153
1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO GRUPO DE EXTENSÃO E PESQUISA EM ERGONOMIA JANE CIAMBELE SOUZA DA SILVA SOLIDARIEDADE E FORTALECIMENTO DA RESILIÊNCIA COMUNITÁRIA EM SITUAÇÃO DE DESASTRE: O caso do Bairro de Mãe Luíza, Natal – RN. NATAL-RN ABRIL/2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA

PROGRAMA DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

GRUPO DE EXTENSÃO E PESQUISA EM ERGONOMIA

JANE CIAMBELE SOUZA DA SILVA

SOLIDARIEDADE E FORTALECIMENTO DA RESILIÊNCIA COMUNITÁRIA EM

SITUAÇÃO DE DESASTRE: O caso do Bairro de Mãe Luíza, Natal – RN.

NATAL-RN

ABRIL/2016

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

2

JANE CIAMBELE SOUZA DA SILVA

SOLIDARIEDADE E FORTALECIMENTO DA RESILIÊNCIA COMUNITÁRIA EM

SITUAÇÃO DE DESASTRE: O caso do Bairro de Mãe Luíza, Natal – RN.

Dissertação de pesquisa submetida ao

Programa de Pós-Graduação em Engenharia

da Produção da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte – UFRN, como requisito para

a obtenção do título de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. Ricardo José Matos de

Carvalho.

Linha de Pesquisa: Ergonomia, Engenharia do

Produto e Engenharia da Sustentabilidade.

NATAL-RN

ABRIL/2016

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

3

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

4

UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede

Catalogação da Publicação na Fonte

Silva, Jane Ciambele Souza da.

Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de

desastre: O caso do Bairro de Mãe Luíza, Natal/RN / Jane Ciambele Souza da

Silva. - Natal, RN, 2016.

153 f.: il.

Orientador: Prof. Dr. Ricardo José Matos de Carvalho.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Centro de Tecnologia. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção.

1. Desastre - Dissertação. 2. Gestão de risco - Dissertação. 3. Solidariedade -

Dissertação. 4. Ergonomia participativa - Dissertação. 5. Resiliência comunitária -

Dissertação. I. Carvalho, Ricardo José Matos de. II. Título.

RN/UF/BCZM CDU 504.4(813.2)

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

5

Aos membros da comunidade de Mãe Luíza afetados pelo desastre,

pelo exemplo de força e de determinação. Por terem me ensinado que

em meio a tantas adversidades, nada nos fortalece mais do que o amor

ao próximo, o respeito e a união.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

6

AGRADECIMENTO

Sou grata a Deus, por ter me conduzido até aqui. Por ter me concedido a realização de mais

um sonho e, é claro, por ter me presenteado com a contribuição de pessoas, sem as quais este trabalho

não faria sentido.

Agradeço, portanto, aos meus pais, Francisco e Maria, e ao meu irmão Flauber Camargo. Por

todo o apoio, pelo incentivo e pela paciência tão necessária.

Agradeço ao meu noivo, Diogo Anthunes. Por ser meu companheiro, meu porto seguro e

amigo de todas as horas.

Agradeço as minhas amigas Sânzia, Aline e Sâmia. E aos meus irmãos de coração, Ikaro e

Marina, por estarem comigo sempre.

Ao professor Marciano Furukava, meu mestre de sempre, pela confiança.

Agradeço aos membros do grupo de pesquisa do qual faço parte (o Grupo de Extensão e

Pesquisa em Ergonomia – GREPE). Em especial, aos bolsistas de extensão e iniciação científica, pela

contribuição na pesquisa e pela ajuda tão necessária nas idas a campo e no tratamento dos dados.

Agradeço ao professor e orientador Ricardo Matos, um exemplo de professor com o qual

aprendi bastante durante o mestrado. Este homem que esteve comigo, me conduzindo nas pesquisas de

campo, que me ajudou sempre que precisei, não medindo esforços para garantir que tudo desse certo.

Um exemplo de comprometimento e dedicação, que merece ser seguido!

Ao professor Pitágoras José, pelo apoio e pelos ensinamentos passados no trabalho com a

comunidade.

Ao professor Paulo Victor, pela parceria e co-orientação ao longo do desenvolvimento do

trabalho. Obrigada, também, pela contribuição feita à minha pesquisa, de modo geral, e aos trabalhos

já publicados.

A Professora Christie Werba, pelo acompanhamento e pela contribuição sempre tão valiosa

durante as “Jornadas de Ergonomia” e demais encontros.

E por ultimo, mas não menos importante, aos moradores de Mãe Luíza que participaram direta

ou indiretamente do meu trabalho. Em especial, sem querer desmerecer os demais, aos amigos

Antônio Correia, Ana Maria, Elizabete (Betinha), Francisco (ou Sr. Chico), Wilson Correia, Maria

Aparecida e Maria do Carmo.

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

7

Viver próximo da natureza às vezes nos assusta.

Esse mar vindo do céu derretendo os topos dos morros é algo que nunca imaginei.

Parece que a terra está derretendo e escorrendo sangrenta morro abaixo.

Tudo vermelho, carregando árvores, casas, objetos e corpos nus.

A força das águas arrancou tudo! Corpos pendurados em muros, carros sobre as árvores e

pessoas desoladas. Não há lugar para emoções e sentimentos!

Não há lugar para outros pensamentos.

Viver o presente e agradecer a vida dos que ficaram é mais forte!

E viver a irmandade da nossa espécie, que vive momentos de riscos.

Continua chovendo e os morros estão rachados, prontos para desabarem mais.

Incrível, que mesmo com toda a força das raízes, mata virgem desceu morro abaixo! Não

foram só áreas de desmatamento humano que sofreram!

Um desastre é um desastre.

E sabemos que por muitos meses sentiremos cheiro de morte no ar!

Famílias que perderam 9 pessoas de uma só vez, cemitérios abertos com escavadeira

porque não dá pra enterrar um por vez. Isso para os afortunados que encontraram os

corpos de seus amados, porque a maioria ainda não encontrou!

Escolhemos Vieira para atuar. Próximo da divisa com Friburgo, o vilarejo está

desfigurado. Um grande mar de lama! O rio nivelou-se com a estrada e desceram

cachoeiras vindo de Friburgo, carregando tudo.

Casas cortadas pelo meio ou totalmente destruídas.

Sem água limpa, não conseguem limpar os restos que sobraram.

Falta comida e objetos de casa para começar a recompor, mesmo sabendo que as chuvas

continuam.

As pessoas nem sabem receber ajuda, pois nunca viveram isso.

É preciso animá-los a pegar as doações. Ficam inibidos com a situação. A igreja cheia de

roupas de toda ordem!

A força da solidariedade parece do tamanho das ondas do “tsunami” que veio do céu!

Lembro da trama de defesa linfática que protege nossos corpos (desculpem a comparação,

coisa de médicos), igual se juntam em torno da área afetada formando uma “rede” que

fica lá até se resolver a situação! Fazemos isso também!

É preciso saber que por meses essas pessoas precisarão de nossa presença e atuação até

que recuperem suas próprias forças.

Há 1 mês atrás, em nossa localidade, tivemos algo próximo, atingindo 20 casas e sem

mortes.

A mobilização da comunidade alimentou essas famílias por um mês e ajudou a

reconstruir casas.

Hoje estão bem e mais fortes que antes.

Maria Luiza Nogueira, 2011

Sobre o Deslizamento de Terra na Região Serrana do Rio de Janeiro.

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

8

Resumo da dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção –

PEP da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos pré-requisitos necessários

para a obtenção do grau de Mestre em Ciências em Engenharia de Produção.

SOLIDARIEDADE E FORTALECIMENTO DA RESILIÊNCIA COMUNITÁRIA EM

SITUAÇÃO DE DESASTRE: O caso do bairro de Mãe Luíza, Natal – RN.

Abril/2016

Orientador: Prof. Dr. Ricardo José Matos de Carvalho

Curso: Mestrado em Ciências em Engenharia da Produção

A cidade de Natal possui várias áreas habitadas vulneráveis a desastres, entre as quais

se encontra o bairro popular de Mãe Luíza, que possui 16.547 mil habitantes e se localiza em

região de dunas, na região litorânea, vizinho ao bairro de Areia Preta, cujo m2 é o mais

valorizado da cidade. As fortes chuvas (285 mm) que atingiram Natal nos dias 13 e 14 de

junho de 2014, em meio ao cenário da Copa Mundial de Futebol da FIFA, provocaram no

bairro de Mãe Luíza, no dia 14 de junho, enxurradas, que resultaram em alagamentos e um

intenso deslizamento de terra, capaz de formar uma imensa cratera (área de 10.000 m2 e

profundidade de 30 m) no solo, destruindo, totalmente, 26 casas e afetando a vida de 187

famílias. Assim como tem ocorrido em outros desastres, a população foi a primeira a agir

diante dos riscos, mesmo sem possuir a capacitação adequada para este fim. A solidariedade

emergiu da população e se alastrou de forma coletiva no bairro, como se constatou e

geralmente ocorre nessas situações. Durante o desastre ficou explícita a fragilidade e o

despreparo das organizações governamentais e não governamentais e, também, da

comunidade, para lidar com a situação de crise. Infere-se que o nível de fragilidade no

enfrentamento dos riscos e desastre aumenta sem a participação da população e, ainda mais,

se esta não for qualificada para atuar nestas situações. Considerando o desastre como um

acontecimento social, dinâmico e complexo, é fundamental compreender como as sociedades

podem lidar com este fenômeno de maneira adaptativa, de maneira a aumentar a sua

resiliência e reduzir os riscos e impactos provocados pelo desastre. A Organização das Nações

Unidas tem promovido e implementado uma série de estratégias voltadas para a redução dos

riscos de desastres no mundo, assentada na melhoria da resiliência das cidades. Em 2012, o

Brasil reformulou sua política de gestão de riscos e desastres, promulgando a Lei nº 12.608,

com base nestas estratégias. Esta pesquisa tem como objetivo geral “Compreender de que

maneira as ações de solidariedade realizadas entre os membros da comunidade de Mãe

Luíza durante as fases de mobilização, resposta e recuperação do desastre contribuem para a

promoção da resiliência da comunidade”. Trata-se de uma pesquisa descritiva e explicativa,

quanto aos objetivos; estudo de caso, participativa, bibliográfica e documental, quanto aos

procedimentos de coleta; estudo de campo, bibliográfica e documental, quanto às fontes de

informação; e qualitativa, quanto à natureza dos dados. O bairro de Mãe Luíza foi o local

escolhido para a realização da pesquisa e os sujeitos da pesquisa são as vítimas de desastre, as

autoridades e os agentes de proteção e defesa civil, dos órgãos governamentais e não-

governamentais, envolvidos no desastre ocorrido em junho de 2014, que concordaram em

participar da pesquisa. As ações de solidariedade referentes às fases de mobilização e resposta

foram quantificadas, levando em consideração a porcentagem de vezes em que o tipo de ação

praticada ou testemunhada foi relatada, a porcentagem por tipo de vinculo social entre a

pessoa que realizou a ação e a pessoa favorecida e se a ação relatada foi bem ou mal sucedida,

do ponto de vista dos próprios moradores. Os resultados mostraram que das 23 (100%)

pessoas entrevistadas nenhuma relatou ações de solidariedade praticadas nas etapas de

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

9

prevenção de desastre e de preparação. 8,7% das pessoas relataram ações de solidariedade

realizadas ou testemunhadas na etapa de mobilização, 100% relataram ações de solidariedade

realizadas na etapa de resposta e nenhuma relatou ação de solidariedade praticada ou

testemunhada na etapa de recuperação. De acordo com os moradores que participaram da

pesquisa, as ações de solidariedade ocorreram espontaneamente e foram regidas pelo

sentimento de amor ao próximo e de compaixão para com o sofrimento do outro,

acompanhado pelo desejo de amenizar tal situação. No que diz respeito ao motivo pelo qual a

pessoa teria agido solidariamente, os moradores acreditam que o amor ao próximo é também

o principal motivo. Concluiu-se que o despreparo dos agentes dos órgãos municipais

responsáveis pela gestão de riscos de desastres e, em consequência, dos membros da

comunidade afetada, somado à ausência de um plano de contingência da cidade do Natal,

contribuiu para o agravamento dos riscos existentes no bairro de Mãe Luíza, o que acabou

resultando no desastre aqui estudado e fazendo com que a comunidade agisse por conta

própria, solidariamente, mesmo sem a coordenação adequada - antes, durante e depois do

desastre. Contudo, constatou-se que certas ações de solidariedade, praticadas por membros da

comunidade, contribuíram para mitigar os riscos, minimizar os danos e amenizar os

sofrimentos provocados pelo desastre, culminando, ainda, no fortalecimento dos vínculos e

laços comunitários. Concluiu-se que a prática de ações de solidariedade, também voltadas

para a gestão de riscos de desastres, deva ser incentivada nas comunidades, por parte dos

órgãos de proteção e defesa civil municipal e estadual e das lideranças comunitárias, visando

desenvolver e melhorar a resiliência comunitária e global do sistema.

PALAVTAS-CHAVE: Desastres; Gestão de Riscos; Solidariedade; Ergonomia Participativa;

Resiliência Comunitária.

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

10

Abstract of Thesis submitted to the Post-Graduate Program in Production Engineering – PEP

of the Federal University of Rio Grande do Norte – UFRN as part of the requirements for the

degree of Master of Science in Production Engineering.

SOLIDARITY AND STRENGTHENING OF COMMUNITY RESILIENCE IN A DISASTER

SITUATION: The case of neighborhood of Mãe Luiza, Natal - RN.

April/2015

Thesis Supervisor: Prof. Dr. Ricardo José Matos de Carvalho

Program: Master of Science in Production Engineering

The city of Natal has several inhabited areas vulnerable to disasters, among which is the popular

district of Mãe Luíza, which has 16.547 inhabitants and is located in the dunes region, in the coastal

region, adjacent to the Areia Preta’s neighborhood, whose m2 it is the most valued of the city. Heavy

rains (285 mm) which reached Natal on 13th and 14th of June 2014, amid the setting of the Football

World Cup FIFA, provoked in Mãe Luíza district, on 14th of June, floods, resulting in flooding and an

intense landslide, able to form a huge crater (area of 10,000 m2 and depth of 30 m) on the ground,

destroying completely, 26 homes and affecting the lives of more than 187 families. As it has occurred

in other disasters, the local population was the first to act by facing the risks, even without having the

proper training for this purpose. Solidarity emerged from the population and spread collectively in the

neighborhood, as it was found and usually occurs in these situations. During the disaster it became

clear the weakness and unpreparedness of government and non-governmental organizations and also

of the community to deal with the kind of crisis. It is inferred that the weak level in the face of hazards

and disasters increases without the participation of the population and, even more, if it is not qualified

to act in these situations. Considering the disaster as a social event, dynamic and complex, it is

essential to understand how societies can deal with this phenomenon in an adaptive manner, in order

to increase their resilience and reduce the risks and impacts caused by the disaster. The United Nations

has promoted and implemented a series of strategies aimed at reducing disaster risks around the world,

focused on improving the resilience of cities. In 2012, Brazil revised its risk and disaster management

policy, promulgating Law No. 12.608 based on these strategies. This research has the general

objective “Understanding how the solidarity actions carried out among members of Mãe Luiza’s

community during the stages of mobilization, response and disaster recovery contribute to the

promotion of community resilience”. This is a descriptive and explanatory, on the objectives; case

study, participatory, bibliographical and documentary, as regards to its gathering methods; field

studies, bibliographical and documentary, as regards to the sources of information; and qualitative,

about the nature of the data. The Mãe Luíza’s neighborhood was the chosen site for the research and

the research’s target are disaster victims, the authorities and the protection agents and civil defense,

government agencies and non-governmental organizations involved in the disaster that occurred in

June 2014, who agreed to participate on this study. The solidarity actions related to the phases of

mobilization and response were quantified taking into account the percentage of times the type of

action committed or witnessed was reported, the percentage by type of social link between the person

who performed the action and the person favored and the reported action was successful or

unsuccessful, from the point of view of the residents. The results showed that from the 23 (100%)

people surveyed, none reported solidarity actions taken in disaster prevention and preparation stages.

