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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA
A IMPORTÂNCIA DA PEDAGOGIA DA AFETIVIDADE NO PROCESSO DE
ALFABETIZAÇÃO DE CRIANÇAS DO ENSINO FUNDAMENTAL
MARIA MISSILENE DE SOUZA BERNARDO
LUÍS GOMES-RN
2016
1
MARIA MISSILENE DE SOUZA BERNARDO
A IMPORTÂNCIA DA PEDAGOGIA DA AFETIVIDADE NO PROCESSO DE
ALFABETIZAÇÃO DE CRIANÇAS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Artigo Científico apresentado ao Curso de
Pedagogia, na modalidade à distância, do
Centro de Educação, da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, como
requisito parcial para obtenção do título de
Licenciatura em Pedagogia, sob a
orientação da professora Esp. Carmélia
Regina Silva Xavier.
LUÍS GOMES - RN
2016
2
A IMPORTÂNCIA DA PEDAGOGIA DA AFETIVIDADE NO PROCESSO DE
ALFABETIZAÇÃO DE CRIANÇAS DO ENSINO FUNDAMENTAL
MARIA MISSILENE DE SOUZA BERNARDO
Artigo Científico apresentado ao Curso de
Pedagogia, na modalidade a distância, do
Centro de Educação, da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, como
requisito parcial para obtenção do título de
Licenciatura em Pedagogia.
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________
Esp. Carmélia Regina Silva Xavier (Orientadora)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
_____________________________________________________
Ms. Cleucy Meira Tavares Lima
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
______________________________________________________
Ms. Klébia Ribeiro da Costa
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
3
A IMPORTÂNCIA DA PEDAGOGIA DA AFETIVIDADE NO PROCESSO
ALFABETIZAÇÃO DE CRIANÇAS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Maria Missilene de Souza Bernardo1
Carmélia Regina Silva Xavier2
RESUMO
A afetividade tem se constituído como temática de estudos na esfera da educação em
virtude da sua relevância para o processo de ensino e de aprendizagem, principalmente nos
primeiros anos de escolaridade. Com base nessa ideia, o presente trabalho tem como
objetivo discutir como a pedagogia da afetividade influencia na alfabetização de crianças
do 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental. Trata-se de uma pesquisa qualitativa e
bibliográfica ancorada em teóricos como Paulo Freire (1993), Henri Wallon (2003),
Andrade (2014). Com base nas análises feitas, foi possível concluir o quanto é importante
uma prática docente aliada ao valor afetivo para o desenvolvimento significativo da
criança.
PALAVRAS-CHAVE: Afetividade. Pedagogia. Alfabetização.
ABSTRACT
Affectivity has been constituted as thematic studies in the field of education because of its
relevance to the process of teaching and learning , especially in the early years of
schooling. Based on this idea , this paper aims to discuss how the pedagogy of affection
influence on children literacy 1st to 3rd year of elementary school . It is a qualitative and
literature anchored in theorists like Paulo Freire (1993 ) , Henri Wallon (2003 ) , Andrade
(2014) . Based on the analyzes made , a teaching practice combined with the affective
value for the significant development of the child was possible to conclude how important
it is .
KEYWORDS : Affectivity. Pedagogy. Literacy.
1Graduanda em Pedagogia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN –
[email protected] 2Orientadora Especialista em Educação de Jovens e Adultos – UFRN –
4
1.CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O presente artigo discute sobre a importância da pedagogia da afetividade quando
aplicada junto ao processo de ensino aprendizagem de crianças do 1º ao 3º ano, que estão
em fase de alfabetização, com faixa etária entre 6 e 8 anos de idade. Teve como objetivo de
pesquisa investigar como a pedagogia da afetividade influencia na alfabetização de
crianças do 1º ao 3º ano. Para tanto, foi realizado um estudo reflexivo sobre o valor da
afetividade, quando utilizada como método de trabalho, pelo profissional pedagogo nos
anos iniciais do Ensino Fundamental, fase preparatória de alfabetização.
A escolha do tema justifica-se pela relevância do uso da afetividade no âmbito
escolar, onde o processo de alfabetizar pode ser visto como um momento imbuído de
magia e descobertas, por meio das leituras de vários gêneros textuais e das diversas
atividades propostas, permeando as inúmeras formas de aprender. Nesse período, é
importante que as crianças vivenciem momentos ricos em metodologias diversificadas, que
devem ser aplicadas cotidianamente no âmbito escolar pelo(a) professor(a), mediados por
atitudes de amor, carinho, zelo, solidariedade, amizade e respeito mútuo.
Essas práticas pedagógicas integram humanamente todos os envolvidos, dando-lhes
segurança e motivação, para atuarem como aprendizes autônomos, capazes de lidar com
múltiplas situações na escola e no contexto social onde vivenciam esse processo.
Para a sua efetivação, foi realizada uma pesquisa qualitativa, tendo como
procedimentos de geração de dados o levantamento de materiais bibliográficos e
documentos oficiais que versam sobre o período de alfabetização, possibilitando a
fundamentação teórica necessária a formação do corpo do texto, respaldando com
segurança as ideias que se definiram sobre a temática abordada.
Encontra-se ancorado teoricamente em autores renomados como Paulo Freire
(1993), Henri Wallon(2003), e Fabiana Andrade(2014), que defendem a necessidade de
uma prática com valor afetivo para o desenvolvimento significativo da criança, enquanto
pessoa pertencente a um contexto social repleto de valores diversificados.
5
Na primeira parte do trabalho são apresentados o conceito de afetividade, a
importância da afetividade na alfabetização e a afetividade como ferramenta relevante de
uma prática diferenciada e produtiva na aprendizagem, compreendendo assim, uma
reflexão sobre a importância do uso da afetividade pelo(a) professor(a) no seu método de
trabalho, em consideração a atribuição de uma aprendizagem mais satisfatória aos seus
discentes.
Em seguida, será abordado o papel do professor como mediador do aprendizado,
mostrando a necessidade da mediação do(a) docente para uma aprendizagem mais
satisfatória da criança. Ainda nessa mesma seção, o trabalho trará as características de
um(a) professor(a) que atua dentro de uma perspectiva de afetividade e um relato de
experiência de prática fundamentada nessa mesma discussão.
Sendo assim, é possível afirmar que se trata de um estudo reflexivo sobre a
importância da afetividade, condizente ao(a) professor(a) de uma clientela de alunos com
faixa etária entre 6 e 8 anos de idade.
