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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE ARTES
CURSO DE LICENCIATURA EM DANÇA
VIDEODANÇA: O CORPO EM MOVIMENTO NA TELA
NATAL/RN
2019
JONHNATA SAMUEL OLIVEIRA DE LIMA
VIDEODANÇA: O CORPO EM MOVIMENTO NA TELA
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Licenciatura em
Dança da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito para
obtenção do título de graduado em dança.
Orientadora: Profa. Maria de Lurdes Barros da Paixão
NATAL/RN
2019
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Departamento de Artes - DEART
Lima, Jonhnata Samuel Oliveira de. Videodança : o corpo em movimento na tela / Jonhnata Samuel
Oliveira de Lima. - 2019.
53 f.: il.
Monografia (licenciatura) - Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes,
Licenciatura em Dança, Natal, 2019.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria de Lurdes Barros da Paixão.
1. Videodança. 2. Corpo-imagem. 3. Dramaturgia. 4. Movimento.
5. Imagem-dança. I. Paixão, Maria de Lurdes Barros da. II.
Título.
RN/UF/BS-DEART CDU 793.3
Elaborado por Jonhnata Samuel Oliveira de Lima - CRB-X
AGRADECIMENTOS
Os agradecimentos vão primeiramente para meu país, pois esses forneceram
os estudos durante minha vida, seja conhecimentos de vida e a dedicação para os
estudos. Também agradeço a eles pelo preparo psicológico sobre o ambiente escolar
durante a minha vida para estar na universidade dedicadamente.
Agradeço a todos os professores do curso de licenciatura em dança, por
disponibilizarem com clareza os conhecimentos necessários para a formação de um
professor de dança. Entretanto, ressalta-se a profa. Drª Maria de Lurdes Barros da
Paixão, orientadora deste trabalho de conclusão de curso. Esta professora é
responsável pelo meu progresso dentro da universidade, com suas falas sempre
pontuais, dedicação com seus alunos e profissional em suas atividades e
observações relevantes sobre as coisas do mundo da dança. Outro professor
importante é Neemias Damasceno meu professor de arte durante o ensino médio.
Graças a ele estou mergulhado no conhecimentos da arte.
Agradeço aos grupos de extensão a Gaya dança contemporânea e o Grupo de
Dança da UFRN.
Por fim, agradeço ao meu amigo do curso Samuel Leandro, por nossas
conversas sobre videodança e por estarmos lado-lado nesse progresso acadêmico.
E também agradeço a minha parceira de vida Ana Vieira, pelos diálogos profundos
sobre a dança.
“O movimento em sua fonte mais pura, está
acima do gênero”
Ohad Naharin
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Performance em 9 Evenings: Theatre and Engineering 12
Figura 2 - Câmera Portapak da Sony 17
Figura 3 - Operador de câmera 19
Figura 4 - Diretor de fotografia 20
Figura 5 - Editor de vídeo 21
Figura 6 - Print Screen de “Westbeth” (1975) 23
Figura 7 - Print screen de “CHIMERA” (2016) 29
Figura 8 - Print screen de “William Forsythe - Solo” (1997) 31
Figura 9 - Print screen “Annabelle Serpentine Dance” (1895) 33
Figura 10 - Cena do filme “Footlight Parade” (1933). 34
Figura 11 - Print Screen de “A Study in Choreography for Camera” (1945) 36
Figura 12 - Print screen de “MERGULHANDO” (2019) 47
Figura 13 - Print screen de “MERGULHANDO” (2019) 47
Figura 14 - Print screen de “MERGULHANDO” (2019) 48
RESUMO
Este trabalho de conclusão de curso é uma reflexão prática e de observação acerca dos aspectos estabelecidos na hibridização da dança e do vídeo cujo produto artístico produzido é a videodança. Nessa perspectiva, o presente trabalho versa sobre a interação entre a dança e a tecnologia. Assim, a pesquisa realizada aponta as relações advindas do diálogo entre o corpo e a câmera e seus desdobramentos na criação da videodança. O trabalho em apreço articula os conhecimentos oriundos de diferentes áreas do conhecimento, com objetivo de ampliar as reflexões e análises acerca da relação entre o corpo, a câmera e os movimentos de dança. Deste modo, o presente trabalho realiza análise de videodanças e de obras de dança e cinema a fim de investigar as potencialidades dramatúrgicas e estéticas da dança no espaço da tela e as suas contribuições na produção estética e dramatúrgica da videodança. O referencial teórico metodológico cartográfico orienta as escolhas e os meios de produção da videodança produzido a partir dos estudos e referenciais teóricos adotados neste trabalho. Palavras-chave: Videodança; Corpo-imagem; Dramaturgia; Movimento; Imagem-dança.
ABSTRACT
This course conclusion paper is a practical reflection and observation about the aspects established in the hybridization of dance and video whose artistic product is videodance. From this perspective, the present work deals with the interaction between dance and technology. Thus, the research shows the relationships arising from the dialogue between the body and the camera and their consequences in the creation of videodance. This work articulates the knowledge from different areas of knowledge, aiming to broaden the reflections and analysis about the relationship between the body, the camera and dance movements. Thus, the present work analyzes video dance and dance and cinema works in order to investigate the dramaturgical and aesthetic potentialities of dance in the screen space and their contributions in the aesthetic and dramaturgical production of videodance. The cartographic methodological theoretical framework guides the choices and the means of production of videodance produced from the studies and theoretical frameworks adopted in this work. Keywords: Videodance; Body image; Dramaturgy; Movement; Dance image.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 11
1. Capítulo 1 - CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO SOBRE VIDEODANÇA: A RELAÇÃO DA DANÇA E A TECNOLOGIA NA DÉCADA DE 1960. 13
9 EVENINGS: THEATRE AND ENGINEERING (1966) 13
VIDEOARTE: CONTRIBUIÇÕES PARA A VIDEODANÇA 16
MERCE CUNNINGHAM (1919-2009) : O COREÓGRAFO NA CRIAÇÃO DA VIDEODANÇA 23
2. Capítulo 2 - A IMAGEM DA DANÇA NA TELA 27
2.1. DRAMATURGIA DO MOVIMENTO NA IMAGEM-DANÇA 27
CHIMERA (2016) - Steven Briand 30
William Forsythe - Solo (1997) - Thomas Lovell Balogh e Jess Hall 32
Annabelle Serpentine Dance (1895) - Thomas Edison 33
Footlight Parade (1933) - Busby Berkeley 35
A Study In Choreography For Camera (1945) - Maya Deren 37
3. Capítulo 3 - PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DE ROTEIROS PARA CRIAÇÃO DA VIDEODANÇA 40
FORMULAÇÃO DA IDEIA PARA A VIDEODANÇA “MERGULHANDO” 40
3.1. ROTEIRO LITERÁRIO 43
3.2. ROTEIRO TÉCNICO 45
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 50
5. REFERÊNCIAS 52
11
INTRODUÇÃO
O presente trabalho argui sobre questões relativas a dança e as tecnologias,
especificamente a videodança. A videodança é o conjunto de conceitos e práticas
inerentes à linguagem audiovisual e a dança. Nessa perspectiva, o presente
trabalho apresenta possibilidades de captura de imagem-dança por meio dos
aparelhos tecnológicos constituídos por câmeras, programas de edição, entre
outros aparatos tecnológicos. Acredita-se que a videodança é uma nova forma de
criação em dança mediada pela tecnologia, tendo em vista o uso da tela como
suporte e meio de reprodução da obra de dança.
Os estudos sobre a videodança são iniciados a partir das aulas junto ao
componente curricular Danças e Novas tecnologias realizado durante a licenciatura
em dança na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Neste
componente tem início às observações acerca das relações que a dança e a
tecnologia engendram. Desta maneira, as contribuições advindas deste
componente despertam questões acerca da simbiose entre a dança e o vídeo e
como esta interação pode redimensionar os fazeres artísticos em dança. Nesta
direção, a partir das experiências investigativas na edição de vídeo, realizadas como
atividades do componente citado, percebe-se que o corpo ganha propriedade
enquanto imagem e é neste viés que se direciona o presente trabalho.
Assim, o objetivo deste trabalho é compreender a forma dramatúrgica e
estética que a videodança possui. Nessa direção, as tecnologias de filmagem, de
edição e toda parte de pré-produção e pós-produção da videodança, viabilizam e
ampliam o espaço do corpo na dança e ,assim, cria sua dramaturgia visual e estética
em videodança.
Neste sentido, o presente trabalho realiza estudos sobre as obras de
videodança e da dança no cinema. Os dados históricos acerca da relação da dança
com as tecnologias apontam que nos anos 1960 a dança e as novas tecnologias
iniciam diálogos frutíferos que se expandem e ainda se ampliam neste século. As
obras abordadas viabilizam outras formas operantes na construção coreográfica,
tendo em vista que o espaço de criação e a organização dos corpos são
12
direcionados para a tela. Gerando assim, outras formas operantes na composição
coreográfica, que se estende ao conjunto de conceitos reunidos para produzirem a
obra.
O presente trabalho será desenvolvido em capítulos e nestes serão
abordados as especificidades históricas, técnicas e estéticas da videodança. Adota-
se como referencial teórico metodológico os estudos sobre as “PISTAS DO
MÉTODO DA CARTOGRAFIA: Pesquisa-intervenção e produção de subjetividade
de Kastrup et al (2015).
Nessa perspectiva, a pista de número um (1) intitulada a cartografia como
método de pesquisa-intervenção trata da indissociabilidade entre o conhecimento
que é gerado a partir da experimentação e do acompanhamento dos processos de
pesquisa. A pista de número três (3) denominada cartografar é acompanhar
processos permite observar as ocorrências na história e no processo de criação da
videodança. Por fim, a pista de número cinco (5) denominada o coletivo de forças
como plano de experiência cartográfica expõe os conceitos sobre coletividade como
forças moventes que estruturam o estado das coisas. Assim, as pistas cartográficas
serão aplicadas no presente trabalho.
13
1. Capítulo 1 - CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO SOBRE VIDEODANÇA: A
RELAÇÃO DA DANÇA E A TECNOLOGIA NA DÉCADA DE 1960.
