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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DIRETORIA DE PESQUISA PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA PIBC: CNPq, CNPq/AF, UFPA, UFPA/AF, PIBC/INTERIOR, PARD, PIAD, PIBD, PADRC E FAPESP RELATÓRIO TÉCNICO-CIENTÍFICO Período: ( ) PARCIAL (X) FINAL IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO Título do Projeto de Pesquisa: Literatura Comparada e Estudos Culturais II: perspectivas teóricas para ler literatura, arte, cultura, sociedades e processos globalizantes na Amazônia, Brasil e América Latina. Nome do Orientador: Luís Heleno Montoril Del Castilo Titulação do Orientador: Doutor Faculdade: Faculdade de Letras Fale Instituto/Núcleo: Instituto de Letra e Comunicação ILC Laboratório Título do Plano de Trabalho: Literatura da Amazônia: a poesia de Vicente Franz Cecim. Nome do Bolsista: Rogério Alan Tancredo Tipo de Bolsa: PIBC/UFPA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · processo de transfiguração da Amazônia na cidade mito-poética Andara, criação e suporte para a reflexão literária brasileira

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

DIRETORIA DE PESQUISA

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA –

PIBC: CNPq, CNPq/AF, UFPA, UFPA/AF, PIBC/INTERIOR, PARD, PIAD, PIBD,

PADRC E FAPESP

RELATÓRIO TÉCNICO-CIENTÍFICO

Período:

( ) PARCIAL

(X) FINAL

IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO

Título do Projeto de Pesquisa: Literatura Comparada e Estudos Culturais II:

perspectivas teóricas para ler literatura, arte, cultura, sociedades e processos

globalizantes na Amazônia, Brasil e América Latina.

Nome do Orientador: Luís Heleno Montoril Del Castilo

Titulação do Orientador: Doutor

Faculdade: Faculdade de Letras – Fale

Instituto/Núcleo: Instituto de Letra e Comunicação – ILC

Laboratório

Título do Plano de Trabalho: Literatura da Amazônia: a poesia de Vicente Franz

Cecim.

Nome do Bolsista: Rogério Alan Tancredo

Tipo de Bolsa: PIBC/UFPA

INTRODUÇÃO

Este relatório técnico-científico tem por objetivo descrever como se deu a

execução das atividades referentes ao Plano de Trabalho Literatura da Amazônia: a

poesia de Vicente Franz Cecim vinculado ao Projeto de Pesquisa Literatura Comparada

e Estudos Culturais II: perspectivas teóricas para ler literatura, arte, cultura,

sociedades e processos globalizantes na Amazônia, Brasil e América Latina.

O Plano de Trabalho em questão tinha como principal objetivo pesquisar o acervo

de Vicente Franz Cecim publicado em revistas especializadas, jornais e suplementos da

época em que produziu até o momento o escritor e, assim, compor um corpus de

pesquisa com a finalidade de mapear a produção de Vicente Cecim. Para isso, contou

com um bolsista PIBC/UFPA autor do presente relatório.

As atividades descritas neste relatório, corresponde ao objetivo do Plano de

Trabalho que foram realizadas no período de setembro de 2014 a agosto de 2015 as

quais compreendem:

a) Pesquisa do Acervo de Vicente Franz Cecim: Fundação Tancredo Neves –

Centur, sala Haroldo Maranhão – obra raras.

b) Pesquisa em revistas especializadas, jornais e suplementos literários

publicados na década de 80 até 2013 ano da última publicação do escritor.

Para que fique claro como as atividades foram realizadas apresentar-se-á um breve

resumo do Projeto de Pesquisa, pelo qual está vinculado o Plano de Trabalho,

pontuando sua justificativa e objetivos. Este relatório contém igualmente apresentação

dos resultados parciais obtidos com as análises empreendidas.

RESUMO DO PROJETO DE PESQUISA:

O projeto busca recompor os campos da literatura e das artes na dinâmica da

modernidade e contemporaneidade na Amazônia, no Brasil e na América Latina, em um

estatuto contemporâneo da cultura. Pensar sobre os objetos artístico-culturais

pesquisados que já não se sustentam unicamente na noção de culturas populares,

culturas de massa, alta cultura, baixa cultura e/ou cultura nacional, regional etc., com

estruturas fixas. Processos globalizantes têm interferido nos sistemas culturais outrora

bem distintos e demandado sistemas disciplinares de conhecimento sobre as

transformações resultantes deles. Tais processos estão ativos na Amazônia, a ponto de

deslocarem as noções uniformes e de senso comum de uma terra isolada, de ciclo da

natureza a reger a cultura do homem. É claro que o rigor científico não se deixa

colonizar, ao contrário, ele é capaz de pensar, sobretudo, a transformação da natureza no

curso do desenvolvimento econômico a pautar a agenda cultural dessa região. Mas é

hora de pensar também sobre a difícil tarefa de interpretar a cultura expandida em seus

objetos artístico-culturais. É assim que a interdisciplinaridade já consagrada na

Literatura Comparada vem somar-se aos Estudos Culturais para dar conta de uma

cartografia de saber aberta e ampliada.

ÁREA: Linguística, Letras e Artes.

Palavras-Chave: Amazônia, poesia, Vicente Franz Cecim.

JUSTIFICATIVA

A modernidade, época que ainda não findou e que se desdobra com o

contemporâneo por compartilhar com este costumes e características, advém de

processos de modernizações que começam a transformar o espaço geográfico como as

construções de ferro, a máquina a vapor, a luz elétrica, a chegado do automóvel, as

construções de vidro, a cultura do trabalho implantado em nossos dias, ou seja, começa

a partir de processos técnicos que se intensificam (devido a expansão da indústria e da

produção em massa) junto à urbanização que se expande ao longo dos séculos XIX e

XX. Filha da técnica, a modernidade traz consigo a carga dessa transformação natural –

do ponto de vista evolutivo - que tirou o homem do campo para jogá-lo na grande

cidade. Esse homem simples, que levava uma vida pacata, de subsistência, agora é

obrigado a conviver com invenções mirabolantes que transformam a realidade,

invenções que prometem, se não solucionar, amenizar seus problemas, melhorar a vida

dentro da existência. Porém, o que se viu como resultado desse processo urbano

industrial foi um homem mecanizado, afastado das relações humanas para se tornar

peça da engrenagem em prol de uma produção incessante. Destituído dos esteios éticos

que durante muitos anos sustentaram a civilização, o indivíduo torna-se solitário e

angustiado apesar dos avanços tecnológicos. Esse é o espírito do homem moderno, a

carga que a modernidade traz consigo. Artistas herdeiros dessa cultura urbana da

máquina e do ferro advindo do período entre guerras (que os lançara num vazio

espiritual e a partir de então têm como missão recuperar a humanidade que se esvaíra

nas trincheira) vão construir suas obras a partir desse sentimento, e do estado de solidão

do indivíduo que vaga anônimo e se perde na multidão. Isso tudo nos remete, é claro, a

relação do homem com a produção artística durante a História. A arte, com os eventuais

processos técnicos na modernidade, se afasta da sua condição tradicional, a poíesis, e

passa a condição desprestigiada da práxis, ou seja, da coisa obscura, capaz de trazer à

luz algo próprio e originário, passa a estar ligada a um fazer continuo, prático, incapaz

de superar a si mesma como objeto.

