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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ
CURSO DE TURISMO
Mayanne Fabíola Silva Araújo
TURISMO E PAISAGEM: OS IMPACTOS DA SECA 2012-2016 NO AÇUDE
GARGALHEIRAS-RN
CURRAIS NOVOS-RN 2016
Mayanne Fabíola Silva Araújo
TURISMO E PAISAGEM: OS IMPACTOS DA SECA 2012-2016 NO AÇUDE
GARGALHEIRAS-RN
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado à Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, campus Currais Novos, para obtenção do grau de bacharel em turismo. Orientadora: Profa. Dra. Carolina Todesco
CURRAIS NOVOS-RN 2016
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ensino Superior do Seridó - CERES
Currais Novos
Araújo, Mayanne Fabíola Silva.
Turismo e paisagem: os impactos da seca 2012-2016 no açude
Gargalheiras-RN / Mayanne Fabíola Silva Araújo. - Currais
Novos, 2016.
59f.: il. color.
Orientadora: Profa. Dra. Carolina Todesco.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de
Ensino Superior do Seridó. Departamento de Ciências Sociais e
humanas. Curso de Turismo.
1. Turismo - Monografia. 2. Açude Gargalheiras-RN - Seca -
Monografia. 3. Seca - Impactos - Monografia. I. Todesco,
Carolina. II. Título.
RN/UF/BSCN CDU 338.48:504
TURISMO E PAISAGEM: OS IMPACTOS DA SECA 2012-2016 NO AÇUDE
GARGALHEIRAS-RN
O trabalho apresentado foi julgado e aprovado para a obtenção do grau de bacharel em turismo, no curso de graduação em turismo bacharelado da Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN.
Currais Novos-RN, ___ de _______ de 2016.
______________________________ Profa. Dra. Carolina Todesco
Coordenador do Curso de Turismo
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________ Profa. Dra. Carolina Todesco
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Orientadora
___________________________________________________
Profa. Dra. Paula Rejane Fernandes Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Examinadora
___________________________________________________ Profa. Dra. Rosana Silva de França
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Examinadora
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de Direito e que se fizerem necessários, que assumo
total responsabilidade pelo material aqui apresentado, isentando a Universidade
Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, à Coordenação do Curso, a Banca
Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do aporte
ideológico empregado ao mesmo.
Conforme estabelece o Código Penal Brasileiro, concernente aos crimes contra a
propriedade intelectual o artigo n.º 184 – afirma que: Violar direito autoral: Pena –
detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. E os seus parágrafos 1º e 2º,
consignam, respectivamente:
§1º Se a violação consistir em reprodução, por qualquer meio, no todo ou em parte,
sem autorização expressa do autor ou de quem o represente, (...): Pena – reclusão,
de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, (...).
§ 2º Na mesma pena do parágrafo anterior incorre quem vende, expõe à venda,
aluga, introduz no País, adquire, oculta, empresta, troca ou tem em depósito, com
intuito de lucro, original ou cópia de obra intelectual, (...), produzidos ou reproduzidos
com violação de direito autoral.
Diante do que apresenta o artigo n.º 184 do Código Penal Brasileiro, estou ciente
que poderei responder civil, criminalmente e/ou administrativamente, caso seja
comprovado plágio integral ou parcial do trabalho,
Currais Novos-RN, ___ de ____________ de 2016.
________________________________
Mayanne Fabíola Silva Araújo
Dedico este trabalho a população do Povoado Gargalheiras, que colaborarou com a pesquisa de coração aberto.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço a DEUS, por ter me dado força e coragem durante
os quatro anos de graduação.
Agradeço também aos meus pais, Neco e Fátima, que me apoiaram do início
ao fim dessa caminhada sem medir esforços para que eu chegasse até aqui e as
minhas irmãs, Mayonara e Marynara, pelo incentivo nas horas difíceis, sem me
deixar desanimar.
A minha orientadora Carolina Todesco, que sempre me ajudou, agradeço por
ensinar de coração e por acolher seus alunos como filhos. Sou muito grata pela
sinceridade, pela preocupação, por ser fonte de inspiração, pela amizade e
principalmente por ter comprado essa ideia junto comigo, sem a sua ajuda eu não
teria chegado até aqui.
Aоs meus professores, a minha gratidão por me proporcionar о conhecimento
nãо apenas racional, mаs а manifestação dо caráter е afetividade dа educação nо
processo dе formação profissional. Obrigada por tanto se dedicarem а mim, em
especial as professoras Paula Rejane Fernandes, Rosana França e Mabel Guardia,
pela paciência e conselhos para que eu me tornasse uma pessoa melhor.
Não poderia deixar de agradecer a minha “turminha” de graduação, não sei o
que seria desses quatro anos sem eles, Juliana, Xavier, Ayanny, Diana e Arthur.
Obrigada por não terem deixado eu desistir, por cada sorriso, cada debate e cada
discussão, vocês me tornaram uma pessoa melhor.
Ao meu namorado, Gabriel, que caminhou comigo durante toda essa jornada,
os agradecimentos são por me ajudar com as angústias, medos e por sempre
acreditar nesse sonho junto comigo.
Por fim, agradeço a todos que participaram de forma direta оυ indireta na
minha formação, muito obrigada a todos!
Eita, Nordeste da peste,
Mesmo com toda sêca Abandono e solidão,
Talvez pouca gente perceba Que teu mapa aproximado
Tem forma de coração. E se dizem que temos pobreza
E atribuem à natureza, Contra isso,eu digo não.
Na verdade temos fartura Do petróleo ao algodão.
Isso prova que temos riqueza Embaixo e em cima do chão.
Procure por aí a fora "Cabra" que acorda antes da aurora
E da enxada lança mão. Procure mulher com dez filhos
Que quando a palma não alimenta Bebem leite de jumenta E nenhum dá pra ladrão
Procure por aí a fora Quem melhor que a gente canta, Quem melhor que a gente dança
Xote, xaxado e baião. Procure no mundo uma cidade
Com a beleza e a claridade Do luar do meu sertão.
Luiz Gonzaga de Moura
RESUMO
A Barragem Marechal Dutra, conhecida popularmente por açude Gargalheiras, foi construída no município de Acari, interior do Rio Grande do Norte, em meados do século XX, a fim de minimizar os impactos ocasionados pela seca na região do Seridó. Tornando-se espaço de turismo e lazer para a população regional, o lugar atualmente tem enfrentado um dos maiores períodos de estiagem de sua história e isso tem ocasionado sérios problemas à população. Dessa forma, o objetivo geral do trabalho é analisar como a alteração na paisagem do açude Gargalheiras, ocasionada pela seca de 2012-2016, vem impactando as atividades turísticas na localidade. Além disso, nos interessa investigar as estratégias adotadas pelos empreendimentos na área de turismo e pela população local com o atual cenário. O procedimento metodológico dessa pesquisa, caracterizada como qualitativa, teve como principal instrumento de coleta de informações entrevistas semiestruturadas com a comunidade local, proprietários de estabelecimentos comerciais e secretário municipal de turismo. Dessa maneira, o conjunto de informações coletadas permite afirmar que a mudança na paisagem do açude Gargalheiras impactou diretamente a atividade turística no local, assim como a qualidade de vida da população que dependia da pesca, do turismo e do comércio.
Palavras-Chave: Turismo. Paisagem. Seca. Açude Gargalheiras-RN.
ABSTRACT
The Marechal Dutra Dam as known by the populars for Gargalheiras water reservoir was built in Acari interior of Rio Grande do Norte State in the middle of the 20th century for the purpose to minimize the impacts caused for the drought in the Seridó Region. Becoming a tourist and a pleasure space for the local population the water reservoir now a day has faced one of the driest period of your history and this occasioned serious problem to the population. In this way, the general goal of this monograph is to analysis how the change in the landscape of Gargalheiras water reservoir caused by the drought 2012- 2016 come impacting the tourist activities in the locality. Besides that, it’s of our interest investigate the strategy used by the enterprises of the tourist area and the local population according the actual canary. The methodological procedure of this research characterized like qualitative had like the main tool for collecting information semi-structured interviews with the local community, owners of commercial establishments and municipal tourism secretary. In this way, with whole information it can affirm that the landscape change of Gargalheiras water reservoir had a direct impact on the tourist activity in the area, as well as the life quality of the population that depended of fishing, tourism and trade.
Key words: Tourism. Landscape. Drought. Gargalheiras water reservoir.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Polígono das Secas. ......................................................................................................... 29
Figura 2. Manchete de 1925 sobre os problemas administrativos das grandes barragens. .. 34
Figura 3. Casa dos Engenheiros (ao fundo) da Barragem Marechal Dutra – Açude
Gargalheiras. ....................................................................................................................................... 35
Figura 4. Início da construção da Barragem Marechal Dutra – Açude Gargalheiras. ............. 35
Figura 5. Sangria do Açude Gargalheiras em 2011...................................................................... 36
Figura 6. Situação do Açude Gargalheiras em 2014. ................................................................... 36
Figura 7. Povoado Gargalheiras/Vila dos Pescadores. ................................................................ 41
Figura 8. Ponto de Venda de Produtos da Pesca. ........................................................................ 41
Figura 9. Local onde eram realizadas as festividades do Povoado Gargalheiras. .................. 42
Figura 10. Pousada Gargalheiras. ................................................................................................... 44
Figura 11. Casas de Uso Ocasional no Gargalheiras. ................................................................. 44
Figura 12. Chácara para alugar no Gargalheiras. ......................................................................... 44
Figura 13. Bar e Restaurante Casa de Forro. ................................................................................ 45
Figura 14. Joazeiro Bar. .................................................................................................................... 45
Figura 15. Bar da Prainha. ................................................................................................................ 45
Figura 16. Prainha do Açude Gargalheiras (2005). ...................................................................... 47
Figura 17. Prainha do Açude Gargalheiras (2016). ...................................................................... 47
Figura 18. Museu do Sertanejo. ....................................................................................................... 50
Figura 19. Igreja do Rosário. ............................................................................................................ 50
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 11
1 PAISAGEM E TURISMO .............................................................................................. 15
1.1 O CONCEITO DE PAISAGEM ......................................................................................................... 15
1.2 TURISMO E RECURSOS HÍDRICOS ................................................................................................ 18
2 A SECA NO NORDESTE ............................................................................................. 23
2.1 POLÍTICAS ANTI-SECA E O USO POLÍTICO DA SECA ..................................................................... 27
2.2 A CONSTRUÇÃO DO AÇUDE GARGALHEIRAS-RN ........................................................................ 33
3 A ATIVIDADE TURÍSTICA NO AÇUDE GARGALHEIRAS .............................................. 38
3.1 A RELAÇÃO DA COMUNIDADE COM O AÇUDE GARGALHEIRAS ................................................. 40
3.2 TURISMO NO AÇUDE GARGALHEIRAS ......................................................................................... 42
3.3 OS IMPACTOS DA SECA 2012-2016 ............................................................................................. 46
3.4 OS DESAFIOS E AS ESTRATÉGIAS ADOTADAS .............................................................................. 48
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 51
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 53
11
INTRODUÇÃO
O termo turismo nos remete a ideia de deslocamento de pessoas em
buscas de novas experiências, lazer e entretenimento. Esse fluxo de pessoas acaba
por gerar uma série de serviços e infraestrutura em sua função. Conforme Barbosa
(2005, p. 108) o turismo é:
Uma força econômica das mais importantes do mundo. Nele ocorrem fenômenos de consumo, originam-se rendas, criam-se mercados nos quais a oferta e a procura encontram-se. Os resultados do movimento financeiro decorrentes do turismo são por demais expressivos e justificam que esta atividade será incluída na programação da política econômica de todos os países, regiões e municípios.
