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ALFABETIZAR OU NÃO NA PRÉ-ESCOLA? ANÁLISE INERENTE AO DESENVOLVIMENTO INFANTIL Josiane Peres Ferreira, Mara Silvia de Souza, Neuza Machado e Patrícia Xavier Gugel Introdução O processo de ensino-aprendizagem é bastante complexo e para melhor compreendê-lo deve-se conhecer as etapas do desenvolvimento humano, as influências e contribuições de fatores importantes nesse processo. Segundo Arribas, (2004) a criança inicia a aprendizagem desde o ventre de sua mãe e continua por toda a vida, porém é a partir do nascimento que o ser humano participa ativamente de seu desenvolvimento. Para a aprendizagem de conteúdos científicos na escola, a criança necessita de algumas condições básicas para aprendê-los, condições estas que dependem da maturação, desenvolvimento, influências do meio, entre outros fatores, ou seja, são pré-requisitos básicos para compreender novos conteúdos e assim por diante. Porém, percebe-se que muitas crianças apresentam dificuldades relacionadas à aprendizagem principalmente no período da alfabetização, o que pode estar vinculado a inúmeros fatores, como: estímulos precários, problemas neurológicos, condições físicas e emocionais, ou seja, faltam as condições básicas. No entanto, o que muitas vezes acontece é a cobrança exagerada, a exigência na hora de aprender a ler e escrever mesmo a criança não estando preparada para assimilar esse tão complexo processo, o que se torna um dos principais fatores, que leva pais e professores a tratarem o aluno como portador de dificuldade de aprendizagem. Cada criança tem um momento próprio de aprender e quando há falta de estímulos ou uma grande cobrança no momento da alfabetização pode causar uma demora no aprender, o que é confundido com a dificuldade de aprendizagem. É aí, que podemos perceber claramente a importância e a função da pré-escola, pois é quando a criança deverá ser estimulada e preparada para a alfabetização, trabalhando os pré-requisitos nos aspectos: cognitivo, motor e afetivo/social. Embora tenhamos claro que cada criança é um ser único, muitas vezes trabalhamos numa sala de aula como se fossem todos iguais, tardando a aquisição de conteúdos para alguns alunos, e ainda se faz uma comparação entre eles e não se observa os progressos obtidos por cada um em diferentes momentos da vida escolar, principalmente durante o processo de alfabetização. Assim, o que pretendemos é justificar a importância das condições iniciais para a aprendizagem, como a criança se desenvolve em todos os aspectos e para isto, iremos buscar embasamento nos principais autores que tratam sobre as teorias de desenvolvimento, com: Freud, Erickson, Piaget, etc. Mostrando assim, que deve ser respeitado o ritmo de cada indivíduo, bem como, dar condições mínimas de aprendizagem. Também apresentamos relatos de uma pesquisa realizada com vinte e oito pais e vinte e quatro professores de três escolas de Cascavel, juntamente com os comentários sobre a observação realizada em salas de aula de pré-escola em cada uma dessas escolas. Desta forma, procuramos estruturar o presente trabalho da seguinte maneira: inicialmente buscamos apresentar as principais teorias do desenvolvimento infantil, após destacamos a importância da maturação

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ALFABETIZAR OU NÃO NA PRÉ-ESCOLA? ANÁLISE INERENTE AO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Josiane Peres Ferreira, Mara Silvia de Souza, Neuza Machado e Patrícia Xavier Gugel IntroduçãoO processo de ensino-aprendizagem é bastante complexo e para melhor compreendê-lo deve-se conhecer as etapas do desenvolvimento humano, as influências e contribuições de fatores importantes nesse processo. Segundo Arribas, (2004) a criança inicia a aprendizagem desde o ventre de sua mãe e continua por toda a vida, porém é a partir do nascimento que o ser humano participa ativamente de seu desenvolvimento. Para a aprendizagem de conteúdos científicos na escola, a criança necessita de algumas condições básicas para aprendê-los, condições estas que dependem da maturação, desenvolvimento, influências do meio, entre outros fatores, ou seja, são pré-requisitos básicos para compreender novos conteúdos e assim por diante.Porém, percebe-se que muitas crianças apresentam dificuldades relacionadas à aprendizagem principalmente no período da alfabetização, o que pode estar vinculado a inúmeros fatores, como: estímulos precários, problemas neurológicos, condições físicas e emocionais, ou seja, faltam as condições básicas. No entanto, o que muitas vezes acontece é a cobrança exagerada, a exigência na hora de aprender a ler e escrever mesmo a criança não estando preparada para assimilar esse tão complexo processo, o que se torna um dos principais fatores, que leva pais e professores a tratarem o aluno como portador de dificuldade de aprendizagem.Cada criança tem um momento próprio de aprender e quando há falta de estímulos ou uma grande cobrança no momento da alfabetização pode causar uma demora no aprender, o que é confundido com a dificuldade de aprendizagem. É aí, que podemos perceber claramente a importância e a função da pré-escola, pois é quando a criança deverá ser estimulada e preparada para a alfabetização, trabalhando os pré-requisitos nos aspectos: cognitivo, motor e afetivo/social.Embora tenhamos claro que cada criança é um ser único, muitas vezes trabalhamos numa sala de aula como se fossem todos iguais, tardando a aquisição de conteúdos para alguns alunos, e ainda se faz uma comparação entre eles e não se observa os progressos obtidos por cada um em diferentes momentos da vida escolar, principalmente durante o processo de alfabetização. Assim, o que pretendemos é justificar a importância das condições iniciais para a aprendizagem, como a criança se desenvolve em todos os aspectos e para isto, iremos buscar embasamento nos principais autores que tratam sobre as teorias de desenvolvimento, com: Freud, Erickson, Piaget, etc. Mostrando assim, que deve ser respeitado o ritmo de cada indivíduo, bem como, dar condições mínimas de aprendizagem.Também apresentamos relatos de uma pesquisa realizada com vinte e oito pais e vinte e quatro professores de três escolas de Cascavel, juntamente com os comentários sobre a observação realizada em salas de aula de pré-escola em cada uma dessas escolas.Desta forma, procuramos estruturar o presente trabalho da seguinte maneira: inicialmente buscamos apresentar as principais teorias do desenvolvimento infantil, após destacamos a importância da maturação para a aprendizagem. Depois enfocamos a função da educação infantil e qual a sua relação com a alfabetização, para somente então descrever e analisar a pesquisa realizada, verificando assim, como a alfabetização deva ser trabalhada e cobrada nos primeiros anos escolares da criança.

Desenvolvimento Infantil: Importância Para a Vida EscolarHá muito tempo a humanidade vem se preocupando com o processo de desenvolvimento infantil. Estudiosos como Rousseau, Pestalozzi, Herbart e Froebel mostraram interesse, segundo Barros (1997), em estudar o comportamento e desenvolvimento da criança pequena. “Rousseau acreditava que a educação devia começar no nascimento e continuar até os vinte e cinco anos. Ele enfatizava a necessidade de estimular o desenvolvimento natural da criança...” (SPODEK, 1998, p.41).Com a passar do tempo surge a Psicologia do Desenvolvimento infantil que procura descrever, tão completa e exatamente quanto é possível, as funções psicológicas

