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1
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
DIEGO DA COSTA CURTI
A REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA EM SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
ATRAVÉS DOS JORNAIS
UBERLÂNDIA
2019
2
DIEGO DA COSTA CURTI
A REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA EM SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
ATRAVÉS DOS JORNAIS
Monografia apresentada como requisito parcial à
obtenção do título de graduado no Curso de
História – Licenciatura/Bacharelado, da
Universidade Federal de Uberlândia, sob a
orientação do Prof. Dr. Marcelo Lapuente Mahl.
UBERLÂNDIA
2019
3
RESUMO
O presente trabalho apresenta uma pesquisa feita através da imprensa escrita
sobre a Revolução Constitucionalista na região de São José do Rio Preto, tomando
como fonte principal os periódicos do jornal “A Notícia”. A partir das metodologias
historiográficas que derivam da escola dos Annales, foi feito um levantamento
prévio do contexto histórico nacional referente aos conflitos fundamentais, isto é, o
início do movimento que depois se transformaria na Revolução Constitucionalista;
além de uma pesquisa sobre o contexto regional, a qual nos possibilitou
compreender questões locais e suas consequências. Posteriormente, através da
análise das fontes, realizou-se uma investigação mais detalhada sobre importantes
questões regionais envolvendo as mudanças sociais ocasionadas por uma guerra
civil de grande escala. Por fim, os dados sobre as questões locais levaram-nos a
conclusões a respeito do grau de influência de certas instituições regionais nesse
momento histórico que mudou as políticas públicas brasileiras.
Palavras chave: Revolução Constitucionalista. São José do Rio Preto. A Notícia.
Jornal.
4
ABSTRACT
The present work is about a research done through the written press regarding the
Constitutionalist Revolution in the region of São José do Rio Preto, taking as source
the main periodic from the newspaper “A Notícia”. Inspired by the historiographical
methodologies, derived from the Annales school, a pre-survey of the national
historical context was done regarding the necessary conflicts for the start of the
movement that would later become the Constitutionalist Revolution, as well as a
survey of the regional context that allowed us to understand specific local matters.
Posteriorly, through the analysis of the sources it was possible to accomplish a more
thorough investigation regarding local matters and the changes influenced by the
large-scale civil war. Lastly, the data about the local matters brought us to the
conclusion regarding the degree of influence that certain regional institutions had in
this historical moment, which was responsible for the changes in the brazilian public
policies.
Keywords: Constitutionalist Revolution. São José do Rio Preto. A Notícia.
Newspaper.
5
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Página do jornal A Notícia dedicada principalmente a assuntos do café.15
Figura 2 – Texto publicado pelo novo redator-chefe Levinio de Souza, mostrando um
posicionamento mais favorável ao golpe de 1930 .................................................... 17
Figura 3 – Cartaz de 1932 exigindo o fim da ditadura Vargas .................................. 22
Figura 4 – Cartaz de 1932 convocando para o alistamento de soldados ................. 22
Figura 5 – Notícia sobre a solidariedade mostrada pela população ......................... 25
Figura 6 – Notícia sobre o descaso federal com o interior paulista ................. ......... 27
Figura 7 – Primeira página do jornal totalmente dedicada aos assuntos da guerra .. 31
Figura 8 – Notícia sobre a guarda noturna ................................. .............................. 34
Figura 9 – Comunicados da Prefeitura ...................................................................... 34
Figura 10 – Regulamentação do consumo de gasolina ............................................ 36
Figura 11 – Pedido de redução de gasto de gasolina .............................................. 36
Figura 12 – Notícia sobre a Campanha de Ouro para o bem de São Paulo ............. 39
Figura 13 – Relação das pessoas que doaram ouro ................................................. 41
Figura 14 – Notícia sobre a doação de troféus do Rio Preto E.C. ........................ .... 42
6
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Quantidade de comércio, indústria e profissões na cidade de São José do Rio
Preto em 1932 .......................................................................................................... 13
7
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 8
2. A REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA EM SÃO JOSÉ DO RIO PRETO ATRAVÉS DOS JORNAIS ........... 9
2.1 Contexto histórico nacional e regional ......................................................................................... 9
2.2 Um olhar sobre a Revolução Constitucionalista a partir do jornal A Notícia em São José do
Rio Preto ........................................................................................................................................ 24
3. CONCLUSÃO ...................................................................................................................................... 42
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 43
FONTES .................................................................................................................................................. 45
8
1. INTRODUÇÃO
Recentemente, a partir de evoluções que vêm acontecendo através do
trabalho ocupado pelos estudos historiográficos, o campo da história vem se
ampliando cada vez mais, acrescentando objetos, locais e fontes possíveis de
serem trabalhados. Nesse espaço, propaga-se o campo da historiografia local e
regional. O presente trabalho nasce da influência dessa metodologia historiográfica,
ocupando-se de uma localidade regional e fazendo uso de uma fonte jornalística.
A partir da metodologia que permeia esta monografia, foi feita uma pesquisa
das condições sociais, econômicas e políticas referentes ao período da Revolução
Constitucionalista na cidade de São José do Rio Preto. Utilizaram-se, como fonte
de pesquisa, edições do periódico “A Notícia” publicadas no período da Revolução,
as quais proporcionaram conhecimentos sobre questões regionais. A região de São
José do Rio Preto desenvolveu-se muito em decorrência da expansão da economia
cafeeira no estado de São Paulo, carregando, dessa forma, fortes relações com o
movimento Constitucionalista que nascia em 1932, pelo fato de uma das
reinvindicações dessa revolução ser a de conservar os antigos investimentos
federais na economia cafeeira, restabelecendo-a como protagonista econômica do
Brasil.
A partir dessas questões, apresenta-se, como objetivo deste trabalho, uma
análise acerca das mudanças ocorridas na normalidade cotidiana vivenciada por
instituições públicas e privadas, grupos sociais e população em geral, em virtude
das consequências ocasionadas por uma guerra civil. Também, buscou-se
investigar a participação de alguns grupos sociais da região em apoio ao
Movimento Constitucionalista.
9
2. A REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA EM SÃO JOSÉ DO RIO PRETO ATRAVÉS DOS JORNAIS 2.1 Contexto histórico nacional e regional
Há algum tempo, o campo da historiografia vem passando por
transformações que levaram alguns historiadores a repensar a utilização dos
diversos tipos de fontes históricas, metodologia de escrita, objeto de trabalho e
recorte local e histórico. Essas transformações aconteceram pela necessidade que
esses profissionais encontraram de modificar sua metodologia de escrita da
história, e um dos grandes influenciadores desse movimento foi o historiador Marc
Bloch, que, junto com Lucien Febvre, deu início à Escola dos Annales.
Há muito tempo, com efeito, nossos grandes precursores, Michelet, Fustel de Coulanges, nos ensinaram a reconhecer: o objeto da história é, por natureza, o homem. Digamos melhor: os homens. Mais que o singular, favorável à abstração, o plural, que é o modo gramatical da relatividade, convém a uma ciência da diversidade. Por trás dos grandes vestígios sensíveis da paisagem, [os artefatos ou as máquinas] por trás dos escritos aparentemente mais insípidos e as instituições aparentemente mais desligadas daqueles que as criaram, são os homens que a história quer capturar. Quem não conseguir isso será apenas, no máximo, um serviçal da erudição. Já o bom historiador se parece com o ogro da lenda. Onde fareja carne humana, sabe que ali está sua caça (Bloch, 2001, p. 54-55).