Como a atividade turística é caracterizada como fato econômico, há
algumas décadas a prática da atividade, segundo Araújo (2000), estava restrita a
uma elite que dispunha de tempo e dinheiro para realizar viagens, aos poucos o
turismo deixou de ser uma prerrogativa de cidadãos privilegiados e se constituiu
como parte integrante do estilo de vida para um número crescente de pessoas em
todo o mundo.
Uma das principais motivações para viajar está na necessidade das
pessoas em saírem da rotina, ou seja, deslocar-se a lugares diferentes do seu local
de residência. Nesse sentido, a paisagem se torna um elemento central para a
escolha dos destinos.
De facto, se o turismo é um fenómeno social/cultural e, claramente, económico que consiste na deslocação voluntária e temporária de indivíduos ou grupos de pessoas, que principalmente por motivos de recreação, descanso, cultura ou saúde, se deslocam do seu lugar de residência habitual para outro, e se diz respeito, essencialmente, à experiência do lugar, então pode-se afirmar que o turismo pode ser entendido como uma experiência geográfica particular do lugar, na qual a paisagem é um elemento indispensável. (MARUJO; SANTOS, 2012, p. 40)
Nesse contexto, Rodrigues (1999, p.72) destaca que “a paisagem é um
notável recurso turístico desvelando alguns objetos e camuflando outros por meio da
posição do observador, quando pretende encantar e seduzir”.
12
A paisagem, por ser a porção visível do espaço geográfico, tem, portanto,
um importante papel na constituição dos lugares turísticos e no direcionamento dos
fluxos turísticos (CRUZ, 2003, p. 9). Mas cabe ressaltar que paisagens turísticas não
existem a priori, como um dado da natureza, só existem em relação à sociedade
(LUCHIARI, 1998, p. 22), ou seja, são invenções culturais.
Por isso, Cruz (2003, p. 10) afirma que “algumas paisagens são mais
valorizadas pelo turismo hoje que outros, mas estas não são as mesmas do passado
e, possivelmente, não serão as mesmas do futuro”.
Pode-se afirmar que a água aparece como um dos mais valorizados
elementos da paisagem turística. Conforme Dias e Granado (2014), os ambientes
aquáticos compõem as opções de lazer e recreação preferidas em todo o mundo.
Praias, rios, lagoas, cachoeiras são, portanto, recursos naturais utilizados
pela prática social do turismo e do lazer, constituindo-se como importantes atrativos
turísticos, especialmente dos segmentos de turismo sol e mar, ecoturismo, turismo
de aventura e cruzeiros.
Como a paisagem, no entanto, está constantemente sujeita a
modificações por elementos físicos, biológicos e antrópicos (BERTRAND, 1971), sua
condição de paisagem turística também está a todo o momento posto à prova, pela
valorização social que se faz de sua nova configuração.
No caso do Nordeste brasileiro, especificamente, a região do bioma da
caatinga os períodos de seca e de chuva alteram significativamente sua paisagem
em curtos espaços de tempo. Essa região sofre frequentemente com a escassez
hídrica, que impacta na qualidade de vida da população e nas atividades
econômicas.
Com intuito de minimizar os impactos da seca, uma série de açudes foi
construída para o armazenamento e distribuição de água, os quais também se
tornaram importantes espaços de lazer e de turismo para a população regional,
como é o caso da Barragem Marechal Dutra, popularmente conhecida como açude
Gargalheiras, localizada no município de Acari, na região do Seridó, no estado do
Rio Grande do Norte.
Inaugurada em 1959, o açude Gargalheiras passou a ser uma área de
lazer dos munícipes, como também da região por formar um grande lago de
13
40.000.000 m³, com as águas da bacia hidrográfica do Rio Piranhas-Açu1 barrada
por uma parede de 26,5 m.
A princípio o açude foi construído para amenizar o problema da escassez
de recursos hídricos na região do Seridó. Posteriormente o transbordamento da
barragem do Gargalheiras se tornou um dos principais atrativos turísticos da região
do Seridó. Ao longo do tempo, em seu em torno, se instalaram vários
estabelecimentos em função do fluxo turístico, tais como bares, restaurantes e
pousadas, como também foram construídas residências para o uso ocasional em
períodos de férias e fim de semana. Muitos da comunidade local, composta
principalmente por pescadores, comercializavam seus produtos e trabalhavam nos
empreendimentos, ou seja, o açude foi apropriado pelo turismo.
Com a seca de 2012 a 2016, a paisagem do açude Gargalheiras se
alterou significativamente, pois teve sua última sangria no ano de 2011, e em 2015
atingiu seu menor nível na história.
Desta forma, esta pesquisa tem como objetivo geral analisar como a
alteração na paisagem do Açude Gargalheiras, ocasionada pela seca, vem
impactando as atividades turísticas na localidade. Além disso, nos interessa
investigar as estratégias adotadas pelos empreendimentos na área de turismo e pela
população local com o atual cenário.
A pertinência desse estudo se dá pela sua reflexão acerca da
vulnerabilidade dos destinos turísticos, que por conta dos valores atribuídos pela
sociedade às paisagens presenciam as alterações nos fluxos turísticos e se veem
diante de uma série de dificuldades. E diferentemente de muitos trabalhos que
analisam os impactos do turismo sobre o meio, em nosso caso, analisaremos os
impactos do meio sobre o turismo.
Para desenvolver essa pesquisa adotamos como procedimento
metodológico primeiramente o levantamento bibliográfico sobre paisagem, turismo,
recursos hídricos e seca para compor uma reflexão teórica, no intuito de subsidiar
nossa análise sobre o caso do açude Gargalheiras.
1 O rio Piranhas-Açu nasce na Serra de Piancó no estado da Paraíba e tem sua foz no Oceano
Atlântico, próximo à cidade de Macau no Rio Grande do Norte, percorrendo pouco mais de 400 km. Seus principais afluentes são os rios Piranhas, afluente pela margem esquerda no estado da Paraíba, e o rio Seridó, afluente pela margem direita no estado do Rio Grande do Norte. (ANA, 2010)
14
Essa pesquisa se caracterizada, portanto, como estudo de caso, que
conforme Santos (2010, p. 192) “é um estudo que analisa com profundidade um ou
oucos fatos, com vistas à obtenção de um grande conhecimento com riquezas de
detalhe do objeto do estudo”.
Sendo assim, para o estudo de caso do açude Gargalheiras, aplicamos
entrevistas semiestruturadas com os moradores e empresários locais, como também
com o Secretário de Turismo do município de Acari/RN. Além de registros
fotográficos e visitas in loco.
O trabalho utilizou uma abordagem qualitativa para o tratamento das
informações coletadas, que não requer uso de métodos estatísticos. Segundo
Gerhardt et al. (2009, p.31-32):
A pesquisa qualitativa não se preocupa com a representatividade numérica, mas sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo social de uma organização [...] os pesquisadores que utilizam os métodos qualitativos buscam explicar o porquê das coisas, [...]. As características da pesquisa qualitativa são: objetivação do fenômeno, hierarquização das ações de descrever, compreender e explicar, precisão das relações entre o global e o local em determinado fenômeno; observância das diferenças entre o mundo social e o natural.
Para a análise do conteúdo das entrevistas foram criadas quatro
categorias: a relação da comunidade com o açude Gargalheiras; o turismo no açude
Gargalheiras; os impactos da seca de 2012-2016; e, os desafios e as estratégias
adotadas.
O presente trabalho de conclusão de curso está divido em três capítulos,
para uma melhor compreensão dos leitores a respeito do conteúdo da pesquisa. O
primeiro capítulo trata-se do referencial teórico da pesquisa, onde são apresentados
conceitos sobre paisagem, turismo e recursos hídricos.
No segundo capítulo discorremos sobre a seca no Nordeste, políticas
anti-seca e os usos políticos da seca, para contextualizarmos a construção do açude
Gargalheiras.
Por fim, no terceiro capítulo, apresentamos uma análise da atual situação
do turismo no açude Gargalheiras e os desafios e estratégias adotadas pelos
empreendimentos e comunidade local.
15
1 PAISAGEM E TURISMO
1.1 O CONCEITO DE PAISAGEM
O conceito de paisagem e seu tratamento na Ciência Geográfica acumula
uma série de polêmicas envolvendo uma enorme diversidade de conteúdos e
significados (VITTE, 2007), mas também há muita convergência entre os autores.
Para Claval (2001), a paisagem traz a marca da atividade produtiva dos
homens e de seus esforços de sobrevivência, adaptando-a as suas necessidades.
Ela é marcada pelas técnicas materiais que a sociedade domina e moldada para responder às convicções religiosas, às paixões ideológicas ou aos gostos estéticos dos grupos. Ela constitui desta maneira um documento-chave para compreender as culturas, o único que subsiste frequentemente para as sociedades do passado (CLAVAL, 2001, p. 14).
Assim, Bertrand (1971) assegura que a paisagem não é a simples adição
de elementos geográficos disparatados. É, numa determinada porção do espaço, o
resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos,
biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente, uns sobre os outros, fazem da
paisagem um conjunto único e indissociável, em perpétua evolução.
A paisagem é então um produto resultante de um processo social de
ocupação e gestão de um território, e como um sistema, pois, conforme, Macedo
(2002), qualquer ação impressa sobre ela haverá uma reação equivalente ao
surgimento de uma alteração morfológica.
Para Santos (2006), a paisagem é constituída por um conjunto
heterogêneo de formas e objetos naturais e artificiais, criados em momentos
históricos diferentes, porém coexistindo no momento atual, que exprimem as
sucessivas relações entre homem e natureza. Ainda para o mesmo autor, a
paisagem é fixa no espaço, entretanto, sua fixidez espacial não a neutraliza das
dinâmicas naturais e sociais a que está exposta (SANTOS, 2006, p. 26).
Nesse sentido, Santos (2004 p. 54) ressalta que “a paisagem é o
resultado de uma acumulação de tempos. Para cada lugar, cada porção do espaço,
16
essa acumulação é diferente: os objetos não mudam no mesmo lapso de tempo, na
mesma velocidade e mesma direção”.
Na mesma linha de pensamento, Cruz (2002) reafirma que a paisagem é
a porção visível do espaço e somam três características intrínsecas: concretude,
fixidez espacial e dimensão histórica, pois as paisagens são arranjos de formas
naturais e antrópicas que dão concretude a paisagem, são também fixas no espaço
e por fim, as paisagens mudam ao longo do tempo em função de processos naturais
e sociais.
