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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ PAULO ROBERTO SOLEDADE JÚNIOR MODELO DE ADESÃO ENTRE A SUPERFÍCIE DA PONTA DE UM MICROSCÓPIO DE FORÇA ATÔMICA E UMA SUPERFÍCIE HIDROFÍLICA EM NANO ESCALA Macapá 2009

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ PAULO ROBERTO … · MODELO DE ADESÃO ENTRE A SUPERFÍCIE DA PONTA ... Angélica do Carmo, Judite da Cruz e Hildeberto ... Figura 8- Gráfico da medida

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ

PAULO ROBERTO SOLEDADE JÚNIOR

MODELO DE ADESÃO ENTRE A SUPERFÍCIE DA PONTA DE UM

MICROSCÓPIO DE FORÇA ATÔMICA E UMA SUPERFÍCIE HIDROFÍLICA EM

NANO ESCALA

Macapá

2009

PAULO ROBERTO SOLEDADE JÚNIOR

MODELO DE ADESÃO ENTRE A SUPERFÍCIE DA PONTA DE UM

MICROSCÓPIO DE FORÇA ATÔMICA E UMA SUPERFÍCIE HIDROFÍLICA EM

NANO ESCALA

Trabalho de conclusão de curso apresentado como parte dos requisitos para a conclusão de curso em licenciatura Plena em Física da Universidade Federal do Amapá.

Orientador: Prof. Dr. Robert Ronald Maguiña Zamora.

Macapá

2009

PAULO ROBERTO SOLEDADE JÚNIOR

MODELO DE ADESÃO ENTRE A SUPERFÍCIE DA PONTA DE UM

MICROSCÓPIO DE FORÇA ATÔMICA E UMA SUPERFÍCIE HIDROFÍLICA EM

NANO ESCALA

Aprovada em:

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________ Orientador: Dr. Robert Ronald Maguiña Zamora

Universidade Federal do Amapá

______________________________________________________ Dr. Henrique Duarte da Fonseca Filho

Universidade Federal do Amapá

______________________________________________________ Dr. José Reinaldo Cardoso Nery Universidade Federal do Amapá

Aos meus Pais, Paulo e Silvia, que sempre me deram apoio.

AGRADECIMENTOS

Ao meu Orientador, Prof. Dr. Robert Ronald Maguiña Zamora que me incentivou

e apoiou durante o processo de elaboração deste trabalho.

A meus Pais, Silvia e Paulo, que sempre estiveram presentes e me apoiaram

durante meu percurso acadêmico.

A meus tios, Angélica do Carmo, Judite da Cruz e Hildeberto da Cruz, que me

ajudaram na jornada do curso.

A meus amigos do curso, que sempre me apoiaram e incentivaram.

A Universidade Federal do Amapá, Colegiado de Física pela oportunidade

oferecida.

“Penso e penso durante meses e anos e por vezes em noventa e nove vezes a conclusão é errada. No entanto, acredito que a centésima acerto.” (Albert Einstein).

RESUMO

Esse TCC consiste no modelo teórico do contato entre a ponta, modelada neste

trabalho como uma ponta esférica (de raio 100nm), de um microscópio de força

atômica (AFM) e a superfície hidrofílica de uma amostra. A superfície analisada

geralmente é coberta por moléculas de água devido à condensação capilar, que

contribuirá na força de interação (atrativo-repulsiva+repulsiva) entre a ponta do AFM

e a superfície da amostra. Os resultados experimentais mostram que a contribuição

atrativa (força de adesão) é muito maior que a contribuição repulsiva. Neste trabalho,

o modelo de adesão para baixas umidades relativas e a identificação das forças que

atuam na adesão foi obtido com ajuda deste resultado experimental.

Palavras-chave: Nanotecnologia, Fricção, Tribologia.

ABSTRACT

This work is the theoretical model of the contact between the tip, modeled in this work for a spherical tip (radius' 100nm), an atomic force microscope (AFM) and hydrophilic surface of the sample. The surface is considered generally covered by molecules of water due to capillary condensation, this event vain contribute in the strength of interaction (attractive-repulsive + repulsive) between the tip of the AFM and the surface of the sample. The experimental results show that the attractive contribution (adhesion force) is much larger than the repulsive contribution. In this work, the model of adhesion to low wetness and on identification of forces acting in adhesion was obtained with the help of this experimental result. Keywords: Friction, Tribology, Nanotechnology.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1- representação do funcionamento de um AFM .......................................................... 17

Figura 2- Convolução da ponta-superfície ............................................................................... 18

Figura 3 - Curva de força descrevendo a aproximação e o afastamento entre a ponta

e a amostra em um experimento para verificar a adesão. .............................................. 20

Figura 4 - Átomo a uma distância D da superfície ........................................................... 21

Figura 5 - Átomo próximo a um anel da superfície .......................................................... 22

Figura 7 - Um disco de raio igual a x próximo a uma superfície plana. ........................ 24

Figura 6 - Esfera de raio R a uma distância D de uma superfície. ................................ 24

Figura 8- Gráfico da medida experimental da força de adesão entre a ponta do AFM

e a superfície de mica obtido no Laboratório de Microscopia da PUC-RJ. .................. 26

Figura 9 - Gráfico da força F(r) e do potencial variando com a distância (r). .............. 28

Figura 10- Esquema da ampliação da ponta para o modelo. ......................................... 30

Anexos

Figura A.1- Esquema do mecanismo stick-slip ........................................................................ 38

Figura A.2- Força de atrito em função do logaritmo da velocidade de varredura .................... 39

Figura A.3- Mecanismo stick-slip na presença de moléculas de água ..................................... 39

SIMBOLOGIA A, B - Constantes característica do potencial de Lennard Jones entre dois átomos x, y - Coordenadas de posição z(x,y) - Coordenada topográfica topografia N/m - Newton por metro

- Força máxima de adesão entre o cantilever e a amostra D - Distância entre a ponta e amostra r - Posição de um átomo na superfície da amostra em relação um átomo da ponta