Nesse contexto histórico-cultural o escritor e cineasta Vicente Franz Cecim

nascido em Belém do Pará cria Andara, a cidade imaginária mito-poética que é o seu

projeto literário moderno, que teve como uma de suas nascente – além do macrocosmos

amazônico – a obra literária de sua mãe também escritora Yara Cecim que passou a

maior parte da vida a margem do rio Tapajós, em Santarém, mudando-se para Belém

onde publicou o livro Lendário – Contos Fantásticos da Amazônia.Vicente Franz

Cecim é a Voz que se insurge contra o atraso cultural, político, econômico e o

colonialismo imposto à realidade social e ao imaginário amazônico. Uma voz que se

dirige ás vítimas deste estado de coisa, exigindo mudanças: “Vítimas de uma sociedade

violentamente gerada pelos mais evidentes padrões de colonização, nossas chances de

muda-la começam na visualização da face oculta de quem nos fez isso. Este esforço que

precisa voltar bem atrás, e que deverá se espalhar, interrogativamente, em várias

direções, para obter êxito” palavra de Vicente Cecim, Manifesto Curau(1983), lidas

durante o primeiro Congresso da SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da

Ciência, realizado em Belém no mesmo ano do lançamento do livro.

Uma literatura sagaz que mostra a força e poder de criação sob a forma ficcional e

poética dando continuidade a uma tradição moderna de ruptura. Esse trabalho visa

mostrar Andara como espaço moderno - irrupção poética - que vem para inovar a forma

da narrativa. Projeto audacioso e inovador, que aproxima Cecim da geração de 45,

movimento modernista que elegera a reflexão sobre a escrita um dos focos principais de

seus trabalhos, recriando e dando uma nova roupagem a literatura brasileira a partir de

paradigmas próprios, que iria nortear as obras daquele período. Criação de um universo

paralelo ao real, que está em constante movimento, proposto por uma linguagem que se

desdobra em si e que fala por meio de alegorias que compõe o universo mítico. Andara

estende a fronteira entre realidade e ficção se constituindo na poética, espaço do pensar,

possibilitado pela criação.

Por essas e outras inovações linguísticas e poéticas consideramos relevante as

atividades aqui descritas, que compreende, nessa primeira etapa do Plano de Trabalho,

em resultados parciais da pesquisa de corpus que, futuramente, será utilizado para a

análise da produção poética de Vicente Cecim como possível intermediadora do

processo de transfiguração da Amazônia na cidade mito-poética Andara, criação e

suporte para a reflexão literária brasileira e Latino Americana. Com isso procuramos

mapear a produção literária e artística contemporânea que movimenta Belém do Pará a

partir dos anos 80 até os dias atuais.

OBJETIVOS

O Plano de Trabalho em questão tinha como objetivo principal, no período já

informado, pesquisar o acervo de Vicente Franz Cecim, considerando nessa primeira

etapa da pesquisa, de acordo com o cronograma, as seguintes etapas:

a) Pesquisa do acervo de Vicente Cecim: revistas literárias, jornais e

suplementos da época em que produziu o escritor.

b) Pesquisar os processos formativos de literatura e de artes de Belém do

Pará.

Nessa fase de pesquisa e coleta do corpus, as atividades diretamente ligadas ao

Plano de Trabalho IC original foram realizadas com êxito absoluto, devido ao acesso do

acervo do escritor, assim como o acesso ao material referencial que trata da questão do

espaço poético, o que ajudou a explicar as fronteiras e a geografia de um lugar abstrato

como a cidade de Andara que se constitui através da linguagem e da poética.

MATERIAIS E MÉTODOS

Todos os procedimentos metodológicos adotadas até o presente momento

seguiram através das pesquisas de livros e dos textos publicados sobrea obra de Vicente

Cecim; das revistas e suplementos literários à época em que Vicente Cecim produziu

suas obras e atuou no circuito literário de Belém do Pará. Utilizou-se, também, o

método de pesquisa documental com a necessidade de utilização de material escaneado

e fotografado permitidos para captar imagens relevantes na composição do corposda

pesquisa a serem utilizados no futuro.

A coleta dedados iniciou partindo do acervo de obra raras da Fundação Tancredo

Neves – Centur, especificamente da investigação e busca do jornal “A Província do

Pará”, onde Vicente Cecim colaborou com uma coluna que fala de cinema, literatura e

política durante os anos 1982 até 1983 (material que está em anexo no final deste

relatório). A coluna se chamava “Contexto” e tinha como colaboradores os poetas Age

de Carvalho, Max Martins e o escritor e crítico José Paulo Paes. Através da coluna

podemos saber das leituras consumidas da época e do filmes que circulavam pelo

circuito alternativo de cinema. Registro importante para sabermos quais os escritores

cultuados daquele período e quais os filmes assistidos nas salas alternativas – sempre

presente em Belém – fora do eixo comercial. A partir de então procuramos reunir a obra

do autor facilmente encontrada nos sebos e livrarias de Belém.

RESULTADOS DO PRIMEIRO MOMENTO DA PESQUISA

A análise preliminar feita com o corpus coletado na Fundação Tancredo Neves –

Centur, e o acervo do autor, diz que Vicente Franz Cecim, apesar de estar na

contemporaneidade, ou seja, no momento presente, aproxima-se dos modernistas, e da

geração de 45, por ter um projeto onde sua literatura se desenvolve e se amplia, projeto

sob o qual o autor usa como suporte para criticar as atrocidades da modernidade, refletir

sobre o ato da escrita e sobre sua produção. Isso caracteriza uma tradição moderna onde

o ato de criar, a atividade poética, passa a ser assunto da narrativa. Tradição a qual

Cecim está ligado - apesar de separado no tempo – por ter um projeto literário onde faz

suas indagações sobre a escrita e que se amplia em torno do próprio eixo seguindo uma

linha de criação. Outro dado que aproxima Vicente Cecim do modernismo é o narrador.

Este por vezes toma forma de criador (demiurgo) e se dissolve em várias vozes

engendrando uma polifonia, característica de muitos narradores modernos, que usam

seus personagens para dizer como veem o mundo e a literatura. O narrador

contemporâneo geralmente mantém distância de seus personagens, e age como um

observador, descrevendo a partir do que vê. Não é costume do narrador contemporâneo

se confundir com sua criação.

Como resultado material do primeiro momento da pesquisa temos a produção de

um artigo (em anexo nesse relatório) intitulado Andara: o projeto moderno de Vicente

Franz Cecim a ser publicado nos periódicos e apresentado no Seminário PIBIC 2015.

