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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COPPEAD AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE UNIDADES DE NEGÓCIO: UM ESTUDO DE CASO MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO AUTOR: FABIO MELLO DE AVELLAR ORIENTADOR: JOSIR SIMEONE GOMES - Março de 2003

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COPPEAD … · planos e para detectar qualquer abandono das políticas centrais determinadas. (KAPLAN e ATKINSON, 1998) Entretanto, ainda segundo

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

COPPEAD

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE UNIDADES DE NEGÓCIO:

UM ESTUDO DE CASO

MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

AUTOR: FABIO MELLO DE AVELLAR

ORIENTADOR: JOSIR SIMEONE GOMES

-

Março de 2003

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AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE UNIDADES DE NEGÓCIO:

UM ESTUDO DE CASO

Fabio Mello de Avellar

Tese submetida ao Corpo Docente do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa

em Administração - COPPEAD. da Universidade Federal do Rio de Janeiro

como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre em

Ciências (M.Sc.)

Aprovada por:

"-

Prot. Josir Simeone Gomes

IBMEC / RJ

Prof.

COPPEAD / UFRJ

~t. Luiz Fláf. 10 Autran Monteiro Gomes

IBMEC / RJ

Rio de Janeiro, RJ - Brasil

Março de 2003

-

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Avellar, Fabio Mello de

Avaliação de Desempenho de Unidades de Negócio: Um Estudo

de Caso / Fabio Mello de Avellar. Rio de Janeiro: COPPEAD / UFRJ,

2003.

ix, 119p. il.

Dissertação - Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPEAD.

1. Avaliação de Desempenho 2. Controle Gerencial 3. Tese

(Mestrado - COPPEAD / UFRJ), I.Título.

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AGRADECIMENTOS

Ao Professor Josir Simeone Gomes, pela orientação recebida e por todo

o apoio e incentivo durante a realização deste trabalho.

Aos professores Marcos Gonçalves Ávila e Luiz Flávio Autran Monteiro

Gomes, pelas críticas, sugestões, interesse e participação.

Aos professores do COPPEAD pelos ensinamentos transmitidos,

contribuindo para a minha formação.

A todos os funcionários do COPPEAD, pela ajuda e paciência.

Aos gerentes da Shell Brasil entrevistados, pela seriedade, presteza e

boa vontade com que me receberam e encararam este trabalho.

À minha família, pelo apoio e incentivo.

A Deus, por ter me dado forças de chegar até aqui apesar de todas as

dificuldades e obstáculos.

-

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RESUMO DA TESE APRESENTADA AO COPPEAD/UFRJ, COMO PARTE

DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS À OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE

EM CIÊNCIAS (M.Sc.)

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE UNIDADES DE NEGÓCIO:

UM ESTUDO DE CASO

Fabio Mello de Avellar

Março de 2003

ORIENTADOR: Josir Simeone Gomes

PROGRAMA: Administração

Esta pesquisa tem como objetivo explorar as relações existentes entre a

literatura sobre estruturas organizacionais descentralizadas em unidades de

negócios, em especial no que se refere à avaliação de desempenho, e a

estrutura adotada por uma empresa privada multinacional, a Shell Brasil.

Com este objetivo, a revisão da literatura procurou abordar os conceitos

do controle gerencial, visando empresas estruturadas em unidades de

negócios, examinando também sistemas de avaliação de desempenho e os -

indicadores mais utilizados. A metodologia utilizada foi a de estudo de caso

através de entrevistas pessoais e exame de documentos da empresa. Na

análise do caso procurou-se comparar as práticas de controle utilizadas pela

empresa estudada com a base teórica referenciada. Por fim, são apresentadas

as conclusões e recomendações para a empresa e estudos futuros.

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ABSTRACT OF THESIS PRESENTED TO COPPEAD/UFRJ AS PARTIAL

FULFILLMENT OF REQUIREMENTS FOR THE DEGREE OF MASTER OF

SCIENCE (M.Sc.)

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE UNIDADES DE NEGÓCIO:

UM ESTUDO DE CASO

Fabio Mello de Avellar

March 2003

CHAIRMAN: Josir Simeone Gomes

DEPARTMENT: Administração

This study explores the relationship between the literature on

decentralized organizational structures based on business units, referring

mainly to the subjects of performance evaluation, and the decentralized form of

organization adopted by a private company, Shell Brasil.

Bearing this mind, a survey was made of the literature about

management control system and performance evaluation. The case was written

based on interviews done with the company top management, so as a

documental analysis. On the case discussion it was aimed the comparison

among the actual company control system and academic concepts, as per the

referred Iiterature. Finally, it is included some conclusions and suggestions to

the company, so as to future studies.

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SUMÁRIO

1 O PROBLEMA 1

1.1 Introdução 1

1.2 Problema sob a forma de pergunta 1

1.3 Objetivo 1

1.4 Relevância 1

1.5 Delimitação 2

2 REVISÃO DA LITERATURA 4

2.1 Controle Gerencial 4

2.2 Descentralização 5

2.2.1 Descentralização X Divisionalização 8

2.2.2 Centros de Responsabilidade 9

2.2.3 Preços de Transferência 15

2.3 Controle e Avaliação de Desempenho 21

2.3.1 Avaliação da Unidade X Avaliação do Gerente 24

2.3.2 Medidas Financeiras 26

2.3.3 Medidas Não Financeiras 36

3 METODOLOGIA 54

3.1 Tipo de Pesquisa 54

3.2 Universo e Amostra 55

3.3 Seleção de Sujeitos 55 -3.4 Coleta de Dados 55

3.5 Tratamento dos Dados 56

3.6 Limitações do Método 57

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4 DESCRiÇÃO DO CASO 58

4.1 Histórico 58

4.2 Shell no Mundo 60

4.2 .1 Aspectos Gerais 60

4.2.2 Estrutura das Empresas do Grupo 61

4.3 Shell Brasil 62

4.3.1 Aspectos Gerais 62

4.3.2 Estrutura Organizacional 63

4.3.3 Estratégia e Controle 73

4.3.4 Preços de Transferência 74

4.3.5 Medidas de Avaliação de Desempenho 75

4.3.6 Balanced Scorecard 76

4.3.7 Capital Intelectual 83

4.3.8 Grau de Autonomia dos Gerentes das Unidades 84

5 ANÁLISE DO CASO 85

5.1 Processo de Descentralização 85

5.2 Estrutura Organizacional 85

5.3 Preços de Transferência 87

5.4 Estratégia e Controle 89

5.5 Controle e Avaliação de Desempenho 91

5.5.1 Medidas de Avaliação de Desempenho 91

5.5.2 Balanced Scorecard 94

6 CONCLUSÕES, RECOMENDAÇÕES E SUGESTÕES PARA

PESQUISAS FUTURAS 98

-6.1 Sumário 98

6.2 Conclusões 98

6.3 Recomendações 101

6.4 Sugestões para pesquisas futuras 102

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ANEXO 1 - QUESTIONÁRIO 103

ANEXO 2 - BLOCOS DE EXTRAÇÃO E PRODUÇÃO DE PETRÓLEO NOS

QUAIS A SHELL BRASIL TEM PARTICIPAÇÃO 111

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 114

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1 O PROBLEMA

1.1 Introdução

O aumento da diversidade e da complexidade das operações, associado

a um ambiente altamente competitivo, tem levado diversas empresas a

descentralizar suas atividades em unidades de negócio.

Este processo de descentralização tem trazido não só a possibilidade de

diversificação e expansão de mercados, mas também a necessidade de

adaptação de todo o sistema de controle gerencial destas organizações à nova

estrutura em questão.

Dentre as principais questões associadas à esta adaptação está a

necessidade de utilização de um sistema de mensuração e avaliação de

desempenho das unidades organizacionais, agora, descentralizadas.

1.2 Problema sob a forma de pergunta

O sistema de avaliação de desempenho utilizado pela empresa

estudada apresenta as características dos sistemas vistos como eficazes na

literatura sobre o assunto?

1.3 Objetivo

Este estudo tem como objetivo evidenciar a relação existente entre a

literatura sobre avaliação de desempenho em empresas estruturadas em

unidades de negócio e as práticas adotadas pela empresa objeto de estudo. A

empresa estudada é uma das grandes organizações do setor de energia que

operam atualmente no Brasil.

1.4 Relevância

Segundo Chandler (1962), a década de 1850 registrou o início da

preocupação das empresas industriais norte-americanas com sua estrutura

administrativa. Até esta época, o tamanho e o número de atividades envolvidas

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permitia o controle da estrutura por um pequeno grupo de gerentes. Entretanto,

o subseqüente crescimento das organizações começou a gerar a necessidade

de se pensar em novas formas de estruturação.

Com o passar dos anos, a estrutura divisional ou multidivisional –

também chamada de estrutura em unidades de negócio ou centros de lucro –

foi sendo amplamente adotada pelas empresas norte americanas, sobretudo

após a Segunda Guerra Mundial. (CHANDLER, 1962)

Conforme estudo realizado em 1994 por Anthony e Govindarajan (1998),

93% das 638 empresas pesquisadas, extraídas do universo das 1000 maiores

empresas norte-americanas listadas na revista Fortune, estão estruturadas de

forma descentralizada. Com o objetivo de manterem-se competitivas em um

ambiente econômico cada vez mais complexo e globalizado muitas empresas

instaladas no Brasil têm seguido a mesma tendência ao adotarem um modelo

de estrutura organizacional descentralizada em unidades de negócio.

Quando do processo de descentralização, estas empresas se deparam

com novos desafios, dentre eles o desenvolvimento de mecanismos eficientes

de avaliação do desempenho de suas unidades.

Segundo Kaplan e Atkinson (1998), a definição das medidas de

performance, tanto do gerente como de sua divisão, é o principal problema na

estruturação de uma empresa em unidades de negócio.

Sendo assim, este estudo justifica sua importância pela contribuição ao

alcance de um maior conhecimento sobre as formas através das quais as

empresas utilizam-se de sistemas de avaliação de desempenho como

ferramenta de controle gerencial.

1.5 Delimitação

Este estudo não busca identificar a melhor forma de avaliação de

resultados das unidades de negócio, tampouco utilizar o caso estudado como

ponto de partida para generalizações, mas sim analisar experiências,

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apontando êxitos, dificuldades e desafios encontrados quando do

desenvolvimento e utilização do sistema de avaliação da empresa objeto de

estudo.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Controle Gerencial

De acordo com Anthony e Govindarajan (1998), o controle gerencial é o

processo através do qual a administração da empresa influencia os membros

desta a implementarem as estratégias organizacionais.

Para Horngren, Sundem e Straton (1996), um sistema de controle

gerencial constitui-se de uma integração lógica das ferramentas da

contabilidade gerencial para coletar e relatar informações e avaliar o

desempenho. Um sistema de controle bem desenhado ajuda e coordena o

processo de tomada de decisões, além de motivar os indivíduos de toda a

organização a agir de forma harmoniosa.

Estes autores alertam para a diferença entre o sistema de controle

gerencial e o sistema de contabilidade financeira da empresa, devido ao foco

do primeiro nas metas e objetivos da empresa, nas tomadas de decisões

gerenciais e na motivação e avaliação de desempenho consistentes com os

objetivos organizacionais. Além disso, as informações demandadas por estes

sistemas são diferentes. Normalmente, os sistemas de contabilidade financeira

dão mais atenção a detalhes técnicos do processamento da informação, à

confecção de relatórios financeiros para o público externo à empresa, à busca

por conformidade com padrões legais, ou ainda, à detecção de fraudes. Desta

forma, acabam por dar pouca ênfase à motivação dos funcionários, à avaliação

de desempenho e à tomada de decisões gerenciais.

De acordo com Gomes e Amat (1999), o controle, seja muito ou pouco

formalizado, é fundamenta l para assegurar que as atividades de uma empresa

se realizem da forma desejada pelos membros da organização e contribuam

para a manutenção ou melhoria da posição competitiva e a consecução das

estratégias, planos, programas e operações da organização.

Gomes e Amat (1999) ressaltam, ainda, que fenômenos como a

crescente descentralização das empresas e as mudanças no contexto social

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têm tornado cada vez mais importante o processo de controle como

instrumento de motivação e avaliação.

Mendes et alli (2002) completam que o sistema de controle será

desenhado segundo características da estratégia traçada para a organização.

Em uma empresa orientada para a liderança de custos, o sistema atribui maior

ênfase à formalização, à definição de indicadores quantitativos, ao

estabelecimento de padrões e ao cálculo de variações orçamentárias.

Enquanto que numa empresa orientada estrategicamente à diferenciação, o

sistema deve ser mais flexível, com ênfase no estímulo ao autocontrole, à

utilização de indicadores qualitativos e menos formalizados, orientado a longo

prazo e fomentando a motivação, a criatividade e o aprendizado.

2.2 Descentralização

Uma conseqüência do crescimento da diversidade e da complexidade de

atividades em uma grande organização é a sobrecarga da administração

central. Com uma estrutura centralizada as organizações são caracterizadas

por relações hierárquicas verticais, onde o controle é exercido através de

ordens que vem de cima e são executadas, conforme especificações, por

aqueles que estão em níveis hierárquicos inferiores. A interação entre

atividades é coordenada por planos estabelecidos pelos que estão nos níveis

mais altos. Sistemas de contabilidade e relatórios periódicos fornecem à

gerência central todas as informações necessárias para a formulação de

planos e para detectar qualquer abandono das políticas centrais determinadas.

(KAPLAN e ATKINSON, 1998)

Entretanto, ainda segundo estes autores, na prática, nenhuma gerência

central pode saber tudo sobre as diversas atividades de uma organização.

Sendo assim, a diretoria não pode tomar todas as decisões para os gerentes

de níveis inferiores. Muitas das decisões devem ser tomadas no nível mais

baixo, ou local, da empresa. O desafio no desenho organizacional é, então,

balancear os benefícios e custos da descentralização da tomada de decisões –

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benefícios e custos que são função dos recursos, restrições e oportunidades

particulares da empresa.

A necessidade de adoção de estruturas descentralizadas foi claramente

articulada por Chandler (1962, p.297):

“A falta de tempo, de informação, e de comprometimento

psicológico sobre uma visão empresarial global não foi

necessariamente uma séria desvantagem enquanto as atividades

básicas da empresa mantiveram-se estáveis, ou seja, enquanto

as fontes de matérias primas e suprimentos, tecnologia de

fabricação, seus mercados, e a natureza de seus produtos e

linhas de produtos permaneceram relativamente imutáveis. Mas

quando promoveu-se expansão de novas funções, em novas

áreas geográficas, ou de novas linhas de produtos aumentou-se

enormemente todos os tipos de decisões administrativas, então

os executivos de topo tornaram-se sobrecarregados e seu

desempenho administrativo menos eficiente. Este aumento de

pressões, por sua vez, criou a necessidade de construção ou

adoção de uma estrutura multidivisional com seu escritório central

e divisões operacionais autônomas.”1

Kaplan e Atkinson (1998) destacam os principais motivadores à

descentralização da estrutura organizacional:

Ø Um ambiente externo complexo e incerto demanda maiores recursos de

controle e tomada de decisões mais descentralizadas, pois exigirá

conhecimentos mais específicos sobre variados assuntos. Estes

especialistas podem, então, responder com mais velocidade e eficiência

às oportunidades e mudanças;

1 Tradução livre do autor.

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Ø Dificuldade, ou até mesmo inviabilidade, de compartilhamento de todas

as informações utilizadas pelos gerentes locais com a administração

central. Desta forma, o desejo de passar a tomada de decisão para onde

a informação relevante é adquirida, armazenada, acessada e

processada, é um importante incentivo à descentralização;

Ø Permitindo-se que as decisões sejam tomadas localmente, as unidades

descentralizadas podem responder à condições inesperadas mais

rapidamente do que seriam caso todas as ações tivessem que ser

aprovadas pela gerência central da empresa;

Ø Os gerentes de topo economizam seu tempo, um dos recursos mais

escassos da empresa, para decisões estratégicas, que a médio e longo

prazo são mais vitais para o sucesso da organização. Deixam, assim, os

gerentes das unidades com autoridade e responsabilidade para

tomarem as decisões operacionais, mais rotineiras;

Ø Inviabilidade de se computar globalmente decisões ótimas. Com uma

grande quantidade de operações complexas e de interações entre elas é

praticamente impossível resolver problemas de alocação de recursos de

forma centralizada. Existem limites para a complexidade dos problemas

que podem ser resolvidos pelas pessoas que tomam as decisões e, nem

mesmo, os algoritmos computacionais são capazes de otimizar sistemas

muito grandes. Quando o ambiente é caracterizado por incertezas, as

simplificações necessárias para as tomadas de decisões centralizadas

levam facilmente a resultados inferiores que aqueles obtidos por

unidades descentralizadas;

Ø No caso de uma estrutura organizacional centralizada, os gerentes de

níveis mais baixos não estariam sendo treinados para a tomada de

decisões, mas sim para implementar os planos determinados pela

diretoria ou gerência central. Desta forma, poderia haver a falta de

pessoas capazes de compor uma próxima geração de gerentes de topo.

Além disso, seria difícil a escolha de gerentes locais aptos a assumir um

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nível mais alto na estrutura da empresa, já que estes não teriam a

oportunidade de provar sua qualificação;

Ø A empresa terá dificuldade de atrair pessoas com criatividade e energia

para servir somente à implementação de decisões já tomadas por níveis

superiores. Os gerentes serão mais motivados e interessados em seu

trabalho quando tiverem autoridade de tomar as decisões relevantes

para sua unidade.

Apesar das vantagens acima listadas, Horngren, Sundem e Straton

(1996) alertam para alguns custos associados à adoção de uma estrutura

organizacional descentralizada:

Ø Os gerentes locais podem tomar decisões que não são as mais

interessantes para a organização, tanto por visarem o melhor

desempenho de sua própria unidade, quanto pela falta de conhecimento

de informações relevantes de outros departamentos;

Ø Os gerentes tenderão a duplicar serviços que poderiam ser únicos em

uma estrutura centralizada como, por exemplo, contabilidade e recursos

humanos;

Ø Os custos de armazenamento e processamento de informações

normalmente aumentam porque relatórios contábeis terão de ser

enviados para os executivos de topo, para que estes possam entender e

avaliar as unidades e seus respectivos gerentes;

Ø Os gerentes das unidades descentralizadas podem perder tempo

negociando com outras divisões preços e condições de produtos e/ou

serviços transferidos entre elas.

2.2.1 Descentralização X Divisionalização

Muitos autores tratam os termos descentralização e divisionalização

como sinônimos, entretanto Solomons (1976) os diferencia, considerando que

descentralização tem um sentido mais genérico, enquanto divisionalização

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considera a idéia de delegação da responsabilidade por lucro. Ele define

divisão como sendo uma unidade organizacional dirigida por um gerente com

responsabilidade completa pela lucratividade de suas operações, podendo,

então, ser entendida como uma unidade de negócios.

Anthony e Govindarajan (1998, p.170) também identificam o processo de

mudança de estrutura organizacional, de uma estrutura funcional para uma

constituída por unidades de negócio, como divisionalização:

“Uma organização funcional é aquela onde cada uma das

principais funções de manufatura e marketing é desempenhada

por unidades organizacionais separadas. Quando este tipo de

organização é transformada em uma onde cada uma das

principais unidades organizacionais é responsável tanto pela

manufatura quanto pelo marketing de um produto ou de uma

família de produtos, o processo é chamado divisionalização. Em

geral, uma empresa cria unidades de negócio porque decidiu

delegar mais autoridade aos gerentes operacionais.”2

Para Anthony e Govindarajan (1998), a unidade de negócio, também

conhecida como divisão, é responsável por todas as atividades envolvidas na

produção e marketing de uma linha de produtos específica. Seu gerente atua

quase como se a unidade fosse uma empresa independente. Ele é responsável

pelo planejamento e coordenação do trabalho das diversas funções,

resolvendo as disputas entre elas.

2.2.2 Centros de Responsabilidade

Segundo Anthony e Govindarajan (1998), um centro de responsabilidade

é uma unidade organizacional dirigida por um gerente responsável por suas

atividades. Uma organização nada mais é que um conjunto de centros de

2 Tradução livre do autor.

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responsabilidade. Em níveis inferiores da organização, os centros de

responsabilidade podem ser seções ou turnos de trabalho, ao passo que em

níveis mais altos, estes centros podem ser representados por departamentos

ou unidades de negócio, que são constituídos por outros pequenos centros;

estas unidades maiores também são, então, centros de responsabilidade.

Ainda de acordo com estes autores, a empresa como um todo têm

metas que, para que sejam alcançadas, tornam necessário o estabelecimento

de estratégias por parte da diretoria. Os objetivos dos centros de

responsabilidade são determinados para ajudar na implementação destas

estratégias globais.

Gomes e Amat (1999) completam esta idéia, acrescentando que quanto

maior a organização, maior e mais detalhado será o desdobramento dos

objetivos globais em objetivos específicos para os centros de responsabilidade.

De acordo com Fainguelernt (1998), a literatura apresenta quatro tipos

básicos de centros de responsabilidade, que são classificados conforme o

controle exercido sobre suas entradas (insumos) e saídas (produtos). Estas

unidades podem ser: centros de receita, centros de custo ou despesa, centros

de lucro e centros de investimento.

Centro de Receita

Em um centro de receita, as saídas (produtos) são medidas em termos

monetários, não havendo uma busca por relacioná-las às entradas (insumos).

Este tipo de centro é comum em organizações voltadas para o marketing, onde

as vendas ou pedidos em carteira são comparados aos orçamentos ou metas

determinados previamente pela direção da empresa.

Centro de Custo ou Despesa

Centros de custo ou despesa são aqueles nos quais somente as

entradas (custos ou despesas) são medidas em valores monetários.

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Anthony e Govindarajan (1998) evidenciam dois tipos de centro de

despesas: centro de despesas de engenharia e centro de despesas

discricionárias. A diferença entre eles reside no tipo de custo que é medido.

Nos centros de custos de engenharia, o valor dos custos incorridos pode

ser estimado com um razoável grau de confiabilidade. Exemplos deste tipo de

custo podem ser aqueles incorridos em um chão de fábrica, como: mão de obra

e material direto.

Já nos centros de custo discricionário o valor dos custos incorridos

dependerá do julgamento de seu gerente sobre que valor deve ser adequado

àquelas circunstâncias específicas. Exemplos deste tipo de centro podem ser:

recursos humanos, pesquisa e desenvolvimento e departamento jurídico.

Centro de Lucro

Kaplan e Atkinson (1998, p. 449) alertam para o correto entendimento do

que é um centro de lucro:

“Muitas definições para um centro de lucro foram

propostas. Em um nível puramente descritivo, pode-se definir

centro de lucro como qualquer unidade organizacional para a qual

alguma medida de lucro seja determinada periodicamente.

Entretanto esta definição falha por não capturar um dos principais

objetivos do uso dos centros de lucro: encorajar a tomada de

decisões locais e iniciativa. Simplesmente medir o lucro gerado

por uma unidade organizacional não torna esta unidade autônoma

ou independente.”3

Segundo Merchant (1998), os centros de lucro podem assumir diversas

formas, algumas delas bem mais limitadas no escopo de suas operações que

outras. Para se definir se o gerente de um centro realmente tem

3 Tradução livre do autor.

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responsabilidade sobre um centro de lucro, a questão relevante a ser

respondida é se ele tem significativa influência tanto sobre as receitas quanto

os custos da unidade.

