtos simbólicos
socialmente valorizados. Nesse sentido, o capital cultural em seu estado
institucionalizado, manifesta-se como atestado e reconhecimento institucional de
competências culturais adquiridas, a exemplo, de diplomas acadêmicos e certificados
escolares.
Além do ingresso por meio do vestibular, a legislação da UFS permitia que
candidatos ao curso de Pedagogia fossem provenientes da transferência de outras
faculdades ou portadores de diplomas de nível superior, reconhecidos pelo Conselho
Federal de Educação. Para solicitar uma vaga, era necessário que o aluno transferido ou
diplomado requeresse sua matrícula à Faculdade de Educação, mas a inscrição só era
efetuada se houvesse vagas disponíveis ao final do processo seletivo129.
Na oportunidade, a estudante Maria Veneranda Corado aproveitou para requerer
a matrícula na primeira turma do curso, pois já havia cursado um ano dessa graduação na
Universidade Federal de Alagoas:
127 Para ambas as seleções foram exigidos os conhecimentos de Português, História, Noções de Pedagogia
e uma Língua Estrangeira (Francês ou Inglês). Além disso, as provas permaneceram sendo realizadas de
forma escrita e oral, com a média mínima de aprovação 4,0 para cada disciplina. 128 Resolução CONSU/UFS nº. 02/69. 129 Para os portadores de diplomas, as inscrições foram realizadas no período de 10 a 20 de janeiro de 1969.
Caso o número de inscritos ultrapassasse o número de vagas disponíveis, teria preferência, pela seguinte
ordem: 1º) O candidato diplomado em curso da mesma área do curso em que pleiteava a matrícula; 2º) O
candidato diplomado em curso de outras áreas cujo currículo tivesse maior número de disciplinas iguais,
ou correlatas às disciplinas do currículo do curso pretendido. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE,
1969d, s/p).
84
Eu comecei a fazer o curso de Pedagogia em Maceió e quando vim
morar em Aracaju já estava no segundo ano, mas ainda não havia esse
curso aqui. Quando o curso foi aberto fiquei com vontade de retornar,
mas não tinha com quem deixar meus filhos, então meu marido disse
que se alguém da minha família viesse morar conosco, eu poderia
retornar para dar continuidade aos estudos. Então, quando eu retornei
para concluir o curso, a turma em que ingressei já estava em
andamento. (CORADO, 2015).
Ainda no ano letivo de 1969, foi criada a Comissão Central do Concurso de
Habilitação (CCCH) com a finalidade de adaptar e organizar o próximo vestibular da UFS
de acordo com as exigências da Reforma Universitária. Para facilitar o trabalho, seus
membros realizaram um estudo acerca da Lei nº 5.540/68 e analisaram as experiências de
universidades federais que já haviam adotado os preceitos da legislação vigente nos
exames vestibulares.
O Magnifico Reitor apresentou um trabalho do Reitor da
Universidade Federal do Ceará, Professor Valnir Chagas, como ponto
de apoio para facilitar o trabalho dessa comissão que será constituída
de um professor de cada uma das unidades responsáveis pelo ensino
básico na nossa Universidade (DIÁRIO DE ARACAJU, 08 e
09/06/69).
Na constituição da Comissão foram indicados professores de unidades
responsáveis pelo ensino básico da UFS: Faculdade de Educação, Instituto de Letras,
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Instituto de Biologia e Instituto de Química130.
No caso da FACED, o escolhido pela congregação para representá-la foi o professor João
Costa, que também foi eleito pelo Conselho Universitário para assumir a presidência da
citada Comissão.
De acordo com as diretrizes da Reforma Universitária, o concurso vestibular
deveria ser unificado em todas as universidades brasileiras, abolindo a realização de
seleções independentes para cada uma das faculdades, como vinha sendo realizado na
UFS. A orientação era promover o vestibular unificado por meio dos determinados ciclos
básicos e em conformidade com as áreas pré-estabelecidas. Com relação à unificação do
vestibular da UFS, o jornal “Diário de Aracaju” ressaltou:
130 A Comissão era composta dos seguintes professores: João Costa (Faculdade de Educação), Rosália
Bispo dos Santos (Instituto de Letras), Adelci Figueiredo Santos (Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas), Esmeraldino Casali (Instituto de Química) e Raimundo Araújo (Instituto de Biologia).
85
A propósito do novo sistema pela Universidade de Sergipe, para os
exames vestibulares, somos de parecer que ele representa um passo
acertado no sentido da unificação prevista na Lei de Reforma
Universitária para estes exames e do verdadeiro significado que tais
exames devem ter. A Lei que estabelece a reforma universitária,
baixada em 1968, prevê um prazo de três anos, ou seja, até 1971, para
que os vestibulares, até então diferentes para cada curso, venham a
ser unificados num só sistema e num único programa para todos os
cursos de nível universitário131. Tal disposição legal vem
corresponder justamente à nova sistemática e a nova concepção
introduzida com a reforma, no ensino superior. (DIÁRIO DE
ARACAJU, 18/07/69).
Diante da nova proposta132, o vestibular da UFS passou a compreender 4 áreas:
Letras e Artes, Biomédica, Ciências Físico-Matemáticas e Ciências Humanas, sendo esta
última na qual a Faculdade de Educação e seu curso de Pedagogia estavam inseridos133.
Além disso, o vestibular de 1970 foi dividido em duas etapas: prova única, de
conhecimentos gerais para todos os cursos da Universidade; e provas específicas, comuns
às grandes áreas do ciclo básico. Para o curso de Pedagogia, a seleção foi dividida da
seguinte maneira: 1ª etapa - prova de conhecimentos gerais134 e 2ª etapa - provas de
Português, Matemática, Francês ou Inglês (opcional), História Geral e do Brasil e
Geografia Geral e do Brasil. Inicialmente, o novo modelo foi bastante elogiado pela
imprensa local:
131 De acordo com o Art. 21 da Lei nº. 5.540/68, “Parágrafo único. Dentro do prazo de três anos a contar
da vigência desta Lei o concurso vestibular será idêntico em seu conteúdo para todos os cursos ou áreas de
conhecimentos afins e unificado em sua execução, na mesma universidade ou federação de escolas ou no
mesmo estabelecimento isolado de organização pluricurricular de acordo com os estatutos e regimentos”.
(BRASIL, 1968a, s/p). 132 As normas gerais para o vestibular de 1970 da Universidade Federal de Sergipe foram definidas pela
Resolução do CONSU/UFS nº 29/69. O anteprojeto desse documento foi elaborado pela Comissão Central
do Concurso de Habilitação e aprovado pelo CONSU. 133 As áreas de Letras e Artes compreendiam o Instituto de Letras e Artes (cursos de Letras Francês, Inglês
e Alemão); a área Biomédica compreendia o Instituto de Biologia (cursos de Medicina e Odontologia); a
área das Ciências Físico-Matemáticas compreendia o Instituto de Química (curso de Química) e o Instituto
de Física e Matemática; e por último a área das Ciências Humanas: Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas (cursos de História, Geografia e Filosofia), Faculdade de Ciências Econômicas (curso de Ciências
Econômicas), Faculdade de Direito (curso de Direito), Faculdade de Educação (curso de Pedagogia) e
Faculdade de Serviço Social (curso de Serviço Social). (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE,
1969e, s/p). 134 A prova de Conhecimentos Gerais abordava noções de Política, História, Artes, Música, Economia,
Cultura, cinema, teatro e esporte, no contexto internacional, nacional e local.
86
É neste caminho verdadeiro que se coloca a decisão do Conselho de
Ensino e Pesquisa da Universidade de Sergipe ao entrar numa nova
etapa para a unificação dos vestibulares. A inclusão de português e
matemática nestes exames nos parecem especiais como matérias
básicas de cultura geral do nível médio. Por outro lado, a ponderação
das notas obtidas nesta matéria, relacionando o seu peso com a
importância que cada uma delas terão especificamente para cada
curso, corrigirá qualquer distorção. (DIÁRIO DE ARACAJU,
18/07/69).
Com a unificação do vestibular da UFS, as provas passaram a ser objetivas e iguais
para as disciplinas comuns aos diferentes cursos e às específicas das respectivas áreas135,
sendo aplicadas no mesmo local, data e horário. Os pesos referentes a cada disciplina136
e o número de vagas do curso de Pedagogia foram determinados pela congregação da
Faculdade de Educação.
Para cada prova havia uma comissão examinadora composta de três professores
da Universidade e seus suplentes, os quais ficavam responsáveis por elaborar,
mimeografar e corrigir as provas. O professor José Araújo Filho, um dos componentes da
comissão examinadora de Português, lembrou como foi organizado o vestibular daquele
ano:
Para elaborar as primeiras provas do vestibular “no início da UFS”,
ficávamos presos em salas de aula, eu e os demais professores
responsáveis pela disciplina e pela banca examinadora. Então
ficávamos até dois dias ali, elaborando provas, sem dormir e só
saíamos no momento de aplicar as provas... Fazíamos isso para que
as questões não fossem divulgadas, para ter o maior sigilo possível e
não haver desconfiança de fraudes. (ARAÚJO FILHO, 2015, s/p).
As provas eram elaboradas durante o dia e mimeografadas no horário noturno,
ficando os membros da banca examinadora e da comissão em vigília até o momento da
aplicação dos exames. Vale frisar que esse confinamento atendia às recomendações da
Resolução do CONSU nº 29/69, a qual estabelecia as normas gerais para o vestibular de
1970 da Universidade Federal de Sergipe:
135 A partir de 1970, a avaliação dos candidatos passou a ser realizada por meio de provas objetivas, sendo
extintas as provas oral e subjetivas. Esse novo modelo de avaliação foi alvo de críticas pela professora
Maria Thétis Nunes, integrante da comissão examinadora das provas de História Geral e do Brasil pois,
segundo ela, os testes de múltipla escolha vinham sendo aplicados no país de forma inadequada e artificial,
uma vez que eram dissociados de nossa realidade e não demonstravam o grau de conhecimento dos
candidatos (A CRUZADA, 14/03/1970). 136 O peso de cada disciplina variava de acordo com o curso optado. No caso do curso de Pedagogia, os
pesos foram distribuídos da seguinte maneira: Conhecimentos Gerais 1, Português 3, Matemática 1,
História 3, Geografia 1 e Línguas 1.
87
Art. 12 – As questões das provas serão elaboradas em nível
progressivo de conhecimentos comuns ao ensino médio.
§ 3º - As provas devem ser aplicadas imediatamente após a sua
elaboração, correndo à conta de comissão examinadora a
responsabilidade da preservação do sigilo, nas fases de elaboração e
julgamento;
§ 4º - A CCCH e as comissões examinadoras ficarão em reunião
permanente e sigilosa desde a elaboração das provas até a entrega das
mesmas aos responsáveis pela sua aplicação. (UNIVERSIDADE
FEDERAL DE SERGIPE, 1969e, s/p).
Com a implantação do vestibular unificado, os exames seriam realizados no
Colégio Estadual de Sergipe e no prédio da antiga FAFI, mas diante do grande número
de alunos inscritos, as provas foram aplicadas no Estádio Estadual Lourival Baptista,
como podemos visualizar na fotografia a seguir:
Figura 16 - Estádio Estadual Lourival Baptista - Vestibular da UFS (1970)
Fonte: Fotografia do vestibular da UFS, feita em 1970. Acervo: Arquivo Central da UFS.
88
Outra medida adotada pela UFS em consonância com as diretrizes da Reforma
Universitária foi a implantação do vestibular classificatório137. Este sistema visava
eliminar os candidatos que não haviam sido aprovados dentro das vagas, sem futuros
problemas judiciais138.
Na inscrição, os candidatos de Pedagogia podiam indicar outros dois cursos de
diferentes faculdades na área das Ciências Humanas. A escolha era colocada em ordem
de preferência pelo vestibulando, pois, se este não alcançasse a pontuação necessária para
a admissão no curso favorito, poderia solicitar o ingresso nas outras duas opções, em caso
de vagas disponíveis.
Para alcançar a classificação na primeira opção, os candidatos precisavam obter a
maior pontuação possível nas provas, pois seriam selecionados de acordo com o valor da
média obtida. Além disso, não podiam ter menos de 30 pontos na prova de Português,
zerar qualquer prova ou faltar a algum exame.
Os vestibulandos que não haviam sido classificados dentro do número de vagas
não eram oficialmente considerados excedentes. Entretanto, a Comissão Central do
Concurso de Habilitação também disponibilizava o nome dos 10 primeiros alunos que
não haviam sido classificados no limite de vagas, pois poderiam ser reaproveitados.
Na seleção para o curso de Pedagogia foram inscritos 42 candidatos para concorrer
às 30 vagas disponíveis. Destes, apenas seis foram desclassificados por não terem
alcançado a pontuação mínima na prova de Português, restando 36 finalistas. No processo
de matrícula houve uma desistência, ingressando a primeira colocada dentre os candidatos
classificados que excederam o número de vagas139.
137 O vestibular classificatório foi implantado pela Lei n°. 5.540/68: “Art. 17. Nas universidades e nos
estabelecimentos isolados de ensino superior poderão ser ministradas as seguintes modalidades de cursos:
a) de graduação, abertos à matrícula de candidatos que hajam concluído o ciclo colegial ou equivalente e
tenham sido classificados em concurso vestibular”. No entanto, esse modelo de seleção ficou mais evidente
após o Decreto-Lei nº 68.908/71: “Art. 2º O Concurso Vestibular far-se-á rigorosamente pelo processo
classificatório, com o aproveitamento dos candidatos até o limite das vagas fixadas no edital, excluindo-se
o candidato com resultado nulo em qualquer das provas”. 138 Os candidatos também eram orientados a assinarem um termo aceitando as normas estabelecidas pelo
concurso, reconhecendo não ter direito de pleitear matrícula se não fosse classificado no limite das vagas
anunciadas nos editais. 139 Nessa seleção, a candidata desistente foi Humbelina Acioly do Bomfim e a vestibulanda “excedente”,
convocada para a matrícula no curso, foi Edilma Menezes Santos. Nesse sentido, restaram cinco candidatas
“excedentes”, três das quais foram matriculadas na segunda opção, ou seja, nos cursos que tinham vagas
disponíveis: Clese Nadja da Costa Borges e Clemildes Tavares no curso de Letras Francês e Maria Celuta
Figueiredo de Meneses no curso de Geografia. As duas restantes (Maria dos Remédios L. de Figueiredo e
Maria Ieda Farias) não foram matriculadas em nenhum curso. O quadro com o nome de todos os aprovados
no curso de Pedagogia/UFS, no período de 1968-1978, está disponível no apêndice B.
89
Em Sergipe, assim como nos demais estados brasileiros, o insuficiente número de
vagas nos cursos de ensino superior ocasionou reclamações dos candidatos “excedentes”.
Diante disso, várias reuniões foram realizadas entre os estudantes, o governador do
Estado, Lourival Baptista, e o reitor da UFS, João Cardoso Nascimento Júnior, a fim de
solucionar essa carência.
Os estudantes não classificados no último vestibular da Universidade
Federal de Sergipe divulgaram ontem um “manifesto” – cujo original
foi entregue ao Magnífico Reitor – no qual solicitam maior empenho
daquela Universidade para a matrícula do maior número possível de
candidatos, ao tempo em que se dispõem a constituir uma comissão
visando estudar a fórmula pela qual seria possível essa matrícula.
(DIÁRIO DE ARACAJU, 18/02/1970).
No entanto, a concorrência não incomodava a maioria dos candidatos aos cursos
de formação docente, como Letras (Francês, Alemão e Inglês), História, Geografia e
Filosofia, pois a demanda por essas graduações era inferior à quantidade de vagas
oferecidas. Nessa área, somente o curso de Pedagogia tinha uma demanda superior à
oferta de vagas.
Desse modo, como a maior parte dessa demanda era constituída pelos diplomados
nos cursos pedagógicos, o professor Ovídio Valois apresentou uma proposta à
Congregação da Faculdade de Educação sugerindo a admissão desses egressos sem a
realização do vestibular. Mas a maioria dos professores e o representante discente foram
contra tal proposta, alegando o baixo índice de aproveitamento pelo curso de
Pedagogia140.
Embora a Congregação não tenha aceitado a sugestão, essa tendência ao curso de
Pedagogia ficou mais evidente no decorrer da década de 1970, tornando-se uma
continuidade natural para os aprovados:
Eu escolhi Pedagogia, no vestibular de 1972, primeiro porque havia
feito o curso Pedagógico e era uma sequência natural, e segundo
porque era um curso novo. Então, entendia que haveria mais
possibilidade de emprego. Uma nova profissão, uma demanda nova
das escolas e do sistema educacional, com possibilidades maiores.
(CAETANO, 2015, s/p).
140 A seleção dos diplomados no curso Pedagógico seria realizada por meio da análise das notas no histórico
escolar (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, 1968h, p. 16).
90
Além dos transtornos com o número de vagas, outro aspecto criticado estava
relacionado aos diferentes pesos das disciplinas no vestibular e à prova de Português
como único exame eliminatório para todos os cursos. De acordo com a congregação da
FACED, a falta de eliminação nas matérias específicas para o ingresso no curso de
Pedagogia prejudicava o rendimento dos alunos aprovados.
Diante das críticas, a Comissão do Concurso decidiu alterar essa norma no
vestibular de 1971, ampliando a eliminação para todas as provas através de uma
pontuação mínima de 40 pontos para Português e 30 para as demais disciplinas141. Nesse
ano, as provas foram corrigidas em Salvador142 por computadores eletrônicos através dos
cartões de respostas, e seus resultados foram divulgados antes da realização da prova
subsequente, pois, a depender do desempenho, os candidatos realizavam os demais
exames:
No ano que fiz o vestibular todas as provas eram eliminatórias. A
correção já era computadorizada e o resultado indicava quem foi
aprovado para a fase seguinte. Nesse ano, alguns cursos não
preencheram todas as vagas, a exemplo do curso de Pedagogia. [...]
No ano seguinte já foi classificatório. (ANDRADE, 2015, s/p).
A utilização dos cartões de resposta para a aplicação do gabarito e a correção das
provas exigiam a participação de poucos professores e aceleravam a divulgação do
resultado. Ao final de cada exame, a comissão organizadora preservava somente os
cartões, sendo a prova disponibilizada aos candidatos:
141 A partir de 1971, o vestibular foi organizado em duas áreas: Ciências Exatas e Naturais e Humanidades,
sendo esta última responsável pela seleção do curso de Pedagogia. As provas comuns às duas áreas
compreendiam: Português, Matemática e Conhecimentos Gerais; já as provas específicas da área de
Humanidades abrangiam: História Geral e do Brasil, Geografia Geral e do Brasil e Línguas (Francês ou
Inglês). Todas as provas eram compostas de 100 questões objetivas e quatro alternativas de respostas. 142 A partir do vestibular de 1972, a correção das provas foi realizada por computadores do Centro de
Processamento de Dados instalados no Instituto de Química da UFS.
91
Figura 17 - Vestibular unificado da UFS
Fonte: Acervo do Arquivo Central da UFS.
Além do sistema eliminatório, o vestibular de 1971 foi realizado na mesma data
em que ocorreram os vestibulares das demais universidades federais do Nordeste,
evitando assim o deslocamento de candidatos de um estado para outro. O vestibular
unificado a partir da regionalização havia sido planejado pelo Conselho Federal de
Educação e estava fundamentado nas normas complementares à Lei nº. 5.540/68143:
[...] O senhor Newton Sucupira manifestou o seu entusiasmo pela
adoção de vestibulares simultâneos que vão permitir que haja mais
chances para todos nos exames. De cada vez, um aluno só poderá
tentar a admissão em uma universidade federal. Assim os alunos que
se candidatarem na Universidade de Brasília não poderão tentar entrar
na Universidade de Goiás. (GAZETA DE SERGIPE, 05/01/1971).
Nessa seleção foram inscritos 70 candidatos para o curso de Pedagogia a fim de
disputarem as 30 vagas disponíveis144. Entretanto, somente 18 deles foram classificados,
143 De acordo com o artigo 4º do Decreto-Lei nº 464/69: “O Ministério da Educação e Cultura atuará junto
às instituições de ensino superior, visando à realização, mediante convênio, de concursos vestibulares
unificados em âmbito regional”. (BRASIL, 1969a, s/d). 144 Ainda em 1970, o conselheiro federal Newton Sucupira enviou um ofício solicitando empenho da
inspetora do ensino superior em Sergipe, Alvina Marques da Silva, no atendimento às normas legais
referentes ao vestibular, aprovadas pelo CFE. No documento, o conselheiro enfatizou a proibição da
92
e outros dois foram incorporados ao curso pelo direcionamento à segunda opção,
totalizando o ingresso de 20 estudantes.
No vestibular de 1972145, a Congregação da Faculdade de Educação elevou para
40 o número de vagas para o curso de Pedagogia, alegando carência de técnicos e
professores formados em nível superior para assumirem os cargos nos setores
educacionais, com ênfase na Secretaria Estadual de Educação e nos cursos pedagógicos.
Esta iniciativa também apresentava afinidade com os interesses do Conselho Federal de
Educação, referentes à expansão do ensino superior e a formação docente:
Art. 3º O Governo Federal proporcionará auxílio financeiro aos
estabelecimentos de ensino superior compreendidos nas áreas de
saúde, de tecnologia e de formação de professores de ensino médio
que dele carecerem para aumentar o número de vagas no primeiro ano
de seus cursos. (BRASIL, 1968b, s/p).
Para isso, o curso foi dividido em duas turmas semestrais, sendo que ficariam no
primeiro período os 20 alunos que obtivessem as maiores notas e ocupassem os primeiros
lugares; e no segundo semestre seriam matriculados os 20 candidatos que ficassem em
posições posteriores146. Na intenção de preencher o número total de vagas, o Conselho de
Ensino e Pesquisa da UFS extinguiu as provas eliminatórias, devido às dificuldades
apresentadas pelos candidatos em alcançar a pontuação mínima em todos os exames.
Durante o processo seletivo foram inscritos 196 candidatos, evidenciando uma
demanda maior do que nos anos anteriores e a sua permanência na liderança das
graduações mais procuradas na área do magistério.
Naturalmente essa visibilidade na procura pelo curso foi resultado da sua
reestruturação realizada a partir de 1970, de acordo com as determinações do artigo 30 da
Lei nº 5.540/68147. Essa organização estabeleceu novos aspectos com relação à formação
e ao campo de atuação dos egressos do curso, a partir da preparação de professores para
o ensino Normal e da oferta das habilitações em Supervisão Escolar (1º e 2º graus),
Administração Escolar (1º e 2º graus) e Orientação Educacional (1º e 2º graus). Na visão
matrícula de alunos que não tinham o certificado de nível secundário completo, sendo vedada, inclusive, a
concessão de qualquer prazo que estivesse fora do período de matrícula na UFS. 145 Em 1972 foi eliminada a prova de Conhecimentos Gerais, devido às críticas dos professores e
vestibulandos referentes à diversidade do conteúdo explorado. As disciplinas comuns a todos os cursos da
UFS passaram a compreender somente Português e Matemática. 146 O candidato não tinha autonomia para escolher o semestre acadêmico em que gostaria de ingressar na
UFS, pois o que definia era a sua pontuação e colocação na lista de aprovados. 147 Além da Lei nº. 5.540/68, essa reestruturação também foi amparada pelo Parecer nº. 252/69 e pela
Resolução nº. 2/69, ambos do CFE.
93
da ex-aluna Liana de Melo Torres, essa disposição permitiu ao profissional formado em
Pedagogia diferentes atuações no campo educacional:
A política de educação dos militares vai prever um curso de
Pedagogia que irá formar profissionais para atuar nas escolas como
especialistas em educação, ou seja, uma equipe pedagógica para
cuidar da gestão da escola como um todo. Daí vem o administrador
para administrar a escola, o orientador para orientar os alunos, o
supervisor para assessorar os professores e o inspetor para trabalhar
na parte da documentação escolar e administrativa, inclusive
pensando em um secretário especializado que entendesse de leis e
cuidasse da documentação. (TORRES, 2016, s/p).
No entanto, até 1972 o curso de Pedagogia da UFS ofertou apenas a formação no
Magistério para o ensino Normal e as habilitações em Administração Escolar (1º e 2º
graus) e Orientação Educacional (1º e 2º graus)148, sendo que a licenciatura era obrigatória
para o preparo nas habilitações.
Aliado a esses fatores, ainda houve a promulgação da Lei nº. 5.692/71, que
valorizou a formação docente e de especialistas educacionais em nível superior para a
atuação nas escolas de 1º e 2º graus. Nesse contexto, a ex-aluna Ana Lúcia Menezes
Vieira destacou a mobilização dos professores e supervisores que já atuavam nas escolas
de 1º grau, em realizar o curso de Pedagogia para ascender na carreira docente.
Muitos dos nossos colegas de turma já eram professores ou
supervisores de escolas, e eles vão fazer o curso de Pedagogia
justamente por causa da carreira, né! Nesse período estava em
processo de implantação da Lei 5.692/71, a qual vai valorizar a
carreira docente e reconhecer a função técnica do pedagogo, porque
até então a ênfase era na formação do professor. É a partir daí que eles
também serão valorizados pelo Estatuto do Magistério do Estado de
Sergipe, de 1973. (VIEIRA, 2015, s/p).
Em 1973, o número de vagas disponíveis para o curso de Pedagogia subiu para
60, sendo que em proporção ainda maior foi a soma dos concorrentes, a qual atingiu o
total de 319 candidatos. As vagas eram preenchidas em duas etapas, metade no primeiro
semestre letivo e outra metade no segundo período.
Na oportunidade, Iara Maria Campêlo, candidata ao vestibular desse ano e ex-
aluna do curso, relata como foi seu processo de envolvimento com o magistério e sua
preferência pela graduação em Pedagogia:
148 A habilitação em Supervisão Escolar passou a ser ofertada a partir de 1973 e a habilitação em Inspeção
Escolar não foi ofertada para o curso de Pedagogia em Licenciatura Plena na UFS.
94
Nunca passou pela minha cabeça fazer Pedagogia, mas minha mãe
sonhava que eu fosse professora e eu precisava trabalhar para me
manter porque eu vinha de família pobre. Então, por essa razão minha
mãe conversou com Aglaé Fontes e conseguiu uma vaga como
auxiliar de ensino, uma vez que eu não tinha formação como
professora. A escola de Aglaé era a “Escolinha de Música”, uma
escola de educação infantil, com as quatro primeiras series do ensino
fundamental e ensino de música. Foi nessa escola que me descobri
professora e decidi fazer Pedagogia. (CAMPELO, 2015, s/p).
Além de Pedagogia, os candidatos tinham o direito de indicar uma segunda opção
entre os cursos associados no mesmo grupamento149. Deste modo, como tal graduação
estava associada ao grupamento III, seus aspirantes ficavam limitados a escolher como
alternativas secundárias, os cursos de História, Geografia ou Letras (Vernáculas e
Estrangeiras)150.
Figura 18 - A divisão de cursos por grupamento no vestibular da UFS (1973)
Fonte: jornal Gazeta de Sergipe, em 05/10/1972.
Acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGS)
149 A partir de 1973 os vestibulandos tinham o direito de escolher até duas opções por ordem de preferência. 150 Nesse vestibular os cursos foram distribuídos em quatro grupamentos, correspondendo os dois primeiros
à área das Ciências Exatas e Naturais e os dois últimos a área de Humanidades.
95
No ano seguinte, o Estádio Estadual Lourival Baptista foi novamente palco do
vestibular realizado pela UFS e de aplicação dos exames aos 405 candidatos ao curso de
Pedagogia. Essa procura, permitiu ao curso permanecer entre as lideranças na lista das
graduações mais procuradas, ao lado de Medicina, Direito e Economia.
A demanda pelo curso era decorrente da variedade de opções no campo de atuação
e de um mercado de trabalho amplo, possibilitando várias atividades na área educacional.
Além disso, havia o encantamento dos candidatos que desejavam ser professores ou
especialistas em educação:
Eu havia feito o científico no Atheneu, mas o meu sonho era ser
professora. Se eu não fosse professora seria uma atriz, porque eu
sempre via na atividade docente uma atuação artística, uma
representação. [...] Eu estava seguindo a minha vocação, não era
muito por uma questão financeira, mas não deixava de ter prestígio,
porque eu não estava me formando para ser professora primária, eu
estava me formando para ser uma especialista em educação. À época
isso era muito valorizado! (TORRES, 2015, s/p).
Durante a seleção, muitos vestibulandos realizavam suas provas nas
arquibancadas do Estádio de Futebol ou na parte térrea do prédio, ficando expostos ao sol
e ao calor. A ex-aluna do curso de Pedagogia/UFS, Ednalva Freire Caetano, abordou sua
experiência na realização do vestibular prestado no Estádio Lourival Baptista151:
Na minha época fiz o vestibular no Estádio Estadual Lourival Batista
- Batistão, onde colocavam cadeiras na parte coberta das
arquibancadas, nos degraus. Eu acho que as provas começavam no
domingo e acabavam na quarta-feira. Nesse período o vestibular já
era unificado e havia pesos diferentes para as disciplinas, em função
do curso que você iria fazer. (CAETANO, 2015, s/p).
Para a comissão organizadora do vestibular, a distribuição espacial do estádio
facilitava a realização das provas, devido ao número de candidatos que aquele espaço
podia abranger. De acordo com a imagem a seguir, podemos visualizar o processo de
seleção na unidade esportiva:
151 Ednalva Freire Caetano prestou o vestibular de 1972, no Estádio Estadual Lourival Baptista, para o
ingresso no curso de Pedagogia da UFS.
96
Figura 19 - Vestibular da UFS realizado no Estádio Estadual Lourival Baptista
Fonte: Acervo do Arquivo Central da UFS.
A semana do vestibular era algo muito relevante para uma parcela da sociedade
sergipana, o que ocasionava a suspensão de várias atividades nos órgãos dos governos
municipal e estadual, além das instituições privadas, devido à participação dos
funcionários e dirigentes na seleção. O dia do resultado também era bastante prestigiado
pelos vestibulandos e familiares, os quais esperavam ansiosos pela lista dos classificados,
divulgada no rádio e em jornais:
700 pessoas fizeram festa desde a madrugada de ontem, reunindo
amigos e familiares em todos os pontos da Cidade. Eram os felizardos
do vestibular, os que conseguiram aprovação para as vagas oferecidas
pela Universidade Federal de Sergipe. Desde que saiu o resultado que
os 700 aprovados começaram a percorrer a Cidade, acordando amigos
e familiares para a comemoração da vitória suada. (GAZETA DE
SERGIPE, 12/01/1974, p. 4).
Como vimos, o resultado era divulgado ainda na madrugada do último dia da
seleção, por isso os estudantes ficavam de plantão aguardando a divulgação no rádio ou
nas mediações da Reitoria da UFS, esperando a publicação da lista. Para muitos
97
candidatos ao curso de Pedagogia, limitados pela situação econômica e educacional, a
aprovação era sinônimo de emprego garantido, e/ou ascensão na carreira docente.
Eu vinha de uma família pobre, e sabia que indo para o campo do
magistério seria o meio mais fácil para ter emprego, além disso eu
gostava muito dessa área... Então, precisei trabalhar muito cedo, e o
magistério oportunizou isso. Como eu já trabalhava na área, e sabia
que não faltaria emprego, eu aproveitei para fazer o curso de
Pedagogia. (PINTO, 2015, s/p).
No entanto, a realização dessa seleção foi marcada por incertezas devido às
suspeitas e escândalos de fraudes com a quebra de sigilo da prova de Francês. Com a
grave denúncia, uma comissão de inquérito foi formada a fim de apurar as irregularidades
que ocasionaram a violação do segredo e as responsabilidades dos organizadores, como
foi noticiado pela imprensa local:
O sigilo de uma das provas do vestibular de 1974 foi quebrado e por
isso o reitor Luiz Bispo decidiu anular todas os quesitos formulados
ao tempo em que abriu inquérito para apurar os responsáveis pela
irregularidade. [...] O caso do sigilo rompido já está sendo
denominado “vestibulargate”, e provocando mal-estar entre os
componentes das comissões organizadoras do vestibular, pois não se
sabe ainda qual o responsável ou responsáveis pela ruptura do sigilo.
(DIÁRIO DE ARACAJU, 21/12/73, p. 1).
Apesar de as provas de Francês já estarem confeccionadas, não foram utilizadas
naquele vestibular, pois, com a denúncia de fraude, o reitor criou uma nova comissão de
professores para elaborar outros exames. Mesmo assim, esse episódio causou indignação
e desconfiança entre os candidatos inscritos para o vestibular daquele ano, os quais
questionavam a seriedade da seleção e a injustiça perante os sacrifícios e os investimentos
financeiros para alcançar uma vaga na UFS.
Diante de tanta repercussão, a sociedade sergipana aguardava com expectativa a
conclusão do inquérito e a apresentação do responsável pela divulgação da prova. Além
disso, solicitava medidas cabíveis para dificultar esse tipo de fraude e resgatar a
moralidade do vestibular da UFS:
98
Figura 20 - A quebra de sigilo de provas do vestibular - 1974
Fonte: jornal Diário de Aracaju, 26/01/1974. Acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGS).
Dentre os envolvidos na quebra de sigilo no vestibular de 1974 estavam o
candidato ao curso de Economia, Oscar Sillas Colic, e o professor do curso de Pedagogia,
João Costa152, mas somente o estudante foi indiciado e julgado de acordo com o Código
Penal. O professor João Costa recebeu uma suspensão do reitor, mas foi absolvido das
acusações do Inquérito pelo Juiz Lauro Pacheco de Oliveira, o qual alegou que a Justiça
existia para corrigir os abusos e excessos da autoridade153.
No ano seguinte154 novas suspeitas de fraudes foram divulgadas devido à quebra
do computador que realizava as correções das provas e aos erros na transcrição do
152 O professor João Costa era membro da comissão de elaboração da prova de Francês do vestibular de
1974. 153 Mesmo com o acompanhamento de tal inquérito pela imprensa, não foi possível identificar a pena
aplicada ao estudante. 154 No vestibular de 1975, as provas exigidas na seleção passaram a ser as mesmas para todos os cursos,
mudando apenas o peso delas: Estudos Sociais (História, Geografia e OSPB), Língua Estrangeira (Inglês e
Francês), Comunicação e Expressão (Literatura Portuguesa e Gramática), Ciências (Biologia, Química e
Física) e Matemática.
99
gabarito. Segundo muitos candidatos, o atraso na correção facilitava a troca de cartões de
respostas, beneficiando os vestibulandos oriundos de famílias abastadas.
Durante a organização do vestibular de 1976, uma nova denúncia foi feita por
estudantes que haviam encontrado a capa de uma das provas nas ruas da capital, meses
antes de sua aplicação. Apesar dos indícios, o reitor da UFS negou a criação de uma
comissão de inquérito para apurar a denúncia, pois, segundo ele, o desaparecimento da
capa não significava quebra de sigilo.
Diante das suspeitas contínuas de corrupção na elaboração e correção das provas
do vestibular da UFS, muitos estudantes e a imprensa local encontravam meios divertidos
de satirizar a falta de credibilidade das comissões organizadoras, através de piadas e
charges:
Figura 21 - Charge sobre fraudes no vestibular de 1976
Fonte: Jornal da Cidade, 21/11/1975. Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGS).
Assim, com as constantes suposições de fraudes nas provas e a manipulação dos
resultados do vestibular da Universidade Federal de Sergipe, o reitor Aloísio de Campos
100
decidiu contratar a Fundação Carlos Chagas para elaborar os exames155. A medida
adotada para a realização do vestibular de 1977 foi alvo de elogios e críticas pelos
candidatos daquela seleção:
Para nós não foi nenhuma surpresa a lisura e o bom andamento do
concurso vestibular realizado pela “Universidade Federal de Sergipe”
neste ano de 1977, considerando que em anos anteriores – ainda paira
na lembrança uma série de irregularidades que atingiram o
conhecimento de toda a comunidade. É que as provas eram realizadas
aqui mesmo em Aracaju, e geralmente filhos de algumas classes
profissionais, tinham como certa a sua aprovação. (JORNAL DE
SERGIPE, 16/01/77, p. 4).
Apesar dos elogios, muitos alunos questionaram a falta de afinidade entre as
questões exigidas nas provas e os conteúdos abordados em sala de aula, já que as provas
eram elaboradas no Sul do país. Os vestibulandos alegavam que havia diferenças
regionais e que os currículos trabalhados pelas escolas locais não eram condizentes com
a proposta educacional de outros estados.
Na oportunidade, os vestibulandos também criticaram o currículo escolar
implantado nas escolas de Sergipe, destacando o nível de 2º grau. Para eles, a proposta
curricular local enfatizava um projeto de valorização do ensino técnico, prejudicando o
desempenho dos candidatos nas provas.
Essa diversidade curricular prejudicava também os aspirantes a uma vaga no curso
de Pedagogia, pois sua maioria era oriunda do curso Pedagógico de 2º grau. Esta
modalidade de ensino formava professores primários, que viam nesse curso uma
oportunidade para a ascensão social e econômica na carreira docente.
Acredito que a grande procura pelo curso de Pedagogia era decorrente
do desejo de muitos professores em ascender na carreira docente,
deixar de ser professor do primário para ser um especialista em
Educação. Então, além de ter a questão financeira, pois o especialista
ganhava o dobro, também havia a questão social, porque aí iria
participar das equipes técnicas formadas por especialistas, ou seja,
dava a impressão de estar sendo promovido. Ser técnico era mais
importante do que ser professor. (TORRES, 2015, s/p).
O ingresso no curso de Pedagogia e, consequentemente a aquisição do diploma
garantia a ascensão profissional e social de professores que já atuavam no campo
155 O reitor também alegou falta de infraestrutura adequada para elaborar e reproduzir as provas. O critério
para a escolha de tal instituição foi a credibilidade e experiência perante a elaboração dos exames de outras
universidades federais do país (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, 1972, p. 176).
101
educacional, ou que tinham interesse de ingressar nessa área. A formação docente, em
nível superior, atribuía o reconhecimento dos demais professores, e especialmente de
políticos, os quais necessitavam de agentes capacitados para assumir os cargos de gestão
na área da Educação.
Deste modo, essa formação em Pedagogia pela UFS, durante as décadas de 60 e
70 do século XX, resultaram na distribuição de capital e de poder simbólico aos seus
formandos, para integrar aos diferentes campos e atuar em diferentes funções, a exemplo,
do docente, técnicos em Educação e nas atividades de gestão.
Para Bourdieu (1999) o diploma constitui um capital cultural institucionalizado,
uma certidão de competência cultural que confere ao seu portador um valor convencional,
constante e juridicamente garantido no que diz respeito à cultura. Sendo um tipo
específico de capital, o diploma também pode ser convertido em outros tipos de capital,
a exemplo, do capital econômico, simbólico e social.
Mas, embora essa formação técnica motivasse o ingresso na profissão docente,
prejudicava seu desempenho na promoção ao ensino superior, devido à valorização das
disciplinas de humanidades em detrimento da redução na carga horária das disciplinas
referentes às ciências exatas e biológicas. Para corrigir essas dificuldades, muitos
candidatos ao curso de Pedagogia matriculavam-se em pré-vestibulares ou disciplinas
isoladas das áreas de Matemática, Física, Biologia e Química156.
Eu lembro que, para fazer o vestibular para Pedagogia, eu fiz o curso
pré-vestibular GCM, preparatório para as disciplinas de Matemática,
Química, Física e Biologia. Além disso, eu participava de um grupo
de estudos com alguns colegas do próprio GCM e, nesse grupo, tinha
um rapaz chamado Bitani, que já era estudante de Medicina, e nos
dava aula de Biologia e Química. Então, ficávamos até tarde
estudando na casa da minha avó. O curso GCM era muito famoso e
um dos melhores do Estado; lá estudei com Almir Santana, Augusto
Bezerra, Travassos... (GRAÇA, 2015, s/p).
Vale ressaltar que as limitações no desempenho do vestibular pelos egressos do
curso Pedagógico eram notórias desde as primeiras seleções para o curso de Pedagogia
na UFS, agravando-se a partir de 1970 com a implantação do vestibular unificado, que
156 No vestibular de 1977 foram aplicadas as mesmas provas para os diversos cursos, diferenciando somente
os pesos delas. Nesse ano, as disciplinas abordadas na seleção foram: Comunicação e Expressão I
(Literatura Brasileira e Gramática); Comunicação e Expressão II (Línguas - Inglês ou Francês); Estudos
Sociais (História, Geografia e OSPB); Matemática e Física; Química e Biologia.
102
passou a explorar os conhecimentos básicos do nível médio157 aos diferentes cursos da
área de humanidades:
Eu terminei o curso Pedagógico em 1968, mas esse curso não dava
estrutura nenhuma para fazer o vestibular, pois até mesmo os
conteúdos de Português, Geografia e História abordavam somente o
básico que ensinávamos nas primeiras séries. Então passei o ano
seguinte estudando e fazendo o cursinho pré-vestibular de Hunaldo
Alencar para a seleção de Pedagogia. E aí, fiz no início de 1970 e
ingressei em março do mesmo ano. [...] Eu sabia que não tinha como
concorrer no ano em que concluí o Pedagógico, porque no vestibular
para Pedagogia entravam as disciplinas de Matemática e
Conhecimentos Gerais. Além disso, o que víamos das disciplinas de
Português, Geografia e História era algo muito superficial e básico
para o ensino das primeiras séries. (VIEIRA, 2015, s/p).