CONCLUSÃO

Os resultados apresentados são provenientes da pesquisa do corpus na Fundação

Tancredo Neve e o acervo do autor. A análise feita com os dados coletados, até o

presente momento da pesquisa, indica que Vicente Franz Cecim cria Andara a cidade

mito-poética que vem a ser seu projeto literário moderno, onde a Amazônia surge

(re)significada sob a forma da criação poética. Nesse espaço singular - onde o plano

mítico e a realidade fundem-se para dar origem à ficção - o autor engendra uma escrita

híbrida, inovadora, que vem para quebrar e pôr em xeque os gêneros textuais e inovar a

forma da narrativa. A partir da leitura de textos como A Asa e a serpente (1979), livro

que dá início a sua obra, podemos notar fatores decisivos na sua técnica de composição

como a alegoria, a metáfora e a ressignificação do símbolo, da palavra num sentido mais

amplo sem romper com uma tradição da palavra sacralizada, aproximando Cecim dos

escritores de vanguarda da metade do séc. XX.

Transfigurada – oniricamente - até a dimensão de uma região metáfora da vida,

Andara é a Amazônia onde ele nasceu. Iniciando essa invenção Cecim renova e dá

fôlego a literatura paraense que se moderniza a partir da década de 50 com o grupo dos

novos formado por Max Martins, Mário Faustino, Haroldo Maranhão, Paulo Plínio,

Dalcídio Jurandir entre outros. Com uma escrita transgressora que se mostra nos Livros

invisíveis de Andara sob a forma mais radical literatura fantástica afirmando que a

ficção é só um simulacro da vida, Cecim enriquece o campo da poética expandindo e

renovando o imaginário amazônico e sua linguagem mítica.

PERSPECTIVAS FUTURAS

Em relação às atividades do Plano IC original, o bolsista avançará na pesquisa

analisando filmes, desenhos e reportagens relacionadas a obra, investigando os

processos de criação de Andara e o movimento da literatura e da arte em Belém do Pará

a partir da década de 80 relacionando o período junto ao contexto contemporâneo.

Esperamos, assim, cumprir com o término desta pesquisa que vem contribuir para o

entendimento da formação da literatura na Amazônia.

PARECER DO ORIENTADOR:

O plano de trabalho: Literatura da Amazônia: a poesia de Vicente Franz

Cecim, desenvolvido pelo bolsista de iniciação científica Rogério Alan Tancredo,

constante do projeto de pesquisa Literatura Comparada e estudos Culturais II:

perspectivas teóricas para ler literatura, arte, cultura, sociedades e processos

globalizantes na Amazônia, Brasil e América Latina e integrante do Grupo de Pesquisa

Literatura, história, arte e cultura na Amazônia, sob minha coordenação e liderança,

desenvolveu-se conforme o conteúdo do presente relatório final em foco para o qual

dou parecer plenamente favorável.

Belém, 05 de agosto de 2015

ASSINATURA DO ALUNO

ANEXOS

Artigo

Andara: o projeto literário moderno de Vicente Franz Cecim

Rogério Alan Tancredo1

Resumo:

Este artigo pretende mostrar Andara, a cidade imaginária criada pelo escritor paraense

Vicente Franz Cecim que vem a ser seu projeto literário moderno, onde a Amazônia

surge (re)significada sob a forma da criação poética. Nesse espaço singular - onde o

plano mítico e a realidade fundem-se para dar origem à ficção - o autor engendra uma

escrita híbrida, inovadora, que vem para quebrar e pôr em xeque os gêneros textuais e

inovar a forma da narrativa. A partir da leitura de textos como A Asa e a serpente

(1979), livro que dá início a sua obra, vamos apontar fatores decisivos na sua técnica de

composição como a alegoria, a metáfora e a ressignificação do símbolo, da palavra num

sentido mais amplo sem romper com uma tradição da palavra sacralizada, aproximando

Cecim dos escritores de vanguarda da metade do séc. XX.

Palavras-chaves: Andara, espaço, técnica, modernidade.

1.Introdução

Sob forma transfigurada, a Amazônia aparece como espaço metafórico,

transformada em verbo, estado constante de criação. Universo imaginário e fantástico

onde homens, animais, seres alados e insetos, junto à seus significados, unem-se para

celebrar a linguagem e a criação poética. Andara é o nome da Amazônia transfigurada,

o espaço mito-poético criado pelo escritor paraense Vicente Franz Cecim para a

realização de seu projeto literário moderno: a própria Andara. A cidade imaginária,

1Graduando em Letras pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Este trabalho é resultado de uma

pesquisa junto ao projeto Pibic/Ufpa.

criada segundo o autor sob a influência das histórias que sua mãe Yara Cecim, também

escritora,contava2, surge a partir de um universo imaginário popular regional no

primeiro livro A asa e a serpente (1979), obra que inaugura Viagem A Andara, O livro

invisível (arcos narrativos que se sucedem e se voltam sobre si). Conquanto haja esse

traço de imaginário da região, excede o regionalismo convencional transgredindo a

tradição oral da narrativa. Nesse espaço enigmático e fantasmagórico, numa atmosfera

de sonho e fantasia, Cecim cria histórias para refletir sobre a própria criação, denunciar

as mazelas sociais de sua região, a Amazônia, e num campo mais exíguo, expor as

obsessões e desejos do homem, ser ontológico, jogado num plano universal através da

criação artística, ou seja, através da criação de Andara. Histórias que beiram a

incompreensão e a loucura, que mostram o inconsciente dos personagens num plano

onírico que se abre para a imaginação do leitor num jogo lúdico de linguagem. Uma

literatura sagaz que mostra a força e poder de criação sob a forma ficcional e poética

dando continuidade a uma tradição moderna. Esse trabalho visa mostrar Andara como

espaço moderno - irrupção poética - que vem para inovar a forma da narrativa. Projeto

audacioso e inovador que aproxima Cecim da geração de 45, movimento modernista

que elegera a reflexão sobre a escrita um dos focos principais de seus trabalhos,

recriando e dando uma nova roupagem a literatura brasileira a partir de paradigmas

próprios, que iria nortear as obras daquele período. Criação de um universo paralelo,

que está em constante movimento, proposto por uma linguagem que se desdobra em si e

que fala por meio de alegorias que compõe o universo mítico. Andara estende a

fronteira entre realidade e ficção constituindo-se na poética, espaço do pensar,

possibilitado pela criação. Cosmogonia amazônica ou/e latino-americana que após os

movimentos de vanguarda europeu do início do século emergiram com a força do seu

imaginário mítico, valorizando e expandindo o universo ficcional latino. Espaços que se

consolidaram na poética do novo continente como A biblioteca de Babel, de Jorge Luis

Borges, a Macondo de Garcia Marquês e a Santa Maria, de Juan Carlos Onetti, a cidade

fictícia que faz alusão à Montevidéu. Trago esses nomes não para ligar Cecim a esse

movimento que ficara conhecido como realismo mágico, mas para dar exemplo de uma

literatura que reagia contra essa realidade objetiva, concreta, e que propunha a criação

de novos espaços – ou de outra realidade - através da linguagem. Uma literatura que

consolidou uma estética e modernizou o universo poético do Novo Continente.