Para Anthony e Govindarajan (1998), o estabelecimento de unidades

organizacionais como centros de lucro tem as seguintes vantagens:

Ø A velocidade de tomada de decisões operacionais pode ser aumentada,

já que muitas destas decisões não precisarão ser passadas à diretoria

da empresa;

Ø A qualidade de muitas decisões pode ser melhorada por serem tomadas

pelos gerentes que estão mais próximos da situação;

Ø A diretoria da empresa fica livre de decisões operacionais, dispondo,

assim, de mais tempo para problemas mais importantes para a

organização como um todo;

Ø Os gerentes dos centros conscientizam-se da importância do lucro,

passando, consequentemente, a procurar constantemente formas de

aumentá-lo;

Ø A medida de desempenho é melhorada. A lucratividade é uma medida

mais abrangente que receitas ou despesas medidas isoladamente, já

que considera o efeito das ações gerenciais sobre ambas

simultaneamente;

Ø Os gerentes dos centros são estimulados a usarem criatividade e terem

iniciativa, pois estão sujeitos a menos restrições da alta gerência;

Ø Um centro de lucro, por ser bastante similar a uma empresa

independente, oferece uma excelente oportunidade de treinamento para

seus gerentes em comandar diferentes áreas funcionais, em busca de

um cargo na alta gerência. Além disso, oferece aos principais executivos

da empresa uma forma de avaliar o potencial dos gerentes dos centros

para uma possível ascensão no organograma;

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Ø Se a empresa tem uma estratégia de diversificação, a estrutura em

centros de lucros facilita a utilização de especialistas em diferentes tipos

de negócios. A administração poderá alocar, por exemplo, uma pessoa

melhor treinada em determinado tipo de negócio à uma unidade que

trabalhe especificamente com isto;

Ø Centros de lucro fornecem à alta gerência informações sobre a

lucratividade das diversas partes que compõem a organização;

Ø Os centros de lucro estão sujeitos à pressões para melhorar seu

desempenho competitivo.

Os mesmos autores destacam ainda as dificuldades associadas à

utilização de centros de lucro:

Ø Perda de controle por parte da administração central da empresa, pois o

conhecimento da operação passará a ser limitado a relatórios de

controle;

Ø Possível falta de capacitação dos gerentes das unidades, já que nas

organizações estruturadas de forma funcional, eles não têm a

oportunidade de desenvolver uma competência gerencial generalista;

Ø As unidades organizacionais, que tinham um relacionamento de

cooperação quando estruturadas como funções, podem passar a

competir entre si. O aumento do lucro de uma unidade pode reduzir o de

outra. A falta de cooperação entre as unidades de negócio pode ser

bastante prejudicial para a organização como um todo;

Ø Possível aumento das divergências entre as unidades. A determinação

do preço de transferência adequado, apropriação de custos comuns e

crédito das receitas geradas de forma conjunta por duas ou mais

unidades de negócios podem ser motivo para atrito entre as unidades;

Ø Pode haver ênfase demasiada na lucratividade de curto prazo em

detrimento da lucratividade de longo prazo. Visando apresentar o maior

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lucro corrente, o gerente do centro de lucro tenderá a economizar

recursos que seriam aplicados em pesquisa e desenvolvimento,

programas de treinamento ou manutenção. Esta tendência torna-se

ainda mais clara quando o turnover dos gerentes dos centros de lucro é

alto. Nestas circunstâncias, estes gerentes podem ter boas razões para

acreditar que suas ações não afetarão a lucratividade antes que eles

troquem de emprego;

Ø Não existe nenhum sistema completamente capaz de garantir que cada

centro de lucro ao otimizar seu resultado, otimize também o resultado da

empresa como um todo;

Ø Se a diretoria da empresa é mais capaz ou tem melhor informação que o

gerente do centro de lucro, a qualidade de algumas decisões pode ser

reduzida;

Ø A divisionalização deve causar custos adicionais por requerer

gerenciamento e pessoal administrativo para cada um dos centros de

lucro, além de conduzir à tarefas redundantes.

Dean (1973) alerta para alguns pontos que devem ser lembrados para

que uma estrutura organizacional que utilize centros de lucro seja capaz de

incentivar e medir o desempenho de seus gerentes com eficiência:

Ø Definição correta dos centros de lucro;

Ø Determinação de preços de transferência justos;

Ø Medição acurada do lucro gerado pelos centros;

Ø Determinação de padrões realistas para o lucro dos centros;

Ø Utilização de incentivos e recompensas que levem os gerentes dos

centros de lucro a tomarem suas decisões de forma a beneficiar a

empresa como um todo.

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Centro de Investimento

Conforme Anthony e Govindarajan (1998), uma unidade de negócio

pode ter como foco o lucro, sendo representada por um centro de lucro, ou a

relação entre o lucro e os ativos empregados para adquiri-lo. Este último tipo é

conhecido como centro de investimento.

Centros de investimento são os centros de responsabilidade cujos

gerentes e seus funcionários controlam as receitas, custos e o nível de

investimento relativos à unidade. O centro de investimento funciona como um

negócio independente. (ATKINSON et al., 1997)

Kaplan e Atkinson (1998) identificam as três principais razões para se

medir o retorno sobre o capital investido. A primeira delas refere-se à

possibilidade de comparação entre o retorno alcançado pela unidade de

negócio e o custo de oportunidade de capital, medido pelo retorno obtido por

usos alternativos do capital. A segunda razão é promover disciplina no

processo de orçamento de capital. Sem nenhum tipo de medida de retorno

sobre o capital, há pouco incentivo para que os gerentes das unidades de

negócio busquem obter estimativas acuradas dos resultados futuros. E, como

terceira razão, a medida de retorno relativo ao capital investido conduz a

atenção do gerente da unidade para a redução do nível de ativos circulantes,

especialmente contas a receber e estoques, utilizados pela unidade.

A literatura apresenta basicamente duas medidas que relacionam o lucro

aos ativos empregados pelo centro de investimento. São elas: o Retorno sobre

Investimento (ROI) e o Lucro Residual (RI). A primeira corresponde à razão

entre o lucro obtido e os ativos empregados para obtê-lo, enquanto a segunda

medida refere-se à diferença entre o lucro e o custo de capital.

2.2.3 Preços de Transferência

Segundo Merchant (1998), centros de lucro ou investimento costumam

fornecer produtos ou serviços a outros centros dentro da mesma empresa.

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Quando isto ocorre, algum mecanismo de determinação dos preços de

transferência deve ser estabelecido.

De acordo com Anthony e Govindarajan (1998), um dos principais

desafios na colocação em prática de uma estrutura organizacional

descentralizada é projetar um método satisfatório de contabilização da

transferência de produtos e serviços de um centro de lucro para outro,

especialmente, em empresas que têm uma significativa quantidade deste tipo

de transação.

Toda esta dificuldade encontrada pela alta administração das

organizações descentralizadas, ao buscar um método satisfatório de

contabilização dos preços de transferência, é, contudo, mais do que

compensada pelos benefícios obtidos da sinergia resultante deste tipo de

estrutura. Solomons (1976) explica esta idéia:

“Se uma empresa divisionalizada pudesse organizar suas

atividades de forma que suas divisões não tivessem entre si

transações de nenhum tipo, ela teria removido um dos problemas

mais complexos da medição do lucro destas divisões. Entretanto,

ela perderia também uma característica valiosa da

descentralização, que é a capacidade de aproveitar os frutos da

divisão do trabalho e da especialização, enquanto beneficia-se da

integração em maior ou menor grau. O fato de uma empresa

divisionalizada ser mais que a soma de suas partes é evidenciado

através do complicado padrão de relações interdivisionais que

podem ser estabelecidas dentro de uma grande organização.”4

Anthony e Govindarajan (1998) alertam que o preço de transferência

não deve ser entendido como uma ferramenta contábil, mas sim como uma

ferramenta comportamental, que motive os gerentes a tomarem as decisões

4 Tradução livre do autor.

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corretas. Além disso, o mecanismo de estabelecimento do preço de

transferência deve ser projetado para alcançar os seguintes objetivos:

Ø Fornecer aos gerentes dos centros de responsabilidade informações

relevantes necessárias para a determinação do trade-off ótimo entre

custos e receitas;

Ø Conduzir à congruência de objetivos, ou seja, o sistema deve ser

projetado de forma que as decisões que aumentem o retorno da unidade

de negócio, também aumentem o retorno da organização como um todo;

Ø Ajudar na mensuração do desempenho econômico dos centros

individualmente;

Ø Ser simples para uma fácil compreensão e administração.

Os preços de transferência afetam diretamente as receitas do centro que

fornece o produto, os custos do centro que compra o produto e,

consequentemente, os lucros de ambas as divisões. Quando a quantidade

deste tipo de negociação interna é grande, uma falha na determinação dos

preços de transferência corretos pode causar efeitos negativos significativos

em várias decisões importantes, como: quantidade a ser produzida pelas

unidades, quantidade a ser comprada pelas unidades, alocação de recursos às

unidades e avaliação de seus gerentes. (MERCHANT, 1998)

O risco associado ao estabelecimento de um preço de transferência

inadequado fez, então, com que Anthony & Govindarajan (1998) propusessem

algumas condições que devem ser satisfeitas para que o preço de

transferência conduza à uma congruência de objetivos entre as unidades e a

empresa como um todo:

Ø Pessoal competente – Gerentes devem preocupar-se com o

desempenho tanto de curto quanto de longo prazo de seus centros de

responsabilidade;

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Ø Justiça – Os gerentes devem ver o preço de transferência como definido

em base a um critério justo;

Ø Liberdade de fornecimento – Os gerentes devem ter autonomia para

escolher a alternativa que melhor satisfizer seus interesses. O gerente

que está comprando o produto (ou serviço) transferido deve estar livre

para comprar este produto em outras empresas do mercado. Da mesma

forma, o gerente que está vendendo o produto (ou serviço) transferido

deve poder vendê-lo à outras empresas ;

Ø Preço de mercado – O preço de transferência ideal deve basear-se em

um preço normal de mercado para um produto idêntico ao que está

sendo transferido, refletindo assim, as mesmas condições (quantidade,

tempo de entrega, entre outras) que estariam presentes em um mercado

competitivo.

Diversos autores entendem este último ponto como um princípio

fundamental no estabelecimento do preço de transferência. Entretanto, como

alerta Solomons (1976), há situações onde o preço de mercado não pode ser

determinado, como no caso de não haver um mercado competitivo para o

produto transferido.

Como alternativa à utilização do preço de mercado, existem opções

como os preços de transferência baseados nos custos, que, conforme

Fainguelernt (1998), podem ser:

Custo total real

Este custo é calculado pela divisão de todos os custos (fixos e variáveis)

de um determinado período pelo número de unidades produzidas.

Alguns problemas deste tipo de medida podem ser: o preço do produto

flutua, se o volume produzido pela unidade vendedora diminuir, o preço de

transferência aumentará; a unidade compradora desconhece o valor que será

cobrado até o fim do período, quando os custos reais da unidade vendedora

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são calculados; e, a utilização do custo real faz com que ineficiências da

unidade produtora sejam passadas para o custo do produto, e em última

análise, para a unidade compradora.

Custo total padrão

Este custo é aquele esperado para a produção do bem durante um

determinado período de tempo. Esta medida, quando comparada ao custo total

real, facilita a identificação da contribuição dada por cada uma das unidades de

negócio, por não passar os possíveis custos “de ineficiência” da unidade

vendedora para a compradora.

Custo marginal

Este preço de transferência refere-se ao custo marginal de fabricação do

produto a ser transferido para uma quantidade específica predeterminada.

Para Merchant (1998), o custo marginal apresenta, como principal

vantagem, a característica de motivar as unidades envolvidas na transação a

encontrar o volume ótimo, que maximiza o resultado da empresa como um

todo.

Isto ocorre, segundo Solomons (1976), porque, considerando que o

objetivo da organização é maximizar o lucro, a melhor política de produção é a

mesma tanto para a empresa composta por um único centro de lucro, quanto

para uma organizada em diversas divisões independentes. No caso de uma

empresa que possui um único gerente responsável pela produção do produto

intermediário e pela transformação deste em produto final, o caminho mais

lucrativo a ser seguido é produzir até o ponto em que o custo marginal iguala a

receita marginal. Do ponto de vista da organização, tal política não deixa de ser

válida pelo simples fato da empresa estar dividida em um maior número de

centros de lucro.

Outro ponto favorável à utilização do custo marginal como preço de

transferência é, de acordo com Solomons (1976), o suporte que ele dá à

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decisões de fazer ou comprar. Esta decisão deve ser baseada na comparação

entre o custo de compra e o custo incremental de produzir internamente. Tal

questão deve ser tratada da mesma forma no caso de transferência entre

unidades de uma mesma empresa. A utilização do custo marginal como preço

de transferência permite, então, que esta decisão seja tomada como se fosse

em uma empresa centralizada.

Apesar dos pontos positivos apresentados, Merchant (1998) identifica

algumas desvantagens deste tipo de preço de transferência. A primeira delas é

que o custo marginal fornece uma informação ruim com relação à avaliação

das unidades. A unidade vendedora terá que relatar perdas, por ter incorrido

em custos totais e recebido como receita somente os custos marginais. Em

contrapartida, o resultado da unidade compradora será superestimado, já que

este centro não teve que pagar os custos totais da produção transferida. Além

disso, os custos marginais não são constantes para todos os volumes de

produção. Deve ser considerada a possibilidade da unidade vendedora estar

operando perto do limite de sua capacidade, tendo que incorrer em novos e

altos custos fixos para suprir a demanda da unidade compradora.

Custo mais margem de lucro

Transferências pelo custo total adicionado de margem permitem que a

unidade vendedora obtenha lucro de produtos ou serviços transferidos

internamente. (MERCHANT, 1998)

Um ponto positivo desta abordagem , segundo Merchant (1998), é que o

valor deste preço de transferência é próximo ao preço de mercado, que seria

cobrado no caso de um mercado externo competitivo. Entretanto, por incluir um

prêmio acima do custo marginal, a quantidade ótima a ser negociada entre as

unidades não corresponde àquela que é a mais interessante para a

organização como um todo.

Para a determinação da margem de lucro, o método mais simples é a

utilização de um percentual sobre o custo.

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Two sets of prices

Anthony & Govindarajan (1998) adicionam uma outra maneira de se lidar

com o problema do estabelecimento do preço de transferência. Este método

consiste em utilizar dois valores distintos (two sets of prices): um deles para a

unidade vendedora e outro para a unidade compradora. Neste caso, a

administração central da empresa assumiria a diferença entre os dois números.

Este método de determinação de preço de transferência é utilizado

normalmente quando há conflitos freqüentes entre as unidades envolvidas na

negociação.

Para Anthony & Govindarajan (1998), existe uma série de desvantagens

neste tipo de sistema, dentre elas: os conflitos são aliviados e, em

conseqüência disto, a alta administração não é alertada dos problemas

existentes; este sistema pode criar uma situação em que as unidades são

lucrativas isoladamente, enquanto a empresa como um todo está tendo

prejuízos depois da contabilização dos débitos assumidos pela administração

central; e, pode levar as unidades de negócio a se concentrarem nas

transações internas, em detrimento de vendas externas.

2.3 Controle e Avaliação de Desempenho

Flamholtz (1996) identifica as duas principais funções do controle e

avaliação de desempenho. A primeira delas é a obtenção de números que

possam ser usados para monitorar se os objetivos e padrões estabelecidos

previamente foram alcançados.

Shaw (2000), detalhando esta idéia, coloca que a mensuração e

avaliação do desempenho são fundamentais para o controle organizacional por

permitir o entendimento de quatro questões básicas:

Ø O que ocorreu?

Ø Por que isto ocorreu?

Ø Isto vai continuar no futuro?

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Ø O que vamos fazer a respeito disto?

Para este autor, a primeira questão pode ser respondida diretamente

pela mensuração de desempenho. A administração central da empresa terá,

então, em suas mãos informações úteis, que permitirão que as outras três

questões sejam respondidas. Ao entender o que ocorreu no passado, a

administração poderá, com algum grau de certeza, identificar a direção em que

a empresa está caminhando e, no caso dos resultados serem adequados,

continuar o trabalho que vem sendo desenvolvido. Ou, se as medidas de

desempenho indicarem dificuldades, os executivos de topo poderão alterar o

curso com alguma antecedência.

A segunda função do controle e avaliação de desempenho apontada por

Flamholtz (1996) refere-se ao fenômeno causado pelo próprio processo de

medição. O comportamento das pessoas pode ser influenciado pelo

conhecimento, por parte das mesmas, da existência de uma avaliação.

Segundo Ducati e Vilela (2001), no caso de se associar tal avaliação

com a remuneração dos funcionários, deve-se ter em mente que avaliar o

desempenho como instrumento para distribuir lucros ou resultados deve ser

apenas a quantificação de um processo gerencial, no qual todas as pessoas da

organização devem estar inseridas.

Estes autores completam que a idéia, antes de mais nada, é que as

organizações passem a programar metas, projetos e realizações, quantificando

suas expectativas, acompanhando seu desenvolvimento e, finalmente,

avaliando os resultados. Desta forma, estariam desenvolvendo, de forma

satisfatória, o planejamento estratégico e também utilizando-o como ferramenta

gerencial. As metas, necessariamente, devem ser propostas e aceitas por

todos os envolvidos no processo, devendo ser de possível atingimento, mas de

maneira que tragam constantes melhorias para a organização.

Kaplan e Atkinson (1998) identificam a relevância e dificuldade relativas

à avaliação de desempenho em empresas descentralizadas. Para estes

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autores, em uma estrutura centralizada, os gerentes locais seguem exatamente

as regras operacionais, que ensinam a eles como agir. Neste tipo de estrutura,

qualquer falha no desempenho é facilmente encontrada e entendida, já que as

descrições das tarefas e atividades são bem especificadas. Entretanto, em uma

organização estruturada em unidades descentralizadas, as regras operacionais

são muito menos especificadas pela administração central, fazendo com que a

avaliação de desempenho torne-se bem mais difícil.

Uma destas dificuldades é apresentada por Gomes e Amat (1999, p.51):

“Por mais que se formalize e regule o comportamento de

cada pessoa, esta terá sempre uma certa margem de manobra

(ou discrecionalidade) que lhe permite eleger (segundo suas

prioridades e restrições) algumas dentre as diferentes e

disponíveis alternativas de ação que possui. Por outro lado, o fato

de os objetivos individuais e organizacionais não terem porque

coincidir entre si, abre a possibilidade de as pessoas

comportarem-se em sentido oposto aquele sinalizado pelos

instrumentos de controle postos em prática pela administração.”

Desta forma, os sistemas de medição e avaliação de desempenho

devem ser capazes de buscar uma maior orientação do comportamento

individual na direção dos objetivos da organização.

De acordo com Verma (1992), outro ponto que merece atenção, também

relacionado ao comportamento das pessoas, é que, devido ao fato de que tudo

o que é medido, recebe mais atenção, o tipo de indicador de performance que

a organização escolhe para medir, vai motivar ações para a melhoria desta

variável.

Corroborando esta idéia, Horngren, Sundem e Straton (1996) alertam

que deve-se pensar cuidadosamente a respeito das medidas de avaliação de

desempenho, devido aos efeitos destas sobre o comportamento das pessoas.

Medidas de desempenho associadas a índices de qualidade e produtividade,

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por exemplo, levarão os funcionários a direcionarem sua atenção para estas

áreas. Sendo assim, um desenho ou balanceamento equivocado das medidas

de performance pode funcionar contra os interesses da organização.

Para estes autores, uma medida de desempenho adequada deve

possuir as seguintes características:

Ø Estar relacionada aos objetivos da organização;

Ø Considerar metas de curto e longo prazos;

Ø Refletir o gerenciamento das atividades chaves;

Ø Ser afetada por ações dos funcionários;

Ø Ser facilmente entendida pelos funcionários;

Ø Ser utilizada na avaliação e recompensa dos funcionários;

Ø Ser razoavelmente objetiva e fácil de medir;

Ø Ser utilizada regularmente.

Horngren, Sundem e Straton (1996) aconselham também a utilização,

por parte das empresas, de medidas de avaliação de desempenho em toda a

sua cadeia de valor. Isto garantirá que todas as atividades críticas para o

sucesso da organização a longo prazo estejam integradas ao sistema de

controle gerencial.

Gomes (1983) corrobora esta questão, ao afirmar que o principal

cuidado, quando da seleção das medidas de desempenho, deve ser a

mensuração de todos os pontos chaves para o sucesso da organização pelo

sistema de avaliação.

2.3.1 Avaliação da Unidade X Avaliação do Gerente

Com relação à avaliação do gerente da unidade de negócio, Atkinson et

al. (1997) destacam o princípio da controlabilidade, que propõe que o gerente

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da unidade deve ser responsabilizado somente pelas receitas, custos e

investimentos que o pessoal deste centro de responsabilidade tem controle.

Horngren, Sundem e Straton (1996) corroboram este princípio ao

afirmarem que os responsáveis pelo desenho do sistema de controle gerencial

devem fazer a distinção entre a divisão como um investimento econômico e o

gerente como um profissional responsável pela tomada de decisões, avaliando

o desempenho do centro de responsabilidade e de seu gerente de formas

diferentes. Esta diferenciação deve ser feita através da consideração de quais

eventos são controláveis ou não pelo administrador da unidade.

Dearden (1987), fazendo uma correção na questão da controlabilidade,

coloca que muito poucos itens são inteiramente controláveis pelos gerentes,

mas também muito poucos não podem ser influenciados por eles. Desta forma,

o autor entende que a distinção a ser feita entre as medidas de desempenho

da unidade e de seu gerente não diz respeito à controlabilidade, mas sim à

habilidade de influenciar.

Dearden (1987) explica que as empresas falham ao não diferenciar o

indicador de desempenho do gerente daquele utilizado para avaliar a

performance da unidade, porque, ao agirem desta forma, estarão considerando

sempre os gerentes de divisões muito lucrativas como administradores de

sucesso, enquanto aqueles responsáveis por divisões com uma baixa

rentabilidade serão tratados como gerentes fracassados.

Este autor alerta, ainda, para uma outra dificuldade encontrada quando

da avaliação do desempenho dos gerentes das unidades descentralizadas. Na

maioria das organizações descentralizadas, os gerentes estão sob pressão

para atingir os objetivos propostos. Esta pressão pode levá-los a esconder

notícias ruins e a tomar decisões de curto prazo que não sejam interessantes

para a empresa como um todo a longo prazo. Sendo assim, um sistema que

responsabilize os gerentes por aquilo que eles realmente possam influenciar e

permita que eles expliquem os motivos pelos quais certos objetivos não

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puderam ser alcançados, irá aliviá-los um pouco desta pressão, fazendo com

que sintam-se mais livres para comunicar possíveis problemas.

