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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO TECNOLÓGICO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA TESE DE DOUTORADO “MONITORAMENTO DA QUALIDADE DE ÁGUA EM GRANDES RESERVATÓRIOS USANDO SENSORIAMENTO REMOTO E REDES NEURAIS” HEBE MORGANNE CAMPOS RIBEIRO Belém-Pará 2008

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO … Morganne Campos... · À Lu e a Cinha por terem sido muitas vezes mais mães da Clarissa do que tias. À Lincoln, Ândrea, André, Mariana,

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO TECNOLÓGICO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

TESE DE DOUTORADO

“MONITORAMENTO DA QUALIDADE DE ÁGUA EM GRANDES RESERVATÓRIOS USANDO SENSORIAMENTO REMOTO E

REDES NEURAIS”

HEBE MORGANNE CAMPOS RIBEIRO

Belém-Pará

2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

CENTRO TECNOLÓGICO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

“MONITORAMENTO DA QUALIDADE DE ÁGUA EM GRANDES RESERVATÓRIOS USANDO SENSORIAMENTO REMOTO E

REDES NEURAIS”

TD-04/2008 Tese de Doutorado apresentado à Universidade Federal

do Pará no Programa de Pós-Graduação em

Engenharia Elétrica da UFPA, como pré-requisito à

obtenção do grau de Doutor em Engenharia Elétrica,

sob orientação da Profa Dra. Brígida Ramati Pereira da

Rocha.

Belém-Pará

2008

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À minha filha, Clarissa

Desculpe minha ausência.

À minha mãe, Lucy

Que me ensinou a nunca desistir.

Ao meu pai, Silas (in memorian)

Ele me ensinou a amar as águas amazônicas.

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Agradecimentos

À Universidade do Estado do Pará (UEPA), por ter me liberado 20 horas da

das minhas tarefas em sala de aula por quatro anos.

Às Centrais Elétricas do Norte do Brasil (ELETRONORTE) que me

proporcionou todo o apoio logístico imprescindíveis para a realização desta

pesquisa.

Ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que cedeu imagens

de satélite e o software SPRING, que foram utilizados neste trabalho.

À Profa. Dra. Brígida Ramati Pereira da Rocha, da Faculdade de

Engenharia Elétrica da UFPA (Universidade Federal do Pará), orientadora deste

trabalho, pela incontestável orientação, na qual foi dinâmica, paciente, disponível e

amigável.

Ao Engenheiro Antônio Augusto Bechara Pardauil, gerente regional da

Eletronorte de Tucuruí, por ter proporcionado o apoio logístico sem o qual não

teria conseguido realizar este trabalho.

Ao Professor Dr. Alex Vladimir Krusche, pelas discussões tão importantes

na interpretação das análises, paciência nas coletas de campo, pela sua

inigualável bondade para comigo, além de sua participação na banca

examinadora.

Aos Professores Dr. Carlos Tavares da Costa Junior, Prof. Dr. José

Augusto Lima Barreiros, Prof. Dr. Orlando Fonseca da Silva, da Faculdade de

Engenharia Elétrica, do Instituto Tecnológico da UFPA e ao Prof. Dr. Gundisalvo

Piratoba Morales do Centro de Ciências Naturais e Tecnologia da UEPA, que

participaram da Banca do Exame de Qualificação, por suas recomendações, que

espero ter aproveitado no desenvolvimento do trabalho final.

Ao Coronel Paulo Gerson, comandante geral do Corpo de Bombeiros do

Estado do Pará e ao Saulo Lodi Pedreira, capitão do corpo de bombeiro do Estado

do Pará por suas valiosas colaborações logísticas para a realização final deste

trabalho.

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Ao colega de doutorado Arthur (Rei Arthur), pela ajuda nas análises

estatísticas, amizade, bom humor, companheirismo, e muitas vezes confidente.

Aos Engenheiros José Humberto Araújo Monteiro e Luiz Antonio Salim

Lessa, membros de nosso grupo de pesquisas, pelas valiosas contribuições dadas

a este trabalho e, principalmente, pela amizade cultivada durante todo esse

tempo.

Aos colegas do LABOHI, Éder, Jéferson, João, por segurarem tudo na

minha ausência.

À Lu e a Cinha por terem sido muitas vezes mais mães da Clarissa do que

tias.

À Lincoln, Ândrea, André, Mariana, Arthur, Lucas, quero vocês sempre

pertinho de mim.

Finalmente, e acima de todos, agradeço a Deus por ter derramado suas

bênçãos sobre mim. Por ter me dado a oportunidade de, por meio da ciência,

avançar um pouquinho no conhecimento das maravilhas de sua criação. Sou grata

pelas pessoas maravilhosas que ele colocou em meu caminho no decorrer da

realização deste trabalho.

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Resumo

O monitoramento da qualidade de água em lagos e reservatórios usando

métodos tradicionais são caros e consomem muito tempo. O uso de redes neurais

artificiais para predizer parâmetros de qualidade de água utilizando imagens de

satélites mostra o grande potencial para tornar este processo rápido e a um custo

efetivamente menor. Este trabalho propõe um método indireto para estimar a

concentração de pigmentos (clorofila-a), um parâmetro opticamente ativo de

qualidade de água. Um modelo baseado na arquitetura das redes neurais

artificiais, usando Funções de Base Radial (RBF), foi desenvolvido para predizer

as concentrações de clorofila-a em grandes reservatórios. Os valores de entrada

usados na rede foram obtidas de informações dos espectros das imagens do

satélite Landsat, e as concentrações dos pigmentos foram utilizadas na saída.

Para treino e validação do modelo foram usados dados dos anos de 1987, 1988,

1995, 199, 2000 a 2004. O modelo testado mostrou um coeficiente de correlação

de 0,92 para predizer a concentração dos pigmentos (clorofila-a), indicando sua

aplicabilidade para predizer este parâmetro de qualidade de água.

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Abstract

Water quality monitoring in lakes and reservoirs using water samples

and laboratorial analysis is expensive and time consuming. The use of

artificial neural networks to predict water quality using satellite images

shows great potential to make this process faster and at lower costs. This

article discusses an indirect method to estimate the concentration of

pigments (chlorophyll-a), an optically active parameter in water quality. A

model based on artificial neural networks, using radial base functions

architecture, was developed to predict chlorophyll-a concentrations in large

reservoirs. As input to the neural networks spectral information from

Landsat imagery was used, while pigment concentration was used as output

information. To train and validate the model we used data from the years

1987, 1988, 1995, 1999, 2000 and 2004. The tested model showed a

correlation coefficient of 0.92 for the estimation of pigment (chlorophyll-a)

concentrations, indicating its applicability to predict this water quality

parameter.

Keywords: water quality, remote sensing, artificial neural networks,

chlorophyll-a

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ÍNDICE

p.

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO 14 1.1 - – Organização do Documento 17

CAPÍTULO 2 - SENSORIAMENTO REMOTO E PROPRIEDADES ÓTICAS

DAS ÁGUAS 19

2.1 – Sensoriamento Remoto 19

2.1.1 – Princípios do Sensoriamento Remoto Orbital 20

2.1.1.1 – Radiação Eletromagnética 20

2.1.1.2 – Fontes de Radiação 23

2.1.1.3 – Conceitos Radiométricos 24

2.1.2 – Componentes de um Sistema de Sensoriamento

Remoto 25

2.1.3 – Características das Imagens de Sensoriamento

Remoto 26

2.1.3.1 – Resolução Espacial 26

2.1.3.2 – Resolução Espectral 27

2.1.3.3 – Resolução Radiométrica 27

2.1.3.4 – Resolução Temporal 28

2.1.3.5 – Largura da Faixa Imageada 28

2.1.4 – Sistemas Sensores 29

2.1.4.1 – Sensores Fotográficos 29

2.1.4.2 – Sensores de Radar 30

2.1.4.3 – Sensores a Laser 31

2.1.4.4 – Espectrômetros 31

2.1.4.5 – Radiômetros 31

2.1.5 – Tipos de Satélites 32

2.1.5.1 – Satélites de Recursos Naturais 32

2.1.5.1.1 – Sistema Landsat 32

2.1.5.1.2 – Faixas Espectrais do Landsat 5 e 7 33

2.2 – Propriedades Ópticas das Águas 35

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2.2.1 – Tipologia das Águas Amazônicas 35

2.2.2 - Comportamento Espectral da Água 36

2.2.3 – Correções do Fluxo Emergente em Relação aos feitos

Atmosféricos 38

2.2.4 – Correção do Fluxo Emergente em Relação à

irradiância Solar na Superfície da Água 39

2.2.5 – Constituintes Opticamente Ativos 40

2.2.5.1 – Propriedades Ópticas Inerentes e Aparentes

da Água 40

2.2.5.1.1 – Propriedades Ópticas Inerentes 40

2.2.5.1.2 - Propriedades Ópticas Aparentes 40

2.2.5.2 – Componentes Ópticos Dissolvidos e

Particulados 42

2.2.5.2.1 – Componentes Ópticos Dissolvidos 42

2.2.5.3 – Componentes Ópticos Particulados 43

CAPÍTULO 3 – REDES NEURAIS ARTIFICIAIS 50

3.1 – Redes Neurais Artificiais 50

3.2 – Componentes das Redes Neurais Artificiais 50

3.2.1 – Elementos de Processamento 50

3.2.2 – Estado de Ativação 54

3.2.3 – Função de Saída do Elemento 55

3.2.4 – Padrão de Interconexão entre os Elementos de

Processamento 55

3.2.5 – Regras de Propagação 55

3.2.6 – Regras de Ativação 56

3.2.7 – Regras de Aprendizado 56

3.3 – Redes com Múltiplas Camadas 58

3.4 – Regra Delta Generalizada e o Algoritmo Retro Propagação 58

3.5 – Algoritimo de Aprendizagem 59

3.6 – Redes RBF (Funções de Base Radial) 60

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3.6.1 – Aprendizado em uma rede RBF 63

CAPÍTULO 4 - MATERIAL E MÉTODOS 66

4.1 – Área de Estudo 66

4.1.1 – Contexto Histórico da Concepção e Implementação

da UHE Tucuruí 66

4.1.2 - Localização da Área de Estudo 70

4.1.3 – Clima 70

4.1.4 – Geologia e Geomorfologia 71

4.1.5 – Solos 71

4.1.6 – Vegetação 72

4.1.7 – Hidrografia, Hidrologia e Características das Águas 72

4.1.8 – Aspectos Morfométricos 73

4.2 – Uma metodologia Integrada 75

4.3 – Metodologia para Determinação de Pigmentos em Águas 78

4.4 – Metodologia para treinamento da Imagem de Satélite 81

4.4.1 – Softwares utilizados 82

4.4.1.1 – SPRING, EXCEL, MATLAB e

ARCVIEW 82

4.4.1.2 – Sensoriamento Remoto e Processamento da

Imagem 83

4.4.1.3 – Redes Neurais 83

CAPÍTULO 5 – RESULTADOS E DISCUSSÕES 84

5.1 – Teores de Pigmentos 96

5.1.1 - Desempenho da rede RBF para aproximação de

funções

CAPÍTULO 6 - CONCLUSÃO 101

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 103

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ÍNDICE DE FIGURAS p.

Figura 1 - O Espectro Eletromagnético 20

Figura 2 - Fontes de Radiação Eletromagnética 23

Figura 3 - Matriz da imagem e seus DN’s associados (Crosta, 1993) 26

Figura 4 - Imagens radiométricas: a) 2 níveis de cinza; b) a mesma

imagem, com 32 níveis de cinza 27

Figura 5 - Imagens do Satélite de observação da Terra, CBERS 28

Figura 6 - Componentes do fluxo de energia que deixa o corpo d’água 37

Figura 7 - Variação do coeficiente a da água pura, de constituintes

opticamente ativos e a absorção total resultante; Variação do

coeficiente b para água pura e fitoplâncton 42

Figura 8 - Curva espectral de água com diferentes níveis de turbidez 44

Figura 9 - Neurônio Biológico 52

Figura 10 - Neurônio Artificial 53

Figura 11 - Neurônio Artificial com Tendência 53

Figura 12 - Representação de uma rede neural do tipo RBF

utilizada para determinação da concentração de pigmentos,

através de valores de DN obtidos de imagem de satélite

de média resolução 54

Figura 13 - Esquema de uma Rede RBF 62

Figura 14 - Imagem de Mapa digital do Reservatório de Tucuruí 70

Figura 15 – Extração dos Dados da Imagem do LANDSAT

com o Programa SPRING 75

Figura 16 - Treinamento da Rede RBF 76

Figura 17 - Simulação de Rede RBF 77

Figura 18 - Fotografias (a) e (b), mostrando o equipamento de

filtração das amostras de água do Reservatório de

Tucuruí para a análise de clorofilas 78

Figura 19 - Fotografia mostrando o deslocamento da equipe no

interior do lago 78

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Figura 20 - Fotografia mostrando a superfície da água do reservatório

de Tucuruí, sugerindo a presença de pigmentos

fotossintetizantes 79

Figura 21 - Fotografia mostrando um dos pontos de coleta no

reservatório da UHE de Tucuruí 79

Figura 22 - Fotografia mostrando um dos pontos de coleta no

reservatório da UHE de Tucuruí 80

Figura 23 - Fotografia mostrando um dos pontos de coleta no

reservatório da UHE de Tucuruí 80

Figura 24 – Pontos de coletas no reservatório de Tucuruí 84

Figura 25 – Distribuição Estimada de Pigmentos na Superfície

da Água do Reservatório 91

Figura 26 - Comparativo entre dados reais e estimados 93

Figura 27 - Diagrama de dispersão dos dados 94

Figura 28 – Comparativo entre dados reais e estimados 95

Figura 29 – Espectro de Reflectância da Água do Reservatório

de Tucuruí 95

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Dados Técnicos de alguns satélites de observação da Terra ............ 29

Tabela 2 – Dados Técnicops dos Satélites LANDSAT 5 e 7 ................................ 33

Tabela 3 – Comprimento de onda de absorção dos pigmentos ........................... 47

Tabela 4 – Dados morfométricos do reservatório de Tucuruí .............................. 74

Tabela 5 – Dados de entrada referentes à Estação Montante ............................. 86

Tabela 6 – Dados de entrada referentes à Estação Montant3 3 .......................... 86

Tabela 7 – Dados de Entrada referentes à Estação Montante Repartimento....... 87

Tabela 8 - Dados de Entrada referentes à Estação Montante 5 Calha ................ 87

Tabela 9 - Dados de Entrada referentes à Estação Montante 5 Direita ............... 87

Tabela 10 - Dados de Entrada referentes à Estação Montante Breu Branco ...... 88

Tabela 11 – Dados de Entrada referentes à área Montante Belauto ................... 88

Tabela 12 - Dados de Entrada referentes à Estação Montante Pucuruí .............. 88

Tabela 13 - Dados de Entrada referentes à Estação Montante Jacundá Velho... 88

Tabela 14 - Dados de Entrada referentes à Estação Montante Lontra ................ 88

Tabela 15 - Dados de Entrada referentes à Estação Caraipé .............................. 89

Tabela 16 - Dados de Entrada referentes à Estação Caraipé 2............. 89

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14

CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

A disponibilidade de água é um requisito essencial para o desenvolvimento,

bem estar e saúde humana, e, portanto, para o funcionamento sustentável dos

ecossistemas aquáticos e terrestres.

A falta de conhecimento sobre o ciclo hidrológico fez com que o século XX

assistisse à crescente manipulação direta dos cursos da água (represamento,

transposição, drenagem de planícies aluviais, retificação de canais) cujas

conseqüências sobre a dinâmica da água na fase terrestre do ciclo hidrológico,

não foram totalmente previstas, tais como enchentes recorrentes todos os verões

nas grandes cidades brasileiras, doenças de veiculação e transmissão hídrica,

poluição e eutrofização (Novo, 2007).

Os grandes reservatórios de hidroelétricas nas regiões tropicais podem

produzir grandes quantidades de metano e dióxido de carbono. Isso se deve à

grande quantidade de material orgânico no fundo do reservatório, decompondo

em um ambiente anaeróbico, produzindo metano, um poderoso gás causador do

efeito estufa.

De acordo com a Comissão Mundial de Barragens, quando a área do

reservatório é grande comparado com a capacidade de geração (menos de 100

watts por metro quadrado) e nenhuma remoção da floresta foi feita antes do

represamento do lago, as emissões de gases de efeito estufa podem ser maiores

que as emissões de uma central termoelétrica convencional. Essas emissões

representam carbono presente na biosfera e não de depósitos fósseis que foram

seqüestrados do ciclo do carbono.

Por conta desses fatos, na ultima conferência de Mudanças climáticas

(IPCC, 2007) começaram as discussões para retirar das hidroelétricas o direito de

receberem créditos de carbono.

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A construção de reservatórios em bacias hidrográficas constitui um

importante impacto na estrutura e função dos ecossistemas aquáticos. Os

reservatórios de grande porte como é o caso de Tucuruí com uma área

aproximada de 2.875 km2, teve como finalidade inicial, a geração de energia por

hidroeletricidade. No entanto, nos últimos vinte anos, os usos múltiplos desse

ecossistema artificial diversificaram-se, ampliando a reserva de água para

irrigação, uso como água potável, produção de biomassa (cultivo de peixe e pesca

intensiva), transporte, recreação e turismo. Tal diversificação provocou também

mudanças na sua importância econômica, ecológica, hidrológica e social, devido a

novas complexidades no seu funcionamento e impactos antropogênicos.

Como na formação da barragem ficaram grandes extensões de floresta

natural que, uma vez alagadas, disponibilizou uma grande quantidade de matéria

orgânica e de nutrientes, levando à rápida proliferação de macrófitas aquáticas,

um dos fenômenos mais alarmantes em represas tropicais como só se verificou na

Ásia e na África e que está associado ao aparecimento de moléstias como

eschistossomose, malária, o cólera, gastrointerites, enteroviroses, arboviroses e

filarioses, entre outras (Comissão Mundial de Barragens, 2000).

