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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E CIÊNCIAS CONTÁBEIS PROGRAMA DE MESTRADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS MABELLE MARTINEZ MONTANDON AVALIAÇÃO DE EMPRESAS EM PERÍCIAS JUDICIAIS CONTÁBEIS: UM ESTUDO DE CASOS Rio de Janeiro 2006

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E CIÊNCIAS CONTÁBEIS

PROGRAMA DE MESTRADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS

MABELLE MARTINEZ MONTANDON

AVALIAÇÃO DE EMPRESAS EM PERÍCIAS JUDICIAIS CONTÁBEIS: UM ESTUDO DE CASOS

Rio de Janeiro 2006

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MABELLE MARTINEZ MONTANDON

AVALIAÇÃO DE EMPRESAS EM PERÍCIAS JUDICIAIS CONTÁBEIS: UM ESTUDO DE CASOS

Rio de Janeiro

2006

Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Ciências Contábeis, Curso de Pós-graduação em Ciências Contábeis da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Orientador: Prof. Dr. Pierre Ohayon Co-orientador: Prof. Dr. José Ricardo Maia de Siqueira

Montandon, Mabelle Martinez. Avaliação de empresas em perícias judiciais contábeis: um estudo de casos / Mabelle Martinez Montandon. -- Rio de Janeiro UFRJ, 2006. xxi, 125 p. ; 30 cm. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Administração e Ciências Contábeis, 2006. Orientador: Pierre Ohayon. Co-Orientador: José Ricardo Maia de Siqueira. 1. perícia contábil. 2. avaliação de empresas. 3. perito contador. laudo pericial. modelos de avaliação – Teses. I. Ohayon, Pierre (Orient.). II Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Administração e Ciências Contábeis. III. Título.

MABELLE MARTINEZ MONTANDON

AVALIAÇÃO DE EMPRESAS EM PERÍCIAS JUDICIAIS CONTÁBEIS: UM ESTUDO DE CASOS

Orientador: Prof. Dr. Pierre Ohayon Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo – FEA/USP

Co-orientador: Prof. Dr. José Ricardo Maia de Siqueira Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia – COPPE/UFRJ

Prof. Dr. Fernando Pereira Tostes Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo – FEA/USP

Prof. Dr. César Augusto Miranda Guedes Fundação Getúlio Vargas São Paulo – FGV/SP

Rio de Janeiro Agosto de 2006.

Dissertação de mestrado aprovada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre no Curso de Pós-graduação em Ciências Contábeis da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), pela seguinte banca examinadora:

ii

AGRADECIMENTOS

À Deus, em primeiro lugar.

Aos meus pais Paulo e Carmen, e ao meu irmão William, pelo incentivo,

apoio e amor, sempre.

Ao Rodrigo, pela paciência em me ouvir e por estar ao meu lado em todos os

momentos.

Ao meu orientador Prof. Dr. Pierre e ao meu co-orientador Prof. Dr. José

Ricardo, com os quais aprendi muito durante este período, pelo tempo e paciência

dedicados. Seus conselhos, críticas e incentivos foram fundamentais.

Aos amigos Gustavo e Adriano, apoiadores e incentivadores, que foram

muito importantes para a realização deste mestrado.

Ao Prof. Dr. José Augusto, mestre e amigo, sempre disposto a nos ouvir,

apoiar e aconselhar.

Ao perito contador que, gentilmente, forneceu-me os laudos para o estudo de

caso, disponibilizando seu tempo e contribuindo com informações de extrema

importância para este trabalho.

Obrigado a todos os professores e funcionários da FACC. Cada um deles

teve a sua importância em minha formação.

iii

LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Cronologia Histórica da Perícia........................................................ 7

Quadro 2- Situações Reais e Objetivos Periciais............................................... 14

Quadro 3- Âmbitos da Perícia Judicial Contábil e Exemplos Geradores........... 19

Quadro 4- Principais Usos da Avaliação de Empresas em Perícias Contábeis.. 37

Quadro 5- Vantagens e Desvantagens dos Múltiplos de Lucros........................ 47

Quadro 6- Fluxo de Caixa do Acionista Numa Empresa Não-alavancada......... 52

Quadro 7- Fluxo de Caixa do Acionista Numa Empresa Alavancada............... 54

Quadro 8- Fluxo de Caixa da Empresa, Partindo do Lucro Antes do

Pagamento de Juros e Impostos........................................................

55

Quadro 9- Custo Médio Ponderado de Capital................................................... 62

Quadro 10- Quadro Síntese Caso Restaurante..................................................... 78

Quadro 11- Quadro Síntese Caso Indústria.......................................................... 83

Quadro 12- Quadro Síntese Caso Confecção....................................................... 89

Quadro 13- Quadro Síntese Caso Serviço de Bufê............................................... 95

Quadro 14- Quadro Síntese Caso Ponto Turístico................................................ 103

Quadro 15- Síntese das Omissões........................................................................ 107

Quadro 16- Síntese das Inconsistências................................................................ 108

iv

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1- Metodologia de Avaliação Adotada pelo Perito............................... 73

v

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.............................................................................. 1

1.1 Objetivos da Pesquisa..................................................................... 3

1.2 Organização do Estudo................................................................... 5

2. FUNDAMENTOS DA PERÍCIA CONTÁBIL............................. 6

2.1 Conceito de Perícia......................................................................... 8

2.2 Conceito de Perícia Contábil.......................................................... 11

2.2.1 Objetivos da Perícia Contábil........................................................ 13

2.2.2 Procedimentos da Perícia Contábil............................................... 15

2.3 Espécies de Perícia Contábil.......................................................... 16

2.3.1 Perícia Contábil Judicial............................................................... 16

2.3.2 Perícia Contábil Semijudicial........................................................ 19

2.3.3 Perícia Contábil Extrajudicial....................................................... 20

2.3.4 Perícia Arbitral.............................................................................. 21

2.4 Conceito de Perito Contador.......................................................... 22

2.4.1 Competência Técnico-Profissional................................................ 23

2.4.2 Consciência Ética........................................................................... 25

2.4.3 Responsabilidade Civil e Criminal................................................. 27

2.4.4 Impedimento ou Suspeição, Recusa e Substituição........................ 28

2.5 Conceito de Laudo Pericial............................................................ 32

2.5.1 Estrutura do Laudo Pericial........................................................... 33

3. AVALIAÇÃO DE EMPRESAS..................................................... 37

3.1 Modelos Usuais de Avaliação de Empresas................................... 40

3.2 Modelos Patrimoniais de Avaliação............................................... 41

3.2.1 Modelo de Avaliação Patrimonial Contábil................................... 41

3.2.2 Modelo de Avaliação Patrimonial pelo Mercado.......................... 43

3.3 Avaliação Relativa ou Modelo Baseado em Múltiplos de Índices

Financeiros....................................................................................................

44

3.4 Avaliação por Fluxo de Caixa Descontado.................................... 48

3.4.1 Fluxo de Caixa Livre para a Empresa e Fluxo de Caixa Livre

para os Acionistas.........................................................................................

50

vi

3.4.2 Estimativa do Fluxo de Caixa Livre para os Acionistas................ 52

3.4.3 Estimativa do Fluxo de Caixa Livre para a Empresa.................... 54

3.4.4 Períodos de Projeção..................................................................... 55

3.4.5 Valor Residual................................................................................ 56

3.4.6 Taxa de Desconto........................................................................... 57

3.4.6.1 Custo das Ações Ordinárias........................................................... 58

3.4.6.2 Custo do Capital de Terceiros........................................................ 61

3.4.6.3 Custo Médio Ponderado de Capital (ou WACC)........................... 62

4. METODOLOGIA........................................................................... 65

4.1 Escolha dos Casos e Método de Coleta dos Dados........................ 66

4.2 Técnicas de Análise........................................................................ 67

4.3 Limitações do Estudo de Caso....................................................... 68

5. ESTUDO DE CASOS.................................................................... 70

5.1 CASO RESTAURANTE................................................................ 70

5.2 CASO INDÚSTRIA....................................................................... 79

5.3 CASO CONFECÇÃO.................................................................... 83

5.4 CASO SERVIÇO DE BUFÊ.......................................................... 89

5.5 CASO PONTO TURÍSTICO......................................................... 96

6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES...................................... 105

6.1 Síntese............................................................................................. 105

6.2 Avaliação das Limitações............................................................... 106

6.2.1 Omissões......................................................................................... 106

6.2.2 Inconsistências............................................................................... 107

6.3 Conclusões Básicas........................................................................ 108

6.4 Recomendações Básicas................................................................. 110

6.5 Sugestões para Estudos Futuros..................................................... 111

7. BIBLIOGRAFIA............................................................................ 113

vii

RESUMO

MONTANDON, Mabelle Martinez. AVALIAÇÃO DE EMPRESAS EM PERÍCIAS JUDICIAIS CONTÁBEIS: UM ESTUDO DE CASOS. 2006. 125 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis) – Faculdade de Administração e Ciências Contábeis, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006.

A perícia contábil consiste numa ferramenta utilizada pelo poder judiciário quando o objeto do processo judicial envolve questões e matérias de natureza contábil, e por este motivo, necessitam da apreciação e interpretação de um contador para serem esclarecidas. A presente dissertação aborda uma importante aplicação da perícia contábil, a avaliação de empresas, considerando que o processo de avaliação consiste na busca de se estimar um valor justo de mercado para uma empresa, que apesar de ter como base modelos essencialmente quantitativos, trabalha com expectativas e valores construídos, pelo menos parcialmente, em bases subjetivas, enquanto as decisões judiciais necessitam estar fundamentadas em fatos, eventos e ocorrências concretas. Neste contexto, este trabalho apresenta um estudo sobre os fundamentos da perícia contábil, cujo resultado deve fornecer as informações requeridas e necessárias à elucidação da controvérsia e auxiliar o magistrado em sua decisão, e também apresenta um estudo sobre as metodologias de avaliação de empresas mais difundidas no ambiente acadêmico e profissional: modelo patrimonial contábil e patrimonial pelo mercado; modelo baseado em múltiplos; e, modelo dos fluxos de caixa descontados. Posteriormente, realiza-se o estudo de cinco laudos periciais, elaborados por uma empresa prestadora de serviços de perícias contábeis judiciais, analisando a propriedade das técnicas de avaliação de empresas utilizadas em situações reais e fazendo uma avaliação crítica, segundo a teoria apresentada. Os resultados obtidos com a análise dos laudos periciais demonstraram a presença deste problema no cotidiano do perito contador, visto que os mesmos apresentaram algumas falhas metodológicas, principalmente quanto à determinação de algumas variáveis dos modelos de avaliação de empresas adotados. Palavras-chave: perícia contábil, avaliação de empresas, perito contador, laudo pericial, modelos de avaliação.

viii

ABSTRACT

MONTANDON, Mabelle Martinez. AVALIAÇÃO DE EMPRESAS EM PERÍCIAS JUDICIAIS CONTÁBEIS: UM ESTUDO DE CASOS. 2006. 125 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis) – Faculdade de Administração e Ciências Contábeis, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006. The forensic accounting consists of a tool used by the judiciary when the object of the proceeds involves questions and matters of accounting nature, and for this reason, need the appreciation and interpretation of an accountant to be clarified. The present study broaches an important application of forensic accounting, which is company valuation, considering that the valuation process consists in the search of the market fair value for a company, and although it is based essentially in quantitative models, it works with expectations and values constructed, at least partially, in subjective bases, while the sentences need to be based on facts, events and concrete occurrences. In this context, this work presents a study about the basis of forensic accounting, which result must supply the information required and necessary to elucidate the controversy and to assist the judge in its decision, and about the main methodologies of company valuation most accepted both by the academic and professional environment: equity based models, relative valuation model, and the discounted cash flow model. Subsequently, the study of five reports, made by a forensic accounting rendering service company, was made, analyzing the properties of the techniques of valuation utilized in real situations, and criticizing it, comparatively to the presented theory. The results reached with the analysis of the expert reports had demonstrated the presence of this problem in the daily work of the accounting expert, since the reports had presented some methodologies imperfections, mainly related to the determination of some items of the valuation models adopted. Keywords: forensic accounting, company valuation, forensic accountant, expert report, valuation models.

1. INTRODUÇÃO

A matéria que constitui os processos judiciais pode ser em grande parte

apreciada pelo juiz1 e pelos advogados que ali atuam. Entretanto, há situações em que,

pela natureza eminentemente técnica das questões que envolvem, necessitam ser

apreciados e interpretados por especialista no assunto, pois excedem a competência do

Direito.

Assim, na busca de uma sentença capaz de refletir a expressão da justiça, a

Lei2 outorgou aos juízes o direito de recorrer a um profissional de sua confiança, com

conhecimento especializado na área específica sobre a qual recai a controvérsia, capaz

de contribuir com sua experiência e saber, auxiliando-o. Este especialista denomina-se

“perito”.

Neste contexto, surge o papel do perito contador, chamado a atuar para

auxiliar à Justiça quando o objeto do litígio envolver questões e matérias de natureza

contábil.

Dentre os diversos encargos passíveis de atribuição ao expert contábil,

encontra-se a tarefa de avaliar empresas, que conforme destaca Alberto (2002, p. 113):

1 “No sentido propriamente jurídico, é indicativo da pessoa que, investida de uma autoridade pública, vai administrar a justiça, em nome do Estado” (SILVA, 2004, p. 789). 2 “Art. 145. Quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico, o juiz será assistido por perito (...)” (BRASIL, 2006a).

2

“Esta é, senão a principal, uma das mais importantes aplicações da perícia contábil, pois que se inserem os haveres no próprio objeto da contabilidade, o patrimônio, e, naturalmente, o grande fator determinante dos dissídios individuais ou coletivos, concretos, potenciais ou latentes, se fundam, certamente, nos haveres de uma entidade (física ou jurídica)”.

Entretanto, a avaliação de empresas para fins judiciais não é tarefa fácil e

diversos fatores influenciam neste problema. Assim, pode-se citar, dentre outros:

• Grande parte das avaliações envolve empresas de pequeno e médio porte,

as quais não atribuem devida importância à sua contabilidade, e não raras vezes, sequer

a possuem;

• A avaliação de empresas em um ambiente litigioso traz inúmeras

incertezas, visto que as partes se encontram em discórdia, pleiteando por seus interesses,

e podem omitir dados e informações preciosas para a avaliação, visando o benefício

próprio;

• Processos de avaliação de empresas utilizam expectativas e valores

construídos, ao menos parcialmente, em bases subjetivas, já as decisões judiciais

necessitam estar fundamentadas em fatos, eventos e ocorrências objetivas;

• Escassez de trabalhos acadêmicos que tratem das peculiaridades do

assunto avaliação de empresas com o enfoque pericial-contábil.

Não obstante a complexidade do cenário e as dificuldades encontradas, o

perito terá de cumprir seu encargo e elaborar o laudo pericial, revelando a essência

acerca do que se discute, e suprindo a justiça com as informações de que necessita para

esclarecer as dúvidas levadas a seu conhecimento.

3

O presente trabalho buscará desenvolver um estudo sobre as técnicas mais

usuais de avaliação de empresas e analisar a propriedade e adequação de sua utilização

para fins de perícias judiciais mediante o estudo de cinco laudos periciais de uma

empresa prestadora de serviços de perícia contábil.

1.1 Objetivos da Pesquisa

Conforme destaca Alberto (2002, p. 122), o resultado de uma perícia deve

se afirmar pela própria força de suas convicções e certezas, visto que irá servir de

subsídio à sentença judicial.

Para garantir esta característica essencial da perícia, o perito deve conduzir

seus trabalhos buscando a demonstração da verdade, visando construir um laudo

exato, capaz de auxiliar o juiz a promover a justiça, a eqüidade e a retidão da sentença,

mesmo em ambientes problemáticos.

Este trabalho trata de uma importante aplicação da perícia contábil, qual

seja a avaliação de empresas, visto que se inserem os haveres no próprio objeto da

contabilidade, que é o patrimônio.

Considerando o exposto, faz-se a seguinte pergunta geral:

• Os procedimentos de avaliação de empresas usados nos laudos

analisados são adequados?

Como desdobramento da pergunta geral, as seguintes perguntas mais

específicas são propostas para fins de orientação da pesquisa:

4

• Quais são as técnicas de avaliação de empresas efetivamente

adotadas nos laudos periciais analisados?

• Quais as dificuldades encontradas pelos peritos contadores na

aplicação prática das técnicas de avaliação de empresas?

• Como diferem as técnicas de avaliação de empresas adotadas nos

laudos, daquelas recomendadas pelos autores consagrados na literatura

especializada, citada no presente estudo?

• Quais as recomendações básicas para aumentar a eficácia da

avaliação de empresas para perícias contábeis?

Deste modo, o objetivo geral que se pretende alcançar com este estudo é:

• Determinar a adequação dos procedimentos para avaliação de

empresas, evidenciados nos laudos periciais emitidos pela empresa abrangida pelo

estudo.

Os objetivos específicos deste estudo são:

• Identificar as técnicas de avaliação de empresas utilizadas pela

empresa em estudo;

• Determinar os pressupostos adotados nos laudos à luz do rigor

conceitual e das dificuldades inerentes à atividade empresarial;

• Fazer uma avaliação crítica das técnicas utilizadas.

5

1.2 Organização do Estudo

Este estudo foi dividido em seis capítulos. No primeiro capítulo é feita a

introdução ao tema, a apresentação dos objetivos geral e específicos e da estrutura do

trabalho.

O segundo e terceiro capítulos apresentam as revisões bibliográficas,

visando construir um referencial teórico sobre Perícia Contábil e sobre Avaliação de

Empresas, que será utilizado para a análise dos laudos periciais abrangidos pelo estudo.

O quarto capítulo trata da metodologia utilizada na elaboração da pesquisa e

na construção do estudo de casos.

No quinto capítulo é realizado o estudo dos laudos periciais, onde são

apresentados: o resumo dos casos, a descrição da metodologia de avaliação utilizada, e

as análises dos procedimentos adotados pelo perito, comparativamente à revisão de

literatura do segundo e terceiro capítulos.

Finalmente, o sexto capítulo do trabalho apresenta a síntese do estudo, as

conclusões, recomendações e sugestões para estudos futuros.

6

2. FUNDAMENTOS DA PERÍCIA CONTÁBIL

Este capítulo apresenta os fundamentos da perícia contábil, iniciando por

sua evolução histórica, e prosseguindo com sua conceituação, objetivos, procedimentos

e espécies. Também trata de conceituar o perito contador e caracterizá-lo segundo suas

obrigações, e de conceituar o laudo pericial contábil e evidenciar sua estrutura.

O surgimento da perícia remonta a épocas tão antigas quanto o surgimento

da contabilidade, com seus primeiros vestígios na antiga civilização do Egito, por volta

de 4.000 a.C, quando, de acordo com Santos (1955, p. 8) apud Santana (1999, p. 16),

peritos especializados em geometria eram designados pelo Rei para medir as terras

quando o rio despojava alguém de cota agrária, para calcular a área diminuída e a

diminuição proporcional nos tributos devidos.

Apesar disto, conforme menciona Santana (1999, p. 2), somente no Século

XIX, por intermédio das Ordenações Filipinas, que o procedimento atualmente vigente

para realização de perícias foi estabelecido no direito português e, por conseqüência, na

legislação brasileira.

O quadro 1 busca sintetizar a cronologia histórica da evolução da perícia

contábil:

7

Quadro 1: Cronologia Histórica da Perícia Período Principais Acontecimentos Ano 4.000 a.C. Primeiros sinais do uso da contabilidade e primeiros

vestígios de perícias para agrimensura3. Ano 1.248 a.C. Claras referências de realização de perícias de

levantamento de locais de morte violenta na obra Si Yuan Lu, do juiz Song Ts’Eu, na China.

Ano 130 d.C. Vestígios de escritas de perícia no papiro Abbot, ao tempo do Imperador Adriano Trajano Augusto. Corresponde a um autêntico laudo do médico Caio Minucio Valeriano, do burgo de Caranis, a propósito de ferimentos na cabeça recebidos por um indivíduo chamado Mysthorion.

Século VIII O Imperador Carlos Magno, nas Leis Capitulares, Sálicas e Germânicas, exigia a interferência de médicos para analisar ocorrências de mortes violentas.

A partir do século XIII Grande desenvolvimento da perícia como instrumento de prova na Grécia, França, Inglaterra e Itália.

Século XIV O papa Gregório XI, nas Leis Decretais, determinava a realização de perícias médicas para a comprovação de casos de impotência, aborto e lesões corporais.

