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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE GEOGRAFIA CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA – BACHARELADO EXPANSÃO CANAVIEIRA E IMPACTOS SÓCIO-ESPACIAIS DA PRODUÇÃO DE AGROCOMBUSTÍVEL NO TRIÂNGULO MINEIRO (1980-2011) NATÁLIA LORENA CAMPOS UBERLÂNDIA-MG 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE GEOGRAFIA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA – BACHARELADO

EXPANSÃO CANAVIEIRA E IMPACTOS SÓCIO-ESPACIAIS DA PRODUÇÃO DE

AGROCOMBUSTÍVEL NO TRIÂNGULO MINEIRO (1980-2011)

NATÁLIA LORENA CAMPOS

UBERLÂNDIA-MG 2011

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NATÁLIA LORENA CAMPOS

EXPANSÃO CANAVIEIRA E IMPACTOS SÓCIO-ESPACIAIS DA PRODUÇÃO DE

AGROCOMBUSTÍVEL NO TRIÂNGULO MINEIRO (1980-2011)

Monografia apresentada ao Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia como requisito a obtenção do título de Bacharel em Geografia. Orientador: João Cleps Junior

UBERLÂNDIA-MG

2011

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NATÁLIA LORENA CAMPOS

EXPANSÃO CANAVIEIRA E IMPACTOS SÓCIO-ESPACIAIS DA PRODUÇÃO DE

AGROCOMBUSTÍVEL NO TRIÂNGULO MINEIRO (1980-2011)

Uberlândia, 16 de dezembro de 2011

Banca Examinadora

______________________________________________________________

Prof. Dr. João Cleps Junior (Orientador) – UFU

______________________________________________________________

Prof. Dr. Marcelo Cervo Chelotti – UFU

______________________________________________________________

Prof. Me. Eduardo Rozetti de Carvalho - FINOM

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"Agradeço todas as dificuldades que enfrentei; não fosse por elas, eu não teria

saído do lugar. As facilidades nos impedem de caminhar. Mesmo as críticas

nos auxiliam muito".

Chico Xavier

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AGRADECIMENTOS

Agradecer: mostrar, demonstrar gratidão segundo o Aurélio. Gratidão tenho muita, a muitas

pessoas, em muitos momentos de minha vida. Ao deixar essas linhas de agradecimentos as

“minhas pessoas” me deparo com certo medo... Medo de esquecer alguém importante, em

algum momento da vida...

Agradeço a minha família, especialmente aos meus pais Maria e Paulo, que estiveram sempre

comigo, apoiando todas as minhas decisões e souberam conviver com a distância e as visitas

corridas durante minha fase de formação acadêmica. Vocês são os responsáveis por moldarem

o meu caráter. Juntos ou separados, a vocês meus mais sinceros obrigada!

A Lívia, irmã querida, amiga, companheira em todos os momentos da minha vida. Nossos

encontros e desencontros só reforçaram nossos laços familiares. Também as minhas meninas,

anjinhos da minha vida Babi, Julie, Nina... Meus meninos, Léo, Juninho e Chiquinho... Amo

vocês, saudades sempre. Cada um com seu jeitinho especial que me enche de carinho.

Ao João Cleps, meu orientador e amigo, por confiar no meu trabalho, me mostrar os

caminhos da pesquisa e despertar o desejo de continuar trilhando esse caminho. Muito

obrigada pela oportunidade de trabalhar com você.

As minhas amigas queridas, Bruna, Kárita, Lais e Thainá. Obrigada por existirem na minha

vida e tornar meu mundo mais alegre, e é claro, mais rosa. Vocês fazem parte da minha vida

pra sempre. Amo vocês!

Ao Geraldo, um anjo que surgiu na minha vida e conquistou um lugar especial no meu

coração. Por você tenho profunda admiração, carinho e respeito. Muito obrigada por sempre

me ajudar quando precisei e também poder te ajudar no que pude. Você é o meu maior

orgulho. Amo você! Terá pra sempre minha eterna gratidão.

Aos meus amigos do curso de Geografia, Henrique (Gigante), Mariana, Marcelo (Tio Uepa),

Ana Flávia, Vinícius, Éder, Sávio... Obrigada pelos momentos especiais!

Meus amigos da juventude, Giovanna, Marisa, Gabi, Vanessa, Mariana, Dani, Virgínia,

Thiago, Serginho, Grazi, Léo, Luciano... Saudades e lembranças inesquecíveis.

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Ao Laboratório de Geografia Agrária – LAGEA, minha segunda casa, muitas vezes a

primeira, lugar onde eu me territorializei e me reterritorializei em vários momentos da vida.

Ao meu “amigo irmão” Ricardo (Freitas), obrigada pela amizade e carinho de todos os dias e

trocas de experiências e ideias. Com ele e a Andrêza muito aprendi.

Não posso deixar de mencionar meus outros dois queridos “amigos irmãos” Fabiana e

Ricardo (Leite). Vocês são especiais pra mim. Obrigada pela amizade, companhia, além das

conversas e brincadeiras.

Aos meus amigos do LAGEA, Geraldo, Lucimeire, Andrêza, Luciana, Ricardo Freitas,

Ricardo Leite, Fabiana, Airton, Danielle, Virna, Taiana, Felipe, Jéssica, Wesley, Thiago,

Francisco, Renata, Humberto, Eduardo... Obrigada pela amizade, conversas e trocas de

experiências. Aprendi muito com vocês.

Aos professores do LAGEA, João, Marcelo, Vera e Geisa. Obrigada pelos ensinamentos e

amizade.

Aos professores do Instituto de Geografia, Vânia(s), Nishyama, Sylvio Andreozzi, Gláucia,

Willian, Douglas, Julio e todos os outros. Obrigada pela contribuição na minha formação

como professora e geógrafa.

Ao Marcelo Chelotti e Eduardo por aceitar o convite em participar da minha banca de defesa.

As contribuições serão sempre bem vindas.

A Mizmar pelo carinho e atenção, sempre me socorrendo nos momentos de desespero.

Ao CNPq e Fapemig pelas bolsas de iniciação científica.

Por fim a Deus, por proporcionar essas pessoas singulares na minha vida. Sem Ele nada disso

seria possível. Obrigada!

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RESUMO

O tema da monografia envolve a produção de agrocombustíveis e a expansão da produção canavieira na região do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, que é uma das principais discussões da questão agrária atual, a partir do agravamento de problemas no campo, como a incorporação de terras para a monocultura canavieira. Como principais objetivos do trabalho, buscamos compreender as dimensões socioterritoriais da expansão da produção canavieira recente para a produção de agrocombustíveis no espaço agrário de Minas Gerais e suas relações com as estruturas sociais rurais (principalmente a produção camponesa/familiar); analisar o desenvolvimento da agroindústria canavieira frente as demais produções agrícolas e pecuária da região e verificar os principais impactos da expansão dessa monocultura. Para alcançar os objetivos foi realizado uma ampla revisão bibliográfica da temática afim e levantamento de dados e informações em fontes secundárias. Nesse sentido, temos a apropriação dos territórios para a produção canavieira como a principal causa dos conflitos e disputas territoriais no campo brasileiro, onde a industrialização da agricultura subordina a natureza ao capital. Preocupações a respeito dos impactos, problemas ambientais e a forma insustentável da produção de agrocombustíveis refletem os problemas do desenvolvimento econômico gerado pelo setor, que não leva em consideração o desenvolvimento social. Não podemos deixar de questionar até que ponto esse desenvolvimento econômico é positivo tendo que esse lucro obtido venha a ser utilizado na exportação de alimentos, em um país com grande vocação agrícola como o Brasil.

Palavras-chave: Agrocombustíveis. Agroindústria canavieira. Cana-de-açúcar. Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba.

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LISTAS DE ILUSTRAÇÕES

LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Movimento espacial do capital agroindustrial canavieiro do Nordeste para outras regiões do Brasil (2007)

71

Figura 2 – Fluxo da mão-de-obra para a agroindústria canavieira no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (2009)

LISTA DE FLUXOGRAMA

88

Fluxograma 1 – Processo produtivo a partir da cana-de-açúcar

LISTA DE GRÁFICOS

31

Gráfico 1 – Minas Gerais – Unidades Sucroenergéticas por Mesorregião (2011) 67

Gráfico 2 – Evolução da área plantada de cana-de-açúcar e número de usinas instaladas na Mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (1990 a 2009)

LISTA DE MAPAS

82

Mapa 1 – Localização da Mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba 15

Mapa 2 – Minas Gerais – Zoneamento da cultura da cana-de-açúcar (2008) 59

Mapa 3 – Minas Gerais – Unidades Sucroenergéticas instaladas e projetadas (2011) 60

Mapa 4 – Minas Gerais – Zoneamento Ecológico Econômico (2008) 62

Mapa 5 – Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba – Unidades Sucroenergéticas (1980 -1989)

68

Mapa 6 – Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba – Unidades Sucroenergéticas (1980 -1999)

69

Mapa 7 – Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba – Unidades Sucroenergéticas (1980 -2009)

69

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Mapa 8 – Brasil – Produção de cereais, leguminosas e oleaginosas e empresas mundiais (2007)

76

Mapa 9 – Evolução da área plantada de cana-de-açúcar no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (1990)

78

Mapa 10 – Evolução da área plantada de cana-de-açúcar no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (1995)

79

Mapa 11 – Evolução da área plantada de cana-de-açúcar no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (2000)

79

Mapa 12 – Evolução da área plantada de cana-de-açúcar no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (2005)

80

Mapa 13 – Evolução da área plantada de cana-de-açúcar no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (2009)

81

Mapa 14 – Evolução da produção de cana-de-açúcar no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (1990)

83

Mapa 15 – Evolução da produção de cana-de-açúcar no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (1995)

83

Mapa 16 – Evolução da produção de cana-de-açúcar no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (2000)

84

Mapa 17 – Evolução da produção de cana-de-açúcar no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (2005)

85

Mapa 18 – Evolução da produção de cana-de-açúcar no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (2009)

LISTA DE ORGANOGRAMAS

85

Organograma 1 – Principais etapas do planejamento agroindustrial canavieiro no Brasil (1930-1975)

26

Organograma 2 – Etapas do processo produtivo dos subprodutos da cana-de-açúcar

LISTA DE QUADROS

32

Quadro 1 – O conceito de agribusiness e a abordagem sistêmica 24

Quadro 2 – Principais fases da produção de biocombustíveis no Brasil (1973-2011) 46

Quadro 3 – Principais fases do desenvolvimento da agroindústria canavieira do Brasil (Séculos XIX e XX)

53

Quadro 4 – Principais agentes atuantes e desafios da agroindústria canavieira no Brasil

56

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Quadro 5 – Minas Gerais – Relação das Unidades Sucroenergéticas Instaladas e Projetadas (2011)

64

Quadro 6 – Inserção do capital estrangeiro e aquisição de unidades em Minas Gerais (2001-2011)

73

Quadro 7 – Caracterização das agroindústrias canavieiras implantadas no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (2011)

108

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Comparação das fontes alternativas na produção do etanol 28

Tabela 2 – Brasil – Quantidade produzida de cana-de-açúcar (1990 a 1999) 51

Tabela 3 – Produção canavieira nos principais estados do Brasil (2011) 57

Tabela 4 – Variação da área planatada (%) de cultivos selecionados na Mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (2007-2009)

77

Tabela 5 – Área de agricultura, pecuária e florestas substituídas pela cana-de-açúcar (ha.) (2007-2008)

86

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AIAA – Associação das Indústrias de Açúcar e Álcool

AFES – Ação Franciscana de Ecologia e Solidariedade

ANP – Agência Nacional do Petróleo

CAI – Complexo Agroindustrial

CENAL – Comissão Executiva Nacional do Álcool

CNAA – Companhia Nacional de Açúcar e Álcool

CNAL – Conselho Nacional do Álcool

CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico

CEAM – Comissão de Estudos sobre o Álcool Motor

CEMIG – Companhia Energética de Minas Gerais

CIMA – Conselho Nacional do Açúcar e do Álcool

CO2 – Dióxido de Carbono

COPAM – Conselho de Política Ambiental

COPERSUCAR – Cooperativa Central dos Produtores de Açúcar e Álcool do Estado de São

Paulo

CPDA - Comissão de Defesa da Produção do Açúcar

DATALUTA – Banco de Dados da Luta pela Terra

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

FAPEMIG – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais

FETAEMG – Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado de Minas Gerais

GEE – Gases do Efeito Estufa

IAA – Instituto do Açúcar e do Álcool

IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

LAGEA – Laboratório de Geografia Agrária

MG – Minas Gerais

MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

PA – Projeto de Assentamento

PAM – Produção Agrícola Municipal

PLANALSUCAR – Programa Nacional de Melhoramento da Cana-de-açúcar

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PROÁLCOOL – Programa Nacional do Álcool

PT – Partido dos Trabalhadores

SAA – Sistema Agroalimentar

SIDRA – Sistema IBGE de Recuperação Automática

SIAMIG – Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool no Estado de Minas Gerais

SINDAÇÚCAR – Sindicato da Indústria do Açúcar no Estado de Minas Gerais

SOPRAL – Sociedade Produto, Açúcar e Álcool

SUCRAL – Soluções em Açúcar, Etanol e Co-geração

UDOP – União dos Produtores de Bioenergia

UNICA – União da Indústria de Cana-de-açúcar

ZEE – Zoneamento Ecológico-Econômico

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO 14

1. O AGRONEGÓCIO CANAVIEIRO E A PRODUÇÃO DE AGROCOMBUSTÍVEIS: conceituações e caracterização

21

1.1. O Complexo agroindustrial e o agronegócio (agribusiness) 21 1.2. A agroindústria canavieira e o planejamento estatal 25 1.3. De setor sucroalcooleiro ao setor sucroenergético 29 1.4. Os Territórios e a produção de agrocombustíveis 32 1.4.1. Conflitos e disputas territoriais 36

2. HISTÓRICO DA PRODUÇÃO CANAVIEIRA NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCENTIVO A PRODUÇÃO DO ETANOL

39

2.1. Breves considerações sobre a produção canavieira no Brasil 39 2.2. As crises do petróleo e a dinâmica agroindustrial a partir da década de 1970 43 2.3. Principais fases do Programa Nacional do Álcool - PROÁLCOOL 46 2.3.1. Primeira fase (1975-1979) 47 2.3.2. Segunda fase (1980-1985) 48 2.3.3. A fase da desregulamentação e reestruturação do setor alcooleiro (1985-1995)

49

2.4. A expansão da agroindústria canavieira em Minas Gerais 58 2.5. O Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE) e a expansão da monocultura canavieira

60

3. A CONFIGURAÇÃO DA AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA EM MINAS GERAIS E AS CONSEQUÊNCIAS DA PRODUÇÃO DE AGROCOMBUSTÍVEIS NO TRIÂNGULO MINEIRO/ALTO PARANAÍBA

64

3.1. A expansão da agroindústria canavieira na Mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (1980-2009)

64

3.2. Os principais grupos econômicos atuantes e a presença do capital estrangeiro no setor canavieiro

70

3.3. Impactos da expansão da monocultura canavieira na agricultura e pecuária de Minas Gerais

74

3.3.1. Impactos da monocultura canavieira sobre o trabalho 87 3.3.2. Impactos da produção canavieira sobre a produção rural familiar e camponesa e nos assentamentos rurais do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba

91

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 95

5. REFERÊNCIAS 99

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14

INTRODUÇÃO

O tema principal deste trabalho envolve a produção de agrocombustíveis1, mais

precisamente a expansão da produção canavieira na região do Triângulo Mineiro/Alto

Paranaíba, que é uma das principais discussões da questão agrária atual, a partir do

agravamento de problemas como a escassez dos combustíveis fósseis, em particular do

petróleo. Devido às crises ocorridas no setor sucroenergético, o Estado passou a

incentivar a produção do etanol como combustível alternativo em substituição ao

petróleo, que se tornara uma opção cara no cenário mundial. Foi a partir da década de

1970 e com o Primeiro choque do petróleo, em 1973, que o governo brasileiro passou a

incentivar essa produção, com a criação do Programa Nacional do Álcool – Proálcool,

em 1974. O Proálcool tinha como objetivo estimular a produção do álcool com a

finalidade de atender as necessidades do mercado interno e externo e a política de

combustíveis automotivos.

Frente às crises do petróleo houve um incentivo à instalação e manutenção de

destilarias e novas usinas de cana-de-açúcar em todo país, principalmente no estado de

São Paulo, onde o município de Ribeirão Preto e seu entorno se destaca na produção do

álcool combustível. Recentemente, nesse processo, Minas Gerais registra um aumento

significativo na implantação de usinas, que teve início a partir da década de 1980 em

diversas regiões do estado. Foi a partir da década de 1990 e, principalmente, durante a

década de 2000 que o número de usinas aumentou vertiginosamente, passando de 7 para

59 unidades, sendo destas 47 já instaladas e 12 projetadas. A mesorregião do Triângulo

Mineiro/Alto Paranaíba concentra 35 das unidades instaladas e projetadas em Minas

Gerais.

1 Os agrocombustíveis são combustíveis produzidos na agricultura. Os agrocombustíveis se dividem em três grupos fundamentais: Os combustíveis originários da sacarose/açucares vegetais, do qual resultam diversos tipos de álcool, e em especial o etanol que é o tipo específico para gerar combustão num motor. Pode-se produzir etanol da cana de açúcar, mandioca, milho, batata doce, etc. O grau de conversão desse tipo de agrocombustível é de 30/100. Ou seja, para produzir 100 litros de etanol, vamos gastar 30 litros de alguma outra energia, seja de petróleo, ou do próprio etanol; o segundo grupo são os combustíveis originários dos óleos vegetais, que podem mover motores. É o caso dos óleos vegetais originários dos grãos da soja, amendoim, girassol, ou de das sementes de plantas como a mamona, tungue, pinhão-manso e a palma africana. O grau de conversão desse tipo de combustível é de 3 a 15 por 100 litros; e há um terceiro grupo, que seria o metanol, uma espécie de álcool combustível que pode ser retirado da madeira, de resíduos de lenha e dos resíduos da celulose. O grau de conversão desse tipo de combustível é de apenas 50 por 100 (STÉDILE, s/d).

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15

Mapa 1: Localização da Mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba

Fonte: Geominas, 2011; Base cartográfica: Eduardo Paulon Girardi Org.: CAMPOS, N. L., 2011.

A partir dessas questões, o objetivo central da pesquisa é compreender as

dimensões socioterritoriais da expansão da produção canavieira recente para a produção

de agrocombustíveis no espaço agrário de Minas Gerais e suas relações com as

estruturas sociais rurais (principalmente a produção camponesa/familiar), analisar o

desenvolvimento da agroindústria canavieira em Minas Gerais, na mesorregião do

Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba assim como seus aspectos frente as demais produções

agrícolas e pecuária da região, a fim de verificar os principais impactos da expansão

dessa monocultura ao pequeno produtor rural, aos assentados da reforma agrária e as

discussões levantadas a respeito do crescimento da monocultura canavieira, que ocupam

extensas áreas que poderiam ser utilizadas para a produção de alimentos básicos para a

população.

No intuito da realização desse estudo e para a obtenção dos objetivos

pretendidos, foi realizada num primeiro momento uma revisão bibliográfica acerca de

alguns teóricos estudiosos da temática e consulta em fontes qualitativas como relatórios

e jornais, para melhor compreensão das temáticas do agronegócio, do território

(disputas territoriais e conflitos), do setor sucroenergético, a fim de compreender sua

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expansão em áreas de cerrado (o caso da mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto

Paranaíba – área de estudo da pesquisa), a questão agrária existente – o agronegócio

versus agricultura camponesa/familiar – nesse ponto destacamos os embates entre essas

duas frentes de produção assim como as disputas territoriais que marcam o processo de

produção agrícola atual.

São importantes também os estudos acerca da territorialização do capital

produtivo, a inserção de grupos econômicos estrangeiros a frente das unidades

sucroalcooleiras da mesorregião. Essas temáticas deram suporte especial para a pesquisa

no que diz respeito às mudanças do espaço agrário brasileiro, sobretudo do estado de

Minas Gerais.

As reportagens veiculadas pela mídia permitiram a compreensão do

desenvolvimento do setor sucroenergético, os investimentos, além de abordar os

problemas da produção canavieira e sua expansão. Durante a elaboração desse trabalho

foi criado um acervo de reportagens pertinentes a temática que ajudaram a compreensão

da dinâmica do setor.

Num segundo momento foi feito um levantamento de dados em fontes

secundárias a fim de coletar as informações necessárias a respeito da dinâmica do setor

sucroalcooleiro que sofre constantes mudanças de acordo com as necessidades

econômicas do país. Para isso consultamos fontes importantes como o IBGE na coleta

dos dados da Produção Agrícola Municipal – PAM no Sistema IBGE de Recuperação

Automática – SIDRA. Foram coletados dados da produção canavieira e da área plantada

de cana-de-açúcar em todos os municípios do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba a fim

de mapeá-las trazendo sua evolução. Os dados da PAM vão de 1990 a 2009.

Outra fonte consultada foi a União dos Produtores de Bioenergia – UDOP onde

foram contabilizadas as usinas projetadas e instaladas em Minas Gerais. A UDOP e a

União da Indústria de Cana-de-açúcar – UNICA foram as responsáveis pelas coletas de

informações do setor, além de permitir o mapeamento dessas unidades.

O Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool no Estado de Minas Gerais –

SIAMIG teve grande contribuição em diversos dados utilizados na pesquisa como de

produção, desenvolvimento do setor, dados atuais sobre os desafios e perspectivas dos

empreendimentos canavieiros de Minas Gerais.

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Em relação às unidades alcooleiras do estado de Minas Gerais, foi feito um

levantamento minucioso de todas as unidades (instaladas e em projeto de instalação),

assim como o ano de instalação e/ou previsão da instalação a fim de mapear essas

unidades por períodos de implantação, o que propiciou a compreensão da finalidade

dessa crescente instalação de usinas no estado e na mesorregião do Triângulo

Mineiro/Alto Paranaíba. Para o mapeamento foi utilizado softwares como o Arcgis 3.2,

bases cartográficas do GeoMinas para os mapas da produção e área plantada e base

fornecida pelo Prof. Eduardo Girardi na confecção dos mapas de localização das usinas.

Para finalização dos mapas foi utilizado o Corel Draw 5.0.