- Potencial de Lennard Jones

- Potencial de interação entre um átomo e uma superfície plana - Densidade numérica de átomos da superfície da amostra

- Termo atrativo do potencial de interação entre um átomo e uma superfície plana

- Termo repulsivo do potencial de interação entre um átomo e uma superfície plana

d - Número de átomos contidos no disco - Potencial disco-superfície

- Potencial entre uma esfera e uma superfície R - Raio da esfera / raio da ponta

- Densidade numérica de átomos da esfera (da ponta do AFM) n, m - Números inteiro que se ajustam de acordo com a escala de interação H(%) - Umidade relativa do ar nN - Nanonewton

- Distância correspondente ao potencial mínimo - Potencial mínimo

- Constate de Hamaker - Força elástica aplicada pelo cantilever

K - Constante elástica do cantilever

- Força que atua entre a ponta do AFM e a superfície (adesão+ repulsão) - Força resultante entre a ponta o cantilever e a amostra

- Aproximação de Langbein da área efetiva

- Força de atrito

- Coeficiente de atrito

- Força normal a superfície - Força de adesão total

FSS - Força de adesão direta entre as superfícies sólidas

- Força capilar - Tensão superficial da água condensada entre a ponta e a amostra

- Ângulo estático da amostra - Ângulo estático da ponta

- Largura da distribuição de alturas intersticiais - Área das pontes de capilares

- Velocidade de varredura - Velocidade de condensação - Velocidade do Slip

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 11

1.1 OBJETIVOS GERAIS......................................................................................... 14

1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................. 14

1.3 METODOLOGIAS DA PESQUISA ..................................................................... 15

1.4 O FUNCIONAMENTO DO AFM ......................................................................... 16

2. FORMULAÇÕES MATEMÁTICAS .................................................................... 21

2.1 POTENCIAL ÁTOMO - SUPERFÍCIE ................................................................ 16

2.2 POTENCIAL ESFERA SUPERFÍCIE ................................................................. 16

3. RESULTADOS .................................................................................................. 26

4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................................................... 33

CONCLUSÕES ......................................................................................................... 36

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 37

ANEXO A - O MECANISMO STICK-SLIP ................................................................ 38

ANEXO B – FORÇA DE CAPILARIDADE ............................................................... 40

ANEXO C- RECONHECIMENTO DO TRABALHO .................................................. 42

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1. INTRODUÇÃO

Compreender a força de fricção tornou-se tarefa crucial devido sua existência em

muitos sistemas físicos conhecidos como, por exemplo, a agregação de poeira pré-

planetária, o estudo da dinâmica dos terremotos e o desgaste de equipamentos

eletrônicos. Sem dúvida a fricção é um tema que desperta um enorme interesse no

setor industrial já que todos os sistemas mecânicos têm perdas energéticas por

fricção e desgaste os quais repercutem em um enorme custo econômico. Um

entendimento fundamental da fricção em nano e micro escalas é importante para o

funcionamento de sistemas nano e micro-electromecânicos.

Elisa Riedo et al. [1] estudaram a dependência da fricção com a velocidade e

umidade relativa para superfícies de Nitreto de Silício da ponta do microscópio,

Nitreto de Cromo e Carbono tipo diamante com um Microscópio de Força Atômica (

AFM). Seus resultados mostram que a capacidade da superfície de atrair moléculas

de água é importante para o entendimento da influência da velocidade na fricção.

Foi demonstrado que para superfícies hidrofílicas, a fricção diminui logaritmicamente

com o aumento da velocidade, sendo a sua taxa de variação dependente da

umidade relativa. Já para superfícies hidrofílicas um aumento logarítmico da fricção

com a velocidade foi observado [1].

Na literatura, [1] e [2], observa-se a importância que tem um bom entendimento

da força de fricção na escala de micrômetros e nanômetros, para a compreensão do

funcionamento de sistemas nano e micro-eletrônicos, e devido a este fato, mas

também conhecendo que a força de fricção está relacionada com a força de adesão

entre os nano contatos das superfícies, pode-se modelar a força de adesão para

obter um melhor entendimento da fricção entre as superfícies em contato, região que

compreende o campo familiar de interesse em nanotecnologia. (rever este

parágrafo).

Para entender a origem das forças de fricção nós precisamos avaliar o que

ocorre microscopicamente quando dois objetos encontram-se em contato e em

movimento relativo entre si. Pode-se começar com a seguinte pergunta: qual é a

origem da força de fricção observada macroscopicamente? A resposta não é nada

simples. Vamos analisar as forças de fricção que se observa quando um corpo

macroscópico desliza sobre uma superfície. Durante o deslizamento, o corpo

12

experimenta uma oposição ou resistência ao movimento que resulta na perda de sua

energia cinética. Se não se fornece energia externamente, mediante a ação de outra

força, o corpo acaba parando. A fricção é o resultado de um número enorme de

eventos que levam à transferência irreversível da energia cinética do objeto

macroscópico para os graus de liberdade internos dos átomos e moléculas que

compõem os objetos em questão e que em última instância se manifesta na geração

do calor. A energia do sistema é constante considerando-se o sistema globalmente,

mas se consideramos somente o movimento do objeto macroscópico, sem levarmos

em conta as vibrações, deslocamentos, etc, excitados nos átomos durante o

deslocamento, observa-se uma perda ou dissipação de energia. É por isso que a

fricção tem um conceito simples e intuitivo, mas é um fenômeno muito complexo e

que depende de numerosas variáveis. Na realidade, a fricção não tem uma

descrição analítica e, portanto não se pode escrever uma expressão matemática da

força de fricção como definição. Conseqüentemente, não é possível até o presente

momento prever teoricamente a fricção entre superfícies.