1850

A perícia surge regulamentada no Brasil pela Lei número 556 de 25 de junho de 1850 – Código Comercial – que estabeleceu o Juízo Arbitral obrigatório nos casos de abalroação de navios.

1850 Regulamento número 737 de 25 de dezembro de 1850, sobre o funcionamento do perito. Em matéria contábil, é escolhido o profissional formado em aula de Comércio com posse de Carta de Habilitação.

1863 Pela primeira vez é utilizada a arbitragem na chamada ‘Questão Christie’, caso que envolvia a detenção de oficiais da marinha britânica por autoridades policiais brasileiras. A arbitragem, cujo laudo foi favorável ao Brasil, foi feita pelo Rei Leopoldo, da Bélgica.

1866 Revogado o juízo arbitral obrigatório pela Lei número 1.350 (o juízo arbitral voluntário permaneceu).

1911 O governo brasileiro decreta lei sobre peritos contabilistas, estabelecendo suas atribuições.

1916 Em 20 de setembro de 1916 é aprovado o regulamento pronunciando-se sobre perícia contábil.

1917 Entra em vigor a Lei número 3.071, de 1º de janeiro de 1916 – Código Civil.

Fonte: Adaptado de Santana (1999) e Zarzuela et al. (2000).

3 Definição de agrimensor: “assim se chama o técnico, perito na arte de medir terras, que executa os trabalhos de levantamento, demarcações e divisões de imóveis, a fim de que, grafados em uma planta ou mapa, se mostrem perfeitamente indicados por sua localização, em relação a outros limítrofes” (SILVA, 2004, p. 84).

8

Após a entrada em vigor do Código Civil de 1917, a profissão de contador

e, conseqüentemente, a perícia contábil, experimentaram grande desenvolvimento, com

a regulamentação da profissão, a realização de congressos e a criação da primeira

cadeira de perícia contábil na Escola Técnica Profissional, idealizada pelos fundadores

do Instituto Brasileiro de Contabilidade.

Em 1939, através do Decreto Lei número 1.608, de 18 de setembro de 1939,

entra em vigor o Código de Processo Civil, que, conforme destacam Castro e Ferreira

(2004, p. 4), definia a participação do perito nas ações judiciais, mais precisamente no

campo do direito civil e comercial. À época não se exigia do perito a formação

universitária, apenas que fosse, preferencialmente, técnico.

Ainda de acordo com Castro e Ferreira (op. cit., p. 6), com o Novo Código

de Processo Civil (Lei número 5.869, de 11 de janeiro de 1973), e mais as alterações

introduzidas ao artigo 145 pela Lei número 7.270 de 10 de dezembro de 1984, surgiram

algumas alterações, dentre elas, estabeleceu-se que o perito necessitava de formação

universitária e passou-se a exigir registro no órgão de classe competente.

2.1 Conceito de Perícia

Etimologicamente, o vocábulo perícia provém do latim peritia, que significa

“conhecimento adquirido pelo uso, pela experiência4”, e deriva de peritus, “aquele que

4 Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Disponível em: <http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm? verbete=pericia>. Acesso em: 01 mar. 2006.

9

sabe por experiência5”.

Assim, pelo conceito etimológico da palavra, pode-se inferir que perícia é

uma qualidade adquirida e aprimorada durante a vida, através dos sentidos, do

aprendizado.

Neste sentido, D’Auria (1962, p. 151) define perícia como o “conhecimento

e experiência das coisas”.

Do mesmo modo, partindo do conceito etimológico do vocábulo, Gonçalves

(1968, p.7) designa perícia como a qualidade necessária ao profissional que irá realizar

a atividade pericial.

Entretanto, estas definições são incompletas, visto que consideram apenas a

etimologia da palavra. Conforme ensina Silva (2004, p. 1029), a denominação dada a

esta habilidade ou saber passou a designar a própria ação:

“Perícia. Do latim peritia (habilidade, saber), na linguagem jurídica designa especialmente, em sentido lato, a diligência realizada ou executada por peritos, a fim de que se esclareçam ou se evidenciem certos fatos. Significa, portanto, a pesquisa, o exame, a verificação, acerca da verdade ou da realidade de certos fatos, por pessoas que tenham reconhecida habilidade ou experiência na matéria de que se trata. Assim, a denominação dada a esta habilidade ou saber passou a distinguir a própria ação ou investigação levada a efeito para o esclarecimento pretendido”.

Inclusive, Gonçalves (1968, p. 7) em sua obra, na tentativa de fazer

reconhecer um termo específico para esta atividade, atribuiu a denominação ‘peritagem’

para designá-la, mas a maioria dos autores, cujas obras foram pesquisadas, adota mesmo

o termo perícia.

5 Idem.

10

Magalhães et al. (1995, p. 14), conceituam perícia como um “trabalho de

notória especialização feito com o objetivo de obter prova ou opinião para orientar uma

autoridade formal no julgamento de um fato”.

Para Alberto (2002, p. 19), perícia é um “instrumento especial de

constatação, prova ou demonstração, científica ou técnica, da veracidade de situações,

coisas ou fatos”.

Já a conceituação clássica do jurista Mattirolo6 (1898, p.537) apud

Gonçalves (1968, p. 13), considera-a mais do ponto de vista de ser um testemunho:

“A perícia é o testemunho de um ou mais experts, direcionada a fazer conhecer um fato cuja existência não pode ser acertada ou apreciada, senão apoiada em especiais conhecimentos científicos ou técnicos.”

Este é o sentido ainda hoje utilizado no direito norte-americano, sob o termo

‘testemunho técnico’ (expert witness), conforme se infere da definição de Black7 (1968,

688), que explica a perícia como:

“Testemunho dado em relação a assunto científico, técnico ou profissional, por experts, isto é, pessoas qualificadas para falar com autoridade, em razão de seu treinamento especial, habilidade ou familiaridade com o sujeito”.

2.2 Conceito de Perícia Contábil

Até aqui, buscou-se um conceito geral do que é perícia. Entretanto, é muito

6 “La perizia è la testimonianza di uma o più persone esperte, diretta a far conoscere um fatto, la di cui ezistenza non può essere accertatta ed aprezzata, fourche col corretto di speciali cognizione scientifiche o tecniche”. 7 “Testimony given in relation to some scientific, technical, or professional matter by experts, i. e., persons qualified to speak authoritatively by reason of their special training, skill, or familiarity with the subject”.

11

amplo o campo pericial. Pode-se dizer que tantos são os campos de atuação da perícia

quantas forem as situações contraditórias que envolverem a vida do homem em

sociedade.

O conceito perícia contábil está necessariamente ligado ao conceito geral de

perícia, visto que a adjetivação apenas designa a matéria sobre a qual a perícia recairá,

ou em qual área do conhecimento humano irá atuar. A contabilidade é a matéria do

macrocampo perícia que está sendo tratada neste trabalho, portanto, convém neste

momento esclarecer o que é a ciência contábil.

Conforme destacam Bruni e Famá (2006, p. 3), a contabilidade, vista como

ciência ou conjunto de técnicas, possui diversos objetivos, comumente associados ao

processo de registro e controle do patrimônio ou ao suporte da decisão empresarial.

De acordo com a UnB (2001, p. 280), de forma geral, pode-se conceituar a

contabilidade como sendo a ciência que permite, mediante suas técnicas, registrar e

controlar os atos e fatos administrativos ocorridos em determinada entidade,

proporcionando um acompanhamento sistemático de seu patrimônio.

Franco (1989, p. 19) define-a como:

“A ciência (ou técnica, segundo alguns) que estuda, controla e interpreta os fatos ocorridos no patrimônio das entidades, mediante o registro, a demonstração expositiva e a revelação desses fatos, com o fim de oferecer informações sobre a composição do patrimônio, suas variações e o resultado econômico decorrente da gestão da riqueza patrimonial”.

Solomon et al. (1983, p. 3), definem a contabilidade como um conjunto de

teorias, conceitos e técnicas pelas quais os dados financeiros são processados em

informações com o propósito de relatórios, planejamento, controle e tomada de

12

decisões.

Crepaldi (2002, p. 18) apresenta duas definições de contabilidade: é a

“ciência concebida para coletar, registrar, resumir e interpretar dados e fenômenos que

afetam as situações patrimoniais, financeiras e econômicas de qualquer entidade”; é o

“método econômico-administrativo de apuração do resultado da gestão da azienda e do

controle de seu patrimônio”.

Há os que a consideram uma arte, como Gouveia (1993, p. 23):

“É a arte de registrar todas as transações de uma companhia que possam ser expressas em termos monetários. E é também a arte de informar os reflexos dessas transações na situação econômico-financeira dessa companhia”.

Conforme ressalta Crepaldi (op. cit., p. 19), “a contabilidade nasceu da

necessidade de controlar o patrimônio”. Assim, independente das diferentes definições

atribuídas à contabilidade, todos os conceitos convergem em seus enunciados para o

controle do patrimônio através das informações.

Desta forma, o objeto da contabilidade é o patrimônio das entidades

econômico-administrativas, que a contabilidade estuda, analisa e controla, registrando e

informando sobre as mutações qualitativas e quantitativas ocorridas.

Segundo Alberto (2002, p. 46), uma vez definido o objeto da Ciência

Contábil, qual seja, o patrimônio, é possível inferir que a perícia será de natureza

contábil “sempre que recair sobre elementos objetivos, constitutivos, prospectivos ou

externos, do patrimônio de quaisquer entidades”.

O Conselho Federal de Contabilidade, pela Resolução número 858 de 21 de

13

outubro de 1999, que reformulou o teor da NBC T 13, adotou o seguinte conceito de

perícia contábil:

“A perícia contábil constitui o conjunto de procedimentos técnicos e científicos destinado a levar à instância decisória elementos de prova necessários a subsidiar à justa solução do litígio, mediante laudo pericial contábil e/ou parecer pericial contábil, em conformidade com as normas jurídicas e profissionais, e a legislação específica no que for pertinente”.

Embora a ênfase se dê em relação à atuação judicial da prova, a perícia se

reporta a uma instância decisória qualquer, em juízo ou fora dele.

Já Gonçalves (1968, p. 7), enfoca os aspectos práticos da perícia contábil e

não a restringe ao campo das perícias judiciais, conceituando-a como o exame hábil de

qualquer peça de contabilidade, inclusive a vistoria de elementos patrimoniais

(estoques, instalações) efetuado por perito-contador com a finalidade de resolver

questões técnicas de contabilidade.

Moura (2002, p. 1), na mesma direção, também enfoca os aspectos práticos

e assim conceitua perícia contábil:

“Perícia contábil é a apuração, através de procedimentos técnicos diversos, visando esclarecer dúvidas, efetuar cálculos de partilhas entre sócios, reavaliações patrimoniais, cálculo de ágio ou deságio de ações, apurações do valor do patrimônio líquido, apurações de fundo de comércio, além de outros, e o oferecimento de elementos elucidativos para o deslinde de controvérsias”.

2.2.1 Objetivos da Perícia Contábil

De acordo com Alberto (2002, p. 50), “a perícia contábil tem por objetivo

geral a constatação, prova ou demonstração contábil da verdade real sobre seu objeto,

14

transferindo-o através de sua materialização – o laudo –, para o ordenamento da

instancia decisória, judicial ou extrajudicialmente”. (nosso grifo)

Como o campo de atuação da perícia contábil é muito amplo, seus objetivos

específicos irão variar de acordo com o motivo de sua solicitação. Os objetivos

específicos da perícia contábil podem assumir diversas formas, dentre as quais se

destacam as enumeradas no quadro 2, exemplificadas de acordo com a prática:

Quadro 2: Situações Reais e Objetivos Periciais Objetivo Exemplo A informação fidedigna. Apurar o valor das vendas efetivas de

produtos sujeitos contratualmente ao pagamento de royalties.

A certificação, o exame e a análise do estado circunstancial do objeto.

Verificar a contabilização nos livros do credor e do devedor das operações que deram origem à duplicata questionada em juízo.

O esclarecimento e a eliminação das dúvidas suscitadas sobre o objeto.

Examinar a origem, forma de integralização e quantidade das ações negociadas em bolsa de valores que propiciaram a transferência de controle acionário questionada.

O fundamento científico da decisão. Emitir parecer sobre atividades empresariais do ponto de vista doutrinário da Ciência Contábil para fins de distinção entre aquelas sujeitas ao Imposto sobre Operações Financeiras e aquelas sujeitas ao Imposto sobre Serviços.

A formulação de uma opinião ou juízo técnicos.

Emitir parecer conclusivo sobre a correção ou não da prestação de contas da diretoria ou administrador da entidade.

A mensuração, a análise, a avaliação ou o arbitramento sobre o quantum monetário do objeto.

Apurar o valor correto dos haveres do autor constantes ou que deveriam constar do acervo patrimonial da entidade examinada.

Trazer à luz o que está oculto por inexatidão, erro, inverdade, má-fé, astúcia ou fraude.

Investigar sob a ótica contábil a existência ou inexistência de atos lesivos ou que visem a fraudar o interesse de credores de uma empresa concordatária ou falida.

Fonte: adaptado de Alberto (2002, p. 52).

15

2.2.2 Procedimentos da Perícia Contábil

Para atingir seus objetivos, o artigo 429 do Código de Processo Civil de

1973 determina que para o desempenho de sua função, pode o perito (e os assistentes

técnicos) utilizar-se de todos os meios previstos em lei, seja ouvindo testemunhas,

obtendo informações, solicitando documentos que estejam em poder de parte ou em

repartições públicas, bem como instruir o laudo com plantas, desenhos, fotografias e

outras quaisquer peças, como destacam Castro e Ferreira (2004, p. 9).

Conforme ressalta Moura (2002, p. 2) para fundamentar as conclusões que

serão levadas ao laudo pericial o perito lança mão de procedimentos que abrangem, total

ou parcialmente, segundo a natureza e a complexidade da matéria, exame, vistoria,

indagação, investigação, arbitramento, mensuração, avaliação e certificação.

O Conselho Federal de Contabilidade (1999), mediante a resolução número

858 de 21 de outubro de 1999, que aprovou a reformulação da NBC T 13, definiu quais

são e no que consistem estes procedimentos nos itens 13.4.1.1 a 13.4.1.8:

a) Exame é a análise de livros, registros das transações e documentos;

b) Vistoria é a diligência que objetiva a verificação e a constatação de

situação, coisa ou fato, de forma circunstancial;

c) Indagação é a busca de informações mediante entrevista com

conhecedores do objeto da perícia;

c) Investigação é a pesquisa que busca trazer ao laudo pericial contábil ou

parecer pericial contábil o que está oculto por quaisquer circunstâncias;

16

d) Arbitramento é a determinação de valores ou a solução de controvérsia

por critério técnico;

e) Mensuração é o ato de quantificação física de coisas, bens, direitos e

obrigações;

f) Avaliação é o ato de estabelecer o valor de coisas, bens, direitos,

obrigações, despesas e receitas;

g) Certificação é o ato de atestar a informação trazida ao laudo pericial

contábil pelo perito-contador, conferindo-lhe caráter de autenticidade pela fé pública

atribuída a este profissional;

2.3 Espécies de Perícia Contábil

A perícia possui espécies distintas, segundo o ambiente em que irá ocorrer.

Em cada um destes diferentes ambientes, a perícia assume características peculiares e

tecnologias distintas são adotadas para o atendimento do objetivo a que se destina.

Segundo Alberto (2002, p. 53), os ambientes de atuação da perícia são: o

judicial , o semijudicial, o extrajudicial e o arbitral .

2.3.1 Perícia Contábil Judicial

Perícia judicial é aquela que ocorre na esfera do Poder Judiciário, e por

isso segue regras legais específicas, as quais estão previstas no Código Civil, no Código

17

de Processo Civil e no Código Penal.

A perícia, no âmbito judicial, torna-se necessária quando a prova do fato

depender de conhecimento técnico ou científico especializado, visto que existem

matérias envolvidas em determinados processos que não são de domínio do magistrado.

A perícia judicial pode ser realizada por determinação do julgador ou por

requerimento das partes, e objetiva averiguar situação controversa, objeto de litígio e

auxiliar o magistrado na formação de sua convicção.

Para Sá (1994, p. 78) perícia contábil judicial é a que “visa servir de prova,

esclarecendo o juiz sobre assuntos em litígio que merecem seu julgamento, objetivando

fatos relativos ao patrimônio aziendal ou de pessoas”.

Segundo Alberto (2002, p. 53), as principais finalidades desta espécie de

perícia são: servir de meio de prova – quando tiver por objetivo trazer ao conhecimento

do magistrado a verdade, demonstrando-a, técnica ou cientificamente – ou como

arbitramento – em processos de liquidação de sentença, onde o objetivo seja

determinar com exatidão o valor, a espécie e quantidade das coisas não determináveis

por ocasião da sentença, e que o condenado tem de pagar ou entregar.

O atual Código de Processo Civil de 1973 incluiu entre os meios de prova8 a

perícia, e segundo destaca Santos (1947, p. 62):

“A prova pericial é uma das mais importantes provas, porque, é uma prova impessoal, realizada por pessoa dentre as especializadas no

8 “A prova consiste, pois, na demonstração de existência ou veracidade daquilo que se defende ou que se contesta” (SILVA, 2004, p. 1125).

18

assunto, e, ainda, por ser uma prova exata, podendo ser repetida por outros investigadores quando pairam dúvidas sobre a primeira”. (grifo nosso)

Convém ressaltar que embora o Código de Processo Civil de 1973 tenha

incluído a perícia entre os meios de prova, e dos autores pesquisados assim a

considerarem em suas conceituações, de acordo com Tornaghi (1955, p. 171) apud

Gonçalves (1968, p. 13), a opinião dominante entende que a perícia não é meio de

prova, mas auxílio para a avaliação de prova. Segundo Tornaghi, a perícia não é prova,

pois contém elementos subjetivos como a opinião do perito e é realizada após o fato

consumado. Assim, perícia não prova, ilumina a prova.

Além disso, o juiz não está obrigatoriamente vinculado ao laudo pericial, o

artigo 436 do Código de Processo Civil9 de 1973 garante ao juiz o direito da livre

apreciação da prova. Conforme menciona Miranda (1997, p. 456), pode haver outros

elementos provados nos autos, e o juiz pode apreciar as provas livremente, a fim de se

convencer da verdade.

Em que pese estas considerações, o fato é que esta peça é de fundamental

importância na formação da opinião do juiz, em primeiro lugar, porque o perito é

nomeado pessoalmente, dentre os profissionais de sua inteira confiança (capacidade

técnica, moral e ética), em segundo lugar porque, pela própria conceituação de perícia,

esta deve ser fundamentada, técnica ou cientificamente, e como tal, digna de

credibilidade.

Assim, a perícia contábil, no âmbito judicial, infere muita responsabilidade

9 Art. 436 “O juiz não está adstrito ao laudo pericial, podendo formar a sua convicção com outros elementos ou fatos provados nos autos” (BRASIL, 2006a).

19

ao profissional, visto que, de sua opinião pode depender o destino de pessoas.

No quadro 3 encontram-se as principais modalidades de perícia judicial e

exemplos de sua aplicação:

Quadro 3: Âmbitos da Perícia Judicial Contábil e Exemplos Geradores Âmbito da Perícia Exemplos Nas Varas Criminais Fraudes e vícios contábeis, adulterações de

lançamentos e registros, apropriações indébitas, inquérito judicial para efeitos penais, crimes contra a ordem econômica e tributária.

Na Justiça do Trabalho Indenizações, litígios entre empregadores e empregados de diversas espécies.

Nas Varas Cíveis Estaduais Apuração de haveres, avaliação de patrimônio incorporado, busca e apreensão, consignação em pagamento, compensação de créditos, consignação e depósito para pagamento, desapropriação de bens, dissolução de sociedade, exclusão de sócio, estimativa de bens penhorados, exibição de livros e documentos, extravio e dissipação de bens, falta de entrega de mercadorias, fundo de comércio, indenização por danos, inventários na sucessão hereditária, liquidação de empresas, lucros cessantes, prestação de contas, revisão de contratos bancários.

Na Justiça Federal Execução fiscal (INSS, FGTS, tributos federais em geral), revisão de financiamentos do Sistema Financeiro da Habitação quando envolvem a Caixa Econômica Federal, ações que envolvem a União.

Nas Varas de Falências e Concordatas

Perícias falimentares em geral e concordatas preventivas e suspensivas.