Para a caracterização das agroindústrias no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba

realizou-se um levantamento da produção (em toneladas), da área produzida (em

hectares), da capacidade da usina, grupo econômico e origem do capital que estão

presentes no estudo. A obtenção desses dados foi possível através de sites das próprias

usinas, contato por e-mail e coleta de dados da SUCRAL, principalmente em relação à

capacidade das usinas.

Antes da justificativa do trabalho, é importante trilhar a trajetória como

pesquisadora até o desenvolvimento da pesquisa, que resultou na monografia. Tudo

começou em 2008, ano que entrei no Laboratório de Geografia Agrária atuando como

estagiária voluntária no projeto Banco de Dados da Luta pela Terra – DATALUTA.

Logo veio a oportunidade de atuar como bolsista de extensão no projeto, onde a

participação de reuniões e encontros trouxe um amadurecimento e melhor compreensão

da questão agrária e da importância do projeto, além da experiência de conhecer pessoas

e professores envolvidos no projeto e o desenvolvimento das primeiras produções.

Em 2010 foi quando comecei a trilhar na temática do agronegócio e da produção

de agrocombustíveis na iniciação científica financiada pelo CNPq, não deixando de lado

as atribuições do DATALUTA. Nessa trajetória, agora no ano de 2011, tive a

oportunidade de participar do projeto “Agrocombustível e Soberania Alimentar:

desenvolvimento territorial e as novas fronteiras da reprodução do capital

sucroalcooleiro nos cerrados de Minas Gerais” como bolsista de apoio técnico pela

FAPEMIG. Esse projeto tem por objetivo compreender as dimensões socioterritoriais da

expansão da produção recente de agrocombustível no espaço agrário de Minas Gerais e

suas relações com as estruturas sociais rurais (principalmente da produção

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18

familiar/camponês) e a reprodução dos capitais e seu papel no modelo de

desenvolvimento e debate sobre a crise alimentar, e conta com uma equipe de

pesquisadores do LAGEA e da Rede DATALUTA.

A monografia apresentada é fruto do desenvolvimento dessa pesquisa, ainda em

andamento e com pesquisas de campo previstas. Nessa fase, buscamos uma

caracterização do setor canavieiro em Minas Gerais a partir da coleta de dados e

informações a respeito do desenvolvimento da produção sucroenergética e as

implicações nos embates da questão agrária atual.

Como justificativa da pesquisa, temos a importância da análise dos impactos que

a monocultura canavieira tem gerado no território mineiro, na produção

camponesa/familiar (território campesino), que enfrenta constantes disputas e embates

contra o agronegócio. Os impactos discutidos nesse trabalho vão além da preocupação

da ameaça à agricultura. A questão do trabalho e do trabalhador também faz parte da

problemática da produção de agrocombustíveis, por ser um trabalho degradante e

precarizado. A sujeição dos trabalhadores nas lavouras canavieiras acarreta o processo

migratório que muitas vezes alteram a dinâmica local, onde alguns municípios não estão

preparados infraestruturalmente para alojarem essa mão-de-obra temporária, além de

dificilmente oferecer condições de saúde, alimentação, higiene, que são necessidades

básicas da população. Esse fator só é vantajoso para os empresários do setor e para a

acumulação capitalista.

São problemas como esses, principalmente de ordem social que preocupam e

desperta a necessidade de compreensão da expansão canavieira desenfreada em Minas

Gerais, sobretudo no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba. O embate entre a agricultura

camponesa e o agronegócio é um dos principais problemas estruturais do modelo

capitalista em relação ao campo.

Nesse sentido, no primeiro capítulo conceituamos e caracterizamos o

agronegócio, as agroindústrias, a partir do conceito de complexo agroindustrial. Para

isso, utilizamos autores como Geraldo Muller (1989), José Graziano da Silva (1996) e

Alberto Passo Guimarães (1976). Em relação às agroindústrias canavieiras e o

planejamento agroindustrial, Tamás Szmerecsániy (1979) contribuiu no entendimento

desse processo. Vian (2003) e Belik (2007) também tiveram contribuições significativas

referentes à agroindústria canavieira. Nossa discussão teve como finalidade atingir até o

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período recente (década de 2000), no que diz respeito à evolução do setor e as

perspectivas de produção que vão além da produção de açúcar e álcool.

A discussão territorial e a abordagem do território dos agrocombustíveis foram

de extrema importância para a compreensão dessa categoria, como expressão de análise

à constituição das tramas do agronegócio e a apropriação do espaço geográfico tendo o

território como lugar do desenvolvimento das agroindústrias. Os conflitos e as disputas

territoriais entre agronegócio e campesinato também estão caracterizadas nesse trabalho.

Raffestin (1993), Santos (1996), Haesbaert (2004), Saquet (2007), Oliveira (2004),

Thomaz Júnior (2002) auxiliaram essa discussão. Os territórios selecionados para a

pesquisa compreendem as principais localidades na qual vem sendo instaladas as

unidades produtoras e em termos gerais o contexto dos cerrados de Minas Gerais, que é

um dos espaços mais propício ao avanço da monocultura da cana e instalação de

empreendimentos pelos grandes capitais.

No segundo capítulo partimos do histórico da produção canavieira no Brasil e a

criação de políticas públicas para o setor. Iniciamos com uma breve discussão a partir

colonização do Brasil, dando mais destaque para a década de 1970 e a implantação do

Programa Nacional do Álcool – Proálcool (1975 – 1985), em suas diferentes fases e os

desdobramentos ao setor canavieiro até sua expansão em Minas Gerais a partir da

década de 1980. Autores como Bray; Ferreira; Ruas (2000), Vian (2003), Veiga Filho;

Ramos (2006) e Pereira (2007) auxiliaram nessa compreensão. Instituições como a

União da Indústria de Cana-de-açúcar – UNICA, União dos Produtores de Bioenergia –

UDOP e Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool no Estado de Minas Gerais –

SIAMIG, forma fundamentais na coleta de dados e informações atuais.

Nesse capítulo também é discutido o papel do Zoneamento Ecológico

Econômico de Minas Gerais como uma ferramenta importante para a expansão da

monocultura canavieira no estado, principalmente para a mesorregião do Triângulo

Mineiro/Alto Paranaíba. As contribuições de Sepúlveda (2008), pesquisador da

Fundação Estadual do Meio Ambiente do Estado de Minas Gerais – FEAM auxiliaram

na compreensão dessa importante ferramenta, pouco utilizada nas discussões da

Geografia Agrária.

No capítulo final (terceiro capítulo) focamos a expansão canavieira em Minas

Gerais e na mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba. Trazemos a

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configuração das agroindústrias na mesorregião, os grupos econômicos e o capital

estrangeiro envolvido. Essa caracterização é importante na compreensão do setor e o

seu desenvolvimento no estado a partir da sua forma de atuação.

O objetivo principal do capítulo é trazer a discussão sobre os impactos e os

problemas da produção de agrocombustíveis na sociedade e no trabalho. No caso dos

impactos da monocultura sobre a produção camponesa/familiar, temos estudos na região

que mostra a expansão canavieira em áreas próximas aos assentamentos, o que faz com

que o assentado sinta-se pressionado a arrendar sua terra ou manter sua produção

sofrendo efeitos negativos gerados pela sua expansão.

Nesse sentido, a importância da pesquisa refere-se na compreensão do setor

sucroenergético, a partir das políticas públicas voltadas ao setor, e o seu

desenvolvimento, criando uma gama de problemas referentes ao modelo de produção –

monocultura, voltado ao desenvolvimento do capital e geração de lucro aos empresários

do agronegócio e emblemático e prejudicial aos trabalhadores do campo, gerando a

crítica em relação ao capital investido no modelo do agronegócio e os baixos índices de

produção, superados pela agricultura camponesa e a pequena produção, responsável

pela alimentação dos brasileiros.

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1. O AGRONEGÓCIO CANAVIEIRO E A PRODUÇÃO DE

AGROCOMBUSTÍVEIS: conceituações e caracterização

[...] o latifúndio efetua a exclusão pela improdutividade, o agronegócio promove a exclusão pela intensa produtividade2.

Bernardo Mançano Fernandes.

1.1. O Complexo agroindustrial e o agronegócio (agribusiness)

A agricultura brasileira passou por inúmeros processos de transformação ao

longo do tempo. Essas transformações foram responsáveis pelo desenvolvimento do

agronegócio. Antes da definição do conceito de agronegócio temos que passar por

elementos que desencadearam sua formação e desenvolvimento como modelo agrícola

voltado principalmente a exportação. A industrialização da agricultura pode ser

considerada como precursora do agronegócio.

O processo de industrialização da agricultura está diretamente ligado com a

modernização da agricultura, o que permitiu a utilização de novas tecnologias no

campo, como o uso de insumos agrícolas, fertilizantes, técnicas de adubação, entre

outros. “A modernização da agricultura atingiu de forma profundamente diferenciada

nas regiões do Brasil, modernizando-as, mas reforçando suas desigualdades

historicamente estabelecidas” (KAGEYAMA, 1986, p. 304), caracterizado pelos

latifúndios. Segundo Graziano da Silva (1982), esse processo de modernização se fez

acompanhar de unidades de produção cada vez maiores, com uma conseqüente

deteriorização da distribuição da renda no setor agrícola.

O longo processo de transformação da base técnica – chamado de modernização – culmina, pois, na própria industrialização da agricultura. Este processo representa na verdade a subordinação da Natureza ao capital que, gradativamente, liberta o processo de produção agropecuária das condições naturais dadas, passando a fabricá-las sempre que se fizerem necessárias. Assim, se faltar chuva, irriga-se; se não houver solos suficientemente férteis, aduba-se; se ocorrerem pragas

2 Extraído do texto Questão Agrária: conflitualidade e desenvolvimento territorial, Bernardo Mançano Fernandes (2004).

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e doenças, responde-se com defensivos químicos ou biológicos; e se houver ameaças de inundações, estarão previstas formas de drenagem (GRAZIANO DA SILVA, 1996, p. 3).

O autor denomina como industrialização da agricultura o controle cada vez

maior da Natureza e a possibilidade de reprodução artificial das condições naturais da

produção agrícola. É a partir das transformações dos elementos naturais (meio rural)

através do processo industrial (meio urbano) que temos a industrialização da agricultura.

A industrialização da agricultura implica a passagem de um sistema de produção

artesanal a um sistema de base manufatureira (GRAZIANO DA SILVA, 1996). Em

relação a produção de alimentos, houve um declínio explicado pela modernização e

mercantilização das atividades agrárias. “Ao mesmo tempo em que se industrializa, a

agricultura se concentra e se internacionaliza” (MALASSIS, 1973).

No complexo rural, o que o determinava era a divisão do trabalho e a detenção

de todos os bens (insumos, máquinas e equipamentos) concentrados em um único lugar,

no caso uma fazenda, para a produção de determinado produto. O trabalho livre pode

ser considerado como desencadeante da crise do complexo rural e a mudança para o

complexo agroindustrial. Nesse sentido, temos o início da passagem do “complexo

rural” para os “complexos agroindustriais” que segundo José Graziano da Silva é:

CAIs: a substituição da economia natural por atividades agrícolas integradas à indústria, a intensificação da divisão do trabalho e das trocas intersetoriais, a especialização da produção agrícola e a substituição das exportações pelo consumo produtivo interno como elemento central da alocação dos recursos produtivos no setor agropecuário (GRAZIANO DA SILVA, 1996, p. 1).

Muller (1989) define como complexo agroindustrial a “integração entre

indústria-agricultura, na qual a produção agrária não se acha apenas na dependência das

solicitações do comércio, mas também de um conjunto de indústrias que tem nas

atividades agrárias seus mercados” (MULLER, 1989, p. 18). Ainda afirma que as

relações indústria e agricultura apresentavam um elevadíssimo grau de integração

intersetorial e, aspecto relevante, com praticamente todos os ramos localizados no país.

Assim, as empresas e grupos econômicos industriais, cresceram, expandiram, quando

não surgiram novas plantas, de capital nacional e estrangeiro. O mesmo ocorreu com as

agroindústrias (MULLER, 1989, p. 17).

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Guimarães (1976) aponta o complexo agroindustrial como sendo uma

particularidade que distingue a agricultura atual da agricultura do passado. Diante da

crise, a agricultura mundial foi forçada a receber subsídios do Estado, integrar-se num

processo de concentração e de centralização de capitais, que contribuíram para a

formação do complexo agroindustrial. Para o autor, não apenas a agricultura se

industrializa como a indústria industrializa a agricultura (GUIMARÃES, 1982). Aponta

também que opção do Brasil pela modernização conservadora foi um lamentável

equívoco, pois resultou no fortalecimento do sistema latifundiário, elevando a

concentração da propriedade agrária (GUIMARÃES, 1976, p. 6), o que se ajustou a

estratégia agrícola mundial liderada pelo agribusiness.

Ramos (2007) analisa o conceito de complexo agroindustrial apontando o ponto

de vista de Alberto Passos Guimarães, Geraldo Muller e Tamás Szmerecsányi. O termo

de complexo agroindustrial passou a ser objeto de controvérsia na medida em que ele

passou a ser mais utilizado. A ideia do conceito foi criticada por ser um fato recente no

Brasil, assim como sua contribuição teórica/ metodológica do emprego do conceito. A

segunda crítica chamou a atenção para o fato de que a agregação que o conceito

pressupõe pode impedir que importantes particularidades da dinâmica econômica das

diferentes atividades envolvidas sejam devidamente captadas (RAMOS, 2007, p. 39-

40).

O autor mostra que devido a forma de separação das atividades entre produção

agrícola, transformação e distribuição constituiu diversas unidades de análise, sendo as

mais importantes o Complexo Agroindustrial (CAI), o Sistema Agroalimentar (SAA) e

o Agribusiness.

O agribusiness corresponde à organização das atividades agrícolas a partir das

relações com a indústria, conforme aponta Cleps Junior (1998) em sua tese de

doutorado. O termo foi proposto pela primeira vez nos anos 1950 pelos professores Ray

Goldberg e John Davis, da Universidade de Harvard. O conceito de agribusiness

(agronegócio em português) foi construído a partir de uma metodologia para estudo da

cadeia agro - alimentar, que sintetizava sua nova visão. O agribusiness envolve a soma

das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, processamentos e

distribuição dos produtos agrícolas e itens produzidos a partir deles.

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De acordo com esse conceito, a agricultura passa a ser abordada de maneira

associada aos outros agentes responsáveis por todas as atividades, que garantem a

produção, transformação, distribuição e consumo de alimentos, considerando assim,

como parte de uma extensa rede de agentes econômicos. Os investimentos no

agronegócio são essencialmente de capital estrangeiro, isso não anula a participação do

capital nacional, embora atualmente seja uma parcela pouco significativa.

Davis e Golberg identificaram dois níveis de agregados para explicar o conceito

de agribusiness.

No primeiro triagregado temos a indústria de insumos para a agricultura, a agricultura em si e o processamento e distribuição. O segundo triagregado, mais amplo, representa um outro corte mais largo que inclui serviços para a agropecuária, gastos do governo e o processamento de fibras e de alimentos em separado (BELIK, 2007, p. 144).

O quadro 1 sistematiza o conceito de agribusiness e suas abordagens sistêmicas.

Quadro 1: O conceito de agribusiness e a abordagem sistêmica

CONCEITO DE AGRIBUSINESS: “soma total das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas; as operações de produção nas unidades agrícolas; e o armazenamento, processamento e distribuição dos produtos agrícolas e itens produzidos com eles”. Essas operações podem ser assim consideradas:

A ABORDAGEM SISTÊMICA – Os subsistemas componentes. 1. Produção agropecuária propriamente dita: gêneros de cultivo e criação. 2. Atividades de suporte ou de infraestrutura institucional: pesquisa, crédito, assistência técnica, treinamento de mão-de-obra, etc.

1. “Antes da porteira” (suprimentos à produção): indústrias fornecedoras de insumos e máquinas/equipamentos, pesquisa, assistência técnica, etc.

3. Insumos extra-setoriais: fertilizantes, máquinas e implementos, sementes, defensivos, corretivos, etc.

2. “Dentro da porteira” (produção agropecuária): produção dos bens vegetais e animais.

4. Canais de comercialização: estocagem, comércio atacadista e varejista, interno ou externo.

3. “Depois da porteira” (processamento, armazena-mento, distribuição): operações de estocagem, comercialização e, enfim, de atendimento ao consumidor final.

5. Processamento dos produtos agropecuários: ramos industriais que utilizam matérias-primas agropecuárias.

Fonte: Referencial teórico e analítico sobre a agropecuária brasileira. In: Dimensões do agronegócio brasileiro: políticas, instituições e perspectivas/ Pedro Ramos... [et al.], 2007. Org.: CAMPOS, N. L., 2011.

O agronegócio brasileiro é caracterizado pelas fases “Antes da porteira”,

caracterizada pelas indústrias fornecedoras de matérias-primas para a produção no

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campo; “Dentro da porteira”, caracterizada pela produção propriamente dita (agrícola e

agropecuária); e “Depois da porteira”, momento da comercialização da produção.

O conceito de Sistema Agroalimentar foi criado na década de 1950 por Perroux.

Esse conceito é dividido em três subsistemas: Agroindustrial (agricultura + indústria),

Distribuição (comércio + restauração) e Transformação-Distribuição (indústria +

comércio + restauração). Os produtos agroalimentares compõem um subsistema de

produção-transformação-distribuição.

1.2. A agroindústria canavieira e o planejamento estatal

O conceito de agroindústria vai além do que a nomenclatura apresenta como

sendo a união entre agricultura e indústria. Essa união é a principal formadora do

conceito, mas, de acordo com Belik (2007) como única interpretação, implica em

comparações indevidas criando muitos problemas quando tratamos das comparações

setoriais. Não podemos generalizar a atuação das agroindústrias exclusivamente em

forma de setor, cada qual responsável por determinada atividade econômica, embora

com essa divisão torna-se possível verificar a estrutura e determinadas relações que

teriam desaparecido em uma análise dos grandes agregados.

A cerca desse fator o autor relata:

Historicamente a agroindústria nasceu a partir das atividades agrícolas. Já nos antigos complexos rurais, a agroindústria estava presente com o beneficiamento de matérias-primas e a sua conservação. Mais modernamente, as atividades industriais realizadas no interior das fazendas passaram a ser denominadas como indústria rural, um complemento das atividades agrárias. Mas, no passado, era muito difícil separar as chamadas indústrias rurais da indústria propriamente dita. As atividades industriais complementares à agricultura confundiam com a própria agricultura (BELIK, 2007, p. 143).

O crescimento da demanda por produtos beneficiados tornou a atividade da

indústria rural independente do meio agrário, deslocando-se para áreas urbanas. A

agroindústria moderna não é fruto da integração para frente dos capitais agrários, mas

sim através da integração para trás principalmente do capital financeiro, comercial e

industrial (BELIK, 2007).

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O processo de formação agroindustrial dá-se a partir de um planejamento no

qual todas as etapas devem apresentar um retorno (feedback) e constituir um processo

interativo. Segundo Szmerecsányi (1979) o planejamento “é um processo de

intervenção racional na realidade sócio-econômica que não se limita apenas à

formulação de planos e programas de desenvolvimento”. De acordo com o autor, os

estágios do planejamento (no caso o planejamento agroindustrial) se dão da seguinte

forma:

Organograma 1: Principais etapas do planejamento agroindustrial canavieiro no Brasil (1930-1975)

Fonte: O planejamento da agroindústria canavieira do Brasil (1930-1975)/ Tamás Szmerecsányi, 1972. Org.: CAMPOS, N. L., 2011.

Como em todo processo de planejamento, a primeira etapa a ser realizada é a do

diagnóstico (área foco do planejamento). Nela são definidos os objetivos da área a ser

planejada e a sua viabilidade. Após essa etapa, deve ser criadas políticas para o

desenvolvimento agroindustrial criando diretrizes gerais e específicas para o plano.

Após a execução do plano devem-se avaliar os resultados obtidos e com isso fazer as

reformulações necessárias ao planejamento. O planejamento agroindustrial é semelhante

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ao planejamento do Zoneamento Ecológico Econômico que procura harmonizar as

relações econômicas, sociais e ambientais no ordenamento territorial brasileiro.

Os vários subprodutos da cana-de-açúcar, todos de grande utilidade, fez com que

a cultura canavieira tornasse uma importante atividade agrícola no país.

Devido ao seu valor de mercado, a cultura da cana-de-açúcar representa uma importante fonte de renda e de emprego para ponderáveis parcelas da população rural. Por outro lado, a ela se vincula diretamente um grande parque fabril – as usinas de açúcar, destilarias de álcool etc. – o qual também gera renda de empregos, e cuja produção tem amplo consumo doméstico e industrial, tanto dentro como fora do País (SZMERECSÁNYI, 1979, p. 41).

O desenvolvimento da agricultura canavieira deu-se em princípio para a

produção de açúcar que tinha uma crescente procura a partir do século XV, e foi um

fator determinante do surto da cultura canavieira em vários países, com destaque para o

Brasil.

O desenvolvimento da agroindústria canavieira teve um papel de grande relevo na história econômica do Brasil. Durante quase dois séculos após o descobrimento, ela constituiu praticamente o único pilar em que se assentava a economia colonial. Até a época, o Brasil era o maior produtor e exportador de açúcar do mundo. Daí em diante, apesar das numerosas crises havidas no subsetor, em consequência da perda da posição hegemônica do Brasil no mercado açucareiro mundial, a cana continuou sendo o principal produto comercial de sua agricultura, condição que só veio perder em fins do século passado, quando definitivamente se firmou o ciclo do café (SZMERECSÁNYI, 1979, p. 43).

Embora houvesse o surgimento de novos períodos econômicos, a cana-de-açúcar

ainda era considerada uma atividade econômica importante no setor agroindustrial e

ainda mantinha grande produção no Nordeste do país. O autor já destaca a crescente

produção de álcool de cana, destinadas a fins carburantes e industriais, como uma

importante fonte de redução e de substituição das importações de derivados do petróleo.

A produção de álcool combustível foi impulsionada pelo Estado, expandindo-se

para outras regiões do país. No final do século XIX houve uma necessidade de

modernização da produção para enfrentar a competição de outros países produtores,

tendo o açúcar ainda como principal produto da agroindústria canavieira. A produção de

álcool combustível foi incentivada a partir da década de 1970, onde o Estado criou

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políticas de incentivo a essa produção. Foi nesse contexto de modernização que a região

Centro-Sul vivenciou esse momento de expansão, no qual a cultura canavieira obteve

sucesso nessa região.