Neste TCC, são apresentadas as atividades realizadas durante a execução

do projeto “modelo de adesão entre a superfície da ponta de um microscópio de

força atômica e uma superfície hidrofílica em nano escala”. A pesquisa é puramente

teórica, utilizando resultados experimentais já obtidos no laboratório de microscopia

de força atômica da PUC - RJ. O modelo consiste basicamente em prever

teoricamente a força de adesão entre uma ponta de Nitreto de Silício do AFM e uma

superfície hidrofílica (superfície de mica). E, para tanto, é necessário entender e

caracterizar as interações fundamentais entre a ponta e a superfície. Para uma

ponta e uma amostra que são compostos de materiais eletricamente neutros, a força

entre eles seria principalmente devido às forças de Van der Waals e capilar. Porém,

a força capilar, devida à condensação de moléculas de água entre a ponta e a

amostra, não exerce influência significativa quando se consideram pequenas

umidades relativas. Neste modelo, consideram-se somente as forças onde a

umidade relativa do ar é pequena, em torno de 5%, desse modo não há

condensação de moléculas de água entre as superfícies, conseqüentemente a força

de adesão será igual à força de Van der Waals. Esta força predominante na adesão

surge porque o movimento aleatório dos elétrons, em qualquer material, induz

dipolos complementares no material vizinho, produzindo forças atrativas. Para

compreender a interação da ponta com a amostra deve-se primeiramente encontrar

13

a interação entre dois átomos, a qual pode ser descrita de acordo com o potencial

de Lennard-Jones [3]. Esse potencial fornece o embasamento necessário para se

compreender como cada átomo da ponta do AFM se comporta perto de cada átomo

de uma superfície hidrofílica. Após essa compreensão pode-se calcular a interação

do conjunto de átomos da ponta com toda a superfície da amostra, ou seja, todos os

átomos da ponta interagem com todos os átomos da superfície. Outro fator

importante para desenvolver o modelo é compreender o funcionamento do

microscópio de força atômica (AFM). Ao término da modelagem se procede ao

cálculo teórico da força de adesão a qual é comparada com o resultado

experimental.

14

1.1. OBJETIVOS GERAIS

Este TCC tem como objetivo dar continuidade às pesquisas fundamentadas no

estudo das propriedades tribológicas em superfícies de filmes finos, serão utilizados

os resultados experimentais já obtidos no Laboratório de Microscopia de Força

Atômica da PUC – Rio, para serem explicados através do desenvolvimento de

modelos teóricos. Pretendemos modelar o mecanismo de interação atômica entre

átomos de duas superfícies quando em contato, à mecânica de contato entre duas

superfícies a adesão, e desta maneira contribuir para o entendimento básico e

fechado (experimentalmente e teoricamente) das propriedades tribológicas de filmes

finos hidrofóbicos e hidrofílicos.

1.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Calcular teoricamente a área real do nano contato entre a superfície da ponta do

AFM e a superfície hidrofílica.

Prever teoricamente a força de adesão entre as superfícies em contato, região

que compreende o campo familiar de interesse em nanotecnologia de

dimensões de nanômetros para micrômetros.

Identificar o tipo de força de interação entre as superfícies em contato.

15

1.3. METODOLOGIAS DA PESQUISA

Este trabalho está fundamentado no uso da técnica de microscopia de força

atômica (AFM) em operação no Laboratório de Microscopia de Força Atômica de

Van der Graff da PUC-RJ. Neste equipamento medi-se experimentalmente a força

de adesão e os resultados das medidas serão utilizados para modelar a tal força.

Para desenvolver o modelo da força de adesão, tornou-se necessário conhecer

principalmente as forças que atuam entre a ponta do AFM e a superfície hidrofílica,

mas para isso foi necessário entender bem a relação fundamental que existe entre

força e energia, que é dada pelo teorema de Hellmann Feynman [4]. No decorrer do

modelo também foi necessário o uso do Maple (programa matemático) para

solucionar a equação da força modelada e obter a distância que corresponde ao

ponto instável na interação entre a ponta e a superfície. Concluído esse processo,

se procede ao cálculo teórico da área real do nano contato, para então estabelecer

uma coerência com o resultado experimental.

Em nosso modelo foi seguida a metodologia de encontrar:

A interação entre um átomo isolado e uma superfície plana através da

integração do potencial de Lennard- Jones

A interação esfera-superfície utilizando o resultado da interação átomo-superfície

Outro ponto importante é conhecer o funcionamento do Microscópio de força

atômica (AFM)

Após essas etapas se procede ao calculo teórico da força de adesão que segue

as etapas:

Modelar o cantilever como uma mola (pois ele é facilmente deformável)

Modelar a ponta como uma esfera ligada à mola

Modelar a superfície como plana e homogênea

Somar as contribuições das interações do sistema AFM

Identificar a força de Van der Waals (puramente atrativa)

Achar a distancia onde a força é máxima (negativamente)

Achar o valor teórico da força

16

1.4. O FUNCIONAMENTO DO AFM

O microscópio de Força atômica (AFM) foi inventado no ano de 1986 por G.

Binnig, C. Quate e Gerber. Seu princípio de funcionamento é muito simples e a sua

melhor propriedade é a visão da superfície dos objetos em três dimensões. Um AFM

é composto basicamente por uma ponta ou sonda, que varre a superfície da

amostra. Com este aparelho pode-se medir a força de interação entre os átomos da

ponta e os da superfície e, utilizando recursos computacionais, os resultados são

transformados em imagens da amostra. Essas forças são de vários tipos, mas

fundamentalmente resumem-se a forças atrativas de van der Waals que agem a

distâncias entre 100 e algumas unidades de nanômetros (1 nanômetro = 10-9

metros). As forças repulsivas provêm do princípio de exclusão de Pauli e agem

quando a ponta aproxima-se muito da superfície, onde os átomos da sonda e da

amostra estão tão próximos que começam a se repelir. Esta repulsão eletrostática

enfraquece a força atrativa à medida que a distância diminui e acaba anulando-a

quando a distância entre átomos é da ordem de alguns angstroms (um angstrom

equivale a 10-10). Quando as forças se tornam positivas, podemos dizer que os

átomos estão em contato e as forças repulsivas acabam por dominar.