2 Revista PZZ ano 07, Ed. Resistencia, PA, 2013.

“Escrever, sonhar os livros de Andara, foi uma opção muito solitária, e do que havia

sido escrito aqui na Amazônia, pelos escritores cultos, chamemos assim, eu não me

nutri de quase nada. Meu único alimento foi a literatura oral, as lendas os mitos, que

aprendi a admirar através da minha mãe, que nos contava, não os contos dos irmãos

Grimm, de Perrault, que tem coisas geniais, de Andersen, que é todo ele um gênio, mas

uma histórias delirantes da região amazônica, para nos fazer dormir, a mim e a meus

irmãos Paulo e Elizabeth. O sono vinha, mas como um portal de acesso a todo esse

mundo feérico. Não sabíamos mais o que era natural e o que era sobrenatural” (CECIM,

1979:12). Aqui, Cecim afirma o que seja talvez sua principal matriz poético-literária: o

imaginário amazônico com suas lendas, crenças e mitos, marcado pela transmissão

através da oralidade, características dos povos que tem uma forte ligação com a terra e

com sua tradição. É desse universo que Andara surge, vai tomando forma até se

constituir como tempo e espaço poético da linguagem. Neste trabalho vamos demarcar o

espaço que tem suas fronteiras delineadas pela linguagem singular que se desenvolve

envolta do próprio centro e sua estrutura física não-linear, mas que segue um padrão de

criação.

2. Modernidade: filha da técnica

A modernidade, época que ainda não findou e que se desdobra com o

contemporâneo por compartilhar, com este, costumes e características, advém de

processos de modernização que começam a transformar o espaço geográfico: como as

construções de ferro, a máquina a vapor, a luz elétrica, a chegada do automóvel, as

construções de vidro, a cultura do trabalho implantado em nossos dias, ou seja, começa

a partir de processos técnicos que se intensificam (devido a expansão da indústria e da

produção em massa) junto à urbanização que se expande ao longo dos séculos XIX e

XX. Filha da técnica, a modernidade traz consigo a carga dessa transformação natural –

do ponto de vista evolutivo - que tirou o homem do campo para jogá-lo na grande

cidade. Esse homem simples, que levava uma vida pacata, de subsistência, agora é

obrigado a conviver com invenções mirabolantes que transformam a realidade,

invenções que prometem, se não solucionar, amenizar seus problemas, melhorar a vida

dentro da existência. Porém, o que se viu como resultado desse processo urbano

industrial foi um homem mecanizado, afastado das relações humanas para se tornar

peça da engrenagem em prol de uma produção incessante. Destituído dos esteios éticos

que durante muitos anos sustentaram a civilização, o indivíduo torna-se solitário e

angustiado apesar dos avanços tecnológicos. Esse é o espírito do homem moderno, a

carga que a modernidade traz consigo. Artistas herdeiros dessa cultura urbana da

máquina e do ferro advindo do período entre guerras (que os lançara num vazio

espiritual e a partir de então têm como missão recuperar a humanidade que se esvaíra

nas trincheiras) vão construir suas obras a partir desse sentimento, e do estado de

solidão do indivíduo que vaga anônimo e se perde na multidão. E sob uma concepção

de técnica - falo das inovações tecnológicas e de processos artísticos que vão

revolucionar a linguagem como a colagem, o recorte, a fotografia e o cinema - que vai

se confundir com o processo de composição da obra de arte. A técnica e a reprodução

em grandes quantidades das obras, no primeiro momento, vão botar em questão o

princípio de obra de arte, reduzindo a mesma a mercadoria, esvaziada de um sentido

mais nobre (a perda da aura) produto descartável de cultura de massa, como aponta

Walter Benjamin em A Obra de Arte na era de sua Reprodutibilidade Técnica:

[...] o que se atrofia na era da reprodutibilidade técnica da obra de arte

é sua aura. Esse processo é sintomático, e sua significação vai muito

além da esfera da arte. Generalizando, podemos dizer que a técnica de

reprodução retira do domínio da tradição o objeto reproduzido. Na

medida em que ela multiplica a reprodução, substitui a existência

única da obra por uma existência massiva. E, na medida em que essa

técnica permite a reprodução vir ao encontro do espectador, em todas

as situações, ela atualiza o objeto reproduzido. Esses dois processos

resultam num violento abalo da tradição, um abalo da tradição que

constitui o reverso da crise e renovação atuais da humanidade. Eles se

relacionam intimamente com os movimentos de massa, em nossos

dias. (BENJAMIN, 2009)

Isso tudo nos remete, é claro, a relação do homem com a produção artística

durante a História. A arte, com os eventuais processos técnicos na modernidade, se

afasta da sua condição tradicional, a poíesis, e passa a condição desprestigiada da

práxis, ou seja, da coisa obscura, capaz de trazer à luz algo próprio e original, passa a

estar ligada a um fazer contínuo, prático e funcional, incapaz de superar a si mesma

como objeto.

Enquanto no centro da práxis estava, como veremos, a ideia de

vontade que se exprime imediatamente na ação, a experiência que

estava no centro da poíesisera a pro-dução na presença, isto é, o fato

de que, nela, algo viesse do não ser ao ser, da ocultação à plena luz da

obra. O caráter essencial da poíesisnão estava, portanto, no seu

aspecto de processo prático, voluntário, mas no seu ser um modo da

verdade, entendida como des-velamento. E era precisamente por essa

sua essencial proximidade com a verdade que Aristóteles, na condição

mesma do homem, tendia a atribuir à poíesisumposto mais alto em

relaçãoà práxis. (AGAMBEN, 2012, p. 118)

A técnica (agora falo da obsessão de alguns artistas de criar algo próprio, novo,

que o identifique e o caracterize como tal), vista como vilã a priori, no século XX,

também acaba sendo uma aliada para processos de composições complexos na

modernidade.Artistas vão começar a compor sob estas perspectivas, e através de suas

obras, espécie de máscaras por meio da qual vão anunciar e cantar seu tempo, vão

desconstruir paradigmas estabelecidos, renovando a linguagem por meio de um

processo de transfiguração, mostrando como veem a realidade e o mundo. A prosa e a

poesia que agora vão ter como substância principal a solidão do indivíduo e a fratura

desse mesmo indivíduo múltiplo e diverso, vão voltar-se para si, questionando-se

enquanto gêneros, num processo de mutação tal qual as transformações da

modernidade. Artistas vão produzir obras de difícil acesso, de difícil compreensão (para

não dizer herméticas) fazendo jus a sua época e seu tempo. Muitos escritores vão criar

narrativas e poemas enigmáticos - que refletem sobre a própria linguagem - e sob um

formato, um projeto estético vão desenvolver suas obras. Assim fez João Cabral de

Melo Neto na suspensão da lírica no verso, Guimarães Rosa na transformação da

sintaxe e do léxico, Clarice Lispector com a epifania e desconstrução de seus

personagens e Osman Lins na fragmentação e geometrização da narrativa,só pra citar

alguns exemplos de composições complexas na modernidade. Vicente Franz Cecim se

aproxima destes nomes quando também por meio de um trabalho com a linguagem, que

envolve a reflexão da escrita, cria um lugar imaginário, em movimento constante, com

leis e dinâmicas próprias que é o seu projeto literário moderno: Andara, a cidade mítica

onde sua literatura se realiza.