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da criança, por exemplo: suas reações intelectuais, sociais, emocionais e motoras em diferentes idades, e descobrir como tais funções mudam com a idade.Hoje, já existem normas do desenvolvimento estabelecidas para vários comportamentos, por exemplo: tabelas de desenvolvimento motor que indicam quando uma criança consegue levantar o queixo, sentar-se, engatinhar, andar, pular num pé só etc.; de desenvolvimento de linguagem pelas quais sabemos de quantas palavras, aproximadamente é composto o vocabulário de uma criança aos 18 meses, com 1 ano, 2 anos etc. Há também descrições bem claras do desenvolvimento cognitivo, sexual, moral etc. É importante lembrar que para educar uma criança e ensiná-la, exige do adulto, além de amor e dedicação, o conhecimento das características infantis em cada fase do desenvolvimento: seus interesses, necessidades, motivações e possibilidades. Para ensinar um conteúdo a uma criança, precisa-se saber como ela organiza o seu pensamento, se está pronta para compreender aquela atividade, como poderá ser motivada, quais os melhores meios de ensiná-la e de tornar duradoura essa aprendizagem.Em cada idade, a criança vai apresentando características diferentes, novas maneiras de ser tanto fisicamente quanto em seus aspectos intelectuais, emocionais e sociais. Os problemas que aparecem em seu comportamento não podem ser ignorados pelos adultos, mas precisam ser estudados e compreendidos, para serem resolvidos. Não podemos esquecer, porém, que todos os aspectos do desenvolvimento estão inter-relacionados. Assim, à medida que uma criança cresce e amadurece fisicamente, sua inteligência também se desenvolve, seu comportamento sócio e emocional está sendo modificado e aprimorado. Os estudos sobre a infância passaram por muitas dificuldades para se impor como área realmente séria, científica e útil do ponto de vista social, somente a partir do século XIX é que se observa uma maior preocupação com os estudos sobre o desenvolvimento infantil.O início das pesquisas e estudos científicos tratavam do comportamento infantil, tendo como objetivo descrever e analisar os comportamentos típicos de cada faixa etária elaborando escalas de desenvolvimento. Assim, o desenvolvimento infantil poderia ser medido e comparado com o que se esperava para determinado período infantil, ou com o comportamento considerado normal. Podemos destacar estudiosos importantes como Simon e Binet (apud. BARROS, 1997) preocupados em pesquisar o comportamento humano. “Aplicando a escala Binet-Simon, determinamos a Idade Mental (IM) da criança, que poderá coincidir com sua idade cronológica...” (BARROS, 1997, p. 99).Por outro lado, Freud no início do século XX apresentava suas descobertas a respeito do desenvolvimento da personalidade da criança e com a constatação de que certos acontecimentos vivenciados na infância eram os determinantes principais de distúrbios de personalidade na idade adulta, mostrando a importância dos primeiros anos de vida na formação da personalidade, determinando o curso do seu desenvolvimento futuro no sentido da saúde mental e da adaptação social adequada ou da patologia através da hipnose. Segundo ele as crianças precisam passar por algumas fases na vida para poder crescer psiquicamente saudáveis. “Freud explica nosso desenvolvimento emocional, dizendo que o ser humano passa por diferentes períodos desde que nasce até alcançar a adolescência. Em cada um desses períodos, a libido toma uma direção característica.” (BARROS, 1997, p. 62,63).Assim, Freud destaca as fases no desenvolvimento infantil. Na fase oral (0 a 18 meses) os lábios, a boca e a língua são os principais órgãos de prazer e satisfação da criança, seus desejos e satisfações são orais, os atos de sugar, de por coisas na boca e de morder são fontes de prazer. Já na fase anal (18 meses a 3 anos) ela esta sendo ensinada a controlar as fezes e a urina. Sensações de prazer e desprazer associam-se tanto com a expulsão como a retenção das fezes, e esses processos fisiológicos, são tidos como os principais objetos de interesse da criança.Na fase fálica (3 a 7 anos) descobre a sexualidade das pessoas pois até então não tinha essa noção, começa também a chamada angústia do crescimento onde ela se recusa a fazer determinadas coisas que já fazia parte de sua rotina, ou seja, já aprendidas e incorporados, como: ir a escola, tomar banho, etc., este sentimento pode ser visto como normal porém não deve ser atendido, ou seja, a criança deve

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continuar realizando suas atividades normalmente, mesmo que às vezes não seja de seu agrado, pois nesta fase ela começa organizar os sentimentos de separação, percebendo que as pessoas se separam e quando isso acontece lhe causa dor. Interessa-se e aproxima-se mais do pai (menina) ou da mãe (menino). As respostas dadas as crianças nesta fase deverão ser sempre coerentes, corretas e de acordo com as perguntas feitas, atendendo a necessidade imediata da criança. É importante contar histórias para que ela possa se identificar com os personagens. O contato físico é de suma importância nesta fase. Freud trata na quarta fase do desenvolvimento a Latência que seria o período de calmaria, onde os impulsos são impedidos de se manifestar, aparecendo barreiras mentais, onde a libido concentra-se para finalidades culturais, ou seja, domínio da leitura da escrita e de muitas outras habilidades. É a época em que se manifesta a nítida separação entre meninos e meninas e a rivalidade entre os dois grupos. E conclui sua análise com a fase Genital onde na adolescência o objeto de erotização ou de desejo não está mais no próprio corpo, mas no outro. Neste momento meninos e meninas estão conscientes de suas identidades sexuais e começam a buscar formas de satisfazer suas necessidades eróticas.Outro estudioso que também contribui para a compreensão do desenvolvimento humano é Eric Erikson, (apud. SPODEK, 1998) discípulo de Freud, que apresenta o desenvolvimento abrangendo toda a vida humana, convertendo a teoria freudiana em estágios psicossexuais. Sua teoria é conhecida como as oito idades do homem. Seu trabalho representa uma grande contribuição para o entendimento do crescimento psicológico saudável, durante todo o ciclo da vida. Ele mostra, através da história pessoal, como os eventos e as reações durante a infância preparam as pessoas para serem adultos. Primeira idade: confiança x desconfiança (0 a 1 ano e meio) corresponde a fase oral de Freud. Nesta fase a criança irá ter experiências que a levarão a confiar ou não em sua mãe e também nas outras pessoas. Segunda idade: autonomia x vergonha (1 ano e meio a 3 anos), corresponde à fase anal da teoria freudiana. Com a crescente maturação física da criança, vem o desmame, a possibilidade de se locomover sem auxílio e a capacidade de controlar os intestinos e a bexiga, vai aos poucos se tornando independente de sua mãe, dando a ela um sentimento de autonomia, sentindo grande necessidade de fazer várias atividades sozinhas. Há também o desejo de explorar o ambiente, pegando objetos, abrindo e fechando gavetas, etc. Inicia-se também a linguagem, precisando de encorajamento e modelos para progredir na fala, porém sem exageros na correção da linguagem da criança, pois poderá surgir um sentimento de vergonha, se em suas primeiras tentativas para falar, ela for criticada por não falar do jeito certo.Terceira idade: iniciativa x culpa (3 a 6 anos), que corresponde a fase fálica descrita por Freud. Nesta fase a criança desenvolve sua identidade como menino ou menina. È importante fazer com que a criança se sinta segura, e não fazê-la se sentir culpada por expressar seus desejos. Essa é a idade em que a criança tem necessidade de receber esclarecimento sexual, à medida que manifeste curiosidade e capacidade de compreensão. Quarta idade: domínios x inferioridade (6 aos 12 anos), corresponde à fase da latência.A principal realização deste estágio é aprender habilidades, tanto na escola como fora dela. É a idade em que a criança aprende a ler, escrever, calcular, jogar futebol, xadrez, remar, tocar um instrumento musical, nadar, andar de bicicleta. Energia e motivação são muito acentuadas nessa idade. O professor deve ter como objetivo estimular na criança os sentimentos de competência e de domínio e relação às atividades escolares e evitar que nela se instale o sentimento de inferioridade.Quinta idade: Identidade x confusão de papéis (12 aos 18 anos), segundo ele o adolescente está na idade da identidade versus confusão de papéis, quando tem início, na doutrina freudiana, a fase genital. Durante todo o desenvolvimento, a criança teve uma longa série de identificações e, assim foi adquirindo algumas características dos pais, professores e de muitas outras pessoas. Tendo uma necessidade intensa de pertencer a um grupo social, onde esses o auxiliam a