Nas Varas de Fazenda Pública e Execuções Fiscais

Perícias envolvendo tributos de um modo geral, exemplo: ICMS, ISS, IPTU.

Nas Varas de Família Avaliação de pensões alimentícias, avaliações patrimoniais.

Fonte: Adaptado de Hoog (2005, p. 167).

2.3.2 Perícia Contábil Semijudicial

De acordo com Alberto (2002, p. 53), perícia semijudicial é aquela realizada

dentro do aparato institucional do Estado, no entanto, fora do Poder Judiciário. Sua

finalidade principal é servir de meio de prova em inquéritos policiais, em comissões

20

parlamentares de inquérito ou especiais, e na esfera da administração pública tributária

ou conselhos de contribuintes.

Ainda segundo Alberto (op. cit., p. 53), estas perícias devem ser

classificadas como semijudiciais por envolverem autoridades policiais, parlamentares

ou administrativas, as quais possuem algum poder jurisdicional, ainda que relativo, e

por estarem sujeito a regras legais e regimentais que se assemelham às judiciais.

2.3.3 Perícia Contábil Extrajudicial

Perícias extrajudiciais são aquelas praticadas fora do juízo, voluntariamente,

sem formalidades processuais ou judiciais, mas com capacidade de produzir efeitos

jurídicos.

Alberto (2002, p. 54) subdivide esta espécie de perícia em três tipos,

conforme a finalidade para que foram designadas, em: demonstrativas, quando se

destina a demonstrar a veracidade ou não de situações, coisas ou fatos, cujo escopo é

previamente pactuado; discriminativas, quando a perícia objetiva colocar nos justos

termos os interesses de cada um dos envolvidos na matéria controversa em consulta; e

comprobatórias, quando visa à comprovação de fraudes, desvios, simulações, dentre

outros.

As principais modalidades de perícia extrajudicial de acordo com Hoog

(2005, p. 168), são:

a) Fusão; Cisão e Incorporação;

21

b) Medidas Administrativas (quando envolvem os procedimentos para

embasar decisões administrativas, demissões por justa causa, responsabilidade de

gerentes ou diretores quando da administração e retorno do capital, apuração da

eficiência, ou não, da gestão de estoques);

c) Reavaliação do Ativo Permanente e Patrimônio Líquido (que segundo

dispõe a Lei das Sociedades por Ações10 – será feita por três peritos ou por

empresa especializada).

2.3.4 Perícia Arbitral

Para conceituar perícia arbitral, convém, inicialmente, esclarecer o que é

juízo arbitral.

Segundo definição de Silva (2004, p. 794), juízo arbitral é aquele onde as

partes buscam meios alternativos para a solução de conflitos, independentemente da

autoridade judiciária. As partes buscam de comum acordo o juízo arbitral em questões

que envolvem direitos patrimoniais quando acham que é possível uma solução

consensual.

Ainda de acordo com Silva (op. cit., p. 130), árbitro é juiz de fato e de

direito, nomeado por juiz competente, ou pelas partes, para atuar no processo. Sua

sentença é eficaz e irrecorrível (só poderá ser anulada, pelo poder judiciário, em casos

10 “Art. 8º. A avaliação dos bens será feita por três peritos ou por empresa especializada (...)” (BRASIL, 1998, p. 10).

22

extremos).

A perícia contábil nestes casos poderá ser útil dando apoio salutar aos

árbitros quando do julgamento de assuntos relacionados com a contabilidade.

2.4 Conceito de Perito Contador

O Conselho Federal de Contabilidade (1999), pela Resolução número 857

de 21 de outubro de 1999, que reformulou a NBC P 2, conceitua perito como o contador

regularmente registrado em Conselho Regional de Contabilidade, que exerce a atividade

pericial de forma pessoal, devendo ser profundo conhecedor, por suas qualidades e

experiência, da matéria periciada.

De acordo com Silva (2004, p. 1032), a designação perito exprime, na

linguagem técnica do Direito, “a pessoa que, nomeada pelo juiz, ou escolhida pelas

partes, em uma demanda ou litígio, vai participar ou realizar uma perícia”.

Hoog (2005, p. 57) vai além ao destacar também a importância do perito

contador em sua conceituação, para Hoog perito contador é o:

“Profissional de nível superior, especializado em matéria fisco-contábil, que revela atos e fatos entranhados no patrimônio. Ilumina os leigos e será nomeado pelo Juiz. Desta forma, podemos concluir que o perito é o olho tecnológico científico do Magistrado, a mão longa da justiça, enfim, o apoio científico ao ilustre condutor judicial”.

Conforme escreve Monteiro (1985, p. 185), o princípio democrático do

contraditório no processo judicial garante também às partes o direito de buscar apoio

técnico mediante consulta a especialista de sua confiança. Assim, quando indicado pelas

23

partes, o perito denomina-se assistente técnico.

O assistente técnico nada mais é do que o perito das partes, e como tal, deve

preencher os mesmos requisitos profissionais que o perito, e no caso de ser a perícia

sobre matéria contábil, deve o profissional ser contador legalmente habilitado.

Ainda de acordo com Monteiro (1985, p. 186), os assistentes são de

confiança das partes, não estando sujeitos a impedimento ou suspeição. Entretanto, o

assistente técnico, tal qual o perito nomeado pelo juiz, está sujeito às normas da

profissão de contador, e deve manter sua independência, evitando e denunciando

qualquer interferência em seu trabalho e não admitindo, em nenhuma hipótese,

subordinar sua apreciação a qualquer fato, pessoa, situação ou efeito que possam

comprometer sua independência.

2.4.1 Competência Técnico-Profissional

De acordo com que preceitua o Código de Processo Civil de 1973, artigo

145, parágrafo primeiro, “os peritos serão escolhidos entre profissionais de nível

universitário, devidamente inscritos no órgão de classe competente (...)”.

O Conselho Federal de Contabilidade (1983), pela Resolução número 560

de 28 de outubro de 1983, item 35 do artigo 3º, estabelece que a perícia contábil é

atribuição exclusiva de bacharel em ciências contábeis. Assim, como bem esclarece

Monteiro (1985, p. 75):

“Nulo pleno jure será o Laudo Pericial, a Vistoria, o Exame Pericial ou Avaliação de Bens ou Imóveis, assinados por perito judicial ou

24

extrajudicial, sem habilitação legal na forma da lei federal regulamentadora da profissão cuja atividade seja o objeto da perícia [...], que não tenha a necessária habilitação ou especialização pedida pela perícia, devidamente credenciada e autorizada pelo respectivo Conselho Federal e anotada na Carteira do profissional pelo Conselho Regional.”

Conforme escreve Pratt (1981, p. 275), a qualificação do perito é um

primeiro passo essencial para estabelecer credibilidade perante os olhos da corte.

Além dos requisitos legais, também é desejável que o perito contador

possua outras qualidades, Hoog (2005, p. 57-58) cita, dentre outras, que o profissional

deve:

• Dominar as normas e procedimentos fisco-contábeis, empresariais e os

procedimentos evolutivos ocorridos no assunto a ser examinado;

• Ser um autodidata e manter-se sempre atualizado;

• Ser calmo e sensato. Nesta atividade; o profissional fica

exposto a várias pressões, fato que reforça a necessidade de uma conduta equilibrada e

de altos valores morais;

• Ter dignidade para declarar-se impedido ou suspeito, em sintonia à ética

e aos artigos 134, 135 e 138 do Código de Processo Civil de 1973;

• Ser independente ao expressar a sua opinião, a qual deve ser

exclusivamente baseada nos exames realizados;

• Ter dignidade e humildade para recusar a tarefa quando a matéria da lide

não for sua especialidade (Código de Processo Civil de 1973, artigo 423);

• Realizar o exame pericial com o máximo de acuidade e precisão em

25

todas as etapas de investigações e conclusões;

• Consultar outros profissionais quando necessário, para evitar erros;

• Corrigir imediatamente os erros diagnosticados;

• Manter sua conduta pautada nos princípios da consideração, apreço e

solidariedade, em consonância com os postulados de harmonia da classe.

2.4.2 Consciência Ética

Segundo Sá (2000, p. 15), em seu sentido mais amplo, a ética tem sido

entendida como a “ciência da conduta humana perante o ser e seus semelhantes”. De

acordo com Sá, a ética enquanto ciência envolve os estudos da aprovação ou

desaprovação da conduta humana, seja analisando os meios que devem ser empregados

para que a conduta se reverta sempre em favor do homem, seja buscando modelos de

conduta conveniente.

Zajdsznajder (1994, p. 123), esclarece que o modo de pensar moderno,

remete a três direções, que formam uma totalidade:

a) a idéia de autonomia, de que o agir ético caracteriza-se pelo assumir, cada

um de nós, determinadas regras de conduta;

b) a expressão do que seria uma regra ética racional, ou seja, trate os outros

como gostaria de ser tratado; e,

c) a idéia de pessoa que não pode ser tratada exclusivamente como meio,

26

mas também como fim.

De acordo com Zajdsznajder (op. cit., p. 123), ser ético envolve diversas

idéias, como:

• O cuidado com o nosso ser e com os outros (deixar de cuidar ou, então,

cuidar de maneira incorreta é desvio da ética);

• A consideração com as pessoas;

• O fato de sabermos que nossas ações têm conseqüências que podemos

antever e sobre as quais, diante das ações de nossa escolha, temos responsabilidades;

• O respeito aos limites, que são marcos que aparecem impostos às ações

e que dizem quais fronteiras não devem ser atravessadas ou que atos devem ser

realizados;

• A veracidade, ou seja, apresentar os fatos como ocorrem e buscar as

interpretações mais pertinentes;

• A liberdade, que é a possibilidade da escolha da forma de vida segundo

a preferência ou a formação de um modo que não cause danos a outros.

É a consciência ética que nos impõe um sentimento de dever moral, ou seja,

de cumprir o que se faz útil e necessário à convivência harmônica.

Segundo Alberto (2002, p. 70) essa condição essencial da consciência ética

prende-se ao objetivo final de toda perícia: a verdade real, afinal “tal instituto pericial

somente tem sentido como auxiliar na promoção da justiça (aqui tomada em sentido

27

lato) se propiciar a esta, verdadeiramente, que dê a cada um aquilo que é seu”.

Para Hoog (2005, p. 135), os meios operantes dessa consciência são:

“a) a função social da profissão, harmonizada com a moral e o dever e conhecer a tarefa, a profissão e a manutenção da educação continuada;

b) a responsabilidade que decorre da utilidade dos benefícios da tarefa, que buscam ampliar a qualidade e satisfação dos clientes;

c) o zelo e a eficiência, importantíssimos no exercício da profissão, harmonizados com a honestidade e sigilo”.

2.4.3 Responsabilidade Civil e Criminal

O Código de Processo Civil de 1973, no artigo 147, estabelece sanções ao

perito que prestar informações inverídicas, independentemente destas causarem prejuízo

a qualquer das partes, ou não:

“Art. 147. O perito que, por dolo ou culpa, prestar informações inverídicas, responderá pelos prejuízos que causar à parte, ficará inabilitado, por 2 (dois) anos, a funcionar em outras perícias e incorrerá na sanção que a lei penal estabelecer”.

Segundo definições de Silva (2004), pode-se dizer que o dolo ocorre quando

se configura a intenção. Já a culpa, caracteriza-se pela imperícia (falta a habilidade ou

experiência necessária para a realização de certas atividades), imprudência (falta de

cautela, de precaução) ou negligência (falta de interesse, descuido, desatenção).

O artigo 342 do Código Penal impõe pena de um a três anos de reclusão

para o perito que fizer afirmação falsa, negar ou calar a verdade, independente da norma

processual em exame:

“Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como

28

testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

§1º As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta.

§2º O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade”.

Adicionalmente, o perito que, inabilitado, insistir em exercer função,

atividade, direito, autoridade ou múnus, de que foi suspenso ou privado por decisão

judicial, ficará sujeito às penas previstas no artigo 359 do Código Penal – detenção, de 3

(três) meses a 2 (dois) anos, ou multa.

2.4.4 Impedimento ou Suspeição, Recusa e Substituição

Uma das mais importantes qualidades do perito é a imparcialidade,

considerando que sua atividade auxilia o Juízo no correto julgamento de um litígio. O

perito precisa passar serenidade aos litigantes e confiança na retidão da sua atuação.

Para assegurar este direito, a lei impõe, em determinados casos, o

afastamento ex oficcio do perito, além de permitir a impugnação de sua presença quando

o afastamento não ocorre espontaneamente.

O Código de Processo Civil (1974), em seu artigo 138, dispõe11 acerca do

impedimento e da suspeição do perito, determinando que se apliquem ao contador as

11 “Art. 138. Aplicam-se também os motivos de impedimento e de suspeição: (...) III – ao perito.”

29

mesmas regras estabelecidas para o juiz, as quais estão relacionadas nos itens dos

artigos 134 e 135 do mesmo Código.

Como escreve Barbi (2001, p.265), o impedimento consiste na proibição ao

perito de atuar nos casos previstos na lei, em virtude da perda da neutralidade. Os

motivos de impedimento são considerados tão graves, que seus defeitos persistem até

mesmo após o transito em julgado da sentença.

Ainda de acordo com o Barbi (op. cit., p.265), a suspeição se configura

numa situação mais branda, na qual o perito tem o dever moral e ético de se afastar da

causa. Embora nos casos de suspeição também haja a presunção legal de parcialidade,

seus efeitos não são, por si só, suficientes para invalidar o trabalho do perito. Se o perito

não recusar o trabalho por vontade própria, e a se a sua nomeação não for impugnada

pela parte nos prazos e formas legais, a existência do motivo de suspeição deixa de

produzir efeitos na validade do trabalho.

Já nos casos de impedimento, a gravidade dos motivos torna anulável o

trabalho realizado por perito impedido. De modo que, mesmo após o término dos

trabalhos periciais, proferimento da sentença e arquivamento do processo, pode-se

anular todos os atos realizados após a perícia.

Barbi (op cit., p.265) resume da seguinte forma: quem está sob suspeição

ainda está em situação de dúvida, enquanto quem está impedido, já está fora de dúvida,

por conta da probabilidade de quebra na parcialidade.

Assim, de acordo com os comentários de Barbi (op cit., p.266), ao artigo

134 do Código de Processo Civil, considera-se impedido o perito que:

30

a) É parte do processo (autor ou réu), e também incluído neste conceito os

casos em que for terceiro interveniente12 no processo. Além disso, este item também

inclui as hipóteses em que o perito não é formalmente parte, mas o direito que se discute

também lhe pertence;

b) É mandatário da parte, atuou como assistente técnico, ou prestou

depoimento como testemunha;

c) Atuou em grau inferior no mesmo processo, acerca do mesmo objeto (até

porque este seria um caso de segunda perícia, o que pressupõe que a primeira, mesmo

após os devidos esclarecimentos, foi insatisfatória ou insuficiente, fato que de per si já

obsta a nomeação do mesmo perito para o encargo);

d) É cônjuge ou parente em linha reta do advogado da parte;

e) É cônjuge ou parente da parte;

f) É membro da direção ou da administração de pessoa jurídica parte na

causa.

De acordo com os comentários de Barbi (op cit., p.267), ao artigo 135 do

Código de Processo Civil, estará suspeito o perito quando:

a) É amigo íntimo ou inimigo capital da parte;

b) É credor ou devedor da parte, de seu cônjuge ou de seus parentes;

12 “Assim se denomina toda pessoa que, não sendo originariamente autor, ou réu, de uma demanda vem a ela, como assistente, opoente, ou litisconsorte, defender direitos e interesses que lhe são próprios e que interferem com as controvérsias suscitadas na ação” (SILVA, 2004, p. 1379).

31

c) É herdeiro presumido, seja legítimo ou testamental, tiver recebido

doação ou for empregador da parte;

d) Recebeu dádivas, antes ou após a atuação, aconselhou alguma das partes

acerca do objeto da causa, ou subministrou meios para atender as despesas do litígio;

e) Há o interesse no julgamento da causa em favor de uma das partes;

Além disso, o parágrafo único do mencionado artigo assegura ao perito que

este, espontaneamente, possa se declarar suspeito por motivo íntimo.

Apesar de este item assegurar ao perito que ele se afaste nos casos em que

sua consciência assim o exigir, no entanto, a falta de especificações dos casos em que a

escusa deve ser utilizada, pode ensejar a sua má utilização.

Conforme comentam Castro e Ferreira (2004, p. 28), o artigo 423 do Código

de Processo Civil de 1973, estabelece que o perito pode escusar-se ou ser recusado pelo

juiz (nos casos de impedimento ou suspeição). Nestes casos, o juiz nomeará novo

perito.

Fadel (1975), apud Castro e Ferreira (op cit., p. 28), enfatiza que a escusa

somente deve ser requerida pelo perito nos casos de motivo legítimo, quando: carecer

do conhecimento específico para a matéria objeto da perícia; existir motivo de

impedimento ou suspeição; ou quando não tiver, por circunstâncias essenciais e

pessoais, condições de efetivar a perícia na época ou no prazo exigido, dentre outros.

Ainda segundo os comentários de Castro e Ferreira (op cit., p. 28), o artigo

424 do Código de Processo Civil institui que o magistrado poderá substituir o perito

32

quando julgar que carece do conhecimento técnico ou científico do qual depende a

execução da perícia ou quando o perito, sem motivo legítimo, deixar de cumprir o

encargo no prazo. Neste último caso, o juiz comunicará a ocorrência à corporação

profissional respectiva, podendo, ainda impor multa ao perito.

2.5 Conceito de Laudo Pericial

O laudo pericial é a peça técnica fundamental da perícia, pois conforme

destaca Gonçalves (1968, p. 67), consubstancia o trabalho realizado pelo perito.

Para Zarzuela et al. (2000, p. 36) o laudo pericial é documento processual

de interesse judiciário, o qual consiste na exposição minuciosa, circunstanciada,

fundamentada e ordenada das apreciações e interpretações realizadas pelo perito, o

qual oferecerá ao juiz, subsídios para a formação de seu convencimento.

Assim, é no laudo pericial que se encontra por escrito o pronunciamento ou

manifestação do especialista sobre suas conclusões a respeito do assunto controvertido,

ou sobre o qual haja dúvida, submetido à sua apreciação, conforme escreve Sá (1994, p.

51).

Ou seja, o laudo pericial é o produto final do trabalho do perito, é esta peça

que será entregue pelo perito ao juiz, para auxiliá-lo na solução do contraditório.

Como destaca Moura (2002, p. 2), o laudo pericial é presumivelmente

verídico, somente admitindo contestação quando existir prova em contrário ou quando

for incoerente.

33

Assim, o laudo pericial deve ser fundamentado, devendo apresentar

“subsídios técnico-científicos para que haja uma indelével apreciação jurídica e pleno

entendimento do douto juiz no momento da prolação da sentença”, como ressaltam

Manoel e Ferreira Júnior (2005, p. 167).

No mesmo sentido, Miranda (1997, p. 490) escreve sobre a exigência da

fundamentação do laudo pericial:

“o laudo do perito deve ser redigido em termos de observação (enunciados de fato), seguidos da razão empírica ou experimental que tem para cada proposição que escrever, e de respostas, adaptando o resultado do que observou, experimentou, induziu e deduziu ao que lhe perguntaram as partes e o juiz”.

2.5.1 Estrutura do Laudo Pericial

Conforme escreve Alberto (2002, p. 124), o resultado material, visível, que

é a manifestação na realidade concreta de todo o esforço do perito é o laudo, e este tem

características gerais que devem obedecer a certa ordem lógica, tanto do que deve

constar quanto do próprio ordenamento do laudo, favorecendo seu entendimento e

visualização da matéria exposta.

De acordo com o que determina o Conselho Federal de Contabilidade

(2005), pela Resolução número 1.041 de 26 de agosto de 2005, que aprovou a NBC T

13, nos itens 13.6.3.1 a 13.6.3.6 e 13.6.4.1, o laudo pericial deve conter no mínimo os

seguintes itens:

a) Identificação do processo e das partes;

34

b) Síntese do objeto da perícia, ou seja, o relato sucinto sobre as questões

básicas em discussão;

c) Metodologia adotada para os trabalhos periciais;

d) Identificação das diligências realizadas, ou seja, dos procedimentos e

atitudes adotados pelo perito na busca de informações e subsídios necessários à

elaboração do laudo;

e) Transcrição dos quesitos;

f) Respostas aos quesitos;

g) Conclusão;

h) Outras informações, a critério do perito-contador, entendidas como

importantes para melhor esclarecer ou apresentar o laudo pericial, como anexos ou

outras peças que julgar relevantes;

i) Rubrica e assinatura do perito-contador, bem como sua categoria

profissional de Contador e o seu número de registro em Conselho Regional de

Contabilidade.

