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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE TECNOLOGIA
Avaliação de co-produtos da produção de biodiesel em fluidos de perfuração
de poços de petróleo
Ana Carolina Chaves Católico
RIO DE JANEIRO 2014
2
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE TECNOLOGIA
ESCOLA POLITÉCNICA
Avaliação de co-produtos da produção de biodiesel em fluidos de perfuração
de poços de petróleo
Ana Carolina Chaves Católico
Monografia de graduação apresentada à Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial para a obtenção do título de Engenheiro, Habilitação em Engenharia de Petróleo.
Orientador: Prof. Jorge de Almeida Rodrigues Jr., DSc.
RIO DE JANEIRO 2014
3
Avaliação de co-produtos da produção de biodiesel em fluidos de perfuração de poços de petróleo
Ana Carolina Chaves Católico
Trabalho apresentado ao Corpo Docentes da Escola Politécnica da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, como requisito parcial para a obtenção do grau de Engenheira em
Engenharia de Petróleo.
Aprovado por
________________________________
Prof. Jorge de Almeida Rodrigues Jr., DSc. - orientador
________________________________
Prof. Ilson Paranhos Pasqualino, DSc.
________________________________
Alessandro Oliveira de Barros, DSc.
Aprovada em:
Grau:
RIO DE JANEIRO 2014
4
CATÓLICO, Ana Carolina.
Avaliação de co-produtos da produção de biodiesel em fluidos de
perfuração de poços de petróleo / Ana Carolina Chaves Católico –
Rio de Janeiro; UFRJ/Escola Politécnica, 2014. XXI
Monografia (graduação em Engenharia de Petróleo) - Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, 2014.
Orientação: Jorge de Almeida Rodrigues Jr.
1. Fluidos de Perfuração. 2. Biodiesel. 3. Glicerina. I.
RODRIGUES JR., Jorge de Almeida II. UFRJ/Escola Politécnica
III. Engenharia de Petróleo IV. Avaliação de coprodutos da
produção de biodiesel em fluidos de perfuração de poços de
petróleo.
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu orientador Jorge Rodrigues por cuidar de todos os detalhes com
tanta dedicação e entusiasmo. Ao técnico Deusimar, por se mostrar sempre tão solícito. As
amigas do Pólo de Xistoquímica Natalia e Daniele, pela atenção e ajuda nos ensaios.
Agradeço a Rose pelas análises de cromatografia e ao Instituto Virtual Internacional
de Mudanças Globais (IVIG) pela amostra de glicerina de fritura cedida.
Aos meus pais por me fornecerem todo o apoio e que não poderiam ser de outra
forma, se não perfeitos cada um à sua maneira. Ao meu companheiro Raphael, por me dar
forças e estar sempre presente.
A todos os deuses, por assim dizer, mas principalmente a todas as manifestações de
vida que me cercam a cada momento.
6
“Cada pessoa deve trabalhar para o seu aperfeiçoamento e, ao mesmo tempo,
participar da responsabilidade coletiva por toda a humanidade.”
―Marie Curie
7
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte
dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Petróleo.
Avaliação de co-produtos da produção de biodiesel em fluidos de
perfuração de poços de petróleo
Ana Carolina Chaves Católico
Março 2014
Orientador: Jorge de Almeida Rodrigues Jr.
Curso: Engenharia de Petróleo
A participação do biodiesel na matriz energética vem crescendo ao longo dos anos
tanto em cenário mundial como nacional. Tem-se em paralelo o consecutivo
crescimento do seu co-produto: a glicerina. As pressões ambientais vêm exigindo da
indústria petrolífera fluidos de perfuração cada vez mais biodegradáveis e não tóxicos
ao meio ambiente. A grande oferta e o baixo custo da glicerina no mercado tem
impulsionado o desenvolvimento de diversos produtos a partir desta matéria-prima.
Desse modo a aplicação de glicerina em fluidos de perfuração se apresenta como uma
alternativa promissora. Sendo assim, o presente trabalho propôs a utilização de
glicerina proveniente da produção de biodiesel a partir de óleo de soja de fritura como
lubrificante em fluidos de perfuração de base aquosa. Foram formulados diversos
fluidos contendo a glicerina de fritura, a glicerina sintetizada e um lubrificante comercial.
Os fluidos obtidos foram avaliados através de ensaios de desempenho de reologia,
peso, rolamento, filtração e lubricidade. Verificou-se que a glicerina proveniente da
produção de biodiesel apresenta considerável atividade lubrificante, representando uma
alternativa consideravelmente viável, de baixo custo e ecologicamente correta de aditivo
para fluidos de perfuração de base aquosa.
Palavras-chave: Biodiesel, fluidos de perfuração, glicerina.
8
Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Engineer.
Evaluation of biodiesel co-products in petroleum wells drilling fluids
Ana Carolina Chaves Católico
Março 2014
Advisor: Jorge de Almeida Rodrigues Jr.
Course: Petroleum Engineering
The biodiesel has been increasingly significant within global and national energy matrix
over the years. The production of biodiesel generates a growth of its co-product:
glycerin. Environmental pressures have required the oil industry drilling fluids to be more
biodegradable and non-toxic to the environment. The high supply, along with the low
cost of glycerin has driven the development of several products from this raw material.
The application of glycerin in drilling fluids has been studied both as an alternative to the
problematic of this co-product offer generated by the growth of biodiesel production, and
as a less aggressive option to the environment. A number of fluids containing the
glycerin from frying, the synthesized glycerin and a commercial lubricant have been
formulated. The fluids which were obtained have been evaluated through the
performance of rheology, weight, shale inhibition, filtration and lubricity. It has been
verified that the glycerin from the biodiesel production is greatly lubricant and so it
represents a significantly feasible alternative for the additives for water based fluids, as it
is low cost and at the same time eco-friendly.
Keywords: Biodiesel, glycerin, drilling fluids.
9
Sumário
1. Introdução .......................................................................................................................................... 11
2. Objetivos ............................................................................................................................................. 12
3. Revisão da Literatura..................................................................................................................... 14
3.1. Fluidos de Perfuração ................................................................................................................ 14
3.1.1. Tipos de Fluidos de Perfuração ................................................................................. 15
3.2. Lubricidade ............................................................................................................................... 17
3.3. Biodiesel ..................................................................................................................................... 21
3.3.1. Produção de biodiesel a partir do óleo de fritura .............................................. 24
3.3.2. Regulamentação e legislação do Biodiesel ........................................................... 25
3.4. Glicerina ...................................................................................................................................... 27
3.4.1. Aplicações da Glicerina ................................................................................................ 28
3.4.2. Aplicações da glicerina em fluidos de perfuração ............................................. 29
4. Materiais E Métodos ....................................................................................................................... 31
4.1. Materiais Utilizados ............................................................................................................... 31
4.2. Síntese de biodiesel e glicerina .......................................................................................... 32
4.3. Caracterização das Glicerinas ............................................................................................ 33
4.3.1. Cromatografia de permeação em gel - GPC .......................................................... 34
4.4. Preparação dos fluidos de perfuração de base aquosa ............................................ 35
4.4.1. Ensaios Preliminares .................................................................................................... 35
4.4.2. Formulação dos fluidos de perfuração ................................................................... 36
4.5. Ensaios de Desempenho ...................................................................................................... 38
4.5.1. Ensaios de Inibição de Reatividade de Folhelhos (Ensaio de Rolamento) ........................................................................................................................................................... 38
4.5.2. Ensaios de Lubricidade ................................................................................................ 39
4.5.3. Ensaios de Reologia ....................................................................................................... 40
4.5.4. Ensaios de Filtração ....................................................................................................... 41
4.5.5. Ensaios de Peso Específico ......................................................................................... 42
5. Resultados E Discussão ................................................................................................................. 43
5.1. Caracterização das amostras .............................................................................................. 43
5.1.1. Cromatografia de permeação em gel – GPC ......................................................... 43
5.2. Ensaios Preliminares ............................................................................................................. 46
5.2.1. Ensaios de Lubricidade ................................................................................................ 46
10
5.2.2. Ensaios de Reologia ....................................................................................................... 51
5.3. Fluidos de perfuração ........................................................................................................... 55
5.3.1. Ensaios de Inibição de Reatividade dos Folhelhos (Ensaios de rolamento) ........................................................................................................................................................... 55
5.3.2. Ensaios de Reologia ....................................................................................................... 59
5.3.4. Ensaios de Peso Específico ......................................................................................... 63
5.3.5. Ensaios de Lubricidade ................................................................................................ 64
6. Conclusões ......................................................................................................................................... 71
7. Revisão Bibliográfica ..................................................................................................................... 72
11
1. Introdução
Descoberto na década de 70, o biodiesel é um combustível biodegradável
derivado de fontes renováveis como gordura animal ou óleo vegetal e produzido
principalmente através de reações de transesterificação de óleos vegetais com metanol.
Apesar da sua descoberta nos anos 70, foi a partir da década de 90 que esse
combustível passou a ganhar uma maior atenção, visto a necessidade de diminuir o
consumo de combustíveis minerais derivados do petróleo a utilização de fontes não
renováveis para a geração de energia.
O crescente aumento das pressões ambientalistas e dos esforços na construção
de um mundo sustentável fomentou o aparecimento de políticas mundiais para o uso de
biodiesel, o que contribuiu para o estabelecimento deste combustível como fonte
energética. No Brasil, o Programa Nacional de Biodiesel passou a ser amplamente
divulgado e, internacionalmente, países como Estados Unidos, Alemanha, Malásia,
França, Itália e Argentina já produzem biodiesel em escala industrial.
O uso de biodiesel apresenta vantagens fundamentais em relação aos
combustíveis fósseis como: queima mais completa, fator esse que reduz a emissão de
gases poluentes, maior segurança no manuseio e armazenamento, caráter renovável,
biodegradabilidade, entre outros. Por ser gerado principalmente a partir de óleos
vegetais, o biodiesel permite que o carbono emitido na queima do combustível seja
absorvido durante o crescimento da planta, ou seja, o CO2 faz um ciclo fechado. Ao
mesmo tempo em que o biodiesel garante um equilíbrio com o meio ambiente,
economicamente reduz gastos com o tratamento de diesel quando este apresenta
quantidades de biodiesel misturadas.
O frequente uso e consequente produção de biodiesel vêm paralelamente
acarretando um excesso de produção de glicerina. Sendo assim, uma questão tem se
formado: o que se fazer com toneladas de glicerina geradas na confecção do biodiesel?
Desde a década de 50 a glicerina vem sendo usada de forma expressiva na
confecção de cosméticos, produtos farmacêuticos e alimentícios. O aumento de sua
oferta está gerando reduções no seu preço e consequentemente eliminando a produção
de glicerina de outras fontes à medida que este subproduto vem adentrando o mercado
de outros polióis. Este fato poderá gerar um caos nesse nicho de mercado. Sendo
assim, surge a necessidade de buscar novas aplicações para a glicerina.
12
Paralelamente ao uso crescente do biodiesel, devido às questões ambientais,
nota-se todo o fulgor em torno do mercado de petróleo e suas novas descobertas nos
campos de pré-sal, onde as empresas se veem obrigadas a trabalhar no limite da
tecnologia. Apesar do biodiesel e petróleo estarem no mesmo nicho de mercado com
características e interesses completamente diferentes, as descobertas do pré-sal não
atrapalham o programa de incentivo ao biodiesel, pelo contrário, os dois combustíveis
podem partilhar e diluir a matriz energética. Na verdade, a produção de biodiesel pode ir
muito além da diluição da matriz, sendo um contribuinte da produção de petróleo.
Diversos trabalhos encontrados na literatura tem mostrado que derivados da glicerina
podem aturar como aditivos para fluidos de base aquosa e como emulsificantes para
fluidos de emulsão inversa (YAAKOUB, 2008 e DARLEY, 2006).
Sabe-se que a escolha adequada do fluido para se perfurar um poço é
imprescindível para uma operação bem sucedida. Sendo assim, a busca por novos
fluidos que estejam cada vez mais adequados às restrições ambientais e a relação
custo/benefício fomenta uma série de pesquisa por novas utilizações. O uso de fluidos
de base aquosa é cada vez mais estimulado até mesmo em situações em que a
preferência seria por um fluido de emulsão inversa devido ao seu caráter menos
agressivo ao meio ambiente. Com essa motivação, procurou-se neste trabalho
desenvolver o uso da glicerina como lubrificante para fluidos de perfuração a base de
água.
2. Objetivos
Este projeto de graduação teve como objetivo principal a avaliação do potencial
de amostras de glicerina, provenientes de reações de transesterificação de óleo de soja
como lubrificantes para fluidos de perfuração de base aquosa. Foram avaliadas duas
amostras de glicerina, uma proveniente da transesterificação de óleo de fritura, e outra
do óleo de soja comercial.
Foi avaliado também durante o projeto, o potencial das amostras de glicerina em
algumas funções importantes para uma aplicação satisfatória em fluidos de perfuração.
Para tal, foram formulados fluidos de perfuração de base aquosa contendo as amostras.