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encontrar sua identidade no contexto social. Afirma que, para ajudá-los a crescer, necessita-se atribuir-lhes, cada vez mais, independência e responsabilidade. Sexta idade: intimidade x isolamento (18 a 30 anos), ao encontrar sua identidade, o jovem se dispõe a fundir sua identidade com a de outros. Ele estará preparado para a intimidade, pronto para abandonar a si mesmo sem ter temor de perder sua identidade.Sétima idade: generatividade x estagnação (30 a 60 anos), o adulto precisa sentir-se necessário, ou seja, criar uma nova geração e orientar os mais novos, mas quando isso não acontece, ocorre uma sensação de estagnação e de infecundidade.Oitava idade: integridade do Ego x desesperança (acima de 60 anos), nesta fase o adulto que satisfatoriamente tiver resolvido todas as crises anteriores e adquirido o senso de ajuda e solidariedade aos outros, terá atingido a integridade pessoal necessária para encarar a crise final, ou seja, a de sua desintegração e morte. Já os estudos a respeito do desenvolvimento cognitivo tiveram um importante impulso a partir das pesquisas do psicólogo suíço Jean Piaget, sua teoria foi chamada de construtivista onde ele e seus seguidores defendiam a idéia de que a criança constrói sozinha sua própria estrutura mental em um processo de ajuste ao meio. “Por mais de 40 anos ele realizou pesquisas com crianças, visando não somente conhecer melhor a infância para aperfeiçoar os métodos educacionais, mas também para compreender o homem.” (BARROS, 1997, p.104).Os conceitos importantes da sua teoria são: a adaptação que se refere ao ajuste constante que o ser humano deve fazer com o meio e consigo mesmo, onde a iniciativa partirá ora do meio ora do próprio sujeito. Quando a iniciativa é do ser humano que utiliza as condutas naturais ou apreendidas, incorporando a elas objetos do meio, modificando-os, ocorre a assimilação. Se ao contrário é o meio que requer que o sujeito modifique seus esquemas de conduta para resolver a situação estamos diante da acomodação.Piaget divide o desenvolvimento infantil em quatro períodos que caracteriza as diferentes formas do indivíduo interagir com o meio, construindo e organizando seus conhecimentos dos pontos de vista cognitivo, afetivo, social e perceptivo motor, são eles: Estágio sensório-motor (0 a 2 anos), o bebê começa a construir esquemas de ação para assimilar mentalmente o meio. A inteligência é prática, onde as noções de espaço e tempo são construídas pela ação. O contato com o meio é direto e imediato, sem representações ou pensamento.Estágio pré-operatório (2 a 7 anos), a criança se torna capaz de representar mentalmente pessoas e situações, podendo agir por simulação. Sua percepção é global, sem discriminar detalhes, deixando-se levar pela aparência, sem relacionar aspectos. Centra-se em si mesma, pois não consegue colocar-se abstratamente no lugar do outro.Estágio operatório concreto (7 a 11 anos), nessa fase, a criança já é capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair dados da realidade. Não se limita a uma representação imediata, mas depende do mundo concreto para chegar a abstração. Desenvolve também a capacidade de refazer um trajeto mental, voltando ao ponto inicial de uma situação.Estágio operatório-formal (12 anos em diante), neste estágio a representação permite uma abstração total, onde a criança não se limita somente a uma representação imediata ou a relações previamente existentes, mas é capaz de pensar em todas as relações possíveis logicamente.

Ele e outros mostraram que a capacidade de pensar sob a forma de operações formais não se desenvolve antes que as crianças atinjam a idade mental de uns 13 anos. Daí se segue que os métodos de ensino, para a maioria dos alunos dos cursos de 1º grau, e mesmo mais tarde, deveriam ser adequados a crianças que pensam em termos concretos. (BARROS, 1997, p.112).

Para o psicólogo soviético Vygotsky, a criança não constrói suas estruturas cognitivas sozinhas, mas a partir da influência essencial das pessoas a sua volta. Defende sua teoria através de níveis de desenvolvimento: o primeiro pode ser chamado de nível de desenvolvimento real, isto é, a capacidade que o indivíduo já adquiriu de realizar tarefas sozinho, decorrentes de etapas já alcançadas, e o

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segundo, no entanto é aquilo que a criança na solução de problemas consegue fazer, mas com a orientação de um adulto ou colega mais experiente, designando este nível de desenvolvimento potencial. A distância entre um nível e outro é chamado de zona de desenvolvimento proximal. Esta define as funções que ainda não amadureceram, mas que estão em processo de maturação. Com isso Vygotski quer afirmar que não se deve ater o aprendizado aos estágios de desenvolvimento já alcançados pela criança, mas sim, partir do que ela já sabe, organizando nossas propostas pedagógicas de trabalho e assim construindo o seu conhecimento. Lembra também que este conhecimento é um ato coletivo e que as funções psicológicas superiores são de origem cultural e social. Dando ênfase a questão da mediação.

Nesta zona, elas usam os suportes propiciados pelos mais maduros que funcionam como “andaimes”, permitindo a elas funcionarem e aprenderem novas competências que são então integradas aos seus repertórios. Portanto, nesta concepção a aprendizagem leva ao desenvolvimento, em vez de acompanhá-lo. ( SPODEK, 1998, p.77).

Segundo Vygotsky, a aprendizagem precede o desenvolvimento, despertando processos evolutivos que não poderiam ser efetivados de outra maneira. É preciso então ajudar a criança em seu processo de desenvolvimento. Considerando que uma proposta adequada de aprendizagem poderá impulsionar o desenvolvimento cognitivo das crianças.As posturas de ambos os estudiosos levam à atitude atual de considerar que o desenvolvimento e a aprendizagem são dois processos intimamente relacionados. Além disso, o nível de desenvolvimento favorece a aquisição de determinadas aprendizagens, mas uma adequada influência ambiental potencializa as possibilidades de desenvolvimento maturativo do sujeito.Ao falar da influência do ambiente na vida da criança não tem como não enfatizar a grande importância do desenvolvimento social, já que este está presente desde o nascimento tendo continuidade na infância, adolescência, seguindo pela vida adulta de cada indivíduo. Esse desenvolvimento social parte de um ponto zero, em que nem ele, nem o outro existem como pessoas. A partir daí irá estabelecendo a consciência do seu eu como pessoa independente dos demais, socializando-se graças à interação e as trocas que estabelece com os demais seres humanos.A criança por si mesma é um ser social e assim, necessita da presença de outros seres humanos para realizar suas possibilidades como pessoa. As capacidades intelectuais ou afetivas estão presentes no momento do nascimento, mas somente como possibilidades para alcançar seu pleno desenvolvimento e realização. Isto é, para que possa passar de potencialidade a realidade, é necessária a presença de outros seres humanos. Suas possibilidades pessoais não se realizam espontaneamente, mas necessitam da interação para progredir e completar-se. Além da família ou grupos que fazem parte da vida da criança, a escola na realidade atual é um grande agente de socialização, pois é nela que a grande maioria das crianças passa a maior parte do dia enquanto seus pais trabalham. Com certeza os tipos de relações pessoais dentro do ambiente escolar são diferentes daquele das relações familiares, bem como a afetividade, mas é parte essencial para o desenvolvimento completo da criança. Não difere apenas na qualidade das interações pessoais entre a família e a escola, mas também na quantidade de pessoas com quem a criança se relaciona em cada um desses meios. Surge então a necessidade de compartilhar, respeitar, modificar atitudes, opiniões, etc., para melhorar a qualidade da convivência em grupo.O desenvolvimento motor também é um aspecto fundamental para o crescimento infantil. Trabalhar aspecto motor na pré-escola está se tornando cada vez mais significativo, além de trabalhar esquema corporal, equilíbrio, coordenação motora, organização espaço-temporal psicomotricidade, etc, que são itens básicos no processo de alfabetização, traz autoconfiança do ponto de vista físico, melhorando as reações da criança às frustrações frente às atividades físicas e tem um papel importante no processo global de ensino.

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Os primeiros comportamentos da criança aparecem no ventre de sua mãe: ela se mexe, reage e aprende. A criança é antes de tudo um ser “motor”, quando ela manipula seus brinquedos, sua mamadeira, seus próprios dedos, ela aprende a descobrir o mundo. Suas primeiras tentativas de falar são acompanhadas de gestos diversos. Ao longo dos primeiros meses de vida, a criança não diferencia totalmente sua própria pessoa de tudo o que a rodeia. O crescimento físico e o desenvolvimento da coordenação motora denominam a vida da criança pequena.