O AFM opera medindo as forças entre a ponteira e a amostra que dependem,

em parte, da natureza da amostra e da ponteira, da distância entre elas, da

geometria da ponteira, e de qualquer contaminação que houver sobre a superfície

da amostra. As forças em função da distância correspondem a um potencial de

interação entre átomos que é do tipo Lennard-Jones. Para dois corpos eletricamente

neutros e não magnéticos, mantidos a distâncias entre um e algumas dezenas de

nanômetros, as forças de Van der Waals predominam entre eles (interação atrativa a

“grandes” distâncias). A força é calculada pela deflexão do cantilever (com constante

elástica de mola k predeterminada) através da lei de Hooke. A constante de mola do

cantilever determina a força entre a ponteira e a amostra quando estão próximas,

cujo seu valor depende da geometria e do material utilizado na construção do

cantilever. A escolha do cantilever é sem dúvida muito importante, pois são

necessárias grandes deflexões para atingir alta sensibilidade. Para um bom

funcionamento, também devem ser levados em conta os fatores externos, como

17

umidade e temperatura, e vibrações provenientes das vizinhanças do aparelho, que

podem causar interferências.

Na maioria dos AFM, a varredura se efetua por meio de um tubo piezelétrico,

sobre o qual é colocada a amostra e em alguns modelos de AFM é a amostra que se

movimenta e não a ponta. Durante a varredura, a força de fricção produz a torção

lateral do cantilever. Ambos os movimentos: flexão vertical e torção do cantilever

podem ser medidos simultaneamente. Para detectar os movimentos do cantilever, é

utilizado um sistema óptico no qual um laser sofrer reflexão sobre o extremo do

cantilever e é recolhido em um fotodetector orientado perpendicularmente na direção

do feixe, de tal maneira que quando o cantilever se flexiona, o feixe refletido, se

desloca sobre o fotodetector (ver figura 1).

Figura 1- representação do funcionamento de um AFM

O movimento do cantilever pode ser calculado a partir da diferença na

intensidade de luz no fotodetector. As mudanças na saída do fotodetector são

também utilizadas para realimentação, isto é, para ajustar uma cerâmica piezelétrica

na direção vertical z, cujo valor é registrado em função das coordenadas (x, y), para

depois ser traduzido em topografia z(x, y). As coordenadas (x, y) também são

monitoradas através de voltagens aplicadas a cerâmicas piezelétricas colocadas nos

drives x, y do scanner, assim como em z.

18

A imagem obtida no AFM é resultante da convolução da topografia real da

amostra com a forma da ponta, ou seja, a imagem formada depende da geometria

da ponta e da superfície (ver figura 2).

Figura 2- Convolução da ponta-superfície

A primeira informação que deve ser obtida sobre a amostra é se ela é rígida ou

não, e isto determinará se o modo a ser usado será o de contato, contato

intermitente ou não contato. Normalmente, as imagens de amostras de filmes finos

são obtidas nos modos de contato intermitente ou não-contato, onde as interações

do cantilever com a amostra são menos severas, o que diminui a possibilidade de

danos tanto na amostra como na ponta.

1.4.1. Modos de operação

Modo contato

Neste modo de operação é utilizado um cantilever com baixa constante de mola, na

faixa de 0,02 a 2 N/m. A imagem é obtida com a ponta tocando suavemente a

amostra. Durante esta varredura o sistema de controle monitora o feixe de laser

refletido pelo cantilever mantendo constante a força exercida pelo cantilever sobre a

amostra. Esta forma de obtenção de imagens é mais indicada para amostras rígidas

onde a varredura da ponta não danifica a amostra. Outro dado importante é a

deposição de água sobre a superfície da amostra que pode causar, devido a efeito

19

de capilaridade, a fixação do cantilever na amostra. Nesta situação não se obtém

imagem, pois não ocorre o deslocamento deste sobre a amostra. Quando a amostra

é hidrofílica e há acúmulo acentuado de água em sua superfície, o pode atingir

valores grandes e impedir o deslocamento da agulha sobre a amostra. Nestes casos

devem-se utilizar os modos de contato intermitente ou não contato.

Modo de força lateral

Esta informação é obtida quando se utiliza o modo contato de operação. Durante

a varredura da amostra o cantilever sofre torção, devido a força de atrito entre a

agulha e a amostra. Esta força varia em função da geometria e composição da

amostra em análise. Esta informação pode ser muito útil para identificar regiões

compostas por diferentes materiais, pois a força de atrito varia significativamente em

função do material da amostra.

Modo contato intermitente.

No caso do modo contato intermitente a ponta vibra em alta freqüência, dezenas a

centenas de kilohertz, sobre a amostra tocando-a suavemente durante a varredura,

podendo ocorrer contaminação do cantilever com material retirado da amostra,

durante o contato. Quanto maior a constante de mola, mais rígido o cantilever e

conseqüentemente maior será a freqüência de oscilação deste durante a varredura.

Como cada interação ocorre apenas durante uma pequena fração do período de

oscilação, consegue-se minimizar a atuação das forças laterais e os efeitos de

adesão (capilaridade) produzidos pela camada de hidratação, quando operado no

ar.

Modo não-contato.

Neste modo de operação é utilizado cantilever bem mais rígido do que o

utilizado para modo de contato, para este tipo de varredura a constante de mola

varia de 10 a 80 N/m.

Neste modo o cantilever oscila sobre a amostra sem tocá-la e não há contaminação

da agulha, com material retirado da amostra. Nesta situação as imagens obtidas

20

apresentam menos detalhes que as obtidas em modo contato ou contato

intermitente pelo fato da varredura ocorrer com a agulha mais afastada da amostra.

1.4.2. Curva de Força

Um conceito importante para o entendimento do funcionamento do microscópio

de força atômica é a curva de força que serve para quantificar a interação entre a

ponta e a amostra. A figura 3 mostra uma curva de força onde é apresentado o

comportamento do cantilever durante o processo de aproximação e afastamento em

relação à amostra. No ponto 1 o cantilever não está em contato com a amostra, isto

ocorre no ponto 2, após o contato, o cantiveler é posicionado entre os pontos 2 e 3,

quanto mais próximo à amostra maior a força exercida sobre esta. No afastamento

atua uma força de adesão entre o cantilever e a amostra que possui valor de .