8.7% of people reported solidarity actions performed or witnessed at the mobilization stage, 100%

reported solidarity actions carried out at the response stage and none reported solidarity action

committed or witnessed at the recovery stage. According to the residents who participated in the

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

11

survey, the solidarity actions occurred spontaneously and were governed by a sense of love of

neighbor and compassion for the suffering of others, accompanied by the desire to alleviate the

situation. With regard to why the person acted cooperatively, residents believe that love of neighbor is

also the main reason. It was concluded that the unpreparedness of the agents of municipal agencies,

responsible for disaster risk management, and, as a result, the members of the affected community,

coupled with the absence of contingency plan from Natal has contributed to the to the aggravation of

the existing risks in neighborhood of Mãe Luiza, which eventually resulted in the disaster studied here

and making the community act on its own, cooperatively, even without proper management –

previously, during and after the disaster. However, it was found that certain solidarity actions, carried

out by members of the community, contributed to attenuate risks, minimize damage and alleviate the

suffering caused by the disaster, resulting also in a strengthening of ties and community bonds. It was

concluded that the practice of solidarity actions also focused on disaster risk management should be

encouraged in communities, by the protection agencies and state and municipal civil defense and

community leaders in order to develop and improve the community’s resilience globally.

KEYWORDS: Disasters; Risk Management; Solidarity; Participatory Ergonomics; Community

Resilience.

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

12

LISTA DE TABELAS

TABELA 1: Quantidade de afetados por tipo de Desastre no Brasil em 2012

TABELA 2: Quantidade de Municípios Afetados por Desastre no Brasil em 2012

TABELA 3: As Vantagens da Gestão dos Riscos de Desastres

TABELA 4: Graus da participação

TABELA 5: Síntese da Primeira Reunião Ocorrida no LAI

TABELA 6: Síntese da Segunda Reunião Ocorrida no Parque da Cidade

TABELA 7: Matriz de Materiais e Métodos

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

13

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: Percentual das Regiões Afetadas por Desastres no Brasil em 2012

FIGURA 2: Número de Óbitos e de Afetados por Região Brasileira em 2012

FIGURA 3: Organograma da Secretaria Nacional de Defesa Civil

FIGURA 4: Esquematização das Etapas da Gestão dos Riscos de Desastre

FIGURA 5: A Gestão de Riscos de Desastres e a Relação com o Desenvolvimento

Sustentável

FIGURA 6: Funções abstratas e generalizadas de resiliência

FIGURA 7: Localização geográfica do bairro de Mãe Luíza, Natal – RN

FIGURA 8: Identificação dos Imóveis por Endereço das Residências Afetadas pelo Desastre

Ocorrido em Mãe Luíza em Junho de 2014

FIGURA 9: Esquema da Construção Social da Pesquisa

FIGURA 10: Trabalho em Grupo Durante o II Sem Desastres dia 23 de outubro de 2014

FIGURA 11: Página no Facebook Referente à Comunidade de Mãe Luíza Afetada pelo

Desastre

FIGURA 12: Protesto de Aniversário de Um Ano da Cratera do Dia 12 de Junho de 2015

FIGURA 13: Inauguração da Escadaria de Mãe Luíza no Dia 7 de Dezembro de 2015

FIGURA 14: Manifestação para Despertar a Atenção das Autoridades Sobre a Reconstrução

das Casas e o Pagamento do Auxílio Moradia no dia 7 de Dezembro de 2015

FIGURA 15: Audiência Pública na Câmara Municipal de Natal no dia 30 de junho de 2014

FIGURA 16: Audiência Pública no Ministério Público de Natal

FIGURA 17: Esquematização Proposta das Etapas da Gestão dos Riscos de Desastre

FIGURA 18: Gênero Sexual dos Membros das Famílias que Tiveram as Casas Destruídas

pelo Desastre

FIGURA 19: Estado Civil dos Membros das Famílias que Tiveram as Casas Destruídas pelo

Desastre

FIGURA 20: Faixa Etária dos Membros das Famílias que Tiveram as Casas Destruídas pelo

Desastre

FIGURA 21: Nível de Escolaridade dos Membros das Famílias que Tiveram as Casas

Destruídas pelo Desastre

FIGURA 22: Renda Mensal Familiar Antes da Ocorrência do Desastre

FIGURA 23: Renda Mensal Familiar Depois da Ocorrência do Desastre

FIGURA 24: Situação das Residências Antes da Ocorrência do Desastre

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

14

FIGURA 25: Situação das Residências Depois da Ocorrência do Desastre

FIGURA 26: Escadaria de Mãe Luíza antes do Desastre em Junho de 2014 – Antes do

Desastre

FIGURA 27: Cratera Formada no Dia 13 de junho de 2014 na Rua Guanabara

FIGURA 28: Avenida Governador Silvio Pedrosa no Dia 13 de junho de 2014

FIGURA 29: Rua Guanabara Antes do Desastre

FIGURA 30: Rua Guanabara Depois do Desastre

FIGURA 31: Beco do Curral Antes do Desastre

FIGURA 32: Beco do Curral e Rua Guanabara Depois do Desastre

FIGURA 33: Ações de Solidariedade Relatadas na Etapa de Mobilização e Resposta

FIGURA 34: Tipo de Vínculo Social Estabelecido Entre os Atores das Ações de

Solidariedade e as Pessoas Favorecidas

FIGURA 35: Moradores Agindo Solidariamente na Fase de Recuperação

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

15

LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BIRC – Base de Indicadores de Resiliência para Comunidades

CAERN – Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte

CEMADEN – Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais

CENADE – Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos de Desastres

CEPED – Centro de Estudos e Pesquisas sobre Desastres

CONDEC – Conselho Nacional de Defesa Civil

CONPDEC – Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil

DIRDN – Década Internacional para a Redução de Riscos de Desastres Naturais

DAG – Departamento de Articulação e Gestão

DMD – Departamento de Minimização de Desastres

DRR – Departamento de Reabilitação e Reconstrução

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias

EIRD – Estratégia Internacional para a Redução dos Riscos de Desastres

FUNCAP – Fundo Nacional para Calamidades Públicas

GA – Grupo de Acompanhamento

GAE – Grupo de Ação Ergonômica

GEACAP – Grupo Espacial para Assuntos de Calamidades Públicas

GF – Grupo de Foco

GREPE – Grupo de Extensão e Pesquisa em Ergonomia

GS – Grupo de Suporte

MIN – Ministério Nacional da Integração

NUDEC – Núcleo Comunitário de Defesa Civil

ONU – Organização das Nações Unidas

PMRR – Plano Municipal de Redução de Riscos

PNDC – Plano Nacional de Defesa Civil

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

16

PNDC – Política Nacional de Defesa Civil

PNPDEC – Política Nacional de Proteção e Defesa Civil

PREVFOGO - Sistema de solicitação/acompanhamento de vistorias e análise de projetos do

Corpo de Bombeiros

P2R2 - Plano Nacional de Prevenção, Preparação e Resposta Rápida a Emergências

Ambientais com Produtos Químicos Perigosos

REDEC – Coordenadorias Regionais de Defesa Civil

SAAP – Secretaria de Apoio Administrativo e Protocolo

SEMDES – Secretaria Municipal de Segurança Pública e Defesa Social

SEMOB – Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana

SEHARPE – Secretaria Municipal de Habitação, Regularização Fundiária e Projetos

Estruturantes

SEMOV – Secretaria Municipal de Obras Públicas e Infraestrutura

SEMURB – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo

SEMTAS – Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social

SEMSUR – Secretaria Municipal de Serviços Urbanos

SIPRON – Sistema de Proteção ao Programa Nuclear

SINDEC – Sistema Nacional de Defesa Civil

SINPDEC – Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil

SMS – Secretaria Municipal de Saúde

SNDC – Secretaria Nacional de Defesa Civil

UNISDR - Secretariado das Nações Unidas para a Redução dos Riscos de Desastres

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

17

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 20

CAPÍTULO 1: CAPÍTULO 1 – BREVE PANORAMA DO DESASTRE NO MUNDO 25

CAPÍTULO 2: O SISTEMA DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL NO BRASIL ........... 30

2.1 HISTÓRICO DO SISTEMA DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL NO BRASIL ............ 30

2.2 POLÍTICA NACIONAL DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL – PNPDEC ..................... 34

2.3 SISTEMA NACIONAL DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL – SINPDEC ..................... 36

2.4 NÚCLEOS COMUNITÁRIOS DE DEFESA CIVIL – NUDECs ..................................... 40

CAPÍTULO 3: PESQUISAS RELACIONADAS COM O TEMA E REFERENCIAL

TEÓRICO-CONCEITUAL ................................................................................................... 42

3.1 PESQUISAS RELACIONADAS COM O TEMA ............................................................ 42

3.1.1 Pesquisas Relacionadas com a Resiliência Comunitária e Desastres ....................... 42

3.1.2 Pesquisas Relacionadas com a Solidariedade e Desastres ......................................... 44

3.2 REFERENCIAL TEÓRICO E CONCEITUAL ................................................................. 45

3.2.1 Riscos, Desastres e Gerenciamento dos Riscos de Desastres ..................................... 45

3.2.2 Solidariedade .................................................................................................................. 56

3.2.3 Ergonomia Participativa ............................................................................................... 60

3.2.3.1 A Participação no Contexto das Comunidades............................................................. 63

3.2.4 Resiliência Comunitária ................................................................................................ 64

CAPÍTULO 4: PERCURSO METODOLÓGICO .............................................................. 67

4.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA .................................................................................. 68

4.2 LOCAL DA PESQUISA .................................................................................................... 70

4.3 POPULAÇÃO E AMOSTRA DA PESQUISA ................................................................. 70

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

18

4.4 A CONSTRUÇÃO SOCIAL .............................................................................................. 73

4.4.1 Grupo de Ação Ergonômica – GAE ............................................................................. 74

4.4.2 Grupo de Suporte – GS ................................................................................................ 74

4.4.3 Grupo de Acompanhamento - GA ............................................................................... 75

4.4.4 Grupo de Foco – GF ..................................................................................................... 75

4.5 DETALHAMENTO DA CONSTRUÇÃO SOCIAL ......................................................... 75

4.5.1 Reuniões .......................................................................................................................... 75

4.5.1 Audiências Públicas ....................................................................................................... 85

4.6 INSTRUÇÃO DA DEMANDA ......................................................................................... 88

4.7 TRABALHO DE CAMPO ................................................................................................. 89

4.7.1 Coleta de Dados e Instrumentos ................................................................................... 70

4.7.2 Tratamento de Dados .................................................................................................... 91

4.7.3 Restituição e Validação – R&V .................................................................................... 92

4.8 MATRIZ DE MATERIAIS E MÉTODOS DA PESQUISA ............................................. 93

CAPÍTULO 5 – RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................... 100

5.1 PERFIL SOCIOECONÔMICO DAS FAMÍLIAS AFETADAS PELO DESASTRE ..... 100

5.2 EVIDÊNCIAS DE PARTICIPAÇÃO E ENVOLVIMENTO DOS MEMBROS DO

BAIRRO DE MÃE LUÍZA ANTES DO DESASTRE: A PREVENÇÃO E A MITIGAÇÃO

DOS RISCOS NO BAIRRO .................................................................................................. 106

5.2.1 Em 2011 ........................................................................................................................ 106

5.2.2 Em 2014, Antes do Desastre de 14 de junho. ............................................................ 106

5.2.3 O Dia 14 de Junho de 2014: dia do desastre. ............................................................ 109

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

19

5.3 AS AÇÕES DE SOLIDARIEDADE RELATADAS OU TESTEMUNHADAS PELOS

MEMBROS DA COMUNIDADE DE MÃE LUÍZA EM DECORRÊNCIA DO DESASTRE

OCORRIDO NO BAIRRO .................................................................................................... 113

5.4 AS AÇÕES DA SEMDES ANTES DO DESASTRE E A PERCEPÇÃO DO

SECRETÁRIO ADJUNTO SOBRE AS AÇÕES DE SOLIDARIEDADE

DESENVOLVIDAS PELOS MEMBROS DA COMUNIDADE ......................................... 120

5.4.1 Atuação da SEMDES .................................................................................................. 120

5.4.2 Percepção do Secretário Adjunto Sobre as Ações de Solidariedade Ocorridas .... 122

CAPÍTULO 6: CONSIDERAÇÕE FINAIS ...................................................................... 125

Referências Bibliográficas .................................................................................................. 128

APÊNDICES ........................................................................................................................ 133

APÊNDICE 1: Mapa das Casas Destruídas pelo Desastre ..................................................... 134

APÊNDICE 2: Questionário do Perfil Socioeconômico das Famílias Afetadas pelo Desastre

de Mãe Luíza, Natal – RN, que Tiveram suas Casas Destruídas e/ou Interditadas................ 135

APÊNDICE 3: Roteiro Dinâmico de Conversação a Ser Aplicado com os Moradores ......... 139

APÊNDICE 4: Roteiro Dinâmico de Conversação a Ser Aplicado com o Secretário Adjunto

de Defesa Civil de Natal ......................................................................................................... 143

APÊNDICE 5: Tabela para Tratamento de Nível 1 ............................................................... 144

APÊNDICE 6: Tabela para Tratamento de Nível 2 ............................................................... 145

APÊNDICE 7: Tabela para Tratamento de Nível 3 ............................................................... 146

APÊNDICE 8: Tabela para Tratamento da Conversação com o Secretário Adjunto de Defesa

Civil de Natal .......................................................................................................................... 147

ANEXOS ............................................................................................................................... 148

ANEXOS 1 ............................................................................................................................. 149

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

20

INTRODUÇÃO

A presente pesquisa tem como tema “a importância das ações de solidariedade

realizadas ou testemunhadas pela comunidade de Mãe Luíza antes, durante e após a

ocorrência do desastre, e a relação destas ações com a promoção da resiliência comunitária

frente ao desastre”.

