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Universidade Federal do Rio de Janeiro PROJETO DE UM VELEIRO ESCOLA PARA A UFRJ Hugo Kelly Hernandez Perez 2017

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Universidade Federal do Rio de Janeiro

PROJETO DE UM VELEIRO ESCOLA PARA A UFRJ

Hugo Kelly Hernandez Perez

2017

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PROJETO DE UM VELEIRO ESCOLA PARA A UFRJ

Hugo Kelly Hernandez Perez

Projeto de Graduação apresentado ao

Curso de Engenharia Naval e Oceânica

da Escola Politécnica, Universidade

Federal do Rio de Janeiro, como parte

dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro Naval e Oceânico.

Orientador: José Henrique Erthal

Sanglard

Co-Orientador: Ronaldo José Fazanelli

Migueis

Rio de Janeiro

Dezembro de 2017

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PROJETO DE UM VELEIRO ESCOLA PARA A UFRJ

Hugo Kelly Hernandez Perez

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO

DE ENGENHARIA NAVAL E OCEÂNICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS

REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE

ENGENHEIRO NAVAL E OCEÂNICO.

Examinado por:

_________________________________________________

Prof. José Henrique Erthal Sanglard, D. Sc

_________________________________________________

Prof. Ronaldo José Fazanelli Migueis, D. Sc

_________________________________________________

Prof. Carl Horst Albrecht, D. Sc

___________________________________________________

Eng. Yuri Bastos Rocha de Souza, Eng.

RIO DE JÁNEIRO, RJ - BRASIL

Dezembro de 2017

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Perez, Hugo Kelly Hernandez

Projeto de um veleiro escola para a UFRJ /

Hugo Kelly Hernandez Perez- Rio de Janeiro: UFRJ /

Escola Politécnica, 2017.

XI; p. 72 :Il.; 29,7 cm

Orientador: José Henrique Erthal Sanglard

Co-Orientador: Ronaldo José Fazanelli Migueis

Projeto de Graduação - UFRJ / Escola Politécnica /

Curso de Curso de Engenharia Naval e Oceânica, 2017.

Referências Bibliográficas: p. 70.

1.Introdução. 2. Metodologia. 3.

Desenvolvimento. 4. Viabilidade. 6.Conclusão. I. Sanglard,

José et al. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro,

Escola Politécnica, Curso de Engenharia Naval e Oceânica.

III. Projeto de um Veleiro Escola para a UFRJ

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v

Agradecimentos

A mãe Suzinete, por toda dedicação, amor, apoio, carinho, sacrifícios e

compreensão sem os quais não seria possível chegar até aqui.

Aos meus avós Jorge e Jupyra por todo amor e confiança e a toda minha família

pelo estímulo e força durante os anos de graduação.

A minha irmã Larissa, que sempre me deu muito carinho e foi um dos motivos

para ser um exemplo.

Ao meu tio Antônio, pelas conversas e pelo estimulo para seguir esse sonho.

A todos os amigos, que mesmo não estando sempre presente, sempre estiveram

ao meu lado.

Ao meu amigo Yuri, pelo apoio em momentos difíceis e grande caráter.

Aos professores da graduação de Engenharia de Naval e Oceânica, que

contribuíram com o meu aprendizado ao longo do curso, em especial Ronaldo Fazanelli

e José Sanglard que foram peças importantes para a realização deste projeto.

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Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica / UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Naval e Oceânico.

PROJETO DE UM VELEIRO ESCOLA PARA A UFRJ

Hugo Kelly Hernandez Perez

Dezembro/2017

Orientador: José Henrique Erthal Sanglard

Co-Orientador: Ronaldo José Fazanelli Migueis

Curso: Engenharia Naval e Oceânica

A Universidade Federal do Rio de Janeiro, conta atualmente com 4 veleiros dingues em

completas condições de operação. Apesar dos mesmos serem excelentes embarcações

são limitados para um ensino completo. Buscando renovar e modernizar a frota, propôs-

se o desenvolvimento de uma embarcação com maior capacidade de tripulação e de

manejo de velas, afim de desenvolver os alunos, além de representar a universidade em

regatas. Esse trabalho terá como base a criação de uma metodologia e o

desenvolvimento de um projeto preliminar, passando por todas as partes funcionais da

embarcação até atingir o resultado final atestando sua viabilidade técnica e econômica.

Todas as limitações e requisitos serão balizadores do projeto. Após apurarmos a

viabilidade técnica, faremos a viabilidade econômica, comparando com as opções de

mercado.

Palavras-Chave: Veleiro escola.

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Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Engineer.

DESIGN OF SCHOOL SAILBOAT FOR THE UFRJ

Hugo Kelly Hernandez Perez

November/2017

Advisor: José Henrique Erthal Sanglard

Co-Advisor: Ronaldo José Fazanelli Migueis

Course: Naval Architecture and Marine Engineering

The Federal University of Rio de Janeiro has nowadays a four dingues fleet in full

operational capacity. Despite of the fact of being excellent boats, unfortunately they

have some limitations when it comes to a full training. In order to renew and modernize

this fleet, developing a boat with a superior crew capacity and better sail handling

comes as a good alternative. Such characteristics would help increasing the sail

apprentice’s learning curve and also help them representing the University at sail racing.

A basis for this work is the conception of a methodology and a preliminary design

development that goes since the boat’s overall functional steps until the design’s final

result, backed by technical and economic feasibilities.

Keyword: school sailboat.

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Índice

1. Introdução .................................................................................... 1

1. Objetivo do Projeto ........................................................................................ 1

2. Funcionamento do veleiro. ............................................................................. 1

1. Partes Funcionais ........................................................................................ 1

2. Aproamento com o vento ........................................................................... 4

2. Metodologia .................................................................................. 7

1. Partes funcionais e relações............................................................................ 7

2. Matriz de Influência ....................................................................................... 9

3. Desenvolvimento metodológico ................................................................... 11

1. 1ª fase do projeto. ..................................................................................... 11

1. Limitações de projeto ............................................................................ 12

2. Condição ambiental .............................................................................. 12

3. Embarcações semelhantes ..................................................................... 12

4. Geração da forma. ................................................................................. 12

5. Cálculo da resistência ao avanço do casco ........................................... 13

6. Equilíbrio e estabilidade preliminar ...................................................... 16

7. Estabilidade preliminar dinâmica ......................................................... 16

2. 2ª Fase de Projeto ..................................................................................... 20

3. 3ª Fase do projeto ..................................................................................... 21

1. Cálculo dos centros e esforços aerodinâmicos...................................... 22

2. Cálculo da área das velas: ..................................................................... 23

3. Cálculo dos centros de esforços das velas ............................................ 25

4. 4ª Fase do projeto ..................................................................................... 28

5. 5ª Fase de projeto ...................................................................................... 29

6. 6ª Fase de Projeto ..................................................................................... 30

7. 7ª Fase de projeto ...................................................................................... 31

3. Desenvolvimento do projeto ...................................................... 32

1. Limitações do projeto ................................................................................... 32

2. Condições ambientais da região ................................................................... 33

3. Parametrização das características de desempenho ..................................... 33

1. Relação comprimento de linha d’água e Volume:.................................... 34

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2. Relação área velica e área molhada: ......................................................... 34

3. Relação área velica e volume ................................................................... 34

4. Cálculo da resistência ao avanço do casco ................................................... 40

5. Estabilidade Preliminar ................................................................................ 42

6. Estimativa preliminar de estabilidade dinâmica........................................... 43

7. Definição das áreas velicas e apêndices ....................................................... 44

8. Estimativa de desempenho ........................................................................... 45

9. Momento de banda ....................................................................................... 47

10. Sistema Propulsivo ....................................................................................... 48

11. Arranjo geral e topologia estrutural ............................................................. 49

1. Arranjo geral ............................................................................................. 49

12. Topologia estrutural e compartimentação .................................................... 51

13. Dimensionamento estrutural ........................................................................ 52

1. Dimensionamento do casco e estruturas ................................................... 52

2. Dimensionamento da mastreação ............................................................. 56

14. Análise global do veleiro.............................................................................. 59

1. Equilíbrio estático ..................................................................................... 59

2. Equilíbrio dinâmico .................................................................................. 60

3. Estabilidade estática ................................................................................. 61

4. Estabilidade dinâmica ............................................................................... 61

5. VPP ........................................................................................................... 62

4. Viabilidade econômica ............................................................... 65

5. Conclusão ................................................................................... 69

1. Sugestões e Recomendações para Melhorias ............................................... 69

1. Metodologia .............................................................................................. 69

2. Detalhamento ............................................................................................ 70

3. Viabilidade Econômica............................................................................. 70

6. Referências Bibliográficas ......................................................... 71

Anexo I ................................................................................................ 72

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x

Lista de símbolos

Â𝑅𝐸𝑇 Ângulo da retranca

Â𝑇𝑊 Ângulo de vento verdadeiro

𝐵𝑊𝐿 Boca máxima na linha d`água

𝐶𝐵 Coeficiente de bloco

CE Centro de esforço aerodinâmico

𝐶𝑓 Coeficiente de resistência friccional

CG Centro de gravidade

CLR Centro de esforço hidrostático

𝐶𝑃 Coeficiente prismático longitudinal

𝐷𝐻𝑅 Resistência hidrodinâmica do leme

𝐷𝑆𝐴 Resistência aerodinâmica das velas

E Empuxo gerado pela embarcação

𝐹𝑟 Número de Froude

L Comprimento de referência

LCB Centro de carena Longitudinal

𝐿𝐻𝑅 Lift hidrodinâmico do leme

𝐿𝑆𝐴 Lift aerodinâmico

𝐿𝑊𝐿 Comprimento da linha d`água

NBS Nordic Boat Standard

P Peso da embarcação

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𝑅𝑓 Resistência Friccional

𝑅𝐻𝐾 Resistência hidrodinâmica da quilha

𝑅𝑛 Número de Reinolds

𝑅𝑅 Resistência residual

𝑆𝐹𝐻𝐾 Força lateral hidrostática

𝑆𝐹𝑆𝐴 Força lateral aerodinâmica

STIX Índice de estabilidade dinâmica

𝑆𝑤 Área molhada do casco

T Calado do casco nu

𝑇𝑆𝐴 Impulso gerado pelo velame

𝑉𝐴𝑊 Velocidade aparente do vento

𝑉𝑏 Velocidade da embarcação

𝑉𝐵𝑃 Velocidade na direção d linha de centro

𝑉𝐷𝐸𝑅𝐼𝑉𝐴 Velocidade de deriva

𝑉𝑀𝐺 Velocidade ideal

𝑉𝑇𝑊 Velocidade real do vento

∆ Deslocamento

β Ângulo de abatimento

𝛻 Volume

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1. INTRODUÇÃO

1. OBJETIVO DO PROJETO

Desenvolvimento de um veleiro escola, com capacidade para 3 a 4 tripulantes, com a

finalidade de atender às aulas de vela ministradas pelo NIDES, no Hangar da UFRJ,

para também representar a UFRJ em regatas. A embarcação deve ser posta na água pelo

acesso do hangar, que possui o limitante de calado de 1,5 metros. O barco deve ser

construído em fibra de vidro com o objetivo de redução de custo, e casco single-skin

(chapeamento simples do casco). Deve possuir a manutenção a mais simples possível e

ser robusto o suficiente para suportar o dia-a-dia das aulas de vela. Para um melhor

desempenho, o barco deve alcançar um número de Froude máximo acima de 0,35

(sendo o número de Froude a razão da velocidade da embarcação pela raiz quadrada do

produto da gravidade e comprimento da linha d’água). Para alcançar a condição de

semi-planeio deve haver uma quina lateral com o a finalidade análoga as quinas de

lanchas de planeio, que proporcionam o descolamento do spray do casco, reduzindo a

resistência friccional e possibilitando a entrada no regime de semi-planeio.