Nesse contexto, de acordo com Santos (2006), a paisagem é a percepção
do ambiente criada pelo homem que pode ser definida como o domínio do visível, ou
seja, tudo aquilo que os olhos alcançam.
Dessa forma, ao se considerar a paisagem como aquilo que se vê, ela
fica sujeita a receber classificações que variam de acordo com o seu observador, já
que para cada pessoa a paisagem tem um significado e ao ser analisada sofre
julgamentos distintos. Assim, para Menezes (2002, p. 23), “não há paisagem sem
um observador, a percepção visual é, desta forma, condição fundamental para a
existência da paisagem”.
Sendo assim, Boullón (2002, p. 120) define a paisagem como:
Uma qualidade estética que os diferentes elementos de um espaço físico adquirem apenas quando o homem surge como observador, animado de uma atitude contemplativa dirigida a captar suas propriedades externas, seu aspecto, seu caráter e outras
particularidades que permitam apreciar sua beleza ou feiura.
A representação da paisagem, portanto, conforme Gomes (2001), deriva
de um olhar atento do observador, que condiciona por filtros fisiológicos,
psicológicos, socioculturais e econômicos, bem como da esfera de rememoração e
da lembrança recorrente.
Nesse sentido, Luchiari (1998. p.8) afirma que “o olhar que é lançado
sobre o lugar em diferentes períodos inventa paisagens numa construção social que
não cessa.” A autora ainda afirma que se admitimos que a paisagem é uma
representação e não um dado da natureza, não podemos concordar que ela seja um
recurso não-renovável - como quer o discurso ambientalista. Ela se reproduz, se
renova, se regenera tal qual as sociedades. Em relação às paisagens a sociedade
explora a sua representação e não depende, exclusivamente, das paisagens
17
naturais, que ela pode buscar alhures sempre que uma primeira paisagem explorada
for degradada, ou reconstruída artificialmente, possibilidade que tem ganhado cada
vez mais status na sociedade contemporânea.
Paisagem significa, portanto, conforme Yázigi (2002, p. 13), mais um
modo de ver do que de agir. E por isso, segundo Vitte (2007, p 72), a paisagem é
responsável pela:
constituição do imaginário social que atua na condução da ação dos atores sociais, ao mesmo tempo em que mediatiza a representação do território por estes mesmos atores. Neste sentido, a paisagem como categoria social é construída pelo imaginário coletivo, historicamente determinado, que lhe atribui uma determinada função social.
E justamente por ser construída pelo imaginário coletivo e por
desempenhar uma função social, que a paisagem é um dos elementos fundamentais
do turismo (MENESES, 2002). Para Font (2002), a paisagem é aquela que melhor
orienta o turista a tão desejada viagem, sendo um recurso de grande valor no
desenvolvimento e na consolidação da oferta turística. E desta forma, desempenha
importante papel na construção dos lugares turísticos e no direcionamento dos
fluxos turísticos (CRUZ, 2001, p.9).
Pode-se afirmar, portanto, que “paisagem” e “turismo” estão intimamente
relacionados; pois “muitas experiências turísticas são construídas e adquiridas
através da paisagem” (MARUJO; SANTOS, 2012, p. 35).
A simples ação de contemplação da paisagem é muitas vezes a principal
motivação dos deslocamentos turísticos. Assim, Collot (apud CABRAL, 2006) expõe
três elementos que julga primordiais na contemplação da paisagem: a ideia de
“ponto de vista”, sua definição varia de acordo com o ponto de vista de onde é
observada; a de “parte”, esta possibilita a quem observa apenas uma parte, pelas
limitações impostas pelo campo visual e relevo; e a de “unidade”, a paisagem se
apresenta sempre como um conjunto, nunca isolada, sendo fornecido pela
experiência direta ou indireta.
Assim, seja pela contemplação da paisagem, seja inserindo no espaço
um conjunto de infraestruturas e de serviços em sua função, o turismo se apropria
dos espaços ao mesmo tempo em que também participa de sua produção.
18
1.2 TURISMO E RECURSOS HÍDRICOS
Turismo pode ser compreendido como um complexo de atividade ligadas
à cultura, lazer e entretenimento, relacionadas aos serviços de transporte,
hospedagens e alimentação. A Organização Mundial de Turismo (2003) define o
turismo como sendo uma atividade pela qual as pessoas se deslocam dos seus
lugares habituais e se relacionam, umas com as outras, em lugares distintos por
período de tempo consecutivo, inferior a um ano e mínimo de 24 horas (pernoite no
destino), principalmente com fins de lazer, negócio e outros.
Podemos dizer também que a atividade é um fenômeno socioeconômico
que consiste no deslocamento temporário e voluntário de um ou mais indivíduos que
saem do seu local de residência habitual para outro, gerando múltiplas inter-relações
de importância cultural, socioeconômica e ecológica entre os núcleos emissores e
receptores (MOTA, 2007).
Mota (2007) afirma que a atividade turística pode ser compreendida como
uma atividade complexa que se originou pela necessidade de deslocamento das
populações dentro do espaço físico mundial por diversos motivos. O turismo se
tornou um verdadeiro fenômeno de massa a partir dos anos 50 do século XX,
acessível às classes médias dos países desenvolvidos e, algum tempo depois,
também às classes mais favorecidas dos países em desenvolvimento.
Como fator socioeconômico, o turismo pode oferecer oportunidades de
negócios aos empresários do setor e favorecer o desenvolvimento da economia
local. Nesse contexto, deve-se considerar, também, que o turismo é uma atividade
de lazer e que faz parte das necessidades humanas, tendo por consequência,
sempre uma demanda significativa de pessoas.
O turismo tem um efeito multiplicador importante na economia, pois há um
aumento na urbanização, incremento nas indústrias associadas, incremento da
demanda de mão-de-obra para serviços turísticos e da indústria da construção,
aumento da demanda dos produtos locais, maior arrecadação de impostos e taxas,
incremento na entrada de divisas (BARRETO, 1995). Além dessa importância na
economia, existe um importante papel social influenciado pelo efeito multiplicador,
19
pelas experiências trocadas, por todas as relações que se iniciam através do
turismo.
A atividade turística é dividida em vários segmentos, estes, por sua vez,
são organizados por pessoas com características e desejos semelhantes, que
estejam dispostas a consumir um produto em comum e os mesmos ambientes. O
Ministério do Turismo (2010) divide a atividade turísticas em onze segmentos:
turismo cultural; turismo de pesca; turismo rural; ecoturismo; turismo de aventura;
turismo náutico; turismo de sol e praia; turismo de estudos e intercâmbio; turismo de
negócios e eventos; turismo de esportes; turismo de saúde.
O turismo de sol e praia é uma das tipologias do turismo que faz uso da
paisagem natural para sua sustentação. Segundo o Ministério do Turismo esta
modalidade constitui-se das atividades turísticas relacionadas à recreação,
entretenimento ou descanso em praias, em função da presença conjunta de água,
sol e calor, assim depende diretamente do recurso hídrico (MTur, 2008).
De acordo com McKerher (2002), o ecoturismo engloba o turismo de
natureza, turismo de aventura, turismo educacional e uma profusão de outros tipos
de experiências proporcionadas pelo turismo ao ar livre e alternativo. É o segmento
de mais rápido crescimento na indústria turística em diversos países. Pode ser
definido como:
Um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas.
(OMT, 2003)
O Brasil possui um grande potencial turístico a ser explorado no
segmento de ecoturismo, recursos naturais que viram “cartões postais” e que são
responsáveis por atrair um grande número de pessoas para sua contemplação.
Conforme a Agência Nacional da Água (ANA, 2005) atualmente no Brasil
a procura por lugares naturais, mais especificamente relacionados com água, como
praias, lagos, rios e estâncias hidrominerais, é crescente, observando-se que devido
a essa demanda, muitos lugares que oferecem locais para turismo e lazer em águas
estão se desenvolvendo, em especial os que permitem a balneabilidade a realização
de atividades náuticas e aquáticas.
20
O turismo em recursos hídricos é uma atividade muito antiga, pois, desde
muito tempo as pessoas dirigem-se a lugares que tem água, como balneários, rios,
mar, açudes, parques aquáticos, para banhar-se, com fins terapêuticos e de lazer.
Com o tempo, surgiram também a estâncias hidrominerais com infraestrutura de
hospedagem, lazer e alimentação (PERTILLE; LANZE, 2006, p. 5).
De acordo com BRUNA (2006), os ecossistemas aquáticos têm a
capacidade de congregar muitas pessoas em seu entorno. Fato observado tanto no
meio natural: em rios, lagoas, grutas e cachoeiras, quanto em piscinas e outras
atrações aquáticas do ambiente construído. Assim, desde muito tempo, os recursos
hídricos constituem-se poderosos atrativos não só nas regiões litorâneas, mas
também nas interioranas, tanto em áreas urbanas, quanto rurais.
Camargo (2007) relata que “as praias, as represas e os rios (ou as
piscinas) são o primeiro destino das migrações de fins de semana e férias”. A ANA
(2005) também destaca os ecossistemas aquáticos como locais preferidos da
população brasileira em seus momentos de férias, apontando o turismo em lagos e
reservatórios, como um segmento em expansão no país. Assim podemos afirmar
que a água é um dos mais elementos da paisagem mais valorizados pela atividade
turística.
Para classificar o turismo em recursos hídricos, a Agência Nacional de
Águas (2005) define três segmentos: Turismo e Lazer no Litoral; Turismo Ecológico
e Pesca; e Turismo e Lazer nos Lagos e Reservatórios Interiores.
De acordo com a ANA (2005), o Brasil tem grande potencial de Turismo e
Lazer nos Lagos e Reservatórios Interiores como instrumento de oferta de lazer de
baixo custo à sociedade, porém esse segmento é incipiente e carece de definição de
política e estratégia de uso racional dos lagos dos reservatórios para evitar
problemas de poluição hídrica.
As atividades recreativas nos ambientes aquáticos são classificadas na
legislação brasileira em recreação de contato primário, como banho, natação e
mergulho; e recreação de contato secundário, que ocorre em alguns esportes
náuticos como vela e caiaque. No primeiro caso, o padrão de qualidade da água
deve ser mais rígido, devido ao contato direto com a mesma e porque a
21
probabilidade de ingestão do líquido durante as atividades é muito elevada (MMA,
2000; 2005).
Há ainda atividades que são realizadas nas adjacências dos ambientes
aquáticos e que não envolvem o contato com a água, como por exemplo, a
contemplação da paisagem, o encontro e conversa com amigos, a paquera e
piquenique nas margens. Dessa forma, a água por ser um elemento atrativo e
importante ao ser humano, traz encanto, fascínio sobre as fontes, açudes, rios, lagos
e mares, fazendo com que as pessoas as busquem por diversão e repouso (DIAS;
GRANADO, 2014)
Os lugares que dispõem de recursos hídricos de qualidade para
balneabilidade, associados à fauna, à flora e ao clima, como elementos de atração
para o lazer, tendem, portanto, a entrar num processo de expansão das atividades
econômicas ligadas ao turismo.