Esses fluidos foram então avaliados quanto à lubricidade, reologia, capacidade de
inibição de reatividade de folhelhos e de redução de filtrado.
13
A relevância do projeto reside na possibilidade de uma nova aplicação para a
glicerina, que pode contribuir com a formulação de novos fluidos de base aquosa com
menor custo e ecologicamente menos prejudiciais.
14
3. Revisão da Literatura
Neste capítulo serão abordados os principais conceitos e dados presentes na
literatura que serviram como embasamento para os conteúdos discutidos. É
apresentada uma revisão a respeito dos fluidos de perfuração e de lubricidade do
cenário mundial e nacional do biodiesel e da glicerina.
3.1. Fluidos de Perfuração
Os fluidos de perfuração são sistemas multifásicos, que podem conter água,
material orgânico, sais dissolvidos e sólidos em suspensão nas mais diversas
proporções. Esses fluidos são indispensáveis durante as atividades de perfuração de
um poço, sendo cuidadosamente projetados para atender uma série de finalidades:
(DARLEY, 2006).
Resfriar e lubrificar a broca e a coluna de perfuração;
Diminuir a abrasão e a corrosão da coluna de perfuração e dos outros
equipamentos;
Auxiliar a suspensão do cascalho gerado durante a perfuração;
Controlar as pressões das formações perfuradas;
Exercer pressão sobre as paredes do poço para estabilizá-lo, evitando o
desmoronamento;
Formar um reboco que sele os poros e outras aberturas nas formações
penetradas pela lama;
Minimizar danos do reservatório;
Transmitir energia hidráulica para as ferramentas e a broca;
Facilitar a cimentação e a completação.
A ordem de importância das funções descritas acima depende das condições do
poço e das operações que estão sendo realizadas.
Para satisfazer essas exigências, o fluido de perfuração deve possuir
propriedades físico-químicas que possam ser cuidadosamente controladas, para se
ajustarem a uma grande variedade de condições em subsuperfície.
15
3.1.1. Tipos de Fluidos de Perfuração
Os fluidos de perfuração são classificados de acordo com o componente
dominante da fase contínua, podendo este ser: água, óleo ou gás. Quando o
componente principal da fase contínua é água, é dito que ele é à base de água, e
quando é óleo, o fluido é à base de óleo. Os fluidos à base de gás incluem aqueles em
que o gás é a fase contínua (gás seco), e aqueles onde o gás é a fase descontínua,
como em espumas e espumas compactas. A presença de ambos os líquidos (óleo e
água) juntos irá resultar em um sistema denominado emulsão, este é formado através
de agitação e da presença de um emulsificante adequado. As emulsões podem ser
classificadas em emulsão direta, quando o óleo está emulsionado na água e em
emulsão inversa quando a água está emulsionada em óleo, essa classificação vai
depender da natureza química do agente emulsificante. (DARLEY et al., 1988).
Além de sua base, o fluido de perfuração é composto por partículas sólidas,
como argilas, partículas resultantes da própria perfuração, produtos naturais ou
sintéticos que são acrescentados para cada novo problema operacional. Todavia, nem
todos os produtos utilizados pela indústria do petróleo são adequados à água, dada a
possibilidade de ocorrência de subprodutos resultados de decomposição que possam
contaminar os aquíferos secionados e/ou o meio ambiente.
A maioria dos fluidos de perfuração são tixotrópicos, ou seja, eles assumem um
caráter gel quando em condições estáticas. Essa característica permite que os
cascalhos fiquem em suspensão durante as operações onde o fluido não é circulado.
O fluido deve ter a capacidade de formar uma membrana fina de baixa
permeabilidade com as partículas sólidas de sua composição, a qual é denominada
reboco (filter-cake). É essencial que o fluido tenha uma fração razoável de partículas
com dimensões ligeiramente menores que as dimensões dos poros das rochas
expostas. Quando existem partículas sólidas com dimensões adequadas, a obstrução
dos poros é rápida e somente a fase líquida do fluido invade a rocha.
O fluido de perfuração apresenta baixo teor de sólidos e deve ser mantido assim
durante toda a etapa de perfuração. Esta é considerada uma condição básica para se
obter um bom resultado, visto que o seu aumento implica no consecutivo aumento de
inúmeras outras propriedades, como densidade, viscosidade e forças géis. Além disso,
eleva-se o risco de problemas como desgaste dos equipamentos de circulação, fratura
das formações, prisão da coluna e redução da taxa de penetração.
16
A estabilização do poço durante a perfuração se dá pela densidade do fluido.
Numa perfuração dita “padrão” temos Ph>Pf, onde Ph é a pressão que o fluido exerce
sobre a parede do poço e Pf a pressão de formação que se contrapõe.
Os ensaios e testes mais importantes e frequentemente realizados nas sondas
visam medir as seguintes propriedades físicas: densidade, parâmetros reológicos,
forças géis tanto iniciais como finais, parâmetros de filtração e o teor de sólidos. Outras
propriedades físicas de menor uso são a resistividade elétrica, o índice de lubricidade e
a estabilidade elétrica. Já em relação às propriedades químicas, são realizadas
medidas dos teores de cloreto e bentonita, alcalinidade, concentração de H2S e de
potássio, excesso de cal e teor de cálcio e magnésio.
Fluidos de base aquosa: A água é o principal componente desse fluido, podendo ser
esta doce, dura ou salgada. Diferentes tipos de fluidos de base aquosa são utilizados
durante as operações de perfuração. Quanto mais fundo o poço vai se tornando mais
complexo se torna o fluido, devido ao aumento de temperatura e pressão. Esse tipo de
fluido é mais utilizado em trechos verticais e nas fases iniciais de reservatórios muito
profundos, formações submetidas a pressões normais ou menores que esta, formações
com baixa permeabilidade à água e folhelhos pouco sensíveis à água. (DARLEY, 1988).
Fluidos de emulsão inversa: Neste tipo de fluido a fase dominante é o óleo, em sua
maioria hidrocarbonetos líquidos. Este tipo de fluido é utilizado em poços submetidos a
altas temperaturas ou a altas pressões e em perfurações onde devemos tomar
precaução com a inibição do inchamento de folhelhos e a estabilidade do poço.
Optamos também pelo seu uso em trechos com ganho de ângulo, já que este possui
um poder de lubrificação maior, reduzindo assim o atrito entre a coluna de perfuração e
as paredes do poço. Fluidos de emulsão inversa são mais agressivos ao ambiente e
tendem a ter um preço superior. Devido a estes fatores seu uso se encontra mais
restrito atualmente. (DARLEY, 1988; CHILLINGARIAN, 1981).
Fluidos à base de ar: é denominado quando ar ou gás é usado como todo ou parte do
fluido de perfuração. Pode ser utilizado ar puro comprimido, nitrogênio ou mesmo
névoa. O uso desse tipo de fluido de baixa densidade é geralmente recomendado em
zonas de perda de circulação severas, formações muito duras, regiões com escassez
de água ou glaciais, formações produtoras com pressão muito baixa ou muito suscetível
17
a danos. Existe também o emprego de espuma como fluido circulante a fim de elevar a
eficiência de carreamento dos sólidos, e a perfuração com fluidos areados, quando o
objetivo é perfurar com um gradiente de pressão intermediário aos fornecidos pelos
fluidos convencionais e a espuma (MI-Drilling fluids, 1998).
Fluidos de base sintética: São geralmente fluidos de custo elevado criados com o
objetivo de manter as características de um fluido de base aquosa com as vantagens de
utilização de um fluido à base óleo. Esse tipo de fluido apresenta um fluido orgânico em
substituição ao óleo diesel ou qualquer outra base de óleo mineral. Os fluidos orgânicos
utilizados são em sua maioria moléculas orgânicas de ésteres, acetais, éter,
polialfaolefinas, glicerinas, glicóis e glicosídeos. Os acetais como substitutos do óleo
mineral exibem uma boa biodegradabilidade, além de serem muito menos tóxicos
(DARLEY, 2006). Podemos usar como a base molecular orgânica do fluido o próprio
biodiesel (mistura de ésteres alquílicos).
3.2. Lubricidade
Quando duas superfícies que estão em contato iniciam um movimento de
deslizamento uma em relação à outra, a interação por suas asperezas é responsável
por gerar forças de contato que se opõem ao movimento, mais conhecidas como forças
de atrito. Definimos lubricidade como a capacidade de um fluido em evitar o atrito e o
desgaste entre essas superfícies em contato. Esse atrito promove o desgaste ou
prejuízo mecânico a uma ou às duas superfícies, podendo ocorrer a perda ou não de
material.
A lubrificação atua no sentido de reduzir esse desgaste, ou seja, ela auxilia na
redução do coeficiente de atrito entre as superfícies. O lubrificante pode ser uma
substância sólida (talco e grafite), líquida (óleos animais, vegetais e minerais), pastosa
(sabão, ácidos graxos) ou gasosa (ar e gases inertes) (MYERS, 1999).
O material lubrificante possui uma tensão de cisalhamento menor que a dos
materiais das superfícies que atuam no sistema e a sua própria presença já promove
um afastamento entre elas e reduz o desgaste do material. Mesmo nos casos em que o
lubrificante não consegue por si só afastar as superfícies, ele cria uma camada
protetora, já que suas moléculas podem ser adsorvidas pelas superfícies evitando o
contato entra as asperezas (JOAQUIM, 2007).
18
Através da relação existente entre espessura do filme de óleo e a rugosidade
das áreas de contato podemos traças três mecanismos que podem ser usados para a
lubrificação: a hidrodinâmica, a elasto-hirdodinâmica e a lubrificação por camada limite.
O gráfico mostrado na figura 1 é conhecido como Curva de Stribeck, e apresenta os
regimes anteriormente citados com os seguintes parâmetros: R é a rugosidade das
superfícies em contato, µ o coeficiente de atrito, ƞ a viscosidade dinâmica do
lubrificante, U a velocidade do deslizamento e W a carga normal aplicada, por unidade
de comprimento.
Figura 1: Curva de Stribeck (HUTCHINGS, 1992).
O tipo de regime de lubrificação pode ser classificado através do cálculo do
coeficiente λ, onde h é a espessura do filme de óleo e R a rugosidade superficial das
áreas de contato:
λ>3 - Lubrificação hidrodinâmica
1<λ<3 - Lubrificação elasto-hidrodinâmica
Λ<1 - Lubrificação por camada limite;
19
Lubrificação Hidrodinâmica: ocorre quando a relação U/W é alta e forma-se uma
camada lubrificante capaz de não permitir a interação entre as asperezas. Para
mantermos essa camada é importante manter a viscosidade do lubrificante e a
velocidade de deslize elevadas.
Lubrificação elasto-hidrodinâmica: este regime intermediário ocorre quando a
pressão sobre a área de contato com as superfícies aumenta e o material
lubrificante torna-se menos espesso, fazendo com que as superfícies atritem.
Verifica-se nesse caso uma deformação elástica das superfícies.
Lubrificação por camada limite: ocorre quando a carga normal é alta e as
velocidades de deslocamento são baixas, fazendo com que a camada de
lubrificação seja muito fina e a proteção se dê apenas pela adsorção de um filme
molecular do lubrificante pelas superfícies. A lubrificação por camada limite pode
acontecer através de dois mecanismos: adsorção física e quimissorção (figura 2
e 3). Na fisissorção, as cadeias adsorvidas se encontram ora mais horizontais,
ora menos, fazendo com que a camada monomolecular se torne muito fina e as
ligações sejam fracas (ligação de Van der Walls). Já na quimissorção, temos a
presença de grupamentos polares, como no grupo hidroxila, que fazem com que
as ligações sejam mais fortes (interações do tipo dipolo-dipolo e de ligação de
hidrogênio) (MYERS, 1999, JOAQUIM, 2007).
Na lubrificação por camada limite os materiais mais eficientes como lubrificantes
são os que possuem longas cadeias hidrocarbônicas (segmento hidrofóbico) e
algum dos seguintes grupos: hidroxila (-OH), amina (-NH2), carboxila (-COOH), entre
outros. Também são eficientes os grupos que contêm fósforo. Esses grupos
representariam o segmento hidrofílico (MYERS, 1999).
Figura 2: a) Lubrificação por camada limite através do mecanismo físico (fisissorção) e (b)
através do mecanismo de quimissorção (MYERS, 1999).
20
Figura 3: Esquema do regime de lubrificação por camada limite.
Na indústria petrolífera os lubrificantes são adicionados aos fluidos de perfuração a
fim de reduzir o torque na broca e o atrito na haste. Durante a perfuração de um poço, o
coeficiente de atrito se dá basicamente devido as interações metal-metal (coluna de
perfuração e o revestimento) e as interações metal-rocha (coluna de perfuração e o
poço aberto). Desde que os lubrificantes passaram a ser utilizados diversos estudos
foram feitos de forma buscar um valor de redução cada vez maior do coeficiente de
atrito. Os lubrificantes em geral conseguem atingir uma redução de 30% a 40% do
coeficiente de atrito, porém esta redução frequentemente é acompanhada de uma
redução do torque em torno de 5%-15%.