A intervenção estatal a fim de modernizar os canaviais nordestinos não teve

êxito, pois a inserção de maquinário no processo produtivo impediu que a produtividade

do setor aumentasse, além do descrédito dos senhores-de-engenho que perderam o

controle sobre a totalidade do complexo produtivo do açúcar, base do poder político e

econômico desses agentes (VIAN, 2003). Nesse contexto, a região Centro-Sul começou

a receber suas primeiras unidades de produção e áreas de cultura da cana-de-açúcar.

Dentre elas, estavam unidades de origem nordestina – algumas filiais de

empreendimentos tradicionais do Nordeste que viu um potencial de desenvolvimento na

região, expandindo seu capital. Essa expansão deu-se não apenas devido ao descrédito

dos produtores nordestinos, mas também devido às constantes secas que motivaram o

envolvimento de novas áreas, e até mesmo a transferência de algumas unidades para o

Centro-Sul.

O estado de São Paulo e algumas regiões do Paraná foram o primeiro cenário da

produção canavieira no Centro-Sul. Essa produção obteve grande desenvolvimento

fazendo com que elas tornassem as maiores produtoras de açúcar e álcool do país. Tem-

se ai o desenvolvimento do setor sucroalcooleiro, voltado à produção de açúcar (prefixo

sucro) e/ou álcool (sufixo alcooleiro), diretamente relacionado às culturas de cana-de-

açúcar, principal insumo para o processo produtivo do açúcar e do álcool, além de mais

vantajoso em relação aos outros insumos utilizados para a produção em outros países,

como o milho e a beterraba. A tabela 1 apresenta a comparação dessas outras fontes em

relação à cana-de-açúcar.

Tabela 1: Comparação das fontes alternativas na produção do etanol

Matéria-prima Cana-de-açúcar Milho Beterraba

Região Brasil Estados Unidos União Européia

Custo de Produção (USD/litros)³

0,21 0,27 0,76

Balanço Energético 9,3 1,4 2,0

Redução das emissões de GEE (em %)

90 35 34

Fonte: UNICA, 2011/ SIAMIG, 2011. Org.: CAMPOS, N. L., 2011.

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Temos que a produção de etanol através da cana-de-açúcar como matéria prima

se mostra mais vantajosa economicamente em relação ao seu custo de produção,

redução das emissões de GEE (Gases do Efeito Estufa), eficiência energética e

produtividade.

1.3. De setor sucroalcooleiro ao setor sucroenergético

O conceito de setor sucroalcooleiro vem perdendo sentido a partir do momento

em que a produção de derivados da cana vai além do açúcar e do álcool. Com o

desenvolvimento tecnológico é possível produzir energia elétrica (bioenergia), plástico e

o bio-hidrocarboneto que está sendo desenvolvido como um combustível de aviação, o

que seria uma espécie de diesel da cana. Sendo assim, o conceito passa por inúmeras

mudanças ao longo do tempo devido às inúmeras possibilidades de produção a partir da

cana-de-açúcar. Com ela, além da produção de agrocombustíveis como o etanol e a

produção de açúcar, novas tecnologias estão sendo desenvolvidas. Com isso, o sentido

de setor sucroalcooleiro não cabe haja vista que o número de produto final vai além do

que esse setor produz e o termo sucroalcooleiro deve ser substituído pelo termo

sucroenergético, o qual engloba tanto a produção de álcool e açúcar como a produção de

eletricidade.

As projeções indicam um aumento da participação relativa da venda de energia na receita das usinas em detrimento da receita oriunda da comercialização de açúcar. A comercialização de energia corresponderá a 2/3 da receita das usinas já na safra 2015/16. Desta forma, torna-se adequada à utilização do termo cana energética em substituição ao termo cana de açúcar. Por fim, é necessário se ressaltar a necessidade de se adotar a expressão sucroenergético em detrimento ao termo sucroalcooleiro porque já é passado o tempo em que o etanol era o único bem energético produzido nas usinas canavieiras brasileiras (DANTAS, 2008, s/p).

Muitas usinas já produzem energia capaz de sustentar todo seu processo

produtivo e ainda vender o que extrapola para as companhias energéticas. Essa

produção de energia deu-se em meados dos anos 1990 onde muitas usinas estão

investindo em novas caldeiras capazes de um melhor rendimento a partir do bagaço e da

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palha da cana. A expectativa é que a produção de energia tende a superar a de açúcar

nas usinas.

Segundo especialistas, a cana-de-açúcar gera 1/3 de vinhaça, 1/3 de palha e 1/3 de bagaço. Ou seja, pode-se usar 2/3 para a produção de energia elétrica. A estimativa é que em 2020 a produção nacional de cana-de-açúcar atinja um bilhão de toneladas - hoje são 496 milhões de toneladas. Com esta projeção a produção de energia elétrica através das usinas deverá igualar a produção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, que tem capacidade instalada de produção de 14 mil megawatts (MW) (REVISTA RURAL, 2008, s/p).

Com o avanço tecnológico, foi possível a produção de energia elétrica a partir do

bagaço e da palha da cana, que antes eram considerados resíduos sem finalidade e ainda

evita a queima que já está praticamente eliminada nos canaviais. Além da produção de

energia, uma nova matéria já vem sendo produzida a partir da cana-de-açúcar. Trata-se

do bioplástico, feito a partir da moagem da cana que produz o suco, fermentado e

destilado em etanol, que é convertido por uma série de processos químicos, para se

tornar um monoetilenoglicol, um derivado de petróleo que é misturado em um ácido

(tereftálico) para criar o plástico pet. Esse pet é utilizado nas garrafas de 600 ml da

Coca-cola. Uma tecnologia que ainda está em desenvolvimento é a do bio-

hidrocarboneto3, que será um novo combustível voltado à aviação. É devido a essa

gama de possibilidades de produção a partir da cana que Dantas (2008) que se deve

adotar o termo cana energética em substituição ao termo cana-de-açúcar.

No fluxograma 1 temos um esboço do que é produzido a partir da cana-de-

açúcar e o que ainda está em desenvolvimento.

3 Diesel da cana-de-açúcar. Combustível de aviação (SIAMIG, 2011).

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Fluxograma 1: Processo produtivo a partir da cana-de-açúcar

Fonte: SIAMIG, 2011. Adaptado: CAMPOS, N. L., 2011.

Através da cana-de-açúcar é extraído o caldo o bagaço e a palha. Deles é

possível a produção do açúcar, do melaço, do etanol, da bioeletricidade, do bioplástico e

futuramente o bio-hidrocarboneto (subprodutos da cana).

A produção está dividida em três etapas básicas: plantação e cultivo da cana-de-

açúcar, produção do açúcar ou álcool e a comercialização do produto final. Tem seu

início no campo (cana-de-açúcar) até chegar ao mercado (produto final). A seguir,

temos descritas as etapas do processo produtivo dos subprodutos da cana (Organograma

2).

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Organograma 2: Etapas do processo produtivo dos subprodutos da cana-de-açúcar

Fonte: SIAMIG, 2011. Org.: CAMPOS, N. L., 2011.

Essas etapas são importantes para o desenvolvimento e funcionamento do setor,

pois são condicionantes à produção dos derivados da cana. Campo, logística

agroindustrial, indústria-produção, estoque, transporte-produto final e mercado são os

principais processos produtivos que fazem parte das etapas do planejamento da

produção agroindustrial.

1.4. Os Territórios e a produção de agrocombustíveis

Antes de compreendermos a expansão da monocultura canavieira Triângulo

Mineiro/Alto Paranaíba, abordamos o território como o lugar do desenvolvimento das

agroindústrias. Essa abordagem vai além do processo produtivo de agrocombustíveis.

Nossa análise também está pautada nos conflitos e disputas territoriais entre o

agronegócio e o campesinato, que se desterritorializa na medida em que é ameaçado por

essa nova configuração territorial, o agronegócio voltado para a produção de

agrocombustível pelas agroindústrias.

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O território, categoria de análise da geografia, tem ganhado destaque nos

enfoques teóricos, sobretudo, aqueles que destacam a ação do Estado e os interesses dos

grupos hegemônicos. Com referência à expansão sucroenergética, devemos discutir este

conceito, tendo como expressão de análise à constituição das tramas do agronegócio e a

apropriação do espaço geográfico. Devemos ressaltar que o território analisado nesse

processo de expansão das lavouras canavieiras não é um espaço fixo, imóvel. Ele vai

além dos limites municipais e/ou estaduais dependendo das relações de poder que uma

unidade produtiva venha a exercer nos seus atores sociais. Temos que sua área de

produção muitas vezes não corresponde apenas os limites políticos, extrapolando para

outros territórios e assim exercendo uma relação de poder.

Ao analisar essa categoria, utilizamos diversos autores como Raffestin (1993),

Santos (1996), Haesbaert (2004), Saquet (2007), Oliveira (2004), pois a abordagem

territorial oferece possibilidades para entender os conflitos de interesses surgidos nas

relações sociais envolvidas neste processo de reprodução do capital sucroenergético.

Thomaz Júnior (2002) sugere a possibilidade de compreender o território dos

agrocombustíveis em específico no Brasil, por meio de suas análises a respeito do setor

sucroenergético e da relação capital x trabalho do setor, além do próprio papel do

Estado. Para o autor:

[...] a participação do Estado, especificamente nesse setor da economia, não se restringe apenas às instâncias de planejamento e controle, bem como da fiscalização da produção, distribuição e comercialização dos produtos. Está presente também, assim como para as demais esferas da atividade econômica, na normatização e regramento jurídico-institucional das relações sociais de trabalho, com o atributo de realizar a mediação entre capital e trabalho. (THOMAZ JUNIOR, 2002, p. 55-56).

Segundo o autor, este território, porém, é um território outro, mais funcional e

ligado à reprodução dos interesses do capital. E faz, na maioria das vezes, pela

expropriação de outras formas de território, sobretudo o do camponês. Por sua vez, o

Estado deve assegurar garantias a todos os atores envolvidos nesse setor econômico,

envolvendo o grande e o pequeno produtor, sendo o último o mais afetado pelo setor.

Oliveira (2004) aborda a territorialização do capital e a monopolização do

território a partir do desenvolvimento da indústria e agricultura. Para ele, isso é possível

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porque o capitalista se tornou também proprietário das terras, latifundiários, portanto

(OLIVEIRA, 2004, p. 41). O campesinato está subordinado à territorialização do

capital, uma vez que ele produza exclusivamente para a indústria.

Um exemplo desse contraditório desenvolvimento ocorre com as usinas ou destilarias de açúcar e álcool, onde atualmente indústria e agricultura são partes ou etapas de um mesmo processo. Capitalista da indústria, proprietário de terra e capitalista da agricultura têm um só nome, são uma só pessoa ou uma só empresa, para produzir, utilizam o trabalho assalariado dos bóias-frias que moram/vivem nas cidades (OLIVEIRA, 2004, p. 42).

Em situação em que o capitalista industrial é uma empresa industrial, o

proprietário da terra e o trabalhador são uma única pessoa, o camponês. Para Oliveira

(2004), esse contraditório desenvolvimento capitalista no campo revela que no caso das

agroindústrias, o capital se territorializa (territorialização do capital monopolista na

agricultura) e quando o camponês é o proprietário da terra, o capital monopoliza o

território sem, entretanto, se territorializar (monopolização do território pelo capital

monopolista).

Para Raffestin (1993), o conceito de território envolve as relações de poder. O

autor discute o território a partir de uma perspectiva política. Ainda interpreta o

território como produto dos atores sociais, ou seja, do Estado ao indivíduo, sendo esses

atores os produtores do território. Esse caráter político do território está definido no

trabalho, pois é no trabalho que ocorre às relações de poder. Segundo Raffestin, “[...] o

território se apóia no espaço, mas não é o espaço, é uma produção a partir do espaço.

Ora, a produção, por causa de todas as relações que envolvem, se inscreve num campo

de poder” (RAFFESTIN, 1993, p.144). Assim, poder e território estão intrínsecos em

todas as relações sociais.

Milton Santos analisa em sua obra “O retorno do território” o conceito de

território e o conceito de lugar, tendo o espaço geográfico como sinônimo de território

usado chamando a atenção para distinguir o território de todos (território como abrigo)

do território de interesse das empresas. Para Santos (1996), lugar é o palpável,

controlado remotamente pelo mundo. Por conseguinte, no caso do território dos

agrocombustíveis, seria o que Santos (1996) chama de território usado, respondendo

interesses de empresas e grupos econômicos. No território dos agrocombustíveis

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observamos essa relação entre os grupos econômicos que detém o capital e as empresas

que são as usinas, os usineiros e os trabalhadores.

O acontecer homólogo é aquele das áreas de produção agrícola ou urbana, que se modernizam mediante uma informação especializada e levam os comportamentos a uma racionalidade presidida por essa mesma informação que cria uma similitude de atividades, gerando contigüidades funcionais que dão os contornos da área assim definido. O acontecer complementar é aquele das relações entre cidade e campo e das relações entre cidades, conseqüência igualmente de necessidades modernas da produção e do intercâmbio geograficamente próximo. Finalmente, o acontecer hierárquico é um dos resultados da tendência à racionalização das atividades e se faz sob um comando, uma organização, que tendem a ser concentrados e nos obrigam a pensar na produção desse comando, dessa direção, que também contribuem à produção de um sentido, impresso na vida dos homens e na vida do espaço (SANTOS, 1996, p. 9).

Ainda de acordo com as ideias de Milton Santos, o acontecer simultâneo

(lugares contíguos e lugares em rede) cria novas solidariedades apresentando-se como

três formas no território atual: um acontecer homólogo, um acontecer complementar e

um acontecer hierárquico. Podemos compreender o território dos agrocombustíveis a

partir do acontecer homólogo, que cria uma nova função ao campo, função essa

relacionada a alta produtividade voltada à economia do país.

Haesbaert (2004) identifica o território como fruto das relações sociais e das

relações de poder. Nesse sentido, como forma de integrar as perspectivas materialistas e

idealistas, considera que o território envolve ao mesmo tempo a dimensão espacial

material das relações sociais e o conjunto das representações sobre o espaço. O autor,

em outra discussão, ainda traz uma definição do conceito de território partindo da

multiterritorialidade a partir de três aspectos – “político”, onde o território é visto como

um espaço delimitado e controlado sobre o qual se exerce determinado poder, o

território demarcado pelo Estado-nação; “simbólico”, onde o espaço passa a ser

concebido pelos aspectos culturais, o território é produto da apropriação subjetiva do

imaginário; e “econômico”, onde o território é visto através das relações econômicas

como fonte de recursos no embate entre classes sociais e na relação capital-trabalho

como produto da divisão territorial do trabalho. Segundo Haesbaert,

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[...] todo território é, ao mesmo tempo e obrigatoriamente, em diferentes combinações, funcional e simbólico, pois exercemos domínio sobre o espaço tanto para realizar “funções” quanto para produzir “significados”. O território é funcional a começar pelo território como recurso, seja como proteção ou abrigo (“lar” para o nosso repouso), seja como fonte de “recursos naturais” – “matérias-primas” que variam em importância de acordo com o(s) modelo(s) de sociedade(s) vigente(s) (como é o caso do petróleo no atual modelo energético capitalista). (HAESBAERT, 2004, p. 3).

Saquet (2007) faz uma interessante reflexão de diferentes abordagens do

território apresentando uma síntese desse conceito a partir de diversos autores que

discutem a categoria. Apresenta as ideias de Maquiavel que foi o primeiro a refletir

sobre o Estado a partir das relações de dominação do homem por outros homens, no

processo de conquista de uma área, que é o território. Discute o território a partir das

idéias de Gottmann (1973/2005), como função de abrigo e segurança, e o território

como função de oportunidades. Essa função de abrigo perde valor quando tratamos do

território do agronegócio que visa à produção e a intensa acumulação de capital.

É o que Cleps Junior (2010) chama o território em disputa, disputa essa marcada

pelo agronegócio e o campesinato, gerando os conflitos sociais como ocupação,

reintegração de posse, regularização fundiária entre outros. De acordo com o autor,

Os interesses conflitantes sobre o uso e a ocupação de um mesmo território geram as disputas territoriais. Compreender as transformações territoriais no processo de desenvolvimento da agricultura contemporânea é questão central das pesquisas. Porque o território é objeto de disputa? Quais os efeitos das transformações capitalistas sobre o campesinato? (CLEPS JUNIOR, 2010, p. 37).

O que queremos com a construção desse trabalho é justamente entender essas

disputas territoriais entre agronegócio e campesinato. No decorrer do trabalho, veremos

alguns efeitos socioeconômicos que essas transformações capitalistas causam ao

campesinato.

1.4.1. Conflitos e disputas territoriais

Quando tratamos do agronegócio, verificamos um novo ciclo de conflituosidade

no campo, “que agrega de um lado, grandes proprietários de terras, empresários do

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agronegócio e seus porta-vozes e, de outro, trabalhadores rurais sem terra, agricultores

familiares e seus mediadores” (BRUNO, 2008, p. 83). Para alguns, o agronegócio é

visto como símbolo da modernidade e a agricultura familiar considerada incapaz e

atrasada, embora extremamente competente no plano social. Ainda no ciclo da

conflitividade, as ocupações de terras, os assentamentos rurais e a luta pela terra geram

inúmeras críticas por serem consideradas ameaça ao modelo agrícola exportador

vigente.

Segundo Fernandes (2004) a conflitualidade é um processo constante alimentado

pelas contradições e desigualdades do capitalismo.

O movimento da conflitualidade é paradoxal ao promover, concomitantemente, a territorialização – desterritorialização – reterritorialização de diferentes relações sociais. A realização desses processos geográficos gerados pelo conflito é mais bem compreendida quando analisada nas suas temporalidades e espacialidades. São processos de desenvolvimento territorial rural formadores de diferentes organizações sociais (FERNANDES, 2004, p. 2).

Conflito e desenvolvimento estão interligados, possuem uma relação que nos faz

compreender que um não existe sem o outro, sendo dependentes e é através deles que

ocorrem as transformações territoriais. Ainda segundo Fernandes (2004) “a

conflitualidade gerada pelo campesinato em seu processo de territorialização destrói e

recria o capital”. Nesse sentido, essa conflitualidade promove modelos distintos de

desenvolvimento.

Em vista desses fatores, temos as disputas territoriais. Território este do

agronegócio, em disputa marcada com o território do campesinato. Assim,

Disputas por território podem ser exemplificadas ao mesmo tempo por diversas ações e situações que são conflituosas: ocupação, reintegração de posse, usucapião, regularização fundiária entre outras. Ações judiciais, envolvendo disputa de terras e demarcação de áreas de populações tradicionais, são exemplos em todo o país e marcadamente na região norte (madeireiras, mineradoras, grileiros posseiros, índios e ribeirinhos etc) (CLEPS JUNIOR, 2010, p. 37).

Neste processo, o MST tem sido considerado uma ameaça aos grandes

proprietários de terra e lideranças do agronegócio, pois possui grande capacidade de

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mobilização social frente à questão agrária brasileira. Além disso, é o movimento social

de maior expressão no Brasil e na América Latina. Segundo Bruno (2008),

Para alguns representantes do agronegócio, a ausência de políticas públicas “preventivas” teria gerado um grave problema de distribuição de renda que, gradativamente, foi se transformando em questão política. E o MST seria a expressão mais acabada dessa situação. Para outros, o Estado – “mediador de interesses sociais conflitantes” – tem se mostrado historicamente incapaz de neutralizar os conflitos fundiários e acabar com a violência (BRUNO, 2008. p. 98).

Esta visão é comum dentre os representantes do agronegócio por se sentirem

ameaçados pela ação dos movimentos sociais, ações estas já conhecidas como o caso da

Cutrale que teve sua fazenda ocupada por integrantes do MST no interior de São Paulo,

em 2009. Ainda de acordo com Bruno (2008) os empresários do agronegócio fazem

inúmeras críticas ao MST e defendem a visão da propriedade como direito absoluto,

assim como defendem a concentração fundiária e negam a reforma agrária como

expressão da democratização da propriedade. Para os “porta vozes do agronegócio” não

há como falar em terras improdutivas uma vez que a produtividade e a rentabilidade são

uma realidade. Os impactos gerados pela agroindústria canavieira cria uma situação

conflitante entre o pequeno produtor que necessita se manter no campo e manter sua

produção, com os representantes do agronegócio que é defendido no país por

desenvolver a econômia. Assim, os representantes do agronegócio defendem a estrutura

de propriedade vigente no país e tratam a reforma agrária como uma questão menor e

não viável a eliminação da concentração fundiária.

Em vista a essas questões, temos a configuração da mesorregião do Triângulo

Mineiro/Alto Paranaíba destacada como um novo território do desenvolvimento do

agronegócio, a partir da expansão da monocultura canavieira que se intensificou

principalmente após os anos de 1990 com a crescente instalação de agroindústrias

canavieiras, transformando o cenário local e os modos de vida.

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2. HISTÓRICO DA PRODUÇÃO CANAVIEIRA NO BRASIL E AS

POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCENTIVO À PRODUÇÃO DO ETANOL

“Vira usinas comer as terras que iam encontrando; com grandes canaviais todas as várzeas ocupando.

O canavial é a boca com que primeiro vão devorando matas e capoeiras, pastos e cercados;

com que devoram a terra onde um homem plantou seu roçado; depois os poucos metros onde ele plantou sua casa;

depois o pouco espaço de que precisa um homem sentado; depois os sete palmos onde ele vai ser enterrado”.4

João Cabral de Melo Neto

2.1. Breves considerações sobre a produção canavieira no Brasil

A produção canavieira foi uma das primeiras atividades produtivas e econômicas

no Brasil desde o início da colonização que se deu no século XVI e ainda hoje se

configura como uma atividade de grande importância no cenário econômico nacional,

tanto na produção de açúcar, etanol e energia. O Brasil é o país que possui a maior

produção de cana-de-açúcar no mundo. Seu início ocorreu na Zona da Mata Nordestina

voltada à produção de açúcar que era o principal produto de exportação nos séculos XVI

e XVII (período colonial e primeiras décadas da fase republicana) durante o período

“ciclo” açúcar. Além do ciclo do açúcar, o Brasil passou por outros períodos

econômicos como o do ouro (final do século XVII), do café (1830 a 1930) e da borracha

(primeira fase: 1979 - segunda fase: 1942), que movimentaram a economia do país

durante seus auges. No início da economia do açúcar a força de trabalho era

primeiramente escrava passando a assalariada somente próximo ao fim da escravatura

no Brasil.