2.3.2 Medidas Financeiras

A grande maioria das organizações controla o comportamento de seus

funcionários, em especial de seus gerentes, através de sistemas de controle

que geram resultados financeiros. Neste tipo de sistema, os resultados são

definidos em unidades monetárias, freqüentemente em termos de medidas

contábeis como receitas, custos, lucros e retornos. (MERCHANT, 1998)

Para Kaplan e Atkinson (1998), existem duas principais razões para a

extensa utilização de medidas financeiras de desempenho. Uma das razões é

que este tipo de medida está relacionado diretamente aos objetivos de longo

prazo da organização, que são quase que totalmente financeiros. A segunda

razão refere-se à capacidade destas medidas, desde que sejam corretamente

escolhidas, de fornecer uma visão agregada do resultado da entidade, seja da

organização como um todo ou de uma unidade de negócio isoladamente,

fazendo com que, através da observação de uma única medida, a alta

administração possa reconhecer o sucesso ou fracasso de uma série de

atividades e estratégias desenvolvidas.

Para Vancil (1979), uma outra razão para a popularidade das medidas

financeiras é que elas podem contribuir para a realização de algumas tarefas

importantes da administração central da empresa, como as seguintes:

Coordenação

Uma tarefa chave dos executivos de topo de uma empresa

descentralizada é a coordenação das atividades dos vários centros de lucro,

cujos gerentes possuem autoridade e responsabilidade descentralizadas. Os

elementos mais importantes deste processo são o planejamento e o orçamento

da alocação dos recursos corporativos aos centros.

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Os relatórios de desempenho financeiro fornecem informações que,

associadas à estrutura de responsabilidade da empresa, permitem a execução

do planejamento e do orçamento. Além disso, os gerentes das unidades podem

apresentar seus planos e orçamentos que, por serem expressos em termos

financeiros, poderão ser facilmente agregados para a revisão e coordenação

por parte da diretoria.

Motivação

Outra importante atribuição dos principais executivos da organização é

incentivar os gerentes das unidades a se empenharem na busca pelo sucesso

dos centros sob sua responsabilidade, contribuindo para o alcance dos

objetivos organizacionais.

A mensuração da performance financeira desempenha um importante

papel com relação à esta questão. Cada gerente de unidade possui uma esfera

de atuação, dentro da qual possui responsabilidade pelo negócio. A prática

comum em empresas descentralizadas é que estes gerentes estabeleçam

metas financeiras de desempenho para revisão e aprovação da diretoria. Este

processo faz com que os gerentes locais tornem-se comprometidos com os

objetivos propostos, ajudando, desta forma, no alcance das metas da

organização como um todo.

Orientação

Um sistema de mensuração de desempenho financeiro adequado pode

ajudar o gerente local a identificar seus próprios erros e a mudar seu

comportamento de forma que evite a recorrência destas falhas.

Entretanto, o sistema de mensuração não pode desempenhar esta

função sozinho, é necessário que tanto os superiores quanto os subordinados,

sejam da empresa como um todo ou da unidade de negócio, trabalhem em

busca de um relacionamento que permita este tipo de aprendizado.

Monitoramento da efetividade organizacional

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Finalmente, as medidas financeiras desempenham seu papel

fundamental dando suporte aos executivos de topo na sua tarefa de manterem-

se informados sobre a efetividade operacional da empresa. As medidas

financeiras permitem que a administração identifique os pontos com os quais

deve se preocupar.

Medidas de Lucratividade

“O lucro é a medida de desempenho mais amplamente

utilizada nas empresas estruturadas em unidades de negócio.

Avaliando o desempenho das unidades descentralizadas através

de uma medida de lucro, a alta administração espera promover

congruência de objetivos entre as unidades e a empresa, por

focar a atenção na lucratividade.”5 (KAPLAN e ATKINSON, 1998,

p. 449)

Shillinglaw (1961) sugere que, para que seja efetiva, a medida de lucro

de uma unidade deve considerar três pontos:

Ø O lucro da divisão não deve aumentar por uma ação que reduza o lucro

da empresa como um todo;

Ø O lucro de cada divisão deve ser o mais independente possível do

desempenho e das decisões gerenciais de outras unidades da empresa;

Ø O lucro de cada divisão deve refletir todos os itens que são sujeitos a um

substancial grau de controle por parte do gerente da unidade ou de seus

subordinados.

Para Anthony e Govindarajan (1998), existem dois tipos de medidas de

lucratividade em um centro de lucro. A primeira delas refere-se à medida de

performance gerencial, cujo foco está nas ações tomadas pelo gerente do

5 Tradução livre do autor.

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centro. Esta medida é utilizada no planejamento, coordenação e controle das

atividades diárias do centro de lucro, e como um meio de promover uma

motivação ao gerente. Já o segundo tipo é uma medida de desempenho

econômico da unidade, na qual o foco está na performance do centro de lucro

enquanto entidade econômica.

Para a avaliação do desempenho econômico do centro de lucro,

Anthony e Govindarajan (1998) propõem a utilização do lucro líquido depois da

alocação de todos os custos, inclusive a parcela justa dos custos da

administração geral. Enquanto isso, para a avaliação de desempenho do

gerente do centro a empresa pode utilizar, segundo os autores, uma das cinco

medidas de lucratividade discutidas a seguir.

Margem de Contribuição

A utilização desta medida leva os gerentes das unidades a focarem sua

atenção na maximização da diferença entre receitas e custos variáveis, já que

a margem de contribuição não considera os custos fixos, que não seriam

controláveis pelos gerentes. Os autores revelam, entretanto, que quase todos

os custos fixos podem ser, ao menos parcialmente, controláveis.

Lucro Direto

Esta medida indica a contribuição do centro de lucro para cobrir os

custos indiretos gerais e para o lucro da organização como um todo. Incorpora

todos os custos incorridos dentro da divisão ou que possam ser diretamente

alocados à ela, independentemente de serem ou não controláveis por seu

gerente. Os custos corporativos não são alocados às divisões, fato que acaba

configurando-se como uma desvantagem desta medida, por não motivar os

gerentes a questionar este tipo de custo.

Lucro Controlável

Refere-se ao lucro direto menos os custos corporativos sobre os quais o

gerente da unidade exerce algum controle. Esta medida não pode ser

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comparada ao lucro de outras empresas, pois exclui os custos corporativos não

controláveis pelos gerentes.

Lucro antes dos Impostos

Todos os custos corporativos são alocados às unidades. Esta medida

apresenta duas desvantagens: considera custos não controláveis pelo gerente

e esbarra na dificuldade de se encontrar critérios de alocação para os custos

indiretos que representem a forma mais justa de distribuição destes custos aos

diversos centros. Em contrapartida, este indicador possui pontos positivos:

desperta a atenção dos gerentes dos centros de responsabilidade para uma

utilização mais eficiente dos custos corporativos, possibilita a comparação com

concorrentes e indica aos gerentes que sua unidade não terá obtido lucro antes

que as receitas possam cobrir todos os custos, tornando-o mais motivado a

tomar melhores decisões de longo prazo.

Lucro Líquido

Representa o lucro após os impostos. Os dois pontos negativos

apresentados pelos autores são: em muitas situações o lucro após os impostos

é um percentual constante do lucro antes dos impostos, fazendo com que esta

medida tenha pouca utilidade; e, a maioria das decisões que afetam os

impostos são tomadas pela alta administração da empresa.

Retorno sobre o Investimento

De acordo com Kaplan e Atkinson (1998), a DuPont Powder Company,

formada em 1903, quando algumas empresas separadas e independentes

foram fundidas, encontrou uma dificuldade que ainda não havia sido

ultrapassada pelas organizações no século XIX: como coordenar e alocar os

recursos da empresa para as diversas unidades que possuíam atividades tão

distintas? Para guiar suas decisões de investimento, a DuPont Company

desenvolveu o índice de retorno sobre o investimento (ROI), medido pelo lucro

líquido dividido pelo ativo total.

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Segundo Kaplan e Atkinson (1998), o diretor financeiro da DuPont

Company identificou a possibilidade de expressar o ROI através do produto de

duas taxas já bastante utilizadas pelas corporações: o retorno sobre vendas

(lucro líquido sobre vendas líquidas) e o giro dos ativos (vendas líquidas sobre

ativo total).

Para Atkinson et al. (1997), o retorno sobre vendas é uma medida de

eficiência, que mede a habilidade no controle de custos a um determinado nível

de vendas, enquanto o giro dos ativos é uma medida de produtividade, que

mede a capacidade de geração de vendas para um determinado nível de

investimento.

Estas duas taxas puderam, por sua vez, ser decompostas em seus

componentes, e assim sucessivamente, compondo a expressão do ROI com as

várias contas do Demonstrativo de Resultado do Exercício e do Balanço

Patrimonial da organização. Este procedimento fez com que a alta

administração pudesse entender como o desempenho das atividades

individualmente poderia contribuir para um melhor resultado da empresa.

Segundo Atkinson et al. (1997), esta decomposição do ROI possibilita a

avaliação da evolução dos índices e dos relacionamentos entre eles, além de

viabilizar a comparação entre unidades da mesma ou de outra empresa,

visando melhorar a tomada de decisões.

Os resultados de uma pesquisa realizada por Reece e Cool (1978), com

as 1000 maiores empresas listadas pela revista Fortune, indicaram que 65%

dos respondentes utilizavam o ROI como medida de avaliação dos centros de

investimento, enquanto 28% utilizavam o ROI e o lucro residual juntos, e 2%

tinham somente o lucro residual como indicador de desempenho.

Para Merchant (1998), o ROI possui algumas vantagens, que podem

explicar a sua larga utilização. A primeira delas é que ele reflete, através de

uma única medida, os trade-offs que os gerentes devem fazer com relação aos

custos, receitas e investimentos. Outra vantagem é que o ROI funciona como

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um denominador comum, podendo ser usado para comparar os retornos de

negócios diferentes, como divisões e competidores, ou investimentos de um

mesmo tipo. Além disso, por ser uma medida utilizada há bastante tempo e em

muitos lugares, os gerentes já compreendem o que ela reflete e como eles

podem influenciá-la.

Anthony e Govindarajan (1998) acrescentam outras vantagens na

utilização do ROI: é uma medida abrangente, qualquer coisa que afete as

finanças poderá refletir na taxa; e, é fácil de calcular, de entender, além de ser

significativo em termos absolutos, ou seja, um ROI menor que 5%, por

exemplo, é considerado baixo em escala absoluta, enquanto um ROI maior que

25% é considerado alto.

Em contrapartida, de acordo com Kaplan e Atkinson (1998), a medida de

ROI pode dar a ilusão de que há controle por parte da alta administração,

quando, na verdade, este indicador está levando os gerentes das unidades a

tomarem decisões que aumentem-no através da redução do valor de sua

unidade de negócio a longo prazo.

Segundo Ferreira (1999), isto ocorre porque é possível aumentar o ROI

através de baixos investimentos, instalações antigas e de outras ações que

podem, a longo prazo, prejudicar a posição competitiva da empresa, bem como

seu valor de mercado, sem afetar a avaliação de desempenho daquele gerente

ou de sua unidade. Dearden (1987) apresenta como exemplo um possível

sucateamento de ativos em perfeito estado, visando o aumento do ROI, a partir

da redução do denominador da fração que ele representa.

Kaplan e Atkinson (1998) destacam, ainda, dois outros problemas na

utilização do ROI como forma de avaliação de um centro de investimento.

Ø Ações que aumentem o ROI da divisão podem piorar o desempenho da

empresa como um todo, e, da mesma forma, ações que reduzam o ROI

da divisão podem estar beneficiando a organização. Este efeito ocorre

porque gerentes de divisões que possuam um valor alto para o ROI, não

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irão propor investimentos de capital que reduzam este valor, mesmo que

o retorno do investimento em questão seja maior que o custo de capital

da divisão. De forma análoga, o gerente de uma divisão que possua um

ROI pequeno irá fazer investimentos que aumentem este valor, ainda

que a taxa de retorno deste investimento seja menor que o custo de

oportunidade de capital. Para Dearden (1987), este fenômeno

desencorajará o crescimento das divisões mais lucrativas.

Ø A utilização do ROI como base de comparação pode levar à conclusões

equivocadas. Considerando uma empresa que, por exemplo, tenha

como custo de capital para suas divisões o valor de 15% e esteja

querendo comparar duas divisões, sendo que a primeira delas possui

um lucro líquido de R$ 20.000 e ativos de R$ 90.000, e a segunda tem

um lucro líquido de R$ 12.500 e ativos de R$ 50.000. Aparentemente, a

segunda divisão (ROI de 25%) é mais rentável que a primeira (ROI de

22.2%), entretanto a primeira por possuir R$ 40.000 a mais em ativos e

R$ 7.500 a mais em lucro líquido, apresenta um ROI incremental de

18.75%, acima do custo de capital (15%). Desta forma, a primeira

divisão é mais rentável, após se descontar o custo de capital, que a

segunda.

Lucro Residual

Para transpor as limitações relativas à utilização do ROI como medida

de avaliação de desempenho, por volta de 1950, algumas empresas, entre elas

a General Electric, encontraram como uma medida de desempenho alternativa

o lucro residual. Para a utilização deste indicador, a direção da empresa deve

especificar um parâmetro adicional: o custo de capital da divisão. Este

parâmetro é multiplicado pelo investimento líquido da divisão para a obtenção

do custo de capital em termos absolutos. O lucro residual é a diferença entre o

lucro líquido antes dos impostos e o custo de capital em valor absoluto.

(KAPLAN e ATKINSON, 1998)

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De acordo com Merchant (1998), a medida de lucro residual faz com que

os gerentes de todos os centros de investimento tenham uma mesma

tendência a investir. Independente do nível atual de retorno dos centros, seus

gerentes estarão motivados a investir em projetos que ofereçam taxas internas

de retorno maiores que o custo de oportunidade de capital.

Diversos autores apresentam outras vantagens na utilização deste

conceito em relação ao ROI. Alguns destes pontos são descritos a seguir.

Ø A utilização do lucro residual como medida de performance produz

congruência de objetivos entre a avaliação da divisão e as ações que

maximizam o desempenho econômico da divisão e da empresa como

um todo. O lucro residual sempre vai aumentar quando forem

adicionados investimentos cujos retornos sejam maiores que o custo de

capital, ou quando forem eliminados investimentos com taxas de retorno

inferiores ao custo de capital (KAPLAN e ATKINSON, 1998);

Ø Diferentes taxas de retorno podem ser usadas para diferentes tipos de

ativos, variando conforme o risco envolvido. Desta forma, o sistema de

avaliação torna-se mais consistente com relação às regras para tomada

de decisão de compra de ativos, ou seja, para um mesmo tipo de ativo,

a taxa de retorno exigida será a mesma, independente do nível de

lucratividade da unidade de negócio envolvida na aquisição. (ANTHONY

e GOVINDARAJAN, 1998)

Solomons (1976), considerando todas as vantagens apresentadas pelo

conceito de lucro residual, conclui que o desempenho das divisões deve ser

medido pelo lucro residual líquido, enquanto o desempenho dos gerentes

destas unidades deve ser avaliado pelo lucro residual controlável. O lucro

residual controlável refere-se à diferença entre a receita da divisão e seus

custos variáveis, custos fixos controláveis e a taxa sobre os investimentos

controláveis. Já o lucro residual líquido equivale ao lucro residual controlável

deduzido dos custos não controláveis pela divisão.

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Apesar da aparente superioridade do conceito do lucro residual em

relação ao ROI, as organizações não utilizavam o primeiro como forma de

avaliar o desempenho de suas unidade de negócio até a década de 1980.

Segundo Kaplan e Atkinson (1998), o conceito de lucro residual passou

a ser mais amplamente conhecido e discutido no final da década de 1980,

quando diversas empresas de consultoria financeira publicaram estudos que

mostravam altas correlações entre variações no lucro residual e variações no

valor das ações das empresas, correlações significativamente maiores que

aquelas encontradas quando comparava-se o preço das ações ao ROI. O lucro

residual ganhou ainda mais notoriedade quando a empresa de consultoria

Stern Stewart, após algumas modificações no tratamento original, registrou-o

como um novo termo, o EVA (economic value added).

Ainda conforme estes autores, o EVA apresenta basicamente duas

diferenças com relação ao conceito original de lucro residual. A primeira delas

refere-se à utilização de novas ferramentas econômico-financeiras, em

especial, o modelo CAPM (capital asset pricing model), que permite encontrar

um valor específico de custo de capital para cada uma das unidades de

negócio, baseado nas características e no risco deste negócio. De acordo com

Ferreira (1999), o cálculo do custo de capital por parte das empresas não

acompanhava a dinâmica do mercado, o valor era considerado fixo por um

grande período de tempo, distorcendo o verdadeiro custo de oportunidade de

capital a ser empregado.

A segunda diferença apontada por Kaplan e Atkinson (1998) é que o

EVA é calculado depois de serem feitos ajustes nas distorções introduzidas

pelos princípios contábeis utilizados na confecção dos relatórios financeiros.

Segundo Ferreira (1999), estes ajustes variarão conforme a empresa e o setor

em que esteja inserida. Um exemplo é o ajuste relativo à pesquisa e

desenvolvimento. Este gasto pode ser tratado como despesa ou como

investimento, a adoção de uma forma ou outra modifica o valor resultante do

EVA. O critério deve ser definido com base nos objetivos globais da

organização.

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Ainda com relação aos critérios utilizados, Horngren, Sundem e Straton

(1996) lembram que tanto o ROI quanto o EVA necessitam, para seus cálculos,

de medidas de lucro e capital investido. Por isto, a forma através da qual estes

itens são medidos deve ser cuidadosamente articulada pela empresa, já que o

procedimento adotado pode afetar bastante o resultado apresentado pelas

divisões.

Apesar da intensa divulgação na literatura dos benefícios do EVA frente

às demais medidas financeiras de avaliação, Silva et alli (2002) expõe que a

utilização deste indicador como base de um sistema de gestão pode encontrar

alguns problemas, entre eles:

Ø É uma medida de desempenho passada;

Ø É difícil de se medir adequadamente;

Ø Não mensura todo valor adicionado ao acionista, já que nem todos os

efeitos são passíveis de mensuração;

Ø Apresenta dificuldades no desenvolvimento de sistemas de

remuneração consistentes com os valores do EVA apurados;

Ø Os efeitos no comportamento dos gerentes podem ser adversos quando

o EVA for negativo por vários períodos.

Ainda conforme Silva et alli (2002), várias são as limitações do EVA,

entretanto nenhum sistema de gestão está totalmente livre de problemas,

assim, o melhor a se fazer é avaliar adequadamente as limitações do modelo e

buscar alternativas que minimizem os impactos das disfunções provocadas.

2.3.3 Medidas Não Financeiras

Segundo Kaplan e Atkinson (1998), durante a era industrial, sistemas de

controle financeiros foram desenvolvidos em diversas empresas para facilitar e

monitorar a eficiente alocação de capital físico e financeiro. As medidas

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financeiras podiam avaliar a efetividade e eficiência com que as divisões

usavam este capital para criar valor para os acionistas da empresa.

Entretanto, para estes autores, a chegada da era da informação tem

tornado obsoletas muitas das considerações básicas da era industrial, fazendo

emergir a necessidade de novas capacitações para que o sucesso de uma

organização seja alcançado. Sendo assim, os sistemas de controle devem ser

expandidos para incorporar a avaliação de ativos intangíveis e intelectuais,

como produtos e serviços de alta qualidade, funcionários qualificados e

motivados, consumidores leais e satisfeitos, entre outros.

Além de não considerarem todos os atributos importantes para o

sucesso da organização, as medidas financeiras, de acordo com Atkinson et al.

(1997), possuem outras duas desvantagens importantes. Uma delas refere-se

ao fato de que tais medidas não são capazes de indicar a forma através da

qual os resultados obtidos podem ser melhorados. Segundo estes autores, um

controle efetivo começa pela mensuração e gerenciamento dos elementos e

processos que geram o resultado financeiro, ao invés de medir somente o

próprio resultado.

A outra desvantagem identificada por Atkinson et al. (1997) é o alcance

de curto prazo das medidas financeiras. Este fato faz com que gerentes e

empregados não sejam incentivados a buscar sucesso de longo prazo. Para

Merchant (1998), o excessivo foco no desempenho de curto prazo é um efeito

quase inevitável da utilização de sistemas de controle que geram resultados

financeiros a partir de valores contábeis.

Gomes & Amat (1999) completam, ainda, que os sistemas de controle

baseados em indicadores financeiros não são capazes de relacionar estas

medidas ao contexto social e cultural.

O risco associado à não compreensão destes problemas, resultantes da

ênfase dada, por muitas empresas, às medidas financeiras é relatado por

Gomes e Amat (1999, p. 13):

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“Um dos grandes problemas encontrados em diversos tipos

de organização é o relativo ao uso de medidas inadequadas no

processo de avaliação de desempenho, quer individual, de

grupos, quer de toda a entidade. As medidas utilizadas pela

contabilidade tradicional, como, por exemplo, os indicadores

financeiros, podem, quando não reconhecidas suas limitações,

implicar prejuízos irremediáveis para os diversos tomadores de

decisão (internos e externos) e para toda a organização.”

De acordo com Anthony e Govindarajan (1998), há muito tempo as

empresas vêm utilizando medidas financeiras e não financeiras. Entretanto, as

medidas não financeiras eram usadas somente em níveis organizacionais

inferiores, para o controle de tarefas, enquanto as medidas financeiras eram

utilizadas em níveis organizacionais superiores, para o controle gerencial.

Conforme Ferreira (1999), baseados nas novas necessidades da era da

informação e na constatação empírica de que os sistemas de medição de

desempenho não mais atendiam às exigências organizacionais, muitos

estudiosos do assunto procuraram elaborar maneiras melhores de conduzir

esta questão. Um novo sistema, desenvolvido por Kaplan e Norton (1992), foi o

Balanced Scorecard.

Balanced Scorecard

Para Corrigan (1996), os sistemas de mensuração e avaliação de

desempenho tradicionais possuem um viés financeiro, além de terem seu foco

no controle. Como resultado disto, as empresas têm ignorado não só as

relações existentes entre o desempenho operacional e os objetivos

estratégicos, mas também a comunicação destes objetivos e seus resultados a

todos os níveis da organização.

Para solucionar estes problemas, Kaplan e Norton (1992) propõem o

Balanced Scorecard, argumentando que a complexidade associada ao

gerenciamento de uma empresa nos dias de hoje requer que a sua

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administração seja capaz de avaliar o desempenho de várias áreas

simultaneamente.

Segundo Newing (1995), administrar uma empresa utilizando um

Balanced Scorecard tem sido descrito na literatura como pilotar uma aeronave.

O cockpit possui indicadores de velocidade do ar, altitude, direção, posição,

destino, combustível, entre diversos outros. Todos eles são necessários para

um vôo bem sucedido. Confiar em um pequeno grupo destes instrumentos

poderia ser fatal. Sendo assim, nenhuma medida isolada de desempenho pode

fornecer uma idéia clara da real situação de uma empresa, tampouco da forma

através da qual ela poderá manter uma vantagem competitiva.

Horngren, Sundem e Straton (1996) definem o Balanced Scorecard

como um sistema de mensuração de desempenho que atinge um equilíbrio

entre medidas financeiras e operacionais, associa desempenho à recompensa

e reconhece explicitamente a diversidade de interesses dos stakeholders

(clientes, funcionários e acionistas).