2. FUNCIONAMENTO DO VELEIRO.

1. Partes Funcionais

O veleiro é constituído de seus objetos funcionais, que são:

Casco, que fornece flutuabilidade, estabilidade, promove espaço de

acomodações e, principalmente, é responsável pela resistência hidrodinâmica.

Velame, responsável por propelir a embarcação, gerando força de empuxo

através da diferença de pressão gerada nas velas, de acordo com sua angulação

em relação ao vento e a direção do movimento.

Quilha, responsável por gerar força lateral hidrodinâmica para contrabalancear a

força lateral aerodinâmica gerada pelo velame, além de proporcionar

estabilidade direcional, ainda proporciona estabilidade nos casos de quilha com

lastro.

Leme, o responsável por manter o rumo da embarcação, gerando momento para

equilibrar o momento gerado entre as posições longitudinais dos centros de

esforço de velas e quilha.

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Para melhor compreender o funcionamento do veleiro, a sua mecânica será explicada

com base na Figura 1.

1 Esquematização das forças atuantes no veleiro na vista superior

Para um regime de operação do barco em velocidade constante, os momentos e

forças atuantes se equilibram. Esta condição de aplicação de forças e momentos é

representada na Figura 1. O fluxo de vento na vela induz uma força aerodinâmica, que é

equilibrada com o arrasto gerado pelo movimento do casco. O conjunto de apêndices

(quilha e leme) reage gerando uma força lateral hidrodinâmica, contrabalanceando a

força lateral gerada na vela e concomitantemente gerando uma força de resistência na

direção do movimento.

No diagrama da Figura 1 estão também representadas as velocidades do movimento

da embarcação, onde o vento aparente é o resultado da soma vetorial da velocidade do

vento verdadeiro ( ) mais a velocidade do veleiro ( ). Simplificando, o vento

aparente indica a velocidade e incidência do vento, tendo o veleiro como referencial.

A direção de incidência da velocidade do vento varia de acordo com a altura do

mastro, ou seja, em cada seção horizontal o perfil da vela tem uma geometria diferente,

variando da retranca até o topo do mastro. No equilíbrio mecânico, o veleiro sofre

deslocamento linear. E, para facilitar a análise, a velocidade é decomposta em vetores

complementares de velocidades, apresentados na Figura 2:

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2 - Componentes da velocidade do veleiro

Há uma componente de deriva (velocidade perpendicular à linha de centro do

veleiro, no bordo oposto ao bordo de incidência do vento) e outra componente de

avanço, paralela à linha de centro do veleiro ( ). A resultante entre e a

velocidade de deriva do barco é a velocidade do veleiro ( ) que defasa um ângulo β da

linha de centro do veleiro, definido como ângulo de abatimento.

O fluxo nas velas proporciona uma sustentação aerodinâmica perpendicular ao fluxo

( ) e uma resistência ( ) na direção do fluxo. Na Figura 1 os elementos citados são

apresentados decompostos nas componentes lateral, representada como (força

lateral de todo o velame, perpendicular ao movimento) e transversal, representada por

(impulso gerado pelo velame), que é a componente das forças aerodinâmicas na

direção do movimento.

Na Figura 3, numa projeção em plano transversal, apresentam-se as forças peso (P),

Empuxo (E), a força ( ), componente das forças hidrodinâmicas geradas pelo

conjunto casco e apêndices, e ainda, a força ( ), componente das forças

aerodinâmicas geradas pelo plano velico.

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3 - Forças no plano transversal do veleiro

2. Aproamento com o vento

O rumo do veleiro em relação ao vento real (aproamento) irá proporcionar sua

condição mecânica de operação. Para cada aproamento, a direção das forças que atuam

na vela muda, impondo restrições diferentes às condições de equilíbrio do veleiro.

Para cada configuração geométrica das velas, as forças laterais e de impulsão

dependerão do ângulo de incidência do vento aparente ( ) e sua regulagem. Para

controlar o ângulo de ataque sobre a superfície das velas, dependeremos da abertura da

esteira (representada na Figura 4) de cada uma, que será determinado como ângulo da

retranca ( ). Na vela mestra, a retranca é rígida, sua função é auxiliar o

posicionamento da superfície da vela. Na buja e genoa, embora geralmente não haja

uma retranca rígida, as esteiras podem ser reguladas através de cabos de regulagem

(escotas), de uma forma análoga.

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Para facilitar o entendimento do equilíbrio mecânico do veleiro, a Figura 5 mostra as

várias condições de aproamento. Para efeito educacional, foi considerado um veleiro

com apenas uma vela triangular (maior). A Figura 5 é um desenho esquemático,

simplificando os posicionamentos da vela para diferentes ângulos de incidência do

vento. Na vela, “orçar” corresponde a aproximar a proa da linha (direção) do vento e é

o oposto de “arribar”.

4 Esquema da Vela Maior

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5 - Esquema de aproamento do veleiro e os sentidos de guinada

Contravento: o veleiro está perto de seu ponto máximo de aproamento contra o

vento. Esse limite varia de acordo com a disposição de casco, apêndices e velas,

variando de 30° a 60°. A média de referência é próximo a 45°. Durante a

navegação em contravento, devido ao ângulo de vento aparente ser próximo da

linha de centro, o veleiro deve ter seu ângulo de retranca próximo de zero. Para

ângulos de retranca pequenos, a magnitude da força lateral é maior, aumentando

o momento de banda, requisitando maior momento de escora para

contrabalancear e equilibrar esse momento. Para saber o desempenho de um

veleiro em contra vento, é normal medir-se sua capacidade de orça através de

um parâmetro que traduz a relação entre velocidade do veleiro e do vento

verdadeiro, denominada . Quanto maior for , melhor o desempenho do

veleiro em orça. Assim,

𝑉𝑀𝐺 = 𝑉𝐵 ∗ 𝐶𝑜𝑠(Â𝑡𝑤) (1)

Onde Â𝑡𝑤 é o ângulo formado pela linha do vetor de velocidade 𝑉𝐵 com o

vento real.

Vento de través: Quando o veleiro arriba, aumenta-se o ângulo da retranca, para

obter-se melhor ângulo de incidência do vento no velame, como exposto na

Figura 6. Nos aproamentos próximos ao través, a força de impulsão tende ao

máximo, pois o ângulo da retranca faz com que a força aerodinâmica resultante

atue numa direção próxima a linha de centro, reduzindo assim a componente

lateral de deriva. Devido a isso, o momento de banda é pequeno, proporcionando

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condições de máxima eficiência nas velas. Na parte submersa os baixos ângulos

de banda e a força lateral menor geram menos resistência hidrodinâmica.

Vento de Aleta: Nesse aproamento o ângulo da retranca é maior que no través,

para ser compatível com ângulos de incidência consideravelmente grandes. Ao

longo da navegação em aleta, é predominante o alinhamento nas direções do

vento e da embarcação provocando o fenômeno de separação do fluxo de ar da

superfície da vela. Isso reduz a eficiência da vela como asa, mas sua área

exposta impulsiona o veleiro.

Vento de popa: Na condição de vento de popa, a embarcação é empurrada pelo

vento com uma resultante na direção na proa do veleiro, como é apresentado na

Figura 6. Nesse caso, o veleiro não é diferente de nenhuma outra embarcação na

relação do casco e apêndices. A força de propulsão é gerada pela pressão de

estagnação do vento na vela, que é proporcional à área exposta.

6 - Forças aerodinâmicas para os aproamentos de través (A) e popa (B)

2. METODOLOGIA

Para desenvolver o projeto, é necessária uma metodologia, para desenvolve-la, é

necessário entender as principais partes funcionais do veleiro e como elas operam.

1. PARTES FUNCIONAIS E RELAÇÕES

Forma - Tem a função de prover flutuabilidade, ao mesmo tempo oferecendo baixa

resistência ao avanço e ainda promovendo, em conjunto com seu centro de gravidade e

de carena, condição de equilíbrio e de estabilidade favorável à operação. Suas

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dimensões, características hidrostáticas e hidrodinâmicas são altamente dependentes dos

requisitos que deverá atender. Deve-se definir essas informações antes de definir a

forma.

Vela - Tem a função de propelir a embarcação, sendo desenvolvida em conjunto com

o mastro, estaiamento, retranca e ferragens para suportá-la, operá-la e resistir aos

esforços em trabalho. Deve gerar sustentação suficiente para propelir a embarcação,

atendendo ao desempenho desejado. O equilíbrio da embarcação está diretamente ligado

à vela e à quilha, devendo as mesmas serem desenvolvidas em paralelo. Além disso, a

vela tem forte influência na estabilidade dinâmica do veleiro, devido à força nela

aplicada gerar um momento grande e necessitar de um mastro de sua altura, que eleva o

VCG.

Quilha - Tem a função de contrabalancear a força lateral de deriva da vela com a

força de sustentação gerada na sua superfície, gerando uma força lateral hidrodinâmica.

Além de contrabalancear à deriva, proporciona estabilidade direcional para a

embarcação, além de ajudar na estabilidade e no equilíbrio dinâmico, nos casos em que

é lastreada, uma vez que reduz o VCG da embarcação. Deve ser desenvolvida antes do

cálculo de desempenho, arranjo geral e estrutura, uma vez que o conjunto velame e

quilha devem ter a distância entre seus centros de aplicação de esforços (Lead) definidas

para o arranjo ser desenvolvido e são fundamentais para a definição do desempenho.

Leme - Tem a função de dar rumo para a embarcação, contribuir para a estabilidade

direcional e balancear o momento entre vela e quilha no plano horizontal. Depende de

um conjunto balanceado para não ficar sobrecarregado. O ideal é que seja desenvolvido

em conjunto com a quilha e as velas.

Mastreação - Conjunto formado por mastro, retranca, estaiamento e ferragens, que

tem a função de resistir aos esforços na vela e direcioná-la para propelir a embarcação.

Sua definição depende da escolha da vela e do momento restaurador. Deve ser definida

no arranjo geral e dimensionada na parte estrutural, influenciando a estabilidade e o

equilíbrio final do veleiro.

Reforços - Conjunto de enrijecedores e chapeamento que irá prover rigidez ao casco

e a robustez necessária em pontos críticos do mesmo, como nas áreas de quilha e

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mastro. Devem ser definidos após ou em paralelo com a mastreação e a quilha, uma vez

que os posicionamentos devem coincidir.

Estrutura - Conjunto formado por casco, reforços e mastreação, que tem como

objetivo resistir aos esforços atuantes na embarcação durante a operação. Deve ser

dimensionada após o posicionamento dos elementos estruturais. Por ter forte influência

no peso, deve ser definida antes das análises de equilíbrio e de estabilidade.

2. MATRIZ DE INFLUÊNCIA

Com a apresentação das partes funcionais da embarcação e com o auxílio de uma

matriz de influência/dependência, é possível encadear as tarefas do projeto de acordo

com seus respectivos graus de influência, no formato de um fluxograma.

1 - Matriz de influência/dependência

Na matriz de influência mostrada na Tabela 1, o número dado indica o grau de

influência do elemento da linha sobre o respectivo elemento da coluna. Na coluna grau

de influência, temos o grau final referente à influência do elemento de cada linha e na

linha grau de dependência temos o grau final referente à dependência do elemento de

cada coluna. Os números representando os graus de dependência/influência adotados

estão mostrados na Tabela 2.