No vestibular de 1977 verificamos que, além das dificuldades com o conteúdo das
provas, os vestibulandos também precisavam lidar com o temor dos fiscais e o nervosismo
durante o processo seletivo. Nos jornais da época podemos observar essa dupla apreensão:
Faz exatamente uma hora que se iniciou a prova, até o momento
ninguém terminou, o silêncio é profundo, perturbado apenas pelos
passos dos fiscais, eles são em números de dois para cada sala. Vez
por outra um fiscal é solicitado para dar alguma explicação, muitos
fingem não ouvir os chamados. O ambiente é de tal nervosismo, que
uma garota, junto a porta, em menos de 15 minutos acendeu três
cigarros. Muitos fumam; um rapaz já desprovido de cigarros encontra
dificuldade em arranjar um, olha para os lados, nervoso, temendo os
fiscais. (JORNAL DA CIDADE, 12/01/77).
O assédio psicológico exercido por fiscais era bastante presente durante a
resolução das provas, e legitimado culturalmente por calouros, veteranos e professores.
No entanto, críticas também eram realizadas a esse modelo de acompanhamento e
fiscalização, como podemos visualizar nas representações visuais e verbais da charge a
seguir:
157 De acordo com a Lei nº. 5.540/68, as provas elaboradas para os concursos vestibulares deveriam
corresponder ao nível do ensino médio: “Art. 21. O concurso vestibular, referido na lêtra a do artigo 17,
abrangerá os conhecimentos comuns às diversas formas de educação do segundo grau sem ultrapassar êste
nível de complexidade para avaliar a formação recebida pelos candidatos e sua aptidão intelectual para
estudos superiores” (BRASIL, 1968a, s/n).
103
Figura 22 - O inimigo no Vestibular da UFS – o fiscal (1977)
Fonte: Jornal Diário de Sergipe, 12/01/1977. Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGS).
No ano seguinte, as limitações de muitos candidatos iniciaram-se ainda no
processo de inscrição, devido ao reajuste no valor das taxas da Universidade Federal de
Sergipe. Para os estudantes, essa iniciativa impossibilitava o acesso de muitos jovens à
UFS, já que, além da taxa de inscrição, os candidatos também precisavam adquirir um
guia de instruções para o processo seletivo, vendido pela própria Universidade.
Ao efetuar a inscrição no vestibular de 1978, o candidato deveria pagar uma taxa
de Cr$ 300,00 cruzeiros158, acrescidos de Cr$ 12,00 cruzeiros para a aquisição do caderno
de normas do processo seletivo. Caso fosse aprovado, teria um gasto de mais Cr$ 66,00
cruzeiros de matrícula por disciplina, totalizando um montante de Cr$ 396,00, já que estes
deveriam efetuar a matrícula em seis disciplinas. Dessa forma, no primeiro semestre o
aluno investia um total de Cr$ 708,00 cruzeiros159, além das demais despesas com o
material didático e o deslocamento.
De acordo com a figura a seguir, podemos visualizar o guia de instruções para o
vestibular da UFS, naquele ano:
158 No vestibular de 1977 o valor da inscrição era de C$ 150,00 cruzeiros. 159 O salário mínimo local desse período correspondia a R$ 750 cruzeiros. Já o salário mínimo nacional era
de Cr$ 1,560.00.
104
Figura 23 - Guia de instruções para o vestibular da UFS (1978)
Fonte: Guia de instruções para a inscrição no vestibular da UFS (1978).
Acervo: Arquivo Central da UFS.
Diante disso, os estudantes alegavam que estava ocorrendo um processo de
privatização da UFS, porém essa arrecadação era consequência do regime de fundação
adotado na Universidade Federal de Sergipe, o qual permitia gerar suas próprias fontes
de renda por meio da cobrança de taxas e mensalidades aos alunos. Esse contexto não
amedrontava somente os alunos, pois os professores também ficavam receosos perante
tal regime:
105
O novo sistema de pagamento das mensalidades da Universidade
Federal de Sergipe também não agrada aos professores que temem
passar os mesmos vexames que passam os mestres dos
estabelecimentos particulares, como dentre outros prejuízos, atrasos
nos vencimentos. [...] Os estudantes da UFS na sua maioria pobres,
cujos pais não ultrapassam em renda a três salários mínimos, não se
conformam em ter de pagar mensalidade a Universidade. (DIÁRIO
DE ARACAJU, 19 e 20/03/78)
Para justificar a cobrança, a comissão organizadora do vestibular alegava que
havia altas despesas com o pagamento das provas elaboradas pela Fundação Carlos
Chagas e com a organização do evento. Mesmo assim, os estudantes criticavam os altos
custos exigidos para ingressar e se manter na Universidade. Alegavam também que a
renda per capita do Estado não permitia o pagamento abusivo de tantas taxas e seus
constantes aumentos.
Apesar das justificativas apresentadas pelos membros da comissão, as críticas em
torno das taxas e aumentos abusivos da UFS já vinham sendo questionadas há alguns anos
por estudantes e professores.
As matrículas na UFS todo ano tem um aumento considerável; já que
sempre alcança a taxa de no mínimo 30%. Os alunos nada podem
fazer; e as reclamações de nada adiantam; pois a UFS se mantem
alheia aos problemas de cada um. Tirando-se a média por mês; fica
quase o preço de uma faculdade particular e; pelo menos nas taxas;
ela não tem nada de federal. (DIÁRIO DE ARACAJU, 12/02/76).
Nesse vestibular, além da preocupação com o reajuste de várias taxas para o
ingresso e permanência na Universidade Federal de Sergipe, os candidatos ao curso de
Pedagogia depararam-se com outra novidade: a inclusão da prova de Redação entre os
exames do vestibular.
Essa iniciativa buscava atender ao Decreto-Lei nº. 79.298/77, que estabelecia a
inclusão dessa prática nos programas de seleção de todos os vestibulares realizados no
país. Essa determinação encaminhada pelo Conselho Federal de Educação, visava
incentivar os estudantes a redigirem e empregarem corretamente a língua escrita.
Na Universidade Federal de Sergipe, a introdução da Redação proporcionou uma
experiência nova e temida pelos vestibulandos, pois, diante da subjetividade da correção
106
e o envolvimento pessoal do avaliador, questionavam a imparcialidade dos professores160
no momento da pontuação:
Parece que os jovens esquecem-se de tudo e no momento só pensam
no vestibular. O assunto dominante nas rodas de bate-papos não é
outro e hoje é o último dia para início das provas. A cidade quase que
inteira vive esta emoção, pois, a tensão e expectativa envolve não só
os candidatos como as pessoas mais próximas e também aqueles que
ainda farão o vestibular ou já o fizeram. [...] A redação como
experiência nova é temida pelos candidatos em todos os seus
aspectos, inclusive a correção. (GAZETA DE SERGIPE, 07/01/78, p.
1).
Deste modo, podemos verificar que a partir de 1968 tornaram-se mais evidentes
as orientações do Conselho Federal de Educação na definição e padronização dos
vestibulares realizados no país, especialmente com a publicação da Lei nº 5.540/68.
Dentre as medidas acatadas pelos membros da Comissão do Concurso na UFS, até o ano
de 1978 sobressaíram o vestibular unificado e classificatório, o pagamento de taxas, a
elaboração das provas proporcionais ao nível do ensino médio e a valorização da
expansão universitária.
Além da normatização do vestibular, o Conselho Federal de Educação e suas
diretrizes legais também ocasionaram mudanças na estrutura do curso de Pedagogia,
possibilitando ao seu egresso uma variedade de funções no campo da educação e
consequentemente um amplo mercado de trabalho.
No âmbito local, a nova estrutura baseada na formação do magistério e de
especialistas em educação estimulou a procura pelo curso. Outras razões também
motivaram essa preferência, a exemplo da noção de continuidade do ensino pedagógico,
a simpatia pelo magistério, a condição de ser uma profissão respeitada para mulheres, a
garantia de emprego durante a formação e o desejo de ascender socialmente e
economicamente na carreira docente.
De acordo com a ex-aluna, Tereza Cristina Cerqueira da Graça, a limitação da
UFS em oferecer alguns cursos de graduação, a exemplo, da Psicologia também
favoreceu a escolha pela área:
160 A correção das redações do vestibular de 1978 foi realizada pelos professores do Instituto de Letras da
UFS.
107
Eu fiz Pedagogia, não foi porque eu queria ser professora ou porque
eu gostava dessa área... Durante o curso da Escola Normal, eu gostava
muito de Psicologia e era metida a vidente e astróloga. Então, quando
comecei a ter aula de Psicologia me encantei e queria ser psicóloga.
[...] Então, eu escolhi Pedagogia porque eu queria fazer Psicologia, e
como esse curso só tinha na Bahia ou em Pernambuco e eu não tinha
condições financeiras de ir estudar lá, uma professora da Escola
Normal me orientou a fazer Pedagogia. (GRAÇA, 2015, s/p).
Nesse sentido, vale ressaltar que a escolha por esse curso nem sempre foi
intencional, pois alguns alunos optaram por esse campo devido à ausência de outras
graduações no Estado, a exemplo da Psicologia, e as limitações que o curso Pedagógico
do 2º grau conferia aos seus estudantes no ingresso em áreas mais conceituadas, como o
Direito, Engenharia Civil, Enfermagem, Economia e Medicina.
108
4 – O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DE ACADÊMICOS E LICENCIADOS DO
CURSO DE PEDAGOGIA (1968-1978)
4.1 - EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: A ATUAÇÃO DOS ALUNOS PARA ALÉM
DOS LIMITES CURRICULARES
Em meio às atividades curriculares obrigatórias desenvolvidas no decorrer do curso
de Pedagogia da Universidade Federal de Sergipe, outras práticas extracurriculares
também proporcionavam a aquisição de experiências aos estudantes do curso e
contribuições ao campo educacional. Essas práticas eram estimuladas pela política de
extensão acadêmica amparada pela Reforma Universitária, a partir do Decreto-Lei nº.
252/67, artigo 10161:
Art. 10. A Universidade, em sua missão educativa, deverá estender à
comunidade, sob a forma de cursos e serviços, as atividades de ensino
e pesquisa que lhe são inerentes.
Parágrafo único. Os cursos e serviços de extensão universitária
podem ter coordenação própria e devem ser desenvolvidos mediante
a plena utilização dos recursos materiais e humanos da Universidade,
na forma do que dispõe o art. 1º do Decreto-Lei número 53162, de 18
de novembro de 1966. (BRASIL, 1967, s/p).
No ano seguinte, essa orientação foi retomada de maneira mais abrangente pela
Comissão Mista de deputados e senadores, responsável pelo estudo e reformulação do
projeto163 que originou a Lei nº. 5.540/68164. Além de reforçar o comprometimento da
161 Vale ressaltar que as discussões e as reivindicação acerca da extensão universitária antecedem a década
de 1960. A primeira referência legal foi registrada no Estatuto das Universidades Brasileiras, a partir do
Decreto-Lei nº. 19.851/31 (em seus artigos nº. 34, 42, 109). Entretanto, esse projeto ganha projeção nacional
com a Reforma Universitária. 162 De acordo com o Decreto-Lei nº. 53/66, Art 1º: “As universidades federais organizar-se-ão com estrutura
e métodos de funcionamento que preservem a unidade das suas funções de ensino e pesquisa e assegurem
a plena utilização dos seus recursos materiais e humanos, vedada a duplicação de meios para fins idênticos
ou equivalentes” (BRASIL, 1966, s/p). 163 O anteprojeto de lei foi elaborado pelo Grupo de Trabalho da Reforma Universitária (GTRU), instituído
pelo Decreto-Lei n°. 62.937/68. De acordo como o art. 1º, esse grupo seria composto de 11 membros “[...]
designados pelo Presidente da República, para acelerar a reforma da Universidade brasileira, visando à sua
eficiência, modernização, flexibilidade administrativa e formação de recursos humanos de alto nível para
o desenvolvimento do País” (BRASIL, 1968, s/p). Nesse sentido, o Grupo foi formado pelos seguintes
membros: Ministro Tarso Dutra, da Educação e Cultura; Antônio Moreira Couceiro, Presidente do CNPq;
Pe. Fernando Bastos D´Avila, vice- reitor da PUC/RJ; João Lyra Filho, reitor da Universidade do Estado
da Guanabara; João Paulo dos Reis Velloso, representante do Planejamento; Fernando Riveiro do Val,
representante do ministro da Fazenda; Roque Spencer Maciel de Barros, professor da Universidade de São
Paulo, Newton Sucupira, membro do CFE; Valnir Chagas, membro do CFE, e Haroldo Leon Perez,
representante do Congresso Nacional (NICOLATO, 1986, p. 272 apud GURGEL, 1986). 164 A Lei nº. 5.540/68 foi elaborada de acordo com os Decretos-Leis nº. 53/66 e 252/67. Isso ocorreu porque
todos esses dispositivos seguiam o mesmo projeto educacional do Governo Federal, sendo intenção do
109
prestação de serviços pelas universidades, a comissão estendeu esse compromisso aos
demais estabelecimentos isolados de ensino superior, através do artigo 20: “As
universidades e os estabelecimentos isolados de ensino superior estenderão à
comunidade, sob forma de cursos e serviços especiais, as atividades de ensino e os
resultados da pesquisa que lhes são inerentes”. (BRASIL, 1968a, s/p.).
A intenção principal dessa política era integrar as universidades à sua comunidade e
estimular a participação dos estudantes e docentes no desenvolvimento do país, a partir
da implantação de projetos sociais e prestação de serviços, disponibilizando ao público
externo o conhecimento adquirido com o ensino e a pesquisa fomentada nas instituições
superiores165.
Apesar da legislação apresentar, de maneira mais enfática, a contribuição das
instituições superiores para a comunidade externa, também é importante verificar a
colaboração desse espaço externo na formação dos estudantes, pois a extensão
universitária permitia aplicar os conhecimentos adquiridos na universidade e explorar um
campo de atuação bastante coerente com o futuro exercício profissional dos
universitários.
A participação dos professores166 nessa iniciativa estimulava a análise e a reflexão
do corpo discente com relação a sua formação, à produção científica e à realidade do país.
Essa relação também instigava a produção do conhecimento e a busca de soluções para
problemas regionais e locais. Dessa forma, a extensão universitária proporcionava
contribuições recíprocas entre a universidade e a comunidade.
Contudo, méritos e críticas foram direcionados às atividades de extensão realizadas
durante o Governo Civil-Militar (1964-1985). De acordo com o estudo bibliográfico
realizado por Vieira (2014), a produção acadêmica elaborada até 1985 retrata um projeto
nacional pautado na responsabilidade social de alunos e professores com o
desenvolvimento da nação, qualificando como positiva e necessária tanto para a formação
do aluno quanto para o desenvolvimento do país. Mas, na produção pós 1985, percebe-se
Poder Executivo apenas a legitimação por parte do legislativo. Além disso, alguns membros responsáveis
pela construção do anteprojeto de Lei (a exemplo de Newton Sucupira e Valnir Chagas) também haviam
elaborado os decretos-leis mencionados. No entanto, vale lembrar que o resultado desses dispositivos não
se deu de maneira harmônica, pois os interesses prevalecentes são o resultado da luta entre os indivíduos
ou grupos que pretendem impor suas concepções e projetos. 165 De acordo com Gurgel (1986), a presença da Extensão Universitária na Lei 5.540/68 deve-se à influência
do movimento estudantil. 166 Na seção 4.3 será analisada a atuação dos docentes do curso de Pedagogia da UFS, nos cursos de
extensão desenvolvidos em parceria com a Secretaria Estadual de Educação e Cultura de Sergipe e
Ministério da Educação e Cultura.
110
a construção de uma representação em que predomina o caráter assistencialista167 e de
controle aos atos subversivos dos estudantes168:
Esses trabalhos que datam dos anos de 1980 formulam em suas
análises uma crítica, e constroem uma representação assistencialista
da Extensão como determinante em um dado momento histórico,
sendo demarcada neste período como uma prática negativa. Esta
versão pós-ditadura sobre a Extensão Universitária parece se revelar
como um estereótipo de que as práticas da Extensão Universitária no
período da ditadura eram puramente assistencialistas e negativas.
(VIEIRA, 2014, p. 29).
Em Sergipe169, alguns programas de extensão universitária oficiais e bastante
conhecidos durante as décadas de 1960 e 1970 foram implantados pelo Governo Federal,
a exemplo da Operação Mauá170 e da Operação Rondon171. Essa iniciativa oportunizou a
participação de alunos dos diferentes cursos da Universidade Federal de Sergipe, em
ambos os projetos172.
167 Para Vieira (2014, p. 32): “O uso do termo “assistencialista” remete a uma política de atendimento à
população que gera dependência e não emancipação dos sujeitos e que reitera a desigualdade e a tutela do
Estado, pois contribui na conformação social e na legitimação do sistema de poder vigente. Suas intenções
são pautadas pela ótica do favor e da benesse, transformando os usuários em "assistidos", "favorecidos", e
não em cidadãos de direito”. 168 Apesar da autora afirmar que os programas de extensão também eram utilizados com a intenção de
afastar os estudantes das atividades consideradas subversivas, ela ressalta em seu estudo as contribuições
das ações extensionistas para as comunidades assistidas e para a formação dos estudantes. 169 As primeiras manifestações de extensão universitária em Sergipe ocorreram na década de 1950, com a
criação da Juventude Universitária Católica (JUC). A partir da parceria entre universitários das faculdades
isoladas sergipanas e a Igreja Católica, esse projeto realizou a implantação do Movimento de Educação de
Base (MEB) e da assistência social nos hospitais e nos bairros de Aracaju (MORAIS, 2008). 170 Criada através do Decreto nº 64.918 de 1969, a Operação Mauá foi um programa governamental que se
iniciou com a proposta de integração dos estudantes à problemática dos transportes no país, ampliando-se
posteriormente essa integração às empresas e indústrias brasileiras. Seu objetivo era a formação técnica dos
estudantes das áreas de Engenharia, Química, Administração e Economia, para a atuação em
estabelecimentos empresariais e industriais. O nome dado a operação buscou homenagear Irineu
Evangelista de Souza, mais conhecido como Barão de Mauá, devido a sua atuação como empresário e
político de meados do século XIX. Nesse texto não iremos realizar um estudo aprofundado da Operação
Mauá devido à ausência de alunos de Pedagogia da UFS em tal projeto (LIMA, 2015). 171 O Projeto Rondon foi criado legalmente em 1968, por meio do Decreto nº 62.927, de 28 de junho de
1968, e estabeleceu um Grupo de Trabalho (GT) denominado de “Grupo de Trabalho Projeto Rondon”,
subordinado ao Ministério do Interior. No entanto, suas atividades iniciaram-se ainda em julho de 1967
quando um grupo de 30 estudantes coordenado por dois professores da Universidade do Estado da
Guanabara (UEG) viajaram para Rondônia com a finalidade de conhecer a realidade amazônica e trabalhar
em benefício das comunidades carentes daquela região. Posteriormente, em 1970, esse GT foi transformado
em Órgão Autônomo da Administração Direta pelo Decreto n° 67.505, e em 1975 foi instituída a Fundação
Projeto Rondon pela Lei n° 6.310. O nome de tal programa buscou homenagear Marechal Cândido Mariano
da Silva Rondon, bandeirante do século XX que fazia expedições pelo sertão do País, estendendo linhas
telegráficas (LIMA, 2015). 172 Em 1971, alunos de Química e Economia da UFS também participaram da Operação Mauá. A comissão
formada por 40 estudantes e 4 professores realizou sua prática no Estado de Minas Gerais (DIÁRIO DE
ARACAJU, 05/01/1971).
111
Enquanto o primeiro enfatizava a integração entre os universitários e as empresas
brasileiras, o segundo173 destacava a relação entre os estudantes e a comunidade, com o
objetivo de promover as práticas de interiorização e conduzir a juventude para participar
do processo de integração e desenvolvimento nacional. A diferença entre os dois projetos
foi apresentada por Portugal da seguinte maneira:
A Operação Mauá tinha como intuito mostrar para os estudantes as
grandes empresas em atuação no país, especialmente aquelas
empresas do governo ou subvencionadas por ele. Enquanto o Projeto
Rondon se voltava a prestar uma ajuda a um Brasil esquecido e
atrasado, a Operação Mauá mantinha seu foco no Brasil que dava
certo, que crescia economicamente, que era responsável por um
grande salto tecnológico no país. A Operação Mauá trabalhava com
o Brasil do futuro que os militares queriam construir ainda no
presente. (PORTUGAL, 2008, p. 70-71).
Apesar das particularidades, ambas as operações174 apresentavam interesses em
comum, dentre os quais, promover meios amistosos para atrair a simpatia dos jovens
estudantes e professores, pois o Governo precisava da adesão da “elite dirigente” no
processo de integração e desenvolvimento do país. Além disso, não desejava se restringir
apenas ao uso das práticas repressivas para afastar a subversão dos meios acadêmicos e
construir uma base de legitimação175 (LIMA, 2015).
Atendendo a essa nova política nacional de extensão, a primeira comissão de
rondonistas a atuar em Sergipe chegou a este Estado em janeiro de 1968 transportada por
avião especial da Força Aérea Brasileira (FAB)176. O grupo era constituído de sete
universitários oriundos da Guanabara177, os quais pertenciam a diferentes cursos, como
Engenharia, Geografia, Geologia e Química.
173 O Projeto Rondon tornou-se referência com relação às atividades extensionistas universitárias durante a
década de 1970. 174 A criação do Projeto Rondon e da Operação Mauá, respectivamente, pelo Ministério do Interior e
Ministério dos Transportes, gerou descontentamento entre os integrantes do Ministério da Educação e
Cultura, pois asseguravam que somente o MEC era responsável legalmente pela criação e manutenção dos
projetos de extensão desenvolvidos nas instituições acadêmicas. 175 De acordo com Lima (2015), a participação dos estudantes e professores nos programas de extensão
supria demandas variadas de estudantes com interesses muito heterogêneos, o que desmistifica a afirmação
de que se tornar um rondonista, por exemplo, implicava necessariamente a adesão ao regime ou aceitação
da tutela e da ideologia oficiais. Em seu estudo, o autor identificou a participação de alguns militantes dos
movimentos estudantis de esquerda, com o objetivo de infiltrar-se no interior do país para conscientizar o
“homem do campo” sobre a luta contra a ditadura. 176 A recepção ao grupo foi realizada com solenidade de confraternização promovida pelos universitários
sergipanos na Faculdade de Serviço Social. 177 A Guanabara foi um estado do Brasil de 1960 a 1975, que existiu no território do atual município do Rio
de Janeiro. Em 1974, após sancionada a Lei complementar nº 20, de 1º de julho de 1974, durante a
presidência do general Ernesto Geisel, decidiu-se realizar a fusão dos estados da Guanabara e do Rio de
Janeiro, a partir de 15 de março de 1975 (BRASIL, 1974).
112
As atividades desenvolvidas por eles visavam realizar o levantamento
socioeconômico do Estado, a integração universitária, o conhecimento “in loco” do
problema de integração nacional e a prática de campo. A comissão também pretendia
apresentar soluções para os possíveis problemas locais178, como mostra o jornal sergipano
Diário de Aracaju:
A comissão guanabariana, cognominada de Grupo Aracaju, tentará
durante a sua estada em nossa Capital, conhecer, estudar e apresentar
soluções possíveis para problemas que afligem a infraestrutura
sergipana, colocando-se por outro lado, à disposição de qualquer
órgão que necessite de cooperação dentro da especialidade do grupo.
(DIÁRIO DE ARACAJU, 18/01/1968).
A imprensa sergipana realizava uma campanha positiva acerca da Operação. Os
jornais que circulavam na época destacavam sua relevância na formação dos estudantes
que se tornariam a “elite” dirigente do país. Além disso, exaltavam a participação dos
universitários nesse projeto nacional e enfatizavam suas contribuições para o
desenvolvimento do Brasil. No entanto, quase nada foi encontrado com relação ao
resultado das ações para a população sergipana naquele ano:
O Projeto Rondon nº 1179 comprovou que a sociedade deste país deve
ter orgulho dos seus moços universitários, que na plena consciência
dos enormes e múltiplos problemas que retardam o desenvolvimento,
se juntaram em grupos para ir pesquisá-los “in loco”, trazendo
contribuições, algumas consideradas notáveis, no terreno do
saneamento. Mostraram como coragem e idealismo, que estão
prontos a aceitar o desafio do Brasil continental. Deixaram os padrões
de vida seguros, a que estão acostumados e penetraram por regiões
despreparadas e solitárias onde, nos grandes rios e belas matas se
escondem a traição da morte. Assim fizeram por amar o Brasil e aos
infelizes dizimados por moléstias, seus irmãos desprotegidos.
(DIÁRIO DE ARACAJU, 11/07/1968).
No ano seguinte, não foram localizados registros da presença de rondonistas em
Sergipe, porém foi realizada a primeira seleção destinada aos estudantes sergipanos
178 Em entrevista ao jornal Diário de Aracaju (18/01/1968), os rondonistas afirmaram que o Estado de
Sergipe possuía muitas riquezas inexploradas, mas não detalharam a natureza dessas riquezas (DIÁRIO DE
ARACAJU, 18/01/1968). 179 A vinda da comissão e as atividades realizadas no Estado de Sergipe em 1968 faziam parte de uma
operação nacional denominada de Projeto Rondon nº 1. As ações foram desenvolvidas por estudantes da
Guanabara, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo, nas cidades das regiões Norte e Nordeste do
país. A primeira atuação do Projeto Rondon no Brasil foi realizada em julho de 1967 e denominada de
“Operação Zero”. Durante essa ação, 30 jovens viajaram para a região Amazônica, onde participaram de
rituais cívicos e realizaram atividades de levantamento, pesquisa e assistência médica (LIMA, 2015).
113
interessados em integrar as comissões de universitários do Projeto Rondon nacional180. A
seleção181 foi iniciada no mês de outubro, com a solicitação de uma redação e a realização
de entrevistas. Durante esse processo, os candidatos também participaram de palestras e
encontros promovidos pela coordenação do Projeto Rondon estadual, com o objetivo de
divulgar tal programa, mostrar seu plano de ação, realizar o treinamento e atender aos
questionamentos dos estudantes.
Nessa seleção, apenas dois alunos182 do curso de Pedagogia efetuaram inscrições
para concorrer às 26 vagas disponíveis aos estudantes da Universidade Federal de
Sergipe. Para participar do programa era necessário ter vínculo estudantil com a UFS,
exercer a função de professor do ensino médio183 e estar cursando, no mínimo, o 2º ano
de qualquer graduação.
No entanto, denúncias de irregularidades foram apresentadas publicamente184 pelo
estudante do curso de Pedagogia, Manoel Messias Porto, durante o processo seletivo.
Além de ser aluno desse curso, o universitário também acumulava a função de presidente
do Diretório Acadêmico Dom Luciano Duarte185 e era candidato a uma vaga nessa
seleção.
Segundo ele, alguns candidatos selecionados nas primeiras etapas do concurso não
atendiam às exigências determinadas pelos organizadores, pois foram escolhidos sem ter
vínculo discente com a Universidade Federal de Sergipe. Provavelmente, Manoel Messias
Porto estivesse se referindo ao colega de profissão Manoel Messias Vasconcelos186, que
apesar de exercer a função de professor do ensino médio e ter feito a inscrição no processo
seletivo, não era aluno da UFS. Diante desse impasse, o candidato foi desclassificado.
Durante a seleção foram inscritos mais de 100 alunos das diferentes faculdades
integradas à Universidade Federal de Sergipe, mas somente 26 deles foram classificados
180 O Projeto Rondon tinha operações nacionais e estaduais. As operações nacionais eram realizadas durante
as férias de janeiro e fevereiro por meio do deslocamento de universitários de seus estados de origem para
outras regiões. Já as operações estaduais eram desenvolvidas no âmbito local, durante as férias de julho,
por estudantes da própria região. 181 A seleção foi realizada pela coordenação do Projeto Rondon estadual, a qual estava subordinada à
coordenação geral do programa. 182 Manoel Messias Porto e Maria Ivanda Bezerra Sant’anna, eram estudantes do 2º ano do curso de
Pedagogia. 183 Possivelmente, essa exigência estava direcionada apenas aos estudantes dos cursos de licenciatura. 184 As denúncias foram publicadas no Jornal Diário de Aracaju em 05/12/1969. 185 O Diretório Acadêmico Dom Luciano Duarte foi criado em 1968 pelos estudantes da primeira turma do
curso de Pedagogia da UFS. Essa entidade estudantil visava representar os estudantes do curso de
Pedagogia da FACED/UFS e seus interesses. 186 Manoel Messias Vasconcelos foi aprovado no vestibular para o curso de Pedagogia da UFS em 1970 e
formou-se em dezembro de 1973. No ano de 1971, foi selecionado para participar do Projeto Rondon.
114
para atuar nas regiões pobres da Amazônia, Pará, Alagoas, Pernambuco, Maranhão, Piauí,
Mato Grosso e Goiás.
A adesão dos estudantes ao Programa era estimulada pela imprensa sergipana e
nacional, através de uma campanha positiva referente à atuação universitária e divulgação
do Projeto187. Essa tendência também destacava a importância do programa na formação
dos acadêmicos e o comprometimento da futura elite dirigente no desenvolvimento do
país:
O projeto Rondon está proporcionando a juventude universitária, a
oportunidade para um contato com o Brasil, para um relacionamento
com os brasileiros, dando a futura elite dirigente, uma visão exata das
nossas potencialidades, e da real situação da grande massa que habita
o interior. O projeto, é também uma oportunidade para que as energias
e o idealismo dos jovens se manifestem em toda sua plenitude, na
ação de servir e ao mesmo tempo de contribuir direta e efetivamente
para um processo de transformação. (DIÁRIO DE ARACAJU,
29/11/69).
Do curso de Pedagogia, somente a aluna Maria Ivanda Bezerra Sant’Anna foi
selecionada para participar do programa, em 1970. Segundo ela, ao concluir o processo
seletivo, a coordenação nacional decidiu o seu local de atuação, o período de permanência
e a data de embarque:
Eu fui para Salgueiro no Estado de Pernambuco, passamos um mês
lá. Levamos alunos da área de Educação e das demais áreas... Então,
foram alunos de Geografia, Letras-Português, Serviço Social, Direito,
Medicina, Química. Os estudantes de Química inclusive trabalharam
com um projeto de tratamento de água. Tinha a área da saúde,
educação e tecnologia, que estava voltada para os alunos de Química
e Física. Também tinha uma assistente social. (SANT’ANNA, 2011,
s/p).
A estudante de Pedagogia foi escolhida para atuar na Operação Chapéu de Couro,
realizada na cidade de Salgueiro, em Pernambuco. Dentre os preparativos da viagem,
marcada para dia 09 de janeiro de 1970, estava a fase da imunização que compreendia a
vacinação antivaríolica, antitetânica, antitífica e contra febre amarela. Além disso, era
necessário apresentar exames que identificassem o grupo sanguíneo:
187 De acordo com a análise das obras de Lima (2015) e Portugal (2008), verificamos que a campanha
positiva da imprensa sergipana, acerca da Operação Rondon, seguia um movimento nacional. Para Lima
(2015), a presença do Projeto Rondon na imprensa nacional e internacional foi incentivada pelos
coordenadores do programa de extensão, que financiavam e premiavam jornalistas e universitários que
produziam reportagens “espontâneas” sobre o programa.
115
Eu lembro que a gente tomava vacina e eles exigiam tanta coisa,
inclusive exames. O estudante de Medicina Fernando Maynard foi
com a gente. Nessa equipe foram mais ou menos 12 pessoas. Lembro
que passamos carnaval lá. [...] Essa experiência foi ótima, um mês em
Salgueiro-Pernambuco. Visitamos a penitenciária, porque era uma
ação educativa, então fazíamos palestras para os presos com normas
de saúde e higiene. Lembro que elaborei o projeto. Íamos também
para a feira, vacináva-mos, fizemos um trabalho sobre verminoses e
fornecíamos remédios de verme. Agora, ficamos hospedados em um
daqueles espaços para capacitação de professores, centros de
treinamento. Almoçamos no hotel, tudo pago pelo Projeto Rondon.
(SANT’ANNA, 2015, s/p).
O Projeto Rondon garantia transporte, alojamento, alimentos, medicamentos,
segurança pessoal, infraestrutura para realizar as ações e médicos, em caso de
necessidade. Em contrapartida, a ex-aluna Maria Ivanda Bezerra Sant’anna participava,
especialmente, de atividades direcionadas à área da Educação, a exemplo de cursos e
palestras para professores que trabalhavam nas escolas isoladas da região e orientações à
comunidade sobre educação sanitária:
Eu fui dirigir a parte de Educação [...]. Então, lá eu ensinei as
professoras a fazer os fantoches e criar as peças teatrais, e aí doutor
Sóstenes188 deu a ideia de fazer uma peça com Pelé que estava no
auge, aí modelei Pelé. A peça foi doutor Sóstenes entrevistando
Pelé.... Foi muito bom. Eu fiz doutor Sóstenes vestido de branco,
porque ele era médico, e Pelé com roupa de futebol. Os bonecos
interagiam com a plateia, então os professores e os alunos que
assistiam à peça tiravam dúvidas com o médico e com Pelé sobre
diferentes assuntos. Lembro que deixamos todo o material da
marionete lá na escola, mas o boneco de Pelé dei a doutor Sóstenes.
(SANT’ANNA, 2015, s/p).
O planejamento das atividades foi elaborado antes da viagem, em parceria entre o
coordenador da comissão, professor Cleovansóstenes Pereira de Aguiar, e os demais
integrantes do grupo. Apesar de enfatizar as áreas da Educação e da Saúde, o roteiro
compreendia as diferentes formações acadêmicas dos estudantes para que todos tivessem
a oportunidade de colaborar e colocar em prática o conhecimento adquirido na
Universidade:
188 A ex-aluna Maria Ivanda Bezerra se refere ao professor Cleovansóstenes Pereira de Aguiar. Este era
professor do curso de Medicina da UFS, e foi coordenador da equipe do Projeto Rondon enviada para o
município de Salgueiro-Pernambuco, em 1970. No ano seguinte, foi eleito Prefeito de Aracaju (1971-1975).
116
Antes de viajar traçamos o plano de ação de cada dia, e quando
chegamos lá executamos essas atividades em conjunto. Havia dias
que íamos para as escolas isoladas, em outros íamos para feiras,
penitenciária, hospitais, mas não interferíamos em doentes,
trabalhávamos mais a parte da educação e orientação. Lembro que nas
escolas orientamos os professores com relação às noções de higiene,
de disciplina, psicologia infantil, como trabalhar com os alunos,
metodologias de ensino, como se propagavam as doenças e as
verminoses, e como isso era combatido, para que esses professores
disseminassem esse conhecimento aos alunos. Produzíamos cartazes
e transparências para ilustrar as doenças, suas causas e formas de
prevenção. Ao mesmo tempo realizávamos atendimento aos alunos,
com a realização de exames, vacinação, e fornecimento de remédios.
Na equipe havia dois estudantes de Medicina e uma de Serviço Social.
Mas, cada um tinha a sua atuação no projeto. (SANT’ANNA, 2015,
s/p).
Diante desse relato, podemos constatar a preocupação dos professores e
estudantes em solucionar problemas e promover mudanças mediante um trabalho
educativo. O objetivo era que o conhecimento abordado pela intervenção universitária
fosse propagado ao maior número de pessoas das comunidades assistidas, para o
fortalecimento da autonomia na solução dos problemas locais e do desenvolvimento
social.
Nesse processo, os rondonistas de Pedagogia desenvolviam, prioritariamente,
atividades no campo da Educação, sobressaindo-se cursos de capacitação docente. No
entanto, esses universitários também atuavam nos projetos multidisciplinares ou
auxiliavam nas atividades referentes às demais áreas de formação.
Ao retornarem a Aracaju, os rondonistas sergipanos foram recebidos com um
jantar oferecido pelo reitor da UFS, João Cardoso do Nascimento Júnior189. Na
oportunidade foram elogiados publicamente pelo coordenador estadual da Operação
Rondon, Antero Pales Carozo, e pelo coordenador da equipe, Cleovansóstenes Aguiar.
Em outra solenidade, realizada pelos oficias do Exército, os rondonistas sergipanos e
autoridades estaduais190 receberam medalhas e diplomas correspondentes aos serviços
prestados à comunidade. Na figura a seguir, é possível verificar o modelo da medalha
recebida pelas autoridades, no ano de 1970:
189 Manchete no jornal: “Reitoria deu jantar a estudantes” (DIÁRIO DE ARACAJU, 08 e 09/03/1970). 190 O Reitor da UFS, João Cardoso do Nascimento Júnior; Secretário Estadual de Saúde, Eduardo Vital;
Comandante do 28º BC, João Neiva Távora; coordenador estadual do Projeto Rondon, Antero Pales Carozo,
e o Comandante da Polícia Militar de Sergipe, Cel. Milton Santos (DIÁRIO DE ARACAJU, 07/05/1970).
117
Figura 24 - Medalha de participação no Projeto Rondon (Frente e verso) (1970)
Fonte: acervo disponível em https://www.antonioferreira.lel.br/peca.asp?ID=69561&ctd=4&tot=
A medalha trazia o símbolo do Projeto Rondon representado pelo mapa do Brasil
com setas em toda a sua extensão. As setas que saíam da zona central do país,
provavelmente da capital federal (Brasília), representavam a integração de todas as
regiões. Já o slogan “Integrar para não entregar” associava a importância da Extensão
Universitária na concretização do desenvolvimento e da segurança nacional.
Rondonistas de outros estados191 também atuaram em Sergipe durante, os meses
de janeiro e fevereiro de 1970. A comissão composta por 100 universitários desenvolveu
atividades nas áreas da Educação, Saúde, Arqueologia, Geologia e Agropecuária, em
municípios das regiões norte e sul do Estado192. Com essa atuação, o programa passou a
ganhar simpatia dos governos locais e da comunidade:
O Projeto Rondon está, na realidade funcionando como um
verdadeiro “campus avançado” da universidade brasileira. Em
diversas regiões do país, desde a Amazônia aos pampas, os
universitários tomam contato direto com a realidade nacional e ao
mesmo tempo desenvolvem uma ação positiva em benefício das
populações. Em Sergipe, além do trabalho de assistência através da
vacinação em massa, de orientação sanitária, tratamento médico, os
integrantes do Rondon, realizando pesquisas geológicas, conseguiram
localizar uma jazida de alumínio em Simão Dias. Naquele município,
também foram descobertas pelos estudantes, antiguíssimas inscrições
rupestres, em cavernas que pela primeira vez foram exploradas com
objetivos científicos. (DIÁRIO DE ARACAJU, 06/02/1970).
191 A comissão era composta por 100 universitários, oriundos dos estados de Pernambuco, Paraíba e Minas
Gerais. 192 No Norte, as cidades atendidas foram: Canindé do São Francisco, Propriá, Poço Redondo, Aquidabã,
Cedro de São João, Carira e Porto da Folha. Na região Sul, atuaram em: Itabaiana, Lagarto, Simão Dias,
Tobias Barreto, Itabaianinha e Estância.
118
A fim de aperfeiçoar a atuação do programa, a coordenação estadual promoveu um
simpósio para analisar as dificuldades que envolviam a Operação Rondon, buscar
alternativas para superá-las, discutir a integração local com a UFS e com o governo
estadual, e elaborar novos projetos relacionados às diferentes áreas, enfatizando o setor
da Educação. Nesse evento, realizado em maio de 1970, os organizadores também
decidiram realizar uma operação local com os universitários da UFS.
A imagem a seguir apresenta o certificado emitido pelos organizadores do simpósio
aos participantes do evento, naquele ano:
Figura 25 - Certificado do 1º Simpósio Estadual do Projeto Rondon/ Sergipe (1970)
Fonte: Certificado de participação no 1º Simpósio Estadual do Projeto Rondon/Sergipe (1970).
Acervo: particular de Zenilde Soares Pinto.
Na oportunidade, representantes do MEC, da Universidade Federal de Sergipe e da
Secretaria Estadual de Educação e Cultura apoiaram a iniciativa da operação local e
defenderam a integração das instituições na implantação de projetos na área da Educação.
A finalidade era promover a formação de professores leigos, estimular a ampliação do
sistema educacional e melhorar a qualidade de ensino dos diferentes níveis.