De acordo com Kaplan e Atkinson (1998), o Balanced Scorecard traduz

a missão e a estratégia da organização em objetivos e medidas, organizados

em quatro perspectivas: financeira, consumidores, processos internos, e

crescimento e aprendizado. De acordo com estes autores, este sistema utiliza -

se destas quatro perspectivas para associar as medidas de desempenho

financeiro passado (perspectiva financeira) aos condutores de desempenho

financeiro futuro (consumidores, processos internos, e crescimento e

aprendizado).

Perspectiva Financeira

O Balanced Scorecard utiliza esta perspectiva pela capacidade que as

medidas financeiras possuem de sumarizar as conseqüências econômicas das

ações previamente tomadas. Este tipo de medida indica se a estratégia da

empresa, sua implementação e execução estão contribuindo para a melhoria

dos resultados. (KAPLAN e ATKINSON, 1998)

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Para Ferreira (1999), apesar de ter sido bastante criticada nos últimos

anos, o consenso parece ser na direção de que a perspectiva financeira não

pode ser abandonada ou substituída, mas acompanhada por outras. Um

fracasso financeiro, mesmo acompanhado de sucesso em outras áreas, além

de insustentável a longo prazo, constitui fator de grande desmotivação desde a

direção até o mais baixo escalão e fator de grande desânimo e frustração para

os acionistas, podendo significar grandes quedas em investimentos futuros.

Perspectiva dos Consumidores

Nesta perspectiva, de acordo com Kaplan e Atkinson (1998), os gerentes

identificam os clientes e os segmentos de mercado nos quais a unidade de

negócio vai competir, além das medidas de desempenho da unidade para

estes segmentos alvo. A perspectiva dos consumidores tipicamente inclui

diversas medidas genéricas de sucesso de uma estratégia. Estas medidas

podem ser: satisfação do consumidor, retenção de clientes, aquisição de novos

clientes, lucratividade dos mesmos, parcela de mercado nos segmentos alvo,

entre outras.

Para traduzir uma estratégia específica, estas medidas genéricas, que

seriam aplicáveis a todos os tipos de organizações, devem ser customizadas

para o grupo de clientes alvo de quem a unidade de negócio espera obter seu

maior crescimento e lucratividade.

Segundo Kaplan e Atkinson (1998), o que realmente faz uma estratégia

única é a fonte de valor que a unidade de negócio decide utilizar para criar

valor para seus clientes, de forma a atraí-los e mantê-los. Apesar destas fontes

de valor poderem variar entre as diferentes indústrias e entre os diferentes

segmentos de mercado de uma mesma indústria, os atributos mais

freqüentemente usados para definir a fonte de valor são: atributos do produto

ou serviço, relacionamento com os clientes e imagem e reputação.

De acordo com Newing (1995), além das medidas genéricas, a

perspectiva dos consumidores deve considerar objetivos e medidas de fatores

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que realmente afetem os clientes. Medidas de desempenho que envolvam

tempo, custo, qualidade e serviço devem ser desenvolvidas pelos gerentes

junto aos clientes, visando o entendimento de suas necessidades primárias.

Perspectiva dos Processos Internos

Conforme Kaplan e Atkinson (1998), nesta perspectiva os executivos

identificam os processos internos críticos nos quais a organização deve

exceder. Os processos internos críticos são aqueles que permitem que a

unidade de negócio crie valor de forma a atrair e reter os consumidores nos

segmentos de mercado alvo, além de satisfazer as expectativas de retornos

financeiros dos acionistas.

As medidas desta perspectiva têm, então, seu foco nos processos que

causam o maior impacto na satisfação do consumidor e nos objetivos

financeiros da organização.

Para Kaplan e Atkinson (1998), cada negócio possui um conjunto único

de processos que criam valor para os consumidores e produzem resultados

financeiros. Um modelo de cadeia de valor genérica fornece, entretanto, um

formato que as empresas podem usar como ponto de partida para uma

customização que resulte em seus próprios objetivos e medidas da perspectiva

de processos internos. A cadeia de valor genérica utiliza três principais

processos internos: inovação, operações e serviço pós-venda.

Perspectiva de Crescimento e Aprendizado

A quarta perspectiva do Balanced Scorecard, crescimento e

aprendizado, identifica a infra-estrutura que a organização deve construir para

ser capaz de crescer a longo prazo. As perspectivas dos consumidores e de

processos internos identificam os fatores mais críticos para o sucesso atual e

futuro. Entretanto, os negócios não serão capazes de alcançar seus objetivos

de longo prazo para os consumidores e para os processos internos utilizando-

se das tecnologias e capacitações atuais. Além disso, a competição global

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intensa faz com que as empresas tenham que melhorar continuamente suas

capacitações em criar valor para clientes e acionistas.

De acordo com Kaplan e Atkinson (1998), o crescimento e aprendizado

organizacional vem de três principais fontes: pessoas, sistemas e

procedimentos organizacionais. Os objetivos financeiros, dos consumidores e

dos processos internos no Balanced Scorecard vão naturalmente revelar

grandes desvios entre as capacitações existentes na empresa com relação à

estas fontes e aquelas que serão necessárias para atingir os objetivos de

melhoria de desempenho. Sendo assim, para sanar estes desvios, as

empresas devem investir em sua mão de obra, em sistemas e tecnologia de

informação, e em alinhar procedimentos e rotinas organizacionais.

Como na perspectiva dos consumidores, as medidas relativas aos

funcionários incluem diversos indicadores genéricos de resultado, como os

níveis de satisfação e retenção dos funcionários, treinamento de pessoal e

habilidade dos empregados. Além disso, a perspectiva de crescimento e

aprendizado possui drivers específicos para estas medidas genéricas, como

índices de habilidades específicas necessárias para o novo ambiente

competitivo.

A capacitação relativa aos sistemas de informação pode ser medida pela

disponibilidade em tempo real de informação acurada sobre consumidores e

processos internos para que os funcionários tomem as decisões e ações

adequadas.

Já as medidas relativas aos procedimentos organizacionais devem ser

capazes de examinar o alinhamento dos incentivos dos funcionários com os

fatores de sucesso organizacional, assim como as taxas de melhoria em

fatores críticos para os consumidores e para os processos internos.

Epstein e Manzoni (1997) alertam que as quatro perspectivas do

Balanced Scorecard, acima apresentadas, devem ser consideradas como um

modelo e não como uma restrição. Não existe nenhuma comprovação de que

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as quatro perspectivas sejam necessárias ou suficientes. Para Kaplan e

Atkinson (1998), as empresas dificilmente usarão menos que quatro, mas,

dependendo das circunstâncias da indústria e da estratégia da unidade de

negócio, uma ou mais perspectivas adicionais poderão ser necessárias.

Kaplan e Atkinson (1998) destacam, ainda, que a possibilidade de a

empresa chegar a um grande número de medidas em seu Balanced Scorecard

não significa que a organização terá dificuldades de absorvê-las. Um Balanced

Scorecard corretamente desenvolvido deve resultar em uma série de

relacionamentos entre objetivos e medidas que sejam consistentes entre si. O

Balanced Scorecard deve ser visto como forma de manifestação de uma única

estratégia, fazendo com que o número de medidas utilizadas se torne

irrelevante.

O sistema integrado de medidas e objetivos deve incorporar o complexo

conjunto de relações de causa-e-efeito entre as variáveis críticas que

descrevem a estratégia. O sistema de mensuração deve explicitar as relações

entre objetivos nas várias perspectivas de forma que possam ser gerenciadas e

validadas.

O ROI pode ser, por exemplo, uma medida da perspectiva financeira. O

driver desta medida pode ser um aumento das vendas para os clientes

existentes, resultado de um alto grau de fidelidade destes consumidores.

Desta forma, a fidelidade dos clientes é incluída na perspectiva dos

consumidores do Balanced Scorecard. E como a empresa consegue esta

fidelidade? Uma análise das preferências dos consumidores pode identificar

que a entrega on-time dos pedidos é altamente valorizada pelos clientes.

Sendo assim, a melhoria do percentual de entregas on-time pode conduzir a

um aumento na fidelidade dos clientes, que, por sua vez, pode levar a um

melhor desempenho financeiro. Além da fidelidade dos clientes, o índice de

entregas on-time deve ser incluído na perspectiva dos consumidores.

O procedimento continua para identificar em que processos internos a

empresa deve exceder para atingir um alto nível de entregas on-time. Para

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melhorar esta medida, a empresa pode ter que alcançar pequenos tempos de

ciclo em suas operações e alta qualidade dos processos. Ambos os fatores

aparecerão entre as medidas da perspectiva de processos internos. E como a

organização melhora a qualidade e reduz os tempos de ciclo de suas

operações? Através de treinamento de funcionários e melhoria de suas

habilidades, objetivo que pode ser classificado na perspectiva de crescimento e

aprendizado. Desta forma, um Balanced Scorecard bem construído deve contar

a estratégia da unidade de negócio. Ele deve identificar e tornar explícita a

seqüência de hipóteses sobre as relações de causa-e-efeito entre as medidas

de resultados e os drivers de desempenho destes resultados.

Para Anthony e Govindarajan (1998), quanto melhor entendidas estas

relações de causa-e-efeito, mais efetivamente cada pessoa dentro da empresa

poderá contribuir para o sucesso das estratégias organizacionais.

De acordo com Anthony e Govindarajan (1998), o aspecto mais

importante do Balanced Scorecard é sua habilidade de medir resultados e

drivers de forma que a organização atue de acordo com as estratégias

estabelecidas. A organização atinge congruência de objetivos ao relacionar os

resultados financeiros globais e os objetivos estratégicos aos objetivos de

níveis inferiores da estrutura organizacional, que podem ser observados e

afetados em diferentes níveis da organização. Desta forma, cada funcionário

compreende como suas ações podem ter efeito sobre as estratégias da

empresa.

Epstein e Manzoni (1997) apresentam, ainda, outros benefícios

associados à implantação do Balanced Scorecard. Um deles é a capacidade de

sintetizar as quatro diferentes perspectivas de desempenho da empresa em um

único documento. Além disso, este sistema evidencia os trade-offs entre as

diversas medidas utilizadas, ajudando a gerência a tomar decisões mais

acertadas.

Newing (1995) corrobora esta idéia, afirmando que quando os gerentes

entendem as ligações entre as medidas nas quatro perspectivas, eles

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compreendem como melhorias numa perspectiva podem levar a um

desempenho inferior em outra. Considerando estas relações, eles estarão

aptos a focar sua atenção no alcance de um desempenho positivo que possa

ser sustentável ao longo do tempo.

Rolph (1999) completa que o Balanced Scorecard disponibiliza para a

alta direção informações em uma forma estruturada e uniforme. Isto é

importante por facilitar a troca de informações entre as unidades de negócio e

permitir que a administração faça comparações válidas entre suas unidades.

Para que o Balanced Scorecard consiga proporcionar todos estes

benefícios, Anthony e Govindarajan (1998) lembram que a participação dos

executivos e funcionários da empresa nas etapas básicas do processo de

implantação do sistema é fundamental. Segundo estes autores, estas etapas

são:

Definição da estratégia – O Balanced Scorecard constrói uma ligação entre a

estratégia e as ações operacionais. Por isso, torna-se necessária, para

começar o processo de implementação do Balanced Scorecard, a definição da

estratégia organizacional. Nesta etapa, é importante que os objetivos sejam

claramente identificados e as metas sejam desenvolvidas.

Os autores alertam que para uma empresa que trabalhe em uma única

indústria, o Scorecard deve ser desenvolvido no mais alto nível da estrutura

organizacional e, a partir daí, ser passado para baixo na estrutura, através dos

diversos níveis funcionais. Entretanto, em uma organização que trabalhe com

diversos negócios, a unidade de negócio deve ser o ponto de partida para o

desenvolvimento do Scorecard. É importante que as áreas funcionais dentro de

cada unidade de negócio tenham seus próprios Scorecards, o que torna

necessário um alinhamento entre o Scorecard da unidade e aqueles dos níveis

inferiores. Como um passo final, neste tipo de organização, um Scorecard

global precisa ser desenvolvido para indicar as sinergias entre as unidades de

negócio;

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Definição das medidas da estratégia – O passo seguinte é o desenvolvimento

das medidas que darão suporte à estratégia traçada. Neste primeiro momento,

é imperativo que o foco da organização esteja em poucas medidas críticas,

para que a gerência não seja sobrecarregada. Além disso, as medidas devem

ser atreladas umas às outras através de relações de causa-e-efeito;

Integração das medidas ao sistema gerencial – O Balanced Scorecard deve ser

integrado às estruturas formais e informais da organização, incluindo a

consideração da cultura e das práticas de recursos humanos da empresa.

Enquanto o Balanced Scorecard estiver balanceando as medidas de forma

adequada, estas podem estar sendo enviesadas por outros sistemas dentro da

organização, como as políticas de incentivos aos gerentes baseadas

exclusivamente no desempenho financeiro;

Revisão freqüente das medidas e dos resultados – O Balanced Scorecard,

depois de colocado em funcionamento, deve ser constantemente revisto pela

alta direção da empresa. A organização deve observar: como as medidas de

resultado indicam o quê ocorre na empresa, como as medidas que conduzem

aos resultados indicam o quê ocorre na empresa, como mudou a estratégia da

empresa desde a última revisão, e como mudaram as medidas do Balanced

Scorecard. Esta revisão pode indicar à gerência: se a estratégia está sendo

implementada corretamente e se vem sendo vitoriosa, se o projeto vem sendo

desenvolvido de forma comprometida com a importância das medidas, se há

manutenção do alinhamento das medidas com as possíveis mudanças na

estratégia, e se o sistema de mensuração vem melhorando.

Apesar dos benefícios citados por diversos autores, deve-se ter em

mente que o Balanced Scorecard é um modelo e que, como todos os outros,

tem suas limitações que devem ser compreendidas e analisadas pela

organização. Anthony e Govindarajan (1998) destacam alguns pontos críticos,

que devem receber atenção por parte das empresas quando da implementação

do Balanced Scorecard. A não observação destes tópicos pode, segundo estes

autores, comprometer a utilidade deste sistema. Estes itens são discutidos a

seguir.

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Fraca correlação entre as medidas não financeiras e os resultados financeiros

– Não há garantias de que o objetivo de lucratividade futura será obtido a partir

do alcance das medidas não financeiras. As empresas devem ter em mente

que as relações entre as medidas não financeiras e o desempenho financeiro

ainda não são bem entendidas;

Ênfase nos resultados financeiros – Os gerentes, além de serem melhor

treinados e adaptados às medidas financeiras, costumam receber maior

pressão por parte da diretoria da empresa com relação à performance

financeira. Esta pressão pode acabar comprometendo o desempenho de longo

prazo, devido à falta de preocupação com as medidas operacionais. Uma

pressão adicional pode resultar da falta de associação entre o Balanced

Scorecard e o programa de incentivos. Se a diretoria da empresa continuar

utilizando incentivos relacionados aos resultados financeiros, os gerentes

valorizarão mais estas medidas do que quaisquer outras, fazendo com que não

haja congruência de objetivos;

Falta de mecanismos de melhoria – A organização não pode atingir os

objetivos estabelecidos no Balanced Scorecard se não tiver mecanismos de

melhoria. Freqüentemente, os executivos examinam alguns cenários, decidem

qual deles é viável e, a partir daí, desenvolvem uma série de medidas que eles

crêem que conduzirão a empresa ao cenário adequado. Entretanto, o alcance

de muitos dos objetivos está vinculado à grandes transformações na forma

como a empresa vem trabalhando, podendo demandar recursos adicionais e

mudanças na cultura da organização. Essas mudanças não acontecem do dia

para a noite, tampouco respondem automaticamente a um novo objetivo

estabelecido. Sem um método de fazer melhorias, as metas dificilmente serão

atingidas, independente de quão bons sejam os objetivos estabelecidos no

Balanced Scorecard;

As medidas não são atualizadas – Muitas empresas não têm um procedimento

formal de atualização das medidas, de forma a considerar mudanças na

estratégia. O resultado disto é que a organização continua produzindo

indicadores baseados em uma estratégia antiga;

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Número ideal de medidas – Se trabalhar com poucas medidas, o gerente pode

estar ignorando indicadores que seriam críticos para o sucesso da empresa.

Entretanto, se utilizar medidas em excesso pode estar perdendo o foco,

tentando fazer muitas coisas ao mesmo tempo.

Além de ter em mente as restrições relativas ao Balanced Scorecard, a

alta direção da empresa que pretende adotar este sistema, segundo McCunn

(1998), não deve iniciar sua implementação até que saiba exatamente o quê

espera alcançar. A implementação pode consumir tempo, dinheiro, entre outros

recursos da empresa. Sendo assim, para que esta ferramenta traga reais

benefícios à organização, esta deve não só ter uma idéia bastante clara dos

resultados esperados com a implantação do sistema, mas também estar

disposta a investir o que for necessário para colocá-lo em prática.

De acordo com Herzog (2003), no Brasil o Balanced Scorecard chegou

há cerca de seis anos. Atualmente, segundo dados da Symnetics, consultoria

paulista que representa a Balanced Scorecard Collaborative, de Kaplan e

Norton, cerca de 40 companhias o adotam. Entre elas: Gerdau, PETROBRAS,

Aracruz Celulose, Copel, Siemens e Oxiteno.

Como a história do sistema no país é recente, ainda não há casos de

aplicação tão completos como os citados por Kaplan e Norton em suas

publicações. Segundo Herzog (2003), as empresas no Brasil não tiveram

tempo suficiente para vivenciar todos os princípios do Balanced Scorecard. Há

empresas que já elaboraram um Scorecard corporativo e o detalharam para

suas unidades de negócio, realizando o processo de alinhamento da estratégia,

mas ainda não estabeleceram Scorecards individuais para os funcionários.

Outras companhias já realizaram ambas as coisas, mas ainda tentam tornar o

gerenciamento da estratégia um processo contínuo.

De qualquer maneira, a quantidade de casos de Balanced Scorecards

nacionais tem crescido bastante nos últimos anos, ajudando a compor uma

massa crítica e a disseminar o conhecimento sobre esta ferramenta no país.

Alguns destes casos são citados a seguir.

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Oliveira (1999) analisou o caso da subsidiária brasileira de uma empresa

japonesa líder mundial no segmento onde atua, que desenvolve, industrializa e

comercializa produtos de alta tecnologia voltados ao mercado corporativo. A

subsidiária brasileira unicamente comercializa os produtos desenvolvidos e

fabricados nas diversas outras unidades no mundo. Tal comercialização está

estruturada em uma rede nacional de revenda.

O estudo avaliou se o Balanced Scorecard seria útil para o planejamento

estratégico da empresa, alinhando seus objetivos com os de seus

revendedores, de forma que ambos fossem beneficiados. A pesquisa concluiu

que o sistema contribuiu para a difícil tarefa de alinhar interesses, onde as

partes não guardam a relação patrão versus funcionário, mas sim uma relação

empresa versus empresa, na qual o interesse maior, apesar de ser o mesmo –

o lucro, quase sempre diverge na definição de como e quando alcançá-lo.

Herzog (2003) observou que no Unibanco, terceira maior instituição

financeira privada do país, que trabalha com o Balanced Scorecard desde

1999, apesar da implantação ter sido conduzida simultaneamente nas quatro

unidades de negócio, há dissonâncias na forma e no ritmo com que cada uma

delas se apropria da ferramenta. Na unidade de seguros e previdência, o banco

já começa a colher os frutos da adoção do sistema, enquanto nas outras três

unidades de negócio, os responsáveis ainda brigam para que haja uma

familiarização com o modelo.

Também no setor bancário, Rezende (2001) estudou o Programa de

Ajustes 1995-1999, que trouxe ao Banco do Brasil uma forte alteração de

trajetória e de conteúdo estratégico, retratando os principais aspectos da

ferramenta desde o período de implantação (1995-1996) até o ano 2000, época

em que o Scorecard já estava em grande parte incorporado à dinâmica

organizacional do banco.

Neste caso pode-se observar que a empresa utiliza o Balanced

Scorecard fortemente como forma de permitir o conhecimento por parte da alta

direção do desempenho dos empregados, além de auxiliar na formação e

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crescimento dos mesmos. As informações eram utilizadas para subsidiar, entre

outros, promoções, cursos e demissões.

Filho (2001) relata o caso do Instituto de Engenharia Nuclear, uma

autarquia federal vinculada ao Ministério de Ciência e Tecnologia, que em 1999

se propõe a adotar o Balanced Scorecard.

Neste estudo Filho (2001) pôde observar a adequação da estrutura da

ferramenta, através do uso de duas perspectivas adicionais: Pessoas e

Segurança. Além disso, este trabalho se destaca pela utilização do sistema em

uma instituição federal cujas atividades têm foco na área de pesquisa e

desenvolvimento.

Miranda et alli (2001), apesar de não estudarem o caso de nenhuma

empresa específica, propõe uma nova abordagem do modelo, combinando o

Balanced Scorecard com o conceito de Supply Chain Management no sistema

de medição de desempenho das empresas. Como resultado desta

combinação, o estudo propõe a inclusão do fornecedor como uma perspectiva

adicional às quatro tradicionalmente utilizadas.

Capital Intelectual

De acordo com Barsky e Marchant (2000), ao longo das últimas duas

décadas, a diferença entre o valor de mercado e o valor contábil das empresas

tem alcançado níveis jamais vistos. O crescimento desta diferença deve-se ao

fato destas organizações estarem cada vez mais baseadas em conhecimento e

dependentes de capital intelectual.

Estes autores utilizam como exemplo a Microsoft, que possuía no

segundo quarto do ano fiscal de 2000 um valor de mercado de US$ 600 bilhões

e um valor contábil de aproximadamente US$ 45 bilhões.

Conforme Barsky e Marchant (2000), a falta de capacidade das práticas

contábeis em lidar com a crescente importância do capital intelectual faz com

que muitos destes ativos mantenham-se longe de quaisquer demonstrativos e

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de qualquer tipo de monitoramento. Ainda segundo estes autores, sem

ferramentas capazes de capturar e medir o capital intelectual, muitas empresas

gerenciam de forma equivocada seus ativos intelectuais e, pior ainda, destroem

conhecimento simplesmente por falta de entendimento por parte de seus

gerentes da real natureza dos recursos da companhia.

Barsky e Marchant (2000) lembram que apesar de não serem visíveis,

os ativos intelectuais podem ser medidos e gerenciados. Mas se os gerentes

desejam cultivar seus recursos intelectuais, precisarão desenvolver medidas de

desempenho que sejam capazes de unir a produtividade interna da unidade ao

seu valor de mercado, as medidas financeiras já conhecidas às medidas de

capital intelectual. Para estes autores, as empresas que desenvolverem

mecanismos integrados de captura e gerenciamento destes recursos estarão

melhor preparadas para gerar retornos sustentáveis a seus acionistas.

De acordo com Mouritsen (1998), diferentes autores que escrevem

sobre capital intelectual podem diferir em pontos específicos ou nas

classificações utilizadas, mas utilizam tipicamente três dimensões que vão

além dos relatórios financeiros convencionais. Eles geralmente dividem o

capital intelectual em capital humano, capital organizacional e capital dos

clientes.