Matriz de Influência

Form

a

Velam

e

Quilha e

Lem

e

Siste

ma p

ropulsi

vo

Arranjo

Gera

l

Topologia

e Com

partim

entaçã

o

Dimensio

namento

Est

rutu

ral

Grau d

e Influ

ência

Forma 3 3 3 2 1 1 13

Velame 1 2 1 2 1 2 9

Quilha e Leme 1 2 1 1 2 2 9

Sistema propulsivo 1 1 1 1 1 1 6

Arranjo Geral 1 0 0 0 3 2 6

Topologia e Compartimentação 0 0 0 0 3 3 6

Dimensionamento Estrutural 1 1 1 0 1 1 5

Grau de Dependência 5 7 7 5 10 9 11

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2 - Grau de dependência /influência

O fluxograma proposto foi baseado no grau de influência de cada elemento, onde os

maiores graus de influência devem vir primeiro no fluxograma. Os que tiveram um grau

semelhante e considerável influência/dependência entre si, serão dispostos em paralelo

no fluxograma. O sistema propulsivo apresentou grau de influência menor que o do

arranjo geral, porém o mesmo foi posicionado após o conjunto casco, quilha, leme e

velame, por ser necessário o cálculo do arrasto aero e hidrodinâmico de todo o conjunto.

O fluxograma foi subdividido em sete fases, sendo indicado os pontos a retornar caso

a fase não alcance os requisitos da avaliação. A partir desse ponto será apresentada a

forma de aplicação metodológica do projeto e posteriormente será feito o

desenvolvimento do projeto.

0 Nenhuma Influência

1

2

3

Pouca Influência

Influência Média

Muita Influência

Grau de

Dependência/Influência

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3. DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO

1. 1ª fase do projeto.

7 - 1ª Fase do projeto

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1. Limitações de projeto

Baseado nas limitações de projeto, como é indicado na Figura 7, deve-se buscar

dimensões principais em embarcações semelhantes. Usando faixas de relações para

obtenção dessas medidas. Além disso, identificar relações para balizar as dimensões da

embarcação, baseadas no desempenho.

2. Condição ambiental

Reconhecer as condições ambientais de projeto é reconhecer tudo que cerca a

operação, o tipo de água (doce ou salgada), o tipo de ondas e ventos regentes na região

de atuação.

3. Embarcações semelhantes

Munido dos itens acima, pesquisar embarcações semelhantes, para se ter um “norte’

para o projeto. Em posse das mesmas, tabelar seus dados, gerando relações de

dimensões, para com isso encontrar uma embarcação que esteja dentro desses padrões,

dentro das limitações e padrões ambientais. Os coeficientes hidrodinâmicos e o

posicionamento de LCB serão obtidos com o auxílio de tabelas de otimização, retiradas

de [1]. Com a intenção de balizar as dimensões principais do veleiro, buscamos

embarcações com condições de operação semelhantes. Os critérios adotados para definir

embarcações semelhantes foram: capacidade de tripulação de 3 a 4 pessoas, com boca

moldada de até 2,50 metros e desenvolvidas a partir de 1990. A tabela com embarcações

semelhantes pode ser encontrada no anexo I.

4. Geração da forma.

Com a posse dos dados anteriores será gerada a forma da embarcação pelo programa

Freeship. Será gerado um casco geral, com as dimensões principais e coeficientes

hidrodinâmicos, para então ir sendo ajustado.

Após a geração da forma, será feito o cálculo da resistência do casco nu, para saber

se a resistência está dentro dos padrões e se a embarcação consegue alcançar a

velocidade desejada. Para verificar a resistência, serão feitas variações do LCB em

condição de calado paralelo, para confirmar se o casco está próximo da resistência

mínima.

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13

5. Cálculo da resistência ao avanço do casco

A resistência ao avanço da embarcação é calculada a partir do método semi-

empírico, dividida em duas parcelas, de acordo com[1,2,3]: Resistência Friccional, que

é o efeito da viscosidade do fluido na área molhada da embarcação; e a Resistência

Residual, que engloba os efeitos gravitacionais e de separação do fluxo.

Para o cálculo da resistência ao avanço assumiu-se:

Veleiro em águas calmas

Velocidade constante

Sem abatimento

Trim nulo

Banda nula

Apenas o casco nu

O primeiro método, relacionado à resistência friccional, foi adaptado do trabalho da

referência [4] e engloba as seguintes relações:

(2)

(3)

(4)

(5)

Nas expressões acima, eq. (2) a (5),

é o Comprimento de Linha d`água,

é a Velocidade do veleiro na direção da linha de centro, e

é a Área molhada do casco nu.

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Para a parcela de resistência residual, o cálculo utilizado foi baseado em regressões a

partir de uma série sistemática de veleiros (Série Delft), desenvolvida em [4] e discutido

em [2]. O cálculo da resistência residual é dividido em duas fases, para cada uma

teremos uma equação e uma série sistemática correspondente. A primeira fase engloba a

faixa de velocidades de deslocamento, sendo considerada por [1,2,4], com número de

Froude de 0,125 até 0,45. A Segunda fase engloba a faixa de semi-planeio, com

de 0,45 a 0,75. As equações (6) e (7) apresentam as equações para cada faixa.

Faixa de deslocamento:

𝑅𝑅 = (∆/1000). (𝑎0 + 𝑎1 ∗ 𝐶𝑝 + 𝑎2. 𝐿𝐶𝐵 + 𝑎3 ∗ (𝐵𝑊𝐿

𝑇) + 𝑎4 ∗ (

𝐿𝑊𝐿

𝛻13

) + 𝑎5

∗ 𝐶𝑝2 + 𝑎6. (𝐶𝑝 ∗𝐿𝑊𝐿

𝛻13

) + 𝑎7. 𝐿𝐶𝐵2 + 𝑎8 ∗ (𝐿𝑊𝐿

𝛻13

)

2

+ 𝑎9

∗ (𝐿𝑊𝐿/𝛻1/3)³)

[6]

Faixa de semi-planeio:

𝑅𝑅 = (∆

1000) ∗ (𝑐0 + 𝑐1 ∗ (

𝐿𝑊𝐿

𝐵𝑊𝐿) + 𝑐2 ∗ (

𝐴𝑊𝐿

𝛻23

) + 𝑐3. 𝐿𝐶𝐵 + 𝑐4 ∗ (𝐿𝑊𝐿

𝐵𝑊𝐿)2

+ 𝑐5 ∗ (𝐿𝑊𝐿

𝐵𝑊𝐿) ∗ (𝐴𝑊𝐿/𝛻

2/3)³)

[7]

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15

Os coeficientes da faixa de deslocamento estão apresentados na Tabela 3.

3 - Tabela de coeficientes para a faixa de deslocamento da série Delft

Os coeficientes a0 a a9 e c0 a c5 foram obtidos em [2], a partir das regressões

estatísticas, oriundas dos testes em tanques de prova da série Delft. Os coeficientes de

prefixo “a” representam a faixa de deslocamento e os de prefixo “c” representam a faixa

de semi-planeio. Os coeficientes de semi-planeio são apresentados na Tabela 4.

4 - Tabela de coeficientes para a faixa de Semi-Planeio da série Delft

Dessa forma são obtidas a resistência do casco nu para cada número de Froude. É

feita a avaliação da resistência para a faixa de operação desejada, estando dentro da

faixa esperada avança-se com o projeto, caso contrário é feita a alteração na forma ou

dimensões principais, repetindo-se o processo.

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6. Equilíbrio e estabilidade preliminar

Em paralelo será feito o cálculo de equilíbrio e estabilidade preliminar. Para o

equilíbrio preliminar estimaremos a posição longitudinal do Centro de gravidade igual

ao centro longitudinal de carena. Com o LCG, deslocamento e forma, iremos calcular

uma estabilidade preliminar para certificar que o projeto está no caminho certo. Será

calculada a condição mínima de estabilidade, de acordo com os critérios da resolução

IMO 167 em função da posição máxima possível do VCG. Dessa forma teremos um

limite superior para o VCG. Tanto o equilíbrio quanto a estabilidade serão calculados

com o auxílio da ferramenta Stability do pacote Maxsurf.

7. Estabilidade preliminar dinâmica

Com os dados obtidos estaremos aptos a fazer o cálculo preliminar de estabilidade

dinâmica para classificar a embarcação, usando o STIX, o qual é um índice derivado da

ISO 12217-2, referente a veleiros maiores que 6 metros em comprimento. O STIX é

calculado a partir das características físicas de cada barco, gerando um número entre 5 e

50. Quanto maior o número gerado melhor o comportamento no mar terá o veleiro. É

um modelo matemático simples, baseado em um estudo paramétrico, desenvolvido

originalmente por Van Oossanen, Dolto, Eliasson e Moon. O índice é apresentado na

referência [1], classifica veleiros em quatro categorias de navegação: Oceânica,

Offshore, Costeira e em águas abrigadas. O índice será calculado com o auxlio do

software Maxsurf Stability. A determinação do índice será descretizada, apresentando

sua forma de cálculo, fatores e dados de entrada a seguir:

𝑆𝑇𝐼𝑋 = (7 + 2,25 ∗ 𝐿𝐵𝑆)∗ (𝐹𝐷𝐿 ∗ 𝐹𝐵𝐷 ∗ 𝐹𝐾𝑅 ∗ 𝐹𝐼𝑅 ∗ 𝐹𝐷𝑆 ∗ 𝐹𝑊𝑀 ∗ 𝐹𝐷𝐹)^0,5

(8)

Abaixo temos os dados de entrada dos fatores:

𝐿𝐻= Comprimento do casco (m).

𝐵𝐻= Boca moldada do casco (m).

𝐵𝑊𝐿= Boca na linha d’água (m) na condição carregada apropriada.

𝑚 = massa do barco (Kg) quando mais de um carregamento for analisado.

𝑚𝑀𝑂 = Massa do barco Kg) na mínima condição operacional.

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17

𝑚𝐿𝐴 = Massa do barco (Kg) na condição carregada de partida.

ℎ𝐶𝐸 = Altura do centro de área vélica (m) acima da linha d’água na condição de

banda e trim nulo.

ℎ𝐿𝑃 =Altura do centro da área lateral (m) abaixo da linha d’água na condição de

banda e trim nulo.

𝐺𝑍90 =Braço de endireitamento com banda de 90°.

𝐺𝑍𝐷 =Braço de endireitamento para banda de 𝛷𝐷°.

𝛷𝑉 =Ângulo de perda de estabilidade.

𝛷𝐷 =Ângulo de primeira ocorrência de alagamento.

onde 𝐿𝐵𝑆 representa o fator da base do comprimento do veleiro, dado por:

𝐿𝐵𝑆 = (𝐿𝐻 + 2 ∗ 𝐿𝑊𝐿)/3 (9)

O fator FDL relaciona o comprimento e o deslocamento, de acordo com a equação

(10).