119
Dessa forma, o simpósio permitiu o planejamento de metas para as ações do Projeto
Rondon em Sergipe e estimulou a participação de estudantes nos programas que seriam
desenvolvidos em julho de 1970. Durante o evento também foi divulgada a seleção para
os universitários interessados em compor a comissão que atuaria nos municípios
sergipanos. A realização do simpósio despertou a simpatia dos universitários com relação
ao Projeto:
Maria Ivanda Bezerra Sant’Anna da Faculdade de Educação
considerou válida a experiência do estudante no simpósio do Projeto
Rondon, porque deu margem a que um grande número de
universitários conhecesse e participasse da problemática nacional,
estudada em relação ao Projeto Rondon. Para Silvana Maria de Melo
Souza, da Faculdade de Serviço Social, foi válido porque serviu de
meio de propagação do Rondon, para um número maior de estudantes
e também uma oportunidade de um estudo mais aprofundado do que
foi realizado e uma reflexão para a não repetição de erros passados,
em operações posteriores. (DIÁRIO DE ARACAJU, 02/06/1970).
Para integrar a comissão do Projeto Rondon estadual, foram selecionados cinco
estudantes do curso de Pedagogia da UFS193. Durante as ações, esse grupo ficou
responsável pelo levantamento do número de escolas194 e pela oferta de cursos para os
professores leigos da região. De acordo com o ex-rondonista de Pedagogia, Manoel
Messias Porto, o projeto também atendia aos interesses do governo local:
Lembro que participei do Projeto Rondon Estadual e alguns colegas
do curso também participaram comigo. Na época fomos atuar em
Japaratuba, e ficamos alojados numa escola de freiras por volta de 20
dias. Foi menos de um mês, no recesso de julho. Eu lembro que
andavam uns estrangeiros por lá, então, fomos verificar o que eles
estavam sondando. Depois descobrimos que eram missionários que
estavam analisando as terras daquele município. Mas, também fomos
ministrar cursos para professores leigos daquela região. (PORTO,
2016, s/p).
Na área da Educação, o programa estadual também era responsável pela formação
de clube de pais e mestres, organização de bibliotecas, produção de material pedagógico,
preparação de professores para concursos e cursos intensivos de diferentes disciplinas, a
exemplo de Português e Matemática. A operação era desenvolvida em parceria com o
Governo do Estado e as prefeituras dos municípios assistidos:
193 Foram selecionados para a operação local os estudantes: Ada Augusta Celestino Bezerra, Maria das
Graças Tavares Barreto, Evanda Maria dos Santos, Judite Oliveira Aragão e Manoel Messias Porto.
Entretanto, Ada Augusta Celestino Bezerra e Judite Oliveira Aragão não participaram do Projeto. 194 Essa informação havia sido solicitada pela Secretaria Estadual de Educação/Sergipe, com o intuito de
fundamentar algumas mudanças na rede de ensino.
120
Segundo revelou o coordenador [do Projeto Rondon] Estadual Drº.
Antero Carozo, em julho vindouro, estará mantendo contatos com
órgãos governamentais, no sentido de colocar mão de obra
universitária, altamente qualificada e motivada, para execução de
projetos específicos de desenvolvimento do Estado de Sergipe.
(DIÁRIO DE ARACAJU, 18/05/71).
Essa iniciativa oportunizou o primeiro contato de muitos professores do interior
sergipano com uma orientação pedagógica, a partir de cursos destinados ao
aperfeiçoamento didático e de conteúdo. Além disso, proporcionou assessoria técnica na
área da administração escolar e organização de bibliotecas.
As ações desenvolvidas pelos universitários de Pedagogia, com relação aos projetos
nacionais e estaduais, atendiam às determinações do Decreto-Lei nº. 67.505/70. Esse
dispositivo apresentava as finalidades do Projeto Rondon por meio de três campos de
ação: o Desenvolvimento e a Integração Nacional; atividades complementares de ensino,
em coordenação com o Ministério da Educação e Cultura; e capacitação para o mercado
de trabalho e mão de obra. De acordo com Gurgel:
Na medida em que o Projeto Rondon se institucionalizava, seus
componentes doutrinários eram afirmados: integração nacional,
serviço às comunidades e treinamento profissional. Foram
estabelecidos os seus princípios básicos: voluntariado,
aproveitamento do tempo livre do estudante (especialmente período
de férias), rejeição da política partidária, aprendizado indireto através
da prestação de serviços e conhecimento da realidade. (GURGEL,
1986, p. 118).
A partir de 1970, outras seleções foram realizadas anualmente pela coordenação
local, com a finalidade de recrutar estudantes para integrar as equipes da Operação
Rondon estadual e nacional195. Na oportunidade, alguns estudantes de Pedagogia foram
selecionados pelo programa para atuar no interior sergipano e em diferentes estados do
país.
Diante desse processo, a imprensa sergipana continuou publicando textos e notas
sobre a operação, com o objetivo de prestigiar a campanha e incentivar a participação
universitária:
195 De acordo com os depoimentos dos ex-rondonistas do curso de Pedagogia da UFS, vários motivos
conduziram os estudantes a participarem da Operação Rondon, durante a década de 1970. Dentre os
principais, estavam a curiosidade em conhecer o projeto, a chance de viajar de forma segura e gratuita e a
oportunidade de contribuir com os planos de ações.
121
Pois o Projeto Rondon sobretudo isso, uma oportunidade ímpar para
que se tenha uma visão melhor do Brasil, suas conquistas e
necessidades, suas belezas, o universo encantador de seus costumes
regionais, a fibra e a capacidade de resistência dos sertanejos, o
mundo de possibilidades que vão sendo gradualmente identificadas e
exploradas, com vistas à transformação das expectativas em
realidades concretas, refletidas na melhoria do padrão de vida dos
brasileiros. (DIÁRIO DE ARACAJU, 09/01/1971).
A preparação dos candidatos era feita mediante a presença em conferências e
palestras realizadas por professores da UFS, com temáticas relacionadas à atuação dos
estudantes na Operação. Além disso, era obrigatória a participação nas reuniões com os
coordenadores das equipes para a elaboração dos projetos que seriam desenvolvidos nas
comunidades.
Dentre os estudantes de Pedagogia selecionados para integrar tal programa, a ex-
aluna Zenilde Soares Pinto participou durante três anos consecutivos nos estados de
Minas Gerais (1971), Amazonas (1972) e Rio Grande do Sul (1973) 196.
Para ela, a intervenção mais marcante foi realizada no Estado do Amazonas,
região de fronteira entre o Brasil e a Colômbia. Além dela, outros três estudantes da
UFS197 foram alojados na colônia militar da cidade de Tabatinga, entre os meses de
janeiro e fevereiro de 1972. Essa equipe foi coordenada pelo professor do curso de
Medicina da UFS, José Augusto Bezerra. Na fotografia a seguir, foi registrado o momento
de embarque da equipe sergipana para a cidade de Tabatinga/Amazonas:
196 A primeira participação deu-se no ano de 1971, na cidade de Rubelita-Minas Gerais; a segunda foi em
1972, no município de Tabatinga-Amazonas; e por último, no ano de 1973, em Campo Novo-Rio Grande
do Sul. 197 Os três estudantes eram dos cursos de Medicina e Serviço Social.
122
Figura 26 - Embarque de estudantes da UFS para a cidade de Tabatinga/Amazonas
(1972)
Fonte: Fotografia dos estudantes da UFS/Projeto Rondon. Acervo: particular de Zenilde Soares Pinto
Nessa operação, a representante de Pedagogia, Zenilde Soares Pinto, desenvolveu
suas atividades exclusivamente nas escolas, mediante a promoção de cursos para
professores leigos da região. Em depoimento, a ex-rondonista relatou sua impressão sobre
a formação dos professores daquela localidade e as práticas adotadas por ela para
aprimorar o conhecimento desses docentes:
Os professores que trabalhavam nas escolas da região não tinham nem
o primário, na verdade eles não tinham era nada (risos). Mas era muito
boa a iniciativa.... No curso que ministrei passei uma semana
ensinando passo a passo como eles deveriam fazer para alfabetizar.
Na semana seguinte pedi que eles repetissem tudo que ensinei, para
ver se tinham aprendido. Era um trabalho muito intenso; passava o
dia todo nas escolas; a diretora e as professoras aproveitavam cada
segundo. Eu adorei. (PINTO, 2015, s/p).
A ênfase dos cursos ministrados concentrava-se nos métodos de alfabetização e
na confecção de material pedagógico para o aperfeiçoamento dessa técnica e a
propagação pelos professores do ensino primário. Essa iniciativa colaborava com a
123
campanha educacional do Exército Brasileiro no município de Tabatinga, como pode ser
observado neste folheto:
Figura 27 - Campanha do Exército Brasileiro em Tabatinga/AM (1972)
Fonte: Sentinelas da Amazônia. Acervo: particular de Zenilde Soares Pinto.
A ex-rondonista não soube informar se houve continuidade do projeto de formação
docente nos anos seguintes, mas enfatizou a importância de seu trabalho durante os 40
dias de permanência naquele local. Lembrou que foi retribuída pela sua dedicação e pelo
trabalho executado, mediante premiação do Exército Brasileiro e o conhecimento
adquirido sobre os aspectos culturais daquela região. Contudo, sua prática não foi
marcada apenas por alegrias:
Você acredita que na véspera de vir embora deu uma chuva tão braba
que molhou todo o material que a gente tinha confeccionado. Eu
chorei tanto, fiquei tão triste, você imagina! Aí o comandante do
Exército na despedida chegou e disse que ali era um simples papel, se
eles aprenderam de verdade, iriam reproduzir tudo novamente.
(PINTO, 2015, s/p).
124
A última participação no Projeto Rondon foi realizada no Rio Grande do Sul, no
ano de 1973. Essa experiência estimulou a estudante a realizar o curso de Mestrado no
município gaúcho de Santa Maria, no ano seguinte, como relatou em depoimento:
A primeira viagem foi para o município de Rubelita, em Minas
Gerais. Eram dois dias de jipe para chegar a cidade, um balança mais
não cai (risos). Aí, ministrei aulas, para as professoras da região. Aqui
quem ajudou na hospedagem, alimentação e transporte foi a
Prefeitura. No ano seguinte (1972) fui para Tabatinga, no Amazonas.
[...] A terceira e última participação foi em Campo Novo, no Rio
Grande do Sul, no ano de 1973. Lá também fui dar aula para
professores, para ensinar a alfabetizar, ensinar novos métodos
pedagógicos e elaborar material didático. Essa terceira viagem
estimulou a minha ida para Santa Maria no ano seguinte, fazer o curso
de Mestrado. (PINTO, 2015, s/p).
Segundo os ex-rondonistas do curso de Pedagogia da UFS, os trabalhos voltados
à área da Educação deixaram marcas significativas nas comunidades assistidas,
especialmente por estarem direcionadas ao corpo docente. Para eles, apesar dos projetos
serem realizados entre 20 e 40 dias, isso não impedia a produção e circulação do
conhecimento, pois eram práticas intensas e planejadas para capacitar os profissionais
que já atuavam nas escolas.
Dessa forma, foi possível compreender que as práticas desenvolvidas pela
Operação Rondon não se restringiam somente ao assistencialismo e ao afastamento da
subversão, pois foi através dessa iniciativa que muitos professores tiveram a primeira
oportunidade de questionar e conhecer novos modelos pedagógicos, noções de psicologia
e desenvolvimento infantil, metodologias de ensino, materiais didáticos e técnicas de
alfabetização.
Diante desse trabalho, muitos ex-estudantes da UFS foram prestigiados pelos
coordenadores do Projeto Rondon, oficiais do Exército Brasileiro, gestores da
Universidade Federal de Sergipe, além das autoridades políticas dos municípios
assessorados:
125
Figura 28 - Portaria de louvor a integrante do Projeto Rondon (1973)
Fonte: Portaria nº. 09 de 17/02/1973. Acervo: particular de Zenilde Soares Pinto.
Além dessas iniciativas de âmbito nacional, outras oportunidades de pesquisa e
extensão acadêmicas foram criadas e mantidas pela Universidade Federal de Sergipe, em
parceria com órgãos dos setores público e privado. Esses projetos buscavam a integração
entre a UFS e a comunidade, através do treinamento universitário e da prestação de
serviços.
126
No rol dessas iniciativas foi criado o Centro de Extensão Cultural e Atuação
Comunitária (CECAC) 198 da Universidade Federal de Sergipe. Instalado em 1971199,
como órgão suplementar200 da UFS, passou a ser responsável por atividades de extensão
direcionadas às necessidades da capital, Aracaju, e dos demais municípios sergipanos:
Artigo 1º - O CECAC – Centro de Extensão Cultural e Atuação
Comunitária, órgão suplementar, essencialmente de extensão do
ensino, da pesquisa e da cultura, ligado diretamente à Reitoria, sob a
coordenação e supervisão do Vice-Reitor, tem por finalidade a
difusão dos conhecimentos técnicos e científicos na comunidade, pela
prestação de serviços especiais, através do treinamento do pessoal
discente, apoiando-se basicamente na ação comunitária.
Parágrafo único: visando a integração da Universidade na
comunidade, o CECAC dará execução a convênios celebrados pela
UFS com entidades locais, regionais, nacionais e estrangeiras, que
tenham relações com seus objetivos. (UNIVERSIDADE FEDERAL
DE SERGIPE, 1971b, s/p).
De acordo com seu regimento201, o CECAC/UFS era constituído de outros dois
órgãos: Coordenação Rural Universitária de Treinamento e Ação Comunitária
(CRUTAC)202 e Coordenação Urbana de Treinamento e Ação Comunitária
(CURBITAC). Enquanto a missão do primeiro era concentrar suas atividades na região
rural, com o intuito de promover a prestação de serviços, a formação dos estudantes e a
interiorização da Universidade; a incumbência do segundo era desenvolver ações na área
urbana.
Mas na prática as atividades do programa eram concentradas, especialmente, no
CRUTAC. Talvez essa centralização fosse ocasionada pelo número restrito de
198 O Centro de Extensão Cultural e Atuação Comunitária (CECAC) foi criado pelo Conselho Universitário
da Universidade Federal de Sergipe, em 1971, para atender as diretrizes (Lei nº 5.540/68, o Decreto nº.
916/69 e o Estatuto da UFS), que deliberavam sobre a necessidade dos projetos de extensão nas
universidades, e justificar o repasse de verbas do Ministério da Educação e Cultura para as atividades de
extensão. Diante desse contexto, o CECAC/UFS surgiu com a intenção de promover a formação
profissional dos universitários e estimular a integração entre a UFS e a comunidade, a partir da prestação
de serviços. 199 Apesar de ter sido instalado em 1971, os planos de ações só passaram a ser executados a partir de 1972. 200 De acordo com o Estatuto da UFS, art. 22: “o órgão suplementar é aquele que se destina a exercer
atividades de natureza técnica, cultural, recreativa e de assistência ao estudante” (Estatuto da UFS, 1968). 201 O regimento do CECAC/UFS foi aprovado mediante a Resolução nº. 14/71 do CONSU/UFS. Essa
mesma Resolução determinou a instalação do órgão. 202 O CRUTAC foi criado em 1965 pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) com apoio
da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE). O objetivo de tal programa era
proporcionar a atuação dos estudantes universitários nas comunidades rurais, para o treinamento e a
participação na solução de problemas locais. O projeto ganhou projeção nacional com a criação da
Comissão Incentivadora dos Centros Rurais Universitários de Treinamento e Ação Comunitária
(CINCRUTAC), pelo Decreto-Lei nº 916, de 7 de outubro de 1969. Esse órgão, em parceria com o MEC,
proporcionava incentivo, apoio financeiro, condições materiais e assessoramento técnico aos CRUTACs
(BRASIL, 1969, s/p).
127
professores e técnicos integrados ao CECAC, pois, ao ser criado, absorveu servidores de
outros setores da UFS com acúmulo de funções e adicional de horas extras. Além disso,
o CRUTAC recebia maiores investimentos financeiros do MEC e do CINCRUTAC203.
Essa dinâmica de investimentos ao CRUTAC/UFS era uma estratégia do MEC
para garantir prestígio no campo acadêmico, pois queria assumir sua posição legal e
legítima perante os programas de extensão promovidos pelos estudantes e professores
universitários. Além disso, visava concorrer com a atuação do Projeto Rondon, órgão
criado e mantido pelo Ministério do Interior (MINTER):
[...] Anos depois, o Ministério da Educação começou a apoiar o
Crutac, oferecendo verbas para que fossem implantadas iniciativas
semelhantes em outros estados nordestinos. Alguns funcionários do
MEC desenvolveram antipatia pelo Projeto Rondon, preferindo pelo
modelo do Crutac, que era gerido pelas universidades, enquanto o
Rondon estava sob controle dos militares. Os funcionários do MEC
achavam que esses programas deveriam ser conduzidos pelas próprias
instituições sediadas nas regiões “atrasadas”, não deveriam funcionar
como pacotes vindos do Sul e do Sudeste. (MOTTA, 2014, p. 89).
Bourdieu (2004) buscou compreender o campo acadêmico a partir das relações
sociais entre seus agentes. Para ele, esse espaço possui uma dinâmica singular, marcada
pelas relações de força, interesses, divergências, crises, rupturas e estratégias. É um lugar
de constantes disputas, em que se encontram e se confrontam interesses políticos,
acadêmicos e econômicos.
Na Universidade Federal de Sergipe, o CECAC oferecia serviços à comunidade e
treinamento profissional aos estudantes através dos estágios supervisionados. De acordo
com o organograma a seguir, podemos verificar a composição do órgão e a distribuição
dos setores subordinados:
203 Diante disso, foram encontrados vários relatórios do CRUTAC/UFS relacionados ao planejamento e às
atividades desenvolvidas pelo órgão. Com esses relatórios, foi possível identificar investimentos
financeiros do MEC, SUDENE, CINCRUTAC, FUNRURAL, MOBRAL, SUCAM e de órgãos dos
governos estadual e municipais.
128
Figura 29 - Organograma do CECAC/UFS (1976)
Fonte: Plano de trabalho do CECAC/UFS para o ano de 1976. Acervo: Arquivo Central da UFS.
O Centro de Extensão da UFS desenvolvia atividades em diversas áreas
profissionais, como: Saúde, Educação, Administração, Cultura, Economia,
Associativismo e Direito204; além disso, atuava nos centros urbano e rural do Estado
sergipano205. Para tanto, esse programa contou com a participação de professores e alunos
da UFS que se deslocavam para municípios do interior e bairros carentes da capital, com
o objetivo de estudar e colaborar com o enfrentamento aos diferentes problemas das
comunidades locais.
Segundo depoimentos da ex-aluna de Pedagogia e ex-integrante do CECAC/UFS,
Tereza Cristina Cerqueira da Graça, dentre as ações do projeto estava o envio de
estudantes de diferentes licenciaturas, denominados pelo programa de “estagiários”, para
a promoção de cursos voltados ao aperfeiçoamento e à formação pedagógica de
professores no interior sergipano:
204 Para desenvolver os projetos, eram selecionados estudantes dos seguintes cursos: Medicina,
Odontologia, Direito, Serviço Social, Pedagogia, História, Geografia, Letras, Educação Física, Matemática,
Química, Biologia, Administração, Engenharia Química e Economia. 205 O CECAC/UFS desenvolveu atividades nas cidades de Japaratuba, Boquim, Pirambu, Lagarto (Povoado
Colônia Treze) e Aracaju (Bairro América).
129
No final da década de 1970 apareceram os estágios do CECAC. A
gente se inscrevia num setor da Reitoria. Eles nos mandavam para o
interior para ministrar aulas, e colocavam uma Kombi à disposição da
gente. Eram estudantes de várias áreas, tinha de Matemática, História,
Geografia... Professores de várias áreas, né! (GRAÇA, 2015, sp).
Além de cursos direcionados ao aperfeiçoamento da atividade docente, os
estudantes de Pedagogia da UFS206 atuavam no CECAC desenvolvendo outros serviços
na área da Educação, a exemplo da orientação educacional com pais e alunos, supervisão
escolar, alfabetização de jovens e adultos, cursos para a administração escolar, educação
sanitária e regência de classe207:
Foi evidenciada através de contatos e coletas de dados uma grande
necessidade por parte das instituições que atuam na zona urbana e
sobretudo na zona rural de: Assistência técnica ligada à educação,
escolarização a nível de 1º grau, alfabetização, reciclagem de
professores, etc. Desta maneira, o aproveitamento de estagiários dos
cursos de Pedagogia e Licenciatura são de relevante importância não
só na qualificação do futuro profissional como também no processo
de sua formação, levando-lhes o conhecimento de sua realidade
estadual e municipal. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE,
1976b, p. 4).
No entanto, a aderência de professores e alunos do curso de Pedagogia aos projetos
de extensão do CECAC/UFS não ocorreu de forma espontânea, devido ao reduzido
número de professores da Faculdade de Educação e a proibição no aproveitamento
curricular:
O professor Ovídio explicou para os professores a insistência que o
MEC vem tendo no cumprimento dos programas de Extensão e que o
DAU208 só libera verbas com um plano a ser executado. Por isso,
pediu subsídio aos presentes, comentando que o CECAC não pode
continuar inventando programas, embora válidos para a comunidade,
mas pobres pedagogicamente. A seu ver o problema é definir o plano
a ser executado. A área em que a Faculdade pode agir é na regência
de classe. A professora Lígia disse que a Faculdade de Educação tem
até vontade, mas os seus professores têm acúmulo de tarefas, sempre,
apesar dos contratos de 40 horas. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE
SERGIPE, 1969-76, p. 97).
206 O professor do curso de Pedagogia da UFS, Ovídio Valois Correia, atuou como diretor do CECAC
durante a gestão de 1975-1979. A primeira gestão (1971-1975) foi realizada pela professora do curso de
Serviço Social, Albertina Brasil Santos. Vale ressaltar que o diretor do CECAC era escolhido e nomeado
pelo Reitor da UFS para exercer um mandato de quatro anos. 207 Nas demais áreas, o CECAC desenvolveu projetos associados à orientação econômica e administrativa,
orientação jurídica, promoção de festivais culturais, criação de associações e sindicatos, orientação aos
dirigentes, saúde bucal, tratamento odontológico, exames biomédicos, assistência médica, educação
comunitária, práticas esportivas e palestras para prevenções de doenças. 208 Departamento de Assuntos Universitários do MEC.
130
O deslocamento para o interior do Estado também representava um dos motivos da
resistência a adesão dos professores e estudantes de Pedagogia ao programa, pois
alegavam a excessiva disponibilidade de tempo que era necessário para a viagem:
A professora Ligia aludiu ter sido uma experiência cujo desempenho
por parte do aluno foi bom, mas ao mesmo tempo aludiu aos
problemas sobre o número de aulas ao ser observadas e o número
exigido para o acompanhamento do aluno. Fez ver ainda o tempo que
o próprio professor e aluno se dedica para ir até o local do estágio
quase sempre supera o número de horas. Doze horas por mês.
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, 1969-76, p. 28).
Outra justificativa para a rejeição aos projetos de extensão do CECAC estava
relacionada à falta da exigência curricular. Por não servir como créditos cursados, muitos
alunos e professores do curso se negavam a participar do programa, optando pelas práticas
de ensino, as quais representavam as disciplinas obrigatórias no currículo do curso. Além
disso, muitos estudantes já atuavam como professores de escolas das redes pública e
particular:
A professora Lígia continuando também falou sobre a dificuldade de
deslocamento do professor para o interior, pois no caso deixaria sua
cátedra para atuar juntamente com os interioranos. A professora
Maria Auxiliadora levou em consideração que o estágio da FACED é
curricular, e o do CECAC é de extensão. (UNIVERSIDADE
FEDERAL DE SERGIPE, 1969-76, p. 78).
Contudo, a divulgação do projeto e a solicitação de colaboração aos professores e
alunos do curso de Pedagogia eram frequentes entre os anos de 1972 a 1978. Várias
reuniões eram realizadas na FACED com o intuito de estimular a participação do corpo
docente e discente da Faculdade nos planos de atividades do CECAC/UFS:
O prof. Ovídio agradeceu a oportunidade que lhe foi dada para falar
da programação do CECAC. Disse que o MEC através do DAU
procurou dar neste ano maior ênfase à extensão, em virtude de
constatação de que a Universidade Brasileira fez grande progresso na
área do ensino, mas que na área da extensão havia muito a fazer.
Explicou ainda que foi verificado que a extensão não atingiu ainda os
departamentos das unidades e como medida retificadora não mais
haverá verbas específicas para o pessoal da extensão, devendo estes
fazerem parte dos Departamentos. Comentou que a partir do próximo
ano, se não houver uma programação dos Departamentos, o CECAC
não terá razão de existir; sabe que a nossa Universidade, como outras
maiores ou menores, não está montada para tal e que este se tornou
um problema geral, de cúpula e de base. (UNIVERSIDADE
FEDERAL DE SERGIPE, 1969-78, p. 42).
131
Diante da dificuldade em recrutar professores e alunos de Pedagogia, a partir de
1976, os estágios realizados no CECAC/UFS passaram a ser aceitos pela Faculdade de
Educação como créditos cursados no campo das práticas de ensino. Isso estimulou a
participação dos professores e estudantes no referido projeto de extensão, como pode ser
verificado na figura que segue:
Figura 30 - Resumo de atividades dos estágios do CECAC/UFS (1976)
Fonte: Relatório do CECAC/UFS de 1976. Acervo: Arquivo Central da UFS.
Para participar do programa era necessário estar cursando os quatro últimos
semestres do ciclo profissional, ter disponibilidade de horário e participar de um
treinamento prévio promovido pelos supervisores e gestores do CECAC/UFS. A adesão
ao projeto trazia benefícios aos egressos dos diferentes cursos, pois conquistavam o
reconhecimento da comunidade, experiência profissional, remuneração e eram disputados
para ocupar cargos em instituições públicas e privadas do Estado. Ao término dos
trabalhos, os estagiários recebiam um certificado emitido pelo CECAC/UFS para
comprovar a participação deles em tal programa:
132
Figura 31 - Certificado de docência no curso promovido pelo CECAC/UFS (1972)
Fonte: Certificado de atuação no curso promovido pelo CECAC/UFS, realizado em Lagarto/Sergipe.
Acervo: particular de Zenilde Soares Pinto.
Nas ações direcionadas ao CRUTAC209, os estagiários de Pedagogia precisavam
se deslocar aos sábados ou durante a semana no turno da noite, para o interior do Estado,
a fim de promover cursos de formação pedagógica para professores. Depoimentos
retratam como esse deslocamento210 era realizado e as primeiras experiências como
docente do curso Pedagógico:
A gente pegava a Kombi lá na própria Faculdade, onde hoje é o
IPES211. Aí, pegava lá e, de lá, íamos direto para Boquim. Então,
chegávamos lá 7 e pouca da noite, dávamos aula e saíamos de lá 15
para às 11 da noite, chegávamos em casa quase 1 da manhã. A aula
era à noite, como já era por disciplina, fui dar aula no curso
pedagógico [...]. Então, lembro que dei aula de Metodologia do
209 Os planos de ação eram elaborados de forma coletiva, a partir de simpósios. Essa iniciativa permitia a
participação de professores, estudantes, dirigentes do CECAC/UFS, técnicos da SUDENE, MOBRAL,
FUNRURAL e dirigentes do Governo do Estado e das prefeituras assistidas, na construção das linhas de
ações do programa e na posição dos diferentes cursos nas tarefas a serem desenvolvidas na comunidade. 210 O deslocamento dos professores e estagiários para o interior sergipano era realizado através de transporte
disponibilizado pelo CECAC/UFS. 211 A ex-aluna do curso de Pedagogia, Tereza Cristina Cerqueira da Graça, referia-se ao prédio da Faculdade
Católica de Filosofia, e posteriormente Faculdade da Educação, localizado na rua de Campos, Bairro São
José.
133
Ensino, Didática, Estrutura e Funcionamento do Ensino e História da
Educação. Foi aí que comecei a me encantar pela História da
Educação. (GRAÇA, 2015, s/p).
Muitos estagiários partiam logo após o término das aulas do curso, que ocorriam
no turno da tarde. Na figura a seguir podemos observar a presença dos estudantes que
integravam a comissão de estagiários do CECAC, no ano de 1976, aguardando o
momento da viagem para o município de Boquim:
Figura 32 - Estagiários do curso de Pedagogia/UFS na equipe do CECAC (1976)
Fonte: Fotografias do CECAC/UFS. Acervo: Arquivo Central da UFS.
Os estagiários de Pedagogia que realizavam suas atividades nos finais de semana,
atuavam no sábado, no período da manhã. Essa iniciativa visava impedir privações dos
estudantes às aulas do curso e às práticas de ensino curriculares realizadas durante a
semana no turno vespertino.
Assim, o CECAC representava a UFS atuando no seu próprio Estado, com o
objetivo de promover a integração, o treinamento discente, formação de mão de obra e a
prestação de serviços. Além disso, era também uma forma de aparelhar a Universidade
134
para identificar os problemas regionais e pensar soluções, conforme indicava o processo
de modernização do ensino superior.
Na imagem a seguir, podemos visualizar o emblema do CECAC, na década de 1970,
representado pelo brasão da UFS, centralizado no interior do mapa de Sergipe:
Figura 33 - Símbolo do CECAC/UFS
Fonte: Relatório do CECAC/UFS, 1973. Acervo: Arquivo Central da UFS.
Para os estagiários de Pedagogia, além de promover uma formação prática, esse
programa proporcionava uma experiência profissional realista, permitindo uma reflexão
sobre as dificuldades que envolviam sua área de atuação e as possíveis soluções enquanto
135
estudante. Esse caráter funcional também era difundido entre as comunidades assistidas
para que pudessem participar ativamente do seu próprio desenvolvimento.
A presente programação objetiva tornar cada estudante um
profissional capaz de intervir na realidade sergipana com um mínimo
de eficiência e enfatiza a intervenção técnica em dois aspectos
fundamentais: a) em relação ao estudante, no sentido de adequar seus
conhecimentos teóricos à realidade prática; b) em relação à
comunidade, no sentido de educá-la para que possa participar do seu
desenvolvimento. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE,
1974, s/p).
Assim, durante a década de 1970, vários projetos de extensão foram
desenvolvidos na capital e no interior sergipano, a partir de cursos promovidos para a
formação de mão de obra, assistência pedagógica, qualificação docente, orientação
sanitária e alfabetização de jovens e adultos. Nesse processo, professores e estudantes de
Pedagogia contribuíram com o estudo, elaboração dos planos de ação e realização das
práticas. Ao mesmo tempo foram beneficiados com o conhecimento e a experiência
adquirida em tal programa:
Aqui na capital, o CECAC já tem pronta a programação de atividades
no bairro América, que tem dois objetivos gerais: propiciar condições
para participação da população na solução de seus problemas e
favorecer o entrosamento de todas as entidades que atuam ou possam
atuar na área, objetivando a economia de recursos humanos e
financeiros, evitando o paralelismo de ação e assegurando a
integração de programas em nível local. (DIÁRIO DE ARACAJU,
13/01/73).
Diante dessas iniciativas, é possível entender que no âmbito local as atividades de
extensão desenvolvidas pelos estudantes de Pedagogia da UFS no Projeto Rondon e
CECAC/UFS não estavam associadas unicamente ao assistencialismo ou controle
estudantil, pois a essência do projeto era promover mudanças locais e preparar a
comunidade para o seu desenvolvimento. Em Sergipe, tais programas destacaram-se pelo
estímulo à integração entre a UFS e a comunidade, pelo fomento à interdisciplinaridade
entre as diferentes áreas acadêmicas e pela aproximação dos universitários com seu
campo de atuação, a realidade social e os problemas a serem enfrentados.
Essa disposição também oportunizou o primeiro contato de muitos professores do
interior com uma formação pedagógica, qualificando-os para a sua permanência na
profissão, e assessorou as secretarias de Educação com informações a respeito da logística
das escolas para as modificações na organização do ensino.
136
Nesse processo, os estudantes de Pedagogia que aderiram a esse movimento foram
beneficiados com a formação acadêmica e profissional. Em contrapartida esses
acadêmicos contribuíram com o desenvolvimento dos programas, através da participação
em planos de ação que promoviam levantamentos do número de escolas, cursos de
formação para professores, cursos de alfabetização e organização de bibliotecas. Além
disso, atuaram na identificação dos problemas da comunidade, apresentaram soluções, e
proporcionaram à população o acesso ao conhecimento e serviços necessário para a
melhoria das condições de vida e seu desenvolvimento.
4.2 – A PRESENÇA DE ACADÊMICOS E LICENCIADOS EM PEDAGOGIA NA
IMPLANTAÇÃO DE PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
A ênfase destinada à alfabetização e a formação de mão de obra qualificada para
atender ao projeto modernizador e desenvolvimentista do Regime Civil Militar (1964-
1985), possibilitou uma série de iniciativas direcionadas a expansão escolar, formação
docente, implantação de programas educacionais e a melhoria da qualidade do ensino no
decorrer das décadas de 60 e 70 do século XX.
Em discurso proferido na Universidade do Ceará em 1964, o Presidente Castelo
Branco (1964-67), revelou o seu desconforto com o índice de analfabetismo do país e
anunciou medidas para garantir oportunidades educacionais em todos os níveis de
ensino212:
Nenhum problema mais grave do que o deste ensino, pois o Brasil
não pode continuar a apresentar-se entre as nações com mais de trinta
milhões de analfabetos. Relegar ao analfabetismo metade das novas
gerações equivale a perdermos metade de precioso elemento com que
poderemos contar para o progresso econômico, cultural e social.
Governos anteriores já assumiram compromissos internacionais no
sentido de proporcionar escolas a toda nossa população em idade
escolar. Agora vamos criar condições para que tal objetivo seja
alcançado. É o que prometemos hoje solenemente perante a Nação,
que não suporta ser enganada na observância dos direitos mais
sagrados do povo. (CASTELO BRANCO, 1964, p. 189-194).
212 Assim, foram cada vez mais frequentes as críticas direcionadas ao analfabetismo no Brasil. Em 11 de
novembro de 1966, ao lançar o Dia Nacional da Alfabetização, o ministro Raimundo Moniz de Aragão
proferiu discurso, em que ressaltava a “[...] grave, vexatório e doloroso problema do analfabetismo, [...]
mancha vergonhosa a desfigurar as faces da sociedade brasileira que se apresenta, no conceito dos povos,
como constituída em grande parte, por cidadãos incultos e ignorantes" (OLIVEIRA, 1989, p. 88).
137
Em Sergipe, o índice de analfabetismo durante a década de 60 do século XX,
atingia mais de 50% da população. Além disso, o Estado apresentava déficit no número
de técnicos e profissionais habilitados para atuar em diferentes áreas, a exemplo da Saúde,
Educação, Saneamento, Administração, Engenharia e na exploração de minérios:
Sergipe vive sob o peso de todos os percalços que oprimem no
subdesenvolvimento o Nordeste brasileiro. O índice de analfabetismo
ultrapassa 50% da nossa população. Faltam-nos médicos, professores,
técnicos. Entretanto, nos últimos cinco anos um verdadeiro sopro de
esperança sacode nosso pequenino Estado. (A CRUZADA,
04/02/1967).
As escolas públicas não conseguiam suprir a demanda de crianças e jovens em
idade escolar213, também apresentavam limitações de recursos materiais, estrutura física
para o aparelhamento pedagógico e de investimentos financeiros para a manutenção de
um corpo docente bem remunerado e preparado legalmente para atuar nos diferentes
níveis de ensino, como retrata a imprensa sergipana, através do jornal Diário de Aracaju
(1967):
Realmente, os estudantes não se sentem motivados materialmente, em
Sergipe, para escolherem a carreira do magistério, quando analisa a
situação econômica de nosso professor. Todos sabemos que o
magistério é, antes de tudo vocação, que exige abnegação e renúncia.
Mas tudo isto não dispensa uma condição mínima de estabilidade
econômica que garanta ao professor a manutenção de si mesmo e de
sua família com dignidade, sua integração como elemento da
sociedade e seu próprio equilíbrio psíquico, necessário a uma conduta
exemplar de educador e ao maior rendimento técnico de sua profissão,
em benefício dos alunos. Será que está condição mínima existe em
Sergipe? (DIÁRIO DE ARACAJU, 17/10/1967).
Mesmo diante do funcionamento de cursos Normais e da Faculdade Católica de
Filosofia214, ainda era evidente nas escolas primárias, a incorporação de professores
leigos, sem nenhuma formação pedagógica e na maioria dos casos sem a conclusão do
213 Diante do número insuficiente de escolas públicas para atender jovens e crianças, algumas estratégias
eram lançadas para selecionar os alunos que seriam beneficiados com as vagas, a exemplo dos exames de
admissão. Além disso, as três esferas do governo distribuíam bolsas de estudos para que os estudantes
pudessem ingressar nas escolas particulares. Essa iniciativa era assegurada pela Constituição Federal de
1967. 214 Apesar da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe funcionar desde 1951, verificamos uma atuação
tímida em relação as prestações de serviços e parcerias com os órgãos educacionais das esferas federal,
estadual e municipal. No entanto, ressaltamos sua contribuição na formação de professores para atuar no
ensino secundário e superior.
138
ensino médio215. No caso do ensino secundário predominava a atuação de professores que
haviam realizado os exames de suficiência da Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão
do Ensino Secundário (CADES)216, padres, normalistas, egressos do ensino médio,
estudantes universitários e profissionais liberais, a exemplo, de advogados,
farmacêuticos, médicos e engenheiros217:
Ultimamente chamamos a atenção dos leitores para o desrespeito que
vem sofrendo no Estado, professores formados e que vem exercendo
a profissão, nos diversos níveis de ensino, - o número de não
diplomados ultrapassa ao de professores diplomados. Esta situação
por aí mesma representa uma situação de desprestígio para a classe,
pois rebaixa o seu nível de eficiência como classe, em virtude da
predominância de elementos leigos, que não recebera o treinamento
completo – ou nenhum treinamento para a difícil arte de ensinar e, por
outro lado, dilui a responsabilidade dos próprios diplomados na
aferição de suas próprias falhas pedagógicas. (DIÁRIO DE
ARACAJU, 17/10/1967).
Situação semelhante ocorria com os técnicos em Educação que atuavam nas
escolas e órgãos do Estado, a exemplo dos supervisores, inspetores, diretores e
bibliotecários. Nessas atividades, predominava a ação de profissionais de nível médio,
que haviam sido incorporados por apadrinhamento político ou habilitados a partir de
cursos intensivos realizados em parceria com o MEC218.
Essas estratégias buscavam amparar os planos emergenciais de recrutamento
docente para atender as escolas públicas e privadas do Estado, preservar a atividade
secundária de padres e profissionais liberais ou servir à acordos políticos com a
distribuições de vagas do magistério na capital e no interior, independentemente do nível
escolar dos beneficiados.
Ao divergir dessas práticas, a professora Maria Thétis Nunes passou a relacioná-
las com as deficiências do ensino e a criticá-las por meio de artigos na imprensa sergipana,
215 É importante lembrar que a incorporação de professores leigos não se devia apenas aos baixos salários
e às deficiências físicas e materiais da escola, mas também aos acordos políticos da época. 216 A Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário (CADES) foi criada pelo Presidente
Getúlio Vargas em 1953, com o objetivo de difundir e melhorar a qualidade do ensino secundário no país
(BRASIL, 1953). 217 Ao estudar o ofício docente e a elite letrada no Brasil do século XIX, especificando o caso de Sergipe,
Santos (2013) ressaltou que essa elite era constituída por intelectuais de diferentes formações e que atuavam
em diversos campos, inclusive o até então indefinido campo educacional. 218 Durante a pesquisa foram entrevistadas ex-supervisoras da rede municipal e estadual de ensino que
haviam realizado os cursos de Supervisão Escolar em outros estados, promovidos pelo Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).
139
denunciando sobretudo, os baixos salários, a desvalorização profissional219, a ausência de
plano de carreira, o descaso do governo, o apadrinhamento político e a falta de preparo
didático dos professores para lecionarem nas escolas220:
Um dos mais graves problemas é o referente ao professor secundário.
Mal pagos, sem formação didática, em grande parte, sem tempo para
melhorar seus conhecimentos, vivem os professores secundários
acima e abaixo, chegam alguns a dá 10 a 12 aulas diárias para
sobreviver. [...] A situação do professor secundário é uma Babel de
desorganização. As cátedras vagas, sem candidatos aos concursos por
falta de estímulo dos vencimentos, muitas vezes levam os diretores
recorrerem a quem apareça para resolver o problema que surge. (A
CRUZADA, 02/09/67).
Diante desse cenário, egressos da Faculdade Católica de Filosofia criaram a
Associação dos Professores Licenciados do Brasil – Secção de Sergipe (APLB-SE)221
com o objetivo de reivindicar o campo de atuação docente, especialmente o do ensino
secundário, e a valorização da classe. Segundo eles, a docência no estado ainda era
praticada por diferentes profissionais liberais e professores leigos, infringindo as
diretrizes educacionais da época. Isso também fragilizava a aquisição salarial dos
professores, a autoridade dos licenciados sobre a carreira do magistério e a procura dos
estudantes pelos seus cursos superiores, já que qualquer formação acadêmica ou exames
de suficiência da CADES, habilitaria à profissão docente.