2. O CONCEITO DE AFETIVIDADE
A palavra afetividade pode ser definida em diversas áreas do conhecimento, porém
suas principais definições estão dentro da Filosofia, da Psicologia e da Pedagogia, a qual
irá ser tratada neste estudo, para um entendimento mais aproximado do fazer pedagógico,
aliado a utilização do afeto no processo de ensino e aprendizagem das crianças do ciclo de
alfabetização do Ensino fundamental.
Afeto é uma palavra que vem do latim e significa "affectur" (afetar, tocar), sendo o
componente fundamental da afetividade. De acordo com De acordo com QUEIROZ, T.D.
Dicionário Prático de Pedagogia (2ªed. S/P: RIDEEL 2008, p.13), a afetividade é a
“qualidade de quem sente afeto. Conjunto de fenômenos psíquicos- emoções, sentimentos
e paixões- acompanhados sempre de sensações como dor ou prazer, satisfação ou
insatisfação, agrado ou desagrado, alegria ou tristeza.”
Neste sentido, o afeto nos transmite um sentimento capaz de perceber a nossa
realidade, por meio do nosso psíquico. Sendo a afetividade, responsável por todas as
6
emoções que se sente, sejam essas de dor, tristeza, alegria ou felicidade, pois são geradas
pelos sentimentos do ser, enquanto sujeitos que são definidos ao longo do seu
desenvolvimento, mediante as interações no meio social. Assim sendo,
a evolução afetiva está intrinsecamente ligada ao desenvolvimento
cognitivo, visto que difere sobre maneira entre uma criança e um adulto,
supondo-se a partir disto que há uma incorporação de construções de
inteligência por ela, seguindo a tendência que possui para racionalizar-se.
(WALLON, 2003, p.11).
Partindo desse pressuposto, pode-se refletir sobre a nossa realidade escolar atual,
considerando a diversidade da crianças, bem como as múltiplas formas de se integrar ações
com afeto no âmbito escolar. Ações essas, que sejam capazes de possibilitar a emoção do
prazer na realização das tarefas pedagógicas que são propostas e praticadas, lado a lado
com o educador, numa forma de integração.
2.1. A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA ALFABETIZAÇÃO
Considerando-se a afetividade como uma importante aliada ao aprendizado
cognitivo durante o desenvolvimento da criança, percebe-se que o professor que atua de
forma afetiva junto ao aluno, torna-se um importante mediador do aprendizado da mesma,
uma figura essencial para seu êxito no aprendizado, tanto de ordem formal, quanto na
construção da sua cidadania. De acordo com Gadotti (2007)
Não existe um conhecimento puramente afetivo ou puramente cognitivo.
Quem produz conhecimento é um ser humano, um ser de racionalidade e
de afetividade. Nenhuma dessas características é superior a outra. É
sempre um sujeito que constrói categorias de pensamento através de suas
experiências com o outro, num determinado contexto, num determinado
momento (p. 57).
A diversificação das práticas escolares trabalhadas em coletividade junto a criança
possibilita a integração da mesma com a escola e com a sociedade, numa relação afetuosa e
promotora de aprendizados significativos, voltados ao seu aprimoramento como ser
humano repleto de curiosidades, interesses e vontade de crescer. Galvão (1995), considera
que “[...] as emoções propiciam relações interindividuais nas quais diluem-se os contornos
da personalidade de cada um (p. 46)”.
7
Desse modo, percebe-se que a afetividade e o diálogo apresentam-se como
importantes aliados da prática docente atuando como ferramentas de aproximação e
conquista na relação professor e aluno, assim como, incentivador de uma participação mais
ativa nas atividades propostas.
Assim, é possível afirmar que a prática de alfabetizar fica mais prazerosa e
motivadora, quando o educador explora a oralidade das crianças, no sentido de lhes
transmitir segurança para atuarem no âmbito escolar e assim, aprender significativamente.
Dessa forma, compreende-se que o diálogo aliado a afetividade possibilitará o professor a
conhecer as singularidades de cada um, mediante o interesse de comunicação tanto do
professor, quanto dos alunos no processo de alfabetização. Nesse processo, as
metodologias diversificadas, trabalhadas a partir da ludicidade e da integração, nas
atividades propostas para a turma, também serão ótimas aliadas.
Seguindo este raciocínio, Freire (2002), afirma que “O educador que escuta
aprende a difícil lição de transformar o seu discurso, às vezes necessário, ao aluno, em uma
fala com ele (p. 43)”. Dessa forma, uma prática educativa diversificada contribui
efetivamente para uma boa relação dos sujeitos envolvidos e do objeto de estudo.
Estando claro que a motivação realizada por parte da(a) professor(a), pautada numa
prática bem planejada e executada com todo o zelo, numa rotina diversificada e
significativa traz resultados bastante positivos para o aprendizado das crianças, os quais
poderão levar consigo para toda a vida, na sua formação enquanto sujeitos sociais. Nesse
sentido, Freire (2002), afirma que:
A afetividade não se acha excluída da cognoscibilidade. O que não posso
obviamente permitir é que minha afetividade interfira no cumprimento
ético de meu dever de professor no exercício de minha autoridade. Não
posso condicionar a avaliação do trabalho escolar de um aluno ao maior
ou menor bem querer que tenha por ele (p. 89).
Dessa forma, a realização de um trabalho alfabetizador com o uso de atividades
integradoras, que estimulem a curiosidade, o raciocínio e a coletividade entre os
participantes trará resultados significativos diante das necessidades de aprendizagem de
cada um dos discentes. Assim, Freire (2002), reforça que
É preciso, por outro lado, reinsistir em que não se pense que a prática
educativa vivida com afetividade e alegria, prescinda da formação
8
científica séria e da clareza política dos educadores ou educadoras. A
prática educativa é tudo isso: afetividade, alegria, capacidade científica,
domínio técnico a serviço da mudança ou, lamentavelmente, da
permanência do hoje (p. 90).
Compreende-se então que, o trabalho docente não se detém apenas a uma categoria
e sim a várias qualidades aliadas, para a atuação no ambiente educador. Estando por um
lado o ser humano afetuoso que cuida, zela, educa com satisfação e, por outro a figura do
profissional que precisa atuar com a responsabilidade de trabalhar os conteúdos
curriculares, dos quais as crianças precisam para seu crescimento intelectual, na constante
busca do uso das mais variadas metodologias, aptas ao estímulo dos educandos para a sua
real aprendizagem.
De acordo com Galvão (1995 p. 50) “A criança reage corporalmente aos estímulos
exteriores, adotando posturas ou expressões, isto é, atitudes, de acordo com as sensações
experimentadas em cada situação”. Pode-se assim, considerar que os fatores aliados as
emoções são substanciais para a compreensão e a assimilação dos conhecimentos pela
criança em fase de desenvolvimento.