𝐹𝐷𝐿 = [0,6 +15 ∗ 𝑚 ∗ 𝐹𝐿

𝐿𝐵𝑆3 ∗ (333 − 8 ∗ 𝐿𝐵𝑆)

] (10)

FBD é o fator boca por deslocamento, foi fundamentado em um estudo conjunto

entre a Universidade de Southampton (Wolfson Unit) e a SNAME (Society of Naval

Architects and Marine Engineers). O fator penaliza veleiros com bocas muito largas e

pouco deslocamento, que apresentam grande perigo de serem estáveis na condição

emborcada. O coeficiente FBD, é calculado nas equações (11) a (13), dependendo do

valor do coeficiente FB, apresentado na equação (14), como segue:

Se FB > 2,2

𝐹𝐵𝐷 = [13,31 ∗ 𝐵𝑊𝐿

𝐵𝐻 ∗ 𝐹𝐵3]0,5

(11)

Se 1,45 ≤ FB≤ 2,2

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18

𝐹𝐵𝐷 = 1,118 ∗ (𝐵𝑊𝐿

𝐵𝐻)0,5

(12)

Se K1<1,45

𝐹𝐵𝐷 = [𝐵𝑊𝐿 ∗ 𝐹𝐵2

1,682 ∗ 𝐵𝐻]

0,5

(13)

O coeficiente FB relaciona a boca máxima e o deslocamento, de acordo com:

𝐹𝐵 =3,3 ∗ 𝐵𝐻

(0,03 ∗ 𝑚)1/3 (14)

FKR é o fato de recuperação de emborcamento, onde:

𝐹𝑅 = 𝐺𝑍90 ∗ 𝑚/(2 ∗ 𝐴𝑆 ∗ ℎ𝐶𝐸) (15)

onde 𝐴𝑆 representa a área vélica.

Se 𝐹𝑅 ≥ 1,5;

𝐹𝐾𝑅 = 0,875 + 0,0883 ∗ 𝐹𝑅 (16)

Se 𝐹𝑅 < 1,5;

𝐹𝐾𝑅 = 0,5 + 0,333 ∗ 𝐹𝑅 (17)

Se 𝛷𝑉 < 90°;

𝐹𝐾𝑅 = 0,5 (18)

FIR é o ator de recuperação de inversão, onde:

Se 𝑚 < 40000;

𝐹𝐼𝑅 = 𝛷𝑉/(125 −𝑚

40000) (19)

Se 𝑚 ≥ 40000;

𝐹𝐼𝑅 = 𝛷𝑉/100 (19)

FDS é o fator de estabilidade dinâmica

Sendo, 𝐴𝐺𝑍 a área positiva abaixo da curva GZ (m.grau) da banda nula até o ângulo

de perda de estabilidade.

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19

𝐹𝐷𝑆 =

[

𝐴𝐺𝑍

15,81

√𝐿𝐻 ] 0,3

(20)

FWM é o fator de momento de vento.

Se 𝛷𝐷>90;

𝐹𝑊𝑀 = 1,0 (21)

Se 𝛷𝐷

𝐹𝑊𝑀 = 𝑉𝐴𝑊/17 (22)

Sendo 𝑉𝐴𝑊 a velocidade do vento médio aparente para inclinar o veleiro até o

ângulo 𝛷𝐷 com velas completas. O mesmo é apresentado na Equação 23.

𝑉𝐴𝑊 =13 ∗ 𝑚 ∗ 𝐺𝑍𝐷

(𝐴𝑆

(ℎ𝐶𝐸 + ℎ𝐿𝑃) ∗ (cos𝛷𝐷)1,3 )∗

(23)

FDF é o fator de alagamento. Sendo:

𝐹𝐷𝐹 = 𝛷𝐷/90 (24)

Após o cálculo do STIX, tem-se uma estimativa preliminar da categoria de

navegação que a embarcação Irá se enquadrar. A Tabela 5 classifica os veleiros de

acordo com o tipo de mar em que estão aptos a navegar.

5 -Tabela de classificação de embarcações, em relação ao tipo de mar, de acordo

com o padrão classificatório STIX

Após a verificação de todos esses parâmetros, avança-se para a fase seguinte do

projeto, onde são tratados os apêndices e velame.

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2. 2ª Fase de Projeto

8 - 2ª Fase do projeto

Neste ponto do projeto será possível o trabalho em paralelo, como indicado na Figura

8, onde serão desenvolvidas, calculadas e avaliadas a quilha, o leme e as velas do

projeto. Haverá interação entre os apêndices e o velame, a fim de mantê-los separados

em uma faixa de Lead (que é a distância longitudinal entre o centro longitudinal da

área velica e o centro longitudinal de pressões hidrodinâmicas na posição de calados

paralelos).

Segundo [1], indica-se, para veleiro de regata e cruzeiro, uma área velica entre 2 e

2,5 vezes a área molhada da embarcação. Para os apêndices, indica-se para o leme, uma

área entre 1% e 2% da área velica, sendo 1,4% considerado ótimo. Já para a quilha, é

recomendada uma área de 3,5% da área velica, podendo variar + ou - 0,75% da área

velica.

Após o dimensionamento das velas e dos apêndices, serão calculadas suas áreas e

áreas molhadas, o centro de esforço velico (CE) e o centro de esforço hidrodinâmico

(CLR).

Poderemos agora calcular o Lead, que é a distância longitudinal entre CE e CLR, em

porcentagem da , sendo positivo com CLR a ré de CE. Uma vez que o veleiro está

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21

navegando o CE desloca-se para a vante mais rápido que o CLR, logo é desejável que o

Lead seja o menor possível. O Lead serve para calcular o centro de aplicação

longitudinal da resultante das forças aero e hidrodinâmicas, podendo assim calcular o

equilíbrio de momentos.

Após a conclusão desta etapa será avaliado se o Lead está dentro da faixa

determinada, para então avançar com o projeto para a fase seguinte, caso contrário, será

preciso alterar a posição relativa da quilha e do velame.

3. 3ª Fase do projeto

9 - 3ª Fase do projeto

Seguindo o fluxograma da Figura 9 e posse dos dados do casco, do número de

tripulantes, dos apêndices, do velame e dos ventos regentes, será possível usar um

programa de predição de velocidade (VPP), calculando-se o momento de inclinação

gerado pelos ventos regentes na região. Com os resultados fornecidos pelo VPP, avalia-

se se o veleiro alcançou números de Froude maiores ou iguais a 0,35 nas condições

regentes de vento da região. Caso contrário será necessário alterar as velas, a quilha e/ou

a forma, até alcançar um .

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Em paralelo, avalia-se se, para as condições regentes de ventos de até 10 nós, a

embarcação manteve inclinação de banda menor do que 15°. Para isso devemos

entender como os momentos de inclinação serão gerados. A Figura 10 ilustra as forças

que regem o equilíbrio transversal de um veleiro.

10 - Equilíbrio transversal do veleiro

Assim, na parte superior da embarcação teremos as forças aerodinâmicas na vela

gerando um momento e na parte inferior teremos um momento gerado pelas forças

hidrodinâmicas no casco e na quilha. O esforço no leme não é significativo, uma vez

que a turbulência gerada pela quilha tende a anular seu momento. Será então necessário

determinar esses valores para descobrir a banda que a embarcação terá na condição

desejada.

1. Cálculo dos centros e esforços aerodinâmicos.

Para o cálculo do centro de esforço aerodinâmico será utilizada uma formulação

semi-empírica. Para isso, foi utilizado um banco de dados, obtido a partir de testes em

túneis de vento, separando as forças aerodinâmicas de sustentação, de resistência

parasitária e de resistência induzida. A resistência parasitária se origina nos efeitos

viscosos da superfície do velame, já a resistência induzida é causada pelas vorticidades

na esteira da vela e no tope (base e ponta superior).

Existe ainda, a se considerar, uma resistência originada na interferência da

mastreação, convés, borda livre do casco e tripulação. Esses dados foram publicados nas

referências [1,2], com formulações que calculam coeficientes de resistência de algumas

velas. O cálculo adotado para os esforços na vela foi publicado em [1]. Ainda assim,

foram utilizadas tabelas de valores de coeficientes de [5].

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2. Cálculo da área das velas:

Área da vela Grande:

(25)

Área da vela Buja ou Genoa:

(26)

Área do Spinnaker:

(27)

Área do Triângulo de vante:

(28)

Área nominal de referência:

(29)

Na Figura 11 temos o arranjo velico de um veleiro genérico, onde estão

representadas as áreas Am da vela Grande, As da Spinnaker e Ab da vela Buja.

11 - Principais dimensões das velas de um veleiro genérico

No caso do veleiro desse projeto, contaremos apenas com a vela Grande e Genoa.

Para o cálculo dos coeficientes do conjunto do velame, é calculada a área nominal de

referência pela equação (24). Neste caso, usa-se a área do Triângulo de vante (uma

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área virtual), representado por e indicado na Figura 13, que representa o tipo de

arranjo velico escolhido, possuindo uma vela Grande e uma Genoa.

12 - Representação do triângulo de vante e da configuração velica escolhida

O coeficiente de sustentação CL é dado por

(30

)

Onde:

CLm é o Coeficiente de sustentação da Grande

CLb é o Coeficiente de sustentação da Genoa/Buja

CLs é o Coeficiente de sustentação do Spinnaker.

O coeficiente de arrasto parasitário é expresso por

(31)

Sendo:

CD_pm – Coeficiente de arrasto parasitário da Grande

CD_pb – Coeficiente de arrasto parasitário da Genoa/Buja

CD_pj – Coeficiente de arrasto parasitário do Spinnaker

A Tabela 6 mostra os valores dos coeficientes de arrasto parasitário e de sustentação

das velas, para os respectivos ângulos de vento aparente. Os dados da Tabela 6 são

advindos de [2].

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6 - Coeficientes de sustentação e arrasto parasitário das velas [2]

Para os Coeficientes de arrasto induzido (CD_i) e arrasto do mastro, mastreação e

tripulação (CD_o), foram usadas as equações (32) a (35), provenientes da referência [2].

(32)

Onde:

(33)

ou

(34)

O coeficiente calcula a resistência aerodinâmica de mastreação, tripulantes e

convés:

(35)

Sendo:

FA – Borda livre média

EHM – Altura do mastro acima do convés

– Boca máxima do veleiro

EMCD – Diâmetro médio do mastro

BAD – Altura da retranca acima do convés

– Razão de aspecto efetiva

3. Cálculo dos centros de esforços das velas

A definição do centro de esforços, onde atuam os esforços resultantes da vela,

continua sendo um desafio para a modelação matemática. Alguns trabalhos produzidos

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sobre o assunto, como em [1,6], indicam métodos empíricos de cálculo para o centro

das velas. Ambos consideram o centro da vela como o centroide dos triângulos de ré (P

x E) e de vante (J x I) apresentados nas Figuras 11 e 12. Se a vela não possui um

aluamento (mostrado na Figura 13) grande, este centróide representa uma boa

aproximação para o centro de esforços na vela. Para nosso caso, usaremos o modelo

Harzen, encontrado em [1], para a posição vertical de CE e o método geométrico para a

posição longitudinal. Os dados de cálculo de CE provêm da Figura 12, onde CEx é o

centro de esforços aerodinâmicos no eixo x e CEz é o centro de esforços no eixo z,

calculados pelas equações (36) e (37).

13 - Dimensões principais das velas

(36)

(37)

Para o prosseguimento dos cálculos, deve-se entender como o vento age na

embarcação e como a retranca se posiciona em relação a ele. É importante que se

assume o ângulo de vento aparente (Âaw) em relação à linha de centro do veleiro (Eixo

X) e o ângulo da retranca (Âret) em relação à linha de centro do veleiro, como indicado

na Figura 14.

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14 - - Esquema do posicionamento da retranca em relação a linha de centro e

incidência de vento

Deve ser adotado o seguinte posicionamento da retranca em relação ao vento:

1. Se Âaw ≤ 90°, o ângulo da retranca deve ser Âret = Âaw - 10°

2. Se Âaw > 90°, o ângulo da retranca deve ser Âret = 90°

O ângulo de incidência do vento na vela será α =Âaw – Âret.