Existem três tipos de aditivos de lubrificantes para fluidos de perfuração: os
lubrificantes para fluidos à base de água, à base de óleo e os para fluidos sintéticos.
Lubrificantes para fluidos à base de água: ambientalmente mais
aceitáveis e geralmente usados para reduzir o atrito entre o aço e o
arenito.
Lubrificantes para fluidos à base de óleo: são mais utilizados do que os
lubrificantes para fluidos à base de água, visto que fornecem maior
lubricidade, suportam temperaturas mais elevadas e apresentam um
21
melhor desempenho na perfuração de rochas salinas, potássio, anidrita,
carnalita e formações contendo folhelho. Além disso, são comumente
utilizados durante perfurações direcionais, onde se faz necessária uma
taxa de lubricidade elevada. Suas desvantagens concentram-se no alto
custo e na agressividade ao meio ambiente.
Lubrificantes para fluidos de base sintética: permitem perfurações mais
rápidas, prejudicam menos o meio ambiente e apresentam um custo
mais reduzido comparado aos lubrificantes para fluidos à base óleo
(MCCORMICK, CHIU, 2011).
Muitas vezes, a própria base óleo do fluido, principalmente nos fluidos de base
sintética, atua como lubrificante.
3.3. Biodiesel
Em 1898, Rudolf Diesel criador do motor abastecido a óleo diesel já dizia: “O
motor a diesel pode ser alimentado por óleos vegetais, e isso ajudará no
desenvolvimento agrário dos países que vierem a utilizá-lo... O uso de óleos vegetais
como combustível pode parecer insignificante hoje em dia. Mas com o tempo (estes
óleos) tornar-se-ão tão importantes quanto o petróleo e o carvão são atualmente”.
Porém, a utilização de óleos vegetais no lugar do óleo mineral só começou a tomar
notoriedade a partir da década de 90. (SHAY, 1993)
O biodiesel é um combustível biodegradável, com menor emissão de poluentes,
gerado a partir de fontes renováveis de energia. Podem ser usados como fontes de
energia óleos de origem animal e vegetal, como também óleos que já foram usados em
outros processos. Os óleos vegetais são formados por substâncias chamadas de
triglicerídeos (TAG - ésteres formados a partir de ácidos graxos e glicerol) que possuem
diferentes composições, dependendo da matéria-prima que foi utilizada e de cada safra.
A produção de biodiesel se dá por um processo chamado de transesterificação
dos triglicerídeos de óleos com um álcool que apresente uma cadeia pequena (metanol,
etanol e butanol) na presença de um catalisador (ácido forte ou uma base). Como
resultado dessa reação obtêm-se uma mistura de ésteres alquílicos de ácidos graxos
(biodiesel) e glicerol. O tipo de catalisador escolhido e as condições da reação irão
determinar o caminho da transesterificação e consequentemente a presença de
22
impurezas. A reação reversa não ocorre com facilidade, visto que o glicerol é
praticamente imiscível no biodiesel (KNOTHE et al., 2005).
Figura 4: Transesterificação de um triglicerídeo genérico – rota metílica (RINALDI, 2007).
Todo esse processo ocorre como três reações reversíveis em sequência, onde
são formulados como produtos intermediários monoglicerídeos e diglicerídeos (figura 5).
No gráfico mostrado na figura 6 pode-se observar as etapas da conversão ao longo do
tempo da reação, sendo levado em conta a formação de mono e diglicerídeos.
Figura 5: Estrutura molecular dos monoglicerídeos e diglicerídeos.
Em relação aos catalisadores estes podem ser tanto um ácido forte como uma
base. Dentre os catalisadores básicos, os que apresentam um resultado mais
satisfatório são os hidróxidos de metais alcalinos, porém neste caso ocorre a formação
de sabão. Uma opção melhor seria o carbonato de potássio, que fornece um alto
rendimento e reduz a saponificação. Já os catalisadores ácidos necessitam de altas
23
temperaturas (100ºC) e longo tempo de reação (3-4h). Além disso, não são muito
visados devido às grandes demandas de álcool para se atingir um bom rendimento.
(KNOTHE et al., 2005).
1. Triglicerídeo (TG) + R-OH Diglicerídeo (DG) + R’COO-R1
2. Diglicerídeo (DG) + R-OH Monoglicerídeo (MG) + R’COO-R2
3. Monoglicerídeo (MG) + R-OH Glicerol (GL) + R’COO-R3
Figura 6: Conversão dos triglicerídeos em diferentes produtos em relação ao tempo na reação de
transesterificação (KNOTHE, 2005).
O biodiesel apresenta uma série de vantagens em relação ao petrodiesel como,
por exemplo:
Biodegradabilidade;
Redução da dependência do petróleo e da preocupação com o consumo
desenfreado deste recurso não renovável;
Maior lubricidade;
24
Menor presença de compostos de enxofre e de aromáticos, ou seja, é menos
nocivo à natureza já que emite menor quantidade de gases que contribuem com
o efeito estufa e o aquecimento global;
Alto ponto de fulgor, o que permite maior segurança no processo de
armazenamento;
Melhor índice de cetano, o que contribui para uma melhor partida a frio, menor
erosão dos pistões, queima mais completa, entre outros.
Contudo, o uso de biodiesel como combustível apresenta algumas ressalvas
como problemas relacionados à sua alta viscosidade e alta densidade. Torna-se
necessário um maior aprofundamento nessas questões à medida que o biodiesel vem
ganhando importância no cenário energético brasileiro. (Portal do Biodiesel, acessado
em 13 de setembro de 2013).
3.3.1. Produção de biodiesel a partir do óleo de fritura
Pode-se usar na reação de transesterificação óleo de fritura no lugar de óleo
vegetal virgem. Este processo é um método eficiente em se baratear o custo de
produção do biodiesel. Estima-se que o óleo de fritura seja a metade do preço do óleo
vegetal virgem. Além disso, a reutilização desses óleos diminui os problemas de
contaminação e os gastos com a manutenção e tratamento de resíduos de óleo na
água. Grande parte dos resíduos gerados pela sociedade é constituído de óleos
comestíveis de fritura e o tratamento deste esgoto torna-se cerca de 45% mais caro
devido a presença destes óleos (MURTA, 2012).
O óleo de fritura apresenta algumas diferenças de propriedade em relação ao
óleo bruto ou refinado, isso porque as altas temperaturas geradas pelo processo de
fritura como também a água que sai dos próprios alimentos fazem com que ocorra uma
aceleração na hidrólise dos triglicerídeo e consequente aumento na quantidade de
ácidos graxos livres. (ENCINAR, 2005).
O grande desafio em se utilizar óleo de fritura encontra-se na logística de coleta,
já que o óleo está espalhado em diversos pontos e em quantidades reduzidas. Seria
importante também a conscientização por parte dos funcionários no preparo dos
alimentos que utilizarão o óleo na cozinha, só assim iriam ser gerados padrões de
utilização, separação dos resíduos e estocagem antes da coleta (MURTA, 2012).
25
3.3.2. Regulamentação e legislação do Biodiesel
Em 13 de janeiro de 2005 a Lei nº 11.097 incrementou a participação dos
biocombustíveis na matriz energética brasileira, sendo assim o biodiesel foi introduzido
como um “biocombustível derivado de biomassa renovável para uso em motores a
combustão interna com ignição por compressão ou, conforme regulamento para
geração de outro tipo de energia, que possa substituir parcial ou totalmente combustível
de origem fóssil”.
Esta mesma lei fixou em 5% o percentual mínimo obrigatório de adição de
biodiesel ao óleo diesel comercializado ao consumidor final em qualquer parte do
território nacional. Essa adoção de biodiesel está sendo feita de forma progressiva. Nos
três primeiros anos o acréscimo de 2% foi obrigatório e a partir daí esta proporção
cresceu para 5%. O prazo para aplicação é de oito anos a partir da data em que a Lei nº
11.097 foi publicada. Vale lembrar que o biodiesel é completamente miscível ao óleo
diesel. A tabela 1 apresenta como algumas regulamentações e incentivos vem sendo
aplicados no uso de biodiesel em alguns países.
Através das projeções feitas pela Agência Internacional de Energia (IEA) na
figura 7, a produção de biodiesel através da forma convencional por transesterificação
de óleos e gorduras irá crescer até 2020. Este crescimento, por sua vez, gera um
crescimento excessivo da produção de glicerina. Os grandes volumes previstos de
glicerina têm feito com que o seu preço no mercado caia significativamente, o que tem
afetado todo o mercado de óleo-químicos. A partir de 2020 acredita-se em uma
substituição da produção de biodiesel através da transesterificação por novas rotas
avançadas, que em sua maioria não apresentaram a glicerina como subproduto. Porém,
principalmente em território nacional a oferta de glicerina surge por meio da produção
de etanol da cana de açúcar, onde a glicerina é um coproduto. (ÁVILA FILHO, 2006).
Além da questão do grande volume de glicerina gerado como coproduto da
síntese de biodiesel, há o fato de este glicerol residual apresentar um grau de pureza de
80-88%, enquanto que a aplicação convencional de glicerina bruta no mercado exige
um grau industrial de 98% de pureza. Sendo assim, o mercado de glicerina existente
não absorve essa demanda, que necessita de caras etapas para purificação (RAHMAT
et al, 2010).
26
Figura 7: Estimativa da produção de biodiesel nos próximos anos para consumo interno. As
medidas estão relacionadas ao uso de energia, exajoule (EJ). Fonte: (IEA, 2011).
Tabela 1: Características do uso de biodiesel em alguns países.
País Isenção de impostos Tipo de Biodiesel
comercializado
Matéria-
prima Observações
Alemanha Completa B100 e o óleo diesel
aditivado (BS) Colza
-1800 postos de abastecimento
-Maior produtor
-Mais de 2,5 milhões de veículos
aprovados para rodar com biodiesel
-Biodiesel 12% mais barato que o
diesel
Itália Parcial
B100: para indústria e
aquecimento
residencial; B5 e B25:
para transporte
Colza e
girassol -17 produtores de biodiesel
França Parcial
Mais da metade do
diesel comercializado
leva 5% do biodiesel.
Já o B30 é o mais
utilizado em frotas
cativas
Colza e
girassol
-3 grandes produtores de biodiesel
-Das 13 refinarias existentes, 7
misturam 5% de biodiesel ao óleo
diesel
-4 mil veículos utilizam o biodiesel
em mistura, dos quais mais da
metade usam B30
Estados
Unidos
Incentivos Federais,
além das taxas
específicas para cada
estado
B20 (mais comum),
B2 E B100 (pouco
usado)
Soja e óleo
residual de
fritura
-Atualmente usado em frotas de
ônibus urbanos, serviços postais e
órgãos do governo
-53 plantas de biodiesel (capacidade
de 1,18 milhão de ton/ano)
-Programa é baseado em pequenos
produtores
27
3.4. Glicerina
Descoberto em 1779 por Scheele, o glicerol é um triálcool inodoro, viscoso,
denso, incolor e de gosto doce. Ele aparece na forma combinada em óleos tanto de
origem animal como de origem vegetal, sendo difícil encontra-lo na forma livre. Como
mencionamos anteriormente ele está presente nos triglicerídeos juntamente com ácidos
graxos. O glicerol apresenta três grupos hidroxilas hidrofílicos que são os responsáveis
pela sua solubilidade em água e sua natureza higroscópica, podemos observar esta
característica na figura 8, que mostra a estrutura molecular do glicerol. O termo
“glicerol” é aplicado apenas para o composto químico puro (propano – 1,2,3 – triol). Os
produtos comercializados normalmente contêm mais de 95% de glicerol e usamos o
termo “glicerina”. Chamamos de glicerina loira a glicerina obtida através da produção do
biodiesel (aproximadamente 85% de glicerol) (MOTA, 2009).
O glicerol é completamente miscível em água e álcool e insolúvel em
hidrocarbonetos. Ele pode ser convertido em éteres, acetais e ésteres, o que garante a
ele uma série de aplicações industriais. Na tabela 2 são apresentadas outras
propriedades do glicerol.
As glicerinas são especificadas de acordo com a quantidade de glicerol contido
em sua solução como também em função de sua cor, odor, rotas de obtenção e
impurezas (MOTA, 2009).
Figura 8: Estrutura molecular do glicerol.
28
Tabela 2: Propriedades físicas do glicerol.
Propriedades Valores
Ponto de Condensação (οC) 18,17
Ponto de Ebulição (οC)
0,53 kPa 14,9
1,33 kPa 166,1
13,33 kPa 222,4
101,3 kPa 290
Pressão de Vapor (Pa)
50 οC 0,33
100 οC 526
150 οC 573
200 οC 6100
Tensão Superficial (20οC, mN/m) 63,4
Condutividade Térmica [kJ/mol] 5,778
Ponto de Queima (οC) 204
3.4.1. Aplicações da Glicerina
A glicerina vem sendo usada principalmente na indústria química dentro dos
mercados de uso pessoal e higiene dental. Os processos que envolvem a sua
produção são simples e não exigem tecnologias complexas. Atualmente as principais
aplicações são (figura 9):
Cosméticos (emoliente e umectante em cremes de pele, desodorantes, batons,
maquiagens);
Alimentício (umectante e para conservar bebidas e alimentos, utilizado em
preparações de molhos para saladas, cobertura de doces e sobremesas
geladas);
Síntese de resinas, ésteres;
Aplicações farmacêuticas (composição de cápsulas, supositórios, anestésicos,
antibióticos, etc.).