Neste capítulo, será tratado a relação da dança com a tecnologia iniciada nos
Estados unidos na década de 1960, por entender a importância e a relevância deste
período no desenvolvimento e consolidação da produção artística em videodança
na atualidade.
Desta forma, far-se-á análises e reflexões do evento denominado 9 Evenings:
Theatre and Engineering e da manifestação artística nominada de Videoarte. O
capítulo destaca as contribuições do bailarino, coreógrafo e pioneiro na construção
da videodança, Merce Cunningham (1919-2009).
9 EVENINGS: THEATRE AND ENGINEERING (1966)
Acredita-se que a arte e a tecnologia se encontram e engendram associação
promissora e efetiva a partir do evento intitulado 9 Evenings: Theatre and
Engineering. Este acontecimento reuniu, no período de nove dias, artistas de
diferentes expressões estéticas com os engenheiros do laboratório de engenharia
denominado na época de Bell Telephone Labs, atualmente denominado Nokia Bell
Labs, localizado no estado americano de New Jersey.
O 9 Evenings nasce da parceria entre Robert Rauschenberg (1925-2008) e
Billy Klüver (1927-2004), um artista visual e um engenheiro que a partir de suas
colaborações para criação, tiveram a ideia de organizar o 9 Evenings. “A visão por
trás dessa iniciativa era colaborar intencionalmente e aprender sobre o mundo um
do outro para criar arte, usando as novas tecnologias do dia.” (OPPENHEIMER,
2011. p. 3 [tradução nossa]).
14
Figura 1: Performance em 9 Evenings: Theatre and Engineering.
Fonte: Imagens do Google
O evento em análise propôs elaborar novas formas de criação artística, com
a mediação das ferramentas tecnológicas. Sendo assim, dez performances foram
desenvolvidas por grandes artistas dessa época para comportar as nove noites do
evento.
Essas performances reuniram as duas culturas dos artistas de vanguarda da cidade de New York e os engenheiros experimentais do Bell Labs. Os 9 artistas recrutados para este projeto por Rauschenberg e Klüver eram do seu círculo de amigos: o artista sonoro / músico John Cage e seu pianista / compositor David Tudor, o artista sueco Öyvind Fahlström, o artista visual / teatral Robert Whitman e os dançarinos Deborah e Alex Hay, Yvonne Rainer, Lucinda Child e Steve Paxton, do coletivo de performances soltas conhecido como Judson Dance Theatre. (OPPENHEIMER, 2011. p. 4 [tradução nossa])
Desse modo, os artistas reunidos trabalharam de forma colaborativa com os
engenheiros experimentais da Bell Telephone Labs, com o objetivo de criar novas
ideias e concepções sobre a forma de fazer arte com as tecnologias. Assim, esses
artistas contribuíram na desestabilização e rompimento das fronteiras existentes
entre as artes e a tecnologia, por meio do intercâmbio de conhecimentos entre áreas
distintas e complexas, em pró da construção, evolução e produção artística
conjunta.
Este fato foi tão importante que ajudou na criação da Experiments in Art and
Technology (EAT), uma associação que fortaleceu durante anos as iniciativas das
produções e das criações artísticas realizadas de forma colaborativa.
Os artistas em contato com esta experiência tecnológica, exploram as
capacidades não convencionais da tecnologia, disponibilizando obras
completamente inovadoras no cenário da arte. O cenário artístico então, passou a
se ampliar enquanto indústria, em razão que as tecnologias conseguem mais
facilmente disponibilizar e divulgar a obra.
Eles eram artistas abertos à experimentação e novas idéias, e que se reuniam rotineiramente para compartilhar e criar algo maior e mais interessante do que poderiam fazer sozinhos. As novas tecnologias do dia - televisão, fita cassete, filme - foram introduzidas como ferramentas de criação de arte, e os artistas queriam mais acesso a elas. (OPPENHEIMER, 2011. p. 6 e 7 [tradução nossa])
15
Desta maneira, com esse evento foi possível vislumbrar o cenário amplo de
possibilidades que a tecnologia fornece para a arte em níveis de criação, como
também a diversidade dos seus modos de utilização.
Nesse episódio não foi apresentado nenhuma obra de videodança.
Entretanto, este não é o ponto primordial a se observar nesse referencial histórico,
uma vez que esse evento fornece aos estudiosos muito mais do que apenas a
produção de suas obras artísticas. Este acontecimento produziu uma corrente de
pensamento - similar ao da videoarte que será objeto de análise posterior neste
capítulo - de como os artistas podem produzir suas obras com a participação
colaborativa e simbiótica das tecnologias e de seus profissionais.
“A colaboração cria um significado compartilhado sobre um processo, um
produto ou um evento”(HARGROVE 1997, 4 apud OPPENHEIMER, 2011. p. 8
[tradução nossa]). Desse modo, o evento sucedido marca a história da arte, uma
vez que produziu de forma ampliada criações artísticas de característica híbrida,
fundada na colaboração entre diferentes profissionais das artes e os engenheiros
da Bell Telephone Labs.
Segundo Oppenheimer (2011) mais de dez mil pessoas prestigiaram às nove
noites noites de apresentações, assim, o público apreciou as diferentes estéticas e
as novas concepções prósperas oriundas do diálogo entre a arte e a tecnologia que
emergiram a partir do 9 Evenings.
Diante do exposto, compreende-se a importância da realização de 9
Evenings: Theatre and Engineering, em razão deste ser um marco no florescimento
de novas possibilidades e características estéticas para as artes do século XXI.
Todavia, este evento é um ponto na linha da história que não explica sozinho o
desenrolar da videodança. Assim, é necessário realizar reflexões e estudos sobre
a videoarte com o objetivo de compreender a linguagem do vídeo, e suas
consequências na produção da videodança. A partir dos estudos conceituais e da
produção da videoarte, os artistas em suas diferentes e variadas proposições
estéticas descobrem novas formas de tratar as imagens em vídeo e as
possibilidades tecnológicas de uso e manipulação dessas imagens, e sua
consequência na produção de sentido para a audiência.
16
VIDEOARTE: CONTRIBUIÇÕES PARA A VIDEODANÇA
A videoarte é uma manifestação artística que surge nos anos 1960 e
investiga a arte em contato com o contexto da mídia em vídeo. Convém citar o artista
de referência denominado como um dos pioneiros desta expressão artística: Nam
June Paik (1932-2006). Uma de suas instalações com monitores de televisão
intitulada Megatron / Matrix (1995) enfatiza a exploração artística do vídeo. Nesta
obra, imagens em vídeo são simultaneamente organizadas em vários monitores de
TV, a fim de forma uma única imagem, trabalhando a sobreposição dessas imagens
nas telas. Dessa forma, a psicodelia visual proporcionada por essa obra viabiliza
entender as qualidades possíveis de imagens advindas da linguagem do vídeo.
Uma vez que ganham suas formas e estéticas nesse meio.
No Brasil, é necessário destacar as contribuições de Analívia Cordeiro (1954)
inovadora no cenário da dança com as tecnologias. Sua obra M3x3 (1973) é a
realização dos primórdios da concepção brasileira sobre as ramificações possíveis
da videoarte. Assim, a artista citada produz a primeira obra de videodança que se
tem registro no país. Percebe-se que este tipo de criação está em consonância com
Spanghero (2003) referente às construções em videodança, ou seja, danças
pensadas diretamente para a tela. “São danças criadas para o corpo do vídeo e
para o olho que se habituou a conviver com televisão, vídeo e cinema.”
(SPANGHERO, 2003. p. 38). Nessa perspectiva, a videoarte proposta por Analivia
Cordeiro pensa a dança como possibilidades representativas do corpo. Deste modo,
estética e dramaturgia são criadas especificamente para os limites da tela.
Cabe enfatizar que o vídeo está atrelado inteiramente com a televisão, uma
vez que a TV usa este suporte como mídia de comunicação. Entretanto, de acordo
com Machado (1997), foi necessário a vinda de novos suportes tecnológicos, para
que o meio expressivo da televisão, através das imagens eletrônicas, fosse inquirido
pelos artistas. Dessa maneira, a instalação Megatron/ Matrix disponibiliza novas
alternativas e perspectivas para a audIência, ou seja, promove outras possibilidades
de participação do espectador com a obra e cria novos pontos de vistas e
multinarrativas.
Se tratando da linguagem do vídeo, nota-se que a criação artística em outros
suportes produz estética singular que, por sua vez, cria conceitos e formas de
representação do corpo originárias desse meio. Estes conceitos são utilizados na
17
criação e ou recriação das imagens em vídeo de forma que subverta a sua utilidade
determinada pelos meios de produção industriais. Assim, o artista pode criar
imagens distorcidas, diferentes e ousadas formas de construir arte em vídeo de
acordo com as suas possibilidades, conhecimento artístico, estudos conceituais e
domínio dos recursos e aparatos tecnológicos do seu tempo e lugar. “A estética da
videoarte, por mais intencionalmente informal que possa ser, exige um ponto de
partida artístico, por parte dos videoartistas, semelhante ao do empreendimento
estético em geral.” (RUSH, 2006. p. 76-77).
Desta forma, os artistas empreendedores do que veio posteriormente ser
intitulado de videoarte compreenderam o vídeo como uma extensão do fazer
artístico. Diversificando o pensamento sobre a criação dentro da arte, como também
ampliando o campo de visualização desta. A ruptura com o aparato tradicional e a
utilização das ferramentas do cinema, sobretudo do vídeo, traçam novos caminhos
para a arte. “Se toda arte é feita com os meios de seu tempo, as artes midiáticas
representam a expressão mais avançada da criação artística atual e aquela que
melhor exprime sensibilidade e saberes do homem no início do terceiro milênio.”
(MACHADO, 2010. p.10).
A respeito do material usado, enquanto as grandes produções
cinematográficas ou documentários para televisão comportam uma gama de
aparelhos com alto valor capital; na videoarte, os aparelhos mais usuais do cotidiano
se tornam materiais para elaboração da criação, a título de exemplo vale citar, a
Portapak1 da Sony, uma câmera de fácil manuseio.