Conforme estabelece o Conselho Federal de Contabilidade, pela mesma

Resolução citada acima, no item 13.6.5.2, na conclusão do laudo, o perito-contador

deve:

• Sempre que possível quantificar os valores;

• Nos casos em que na conclusão seja necessária a apresentação de mais

35

de uma alternativa (ocasiões em que cada parte apresentou uma versão para a causa), o

perito deverá apresentar ao juiz as alternativas condicionadas às teses apresentadas,

devendo, necessariamente, identificar os critérios técnicos que lhes suportem e não deve

expressar sua opinião;

• Quando a perícia não envolver quantificação de valores, a conclusão

pode ser, simplesmente, elucidativa;

• Existe ainda outra opção ao perito, que é reportar-se às respostas

apresentadas nos quesitos.

Como escreve Santana (1999, p.112):

“A finalidade do laudo, considerado como produto último do trabalho pericial, é fornecer informações requeridas e necessárias à elucidação da controvérsia existente sobre questões técnicas não conhecidas pelo magistrado e importantes para sua decisão”.

Por sua vez, Yoshitake et al. (2006, p. 53), destacam que:

“O trabalho do perito do juízo é assegurar ao magistrado e as partes a apresentação de uma peça técnica de irrefutável valor científico , já que houve por bem a determinação de uma prova técnica”.

Assim, a responsabilidade do perito, em sua função de auxiliar da justiça,

está evidenciada pela influência que o laudo pericial pode exercer sobre uma sentença.

Portanto, como afirma Alberto (2002, p. 122), o perito deve “agir conscientemente,

conduzindo com rigor científico a realização do trabalho pericial”, buscando encontrar a

verdade demonstrável cientificamente.

O próximo capítulo caracteriza os diversos aspectos dos fundamentos que

36

envolvem as técnicas de avaliação de empresas. A finalidade do próximo capítulo é

apresentar os diversos aspectos dos fundamentos que envolvem as técnicas de avaliação

de empresas, para posteriormente realizar-se um estudo de casos, objetivando analisar a

propriedade das técnicas de avaliação utilizadas em situações reais.

37

3. AVALIAÇÃO DE EMPRESAS

A avaliação de empresas se faz necessária em diversas situações nas perícias

contábeis, destacando-se as mencionadas no quadro 4:

Quadro 4: Principais Usos da Avaliação de Empresas em Perícias Contábeis Situação Finalidade

Em ações de alimentos Avaliar a capacidade econômica do cônjuge que responderá pela prestação pecuniária, para que o juízo possa fixar os valores dos alimentos devidos.

Em ações de inventário Mensurar o patrimônio do inventariado, para que a cada herdeiro possa ser atribuída a parte que lhe cabe na herança.

Em dissoluções de sociedades Apurar os haveres dos sócios ou do sócio que se retira, para que a cada um se dê o que a si pertence.

Fundo de comércio Apurar o chamado ‘fundo de comércio’ da entidade, para fins de avaliação em diversas situações, como a venda da empresa, fusões, cisões, penhora de cotas, leilões, dentre outros.

Fonte: Adaptado de Alberto (2002, p. 114)

Neste capítulo, são apresentadas as abordagens mais usuais para a avaliação

de empresas; modelo patrimonial contábil e patrimonial pelo mercado; modelo baseado

em múltiplos; e, modelo dos fluxos de caixa descontados. Também são expostas as

principais críticas aos modelos.

Segundo Martins et al. (2001, p. 263), ao se avaliar uma empresa, o objetivo

é “alcançar o valor justo de mercado13, ou seja, aquele que representa, de modo

13 De acordo com a definição do International Accounting Standards Committee – IASC (2000, p.1048) apud Martins et al. (2001, p. 120), ‘valor justo’ é o montante pelo qual um ativo poderia ser negociado, ou um passivo liquidado, entre agentes econômicos plenamente informados e independentes, cada qual buscando o melhor de seus próprios interesses.

38

equilibrado, a potencialidade econômica de determinada companhia” (nosso grifo).

Contudo, conforme ressalta Pasin (2004, p. 17), o valor de um negócio só é

efetivamente definido ao fim do processo de negociação entre o comprador e o

vendedor. O ‘valor justo’ de uma empresa, determinado pelos processos de avaliação,

representa apenas o valor potencial de um negócio em função da expectativa de geração

de resultados futuros, pois cada agente pode atribuir valor a uma empresa segundo suas

próprias premissas.

Paiva (2001, p. 2) esclarece que no campo econômico, ‘valor’ pode ser

entendido como “a apreciação feita por um indivíduo (num dado tempo e espaço) da

importância de um bem, com base em sua utilidade (objetiva e subjetiva)”.

Sendo assim, como a utilidade atribuída a um bem por um indivíduo não

pode ser objetivamente mensurada, não se consegue fugir de certa subjetividade na

determinação de valores de ativos.

Nenhum modelo de avaliação é capaz de fornecer um valor preciso, único e

inquestionável para uma empresa, mas sim uma estimativa, pois apesar de tais modelos

serem essencialmente quantitativos, o processo de avaliação contempla também

aspectos subjetivos.

Neste sentido, Falcini (1995, p. 15) afirma que uma avaliação econômica

não é a fixação concreta de um preço ou valor específico para um ativo, mas sim uma

estimativa, uma tentativa de estabelecer, dentro de uma faixa, um valor referencial de

tendência, em torno do qual atuarão as forças de mercado.

Em consonância, Martins et al. (2001, p. 263) afirmam que não existe um

39

valor correto para um negócio, já que cada agente pode possuir uma percepção diferente

perante um empreendimento.

Falcini (1995, p. 18) propõe ainda que, se aceita a premissa de que o

mercado – através de seus preços – atua como um consenso do valor econômico, então

um maior ou menor afastamento da estimativa desse valor, em relação ao preço do

mercado, poderá dizer muito sobre a eficiência do método escolhido.

Vários são os modelos de avaliação de empresas existentes na literatura de

finanças, os quais podem ser utilizados em conjunto ou separadamente. Sua escolha

deve considerar o propósito da avaliação e as características próprias do negócio a ser

avaliado.

Conforme esclarece Damodaran (2006, p. 14), a avaliação de empresas se

faz útil numa larga gama de tarefas, como em: gestão de carteiras, análise de aquisições,

e na consecução do próprio objetivo de finanças corporativas, que é a maximização do

valor da empresa.

Neste capítulo serão apresentados, segundo as teorias de finanças, os

principais métodos de avaliação de empresas, explorando as principais diferenças

conceituais, suas dificuldades práticas de aplicação, suas vantagens e desvantagens, com

a finalidade de construir um arcabouço conceitual que servirá de base às análises

propostas no estudo de caso.

40

3.1 Modelos Usuais de Avaliação de Empresas

Para Martins et al. (2001, p. 264) a avaliação de uma empresa pode partir de

dois pressupostos: a continuidade; ou a descontinuidade da mesma. Assim, os autores

propõem duas formas de avaliação: pelo “valor de liquidação ordenada”, isto é, os

ativos avaliados a preço de venda, menos os gastos para se efetuar esta venda

(comissão, impostos, transportes) e menos o valor necessário para saldar seu passivo

exigível; ou pelo seu “valor de funcionamento”, o qual depende basicamente dos

benefícios econômicos que ela é capaz de produzir no futuro.

De acordo com Martelanc et al. (2005, p. 3), as metodologias mais

utilizadas para avaliar empresas são: método patrimonial contábil ; método do fluxo de

caixa descontado; método dos múltiplos (também conhecido como método de

avaliação relativa); e, método de EVA/MVA 14, sendo este último muito utilizado para

fins internos, frequentemente, para fins de análise de desempenho e gestão de valor,

por este motivo, não será objeto de estudo neste trabalho.

Martelanc et al. (op. cit., p. 3) destacam uma pesquisa realizada pela

Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais

(APIMEC) em 2001, que concluiu que 88% dos avaliadores utilizam o método do fluxo

de caixa descontado em suas avaliações e 82% usam o método dos múltiplos. Esta

mesma pesquisa também concluiu que apenas 23% dos avaliadores utilizam uma única

abordagem em suas avaliações, 60% preferem combinar duas abordagens, enquanto

18% preferem utilizar três abordagens.

14 Economic Value Added (EVA) e Market Value Added (MVA), são marcas registradas da Stern & Stewart.

41

3.2 Modelos Patrimoniais de Avaliação

Os modelos patrimoniais de avaliação normalmente são utilizados em

situações específicas, quando se tem interesse nos ativos da empresa, e não no potencial

de geração de resultados futuros que estes ativos representam, como por exemplo, para

determinar o valor de liquidação de uma organização em falência ou em concordata.

Martins et al. (2001, p. 269) explicam que os modelos que utilizam a

abordagem patrimonial pressupõem que o valor de uma empresa pode ser estimado pelo

valor de seu patrimônio líquido ou pelo valor de mercado de seus itens específicos.

Para apurar o valor da empresa, os modelos patrimoniais de avaliação

partem das demonstrações financeiras, as quais, geralmente, são incapazes de refletir o

valor econômico de um empreendimento. Ainda de acordo com Martins et al. (2001, p.

265), este fato deve-se, principalmente, à adoção dos princípios contábeis e a influência

da legislação tributária.

Contudo, apesar das limitações deste método, conforme ressaltam Perez e

Famá (2002, p. 5), a situação contábil de uma empresa e em conseqüência, seu valor

patrimonial, é uma informação útil, como ponto de partida para a análise econômica e

financeira, dentro do processo completo de avaliação dessa empresa.

3.2.1 Modelo de Avaliação Patrimonial Contábil

Martins et al. (2001, p. 269), definem o modelo de avaliação patrimonial

contábil como aquele baseado na diferença entre os ativos e os passivos exigíveis,

42

mensurados conforme os princípios contábeis tradicionais. Sua equação pode ser

representada da seguinte forma:

líquido Patrimônio contábeis exigíveis Passivos - contábeis Ativos empresa daValor ==

A principal vantagem desta abordagem é ser simples e fácil de ser aplicada,

visto que o valor do patrimônio líquido de uma empresa é conhecido, necessitando

apenas ser identificado nos registros contábeis.

Contudo, diversos fatores dificultam a utilização deste método como

indicador efetivo do valor econômico da empresa, Perez e Famá (2002, p. 3), destacam

os seguintes:

• Os ativos normalmente estão avaliados aos custos históricos, e não aos

seus valores correntes (registro a valores de entrada e não de saída);

• A contabilização de acordo com o regime de competência, associada com

os conceitos da realização de receitas e da confrontação de despesas, torna a

contabilidade desbalanceada com relação a alguns direcionadores de valor como o

conceito do valor do dinheiro no tempo e do risco associado; e,

• Existem operações que não são registradas nas demonstrações contábeis

tradicionais (off-balance sheet), as quais são muito relevantes para apuração do valor

econômico de uma empresa, tais como: operações de arrendamento mercantil,

derivativos, garantias, goodwill, dentre outras.

Em consonância, Marques (2004, p. 225), escreve que apesar de sua

43

simplicidade relativa, a medida possui algumas limitações bastante peculiares:

“Uma vez que seu numerador representa um dado contábil resultante de procedimentos de distribuição e reconhecimento de receitas, despesas, ativos e passivos até certo ponto arbitrários, a medida acaba por incorporar esta deficiência”.

Assim, este modelo só é válido para situações muito específicas, em que os

valores dos itens patrimoniais mensurados pelos princípios contábeis não divergem

muito de seus valores de mercado e o goodwill não representa valor significativo.

3.2.2 Modelo de Avaliação Patrimonial pelo Mercado

Conforme definem Martins et al. (2001, p. 269), nesta abordagem os ativos

e passivos exigíveis são mensurados com base no valor de mercado de seus itens. Sua

equação pode ser escrita da seguinte forma:

ajustados exigíveis Passivos - ajustados Ativos empresa daValor =

Embora este modelo seja válido para um número maior de situações que o

modelo de avaliação patrimonial contábil – pois, por considerar valores de saída, se

aproxima mais do valor econômico de mercado – também desconsidera o valor do

goodwill da empresa, bem como os benefícios futuros que o conjunto dos ativos e

passivos seria capaz de gerar.

Famá e Leite (2003, p. 4) destacam ainda, que é necessário lidar com o

grande desafio na aplicação deste método, que é a medição do valor de mercado dos

ativos permanentes.

44

3.3 Avaliação Relativa ou Modelo Baseado em Múltiplos de

Índices Financeiros

Conforme descrevem Martelanc et al. (2005, p. 183), esse método

pressupõe que o valor de uma empresa pode ser estimado em função dos múltiplos de

outras empresas que apresentem características semelhantes:

“O valor da empresa A dividido por um indicador de referência – que pode ser o lucro dessa empresa – gerará um múltiplo que pode ser aplicado ao lucro da empresa B para se obter seu valor. A abordagem dos múltiplos baseia-se na idéia de que ativos semelhantes devem ter preços semelhantes” (nosso grifo).

Com isso, é possível avaliar uma empresa encontrando outra empresa

semelhante que tenha sido negociada recentemente, ou mediante a comparação com os

valores de mercado das empresas de capital aberto.

Ainda de acordo com Martelanc et al. (op. cit., p. 183), este método é útil

quando o avaliador possui apenas alguns dados básicos da empresa, como lucro ou

faturamento – dados estes que geralmente são fáceis de serem obtidos por meios

públicos, como jornais ou internet. Para realizar a avaliação por este método, somente

serão necessários mais dois dados: um indicando o valor da empresa semelhante, e

outro indicando um valor de referência, como, por exemplo, lucro, patrimônio líquido

ou vendas.

Além da necessidade de poucas informações, Martelanc et al. (2005, p. 183)

destacam outras vantagens deste método em relação aos outros: a simplicidade; e a

rapidez na precificação de novas informações. Martelanc et al. também mencionam as

desvantagens do método, quais sejam: não considera a diferença nos fundamentos das

45

empresas comparáveis; é impactado pela qualidade limitada das informações; não

considera as especificidades de cada transação; é afetado quando o setor inteiro está

super ou subavaliado.

Segundo Pasin (2004, p. 39), os principais tipos de múltiplos são:

a) Múltiplos de Lucro Líquido;

b) Múltiplos de EBIT (lucro antes do pagamento de juros e impostos),

EBITDA (lucro antes do pagamento de juros, impostos, depreciação e amortização),

Fluxo de Caixa para a Empresa e Fluxo de Caixa para o Acionista;

c) Múltiplos de Valor Patrimonial;

d) Múltiplos de Receitas; e,

e) Múltiplos específicos.

Pasin (op. cit., p. 4) concluiu através de seu estudo, que não há um consenso

sobre:

• Como se deve escolher empresas comparáveis;

• Quais características as empresas devem possuir em comum para serem

consideradas comparáveis; e,

• Quais múltiplos utilizar para avaliar empresas.

Este fato dá margem a uma possibilidade de manipulação muito grande,

capaz de justificar qualquer valor para a mesma empresa. Neste sentido, Damodaran

46

(2006, p. 18) afirma que “um analista tendencioso poderá escolher um grupo de

empresas comparáveis que confirme suas pressuposições sobre o valor de uma

empresa”.

Devido à suas limitações, diversos autores consideram este método útil

quando utilizado como complementar a outras abordagens. Benninga e Sarig (1997)

apelidam a avaliação por múltiplos como o teste “psicológico” para o resultado de

outras técnicas, no sentido de que servem mais para validar outros métodos (como o do

fluxo de caixa descontado, por exemplo), do que como a principal forma de medir o

valor de uma empresa.

Segundo Pasin (2004, p. 39), o principal múltiplo de lucro líquido é o

preço/lucro. O inverso – lucro/preço – é uma das mais populares medidas de avaliação

de rendimento do título.

De acordo com Martins et al. (2001, p. 270), este modelo baseia-se na

relação entre o preço e o lucro por ação da entidade semelhante que, multiplicado pelo

lucro da avaliada, resulta no suposto valor do empreendimento, ou seja:

LPA P/L Preço Preço/LPA P/L ×=→=

Apesar de aceito pelo mercado, Martins et al. (2001, p. 271) mencionam

alguns motivos de limitações a este modelo: 1. considera o lucro contábil (problemas

relacionados à limitação das informações contábeis); 2. ignora o valor do dinheiro no

47

tempo e os riscos; e 3. considera implícita a idéia de eficiência de mercado15.

Marques (2004, p. 226) sugere que “o LPA poderia ser alterado de modo a

compor outra medida de lucro que não o final, evitando-se a inclusão dos itens

extraordinários no cálculo, bem como de outros resultados não genuinamente ligados às

operações”.

Pasin (2004, p. 46) destaca as principais vantagens e desvantagens da

utilização dos múltiplos P/L, representadas no quadro 5:

Quadro 5: Vantagens e Desvantagens dos Múltiplos de Lucros Vantagens: Desvantagens:

• Incorpora as percepções do mercado; • Fácil de calcular para todas as empresas do setor e comparar com a média da indústria; • Favorecem as empresas que apresentam melhores resultados. Exemplo: A e B são duas empresas com patrimônio líquido e vendas iguais, porém, A tem o dobro da lucratividade de B, por este múltiplo valerá o dobro também; • Podem ser considerados métodos conservadores, pois empresas sem lucros não podem ser avaliadas por esta métrica.

• Sofrem impactos dos juros e despesas financeiras na redução dos lucros; • Sofrem os impactos de itens não financeiros, como depreciação e amortização; • Não tem significado quando a empresa tem prejuízos; • São sujeitos às normas de contabilização e aos níveis de conservadorismo adotados; • A variabilidade dos resultados pode tornar o múltiplo muito volátil e com pouco significado; • Pode ser difícil encontrar empresas comparáveis.

Fonte: Adaptado de Pasin (2004, p. 47).

Segundo (2005, p. 206), os múltiplos de EBIT, EBITDA e fluxos de caixa,

15 De acordo com Martelanc et al. (2005, p. 185), “em um mercado eficiente, o preço de Mercado das ações reflete os lucros potenciais da empresa e seus dividendos, os riscos do negócio, os riscos do negócio, os riscos financeiros decorrentes da estrutura de capital da empresa e o valor dos ativos, bem como as variáveis ambientais e outros fatores intangíveis que possam afetar o valor da empresa. Ou seja, reflete o valor presente do fluxo de caixa para os sócios”.

48

são muito utilizados por representarem o valor total da empresa, e diferentemente dos

múltiplos de lucro, são mais difíceis de ser negativo, o que aumenta a base de dados de

empresas comparáveis.

Martelanc et al. (op. cit., p. 207) destacam que dentre os múltiplos de valor

patrimonial, o preço/patrimônio líquido (P/PL) é um dos mais utilizados no mercado

acionário, pois é uma forma de medir quanto os investimentos feitos pelos acionistas ao

longo do tempo, a preço de custo de aquisição estão valorizados, e assim, é possível

identificar ações sub ou supervalorizadas. Assim como os múltiplos de lucros, o

múltiplo de P/PL, são influenciados pelos princípios contábeis.

Conforme ressaltam Martins et al. (2001, p. 271) a utilização de múltiplos

de receitas pode surtir efeitos satisfatórios naqueles empreendimentos que não possuem

um sistema contábil, ou que possuem um sistema que não é confiável. Pois neste caso, o

que importa é o faturamento, tornando irrelevantes as demais informações sobre os

demais itens do resultado.

Já os múltiplos específicos são aqueles relativos a uma indústria em

particular, e normalmente refere-se a unidades produzidas ou vendidas, conforme

escrevem Martelanc et al. (2005, p. 206).

3.4 Avaliação por Fluxo de Caixa Descontado

O método da avaliação por fluxo de caixa descontado tem sua

fundamentação no conceito de finanças de valor presente, que conforme definição de

Brigham e Weston (2000, p. 209), significa “o valor hoje de um fluxo ou de uma série

49

futura de fluxos de caixa”.

De acordo com Damodaran (2006, p. 12), o valor de qualquer ativo pode ser

obtido pelo valor presente dos fluxos de caixa futuros dele esperados. Sua equação pode

ser representada por:

estimados caixa de fluxos aos inerente risco o refletindo desconto de taxa

tperíodo no caixa de fluxot

ativo do útil vida

:Onde1 )1(

Valor

==

=

=

= += ∑

r

CF

n

nt

ttr

tCF

A taxa de desconto será uma função do grau de risco inerente aos fluxos de

caixa estimados, e irá variar de ativo para ativo, com taxas maiores para os ativos de

maior risco e menores para os de menor risco.