Uma vez que pigmentos fotossintetizantes como a clorofila-a é considerada

a principal variável indicadora de estado trófico dos ambientes aquáticos, o

monitoramento via satélite das concentrações de clorofila-a é uma importante

ferramenta para avaliar possíveis florações futuras, bem como, a partir dos

eventos de floração, avaliar sua dispersão na superfície do lago.

Diversos estudos têm sido efetuados para entender os mecanismos que

controlam as florações de algas, comuns nesses sistemas e de conseqüência

danosa para a qualidade das águas com fins de abastecimento (por exemplo, as

cianobactérias). Em alguns casos específicos tais florações foram associadas

também a desgaste acelerado de turbinas de hidroelétricas, pelo aumento de

formação de estruturas sílicas de certos tipos de algas. Na época, identificou-se

como principal controlador destas florações a disponibilidade de fósforo para o

desenvolvimento das algas. O uso generalizado de detergentes domésticos

contendo este elemento havia acarretado em um aumento significativo das suas

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concentrações em sistemas aquáticos. Com o banimento de seu uso na fórmula

dos detergentes, os impactos antropogênicos desta natureza em lagos e

reservatórios puderam ser controlados em grande escala. Mais recentemente,

devido ao uso intensivo de fertilizantes nitrogenados na agricultura nos EUA, tem-

se associado este outro elemento a problemas similares observados em diversos

corpos d água, principalmente nas zonas costeiras.

Este processo de eutrofização em reservatórios de hidroelétricas, além de

afetar a vida útil das mesmas, pela aceleração da colmatação, também pode ter

efeitos deletérios sobre as estruturas físicas das barragens. Sob condições

anaeróbias, geralmente observadas nas águas de fundo destes reservatórios, é

comum também a presença de concentrações relativamente elevadas de sulfetos

de hidrogênio, altamente corrosivos de componentes metálicos de estruturas de

concreto e de turbinas. Em lagos de várzea da Amazônia, mesmo sob condições

naturais, elevadas concentrações destes compostos são encontradas nas

camadas de fundo nos períodos de maiores descargas dos rios. Este é um fator

condicionante da vida útil destes reservatórios ainda totalmente desconhecidos

nestes ambientes tropicais.

Devido às suas dimensões, padrão dendrítico e inundação da floresta

tropical úmida, em um reservatório localizado em ambiente tropical, como a UHE

Tucuruí, efeitos adicionais podem ocorrer, tais como:

a) Efeitos físicos, redução da circulação vertical, interferência mecânica

com os usos múltiplos, e redução do volume do reservatório em função da

inundação da floresta;

b) Efeitos químicos: decomposição anaeróbia, redução de oxigênio,

produção de gases (metano e gás sulfídrico), precipitação química, eutrofização e

aumento de corrosão;

c) Efeitos biológicos: perda da biodiversidade, perda da vida selvagem;

deterioração da qualidade de água, e perda de floresta tropical.

Pelo fato de se ter população residente às margens da barragem e como

essas populações se abastecem da água da represa para o uso doméstico, é

desejável que futuramente possam ser verificadas as condições de potabilidade e

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de balneabilidade das águas, através da análise de parâmetros recomendados na

Portaria 518 do Ministério da Saúde para potabilidade e Resolução 274 do

CONAMA para balneabilidade. De certa forma a análise dos coliformes fecais

prevista será indicativa da condição de potabilidade da água da represa.

Neste contexto, esse estudo se propõe a desenvolver um sistema integrado

envolvendo os dados de sensoriamento remoto (imagens de satélite), redes

neurais, parâmetros de qualidade de água para aquisição e armazenamento de

informações ambientais sobre o reservatório, introduzindo, desta forma, um

sistema de inteligência na gestão da qualidade da água do reservatório da Usina

Hidrelétrica de Tucuruí, economizando recursos de verificação mais intensa no

campo.

1.1 – Organização do Documento

No presente capítulo (capítulo1) procurou-se contextualizar para o leitor o

foco principal deste estudo descrevendo-se também o objetivo deste estudo. Este

documento possui mais cinco capítulos.

No capítulo 2, foi feita uma revisão dos conceitos de sensoriamento remoto,

uma vez que essa é uma técnica básica no desenvolvimento e uso da

metodologia proposta neste trabalho. As imagens de satélite proporcionam

informações em escala temporal e espacial sobre uma mesma região, como o

Reservatório de Tucuruí. Com isso, estudos comparativos ao longo do tempo e

em diversas áreas podem ser feitos de forma automatizada, sem a necessidade

de muitas e custosas viagens de campo, o que pode representar uma economia

de tempo e dinheiro.

No capítulo 2, também, foi feita uma caracterização dos diferentes tipos de

águas amazônicas, pois elas se diferenciam por suas características químicas,

físicas e biológicas alterando dessa forma seu comportamento espectral.

No capítulo 3, foram estudadas as redes neurais artificiais. Essa tecnologia

foi usada neste trabalho com o objetivo de se encontrar de forma aproximada o

relacionamento funcional entre a resposta eletromagnética captada pelos

sensores do satélite e o nível de concentração de pigmentos medido na superfície

do lago em diferentes pontos de coleta. As redes neurais do tipo RBF (Funções de

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Base Radial) utilizam um conjunto de funções gaussianas para fazerem a

aproximação de uma função desconhecida, definida a partir de uma amostra

empírica de dados.

No capítulo 4, foi descrita a área de trabalho, o Reservatório de Tucuruí,

uma área inundada, de cerca de 2.830 km2, com tempo de retenção médio em

torno de 52 dias. Além disso, foi discutido o método de medição do nível de

pigmentos nos diversos pontos de coleta espalhados pelo reservatório. Em

seguida, foi descrita a metodologia que utiliza imagens do satélite LANDSAT,

juntamente com diversos softwares e gera uma planilha de dados para treinar uma

rede neural artificial com arquitetura RBF.

No capítulo 5, foram apresentados os resultados obtidos em nosso estudo.

Três diferentes conjuntos de dados de entradas foram preparados usando

informações das quatro bandas das imagens: o primeiro com os quatro valores de

DN; o segundo usando índices sugeridos pela literatura relacionada (Panda, 2004)

baseados nas informações das quatro bandas e o terceiro por interpolação de

dados usados para primeira entrada com dados usados para a segunda entrada.

A partir da rede treinada foram estimados os níveis de pigmento para diversos

outros pontos de validação, obtendo-se, na análise estatística dos dados, bons

indicadores da validade do método. Também foi feita uma interpolação dos

valores de pigmentos espalhados pela superfície do reservatório, gerando um

mapa visual que pode ser usado como alerta para intervenções da equipe de meio

ambiente.

No capítulo 6, último capítulo, foram apresentadas as conclusões deste

trabalho.

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CAPÍTULO 2

SENSORIAMENTO REMOTO E PROPRIEDADES ÓTICAS

DAS ÁGUAS

2.1 - Sensoriamento Remoto

Sensoriamento Remoto é a aquisição de dados dos objetos existentes na

superfície terrestre, sem que haja contato físico direto entre o sensor e o objeto.

Pode-se, porém, com mais rigor, defini-lo como uma medida de trocas de energia,

resultantes da interação da energia contida na radiação eletromagnética de

determinado comprimento de onda incidente em um meio material, com a energia

contida nos átomos e moléculas que constituem aquele material (Meneses &

Netto, 2001; Lillesand e Kiefer, 2004.). Quando a radiação eletromagnética incide

sobre a superfície de um material terá uma parte sua refletida por essa superfície,

parte absorvida pelos átomos ou moléculas e parte podendo ser transmitida, caso

a matéria exiba alguma transparência. No caso de sensoriamento remoto de

superfície da Terra esses componentes são armazenados em forma de matrizes

numéricas, identificando os valores de maneira conveniente para serem

processados no computador. Tais matrizes, com valores que identificam a

localização da unidade pictorial (pixel) no espaço e suas características

espectrais, geralmente são analisadas empregando software projetado

especialmente para isto, denominado de sistemas de geoprocessamento

(Meneses, 2001). A soma desses três componentes determina as características

da imagem do objeto registrado pelo sensor, as quais são codificadas nas

imagens por meio de valores digitais dos pixels e representam os correspondentes

valores da intensidade de reflectância daquele objeto. Neste sentido, tem-se uma

importante ferramenta de trabalho nas análises ambientais, enquadrando-se nos

mais variados tipos de pesquisa das áreas do conhecimento, desde o

monitoramento de queimadas, ao uso e ocupação do solo, controle de qualidade

de água, planejamento urbano, entre outros.

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2.1.1 – Princípios do Sensoriamento Remoto Orbital

2.1.1.1 – Radiação Eletromagnética

Os quatro elementos fundamentais das técnicas de sensoriamento remoto

(SR) são a radiação eletromagnética, a fonte, o sensor e o alvo (Novo &

Ponzoni, 2001).

A Radiação Eletromagnética seria o elemento de ligação para os demais

elementos das técnicas de SR. A fonte de radiação eletromagnética, que para o

caso da aplicação das técnicas de sensoriamento remoto no estudo dos recursos

naturais, é o sol (podendo ser também a Terra para os sensores passivos de

microondas e termais, ou podem ser antenas de microondas para os sistemas

radares); o sensor, que é o instrumento capaz de coletar e registrar a radiação

eletromagnética refletida ou emitida pelo objeto que é também denominado alvo, e

que representa o elemento do qual se pretende extrair informação.

Desta forma, entende-se, então, que o elemento fundamental para as

técnicas de sensoriamento remoto é a radiação eletromagnética, que se propaga

no vácuo com velocidade próxima de 300.000 Km/s (velocidade da luz) e

caracterizado pela energia da radiação e comprimento de onda definido (Novo &

Ponzoni, 2001; Steffen et al, 1996). O conjunto de comprimentos de onda que

compõem a radiação eletromagnética é conhecido como Espectro

eletromagnético, o qual é dividido didaticamente em certo número de regiões

espectrais, conforme apresentado na Figura 1.

Figura 1. O Espectro Eletromagnético (Steffen et al, 1996; Novo & Ponzoni, 2001).

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De acordo com o comprimento de onda a radiação eletromagnética é

classificada em:

radiação Gama: radiação de alta energia geralmente emitida por materiais

radioativos, é utilizada em medicina (radioterapia) e radiografia industrial, (λ < 0,1

Å).

raios-X: radiação produzida pelo freamento de elétrons de alta energia. O seu

médio poder de penetração a torna adequada para as aplicações na medicina

(radiografia) e nas técnicas de controle de qualidade industrial (10 ≤ λ ≤ 0,1 Å).

ultravioleta: radiação emitida em grande quantidade pelo Sol na faixa de 100nm

até aproximadamente 380nm entretanto é bastante atenuada pela camada de

ozônio atmosférico antes de atingir a superfície terrestre. Essa banda pode ser

subdividida em:

UV próximo: 300 a 380 nm

UV médio: 200 a 300 nm

UV distante: 100 a 200 nm

visível: é o conjunto das radiações que podem ser percebidas pelo sistema visual

humano e denominado luz. A cor é uma sensação produzida pelo estímulo

luminoso e as diferentes componentes do espectro visível produzem sensações

de cor que dependem de seu comprimento de onda (ou freqüência):

violeta: 390 a 450 nm

azul: 450 a 500 nm

verde: 500 a 560 nm

amarelo: 560 a 600 nm

laranja: 600 a 630 nm

vermelho: 630 a 760 nm

infravermelho: região espectral que contém as radiações eletromagnéticas

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desde 0,7µm até 1000 µm e costuma ser subdividida em três sub-regiões:

IV próximo: 0,7 a 3,0 µm

IV médio: 3,0 a 6,0 µm

IV distante: 6,0 a 103 µm

Na superfície da Terra, as radiações do infravermelho próximo podem ser

encontradas em quantidades bastante significativas na radiação solar enquanto

que as radiações do infravermelho médias e distante também conhecidas como

radiações termais têm sua fonte mais importante nos objetos terrestres (mesmo

na temperatura ambiente).

microondas: radiações eletromagnéticas produzidas por sistemas eletrônicos e

se estendem pela região do espectro desde 1mm até cerca de 1m, o que

corresponde ao intervalo de freqüências de 300GHz a 300Mhz. Em

Sensoriamento Remoto as radiações de microondas são utilizadas nos sistemas

de radar (radio detection and ranging) e são importantes pela sua capacidade de

gerar imagens através das nuvens.

rádio: radiações eletromagnéticas de freqüência menor que 300MHz (λ > 1m) e

utilizadas principalmente em telecomunicações.

Algumas bandas do espectro eletromagnético têm denominações especiais

relacionadas com suas características como por exemplo:

espectro óptico: região do espectro que compreende as radiações que podem

ser coletadas por sistemas ópticos (ultravioleta, visível, e infravermelho).

espectro solar: região espectral que compreende os tipos de radiação emitidas

pelo Sol.

espectro visível: conjunto das radiações percebidas pelo sistema visual humano.

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2.1.1.2 – Fontes de Radiação

Na figura 2, é apresentado o espectro da intensidade de radiação

eletromagnética medido no topo e na base da atmosfera. A linha tracejada

representa então a medida a cada comprimento de onda no topo da atmosfera,

enquanto que a linha cheia que apresenta algumas descontinuidades, representa

esta mesma “intensidade” agora na superfície terrestre. Estas descontinuidades

são ocasionadas pela influência da atmosfera que se faz de forma seletiva, ou

seja, ela ocorre de forma diferenciada em determinadas regiões espectrais. As

faixas espectrais nas quais a influência da atmosfera é mínima são denominadas

de “janelas atmosféricas”.

Figura 2 - Fontes de Radiação Eletromagnética (Novo & Ponzoni, 2001).

Observa-se que em ambas as linhas, as maiores intensidades de Radiação

eletromagnética ocorrem na faixa de comprimentos de onda compreendida entre

0,4 à 0,7µm (400 a 700 nm), região do visível.

As faixas mais comumente exploradas para fins de sensoriamento remoto

dos recursos naturais são: visível, infravermelho próximo, infravermelho médio e

microondas (Novo, 2001).

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2.1.1.3 – Conceitos Radiométricos

Irradiância - representa a intensidade do fluxo radiante, proveniente de

todas as direções, que atinge uma dada superfície. Neste fluxo radiante estão

contidos todos os comprimentos de onda que são radiados pela fonte, segundo

suas próprias características (Novo & Ponzoni, 2001; Steffen et al, 1996).

Assim que um determinado fluxo radiante atinge uma superfície, ele sofre

três fenômenos: reflexão, transmissão e absorção. Estes fenômenos são

dependentes das características físico-químicas do próprio objeto irradiado, que

definem as intensidades de reflexão, transmissão e absorção da radiação

eletromagnética em cada comprimento de onda incidente no objeto.

Excitância - representa a intensidade quantificada da porção refletida,

originando um novo fluxo em sentido contrário ao incidente, mas nas mesmas

direções.

Parte deste fluxo refletido pelo objeto pode ser coletado por um sensor

localizado remotamente, através de uma abertura pela qual a radiação

eletromagnética refletida ou emitida pelos objetos passa em direção ao chamado

“detector”, que é o elemento que realmente “sente” a radiação eletromagnética.

Entre esta abertura e o ponto da superfície do objeto passa a ser definido um cone

por onde trafega a radiação eletromagnética. Esse cone é denominado de ângulo

sólido (Novo & Ponzoni, 2001; Steffen et al, 1996).

Somente a radiação eletromagnética que estiver contida neste ângulo

sólido será sentida pelo detector, mas ao mesmo tempo, o sensor não observa

somente um ponto na superfície e sim uma determinada área desta superfície, a

qual é constituída por infinitos pontos. Assim, o que realmente é medido pelo

sensor é a intensidade de todos os infinitos fluxos contidos nos ângulos sólidos

dos pontos da área da qual ele é capaz de observar. Esta intensidade é

denominada de Radiância (Steffen et al, 1996; Novo & Ponzoni, 2001).

A Radiância é portanto a intensidade do fluxo radiante por unidade de

ângulo sólido e seu conceito pode ser comparado ao conceito de brilho, ou seja,

um objeto é considerado mais brilhante quanto maior for sua Radiância medida.

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A Radiância é também dependente da intensidade do fluxo radiante que

atinge o objeto (Irradiância). Quanto maior for essa intensidade, maior também

será aquela referente ao fluxo que deixa o objeto, e consequentemente, maior

será a Radiância.

A Reflectância representa uma relação entre a Radiância refletida de um

dado objeto pela Irradiância. Nota-se portanto que a Reflectância expressa as

propriedades intrínsecas dos objetos em refletir a radiação eletromagnética sobre

eles incidente. Ela é expressa em percentagem, possuindo então um caráter

relativo (Steffen et al, 1996; Novo & Ponzoni, 2001).

Através da reflectância são estudadas as características intrínsecas dos

objetos em refletir a radiação eletromagnética incidente, pois ela é dependente

das suas propriedades físico-químicas. Esse estudo é conhecido como

Comportamento espectral de alvos.

2.1.2 – Componentes de um Sistema de Sensoriamento Remoto

O Sensoriamento Remoto utiliza sensores a bordo de aeronaves ou

satélites, equipamentos para transmissão, recepção, armazenamento e

processamento de dados, com o objetivo de estudar o ambiente terrestre nos

domínios espacial, temporal e físico, através do registro e da análise das

interações entre a radiação eletromagnética e as substâncias componentes do

planeta Terra.

Segundo Novo (1989), este sistema de aquisição de informações é formado

por alguns subsistemas importantes:

- Sistemas sensores: são os equipamentos que focalizam e registram a radiação

eletromagnética proveniente de um objeto; os sensores podem ser caracterizados

como ativos e passivos, este tipo de classificação refere-se à capacidade do

sensor de emitir a energia que irá interagir com os objetos. Se não emitir energia,

é passivo (satélites). Se emitir, é ativo (sistema radar – microondas; sonar -

ecosonda).

- Sistemas de processamento de dados: que convertem o dado bruto produzido

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pelo sensor em variável física passível de ser interpretada e convertida em

informação;

- Sistemas de análise: que incluem todas as ferramentas, dentre as quais se

destacam os sistemas de informação geográfica (SIGs), que permitem integrar a

informação derivada de sensoriamento remoto com informações proveniente de

outras fontes.