“O vídeo registrava e revelava o tempo instantâneo, ao passo que o filme
tinha que ser tratado e processado.” (RUSH, 2006. p. 78). Deste modo, esses
aparelhos mais acessíveis facilitam o manuseio das imagens e proporcionam
dinâmica mais rápida na criação estética. "Desta forma, compreende-se que a
linguagem do vídeo se aproxima da linguagem do cinema, porém com uma
facilidade de manipulação de imagens que o cinema não permite.” (BASTOS, 2013.
p. 114).
1 Segundo o site Educalingo, Portapak é um sistema de gravação analógico de fita de vídeo
autônomo alimentado por bateria que pode ser transportado por uma pessoa. Como as câmeras de televisão anteriores eram grandes e relativamente imóveis, o Portapak possibilitou gravar vídeos facilmente fora do estúdio.
18
Figura 2: Câmera Portapak da Sony.
Fonte:https://www.redsharknews.com/production/item/4457-a-long-time-
ago,-in-a-brochure-far,-far-away,-we-found-a-video-recorder-like-the-sony-av-
3400-%E2%80%98portapak
De acordo com Oliveira (1997), a arte mesmo utilizando-se das tecnologias,
que fornecem outras formas de expressão estética para os artistas e faz a arte
parecer incompleta com esta ação, ainda permanece arte, em razão de que
“desencadeiam nos receptores novas significações para o mundo.”(OLIVEIRA,
1997. p. 218). Identifica-se que a alta tecnologia afeta nossa percepção sobre o
espaço-tempo, uma vez que disponibilizamos de tecnologias em vários ambientes
sociais da contemporaneidade.
Neste sentido, a videoarte é outra ramificação da representação da arte e
marca a convergência de meios e o que estes podem produzir de inovação na
criação artística, tanto na sua discussão em relação ao ato criador, quanto na
potencialidade da arte de revelar e pôr no mundo as circunstâncias da vida,
referentes ao contexto social, histórico e cultural inerente aos indivíduos. Esses
estão diretamente implicados nessa tessitura, ou seja, tanto os artistas, criadores
e produtores da arte quanto os fruidores desta. “A perspectiva artística é certamente
a mais desviante de todas, uma vez que ela se afasta em tal intensidade do projeto
tecnológico originalmente imprimido as máquinas e programas que equivale a uma
completa reinvenção dos meios.” (MACHADO, 2010. p. 13).
É Inegável que a videoarte é um elemento importante para a transição da
arte, transição esta que vincula o fazer artístico as tecnologias emergentes do tempo
https://www.redsharknews.com/production/item/4457-a-long-time-ago,-in-a-brochure-far,-far-away,-we-found-a-video-recorder-like-the-sony-av-3400-%E2%80%98portapakhttps://www.redsharknews.com/production/item/4457-a-long-time-ago,-in-a-brochure-far,-far-away,-we-found-a-video-recorder-like-the-sony-av-3400-%E2%80%98portapakhttps://www.redsharknews.com/production/item/4457-a-long-time-ago,-in-a-brochure-far,-far-away,-we-found-a-video-recorder-like-the-sony-av-3400-%E2%80%98portapak
19
contemporâneo. Esse movimento propicia entender as potências de imagens que
são geradas na tela de exibição do vídeo e como podemos construir conceitos e
estéticas dentro dessa interface. Nesse viés, a videoarte congrega a pluralidade de
signos presentes em diferentes e variadas expressões artísticas que a compõe.
Assim, as convergências de meios, esta hibridização, favorece a
continuidade de ambos, video e arte se juntam para fundar um outro estado da
experiência com a arte e com o vídeo, ampliando seus conceitos no momento que
os funde, enriquecem e expandem seus campos de atuação e significação. “Não se
trata, portanto, da passagem de um estado de coisa a outro, mas muito mais de
complexificação, do imbricamento[...].” (SANTAELLA, 2003. p. 78).
De acordo com Arlindo Machado (2010), estas relações de arte e a mídia do
vídeo, geram a ideia de expansão, superando o viés da especificidade de cada área
para dar lugar às possibilidades criadas nessas simbioses.
Dessa forma, especificamente na dança, se observa que a videoarte
colabora na ampliação da arte, com o viés da videodança. A videodança diversifica
e reconfigura a atuação do coreógrafo, dos dançarinos e as relações espaço-
temporais da dança, esse último passa a ser repensado mediante a mudança no
suporte de criação para dança, do palco para o suporte do vídeo.
É necessário destacar a importância do trabalho do coreógrafo na criação e
produção da videodança, tendo em vista que quando a videodança é criada apenas
na perspectiva dos conhecimentos técnicos específicos e profissionais do
audiovisual, elementos fundamentais da composição coreográfica referente às
técnicas e regras de composição dos movimentos, da coordenação e dramaturgia
corpo-cênica diante da tela, visando potencializar a produção de sentido da obra,
podem se perder e desviar os objetivos e pretensões dramatúrgicas e
comunicacional da mensagem proposta pelo profissional de dança. Liquefazendo a
potência corpo-imagem da obra em videodança.
O trabalho colaborativo exige de cada um da equipe um entendimento da mídia do outro. O artista multimídia precisa mais do que simplesmente criar a melhor imagem ou mais acurado sistema de interface. Se ele não entender a gramática da dança/performance, ou, ainda se legisla com um pensamento tradicional acerca do corpo ou mesmo da arte, nenhuma imagem e nenhum sistema farão sentido. Destituídos desse relacionamento estreito, a poética tecnológica escorrega. A criação da dança-tecnologia não necessita da prestação de serviço de outras áreas;
20
ela carece da verdadeiros projetos colaborativos. (SANTANA, 2002. p. 37)
A produção da videodança é feita por profissionais do audiovisual, junto ao
coreógrafo e aos dançarinos. Uma produção profissional desta vertente da dança
agrega diferentes profissionais a saber: operador de câmera, diretor de fotografia e
o responsável pela edição do vídeo.
Neste trabalho, dar-se-á destaque a esses profissionais, uma vez que esta é
a produção de um vídeo e não uma produção cinematográfica que congrega um
maior número de profissionais do audiovisual.
É necessário esclarecer que essas funções podem se multiplicar e um
mesmo profissional poderá desempenhar diferentes funções na produção do vídeo,
de acordo com a necessidade do artista que produzirá a videodança.
A função de operador de câmera é uma função importante na produção da
videodança, pois essa irá conduzir o posicionamento da câmera na perspectiva
desejada pelo coreógrafo, assim, esse profissional tem a responsabilidade de
conduzir o olhar do coreógrafo, através da câmera, para o espectador.
O operador de câmera possui conhecimento sobre os suportes que propiciam
movimento a câmera, a título de exemplo vale citar a Steadycam aparelho criado
por Garrett Brown (1942) que facilita o manuseamento da câmara em movimento,
assim, inibe que a imagem fique tremida. Desse modo, as possibilidades das
imagens-dança dentro da cena, capturadas pelo operador ao se locomover no
espaço, podem ser mais ricas em detalhes.
Figura 3: Operador de câmera.
21
Fonte: https://www.aictv.com.br/curso-de-steadicam/
O diretor de fotografia tem a responsabilidade de enquadrar melhor a visão da
câmera, escolher o melhor equipamento, a lente que será usada, a movimentação,
os ângulos e como a ideia imagética do coreógrafo pode ser transportada para a
imagem da tela. Enquanto o operador coordena a câmera pelo espaço cênico, o
diretor de fotografia irá ajustar a câmera nas qualidades ideais para que a imagem
seja captada. Vale ressaltar que o diretor de fotografia também pode exercer a
função de operador.
Dessa forma, o diretor de fotografia é responsável por proporcionar
tecnicamente a melhor imagem, ele irá explorar as imagens-dança nas
intencionalidades proposta pelo coreógrafo, investigadas e capturada pelo olhar do
diretor de fotografia. Nessa perspectiva, o corpo do dançarino pode ser detalhado
pela câmera, pois a imagem vista na tela é resultado desta operação técnica.
Figura 4: Diretor de fotografia.
Fonte:https://dominiofotografico.wordpress.com/tag/o-que-faz-um-diretor-de-
fotografia/
A parte de edição das imagens captadas, é elaborada por um interface do
editor com o software de edição. Nessa etapa, as imagens são trabalhadas para
aplicação de efeitos ou simplesmente a montagem narrativa dessas imagens. Esse
processo de edição é feito diretamente com o coreógrafo, em razão de que este irá
conceber o espaço-tempo dessa montagem, como também, selecionar os efeitos
desejados para atingir seus propósitos estéticos e dramatúrgicos.
https://www.aictv.com.br/curso-de-steadicam/https://dominiofotografico.wordpress.com/tag/o-que-faz-um-diretor-de-fotografia/https://dominiofotografico.wordpress.com/tag/o-que-faz-um-diretor-de-fotografia/
22
O corpo no suporte do vídeo, seu tratamento estético e dramatúrgico, é o da
imagem, ou seja, é outra forma de perceber, escolher e capturar as qualidades de
movimentos que o corpo realiza, posto que o corpo-imagem no suporte do vídeo é
impregnado das características próprias desse meio.
Figura 5: Editor de vídeo.
Fonte: https://mz3.com.br/estrategia-de-marketing-melhores-formatos-de-
conteudo/
A videodança possui inúmeros e diferentes procedimentos técnicos e
artísticos para sua produção. A produção da videodança se caracteriza como uma
arte de natureza híbrida e plural que agrega saberes e conhecimentos de diferentes
profissionais do audiovisual e da dança. Esses profissionais juntos criam e
produzem a videodança de forma cooperativa, compositiva e complementar, ou seja
eles trabalham de forma colaborativa. “Por sua própria natureza, a Era digital
promoveu um outro tipo de relacionamento entre os meios, rompendo a noção de
fronteira e, consequentemente, proporcionando uma região inextricável na qual o
corpo é elemento-chave.” (SANTANA, 2002. p. 23-24).