Stewart (1997), por exemplo, considera em seus trabalhos o capital

humano, o capital estrutural e o capital dos clientes. Para este autor, capital

humano é aquele que gera conhecimento, tendo como objetivo básico a

inovação, seja ela em termos de produtos e serviços ou em melhoramento de

processos do negócio. O capital estrutural é aquele que pertence à

organização como um todo, que não pode ser reproduzido, tampouco dividido:

tecnologias, dados, publicações, estratégia e cultura, estruturas e sistemas,

rotinas e procedimentos, entre outros. Por fim, para Stewart (1997), o capital

dos clientes é responsável pela manutenção dos relacionamentos com pessoas

e empresas para os quais a organização vende seus produtos e serviços,

podendo ser identificado através de indicadores como: market share, retenção

de clientes e lucratividade por cliente.

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Sveiby (1997) classifica o capital intelectual em três dimensões similares

às utilizadas por Stewart (1997). São elas: competência dos empregados,

estrutura interna e estrutura externa. Segundo o autor, a competência dos

empregados envolve a capacidade de atuar em uma ampla variedade de

situações, para criar tanto ativos tangíveis quanto intangíveis. A estrutura

interna inclui patentes, conceitos, modelos e sistemas computacionais e

administrativos. Finalmente, a estrutura externa considera os relacionamentos

com consumidores e fornecedores, além das marcas e da reputação e imagem

da empresa.

Edvinsson e Malone (1997) sugerem uma distinção entre capital humano

e capital estrutural. Para estes autores, o capital humano pode ser

representado pela combinação de conhecimento, qualificações, capacidade de

inovação e habilidades dos funcionários da empresa, adicionados aos valores,

cultura e filosofia da organização. Por outro lado, o capital estrutural refere-se

ao hardware, software, bases de dados, estrutura organizacional, patentes e

tudo aquilo que capacite a companhia a auxiliar na produtividade de seus

empregados. Edvinsson e Malone (1997) claramente dividem o capital

intelectual de uma organização em pessoas e “tudo o mais além delas”.

Brooking (1997), por sua vez, segmenta o capital intelectual em quatro

dimensões: ativos de mercado, ativos relacionados à pessoas, propriedade

intelectual e ativos de infra-estrutura. De acordo com este autor, os ativos de

mercado são aqueles que oferecem à empresa uma posição competitiva no

mercado, como: a marca de seus produtos, lealdade dos clientes, canais de

distribuição, contratos e publicidade. Os ativos relacionados à pessoas

referem-se à especialização, criatividade, capacidade de resolução de

problemas, liderança e habilidade gerencial dos funcionários. Para Brooking

(1997), estes ativos são importantes porque são caros (contratação,

treinamento e manutenção), possuem direitos (deixar o trabalho, ficar doente,

feriados, entre outros) e possuem conhecimentos importantes para a empresa.

Os ativos de infra-estrutura são aquelas tecnologias, metodologias e processos

que permitem que a organização funcione, incluindo, por exemplo, cultura

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corporativa, sistemas de gerenciamento, bases de dados e sistemas de

comunicação. O último tipo de ativo identificado como capital intelectual por

Brooking (1997) é a propriedade intelectual, que inclui os mecanismos legais

de proteção a ativos da empresa, como marcas registradas, patentes e trade

secrets.

Existem diferenças na nomenclatura e classificação propostas por

autores distintos. Entretanto, eles compartilham a preocupação de tentar

representar uma área a ser gerenciada que vai além do domínio da

administração financeira. (MOURITSEN, 1998)

Booth (1998) completa esta idéia, afirmando que a estrutura em si não é

crucial. Segundo este autor, da mesma forma que cada empresa deve

desenvolver seu próprio Balanced Scorecard para que reflita suas estratégias e

metas operacionais, elas devem também desenvolver estruturas próprias para

o capital intelectual, dando ênfase nos investimentos intangíveis mais

relevantes para a organização.

No Brasil este assunto já começa a ganhar força com a produção de

estudos e pesquisas sobre a atual situação e o grau de importância dado aos

ativos intangíveis nas corporações.

Um destes estudos, realizado por Barbosa e Gomes (2001), avaliava a

importância atribuída por três empresas brasileiras do setor de serviços a seus

ativos/recursos intangíveis. Neste trabalho os autores concluíram que havia

pouca orientação de tais companhias para ações gerenciais relevantes em

ativos intangíveis, assim como apontava uma baixa importância ao sistema de

medição destes recursos.

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3 METODOLOGIA

3.1 Tipo de Pesquisa

De acordo com Vergara (1998), as pesquisas podem ser classificadas

com relação a dois critérios básicos: quanto aos fins e quanto aos meios.

Esta dissertação pode ser classificada em relação à sua finalidade como

uma pesquisa exploratória, pois foi realizada em uma área em que há pouco

conhecimento acumulado e sistematizado. Por tratar-se de uma pesquisa de

sondagem, não comporta a formulação prévia de hipóteses. (VERGARA, 1998)

Com relação aos meios de investigação, segundo Vergara (1998), esta

pesquisa pode ser classificada como de campo, bibliográfica e de estudo de

caso.

Conforme Vergara (1998), a pesquisa de campo é a investigação

empírica realizada no local onde ocorre o fenômeno ou que dispõe de

elementos para explicá-lo. Isto é aplicável à esta pesquisa, devido à coleta de

dados primários na empresa estudada.

Esta pesquisa pode ser classificada como bibliográfica, devido à

fundamentação teórica nela contida, resultado de um estudo sistematizado,

desenvolvido através da leitura e análise de material publicado em livros,

periódicos, revistas e redes eletrônicas. (VERGARA, 1998)

E, finalmente, para Vergara (1998), esta pesquisa é classificada como

de estudo de caso, porque foi realizada em uma única empresa, com caráter

de profundidade e detalhamento, em busca de uma maior compreensão do

tema.

O delineamento do estudo de caso pode ser efetuado com o objetivo de,

a partir de uma ou poucas análises, generalizar o universo, ou, de servir como

um embasamento para uma investigação posterior, mais precisa e sistemática

(GIL, 1989). O segundo objetivo apresentado é o seguido por esta dissertação,

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visto que seu tema é pouco explorado, podendo ser aprofundado

posteriormente em outros estudos na área.

3.2 Universo e Amostra

De acordo com Vergara (1998) e Gil (1989), pode-se definir o tipo de

amostra desta pesquisa como não-probabilística, já que sua escolha não foi

baseada em nenhum tipo de procedimento estatístico, dependendo

exclusivamente dos critérios do pesquisador.

Além disso, pode ser classificada como uma seleção de amostra por

acessibilidade, já que um dos critérios utilizados para a escolha da empresa

objeto de estudo foi a facilidade de acesso para o pesquisador.

A empresa estudada nesta dissertação foi a Shell Brasil. A escolha desta

empresa deveu-se aos seguintes pontos:

Ø O conhecimento por parte do pesquisador da adoção de uma estrutura

baseada em unidades de negócios;

Ø A credibilidade associada ao nome da empresa;

Ø A localização de sua sede na cidade do Rio de Janeiro, facilitando a

realização das entrevistas.

3.3 Seleção de Sujeitos

Conforme Vergara (1998), os sujeitos da pesquisa são as pessoas que

fornecem os dados necessários ao pesquisador. Nesta pesquisa, os sujeitos

foram as pessoas responsáveis pelas áreas de Planejamento Financeiro e

Recursos Humanos da empresa selecionada.

3.4 Coleta de Dados

Esta dissertação foi elaborada basicamente através de dois tipos de

coleta de dados.

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Inicialmente, foi desenvolvida uma pesquisa bibliográfica, que utilizou

como fontes:

Ø Livros sobre controle e contabilidade gerencial;

Ø Artigos de diversos periódicos americanos e europeus na área de

controle;

Ø Teses e dissertações sobre o tema;

Ø Informações e artigos disponíveis na Internet.

A outra forma de coleta de dados é a referente ao estudo de caso em

campo, onde foram utilizadas entrevistas. Segundo Vergara (1998), foram

realizadas entrevistas por pauta, pois o pesquisador fez uma preparação para

as entrevistas, estruturando diversos pontos a serem explorados com os

entrevistados.

Foram realizadas 2 entrevistas de cerca de 1,5 horas cada uma com os

responsáveis pelas áreas de Planejamento Financeiro e Recursos Humanos da

empresa objeto de estudo.

Além das entrevistas, foram realizados contatos telefônicos com estas

mesmas pessoas visando esclarecer alguns pontos pendentes que ficaram em

aberto mesmo depois das entrevistas.

O pesquisador utilizou como ferramentas para as entrevistas um roteiro

em forma de questionário, previamente preparado, e um gravador portátil,

devidamente autorizado pelos entrevistados.

3.5 Tratamento dos Dados

Os dados obtidos nesta dissertação foram tratados, conforme Vergara

(1998), de forma qualitativa. O tratamento foi feito de forma a codificar,

estruturar e analisar os dados, com o objetivo de comparar as informações

obtidas nas entrevistas com a revisão da literatura.

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3.6 Limitações do Método

Com relação à pesquisa bibliográfica, por ser uma fonte secundária,

pode, segundo Gil (1989), apresentar dados coletados ou processados de

forma equivocada. Outro ponto passível de erros é a tradução e interpretação

dos textos por parte do pesquisador.

A impossibilidade de generalização dos resultados obtidos é a principal

limitação do estudo de caso utilizado nesta dissertação.

Quanto às entrevistas, estas também possuem limitações, pois os dados

da mesma podem ser enviesados, por estarem sujeitos às percepções dos

entrevistados quanto às perguntas. Além disso, pode haver alguma influência

na interpretação do pesquisador com relação às respostas dos entrevistados.

(GIL, 1989)

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4 DESCRIÇÃO DO CASO

4.1 Histórico

A Shell tem suas origens em 1833, numa pequena loja que vendia no

East End de Londres antigüidades e objetos exóticos como belas conchas

orientais, usadas pelas donas de casa para enfeitar caixas e móveis. Marcus

Samuel, o dono da loja, realizou tantos e tão bons negócios com as conchas,

que contratou encomendas especiais às empresas que navegavam para o

Oriente e, em pouco tempo, o negócio cresceu o suficiente para se transformar

numa empresa de importação e exportação.

Marcus Samuel Senior morreu em 1870 e seus filhos, Marcus Samuel e

Samuel Samuel, herdaram o negócio de importar e vender conchas na

Inglaterra. Oito anos depois da morte do pai, os irmãos separaram suas

atividades: Marcus Samuel and Company estabeleceu-se em Londres e

Samuel Samuel and Company no Japão. Em 1885, Marcus Samuel ampliou

suas atividades entrando em um novo negócio: a venda de querosene do

Oriente. Cinco anos depois, viu os primeiros petroleiros em ação no Mar Negro

e começou a fazer planos para transportar querosene russo a granel, através

do Canal do Suez, encomendando oito petroleiros. O "Murex", primeiro deles,

fez a viagem inaugural por Suez em 1892.

Para garantir sua mercadoria, Marcus assinou contrato com um grupo

russo de produtores e refinadores que, na verdade, era controlado pela Casa

Rothschild. O negociante inglês estava garantindo, por longo prazo, o

suprimento de querosene produzido no Oriente. O óleo de baleia das velhas

luminárias e candeeiros começava a ser substituído rapidamente pelo

moderníssimo querosene, barato e de mais fácil manejo.

Nessa mesma época, produzia-se petróleo nas Índias Ocidentais. E, em

1890, a NV Koninklijke Nederlandsche Maatschappij tot Exploitatie van

Petroleum-bronnen in Nederlandsch-Indie foi fundada para operar um campo

de petróleo em Sumatra sob a direção de August Kessler. A empresa de nome

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gigantesco tinha, em 1892, apenas um oleoduto e uma refinaria. Para facilitar

seu relacionamento comercial, passou a chamar-se Royal Dutch Petroleum

Company.

Quatro anos depois, Henri Deterding associou-se a Kessler e ambos

começaram a sofrer os efeitos da competição com o baixo custo de transporte

do petróleo russo vendido por Marcus Samuel.

Para garantir seu negócio, a Royal Dutch começou a construir

petroleiros e instalações de armazenamento, fundando uma organização de

vendas. Nessa altura, as duas empresas européias - a Royal Dutch e a de

Samuel - tinham como grande rival a norte-americana Standard Oil. Para

enfrentar o desafio vindo do outro lado do Atlântico, iniciam, em 1892, um

trabalho de colaboração que culmina, em 1903, com a associação das duas na

Asiatic Petroleum Company Limited, com um terceiro sócio, Rothschild. Marcus

Samuel assumiu o posto de Chairman, e Deterding, o de Managing Director. A

empresa possuía fontes de distribuição, tinha um esquema de vendas e atuava

em todos os mercados do Extremo Oriente, passando depois a vender a

produção das Índias Orientais em todo o mundo. Na verdade, nos bastidores,

Samuel competia com Deterding, da Royal Dutch, e os dois só se juntavam

para combater o "inimigo" comum, a Standard Oil dos Estados Unidos.

Em 1898, Samuel havia obtido uma concessão em Bornéu e passou a

perfurar poços de petróleo com sucesso. Acabou construindo uma refinaria.

Seus negócios particulares iam tão bem que foi necessário formar uma terceira

companhia: The Shell Transport and Trading Company Limited, que passou a

existir ao lado da empresa original de Samuel, a Marcus Samuel Company, da

Royal Dutch e da joint venture que formaram, a Asiatic Petroleum. O nome

"Shell" (concha) era inspirado na loja do East End que seu pai lhe deixara ao

morrer.

Um invento que já existia desde 1885 - o carro a motor produzido por

Karl Benz - estava destinado a apressar a união da Shell com a Royal Dutch.

Ao saber da descoberta de petróleo no Texas, em 1901, Marcus Samuel

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conseguiu vencer a concorrência para transportá-lo e distribuí-lo na Europa.

Sua empresa, a Shell Transport, foi a primeira companhia de petróleo a ter

fontes mundiais de produção, o que garantia seu abastecimento de gasolina,

querosene e óleo combustível.

A norte-americana Standard Oil sentiu a concorrência e tentou, sem

sucesso, obter o controle da Shell Transport and Trading Company, enquanto a

Royal Dutch prosseguia em suas atividades de perfurar poços e produzir

petróleo. Uma série de crises na Royal Dutch e na Shell apressaram sua

associação. Em 1898, problemas na produção de óleo em Sumatra haviam

obrigado a Royal Dutch a recorrer à Rússia para conseguir querosene. Em

1900, Kessler morreu e seu posto foi ocupado por Deterding, partidário da

sociedade com a Shell. A empresa inglesa, por sua vez, enfrentava

dificuldades ao descobrir que o querosene de Bornéu era de baixa qualidade,

não tendo conseguido entrar no mercado de gasolina, a essa altura já em

franca expansão.

Todos esses contratempos e a certeza de que as duas empresas se

completavam levaram à grande fusão de 1907, com o nome de Royal

Dutch/Shell Group of Companies. A Royal Dutch saía fortalecida, pois era rica

em gasolina, e a Shell possuía óleo combustível. As duas garantiam o

transporte de seus produtos aos quatro cantos do mundo. O resultado da

sociedade é a Shell de hoje, a maior empresa do mundo em negócios com

petróleo.

4.2 Shell no Mundo

4.2.1 Aspectos Gerais

O Royal Dutch/Shell Group, mais conhecido como Shell, surgiu então

em 1907 da aliança entre as empresas Royal Dutch Petroleum da Holanda e

Shell Transport and Trading da Inglaterra.

Hoje, o Grupo Shell é um dos 10 maiores grupos industriais do mundo,

está presente em mais de 140 países e emprega mais de 91 mil pessoas.

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Muitos funcionários de diferentes nacionalidades trabalham fora de seu

país de origem, o que resulta num rico intercâmbio de conhecimentos,

tecnologias e experiências.

O Grupo Shell é o maior distribuidor do mundo de GLP (gás liqüefeito de

petróleo), combustíveis e lubrificantes, sendo ainda líder na produção de gás

natural. O Grupo também conta com:

Ø 50 mil postos de abastecimento;

Ø 15 milhões de consumidores por dia;

Ø 10 milhões de barris de petróleo vendidos por dia;

Ø US$110 bilhões de vendas líquidas por ano;

Ø US$11 bilhões de investimento por ano, sendo US$750 milhões só em

pesquisa;

Ø 54 refinarias em 33 países;

Ø 6 laboratórios de pesquisa;

Ø Produção de 2 milhões de barris de petróleo bruto por dia;

Ø Produção de 205 milhões de m3/dia de gás natural.

4.2.2 Estrutura das Empresas do Grupo

A Royal Dutch/Shell Group of Companies é formada por um complexo

de empresas que se expandem pelos países onde o Grupo está presente. As

companhias operacionais têm grande autonomia de gestão e dispõem de todo

o know-how do Grupo para crescer e se desenvolver.

Todas as empresas do Grupo trabalham em sintonia com os princípios

da Royal Dutch/Shell Group of Companies, que a transformaram na mais

importante companhia de petróleo do mundo, com faturamento de US$ 177

bilhões anuais.

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A administração deste complexo obedece a um modelo de organização

simples e direta, com quatro tipos de empresas sob controle dos acionistas:

Parents Companies

A Royal Dutch Petroleum Company, com 740 mil acionistas, e a Shell

Transport & Trading, com 250 mil acionistas, ocupam o topo da organização.

Estas companhias são as peças-chave de toda a estrutura do Grupo: autorizam

investimentos, indicam diretores e recebem os lucros das companhias holding,

distribuindo os dividendos aos acionistas. As ações da empresa podem ser

adquiridas nas principais bolsas do mundo.

Companhias Holding

A Shell Petroleum NV e a Shell Petroleum Company Ltd. detêm todas as

ações e controlam as companhias de serviços e as empresas operacionais.

Recentemente, foi formada uma terceira holding, a Shell Petroleum Inc., que

detém o controle acionário da Shell Oil nos Estados Unidos.

Companhias de Serviço

São as companhias que oferecem consultoria e serviços às demais

companhias operacionais do Grupo e às companhias associadas.

Companhias Operacionais

Dedicam-se às diversas atividades do Grupo ligadas ao Petróleo, Gás,

Química, Metais, Carvão e Negócios Não-Tradicionais (NTB). A Shell Brasil é

uma das companhias operacionais do Grupo mundial da Shell.

4.3 Shell Brasil

4.3.1 Aspectos Gerais

Com o nome de The Anglo Mexican Petroleum Products Company, a

empresa recebeu autorização do Presidente Hermes da Fonseca para começar

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a operar no Brasil em 1913. De seu depósito de óleos na Ilha do Governador -

o primeiro do país - distribuía em lombo de burro o "Kerosene Aurora" e a

gasolina "Energina".

Hoje, a Shell Brasil é a segunda maior companhia distribuidora de

combustíveis de capital privado do país, respondendo por 14% do mercado

nacional de derivados de petróleo. A companhia também produz e comercializa

lubrificantes e produtos químicos. A rede de distribuição, espalhada por todo o

território nacional, é composta por cerca de 2.800 postos de serviço, inclusive

os especializados em gás natural veicular (GNV). Os novos segmentos de

atuação do grupo no Brasil são as áreas de exploração e produção de petróleo,

gás natural e energia renovável.

Além disso, a empresa colabora na geração de 62.830 empregos (2.130

diretos, 1.700 em empresas associadas, 5.000 nas empresas contratadas e

54.000 nos postos de serviço), possui um patrimônio líquido de US$ 800

milhões, e realiza investimentos de US$ 130 milhões ao ano.

4.3.2 Estrutura Organizacional

A Shell Brasil pode ser representada hoje como uma estrutura composta

por quatro grandes grupos segmentados pelos produtos oferecidos por cada

um. Estes grupos são:

Extraction and Production (EP)

Esta unidade, criada em 1998 e responsável pela exploração e produção

do petróleo, ganhou força com a aprovação da lei de flexibilização do

monopólio do setor de Exploração e Produção, antes exclusivo da

PETROBRAS. A divisão de EP é hoje a grande aposta para o futuro da Shell

Brasil e possui ao todo 14 blocos petrolíferos em território brasileiro.

Em 1999, a empresa participou da Primeira Rodada Internacional de

Licitação promovida pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), participando do

consórcio que saiu vencedor do bloco BM-FZA-1, na Bacia do Amazonas.

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Em 2000, durante a Segunda Rodada Internacional de Licitação

promovida pela ANP, a Shell Brasil saiu vencedora, com 100% de participação,

do bloco BM-C-10 na Bacia de Campos, e participante do consórcio vencedor

do bloco BM-S8 na Bacia de Santos.

Neste mesmo período, além de participar destas duas primeiras rodadas

de licitação, assinou contratos de parceria com a PETROBRAS, participando

como operadora dos blocos BC-10 na Bacia de Campos, e BS-4 na Bacia de

Santos, e integrava o consórcio operado pela Elf para o bloco BC-2.

Também esteve presente na terceira e na quarta rodadas de licitação

adquirindo também participações nos blocos BM-C-14, BM-ES-10, BM-S-17 e

BM-S-19.

Todas as operações da Shell Brasil na atividade de exploração de

petróleo no país se concentram em áreas de águas profundas (a mais de 1500

metros de lâmina d'água), onde os desafios tecnológicos e a intensidade de

capital exigida para os investimentos são grandes.

Estes blocos também têm em comum a longa distância da costa (mais

de 100 kilomêtros), exigindo o transporte dos materiais desta para a plataforma

de perfuração.

Um fato bastante relevante ocorreu no ano de 2002, quando o Grupo

Royal Dutch/Shell comprou a Enterprise Oil Mundial, redefinindo

significativamente a participação da empresa no Brasil, que tomou para seu

controle os ativos antes pertencentes à Enterprise Brasil. Nesta carteira de

ativos estavam o campo de Bijupirá-Salema, na Bacia de Campos e os blocos

BS-2, BM-C-8 e BM-SEAL-5.

A aquisição da Enterprise Oil teve um importante impacto para o

posicionamento da área de EP da Shell Brasil. A empresa, que vem se

diversificando no país, aproxima-se agora da integração vertical neste negócio.

A compania encontra-se muito bem posicionada no segmento de downstream,

agora, com os ativos da Enterprise Oil, principalmente os campos de Bijupirá-

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Salema que oferecerão um volume considerável de petróleo, fortalecendo sua

presença nas regiões de Campos e de Santos, abrindo perspectivas para uma

estratégia independente da PETROBRAS.

A Shell Brasil ocupa agora uma posição muito mais sólida para expandir

suas atividades ou, ao menos, consolidar sua posição ante a abertura do

mercado e a entrada de novos concorrentes, notadamente as empresas do

Grupo ENI (Agip).

A companhia, através dos campos de Bijupirá-Salema, será a primeira

estrangeira a produzir petróleo no Brasil depois da abertura do setor. O início

da produção está previsto para junho de 2003, contando com todos os 15

poços.

A produção de Bijupirá-Salema é de um óleo cru relativamente leve, e o

tempo de vida útil do projeto de desenvolvimento da produção dos campos,

orçado em US$ 650 milhões, será de 13 anos, com capacidade máxima

estimada em 70 mil barris de petróleo por dia e 1,4 milhão de metros cúbicos

de gás por dia.