3.Andara: o projeto

Vicente Franz Cecim estreia em 1979 com o livro A asa e a serpente, escritura

inclassificável que quebra os parâmetros de gêneros textuais trazendo para a cena da

literatura brasileira o embrião de seu grande projeto: Andara, a cidade mito-poética,

cenário e personagem d‟os Livros Invisíveis de Andara, que representa a Amazônia

transfigurada, transformada em verbo, movimento, que ressurge e resiste com sua magia

e tradição às atrocidades da modernidade. Andara consiste num espaço que surge do

microcosmo mítico amazônico onde Cecim vai denunciar as atrocidades de seu tempo

usando como recurso a alegoria e a fusão da prosa com a poesia para a criação de uma

atmosfera singular, própria, o que legitimará um espaço fantasmagórico, ou seja, ao

misturar o plano narrativo realista ao lirismo metafórico da poesia, cria-se um clima de

sonho e delírio, imagens do inconsciente do narrador-criador, que constitui uma das

características principais das histórias de Andara.

Foi como poesia que li “A asa e a serpente”, um poema lírico-

narrativo talvez, ou um poema dramático na terminologia de Fernando

Pessoa, para dar nome a esse texto revolto, que se desdobra com seu

autor – misto de sonho e alegoria, fábulado sacrifício do algoz

impessoal, morrendo e renascendo, como num ato de expiação

infindável, dos míticos desvão do inconsciente individual e coletivo.

Mas toda fábula é o contorno imaginário exemplar de uma realidade

possível que se intemporaliza. Esta de Cecim alude, parece-me, a uma

realidade muito próxima que traumatizou sua geração: a época do

grande medo, que se tornou assombração política fantasma histórico

na cidade do Grã ou em qualquer outra parte do Brasil após 1964.

Mais firmeza ganharia a fábula se maior contraste houvesse entre o

plano prosaico da narração e o plano lírico da expressão poética,

conciliando osonho e a alegoria. Com a dominância do lado onírico,

ganhou por certo o lirismo, que transforma a narrativa numa

assombração literária impetuosa. Sujeito e objeto de metamorfoses, o

texto se interioriza, e o fantasma da História tende à história fantástica

(Nunes, 2012, p. 327).

Além da referência à ditadura militar, tema implícito de A asa e a serpente, que

aparece sob a figura do sargento Nazareno, que volta da morte para encenar sua patética

existência, e da fúria de seu algoz disposto a matá-lo quantas vezes for preciso, é

importante observar na fala de Benedito Nunes que as histórias de Andara devem ser

lidas e pensadas como escritura de uma linguagem poética que se volta sobre si numa

espécie de dobra, se refazendo a todo momento, e que tal lírica propõe uma abertura, o

que nos leva a crer que a obra de Cecim tende para um outro plano dimensional, o plano

do poético. O autor classifica o próprio texto como “escritura” - por fugir dos padrões

textuais - mas principalmente por essa palavra anunciar algo que estar porvir, anunciar

um desvelamento3, algo que vem à luz através da linguagem e que se vela em si

enquanto obra, o que a aproxima da essência de seu audacioso projeto: a escritura da

criação de Andara. Ora, o novo tende a romper com a tradição vigente e propor outras

saídas e formas para a língua, neste caso, o que Andara traz de novo é a subversão da

3 Conceito heideggeriano para explicar a face obscura do ser “Mas o que se faz necessário é justamente

o contrário: o esconder-se faz parte da pre-dileção do ser, isto é, daquilo em que consolida sua essência [...] Ser é o desvelar-se que se vela – em sentido inicial. O desocultar-se é emergir no desvelamento; e isto significa abrigar primeiramente o desvelamento como tal na essência” (HEIDEGGER, 2008, p. 313-314).

escrita, a busca por uma autenticidade que remeta à própria criação, o que gera uma

linguagem peculiar, linguagem esta que constitui suas fronteiras e sua geografia.

Andara é a “ilha” Santa Maria do Grão, referência a Belém do Grão-Pará,

cidade natal do autor, que este usa para dar verossimilhança a uma realidade absoluta,

assim como o Sertão metafísico de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, que se

amplia e transforma-se no mundo. No entanto, em Cecim, ao invés do sertão, temos a

região amazônica, ou seja, a floresta se expandindo como metáfora da vida. Como nada

em Cecim é gratuito, voltemos ao nome: Santa Maria do Grão, que traz no final a

palavra Grão, ponto de partida de espécie de vida, que alude à semente, àquela que traz

no cerne a essência do que virá: Andara, que aos poucos vai tomando a cidade de Belém

até transformá-la numa floresta inefável. “Andara. Lá as ruas estão sempre vazias e

aquilo, a floresta, vem avançando, vem cada vez mais para perto de nós” (Cecim,

1988:132). Este “perto de nós” não só no sentido de avançar, tomar a cidade, mas no

sentido da floresta se mostrar como o é realmente, e que nós estamos desacostumados a

vê-la. A própria palavra Andara faz jus ao projeto que está em constante movimento,

construção. Ela nos remete a um movimento contínuo que parte do verbo Andar como

mostra Karina jucá:

Além de ressaltar pelo nome a essência da narrativa, o vocábulo

também remete diretamente ao verbo Andar, avançar contínuo de

passos, progressão. No passado mais que perfeito, o sentido do

movimento concluído carrega ao mesmo tempo, conotativamente, a

impressão de continuidade, de fluxo narrativo. Andara como

movimento que se inscreve no passado em passos (presente) que

levam / ou levarão à frente (futuro)? Como truque semântico, os

modos temporais, passado, presente e futuro, se unem e ao mesmo

tempo se anulam na figura poética, instalando a impressão de

simultaneidade, ou da ausência de qualquer tempo. Andara em sua

condensação metalinguística, assinala o nome próprio o conceito da

narrativa do “devir como simultaneidade” (JUCÁ, 2010, p. 12).

Como Andara é a Amazônia transformada em verbo, isso tudo se dá na relação

Livro, meio pelo qual se configura o projeto. Em 1988 é lançado Viagem a Andara, que

traz como subtítulo O Livro invisível, onde Cecim propõe a leitura dos livros de

Andara, ou seja, daquilo que está além de nossos olhos, incapazes de ver o absoluto,

ofuscados pela neblina do mundo técnico científico funcional. Para Cecim, o invisível

tem forma e se constitui paralelamente ao mundo visível, a esfera da dimensão do

poético, esse entre-lugar, possibilitado pela criação através da linguagem. Ideia que

norteará as histórias de Andara e justificará os personagens cegos que atravessam a

obra, pois estes são obrigados a olhar com outros olhos, um olhar imaculado, sem as

marcas do mundo visível. Resultado de reflexão e busca profunda do fazer literário, do

ato de criação através da escrita como meio de buscar o absoluto: forma soberana de ser.

As sentenças, em Andara, tomam uma profundidade abissal devido a

estranheza da forma com que são construídas, deslocando-nos em busca de seu sentido,

para outro lugar: a cidade de Andara, onde a impossibilidade (o inverossímil) constitui a

matéria prima, a própria possibilidade de criação. Território demarcado pela linguagem

insólita, obscura, mãe criadora do espaço em questão, que no seio da palavra - fosso

sem fim - abismo de sentidos e possibilidade, encontra seu lugar. Quando lemos:

Do fundo da terra, a Obscuridade rugerreluz. É isso também a vida.