29
Cosméticos/ Farmacos
28%
Ésteres 13%
Poliglicerina 12%
Revenda 14%
Filmes de celulose
5%
Alimentos e bebidas
8%
Tabaco 3%
Papéis 1%
Resinas 6% Outros
10%
Figura 9: Principais aplicações do glicerol (MOTA, 2009).
A produção de biodiesel tem aumentado ao longo dos anos e com isso vem
gerando um excedente de glicerina, o que tem fomentado uma busca crescente por
novas aplicações deste subproduto. Em 2003, por exemplo, o percentual de glicerina
mundial gerada a partir do biodiesel em relação ao total produzido era de 18% referente
a 917 mil toneladas. Sete anos depois este percentual foi para 64% referente a 2458 mil
toneladas de glicerina. (AYOUB, 2012).
A figura 10 mostra como a produção de glicerina em território nacional aumentou
nos últimos anos principalmente a partir de 2005 com o surgimento da Lei n 11.907 que
incrementou a participação do biodiesel.
3.4.2. Aplicações da glicerina em fluidos de perfuração
Nos últimos anos a glicerina vem sendo estudada como aditivo para fluidos de
perfuração, podendo estar em seu estado bruto ou na forma de derivados da glicerina.
Na literatura podemos encontrar resultados que mostram a aplicação de derivados de
glicerol em fluidos de perfuração. Esses derivados apresentam uma capacidade
emulsificante em fluidos de emulsão inversa e lubrificante em fluidos de base aquosa
(YAAKOUB,2008 e RODRIGUES, 2011). O glicerol obtido do óleo de soja é uma
alternativa mais barata para a obtenção destes ésteres.
30
Figura 10: Produção de glicerina no Brasil a partir da aplicação da Lei n 11.907. (FREITAS, 2013).
Em fluidos de perfuração de base aquosa a glicerina foi avaliada com o objetivo
de a aumentar a viscosidade do fluido e consequentemente levar a uma redução da
quantidade necessária de goma de xantana. A Norma 2605 da Petrobras e a
Companhias de Serviços de Fluido determinam uma utilização de 0,2-1% de goma de
xantana, porém na maior parte das vezes usa-se uma quantidade de goma na faixa do
limite superior desse valor, visto a baixa viscosidade que o fluido apresenta se usada a
quantidade estipulada na faixa de limite inferior. O acréscimo de 0,5 a 5% de glicerina
bruta coproduto do biodiesel no fluido leva a concentrações de goma na faixa do limite
inferior (0,2 a 0,4%). A goma de xantana é o componente mais caro de um fluido,
portanto uma diminuição da sua quantidade levará a uma redução do custo total deste.
(ECHEVARRIA, http://www.portaldainovacao.org/pi/detalhe/179, em 20/12/2013).
A glicerina obtida através da produção de biodiesel de mamona, algodão e
babaçu foi aplicada na substituição de n-parafina em fluidos de base sintética. Esta
substituição barateou o custo do fluido, além de torná-lo muito mais aceitável
ambientalmente. (CUNHA, 2013).
Fluidos à base de glicerol vem sendo usados a fim de controlar a absorção de
água e estabilizar formações que sejam sensíveis à água (folhelhos) durante o processo
de perfuração. Neste caso ela pode ser usada em uma solução glicerol/água 95-20%
em volume. (POMERLAU, 2008). A glicerina também tem sido avaliada como fluido de
injeção em métodos de recuperação secundária (QUINTELLA, 2002).
31
4. Materiais E Métodos
Neste capítulo serão descritos, quantificados e expostos materiais tais como a
metodologia aplicada para a obtenção dos resultados analisados adiante.
4.1. Materiais Utilizados
A tabela 3 apresenta os materiais utilizados no desenvolvimento deste trabalho,
bem como sua procedência e finalidade. São também apresentadas as siglas e
abreviaturas que serão utilizadas ao longo do texto.
Tabela 3: Descrição dos componentes utilizados em todos os processos do trabalho como
também sua procedência e função.
Material Função Procedência
Água destilada Base do fluido -
Goma de Xantana viscosificante Petrobras (doação)
Hidróxido de sódio
(NaOH) alcalinizante ISOFAR
Glicerina (fritura) lubrificante IVIG (fritura)
Glicerol lubrificante VETEC
Cloreto de Potássio (KCl) Inibidor de
reatividade ISOFAR
DP400 Lubrificante Dhaymers
HPA Controlador de
filtrado Petrobras (doação)
Barita Adensante Petrobras (doação)
Polietilenoglicol 400
(PEG400)
Inibidor de
reatividade ISOFAR
Óleo de soja reagente Vila Velha
Metanol reagente VETEC
Carbonato de Potássio Catalisador VETEC
32
4.2. Síntese de biodiesel e glicerina
Para se obter uma análise satisfatória da aplicação da glicerina de fritura como
lubrificante foi analisada, além desta, tanto o glicerol quanto uma nova glicerina
sintetizada em laboratório no Polo de Xistoquímica da UFRJ. Assim, pode-se visualizar
melhor o quanto as impurezas contidas na glicerina de fritura estariam interferindo na
ação lubrificante.
A glicerina foi obtida como co-produto em uma reação de síntese de biodiesel,
que foi realizada através do processo de transesterificação de óleo de soja, onde um
triglicerídeo reage com um álcool. No caso, foi utilizado o metanol. A reação
estequiométrica segue a proporção de 1 mol de triglicerídeo para 3 moles de álcool. Na
metodologia empregada utilizou-se metanol em excesso. Nesta reação optou-se pelo
carbonato de potássio como um catalisador básico, visto que este resulta em um bom
rendimento e reduz a saponificação. O material e a quantidade utilizada de cada
reagente estão descritos na tabela 4.
Tabela 4: Descrição do material e da quantidade utilizada para cada reação de transesterificação.
Material Quantidade
Óleo de soja 696g
Metanol 322ml
Carbonato de
potássio 3,3g
Em um balão de fundo redondo foi adicionado o metanol, carbonato de potássio
e o óleo vegetal. A esse balão foi conectado um condensador de refluxo. A mistura foi
aquecida por meio de uma placa metálica até uma temperatura de 80οC por
aproximadamente 3 horas. O sistema foi mantido em refluxo. A figura 11 mostra a
aparelhagem utilizada.
33
Figura 11: Esquema da aparelhagem utilizada na síntese do biodiesel.
Como resultado do processo de transesterificação foram obtidas duas fases no
balão, que podem ser observadas nas figuras 12 e 13. Na fase superior encontra-se o
biodiesel e na fase inferior uma mistura de glicerol, excesso de metanol, resquícios do
catalisador, glicerídeos parciais e um pouco de metil éster. A separação das fases foi
realizada através de um funil de decantação. A glicerina, já separada foi mantida em um
recipiente durante uma semana a fim de evaporar o excesso de metanol existente, e só
então esta foi utilizada na preparação dos fluidos.
Para a quantidade de glicerina desejada para a formulação de todos os fluidos
foram necessárias 3 reações de transesterificação. A glicerina proveniente dessas três
reações foi misturada e então utilizada.
4.3. Caracterização das Glicerinas
Durante todo o trabalho foram usados três tipos de glicerina: fritura, comercia
(glicerol) e sintetizada. A glicerina de fritura foi cedida pelo IVIG (Instituto Virtual
Internacional de Mudanças Globais), e a glicerina sintetizada foi produzida pelas
reações de transesterificação. As glicerinas utilizadas foram caracterizadas através da
técnica de cromatografia de permeação em gel (GPC), como descrito a seguir.
34
Figura 12 e 13: A primeira imagem mostra o balão contendo um sistema de duas fases composto na
parte superior por metanol e na parte inferior por óleo de soja, antes da reação. Em seguida o balão
com as duas fases formadas: biodiesel na parte superior e glicerina na parte inferior.
4.3.1. Cromatografia de permeação em gel - GPC
A técnica de cromatografia de permeação em gel (GPC) foi utilizada na detecção
das diferentes espécies presentes nas amostras de glicerina avaliadas. Para tal, foi
utilizado um cromatógrafo Waters. O sistema como um todo consistia em uma bomba
(W515), um injetor manual (Rheodyne), um forno para colunas, um controlador de
temperatura (TCM), um detector de índice de refração (W2414), com uma interface
(PCM) e software Empower 3.
As condições de análise foram: fluxo de 1,0 ml/min, com fase móvel de THF
(tetra hidrofurano). Volume de injeção de 200 microlitros (sol. 0,5%m/v). Temperatura
do forno: 40oC; temperatura do detector: 40oC. Foram utilizadas quatro colunas
Phenomenex em série: Phenogel 100 + 50 + 50 + 50. Um sistema de análise
semelhante foi utilizado por Gandía et. al., para a determinação de mono e
diglicerídeos, glicerol e metanol em amostras de biodiesel (GANDÍA, 2006).
35
4.4. Preparação dos fluidos de perfuração de base aquosa
4.4.1. Ensaios Preliminares
Antes que os fluidos completos fossem formulados foram realizados ensaios
tanto de lubricidade como de viscosidade com dois conjuntos de componentes. O
primeiro continha apenas água, goma de xantana, hidróxido de sódio (NaOH) e o
componente lubrificante (glicerina de fritura, glicerina sintetizada, glicerol e lubrificantes
comerciais).
Para o segundo conjunto foi adicionado cloreto de potássio (KCl) ao conjunto
anterior a fim de avaliar o efeito da salinidade. Considera-se água salgada aquela que
apresenta salinidade superior a 1000 ppm de NaCl equivalente, como o KCl foi utilizado
em concentração de 3% m/v esses sistemas são considerados salgados. O cloreto de
potássio foi escolhido devido ao fato de atuar também como inibidor de reatividade de
folhelhos, sendo comumente utilizado em formulação de fluidos de perfuração. A tabela
5 descreve a quantidade utilizada no preparo das amostras utilizadas.
Tabela 5: Descrição dos componentes e das quantidades utilizadas na formulação dos
fluidos de perfuração preliminares.
Material Quantidade
Água destilada 350 ml
Goma de Xantana 1,5 g
NaOH Suficiente para pH 9-10
Glicerina (fritura/sintetizada) 0% - 15,0% m/v
Glicerol 2,0% m/v
KCl 0/ 3,0% m/v
DP400 2,0% m/v
Os sistemas preparados foram transferidos para células de aço inox Fann e
então submetidos à agitação e aquecimento a 65,6οC por 16h em estufa rotatória Fann
(figura 14) para envelhecimento dos fluidos. Esse procedimento favorece a
compatibilização dos componentes.
36
Figura 14: Estufa de rolamento Fann utilizada no envelhecimento dos fluidos e nos ensaios de
rolamento.
4.4.2. Formulação dos fluidos de perfuração
Para a formulação dos fluidos de perfuração completo foram utilizados além de
todos os componentes usados para os fluidos preliminares acima a barita, HPA e,
polietileno glicol 400 (PEG400). A tabela 6 mostra a quantidade usada no preparo das
amostras.
Tabela 6: Descrição dos componentes e das quantidades utilizadas na formulação dos
fluidos de perfuração completos.
Material Quantidade
Água destilada 350 ml
Goma de Xantana 1,5 g
NaOH Suficiente para pH 9-10
Glicerina (fritura/sintetizada) 0% - 15,0% m/v
Glicerol 2,0% m/v
KCl 0/3,0% m/v
DP400 2,0% m/v
HPA 1,0g
Barita 28g
PEG400 0/ 5% m/v
37
Iniciou-se a formulação do fluido de base aquosa acrescentando 1,5g de goma
de xantana num copo de aço inox contendo 350ml de água destilada. A goma de
xantana atua como um modificador reológico. Em seguida foi acrescentado hidróxido de
sódio (NaOH) até se obter um pH na faixa 9-10. O cloreto de potássio (KCl) –apenas
nos fluidos em que este estava presente- foi adicionado numa concentração de 3% m/v
(10,5g), 1g HPA, 28g barita e por fim o componente lubrificante avaliado na
concentração desejada nesta ordem. A cada acréscimo de componente, o fluido foi
misturado no agitador Hamilton Beach (figura 15) por cerca de cinco minutos.
Figura 15: Agitador Hamilton Beach que foi utilizado na formulação de todos os fluidos citados no
presente trabalho.
Os fluidos formulados foram submetidos ao processo de envelhecimento,
conforme descrito na seção 4.3.1. Em seguida os fluidos foram avaliados através dos
ensaios de desempenho API (American Petroleum Institute) de lubricidade e
comportamento reológico como será descrito nas seções posteriores.