Assim, de acordo com esta abordagem, o valor da empresa pode ser

determinado pelo fluxo de caixa projetado, descontado por uma taxa que reflita o risco

associado ao investimento. As cinco principais variáveis para a avaliação de empresas

por este modelo, conforme mencionam Martins et al. (2001, p. 280) são:

• Fluxo relevante de caixa: uma empresa vale aquilo que consegue gerar de

caixa no futuro;

• Período de projeção: o fluxo de caixa deve ser projetado para um espaço

de tempo que permita sua previsão com razoável confiança;

50

• Valor da perpetuidade ou residual: os fluxos de caixa não cobertos pelo

período de projeção devem ser quantificados;

• Condições de endividamento financeiro; e,

• Taxa de desconto: a taxa de juro usada para descontar fluxos de caixa ao

seu valor presente deve ser aquela que melhor reflita o custo de oportunidade e os

riscos.

3.4.1 Fluxo de Caixa Livre para a Empresa e Fluxo de Caixa Livre para os

Acionistas

Para a avaliação de empresas por fluxo de caixa descontado Damodaran

(2006, p. 12) propõe dois caminhos: o primeiro é avaliar apenas a participação do

acionista no negócio, o segundo é avaliar a empresa como um todo. Embora ambas as

abordagens descontem fluxos de caixa esperados, os fluxos de caixa e taxas de desconto

são diferentes em cada caminho.

Martins et al. (2001, p. 275) explicam que o valor econômico da empresa

representa o valor presente dos fluxos de caixa operacionais providos pela empresa,

independentemente de quais sejam as fontes de recursos, inclusive terceiros. Já o valor

para os acionistas restringe-se aos fluxos de caixa dos sócios, representa o fluxo líquido,

depois de computados os efeitos de todas as dívidas assumidas para completar o

financiamento da empresa.

De acordo com Damodaran (2006, p. 13), o valor do patrimônio líquido é

51

obtido da seguinte forma:

“Descontando-se os fluxos de caixa do acionista esperados, ou seja, os fluxos de caixa residuais após dedução de todas as despesas, bônus fiscais, e pagamentos de juros e principal, ao custo do patrimônio líquido, isto é, a taxa de retorno exigida pelos investidores sobre o patrimônio líquido da empresa”.

Sua equação pode ser escrita da seguinte forma:

Líquido patrimônio do Custo

tperíodo no esperado acionista do caixa de fluxo acionista do

:Onde1 )1(

acionista do líquido patrimônio doValor

==

∞=

= += ∑

Ke

CF

t

ttKe

CF

Já o valor da empresa, de acordo com Damodaran (op. cit., p. 13), é

determinado da seguinte forma:

“Descontando-se os fluxos de caixa esperados para a empresa, ou seja, os fluxos de caixa residuais após a realização de todas as despesas operacionais e impostos, mas antes do pagamento de dívidas, pelo custo médio ponderado do capital, que é o custo dos diversos componentes de financiamento utilizados pela empresa, com pesos em conformidade com suas proporções de valor de mercado”.

A equação que o representa é a seguinte:

ponderado capital de médio Custo

tperíodo no esperado empresa da caixa de fluxo tempresa da

:Onde1 )1(

empresa da empresa daValor

==

∞=

= += ∑

WACC

CF

t

ttWACC

CF

52

Segundo Damodaran (op. cit., p. 13), deve-se atentar para a combinação

adequada de fluxos de caixa e taxas de desconto, ou seja, descontar fluxos de caixa para

o patrimônio líquido ao custo do patrimônio líquido e descontar fluxos de caixa para a

empresa ao custo médio ponderado de capital.

3.4.2 Estimativa do Fluxo de Caixa Livre para os Acionistas

Conforme esclarece Damodaran (2006, p. 123), investidores num ativo têm

direito a quaisquer fluxos de caixa depois de atendidas todas as obrigações financeiras e

as necessidades de reinvestimento na empresa.

Numa empresa não-alavancada não há dívidas, logo, não há obrigações de

pagamento de juros ou principal, mas em compensação, ela precisa financiar as suas

operações com patrimônio dos sócios. Neste caso, o fluxo de caixa do acionista pode ser

determinado conforme apresentado no quadro 6:

Quadro 6: Fluxo de Caixa do Acionista Numa Empresa Não-Alavancada Receitas - Despesas operacionais = Lucros antes do pagamento de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA) - Depreciação e amortização = Lucros antes do pagamento de juros e impostos (EBIT) - Impostos = Lucro líquido + Depreciação e amortização = Fluxo de caixa proveniente de operações - Desembolsos de capital - Variação do capital de giro = Fluxo de caixa líquido do acionista Fonte: Adaptado de Damodaran (2006, p. 124).

Projeta-se inicialmente o lucro operacional da empresa e a partir dele,

realizar os ajustes necessários. Os itens que distinguem esta medida do resultado

53

contábil são: depreciação e amortização, desembolsos de capital e necessidades de

capital de giro.

Neste modelo de avaliação, o que importa é o caixa, assim, como

depreciação e amortização não representam saídas de caixa, não deveriam ter sido

subtraídas na projeção do fluxo de caixa. Entretanto, esses itens oferecem um benefício

por serem despesas dedutíveis de impostos, criando assim uma economia, e sob este

aspecto, devem ser consideradas. Conforme esclarece Martins (1998, p. 4):

“A avaliação de uma empresa se faz do ponto de vista de um comprador em perspectiva. Para este, não interessa qualquer recuperação de investimento que o outro tenha feito antes dele. Esses [valores de depreciação, amortização e exaustão] e outros itens, que afetarão o resultado da empresa no futuro mas não representarão mais entrada ou saída de dinheiro, só interessam pelos seus reflexos fiscais, porque aí sim estarão influenciando o fluxo de caixa da empresa pelo pagamento do Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro”.

Quanto às despesas com reinvestimentos, devem ser consideradas, pois é

certo que ainda que sejam detentores dos direitos dos fluxos de caixa excedentes, os

acionistas não podem retirá-los integralmente, pois parte ou até a totalidade deste fluxo

destina-se a ser reinvestido, tanto na manutenção de ativos existentes quanto em novos

ativos, para garantir o crescimento.

Uma empresa alavancada, além de arcar com todos os dispêndios de uma

empresa não-alavancada, necessita gerar caixa para desembolsos com despesas de juros

e pagamento de principal. Por outro lado, esta empresa tem parte do capital de giro

financiado, reduzindo, assim, as suas necessidades de investimento em patrimônio

líquido.

Esquematicamente, o fluxo de caixa pode ser representado conforme

54

demonstrado no quadro 7:

Quadro 7: Fluxo de Caixa do Acionista Numa Empresa Alavancada Receitas - Despesas operacionais = Lucros antes do pagamento de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA) - Depreciação e amortização = Lucros antes do pagamento de juros e impostos (EBIT) - Despesas com juros = Lucro antes dos impostos - Impostos = Lucro líquido + Depreciação e amortização = Fluxo de caixa proveniente de operações - Dividendos preferenciais - Variação de capital de giro - Pagamentos de principal + Entradas de caixa decorrentes de novas dívidas = Fluxo de caixa líquido do acionista Fonte: Adaptado de Damodaran (2006, p. 127).

O tratamento fiscal é diferenciado para despesas com juros e pagamento do

principal, somente a primeira pode ser deduzida.

3.4.3 Estimativa do Fluxo de Caixa Livre para a Empresa

Copeland et al. (2000, p. 170), definem fluxo de caixa livre para a empresa

como o fluxo de caixa operacional efetivo da empresa, ou seja, é o fluxo de caixa total

(inclui todos os detentores de direitos) após os impostos, que estaria disponível para os

acionistas se a empresa não tivesse dívidas.

Damodaran (2006, p. 134) propõe duas maneiras de se calcular esses fluxos

de caixa, cujos resultados serão equivalentes: uma é acumulando todos os fluxos de

caixa para os diversos detentores de direitos; e a segunda, partindo do lucro antes do

pagamento de juros e impostos e realizando os ajustes necessários, pode ser

55

representada conforme demonstrado no quadro 8:

Quadro 8: Fluxo de Caixa da Empresa, Partindo do Lucro Antes do Pagamento de Juros e Impostos = Lucros antes do pagamento de juros, impostos EBIT + Depreciação - Desembolsos de Capital - Necessidades de capital de giro = Fluxos de caixa da empresa Fonte: Adaptado de Damodaran (2006, p. 127).

3.4.4 Períodos de Projeção

Segundo Martins et al. (2001, p. 282), esta variável está ligada à quantidade

de intervalos de tempo para os quais serão projetados os fluxos de caixa com um nível

razoável de certeza de que estes acontecerão. Este nível de certeza é determinado

através da natureza do negócio e do grau de previsibilidade das variáveis relevantes.

Para Martelanc et al. (2005, p. 206), de maneira geral é possível determinar

o horizonte de projeção em função das seguintes variáveis:

• Risco do empreendimento: quanto maior o risco, menor o horizonte do

projeto;

• Período transiente: quanto maior o período de instabilidade dos fluxos de

caixa, maior o horizonte de projeto; e,

• Vida útil limitada: quando o ciclo de vida da empresa é conhecido, o

horizonte do projeto também é.

56

3.4.5 Valor Residual

A avaliação de empresas, exceto no caso de empresas com prazo de vida útil

pré-determinado, é realizada no pressuposto da continuidade da existência da mesma

infinitamente, isto implica que, mesmo após o período de projeção a empresa continuará

gerando valor. Este valor residual, normalmente é determinado pelo método da

perpetuidade.

Ross et al. (1995, p. 25) definem perpetuidade como uma série uniforme de

fluxos de caixa de duração infinita.

Segundo Martins et al. (2001, p. 283), o valor residual geralmente é

estimado com base no fluxo de caixa livre do último período de projeção e

incrementado pela expectativa de crescimento. A equação que o representa é a seguinte:

ocresciment de taxa

capital de ponderado médio custo

projeção da período último do livre caixa de fluxo)(

:Onde

)1()(dePerpetuida

==

=

+×=

g

WACC

tFCL

gWACC

gtFCL

Uma empresa que se encontre com seus lucros normalizados ao fim do

horizonte projetado possui taxa de crescimento zero, entretanto, se o horizonte projetado

não se estender até a situação de equilíbrio nos lucros, a empresa apresentará um

crescimento residual.

Contudo, conforme explicam Martelanc et al. (2005, p. 45), a incorporação

57

de uma taxa de crescimento à fórmula pode gerar desconfiança, afinal, mesmo que

sejam utilizados modelos presumivelmente precisos, a estimativa do valor de

crescimento acaba tendo um forte componente arbitrário. Assim, em grande parte das

avaliações não se utiliza a taxa de crescimento, adotando-se uma postura mais

conservadora.

No mesmo sentido, Martins et al. (2001, p. 284) afirmam que embora as

taxas de crescimento apurem uma aproximação bem razoável do valor da perpetuidade

em algumas circunstâncias, é aconselhável a previsão de valores das variáveis de

decisão para vários períodos futuros e descontá-los a valor presente. Este procedimento

reduziria o risco de equívocos relacionados com simplificações assumidas pelos

modelos matemáticos.

3.4.6 Taxa de Desconto

Para determinar o valor de uma empresa pelo método do fluxo de caixa

descontado, o fluxo de caixa livre e o valor da perpetuidade devem ser trazidos a valor

presente mediante o uso de uma taxa de desconto que represente o custo de

oportunidade, refletindo o risco dos fluxos de caixa futuros.

Consoante definem Brigham e Weston (2000, p. 209), custo de

oportunidade é a “taxa de retorno sobre o melhor investimento alternativo disponível de

igual risco”.

Assim, fluxos de caixa livre para os sócios devem ser descontados ao custo

do patrimônio líquido (ou custo do capital próprio), enquanto fluxos de caixa livre para

58

a empresa devem ser trazidos a valores presentes pelo custo médio ponderado do

capital.

3.4.6.1 Custo das Ações Ordinárias

Damodaran (2006, p. 59) afirma que o “custo do patrimônio liquido é a taxa

de retorno que os investidores exigem para realizar um investimento patrimonial numa

empresa”. De maneira simples, é aquele mínimo que os sócios precisam ganhar para

permanecerem no negócio, abaixo deste nível, eles prefeririam não investir na empresa.

De acordo com Nascimento (1998, p. 196):

“O custo do capital próprio é o custo de oportunidade do investidor, pois representa a expectativa de retorno do capital que ele possui, e é o parâmetro que utilizará para decidir-se entre aplicar seu capital na empresa ou em outras oportunidades de negócio”.

Martelanc et al. (2005, p. 135) afirmam que a determinação do custo do

capital próprio é um dos assuntos mais polêmicos, sobretudo pela falta de consenso

quanto aos critérios e às premissas que a fundamentam.

Martins et al. (2001, p. 211) destacam três sistemáticas para o

dimensionamento do custo de capital das ações ordinárias:

• Abordagem dos dividendos (Modelo de Gordon);

• Capital Asset Pricing Model (CAPM); e,

• Arbitrage Pricing Theory (APT).

59

Na abordagem dos dividendos, o custo de capital das ações ordinárias pode

ser apurado por meio do fluxo de dividendos que seus titulares esperam receber.

Conforme mencionam Martins et al. (2001, p. 211), este modelo assume que

o preço teórico de uma ação é igual ao valor presente dos fluxos futuros de dividendos

que ela é capaz de proporcionar. Sua principal versão pressupõe que os dividendos

crescem a uma taxa média constante e cumulativa (g) por um tempo indefinido:

acionistas pelos requerida rendimento de taxa

ano próximo do dividendo1

mercado de preço

:Onde

11

===

+=⇔−

=

cr

DoP

goP

Dcrgcr

DoP

Ainda de acordo com Martins et al. (op. cit., p. 212), o principal problema

deste modelo consiste na estimativa da taxa de crescimento, e no pressuposto de que os

dividendos crescerão a uma média constante indefinidamente.

Outra alternativa para determinar o custo do capital das ações ordinárias é o

Capital Asset Pricing Model (CAPM).

Copeland et al. (2000, p. 219) definem que o princípio do CAPM consiste

em que “o custo de oportunidade do capital ordinário seja igual ao retorno sobre os

títulos livres de risco mais o risco sistêmico da empresa (beta) multiplicado pelo preço

de mercado do risco (ágio pelo risco)”. Sua equação é:

60

[ ] ( )

ordinário capital pelo sistêmico risco

mercado no risco pelo ágio)(

todoum como mercado do carteira a para prevista retorno de taxa)(

risco de livre retorno de taxa

ordinário capital do custo

:Onde

)(

=

=−=

==

×−+=

beta

frmrEmrE

frsk

betafrmrEfrsk

De acordo com Copeland et al. (op. cit., p. 220), a taxa de retorno livre de

risco, hipoteticamente, é aquela paga por um ativo livre de risco de inadimplência e

totalmente desligada dos retornos de qualquer outro item encontrado na economia.

Martelanc et al. (2005, p. 135) definem prêmio pelo risco do mercado como

a “diferença entre a taxa de retorno esperada do portfólio de mercado e a taxa de retorno

do ativo sem risco”. E prosseguem, “na verdade, como o retorno do portfólio de

mercado é incerto, há um prêmio para o investidor por retê-lo, em vez de reter o ativo

sem risco, cujo retorno é praticamente certo”.

Quanto à estimativa do risco sistêmico, Copeland et al. (op. cit., p. 228)

sugerem que a melhor alternativa, para empresas que têm ações negociadas em bolsa, é

utilizar as estimativas publicadas de beta. Para empresas que não possuem cotação,

como regra geral, utiliza-se o beta setorial médio.

A terceira alternativa para estimar o custo de capital de uma ação ordinária é

o Arbitrage Pricing Theory (APT). Conforme esclarecem Martins et al. (2001, p. 213),

este modelo também se fundamenta na premissa de que o retorno de um título consiste

na taxa de juros dos investimentos livres de risco, acrescidos por um prêmio pelo risco

assumido. Todavia, o cálculo dessa variável considera a influência dos fatores

61

macroeconômicos.

De acordo com Ross et al. (1995, p. 231), a “APT supõe que os retornos

sobre os títulos sejam gerados por uma série de fatores de âmbito setorial ou

macroeconômico”.

Copeland et al. (2000, p. 230) consideram o APT análogo ao CAPM, mas

com múltiplos fatores. O custo do capital ordinário no APM, é definido como sendo:

( )[ ] ( )[ ] ( )[ ]

( )

fator ao ação da retorno do adesensibilid a

demais as todasde

independe efator o simula que carteira uma de retorno de prevista taxaa

:Onde

...2211

°=

°=

×−++×−+×−+=

kbeta

kFE

betarFEbetarFEbetarFErk

k

k

kfkfffs

Independente da abordagem adotada para determinar o custo do capital das

ações ordinárias, Martins et al. (2001, p. 215) ressaltam um ponto muito importante:

“Quando se trata de companhia (ou outra forma societária) fechada, a dificuldade torna-se ainda bem maior. A inexistência de preços de mercado objetivamente verificáveis e com oscilações visíveis impossibilita o uso de muitas dessas técnicas. Todavia, todos os capitais têm custo de oportunidade. Pode não restar, muitas vezes, senão a forma mais simples (e intuitiva) possível para a sua averiguação: a indagação direta aos proprietários”.

3.4.6.2 Custo do Capital de Terceiros

O custo do capital de terceiros, normalmente, é de fácil determinação, pois

pode ser calculado a partir dà taxa que a empresa captaria ou capta empréstimos de

longo prazo no mercado, consoante Martelanc et al. (2005, p. 150).

62

Custo do capital próprio

Custo do capital de

terceiros (Considerar o benefício

fiscal do IR sobre os juros e encargos financeiros)

Proporção do capital próprio no capital investido

Proporção do capital de terceiros no capital

investido

×

= CMPC

×

3.4.6.3 Custo Médio Ponderado de Capital (ou WACC)

De acordo com Damodaran (2006, p. 77) “o custo do capital é a média

ponderada dos custos dos diversos componentes de financiamento, incluindo dívida,

patrimônio líquido e título híbridos, utilizados por uma empresa para financiar suas

necessidades financeiras”. Sua fórmula pode ser representada como a seguir:

[ ] [ ]

[ ]

[ ]tofinancamen demix do valor ao

relação em terceirosde capital do mercado de valor em Proporção

tofinancamen demix do valor ao

relação em líquido patrimônio do mercado de valor em Proporção

aispreferenci ações das Custo

terceirosde capital do Custo

próprio capital do Custo

capital de ponderado médio Custo

:Onde

=+

=+

==

==

++

+=

CTCP

CT

CTCP

CP

psKdK

pK

WACC

CTCP

CTiK

CTCP

CPpKWACC

O quadro 9 resume a expressão do custo médio ponderado de capital:

Quadro 9: Custo Médio Ponderado de Capital

Fonte: Adaptado de Martelanc et al. (2005, p. 151).

Ou seja, o custo médio ponderado de capital é determinado a partir do custo

63

específico de cada fonte de capital calculado após os efeitos dos tributos que incidem

sobre o lucro e da participação relativa de cada fonte de capital no financiamento total.

O custo médio ponderado de capital é a taxa de desconto a ser utilizada para

trazer os fluxos de caixa da empresa a valor presente.

Consoante destacam Perez e Famá (2002, p. 10), o método de avaliação de

empresas através do fluxo de caixa descontado vem sendo considerado pelo mercado,

como sendo o método tecnicamente mais adequado.

Entretanto, conforme pondera Damodaran (2006, p. 617), não há um

modelo de avaliação considerado melhor, o modelo adequado para uso em um cenário

específico dependerá de uma variedade de características da empresa que está sendo

avaliada:

“O modelo utilizado na avaliação deve ser adaptado para atender às características do ativo que está sendo avaliado. A infeliz verdade é que o inverso é freqüentemente verdadeiro. Tempo e recursos são gastos tentando fazer com que os ativos se encaixem em um modelo de avaliação pré-especificado, ou porque ele é considerado o melhor modelo, ou porque não se pondera o suficiente sobre a escolha do modelo”.

Ressalte-se que os métodos apresentados não são mutuamente

excludentes, mas sim, complementares, pois cada um deles atende a determinados

objetivos e análises.

É importante destacar que, o perito contador deve valer-se do rigor

metodológico para fundamentar seu laudo, utilizando as técnicas usuais e especiais,

aplicáveis a situação.