Desse modo, a postura de aprendiz da criança nos ambiente familiar e escolar, será
determinada pela sua observação aos fatores externos, como as atitudes dos membros da
sua família, das pessoas da sua escola e dos seus colegas de estudo.
Reconhecendo-se que, todas essas pessoas são fundamentais, para que a criança se
perceba como um ser humano completo de sentimentos, que precisa de interação social
para que assim, se torne autônoma para adotar seus próprios métodos de agir diante dos
outros. Considera-se, necessário o empenho do(a) professor(a) para que a presença de
diversos fatores externos seja presente no ambiente escolar, objetivando sempre o máximo
de aproveitamento do tempo em que a criança está na escola.
Como diz Freire (2002), “[...]ensinar e aprender não podem dar-se fora da procura,
fora da boniteza e da alegria (p. 90)”. Desse modo, uma prática repleta de incentivos aos
alunos, regada de muito zelo, cuidado e interação grupal é preciso para que haja a
contemplação de um aprendizado com mais significado pela criança.
Compreende-se dessa forma, que esses fatores afetuosos estão ligados aos métodos
pedagógicos, que são aplicados nas aulas com ações necessárias para um melhor
9
entendimento dos conteúdos, mediados por múltiplas formas de exploração da curiosidade
dos alunos com questionamentos, rodas de conversa, brincadeiras diversas que estimulem a
criatividade, jogos educativos, dentre outras.
2.2. A AFETIVIDADE COMO FERRAMENTA RELEVANTE DE UMA
PRÁTICA DIFERENCIADA E PRODUTIVA NA ALFABETIZAÇÃO
No processo da alfabetização, a criança necessita desenvolver sua autonomia diante
de suas habilidades e dificuldades que precisam avançar, em aspectos cognitivo e, também,
como sujeito pertencente a um contexto.
Para isso, a figura do(a) professor(a), necessariamente, deve ser de um adulto
amável, cuidadoso e capaz de ajudar o aluno a sentir-se seguro e à vontade para questionar,
interagir em sala de aula e tirar suas dúvidas quando necessário, sentindo-se como
indivíduo pertencente a um contexto sociocultural em desenvolvimento.
Quando o(a) educador(a) se compromete a realizar um trabalho bem planejado,
utilizando-se de metodologias fundamentadas em recursos disponíveis no ambiente escolar
ou na comunidade a qual faz parte o aluno, ele(a) estará tendo a preocupação de inserir em
sua prática pedagógica situações que fazem parte do cotidiano do seu alunado, facilitando a
aprendizagem pela familiarização com os recursos.
O apoio da gestão escolar e da comunidade de pais, é de suma importância e
resultará em um trabalho diferenciado e com forte possibilidade de positivos resultados.
Essa preocupação e cuidado com a prática pedagógica pode ser atribuída a pitada de afeto
que foi inserida no momento do planejamento, execução (prática), e avaliação - momento
acontecido posterior ao desenvolvimento das atividades para levantamento dos pontos
positivos e negativos da prática. Para Freire (1996),
É esta percepção do homem e da mulher como seres “programados, mas
para aprender” e, portanto, para ensinar, para conhecer, para intervir, que
me faz entender a prática educativa como um exercício constante em
favor da produção e do desenvolvimento da autonomia de educadores e
educandos. Como prática estritamente humana jamais pude entender a
educação como uma experiência fria, sem alma, em que os sentimentos e
as emoções desejos, os sonhos devessem ser reprimidos por um de
ditadura racionalista. Nem tampouco compreendi a prática educativa
10
como uma experiência que faltasse o rigor em que se gera a necessária
disciplina intelectual (p.54) .
Ser um profissional amável, trabalhar com apreço, dedicação e querer bem aos
alunos, não implica em dizer que o pedagogo esteja desenvolvendo suas aulas sem a
preocupação de desenvolver no discente o conhecimento, a curiosidade, a motivação para
aprender a cada dia algo novo e principalmente, de torná-lo um ser crítico, questionador,
lutador dos seus direitos. Significa sim, que sua prática aliada a afetividade se
complementa mutuamente para uma interação diversificada entre saberes e fazeres, diante
do objeto de estudo proposto em sala de aula.
Desse modo, temos a escola como um local onde as pessoas socializam e assumem
papeis diferenciados, num dado objetivo de desenvolvimento da aprendizagem dos
educandos. Estando, esse ambiente, composto por vários espaços escolares que podem ser
aproveitados de maneira diversificada, atribuindo significados ao aprendizado dos
alfabetizandos. O Plano Nacional de Alfabetização na Idade Certa (PNAIC,2012), afirma
que esses ambientes são “[...] a sala de aula, a biblioteca, a sala de leitura, a brinquedoteca.
O pátio, a quadra de esportes, a sala de informática, a diretoria (p. 15)”.
Ainda, de acordo com esse documento, é possível enfatizar que a utilização destes
ambientes são importantes, de modo que a criança precisa sentir-se parte integrante da
escola, assim como seus pais e demais pessoas da localidade. Haja vista que, a escola é
uma instituição que foi criada para atender as necessidades educativas e de aprendizagem
das pessoas do contexto sociocultural, estando dessa forma, como um lugar de apoio à
sociedade, em benefício da formação para a cidadania.
Pelo exposto, percebe-se ser de grande relevância a familiarização com os
ambientes da instituição pelas crianças em processo de alfabetização em virtude da
utilização destes espaços em atividades previamente planejadas, organizadas e
cuidadosamente executadas, pois promovem uma integração positiva na formação do
sujeito, por propiciar o sentimento de pertencimento, oferecendo mais segurança em estar
na escola, mostrando-lhe os valores da instituição e motivando-a a se comportar com
respeito em todos os sentidos dentro desse órgão educador, a escola.
11
É por meio da integração motivadora, do diálogo e da valorização como pessoas
capazes que se consegue avanços significativos com crianças no ambiente alfabetizador.
Por isso,
Para tratarmos a alfabetização como um processo que integra a
aprendizagem do sistema de Escrita Alfabética à apropriação de
conhecimentos e habilidades que favorecem a interação das crianças por
meio de textos orais e escritos que circulam na sociedade, precisam
garantir que a escola disponha de variados recursos didáticos. (BRASIL,
2012, p.17).
Nessa variação de recursos didáticos, é possível relacionar materiais como os jogos
educativos de alfabetização, cartazes, bancos de atividades produzidos pelos profissionais
de pedagogia, que subsidiam o momento do planejamento e organização das aulas, como
também, materiais confeccionados pelos próprios alunos com a intervenção do(a)
professor(a).