Os riscos de desastres são uma ameaça para a segurança humana, patrimonial e

pública de populações que vivem em áreas vulneráveis a desastres. As populações

vulneráveis, muitas vezes, desenvolvem ações, voluntariamente, com o objetivo de prevenir e

minimizar os danos decorrentes de desastres. Durante os desastres, observam-se pessoas da

mesma família, vizinhos e estranhos à localidade afetada pelo desastre cooperando,

solidariamente, de diversas formas, com aqueles em situações de risco: comunicando-os sobre

a iminência do risco; orientando-os a deixarem o local de risco e seguirem para um local

seguro; ajudando-os na evacuação e fuga; retirando os pertences dos domicílios; ajudando-os

no resgate; realizando primeiros socorros; abrigando-os; doando-lhes itens de higiene pessoal

(escova e pasta de dentes, papel higiênico, sabonete, shampoo), roupas de cama e banho

(lençóis, toalhas, travesseiros), vestimentas, água potável, alimentos etc; doando-lhes sangue;

doando-lhes ou emprestando-lhes dinheiro etc.

Com base nisso, os problemas que norteiam esta pesquisa são:

P1: O que motiva os membros da comunidade atingida pelo desastre serem solidários

uns com os outros durante as etapas da gestão de riscos de desastres?

P2: As ações de solidariedade realizadas pelos membros da comunidade contribuem

para a promoção da resiliência comunitária?

P3: Em que medida as ações de solidariedade realizadas pelos membros da

comunidade pelos membros da comunidade durante o desastre, podem contribuir para a

minimização dos riscos ou danos dos desastres ou, paradoxalmente, para o aumento?

P4: A falta de capacitação necessária para executar certas ações de solidariedade

durante o desastre foi determinante para que o membro da comunidade deixasse de agir

solidariamente?

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

21

Segundo o Atlas do Rio Grande do Norte – RN (2012), o RN, assim como os outros

estados do nordeste, tem sofrido bastante com a seca/estiagem e apresentou, no período de

1990 à 2012, 1.296 registros de desastres relacionados com a seca. Contudo, o estado também

apresenta muitos lugares com alto risco de alagamento, inundação e deslizamento de terra.

A cidade do Natal, capital do Rio Grande do Norte, está entre as localidades com

maiores riscos de desastres, agravado pela ocorrência de fortes chuvas na região associadas a

áreas de vulnerabilidade socio-ambiental. O bairro de Mãe Luíza, uma das áreas mais

vulneráveis a desastres na cidade, está localizado na região leste do município, fazendo

fronteira com o Oceano Atlântico, o Parque das Dunas e com bairros nobres da cidade de

Natal, onde há o metro quadrado mais caro da cidade.

As fortes chuvas que atingiram a cidade de Natal nos dias 13 e 14 de junho de 2014

provocaram um intenso deslizamento de terra no bairro de Mãe Luíza, que resultou na

formação de uma imensa cratera, afetando a vida de 187 famílias, das quais 26 tiveram suas

casas totalmente destruídas. Foram 285 mm de chuva acumulados em dois dias, equivalente à

média histórica de todo o mês de junho. De acordo com o secretário Adjunto do órgão de

Proteção e Defesa Civil do município, bastam 40 mm de chuva para ocorrerem desastres na

cidade. A chuva em Mãe Luíza escoou em declive acentuado - pois o bairro se localiza em

uma região de dunas de grande altitude - e abriu ainda mais um buraco já existente, de 1,20 m

de diâmetro, que havia se formado em decorrência de um pequeno vazamento na tubulação de

água servida, que cedeu o terreno e transformou-se em uma imensa cratera, de 10.000 m2

e 30

m de profundidade, vindo a provocar as destruições mencionadas.

Ciente dos impactos que os desastres podem provocar o Secretariado das Nações

Unidas para a Redução dos Riscos de Desastres – UNISDR tem desenvolvido e

implementado ações com o objetivo de reduzir os riscos de desastres e promover a resiliência

comunitária nas cidades, a partir de uma ética de prevenção (UNISDR, 2015). As ações

planejadas pelo UNISDR (2012) basearam-se no Marco de Ações de Hyogo – MAH (2005 –

2015), que definiu as condições para um mundo mais seguro entre 2005 e 2015. Estas ações

foram reformuladas em março de 2015 durante IIIª Conferência Mundial da ONU para

Redução de Riscos de Desastres, que aconteceu em Sendai, no Japão, e redefiniu o

compromisso mundial de abordar a redução de riscos de desastres e o aumento da resiliência

no contexto do desenvolvimento sustentável para o período de 2015-2030 (MAH, 2015).

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

22

O Brasil, com base no Marco de Hyogo, promulgou em 2012 a Lei nº 12.608, que

atribui aos municípios, estados e ao governo federal a responsabilidade pelo planejamento e

execução de ações em prol da redução dos riscos de desastres no país, inclusive o

desenvolvimento de estratégias para a promoção da resiliência comunitária, que visa envolver

a comunidade nas ações de proteção e defesa civil para a redução dos ricos de desastres.

Apesar da obrigatoriedade instituída pela Lei nº 12.608/2012 e das ações

desenvolvidas pela Estratégia Internacional para a Redução de Desastres – EIRD, muitas

cidades no Brasil ainda não possuem estratégias próprias, planos e programas para redução de

riscos de desastres, como é o caso da própria cidade do Natal que, por exemplo, não

desenvolveu nem executou seu Plano de Contingência.

O presente trabalho justifica-se pela carência de pesquisa disponível, relacionando as

ações de solidariedade desenvolvidas pelos membros das comunidades afetados por desastres

com o desenvolvimento da resiliência comunitária, principalmente no que diz respeito ao

bairro de Mãe Luíza, Natal – RN. Também porque os membros das comunidades e a

população em geral são os primeiros chegarem nos locais dos desastres e a agirem,

espontaneamente, solidariamente e cooperativamente, muitas vezes sem a preparação

necessária.

A relevância deste trabalho consiste nos seguintes fatos: a) Mãe Luíza é um bairro

populoso, que já foi afetado por desastres nos anos de 1995, 2010, 2012 e 2014, tendo sua

comunidade experiências no enfrentamento; b) não há plano de contingência de proteção e

defesa civil nem a realização regular de exercícios simulados conforme o plano, nem para a

cidade de Natal nem para o bairro de Mãe Luíza, especificamente; c) embora sua população já

tenha experimentado desastres e se mobilizado em maior ou menor grau para enfrentá-los,

percebe-se que ela carece de uma preparação adequada; d) os órgãos oficiais não consideram

em suas estratégias de ações de proteção e defesa civil a preparação desta população, nem as

experiências acumuladas dos seus membros, nem o potencial de solidariedade e de

cooperação destes.

Os resultados desta pesquisa procurarão demonstrar a importância das ações de

solidariedade entre os membros da comunidade para o desenvolvimento da resiliência

comunitária, visando as ações de proteção e defesa civil, levadas a cabo pelos órgãos

públicos, e, portanto, para o desenvolvimento da resiliência global frente aos desastres,

contribuindo, assim, para a redução dos danos e perdas decorrentes dos desastres.

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

23

As hipóteses formuladas com base nos problemas propostos são os seguintes:

H 1 – Numa situação de desastres os membros da comunidade atuam de maneira

solidária porque se sensibilizam com as perdas e sofrimento das pessoas envolvidas;

H 2 – Ações que vivenciem e experimentem a solidariedade entre os indivíduos da

comunidade, na situação de desastre vivenciada, contribuem para o aumento da resiliência

comunitária, bem como para a redução dos riscos e efeitos destes acontecimentos;

H 3 – As ações de solidariedade praticadas pelos moradores durante o desastre pode

reduzir os riscos associados ao desastre. No entanto, a falta de qualificação adequada pode

fazer com que os indivíduos que ajam solidariamente acabem agravando os riscos e as

consequências do desastre;

H 4 – A falta de qualificação ou preparo suficiente não interfere na ação solidária dos

membros da comunidade durante as etapas da gestão de riscos de desastres e, principalmente,

na etapa de resposta.

Esta pesquisa tem como objetivo geral “Compreender de que maneira as ações de

solidariedade realizadas entre os membros da comunidade de Mãe Luíza durante as fases de

mobilização, resposta e recuperação do desastre contribuem para a promoção da resiliência

da comunidade”. Os objetivos específicos são:

• Identificar e tipificar/classificar as ações de solidariedade desenvolvidas pelos

membros da comunidade durante as fases de mobilização, resposta ao desastre e de

recuperação;

• Identificar quais foram as motivações dos membros da comunidade para

participarem e agirem solidariamente durante as fases de resposta e recuperação;

• Verificar e analisar como se deu o processo de preparação prévia dos membros da

comunidade para realizar as respectivas ações de solidariedade e de cooperação;

• Apontar as dificuldades das referidas ações de solidariedade e de cooperação

desenvolvidas pelos membros da comunidade;

• Perceber quais as estratégias utilizadas pelos membros da comunidade para suprir as

dificuldades e obter sucesso nas ações.

Esse trabalho está dividido em seis capítulos:

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

24

- O Capítulo 1 refere-se a uma breve apresentação do panorama de desastres no

mundo, no Brasil, no Rio Grande do Norte e em Natal.

- O Capítulo 2 diz respeito à organização e estrutura do Sistema de Proteção e Defesa

Civil no Brasil e à Política Nacional de Proteção e Defesa Civil – PNPDEC.

- O Capítulo 3 apresenta as pesquisas encontradas na literatura disponível relacionadas

ao tema da solidariedade e desastre e da resiliência comunitária e desastre, além de que

apresenta o referencial teórico-conceitual da pesquisa, onde serão discutidos os conceitos e

definições referentes ao gerenciamento de riscos de desastres, solidariedade, ergonomia

participativa e resiliência comunitária.

- O Capítulo 4 descreve o Percurso Metodológico da pesquisa, ou seja, o caminho

trilhado para que seja possível alcançar os objetivos definidos, além de apresentar a

população, a amostra e o local onde a pesquisa foi realizada. O capítulo também apresenta a

Construção Social e a Instrução da Demanda desta pesquisa.

- O Capítulo 5 apresenta os resultados obtidos e as respectivas discussões, a partir: a) do

questionário socioeconômico (Apêndice 1) aplicado às famílias afetadas pelo desastre; b) das

conversações individuais (Apêndice 2) realizadas com os moradores que realizaram ações de

solidariedade ou foram beneficiados por estes tipos de ações ou testemunharam ações de

solidariedade nas etapas correspondentes ao desastre ocorrido no bairro de Mãe Luíza; c) dos

resultados da conversação realizada com o Secretário Adjunto da Defesa Civil de Natal

(Apêndice 3).

- As conclusões e as considerações finais estão apresentadas no Capítulo 6.

- As referências bibliográficas, os apêndices e os anexos encerram a dissertação. Nas

referências bibliográficas é apresentada a relação da bibliografia consultada, que fundamentou

o desenvolvimento do trabalho. Nos apêndices, estão incluídos os protocolos de coleta de

dados desenvolvidos para a pesquisa de campo e para o tratamento dos relatos dos moradores.

No anexo 1 encontra-se a “Carta de Mãe Luíza” divulgada pelos moradores após o desastre.

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

25

CAPÍTULO 1 – BREVE PANORAMA DO DESASTRE NO MUNDO

Nos últimos tempos, um grande número de áreas relacionadas com o risco ambiental

vem crescendo, em diferentes países e regiões do mundo (SOUZA; LOUREIRO, 2014, p. 2).

A importância dos estudos envolvendo este tema não está apenas na dimensão dos desastres

(FAVERO; DIESEL, 2008), mas principalmente nas suas consequências num contexto social

específico, sejam estas consequências humanas, materiais, ambientais e econômicas.

De acordo com o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas – PNUD (2004,

p. 10) no documento intitulado La Reduccion de Riesgos de Desastres – Un Desafio para El

Desarrollo, em média 75% da população mundial vive em áreas que pelo menos uma vez

entre 1980 e 2000 foram afetadas por terremotos, ciclones tropicais, inundações ou secas.

No Brasil, de acordo com o Atlas Brasileiro de Desastres Naturais (2012, p. 28), na

década de 1990 ocorreram 8.671 desastres, enquanto que na década de 2000 ocorreram

23.238. No entanto, não é possível afirmar se estes dados são fidedignos, uma vez que é

sabida a histórica fragilidade do Sistema de Proteção e Defesa Civil em manter atualizados

seus registros, o que faz crer que estes dados estejam subnotificados. “Como tendência, é

possível apenas afirmar que tanto os desastres têm potencial crescimento, como o

fortalecimento do sistema, a fidelidade aos números e o compromisso no registro também

crescem com o passar dos anos” (ATLAS, 2012, p. 28).

“O inchaço urbano faz com que as comunidades tenham que ocupar áreas rurais dos

entornos metropolitanos, que não possuem condições ambientais adequadas, como várzeas,

planícies inundáveis e encostas” (KRUM, 2007, p. 16). Esse inchaço afeta os grupos de maior

vulnerabilidade, “que no Brasil e nos países da América Latina estão relacionados às

comunidades de baixa renda em situação de vulnerabilidade nas esferas social, econômica,

ambiental e psicológica” (SOUZA; LOUREIRO, 2014, p. 8).

Na pesquisa realizada por Souza e Loureiro (2014, p. 6), com relação ao desastre

ocorrido no estado do Rio de Janeiro no ano de 2010, constatou-se que mais de 50 residências

foram afetadas por um deslizamento de terra no Morro do Bumba, onde antigamente

funcionou um depósito de lixo, que matou mais de 200 pessoas. Cabe salientar que a

construção das casas no referido local havia sido permitida pela prefeitura da cidade de

Niterói – RJ.

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

26

Desastres como este refletem um processo de urbanização marcado pela disparidade

social. De acordo com Carmo in Carmo e Valencio (2014, p.1), os desastres, assim como as

cidades, são socialmente construídos e em sua maioria revelam quais os espaços econômicos

e sociais estão reservados para os diferentes grupos sociais e em quais medidas eles estão

expostos aos riscos.

Neste cenário, os desastres ocorrem provocando consequências drásticas para os

residentes locais (SOUZA; LOUREIRO, 2014), sejam estas consequências sociais,

econômicas, políticas e/ou ambientais.

Segundo estes autores, a população, quando não se vê assistida pelos agentes e

autoridades públicas, toma para si a responsabilidade pela gestão de riscos de desastres,

participando através de ações de solidariedade e de cooperação, muitas vezes sem o preparo

necessário, com improvisos, que podem resultar em sucesso, mas, também, em insucessos,

pois estas ações, sem o preparo e qualificação necessários, podem gerar consequências

indesejáveis, como a produção e/ou agravamento de danos, revelando o nível de resiliência da

comunidade e do sistema oficial de gestão de risco de desastres de uma localidade.

Uma média de 200 milhões de pessoas por ano, no mundo, foi afetada por desastres

nas últimas duas décadas (UNISDR, 2007). Na “Rio+20”, conferência das Nações Unidas

sobre o desenvolvimento sustentável, realizada no Rio de Janeiro, Brasil, em 2012, a

Estratégia Internacional para a Redução de Riscos de Desastres – EIRD estimou que nos

últimos 20 anos os desastres que ocorreram no mundo todo já mataram 1,3 milhão de pessoas,

afetaram a vida de outras 4,4 bilhões e resultaram em perdas econômicas de US$ 2 trilhões

No entanto, não é possível afirmar se esse aumento existiu de fato, uma vez que é

sabida a histórica fragilidade do Sistema de Defesa Civil do Brasil em manter seus registros

atualizados. “Como tendência, é possível apenas afirmar que tanto os desastres têm potencial

crescimento, como o fortalecimento do sistema, a fidelidade aos números e o compromisso no

registro também crescem com o passar dos anos” (ATLAS, 2012, p. 28).