2.1.3 - Características das Imagens de Sensoriamento Remoto

As imagens digitais provenientes dos sensores dos satélites de

Sensoriamento Remoto Orbital são compostas por uma matriz de quadrados (ou

retângulos). Esses quadrados (ou retângulos) são denominados de pixel (“picture

element”) e cada um possui um valor relacionado a um parâmetro medido pelo

sensor usado (p.ex: reflectância, temperatura). Esse valor é denominado “digital

number” (DN) e é convertido em níveis de cinza. Deve ser ressaltado que o DN de

um pixel corresponde sempre a média da intensidade da energia refletida ou

emitida pelos diferentes materiais presentes nesse pixel. A Figura 3 mostra um

exemplo de matriz de pixels e seus DN’s associados aos níveis de cinza.

Figura 3. Matriz da imagem e seus DN’s associados (Crosta, 1993).

2.1.3.1 – Resolução Espacial

A Resolução Espacial é a capacidade do sensor de detectar objetos a partir

de uma determinada dimensão (Rocha, 2000). Quanto maior a resolução do

sistema sensor, menor é o tamanho mínimo dos elementos que podem ser

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detectados individualmente, conforme apresentado na Tabela 1.

2.1.3.2 - Resolução Espectral

A Resolução Espectral expressa à capacidade do sensor de registrar a

radiação em diferentes regiões do espectro. Quanto melhor a resolução espectral,

maior o número de bandas espectrais que podem ser adquiridas sobre os objetos

da superfície, aumentando o poder de extração de informação para cartas

temáticas (Rocha, 2000). Ver exemplos na Tabela 1.

2.1.3.3 - Resolução Radiométrica

A Resolução Radiométrica representa a capacidade de discriminar diferentes

intensidades de sinal ou número de níveis digitais em que a informação se

encontra registrada. Quanto maior for esta resolução, maior será a sensibilidade

do sensor nas pequenas diferenças de radiação, aumentando o poder de

contraste e de discriminação das imagens (Rocha, 2000). Como exemplos são

apresentados na Tabela 1 e 2 tais resoluções.

A Figura 4 compara duas imagens com resoluções radiométricas diferentes.

O sistema visual humano não é muito sensível à variação em intensidade,

dificilmente percebendo mais que 30 diferentes tons de cinza numa imagem; o

computador, por sua vez, consegue diferenciar qualquer quantidade de níveis,

razão pela qual se torna importante ter imagens de alta resolução radiométrica.

a) b)

Figura 4 – Imagens radiométricas: a) 2 níveis de cinza; b) a mesma imagem, com

32 níveis de cinza (Crosta, 1993)

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2.1.3.4 - Resolução Temporal

A Resolução Temporal representa a freqüência com que a área de

interesse é revisitada ou imageada (Rocha, 2000). Ver Tabela 1.

2.1.3.5 - Largura da Faixa Imageada

A largura da faixa imageada, ou largura da faixa de varredura, muda de

acordo com o satélite (Rocha, 2000). É definida pela varredura completa da

imagem e, em geral, existe um compromisso entre a largura da faixa e as

resoluções espacial, espectral e radiométrica. Para se ganhar em um dos

atributos há que se perder nos outros.

Na Figura 5 são apresentadas duas imagens com largura de faixa

imageada de diferentes extensões dos satélites CBERS 1 e 2.

(a) (b)

Figura 5 – Imagens do Satélite de observação da Terra, CBERS (INPE, 2005).

(a) CBERS 1 – largura de faixa - 890 km.

(b) CBERS 2 – largura de faixa - 113 km.

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Tabela 1 – Dados Técnicos de alguns satélites de observação da Terra (Fonte:

NASA).

2.1.4 - Sistemas Sensores

Basicamente têm-se os sensores fotográficos, de radar, laser,

espectrômetros e radiômetros.

2.1.4.1 – Sensores Fotográficos

Os sensores imageadores, baseados em sistemas fotográficos, tentaram

reproduzir as características do olho humano. A objetiva faz o papel da íris e o

cristalino e o filme, o papel da retina. Os sensores fotográficos possuem um

detector foto-químico (filme), enquanto os imageadores possuem detectores que

transformam a radiação recebida em sinal elétrico. Portanto, as principais

diferenças residem no processamento da imagem (Rocha, 2000).

Os imageadores são dispositivos eletro-ópticos que coletam a radiação

eletromagnética proveniente da superfície, segundo um padrão geométrico

regular; decompõem essa radiação através de prismas, grades de difração, filtros,

detectores; registram as intensidades em diferentes intervalos espectrais e usam

esses valores para produzir sinais. Sendo assim, os problemas de resolução

geométrica estão subordinados à óptica do sistema e ao tempo de resposta dos

LANDSAT NOOA SPOT IKONOS ERS RESOLUÇÃO ESPACIAL 30 m, 60m

(termal) e 15m

(pan)

20 m 1 m

DIMENSÃO DE UMA CENA

185 km x 185 km 60 km x 60 km

RESOLUÇÃO ESPECTRAL

LANDSAT 7 = 8

bandas

NOOA 15 = 6

bandas

3 canais

espectrais

visíveis +

infravermelho

RESOLUÇÃO TEMPORAL LANDSAT 7 =

16 dias

6 horas

RESOLUÇÃO RADIOMÉTRICA

LANDSAT 7 = 8

bits = 256 níveis

16 bits =

65.536

níveis

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detectores, e a resolução espectral é função do tipo de detector e de capacidade

espectral (Rocha, 2000).

Uma limitação para estes sistemas é a necessidade de uma fonte externa

de radiação, o Sol. Com isto, estes sensores estão limitados a operar em

determinados períodos do dia e estão muito sujeitos a condições atmosféricas,

especialmente cobertura de nuvens.

Os sensores radar e laser, por serem ativos (emitem e recebem o sinal),

não precisam de luz solar, podendo ser utilizados a qualquer hora do dia.

2.1.4.2 – Sensores de Radar

Segundo Novo (1989), um radar executa três funções básicas: transmite um

pulso de microondas em direção a um alvo; recebe a porção refletida do pulso

transmitido após este haver interagido com o alvo (energia retroespalhada); e

registra a potência, a variação temporal e o tempo de retorno do pulso

retroespalhado.

O sinal de radar ilumina a superfície em um ângulo oblíquo, onde realça as

variações de rugosidade e textura da superfície; pode trabalhar com polarização

horizontal ou vertical, permitindo a investigação de propriedades tais como

condutividade elétrica. Outra característica importante é que esses sensores

independem da iluminação solar, podendo operar a qualquer hora e devido

também aos seus comprimentos de ondas (5,6 cm), conseguem trabalhar sobre

cobertura de nuvens.

A limitação de tais sensores é sua estreita faixa de intervalo de freqüência

ou comprimento de onda, limitando suas características multiespectrais.

Exemplos desses sistemas são o Canadense Radarsat, Europeu ERS

(European Remote Sensing Satellite) e Japonês JERS (Japanese Earth Resource

Satellite-1).

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2.1.4.3 – Sensores a Laser

São sistemas ativos a laser, opera de modo similar aos sistemas de radar,

porém, não são imageadores. Medem a luminescência (capacidade que têm

algumas substâncias em devolver radiação de comprimento de onda maior -

menor energia - do que a radiação incidente). Este fenômeno é observado em

diversos minerais de importância econômica, óleos minerais, clorofila, corantes

artificiais, etc (Rocha, 2000).

São de uso restrito, pois operam com pulsos de intensidade tão elevada

que podem cegar animais ou pessoas em seu campo de visada. Sendo, por esse

motivo, usados somente em regiões remotas e sobre oceanos, para acompanhar

manchas de vazamento de óleo ou outras substâncias.

2.1.4.4 – Espectrômetros

Medem o conteúdo espectral de um campo eletromagnético, sendo muito

utilizados para identificação da composição química de objetos. Alguns

espectrômetros especiais captam e processam a radiação gama produzida por

elementos naturais (urânio, tório e potássio) ou artificiais, ao longo da trajetória,

sendo usados principalmente para localizar recursos minerais ou para avaliar a

extensão de acidentes nucleares (Rocha, 2000).

2.1.4.5 – Radiômetros

Privilegiam a captação de diferentes intensidades ou níveis digitais do

campo eletromagnético dos objetos, em detrimento das resoluções espectrais e

espaciais, sendo, portanto, utilizados para obter perfis de temperatura da

atmosfera e dos oceanos (Rocha, 2000).

Os radiômetros de microondas medem a temperatura, salinidade e

rugosidade da superfície do mar através da neblina e a noite. Os radiômetros

imageadores são utilizados para mapear as distribuições de temperatura.

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2.1.5 – Tipos de Satélites

Existem cerca de 70.000 objetos orbitando a Terra entre satélites e sucatas,

dos mais diversos tipos:

- Militares: IDS (Guerra nas Estrelas);

- Telecomunicações: GPS, Iridium, Globalsat, Odyssey, Ico, Intelsat, Intersputinik,

Brasilsat, Telecom;

- Científicos: CERES, MOPITT, MISR, MODIS, ASTER;

- Meteorológicos: NOAA, METEOSAT, GOES, SCD-2;

- Observação da Terra: LANDSAT, CBERS, SPOT, IKONOS, JERS, RADARSAT.

2.1.5.1 - Satélites de Recursos Naturais

São os que possuem mais sistemas disponíveis. Devido à órbita quase

polar, recobrem grande parte da totalidade da Terra. Os principais sistemas

disponíveis são: LANDSAT; SPOT; CBERS; IRS; KOMPSAT; EROS; IKONOS;

QUICKBIRD; JERS; ERS; ENVISAT; RADARSAT; ASTER (LILLESAND e

KIEFER, 2004; NOVO e PONZONI, 2001).

.

2.1.5.1.1 – Sistema Landsat

O LANDSAT foi colocado em órbita em 1972, com o nome de ERTS-1

(Earth Resources Technological Satellite-1), com um desempenho tão significativo

que foi transformado na série LANDSAT (ROCHA, 2000).

O LANDSAT 5 já está operando desde 1984, muito além da vida útil prevista

na época do lançamento. Trabalha com os sensores TM (Thematic Mapper) e

MSS (Multispectral Scanner System), com, respectivamente, sete e quatro

bandas em cada. A resolução espacial obtida é de 30 m. O LANDSAT 6 foi

lançado em 1993 e perdeu-se no mar (ROCHA, 2000).

O LANDSAT 7 foi lançado em 1999 com os sensores ETM+ (Enhanced

Thematic Mapper) e PAN (pancromático), operando com sete canais

multispectrais e um canal PAN, respectivamente. A banda PAN consegue

resoluções espaciais de até 15m, possibilitando escalas de até 1:25.000. Os

satélites LANDSAT 5 e 7 encontram-se a uma altura de 705 Km.

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A operação do satélite LANDSAT em órbita é administrada pela NASA -

National Space and Space Administration e a sua produção e comercialização de

imagens fica sob os cuidados da USGS - United States Geological Survey. No

Brasil, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e algumas empresas

privadas comercializam as imagens do LANDSAT 4, 5 e 7. Estas cenas cobrem

uma área de 185 X 185 Km (34.225 Km2).

Apresenta-se a seguir informações técnicas dos parâmetros do LANDSAT 5

e 7, cujas imagens serão utilizadas neste trabalho.

2.1.5.1.2 - Faixas Espectrais do Landsat 5 e 7

Cada imagem do LANDSAT 5 é composta de sete bandas. O LANDSAT 7

possui as mesmas bandas que o cinco, com mais uma banda pancromática. Cada

banda representa a resposta em certa faixa espectral. Uma foto em preto e branco

é feita com uma banda, enquanto que uma foto colorida é feita com 3 bandas de

acordo com as características a serem realçadas (ROCHA, 2000).

Tabela 2 – Dados Técnicos dos Satélites LANDSAT 5 e 7 (Fonte: NASA)

Banda Faixa Espectral ( em µm)

PAN

1

2

3

4

5

6

7

0,5 a 0,90 – apenas LANDSAT 7.

0,45-0,52 (Azul)

0,52-0,60 (Verde)

0,63-0,69 (Vermelho)

0,76-0,90 (Infravermelho próximo)

1,55-1,75 (Infravermelho médio)

10,4-12,5 (Infravermelho termal)

2,08-2,35 (Infravermelho médio)

Resolução espacial (em m) 30

Resolução temporal Um ciclo a cada 16 dias

Resolução Radiométrica 8 bits = 256 níves 8 bits = 256 níves

Dimensões da imagem (em km) 185 x 185

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As diferentes bandas das imagens possuem utilidades e usos diferentes.

De acordo com Lillesand e Kiefer (2004), temos os seguintes usos principais para

as imagens nas diversas bandas, principalmente no aspecto relacionado à

vegetação.

A banda 1 (azul) apresenta grande penetração na água, com elevada

transparência; é utilizada para discriminação da vegetação do solo, mapeamento

de florestas.

A banda 2 (verde) apresenta grande sensibilidade a presença de

sedimentos em suspensão, possibilitando sua análise em termos de qualidade e

quantidade.

A banda 3 (vermelho) permite medir níveis de absorção de clorofila pelas

plantas, contribuindo para a diferenciação de tipos de vegetação.

A banda 4 (infravermelho próximo) os corpos de água absorvem muita

energia nesta banda e ficam escuros; é utilizada para a identificação de tipos

diferentes de vegetação, assim como para avaliar o potencial de biomassa.

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2.2 - Propriedades Ópticas das Águas

2.2.1 - Tipologia das Águas Superficiais Amazônicas

Sioli (1967) citado por Ribeiro (1992), classificou as águas superficiais

amazônicas em três tipos diferentes.

Os rios de “águas brancas”, correspondem aos rios da Amazônia que

apresentam maior turbidez, como Solimões/Amazonas, Purus, Madeira e Juruá,

que têm suas cabeceiras nas regiões andinas, carreiam sedimentos em direção à

planície central e os depositam nas extensas áreas alagadas durante as

enchentes, formando os solos de várzea, os mais férteis da Amazônia. Tais águas

apresentam muita substância em suspensão, coloração marrom-amarelada, com

transparência entre 10 e 60 cm, são relativamente ricas em nutrientes, tanto em

matéria orgânica quanto em inorgânica. Em geral, o pH varia entre 6,2 e 7,2.

Os rios de “águas claras” possuem águas mais transparentes do que as

marrom-amareladas, de cor verde-azulada ou claras, carreiam pouco material em

suspensão, têm origem nos sedimentos terciários da bacia amazônica ou no

escudo do Brasil Central, e são ácidos e pobres em sais minerais, apresentando

baixas concentrações de cálcio e magnésio. No entanto, os rios de “águas

claras” que nascem na estreita faixa carbonífera ao norte e ao sul do Baixo

Amazonas (Estado do Pará) são neutros e relativamente ricos em sais minerais

com elevado teor de cálcio e magnésio. O pH varia entre 4,5 e 7,8.

Os rios de “águas pretas” como o rio Negro, Urubu, Tefé, Tapauá, nascem

nos escudos (formações continentais e planas) pré-cambrianos das Guianas e do

Brasil Central ou nos sedimentos terciários da bacia amazônica, possuem

coloração marrom e quando a profundidade é maior do que dois metros, a água

parece realmente preta. O fraco processo de erosão nesses terrenos é reduzido

ainda mais pela densa mata fluvial, e por isso os rios apresentam baixa carga de

sedimentos e uma coloração transparente. A baixa concentração de cálcio e

magnésio nas formações geológicas das nascentes torna ácida essas águas, o pH

varia de 3,8 a 4,9, embora o índice dependa da chuva. A acidez e a cor real das

“águas pretas” são atribuídas também segundo Walker (1987) citado por Ribeiro

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(1992), à presença de ácidos húmicos, originários de substâncias orgânicas não

mineralizadas no solo da floresta.

A literatura científica tem demonstrado que a química das águas superficiais

da Amazônia exibe as relações entre a química das águas e a

geologia/mineralogia, bem como a pedologia associada às águas da área na

cabeceira, e finalmente na paisagem total da Amazônia (Junk e Furch, 1985;

Novo, 2004; 2005; Rudorff et al. 2005).

Tais classificações das diferentes tipologias das águas amazônicas,

entretanto, só podem ser aplicadas à bacia Amazônica em um estudo de grande

escala, tendo em vista a grande complexidade das águas e da geomorfologia e

geologia da região.

2.2.2 – Comportamento Espectral da Água

Em estudos de sensoriamento remoto (SR) óptico, é necessário conhecer

os diferentes fluxos de radiação, detectadas pelo sensor. Quando os sistemas

aquáticos são estudados, em comparação com os sistemas terrestres, a

diferenciação das componentes radiativas é ainda mais importante, pois a energia

proveniente dos sistemas aquáticos é relativamente baixa (Ruddorf, 2006). A

radiação que chega ao sensor pode percorrer diferentes caminhos: (1) pela

reflexão especular solar direta que atinge a superfície d´água; (2) pela reflexão

especular da radiação solar difusa que atinge a superfície d´água; (3) pela

radiação espalhada pela atmosfera; (4) pelo fluxo emergente de subsuperfície

(Lw) (Kirk, 1996). A Figura 6 ilustra os diferentes tipos de radiação.

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Figura 6 - Componentes do fluxo de energia que deixa o corpo d’água (Adaptado

de Kirk 1996 apud em Rudorf, 2001).

O fluxo que se encontra relacionado com as propriedades da água é o

emergente imediatamente abaixo da superfície (Lu). No entanto, o que é

detectado pelo sensor (após todas as correções necessárias) é o fluxo emergente

(Lw), ou seja, a parte do fluxo que consegue atravessar a superfície.

Os dados de sensoriamento remoto estão mais relacionados com aquela

parte de Lu que se encontra entre 0 e 40 graus em relação à vertical. Sob

condições calmas (sem ventos ou com ventos de baixa velocidade), somente

cerca de 2% a 6% da energia incidente é refletida na interface água/ar. A reflexão

interna da radiação emergente pode aumentar com a rugosidade da superfície.

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Esse efeito, entretanto, pode ser desprezível, quando a energia emergente da

coluna d'água incide sobre a interface água/ar segundo pequenos ângulos (Novo,

2001).