Tudo isso demanda cuidado, zelo e amor. São momentos, espaços e recursos que
compõem o fazer pedagógico na escola, e devem estar associados continuamente, em
benefício ao tempo escolar que também é peça relevante ao processo de ensino
aprendizagem.
Os tempos escolares devem ser sempre repensados e bem organizados pela equipe
pedagógica e docentes, para a melhor adequação da criança e maior permanência dela na
escola, em virtude da sua necessidade de aprender em tempo hábil, respeitando os direitos
de aprendizagem de cada ano de alfabetização.
Para isso, é preciso bastante dedicação do(a) professor(a) com a sua clientela de
alunos que se encontra na fase de ser alfabetizada, exercendo um olhar especial, diante da
heterogeneidade apresentada pelas turmas do ciclo de alfabetização e mais uma vez
atuando de forma afetiva para com os discentes.
Sabendo-se que, são crianças de faixa etária entre 6 e 8 anos de idade e que, para
conquistar a atenção nessa faixa etária, na realização de atividades, se faz necessária uma
metodologia rica e diversificada, com o uso de práticas voltadas para a ludicidade, onde os
discentes e docente possam interagir de formas múltiplas, em brincadeiras, jogos
educativos e atividades grupais variadas, que favoreçam o enriquecimento do processo de
ensino aprendizagem ao qual estão inseridos. A diversificação da prática cotidiana na
12
escola é uma atitude de organização peculiar do(a) professor(a) que tem apreço pelo que
faz, em detrimento da aprendizagem valorativa dos seus aprendizes.
Diante dessas influências, dadas pelo uso de uma metodologia diversificada,
permeada pela ludicidade e a afetividade no processo de alfabetização, podemos considerar
as autoras Ferreiro e Teberosky (1986), quando discutem sobre a psicogênese da língua
escrita, na qual identificaram fases ou períodos, transcorridos pelas crianças em idade de
alfabetização. Estes períodos são denominados de pré-silábico, silábico, silábico-alfabético
e alfabético, onde cada um desses períodos apresentam características próprias.
No período pré-silábico a criança ainda não consegue diferenciar símbolos de letras
e números, escrevendo aleatoriamente, com rabiscos, desenhos ou outras formas, sem
sentido de leitura. Cabendo ao(a) professor(a) como mediador da aprendizagem utilizar-se
de recursos estimulantes, aliados ao afeto e amorosidade em busca dos avanços necessários
destes aspectos cognitivos e também pessoais da criança.
Sobre o período silábico, as autoras afirmam que a criança começa a utilizar letras
para escrever, já com fonetização da escrita, passando por uma transição inicial, numa
composição ainda não planejada, e já com apontamentos de uma pauta sonora em alguns
casos. Nesse momento, a intervenção do(a) professor(a) deve partir das habilidades já
conseguidas, para que aconteçam novas aprendizagens em busca de avançar a caminho do
próximo período, o silábico alfabético, fazendo uso para isso, de planejamentos e
intervenções baseadas na integração, afetividade e conquista do docente em relação a cada
discente.
Nesse período, é comum que a criança relacione nomes grandes a coisas grandes e
os nomes pequenos a coisas pequenas, o que Ferreiro denomina realismo nominal. Assim,
percebe-se que,
O bonito, ao enveredarmos por esse território antes desconhecido, é
desvendarmos que, sim, “há muita vida”, há muito trabalho cognitivo no
período pré-silábico. Embora vejamos que há algo de comum, em toda a
etapa pré-silábica, na maneira de responder a questão “o que”, não
podemos deixar de perceber os grandes progressos que o aprendiz irá
fazendo, pouco a pouco, na maneira de interpretar “como” a escrita cria
notações ou representações. (MORAIS, 2012, p. 54).
O desenvolvimento da criança acontece em tempos individuais, diferentes e
específicos, mas com a intervenção pedagógica adequada todos irão alcançar o período
13
silábico-alfabético, onde a criança inicia uma escrita com o uso de sílabas e alia esses
pedaços de palavras ao som da voz pronunciada, já estando quase alfabetizada.
Nesse momento, a importância de uma atenção maior do(a) educador(a), mais uma
vez é relevante na caminhada para obtenção de avanço a caminho do próximo e último
período, o alfabético.
Para concluir o processo de alfabetização a criança alcança o período alfabético,
quando a mesma consegue escrever com sentido real de leitura, fazendo seus próprios
planejamentos de escrita, necessitando apenas de um ajuste na ortografia, especialmente
das palavras complexas.
A criança em processo de aprendizagem necessita de materiais concretos como
recursos adequados e que possibilitem os desenvolvimento de cada etapa. “A abrangência
de seu objeto de estudo sugere que a educação deve ter por meta não somente o
desenvolvimento intelectual, mas a pessoa como um todo” (WALLON, apud GALVÃO
1995), p.80). Sendo assim, a mediação da aprendizagem permeada por meio de uma
diversificação de atividades significativas, contribui de forma relevante para a formação
intelectual e pessoal da criança em processo de formação.
Assim, o(a) professor(a) ao iniciar com uma turma de alfabetização, deve
necessariamente fazer uma sondagem dos conhecimentos prévios das crianças, buscando
conhecer como pessoa seus discentes de forma mais aproximada, diante de suas
habilidades e necessidades. Nesse momento, o(a) educador(a) terá, em mãos, o material
necessário para seguir no seu planejamento, onde buscará a contemplação de um trabalho
voltado ao aprendizado significativo e valorativo para a formação do sujeito.
Para isso, no processo de alfabetização, a aproximação da criança com o uso real do
sistema de escrita alfabética, necessita da leitura real dos textos que circulam diariamente
no seu contexto social, contemplando as vivências diárias em suas formas culturais,
buscando uma alfabetização na perspectiva do letramento. Sabendo-se que:
A partir da proposta de alfabetizar letrando, os docentes devem levar as
crianças à apropriação do sistema de escrita alfabética envolvidos em
situações do uso social da escrita, desenvolvendo a capacidade de ler e
produzir textos com finalidades distintas. (BRASILb, UN3, 2012 p.25)
14
Dessa forma, é importante que sejam promovidas atividades para o conhecimento
dos gêneros textuais que circulam com maior intensidade na sociedade local, para que os
alunos reconheçam suas diferenças e especificidades de cada gênero, sabendo as funções
de uso, mesmo antes de aprender a ler. Considerando que “[...] a alfabetização deve ser
significativa, e só é significativa quando é produção cultural e não reprodução cultural”.
(GADOTTI 2007, p.43). Concebe-se que a valorização cultural é uma forma de se
trabalhar a solidariedade e o respeito entre os discentes, na aceitação e valorização ao
diferente.