Nessa perspectiva, esta pesquisa destaca a relevância da função do
coreógrafo na criação da videodança e traz como referência as experiências do
artista da dança, o coreógrafo estadunidense Merce Cunningham.
https://mz3.com.br/estrategia-de-marketing-melhores-formatos-de-conteudo/https://mz3.com.br/estrategia-de-marketing-melhores-formatos-de-conteudo/
23
MERCE CUNNINGHAM (1919-2009): O COREÓGRAFO NA CRIAÇÃO DA
VIDEODANÇA
As reflexões e análises que se seguem dão ênfase às ideias e as
contribuições de Merce Cunningham (1919-2009), dançarino e coreógrafo, um dos
pioneiros na criação da videodança. O trabalho de Merce Cunningham apresenta o
processo de construção da dança para o espaço da tela. Dessa forma, concebe
como os corpos são tratados esteticamente, nesse espaço, e como a dramaturgia
do movimento é explorado e recriado pelo coreógrafo e quais as mudanças e
transformações espaço-temporais advindas do espaço-tempo desse suporte.
A videodança em análise é a obra chamada Westbeth (1975) do coreógrafo
Merce Cunningham em parceria com o Filmmaker Charles Atlas e que, segundo
Spanghero (2003), é a primeira videodança de Cunningham. No site “MERCE
CUNNINGHAM TRUST” está disponível um pequeno texto que trata sobre o
conceito desta obra.
A primeira colaboração em vídeo com Charles Atlas. A peça é uma colagem de seis seções, é baseada no reconhecimento de que a televisão muda nossa maneira de olhar e distorce nosso senso de tempo. Os dançarinos se apresentam na primeira seção, olhando diretamente para a câmera. Na seção II, a câmera obscurece a relação dos dançarinos com o espaço através do uso de close-ups. Na terceira seção, a atenção dos telespectadores é continuamente direcionada a um novo dançarino que entra no grupo. A Seção IV investiga as possibilidades de foco profundo e sua relação com o movimento. A seção V emprega um uso elaborado de várias câmeras e, na seção final, segmentos de movimento separados foram unidos no processo de edição. [tradução nossa] 2
Nesse sentido, é observado que somente na descrição do trabalho, a escolha
na utilização do vídeo pelo coreógrafo emprega ações específicas na relação com
o corpo. A função da câmera em capturar as imagens é pensada conjuntamente
para o movimento e em função deste, a edição também é elaborada desta forma.
Nota-se que Cunningham elabora de forma apurada o esquema dos movimentos
como parte constituinte e responsável pela construção da imagem-dança, ou seja,
Cunningham não utiliza apenas os aparelhos tecnológicos para produzir danças em
vídeo.
2 Disponível em inglês: https://www.mercecunningham.org/the-work/choreography/westbeth/
https://www.mercecunningham.org/the-work/choreography/westbeth/
24
Figura 6: Print Screen de Westbeth (1975).
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=rhkUZF_Am-I&t=1229s
A videodança em análise trabalha com múltiplas visões da câmera, como
também comporta vários(as) dançarinos(as) no espaço da tela. Assim, o espaço
construído nessa relação de corpo e câmera é amplo, o mesmo espaço pode ser
investigado através do olhar da câmera por vários ângulos. Com isso, cria-se um
gama de possibilidades de percepção estética do corpo.
Destarte, a função do coreógrafo se dá na coordenação de alguns elementos,
uma vez que este cria o movimento do corpo no enquadramento da câmera, como
também organiza como a câmera deve se movimenta e como será a montagem na
edição das imagens. Dessa forma, a construção do espaço-tempo do vídeo pelo
movimento é o ponto fundamental na elaboração da videodança, os movimentos de
dança e da câmera criam o espaço-tempo da videodança.
Em Westbeth (1975), a dança é elaborada de acordo com a capacidade da
câmera em captar as imagens. O corpo dança até os limites da tela, como se o
limiar da tela fosse o limite do espaço físico real, mas também o corpo faz uso da
câmera que tem capacidade de redimensioná-lo, extrapolando os limites da tela e
criando outra imagem do corpo que dança.
Quando o espaço cênico de representação com todas as suas peculiaridades se atrela aos espaços do corpo em representação, as plasticidades se fundem dilatando em sentidos que se dá a ver através das imagens que concretizam a teia do imaginário do ser. (DINIZ, 2011. p. 71-72).
https://www.youtube.com/watch?v=rhkUZF_Am-I&t=1229s
25
A câmera, especificamente seu olhar em movimento, é capaz de criar outras
maneiras de perceber as formas corporais, as aproximações, os slides, os ângulos
e etc., são contribuições técnicas que auxiliam neste processo. “Quando a dança é
captada pelo olho da imagem, ela ganha uma outra existência. Na realidade, este
jogo adaptativo permite o florescimento de novas práticas para a dança e a
modificação do corpo.” (SPANGHERO, 2003. p. 38).
A câmera parece ser mais íntima da dança devido à mediação feita pelo
coreógrafo. A relação dela com o corpo em movimento é precisa, por mais que o
olhar determine como visualizamos a dança, esse olhar não limita os movimentos
dos dançarinos, mas indica que no suporte do vídeo a dança possui outra estética.
“É a partir das diferenças que vídeo e dança dialogam, elaborando uma relação
corpo-câmera que não é o simples registro, mas uma outra maneira de perceber o
corpo, imagem e movimento.” (CERBINO; MENDONÇA, 2011. p. 3247).
Consequentemente, a edição também é conduzida pelo coreógrafo, as
imagens de vários ângulos não perdem o vínculo de sincronia com os movimentos
realizados pelos dançarinos. A continuidade do movimento prevalece em um corte
e outro das imagens, a dança não é fragmentada, aqui ela é parte constituinte da
narratividade do vídeo.
Observa-se em Westbeth (1975) que o olhar do coreógrafo sobre toda
estrutura de criação da videodança é fundamental. Por mais que a tutela da obra
não seja especificamente só do coreógrafo, tendo em vista que este trabalha com
vários profissionais do audiovisual, é ele o responsável por criar a espacialidade e
a temporalidade de forma mais precisa em relação a dança em simbiose com o
vídeo.
O coreógrafo constrói e organiza os movimentos do corpo, esses mesmos
movimentos explorados, fornecem as características de como o espaço-tempo é
desenvolvido. Em relação ao videodança isso se torna mais evidente, posto que a
montagem das imagens dos corpos, a construção do espaço-tempo do vídeo, é
arquitetada, organizada e pensada com os movimentos dos corpos na tela.
Merce Cunningham é um dos responsáveis por criar essa relação mais
simbiótica da dança com o vídeo, registrando seu nome na história da dança com
as tecnologias. A imagem-dança é trabalhada por ele para que o vídeo não seja
apenas uma ferramenta de criação da dança, mas para que não haja dissociação
entre as linguagens, mas sobretudo que prevaleça a associação, composição e
26
complementaridade. “Essa verdadeira simbiose deu origem a um novo organismo,
a um novo sistema, que não é apenas corpo, tampouco se restringe a uma
tecnologia. Representa a emergência de uma nova possibilidade da dança existir.”
(SANTANA, 2002. p. 25).
27
2. Capítulo 2 - A IMAGEM DA DANÇA NA TELA
Neste capítulo, será analisado a relação do corpo com a câmera, pois a
dança mesmo na bidimensionalidade da tela, não prescinde de sua expressividade
na composição da ação, ou seja, a dança tem uma função dramatúrgica.
A presença da dança no cinema é referência para os estudos e análises
acerca dos primórdios da relação corpo e câmera, uma vez que a dança tem seus
primeiros contatos investigativos de corpo, câmera e edição junto ao cinema.
2.1. DRAMATURGIA DO MOVIMENTO NA IMAGEM-DANÇA
De acordo com Hercoles (2018), a dramaturgia na dança é a relação
estabelecida entre a forma e o sentido da obra e quando se pensa dramaturgia
associada à dança e sua relação intrínseca espaço-temporal, a dramaturgia se torna
imprescindível no processo de composição coreográfica.
Dessa maneira, percebe-se que é inerente ao movimento as relações de
forma e sentido que estabelece. Assim, ele possibilita ao corpo que dança
comunicar-se com a audiência. Nessa perspectiva, o movimento por si é expressivo,
ou seja, já significa algo ou alguma mensagem a ser expressa sem necessidade de
aparatos que lhe dê significado. No simples gesto de apontar o dedo indicador,
pode-se observar o potencial expressivo do gesto.
Por exemplo, o gesto de apontar o dedo é um signo: indica-se assim um pássaro, ali. É um signo indicativo. Numa dança, este mesmo gesto entra em continuum de movimento que o transporta a partir dos movimentos múltiplos que o engendraram: movimentos da visão, do pensamento, da emoção particular de ver um pássaro, de o querermos mostrar a outrem, etc. Todos estes movimentos se fundem no movimento dançado, de tal modo que o contém nele os movimentos de emoção, do pensamento, da visão, etc. Agora é todo o corpo em acção que é o sentido do signo[...]. (GIL, 2001. p. 119-120)
Nesse sentido, a dança possui condições de comunicar algo por meio do
corpo e dos movimentos dos dançarinos. “Um corpo que corre é um ambiente onde
tanto a possibilidade de correr quanto a finalidade de continuar correndo se realizam
concomitantemente.” (HERCOLES, 2018. p. 94). Dessa maneira, quando o corpo
dança, os movimentos podem traduzir diferentes significados.
28
De acordo com Santana (2002), também percebemos, no ato criativo do
coreógrafo, que as qualidades de movimento são a fonte fundamental para a criação
da dança. Assim, diz que
[...]o coreógrafo estava interessado em realizar um trabalho em dança no qual a criação de um movimento fosse fruto apenas da própria ação do corpo, de sua finalidade e de sua ocupação no espaço-tempo, independentemente de qualquer outro elemento do espetáculo[...]. Ou seja, a dança não estaria submissa ou subordinada a nada que não fosse a própria capacidade do corpo produzir movimento. (SANTANA, 2002. p. 56).
A improvisação em dança possibilita o entendimento da dramaturgia do
movimento. Improvisando, os dançarinos e os seus movimentos estão livres para
tomar o espaço do corpo, assim, o dançarino improvisador capta as informações
veiculadas no espaço de sua performance, informações reconhecíveis no corpo do
performer oriundas da ação de se mover no espaço. Assim, a dança usa o espaço
e o tempo como meio expressivo, usando o movimento no espaço e no tempo para
propaga-se neles.