Figura 3 - Curva de força descrevendo a aproximação e o afastamento entre a ponta e a amostra em um experimento para verificar a adesão.

21

2. FORMULAÇÕES MATEMÁTICAS

Neste capítulo procura-se demonstrar as equações usadas no modelo da força

de adesão. Dessa maneira evita-se sair do raciocínio ao elaborar o modelo com

demonstrações matemáticas no próximo capítulo.

2.1. Potencial Átomo-Superfície

O problema se resume a encontrar a equação matemática que descreva a

interação entre as superfícies da ponta e da amostra. Sabe-se que a superfície da

amostra também é constituída de átomos, então a interação entre a ponta e

superfície é devida às interações entre cada átomo.

Considera-se, primeiramente, um átomo isolado e situado a uma distância D de

uma superfície plana e homogênea (fig. 4). Agora imagine uma secção em forma de

anel dentro desta superfície (fig. 5), o qual possui volume igual a 2 xdxdz, com

densidade numérica de átomos contidas nesse anel.

D

r

z

x

D

Figura 4 - Átomo a uma distância D da superfície

22

Para calcular a interação entre um átomo e uma superfície plana, primeiro

encontra-se a interação entre um átomo e um anel. Sabe-se que o potencial entre

dois átomos segundo Lennard-Jones é,

onde A e B são constantes conhecidas. Utilizando a equação (2.1) pode-se

encontrar o potencial entre o átomo isolado e o anel somando os pares de potenciais

entre o átomo e os átomos integrantes do anel, para tanto basta considerar o volume

do anel e a densidade numérica de átomos . Pode-se estender este potencial

integrando o anel em todo o volume da amostra, fazendo variar o raio do anel, bem

como a profundidade, de maneira que leve em conta toda a superfície plana. Assim

pode-se escrever:

onde corresponde a equação 2.1, desse modo a 2.2 é a soma dos pares de

interação mencionados acima.

A dimensão da superfície plana, quando comparada com a dimensão do átomo

isolado, se torna muito grande a ponto de ser considerada infinita em relação ao

átomo. Portanto, x deve variar de zero ao infinito e z deve variar de D ao infinito,

considerando que o potencial seja nulo para distâncias muito grandes [3]. Por

x

r

D z

Figura 5 - Átomo próximo a um anel da superfície

23

simplicidade considera-se primeiramente o termo atrativo dessa interação, ou seja,

apenas a parte que corresponde ao termo negativo do potencial de Lennard-Jones

[2]:

Onde n é um número inteiro que aparece da generalização dos expoentes na

equação do potencial de Lennard Jones.

A equação 2.3 é uma integral simples cuja solução é dada por,

Se levarmos em consideração o termo repulsivo a equação (2.4) se

torna,

A qual representa o potencial total entre um átomo isolado e uma superfície

plana (aqui m também é um número inteiro que ajusta a equação para o termo

repulsivo).

2.2. Potencial Esfera-Superfície

Pode-se calcular o potencial entre uma esfera e uma superfície usando o mesmo

raciocínio anterior. Considera-se a esfera constituída de átomos semelhantes ao

átomo isolado estudado acima.

Assim, para achar o potencial desejado, basta somar o potencial de cada átomo

da esfera os quais interagem com a superfície plana.

24

Considere um disco infinitesimal dessa esfera (ver figuras 5 e 6), com volume

dv= x2dz, onde x é o raio do disco e dz sua espessura. O número de átomos

contidos no disco é dado em função da densidade numérica por d = dv. Desse

modo o potencial disco-superfície é:

onde é potencial entre um átomo e uma superfície, dado pela equação (2.5).

Figura 7 - Um disco de raio igual a x próximo a uma superfície plana.

R D x

dz

Figura 6 - Esfera de raio R a uma distância D de uma superfície.

25

O potencial disco-superfície tem um termo repulsivo e um termo atrativo os quais

se pode escrever separadamente,

Integrando as equações (2.7) sobre toda a esfera e observando que o raio da

esfera se torna muito grande quando comparada com a distância D entre a esfera e

a superfície, de tal maneira que seu diâmetro pode ser considerado infinito no limite

de integração, onde o potencial tende a zero. Assim, somando o termo repulsivo e

atrativo, da equação (2.7), se obtêm,

cuja solução é,

onde e são as densidades numéricas de átomos na esfera e na superfície plana respectivamente.

26

3. RESULTADOS

As forças envolvidas na adesão entre a ponta do microscópio de força atômica

(AFM) e superfícies, geralmente, são as forças de Van der Waals, eletrostáticas e

capilares. Todas estas forças são afetadas por alguns fatores tais como: formato da

ponta do AFM, rugosidade da superfície, umidade relativa do ar e a pressão de

aplicação do contato. Em alguns materiais a força eletrostática é aproximadamente

dez vezes menor que a força de Van der Waals [5] e, portanto são muito pequenas

para influenciar significativamente nas forças de adesão. A força capilar é

proveniente da interação de moléculas de água condensadas entre a ponta do AFM

e superfície, essa força possui grande influência na adesão das superfícies.

O gráfico apresentado na figura 8 foi obtido por um AFM e descreve a variação

da força de adesão FADH entre a ponta, de Nitreto de Silício, do AFM e uma

superfície de mica em função da umidade relativa do ar H(%). Observando o gráfico

é fácil verificar que para pequenas umidades relativas, a força de adesão permanece

quase constante com valor aproximadamente igual a 14 nN (valor absoluto).

O escopo deste trabalho é obter um modelo que descreva o comportamento da

força de adesão entre as superfícies na região de baixas umidades relativas (entre

0% e 5%).

