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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE ESTUDOS COSTEIROS FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS SUZANE SERRANO CERVEIRA ANÁLISE MORFOMÉTRICA DA POPULAÇÃO DE MORCEGO HEMATÓFAGO Desmodus rotundus (CHIROPTERA, PHYLLOSTOMIDAE), PROVENIENTES DOS ESTADOS DO PARÁ E SÃO PAULO BRAGANÇA 2011

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ SUZANE SERRANO … · provavelmente, por conseqüência da grande variação individual e análises com combinação sexual, bem como de certa variação

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE ESTUDOS COSTEIROS

FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

SUZANE SERRANO CERVEIRA

ANÁLISE MORFOMÉTRICA DA POPULAÇÃO DE MORCEGO HEMATÓFAGO

Desmodus rotundus (CHIROPTERA, PHYLLOSTOMIDAE), PROVENIENTES DOS

ESTADOS DO PARÁ E SÃO PAULO

BRAGANÇA

2011

SUZANE SERRANO CERVEIRA

ANÁLISE MORFOMÉTRICA DA POPULAÇÃO DE MORCEGO HEMATÓFAGO

Desmodus rotundus (CHIROPTERA, PHYLLOSTOMIDAE), PROVENIENTES DOS

ESTADOS DO PARÁ E SÃO PAULO

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado à Faculdade de Ciências

Biológicas, Instituto de Estudos Costeiros,

Campus Universitário de Bragança,

Universidade Federal do Pará, como

requisito parcial para obtenção do grau de

Licenciado Pleno em Ciências Biológicas.

Orientador: Prof. Dr. Marcus Emanuel

Barroncas Fernandes

BRAGANÇA – PARÁ

2011

SUZANE SERRANO CERVEIRA

ANÁLISE MORFOMÉTRICA DA POPULAÇÃO DE MORCEGO HEMATÓFAGO

Desmodus rotundus (CHIROPTERA, PHYLLOSTOMIDAE), PROVENIENTES DOS

ESTADOS DO PARÁ E SÃO PAULO

Banca Examinadora

__________________________________ Prof. Dr. Marcus Emanuel Barroncas Fernandes (Orientador)

Universidade Federal do Pará, Campus de Bragança - UFPA

__________________________________ Profa. Dra. Claudia Nunes-Santos

Universidade Federal do Pará, Campus de Bragança - UFPA

___________________________________ Profa. Dra. Janice Muriel Cunha

Universidade Federal do Pará, Campus de Bragança - UFPA

BRAGANÇA

2011

i

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais Laércio Cerveira Filho e Darcy Serrano Cerveira,

pois sem eles não estaria onde estou, à minha irmã Fabiane Serrano Cerveira, com quem moro

em Bragança e ao meu querido sobrinho que está quase nascendo Davi Cerveira.

Aos meus grandes amigos da graduação Edna Lima que sempre esteve ao meu lado

nos quatro anos de curso, ao Paulo Rodolfo pelas belas risadas e apoio sempre, Mayara Costa

uma surpresa agradável no ultimo ano do curso. Ao Bruno Andrade e Pedro Henrique que me

proporcionaram grandes e belos momentos e Allan Rodrigo com sua companhia agradável

sempre.

A ítala Maria, Karen Dayanne, Luciane e Larissa. As meninas super alegres Ádila,

Marília e Anete, ao meu querido Jackson que juntos viajamos. Ao seu Rubens e Dona Ângela

que me acolheram e sempre me trataram como uma filha, enfim dedico a todos da Biologia

2008. Aos amigos do LAMA que me fizeram companhia durante esses meses de estágio,

principalmente aos queridos Cleidson e Lanna.

Não esquecendo os meus grandes amigos Fernando (papito), Danielle, Adriane Maria,

Carol, Thayanne, Carla Solange, wenderson, Muller e Tadeu que sempre me deram força para

continuar nessa batalha.

ii

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao CNPq e a Universidade Federal do Pará pelo apoio financeiro através da

bolsa de iniciação cientifica.

Ao meu orientador Prof. Dr. Marcus Emanuel Barroncas Fernandes, cujo empenho,

apoio e auxilio foram de inestimável valor durante a realização deste trabalho.

A Profa. Dra. Fernanda Atanaena Gonçalves de Andrade pelos conselhos e

ensinamentos, profissionais e pessoais, que cada dia me fortaleceu mais.

Ao Prof. Dr. Wilson Uieda por fornecer a possibilidade de fazer o treinamento de

morcegos e pela doação dos morcegos oriundos de São Paulo para a realização deste trabalho.

Aos meus grandes amigos que ajudaram na mensuração dos morcegos Danielle

Nascimento de Castro e Fernando Augusto Bessa Campos.

iii

“Alcançou o sucesso aquele que viveu bem, riu com freqüência e amou muito”

Autor Desconhecido

iv

RESUMO

Desmodus rotundus, o vampiro comum da América, é o morcego cujas análises

morfométricas têm levado a diversas reavaliações, que defendem a existência de subespécies.