Com isso, o país passou a receber mão de obra principalmente da Europa em sua

ocupação humana e econômica, a fim de abastecer o mercado europeu. Segundo

Furtado (1963), a ocupação econômica das terras americanas constitui um episódio da

expansão comercial da Europa, onde a busca por matérias primas de exportação garantia

a soberania econômica dos países europeus. O açúcar era o produto econômico mais

cobiçado da época. É o que Furtado (1963) classificou como “empresa colonial agrícola 4 Trecho do poema: O Rio, de João Cabral de Melo Neto (1953).

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européia”. “A experiência na produção açucareira e solução dos problemas técnicos

relacionados a produção fez com que a indústria portuguesa se desenvolvesse para os

engenhos açucareiros” (FURTADO, 1963, p. 10).

Com o processo de produção de açúcar, o país obteve um desenvolvimento

técnico da produção, que fez com que outros ramos industriais se desenvolvessem. A

produção de açúcar no Brasil, assim como posteriormente a de etanol passou por

momentos de altos e baixos ao longo dos anos. Em 1875 a produção açucareira entra em

declínio, uma vez que a Europa passou a produzir açúcar a partir da beterraba, tornando-

se independente da importação do açúcar. O desenvolvimento da cafeicultura também

foi responsável pelo declínio da cultura canavieira. O cultivo da cana-de-açúcar retomou

com a crise da cafeicultura, onde houve o incentivo para a produção de cachaça e uso da

cultura para alimentação animal (gado leiteiro).

Como forma de solucionar o declínio da produção e a má qualidade do açúcar, o

Estado passou a incentivar a criação dos engenhos centrais a partir do processo de

modernização das lavouras que se estendeu de 1870 a 1930, conforme aponta Ramos

(1991). A formação dos engenhos centrais não obteve o êxito esperado. Os senhores-de-

engenho deveriam investir em melhorias das condições dos canaviais com o apoio do

Estado, o que melhoraria a produtividade. Houve investimentos para a instalação de

novas unidades. Essas unidades foram criadas a partir da abertura ao capital estrangeiro

na implantação de unidades centrais no país. O fracasso deu-se a partir de um conflito

entre agricultores (senhores-de-engenho) e capital industrial (usineiros). Os senhores de

engenho não aceitaram a perda de controle sobre a totalidade do processo produtivo do

açúcar, que era a base do poder político e econômico.

A nova forma de organização da produção impunha aos senhores-de-engenho uma perda de poder: eles deveriam ficar subordinados ao capital industrial estrangeiro e passariam a receber apenas a parcela relativa à matéria-prima, e esta poderia ser rebaixada pelos donos dos Engenhos Centrais (VIAN, 2003, p. 66).

Foi no final da década de 1920 e início da década de 1930 que a produção

açucareira migrou do Nordeste do país para o Centro-Sul, mais precisamente São Paulo

e Rio de Janeiro. Segundo Bray, Ferreira e Ruas (2000) como forma de retomar a

primazia da produção canavieira, o Nordeste intensificou o cultivo da cana e os

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usineiros passaram a investir melhorando as fábricas e construindo novas usinas,

enquanto o governo paulista se empenhava no combate às moléstias da cana,

classificada pelos autores como mosaico, uma doença que atingiu e devastou os

canaviais paulistas, fazendo com que importassem novas variedades de cana japonesas.

[...] os proprietários de engenhos aceitaram a modernização, desde que eles fossem os donos dos engenhos centrais e que recebessem os mesmos incentivos que eram dados ao capital estrangeiro na fracassada primeira fase do processo. Assim, a manutenção da integração vertical para trás, que caracteriza o setor até os dias de hoje, e pelo acesso a créditos subsidiados pelo Estado (VIAN, 2003, p. 67).

Durante os anos 1930 houve uma preocupação pelo governo em criar políticas

públicas como forma de “proteção” ao setor, tais como implantação de fábricas,

aquisição de terras, plantio das lavouras e obras de infraestrutura necessárias. Em agosto

de 1931 o Ministério da Agricultura criou a Comissão de Estudos sobre o Álcool Motor

- CEAM já pensando na possibilidade de sua utilização como combustível. No mesmo

ano o governo federal criou a Comissão de Defesa da Produção do Açúcar, com o

objetivo de estudar e incentivar a produção de álcool anidro para misturar à gasolina

com vistas à diminuição do excedente de açúcar e para diminuir a importação de

derivados de petróleo.

O CEAM foi a primeira intervenção estatal para o setor canavieiro. Como

desdobramento da Comissão de Defesa da Produção do Açúcar – CPDA e da CEAM, o

governo federal criou em 1933 o Instituto do Açúcar e do Álcool – IAA, com o objetivo

de dirigir, intervir, fomentar e controlar a produção de açúcar e álcool do país (BRAY;

FERREIRA; RUAS, 2000, p. 14), que se estendeu até a década de 1970. O objetivo

principal do IAA era “regular o mercado de açúcar via usos alternativos para a cana e

para os subprodutos de seu processamento industrial, incorporando funções de fomento

à diversificação das usinas, obrigando-as a destinar parte da matéria-prima à produção

de anidro” (VIAN, 2003, p. 74).

O IAA controlava a produção de açúcar através das cotas. Inicialmente eram baseadas na capacidade instalada de cada unidade produtiva e nas previsões de crescimento do mercado. A instalação de novas unidades e a expansão das já existentes devia ser previamente autorizada pelo IAA. Mas essa obrigatoriedade não era respeitada não era respeitada pelos

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grandes grupos do setor, principalmente os paulistas (VIAN, 2003, p. 76).

No contexto da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), houve incentivos à

produção de álcool combustível devido à dificuldade de exportação do açúcar e

racionamento da gasolina. O incentivo à produção de álcool pelas destilarias fez com

que o governo federal criasse mais uma política pública, o Plano de Desenvolvimento

do Álcool:

No ano de 1942, o IAA passou a adotar várias medidas que resultaram num verdadeiro “plano de economia de guerra”. A produção de açúcar de usina que ultrapasse o limite de 15.200.000 sacos de 60 kg deveria ser entregue ao IAA para ser transformada em álcool. Neste contexto, o IAA passou a comercializar todo o tipo de álcool fabricado no país e criou o Plano de Desenvolvimento do Álcool. Esse Plano garantia o crescimento da produção do álcool anidro e o abastecimento do álcool hidratado no país (BRAY; FERREIRA; RUAS, 2000, p. 20).

Durante a Segunda Guerra Mundial, houve uma escassez dos derivados de

petróleo e uma valorização da produção do álcool. Nesse período, destacou-se a

expansão da agroindústria canavieira em Piracicaba, interior de São Paulo, com a

criação da primeira fábrica brasileira de equipamentos para atender a produção de

açúcar.

A década de 1950 foi marcada pela expansão da agroindústria canavieira, sobretudo em São Paulo, ocupando terras anteriormente destinadas ao cultivo do café, mantendo a estrutura fundiária vigente e, aos poucos, reforçando sua concentração. A partir desta década, o estado de São Paulo tornou-se o maior produtor de açúcar do país e, pela primeira vez desde o período colonial, Pernambuco perdeu a sua primazia. (SANTOS, 2009, p. 110).

Ainda nesse contexto, as usinas paulistas foram incentivadas a ampliar sua

produção de açúcar e álcool para abastecer o mercado interno e possuíam melhores

condições que as usinas nordestinas para atender a demanda de açúcar, principalmente

no Centro-Sul.

Com a modernização da agricultura após a década de 1960, houve um

movimento expansionista caracterizado pelo expressivo crescimento econômico e pelo

grande avanço tecnológico. Como aponta Hespanhol (2008), a partir da década de 1950,

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a Revolução Verde derivou diretamente do modelo de desenvolvimento produtivista

predominante até o final dos anos 1970 o que fez com que a produção e produtividade

agrícola se expandissem significativamente.

Apesar do aparente sucesso da modernização da agricultura, o passivo ambiental dela decorrente é muito grande. A expansão de monoculturas e o uso indiscriminado de máquinas, implementos, fertilizantes químicos e de biocidas comprometeram a qualidade ambiental de vastas áreas dos países desenvolvidos e subdesenvolvidos (HESPANHOL, 2008, p. 372).

O processo expansionista da agricultura e as monoculturas fizeram surgir

questões sobre os problemas ambientais e sanitários surgidos, além de que “a

agricultura moderna também não levou a superação do problema da fome no planeta,

apesar de ter havido a ampliação da oferta de alimentos, os problemas relacionados à

sua distribuição perduraram e até se agravaram” (HESPANHOL, 2008). Do ponto de

vista ambiental, o incremento da produção de alimentos, fibras e agrocombustíveis para

fazer frente à demanda internacional está sendo realizado com base neste modelo de

desenvolvimento de forma insustentável, o que abre brecha para críticas de

ambientalistas a esse modo de produção, com alto avanço tecnológico.

Foi nesse contexto de modernização da agricultura, territorialização do capital e ajustes neoliberais, que surgiu o agronegócio. A partir do discurso dos setores dominantes da sociedade, o agronegócio se constitui no mais importante caminho para a agricultura brasileira, tornando-se paradigmático (FABRINI, 2010, p. 60).

Essa modernização da agricultura representa a modernização capitalista no

movimento constante de auto-expansão e reprodução do capital. “Esse processo gerou

fortes impactos ao mundo do trabalho rural como a destruição de formas tradicionais de

produção e desterritorialização do camponês – expropriação de uma parcela da

população rural” (GOMES; CLEPS JUNIOR, 2006, p. 135).

2.2. As crises do Petróleo e a dinâmica agroindustrial a partir da década de 1970

Durante a década de 1970, com a crise no mercado mundial de açúcar e devido à

pressão a respeito da necessidade de preservação dos recursos naturais e a escassez de

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petróleo (Primeiro choque do petróleo), surgiu à preocupação mundial em relação à

forma de produção e consumo de uma nova fonte de energia. Com isso, tem-se o intento

dos combustíveis alternativos, menos prejudicial ao meio ambiente e que suprisse a

necessidade mundial, podendo ser uma alternativa de substituição da matriz energética

do país.

Embora o etanol como combustível seja considerado uma fonte de energia

limpa, menos prejudicial ao meio ambiente, o seu modo de produção traz inúmeras

implicações em relação às questões ambientais além de expulsar os trabalhadores do

campo e ameaçar a produção de alimentos. Segundo Fabrini (2010), o processo de

modernização da agricultura e a incorporação de novas terras à dinâmica capitalista

provocaram a expulsão de milhares de pequenos proprietários, rendeiros, ribeirinhos,

caiçaras, posseiros, quilombolas, dentre outros camponeses, e indígenas de suas terras.

Mesmo levantando questões que implicam na contestação do modelo

agroindustrial, a demanda por combustíveis cresceu vertiginosamente, sobretudo, os

alternativos devido às crises que ocorreram durante a década de 1970 em relação ao

petróleo. Como forma de incentivar o setor, o IAA junto ao governo federal criou o

Programa Nacional de Melhoramento da Cana-de-açúcar – PLANALSUCAR para

renovar as variedades de cana produzidas no país. Nesse sentido, a importância da

relação indústria e agricultura permitiram o sucesso da produção do etanol graças aos

subsídios creditícios e incentivos fiscais.

O processo de integração indústria e agricultura não se deu à margem das relações entre as grandes empresas, os grupos econômicos e o Estado. Este último atuou, sobretudo, através de subsídios creditícios, incentivos fiscais e toda uma bateria de políticas incentivadoras das exportações (MÜLLER, 1989, p. 18).

Essa integração indústria-agricultura foi denominada por Müller (1989) de

complexo agroindustrial, no qual a produção agrária não se dá apenas na dependência

das solicitações do comércio, mas também de um conjunto de indústrias que tem nas

atividades agrárias seus mercados. Para Müller, o complexo agroindustrial

[...] é uma forma de unificação das relações interdepartamentais com os ciclos econômicos e as esferas da produção, distribuição e consumo, relações essas associadas ás atividades agrárias. Vale dizer que o

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complexo agroindustrial é considerado como uma unidade analítica da acumulação de capital no país (MÜLLER, 1989, p. 23).

Foi nos anos de 1970 e a partir dos desdobramentos economicamente positivos

da união entre indústria e agricultura que o governo brasileiro criou o Programa

Nacional do Álcool – PROÁLCOOL (1975 a 1985) como forma de aumentar a

produção de etanol e incentivar o seu uso. O etanol (ou álcool etílico) é produzido em

usinas a partir de matérias-primas como cana-de-açúcar, milho ou beterraba. No Brasil a

produção se dá pela cana-de-açúcar por ser mais rentável e fácil de produzir, onde é

produzido o álcool anidro e o hidratado. O anidro é utilizado como aditivo em

combustíveis, composto por 99,5% de álcool puro e 0,5% de água. Sua concentração na

gasolina é de 25% de acordo com a EMBRAPA. O hidratado é utilizado como

combustível composto por 96% de álcool puro e 4% de água, utilizado no Brasil desde

1979 (EMBRAPA, 2011).

O etanol é um agrocombustível, ou seja, um combustível renovável, que não

precisa de materiais de origem fóssil, como o petróleo. Seu processo de produção inicia-

se pela moagem da cana, onde se obtém o caldo que contém alto teor de sacarose. O

próximo passo (segunda etapa) é a produção do melaço a partir do aquecimento do

caldo da cana. É nesta etapa que o açúcar é produzido. A terceira etapa é de fermentação

do melaço. Nela fermentos biológicos são acrescidos ao melaço fazendo com que a

sacarose se transforme em etanol. A última etapa é a destilação do mosto fermentado

onde se obtém 96% de etanol e 4% de água.

O etanol produzido pode ser usado na fabricação de bebidas como para

combustível, o que é feito no Brasil. Essa preferência é pelo fato de o etanol produzir

89% menos de CO2 que a gasolina. Além disso, o etanol brasileiro é considerado um

etanol avançado por alcançar as normas de emissão de CO2 definidas pelo Protocolo de

Kyoto. No quadro 2 temos um breve resumo da evolução dos biocombustíveis no

Brasil.

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Quadro 2: Principais fases da produção de biocombustíveis no Brasil (1973-2011)

Momento Característica 1973 Primeiro choque do petróleo

1974 Brasil cria o Proálcool

1977 Adição de 4,5% de etanol à gasolina

1979 Adição de 15% de etanol à gasolina

1980 Segundo choque do petróleo

1983 Carros a etanol representam 90% do total de vendas

1985 Percentual de etanol adicionado à gasolina chega a 22%

1989 Preços do petróleo caem e gasolina se equipara ao etanol

1990’s Etanol passa a representar de 20% a 25% da gasolina

2003 Lançamento dos carros bicombustíveis

2005 É lançado o programa nacional de Biodiesel

2007 Terceiro choque do petróleo

2008 Início da obrigatoriedade do B2

Abril de 2008 Consumo do etanol se equipara ao da gasolina

Julho de 2009 Vigência do B4

Abril de 2011

ANP passa a regular e fiscalizar a produção de etanol, agora considerado um combustível. Percentual na gasolina pode ir de 18 a 25% e é determinado pelo governo

Fonte: Adaptado da ANP, 2011. Org.: CAMPOS, N. L., 2011. A partir dessa evolução, percebemos os interesses dos representantes

agroindustriais canavieiros em tornar o etanol um combustível competitivo na matriz

energética brasileira. Nesse sentido, os investimentos em políticas públicas para o setor

teve significativo aumento e importância a partir da década de 1970.

2.3. Principais fases do Programa Nacional do Álcool - PROÁLCOOL

O Proálcool foi um programa classificado como bem-sucedido oficialmente

implantado no governo Geisel, em 1975, sob período da ditadura militar, com o objetivo

de estimular a produção de álcool em substituição a gasolina, derivada do petróleo e que

estava passando por grave crise econômica, por ser um combustível não-renovável,

podendo esgotar-se. A intenção do programa era reduzir as importações de petróleo. A

produção de álcool a partir da cana-de-açúcar tem maior retorno econômico para os

agricultores por hectares plantados do que pela mandioca, beterraba ou qualquer outro

insumo, e com a baixa do preço do açúcar no mercado internacional, a mudança de

produção, do açúcar para o álcool, tornou-se mais atrativa à economia.

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A implantação do Proálcool foi precedida de um forte debate entre os atores envolvidos, a saber, Cooperativa Central dos Produtores de Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo (Copersucar), Sindicato dos Produtores de Álcool de São Paulo, Cooperativa Fluminense de Produtores de Açúcar e Álcool (Coperflu), Associação Brasileira das Indústrias Químicas, associações de produtores de cana de vários estados e o IAA, além de técnicos da Petrobrás (VIAN, 2003, p. 85).

Houve embates em relação a implantação de destilarias anexas ou autônomas5.

O IAA defendia a expansão canavieira através das destilarias autônomas, incentivando

sua implantação em regiões de fronteira, a fim de trabalhar com a capacidade ociosa nas

usinas. Já a Copersucar era a favor da produção de anidro através das destilarias anexas,

pois as destilarias paulistas trabalhavam com capacidade ociosa e havia excesso de cana

para ser esmagada. Para solucionar esse embate, o documento “Fotossíntese como Fonte

Energética6” sugeriu a implantação do Proálcool utilizando a capacidade ociosa das

usinas paulistas e sua expansão futura via destilarias autônomas, conjugando os

interesses dos defensores do anidro e do hidratado. Assim, permitia-se a ocupação da

capacidade ociosa das usinas paulistas e a expansão de álcool em destilarias autônomas.

O Proálcool é classificado por diferentes fases e períodos econômico no Brasil.

2.3.1. Primeira fase (1975 a 1979)

Sua primeira fase corresponde de 1975 a 1979 onde surgiram os primeiros

automóveis movidos exclusivamente a álcool. Nessa fase o governo brasileiro investiu

fortemente nas destilarias anexas, havendo um crescimento na produção de álcool

anidro para ser misturado à gasolina. Os estados tradicionais na produção açucareira –

São Paulo e Alagoas foram os mais beneficiados e Pernambuco, Rio de Janeiro e Minas

Gerais se destacaram no número de projetos de destilarias anexas segundo Bray,

Ferreira e Ruas (2000). Nessa fase do Proálcool o número de destilarias autônomas e

anexas aumentou juntamente com a produção de álcool, o que objetivou dinamizar o

Proálcool. O IAA incentivou a produção de álcool anidro “estipulando o preço de

5 Destilarias anexas: ou vinculadas às usinas e geralmente localizadas junto a estas; autônomas: ou não-vinculadas a usinas e localizadas nos, ou junto aos grandes centros de consumo (Ver SZMERECSÁNYI, 1979, p. 82). 6 Trabalho publicado por grupos paulistas e alguns representantes da Associação dos Produtores e distribuidores de Gás (ASSOCIGÁS) apregoando as vantagens do álcool como combustível e da cana como sua matéria-prima.

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paridade em 44 litros de álcool por saca de 60 quilos de açúcar, o que fazia com que

fosse indiferente para a usina produzir um ou outro produto”. Foram criadas linhas de

crédito subsidiado e garantias de compra do produto (VIAN, 2003, p. 87).

2.3.2. Segunda fase (1980 a 1985)

Sua segunda fase corresponde ao período do Segundo choque do petróleo (1979)

mais significativo em relação ao seu impacto negativo à economia mundial. Nesse

período houve uma maior necessidade na produção de álcool combustível com foco

maior para a produção do hidratado. Como políticas para o setor foram criados o

Conselho Nacional do Álcool – CNAL e a Comissão Executiva Nacional do Álcool –

CENAL como organismos para agilizar o Proálcool. Os créditos de subsídios

continuaram e foi estipulada uma produção de 60 mil litros/dia para as destilarias

continuarem recebendo os subsídios.

A opção pela produção do álcool em destilarias possui um custo menor do que

nas usinas (cerca de 20%) de acordo com Alcântara Filho e Silva (1981). Foi em sua

segunda fase que o programa deslanchou e obteve sucesso com a crescente produção de

álcool. Nessa fase, o incentivo era à implantação de destilarias autônomas e a produção

de álcool era mais rentável em relação à de açúcar.

O Governo Federal tinha o objetivo de aumentar e garantir a oferta de álcool anidro incentivando a instalação de novas unidades produtoras, dado que com a produção concentrada em destilarias anexas existia o risco do não cumprimento das metas de produção, uma vez que as mesmas podiam produzir mais açúcar, diminuindo o volume de álcool no momento em que o preço do primeiro no mercado externo era mais compensador. Isso ocorria porque as usinas ainda viam o álcool apenas como um subproduto da produção de açúcar (VIAN, 2003, p. 87).

Nessa fase, houve um crescimento de unidades instaladas no Oeste e Nordeste

de São Paulo, em Goiás e no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba. “Entre 1981 e 1985

foram implantadas novas destilarias, principalmente em regiões que eram marcadas pela

presença de latifúndios com pecuária extensiva de corte no estado de São Paulo”

(VEIGA FILHO; RAMOS, 2006, p. 50).

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As usinas tradicionais tinham mais de 50 anos no negócio e os novos

empresários atingiram maiores índices de produção e produtividade. Houve ainda

incentivo por parte dos Governos Federal e Estadual a compra de carros movidos a

álcool, reduzindo o IPI, além da isenção de impostos e taxas para taxistas que optassem

pelo uso de carros a álcool.

2.3.3. A fase da desregulamentação e reestruturação do setor alcooleiro (1985-

1995)

Em sua fase de estagnação (de 1985 a 1995) o Brasil passou a produzir e vender

um grande número de automóveis movidos a álcool, alcançando uma marca de 95,8%

de toda a frota vendida. No mesmo período, o preço do barril de petróleo cai

(“contrachoque do petróleo”), fazendo com que os consumidores voltassem ao uso da

gasolina, o que coincide com um período de escassez de recursos públicos no Brasil

para subsidiar a produção do etanol. Houve uma queda nos índices de produção de

etanol e corte dos subsídios, o que chamamos de desregulamentação do setor, devido

aos baixos preços pagos aos produtores, o que não relaciona com a demanda pelo

combustível por parte dos consumidores, que ainda era estimulada e subsidiada pelo

governo. Vale ressaltar que a ausência de recursos se dava apenas ao setor sendo que o

uso do álcool combustível ainda era incentivado pelo governo.

Como forma de intervenção no setor, a Sociedade Produto Açúcar e Álcool –

SOPRAL iniciou uma discussão a respeito da postura do IAA, que deveria ser uma

agência reguladora, deixando as atividades de comercialização e financiamento a cargo

dos agentes, retirando o controle da comercialização do álcool e do açúcar das

associações das entidades de representação, minimizando os conflitos e denúncias de

favorecimento de certas empresas.