Quando o fluxo radiante atravessa o meio aquático, o mesmo perde

intensidade à medida que a profundidade aumenta como conseqüência dos

efeitos de absorção e espalhamento ( Kirk, 1996; Novo 2001, citado por Meneses,

2001). A quantidade de radiação refletida pela superfície da água pode ser

estimada pela razão entre o coeficiente de espalhamento b e o coeficiente de

absorção a. No entanto, a diferença de densidade óptica entre a água e o ar faz

com que parte deste fluxo de radiação seja refletida de volta para cima, enquanto

a parte que atravessa a superfície da água é refratada (segundo a lei de Snell),

causando seu espalhamento – aumentando, portanto o ângulo sólido (dw) - e sua

conseqüente perda de intensidade (Rudorff, 2005).

A Equação 1 relaciona a radiância de superfície derivada de dados de

sensoriamento remoto, com aquela de subsuperfície.

Lw = 0,544 Lu, Eq. 1

onde: Lw: radiância medida pelo sensor remoto;

Lu: radiância de supsuperfície.

Onde, a partir dos valores de Lw, derivados de dados de sensores remotos

após correção dos efeitos atmosféricos, estima-se os valores de Lu conforme a

Equação 2:

Lu = 1,84 . Lw Eq. 2

2.2.3 – Correções do Fluxo Emergente em Relação aos Efeitos Atmosféricos

Uma das razões apontadas para a complexidade da interpretação da água

nas imagens de satélites é que cerca de 90% da radiação, registrada por um

sensor orbital, originada em um corpo de água, pode ser atribuída à radiância da

atmosfera, também conhecida como radiância de trajetória. Essa radiância de

trajetória é provocada principalmente pelo espalhamento que a luz solar sofre na

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presença das moléculas dos gases constituintes da atmosfera e de partículas

nela presentes, tais como poeiras, sais, gotas de chuva, vapor d'água (Novo,

2001).

Para estimar o valor de Lw é necessário que a radiância de trajetória (La)

seja removida da radiância detectada pelo sensor (L).

Um dos métodos freqüentemente utilizados para a correção atmosférica de

dados Landsat é conhecido como "pixel escuro". Consiste em localizar dentro da

cena imageada em um corpo de água, o pixel de mais baixo valor e subtrair esse

valor daqueles atribuídos aos demais pixels da imagem. O suporte teórico para

esse método baseia-se no fato de que a radiância de um "pixel escuro" pode ser

atribuída somente à contribuição da atmosfera, pois o valor desse pixel deveria

ser zero. Portanto, quando se subtrai seu valor do valor de cada pixel da cena,

remove-se a radiância de trajetória. Para que esse método possa ser utilizado, os

dados devem se conformar com algumas condições: 1) a atmosfera deve ser

constante sobre a cena; 2) o pixel mais escuro deve ser realmente um pixel de

radiância bem próxima a zero, pois, caso contrário, parte do sinal proveniente da

água estaria sendo subtraído junto com o sinal devido à atmosfera.

2.2.4 - Correção do Fluxo Emergente em Relação à Irradiância Solar na

Superfície da Água

A grandeza radiométrica medida pelo sensor é a radiância, mas a

propriedade radiométrica da água que se relaciona com seus componentes é a

reflectância. Para se estimar adequadamente a reflectância, não basta apenas

corrigir a radiância medida pelo sensor, mas é preciso, também, avaliar a

irradiância que atinge a superfície da água. A irradiância incidente na superfície

varia com o ângulo zenital do Sol. Assim sendo, para se expurgar os efeitos de

variação do ângulo solar sobre os valores de reflectância, aplica-se a seguinte

correção dada pela Equação 3 (Novov, 2001 citado por Meneses, 2001):

Lw = Lw’/ cos (θ) Eq. 3

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Onde: Lw: radiância da água;

Lw’: radiância da água medida pelo sensor após correção atmosférica

θ: ângulo zenital do Sol.

2.2.5– Constituintes Opticamente Ativos

2.2.5.1 – Propriedades Ópticas Inerentes e Aparentes da Água

2.2.5.1.1 – Propriedades Ópticas Inerentes

São propriedades ópticas que dependem, exclusivamente, da composição

do corpo d'água, ou seja, da concentração e tipo de substâncias opticamente

ativas presentes no corpo d'água. As substâncias opticamente ativas são

aquelas que podem afetar o espectro de absorção e espalhamento da água pura.

2.2.5.1.2 - Propriedades Ópticas Aparentes

São propriedades ópticas que são afetadas tanto pela composição do

corpo d'água quanto pelas características do campo de luz incidente sobre a

água, porque os valores das grandezas medidas podem modificar-se com

alterações no campo de luz incidente sobre a água. O fluxo retroespalhado, por

exemplo, é uma propriedade óptica aparente porque sua magnitude dependerá

do fluxo incidente. Portanto, a Irradiância Descendente (Ed) e a Irradiância

Ascendente (Eu) são propriedades ópticas aparentes do corpo d'água (Figura 6).

De acordo com estudos relatados por Kirk (1996) existe a seguinte

correlação entre a razão das irradiâncias ascendentes e descendentes e o

coeficiente de espalhamento e de absorção pelo corpo d’água.

R = Eu/Ed sendo R = K bb/a Eq. 5

onde: k: constante de proporcionalidade que varia de acordo com o

ângulo de elevação solar;

bb: coeficiente de retroespalhamento;

a: coeficiente de absorção da água.

Ou seja, o fluxo de energia detectado por um sensor remoto é diretamente

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proporcional ao coeficiente de retroespalhamento (fração do coeficiente de

espalhamento que representa a integração da energia espalhada na direção

oposta à de incidência), visto que é essa fração que vai ser responsável pela

formação de um fluxo de energia emergente em direção à superfície da água e

que chegará ao sensor da água, é inversamente proporcional ao seu coeficiente

de absorção (Novo, 2001).

Como os coeficientes de absorção e espalhamento da água são afetados

pelo tipo, concentração e composição de substâncias presentes no corpo d'água,

pode-se concluir que corpos d'água com diferentes composições apresentarão

diferenças sensíveis em sua cor e, portanto, em seus espectros refletivos.

Portanto, se se conhece os efeitos que os diferentes componentes exercem sobre

os coeficientes de absorção e espalhamento do corpo d'água é possível inferir

algumas propriedades do corpo d'água com base nas variações de sua cor.

Os componentes que afetam o comportamento espectral da água podem

ser classificados em três amplas categorias:

1. organismos vivos (fitoplâncton, zooplâncton e bacterioplâncton);

2. partículas em suspensão;

3. substâncias orgânicas dissolvidas.

O coeficiente de absorção (a) da água pura é mínimo na região

compreendida entre 400 e 600 nm (Figura 7), aumentando rapidamente na região

do infravermelho próximo. Contrariamente, o coeficiente de espalhamento (b) é

máximo na região do azul e decresce exponencialmente em direção ao

infravermelho. Neste caso, pode-se concluir que a radiação refletida pelas

moléculas da água pura é máxima na região do azul e decresce em direção ao

vermelho e que a água pura quando observada de um satélite, tenderá a

apresentar a cor azul.

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(a) (b)

Figura 7 - Variação do coeficiente a da água pura, de constituintes opticamente

ativos e a absorção total resultante; Variação do coeficiente b para

água pura e fitoplâncton ( Malthus 2003, citado por Rudorrf, 2005).

A cor da água pura pode ser alterada quando são introduzidas substâncias

que aumentam o coeficiente de absorção nas diversas regiões espectrais.

2.2.5.2 – Componentes Ópticos Dissolvidos e Particulados

As substâncias amarelas (substâncias orgânicas dissolvidas) caracterizam-

se por aumentar o coeficiente de absorção do meio aquático, principalmente na

região do azul.

As águas encontradas em ambientes naturais, ao contrário da água pura,

possuem diversos constituintes, que variam de origem, forma e tamanho,

alterando os parâmetros ópticos das mesmas. Estes componentes são divididos,

genericamente, em dois grupos: dissolvidos e particulados (Mobley, 1994).

2.2.5.2.1 – Componentes Ópticos Dissolvidos

Os componentes ópticos considerados como dissolvidos na água são

aqueles que passam por um filtro de 0,4 µm (400 nm). Este parâmetro é definido

com base no menor valor de comprimento de onda da faixa visível do espectro

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eletromagnético. Dessa forma, partículas menores que essas não podem ser

distinguidas em microscópios ópticos comuns (Nóbrega, 2005).

A matéria orgânica dissolvida (MOD) está presente tanto em águas

oceânicas quanto costeiras. Chamada também de substância amarela, sua

composição principal são os ácidos húmicos e fúlvicos solúveis presentes nos

solos das áreas de captação de água dos rios, vindos indiretamente da vegetação.

O termo substâncias húmicas está associado às águas continentais e o termo

Gelbstoff se refere às águas oceânicas. Kirk (1996, citado por Nóbrega, 2005)

propõe a utilização do termo gilvin para se referir a todas as substâncias orgânicas

de coloração amarela, as quais diferem apenas na origem.

Estudos realizados por Mobley (1994) sugerem que a presença de colóides

associados a essas substâncias promove aumento do coeficiente de

retroespalhamento em direção aos comprimentos de ondas mais longos.

Conforme aumenta a concentração da matéria orgânica dissolvida na água, a

reflectância da região azul diminui até um ponto em que os máximos de

reflectância passam a ocorrer na região do verde e vermelho, o que dá a água

uma cor amarela.

No caso do Rio Negro onde a concentração de substâncias orgânicas

dissolvidas é muito grande, a absorção suplanta o espalhamento e praticamente

não há energia retroespalhada pelo volume d'água, que adquire uma aparência

negra quando em grande volume.

2.2.5.3 – Componentes Ópticos Particulados

Os componentes particulados são, por sua vez, divididos em orgânicos e

Inorgânicos. Os sedimentos inorgânicos em suspensão presentes na água são

originados de intemperismo de rochas e solos, sendo principalmente constituídos

de grãos de quartzo, argilas e óxidos. Sedimentos em suspensão provocam um

aumento do valor de reflectância em todos os comprimentos de onda proporcional

ao aumento do grau de turbidez. Desta forma, o fluxo de radiação emergente

torna-se maior devido ao aumento do coeficiente de retro-espalhamento, sendo

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mais intensamente observado entre 500 e 700 nm (Dekker, 1993; Goodin et al.

(1993), citado por Nóbrega, 2005).

Comprimento de onda (nm)

Figura 8: Curva espectral de água com diferentes níveis de turbidez (Goodin et

al.1993, citado por Nobrega 2005).

Na análise da Figura 8 observa-se o aumento geral da reflectância com o

aumento da turbidez (expressa em unidades nefelométricas de turbidez, NTU)

como também a modificação na forma do espectro de reflectância. Águas túrbidas

podem apresentar reflectância acima de 0,12 % na região compreendida entre o

verde e infravermelho próximo.

A matéria orgânica particulada pode ocorrer sob diversas formas, sendo

elas: vírus, colóides, bactérias, fitoplâncton, detritos orgânicos e grandes

partículas. Os vírus têm tamanho muito inferior aos comprimentos de onda do

visível (20 a 250 nm), e mesmo em grandes quantidades não possuem

propriedades significativas de absorção ou espalhamento. Partículas coloidais e

bactérias também afetam o espectro da água, mesmo com tamanho

correspondente aos materiais dissolvidos, apresenta comportamento característico

de matéria particulada. Elas apresentam retro-espalhamento em comprimentos de

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ondas curtos, na região do azul, sendo as bactérias os microrganismos que mais

contribuem para o retro-espalhamento particulado.

O estudo de algas para o manejo de lagos e reservatórios pode fornecer

informações sobre o florescimento de espécies de algas potencialmente tóxicas,

como as cianobactérias, que produzem toxinas consideradas um risco à saúde

pública (Londe et al, 2005). Estes organismos podem também revelar o estágio

de eutrofização de lagos e reservatórios, com impactos como mortandade de

peixes e conseqüentes problemas à indústria pesqueira, ao turismo e ao uso da

água para irrigação, problemas relacionados a corrosão nas barragens, além de

fornecer informações importantes para os balanços globais do carbono e do

nitrogênio.

Alga corresponde a uma gama muito ampla de organismos, com grande

variabilidade morfológica, estrutural e metabólica, incluindo até os grupos

procarióticos (Londe et al, 2005). A maior parte destes seres vive na água, de

forma livre, fazendo parte do fitoplâncton. O fitoplâncton – phyto vem da palavra

grega phuton, que significa ‘planta’, e plâncton, da palavra grega plagtos, que

significa ‘vagando’ – é um grupo heterogêneo composto principalmente por algas

fotossintetizantes que se distribui por grande parte dos ambientes marinhos e

aquáticos continentais do mundo. Nestes ambientes, é o principal responsável

pela captação da energia eletromagnética e sua transformação em energia

química - em um processo chamado de fotossíntese -, desempenhando, portanto,

importante função no sistema. As moléculas que captam e transformam a energia

são chamadas de pigmentos fotossintetizantes, e alguns exemplos são as

clorofilas a, b e c e os carotenóides. Estas moléculas absorvem a energia em

bandas espectrais características (Londe et al. 2005).

Tanto a fixação de carbono quanto a produção de oxigênio ocorrem devido

à fotossíntese. Este mecanismo fisiológico se deve à presença dos pigmentos

fotossintéticos, que são moléculas que captam energia eletromagnética no

intervalo de 400 a 700 nm (Kirk, 1996). Estes pigmentos são agrupados em três

categorias: clorofilas, carotenóides e biliproteínas – causam a absorção seletiva da

radiação eletromagnética que penetra a superfície da água. A maior parte das

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plantas possui clorofilas a, b, c e mais raramente d. A clorofila a é aquela que

ocorre em maior abundância. Entre as algas, entretanto, a concentração da

clorofila a varia amplamente. A razão entre a concentração de clorofila a e b varia

também de espécie para espécie, podendo atingir valores mínimos em torno de

1,0 mg/L em espécies marinhas até 6,0 mg/L como o encontrado para a

Euglenofita.

Como citado anteriormente nas algas existem inúmeros pigmentos

fotossintetizantes, e o grande interesse de estudos com sensoriamento remoto é

usar o conhecimento das bandas de absorção específicas para poder ter acesso

aos prováveis tipos de comunidades fitoplanctônicas. A clorofila-a, por exemplo, é

um fitopigmento presente em todos os grupos de algas de águas continentais e a

estimativa de sua concentração é freqüentemente adotada como indicadora de

bioprodução dos sistemas aquáticos.

De modo geral, os pigmentos que atuam na fotossíntese provocam a

diminuição da reflectância na faixa do azul (400-515 nm) e o aumento na faixa do

verde (515-600 nm).

O aumento de reflectância no verde é atribuído ao fato de ocorrer um

processo de espalhamento interno nas células do fitoplâncton. De fato, essas

algas são partículas refratoras, portanto, provocam o aumentam do espalhamento

também em comprimentos de onda do infravermelho próximo (700-900 nm). Os

métodos de SR em estudos de fitoplâncton fazem uso do conhecimento de que as

células fotossintetizadoras absorvem luz de forma mais intensa em certas regiões

definidas do espectro (Tabela 3). Thiemann e Kaufmann (2000) propuseram

procedimentos para determinar o conteúdo de clorofila-a, utilizando espectros de

radiometria em lagos de diferentes estados tróficos. Os autores se basearam em

bandas de absorção distintas na faixa do azul (comprimentos de onda próximos a

440 nm) e na faixa do vermelho (próximos a 678 nm).

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Tabela 3 – Comprimento de onda de absorção dos pigmentos (Weaver e Wrigley,

1994).

A presença de fitoplâncton é capaz de produzir, através de seus pigmentos

fotossintetizadores, efeitos de absorção ao longo do espectro na região do visível

e ao mesmo tempo contribuir para o aumento do espalhamento juntamente com

as demais partículas refratoras em suspensão. O aumento de biomassa do

fitoplâncton pode ser relacionado, empiricamente, ao aumento de reflectância

provocado na região do Infravermelho próximo (Kirk, 1996).

As células do fitoplâncton também emitem certa quantidade de luz, próxima

a 1% do que foi absorvida pela célula na fotossíntese, sendo esta luz re-emitida na

forma de fluorescência. O efeito de fluorescência devido à Clorofila-a pode ser

notado em espectros de reflectância por determinar um pico em torno de 685 nm.

Os espectros de reflectância de águas dominadas por fitoplâncton também exibem

um outro pico de reflectância em torno de 705 nm, que é causado por

fluorescência de clorofila induzida pelo Sol.

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Entretanto, o principal pigmento responsável pela absorção de energia

luminosa é a clorofila. A clorofila-a funciona também como centro de reação

fotossintética e possui dois picos de absorção: um no azul (em 443 nm, chamado

de “Soret”) e outro no vermelho (em 686 nm, chamado pico “alpha”). A clorofila-a

absorve fracamente entre 450 e 650 nm e a clorofila-b tem o efeito de aumentar a

absorção dentro desta janela (Londe, 2005). As cianobactérias e as algas

vermelhas possuem pigmentos, as biliproteínas (ou ficobilinas), que funcionam

como pigmentos acessórios de cor vermelha ou azul.

Teoricamente, a maioria dos pigmentos citados pode ser detectada

remotamente.

Nos oceanos, tais pigmentos são os principais responsáveis pelas

variações temporais e espaciais no espectro de reflectância das águas. Nas águas

interiores, entretanto, quantidades relativamente maiores de carbono orgânico

dissolvido, e outros materiais particulados e inorgânicos, dificultam a interpretação

do espectro de reflectância.

O fitoplâncton é responsável pela maior influência no comportamento

espectral de águas oceânicas, e os detritos orgânicos formados por suas células

mortas mantêm as características de absorção da REM da faixa do azul.