Refletindo sobre o pensamento de Gadotti(2007), pode-se afirmar que quando se
conhece a função e as formas de produção de uma bula de remédio, uma lista de compras,
por exemplo, fica mais fácil apropriar-se das características desses gêneros, facilitando o
reconhecimento no meio em que vive, antes mesmo de conseguir decifrar os códigos da
língua escritos convencionalmente.
3. PROFESSOR COMO MEDIADOR DO APRENDIZADO
O(a) professor(a), se configura como um(a) importante mediador(a) do aprendizado
da criança, uma figura essencial para êxito no seu desenvolvimento, tanto de ordem formal,
quanto na construção da sua subjetividade para a cidadania, como ser humano pertencente
a um contexto sociocultural. Assim,
A professora democrática, coerente, competente, que testemunha seu
gosto de vida, sua esperança no mundo melhor, que atesta sua capacidade
de luta, seu respeito às diferenças, sabe cada vez mais o valor que tem
para a modificação da realidade, a maneira consistente com que vive sua
presença no mundo, de que sua experiência na escola é apenas um
momento, mas um momento importante que precisa de ser
autenticamente vivido. (FREIRE, 1996 p.43).
Nesse sentido, percebe-se que o diálogo e o emprego da afetividade na relação
professor aluno, como os caminhos mais favoráveis ao aprendizado significativo e
valorativo, também, na valorização e exercício das diferenças, e que o ato de ensinar é uma
troca entre os saberes dos educandos, com os saberes do docente, que atua como uma
figura mediadora desse aprendizado mútuo, efetivado cotidianamente no âmbito escolar.
15
Além desse elo educacional, o respeito, o carinho e a confiança entre docente e
discentes dialoga com Freire (1992), quando diz que
[...] o(a) professor(a) só ensina em termos verdadeiros na medida em que
conhece o conteúdo que ensina, quer dizer, na medida em que se apropria
dele, em que o compreende. Neste caso, ao ensinar, o professor ou
professora re-conhece o objeto já conhecido. Em outras palavras, refaz a
sua cognoscitividade na cognoscitividade dos educandos. Ensinar é assim
a forma que torna o ato de conhecimento que o(a) professor(a)
necessariamente faz na busca de saber o que ensinar para provocar nos
alunos seu ato de conhecimento também. Por isso, ensinar é um ato
criador, um ato crítico e não mecânico. A curiosidade do(a) professor(a) e
dos alunos, em ação, se encontra na base do ensinar-aprender (p. 42).
Assim, pode-se considerar que a forma como se dá a mediação da aprendizagem,
conseguida por meio da confiança que o(a) professor(a) atribui para com o grupo de
alunos, se torna mais concreta e valorativa com mais significado para ambos. Além disso,
o(a) professor(a) é considerado(a) um exemplo de ser humano para as crianças, e quando
o(a) admiram o(a) querem sempre por perto, e pelo(a) mesmo(a) têm relevante estima pelo
resto da vida, imitando-o em suas ações, como tentar fazer a letra igual a daquele(a)
professor(a) que possui grande estima.
Por esses motivos, confiam no que lhes é repassado na escola pelo docente,
contribuindo meramente para sua própria autonomia, participando da oralidade de forma
efetiva, das aulas práticas e de todas as atividades que a escola propõe, por estarem
conquistados pelo afeto, pelo simples ato da troca do saber. Assim sendo, Andrade (2014),
afirma que “nos tempos atuais, o professor que tem manejo de classe é aquele que
consegue, a cada aula, conquistar a amizade de seus alunos e deles recebe o devido
respeito (p. 69)”.
Diante do exposto, o conhecimento dos avanços dados por práticas pedagógicas
aliadas a afetividade, é de extrema relevância ao profissional de pedagogia. Com esse tipo
de prática, o mesmo poderá perceber a diferença entre, um trabalho pedagógico voltado ao
real aprendizado da criança, numa metodologia rica e diversificada, capaz de formar um
cidadão amoroso, solidário, crítico e conhecedor de seus direitos e deveres e, um exercício
que somente atribui conteúdos e rigidez numa sala de aula, sem abertura ao diálogo entre
os participantes da aprendizagem.
16
3.1. CARACTERÍSTICAS DE UM(A) PROFESSOR(A) QUE PLANEJA SEM
ESQUECER A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE
A boa relação estabelecida entre docente e discentes no processo de alfabetização
perpassa por uma afinidade recoberta de valores, que vão sendo construídos dia após dia,
mediante as atribuições de um trabalho pedagógico afetivo, com um planejamento bem
organizado e praticado com amor, zelo, compromisso e dedicação.
Reconhecendo-se que o estímulo dado pelo(a) professor(a) em suas aulas por meio
de métodos afetivos, aliados a flexibilidade, durante as atividades é relevantemente
importante em todos os dias letivos do ano, na atuação junto ao grupo de alunos. Desse
modo, a postura do(a) professor(a) na organização do espaço, na limpeza da sala de aula,
no desempenho de ações, as quais pretende que os alunos pratiquem no ambiente
alfabetizador é de extrema importância para a boa relação dele(a) com a turma. Assim,
Russo (2013), enfatiza que
A didática que adotamos e que irá definir nossa posição perante uma sala
de aula tem muita influência na postura dos alunos, por mais jovens que
sejam. Material organizado, lições limpas, crianças asseadas são
elementos que agradam ao professor e aos próprios alunos. Para poder
exigir limpeza, ordem, responsabilidade, dedicação, temos que dar o
exemplo (p. 29).
Preparar um ambiente com regras combinadas junto aos alunos, para que todos
estejam prontos a realizar as ações devidas sem a necessidade de intervenção o tempo todo,
também se faz necessário e importante. Dessa forma, os alunos já irão compreender o que
deverão ou não fazer no ambiente, por serem ações costumeiras iniciadas desde o primeiro
dia de aula, como respeitar os horários de entrada, saída, realizar as tarefas, organizar a
sala de aula quando necessário coletivamente, manter a sala de aula limpa, trazer as lições
de casa quando solicitadas, dentre outras atitudes.
Desse modo, quando o (a) professor(a) realiza um planejamento pensando nas reais
necessidades dos discentes, sua mediação promove uma proximidade mais afetuosa com o
grupo, gerando momentos de atividades consistentes em aprendizados diversificados,
voltados não somente para a cognição dos alunos, como também, para o desenvolvimento
da sua personalidade, como pessoa lhes atribuindo autonomia em suas atitudes.