Estados como Mato Grosso, Paraná, Goiás e Mato Grosso do Sul conseguiram o

fim das cotas de produção, liberando a entrada de novos fabricantes e minimizando os

efeitos da crise sobre as destilarias autônomas instaladas.

No início dos anos 90 as características estruturais básicas do complexo canavieiro brasileiro podiam ser assim resumidas: produção agrícola e

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fabril sob controle dos usineiros, heterogeneidade produtiva (especialmente na industrialização da cana), aproveitamento baixo de subprodutos, competitividade fundamentada, em grande medida, nos baixos salários e na expansão extensiva. As diferenças eram enormes quando se comparava o Nordeste com o Centro-Sul. Mas mesmo nessa última região existiam diferenças acentuadas de produtividade e escala de produção (VIAN, 2003, p. 100).

Vian (2003) aponta a desregulamentação do complexo e as tentativas posteriores

de auto-regulação que culminaram com a consolidação da União da Agroindústria

Canavieira de São Paulo – UNICA como entidade de representação dos interesses desse

estado, como principal fato ocorrido na década de 1990. Nesse período surgiram

algumas restrições novas no complexo.

Com medidas de cunho liberalizante, o Estado iniciou a década de 1990, se retirando, gradativamente, do centro das decisões acerca do setor, deixando-o nas mãos da iniciativa privada. Essa retirada do governo do controle das atividades do setor alcooleiro foi o que caracterizou seu processo de desregulamentação, ou seja, processo no qual o Estado deixou de regulamentar a produção, estoque, comercialização e preços do setor (PEREIRA, 2007, p. 59).

Durante sua fase de estagnação, houve uma redução da participação do governo

nas decisões do setor. Isso fez com que ocorressem mudanças na forma de

comercialização e no estabelecimento dos preços do álcool, além da perda da

credibilidade dos carros movidos a álcool e no consumo do produto. A estagnação do

setor foi conseqüência da ausência de políticas públicas especificas para o setor.

Durante o governo Collor, em 1990, o IAA foi extinto. A extinção do IAA foi a

primeira medida de desregulamentação promovida pelo Estado que envolvia o setor, e

mais tarde a liberalização dos preços dos seus produtos. Houve uma estabilidade da

produção e descrédito do setor devido a falta do álcool, o que fez com que muitas usinas

quebrassem e outras mudassem o foco de produção para o açúcar. Ainda em 1990, foi

eliminado o privilégio concedido pelo governo de redução do IPI para automóveis

movidos a álcool e a frota desses veículos diminuiu.

No entanto, o governo brasileiro ainda acreditava na eficiência do álcool como

combustível e com isso passou a estimular sua produção a partir da medida provisória nº

1.662 de 28 de maio de 1998 onde o percentual de adição de álcool anidro a gasolina

tornasse obrigatório de 22 até 24%, e como forma de utilização do álcool combustível

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os preços do etanol e da gasolina foram equiparados. Foi nesse período que houve a

inserção do capital estrangeiro.

Com a extinção do IAA, o controle e o planejamento do setor ficaram a cargo da Secretaria de Desenvolvimento Regional da Presidência da República e, posteriormente, com o Conselho Interministerial do Álcool – CIMA, presidido pelo Ministério da Indústria e do Comércio até 1999, quando passou para o Ministério da Agricultura. A indefinição quanto ao órgão responsável pela regulamentação do setor foi uma das causas da lentidão quanto à adoção de novas regras de gestão e de políticas específicas para o álcool (VIAN, 2003, p. 101).

A crise na produção do álcool combustível afetou a credibilidade do Proálcool,

que entrou numa fase de redefinição (1995 a 2000). A quantidade de cana-de-açúcar

produzida no Brasil manteve estável entre 2 e 3 milhões de toneladas como observado

na tabela 2.

Tabela 2: Brasil – Quantidade produzida de cana-de-açúcar (1990 a 1999)

Anos Produção (toneladas) 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999

262674150 260887893 271474875 244530708 292101835 303699497 317105981 331612687 345254972 333847720

Fonte: Produção Agrícola Municipal (PAM), 2011. Org.: CAMPOS, N. L., 2011.

Toda ação que se tentava atribuir ao setor nesse período não funcionava e

geravam críticas entre os produtores e entidades responsáveis. Uma tentativa de auto-

gestão setorial mal sucedida foi a distribuição de cotas de exportação pelas associações

de produtores (Associação das Indústrias de Açúcar e Álcool – AIAA e SOPRAL).

Segundo Vian (2003), os grupos empresariais desentenderam-se quanto à metodologia

de concessão de cotas para os vários grupos. Tem-se como falha a tentativa de atribuir

cotas a todas as empresas produtoras de açúcar, fazendo com que aquelas que não

tinham excedentes para exportação serem beneficiadas comercializando suas cotas.

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Nessa fase de organização do setor, o Estado tratou de criar entidades de

regulação para fiscalizar as atividades do setor, bem como garantir sua representação no

governo. Nesse sentido, merecem destaque o Conselho Nacional do Açúcar e do Álcool

– CIMA, em 1997, com o objetivo de direcionar políticas para o setor sucroalcooleiro e

a Agência Nacional do Petróleo – ANP, em 1997, que, no que se refere ao álcool,

exerce atividades relacionadas à fiscalização da distribuição e à revenda desse produto

(PEREIRA, 2007, p. 69). Um fator que condicionou no processo de desregulamentação

do setor foi a ausência da intervenção estatal, no qual algumas empresas não

conseguiram se adaptar ao livre mercado, quebrando.

Com a desregulamentação e liberalização dos preços a partir de 1995, surgiram

novas distribuidoras de pequeno e médio porte, aumentando o grau de concorrência

neste mercado. Dentre essas distribuidoras, destacam-se grandes grupos, alguns de

origem familiar, presentes principalmente no Centro-Sul, como Copersucar, Crystalsev,

Cosan, São Martinho, Irmãos Biagi, João Lyra, Tércio Wanderley, Nova América e

Carlos Lyra. Alguns desses grupos estão presentes em Minas Gerais, destacando-se na

produção canavieira.

O quadro 3 resume as principais fases da agroindústria canavieira no Brasil a

partir do final do século XIX até o pós-1990, destacando os principais eventos

deflagradores, as políticas adotas e os resultados, por vezes satisfatórios, outras não.

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Quadro 3: Principais fases do desenvolvimento da agroindústria canavieira do Brasil (Séculos XIX e XX)

Período Eventos deflagradores Políticas adotadas Resultados Final do século XIX

Crises de superprodução. Perda de participação relativa no mercado externo para produtores mais modernos. Emergência do protecionismo europeu (Antilhas, Europa).

Desvalorização cambial, subsídios para implantação de “engenhos centrais”, surgimento de “usinas”.

“Engenhos centrais” falham. Apenas as usinas atingem o objetivo de aumentar a eficiência da produção.

1905/07 Conflitos entre usinas e refinadoras/comerciantes sobre o preço interno do açúcar.

Coligação do açúcar de Pernambuco e Coligação do açúcar do Brasil.

Estabilização dos preços por dois anos-safra. Comportamento oportunista de usineiros de Campos (RJ) inviabilizou a manutenção do acordo.

1929/33 Crise mundial/superprodução de açúcar. Litígios internos (usina x fornecedor, disputa de mercado entre PE e SP).

Pesquisas e incentivo ao álcool. Criação do IAA (cotas de produção, controle dos preços).

Controle da produção nacional e estabilização dos preços.

1939/45 Guerra mundial e problemas com abastecimento de gasolina e açúcar no Brasil.

Incentivo ao “álcool-motor”.

Aumento da produção paulista.

1959/62 Revolução Cubana. Problemas sociais no Nordeste e erradicação dos cafezais em SP.

Tentativa de modernização da produção nordestina.

Exportação para os EUA. Crescimento da produção paulista.

1968/71 Alta dos preços internacionais, otimismo sobre o mercado mundial de açúcar.

Ambicioso programa de modernização agroindustrial financiado pelo IAA.

Expansão da produção paulista.

1974/75 Queda dos preços mundiais do açúcar. Primeiro choque do petróleo.

Lançamento do Proálcool.

Crescimento da produção de álcool anidro.

1979/83 Segundo choque do petróleo. Estimativas quanto ao esgotamento das reservas de óleo.

Reforço do Proálcool. Crescimento da produção de álcool hidratado.

1985/89 Reversão dos preços do petróleo, crise nas finanças públicas e falta de álcool.

Investimentos na produção nacional de petróleo.

Quebra da confiança no álcool combustível.

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Quadro 3: Principais fases do desenvolvimento da agroindústria canavieira do Brasil (Séculos XIX e XX) conclusão

Período Eventos deflagradores Políticas adotadas Resultados

Pós-1990 Extinção do IAA. (Brasil: maior produtor mundial x protecionismo/subsídios, fontes e alternativas energéticas). Superprodução de álcool. Reestruturação produtiva: questão social e ambiental.

Medidas paliativas: pacto pelo emprego, Brasil álcool, bolsa brasileira de álcool. Auto-gestão setorial: Consecana, grupos de comercialização e redução do número de entidades de representação patronal.

Preços e mercados instáveis. Redução no uso de mão-de-obra e intensificação da mecanização da agricultura. Fusões, entrada de empresas estrangeiras e emergência de novas estratégias.

Década de 2000 Surgimento dos automóveis bicombustíveis (flexfuel). Aumento na instalação de unidades produtoras de etanol no país.

Incentivos à produção de etanol. Estudos delimitando áreas com maior aptidão na produção canavieira.

Aumento do uso de etanol como combustível doméstico. Crises na produção canavieira e aumento no preço do etanol.

Fonte: Adaptado de Belik et al. (1998), atualizado pela autora. Org.: CAMPOS, N. L., 2011.

Os eventos ocorridos propiciaram a configuração do cenário agroindustrial

canavieiro no Brasil, que em diferentes momentos econômicos do país teve uma política

específica para solucionar os problemas ocorridos em relação a produção de

combustíveis no país e no cenário mundial.

Nos anos recentes vivenciamos uma nova expansão da monocultura canavieira

no país. Após a fase de desregulamentação e reestruturação do setor na década de 1990,

a dinâmica do complexo canavieiro passou a uma organização setorial em campos

organizacionais. As empresas investiram em maior produtividade e menores custos de

produção. Nesse sentido, houve o surgimento de novos produtos, novos segmentos de

mercado para os já existentes, e novas técnicas de produção, que fez com que a estrutura

do setor alterasse para uma estrutura heterogênea.

Os interesses comuns ao complexo canavieiro, como o papel do álcool como

combustível líquido, tributação, meio ambiente, co-geração de energia e abertura de

mercados externos, permitiram sua estabilidade atual.

[...] o complexo fragmenta-se pelo lado técnico e produtivo e torna-se coeso pelo lado institucional, algo nunca visto anteriormente no Brasil.

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As disputas pelo acesso privilegiado ao Estado e às entidades de representação foram substituídas pelas ações conjuntas e coordenadas no âmbito institucional. Mas ainda persistem algumas disputas regionais que precisam ser resolvidas para que não voltem a causar crises sistêmicas (VIAN, 2003, p. 132).

A fragmentação do complexo agroindustrial em campos organizacionais foi

marcada pelo retorno do capital estrangeiro adquirindo empresas e formalizando

parcerias, visando à produção e a comercialização do açúcar. Durante a implementação

do Proálcool, o objetivo da intervenção estatal era o de equilibrar os mercados evitando

o desabastecimento e as variações bruscas de preços. Na fase pós-desregulamentação, o

que predomina é a concorrência empresarial na busca de inovações tecnológicas e na

produção em terras de boa qualidade. Isso se deve aos custos mais baixos e lucro acima

da média.

Temos nessa fase o investimento por parte das empresas, direcionados à

especialização da produção através do uso dos subprodutos da cana, o que não ocorria

nos anos 1980, onde os investimentos se limitavam em melhores condições técnicas

para seus equipamentos. Vian (2003) aponta como possibilidades de melhor

aproveitamento das economias de diversificação produtiva, a co-geração de energia, que

só deslanchou com a crise energética. A produção de energia pelas usinas já é uma

realidade comum em muitas empresas do Centro-Sul. Muitas empresas mineiras já

inseriram a produção de energia em seu processo produtivo e a utiliza para auto-

sustentação e ainda vendem o excedente.

Outras questões importantes no período pós-desregulamentação do setor foram

as preocupações sociais e ambientais. O Governo do Estado de São Paulo proibiu em

1997 a queima total da cana como forma de conservação e preservação do solo, além

dos prejuízos à saúde. A ação deveria ser implementada em oito anos nas áreas onde a

colheita poderia ser mecanizada e em quinze anos nas áreas onde a topografia impedia o

uso de máquinas colheitadeiras. A questão da queima da cana já foi reduzida

consideravelmente, uma vez que os investimentos na mecanização do plantio e colheita

intensificaram-se. As empresas que respeitassem as medidas em relação à queima da

cana e proibição de mão-de-obra infantil receberão uma certificação “socioambiental”.

Essa certificação é utilizada pelas empresas como uma forma de garantir aos seus

consumidores a compra de produtos que não agridam o meio ambiente, não utilizam

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mão-de-obra infantil e que estão em dia com todos os direitos trabalhistas de seus

funcionários.

Quadro 4: Principais agentes atuantes e desafios da agroindústria canavieira no

Brasil

Agentes envolvidos Desafios

Instituições de política pública

Instituições de pesquisa

Entidades de representação de

interesses

Governos federal e estaduais

Copersucar, universidades, IPT

UNICA, pools de comercialização

Reduzir a heterogeneidade tecnológica na produção agrícola e industrial

ANP

Universidades, montadoras,

distribuidoras de combustíveis e de

energia

Anfavea, sindipeças, UNICA

Definição do papel do álcool e da cogeração com uso do bagaço na matriz energética brasileira

Governos federal e estaduais

Embrapa, sindicatos, universidades

UNICA Reconversão produtiva das terras hoje utilizadas com cana-de-açúcar

Governos federal e estaduais,

instituições privadas

Universidades e laboratórios de

pesquisa

Pools de comercialização

Promover melhora de qualidade do produto final

Governos federal e estaduais,

instituições privadas

Universidades e laboratórios de

pesquisa

Pools de comercialização

Promover a segmentação de mercado visando a atingir nichos de maior valor agregado

Governos federal e estaduais

Embrapa, IPT, INPE Pools de

comercialização

Zelar pela aplicação da legislação ambiental em vigor

Governos federal e estaduais, sindicatos,

universidades

Universidades e laboratórios de

pesquisa

Pools de comercialização

Reciclagem e recolocação da mão-de-obra liberada pelo processo de mecanização da lavoura

Governos federal e estaduais

Universidades e laboratórios de

pesquisa

Pools de comercialização

Melhoria da qualidade dos empregos gerados no setor e ampliação da renda

Governos federal e estaduais

Universidades e laboratórios de

pesquisa

Pools de comercialização

Redução da sazonalidade produtiva

CADE Universidades Pools de

comercialização Controle da concorrência

Governos federal e estaduais

Universidades e laboratórios de

pesquisa

Pools de comercialização

Atingir mercados para produtos de maior valor agregado

Fonte: Adaptado de Vian, 2003. Org.: CAMPOS, N. L., 2011.

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No quadro 4 temos uma síntese dos desafios para a agroindústria canavieira para

a primeira década do século XXI. Alguns desafios apresentados segundo Vian (2003) já

estão sendo desenvolvidos, como o uso do bagaço na produção de energia, preocupação

com as questões ambientais e a reciclagem e recolocação da mão-de-obra liberada pelo

processo de mecanização da lavoura. Em relação à mão-de-obra, alguns estados estão

capacitando esses trabalhadores para se realocarem no setor, o que não implica no

desemprego de alguns, pois não resolverá todo o problema do desemprego no campo.

Foi durante o segundo mandato do governo Fernando Henrique Cardoso (1998-

2002) que surgiram os automóveis bicombustíveis – movidos a álcool e/ou gasolina, os

chamados carros flexfuel. Com isso, os investimentos no setor foram retomados e o

plantio da cana-de-açúcar para a produção do etanol avançou além das áreas tradicionais

(interior paulista e Nordeste), alcançando os cerrados.

Nesse período houve um crescimento significativo de novas unidades além de

unidades reativadas em todo o país. Muitas usinas criaram uma destilaria anexa para a

produção do etanol. Minas Gerais se insere nesse contexto como uma nova área de

expansão da monocultura canavieira no Brasil. Com essa expansão, a produção

canavieira obteve um crescimento no país. A produção de cana-de-açúcar obteve um

crescimento significativo de 2000 a 2009 passando dos 3 milhões de toneladas/ano pra

mais de 6,5 milhões de toneladas/ano (PAM-IBGE, 2011).

Segundo estimativas da SIAMIG para a safra 2011/2012 Minas Gerais aparece

em segundo lugar no ranking de moagem de cana-de-açúcar e produção de açúcar, e

terceiro lugar na produção de etanol como pode ser visualizado nas estimativas

presentes na tabela 3.

Tabela 3: Produção canavieira nos principais estados do Brasil (2011)

MOAGEM DE CANA-DE-AÇÚCAR

PRODUÇÃO DE ETANOL PRODUÇÃO DE AÇÚCAR

Estado Moagem (t) Estado Produção (m³) Estado Produção (t) 1º São Paulo 2º Minas Gerais 3º Goiás 4º Paraná 5º Mato G. do Sul 6º Alagoas

359.483.092 54.530.958 46.612.721 43.320.725 33.519.668 23.100.645

1º São Paulo 2º Goiás 3º Minas Gerais 4º Mato G. do Sul 5º Paraná 6º Mato Grosso

15.350.336 2.894.860 2.552.294 1.845.508 1.619.339

856.971

1º São Paulo 2º Minas Gerais 3º Paraná 4º Alagoas 5º Goiás 6º Pernambuco

23.443.044 3.253.961 3.022.089 2.050.766 1.805.458 1.644.900

TOTAL BRASIL (*) = 624.991.000 TOTAL BRASIL (*) = 27.699.000 TOTAL BRASIL (*) = 38.675.000 (*) Estimativa Fonte: SIAMIG, 2011, adaptada pela autora.

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Em 2011, o setor sucroenergético vive uma queda em sua produção de etanol

devido a crise econômica de 2008 e a seca ocorrida. Com a ausência de investimentos

no setor, as usinas não renovaram seus canaviais, o que deve ocorrer num período de 5

em 5 anos. Isso fez com que a produtividade diminuísse na última safra (2010/2011),

sendo necessário importar etanol para suprir a demanda. De acordo com o Sindicato da

Indústria de Fabricação do Álcool no Estado de Minas Gerais – SIAMIG, o desafio do

setor é manter o etanol como uma fonte energética competitiva frente às demais

existentes. Com o desenvolvimento tecnológico, as empresas estão produzindo além do

já tradicional açúcar e álcool, energia e plástico utilizando os subprodutos da cana

(caldo, bagaço e palha).

2.4. A expansão da agroindústria canavieira em Minas Gerais

A partir da década de 1970, com a utilização do álcool como combustível

alternativo, houve uma necessidade de expandir as áreas de cultivo da cana no Brasil.

Diante do histórico da expansão canavieira para o Centro-Sul, o objetivo desse item é

explicar os principais fatores que fizeram com que Minas Gerais inserisse nesse

processo. Alguns aspectos importantes como as condições favoráveis de clima e solo da

região contribuíram para o aumento do cultivo da cana. Com a Revolução Verde na

década de 1970, teve início o processo de ocupação das áreas de cerrado na região do

Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba. A produção de cana-de-açúcar ainda não era tão

expressiva no estado de Minas Gerais como em São Paulo e posteriormente no Paraná.

Nessa época surgiram as primeiras unidades no estado.

Segundo dados da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo – UNICA, a

produção de cana-de-açúcar aumentou na região Centro-Sul e diminuiu na região

Nordeste na década de 1990. Foi nesse mesmo período que Minas Gerais alcançou um

crescimento na produção da cana, principalmente, nas Mesorregiões do Triângulo

Mineiro/Alto Paranaíba e Sul/ Sudoeste de Minas.

O setor sucroenergético de Minas Gerais tem recebido inúmeros investimentos

de diversas regiões do país, acelerando sua expansão nos últimos anos. Minas Gerais

tornou-se o segundo estado maior produtor de cana-de-açúcar do país, ultrapassando o

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Paraná, ficando atrás apenas de São Paulo7. A moagem de cana no estado atingiu até a

primeira quinzena de fevereiro de 2010 mais de 50 milhões de toneladas, mostrando um

crescimento de 18% em relação à produção da safra de 2008/2009. A previsão para a

safra 2011/2012 é de 51 milhões e meio de toneladas (SIAMIG, 2011). O pequeno

aumento em relação às safras passadas é devido à seca que ocasionou essa baixa

produtividade. A previsão da safra antes da seca era de 58 milhões de toneladas.

Observando o mapa do zoneamento da cana-de-açúcar mostra a aptidão

edafoclimática de Minas Gerais (Mapa 2) para essa cultura. Fazendo um contraponto

com o mapa das usinas no estado (Mapa 3), podemos nos certificar da capacidade das

condições de clima e solo de diversas áreas do estado, áreas estas onde predominam as

unidades sucroenergéticas.

Mapa 2: Minas Gerais – Zoneamento da cultura da cana-de-açúcar (2008)

Fonte: Zoneamento da cana-de-açúcar e do eucalipto: aspectos geofísicos e bióticos, 2008.

7 Dados do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Minas Gerais - SIAMIG.

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Mapa 3: Minas Gerais – Unidades Sucroenergéticas instaladas e projetadas (2011)

Fonte: UDOP, 2011 Org.: CAMPOS, N. L., 2011.

Nota-se que as áreas em que existe maior aptidão para a cultura canavieira (áreas

em azul onde a aptidão é boa e/ou moderada) são onde os empreendimentos estão

instalados, um dos fatores que o Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba lidera o número de

usinas das demais regiões do estado.

2.5. O Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE) e a expansão da monocultura

canavieira

O Zoneamento Ecológico Econômico é uma ferramenta importante no

fornecimento de informações importantes como resposta a problemas bem definidos e

específicos. “É a representação gráfica de um território dividido em zonas homogêneas

quanto a possibilidade de um dado empreendimento humano ser viável sustentável

socioeconômica e ambientalmente” (SEPÚLVEDA, 2008, s/p). De acordo com o

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zoneamento edafoclimático de Minas Gerais, foram determinadas as áreas onde há

aptidão para a cultura da cana-de-açúcar. A mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto

Paranaíba e região central possuem boa aptidão, ao contrário da região Norte do estado,

onde a irrigação torna-se necessária, portanto o cultivo não é eficaz. O ZEE de Minas

Gerais8 foi criado para justificar a expansão desenfreada da monocultura canavieira no

estado – mais precisamente na mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba.