Ao estabelecer as qualidades da dança e do movimento nas relações
espaço-temporais com o objetivo de dar forma e sentido à criação em dança, o
espaço e o tempo da criação em videodança podem ser compreendidos em sua
dimensão criativa e complexa. Nessa perspectiva, se desenvolve outras formas de
pensar a dança, isto é, imaginar e criar danças em vídeos e para o vídeo pressupõe
o entendimento de que as danças nesse suporte podem ser manipulados pela
tecnologia da edição. Consequentemente, a forma e o sentido da videodança
também são passíveis de manipulação.
Assim, embora a videodança seja produzida e fruída no ambiente virtual, os
movimentos dançados significam. No entanto, as ferramentas tecnológicas do
audiovisual potencializam os movimentos e a produção de sentido, pois o corpo-
imagem não é limitado pela fisicalidade do músculo. Em consequência desses
trânsitos e mediações efetivadas, outros significados são instaurados na criação em
dança, a partir dessas ferramentas tecnológicas.
A composição híbrida e unificada entre as duas linguagens é responsável por criar as ferramentas necessárias para a composição da videodança. Ferramentas que possuem a autonomia de manipular o movimento, direcionar o olhar do espectador e produzir uma dramaturgia virtual, sendo própria e específica para esta linguagem, através da relação entre a câmera
29
e o movimento e também pelos procedimentos de edição. (THEOTONIO, 2018. p. 17)
Necessário se faz ressaltar que não é apenas pelo fato da linguagem do
vídeo manipular, através dos recurso de edição das imagens, as relações espaço-
temporais que lhes são inerentes, que o movimento ganha novas dimensões. As
possibilidades de edição da imagem só são significativas, porque o corpo em
movimento propõe ações efetivas no espaço e no tempo de suas realizações.
“Trata-se, então, de entender o movimento como realidade física[...].” (HERCOLES,
2018. p. 93). Dessa forma, a dança encontra na tecnologia formas de ampliar a sua
expressividade no tempo e no espaço, porém de maneira híbrida.
Acredita-se que a dança no suporte tecnológico encontra novas
possibilidades para o corpo dançar, pois o corpo, neste meio, é maleável, fluido,
segmentado, cortado, dentre outras características singulares. Nessa perspectiva,
concordamos com Santana (2006) quando diz que “esta alteração e implicação com
o corpo diferia quando em interação com as novas mídias, porque estas trazem
novos pressupostos e, consequentemente, novas configurações.” (SANTANA, 2006
p. 103).
O corpo dançante em diálogo com a tecnologia tem sua plasticidade
explorada; plasticidade que revela a capacidade adaptativa do corpo, adaptando
sua imagem em movimento para expressar-se. “Como um sistema complexo e
cognitivo, o corpo processa conhecimento. Aprende com o meio ambiente, e o meio
com ele, reciprocamente.” (SANTANA, 2002. p. 75). “Uma vez que tais trocas não
estancam, o corpo e o ambiente passam a ser o que resulta dos acordos que
conseguem estabelecer.” (BITTENCOURT, 2012. p. 18). Assim, o corpo-imagem é
o resultado das adaptações do corpo com o meio tecnológico.
Nessa direção, o corpo-imagem que se apresenta na videodança
potencializa, inova, atualiza e desterritorializa os corpos e a dança.
A videodança é, portanto, uma mutação na identidade da dança, que a desterritorializa, transforma sua linguagem e o modo como se comunica, permitindo com isso alavancar diferentes formas expressivas, e a faz desabitar seu espaço físico de representação e ocupar um ciberespaço, construindo um diferente tipo de presença corpórea. (THEOTONIO, 2018. p. 25)
“O corpo é processual e suas imagens pronunciam-se em ações contínuas,
sinalizando como aspectos do corpo e estados criativos de processos evolutivos.”
(BITTENCOURT, 2012. p. 31). Assim, a videodança representa a elaboração de
30
formas do corpo existentes enquanto imagem, como também, colabora na
ampliação da imagem desse corpo.
As obras de videodança e de dança com o cinema relacionadas aqui, servem
de suporte para uma melhor compreensão dos estudos propostos. “CHIMERA”
(2016) - Steven Briand e “William Forsythe - Solo” (1997) - Thomas Lovell Balogh e
Jess Hall no que se refere a videodança. E as obras “Annabelle Serpentine Dance”
(1895) - Thomas Edison; “Footlight Parade” (1933) - Busby Berkeley; “A Study In
Choreography For Camera” (1945) - Maya Deren, a respeito da dança no suporte
cinematográfico.
CHIMERA (2016) - Steven Briand
A edição para o vídeo é o lugar onde se pode manipular, tecnicamente, os
aspectos de espaço e de tempo contidos na captura das imagens. Acredita-se que
as relações espaço- temporais, modificam a forma e o sentido da dança em vídeo.
Esse trabalho do diretor Steven Briand dispõe de técnicas de edição que
potencializam os movimentos de dança. Dessa forma, nota-se que o as questões
espaço-temporais são ressignificadas, mesclando estados de espaço-tempo.
Assim, o computador hibridiza a partir da manipulação de imagens - edição - a
relação de passado, presente e futuro.
Chimera é inspirado na criatura híbrida “quimera” da mitologia grega, um ser com a cabeça e corpo de um leão, outra cabeça de cabra agregada às suas costas e rabo com a cabeça de uma cobra. Neste contexto, o videodança constrói imagens caleidoscópicas a partir dos corpos em movimento das bailarinas, dando a impressão, às vezes, de serem todos um único ser. (THEOTONIO, 2018. p. 62)
Figura 7: Print screen de “CHIMERA” (2016)
31
Fonte: https://vimeo.com/162055821
A coreografia proposta neste videodança foi formulada por Cathy
Ematchoua. Percebe-se, nessa criação, que as movimentações das dançarinas são
articuladas com a proposta de edição das imagens, inspirada nas imagens
caleidoscópicas. Assim, os editores Nadir Cassim e Benoit Masson mesclam as
qualidades da dança com as qualidades do vídeo em suas relações espaço-
temporais. Produzem a partir da simbiose imagem-dança, indissociação na criação
em dança no suporte tecnológico. “Nesse sistema de ambientes de imagens digitais
para a dança, o corpo é apenas um dos componentes, uma das mídias, uma das
variáveis e, sendo assim, não é hierarquicamente superior aos outros
componentes.” (SPOLADORE, 2011. p. 3)
As técnicas de sobreposição das imagens somadas a técnica dos recortes
dessas exibidas nesta videodança, possuem qualidades técnicas relevantes
proporcionadas pela captura e enquadramento do corpo pela câmera. Logo, os
recortes e a sobreposição mesclam os corpos e causam uma espécie de
aglomeração de movimentos, devido à capacidade adaptativa e expandida do corpo
no suporte tecnológico. Assim, se percebe que os corpos em movimento se
transformam em corpo-imagem.
O corpo se encontra conectado com/no tempo na produção de imagens, as
quais se apresentam em forma de aspectos do corpo, signos do corpo, ou seja, são
arranjos provisórios entre inúmeras informações do corpo e do ambiente. “Cada
imagem, portanto, configura um tipo de acomodação de um determinado espaço-
tempo, procedimentos de auto-organização que gera formas de coerência, pois
ocorre longe do equilíbrio, existindo exatamente ao acontecer.” (BITTENCOURT,
2012. p. 43).
A alteração na forma do corpo resulta na alteração do movimento, ambos a
sua maneira constroem outra percepção estética da dança. Uma vez modificada a
forma do corpo e do movimento o sentido da obra também é transformado. “É, pois,
como imagem, que o corpo se torna e se faz evidente.” (COUTO, 2016. p. 8).
Observa-se que o corpo-imagem em movimento viabiliza as alterações estéticas da
dança que são visualizadas na tela. Conforme Santaella (2013), o vídeo também
produz uma sensação de intimidade e de extensão do gesto do artista, pois o vídeo
permite registrar o gestual e observar o ato da criação.
https://vimeo.com/162055821
32
Destaca-se, nessa obra analisada, a câmera filmando sempre em
perspectiva frontal, possibilitando a alternância entre planos geral, primeiríssimo
plano, primeiro plano, dentre outros procedimentos de filmagem. Essa posição da
câmera, permite a coreografia ser editada de forma mais eficiente e qualitativa.
Nessa perspectiva, as possibilidades advindas da edição de imagens nessa
videodança, enriquece a produção estética das imagens e transforma a concepção
do movimento para a dança mediada pelas tecnologias. As tecnologias contribuem
para pensar o corpo e a dança enquanto experiências conceituais e estéticas do
corpo expandido “Trata-se de uma emancipação no campo da visualidade dos
métodos operacionais quanto aos gêneros e, sobretudo, às linguagens.” (BARATA,
2016. p. 12).
William Forsythe - Solo (1997) - Thomas Lovell Balogh e Jess Hall
William Forsythe (1949) é um coreógrafo que utiliza em suas obras as
tecnológicas enquanto suporte e técnica, vale citar “Improvisation Technologies: A
Tool for the Analytical Dance Eye”. Esse é um dos seus trabalhos onde se visualiza
a interação da dança e a tecnologia formulada por ele. Dessa maneira,
colaborativamente com Thomas Lovell Balogh e Jess Hall criou essa videodança,
cujo enfoque é a criação técnica de movimento no espaço da tela.
Figura 8: Print screen de “William Forsythe - Solo (1997)”
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=hDTu7jF_EwY
A videodança de Forsythe não possui grandes acontecimentos a respeito da
edição das imagens, a edição é utilizada apenas como montagem das imagens e a
alteração da cor dessas para preto e branco. A videodança de Forsythe possui
https://www.youtube.com/watch?v=hDTu7jF_EwY
33
movimentos tanto da câmera quanto do corpo na tela. Assim, se observa câmera e
o corpo articulados pelo movimento e essa interação de movimentos produzem a
obra em videodança deste artista.