Sendo que, para alguns autores, essas espécies não existiriam. Tais variações são,

provavelmente, por conseqüência da grande variação individual e análises com combinação

sexual, bem como de certa variação geográfica, e talvez até mesmo da existência de ecótipos.

Assim, o presente estudo investigou 39 marcadores, quanto à sua influencia em algum dos

eventos acima destacados. Com esse propósito foram obtidas medidas de caracteres externos

(n=16) e cranianos (n=22) em 243 espécimes de D. rotundus divididos em três grupos:

sudeste do Pará, outras mesorregiões do Estado (Nordeste, Sudoeste, metropolitana e Marajó)

e duas localidades do estado de São Paulo. Do total de amostras foram removidos os outliers,

resultando em um menor número de indivíduos machos (n=111), e fêmeas (n=59). A análise

de ordenação fatorial resultou em um total de 11 caracteres com cargas representativas acima

de 0,70, dos quais somente um foi comum para ambos os sexos. No geral a análise

discriminante entre as variáveis foi significativa tanto para os machos [λ=0,75, F

(28,19)=17.961, p<0,001], quanto para as fêmeas [λ=1,38, F (22,90)=6,89, p<0,001]. As

funções discriminantes revelaram boa precisão preditiva geral (razão de sucesso) para machos

(91%) e fêmeas (88%), separando os três grupos pré-estabelecidos na análise, onde São Paulo

separa facilmente das regiões do Pará. Os resultados do presente estudo mostram que há um

grande viés em utilizar no mesmo grupo indivíduos de sexos diferentes no intuito de

discriminar populações diferentes, como é o caso das duas regiões do Pará e São Paulo, além

de corroborar com estudos anteriores, cujos resultados já apontavam uma grande variabilidade

intraespecíficas nessa espécie de morcego vampiro.

Palavras-chave: Morcegos, Morfometria, Pará, São Paulo.

v

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Espécies de morcegos hematófagos. (A) Diphylla ecaudata, (B) Diaemus youngi e

(C) Desmodus rotundus .............................................................................................................1

Figura 2 – Distribuição geográfica do morcego Desmodus rotundus.......................................2

Figura 3 – Medidas cranianas realizadas em espécimes de Desmodus rotundus provenientes

do Pará e São Paulo................................................................................................................... 6

Figura 4 - Medidas externas realizadas em espécimes de Desmodus rotundus provenientes do

Pará e São Paulo ........................................................................................................................7

Figura 5 – Escores da função discriminante em fêmeas (A) e machos (B) de Desmodus

rotundus....................................................................................................................................12

vi

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Número de espécimes em ambos os sexos detinados as análises...............................8

Tabela 2- Matriz de análise fatorial com conjunto reduzido de variáveis dos componentes da

última rotação com VARIMAX normalizado............................................................................9

Tabela 3: Sumário da análise de função discriminante de 19 variáveis craniométricas e

externas de fêmeas e machos de Desmodus rotundus...............................................................10

Tabela 4: Coeficiente padronizado para variáveis canônicas dos caracteres avaliados que mais

contribuíram para a função discriminante em fêmeas e machos...............................................11

Tabela 5: Média das variáveis canônicas em machos e fêmeas de Desmodus rotundus,

representando as segregações entre grupos...............................................................................11

Tabela 6: Matriz de distâncias de Mahalanobis para morcego vampiro comum, sem

combinação das categorias sexuais...........................................................................................13

1

1.INTRODUÇÃO

Na ordem Chiroptera, a família Phyllostomidae, endêmica no continente

americano, apresenta o segundo maior numero espécies de morcegos no mundo,

enquanto que na região neotropical é a primeira em diversidade, com cerca de 160

espécies reconhecidas em 57 gêneros (REISet al., 2011). Os filostomídeos perfazem

uma variedade de hábitos alimentares que incluem como itens: frutos, néctar, polén,

folhas, insetos, vertebrados e sangue (REIS et al., 2007). Dessa maneira, os morcegos

influenciam diretamente na estruturae manutenção dos ecossistemas em que habitam

(WHITTAKER&JONES, 1994).

Ahematofagia em morcegos gerou uma simbologia de animal sugador, que

contribuiu para que todos os táxons fossem vistos como ofensivos. Mas no geral,

existem apenas três gêneros e três espécies de hematófagos (Figura 1), que estão

reunidas em uma subfamília, Desmodontinae, sendo essas:

Desmodusrotundus(Geoffroy, 1810), Diphyllaecaudataspix, 1823 e

Diaemusyoungi(Jentink, 1893). Dentre essas apenas D. rotundus, conhecido como

“vampiro comum”, alimenta-se, preferencialmente, de sangue de mamíferos de grande

porte, e eventualmente de aves. Já a demais espécie tem como fonte alimentar

preferencial sangue de aves, enquanto, mamíferos, seria uma fonte eventual (BRASS,

1994).

Figura 1 – Espécies de morcegos hematófagos. (A) Diphyllaecaudata, (B)

Diaemusyoungi e (C) Desmodusrotundus. Fotos: W. Uieda.