A estimativa da concentração de clorofila a é bastante importante em

estudos de ambientes aquáticos pois, entre os pigmentos fotossintéticos, esse é o

mais comum em produtores primários e sua concentração é usada para indicar o

nível trófico do ambiente. A clorofila a tem a propriedade de atenuar a luz

incidente, apresentando dois pontos principais de absorção: na faixa do azul, em

440 nm, e na região do vermelho, em 676 nm (1994 Mobley, 1994, Kirk, 1996). Em

torno de 550 nm o aumento do espalhamento provoca o aparecimento de maiores

valores de reflectância. Com a presença de sedimentos em suspensão na água, o

sinal da clorofila pode ficar mascarado e, muitas vezes, as feições na curva

espectral podem aparecer deslocadas. A matéria orgânica dissolvida também

pode ser confundida com a clorofila devido à sua forte absorção entre 400 e 500

nm.

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Os experimentos de Rundquist (1996), são bem representativos sobre o

comportamento da clorofila em várias concentrações (Figura 8). Tal autor obteve

uma forte absorção nos comprimentos de onda do azul e o aumento da

reflectância por volta de 550 nm (o pico ocorreu entre 560 e 570 nm). Em 676 nm

observa-se a absorção da clorofila. O pico em torno de 710 nm é uma interação da

absorção da clorofila em 676 nm e da absorção da água em 745 nm (Kirk, 1996).

Os máximos ficam mais estreitos e melhor definidos em termos espectrais. Com o

aumento da concentração de clorofila, as curvas espectrais apresentam maiores

reflectâncias e bandas de absorção melhor definidas.

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CAPÍTULO 3

REDES NEURAIS ARTIFICIAIS

3.1 – Redes Neurais Artificiais

Ao se falar de redes neurais, é comum se fazer referência às Redes

Neurais Artificiais (RNA), por serem modelos matemáticos que vêm sendo

desenvolvidos nos últimos anos, e que, de uma maneira geral, procuram imitar o

funcionamento das redes neurais naturais. O cérebro humano é composto por

algo em torno de 10 bilhões de neurônios que se interconectam, formando uma

verdadeira rede, que é capaz de processar milhões de informações e realizar algo

em torno de 60 trilhões de ligações sinápticas (Galvão et al, 1999).

O cérebro humano é, portanto, um sistema de processamento de

informação altamente complexo, não-linear e paralelo, que tem a capacidade de

organizar os neurônios de tal forma, que seu desempenho na execução de certas

funções (reconhecimento de padrões, percepção e controle motor) dá-se de forma

rápida, mais rápida que em um computador hoje existente, ainda que sua

velocidade de processamento seja relativamente baixa quando comparada a esse

( Galvão et al, 1999).

Podemos de modo geral, definir uma Rede Neural Artificial como um

sistema constituído por elementos de processamento interconectados, chamados

de neurônios, os quais estão dispostos em camadas (uma camada de entrada,

uma ou várias intermediárias e uma de saída) e são responsáveis pela não-

linearidade da rede, através do processamento interno de certas funções

matemáticas. Essas redes neurais artificiais possuem alguma forma de regra de

aprendizagem que é responsável pela modificação dos pesos sinápticos a cada

ciclo de iteração, de acordo com os exemplos que lhe são apresentados. Pode-se

dizer, então que as Redes Neurais Artificiais aprendem por exemplos (Galvão et

al, 1999).

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3.2 – Componentes das Redes Neurais Artificiais

Segundo Rumelhart e McClelland (1986), citado por Galvão et al.(1999),

os modelos de redes neurais, apresentam 8 componentes principais:

• Um conjunto de elementos de processamento;

• Um estado de ativação;

• Uma função de saída para cada elemento de processamento;

• Um padrão de interconexão entre os elementos de processamento;

• Uma regra de propagação;

• Uma regra de ativação;

• Uma regra de aprendizado;

• Uma representação do ambiente onde o sistema deve operar.

3.2.1. – Elementos de Processamento

Neurônio biológico - O neurônio biológico apresentado esquematicamente

na Figura 10, possui um corpo celular (soma), um axônio e diversas ramificações

(os dendritos). Os dendritos são dispositivos de entrada, que conduzem os sinais

nervosos das extremidades para o corpo celular. O axônio é o dispositivo de

saída, que transmite o sinal do corpo celular para suas extremidades. As

extremidades do axônio de um neurônio são conectadas com os dendritos de

outros neurônios através das sinapses. A membrana citoplasmática de uma célula

nervosa permite o transporte de eletrólitos (em essência sódio (Na+) e potássio

(K+) para dentro e fora da célula alterando o potencial elétrico entre as partes

interna e externa da célula. A diferença de potencial, desta forma, provoca um

trem de pulsos que codifica a informação que se propaga através do axônio da

célula nervosa para ser decodificada nos dendritos de outras células nervosas. As

sinapses (ligações de uma extremidade de um axônio de uma célula nervosa com

o dendrito de outra célula nervosa) possuem neurotransmissores que permitem a

propagação dos pulsos nervosos, verificar na figura 10 (Galvão et al, 1999).

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Figura 9 - Neurônio Biológico

Neurônio artificial – È constituído de uma função de combinação e uma

função de ativação. A função de combinação, é responsável por compor a

informação de entrada do neurônio. Se ela for linear, passa a representar uma

soma de entradas, ponderada pelos respectivos pesos. Muitas vezes chamados

de pesos sinápticos, em analogia ao neurônio biológico, e representa,

matematicamente, a importância de cada informação, com relação a um dado

neurônio. A função de ativação é responsável pela intensidade do sinal a ser

transmitido pelas conexões para os neurônios das camadas adjacentes. O

intervalo da amplitude normalizada de saída de um neurônio está no intervalo

unitário fechado [0,1] ou, alternativamente, [-1,1]. Várias funções são utilizadas

com essa finalidade; entre as mais utilizadas, têm-se a sigmóide, a gaussiana, e a

rampa. Ela é responsável pela não linearidade da rede, o que a torna uma

ferramenta poderosa (Galvão et al, 1999).

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Na figura 10 está representado um neurônio artificial de acordo com o

modelo de McCulloch-Pitts, no qual se tem uma função limiar θ, que tem o efeito

de diminuir a entrada líquida para a função de ativação.

Figura10 - Neurônio Artificial

Na figura 11, e apresentado uma outra alternativa de representação do

neurônio, em que o efeito da função limiar é representado por se fazer duas

modificações: (1) adiciona-se uma nova entrada de valor fixo x0 = +1, e (2)

adiciona-se um novo peso sináptico wk0 = bk, sendo bk o valor negativo do limiar.

Figura 11 - Neurônio Artificial com Tendência

Esses elementos de processamento são organizados em camadas, que

podem ser de três tipos, ilustrados na figura 12:

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• Camada de entrada – responsável pela distribuição da informação

para a(s) camada(s) intermediária(s) escondida(s), recebida do meio

externo;

• Camada(s) oculta(s) – onde ocorre o processamento, através das

funções de combinação e ativação;

• Camada de saída – responsável pela resposta da rede.

Figura 12 - Representação de uma rede neural do tipo RBF (Função de Base

Radial) utilizada para determinação da concentração de pigmentos, através de

valores de DN (níveis de cinza) obtidos de imagem de satélite de média resolução.

3.2.2 – Estado de Ativação

Cada elemento de processamento (EP), em rede neural, tem associado um

estado de ativação. O estado de ativação pode ser:

• Contínuo – binário, ilimitado;

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• Discreto – binário, múltiplo.

3.2.3 – Função de saída do Elemento

Desde que a ativação do elemento de processamento seja conhecida, ele

produzirá um sinal de saída que está relacionado com sua ativação por uma

função de transferência conhecida como função de saída.

3.2.4 – Padrão de Interconexão entre os Elementos de Processamento

Essa representação é feita através de uma matriz de pesos e define o

conhecimento do sistema. As conexões com pesos positivos, são as excitatórias e

as com pesos negativos são as inibitórias.

Os pesos das conexões, chamados muitas vezes de pesos sinápticos,

representam, matematicamente, a importância de cada informação com relação a

um dado neurônio. O principal propósito é determinar o melhor conjunto de pesos

capaz de representar um dado problema. Existem inúmeros métodos utilizados

com esse objetivo; entretanto, um tornou-se bastante popular, chamadas de redes

neurais retropropagação. Esse termo está relacionado, à propagação recursiva

dos erros.

3.2.5 – Regra de Propagação

Trata-se de uma regra que combina valores de entrada de um elemento de

processamento (EP) com os respectivos valores da matriz de pesos para produzir

uma entrada líquida. Uma das regras de propagação mais simples é aquela na

qual o sinal líquido é uma soma ponderada de cada entrada que chega a um dado

EP pelo respectivo peso. Essa regra é representada matematicamente pela

equação 6:

0

n

k kj j

j

w xν=

=∑ Eq. 6

Em que vk é a entrada líquida do EP de ordem k; xj são as entradas do EP de

ordem k; Wkj são os j pesos sinápticos referentes às conexões do EPk.

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3.2.6 – Regras de Ativação

Tem por finalidade calcular um novo estado de ativação do EP. Entre as

funções mais utilizadas destacam-se:

• A função sigmóide

1

( )1 x

xe

ϕ−

=+

Eq. 7

• A função rampa

1, 1

( ) , | | 1

1, 1

x

x x x

x

ϕ

∀ ≥

= ∀ < − ∀ ≤ −

Eq. 8

• A função degrau

( ) pode assumir os valores :

1, 0( )

0, 0

x

xx

x

ϕ

ϕ∀ ≥

= ∀ <

Eq. 9

• A função gaussiana

2

( ) xx eϕ −= Eq. 10

• A função tangente hiperbólica

( ) tanh( )x xϕ = Eq. 11

• A função linear

( ) . , em que k = constantex k xϕ = Eq. 12

3.2.7 – Regra de Aprendizado

A caracterização de um sistema como rede neural geralmente implica na

capacidade de aprender. Aprendizado é o processo pelo o qual uma rede neural

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adquire a habilidade de responder corretamente a estímulos, através do ajuste de

parâmetros internos de acordo com algum esquema de aprendizado. O

aprendizado ocorre quando a rede neural atinge uma solução generalizada para

uma classe de problemas. O aprendizado em redes neurais pode ser classificado,

de acordo com presença ou ausência de realimentação explícita do mundo

exterior, em supervisionado e não-supervisionado. Expressões matemáticas,

chamadas de regras de aprendizado, descrevem o processo de treinamento das

redes neurais ( Haykin, 2001).

O aprendizado de uma rede neural envolve a modificação do seu padrão de

interconexão, que, em princípio, poder ser feita de três maneiras distintas:

• Estabelecimento de novas conexões;

• Amputação de conexões existentes;

• Alteração dos pesos das conexões.

Dentre as diferentes regras de aprendizado, têm-se as seguintes:

(a) A regra de Hebb – Se um neurônio recebe um estímulo de outro neurônio,

e se ambos são altamente ativos, o peso entre estes neurônios deve ser

fortalecido.

(b) A regra delta – Também conhecida como Least Mean Square (LMS), que

minimiza o erro médio quadrático. Nessa regra os pesos sinápticos são

modificados de modo que o erro entre a saída desejada e a fornecida pela

rede é minimizado.

(c) A regra Hopfield – Se a saída desejada e a entrada são ambas ativas ou

inativas, deve-se incrementar o peso pela taxa de aprendizagem; caso

contrário decrementa-se.

(d) A regra de Kohonem – Baseada no processo de competição, de tal forma

que só o neurônio mais ativo, dito vencedor, fornece uma saída, e só ele e

seu vizinhos têm os pesos ajustados.

As regras de aprendizado podem ser divididas em duas categorias

básicas:

• Aprendizado supervisionado – neste caso, o aprendizado da rede é feito

com o conhecimento prévio do resultado desejado, ou seja, são fornecidos,

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para a rede, o conjunto de dados de entrada e as respectivas respostas. A

diferença entre a resposta desejada e a atual, fornecida pela rede, é então

usada para calcular a correção dos pesos da rede. Um exemplo é a rede

RBF.

• Aprendizado não supervisionado – neste tipo de aprendizado, a rede

aprende com os próprios dados de entrada (somente os estímulos de

entrada são mostrados à rede), ou seja, este algoritmo não requer o

conhecimento das saídas. A rede neste caso, é auto-organizável, isto é, ela

se organiza internamente de tal forma que cada elemento de

processamento da resposta responda, estrategicamente, a um diferente

padrão de entradas. Um exemplo é a rede de Kohonen.

3.3 – Redes com Múltiplas Camadas

O algoritmo de retro propagação do erro, para redes de neurônios de

múltiplas camadas foi inventado e popularizado por Rummelhart, Hinton e Williams

citado por Galvão (1999) resolvendo uma das limitações fundamentais para o

treinamento de redes complexas.

Em uma rede neural com múltiplas camadas são identificadas a camada de

entrada, as camadas ocultas e a camada de saída, como pode ser observado na

figura 12.

3.4 – Regra delta generalizada e o algoritmo retro propagação

Consiste na aplicação do gradiente descendente ao problema de múltiplas

camadas, utilizando-se o algoritmo retro propagação. O gradiente descendente

tem como objetivo a busca de um mínimo global, através de incrementos nos

valores dos pesos por uma quantidade que é proporcional à primeira derivada (o

gradiente) do erro entre o valor da saída desejada e o valor atual de saída

fornecido pelo elemento de processamento em relação ao valor do peso. Vale

salientar que o mínimo global é caracterizado como uma solução teórica ideal que

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apresenta o menor erro possível. Essa superfície de erro ideal consiste num

hiperparabolóide.

3.5 – Algoritmo de Aprendizagem

As entradas são armazenadas num vetor, X(P, N) = (Xp,1,Xp,2, Xp,3,..., Xp,

N), em que P é o número de informações por neurônios.

Cada neurônio de uma camada escondida ou de saída recebe um idêntico

vetor, X, da camada anterior, processando-o através da equação 13:

( , , ) ( , 1) ( , ) ( , )P L J X P L W J L B J Lγ = − + Eq. 13

na qual Y(P, L, J) é o processamento resultante do neurônio J da camada L, W(J,

L) é o peso (fator de ponderação) e B(J, L) a tendência.

O valor resultante Y(P, L, J), para o neurônio J, é processado, através da função

de ativação, para determinar a intensidade do sinal a ser transmitido pelas

conexões para outros neurônios. Como exemplo, cita-se as funções logísticas e

gaussianas das equações 14 e 15:

1

( )1 Y

f Ye

−=

+ Eq. 14

2

( ) Yf Y e

−= Eq. 15

Cada valor de saída dos neurônios é combinado na camada corrente

escondida ou de saída, para compor os vetores de saída:

( , ) ( ( ( , ,1), ( ( , , 2),..., ( ( , , )))X P L f P L f p l f p l kγ γ γ= Eq. 16

onde K é o número total de neurônios na camada L. Este vetor de saída será o de

entrada para a próxima camada.

Esse processamento vai até a camada de saída, onde o vetor X(P<O) é

obtido.

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O vetor final de saída é então comparado ao vetor alvo, T(P), para obter, na

camada de saída, o vetor erro E(P). A equação 17 que governa o cálculo do erro é:

( , ) ( ( ) ( , )) '( , )E P O T P X P O X P O= − Eq. 17

na qual :

'( , ) ( ( ( , ,1), ( ( , , 2),..., ( ( , , )))X P O f P O f P O f P O Kγ γ γ=

Eq. 18

O erro para o neurônio J, na camada escondida L, é computado pela equação 19:

* *( , , ) '( , , ) [ ( , 1 ) ( ( , 1, )]k

E P L J X P L J E P L K W K L J= + + +∑ Eq. 19

Onde K representa os K’s neurônios na camada ℓ+1. Através desse método, o

vetor erro, E(P,L), é obtido para cada camada escondida. Como pode ser

observado nesta equação, os erros são calculados através de forma recursiva

através da rede.

Os próximos vetores de peso para cada neurônio J, na camada L (de saída

e escondida), são calculados pela equação 20, onde:

* * *

1 1( , ) ( , ) ( , , ) ( , 1) ( ( , )T T T

W J L W J L E P L J X P L W J Lη α+ −= + − + Eq. 20

η é a taxa de aprendizagem, α é o fator de momento e T é o ciclo de iteração.

3.6 – Redes RBF (Funções de Base Radial)

Redes neurais com função radial de base têm sido largamente utilizadas

em aplicações de reconhecimento de padrões, processamento de sinais, previsão

de carga e modelagem para predizer colheitas, etc., devido sua simplicidade

estrutural e eficiência de treinamento (Panda et al. , 2004). Aplicação de

modelagem de RBF em quantificação de qualidade de águas em lagos ainda tem

sido muito pouco desenvolvida, quase não se tem disponível em literatura (Panda

et al, 2004).

Uma típica RBF consiste em três diferentes camadas, cada uma destas

camadas sucessivas completamente conectadas com a camada da frente por

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meio de arcos. Não há pesos entre a camada de entrada e a camada oculta. A

função de ativação usada na camada oculta é a RBF (Função de Base Radial)

uma função não-linear, como pode ser observado na figura 13. Elas são usadas

em problemas de aproximação de funções, onde as funções de base radial

formam uma base de funções convenientes para aproximação de outras funções

em um espaço multidimensional.

Nas RBF, a função de ativação nas unidades ocultas calcula a distância do

vetor de entrada do centro de atividade oculta usando a norma Euclidiana. As

redes RBF usam funções não-lineares (Gaussiana) para construir aproximações

locais de mapeamento não-linear de entrada e saída. Aproximação localizada de

entrada e saída é sempre preferível.

Segundo Poggio e Girosi (1990), o problema de interpolação de uma hiper-

superfície em um espaço multidimensional pode ser interpretado da seguinte

forma:

Dados N diferentes pontos ( , 1,2,.. )nix R i N∈ = encontrar uma função f de Rn em R,

satisfazendo às condições de interpolação

( )i iF x y= com 1,2,...i N= Eq. 21

A solução com o uso de funções de base radial (RBF) consiste em escolher uma

função F(x) da seguinte forma

1 1

( ) (|| ||) ( )N m

i i i iF x c h x x d p x= − +∑ ∑ , com m N≤ Eq. 22

onde h é uma função contínua de R+ em R, freqüentemente chamada de função

de base radial, quase sempre a gaussiana, no caso de redes neurais, ||.|| é a

norma euclidiana em Rn e pi é uma base de um espaço linear de polinômios, de

grau no máximo k-1, de R+ em R, e k é dado.