Nesse trecho, fica evidente que, para Bloch, o objeto central do historiador
não são apenas os grandes feitos históricos realizados por homem, mas toda e
qualquer atividade que seja decorrente da ação humana. Esse conceito permitiu a
ampliação do campo de investigação da pesquisa histórica.
Para Bloch (2001, p. 79), “a diversidade dos testemunhos históricos é quase
infinita. Tudo o que o homem diz ou escreve, tudo o que constrói, tudo o que toca,
pode e deve fornecer informações sobre eles”. Nesse sentido, o autor apresenta
outro conceito de extrema importância para o historiador, isto é, a definição do que
seria uma fonte histórica. Bloch entende que todo resquício de ação humana deve
ser investigado, pois pode trazer informações importantes, tanto sobre o contexto
histórico, quanto sobre o autor ou um grupo social. Se bem analisada a fonte,
podemos retirar informações de grande relevância para a construção de uma
pesquisa.
10
Influenciada por essa escola historiográfica, nasce esta investigação, que
tem como objetivo central realizar uma análise sobre questões locais referentes ao
período da Revolução Constitucionalista de 1932. A pesquisa foi realizada a partir
da imprensa escrita regional da cidade de São José do Rio Preto, localizada no
noroeste paulista. A escolha do pequeno recorte local e temporal permite que seja
feita uma análise mais profunda sobre o contexto e a região, além de uma
valorização da historiografia regional e local, que vem sendo cada vez mais
apreciada, em virtude de conceitos trazidos por escolas historiográficas, como a
ampliação de objetos e fontes de pesquisas.
Antes de adentrarmos o mundo das fontes da imprensa escrita, é importante
levar em consideração a relevância desta na construção de um pensamento social
comum. O jornal era, na década de 1930, um dos maiores meios de comunicação
em massa, sendo utilizado por pessoas influentes na sociedade como uma forma
de transmitir padronizações de conceitos morais vigentes na época.
Ademais, o editor e/ou proprietário do jornal tinha o poder de construir a
narrativa da notícia de forma que beneficiasse o seu posicionamento quanto ao
assunto exposto. Mesmo que grande parte dos jornais se auto intitulem imparciais,
isso deve ser contestado por diversos motivos; entre eles, o fato de as publicações
serem escritas por seres humanos que, embora tentem negar sua natureza,
carregam uma vivência que é responsável por criar, no subconsciente, certos tipos
de convicções e simbolismos, os quais podem se manifestar na escolha do assunto
abordado, na posição e espaço em que a publicação se encontra no jornal ou até
mesmo na escolha de certas palavras que, pela sua linguística, já carregam um
posicionamento.
Além dessas características que vêm do subconsciente da mente humana, a
própria estrutura de produção jornalística (exceto a de jornalistas independentes)
coloca um obstáculo na tentativa de alcançar a imparcialidade. Isso porque toda
publicação passa pela aprovação e filtros de seu editor-chefe ou superior e este,
por questões já mencionadas acima, carrega consigo uma parcialidade que se
refletirá também na escolha de sua equipe editorial, já que haverá a tendência de
procurar pessoas que seguem uma linha semelhante de afinidades e pensamentos.
Esta pesquisa foi realizada através da análise de jornais publicados em 1932
na cidade de São José do Rio Preto. Na época, tratava-se de uma cidade ainda
pequena. Em sua tese, Campos (2014, p. 310) trata da cidade de Ribeirão Preto,
11
que era chamada de “velho oeste” por, naquele período, já ser bastante
desenvolvida pela indústria do café; São José do Rio Preto, por sua vez, era
conhecida como “novo oeste”, em virtude de seu estágio de crescimento. Com o
tempo, São José do Rio Preto passou por um desenvolvimento devido a grandes
fazendeiros que investiram, principalmente, na indústria do café (motor principal da
economia paulista) e, com menor intensidade, nas lavouras de algodão e milho e na
criação de gado.
Existe uma forte relação entre o período da Revolução Constitucionalista e a
região de São José do Rio Preto devido à cultura do café. É impossível abordar a
história dessa região sem citar a enorme influência que a economia cafeeira teve
nela. A cidade nasceu em meados do século XIX como uma pequena vila de
trabalhadores rurais. Mahl (2013, p. 50-52) explica, em seu artigo, que a cidade
ganhou visibilidade no estado de São Paulo a partir do momento em que foi
construída, em 1896, a Estrada de Ferro Araraquara, popularmente conhecida
como Estrada Araraquarense. Essa estrada foi construída pela iniciativa privada de
fazendeiros que desejavam escoar a sua produção cafeeira para outras regiões,
inicialmente ligando Araraquara a Itaquerê (atual Bueno de Andrada) e,
posteriormente, expandindo-se até chegar a São José do Rio Preto, em 1912.
Mahl (2013, p. 52-53) afirma ainda que, durante esse período de expansão
da Estrada Araraquarense, diversos fazendeiros começaram a investir grandes
capitais em terras férteis no entorno da ferrovia, com objetivo de obter maiores
lucros a partir da facilitação de escoamento de seus produtos que a ferrovia iria
proporcionar. Iniciou-se, assim, um enorme desenvolvimento na região do Noroeste
Paulista, dando origem a um grande movimento econômico regional que foi
responsável por um amplo fluxo de migração e povoamento de zonas rurais ainda
pouco exploradas e zonas urbanas pouco movimentadas.
Porém, mesmo com o desenvolvimento econômico local provindo
principalmente do café, Campos (2014, p. 312-313) mostra que, nos anos de 1930,
a população pobre passava por grandes dificuldades, como altos níveis de
analfabetismo, ausência de escolas gratuitas para todos e elevadas taxas de
mortalidade infantil. Por outro lado, os mais ricos desfrutavam de uma vida urbana
agitada, com a presença de diversos clubes, bares, cinemas, ensino e saúde
privados, entre as diversas regalias que uma cidade em pleno desenvolvimento
econômico e social poderia oferecer à população mais abastada. Para demonstrar
12
esse intenso movimento urbano, o quadro 1, abaixo, apresenta levantamentos não
oficiais retirados do Álbum Ilustrado da Comarca de Rio Preto. Publicada em 1929,
essa obra tinha o objetivo de dar visibilidade à região ao levar informações sobre os
comércios, indústrias e profissões liberais locais, dando um indicativo de que a
cidade, mesmo com uma economia predominantemente rural, desfrutava de um
intenso desenvolvimento de sua área urbana.
É importante salientar que, segundo dados do Annuario Estatístico de São
Paulo (1935), no ano de 1929, São José do Rio Preto tinha uma população de
aproximadamente 65.048 habitantes, e é possível que nem todos os profissionais
estivessem presentes no Álbum por não desejarem pagar para aparecer ou por não
terem ligações com seus produtores.