O capítulo do estudo de caso propõe a análise de casos de avaliação de

64

empresas com a característica peculiar de terem ocorrido no âmbito judicial, fato que

requer considerações especiais, as quais serão discutidas.

65

4. METODOLOGIA

Com base nos objetivos propostos para este trabalho, realizou-se estudo

sobre os fundamentos da perícia contábil e sobre os métodos de avaliação de empresas

mais usuais e consagrados pelo meio acadêmico e profissional, posteriormente, foi

realizado um estudo de casos, objetivando analisar a propriedade das técnicas de

avaliação utilizadas em situações reais.

Para a classificação desta pesquisa quanto a seus fins e a seus meios, foi

utilizada a taxonomia proposta por Vergara (1997). Com base nesta classificação, a

pesquisa em questão é exploratória e descritiva quanto aos fins.

De acordo com Gil (1996), as pesquisas exploratórias possuem por objetivo

principal propiciar maior intimidade com o problema. Assim, esta pesquisa classifica-se

como exploratória porque, apesar do crescente interesse por pesquisas sobre perícias

contábeis judiciais, bem como sobre técnicas de avaliação de empresas, são poucos os

estudos envolvendo as avaliações de empresas com a finalidade específica de perícias

judiciais.

Já a pesquisa descritiva, de acordo com Marconi e Lakatos (1990), citando

Best (1972), “delineia o que é”, e aborda também outros quatro aspectos: descrição,

registro, análise e interpretação de fenômenos atuais, objetivando seu funcionamento no

presente. Deste modo, esta pesquisa é descritiva, pois busca demonstrar de que forma as

técnicas de avaliação de empresas abrangidas pelo estudo são utilizadas em situações

práticas.

66

Ainda considerando a classificação proposta por Vergara (1997), quanto aos

meios, foram empregadas as técnicas de pesquisa classificadas como bibliográfica e

estudo de caso.

Como explica Gil (1996), a pesquisa bibliográfica é realizada a partir de

material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos,

enquanto o estudo de caso é caracterizado pelo estudo profundo de um ou poucos

objetos, de forma que permita o seu amplo e detalhado conhecimento.

Ikeda et al. (2006, p. 47), mencionam que o estudo de caso é “uma técnica

de pesquisa qualitativa que volta as atenções do pesquisador a um objeto denominado

caso”. Nelson (1996, p. 24), apud Ikeda et al. (2006, p. 47), ressalta que “o caso serve

não apenas para verificar empiricamente a aplicação da teoria pelo método dedutivo,

mas também para construir a teoria pelo método indutivo”.

Assim, quanto ao delineamento:

a) Foi realizado um estudo sistematizado de livros e artigos científicos, em

que se buscou caracterizar os diversos aspectos dos fundamentos que envolvem a

perícia contábil e as técnicas de avaliação de empresas;

b) O estudo de casos foi elaborado buscando-se identificar e entender as

situações práticas envolvendo o tema e avaliá-las criticamente.

4.1 Escolha dos Casos e Método de Coleta dos Dados

Optou-se nesta pesquisa por realizar um estudo de múltiplos laudos judiciais

67

contábeis cujo objetivo da designação da perícia fosse a avaliação de empresas. O

procedimento técnico utilizado para a coleta de dados foi a análise documental.

Assim, selecionou-se para este estudo uma única empresa prestadora de

serviços de perícias contábeis, atuante em diversas varas cíveis do estado do Rio de

Janeiro, à qual se requereu os arquivos documentais correspondentes aos laudos

periciais elaborados no período compreendido entre setembro de 2003 e setembro de

2005, designado para estudo.

O período em estudo foi determinado em conjunto com a empresa estudada,

que se propôs a disponibilizar os documentos de um período máximo de dois anos

anteriores ao início da pesquisa, em setembro de 2005.

Ao todo, a empresa disponibilizou trinta e dois laudos periciais contábeis, os

quais compreenderam as mais variadas aplicações da perícia contábil judicial, e que

foram analisados para a seleção dos laudos a serem abrangidos pelo estudo.

Foram selecionados todos os laudos cujo objetivo da determinação da

perícia era a avaliação de empresas, independentemente da finalidade da mesma. Cinco

laudos enquadraram-se nas especificações predeterminadas para este estudo, segundo a

metodologia descrita nos parágrafos acima e são analisados neste estudo.

4.2 Técnicas de Análise

Cada Laudo é analisado individualmente sob o ponto de vista de quem lê o

laudo entregue em juízo, ou seja, apenas com as informações constantes do mesmo e

68

seus anexos. Inicialmente é apresentada uma descrição geral de cada caso, onde para

melhor ilustrar as questões envolvidas nos laudos, é especificada a síntese do

desenvolvimento do caso, principais alegações das partes, os principais acontecimentos

que envolveram as diligências, os principais quesitos e suas respostas. Para manter o

sigilo que a profissão de perito contador requer, os dados que possam identificar as

partes foram alterados.

Em seguida, é descrita a metodologia de avaliação adotada pelo perito, e

finalmente, é feita uma análise crítica das técnicas utilizadas na avaliação,

confrontando-as com toda a teoria até aqui exposta.

Ao final de cada caso, é elaborado um quadro síntese contendo os aspectos

críticos que podem afetar o valor dos ativos avaliados, sendo divididos em:

- Omissões: não forneceu elementos suficientes para se construir o

julgamento da avaliação realizada, podendo ocultar inclusive valores

construídos arbitrariamente, que afetem a avaliação do ativo; e

- Inconsistências: utilização de procedimento inapropriado aos objetivos a

que se propõe.

4.3 Limitações do Estudo de Caso

Devido às limitações inerentes ao estudo de caso, como o fato de não

permitir generalizações para o universo, independente do número de casos estudados

(YIN, 1989), este estudo se propõe a entender as situações práticas envolvendo o tema e

69

avaliá-las criticamente sem, no entanto, inferir sua extensão para todos os laudos

periciais já elaborados sobre o assunto.

Outra limitação deste estudo, é que somente os laudos e os seus anexos

foram disponibilizados para a pesquisa, do mesmo modo como são entregues ao juiz.

Assim, não se obteve acesso aos documentos que foram utilizados pelo perito para

proceder às avaliações, exemplificando: livros contábeis, extratos bancários,

declarações de impostos, dentre outros documentos.

70

5. ESTUDO DE CASOS

Neste capítulo são analisados cinco laudos periciais onde foi necessário

avaliar os seguintes empreendimentos: um restaurante, objetivando apurar os haveres do

sócio retirante; uma indústria de alimentos, também visando à apuração de haveres de

sócio excluído; uma confecção, objetivando a avaliação das cotas por ocasião de um

divórcio; um Serviço de Bufê, objetivando a avaliação de cotas penhoradas; um ponto

turístico, também objetivando a avaliação de cotas penhoradas.

5.1 CASO RESTAURANTE

• Descrição Geral

a) Síntese do processo:

- Ação cível de dissolução e liquidação de sociedade (restaurante), em que o

Sócio A, insatisfeito com a co-administração do Sócio B, ajuizou ação requerendo a

retirada do mesmo da sociedade, alegando que haviam ocorrido desvios de dinheiro,

demissão de funcionários injustificadamente, alteração da empresa responsável pela

contabilidade sem a sua anuência, dentre outros motivos. O juiz proferiu sentença em

que determinou a retirada do Sócio B.

b) Objeto e objetivo da perícia:

71

- O juiz determinou a realização da perícia para “prover o levantamento do

capital social e apurar os haveres do sócio retirante”.

c) Características da empresa avaliada:

- Empreendimento: restaurante, especializado em ‘galetos’, localizado em

Copacabana, Rio de Janeiro.

- Quantidade de sócios: dois.

- Percentual de participação dos sócios: o Sócio A era proprietário de

33,33% das cotas, enquanto o Sócio B detinha 66,67% das cotas.

• Descrição da Metodologia de Avaliação Utilizada pelo Perito

a) Diligência à empresa objetivando examinar condições físicas da

propriedade e dos equipamentos e avaliar a concorrência nos arredores.

As principais constatações, segundo o perito, foram:

- “A empresa, objeto da perícia, requer investimentos para conservação

dos móveis, utensílios e máquinas”.

- Há existência de forte concorrência do setor alimentício nos arredores,

mas não outro restaurante com a mesma especialidade.

b) Resposta aos quesitos das partes e cálculo do valor das cotas do

restaurante.

72

Os principais quesitos e suas respectivas respostas foram:

- Quesito 1: apurar a existência de débitos trabalhistas. Resposta do perito:

não foi constatada a existência de débitos trabalhistas;

- Quesito 2: verificar a situação do imóvel onde a empresa funciona.

Resposta do perito: imóvel alugado, porém, inexiste contrato de locação;

- Quesito 3: apurar, com base nos livros fiscais, a evolução da receita bruta

e receita líquida dos últimos três anos. Resposta do perito:

Descrição 2001 2002 2003 Receita Bruta R$ 605.474,27 R$ 668.381,19 R$ 702.192,84 Receita Líquida R$ 564.804,32 R$ 613.113,48 R$ 639.522,27

- Quesito 4: apurar, com base nos livros fiscais, a evolução do lucro

líquido dos últimos quatro anos. Resposta do perito:

Lucro Líquido 2000 2001 2002 2003

R$ 18.365,63 R$ (15.346,37) R$ 106.026,23 R$ (2.480,68)

- Quesito 5: informar o valor do fundo de comércio. Resposta do perito:

“Considerando o fundo de comércio como a diferença entre o valor patrimonial da

empresa (ativo – passivo) e o seu respectivo de mercado, o fundo de comércio equivale

a R$ 83.670,70:

Valor Patrimonial R$ 122.727,40 Fundo de Comércio R$ 83.670,70 Valor de Mercado R$ 206.398,10

A informação do valor patrimonial da empresa possui origem nos últimos

Livros Contábeis (Diário e Razão) do exercício de 2003 e o valor de mercado da

73

sociedade teve como fundamento o estudo do mercado e a análise da perspectiva futura

de lucros da empresa”.

Ainda segundo o perito, a análise da perspectiva futura de lucros da empresa

considerou as seguintes premissas:

Metodologia: Regressão linear;

Dados: exercícios de 2000, 2001, 2002 e 2003;

Projeção: 10 anos;

Taxa de desconto: 25%.

O perito ilustrou a metodologia utilizada através do seguinte gráfico,

extraído do laudo:

Gráfico 1: Metodologia de Avaliação Adotada pelo Perito

y = 5883,4x + 11933

R$(40.000,00)

R$(20.000,00)

R$-

R$20.000,00

R$40.000,00

R$60.000,00

R$80.000,00

R$100.000,00

R$120.000,00

2000 2001 2002 2003 2004

ExercícioL.Lí

quid

o

Lucro Líquido Linear (Lucro Líquido)

Fonte: Extraído do Laudo Pericial do Caso Restaurante.

A fórmula utilizada para a determinação do valor da empresa, também

extraída do laudo, foi a seguinte:

74

10,398.206)25,1(

)11933144,5883(

)25,1(

)11933134,5883(

)25,1(

)11933124,5883(

)25,1(

)11933114,5883(

)25,1(

)11933104,5883(

)25,1(

)1193394,5883(

)25,1(

)1193384,5883(

)25,1(

)1193374,5883(

)25,1(

)1193364,5883(

)25,1(

)1193354,5883(

10

987

654

321

=+×

++×++×++×

++×++×++×

++×++×++×=∑

Quanto ao estudo de mercado, o perito mencionou que o mesmo

“evidenciou um valor médio de R$ 200.000,00 para a empresa, com um desvio padrão

de 10%, ou seja, um valor mínimo de R$ 180.000,00 e um valor máximo de R$

220.000,00”.

A conclusão apresentada no laudo pericial foi:

“Após a diligência à empresa, estudo dos demonstrativos contábeis dos

exercícios de 2000, 2001, 2002 e 2003, estudo do mercado e análise da expectativa de

lucros, o perito avalia o valor da empresa em R$ 206.398,10”.

• Análise da Metodologia de Avaliação

A metodologia utilizada pelo perito para avaliação foi uma ‘adaptação’ do

modelo de fluxos de caixa descontados, mas em vez de fluxos de caixa, o perito

descontou fluxos de lucro líquido contábil.

Entretanto, o lucro líquido contábil se fundamenta no formato exigido pela

legislação e, por isso, não representa os fluxos de caixa. Na abordagem de avaliação por

fluxos de caixa descontados, o que importa é a capacidade de geração de caixa do

75

ativo.

De outro lado, a análise de regressão usou apenas quatro anos, nos quais os

lucros apresentaram forte oscilação, assim, não há como projetar uma tendência linear,

pois pode não existir correlação entre os pontos e a regressão perde seu poder de

previsão.

De acordo esta abordagem de avaliação, cinco variáveis principais devem

ser determinadas: o fluxo relevante de caixa, o período de projeção, o valor residual, as

condições de endividamento, e a taxa de desconto.

Para a determinação dos fluxos de caixa, deve-se primeiramente definir se o

que se almeja é encontrar o valor da empresa, ou o valor para o acionista. No caso em

tela, o objetivo é o valor para o acionista, pois conforme mencionado na revisão de

literatura, este se restringe aos fluxos de caixa dos sócios, representando o fluxo líquido,

depois de computados os efeitos de todas as dívidas.

Assim, devem-se descontar os fluxos de caixa do acionista esperados, ou seja, os

fluxos de caixa residuais após dedução de todas as despesas e pagamentos de juros e

principal, ao custo do patrimônio líquido. Isto pode ser realizado partindo-se do lucro

operacional da empresa e a partir dele, realizando-se os ajustes necessários.

Os itens que distinguem esta medida do resultado contábil são: depreciação,

desembolsos de capital e necessidades de capital de giro, pois no modelo de avaliação

utilizado, o que importa são os efeitos que ocorrerão no fluxo futuro de caixa, deste

modo, itens que não representam saídas de caixa adicionais, e de outro lado itens que

representam compromissos de desembolsos futuros, devem ter seus efeitos anulados.

76

Entretanto, apesar da evidência mencionada pelo próprio perito, de que “a

empresa, objeto da perícia, requer investimentos para conservação dos móveis,

utensílios e máquinas”, este ajuste não foi considerado na avaliação.

Quanto ao período de projeção, esta é uma variável subjetiva, depende da

percepção do avaliador. Entretanto, independentemente do período abrangido pelo

estudo, a metodologia utilizada para a determinação do horizonte de projeção deveria

ser informada.

A avaliação de empresas, exceto no caso de empresas com prazo de vida útil

pré-determinado, parte do pressuposto de que a mesma existirá indefinidamente. Ou

seja, pode-se dizer que mesmo após o período de projeção, a empresa continuará

gerando valor, o qual deve ser determinado. Os autores pesquisados sugerem a adoção

do método da perpetuidade para a determinação deste valor residual. No caso em tela,

este fator não foi considerado.

Quanto ao endividamento, o perito não relatou nenhuma evidência de

dívidas onerosas ou contingências significativas, que pudessem alterar substancialmente

o valor da avaliação.

Já a taxa de desconto, utilizada para trazer a valor presente os fluxos de

caixa e o valor residual, deve refletir o custo de oportunidade, refletindo o risco dos

fluxos de caixa futuros.

Os autores pesquisados sugerem a adoção do custo de do patrimônio

líquido, no caso da determinação do valor para o acionista.

No caso em tela, não foi justificado pelo perito a metodologia adotada para

77

a determinação da taxa de desconto de 25%.

A determinação do custo de capital próprio em pequenas e médias

empresas, como no caso em tela, é sempre um problema para o perito, que tem que

encontrar uma solução aceitável metodologicamente, uma vez que seu trabalho é

produzir um laudo sólido.

Conforme esclarece Damodaran (2006, p. 16):

“O maior problema, ao se usarem modelos de avaliação por desconto de fluxos de caixa para avaliar empresas de capital fechado, é a medição de risco (para utilização na estimativa de taxas de desconto), uma vez que a maioria dos modelos de risco/retorno exigem que os parâmetros de risco sejam estimados a partir de preços históricos do ativo objeto de análise. Como os títulos de empresas de capital fechado não são negociados, isto não é possível”.

Assim, as metodologias existentes para a determinação do custo do capital

próprio não abordam apropriadamente a questão das pequenas e médias empresas. O

perito deve, no entanto, estabelecer critérios para a determinação desta variável e segui-

los, de maneira apropriada, para que possa sustentar seus argumentos no laudo pericial.

O perito também mencionou ter realizado um ‘estudo de mercado’. O

objetivo deste estudo seria como auxílio ao processo de avaliação, onde se buscariam

empresas semelhantes à empresa avaliada, cuja negociação tivesse ocorrido

recentemente. O perito optaria então pela realização da avaliação por um método

adicional, o método da avaliação relativa, e compararia os resultados obtidos por ambas

às abordagens, possibilitando chegar a um valor que representasse a melhor estimativa

possível do valor econômico da empresa. Sem entrar no mérito das limitações do

método, o perito não evidenciou de que maneira foi realizado o estudo, tornando menos

transparente o laudo emitido.

78

Além das considerações acima, o fato constatado pelo perito, de não existir

contrato de locação do imóvel onde funciona a empresa, pode representar um fator de

importância, pois a Lei garante direitos ao locador de imóveis para fins comerciais, mas

a inexistência de um contrato poderia gerar problemas, como o despejo ou o aumento do

valor de aluguel do imóvel por índices arbitrários, já que não há previsão contratual.

• Quadro Síntese

O quadro 10 contém a síntese dos aspectos críticos detectados neste estudo:

Quadro 10: Quadro Síntese Caso Restaurante Variável Descrição Caracterização Risco

Fluxo de lucro descontado

Em vez de trabalhar com fluxos de caixa descontados, o perito trabalhou com uma projeção de lucros, trazendo-os a valor presente.

Inconsistência Pode haver super-avaliação ou sub-avaliação do ativo.

Despesas com reinvestimentos

Não foram considerados os compromissos com investimentos em manutenção e conservação.

Omissão Pode haver super-avaliação do ativo.

Período de projeção Não foi informado como se chegou ao período de projeção.

Omissão Pode haver sub-avaliação do ativo.

Valor residual Não foi considerada a possibilidade de geração de caixa ao final do período de projeção.

Inconsistência Sub-avaliação do ativo.

Taxa de desconto Não foi informado de que forma se chegou à taxa de desconto.

Omissão Pode haver super-avaliação ou sub-avaliação do ativo.

Fonte: a autora

79

No caso das omissões, em que não há elementos suficientes para se analisar

o procedimento realizado, também não se pode dizer que a avaliação foi prejudicada,

visto que os itens até podem ter sido determinados corretamente, mas não foram

explicados.

Já as inconsistências, foram detectadas ao analisar os procedimentos e

verificar que eram inapropriados, por afetarem o processo de avaliação, como o

desconto de fluxos de lucro líquido e o descarte das despesas com reinvestimentos e do

valor residual.

5.2 CASO INDÚSTRIA

• Descrição Geral

a) Síntese do processo:

- Ação cível de apuração de haveres, em que o Sócio A, proprietário de

3,7729% das ações do capital social da companhia, o qual também era gerente de uma

empresa controlada da companhia, foi excluído do quadro societário, sem receber a

remuneração correspondente ao valor de suas cotas. Os Sócios Remanescentes

argumentaram que o Sócio A causara prejuízos à companhia quando administrava a sua

controlada e por este motivo não fazia jus a receber nenhuma remuneração por suas

cotas. O Sócio A, inconformado, ajuizou ação requerendo a apuração dos haveres

devidos pela sua exclusão.

80

b) Objeto e objetivo da perícia:

- O juiz determinou a produção de perícia contábil, para avaliar o valor das

cotas da companhia. Após mensurar o valor das cotas, o juiz poderia compará-lo com o

valor dos supostos prejuízos causados pelo Sócio A, se assim achasse conveniente.

c) Características da empresa avaliada:

- Empreendimento: indústria e comércio de produtos alimentícios de

origem animal, inclusive a transformação em alimentos para cães, revenda de produtos,

dentre outros.

- Quantidade de sócios: diversos, para fins de simplificação, pode-se

adotar Sócio A e Sócios Remanescentes.

- Percentual de participação dos sócios: o Sócio A era proprietário de

172.606.848 cotas da empresa, enquanto os Sócios Remanescentes detinham

4.402.247.827 cotas. A composição total do capital social da empresa era de

4.574.854.675 cotas.