A capacidade da criança de usar seu corpo, o amadurecimento do sistema nervoso e o crescimento de músculos e ossos possibilitarão que o rastejar, o engatinhar, o caminhar, a corrida e o salto passem a fazer parte do repertório motor da criança. No entanto, conseguir que cada um desses movimentos seja mais eficaz estará condicionado pelas situações de aprendizagem, que desempenharão um papel mais importante à medida que a criança vai crescendo. (ARRIBAS, 2004, p.141)

Outro fator que deve ser avaliado é o desenvolvimento afetivo, que é influenciado pelo ambiente onde a criança está inserida, bem como, depende da maneira como o emocional é construído, como a família se relaciona entre si e com a criança. As relações afetivas são globais e complexas, ou seja, atingem o indivíduo na sua amplitude.Desde a primeira infância, a criança vai aprendendo a se relacionar com o outro, a conhecer o que lhe é permitido. O brinquedo é um objeto que pode contribuir nessa aprendizagem, favorecendo a criação de símbolos para vivenciar, simbolicamente, sentimentos e emoções. “O desenvolvimento emocional das crianças pequenas é influenciado pelo seu ambiente. Elas são aquilo que podem fazer, sentir, entender, imaginar, perceber e escolher.” (SPODEK,1998, p. 80).Estudiosos e pesquisadores dizem que a presença do brinquedo ativo e espontâneo na criança é sinal de saúde mental e sua ausência um sintoma de doença física e mental. O modo como a criança brinca é um indicativo de como a criança está e de como é. A criança que não brinca não se aventura em algo novo e desconhecido, pode estar precisando de algum auxílio. Se, ao contrário, é capaz de brincar, de fantasiar, de sonhar, está revelando ter aceitado o desafio do crescimento, a possibilidade de errar, de tentar arriscar para progredir e evoluir.Assim, partindo das teorias dos estudiosos comentadas até aqui, ficou comprovado que o desenvolvimento cognitivo, afetivo, social e motor se iniciam muito cedo e que os primeiros anos de vida são importantíssimos no que se refere à estimulação intelectual.Além dos pensadores já citados, há muitos outros, os quais não seriam possíveis mencioná-los todos, que atribuem grande valor á estimulação do desenvolvimento geral, reconhecendo a influência do meio sobre a criança. Conhecendo a ampla ligação entre a aprendizagem e a maturação do indivíduo, ou seja, o crescimento físico, julga-se importante comentar de que forma a maturação interfere na aprendizagem infantil.Para compreender o desenvolvimento humano, é importante saber que as mudanças no comportamento resultam do amadurecimento do organismo e da aprendizagem. “... As crianças pressionadas a desempenharem além de seu nível de maturação do momento possa se desenvolver de forma ineficiente e experimentar um senso de valor e autoconfiança diminuído...” (SPODEK, 1998, p. 66).No desenvolvimento de alguns órgãos do corpo e de algumas funções psicológicas, há períodos críticos ou sensíveis, e se o organismo não receber estímulos adequados de seu ambiente (treino/ aprendizagem) durante determinados períodos de sua vida, a base física para certas atividades e funções poderá atrofiar-se.Voltando para o desenvolvimento humano, parece haver períodos de prontidão para a aprendizagem de várias tarefas, como controlar as excreções, ler, escrever, andar de bicicleta etc. Antes de o organismo atingir o desenvolvimento apropriado para a realização de determinada tarefa, não é possível sua aprendizagem. Pode-se concluir então que tanto o treino quanto à maturação são processos essenciais no desenvolvimento individual

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É então que o trabalho da pré-escola justifica-se por si só, tendo em vista que o estímulo que a criança recebe nos primeiros anos na escola será determinante para que o processo de aquisição de conhecimento futuros, principalmente a alfabetização.No caso da leitura e da escrita, como nos demais, terá maior sucesso no ensino dessas habilidades, a criança que for estimulada desde cedo, porém respeitando seu grau de maturação. De modo geral, entre o 5º e o 8º ano de vida, as crianças apresentam prontidão, maturidade para ler e escrever. No entanto há diferenças individuais entre elas, o que deve ser observado e trabalhado sem demasiadas exigências, porém auxiliar as crianças que necessitem.

É preciso entender que ler é uma forma a mais de comunicação, como falar ou ouvir. Deve ser integrada à sala de aula como outro aspecto da vida, e não à margem dela. Por isso é preciso oferecer experiências estimulantes em um ambiente afetivamente positivo que favoreçam a participação, sugiram hipóteses e interpretações e motivem o desejo de tirar conseqüências do se leu. (ARRIBAS, 2004, p. 196).

Ao ser questionada sobre o que é alfabetização, Emília Ferreiro (2001) define como um processo, e que alfabetizar é construir conhecimento que tem início muito cedo e que não termina nunca. Este fato se constata no dia a dia de cada indivíduo, pois desde cedo convive com as mais numerosas formas de informações produzidas e interpretadas pelos adultos, nos mais variados contextos, ou seja, vê letreiros em cartazes, jornais, revistas, televisão, placas, etc. Para que a criança faça relação com a escrita que tem contato fora da escola e dentro é necessário apresentar todo tipo de material escrito que for possível para a sala de aula. Como nos afirma Emília Ferreiro. “Em cada classe de alfabetização deve haver um “canto ou área de leitura” onde se encontrem não só livros bem editados e bem ilustrados, como qualquer material que contenha escrita...” (FERREIRO, 2001, p.33)Assim já vai tendo certas hipóteses a respeito do que seja ler e escrever. Vê-se então que a criança não espera chegar a idade certa ou que alguém se disponibilize a ensiná-la, mas vai aos poucos, naturalmente se alfabetizando. Com isso não se pretende dispensar o professor, mas sim alertá-lo para que antes de iniciar o seu trabalho conheça a sua turma e o nível que cada um se encontra para assim desenvolver atividades que ajudem seus alunos a se desenvolverem.Quando inicia seu processo de escrita a criança segue o mesmo caminho percorrido pela humanidade, ou seja, desenhos (icônica), traços (garatujas) que para quem os vê, não dizem nada, mas para ela tudo tem seu significado. Aos poucos, ao interagir com o meio vai crescendo nos seus estágios cognitivos e a medida que lhe é dada oportunidades com materiais impressos e de desenho, ela vai avançando cada vez mais. É importante nesta fase estimular a criança a folhear revistas, jornal, fotos, levando-a a interpretar gravuras e colocar à sua disposição lápis de cera, pincel atômico, folhas brancas, para representação gráfica de seu pensamento. Aos poucos vai aperfeiçoando e dando-se conta de que a escrita segue um padrão, pois só assim será entendida pelos demais.

Emilia Ferreiro, (1999) buscou na teoria de Piaget a explicação sobre o desenvolvimento da criança no ato de ler e escrever, do ponto de vista cognitivo. Segundo ela toda criança por quatro fases até que seja alfabetizada: pré-silábica, somente joga as letras, sem conseguir relacioná-las com a língua falada; silábica, interpreta a letra a sua maneira, atribuindo valor de sílaba a cada letra; silábico-alfabética mistura a lógica da fase anterior com a identificação de algumas sílabas; alfabética, domina o valor das letras e sílabas.Com relação às crianças provenientes do meio que não proporciona este contato com a leitura e a escrita, será um tanto mais complexo este processo. Com certeza se fará necessário um pouco mais de estimulação, mostrando-lhe a sua importância, já que até então as pessoas com as quais convive não o fizeram, pois estas muitas vezes não são alfabetizadas ou não usam a leitura e a escrita para a sua sobrevivência, ou melhor, no seu trabalho, não dando assim o seu devido valor. Relacionado a isto, está a questão da necessidade de partir do contexto em que a

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criança está inserida para que a aprendizagem possa ter significado. O professor deve propor também atividades que favoreçam a reflexão da criança sobre a escrita, porque é pensando que ela aprende. E ao aprender a ler e a escrever é como se ela reinventasse este processo e ser capaz de descobrir como se lêem ou se escrevem palavras que ainda não foram treinadas nem praticadas em sala de aula. Isso é diferente de decorar, pois o decorar é em curto prazo, porém pensando, ela adquirirá um importante instrumento que persistirá por toda a vida.