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Figura 13 - Esquema de uma Rede RBF (Adaptado de Demuth, & Beale, 2002).

Onde:

R = n° de elementos do vetor de entrada .

S1 = n° de neurônios na primeira camada.

S2 = n° de neurônios na segunda camada.

As redes RBF estão associadas normalmente ao problema de interpolação

de funções em um espaço de alta dimensão. Dessa forma, então, aprender é

equivalente a encontrar uma superfície em um espaço de várias dimensões, que

forneça o melhor ajuste para os dados de treinamento, com o critério de “melhor

ajuste” sendo definido de forma estatística (POGGIO e GIROSI, 1992).

Generalizar é equivalente ao uso dessa superfície para encontrar os dados

correspondentes aos dados de entrada, isto é, interpolar. Como se sabe, as

funções de base radial tem sido objeto de intensa pesquisa na solução do

problema de interpolação (HAYKIN, 2001).

Segundo Chen et al. (1992), uma rede RBF, com entrada vetorial e saída

escalar, pode ser formulada matematicamente como um mapeamento definido

pela equação 23,

0

1

( ) (|| ||)n

i i

i

f X G X cλ λ=

= + −∑ Eq. 23

onde nX R∈ , é um vetor de entrada, G(.) é uma função de R+ em R, ||.|| é a

norma euclidiana em Rn, λi , com 0 i n≤ ≤ , são os pesos ou parâmetros livres e

, 0n

ic R i n∈ ≤ ≤ , são os centros da RBF, com n centros.

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Assim como as redes de múltiplas camadas com retro-propagação, as

redes RBF também possuem uma versão adaptada do teorema de aproximação

universal, que é a seguinte:

(Teorema da Aproximação Universal para Redes RBF, (HAYKIN,

2001)).

“Para qualquer função contínua de mapeamento entrada-

saída, f(X), existe uma rede RBF com um conjunto de centros

{ }i

c com 0 i m≤ ≤ e uma largura d>0, tal que a função de

mapeamento de entrada-saída F(X) realizada pela rede RBF, é tão

próxima quanto se queira, na norma Lp, com p∈ [1,∞].”.

Observa-se que as redes RBF e as redes de múltiplas camadas são,

ambas, exemplos de redes alimentadas adiante, não-lineares. Como foi visto, são

também aproximadores universais e, verifica-se, além disso, que sempre existe

uma rede RBF capaz de se comportar como uma rede de múltiplas camadas e

vice-versa (HAYKIN, 2001).

3.6.1- Aprendizado em uma rede RBF.

De acordo com Chen et al. (2001) a abordagem mais usada para

implementar uma estratégia de aprendizado de uma rede RBF, baseada em seus

princípios teóricos, consiste em assumir funções de base radial fixas nas unidades

ocultas e escolher os centros de forma aleatória dentre os dados de treinamento.

Assim, uma função de base radial (RBF) com centro em ti é definida pela

equação 24

2 2

2(|| || ) exp( | || ), 1,2,

i j i

mG X t x t i m

d− = − − = ⋅⋅⋅ Eq. 24

onde m é o número de centros e d é a distância máxima entre os centros

escolhidos. Deve ser assegurado nessa escolha que as funções não fiquem nem

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muito abruptas (base estreita) nem muito planas (base muito larga), pois isso

influencia a convergência.

Portanto, os únicos parâmetros a serem aprendidos nesta estratégia são os

pesos lineares na camada de saída da rede. Para obte-los, temos a equação 25:

W G d++= Eq. 25

Onde d é vetor resposta desejada do conjunto de treinamento e a matriz G+ é a

pseudo-inversa da matriz G, definida por G={gji}, onde gij é dado na equação 26,

2

2exp( | || ), 1,2, , 1, 2, ,

ij j i

mg x t i N j m

d= − − = ⋅⋅⋅ = ⋅⋅ ⋅ Eq. 26

com xj sendo o j-ésimo vetor de entrada do treinamento.

O método usado em álgebra linear para o cálculo da pseudo-inversa de

uma matriz é o chamado método da decomposição em valores singulares, (em

inglês, SVD, Singular Value Decomposition).

Se G é uma matriz real n x m, existem as matrizes ortogonais U = {u1,

u2,...un} e V={v1,v2,...,vm}, tais que

1 2( , ,..., ), com min( , )T

kU GV diag k m nσ σ σ= = ,onde 1 2, ,... 0

kσ σ σ> > > > .

Os vetores colunas da matriz U são os vetores singulares esquerdos e os

vetores colunas da matriz V são os vetores singulares direitos. Os valores

1 2, ,... 0k

σ σ σ> > > > são os valores singulares da matriz G. Assim, de acordo com

o teorema da decomposição do valor singular, a pseudo inversa m x n da matriz G

é dada pela equação 27.

TV U

++ = ∑G Eq. 27

onde ΣΣΣΣ+ é uma matriz n x n definida em termos dos valores singulares de G, dada

pela equação 28

1 2

1 1 1( , , , ,0,...,0)

k

diagσ σ σ

+= ⋅⋅⋅∑ Eq. 28

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Como os valores principais estão ordenados de forma decrescente,

1 2, ,... 0k

σ σ σ> > > > , é possível aproximar uma matriz usando apenas os seus

valores principais que possuem o maior valor absoluto, que são os primeiros da

seqüência. Isso facilita o cálculo da pseudo-inversa, além de aumentar a eficiência

da convergência do aprendizado da rede RBF, contribuindo em muito pra diminuir

tanto o tempo de treinamento da rede, como a memória necessária para

armazenar essa informação. Além disso, essa propriedade abre grandes

possibilidades de aplicações práticas, sendo a compressão de imagens digitais a

mais importante delas (STRANG, 1988).

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CAPÍTULO 4

MATERIAL E MÉTODOS

4.1 – Área de Estudo

4.1.1 – Contexto Histórico da Concepção e Implementação da UHE Tucuruí

Situada em plena região de matas tropicais, a UHE de Tucuruí é uma das

maiores do mundo. A concepção da construção da usina ocorreu no fim da

década de 60 ao início dos anos 80 marcado pela interação de um projeto

nacional executado por uma vigorosa intervenção estadual, com a disponibilidade

de créditos internacionais a baixos juros.

Uma política deliberada promovida por um regime autoritário, socialmente

excludente, comandado pelos militares, executou um projeto geopolítico como

estratégia para a modernização acelerada da sociedade e do território nacionais,

considerada essencial para alcançar o crescimento econômico, fortalecer o Estado

e acentuar a projeção internacional no país.

A busca de autonomia tecnológica e a instrumentalização do espaço

geográfico foram elementos fundamentais do projeto. Os Planos Nacionais de

Desenvolvimento – PND I e II – estabeleceram as diretrizes da modernização

conservadora, promovendo: a) a tecnificação da agricultura; b) sobretudo no II

PND (1975/1979), após o primeiro choque do petróleo 1973, a mudança do eixo

dinâmico da economia dos bens de consumo duráveis para os bens intermediários

de produção e bens de capital - mudança baseada no endividamento externo e no

incremento das exportações: - e c) a rápida integração nacional, implicando a

incorporação definitiva da Amazônia (Comissão Mundial de Barragens, 1999).

Uma malha de duplo controle técnico e político, que denominamos de

“malha programada” foi imposta no território visando à remoção de obstáculos

materiais, políticos e ideológicos à expansão capitalista moderna. Ela se

concretizou sobretudo na extensão de todos os tipos de redes para completar

circuitos nacionais – viária, de telecomunicações, energética, urbana, etc. – e na

criação de novos pólos de crescimento para os quais foram canalizados os

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investimentos. A sustentação do projeto se deu também pela grande intensificação

da mobilidade histórica da população brasileira, que alcançou a escala nacional,

em decorrência da repressão salarial e pobreza, da liberação da mão-de-obra pela

modernização da agricultura associada à concentração da propriedade da terra, e

da atração dos pólos dinâmicos (Comissão Mundial de Barragens, 1999).

A ocupação da Amazônia em escala gigantesca e ritmo acelerado foram

considerados prioridade máxima, em termos econômicos e geopolíticos, entendida

que foi como espaço capaz de absorver a tensão social, fornecer novos recursos,

ampliar o mercado interno e assegurar a influência do Brasil na América do Sul. A

implantação acelerada dos componentes da “malha programada” - redes e pólos -,

subsídios ao fluxo de capitais e indução dos fluxos migratórios viabilizaram a

ocupação acelerada da região à frente da fronteira móvel, então restrita à borda

oriental da floresta.

Em face da crise econômica iniciada com o primeiro choque do petróleo e

sua crescente acentuação nos anos oitenta, devido ao segundo choque do

petróleo (1979) e à súbita elevação das taxas de juros no mercado internacional,

tentou-se manter o crescimento econômico através das exportações mediante a

atração de investimentos externos e a expansão e transnacionalização de

empresas estatais (Comissão Mundial de Barragens, 1999).

A política regional executada pelas agências burocráticas convencionais, foi

substituída pela implantação de grandes projetos de exploração mineral com

gigantescos investimentos sob a forma de “joint ventures” entre empresas estatais

e multinacionais, ou geridos por uma delas.

É nesse contexto que se situa a construção da UHE Tucuruí, no período

compreendido entre os estudos de inventário e viabilidade (1972) e sua

inauguração em 1984. Ela constituiu, em si, um grande projeto para suprir energia

para os grandes projetos de produção de alumínio e estimular a industrialização

regional, bem como para articular ligações regionais e produzir energia para

abastecer o país em escala nacional (Comissão Mundial de Barragens, 1999).

No momento em que se inauguravam os grandes projetos, inclusive

Tucuruí, esgotava-se o projeto autoritário com a crise econômica, fiscal e política

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do Estado, e a emergência dos novos atores sociais no cenário regional.

Três fases podem ser identificadas na concepção e implementação de

Tucuruí associadas às mudanças nas estratégias governamentais.

A primeira fase teve a Amazônia como Fronteira de Povoamento/Energia

para Belém, a qual ocorreu entre 1968 e 1974, onde a preocupação principal do

governo em relação à Amazônia foi a de promover a sua ocupação por razões

econômicas e geopolíticas. Com à implementação das rodovias, em que

sobressai a Transamazônica, e de projetos de colonização sobretudo na própria

Transamazônica e em Rondônia. O abastecimento regional por centrais

termelétricas - à exceção das pequenas hidrelétricas de Coaracy Nunes no

Amapá e de Curua-Uná próximo a Santarém no Pará não seria mais suficiente

para atender ao intenso crescimento de Belém após a construção da rodovia

Belém-Brasília, e de núcleos antigos e novos em decorrência da ocupação

planejada e espontânea. A primeira tentativa de equacionamento do potencial

hidráulico da Amazônia foi então desenvolvida no final dos anos 60 e início dos 70

pelo ENERAM (Comitê Coordenador dos Estados Energéticos da Amazônia),

criado em 1968. Os estudos estavam orientados para atender a Belém,

apresentando diferentes opções para a localização da Usina, inclusive dois sítios

no rio Tocantins, sendo um deles Tucuruí, não se prevendo uma usina com o

porte atual da UHE Tucuruí. A partir dessas indicações, a Eletrobrás iniciou o

Inventário da Bacia do Tocantins, e, em 1973 foi criada a Eletronorte (Comissão

Mundial de Barragens, 1999).

A segunda teve a da Amazônia como fronteira de recursos/energia para

grandes projetos para grandes projetos minero-metalúrgicos. Em 1974, o

Programa Polamazônia - Pólos Agropecuários e Minero-Metalúrgicos prioriza

espaços ao invés da extensão de rodovias; valoriza-se a região, particularmente o

estado do Pará, como província mineral do país, capaz de aliviar a crise

econômica através da exportação de minérios com a participação do capital

estrangeiro. Na medida em que a crise do petróleo afetou também a produção de

alumínio do Japão e dos Estados Unidos devido ao alto custo de energia, houve

grande interesse deles em explorar os recursos minerais e energéticos

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amazônicos. Paralelamente, busca-se garantir o suprimento de energia a Belém,

São Luiz e Marabá, bem como efetuar a interligação elétrica com o Nordeste.

Foi, portanto, sobretudo para atender às novas demandas dos projetos

mínero-metalúrgico, que se definiu a construção da UHE de Tucuruí iniciada em

novembro de 1975. As diretrizes iniciais da nova orientação governamental

estavam contidas no II PND (1975-79), mas se ampliaram com a crescente crise

econômica. Inicialmente, pensava-se em suprir os projetos do pólo mínero-

metalúrgico do sudeste do Pará, porém, após o segundo choque do petróleo e a

elevação da taxa de juros no mercado internacional, a intensificação da

exportação de minérios foi vista como solução para ''rolar a divida externa". A

CVRD ( Companhia Vale do Rio Doce) elaborou um proposta para a exportação

global dos recursos naturais da Amazônia Oriental, centrada na exploração

mineral. Esta proposta deu origem ao Programa Grande Carajás anunciado

oficialmente em fins de 1980, em cuja área se encontra uma imensa riqueza

mineral considerada verdadeira anomalia geológica no planeta (Comissão Mundial

de Barragens, 1999).

Acentuou-se, assim, a estratégia seletiva do governo que, concentrando os

investimentos em um só e imenso território do Programa Carajás, que

corresponde a 10,6% do território brasileiro. A inauguração da UHE de Tucuruí

em 1984 insere-se, portanto, no novo contexto da fronteira de recursos e dos

grandes projetos que, à exceção da Mineração Rio do Norte (1979), foram todos

inaugurados na primeira metade da década de 1980, quando já se esgotava o

projeto de modernização conservadora.

A terceira fase tem a Amazônia como fronteira de movimentos sociais. É a

denominada de fase Tucuruí Questionada, sendo esta fase marcada com uma

intensificação rápida e violenta da mobilidade da população na implantação dos

grandes projetos, sobretudo em Tucuruí observa-se numa intensificação rápida e

violenta da mobilidade da população. O desvio do curso do rio Tocantins e o

preenchimento do reservatório submergiram não só a floresta, mas também parte

de territórios indígenas, populações rurais e núcleos urbanos, inclusive alguns

núcleos espontâneos recentemente criados ao longo da rodovia Transamazônica.

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O deslocamento e reassentamento de populações nativas e de migrantes,

somados aos impactos ambientais, resultaram em intensos conflitos que, na

década de oitenta organizaram suas demandas em movimentos sociais com

ampla repercussão na sociedade regional e nacional (Comissão Mundial de

Barragens, 1999).

Os novos atores regionais iniciam uma fase de negociação por seus direitos

com a Eletronorte que marca a trajetória da UHE até hoje.

4.1.2 – Localização da Área de Estudo

A UHE de Tucurui está situada na região amazônica, nas coordenadas

geográficas, latitude 03° 45’ S e longitude de 49° 41’ W, no baixo Rio Tocantins, a

cerca de 300 km em linha reta da cidade de Belém, capital do Estado do Pará.

Figura 14 - Imagem de Mapa digital do Reservatório de Tucuruí

4.1.3 – Clima

O clima é tropical úmido com um período de estiagem moderada, tipo

Ami segundo a classificação de Köppen (ELETRONORTE & ENGEVIX-THEMAG,

1988). As temperaturas encontram-se nas faixas de 22°C (junho) e 38°C (agosto e

setembro). O índice pluviométrico está compreendido entre 1.400 mm a 2.400

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mm, com a umidade relativa média em torno de 75 a 85%, existindo um período

de estiagem entre os meses de setembro e outubro e o período das cheias entre

fevereiro e abril.

4.1.4 – Geologia e Geomorfologia

A área de influência do reservatório de Tucuruí é caracterizada por dois

grandes domínios geológicos: embasamento cristalino, constituído por rochas

ígneas e meta-sedimentos e cobertura sedimentar, constituída por sedimentos

que se depositaram durante os períodos mesozóico e cenozóico (terciário e

quaternário). O reservatório está situado na zona de contato entre as rochas

cristalinas do Complexo Xingu (margem esquerda) e rochas metamórfica de

baixo grau, do Grupo Tocantins (margem esquerda, leito do rio e margem

direita).

O local onde foi implantada a barragem de Tucuruí situa-se ao final de um

longo trecho encachoeirado, podendo ser dividia em três unidades de relevo:

Planalto Setentrional Pará-Maranhão, Planalto Rebaixado do Amazonas e

Depressão Periférica do Sul do Pará. Essa última abrange quase totalmente a

área do reservatório. Sua origem está relacionada à atuação de processos

erosivos, iniciados no fim do período terciário. Apresentam várias formas de

relevo na região, destacando-se áreas com superfície pediplanadas, áreas

dissecadas em colinas de topo aplainado e planícies fluviais (ELETRONORTE &

ENGEVIX-THEMAG, 1988).

4.1.5 – Solos

Os solos existentes na região da UHE Tucuruí são ácidos e apresentam

baixa fertilidade natural (pobres em nutrientes). Os principais tipos de solos, que

dominam quase totalmente a região onde está inserido o empreendimento, são os

Podzólicos Vermelho-Amarelos (predominantes), Latossolos Vermelho-Amarelos

e Latossolos Amarelos. Os Podzólicos Vermelho-Amarelo localizam-se,

principalmente, na margem esquerda do reservatório, ocupando mais que 60 % da

área de influência do reservatório; apesar de algumas restrições apresentam

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condições favoráveis para atividades agrícolas. Os Latossolos Vermelho-Amarelos

e Amarelos representam cerca de 25% da área e localizam-se, principalmente, na

margem direita do reservatório (ELETRONORTE & ENGEVIX-THEMAG, 1988).

4.1.6 – Vegetação

A vegetação dominante da bacia em estudo na sua maior extensão é o

cerrado, desde o limite sul da região até Itaguatins (Goiás), no rio Tocantins,

imediações de Conceição do Araguaia (Pará) , passando, daí o norte, a constituir

a Floresta Mesófila, conformando uma extensa faixa de transição que precede a

Floresta Amazônica. Uma exceção ocorre ao noroeste de Goiânia e daí para o

oeste, com o surgimento da Floresta Estacional denominada Floresta

Semidecídua do Mato Grosso de Goiás.