Esse movimento, iniciado durante a década 60 do século XX foi embasado
juridicamente pela LDB de 1961 (Lei nº 4024/1961) e pela Portaria nº 142 de 1965, as
quais estabeleciam a prioridade da atividade docente aos licenciados das Faculdades de
Filosofia. Somente nas regiões onde houvesse carência desses diplomados poderiam ser
aproveitados professores habilitados por exame de suficiência. De acordo com a ex-
219 Torna-se necessário ressaltar que o prestígio social e econômica dos professores durante a década de
1960 tinha proporções diferenciadas, pois um professor catedrático do Colégio Estadual de Sergipe possuía
notoriedade superior ao professor primário do município sergipano de Canhoba. 220 Devemos acrescentar que para Maria Thétis Nunes a má qualidade do ensino não se restringia somente
a esses fatores. Para ela, a indisciplina estudantil, a falta de material pedagógico e a deficiência física das
escolas também contribuíam para essa disposição. 221 A Associação dos Professores Licenciados do Brasil – Seção de Sergipe, foi criada em 1966 com a
intensão de proporcionar a união, defesa e a valorização da classe docente. A entidade era constituída,
especialmente, por professores licenciados da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, os quais
defendiam a melhoria da qualidade do ensino, a garantia de direitos profissionais, campanhas de formação
do magistério sergipano, segurança no exercício da função, estudo dos problemas educacionais, soluções
para os problemas do ensino e estímulo a formação dos professores sem diploma de nível superior (A
CRUZADA, 26/04/1969).
140
presidente da APLB-SE, Maria Olga de Andrade (1968-1969), a Associação visava
garantir especialmente, incentivo a formação docente e seus direitos profissionais:
A Associação dos Licenciados do Brasil – Secção Sergipe havia sido
criada principalmente para chamar a atenção da sociedade a respeito
da nossa prioridade, enquanto diplomados da Faculdade de Filosofia,
para assumir os cargos docente nas escolas de ensino médio e na
Secretaria de Educação. Então, lembro que na época foi instituída
uma lei que garantia a prioridade da convocação de licenciados
diplomados pelas Faculdades de Filosofia, em detrimento dos demais
profissionais, pois naquela época não havia essa preferência, era
comum convidar o médico, o engenheiro, o bacharel em Direito para
assumir a sala de aula, e nós ficávamos em último lugar.
(ANDRADE, 2010, s/p).
O movimento a favor dos licenciados e as reivindicações acerca do campo
educacional sergipano se fortaleceram com a implantação da UFS em 1968, pois essa
iniciativa ampliou o número de cursos do magistério em funcionamento, a exemplo da
Pedagogia, e o de diplomados em nível superior para integrar ao corpo docente do estado.
Nesse sentido, estratégias foram desenvolvidas pelos acadêmicos e licenciados em
cursos do magistério para ingressar no campo educacional sergipano e para disputar o
domínio da concorrência interna. No caso dos profissionais da Pedagogia da Universidade
Federal de Sergipe, as disputas e o ingresso ocorreram por duas vias, através da docência
nos cursos Normais, de formação de professores primários, e na área técnica como
especialistas em Educação.
A compreensão desse processo ocorreu por meio da análise nos aspectos legais,
na trajetória percorrida pelos acadêmicos até inserir-se profissionalmente no campo
educacional e nas condições para a permanência nesse campo. Assim, também foi
contemplado o subcampo da Pedagogia, como espaços regidos pelos interesses e
particularidades disciplinares, funcionando como microcosmos e submetido às leis gerais
de funcionamento do macrocosmo no qual estão inseridos (BOURDIEU, 2004).
Mesmo diante das disputas no campo educacional para assumir as funções
garantidas por lei e das dificuldades com relação aos aspectos físicos e materiais para
desempenhar a profissão docente, muitos estudantes optaram por essa carreira
profissional, proporcionando ao curso de Pedagogia o domínio na concorrência pelas
vagas, entre as licenciaturas da UFS durante os anos de 1968 a 1978222.
222 De acordo com o item 3.1, verificamos que essa procura pelo curso estava associada a alguns fatores:
muitos candidatos já atuavam na área da Educação, haviam estudado no curso Normal, a simpatia pelo
magistério, a condição de ser uma profissão respeitada para mulheres e a facilidade em adquirir empregos,
141
A este respeito, Bourdieu (2004, p. 130) esclarece que nas nossas vidas fazemos
escolhas aparentemente racionais, quando na verdade são escolhas produzidas pela nossa
história individual ou coletiva, decorrentes das experiências vividas ao longo de nossa
trajetória pessoal e social: “[...] Os agentes de algum modo caem na sua própria prática,
mais do que a escolhem de acordo com um livre projeto, ou do que são empurrados para
ela por uma coação mecânica [...]”. (BOURDIEU, 2004, p. 130).
De acordo com Bourdieu (1983), o habitus é o que faz um agente ser detentor de
um gosto, porque as preferências estão associadas às condições objetivas de existência.
Nesse sentido, o gosto ou as preferências manifestadas através das práticas de consumo
é, então, o produto dos condicionamentos associados a uma classe social ou fração de
classe:
As experiências se integram na unidade de uma biografia sistemática que
se organiza a partir da situação originária de classe, experimentada num
tipo determinado de estrutura familiar. Desde que a história do indivíduo
nunca é mais do que uma certa especificação da história coletiva de seu
grupo ou de sua classe, podemos ver nos sistemas de disposições
individuais variantes estruturais do habitus de grupo ou de classe [...]. O
estilo pessoal, isto é, essa marca particular que carregam todos os
produtos de um mesmo habitus, práticas ou obras, não é senão um desvio,
ele próprio regulado e às vezes mesmo codificado, em relação ao estilo
próprio a uma época ou a uma classe. (BOURDIEU, 1983a, p. 80-81).
Aos interessados pela profissão, a instalação da Universidade Federal de Sergipe
trouxe consigo a garantia de uma formação acadêmica estável, sem riscos de possíveis
interrupções durante o andamento dos cursos, como ocorrido na FAFI223. Além disso,
proporcionou o funcionamento do curso de Pedagogia, para a formação de professores do
curso Normal e técnicos em educação:
[...] De há muito que vem sendo esperada a criação da Universidade. Foi
uma batalha empreendida pelos intelectuais da terra que, vencendo
obstáculos e incompreensões, conseguiram levar a bom termo essa
iniciativa que agora concretizada, na realidade, abre para Sergipe, largos
horizontes de cultura, apresentando um campo maior de especialização,
mormente para a juventude ávida do saber que povoa as nossas
faculdades. Sergipe ganhou uma Universidade para se integrar no
processo histórico e cultural da região, uma universidade que virá inserir-
se em nossa região subdesenvolvida, aparelhada para formar
especialistas e técnicos do desenvolvimento [...]. (A CRUZADA,
04/03/67).
pois apesar das disputas no campo educacional, verificou-se que os licenciados não apresentavam
dificuldades para atuar na área. 223 Na FAFI, os cursos de Matemática e Filosofia foram interrompidos no ano de 1957, por causa do
pequeno número de alunos e das limitações financeiras da Faculdade (OLIVEIRA, 2009).
142
Nesse sentido, convênios passaram a ser selados entre a UFS e outras unidades do
Governo Federal, assim como acordos com órgãos públicos e privados das diferentes
esferas224. As atividades concentravam-se, sobretudo, na prestação de serviços da
Universidade, como: pesquisas, elaboração de projetos, levantamento de informações e
dados, programas de intercâmbio, assessoria técnica e qualificação de mão de obra.
Diante da legitimidade da Universidade Federal de Sergipe, muitos acordos
também foram celebrados com órgãos relacionados à Educação, favorecendo a atuação
do corpo docente e discente de Pedagogia. Nesse processo, estudantes e egressos do curso
passaram a atuar em diferentes espaços associados ao ensino, desenvolvendo atividades
docentes, serviços técnicos e administrativos.
Os alunos do curso também tinham autonomia para adotar vínculos e realizar o
exercício da profissão nas instituições educacionais. Na maioria das vezes essa iniciava
ocorria no primeiro ano da graduação, devido ao reduzido número de professores e
técnicos da área, e pelo fato de serem as primeiras turmas de Pedagogia do estado. De
acordo com a ex-aluna, Ada Augusta Celestino B. da Silva, ela e outros colegas de
classe225 atuaram, ainda no início da formação acadêmica, em projetos de alfabetização,
a exemplo da Cruzada ABC (Ação Básica Cristã)226:
[...] Parte do meu Curso Superior foi acompanhada da experiência na
Cruzada ABC, assim como aconteceu com a colega de turma, desde
o IERB, Angélica Vieira Donald. Sua mãe, Profª Aurita Vieira
Donald, integrava a direção dessa Campanha de Alfabetização de
Jovens e Adultos e nos conduziu a uma capacitação inicial; daí
passamos a trabalhar, inclusive como supervisores da Educação de
Jovens e Adultos. Eu era supervisora da comunidade do bairro Santo
Antônio e, depois, do bairro Suíssa, em Aracaju. Foi um trabalho que
fiz com muito amor e no qual aprendi muito. (SILVA, 2015, s/p).
224 De acordo com os registros do Conselho Universitário, os convênios da UFS passaram a serem
realizados a partir de 1970, com órgãos públicos e privados. Esses convênios eram respaldados pelo regime
jurídico de Fundação. 225 A exemplo das ex-alunas do curso de Pedagogia, Angélica Vieira Donald e Maria Lucia Souza Ramos
Berger. 226 O projeto Cruzada ABC (Ação Básica Cristã) foi oficializado em 1965, na cidade de Recife-
Pernambuco. Coordenado por missionários protestantes e técnicos norte-americanos, o programa visava
erradicar o analfabetismo, especialmente, na região Nordeste do país, com a colaboração financeira da
SUDENE, Ministério da Educação e USAID/Brasil. A partir de 1966, a Cruzada ABC tornou-se um
programa do governo brasileiro, encarregado de substituir e combater, em termos políticos e pedagógicos,
os programas de alfabetização existentes antes do golpe de 1964 (SCOCUGLIA, 2002).
143
O projeto Cruzada ABC iniciou suas atividades em Sergipe no ano de 1966, por
meio de cursos intensivos de alfabetização de jovens e adultos227. O objetivo era [...]
“capacitar o homem analfabeto-marginalizado, a ser participante na sua sociedade
contemporânea, como contribuinte do desenvolvimento sócio-econômico e recebedor de
seus bens” (SCOCUGLIA, 2002, p. 4).
Diante do alto percentual de analfabetos em Sergipe, o movimento foi recebido
com entusiasmo pela população, pois buscava reparar a ausência do ensino primário
durante a infância. Com essa inciativa, surgia uma nova oportunidade de aprender a ler,
escrever e contar, sem custos financeiros e com a disponibilidade de material escolar e
profissionais treinados para essa finalidade. Nesse contexto, alunos de Pedagogia foram
requisitados para contribuir:
Diante daquele contexto sabíamos que poderíamos dar a nossa
contribuição, e na verdade estávamos estudando para isso. Como
houve a oportunidade e éramos jovens, com uma consciência crítica
ainda embrionária, aproveitamos para obter experiência e contribuir
com o projeto. De fato, o método de alfabetização foi o Laubach.
Acreditávamos ser possível contribuir para reparar essa dívida do
Estado Brasileiro; por isso nos esforçamos muito. (SILVA, 2015,
s/p).
A participação dos estudantes de Pedagogia tinha o propósito de orientar os
professores e supervisionar os cursos intensivos do programa, realizados na capital e no
interior. Para isso, os acadêmicos passavam por um processo de seleção e cursos para
conhecer o projeto e suas técnicas metodológicas:
[...] Tudo isso, precedido por um longo e intensivo curso de Formação
que nos preparava desde o aperfeiçoamento da caligrafia até a
metodologia do Programa, incluindo o desenvolvimento comunitário.
Nosso trabalho era de organizar comunidades, localizar voluntários,
espaços físicos e analfabetos. Em seguida organizávamos as turmas.
O forte mesmo era a formação de voluntários para a alfabetização de
jovens e adultos, ao lado do acompanhamento às turmas que se dava
semanalmente. (SILVA, 2015, s/p).
Após a participação nos cursos que habilitavam ao cargo de supervisor, os
acadêmicos passavam a realizar o treinamento para a formação dos professores do projeto
e orientar as atividades pedagógicas desses docentes no processo de alfabetização de
227 Desde 1959, Sergipe viveu o impacto da experiência das escolas radiofônicas, implementadas pelo
Arcebispo do Estado Dom José Vicente Távora. A partir de 1961, esse projeto foi adotado nacionalmente,
com a criação do MEB (Movimento de Educação de Base) (FARIAS, 1996).
144
jovens e adultos. Além disso, participavam do recrutamento de analfabetos e na
organização do processo seletivo de professores interessados em atuar na Cruzada ABC:
Figura 34 - Contratação de professores para a Cruzada ABC
Fonte: jornal Diário de Aracaju, 27/03/1968. Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
Dessa forma, os estudantes de Pedagogia que assumiam a função de supervisor,
desfrutavam de muitas reponsabilidades no funcionamento e organização do programa.
145
Dentre suas funções, eram designados a desempenhar todo o controle do processo
pedagógico, desde o acompanhamento diário das diferentes fases, até a aplicação do
material didático. Nesse sentido, realizavam a orientação e o monitoramento das práticas
pedagógicas desenvolvidas em sala de aula pelos professores.
A coordenação geral era realizada pela professora Aurita Vieira Donald228, a qual
executava os planos previamente estabelecidos pela direção nacional da Cruzada ABC,
através da programação técnica e administrativa. Além disso, realizava os acordos e
contatos com as autoridades políticas, a integração com a comunidade local e a
distribuição de alimentos aos professores e alunos229:
Os trabalhos da Cruzada ABC, coordenados pela professora Aurita
Donald, prosseguem em Sergipe com absoluto êxito, estando também
merecendo maior cuidado a distribuição de alimentos aos escolares
pobres dos mais sofridos bairros da Capital. Com os recursos
provenientes do convênio firmado entre o Município e o MEC no
valor de 35 mil cruzeiros novos, as Escolas municipais serão
recuperadas, recebendo móveis novos e outros equipamentos mais
condignos. (DIÁRIO DE ARACAJU, 13/01/68).
As primeiras experiências foram realizadas nas escolas estaduais e municipais da
capital, no período noturno, para atender jovens e adultos que trabalhavam durante o dia.
Mas, diante do alto índice de analfabetos no Estado, as atividades do projeto se
estenderam ao interior, sendo o espaço físico das aulas compartilhado com as escolas
diurnas para crianças e adolescentes.
Como o curso de Pedagogia desfrutava de uma relação direta com a formação de
professores alfabetizadores e do conhecimento acerca dos fundamentos da educação, isso
facilitava a habilidade dos estudantes com relação as práticas nos programas de
alfabetização. Além disso, muitos acadêmicos de Pedagogia já haviam realizado o curso
Pedagógico de nível médio, o que possibilitava experiência com os métodos de ensino.
No caso do programa Cruzada ABC, foi implantado com uma proposta
metodológica baseada no Método Laubach230 e material didático próprio. No entanto, o
projeto também apresentava suas contradições, pois apesar de ter sido adotado pelo
228 Aurita Vieira Donald formou-se em Pedagogia pela UFS, e exerceu as funções de supervisora
educacional do Departamento de Educação e Cultura de Aracaju e técnica em assuntos educacionais da
Escola Técnica Federal de Sergipe. 229 De acordo com Ada Augusta Celestino Bezerra da Silva, a distribuição de alimentos era realizada com
o objetivo de evitar a evasão dos alunos. Segundo ela, a doação das cestas básicas ocorria quinzenalmente,
aos jovens e adultos que se mantivessem na escola, sem nenhuma falta durante todo o mês. 230 Método de alfabetização de adultos criado pelo missionário protestante norte-americano Frank Charles
Laubach (1884-1970).
146
Governo Civil Militar (1964-1985) para substituir os programas de alfabetização
existentes antes do Golpe de 1964231, a ex-aluna de Pedagogia e ex-alfabetizadora da
Cruzada ABC, Ednalva Freire Caetano, alegou ter usado as técnicas de alfabetização de
jovens e adultos propostas por Paulo Freire:
Trabalhei inicialmente com alfabetização de adultos, no programa
Cruzada ABC. Trabalhamos com o método Paulo Freire, em plena
Ditadura, o que é em tese, um contrassenso. Lembro que também
havia financiamento dos norte-americanos, acredito que o programa
tinha uma ligação com a Igreja Protestante, porque tudo tinha a ver
[...]. Eu era protestante, então como fui líder da comunidade de
jovens, havia realizado curso de Teologia em Pernambuco e era
militante da Igreja, provavelmente essa militância me levou a
trabalhar no Educandário Americano Batista e no Programa Cruzada
ABC. (CAETANO, 2015, s/p).
Para a implantação do programa em Sergipe foram firmados convênios com a
Secretaria de Educação e Cultura do Estado (SEC-SE) e o Departamento de Educação e
Cultura de Aracaju (DEC). Enquanto a Cruzada ABC disponibilizava o material didático
próprio, alimentação e orientação pedagógica ao corpo docente; os dois órgãos
governamentais providenciavam prédios (no período noturno), transporte, professores e
material escolar.
Diante da importância social do projeto, as solenidades de celebração dos
convênios eram prestigiadas por jornalistas, intelectuais, dirigentes da Superintendência
de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), Governador do Estado, Reitor da UFS e
coordenadores da Cruzada ABC. Assim, o lançamento das campanhas de alfabetização
de jovens e adultos tornou-se garantia de prestígio político232:
231 De acordo com Oliveira (1989), o programa Cruzada ABC, a partir de 1966, tornou-se um programa
oficial do governo brasileiro, encarregado de substituir e combater, em termos políticos e pedagógicos, os
programas existentes antes do golpe de 1964. No entanto, salienta que antes do Golpe de 1964, não havia
somente programas de alfabetização de adultos associados aos grupos de esquerda, pois segundo ele setores
da direita também se interessavam por essa modalidade de ensino, a exemplo, da Fundação João Batista do
Amaral. 232 Os lançamentos de campanhas de alfabetização e as formaturas unificadas desses programas eram
cenários de autopromoção e propaganda política. As solenidades demonstravam a preocupação do governo
com a educação escolar das famílias pobres e com o desenvolvimento do Estado.
147
Figura 35 - Contrato firmado entre SEC/SE e Cruzada ABC (1968)
Fonte: jornal Diário de Aracaju, 14/08/68. Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
Em Sergipe, o programa permaneceu funcionando até 1970233, quando passou a
ser substituído pelo Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL)234. No entanto,
sua projeção ficou registrada na história das políticas governamentais de alfabetização de
jovens e adultos, como uma das iniciativas de expressão social promovida na década de
60 do século XX235, no estado.
Nesse processo, estudantes de Pedagogia da UFS tiveram oportunidade de
contribuir com o projeto de alfabetização e adquirir experiência profissional. Essa
participação também garantiu o primeiro contato de jovens e adultos com a leitura e a
233 Desde sua implantação, o programa Cruzada ABC foi alvo de críticas dos órgãos financiadores:
Enquanto, os dirigentes da SUDENE, discordavam da atuação político-pedagógica e dos gastos excessivos
do programa; o Ministério do Planejamento, da Fazenda e a USAID recusavam as prestações de contas,
limitando a liberação de verbas ao cumprimento da programação (SCOCUGLIA, 2002). 234 O Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) foi um projeto do Governo Civil Militar criado
pela Lei nº. 5.379, de 15 de dezembro de 1967. O objetivo era a alfabetização funcional e a educação
continuada de jovens e adultos, mediante práticas de leitura, escrita e cálculo (BRASIL, 1967).
235 De acordo com Scocuglia (2002), em apenas um semestre letivo de 1969, a Cruzada ABC conseguiu
matricular 298.422 alunos, distribuídos nos Estados do Ceará, Pernambuco, Bahia, Guanabara, Rio de
Janeiro, Paraíba, Alagoas, Sergipe, Goiás e do Distrito Federal.
148
escrita, possibilitando uma atuação profissional mais abrangente e a continuidade de
estudos em cursos supletivos e/ou profissionalizantes.
O Programa teve sua importância para aquele momento, pois
devemos lembrar que o número de analfabetos naquela época era
muito grande, inclusive na capital. Muitos jovens e adultos não
tinham acesso ao trabalho, nem a formação de mão de obra por meio
de cursos profissionalizantes. Não havia perspectivas, e isso era
transmitido aos filhos, pois sem saber ler e escrever não matriculavam
suas crianças na escola. Não davam muita importância aos estudos.
(CAETANO, 2015, s/p).
Em Sergipe a ausência de programas educacionais voltadas a formação de jovens
e adultos, e a omissão de iniciativas que atendessem a ampliação do ensino, levaria o
Estado a expandir o número de analfabetos. O acesso de trabalhadores a tais programas,
além de oportunizar ao conhecimento sistemático e a novas oportunidades de emprego,
possibilitou uma nova compreensão com relação a importância da educação escolar e ao
ingresso dos seus filhos nas escolas.
Com a implantação do MOBRAL em 1970, acadêmicos de Pedagogia
permaneceram atuando em programas de alfabetização de jovens e adultos no estado. A
proposta era aproveitar universitários e professores experientes que haviam trabalhado
nos programas anteriores, a exemplo, do Movimento de Educação de Base (MEB) e
Cruzada ABC.
Durante o planejamento, a direção nacional do MOBRAL realizou encontros com
o secretário de Educação, Nestor Piva, para divulgar os objetivos e a modalidade
operacional do movimento e solicitar dele a indicação de nomes para a seleção dos
coordenadores estaduais236. Nessa escolha deveriam imperar os critérios técnicos em
detrimento aos interesses políticos, prevalecendo o recrutamento de profissionais
experientes.
Para o desenvolvimento do programa vários convênios foram firmados entre o
MOBRAL, a Secretaria Estadual de Educação e prefeituras de Sergipe:
236 Os coordenadores estaduais eram responsáveis pela administração do MOBRAL em seus estados. O
coordenador local era José Luiz de Oliveira.
149
Figura 36 - Convênio entre SEC/SE, prefeituras e MOBRAL (1970)
Fonte: jornal Diário de Aracaju, em 07/08/1970. Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
A nova campanha era otimista com relação ao combate ao analfabetismo no
Brasil, tanto com relação as metas a serem atingidas, quanto no tocante aos recursos a
serem obtidos237. A intenção era erradicar o analfabetismo em 10 anos, mediante o ensino
de noções básicas de leitura, escrita e cálculo:
Retornou do Rio de Janeiro o Coordenador Estadual do MOBRAL
José Luiz de Oliveira, que participou do Encontro Nacional de
coordenadores. O referido encontro foi presidido pelo Secretário
Executivo do MOBRAL Arlindo Lopes Correia, cujo objetivo foi
definir as metas quantitativas do MOBRAL na década de 1970. Ficou
determinado que o analfabetismo será erradicado do país, até 1980.
Ambiciosa meta para Sergipe que ainda conta com 52% de sua
população adulta analfabeta, sendo destes 27% na zona urbana e 76%
na zona rural. A meta de Sergipe para o ano de 1972 é escolarizar
57.000 adolescentes adultos. (DIÁRIO DE ARACAJU, 08/07/1972).
Lançado com ampla divulgação pela imprensa falada e escrita, logo mobilizou
professores e acadêmicos para atuar na organização e implantação do projeto. No entanto,
cabia a todos o dever de contribuir com a erradicação do analfabetismo no país,
237 De acordo com Oliveira (1989) os recursos financeiros do MOBRAL eram oriundos do MEC, Caixa
Econômica Federal, USAID, Loteria esportiva, imposto de renda e iniciativas privadas.
150
destacando o caráter comunitário para o sucesso do programa. Para os estudantes do curso
de Pedagogia da UFS, era mais uma oportunidade de aprendizagem e formação
profissional.
Dessa forma, acadêmicos de Pedagogia passaram a ser requisitados para participar
do MOBRAL, na função de supervisão. Para isso, era necessário realizar treinamentos
promovidos pela administração nacional com o objetivo de conhecer as propostas do
programa, as orientações operacionais e os aspectos metodológicos de alfabetização.
As atividades da campanha eram desenvolvidas em diferentes postos de
alfabetização da capital e do interior, representados por escolas, centros comunitários,
núcleos de cooperativas, associações de trabalhadores, empresas privadas, templos
religiosos e órgãos públicos238:
Agora mesmo, uma turma de 30 alunos está sendo alfabetizada no
Reformatório Penal do Estado, enquanto outra turma, é mantida na
Polícia Militar, atuando o MOBRAL, desta forma, nos mais
diferentes setores da sociedade. (DIÁRIO DE ARACAJU,
26/06/71).
Diante da abrangência do programa e do acompanhamento desenvolvido pelos
supervisores, constantes viagens eram realizadas por eles para os municípios do
interior239. O deslocamento era promovido pela Secretaria Estadual de Educação, com a
disponibilidade de transporte para orientação e acompanhamento dos monitores em
diferentes municípios. Em umas das viagens, três estudantes de Pedagogia da UFS240, que
exerciam função de supervisora, sofreram um acidente automobilístico durante o trajeto:
238 Os cursos de alfabetização também eram realizados em residências particulares, numa colaboração do
proprietário com a campanha. 239 A sede da coordenação estadual estava localizada em Aracaju. 240 As estudantes de Pedagogia envolvidas no acidente, pertenciam a primeira turma do curso (1968-1971):
Maria Lúcia Souza Ramos, Angélica Vieira Donald e Evanda Maria dos Santos. Entretanto, na matéria
jornalística somente o nome da primeira estudante estava escrito corretamente.
151
Figura 37 - Acidente automobilístico dos integrantes do MOBRAL (1971)
Fonte: jornal Diário de Aracaju, 23/09/1971. Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
De acordo com a ex-aluna do curso de Pedagogia e ex-integrante do MOBRAL,
Maria Lúcia Souza Ramos Berger241, esses descolamentos faziam parte do processo de
implantação e funcionamento do programa nos municípios do interior242. Para isso, os
estudantes de Pedagogia eram requisitados ainda na Faculdade de Educação, durante a
formação no curso superior. Em depoimento, a ex-aluna aborda a colaboração dos
acadêmicos na implantação do programa e o acidente sofrido durante a viagem de
supervisão:
Nós trabalhávamos na implantação do MOBRAL aqui em Sergipe,
erámos umas 4 ou 5 pessoas do curso. [...] Quando estava sendo
implantado o MOBRAL, os coordenadores através da Secretaria da
Educação, foram lá na diretoria da Faculdade para pedir alunos para
formar uma equipe do MOBRAL local, e aí tinha umas 3 de lá que
trabalharam, eu, Angélica, Evanda e as outras 2 eram de Serviço
Social, e a gente trabalhou na implantação do MOBRAL aqui. [...]
Não era uma instituição de pesquisa, era através do MOBRAL. E aí
fizemos a implantação em todo o Estado, e aí numa dessas viagens,
nós sofremos um acidente de Rural. Porque a Secretaria de Educação
colocava a disposição uma Rural (BERGER, 2011, s/p).
241 Maria Lúcia Souza Ramos Berger também foi coordenadora do MEB em Sergipe (1973 a 1978). 242 Em 1973 o programa conseguiu estender-se a todos os 73 municípios do interior sergipano (DIÁRIO
DE ARACAJU, 10/07/1973).
152
A ex-aluna destacou a responsabilidade das estudantes de Pedagogia diante da
instalação e funcionamento do MOBRAL em Sergipe, enfatizando as atividades
desenvolvidas por elas no processo de recrutar professores e treiná-los para exercer a
função de monitoria. Além disso, supervisionavam a atuação pedagógica dos monitores
e orientava-os para o uso do material didático do programa, produzido pela Editora Abril.
Os supervisores também intermediavam a comunicação entre a coordenação
estadual do MOBRAL e as comissões municipais, auxiliando na seleção dos espaços
físicos, implantação dos postos de alfabetização e na mobilização de monitores e
analfabetos. Para a concretização do projeto, a ex-aluna Maria Lúcia Souza Ramos
Berger, ressaltou a importância da parceria realizada entre MOBRAL, o governo do
Estado e prefeitos dos municípios sergipanos243:
A secretaria de Educação colocava a disposição uma Rural e o espaço
físico; o material vinha de Brasília e o nosso trabalho era recrutar
professor, arranjar sala, treinar o professor e acompanhar,
supervisionando. Nós que comandávamos, e recebíamos orientação
do MOBRAL nacional. Esse MOBRAL nacional treinava a gente, e
íamos implantar nos municípios. As prefeituras também recrutavam
os professores, arrumavam o espaço físico e a gente ia treinar os
professores para utilizar o material didático. (BERGER, 2011, s/p).
Dessa forma, as atividades desenvolvidas pelas supervisoras do MOBRAL
concentravam-se, sobretudo, no recrutamento e orientação aos monitores, para que eles
promovessem a alfabetização de jovens e adultos, em pouco tempo. Essa iniciativa
concedia a oportunidade da alfabetização funcional e educação continuada aos que não
tiveram oportunidade de estudar durante a infância, em cursos com duração mínima de
cinco meses244:
As turmas de servidores da ENERGIPE estão funcionando nas
dependências do SENAI, devendo o curso durar cinco meses. Por
outro lado, dezenas de domésticas, em apenas dois meses de
alfabetização, já estão lendo e escrevendo graças ao posto do
MOBRAL que funciona na Escola da Doméstica “Dom José Vicente
Távora”. (DIÁRIO DE ARACAJU, 15/07/1971).
243 Na organização administrativa, o Mobral nacional firmava e fiscalizava os convênios, fornecendo
material didático, orientação técnica, repasse de verbas para os estados e municípios, e avaliando os
resultados obtidos pelo Movimento. Em contrapartida, cada estado tinha sua Comissão Estadual (COEST),
com as funções de planejar, coordenar, formar monitores e controlar as atividades em nível de Estado. Os
munícipios através da COMUN (Comissão Municipal) agiam como agentes executivos dos programas do
MOBRAL, mobilizando analfabetos, alfabetizadores, monitores, providenciando locais para salas de aula
e instalando postos de alfabetização (OLIVEIRA, 1989). 244 Se caso, o aluno ainda encontrasse dificuldades durante os cinco meses de alfabetização, o programa
disponibilizava mais um mês de curso intensivo.
153
Ao concluir o curso de alfabetização o aluno tinha a oportunidade de prosseguir
os estudos, por meio de programas adicionais ao MOBRAL245 ou cursos supletivos e
profissionalizantes ofertados por outras instituições246. A finalidade era promover a
sequência do ensino e estimular a profissionalização desses estudantes:
O MOBRAL não só alfabetiza; ele desenvolve em convênio com a
SEC/Estado e as Prefeituras Municipais, o Programa de Educação
Integrada, que permite ao aluno recém-alfabetizado a continuidade
dos seus serviços, e assim cursar em 1 ou 2 anos os 4 primeiros anos
de 1º ciclo, através das técnicas de aceleração. (DIÁRIO DE
ARACAJU, 12/09/73).
Apesar das críticas direcionadas ao programa247, postos do MOBRAL foram
implantados em todos os municípios sergipanos, inclusive em povoados que possuíam
toda a população analfabeta. A intensão era realizar a alfabetização em massa,
abrangendo áreas desprovidas de escola, como assentamentos rurais e presídios. Nesse
processo, estudantes de Pedagogia contribuíram com a instalação e o funcionamento do
programa, mediante o exercício nas funções de supervisão.
Para a continuidade dos estudos, foi implantado em 1970 o Projeto Minerva248,
com a finalidade de preparar alunos para os exames de madureza249 do ensino ginasial250.
Em Sergipe, o programa de governo era desenvolvido pelo ensino a distância, através de
cursos transmitidos por emissoras de rádio, com o auxílio de um monitor:
Teríamos que pensar num supletivo com grandes inovações. Os
quatro primeiros anos ficavam a cargo do Mobral, mas os alunos
saíam do Mobral e queriam continuar os estudos, então o governo
tinha que oferecer alguma coisa que desse terminalidade de 1º Grau,
e era essa a função do Minerva, que estava inserido nessa proposta de
Brasil Grande, onde era preciso dar educação à massa, melhorar as
condições de escolaridade do trabalhador. Na perspectiva da época, o
Brasil só crescia se tivesse pessoas qualificadas. (BLOIS, s/d, s/p).
245 Plano de Educação Continuada para Adolescentes e Adultos, Programa de Educação Integrada,
Programa Cultural, Programa de Profissionalização, Programa de Diversificação Comunitária, Programa
de Educação Comunitária para a Saúde, Programa de Esporte e Programa de Autodidatismo. 246 Em 1973, um convênio entre o MOBRAL e o Programa Intensivo de Preparação de Mão-de-Obra
(PIPMO), promoveu a qualificação profissional de 910 recém-alfabetizados (DIÁRIO DE ARACAJU, 12
de setembro de 73). 247 Para alguns pesquisadores o MOBRAL se limitava a um ensino de caráter tecnicista, utilizado pelo
Regime Civil Militar para controlar as massas (SANTOS, 2014). 248 Em 26 de setembro de 1969, o Decreto nº. 25.239 criou a estrutura administrativa para a implementação
do Projeto Minerva em nível nacional, com a finalidade de oferecer formação supletiva ginasial através do
rádio (BRASIL, 1969). 249 O exame de Madureza atendia a Lei nº 4.024 de 1961, art. 99, que determinava aos maiores de 16 anos
a obtenção de certificado de conclusão de curso ginasial mediante a prestação de exames de Madureza.
Com a Lei nº. 5.672 de 1971, foi chamado de curso e exame supletivo, destinados aos maiores de 18 anos. 250 Com a reforma de 1971, foi estendido ao ensino de 1º e 2º graus.
154
O governo do Estado ficou encarregado de organizar os rádiopostos251 e recrutar
supervisores e monitores para o funcionamento dos cursos, enquanto o Projeto Minerva
disponibilizava o material didático (fascículos), a transmissão das aulas e realizava o
treinamento dos coordenadores e supervisores. De acordo com Marta Viera Cruz252, ex-
coordenadora estadual do Projeto Minerva em Sergipe (1973-1977) e ex-professora do
curso de Pedagogia da UFS, a nova proposta de ensino foi implantada na capital e no
interior253:
Na década de 1970, atuei na Secretaria de Estado da Educação e
Cultura, exercendo as funções de supervisora do Projeto Minerva e
posteriormente, a sua coordenação. Na oportunidade, acompanhei as
atividades de Radiodifusão no Estado, no formato de Radiopostos
(salas de aula). A Secretaria de Educação cobria à época não só o
município de Aracaju, bem como diversos municípios no interior do
Estado. As aulas (elaboradas pelo PRONTEL) eram transmitidas via
Rádio MEC no período noturno, sob a presença de monitores
universitários e treinados para a função. (CRUZ, 2015, s/p).
Estudantes de Pedagogia da UFS foram requisitados para participar do programa
como monitores, com a função de intermediar o ensino, através das aulas transmitidas
diariamente via rádio. Nesse sentido, os acadêmicos auxiliavam os alunos do Minerva no
acompanhamento do curso pelo rádio, na explicação do conteúdo e na resolução das
atividades dos fascículos254, distribuídos gratuitamente pelo programa:
251 Os rádiopostos era o local disponibilizado para a transmissão das aulas aos alunos, e as orientações
diárias dos monitores. 252 Marta Vieira Cruz, é graduada em Letras Vernáculas pela UFS (1973), mestre em Ciências Sociais
Aplicada a Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (1982) e doutora em História e Filosofia
da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1992). Integrou-se ao corpo docente do
curso de Pedagogia da Universidade Federal de Sergipe, em 1976, mediante concurso público de provas e
títulos. 253 O Projeto Minerva foi implantado na capital, e em alguns munícipios do interior: Estância, Itabaiana,
Lagarto e Tobias Barreto. Em Sergipe, recebeu investimentos dos governos federal e estadual. 254 Os fascículos compreendiam as disciplinas obrigatórias do ensino de 1º e 2º graus, com conteúdo e
atividades relacionadas às exigências dos exames. O 1º grau compreendia as disciplinas: língua Portuguesa,
Matemática, Ciências, Estudos Sociais e Moral e Cívica.
155
Figura 38 - Fascículo do Projeto Minerva/curso supletivo de 1º grau (1971)
Fonte: acervo disponível em projetominerva.blogspot.com/2012/03/em-busca-de-fasciculos.html
De acordo com a ex-aluna de Pedagogia e ex-monitora do Projeto Minerva (1973-
1975), Maria de Fátima Monte Lima, o monitor também acompanhava a aula do
professor-locutor juntamente com os estudantes, e em seguida explicava o conteúdo
abordado:
156
As aulas eram transmitidas pelo rádio com o suporte das apostilas e
da monitoria. Os professores eram selecionados por currículo. Os
conteúdos abrangiam as diversas disciplinas do currículo regular das
escolas públicas. Iniciava logo depois da transmissão da Hora do
Brasil, as 19:30 min, para se adequar ao horário de alunos
trabalhadores, que configurava a maioria da clientela. Os alunos
ouviam a transmissão das aulas, através do rádio, com o suporte das
apostilas e, depois faziam os exercícios também nas apostilas. A
turma apresentava sempre muita dificuldade no entendimento dos
conteúdos e, muitas vezes, a monitora terminava dando aulas
expositivas para suprir as necessidades de aprendizagem dos alunos.
O Rádioposto em que eu trabalhava era em uma Unidade do SESC,
localizada no bairro 18 do Forte, bem distante de onde eu morava. No
entanto, eu já realizava a minha prática no ensino regular,
indispensável à conclusão do Curso de Pedagogia. (LIMA, 2015, s/p).
O ex-aluno de Pedagogia e também ex-monitor do Minerva, José dos Anjos,
ressaltou a importância do projeto e a qualidade dos fascículos utilizados no programa,
emitidos pelo governo federal. Segundo ele, o monitor tinha uma atuação fundamental no
processo de ensino-aprendizagem dos alunos, pois atuava como um complementador de
informações:
O curso do projeto Minerva foi um curso extraordinário, tinha
apostilas, era um material didático muito bom, que vinha do governo
federal. Ele era transmitido pelo rádio, era tudo uniforme, e o monitor
era para tirar dúvidas e prestar esclarecimentos, seria uma espécie de
complementador das informações. Na terminologia era monitor, mas
no contrato vinha como professor. (ANJOS, 2015, s/p).
Os monitores também esclareciam dúvidas e promoviam debates acerca dos
assuntos propostos pelos professores-locutores, associando o conteúdo a realidade dos
estudantes. Dessa forma, os alunos frequentavam diariamente os rádiopostos, sob a
supervisão de um monitor para acompanhar as rádioaulas e desenvolver as atividades dos
fascículos distribuídos pelo programa. A transmissão via rádio ocorria à noite, das 20:00
as 20:30, mas após as aulas os alunos permaneciam nos postos até às 22:00 horas para a
resolução e correção das atividades, como narra a ex-coordenadora do Projeto Minerva
nacional, Marlene Bois:
Aquele monitor era orientado a aplicar, sempre que possível, os
conhecimentos abordados no curso à realidade onde o aluno vivia.
[...]A dinâmica era a seguinte: o aluno chegava às sete e meia, lia o
conteúdo da aula, ele sabia qual era a aula, tinha o mapa de que aula
ia ouvir; das 8 às 8:30, ele ouvia a aula, depois ficava para trabalhar
os conteúdos e os exercícios que estavam no fascículo. Nós estávamos
garantindo qualidade da informação, porque nós não tínhamos
professores formados no Brasil inteiro em número suficiente.
(BLOIS, s/d, s/p).
157
Desta forma, a atuação dos monitores de Pedagogia era indispensável ao
programa, devido a sua mediação entre as aulas, desenvolvidas via rádio e fascículos, e
os alunos. O objetivo era prepará-los para realizar os exames supletivos ao final do curso,
caso aprovado recebiam o diploma de conclusão do ensino de 1º ou 2º graus.
Para utilizar os recursos disponíveis nos rádiopostos e o material de apoio,
acadêmicos participavam de cursos de treinamento promovidos pela coordenação
estadual do Projeto Minerva, em parceria com a Secretaria Estadual de Educação.
Estudantes de Pedagogia integravam ao programa, ainda no 1º ano do curso, como
ocorreu com quatro alunos da turma de 1970255:
Figura 39 - Treinamento de alunos do curso de Pedagogia para atuar no Projeto Minerva
(1970)
Fonte: Comunicado do Secretário de Educação e Cultura do Estado de Sergipe, Nestor Piva. Acervo: Arquivo Central da UFS.
255 Maria Valdecir Dantas, Elizabete Melo, José dos Anjos e Maria Pereira Santos.
158
Outros estudantes de Pedagogia, também atuaram como monitores do Projeto
Minerva ainda no primeiro ano da graduação. Isso ocorria, sobretudo, devido a ampliação
do campo de atuação do curso, após a regulamentação definida pelo Parecer CEF nº
252/69, e o pequeno número de profissionais formados na área:
Visto pelo lado prático da profissionalização, naquele momento
histórico, o Curso de Pedagogia era um curso bem reconhecido, tinha
pouco tempo de existência, no estado, portanto, com poucos
professores graduados na área. Tanto que éramos absorvidos pelo
mercado de trabalho, ainda como alunos. Muitos de nós saíamos do
Curso com o emprego certo. Os estágios ajudavam a fazer contratos
temporários, e, os concursos eram mais frequentes pela escassez de
profissionais, com grau em Pedagogia. No 2º semestre, de 1973 fui
selecionada para monitora do Projeto Minerva, do Ensino Supletivo,
e posteriormente, trabalhei no Ensino Supletivo na parte de Exames.