A Importância do Desenvolvimento Infantil para a AlfabetizaçãoA pré-escola é altamente comprometida com o processo de alfabetização, não porque deva iniciar o aluno nos mistérios do ler e do escrever, mas porque deva propiciar à criança condições de desenvolver os pré-requisitos indispensáveis para a alfabetização sistemática que deva acontecer no momento sinalizado por cada criança. Qualquer que seja o método escolhido e quaisquer que sejam os procedimentos didático-pedagógicos selecionados, o caminho será facilitado e suavizado se a criança aprender, de modo consolidado, os pré-requisitos indispensáveis para aprender a ler e a escrever. Salas de pré-escola com uma proposta curricular bem estruturada e enriquecedora podem garantir desde aí o exercício da cidadania e o acesso a bens culturais. Com isso, a caminhada em direção a aprendizagem sistemática terá sido iniciada.

Em relação à alfabetização, as políticas relativas a este nível educativo (impropriamente chamado pré-escolar) oscilam entre duas posições extremas: antecipar a iniciação da leitura e da escrita, assumindo alguns dos conteúdos (e, sobretudo, das práticas) que correspondem ao 1º ano da escola primária, ou então - posição oposta - evitar que a criança entre em contato com a língua escrita. (FERREIRO, 2001, p. 37).

Como nos fala Emília Ferreiro, a educação infantil depara-se com duas situações, que podem ser chamadas de extremas. São elas: educação infantil vista somente como espaço de recreação ou como local de alfabetização forçada.A primeira é entendida como espaço de lazer, brinquedo, alimentação, sem nenhuma preocupação pedagógica, voltada somente para o cuidar. Cuidar as crianças para que os pais pudessem trabalhar, tendo um local seguro onde pudessem deixar seus filhos. Já na segunda a educação infantil, principalmente no período da pré-escola tem como principal objetivo à alfabetização, chamada de alfabetização forçada onde o aluno deve realizar diversas atividades visando à alfabetização. Atividades estas, muitas vezes desconectadas da sua vida, mecânica, onde a criança aprende somente através da memorização de letras e sílabas.Por outro, lado hoje está se buscando novas concepções que vêem a pré-escola como um ambiente que deve permitir a criança o seu desenvolvimento integral, ou seja, físico, social, intelectual e emocional.

É durante os primeiros anos de vida que se constroem as estruturas básicas do pensamento, iniciam-se os mecanismos de interação com o ambiente e com a sociedade, e adquire-se a noção da própria identidade. Por isso, a intervenção e a gestão das instituições responsáveis pela formação no âmbito da educação infantil têm a seu cargo uma tarefa profissional de grande transcendência humana e social. (ARRIBAS, 2004, p. 15).

Neste sentido, cabe a pré-escola além de trabalhar a parte de recreação e socialização, contribuir para o desenvolvimento cognitivo da criança, preparando-a para a aprendizagem da linguagem oral e escrita e dos outros conhecimentos necessários para o seu desenvolvimento integral. Não priorizando nenhum dos aspectos, mas colocando cada um com sua devida importância.Surge então a pergunta que está tão presente no dia a dia de pais e professores de crianças pertencentes a esta faixa etária. A pré-escola deve ou não alfabetizar? Com certeza a resposta deve ser dada pela própria criança, pois a alfabetização vai depender do ritmo de vida de cada criança, dependendo também da sua maturidade entendida como pré-requisitos para a alfabetização. Sendo que a

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alfabetização em si é um processo natural, um caminho diverso para cada criança, no entanto, a estimulação e a mediação são de suma importância.Estas deverão ser feitas pelos pais, professores e demais pessoas que a circundam, oferecendo oportunidades para que ela faça as suas próprias interpretações sobre o mundo em que vive. Como processo natural não deverá ser precipitado, mas muito menos negado. Deve ser sim estimulado de forma prazerosa.Por isso, as salas de pré-escola e classes iniciais devem ser de fato um ambiente alfabetizador, onde são oferecidos e trabalhados todos os tipos de materiais para que, através da observação, comparação, classificação e reflexão, as crianças possam descobrir a importância da leitura e da escrita, procurando se apropriar dela, e assim, construindo seu conhecimento. Desta forma, a criança terá maior facilidade em toda a sua vida escolar, assimilando os conteúdos e interagindo com o contexto educacional.A aprendizagem na educação infantil deve partir de uma proposta pedagógica, que tenha como princípio o respeito ao contexto do qual a criança participa, bem como, valorizando o saber, o conhecimento que elas trazem para a escola.

A bagagem pessoal de conteúdos passivos e as potencialidades de cada ser humano, canalizadas por meio de aprendizagens significativas, permitem conhecer, interpretar, utilizar, valorizar e aperfeiçoar a realidade vigente. Portanto, o trabalho que o educador especializado deve realizar nos primeiros níveis terá de ser eminentemente ativo, a fim de estimular experiências e dotar com os recursos necessários os processos de amadurecimento, em consonância com os respectivos níveis educativos e o contexto sociocultural de cada criança. (ARRIBAS, 2004, p. 15).

Os profissionais que trabalham com a pré-escola devem se conscientizar que o seu trabalho não é só preparar estas crianças para as séries iniciais do ensino fundamental, mas para o resto da vida, pois é no período de zero a seis anos que são lançadas as bases para todas as aprendizagens futuras.Uma função importante da pré-escola é a grande contribuição para o processo de alfabetização, onde é proposto diariamente atividade em que ela possa desenvolver o uso da leitura e da escrita, mesmo que ainda não haja um domínio formal e sistematizado dos códigos lingüísticos, mas que serve para o desenvolvimento do pensamento da criança. Porém o professor não deverá exigir tampouco impedir que o aluno se alfabetize. Mas sim, dar condições para que a criança aprenda, para que ela própria construa o seu conhecimento, desenvolvendo todas as suas potencialidades, num processo natural e gradativo, levando em consideração o ritmo próprio da criança e suas condições cognitivas. As atividades devem ser ricas, vivas e dinâmicas que trabalhem também o aspecto afetivo.

Não é obrigatório dar aulas de alfabetização na pré-escola, porém é possível dar múltiplas oportunidades para ver a professora ler e escrever; para explorar semelhanças e diferenças entre textos escritos; para explorar o espaço gráfico e distinguir entre desenho e escrita... (FERREIRO, 2001, p. 39).

A pré-escola não deve ter como única finalidade a leitura e a escrita, mas considerar a alfabetização como leitura da realidade que a cerca, pois desta forma, ela pode contribuir para desenvolver a capacidade da criança de ver as coisas, interpretar uma história, um fato, distinguir cores, formas, tamanhos, através de símbolos não escritos, como dobraduras, maquetes, desenhos, pinturas, modelagens, etc.O importante será a estimulação na criança para essa pré-leitura e pré-escrita. Pois permitirá a criança aprender, oferecendo-lhe múltiplas oportunidades para interagir com a língua escrita, permitindo-lhe assistir a atos de leitura e escrita realizada pelo professor dando-lhe assim a oportunidade de escutar a leitura em voz alta, despertando o interesse e a curiosidade, para ela também poder ler para o professor, escrever e desenhar.Desde muito cedo a criança tem contato com a leitura e a escrita, pois está cercada de placas, jornais, revistas, dentre outros. Cabe ao professor trazer esta experiência

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para a sala de aula e transformá-la numa experiência coletiva. O papel da pré-escola é o de fazer a criança compreender o que é a escrita e as suas funções e não apenas fazê-la compreender os escritos, ou seja, codificar e decodificar.É preciso também o trabalho com as diversas formas de linguagem, dramatização, artes, montagem de álbuns, acesso a revistas, confecções de bilhetes, permitindo que as crianças vivenciem todas as formas de linguagem utilizadas pela sociedade, permitindo-lhes aprendê-las e usá-las para se expressar.Outra função muito importante na pré-escola é o brincar, pois a criança necessita de ação, de movimento. A escola então, deve organizar a energia do aluno de forma produtiva através das atividades, jogos e brincadeiras que envolvam a um só tempo, ação, aprendizagem e prazer. É através das brincadeiras que a criança irá compreender as pessoas, as situações e as experiências, aprendendo a conhecer a si própria, os outros e o mundo que a cerca. Organizando suas brincadeiras ela irá interagir com os colegas e disso resultará a aprendizagem.