15 - Relações entre as componentes das forças aerodinâmicas

Após calcular os coeficientes, os centros de esforços, arrasto e sustentação, busca-se

encontrar a força de deriva, que é o somatório das componentes perpendiculares ao eixo

x do arrasto e da sustentação. A deriva (As) está indicada na Figura 15 e é dada pela

equação (38).

(38)

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Assim podemos calcular a força de deriva na vela e, com o seu ponto de aplicação,

encontramos seu momento inclinador.

Semelhante à vela, o casco em conjunto com a quilha age como uma asa, porém no

caso das forças hidrodinâmicas, refere-se ao abatimento, que é o ângulo entre o fluxo

de água e a linha de centro da embarcação, gerando uma força lateral em direção oposta

à deriva.

O somatório dos momentos gerados pelas forças nos seus respectivos centros de

aplicação é o que chamamos de momento adernante. Com esse somatório, entramos na

tabela de estabilidade da embarcação e encontramos, por interpolação, o ângulo de

inclinação correspondente. Dessa forma é possível determinar se a embarcação satisfaz

à condição de 15° de banda máxima. Caso contrário será preciso alterar as dimensões e

configurações das velas, áreas dos apêndices e ainda, se necessário, a forma do casco.

4. 4ª Fase do projeto

16 – 4ª Fase de Projeto

Segundo [1], por não ser a fonte primária de propulsão da embarcação e ser

necessário apenas para manobras, momentos sem vento ou problemas no velame, pode-

se assumir-se a potência requerida igual à potência do motor. O modo de escolha motor

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de popa segundo o fluxograma da Figura 16 será calculando-se a potência necessária

para mover a embarcação, seu consumo e pese.

Será calculada a potência necessária para mover a embarcação na sua velocidade de

operação, com as condições ambientais de águas turbulentas e ventos de 15 nós. Feito

isso teremos o motor escolhido com a potência necessária, para a faixa de velocidade

escolhida e o consumo.

5. 5ª Fase de projeto

17 - 5ª fase de Projeto

Seguindo o fluxograma da Figura 17, nessa fase será feito o arranjo do convés, o

posicionamento dos equipamentos, disposição das velas com mastreação e o layout do

convés para melhor acomodar os tripulantes. Paralelamente, será feita a topologia

estrutural e a compartimentação, onde serão definidas as posições das estruturas e

anteparas estanques de tal forma que deverão oferecer o mínimo de conforto, priorizar a

redução do VCG e posicionar equipamentos próximo ao CG, sempre que possível,

favorecendo o equilíbrio e a estabilidade, além de acomodar a instalação de mastro e

apêndices.

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Haverá interação entre o arranjo e a topologia, uma vez que alocação de alguns

equipamentos interferem no posicionamento de estruturas. Caso os requisitos não sejam

satisfeitos, deve-se redefinir a topologia ou o arranjo e, posteriormente, alterar a quilha,

as velas e a forma casco, se necessário. Como limitante do arranjo foi definida uma

altura mínima da retranca em relação à borda do convés de 550 milímetros, além de um

espaço médio de 600 milímetros para posicionar as pernas no apoio do convés enquanto

o tripulante está sentado fazendo a escora (apoiando-se no bordo do convés para gerar

momento oposto ao momento adernante gerado nas velas).

6. 6ª Fase de Projeto

18 - 6ª Fase de Projeto

Nesta etapa, como indicado na Figura 18, será feito o dimensionamento dos reforços

e do casco, o cálculo dos momentos de inércia, CG e peso de seus elementos. Em

seguida, faz-se um comparativo com os valores mínimos determinados por regra em [7].

Em paralelo serão dimensionados o mastro, a retranca e o estaiamento, analogamente

aos reforços.

Serão comparadas as cargas e momentos que irão receber e seus módulos de seção e

inércia com os requisitos mínimos indicados por regra. Satisfazendo aos 2 parâmetros

avançamos para a fase seguinte, caso contrário será necessário redimensionar a estrutura

e a mastreação, e, posteriormente, refazer a topologia, o arranjo e o velame, se

necessário.

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7. 7ª Fase de projeto

19 - 7ª Fase de Projeto

No fluxograma da figura 19 temos uma visão global do veleiro, será feita uma

análise da estabilidade estática, do equilíbrio estático, do equilíbrio dinâmico (balanço)

e do VPP.

Calculamos a estabilidade da embarcação, tanto estática quanto dinâmica. Para a

estabilidade estática, entraremos com os dados finais do centro de gravidade da

embarcação na condição de projeto. Então veremos se os resultados irão satisfazer as

especificações da IMO 167. Para a estabilidade dinâmica, entraremos com os dados do

veleiro, analisaremos o índice STIX está acima de 14 (limite mínimo para embarcações

de navegação costeira). Caso os requisitos não sejam alcançados, será necessário

retorno às etapas 9 (dimensionamento estrutural e mastreação), 8 (topologia estrutural e

compartimentação), 7 (arranjo geral), 3 (quilha e leme) e 2 (forma do casco), na

respectiva sequência, a fim de alcançar os requisitos.

Com o CG, peso leve e posicionamento da tripulação faremos o cálculo do equilíbrio

e avaliaremos se o mesmo enquadra-se dentro dos valores de trim exigidos e

deslocamento desejado. Caso contrário será necessário retornar às etapas 9

(dimensionamento estrutural e mastreação), 8 (topologia estrutural e

compartimentação), 7 (arranjo geral) e 2 (forma do casco), respectivamente, até alcançar

os requisitos de trim e deslocamento na faixa desejada.

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Como explicado preliminarmente na fase 3, será feito o cálculo do equilíbrio

dinâmico a fim de operar sob as condições de vento regente, com banda máxima de 15°.

Nessa fase mais avançada contaremos com os valores mais refinados de peso e CG,

permitindo uma definição mais precisa do ângulo crítico de banda. Caso os requisitos

não sejam alcançados, será necessário fazer alterações nas etapas 9 (dimensionamento

estrutural e mastreação), 8 (topologia estrutural e compartimentação), 4 (velas), 7

(arranjo geral) e 2 (forma do casco) até alcançar o requisito.

Ainda nessa fase faremos uma análise do VPP. O VPP é um programa para a

predição da velocidade do veleiro de acordo com o vento aparente. Basicamente ele

recebe como entrada as características hidrostáticas, as áreas das velas e apêndices, seus

respectivos centros de esforços e centros de gravidade. Da posse de tais dados, para

cada ângulo de vento aparente calcula-se a força na vela, a força que ela vai gerar, e a

velocidade que a mesma vai alcançar, o equilíbrio em banda e em abatimento. O

processo se repete até que todas as forças e momentos estejam em equilíbrio, obtendo-se

a velocidade para aquele vento aparente. Após fazer o mesmo procedimento para vários

ventos aparentes o gráfico polar é formado, o que nos permite saber o desempenho na

embarcação para os ventos regentes e se a embarcação alcançou o desempenho

desejado. Caso contrário será necessário retornar às etapas 3, 4 (velas), 9

(dimensionamento estrutural e mastreação), 8 (topologia estrutural e compartimentação)

e 2 (forma do casco) até alcançar o resultado desejado com Fr > 0,35.

Todos os parâmetros sendo satisfeitos, o projeto estará concluído, tendo sua

viabilidade técnica comprovada.

3. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO

Nesta etapa será aplicada a metodologia desenvolvida, onde será desenvolvido todo o

trabalho prático que foi proposto anteriormente na parte metodológica.

1. LIMITAÇÕES DO PROJETO

Foi acordado com os responsáveis pelo Hangar que o veleiro deveria ter um

desempenho mínimo com número de Froude maior que 0,35 nas condições de vento

regente na região.

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Em medições feitas na região, durante as aulas de vela, observou-se que no horário

das aulas o calado na praia do hangar é em torno de 1,50 metros. Optou-se por uma

margem de segurança de 10% do calado máximo da região, ficando o limite de calado

máximo de projeto em 1,35 metros.

Sendo um dos propósitos do veleiro ter a capacidade de representar a UFRJ em

regatas, uma de suas características deve ser a capacidade de transporte rodoviário. Com

isso existe um limitante de boca máxima de 2,50 metros, que é exigido para as rodovias

nacionais. As principais restrições do projeto estão apresentadas na Tabela 7.

Tabela 1 - Limitações do projeto

2. CONDIÇÕES AMBIENTAIS DA REGIÃO

O vento médio na região na boca da baia de Guanabara é de 7 nós e nas regiões

internas entre 3,5 e 5,5 nós, como poder ser visto na Figura 20.

20 - Ventos médios no Rio de Janeiro

3. PARAMETRIZAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DE DESEMPENHO

Para o balizamento de valores a serem adotados para volume (m³), área velica (m²),

comprimento de área molhada (m) e área molhada (m²) procurou-se por soluções já

Froude máximo

<1,35 metros

<2,5 metros

>0,35

Limitações de projeto

Calado máximo

Boca máxima

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consagradas nesta fase inicial. A referência [4] indica os seguintes balizadores de

desempenho:

1. Relação comprimento de linha d’água e Volume:

4,5/ 333.0 WLL (39)

2. Relação área velica e área molhada:

𝐴𝑉

𝐴𝑀> 2 (40)

3. Relação área velica e volume

𝐴𝑉

𝑉2/3≅ 30 (41)

Para um casco atingir um regime de semi-planeio, a relação comprimento/volume

(39) deve estar acima de 5,4. O parâmetro de relação entre áreas (40) deve ser maior que

2 para embarcações que irão navegar em percursos em que predominam ventos abaixo

de 10 nós. A área velica é calculada pela área dos triângulos de vante e de ré do veleiro.

Outro parâmetro importante para ventos moderados e fortes é a relação área/volume

(41). Veleiros de Cruzeiro com bom desempenho possuem valores desta expressão entre

20 e 22. Veleiros em que a tripulação é parte fundamental do equilíbrio transversal ou

veleiros de semi-deslocamento e alto desempenho operam com valores da ordem de 30.

Com os parâmetros balizadores e as embarcações semelhantes foi possível, a partir

de gráficos desses parâmetros, com Boca, Calado crítico, LWL e DWT dentro das

limitações impostas, encontrar as dimensões principais iniciais para esse primeiro passo

do método.

A Figura 21 apresenta a relação entre a boca e o parâmetro de área/volume. Buscou-

se então neste gráfico a boca da embarcação para a qual o valor esse parâmetro fosse em

torno de 30.

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21 - Boca contra Área velica dividida pela raiz cúbica do quadrado do volume

Analogamente ao caso da boca, usaremos agora a relação entre o comprimento e o

mesmo parâmetro de área/volume para encontrar o valor de 𝐿𝑊𝐿, como é apresentado na

Figura 22.

22 - Relação LWL x área velica dividida pela raiz cúbica do quadrado do

volume.

Dispondo do valor do comprimento de linha d`água obtido, podemos entrar no

gráfico de Lwl contra o parâmetro de área/volume, mostrado na Figura 23,

determinando uma faixa de valores desta relação e, por meio dela, o volume.

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23 - Relação LWL x LWL dividido pela raiz cúbica do volume

Desta forma, o LwL encontrado ficou em torno de 6,5. A partir dos dados obtidos

para o comprimento de linha d’água foi feita uma regressão que obteve o deslocamento

para cada uma das medidas. E o menor deslocamento foi escolhido para priorizar o

desempenho da embarcação, considerando que este é o primeiro passo do projeto.