De acordo com o “Anuário Brasileiro de Desastres Naturais” em 2012 ocorreram 376

desastres em todo o Brasil, afetando a vida de 16.977.615 pessoas, como é possível observar

na Tabela 1. Dos 5.570 municípios existentes no país, 3.781 foram afetados por desastres em

2012 (Tabela 2). 47,16% dos munícipios estão localizados na região nordeste, 27,66% na

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

27

região sul, 20,50% na região sudeste, 3,94 região norte e 0,74% região centro-oeste (Figura

1).

TABELA 1: Quantidade de afetados por tipo de Desastre no Brasil em 2012 (BRASIL, 2012).

EVENTOS Óbitos Feridos Enfermos Desabrigados Desalojados Desaparecidos Afetados

Seca/Estiagem 6 0 14.214 30 750 0 8.956.853

Incêndio

Florestal 0 0 0 0 0 0 37.338

Movimentos de

Massa 26 10 2 1.129 2.801 0 123.555

Erosão 0 0 5 81 2.105 0 55.653

Alagamentos 5 6 6 1.048 954 0 24.581

Enxurradas 26 6.580 14.318 49.769 262.851 2 1.856.359

Inundações 14 2.409 10.665 52.041 216.349 2 5.185.018

Geadas 0 0 0 0 0 0 30.777

Granizo 0 11 4 418 7.971 1.040 103.265

Tornados 0 2 0 1 20 0 4.310

Vendaval 16 150 13 5.769 13.220 0 599.905

TOTAL 93 9.168 39.227 110.268 507.021 1.044 16.977.614

TABELA 2: Quantidade de Municípios Afetados por Desastre no Brasil em 2012 (BRASIL, 2012).

Região Quantidade de Municípios Afetados

Centro-Oeste 28

Nordeste 1.783

Norte 149

Sudeste 775

Sul 1.046

Total 3.781

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

28

FIGURA 1: Percentual das Regiões Afetadas por Desastres no Brasil em 2012 (BRASIL, 2012).

Cabe destacar que, apesar da região nordeste apresentar o maior número de municípios

afetados, a região sudeste registrou a maior porcentagem de óbitos (75,27% no total) e foi

atingida por 35,64% dos desastres, enquanto que a região nordeste registrou apenas 5,59%

dos eventos. Essa diferença está relacionada ao desastre da seca/estiagem e suas

características. A Figura 2 apresenta a diferença entre a porcentagem de afetados e óbitos

registrados por região. Percebe-se que mesmo o nordeste concentrado o maior número de

afetados, a região sudeste registra uma porcentagem de óbitos bastante significativa, cujas

causas seriam os deslizamentos de terra (movimentos de massa) e enxurradas.

FIGURA 2: Número de Óbitos e de Afetados por Região Brasileira em 2012 (BRASIL, 2012).

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

29

Os dados aqui apresentados e a realidade crua dos danos de desastres exigem, em todo

o mundo, estruturas e sistemas organizacionais de proteção e defesa civil que sejam capazes

gerir eficientemente os riscos de desastres. O capítulo 2, a seguir, discorre sobre o sistema

nacional de proteção e defesa civil.

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

30

CAPÍTULO 2 – O SISTEMA DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL NO BRASIL

2.1 Histórico da Proteção e Defesa Civil no Brasil

As primeiras ações, estruturas e estratégias de proteção e segurança dirigidas a

população, tanto no Brasil como no resto do mundo, foram realizadas nos países envolvidos

na Segunda Guerra Mundial (BRASIL/MIN, 2015). Segundo Quarantelli (1987), os estudos

sobre os desastres estiveram associados à busca pela compreensão de como o comportamento

das populações, em situação de paz, poderia ajudar a prever e entender o comportamento das

populações em situação de guerra.

Dentro desse contexto, o primeiro país a preocupar-se com a proteção e segurança de

sua população foi a Inglaterra, que instituiu a Civil Defence (Defesa Civil), após os ataques

sofridos entre 1940 e 1941, em virtude da IIª Guerra Mundial, quando foram lançadas

toneladas de bombas sobre as principais cidades e centros industriais ingleses, causando

milhares de perdas de vida na população civil (BRASIL/MIN, 2015).

De acordo com o Ministério da Integração Nacional – MIN o tema do desastre começa

a ganhar destaque no Brasil após o acidente marinho que envolveu o afundamento de navios

militares no litoral da Bahia em 1942, resultando na morte de 36 passageiros civis, entre eles

mulheres e crianças, e 20 tripulantes. O ocorrido provocou revolta na população do país que

foi às ruas exigir do governo brasileiro uma resposta imediata aos ataques. A partir do

exemplo da Inglaterra, o governo brasileiro criou, no mesmo ano, o Serviço de Defesa Passiva

Antiaérea e instituiu a obrigatoriedade do ensino da defesa passiva em todos os

estabelecimentos de ensino, oficiais ou particulares, existentes no país (BRASIL/MIN, 2015).

Tendo em vista as fortes chuvas que atingiram a região sudeste do Brasil entre os anos

de 1966 e 1967, provocando enchentes e deslizamentos nos estados da Guanabara (extinto em

1975), Rio de Janeiro e São Paulo (BRASIL/MIN, 2015), o país começou a se estruturar em

função dos danos que estes eventos provocaram. Um grupo de trabalho construído no estado

da Guanabara, com a finalidade de estudar a mobilização dos diversos órgãos estaduais em

casos de catástrofes, elaborou o Plano Diretor de Defesa Civil do Estado da Guanabara,

criando as Coordenadorias Regionais de Defesa Civil – REDEC no Brasil e definindo

atribuições para cada órgão componente do Sistema Estadual de Defesa Civil (BRASIL/MIN,

2015).

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

31

A partir deste cenário, em dezembro de 1966 foi organizada na Guanabara a primeira

Defesa Civil Estadual do Brasil e em 1967 foi criado o Ministério do Interior com o objetivo

de assistir as populações atingidas pelos desastres em todo o território nacional. Nesta

perspectiva, ao final de década de 1960 foram instituídos no Ministério do Interior, o Fundo

Especial para Calamidades Públicas – FUNCAP e o Grupo Especial para Assuntos de

Calamidades Públicas - GEACAP (embrião da Secretaria Nacional de Defesa Civil) com a

incumbência de prestar assistência à defesa permanente contra as calamidades públicas.

A proposta de pensar a Defesa Civil como instituição estratégica para redução de

riscos de desastres veio com a organização do Sistema Nacional de Defesa Civil - SINCEC,

no Decreto nº 97.274, de 16 de dezembro de 1988. O SINDEC foi organizado com o objetivo

de planejar e promover a defesa permanente contra calamidades públicas, integrando a

atuação dos órgãos e entidades públicas e privadas que, no território nacional exercem

atividades de planejamento, coordenação e execução das medidas de assistência às

populações atingidas por fatores adversos (BRASIL, 1988, Art.1º).

No dia 22 de dezembro de 1989 uma Assembléia Geral realizada pelas Organizações

das Nações Unidas – ONU aprovou a Resolução 44/236, que estabeleceu a década de 1990 –

1999 como sendo a Década Internacional para a Redução de Desastres Naturais – DIRDN,

cujo objetivo era o de reduzir as perdas de vidas, danos e transtornos socioeconômicos.

Conforme explica a Estratégia Internacional para a Redução de Desastres – EIRD (2004, p. 6)

a DIRDN revelou que, embora tenha havido uma diminuição das perdas de vida, houve um

aumento de desastres e dos danos socioeconômicos por eles causados. Em muitos casos, as

perdas deveram-se a negligência dos governos e instituições tomadoras de decisões em não

aplicar estratégias coerentes para a redução de desastres e ao fato de que a maior parte da

população necessita de uma cultura de prevenção (EIRD, 2004, p. 07).

Baseado na DIRDN, a Secretaria Nacional de Defesa Civil – SNDC do Brasil

publicou, em 1995, a Política Nacional de Defesa Civil – PNDC, que estabelecia metas e

programas a serem executados para a redução dos desastres, a curto prazo, e que estava

estruturado em quatro pilares: prevenção, preparação, resposta e reconstrução (BRASIL,

1995). A Secretaria Nacional de Defesa Civil sustentava-se nesses pilares e visava a redução

dos desastres no território brasileiro, já que a eliminação destes fenômenos foi considerado

um objetivo inatigível.

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

32

De acordo com a PNDC a defesa civil (que não tinha o foco na “Proteção” nem

recebia este nome antes de 2012, no Brasil) era definida como “ο conjunto de ações

preventivas, de socorro, assistenciais e reconstrutivas destinadas a evitar ou minimizar os

desastres, preservar o moral da população e restabelecer a normalidade social” (BRASIL,

1995). Os objetivos específicos da Secreta Nacional de Defesa Civil instituídos nesta política

são: promover a defesa permanente contra desastres naturais ou provocados pelo homem;

prevenir ou minimizar danos; socorrer e assistir populações atingidas; reabilitar e recuperar

áreas deterioradas por desastres; atuar na iminência ou em situações de desastres, e; promover

a articulação e a coordenação do Sistema Nacional de Defesa Civil - SINDEC, em todo o

território nacional.

Além das metas contidas na PNDC o plano previa também, segundo o BRASIL/MIN

(2015): a reestruturação da SEDEC como Secretaria Especial de Defesa Civil; a classificação,

tipificação e codificação de desastres, ameaças e riscos, embasados na realidade brasileira; a

organização dos Manuais de Planejamento em Defesa Civil; e, a criação de um programa de

capacitação em desastres, com o enfoque na preparação de gestores nacionais, estaduais,

municipais e de áreas setoriais para atuarem em todo o território nacional.

A década de 2000 – 2009 também apresentou elementos importantes para o avanço

dos estudos e redução dos riscos de desastres no mundo. Tendo chegado ao fim da década de

1990 era preciso garantir que, além da diminuição das mortes e danos provocados por

desastres, as populações pudessem desenvolver a habilidade de se recuperarem mais

rapidamente de uma situação de desastre. Nessa perspectiva, tomando nota das disposições

posteriores a década de 1990, a Assembleia Geral – GA (sigla inglesa) da ONU estabelece

uma força tarefa para a redução de riscos de desastres denominada “Estratégia Internacional

para a Redução de Riscos de Desastres – EIRD” que entraria em vigor no ano 2000

(UNISDR, 2015).

As ações planejadas para o segundo decênio pretendiam inicialmente “identificar

lacunas e meios de execução” de um “curso de ações para a nova década” (UNISDR, 2015).

Um evento importante para o aprimoramento da estratégia de redução de desastres foi

realizado em Kobe, Hyogo, no Japão, de 18 a 22 de janeiro de 2005. Este evento aprovou a

Declaração de Hyogo, ou Marco de Ações de Hyogo – MAH (2005 – 2015), que propunha

um quadro de ações que, se adotado por todos os países, reduziria os riscos de desastres e

reforçaria a resiliência das nações e comunidades diante das catástrofes. O objetivo do MHA

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

33

era o de aumentar “a resiliência das nações e das comunidades frente aos desastres e alcançar,

para o ano de 2015, uma redução considerável das perdas que ocasionaram os desastres, tanto

em termos de vidas humanas quanto aos bens sociais, econômicos e ambientais das

comunidades e dos países” (MAH, 2005, p. 10).

O MAH (2005) propôs cinco eixos prioritários para orientar as tomadas de decisões no

sentido de aumentar a resiliência das comunidades vulneráveis aos desastres. São eles:

Garantir que a redução de risco de desastres seja uma prioridade nacional e

local com uma sólida base institucional para sua implementação;

Conhecer os riscos e tomar medidas;

Desenvolver uma maior compreensão e conscientização;

Reduzir os riscos, e;

Estar preparado e pronto para atuar.

No Brasil, as ações instituídas pelo MAH motivaram algumas tomadas de decisões por

parte do governo sobre as medidas para a redução riscos de desastres. Em 2009, governantes e

autoridades realizaram a 1º Conferência Nacional de Defesa Civil e Assistência Humanitária,

“cujos 1.500 delegados representantes dos Estados, Distrito Federal e Municípios brasileiros,

destacaram a importância do fortalecimento das instituições de Defesa Civil municipais”

(BRASIL/MIN, 2015).

A 3ª Conferência Mundial para redução do Risco de Desastre, ocorrida em Sendai, em

março de 2015, teve como meta revisar o Protocolo de Hyogo, com a finalidade de

estabelecer novas diretrizes para a redução de riscos de desastres até 2030. Esta Conferência

definiu quatro prioridades de ação para a redução de riscos de desastres em âmbito mundial,

quais sejam:

Compreender o risco de desastres;

Fortalecer a governança do risco de desastres para gerenciar risco de desastres;

Investir na redução do risco de desastres para a resiliência;

Melhorar a preparação para desastres para uma resposta efetiva de forma a

'reconstruir melhor' no que tange à recuperação, reabilitação e reconstrução.

De acordo com o BRASIL/MIN (2015), o início da segunda década do século XXI, no

Brasil, caracteriza-se pela retomada dos princípios de redução de desastres, com a

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

34

implantação do Planejamento Nacional para Gestão de Riscos – PNGR (2011), a construção

do Banco de Dados de Registros de Desastres (2011) e do Atlas Brasileiro de Desastres

Naturais (2011), a promulgação da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil – PNPDEC

(2012), a organização do Sistema Nacional de Proteção Civil – SINPDEC (2012), entre outras

ações de gerenciamento de riscos e desastres.

2.2 A Política Nacional de Proteção e Defesa Civil – PNPDEC

A respeito das ações que envolvem o processo de gestão de riscos de desastres, o

Brasil instituiu a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil – PNPDEC, correspondente à

Lei nº 12.608 de 10 de abril de 2012, que dispõe sobre o Sistema Nacional de Proteção e

Defesa Civil – SINPDEC, o Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil – CONPDEC e

autoriza a criação de sistema de informações e monitoramento de desastres e dá outras

providências (BRASIL, 2012). A referente Lei responsabiliza a União, os Estados e Distrito

Federal e os Municípios brasileiros pela adoção das medias necessárias à redução de riscos de

desastres no país.

A PNPDEC (2012) abrange as atividades para o gerenciamento dos riscos de desastres

no Brasil, considerando a importância da execução de ações de prevenção, mitigação,

preparação, resposta e recuperação voltadas à proteção e defesa civil. De acordo com a

Política, estas ações devem integrar-se às políticas de ordenamento territorial,

desenvolvimento urbano, saúde, meio ambiente, mudanças climáticas, gestão de recursos

hídricos, geologia, infraestrutura, educação, ciência e tecnologia e às demais políticas

setoriais, tendo em vista a promoção do desenvolvimento sustentável. Além disso, estas ações

precisam ocorrer de forma multissetorial e nos três níveis de governo (federal, estadual e

municipal), exigindo uma ampla participação comunitária.