Tabela 1 –Comércio, Indústria e Profissões da cidade de Rio Preto no ano de 1929 Açougues 12 Engenheiros 12 Advogados 30 Encanamentos e Artigos Sanitários 06 Agências de automóveis 06 Escolas Primárias 11 Agentes de negócios 03 Escultura e Estatuária 01 Agências bancárias 01 Estradas de Ferro 01 Agências de Revistas e Jornais 01 Farmácias e Drogarias 13 Agremiações religiosas 08 Ferragens, Tintas e Louças 06 Agremiações pias 03 Ferreiros 10 Alfaiatarias 25 Folheiros 03 Armarinhos e fazendas 39 Fotógrafos 01 Armazéns de cereais 12 Frutas 06 Armazéns de Secos e Molhados 87 Funileiros 01 Armeiros 02 Garages 01 Amoladores 02 Hospitais 01 Artigos para escritório 04 Hotéis 12 Associações 14 Joalherias 01 Automóveis e Acessórios 07 Lenha 02 Bancos 05 Liceus 01 Barbearias 28 Máquinas de costura 01 Bares 06 Máquinas de escrever 02 Bebidas e gelo 04 Madeiras 03 Bicicletas e Motocicletas 01 Manteigas (Fábrica) 01 Bilhares 01 Marcenarias 08 Botequins e Cafés 30 Máquinas de Benefício 14 Calçados e chapéus 05 Médicos 20 Camisarias 05 Móveis 03 Carpintarias 04 Oficinas mecânicas 09 Casas de Saúde 06 Padarias 07 Cemitérios 02 Pensões familiares 14 Cinematógrafos 04 Restaurantes 11 Colchoarias (Fábricas) 02 Sabão (Fábricas) 02 Compradores de Cereais 21 Sapatarias 13 Consulados 03 Selarias 07 Construtores 03 Serrarias 03 Corretores 01 Tabelionatos e Cartórios 04 Contadores Peritos 05 Telégrafos 01 Costuras 04 Telefones 01 Chalés 10 Tinturarias 06
13
Charutarias 01 Tipografias 06 Dentistas 13 Vitrolas, Pianos e Músicas 03
Quadro 1 - Quantidade de comercio, indústria e profissões na cidade de São José do Rio Preto em
1932 (Campos, 2014, p. 313)
Conforme demonstram os dados relatados acima em relação à quantidade
de empregos liberais existentes no meio urbano, podemos constatar que, em 1930,
São José do Rio Preto era uma cidade em pleno desenvolvimento econômico e
social. De acordo com o exposto anteriormente, o jornal tem um papel essencial na
construção do pensamento do meio urbano, cumprindo a função de uma espécie de
educador social por ser um dos principais meios de comunicação e uma das
principais fontes de informação a que a população urbana teria acesso. Essa
função social do jornal que rodeou diversas regiões do Brasil no começo do século
XX não poderia ser diferente em uma cidade que passava por um constante
desenvolvimento urbano, tendo como um dos principais aliados na configuração
desse meio o jornal “A Notícia”. Este serviu de suporte principal como fonte de
pesquisa para este trabalho, tendo o pesquisador tido acesso a essa fonte através
de mídia digitalizada disponível no Arquivo Público de São José do Rio Preto.
Analisaram-se todos os periódicos publicados no período de junho a outubro de
1932 e alguns um pouco anteriores, referentes a dias de agitamento político mais
acalorado. A escolha do jornal “A Notícia” como fonte se deu pelo fato de que,
durante o período de guerra civil, o jornal modificou totalmente sua linha editorial,
dedicando-se exclusivamente a publicar notícias sobre esse momento específico.
De acordo com Losnak e Pádua (2017), o referido jornal nasceu em 1924,
tendo como proprietário Nelson de Veiga e sendo dirigido pelo professor Dario de
Jezus. Em 1928, o jornalista e advogado Manoel dos Reis Araújo comprou o jornal
e tornou-se o redator-chefe, permanecendo na função até o ano de 1936. Araújo foi
um importante personagem na construção da mentalidade regional, uma pessoa de
grande influência, principalmente na imprensa local, e usava desse meio
comunicativo para defender seus ideais. O conteúdo das publicações dos jornais
cujo redator era Araújo revela que ele foi um grande defensor da economia cafeeira
e das pautas paulistanas, tornando-se um dos grandes porta-vozes e defensores da
Revolução Constitucionalista.
Durante o período em que “A Notícia” foi comandado por Manoel dos Reis
Araújo, o jornal recebeu diversos investimentos da rede econômica cafeeira. Em
14
suas publicações, que aconteciam de terça a domingo, é possível notar que a
propaganda relacionada a produtos cafeeiros ocupava um espaço significativo e de
destaque em suas páginas, além do fato de que, com certa frequência, uma parte
do periódico era dedicada a informações e posicionamentos político-econômicos do
editor-chefe ou de leitores influentes relacionados à categoria cafeeira, sempre com
um posicionamento de defesa da classe.
15
Figura 1 – Página do jornal A Notícia dedicada principalmente a assuntos do café
Fonte: Jornal A Notícia de 12/11/1931
É verdade que o jornal teve diversos segmentos políticos no decorrer do
tempo em que aconteciam alterações nos contextos políticos nacional e local e
16
mudanças de proprietário e editor-chefe, mas o periódico sempre seguiu um viés
ideológico de defesa ao republicanismo. Em alguns momentos, A Notícia apoiou
abertamente o Partido Republicano Paulista (PRP); em outros, mostrou apoio ao
Partido Republicano Municipal (PRM); ainda, em outros, dizia-se apartidário, porém
não deixava de clamar pela defesa dos paulistas e da economia cafeeira, mais
especificamente no período que mais nos interessa, isto é, de 1928 a 1932. Entre
1928 e 1930, por conta da integração de Manoel dos Reis, o jornal passou por um
período em que afirmava ser apartidário, conforme se pode ver no excerto abaixo,
retirado da edição de 16 de setembro de 1928:
“Fica assim entendido que “A Notícia” não fará política e não seguirá políticos. O nosso jornal será todo dedicado aos interesses do povo e cogitará apenas do progresso material e social de São José do Rio Preto” (A Notícia, 16 set. 1928, p. 1).
No entanto, um balanço feito por Losnak e Pádua (2017) reforça a
inexistência do apartidarismo jornalístico:
“O novo posicionamento do periódico lançou mão da divisão entre informação e opinião nos conteúdos veiculados, sobretudo no âmbito da cidade, que ganhavam espaço nas colunas Câmara Municipal e Prefeitura Municipal. O que se desvelou foi o apoio ao PRP e aos prefeitos do período, Victor Brito Bastos (1927-1928) e Cenobelino de Barros Serra (1928-1930). Os dois governantes, bem como suas administrações, apareceram em textos que privilegiavam a informação, deixando eventuais críticas para os artigos de fundo. Apesar da estratégia, a cumplicidade foi revelada por meio da presença constante da linguagem adjetivada e do tom elogioso.” (Lonask; Pádua, 2017, p. 51).
Outro indicativo de que o posicionamento apartidário do jornal fazia parte de
uma estratégia é uma publicação, pelo mesmo editor-chefe, em momento histórico
diverso, demonstrando o discernimento dele quanto ao poder que o jornal tem de
administrar certas questões sociais.