Diferente do meio offshore, as embarcações de recreio possuem menos referências de

semelhantes e as disponíveis apresentam limitações de dados, como calado, Cb e Cp.

Porém [1] possui padrões que iremos usar de balizadores para a definição de LCB e Cp,

mantendo os dados obtidos na regressão.

24 - Aumento da resistência em % do deslocamento em relação a posição não

ótima do Cp

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25 - Ótimo coeficiente prismático x Número de Froude

A Figura 24 nos fornece um coeficiente prismático entre 0.56 e 0.59 para número de

Froude entre 0,35 e 0,40. Já a Figura 25 indica que o 𝐶𝑃 típico para a operação com Fr =

0.35 está em torno de 0.56.

Nas Figuras 26 e 27, referentes ao LCB, tem-se um indicativo de que o LCB ótimo

está próximo de -3,5% de 𝐿𝑊𝐿, a ré da meia-nau.

26 - LCB% x Número de Froude

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27 - Aumento percentual da Resistencia residual x %LCB

Os resultados obtidos a partir das faixas de regressão representam um ponto de

partida para a modelação do casco e início do projeto. Foram obtidos os seguintes

valores iniciais:

Boca = 2,4 metros

𝐿𝑊𝐿 = 6,5 metros

𝐶𝑝 = 0,56

Deslocamento de projeto = 0,720 toneladas.

𝐿𝐶𝐵 = −3.5%𝐿𝑊𝐿, a ré da meia-nau.

Com as dimensões obtidas a partir das embarcações semelhantes, buscando a

obtenção de planos de linhas modernos e com as características requisitadas para a

embarcação, foi gerada uma forma no Freeship. A partir do LCB do casco gerado será

estipulado um LCG para a condição de equilíbrio desejada. O plano de linhas

desenvolvido está mostrado na Figura 28.

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28 - Plano de linhas desenvolvido a partir das dimensões principais obtidas

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As dimensões do casco obtidas após a modelagem computacional foram:

Loa = 6,5 metros

LWL = 6,41metros

Boca = 2,41 metros

Calado = 0,17 metros

Pontal = 0,70 metros

Cp=0,56

LCB= -3,67%LwL

Deslocamento = 0,740 toneladas

Houve uma pequena redução no comprimento da linha d`água e leve aumento no

deslocamento, porém ambos se mantiveram dentro da faixa de valores aceitáveis dos

parâmetros iniciais, como pode ser visto na Tabela 7.

7 - Dados alterados após modelagem computacional do casco

4. CÁLCULO DA RESISTÊNCIA AO AVANÇO DO CASCO

O desenvolvimento da resistência do casco foi calculado como explicado

anteriormente na primeira fase da metodologia. O gráfico de resistência ao avanço

gerado no Freeship está mostrado na Figura 29, usando o método acima citado para o

casco modelado.

Dados Definição inicial Após modelagem

LwL m 6,5 6,41

Deslocamento t 0,72 0,74

LCB %LWL -3,50% -3,67

Mudanças em dimensões e coeficiente

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29 - Cálculo de resistência do casco nu pelo método dos modelos da série Delft

As Tabelas 8 e 9 mostram o efeito da variação do LCB, de -1% a 6% de LwL, na

resistência ao avanço, confirmando a menor resistência para o LCB escolhido.

8 - Cálculo da resistência das variações de LCB

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9 - Resistência mínima do LCB escolhido próximo da faixa de Fr desejada em

destaque

Com a curva de resistência definida, podemos definir o arrasto para a faixa de

operação desejada, auxiliando ainda na seleção do motor.

5. ESTABILIDADE PRELIMINAR

Baseado na forma, estima-se um CG preliminar e um peso preliminar para a

condição de equilíbrio em calado de projeto. Assume-se o peso igual ao empuxo e o

LCG igual ao LCB da condição de trim nulo.

Com isso pode-se estimar uma estabilidade preliminar, determinando um possível

VCG. Em caso de valores discrepantes, correções devem ser feitas na forma do casco.

Foi estipulado um LCG = LCB em relação à meia nau e um centro vertical de gravidade

máximo de 0,446 metros como limite superior para o VCG.

30 - Gráfico de estabilidade para a condição inicial e VCG crítico de 0,446

metros

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Com isso foi obtida a condição preliminar de estabilidade para a condição crítica de

VCG, como pode ser observado na Figura 30. Mesmo em condição crítica a embarcação

atende aos critérios da resolução IMO 167 de estabilidade, como é apresentado na

Tabela 10.

10 - IMO 167 aplicada à condição preliminar

6. ESTIMATIVA PRELIMINAR DE ESTABILIDADE DINÂMICA

Como explicado anteriormente, o STIX será adotado para definir se a embarcação se

encaixa na categoria de navegação costeira. Para tal deve obter um STIX superior a

14.Usou-se o limite máximo proposto de VCG igual a 0,446 metros. Na equação 8

temos a fórmula que compõem o STIX e na Tabela 12 o resultado obtido através do

software Maxsurf Stability.

𝑆𝑇𝐼𝑋 = (7 + 2,25 ∗ 𝐿𝐵𝑆)∗ (𝐹𝐷𝐿 ∗ 𝐹𝐵𝐷 ∗ 𝐹𝐾𝑅 ∗ 𝐹𝐼𝑅 ∗ 𝐹𝐷𝑆 ∗ 𝐹𝑊𝑀 ∗ 𝐹𝐷𝐹)^0,5

(8)

Unidade Mínimo Atual

m.deg 3,1513 6,4768

m.deg 5,1566 9,2047

m.deg 1,7189 2,7279

m 0,2 0,275

deg 25 25,5

m 0,15 0,1776

Ângulo de GZ máximo

Inicial

IMO 167

Critérios

Areá de 0° a 30°

Área de 0° a 40°

Área de 30° a 40°

Máximo GZ em 30° ou acima

𝐺𝑀𝑡

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11 - Cálculo do STIX e seus fatores para a condição preliminar

Assim, a embarcação se enquadra preliminarmente na categoria de navegação

costeira, em que essa categoria necessita de um STIX mínimo de 14.

7. DEFINIÇÃO DAS ÁREAS VELICAS E APÊNDICES

Como a quilha é responsável por produzir uma parte significante da força

hidrodinâmica lateral para balancear a força aerodinâmica gerada nas velas em sentido

oposto, é razoável pensar na área da quilha como fração da área velica, que será

assumida como sendo formada por 2 triângulos. Usando a referência [1], uma boa

estimativa da relação entre a área da quilha e área velica, para veleiros de regata e

cruzeiro, é de 3,5% da área velica, variando (+-)0,75%. Porcentagens abaixo de 2,75%

são encontradas apenas em veleiros de regata.

Nas últimas décadas a área das quilhas ficaram cada vez menores, pelo menos para

yachts de regata, enquanto os lemes ficaram de alguma forma maiores. Os valores

médios para lemes, em porcentagem da área velica para veleiros de Cruzeiro/Regata é

de 1,4%. Os limites mínimos e superiores são em torno de 1% e 2%, respectivamente.

Estas estatísticas foram apresentadas por[5], baseados na frota IMS nos E.U.A. e

mostram que praticamente todos os veleiros tem uma relação de área vélica por área

molhada entre 2,0 e 2,5. Não aparenta haver nenhuma diferença significativa

influenciada pelo tamanho do veleiro. Assim, definiu-se a relação entre as áreas vélicas

e a área molhada da embarcação como igual a 2,25. Após a estimativa das áreas de

quilha e de leme adotou-se a configuração de apêndices mostrada na Tabela 12.

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12 - Área molhada de casco, apêndices e o centro de esforço hidrodinâmico

Desta forma, a área velica e o centro de esforços nas velas foram determinados como

mostrado na Tabela 13.

13 - Propriedades do velame

Assim, com CE e CLR, foi possível encontrar o Lead, conforme a Tabela 14.

14 - Centros de esforços aero e hidrodinâmicos e Lead

Com todos os requisitos definidos dentro das faixas desejadas, o projeto avança para

a próxima etapa com as estimativas de desempenho.

8. ESTIMATIVA DE DESEMPENHO

As estimativas de desempenho a seguir foram feitas pelo programa de predição de

velocidade do pacote Maxsurf. Nesse programa, são necessários dados obtidos em todas

as fases anteriores: dados hidrostáticos do casco, quilha e leme, centros de gravidade,

peso da tripulação, peso do veleiro em calado de projeto, momentos de braço

endireitador, dimensões das velas e os ventos regentes na região.

Após a entrada desses dados um gráfico de curvas polares é gerado, onde as curvas

são separadas por velocidade do vento, a favor ou contra o vento, variando as

velocidades estimadas do veleiro em relação aos ângulos de vento aparente.

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31 - Curvas polares de velocidade e Curvas de VMG

Como pode-se observar na Figura 32, a embarcação alcança velocidades com Froude

acima de 0,35 para ventos de 6 nós, que são comuns na região. É possível comparar as

velocidades do gráfico com os seus respectivos números de Froude como apresentado

na Tabela 15.

15 - Números de Froude referentes a velocidades do casco de estudo

Além das velocidades correspondentes a número de Froude superiores a 0,35, temos

a curva de velocidade ideal conhecida como VMG (velocity made good). A curva de

VMG indica o ângulo que se deve navegar a determinadas velocidades de vento, com o

0 1 2 3 4 5 6 7 8

0 0,064803 0,129607 0,19441 0,259214 0,324017 0,388821 0,453624 0,518427

Velocidade Kn

Froude

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ângulo de vento incidente para se atingir um ponto que está na direção do vento. Como

pode ser visto na imagem x, o VMG indica a componente da velocidade da embarcação

que navega na direção do vento.

32 - Esquematização de VMG

Onde temos:

𝑉𝑀𝐺 = 𝑉𝐵 ∗ 𝐶𝑜𝑠(Â𝑡𝑤) (1)

Dessa forma a tripulação consegue definir o melhor curso para chegar ao destino

desejado, analisando a curva de VMG ótimo no gráfico de curvas polares.

9. MOMENTO DE BANDA

Em paralelo à predição de velocidade, foi obtido o equilíbrio dinâmico da

embarcação, determinando-se as bandas máximas que ocorrerão na condição de vento

regente. Para tal, buscou-se a condição em que o vento aparente seria máximo, gerando

o maior momento adernante. A condição encontrada dentro da faixa de operação da

embarcação está mostrada na Tabela 16.

16 - Condição de vento aparente máximo na faixa de operação

Para esta condição seria gerado o maior momento inclinador e também a maior

banda. As Tabelas 17 e 18 apresentam os resultados obtidos para ventos de 10 nós.

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17 - Tabela de bandas, para ventos de 10 nós

18 - Condição crítica de banda para ventos de até 10 nós

Então, como pode ser observado nas Tabelas 17 e 18, para a faixa de operação da

região, a embarcação possuirá banda dentro do limite estipulado de 15º.

10. SISTEMA PROPULSIVO

Seguindo a recomendação da referência [1], fizemos o cálculo das resistências aero e

hidrodinâmicas impostas a embarcação navegando a motor na velocidade de 7 nós.

Assumimos a potência entregue igual a potência requerida. Foi feito o cálculo da

resistência adicional para águas turbulentas e ventos de 15 nós. Onde os resultados são

apresentados na tabela19, ficando em destaque a potência requerida para 7 nós de

velocidade.

19 -Resistência e Potência para águas calmas e turbulentas

Dessa forma buscamos motores no mercado com características que satisfaçam as

condições de potência e consumo mínimo. Dessa forma foi escolhido o motor Maranelo

5.0, presente na tabela 20, onde o mesmo enquadrou-se no consumo mínimo e na

potência requerida para desenvolver a velocidade desejada.