A espécie D. rotunduspossui uma ampla distribuição geográfica no continente

americano (Figura 2), abrangendo desde o norte do México até o norte da Argentina

(KOOPMAN, 1988; EMMONS, 1990). Morfologicamente, os adultos apresentam

C B A

2

tamanho mediano, com cabeça atingindo entre 69 a 90 mm, o antebraço pode ter

medidas entre 50 a 63 mm, e o peso pode alcançar de 25 a 40 g. A pelagem geralmente

apresenta coloração cinza-brilhante, mas já foram capturados indivíduos com variações

na cor entre o avermelhado, dourado e até mesmo alaranjado (BERNARD, 2005).

Outros caracteres incluem apresença de folha nasal reduzida, focinho curto, membrana

interfemural pequena, ausência de cauda e calcâneo, e principalmente, presença de

polegares compridos com três calosidades (GREENHALL et al., 1983; NOWAK,

1994). A fórmula dentária é I 1/2, C 1/1, PM 1/2 e M 1/1 (REISet al., 2011).

Figura 2. Distribuição geográfica do

morcego hematófago Desmodusrotundus.

Fonte:http://www.iucnredlist.org/apps/redli

st/search

Quanto ao seu hábitat, é preferencialmente em áreas silvestres, D. rotundus é

uma espécie rara, que pode habitar ocos de árvores, covas, cavernas, dentre outras

possibilidades capazes de suportar em média 30 indivíduos (UIEDAet al., 1996).

Contudo, já foram registradas em cavernas, colônias com mais 300 indivíduos

(SAZIMA, 1978; TADDEI et al., 1991 ; BREDT et al., 1998), sendo que abrigos com

mais de 100 espécimes são considerados atípicos por UIEDAet al. (1996). Para alguns

autores, a redução dos abrigos naturais ao vampiro comum parece ter favorecido sua

adaptação a novos refúgios artificiais, bem como o acesso a exposição de presas mais

passivas (GREENHALL & SCHMIDH, 1998).

Em regiões como no sul do Brasil, onde os rebanhos de gado são fartos, D.

rotundus tem se tornado bastante comum (TADDEI et al., 1991; UIEDA, 1996),

3

provavelmente, também em virtude da elevação de suas taxas de sobrevivência, devido

a fácil acessibilidade ao alimento e à disponibilidade de novos abrigos para a formação

de colônias.

Na Amazônia no ano de 1998, os morcegos ocupavam o segundo lugar como

transmissores da raiva em humanos, sendo superados apenas pelos cães. Em 2004, o

Ministério da Saúde notificou o registro de dois focos de raiva humana transmitidas por

morcegos na região (MINISTÉRIO DA SAÚDE 2005). Neste período foram totalizados

mais de 30 casos de raiva causados pelo morcegos, proporcionando uma mudança na

situação dos transmissores da raiva humana no Brasil, onde o principal agente passa a

ser o morcego. Portanto,atualmente D. rotundus é assunto de constantes discussões

referentes à vigilância em saúde e economia local, uma vez que também tem sido

relacionado a grandes prejuízos causados a pecuária (MÁLAGA- ALBA, 1954; ACHA

& MÁLAGA-ALBA, 1988; BRASS, 1994; GREENHAL & SCHMIDT, 1998).

Não somente os fatos observados no Brasil, mas também em outras áreas das

Américas, tem culminado em várias investigações sobre D. rotundus (BRASS, 1994;

FLORES-CRESPO & ARELLANO-SOTA, 1988; UIEDA, 1996; SCHNEIDER et al.,

2009). Contudo alguns estudos, ainda apresentam certas divergências.

Taxonomicamente são conhecidas mais três sinonímias para o gênero Desmodus e oito

para a espécie, (GREENHALL et al., 1988; WILSON & REEDER, 2005).

Entretanto, segundo KOOPMAN (1988), desde 1938 todos os nomes propostos

passaram a ser tratados como sinônimos de D. rotundus, com exceção de dois: D.

murinus (México) e D. dorbignyi (Chile). Para OSGOOD (1943),murinusseria na

verdade uma subespécie de menor tamanho, enquanto dorbignyiseria maior e de

coloração conspícua. KOOPMAN (1988) também inferiu que na verdade não existiriam

subespécies para D. rotundus, sobretudo, devido à ausência de bases científicas

significativas que validassem o acontecimento. Para o autor, muitas validações em nível

de subespécies seriam conseqüências da grande variação individual, bem como de certa

variação geográfica. MANN & AULAGNIER (1993), também citaram como indutores

de registro de subespécies para D. rotundus, a ampla variação individual (mas diante da

baixa amostragem), bem como as análises que desconsiderem o dimorfismo sexual.

Recentemente, MARTINS (2008), retomou a discussão sobre as subespécies

inferindo a respeito de prováveis padrões morfológicos de segregação filogeográfica.