A cana-de-açúcar possui um longo ciclo vegetativo e o clima torna-se

determinante para o sucesso do cultivo. Ela requer temperaturas iguais ou superiores a

21° C, disponibilidade hídrica e meses relativamente secos. O solo também é um fator

importante para determinar onde o cultivo da cana obtém melhor desempenho. No

zoneamento edafoclimático de Minas Gerais foi apresentado os tipos de solos e sua

aptidão agrícola edáfica de acordo com a classe de declividade.

Minas Gerais possui grande área em que o solo presente é o latossolo,

principalmente a mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba que possui uma

declividade suave, onde é verificado o latossolo roxo, sendo caracterizada como “boa”

para a aptidão agrícola da cana-de-açúcar.

O objetivo principal do Zoneamento Ecológico-Econômico - ZEE de Minas

Gerais constituído em 2008 foi o de verificar as áreas que são aptas a cultura da cana-

de-açúcar sem causar maiores danos ao ambiente e prejudicar a qualidade dos solos. O

ZEE corresponde a uma carta de potencialidade social – que indica a possibilidade de

um município em gerar desenvolvimento econômico. A Potencialidade Social “é o

conjunto de condições atuais, medida pelos potenciais produtivo, natural, humano e

institucional que determina o ponto de partida de um município ou uma microrregião

para alcançar o desenvolvimento sustentável” (SEPÚLVEDA, 2008, s/p), e a

Vulnerabilidade Natural – que indica a fragilidade de um ecossistema. Na carta de

vulnerabilidade natural de Minas Gerais foi considerada a integridade da flora e da

fauna; a susceptibilidade dos solos à contaminação; a susceptibilidade dos solos à

erosão; a susceptibilidade geológica à contaminação das águas subterrâneas; a

disponibilidade natural de água e as condições climáticas.

8 O ZEE-MG foi criado em 2008 em um convênio com o governo do estado de Minas Gerais e a Universidade Federal de Lavras e apoio da Fundação João Pinheiro. O ZEE é uma ferramenta cartográfica que caracteriza e define as Zonas de Desenvolvimento segundo as peculiaridades regionais, e áreas estratégicas para Proteção e Conservação da Biodiversidade e para o desenvolvimento sustentável do Estado de Minas Gerais, orientando os investimentos do Governo e da sociedade civil.

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Mapa 4: Minas Gerais - Zoneamento Ecológico Econômico (2008)

Fonte: Zoneamento Ecológico Econômico do Estado de Minas Gerais, 2008.

A união dos dois componentes do zoneamento de Minas Gerais (Carta de

Vulnerabilidade Natural e carta de Potencialidade Social) gerou uma terceira carta onde

as zonas ecológico-econômicas foram caracterizadas a partir do resultado dos estudos

do zoneamento. Como aponta Sepúlveda (2008) no estudo do Zoneamento Ecológico

Econômico de Minas Gerais (Mapa 4) foram caracterizadas seis zonas ecológico-

econômicas no estado.

A Zona 1 corresponde a um alto potencial social em terras de baixa

vulnerabilidade e está presente em grande parte do estado, mostrando sua aptidão para a

cultura da cana. É nesta área que também se concentra as unidades sucroenergéticas

como pode ser visualizado no Mapa 3; a Zona 2 corresponde a um alto potencial social

em terras de alta vulnerabilidade, o que também torna a área apta para a cultura da cana;

a Zona 3 corresponde a uma área de médio potencial social em terras de baixa

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vulnerabilidade; a Zona 4 corresponde a uma área de baixo potencial social em terras de

baixa vulnerabilidade; a Zona 5 corresponde a uma área de médio potencial social em

terras de alta vulnerabilidade; e a Zona 6 corresponde a uma área de baixo potencial

social em terras de alta vulnerabilidade. As zonas 5 e 6 são consideradas inaptas a

cultura da cana.

O zoneamento agroecológico de Minas Gerais traz o grau de aptidão das áreas

para a cultura da cana-de-açúcar e a atividade agrícola presente nessas áreas, como

pastagem, agropecuária e agricultura. É comum a concentração dessas áreas na

mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, reforçando a potencialidade da

mesorregião. O zoneamento agroecológico foi criado para mostrar para a comunidade

internacional as áreas de plantação da cana, devido a pressão internacional que

questionava se o Brasil poderia estar cultivando cana nas áreas da Amazônia.

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3. A CONFIGURAÇÃO DA AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA EM

MINAS GERAIS E AS CONSEQUÊNCIAS DA PRODUÇÃO DE

AGROCOMBUSTÍVEIS NO TRIÂNGULO MINEIRO/ALTO PARANAÍBA

Dizem que todo trabalho É digno e não é verdade

Cortar cana, quebrar pedra, É uma barbaridade,

Trabalho que o homem faz Por pura necessidade.9

Pedro Costa

3.1. A expansão da agroindústria canavieira na Mesorregião do Triângulo

Mineiro/Alto Paranaíba (1980-2009)

O processo de expansão das agroindústrias canavieiras na mesorregião do

Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, assim como em Minas Gerais é considerado recente

frente às demais regiões do país em que a cana-de-açúcar é cultivada. Esse processo

teve um rápido desenvolvimento a partir da década de 2000, período em que houve

grandes incentivos à produção de etanol no estado, e estudos delimitando as áreas com

maior aptidão à produção, o caso do ZEE de Minas Gerais. Ao todo, o estado possui 59

unidades, sendo essas 46 instaladas e 13 projetadas (como demonstrado no Mapa 3 do

Capítulo 2). No quadro 5 apresentamos essas unidades e o município em que as mesmas

estão localizadas.

Quadro 5: Minas Gerais – Relação das Unidades Sucroenergéticas Instaladas e

Projetadas (2011) Nome/ Razão Social Localização

Agropéu Agroindústria de Pompéu S/A Pompéu Alcana Destilaria de Álcool de Nanuque S/A Nanuque Destilaria Alpha Ltda. Cláudio Usina Alvorada Açúcar e Álcool Ltda. Araporã Alvorada do Bebedouro S/A – Açúcar e Álcool Guaranésia Usina Araguari Ltda. * Araguari Destilaria Atenas Ltda. São Pedro dos Ferros Total Agroindústria Canavieira Ltda. Bambuí Bioenergética Vale do Paracatu S/A João Pinheiro Bioenergética Aroeira Ltda. Tupaciguara

9 Cordel da cana: A migração e o trabalho na lavoura de cana em São Paulo, Pedro Costa (2007).

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Quadro 5: Minas Gerais – Relação das Unidades Sucroenergéticas Instaladas e Projetadas (2011) conclusão

Nome/ Razão Social Localização Braspart Bioenergia Usina da Glória Ltda. * Santo Hipólito Bunge - Unidade Frutal - Usina Frutal Açúcar a Álcool S/A Frutal Bunge - Unidade Itapagipe - Usina Itapagipe - Açúcar e Álcool Ltda. Itapagipe Cabrera Central Energética S/A Limeira do Oeste Destilaria Cachoeira Ltda. Tupaciguara Campina Verde Bioenergia Ltda. * Campina Verde Carneirinho Agro Industrial S/A Carneirinho Usina Cerradão Ltda. Frutal Central Energética de Veríssimo Ltda. Veríssimo Usina Coruripe Açúcar e Álcool - Campo Florido Campo Florido Usina Coruripe Açúcar e Álcool - Iturama Iturama Usina Coruripe Açúcar e Álcool - Limeira do Oeste Limeira do Oeste Damfi - Destilaria Antonio Monti Filho Ltda. Canápolis Usina Zanin Açúcar e Álcool Ltda. * Prata Dasa Destilaria de Álcool Serra dos Aimorés S/A Serra dos Aimorés Usina Caeté S/A - Unidade Delta Delta Destilaria Veredas Ind. de Açúcar e Álcool Ltda. João Pinheiro Companhia Energética de Açúcar e Álcool do Triângulo Mineiro Ltda. * Uberlândia Fle Empreendimentos Ltda. * Gurinhatã Ical Energética Ltda. * Felixlândia Ituiutaba Bioenegia Ltda. Ituiutaba Cia. Agrícola Pontenovense Urucânia Destilaria Junivan S/A Senhora de Oliveira LDC Bioenergia S/A Lagoa da Prata Usina Mendonça Agroindustrial e Comercial Ltda. Conquista Usina Monte Alegre Ltda. Monte Belo Agroindustrial Nova Ponte Ltda. * Nova Ponte Central Energética Paraíso S/A São Sebastião do Paraíso Usina Açucareira Passos S/A Passos Agroindustrial Patos de Minas Ltda. Patos de Minas Planalto Agroindustrial Ltda. Ibiá Destilaria Rio do Cachimbo Ltda. João Pinheiro Destilaria Rio Grande S/A Fronteira Destilaria Jeribá * Sacramento Agroindustrial Santa Juliana S/A Santa Juliana Santa Vitória Açúcar e Álcool Ltda. * Santa Vitória U.S.A. - Usina Santo Ângelo Ltda. Pirajuba Sada Bioenergia e Agricultura Ltda. Jaíba Destilaria Senhor do Bonfim Ltda. Varjão de Minas Laginha Agro Industrial S/A - Unidade Triálcool Canápolis Usina Tupaciguara Açúcar e Álcool Ltda. * Tupaciguara Usina Uberaba S/A Uberaba União de Minas Agroindustrial Açúcar e Álcool * União de Minas Destilaria Vale do Paracatu Agroenergia Ltda. Paracatu Laginha Agro Industrial S/A - Unidade Vale do Paranaíba Capinópolis Companhia Energética Vale do São Simão Santa Vitória Companhia Energética de Açúcar e Álcool Vale do Tijuco Ltda. Uberaba Usina Caeté S/A - Unidade Volta Grande Conceição das Alagoas WD Agroindustrial Ltda. João Pinheiro

Fonte: UDOP, 2011. (*) Unidades Projetadas. Org.: CAMPOS, N. L., 2011.

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O Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba se destaca das demais regiões do estado

devido aos aspectos econômicos – maior proximidade com os principais centros

econômicos do país; ambientais – solo propício para a produção, com pouca

declividade, o que permite a inserção de máquinas no processo produtivo e condições

climáticas favoráveis a cultura. São 38 usinas no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba,

sendo essas 27 instaladas e 11 projetadas. Das unidades ainda em fase de instalação,

somente duas usinas não se encontram no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba: Braspart

Bioenergia Usina da Glória Ltda. no município de Santo Hipólito, e Ical Energética

Ltda. em Felixlândia.

A região do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba lidera a produção canavieira

estadual. Além das condições climáticas favoráveis é uma região estratégica por sua

localização próxima dos grandes centros do país como São Paulo, Belo Horizonte e

Brasília, e obteve resultados favoráveis ao cultivo segundo o zoneamento de Minas

Gerais.

De acordo com o portal Rede Energia10, Minas Gerais receberia, até 2013, 56

novas usinas de álcool, 36 delas seriam implantadas até 2009, o que não ocorreu na

realidade. Segundo Carvalho (2009), até o ano de 2007 foram implantadas 30 unidades

em Minas Gerais, sendo 16 no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, 3 no Sul/ Sudoeste de

Minas, 3 no Noroeste de Minas, 2 no Vale do Mucuri, 2 na Zona da Mata, 2 na Central

Mineira, 1 no Oeste de Minas e 1 no Norte de Minas. Em 2011, já são registradas 59

unidades, sendo 38 (63,3%) no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, número que

ultrapassa a quantidade de usinas existentes em Minas Gerais no ano de 2007. O gráfico

1 permite visualizar as unidades por mesorregião, onde elas estão distribuídas em quase

todas as mesorregiões do estado. Nota-se que apenas a mesorregião Vale do Rio Doce

não possui participação na produção canavieira e também não possui nenhuma usina

instalada e/ou projetada, o contrário da mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto

Paranaíba que possui a maior produção e maior número de unidades instaladas e/ou

projetadas, o que mostra o dinamismo desse setor no país, que possui um alto grau de

crescimento num curto espaço de tempo.

10 MINAS Gerais vai receber 56 novas usinas de álcool até 2013. Portal Rede Energia. 02 out. 2008. Disponível em: < http://redeenergia.org/minas-gerais-vai-receber-56-novas-usinas-de-alcool-ate-2013.html>. Acesso em 12 jul. 2010.

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Gráfico 1: Minas Gerais – Usinas instaladas e projetadas por Mesorregião (2011)

Fonte: UDOP, 2011. Org.: CAMPOS, N. L., 2011.

Devido aos incentivos do uso do etanol como combustível e a instalação de

usinas, o número das mesmas no Triângulo teve um aumento considerável. No mapa 5

podemos observar a evolução da instalação das usinas na década de 1980. Nessa década

instalaram-se cinco unidades, Usina Alvorada, no município de Araporã, Destilaria

Cachoeira em Tupaciguara, Trialcool em Canápolis, Usina Santo Ângelo em Pirajuda e

Usina Mendonça em Conquista.

Algumas unidades representadas no mapa 5 foram instaladas ainda na década de

1970. Em 1980 o número de usinas não era tão expressivo como atualmente e a inserção

do etanol como combustível estava em fase inicial. A década de 1990 se apresentou

pouco expressiva no cenário das agroindústrias canavieiras. Nesse período, houve a

instalação de duas unidades, uma em Conceição das Alagoas (Usina Caeté – Unidade

Volta Grande) e a outra em Iturama, a primeira unidade do Grupo Tércio Wanderley na

região, como pode ser observado no mapa 6.

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Mapa 5: Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba – Unidades Sucroenergéticas (1980 -

1989)

Fonte: UDOP, 2011. Org.: CAMPOS, N. L., 2011.

Na década de 1980 eram apenas 5 unidades, sendo algumas delas instaladas

ainda na década de 1970. Nesse período, o número de usinas não era tão expressivo

como atualmente e a inserção do etanol como combustível estava em fase inicial. A

década de 1990 se apresentou pouco expressiva no cenário das agroindústrias

canavieiras. Nesse período, houve a instalação de duas unidades, uma em Conquista e a

outra em Iturama, a primeira unidade do Grupo Tércio Wanderley na região, como pode

ser observado no mapa 6.

A partir da década de 2000 houve a instalação de outras 20 unidades na

mesorregião, totalizando as 27 que estão em operação até o presente momento. Isso

ganhou notoriedade no momento em que as discussões ambientais ganharam destaque

no cenário mundial, onde são propostas formas de se pensar em alternativas energéticas

menos prejudiciais ao meio ambiente. Comparado a gasolina, o etanol emite 89%

menos CO2, sendo considerado uma opção mais viável, além de não derivar de um

subproduto esgotável como o petróleo.

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Mapa 6: Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba – Unidades Sucroenergéticas (1980 -

1999)

Fonte: UDOP, 2011. Org.: CAMPOS, N. L., 2011.

Mapa 7: Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba – Unidades Sucroenergéticas (1980 -

2009)

Fonte: UDOP, 2011. Org: CAMPOS, N. L., 2011.

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No mapa 7 temos a espacialização dessas unidades na década atual (2000),

período em que houve maior número de unidades instaladas no estado, sobretudo na

mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba. As 27 unidades em operação na

mesorregião foram implantadas entre os anos de 2000 a 2009, não tendo registros de

novas unidades que iniciaram operação após esta data, embora algumas unidades

projetadas previam iniciar as operações em 2010 e 2011.

3.2. Os principais grupos econômicos atuantes e a presença do capital

estrangeiro no setor canavieiro

Diante a crise no setor alcooleiro na década de 1990 e a baixa produtividade que

se agravou com a crise internacional de 2008 que reduziu os recursos financeiros,

muitas empresas nordestinas faliram e vários projetos tiveram seus cronogramas

adiados ou suspensos. A produção da cana-de-açúcar no período concentrava-se na

região Nordeste e no estado de São Paulo. Com a crise, os grupos nordestinos

tradicionais direcionaram seu capital para as novas áreas de expansão da atividade

canavieira. Nesse contexto, Minas Gerais recebeu filiais desses grupos que implantaram

novas unidades e/ou adquiriram unidades já existentes, formando parcerias e ampliando

seu capital. De acordo com o Diágnóstico de Impactos de grandes Projetos em Direitos

Humanos, (2009) essa situação “[...] implica num processo de desterritorialização e

reterritorialização do agronegócio canavieiro no Brasil, provocando toda uma cadeia de

impactos no território nacional”.

Os principais grupos nordestinos (re)territorializados em Minas Gerais originam

de Alagoas, assim como a mão-de-obra migrante para trabalhar nas lavouras. São eles:

João Lyra, Carlos Lyra, Tércio Wanderley e João Tenório (adquirido pela Bunge, em

2007).

Na figura 1 temos o deslocamento espacial desses grupos nordestinos para

Minas Gerais. Nota-se sua concentração na mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto

Paranaíba. É possível perceber que essa introdução de grupos nordestinos está presente

em toda região Centro-Sul do país principalmente.

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Figura 1: Movimento espacial do capital agroindustrial canavieiro do Nordeste para outras regiões do Brasil (2007)

Fonte: OLIVEIRA, A. M. S., 2007.

O Grupo João Lyra, sediado em Alagoas, possui ramificações no estado da

Bahia e Minas Gerais. Totaliza dez empresas no ramo da agroindústria canavieira e de

fertilizantes e adubos. No setor canavieiro o grupo possui cinco usinas: Laginha, Uruba

e Guaxuma, em Alagoas, além da Triálcool (Canápolis) e Vale do Paranaíba

(Capinopólis), em Minas Gerais.

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O Grupo Carlos Lyra é o segundo maior grupo do setor canavieiro no país e

segundo maior produtor de açúcar. Responsável pelo açúcar Caeté, também nome de

suas unidades, uma localizada no município de Delta e outra em Conceição das

Alagoas.

Em relação ao número de unidades no estado, o Grupo Tércio Wanderley é o

que possui maior representatividade. Responsável pelas Usinas Coruripe, sua matriz

localiza-se no município de mesmo nome, em Alagoas. Em Minas Gerais, temos a

Coruripe Filial Iturama, Coruripe Filial Campo Florido, a Coruripe Filial Limeira do

Oeste, a Carneirinho Agro industrial S/A e a União de Minas Agroindustrial Açúcar e

Álcool ainda em fase de implantação. A usina Coruripe corresponde a uma empresa

familiar de capital familiar fechado e existe desde 1925. Faz parte do grupo Tércio

Wanderley desde 1941.

Além das cinco unidades no estado, a empresa de Iturama possui a Coruripe

Energética, que gera energia elétrica a partir do bagaço da cana, reforçando a nova

estratégia das usinas na produção de energia, mudando o conceito de sucroalcooleiro

pra sucroenergético, conforme abordado no capítulo 1. Essa energia produzida é capaz

de abastecer a empresa e sua produção excedente é comercializada junto a Cemig. O

grupo pretende estabelecer uma central energética em cada unidade, evitando futuros

racionamentos de energia.

O grupo João Tenório (TRIUNFO) instala-se na região em 2003 com a

construção da Agroindustrial Santa Juliana, adquirida em 2007 pela Bunge. Foi a partir

da década de 2000 que a introdução do capital estrangeiro obteve maior participação nas

empresas mineiras. A abertura ao capital estrangeiro deve-se as crises econômicas

ocorridas no setor. Segundo a Siamig, a participação estrangeira no setor corresponde a

20% da produção, em torno de 10 milhões de toneladas de cana.

No quadro 6 apresentamos os principais eventos ocorridos devido a inserção do

capital estrangeiro em Minas Gerais a partir da década de 2000, no qual grupos

estrangeiros passaram a atuar no estado com a compra e/ou parceria com unidades

mineiras.

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Quadro 6: Inserção do capital estrangeiro na aquisição de unidades em Minas

Gerais (2001-2011)

Ano Evento 2001 1) Coinbra (Dreyfus) compra a Usina Luciânia, em Lagoa da Prata.

2006 1) Adecoagro compra a Usina Monte Alegre, em Monte Belo; 2) Infinity compra a Usina Alcana, em Nanuque; 3) Cargil em sociedade com a Moema inaugura a Usina Itapagipe.

2007 1) Bunge compra a Usina Santa Juliana; 2) Infinity compra a Destilaria Cepar, em São Sebastião do Paraíso.

2008

1) Em parceria com a Santa Elisa fundos de private equity inauguram a Usina Ituiutaba – CNAA; 2) Dow Chemical anuncia em parceria com a Crystalsev a instalação de uma alcoolquímica em Santa Vitória.

2009

1) Fundo de private equity americano se associa a CMAA – Vale do Tijuco, em Uberaba; 2) ADM em parceria com o Grupo Cabrera inaugura usina em Limeira do Oeste; 3) Bunge anuncia compra de 100% das Usinas Frutal e Itapagipe do Grupo Moema; 4) Petrobrás anuncia entrada no setor de produção com a compra de 40% da Total agroindústria, em Bambuí.

2010 1) Bertin anuncia compra de 70% da Infinity com duas usinas em Minas Gerais.

2011 1) British Petroleum compra CNAA; 2) Parceria Dow/ Mitsui.

Fonte: SIAMIG, 2011. Org.: CAMPOS, N. L., 2011.

O capital estrangeiro em Minas Gerais tem origem inglesa, estadunidense e

argentina principalmente, tendo grupos japoneses e chineses no setor. Ele se instala no

setor de infraestrutura e de commodity agrícola-energética e se constituem a partir da

construção e aquisição de usinas, compra de terras e controle da tecnologia, bem como a

expansão de redes transnacionais (Diagnóstico de Impactos de Grandes Projetos em

Direitos Humanos, 2009, p. 33).

O quadro 7 (anexo) apresenta as unidades localizadas no Triângulo Mineiro/Alto

Paranaíba, no que discrimina informações pertinentes quanto ao ano de instalação das

unidades, a capacidade produtiva de cana, álcool (anidro e hidratado) e açúcar, o grupo

ao qual pertence e a origem do capital. Com ele, podemos observar a participação do

capital estrangeiro na mesorregião, que já é uma tendência no setor no Brasil. Os dados

são aproximados quanto à capacidade de produção das usinas e algumas unidades não

foram possíveis encontrar informações.

O ano de instalação das unidades projetadas é uma previsão, visto que algumas

unidades previam instalação anterior a 2011 como a Usina Araguari, a Campina Verde,

a Da Prata, a Floresta do Lobo e a Santa Vitória. A unidade Da Prata está com seu

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projeto paralisado devido à ausência de cumprimento às normas do licenciamento

ambiental.