Vygotsky, que se aprofundou no estudo do papel das experiências sociais e culturais a partir da análise do jogo infantil, afirma que no jogo a criança transforma, pela imaginação, os objetos produzidos socialmente. Ele ainda ressalta a importância dos signos para a criança internalizar os meios sociais. (FRIEDMANN, 1996, P. 65).

As palavras brinquedos, brincadeiras e crianças estão diretamente ligadas umas às outras. O brincar faz parte de infância. Essa nobre atividade da infância é destacada por vários autores, como: Piaget e Vygotsky cada um, à sua maneira, mostra a importância da brincadeira para o desenvolvimento infantil e aquisição do conhecimento.A criança trata o brinquedo conforme o recebe. Ela inconscientemente sente quando está recebendo por razões subjetivas do adulto, que muitas vezes, compra o brinquedo que gostaria de ter tido. É indispensável que a criança se sinta atraída pelo brinquedo e cabe ao adulto mostrar as possibilidades de exploração que ele oferece. A criança deve estar livre para brincar e não nos cabe interromper o pensamento ou a simbolização que está fazendo. Brincando, a criança desenvolve seu senso de companheirismo. Jogando com os amigos, aprende a conviver, a aceitar o sucesso e o fracasso, a compreender as regras, esperar a sua vez e aceitar o resultado frustrando-se ou motivando-se.A criança quando tem sua curiosidade despertada por jogos e brincadeiras, amplia seus conhecimentos; desenvolve habilidades motoras, cognitivas ou lingüísticas. A Educação Infantil deve considerar o lúdico como parceiro e utilizá-lo amplamente para atuar no desenvolvimento das crianças. As quais fazem da brincadeira uma ponte para o imaginário, a partir dele muito pode ser trabalhado. Contar e ouvir história, dramatizar, jogar com regra, desenhar, entre outras atividades constituem meios prazerosos de aprendizagem. Através delas as crianças expressam suas criações e emoções, refletem medos e alegrias desenvolvem características importantes para a vida adulta. O brincar é caminho natural do desenvolvimento humano.Como é grande a variedade de brinquedos e também de bibliografias que podem ser utilizadas para este fim, é importante que o professor conheça os interesses e habilidades de seus alunos, para que ela possa escolher as atividades e recursos de acordo com eles e com os objetivos que quer alcançar no processo ensino aprendizagem.Nas brincadeiras as crianças demonstram aquilo que elas gostam e pelo que elas se interessam. Coloca fatos reais acontecidos no cotidiano da família e da escola, sendo capazes através das brincadeiras tomar decisões. Através dela também se transformam em qualquer coisa ou pessoa que deseje. Pode ser um animal, seu objeto, adulto ou outra criança. Libera também suas emoções, dando-lhe a oportunidade de expressar sua raiva, desacordo, insegurança ou antipatia. Adere também ao mundo social, pois compartilha o mundo dos seus companheiros. Dividindo seu mundo com eles, aprendendo com os outros e sendo corrigida por eles e dando a sua contribuição na correção dos outros. As brincadeiras podem ser realizadas tanto em grupo, como individuais, pois as crianças necessitam de

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momentos a sós para refletirem e também deixam sua imaginação fluir, pois a imaginação é de suma importância para o seu desenvolvimento.Com relação ao conceito de alfabetização, este foi mudando historicamente e já foi empregado como sinônimo de conjunto de habilidades técnicas, retratando assim um modelo tradicional de educação onde o professor era um mero transmissor de conhecimentos e informações, dando ênfase a memorização no processo de aprendizagem, vendo a escrita simplesmente como um espelho da linguagem oral. Hoje este conceito ampliou-se requerendo dos indivíduos não só o domínio do ler e do escrever, mas que saibam fazer uso dela, incorporando-a no seu viver. O conceito “alfabetismo” passou a ser nomeado “letramento”, que se refere à condição que assume o indivíduo alfabetizado. Necessitando então que o processo educativo desenvolva nos educandos a consciência crítica, atuando assim na construção da própria história e da realidade social de que faz parte. Assim, o processo de alfabetização como prática de um projeto político deve oferecer uma linguagem de transformação dos que lutam por um futuro melhor.

Embora essa prática seja ainda bastante limitada, já se evidencia a busca de um “estado ou condição de quem sabe ler e escrever”, mais que a verificação da simples presença da habilidade de codificar em língua escrita, isto é, já se evidencia a tentativa de avaliação do nível de letramento... (SOARES, 2001, p. 21).

Mas para que isso possa acontecer precisamos da mediação de um professor crítico que estabeleça um clima de confiança e diálogo onde o aluno possa participar das reflexões propostas em sala de aula, respeitando a diversidade cultural, a vivência de cada um e fazendo com que o aluno reflita sobre a função social da leitura e da escrita vendo isto como algo importante, parte da sua vida e assim possam valorizá-la.

Relatos e Análise da Pesquisa de CampoProcurando investigar as contribuições da educação infantil foi realizada uma pesquisa qualitativa, com o objetivo de verificar como pais e professores percebem a importância da educação infantil para o aprendizado escolar de seus filhos e alunos. Para isto foi realizada uma coleta de dados com uma amostragem de 28 (vinte e oito) pais e 24 (vinte e quatro) professores de 3 (três) escolas de Cascavel que atendem a Educação Infantil, sendo uma particular, uma ONG e uma pública. As perguntas eram de cunho prático, interrogando-os se os mesmos freqüentaram a pré-escola, se perceberam contribuições ou tiveram dificuldade pela falta desta, bem como, se perceberam a importância da educação infantil para o desenvolvimento de seus filhos e alunos, e também segundo eles qual seria o melhor momento para a alfabetização.Com base no conhecimento teórico até aqui discutido, iremos analisar as respostas às questões respondidas por pais e professores das três escolas, aqui denominadas A, B e C. Relataremos um breve histórico de cada instituição para melhor nos situarmos a realidade vivenciada por elas. A escola A pertence a um bairro situado a periferia de Cascavel, atendendo atualmente 140 alunos de 2 a 6 anos em período integral provenientes de famílias de baixa renda. É uma entidade não governamental (ONG) que desenvolve atividades educativas. Nesta escola foi entregue um total de 16 questionários, 10 para pais e 6 para professores. Houve uma devolutiva integral por parte dos professores, porém somente 8 dos pais responderam e retornaram o questionário.A escola B está localizada à periferia desta cidade é uma instituição pública que atende aproximadamente 900 alunos, destes por volta de 600 permanecem na escola em período integral. A situação socioeconômica da maioria dos residentes no bairro e dos que freqüentam a escola é de classe baixo-baixíssima. Nesta escola foram distribuídos 10 questionários para professores, sendo que 5 foram devolvidos, e 10 foram entregues aos pais, dos quais 7 retornaram.A escola C, uma instituição particular, localizada num bairro na região central de Cascavel atende a 75 alunos provenientes de classe média, estes alunos freqüentam a escola período de quatro horas diárias. Nesta escola foram entregues