Com a atual capacidade, a empresa pode considerar o investimento

numa refinaria no Sudeste ou a aquisição de participações em refinarias

existentes. Levando-se em consideração o déficit de refino no país, a busca de

parcerias para a construção de uma nova refinaria para monetizar o óleo de

Bijupirá-Salema e dos demais campos pode parecer uma boa opção,

representando um passo histórico para a indústria petrolífera nacional.

De todos os investimentos no setor, sejam eles de distribuição de gás,

geração de energia ou comercialização de derivados, os de EP são os de mais

longa duração e os mais rentáveis, além de representarem o início efetivo da

cadeia de petróleo. Esses pontos justificam o interesse, a importância dada e a

aposta da Shell Brasil nesta área.

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Gas and Power (G&P)

Esta unidade é responsável pela produção e comercialização de gás

natural. A Shell Brasil possui participações em diversos negócios relativos a

gás natural:

Ø Detém 18,3% das ações da Companhia de Gás de São Paulo (Comgás),

o que representou investimentos de US$ 250 milhões, tendo a British

Gas como parceira;

Ø No Gasoduto Bolívia-Brasil, participa com 11,5% das ações, em parceria

com Petrobras, Enron, Transredes e BBPP Holding;

Ø Em Pernambuco, no complexo portuário de Suape, está desenvolvendo

um projeto para a implantação de um terminal de regaseificação de gás

natural liqüefeito, que suprirá a demanda de usinas termelétricas e

indústrias da Região Nordeste.

No campo da geração elétrica, a Shell participa do desenvolvimento de

importantes projetos, dois deles em fase mais adiantada de desenvolvimento,

fundamentais para o atendimento da demanda crescente.

O primeiro é o da Termelétrica de Cuiabá, já em operação, que deverá

gerar 480MW na Região Centro-Oeste. Nesse projeto a Shell participa com

21,8% do capital, tendo a Enron como parceira.

O outro projeto, em fase de desenvolvimento, a ser construído no estado

de São Paulo, é a Termelétrica de Carioba II, em que a Shell é sócia da CPFL

e da InterGen. Essa unidade, a exemplo da de Cuiabá, usará como

combustível gás natural. Sua capacidade de geração, quando o projeto estiver

totalmente implantado, será de 945 MW.

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Químicos

A Divisão Química da Shell é parte da empresa Global Shell Chemicals

que produz e comercializa derivados de petróleo de alta qualidade, produzidos

com tecnologia de ponta em todos os continentes.

Esta unidade da Shell Brasil opera basicamente como uma revendedora

de produtos. A Shell Brasil não possui instalações para a produção de

químicos, trabalhando através de compra e venda destes produtos.

A divisão atende mais de 150 clientes industriais nos diversos

segmentos de mercado como os setores automobilístico, tintas, fibras

sintéticas, embalagens, produtos de consumo e espumas de poliuretano.

São comercializadas mais de dez linhas de produtos, na sua maioria

solventes, glicois e poliois através de uma abrangente oferta de serviços aos

clientes, que se inicia com a garantia da qualidade do produto e do

fornecimento, através de uma rede logística que assegura a entrega dentro de

prazos acordados. Além disso, oferece a avaliação das condições de saúde,

segurança e preservação do meio ambiente no manuseio e estocagem do

produto, através do programa de Product Stewardship oferecido pela Shell.

Oil Products (OP)

Esta divisão é a responsável pela produção e comercialização de

derivados de petróleo, que representa o negócio mais forte da Shell Brasil ho je

em dia. Este grupo divide-se em OP Global (Aviação, Marine e LPG), que

trabalha com mercados que possuem atuação global e OP Ex-Global (Varejo e

Comercial), que são as divisões responsáveis pelos mercados nacionais.

Ø OP Global

Ø Aviação (divisão responsável pela produção e comercialização

de combustíveis para aeronaves);

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Ø Marine (unidade responsável pela produção e comercialização

de combustíveis para embarcações);

Ø LPG (Liquefied Petroleum Gas) (divisão responsável pelo gás

liqüefeito de petróleo, utilizado tanto em nível residencial

quanto industrial);

Ø OP Ex-Global

Ø Varejo (unidade responsável pela rede de postos de

abastecimento, que incluem serviços de abastecimento, trocas

de óleo, lavagens, lojas de conveniência (rede Select) e

pagamento eletrônico (AutoCaixa));

Ø Comercial (divisão responsável pela venda de lubrificantes e

combustíveis para grandes indústrias, como a Companhia

Vale do Rio Doce).

A área de distribuição de combustíveis no varejo (representada pela

unidade OP Ex-Global – Varejo) é a mais tradicional da empresa e responde

por cerca de 80% da Receita Operacional Líquida. No início da década de 90,

sua participação neste segmento de mercado era de cerca de 22%, em 1998 já

havia caído para 16%. Em 1998, a empresa contava com uma rede de mais de

3.800 postos com sua bandeira, número que se reduziu para 3.700 em 1.999, e

os cerca de 2.800 atuais.

Este movimento foi impulsionado por uma série de fatores, entre os

quais destacam-se problemas de relacionamento com seus revendedores e

problemas advindos da liberalização dos preços da gasolina, que fizeram com

que a Shell reformulasse sua estratégia para o setor.

Com relação ao primeiro problema, o relacionamento da Shell com seus

revendedores deteriorou-se bastante a partir de 1.998. De acordo com a

pesquisa da Fecombustíveis, naquele ano, cerca de 80% dos revendedores da

Shell mudariam de bandeira se pudessem. Em resposta à esta situação, a

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empresa adotou uma estratégia que privilegia o contato direto com seus

distribuidores, através de um programa entitulado “Conversando com o

Revendedor”.

Contudo, o maior problema que a empresa vem enfrentando se deve, de

fato, à liberalização dos preços da gasolina. Isto porque a companhia adotou

uma estratégia de ampliação das margens de lucro, com base em sua marca

forte no mercado, o que seria percebido como garantia de qualidade. No

entanto, a ver pela redução de lucros que a empresa vem colhendo desde

1.998, sua estratégia não foi bem sucedida, pois coincidiu com a entrada no

mercado de outras distribuidoras regionais com políticas de preços mais

agressivas.

De acordo com a empresa, as distribuidoras tradicionais estão sendo

prejudicadas pela concorrência desleal de distribuidoras que sonegam ICMS na

venda de produtos de terceiros nos postos com bandeira tradicional, além da

adulteração nos produtos. Isto foi o resultado do aumento da rivalidade no

setor, em função da liberalização dos preços dos combustíveis nos postos.

Em decorrência disto, a empresa tem buscado aumentar a fiscalização

dos postos com sua bandeira, descredenciando aqueles que se envolveram em

práticas de evasão fiscal, adulteração e compra de combustíveis de terceiros.

Só no ano 2.000 foram descredenciados 450 postos de gasolina.

E ainda, de modo a assegurar a origem da gasolina vendida em seus

postos, a Shell lançou mão da tecnologia “DNA Shell”, uma marca invisível que

permite a identificação da qualidade do produto. A presença deste componente

garante a detecção imediata de qualquer alteração no produto através de

equipamentos portáteis operados nos próprios postos.

Além das ações acima descritas, o processo de reestruturação da

distribuição de combustíveis da Shell envolve ainda o enxugamento de suas

atividades e racionalização de custos. O programa de enxugamento envolve o

fechamento de escritórios regionais, os quais serão substituídos em parte por

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Unidades de Serviços

Unidades de Negócios

Oil Products

OP Ex-GlobalOP Global

Aviação

Marine

LPG

Varejo

Comercial

Extraction andProduction

Gas and Power Químicos

Finanças OperaçõesEstratégia e

AssuntosCorporat.

RecursosHumanos

Compras

escritórios virtuais, que permitem que os funcionários trabalhem em suas

próprias casas, diminuindo assim as despesas da empresa. O processo de

reestruturação deste negócio envolve ainda a redução do número de postos

próprios, bem como de bases de armazenamento e a racionalização de sua

rede logística.

No tocante à venda de postos, a empresa, que tinha atuação

relativamente equilibrada por todo o território nacional, buscou concentrar-se

nos grandes centros urbanos ou em regiões nas quais tem participação

tradicionalmente expressiva, como é o caso da Região Norte, onde opera

através da sua subsidiária Petróleo Sabbá. Com relação às bases de

distribuição, conseguiu reduzir a quantidade de 72 para 38, em 1.999, visando

atingir a meta de 20 bases de armazenamento até o final de 2.003.

Além das unidades responsáveis pelos negócios da companhia, acima

descritas, a Shell Brasil possui cinco unidades referentes a serviços, que dão

suporte às operações das divisões de negócio. São elas: Finanças, Operações

(transporte e suprimentos), Estratégia e Assuntos Corporativos, Recursos

Humanos e Compras.

Assim, podemos esboçar a atual estrutura das unidades da Shell Brasil

da seguinte forma:

Figura 1 – Estrutura das unidades de negócio e de serviços da Shell Brasil

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Em termos hierárquicos e de subordinação, todas as unidades da Shell

Brasil estão sob o comando de um presidente, que acumula também a vice-

presidência do grupo de Oil Products, principal negócio da empresa.

Cada uma das unidades, tanto as de negócios (Varejo, Comercial,

Aviação, Marine, LPG, EP, G&P e Químicos) quanto as de serviços (Finanças,

Operações, Estratégia e Assuntos Corporativos, Recursos Humanos e

Compras) possuem um vice-presidente que as gerencia.

Apesar de estarem hierarquicamente abaixo do presidente da empresa

as unidades de Aviação, Marine, LPG, EP, G&P e Químicos estão também

vinculadas às suas respectivas unidades da Shell Internacional, para quem

enviam também seus demonstrativos de resultados.

Pode-se visualizar melhor a estrutura hierárquica das unidades da Shell

Brasil através da seguinte figura:

A estrutura organizacional da Shell Brasil segue os moldes da matriz

internacional, que tem implantado este mesmo modelo quando do início das

operações em cada um dos países onde está presente.

Aviação Marine LPG

Presidente

Comercial

Finanças

OperaçõesEstratégia e

AssuntosCorporat.

RecursosHumanos

Compras

Varejo G&PE&P Químicos

ShellAviation

MarineGlobal

LPGGlobal

G&PL.A.

E&PSouthComp

ChemicalGlobal

Figura 2 – Estrutura hierárquica da Shell Brasil

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Esta estrutura, hoje utilizada, é resultado de uma evolução

organizacional rumo à uma especialização nos diferentes tipos de

produtos/negócios (Oil Products, Extraction and Production, Gas and Power e

Químicos) da Shell no mundo.

Com relação à estrutura descentralizada, utilizada pela Shell Brasil,

foram relatados alguns pontos importantes de sua experiência. Como principais

vantagens observadas pode-se citar:

Ø Maior agilidade no processo decisório.

Ø Vice-presidentes das unidades e suas equipes conhecem melhor os

detalhes e as características específicas de suas divisões do que a alta

administração da companhia, que possui apenas uma idéia geral do

negócio, possibilitando melhores decisões em benefício da empresa.

Isto pode ser especialmente observado na unidade de Gas and Power,

que trabalha com fontes de energia relativamente novas e de pouco

conhecimento disseminado.

Ø Facilita a estratégia da empresa de atuar em diversas áreas dentro do

setor de energia, possibilitando o melhor gerenciamento de projetos

específicos e desenvolvimento e treinamento de pessoal especializado

naquela atividade.

Como principais desvantagens da estrutura descentralizada utilizada na

companhia foram observados os seguintes pontos:

Ø Dificuldade de controle do que acontece no dia a dia da unidade por

parte da alta administração.

Ø Dificuldade de se garantir que os responsáveis pelas unidades estejam

tomando as decisões corretas para a empresa como um todo.

Ø Duplicação de estrutura, recursos e funções entre as diferentes

unidades.

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A diversidade e complexidade dos diferentes produtos/negócios da Shell

inviabilizariam a utilização de uma estrutura centralizada responsável por todas

as distintas atividades da empresa.

4.3.3 Estratégia e Controle

A Shell tem como principal linha estratégica, hoje no Brasil, estar

presente em todos os tipos de atividade ligadas ao setor energético. A Shell

Brasil quer evoluir de uma empresa de distribuição de derivados do petróleo

para uma empresa de energia.

Coerente com essa linha, além de já possuir negócios de gás natural e

geração de energia elétrica, a empresa desenvolverá, ainda esse ano (2003),

sua divisão Shell Solar, que possibilitará o desenvolvimento desta modalidade

de energia renovável em busca de soluções atrativas e economicamente

viáveis para múltiplas aplicações de baixo consumo de energia.

A estratégia da direção da Shell para transformá-la em uma empresa de

energia começou a ser traçada em meados dos anos 90. Era o caminho para

enfrentar a desregulamentação da indústria do petróleo no Brasil, que ocorreu

a partir de 1.997.

De distribuidora de combustíveis e lubrificantes para o varejo, aviação e

indústria, partiu para o mercado de gás liquefeito de petróleo (GLP), com a

compra da Petrogás. Em seguida, comprou 20% da Comgas, desenvolvendo a

atividade de gás natural. Além disso, entrou também no negócio de usinas

termelétricas.

Além da ampliação do portfólio de negócios de energia, a empresa

pretende ampliar também as atividades relativas ao ciclo do petróleo, com uma

possível entrada na operação de refino, única atividade da cadeia produtiva na

qual a Shell não opera no Brasil.

Esta atividade, que possivelmente será iniciada em breve, adicionada às

demais, já desenvolvidas pela empresa (exploração, produção e distribuição),

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levam a Shell Brasil ao caminho de uma integração vertical (“do poço ao

posto”) das atividades econômicas da cadeia petrolífera.

De acordo com a empresa, a integração vertical garante uma maior

estabilidade dos resultados no curto prazo, consentindo um planejamento

eficiente a longo prazo. No volátil cenário internacional do setor petrolífero, a

integração atenua a sensibilidade dos resultados da empresa frente à variação

dos preços.

Esta integração das diversas áreas responsáveis pelas atividades do

ciclo do petróleo torna necessário que a alta administração da empresa

mantenha um certo grau de controle e inter-dependência entre suas unidades

de negócio, fato que pode ser evidenciado com sua política de preços de

transferência.

4.3.4 Preços de Transferência

Os serviços prestados pelas unidades de serviços para as unidades de

negócios ou mesmo para as demais unidades de serviços aparecem como um

custo de overhead nos demonstrativos de resultados mensais das unidades

que contrataram o serviço.

Estes custos são alocados de acordo com o custo total real incorrido

pela unidade fornecedora e rateados através de critérios de alocação que

podem variar de acordo com cada uma das possíveis atividades, mas que são

normalmente relacionados ao tempo dedicado à cada unidade.

Com relação à transferência de produtos entre as unidades, o principal

fluxo refere-se ao fornecimento de óleo diesel produzido pela unidade

Comercial para a unidade de EP (Extraction and Production), que utiliza este

produto como combustível para várias das máquinas que trabalham em suas

plataformas. Esta transferência entre as unidades é contabilizada pelo custo

total real incorrido na fabricação do produto e aparece no resultado tanto da

unidade compradora quanto no da vendedora.

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Além da transferência supracitada, existe ainda um fluxo relevante de

produtos entre outras empresas da Shell no mundo e a Shell Brasil, através da

unidade de Químicos, que compra graxas e solventes de outras empresas,

principalmente da Shell Holanda. Os produtos vindos da Shell Holanda são

comprados a preço de mercado.

Este suprimento da Shell Internacional representa cerca de 30% da

demanda de graxas e solventes da unidade de Químicos da Shell Brasil. Os

70% restantes são comprados da PETROBRAS.

4.3.5 Medidas de Avaliação de Desempenho

Os demonstrativos com os resultados auferidos de cada uma das

diferentes unidades da Shell Brasil são enviados mensalmente ao presidente

da empresa e aos responsáveis pelas respectivas unidades da Shell

Internacional.

Estes relatórios têm como principal função possibilitar a análise dos

resultados de forma a facilitar a tomada de decisões de acordo com a

proximidade ou afastamento dos mesmos com relação aos padrões e

expectativas dos principais executivos da companhia.

Para as unidades de serviços a principal medida avaliada é o custo real

incorrido por cada unidade ao longo do período analisado, em comparação

com o custo orçado para este mesmo período.

Por outro lado, as unidades de negócio têm como principal indicador de

desempenho o ROACE (Return Over Average Capital Employed), que

representa o retorno sobre o capital médio utilizado.

O ROACE é calculado como a razão entre o lucro líquido (depois de

impostos) alcançado em um determinado período e a média entre o capital

aplicado no início e no final do período analisado.

Apesar de serem gerados relatórios mensais com o resultado do

ROACE acumulado de cada uma das unidades de negócio, este indicador é

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mais fortemente analisado ao término do ano, já que inclui no seu cálculo o

capital médio empregado, termo mais fortemente evidenciado em um horizonte

de tempo maior.

O valor aceito pelo Grupo Shell Internacional como alvo para o ROACE

é de 15% para todas as unidades de negócio de todas as empresas do Grupo,

servindo então como padrão de referência para este indicador.

Além das unidades de negócio da companhia, a Shell Brasil como um

todo também utiliza como sua principal medida de desempenho o ROACE,

quando informa seus resultados para a matriz mundial.

Adicionalmente ao ROACE, é utilizada uma série de outras medidas de

avaliação de desempenho, tanto financeiras quanto não financeiras, para as

unidades de negócio. Estas medidas fazem parte da estrutura do Balanced

Scorecard utilizado na Shell Brasil.

4.3.6 Balanced Scorecard

Visão Geral e Objetivos

A Shell Brasil utiliza o Balanced Scorecard como ferramenta de gestão

desde 1.998. O sistema gera seus resultados com uma freqüência trimestral e

tem como principal função para a empresa oferecer de forma integrada

diversas medidas de avaliação de desempenho das unidades, representando,

através destes indicadores, os principais interesses da organização, além de

possibilitar a avaliação dos funcionários de forma congruente com as metas

alcançadas.

O Balanced Scorecard utilizado pela Shell Brasil possui dois níveis de

trabalho: as unidades de negócio e os funcionários da empresa. Não existem

níveis intermediários como, por exemplo, Scorecards para gerências ou outros

centros de responsabilidade. Também não há um Balanced Scorecard único

para a Shell Brasil como um todo.

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Estrutura e Funcionamento do Scorecard

Nos níveis macros existem sete Scorecards separados, um para cada

uma das unidades de negócio, à exceção das unidades Ex-Global de Varejo e

Comercial, que possuem um único Scorecard para ambas as divisões, já que

apresentam características bastante parecidas e trabalham com o mesmo

produto, diferindo apenas no tipo de cliente e nos canais de venda.

Desta forma, temos Scorecards para as seguintes unidades: Aviação,

Marine, LPG, EP, G&P, Químicos e Ex-Global (Varejo e Comercial juntos).

Estes Scorecards são usados para a avaliação do desempenho da unidade de

negócio como um todo.

Por outro lado, em um nível micro, existem Balanced Scorecards para

cada um dos funcionários da empresa, de forma que sempre estejam

presentes metas que os façam cooperar com os objetivos da companhia. Além

de servirem para disseminar os objetivos globais da empresa ao longo de toda

sua estrutura, os Balanced Scorecards dos funcionários são diretamente

relacionados à remuneração destes, através do pagamento de bônus.

Os Balanced Scorecards dos funcionários da Shell são desenhados de

forma que representem uma seqüência de aberturas consecutivas dos

Scorecards hierarquicamente superiores, para que os principais objetivos da

empresa sejam passados pouco a pouco para o dia-a-dia de cada empregado.

Por exemplo, o Scorecard do vice-presidente da unidade de Ex-Global

contempla alguns objetivos relacionados à marketing. Enquanto isso, no

Balanced Scorecard do diretor de Marketing, nível hierárquico seguinte,

existem algumas metas que existem no Scorecard do vice-presidente da

unidade mais outras metas específicas da diretoria de Marketing. Da mesma

forma, existem no Scorecard do gerente de Análise de Mercado, metas que já

constam no Scorecard do diretor de Marketing adicionadas de outras

específicas da Gerência de Análise de Mercado, e assim sucessivamente.

Desta forma, os objetivos globais da empresa são expandidos para todos os

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funcionários e vinculados de maneira organizada entre as relações de

subordinação.

Indicadores de Desempenho

Para cada um dos Balanced Scorecards das unidades de negócio foram

estabelecidos indicadores capazes de reproduzir o desempenho daquela

unidade de acordo com suas características específicas, além de incluir

indicadores da empresa como um todo e, até mesmo, medidas de desempenho

da Shell Internacional.

Os indicadores de desempenho estabelecidos para cada unidade da

Shell Brasil representam os pontos de partida para o estabelecimento dos

indicadores presentes nos Balanced Scorecards dos funcionários, iniciando-se

no Scorecard do vice-presidente da unidade e baixando, então, para cada

diretor, gerente, supervisor e demais empregados da empresa.

Além disso, foram associados a cada um dos indicadores de cada um

dos Scorecards, tanto das unidades de negócio quanto dos empregados da

companhia, pesos, através de percentuais, que refletissem a importância

daquela medida com relação ao desempenho global da divisão.

Os indicadores de desempenho de algumas das unidades de negócio da

Shell Brasil e seus respectivos pesos são:

Ø Oil Products Ex-Global (Varejo e Comercial)

Ø 40% - ROACE (Return Over Average Capital

Employed);

Ø 20% - Posição Competitiva (indicador da Shell Mundial,

refere-se ao custo em US$ / barril de petróleo);

Ø 10% - Interface com o Cliente (resultado de uma

pesquisa de satisfação do cliente, que avalia o

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atendimento, a força da marca Shell, entre outros

parâmetros);

Ø 10% - Pessoas (resultado de uma pesquisa de

satisfação junto aos funcionários da empresa);

Ø 10% - Desenvolvimento Sustentáve l (resultado de uma

avaliação junto aos principais clientes, órgãos do

Governo e instituições do país de quanto é atrativo o

investimento na Shell Brasil e de sua responsabilidade

social (caracterizando-se como uma empresa que não

agride o meio ambiente nem a vida da população do

país));

Ø 10% - Composição de alguns outros itens de menor

peso, como market share.

Ø Aviação

Ø 40% - ROACE (Return Over Average Capital

Employed);

Ø 20% - NIAT (Net Income After Taxes);

Ø 10% - Interface com o Cliente (resultado de uma

pesquisa de satisfação do cliente, que avalia o

atendimento, a força da marca Shell, entre outros

parâmetros);

Ø 10% - Pessoas (resultado de uma pesquisa de

satisfação junto aos funcionários da empresa);

Ø 10% - Desenvolvimento Sustentável (resultado de uma

avaliação junto aos principais clientes, órgãos do

Governo e instituições do país de quanto é atrativo o

investimento na Shell Brasil e de sua responsabilidade

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social (caracterizando-se como uma empresa que não

agride o meio ambiente nem a vida da população do

país));

Ø 10% - Composição de alguns outros itens de menor

peso.

Ø Gas & Power (G&P)

Ø 25% - NIAT (Net Income After Taxes);

Ø 5% - Volume de vendas;

Ø 10% - ROACE (Return Over Average Capital

Employed);

Ø 10% - Valor Agregado por US$ investido;

Ø 5% - Produtividade da extração de gás;

Ø 5% - Custo de produção;

Ø 15% - Performance de segurança, saúde e meio

ambiente;

Ø 15% - Gerenciamento de pessoas;

Ø 10% - Composição de alguns outros itens de menor

peso.