17
Sabendo-se que, quando o professor leva consigo uma postura de um pedagogo que
ama sua prática, ele vai além de suas atribuições, enquanto educador. Este, realiza seu
trabalho com inovações e reformulações do planejado, buscando uma prática que se
aproxime mais das reais necessidades dos educandos. Sempre com novas propostas, que
estejam além daquelas que já foram articuladas, em prol do benefício da adequada
formação das crianças, saindo da prática baseada apenas nos livros didáticos. De acordo
com Cury (2003),
Ser um mestre inesquecível é formar seres humanos que farão diferença
no mundo. Suas lições de vida marcam para sempre os solos conscientes
e inconscientes dos seus alunos. O tempo pode passar e as dificuldades
podem surgir, mas as sementes de um professor fascinante jamais serão
destruídas (p. 28).
Assim, quando um(a) professor(a) atua com amor, a sua prática se torna um marco
na vida dos discentes com os quais atuou durante sua docência. Considerando-se que se
tornarão adultos e sempre terão a figura de um(a) bom(a) professor(a) como uma pessoa
estimada, que lhes atribuiu ensinamentos relevantes para a vida. Oferecendo-lhes
oportunidades de participar de atividades motivadoras, no estímulo ao crescimento como
seres humanos, para atribuírem boas relações com a sociedade na qual vivenciam.
Tendo em vista que é um profissional que acredita em uma formação plena e sonha
a cada dia com uma educação de qualidade em seu contexto de atuação, atribui as
qualidades múltiplas de um amigo, um psicólogo, um pai ou uma mãe e até mesmo um
médico de primeiros socorros, exercendo o que pode ser considerada como outras funções,
desde que sejam necessárias. Sobre isso, Saltini (2008), diz que:
[...] a inter-relação da professora com o grupo de alunos e com cada um
em particular é constante, se dá o tempo todo, seja na sala ou no pátio, e é
em função dessa proximidade afetiva que se dá a interação com os
objetos e a construção de um conhecimento altamente envolvente. Essa
inter-relação é o fio condutor, o suporte afetivo do conhecimento (p.
100).
Desse modo, o(a) professor(a) atua na vida das crianças, em momentos adequados,
instruindo-os à vencer seus limites mais desafiadores, tanto no espaço escolar, quanto em
sua vida familiar e/ou social, na constante busca do melhor, em todos os sentidos. Dando-
lhes suporte para desenvolver a autonomia, no mesmo instante em que está sendo formada
a sua própria identidade de cidadãos e pequenos aprendizes, por meio da motivação dada
nas aulas desenvolvidas.
18
Seguindo essa mesma linha de pensamento, respeitando o estágio de cada aluno,
Freire (1996), afirma que “Ensinar não é transferir conhecimento (p. 52)”. Ele
complementa em seu pensamento que ensinar é algo que vai além disso, num sentido de
busca de conhecimentos cada vez mais aguçados, pela curiosidade dos alunos, mediados
pelo educador que tem uma meta de formar para a vida, um cidadão pleno e crítico, capaz
de atuar em seu meio social com dignidade e respeito.
Freire (1991), afirma que o ato de ensinar “é a convivência amorosa com seus
alunos e na postura curiosa e aberta que se assume e, ao mesmo tempo, provoca-os a se
assumirem enquanto sujeitos sócio históricos culturais do ato de conhecer (p. 11)”.
Dialogando com autores já citados, Andrade (2014) afirma que “o aluno precisa se
sentir valorizado pelo professor para deixar aflorar, com mais frequência, o seu lado
afetuoso” ( p. 69), fica clara a relação professor aluno conectada por um elo de afeto capaz
de instigar um aprendizado com mais sentido para a formação do discente.
Quando o(a) professor(a) conhece seus discentes, não somente como alunos, mas
também como pessoas, o trabalho flui de uma forma dinâmica onde o aluno consegue
desenvolver junto ao professor uma relação de confiança. Considerando essa afirmação e
as especificidades de cada grupo cultural representado pelo grupo de crianças. Acerca
dessa temática Russo, (2012), afirma que
O ambiente de trabalho é mais agradável quando o professor é amigo dos
alunos e colaborador do desenvolvimento deles, sendo respeitado, em
primeiro lugar, por sua condição de ser humano e, depois, como
professor. Assim, quando precisa de atenção da classe, a participação
esperada flui espontaneamente entre os alunos, como se houvesse um
pacto silencioso (p. 29).
O ato de ensinar e aprender pode ser visto como uma procura infinita por maneiras
distintas de atuar, onde o(a) professor(a) precisa dar sentido ao ensinar, mostrando
caminhos favorecedores do aprendizado das crianças em metodologias estimulantes.
Seguindo essas ideias propostas por Gadotti (2007), é possível afirmar que ensinar é um
sonho que precisa ser aprendido pelo(a) professor(a), e esse sonho pode ser guiado pela
Pedagogia, considerando que “ser professor é viver intensamente o seu tempo com
consciência e sensibilidade” (p. 62).
19
Desse modo, para obter esse resultado, o docente deve realizar um planejamento
com foco especial nas vivências dos pequenos aprendizes, instigando a valorização da
cultura, dos modos de vida e das famílias de cada um, em específico. Para o sucesso dessa
ação, Russo (2012), considera que, “Trocar experiências é um ponto favorável e essencial
ao nosso desenvolvimento, pois frequentemente aprendemos muito com nossos colegas,
seja em conversas informais, seja nas reuniões pedagógicas ou administrativas” (p. 28).
Assim, deve-se utilizar metodologias diversificadas e atrativas, que motivem à
participação de todos os discentes, permeando a integração e o respeito às pluralidades,
para que o aprendizado da criança seja concretizado a cada dia, num ambiente onde se
sintam seguros acolhidos e valorizados como seres humanos íntegros e capazes.
3.2. RELATO DE EXPERIÊNCIA DE PRÁTICA FUNDAMENTADO NA
AFETIVIDADE
A experiência, aqui relatada, compõe uma pequena parte da atuação da autora desse
artigo enquanto docente no ciclo de alfabetização dos anos iniciais do Ensino
Fundamental, desde o ano de 2013.
O ato de alfabetizar deve contemplar uma mediação significativa para os alunos e o
docente deve encher essa prática de motivação e construção de valores com o objetivo de
formar não só o aluno, mas também o ser humano, aquele que vai atuar e conviver em uma
sociedade.
Numa prática docente voltada para a perspectiva apresentada acima, o trabalho
deve ser pautado em atitudes de afetividade, amor, respeito, integração e sobretudo de
educação, em todas as suas formas de ensino, sejam elas de aspecto cognitivo ou formação
pessoal.
Seguindo essa linha de pensamento, foi elaborada uma sequência didática, na qual
se trabalhou o tema alimentação saudável junto aos alunos do primeiro ano do Ensino
Fundamental, durante uma semana de aula, contemplando os cinco dias letivos.