No Brasil, segundo a ANA, os ambientes aquáticos podem ser
transformados em fonte permanente de riqueza a partir da sua exploração racional,
na qual a indústria do turismo é, na atualidade, a atividade que apresenta os mais
elevados índices de crescimento no contexto econômico mundial. O turismo
movimenta cerca de US$ 3,5 trilhões anualmente (no mundo) e, apenas na última
década, expandiu suas atividades em torno de 57% (ANA, 2005).
Desse modo, a água deve influenciar nas decisões políticas, econômicas
e científicas para a preservação e/ou resolução dos problemas relacionados
ao seu uso e gestão (FRANCA, 2009), o que requer um exame profundo para o
planejamento e gestão dos recursos hídricos. Esse recurso natural deve ser
reconhecido como elemento essencial de toda paisagem entendida como a
valorização das inter-relações entre homem e meio ambiente.
Apesar de o Brasil possuir grandes reservas de água, a distribuição da
água no país é bastante heterogênea: a Amazônia concentra 70% da água do país e
abastece 7% da população brasileira, enquanto na região sudeste vive 42% da
população e detém apenas 6% das reservas hídricas (BARLOW; CLARKE, 2003, p.
16).
Na região Nordeste, o fator que mais modifica a paisagem é o fator
natural denominado como seca, devido à região ter uma vulnerabilidade hídrica
22
associada à ausência de políticas públicas eficazes, onde as secas, com suas
características adversas contribuem na construção de desastres sociais, ambientais
e consequentemente paisagísticos.
Bustos (2003, p. 77) afirma que os problemas de escassez hídrica pode-
se atribuir ao fator natural que resulta das condições climáticas, como as secas
prolongadas, ausência da vegetação e de tipos de solo favoráveis. O antrópico
provêm dos usos múltiplos e da intensidade de utilização das águas, onde os
principais são: abastecimento humano, produção de energia, diluição de esgotos
industriais e domésticos, o lazer, como o turismo, navegação e a pesca.
O Rio Grande do Norte encontra-se em sua maior crise hídrica, onde as
paisagens já vêm se modificando devido ao longo período de estiagens, “pode se
dizer que a maior dos últimos 100 anos, são mais de 153 municípios em estado de
calamidade pública” (Tribuna do Norte, 2016).
No interior, no município de Acari, “a localidade possui uma demanda real
de visitantes que tem como principal motivação apreciar o açude Gargalheiras”
(SANTOS, 2014, P.16), mas no ano 2015, devido à seca, chegou a ter apenas 0,2%
do total de sua capacidade, afetando diretamente o fluxo turístico e as atividades de
lazer realizadas na localidade.
A seca que aflige o açude Gargalheiras e seu entorno já vem causando
desastres ambientais, afetando atividades econômicas e impactando a qualidade de
vida de milhares de famílias. O clima desfavorável afeta as áreas produtivas,
provocando perdas nas lavouras. Além de causar prejuízo aos agricultores,
compromete os reservatórios de água, resultando em sede, fome e na perda de
rebanho. Atinge ainda, de modo negativo, a dinâmica ambiental e a conservação do
ambiente, à medida que a falta de chuva se intensifica, aumenta o risco de
queimadas e destruição da fauna e flora.
23
2 A SECA NO NORDESTE
A seca é uma situação climática em que há estiagem de precipitação
durante um determinado período. A estiagem refere-se a um período prolongado de
baixa pluviosidade ou sua ausência, em que a perda de umidade do solo é superior
à sua reposição (CASTRO, 2003), ou seja, a forma crônica deste fenômeno é
denominada como seca, isto se deve ao fato de que ela ocorre durante longos
períodos de tempo, afetando grandes extensões territoriais. Assim, a estiagem é
caracterizada como um breve período de seca (CAMPOS, 1997).
Durante a seca, a água disponível encontra-se abaixo dos parâmetros
habituais de uma determinada região geográfica, nessa circunstância, a água pode
não ser suficiente para satisfazer as necessidades vitais de consumo.
Conforme destaca Campos e Studart (2001 p.3), o conceito de seca está
intimamente relacionado ao ponto de vista do observador e relacionado a uma série
de causas e efeitos.
Embora a causa primária das secas resida na insuficiência ou na
irregularidade das precipitações pluviais, existe uma sequência de causas e efeitos
na qual o efeito mais próximo de uma seca torna-se a causa de um outro efeito e
esse efeito passa a ser denominado também de seca. Assim, para citar as mais
comuns, pode-se definir a seca climatológica (causa primária ou elemento que
desencadeia o processo), a seca edáfica (efeito da seca climatológica), a seca social
(efeito da seca edáfica) e finalmente, a seca hidrológica (efeito dos baixos
escoamentos nos cursos d'água e/ou do sobre uso das disponibilidades hídricas).
Para Silva (2012), a seca é um dos fenômenos naturais de maior
ocorrência no mundo. Essas secas são denominadas desastres naturais e são
recorrentes em todo o planeta e atingem larga fração da população total,
especialmente em países mais pobres e vulneráveis. Esses desastres incluem, além
de secas, enchentes, terremotos, ciclones, etc.
24
Entre 1980 e 2008, cerca de 1,5 bilhão de pessoas foram afetadas por
secas - a maior parte dessas pessoas residentes em países em desenvolvimento,
com destaque para Índia e China (UNISDR, 2010).
Gráfico 1. Número médio de pessoas expostas em áreas de risco de secas no período
1980-2008 (em milhões de pessoas).
Fonte: Colombo e Pessoa, 2014 (apud UNISDR, 2010).
No Brasil, a região que mais sofre com esse fenômeno é a região
Nordeste, constituída das seguintes unidades federativas: Maranhão, Piauí, Ceará,
Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Conforme
tabela 1, a região sofre com secas desde o século XVI, acumulando ao longo de 5
séculos, 54 registros de secas.
Tabela 1. Ocorrência de Secas no Nordeste.
Fonte: Melo, 1999.
Para Barreto (2009), a história das secas na região Nordeste é um
assunto bastante delicado. As duras consequências da falta de água revelam, em
diversos momentos da história regional, um quadro assustador: migração
desenfreada, doenças, fome, sede, miséria e mortes.
25
Segundo Souza e Medeiros Filho (1983, p.22), houve secas na Bahia e
em Pernambuco, nos anos de 1559, 1564 a 1592 e “presume-se que estas secas
tenham se estendido aos outros estados”. Campos e Studart (2001) afirmam que até
a primeira metade do século XVII, o domínio das áreas secas do interior do Nordeste
de Pernambuco ao Ceará era dos índios. As capitanias tiveram seus engenhos
prejudicados, as fazendas sofreram com a falta de água e cerca de 5 mil índios
desceram o sertão em busca de comida.
Já no século XVII foram registradas seis secas, nos anos de 1603, 1609,
1614, 1645, 1652 e 1692, nesse século as secas foram marcadas pela falta de
farinha de mandioca, um dos principais alimentos da população (SOUZA;
MEDEIROS FILHO, 1983).
No século XVIII, a seca se estendeu de 1710 a 1711. Segundo Souza
(1909) essa seca estendeu-se até o Maranhão, “o povo sofria fome e penúria por
falta de chuvas” esta seguiu até a prolongada seca de 1722 a 1728. Depois de
então, passaram-se os anos de inverno até que surgiu a seca de 1744-1746. Guerra
(1980, p.9) ressalta que dessa vez o Rio Grande do Norte foi o mais prejudicado. Em
seguida a seca de 1766 provocou fome e morte de gado no Ceará e novamente no
Rio Grande do Norte.
Treze anos depois aconteceu uma seca de dois anos consecutivos 1777-
1778. Nesse período, no Rio Grande do Norte, fazendeiros no Seridó que recolhiam
mais de quinhentos bezerros, nesses anos só chegaram a recolher quatro, enquanto
no Ceará a seca destruiu sete oitavos do gado (GUERRA 1980, p.9). Ainda no
século XVIII existiu a “Grande Seca”, sendo quatro anos em Pernambuco (1790-
1793) e três anos nos demais estados (1791-1793) (SOUZA; MEDEIROS FILHO,
1983).
No século XIX, logo na primeira década, duas secas: uma em 1803-1804
na Paraíba e no Ceará, e outra em 1808-1810, no Rio Grande do Norte e no Ceará.
Em 1814, houve seca apenas no Rio Grande do Norte e 1817 ela restringiu-se
somente ao Ceará. Veio então a seca de 1824-1825 que devastou principalmente os
estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. Em seguida
aconteceu a seca de 1833 no Rio Grande do Norte e em Pernambuco que se
prolongou até 1835 (SOUZA; MEDEIROS FILHO, 1983).
26
Souza e Medeiros Filho (1983) também mencionam que em 1844
começou outra seca no Ceará que se prolongou até 1846, seguindo-se de bons
anos de chuva, até em 1860 ocorrer uma seca no Rio Grande do Norte e na Bahia.
No ano de 1869 foi seco no Rio Grande do Norte, o abastecimento do Sertão foi
realizado com alimento procedentes do Ceará e Pernambuco.
Depois de quase oito anos, veio a seca de 1877-1879, o Ceará foi o
estado mais atingido nessa época. Além do grande número de mortos na seca de
1877, o que se fazia relevante eram os interesses políticos dos coronéis, com as
perdas dos rebanhos, baixa produtividade e com a possibilidade de ampliar as suas
riquezas por meio da situação de calamidade instaurada (BARRETO, 2009).
Um ano depois veio a severa seca de 1888 a 1889, mais conhecida como
a seca dos três oitos. Segundo Campos e Studart (2001, p.3):
A partir de então, o debate de uma solução para o problema tornou-se mais profícuo. Basicamente haviam três linhas: os favoráveis à açudagem e à irrigação; os favoráveis à transposição do rio São Francisco e irrigação; os favoráveis à mudanças no perfil econômico da Região e os proponentes de soluções pontuais de impacto.
Ainda no século XIX, ocorreu a seca de 1898, a última do século, em uma
proporção menor, mas a população passou pelos mesmos problemas: falta d’água e
de alimentação, perca de gados, emigração forçada, elevado custo de vida e mortes.
(SOUZA; MEDEIROS FILHO,1983).
No século seguinte (século XX) no ano de 1900, a seca não foi tão
impactante, porque nos anos anteriores houve uma incidência maior de chuva. Outro
fenômeno marcante na história das secas no Nordeste foi a estiagem do ano de
1979 que se estendeu até o ano de 1983. Esse período foi marcado pelo
acontecimento de um episódio bastante peculiar que foi o El Niño2 1982/1983. Esse
fenômeno provocou intensas modificações no regime pluviométrico da região
durante o período causando uma estiagem considerada como uma das mais longas
e severas da história do Nordeste, onde o número de mortos foi considerado como
de uma calamidade pública, pois chegaram a ser absurdas.