Consideram-se apenas forças que atuam para pequenas umidades relativas do

ar. Desse modo evita-se a formação de meniscos de água entre a ponta e a

Figura 8- Gráfico da medida experimental da força de adesão entre a ponta do AFM e a superfície de mica obtido no Laboratório de Microscopia da PUC-RJ.

27

amostra, permanecendo somente a ação da forca de adesão direta que, neste caso

em que a amostra é neutra e não magnética, será igual à força de Van der Waals.

A ponta do AFM ao se aproximar da amostra, é atraída (região de não contato)

em direção a superfície. Porém, à medida que distância entre a ponta e a amostra

diminui, ocorre repulsão entre elas (região de contato) devido à interação das

nuvens eletrônicas. Esse comportamento é característico da interação entre pares

de átomos descrita por Lennard-Jones. Sabe-se que a ponta é composta por

algumas centenas de átomos e cada átomo da ponta interage com todos os átomos

da amostra, resultando na interação total entre a ponta e a amostra. A interação

descrita segundo o potencial de Lennard-Jones [3] é apenas entre dois átomos,

entretanto a interação entre a ponta e a superfície envolve vários átomos. No

capítulo 2, a equação potencial de Lennard- Jones foi definida por

A qual pode ser generalizada como,

onde r é a distância de separação entre os dois átomos, é potencial mínimo entre

eles e é a distancia mínima entre os átomos.

Quando se compara as equações (3.1) e (3.2) chega-se a seguinte relação

, entre as constantes. Segundo o potencial de Lennard-Jones as constantes

A e B valem 10-77 Jm6 e 10-134 Jm12 respectivamente. Conhecendo os valores de A e

B, se obtém 0.32 nm que representa a distância correspondente ao potencial

mínimo (figura 9).

28

Figura 9 - Gráfico da força F(r) e do potencial variando com a distância (r).

A energia potencial associada a um par de átomos (um da ponta e outro na

amostra) é dada pela equação (3.1). Desse modo, pode-se somar as contribuições

dos pares de interação entre um átomo localizado na ponta com cada átomo da

superfície resultando na interação total entre um átomo superfície.

Considera-se que a superfície da amostra é plana e homogênea, portanto utiliza-

se o potencial de interação entre um átomo e uma superfície descrito no capítulo 2

por (2.5):

Para interações intermoleculares, os valores de n e m, na equação 3.3, devem

ser maiores que 3 (n 3 e m 3).

Conhecendo a energia entre um átomo da ponta com todos os átomos da

amostra pode-se proceder com o cálculo total entre a ponta e a superfície.

De acordo com a equação (2.9), a energia total entre uma esfera e uma

superfície tem a seguinte forma,

onde D é a distância de separação da esfera à superfície, e são as densidades

numéricas das superfícies plana e esférica respectivamente.

Observa-se que o potencial entre uma esfera e uma superfície, possui um termo

negativo e outro positivo; isso indica que para certas distâncias predominará o

29

potencial atrativo ou repulsivo, respectivamente.

De acordo com o potencial de Lennard-Jones pode-se substituir n=6 e m=12,

para ajustar a equação na escala das interações entre átomos, desse modo o

potencial esfera-superfície pode ser escrito da seguinte maneira:

Usando o fato de que , pode-se reescrevê-lo como:

Com o objetivo de facilitar o cálculo vamos introduzir uma constante

puramente energética e que depende apenas das propriedades do

material, conhecida como “constante de Hamaker”, a qual é tabelada para vários

tipos materiais.

Substituindo na equação (3.6) têm-se,

que é a forma geral do potencial entre uma esfera e uma superfície, para pequenas

distâncias.

Pode-se utilizar a equação 3.7 para modelar a interação entre a ponta do AFM e

a amostra, pois a ponta se comporta como uma esfera próxima desta superfície. Na

figura 10 se torna bem visível o modelo esférico para a ponta, que está representada

por um conjunto de átomos, bem como a superfície da amostra.

30

O ponto onde a força resultante da interação entre a ponta e a amostra é

máxima ocasiona uma instabilidade mecânica, fazendo a ponta se aproximar

bruscamente da superfície da amostra. Após esse ponto as forças tornam-se

repulsivas e como conseqüência a ponta se afasta da superfície.

Enquanto a ponta se aproxima, o cantilever se deforma elasticamente, na

direção Z, em Z, devido à força de adesão entre as superfícies, isto exerce uma

força elástica, que é modelada de acordo com a lei de Hooke para pequenos

deslocamentos, como:

onde K é a constante de deformação elástica e Z a distância inicial da ponta à

superfície.

A força que atua entre a ponta do AFM e a superfície (adesão+ repulsão) sem a

contribuição elástica do cantilever é, por definição:

onde é dada pela equação 3.7; portanto a força F(D) pode ser escrita como:

Figura 10- Esquema da ampliação da ponta para o modelo.

31

A equação 3.10 descreve a adesão direta entre a ponta e a superfície, de onde

se observa que o termo atrativo predomina, visto que este é proporcional ao

quadrado da distância entre a ponta e a amostra, enquanto que o termo repulsivo é

proporcional a oitava potência. Sabe-se que a força de Van der Waals é puramente

atrativa, por conseguinte supõe-se que o primeiro termo dessa equação corresponde

à força de Van der Waals.

A força resultante total é a soma das contribuições das forças elástica, atrativa e

repulsiva, ou seja:

Substituindo as equações 3.8 e 3.10 na equação 3.11 obtemos,

A equação 3.12 descreve a interação total do sistema.

Para encontrar a distância correspondente ao ponto de instabilidade mecânica,

basta encontrar o ponto onde F(D)R é máxima (em valor absoluto),

A solução da equação 3.13 depende das constantes R, , H e .

O raio da ponta utilizada neste trabalho tem aproximadamente 100 nm (dado

obtido no Laboratório de Microscopia da PUC-RJ) e é sabido que = 0,32 nm.

Sabe-se também que a constante de Hamaker, que possui valores específicos para

vários tipos de materiais, vale [6], visto que a experiência foi realizada

utilizando uma ponta de nitrito de silício e uma superfície de mica.