4

Estes padrões de morfometria craniana e dos pêlos, analisados com funções

discriminantes e variáveis canônicas, propõem que se reconheçam duas linhagens

distintas para D. rotundus. Neste caso, uma estaria a leste na Mata Atlântica, com o

restabelecimento D. r.rotundus, e outra a oeste do Brasil (incluindo a Amazônia),

identificada como D. r. murinus. Ainda para o autor, esta última subespécie teria mais

viabilidade do que D. r.rotundus, para a caracterização em termos de morfometria

craniana, devido a apresentar maior estabilidade fenotípica. Até o momento, o trabalho

de MARTINS (2008) foi o único no Brasil a inferir sobre tais variações diferentes

biomas. No entanto, o autor cita que ainda é preciso uma amostragem mais cuidadosa

das regiões incluindo a Amazônia, cuja quantidade de espécimes foi baixa (n=22), além

do fato de que as análises realizadas foram com os sexos combinadas. Visto isso, o

presente trabalho pretende realizar uma caracterização morfológica, do tipo craniano e

corpóreo, para testar a viabilidade quanto à segregação entre e dentre os indivíduos dos

grupos da espécie D. rotundusde áreas do Estado do Pará e de São Paulo.

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Investigar as variações dos caracteres cranianos e corpóreos de espécimes de D.

rotundus oriundos dos estados do Pará e São Paulo.

2.2 Objetivos específicos

Verificar se os indivíduos oriundos da mesorregião Sudeste formam um grupo

separado das outras mesorregiões do Estado do Pará.

No caso da separação dos espécimes do Estado do Pará em dois grupos, verificar

se estes também são coletivamente distintos morfologicamente dos indivíduos

provenientes do Estado de São Paulo.

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3.Material e Métodos

Foram examinados 243 indivíduos de D. rotundus, 158 machos e 85 fêmeas,

oriundas de 14 localidades do Pará e 2 de São Paulo.ANDRADE (2011) realizou o

trabalho com morcegos hematófagos de cinco mesorregiões do estado do Pará e

observou uma pequena diferença entre os morcegos da mesorregião sudeste com outras

mesorregiões deste estado. Este trabalho usou como referencia Andrade para separar os

grupos do Pará. Do total das amostras, cerca de 50% foram cedidas pela Coleção

Científica do Departamento de Zoologia, UNESP- Botucatu, 15% são provenientes do

Laboratório de Diagnóstico de Raiva, da Seção de Arbovirologia e Febres Hemorrágicas

(SAARB) do Instituto Evandro Chagas (IEC) em Belém- Pará. As demais amostras

foram cedidas pela Coleção Científica do Departamento de Zoologia, UNESP-

Botucatu, coletados entre 1999 e 2000 e outras espécimes desse morcego foram

adquiridos através de coletas de campo pela Fernanda Andrade.

Para cada exemplar, foi verificado o município, data da coleta, sexo e classe

etária (adulto). Todos os espécimes incluídos na análise apresentam características

diagnósticas de adultos, tais como epífises dos antebraços completamente ossificadas e

articulações metacarpo- falangeanas proeminentes. A retirada do crânio foi realizada

através da abertura bucal com o rebatimento da pele e limpeza através do uso de larvas e

adultos de insetos do gênero Dermestes (Coleoptera, Dermestidae), no criadouro de

dermestáriodo Laboratório de Mastozoologia (UFPA/ Bragança). Depois de limpos os

crânios foram clareados com água oxigenada Volume dez, registrados e acondicionados

em frascos identificados.

Foram obtidas 16 medidas corpóreas e 22 craniométricas de todos os exemplares

(figuras 3 e 4), sendo estas adaptadas de VIZZOTO & TADDEI (1973) e MARTINS

(2008). Comprimento total do crânio (Ct), Comprimento do crânio até os incisivos

(CInc), Comprimento da série de dentes superiores (CM2/3S), Comprimento côndilo-

canino (Cc),Largura zigomática (Lz), Largura externa dos molares (Lm), Largura

externa dos cingula-caninos (Lc), Largura palatal (Lpt), Largura bula timpânica na

porção mais larga (LBTil), Largura bula timpânica na porção mais próxima (LBTpp),

Largura posorbitária (Lp), Largura interorbital (Li), Largura mastóidea (Lmt),

Comprimento do canino ao processo mastóideo oposto (CaPMO), Comprimento do

nasal ao forâmen (CNaFo), Comprimento palatal (Cpt), Comprimento basal (B), Altura

6

da caixa craniana (Acx), Altura do occipital (Ao), Comprimento da série de dentes

inferiores(CM2/3I), Comprimento da mandíbula (Cm), Altura da base do crânio

a crista sagital (BcCs), Antebraço esquerdo (AtE),Antebraço direito (AtD), Polegar

(Po), III metacarpo (IIIMe), 1ª falange do terceiro metacarpo (1F-III), 2ª falange do

terceiro metacarpo (2F-III), IV metacarpo (IVMe) 1ª falange do quarto metacarpo (1F-

IV), 2ª falange do quarto metacarpo (2FIV), V metacarpo (VMe), 1ª falange do quinto

metacarpo (1FV), 2ª falange do quinto metacarpo (2F-V), Tíbia (Ti), Uropatágio altura

(Ua), Uropatágio comprimento (Uc) e Pé (P).