As variações locais do mato florístico, quanto ao seu adensamento, porte e

mesmo composição, são algumas vezes devidas a mudanças climáticas locais

(microclimas); no entanto, na maior parte dos casos relacionam-se com diferenças

pedológicas no ambiente do cerrado, onde são freqüentes as ocorrências de

manchas de solos mais férteis originários de rochas básicas calcárias ou

sedimentos calcíferos (ELETRONORTE & ENGEVIX-THEMAG, 1988).

4.1.7 – Hidrografia, Hidrologia e Características das Águas

O reservatório da UHE Tucuruí pertence à bacia hidrográfica Tocantins-

Araguaia, com uma área de drenagem à montante, de aproximadamente 767.000

km2, sendo 382.000 km2 ocupados pela sub-bacia Araguaia e 343.000 km2

ocupado pela sub-bacia do rio Tocantins. Os 42.000 km2 restantes correspondem

à sub-bacia do rio Itacaiúnas (ELETRONORTE & ENGEVIX-THEMAG, 1988).

O rio Tocantins nasce no Planalto Central Brasileiro, tem um curso

aproximadamente norte-sul, percorrendo, até desembocar na baía do Marajó,

cerca de 2.500 km. Seus afluentes principais são os rios Araguaia e Itacaiúnas.

O rio Araguaia nasce na serra dos Caiapós, atravessa todo o centro oeste

brasileiro em direção ao norte, quase paralelamente ao rio Tocantins, com o qual

conflui depois de percorrer cerca de 1.800 km.

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O rio Itacaiúnas nasce próximo a serra dos Carajás e desemboca no rio

Tocantins a altura da cidade de Marabá.

As pequenas drenagens afluentes diretos do reservatório, tanto pela

margem direita como pela margem esquerda, formam a sub-bacia do reservatório

que ocupa uma área com cerca de 22.250 km2, excluindo a área do reservatório

(ELETRONORTE & ENGEVIX-THEMAG, 1988).

Os principais cursos d´água dessa sub-bacia são os rios Caraipé, Pucuruí,

Bacuri, Valentin, Cajazeira e Igarapé Vermelho pela margem esquerda, e o rio

Jacundá pela margem direita (ELETRONORTE & ENGEVIX-THEMAG, 1988).

A bacia Tocantins-Araguaia tem uma vazão média de 11.000 m3/s em

Tucuruí, dos quais cerca de 5. 500 m3/s são contribuição do rio Tocantins antes de

sua confluência com o rio Araguaia, e 450 m3/s são provenientes do rio Itacaiúnas.

O rio Tocantins e seus tributários foram originalmente classificados como

um rio de águas claras, pobres em nutrientes, apresentando baixa concentração

de íons e cargas de sedimentos, porém, a inundação de grandes áreas de floresta

e a decomposição do material orgânico ocasionaram um deplecionamento do

oxigênio dissolvido (OD) nas camadas mais profundas do reservatório, e a

produção e liberação de gases CO2 (dióxido de carbono) e de CH4 (metano),

durante e logo após o período de enchimento.

4.1.8 - Aspectos Morfométricos

Os principais dados morfométricos do reservatório de Tucuruí, na cota

operacional de 72 metros, estão na Tabela 4 (ELETRONORTE & ENGEVIX-

THEMAG, 1988).

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Tabela 4 - Dados morfométricos do reservatório de Tucuruí (ELETRONORTE &

ENGEVIX-THEMAG, 1988).

(*) não inclui o perímetro de cerca de 1800 ilhas.

O regime hidrológico do reservatório é dependente do regime da bacia

Tocantins – Araguaia. Mais de 95% da vazão total ao reservatório é proveniente

do rio Tocantins (ELETRONORTE & ENGEVIX-THEMAG, 1988).

A vazão defluente do reservatório depende das regras operacionais da

usina, que têm por objetivo produzir o máximo de energia mantendo o reservatório

na cota mais elevada. Estas regras de operação, levam em consideração também

a manutenção de uma vazão defluente mínima a jusante, necessária para evitar

danos a população ribeirinha, garantir a navegação, preservar os taludes, além de

manter condições favoráveis de escoamento no vertedouro e nos canais de fuga

das turbinas.

No período em que chove menos (conhecido na região como o período de

estiagem), para manter 75,00 metros se faz necessário que um mínimo de água

passe nos vertedouros, e que a maior parte da vazão defluente seja constituída de

águas turbinadas captadas em profundidade.

No período chuvoso, um grande volume de água passa pelo vertedouro, e

as vazões defluentes têm sido praticamente iguais as vazões afluentes, refletindo

Volume 48,9 bilhões de m3

Área superficial 2.830 km2

Comprimento 170 km

margem direita 1.100 km

Perímetro (*)

margem esquerda 1.800 km

máxima 75,00 m Profundidade

média 17,30 m

máxima 40,00 km Largura

média 14,30 km

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numa capacidade limitada do reservatório em amortecer cheias à jusante.

A circulação hídrica no interior do reservatório de Tucuruí apresenta-se as

vezes complexa, com variações na direção e principalmente na velocidade do

fluxo. Tal circulação é controlada principalmente pela vazão afluente, pela ação

dos ventos, por fatores morfométricos, como profundidade, largura, comprimento e

configuração das margens e do fundo do reservatório decorrentes da topografia

dos terrenos inundados, e ainda, por restrições físicas ao fluxo da água, como

ilhas, troncos e paliteiros.

4.2 – Uma Metodologia Integrada

A metodologia proposta neste trabalho consiste em integrar os dados de

sensoriamento remoto (imagens de satélite), extrair deles a informação relevante

via redes neurais e predizer concentrações de pigmentos:

(a) Usar as coordenadas dos pontos de coleta e as imagens de satélite da

região de estudo, e com software apropriado, criar uma planilha com os

valores de refletância de cada um dos pontos, em cada uma das bandas

1,2 3 e 4 da imagem do satélite, ver figura 15.

Figura 15 – Extração dos Dados da Imagem do LANDSAT com o Programa

SPRING.

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(b) Treinar uma rede neural RBF com uma amostra dos dados da planilha

obtida no item (a), contendo os valores de refletância de 85 pontos de

coleta georreferenciados, os valores dos índices de reflectância (DN) e a

concentração de pigmentos das amostras de água (figura 16), ver tabelas 5

a 16. As etapas a, b e c foram realizadas com programa codificado no

ambiente de redes neurais do MATLAB.

Figura 16 - Treinamento da Rede RBF

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(c) Estimar a concentração de pigmentos na água da área em estudo. Os

dados de entrada agora são os mesmos do item b sem os valores da

concentração de pigmentos, que será a saída da rede. Além disso, nesta

etapa todos os dados são apresentados à rede para estimativa. Para isso

será usada a imagem de satélite e a rede neural RBF treinada no item (b),

(d) gerar mapa de distribuição de pigmentos (clorofila-a) da superfície do lago

do reservatório em estudo, ver figura 17.

Figura 17 – Simulação de Rede RBF

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4.3 – Metodologias para Determinação de Pigmentos em Águas

A determinação dos teores de pigmentos nas águas de cada estação fixa,

utilizados neste estudo, foram obtidos a partir da coleta de água de superfície e as

análises foram feitas pelo método de colorimétrico de acordo com APHA (1998).

As amostras de águas foram coletadas da superfície de 12 diferentes

estações do reservatório. As figuras de 19 a 23 ilustram os aspectos da coleta.

Para cada amostra de água, cerca de 3 litros foram coletadas e estocadas no

escuro sob refigeração até retorno ao laboratório (figuras 18 a e 18 b), onde foram

filtradas cerca de 2 litros de cada amostra com filtros Gelman GF/C 47 – mm.

Posteriormente tais filtros foram devidamente acondicionados em placas de Petri

sob refrigeração para serem enviadas ao laboratório CENA-USP. Foram

utilizados também dados históricos (os quais serão apresentados no próximo

capítulo) fornecidos pela ELETRONORTE. As amostras coletadas serviram para

reconhecimento da área e avaliação da confiabilidade dos dados históricos.

(a) (b)

Figura 18 – Fotografias (a) e (b), mostrando o equipamento de filtração das

amostras de água do Reservatório de Tucuruí para a análise de clorofilas.

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Figura 19 – Fotografia mostrando o deslocamento da equipe no interior do lago.

Figura 20 – Fotografia mostrando a superfície da água do reservatório de Tucuruí, sugerindo a

presença de pigmentos fotossintetizantes.

Figura 21 - Fotografia mostrando um dos pontos de coleta no reservatório da UHE de Tucuruí

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Figura 22 - Fotografia mostrando um dos pontos de coleta no reservatório da UHE de Tucuruí

Figura 23 - Fotografia mostrando um dos pontos de coleta no reservatório da UHE de Tucuruí

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4.4 - Metodologia para Tratamento da Imagem de Satélite

Foram usadas imagens do satélite LANDSAT (Path 224, Row 63), que

cobrem a região do Lago de Tucuruí, nas bandas 1, 2 3 e 4. Essas imagens

possuem resolução espacial de 30m por pixel.

De posse da imagem e com as coordenadas dos pontos de coleta para

determinação da concentração de clorofila-a, foi feita uma correção atmosférica,

utilizando-se a técnica do pixel escuro (Chavez, 1988 citado por Meneses, 2001).

Posteriormente, com os valores das coordenadas usou-se o software SPRING

para se obter os valores de refletância (DN) dos pontos de coletas das bandas 1

(TM1), 450nm – 520 nm; banda 2 (TM2), 520 nm – 600 nm; banda 3 (TM3), 630

nm – 690 nm e; banda 4 (TM4), 760 nm – 900 nm, para determinar a

concentração de clorofila-a na água.

As planilhas de dados são formadas pelas colunas contendo as

coordenadas da região, os valores de refletância (DN) das bandas 1, 2, 3 e 4, os

índices de determinação da concentração de clorofilas em águas, calculado a

partir das bandas 1,2, 3 e 4, segundo as equações

IVPVER

IVPVERI

+

−=1 Eq. 29

IVPB

IVPBI

+

−=

1

12 Eq. 30

IVPB

IVPBI

+

−=

2

23 Eq. 31

onde

IVP : DN da banda de infravermelho próximo

B1 : DN da banda do azul

B2 : DN da banda do verde

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VER : DN da banda do vermelho.

Essa planilha, então, foi usada como entrada para o treinamento e

validação dos resultados apresentados pela rede neural RBF.

4.4.1 - Softwares utilizados

4. 4.1.1 - SPRING, EXCEL, MATLAB e ARCVIEW

O SPRING® (CAMARA, 1996) é um SIG (Sistema de Informações

Geográficas) distribuído livremente pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisa

Espacial), com funções de processamento de imagens, análise espacial,

modelagem numérica de terreno e consulta a bancos de dados espaciais.

Sua principal característica é a de fornecer um ambiente unificado de

Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto para aplicações urbanas e

ambientais. Assim, ele facilita a ligação de procedimentos que envolvem

simultaneamente o uso de imagens de sensoriamento remoto, (imagens de

satélite, por exemplo) como as aplicações de SIG propriamente ditas.

O EXCEL®é um aplicativo da Microsoft, especializado na manipulação e

processamento de dados tabulares em forma de planilha.

O MATLAB® (MATrix LABoratory), da Mathworks, é um ambiente de

software matemático de computação científica, de largo uso na comunidade de

engenharia. Possui uma linguagem de programação recheada de funções

matemáticas, principalmente aquelas ligadas à matemática numérica. Também

possui certos pacotes de software (toolbox) especializados em uma determinada

área de aplicação. No presente caso, foi usado o pacote de redes neurais para

predizer a concentração de clorofilas para as redes RBF.

O ARCVIEW®, da ESRI, é também um SIG (Sistema de Informações

Geográficas), largamente usado para desenvolvimento de aplicações na área.

Caracteriza-se por possuir uma linguagem de desenvolvimento, o AVENUE ®

utiliza tanto dados no formato vetorial (mapas) como dados no formato matricial

(imagens).

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4.4.1.2 - Sensoriamento Remoto e processamento da imagem

Inicialmente, para identificar os valores de refletância nas imagens de

satélite, foi usado o software SPRING. Uma vez carregado o SPRING, abria-se a

imagem do satélite e eram fornecidas as coordenadas dos pontos de coletas no

reservatório de Tucuruí. O software mostrava, então, uma matriz de 5 x 5 pontos,

com os valores de refletância do ponto em estudo e de uma vizinhança de 24

outros pontos. Esses valores eram então anotados em uma planilha do EXCEL.

No EXCEL, foram montadas as planilhas contendo as coordenadas do

ponto de coletas, os valores de refletância do ponto e de sua vizinhança, obtidos

no SPRING, e a concentração de clorofila referente àquele ponto, verificado no

inventário. Essa informação foi feita para cada uma das 4 bandas usadas da

imagem do satélite.

No MATLAB foram codificados os programas que definem e usam as redes

neurais usados no processamento e na classificação das imagens de satélite.

4.4.1.3 - Redes Neurais

As redes neurais e o processamento propriamente dito ocorreram no

MATLAB, versão 6. Na linguagem do MATLAB foram escritos os programas de

processamento, bem como foram feitas às implementações das redes neurais

RBF.

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CAPÍTULO 5

RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1 – Teores de Pigmentos

Os teores de pigmentos na área do reservatório de Tucuruí obtidos a partir

de amostras de referência durante a realização deste trabalho e com os dados

históricos após análise estatística de calibração estão apresentados nas Tabelas

de 5 a 16 num total de 85 pontos.

Figura 24 – Pontos de coletas no reservatório de Tucuruí.

As tabelas com os dados de entrada da rede possuem os seguintes

campos.

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Pontos de coleta - indica a localização dos pontos de coleta no reservatório de

Tucuruí, conforme pode ser observado na figura 18 e descritos a seguir:

M1 – ESTAÇÃO MONTANTE 1

M3 – ESTAÇÃO MONTANTE 3

MR – ESTAÇÃO MONTANTE REPARTIMENTO

M5C – ESTAÇÃO MONTANTE 5 CALHA

M5D – ESTAÇÃO MONTANTE 5 À DIREITA

MBB – ESTAÇÃO MONTANTE BREU BRANCO

MB – ESTAÇÃO MONTANTE BELAUTO

MP – ESTAÇÃO MONTANTE PUCURUÍ

MJV – ESTAÇÃO MONTANTE JACUNDÁ VELHO

ML – MONTANTE LONTRA

C1 – ESTAÇÃO CARAIPÉ 1

C2 – ESTAÇÃO CARAIPÉ 2

Reflectâncias são indicadas na tabela por B1, B2, B3 e B4 e descritas a

seguir. Os pontos M5C e M5B localizam-se em órbita-ponto diferentes e por tal

motivo não aparecem na imagem da figura 24, optando-se em dispor somente

seus valores de reflectância.

B1 é o valor de refletância da banda 1 encontrado na imagem de satélite.

B2 é o valor de refletância da banda 2 encontrado na imagem de satélite.

B3 é o valor de refletância da banda 3 encontrado na imagem de satélite.

B4 é o valor de refletância da banda 4 encontrado na imagem de satélite.

Os pigmentos estão expressos em µg/L.

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Tabela 5 – Dados de entrada referentes a Estação Montante 1 (M1)

Pontos de Coleta B1 B2 B3 B4 Pigmentos (clorofila) M1 P1 65 24 16 11 3,93 M1 P2 55 23 17 93 2,72 M1 P3 61 23 18 14 3,09 M1 P4 71 28 24 26 2,38 M1 P5 57 23 20 79 4,42 M1 P6 67 25 17 10 4,28 M1 P7 55 23 17 93 4,3 M1 P8 55 23 17 93 4,3 M1 P9 61 39 29 11 7,74 M1 P10 13 5 6 2 4,3 MI P11 63 47 37 75 5,24 M1 P12 58 41 29 70 3,93 M1 P13 57 43 30 80 3,93 M1 P14 58 44 31 81 3,93 M1 P15 57 43 28 75 3,93

Tabela 6 – Dados de entrada referentes à Estação Montante 3 (M3)

Pontos de Coleta B1 B2 B3 B4 Pigmentos (clorofila) M3 P1 72 28 25 49 5,59 M3 P2 71 38 41 87 4,17 M3 P3 91 37 38 69 6,66 M3 P4 71 26 19 14 2,74 M3 P5 57 23 21 50 2,74 M3 P6 72 28 25 49 6,19 M3 P7 71 38 41 87 5,57 M3 P8 71 38 41 87 5,57 M3 P9 16 7 5 1 2,98 M3 P10 86 64 55 24 5,65 M3 P11 59 40 28 73 5,59 M3 P12 58 42 28 75 5,59 M3 P13 55 41 28 71 5,59 M3 P14 57 41 28 73 5,59

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Tabela 7 – Dados de entrada referentes à Estação Montante Repartimento (MR)

Pontos de Coleta B1 B2 B3 B4 Pigmentos (clorofila) MR P1 67 24 18 13 4,17 MR P2 54 23 18 84 1,9 MR P3 69 27 25 26 3,57 MR P4 65 22 17 13 1,67 MR P5 57 23 20 70 2,14 MR P6 67 24 18 13 2,98 MR P7 54 23 18 84 7,28 MR P8 54 23 18 84 7,28 MR P9 16 9 9 3 7,28 MR P10 65 46 36 15 4,05 MR P11 56 42 29 75 4,17 MR P12 55 42 29 69 4,17 MR P13 54 41 29 67 4,17 MR P14 54 41 31 64 4,17

Tabela 8 – Dados de entrada referentes à Estação Montante 5 Calha (M5C)

Pontos de Coleta B1 B2 B3 B4 Pigmentos (clorofila) M5C P1 228 113 125 123 10,6 M5C P2 68 28 25 45 3,57 M5C P3 64 26 19 82 3,87 M5C P4 228 113 125 123 11,66 M5C P5 63 26 19 84 8,09 M5C P6 63 26 19 84 8,09 M5C P7 56 39 27 73 10,6 M5C P8 57 40 27 79 10,6 M5C P9 55 39 27 78 10,6 M5C P10 56 38 26 71 10,6