38
4.5. Ensaios de Desempenho
Nesta seção serão descritos os ensaios de desempenho API realizados nos
sistemas preparados. Vale ressaltar que os ensaios de lubricidade e de comportamento
reológico foram realizados em dois momentos distintos no caso dos fluidos completos.
Primeiramente, antes do ensaio de rolamento, e num segundo momento após esse
ensaio.
4.5.1. Ensaios de Inibição de Reatividade de Folhelhos (Ensaio de Rolamento)
Para a realização dos ensaios de rolamento, os fluidos já envelhecidos são
novamente transferidos para células inox, onde são também adicionadas 50g de
cascalhos de folhelhos fornecidos pela empresa Bentonorte. Esses cascalhos são
previamente quebrados e selecionados em uma faixa de granulação de #8 a #4 mesh.
As células são então fechadas e os fluidos são novamente submetidos a um processo
de envelhecimento nas mesmas condições já descritas.
Os fluidos completos já envelhecidos foram retirados da estufa e peneirados por
uma peneira de malha de 30 Mesh. Em seguida os cascalhos foram lavados em água
corrente e secos em uma estufa à 100οC onde permaneceram por cerca de 12h.
O cascalho foi retirado da estufa e pesado. Em seguida ele passou por uma
peneira de malha 8 Mesh e o cascalho retido foi também pesado. A massa recuperada
na peneira de malha #30 representa o total de argila que foi recuperada no fluido,
enquanto que a massa recuperada na peneira de malha #8 está relacionada à massa
de cascalho que permaneceu intacta após o ensaio de rolamento. Sendo assim, o
ensaio de rolamento avalia a eficiência do fluido como inibidor de reatividade de
folhelhos.
O teor de argila recuperada foi calculado com a seguinte expressão:
39
4.5.2. Ensaios de Lubricidade
Todos os ensaios de lubricidade foram realizados no Fann Lubricity Tester®
Model 21200 (Figura 16). Cada ensaio foi feito em duplicata e o equipamento foi
calibrado com água destilada entre cada uma das amostras.
O aparelho é composto de um anel giratório, de um bloco de teste com
superfície recortada de modo a encaixar no anel, um braço móvel fornecedor de tensão,
uma porca retentora e um recipiente para o fluido. O anel de teste foi ajustado no eixo
principal e com o auxílio da porca retentora foi fixado. O bloco de teste foi posicionado
no seu alojador característico e uma tensão de 150N foi aplicada com o braço móvel.
Quando o sistema é ligado o eixo onde é fixado o anel gira a uma velocidade de 60 rpm.
É importante lembrar que o sistema anel-bloco deve estar completamente submerso no
fluido. Após cinco minutos o valor é lido, e então convertido no coeficiente de atrito
através da seguinte equação:
O valor de coeficiente de atrito para a água destilada é de 0,34. Quando esse
valor não era alcançado, utilizou-se um fator de correção para corrigir os valores do
coeficiente de atrito de cada uma das amostras de fluido.
A porcentagem de redução do coeficiente de atrito de cada sistema foi calculada
em função do sistema “branco” em cada caso através da expressão:
(
)
40
Figura 16: Fann Lubricity Tester® Model 21200.
4.5.3. Ensaios de Reologia
Para os ensaios de reologia foi utilizado o viscosímetro Fann Modelo 35-A
(figura 17) composto de cilindros coaxiais. O fluido foi transferido para um recipiente
metálico até o nível desejado. O copo foi então suspendido através de uma base
metálica que permite o ajuste até uma marca de referência no próprio viscosímetro.
Incialmente o aparelho foi ligado em 600 rpm até que o ponteiro de leitura estabilizasse,
a esta primeira leitura foi denominada L600. O ensaio prosseguiu para uma rotação de
300 rpm até que novamente o ponteiro estabilizasse. Feito isto foi obtido agora a leitura
de L300. A leitura continuou seguindo este mesmo processo para as seguintes rotações
nesta ordem: L200, L100, L6 e L3.
Por fim foi realizada a leitura do gel inicial (GI) e final (GF). Para a determinação
do gel inicial o aparelho foi ligado na rotação de 600 rpm e ao final de um minuto o
aparelho foi desligado por 10 segundos para em seguida ser novamente ligado em uma
rotação de 3 rpm. O valor de pico alcançado pelo ponteiro foi lido e definido como o
valor de gel inicial. O gel final é obtido através das mesmas etapas anteriores, porém
neste o viscosímetro permanece desligado por 10 minutos.
Através dos resultados obtidos foram calculados os seguintes parâmetros
reológicos:
41
Figura 17: Viscosímetro Fann Modelo 35-A.
4.5.4. Ensaios de Filtração
Os ensaios de filtração foram realizados em um filtro prensa da Fann (Figura
18). O fluido foi depositado em um recipiente metálico até a borda e em seguida o
sistema é cuidadosamente tampado com um filtro de papel seguido de uma tampa
devidamente parafusada. O recipiente é submetido a uma pressão de aproximadamente
100 PSI de gás nitrogênio. Com o sistema devidamente fechado e sob pressão, é
aberta uma válvula na parte inferior, por onde o filtrado é recolhido em uma proveta. Ao
final de 30, a leitura é feita na proveta, este valor é definido como volume de filtrado.
O ensaio de filtração está relacionado à invasão da fração líquida do fluido às
formações perfuradas. O volume de filtrado lido mostra a eficiência do fluido formulado
como redutor de filtrado. Sendo assim, quanto menor o volume lido na proveta melhor o
desempenho do fluido, pois menor será o volume do meu fluido perdido para as
formações.
42
Figura 18: Filtro prensa ATAP Fann usado nos testes de filtração.
4.5.5. Ensaios de Peso Específico
Para medir a densidade dos fluidos de perfuração foi usada uma balança
densimétrica Fann modelo 140 (Figura 19). O fluido é depositado e tampado num
recipiente adequado integrante da própria balança. Esta ação geralmente leva a um
excesso de fluido que escapa através de um orifício central na tampa e antes da leitura
ser realizada esse excesso é removido. Em seguida, o valor da densidade é lido em
libra-massa por galão (lb/gal).
Figura 19: Balança densimétrica Fann modelo 140.
43
5. Resultados E Discussão
Neste capítulo são apresentados os resultados e a discussão referentes aos
procedimentos descritos no capítulo anterior. Inicialmente, são apresentados os
resultados referentes à caracterização das amostras de glicerina utilizadas e em
seguida são apresentados os resultados referentes aos ensaios de desempenho dos
fluidos dos sistemas formulados.
5.1. Caracterização das amostras
5.1.1. Cromatografia de permeação em gel – GPC
Na técnica de cromatografia por permeação em gel (GPC), a separação dos
componentes das amostras analisadas ocorre devido às diferenças de volume das
espécies no solvente utilizado, de modo que a ordem de eluição pela coluna ocorre das
moléculas com maior volume para as de menor volume.
Foram analisadas cinco amostras pela técnica de GPC: uma amostra de
biodiesel, que foi sintetizado neste trabalho, uma amostra de glicerol comercial, uma
amostra de óleo de soja comercial, que foi utilizado na síntese do biodiesel, e as
amostras da glicerina sintetizada neste trabalho e da glicerina de óleo de fritura. As
figuras 20 a 24 mostram os respectivos cromatogramas obtidos.
Figura 20: Cromatograma da amostra de biodiesel sintetizado.
44
Figura 21: Cromatograma da amostra de glicerol comercial utilizado como padrão.
Figura 22: Cromatograma da amostra de óleo de soja utilizado na síntese da glicerina.
Figura 23: Cromatograma da amostra de glicerina sintetizada no Pólo de Xistoquímica.
45
Figura 24: Cromatograma da amostra de glicerina de fritura.
Os três primeiros cromatogramas servem como base para identificar possíveis
componentes nas amostras de glicerina sintetizada e de glicerina de fritura, uma vez
que o tempo de retenção de cada componente é característico para um conjunto
específico de condições de análise. Dessa forma, pode-se verificar que o tempo de
retenção do óleo de soja (triglicerídeos) é de cerca de 26 minutos, enquanto o do
biodiesel é de cerca de 30 minutos e o do glicerol é de 35 minutos. De fato, os
triglicerídeos do óleo de soja apresentam maior volume e, portanto apresentam menor
tempo de retenção, enquanto o glicerol (com apenas três átomos de carbono) apresenta
o maior tempo de retenção.
Nas figuras 23 e 24, onde são apresentados os cromatogramas da glicerina de
fritura e da glicerina sintetizada, verifica-se nítida e intensamente os picos referentes ao
glicerol, em torno de 35 minutos e os picos referentes ao biodiesel remanescente, em
torno de 30 minutos. Comparativamente, parece haver uma proporção maior de
biodiesel em relação ao glicerol na glicerina de fritura. Os picos em torno de 27,6
minutos podem ser referentes a diglicerídeos. No trabalho de Gandía, verifica-se que os
mono- e diglicerídeos ocorrem entre os picos do triglicerídeo e do biodiesel (GANDÍA,
2006), sendo o pico referente aos diglicerídeos próximo ao dos triglicerídeos, como
esperado. Não foi verificado em segundo pico com intensidade apreciável entre os picos
do triglicerídeo e do biodiesel, que seria referente aos monoglicerídeos. Contudo, nas
amostras de glicerinas (Figuras 23 e 24) é possível observar um pico com intensidade
razoável em torno de 34 minutos, próximo ao pico do glicerol, o que sugere uma
espécie com volume entre o do glicerol e o do biodiesel (que é composto de ésteres
metílicos do óleo de soja). Uma possibilidade seria que esse pico fosse referente aos
monoglicerídeos. Essa possibilidade não é descartada, uma vez que as colunas
46
cromatográficas utilizadas nesse trabalho não foram as mesmas do trabalho de Gandía,
e nem mesmo a temperatura de análise, o que pode ter causado alterações nos tempos
de retenção das espécies.
5.2. Ensaios Preliminares
5.2.1. Ensaios de Lubricidade
Em um primeiro momento foram realizados os ensaios de lubricidade com
sistemas que continham somente água destilada, goma de xantana, hidróxido de sódio
e glicerina proveniente do óleo de fritura. Foi preparado um “branco” sem a presença de
glicerina, para fins de comparação. Além disso, foi formulada também uma amostra
contendo o lubrificante comercial DP400 2% m/v e uma amostra contendo glicerina
comercial (glicerol) também a 2% m/v (além da formulação base). Entre cada uma das
amostras foi medido o coeficiente de atrito da água destilada e aplicamos caso fosse
necessário o fator de correção (f). Os resultados obtidos encontram-se na tabela 7.
Tabela 7: Resultados dos ensaios de lubricidade para os fluidos que continham glicerina de fritura.
glicerina fritura
(% m/v) Leitura
fator de
correção Coef. de atrito % de redução
0 (branco) 33
0,9 0,3
- 34 0,31
0,1 31
1 0,31
1,6 32 0,32
0,2 32
1 0,32
-3,2 32 0,32
0,4 10
1 0,1
64,5 12 0,12
0,5 10
1 0,1
66,1 11 0,11
1,0 11
1 0,11
64,5 11 0,11
47
Tabela 7: Resultados dos ensaios de lubricidade para os fluidos que continham glicerina de fritura
(continuação).
glicerina fritura
(% m/v) Leitura
fator de
correção Coef. de atrito % de redução
2,0 11
0,9 0,1
64,5 12 0,12
5 11
1 0,11
64,5 11 0,11
10 11
0,9 0,1
67,7 11 0,1
15 10
1 0,1
66,1 11 0,11
DP400 (2% m/v) 11
1,03 0,11
64,5 11 0,11
Glicerol (2% m/v) 30
1,03 0,31
0 30 0,31
Posteriormente, foram realizadas novas formulações com as mesmas
concentrações de lubrificantes e glicerina proveniente do óleo de fritura, água destilada
e goma de xantana. Entretanto, foi adicionado KCl a 3% m/v, de forma a avaliar o efeito
da adição de sal. A tabela 8 apresenta esses resultados.
Tabela 8: Resultados dos ensaios de lubricidade referentes aos fluidos contendo glicerina oriunda
do óleo de fritura e KCl (3% m/v).
glicerina fritura (% m/v) Leitura fator de
correção Coef. de atrito % de redução
0 33
1 0,33
- 31 0,31
0,1 27
1 0,27
17,2 26 0,26
0,2 22
1 0,22
32,8 21 0,21
0,4 13
1 0,13
60,9 12 0,12
48
Tabela 8: Resultados dos ensaios de lubricidade referentes aos fluidos contendo glicerina oriunda
do óleo de fritura e KCl (3% m/v) (continuação).
glicerina fritura (% m/v) Leitura fator de
correção Coef. de atrito % de redução
0,5 9
1 0,09
71,9 9 0,09
1,0 8
1,03 0,08
75 8 0,08
2,0 11
1,03 0,11
68,8 9 0,09
5,0 9
1 0,09
70,3 10 0,1
10,0 8
1 0,08
75 8 0,08
15,0 9
1 0,09
73,4 8 0,08
DP400 (2,0% m/v) 7
1,03 0,07
78,1 7 0,07
Glicerol (2,0% m/v) 30
1,03 0,31
3,1 30 0,31
Como resultado das reações de transesterificação de óleos vegetais, é obtido
glicerol e uma mistura de ésteres, o chamado biodiesel. Contudo, esse glicerol
resultante não se encontra puro, nele podem ser encontrados monoglicerídeos (MG),
diglicerídeos (DG), triglicerídeos (TG), metanol e o próprio biodiesel (BD) como foi
confirmado pelos resultados de GPC. Dentre essas espécies, é proposto que os
monoglicerídeos, diglicerídeos e o biodiesel estejam atuando como lubrificantes.