O trabalho foi desenvolvido em uma turma de 22 alunos com faixa etária entre 6 e 7
anos de idade, no ano de 2015, na Escola José Paulino da Costa, zona rural do município
20
de Luís Gomes/RN. O objetivo da sequência didática foi refletir sobre os hábitos
alimentares que fazem parte do dia a dia dos alunos, de modo a articular novas condutas,
para a atribuição de bons hábitos alimentares necessários a boa saúde do nosso corpo.
Além disso, a sequência também serviu para ajudar os alunos a reconhecerem os
diferentes hábitos de alimentação, diferenciarem alimentos saudáveis de alimentos não
saudáveis, compararem os próprios hábitos alimentares com os hábitos alimentares dos
colegas da turma identificando a presença de frutas, legumes e verduras (ou não) na
alimentação de cada um e compreenderem a importância de uma alimentação saudável,
para a saúde.
Durante o trabalho foi possível desenvolver com os alunos a confecção de cartazes
informativos e educativos sobre uma boa alimentação, a produção de tabelas individuais
junto com a família, mostrando seus hábitos alimentares mais frequentes, a confecção de
uma pirâmide de alimentos, coletivamente e a produção de máscaras com imagens de
frutas para todos utilizarem na culminância da sequência didática, com a realização da
receita de uma salada de frutas nutritiva.
Durante a efetivação das atividade foram trabalhado diversos tipos de textos, os
alunos tiveram a oportunidade de antecipar o sentido do texto a partir do suporte textual,
título e ilustrações, identificar informações explícitas no texto fazendo inferências e por
fim, identificar as características de gêneros textuais como cartaz, tabela, texto informativo
e texto narrativo.
Para atingir os objetivos delineados, foram planejadas e realizadas uma
diversificação de atividades, voltadas a integração das disciplinas e também a
contextualização do cotidiano das crianças, sempre trabalhando de forma dinâmica,
tentando envolver os alunos, utilizando para isso a afetividade em todas as ações
pedagógicas.
No primeiro dia, logo de início foi feita a apresentação do livro: Era uma vez uma
gota de Chuva, de Judith Anderson, das obras complementares do Programa Nacional de
Biblioteca Escolar (PNBE). Organizou-se um círculo para ouvir as expectativas dos alunos
realizando assim a antecipação da leitura, partindo do título e ilustração da capa, para
depois, realizar a leitura coletiva, onde foram dados vários posicionamentos dos alunos.
21
Em seguida realizou-se uma interpretação oral para melhor entendimento dos
alunos para que os mesmos compreendessem que o livro lido mostrava claramente o ciclo
da água na natureza, fazendo inferências sobre a importância da mesma como alimento
essencial para a vida de todos os seres vivos.
Nesse momento, o objetivo era mostrar a necessidade que temos de consumir água
em quantidade, para a nossa boa saúde corporal, assim como também, falar sobre a
necessidade do consumo da água sem desperdício nas atividades diárias e das formas de
poluição desse líquido precioso.
Em um segundo momento, realizou-se a escrita de listas de alimentos de origem
vegetal e de origem animal, que estão em nossos cardápios diariamente. Essa produção foi
realizada coletivamente, onde a professora foi a escriba da turma que ditou os nomes dos
alimentos com autonomia, sendo visível a interação e a troca de conhecimentos entre os
alunos da turma.
Em momentos como este, é possível perceber que a curiosidade paira na sala de
aula e a oralidade se expande de forma espontânea, considerando as vezes e vozes de cada
um e o respeito mútuo diante de cada fala. As crianças interagiram umas com as outras e
com a professora revelando com propriedade os seus conhecimentos já concretizados e
desenvolvendo atitudes que demonstravam cuidado e afetividade com os colegas que não
apresentavam tantas habilidades na hora de participar das situações propostas.
No segundo dia, com a sala de aula organizada em círculo, iniciou-se a aula com a
apresentação de um texto informativo sobre alimentos saudáveis, onde os alunos puderam
conhecer e observar os alimentos que ao serem consumidos são bons para a saúde e
àqueles que podem acarretar alguma doença, caso não se tenha um controle em seu
consumo. Neste momento, foram ouvidos posicionamentos dos alunos com relação ao
conteúdo, onde falaram sobre a sua própria alimentação, já considerando alguns alimentos
não saudáveis em sua rotina, como também, alimentos saudáveis.
Continuando, foi apresentada uma pirâmide de alimentos para que os alunos
pudessem ver onde localizava-se cada alimento que é consumido diariamente, e também,
se seu consumo é adequado para a nossa saúde.
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Seguiu-se com uma atividade de produção de legenda de alimentos que estão
situados na pirâmide alimentar, para a exploração do sistema de escrita, onde foram
organizadas duplas de alunos para essa tarefa. Buscando integrar as crianças com
habilidades mais avançadas com aqueles que sentiam um pouco de dificuldade na
sistematização da escrita, considerando-se que esta é uma ótima ação para incentivar a
amizade, a solidariedade e a humildade em sala de aula.
Ao final da aula, foi solicitado da turma que levassem consigo para casa, uma
tabela em branco, com as orientações de serem preenchidas junto à família, onde iriam
colocar por escrito, seus hábitos alimentares diários das seis refeições principais, café da
manhã, lanche da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar e ceia. Prevendo-se que esta
atividade seria o norte para a exploração do conteúdo na próxima aula. Também, foi
solicitado dos alunos, que trouxessem uma embalagem ou rótulo de um alimento, que
comumente tem em casa e que é consumido frequentemente pela família.
No terceiro dia, iniciou-se a aula com a apresentação do livro: Alimentos
Saudáveis: o que Ana sabe sobre alimentos?, de Simeon Marinkvic, do acervo do Pacto
Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC). Nesse momento, foi feita uma
reflexão sobre as atitudes da menina Ana, com relação a sua alimentação.
Diante dessa experiência, observou-se as próprias ações, com relação a forma de
alimentação de cada criança, numa conversa participativa. Assim, pôde-se perceber na
realidade, o que prefere-se comer no café da manhã se refrigerante ou leite? Fruta ou pão?
E no almoço feijão com arroz, carne, verduras ou um hambúrguer com refrigerante? Dentre
outros questionamentos, que geraram uma reflexão, quando relacionou-se as atitudes de
Ana e as de cada aluno quanto aos alimentos que podem beneficiar a saúde, o bom
crescimento, a saciedade necessária ao corpo e aqueles que não são proibidos, mas não
devem ser consumidos diariamente, por conter ingredientes que podem trazer danos ao
organismo, como diabetes, obesidade, pressão alta, etc.