Havia facilidade para trabalhar nos programas do governo. (LIMA,
2015, s/p).
Para a formação dos monitores também eram realizados encontros e congressos
pela direção nacional a fim de promover a atualização das equipes locais e obter
informações a respeito do andamento do Minerva no Estado. Os coordenadores e
supervisores estaduais orientavam permanentemente os monitores na aplicação do
projeto, pois esses ficavam responsáveis pelos rádiopostos e pela assistência pedagógica
destinada aos alunos que os frequentavam:
Nós fizemos muitos encontros que chamávamos de Encontros
Regionais do Minerva. Começamos com encontros nacionais que, em
geral, eram aqui no Rio. Depois, passamos a promover os encontros
regionais – reunimos o pessoal do nordeste, do sudeste, do sul, do
norte e do centro-oeste, sempre numa capital da região. Chegamos
também a fazer os encontros estaduais, até pela própria iniciativa das
secretarias. Nós mandávamos um professor nosso para acompanhar e
ajudar a organizar o evento. Fazíamos isso antes de cada novo
lançamento dos cursos e quando o curso já estava pela metade ou
mais. (BLOIS, s/d, s/p).
Dessa forma, o Projeto Minerva nacional em parceria com a Secretaria Estadual
de Educação, disponibilizava os rádiopostos, a transmissão das aulas, os fascículos e a
presença diária do monitor, na capital e nos municípios sergipanos, para oportunizar o
ensino de jovens e adultos. Nesse contexto, o egresso do curso de Pedagogia, José dos
Anjos, narrou as contribuições do programa em Sergipe, destacando a formação de
policiais miliares e de presidiários que não tiveram acesso à escola durante a infância e
juventude:
159
Marta Cruz foi uma das pioneiras do projeto Minerva aqui em Sergipe
e eu era monitor do curso ainda como estudante de Pedagogia, e a
gente deu uma contribuição muito forte na qualificação de muitos
soldados que não sabiam nem assinar o nome. Para a polícia, o projeto
Minerva teve essa contribuição, inclusive nos presídios, é porque essa
história não foi contada, mas o curso do Minerva alcançou, naquela
época, até os presídios. Os policiais que prestavam serviços nos
presídios também vinham para o prédio da Polícia Militar aqui no
Quartel Central para ter aulas que eram realizadas a noite. Na época
eu era monitor, o termo era esse, monitor do projeto Minerva, e recebi
inclusive remuneração. (ANJOS, 2015, s/p).
Nesse sentido, podemos observar as particularidades e as contribuições dos
programas de alfabetização e de educação de jovens e adultos para a implantação do
projeto desenvolvimentista e modernizador daquele período. Apesar das falhas e críticas
direcionadas aos projetos da Cruzada ABC, MOBRAL e Minerva, desenvolvidos durante
as décadas de 60 e 70 do século XX no Brasil, é necessário ressaltar a importância de tais
iniciativas para a construção do modelo de nação planejada pelo Governo Civil-Militar
(1964-1985).
Dentre as principais preocupações e questões a serem priorizadas para a
implantação do novo projeto, estava o combate ao analfabetismo e a formação de mão de
obra qualificada:
A utilização de todos os instrumentos à mão para melhorar a política
educacional na área do ensino primário e da alfabetização de adultos
foi preconizada pelo Ministro da Educação, Sr. Jarbas Passarinho, que
divulgou seu plano de ação para o ano de 1970 naquela pasta. O
Ministro Jarbas Passarinho diante da qualificação deplorável da mão-
de –obra brasileira, tornam-se imperiosos o aumento dos índices de
escolarização na faixa etária dos 7 aos 14 anos e o combate radial ao
analfabetismo, visando em 1972, a sua redução de 19 para 10 milhões.
[...] A redução que se propõe fazer o Ministro da Educação, em dois
anos – de 19 para 10 milhões de analfabetos – surpreendeu aos
técnicos daquele Ministério, que vêem na decisão “uma firme vontade
de produzir uma dinamização violenta no processo educacional do
país. (GAZETA DE SERGIPE, 13/01/1970).
Diante dessa iniciativa, estudantes de Pedagogia da Universidade Federal de
Sergipe foram requisitados para participar da implantação e funcionamento dos projetos
referentes ao processo de alfabetização e o ensino de 1º e 2º graus de jovens e adultos. No
que se refere ao Minerva, a ex-coordenadora Marta Vieira Cruz, ressaltou a importância
deste programa na formação profissional de ex-alunos do referido curso:
160
Destaque importante foi a contribuição do Projeto Minerva para a
formação de profissionais da mais alta competência no cenário
sergipano em várias áreas do conhecimento. A saber: Dr. Evandro de
Sena e Silva (Medicina), Tereza Souza Cruz (Geografia), Dilma
Maria Andrade de Oliveira (Pedagogia), Maria de Fátima Monte
Lima (Pedagogia), Diná Andrade (Serviço Social), Diana Andrade
(Medicina), José dos Anjos (Pedagogia), entre outros. (CRUZ, 2015,
s/p).
No âmbito local, esses programas representavam para muitos sergipanos o único
acesso à escolarização, especialmente, para os moradores de bairros pobres, pequenas
cidades e povoados que não possuíam escolas.
O envolvimento dos acadêmicos nessas campanhas, possibilitou contribuições
para a própria formação profissional, experiência remunerada enquanto estudante, e a
oportunidade de ocupar diferentes áreas do campo educacional sergipano. Além disso,
favoreceu a atuação em programas oficiais do governo e a permanência nesses órgãos,
mesmo após a conclusão do curso.
4.3 – O EXERCÍCIO DOCENTE DOS LICENCIADOS: PROFESSORES DO CURSO
NORMAL E DA HABILITAÇÃO ESPECÍFICA PARA O MAGISTÉRIO (HEM)
Entre meados da década de 60 e início da década de 70 do século XX reformas
educacionais foram planejadas para atender a todos os níveis de ensino, do primário ao
superior. A mobilização do Governo Federal em efetuar tais mudanças foi despertada
pelas reivindicações estudantis e pela necessidade de adequar o programa educacional ao
seu projeto político modernizador e desenvolvimentista.
No que se refere ao ensino superior, Motta (2014) ressaltou o esforço do Governo
Civil Militar para aplacar os descontentes e seduzir as elites intelectuais, destacando as
medidas contraditórias do plano modernizador-autoritário. Segundo esse autor, as
políticas estatais para esse nível de ensino foram elaboradas com estratégias de
moderação, pois as relações da ditadura com o meio acadêmico não foram permeadas
somente do autoritarismo, mas também dos “jogos de acomodação”. Esta flexibilidade
derivou-se da própria estrutura política do regime, a qual desfrutava da aproximação de
161
grupos ideologicamente distintos e, consequentemente, das pressões exercidas por eles
para atender a interesses diversos256.
No seu estudo, Motta (2014) acrescenta que o governo da época apropriou-se do
projeto de reforma universitária reivindicada pela classe estudantil e planejada pelo grupo
político pré-64, os quais defendiam, dentre outras iniciativas, a democratização do acesso
às faculdades, criação da carreira docente, aumento do número de cursos e vagas, fomento
à pesquisa e à extensão, criação de cursos de pós-graduação e dedicação de tempo integral
dos professores.
Em Suma o projeto modernizador-autoritário conduzido pelos
militares e seus aliados civis se inscreveu na cultura política do país,
que é propícia à flexibilidade, a jogos de acomodação e a práticas
ambíguas, principalmente como estratégia para evitar grandes
conflitos sociais e para excluir os setores subalternos. Ele foi um
experimento paradoxal, que aliou modernização e conservação,
repressão e acomodação, violência e negociação. Inevitavelmente, os
resultados desse processo trouxeram também as marcas da
ambiguidade: ao mesmo passo em que consolidaram disparidades
sociais e regionais e intensificaram relações de poder autoritárias,
lançaram as bases para a criação de instituições de ensino superior e
de pesquisa úteis ao desenvolvimento do país. (MOTTA, 2014, p.
355).
Dessa forma, compreendemos que o governo ditatorial (1964-1985) não foi
constituído somente por militares, uma vez que aliados civis participaram ativamente da
elaboração e implantação de projetos durante aquele regime. Além disso, muitas decisões
foram tomadas mediante acordos e divergências entre os diferentes grupos que
permeavam militares e civis.
Apesar de compreender que a intervenção política dos grupos militares era mais
evidente, verificamos que as medidas adotadas para a reformulação do ensino também
estavam associadas aos acordos e disputas, a fim de atender às demandas dos estudantes,
professores e Governo. Esta disposição refletiu nas deliberações acerca das políticas
educacionais do país, mediante leis e decretos.
Nesse sentido, a legislação associada ao ensino de 1º e 2º graus257 também foi
construída a partir dos anseios de diferentes grupos, pois o Governo entendia que era
256 Segundo Motta (2014), a flexibilidade e a acomodação contribuíram para que os agentes do Governo
Civil Militar saíssem do poder sem julgamentos ou punições. No entanto, vale ressaltar que em Sergipe
muitos desses agentes não saíram do poder, e permanecem atuando politicamente até os dias atuais. 257 De acordo com o relatório do Grupo de Trabalho para a Reforma do Ensino de 1º e 2º graus, a proposta
do anteprojeto era promover a atualização e expansão do ensino, considerando as diferenças regionais e a
162
necessário garantir legitimidade ao projeto para ser implantado com a mínima resistência.
Para isso, algumas estratégias foram utilizadas a fim de facilitar a adesão de estudantes e
professores à reforma do ensino, a exemplo do envio do anteprojeto de lei aos conselhos
estaduais de educação, a promoção de debates com estudantes universitários e o uso da
imprensa como um importante meio de divulgação e discussão dos trabalhos.
No caso da implantação da Lei 5.692/71, apesar de vir de um regime
ditatorial, centralizador verifica-se que, para implantá-la, usou-se de
várias estratégias, conferindo grandes espaços às negociações, a
articulação com diferentes grupos, com distintos interesses, por saber
que o sucesso da reforma, especialmente no âmbito da formação de
professores, também precisava se apresentar como a implantação de
uma nova ordem. Essas estratégias ficam evidentes na formação do
GT responsável pela composição das linhas gerais do que veio a ser
a Lei 5692/71 [...]. (FRANKFURT, 2011, p. 202).
O investimento para legitimar a reforma mediante o argumento da consulta
pública era a estratégia mais eficaz do Governo para convencer a população sobre os
encaminhamentos que se pretendia dar à educação e implantar seu projeto com o mínimo
de desgaste político. No entanto, a autonomia nas discussões e sugestões não significava
uma construção democrática, visto que as deliberações apresentadas no anteprojeto de lei
passavam pelo crivo do Ministro da Educação e Cultura, Jarbas Passarinho258, e dos
integrantes do Conselho Federal da Educação259:
Percebe-se, assim, que a metodologia utilizada pelos membros do GT
não se limitava à elaboração de uma proposta técnica para o ensino
de 1º e 2º graus, mas contemplava também posturas políticas, a fim
de preparar a opinião pública para receber favoravelmente as medidas
a serem implantadas, não como uma imposição do governo, mas
como uma necessidade reconhecida e clamada pela sociedade.
(FRANKFURT, 2011, p. 97).
As leis nº. 5.540/68 e 5.692/71, implementadas durante o Governo Civil Militar
(1964-1985), estabeleceram diretrizes para a organização e funcionamento do ensino,
qualidade do ensino. Para isso, a primeira decisão tomada pelo grupo foi a extinção do exame de admissão
(FRANKFURT, 2011). 258 Dentre as recomendações do ministro da Educação e Cultura, Jarbas Passarinho, estava a erradicação do
analfabetismo, a extinção dos exames de admissão e a formação de mão de obra especializada para atender
às necessidades sociais e econômicas dos estudantes e do país. Segundo Jarbas Passarinho, o Estado deveria
promover iniciativas que corrigissem a desigualdade social e garantissem oportunidades aos trabalhadores
e aos seus filhos, a partir do aumento da obrigatoriedade do ensino (7 a 14 anos), incentivo aos programas
de alfabetização de adultos e a ênfase nas habilitações profissionais de 2º grau. (FRANKFURT, 2011). 259 Segundo Frankfurt (2011), o ministro da Educação e Cultura, Jarbas Passarinho, e integrantes do
Conselho Federal de Educação sugeriram emendas ao anteprojeto.
163
respectivamente, do nível superior e das escolas de 1º e 2º graus260. Para legalizar suas
ações políticas, outros instrumentos normativos foram instituídos, através de decretos-
leis editados pelos presidentes da República, portarias ministeriais do MEC, além de
pareceres, indicações e resoluções261 aprovados pelo Conselho Federal de Educação. Este
executava suas atribuições legais da seguinte maneira:
Pareceres são proposições em que as Câmaras e as Comissões se
pronunciam sobre a matéria a elas submetidas. As indicações são de
iniciativa dos próprios conselheiros e, em muitos casos, vêm
acompanhadas de propostas de resolução. As resoluções aprovadas
pelo plenário do Conselho são atos de caráter normativo firmados
pelo presidente. (FERREIRA, 1990, p. 127).
Em Sergipe, tais diretrizes possibilitaram a ampliação no número de escolas e
vagas, permitindo aos estudantes um maior acesso aos diferentes níveis de ensino262. Para
isso, cursos destinados à formação dos professores passaram a ser realizados com maior
frequência na capital e no interior, em parceria entre a Secretaria Estadual de Educação,
o Ministério da Educação e Cultura263 e a Universidade Federal de Sergipe.
Dessa forma, empenhado em garantir a formação de dirigentes e técnicos para
contribuir com o projeto modernizador e desenvolvimentista do país, o Governo Civil
Militar investiu na ampliação de escolas e no corpo docente. No que se refere a este
último, o Governo intensificou a valorização profissional e sua formação, por meio da
implementação de programas de ensino, a obrigatoriedade de concursos, planos de
carreira, piso salarial, cursos de aperfeiçoamento e dedicação de tempo integral. Ao
reiterar legalmente essas vantagens, os professores licenciados pela Faculdade de
260 O ensino primário na lei nº. 4.024/61 era formado de quatro séries anuais, e o ensino médio compreendia
dois ciclos: ginasial de quatro séries e colegial de três anos. Na lei 5.692/71 unem-se o primário e o ginásio,
formando o ensino de 1º grau (1ª a 8ª série), e o 2º grau substituiu o antigo colegial. Portanto, no decorrer
do trabalho também se utilizam os termos 1º e 2º graus. 261 Os pareceres do CFE procuravam assegurar a lei, complementando seus artigos quando estes eram
considerados passíveis de errôneas interpretações. 262 Durante a década de 70 do século XX, a Secretaria de Educação e Cultura do Estado, detentora da maior
rede de ensino de Sergipe, ampliou o número de escolas e matrículas. Para isso, além de construir unidades
de ensino, como o Colégio Leite Neto (1969), Castelo Branco (1970), Costa e Silva (1970), Batistão (1970)
John Kenedy (1972), Leandro Maciel (1972), Médici (1974); alugou e comprou instituições particulares, a
exemplo do Colégio Tobias Barreto (1976), Walter Franco (1972) e Nossa Senhora de Lourdes (1974). 263 Especialmente, através de órgãos como INEP, Programa de Expansão e Melhoria do Ensino (PREMEN),
Programa de Aperfeiçoamento do Magistério Primário (PAMP), Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão
do Ensino Secundário (CADES) e Inspetoria Seccional do Ensino Secundário. Também havia convênios
com agências internacionais, como a United States Agency for International Development (USAID)
e International Bank for Reconstruction and Development (BIRD).
164
Filosofia passaram a reivindicar seus direitos, mediante a Associação dos Professores
Licenciados do Brasil – Seção Sergipe,
Professores licenciados pela Faculdade de Filosofia da Universidade
de Sergipe reuniram-se no início da semana, para debaterem o
problema da prioridade para a admissão de professores por parte dos
ginásios da capital, que estão preterindo os professores licenciados,
em favor dos que realizaram o curso da CADES. Os professores
pretendem ir a Seccional e ao Secretário de Educação para debaterem
o problema, e no momento realizam pesquisas para saber realmente
quantos professores licenciados pela FFUFS264 estão sendo
aproveitados. [...] Segundo os formandos em Filosofia, o
aproveitamento de pessoal recentemente licenciado pela CADES, é
feito por razões de economia por parte dos diretores de
estabelecimentos de ensino, que preferem estes últimos contratando-
os por preço mais acessível. [...] Os problemas se estende também aos
acadêmicos da Faculdade de Filosofia – em número de 100 nos
diversos institutos – que também reivindicam a prioridade na
contratação para o professorado nos ginásios oficiais e particulares.
(DIÁRIO DE ARACAJU, 08/03/69).
Diante das reivindicações acerca da prioridade no exercício docente do ensino
médio, a Inspetoria Seccional do Ensino Secundário de Aracaju, órgão representante do
MEC em Sergipe, precisou posicionar-se acerca do assunto, saindo em defesa dos
professores diplomados pelas FAFIs, devido à determinação da Portaria Ministerial nº
142, de 27 de maio de 1965265.
264 O jornal Diário de Aracaju (08/03/69) utilizou a sigla FFUFS para referir-se à Faculdade de Filosofia da
UFS. 265 Os professores habilitados pelos exames da CADES podiam atuar em colégios do ensino médio, desde
que houvesse vagas e a ausência do professor formado pela Faculdade Católica de Filosofia para lecionar.
165
Figura 40 - Comunicado da Inspetoria Seccional de Sergipe (1969)
Fonte: Diário de Aracaju, 24/08/1969. Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
Na prática, professores licenciados pela Faculdade Católica de Filosofia e,
posteriormente, pela Faculdade de Educação da UFS, empenharam-se para conquistar a
autoridade sobre os direitos garantidos legalmente e serem incorporados
profissionalmente nas instituições de ensino266 e nos órgãos administrativos da área
educacional. A mobilização mediante campanhas na imprensa e o apoio de professores
da Faculdade de Filosofia267, foram um importante recurso utilizado nesse processo de
legitimação268.
266 Pela análise compreende-se que os professores “licenciados” exerciam suas atividades em escolas, mas
não havia a prioridade da docência, o que desprestigiava o grupo. 267 Os professores da Faculdade de Filosofia exerciam autoridade no campo educacional e político, inclusive
possuíam cargos de gestão nos órgãos de Educação, tanto do Governo Federal quanto do Estadual. 268 O movimento produziu efeitos positivos para a categoria, sobretudo com relação à admissão dos
licenciados e a realização de concursos destinados à estabilidade de professores e especialistas interessados
em atuar nas escolas e órgãos oficias do Estado. No entanto, a cultura do “pistolão” permaneceu durante a
década de 70 do século XX.
166
Ao mesmo tempo iniciamos uma campanha junto as autoridades e à
imprensa no sentido de que se cumpra as portarias do Sr. Ministro da
Educação e do Sr. Diretor de Ensino Secundário dando prioridade ao
licenciado nas funções magisteriais. [...] Fizemos entrega ao Sr.
Governador do Estado de um abaixo assinado contendo setenta e
cinco assinaturas, solicitando o cumprimento das ditas portarias e
fazendo sentir a situação de desprestígio do licenciado, igualado
aquele que apenas recebeu uma simples autorização da Inspetoria
Seccional para lecionar. (A CRUZADA, 05/04/69).
Para Nunes (1969), o prestígio do exercício docente nas escolas de nível médio
não era o mesmo após a década de 50 do século XX269, pois a prática da docência nessas
instituições de ensino não se restringia prioritariamente aos professores com elevada
formação acadêmica e notoriedade intelectual. Segundo ela, a contratação do corpo
docente era mediada, sobretudo, por indicação política, permitindo o ingresso de
estudantes universitários sem compromisso com o magistério e profissionais liberais sem
preparo didático para lecionar:
O magistério secundário ao qual pertencia a elite intelectual sergipana
se foi esvaziando. Só permaneceram alguns idealistas. Afinal
chegamos aos dias atuais em meio a uma situação caótica quando o
magistério é apenas um “bico”270 que serve de complementação ao
orçamento. Domina a improvisação com profundas repercussões na
formação da juventude, despreparada para enfrentar os vestibulares
ou os concursos que surgem. (A CRUZADA, 01/11/69).
A professora Maria Thétis Nunes, titular da disciplina Cultura Brasileira do curso
de Pedagogia da UFS, participou do movimento dos licenciados da FAFI, publicando
várias matérias nos jornais sergipanos com o objetivo de criticar essa prática, divulgar a
prioridade legal dos diplomados na regência de aulas do ensino médio, mobilizar os
docentes e pressionar as autoridades políticas ao cumprimento da lei:
269 A partir de 1948, com a criação das instituições de nível superior, muitos intelectuais passaram a atuar
nas faculdades. 270 Em 1968, a autora já havia publicado uma matéria denunciando o descaso com o exercício docente,
utilizando pela primeira vez a expressão “bico”: “O interessante - ou desinteressante – é que a maioria
desses últimos não se constitui dos verdadeiros profissionais do magistério. São professores eventuais,
entrosados com maior frequência no ensino médio, que dão aulas para fazerem “bicos”, pois se dedicam
evidentemente com maior interesse a outras profissões mais rendosas. Alguns deles são bacharéis, altos
funcionários do Governo, médicos, deputados e até fazendeiros, que cavaram uma nomeação para ensinar
quando era mais pobre, ou mesmo recentemente, a fim de vencer mais uns cruzeiros para suas despesas”
(DIÁRIO DE ARACAJU, 15/03/68).
167
Nós somos contra o curso da C.A.D.E.S. Através de experiência
pessoal como professora de muitos deles realizados em diversas
capitais do Brasil, conhecemos sua utilidade para aquelas localidades
onde não existem egressos da Faculdades de Filosofia. Mas onde elas
existem, seus alunos tem o direito garantido pela legislação vigente.
[...] É imprescindível e urgente que entre nós se “profissionalize” o
professor como vem fazendo nos demais estados brasileiros, porque
a Medicina, a Engenharia, a Advocacia, a Assistência Social, por
exemplo, só podem ser exercidos por egressos das respectivas
Faculdades, enquanto o professor secundário pode ser qualquer leigo
apesar da existência entre nós, há 18 anos, de uma Faculdade
especializada271, atualmente integrada na Universidade e gozando dos
mesmos direitos das demais? (A CRUZADA, 15/03/1969).
Apesar da Faculdade Católica de Filosofia licenciar professores desde 1954, a
primeira turma de Pedagogia formou-se apenas em 1971, devido ao atraso na instalação
do curso. Nesse processo, acadêmicos enfrentaram resistência para lecionar nas
disciplinas pedagógicas do Instituto de Educação Rui Barbosa272, mesmo compreendendo
um espaço legalmente definido para a atuação dos licenciados em Pedagogia desde 1939,
como retrata esta ex-aluna:
Então, pela lógica, teríamos que ir para a Escola Normal, porque era
o órgão do Estado que tinha os cursos pedagógicos, e aí chamávamos
esse pessoal que já tinham esses cursos para também fazer o
Adicional. Mas, devido a alguns problemas políticos, não foi possível
realizar o curso Adicional lá [...]. Quando nossa turma começou a
ocupar espaço, isso amedrontou muitos professores que já atuavam e
não tinham formação superior, principalmente da Escola Normal.
Mas a diretora da época era uma ótima profissional e as professoras
que já atuavam lá faziam um trabalho belíssimo na escola. (LAGO,
2015, s/p).
Tal divergência foi motivada pelo fato de o Instituto de Educação Rui Barbosa ter
sido, desde sua criação, reduto de diferentes profissionais liberais e por ter conservado
até a década de 60 do século XX um corpo docente formado, especialmente, por padres,
engenheiros, professores habilitados pela CADES, médicos e bacharéis em Direito.
Entretanto, diante da implantação do curso de Pedagogia em 1968 e da prioridade legal
dos seus estudantes na docência daquela unidade de ensino, iniciou-se uma campanha de
regulamentação mediante as reivindicações da Associação dos Professores Licenciados:
271 A professora Maria Thétis Nunes se refere à Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. 272 Também conhecida como Escola Normal.
168
Na última quinta-feira, o Sr. Secretário ainda convidou o Diretório da
Associação, para com ele, estudar a situação dos professores da
Escola Normal, conforme relação enviada à Secretaria pela sua
Diretoria, a fim de que sejam feitas as possíveis substituições de
professores apenas autorizados (CADES), pelos licenciados.
Achamos que a atitude do Sr. Secretário demonstra zelo pela causa da
Educação. E nós, prontos a colaborar, daremos a esta causa, o máximo
de nós mesmo. Este é o pensamento da Diretoria da Associação dos
Professores Licenciados de Sergipe. Nesta hora em que todas as
profissões se impõem, em que o técnico é valorizado, nós, “técnicos”
da engenharia humana, não poderíamos deixar de exigir o nosso lugar
ao sol, já que para isso trabalhamos. (A CRUZADA, 05/04/69).
Dessa forma, a atenção das autoridades políticas dedicada à causa dos licenciados
gerou um desconforto entre os professores que já atuavam no Instituto de Educação e não
tinham a formação superior em Pedagogia para permanecer lecionando. Tais disputas
foram divulgadas publicamente por meio da imprensa, que também tratou de harmonizá-
las imediatamente:
Estivemos em visita de cordialidade no Colégio Jackson de
Figueiredo, no Ginásio Pio X, no Instituto de Educação Rui Barbosa
e no Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Sergipe. Estas
foram algumas das visitas que havíamos programado fazer aos
Diretores de Estabelecimentos de Ensino Médio da Capital, numa
tentativa de entrosá-los com os objetivos e fins da nossa Associação.
No Instituto de Educação Rui Barbosa aproveitamos da oportunidade
para esclarecer à ilustre Diretora o mal entendido que havia surgido
em virtude de uma nota do Jornal Diário de Aracaju sem que a
Associação tivesse fornecido qualquer informação ou autorização
para tal. D. Maria das Graças sensibilizada, levou-nos a visitar toda a
Escola em funcionamento num clima de muita ordem e solidariedade
[...]. (A CRUZADA, 19/04/69).
Na oportunidade, professores que lecionavam no curso Pedagógico do Instituto de
Educação Rui Barbosa e não tinham diplomas de nível superior foram sendo substituídos
paulatinamente. O aumento no número de turmas decorrente da ampliação do prédio em
1968 e a necessidade de substituir professores afastados e/ou em processo de
aposentadoria facilitaram o ingresso dos licenciados em Pedagogia e a aquisição de
prestígio perante a instituição.
A partir do segundo ano de faculdade a lei dava o direito de ter o título
precário de professor, então enquanto estudante universitário, você já
podia ser professor porque não havia professor suficiente para lecionar.
Então, quando eu estava no 4º ano, fiz meu cadastro na DEA e fui
selecionada para ensinar Sociologia, substituindo o professor Joviniano,
porque ele era professor da Universidade Federal, do curso de Direito, e
era catedrático da Escola Normal na área de Sociologia. Então, ele havia
se aposentado e eu o substituí. (VIEIRA, 2015, s/p).
169
Apesar das divergências e disputas para assumir a docência no Instituto de
Educação Rui Barbosa, os acadêmicos e diplomados do curso de Pedagogia da UFS não
apresentaram dificuldades para ingressar profissionalmente no campo educacional
sergipano. Inclusive, convites foram destinados aos estudantes e egressos para lecionar
nos demais cursos pedagógicos da capital, ofertados no Colégio Patrocínio de São José,
Instituto Dom Jose Tomaz, Colégio Pio Décimo, Colégio Nossa Senhora de Lourdes e
Colégio Tiradentes273.
Após a implantação da Lei nº. 5.692 de 1971, o campo de atuação dos licenciados
em Pedagogia expandiu-se, pois, a obrigatoriedade das habilitações profissionais no
ensino do 2º grau, sendo o Magistério uma delas274, proporcionou o crescimento do
número de instituições destinadas a atender a essa nova política de formação docente. Em
Sergipe, licenciados em Pedagogia pela Universidade Federal de Sergipe foram
convidados pela Secretaria de Educação e Cultura (SEC) para implantar as escolas
experimentais dessa habilitação e lecionar nos cursos.
Quando nós formamos em 72, fomos para o Colégio Arício Fortes,
Lucinha como diretora, porque havia feito Administração Escolar.
Em 1971, saiu a Lei nº. 5.692, então essa lei criou o 1º e o 2º graus, e
os professores do curso Normal poderiam fazer mais um ano, que
seria o 4º ano, o qual chamava de curso Adicional que dava direito a
elas de ensinar a 5ª e a 6ª séries do 1º grau. Então, para ensinar a esses
professores da 5ª e 6ª séries do 1º grau teria que ser nós, que éramos
pedagogos [...]. Como tinham criado o Arício Fortes, uma escola
novinha, então passou a ter o curso Pedagógico de 2º grau. Em vez de
ser de 1º grau, ele era como um laboratório onde funcionavam os três
turnos e tinha o Adicional, no turno da noite. Aí quem não tinha
vínculo com a Escola Normal foi trabalhar no Arício Fortes. Fomos
eu, Edmar, Lucinha e Aninha275, que era a orientadora educacional. O
Arício Fortes foi implantado como mandava o figurino: a Lei n°.
5.692. (LAGO, 2015, s/p).
A Lei nº. 5.692/71, ao estabelecer a escolaridade obrigatória dos 7 aos 14 anos e
extinguir o exame de admissão, que impedia uma parcela dos estudantes a prosseguir seus
273 O curso Normal do Colégio Nossa Senhora de Lourdes, do Colégio Patrocínio São José e do Colégio
Tiradentes haviam sido instalados, respectivamente, nos anos de 1932, 1949 e 1962. 274 O Parecer nº. 349/72 do CFE, aprovado em 6 de abril de 1972, organizou a Habilitação Específica para
o Magistério (HEM) em duas modalidades básicas: uma com a duração de três anos (2.200 horas), que
habilitaria a lecionar até a 4ª série; e outra com a duração de quatro anos (2.900 horas), habilitando ao
magistério até a 6ª série do 1º grau, para ensinar as matérias de Comunicação e Expressão, Ciências ou
Estudos Sociais. O currículo mínimo compreendia o núcleo comum, obrigatório em todo o território
nacional para todo o ensino de 1º e 2º graus, destinado a garantir a formação geral; e uma parte diversificada,
visando à formação especial nas diferentes habilitações (BRASIL, 1972b). 275 A ex-aluna Lilian Leal do Lago se refere a Maria Lúcia Souza Ramos Berger (1968-71), Ana Maria
Dantas Soares de Carvalho (1968-71) e Edmar Neris dos Santos (1969-1972).
170
estudos, proporcionou o aumento no número de escolas de 1º e 2º graus276 e intensificou
a qualificação do corpo docente para atuar nessas instituições277. Diante disso, a mesma
lei determinou que o curso de formação de professores primários ofertados,
especialmente, nas Escolas Normais e Institutos Pedagógicos fosse ministrado nas escolas
do 2º grau, como habilitação profissional278.
Assim as medidas e argumentos apresentados no relatório revelam
que, além de não promover a ruptura na escolarização até os 14 anos,
buscava-se expandir a formação de professores, especialmente no que
se refere à formação média, para outras instituições de ensino, sem
que fosse preciso estar restrita às escolas Normais. Com isso o intuito
era aumentar o quantitativo formado. Pelos argumentos dos relatores
verifica-se que a preocupação com o quantitativo não estava
deslocada da preocupação com o qualitativo. (FRANKFURT, 2011,
p. 113).
Diante desse novo arranjo na formação do professor primário, os profissionais de
Pedagogia, que até então eram autorizados a lecionar no curso Normal, passaram a
exercer sua docência nas disciplinas específicas da habilitação279. Neste caso, licenciados
da primeira turma de Pedagogia da UFS, que haviam se formado em dezembro de 1971,
passaram a atuar na instalação da Habilitação Específica para o Magistério (HEM), em
nível de 2º grau, no ano seguinte280.
Antes de iniciar o processo de implantação nas escolas oficiais do Estado, a
SEC/SE selecionou uma equipe constituída de diplomados e alunos de Pedagogia para
elaborar um plano de trabalho. Na ocasião, integrantes desse grupo foram a Belo
276 De acordo com Nascimento (2005), no período que compreende os anos de 1964 a 1984, a oferta de
vagas para o ensino público de primeiro grau havia crescido 156,16%, e o segundo grau experimentou um
crescimento de 833,54%. 277 A intenção do ministro da Educação, Jarbas Passarinho, e do Grupo de Trabalho era reduzir a presença
de professores leigos, especialmente no ensino primário. Para isso, era necessário garantir a formação e
valorização do corpo docente. 278 Em Sergipe, a formação de professores em nível médio já era realizada em algumas escolas da capital e
do interior, a exemplo, dos colégios São José, Nossa Senhora de Lourdes e Tiradentes, em Aracaju; e dos
colégios Nossa Senhora das Graças e Sagrado Coração de Jesus, respectivamente, nos municípios de
Propriá e Estância. Além disso, outros cursos profissionalizantes também já eram ofertados associados ao
ensino médio, como o ensino agrícola, comercial e industrial. 279 De acordo com o Parecer 45/72 do CFE, as disciplinas específicas da habilitação, compreendiam: Os
Fundamentos da Educação (Psicologia da Educação, Sociologia da Educação e História da Educação),
Estrutura e Funcionamento de 1º Grau e Didática (incluindo Prática de Ensino). Já o núcleo comum do
ensino de 2º grau era constituído pelas seguintes matérias: Comunicação e Expressão, Ciências, Estudos
Sociais, Educação Moral e Cívica, Educação Física, Educação Artística e Ensino Religioso (facultativo)
(BRASIL, 1972a). 280 As estudantes da primeira turma de licenciados de Pedagogia que atuaram na implantação da Habilitação
Específica para o Magistério (HEM) em Sergipe foram: Evanda Maria dos Santos, Maria Lúcia Souza
Ramos, Maria das Graças Tavares, Ester de Oliveira Souza, Lilian Leal do Lago, Judite Oliveira Aragão e
Ana Maria Dantas Soares de Carvalho.
171
Horizonte participar de cursos sobre as diretrizes que regulamentavam a Reforma do
Ensino de 1º e 2º Graus e a Habilitação Específica para o Magistério:
[...] Por outro lado a equipe que foi a Belo Horizonte treinar para a
implantação da reforma do ensino de 2º grau nas escolas Normais de
Aracaju está se reunindo diariamente na SEC para elaboração do
Plano de Implantação, sob a coordenação da profª. Ester de Oliveira
Souza. São coordenadores das áreas as professoras Aurita Vieira
Donald, Ciências; Maria das Graças Tavares, Linguagem; Evanda
Maria dos Santos, Matemática; Edmar Neves dos Santos, Estudos
Sociais; e Maria Lúcia Souza Ramos, diretora do Plano de
Implantação do Ensino Normal. (DIÁRIO DE ARACAJU, 18/04/72).
Além de criar escolas experimentais do Magistério e instalar a habilitação em
escolas de 2º grau já existentes, esse grupo orientou a reformulação do Instituto de
Educação Rui Barbosa e do Colégio Estadual Murilo Braga, os quais ofertavam o ensino
Normal281. Para o aprimoramento pedagógico desses cursos e do corpo docente eram
realizadas reuniões periódicas com as pedagogas que atuavam nessas instituições.
Nesse caso, o atributo legal da docência conferido pelo curso de Pedagogia aos
seus egressos autorizava-os a administrar e lecionar nas disciplinas específicas do
Magistério em nível de 2º grau. No entanto, para o exercício profissional, era necessário
o estudo contínuo, mediante a participação em cursos, congressos e encontros.
Segundo Bourdieu (2007) o diploma escolar é uma representação de um elevado
poder simbólico, devido a disponibilidade de capital cultural e econômico. A obtenção
do diploma, por definição, “fixa” as disposições dominantes. Trata-se de uma delegação
simbólica que desapossa e separa os menos instruídos, em favor dos mais instruídos. No
entanto, o autor ressalta que o acesso a formação e a aquisição de diplomas não garantem,
necessariamente, igualdade social a todos.
A prática docente também exigia “legalmente” o certificado de registro de
professor emitido pelo MEC, detalhando as disciplinas que poderiam ser ministradas por
eles282. A definição dessas matérias de ensino era de competência dos inspetores daquele
órgão, os quais, após a análise do diploma e do histórico do curso de cada licenciado,
emitiam seu parecer ao setor de representação do Ministério de Educação e Cultura, em
281 Maria Lúcia Souza Ramos também contribuiu com a reformulação do curso Pedagógico ministrado na
instituição particular Colégio Patrocínio de São José. 282 De acordo com o Art. 40 da Lei nº. 5.692/71: “Será condição para exercício de magistério ou
especialidade pedagógica o registro profissional, em órgão do Ministério da Educação e Cultura, dos
titulares sujeitos à formação de grau superior” (BRASIL, 1971a).
172
Sergipe. Em caso favorável ao registro profissional, era providenciado o certificado em
forma de carteira, como observado no modelo a seguir:
Figura 41 - Carteira de Registro de Professor – 1973 (frente e verso)
Fonte: Certificado de registro de professor. Acervo: particular de Zenilde Soares Pinto.
Contudo, o limitado número de licenciados do curso superior e a expansão das
habilitações do Magistério nas escolas de 2º grau permitiam aos profissionais de
Pedagogia lecionar nas demais disciplinas específicas da habilitação. A demanda também
implicava a contratação de acadêmicos para suprir a ausência dos licenciados.
173
Com a formação no Curso de Pedagogia o Estado lhe designava para
ensinar qualquer disciplina do curso Pedagógico. [...] Na época havia
uma carteirinha que definia as disciplinas, mas não havia um rigor com
relação a isso. Você podia ensinar qualquer disciplina; tinha a carteira
definindo as disciplinas, mas isso não qualificava somente para a
docência nelas. (ANDRADE, 2015, s/p).
Dessa forma, como a adesão ao ensino profissionalizante de 2º grau passou a ser
obrigatória283, e também como as escolas públicas necessitavam de professores
diplomados para ensinar, o Governo buscou aliar as necessidades locais às exigências da
Reforma de 1971, instituindo a formação docente em unidades de ensino da capital e do
interior. Nesse contexto, os profissionais de Pedagogia conquistaram prestígio perante o
campo educacional, pois representavam os principais agentes dessa formação.
De acordo com Berger (1993), outro fator determinante para a implantação das
habilitações do Magistério nas escolas sergipana estava associado ao pouco investimento
financeiro que era necessário para o seu funcionamento.
Em Sergipe, a terceira etapa na história do ensino normal caracteriza-se
pela proliferação de cursos que oferecem a habilitação em Magistério no
estado, principalmente no interior, por não exigir grandes investimentos
para sua implantação. Em 1978 existiam 49 unidades escolares que
ofereciam o ensino profissionalizante, 20 das quais ofereciam habilitação
em Magistério, sendo que quatro284 localizadas na capital. (BERGER,
1993, p. 228).
Esse pesquisador acrescentou que dentre as quatros escolas que ofertavam a
Habilitação Específica do Magistério na capital, o Colégio Médici teve o curso
estruturado com algumas características inovadoras, uma das quais, estava relacionada à
presença da disciplina Prática de Ensino, nas três séries. Dilma Maria de Andrade, ex-
aluna de Pedagogia, comentou sobre a qualidade do curso e sua participação na docência
das disciplinas:
Eu sempre ensinei em escolas públicas. Lecionei na Escola Normal e no
curso Pedagógico do Colégio Médici. Esse curso funcionou por algum
tempo e era um bom curso. Mas a Escola Normal era o grande celeiro na
formação de professores primários. Com muitos alunos, funcionava pela
manhã, a tarde e à noite. Creio que nos primórdios do curso de Pedagogia
da UFS, muitos alunos iniciaram sua formação profissional no IERB285.
(ANDRADE, 2015, s/p).
283 De acordo com Valério (2007), um dos fatores que motivou a obrigatoriedade do ensino
profissionalizante estava associado à demanda de estudantes interessados nessa formação. 284 De acordo com o autor do estudo, as quatro escolas públicas da capital que possuíam a HEM,
compreendiam: Escola Normal Rui Barbosa, Colégio Castelo Branco, Colégio Médici e o Colégio Arício
Fortes. 285 A ex-aluna se refere ao Instituto de Educação Rui Barbosa (IERB).
174
Com a implantação das habilitações nas escolas do interior sergipano e a
reformulação dos cursos existentes, licenciados em Pedagogia também passaram a atuar
nesses municípios para ministrar as disciplinas específicas da formação especial. Judite
de Oliveira Aragão, ex-aluna de Pedagogia, ensinou no Colégio Estadual de 2º grau
Murilo Braga, localizado em Itabaiana, com o objetivo de capacitar professores para atuar
naquela região:
Em 1969, eu comecei a dar aulas na Escola Normal como professora
contratada, porque era contrato de 20 horas. Trabalhava também
como professora efetiva do Município de Aracaju. Em 1970, pedi
licença da Prefeitura de Aracaju, licença sem remuneração, e fui dar
aulas no Curso Normal do Colégio Murilo Braga, em Itabaiana.