Obteve-se a solução da equação 3.13 com auxílio do programa matemático

maple.

32

O resultado 3.14 corresponde à distância teórica onde a força de adesão é

máxima.

No gráfico da figura 6 nota-se que as forças predominantes, para pequenas

umidades relativas, são essencialmente as forças de Van der Waals, o que se

confirma com a equação 3.10. Assim, pode-se substituir o valor D=0,2nm no termo

que corresponde a força de Van der Waals da equação 3.12, e finalmente encontrar

o valor teórico da força de adesão para baixa umidade relativa. De acordo com 3.10

o termo de Van der Waals é descrito por:

O valor teórico da força de adesão encontrado a partir de (3.15) e (3.14) é

A força de adesão depende da área de contato entre as superfícies e pode-se

estimar o valor da área real de contato entre elas.

Na interação entre a ponta e a superfície somente uma pequena região da ponta

realmente interage com a amostra, que corresponde à região circular centrada a

uma distância D da superfície, chamada de área real do nano contato. A área

considerada, dentro da superfície esférica, é também conhecida como a

aproximação de Langbein, descrita por:

Observe que esta área é proporcional ao raio da esfera e à distância teórica D.

O valor da área efetiva da ponta do AFM de acordo com este modelo é:

33

4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

No modelo foi encontrada a força resultante da adesão direta entre a ponta e a

superfície, onde foram desprezadas as forças de capilaridade e eletrostáticas devido

ao tipo de material e da pequena umidade relativa do ar.

Os resultados experimentais mostram que a contribuição atrativa é muito maior

que a contribuição repulsiva (região de não contato), o que se confirma

teoricamente, pois o termo atrativo da força resultante é inversamente proporcional

ao quadrado da distância, enquanto que o termo repulsivo varia com o inverso da

oitava potência. A equação resultante 3.12 diz que, quando a ponta do AFM se

aproxima da superfície, as forças atrativas predominam, enquanto que as repulsivas

não influenciam momentaneamente; quando a força atrativa chega ao seu máximo,

a ponta se aproxima bruscamente da superfície e com essa aproximação as forças

tornam-se repulsivas, fazendo a ponta se afastar da superfície. O motivo disso tem

explicação no princípio de exclusão de Pauli.

O resultado teórico da força de adesão divergiu de 1nN do resultado

experimental, (veja a tabela 1). No resultado experimental a força possui valor igual

a 14,05 1,05 nN, enquanto que o valor teórico é de12,0 2,6 nN.

Neste modelo foram colocadas duas superfícies em “contato”, sendo uma de

forma esférica e outra plana, onde a zona circular situada no interior da esfera a uma

distância D da superfície plana é a área real do nano contato.

De acordo com a equação 3.17 vemos que a área real de contato cresce

linearmente com o raio da ponta e com a distância D, implicando que a força de Van

der Waals deve diminuir com área efetiva, pois a força atrativa é inversamente

proporcional ao quadrado da distância que separa a ponta da superfície.

RESUTADO DISTÂNCIAS (nm) FORÇAS (nN)

EXPERIMENTAL 0,18 14,05 1,05

TEÓRICO 0,2 12,0 2,6

Tabela 1: Comparação entre os resultados teóricos e experimental da força e distância

34

A força de adesão está ligada diretamente à força de atrito entre as superfícies.

Se duas superfícies possuem contato multiáspero, a força de atrito obedece à lei

geral [7]:

Eliza Riedo e Brune [2] observaram que o coeficiente de atrito permanece

constante à medida que a umidade relativa (H%) aumenta e concluiu que a variação

da fricção com H% pode ser completamente atribuída às forças de adesão. Na

ausência de umidade a força de adesão é tão somente a força de adesão direta FSS

entre as superfícies sólidas, o que compreende o modelo deste TCC:

À medida que a umidade relativa aumenta, a contribuição da força capilar não

poderá mais ser desprezada. Segundo isto, tem-se que

onde é a força capilar.

Com base nisso Riedo e Brune [2] mostram que (veja anexo B)

onde R é o raio da ponta, é a tensão superficial da água condensada entre a

ponta e a amostra, e são os ângulos estáticos da amostra e da ponta

respectivamente, a densidade molecular da água, a velocidade de varredura,

a velocidade do slip (anexo A) e a velocidade de condensação.

O modelo teórico elaborado neste TCC ajudou a completar a equação descrita

por Riedo adicionando a adesão direta, obtendo-se:

35

que descreve a força de atrito entre a ponta do AFM (modelada esfericamente) e a

amostra.

36

CONCLUSÕES

Neste trabalho foi encontrado que a força predominante entre a ponta de Nitrito

de Silício do AFM é estritamente atrativa a qual é chamada de força de Van der

Waals. Observou-se também que essa força diminui em consonância com a área

efetiva a qual cresce linearmente com o raio da ponta e com a distância que a

separa da amostra.

A previsão teórica da força de adesão entre a ponta do AFM e a superfície

hidrofílica é de 12 nN quando estão separadas a uma distância D=0,2 nm; e para

esta mesma distância a área real de contato é de 125,6 10-9nm2.

Este TCC é mais uma ferramenta para obtenção de informações sobre as

propriedades tribológicas de filmes finos hidrofóbicos e hidrofílicos, que envolve um

campo de interesse em nanotecnologia de dimensões de nanômetros para

micrômetros. Um estudo detalhado da força de adesão na escala de nanômetros

ajuda no desenvolvimento de objetos na escala nanométrica, o que possibilita o

aumento de dispositivos de dimensões muito pequenas, portanto torna-se

importante conhecer as interações superficiais entre a mica e o Nitrito de Silício,

visto que estes são amplamente utilizados na confecção de micro-eletrônicos.

37

REFERÊNCIAS

[1] Riedo, E.Levy.F and Brune, H.2002.Phys.Rev.Lett.88.185505. (2006).