As medidas de desempenho que aparecem nos Scorecards das

unidades ou de pessoas de alto nível hierárquico dentro de cada divisão, como

os vice-presidentes, também estão presentes nos Scorecards dos funcionários

daquela unidade mais diretamente envolvidos ou capazes de afetar aquela

medida. Desta forma, é natural que os Balanced Scorecards dos vice-

presidentes de cada unidade de negócio sejam bastante próximos, ainda que

não iguais, aos Scorecards da própria unidade.

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O estabelecimento dos pesos de cada medida de desempenho dentro

do sistema de cada funcionário também está associado à lógica de sua

possibilidade de controlar ou afetar este indicador.

Avaliação e Remuneração dos Funcionários através do Scorecard

Hoje, na Shell Brasil, a única forma de se avaliar um funcionário é

através da análise de seu Balanced Scorecard, que assumiu também o papel

de ferramenta de gerenciamento dos resultados individuais, capaz de associar

diretamente o desempenho de cada um dos funcionários à quantidade paga de

bônus, remuneração variável utilizada na companhia.

De acordo com o resultado alcançado, cada indicador dentro do sistema

do Balanced Scorecard pode ser classificado dentro de 5 (cinco) tipologias

distintas: Abaixo, Limite, Alvo, Acima e Excelente. A classificação é obtida

comparando-se o resultado do indicador com os intervalos previamente

estabelecidos para cada um dos níveis.

Além disso, cada classificação está associada à uma quantidade de

pontos, que são: Abaixo – 0,0; Limite – 0,5; Alvo – 1,0; Acima – 1,5; Excelente

– 2,0. Desta forma, o resultado de cada medida de desempenho no Scorecard

pode ser associada à uma pontuação, de acordo com a classificação

alcançada.

Relacionando-se a pontuação obtida em cada uma das medidas com

seu peso (percentual) no sistema, chega-se à uma pontuação e uma

classificação única, que representa o desempenho geral daquela unidade ou

daquele funcionário.

A associação do desempenho do funcionário com sua remuneração

variável depende não só do resultado de suas metas, mas também do

resultado dos indicadores do Balanced Scorecard da divisão em que ele está

alocado. Cada um dos Scorecards (da divisão e do próprio funcionário) tem um

peso de 50% para o cálculo final de oferta de bônus aos empregados da

companhia.

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82

Cada funcionário da empresa tem acesso ao seu próprio Scorecard e ao

Scorecard da unidade de negócio a qual pertence, podendo visualizar, através

da Intranet, as metas e a evolução do desempenho ao longo dos trimestres de

cada um dos indicadores avaliados.

Para cada nível hierárquico dentro da empresa, existe uma matriz que

relaciona a classificação obtida como resultado do Scorecard do funcionário e a

classificação resultante do Scorecard da unidade à quantidade de salários que

aquela pessoa irá receber como bônus por sua performance, como aparece na

tabela a seguir.

Resultado do Balanced Scorecard da Unidade

Abaixo Limite Alvo Acima Excelente

Abaixo 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0

Limite 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5

Alvo 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0

Acima 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5

Resultado

do

Balanced

Scorecard

do

Funcionário Excelente 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0

Tabela 1 – Matriz de associação de resultados dos Scorecards à quantidade de salários

pagos em bônus aos funcionários

Revisão do Sistema

Os indicadores de cada Scorecard, bem como as metas referentes a

cada um deles, são revistos a cada ano. Além disso, podem haver revisões

pontuais, antes do término do período de um ano, no caso de ocorrerem

alterações de grande impacto no mercado externo, como aconteceu em 1.999

quando houve a desregulamentação do mercado e a liberação do preço dos

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combustíveis, modificando de forma bastante intensa todo o ambiente

competitivo do setor.

O estabelecimento dos indicadores de desempenho para os Balanced

Scorecards da Shell Brasil tem sido um processo bastante dinâmico. São

ajustados ou incluídos novos indicadores sempre que se percebe a

necessidade da busca por um alvo que ainda não era interessante para a

empresa, ou que, até o momento, não havia sido lembrado. Seguindo a mesma

lógica, podem ser excluídas medidas que não são mais de relevância para os

negócios da companhia.

Além disso, por ser um sistema relativamente novo, ainda tem sido

modificado, não por mudanças nos objetivos da empresa mas, por ajustes

necessários ao bom funcionamento da ferramenta, quando da observação de

falhas no processo.

No primeiro ano de funcionamento do sistema, por exemplo, observou-

se que os resultados dos Balanced Scorecards dos funcionários estavam, de

uma maneira geral, bastante satisfatórios, enquanto que os resultados dos

Scorecards das divisões estavam ruins. Neste ponto foi feita uma revisão de

toda a estrutura de metas e objetivos para cada funcionário, de forma a corrigir

este problema e associar de maneira coerente e eficaz os resultados

individuais ao resultado global das unidades da empresa.

4.3.7 Capital Intelectual

Apesar de reconhecerem a importância cada vez maior de se medir e

gerenciar os ativos intelectuais da empresa, não existe hoje na Shell Brasil

nenhum tipo de ferramenta ou sistema de avaliação ou controle do capital

intelectual ali presente.

Estão nos projetos a serem desenvolvidos nos próximos um ou dois

anos sistemas capazes de capturar e medir os recursos intelectuais, auxiliando

no gerenciamento dos mesmos, como forma de melhorar os resultados da

companhia.

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4.3.8 Grau de Autonomia dos Gerentes das Unidades

Com relação à autonomia para a realização de investimentos, a Shell

Brasil utiliza o conceito de Job Group, que estabelece o nível hierárquico de

cada funcionário dentro da estrutura da empresa e a sua autonomia para

investir. Cada Job Group tem autonomia de utilizar recursos (custos ou

investimentos) até um valor previamente estipulado. Acima deste valor é

necessário que se reporte ao nível imediatamente superior.

Este processo se aplica também aos vice-presidentes das unidades, que

a partir de um determinado valor, precisam da autorização da presidência da

Shell Brasil para realizarem investimentos em suas respectivas unidades de

negócio.

Outro tipo de ação que depende da aprovação da presidência da

empresa refere-se à criação ou descontinuação de linhas de produtos, quando

estes impactam na estratégia da empresa no país como um todo. Para estes

casos, ainda que as unidades possam analisar e propor estas ações, a decisão

final depende da presidência da companhia, como foi o caso do início da

comercialização de álcool combustível pela unidade de Varejo.

Para as decisões relativas ao pessoal, que incluem contratação,

demissão e promoção de funcionários, os responsáveis pelas unidades

possuem total autonomia.

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5 ANÁLISE DO CASO

5.1 Processo de Descentralização

A expansão da Royal Dutch/Shell Group of Companies, marcando sua

presença mundial, e o próprio modelo descentralizado em unidades de

negócios, utilizado pelas empresas do Grupo nos diversos países onde está

presente, configuram-se reflexos da necessidade de se trabalhar com uma

estrutura capaz de suportar o crescimento do tamanho e da complexidade das

atividades desenvolvidas pela Shell.

A estrutura utilizada tanto pela Shell Brasil quanto pelas demais

companhias do Grupo, presentes em outros países, é resultado de uma

evolução rumo à uma especialização nos distintos produtos/negócios (Oil

Products, Extraction and Production, Gas and Power e Químicos) que a

empresa tem.

A motivação para o processo de descentralização da empresa objeto de

estudo vai de encontro à idéia exposta por Chandler (1962) de que a

necessidade de uma nova estrutura descentralizada surge com a mudança no

ambiente dos negócios, gerada pela expansão das organizações em novas

áreas geográficas e com a diversificação das linhas de produtos, entre outros

fatores.

A diversidade e complexidade dos diferentes produtos/negócios da Shell

inviabilizariam a utilização de uma estrutura centralizada responsável por todas

as atividades da empresa.

5.2 Estrutura Organizacional

A empresa estudada apresenta, de acordo com a literatura sobre o

assunto, basicamente dois tipos de centros de responsabilidade: centros de

custos e centros de investimentos.

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As unidades de serviços (Finanças, Operações, Estratégia e Assuntos

Corporativos, Recursos Humanos e Compras) podem ser classificadas como

centros de custos pois somente esse itens são medidos em termos monetários

e avaliados ao final de cada período.

Por outro lado, as unidades de Aviação, Marine, LPG, Varejo, Comercial,

Extraction and Production, Gas and Power e Químicos podem ser

categorizadas, de acordo com Atkinson et al. (1997), como centros de

investimentos, já que os gerentes e funcionários destas unidades controlam as

receitas, custos e o nível de investimento relativo à unidade. A avaliação do

desempenho destas divisões é feita a partir de uma medida de investimento, o

ROACE, que contempla tanto o lucro quanto os ativos utilizados para alcançá-

lo.

Além disso, pode-se classificar a própria Shell Brasil como um centro de

investimentos do Grupo Shell Mundial, já que seus resultados são também

avaliados em base à uma medida de investimento.

Considerando as afirmações de Reece & Cool (1978), a decisão da Shell

Brasil parece ser acertada, já que, para estes autores, a utilização do conceito

de centro de investimento gera um melhor entendimento de como certa

unidade está contribuindo para a organização como um todo, quando

comparado aos demais tipos de centros de responsabilidade discutidos na

literatura a respeito do assunto.

Como observado por Anthony e Govindarajan (1998), uma organização

nada mais é que um conjunto de centros de responsabilidade. Em níveis

inferiores da organização, os centros de responsabilidade podem ser seções

ou turnos de trabalho, ao passo que em níveis mais altos, estes centros podem

ser representados por departamentos ou unidades de negócio, que são

constituídos por outros pequenos centros. Dessa forma, cada unidade da Shell

Brasil é composta por um conjunto de centros de responsabilidades, e estes,

por sua vez, por outros centros ainda menores.

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Entretanto, estes pequenos centros que compõem as principais

unidades da Shell Brasil não configuram-se em unidades de negócio, já que, de

acordo com Solomons (1976), para um centro ser classificado como uma

unidade de negócio ou divisão, seu gerente deve ter responsabilidade completa

pela lucratividade de suas operações.

Cabe ressaltar que, conforme exposto por diversos autores, a autonomia

completa dificilmente é alcançada pelas unidades dentro da estrutura

organizacional das empresas. No caso da Shell Brasil, este ponto pode ser

claramente observado na condução da política de preços de transferência da

companhia.

5.3 Preços de Transferência

Observou-se no caso estudado, assim como afirma Merchant (1998),

que centros de lucro ou investimento costumam fornecer produtos ou serviços

a outros centros dentro da mesma empresa.

Conforme Solomons (1976), os preços de transferência devem ajudar a

alta administração das empresas a avaliar o desempenho dos centros tratados

como unidades separadas, já que são parte fundamental do próprio sistema de

medição de resultado. Coerente com a afirmação deste autor, a empresa

analisada define preços de transferência para os produtos/serviços que são

negociados entre suas unidades e contabiliza estes preços nos resultados das

unidades compradora e vendedora ao final de cada período.

O fornecimento de óleo diesel da unidade Comercial para as plataformas

da unidade de EP, principal transferência de produtos entre as unidades de

negócio da Shell Brasil, é realizado em base ao custo total real. Esta forma de

contabilização do preço de transferência não está de acordo com a análise de

Anthony et alii (1992).

Segundo estes autores, o custo real não deve ser utilizado pois as

ineficiências da unidade vendedora são repassadas para a unidade

compradora. Dessa maneira, a unidade Extraction and Production está

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pagando pelas ineficiências que possam estar ocorrendo no processo de

produção do óleo diesel por parte da divisão Comercial.

Fainguelernt (1998) completa ainda que as principais dificuldades da

utilização do custo total real como método de transferência são: o preço do

bem intermediário flutua, se nem a demanda interna nem a demanda externa

caírem e o volume da unidade vendedora diminuir, o preço de transferência

para compradores internos aumenta; e as unidades compradoras

desconhecem o preço até o fim do período e até que a unidade vendedora

possa calcular os custos reais.

Por outro lado, a transferência de graxas e solventes da Shell Holanda

para a unidade de Químicos da Shell Brasil é realizada em base ao preço de

mercado, convergindo com o proposto por Anthony & Govindarajan (1998).

Para estes autores, o preço de transferência ideal deve basear-se em um preço

normal de mercado para um produto idêntico ao que está sendo transferido,

refletindo assim, as mesmas condições que estariam presentes em um

mercado competitivo.

A negociação entre a unidade de Químicos da Shell Brasil e a Shell

Holanda é realizada em base a um preço de mercado porque, segundo a

empresa, as duas entidades envolvidas são completamente independentes e

fazem parte de empresas diferentes. Esta afirmação corrobora a idéia de que

as unidades de negócio da Shell Brasil não são totalmente independentes entre

si, já que a principal transferência de produtos entre elas, fluxo de óleo diesel

entre a unidade Comercial e a unidade de EP, é realizada em base ao custo de

produção do bem.

A não utilização do preço de mercado não parece ser justificável de

acordo com Solomons (1976), que afirma que há situações onde o preço de

mercado não pode ser determinado, como no caso de não haver um mercado

competitivo para o produto transferido. Este fato não se configuraria numa

dificuldade para a empresa estudada, caso optasse pela utilização do preço de

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mercado como preço de transferência, já que existe um mercado regular de

óleo diesel no Brasil e seu preço comercializado é de amplo conhecimento.

A utilização do preço de transferência baseado no custo do produto

indica que as unidades de negócio da Shell Brasil não possuem um alto grau

de autonomia e independência entre si. Este ponto reflete o interesse da alta

administração da empresa de manter alguns controles sobre as decisões e

inter-relações entre as suas divisões, no intuito de manter uma estrutura

integrada do negócio.

Com relação aos serviços corporativos, pode-se observar na estrutura

da Shell Brasil a presença de unidades de serviços (Finanças, Operações,

Estratégia e Assuntos Corporativos, Recursos Humanos e Compras) que

prestam suporte às unidades de negócio e mesmo às demais unidades de

serviços.

De acordo com Vancil (1979), a razão de atividades como finanças

estarem sempre retidas nos centros corporativos é permitir que seus

executivos tenham autoridade funcional direta sobre estas, as quais

consideram importantes e que não gostariam de delegar a gerentes das

unidades de negócio.

Vancil (1979) apresenta em sua pesquisa que, no que se refere aos

métodos de transferência destes serviços, a maioria das empresas utiliza

transferências com base no custo e muito poucas utilizam-se de alguma forma

de preço de mercado. A Shell Brasil enquadra-se no resultado obtido por Vancil

(1979) para a maioria das empresas observadas, fazendo uso do custo como

forma de cobrança dos serviços corporativos realizados para as unidades de

negócio da companhia.

5.4 Estratégia e Controle

A Shell Brasil, que chegou ao país há quase 90 anos como distribuidora

de querosene e gasolina, começa a consolidar seu papel de empresa de

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energia. Sem as amarras do monopólio estatal, sai dos limites da distribuição

de derivados do petróleo e avança para outras atividades.

A estratégia da empresa é de crescer como uma companhia integrada

de energia. Existe, na alta direção da companhia, a crença de que a exploração

e produção de petróleo e gás serão o centro do empreendimento, mas que é

fundamental a expansão do refino e das atividades de eletricidade.

Esta tendência parece ser comum também à diversas outras empresas

que atuavam inicialmente como especialistas em uma determinada fonte de

energia. Segundo Turdera (2002), na década de 90 observou-se o surgimento

das empresas denominadas “companhias de energia”, isso porque elas

perceberam as vantagens da economia de escopo e agora estão presentes nas

indústrias de petróleo, gás natural e energia elétrica.

Além disso, no que diz respeito especificamente aos negócios relativos

ao petróleo, a empresa busca uma integração vertical entre as atividades.

Conforme Leitão (2001), a decisão estratégica de integração vertical agrega

toda e qualquer combinação de processos de produção, distribuição, vendas, e

de outros processos econômicos tecnologicamente distintos, dentro dos limites

de uma unidade empresarial.

De acordo com Macintosh (1994), há vinculos importantes entre a

estratégia de uma organização e seus sistemas de contabilidade e controle

gerencial. Uma estratégia determina como uma organização percebe

seletivamente seu ambiente, como pretende compor suas estruturas

organizacionais e que tipo de controles necessita a fim de implementá-la com

sucesso.

Isto pode ser nitidamente observado pelo controle por parte da alta

administração da empresa sobre as questões relativas ao preço de

transferência, discutidas na seção anterior. Este controle está associado à idéia

de se manter certo grau de dependência entre as unidades, incentivando a

integração das mesmas, em especial das unidades de Extraction and

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Production e Oil Products que são atividades chave do ciclo produtivo do

petróleo.

5.5 Controle e Avaliação de Desempenho

Os objetivos do controle e das ferramentas de avaliação de desempenho

empregadas na empresa objeto de estudo estão de acordo com o exposto por

Flamholtz (1996), ao afirmar que a primeira função do sistema de avaliação de

desempenho de uma empresa é a de gerar números para monitorar até que

ponto os objetivos estabelecidos estão sendo alcançados, e que a segunda

função é a de agir como modificador do comportamento das pessoas dentro da

organização.

Além das finalidades supracitadas, a avaliação de desempenho na Shell

Brasil também é utilizada no processo de determinação da remuneração

variável paga pela empresa aos seus funcionários, na forma de bônus ao final

do ano.

5.5.1 Medidas de Avaliação de Desempenho

A principal medida utilizada pela Shell Brasil como indicador de

desempenho de suas unidades de negócio é o ROACE (Return Over Average

Capital Employed), que assemelha-se muito ao ROI (Retorno sobre o

Investimento), bastante discutido na literatura estudada sobre o assunto. A

única diferença entre estes indicadores é que no cálculo do ROACE é utilizada

a média dos ativos no início e no final do período analisado, enquanto o cálculo

do ROI utiliza-se do valor pontual dos ativos.

A decisão de se utilizar uma medida como o ROACE na Shell Brasil

baseou-se nos mesmos pontos considerados por Merchant (1998) como

favoráveis a este tipo de indicador: reflete em uma única medida os trade-offs

que os responsáveis pelas unidades devem realizar em relação a custos,

receitas e investimentos; e funciona como denominador comum, podendo ser

usado para comparar retornos de negócios diferentes.

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Anthony e Govindarajan (1998) completam que este tipo de medida é

abrangente, qualquer coisa que afete as finanças da unidade afeta o indicador;

e é de fácil cálculo e entendimento, o que possibilita que o ROACE seja

calculado mensalmente na empresa estudada, ainda que seu foco principal

seja o de horizonte de um ano.

A alta administração da Shell Brasil deve atentar entretanto a alguns

pontos negativos deste tipo de medida. Para Ferreira (1999), a principal crítica

à utilização desse indicador na avaliação de desempenho de uma unidade de

negócio está na possibilidade do gerente melhorar a sua performance de curto

prazo, em termos numéricos, tomando decisões que contrariam os objetivos

gerais da empresa.

Isto ocorreria porque é possível aumentar o ROI, e indicadores similares,

como o ROACE, através de baixos investimentos, instalações antigas, e de

outras atitudes que, no longo prazo, prejudicam a posição competitiva da

empresa bem como seu valor de mercado, sem afetar a avaliação do

desempenho daquele centro.

Segundo Kaplan & Johnson (1987), a variável mais sensível à esta

manipulação seria a depreciação. Se a base de investimento é depreciada

(quer em linha reta, quer acelerada), é possível aumentar o ROI, através do

não investimento. Há a redução do denominador da equação ano após ano,

fazendo com que o ROI aumente, mesmo que os lucros (numerador) não

estejam aumentando.

Em busca da congruência de objetivos das unidades de negócio e da

Shell Brasil como um todo, pode ser interessante para a empresa avaliar a

possibilidade de utilizar indicadores como o lucro residual, que, segundo

Kaplan e Atkinson (1998), transpõe as limitações relativas ao uso do ROI e de

medidas semelhantes como forma de avaliação de desempenho tanto das

unidades quanto da companhia.

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Outro ponto importante, referente à utilização do ROACE como principal

indicador de desempenho da empresa estudada, é o fato de se utilizar uma

meta uniforme para todas as unidades de negócio. Isto parece ir contra a

afirmação de Ferreira (1999) de que diferentes negócios demandam metas

diferenciadas de ROI, já que suas características específicas influenciarão

neste resultado.

As unidades de negócio da Shell Brasil são responsáveis por produtos

distintos, com demandas, mercados competitivos e níveis de ativos

necessários também diferentes, o que pode fazer com que seja mais

interessante a utilização de objetivos diferenciados de ROACE para cada

unidade de negócio da empresa.

Além disso, cabe destacar que a Shell Brasil faz pouco uso de

referências externas na definição das metas a serem buscadas por suas

unidades, como a comparação com a concorrência ou outras organizações, o

que, segundo Eclles (1991), pode-se denominar de benchmarking competitivo.

A utilização desta metodologia, segundo o autor, poderia ampliar de forma

bastante significativa os horizontes dos gerentes para melhorias de

desempenho antes consideradas impossíveis.

A empresa analisada utiliza-se de maneira bastante intensa de medidas

não financeiras, que são contempladas em seu Balanced Scorecard. Esta

prática da Shell Brasil vai de encontro à afirmação de Atkinson et al. (1997) de

que as medidas financeiras além de não considerarem todos os atributos

importantes para o sucesso da organização, têm alcance de curto prazo e não

são capazes de indicar a forma através da qual os resultados obtidos podem

ser melhorados.

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5.5.2 Balanced Scorecard

Estrutura do Sistema

O Balanced Scorecard utilizado na Shell Brasil contempla os itens

apontados por Horngren, Sundem e Straton (1996) como pertinentes a um

sistema bem estruturado:

Ø Faz uso de medidas tanto financeiras como operacionais – A empresa

estudada utiliza-se de medidas financeiras como o ROACE e o NIAT

(Net Income After Taxes) da mesma forma que de medidas operacionais

como custo de produção, produtividade de extração de gás e volume de

vendas, entre outras.

Ø Associa desempenho à recompensa – A Shell Brasil distribui bônus ao

final do período a partir do alcance das metas definidas nos Balanced

Scorecards dos funcionários e de suas respectivas unidades de negócio.

Ø Reconhece a diversidade de interesses dos stakeholders – A empresa

considera, no rol de indicadores utilizados no sistema, variáveis

relacionadas com satisfação dos funcionários, satisfação dos clientes,

medidas financeiras de interesse dos acionistas e até mesmo avaliação

de responsabilidade social junto ao Governo e outras instituições do

país.

Cabe destacar, que apesar da aparente aderência das características do

Balanced Scorecard utilizado na empresa objeto de estudo com as práticas

citadas pelos principais autores que desenvolveram trabahos sobre o assunto,

o pesquisador não teve acesso à todas as medidas pertencentes ao sistema,

tampouco à metodologia de cálculo das mesmas.

A estrutura que serve como base para o Scorecard da companhia

converge com a proposição de Kaplan e Atkinson (1998) de que o sistema

deve incorporar o complexo conjunto de relações de causa-e-efeito entre as

variáveis críticas que refletem a estratégia da organização.