Por baixo. Estranhos veios de ouro atravessando rochas ainda mais

estranhas, fosseis Faces murchas Lagrimaspetreaspassadas estão

buscando a superfície das coisascoisas (CECIM, 2006, p. 09).

já somos lançados na estranheza das sentenças, no mistério das palavras que calam,

silenciam, o que nos leva à Andara, espaço construído por meio da desconstrução do

processo sintático, que desloca ou coloca o leitor nessa fissura -proposta pela linguagem

- e logo, o convida para A viagem a andara que está prestes a começar. Viagem pelos

meandros da criação, que através de uma força imagética criada pelo universo das

palavras nos leva ao pensar, a buscar o que está por trás e onde vai nos levar aquilo que

se coloca como questão, enigma. “Buscando a superfície das coisas coisas”, diz a voz,

ou seja, buscando a essência, o que realmente são as coisas por trás dos que os olhos

veem, e lançado ao pensar pelo enigmático efeito da frase, se colocar em questão para

pensar a si próprio como ser. Antes temos a sentença “Do fundo da terra, a Obscuridade

rugerreluz”, que anuncia um acontecimento, surgindo na obscuridade da linguagem, que

é a narrativa que está prestes a vir à luz. E o que implode da linguagem, esse

acontecimento poético, é Andara. Em seu último livro Breve é a febre da terra, prêmio

IAP de 2014, Cecim sentencia e afirma seu projeto literário: “Andara quer a Origem, o

Antes do ponto em que tudo começou a se perder do todo, o ponto oculto de nós, que só

se consente a nós em Relances, vislumbres. Andara busca o homem além de si, fora de

si: no Umanoh.” É claro a proposta da leitura dos livros de Andara, a busca do que

realmente é o homem através do belo, da linguagem poética. O Umanoh com h no final

representa a origem, o verdadeiro, o que está latente no humano com h na frente, que

caracteriza o homem moderno, distante da tradição mítica, poética, concepção que em

outros tempos constituía um real mais belo, autêntico, onde esse Homem era integrado à

terra e por sua vez ao universo. Esse Umanoh se perdera quando o homem adotou a

concepção técnico-científica como verdade incondicional e a partir de então se colocou

como sujeito, e o mundo como palco e objetos de suas ações. O Umanoh, de Cecim, nos

remete à civilizações “primitivas” que explicavam o real a partir da própria existência,

para eles sagrada, e que mantinham a tradição que os caracterizava e dizia o que eram.

Retomando Agamben:

Estão distantes os tempos em que Dionísio, o Cartuxo, era arrebatado

em êxtase pela melodia do órgão da igreja de S. João em „s-

Hertogenbosch; a obra de arte não é mais, para o homem moderno, a

aparição concreta do divino, que deixa a alma capturada pelo êxtase

ou pelo terror sagrado, mas uma ocasião privilegiada para colocar em

movimento o seu gosto crítico, aquele juízo sobre a arte que, se não

tem para nós verdadeiramente, de algum modo, mais valor que a arte

mesma, responde porém certamente a uma necessidade pelo menos

igualmente essencial (AGAMBEN, 2012, p. 76).

Andara busca esse espírito perdido em relação à obra, relação para além de

uma avaliação crítica e estética, assim como outra construção da realidade, menos

objetiva, racional, e mais poética, possível somente numa retomada de consciência, na

retomada do Umanoh, na retomada de nossa unidade.

4. Tradição e autorreflexão

Além do espaço de criação, Andara é o espaço onde Cecim reflete sobre a

escrita, essa busca constante por meio da palavra. A afirmação através desse signo

bipartido e obscuro que não só dá sentido às coisas e diz o que somos, mas que também

nos desloca para o silêncio. Atitude que começa ser adotada no processo de criação pela

geração destruidora de 22 e aprofundada pelos escritores contemporâneos a partir de 45.

O caos, portanto, não cessou com o aparecimento do universo;

mas quando a consciência do homem, nomeando o criador,

recriando-o portanto, separou, ordenou, uniu. A palavra, porém,

não é o símbolo ou reflexo do que significa, função servil, e sim

o seu espírito, o sopro na argila. Uma coisa não existe realmente

enquanto não nomeada: então, investe-se da palavra que a

ilumina e, logrando identidade, adquire igualmente estabilidade.

(Lins, 2004, p. 98)

Osman Lins neste trecho de Retábulo de Santa Joana Carolina, reitera o poder

da palavra -signo de luz nas trevas - instrumento e meio de criação que se apropria de

algo até então indefinido e obscuro. Sobre esse tema, Clarice Lispector através de seu

personagem-máscara Rodrigo S. M. reflete sobre sua condição de escritora e sobre as

dificuldade de narrar em A hora da Estrela. Antes, Paulo Honório, personagem de São

Bernardo, de Graciliano Ramos também questiona-se sobre o ato de narrar, a busca pela

palavra precisa, que diga o que acontecera de fato, sem arranjos e artifícios inúteis.

Mário de Andrade com seu Prefácio interessantíssimo também usa o espaço de criação

para refletir sobre a produção poética do começo do século, assim como o seu

contemporâneo Oswald de Andrade travestido de Machado Penumbra critica a prosa

parnasiana. Isso caracteriza uma tradição moderna onde o ato de criar, a atividade

poética, passa a ser assunto da narrativa. No primeiro momento dessa catarse moderna

temos a exigência de atualização de nossa literatura sob um projeto nacional, depois, a

retomada de uma linguagem clássica e a descrição de conflitos sociais sob a perspectiva

moderna, e finalmente experimentações linguísticas ligadas as representações

metafísicas e ontológicas. Isso mostra que, na literatura brasileira, desde o início do

século XX, o pensamento filosófico e literário se voltam para a questão da linguagem,

para os problemas, soluções, e crises contingentes à sua história. Tradição à qual Cecim

está ligado - apesar de separado no tempo – por ter um projeto literário onde faz suas

indagações sobre a escrita que amplia-se em torno do próprio eixo seguindo uma linha

de criação.

Tradição multifacetada e ambígua que em seu caráter diverso tem na

transgressão da forma e na autorreflexão da criação a sua unidade. E dessas multifaces

transgressoras, Cecim alia-se à tradição metafísica (a geração de Clarice Lispector e

Guimarães Rosa) sob a qual personagens mal delineados, obscuros, são jogados no

plano ontológico para questionar a si mesmo como ser – e as questões que os envolvem

como: amor, vida e morte – diante de um mundo que se mostra ao mesmo tempo

receptivo e avessos à suas ações. Esse modo metafísico, voltado para o homem, de

pensar literatura, vai influenciar e encantar as próximas gerações.