Naquela época, o secretário de Educação estava retirando da rede os
estudantes de outras áreas e professores sem formação superior, e
colocando os alunos de Pedagogia da Universidade. Foi assim que
surgiu a oportunidade de trabalhar lá. (ARAGÃO, 2015, s/p).
Apesar das críticas direcionadas à Habilitação Específica do Magistério de 2º
grau286, faz-se necessário ressaltar a sua importância na formação de professores para
atender à demanda escolar no âmbito local. Além de contribuir com a expansão do ensino,
essa habilitação oportunizou aos seus concludentes a continuidade dos estudos por meio
do ingresso em cursos superiores, especialmente o de Pedagogia287.
Os egressos das habilitações estruturadas em três anos letivos também podiam
complementar por mais um ano sua formação docente através dos Estudos Adicionais.
Esse curso havia sido criado pela Lei nº. 5.692/71 com a intenção de ampliar a atuação
desses professores no ensino de 1º grau. No entendimento do Conselho Federal de
Educação, esses estudos concediam aos professores primários a autorização para ensinar
na 5ª e 6ª séries do 1º grau, a partir da complementação de disciplinas nas áreas de
Comunicação e Expressão, Ciências e Estudos Sociais.
Em Sergipe, acadêmicos e licenciados em Pedagogia participaram da implantação
desses cursos e da docência em suas disciplinas pedagógicas. A primeira iniciativa foi
realizada em 1971, pela Faculdade de Educação/UFS, em parceria com a SEC/SE, cujo
286 Para Tanuri (2000) e Savianni (1982), essa reestruturação do curso Normal descaracterizou e acarretou
prejuízos à qualidade da formação docente. No entanto, para Frankfurt, essas críticas estão mais associadas
à sua relação com o Governo Militar do que propriamente pela análise das práticas de formação instituídas
com a Lei nº 5.692/71. 287 Era facultado aos egressos do ensino de 2º grau, formado em qualquer habilitação profissional, optar
pelos diferentes cursos superiores.
175
objetivo era formar professores para atender à expansão e à melhoria do ensino de 1º grau
da rede oficial do Estado288.
De acordo com a diretora da Faculdade, Cacilda de Oliveira Barros, e o secretário
da Educação do Estado, João Cardoso Nascimento Junior289, essa disposição era
transitória, apenas enquanto a FACED/UFS não formava todos os professores do Estado
em nível superior. A execução do curso foi divulgada pela imprensa sergipana:
Figura 42 - Divulgação do curso de Estudos Adicionais (1972)
Fonte: jornal Diário de Aracaju, 06/04/1972.
Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGS).
A participação dos pedagogos concentrava-se na docência das disciplinas
pedagógicas do curso, a exemplo da Psicologia da Aprendizagem, Didática Geral,
Estrutura e Funcionamento do Ensino e Metodologia do Ensino290. Esta última foi
288 O convênio entre a FACED/UFS e a SEC/SE foi firmado mediante resoluções do CONSU/UFS nº. 05/72
e do CEP/UFS nº. 32/72. Os cursos eram realizados no prédio da FACED/UFS, de segunda a sexta-feira
no turno da tarde, e aos sábados pela manhã. Enquanto a Faculdade de Educação se responsabilizava pela
organização pedagógica, recrutamento de professores e espaço físico, a SEC-SE disponibilizava os recursos
financeiros necessários e o campo de estágio. 289 O professor João Cardoso Nascimento Júnior foi reitor da Universidade Federal de Sergipe entre os anos
de 1968 a 1971, isso facilitava sua intermediação com professores da instituição (SILVEIRA, 2008). 290 O currículo do curso compreendia disciplinas de conteúdo específico para cada área, disciplinas
pedagógicas, Educação Moral e Cívica e as práticas de ensino. Nesse sentido, os diplomados em
176
lecionada pelo ex-acadêmico de Pedagogia José dos Anjos (1970-1973), quando este
cursava o 5º período da graduação:
Durante o curso de pedagogia eu já dava aula na Pio X e no Colégio
de Aplicação, lecionando nos cursos de formação do magistério. Na
Rua de Campos, era destinado ao pessoal que havia estudado na
escola Normal e que gostaria de ensinar até a 6º série. Então, para o
pessoal ensinar até essa série era necessário concluir o curso de
Estudos Adicionais, do qual participei lecionando, com outros
colegas. (ANJOS, 2015, s/p).
Desse modo, o curso permitiu que professores habilitados para ensinar de 1ª a 4ª
série (do 1º grau), os quais já atuavam nas escolas públicas do Estado, pudessem lecionar
nas duas séries seguintes, mediante a escolha de uma das três áreas de ensino:
Comunicação e Expressão, Ciências e Estudos Sociais. De acordo com a imagem a seguir,
podemos verificar o certificado do citado curso emitido pela FACED/UFS:
Figura 43 - Certificado do curso de Estudos Adicionais (1972)
Fonte: Certificado do curso de Estudos Adicionais, habilitação em Ciências – 1972.
Acervo: Arquivo do Departamento de Educação da UFS.
Pedagogia/UFS que lecionaram no curso, especialmente nas disciplinas pedagógicas, foram: Nádia Fraga
Vilas-Bôas, Maria Cândida Aragão, Maria das Graças Tavares Barreto, Evanda Maria dos Santos e Gerson
Vilas-Bôas. O acadêmico José dos Anjos (1970-1973) participou da docência da disciplina Metodologia e
Prática de Ensino.
177
De acordo com a ex-aluna e ex-professora do curso de Pedagogia, Maria de Fátima
Monte Lima, a articulação entre a UFS, estudantes de Pedagogia e a Secretaria de
Educação buscava contribuir com a qualificação docente e a implantação de políticas
educacionais que sinalizavam a expansão e a melhoria na qualidade do ensino no
Estado291.
A articulação entre a Secretaria de Educação e a Universidade Federal
de Sergipe, era grande e promissora. Vários projetos foram
desenvolvidos em parceria com as duas instituições. Tanto o Curso
de Pedagogia, quanto os Cursos das Licenciaturas se beneficiaram
com os estágios nas escolas públicas de 1º e 2º graus, facilitando o
exercício docente do pedagogo em formação. [...] O Departamento de
Educação, inclusive, se especializou tanto em programas de
qualificação para professores do Estado, que pouco se destacava na
produção científica, na área pedagógica. (LIMA, 2015, s/p).
Após a primeira iniciativa realizada mediante convênio entre FACED/UFS e
SEC/SE (1972-1973), os cursos de Estudos Adicionais passaram a ser realizados nas
escolas públicas e privadas, autorizadas pelo Conselho Estadual de Educação. Na
oportunidade, acadêmicos de Pedagogia também atuaram nas demais unidades de ensino:
Enquanto aluna, eu já trabalhava no SENAC, Escola Normal e no
Instituto Dom José Tomaz [...]. No Instituto Dom José Tomaz eu
gostava muito porque funcionava a noite, e era um pessoal muito
comprometido. Na época, eu ensinava no Pedagógico e no Adicional.
Você fazia o Pedagógico e se quisesse ensinar até a 6ª série, o
Adicional te dava direito de lecionar na 5ª e 6ª série. (MELO, 2015,
s/p).
A formação de professores para assumir a docência das escolas de 1º grau era
indispensável a concretização do projeto educacional concebido pelos intelectuais do
Conselho Federal de Educação, pois acreditavam que esse critério era decisivo para o
desenvolvimento quantitativo e qualitativo da escola. No entanto, a presença de
professores leigos ainda era um obstáculo ao funcionamento das instituições de ensino e
a implantação das políticas educacionais do Governo.
291 Essa tendência do curso de Pedagogia da UFS em priorizar a prestação de serviços para a qualificação
docente e de técnicos em Educação implicou na limitação da produção científica, algo que seria superado
a partir de 1980.
178
Figura 44 - Notícia sobre a falta de pessoal qualificado para a implantação da reforma do
ensino
Fonte: jornal Gazeta de Sergipe, 05/01/1973. Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
Nesse sentido, acadêmicos e licenciados em Pedagogia passaram a ser referência
no planejamento e implantação dos cursos de formação e qualificação docente em
Sergipe. Esses profissionais também contribuíram com o estudo, elaboração e
implantação de políticas educacionais que visavam atender a uma demanda daquele
momento (melhoria e ampliação do ensino, formação de mão de obra, formação docente,
entre outras). Convém frisar que essa necessidade não atendia somente a interesses de
militares, mas também de diferentes grupos, dentre eles estudantes e professores.
Isso mostra que o projeto básico do Governo Civil Militar, o qual visava à
formação de mão de obra (técnico e dirigentes) para a modernização e desenvolvimento
do país, não estava dissociado da qualidade do ensino e da ampliação do acesso,
especialmente das camadas pobres, pois, além de investir na criação de escolas, valorizou
a formação do magistério.
179
4.4 – A DEDICAÇÃO ÀS HABILITAÇÕES: CONTRIBUIÇÕES DO SUPERVISOR,
ORIENTADOR, ADMINISTRADOR E INSPETOR ESCOLAR
A reestruturação nacional do curso de Pedagogia aprovada em 1969 pelo
Conselho Federal de Educação292 permitiu aos seus licenciados e bacharéis transitarem
em diferentes espaços do campo educacional, habilitando-os para atuar, respectivamente,
nos cursos pedagógicos de formação de professores em nível de 2º grau e nas atividades
de Supervisão Escolar, Administração Escolar, Orientação Educacional e Inspeção
Escolar.
A finalidade em atender a uma demanda que ia além da sala de aula; proporcionou
aos seus diplomados um amplo mercado de trabalho, maior reponsabilidade e poder.
Nesse contexto, estudantes e licenciados em Pedagogia passaram a ocupar atividades
docentes e cargos técnicos-administrativos dos órgãos educacionais do estado,
participando na implantação de planejamentos do ensino, orientação pedagógica aos
professores e alunos, realização de cursos e concursos para docentes, promoção de
serviços especializados, levantamento de informações (pesquisas) e atividades de
inspeção.
Dessa forma, os diplomados que egressaram da UFS entre os anos de 1971 a 1977
aproveitaram algumas vantagens de suas posições no campo educacional sergipano, em
virtude da ampliação do perfil profissional do curso (docente e técnico), da carência de
pedagogos no estado, pois eram os pioneiros nessa formação e da conquista de direitos,
oriundos das reivindicações dos licenciados iniciadas ainda na década de 60 do século
XX293.
Dentre os direitos conquistados no âmbito local, os egressos do curso de
Pedagogia da UFS puderam desfrutar da criação dos cargos de Orientador Educacional,
Técnico em Educação e Inspetor de Ensino294, em consequência da aprovação do Estatuto
do Magistério do Ensino Médio de Sergipe, no ano de 1969. Tal documento havia sido
elaborado pelo Grupo de Trabalho destinado a estudar a reformulação das normas
292 De acordo com o parecer nº. 252/69 do Conselho Federal de Educação. 293 O curso de Pedagogia da UFS foi implantado em meio ao movimento de disputas e legitimação dos
licenciados perante o campo educacional. As conquistas impulsionaram a absorção dos licenciados e
bacharéis pelo campo educacional sergipano. 294 A função de inspetor de ensino era exercida pelos integrantes da Inspetoria Seccional do Ensino
Secundário de Aracaju (órgão vinculado ao MEC). Em 1973, quando foi extinta, parte de suas atividades
de inspeção foram transferidas para a SEC/SE, sendo exercidas especialmente por estudantes e diplomados
em Pedagogia.
180
técnicas e administrativas do ensino médio, constituído por representantes da Secretaria
de Educação e Cultura do Estado, da Associação dos Professores Licenciados do Brasil
– Secção Sergipe, Faculdade de Educação da UFS e Conselho Estadual de Educação295.
A iniciativa de incorporar tais funções ao Estatuto ocorreu em virtude das
reformulações curriculares e do perfil profissional que permeavam o curso de Pedagogia
da Universidade Federal de Sergipe, naquele ano296. Além disso, a participação de
professoras dessa graduação na composição do Grupo de Trabalho, a exemplo de Maria
Thétis Nunes e Maria Olga de Andrade, foi fundamental para a inserção desses
serviços297.
Em matéria publicada no jornal A Cruzada298, a professora Maria Olga de
Andrade enfatizou a criação dos cargos e a necessidade de estes serem ocupados pelos
diplomados do curso de Pedagogia da Faculdade de Educação, através de concursos
públicos. Outros jornais locais também abordaram a aprovação do anteprojeto e sua
importância para o campo educacional sergipano.
Finalmente ao que nos parece a Lei também atendeu às aspirações da
Associação dos Professores do Ensino Médio, no que se refere aos
cargos criados nesta esfera do ensino e à forma do provimento dos
mesmos. Foi em suma um bom trabalho do atual governo que aqui
destacamos e louvamos como ato de justiça. Agora é esperar um bom
controle da Secretaria de Educação para que o funcionamento da lei
seja correto, produzindo os frutos que todos esperamos. (DIÁRIO DE
ARACAJU, 18/09/69).
O envolvimento da professora Giselda Morais299 com a Assessoria de
Planejamento (ASPLAN) da SEC-SE, no ano de 1970, e a participação de professores do
curso de Pedagogia no Conselho Estadual de Educação300 também contribuíram para a
295 De acordo com o Decreto nº. 1.468, de 14 de abril de 1969, o Grupo de Trabalho compreendeu os
seguintes membros: Lêda Maria Cabral Aguiar, Maria Olga de Andrade, Maria Thétis Nunes (presidente)
e Celina de Oliveira Lima, representantes respectivamente, da Secretaria de Educação e Cultura,
Associação dos Professores Licenciados, Faculdade de Educação da UFS e Conselho Estadual de
Educação. Também integrou o grupo o professor José Maria do Nascimento (A CRUZADA, 19/04/69). 296 Devido às determinações legais do Parecer nº 252/1969 e da Resolução CFE nº 2/1969. 297 Lêda Maria Cabral Aguiar, representante da SEC/SE, também era aluna do curso de Pedagogia da UFS. 298 Jornal A Cruzada (12/07/69, p. 3): “O Estatuto ainda prevê a criação dos cargos de Orientador Educativo,
Técnico de Educação e Inspetor do Ensino Médio, os quais deverão ser providos pelos licenciados em curso
de Pedagogia da Faculdade de Educação”. 299 A professora Giselda Morais, ao retornar do doutorado na França, em 1970, assume como professora
titular da disciplina de Didática do curso de Pedagogia da UFS. No mesmo ano, foi diretora da
ASPLAN/SEC/SE, elaborando o Plano Estadual de Educação (1970). Na ocasião, Giselda Morais,
convidou a estudante de Pedagogia Maria Veneranda Pereira Corado (1969-1971) para assessorá-la. 300 Durante a década de 70 do século XX, professores do curso de Pedagogia tornaram-se membros do
Conselho Estadual de Educação: Cacilda de Oliveira Barros, Maria Thétis Nunes, Maria Olga de Andrade
181
implantação dessas diretrizes e para o ingresso de estudantes e diplomados em Pedagogia
no exercício da docência e das funções técnicas.
Os cargos de supervisor e administrador escolar já haviam sido criados
anteriormente pela Secretaria de Educação e Cultura do Estado de Sergipe (SEC/SE)301 e
pelo Departamento de Educação e Cultura de Aracaju (DEC), com o objetivo de
desempenhar as atividades, respectivamente, de orientação técnico-pedagógica aos
professores e de diretor de escolas.
A Administração Escolar era exercida, especialmente, por professores e outros
profissionais que mantinham vínculo com o grupo político que estava na gestão
governamental, sem critérios específicos de formação. Na prática, havia diretores de
escolas que não tinham sequer o ensino ginasial completo, desconhecendo aspectos da
formação educacional e administrativa.
No entanto, após a implantação da Lei nº 5.692/71, cursos intensivos passaram a
ser promovidos pela SEC/SE, em convênio com a UFS, para habilitar esses
profissionais302. De acordo com o ex-diretor do Conservatório de Música de Sergipe,
Rivaldo Dantas, era obrigatória a participação nesses cursos de qualificação para
permanecer na direção da unidade. No seu caso, como só havia cursado o ensino primário
e ginasial, foi necessário anteriormente prestar os exames supletivos para concluir o 2º
grau:
O turno das aulas era à noite, porque todos já eram diretores de escola
ou tinham funções semelhantes de supervisão. Então, com o advento
da Lei, a qual obrigava que as escolas fossem profissionalizantes, com
ensino técnico e ensino médio, nós que éramos diretores e como
exercíamos funções sem a devida habilidade, precisamos fazer o
curso, entendeu? Pois, éramos escolhidos por indicação de amizade
de Secretário, indicação de políticos e tal, então com o advento da
Lei, o administrador se viu obrigado a colocar pessoas que passassem
ao menos pelo curso de treinamento, e este treinamento exigiu de nós
uma licenciatura sob pena de não continuarmos nos cargos, uma coisa
quase compulsória, né![...] Para entrar no curso tive que fazer o
supletivo, para poder fazer a licenciatura curta em Administração,
pois minha formação era apenas musical. (DANTAS, 2015, s/p).
e Antônio Fontes Freitas. As professoras Cacilda de Oliveira Barros e Maria Olga de Oliveira lecionavam
as disciplinas, respectivamente, Práticas em Orientação Educacional e Supervisão Escolar. 301 O cargo de Supervisão Escolar havia sido criado pela SEC/SE e pelo DEC/Aracaju, em 1964. A
implantação havia sido realizada por professores que haviam participado dos cursos de Supervisão (de nível
médio), nos anos anteriores (A CRUZADA, 01/06/68). 302 A obrigatoriedade da formação superior para esse profissional foi mencionada pela primeira vez na Lei
nº. 5.540/68.
182
Embora a Reforma do Ensino de 1º e 2º graus de 1971 recomendasse a formação
do administrador escolar em nível superior, ela permitia que na ausência de pedagogos
habilitados para exercer essa função, fosse autorizada a atuação de professores sem esse
grau de estudos:
Art. 79. Quando a oferta de profissionais legalmente habilitados para
o exercício das funções de direção dos estabelecimentos de um
sistema, ou parte dêste, não bastar para atender as suas necessidades,
permitir-se-á que as respectivas funções sejam exercidas por
professôres habilitados para o mesmo grau escolar, com experiência
de magistério. (BRASIL, 1971a, s/p).
O ex-membro do Conselho Federal de Educação, Anísio Teixeira (1961)303,
defendia a formação superior desse especialista, sobretudo em nível de pós-graduação,
pois acreditava que os diretores de escolas deveriam obter o conhecimento básico da
Administração Escolar para exercer uma função, a seu entender, importante para a
organização, funcionamento e a qualidade do ensino. Nesse sentido, críticas eram
direcionadas ao despreparo dos diretores de escolas, ao desprestígio da formação
acadêmica e às práticas de indicações políticas.
Não me consta que os administradores se preparem no Brasil. Parece
que não há administração no Brasil no sentido real de algo que se
possa aprender e, muito menos, em educação, onde, ao que parece,
nunca houve busca de administradores para as escolas. Qualquer
pessoa pode dirigir as escolas. Qualquer pessoa pode administrar o
ensino. É evidente que o país acha que para isso não é preciso preparo.
E por quê? Por que será que o país acha que realmente não se precisa
de preparo para dirigir escolas, nem dirigir a educação? Só percebo
dois motivos: um dêles é que os professôres são tão perfeitos, que
realmente não precisem de Administração, e segundo, que as escolas
também sejam tão pequenas, que tais professôres, perfeitíssimos,
podem realizar seu trabalho em perfeito estado, digamos, de anarquia,
cada um fazendo o que venha lhe parecer que deve fazer e resultando
disso uma admirável Administração. Ou isto, ou então que as nossas
atividades no ensino estejam de tal modo estabelecidas em leis,
regulamentos, instruções e programas, que não haja trabalho para
Administração. Cada um só tem que cumprir o que está escrito, e está
administrada a escola, está administrado o ensino, estão
administradas as nossas Universidades. (TEIXEIRA, 1961, p. 86).
Esse autor acrescenta que diante da ampliação progressiva de matrículas e escolas
no país, especialmente a partir da década de 50 do século XX, eram indispensáveis a
303 De acordo com Marinho (2014), os professores Anísio Spínola Teixeira, Antônio Carneiro Leão, José
Querino Ribeiro e Lourenço Filho são considerados os pioneiros da Administração Escolar no Brasil, por
serem os primeiros a realizar pesquisas sobre o tema.
183
formação e integração dos especialistas em Educação nas instituições de ensino para
atender às necessidades técnico-pedagógicas da demanda de estudantes, professores e
escolas. No texto Que é administração escolar?, publicado em 1961, Anísio Teixeira
explica por que defende a formação acadêmica do administrador educacional e sua
valorização profissional:
Porque, se podíamos antigamente ter o grande professor primário que
sòzinho dirigia a sua classe, hoje, tendo que dar educação à população
inteira, sou forçado a buscar um magistério em camadas intelectuais
mais modestas. Quanto mais imperfeito fôr o magistério, mais preciso
de melhorar as condições de Administração. [...]Tais estudos e o
preparo do administrador é que irão permitir organizar o ensino em
rápido desenvolvimento e criar a consciência profissional necessária,
pela qual aquêle antigo pequeno sistema escolar, com o professor
onicompetente, precisando apenas de um guardião para sua escola,
hoje transformado no grande sistema moderno, no qual não se
encontra mais aquêle tipo de professor e as escolas complexas e
fluidas não dispõem sequer de estabilidade do magistério, possa
conservar as condições equivalentes àquelas anteriores e produzir
ensino com a mesma eficácia. (TEIXEIRA, 1961, p. 89).
Desse modo, o fomento à formação do administrador escolar em nível superior
foi evidenciado com as mudanças do ensino ocorridas nas décadas de 60 e 70 do século
XX. A necessidade de atender ao crescimento do número de escolas e de estruturá-las
para o “adequado” funcionamento implicou a formação de pedagogos para assumir
setores definidos das atividades de natureza técnico-pedagógica.
O objetivo era licenciar um profissional específico para exercer a função
administrativa das instituições de ensino, mediante noções do campo da Administração
Geral, Escolar e aspectos legais da Educação. A experiência pedagógica também era
necessária para gerenciar a adequação e o cumprimento dos programas escolares,
promover a organização central da unidade e conduzir estratégias de liderança e
integração da comunidade.
Em Sergipe, as primeiras formações acadêmicas em Administração Escolar foram
realizadas na UFS a partir de 1970. Nesse mesmo ano, estudantes de Pedagogia que
haviam optado pela habilitação foram convidados para dirigir escolas públicas das esferas
estadual e municipal. A nomeação para o cargo era efetivada mediante consentimento do
governador e prefeito, respectivamente. A iniciativa permitiu o exercício desses
acadêmicos nas escolas de Aracaju, a exemplo do Colégio Castelo Branco304
304 O primeiro estudante de Pedagogia, cursando a habilitação em Administração Escolar, a assumir a
direção de escolas da esfera estadual, foi o acadêmico da primeira turma da UFS (1968-1971), Manoel
184
Figura 45 - Posse de novo diretor no Colégio Castelo Branco (1970)
Fonte: jornal Diário de Aracaju, 29/07/1970. Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
O amparo legal, a mediação do Conselho Estadual de Educação e a iniciativa da
SEC/SE, em ampliar e modernizar o ensino possibilitaram que os primeiros acadêmicos
do curso de Pedagogia, os quais haviam optado pela habilitação em Administração
Escolar, tivessem a oportunidade de assumir a direção de escolas ainda enquanto
estudantes. De acordo com Vera Lúcia de Azevedo Fontes, ex-aluna da segunda turma
(1969-1972), logo após a escolha pela habilitação foi convidada para dirigir unidades de
ensino.
Ainda no 1º ano, já havia saído a Lei que diretores de escolas tinham
que ter curso de Pedagogia, então o Estado já contratou a turma
inteira. Eu fui contratada, pelo menos na minha carteira, tá julho de
71, se não me engano. Antes de me formar, eu já estava contratada
pelo Estado. Então meu estágio, foi no Estado, eu já estava
trabalhando e já servia como estágio. Agora havia as aulas de estágios
que os professores iam supervisionar, entendeu? (FONTES, 2015,
s/p).
Messias Porto. Este assumiu a direção do Colégio Castelo Branco, localizado no Bairro Industrial, em 1970.
A referida instituição havia sido criada recentemente pelo Decreto n º 306, de 02 de março de 1970, assinado
pelo governador Dr. Lourival Batista.
185
A ex-aluna também relatou sua experiência na gestão de escolas da capital,
destacando as inovações administrativas e pedagógicas. Segundo ela, em 1971 ao assumir
a direção do colégio Lourenço Filho, localizado no Bairro América, contribuiu com a
reorganização da unidade e a instalação de chafariz para atender aos alunos e à
comunidade.
Quando eu fui dirigir o Lourenço Filho, imagine isso, há mais de 40
anos atrás, ou seja, não havia água para a comunidade, era um
chafariz. A escola tinha porque havia encanamento, tinha caixa
d’agua, mas para o povo não tinha. Então, eu tive que trabalhar para
a escola e para a comunidade, porque tinha gente da comunidade que
ia destruir a escola. Começaram a tirar água da escola, tinha uma
torneira no lado de fora, um dia teve uma briga na fila, e ficou feio o
negócio. [...] Um dia eu mandei uma comunicação pelos filhos para
uma reunião com eles, o pessoal do bairro, lá na escola, num dia de
sábado. [...] Eu fiz um abaixo-assinado solicitando água para o bairro,
e fui com uma comissão na prefeitura. Na outra semana estavam
instalando chafariz, pelo menos a cada 100 metros das casas.
(FONTES, 2015, s/p).
Essa versão contraria interpretações que reduzem a Administração Escolar,
exercida durante o Governo Civil Militar, às funções burocráticas e ao autoritarismo, este
justificado mediante práticas de vigilância, controle e punições perante a clientela da
escola e sua comunidade305. Nesse sentido, outras compreensões podem esclarecer a
importância dessa função para o trabalho pedagógico e a preocupação com a dimensão
coletiva naquele período.
No entanto, a dependência política do Governo e a flexibilidade da lei perante o
exercício do diretor de escola inibiam a escolha dos acadêmicos de Pedagogia pela
habilitação em Administração Escolar, pois eles acreditavam que esses fatores poderiam
prejudicar o desenvolvimento de suas atividades profissionais. Diante disso, a preferência
dos estudantes era maior pelas áreas da Supervisão e Orientação Educacional.
No caso da Supervisão Escolar, a formação mínima exigida para desempenhar as
funções compreendia o diploma do curso Pedagógico de nível médio306 e do curso
305 Essa interpretação reduz o administrador educacional a um gerente de empresa: “Nesse contexto, é bem
possível que o diretor tenha sido, por vezes, cooptado pelo sistema econômico e político, exercendo uma
função análoga à do gerente de empresa, ou seja, atuando como agente controlador e fiscalizador das
atividades desenvolvidas na instituição escolar, com o intuito de assegurar a manutenção da ordem vigente”.
(CLARK, p. 24, 2015). 306 A Lei nº. 4.024/61 (Art. 52) autorizava professores diplomados no ensino Normal de grau colegial a
exercerem as atividades de supervisão, administração, orientação e inspeção em escolas primárias
(BRASIL, 1961).
186
especial de supervisão307, desenvolvido em convênio com o Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) ou com o Programa de
Aperfeiçoamento do Magistério Primário (PAMP), como podemos verificar na matéria
de divulgação do concurso a seguir:
Figura 46 - Concurso para supervisores (1969)
Fonte: jornal Diário de Aracaju (20/11/1969). Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
A SEC/SE, diante da necessidade de formar supervisores para a orientação
pedagógica do corpo docente e implantação dos seus programas de ensino, selecionava
professores normalistas interessados em participar dos cursos especiais de Supervisão em
nível médio308. A partir de 1969, a Secretaria de Educação e Cultura passou a solicitar
307 Essa formação era realizada nos centros de treinamento do magistério, localizados em diferentes estados
do país (São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Paraíba e Paraná). De acordo com Nogueira (2005), esses cursos
foram implantados a partir de 1963, mediante atuação do Programa de Assistência Brasileiro-Americana
ao Ensino Elementar (PABAEE), em convênio com o INEP. A iniciativa era resultante do acordo assinado
entre o Brasil e os Estados Unidos, em junho de 1956, tendo por objetivo central a melhoria do ensino
primário brasileiro. Esses cursos foram extintos em 1971, com a implantação da Lei nº. 5.692, que instituía
a Supervisão Escolar em nível superior. 308 Segundo as ex-supervisoras Zenilde Soares Pinto e Olívia Maria Apolônio de Jesus, ao serem
selecionadas para participar do curso intensivo de Supervisão, receberam bolsas de estudos da Secretaria
de Educação e Cultura do Estado para ajudar nas despesas. O curso foi promovido em 1966, na cidade de
187
convênios com a Universidade Federal de Sergipe para diplomá-los em nível superior,
como determinava a Lei n° 5.540/68309. Professores do curso de Pedagogia também
abordavam essa necessidade em reuniões da FACED/UFS e defendiam a criação de um
curso de Pedagogia noturno para formar às supervisoras de nível médio que já exerciam
a profissão.
A professora Maria Thétis Nunes, a seguir, sugeriu a possibilidade de
funcionamento de um curso noturno de Pedagogia para atender o
grande número de supervisores do Estado e, caso a Reitoria se incline
a atender, que seja feita na ocasião da inscrição ao concurso vestibular
a opção por curso diurno ou noturno. (UNIVERSIDADE FEDERAL
DE SERGIPE, 1969-1978, p. 18).
No entanto, a Supervisão Escolar só foi implantada pela Congregação do curso de
Pedagogia/UFS no ano de 1972, em virtude da carência de professores da área para
lecionar suas disciplinas específicas e organizar o currículo da habilitação. Até esse
período, essa função permaneceu sendo desempenhada, predominantemente, por
professores primários que haviam feito os cursos intensivos do INEP e PAMP310.
No ano seguinte311, ao iniciar os preparativos para requerer ao Ministério da
Educação e Cultura os primeiros diplomas de Pedagogia com habilitação em Supervisão
Escolar, os professores da FACED identificaram que o currículo aprovado pelo Conselho
de Ensino e Pesquisa da UFS autorizava a disponibilidade da formação apenas para o
ensino de 1º grau, sendo necessária a extensão do diploma ao nível de 2º grau. Para
justificar a solicitação ao CEP, a diretora da Faculdade de Educação enfatizou a
necessidade de supervisores para atender às atividades da SEC/SE, informando, inclusive,
o número de vagas disponíveis para essa ocupação.
Colatina/ES, com duração de 10 meses. Segundo elas, outros cursos foram promovidos em diferentes
estados com o objetivo de formar professores da SEC/SE e DEC-Aracaju para exercer a função de
supervisora da escola primária. 309 A partir de 1971 essas solicitações tornaram-se mais intensas devido à implantação da Lei nº. 5.692, que
impedia que os supervisores habilitados no ensino médio permanecessem exercendo a função. De acordo
com o Art. 84, apenas os diretores, inspetores, orientadores e administradores de estabelecimentos de ensino
poderiam permanecer atuando na área. 310 Aliás, a ocupação profissional desses supervisores na escola primária oportunizou muitos deles
buscarem a formação em nível superior na Universidade Federal de Sergipe, através da licenciatura de curta
duração ou plena, em Pedagogia. 311 Nos dois primeiros anos do curso eram ofertadas as disciplinas da formação do Magistério (licenciado),
comum a todas as habilitações do curso de Pedagogia. Nos dois últimos anos eram ministradas as disciplinas
comuns e específicas da habilitação escolhida pelo acadêmico. Então, como a Supervisão Escolar foi
implantada em 1972, os primeiros diplomados da habilitação concluíram o curso em 1973.
188
Diante da vantagem que dará ao aluno a extensão de seu diploma até
o 2º grau e diante das necessidades da Secretaria de Educação que no
momento dispõe de 100 vagas para supervisores de 1º e 2º graus,
conforme nos afirmou o chefe da CODEX312, vimos solicitar de Vossa
Magnificência providenciar ao CEP o reexame do currículo de
Supervisão Escolar e conceder aos licenciandos deste ano, a extensão
do seu diploma para o 2º grau, já que todos os requisitos estão
completos e não haverá qualquer outro encargo para a Universidade.
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, 1973, p. 2).
O caso foi encaminhado ao setor jurídico da UFS, que orientou a Faculdade de
Educação disponibilizar o diploma para a atuação no ensino de 2º grau aos concludentes
daquele ano, pois, segundo a assessoria, esses egressos ainda estavam cumprindo o
currículo do sistema seriado, que tinha no seu perfil profissional a Supervisão Escolar de
1º e 2º graus. Nesse sentido, como no currículo aprovado para o sistema de créditos
incluiu tal habilitação somente para o ensino de 1º grau, foi solicitada ao Conselho de
Ensino e Pesquisa a extensão desse exercício313.
Até a implantação das habilitações no curso de Pedagogia da UFS, as atividades
dos seus acadêmicos concentraram-se na docência do curso Normal e na coordenação
pedagógica de campanhas educacionais, a exemplo dos programas de alfabetização de
jovens e adultos. Após 1970, com a reestruturação curricular e instalação das habilitações,
os universitários conquistaram outras oportunidades para o exercício profissional.
A ampliação da rede pública de ensino e a ênfase dos aspectos legais sobre as
contribuições dos especialistas em Educação no apoio administrativo das escolas e para
o adequado desempenho pedagógico possibilitaram uma descentralização de funções no
perfil profissional do pedagogo. Essa tendência atribuiu serviços especializados aos
alunos e aos professores com o objetivo de assegurar o funcionamento “apropriado” das
instituições de ensino, tornando-os bastante requisitados pelos órgãos educacionais do
município de Aracaju e do Estado, especialmente pela Secretaria de Educação e Cultura.
De acordo com Teixeira (1958), a implantação dos serviços especializados em
supervisão, administração, orientação e planejamento, com pessoas qualificadas para
exercer tais atividades, passou a ser fundamental, especialmente, após a década de 50 do
312 Nesse período, o chefe da Coordenadoria Executiva dos Órgãos Regionais da Secretaria de Estado da
Educação – CODEX/SEC era o professor Antônio Fontes Freitas. 313 A Resolução do CEP nº. 03/70, ao aprovar a reestruturação da FACED/UFS, incluiu a Supervisão
Escolar de 1º e 2º graus no perfil profissional do curso de Pedagogia. Ao ser aprovada uma nova reforma
curricular (Resolução do CEP nº. 39/71), devido à implantação do sistema de créditos, foi omitida a
habilitação em nível de 2º grau. Em 1974, foi novamente estendida ao ensino de 2º grau.
189
século XX. Segundo ele, essa iniciativa iria adaptar a escola para atender às orientações
do novo projeto educacional314 e à expansão do acesso ao ensino:
A primeira mudança é esta. Não podemos selecionar os alunos.
Temos que educar a todos. Não podemos selecionar os mestres.
Temos de escolhê-los em camadas cada vez mais comuns. Com
alunos comuns e mestres comuns, cresceram as necessidades de
planejamento, as necessidades de supervisão e as necessidades de
administração. Não foi, porém, somente isto que mudou. Mudaram
também os objetivos da educação escolar. Já não temos apenas que
preparar estudiosos e intelectuais para continuarem a estudar e a
ensinar e cada vez se fazerem mais competentes nesse indispensável
e maravilhoso círculo vicioso da cultura humana. Por certo que ainda
temos de fazer isto, mas, também, temos que preparar a grande massa
de meninos e jovens para as tarefas comuns da vida, tornadas técnicas
senão difíceis, pelo tipo de civilização que se desenvolveu em
conseqüência de nosso progresso em conhecimento, e, além disto, os
quadros vastos, complexos e diversificados das profissões e práticas
em que se expandiu o trabalho especializado. (TEIXEIRA, 1958, p.
1).
Dessa forma, o projeto idealizado por Anísio Teixeira inspirou o perfil
profissional implantado no curso de Pedagogia, a partir de 1969. A busca pela eficiência
e a modernização do ensino motivaram os conselheiros federais, Valnir Chagas e Newton
Sucupira, a adotar as especialidades projetadas pelo escolanovista na formação do
pedagogo:
[...] O professor administra a sua classe, ensina a seus alunos e os
orienta na vida e nos estudos. Hoje ainda faz tudo isto, mas, como não
pode ser tão selecionado, nem os estudos tão suficientemente simples,
temos de ajudá-lo com especialistas de administração, de
planejamento, de currículo, de supervisão e de orientação. Todos
êstes especialistas são outros tantos professôres especializados que
preparam o trabalho para que o mestre o possa executar. A diferença
decorre da complexidade e variedade da tarefa do mestre, que já não
pode sòzinho realizá-la. O administrador e planejador é o antigo
mestre na sua capacidade administrativa, o supervisor é o antigo
mestre na sua capacidade de ensinar e o orientador, o antigo mestre
na sua capacidade de orientar[...]. (TEIXEIRA, 1958, p. 1).
Diante da nova configuração do curso adotada em 1969, o diplomado em
Pedagogia com habilitação em Supervisão Escolar passou a exercer atividades de suporte
314 Para Teixeira (1958, p. 1), o novo projeto educacional estava associado ao ensino profissionalizante.
Nesse sentido, é possível verificar uma tendência a essa modalidade de ensino durante a década de 50 do
século XX: “Mudaram, pois, os alunos - hoje todos e não apenas alguns, - mudaram os mestres - hoje
numerosos e nem todos especialmente chamados pela paixão ao saber, - e mudaram os objetivos da escola
- hoje práticos, variados e mais profissionais e de ciência aplicada que de ciência desinteressada e pura”.
190
técnico-pedagógico dedicado aos professores das escolas de 1º e 2º graus, contribuindo
com as ações de: planejamento escolar, cooperação no processo de ensino-aprendizagem,
medidas de avaliação e recuperação dos alunos, aperfeiçoamento de práticas e
instrumentos de ensino, organização do currículo e implantação de projetos educacionais.
Em Sergipe, outra importante atividade exercida pelos habilitados em Supervisão
era a promoção de congressos e cursos para a qualificação docente, destinados aos
professores titulados e não titulados315da rede pública de ensino. Esses cursos eram
realizados de forma intensiva durante as férias escolares, nos centros de treinamento
docente de Aracaju e do interior316, por meio do sistema de internato e semi-internato,
como divulgado na imprensa sergipana:
Figura 47 - Divulgação de cursos para professores da SEC/SE (1969)
Fonte: jornal Diário de Aracaju, 19/07/1969. Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
315 Os professores não diplomados correspondia aos docentes que exerciam a profissão sem a formação
“mínima” exigida para o magistério (o curso Normal). 316 Durante a década de 70 do século XX havia centros de treinamento docente em Aracaju, Estância,
Propriá, Lagarto e Itabaiana.
191
Os congressos e cursos também eram realizados durante o ano letivo em diferentes
turnos para que os professores titulados e não titulados pudessem participar. A intenção
do Governo Estadual era moralizar o campo educacional e legitimar uma formação
especializada ao seu corpo docente, baseada no conhecimento científico e nas modernas
práticas pedagógicas317. Essa iniciativa também estava associada à melhoria da qualidade
do ensino e expansão da rede escolar.
Até 1972, a Secretaria de Educação e Cultura do Estado de Sergipe apresentava
no seu quadro do magistério de 1º grau 53.9% de professores não titulados318. Diante da
necessidade de qualificar esse corpo docente e atualizar professores que já tinham os
cursos exigidos para o seu exercício profissional, a SEC/SE recrutava supervisores para
planejar e desenvolver programas de formação319.
Na oportunidade, os acadêmicos e diplomados em Pedagogia/UFS atuaram nos
centros de treinamento docente da capital e do interior, promovendo cursos320 para a
formação de regentes de ensino, atualização pedagógica aos professores primários e
secundários, preparação para os exames de Madureza321 e abordagem das novas
metodologias de ensino, de acordo com as diretrizes do MEC e da legislação:
Art. 80. Os sistemas de ensino deverão desenvolver programas
especiais de recuperação para os professôres sem a formação prescrita
no artigo 29 desta Lei, a fim de que possam atingir gradualmente a
qualificação exigida. (BRASIL, 1971a, s/p).
Os supervisores estavam integrados ao Centro de Supervisão e aos seus núcleos
regionais criados pela Secretaria de Educação com o objetivo de mediar a relação entre o
Executivo e o corpo docente. Essa disposição visava à implantação das políticas
317 Durante o marco temporal deste estudo, verificam-se matérias jornalísticas criticando o ingresso de
professores leigos ou sem formação pedagógica, efetivados mediante recomendação política, vocação ou
pela necessidade de complementação de renda. Diante dessa disposição, em 1969 foi implantado um plano
de carreira para os regentes e professores primários da SEC-SE com o objetivo de valorizar e estimular a
formação docente. Além disso, foi intensificada a realização de concursos para o exercício docente, visando
combater a intervenção político-partidário (DIÁRIO DE ARACAJU, 08/10/69). 318 Dados apresentados na Programação Estadual Referente ao Empréstimo MEC/BIRD, de 1973
(GOVERNO DE SERGIPE, 1973). 319 O Governo Federal financiava campanhas de formação docente, especialmente através do Programa de
Aperfeiçoamento do Magistério Primário (PAMP) e PREMEN. O objetivo era qualificar professores para
atuar em seus projetos educacionais e melhorar a qualidade do ensino. 320 Os supervisores planejavam os cursos e lecionavam as disciplinas de Didática, Psicologia, Recreação,
Administração Escolar e Metodologias de Ensino. 321 Alguns professores primários não tinham o ensino secundário completo. Então, cursos eram promovidos
pelo Centro de Supervisão da SEC/SE para os professores candidatos aos exames de Madureza (ciclo
ginasial e colegial) (DIÁRIO DE ARACAJU, 21/02/70).