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Os indicadores presentes nos Scorecards das unidades de negócio da

Shell e de seus funcionários funcionam como uma seqüência de elos da

mesma corrente que traduzem os macro objetivos da empresa.

Apesar de não apresentar formalmente as perspectivas freqüentemente

encontradas nos sistemas de Balanced Scorecard, a empresa estudada faz

uso de indicadores que claramente refletem as quatro perspectivas

originalmente propostas por Kaplan e Norton (1992), como pode-se notar nos

seguintes exemplos de medidas utilizadas: ROACE e NIAT – Perspectiva

Financeira; Interface com os clientes – Perspectiva dos Consumidores;

Produtividade da extração de gás e custo de produção – Perspectiva dos

Processos Internos; e Gerenciamento de pessoas e Desenvolvimento

sustentável – Perspectiva de Crescimento e Aprendizado.

De qualquer maneira, para Epstein e Manzoni (1997), as quatro

perspectivas devem ser consideradas como um modelo e não como uma

restrição.

Apesar de se assemelhar aos sistemas propostos na literatura sobre o

assunto conforme as observações supracitadas, de acordo com Anthony e

Govindarajan (1998), o sistema da Shell Brasil falha ao não utilizar um

Balanced Scorecard global para a organização como um todo. Segundo estes

autores, este Scorecard seria útil para identificar as sinergias entre as

unidades de negócio.

Com relação ao conceito da controlabilidade, o fato de se considerar na

definição dos pesos dos indicadores de cada funcionário a possibilidade de se

controlar ou afetar este indicador, parece estar coerente com as proposições

de Dearden (1987). Para este autor, muitos sistemas falham ao não distinguir

explicitamente a medida de performance do gerente e a da unidade pela qual

ele é responsável.

Entretanto, é importante lembrar que 50% do índice de performance dos

funcionários, que serve como base para o pagamento da remuneração

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variável, é vinculado diretamente ao resultado da unidade de negócio onde ele

trabalha. Ou seja, apesar dos empregados da companhia não terem que

responder por resultados que não podem ser afetados por eles, parte de sua

remuneração é influenciada por variáveis que estão fora de seu controle ou

âmbito de influência.

Desta maneira, ainda segundo Dearden (1987), a Shell Brasil acaba

exercendo sobre seus funcionários a pressão de alcançar resultados que não

podem ser influenciados diretamente por eles, fazendo com que não se sintam

completamente livres para comunicar eventuais erros ou problemas à direção

da companhia.

Avaliação e Remuneração dos Funcionários

A utilização, por parte da Shell Brasil, de um sistema que contemple os

principais objetivos da organização na definição de parte da remuneração de

seus funcionários está de acordo com as idéias propostas por Flamholtz

(1996).

Este autor afirma que na falta de um sistema para motivar o

desempenho em direção aos objetivos da organização, provavelmente as

pessoas vão tomar decisões e agir de maneira a atender às suas

necessidades e metas pessoais, que não são necessariamente as metas e as

necessidades da organização.

Para Merchant (1998), a premiação por desempenho proporciona a

motivação para o alinhamento entre os interesses próprios dos funcionários e

os objetivos da organização. De acordo com este autor, a Shell Brasil, desta

maneira, consegue alcançar os dois tipos de benefícios do controle, descritos

a seguir.

O primeiro benefício é o informacional. O pagamento do bônus que a

empresa estudada realiza atrai a atenção dos funcionários e informa ou

lembra a eles da importância relativa ao resultado de áreas normalmente

esquecidas, como: custos, qualidade, serviço ao cliente e crescimento futuro.

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O pagamento do bônus oferece um incentivo adicional para que os

indicadores relativos à estas medidas ajudem os empregados a decidirem

como alocar seu tempo e esforços.

O segundo benefício, apresentado pelo autor, é o motivacional. Alguns

funcionários precisam de incentivos para realizarem um esforço extra

necessário ao bom desempenho de suas tarefas. Este incentivo pode ser

representado pela remuneração variável paga pela empresa em função do

desempenho alcançado ao longo do ano.

Revisão do Sistema

De acordo com Anthony e Govindarajan (1998), a Shell Brasil acerta em

um ponto imprescindível para o sucesso de qualquer sistema Balanced

Scorecard: o envolvimento e a disseminação do sistema para todos os

funcionários envolvidos, através da intranet da companhia, fazendo com que as

metas e as avaliações de cada unidade sejam divulgadas de forma clara e

transparente.

Além disso, ainda segundo os mesmos autores, a empresa objeto de

estudo trabalha de forma adequada ao realizar revisões freqüentes no

funcionamento da ferramenta, permitindo analisar a capacidade da mesma de

indicar o que está ocorrendo na empresa e se a estratégia traçada está sendo

alcançada. A partir daí podem então ser feitos ajustes para sanar possíveis

distorções.

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6 CONCLUSÕES, RECOMENDAÇÕES E SUGESTÕES PARA

PESQUISAS FUTURAS

6.1 Sumário

Este estudo teve como objetivo analisar uma multinacional do setor de

energia, a Shell Brasil, buscando investigar as relações existentes entre a

literatura sobre empresas descentralizadas em unidades de negócios,

especialmente no que se refere à questão da avaliação de desempenho, e a

prática utilizada pela empresa em questão.

Sendo assim, para que o objetivo da pesquisa pudesse ser alcançado,

evidenciou-se uma revisão da literatura a fim de estudar as teorias defendidas

por diversos autores sobre o assunto abordado. Esta revisão é o conteúdo do

capítulo 2.

A partir da utilização do método do estudo de caso, apresentado no

capítulo 3, foram descritos aspectos relevantes da Shell Brasil, que focalizam o

tema proposto de forma a permitir uma análise comparativa dos dados com a

revisão de literatura.

6.2 Conclusões

Essencialmente, a opção da empresa estudada pela descentralização em

unidades de negócios surgiu da percepção da necessidade de adequar sua

estrutura organizacional às novas demandas produzidas pelo aumento da

diversidade e complexidade dos distintos negócios com os quais a companhia

trabalha.

Com relação aos tipos de centros de responsabilidade que compõem a

estrutura organizacional da Shell Brasil, verificou-se a utilização dos conceitos

de centros de custos, no caso das unidades de serviços corporativos, e de

centros de investimentos, defendido por vários autores da literatura sobre o

assunto, e aplicados às unidades de negócios da companhia.

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No que diz respeito à política de preços de transferência praticada pela

Shell Brasil, observou-se que o principal fluxo de produtos entre unidades, a

transferência de óleo diesel da unidade Comercial para as plataformas da

unidade de EP, é contabilizada em base ao custo total real. O principal ponto

negativo desta forma de transferência, segundo Anthony et alli (1992), é que as

ineficiências da unidade vendedora estão sendo repassadas para a unidade

compradora do produto.

A forma mais indicada, pela maioria dos autores, para a composição do

preço de transferência é o preço de mercado, que pôde ser observado na

comercialização de graxas e solventes da Shell Holanda para a unidade de

Químicos da Shell Brasil.

O controle por parte da direção da empresa sobre o preço de

transferência evidencia a estratégia da Shell Brasil de promover uma

integração das atividades associadas ao ciclo do petróleo, através da

manutençao de certo grau de dependência entre as unidades, em especial as

de EP e OP.

Com relação aos serviços corporativos, a política da empresa converge

com a pesquisa realizada por Vancil (1979), onde a grande maioria das

companhias fazia uso do custo como forma de cobrança destes serviços para

as unidades de negócio.

No que se refere ao sistema de avaliação de desempenho, os centros de

investimentos observados utilizam-se do ROACE, indicador bastante

semelhante ao ROI, como principal medida de avaliação. Este tipo de índice

apresenta uma série de vantagens, conforme discutido por Anthony e

Govindarajan (1998), frente às medidas de lucratividade.

Entretanto, de acordo com Ferreira (1999), o gerente de uma unidade de

negócios avaliada em base ao ROACE pode melhorar os resultados de curto

prazo, tomando decisões que contrariam os objetivos gerais da empresa como

um todo.

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Ainda segundo Ferreira (1999), não parece ser acertada a decisão da

empresa objeto de estudo de utilizar-se de uma mesma meta de ROACE para

todas as suas unidades de negócios, dado que as caracterís ticas específicas

de cada unidade influenciam o resultado alcançado.

Além do indicador de desempenho financeiro supracitado, a empresa faz

uso bastante intenso de medidas não financeiras, que são contempladas em

seu Balanced Scorecard.

O sistema utilizado pela Shell Brasil contempla uma ampla gama de

medidas relevantes que, organizadas através de uma seqüência lógica, são

capazes de indicar a forma através da qual pode-se alcançar os objetivos e a

estratégia traçados pela alta direção da empresa.

Indo de encontro às idéias propostas por Flamholtz (1996), a companhia

define parte da remuneração anual de seus funcionários em base ao alcance

de objetivos da organização pertencentes ao sistema Balanced Scorecard ali

utilizado.

Pode-se observar, entretanto, uma divergência importante entre o

modelo utilizado pela empresa e a literatura estudada sobre o assunto: a não

utilização por parte da Shell Brasil de um Scorecard adicional para a empresa

como um todo. De acordo com Anthony e Govindarajan (1998), isto seria útil

para identificar as sinergias entre as diversas unidades de negócios da

empresa.

Cabe destacar que a Shell Brasil vem conseguindo colocar em prática

um dos principais pontos preconizados pela grande maioria dos autores que

desenvolveram estudos sobre o Balanced Scorecard: a dedicação de tempo e

recursos da empresa em busca do correto desenvolvimento e divulgação do

modelo.

Este fato pode ser observado através das freqüentes revisões,

aprimoramentos e ajustes no sistema e, principalmente, através da divulgação

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e envolvimento da alta direção e de todos os funcionários da empresa, sem os

quais este tipo de ferramenta jamais conseguiria atingir seus objetivos.

Apesar do aparente êxito com relação à convergência com os princípios

fundamentais expostos na literatura sobre Balanced Scorecard, cabe destacar

que o pesquisador não teve acesso à todas as medidas, pesos e metodologias

de cálculo utilizados como inputs para o sistema.

Com relação à utilização de conceitos de capital intelectual, apesar de

reconhecê-los como importantes, a empresa não possui nenhum tipo de

modelo ou sistema de avaliação ou controle de seus ativos intelectuais.

6.3 Recomendações

A partir da revisão bibliográfica e da análise do caso realizados no

presente estudo, pode-se identificar alguns pontos passíveis de melhoria por

parte da Shell Brasil.

Inicialmente, seria interessante para a empresa rever sua política de

definição de preços de transferência, em especial, na transferência de óleo

diesel da unidade Comercial para a unidade EP, que hoje é realizada em base

ao custo total real incorrido na produção desse bem. A alternativa seria a

utilização do preço de mercado, defendida pelos diversos autores que

estudaram o assunto.

Para que haja congruência de objetivos entre as unidades de negócios e

a empresa como um todo, pode ser interessante a migração do ROACE para

uma medida de desempenho como o lucro residual, que, de acordo com

Kaplan e Atkinson (1998), transpõe as limitações relativas ao uso do ROI, e de

medidas semelhantes, como forma de avaliação de desempenho das unidades

de negócios da organização.

Ainda com relação às medidas de desempenho dos centros, a utilização

de metas distintas para as diferentes unidades de negócios seria mais

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adequada, já que elas trabalham com negócios diferentes e que possuem

características específicas.

Com relação ao modelo Balanced Scorecard utilizado pela Shell Brasil,

propõe-se o desenvolvimento de um Scorecard global, que contemple de forma

conjunta as metas, objetivos e resultados da companhia como um todo,

possibilitando, assim, a identificação de inter-relações e sinergias entre as

unidades.

Finalmente, cabe ressaltar a importância de se capturar e medir o capital

intelectual da empresa, para que ela seja capaz de gerenciar de forma eficiente

seus ativos intelectuais em um mercado globalizado e cada vez mais

competitivo.

6.4 Sugestões para pesquisas futuras

Seria importante e oportuno sugerir que este estudo pudesse ser

replicado em outras empresas, de maneira a formar uma massa crítica que

possa estabelecer generalizações a respeito dos assuntos aqui tratados,

contribuindo para o enriquecimento dos conhecimentos nessa área de

concentração.

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ANEXO 1 - QUESTIONÁRIO

I – Informações Gerais

Nome da Empresa:

Nome do Entrevistado:

Cargo do entrevistado:

Informações gerais da empresa: histórico, instalações, número de funcionários,

produtos comercializados, organograma, entre outras informações que possam

enriquecer o estudo.

II – Descentralização

Esta parte do questionário visa a obtenção de informações a respeito do

processo de descentralização, da organização da empresa em centros de

responsabilidade, de como estes centros podem ser classificados na tipologia

encontrada na literatura e da identificação das unidades de negócio (centros de

lucro ou investimento relativamente independentes).

Para o propósito desta pesquisa, utilizaremos as seguintes definições:

- Centros de responsabilidade: uma unidade organizacional dirigida por um

gerente responsável por suas atividades. Em níveis inferiores da

organização, os centros de responsabilidade podem ser seções ou turnos

de trabalho, ao passo que em níveis mais altos, estes centros podem ser

representados por departamentos ou unidades de negócio, que são

constituídos, por sua vez, por outros centros menores.

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- Centro de receita: centro de responsabilidade onde somente as saídas

(produtos) são medidas em termos monetários, não havendo uma busca

por relacioná-las às entradas (insumos).

- Centro de custo ou despesa: centro de responsabilidade onde somente as

entradas (custos ou despesas) são medidas em termos monetários.

- Centro de lucro: centro de responsabilidade razoavelmente independente,

avaliado separadamente por sua performance e no qual alguma medida de

lucro é determinada periodicamente.

- Centro de investimento: centro de responsabilidade cujos gerentes e

funcionários controlam as receitas, custos e o nível de investimento (ativos

necessários para gerar o lucro) relativos à unidade.

- Unidade de negócio (também conhecida como divisão): unidade

responsável por todas as atividades envolvidas na produção e marketing de

uma linha de produtos específica. Seu gerente atua quase como se a

unidade fosse uma empresa independente. Ele é responsável pelo

planejamento e coordenação do trabalho das diversas funções, resolvendo

as disputas entre elas.

1) O que levou a empresa a adotar uma estrutura organizacional baseada em

centros de responsabilidades e unidades de negócio?

2) Descreva de forma resumida como se processou a adoção desta estrutura.

3) Descreva como está organizada a empresa em seus centros de

responsabilidade.

4) Descreva como estão organizadas as principais unidades de negócio da

empresa (quantidade de unidades, funções operacionais, gama de produtos

comercializados, organograma)

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5) Com base nas definições descritas no início do questionário, como você

definiria as principais unidades de negócio da empresa? Por favor,

comente.

6) Descreva a experiência acumulada na utilização deste tipo de estrutura,

citando vantagens e desvantagens observadas.

III – Preços de Transferência

Define-se preço de transferência como o valor atribuído aos bens ou

serviços frutos de transações dentro de uma empresa que envolvam pelo

menos um centro de lucro ou investimento.

1) A empresa efetua transações de produtos ou serviços que envolvam os

centros de lucro ou investimento? Por favor, descreva de forma resumida

estas transferências.

2) É utilizado algum mecanismo de preço de transferência nestas compras e

vendas internas, ou seja, é atribuído algum valor a este bem transferido?

Por favor, comente.

3) Com a finalidade de estimar a quantidade de mercadorias ou serviços

transferidos entre os centros, qual o valor que mais se aproxima do

percentual da quantidade de transferências entre os centros em relação ao

total de produtos ou serviços fabricados e vendidos pela empresa?

4) Existe um mercado competitivo para os produtos transferidos pela

empresa? Por favor, descreva o mercado no qual estão inseridos estes

produtos.

5) Quais são os métodos utilizados na definição do preço de transferência dos

produtos ou serviços negociados entre estes centros? Por favor, comente

as opções assinaladas.

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106

( ) Custo total real

( ) Custo total padrão

( ) Custo marginal

( ) Custo total mais margem de lucro (Como é calculada a margem de lucro?)

( ) Two sets of price (Como são calculados os dois preços?)

( ) Preço de mercado ou preço de mercado ajustado (Que ajuste é feito?)

( ) Negociação entre os gerentes dos centros

( ) Outro método (Por favor, descreva.)

6) Em caso de conflito entre duas unidades sobre o preço de transferência ,

como é realizada a definição do preço final?

7) Quais os principais objetivos da política de preços de transferência da

empresa?

8) Existe alguma forma de revisão periódica dos preços de transferência

utilizados?

IV – Medidas de Avaliação de Desempenho

1) Existe algum sistema de avaliação de desempenho das unidades de

negócio? Por favor, poderia descrevê-lo de forma resumida? E dos gerentes

das unidades?

2) Quais os principais objetivos do sistema de avaliação de desempenho?

3) Descreva as medidas utilizadas pela alta administração na avaliação das

diferentes unidades de negócio e centros de responsabilidade.

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4) É utilizado algum tipo de padrão de referência para as medidas utilizadas no

processo de avaliação de desempenho das unidades de negócio? Por

favor, descreva os principais padrões utilizados.

5) No caso de utilização do Lucro Residual ou EVA, descreva como é

calculada a taxa aplicada ao capital investido.

6) É realizada a avaliação de desempenho do gerente da unidade

independentemente da avaliação da unidade de negócio como um todo?

Por favor, descreva o sistema de avaliação e as medidas utilizadas.

7) É feito algum tipo de consideração em relação às variáveis controláveis pelo

gerente da unidade? Por favor, descreva.

8) É utilizada alguma medida não financeira na avaliação das unidades de

negócio? E de seus gerentes? Por favor, descreva.

9) Estas medidas não financeiras estão ligadas à estratégia a ser seguida pela

companhia? Por favor, explique.

10) Existe algum tipo de demonstrativo de resultado para cada unidade de

negócio? Por favor, descreva.

11) Existe neste demonstrativo alguma separação das variáveis controláveis ou

não pelo gerente da divisão?

V – Balanced Scorecard

1) Descreva como funciona o Balanced Scorecard na empresa.

2) O sistema traduz a missão e a estratégia da empresa?

3) Que perspectivas são utilizadas?

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( ) Perspectiva Financeira

( ) Perspectiva dos Consumidores

( ) Perspectiva dos Processos Internos

( ) Perspectiva de Crescimento e Aprendizado

( ) Outras. Por favor, descreva.

4) Como são estabelecidas as relações de causa e efeito entre as medidas e

objetivos apresentados no Balanced Scorecard?

5) Quem tem acesso à estrutura do sistema na empresa? Gerentes?

Funcionários?

6) O sistema é consolidado em um único documento? Por favor, explique.

7) O Balanced Scorecard está integrado às estruturas formais e informais da

organização (políticas de remuneração, de recursos humanos, entre

outras)?

8) É feita uma revisão freqüente das medidas e dos resultados apresentados

no sistema? Por favor, explique.

VI – Capital Intelectual

Para o propósito desta pesquisa, utilizaremos os seguintes termos que

compõem o capital intelectual de uma empresa:

Capital Humano: qualificações, especialização, criatividade, capacidade de

resolução de problemas, liderança, habilidade gerencial dos funcionários, entre

outros.

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Capital Organizacional: tecnologias, dados, publicações, estratégia e cultura,

estruturas e sistemas, rotinas e procedimentos, marcas registradas, patentes,

entre outros.

Capital dos clientes: retenção de clientes, lucratividade por clientes, entre

outros.

1) Existe alguma forma de mensuração dos ativos intelectuais da empresa?

Por favor, explique.

2) Como são medidos e gerenciados estes ativos?

3) Que medidas de desempenho são utilizadas para os ativos intelectuais

identificados na empresa?

4) As medidas de desempenho utilizadas para os ativos intelectuais são

relacionadas às medidas financeiras tradicionais?

VII – Grau de Autonomia dos Gerentes

1) Existe na organização algum tipo de norma que limita a ação da unidade de

negócio ou do gerente desta com relação ao tipo de decisões descritas

abaixo? Por favor, comente.

a) Produto / mercado: envolve descontinuação ou projetos de novas linhas de

produtos, expansão para outros mercados, entre outras.

b) Pessoal: envolve a contratação, dispensa, compensação e promoção de

funcionários.

c) Fontes: envolve a seleção de compradores e vendedores internos ou

externos à organização.

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d) Operacionais: envolve precificação, propaganda, determinação de níveis de

estoque e de pessoal, entre outras

Com relação especificamente à decisão sobre fontes, responda:

2) Na hipótese de existirem fornecedores internos e externos que possam

atender às necessidades de recursos (bens e serviços) das unidades de

negócio, qual a política adotada pela empresa?

3) Quando existe um mercado interno e externo para produtos e serviços

produzidos pelas unidades, qual a política adotada pela empresa?

4) Que esforços são feitos para garantir que as decisões das unidades

estejam de acordo com os objetivos globais da companhia?

VIII – Relações de Mercado entre as Divisões

1) Existe alguma relação de mercado entre os produtos comercializados por

diferentes unidades; ou seja, existem produtos que sejam concorrentes ou

complementares, mas comercializados por unidades independentes? Por

favor, explique.

2) Como são tomadas as decisões que envolvem este tipo de inter-relação

entre as unidades?

3) Como estas inter-relações refletem na avaliação de desempenho dos

gerentes responsáveis?

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ANEXO 2 – BLOCOS DE EXTRAÇÃO E PRODUÇÃO DE PETRÓLEO NOS

QUAIS A SHELL BRASIL TEM PARTICIPAÇÃO

Blocos Empresas Participantes

BC-2 Elf – 35% (Operadora)

PETROBRAS – 35%

Shell (Enterprise) – 15%

Shell – 15%

BC-10 Shell – 35% (Operadora)

PETROBRAS – 35%

Esso – 30%

BM-C-8 Santa Fé – 45% (Operadora)

SK Corporation – 40%

Shell (Odebrecht) – 15%

BM-C-14 Elf – 30% (Operadora)

PETROBRAS – 25%

Shell (Enterprise) – 22,5%

Shell – 22,5%

Bijupirá-Salema Shell (Enterprise) – 55% (Operadora)

Shell (Odebrecht) – 25%

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PETROBRAS – 20%

BS-2 Amerada Hess – 32% (Operadora)

PETROBRAS – 40%

Agip – 20%

Shell (Odebrecht) – 8%

BM-ES-10 Shell (Enterprise) – 100% (Operadora)

BM-C-10 Shell – 100% (Operadora)

BM-S-17 PETROBRAS – 50% (Operadora)

Shell (Enterprise) – 25%

Den Norske Stats Oilselskap – 25%

BM-S-19 Repsol-YPF – 50% (Operadora)

Shell (Enterprise) – 25%

Statoil – 25%

BM-SEAL-5 Amerada Hess – 85% (Operadora)

Shell (Odebrecht) – 15%

BM-FZA-1 BP – 30% (Operadora)

Esso –25%

PETROBRAS – 20%

Shell – 12,5%

Agip – 12,5%

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BS-4 Shell – 40% (Operadora)

PETROBRAS – 40%

Texaco – 20%

BM-S-8 PETROBRAS – 50% (Operadora)

Shell – 40%

Petrogal - 10%

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