“A imprensa do interior é e, se não é, pode ser, uma força gigantesca, perfeitamente capaz de construir ou demolir instituições, fazer ou desfazer administrações e estabelecer ou demover credos ou convenções políticas” (Campos, 2014, p. 315).
Durante as eleições de 1930, o jornal se posicionou contrariamente à recém-
formada Aliança Liberal. Após concretizado o golpe de 30 no dia 27 de outubro, o
editor-chefe Manoel Araújo foi afastado do jornal, ocupando seu lugar o médico
17
Levinio de Souza e Silva. Essa substituição foi responsável por uma mudança
momentânea de posicionamento do jornal. Já na primeira publicação, com o novo
diretor, era informado com entusiasmo e elogios o golpe que acabava de se efetivar,
ou seja, com a mudança de redator, o jornal passou a ter uma posição mais
favorável ao governo provisório que acabava de ser instaurado.
“Desde sexta-feira á noite, vibrava de enthusiasmo a população de Rio Preto que recebeu com alegria a notícia de que triumphára, na Capital da Republica o movimento revolucionário que deste o dia 3 vinha preocupando à alma brasileira” (A Notícia, 27 de out de 1932, p. 01).
Figura 2 – Texto publicado pelo novo redator-chefe Levinio de Souza, mostrando um posicionamento mais favorável ao golpe de 1930
Fonte: Jornal A Notícia de 27/10/1930
Esse posicionamento, porém, dura apenas um mês, pois, com a volta de
Manoel dos Reis como redator-chefe, as publicações relacionadas ao governo
18
provisório são de alerta e crítica à administração pública que se estabelecia no
Brasil.
A partir de 1932, quando as disputas políticas entre o governo federal e os
paulistas começaram a ficar mais acirradas, o jornal passou a ter uma postura de
defesa absoluta aos paulistas, sem esconder suas convicções e ideologias políticas.
Essas questões serão abordadas mais detalhadamente no próximo subtópico.
Contextualizando o período estudado, a obra de Fausto (1995) revela que a
Revolução Constitucionalista foi um movimento iniciado a partir do momento em que
aconteceu a Revolução de 1930. Esta ocorreu devido à insatisfação em relação a
uma antiga forma de administração pública instaurada no Brasil, conhecida como
“política do café-com-leite” (1898-1930), em que se dividia o governo federal e,
consequentemente, os holofotes da administração pública, entre os estados de São
Paulo e Minas Gerais. A Revolução de 1930 articulou-se quando, meses depois da
derrota da Aliança Liberal de Getúlio Vargas nas eleições populares sobre o
candidato paulista Júlio Prestes, ocorreu o assassinato de João Pessoa, candidato a
vice-presidente de Getúlio nas eleições. Fausto (1995) explica, ainda, que tal crime
aconteceu por causa de uma desavença política regional no estado da Paraíba;
porém, os integrantes da Aliança Liberal acusam o governo federal pelo ocorrido, a
fim de agitar o cenário político, convocando, assim, seus aliados a saírem as ruas
com armas na mão, na tentativa de deposição do então presidente da república
Washington Luís. Com a ajuda de uma grande concentração provinda da base
militar, o golpe termina com uma vitória sem muito esforço da Aliança Liberal, dando
início ao Governo Provisório comandado por Getúlio Vargas.
Os motivos que deram início à Revolução Constitucionalista surgiram a partir
do golpe que sucedeu a Revolução de 1930. Esta foi um movimento que tinha,
dentre sua maioria de representantes, grupos ligados à economia cafeeira — a
princípio, grande parte pertencente à elite. Por isso, o golpe de 1930 não foi um
movimento político que agradou essa camada da sociedade, visto que ela era a
principal favorecida pela antiga “política do café-com-leite”, através de diversas
regalias fornecidas aos cafeicultores paulistas. A esta classe eram dadas, por
exemplo, facilidades na concessão de empréstimos, o que lhe permitia desenvolver
a economia cafeeira e manter baixo o valor da moeda nacional. Tal manobra fazia
com que o valor do café exportado gerasse grandes lucros quando convertido para a
19
moeda brasileira, sem mencionar os muitos outros tipos de favorecimento pessoal
de caráter legal e ilegal tidos como praxe no período.
Além das mudanças em âmbito nacional que afetaram a economia cafeeira
paulista, um fenômeno que acontecia na economia internacional acelerou a crise
aqui dentro. Em outra obra, Fausto (1978) mostra que a crise de 1929 nos Estados
Unidos foi um período de enorme recessão econômica que acabou por atingir, de
forma indireta, o mundo inteiro e, de modo direto, o Brasil, que os tinha como os
maiores aliados na exportação do café. Tal fato resultou em uma crise econômica
nacional, pois o Brasil ficou impedido de exportar café nas mesmas quantidades de
antes, ocasionando uma desvalorização no preço do produto internacionalmente.
Na iminência da concretização do golpe, os paulistas lançaram duras críticas
ao grupo político que acabava de nascer como oposição e que acabou por liderar a
Revolução de 1930, a Aliança Liberal. Podemos compreender que havia certo
discernimento por parte dos paulistas ao se oporem à aliança, pois, em debates
anteriores às eleições populares, alguns políticos associados à Aliança Liberal
discursavam que, caso o resultado não fosse favorável para Getúlio Vargas, haveria
uma revolução. Os pró-paulistas, então, defenderam-se, acusando os políticos
oposicionistas de estarem articulando uma investida contra o estado de São Paulo,
de modo a sabotar todo o Brasil. Abaixo, segue a transcrição de um trecho do
discurso do senador Cândido Nazianzeno Nogueira da Motta, exposto durante a
tribuna do Senado do Congresso Legislativo do estado de São Paulo em 1929, o
qual explicita o teor de tais debates. Nele, o senador denuncia e critica as ameaças
de um possível golpe tramado pela Aliança Liberal.
A guerra anunciada pela chamada Aliança Liberal não é contra o sr. Júlio Prestes, é contra nosso estado de São Paulo, e isso não é de hoje. A imperecível inveja contra o nosso deslumbrante progresso que deveria ser motivo de orgulho para todo o Brasil. Em vez de nos agradecerem e apertarem em fraternos amplexos, nos cobrem de injúrias e nos ameaçam com ponta de lanças e patas de cavalo! (HÉLIO, 1976, p. 133-134).
A nova administração pública do Governo Provisório não agradou os
paulistas. As críticas começaram a ficar mais ácidas quando Getúlio Vargas nomeou
um antigo integrante da Coluna Prestes, o tenente João Alberto Lins de Barros, para
o cargo de governador do estado de São Paulo. A atitude desagradou até mesmo
antigos aliados paulistas da Aliança Liberal, como o Partido Democrático de São
20
Paulo, fazendo com que as desavenças entre o governo federal e o estado de São
Paulo aumentassem.