• Descrição da Metodologia de Avaliação Utilizada pelo Perito

a) Resposta aos quesitos das partes e cálculo do valor das cotas da

companhia.

Os principais quesitos e suas respectivas respostas foram:

- Quesito 1: apurar o valor dos ativos da companhia à época da exclusão

81

do Sócio A. Resposta do perito: com base na análise do último balanço patrimonial

apurado antes da exclusão do Autor da sociedade, os ativos da companhia totalizavam

R$ 44.841.602,83.

- Quesito 2: apurar o valor dos passivos fiscais, previdenciários e

trabalhistas da companhia na ocasião. Resposta do perito: com base na análise do último

balanço patrimonial apurado antes da exclusão do Autor da sociedade, o passivo

exigível totalizava R$ 9.769,23.

- Quesito 3: apurar o valor das cotas do Sócio A, à época da sua exclusão

do quadro social da Companhia. Resposta do perito: com base na análise do último

balanço patrimonial apurado antes da exclusão do Autor da sociedade, a companhia

possuía um patrimônio líquido de R$ 44.831.833,60. Uma vez que o Autor era

proprietário de 172.606.848 cotas do capital social, suas cotas valeriam R$

4.001.849,72.

• Análise da Metodologia de Avaliação

O perito utilizou o modelo de avaliação patrimonial contábil, apurado pela

diferença entre os ativos e os passivos exigíveis, mensurados conforme os princípios

contábeis tradicionais.

Apesar de esta abordagem ser de fácil determinação, visto que o valor do

patrimônio líquido de uma empresa é facilmente identificado nos registros contábeis, a

principal crítica a este método é que ele desconsidera outros fatores relevantes, tais

como: adoção do regime de competência; operações que não são registradas nas

82

demonstrações contábeis tradicionais, tais como, operações de leasing e a existência de

goodwill.

Conforme destaca Damodaran (2006, p. 394) enquanto o valor de mercado

de um ativo reflete seu poder de lucro e os fluxos de caixa esperados, em decorrência da

adoção de princípios contábeis, o valor contábil de um ativo reflete seu custo original,

que pode se desviar significativamente do valor de mercado se o poder de realização de

lucros do ativo tiver sofrido variação considerável desde a sua aquisição.

Do mesmo modo, Gitman et al. (1997, p. 266), escrevem que este método

ignora os potenciais rendimentos esperados da empresa e, geralmente, se distancia do

valor da empresa no mercado.

Neste caso, o perito pode ter considerado que os valores dos itens

patrimoniais mensurados pelos princípios contábeis não eram muito diferentes de seus

valores de mercado e que o goodwill não representava valor significativo. Contudo, a

metodologia utilizada não foi justificada.

Outro aspecto a ser considerado, conforme ressalta Ornelas (1996), é que

somente deve ser aceito e merecedor de fé em juízo, os livros mercantis devidamente

escriturados, com respectivo suporte documental, e que possuam todas as formalidades

legais exigidas. No entanto, não houve menção ao fato dos livros utilizados estarem ou

não de acordo com tais exigências.

83

• Quadro Síntese

O quadro 11 contém a síntese dos aspectos críticos detectados neste estudo:

Quadro 11: Quadro Síntese Caso Indústria Variável Descrição Caracterização Risco

Avaliação contábil Utilizou metodologia que ignora os potenciais rendimentos esperados da empresa

Inconsistência Pode haver sub-avaliação do ativo.

Fonte: a autora.

A adoção desta abordagem de avaliação foi considerada uma inconsistência,

pois, conforme pesquisado, os resultados apresentados por este método podem diferir

significativamente do valor de mercado da empresa, levando a uma sub-avaliação do

ativo.

5.3 CASO CONFECÇÃO

• Descrição Geral

a) Síntese do processo:

- Ação cível de apuração de haveres, na qual Marido e Mulher

constituíram uma Confecção de roupas, onde trabalharam juntos durante

aproximadamente dez anos, quando então ocorreu o divórcio. Durante o período do

relacionamento, foram constituídas três empresas, uma sucedendo a outra em virtude de

problemas fiscais. A participação societária de cada um dos litigantes variou de empresa

para empresa, sendo que a Mulher não constava sócia da última empresa constituída.

84

Ocorre que, quando do divórcio, o casal pactuou um acordo para a divisão dos bens, no

qual as cotas da Confecção couberam ao Marido. Entretanto, a Mulher ajuizou esta ação

por entender haver sido prejudicada com o acordo, que segundo a mesma, só foi aceito

por se achar em situação emocional prejudicada.

b) Objeto e objetivo da perícia: o juiz determinou a produção de perícia

contábil, para avaliar o valor das cotas da Confecção quando do divórcio. Após

mensurar o valor das cotas, o juiz poderia compará-lo com os direitos patrimoniais que

couberam à Mulher à época do divórcio.

c) Características da empresa avaliada:

- Empreendimento: Confecção e comércio de roupas.

- Quantidade de sócios: um, o Réu. A Autora não participava do capital

social da última empresa constituída pelo casal, que pertencia na sua totalidade ao Réu.

- Percentual de participação dos sócios: o Réu era proprietário da

totalidade das cotas da confecção.

• Descrição da Metodologia de Avaliação Utilizada pelo Perito

a) Análise dos livros contábeis a fim de avaliar a situação patrimonial da

Confecção.

As principais conclusões reportadas pelo perito foram:

- Os Livros Contábeis (Diário e Razão) não estavam escriturados;

85

- “Identificou-se por meio de outros documentos entregues à perícia, que

a atual empresa não recolhe os tributos devidos”;

- “Não existem documentos idôneos, nos quais a perícia possa se basear”;

- A última empresa que o casal exerceu a atividade mercantil em conjunto

está inativa e possui dívidas no total de R$ 226.963,24. A penúltima empresa

constituída pelo casal também possui dívidas no total de R$ 79.718,18.

b) Diligência à empresa e reunião com as partes, objetivando coletar o maior

número possível de informações com comprovação documental.

As principais conclusões informadas pelo perito foram:

- “Todas as empresas constituídas no passado possuem problemas de

crédito inadimplido”, fato que era de conhecimento da Autora e do Réu;

- “Após a dissolução da união familiar, a confecção sofreu com falta de

capital de giro e problemas administrativos, o que causou o encerramento das

atividades e a venda de parte do maquinário”;

- Uma nova empresa foi constituída pelo Réu, para dar continuação às

atividades, mas as dívidas das empresas anteriores não foram quitadas;

- Em decorrência da inadimplência, alguns fornecedores se recusam a

vender matéria-prima para o Réu, outras exigem o pagamento à vista;

- “Os problemas causados pelos créditos inadimplidos dificultam as

vendas, visto que, não consegue conceder prazo de pagamento aos clientes”;

86

- “A atual empresa, para se manter competitiva, necessita diminuir os

preços, que já são baixos. A baixa margem de contribuição dos produtos impede que a

empresa consiga atingir os preços exigidos pelos seus clientes sem deixar de pagar os

tributos pertinentes à produção e comercialização”.

c) Resposta aos quesitos das partes e cálculo do valor das cotas da

confecção.

Os principais quesitos e suas respectivas respostas foram:

- Quesito 1: apurar o valor das cotas da Confecção. Resposta do perito:

“O Perito Contador entende que a empresa não possui valor econômico,

visto que, somente há remuneração pelo capital investido, se os tributos não forem

pagos.

Mensura-se o valor econômico de uma empresa, pelos rendimentos

(lucros) que serão auferidos, em virtude da aplicação de recursos (compra da

empresa). No caso em tela, se o autor recolhesse a totalidade dos tributos, os recursos

da sua aplicação na atividade mercantil (lucros) seriam pífios, nulo ou negativos”.

• Análise da Metodologia de Avaliação

No caso em análise, o perito não atribuiu valor econômico à empresa: “O

Perito Contador entende que a empresa não possui valor econômico”, justificando

que: “não existem documentos idôneos”, a empresa possui muitas dívidas históricas e

não paga os impostos devidos.

87

Inicialmente, destaca-se que o perito, neste caso, se deparou com um

empecilho ao desenvolvimento do seu trabalho, que foi a ausência de contabilidade

regularmente processada, fato que conforme destaca Ornelas (1996, p. 54), é um

problema muito comum em micro e pequenas empresas.

Ornelas (op. cit, p. 54) sugere que, neste caso, o perito deve buscar

recuperar as informações contábeis, ponto de partida de sua análise, através do contrato

social e suas alterações, documentos fiscais de compra e venda, folhas de pagamento,

livros fiscais de entradas e saídas, declaração de rendimentos da pessoa jurídica,

escrituras de compra e venda, enfim, de tudo o mais que conseguir coletar de

informações. E ainda, deve proceder a inventário dos bens e direitos e obrigações na

data dos exames periciais. Assim, apurando o patrimônio líquido por diferença.

Mas, ainda assim, embora esta seja, talvez, a única possibilidade técnica

avaliativa para a ausência de livros escriturados, esbarra em dois aspectos importantes,

ainda de acordo com o autor (op. cit., p. 55): o primeiro é que o balanço patrimonial

elaborado pelo perito não vai representar a situação patrimonial na data do evento; o

segundo é que este fato depende da existência de ao menos alguns livros e documentos

que possam ser consultados pelo perito.

No laudo não foi mencionado se houve a tentativa de proceder ao

levantamento deste ‘balanço’, e os motivos pelo qual este procedimento não pode ser

realizado. Contudo, ainda que fosse possível obter tal balanço, há que se considerar as

críticas preconizadas a uma avaliação com base contábil.

Quanto às dívidas fiscais e tributárias, segundo informações do laudo, estas

pertencem às empresas constituídas anteriormente. O perito considerou estas dívidas na

88

avaliação, entretanto, as empresas são entidades distintas e como tal devem ser

avaliadas. As dívidas pertencentes às empresas constituídas anteriormente, não

deveriam ter sido consideradas na avaliação da empresa atual.

Adicionalmente, o perito identificou que a empresa vendia seus produtos

com margem de contribuição muito baixa, e que, em decorrência das dívidas

historicamente acumuladas, não conseguia prazos para pagamento aos seus

fornecedores, e por conseqüência, não podia conceder prazo de pagamento aos clientes,

fator que dificultava as vendas.

Pode-se dizer que ao se avaliar uma empresa, o objetivo é alcançar o valor

que representa a potencialidade econômica de determinada companhia. No caso de uma

empresa em que não se vislumbra a capacidade de gerar benefícios futuros, e em que o

valor de liquidação dos seus ativos e passivos não produzirá valor positivo, não há o que

se dizer em valor econômico.

Assim, se ainda após todas as observações e análises, o perito julgasse que a

continuidade da empresa era duvidosa, a alternativa seria fazer apenas uma avaliação a

valores de mercado, dos passivos e ativos. Mas para realizar a avaliação por esta

metodologia, é necessária a existência de ao menos alguns livros e documentos, e neste

caso, o perito considerou que não existiam documentos idôneos no qual a perícia

pudesse se basear, fato que inviabilizaria a adoção desta técnica.

Se, após as devidas análises, todos os métodos possíveis de avaliação para

esta empresa fossem descartados, o perito deveria explicitar isso no laudo e declarar que

não foi possível realizar o seu trabalho.

89

• Quadro Síntese

O quadro 12 contém a síntese dos aspectos críticos detectados neste estudo:

Quadro 12: Quadro Síntese Caso Confecção Variável Descrição Caracterização Risco

Princípio da entidade

Considerou as dívidas pertencentes a empresas constituídas anteriormente, pelos mesmos sócios.

Inconsistência Sub-avaliação do ativo.

Fonte: a autora

Ao considerar as dívidas pertencentes às empresas constituídas

anteriormente, apesar de pertencerem aos mesmos sócios, feriu-se o princípio da

entidade. A entidade avaliada deveria ter sido considerada isoladamente, de outra forma,

os resultados apresentados poderiam ser sub-avaliados.

5.4 CASO SERVIÇO DE BUFÊ

• Descrição Geral

a) Síntese do processo:

- Ação cível de cobrança, ajuizada por um Hospital particular contra o Sr.

Netto16. Ocorre que o Sr. Netto levou um funcionário seu, que havia sofrido um grave

acidente de carro, para ser socorrido no Hospital. Para que seu funcionário fosse

atendido, assinou um termo de responsabilidade financeira, obrigando-se solidariamente

16 Nome fictício para garantir o anonimato da parte.

90

a pagar as despesas originárias do tratamento. Em decorrência da gravidade do acidente,

seu funcionário permaneceu internado por, aproximadamente, um mês. Finda a

internação, nem o funcionário do Réu, nem o Réu quitaram a dívida junto ao hospital.

Assim sendo, o Hospital ajuizou ação exigindo o pagamento da dívida e o juiz proferiu

sentença condenando o Réu a quitar a dívida. Deste modo, o Hospital executou a

sentença, e requereu a penhora das cotas do Réu em seu Serviço de Bufê, para garantir o

pagamento.

b) Objeto e objetivo da perícia:

- O juiz determinou a produção de perícia contábil, para avaliação das

cotas penhoradas do Serviço de Bufê, para averiguar se são suficientes para garantir o

crédito.

c) Características da empresa avaliada:

- Empreendimento: loja de produtos comestíveis importados, como

queijos, frios e geléias, e serviços de alimentos e bebidas para eventos (principalmente

grandes eventos para pessoas jurídicas), sendo esta atividade de bufê a principal fonte

de receita.

- Quantidade de sócios: um, o Réu.

- Percentual de participação dos sócios: a empresa pertence ao Réu na sua

totalidade.

91

• Descrição da Metodologia de Avaliação Utilizada pelo Perito

a) Análise dos livros contábeis, a fim de avaliar a situação patrimonial do

Serviço de Bufê.

As principais conclusões do perito foram:

- Os Livros Contábeis (Diário e Razão) não foram apresentados;

- Foram apresentados os talonários de Notas Fiscais da empresa e as

Declarações do Imposto de Renda dos exercícios de 2002 e 2003, de onde o perito

extraiu que o faturamento em 2002 foi de R$ 2.209.690,03 e em 2003 foi de R$

1.032.542,31;

b) Diligência à empresa e reunião com o Réu, objetivando colher o maior

número de informações possível.

As principais conclusões foram:

- “Trata-se de uma pequena loja, em imóvel alugado, que mantém pouco

estoque, visto que o mesmo tem caráter muito perecível, e poucos móveis de valor,

dentre os quais se destacam as geladeiras (vitrines) e dois computadores”;

- O estabelecimento possui grande prestígio no segmento de mercado em

que atua, no qual opera há mais de 20 anos, mas “seu renome está vinculado à imagem

do sócio Réu”;

- Não foi observada a presença de concorrência direta na área, não há

outras empresas oferecendo os mesmos serviços na região;

92

- “O perito efetuou uma compra de um item da loja e não recebeu a nota

fiscal, o que evidencia que o faturamento informado não é fidedigno”.

c) Resposta aos quesitos das partes e cálculo do valor das cotas do Serviço

de Bufê.

Os principais quesitos e suas respectivas respostas foram:

- Quesito 1: apurar o valor das cotas do Serviço de Bufê. Resposta do

perito:

“Não foi possível averiguar o valor patrimonial contábil da empresa, em

decorrência da falta de informações. Assim, o perito optou por utilizar o modelo dos

múltiplos de faturamento.

Deste modo, partiu-se dos faturamentos médios, excluindo-se o mês de

janeiro de 2002, a fim de se evitar distorções, pois seu valor desviou-se muito da média.

A média mensal dos faturamentos é de R$ 115.639,09:”

FATURAMENTO 2002 FATURAMENTO 2003

Jan./02 R$ 582.533,37 Jan./03 R$ 34.504,73 Fev./02 R$ 82.118,25 Fev./03 R$ 125.866,01 Mar./02 R$ 221.805,04 Mar./03 R$ 39.751,27 Abr./02 R$ 149.320,60 Abr./03 R$ 72.417,90 Mai./02 R$ 172.790,01 Mai./03 R$ 29.766,50 Jun./02 R$ 161.489,43 Jun./03 R$ 80.096,60 Jul./02 R$ 91.053,45 Jul./03 R$ 122.325,60 Ago./02 R$ 57.799,55 Ago./03 R$ 62.689,03 Set./02 R$ 239.755,05 Set./03 R$ 65.124,85 Out./02 R$ 212.034,76 Out./03 R$ 169.999,81 Nov./02 R$ 95.738,43 Nov./03 R$ 107.173,26 Dez./02 R$ 143.252,09 Dez./03 R$ 122.826,75 TOTAL R$2.209.690,03 TOTAL R$1.032.542,31

93

“A escolha do multiplicador foi obtida comparativamente com as demais

entidades do setor, a qual se encontra no patamar de 3,5, deste modo, temos:”

Média mensal dos faturamentos 2002 e 2003 R$115.639,09 Multiplicador 3,5 Subtotal R$404.736,80

Segundo o perito, este resultado não é conclusivo, pois a perícia não obteve

acesso aos passivos exigíveis da empresa, que deveriam ser deduzidos deste valor.

Assim, a conclusão do laudo foi:

“Observando os pressupostos acima, percebe-se que não é possível

oferecer uma estimativa precisa do valor econômico da empresa, uma vez que há

escassez de informações confiáveis.

A avaliação de uma empresa objetiva alcançar o valor justo de mercado, ou

seja, o valor que melhor representa o potencial econômico de uma empresa. No

entanto, o preço do negócio é definido pelas expectativas dos compradores e

vendedores. Neste caso, pode-se concluir que o comprador não teria disposição para

adquirir um negócio sem conhecer o risco inerente.

Ademais, o valor do negócio deriva de uma ‘pessoa chave’, no caso, o Réu,

e pode valer significativamente menos se for operado por outra pessoa”.

• Análise da Metodologia de Avaliação

Neste caso, novamente, o perito se deparou com o problema da ausência de

94

contabilidade regularmente processada.

Foram apresentados os talonários de Notas Fiscais da empresa e as

Declarações do Imposto de Renda dos exercícios de 2002 e 2003, entretanto, em

diligência, o perito realizou um teste de controles, ao adquirir um produto da loja, antes

de se identificar, e detectou que a empresa não fornecia nota fiscal ao consumidor, caso

o mesmo não solicitasse, e assim, considerou que as informações das receitas poderiam

apresentar distorções.

Apesar do ponto identificado pelo perito apresentar uma falha de controle,

deve-se considerar a representatividade deste valor nas receitas, visto que foi relatado

pelo perito no laudo que a principal atividade é a realização de festas para pessoas

jurídicas, que exigem nota fiscal, e não a venda de alimentos na loja:

Apesar disso, o perito realizou uma tentativa de avaliar a empresa,

utilizando a metodologia dos múltiplos de faturamento, sem, entretanto, justificar de

que modo chegou ao multiplicador utilizado. Conforme mencionado na revisão

bibliográfica, o método de avaliação relativa envolve diversas considerações

controversas, como a seleção das empresas comparáveis e, nos casos cabíveis, a decisão

do múltiplo a ser utilizado.

Entretanto, esta avaliação não foi concluída, pois o perito mencionou que

não teve acesso ao valor das dívidas, que teriam que ser deduzidos do valor encontrado.

Outro fator muito peculiar a esta avaliação, deve-se ao fato mencionado, de

que uma porção significativa do valor do negócio deriva de uma “pessoa chave”.

Conforme esclarece Damodaran (2006, p. 606), “em casos extremos, em

95

que todo o valor de um empreendimento depende de uma pessoa, o valor pode cair para

próximo de zero se a pessoa-chave sair ou morrer”.

Observando as argumentações do perito, infere-se que a sua conclusão foi

que a empresa não possuiria valor econômico sem o Sócio Réu, visto que neste caso, a

‘marca’ estava atrelada não a empresa, mas ao dono, sendo a sua presença

imprescindível para o sucesso do empreendimento, como se observa do seguinte trecho

do laudo: “o valor do negócio deriva de uma ‘pessoa chave’, no caso, o Réu, e pode

valer significativamente menos se for operado por outra pessoa”

• Quadro Síntese

O quadro 13 contém a síntese dos aspectos críticos detectados neste estudo:

Quadro 13: Quadro Síntese Caso Serviço de Bufê Variável Descrição Caracterização Risco

Múltiplos Não foi justificada no laudo a escolha do múltiplo, nem de que forma foi escolhida a empresa comparável.

Omissão Pode haver uma super-avaliação ou uma sub-avaliação do ativo.

Fonte: a autora

Apesar do perito não ter concluído a avaliação pelo método relativo, houve

uma omissão da explicação da escolha da empresa comparável, e da forma de

determinação do múltiplo, assim, não há elementos suficientes para se analisar o

procedimento adotado.