2 O El Niño é um fenômeno climático de escala global caracterizado pelo aquecimento acima do normal das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial, que se estende desde a costa oeste da América do Sul (próximo ao Peru e Equador) até aproximadamente a Linha Internacional de Data (longitude de 180°). No Nordeste, em anos de El Niño, são esperadas secas de diversas intensidades, em períodos chuvosos, de fevereiro a maio, algumas áreas da região não são afetadas significativamente. (INEMA, 2011)
27
As cifras sobre o total de mortos variaram bastante. A mais conservadora,
a dos governadores da região, indicava 100 mil mortos. As demais estimativas
apontavam de 700 mil mortos por fome ou fraqueza a 3,5 milhões (DNOCS, 2009,
apud VILLA, 2000, p. 246-247).
No século XXI, a seca de 2001 teve uma particularidade em relação às
anteriores: ocorreu no momento em que não só o Nordeste, mas todo o Brasil vivia
uma crise de energia elétrica sem precedentes na história do país, provocada por
falta de investimentos no setor e pela escassez de chuvas.
Em 2012-2013, a Organização Mundial de Meteorologia relata que a seca
enfrentada pelos estados nordestinos foi a pior em 50 anos e fez o Brasil entrar no
mapa mundial de eventos climáticos extremos. No ano de 2014, a seca foi
amenizada em algumas localidades, e agravadas em outras. Mais de mil municípios
do Nordeste enfrentaram situações de emergência (Ministério da Integração
Nacional, 2014).
Conforme o Ministério da Integração Nacional (2016), os anos 2015-2016
estão sendo marcados pela maior seca de todos os tempos na região do Nordeste
brasileiro. Em algumas regiões a seca foi amenizada devido a chuvas isoladas, mas
na maioria os grandes reservatórios ainda se encontram no volume morto.
Tal fenômeno ocorre principalmente na região semiárida no Nordeste,
devido a sua vulnerabilidade hídrica associada à ausência de políticas públicas
eficazes, onde as secas, com suas características adversas contribuem na
construção de desastres sociais e ambientais (SILVA et al., 2013, p102).
2.1 POLÍTICAS ANTI-SECA E O USO POLÍTICO DA SECA
Observar as políticas públicas de desenvolvimento no Nordeste implica
em entender o papel do Estado em âmbito econômico-político específicos,
“marcados pelo posicionamento ora estatizante ora liberalizante” (LIMA, 2002,
p.176).
A intervenção do Estado no Nordeste foi sempre marcada pela centralização e fragmentação das ações, e se concretizava com a criação de órgãos nacionais para o combate à seca, os quais se
28
transformavam em objeto de disputas políticas entre os diversos segmentos da elite rural. A ação desenvolvida por esses órgãos limitava-se à construção de grandes açudes públicos, perenizando grandes extensões de rios, sobretudo a construção de milhares de pequenos e médios açudes dentro de propriedades privadas, de forma a assegurar água para a produção agropecuária e o funcionamento de agroindústrias. (PASSADOR; PASSADOR 2010, p. 70)
As primeiras iniciativas para tentar resolver o problema da seca no
semiárido foram em 1909, quando foi criada a Lei de Obras Contra as Secas
(Decreto n. 7.619, de 21 de outubro de 1909), atual Departamento Nacional de
Obras Contra a Seca (DNOCS), com a finalidade de centralizar e unificar a direção
dos serviços, visando à execução de um plano de combate aos efeitos das
irregularidades climáticas. Foram iniciadas as construções de estradas, barragens,
açudes, poços, como forma de proporcionar apoio para que a agricultura suportasse
os períodos de seca (MARTINS; MONTEIRO, 2013).
Em 1946, a Constituição Brasileira estabeleceu a reserva no orçamento
do Governo de 3% da arrecadação fiscal para gastos na região nordestina, nascia
nova postura distinta da solução hidráulica na política anti-seca, abandonando-se a
ênfase em obras em função do aproveitamento mais racional dos recursos.
No ano de 1951, o governo federal determina através da Lei n° 1.348/51,
a região semiárida brasileira denominada de Polígono das Secas (figura 1), com
uma dimensão de 950.000 km², equivalente a mais da metade do território da região
Nordeste (52,7%). Esta área envolve parte de oito estados nordestinos (Alagoas,
Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe) e parte
do norte de Minas Gerais. O clima é semiárido e a vegetação de caatinga, o solo é
raso, na sua maior parte, e a evaporação da água de superfície é grande.
O Polígono das Secas é a área mais sujeita aos efeitos das secas
periódicas. É nesta extensa região onde a seca e os processos morfoclimáticos
como a desertificação desafiam a capacidade humana de tornar sustentáveis as
atividades produtivas.
29
Figura 1. Polígono das Secas.
Fonte: Egler, 2005 (apud PONTES, 2010, p. 23).
Os rios que estão situados nas áreas do Sertão Nordestino são
influenciados pelo clima semiárido, dessa forma não há grande incidência de
chuvas. A maioria dos rios do Sertão e do Agreste da região Nordeste é
caracterizada pelo regime pluvial temporário, isso significa que nos períodos sem
chuva eles secam, no entanto, logo que chove, enchem novamente. Nas regiões
citadas é comum a construção de barragens e açudes, como meio de armazenar
água para suportar períodos de seca.
Como ações emergenciais, tem-se recorrido para a distribuição de
alimentos, por meio de cestas básicas e frentes de trabalho, criadas para dar serviço
aos desempregados durante o período de duração das secas, dirigidas para a
construção de estradas, açudes e pontes.
De acordo com Nascimento (2005, apud PASSADOR; PASSADOR,
2010), é possível apresentar, de maneira resumida, a cronologia dos programas de
intervenção, dividida em três períodos, bem como as instituições envolvidas nas
políticas de combate à seca no Brasil.
O primeiro período, de 1877 a 1950, é denominado pelo autor, como
programas de medida de salvação, que consiste em distribuição de alimentos entre
os retirantes que conseguiam chegar às capitais, e de esmolas aos que
permaneciam no interior. No aspecto técnico, investia-se em infraestrutura
30
hidráulica, como: construção de várias e grandiosas obras de açudagem, poços
profundos e barragens.
Nesse período, o Império instituiu uma Comissão Imperial (1877-79) para
estudar a abertura de um canal que comunicasse as águas do rio Jaguaribe com as
do rio São Francisco, porém não foi concretizado, e a prioridade foi dada à
construção de açudes e poços tubulares. Em 1904, foram criadas várias comissões:
Açudes e Irrigação, Estudos e Obras contra os Efeitos das Secas e de Perfuração
de Poços. Em 1909, foi instituída a Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS), a
qual foi transformada, em 1919, em Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas
(IFOCS). Em 1945, a IFOCS foi renomeada de Departamento Nacional de Obras
Contra a Seca (DNOCS). Em 1948, foi criada a Comissão do Vale do São Francisco,
concebida para criar um novo método de gestão de combate às estiagens.
O segundo período (1951-1959) é identificado por Nascimento (2005,
apud PASSADOR; PASSADOR, 2010) como programas de desenvolvimento
planejado que foi onde, a atenção política anti-seca migrou das obras de açudagem
para o aproveitamento racional dos recursos hídricos. Nesse contexto, em 1952, foi
criado pelo governo federal o Banco do Nordeste para apoiar financeiramente os
municípios que faziam parte do Polígono das Secas. Em 1956, o governo federal,
instituiu o Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN), com o
intuito de realizar estudos socioeconômicos para o desenvolvimento do Nordeste,
cuja importância consistiu na identificação das disparidades regionais. Nesse
período de desenvolvimento planejado, as políticas anti-seca procuraram se
embasar em análises mais cuidadosas da realidade. Em 1959, foi criado o Conselho
de Desenvolvimento do Nordeste (Codeno), tendo Celso Furtado como diretor e
encarregado de lutar pela aprovação da Superintendência do Desenvolvimento do
Nordeste (Sudene) no Congresso Nacional.
O terceiro período de intervenção, teve início a partir de 1970, foi marcado
pela tentativa de implementação de vários programas, tais como: PROTERRA
(1971), PROVALE (1972), POLONORDESTE (1974), PROJETO SERTANEJO
(1976) e PROHIDRO (1979). Em 2001, foi criado o programa 1 Milhão de Cisternas
Rurais, posterior a isso, a Sudene foi extinta e se criou a Agência de
Desenvolvimento do Nordeste (ADENE) em junho de 2004.
31
É possível perceber, que foram implementadas inúmeras políticas
públicas no Nordeste com a tentativa de minimizar os impactos da seca, porém é
notável que essas políticas não se concretizam, e acabam por serem incompletas e
desintegradas, pois a cada governo interrompem-se ou alteram-se os projetos do
governo anterior, fazendo com a seca do Nordeste nunca tenha uma solução eficaz.
Desta forma, o uso político da seca vem sendo utilizado até os dias
atuais, transformando-a no “cavalo de batalha em cujos costados se põe toda a
culpa da miséria nordestina” (CASTRO, 1968, p. 90). Essa percepção tem orientado
as formas de intervenção no semi-árido, com a ideia do combate à seca e seus
efeitos.
Conforme Campos (1997), as grandes elites nordestinas utilizam da tal
catástrofe para conseguir verbas, incentivos fiscais, concessões de crédito, perdão
de dívidas valendo-se da propaganda de que o povo está morrendo de fome e de
sede, além da promoção pessoal. Enquanto isso, o pouco dos recursos que
realmente são empregados na construção de açudes e projetos de irrigação, torna-
se inútil quando estes são construídos em propriedades privadas de grandes
latifundiários que se utilizam para fortalecer seu poder ou então, quando por falta de
planejamento adequado, se tornam imensas obras ineficazes os chamados
“elefantes brancos”.
Dessa forma, conseguem colocar a seca a seu favor e fazem dela um
grande negócio/investimento, popularmente intitulado de “indústria da seca”. De
acordo com Ribeiro (1995, p. 348), entre o poder federal e a massa populacional
prejudicada pela seca, encontra-se uma poderosa camada de poder como coronéis,
que controla toda a vida do sertão, monopolizando não só as terras e o gado, mas
as posições de mando e as oportunidades de trabalho que enseja a comando
governamental. Esses donos da vida, das terras e dos rebanhos agem sempre
durante as secas, mais comovidos pela perda de seu gado do que pelo peso da
miséria que recai sobre os trabalhadores sertanejos, e sempre predispostos a se
apropriarem das ajudas governamentais destinadas aos principais prejudicados.
Nessas condições, não é de se estranhar que o problema da seca ainda
afeta a região em pleno século XXI. Sua efetiva solução deitaria por terra os
interesses de grupos poderosos, que conseguem vantagens com a pobreza e o
sofrimento de milhares de nordestinos.
32
A questão da seca não se resume à falta de água, conforme Andrade
(1987). Para o autor, a rigor, não falta água no Nordeste, faltam soluções para
resolver a sua má distribuição e as dificuldades de seu aproveitamento.