A produção de álcool da Coruripe Filial Carneirinho ocorre em parceria com a

Coruripe Filial Iturama, que conta também com a Coruripe Energética, que gera energia

elétrica a partir do bagaço da cana. Essa energia produzida é capaz de abastecer a

empresa e sua produção excedente é comercializada junto a Cemig.

A presença dessas unidades gera inúmeras mudanças no território onde elas se

concentram. Aumento no preço da terra, expansão para outros territórios e expulsão de

trabalhadores do campo são alguns exemplos de impactos negativos da expansão

canavieira. A usina Coruripe em Campo Florido recebe cana de municípios como Prata,

Veríssimo, Pirajuba, Conceição das Alagoas, além do próprio município. Algumas

usinas fazem contratos com produtores locais de arrendamentos de terra, que tem

gerado um grande impacto a esses produtores devido a queda nos preços da tonelada da

cana a partir da crise de 2008. Com isso, há uma desvalorização das terras e as usinas

compram com facilidade por possuírem direito de eventual compra pelos contratos. No

item seguinte trataremos de alguns impactos em relação ao arrendamento de terras para

as usinas no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba.

3.3. Impactos da expansão da monocultura canavieira na agricultura e pecuária

de Minas Gerais

A produção canavieira foi uma das primeiras atividades produtivas e econômicas

no Brasil desde o início da colonização, primeiramente voltada à produção de açúcar, e

ainda configura-se como uma atividade de grande importância no cenário econômico

nacional. O Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar no mundo o que propiciou

experiências na produção de agrocombustíveis.

Desde então, houve um processo de expansão das lavouras de cana-de-açúcar

recente (década de 1970), voltada à produção do álcool como combustível, com a

expressão do território dos agrocombustíveis, por ser utilizado como combustível

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“limpo”, menos poluente e inesgotável por não derivar de um recurso natural não-

renovável como o petróleo.

Para que a produção de etanol como combustível ocorresse de forma mais

significativa, foi a partir da década de 1970 e com a criação do Proálcool, um programa

de substituição em larga escala dos derivados de petróleo criado pelo governo federal,

que essa produção ganhou importância e o número de unidades de produção aumentou

significativamente no país.

A produção de cana-de-açúcar ainda não era tão expressiva no estado de Minas

Gerais como em São Paulo e posteriormente no Paraná. Com a modernização produtiva

da agricultura e com os incentivos do estado surgiram às primeiras unidades de

produção em Minas Gerais. Como aponta Pessôa (1982), essa modernização da

agricultura trouxe apenas desenvolvimento econômico, mas não desenvolvimento rural,

pois está pautada no aumento de produção e produtividade.

[...] a modernização da agricultura não conduz, necessariamente, ao desenvolvimento rural e sim ao desenvolvimento econômico, porque está diretamente interessada no aumento da produção e produtividade; não leva em conta o homem, elemento importante nesta transformação e em todo processo de desenvolvimento também, pois as condições sócio-econômicas das pessoas que participam diretamente no processo de produção constituem preocupações do desenvolvimento rural (PESSÔA, 1982, p. 20).

A partir dessa discussão, temos as implicações que o agronegócio gera no

campesinato a partir da intensificação da monocultura canavieira e seu modo de

produção, que necessita de áreas cada vez maiores para o seu desenvolvimento. Minas

Gerais se inseriu nesse contexto por possuir áreas extensas a essa produção, além de

condições climáticas e os tipos de solo favoráveis que contribuíram para essa expansão.

Com isso, teve início o processo de ocupação das áreas de cerrados na região do

Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba.

Com o surgimento dos automóveis bicombustíveis (flexfuel), e os constantes

aumentos no preço da gasolina a partir da década de 2000, o número de unidades

produtivas teve um significativo aumento em todo o país, assim como na região

estudada e a tendência é a implantação de mais unidades e extensão das lavouras de

cana em todo o estado.

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Para esse segmento econômico funcionar é preciso organizar um complexo

produtivo que envolva desde o plantio da cana, da colheita, do armazenamento e

transporte até chegar às agroindústrias onde a cana é processada e a matéria prima

transformada.

A expansão canavieira tem aumentado de forma acelerada nos últimos anos,

incorporando novas áreas de cultivo. Isso reflete nas discussões a respeito da ameaça à

produção de alimentos onde sua área cultivada está diminuindo devido o

desenvolvimento de empresas do agronegócio. No mapa 8 temos as principais empresas

exportadoras atuantes no Brasil.

Mapa 8: Brasil – Produção de cereais, leguminosas e oleaginosas e empresas

mundiais (2007)

Fonte: MDIC e IBGE, 2007. Org.: OLIVEIRA, A. U.; FARIA, C. S., 2007.

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Nota-se a concentração dessas empresas mundiais na região do Triângulo

Mineiro/Alto Paranaíba, revelando a forte presença agroindustrial de vários setores do

agronegócio. Nessa discussão que permeia a expansão do agronegócio e a monocultura

canavieira, a produção de alimentos é que tem se discutido pelo campesinato em relação

a ameaça que o agronegócio representa a ela. No que diz respeito a produção agrícola da

região, milho, soja, entre outros, a área plantada das lavouras de cana-de-açúcar obteve

grande salto frente as outras culturas, que se mantiveram estáveis ou diminuíram suas

áreas de cultivo, e grande participação econômica segundo o IBGE.

O que ocorre é uma “tendência de diminuição das variedades produzidas, com o

avanço e predomínio das monoculturas ligadas ao agronegócio” (Diagnóstico de

Impactos de grandes Projetos em Direitos Humanos, 2009, p.61). Esses dados podem

ser observados na tabela 4, que traz a variação da área plantada das principais culturas

da região, destacando a cana com o maior saldo positivo frente as demais e o arroz com

expressiva redução em sua área plantada.

Tabela 4 – Variação da área plantada (%) de cultivos selecionados na Mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (2007-2009)

Culturas

2007 2009 Variação da área plantada 2007-2009 (em %)

Área plantada (em ha)

Área plantada (em %)

Área plantada (em ha)

Área plantada (em %)

Cana-de-açúcar Soja

Milho Sorgo

Algodão Feijão Arroz

290.237 544.254 401.719 42.480 10.992 35.562 10.996

21,72 40,73 30,06 3,17 0,82 2,66 0,82

467.258 556.195 377.816 57.726 3.213 50.233 5.244

30,78 36,64 24,89

3,8 0,21 3,3

0,34

60,99 2,19 -5,95 35,88 -70,76 41,25 -52,3

Total da Lavoura

Temporária 1.336.204 100 1.517.685 100 13,58

Fonte: PAM-IBGE, 2007 e 2009/ AFES, 2009, adaptada pela autora. Org.: CAMPOS, N. L., 2011.

Como apontado no estudo sobre os impactos de grandes projetos em direitos

humanos, a expansão da cana no cerrado pode estar ocorrendo em áreas agrícolas ou

remanescentes de vegetação nativa e as regiões que estão sendo afetadas por essa

expansão já apresenta grande queda na produção de alimentos, como já ocorreu no

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Estado de São Paulo onde a produção da cana superou a de cultivos como milho, feijão,

café, arroz e laranja.

A partir da análise dos mapas referentes a área plantada com cana-de-açúcar no

Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (Mapas 9, 10, 11, 12 e 13), percebemos a evolução

dessa área no período de 1990 a 2009. Temos que essa evolução tende a se expandir

cada vez mais em diversos municípios que antes não apresentava participação na

produção canavieira.

Mapa 9: Evolução da área plantada de cana-de-açúcar no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (1990)11

Fonte: PAM-IBGE, 2011. Org.: CAMPOS, N. L., 2011.

11 Os municípios que apresentam a variável zero não possuem registro de informação sobre a área plantada, segundo os dados da Produção Agrícola Municipal, IBGE.

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Mapa 10: Evolução da área plantada de cana-de-açúcar no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (1995)

Fonte: PAM-IBGE, 2011. Org.: CAMPOS, N. L., 2011

Mapa 11: Evolução da área plantada de cana-de-açúcar no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (2000)

Fonte: PAM-IBGE, 2011. Org.: CAMPOS, N. L., 2011.

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A evolução da área plantada com cana-de-açúcar foi branda até a década de

2000, incorporando poucos municípios nesse processo produtivo. Essa evolução

moderada deve-se ao fato de a região ainda não possuir muitos empreendimentos

canavieiros, que teve seu desenvolvimento após a década de 2000 como já mencionado.

Com o crescente número de unidades, as áreas plantadas na mesorregião aumentaram

significativamente, incorporando novos municípios na cultura da cana-de-açúcar.

Registra-se que no período de 2005 a 2009 houve um grande aumento da área

plantada, principalmente na área central da mesorregião, onde houve a inserção da

monocultura em municípios que até então não haviam lavouras de cana e a forte

concentração em municípios onde a monocultura já era acentuada no início dos anos

1990, como Frutal, Iturama, Tupaciguara e Uberaba. Municípios como Prata e

Uberlândia só entraram nesse cenário a partir de 2005.

Mapa 12: Evolução da área plantada de cana-de-açúcar no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (2005)

Fonte: PAM-IBGE, 2011. Org.: CAMPOS, N. L., 2011.

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Mapa 13: Evolução da área plantada de cana-de-açúcar no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (2009)

Fonte: PAM-IBGE, 2011. Org.: CAMPOS, N. L., 2011.

Muitos municípios possuem área plantada mas não unidade(s) de produção, o

que mostra que as lavouras extrapolam os limites municipais. O gráfico 2 mostra essa

evolução da área plantada com cana-de-açúcar na mesorregião no período de 1990 a

2009, bem como o número de usinas instaladas no mesmo período. Essa evolução pode

ser melhor visualizada através dos mapas que discriminam os municípios que possuem

lavouras canavieiras.

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Gráfico 2: Evolução da área plantada de cana-de-açúcar e número de usinas

instaladas na Mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (1990 a 2009)

Fonte: PAM-IBGE, 2011. Org.: CAMPOS, N. L., 2011.

Temos que a expressão da produção canavieira (Mapas 13, 14, 15, 16 e 17) é

semelhante a da área plantada no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba. A mesma análise é

válida tendo que a produção se acentuou na área central da mesorregião e obteve um

forte crescimento nos municípios de Frutal, Iturama, Tupaciguara e Uberaba. Diversos

municípios produzem cana-de-açúcar para usinas localizadas em sua proximidade,

fazendo com que a área plantada e a produção se desenvolva em grande parte da

mesorregião.

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Mapa 14: Evolução da produção de cana-de-açúcar no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (1990)12

Fonte: PAM-IBGE, 2011. Org.: CAMPOS, N. L., 2011.

Mapa 15: Evolução da produção de cana-de-açúcar no Triângulo Mineiro/Alto

Paranaíba (1995)

Fonte: PAM-IBGE, 2011. Org.: CAMPOS, N. L., 2011.

12 Os municípios que apresentam a variável zero não possuem registro de informação sobre a área plantada, segundo os dados da Produção Agrícola Municipal, IBGE.

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Mapa 16: Evolução da produção de cana-de-açúcar no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (2000)

Fonte: PAM-IBGE, 2011. Org.: CAMPOS, N. L., 2011.

A produção canavieira aumentou assim como a área plantada a partir da década

de 2000. O aumento da produção está relacionado ao desenvolvimento dos automóveis

bicombustíveis e sua crescente oferta no mercado. A partir do ano de 2005, a frota de

automóveis bicombustíveis aumentou significativamente e a população passou a

adquirir os automóveis com essa tecnologia, fazendo com que o consumo do etanol

ultrapassasse o da gasolina em 2009 e 2010. Em 2011, de cada 100 veículos vendidos

no Brasil, 90 possuem a tecnologia flexfuel (SIAMIG, 2011). Mesmo com as crises, a

baixa produção da safra 2011/2012 e o aumento no preço do etanol, a preferência por

veículos com a tecnologia flexfuel ainda é crescente.

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Mapa 17: Evolução da produção de cana-de-açúcar no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (2005)

Fonte: PAM-IBGE, 2011. Org.: CAMPOS, N. L., 2011.

Mapa 18: Evolução da produção de cana-de-açúcar no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (2009)

Fonte: PAM-IBGE, 2011. Org.: CAMPOS, N. L., 2011.

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Nesse sentido, novas áreas passaram a participar da produção canavieira no

Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba. O município de Uberaba, conhecido

tradicionalmente pela pecuária e o gado zebu, vem se destacando na produção

canavieira, o que desencadeia a crítica a expansão nas áreas de pastagem. O que deve

ser analisado é até que ponto a expansão das lavouras de cana pode ser notada em áreas

de agriculura e de pastagem do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba. A região se destaca

na produção de carne e leite, o que pode prejudicar a demanda dessa produção tanto em

quantidade quanto no custo final do produto. Esse proceso teve início a partir da década

de 1990, com a substituição das áreas de pastagem por lavouras de cana-de-açúcar, e o

impacto é ainda maior se analisado os municípios separadamente. No período em que se

iniciou a expansão da monocultura canavieira, foi observado um decréscimo no efetivo

bovino da região, assim como na área de pastagem onde o gado está requerendo menos

espaço pelos confinamentos.

Tabela 5: Área de agricultura, pecuária e florestas substituídas pela cana-de-açúcar (ha.) (2007-2008)

Atividades 2007 2008

MG GO MS MT MG GO MS MT Agricultura Pecuária Florestas

93.883 25.656

739

59.442 25.703

0

26.823 18.395 1.119

15.134 8.440 1.892

91.959 48.284

876

108.072 34.514

0

38.908 48.465

0

17.761 10.555 2.385

Total 120.306 85.559 46.446 25.524 141.190 143.255 87.434 30.735 Fonte: CANAST-INPE, 2007-2008 Org.: CAMPOS, N. L., 2011.

A tabela 5 mostra como a cana-de-açúcar vem incorporando novas áreas para o

seu cultivo. A área correspondente a pecuária em Minas Gerais dobrou de 2007 para

2008 e no Mato Grosso do Sul o aumento foi ainda maior. Em relação a agricultura, o

estado de Goiás é o que apresenta maior impacto, tendo quase 50% de sua área

substituída pela expansão canavieira.

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3.3.1. Impactos da monocultura canavieira sobre o trabalho

Além das implicações do modo de produção dos agrocombustíveis com a

agricultura e a pecuária, queremos também enfocar neste trabalho a sujeição dos

trabalhadores no plantio e beneficiamento da cana, um trabalho degradante e exaustivo

que subordina o trabalhador a uma forma de vida precária. Os trabalhadores da cana-de-

açúcar, em sua maioria, são constituídos de migrantes, que saem do seu local de origem

de maneira esporádica para trabalhar nas lavouras.

Essa demanda populacional nos municípios canavieiros faz com que o poder

local e demais instituições públicas tenham que lidar com um número maior de

equipamentos sociais e serviços públicos nas áreas da saúde, educação, habitação,

segurança, saneamento básico entre outros e geralmente elas não tem aumento de

recursos públicos para lhe dar com essa situação. A presença dos migrantes modifica o

modo de vida da população desses municípios. Em relação a moradia, muitos dividem

“residências coletivas” com cerca de 30 homens em uma residência que comportaria no

máximo seis pessoas, de acordo com o Diagnóstico de Impactos de Grandes Projetos

em Direitos Humanos (2009). Essa situação prejudica a saúde dos trabalhadores que

fica comprometida devido a falta de higiene local.

A região do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba recebe trabalhadores

principalmente da região Nordeste do país e do Vale do Jequitinhonha em Minas

Gerais. A figura 2 mostra o fluxo da mão-de-obra que saem dessas regiões em direção

as áreas canavieiras do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba.

Analisando o processo migratório, observamos que o fluxo de trabalhadores tem

origem dos estados do Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco,

Alagoas, Sergipe e Bahia, além da mesorregião do Vale do Jequitinhonha, que são

consideradas regiões pobres por serem atingidas pelas secas.

Esses trabalhadores que em sua maioria são provenientes dessas regiões do páis,

geralmente são ou já foram camponeses praticantes de agricultura de subsistência em

pequenas áreas rurais. Eles encontram nos canaviais uma forma de complementação de

renda para o sustento de suas famílias. “A maioria dos trabalhadores migrantes para os

canavias do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba vem de Alagoas, estado citado em todos

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os municípios visitados pela pesquisa” (Diagnóstico de Impactos de Grandes Projetos

em Direitos Humanos, 2009, p. 83).

Figura 2: Fluxo da mão-de-obra para a agroindústria canavieira no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (2009)

Fonte: AFES, 2009.

Os trabalhadores do corte da cana estão cada vez mais dependentes desse

emprego precário e temporário. Muitos trabalham na lavoura por não terem outra

oportunidade e recebem salários muito baixo, além de possuir despesas como aluguel,

alimentação, sobrando pouco para a sobrevivência. Os estudos de Mendonça (2010),

apresentado no Relatório de Direitos Humanos a partir de relatos dos trabalhadores13 do

corte da cana em alguns municípios do estado de São Paulo registra a indignação

desses trabalhadores para com as usinas que exploram sua mão-de-obra. Eles relatam

situações de exploração e precariedade não só por meio do transportes até a região e a 13 As entrevistas foram realizadas em setembro de 2009.

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situação dos alojamentos, mas que chegam a ser enganados durante a pesagem e/ou na

qualidade da cana cortada, onde paga-se R$3,00 pela tonelada cortada que custaria R$

5,00.

Além dessa exploração da mão-de-obra, a falta de assistência médica é um fato

comum nas usinas. Muitos trabalhadores morrem de exaustão ou em acidente de

trabalho sem receber assistência, além de inalar agrotóxicos e a cinza oriunda da queima

da cana. Uma forma que algumas usinas encontraram para evitar que os trabalhadores

morressem de exaustão foi a distribuição de estimulantes com sais minerais. Essa

medida só faz com que esses trabalhadores tenham um melhor condicionamento físico,

não solucionando os principais problemas vividos no corte da cana.

Esse trabalho, ainda que precário, se faz necessário na vida de muitas pessoas

que não encontram outras oportunidades e se deparam sempre com essa realidade. A

maioria desses trabalhadores são jovens, com menos de 45 anos de idade e homens que

tem que suportar a dura rotina do trabalho, que em sua maioria encontra-se no corte da

cana.

Essa questão da precariedade no trabalho não é diferente em Minas Gerais. No

início do processo de expansão canavieira na década de 1980, o trabalho nos canaviais

era visto como uma oportunidade de ganhar dinheiro. De acordo com o Presidente do

Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares de Centralina e Araporã, a

instalação de uma usina fazia com que muita gente se deslocasse para trabalhar nelas, e

hoje (após a crise de 2008) o setor parou.

Quando chegou a cana... chegou a coisa do futuro pra se ganhar dinheiro, chegou pra assim tudo. Então todo mundo começou a... No início, pro cê tê uma noção, pessoas jovens que tava estudando foi trabalha na cana é... crianças [...] Tudo foi maravilhoso nos anos oitenta, mas a partir daí eu creio que hoje (eu já vou pular pros dias de hoje) nós tamo é com problema, o setor tá... parô de ganhá milhões de dinheiro, e os trabalhadores tão aí a deus-dará14 (ALMEIDA; MORAIS; RESENDE, 2009, p. 214).

O que mais preocupa os trabalhadores das lavouras canavieiras é a mecanização

das colheitas que pretende atingir 100% da área plantada no estado até o ano de 2014,

de acordo com a Deliberação Normativa COPAM nº 133/09. Com isso, muitos poderão 14 Entrevista com Eurípedes Batista Ferreira, Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares de Centralina e Araporã, In: História & Perspectivas, 2009, p. 214.

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ficar sem emprego. Hoje (2011) cerca de 80% da colheita já é mecanizada no estado.

Segundo Mendonça (2009) “a expansão e a crescente mecanização no setor canavieiro

têm gerado maior exploração da força de trabalho, através de formas precárias de

arregimentação, contratação, moradia e alimentação”. Com a mecanização, o

trabalhador está sujeito a necessidade de exercer mais sua força de trabalho para

competir com os índices de produção das máquinas.

Como forma de minimizar os problemas sociais decorrentes da mecanização, foi

criado pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais –

FETAEMG, o Plano Nacional de Qualificação do Setor Sucroalcooleiro financiado com

recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador, a fim de preparar 25 mil trabalhadores

para serem recolocados no setor. Os trabalhadores que participarão do curso serão

indicados pelas empresas. Em Minas Gerais, 43 empresas aderiram o curso de

qualificação, sendo 66% delas localizadas no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba –

Campo Florido, Conceição das Alagoas, Fronteira, Frutal, Itapagipe, Iturama, João

Pinheiro, Monte Belo, Pompéu, Santa Juliana e Serra dos Aimorés.

O projeto, apesar de sua importância, não resolverá todo o problema. Para isso,

cabe ao governo criar vagas em outros setores para absorver essa mão-de-obra

desempregada, e em relação aos migrantes, incentivar os municípios de origem a criar

postos de trabalho para que esse pessoal não necessite sair de seu local de origem para

complementar sua renda na busca do sustento de suas famílias.

Recentemente, em maio de 2011, houve uma Audiência Pública organizada

pelas Comissões do Trabalho, da Previdência e da Ação Social e de participação

popular da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, no município de Araçuaí (Vale do

Jequitinhonha-MG) para discutir a situação dos trabalhadores da região (30 a 35% da

mão-de-obra adulta) que se deslocam para trabalhar no corte da cana em São Paulo.

Nesta audiência, foram discutidos formas de geração de emprego para essas pessoas em

suas cidades, a fim de evitar que elas se desloquem para trabalhar nos canaviais.

Segundo o deputado André Quintão (PT), “a mecanização do corte de cana pode se

tornar uma boa oportunidade para fixar os trabalhadores em suas próprias cidades,

desde que eles tenham opções de emprego e renda na região” (CEDEFES, 2011).

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3.3.2. Impactos da produção canavieira sobre a produção rural familiar e

camponesa e nos assentamentos rurais do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba

Outro problema da expansão da cana e a produção dos agrocombustíveis é que

essas lavouras canavieiras não atingem apenas áreas de grandes produtores agrícolas.

Tem-se que essa expansão está atingindo áreas destinadas à produção camponesa. A

expansão em Minas Gerais fez ressurgir inquietações que ultrapassam as problemáticas

discutidas ao longo do desenvolvimento desse trabalho, tais como os impactos da

produção de etanol sobre o cultivo de alimentos, uma vez que a monocultura consiste

numa ameaça potencial à produção familiar, no caso, aos assentamentos de reforma

agrária. Minas Gerais é o estado da Região Sudeste onde mais se concentram

assentamentos rurais.