96

5.5 CASO PONTO TURÍSTICO

• Descrição Geral

a) Síntese do processo:

- Ação cível de cobrança ajuizada pelo Senhor Machado17 contra a Cia.

XYZ. Ocorre o Senhor Machado pactuou um contrato de compra e venda de suas cotas

da Cia. Engenharia, com a Cia. XYZ. Pelo contrato, a Cia. XYZ pagaria pelas cotas

adquiridas em nove parcelas. Mas, a Cia. XYZ não conseguiu honrar integralmente com

a sua obrigação, fato que gerou a ação judicial. Assim, uma vez que a Cia. XYZ possui

76,99 % das ações da Cia. Ponto Turístico no seu ativo, estas foram penhoradas a fim de

assegurar recursos suficientes para garantir o pagamento da dívida.

b) Objeto e objetivo da perícia:

- O juiz determinou a produção de perícia contábil, para avaliação das

cotas penhoradas da Cia. Ponto Turístico, para averiguar se são suficientes para garantir

o crédito.

c) Características da empresa avaliada:

- Empreendimento: empresa que explora ponto turístico no Rio de Janeiro.

- Quantidade de sócios: diversos, para fins de simplificação, pode-se

adotar: Cia. XYZ e Sócios Minoritários.

17 Nome fictício para garantir o anonimato da parte.

97

- Percentual de participação dos sócios: 77% pertencentes à Cia. XYZ e

23% aos Sócios Minoritários.

• Descrição da Metodologia de Avaliação Utilizada pelo Perito

a) Diligência à Cia. Ponto Turístico objetivando avaliar o controle interno

que consiste na qualidade do fluxo de informações, ou seja, a possibilidade das

informações contábeis não refletirem a realidade.

A principal constatação do perito foi:

- O controle interno é eficiente (o perito fez um relatório completo sobre

os procedimentos que utilizou para chegar a esta conclusão).

b) Resposta aos quesitos das partes e cálculo do valor das cotas do ponto

turístico.

Os principais quesitos e as respectivas respostas do perito foram:

- Quesito 1: informar o valor patrimonial de cada ação. Resposta do perito:

“Pode-se mensurar o valor do patrimônio líquido por duas metodologias, entretanto, os

seus valores são os mesmos. São elas:

i. Diferença entre ativo e passivo; e

ii. Soma das contas que compõe o Patrimônio Líquido”.

O perito reportou que em 31 de dezembro de 2002, o Balanço Patrimonial

evidenciava o valor de R$ 9.293.794,00 para o Ativo e de R$ 7.664.696,00 para o

98

Passivo Exigível e o valor do Patrimônio Líquido era de R$ 1.629.098 ,00.

Além da metodologia acima, o perito calculou o valor do patrimônio liquido

pela “soma das ‘contas’ que o compõem”, informando o seguinte:

“No caso em tela, a soma das contas que compõem o Patrimônio Líquido do

ponto turístico em dezembro de 2002, é:

Capital Social – R$ 2.626.011,00

Reserva de Legal – R$ 26.859,00

Reserva Especial – R$ 510.320,00

Lucros ou Prejuízos Acumulados – R$ (1.534.092,00)

Portanto, em ambas as metodologias o valor do patrimônio líquido da

entidade em dezembro de 2002 é de R$ 1.629.098 ,00”.

Assim, a divisão do Patrimônio Líquido (R$ 1.629.098,00) pelo número de

ações (64.426.937) representa o valor patrimonial da ação em dezembro de 2002 (R$

0,025).

- Quesito 2: informar o valor de avaliação da empresa pelo método do

fluxo de caixa descontado. Resposta do perito: O perito descreveu as premissas em que

se baseou o cálculo:

i) Data-base da avaliação: 31/12/2001;

ii) Período de projeção: 10 anos;

99

iii) Projeções em Reais, em moeda constante, dentro de contexto não

inflacionário;

iv) Foram consideradas despesas fixas para todo o período: Parte das

despesas gerais e administrativas, parte de serviços prestados e

depreciação;

v) Foram consideradas despesas variáveis reajustadas proporcionalmente

à Receita Bruta: Pessoal, Encargos Sociais, Manutenção e

Conservação, parte das gerais e administrativas e parte dos serviços

prestados;

vi) O custo de oportunidade avaliado em 15% ao ano;

vii) Taxa de crescimento de 3,5% fornecido pela EMBRATUR para o

setor. Exceto para o biênio 2006/2007, cujo crescimento esperado é

7%, em decorrência do evento esportivo “PAN 2007”, que se realizará

no Brasil;

viii) Dívida em dólares, de US$ 103.500,00;

A partir das premissas acima o perito projetou o fluxo de caixa da seguinte

maneira:

100

Taxa de Crescimento 3,5% 3,5% 3,5% 7,0% 3,5% 2003 2004 2005 2006 2007 Receita Bruta de Serviços 12.536.055 12.974.816 13.428.935 14.368.960 14.871.874 ISS/ PIS/ COFINS/ DESCONTOS 472.609 489.151 506.271 541.710 560.670 Lucro Bruto 12.063.445 12.485.666 12.922.664 13.827.251 14.311.204 Gastos Operacionais (variáveis) (7.416.128) (7.675.692) (7.944.341) (8.500.445) (8.797.961)

Gastos Operacionais (fixos) (2.282.741) (2.282.741) (2.282.741) (2.282.741) (2.282.741) LO = EBIT 2.364.577 2.527.233 2.695.582 3.044.064 3.230.503 Despesas Financeiras (266.927) (266.927) (266.927) (266.927) (266.927) Receitas Financeiras 592.175 592.175 592.175 592.175 592.175 Lair 2.689.825 2.852.481 3.020.830 3.369.313 3.555.751 IR e CSLL (1.341.358) (1.388.305) (1.436.896) (1.537.479) (1.591.291) (+) Depreciação 82.535 82.535 82.535 82.535 82.535 Fluxo de Caixa Operacional 1.431.003 1.546.711 1.666.470 1.914.369 2.046.996 Taxa de Crescimento 3,5% 3,5% 3,5% 3,5% 3,5% 2008 2009 2010 2011 2012 Receita Bruta de Serviços 15.392.390 15.931.123 16.488.713 17.065.818 17.663.121 ISS/ PIS/ COFINS/ DESCONTOS 580.293 600.603 621.624 643.381 665.900 Lucro Bruto 14.812.097 15.330.520 15.867.088 16.422.436 16.997.222 Gastos Operacionais (variáveis) (9.105.889) (9.424.595) (9.754.456) (10.095.862) (10.449.217)

Gastos Operacionais (fixos) (2.282.741) (2.282.741) (2.282.741) (2.282.741) (2.282.741) LO = EBIT 3.423.466 3.623.183 3.829.891 4.043.833 4.265.263 Despesas Financeiras (266.927) (266.927) (266.927) (266.927) (266.927) Receitas Financeiras 592.175 592.175 592.175 592.175 592.175 Lair 3.748.714 3.948.432 4.155.139 4.369.081 4.590.511 IR e CSLL (1.646.986) (1.704.630) (1.764.292) (1.826.042) (1.889.954) (+) Depreciação 82.535 82.535 82.535 82.535 82.535 Fluxo de Caixa Operacional 2.184.264 2.326.337 2.473.382 2.625.574 2.783.093

O perito informou que utilizou o método do fluxo de caixa projetado,

descontado a valor presente e as premissas acima descritas, e avaliou a empresa em R$

9.363.439,07, informando a seguinte fórmula, extraída do laudo pericial:

( ) ( ) ( ) ( ) ( )

( ) ( ) ( ) ( ) ( )

( ) 079.363.439, R$2,9316103.500679.666.859, R$

679.666.859, R$100,151

2.783.09390,151

2.625.57480,151

2.473.38270,151

2.326.33760,151

2.184.264

50,151

2.046.99640,151

1.914,36930,151

1.666.47020,151

1.546.71110,151

1.431.003

=×−

=+

++

++

++

++

+

++

++

++

+∑+

++

=

101

• Análise da Metodologia de Avaliação

O perito utilizou duas abordagens para a determinação do valor da empresa.

A primeira abordagem, o modelo de avaliação patrimonial contábil, foi

realizada somente em decorrência do questionamento de uma das partes em quesito. O

perito calculou-o de duas formas diferentes, pela da diferença entre o Ativo e o Passivo

Exigível, e pela soma das contas que o compunham, e apresentou o resultado e as

metodologias utilizadas.

A outra abordagem, o modelo dos fluxos de caixa descontados, conforme

mencionado na análise do caso do restaurante, depende da determinação de cinco

variáveis principais: o fluxo relevante de caixa, o período de projeção, o valor residual,

as condições de endividamento, e a taxa de desconto.

O objetivo da perícia em análise é chegar ao valor mais próximo ao valor

para o acionista. Assim, devem-se descontar os fluxos de caixa do acionista esperados e

realizar os ajustes necessários.

Para determiná-lo, verifica-se que o perito partiu do lucro antes do

pagamento dos impostos, ajustando-o, mediante o acréscimo do montante da

depreciação. Porém, não foram feitas afirmações no laudo acerca da necessidade de

reinvestimentos, deste modo, não há como afirmar se havia mais algum valor a ser

ajustado.

Quanto ao período de projeção, não houve explanação acerca da

metodologia utilizada para se considerar dez anos. Conforme demonstrado no caso do

restaurante, apesar desta variável envolver subjetividades em sua determinação, é

102

necessário que a metodologia utilizada para a determinação do horizonte de projeção

seja informada.

Não se considerou o valor residual na avaliação. No caso em análise, onde

não se fez nenhuma ressalva à continuidade da empresa, pressupõe-se que a mesma

continuará gerando valor mesmo após os dez anos projetados, assim este valor deveria

ter sido determinado, adotando-se, por exemplo, o método da perpetuidade.

Quanto ao endividamento, a única evidência de dívidas significativas foi a

mencionada dívida de US$ 103.500,00, que foi convertida para reais e deduzida do

valor encontrado.

Quanto à taxa de desconto, deve ser utilizada uma taxa que reflita o risco

dos fluxos de caixa futuros, e no caso da determinação do valor para o acionista,

Damodaran e Martins sugerem a adoção do custo do patrimônio líquido.

Entretanto, no caso em análise, não foi justificada a metodologia adotada

para a determinação da taxa de desconto de 15%.

• Quadro Síntese

O quadro 14 contém a síntese dos aspectos críticos detectados neste estudo:

103

Quadro 14: Quadro Síntese Caso Ponto Turístico Variável Descrição Caracterização Risco

Necessidade de reinvestimentos

Não foi informado se havia ou não a necessidade.

Omissão Pode haver super-avaliação do ativo

Período de projeção Não foi informado como se chegou ao Período de projeção.

Omissão Pode haver super-avaliação e sub-avaliação do ativo.

Valor residual Não foi considerada a possibilidade de geração de caixa ao final do período de projeção.

Inconsistência Pode haver sub-avaliação do ativo.

Taxa de desconto Não foi informado de que forma se chegou à taxa de desconto.

Omissão Pode haver super-avaliação ou sub-avaliação do ativo.

Fonte: a autora

No caso das omissões, não foram encontradas no laudo as explicações dos

itens citados, assim, não há elementos suficientes para se analisar o procedimento

adotado.

Já o fato de não ter sido considerada a possibilidade de geração de caixa ao

final do período, pode gerar uma sub-avaliação do resultado da avaliação da empresa.

Da análise dos cinco laudos, pode-se inferir que os problemas principais

foram reincidentes, quais sejam:

- Deixou-se de explicar no laudo pericial a metodologia de determinação

de algumas variáveis que fazem parte do método de avaliação adotado,

tais como, a taxa de desconto, o período de projeção, a escolha das

empresas comparáveis, a escolha do múltiplo;

- Desconsiderou-se variável que faz parte do método escolhido para a

avaliação, qual seja, o valor residual;

104

- Utilizaram-se metodologias criticadas na literatura especializada, seja

pelo fato de permitirem subjetividades, como no caso da avaliação por

múltiplos, seja porque seu resultado se distancia da realidade, na

maioria dos casos, como no caso da avaliação patrimonial contábil.

O capítulo a seguir apresenta as conclusões deste estudo.

105

6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

6.1 Síntese

Neste estudo, inicialmente expôs-se os fundamentos da perícia contábil, e

sua importância como instrumento isento e independente, auxiliar na distribuição da

Justiça. Evidenciou-se também, que o rigor metodológico é o alicerce sobre o qual se

constroem as idéias, conceitos e inter-relações que embasam a perícia, e que seu

exercício permeia-se em normas éticas e morais.

Posteriormente, falou-se de uma importante aplicação da perícia contábil,

que é a avaliação de empresas. Demonstrou-se que processo de avaliação consiste na

busca de estimar um valor justo de mercado para uma empresa, tendo como base

modelos quantitativos, os quais, apesar de serem essencialmente matemáticos também

contemplam aspectos subjetivos.

Assim, este trabalho buscou tratar de um assunto complexo e controverso,

pois processos de avaliação de empresas trabalham com expectativas e valores

construídos, pelo menos parcialmente em bases subjetivas, enquanto decisões judiciais

necessitam estar fundamentadas em fatos, eventos e ocorrências objetivas.

Mediante estudo de caso, demonstrou-se a presença deste problema no

cotidiano do perito contador, visto que os laudos periciais analisados apresentavam

falhas metodológicas, principalmente quanto à determinação das variáveis dos modelos

de avaliação de empresas adotados.

106

Estas limitações podem representar três problemas principais:

- Fere a principal exigência acerca da perícia, que é a fundamentação das

conclusões levadas ao laudo pericial;

- Pode gerar distorções significativas nos resultados das avaliações, as

quais terão impacto na sentença e, consequentemente, na vida das

pessoas envolvidas;

- A ausência de elementos que permitam constatar a qualidade da perícia

realizada pode deixar margens para questionamentos do laudo pericial,

prolongando o processo com recursos, sobrecarregando o sistema

judiciário, além de aumentar as custas processuais.

6.2 Avaliação das Limitações

Os quadros 15 e 16 contemplam a síntese dos aspectos críticos detectados

no estudo de casos.

6.2.1 Omissões

As omissões foram destacadas quando o laudo não possuía elementos

suficientes para se construir o julgamento da avaliação realizada, assim, o resultado da

avaliação pode ter sido afetado;

107

Quadro 15: Síntese das Omissões Caso Variável Descrição Risco

Despesas com reinvestimentos

Não foram considerados os compromissos com investimentos em manutenção e conservação.

Pode haver super-avaliação do ativo.

Período de projeção Não foi informado como se chegou ao período de projeção.

Pode haver uma sub-avaliação do ativo.

Restaurante

Taxa de desconto Não foi informado de que forma se chegou à taxa de desconto.

Pode haver uma super-avaliação ou uma sub-avaliação do ativo.

Serviço de Bufê Múltiplos Não foi justificada no laudo a escolha do múltiplo, nem de que forma foi escolhida a empresa comparável.

Pode haver uma super-avaliação ou uma sub-avaliação do ativo.

Necessidade de reinvestimentos

Não foi informado se havia ou não a necessidade.

Pode haver super-avaliação do ativo

Período de projeção Não foi informado como se chegou ao Período de projeção.

Pode haver uma sub-avaliação do ativo.

Ponto Turístico

Taxa de desconto Não foi informado de que forma se chegou à taxa de desconto.

Pode haver uma super-avaliação ou uma sub-avaliação do ativo.

Fonte: a autora

6.2.2 Inconsistências

As inconsistências destacadas representam a utilização de procedimento

inapropriado aos objetivos a que se propõe.

108

Quadro 16: Síntese das Inconsistências Caso Variável Descrição Risco

Fluxo de lucro descontado

Em vez de trabalhar com fluxos de caixa descontados, o perito trabalhou com uma projeção de lucros, trazendo-os a valor presente.

Pode haver uma super-avaliação ou uma sub-avaliação do ativo.

Restaurante

Valor residual Não foi considerada a possibilidade de geração de caixa ao final do período de projeção.

Sub-avaliação do ativo.

Indústria Avaliação contábil Utilizou metodologia que ignora os potenciais rendimentos esperados da empresa

Pode haver uma sub-avaliação do ativo.

Confecção Princípio da entidade

Considerou as dívidas pertencentes a empresas constituídas anteriormente.

Sub-avaliação do ativo.

Ponto Turístico Valor residual Não foi considerada a possibilidade de geração de caixa ao final do período de projeção.

Pode haver uma sub-avaliação do ativo.

Fonte: a autora

6.3 Conclusões Básicas

Em decorrência do estudo dos cinco laudos periciais, foi possível chegar a

algumas conclusões com relação às abordagens para avaliação utilizadas pela empresa

abrangida pelo estudo:

- Os métodos utilizados nos casos em análise foram: método patrimonial

contábil; método do fluxo de caixa descontado; método dos múltiplos,

109

ou seja, os métodos mais usuais, de acordo com os autores pesquisados;

- Quando da utilização da abordagem patrimonial contábil, o principal

problema identificado foi a falta de justificativa da adoção do método

em detrimento de outros existentes, tendo em vista suas limitações;

- Houve um caso em que foram consideradas dívidas pertencentes a

outras empresas constituídas pelos mesmos sócios, indo de encontro ao

princípio contábil da entidade;

- Nos casos analisados em que o perito utilizou a abordagem do fluxo de

caixa descontado, inferiu-se que ocorreram algumas falhas

metodológicas na determinação das variáveis deste método:

- Fluxo relevante de caixa: percebe-se que, em alguns casos, não se

considerou os ajustes referentes à depreciação, necessidade de capital

de giro e de reinvestimentos;

- Período de projeção: em nenhum caso houve explanação acerca da

metodologia utilizada na determinação do horizonte de projeção;

- Valor residual: em todos os casos, desconsiderou-se o potencial de

geração de resultados ao final do período projetado;

- Taxa de desconto: em nenhum caso houve explicação acerca do

modelo utilizado para estimar a taxa de desconto.

110

Deste modo, percebeu-se da análise dos casos, indícios da ocorrência do

problema destacado por Damodaran (2006, p. 617) e mencionado neste trabalho, em

que ao invés de adaptar-se o modelo de avaliação para atender às características do ativo

avaliado, tenta-se fazer com que os ativos se encaixem em um modelo de avaliação pré-

especificado.

6.4 Recomendações Básicas

Em decorrência do estudo realizado, é possível apresentar algumas

recomendações:

- O perito contador que se depara com a tarefa de avaliar uma empresa

para fins judiciais pode optar entre diversas abordagens. Sua escolha

deve ser dirigida, principalmente pelas características da empresa sendo

avaliada. Assim, compatibilizar o modelo de avaliação à empresa sendo

avaliada é tão importante quanto à compreensão dos modelos e a

existência de dados corretos;

- A escolha da abordagem dos múltiplos pelo perito só deve ser feita após

muita reflexão sobre os prós e contras das demais opções, pois

contempla aspectos subjetivos, como a escolha das empresas

comparáveis e a escolha do múltiplo, que podem possibilitar o

questionamento das conclusões do perito;

- As abordagens para avaliação de empresas não são mutuamente

excludentes, mas sim complementares, pois cada uma delas atende a

111

determinados objetivos e análises. Assim, o perito contador pode e deve

utilizar-se de vários métodos e ponderar seus resultados para o caso,

buscando o valor que represente a melhor estimativa possível do valor

econômico da empresa;

- A qualidade de uma avaliação é também diretamente proporcional à

qualidade dos dados, informações e do tempo despendido em

compreender a empresa avaliada. Dessa forma, o foco do perito

contador deve estar concentrado no processo de avaliação em si, e não

em seu resultado final, pois este é a conseqüência lógica de um processo

de avaliação bem sucedido.

6.5 Sugestões para Estudos Futuros

Tanto o campo das avaliações de empresas, quanto o das perícias contábeis

apresentam boas perspectivas para estudo, sendo possível apresentar as seguintes

sugestões:

- Estudo sobre a questão da determinação do custo de capital próprio em

micro, pequenas e médias empresas, visto que estas possuem

características peculiares;

- Estudo dos benefícios da utilização de perícias contábeis no auxílio aos

congressistas nas investigações de fraudes em Comissões Parlamentares

de Inquéritos;

112

- Estudo das metodologias de avaliação de empresas utilizadas para a

determinação de preços mínimos de leilão, nos principais processos de

privatização de empresas estatais.

113

7. BIBLIOGRAFIA

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