Figura 3: Medidas cranianas realizadas em espécimes de D. rotundus provenientes do Pará e São

Paulo, Brasil.

7

3.1Análise dos dados

Tendo em vista a presença de dimorfismo sexual, as análises foram efetuadas com

sexos separados, o que causou a diminuição do número amostral de cada grupo geográfico.

Para cada medida nos indivíduos de ambos os sexos, foram calculadas a média, desvio padrão

e erro padrão. Após tais cálculos, medidas com valores fora do limite padrão foram

removidas, por apresentarem outliers e indivíduos de medidas discrepantes.

Inicialmente foram realizadas análises multivariadas para uma matriz com dados

originais das três populações de D. rotundus. Em seguida, uma analise fatorial de ordenação

exploratória foi aplicada no intuito de investigar a existência de padrões entre as medidas, já

que a análise fatorial é uma técnica de interdependência que fornece as ferramentas para

analisar as estruturas das correlações em um grande número de variáveis definindo conjunto

de variáveis que são fortemente inter-relacionadas. Neste caso é empregado o método de

rotação ortogonal Varimax normalizado, pois maximiza a soma de variâncias de cargas

exigidas na matriz fatorial, simplificando as colunas da mesma.

Logo, depois de identificadas as variáveis que fazem a diferença para machos e

fêmeas de D. rotundus, estas foram avaliadas quanto à hipótese da existência de diferenças

significativas entre os valores amostrais. Para tanto foi realizada Análise Canônica

Discriminante, baseada na Matriz de DistânciaMahalanobis (MD).

Figura 4: Medidas externas realizadas em espécimes de D.rotundus provenientes dos estados do Pará

e São Paulo, Brasil.

8

As análises univariadas e multivariadas, utilizadas no presente trabalho, foram

executadas utilizando-se os seguintes programas: BioEstat 5.0 e Statistic 5.0.

4.RESULTADOS

Um total de 170 indivíduos de D. rotundus foi analisado, sendo 111 Machos e 59

fêmeas(Tabela 1). Dos três grupos a serem testados, as fêmeas apresentaram as médias mais

altas em 36 de 38 mensurações cranianas e externas. O mesmo pode ser afirmado quando se

compara os grupo pois os espécimes de São Paulo apresentaram as maiores médias do que as

amostras do estado do Pará , observadas em ambos os sexos. Quanto às avaliações dentro dos

grupos, estas foram realizadas apenas para os exemplares do Pará( incluindo o Sudoeste),

únicos a possuir representatividade geográfica (ANDRADE 2011). Neste caso, os indivíduos

que apresentaram os menores valores medidos pertenciam à mesorregião Sudeste, sendo estes

seguidos pelos dados das demais amostras de hematófagos do Pará.

Tabela 1: Número de espécimes em ambos os sexos destinados as análises

Grupos

Machos Fêmeas Total

Sudeste doPará 16 18 34

Pará

44 12 56

São Paulo

51 29 80

Total

111 59 170

No presente trabalho, a análise fatorialmostrou que para as fêmeas 11 medidas

explicaram cerca de 80% de toda a variação encontrada, sendo as variáveis CT, CB, B, CPT,

CC+Inc, CC+PMO e CNaFo foram as mais importantes (FATOR-1) (Tabela 2). Para os

machos foi observado que 14 medidas representam também cerca de 80% da variação

encontrada nos indivíduos analisados (Tabela 2). As variáveis que se destacaram nessa análise

foram utilizadas na análise discriminante, no intuito de verificar os três grupos de D.

rotundus. Dentre estas variáveis nos machos e fêmeas 5 delas são comuns para ambos os

sexos CT, CB,B, CC+Inc e CNaFo.

9

Tabela 2: Matriz de análise fatorial com conjunto reduzido de variáveis dos componentes da última rotação

com VARIMAX normalizado.

Caractere Fêmeas Machos

Fator 1 Fator 2 Fator 3 h² Fator 1 Fator 2 Fator 3 h²

CT 0,89 - - 0,81 0,88 - - 0,84

CB 0,88 - - 0,82 0,88 - - 0,81

CC - - - - 0,88 - - 0,79

B 0,91 - - 0,88 0,88 - - 0,86

CPT 0,89 - - 0,81 - - - -

C-M2/3S - - 0,86 0,35 - - - -

CM - - - - 0,87 - - 0,83

LC - - 0,84 0,37 - - - -

Acx - - - - - - 0,85 0,24

Ao - - - - - - 0,77 0,38

CC+Inc 0,92 - - 0,84 0,88 - - 0,90

Cca+ PMO 0,90 - - 0,85 - - - -

CNaFo 0,88 - - 0,77 0,88 - - 0,85

1ºFal. III - - - - - 0,84 - 0,52

1º Fal. IV - 0,86 - 0,27 - 0,83 - 0,51

V Met - - - - 0,73 - - 0,78

1º Fal. V - 0,83 - 0,29 - - - -

Ti - - - - - 0,74 - 0,60

Ur.Al - - - - - - 0,77 0,13

Eigenvalue 6,15 1,70 1,05 7,93 1,45 1,27

% Total Variance 55,91 15,46 9,56 56,97 13,70 11,32

Cumulative % 55,91 71,37 80,94 56,94 69,64 80,05

4.1Análise discriminante

A presente análise revelou pelo método stepwiseas médias das variáveis que foram

significativamente discriminantes entre si, tanto para as fêmeas (λ de Wilks=1,38; F