Uma nova consciência da forma romanesca, enquanto escrita, trouxera

nos anos 1960 o romance autorreflexivo, voltado para sua própria

fratura, narrando o ato de escrever [...] É essa consciência que se

apura, na década de 1970, no Avalovara (1973), de Osman Lins, aí

sujeito o romance a um jogo ficcional, conforme regras

preestabelecidas sobre temas recorrentes, elaborado como uma figura

mágica, que permite deslocamentos no tempo e no espaço, de

personagens se revezando no desenho cósmico e histórico do destino

que lhes dita a arquitetura da obra, suas vozes autônomas suprindo a

iniciativa do agente externo que os guia, e transpassando-se os pontos

de vista de cada qual, tomados sobre medidas temporais distintas, ora

no passado ora no presente (NUNES, 2009, p. 153-154).

Aqui Benedito Nunes mostra a amplitude que toma a arte romanesca devido o

apuro das resoluções estéticas e formais que foram se desenvolvendo ao longo dos anos

da tradição moderna. Nunes traz como exemplo Avalovara, de Osman Linz, romance de

1973, que aglutina e sintetiza o espírito de criação desse período. O primeiro livro de

Cecim, que vem à luz e abre o projeto Andara, é A asa e a serpente de 1979, seis anos

depois do lançamento do monumental e misterioso livro de Linz. Isso mostra uma

progressão e continuidade na tradição que se instalara, e o que esses autores têm em

comum, além da transgressão da forma, é a fé na palavra, esse objeto obscuro a partir do

qual se constrói mundos.

[...] em Grande sertão: veredas a tônica revolucionária deslocava-se

da estrutura fraseológica para a unidade da palavra [...] A palavra

perdeu a sua característica de termo, entidade de contorno unívoco,

para converter-se em plurissigno, realidade multisignificativa. De

objeto de uma só camada semântica, transformou-se em núcleo

irradiador de policonotações (COUTINHO, 2004, p. 477).

A palavra - a partir da modernidade - não está mais presa a um único sentido,

ela se transforma e amplia sua capacidade de significação, começa a ser explorada

também em sua dimensão sonora e gráfica, e quando sozinha, não basta para dizer o que

quer, se funde à outras engendrando novas palavras, foi o que fez James Joyce inovando

a prosa de língua inglesa, e mais tarde Guimarães Rosa, aqui no Brasil, seguindo uma

tradição moderna. Em Breve é a febre da terra, Vicente Cecim começa o texto

refletindo sobre a palavra, este signo que diz o que são as coisas mas que por vezes

falha por não conseguir expressar alguns sentimentos em sua totalidade devido a

fugacidade das sensações “Contaminada a pureza da Palavra. Oh. Escrever uma

primeira vez da esquerda para a direita: falhar escrever uma segunda vez da direita para

a esquerda, para falhar pior?” (CECIM, 2014). Neste pequeno trecho podemos notar a

preocupação com a Palavra que o autor tem, a capacidade de mutação e ambivalência

desta, do qual vai se nutrir, assim como o drama de narrar que vai tomar boa parte de

suas reflexões.

5. As referências

São muitas as referências implícitas e explicitas que Cecim traz em sua obra –

desde Horderling a Cioran – e o amarram à modernidade, mas duas chamam atenção.

Uma expressa o espírito e sentimento de Andara, a outra a obsessão pela forma e

construção. A primeira, distante de nós no tempo e no espaço, é Novalis, poeta alemão

da geração rebelde de Jena4, que concebia a poesia como algo sagrado “A linguagem é a

dinâmica do reino espiritual” (NOVALIS, 1991). Cecim comunga do mesmo

pensamento dos românticos desse período, para quem a poesia ultrapassa o plano

estético para se ligar à esfera filosófica e religiosa. “Suas diversas surtidas para tantos

autores, de Novalis a Angelus Silesius, de Eckhart a Guimarães Rosa, que não levam

para fora do campo poético, onde desejam permanecer, são como um contraponto ao

pensamento religioso enlaçado ao filosófico” (NUNES, 2006). O romantismo é um dos

primeiros movimentos a quebrar com os paradigmas impostos pelo Classicismo e trazer

a concepção de que a poesia é algo essencial à vida:

Octávio Paz observa, referindo-se aos românticos alemães e ingleses,

que sua originalidade e preeminência se deveram à agudeza crítica e a

concepção da experiência poética como experiência vital – uma

totalidade que supões uma estética, uma linguagem, uma erótica, uma

política, uma visão de mundo e uma ação; em suma um estilo de vida

que no século XX seria retomado pelas Vanguardas (CHIAMPI, 1991,

p. 16).

Ora, é através de Andara que Cecim vai ver e interpretar o mundo. Para os escritores

modernos a literatura é uma forma de conhecimento tão importante e vital quanto a ciência, e o

meio pelo qual vão enfrentar o pragmatismo cotidiano imposto pelos novos tempos. A outra

referência, ao contrário da primeira, e que nos é mais próxima, é o argentino Júlio

Cortázar “que saiba abrir a porta para ir brincar. Cortázar” (CECIM, 1988). Andara é

como O Jogo de Amarelinhas, romance de 1964 no qual sua construção possibilita o

leitor fazer seu plano de leitura como num jogo lúdico. O mesmo acontece na obra do

paraense, não importa por onde começar, os livros visíveis estão situados no mesmo

lugar - Andara – e tem o mesmo objetivo: levar à reflexão por meio da poesia. A “porta”

é a passagem para a descoberta, aparece na sentença como alegoria de livro, é

necessário abrir os Livros de Andara para se fazer a viagem pelos meandros da criação,

a busca pela verdade por outro caminho, pelo caminho poético, pelo caminho da

imaginação. Depois de abrirmos a porta e irmos brincar, cabe aqui uma pergunta tanto

para leitores como para escritores, que mostra a fé na palavra e na poesia de toda uma

geração: “encontraste a chave?”

4 O grande legado do círculo romântico de Jena, aqui representado por seus expoentes Friedrich von

Hardenberg (1772 – 1801), que adotou o nome literário Novalis, e Friedrich Schlegel (1772 – 1829), é a recusa à reprodução mimética da realidade empírica e a concepção de obra literária como construção fechada. Em defesa da liberdade da fantasia, fazem suas as ideias do filosofo Johann Gottlieb Fichte (1776 – 1814), que via o Eu como instância suprema, o mundo objetivo como produto do espírito.

Por fim, a influência surrealista que encontramos em Andara, os elementos

dessa estética vanguardista que podemos perceber na composição da cidade-palavra,

entre eles, a atmosfera de sonho, que atravessa seus arcos-narrativos.O sono é o estado

em que seus personagens vivem:

Olham para nós na outra margem os animais do sono. Um vento forte

começa a soprar, com a madrugada que chega. Sacode as redes dos

que dormem, agita os cabelos do morto. Leva os ecos da sua voz para

longe. Tenho sono (CECIM, 1988, p. 49).

É só quando estamos adormecidos que temos acesso ao inconsciente, quando

nosso estado racional – que é o estado comum - adormece, para dar vasão as

profundezas inacessíveis do eu, mundos do subconsciente, tão verdadeiro para os

surrealistas quanto a realidade objetiva e concreta.