Fausto (1995) relata que, com a visível perda de espaço político dos paulistas
e o rompimento da aliança entre o Partido Democrático com o governo federal,
nasceu uma aliança entre o Partido Democrático e o Partido Republicano de São
Paulo, formando-se a Frente Única Paulista (FUP) — um movimento cujas
reinvindicações pautavam-se principalmente na autonomia política de São Paulo, na
nomeação de um interventor paulista e na criação de uma nova Constituição.
Getúlio, tentando evitar um conflito, atendeu algumas das reivindicações e nomeou
um integrante da FUP, Pedro de Toledo, como interventor paulista. O presidente
incluiu, ainda, na agenda para 1933, uma eleição nacional para a formação de uma
Assembleia Constituinte. Essas medidas, porém, não foram suficientes para acabar
com a revolta da FUP e, em 1932, os oposicionistas organizaram um protesto na
frente da sede do Partido Popular Paulista (PPP), um grupo político que nasceu com
o golpe de 1930 como aliado de Getúlio Vargas. Os manifestantes tentaram invadir a
sede, gerando um conflito que resultou na morte de quatro integrantes, entre eles
Mário Martins, Euclides Miragaia, Dráusio Marcondes e Antônio Camargo. Como
forma de homenagear os mártires, formou-se o acrônimo M.M.D.C., precursor do
movimento político conhecido como Revolução Constitucionalista.
Com o acirramento das desavenças entre o estado de São Paulo e o governo
federal, eclodiu, em 9 de julho de 1932, uma guerra civil que reivindicava uma nova
Constituição. Os governos de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, que eram os
maiores aliados políticos de São Paulo na luta pela revolução, decidiram não
participar da guerra, fazendo com que aquele fosse um movimento,
predominantemente, dos paulistas contra o governo federal em vigência.
Devido ao limitado poderio militar de São Paulo, a guerra armada durou cerca
de 3 meses apenas, tendo fim no dia 1º de outubro de 1932. Apesar da curta
duração, foi um movimento que mobilizou setores do estado de São Paulo. A
imprensa escrita, por sua vez, desempenhou um papel essencial como o principal
meio de propaganda dos revolucionários e de exortação da população para que
auxiliasse a causa, fosse através de doações de dinheiro, materiais de guerra e
alimentos, fosse por alistamento de voluntários para integrar o front de guerra ou até
mesmo por emprestar automóveis para serem usados em determinados momentos
do conflito. Nesse sentido, observa-se que a imprensa paulista, além de fazer apelo
21
em favor da causa revolucionária, defendeu arduamente o estado por meio de
investimento maciço em propaganda.
As propagandas constitucionalistas eram muito bem articuladas entre a
escrita e a imagem daquilo que queriam transmitir para o povo. As chamadas
imagens-propagandas estavam presentes em cartazes espalhados por toda a região
de São Paulo, além de serem sempre divulgadas nos jornais aliados. Geralmente,
tais imagens-propagandas eram acompanhadas de uma escrita chamativa, frases
que designavam uma obrigação cívica e moral para com a causa. As imagens, por
sua vez, traziam fortes simbolismos locais, como a grande carga comunicativa em
torno da figura dos bandeirantes como aliados (por serem considerados heróis
nacionais, principalmente nas regiões paulistas, eles tinham enorme relevância na
construção de um imaginário herói regional). Para exemplificar melhor essas
propagandas paulistas, abaixo são apresentados dois cartazes políticos da
propaganda do movimento. No primeiro, está a figura do bandeirante, rendendo,
com as mãos, Getúlio Vargas, representado por uma figura frágil e diminuta, ao
passo que, no segundo, existe um apelo verbal muito grande, com a presença de
um soldado e a bandeira paulista ao fundo, fazendo apelo imagético entre a escrita e
a imagem.
22
Figura 3 – Cartaz de 1932 exigindo o fim da ditadura Vargas
Figura 4 – Cartaz de 1932 convocando para o alistamento de soldados
Fonte: FONZAR, jul. 2015.1 Fonte: FONZAR, jul. 2015.2
Pensando um pouco sobre o termo historicamente chamado de “Revolução
Constitucionalista”, vejo tal denominação como um equívoco, pois foi muito mais um
movimento ou uma contrarrevolução (levando em consideração que o golpe de 1930
foi chamado de Revolução de 1930) do que propriamente uma revolução. Isso
porque o aspecto essencial da definição de “revolução” consiste no desejo
manifestado de um ou mais grupos sociais por mudanças radicais, seja na estrutura
política, social ou econômica. No entanto, o contexto histórico recente do movimento
que estamos estudando foi inicialmente coordenado por grupos conservadores que
tinham também como pauta e objetivo o retorno de velhas formas de administração
pública. Portanto, analisando todo o processo e considerando um contexto histórico
não muito distante, a única dúvida na questão linguística do termo empregado fica
1 Disponível em: . Acesso em: 15 set. 2019. 2 Disponível em: . Acesso em: 15 set. 2019.
https://universoretro.com.br/conheca-a-historia-do-9-de-julho-e-confira-9-cartazes-da-revolucao-de-32/https://universoretro.com.br/conheca-a-historia-do-9-de-julho-e-confira-9-cartazes-da-revolucao-de-32/
23
no critério de posicionamento de narrativas: alguém que se posicionava a favor da
Revolução de 1930 certamente deveria considerar o momento histórico em questão
como “contrarrevolução”, ao passo que alguém que se posicionava contra tal
revolução empregaria o termo “movimento”.
24
2.2 Um olhar sobre a Revolução Constitucionalista a partir do jornal A Notícia
em São José do Rio Preto
Exposto o conhecimento sobre o contexto histórico local do nosso objeto de
estudo, o presente subtópico se propõe a apresentar um estudo mais aprofundado
acerca da conjuntura local do período da Revolução Constitucionalista na região de
São José do Rio Preto, referenciando-se no jornal “A Notícia”.
Pretende-se mostrar algumas participações de apoio regional, não apenas da
elite local, mas do poder público e de grande parte dos habitantes em apoio à causa
constitucionalista. Neste período, algumas instituições locais, em conjunto com uma
parcela da população, dedicaram-se ao auxílio da causa com entusiasmo, fazendo
doações de dinheiro ou de material de guerra, disponibilizando serviços profissionais
(como o de costureiras, para a confecção de trajes de batalha), mobilizando
voluntários para servir na guerra e modificando momentaneamente a administração
pública, entre outras formas de assistências que estavam ao alcance dos
apoiadores.
Conforme mencionado anteriormente, o jornal “A Notícia” foi um informativo
diário que sempre teve um posicionamento político alinhado à defesa dos interesses
paulistas e dos produtores de café e, durante a Revolução Constitucionalista, não foi
diferente, já que suas publicações foram articuladas com o intuito engrandecer o
Movimento. No ano de 1932, quando as desavenças entre o estado de São Paulo e
o governo federal começaram a ficar mais acaloradas, o jornal adotou uma postura
mais radical, sem esconder suas filosofias políticas a favor dos revoltosos paulistas.
A seguir, vê-se uma matéria do jornal “A Notícia” sobre a mobilização dos
habitantes da região manifestando apoio ao protesto do dia 23 de maio (que deu
origem ao movimento M.M.D.C.), insinuando que a população se mostrava animada
em defender o movimento contra a ditadura Vargas.