Quando inserimos a câmera e a virtualidade na cena, o movimento fica sujeito às escolhas de enquadramento realizadas pela câmera; a perspectiva e os pontos de vista redirecionam nosso olhar ao que foi construído por ela. Com isso, a câmera constrói uma imagem virtual do momento em questão, e a partir dessa releitura, o movimento ganha novas virtualidades, permitindo ao espectador construir um novo conjunto de percepções. (THEOTONIO, 2018. p. 27)
Observa-se nessa videodança que, no espaço da tela, a visão da câmera
focaliza o corpo de Forsythe e permite ver detalhes da dança. Braços, pernas, tórax,
pulsos, entre outros, são mais perceptíveis na visão proporcionada pela câmera.
Essa oferece a percepção do movimento na potência do sentir, ou seja, a sensação
de “caminhar com os olhos” pelo corpo do dançarino.
Os elementos que constroem a narrativa da dança de Forsythe são o campo
da tela, a câmera e o espaço que constroem a relação de sentido da sua obra. A
videodança de Forsythe é expressiva e chama atenção para as possibilidades de
interação do movimento de câmera e corpo no espaço-tempo das ações conjuntas.
“Desta forma, o corpo funda o modo como nos orientamos no espaço, não
só em relação a ele mesmo, mas, também, na relação entre ele e os
objetos.”(HERCOLES, 2018. p. 97). Nessa perspectiva, a videodança de William
Forsythe é uma forma de observar e provocar a reflexão acerca do movimento,
como principal argumento de origem e de produção de sentido para a dança.
Annabelle Serpentine Dance (1895) - Thomas Edison
Loïe Fuller (1862-1928) foi umas das dançarinas mais importantes da dança
moderna, suas experimentações com tecidos, a percepção deste material no corpo
que dança e a reação do tecido em contato com a luz desencadearam várias
contribuições para a arte, como descobertas em figurinos e iluminação cênica. “A
partir dessa experiência, Loïe Fuller teve a idéia de expandi-la para o palco, usando
luzes artificiais e coloridas. Embrulhada pela seda e usando varinhas escondidas
como prolongamento dos braços[...]” (SPANGHERO, 2003. p. 30).
Este efeito entre iluminação e tecido, cria ilusões e profusões de imagens,
proporcionando a visualização de mariposas, chamas, pássaros, entre outros. Sua
34
fama diante o público da época foi possível devido trabalhos como a “serpentine
dance” que realizavam estes efeitos.
Uma adaptação da sua serpentine dance viraria o primeiro filme colorido da história do cinema. O filme, produzido por nada mais nada menos que Thomas Edison, em 1896, chamado Annabelle Serpentine Dance, mostrava a bailarina Annabelle Whitford Moore executando uma dança similar à de Fuller. (SPANGHERO, 2003. p. 31).
Figura 9: Print screen “Annabelle Serpentine Dance” (1895). Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=kplgIO9F7Pg
Annabelle Serpentine Dance não executa a interação entre os movimentos
de câmera e dança, entretanto, possibilita um dos primeiros registros da dança, um
registro da dança em movimento na tela. A importância deste registro reverbera no
corpo, devido que neste espaço da tela, o corpo se movimenta dentro das limitações
espaciais, que a câmera posicionada estaticamente. Segundo Ivani Santana (2006),
os registros não serviam apenas para arquivar as obras, todavia era a
experimentação para conceber a criação com as dominações de cada arte.
Dessa forma, a câmera neste trabalho, registra a dança bidimensionalmente,
assim, disponibiliza uma imagem do corpo que se propaga no espaço-tempo do
meio das telas, um corpo que não está confinado a fisicalidade da carne, existindo
enquanto imagem. A dança e o corpo criam outras formas de comunicação, neste
contexto, descobrem um suporte que fomenta a potencialidade da dança, surgem
as primeiras investigações e criações entre duas linguagens artísticas. “As duas
narrativas eram então entrelaçadas.” (SANTANA, 2006. p. 103).
O trabalho analisado não estabelece descobertas significativas na interação
mútua de câmera e dança. No entanto, suscita a curiosidade, desperta e dá origem
https://www.youtube.com/watch?v=kplgIO9F7Pg
35
ao diálogo da dança com o cinema. Essa dança na tela já é o indício da inovação
da dança no ambiente tecnológico cinematográfico.
Footlight Parade (1933) - Busby Berkeley
Diretor e coreógrafo, Busby Berkeley (1895-1976) desenvolveu trabalhos de
dança no âmbito dos musicais da Broadway. Trabalhos significativos no trato com
a dança e a utilização desta como parte constituinte da cena. Berkeley construiu
coreografias que utilizavam o espaço da tela como especificidade para se pensar a
composição coreográfica. O trabalho de Berkeley contrária o do uso da câmera
apenas para registro da dança.
Os trabalhos de Busby Berkeley possuíam uma característica que até então não havia sido observada nos musicais: eram coreografias feitas exclusivamente para a tela, em que os movimentos da câmera faziam parte da coreografia e colaboravam para o resultado final, sendo impossível dissociar a coreografia dos efeitos que ela gerava. (BASTOS, 2013. p. 55)
No canal do Youtube “Warner Archive” várias obras deste artista estão
disponíveis. Entretanto, selecionamos especificamente a coreografia intitulada
“Human Waterfall” do filme “Footlight Parade” (1933), uma vez que esta expressa a
relação da câmera com a coreografia e a potência das imagens dos corpos nesta
dinâmica.
Figura 10: Cena do filme “Footlight Parade” (1933).
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=FRqcZcrgPaU
https://www.youtube.com/watch?v=FRqcZcrgPaU
36
Observa-se, neste trabalho, as possibilidades da câmera de capturar em
imagem a coreografia. A câmera parada, apenas com a função de registrar, como
visto na obra anterior, é concebida e explorada de outra forma por Berkeley. Nesta
obra, a câmera proporciona perspectivas diversas, ampliando o olhar sobre a
coreografia, devido ao movimento realizado no espaço.
Além disso, Berkeley também costumava “passear” pelo cenário com a câmera, capturando, assim, o movimento dos dançarinos de diferentes ângulos e enquadramentos, o que demonstrava o trabalho conjunto entre o corpo dos dançarinos, a direção e a captura das imagens pela câmera. (BASTOS, 2013. p. 56).
Outro ponto que chama atenção na obra de Berkeley está na concepção
coreográfica dos corpos. A coreografia expressa uma indissociação do corpo com
a câmera, uma vez que os movimentos deste instrumento são pensados em relação
como a coreografia, ampliando a criação coreográfica da dança para as telas.
“Colocou a câmera em lugares pouco tradicionais na filmagem de corpo dançantes:
ao utilizar diversos enquadramentos como close-up (muito próximo), tomadas em
plongées (de cima para baixo)[...].” (PONSO, 2013. p. 31).
A coreografia nesse espaço ganha outras características, pois os ângulos
viabilizam o olhar para a dança de uma forma não convencional, como visto no palco
italiano. Assim, altera a recepção estética desta linguagem artística diante das
imagens coreográficas e o olhar para elas de cima, de lado, na diagonal dentre
outras possibilidades.
Desta forma, o corpo é pensado para ser visto, especificamente,
desenvolvendo danças próprias desta simbiose, assim, propicia um meio
investigativo de representação da dança, dos corpos e como eles podem significar
no espaço da tela. Esse trabalho traz a possibilidade do espectador se ver como se
estivesse dentro da cena, pois dirige a sua visão por vários lugares da coreografia.
Deste modo, coloca-se dentro da piscina com as bailarinas aquáticas, a impressão
dada é de “voar” com a visão para observar os corpos na água, consequentemente,
fundamenta perceber e abstrair a dança com a tecnologia da filmagem. “Busby
Berkeley utilizava o corpo dos dançarinos para propor imagens diversas,
consideradas imagens abstratas[...].” (BASTOS. 2013. p. 57).
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A Study In Choreography For Camera (1945) - Maya Deren
Os filmes de Maya Deren (1917-1961) marcam a transição da dança no
cinema, esta transição se dá na forma de Deren estabelecer o vínculo do corpo e
das relações espaço-temporais com a câmera. O cinema experimental de Maya
Deren, possibilita a interação da dança com a câmera em uma dimensão estética
simbiótica, cuja concepção do olhar da câmera possibilita pensar a dança de forma
associativa e em tríade, isto é, dança-corpo-imagem.
Cineasta, poetisa, dançarina e coreógrafa, Maya Deren pode ser considerada um dos grandes nomes do cinema e sua contribuição, através de filmes com os quais ela demonstrava sua forte tendência em explorar o cinema enquanto manifestação artística. (BASTOS, 2013. p. 45)
“A Study in Choreography for Camera” (1945) é uma das suas obras mais
importantes, pois propõe a união de efeitos de edição atrelados à dança na tela.
Figura 11: Print Screen de “A Study in Choreography for Camera” (1945).
Fonte:https://www.youtube.com/watch?v=OnUEr_gNzwk
Observa-se a câmera e suas movimentações, estas criam o espaço da tela,
conduzindo o olhar da audiência e determinando como o corpo deve ser visto. A
exploração dessas técnicas de manipulação da câmera, amplia a capacidade de
percepção do espaço-tempo e do corpo-imagem, uma vez que os movimentos são
https://www.youtube.com/watch?v=OnUEr_gNzwk
38
pensados juntos na edição. Essa opção possibilita associar a captação da imagem
ao efeito de edição pretendido com as imagens e sua produção de sentido.
Dessa forma, a exploração desta dinâmica com a câmera aperfeiçoa a
estética da dança no cinema, pois nesta montagem do filme de Deren, o espaço-
tempo é constituído de vários outros espaços-tempos, viabilizando o corpo-imagem
se locomover sem dissociação entre as relações espaço-temporais que se
estabelecem. A obra argui sobre a exploração de diferentes espaços de intervenção
do corpo na dança. “Uma espécie de geografia do espaço acontece com base no
movimento do bailarino, características que também constrói a ideia de tempo.”
(SPANGHERO, 2003. p. 34).
Associados, câmera e edição disponibilizam a construção do corpo-imagem
para a tela, com as perspectivas da câmera aplicadas por Deren, os movimentos
tomam proporções surrealistas, o movimento se engendra no espaço-tempo e o
modifica, na obra de Deren o corpo se apresenta articulado simbioticamente com
as tecnologias. “A câmera muda o olhar do coreógrafo, o corpo do cinegrafista, o
olhar do cineasta, o corpo que dança e sua reprodução.” (SPANGHERO, 2003. p.