(22,90)=6,89, p<0,001) quanto para os machos (λ de Wilks=0,75; F (28,190)=17,96;

p<0,001). Na Tabela 3 estão expostos os valores de λ parcial referentes à contribuição

específica de cada variável para a discriminação entre os grupos, onde as variáveis de menor

valor são aquelas com maior poder discriminante. Sendo assim, os caracteres que

demonstraram valores de λ parcial, cujas distribuições foram razoavelmente mais expressivas

para a distinção entre grupos, foram os seguintes: comprimento Basal (CB), Comprimento

côndilo-canino (CC), Altura da caixa craniana (Acx), Comprimento do nasal ao forâmen

(CNaFo), V metacarpo (VMet) e Uropatágio altura (UrAl) para os machos, já para as fêmeas

o caráter de maior poder discriminante é o Comprimento Basal (CB).

10

Tabela 3: Sumário da análise de função discriminante de 19 variáveis craniométricas e externas

de Fêmeas e Machos de Desmodus rotundus.* =p<0,05; **=p<0,01; ***=p<0,001; n.s.=não

significativo

Fêmeas Machos

Medidas Λ

λ

Parcial Teste F P λ

λ

Parcial Teste F P

CT 0,143916 0,9638 0,8430 0,4370n.s. 0,708484 0,9580 20,819 0,1303n.s.

CB 0,190940 0,7265 84,702 0,0007*** 0,081781 0,9193 41,650 0,0184*

CC - - - - 0,084484 0,8861 60,997 0,0032**

B 0,144455 0,9602 0,9303 0,4018 n.s 0,075386 0,9973 0,1251 0,8825 n.s

CPT 0,149912 0,9253 18,155 0,1744 n.s - - - -

C-M2/3S 0,144001 0,9633 0,8567 0,4313 n.s - - - -

CM - - - - 0,075844 0,9913 0,4141 0,6621n.s.

LC 0,145523 0,9532 11,037 0,3404 n.s - - - -

Acx - - - - 0,090484 0,8309 96,632 0,0001***

Ao - - - - 0,078240 0,9609 19,277 0,1511 n.s

CC+Inc 0,148892 0,9316 16,501 0,2034 n.s 0,075617 0,9943 0,2706 0,7634 n.s

Cca+ PMO 0,138855 0,9990 0,0221 0,9780 n.s - - - -

CNaFo 0,143519 0,9665 0,7787 0,4650 n.s 0,090839 0,8277 98,870 0,0001***

1ºFal. III - - - - 0,076708 0,9801 0,9598 0,3866 n.s

1º Fal. IV 0,142469 0,9736 0,6082 0,5487 n.s 0,076286 0,9856 0,6935 0,5022 n.s

V Met - - - - 0,081338 0,8530 81,807 0,0005***

1º Fal. V 0,144350 0,9606 0,9134 0,4084 n.s - - - -

Ti - - - - 0,078891 0,9530 23,393 0,1019 n.s

Ur.Al - - - - 0,081953 0,9174 42,733 0,0167*

.

Em seguida, a obtenção dos coeficientes padronizados para variáveis canônicas das

medidas selecionadas indicaram quanto cada uma das características contribuiu para a função

discriminante, sendo estes mostrados na Tabela 4. Para as fêmeas foram geradas duas raízes

que explicaram 100% da variação entre as populações estudadas, onde as características que

mais contribuíram foram Comprimento Basal (CB) e Comprimento Palatal (CPT). Para os

machos, também foi observado o percentual de 100% de influencia das medidas na variação,

sendo a maior contribuição do Comprimento Basal (CB) e Comprimento do nasal ao forâmen

(CNaFo).

A primeira função discriminante para os machos representou 91% dos eventos entre

grupos (autovalor=6,97, Canonical R=0,93; λ de Wilks= 0,07; χ2=262,65; p<0,001), enquanto

que na segunda função discriminante apresentaram 100% (autovalor=0,66; Canonical R=0,63;

λ de Wilks= 0,59; χ2=51,85; p<0,001). Essa função assegurou significativamente as

diferenças entre os grandes grupos de São Paulo e Pará, enquanto que a segunda função

11

discriminou de maneira significativa a região do Sudeste do Pará (Tabela 5). Nas fêmeas,

duas funções significativas também foram observadas (autovalor=3,85; Canonical R=0,89;

λ de Wilks= 0,13; χ2=98,76; p<0,001), na segunda função discriminante (autovalor=0.48;

Canonical R=0,57; λ de Wilks= 0,67; χ2=19,77; p<0,05), na qual a primeira e segunda função

discriminaram significativamente a região do Pará (Tabela 5).