Segundo os dados do Banco de Dados da Luta pela Terra – DATALUTA foram

criados 371 assentamentos rurais em Minas Gerais no período de 1986 a 2009. Só no

ano de 2009 foram criados 22 assentamentos no estado, sendo 8 deles localizados na

mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba. A mesorregião em questão possuía

82 assentamentos nesse período. Durante os governos Fernando Henrique Cardoso

(1994-2002) e Luis Inácio Lula da Silva (2003-2010), foram criados mais

assentamentos em todo o país, principalmente devido a uma política de incentivos e

como forma de minimizar as lutas dos movimentos sociais. Durante o governo FHC

foram criados 4.304 assentamentos no Brasil sendo 187 em Minas Gerais e no governo

LULA foram criados 3.218 assentamentos no Brasil, sendo 161 em Minas Gerais. Esses

números não revelam a verdadeira realidade, sabendo que nem todos os assentamentos

foram criados no período e sim regularizados, a fim de apresentarem um número maior

de assentamentos criados.

Os assentamentos, em sua maioria, são frutos de ocupações de terras realizadas

por movimentos sociais.

As ocupações sempre foram responsáveis pelo aumento do número de assentamentos implantados. A maior parte dos assentamentos rurais é fruto das ocupações de terra. Com a diminuição das ocupações, também diminuiu o número de assentamentos, por essa razão o governo teve que maquiar os números de 2001, como a Folha de São Paulo denunciou amplamente. Para atingir a meta de 2001, o Ministério do Desenvolvimento Agrário teve que contar famílias que só seriam

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assentadas em 2002 e, pior, incluiu ainda milhares de famílias que haviam preenchido as fichas da “reforma agrária pelo correio”. Contabilizou também as famílias que compraram terra por meio do Banco da Terra, e as terras resultantes de regularização fundiária das áreas de posseiros. E chamou tudo isso de reforma Agrária. (FERNANDES, 2001, s/p).

Isso ocorre devido às pressões realizadas pelos movimentos para obter a

desapropriação das terras a fim de Reforma Agrária. Após a conquista da terra a luta

não termina. Falta apoio político e infraestrutura nos assentamentos e ainda há conflitos

e perseguições entre assentados e latifundiários. Além dessas questões, alguns

assentados estão tendo que lutar contra o modelo produtivo do agronegócio.

De acordo com a pesquisa realizada por Souza (2010) sobre a dinâmcia

agroindustrial no município de Campo Florido-MG, observou-se que tem ocorrido a

adoção do arrendamento de lotes no PA Nova Santo Inácio Ranchinho devido à chegada

da Usina Coruripe no município. Nesse local é possível visualizar o processo de

territorialização do capital sucroalcooleiro envolvendo áreas de pequena produção. A

produção de cana, por meio do arrendamento dos lotes, pode garantir remuneração

suficiente para assegurar o sustento das famílias no assentamento. Entre os fatores que

contribuíram para a configuração deste quadro no assentamento, destacam-se as

dificuldades de acesso ao crédito e a ausência de políticas públicas adequadas à reforma

agrária, capazes de impulsionar a geração de renda para a agricultura familiar. Mesmo

sendo permitido o arrendamento dos lotes para o plantio da cana, algumas famílias

ainda tentam resistir à implantação desta cultura, permanecendo com as atividades

relacionadas à pecuária para a produção leiteira.

Além de grande produtor de cana-de-açúcar, o Brasil também possui destaque

nas produções de laranja, milho, soja, café, e trigo. Essas produções se dão

principalmente para a exportação, o que faz com que a economia do país se desenvolva

possitivamente. Esse modelo agroexportador ao qual o Brasil está inserido faz com que

o mesmo ganhe destaque em sua produção, movimente a economia do país além de

gerar grandes lucros. Aliás, isto constrói a representação de modernidade e

sustentabilidade, deixando de lado os impactos negativos que esse modelo gera sobre a

natureza e as condições de trabalho.

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Mas, o que não podemos deixar de questionar é até que ponto essas extensas

monoculturas afetam as pequenas produções, como a agricultura familiar, que já é

comprovada a principal fornecedora de alimentos à mesa dos brasileiros.

Além disso, embora o etanol como combustível seja considerado uma fonte de

energia limpa, menos prejudicial ao meio ambiente, o seu modo de produção traz

inúmeras implicações em relação às questões ambientais além de expulsar os

trabalhadores do campo e ameaçar a produção de alimentos. Segundo Fabrini (2010), o

processo de modernização da agricultura e a incorporação de novas terras à dinâmica

capitalista provocaram a expulsão de milhares de pequenos proprietários, rendeiros,

ribeirinhos, caiçaras, posseiros, quilombolas, dentre outros camponeses, e indígenas de

suas terras.

O pequeno produtor está cada vez mais cercado pela cana e muitos deles optam

em arrendar as suas terras para essa monocultura. Segundo o presidente do Sindicato

dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares de Centralina e Araporã, 89% das

terras na região desses municípios é arrendada. A própria usina possui pouca lavoura e

arrendam terras num período de dez anos, no qual ela é responsável pelo plantio da

cana. Nesses municípios não existem mais pequenos produtores. O pequeno produtor

está na cidade e sua terra arrendada pra usina.

[...] hoje nós não temo pequeno mais. O pequeno tá aqui na cidade, ele tá... tá aposentado (aposentou) e ficô só na praça... e alugô a terra dele, e tá só na praça... pescando, não tão fazendo nada. Então, a usina monopolizou. Ela é dona de tudo praticamente... é a prefeita, delegada, juiza do município...15 (ALMEIDA; MORAIS; RESENDE, 2009, p. 216).

Os pequenos produtores sofrem pressão diante da instalação de uma usina, e

acabam se submetendo a vender ou arrendar suas terras por não conseguir produzir.

Segundo o estudo, os agricultores familiares do PA Água Vermelha em Iturama ficaram

ilhados pelas plantações de cana. A gravidade do problema fez com que ao agricultores

do assentamento passassem a utilizar agrotóxicos para proteger suas plantações devido

as pragas que migravam das plantações de cana (Diagnóstico de Impactos de Grandes

15 Entrevista com Eurípedes Batista Ferreira, Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares de Centralina e Araporã, (História & Perspectivas, 2009).

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projetos em direitos humanos, 2009, p. 74). Isso fez com que o preço da produção

aumentasse, consequentemente aumentando o valor final do produto comercializado.

Essas discussões nos levam a uma série de qustões que implicam em até que

ponto o desenvolvimento do agronegócio, no caso as agroindústrias e investimento

energético do país possa ameaçar e gerar impactos e/ou prejuízos às outras atividades

econômicas no campo, como a agricultura (familiar/camponesa) e afetando o modo de

vida camponês.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O agronegócio tem causado bastante discussão nos debates da questão agrária

atual no que diz respeito aos impactos gerados pelas monoculturas, que necessitam cada

vez mais de extensas áreas para sua produção, apropriando de territórios camponeses,

promovendo a exclusão do pequeno produtor rural no desenvolvimento do capital.

Nesse sentido, esse trabalho teve como principal objetivo compreender a recente

expansão da monocultura canavieira no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba e suas

implicações na produção de agrocombustíveis.

A conceituação e caracterização do agronegócio permitiram compreender o seu

desenvolvimento no país a partir do processo de industrialização da agricultura, que

subordina a natureza ao capital. Com isso, cria-se o conceito de Complexo

Agroindustrial (CAI) em substituição ao termo Complexo Rural. Nesse processo temos

o nascimento das agroindústrias, devido ao investimento tecnológico, mecanização e

outros fatores que modernizaram o campo. A agricultura atual não se distingue tanto da

agricultura do passado. Ambas são voltadas ao lucro e acumulação de capital, sendo a

do passado para o desenvolvimento econômico das metrópoles e a atual para o

desenvolvimento econômico do país.

Concordamos com Porto Gonçalves (2011), que a modernização tecnológica

que estamos vivendo hoje, com o agronegócio e seus equipamentos modernos é um

mito, pois o Brasil do século XVI já exportava produtos manufaturados como o açúcar.

O país já era moderno tecnologicamente, o que distinguia era que essa tecnologia era

colocada para nos explorar e, não nos servir, nos fazendo questionar essa ideologia de

modernidade que vivenciamos hoje.

A vocação agrícola do Brasil fez com que ele tornasse o maior exportador do

mundo de algumas espécies de cereais, grãos, frutas. Essa vocação já existia, e sempre

voltada aos interesses do capital. O interesse que abordamos nesse trabalho é em relação

ao desenvolvimento energético que despontou o setor canavieiro nesse processo.

O planejamento agroindustrial, respectivamente o das agroindústrias canavieiras,

mostra as estratégias do capital em organizar o setor para a produção do etanol, que

estava nascendo como um dos principais subprodutos da cana-de-açúcar deixando o

açúcar em segundo plano. O uso do etanol como combustível surgiu como uma opção

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de nova fonte energética para superar as crises em relação ao petróleo e os constantes

aumentos do preço do barril. Consideramos que a produção do etanol a partir da cana-

de-açúcar se mostrou mais vantajoso econômico e ambientalmente, fazendo com que o

Brasil despontasse como pioneiro nessa produção.

No primeiro capítulo, buscamos demonstrar como o agronegócio canavieiro vem

se desenvolvendo no país e criando novos produtos além do etanol. Com isso, o setor

passou de sucroalcooleiro para sucroenergético, que abrange as demais produções que

estão iniciando o seu desenvolvimento nas usinas e destilarias de todo o país.

A abordagem territorial permitiu compreender como o agronegócio se configura

em nossa sociedade e as relações de poder. Utilizando o termo “território dos

agrocombustíveis”, temos que a apropriação do território pelas lavouras canavieiras é a

principal causa dos conflitos e disputas territoriais no campo brasileiro, como tratamos

no terceiro capítulo.

No intuito de compreender as políticas públicas desenvolvidas ao setor

canavieiro, fizemos um recorte do histórico da cana-de-açúcar no Brasil e como se deu

seu desenvolvimento, antes voltado ao açúcar e aguardente, até os dias atuais onde

temos a produção do etanol, energia, dentre outros subprodutos ainda em

desenvolvimento.

Na década de 1930 quando se inicia a criação das políticas públicas e uma maior

preocupação com a produção canavieira, com a criação do IAA (1933) que foi

importante como órgão controlador do mercado de açúcar e incentivando a produção do

anidro no país. Por volta da década de 1960 e com o movimento expansionista das

agroindústrias, surgiram preocupações a respeito dos impactos, problemas ambientais e

a forma insustentável da produção de agrocombustíveis. O Proálcool foi a política

pública em nível nacional mais importante para o setor, no início da década de 1970,

que em sua primeira fase objetivou a produção de álcool para ser adicionada à gasolina

e a segunda fase caracterizada pela produção de álcool como combustível, utilizado nos

veículos movidos exclusivamente a álcool hidratado. O programa, embora visto como

bem sucedido, gerou inúmeras críticas no que diz respeito ao aumento da área de cultivo

da cana-de-açúcar, enquanto a de alimentos se manteve inalterada, despertando as

críticas devido aos problemas sociais gerados no campo.

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De acordo com as diferentes visões, o Proálcool só teria sucesso e seria viável se

compatível com uma política energética global e com uma política agrária e agrícola

que considerasse todas as conseqüências do crescimento desse programa. Os problemas

em relação ao modelo de produção do agronegócio é que instigaram o objetivo principal

desse trabalho, que analisou os impactos da produção canavieira na mesorregião do

Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (MG).

Em relação a expansão canavieira em Minas Gerais, partimos do Zoneamento

Ecológico Econômico como uma das principais ferramentas utilizada pelo governo

estadual para justificar o aumento da monocultura canavieira no estado. Ele induz ao

pensamento de que a região é apta a produção canavieira, causando mínimos impactos

em relação a outras regiões.

Nesse sentido, um dos principais objetivos da pesquisa foi buscar as explicações

da expansão das monoculturas, como elas transformam o território e impacta no modo

de vida camponês e a reforma agrária. Destacamos as condições dos trabalhadores nas

lavouras de cana, que muitas vezes são camponeses e se submetem a esse tipo de

trabalho por ser uma vítima do modelo capitalista imposto à sociedade e que mesmo

precarizado é uma forma de trabalho do qual dele muitos são dependentes, seja para o

sustento das famílias, seja como complementação de renda. Assim, a análise do avanço

do agronegócio nos permitiu constatar a sua influencia nas condições políticas,

econômicas e sociais do país, além de criar uma gama de situações a serem estudadas

devido a sua expansão.

Diante do processo de compreensão do modelo do agronegócio no Brasil,

passamos por diversos aspectos que em sua maioria consideramos prejudicial para as

pessoas ligadas ao campo, seja o camponês ou o agricultor familiar. A inserção de

monoculturas, como a da cana-de-açúcar, vem prejudicando a produção rural familiar e

camponesa que está perdendo espaço, perdendo o seu território (desterritorializando),

além de ter que se submeter a esse modelo agrícola voltado a geração de lucro e

acumulação de capital, por não conseguir competir com um oponente forte como o

agronegócio.

Assim, surge a preocupação em relação à produção de alimentos, que em

algumas áreas tem diminuído tanto em extensão quanto em sua variedade. As

microrregiões de Frutal, Ituiutaba e Uberaba possuem municípios onde a cana-de-açúcar

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já representa entre 60% e 90% da área plantada, comparando a outras agriculturas e a

pecuária. O modelo do agronegócio traz enormes prejuízos não só para os trabalhadores

rurais, mas para toda a sociedade brasileira. A incorporação de terras para a

monocultura canavieira já está sendo observada no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, e

é um dos principais problemas dos conflitos sociais em Minas Gerais.

A mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba encontra-se na área de

Cerrado e é tradicionalmente marcada pela pecuária e mais recentemente, pela cultura

de grãos. A “modernização” da agricultura foi a incentivadora na consolidação do

agronegócio nos Cerrados, transformando-o em um espaço da expansão da fronteira

agrícola. Com isso, a agricultura na região se reestruturou como agronegócio em

detrimento das outras formas de cultivares, como a agricultura familiar.

Vimos diferentes tipos de impactos relacionados à expansão canavieira no

Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, impactos relacionados aos assentamentos rurais, a

agricultura familiar, ao campesinato, ao trabalho, dentre outros. O êxodo rural também

se configura como vítima da expansão canavieira na região, onde os produtores rurais se

deslocaram para a cidade ou para outras regiões, por não conseguirem se manter no

campo, devido aos embates com a produção canavieira e as dificuldades de produzir em

suas terras.

Devemos considerar que esse desenvolvimento energético gerou

desenvolvimento econômico e lucro ao país. O problema é que esse desenvolvimento

não levou em consideração o desenvolvimento social, e não podemos deixar de

questionar até que ponto esse desenvolvimento econômico é positivo, tendo que esse

lucro venha a ser necessário ser utilizado na exportação de alimentos, uma vez que o

país opte pelo modelo do agronegócio, o que é inadmissível a um país com grande

vocação agrícola.

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ANEXO

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Quadro 7: Caracterização das agroindústrias canavieiras implantadas no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (2011)

Nome Razão Social Localização Ano de

instalação/previsão

Capacidade de Produtividade/Processamento

(ton. Cana/dia)

Capacidade de Álcool Anidro e Hidratado (litros/dia)

Álcool Anidro (L)

Álcool Hidratado

(L)

Açúcar (ton.)

Grupo Econômico Origem do capital

Alvorada Usina Alvorada Açúcar e Álcool Ltda.

Araporã 1972 5.800 300.000 16.342.000 53.971.000 81.139 Grupo Irmãos

Franceschi Brasil

Araguari * Usina Araguari Ltda. Araguari 2009 UN UN UN UN UN Concrenor Ind. Com. Participações LTDA

Brasil

Bioarueira Bioenergética Aroeira Ltda.

Tupaciguara 2010 − − − − −

Maurílio Biagi, Maubisa, José Rubens

Bevilaquia, Saci e Perplan.

Brasil

Bunge - Unidade Frutal

Bunge - Unidade Frutal - Usina Frutal Açúcar a Álcool S/A

Frutal 2007 5.479 − − − − Moema/Bunge Brasil-EUA

Bunge - Unidade Itapagipe

Bunge - Unidade Itapagipe - Usina Itapagipe - Açúcar e Álcool Ltda.

Itapagipe 2006 − − 79.632.000 Não produz Não

produz Moema/Bunge Brasil-EUA

Cabrera Energética

Cabrera Central Energética S/A

Limeira do Oeste

2009 2.191 − − − − Cabrera/ ADM Brasil-EUA

Cachoeira Destilaria Cachoeira Ltda. Tupaciguara 1984 − − − − − − −

Campina Verde * Campina Verde Bioenergia Ltda.

Campina Verde 2010 UN UN UN UN UN

CNAA- Comp. Nac. de Açúcar e Álcool,

Carlyle/Riverstone, DiMaio Capital, Global

Brasil-EUA

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Quadro 7: Caracterização das agroindústrias canavieiras implantadas no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (2011) continuação

Carneirinho Carneirinho Agro Industrial S/A

Carneirinho 2008 4.109 54.246 − − − Tércio Wanderley Brasil

Cerradão Usina Cerradão Ltda. Frutal 2009 4.109 − − − − J.P.

Queiróz/Pitangueiras Brasil

CEV Central Energética de Veríssimo Ltda.

Veríssimo 2008 5.479 90.000 − − − Santo Ângelo Brasil

Coruripe - Filial Campo Florido

Usina Coruripe Açúcar e Álcool - Campo Florido

Campo Florido 2002 6.000 − 92.208.000 4.605.000 205.623 Tércio Wanderley Brasil

Coruripe - Filial Iturama

Usina Coruripe Açúcar e Álcool - Iturama

Iturama 1994 14.000 600.000 106.248.000 13.138.000 282.005 Tércio Wanderley Brasil

Coruripe - Filial Limeira do Oeste

Usina Coruripe Açúcar e Álcool - Limeira do Oeste

Limeira do Oeste

2005 9.722 − 50.419.000 49.863.000 Não

produz Tércio Wanderley Brasil

Damfi Damfi - Destilaria Antonio Monti Filho Ltda.

Canápolis 2007 − − − − − Antônio Monti Filho

LTDA Brasil

Da Prata * Usina Zanin Açúcar e Álcool Ltda.

Prata 2009 UN UN UN UN UN Zanin Brasil

Delta Usina Caeté S/A - Unidade Delta

Delta 2000 16.000 630.000 40.477.000 43.024.000 358.868 Carlos Lyra Brasil

Floresta do Lobo * Companhia Energética de Açúcar e Álcool do Triângulo Mineiro Ltda.

Uberlândia 2010 UN UN UN UN UN Emerson Fittipaldi Brasil

Gurinhatã * Fle Empreendimentos Ltda.

Gurinhatã 2012 UN UN UN UN UN FLE Empreendimentos

LTDA Brasil

Ituiutaba Ituiutaba Bioenegia Ltda. Ituiutaba 2009 6.849 − − − − British Petroleum

compra CNAA Inglaterra

Mendonça Usina Mendonça Agroindustrial e Comercial Ltda.

Conquista 1904 6.000 − − − 61.908 Grupo Mendonça Brasil

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Quadro 7: Caracterização das agroindústrias canavieiras implantadas no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (2011) continuação

Monte Alegre Usina Monte Alegre Ltda. Monte Belo 2006 5.280 168.000 Não produz 29.962.000 69.867 Adecoagro Argentina

Nova Ponte * Agroindustrial Nova Ponte Ltda.

Nova Ponte 2014 UN UN UN UN UN Bunge EUA

Patos de Minas Agroindustrial Patos de Minas Ltda.

Patos de Minas − − − − − − −

Planalto Planalto Agroindustrial Ltda.

Ibiá 2007 − − Não produz 14.721.000 Não

produz Carolo Bortolo Brasil

Rio Grande Destilaria Rio Grande S/A Fronteira 2010 1.761 55.199.000 Não produz 55.199.000 Não

produz Grupo Vale do Ivaí Brasil

Sacramento * Destilaria Jeribá Sacramento 2012/2013 UN UN UN UN UN Carlos Lyra

Santa Juliana Agroindustrial Santa Juliana S/A

Santa Juliana 2007 4.722 − 30.956.000 19.176.000 Não

produz Bunge EUA

Santa Vitória * Santa Vitória Açúcar e Álcool Ltda.

Santa Vitória 2009 UN UN UN UN UN Crystalsev - Dow

Chemical Brasil-EUA

Santo Ângelo - USA

U.S.A. - Usina Santo Ângelo Ltda.

Pirajuba 1984 1.805 138.888 Não produz 73.774.000 97.476 Santo Ângelo Brasil

Triálcool Laginha Agro Industrial S/A - Unidade Triálcool

Canápolis 1988 7.200 450.000 44.517.000 59.477.000 95.179 João Lyra Brasil

Tupaciguara * Usina Tupaciguara Açúcar e Álcool Ltda.

Tupaciguara − UN UN UN UN UN British Petroleum Inglaterra

Uberaba Usina Uberaba S/A Uberaba 2008 4.383 155.000.000 Não produz 155.000.00

0 Não

produz Balbo Brasil

União de Minas * União de Minas Agroindustrial Açúcar e Álcool

União de Minas

2014 UN UN UN UN UN Tércio Wanderley Brasil

Vale do Paranaíba Laginha Agro Industrial S/A - Unidade Vale do Paranaíba

Capinópolis 2001 − − 2.367.000 80.655.000 71.207 João Lyra Brasil

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Quadro 7: Caracterização das agroindústrias canavieiras implantadas no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (2011) conclusão

* Unidades Projetadas UN – Unidade Nova (-) Sem informação Fonte: UDOP, 2011/ SUCRAL, 2011/ SIAMIG, 2011. Org.: CAMPOS, N. L., 2011.

Vale do São Simão Companhia Energética Vale do São Simão

Santa Vitória 2009 − 41.416.000 − 41.416.000 98.118 Andrade Brasil

Vale do Tijuco Companhia Energética de Açúcar e Álcool Vale do Tijuco Ltda.

Uberaba 2010 5.479 180.000.000 − − Não

produz Antonio Kandir, Banco

Pactual Brasil

Volta Grande Usina Caeté S/A - Unidade Volta Grande

Conceição das Alagoas

1996 10.000 500.000 127.182.000 22.430.000 239.744 Carlos Lyra Brasil