35).
O corpo, a dança e a tecnologia contribuem para redescoberta da abstração
do corpo que dança e produz danças em novos suportes. Corpos desejantes e
desejosos de possibilidades de compreender de forma abissal o espaço do corpo
desenvolvido na tela. “A Study in Choreography for Camera, realizado com o
bailarino Talley Beatty (1918-1995), explora as possibilidades de montagem por
meio das nuances entre velocidades da imagem especializando a progressão dos
gestos.” (PONSO, 2013. p. 54)
Maya Deren revolucionou a criação da dança com as tecnologias no cinema
experimental, os estudos realizados no filme analisado fazem a dança reafirmar
sua potência e sua relevância artística, criativa e a sua singularidade mesmo
quando produz obras em sistemas colaborativos e suporte tecnológico. O filme de
Deren redimensiona a relação do corpo com a câmera, possibilita que os
movimentos criem relações de sentido, cuja consequência é o estabelecimento da
dramaturgia em dança para a tela.
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“A total visibilidade das corporalidades nos impulsos das
imagens são vias privilegiadas de apelos imaginários. Cada
vez mais reduzido a informações, o corpo-imagem favorece a
deriva, incita desvios, provoca devaneios. É aí que ele
encontra, no deslocamento sideral das telas, novos códigos
de leitura. Ler as imagens dos corpos e os corpos das imagens
são desafios para nossas subjetividades conectadas. Cada
dobra do nosso ser é perseguida por câmeras e cada imagem
do que somos ou desejamos ser se converte em qualidade de
presença contínua nas rotas e nexos das telas. Todo corpo é
movimento, deslizamento, mixagem”
Edvaldo Souza Couto
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3. Capítulo 3 - PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DE ROTEIROS PARA CRIAÇÃO
DA VIDEODANÇA
Com base no processo criativo da videodança “MERGULHANDO” neste
trabalho de conclusão de curso, o que se pretende é compreender as formas
estruturantes que se organiza na feitura da videodança. Nessa perspectiva, a
utilização dos métodos empregados para criação dos roteiros cinematográficos e
de vídeo são referência na criação da videodança apresentado como produto
artístico final oriundo das reflexões e estudos acerca da videodança.
Neste sentido, o caminho trilhado para realização da videodança foi
expandido graças aos métodos de construção do roteiro literário e roteiro técnico.
Esses métodos possibilitam a criação - através da língua escrita - das imagens que
serão captadas no processo de filmagem, definindo planos, enquadramento,
montagem das cenas entre outros procedimentos.
Todos os roteiros pretendem contar uma história. Mas, ao contrário dos livros narrativos, as histórias escritas para roteiros cinematográficos, utilizam, primordialmente, recursos visuais. São as imagens, enquanto linguagem, que fazem o fio condutor para a compreensão do enredo. Então, nesse caso, as narrativas não se sustentam por si só. (CAMPOS, 2008. p. 22).
Na construção dos roteiros visando à produção da videodança, no presente
trabalho realiza-se o processo de decupagem do roteiro, ou seja, são feitas
alterações e mudanças necessárias à criação e efetivação das ideias. Esse
procedimento contribui para esclarecer e refinar as ideias que surgem no papel,
bem como corrobora para produção da videodança.
FORMULAÇÃO DA IDEIA PARA A VIDEODANÇA “MERGULHANDO”
Antes da construção dos roteiros, é importante que a ideia sobre a
videodança, seja clara, objetiva e imageticamente formulada. Assim, no ato criativo
dos roteiros, a fluência na construção técnica da escrita é facilitada.
Dessa forma, foi feita uma pesquisa antes da construção dos roteiros da
videodança a fim de utilizar de forma coerente os conceitos relativo às relações
tecidas no passado e no presente entre o corpo e a tecnologia e como a dança
dialoga de forma colaborativa com o suporte tecnológico, visando produzir obras em
vídeo .
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A ideia motriz para a realização desta videodança, parte da experiência e das
vivências compartilhadas como discente do curso de Licenciatura em Dança da
UFRN e dos estudos na condição de aluno de iniciação científica junto ao Grupo
de Pesquisa intitulado: Linguagens da Cena, Imagem, Cultura e Representação. Os
conhecimentos e pesquisas realizadas acerca da relação da dança e da tecnologia
na iniciação científica são fatores responsáveis pelo interesse na videodança.
Inicialmente, na criação do roteiro, cria-se o personagem, assim, este é o
autor do presente trabalho que interpreta as ideias propostas do trabalho
“MERGULHANDO”. Essa opção advém da constatação de que as experiências e
experimentações fazem parte do aprendizado empírico do autor. Portanto, acredita-
se que a criação e a realização das cenas poderá ser feita de maneira mais orgânica
e compatível com os objetivos pretendidos pelo criador.
O roteiro da videodança conta a história de um estudante de dança que ao
se deparar com os conhecimentos provenientes de sua prática de edição de vídeo,
passa a consumir profundamente os conteúdos de sua investigação sobre a
videodança. De posse dos conhecimentos acerca da relação da dança e do vídeo,
corpo e câmera, dentre outros conhecimentos basilares sobre a dança e o vídeo, o
autor trabalha no limiar da realidade e da virtualidade. Nesse viés, a concepção da
videodança se expande e ocupa suas ideias e seu modo de pensar a vida em seus
diferentes contextos.
A ideia dessa história cujo personagem imaginado para a obra em
videodança é o autor do presente trabalho, encontra eco com a reflexão de
Machado (2010) sobre a “Filosofia da caixa-preta” de Vilém Flusser (1985), com
base em três partes do texto:
A primeira parte escolhida do texto do autor Arlindo Machado se relaciona
com ideia de que o ato criativo frente aos aparelhos tecnológicos, é uma das
maneiras de entender as possibilidades inerentes a esses aparelhos. No caso
específico da criação proposta em videodança, a questão que se apresenta difere
do texto relativo a emissão de ondas. Não há emissão de ondas no trabalho ora
proposto, o que se tem são as possibilidades advindas do computador, quando
manuseado pelos seres humanos.
o conceito de caixa-preta deriva mais propriamente da cibernética. Nesse campo particular dá-se o nome de caixa-preta a uma dispositivo fechado e lacrado, cujo interior é inacessível e só pode ser intuído através de experiências baseadas na introdução de
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sinais de onda (input) e na observação da resposta (output) do dispositivo. Em geral, caixa-preta traduz um problema de engenharia: como deduzir acerca do que há dentro de uma caixa, sem necessariamente abri-la[...]. (MACHADO, 2010. p. 44)
Em seguida, a segunda parte do texto está relacionada com a concepção de
que a interação da tecnologia e os corpos produzem formas estéticas criadas no
seu meio. Assim, a dança também adquire e redimensiona suas formas estéticas e
dramatúrgicas.
Pensamos que podemos escolher e, como decorrência disso, nós imaginamos criativos e livres, mas nossa liberdade e nossa capacidade de invenção estão restritas a uma software, a um conjunto de possibilidades dadas a priori e que não podemos dominar inteiramente. Esse é justamente o ´ponto em que a Filosofia de Flusser quer intervir: ela quer produzir uma reflexão densa sobre as possibilidades de criação e liberdade numa sociedade cada vez mais programada e centralizada pela tecnologia. (MACHADO, 2010. p. 46)
Por fim, a organização da ideia dialoga com a terceira parte do texto, dessa
maneira, acredita-se que a dança em mediação tecnológica é uma das formas de
discutir a relação de um corpo que dança em outro suporte, sem contudo, abdicar
dos aspectos estéticos do movimento e suas relações espaço-temporais. Esses
elementos contribuem na transformação das formas de representação da dança e
das formas de fruição da audiência.
Para produzir novas categorias, não previstas na concepção do aparelho, seria necessário intervir no plano da própria engenharia do dispositivo, seria preciso reescrever o seu programa, o que quer dizer: penetrar no interior da caixa-preta e desvendá-la. (MACHADO, 2010. p. 48).
Por fim, a organização da ideia dialoga com a terceira parte do texto, dessa
maneira, acredita-se que a dança em mediação tecnológica é uma das formas de
discutir a relação de um corpo que dança em outro suporte, sem contudo, abdicar
dos aspectos estéticos do movimento e suas relações espaço-temporais. Esses
elementos contribuem na transformação das formas de representação da dança e
das formas de fruição da audiência.
A estética do vídeo referente aos efeitos utilizados na edição, foi feita e
idealizada com base de referência na Glitch art. “Deste modo, a Glitch art é um
gênero que utiliza a tecnologia para trabalhar com a computação, corrupção de
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dados e erros de transmissão e recepção digitais.” (GAZANA; BERTOMEU;
BERTOMEU, 2013 p. 83)
Nessa perspectiva, esses efeitos são obtidos a partir de erros, assim, o erro
na Glitch art é utilizado como alternativa expressiva no processo investigativo. Esse
efeito, será utilizado na videodança para retratar as mudanças corporais e espaciais
no personagem da história. Dessa forma, variadas estéticas de efeito surgem nas
experimentações dos erros, a exemplo o Datamosh. A videodança não utilizará uma
forma padrão de Glitch. Entretanto, o Glitch-alike que tem a característica
exploratória dos erros por parte do artista, será trabalhado nesta videodança, a fim
de descobrir os efeitos estéticos que mais se adequa a obra.
Na estética Glitch não existe o compromisso de criar uma ponte entre conteúdo e significado, nem mesmo de criar um significado inteligível, ela pode simplesmente satisfazer a um processo de criação para si mesmo ou para uma satisfação de uso e sentido próprio. Assim, o Glitch-alike muitas vezes é usado como um elemento de estilo visual. (GAZANA; BERTOMEU; BERTOMEU, 2013 p. 84)
Posteriormente, a escolha da movimentação na videodança, utiliza como
referência as ideias e as pesquisas de movimento de William Forsythe (1949), tendo
em vista que seus estudos sobre as linhas dos movimentos e pontos são
qualitativamente articuladas com a edição das imagens e as transformações no
corpo provenientes desses efeitos.
A história desta videodança, articula conceitos que dialogam entre si com o
objetivo de potencializar a dança na linguagem do vídeo.