Tabela 4: Coeficiente padronizado para variáveis canônicas dos

caracteres avaliados que mais contribuíram para a função discriminante

em fêmeas e machos.

Fêmeas Machos

Caracteres Raiz 1 Raiz 2 Raiz 1 Raiz 2

CT -0.17 -0.44 -0.15 0.44

CB 0.49 1.19 0.21 -0.57

CC - - -0.32 -0.51

B 0.34 -0.26 0.08 -0.02

CPT -0.15 -0.73 - -

C-M2/3S 0.24 0.09 - -

LC 0.08 -0.41 - -

Acx - - -0.05 0.73

Ao - - 0.25 -0.07

CC+Inc 0.46 -0.05 -0.14 -0.03

CNaFo 0.26 0.09 -0.55 0.39

1º Fal. IV 0.19 -0.11 -0.09 0.18

V Met - - -0.48 -0.05

Ti - - -0.17 0.34

Ur.Al - - 0.10 -0.47

Autovalores 3.85 0.48 6.97 0.66

% cumulativa 0.88 1.00 0.91 1.00

Tabela 5: Médias das variáveis canônicas em machos e fêmeas de D.

rotundus, representando as segregações entre grupos.

ROOT 1

ROOT 2

Grupos Fêmeas Machos Fêmeas Machos

Sudeste do Pará -1.48927 2.25255 0.86206 -1.83508

Pará -2.32782 2.45595 -1.03991 0.64160

São Paulo 1.95503 -2.82554 -0.10850 0.02217

Eigenvalues 3.853956 6.979146 0.485147 0.666838

Canonical 0.891057 0.935240 0.571547 0.632504

Wilks' 0.138719 0.075188 0.673334 0.599938

χ2 98.76540 262.6576 19.77570 51.8592

p-level 0.000000 0.000000 0.031447 0.000001

12

Os valores das variáveis canônicas tenderam a separar espacialmente os três grupos

pré-estabelecidos (Figura 5). No entanto, a distinção em clusters nas categorias sexuais,

demonstrou uma melhor discriminação no mapa territorial de dispersão dos machos, onde os

espécimes de São Paulo segregaram nitidamente dos indivíduos coletados em áreas do estado

do Pará (Figura 5A). No mesmo mapa, a separação dentro dos grupos (São Paulo e Pará) foi

mais tendenciosa às amostras do Pará, mesmo assim, assim apresentando sobreposição entre

algumas amostras. Quanto às fêmeas, são observadas as mesmas tendências descritas para

machos, contundo, sem uma segregação nítida entre e dentro dos grupos (Figura 5B).

A

Root 1 vs. Root 2

G_1:1 G_2:2 G_3:3-8 -6 -4 -2 0 2 4 6

Root 1

-4

-3

-2

-1

0

1

2

3

4

5

Roo

t 2

B

Figura 6: Escores da função discriminante em fêmeas (A) e machos (B) de D. rotundus.

Root 1 vs. Root 2

Sudeste do Pará Pará São Paulo

-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5

Root 1

-4

-3

-2

-1

0

1

2

3

4

5

Ro

ot

2

13

5.DISCUSSÃO

Segundo MANN & AULAGNIER (1993), para que haja alta representatividade dos

indivíduos estudados, a amostragem tem que ser numerosa. De fato, esta afirmação se reflete

nos resultados de MARTINS (2008) com relação à distribuição de D. rotundus na Amazônia,

pois segundo este autor, existe uma homogeneidade regional para esta espécie. Contudo, esta

conclusão é fruto de pouca amostragem na Amazônia(número baixo de indivíduos) ,

influenciando os resultados de forma tendenciosa. Ao contrário, os resultados do presente

estudo mostraram que existe uma distinção entre os grupos de D. rotundus analisados para a

Amazônia, sendo os indivíduos da mesorregião Sudeste diferentes daqueles do restante do

Estado do Pará. Adicionalmente, é importante ressaltar que ainda ocorrem nessa área

variações individuais suficientes nos caracteres de cada um dos sexos, ou seja, a análise dos

dados sem combinação sexual, promoveu a segregação em grupos, cujo resultado se

expressou melhor e mais e de maneira mais evidente entre os machos. O dimorfismo sexual

segundo HERSHKOVITZ (1949), quando desconsiderado, tende a mascarar as separações entre

os grupos. Portanto, é assegurada a diferença entre regiões e dentro das regiões, mas sob um

número muito baixo de variáveis que se distinguem entre os sexos, as quais são um pouco

mais expressivas quando combinados os sexos. Provavelmente, estas diferenças possam estar

relacionadas às variações individuais geográficas, principalmente, influenciadas pelo

comportamento sexual e por fatores ambientais, como disponibilidade de abrigo e alimento.