Tabela 9 – Dados de entrada referentes à Estação Montante 5 Direita (M5D )

Pontos de Coleta B1 B2 B3 B4 Pigmentos (clorofila) M5D P1 62 22 15 37 7,38 M5D P2 59 19 14 34 4,02 M5D P3 65 26 24 60 4,46 M5D P4 62 22 15 37 7,38 M5D P5 59 19 14 34 9,76

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88

Tabela 10 – Dados de entrada referentes à Estação Montante Breu Branco (MBB)

Pontos de Coleta B1 B2 B3 B4 Pigmentos (clorofila) MBB P1 62 23 19 14 2,38 MBB P2 70 27 22 42 2,14 MBB P3 10 2 1 1 4,28 MBB P4 60 43 30 12 3,33

Tabela 11 – Dados de entrada referentes à área MB (Montante Belauto)

Pontos de Coleta B1 B2 B3 B4 Pigmentos (clorofila) MB P1 181 86 99 105 5,24 MB P2 64 26 23 71 0,89 MB P3 65 26 19 90 3,09 MB P4 65 26 19 90 3,09 MB P5 1 0 0 1 4,46 MB P6 65 42 33 17 6,19

Tabela 12 – Dados de entrada referentes à Estação Montante Pucuruí (MP)

Pontos de Coleta B1 B2 B3 B4 Pigmentos (clorofila) MP P1 64 24 19 23 5,47 MP P2 63 22 18 14 2,02 MP P3 51 18 12 26 8,63

Tabela 13 – Dados de entrada referentes à Estação Montante Jacundá Velho

(MJV)

Pontos de Coleta B1 B2 B3 B4 Pigmentos (clorofila) MJV P1 65 22 17 60 5,47 MJV P2 59 39 30 12 3,33

Tabela 14 – Dados de entrada referentes à área Estação Montante Lontra (ML)

Pontos de Coleta B1 B2 B3 B4 Pigmentos (clorofila) ML P1 80 34 32 63 4,76 ML P2 105 80 71 38 3,57

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Tabela 15 – dados de entrada referentes à Estação Caraipé 1 (C1)

Pontos de Coleta B1 B2 B3 B4 Pigmentos (clorofila) C1 P1 68 28 22 11 6,46 C1 P2 51 18 13 6 2,86 C1 P3 88 38 37 41 0,95 C1 P4 61 40 29 12 7,38 C1 P5 11 5 3 3 4,76 C1 P6 64 23 18 12 1,49

Tabela 16 – dados de entrada referentes à Estação Caraipé 2 (C2)

Pontos de Coleta B1 B2 B3 B4 Pigmentos (clorofila) C2 P1 83 28 23 19 5,24 C2 P2 62 41 29 16 5,95 C2 P3 16 11 10 10 3,33 C2 P4 87 31 29 20 1,43

Os valores de pigmentos foram divididos em dois conjuntos. O primeiro

utilizado para treinamento da rede consistiu de 52 valores obtidos em campo e na

imagem do satélite, através do programa SPRING. Feito o treinamento, foram

usados 85 valores de entrada, incluindo-se ai os 52 treinados, para a obtenção de

outros 85

Após os treinamentos da rede RBF, todos os dados de entrada, incluindo

os de validação, foram introduzidos na rede para que fosse feita a estimativa da

concentração de pigmentos fotossintetizantes (clorofila-a).

As imagens de satélite da área de estudo, formadas pelas quatro bandas,

foram então processadas pela rede RBF treinada, obtendo-se estimativas globais

para toda a área de interesse. Em seguida, nessa imagem, com os valores

estimados, foi gerada uma interpolação para toda a área do reservatório.

O resultado dessa interpolação é mostrado na figura 25, onde aparecem a

concentração de pigmentos distribuída na superfície do reservatório.

Com relação a análise estatística dos resultados, foram usados indicadores

estatísticos clássicos para aferir a qualidade dos resultados obtidos. São eles o

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desvio padrão, dado por 2( )iX X

sN

−= onde

iX representa cada um dos

valores da amostra, X é a média aritmética da amostra e N é o número de itens

na amostra.

O erro médio quadrático (RMS) dado por 2( )i estX X

RMSN

−= , onde

iX

representa cada um dos valores da amostra e est

X representa cada um dos valores

estimados pela rede e N é o número de itens da amostra.

Variância não explicada (VNE), definida por 2 / ( )VNE RMS VAR dados reais= ,

onde VAR é a variância dos dados reais.

Coeficiente de correlação R2, dado por 2 1R VNE= − .

Os valores da concentração de pigmentos estimados pela rede neural com

arquitetura RBF produziram os seguintes indicadores estatísticos:

Desvio padrão = 2,4963

Erro médio quadrático (RMS) = 0,9551

Variância não explicada = 0,1580

Coeficiente de correlação (R2) = 0,9176

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Figura 25 – Distribuição Estimada da Concentração de Pigmentos na Superfície da Água do

Reservatório em (mg/m3).

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Na composição da figura 25, a cor da água é realçada, pois nas regiões

com maiores concentrações de pigmentos (clorofila) tonalizou-se com verde mais

escuro, o que parece sugerir deterioração da qualidade da água, provavelmente

ligada a processos como o de desestratificação da coluna de água e

disponibilização de nutrientes do fundo . É claro, que a variação das cores, é

apenas um alerta, o qual deverá ser verificado pelas equipes de campo. A

existência de alertas desse tipo, entretanto, pode introduzir inteligência ao

processo de gestão da água do reservatório da usina hidrelétrica de Tucuruí,

economizando recursos de verificação mais intensa no campo.

Na figura 26, temos, no eixo de X, os diversos pontos de coleta de dados de

pigmentos e no eixo de Y, os valores encontrados naquele respectivo ponto. Os

pontos simbolizados com (+) são os valores reais (medidos em campo). A linha

poligonal representa os valores estimados pela rede neural após treinamento. Na

figura 27, mostramos a reta de correlação entre o conjunto de dados reais e o

conjunto de dados estimados, exibindo a dispersão dos pontos. Acima e abaixo da

reta de correlação são apresentadas mais duas retas paralelas vermelha, cada

uma delas a uma distância de um desvio-padrão da diagonal. Verifica-se nesse

gráfico, que mais de 90% dos pontos está contido entre as duas retas paralelas,

do desvio padrão, indicando uma boa aproximação encontrada pela rede. Várias

tentativas de treinamento da RBF foram feitas, tendo sido observado que o tempo

de execução diminuiu quando foi feita a normalização dos dados de entrada. Esta

redução no tempo de treinamento da rede facilitou a convergência do resultado.

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0 10 20 30 40 50 60 70 80 900

2

4

6

8

10

12

PIG

ME

NT

OS

ug/

L

LOCAL DE AMOSTRAGEM

PIGMENTOS MEDIDOSPIGMENTOS ESTIMADOS

Figura 26- Comparativo entre dados reais e estimados

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Figura 27 - Diagrama de dispersão dos dados

0 2 4 6 8 10 12−2

0

2

4

6

8

10

12

14

PIGMENTO MEDIDO

PIG

ME

NT

O E

ST

IMA

DO

DIAGRAMA DE DISPERSAO ENTRE DADOS REAIS E ESTIMADOS

PIGMENTOS ESTIMADOS

PIGMENTOS MEDIDOS

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Na figura 28 observa-se que há pouca discrepância entre os dados reais e

os dados estimados.

Figura 28 – Comparativo entre dados reais e estimados

0 10 20 30 40 50 60 70 80 900

2

4

6

8

10

12

PONTO DE COLETA

CO

NC

EN

TR

AC

AO

DE

PIG

ME

NT

OS

COMPARATIVO ENTRE DADOS REAIS E ESTIMADOS

DADOS REAISDADOS ESTIMADOS

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Figura 29 – Espectro de Reflectância da Água do Reservatório de Tucuruí

Na figura 29 é mostrada a reflectância das águas do lago de Tucuruí, obtida

a partir de análises estatísticas de uma imagem de satélite processada nas

bandas 1, 2, 3 e 4. Observando uma maior intensidade de reflectância na banda

do infravermelho e posteriormente na banda do verde o que indica ser esta a

reflectância de uma superfície de água de maior concentração de clorofila do que

de sólidos em suspensão. Segundo Novo, citado por Meneses & Neto, 2001, um

aumento da concentração de algas na água implica uma redução da reflectância

da água na região do azul, principalmente. Isso significa que águas com elevada

concentrações de pigmentos tenderão a apresentar cor verde, visto que o máximo

de energia refletida ocorre na região do verde.

5.1.1 - Desempenho da rede RBF para aproximação de funções

A escolha pela arquitetura RBF para fazer a aproximação da função que

estima a concentração de clorofila a partir de dados de uma imagem de satélite foi

ditada pelas propriedades matemáticas dessa rede.

Neste trabalho foi feita a aproximação de uma função do tipo

0 50 100 150 200 250 3000

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10x 104

FR

EQ

UE

NC

IA

NIVEL DE INTENSIDADE

ESPECTRO DE REFLETANCIA DA AGUA DO RESERVATORIO DE TUCURUI

BANDA DO AZULBANDA DO VERDEBANDA DO VERMELHOBANDA DO INFRAVERMELHO

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1 2 3 4

1 2 3 4

5 5: , ( , , , , ) ( )

( , , , , )

b b b b i v

v b b b b i

φ

φ

→ ∈ → ∈

=

� � � �

Eq. 32

Nessa equação, 1 2 3 4, , ,b b b b são os valores dos pixels da imagem do satélite

nas bandas 1, 2, 3 e 4 respectivamente, i são os índices derivados das matrizes

das bandas da imagem e v é a concentração de pigmentos (clorofila).

Conforme (FERRARI e STENGEL, 2005), o treinamento de uma rede

neural artificial para uma aproximação suave de uma função contínua em um

espaço multidimensional, envolve a otimização numérica do erro existente entre

os dados reais, geralmente contidos em uma tabela obtida em medições em

campo e os dados estimados pela rede em um dado momento. A partir daí, são

obtidos direcionamentos para o treinamento das diversas arquiteturas de redes,

bem como para avaliação de suas propriedades aproximativas.

O desempenho ótimo de uma rede RBF, como a usada neste trabalho,

depende essencialmente da quantidade e da localização dos centros das diversas

funções de base radial (POGGIO e GIROSI, 1990). Esse é um parâmetro crucial

para sintonizar o desempenho aproximativo e computacional de uma rede RBF.

Em alguns casos, essa escolha é baseada em tentativa e erro, após análises

detalhadas da situação em estudo.

Procedimentos mais sistemáticos podem envolver as seguintes estratégias:

(a) escolha aleatória dos centros, a partir dos dados de entrada; (b) estratégias

que usam procedimentos não supervisionados para seleção dos centros, (c) uso

de métodos supervisionados.

Uma característica desses processos é que não se pode garantir, a priori,

que a localização e quantidade ótima dos centros serão encontradas por esses

procedimentos iterativos. Para sanar essa situação, algumas pesquisas têm feito a

proposta de se trabalhar com as redes após um processo de regularização

(HAYKIN, 2001).

Para contornar essa dificuldade, neste trabalho, foram usados dois tipos de

arquitetura de rede RBF, existentes no Pacote de Redes Neurais do MATLAB.

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Duas funções parametrizadas estão disponíveis para se montar a arquitetura de

uma rede RBF.

Em uma delas, a newrb a rede é construída de forma iterativa. Em cada

época de treinamento uma quantidade fixa de neurônios é acrescentada à camada

oculta da rede, até que se alcance a aproximação desejada, baseada no valor do

erro médio quadrático.

Na outra função, a newrbe, a quantidade de neurônios na camada oculta é

igual ao número dos vetores de entrada presentes nos dados de treinamento.

Nessa opção, após o treinamento, é criada uma rede com erro zero, no que diz

respeito aos vetores de treinamento.

Nas duas variantes do modelo RBF, o parâmetro spread, presente nas

duas funções é que determina a amplitude da base da função, definindo com isso

o centro e o número de funções necessárias.

Inicialmente, esperando-se ganhar eficiência, foi usado o modelo iterativo,

que vai adicionando neurônios a cada época de treinamento. Foram feitas

dezenas de experiências variando tanto o número máximo de neurônios, como a

amplitude da base das funções gaussianas. Entretanto, os resultados não foram

satisfatórios, pois a discrepância nos dados estimados estava acima dos limites

previamente definidos.

Em função disso, foi usado o modelo que utiliza a mesma quantidade de

neurônios que os vetores presentes nos dados de entrada. Em termos

computacionais, não é a solução mais econômica, mas foi a que se mostrou mais

eficiente em termos de precisão dos resultados, mesmo à custa de maior tempo

de computação. Como esses dados não precisam ser processados em tempo real,

uma diferença de cerca de vinte a trinta minutos em troca de maior precisão, é

uma boa troca a ser feita.

Quanto ao parâmetro amplitude (spread), que especifica o comprimento da

base da função gaussiana, após várias tentativas, foi escolhido o valor 0,1, em

função da distância entre os diversos pontos de dados de entrada, já com os

valores normalizados. Outros valores foram testados, mas esse foi o que deu o

melhor resultado, quanto à minimização do erro quadrático. É importante observar

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a sensibilidade do desempenho da rede ao ajuste desse parâmetro. Durante a

fase de treinamento, uma variação de 10% no valor desse parâmetro, era capaz

de piorar o desempenho da estimativa da rede em cerca de 50% ou mais.

Uma alternativa proposta na literatura seria aplicar a chamada técnica de

regularização na rede RBF. Em essência, essa técnica consiste, segundo

(HAYKIN, 2001) em estabilizar a solução por meio de algum funcional linear não-

negativo auxiliar que incorpore informação prévia sobre a solução. Considerando-

se que os resultados obtidos foram satisfatórios, essa técnica não foi usada neste

trabalho.

Durante a fase de testes e treinamentos, foi experimentado, na composição

das variáveis de entrada para a estimativa da concentração de pigmentos, de

acordo com recomendações de outros pesquisadores, (PANDA, 2004) o uso de

várias razões entre as diversas bandas, com a finalidade de se agregar mais

informação.

Dentre os diversos procedimentos testados com a finalidade de se obter

melhores resultados, o que favoreceu foi o de agregar os vetores de entrada em

ordem crescente do valor de sua norma euclidiana. Também a normalização dos

dados, sempre recomendada na literatura, ajudou nessa tarefa. A normalização

usada foi

min

max min

iX X

X X

− Eq. 33

Nessa equação, Xi é o valor a ser normalizado, Xmax e Xmin são o valor

máximo e mínimo, respectivamente, da tabela de dados de campo.

Quanto ao tempo e recursos computacionais usados, foi verificado que no

computador do tipo PC, com relógio de 2 GHz e memória RAM de 2048 Mbytes (2

Gbytes) não foi possível processar a imagem inteira do satélite como era a

intenção inicial. O sistema parava com uma mensagem de “Falta de Memória”. Ao

ser pesquisado esse problema, foi descoberto ser falta de memória no ambiente

interno do MATLAB e não, propriamente, no computador. Como não havia

necessidade de se processar toda a imagem, mas somente o que foi definido

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como o entorno do Reservatório de Tucuruí, foi feito um recorte da área de estudo

a partir da imagem do satélite e esse recorte foi, então, processado sem

problemas. Entretanto, se em outra aplicação houver necessidade de

processamento de todo um mosaico do satélite LANDSAT, uma área de 170 x 183

km2, a recomendação é se escrever a parte do código que cuida da rede neural

em uma linguagem com mais recursos, sendo C++, a candidata nessas

circunstâncias.

O tempo para processamento da área de estudo foi de cerca de 2 horas e

de 30 minutos para a tarefa de interpolação.

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CAPÍTULO 6

CONCLUSÃO

Um sistema de monitoramento e armazenamento de parâmetros

representativos da qualidade da água em reservatórios poderá garantir a

execução freqüente de análises quantitativas que permitam identificar os possíveis

agentes deterioradores da qualidade da água e a avaliação e implementação de

medidas preventivas ou corretivas.

A avaliação tradicional da qualidade de água tem sido limitada por coletas

“in situ” e medidas de amostras de água para subseqüentes análises em

laboratórios, um método com excelente precisão, porém, com elevado consumo

de recursos e tempo. Tais restrições associadas com medidas “in situ” de

qualidade de água muitas vezes limitam avaliações de tendências espaciais e

temporais.

Neste trabalho percebe-se que o sensoriamento remoto tem um potencial

para superar estas limitações, por proporcionar um meio alternativo de

monitoramento da qualidade de água sobre uma grande faixa de escalas temporal

e espacial a um custo muito mais econômico do que nas coletas e análises

tradicionais. Além disso, o sensoriamento remoto pode ser usado como uma

ferramenta valiosa para recuperar informações históricas sobre a qualidade de

água dos lagos, mesmo que não medidas diretamente pelos métodos tradicionais,

através da análise e interpretação de uma vasta quantidade de dados de

sensoriamento remoto arquivado.

As informações das análises de espectros de reflectância da água, obtidas

através de análises estatísticas de uma imagem de satélite processada nas

bandas 1, 2, 3, 4, fornecem informações bastante interessantes no que tange ao

quimismo das águas amazônicas, sugere-se aqui que mais estudos sejam feitos

na obtenção dos mais diversos tipos de espectros não só de pigmentos, mas,

também de outros parâmetros oticamente ativos que caracterizem as águas

amazônicas.

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Foi proposto neste trabalho o desenvolvimento de um sistema integrado

envolvendo os dados de sensoriamento remoto (imagens de satélite), redes

neurais, parâmetros de qualidade de água para aquisição e armazenamento de

informações ambientais sobre o reservatório, introduzindo, desta forma, um

sistema de inteligência na gestão da qualidade da água do reservatório da Usina

Hidrelétrica de Tucuruí, economizando recursos de verificação mais intensa no

campo. Estudos devem continuar sendo realizados para aumentar a precisão das

estimativas. Com o avanço nas metodologias de análise de imagens de satélite

orbitais, as fontes de erros poderão ser mais bem identificadas e minimizadas.

Certamente a correção atmosférica terá influência sobre os resultados, os quais

dependerão de uma melhor adequação dos modelos para a atmosfera Amazônica.

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