Partindo-se dessa conversa, foi dado início as apresentações das tabelas que tinham
sido levadas como tarefa de casa, na aula anterior. Quase cem por cento da turma trouxe a
tarefa completa e que a mesma foi realizada em coletivo, junto com a mãe ou o pai, tendo
em vista que a família fez seu papel de incentivo e apoio ao aprendizado da criança, fato
muito importante para a ação alfabetizadora. Ficando percebido ainda, que se mostraram
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seguros nas falas e mostraram com propriedade cada alimento ali relacionado, como sendo
parte do seu cardápio diário.
Seguiu-se a aula com a leitura dos rótulos que foram solicitados como tarefa de
casa, junto às tabelas, e neste momento observou-se nas embalagens dos alimentos o valor
nutricional e a qualidade destes para a saúde. Avaliando-se cada alimento, na percepção
daqueles que podem ser consumidos com mais frequência e aqueles que só devem ser
consumidos de vez em quando. Foi produzido um cartaz coletivamente com os rótulos, que
ficou exposto na sala de aula.
No quarto dia, a aula iniciou-se com um grande círculo, onde foi apresentado o
livro Quantas Coisas: Clara e Daniel vão ao supermercado de Rosa Maria Tort, das obras
complementares do (PNBE), que conta a história de duas crianças que vão pela primeira
vez ao supermercado, junto com a família fazer compras e ficam entusiasmadas com a
variedade de coisas e produtos que observam no espaço de venda.
Partiu-se logo após a leitura, para a exploração da oralidade observando-se que
tipos de alimentos a família comprou, se são alimentos ricos em nutrientes saudáveis ou
não. Reconhecendo-se que neste diálogo foram muitos os posicionamentos das crianças
com relação a compra realizada pela família, onde se mostraram com bastante autonomia
ao falar da qualidade dos alimentos e também, foram curiosos em indagar sobre alguns
alimentos não serem saudáveis.
Finalizou-se a aula, com a produção coletiva de uma pirâmide alimentar em um
grande cartaz feito em papel madeira, onde os alunos recortaram de livros para recorte
algumas figuras de alimentos e posteriormente foram distribuir na pirâmide desenhada no
cartaz pela professora. Observou-se então, a motivação em mais um momento de interação
entre todas as crianças, mediados pela integração do conteúdo estudado, com as vivências
de cada um, em práticas de leitura, diálogo, trabalho coletivo, valorização dos saberes.
O quinto dia de aula, teve início com uma apresentação das frutas que cada criança
trouxe de casa, para compor uma salada de frutas coletiva, em sala de aula. Observou-se a
diversidade de frutas que foram expostas e suas vitaminas, qual a mais apreciada pela
turma, a menos apreciada, aquelas que se tem no quintal de casa, como também foi
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observada a falta de alguma fruta que a turma gosta e que ninguém a trouxe para a aula,
dentre outros posicionamentos e curiosidades que foram surgindo.
Após o diálogo, a aula deu seguimento com a produção de máscaras de frutas
variadas e conhecidas pelos alunos, como manga, goiaba, banana, maçã, abacaxi, dentre
outras, que foram previamente desenhadas pela professora em tamanho adequado e em
variedade, para que cada criança ficasse com uma fruta diferente. As alunos coloriram as
imagens das frutas, pensando na cor real das mesmas, em seguida colou-se em cartolina,
recortou-se e foi colocado um elástico para segurar no rosto.
Com as máscaras prontas, foi iniciada a aula de culinária, na produção de uma
receita coletiva com o título “receita da salada de frutas do primeiro ano”, a qual foi ditada
pelos alunos e escrita pela professora em um cartaz e depois realizada coletivamente com
as frutas que os alunos trouxeram de casa.
Percebeu-se, ao final da sequência didática, que os alunos além terem conhecido
um pouco sobre as vitaminas presentes nas frutas, perceberam a sua necessidade para a
saúde do nosso corpo. Em virtude da participação nas aulas e das produções de cartazes,
tabelas, pirâmides, máscaras e ainda, produziram uma receita nutritiva e saudável, foram
reconhecendo as formas e uso de alguns gêneros textuais, como também, integrando a sua
cultura alimentar com a cultura dos colegas e da professora, numa mediação gostosa e
motivadora, dentro da sala de aula.
Constata-se assim, a presença de um trabalho sequenciado, que necessitou de um
planejamento bem elaborado, com a organização de materiais diversificados como livros
para leitura, rótulos, pirâmides de alimentos, frutas, dentre outros. Exigindo assim, a busca
de metodologias adequadas para o uso desses materiais, de modo a estimular a participação
dos alunos. Percebendo-se assim a presença de uma prática permeada por atitudes de
afetividade, como cuidado, diálogo, solidariedade, integração.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a realização dessa pesquisa foi possível perceber a importância de uma
prática pautada sobre o viés da afetividade, quando se fala em turmas de alfabetização. Os
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resultados são percebíveis com facilidade e a relação entre professor e aluno é um dos
pontos mais fortalecidos nessa prática, ajudando o discente a desenvolver autonomia e
confiança.
É válido registrar que algumas dificuldades foram encontradas nesse processo de
escrita, porém, nada que atrapalhasse a execução do mesmo. Essas dificuldades surgiram
na busca de aportes teóricos que subsidiassem a escrita, de modo, a torná-la satisfatória
para a leitura e compreensão daqueles, que se interessarem pela temática da afetividade.
O tema abordado - a importância da pedagogia da afetividade no processo de
alfabetização de crianças do ensino fundamental - discorrido no corpo deste trabalho teve
como propósito esclarecer a relevância da atuação de um trabalho baseado no zelo, no
carinho e na dedicação, durante a atuação do pedagogo em sala de aula, tendo um olhar
especial ao ciclo de alfabetização dos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Para isso, buscou-se fazer também, a observação da prática pedagógica, para refletir
sobre o uso da afetividade no ambiente escolar, esclarecendo a necessidade de uma relação
mais aproximada com as crianças para favorecer uma aprendizagem com mais significado
para a sua formação enquanto pessoas pertencentes a uma sociedade.
Por esses motivos, fica a indicação da leitura deste estudo para o(a) professor(a)
atuante no ciclo de alfabetização dos anos iniciais do Ensino Fundamental e, também, para
os demais professores de pedagogia, supervisores e coordenadores pedagógicos, gestores e
por quem se interessar pela temática.
A indicação da leitura se faz oportuna, por reconhecer que contribuirá para a
reflexão profissional, mediante uma prática pedagógica, com olhar voltado para o uso da
afetividade como meio da interação entre os alunos e também com o professor, de modo, a
envolvê-los na participação das atividades com mais entusiasmo, autonomia e confiança.
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