A estrutura anfifílica dessas espécies (em maior ou menor grau) permitiu que
fossem dispersas no meio aquoso na presença de goma de xantana. No modelo em
questão, a parte hidrofílica do lubrificante estaria interagindo com a goma de xantana ou
com a superfície metálica a ser lubrificada, enquanto que a parte hidrofóbica estaria
promovendo o deslizamento, reduzindo o coeficiente de atrito.
Os valores de coeficiente de atrito dos sistemas contendo glicerina de fritura são
os mesmos encontrados para o fluido contendo DP400, que é um lubrificante
49
comumente utilizado em fluidos de perfuração de base aquosa. Os sistemas contendo
glicerina de fritura a partir de 0,4 % m/v conseguiram atingir valores tão satisfatórios
quanto os sistemas contendo DP400 2,0% m/v, ou seja, os mesmos valores foram
encontrados utilizando-se uma quantidade menor de lubrificante.
O glicerol obteve o pior desempenho nos ensaios de lubricidade, o que pode ser
explicado pela ausência da característica anfifílica em sua estrutura. Para atuar como
um lubrificante o composto deve apresentar uma parte polar que irá adsorver no metal e
uma parte apolar que irá promover o deslizamento. O glicerol, em contrapartida,
apresenta uma estrutura polar, ou seja, não atua como um lubrificante nos sistemas.
Na terceira fase dos ensaios preliminares foram realizados os ensaios com
sistemas contendo as mesmas quantidades de goma de xantana, água destilada,
hidróxido de sódio e cloreto de potássio que o sistema anterior. Contudo, utilizou-se a
glicerina sintetizada a partir do óleo de soja comercial (tabela 9).
Tabela 9: Resultados dos ensaios de lubricidade realizados com os fluidos contendo
glicerina sintetizada como lubrificante e KCl a 3 % m/v como inibidor de reatividade dos folhelhos.
glicerina sintetizada
(% m/v) Leitura
fator de
correção coef. de atrito % de redução
0 25
1,06 0,27
- 24 0,25
0,1 25
1,1 0,28
-3,8 24 0,26
0,2 23
1,06 0,24
7,7 23 0,24
0,4 19
1,06 0,2
25 18 0,19
0,5 12
1,06 0,13
51,9 11 0,12
1,0 10
1,06 0,11
57,7 10 0,11
2,0 9
1,06 0,1
61,5 9 0,1
5,0 8
1,06 0,08
65,4 9 0,1
50
Tabela 9: Resultados dos ensaios de lubricidade realizados com os fluidos contendo glicerina
sintetizada como lubrificante e KCl a 3 % m/v como inibidor de reatividade dos folhelhos
(continuação).
glicerina sintetizada
(% m/v) Leitura
fator de
correção coef. de atrito % de redução
10,0 8
1,06 0,08
71,2 7 0,07
15,0 9
1,06 0,1
61,5 9 0,1
Foi analisada uma série de diferentes concentrações de glicerina de forma a
identificar a dependência do coeficiente de atrito com a concentração do lubrificante. A
figura 25 apresenta a dependência dos valores de coeficiente de atrito com a
concentração da glicerina. Diante dos resultados, foi possível sugerir uma concentração
ideal a ser usada em formulações simples como a desses sistemas.
Figura 25: Coeficiente de atrito em função da concentração de glicerina.
Pode-se observar que a glicerina de fritura com e sem KCl apresentou uma
melhora brusca em sua capacidade de lubrificação a partir da concentração de 0,4%
m/v. A partir daí os valores de coeficiente de atrito mantiveram-se praticamente
constantes. A glicerina sintetizada obteve um desempenho similar, porém sua
concentração ideal foi um pouco maior, em torno de 0,5% m/v.
0
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
0,3
0,35
0 0,1 0,2 0,4 0,5 1 2 5 10 15
Glicerina Fritura
Glicerina Frituracom KCl
Glicerina novacom KCl
Co
efic
ien
te d
e at
rito
Concentração (% m/v)
51
5.2.2. Ensaios de Reologia
Com resultados obtidos nos ensaios de reologia dos fluidos preliminares foi
possível calcular os seguintes parâmetros reológicos: viscosidade aparente, viscosidade
plástica, limite de escoamento, gel inicial e gel final.
As tabelas 10 e 11 apresentam os resultados de reologia dos sistemas contendo
glicerina de fritura e KCl a 3% m/v.
Tabela 10: Resultados das leituras do viscosímetro Fann 35A para os sistemas contendo KCl a 3%
m/v e lubrificante em diferentes concentrações.
Lubrificante (% m/v) L600 L300 L200 L100 L600 L300 GI GF
branco 28 22 18 16 8 7 9 9
Glicerina fritura (0,1) 25 19 18 15 8 7 8 9
Glicerina fritura (0,2) 25 20 18 15 8 6 8 10
Glicerina fritura (0,4) 25 20 18 14 8 6 8 9
Glicerina fritura (0,5) 27 22 19 16 9 7 9 9
Glicerina fritura (1,0) 26 21 18 15 8 7 9 9
Glicerina fritura (2,0) 27 22 19 16 8 7 9 10
Glicerina fritura (5,0) 28 22 19 15 8 7 8 9
Glicerina fritura (10,0) 33 25 21 16 7 6 9 11
Glicerina fritura (15,0) 40 29 24 18 8 6 7 10
DP400 (2,0) 30 24 20 16 8 7 8 9
Glicerol (2,0) 28 22 19 16 8 7 8 10
Tabela 11: Parâmetros reológicos obtidos a partir dos resultados mostrados na tabela 10.
Lubrificante (% m/v) VA (cP) VP (cP) LE
(lbf/100ft2) GI
(lbf/100ft2) GF
(lbf/100ft2)
branco 14 6 16 9 9
Glicerina fritura (0,1) 12,5 6 13 8 9
Glicerina fritura (0,2) 12,5 5 15 8 10
Glicerina fritura (0,4) 12,5 5 15 8 9
Glicerina fritura (0,5) 13,5 5 17 9 9
Glicerina fritura (1,0) 13 5 16 9 9
Glicerina fritura (2,0) 13,5 5 17 9 10
Glicerina fritura (5,0) 14 6 16 8 9
Glicerina fritura (10,0) 16,5 8 17 9 11
Glicerina fritura (15,0) 20 11 18 7 10
DP400 (2,0) 15 6 18 8 9
Glicerol (2,0) 14 6 16 8 10
52
As tabelas 12 e 13 apresentam os resultados de reologia referentes aos
sistemas contendo água destilada, goma de xantana, NaOH, KCl a 3% m/v e as
concentrações desejadas da glicerina sintetizada.
Tabela 12: Resultados das leituras do viscosímetro Fann 35A para os sistemas contendo KCl 3%
m/v e lubrificante em diferentes concentrações.
Glicerina sintetizada (% m/v)
L600 L300 L200 L100 L600 L300 GI GF
branco 22 18 16 13 7 6 8 8
0,1 21 17 15 13 6 5 6 8
0,2 23 19 16 13 7 6 8 8
0,4 23 18 16 13 7 6 8 9
0,5 23 18 16 13 7 6 7 8
1,0 23 19 17 13 7 6 7 9
2,0 24 19 16 13 7 5 6 7
5,0 23 19 16 13 6 5 7 9
10,0 27 21 18 15 7 6 8 11
15,0 28 22 19 15 6 5 7 10
Tabela 13: Parâmetros reológicos obtidos a partir dos resultados mostrados na tabela 12.
Glicerina sintetizada (% m/v) VA (cP) VP (cP) LE
(lbf/100ft2) GI
(lbf/100ft2) GF
(lbf/100ft2)
branco 11 4 14 8 8
0,1 10,5 4 13 6 8
0,2 11,5 4 15 8 8
0,4 11,5 5 13 8 9
0,5 11,5 5 13 7 8
1,0 11,5 4 15 7 9
2,0 12 5 15 6 7
5,0 11,5 4 15 7 9
10,0 13,5 6 15 8 11
15,0 14 6 16 11 10
As figuras 26 e 27 apresentam os gráficos de viscosidade aparente e
viscosidade plástica contra a concentração de lubrificante, respectivamente, referentes
aos sistemas anteriormente descritos.
53
Figura 26: Relação entre a viscosidade aparente (VA) do fluido e a concentração do lubrificante.
Figura 27: Relação entre a viscosidade plástica (VP) e a concentração de lubrificante.
Pode-se observar que os sistemas contendo a glicerina de fritura mostraram um
aumento significativo nos valores de viscosidade aparente e viscosidade plástica
quando em concentrações superiores a 5% m/v. Os sistemas contendo glicerina
sintetizada não apresentaram variações significativas desses valores.
0
5
10
15
20
25
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
GlicerinaFritura comKCl
GlicerinaSintetizadacom KCl
Vis
cosi
dad
e A
par
ente
(V
A)
- c
P
Concentração % m/v
0
2
4
6
8
10
12
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
GlicerinaFrituracom KCl
GlicerinaSintetizadacom KCl
Concentração % m/v
Vis
cosi
dad
e P
lást
ica
(VP
) -
cP
54
Figura 28: Relação entre o limite de escoamento (LE) e a concentração do lubrificante.
Em relação aos resultados de limite de escoamento (figura 28) não foi verificada
variação significativa nos valores obtidos com a adição das glicerinas. O mesmo foi
verificado em relação aos valores de força gel, mostrado na figura 29.
Figura 29: Relação entre a força gel (GI e GF) e as concentrações de lubrificante.
De uma maneira geral, verificou-se que a adição de glicerina proveniente da
produção de biodiesel não alterou de modo significativo o comportamento reológico de
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
0 0,1 0,2 0,4 0,5 1 2 5 10 15
GlicerinaFritura comKCl
GlicerinaSintetizadacom KCl
Concentração % m/v
Lim
ite
de
Esco
amen
to (
LE)
lb/1
00
ft2
0
2
4
6
8
10
12
0 0,1 0,2 0,4 0,5 1 2 5 10 15
GlicerinaFritura comKCl GF
GlicerinaSintetizadacom KCl GF
GlicerinaFritura comKCl GI
GlicerinaSintetizada GI
Concentração (% m/v)
Forç
a G
el
55
sistemas aquosos contendo goma de xantana. Isso é favorável, uma vez que a adição
dos produtos levou à redução do coeficiente de atrito sem que houvesse prejuízo à
reologia dos fluidos.
5.3. Fluidos de perfuração
Após a realização dos ensaios preliminares foram preparados os fluidos
completos. Estes eram compostos de água destilada, goma de xantana, hidróxido de
sódio, cloreto de potássio, HPA, PEG400 e o lubrificante desejado. Os testes foram
realizados em dois momentos: após o envelhecimento do fluido (antes do ensaio de
rolamento) e após o ensaio de rolamento.
5.3.1. Ensaios de Inibição de Reatividade dos Folhelhos (Ensaios de rolamento)
As tabelas 14 e 15 fornecem os valores de recuperação total do cascalho
(massa recuperada na peneira de malha #30) seguidos dos valores de argila intacta
recuperada, ou seja, com a granulação original (massa recuperada na peneira de malha
#8). Esse ensaio permite avaliar a capacidade dos aditivos do fluido em inibir a
reatividade de folhelhos. Foram realizados dois conjuntos de ensaios. No primeiro, os
fluidos formulados continham o polietilenoglicol 400 (PEG400) como inibidor de
reatividade juntamente com KCl, enquanto no segundo as formulações foram feitas na
ausência do PEG400. O objetivo de avaliar dois conjuntos de sistemas foi o de verificar
se os lubrificantes teriam alguma contribuição significativa na função de inibição de
reatividade de folhelhos, uma vez que por serem moléculas anfifílicas poderiam
adsorver nos cascalhos, protegendo-os do contato com a água.
Tabela 14: Resultados dos ensaios de inibição de reatividade de folhelhos para os fluidos completos
contendo PEG400 e diferentes lubrificantes.
Lubrificante (% m/v) massa recuperada
#30 (g) % recuperado
#30 massa recuperada
#8 (g) % recuperado
#8
Branco 1 47 94 35 70
glicerina fritura (0,5) 46,5 93 37,1 74,2
glicerina fritura (2,0) 47,1 94,2 37,8 75,6
glicerina fritura (10) 46,9 93,8 33,5 67
glicerina sintetizada (0,5) 47,3 94,6 36,1 72,2
56
Tabela 14: Resultados dos ensaios de inibição de reatividade de folhelhos para os fluidos completos
contendo PEG400 e diferentes lubrificantes (continuação).