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20 - Dados de Motores analisados

11. ARRANJO GERAL E TOPOLOGIA ESTRUTURAL

Nesta fase do projeto, desenvolveremos o arranjo geral da embarcação, para melhor

posicionamento dos elementos do veleiro e disposição da tripulação. Em paralelo, será

desenvolvido a topologia estrutural e definição de compartimentos estanques.

1. Arranjo geral

Observando embarcações semelhantes, foi possível fazer um arranjo que não fugisse

do usual para esse tipo de embarcação, sem equipamentos desnecessários e o mais

simples possível, priorizando espaço para movimentação interna, em posições

ergonômicas estimadas, como a apoio para os pés medindo 600 mm até a borda interna

do acento e uma altura de retranca acima de 550 mm da borda do convés. Assim

chegou-se ao arranjo geral, apresentado em vistas laterais nas Figuras 33 e 35, em vista

superior na Figura 34 e em cortes transversais na popa e a 2500 mm a vante da ré, nas

Figuras 36 e 37 respectivamente os as medidas são dadas em milímetros.

33 - Vista lateral do arranjo com enfoque no convés

A Figura 33 possui enfoque no convés, destacando a altura mínima da retranca acima

de 550 milímetros em relação à borda.

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34 - Vista superior do arranjo geral

35 - Vista lateral completa do arranjo geral

Na Figura 35 é possível observar e analisar o arranjo de velas e seu

dimensionamento. Nas Figuras 36 e 37 temos explicitados o espaço interno do convés

para os tripulantes, com o espaço para apoio das pernas na faixa de 600 milímetros.

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36 - Corte transversal na popa

37 - Corte transversal em 3250 mm

Como pode ser observado nas Figuras 36 e 37, há espaço suficiente para a tripulação

circular, tendo alturas usuais de retranca e de apoio para as pernas e para se equilibrar

em condição de banda com as dimensões adequadas.

12. TOPOLOGIA ESTRUTURAL E COMPARTIMENTAÇÃO

Nesse caso, por ser uma embarcação de pequeno porte, as regras da ABS e SOLAS

não se aplicam, não sendo necessária a compartimentação por estas regras. Assim foram

definidos os espaçamentos estruturais de 500 mm tanto para longarinas como para

cavernas, não havendo a necessidade por regra de uma antepara de colisão frontal.

Porém, para haver maior segurança, foi posicionada a 1000 mm a ré do extremo de

vante uma antepara estanque.

Com isso, os brandais, o mastro, a quilha e o leme foram posicionados em locais

estratégicos, mantendo a continuidade estrutural com longitudinais e transversais, como

pode ser observado na Figura 38.

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38 - Disposição de estrutura e pontos críticos

13. DIMENSIONAMENTO ESTRUTURAL

1. Dimensionamento do casco e estruturas

A definição das estruturas foi realizada seguindo as normas da classificadora ABS

(Offshore Racing Yachts, 2016) [7] para o casco e convés. A espessura para laminados

sólidos nas regras da ABS é definida pelas equações (42) e (43):

𝑡 = 𝑠 ∗ √0,001 ∗ ℎ ∗𝑘

𝜎𝑎

(42)

Ou,

𝑡 = √0,001 ∗ ℎ ∗𝑘1

0,001 ∗ 𝐸

3

(43)

Sendo:

𝑡 ≥ 𝑠 ∗ √0,001 ∗ ℎ ∗ 𝑘/𝜎𝑎 (44)

Onde:

t - Espessura em mm

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s - Espaçamento entre estruturas transversais

l - Espaçamento entre estruturas longitudinais

h - Carga de projeto de acordo com a tabela

k e k1 – coeficientes que variam com a razão do painel (s/l), dados pelas

equações (45) e (46) a seguir:

𝑘 =0,5

1 + 0,623 ∗ (𝑠𝑙)

6 (45)

𝑘1 =0,0288

1 + 1,056 ∗ (𝑠𝑙)

5 (46)

𝜎𝑎 – Tensão máxima de projeto equivalente a 0,4 vezes a resistência a flexão do

laminado

E – Módulo de flexão do laminado

Na Tabela 21 estão especificadas as cargas por regiões da embarcação a serem

adotadas nos cálculos.

21 - Tabela de cargas (ABS, Offshore Racing Yachts, 2016)

As propriedades mecânicas do laminado para fundo, costado e convés foram

assumidas como as fornecidas pela regra (ABS, Offshore Racing Yachts 2016)[7].

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Resistência a flexão

Resistência a tração

Resistência ao cisalhamento

Módulo de tração

Módulo de flexão

Nas Figuras 39 e 40 temos a disposição das estruturas através de vista superior e

lateral, respectivamente.

39 - Vista superior das estruturas longitudinais

40 - Vista lateral das estruturas transversais

O laminado usado no fundo, segunda a regra ABS (Offshore Racing Yachts, 2016)

[7], não deve ter menos que 3,4 mm de espessura. Na área da quilha, por ser fixa e com

lastro, o fundo deverá ter espessura de no mínimo 4,6 mm. Na Tabela 22 temos as

espessuras mínimas requeridas e aplicadas no casco.

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22 - Espessuras requeridas e aplicadas

A altura de longarinas e hastilhas na área da quilha é de 74 mm, para a segurança da

embarcação. Na Tabela 23 temos as espessuras do laminado das estruturas de cada

região.

23 - Espessuras dos reforços em cada região do veleiro

Obtemos, assim, as inércias mínimas e aplicadas para os elementos estruturais de

cada região, como pode ser visto na Tabela 24.

24 - Inércias e módulos de seção requeridos e aplicados

A forma de laminação foi definida em [8], onde são indicadas as espessuras,

proporcionalmente correspondentes para cada gramatura (g/m²) de gelcoat, manta e

fibra combinados com resina. Além disso, foi recomendado por profissionais da área

uma proporção de gramatura entre manta e tecido de fibra de vidro de 3 para 2 ou 4 para

3. A manta tem a função principal de fazer a união entre os tecidos de fibra de vidro,

além melhorar a rugosidade da superfície do gelcoat ao fazer uma barreira impedindo

que o tecido deixe marcas na superfície externa

Seguindo as instruções citadas, foram desenvolvidos os planos de laminação com

auxílio da Tabela 25, foi calculado o plano de laminação para alcançar as espessuras

desejadas do projeto do casco e dos reforços nas Tabelas 26 e 27 respectivamente.

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25 - Propriedade dos materiais do casco.

26 - Plano de Laminação do Casco

27 - Plano de Laminação dos reforços

Desta forma, calculando-se a laminação de casco e estruturas, chegou-se à

determinação de seus pesos e centros de gravidade, multiplicando o peso por unidade de

área pelas áreas de reforços e partes do casco, fazendo o cálculo dos centros de

gravidades igual ao centro de áreas dos elementos e fazendo momento de massas,

chegou-se no resultado da Tabela 28, com peso e centro de gravidade de casco e

reforços.

28 - Pesos e CG's de casco e reforços

2. Dimensionamento da mastreação

A mastreação foi calculada segundo as normas da extinta classificadora norueguesa

NBS (Nordic Boat Standard), apresentada em [1] que foi adquirida pela ISO. Para o

primeiro protótipo será usado um mastro de alumínio com brandais e estais de aço

AISI-316 de 4 mm e 5,5 mm respectivamente. A mastreação escolhida foi a de tope,

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com uma cruzeta e mastro apoiado nas estruturas do fundo, classificado pela Nordic

Boat Standard como M-1.

Para evitar estais de popa, opcional em veleiros pequenos, segundo a NBS,

posicionou-se os brandais com terminação no fuzil, estrutura fixada no casco que

auxilia a fixação dos estais, a 500 milímetros a ré do mastro.

O cálculo pela NBS foi realizado em uma planilha aplicando as fórmulas da

classificadora, apresentadas em [1]. O mastro de tope M-1 é dividido em 2 painéis (l1 e

l2), como na Figura 41: o primeiro painel do convés até a cruzeta (4,6 m); o segundo

painel da cruzeta até o tope e o ponto do estai de proa. As inércias requeridas estão

apresentadas na Tabela 29. A inércia em X (Ix) de cada painel do mastro é calculada

pelas equações (47) a (49) retiradas da regra NBS:

𝐼𝑥 = 𝑘1 ∗ 𝑚 ∗ 𝑃𝑇 ∗ 𝐼𝑛2 (47)

𝑃𝑇 = 1,5 ∗𝑅𝑀

𝑏 (48)

Onde:

RM = Momento restaurador (foi considerado o momento restaurador para 25°,

segundo [1]

b = distância horizontal do centro do mastro ao fuzil(b = 1,204 m)

K1 = fator do painel. Para mastreação do tipo M-1, k1=2,5*k3 e k3= 1, pois o

mastro é apoiado na longarina da quilha.

m = 1 para o alumínio

𝑙𝑛= comprimento do painel em questão ( 1 ou 2)

A inércia em Y (Iy) é dada pela equação (49) obtida na regra NBS:

𝐼𝑦 = 𝑘2 ∗ 𝑘3 ∗ 𝑚 ∗ 𝑃𝑇 ∗ ℎ2 (49)

Onde:

K2 = 0,80 pela especificação M-1 com apenas um brandal por bordo do convés

(single lower)

h = altura do mastro acima do convés.

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41 - Configuração dos painéis da mastreação de tope com 1 cruzeta do tipo M-1

29 - Inércias requeridas do mastro

O mastro escolhido foi o mastro de perfil 105 da Monotaço Náutica, com seção

constante ao longo do eixo z. O mastro possui peso específico de 2Kg/m, é feito em liga

naval 6061-T6, possui inércia em relação aos eixos “y” e “x” de 98 𝑐𝑚 4 e

52 𝑐𝑚4respectivamente e sua configuração é apresentada na Figura 42. O peso total do

sistema de mastreação é de 24 Kg.

42 - Seção do Mastro Escolhido

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14. ANÁLISE GLOBAL DO VELEIRO

Para a análise global da embarcação serão abordados os principais aspectos a serem

considerados no funcionamento do veleiro. Essas abordagens podem ser realizadas em

paralelo, porém serão apresentadas sequencialmente.

1. Equilíbrio estático

Os elementos relevantes para o cálculo do equilíbrio podem ser vistos nas Tabela 30

e 31, juntamente com o peso total e CG do conjunto. São os carregamentos finais para

as condições com 3 e 4 tripulantes. O consumo de combustível não é relevante para o

equilíbrio e a estabilidade, então não será contabilizada sua variação.

30 - CG e peso do conjunto com 3 tripulantes

31 - CG e peso do conjunto com 4 tripulantes

Com os esses dados as posições finais de equilíbrio são as apresentadas nas Tabelas

32 e 33.

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32 - Posição de equilíbrio final para 3 tripulantes

33 - Posição de equilíbrio final com 4 tripulantes

Nas condições de equilíbrio final o veleiro apresentou uma redução do deslocamento

de aproximadamente 40 kg, representando uma variação de aproximadamente 6% no

deslocamento total preliminar e um trim de 0,003%Lwl, que está bem abaixo do limite

de 0,5%Lwl para as condições de carregamento. O resultado final de equilíbrio foi

considerado satisfatório. Além do peso, o Centro vertical de gravidade teve uma singela

mudança, passando da estimativa inicial de 440 mm para 417 mm acima da linha de

base.