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8 questionários para professores, os quais foram todos devolvidos, e 10 para os pais, sendo que 8 foram respondidos e retornaram.Nesta pesquisa realizada para verificar como professores e pais compreendem e o que esperam do processo de alfabetização, bem como, de que forma a alfabetização deva ser estimulada durante a educação infantil, foi realizada primeiramente uma observação nas três escolas por aproximadamente 20 horas em salas de aula de pré-escola, verificando como são trabalhados os principais aspectos do desenvolvimento infantil, o cognitivo, o psicomotor e o afetivo-social.Os questionários realizados com pais e professores foram entregues em mãos e posteriormente recolhidos. Foram elaboradas questões de acordo com a observação realizada, bem como, com o estudo prévio sobre o crescimento infantil e o processo de aprendizagem da leitura e escrita. Foram elaboradas 5 questões para professores, sendo 3 objetivas e 2 descritivas. No questionário para pais havia 6 questões, das quais 5 eram objetivas e 1 descritiva. Dentre as perguntas de ambos os questionários, as 3 primeiras questões são iguais tanto para professores como para pais. A partir dos dados coletados faremos análise descritiva e através de gráfico quando percebermos a necessidade de melhor exemplificar.Dos questionários entregue aos pais, retornaram 23. No qual, a primeira pergunta, questionou-os quanto à freqüência na educação infantil quando criança. Ao que verificamos que um percentual de 78% dos pais, não freqüentou a educação infantil, e apenas 22% freqüentou. Isto pode se dar ao fato que a importância de cursar a pré-escola vem sendo percebida com maior intensidade nos últimos 20 anos. No entanto, na escola B nenhum pai freqüentou este período escolar, isto pode se dar por vários fatores como: distância da escola, que até pouco tempo atrás eram poucas as escolas que ofertavam esta série, por condições financeiras, por acreditar que não se fazia importante naquele momento esta etapa no estudo infantil, o que realmente a sociedade ainda não valorizava tanto a iniciação da alfabetização anterior aos 7 ou 8 anos de idade.Sabemos também o quanto é fundamental este período, pois a criança está num estágio pré-operatório, segundo Piaget, e necessita de estímulos para compreender mais tarde com maior facilidade os conceitos abstratos. Tendo ciência de que a educação infantil foi reconhecida como importante no desenvolvimento da criança a pouco tempo, e que depositou-se uma maior atenção neste período infantil a partir do início do século XX, podemos compreender o fato de muitos pais não terem tido a oportunidade de freqüentar as séries iniciais anteriores ao período escolar obrigatório. “Finalmente, no início do século XX, a Escola Nova impulsiona a educação infantil. Vive-se um clima de renovação e de sensibilidade em relação ás necessidades das crianças menores, e abrem-se novas perspectivas quanto ao nível educativo em questão.” (ARRIBAS, 2004, p. 12)Na segunda questão, os pais deveriam descrever as contribuições da pré-escola e as dificuldades devido a não terem freqüentado a educação infantil. Algumas contribuições importantes foram citadas: prepara para enfrentar os obstáculos da vida e ser um cidadão, facilita o relacionamento em grupo, a coordenação motora, e uma dificuldade apontada é a não socialização, ou seja, dificuldade em interagir e falar com os outros. Analisando estas respostas, percebe-se o quanto à necessidade da pré-escola é reconhecida. A pré-escola tem o papel de estabelecer na criança os pré-requisitos para a socialização e a alfabetização, seja a nível motor ou cognitivo.Quando questionados sobre o momento de iniciação do processo de alfabetização, os pais tiveram as seguintes respostas:

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Do total de pais, 65% afirmam que o filho deva ser estimulado, dado condições para facilitar o processo de construção da alfabetização sem demasiadas exigências. E 35%, um número bastante significativo, aponta que o filho deva ser alfabetizado e para isso a criança recebe estímulos, porém muito mais cobranças. Assim, observamos que se reconhece a importância da pré-escola, no entanto nem todos têm a mesma compreensão sobre a função da educação infantil, que é trabalhar os aspectos motor, cognitivo e afetivo/social, para a estimulação da aprendizagem.

Assim como os objetivos da alfabetização do início da escola primária necessitam redefinir-se, também necessitam redefinir-se os objetivos da pré-escola com respeito à alfabetização. Não se trata, nesse nível, nem de adotar as práticas ruins da escola primária, seguindo este ou aquele método de ensinar a ler e escrever, nem de manter as crianças assepticamente afastadas de todo o contato com a língua escrita. Esta é uma falsa dicotomia que se expressa na famosa pergunta: deve se ensinar a ler e escrever na pré-escola ou não? Minha resposta é simples: não se deve ensinar, porém deve-se permitir que a criança aprenda. (FERREIRO, 2001, p. 38).

Na questão número 04, procurou-se avaliar a contribuição dos pais na aprendizagem escolar de seus filhos. Iremos verificar a importância dispensada a todos os itens. Em específico na escola C, todos os pais responderam que dão igual importância a todos os pontos colocados e, que se empenham em realizar as opções, atingindo 100% das respostas em todos os itens. A família possui um papel fundamental na aprendizagem escolar do filho, juntamente com a escola caminhando na mesma direção facilitando o aprender da criança.

Ao longo das diversas etapas do processo educativo, essas duas fontes de intervenção devem proporcionar às crianças de idades mais precoces referências coerentes e suficientemente abertas que lhes permitam integrar-se na cultura e na sociedade. É óbvio, portanto, que as duas linhas de atuação devem incidir em uma mesma direção para garantir a estabilidade e o equilíbrio, fatores indispensáveis para uma adequada formação. (ARRIBAS, 2004, p. 13).

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Nesta questão, os pais tiveram a liberdade de escolher mais de uma opção, desta forma verificamos que as opções tiveram praticamente a mesma porcentagem de escolha, o que demonstra que na visão dos pais todos os itens são igualmente importantes. Podemos observar que os pais instintivamente, ou não, praticam o que os estudiosos afirmam ser fundamental para o desenvolvimento infantil, que é a realização de atividades lúdicas e o acompanhamento dos pais nas atividades escolares. Duas das opções que podemos ressaltar a importância é o fato de adquirir livros e contar histórias, pois isto revela a criança formas de vivenciar os conflitos inconscientemente e contribuirá para tornar-se um leitor assíduo futuramente.

O livro ouvido, tocado, visto, compartilhado, a induzirá mais tarde ao desejo de lê-lo sozinha, recordando o lugar exato onde começam as seqüências, a entonação com que as percebeu, o esclarecimento dado pelo adulto sobre o que não compreendeu... E tantas outras coisas mais! (ARRIBAS, 2004, p. 188).

É na leitura que o indivíduo encontra informações que acrescentará em seu conhecimento e no momento da escrita darão subsídios para a ampliação do pensamento, e para produzir um texto com idéias completas, com clareza e seqüência.Na 5ª questão, os pais foram questionados sobre porque seu filho freqüenta a educação infantil. Dos pais que responderam 72% afirmam que os filhos freqüentam a pré-escola por ser realmente importante e trabalhar os pré-requisitos básicos fundamentais ao processo de ensino-aprendizagem. E uma parcela de 28% diz ser devido a trabalharem e não ter com quem deixar o filho, talvez seja pela necessidade de pai e mãe trabalharem fora, até pelas exigências subjetivas da sociedade.

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Analisando as respostas percebemos que nas escolas A e C, os todos os pais responderam que seus filhos freqüentam a pré-escola porque é importante ao desenvolvimento infantil, logo os 28% que deixam os filhos na escola devido a não ter outro local foram respostas dos pais da escola B, talvez isto aconteça devido ao fato de não terem freqüentado a educação infantil e ainda não terem claro a função importante que este período escolar desempenha em toda a vida do indivíduo.A última questão interroga os pais sobre quais os lugares apropriados para deixar o filho entre os 3 e 6 anos de idade nos momentos em que não podem cuidá-lo, haja visto que este período é muito importante para o desenvolvimento da criança.

Analisando as respostas, percebemos que a maioria dos pais confia seus filhos a creches ou escolas acreditando ser importante para a aprendizagem escolar e porque estão sendo assistidos por profissionais responsáveis. A escola dá suporte aos pais na educação dos filhos em vários aspectos, sendo um deles a socialização fator importante para a vivência futura quando já estiver adulta. Assim, percebemos que a educação infantil está cada vez mais sendo compreendida como imprescindível ao processo de ensino-aprendizagem dando condições básicas para o início da alfabetização. O questionário que foi entregue aos professores é composto por 3 questões objetivas e 2 descritivas. Na primeira questão, os professores foram interrogados sobre se freqüentaram a pré-escola quando criança, ao que um percentual de 60% dos professores não fez a pré-escola e 40% deles cursou, o que podemos verificar que quando criança uma considerável parcela de educadores teve contato com a pré-escola, tendo assim, a oportunidade de receber estímulos com um maior

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direcionamento facilitando a aprendizagem. Percebemos também que a diferença entre pais e professores que freqüentaram a educação infantil é de 18% a mais para os professores, o que certamente deva ter influenciado na vida escolar desses profissionais.