25
Figura 5 – Notícia sobre a solidariedade mostrada pela população
Fonte: Jornal A Notícia de 25/05/1932
26
O texto mostra que, desde o início, o movimento tinha, como líderes,
importantes membros da elite regional — entre eles, políticos, médicos, advogados,
jornalistas e engenheiros. Uma das figuras mais influentes, o político e advogado
Theotonio Monteiro de Barros foi eleito deputado federal logo após a revolução,
quando se fizeram novas eleições, em 1934, e, posteriormente, no governo João
Goulart, em 1963, tornou-se ministro da Educação. Um dos indicativos de que essa
foi uma manifestação também de cunho popular reside no horário escolhido
estrategicamente para seu início: 17 horas, perto do fim do expediente da maioria
dos trabalhadores (horário comercial), permitindo que eles participassem. Tal
movimento incomum provocou uma anomalia na estrutura cotidiana da cidade, que
costumava fechar o comércio às 18 horas, mas, naquele dia, devido à manifestação
que ocorreria, os comerciantes baixaram as portas às 16 horas, ambientando um
clima de que grande parte da população estava apoiando o movimento, como
demonstra um dos trechos da publicação:
A’ tarde, corriam pela cidade boletins de convite para a assemblèa popular e ao commercio para que cerrasse as suas portas. A’s 16 horas todo o commercio se fechava e ás 17, era já grande a multidão que se comprimia em frente á Cathedral. (A Notícia, 25 maio 1932, p. 01)
Devido ao fato de as grandes manifestações contra o governo federal que
tiveram visibilidade nacional — como a que deu origem ao movimento M.M.D.C. —
terem acontecido na capital paulista, o problema do descaso da administração
pública federal para com os paulistas parecia ser centralizado na metrópole. No
entanto, uma publicação do jornal “A Notícia” do dia 23 de julho de 1932 criticando a
discrepância entre a arrecadação feita pela tributação federal na região da Alta
Araraquarense e o baixo retorno desses impostos para melhoria de serviços
públicos que se encontravam precários mostra que isso também ocorria no interior
do estado. A partir do levantamento de dados feito pelo jornal, como demonstrado
na matéria abaixo, constata-se que, em 1931, a região entregou para o cofre federal
cerca de 5.500:000$000 réis e que o retorno foi de apenas 700:000$000 réis para
investimento na região, resultando na “somma liquida, limpinha, de quatro mil e
oitocentos contos de reis (4:800:000$000)”. (A Notícia, 23 de junho de 1932, p. 1).
Figura 6 – Noticia sobre o descaso federal com o interior paulista
27
Fonte: Jornal A Notícia de 23/06/1932
O desgaste público entre o governo federal e o paulista, em virtude dos
fatores já mencionados, somado ao sucateamento da administração cafeeira,
catalisando uma crise na economia do produto, e alinhado também ao descaso da
União especificamente com a região local a que pertence São José do Rio Preto,
28
como demonstra a matéria acima, acabou por gerar revoltosos locais; entre estes,
membros da elite e da população menos favorecida.
Tal conjuntura foi responsável, na região, por uma intensificação no apoio
aos revolucionários paulistas, a qual, quando se iniciou a luta armada em 9 de julho
de 1932, resultou num período peculiar de mudanças na administração pública e
privada que favoreceram o levante. Um grande exemplo desse tipo de mudança
pode ser visto na estrutura jornalística do jornal “A Notícia”. Antes da Revolução
Constitucionalista, o informativo dedicava somente algumas poucas seções de suas
páginas em defesa do movimento que já se iniciava na capital, ao passo que as
partes mais importantes das folhas eram preenchidas com notícias de diversas
categorias nacionais e regionais (entre essas categorias, viam-se,
costumeiramente, notícias sobre esporte, moda, política, economia, tecnologia,
arte, religião, educação, anúncios e classificados). Porém, quando se iniciou o
movimento armado, o jornal mudou completamente a composição de suas notícias,
dedicando suas páginas quase inteiramente à divulgação de elementos
relacionados à Revolução Constitucionalista. Tais elementos serão analisados com
detalhes mais adiante.
O jornal seguiu com sua programação normal em 10 de julho (um dia após o
início do movimento armado), em consequência das incertezas sobre o que estava
acontecendo na capital, levando em consideração que as informações na época
eram veiculadas de forma mais lenta. Nessa data, o informativo reservou uma parte
de suas folhas à matéria intitulada “O momento político, segundo as notícias e os
boatos” (A Notícia, 10 julho 1932, p. 1), a qual trazia informações sobre as
movimentações políticas ocorridas em São Paulo e no Rio de Janeiro no dia 9, mas
ainda nenhuma informação sobre o movimento armado sucedido no mesmo dia. Ou
seja, um dia após o início da luta armada, a própria imprensa jornalística aliada aos
paulistas não tinha conhecimento do que estava por vir.
As publicações do jornal aconteceram diariamente, mas, devido a uma falha
na conservação de fontes da cidade, depois dessa data, temos acesso apenas às
edições publicadas a partir do dia 14 de julho. Assim, a partir da análise dessa
publicação, já é possível perceber que estruturas sociais locais privadas e públicas
já haviam se mobilizado com rapidez e organização para auxiliar da maneira que
fosse possível as tropas revolucionárias.
29
A fonte jornalística pode oferecer diversas informações sobre o contexto
social de uma região. Quando as circunstâncias mudam drasticamente, o jornal
acompanha esse ambiente, e não foi diferente com A Notícia. As estruturas
cotidianas modificaram-se e as autoridades da região de São José do Rio Preto
utilizaram os jornais como o maior aliado na divulgação de chamados, orientações,
mobilização e na tentativa de obter auxílio da população para certas questões
pertinentes à guerra.
Devido a essa função social exercida pelo jornal em períodos de guerra,
podemos extrair informações valiosas de um contexto regional e, fazendo uma
análise no caso do noroeste paulista, vemos que, mesmo afastada da capital, a
região teve um papel relevante no auxílio aos revolucionários paulistas. Para
materializar essas palavras, apresenta-se, abaixo, a primeira página do jornal de 14
de julho, que, poucos dias após o início da guerra declarada, já trazia informações
de extrema importância sobre a organização estrutural da região, que se articulou
de forma a auxiliar os revolucionários.
Como já mencionado, a Estrada de Ferro Araraquara foi uma importante
obra, inicialmente privada, realizada por cafeicultores com o objetivo de escoar sua
produção. A estrada de ferro aumentou a visibilidade da cidade de São José do Rio
Preto, não apenas pela função econômica de escoar produtos, mas também pelo
fato de tornar a cidade um ponto de parada de passageiros que desejavam seguir
viagem para outras regiões, como a de Araraquara, Taquaritinga ou Itaquerê. No
período específico, ela foi importante para o transporte dos soldados que se iam ou
voltavam do front de batalha, pois, além de ser culturalmente conhecida como um
ponto de viajantes, teve a função de abrigá-los. Como consta na matéria da edição
abaixo (A Notícia, 14 julho 1932, p. 1), intitulada “Chegou hontem a esta cidade a
2.a Companhia do 7.o B. I. da Força Publica”, cento e sessenta homens, entre eles
soldados e sargentos, chegaram de trem à cidade e foram acolhidos pela
população, sendo alojados gratuitamente em dois hotéis pelos proprietários desses
estabelecimentos, com o objetivo de ajudar o movimento.