192
educacionais, ao planejamento das atividades, ao levantamento de informações e ao
acompanhamento das práticas docentes realizadas nas salas de aula.
De acordo com a ex-aluna Ana Lúcia Menezes Vieira, ao cursar o último ano de
Pedagogia em 1973, foi convidada para assumir a coordenação do centro de supervisão
da SEC/SE, pois sua turma (1970-1973) apresentava os primeiros licenciados nessa
habilitação em nível superior. Ao aceitar o convite, coordenou a implantação de um novo
modelo de supervisão no Estado.
Assim que termino o estágio, doutor João Cardoso era o secretário de
Educação, e o Ministério da Educação estava criando o modelo
compatibilizado de supervisão. Por que era compatibilizado? Porque com
a influência norte-americana, eles fizeram um modelo de supervisão para
ter mais eficiência no controle do comportamento do professor e levar à
eficácia do ensino. Então, era um modelo bem tecnicista, e cada Estado
tinha que montar uma equipe de supervisão para fazer a compatibilização
desse modelo central. [...] Para isso deveria ter supervisores formados.
Então a 1ª turma de supervisão era a nossa, e eu tinha cerca de 6 ou 8
colegas de turma que eram também supervisores da rede, e que estavam
fazendo supervisão, e elas começaram a influenciar meu nome para a
Secretaria de Educação. [...] E aí doutor João Cardoso manda consultar a
Faculdade de Educação, e a professora Olga, que na época era diretora,
referendou meu nome. (VIEIRA, 2015, s/p).
Apesar de reforçar o caráter tecnicista e controlador do modelo de supervisão
adotado naquele momento pelo Governo Federal, percebemos a divergência entre o
discurso “reducionista” de autoritarismo propagado por uma parte da historiografia
educacional brasileira e a prática, pois, ao ser questionada sobre a importância desse
trabalho, a ex-aluna destacou a oportunidade de implantar um modelo de supervisão
direcionado ao diálogo e à participação docente.
Aí eu sou chamada para coordenar esse modelo de supervisão da
Secretaria de Educação. E aí foi uma experiência bem interessante
porque eu já tinha outras leituras da supervisão, né! E uma das coisas que
eu não aceitava era aquele modelo do MEC/USAID que era de você
entrar na sala de aula sem pedir autorização aos professores, isso era um
comportamento controlador. Então, eu fui chefiada pelo professor
Antônio Freitas e eu o convenci de pedir ao Secretário de Educação para
baixar uma portaria que determinasse que todo supervisor precisava
pedir licença para entrar na sala de aula e dizer o que ia fazer. E aí nós
formamos um grupo multidisciplinar; não era só supervisor. Então nós
tínhamos professores de diferentes áreas para fazer esse modelo
compatibilizado. Nós escutávamos todas as áreas e passamos a ter muitas
leituras, mas leituras da psicologia, da Sociologia. Foi uma experiência
bastante rica, baseada no diálogo com os professores [...]. E naquela
ocasião regulamentamos os horários de estudos, chamados de horários
de coordenação, é aí que começa a conquista das horas de estudos fora
da sala de aula, através desse modelo compatibilizado. (VIEIRA, 2015,
s/p).
193
No decorrer da pesquisa, verificamos o frequente envolvimento de acadêmicos e
diplomados em Pedagogia/UFS no processo de implantação das políticas educacionais
em Sergipe, especialmente mediante a nomeação em cargos de confiança ou funções
estratégicas na Secretaria Estadual da Educação. As atividades concentravam-se,
sobretudo, nas áreas de planejamento, currículo, inspeção, supervisão, programas de
ensino e orientação. A ex-aluna Lilian Leal do Lago falou sobre a importância dos
profissionais de Pedagogia para a concretização de um novo modelo de planejamento e
execução das propostas de ensino:
Os grandes intelectuais da formação de professores, como Nunes
Mendonça e Acrísio Cruz, já haviam falecido, então precisava de
sangue novo. E aí começou justamente todo o plano, foi quando
começamos a elaborar os planejamentos, planos de aula, planos de
curso, porque até então nada disso existia. Isso aconteceu, não só na
Escola Normal, mas para a educação como um todo, para a Secretaria
de Educação também! [...]. A própria Secretaria de Educação pegou
o pessoal de Pedagogia para ajudar a implantar o ensino de 1º grau e
2º grau, entendeu? Para fazer os projetos e trabalhar com os outros
professores. (LAGO, 2015, s/p).
Nesse sentido, o Governo Civil Militar criou um projeto educacional que visava
ao desenvolvimento e à modernização do país, pautado na formação de mão de obra
qualificada. Para isso, investiu na formação docente e na expansão da oferta do ensino
público, com a implantação nacional de uma rede de escolas de 1º e 2º graus. Essa
iniciativa ampliou de uma maneira até então desconhecida as oportunidades de acesso à
escolarização para os grupos mais pobres da população brasileira322.
Em Sergipe, acadêmicos e licenciados em Pedagogia participaram do movimento
de planejamento e implantação dessa nova política, garantindo serviços especializados
para atender a estudantes, professores, funcionários e comunidade323.
No entanto, outras interpretações acerca da atuação do pedagogo durante o
Governo Civil Militar também foram verificadas na pesquisa, pois, para alguns
entrevistados, o curso estava associado ao aspecto tecnicista e ao aparato de controle
daquele Governo. Estas compreensões foram apropriadas por ex-alunos e ex-professores
322 De acordo com Carvalho (2005), a reforma do ensino de 1º e 2º graus fez com que houvesse um aumento
visível dos investimentos do setor público na expansão da sua rede escolar. Para embasar sua análise,
apresentou dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os quais comprovavam o
crescimento no número de matrículas nesses dois níveis de ensino. 323 Respondendo inclusive a demandas populares e às pressões de movimentos sociais.
194
do curso de Pedagogia, fundamentadas especialmente em leituras de um referencial
bibliográfico emergente após a década de 80 do século XX:
Em 1971, com a reforma do ensino, surge a obrigatoriedade da
Orientação Educacional nas escolas de 1º e 2º graus, com o objetivo
de, justamente, exercer ações sobre os alunos, principalmente com
relação ao comportamento, para que eles pudessem se adaptar ao
regime! Não era a escola saber quem era aquele aluno para trabalhar
em função dele, para descobrir o que tinha que trabalhar com ele, mas
fazê-lo obedecer às normas da escola. Então, uma das funções do
Orientador Educacional era fazer o aluno adaptar-se à escola; uma
espécie de controle sobre eles. O supervisor ia exercer esse controle
junto aos professores. Era uma ação que já existia, porque o controle
primeiro foi em cima dos professores. A Orientação Educacional foi
instituída, posteriormente. Passava a ideia de que a função do
orientador estava sendo valorizada, e, desta forma, a escola estava
valorizando o aluno, mas na verdade era a necessidade do Regime
Militar em exercer o controle sobre o comportamento dos alunos, agir
sobre eles, em nome da adaptação [...] Em relação à Administração,
esta exercia o controle sobre todos. Dessa forma, o orientador exercia
o controle sobre os alunos, o supervisor sobre os professores e o
administrador sobre a escola em geral, os funcionários, inclusive, o
supervisor e o orientador. (ARAGÃO, 2015, s/p).
Nesse sentido, compreendemos que as recordações dos indivíduos são seletivas e
se formam a partir de uma construção social. Essa construção envolve não só experiências
vividas diretamente, mas também experiências herdadas, aprendidas e transmitidas pelos
grupos através do processo de socialização (POLLAK, 1992).
Por isso, para alguns ex-alunos do curso, a referência ao Regime Civil Militar
expressa um sentimento de vitimização, justificado por uma formação limitada e
autoritária daquele período. Esta interpretação também leva a compreender que suas
atividades estavam associadas a uma certa adesão a esse movimento, exercendo o controle
e a propagação desse projeto324.
324 Egressos do curso de Pedagogia, da década de 70 do século XX, irão liderar atos de reivindicação
docente a partir de 1978. O primeiro movimento liderado por eles foi criado oficialmente em 1979, dentro
da APMESE (Associação de Profissionais do Magistério do Estado de Sergipe), denominado de
Renovação. Presidido por Diomedes Santos da Silva (1976-79), outros ex-alunos de Pedagogia integraram
o grupo, a exemplo de: Tereza Cristina Cerqueira da Graça (1976-79), Ana Lúcia Menezes Vieira (1970-
73), Avilete Cruz de Almeida (1976-79) e José Alberto Gomes Varjão (1975-78). Com reivindicações
acerca de reajuste salarial e aprovação de um novo Estatuto, irão liderar a greve dos professores da
Secretaria Estadual de Educação, realizada em 1984.
195
O tecnicismo foi incorporado nas nossas ações como a forma de
resolver os graves problemas educacionais do país. O otimismo com
a técnica fez parte de nossa formação. Vivíamos um momento de
euforia, apesar de ter sido efêmero. Com processo de abertura
democrática também veio novas leituras e outras análises da realidade
educacional brasileira. (ANDRADE, 2015, s/p).
Outro profissional de Pedagogia requisitado pelos órgãos educacionais de
Sergipe, após 1970, era o orientador educacional. Seus serviços concentravam-se na
assistência aos alunos das escolas públicas e privadas, mediante as atividades de
orientação vocacional, acompanhamento pedagógico, encaminhamento a outros
especialistas quando se exigisse assistência especial, integração escola-família-
comunidade, diagnóstico das dificuldades de aprendizagem, análise da repetência e
elaboração do currículo escolar.
A aprovação do Parecer nº. 542/70 do CFE concedeu maior prestígio a essa
carreira, pois estabeleceu a obrigatoriedade da orientação educacional e vocacional aos
alunos de escolas primárias e secundárias por meio da atuação individual ou de grupos
especializados. Para justificar o seu posicionamento, José Vieira de Vasconcellos, Relator
do Parecer e membro do Grupo de Trabalho da Reforma do Ensino de 1º e 2º graus,
destacou a trajetória histórica dessa função na legislação educacional, a necessidade de
especialistas para atender à escola moderna e a ênfase do tema nas discussões sobre a
Reforma que seria aprovada em 1971.
A exigência do Orientador Educacional e Vocacional nas escolas não
é desiderato recente nas nossas leis de educação. A LDB, ao enumerar
as normas que devem ser observadas na organização do ensino de
grau médio, exigia: “Instituição da orientação educativa e vocacional
em cooperação com a família” (art. 38, V). [...] O Grupo de Trabalho
que estuda a reforma do ensino primário e médio destaca em artigo
separado a necessidade de orientação, conduzida por especialistas
com o devido preparo, e feita em cooperação com os professores e a
família325. (VASCONCELOS, 1970, p. 29).
Um dos motivos que induziram a implantação obrigatória da Orientação
Educacional e Vocacional nas escolas estava associado à necessidade do
acompanhamento pedagógico à nova demanda de estudantes que estavam aderindo à
escolarização, sobretudo filhos de trabalhadores que não tiveram a oportunidade de
325 A ênfase do Grupo de Trabalho da Reforma sobre a necessidade da Orientação Educacional resultou no
artigo 10 da Lei nº 5.692/71: “Será instituída obrigatoriamente a Orientação Educacional, incluindo
aconselhamento vocacional, em cooperação com os professores, a família e a comunidade”.
196
frequentar a escola durante a infância. Diante disso, o serviço de Orientação Educacional
foi complementado pelo Decreto nº. 72.846/73, o qual estabeleceu ao exercício da
profissão:
Art. 1º. Constitui o objeto da Orientação Educacional a assistência ao
educando, individualmente ou em grupo, no âmbito do ensino de 1º e
2º graus, visando o desenvolvimento integral e harmonioso de sua
personalidade, ordenando e integrando os elementos que exercem
influência em sua formação e preparando-o para o exercício das
opções básicas. (BRASIL, 1973, s/p).
Com a implantação dessa habilitação no curso de Pedagogia da UFS e da Reforma
do Ensino de 1º e 2º graus foi possível identificar a importância desse profissional para o
funcionamento das escolas locais. O crescimento no número dessas instituições e de
matrículas326, devido à obrigatoriedade do ensino aos estudantes de 7 a 14 anos e a
determinação dos cursos profissionalizantes associados à formação geral do 2º grau
motivaram o interesse e a demanda pelos serviços do orientador no ambiente educacional.
Na prática, esse especialista em Educação atuava em conjunto com o professor da
sala de aula, realizando o acompanhamento pedagógico dos estudantes e promovendo
atividades de adaptação dos alunos à escola e às suas normas, orientando-os com relação
ao horário, fardamento, disciplina e utilização do material didático. Também auxiliava os
estudantes de 1º e 2º graus com relação à escolha da profissão, a partir da orientação
vocacional.
Eu fui convidada para trabalhar no Estado, antes de terminar o curso
de Pedagogia. Estava no último ano. Porque eu sempre fui muito
organizada, e aí quando o Kenedy implantou a Lei nº. 5.692 em 1972,
precisava que tivesse uma equipe de Orientação Educacional, que na
época era o SOE (Serviço de Orientação Educacional). A gente dava
assistência ao aluno, então fulano faltou ontem e hoje, íamos atrás
para saber porque ele não veio, fazíamos visita domiciliar, a gente
fazia reunião com os pais. Eu consegui criar o conselho de pais e
mestres, sabe! Com muita dificuldade [...] Era um trabalho muito
grande porque para cada aluno a gente conversava sobre as oficinas e
aplicava o questionário perguntando das quatro oficinas327 a que ele
mais se interessava, e aí ele fazia a opção. Na época era tudo
documentado. Era uma orientação vocacional. Aí quando iam para o
segundo grau, muitos iam para as escolas que ofereciam o ramo que
eles tinham se interessado no 1º grau. (MELO, 2015, s/p).
326 De acordo com a análise da Assessoria de Planejamento da Secretaria Estadual de Educação, de 1968 a
1972 o número de matrículas das escolas estaduais de 1º grau subiu de 54.055 mil para 77.215 mil. O de 2º
grau elevou-se de 4.438 mil para 9.620 mil (GOVERNO DE SERGIPE, 1973). 327 Na época a Escola Experimental John Kenedy ofertava o ensino de 1º grau associado a quatro
habilitações profissionais: Técnicas Agrícolas, Técnicas Comerciais, Educação para o Lar e de Artes
Industriais.
197
As atividades de orientação vocacional eram direcionadas aos estudantes de 1º
grau que estavam integrados ao projeto de iniciação para o trabalho e aos de 2º grau,
decorrente da obrigatoriedade do ensino profissionalizante. Como o corpo discente
deveria escolher o curso ainda durante esses níveis de ensino, o orientador buscava
aconselhar os alunos de acordo com as aptidões e aspirações individuais, relacionando-as
com a disponibilidade de cursos ofertados pelas redes de ensino.
Os orientadores educacionais também atuaram na implantação do ensino de 1º e
2º graus e na inclusão das habilitações profissionais mediante a instalação dos ginásios
polivalentes orientados para o trabalho e os colégios profissionalizantes de 2º grau. Além
de criar essa rede de escolas, a intenção dos Governos Federal e Estadual era reestruturar
o campo educacional, enquadrando todas as unidades “oficiais” existentes em Sergipe nas
diretrizes do novo programa.
Na oportunidade, pedagogos licenciados pela UFS participaram de cursos de
treinamento realizados em convênios entre o Programa de Expansão e Melhoria do
Ensino (PREMEN)/MEC e universidades federais, com o objetivo de contribuir com a
implantação do ensino de 1º e 2º graus, associado à formação profissionalizante. Ainda
em 1971, egressas da primeira turma realizaram o processo seletivo para exercer as
funções de orientadora educacional e coordenadora pedagógica do primeiro Ginásio
Polivalente criado em Sergipe.
Nós estávamos em plena reforma do ensino, com a Lei de 1971, a
famosa 5.692, e com ela a implantação de escolas polivalentes. Em
Aracaju, então, estava prevista a implantação de uma escola
polivalente no bairro Santos Dumont, e, a Secretaria de Estado da
Educação estava selecionando, administrador (diretor e vice-diretor),
orientador educacional, coordenador pedagógico, secretário e
bibliotecário e professores de Língua Portuguesa, Francês, Inglês
História e Geografia; os professores das outra áreas já estavam
fazendo cursos de licenciatura curta, em Matemática, Ciências,
Técnicas Agrícolas, Artes Industriais e Educação para o Lar, previstos
na nova lei! [...] Aí ao voltar dessa especialização, juntamente com
todo esse grupo que estava sendo qualificado, fomos implantar o
Ginásio Polivalente Olavo Bilac no Santos Dumont. Aí, assumimos
toda a estruturação e organização da escola para colocá-la em
funcionamento. (ARAGÃO, 2015, s/p).
Como não havia turmas de licenciados em Pedagogia até aquele ano, os estudantes
do último período do curso foram autorizados a participar da seleção e iniciar o
198
treinamento na Universidade Federal de Pernambuco328. A chamada para participar de
tal programa foi divulgada na SEC/SE, UFS e imprensa local:
Figura 48 - Recrutamento de professores para o Ginásio Polivalente (1971)
Fonte: jornal Diário de Aracaju, 17/06/1971. Acervo: IHGS.
Os ginásios polivalentes, representavam a modernização do ensino das escolas
profissionalizantes de 1º grau, consideradas sinônimos de desenvolvimento social e
econômico tanto para os estudantes como para o país. Além de promoverem a formação
geral, essas instituições também ofereciam o ensino técnico, contribuindo para a
formação de uma mão de obra especializada nas áreas industriais, comerciais, agrícolas e
de economia doméstica. Em Sergipe, as primeiras movimentações acerca desse
empreendimento foram divulgadas ainda em 1969.
Os Ginásios Polivalentes, alterando uma tradicional filosofia, ainda
vigente no processo de ensino, visam além de proporcionar os
conhecimentos gerais necessários para a cultura geral, formar
técnicos especializados, que poderão constituir um núcleo de mão-de-
obra, para atender de imediato às exigências do processo de
desenvolvimento. Nos Ginásios Polivalentes haverá além das
matérias pré-vocacionais e disciplinas diversas, cursos especializados
de artes industriais, técnicas agrícolas, comerciais e de economia
doméstica. (DIÁRIO DE ARACAJU, 18/09/69).
328 As inscrições foram realizadas no mês de junho de 1971, mediante edital nº 1/71 do convênio
PREMEM/MEC/SEC/SE. As estudantes de Pedagogia selecionadas para os cargos de orientador
educacional e coordenador pedagógico já eram funcionárias do Estado e haviam sido cedidas para fazer o
curso de atualização com duração de dois meses, na cidade de Recife. Para isso, foram disponibilizadas
bolsas de estudos, passagens e alojamento.
199
No âmbito local a primeira escola criada de acordo com as diretrizes da Reforma
do Ensino de 1º e 2º grau, foi implantada na capital em 1973. As egressas da primeira
turma de Pedagogia da UFS, Maria Ivanda Bezerra de Sant’Anna e Judite Oliveira
Aragão, ao concluírem os cursos de treinamento realizados em Recife, atuaram na
instalação e funcionamento da escola modelo.
Quem foi comigo fazer esse curso foi Ivanda, da minha turma, né!
Acho que da minha turma só foi Ivanda. [...] Eu não lembro quem
mais se inscreveu, eu só sei que quem foi selecionada fui eu, na área
de orientação, e Ivanda na área de coordenação. [...] No Olavo Bilac
disseminamos um pouco essas funções, promovendo uma maior
integração entre a Orientação Educacional e Coordenação
Pedagógica. Não tínhamos essa coisa rígida... aqui entra o supervisor
e aqui entra o orientador, não! Por quê? Porque eu trabalhava com os
professores enquanto elementos da orientação educacional, e aí eu me
entrosava com a coordenadora pedagógica, e os coordenadores de
áreas, então a gente fazia um trabalho integrado, inclusive com a
direção. Era um trabalho inovador. (ARAGÃO, 2015, s/p).
A realização do curso para o treinamento das licenciadas em Pedagogia e a
implantação da nova unidade de ensino foram divulgadas na imprensa sergipana, com o
objetivo de anunciar o processo de ampliação e modernização do ensino no estado.
Figura 49 - Preparação de pessoal para o Ginásio Polivalente de Sergipe (1972)
Fonte: jornal Diário de Aracaju (02/08/1972). Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
200
Outras escolas com propostas similares as dos ginásios polivalentes de associar a
formação geral com o ensino profissionalizante, também foram implantadas em Sergipe
durante a década de 70 do século XX. A Escola de 1º Grau John Kenedy, localizada na
capital sergipana, foi um exemplo de unidades experimentais que aderiram a esse modelo
de ensino. De acordo com Vera Maria Carvalho de Melo, ex-coordenadora pedagógica e
egressa do curso de Pedagogia em 1972, a participação dos especialistas em Educação na
concretização do projeto era essencial.
Ainda em 1972, fui trabalhar no Kenedy porque só poderia funcionar
quando tivesse os serviços de Orientação Educacional, para ajudar na
organização da escola e para assessorar os alunos. [...] Na época, o
Kenedy era uma escola experimental e oferecia 4 opções de profissão,
tinha oficinas de Técnicas Agrícolas, Técnicas Comerciais, Educação
para o lar e de Artes Industriais. [...] Por exemplo, quem escolhia
técnicas agrícolas aprendia a criar galinhas, coelhos, fazer plantações.
De Artes Industriais aí tinha tornos, e eles faziam uma série de
equipamento e de objetos; de Educação para o Lar aí fazia uma parte
de biologia para estudar os alimentos, havia a parte de costura; e tinha
as Técnicas Comerciais, onde se criava um escritório, e aí era
interessante porque a professora criava um talão de cheque e ensinava
como preencher, então eles utilizavam na cantina da escola. (MELO,
2015, s/p).
Em Sergipe, acadêmicos e concludentes do curso de Pedagogia que haviam optado
pela Orientação Educacional também implantaram núcleos da habilitação329 nas escolas
públicas e privadas do Estado, oferecendo serviços especializados de assistência aos
alunos. No Colégio de Aplicação da UFS, egressos das primeiras turmas colaboraram
com essa iniciativa, a exemplo da ex-aluna Maria José de Almeida Soares330:
329 O primeiro núcleo de Orientação Educacional em Sergipe foi implantado em 1968 pela professora
Cacilda de Oliveira Barros, no Colégio Agrícola. Diante disso, estudantes de Pedagogia que haviam
escolhido tal habilitação eram encaminhados ao Colégio para realizar as práticas de ensino. 330 O núcleo de Orientação Educacional do Colégio de Aplicação foi criado em 1970 pela professora de
prática de ensino da FACED/UFS, Cacilda de Oliveira Barros, com o objetivo de tornar-se o centro de
estágios da citada habilitação. Além da ex-aluna da primeira turma de Pedagogia, Maria José de Almeida
Soares, o CODAP também contou com a colaboração de Manoel Messias Vasconcelos, egresso da turma
de 1973.
201
Figura 50 - Contrato para o cargo de orientador educacional do CODAP/UFS (1972)
Fonte: Ofício do diretor do Colégio de Aplicação, destinado ao magnifico reitor da UFS – 1972. Acervo: Arquivo do Departamento de Educação da UFS.
Além dos serviços de Orientação, a diplomada em Pedagogia contribuiu com a
adaptação do colégio ao modelo de ensino classificado em 1º e 2º graus e com a
implantação das habilitações profissionais, mediante convênio com a Secretaria de
Educação e Cultura do Estado e Instituto de Tecnologia de Sergipe331. A orientadora
educacional também acompanhava os estágios dos estudantes das licenciaturas da UFS,
realizados no Colégio de Aplicação.
331 Inicialmente foi cogitada a possibilidade de ofertar a Habilitação Específica do Magistério de 2º grau,
mas a proposta não foi aceita pela maioria dos professores do CODAP e FACED/UFS. Dessa forma, o
Colégio de Aplicação ofertou inicialmente a formação profissionalizante em Estatística, Petroquímica e
Laboratorista de Análise Clínica, em convênio com o Instituto de Tecnologia de Sergipe e Instituto de
Química da UFS.
202
Eu lembro que quando fui estagiar no Colégio de Aplicação, a
professora Deuzinha, Maria José, foi quem acompanhou o meu
estágio porque ela era a orientadora educacional do Colégio, então ela
nos acompanhava e orientava. Inclusive, ela também havia me
indicado para o cargo de Supervisão na Secretaria de Educação.
(VIEIRA, 2015, s/p).
Serviços de Orientação e Supervisão Escolar também foram implantados na
Escola Técnica Federal de Sergipe332 nos primeiros anos da década de 70 do século XX.
Para isso, licenciados em Pedagogia foram sendo admitidos pela instituição, a partir de
1974, com o objetivo de modernizá-la e qualificar o ensino.
Logo quando eu terminei o curso, fui trabalhar na Escola Técnica,
com alguns colegas da turma: eu, Maria Pereira e Romilda. [...] Então,
a Escola Técnica contratou estudantes de Pedagogia para implantar
os serviços pedagógicos, e aí convidou a mim, a Maria Pereira e
Bárbara Adão, da segunda turma. Romilda, que era esposa de Ireneu,
o diretor, também passou a compor esse grupo da Escola Técnica.
[...]. Isso foi por volta de 1974. Éramos os primeiros egressos e a
escola precisava desses profissionais. Entramos todos na mesma
portaria, para implantar a parte pedagógica, propriamente dita. Tinha
também os orientadores educacionais, que eram Ednalva, Manoel
Messias Vasconcelos, Marlene Calumby, então, esse pessoal todo
entrou no mesmo momento. Nessa época a Escola fez uma mudança
no seu quadro com o intuito de qualificar mesmo o ensino. Então, a
Escola Técnica criou um grupo forte de egressos de Pedagogia da
Universidade Federal de Sergipe. (ANJOS, 2015, s/p).
Nesse período, a Escola Técnica Federal de Sergipe passou a realizar convênios
com instituições de nível superior para a qualificação pedagógica de seus professores com
nível médio e bacharéis. Parcerias com as escolas públicas (1º e 2º graus) também foram
firmadas com o objetivo de oferecer as disciplinas das habilitações profissionais, já que a
instituição possuía laboratórios apropriados para realizar essa formação. A proposta da
Escola Técnica era concretizar a reestruturação e ampliação da oferta do ensino
profissionalizante associado ao 2º grau e implantar novos serviços na instituição para
assessorar professores e alunos.
Em 75 eu já estava na Escola Técnica Federal de Sergipe como
estagiária do CIEE (Centro de Integração Escola Empresa) que era
um serviço novo na época, então como eles estavam instalando eu fiz
o estágio de seis meses lá, e no final fui contratada. Fiquei nesse
serviço que trabalhava muito a questão da orientação para a profissão,
mantínhamos relação com as empresas porque como na escola os
cursos eram industriais e de serviços, como edificações,
332 Atualmente denominada de Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe (IFS/SE).
203
telecomunicação e outros, eles estagiavam nas empresas. Em seguida
houve concurso para pedagoga, fui aprovada e fiquei trabalhando no
serviço de orientação educacional e vocacional, assumindo depois
alguns cargos diretivos na Instituição. (CAETANO, 2015, s/p).
Um núcleo central de Orientação Educacional foi implantado na SEC/SE, com o
objetivo de prestar assistência a todos os educandos que estudavam na rede estadual.
Essas atividades promoviam a aproximação de estudantes e egressos do curso de
Pedagogia da UFS com a Secretaria Estadual de Educação, como podemos observar na
composição do Grupo Tarefa constituído por diplomados do curso para a elaboração do
anteprojeto do mencionado serviço.
Figura 51 - Implantação do serviço de assistência ao educando na SEC/SE (1974)
Fonte: Portaria interna da Secretaria de Educação e Cultura de Sergipe – 1974.
Acervo: Arquivo do Departamento de Educação da UFS.
204
Como a SEC/SE era o órgão de maior absorção dos estudantes e egressos em
Pedagogia da UFS, encontros e congressos eram realizados frequentemente, em parceria
entre técnicos da Secretaria de Educação e professores da FACED/UFS. Em um dos
encontros realizados no ano de 1976, o corpo docente da Faculdade e a equipe técnico-
pedagógica da SEC/SE apresentaram sugestões para a melhoria da formação dos
acadêmicos e da prestação de serviços à comunidade.
Na ocasião, a equipe técnica da Secretaria de Educação constituída por
diplomados em Pedagogia nas habilitações de Supervisão, Orientação e Administração,
também apresentaram fatores que prejudicavam o ensino, nos aspectos qualitativos e
quantitativos333. A intenção era estabelecer uma parceria com o lócus pedagógico da UFS
a fim de estudar e solucionar problemas relacionados aos altos índices de repetência,
evasão334 e professores leigos. De acordo com Sucupira, o sucesso da implantação de
políticas educacionais no ensino de 1º e 2º graus dependia da atuação das universidades.
Isto significa que toda Reforma de 1º e 2º graus estará seriamente
afetada se a universidade não se dá conta da responsabilidade de sua
participação no processo educativo, proporcionando a formação de
mestres, planejadores e administradores escolares, inspetores,
supervisores, orientadores educacionais, programadores didáticos,
bem como desenvolvendo a pesquisa educacional e contribuindo para
a elaboração do pensamento pedagógico. Daí a necessidade de um
perfeito entrosamento do ensino superior com os demais níveis e de
uma adequada articulação entre a reforma universitária e o ensino de
1º e 2º graus. (SUCUPIRA, 1973, p. 12).
Em contrapartida, a FACED/SE orientou sobre as atribuições peculiares de cada
habilitação e a importância desses especialistas assumirem suas atividades, criticando a
postura da SEC-SE em enquadrá-los em funções diversas, que não correspondiam às suas
formações. Os professores da Faculdade de Educação também ressaltaram a necessidade
desses licenciados ocuparem os cargos centrais da Secretaria Estadual de Educação,
devido ao conhecimento acadêmico e à experiência profissional.
333 A equipe era constituída por: Maria Auxiliadora de Carvalho Menezes – Assessora da equipe de
currículo; Maria Eunice de Carvalho Santos – Coordenadora da equipe de currículo; Ana Lúcia Meneses
Vieira – Coordenadora da equipe de supervisão; Edjan Soares de Souza – Técnica da Assessoria de
Planejamento; e Judite Oliveira Aragão – Técnica da equipe de Orientação. Algumas professoras da
FACED presentes nesse momento eram egressas do curso: Ada Augusta Celestino Bezerra, Nádia Fraga
Vilas-Bôas, Maria Consuêlo Maia Alcântara, Maria Lúcia Souza Ramos e Maria José de Almeida Soares. 334 No encontro entre técnicos da SEC/SE e professores da FACED/UFS, realizado em 1976, foi divulgado
que 50% dos estudantes de 1ª série do 1º grau da Rede Estadual de Educação não tinham condições de
promoção para a série seguinte. Segundo o chefe da Assessoria de Planejamento (ASPLAN) da Secretaria
de Educação, Antônio Dantas de Oliveira, a evasão e a repetência escolar eram os fatores que mais
preocupavam os técnicos da SEC (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, 1976c, p. 3).
205
Diante da importância do trabalho especializado para a implantação de políticas
educacionais em Sergipe, até 1978 foram encontradas solicitações da Secretaria Estadual
de Educação e de instituições federais de ensino encaminhadas à Faculdade de Educação,
cujo objetivo era impulsionar a formação de administradores, supervisores e orientadores
educacionais. A demanda pelos egressos compreendia o preparo para a atuação no
magistério e nas áreas das habilitações.
Passando ao segundo assunto da pauta, o prof. Ovídio Valois
apresentou o ofício nº. 87/77 do PREMEN-SE, no qual a gerente
estadual335 solicita ao Magnifico Reitor o oferecimento de um curso
de complementação de estudos de 1.100 horas de Administração – 18
vagas, de Orientação Educacional – 21 vagas e Supervisão Escolar –
12 vagas, para habilitar e aperfeiçoar o pessoal docente e técnico
administrativo que atuará nas escolas que serão constituídas pelo
Programa, apresentando o problema aos presentes.
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, 1968-1978, p. 59).
Os serviços desenvolvidos pelos pedagogos perpassavam diferentes áreas do
conhecimento, planejamento escolar e das práticas de ensino, compreendendo todos os
níveis, do primário ao superior. Nesse sentido, a expectativa de eficiência de um
profissional que lidava com diferentes áreas e níveis, e de um trabalho especializado
direcionado a estudantes, professores, funcionários e a comunidade, definiu a grande
demanda pelos acadêmicos e egressos do curso de Pedagogia, e o grande prestígio no
campo educacional sergipano, durante a década de 70 do século XX.
335 O cargo de gerente era ocupado pela ex-aluna da primeira turma de Pedagogia/UFS, Maria José de
Almeida Soares. Na ocasião, ela também acumulava a função docente como professora desse curso da UFS.
206
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os primeiros cursos destinados a formação docente em nível superior no Estado
de Sergipe, foram implantados somente na década de 50, do século XX, após a criação
da Faculdade Católica de Filosofia. Até esse período a formação de professores era
realizada especialmente no curso Normal de nível secundário, ministrado no Instituto de
Educação Rui Barbosa ou mediante cursos de suficiência, promovidos pela CADES.
Dentre os cursos autorizados para o funcionamento da Faculdade Católica de
Filosofia, a partir de 1951, estava o de Pedagogia. No entanto, esse curso só passou a
funcionar em 1968, após a criação da Universidade Federal de Sergipe (em 1967) e a
certeza da incorporação da FAFI à nova instituição. O processo de integração acarretou
numa série de mudanças para adequar a graduação as diretrizes da Reforma Universitária,
pois a Universidade já havia sido instalada sob seu amparo legal.
A concretização no funcionamento do curso foi uma determinação do Governo
Civil Militar para a criação da UFS, o qual exigia o desmembramento da FAFI e a
implantação do Instituto de Letras, de Filosofia e Ciências Humanas e a Faculdade de
Educação. Essa imposição justifica o interesse de Dom Luciano Duarte em instalar o
curso de Pedagogia no último ano da FAFI, evidenciando as disputas no campo
acadêmico e o prestígio do conselheiro federal, Newton Sucupira, na tomada de decisões.
O curioso é que no intervalo entre o período de criação (1951) e implantação
(1968), o curso de Pedagogia recebeu reconhecimento definitivo em 1954 pelo Governo
Federal, mesmo sem nunca ter funcionado. Isso contrariava a legislação da época, a qual
exigia ao menos dois anos de funcionamento para a avaliação do Conselho Nacional de
Educação. Tal fato foi justificado pelo acúmulo de capital (religioso, social, cultural e
simbólico) que Dom Luciano Duarte detinha, e consequentemente, sua autoridade e
prestígio perante o campo político e educacional.
Após sua implantação, o curso permaneceu durante as décadas de 60 e 70 do
século XX sendo a graduação mais procurada na área de formação do magistério da
Universidade Federal de Sergipe. Um dos motivos para essa demanda estava associada a
reformulação nacional do curso, em 1969, a qual ampliou o campo de atuação dos
pedagogos mediante a criação das habilitações em Supervisão, Administração,
Orientação e Inspeção Escolar.
207
Tal formação especializada visava contribuir com a adequação do programa
educacional do país ao projeto político modernizador-desenvolvimentista do Governo
Civil Militar, o qual buscava aprimorar a formação de mão de obra e atender aos
interesses de diferentes grupos. No entanto, a criação dessas habilitações na formação
acadêmica e a implantação desses serviços especializados nas escolas eram defendidas
por intelectuais da educação antes de 1964.
Em Sergipe, a implantação do curso e a formação dos primeiros licenciados
proporcionou a formação de professores para atuar no ensino Normal e na Habilitação
Específica para o Magistério (HEM). Essa iniciativa também colaborou com a
implantação dos serviços técnicos-pedagógicos de supervisão, administração,
planejamento, inspeção e orientação.
Dessa forma, a inserção dos primeiros pedagogos no campo educacional
sergipano ocorreu por duas vias: docência e atividades técnicas-pedagógicas. Na docência
contribuíram com a realização de cursos de formação e capacitação de professores leigos,
titulados e não titulados, especialmente, da rede pública estadual de ensino. Inclusive, a
Secretaria Estadual de Educação de Sergipe representava a instituição de maior absorção
de alunos e licenciados em Pedagogia da UFS (1971-1977).
Esses diplomados também exerceram atividades profissionais na Universidade
Federal de Sergipe, mediante à docência nas disciplinas do curso de Pedagogia336 e
funções técnicas na Assessoria de Planejamento da UFS, no CECAC/UFS, Departamento
de Apoio Didático Pedagógico (DEAPE/UFS) e Departamento de Administração
Acadêmica (DAA/UFS).
Além disso, contribuíram com a instalação e reorganização de núcleos
especializados de supervisão, planejamento, inspeção e orientação da Secretaria Estadual
de Educação e Cultura (SEC-SE), do Colégio de Aplicação (CODAP/UFS), da Escola
Técnica Federal de Sergipe e de escolas privadas. Nesse sentido, participaram na
elaboração e implantação de medidas educacionais direcionadas a criação de escolas e
matrículas, reorganização do ensino de acordo com as diretrizes vigentes, erradicação do
analfabetismo, formação especializada de mão de obra (dirigentes e técnicos), melhoria
da qualidade do ensino, integração entre pais e mestres, educação de jovens e adultos,
ampliação no acesso ao ensino na rede pública e aumento no período da escolarização.
336 Os licenciados em Pedagogia também exerceram à docência no curso de Pedagogia da Faculdade Pio
Décimo, implantado em 1976.
208
Durante a pesquisa, apesar de ex-alunos e ex-professores de Pedagogia
demonstrarem hostilidade ao período do Regime Civil Militar e a adesão do curso aos
interesses da sua política ditatorial, não se tornou evidente as práticas de autoritarismo,
nem a cumplicidade das suas ações enquanto colaboradores da vigilância e punições
exercidas pelo governo. Quando questionados sobre suas ações nesse processo autoritário
e de controle social/ideológico, já que ocupavam funções estratégicas da docência,
técnica ou de coordenação nos núcleos de supervisão, orientação, planejamento, inspeção
e administração, não souberam exemplificar nas suas atividades práticas e nos serviços
prestados ao Governo, sinais de constrangimento, tortura, prisões e vigilância.
Ao serem questionados sobre o papel que o pedagogo exercia na fiscalização aos
professores, (a cargo dos supervisores) e aos estudantes (função dos orientadores), além
do controle sobre toda a comunidade escolar, inclusive pais de alunos ou responsáveis
(atividade do diretor), não demonstraram nenhuma cumplicidade com o Governo nesse
sentido, nem sabiam explicar como isso ocorria na prática. A única referência a adesão
ao controle e ao autoritarismo do Governo, estava associada as interpretações
bibliográficas que haviam se apropriado após a década de 80 do século XX.
Assim, a análise sobre a inserção e as práticas desenvolvidas por acadêmicos e/ou
licenciados em Pedagogia da UFS no campo educacional sergipano não evidenciaram
com clareza a interpretação de que a formação do pedagogo e o perfil profissional,
adotado em 1969, atendiam “apenas” aos anseios de controle social e autoritarismo do
Regime Militar.
No âmbito local, verificamos a eficiência e a contribuição desses agentes na
implantação de políticas educacionais que visavam, especialmente, a formação de mão
de obra qualificada para atender o projeto desenvolvimentista do Governo. No entanto,
essa formação não estava dissociada da qualidade do ensino e da ampliação ao acesso a
escolarização pública.
A partir desta Tese, espera-se que novas propostas de pesquisa sejam estimuladas
com o objetivo de compreender o trabalho dos especialistas em Educação após 1980, e as
disputas com os professores em nível de 1º e 2º graus, de diferentes áreas do
conhecimento no campo educacional sergipano. Além disso, outras possibilidades de
estudo, seria a análise do ingresso e da participação dos pedagogos da UFS nos
movimentos de reivindicação docente a partir de 1978, no Estado de Sergipe; a inserção
de ex-alunos do curso de Pedagogia da UFS na docência dos diferentes estabelecimentos
de ensino superior de Sergipe, e na própria UFS; a presença e a produção de egressos do
209
curso de Pedagogia nos cursos de pós-graduação lato sensu e scrito sensu no Estado; a
contribuição de ex-alunos na criação e manutenção de estabelecimentos privados de
educação básica, entre outras temáticas.
210
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BRASIL. Decreto-Lei nº 1.190, de 04 de abril de 1939. Dá organização à Faculdade
Nacional de Filosofia. Disponível em: http://www.senado.gov.br/legislacao/ Acesso
em 30 jul. 2015.