As diretrizes instituidas pela PNPDEC preveem:

A atuação articulada entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os

Municípios para redução de desastres e apoio às comunidades atingidas;

A abordagem sistêmica das ações de prevenção, mitigação, preparação, resposta

e recuperação;

A prioridade às ações preventivas relacionadas à minimização de desastres;

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

35

A adoção da bacia hidrográfica como unidade de análise das ações de prevenção

de desastres relacionados a corpos d’água;

O planejamento com base em pesquisas e estudos sobre áreas de risco e

incidência de desastres no território nacional; e,

A participação da sociedade civil.

São objetivos da PNPDEC:

I - reduzir os riscos de desastres;

II - prestar socorro e assistência às populações atingidas por desastres;

III - recuperar as áreas afetadas por desastres;

IV - incorporar a redução do risco de desastre e as ações de proteção e defesa civil entre

os elementos da gestão territorial e do planejamento das políticas setoriais;

V - promover a continuidade das ações de proteção e defesa civil;

VI - estimular o desenvolvimento de cidades resilientes e os processos sustentáveis de

urbanização;

VII - promover a identificação e avaliação das ameaças, suscetibilidades e

vulnerabilidades a desastres, de modo a evitar ou reduzir sua ocorrência;

VIII - monitorar os eventos meteorológicos, hidrológicos, geológicos, biológicos,

nucleares, químicos e outros potencialmente causadores de desastres;

IX - produzir alertas antecipados sobre a possibilidade de ocorrência de desastres

naturais;

X - estimular o ordenamento da ocupação do solo urbano e rural, tendo em vista sua

conservação e a proteção da vegetação nativa, dos recursos hídricos e da vida humana;

XI - combater a ocupação de áreas ambientalmente vulneráveis e de risco e promover a

realocação da população residente nessas áreas;

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

36

XII - estimular iniciativas que resultem na destinação de moradia em local seguro;

XIII - desenvolver consciência nacional acerca dos riscos de desastre;

XIV - orientar as comunidades a adotar comportamentos adequados de prevenção e de

resposta em situação de desastre e promover a autoproteção; e

XV - integrar informações em sistema capaz de subsidiar os órgãos do SINPDEC na

previsão e no controle dos efeitos negativos de eventos adversos sobre a população, os bens e

serviços e o meio ambiente.

Estando a defesa civil do Brasil organizada sob a forma de um sistema, convém explicar

o que é e como funciona o SINPDEC.

2.3 O Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil – SINPDEC

A Constituição Federal de 1988 determina em seu artigo 5º a garantia e a

inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade. Além deste artigo,

o artigo 21º determinam o planejamento e a promoção da defesa permanente contra as

calamidades públicas, especialmente nos casos de seca e inundações (Brasil, 1998). No

mesmo ano da promulgação da Constituição foi organizado o Sistema Nacional de Defesa

Civil – SINDEC por meio do Decreto nº 97.274 de 16 de dezembro de 1988, resultando da

necessidade de pensar a defesa civil como instituição estratégica para a redução dos riscos de

desastres (CEPED/UFSC, 2012).

Em 1993, o Decreto nº 895 de 16 de agosto reorganiza o SINDEC e amplia suas

atribuições, bem como o número de órgãos federais no Conselho Nacional de Defesa Civil –

CONDEC. Esse Decreto “foi um grande passo, pois, como sistema, os órgãos envolvidos

podem trabalhar de maneira coordenada no desenvolvimento de ações estruturais para

fortalecer a capacidade do país em dar resposta a eventuais circunstâncias negativas”

(CEPED/UFSC, 2012, p. 14).

Com a aprovação da Lei nº 12.608 de 10 de abril de 2012, que institui a Política

Nacional de Proteção e Defesa Civil – PNPDEC, o Sistema passa a ser chamado de Sistema

Nacional de Proteção e Defesa Civil – SINPDEC e constituído pelos órgãos e entidades da

administração pública federal, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, as entidades

públicas e privadas de atuação significativa na área de proteção e defesa civil, centralizados

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

37

sob a forma da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil – SEDEC (BRASIL/MIN,

2015).

De acordo com a PNPDEC (2012), o SINPDEC será gerido pelos seguintes órgãos:

I - órgão consultivo: Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil – CONPDEC;

II - órgão central, definido em ato do Poder Executivo federal, com a finalidade de

coordenar o sistema, ou seja, a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil – SEDEC

III - os órgãos regionais estaduais e municipais de proteção e defesa civil;

IV - órgãos setoriais dos 3 (três) âmbitos de governo.

Além destes, poderão participar do SINPDEC as organizações comunitárias de caráter

voluntário ou outras entidades com atuação significativa nas ações de proteção e defesa civil.

O objetivo do SINPDEC é o de contribuir no processo de planejamento, articulação,

coordenação e execução dos programas, projetos e ações de proteção e defesa civil. Para

alcance destes objetivos o Sistema deverá, segundo o Decreto nº 7.257 de 2010:

Planejar e promover ações de prevenção de desastres naturais, antropogênicos e

mistos, de maior prevalência no País;

Realizar estudos, avaliar e reduzir riscos de desastres;

Atuar na iminência e em circunstâncias de desastres; e,

Prevenir ou minimizar danos, socorrer e assistir populações afetadas, e

restabelecer os cenários atingidos por desastres.

A ação organizada de forma integrada e global do SINPDEC proporciona um

resultado multiplicador e potencializador, muito mais eficiente e eficaz do que a simples soma

das ações dos órgãos que o compõem (CEPED/UFSC, 2012). Cabe salientar, que, dentro

desse sistema, a atuação dos órgãos municipais é extremamente importante, tendo em vista

que os desastres ocorrem nos municípios. Desse modo, os municípios devem estar preparados

para atender imediatamente a população atingida por qualquer tipo de desastre, “reduzindo

perdas materiais e humanas”. “Por isso, a importância de cada município criar um órgão que

trate da redução dos riscos e da resposta aos desastres” (CEPED/UFSC, 2012, p.15).

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

38

O CONPDEC constitui o colegiado integrante do MIN e tem por finalidade (BRASIL,

2012):

Auxiliar na formulação, implementação e execução do Plano Nacional de

Proteção e Defesa Civil;

Propor normas para implementação e execução da PNPDEC expedir

procedimentos para implementação, execução e monitoramento da PNPDEC,

observado o disposto nesta Lei e em seu regulamento;

Propor procedimentos para atendimento a crianças, adolescentes, gestantes,

idosos e pessoas com deficiência em situação de desastre, observada a legislação

aplicável; e

Acompanhar o cumprimento das disposições legais e regulamentares de

proteção e defesa civil.

“O CONPDEC contará com representantes da União, dos Estados, do Distrito Federal,

dos Municípios e da sociedade civil organizada, incluindo-se representantes das comunidades

atingidas por desastre, e por especialistas de notório saber” (BRASIL, 2012).

A SEDEC, por sua vez, está estruturada conforme ilustra a Figura 4. Vinculados ao

Gabinete da SEDEC, estão o Serviço de Apoio Administrativo e Protocolo (SAAP) e o

Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (CENAD), cujas funções conforme

descreve o CEPED (2012) são:

O Serviço de Apoio Administrativo e Protocolo (SAAP): é o responsável por receber,

registrar, distribuir e arquivar processos e documentos de interesse da Secretaria,

mantendo atualizada a sua tramitação;

O Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres – CENAD responde em

âmbito federal, pela articulação, coordenação e implementação das ações estratégicas

de preparação e resposta aos desastres.

O CENAD foi criado pelo Decreto Nº 5.376, de 17 de fevereiro de 2005, pertence ao

Ministério da Integração Nacional e é coordenado pela SEDEC (BRASIL/MIN, 2015). O seu

objetivo, segundo o BRASIL/MIN (2015) é gerenciar, com agilidade, ações estratégicas de

preparação e resposta a desastres em território nacional e, eventualmente, também no âmbito

internacional.

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

39

O BRASIL/MIN (2015) também ratifica a responsabilidade do CENAD de consolidar

as informações sobre riscos no país, tais como mapas de áreas de risco de deslizamentos e

inundações, além dos dados relativos à ocorrência de desastres naturais e tecnológicos e os

danos associados. “O gerenciamento destas informações possibilita ao Centro apoiar estados e

municípios nas ações preparação para desastres junto às comunidades mais vulneráveis”

(BRASIL/MIN, 2015).

A modernização do CENAD tem permitido a incorporação de tecnologias de ponta

que possibilitarão a implantação do Sistema Integrado de Informação de Desastres – S2ID,

“cuja finalidade é coordenar as ações de monitoramento e de resposta a desastre com o intuito

de subsidiar a prevenção e a reconstrução de áreas atingidas” (CEPED, 2012, p. 32). Tem-se,

também, que as ações de socorro e de assistência desenvolvidas pelo CENAD são de caráter

complementar e de apoio às ações estaduais e municipais e são realizadas em articulação com

os demais centros e sistemas operacionais de monitoramento e assistência a desastres

existentes no país, como:

O Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres – CEMADEN;

O Sistema de Proteção ao Programa Nuclear – SIPRON;

O Plano Nacional de Prevenção, Preparação e Resposta Rápida a Emergências

Ambientais com Produtos Químicos Perigosos – P2R2; e,

O Sistema de solicitação/acompanhamento de vistorias e análise de projetos do

Corpo de Bombeiros - PREVFOGO.

O CEPED/UFSC (2012) descreve o organograma (Figura 3) da SEDEC, a partir da

responsabilidade de cada departamento. O Departamento de Articulação e Gestão (DAG) é

responsável por analisar e instruir os processos, bem como formalizar convênios, contratos,

termos de cooperação técnica e instrumentos similares no âmbito da Secretaria Nacional de

Defesa Civil. O Departamento de Minimização de Desastres (DMD) desenvolve e

implementa programas e projetos voltados à prevenção de desastres e de preparação para

emergências e desastres. Também é responsável por organizar, apoiar e promover

capacitação, reuniões, conferências, campanhas e fóruns sobre o tema de Proteção e de Defesa

Civil. E o Departamento de Reabilitação e de Reconstrução (DRR) é responsável por realizar

a análise técnica das propostas e prestação de contas de convênios, contratos, ajustes e outros

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

40

instrumentos congêneres, relacionadas com as atividades de respostas aos desastres e de

reconstrução, bem como supervisionar as vistorias técnicas dos objetos conveniados.

FIGURA 3: Organograma da Secretaria Nacional de Defesa Civil (CEPED, 2012, p. 30).

2.4 Os Núcleos Comunitários de Defesa Civil - NUDECs

Numa situação de desastre a comunidade geralmente é a primeira a agir: antes, durante

e após a sua ocorrência. Essas ações solidárias de caráter voluntário são, muitas vezes,

fundamentais no resgate e salvamento de muitas pessoas, porém podem ser bastante

arriscadas, já que as comunidades não são devidamente capacitadas para atuarem numa

situação como essa, o que pode agravar os riscos e danos do desastre.

Dentro do contexto da participação os NUDECs podem ser vistos como o elo

institucional mais importante entre os órgãos de Defesa Civil e as comunidades. A finalidade

dos NUDECs é desenvolver um processo de orientação permanente junto a população, cujo

objetivo principal é a prevenção e minimização dos ricos de desastres nas áreas de maior

vulnerabilidade nos municípios (LUCENA, 2005).

O manual (LUCENA, 2005) para a formação dos NUDECs foi escrito no Brasil em

2005 e é referência nacional. De acordo com o documento, os NUDECs favorecem a cogestão

no planejamento e execução das ações, dissemina o principio da prevenção no tocante as áreas

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

41

de risco. Este princípio esta pautado na PNPDEC que estabelece como diretriz, basicamente, a

interação entre os órgãos do governo e a comunidade, especialmente por intermédio das

Comissões Municipais de Defesa Civil – COMDECs e dos NUDECs, com a finalidade de

garantir uma resposta integrada de toda a sociedade (LUCENA, 2005).

De acordo com Lucena (2005), os NUDECs são importantes porque:

Promovem a interação entre a Defesa Civil e a comunidade, aproxima e estimula a

participação da população na construção de uma cultura voltada à prevenção de ricos;

Possibilitam um planejamento participativo estimulando a socialização de

experiências, bem como, o acesso da comunidade às ações desenvolvidas pela defesa

civil;

Viabilizam espaços participativos e democráticos na comunidade, articula os diversos

atores sociais para a consolidação de um plano que vise a construção de princípios

para uma melhor convivência com o meio ambiente local;

Favorecem ao individuo seu crescimento como ser humano e a sua integração,

consciente e atuante, na comunidade em que vive;

Envolvem a comunidade no sentido de acreditar numa mudança quanto a realidade

local, promove espaço para a construção coletiva, assegura a ampliação dos espaços

de discussão, tendo como perspectiva a prevenção e redução dos riscos e desastres.

A formação de NUDECs requer a construção de um processo participativo da comunidade

através da mobilização, sensibilização e conscientização da população residente nas áreas e

maior vulnerabilidade, visando a descentralização da gestão e o monitoramento dos riscos

(LUCENA, 2005, p. 13).

Os NUDECs, nessa perspectiva, constituem instrumentos essenciais no envolvimento

das comunidades em todas as fases da redução de riscos e garantem maior eficácia as ações.

Além disso, acredita-se que as ações participativas e de solidariedade realizadas nas

comunidades afetadas por desastres podem contribuir para a resiliência comunitária, que é um

dos objetivos da gestão dos riscos de desastres.

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

42

CAPÍTULO 3 – PESQUISAS RELACIONADAS COM O TEMA E REFERENCIAL

TEÓRICO-CONCEITUAL

Para melhor entender o tema e problemas formulados por este projeto de pesquisa,

realizou-se uma pesquisa bibliográfica na tentativa de conhecer as pesquisas e estudos

relacionados com o tema em questão e desenvolver o referencial teórico norteador desta

pesquisa, sobre os quais passaremos a apresentar a seguir.

3.1 Pesquisas Relacionadas com o Tema

3.1.1 Pesquisas Relacionadas à Resiliência Comunitária e Desastres

No que diz respeito à resiliência comunitária em situação de desastre, a pesquisa de

Zobel e Khansa (2011, p.83) apresentou uma abordagem com o objetivo de fornecer uma

medida para a capacidade de resiliência das vítimas de um desastre. O foco da pesquisa

concentrou-se nos eventos súbitos e no tempo disponível de ação até o próximo evento. Os

autores desenvolveram um modelo que representasse graficamente as relações entre a

resiliência e os diferentes critérios utilizados no estudo. Para eles, a resiliência está

relacionada com o impacto inicial provocado por um desastre e o tempo de recuperação

necessário. Nesse contexto, uma abordagem que fosse capaz de quantificar a resiliência das

comunidades poderia fornecer uma quantidade substancial de detalhes capazes de suportar a

diferenciação entre a resiliência relativa e os diferentes sistemas e situações. No entanto, os

autores chamaram a atenção para a importância de não querer fazer uso da abordagem “ao pé

da letra” para todas as situações, de modo que é importante levar em consideração todos os

detalhes, diferenças e necessidades geradas.