Lubrificante (% m/v) massa recuperada
#30 (g) % recuperado
#30 massa recuperada
#8 (g) % recuperado
#8
glicerina sintetizada (2,0) 47,8 95,6 36,9 73,8
glicerina sintetizada (10,0) 48,2 96,4 36,7 73,4
DP400 (2,0) 46,7 93,4 39,4 78,8
Tabela 15: Resultados dos ensaios de inibição de reatividade de folhelhos para os fluidos na
ausência de PEG400, com diferentes lubrificantes.
Lubrificante (% m/v) massa recuperada
#30 (g) % recuperado
#30 massa recuperada
#8 (g) % recuperado
#8
Branco 2 41,0 82,0 25,5 51,0
glicerina fritura (2,0) 43,5 87,0 30,4 60,8
glicerina fritura (10,0) 41,1 82,2 23,7 47,4
glicerina sintetizada (2,0) 40,3 80,6 27,3 54,6
glicerina sintetizada (10,0) 51,8 103,6 32,0 64,0
DP400 (2,0) 43,5 87,0 29,7 59,4
Comparando-se os resultados obtidos nos dois conjuntos de fluidos, pode-se
verificar que a adição de PEG400 levou a um aumento na recuperação de argila. Esse
efeito é significativo quando se comparam os ‘brancos’ com e sem PEG400 em relação
à massa de argila intacta (recuperada em malha #8);
Pode-se observar na tabela 15 que o fluido contendo glicerina sintetizada em
concentração de 10% m/v levou a uma recuperação total de argila superior a 100%.
Isso ocorreu porque nesse sistema o excesso de aditivo levou a uma agregação de
partículas tanto de cascalhos quanto de barita (que é insolúvel). Esse efeito levou ao
resultado obtido. Vale ressaltar que a agregação foi observada apenas no fluido citado.
As figuras 30 e 31 mostram graficamente os principais resultados obtidos.
A)
57
B)
Figura 30: Percentual de massa recuperada nos ensaios de rolamento para os fluidos contendo
PEG400. A) malha #30; B) malha #8
A)
58
B)
Figura 31: Percentual de argila recuperada nos ensaios de rolamento para os fluidos que não
continham PEG400. A) malha #30; B) malha #8.
De um modo geral, é possível verificar que a presença de PEG400 leva, de fato
a melhores resultados, especialmente em malha #8. Dessa forma, é recomendado que
seja mantido o inibidor na formulação. Contudo, verificou-se, em ambos os conjuntos de
fluidos, que a adição de glicerina (tanto de fritura quanto a sintetizada) levou a um
aumento da eficiência da inibição nos sistemas a 2% m/v de aditivo. Nas concentrações
de 10% m/v a glicerina de fritura apresentou desempenho inferior em ambos os
conjuntos, enquanto que a glicerina sintetizada apresentou uma discreta melhora.
Verifica-se que existe uma janela de concentração onde a eficiência é máxima.
Possivelmente, em concentrações elevadas de glicerina torna-se mais difícil dispersar
seus componentes ativos no sistema, o que poderia levar à concentração das
moléculas anfifílicas, fazendo que estas não estivessem disponíveis para atuar.
É fato que o uso de inibidores de reatividade não inibe por completo a
reatividade dos folhelhos. Portanto, nos ensaios, onde os fluidos continham apenas o
KCl como inibidor, (tabela 15 e figura 31), apesar de os valores de recuperação total
terem sido elevados (em torno de 82%), os valores da massa recuperada intacta foram
baixos (em torno de 56%). No primeiro conjunto de sistemas, quando foi adicionado
PEG400 ao fluido, o percentual da massa recuperada intacta foi consideravelmente
maior e grande parte do cascalho manteve a granulação original (em torno de 75%).
59
5.3.2. Ensaios de Reologia
Nesta sessão são apresentados os resultados referentes aos ensaios reológicos
dos fluidos formulados, realizados em viscosímetro Fann 35 A.
Amostras com PEG400 antes e após o ensaio de rolamento:
As tabelas 16 e 17 apresentam os resultados referentes aos fluidos completos, com
a presença do inibidor de reatividade PEG400, antes do ensaio de rolamento.
Tabela 16: Resultados das leituras no viscosímetro Fann 35A para os fluidos contendo PEG400 e
diferentes lubrificantes. Ensaios realizados antes do ensaio de rolamento.
Lubrificante (% m/v) L600 L300 L200 L100 L6 L3 GI GF
Branco 1 31 25 22 17 8 7 9 11
Glicerina fritura (0,5) 35 27 23 18 9 8 9 12
Glicerina fritura (2,0) 32 26 23 18 9 8 9 11
Glicerina fritura (10,0) 34 27 23 18 9 8 9 13
Glicerina sintetizada (0,5) 32 24 21 17 8 7 9 12
Glicerina sintetizada (2,0) 33 25 22 18 8 7 9 9
Glicerina sintetizada (10,0) 40 31 26 21 9 8 11 13
Glicerina comercial (2,0) 35 27 24 18 9 8 10 13
DP400 (2,0) 38 29 25 19 9 8 9 14
Tabela 17: Parâmetros reológicos obtidos a partir dos resultados mostrados na tabela 16.
Amostras (% m/v) VA (cP) VP (cP) LE
(lbf/100ft2) GI
(lbf/100ft2) GF
(lbf/100ft2)
Branco 1 15,5 6 19 9 11
Glicerina fritura (0,5) 17,5 8 19 9 12
Glicerina fritura (2,0) 16 6 20 9 11
Glicerina fritura (10,0) 17 7 20 9 13
Glicerina sintetizada (0,5) 16 8 16 9 12
Glicerina sintetizada (2,0) 16,5 8 17 9 9
Glicerina sintetizada (10,0) 20 9 22 11 13
DP400 (2,0) 19 9 20 9 14
As tabelas 18 e 19 apresentam os resultados obtidos com os mesmos fluidos
analisados anteriormente, contudo após o ensaio de rolamento.
60
Tabela 18: Resultados das leituras no viscosímetro Fann 35A para os fluidos contendo PEG400 e
diferentes lubrificantes. Ensaios realizados após o ensaio de rolamento.
Lubrificante (%m/v) L600 L300 L200 L100 L6 L3 GI GF
Branco 1 35 27 23 19 9 8 10 12
Glicerina fritura (0,5) 38 30 26 20 10 9 10 5
Glicerina fritura (2,0) 36 27 23 19 9 7 10 12
Glicerina fritura (10,0) 40 32 28 22 11 9 12 14
Glicerina sintetizada (0,5) 34 26 23 18 9 8 10 13
Glicerina sintetizada (2,0) 36 28 24 19 10 8 10 13
Glicerina sintetizada 10,0 38 30 26 21 11 9 11 14
DP400 (2,0) 40 35 30 23 10 9 11 15
Tabela 19: Parâmetros reológicos obtidos a partir dos resultados mostrados na tabela 18.
Lubrificante (% m/v) VA (cP) VP (cP) LE
(lbf/100ft2) GI
(lbf/100ft2) GF
(lbf/100ft2)
Branco 1 17,5 8 15 10 12
Glicerina fritura (0,5) 19 8 22 10 5
Glicerina fritura (2,0) 18 9 18 10 12
Glicerina fritura (10,0) 20 8 24 12 14
Glicerina sintetizada (0,5) 17 6 18 10 13
Glicerina sintetizada (2,0) 18 8 20 10 13
Glicerina sintetizada (10,0) 19 8 22 11 14
DP400 (2,0) 20 5 30 11 15
Amostras sem PEG400 antes e após o ensaio de rolamento
As tabelas 20 e 21 apresentam os resultados referentes aos fluidos completos,
contudo sem a presença do inibidor de reatividade PEG400, e antes do ensaio de
rolamento.
Tabela 20: Resultados das leituras no viscosímetro Fann 35A para os fluidos completos sem a
presença de PEG400, com diferentes lubrificantes. Ensaios realizados antes dos ensaios de
rolamento.
Lubrificante (% m/v) L600 L300 L200 L100 L600 L300 GI GF
Branco 2 29 24 21 17 09 07 09 11
Glicerina fritura (2,0) 31 24 21 17 8 7 8 10
Glicerina fritura (10,0) 43 32 27 20 9 7 9 13
Glicerina sintetizada (2,0) 29 23 21 17 8 7 9 10
Glicerina sintetizada (10,0) 32 25 22 17 8 7 9 11
DP400 (2,0) 33 26 22 18 8 7 8 10
61
Tabela 21: Parâmetros reológicos obtidos a partir dos resultados mostrados na tabela 20.
Lubrificante (% m/v) VA (cP) VP (cP) LE
(lbf/100ft2) GI
(lbf/100ft2) GF
(lbf/100ft2)
Branco 2 14,5 5 19 9 11
Glicerina fritura (2,0) 15,5 7 17 8 10
Glicerina fritura (10,0) 21,5 11 21 9 13
Glicerina sintetizada (2,0) 14,5 6 17 9 10
Glicerina sintetizada (10,0) 16 7 18 9 11
DP400 (2,0) 16,5 7 19 8 10
As tabelas 22 e 23 apresentam os resultados obtidos com os mesmos fluidos
analisados anteriormente, contudo após o ensaio de rolamento.
Tabela 22: Resultados das leituras no viscosímetro Fann 35A para os fluidos completos sem a
presença de PEG400, com diferentes lubrificantes. Ensaios realizados após o ensaio de rolamento.
Lubrificante (% m/v) L600 L300 L200 L100 L600 L300 GI GF
Branco 2 34 27 24 20 11 9 11 13
Glicerina fritura (2,0) 31 27 24 20 11 9 11 13
Glicerina fritura (10,0) 40 32 28 22 11 10 11 15
Glicerina sintetizada (2,0) 32 27 23 19 9 8 10 12
Glicerina sintetizada (10,0) 33 26 23 18 10 8 11 14
DP400 (2,0) 35 27 24 20 10 8 10 13
Tabela 23: Parâmetros reológicos obtidos a partir dos resultados mostrados na tabela 22.
Lubrificante (% m/v) VA (cP) VP (cP) LE
(lbf/100ft2) GI
(lbf/100ft2) GF
(lbf/100ft2)
Branco 2 17 7 20 11 13
Glicerina fritura (2,0) 15,5 4 23 11 13
Glicerina fritura (10,0) 20 8 24 11 15
Glicerina sintetizada (2,0) 16 5 22 10 12
Glicerina sintetizada (10,0) 16,5 7 19 11 14
DP400 (2,0) 17,5 8 19 10 13
Verifica-se que não houve variações significativas nos parâmetros reológicos
dos sistemas contendo lubrificantes em relação aos sistemas brancos. Foi observado
um aumento da viscosidade nos sistemas a 10% m/v, o que foi verificado também nos
ensaios de reologia dos fluidos preliminares contendo glicerina em concentração
superior a 5% m/v. Echevarria já havia estudado a aplicação da glicerina em fluidos de
perfuração a fim de se aumentar a viscosidade do sistema. (ECHEVARRIA).
62
5.3.3. Ensaios de Filtração
Os resultados dos ensaios de filtração apresentados nas tabelas 24 e 25
fornecem o volume de filtrado após 30 minutos do experimento. Os ensaios de filtração
foram realizados com os sistemas de fluidos completos tanto na presença como na
ausência de PEG400. Todos os fluidos analisados continham um redutor de filtrado
comercial, no caso o HPA. Quanto menor o volume de filtrado medido, melhor o
resultado, já que isto significa que um menor volume do fluido está penetrando na
formação.
Tabela 24: Resultados dos ensaios de filtração para os fluidos na ausência de PEG400.
Lubrificante (%m/v) filtrado (ml)
Branco 2 5,6
glicerina fritura (2,0) 5,9
glicerina fritura (10,0) 6,7
glicerina sintetizada (2,0) 6,6
glicerina sintetizada (10) 7,0
DP400 (2,0) 4,2
Tabela 25: Resultados dos ensaios de filtração para os fluidos que continham PEG400.
Lubrificante (% m/v) filtrado (ml)
Branco 1 4,8
glicerina fritura (0,5) 4,8
glicerina fritura (2,0) 6,8
glicerina fritura (10,0) 7,0
glicerina sintetizada (0,5) 5,5
glicerina sintetizada (2,0) 4,9
glicerina sintetizada (10,0) 5,6
DP400 (2,0) 4,3
As amostras que continham glicerina de fritura como lubrificante apresentaram
um resultado mais satisfatório frente à glicerina sintetizada nos sistemas sem PEG400
(tabela 24). Nos sistemas contendo PEG400 (tabela 25) verificou-se que os valores de
filtrado foram menores que nos sistemas anteriores. Mais uma vez confirma-se que a
presença de PEG400 é importante para os sistemas. Contudo, verificou-se um ligeiro
aumento nos valores de filtrado com a concentração das glicerinas. Como em todos os
63
sistemas contendo PEG400, com exceção do sistema contendo glicerina de fritura a
10% m/v, esse aumento não foi maior que 1,0 ml em relação ao branco, pode-se
assumir que a utilização das glicerinas não deve gerar problemas significativos quanto
ao filtrado. De uma maneira geral, valores de filtrado menores que 10ml são
considerados satisfatórios para fluidos de perfuração de base aquosa.