Figura 7 – Primeira página do jornal totalmente dedicada aos assuntos da guerra
30
Fonte: Jornal A Notícia de 14/07/1932
Em apenas uma página do jornal, encontramos informações relevantes
quanto à mobilização de uma parcela da população regional a favor do Movimento
Constitucionalista, como podemos ver na última notícia da coluna central da página
acima. Desde o início do movimento, as autoridades recrutavam voluntários para
participarem de treinamentos militares, visando uma possível convocação para o
31
front de batalha. Nesse momento, os voluntários foram convocados para receberem
instruções do Tenente Bento Casado, comandante da 2ª Companhia da Força
Pública e recém-chegado a Campinas. Na mesma folha em questão, está presente
outro comunicado, solicitando a presença de voluntários para o alistamento no Posto
Policial da cidade. Tal comunicado é de autoria do Capitão Elpidio Silveira, que,
futuramente, em 19 de julho daquele ano, comandaria a subunidade do batalhão
“Francisco Glycerio” com destino ao front de São José do Rio Pardo. O texto traz
informações quanto ao número de favoráveis ao movimento da região partindo
naquele momento para a guerra. Uma notícia do mesmo jornal, em sua edição do
dia 20 de julho, relata esse acontecimento, conforme segue:
Sem arrefecer a conscripção de voluntários, destes partiram hontem os que são reservistas e alguns que não o são. Seguiram em numero de 100, sob o comando do capitão Elpidio Silveira. (A Notícia, 20 julho 1932, p. 01).
Outra mudança de organização pública na cidade reside no fato de que, antes
do início da guerra civil, certa quantidade da guarda e policiamento local era
composta por pessoas pertencentes à reserva do exército. Quando se iniciou o
movimento, esses reservistas foram convocados para integrarem os fronts de
guerra, ocasionando uma carência na segurança pública. Com o objetivo de resolver
o transtorno, organizou-se uma reunião para deliberar acerca dos procedimentos
cabíveis à situação, conforme se pode ver no excerto a seguir:
“Por intermédio de algumas pessoas de destaque social e de autoridades publicas, sob a inspecção provisória dos srs. Drs Juiz de Direto, Promotor Publico e Delegado Regional de Policia, vae organizar-se a Guarda Civil de Rio Preto, a qual ficará incumbida dos serviços de policiamento da cidade e de outros que a boa ordem e segurança local exijam.” (A Notícia, 21 julho 1932, p. 02).
No dia seguinte a essa reunião, foi publicado no jornal como seria realizado o
procedimento de segurança provisório da Guarda Civil, sendo organizada uma
comissão de policiamento comandada por 6 grupos diferentes. Cada grupo tinha à
disposição 30 guardas e ficaria encarregado de fazer o policiamento da cidade
durante um período de 4 horas. Nessa mesma publicação, foi divulgada uma lista
com os nomes dos guardas e uma enumeração que correspondia aos horários de
atuação. O último trecho, transcrito a seguir, deixa evidente que o jornal era um
32
veículo de extrema importância na comunicação local, alcançando até mesmo o
status de comunicador oficial de certos órgãos:
Os números de cada guarda civil são os que constam da relação acima e não os que foram dados hontem pessoalmente a alguns guardas. (A Notícia, 21 de junho de 1932, p. 02).
Além dessa organização provisória da Guarda Civil, a cidade contou com a
contribuição dos jovens que faziam parte do tiro de guerra para a realização de
rondas noturnas. Essa função ficou dividida em dois grupos que se revezaram
diariamente, conforme mostra a publicação no jornal abaixo, ressaltando diversos
elogios aos jovens patrulheiros que contribuíam para a segurança noturna da
cidade:
Os moços do tiro de Rio Preto, ao contrario, têm feito jús á gratidão dos riopretanos. Solertes e activos, percorrem pela noite afòra todos oo pontos da cidade, systematicamente, vigiando e olhando por tudo, garantindo o sossego da população, fazendo à maravilha o policiamento de que estão encarregados. (A Notícia, 22 de julho de 1932, p. 4)
33
Figura 8 – Notícia sobre a guarda noturna
Figura 9 – Comunicados da Prefeitura
Fonte: Jornal A Notícia 25/07/1932
Fonte: Jornal A Notícia 22/07/1932
A Prefeitura Municipal de São José do Rio Preto, em certos momentos
durante a guerra civil, interveio diretamente com o objetivo de ajudar o movimento.
Quase diariamente, a prefeitura lançava, no jornal, notas autenticadas pelo prefeito,
pedindo certos favores aos cidadãos ou noticiando algumas exigências necessárias,
devido ao momento político. Em 28 de julho, por exemplo, foi publicado um apelo
aos cidadãos para que evitassem o uso de automóveis, utilizando-os apenas em
casos de emergência (A Notícia, 28 de julho de 1932, p. 2), com o objetivo de
diminuir o consumo de combustível, a fim de manter uma reserva no estoque de
gasolina dos postos locais para uma possível eventualidade devido à guerra. Não
obtendo uma resposta positiva da população, no dia 31 de julho, foi lançada uma
nota da prefeitura municipal, exigindo que os comerciantes de postos de gasolina
vendessem seu combustível apenas mediante a apresentação de um visto
concedido pelo delegado técnico, que o concederia apenas a quem ele julgasse ser
34
necessário. Como punição, o comerciante que descumprisse essa exigência teria de
pagar uma multa no valor de 500$000 a 5:000$000 contos de réis (A Notícia, 31 de
julho de 1932, p. 5). Esse caso revela que nem todos estavam animados em apoiar
o movimento, pois, ao mesmo tempo em que uma parcela da sociedade local se
mostrava disposta em auxiliar o movimento, outra parte seguiu sua vida de forma
natural.
Em outra ocasião, no dia 21 de julho, a prefeitura solicitou aos donos de
automóveis de carga e passageiros que registrassem seus veículos no órgão, a fim
de disponibilizá-los às autoridades locais (A Notícia, 21 julho 1932, p. 1). O objetivo
era que se usufruísse dos veículos em caso de necessidade de auxílio às tropas
paulistas. Apenas quatro dias depois, em 25 de julho, uma nova nota emitida pela
prefeitura pedia que os donos dos automóveis registrados comparecessem
diariamente à prefeitura a fim de tomar conhecimento se seu veículo poderia ou não
ser utilizado em favor das forças militares naquele momento (A Notícia, 25 de julho
de 1932, p. 1).
Figura 10 – Regulamentação do consumo de gasolina
Fonte: Jornal A Notícia 31/07/1932
Figura 11 – Pedido de redução de gasto de gasolina
35
Fonte: Jornal A Notícia 28/07/1932
Verifica-se, acima, uma medida provisória de racionamento de combustível.