Necessário desmistificar a seca como elemento desestabilizador da economia e da vida social nordestina e como fonte de elevadas despesas para a União, desmistificar a ideia de que a seca, sendo um fenômeno natural, é responsável pela fome e pela miséria que dominam na região, como se esses elementos estivessem presentes só aí (ANDRADE, 1985, p. 7).
Nesse sentido, Venturi (2015) alerta que a água não é um recurso finito,
pelo contrário, trata-se do recurso mais abundante do planeta:
Enquanto a terra girar, o sol brilhar e a lei da gravidade estiver ‘vigorando’, as recargas de água nos continentes estarão asseguradas. Não há como interromper o ciclo hidrológico. E o que existe de água doce disponível na superfície e nos subsolos é muito mais do que a capacidade humana de utilizá-la. Só os cerca de 110 km³ de água que precipitam nos continentes anualmente já seriam suficientes para abastecer a humanidade. No Nordeste, o programa de cisternas usa apenas água da chuva para sustentar, com uma cisterna de 16 mil litros, uma família de cinco pessoas por oito meses. O que é finita é a capacidade do homem de captar, tratar e distribuir a água para assegurar o abastecimento. (VENTURI, 2015)
Venturi (2015) também ressalta que Emirados Árabes, Omã, Arábia
Saudita, Qatar, Bahrein e Kuwait produzem água potável dessalinizando a água do
mar, assim como Turquia, Síria e Iraque e atualmente, já existe no mundo usinas de
dessalinização movidas a energia eólica, como em Perth, na Austrália. Para o autor,
o Nordeste também poderia se utilizar dessa tecnologia, com energia solar, para
dessalinizar suas reservas naturais que apresentam alta salinidade.
Em áreas mais áridas, portanto, que as do sertão nordestino, como as do
deserto de Negev, em Israel, a população local consegue desfrutar de um bom
padrão de vida (SILVA, 2006). As soluções implicam a adoção de uma política oficial
e eficaz para a região.
Quanto ao fenômeno natural da seca, esse não será eliminado,
continuará existindo, porém, como visto existem vários meios de amenizar e
conviver com esse fenômeno. O desenvolvimento do Nordeste é viável, seus
maiores problemas são provenientes mais da ação ou omissão dos homens e da
concepção que foi implantada na sociedade, do que propriamente das secas. E é
sempre importante lembrar que o Nordeste é muito mais do que seca.
33
2.2 A CONSTRUÇÃO DO AÇUDE GARGALHEIRAS-RN
O início da construção da Barragem Marechal Dutra (conhecido
popularmente por açude Gargalheiras)3, no município de Acari, no estado do Rio
Grande do Norte, entre 1920 e 1921, se deu em meio à implantação das políticas
anti-seca, denominado por Nascimento (2005) como período das medidas de
salvação. Nesse período, paralelamente foram construídas barragens no Ceará e na
Paraíba, momento em que o Presidente do Brasil era o paraibano Epitácio Lindolfo
da Silva Pessoa.
A região do Seridó Potiguar foi, à época, a região do estado que mais
recebeu investimentos em construção de barragens, tendo sido construído 10
açudes de médio e grande porte até a década de 1970 (SILVA, 2012).
Tabela 2. Açudes Construídos pelo DNOCS na região do Seridó Potiguar até 1972.
Nome do Açude Município Capacidade Ano de
Construção
Serra Negra Serra Negra 57.000 1915/1920
Zangarelhas Jardim do Seridó 7.960.000 1954/1957
Itans Caicó 81.000.000 1932/1933
Mundo Novo Caicó 3.600.000 1912/1915
Gargalheiras Acari 40.000.000 1912/1959
Acari Acari 285.000 1915/1917
Cruzeta Acari 29.760.000 1920/1929
Totoró Currais Novos 3.941.000 1932/1933
Currais Novos Currais Novos 3.815.000 1954
Sabugi São João do Sabugi 65.334.000 1965
Fonte: Faria 1980 (apud SILVA, 2012, p. 49).
A construção dessas barragens tinham dois princípios: gerar as condições
necessárias para a manutenção das atividades agrícolas (promovendo uma
produção regular mesmo em períodos de secas) e, consequentemente, contribuir de
forma imediata com a fixação do sertanejo em sua própria terra, diminuindo as
migrações do meio rural para o espaço urbano. Com essas construções, também
geraram emprego da mão-de-obra sertaneja que constituiu uma forma de fixar as
levas de retirantes, evitando o intenso êxodo em especial para as cidades litorâneas
3 O nome do lugar, gargalheira, derivada de gargalo ou garganta, significando uma abertura estreita
entre montanhas. Havendo no lugar muitas “gargantas”, a população passou a usar o nome no plural. (SILVA, 2012)
34
do estado do Rio Grande do Norte em princípios do século XX (SILVA; MEDEIROS,
2008).
Os primeiros estudos realizados no município de Acari sobre sua
potencialidade para a construção de açudes foram realizados, em 1908, pela
Comissão de Açudes e Irrigação, órgão criado, em 1904, pelo Ministério da Viação e
Obras Públicas.
No mesmo ano, conforme relatos de Silva (2012, p. 57), durante mais um
período de estiagem, membros da igreja católica e influentes donos de terras
fizeram pedido junto ao governo local e ao governo estadual pela edificação de um
grande açude no município de Acari, que teve, posteriormente, sua obra justificada
predominantemente pelo comércio do algodão.
O desenvolvimento das obras ficou a cargo da empresa inglesa, Charles
H. Walker & Co. Ltd4, que iniciaram a construção da barragem entre as serras do
Abreu, da Carnaubinha, Olho d’água e Gargalheiras. Para isso, foram importados
instrumentos, materiais, cimento, inúmeras máquinas além da contratação de
engenheiros ingleses e americanos (SILVA, 2012, p. 90).
Cabia ao IFOCS – Inspetaria Federal de Obras Contra as Secas (que
depois se transformaria no DNOCS) fiscalizar o andamento das obras. Mas ainda
em 1922, as obras foram paralisadas devido a uma série de problemas, tais como
mudança de governos, denúncias de desvio de verbas, falta ou roubo de material e
ferramentas, problemas de saúde dos engenheiros estrangeiros, entre outros
(MEDEIROS, 2015; SILVA, 2012).
Figura 2. Manchete de 1925 sobre os problemas administrativos das grandes barragens.
Fonte: Medeiros, 2015.
4 “Esta empreiteira ainda participaria do inicio da construção de nove grandes açudes entre os quais o Parelhas no Rio Grande do Norte, o Óros e o Quixeramobim e o Patú no Ceará e o São Gonçalo e o Pilões na Paraíba” (SILVA, 2012, p.90).
35
Ao retomar a construção do açude Gargalheiras, em 1923, são instaladas
em seu entorno novas casas na vila operária5 constituída de prédios comerciais,
casas e ruas, posto médico, telégrafo, estradas de rodagem e carroçáveis para
transporte do material de construção para o açude e escola, além da casa dos
engenheiros (atualmente Pousada Gargalheiras). (SILVA, 2012)
Somente em 1959, o açude Gargalheiras foi inaugurado, quase quarenta
anos após o início de sua construção. A parede da barragem com 26,5 metros de
altura represa o rio Acauã, que faz parte da bacia do rio Piranhas-Açu. A bacia
hidrográfica do Gargalheiras ocupa uma área de 780 hectares e a capacidade
máxima de armazenamento chega aos 40 milhões de metros cúbicos, suas águas
se estendem por mais de sete quilômetros, chegando bem próximo a cidade de
Currais Novos, limítrofe com o município de Acari.
A construção desse açude, assim como todos os outros do Seridó,
contribuiu com a irrigação de áreas significativas de terras produtivas do Seridó
potiguar favorecendo, sobretudo, a produção do algodão mocó, o desenvolvimento
socioeconômico e urbano dos municípios que eram atendidos por esses
reservatórios (AUGUSTO, 1980, p.42).
5 Após a construção do açude, na vila operária se constitui o povoado Gargalheiras composta principalmente por pescadores que passam a se utilizar do grande lago formado pela barragem.
Figura 3. Casa dos Engenheiros (ao fundo) da Barragem Marechal Dutra – Açude Gargalheiras.
Fonte: Medeiros, 2015.
Figura 4. Início da construção da Barragem Marechal Dutra – Açude Gargalheiras.
Fonte: Medeiros, 2015.
36
Depois de construído, o açude Gargalheiras transbordou 29 vezes, sendo
9 vezes na década de 1960, 7 vezes na década de 1970, 5 vezes na década de
1980, 4 vezes na década de 1990, 3 vezes na década de 2000 e apenas 1 vez na
década de 20106, tendo seu último registro de sangria no dia 19 de maio de 2011.
No ano de 2015 o açude Gargalheiras, devido à seca iniciada em 2012,
registrou seu menor nível em sua história, com 0,2% de sua capacidade, tendo
deixado de abastecer os municípios de Acari (11.035 hab.) e Currais Novos (42.652
hab.) por completo. De acordo com a Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande
do Norte (CAERN), os municípios passaram a receber água oriunda de poços, por meio
de carros-pipa, imprópria para consumo, útil apenas para limpeza e uso de higiene
pessoal.
Figura 5. Sangria do Açude Gargalheiras em 2011.
Fonte: G1 RN, 2015.
Figura 6. Situação do Açude Gargalheiras em 2014.
Fonte: G1 RN, 2015.
Como visto, nas figuras 5 e 6, a mudança na paisagem do açude
Gargalheiras se deu de forma acentuada pela mais grave seca registrada desde a
sua construção. É importante frisar que sua importância não se dava apenas pelo
armazenamento e distribuição de água, mas também como um importante espaço
de lazer para a população da região, que se utilizava principalmente do grande lago
formado pela barragem. Nesse contexto, a sangria do açude se transformou num
dos principais atrativos turísticos do Seridó.
A comunidade Gargalheiras, instalada na antiga vila operária, usufruía do
fluxo turístico para comercializar seus produtos, como pescado e produtos derivados
de camarão. Assim como também se empregavam nos empreendimentos turísticos
instalados no entorno do açude, tais como bares, restaurantes e pousadas. Outro
6 O Açude Gargalheiras transbordou nos anos de: 1960, 1961, 1963, 1964, 1965, 1966, 1967, 1968, 1969, 1972, 1973, 1974, 1975, 1976, 1977, 1978, 1981, 1985, 1986, 1987, 1988, 1992, 1995, 1996, 1997, 2004, 2008, 2009 e 2011. (CEST/RN)
37
componente que passou a fazer parte da paisagem do Gargalheiras foram as
residências de uso ocasional para o desfrute em períodos de férias e fim de semana.
A seguir apresentaremos uma análise da atual situação do turismo no
açude Gargalheiras, assim como da comunidade local e dos empreendedores
afetados diretamente pela mudança drástica da paisagem do Gargalheiras derivada
da mais recente e grave seca, por qual passa a região do Seridó.