3.1. ROTEIRO LITERÁRIO
Neste momento da criação da videodança é necessário constar as
características inerente à relação de espaço e tempo da obra, visando a definição
das imagens, a fim de informar sobre o lugar, o horário e as ações realizadas.
“Chamamos de roteiro literário, aquele texto que é escrito e estruturado por ações
separadas e determinadas. É no roteiro literário que são pontuadas as ações da
história.” (CAMPOS, 2008. p. 22).
O roteiro literário proposto obedece as premissas abaixo relacionadas:
● A locação deve se passar em dois ambientes, casa e rua;
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● Os cômodos utilizados da casa devem ser quarto, corredor e sala;
● A cena deve ser feita durante o período da tarde.
● A ação do personagem se iniciará em uma mesa de estudos no
quarto, continua no corredor, depois na sala, na rua e retorna ao
quarto.
O espaço montado das cenas e as ações desejadas para a produção das
imagens, cria-se o ambiente onde será realizado a filmagem e as possibilidades de
movimentação de câmera no espaço viabilizando a criação do roteiro técnico.
ROTEIRO LITERÁRIO (VIDEODANÇA)
FADE IN:
CITAÇÃO DE VILÉM FLUSSER
CORTA PARA:
1. INT. CASA/QUARTO - DIA
(ex: interior de uma casa no cômodo do quarto durante o dia)
1.1. O personagem está em seu quarto sentado em uma cadeira
próximo a uma mesa de computador, nessa mesa está contido
alguns materiais: computador, TV, livros, cadernos, caneta,
mouse, teclado e outros objetos. O personagem está editando um
vídeo neste computador e assistindo algumas obras de
videodança, ao mesmo tempo que lê suas anotações nos cadernos.
2. INT. CASA/CORREDOR - DIA
2.1. Após ter a sensação de estar entrando em colapso mental,
com tanta informação absorvida ao mesmo tempo, sai do quarto,
passa por um corredor da casa. Neste momento, percebe sinais
de seu corpo falhando, como "glitch", começa a aparecer em
alguns membros de seu corpo e o espaço sofrem alterações. Essas
coisas acontecem devido ao estudo profundo sobre a videodança.
Assim, começa a visualizar os efeitos realizados na edição em
seu corpo e no espaço da cena.
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3. INT. CASA/SALA - DIA
3.1. Ao chegar na sala, o personagem se depara com uma parede
verde. Nessa parede ele visualiza um corpo dançando e nesse
corpo também acontece os mesmos efeitos que estão acontecendo
no seu corpo. Em seguida, o personagem sai da sala.
4. EXT. RUA - DIA
4.1. Posteriormente, ao sair da sala, o personagem se dá conta
de estar na rua, mas que não fez o caminho até esta rua.
Continua sentindo em seu corpo as sensações de Glitch, dessa
vez o corpo fica em estado de dança. Assim, explora as
movimentações que surgem em seu corpo.
TELA PRETA:
5. INT. CASA/CORREDOR/QUARTO - DIA
5.1. Após vivenciar esta experiência, ele anda pelo corredor
da casa em passos acelerados até chegar em seu quarto.
CORTA PARA:
5.2. já sentado em sua cadeira próximo da mesa, onde estava,
coloca os fones de ouvido e da play em uma música.
FADE OUT.
3.2. ROTEIRO TÉCNICO
O roteiro técnico contém toda parte técnica de filmagem, serve como base
para a direção de fotografia na construção das imagens e, também, auxilia na ilha
de edição referente a esquematização das cenas. Assim, a composição deste
roteiro é organizado e dividido em sequência, cena e plano. “A seqüência como um
parágrafo, a cena como uma frase e o plano como uma palavra, ou seja a seqüência
é composta por um conjunto de cenas e a cena por um conjunto de planos.”
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(CAMPOS, 2008. p. 23). Assim, a construção do roteiro literário é concebida em
imagens na construção do roteiro técnico.
Nessa perspectiva, efeitos como Dolly Zoom, criado por Alfred Hitchcock
(1899-1980) que deformam o espaço da tela, são incorporados no roteiro, criando
as alternativas técnicas para a abstração. Assim, a forma do roteiro técnico é criada
da seguinte forma:
ROTEIRO TÉCNICO (VIDEODANÇA)
1. SEQUÊNCIA - ESTUDANTE SOBRE A MESA
1. CENA - INT. QUARTO - DIA
1. OLHO DE DEUS (O.D)+ MOVIMENTAÇÃO - ESTUDANTE MEXENDO NOS
OBJETOS DA MESA
2. PLANO DETALHE (P.D) + MOVIMENTAÇÃO - LIVROS SOBRE A MESA
3. PLANO MÉDIO (P.M)+ MOVIMENTAÇÃO - PERSONAGEM COM UM LIVRO
NA MÃO
4. OVER THE SHOULDER (O.S)+ PLONGÉE (P) - PERSONAGEM EM
INTERAÇÃO COM O COMPUTADOR
5. PLANO DEUTSCH (P.D) + FRONTAL (F) - PERSONAGEM EM INTERAÇÃO
COM O COMPUTADOR
6. PLANO DETALHE (P.D)+ MOVIMENTAÇÃO - BRAÇO/MÃO UTILIZANDO O
MOUSE/ CABEÇA
7. PLANO DETALHE (P.D) - FECHANDO O COMPUTADOR; LEVANTANDO DA
CADEIRA
8. PLANO GERAL (P.G) - PERSONAGEM SAINDO DO QUARTO.
2. SEQUÊNCIA - ANDANDO NO CORREDOR
1. CENA - INT. CORREDOR - DIA
9. DOLLY ZOOM (D.Z) - PERSONAGEM OLHANDO O CORREDOR
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10. CONTRA PLONGÉE (C.P) + MOVIMENTAÇÃO - PERSONAGEM ANDANDO
NO CORREDOR
11. PLONGÉE (P) + MOVIMENTAÇÃO - PERSONAGEM ANDANDO
3. SEQUÊNCIA - CHEGANDO NA SALA
1. CENA - INT. SALA - DIA
12. PLANO GERAL (P.G) - PERSONAGEM CHEGANDO NO CÔMODO DA SALA
13. PRIMEIRÍSSIMO PLANO (P.P) + PERFIL (P) - PERSONAGEM OLHANDO
PARA A PAREDE
14. OVER THE SHOULDER (O.S) - PERSONAGEM OLHANDO PARA A PAREDE
4. SEQUÊNCIA - DANÇANDO NA RUA
1. CENA - EXT. RUA - DIA
15. PLANO SEQUÊNCIA (P.S) - ANDANDO/DANÇANDO NA RUA
5. SEQUÊNCIA - RETORNANDO PARA O QUARTO
1. CENA - INT. QUARTO - DIA
16. PLANO ABERTO(P.A) - ENTRANDO NO QUARTO
17. PLANO DETALHE (P.D) - SENTANDO NA CADEIRA; ABRINDO O
COMPUTADOR E DANDO PLAY NA MÚSICA
18. PLANO AMERICANO (P.A) - PERSONAGEM RELAXANDO OUVINDO A
MÚSICA
FIM.
Percebe-se que com a utilização desse método de construção de roteiro para
a videodança, as possibilidades de conceber o corpo no espaço, a forma estética
desse corpo, qual a melhor movimentação capaz de dar conta dos conceitos
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estudados para a produção da videodança. Genericamente se adquire a dimensão
da totalidade dos elementos que qualificam a produção em videodança. As
possibilidades de criação da videodança, por meio da elaboração de roteiro,
colaboram na organização das ideias do criador e clareiam os caminhos a serem
percorridos no processo de produção da videodança. Acredita-se que o roteiro
elaborado pelo o profissional de dança, visando produzir a videodança, predispõe
o uso articulado e colaborativo dos procedimentos técnicos, e dramatúrgicos da
dança de forma simbiótica e colaborativa com a tecnologia.
A percepção, nestes ambientes, necessita ser investigada pelos dançarinos a fim de que eles percebam como o ambiente interage a seus movimentos, como eles podem estabelecer diálogos mais complexos e realmente compor com o ambiente. (SPOLADORE, 2011. p. 6).
Figura 12: Print screen de “MERGULHANDO” 2019 de Samuel Oliveira.
Fonte: https://drive.google.com/open?id=1n1yFAJnP14fj4kuW66DqlMX7_gcoD-qQ
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Figura 13: Print screen de “MERGULHANDO” 2019 de Samuel Oliveira.
Fonte: https://drive.google.com/open?id=1n1yFAJnP14fj4kuW66DqlMX7_gcoD-qQ
Figura 14: Print screen de “MERGULHANDO” 2019 de Samuel Oliveira.
Fonte: https://drive.google.com/open?id=1n1yFAJnP14fj4kuW66DqlMX7_gcoD-qQ
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Acredita-se, que a década de 1960 foi o período onde a videodança se
constituiu como possibilidade de criação artística e dramatúrgica da dança em
vídeo. As possibilidades advindas da videoarte forneceram, para os artistas da
época, alternativas de agregar aparelhos tecnológicos na concepção de suas obras,
como também subverter o uso desses aparelhos. Eventos como 9 Evenings:
Theatre and Engineering apresenta inovações e possibilidades de se criar e fazer
arte de forma colaborativa. Nessa perspectiva, as fronteiras estabelecidas entre as
artes e a tecnologia se rompem e novas estéticas são produzidas nas diferentes
formas de expressão artística.
Merce Cunningham como um dos pioneiros na criação da videodança, cria
suas primeiras videodanças e essas são apresentadas para o mundo e para os
artistas da dança. Esses passam a experimentar e a vivenciar a relação da dança
e dos corpos com diferentes suportes e meios tecnológicos.
Dessa forma, a videodança como alternativa de criação em dança para tela
se propaga no tempo e no espaço de sua invenção. A videodança viabiliza a
concepção do corpo e da dança enquanto imagem. Corpo e dança são criados na
tela e para tela, assim, as obras artísticas em vídeo possuem as características
próprias do seu contato com essa linguagem. Nessa direção, a dança coloca em
cena, na tela, as experiências e experimentações do corpo expandido e, dessa
forma,