BRASIL. Decreto-Lei nº 4.244, de 9 de abril de 1942. Lei Orgânica do Ensino
Secundário. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 10 abr. 1942.
225
BRASIL, Decreto-Lei nº 8.777, de 22 de janeiro de 1946. Dispõe sobre o registro
definitivo de professores de ensino secundário no Ministério da Educação e Saúde.
Diário Oficial da União, Brasília/DF, 24 de jan. de 1946.
BRASIL. Decreto-Lei nº. 9.092/46, de 26 de março de 1946. Amplia o regime didático
das faculdades de filosofia, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Rio de
Janeiro, 26 mar. 1946.
BRASIL. Decreto-Lei nº 29.311, de 28 de Fevereiro de 1951. Concede autorização para
funcionamento de cursos na Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. Diário Oficial
da União, Rio de Janeiro, 28 fev. 1951.
BRASIL. Decreto-Lei nº 34.638, de 17 de novembro de 1953. Institui a Campanha de
Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1950-1969/D34638.htm Acesso em 20
nov. 2016.
BRASIL. Decreto-Lei nº 34.961, de 19 de Janeiro de 1954. Fica autorização para
funcionamento do curso de didática da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe.
Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 19 jan. 1954.
BRASIL. Decreto-Lei nº 34.963, de 19 de Janeiro de 1954. Concede reconhecimento
aos cursos de filosofia letras anglo-germânicas, letras neo-latina, geografia e história,
matemática e pedagogia, da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. Diário Oficial
da União, Rio de Janeiro, 19 jan. 1954.
BRASIL. Decreto nº 39.039, de 18 de Abril de 1956. Concede reconhecimento ao
Curso de Didática da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. Diário Oficial da
União, Rio de Janeiro, 18 abril 1954.
BRASIL. Lei 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Fixa as Diretrizes e Bases da
Educação Nacional. Disponível em: http://www.senado.gov.br/legislacao/ Acesso em
30 jul. 2015.
BRASIL, Ministério da Educação e Cultura, Conselho Federal de Educação. Parecer
292/62. Revista Documenta, Rio de Janeiro, n. 10, p. 95-100, dez.,1962.
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Federal de Educação. Parecer nº. 251/62.
Currículo mínimo e duração do curso de Pedagogia. Relator: Valnir Chagas. Revista
Documenta, Rio de Janeiro. (1-11), p.59-65, 1962.
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Federal de Educação. Resolução nº. 01/62.
Revista Documenta, Rio de Janeiro. nº. 11, p. 59-66, 1962.
BRASIL. Decreto-Lei nº. 53, de 18 de novembro de 1966. Fixa princípios e normas de
organização para as universidades federais e dá outras providências. Diário Oficial da
União, Brasília/DF, 21 nov. 1966.
226
BRASIL. Lei nº 5.379, de 15 de dezembro de 1967. Provê sôbre a alfabetização
funcional e a educação continuada a adolescentes e adultos. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/L5379.htm> Acesso em: 20 de
nov. 2016.
BRASIL. Decreto-Lei nº. 252, de 28 de fevereiro de 1967 (a). Estabelece normas
complementares ao Decreto-Lei nº 53, de 18 de novembro de 1966, e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Brasília/DF, 28 fev. 1967.
BRASIL. Decreto-Lei nº. 269, de 28 de fevereiro de 1967 (b). Autoriza o Poder
Executivo a instituir a Fundação Universidade Federal de Sergipe e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Brasília/DF, 28 fev. 1967.
BRASIL. Decreto-Lei nº. 228, de 28 de fevereiro de 1967 (d). Reformula a
organização da representação estudantil e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.senado.gov.br/legislacao/> Acesso em 30 jul. 2016.
BRASIL. Decreto-Lei nº. 62.927, de 28 de Junho de 1968. Institui, em caráter
permanente, o Grupo de Trabalho "Projeto Rondon", e dá outras providências. Diário
Oficial da União. 01 jul. 1968.
BRASIL. Lei nº. 5.540, de 28 de novembro de 1968a. Fixa normas de organização e
funcionamento do ensino superior e sua articulação com a escola média, e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Brasília/DF, 28 nov. 1968.
BRASIL. Decreto-Lei nº. 405, de 31 de dezembro de1968b. Provê sobre o incremento
de matrículas em estabelecimentos de ensino superior, em 1969. Diário Oficial da
União, Brasília/DF, 31 de dez. 1968.
BRASIL. Decreto-Lei nº. 464, de 11 fevereiro de 1969a. Estabelece normas
complementares à Lei nº 5.540, de 28 de novembro de 1968, e dá outras providências.
Diário Oficial da União, Brasília/DF, 11 de fev. 1969.
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Conselho Federal de Educação. Parecer nº.
252/69b. Estudos pedagógicos superiores. Mínimos de conteúdo e duração para o curso
de graduação em pedagogia. Relator: Valnir Chagas. Revista Documenta, Brasília. (1-
100), p.101-117.
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Conselho Federal de Educação. Resolução
nº. 02/69c. Fixa os mínimos de conteúdo e duração a serem observados na organização
do curso de Pedagogia. Rio de Janeiro: Revista Documenta, 1969. n. 11, p. 101-112.
BRASIL. Decreto-Lei nº. 64.918, de 31 de agosto de 1969d. Institui, em caráter
permanente, a "Operação Mauá" (OPEMA), e dá outras providências. Diário Oficial da
União, Brasília/DF, 31 agosto 1969.
BRASIL. Decreto-Lei nº. 916, de 07 de outubro de 1969e. Cria a Comissão
Incentivadora dos Centros Rurais Universitários de Treinamento e Ação Comunitária
CINCRUTAC - e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília/DF, 08 out.
1969.
227
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Conselho Federal de Educação. Parecer nº.
178 de 10 de março de 1970a. Adaptação do estatuto da UFS à legislação universitária.
Relator: Alberto Deodato.
BRASIL. Decreto-Lei nº. 67.505, de 06 de novembro de 1970b. Reformula o Grupo de
Trabalho Projeto Rondon e assegura-lhe autonomia administrativa e financeira e dá
outras providências. Diário Oficial da União, Brasília/DF, 09 nov. 1970.
BRASIL. Lei nº. 5.692, de 11 de agosto de 1971a. Fixa Diretrizes e Bases para o ensino
de 1° e 2º graus, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília/DF, 11 de
agos. 1971a.
BRASIL. Lei nº. 68.908, de 13 de julho de 1971b. Dispõe sôbre Concurso Vestibular
para admissão aos cursos superiores de graduação. Diário Oficial da União,
Brasília/DF, 13 de jul. 1971b.
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Conselho Federal de Educação. Parecer nº.
45 de 12 de janeiro de 1972. Revista Documenta, Brasília. n. 134, janeiro de 1972a, p.
107-125.
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Conselho Federal de Educação. Parecer nº.
349 de 12 de abril de 1972. Revista Documenta, Brasília. n. 137, janeiro de 1972b, p.
155-173.
BRASIL. Decreto-Lei nº. 72.846, de 26 de setembro de 1973. Regulamenta a Lei nº
5.564, de 21 de dezembro de 1968, que provê sobre o exercício da profissão de
orientador educacional. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1970-1979/d72846.htm> Acesso em 30
jul. 2016.
BRASIL. Lei Complementar nº. 20, de 01 de julho de 1974. Dispões sobre a criação de
Estados e Territórios. Diário Oficial da União, Brasília/DF, 01 jul. 1974.
BRASIL. Decreto-Lei nº. 6.310, de 15 de dezembro de 1975. Autorizo a instituição da
Fundação Projeto Rondon, e dá outras providências. Diário Oficial da União,
Brasília/DF, 16 dez. 1974.
BRASIL. Decreto-Lei nº 79.298, de 24 de fevereiro de 1977. Altera o Decreto nº
68.908, de 13 de julho de 1971, e dá outras providências. Diário Oficial da União,
Brasília/DF, 24 de fev. 1977.
DISTRITO FEDERAL. Decreto-Lei nº. 5.513, de 4 de abril de 1935. Cria a
Universidade do Distrito Federal. Officinas Graphicas do Jornal do Brasil, Distrito
Federal, 4 fev. 1935.
SERGIPE. Decreto-Lei nº. 221, de 15 de junho de 1950. Concede subvenção anual à
Faculdade de Filosofia que venha a ser criada e organizada no Estado. Diário Oficial
do Estado de Sergipe. Aracaju/SE, 15 jun. 1950.
228
3 - Correspondências:
DUARTE. Luciano José Cabral. Carta do Padre Luciano Duarte, destinada ao
Procurador da FAFI Armando Barcelos. São Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS,
14 de junho de 1953a, s/p.
DUARTE. Luciano José Cabral. Carta do Padre Luciano Duarte destinada ao
Procurador da FAFI Armando Barcelos. São Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS,
06 de agosto de 1953b, s/p.
DUARTE. Luciano José Cabral. Carta do Padre Luciano Duarte destinada ao
Procurador da FAFI Armando Barcelos. São Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS,
11 de fevereiro de 1954, s/p.
DUARTE. Luciano José Cabral. Carta do Monsenhor Luciano Duarte destinada ao
Deputado Federal Leite Neto. São Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS, 30 de
março de 1959, s/p.
DUARTE. Luciano José Cabral. Carta do Monsenhor Luciano Duarte destinada ao
Deputado Federal Lemartine Távora. São Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS, 13
de março de 1960, s/p.
DUARTE. Luciano José Cabral. Carta do Monsenhor Luciano Duarte destinada ao
Membro do Conselho Federal de Educação Dom Cândido PadIn: São
Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS, 28 de maio de 1965, s/p.
4 - Documentos
FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE SERGIPE. Ata da Faculdade
Católica de Filosofia de Sergipe. São Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS, 1961a,
s/p.
FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE SERGIPE. Revista da Faculdade
Católica de Filosofia de Sergipe, ANO I, 1961. São Cristóvão: Arquivo do Instituto
Histórico e Geográfico de Sergipe, 1961b, 84 pgs.
FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE SERGIPE. Ata da reunião do
Conselho Diretor da Sociedade Sergipana de Cultura. São Cristóvão/SE: Arquivo
Central da UFS, 1963, s/p.
FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE SERGIPE. Ata geral do concurso de
habilitação de 1968. São Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS, 1968a, s/p.
FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE SERGIPE. Livro de matrícula dos
alunos de Pedagogia de 1968. São Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS, 1968b, s/p.
FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE SERGIPE. Livro de matrícula da
Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. São Cristóvão/SE: Arquivo Central da
UFS, 1951-1970, 100 pgs.
229
FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE SERGIPE. Livro de matrícula dos
alunos no curso de Didática. São Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS, 1954-1973,
100 pgs.
FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE SERGIPE. Regimento da FAFI. São
Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS, s/d, s/p.
GOVERNO DE SERGIPE. Programação Estadual Referente ao Empréstimo
MEC/BIRD. Aracaju/SE: Secretaria de Educação e Cultura, 1973.
GOVERNO DE SERGIPE. Portaria interna nº. 03/74. São Cristóvão/SE: Arquivo do
Departamento de Educação da UFS, 1974.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Estatuto da FUFS. São Cristóvão/SE:
Universidade Federal de Sergipe, 01 de outubro de 1967, s/p.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Estatuto da UFS. São Cristóvão/SE:
Universidade Federal de Sergipe, 01 de fevereiro de 1968a, s/p.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Escritura de instituição da FUFS. São
Cristóvão/SE: Arquivo do Conselho Diretor da UFS. 30 de abril de 1968b, s/p.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Relação das disciplinas do curso de
Licenciatura da FACED/UFS de 1968 a 1969. São Cristóvão/SE: Arquivo do
Departamento de Educação da UFS, 1968c, s/p.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Relação das disciplinas do curso de
Pedagogia da FACED/UFS de 1968 a 1971. São Cristóvão/SE: Arquivo do
Departamento de Educação da UFS, 1968d, s/p.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Resolução CONSU/UFS nº. 01/68. São
Cristóvão/SE: Arquivo do Centro de Educação e Ciências Humanas da UFS, 1968e, s/p.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Ata da sessão solene de instalação da
Universidade Federal de Sergipe mantida pela Fundação Universidade Federal de
Sergipe. São Cristóvão/SE: Arquivo do Conselho Diretor da UFS, 15 maio 1968f, s/p.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Ata do Conselho Universitário da
Universidade Federal de Sergipe. São Cristóvão/SE: Arquivo do Conselho
Universitário da UFS, 19 setembro1968g, p. 100 pgs.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Ata da Congregação da Faculdade de
Educação da UFS (1968-1978). São Cristóvão/SE: Arquivo do Centro de Educação e
Ciências Humanas da UFS, 30 agosto 1968h, 150 pgs.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Relatório das atividades da
FACED/UFS de 1968. São Cristóvão/SE: Arquivo do Centro de Educação e Ciências
Humanas da UFS, 1969a, s/p.
230
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Resolução CONSU/UFS nº. 01/69. São
Cristóvão/SE: Arquivo do Centro de Educação e Ciências Humanas da UFS, 1969b, s/p.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Regimento da Faculdade de Educação
da UFS. São Cristóvão/SE: Arquivo do Departamento de Educação da UFS, 1969c, 38
pgs.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Resolução do Conselho de Ensino e
Pesquisa nº. 01/69. São Cristóvão/SE: Arquivo do Centro de Educação e Ciências
Humanas da UFS, 1969d, s/p.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Resolução do Conselho Universitário
nº. 29/69. São Cristóvão/SE: Arquivo do Centro de Educação e Ciências Humanas da
UFS, 1969e, s/p.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Ata do Departamento de Didática da
FACED/UFS. São Cristóvão/SE: Arquivo do Centro de Educação e Ciências Humanas
(CECH), 1969-76, 100 pgs.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Ata do Conselho departamental da
FACED/UFS. São Cristóvão/SE: Arquivo do Centro de Educação e Ciências Humanas
(CECH), 1969-78, 100 pgs.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Comunicado do Secretário de
Educação e Cultura do Estado de Sergipe, Nestor Piva, informando sobre o
treinamento de alunos do curso de Pedagogia para atuar no Projeto Minerva. São
Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS, 1970.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Ata do Departamento de Ciências
Educacionais da FACED/UFS. São Cristóvão/SE: Arquivo do Centro de Educação e
Ciências Humanas (CECH), 1970-75, 100 pgs.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Resolução CONSU/UFS nº. 14/71. São
Cristóvão/SE: Arquivo do Centro de Educação e Ciências Humanas (CECH), 18 de
maio de 1971a, s/p.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Regimento do CECAC/UFS. Resolução
CONSU/UFS nº. 14/71. São Cristóvão/SE: Arquivo do Centro de Educação e Ciências
Humanas (CECH), 18 de maio de 1971b, s/p.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Certificado do curso de Estudos
Adicionais – 1972. São Cristóvão/SE: Arquivo do Departamento de Educação/UFS,
1972a.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Ofício do diretor do Colégio de
Aplicação, destinado ao Magnifico Reitor da UFS – 1972. São Cristóvão/SE:
Arquivo do Departamento de Educação/UFS, 1972b.
231
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Ata de reunião do Conselho
Universitário da UFS (1972-1976). São Cristóvão/SE: Arquivo do Conselho
Universitário da UFS, 1972-1976, 100 pgs (reunião consultada: 21/09/76).
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Plano de atividades do CECAC/UFS de
1973. São Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS, 1973, 40 pgs.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Plano de atividades do CECAC/UFS de
1974. São Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS, 1974, s/p.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Plano de atividades do CECAC/UFS de
1976. São Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS, 1976a, 49 pgs.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Relatório de atividades do
CECAC/UFS de 1976. São Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS, 1976b, 50 pgs.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Relatório do I encontro entre técnicos
da Secretaria de Educação e Cultura e a Faculdade de Educação. São Cristóvão/SE:
Arquivo do Departamento de Educação da UFS, 1976c, 15 pgs.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Folder de exposição: 40 anos da FAFI.
Aracaju/SE: Instituto Dom Luciano, 1991, s/p.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Plano de trabalho do CECAC/UFS de
1977. São Cristóvão/SE: Arquivo Central da UFS, 1977, 48 pgs.
SOCIEDADE SERGIPANA DE CULTURA. Ata de fundação. São Cristóvão/SE:
Arquivo do CECH, 1950, s/p.
5 - Entrevistas realizadas:
ARAÚJO. Maria José Santos. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia
15 de setembro de 2015.
ARAÚJO FILHO, José. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia 15 de
agosto de 2015.
ANDRADE, Maria Olga de. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia 12
de maio de 2010.
ANDRADE, Dilma Maria. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia 05
de setembro de 2015.
ANJOS, José dos. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia 10 de
novembro de 2015.
ARAGÃO, Judite de Oliveira. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia
02 de outubro de 2010.
232
ARAGÃO, Judite de Oliveira. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia
02 de outubro de 2015.
BARROS, Cacilda de Oliveira. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia
01 de outubro de 2010.
BERGER, Maria Lúcia Souza Ramos. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira
no dia 29 de janeiro de 2011.
CAETANO, Ednalva Freire. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia 25
de outubro de 2015.
CAMPELO, Iara Maria. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia 19 de
julho de 2015.
CORADO, Maria Veneranda Pereira. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira
no dia 14 de outubro de 2015.
CRUZ, Marta Vieira. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia 17 de
julho de 2015.
DANTAS, Rivaldo. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia 22 de
setembro de 2015.
FONTES, Vera Lúcia de Azevedo. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no
dia 25 de outubro de 2015.
GRAÇA, Tereza Cristina Cerqueira da. Entrevista concedida a Nayara Alves de
Oliveira no dia 25 de novembro de 2015.
LAGO, Lilian Leal. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia 05 de
setembro de 2015.
LIMA, Maria de Fátima Monte. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia
18 de outubro de 2015.
MEDEIROS, Maria Auxiliadora Campos. Entrevista concedida a Nayara Alves de
Oliveira no dia 15 de agosto de 2015.
MELO, Vera Maria Carvalho de. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no
dia 20 de setembro de 2015.
PINTO. Zenilde Soares. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia 05 de
outubro de 2015.
PORTO, Manoel Messias. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia 05
de setembro de 2016.
SANT’ANNA, Maria Ivanda Bezerra. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira
no dia 27 de janeiro de 2011.
233
SANTOS, Vilder. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia 30 de janeiro
de 2016.
SILVA, Ada Augusta Celestino Bezerra da. Entrevista concedida a Nayara Alves de
Oliveira no dia 29 de novembro de 2015.
TORRES. Liana de Melo. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia 29 de
agosto de 2015.
VIEIRA. Ana Lúcia Menezes. Entrevista concedida a Nayara Alves de Oliveira no dia
19 de agosto de 2015.
234
APÊNDICES
235
APÊNDICE A - DADOS DOS ENTREVISTADOS
Nome de ex-professores e
ex-alunos do curso de
Pedagogia da
Universidade Federal de
Sergipe, entrevistados
durante a pesquisa
Ex-professores: ano de
ingresso no curso de
Pedagogia/UFS
Ex-alunos: ano de
ingresso e conclusão
Maria José Santos Araújo
1969-1972
José Araújo Filho
1968
Maria Olga de Andrade
1968
Dilma Maria Andrade
1992
1971-1974
José dos Anjos
1970-1973
Judite de Oliveira Aragão
1979
1968-1971
Cacilda de Oliveira Barros
1968
Maria Lúcia Souza Ramos
Berger
1974
1968-1971
Ednalva Freire Caetano
1972 -1975
Iara Maria Campelo337
1992
1973-1976
Maria Veneranda Pereira
Corado
1969-1971
337 Iara Maria Campelo e Yolanda Dantas de Oliveira são professoras, atualmente, do Departamento de
Educação da UFS.
236
Marta Vieira Cruz
1976
Rivaldo Dantas338
1973-1975
Vera Lúcia de Azevedo
Fontes
1968-1972
Tereza Cristina Cerqueira da
Graça
1976-1979
Lilian Leal Lago
1968-1971
Maria de Fátima Monte
Lima
1982
1973-1976
Maria Auxiliadora Campos
Medeiros
1968
Vera Maria Carvalho de
Melo
1969-1972
Zenilde Soares Pinto
1970-1973
Manoel Messias Porto
1968-1971
Maria Ivanda Bezerra
Sant’anna
1976
1968-1971
Ada Augusta Celestino
Bezerra da Silva
1974
1968-1971
Liana de Melo Torres
1997
1976-1979
338 O professor Rivaldo Dantas concluiu o curso de Pedagogia Licenciatura curta-habilitação em
Administração Escolar 1973-1975.
237
Ana Lúcia Menezes Vieira
1970-1973
Fonte: Depoimentos, currículo lattes e lista de conclusão da FACED (1968-1978). Acervo do arquivo do
Departamento de Educação da UFS.
238
APÊNDICE B: APROVADOS NO VESTIBULAR PARA O CURSO DE
PEDAGOGIA DA UFS (1968-1978)
APROVADOS DE 1968
Ada Augusta Celestino Bezerra da Silva
Ana Maria Dantas Soares de Carvalho
Angélica Vieira Donald
Clara Angélica de Oliveira Porto
Ester Alves de Oliveira
Evanda Maria dos Santos
Gerson Vilas-Bôas
Ione Pais
Janice de Oliveira Sales
Judite Oliveira Aragão
Lílian Leal do Lago
Luci Ferreira de Andrade
Luiza Nascimento Costa
Manoel Messias Porto
Maria Ivanda Bezerra de Sant`Anna
Maria José de Almeida Soares
Maria Lúcia Souza Ramos
Nádia Fraga Vilas-Bôas
Vera Lúcia de Azevedo Fontes
Vera Lúcia Sobral
239
APROVADOS DE 1969
Arlete da Conceição Costa
Bárbara Tereza Adão de Fontes Lima
Edmar Neris dos Santos
Gleide Selma Ferreira de Oliveira
Guiomar Lima Azevedo
José da Silva Queiroz
Lêda Maria Cabral Aguiar
Maria Cândida Aragão
Maria Consuelo Morais Maia
Maria Izabel Siqueira Santos
Maria José Santos Araújo
Marta Suzana Costa Ferreira
Nicária Matos do Nascimento
Rosa Cristina Valente Leite
Ubiraci de Souza Santos
Vera Maria Carvalho de Melo
240
APROVADOS DE 1970
Maria Auxiliadora de Carvalho Menezes
Iracema Carvalho Silveira
Maria Eunice de Carvalho
Maria Nildete Lobão Costa
Eliude Siqueira
Silvia Franco Prado
Ana Lúcia de Menezes Vieira
Célia Hugenbeck
Elizabeth Leite Melo
Miralda Monteiro de Campos
Marlene Alves
Juliene Bastos Pereira
Gildete de Oliveira
Zenilde Soares Pinto
Telma Maria Vieira Leite
Maria Pereira Santos
Maria Elze dos Santos
Célia Maria Mascarenhas Martins
Maria Luci Barreto
Humbelina Aciole do Bomfim
Belizana Vieira Bomfim
Inês Caldas Leandro
Maria Auxiliadora Ferreira de Carvalho
Ana Maria Machado da Silva
Léa das Chagas Fortes
José dos Anjos
Maria Antônia de Menezes Silva
Vera Maria Trindade Freitas
Manoel Messias Vasconcelos
Maria Valdecir Dantas
241
APROVADOS DE 1971
Antônia de Oliveira Soares
Antônio Milton Dória Almeida
Daria Batalha Andrade
Dilma Maria Andrade
Edilde Gonçalves da Conceição
Edjan Soares de Souza
Edla Ribeiro Maynard Barreto
Elianne Costa Carvalho
Ivalci Silveira Costa
José Américo Silva de Souza
José Oliveira
Lea Mirian Fonseca Mota
Maria de Lourdes da C. Costa
Maria do Carmo Souza
Maria Edeilza Santos
Maria José de Jesus
Maria Marcília dos Santos
Sérvula Maria Soares Silva
Terezinha de Jesus Marques
Vera Lucia Silva de Jesus
242
APROVADOS DE 1972
Ednalva Freire Caetano
Meires de Lourdes dos Santos
Maria da Conceição Couto Rezende
Telma Maria Vieira do Sacramento
Silvia Maria Machado
Maria Celeste de Figueiredo Oliveira
Ana Maria de Araújo Meneses
Humbelina Aciole do Bomfim
Maria Lúcia Vieira de Melo
Maria Ida Silveira Amorim
Aurélia Prado Ribeiro
Maria Prado Andrade
Fátima Maria Monteiro Nascimento
Antônia Lúcia dos Santos
Iunar Gomes dos Santos
Maria Joelina Dias Lima
Maria José Napomuceno Figuerôa
Yacaia Lopes de Oliveira
Maria Clemildes Oliveira
Maria Alice Leite Cruz
Lindete Silva dos Santos
Lygia Meneses Prudente
Lígia Angélica Dias Lemos
Maria Cleudes Dantas
Gresse Meyre Costa de Santana
Terezinha Santos Oliveira
243
Roberto Mendonça Maia
Rosa Mary Lima
Yara Winne de Almeida
Alinete de Andrade Morais
Maria Evanilde Alves de Oliveira
Maria Lúcia de Andrade Góis
Maria Lúcia Fraga Morais
Bernadete Souza Gouveia
Neuza Maria de Jesus Santos
Neuza Maria de Jesus Santos
Josenita Regina Meneses
Terezinha Souza Gouveia
Joarina Xavier Galvão
Juçara Bomfim Sampaio
244
APROVADOS DE 1973
Walter Oliveira Ribeiro
Rosa Maria Machado de Farias
Maria Josefina Fontes Leite
Sylvia Tereza da Fonseca Prudente
Ana Luiza Barreto Mesquita
Leila Zilene de Farias Lemos
Heloisa Ribeiro dos Santos
Vanice Sá
Aurea Therezinha C. Borges de Oliveira
Iara Maria Campelo Lima
Laura Cecília de Almeida Fontes
Etelvina Lins Baptista
Antônia Gonçalves Maynard Dias
Lauro Rocha de Lima
Leda Sonia Oliveira Linhares
Rosa Maria Barros Telles
Rosália dos Santos
Antônio Fernando Vasconcelos de Paula
Maria Terezinha Silva
Maria Neide Machado de Oliveira
Maria do Carmo Deda Chagas
Josefa Mesquita de Santana
Ruth Prado Barreto
Hildete dos Santos
Ana Maria de Souza
Tereza Josefina de Carvalho Dantas
Eliana Melo Santos
Marleide dos Santos Leite
Maria de Fátima da Costa Monte
245
Margareth Barreto Nunes
Maria Nelma Santos Déda
Valda Souza Schmith
Maria Ilka Dantas Vieira
Marilda Araújo dos Santos
Eloíza Maria de Oliveira Costa
Marta Pinto Sampaio
Gleide Ferreira Cruz
Maria Adélia Cruz
Vanda Góis Cardoso
Carlos Henrique de Oliveira Porto
Ângela Maria Amaral Santos
Aldeci Andrade dos Santos
Josefa Olga dos Santos
Zilná Santana
Eunice Vieira de Melo
Ivanete dos Santos
Maria José Andrade
Marieta Ferreira Lima
Vilma Vasconcelos Freire
Maria Gilsa de Oliveira
Normélia Souza Almeida
Maria de Lourdes Andrade
Maria do Carmo Brito
Tânia Maria Lima Maynard
Maria Auxiliadora Silveira
Yeda Marisa Melo de Carvalho
Marivalda Menezes
Maria de Fátima Fontes de F. Fernandes
Isaura Meneses de Andrade
246
APROVADOS DE 1974
Alda Maria Duarte Araújo Castro
Maria das Neves Cabral de Resende
Marilza Willmersdorf Franco
Maia de Fátima Nabuco de Menezes
Aldemir Santos Campos
Terezinha dos Santos
Denise Costa Lima da Rocha
Mario dos Santos
Iva Margarida Montes Vieira
Adélia Ribeiro de Oliveira
Aglaé Ferreira de Araújo Ramos
Maria Antônia Santos
Rosa Helena Rocha
Laurinda Maia de Brito
Avelina Leila Santana de Lima
Lícia Maria Morais de Azevêdo
Vânia Mitidieri
Ângela Acácia Ribeiro de Menezes
Adeilde Figueiredo Santos
Tereza Cristina Ramos Prudente
Ângela Maria Feitosa
Marlene de Moura Carvalho Mendes
Rosa Maria Nascimento Freire
Natalina Ganhardella Nascimento
Antônio Moraes Nunes
Mirabel Araújo
247
Carmem da Silva Albuquerque
Maria Ivone Ramos
Maria Risoleta Sampaio Vasconcelos
Sônia Maria de Azevedo Viana
Francisca Cândida Peixoto Barbosa
José Paulo de Menezes
Maria de Fátima dos Anjos
Loíde Freire da Silva
Claudia Maria Lima da Silva
Enivalda Almira Santos
Maria Terezinha Cardoso
Angélica Nunes Barreto
Selma Maria Amorim Mota Santos
Rosângela Monte Santo Corbal
Maria de Lourdes Fraga
Clara Marta Costa da Silva
Maria Olga de Souza Santana
Maria Emília Teixeira de Morais
Ivanilde Moura
Cremilda Rodrigues de Lima Espinola
Thereza Christina Montalvão
Marcelina Ana Melo dos Santos
Hilda Alves da Silva
Claelber de Souza Dantas
Irene de Lourdes Pereira
Adeilde Teles dos Santos
Ana Maria Rosa Santos
Maria Nize Carvalho Matos
248
Maria Hênia de Oliveira
Sônia Maria de Santana
Suely Maria Prado Melo
Mércia de Morais Nunes
Maria Luiza Araújo Cardoso
Maria do Carmo Oliveira Souza
249
APROVADOS DE 1975
Alaíde de Meneses Tavares
Aleide Porto de Santana
Alice Moreira dos Santos
Anailde Melo Costa
Ariadne Nascimento de Souza
Cacilda Maria de Jesus
Cândida Raquel Lopes Cardoso
Célia Alves de Carvalho
Denise Maria Lima Ferreira
Edna Maria Gomes
Genildes Santos Oliveira
Grasiela Santos Mendonça
Heline Ribeiro Rezende
Ilza Santos Donald
Ivonete Bastos de Oliveira
José Alberto Gomes Varjão
Lindinalva Lopes Cruz
Lizete Figueiredo
Maria Carmem Alves de Andrade
Maria da Conceição Santos Cruz
Maria das Graças Santos D. Mendonça
Maria de Fátima Aragão Meneses
Maria de Fátima Mendonça de Jesus
Maria de Ampare Boaventura
Maria Iracy Dantas Pacheco
Maria Selma Franco Villar
Maria Vandete Machado
Marlene Cardoso Chagas
Rosa Maria de Oliveira Cardoso
Rosita Mascarenhas de Andrade Santos
Sandra Fernandes
250
Sílvia Maria Duarte Moreira
Tamar Álvares Bezerra
Thereza Cristina Santos Bastos
Yolanda Dantas de Oliveira
Adelice Gomes Fontes
Alice Batista dos Santos
Ana Maria Lourenço de Azevedo
Deise Cortez dos Santos
Dalva Maria Ramos Souza
Elsa Souza Nunes
Fátima Cristina de Almeida Rocha
Gilene Santos
Ione Melo Borges
Jaime Costa Azevedo Filho
Jane Andrete Menezes
Lourdes Nery Damacena
Luzinete de Santana Lima
Magaly Lima Franco
Maria Balbina Batista dos Santos
Maria Conceição Carvalho Moura
Maria Cristina Franco Silva
Maria de Lourdes Santos
Maria Delci Oliveira de Góis
Maria José Santos Moura
Maria Stela Gonçalves
Maria Virgínia Vieira Santos
Marlúcia Maria Falcão Viana
Mirian do Carmo Barreto
Nazaré Santana dos Santos
Nirailde Souza Oliveira
Noélia Moraes Caldas de Melo
251
Pedro Luiz Matos Moura
Rita Barbosa Souza
Rivanda Silva Carvalho
Sônia Maria Alves dos Anjos
Stelamaris Torres Melo
Terezinha de Jesus Gusmão
Thereza Santos Lemos
Yara Maria da Silva Rosa
252
APROVADOS DE 1976
Marco Antônio Galvão Leite de Almeida
Silvana Maynard Garcez
Maria Nicelia Cunha
Rosaura Rocha de Melo
Lucila Menezes Reis
Inês dos Santos
Tereza Cristina Pinheiro Souza
Lívia Maria Vieira Fortes
Lilian Andrade Gomes
Dione de Oliveira Diedam
Tereza Franco Cabral
Clécia Rosa Nascimento
Tereza Cristina Cerqueira da Graça
Maria Socorro de Almeida Gonçalves
Francisca de Andrade
Maria do Socorro Rocha Santos
Daria Maria de Melo Santos
Avilete Cruz de Almeida
Icleda Maria Santos
Estela Maria Teles do Santos
Gilda Maria dos Santos Lelis
Diomedes Santos da Silva
Maria Clara Andrade Clara
Lucila Maurícia de Carvalho Lobão
Eulália Maria Pinto Lopes
Maria do Carmo de Jesus Menezes
Ana Alice de Jesus Brandão
Fátima Maria Paiva dos Santos
Maria Elba da Silva
Ana Maria Santos
Margarida Farias dos Santos
253
Maria Célia Santos Santana
Lígia da Silva Ribeiro
Maria Angélica Menezes Freire
Iaci Mendes de Souza
Maria José Gois de Santana
Cacilda Maria Carreiro Viana
Lucivanda Maria de Lima Mendonça
Silvia Dantas do Espirito Santos
Maria Lúcia Silveira Martins
Maria Luiza Santos
Cleide de Albuquerque Ferro
Tereza de Jesus Hora
Maria Conceição Soares de Jesus
Maria Ligia Muricy Cajazeira
Lenilda Lucia Santos Torres
Lianna de Melo Torres
Ana Zélia da Rocha
Mirian Rocha
Marisete da Silva
Aurita Vieira Donald
Maria Nanci Ribeiro
Julieta Oliveira Campos
Evalda Barreto
Leonarda Eremita de Oliveira Andrade
Lucia Maria Lima Macedo
Rivandete Meneses Melo
Sandra Maria Resende
Maria Amélia Santos Vasconcelos
Silvana Jandira Alves
Vera Maria Dias Feitoza
Maria Julia dos Santos Cruz
Ilná Andrade Lobo
Maria Luciene dos Santos
254
Verbena Maria Passos Nascimento
Vania Maria Dias Oliveira
Vanda Maria dos Santos
Neuza Lobão Aritiquiba Bezerra
Luci Macedo de Souza
Mauricea Moraes de Carvalho
255
APROVADOS DE 1977
Ana Emília Nunes Vieira
Ariovaldo Alves da Silva
Aubiésio Felix de Azevedo
Durval José da Silva
Hosfelita dos Santos
Iara Madureira Rabelo
Ivanete Maria Santos
Jacira Maria de Souza
Jeanne Nunes de Jesus
José Esmeraldo de Oliveira
José Laércio Souza Matos
Josefa Givalda Passos
Jucia de Jesus
Laurinete Santos
Maria Alice Vilanova Rodrigues
Maria Angélica P. de A. Ramos
Maria Auxiliadora B. do
Nascimento
Maria Carmem de Melo Macedo
Maria da Glória dos Santos
Maria da Glória V. de Andrade
Maria das Merces V. Viana
Maria Gilzete V. Nascimento
Maria Inês Melo Soares
Maria Lucimar Pereira da Silva
Maria Vandete Santos de Jesus
Maria Virgínia dos Santos
Maria Yara Vieira Dórea
Marluce Paes de Menezes
Neli de Almeida Tavares
256
Ninfa Maria Machado Lobo
Selma de Góis Feitosa
Sônia Mendonça de Oliveira
Tereza Augusta V. F. de Carvalho
Valdison Alberto Silveira Pinto
Zoraide Nascimento de Oliveira
Adeilde Batista Santos
Antônio César Santos
Aurea Maria Matos de Carvalho
Benjamin Rodrigues Franklin
Carlos Nascimento da Silva
Celuta dos Santos
Damares Dias dos Santos
Delucia Rodrigues Sobral
Elineuda Nascimento Silva
Erleides Maria Santos
Iolanda Santana Santos
Isabel Cristina Cruz dos Anjos
José Washington C. de Rezende
Maria Bernadete Mendonça Teles
Maria Cristina Moreira Cruz
Maria de Fátima Veiga
Maria de Lourdes de O. Silva
Maria do Carmo Machado
Maria Floraci de O. Moraes
Maria José da Silva
Maria José de A. Fernandes
Maria Lúcia de Araújo Carvalho
Maria Raquel dos Reis Morais
Maria Salete Cardoso de Souza
Maria Yolanda Barros dos Santos
257
Maria Zuleide Moura
Marlene dos Santos
Reinaldo Menezes Valadão
Rosa Maria Lobo Santos
Rosângela Santana Santos
Sandra Regina Miranda Santos
Shirley Neuza Silva dos Santos
Sueli Batista do Carmo
Tereza Edvan Soares Bezerra
Unaldo Caetano Iglessias
258
APROVADOS DE 1978
Annita Fátima de Aguiar
Bernadete Dias de Matos
Cordelia Santos
Damires Cortes Cardoso
Dilma Maria Tenório Silva
Eliane Barreto Silva
Eloídes dos Santos
Eloízia Alves de Melo
Jacirema Matos Vieira
Jovelina Vieira Santos
Leulira Silva Santana
Lindinalva de Oliveira Santos
Maria Auxiliadora dos Santos
Maria Auxiliadora Gomes
Maria Claudina dos Santos
Maria de Fátima Prata Barbosa
Maria de Lourdes Souza
Maria Inês Santos
Maria Ivânia Santos
Maria José Cruz dos Santos
Maria Judite Santos
Maria Luiza Santos de Aragão
Maria Zuleica Rollemberg Silva
Martha Maria Rodrigues Silva
Neide Aparecida Correia
Neide Valença Pereira
Nidia Maria Barreto Sampaio
Paulo Agripino dos Santos
Rosângela Santos Barbosa
259
Tereza Cristina Silva Santos
Terezinha Maria C. de Oliveira
Valdelice Vieira Filha
Vasti da Cunha Lima Sales
Zélia Dantas de Barros
Zélia Guimarães de Franca
Ângela M. M. Garcia Moreno
Ângela Maria de Santana
Dagmar da Silva Costa
Dalva Maria da Mota
Damares Socorro Fontes
Divacy de Andrade Santos
Edna Oliveira dos Santos
Eliana Conceição e Silva
Elza Josefa de Carvalho
Geni de Marco
Gilberto José da Silva
Isabel Cristina Barros de Jesus
Ivanil Alves da Silva
Jorge Alberto Moura
Josefa Hilma Boaventura
Maria Conceição C. R. de Brito
Maria de Fátima F. de Rezende
Maria Dilma de Lima
Maria dos Prazeres A. Santos
Maria Gorete da Rocha Santos
Maria Ivonilde Santos
Maria Lúcia Nunes Souza Martins
Maria Neuza Nascimento
Maria Tereza de Araújo Concli
Marise Correia Menezes
260
Marluce dos Santos Leite
Marluci Conceição e Silva
Miraldina Menezes Silveira
Nilza Correia dos Santos
Rose Mary Alves Santos
Rosiane Ferreira Chagas
Tereza Cristina M. Nascimento
Vanda Alves Vieira
Viceca Ramos Oliveira
Zuleica Cota
261
APÊNDICE C – NÚMERO DE CANDIDATOS INSCRITOS NO VESTIBULAR
PARA O CURSO DE PEDAGOGIA DA UFS E O NÚMERO DE VAGAS
OFERTADAS (1968-1978) 339
VESTIBULAR
(1968-1978)
NÚMERO DE
CANDIDATOS
NÚMERO DE
VAGAS
OFERTADAS
NÚMERO DE
CANDIDATOS
APROVADOS340
Vestibular de 1968
34 candidatos
30 vagas
21 candidatos
Vestibular de 1969
21 candidatos
30 vagas
12 candidatos
Vestibular de 1970
42 candidatos
30 vagas
30 candidatos
Vestibular de 1971
70 candidatos
30 vagas
20 candidatos
Vestibular de 1972
196 candidatos
40 vagas
40 candidatos
Vestibular de 1973
319 candidatos
60 vagas
60 candidatos
Vestibular de 1974
405 candidatos
60 vagas
60 candidatos
Vestibular de 1975
444 candidatos
70 vagas
70 candidatos
Vestibular de 1976
497 candidatos
70 vagas
70 candidatos
Vestibular de 1977
393 candidatos
70 vagas
70 candidatos
Vestibular de 1978
295 candidatos
70 vagas
70 candidatos
Fonte: jornais Diário de Aracaju (1968-1978) e Gazeta de Sergipe (1968-1978). Acervo do Instituto
Histórico e Geográfico de Sergipe.
339 Vale ressaltar que no ano de 1968 o vestibular para o curso de Pedagogia foi realizado pela Faculdade
Católica de Filosofia de Sergipe. Somente a partir de 1969, passou a ser realizado pela Universidade Federal
de Sergipe. 340 A partir de 1970 foi adotado o sistema de classificação no vestibular da UFS.