Foi a título muito justo que Freud fez sua crítica ao sonho. É

inadmissível, com efeito, que essa parte considerável da atividade

psíquica (pois que pelo menos desde que o homem nasce até que

morre pensamento não apresenta qualquer solução de continuidade, a

soma dos momentos de sonho, do ponto de vista do tempo,

considerando-se apenas o puro sonho, aquele do sono, não é inferior à

soma dos momentos da realidade, limitemo-nos a dizer: momentos de

vigília) tenha chamado tão pouca atenção. A diferença extrema de

importância, de gravidade, que representam para o observador

ordinário os acontecimentos da vigília e os do sono, sempre me

espantou [...] O sonho encontra-se assim ligado a um parêntese como

a noite. E não mais do que ela, em geral aconselha. Esse singular

estado de coisas parece-me evocar algumas reflexões (BRETON,

2009, p. 227-228).

Os surrealista estavam interessados em alcançar, através da linguagem, uma

realidade absoluta, síntese do que há de fugidio e impenetrável tanto no sonho quanto na

realidade. E é neste mundo, da livre imaginação, com leis e dinâmicas próprias, que as

histórias de Andara acontecem de fato “Por quase nada também isso de deixar o mundo

por fora para ir viver num mundo por dentro, que quase existe”. Sonho e realidade se

sobrepõem “Olham para nós na outra margem os animais do sono”, o personagem está

no limiar do consciente/inconsciente, ou seja, observando acordado os animais abstratos

do seu sonho. Na cena estão todos dormindo, e os sonhos entrecruzam-se, mostrando

simultaneamente os dois espaços, resultando num lugar onírico, que supera a questão

espaço/tempo, porque para Cecim, há uma realidade, porém, esta possui várias

dimensões, e a de Andara é a do poético. Outro exemplo do entrecruzamento de espaços

entre realidade e sonho em Andara, está na narrativa kafkiana menino sonha inseto

sonha menino, presente no livro Silencioso como o Paraíso de 1994. Na história - por

sinal uma das mais breves e intrigantes do livro - um menino sonha com um inseto, e

durante seu sonho um inseto adentra a casa atraído pelo o inseto do sonho do menino.

Ali estava aquele menino e estivera sonhando com um inseto, e então,

eis, acordando, o menino vira aquele outro inseto perto do seu olho, é

fora, na vida, não só um sonho. Aquele inseto viera se arrastando até

ali, até o olho do menino na casa [...] Ali estava o inseto de fora então

e procurando um outro como ele, olhando mesmo através dos olhos

fechados, antes, quando o menino ainda dormia, aquele inseto

sonhado, e principalmente agora que o menino abriu os olhos,

transparências, e acordou. Como olha para dentro do menino esse

inseto. E o que vê? (CECIM, 1988, p. 73-74).

Aqui temos a fusão realidade/sonho se dando mais uma vez, portanto, o

inusitado da história, além da interseção das dimensões, está ainda por vir: o inseto

adentra a casa porque se apaixona pelo inseto do sonho do menino.

É que o inseto, por fora, já havia visto o inseto lá dentro do menino, e

aí dois homens se sonham insetos, e não sabendo para onde o inseto

que vira antes havia ido, ele agora procurava, procurava aquele inseto

por fora, o real, uns olhinhos de cego procurando [...] Veio vindo no

inseto por fora do menino então uma paixão, e era a paixão

imensamente de procurar dentro do menino, e achar, custasse o que

custasse, aquele outro inseto. Enquanto o menino novamente

adormecia

Cecim leva a história ao extremo da consequência atribuindo sentimento ao

inseto, propondo não só a humanização das criaturas de Andara, mas propondo infinitas

possibilidades através da criação. Quanto mais díspares as situações, em relação a

espaços, e objetos distantes de suas colocações usuais e de seus significados, mais

legitimidade e originalidade há para os surrealista. A linguagem se doando em prol da

arte, quebrando as barreiras que nos prende à um pensamento lógico, propondo outras

realidades, não somente esta, que nos limita como indivíduos.

6. Conclusão

E o que queremos com isso? Mostrar que Cecim, apesar de viver na

contemporaneidade, é um escritor moderno porque pensa e elabora sua obra a partir dos

princípios dos construtores da modernidade. Em seus últimos trabalhos, mais

precisamente em K O escuro da semente, de 2001, somente editado em Portugal, o autor

inaugura em sua obra o que ele vai chamar de Iconescritura: imagens (fotografias,

desenhos) que enchem às páginas desérticas de Andara e não só ajudam a contar, mas

leva o leitor para uma experiência imagética de ler e ver, imagens e escrita se

transpassam em prol da reflexão e do silêncio. Recurso contemporâneo usado por

exemplo pelo escritor alemão W. G. Sebald que morreu em 2001, mas, fora isso, o

projeto Andara se constitui por traços modernos como mostramos aqui. O seu

desenvolvimento e construção em volta do próprio eixo, constitui um desses traços, se

não o principal. A obra de Vicente Cecim mostra como a modernidade está presente

ainda hoje e de como é difícil uma separação. Para aqueles que acreditam no fim de um

ciclo e no início de outro (pós-moderno ou contemporâneo) devido ao esgotamento da

capacidade moderna de inovação, os livros visíveis de Andara mostram que é mais

adequado usar o termo dobra para nos referimos a contemporaneidade, porque o

moderno e o contemporâneo se trespassam, tanto na técnica como no sentimento, o que

dificulta uma divisão plena.

Referências Bibliográficas:

AGAMBEN, Giorgio. O homem sem conteúdo in: Poíesis e práxis. Ed. Autêntica, BH

– 2012.

BENJAMIN, Walter. Obras Escolhidas Vol. I in: A Obra de Arte na Era de Sua

Reprodutibilidade Técnica. Ed. Brasiliense, SP – 2012.

CECIM, Vicente Franz. VIAGEM A ANDARA O LIVRO INVISÍVEL. Ed. Iluminuras, SP

– 1988.

. SILÊNCIOSO COMO PARAÍSO. Ed. Iluminuras, SP – 1994.

. Ó Serdespanto. Ed. Bertand Brasil, RJ – 2006.

. Breve é a febre da terra. Prêmio IAP, Belém – 2014.

HEIDEGGER, Martin. Marcas do Caminho. Ed. Vozes, RJ – 2008.

NUNES, Benedito. A Clave do Poético in: Reflexões sobre o moderno romance

brasileiro. Ed. Companhia das Letras, SP – 2009.

. DO MARAJÓ AO ARQUIVO. Ed. Ufpa, Belém – 2012.

Anexo 1: artigo referente à pesquisa produzido entre setembro de 2014 a agosto de

2015.

Anexo 2: arquivo de imprensa – Centur; jornal A Província do Pará, 02 de janeiro de

1983.

Anexo 3: arquivo de imprensa – Centur; jornal A Província do Pará, 30 de janeiro de

1983.

Anexo 4: arquivo de imprensa – Centur; jornal A Província do Pará, 16 de janeiro de

1983.

Anexo 5: arquivo de imprensa – Centur.

Anexo 6: revista Polichinello, n° 05, março de 2006.

Anexo 7: revista PZZ, ano 7, maio-junho 2013.