38
3 A ATIVIDADE TURÍSTICA NO AÇUDE GARGALHEIRAS
Para a análise sobre a atual situação do turismo no Gargalheiras
realizamos entrevistas semiestruturadas com a comunidade local, como também
com empreendedores e funcionários de bares, restaurantes e pousada, no mês de
outubro de 2016.
Ao total foram entrevistados 10 moradores na “vila dos pescadores”,
também chamada de povoado Gargalheiras (como os mesmos denominam a antiga
vila operária do açude), 2 empreendedores e 2 funcionários, além do Secretário de
Turismo do município de Acari.
Para uma análise qualitativa, procuramos realizar entrevista com uma
pessoa de cada residência da vila, no entanto, no dia da pesquisa várias casas se
encontravam fechadas, devido ao trabalho de campo coincidir com a realização de
uma reunião externa da Colônia de Pescadores.
Assim o perfil dos moradores entrevistados foi composto de 54% de
homens e 46% de mulheres, entre 21 a 76 anos. A maior participação dos homens,
em comparação com as mulheres, se deu por questões de disponibilidade, visto que
algumas mulheres estavam ocupadas com suas atividades domésticas e se
recusaram a participar da entrevista.
Como característico do lugar, a maior parte dos entrevistados são
pescadores e aposentados, correspondendo a 27% cada (gráfico 2). Em terceiro
lugar, ficou a profissão de comerciante, ou seja, donos de mercadinhos, bares e
vendedores domésticos. Professor, pedreiro e estudantes retratam apenas 9% cada
do total de entrevistados.
A profissão dos entrevistados representa bem a composição da vila,
formada basicamente por pescadores e aposentados e trabalhadores autônomos,
muitos deles em empreendimentos dependentes do fluxo turístico no Gargalheiras.
39
Gráfico 2. Profissão dos Moradores Entrevistados.
Elaboração própria
Com essas ocupações, podemos verificar que a renda média mensal
familiar dos entrevistados variam no máximo até 2 salários mínimos (gráfico 3).
Grande parte dependente dos subsídios e seguro dado aos pescadores e da
aposentadoria dos idosos.
Gráfico 3. Renda Média Mensal Familiar dos Entrevistados.
Elaboração própria.
Em relação ao tempo de moradia na comunidade, percebe-se que muitos
dos entrevistados residem na vila há muitos anos. 40% vivem na vila há mais de 40
anos, 30% de 20 a 30 anos e 20% estão na comunidade entre 10 a 20 anos.
Apenas 10% dos entrevistados moram no povoado há menos de 5 anos (gráfico 4).
27%
27%
18%
9%
9%
9%
Pescador
Aposentado
Comerciante
Professor
Pedreiro
Estudante
18%
45%
36%Menos de 1 salário
1 Salário
De 1 a 2 salários
40
Gráfico 4. Tempo de Moradia na Vila dos Entrevistados.
Elaboração própria.
Para os interesses da pesquisa, esse é um dado positivo, já que
apresenta uma amostra significativa de moradores que vivem e conhecem a
realidade da localidade há muito tempo e puderam relatar informações detalhadas
sobre a situação do açude Gargalheiras.
3.1 A RELAÇÃO DA COMUNIDADE COM O AÇUDE GARGALHEIRAS
O açude Gargalheiras é de extrema importância para o local e
principalmente para o povoado localizado no seu entorno, que tem sua formação
ligada à instalação dos operários que trabalharam na construção das obras da
barragem.
Chamado de povoado Gargalheiras e mais conhecido como vila dos
pescadores, o povoado hoje é ocupado por pessoas que utilizam diretamente da
barragem para retirar o seu sustento através de atividades pesqueiras e artesanais.
Dessa maneira, boa parte do que é pescado pelos seus moradores é vendido
diretamente aos visitantes interessados. A outra quantidade é utilizada por eles, para
a fabricação caseira de produtos derivados do camarão e do peixe, como linguiças e
almôndegas, muito famosas na região e bastante procuradas pelos turistas.
10%
20%
30%
40%Até 5 anos
De 10 a 20
De 20 a 30
Acima de 30
41
Figura 7. Povoado Gargalheiras/Vila dos Pescadores.
Fonte: autoria própria.
Figura 8. Ponto de Venda de Produtos da Pesca.
Fonte: autoria própria.
Ao longo do tempo, com o crescimento do espaço, em decorrência do
aumento da taxa de natalidade, se fez necessária a construção de estruturas que
proporcionassem amparo às necessidades dos seus habitantes, como um posto de
saúde, capela e um clube de recreação. Além disso, visando melhorar as atividades
econômicas e de lazer na comunidade, foram criadas festas comemorativas para
celebrar as cheias do açude e o início do período de pesca.
Os residentes da vila dos pescadores nos períodos de chuva desfrutavam
de um calendário de eventos que envolvia toda a comunidade, assim como a
população de ocupações próximas: “quando o açude estava cheio a comunidade
tinha mais entretenimento, pois tinham muitas festas” relata uma moradora.
A comunidade e os visitantes contavam com atrações como: Festival de
Pescado, que era realizado pela Prefeitura Municipal de Acari, com o objetivo de
realizar negócios, trocar experiências e aperfeiçoar as técnicas utilizadas na
produção de pescado e no desenvolvimento do arranjo produtivo da aquicultura,
turismo e artesanato potiguar. Também existia o Torneio Leiteiro, esse evento tinha
como objetivo congregar todos os pecuaristas, produtores rurais e agentes
produtivos da cadeia pecuária leiteira, bem como profissionais, instituições de
pesquisa e extensão, órgãos públicos, comerciantes, estudantes da área
agropecuária e o público em geral. Ambos os eventos descritos contavam com
apresentações culturais e musicais, além de concursos e premiações.
42
Todos esses eventos aconteceram até o ano de 2011, antes da seca, na
quadra da vila denominada de Largo de Exposições em Gargalheiras, onde muitos
moradores aproveitavam para comercializar mercadorias e obter uma renda extra.
Atualmente o local encontra-se praticamente abandonado, tendo em vista que as
festividades cessaram desde o início da seca (figura 9).
Figura 9. Local onde eram realizadas as festividades do Povoado Gargalheiras.
Fonte: autoria própria.
A comunidade local depende, portanto, quase que exclusivamente do
açude Gargalheiras para suas atividades econômicas (sobretudo a pesca, comércio
e o turismo), atividades de subsistência (criação de animais e plantações),
atividades recreativas e de lazer, e para o abastecimento de água para higiene
pessoal e o consumo.
3.2 TURISMO NO AÇUDE GARGALHEIRAS
As atividades turísticas no açude Gargalheiras muito se deve a interação
direta entre os visitantes e os moradores do local, que dizem acreditar no turismo e
colocam o mesmo como resultado de suas produções artesanais, bem como da
paisagem (formada especialmente pelo grande lago represado e a serra coberta
pela caatinga) e das atividades festivas, características da localidade.
43
Alguns membros da população alegam que a linguiça de camarão, feita
na vila, é a especialidade do local. Bastante procurada pelos turistas, ela gera uma
boa renda aos seus produtores. Outros citam a produção de artesanato, afirmando
que, na época das festas, os produtos que se remetem ao lugar são facilmente
comercializados: “quando existia os eventos, aqui próximo, a gente aproveitava para
ganhar um dinheiro extra, vendendo os bordados com a paisagem do local”.
Outro fator positivo para os moradores é o convívio entre os habitantes da
vila e os compradores de suas mercadorias, que podem acompanhar o preparo dos
seus produtos artesanais de perto, comprovando a qualidade do material vendido:
“os visitantes que passavam pela vila acompanhavam a produção da linguiça, da
almondega. Alguns gostavam de conversar com a gente, saber do nosso dia a dia”.
Em períodos de cheia, o açude, classificado como a 3° Maravilha do Rio
Grande do Norte, atraia um grande número de visitantes, que vinham contemplar a
sua paisagem. Os moradores relatam que existia gente circulando pela comunidade
durante todos os dias da semana, muitos ônibus de excursão paravam na vila e os
produtos, fabricados e comercializados por eles, nem sempre supriam a demanda
dos visitantes: “no período de festa de Sant’Ana de Currais Novos e Caicó muitos
carros passam pela vila, as pessoas que iam para uma das cidades, vinham até
Acari olhar o açude, e acabava parando para comprar nossos produtos”.
Devido ao fluxo turístico, surgiu o interesse de moradores em abrir o seu
próprio negócio, tais como bares e restaurantes, o que gerou ainda mais opções de
entretenimento para os visitantes e para a população.
A localidade ainda conta com uma pequena infraestrutura de hotelaria, a
Pousada Gargalheiras, antiga residência dos engenheiros das obras da barragem,
inaugurada em 1970, fruto de políticas públicas da Empresa Potiguar de Promoção
Turística (EMPROTUR) voltada para a interiorização do turismo7.
A Pousada, de propriedade de Francisco das Chagas Bezerra Fernandes
- munícipe de Acari, ao total possui seis funcionários fixos (2 na recepção, 1 garçom
7 Esse período a EMPROTUR realizou vários projetos para incentivar a atividade turística potiguar, dentre eles: construção de novos hotéis nas cidades de Mossoró, Umarizal, Barra de Cunhaú (Canguaretema), Macau, Areia Branca, Martins, Alexandria, Tibau (Grossos), Pau dos Ferros e Pedro Velho, todos planejados pela EMPROTURN sob o discurso de interiorização do turismo. Estas obras deram continuidade ao processo da expansão da rede hoteleira estadual iniciada na década de 1960 e a construção do Centro de Convenções de Natal (Costa, 2011).
44
e 3 camareiras/cozinheiras) todos moradores no povoado Gargalheiras. Antes da
seca, empregava também trabalhadores temporários em fim de semana, feriados e
em período de festividades.
Figura 10. Pousada Gargalheiras.
Fonte: autoria própria.
Além da Pousada Gargalheiras, muitas casas e chácaras para o uso
ocasional (figuras 11 e 12) foram construídas no entorno do açude, algumas
disponíveis para aluguel em temporadas.
Figura 11. Casas de Uso Ocasional no Gargalheiras.
Fonte: autoria própria.
Figura 12. Chácara para alugar no Gargalheiras.
Fonte: autoria própria.
Além da pousada existem outros empreendimentos, como bares e
restaurantes, próximos ao açude, tais como o Bar do Manuelzinho, Bar do Miltão e a
Pizzaria do Cris, que empregam a própria família, residentes no povoado. Os
45
empreendedores relataram que o açude Gargalheiras é de grande importância para
o sucesso do seu estabelecimento, pois quando a barragem encontra-se com o
volume máximo de água, o fluxo de pessoas no local é constante, aumentando a
receita dos comerciantes. Já nas épocas de seca, o fluxo de turistas cai
bruscamente e com isso toda estrutura econômica do local é afetada e se sobressai
apenas os empreendimentos que buscam outras formas de conquistar sua
freguesia, como bebidas, pratos e preços especiais.
Cabe ressaltar que poucos foram os empreendimentos que sobreviveram
à seca 2012-2016. Como podemos notar nas imagens a seguir, uns totalmente
abandonados (Juazeiro Bar), outros simplesmente fechados (Bar e Restaurante
Casa de Forro e Bar da Prainha).