5.3.4. Ensaios de Peso Específico
Nas tabelas 26 até 29 são apresentados os resultados de densidade dos fluidos
formulados.
Amostras com PEG400 antes e após os ensaios de rolamento:
Tabela 26: Resultados de densidade dos fluidos antes do ensaio de rolamento.
Lubrificante (% m/v) densidade (lb/galão)
Branco 1 9,1
glicerina fritura (0,5) 9,1
glicerina fritura (2,0) 8,9
glicerina fritura (10,0) 9,1
glicerina sintetizada (0,5) 9,2
glicerina sintetizada (2,0) 9,1
glicerina sintetizada (10,0) 9,1
DP400 (2,0) 9,1
Tabela 27: Resultados de densidade dos fluidos contendo PEG400 após o ensaio de rolamento.
Lubrificante (% m/v) densidade (lb/galão)
Branco 1 9,1
glicerina fritura (0,5) 9,1
glicerina fritura (2,0) 9,1
glicerina fritura (10,0) 9,2
glicerina sintetizada (0,5) 9,2
glicerina sintetizada (2,0) 9,1
glicerina sintetizada (10,0) 8,8
DP400 (2,0) 9,1
64
Amostras sem PEG400 antes e após o ensaio de rolamento:
Tabela 28: Resultados de densidade dos fluidos contendo PEG400 antes do ensaio de rolamento.
Lubrificante (% m/v) densidade (lb/galão)
Branco 2 9
glicerina fritura (2,0) 9
glicerina fritura (10,0) 9,1
glicerina sintetizada (2,0) 9
glicerina sintetizada (10,0) 9,1
DP400 (2,0) 8,9
Tabela 29: Resultados de densidade dos fluidos sem PEG400, após o ensaio de rolamento.
Lubrificante (% m/v) densidade (lb/galão)
Branco 2 9,1
glicerina fritura (2,0) 9,1
glicerina fritura (10,0) 9,2
glicerina sintetizada (2,0) 9,1
glicerina sintetizada (10,0) 8,7
DP400 (2,0) 9,1
Observa-se que os resultados foram praticamente constantes, com exceção dos
fluidos com concentração de 10% m/v da glicerina sintetizada tanto na presença como
na ausência de PEG400 e após o ensaio de rolamento. Essa diferença de densidade
em relação aos demais corrobora o que foi observado no teste de inibição de folhelhos,
onde a massa recuperada na peneira de 30 Mesh foi maior que a de cascalho
adicionado. É importante lembrar que os sólidos que atravessam essa malha
contribuem diretamente para a densidade do sistema, ou seja, houve aglomeração de
partículas de cascalho e barita, o que levou a um falso aumento na recuperação em #30
e também a uma redução na densidade do fluido.
5.3.5. Ensaios de Lubricidade
Os ensaios de lubricidade foram realizados em dois momentos: antes e após os
ensaios de rolamento. As amostras usadas como ‘branco’ para cálculo da porcentagem
de redução foi a de 0% m/v de glicerina para cada conjunto de fluidos (com ou sem
PEG400).
65
Amostras contendo PEG400:
As tabelas 30 e 31 apresentam os resultados dos ensaios de lubricidade dos
sistemas que continham PEG400, antes e depois dos ensaios de rolamento,
respectivamente. A figura 32 apresenta uma correlação gráfica entre a concentração
das glicerinas e o coeficiente dos sistemas contendo PEG400.
Tabela 30: Resultados dos ensaios de lubricidade com os fluidos contendo PEG400, antes do ensaio
de rolamento.
Tabela 31: Resultados dos ensaios de lubricidade após os ensaios de rolamento nos fluidos que
continham PEG400.
Lubrificante (% m/v) leitura fator de correção coef. de atrito % redução
Branco 2 22
1,06 0,23
- 23 0,24
glicerina fritura (0,5) 18
1,06 0,19
18,8 19 0,2
glicerina fritura (2,0) 18
1,06 0,19
20,8 18 0,19
Lubrificante (% m/v) leitura fator de correção coef. de atrito % redução
Branco 1 22
1,06 0,23
- 22 0,23
glicerina fritura (0,5) 19
1,03 0,2
15,2 18 0,19
glicerina fritura (2,0) 12
1,06 0,13
45,7 11 0,12
glicerina fritura (10) 12
1,06 0,13
45,7 11 0,12
glicerina sintetizada (0,5) 22
1,06 0,23
0 22 0,23
glicerina sintetizada (2,0) 9
1,03 0,09
60,9 9 0,09
glicerina sintetizada (10) 10
1,06 0,11
52,2 10 0,11
glicerol (2,0) 22
1,03 0,23
0 22 0,23
DP400 (2,0) 15
1,03 0,15
32,6 16 0,16
66
Tabela 31: Resultados dos ensaios de lubricidade após os ensaios de rolamento nos fluidos que
continham PEG400 (continuação).
Lubrificante (% m/v) leitura fator de correção coef. de atrito % redução
glicerina fritura (10) 18
1,0 0,18
25,0 18 0,18
glicerina sintetizada (0,5) 23
1,03 0,24
2,1 24 0,25
glicerina sintetizada (2,0) 16
1,06 0,17
29,2 16 0,17
glicerina sintetizada (10,0) 20
1,0 0,20
20,8 18 0,18
glicerol (2,0) 23
1,06 0,24
2,1 24 0,25
DP400 (2,0) 14
1,06 0,15
39,6 13 0,14
Figura 32: Relação entre a concentração de glicerina e o coeficiente de atrito nos fluidos
completos contendo PEG400, antes e após o ensaio de rolamento.
Na presença de PEG400 tanto os fluidos contendo glicerina sintetizada como
aqueles contendo glicerina de fritura tiveram ótimos resultados antes dos ensaios de
rolamento. Esses valores foram similares aos resultados obtidos nos ensaios anteriores
0
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
0,3
0 0,5 2 10
Glicerina fritura
Glicerina Sintetizada
Glicerina fritura pósrolamento
Glicerina Sintetizadapós rolamento
Concentração % m/v
Co
efic
ien
te d
e at
rito
67
realizados com os fluidos contendo apenas água destilada, goma de xantana, NaOH,
KCl e o lubrificante.
Após o acréscimo de 50g de cascalho para a realização dos ensaios de
rolamento, pode-se notar um aumento do coeficiente de atrito, contudo, os valores
ainda continuaram significativamente menores que o branco (sem glicerina), o que
comprova o poder de lubricidade conferido pelo uso das glicerinas aos sistemas. Os
valores do coeficiente de atrito mantiveram-se praticamente constantes em
concentrações a partir de 2% m/v.
O único sistema que praticamente não sofreu influência da presença de sólidos
finos em sua capacidade de lubrificação foi o que continha DP400, como se pode
observar na figura 33. O fluido contendo glicerol obteve o pior resultado em ambos os
ensaios, o que é esperado, uma vez que o glicerol não possui os requisitos estruturais
de um lubrificante (anfifilicidade).
Figura 33: coeficiente de atrito dos fluidos contendo PEG400 e os lubrificantes a 2% m/v, ante se
após os ensaios de rolamento.
Amostras sem PEG400:
As tabelas 32 e 33 apresentam os resultados dos ensaios de lubricidade dos
sistemas sem PEG400, antes e depois dos ensaios de rolamento, respectivamente. As
figuras 34 e 35 apresentam uma correlação gráfica entre a concentração das glicerinas
e o coeficiente de atritos dos sistemas sem PEG400.
0
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
pré-rolamento pós-rolamento
Glicerina Fritura
Glicerina Sintetizada
DP400
Glicerina Comercial
Branco
Co
efic
ien
te d
e at
rito
68
Tabela 32: resultados dos ensaios de lubricidade dos fluidos sem PEG400, antes dos ensaios de
rolamento.
Lubrificante (% m/v) leitura fator de correção coef. de atrito % redução
Branco 2 24
1,06 0,25
- 25 0,27
glicerina fritura (2,0) 13
1,06 0,14
48,1 12 0,13
glicerina fritura (10,0) 13
1,06 0,14
48,1 12 0,13
glicerina sintetizada (2,0) 16
1,06 0,17
34,6 16 0,17
glicerina sintetizada (10,0) 11
1,06 0,12
53,8 11 0,12
DP400 (2,0) 13
1,06 0,14
39,1 13 0,14
Tabela 33: resultados dos ensaios de lubricidade dos fluidos sem PEG400, após os ensaios de
rolamento.
Lubrificante (% m/v) leitura fator de correção coeficiente de
atrito % redução
Branco 2 27 1,06
0,29 -
26 0,28
glicerina fritura (2,0) 17
1,06 0,18
37,9 17 0,18
glicerina fritura (10,0) 18
1,06 0,19
34,5 18 0,19
glicerina sintetizada (2,0) 20
1,06 0,21
27,6 20 0,21
glicerina sintetizada (10,0) 20
1,03 0,21
29,3 19 0,20
DP400 (2,0) 14
1,06 0,15
48,3 14 0,15
69
Figura 34: Relação entre concentração da glicerina e o coeficiente de atrito nos fluidos sem PEG400,
antes e após os ensaios de rolamento.
Figura 35: coeficiente de atrito dos fluidos sem PEG400, contendo os lubrificantes a 2% m/v, antes e
após os ensaios de rolamento.
Verificou-se para os sistemas sem PEG400 a mesma tendência observada nos
sistemas com PEG400, onde a incorporação de sólidos finos causada pelo ensaio de
rolamento levou a um aumento do coeficiente de atrito. Assim como no caso anterior, o
fluido contendo DP400 não sofreu alterações significativas nos valores de coeficiente de
atrito, antes e depois do ensaio de rolamento.
0
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
0,3
0,35
0 2 10
Glicerina fritura
Glicerinasintetizada
Glicerina friturapós-rolamento
Glicerinasintetizada pós-rolamento
Concentração % m/v
Co
efic
ien
te d
e at
rito
0
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
0,3
pré-rolamento pós rolamento
Glicerina fritura
Glicerina sintetizada
DP400
Branco
Co
efic
ien
te d
e at
rito
70
Comparando os sistemas com PEG400 e sem PEG400, antes dos ensaios de
rolamento, verifica-se que as glicerinas levam a valores de redução do coeficiente de
atrito melhores que o lubrificante comercial (DP400) nos sistemas com PEG400, e da
ordem deste nos sistemas sem PEG400.
Contudo, a mesma comparação entre os sistemas após os ensaios de rolamento
mostra uma diminuição na eficiência das glicerinas. Esse efeito pode ser devido à perda
dos componentes ativos por adsorção nos sólidos finos incorporados. Essa hipótese é
reforçada pela aglomeração de barita e finos, observada em alguns sistemas. Existem
atualmente inibidores de reatividade de folhelhos extremamente eficientes, como
polímeros catiônicos. Possivelmente a utilização das glicerinas em fluidos que
contenham inibidores mais eficientes, ou mesmo na perfuração de argilas menos
reativas, deve levar a resultados similares aos observados nos ensaios pré-rolamento,
uma vez que haveria uma menor incorporação de sólidos finos no fluido.
De qualquer modo, as glicerinas utilizadas levaram a uma redução expressiva
do coeficiente de atrito dos fluidos formulados, quando comparadas aos fluidos sem
lubrificante, o que viabiliza a utilização desses produtos em fluidos de perfuração de
base aquosa.
71
6. Conclusões
Neste trabalho foi avaliada a viabilidade da aplicação da glicerina obtida na
produção de biodiesel de óleo de fritura como aditivo em fluidos de perfuração de base
aquosa.
Foi observado que uma concentração de glicerina de fritura de 2% m/v foi
suficiente para gerar bons resultados no ensaio de lubricidade sem que houvesse
alterações significativas na reologia dos sistemas e sem prejuízo nas demais
propriedades dos fluidos. Em alguns casos a glicerina inclusive melhorou algumas
propriedades.
De um modo geral, a glicerina de fritura obteve um desempenho eficiente como
lubrificante, levando a resultados comparáveis aos obtidos com o lubrificante comercial
avaliado. Pode-se concluir que o uso da glicerina de fritura como aditivo para fluidos de
perfuração apresenta significativas vantagens, a partir do momento que esta é um co-
produto da produção de biodiesel, que por sua vez é produzido a partir de um rejeito, no
caso do presente trabalho, o óleo de fritura.
Além da vantagem econômica citada, o uso da glicerina de fritura é uma opção
ambientalmente amigável, tendo em vista seu carácter biodegradável e atóxico.
72
7. Revisão Bibliográfica
Portal do Biodiesel, disponível em: http://www.biodieselbr.com acessado em
20/03/2012.
Agencia Nacional do Petróleo, disponível em: http://www.anp.gov.br acessado em
10/03/2012.
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ambientalmente corretor para a indústria de petróleo. V CONFICT, 2013.
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