Isso se deve também às consequências da guerra, que foi responsável por gerar
uma crise geral no estado de São Paulo e, consequentemente, no Noroeste
Paulista. A recessão afetou a disponibilidade não apenas de combustível, mas
também de produtos essenciais, como alimentos, o que levou a Força Pública
Paulista a considerar necessária a criação da Comissão do Pão de Guerra. Essa
comissão ficou responsável por instituir a obrigatoriedade de mistura de farinha de
trigo com fubá de milho e raspa de mandioca na massa do pão, além de ter a função
de tabelar a porcentagem permitida de cada produto e o preço do pão (que
constantemente era alterado), sendo a prefeitura municipal a responsável pela
fiscalização do cumprimento da lei por parte dos estabelecimentos comerciais. As
mudanças no tabelamento da quantidade de produto e o preço final eram publicados
pelo jornal “A Notícia” com o visto do prefeito municipal.
Uma guerra civil com as proporções da Revolução Constitucionalista tem
como consequência uma profunda alteração na economia local, gerando uma crise
que atinge diretamente os menos afortunados, sendo necessária, em alguns
momentos, a intervenção de órgãos públicos na comercialização de produtos
necessários, como foi estabelecido pela Comissão do Pão de Guerra.
36
Além do aspecto econômico, uma guerra dessa proporção suscita a
necessidade de aclamar voluntários civis para integrar o front de batalha. Por serem
homens, esses voluntários, em sua maioria, eram responsáveis pela maior parte da
renda familiar, e sua convocação resultou em um momento de grandes dificuldades
financeiras para as famílias. Preocupados com essa situação, inerente a uma guerra
civil, diversos setores da população local de São José do Rio Preto articularam-se,
com o objetivo de dar às famílias dos voluntários a assistência necessária — alguns,
movidos por um sentimento de altruísmo; outros, com o intuito de ajudar diretamente
a Revolução, tentando, dessa forma, convocar mais voluntários para integrar o front
de batalha.
Uma entidade que teve um importante papel na assistência às famílias de
voluntários foi a Igreja Católica. Em resposta a uma convocação feita no dia anterior
pelo jornal “A Notícia” para que se realizasse uma mobilização nesse sentido, o
bispo Dom Lafayette Libânio enviou uma carta que foi replicada pelo jornal,
informando sobre uma iniciativa, criada por ele e outros órgãos locais relacionados à
Igreja Católica, de “organizar os serviços de amparo material e espiritual ás famílias
dos nossos bravos soldados que estão partindo para a luccta”. (A Notícia, 20 de
julho de 1932, p. 4).
Outro momento de atuação política da Igreja foi o ocorrido durante a famosa
Campanha de Ouro para o bem de São Paulo, que atingiu o estado inteiro, incluindo
o Noroeste Paulista. Essa campanha tinha o objetivo de arrecadar ouro ou outras
espécies de donativos afins para auxiliar financeiramente o Movimento
Constitucionalista. A Igreja foi uma das responsáveis para que “constituíssem uma
comissão de pessoas bem conceituadas de Rio Preto, a qual ficaria investida da
autorização de receber aqui os donativos destinados á Campanha” (A Notícia, 16 de
agosto 1932, p. 2).
37
Figura 12 - Noticia sobre a Campanha de Ouro para o bem de São Paulo
Fonte: Jornal A Notícia de 16/08/1932
Como forma de demonstrar gratidão às pessoas que doaram materiais
necessários para o financiamento da guerra — tecidos, alimentos, ouro, armas e
dinheiro —, o jornal publicava diariamente o nome dos contribuintes e o insumo
doado, bem como sua quantidade, com uma nota de agradecimento. A partir desse
costume, é possível ver que a iniciativa das doações partiu de diversos setores
sociais. Com base nas publicações da relação de doadores para a Campanha de
Ouro para o bem de São Paulo, nota-se uma considerável quantidade de pessoas
que doavam joias, como alianças, colares, pulseiras, anéis e relógios, entre outros
38
objetos que normalmente eram produtos passados de uma geração a outra,
mostrando assim o engajamento da população de baixa renda.
A Campanha de Ouro para o bem de São Paulo teve a ajuda não somente da
população, mas de diversos setores regionais. Entre essas ajudas financeiras,
chama a atenção a do Rio Preto Esporte Clube, o único clube de futebol da cidade
naquela época. Percebe-se, através desse auxílio, o quanto o clube estava engajado
no momento político, já que a contribuição não foi feita em dinheiro, mas com a
entrega de suas taças para a campanha, além do fornecimento incondicional do seu
campo de futebol para o treinamento militar dos voluntários. Podemos ver, no trecho
abaixo, a notícia da entrega das taças e a participação em conjunto da Igreja
Católica local. No total, foram doadas 56 taças e dois troféus de bronze — objetos
que rememoravam todas as conquistas do clube até então.
“Conforme estava marcado relizou-se hontem ás 17,20 na sede da agencia local do Banco do Commercio e Industria de São Paulo a entrega, á Commissão do Ouro para a Victoria, dos troféus conquistados pelo Rio Preto Esporte Clube em toda a sua existência. A’ hora marcada, naquele local se encontraram o revmo. Monsenhor Joaquim Manuel Gonçalves…” (A Notícia, de 28 agosto 1932, p.04).
39
Figura 13 – Relação das pessoas que doaram ouro
Fonte: Jornal A Notícia de 17/08/1932
Figura 14 – Notícia sobre a doação de troféus do Rio Preto E.C.
40
Fonte: Jornal A Notícia de 28/08/1932
A partir desses levantamentos sobre a participação da região de São José do
Rio Preto na Revolução Constitucionalista, foi possível vislumbrar uma efetiva
contribuição de certas esferas da sociedade, como a pública, a privada e a popular.
Embora nem todos estivessem apoiando o Movimento ao ponto de até mesmo
sabotar certas exigências do Poder Público, como no caso da diminuição do
consumo de combustível, alguns contribuíram com tudo o que podiam,
abandonando suas famílias para fazer parte de uma guerra; outros, auxiliaram
financeira ou materialmente para ajudar as famílias dos soldados que partiram para
a guerra.
A análise dos fatos permitiu concluir que esse momento histórico foi um
período de extrema ruptura com a normalidade cotidiana de várias categorias que
envolviam o funcionamento de uma cidade, como a economia, administração
pública, segurança, comércio e na imprensa, além das relações interpessoais.
Portanto, levando em consideração todas essas nuances que favoreceram a
ocorrência de tão significativa anomalia cotidiana regional, pode-se concluir que,
41
mesmo tendo o Movimento Constitucionalista durado poucos meses, o Noroeste
Paulista, mais especificamente o município de São José do Rio Preto, contou com
significativos auxílios de diversos setores da sociedade.
42
3. CONCLUSÃO
Concluímos que, a partir das informações adquiridas através das fontes
analisadas, podemos inferir a existência de uma anomalia cotidiana na configuração
da administração pública e privada, em virtude da significativa participação de
alguns setores da sociedade rio-pretense em apoio aos revoltosos paulistas durante
o período da Revolução Constitucionalista.
43
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45
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46
Os tropheus do “Rio Preto E.C.” foram entregues hontem á commissão do “Ouro para a victoria”. A Notícia. São José do Rio Preto, 28 ago. 1932, p. 04.