A segunda questão era descritiva e os professores deveriam apontar as contribuições da educação infantil, bem como, as dificuldades que tiveram pela falta desta. Os professores que cursaram a pré-escola relatam que tiveram as seguintes dificuldades nos aspectos: raciocínio lógico, lateralidade, timidez, coordenação motora, representação de idéias, orientação espacial e socialização, que são conceitos muito trabalhados durante esta etapa escolar. Já os que freqüentaram a educação infantil apontam as seguintes contribuições: maior facilidade na coordenação motora, no desenvolvimento do raciocínio, socialização, criatividade e organização espacial. Muitas vezes hoje, percebemos que o trabalho da escola vai além em vários sentidos, como: dar um suporte social, visto que algumas políticas de governo atualmente introduzem neste ambiente formas de apoio à comunidade.Verificamos que em momento algum se falou na alfabetização na pré-escola, até porque esta não era a proposta da educação infantil, e somente nos últimos anos é que a maioria das escolas está enfocando a alfabetização neste período, talvez pelas exigências da sociedade atual que cada vez mais cedo o indivíduo deve estar preparado para entrar no mercado de trabalho.Na questão de número 3, os professores foram interrogados sobre qual é o melhor momento para a aprendizagem da leitura e escrita. O gráfico abaixo nos mostra que não houve quem respondesse que na pré-escola não se deva introduzir o processo de aprendizagem da leitura e escrita, que a criança não deva ser alfabetizada, não deva receber qualquer estímulo para a alfabetização. Como nos afirma Emília Ferreiro, estudiosa do processo de alfabetização, e outros autores que também concordam com esta posição e função da pré-escola.

Para a grande maioria, os alunos devem ser estimulados durante a pré-escola e, 25% relatam que a criança deva ser alfabetizada. Entre os professores uma porcentagem menor que a dos pais acredita que o aluno deva ser cobrado no momento da alfabetização na pré-escola. É verdadeira a afirmação que a criança

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deva receber amplos subsídios e frente a estes não será alfabetizada sob pressão e sim por suas assimilações espontâneas. Como nos fala Arribas:

É necessário incorporar estímulos ricos na educação infantil. Uma educação das habilidades mentais que impulsione o potencial da criança e a leitura é fundamental, nesse sentido, sem descuidar de sua educação motora, sensorial e social para um desenvolvimento harmônico do ponto de vista físico, psicomotor, intelectual e social. (ARRIBAS, 2004, p.196).

Nos momentos de observação realizado nas três escolas podemos perceber que na escola B, uma escola pública, o que foi possível perceber é que a estimulação em relação à alfabetização é um pouco limitada, embora exista um trabalho diário direcionado a esta questão. No entanto não se percebeu o mesmo em relação à escola A, pois nesta a rotina de trabalho enfoca tanto a coordenação motora, um fator essencial, como a iniciação com o processo de aprendizagem da leitura e escrita. Já na escola C, uma escola particular a alfabetização na pré-escola é mais dirigida e focaliza o aprendizado ainda na educação infantil da leitura e escrita.A questão de número 4, também descritiva, no entanto, os professores responderam que a proposta pedagógica da escola onde trabalham é adequada ao desenvolvimento infantil, mostrando que praticamente a totalidade acredita na forma como é encaminhado o processo ensino-aprendizagem. E a minoria de 10% acredita que é necessário rever a metodologia utilizada pela escola onde atua. Assim, verificamos o gráfico:

Partindo das respostas dos professores que se limitaram a responder a questão optando pelo SIM ou pelo NÃO, e não acrescentaram a sua opinião sobre a proposta pedagógica da escola, não fizeram comentários sobre a forma como é encaminhado o trabalho, o processo ensino aprendizagem, talvez porque a proposta necessite ser mais discutida, refletida para que todos tenham um maior conhecimento sobre como proceder, que método é utilizado pela escola no processo de ensino aprendizagem.A proposta pedagógica da escola B, ou o Projeto Político Pedagógico não foi revisado nem comentado nos três últimos anos, segundo os professores desta instituição, assim parece-nos bastante difícil ter um conhecimento sobre a mesma visto que o trabalho diário deva ser encaminhado e fundamentado neste documento, no entanto, 100% dos professores desta escola responderam que conhecem a proposta adotada pelo sistema de ensino municipal. A 5ª e última questão foram formuladas sobre se a prática de sala de aula do professor é condizente à proposta de ensino contida no Projeto Político Pedagógico da escola onde atua, ao que 85% afirmam que conhecem e trabalham de acordo com a metodologia da escola, e 15%, um número bastante significativo ainda não tem clareza do Projeto Político Pedagógico, o que podemos considerar que deva ser necessário o estudo e construção desse projeto por todos os envolvidos com a educação nas instituições escolares.

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Analisando somente as respostas dos professores da escola B, percebemos que 100% destes afirmam que seu trabalho condiz com o Projeto Pedagógico da escola e apenas nas escolas A e C é que os professores dizem que ainda não tem clareza se a se sua prática é condizente com o método seguido pela instituição.Frente ao estudo realizado sobre o desenvolvimento infantil que nos apresenta subsídios para conhecermos bem as etapas de crescimento da criança e assim, verificarmos como podemos contribuir estimulando e trabalhando aspectos necessários ao bom desenvolvimento infantil, bem como, a função da pré-escola na visão de autores renomados nesta área como, Emília Ferreiro. E ainda com a análise da pesquisa realizada com pais e professores, percebemos que há certa falta de informação da sociedade em geral sobre o crescimento infantil e o processo da alfabetização, o que é perfeitamente coerente, pois a maioria dos brasileiros tem dificuldade em fazer um planejamento familiar, e assim acabam tendo filhos sem um devido conhecimento principalmente sobre a infância, e a função da família neste período infantil.Nas escolas o principal foco deve ser a alfabetização ou o letramento para alguns estudiosos, muito resta por discutir, estudar e reorganizar neste processo que é necessário revermos para a melhoria da aquisição da leitura e escrita. Sabemos que o conjunto de conhecimentos que um indivíduo adquire em seu desenvolvimento depende das exigências do meio cultural em vivenciado e, já que os conteúdos ensinados nas escolas são estruturados de acordo com o que o meio, a sociedade aponta como necessário.O processo de aprendizagem, da alfabetização em específico, é bastante delicado assim, como qual o momento e a forma como deva ser encaminhado ou o método a ser utilizado, visto que cada indivíduo possui suas peculiaridades e maneiras de aprender com maior facilidade. Muitas vezes, a forma como o sistema de ensino está organizado também influencia na aprendizagem quase sempre dificultando esta aquisição por parte do aluno, seja devido aos conteúdos exigidos, aos métodos ou pelo sistema de avaliação, entre outros.O contexto em geral da vivência, a organização do ambiente pode contribuir como prejudicar no aprendizado, pois o emocional do indivíduo está diretamente ligado a todas as atitudes, reações e assimilações de cada um. A intencionalidade educativa é fator determinante na vida de qualquer pessoa, seja naquele momento ou futuramente.REFERÊNCIASARRIBAS, Tereza Lleixá. Educação Infantil: desenvolvimento, currículo e organização escolar. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.BARROS, Célia Silva Guimarães. Pontos de Psicologia Geral. 15ª ed. São Paulo: Ática, 1997.FERREIRO, Emília. Com todas as letras.Tradução Maria Zilda de Cunha; 9ª ed. São Paulo: Cortez, 2001.FERREIRO, Emília. Psicogênese da língua escrita / Emília Ferreiro e Ana Tberosky; trad.Diana Myriam Lichtenstein, Liana Di Marco e Mário Corso. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.FRIEDMANN, Adriana. Brincar: crescer e aprender – O resgate do jogo infantil. São Paulo: Moderna, 1996.SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.SPODEK, Bernard. Ensinando crianças de três a oito anos/ Bernard Spod Oliveira N. Saracho; trad. Cláudia Oliveira Dornelles. Porto Alegre: Artmed, 1998.

Publicado em 07/06/2006 09:49:00