A pesquisa realizada por Cutter et al (2014, p.65) também trata dos mecanismos de

quantificação da resiliência comunitária e utiliza uma base empírica capaz de medir os

indicadores de resiliência nas comunidades chamada de Base de Indicadores de Resiliência

para Comunidades – BIRC. A pesquisa revelou que, embora existam muitos trabalhos

dedicados à definição da resiliência e sua medida nas comunidades que vivenciam situações

de desastres, não existe um consenso e integração entre as disciplinas que estudam a temática.

O objetivo da BRIC é fornecer orientações aos governantes e gestores sobre necessidades e

decisões referentes à implementação de projetos e programas estratégicos capazes de

aumentar o índice de resiliência da comunidade e suas pontuações. A pesquisa também

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

43

pretendeu influenciar na elaboração de políticas publicas para a redução dos riscos de

desastres.

A pesquisa de Prior e Roth (2013, p.59), por sua vez, concentra-se nos problemas de

segurança das áreas urbanas e chama a atenção para a necessidade de se desenvolver um

mecanismo capaz de preparar e lidar com as crises complexas que ameaçam as cidades. Neste

sentido, os autores priorizam a discussão das tendências da pesquisa e da prática em matéria

de gestão de riscos de desastres, dando atenção especial aos aspectos referentes à preparação,

resposta, resiliência urbana e cooperação. Os resultados do estudo apontaram para a

necessidade das cidades melhorarem a capacidade de preverem riscos aprimorando a

cooperação entre as agências e organizações competentes. Além disso, os autores ratificam

que as cidades devem adotar novas abordagens para a gestão de desastres que sejam

suficientemente flexíveis para se adaptar a uma mudança de ambiente de risco e para

salvaguardar a segurança urbana.

Um estudo realizado por Komino (2013, p. 324), sobre resiliência comunitária em

situação de desastres, mostrou que, conforme relatado pelo UNISDR, nos últimos 20 anos

64% da população mundial foi afetada por desastres e que as perdas econômicas associadas a

estes fenômenos continuam crescendo a cada dia. O autor revelou que as mulheres, crianças e

idosos são as pessoas que mais sofrem com as perdas provocadas por desastres e que o

conflito, a insegurança e a fragilidade afetam uma entre quatro pessoas do planeta.

Na mesma pesquisa o autor chama a atenção do leitor para a importância da

participação dos membros das comunidades nos processos que envolvem tomadas de decisões

por meios de espaços que ele vem chamar de acessíveis. Dentro desses espaços, os membros

das comunidades podem influenciar opiniões e mobilizar recursos da comunidade, ajudar no

compartilhamento de informações e facilitar a comunicação entre os membros. Além disso,

estes espaços facilitam a comunicação com as lideranças locais e contribuem para o

desenvolvimento de um círculo de apoio dentro da comunidade.

Komino (2013, p. 325) acrescenta que deve haver uma responsabilização mínima por

partes de todos os membros da comunidade, gestores, empresários e governantes. Sobre a

responsabilidade da comunidade, ele considera que os moradores precisam entender de forma

proativa o nível mínimo de prestação de contas, cobrar do governo e das empresas e procurar

ativamente as informações sobre os serviços e situação da comunidade.

Já Cox Jr. (2012, p. 1919), em sua pesquisa, tratou de discutir acerca dos desafios

postos por um desastre devido a sua imprevisibilidade, a dificuldade de descrevê-lo

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

44

adequadamente e de avaliar suas consequências. Um ponto importante e que tem recebido

destaque é a observação de como as comunidades tomam decisões sobre quando e como

preparar-se para uma situação de desastre, responder e se recuperarem. O autor chama a

atenção do leitor para a urgência de perceber e tratar os membros das comunidades afetadas

por desastres como agentes que interagem entre si, ao invés de meros indivíduos. Esses

agentes atuam na tomada de decisão que envolve a coletividade, cooperam, coordenam,

organizam, se responsabilizam, confiam uns nos outros e nas instituições dentro da própria

comunidade.

Chan (2013, p.327) também discorre sobre os desafios referentes à gestão para a

redução dos riscos de desastres e acredita que as políticas voltadas para este fim são míopes e

se concentram nas ações de resposta, em vez de focarem nos mecanismos que previnam estes

eventos. O resultado disso são os planos com pouca comunicação entre os agentes, pouca

coordenação e pouca cooperação. Além disso, o autor chama a atenção para o fato de que

muitos países ainda não apresentam planos para a redução dos riscos de desastres que,

sobretudo, valorizem a participação da comunidade e as ações para o aumento da resiliência.

As pesquisas descritas aqui enfatizam a importância das ações em prol da redução dos

riscos de desastres, partindo da percepção de que envolver a comunidade nas ações de

gerenciamento e nas tomadas de decisões contribui para a eficiência destas e para a promoção

da resiliência comunitária.

3.1.2 Pesquisas Relacionadas à Solidariedade e Desastres

A respeito das ações de solidariedade nas situações de desastre, o que as motivam e

como ocorrem nas comunidades, foram encontrados poucos trabalhos, dentre eles, o de

Alcântara e Moura (2013, p. 216 – 217) recebeu maior destaque, por discutir sobre a

solidariedade e o protagonismo de líderes comunitários em assentamentos de baixa renda.

Segundo estes autores, a disponibilidade e a capacidade das comunidades para encontrarem

soluções para os problemas do bairro legitimam sua liderança local. A referida pesquisa foi

feita com 95 pessoas, de seis localidades diferentes. Foi constatado que os lideres

comunitários desempenham papel fundamental na condução dos movimentos sociais e

procuram capitalizar as conquistas. Além disso, numa situação de desastre, o sentimento de

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

45

comunidade costuma ser mais forte, de modo que os autores acreditam na existência de um

potencial de união e solidariedade em consequência da necessidade de sobrevivência.

Uma pesquisa realizada pela International Federation of Red Cross and Red Crescent

Societies revelou que, em se tratando do envolvimento e participação das comunidades nas

ações de redução de riscos de desastres, pode ser que falte interesse dos seus membros, o que

ocorre muitas vezes porque as pessoas acreditam que tenham pouco controle sobre os eventos,

lhes restando apenas acreditar na boa vontade dos governantes. Sendo assim, foram

formuladas algumas maneiras de envolver a comunidade no gerenciamento dos riscos, sendo

elas: organizar reuniões e eventos informais para melhorar a relação entre os cidadãos e os

funcionários públicos locais, regionais e nacionais; construir o orgulho da comunidade,

transmitindo as suas realizações através da mídia local (jornais, rádio e televisão); envolver

grupos vulneráveis de áreas sujeitas a desastres (por exemplo, mulheres, idosos, pessoas com

deficiência); responder apropriadamente a avisos de desastres da comunidade, bem como

fazer investigações, tomar medidas preventivas; e, treinar voluntários e outros membros

envolvidos no trabalho de resgate, comunicações, transporte, construção de abrigos e de

abastecimento alimentar.

3.2 Referencial teórico-conceitual

3.2.1 Riscos, Desastres e Gestão dos Riscos de Desastres

a) Riscos

A UNISDR (2012) entende que as cidades são sistemas complexos de serviços

interconexos que vêm enfrentando o aumento de vários aspectos que podem conduzir ao risco

de desastres, entre eles estão:

O crescimento das populações urbanas e o aumento de sua densidade, o que interfere

diretamente nos solos e nos serviços, ampliando as ocupações de planícies costeiras,

ao longo de encostas instáveis, e das áreas de risco;

A concentração de recursos e capacidade em âmbito nacional, com ausência de

fiscalização, recursos humanos e capacidades no governo local, incluindo ordens

pouco claras para ações de resposta e de redução de riscos de desastres;

A governança local fragilizada e a participação insuficiente dos públicos de interesse

locais no planejamento e gestão urbana;

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

46

A gestão dos recursos hídricos, dos sistemas de drenagem e de resíduos sólidos

inadequada, que podem causar emergências sanitárias, inundações e deslizamentos;

O declínio dos ecossistemas, devido às atividades humanas, tais como a construção de

estradas, a poluição, a recuperação das zonas úmidas e a extração insustentável de

recursos que comprometem a capacidade de oferecer serviços essenciais, como, por

exemplo, a proteção e regulação contra inundações;

A deterioração da infraestrutura e padrões de construção inseguros, que podem levar

ao colapso das estruturas;

Os serviços de emergência descoordenados, que afetam a capacidade de rápida

resposta e preparação;

Os efeitos adversos das mudanças climáticas que irão, provavelmente, aumentar as

temperaturas extremas e as precipitações, na dependência de condições localizadas,

com um impacto sobre a frequência, a intensidade e a localização das inundações e

outros desastres relacionados ao clima.

De acordo com a Estratégia Internacional para a Redução de Riscos de Desastres –

EIRD (2004, p. 04), o risco se expressa na função ameaça, vulnerabilidade e capacidade, além

de expressar a possibilidade de um dano físico. Os riscos aparecem ou existem dentro de um

sistema social, de modo que “é importante considerar o contexto social em que o risco ocorre”

(EIRD, 2004, p. 07) e o fato de que “as pessoas não compartilham das mesmas percepções de

risco e suas causas subjacentes” (EIRD, 2004, p. 07).

O risco, portanto, pode ser entendido como sendo “a probabilidade de consequências

prejudiciais ou perdas esperadas (mortes, lesões, propriedades, meios de subsistência,

interrupção da atividade, degradação ambiental), bem como o resultado da interação entre as

ameaças naturais ou condições antropogênicas e vulnerabilidade” (EIRD, 2004, p. 07). A

EIRD também conceitua vulnerabilidade e ameaça, entendidos como sendo:

Vulnerabilidade: as condições determinadas por fatores ou processos físicos, sociais,

econômicos e ambientais, que aumentam a susceptibilidade de uma comunidade e os

impactos das ameaças (EIRD, 2004, p. 07).

Ameaça: acontecimento físico, potencialmente prejudicial; fenômeno e / ou atividade

humana que pode causar morte ou ferimentos, danos à propriedade, perturbação da

atividade económica e social ou degradação ambiental (EIRD, 2004, p. 02).

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

47

b) Desastre

A EIRD (2004, p. 04) define desastre como sendo uma grave perturbação no

funcionamento de uma comunidade/sociedade causando perdas humanas, materiais,

econômicas e ambientais que excedem a capacidade dos afetados de lidar com a situação por

meio dos seus próprios recursos. O desastre é “uma função no processo de risco” (EIRD,

2004, p. 04) e resulta da combinação entre a exposição de um perigo, as condições de

vulnerabilidades que estão presentes e a insuficiente capacidade das medidas para reduzir e

lidar com as potenciais consequências negativas causadas pelo fenômeno (UNISDR, 2015).

O Sistema de Proteção e Defesa Civil do Brasil define desastre como sendo o

resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem sobre um ecossistema

vulnerável, causando danos humanos, materiais ou ambientais e consequentes prejuízos

econômicos e sociais (BRASIL, 1995).

De acordo com Quarentelli (1998), o paradigma atual da investigação sobre os

desastres está enraizado em duas ideias principais: 1) os desastres são fenômenos

inerentemente sociais e eventos naturais como furacões ou tempestades não são propriamente

os desastres, mas a fonte dos danos; 2) os desastres estão enraizados na estrutura social e

refletem os processos de transformação social. Para ele os desastres não seriam acontecimento

físicos, mas sim, ocasiões sociais.

Ribeiro (1995) destaca que os desastres são, na sua essência, processos de cunho

socialmente relevantes. Para o autor, esta dimensão social dos desastres manifesta-se de forma

alargada, “tanto ao nível dos mecanismos que se configuram como potenciais causas desses

acontecimentos quanto ao nível das consequências que se produzem sobre a sociedade,

alterando o curso regular da vida social” (RIBEIRO, 1995, p. 23). Os desastres podem ser

vistos como falhas no sistema social, e não como manifestações meramente externas e

socialmente imputáveis (RIBEIRO, 1995, p. 24).

Quanto à expressão “desastres naturais” a UNISDR (2012) explica que o que existem

são “ameaças naturais” – cheias dos rios, terremotos, deslizamento de terra, tempestades –

que somados a vulnerabilidade social, ambiental, econômica e política acabam resultando na

ocorrência de um desastre. Assim, conforme estabelece Quarantelli in Perry et al (2005, p.

343), não é adequado ou suficiente falar desastres “naturais” como se eles pudessem

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

48

acontecer fora das ações e decisões humanas e suas sociedades. Os estilos de vida das

comunidades afetadas por desastres, principalmente nos níveis socioeconômicos mais baixos,

contribuem para os agravamentos dos efeitos negativos provocados por estes fenômenos. Em

suma, “os seres humanos são responsáveis pela vulnerabilidade” (QUARANTELLI in

PERRY et al, 2005, p. 344) e “se não houver consequências sociais negativas, não há

desastre” (QUARANTELLI in PERRY et al, 2005, p. 347).

Considerando desastres como fenômeno social, dinâmico e complexo, há uma

necessidade de pensar como as sociedades podem lidar com estes fenômenos de forma

adaptativa, para reduzir os riscos de desastres e os danos causados. A EIRD (2009) considera

que redução dos riscos de desastres depende de esforços sistemáticos dirigidos à análise e a

gestão dos fatores causadores dos desastres, “o que inclui a redução do grau de exposição às

ameaças (perigos), a diminuição da vulnerabilidade das populações e suas propriedades, uma

gestão prudente dos solos e do meio ambiente e o melhoramento da preparação diante dos

eventos adversos” (EIDR, 2009, p. 27).

c) Gestão de Riscos de Desastres

Entende-se por gestão dos riscos de desastres o jogo das decisões, a organização e o

conhecimento operacional desenvolvido por empresas e comunidades para implementar

políticas estratégicas e reforçar as suas capacidades para reduzir o impacto dos desastres, as

ameaças naturais, ambientais e tecnológicas (EIRD, 2004). A redução dos riscos de desastres

é um processo que inclui todos os tipos de atividades, medidas estruturais e não estruturais

para evitar (prevenir) ou limitar (mitigar e preparar) os efeitos adversos provocados por

desastres (EIRD, 2009).

A EIRD (2009) divide a gestão dos riscos de desastres por abordagens com diferentes

objetivos: a gestão prospectiva, que visa desenvolver atividades que evitem a acumulação de

novos riscos; a gestão corretiva, que visa corrigir e reduzir os riscos de desastres que já

existem, e; a gestão de compensação, que visa desenvolver a resiliência das comunidades,

tendo em vista a existência de riscos que não podem ser reduzidos significativamente.

A EIRD (2009) considera que a gestão do risco de desastres procura evitar, diminuir

ou transferir os efeitos adversos de ameaças através de várias atividades e medidas de

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

49

prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação. Entende-se por cada uma das

etapas da gestão dos riscos de desastres definidas pela EIRD (2009):

Prevenção: o conjunto de ações destinadas a reduzir a ocorrência e a intensidade de

desastres naturais ou humanos, por meio da avaliação e da redução de ameaças e de

vulnerabilidades, minimizando os prejuízos socioeconômicos e os danos

socioeconômicos, humanos, materiais e ambientais.Também pode ser definido como

sendo a eliminação de impactos adversos decorrentes de ameaças (ambientais,

tecnológias e/ou sociais) e dos desastres relacionados (EIRD, 2009);

Mitigação: refere-se à redução ou eliminação dos impactos provocados por desastres.