[2] Elisa Riedo, and Harald Brune; Young Modulus Dependence of Nanoscopic

Friction Coefficient in Hard Coatings. Applied Physics Letters, 83, 10 (2005)

[3] ISRAELACHVILI, J.N. Intermolecular and Surface Force. 2ª ed., San Diego-

USA, Ademic Press, 1992,449.

[4] C. M. Mate, IBM J. Res. Develop. Vol. 39 (6) (1995). [3] – C. Kittel, Introduction to

Solid State Physics, John Wiley, New York (1996)

[5] ZAMORA, R. R.M; C. M. Sanchez, F. L. Freire Jr, and R. Prioli. Phys. Stat. Sol.

(a) 195 850 (2006).

[6] TIMOTHY EASTMAN and Da-Ming Zhu. Adhesion Forces between Suface-

Modield AFM tips a Mica Surface. Langmuir 1996

[7] ZAMORA, R.R.M. PRIOLI, R; Lateral Force Microscopy Profiles for

Amorphous Potentials. Ultramicroscopy, 97, 315-320(2003).

[8] NUSSENZVEIG, H.M; Curso de Física Básica. 4.a ed.S.Paulo-Brasil Edgard

Blucher, 2002.

[9] NUSSENZVEIG, H.M;Curso de Física Básica-2.Fluidos;oscilações e

ondas;calor.3ª edição.São Paulo:Edgar Blucher,1981.

[10] LAZZER DE A; DREYER M.,RATH H. J. Particle-surface capillary forces.

Langmuir 1999, 15.4551-4559.

[11] SIRGHI L et al.Atomic Force Microscopy study of the hidrophilicity of TiO2

thin films obtained by radio frequency magnetron sputtering and plasma

enhanced chemical vapor depositions. Langmuir 2001, 17. 8199-8203.

[12] KIKOIN, A; KIKOIN, I; Física molecular. edição desconhecida.URSS:Editorial

Mir Moscu,1971.

38

ANEXO A - O MECANISMO STICK-SLIP

Para medir a força de atrito em nanoescala utiliza-se a ponta do AFM

observando-se sua varredura sobre a superfície da amostra. No entanto, este

processo de deslizamento da ponta sobre a superfície, em geral, não é uniforme e

revela um comportamento de stick-slip, ou seja, a ponta cola na superfície e devido

às asperezas desliza. A força de fricção é maior quando a ponta e a superfície estão

coladas. Mas quando a força restauradora do cantilever inclinado é suficientemente

grande para ultrapassar a Fricção estática, a ponta então passa a deslizar sobre a

superfície em pequenos intervalos de espaços (figura A.1). Este movimento é um

dos grandes responsáveis pelos desgastes das superfícies.

Figura 11- Esquema do mecanismo stick-slip

Como se pode observar na figura A.1, o comprimento do slip (deslizamento)

depende da velocidade do deslizamento, da altura da aspereza, de sua inclinação e

da elasticidade das superfícies.

No mecanismo de stick-slip, a relação entre força de fricção e a velocidade de

varredura é mostrada na figura A.2.

39

A velocidade tem comportamento logarítmico. A contribuição do stick-slip para a

força de Fricção Cinética é dada pela equação:

No mecanismo de stick-slip [3, 8, 7, 9,] realizado pela ponta do AFM, a

velocidade do Slip é o máximo valor que a velocidade de varredura V pode

atingir; isto significa que se V ultrapassar o Stick-Slip deixa de existir e a ponta do

AFM passa a deslizar sobre a superfície de forma suave. Onde é considerada

1nm/s por questão de simplicidade.

Quando há presença de liquido entre a ponta e a superfície observa-se o

comportamento mostrado na figura A.3. Em nanoescala o líquido organiza-se em

camadas quando está entre superfícies imóveis (stick) e se desorganiza no instante

do deslizamento (slip).

Figura 12- Força de atrito em função do logaritmo da velocidade de varredura

Figura 13- Mecanismo stick-slip na presença de moléculas de água

40

ANEXO B – Força de capilaridade

A força de capilaridade é obtida pelo produto da pressão de Laplace pela área

efetiva onde o menisco alcança a ponta do AFM [3, 9, 10,11].

A pressão de Laplace P é, na verdade, a diferença de pressão existente entre

o meio externo e o meio interno do menisco e matematicamente está relacionada à

tensão superficialLdo liquido e aos raios de curvatura RI e RII do menisco, também

conhecidos como raios de Kelvin:

A tensão superficial é uma grandeza que caracteriza as propriedades da

superfície do liquido e no sistema SI mede-se em J/m2 [12]

A área efetiva de alcance do menisco é uma região que está localizada no

interior da esfera (ponta do AFM), onde atuarão as forças que contribuirão para o

aumento da adesão e fricção na escala nanoscópica. Esta área efetiva Aef é

fornecida pela aproximação de Langbein [2]:

onde D=d+a, é distancia que separa a ponta e a superfície. Para superfícies muito

próximas D=a, onde a mede a altura que menisco de fato alcança.

Em nosso modelo, feito em condições ambientes, o raio RII é muito maior que RI

(RII>>RI) de modo que a equação de Laplace torna-seI

L

RP e a distância D foi

)cos(cosTSIRD B.3

41

encontrada em função dos ângulos de contato estáticos S e T

:

Finalmente, para uma ponta esférica do AFM, a força de capilaridade encontrada

em nosso modelo relaciona-se linearmente com o raio RT desta ponta segundo a

equação:

De acordo com nossa teoria a capilaridade é uma função da umidade e do

tempo de contato entre as superfícies. Tempo esse disponível para a formação das

pontes líquidas. Porém, na equação (B.4) isto não está demonstrado.

B.4

42

ANEXO C- Reconhecimento do Trabalho

1. Trabalho apresentado no XXVII Encontro de Físicos do Norte e Nordeste

43

2. Apresentação na I Escola de Verão do departamento de Física da PUC-Rio de Janeiro

3. Trabalho aceito para publicação na Revista Brasileira de Ensino de Física