Figura 13. Bar e Restaurante Casa de Forro.
Fonte: autoria própria.
Figura 14. Joazeiro Bar.
Fonte: autoria própria.
Figura 15. Bar da Prainha.
Fonte: autoria própria.
46
3.3 OS IMPACTOS DA SECA 2012-2016
O abastecimento dos municípios de Acari e Currais Novos até o
esgotamento total do açude Gargalheiras, em 2015, é considerado pela comunidade
como resultado da falta de planejamento e de negligência com as necessidades da
comunidade.
Uma moradora do povoado falou com muita tristeza que a situação de
escassez de água atual não é consequência apenas do ferrenho período de seca
que a região atravessa, mas também é resultado de uma obra para o aumento da
vazão das águas do açude para o município de Currais Novos. “Em 53 anos que
moro no povoado, em 2015 foi a primeira vez que vi o Gargalheiras chegar a esse
estado. Tudo isso devido a uma obra mal feita de transposição de águas”. Segundo
a mesma, as perdas durante a execução do projeto, como o rompimento de algumas
grandes tubulações, fez com que uma quantidade muito grande de água fosse
desperdiçada.
Para outro morador, o problema reside no acionamento das comportas
utilizadas para diminuir a pressão ocasionada pela grande quantidade de água na
parede da barragem. Quando a barragem se encontra com o seu volume máximo,
as comportas são abertas por um tempo, despejando água para fora
constantemente e evitando o rompimento da parede. Segundo o entrevistado, eles
deixaram as comportas abertas por muito tempo e muita água foi perdida. “Mesmo
com pouco volume de água, o DNOCS não ligou em fechar as comportas, não se
sabe o motivo, talvez porque próximo a elas existiam áreas produtivas”. O
entrevistado ainda ressalva que o diretor do DNOCS foi acionado várias vezes,
porém nada foi feito “quando eles atentaram em fazer algo, o açude já estava seco,
não tinha mais jeito”.
A seca acabou por impactar a organização social, a economia e a vida
das famílias que moram no Povoado Gargalheiras. De acordo com um morador da
vila, a seca afetou a agricultura e a aquicultura, o que resultou na queda de renda da
população, principalmente a dos pequenos produtores que não têm reserva
financeira: “com o açude nesse estado, não tem água suficiente para a plantação,
para a criação de animais e principalmente para pescar”. Outro morador atentou
47
para os problemas relacionados à qualidade e quantidade da água que chega para
as pessoas. Segundo ele, a água proveniente de outras fontes não pertencentes ao
açude, não tem um tratamento adequado e é ofertado, muitas vezes, suja e
contaminada, causando doenças em quem a utiliza: “quando a gente abre as
torneiras desce uma água escura e com mal cheiro, já causou até doenças na pele
do pessoal daqui de casa”.
Outro problema ocasionado pela seca é o índice de desemprego no
povoado, que é bastante elevado devido a grande maioria dos seus integrantes
praticarem atividades pesqueiras ou provenientes da pesca. Uma senhora relatou
que a alternativa encontrada pelos pescadores para superar os problemas causados
pela seca, foi continuar suas atividades em outro açude da região. Ela comentou
também que algumas pessoas migraram para outros estados à procura de emprego
e os que ficaram na vila sobrevivem de “bicos” e da aposentadoria dos seus
familiares: “muitos pescadores estão pescando no açude Boqueirão em Parelhas,
que é o mais próximo daqui ainda com água. O meu vizinho se mudou para
Tocantins para continuar pescando por lá”.
Boa parte da produção artesanal dependia da atividade pesqueira no local
e com a seca muitos produtos fabricados por eles deixaram de ser comercializados,
sobrevivendo apenas a venda do peixe, obtido em outras regiões.
O turismo, na vila, também chegou quase a ser inexistente. Afigura 16
mostra um dos lugares apreciados para as práticas de lazer, popularmente
denominada de prainha do Gargalheiras em 2005. Desde 2015 a mesma se
encontra com uma paisagem completamente diferente (figura 17) e sem a presença
de turistas.
Figura 16. Prainha do Açude Gargalheiras (2005).
Fonte: Jesus de Miúdo, 2005.
Figura 17. Prainha do Açude Gargalheiras (2016).
Fonte: autoria própria.
48
Aqui, convém lembrar as palavras de Luchiari (1998): a paisagem turística
só existe em relação à sociedade, portanto, como vemos, o açude Gargalheiras
deixa de ser valorizado como espaço de turismo e lazer, especialmente porque seu
principal elemento de atração, a água, não compõe mais sua paisagem.
A escassez de chuvas prejudicou muito alguns negócios que
existem/existiam no local e os impactos ambientais repercutiram diretamente na
redução dos lucros dos comerciantes. A Pousada Gargalheiras, segundo
funcionários, teve uma queda de 60% de hóspedes desde que o açude secou. Em
alguns estabelecimentos a venda de mercadorias chegou a diminuir 50% do
habitual, implicando na redução do quadro de funcionários, o que deixou a mão de
obra local desamparada e afetou diretamente a renda das famílias que residem no
povoado.
3.4 OS DESAFIOS E AS ESTRATÉGIAS ADOTADAS
Para superar as dificuldades causadas pela seca, os pescadores da vila
precisam se deslocar do seu lugar de origem para os municípios vizinhos. Eles estão
indo pescar no açude Boqueirão, localizado no município de Parelhas, pois é o único
açude da região que ainda tem água e oferece suporte a prática da atividade
pesqueira.
Porém, os desafios são muitos, pois ao se deslocarem para outro
município existe todo um custo com alimentação, acomodação e transporte. Muitas
vezes o que se é pescado não dá sequer para pagar as despesas da semana,
obrigando eles a aumentarem o preço dos produtos que vendem, afastando,
algumas vezes, os compradores, como relata uma moradora: “O rapaz que voltou de
Parelhas agora, estava contanto que o pescado da semana foi um quilo de camarão
e um quilo de tilápia, o valor da venda desses produtos não pagava nem os gastos
que ele teve lá”.
49
Os habitantes dizem que muita gente da vila não chega a passar fome
porque na maioria das casas existe pelo menos uma pessoa aposentada para
sustentar a família, fornecendo apenas o básico, o que para muitos não é suficiente.
Um dos moradores disse que em 2014, existiu um seguro chamado “bolsa
estiagem” que auxiliou nas perdas dos rendimentos das famílias, pagando um valor
fixo e uma cesta básica, durante três meses. Porém, ele contou que as ações
implementadas não têm o alcance suficiente para compensar os prejuízos na renda
da vila, já que nos anos de 2015 e 2016 essa bolsa não foi paga: “recebíamos o
seguro defesa da Curaçã, porém só saiu um ano, 2015 e 2016 o governo vetou o
seguro, pois encontrou muitas irregularidades dentro das associações, pois tinha
muita gente que era associada, mas não era pescador”.
Diante dessa realidade, as pessoas que habitam a vila sugeriram ações
que poderiam ser feitas para que a seca no Gargalheiras não afetasse tanto a
comunidade. Dentre elas, uma moradora falou que com esse cenário, é importante
que o governo passe a criar estruturas de apoio e fomento para o desenvolvimento
de atividades econômicas que não possuam relação com a seca.
Por outro lado, para os empresários do local o principal desafio é a falta
de marketing e incentivo por parte do poder público. Segundo alguns comerciantes o
Gargalheiras é capaz de atrair pessoas, pois mesmo seco o açude não perde sua
beleza.
Finalmente, se tratando da esfera pública, os principais desafios estão
nas restrições orçamentárias, porém o trabalho em prol do turismo continua, onde
está sendo explorado a questão do turismo de aventura, aproveitando diversas
trilhas existentes. Também está sendo aproveitado esse período crítico para
concretizar, em parceria com a UFRN, o Inventário Turístico de Acari, que paralelo a
situação económica adversa enfrentada com a seca, vem trabalhar o tema “Acari,
cidade mais limpa do Brasil”, na tentativa de atrair olhares e investimentos de todo o
Brasil para o município. A cidade também tem outros potenciais importantíssimos
que são explorados independentemente da seca, como por exemplo, o Museu do
Sertanejo, a Igreja do Rosário (figura 18 e 19), o centro histórico, o artesanato, entre
outros.
50
Figura 18. Museu do Sertanejo.
Fonte: Leite, 2015
Figura 19. Igreja do Rosário.
Fonte: Limeira, 2009
Por fim, pode-se afirmar que existe uma forte relação entre a comunidade
e o açude, pois o povoado depende diretamente da barragem. Os habitantes, assim
como os comerciantes, apesar de todas as dificuldades enfrentadas não deixam de
buscar alternativas para superar os obstáculos encontrados.
51
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em concordância com os estudos e pesquisas realizadas neste trabalho,
é possível concluir que a alteração na paisagem do açude Gargalheiras, ocasionada
pela seca, impactou de forma direta a atividade turística no local. Diante dessa
situação, foram poucos os empreendedores que conseguiram se sobressair as
adversidades e adotar estratégias para sobrevier aos anos de estiagem.
Investido no serviço e no produto para atrair o cliente independente do
açude, alguns empresários estão procurando firmar parcerias com grupos de turismo
de aventura, que aproveitam dos solos secos do Gargalheiras para praticar suas
atividades, como trilhas e rapel.
Assim como os comerciantes, a população do povoado, formada em sua
grande maioria por pescadores, tem enfrentado sérios problemas com a falta de
chuva, o que tem atrapalhado a venda de peixes e produtos derivados. Uma das
alternativas encontradas por eles para contornar a situação tem sido se deslocar do
seu lugar habitual para pescar em açudes de municípios vizinhos, pois o pouco que
ganham com aposentadorias e subsídios oferecidos pelo governo, muitas vezes,
não garantem o sustento de suas famílias. Além disso, os moradores tem procurado
outras formas de se sustentarem, como serviços de servente, trabalhos domésticos
e artesanato.
Ainda se tratando dos efeitos da seca no açude Gargalheiras, é preciso
pensar na utilização do recurso hídrico na forma mais imediata: água para consumo
humano. A água como um bem público, dotado de valor econômico, elemento
imprescindível ao processo produtivo e ao desenvolvimento, deve, portanto, ter sua
utilização e gestão democratizada. Para que isso aconteça, é indispensável reverter
as consequências causadas pela má administração desse bem natural, realizando
ações de prevenção de forma efetiva e assim, evitando a utilização de medidas
paliativas que não resolvem a situação, apenas mascaram a ineficiência dos
administradores.
Outro ponto que podemos ressaltar com o caso do açude Gargalheiras é
a vulnerabilidades dos destinos turísticos frente às mudanças que suas paisagens
52
podem sofrer, seja por ações antrópicas ou naturais. Os lugares, portanto, não são
turísticos, mas sim estão turísticos, dependendo diretamente da valorização que a
sociedade lhes impõe num determinado momento da história.
53
REFERÊNCIAS
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