2. Equilíbrio dinâmico

Com os valores mais acurados do peso e da posição do centro de gravidade, a

embarcação passou a ter um braço de endireitamento maior, resultando em uma banda

menor para as mesmas condições ambientais, mantendo-se dentro do limite de 15° com

3 e 4 tripulantes, como pode ser visto nas Tabelas 34 e 35.

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34 - Pior condição de banda com ventos de 10 nós com 3 tripulantes

35 - Pior condição de banda para ventos de 10 nós com 4 tripulantes

3. Estabilidade estática

Mesmo após as mudanças na disposição dos elementos do veleiro, a embarcação

manteve-se estável, satisfazendo a todos os critérios da resolução IMO 167 com larga

margem, como pode ser verificado nas Tabelas 36 e 37.

36 -Critério final de Estabilidade IMO 167 para 3 tripulantes

37 - Critério final de estabilidade IMO 167 para 4 tripulantes

4. Estabilidade dinâmica

Considerando os novos valores para o cálculo da estabilidade dinâmica, o padrão

DSF permaneceu centralizado na faixa de 0 a 10, o que indica que a embarcação é

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própria para a navegação em águas abrigadas, com 3 e 4 passageiros, como pode ser

comprovado nas Tabelas 38 e 39.

38 - STIX final para 3 tripulantes

39 - STIX final para 4 tripulantes

5. VPP

Para a análise de desempenho com os dados mais precisos do arranjo velico, do CG e

dos pesos finais, dos ventos atuantes e das características hidrostáticas do conjunto

casco, quilha e leme foram realizados novos cálculos de VPP, cujos resultados estão na

Figura 43 e 44.

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43 - Diagramas de Curvas Polares da Configuração Final do Projeto para 3

Tripulantes

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44 - Diagramas de Curvas Polares da Configuração Final do Projeto para 4

Tripulantes

A embarcação possui bom desempenho, tanto com 3 tripulantes como com 4

tripulantes, com números de Froude acima do 0,35, que era o esperado para a faixa de

operação do projeto. Como pode ser notado na Tabela 40, de correlação entre

velocidade e número de Froude, há velocidades com número de Froude acima de 0,45,

alcançando condição de semi-planeio.

40 - Correlação entre velocidades da embarcação e respectivo número de

Froude

Assim, em vista dos resultados obtidos, concluímos que o projeto é viável

tecnicamente e que irá atender às necessidades das aulas de vela da UFRJ.

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4. VIABILIDADE ECONÔMICA

Após a confirmação da viabilidade técnica do projeto, será necessário um cálculo

preliminar para avaliar sua viabilidade econômica. Segundo [9], uma boa estimativa é

que o custo do casco de um veleiro esteja em torno de 15% do custo total da

embarcação.

Como a construção do veleiro deve feita por alunos da UFRJ, tendo à disposição

espaço e mão de obra, o fator custo resume-se então ao custo do material. Assim,

calculando a quantidade de material empregado na construção do casco e com esta

relação teremos uma estimativa do custo total, podendo, assim, comparar com

embarcações do mesmo porte no mercado.

A Tabela 41 reapresenta o plano de laminação para a construção do casco, de onde

podemos obter a quantidade de material empregado em cada região do casco,

considerando os materiais disponíveis no mercado.

41 - Plano de Laminação do Casco

A partir do plano de laminação apresentado é possível calcular a quantidade total de

cada material empregado, como pode ser visto na Tabela 42.

42 - Quantidade total específica de cada material

Segundo a referência [10], as porcentagens de fibra de vidro no tecido e na manta,

em relação ao total do laminado, são as apresentadas na Tabela 43. A tabela ainda

Material g/m² Material g/m² mterial g/m² Material g/m²

Gel coat 30 Gel coat 30 Gel coat 30 Gel coat 30

manta 300 manta 300 manta 450 manta 300

manta 450 manta 300 Tecido 330 manta 450

tecido 330 tecido 330 tecido 400

manta 150 Manta 150 manta 450

Tecido 400 Tecido 400 Tecido 600

Fundo Costado Deck Área de quilha

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apresenta o peso total de resina. Dessa forma temos o total de material empregado no

casco.

43 - Teor de fibra no laminado e peso proporcional de resina

As Tabelas 44 e 45 apresentam o custo total de fibra e de resina do casco.

44 - Custo da resina do casco

45 - Custo da fibra do casco

O custo do material dos reforços foi calculado proporcionalmente a seu peso em

relação ao peso do casco, uma vez que o processo de laminação dos reforços é

semelhante. O resultado final pode ser visto nas Tabelas 46 e 47.

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46 - Estimativa do custo de reforços e custo final do conjunto de laminados

47 - Estimativa de custo total

Apesar de haver profissionais na UFRJ que forneceriam uma correta supervisão para

os alunos que trabalhariam na embarcação, o projeto deve ser viável caso não houvesse

essa disponibilidade. Para isso, será preciso fazer uma estimativa do custo dessa mão-

de-obra qualificada. Pesquisando o mercado, obtivemos os valores de custo para dois

laminadores, apresentados na Tabela 48.

48 - Custo HH de cada laminador

Porém, para sabermos o custo total, precisamos saber o total de horas trabalhadas. A

referência [7] estima como 5000 horas de trabalho o necessário para uma embarcação

de 40 pés. Assumiu-se que o trabalho realizado está diretamente ligado à área laminada

e que a mesma é proporcional à área molhada. Com essa base usamos o parâmetro da

referência [4], Loa1,63, medido em pés, que representa a proporção da variação da área

molhada em função do comprimento total. Logo, fazendo a proporção entre a área

molhada e horas de trabalho do casco de 40 pés com o casco projetado, que é de 6,5

metros (igual a 21,33 pés), temos a estimativa das horas de trabalho de laminação, como

apresentado na Tabela 49.

15% 100%

Custo R$

3449,62 22997,43

Laminador 1 Laminador 2

31,25 37,50R$/Hora

Custo por hora de trabalho

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49 - Estimativa do total de homens hora

Assim, podemos estimar o custo final da mão de obra, baseado na quantidade de

suporte que esses profissionais terão. A Tabela 50 apresenta o custo de mão-de-obra de

laminação, de acordo com a quantidade de alunos que estarão auxiliando o processo.

50 - Custo de mão de obra

Por questões ergonômicas no trabalho, 6 pessoas por vez são mais do que suficientes,

sendo, por questões econômicas e de espaço de trabalho, essa a quantidade de mão-de-

obra considerada. Assim, o custo final estimado é o apresentado na Tabela 51, onde

assume-se que o custo material do Plug e do Molde são ambos iguais ao do Casco.

51 - Custo total estimado

A análise desse resultado será feita do ponto de vista das opções atuais. Os dingues

utilizados atualmente têm capacidade para 2 pessoas e o valor de um novo é de cerca de

21 mil reais. Em contrapartida, a opção proposta entregaria uma embarcação para

ensino e competição, com capacidade para 4 pessoas, com o custo aproximado de 39,23

mil reais. Considerando a possibilidade de atuar em competições e a maior capacidade

de alunos para aulas de vela, a opção apresentada se mostra viável para a modernização

das embarcações das aulas de vela da UFRJ por um custo razoável.

40,00 408,66 5000,00

21,33 146,59 1793,56

Proporção de

área molhada ft²Loa ft HH

Razão de áreas laminadas

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5. CONCLUSÃO

A proposta preliminar de projeto apresentou viabilidade técnica e econômica. Do

ponto de vista acadêmico, mostrou-se um projeto que agrega maior qualidade às aulas

de vela da universidade, além de proporcionar conhecimento técnico específico para os

alunos participantes da construção. Somado aos fatores anteriores, a capacidade de

participar de competições permite ainda ao projeto auxiliar a vela nacional, na medida

em que vai contribuir também para o desenvolvimento de novos atletas. A metodologia

proposta mostrou-se correta e adequada para a estruturação do problema e o

encadeamento das etapas do projeto, minimizando retrabalhos e produzindo resultados

consistentes.

1. SUGESTÕES E RECOMENDAÇÕES PARA MELHORIAS

1. Metodologia

A partes mais dispendiosas de trabalho foram a seleção das dimensões principais e o

dimensionamento estrutural. Para tornar o processo mais eficiente seria fundamental,

além de automatizar parcialmente essas etapas, incorporar um cálculo preliminar

paramétrico de material, pesos e custos, uma vez que o orçamento é parte fundamental

de qualquer projeto.

Para tornar a metodologia mais eficiente poderia ser desenvolvido um modelo

matemático para obter estimativas das dimensões principais, baseado nos requisitos

iniciais, embarcações semelhantes, parâmetros de forma e desempenho. Isto permitiria

ainda o cálculo preliminar de material e de custos.

Outro ponto com alta carga de trabalho é o dimensionamento estrutural. No intuito

de otimizar o tempo do projetista, o desenvolvimento de um modelo matemático

baseado nas regras de alguma sociedade classificadora, dimensionando reforços e

chapeamento do casco, além de fornecer o peso e centro de gravidade de casco e

reforços seria um grande auxílio.

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2. Detalhamento

Para uma fase posterior, fica a sugestão de um detalhamento maior da estrutura da

quilha e de sua fixação. A possível adaptação para uma quilha móvel, facilitando seu

transporte em carretas de encalhe e rodoviária também é uma possibilidade, além de

capacitar o veleiro para ser colocado na água em regiões com baixo calado ou em

épocas de maré baixa. Outra recomendação, seria uma análise em elementos finitos da

quilha, do mastro e das regiões do casco onde estão fixados os estais e as ferragens, que

são regiões críticas.

3. Viabilidade Econômica

Como forma de validação da viabilidade econômica preliminar, seria interessante a

realização de um trabalho de campo, contabilizando o número real de homens horas por

etapas da construção desse tipo de embarcação ou buscar algum estudo consolidado na

área. Além disso, seria importante desenvolver um banco de dados dos materiais e

equipamentos disponíveis no mercado, proporcionando valores finais mais acurados.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] LARSSON, L. ELIASSON, R. E., 2014, Principles of Yacht Design, 4th ed.

Camdem, Maine UK, International Marine.

[2] OOSSANEN, P. V., 1993, “Predicting the Speed of Sailing Yachts”, SNAME

Transactions, Society of Naval Architects and Marine Engineers, v.101, pp. 337–397.

[3] MARCHAJ, C. A., 1996, “Sail Performance: Techniques to Maximize Sail

Performance”, London, UK, International Marine.

[4] GERRITSMA, J., ONNINK, R., VERSLUIS, A., 1978, “Geometry, Resistence

and Stability of the Delft Series”, Report Technological University Delft, pp. 276 - 297.

[5] R. T. MILLER, K. L. KIRKMAN, 1990, ’’Sailing Yacht Design – A New

Appreciation of a Fine Art“, Annual meeting of SNAME, Society of Naval Architects

and Marine Engineers.

[6] FARRAR, A. P., 1990, “Sail Balance – A New Rule of Thumb”, Transactions of

the RINA, Royal Institution of Naval Architects, pp. 45–64.

[7] ABS, 2016, “Guide for Building and Classing Offshore Racing Yachts”,

American Bureau of Shipping.

[8]-CORNING, O., 1992, Guia de Laminação Manual e a Pistola, São Paulo,

Brasil.

[9] NASSEH, J., 2011, Manual de Construção de Barcos, 4a ed., Rio de Janeiro,

Brasil.

[10] NASSEH, J., 2007, Barcos – Métodos Avançados de Construção em

Compósitos, Rio de Janeiro, Brasil.

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7. ANEXO I

Tabela de embarcações semelhantes