No entanto, tais bases morfológicas pouco contribuem para a formação de subespécies

distintas, como proposto por MARTINS (2008), bem como para o reconhecimento da

estabilidade morfológicas dos espécimes da Amazônia.

A regra de BERGMAN (1847) diz que a massa dos indivíduos tende a ser maior

conforme o aumento da latitude, presumivelmente por razões de termorregulação. ASHTON

et al. (2000) testaram tal afirmativa e confirmaram ter encontrado evidencias suficientes para

considerá-la como uma tendência geral para os mamíferos. Considerando este fato, o padrão

de variação geográfica em D. rotundus parece assumir essa tendência, uma vez que os

indivíduos de São Paulo apresentam maiores proporções corporais e cranianas do que os

outros dois grupos do Pará.

A hipótese para tal divergência diz respeito à variação do clima local e foi sugerido

pela Dra. Nancy Simmons- curadora do AMNH. As florestas tropicais úmidas e desertos do

México ocorrem separados por distâncias relativamente pequenas, comparadas com as

14

distâncias entre as amostras do Brasil (Pará e São Paulo). Morcegos habitando esses dois

ecossistemas podem apresentar modificações morfológicas relacionadas às diferentes

condições climáticas destas regiões (MARTINS, 2008). Desse modo, a comparação

morfológica entre os indivíduos analisados das duas diferentes formações vegetais poderia

demonstrar a existência de adaptações locais para essa espécie de morcego, considerando as

condições climáticas do Sudeste e Norte do Brasil. Além do mais, a variação no tamanho

pode ser um acontecimento de maior plasticidade, do que o observado na forma.

O tamanho craniano já foi demonstrado ter uma plásticidade fenotípica em outras

ordens da classe Mammalia, como no caso do roedor Thomonysbattae,onde a resposta foi a

qualidade nutricional (PATTON & BRYSKY, 1987). No estudo de LESSA et al. (2005)

também foi encontrada variação craniana estruturada geograficamente em roedores da espécie

Kerodonrupestris. Estes autores tiveram como base, as alterações ambientais ao longo de uma

escala geológica.

A variação geográfica em D. rotundus já foi constatada anteriormente, porém as

localidades analisadas eram muito próximas. ANDRADE (2011) estudou populações das

cinco mesorregiões do Estado do Pará e observou uma grande sobreposição de valores em

ambos os sexos. Sendo que a análise discriminante mostrou níveis aceitáveis de atribuições

geográficas para as fêmeas, ao contrário para os machos que não apresentaram caracterização

geográfica confiável. Em maior escala, MARTINS (2009) diz que existe uma clara separação

entre o sudeste e norte do país no período do pleistoceno, pois estudos com sedimentação

descrevem que estas regiões (Mata Atlântica e Amazônia) têm sido fragmentadas, com áreas

secas em aberto relacionadas com períodos de glaciação.

Martins (2009) também argumenta que os morcegos hemátofagos podem voar até 20

km por noite à procura de alimento e que habita todos os biomas da região Neotropical, então

as barreiras ecológicas severiam como uma possível explicação para tal acontecimento. No

entanto, os resultados apresentados no presente trabalho não corrobora com o de MARTINS

(2009), pois na região amazônica os grupos são formados, mas sua separação é sutil, já os

morcegos de São Paulo formam um único grupo. Esse autor também relata que a Mata

Atlântica é um grupo monofilético e a Amazônia é somente um grupo que pode estar

divergindo.

Por fim, é importante ressaltar que MARTINS (2009), em seu estudo, utilizou apenas

22 morcegos oriundos de várias localidades da Amazônia para realizar suas análises

15

estatísticas, porém , pequenas diferenças inter-populacionais podem ser resultado de diversos

fatores, e desta forma, a chance de se detectar tais variações é diretamente proporcional ao

número amostral (WILLIG, 1983), enquanto que este trabalho utilizou 90 individuos só para

o Estado do Pará. A pouca representatividade dos dados (n=22) pode ter enviesado os

resultados para a região amazônica, pois este é um dos maiores biomas da região neotropical e

a diferença entre ambientes é considerável. Assim, espera-se que novos estudos e mais

abrangentes ainda venham contribuir para o melhor esclarecimento da variação geográfica de

D. rotundus nos biomas da região Neotropical, bem como do nível de diferenciação entre as

populações neles existentes.

16

6. CONCLUSÕES

As variáveis cranianas(CT, CB, CC, B, CPT, C-M2/3S, CM, LC, Acx, Ao, CC+Inc,

Cca+ PMO e CNaFo)discriminaram melhor do que as corpóreas na separação entre os três

grupos previamente estabelecidos.

Existe uma diferença morfométrica entre indivíduos de D. rotundus de sexos

diferentes, que reflete no resultado quanto à separação de grupos de diversas regiões.

Morcegos hematófagos oriundos da mesorregião Sudeste formam um grupo separado

das outras localidades do Estado do Pará.

Os dois grupos formados para a região Amazônica também são separados

morfologicamente dos indivíduos provenientes do Estado de São Paulo.

17

7. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

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