Frequentemente, não é possível prevenir todos os impactos adversos das ameaças, mas

é possível diminuir consideravelmente sua escala e severidade mediante diversas

estratégias e ações. Como nem sempre é possível evitar por completo os riscos dos

desastres e suas consequências, as tarefas preventivas acabam por se transformar em

ações mitigatórias (de minimização dos desastres), por essa razão, algumas vezes, os

termos prevenção e mitigação (diminuição ou limitação) são usados indistintamente

(EIRD, 2009);

Preparação: as atividades e medidas tomadas antecipadamente para assegurar uma

resposta eficáz diante do impacto das ameaças, incluindo a emissão oportuna e efetiva

de sistemas de alerta precoce e a avacuação temporária de pessoas e bens das áreas

ameaçadas (EIRD, 2004, p. 06). Uma outra definição propõe que a etapa de

preperação envolve um conjunto de ações desenvolvidas pela comunidade e pelas

instituições governamentais e não governamentais para minimizar os efeitos dos

desastres, por meio da difusão de conhecimentos científicos e tecnológicos e da

formação e capacitação de pessoas (BRASIL, 2013, p. 17).

Resposta: refere-se ao fornecimento de ajuda ou intervenção durante ou

imediatamente depois de um desastre, destinada a preservar a vida e a cobrir as

necessidades básicas de subsistência da população afetada (EIRD, 2004, p. 07). Para a

EIRD (2009) a etapa de resposta diz respeito ao fornecimento de serviços de

emergência e de assistência pública durante ou imediatamente depois da ocorrência de

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

50

um desastre, com o propósito de salvar vidas, reduzir os impactos na saúde, velar por

segurança pública e satisfazer as necessidades básicas de subsistência da população

afetada.

Recuperação: corresponde a etapa decisões e ações tomadas logo em seguida de um

desastre com o objetivo de restaurar e melhorar as condições de vida da comunidade

afetada, promovendo e facilitando, por sua vez, as mudanças necessárias para a

redução de desastres (EIRD, 2004, p. 06). É também vista como a restauração e o

melhoramento, quando for necessário, das escolas, instalações, meios de sustento e

condições de vida das comunidades afetadas por desastres, o que inclui esforços para

reduzir os fatores de risco de desastre (EIRD, 2009, p. 26). A recuperação é uma etapa

da gestão dos riscos de desastres onde são postas em prática as ações preventivas e/ou

mitigatórias que objetivam eliminar ou reduzir os riscos de ocorrência de novos

desastres.

A respeito destas etapas, o texto de referência publicado em dezembro de 2013,

resultante da 2ª Conferência Nacional de Proteção e Defesa Civil, intitulado “Proteção e

Defesa Civil: novos paradigmas para o Sistema Nacional”, considera que a gestão dos riscos

de desastres está organizada dentro de uma linha do tempo que leva em consideração a

ocorrência do desastre. Nesse sentido, as ações estão ordenadas conforme as seguintes etapas:

“prevenção e preparação; mobilização; socorro, assistência e restabelecimento, e;

recuperação” (BRASIL, 2013, p. 16). Cada uma dessas etapas (Figura 4) compreende a

execução de atividades específicas e essencialmente distintas.

FIGURA 4: Esquematização das Etapas da Gestão dos Riscos de Desastres (BRASIL, 2013, p. 16).

A esquematização proposta pelo texto de referência da defesa civil do Brasil incorpora

às etapas da gestão dos riscos de desastres a “mobilização” e substitui as etapas de resposta e

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

51

recuperação pelas etapas de “socorro, assistência (restabelecimento)” e “assistência

(reconstrução)” respectivamente. De acordo com Brasil (2013):

Mobilização: refere-se ao conjunto de medidas que visam a ampliar, de forma

ordenada, a capacidade de concentrar recursos institucionais, humanos, econômicos e

materiais para enfrentar uma situação de emergência;

Socorro: ações de imediato atendimento à população afetada pelo desastre, tais como

busca e salvamento, primeiros socorros, atendimento pré-hospitalar e atendimento

médico cirúrgico emergencial;

Assistência: atendimento à população afetada pelo desastre, mediante aporte de

recursos destinados a atividades logísticas, assistenciais e de promoção da saúde, até

que se restabeleça a situação de normalidade;

Restabelecimento: execução de obras provisórias e urgentes, voltadas para o

restabelecimento de serviços essenciais, estabilizando a situação para que se possa

promover a reconstrução do cenário afetado pelo desastre;

Reconstrução: obras com caráter definitivo, voltadas para a restauração do cenário.

Quarantelli (1997) discorre sobre os desastres nas comunidades e considera que o

segredo para a redução dos riscos de desastres está no planejamento. Nesta perspectiva, o

autor acredita que é preciso concentra-se no processo de planejamento em si, e não apenas na

produção de um documento escrito. De acordo com o autor acreditar que a comunidade está

preparada, porque possui um plano escrito de redução de desastres, além de ser um erro, pode

causar muitas disfuncionalidades. Boa preparação para desastres não é sinônimo de

formulação de planos de desastres escritos. Nesse sentido, o caminho mais correto é imaginar

o planejamento como um processo, em vez de percebê-lo como um produto tangível.

Neste sentido, um bom planejamento para a redução de desastres deve prever

(QUARANTELLI, 1997, p. 4):

a) A convocação de reuniões com o propósito de compartilhar informações;

b) Simulações;

c) O desenvolvimento de técnicas de treinamento, transferência de conhecimentos e

avaliações;

d) A formulação de memorandos de entendimento e acordos de ajuda mútua;

e) A educação dos cidadãos e outras pessoas envolvidas no processo de planejamento;

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

52

f) Obtenção, posicionamento e manutenção de recursos materiais relevantes;

g) A realização de atividades educativas públicas;

h) Estabelecimento de vínculos informais entre grupos envolvidos;

i) Pensando na comunicação e nas informações sobre perigos e riscos futuros;

j) A elaboração de planos de desastres e a sua integração com a comunidade; e,

k) A atualização contínua de materiais e estratégias obsoletas.

O CEPED/UFSC (2012) pressupõe que as ações preventivas e mitigatórias para a

redução dos riscos de desastres precisam integrar sistemicamente o planejamento urbano com

vistas ao alcance de um desenvolvimento socioeconômico sustentável. Além disso, a EIRD

(2004) entende que a responsabilidade pela redução dos riscos de desastres deve ser

compartilhada, de modo que governos e comunidades percebam a importância da

implementação de uma política de redução de desastres, com a qual ambos serão

beneficiados.

A EIRD (2004) também entende que, numa sociedade, a orientação e a alocação de

recursos devem, quase sempre, partir das autoridades e governantes, enquanto que as decisões

e compromissos individuais e coletivos devem ser tomados a partir do conhecimento e

envolvimento das pessoas afetadas mais diretamente pelo risco de desastre. Sendo assim, a

redução dos riscos de desastres se baseia na aplicação de uma estratégia permanente de

avaliação da vulnerabilidade e risco, bem como deve “envolver um grande número de agentes

dos governos, instituições técnicas educativas, associações profissionais, grupos comerciais e

comunidades locais” (EIDR, 2004, p. 14).

Um artigo publicado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA

ratificou que os governos, as empresas e as comunidades precisam administrar os riscos de

desastres, o que não é uma ação trivial. “Quando conseguem antecipar e fazer uma gestão

estratégica dos riscos, os gestores se municiam com informações e conhecimentos gerando

decisões melhores e progresso mais rápido e consistente” (EMBRAPA, 2015). Na visão deste

artigo, acredita-se que os países que antecipam os riscos apresentam maior capacidade de

gerir seus possíveis impactos, dos mais óbvios até os mais inesperados.

De acordo com a UNISDR (2012, p. 16) existem diversas razões/vantagens (Tabela 3)

para os gestores operacionalizarem ações estratégicas para o gerenciamento dos riscos de

desastres, além, é claro, da necessidade de priorizar o aumento da resiliência das

comunidades.

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

53

TABELA 3: As vantagens da gestão dos riscos de desastres – UNISDR (2012, p. 16).

RAZÕES/VANTAGENS DA GESTÃO DOS RISCOS DE DESASTRES

Um Legado de

Liderança

Vantagens Sociais e

Humanas

Crescimento

Econômico e

Geração de

Emprego

Comunidades

mais

Habitáveis

Articulação das Cidades

com Especialistas e

Recursos

Nacionais e Internacionais

Fortalecimento da

confiança e da

legitimidade nas

estruturas e

autoridades

políticas locais;

Vidas e propriedades

salvas em situações

de desastres ou

emergências, com

uma drástica redução

de fatalidades e de

sérios danos;

Segurança para

investidores na

antecipação de

pequenas perdas

por desastres,

levando ao

aumento do

investimento

privado em

residências, prédios

e outras

propriedades que

passam a cumprir

com

os padrões de

segurança;

Ecossistemas

equilibrados que

alimentam os

serviços, como

os de

fornecimento de

água e recreação

e que reduzem a

poluição;

Acesso a uma rede em

expansão de cidades e

parceiros

comprometidos com a

resiliência aos desastres, por

meio da

Campanha, para compartilhar

boas práticas, ferramentas e

conhecimentos técnicos e

específicos;

Oportunidades

para

descentralização de

competências e

otimização

de recursos;

Participação cidadã

ativa e uma

plataforma para o

desenvolvimento

local;

Ampliação do

investimento de

capital em

infraestrutura,

incluindo

reequipamento,

renovação e

recuperação;

Melhores

condições de

educação em

escolas seguras

e melhoria da

saúde e bem

estar.

Uma base ampliada de

conhecimento e cidadãos

mais bem

informados.

Conformidade aos

padrões e práticas

internacionais.

Bens comunitários e

herança cultural

protegidos, com

redução dos

desvios dos recursos

da cidade para ações

de resposta e

reconstrução

após desastres.

Aumento da base

tributária,

oportunidades de

negócios,

crescimento

econômico e maior

segurança de

empregos; cidades

mais bem

governadas atraem

mais investimento.

“Para os líderes dos governos locais, a redução de riscos de desastres pode ser um

legado e uma oportunidade”, de modo que “prestar atenção em ações de proteção irá melhorar

as condições ambientais, sociais e econômicas, incluindo o combate às futuras variações

climáticas, e contribuindo para a prosperidade das comunidades mais seguras que antes”

(UNISDR, 2012, 16).

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

54

Não prestar atenção na necessidade de operacionalizar a redução dos riscos de

desastres pode causar sérios problemas, com a deterioração dos ecossistemas. “Pequenos e

médios impactos causados por desastres e eventos intensos isolados podem comprometer

seriamente os serviços essenciais de uma comunidade – os sistemas de distribuição de

alimentos, água, saúde, transporte, lixo e comunicações – localmente” (UNISDR, 2012, p.

19). É preciso superar a percepção de que o investimento na redução de riscos de desastres

concorre com outras prioridades e envolver a redução de riscos na agenda de desenvolvimento

local (UNISDR, 2012).

Uma gestão integrada de riscos de desastres é mais atraente quando é simultaneamente

dirigida às necessidades de diversos públicos e às prioridades que com ela competem. Em

geral, segundo a UNISDR (2012), as iniciativas são mais fortes quando a gestão de riscos de

desastres contribui visivelmente para melhorar a economia e o bem-estar social.

Tem-se, por exemplo, que rodovias bem projetadas e com drenagem adequada evitam

deslizamentos e inundações, permitindo assim o constante transporte de pessoas e bens.

Ademais, escolas e hospitais seguros irão garantir a segurança de crianças, pacientes,

educadores e trabalhadores da saúde (UNISDR, 2012).

A redução de riscos de desastres deve ser vista como uma parcela do desenvolvimento

sustentável, ao passo que contribui para o alcance da sustentabilidade sob os aspectos

ambiental, econômico, social e político. A Figura 5 mostra algumas dessas relações

apresentadas pela UNISDR (2012, p. 19).

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

55

FIGURA 5: A Gestão dos Ricos de Desastres e sua Relação com o Desenvolvimento Sustentável

(UNISDR, 2012, p. 19).

Desta forma, a partir do que propõe a EIRD, é importante salientar que a redução dos

riscos de desastres é uma atividade multidisciplinar, multiprofissional e multinstitucional e

tarefa de todos. Requer que os governos atuem na execução das ações em prol deste objetivo e

que, sobretudo, eduquem, motivem e envolvam as comunidades vulneráveis na gestão dos

riscos, o que irá contribuir para a identificação dos fatores que contribuem para existência dos

riscos e para a adoção das medidas apropriadas para a sua solução.

Enxergando a gestão dos riscos de desastres como uma tarefa de todos e entendendo-a

como esforço de equipe, é possível afirmar que esta consiste numa oportunidade única para o

fortalecimento da participação social. Dentro desse contexto, a próxima seção discute a

importância da participação da comunidade numa situação de desastres a partir do conceito de

ergonomia participativa e de solidariedade, a fim de compreender de que maneira surgem e

evoluem as participações e ações de solidariedade, e quais as motivações para tal, de

membros da população nas comunidades afetadas pelos desastres.

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

56

3.2.2 Solidariedade

Na perspectiva de entender a sociedade industrial do século XIX, Émile Durkheim

percebeu a importância de compreender os elementos que expliquem a organização social,

visando compreender o que, basicamente, garante e impulsiona a vida em sociedade e a

ligação que existe entre os homens (RIBEIRO, 2015). Segundo este autor, Durkheim entendia

que o laço que une os indivíduos uns aos outros e as sociedades é a solidariedade social, sem a

qual não existiria vida social. A solidariedade social, segundo Durkheim, estaria divida entre

solidariedade mecânica e orgânica.

Na solidariedade mecânica, o indivíduo estaria ligado diretamente à sociedade, sendo

que enquanto ser social prevaleceria em seu comportamento sempre aquilo que é mais

considerável à consciência coletiva, e não necessariamente seu desejo enquanto indivíduo

(RIBEIRO, 2015).

Aron (2000, p. 288) considera que a solidariedade mecânica proposta por Durkheim,

também chamada de solidariedade por semelhança, ocorre numa sociedade onde os

indivíduos diferem pouco uns dos outros, apresentam os mesmos sentimentos e valores e

reconhecem os mesmos objetos sagrados, de modo que é possível perceber que a sociedade

tem coerência pelo fato dos indivíduos não se diferenciarem.

Este tipo de solidariedade será maior à medida que a consciência coletiva for se

fortalecendo. Nesse contexto, o desejo e a vontade dos indivíduos são o desejo e a vontade da

coletividade do grupo, o que proporciona uma maior coesão e harmonia social. Segundo

Durkheim (2010), este sentimento estaria na base do sentimento de pertencimento a uma

nação, a uma religião, à tradição, à família, enfim, seria um tipo de sentimento que seria

encontrado em todas as consciências daquele grupo. Esses são fatores determinantes de uma

organização social simples.

A solidariedade orgânica, por outro lado, é resultado da divisão social do trabalho, à

medida que o capitalismo começa a desenvolver a produção de larga escala e a requerer

funções especializadas, passando a consciência coletiva a ser o resultado de uma

diferenciação. “Durkheim chama de orgânica a solidariedade baseada na diferenciação dos

indivíduos” (ARON, 2000, p. 288). Conforme estabelece Durkheim, na solidariedade

orgânica ocorre um processo de individualização dos membros dessa sociedade, os quais

assumem funções específicas dentro dessa divisão do trabalho social. Cada pessoa é uma peça

de uma grande engrenagem, na qual cada um tem sua função e é esta última que marca seu

lugar na sociedade (RIBEIRO, 2015).

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

57

Para Aron (2000, p. 288), na solidariedade orgânica a consciência coletiva tem seu

poder de influência reduzido, criando-se condições de sociabilidade bem diferentes daquelas

vistas na solidariedade mecânica, havendo espaço para o desenvolvimento de personalidades.

Para ele, os indivíduos se unem não porque se sentem semelhantes ou porque haja consenso,

mas sim porque são interdependentes dentro da esfera social.

De acordo com Durkheim consciência coletiva (ou comum) diz “respeito ao conjunto

das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade capaz

de originar um sistema determinado que tem vida própria” (DURKHEIM, 2010, p. 50).

Para Durkheim (2010), além da consciência coletiva, cada pessoa teria sua consciência

própria e, portanto, individual, estando ligada à personalidade de cada um. A consciência

individual é construída em sociedade e sofre influência da consciência coletiva, ao passo que

esta consciência comum seria a responsável pela formação dos valores morais, sentimentos

coletivos, o que cada indivíduo interpreta como sendo certo ou errado, honroso ou desonroso.

A solidariedade social seria a soma da consciência individual e a consciência coletiva

e existe “proveniente do fato de que certo número de estados de consciência são comuns a

todos os membros da mesma sociedade” (DURKHEIM, 2010, p. 83). Além disso, o papel que

a solidariedade social representa na integração geral da sociedade “depende, evidentemente,

da maior ou menor extensão da vida social que a consciência coletiva abraça e regulamenta”

(DURKHEIM, 2010, p. 83).

Partindo dessa concepção, é possível afirmar que a solidariedade social se daria por

meio da consciência coletiva que seria a responsável pela união entre as pessoas. A

consciência coletiva “independe das condições particulares em que os indivíduos se

encontram: eles passam, ela permanece”. Do mesmo modo, “ela não muda a cada geração,

mas liga umas às outras” (DURKHEIM, 2010, p. 50).

Contudo, cabe ressaltar que a solidez, o tamanho ou a intensidade dessa consciência

coletiva é o que determina a ligação entre os indivíduos, o que varia conforme o modelo de

organização de cada sociedade. Segundo Durkheim (2010), nas sociedades de organização

mais simples predominaria um tipo de solidariedade diferente daquela existente em

sociedades mais complexas, uma vez que a consciência coletiva se daria também de forma

diferente em cada situação.

Sendo assim, Durkheim (2010) explica que a solidariedade que provem das

semelhanças encontra o seu apogeu quando a consciência coletiva é tão forte que recobre a

consciência individual e coincide em todos os pontos por ela. Nesse momento a

individualidade é nula e “só pode nascer se a comunidade ocupar menos lugar em nós”

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

58

(DURKHEIM, 2010, p. 107). Além disso, o autor considera que no momento em que a

solidariedade exerce sua ação a personalidade se esvai, de modo que cada indivíduo não é

mais ele mesmo, e sim o ser coletivo.

Diferenças à parte, pode-se dizer que, tanto a solidariedade mecânica quanto a

orgânica apresentam em comum o objetivo de proporcionar coesão social, seja através da

semelhança e fortalecimento da consciência coletiva, seja através da diferenciação e

fortalecimento da consciência individual. Enfim, o intuito de Durkheim foi o de buscar

compreender a solidariedade social como fator fundamental na explicação da constituição das

organizações sociais, considerando para tanto o papel de uma consciência coletiva e da

divisão do trabalho social.

Além da concepção de solidariedade trazida por Durkheim, algumas outras

contribuem para que se possa entender melhor o conceito e discuti-lo numa situação e

desastre. Para Comte-Sponvile (2009, p. 98), por exemplo, a solidariedade é tida como sendo

um estado de fato antes de ser um estado de dever. A palavra apresenta bastante relação com

o termo solidez, a partir do qual se entende como corpo sólido “um corpo em que todas as

suas partes se sustentam”. Solidariedade, por sua vez, é o fato de uma coesão, de uma

interdependência, de uma comunidade de interesses ou de destinos. Na visão do autor, ser

solidário é pertencer ao mesmo conjunto e partilhar, independente da vontade ou

conhecimento, a mesma história.

Para Bierhoff e Kupper (1999), a solidariedade é tida como uma unidade baseada nos

interesses comuns, objetivos e normas de uma determinada comunidade. Segundo os autores,

a forma clássica de solidariedade refere-se à colaboração de pessoas que agem preocupadas

umas com as outras e objetivando alcançar a melhoria dos seus próprios destinos. Geralmente,

esse tipo de solidariedade ocorre em certos grupos, cujas pessoas apresentam necessidades e

interesses comuns e reconhecem que não são capazes de alcançar seus objetivos por meio de

esforços individuais (BIERHOFF e KUPPER, 1999, p.134).

Diniz (2008, p. 32) argumenta que as ações desenvolvidas em sociedade são capazes

de repercutir positivamente ou negativamente em relação a todos os demais membros de uma

comunidade. A solidariedade, de acordo com o autor, estimula atitudes de apoio e cuidados de

uns com os outros. Requer diálogo e tolerância, além de pressupor reconhecimento ético e

corresponsabilidade.

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

59

Aguirre et al (1994) destacou que numa situação de desastre existem melhores chances

de sobrevivência se o resgate das vítimas ocorrerem no momento do desastre ou logo nas duas

primeiras horas depois, de tal modo que a atuação das pessoas que conhecem as vítimas são

bastante efetivas. Sendo assim, os vizinhos, familiares e amigos são de fundamental

importância para a identificação e localização das pessoas afetadas, de maneira que a ausência

de um membro da família ou vizinho pode desencadear uma série de comportamentos que

dificultam a busca e resgate das vítimas (ALBUQUERQUE, 2008).

De acordo com Albuquerque (2008), aspectos culturais de solidariedade são

importantes de serem considerados, já que culturas mais coletivistas tendem a ser mais

solidárias que as culturas mais individualistas. Nessa perspectiva, acredita-se que nos países,

regiões e bairros mais vulneráveis a desastres se desenvolvem mais facilmente determinadas

atitudes de solidariedade que outras áreas menos sujeitas a estas circunstâncias

(ALBUQERQUE, 2008).

O autor também chama atenção para o fato de que, quanto menor e menos capacitada

for a estrutura institucional das localidades mais vulneráveis aos desastres, mais importante

são os aspectos de solidariedade e de ajuda mútua desenvolvidas entre os membros das

comunidades. Este é um aspecto importante “para órgãos como a Defesa Civil, Corpo de

Bombeiros e Polícia Militar levarem em consideração nos seus treinamentos e na preparação

de seus contingentes para a atuação em situações de desastres” (ALBUQUERQUE, 2008, p.

225). Porém, tem-se observado que “ao invés de buscar a ajuda de forma organizada da

comunidade, estes organismos assumem totalmente o controle da situação impedindo que

cheguem até eles informações fundamentais para o auxílio de resgate de sobreviventes, por

exemplo” (ALBUQUERQUE, 2008, p. 225).

Além das ações de solidariedade que ocorrem no resgate às vítimas, outras ações de

solidariedade costumam ser realizadas e se expressam, por exemplo, nos atos de olhar o filho

pequeno, dar ou emprestar alimento ou dinheiro, ajudar na construção de uma ampliação,

socorrer ou receber uma família cuja casa desabou, fazer cota para ajudar alguém que está

precisando, entre tantas outras formas (ALCÂNTARA; MORA, 2013). Ainda de acordo com

estes autores, muitas destas ações são conduzidas pelos líderes comunitários, que exercem

papel fundamental na organização comunitária, “como protagonistas e difusores dessas

manifestações de solidariedade e/ou nas disputas pela liderança política local”

(ALCÂNTARA; MORA, 2013, p. 217).

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

60

Sendo assim, é preciso chamar a atenção para a importância do protagonismo dos

membros da comunidade nas ações de enfrentamento dos desastres e no planejamento para a

redução dos riscos e promoção da resiliência. Um instrumento fundamental nesse processo

são os Núcleos Comunitários de Defesa Civil – NUDECS, por meio dos quais as

comunidades podem, juntamente com os agentes de proteção e defesa civil, propor ações,

melhorias e atuar durante todo o processo de gestão dos riscos de desastres.

3.2.3 Ergonomia Participativa

Para Darses e Reuzeau in Falzon (2007, p. 345), existem algumas motivações capazes

de sustentar a implementação de ações participativas nas organizações e/ou sistemas, sendo

elas:

A noção de que a participação contribui para o desenvolvimento pessoal;

A introdução de princípios democráticos;

A melhoria no desempenho do sistema como um todo;

O entendimento de que a contribui para o desenvolvimento de competências; e,

Contribui para a concepção de organização da equipe integrada.

A participação por si só não comporta as condições suficientes para o alcance do

sucesso, de modo que necessita de pré-requisitos sociais e individuais e precisa ser uma

modalidade de ação acordada (DARSES; REUZEAU in FALZON, 2007, p. 344). Segundo os

autores, a participação só será efetiva e eficaz se as pessoas envolvidas encontram interesse

individual e visualizam a recompensa dos seus esforços participativos.

Antes da implementação de ações participativa, existem alguns pontos que precisam ser

observados e que são levados em consideração por Darses e Reuzeau in Falzon (2007, p.

346), são eles:

Os objetivos atribuídos aos sujeitos;

A escolha dos representantes dos sujeitos;

O nível de participação de cada um dos sujeitos inseridos no processo; e

A construção dos métodos participativos que precisam ser utilizados.

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

61

Os autores também propõem um quadro (Tabela 4) com os graus de participação

atribuídos aos sujeitos, levando em consideração três modalidades: informar os sujeitos,

consultar os sujeitos e decidir com os sujeitos.

TABELA 4: Graus da Participação (adaptado de DARSES e REUZEAU in FALZON, 2007, p. 347).

Graus Modalidades Atividades

Grau 1

Grau 2

Informar

Informar os sujeitos sobre os planos decididos pelos

gestores;

Coletar informações e experiências dos sujeitos.

Grau 3 Consultar Recolher as opiniões e sugestões dos sujeitos sobre as

ações em curso.

Grau 4

Grau 5

Decidir

Negociar com os sujeitos em comitês formalizados;

Co-concepção e decisão conjunta entre as diferentes

partes implicadas.

Segundo Darses e Reuzeau in Falzon (2007, p. 347), no que diz respeito à modalidade

de informação, sabe-se que esta restringe aos sujeitos o papel de fornecedor de informações.

Desse modo, do ponto de vista das organizações e, até mesmo, considerando que isto ocorra

nas comunidades em que os desastres acontecem, parece exagero atribuir a esta modalidade a

concepção de participativa. A modalidade de consulta possibilita que os sujeitos mostrem

suas expectativas e opinem a respeito das decisões que precisam ser tomadas, no entanto, os

sujeitos não possuem poder de decisão explícito, o que põe em xeque a concepção de

participação da modalidade.

Por sua vez, a modalidade de decisão, conforme apresenta Darses e Reuzeau in Falzon

(2007), caracteriza plenamente a concepção de participação, ao passo que “convida todos os

atores envolvidos a examinar conjuntamente certas decisões e a produzir, juntos, soluções

alternativas” (DARSES; REUZEAU in FALZON, 2007, p. 347).

Segundo Hendrick e Kleiner (2006), a noção de participação tem suas raízes na teoria

das relações humanas que estabeleceu a importância dos sentimentos e atitudes nos sujeitos

nas organizações. Para eles a participação pode levar a forma estrutural de um grupo nominal,

a uma equipe coesa e ao envolvimento individual.

A Ergonomia Participativa pode ser entendida como o envolvimento dos sujeitos no

planejamento e controle de uma parte significativa de suas atividades e do trabalho,

considerando o conhecimento dos sujeitos e a influencia que este possa ter nos resultados da

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

62

organização, atentando-se para o alcance das metas desejáveis (WILSON apud HENDRICK

& KLEINER, 2006).

Prosseguir com a decisão de implementar a Ergonomia Participativa nas organizações

ou comunidades requer montar uma estrutura que, de acordo com Hendrick e Kleiner (2006),

precisa considerar o tamanho e cultura da organização/comunidade, a natureza dor problemas

encontrados, estrutura e tempo disponível, os stakeholders, os recursos disponíveis e o nível

de treinamento/educação.

O foco deste trabalho, porém, não é o estudo da Ergonomia Participativa em si, mas da

compreensão da participação dos membros da população, a partir do que propõe a Ergonomia,

em especial a Ergonomia Comunitária, tomando-se como recorte do estudo as comunidades

vulneráveis aos desastres.

Nesse contexto, considerando as ações e, principalmente, as tomadas de decisões

necessárias nas comunidades vulneráveis aos desastres, pode-se entender que estas são

situações importantes e que precisam da participação dos sujeitos envolvidos para que sejam

eficazes. Hendrick e Kleiner (2006) consideram que o envolvimento das pessoas nos

processos que envolvem tomadas de decisão aumenta não só o compromisso delas, mas

também propicia que sejam elaboradas decisões mais válidas, que provavelmente ocorrem em

decorrência do conhecimento dos sujeitos sobre as reais condições da comunidade.

Sendo assim, deve-se considerar que envolver os moradores das comunidades

vulneráveis a desastres nos processos de decisões a respeito do gerenciamento dos riscos pode

contribuir para que as decisões sejam mais eficientes e coesas, já que o envolvimento dos

destes moradores leva em consideração a opinião e os conhecimentos da realidade trazidos

pelos moradores.

No tocante à participação, enquanto método fundamental da ergonomia participativa,

Hendrick e Kleiner (2006) acreditam que ela pode contribuir para o desenvolvimento de uma

compreensão acerca dos sujeitos, seus próprios papéis e das pessoas com quem interagem,

além de propiciar o conhecimento das ferramentas, informações e interfaces necessárias para

a interação efetiva.

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

63

3.2.3.1 A Participação no Contexto das Comunidades

Quando a comunidade atua para alcançar seus objetivos ela ganha consciência das

suas competências e da coletividade, de tal maneira que consegue propor, exigir e executar

ações adequadas á resolução dos problemas da população. No entanto, promover a

participação requer que os gestores “mudem a visão de que eles decidem tudo e passem a

considerar que os moradores das comunidades também são atores nesse processo e

compartilharão a tomada de decisão com outros indivíduos e organizações” (DONIAK, 2002,

p. 19).

De acordo com Doniak (2002), a participação constitui-se um instrumento essencial no

sentido de promover a articulação entre os atores envolvidos, fortalecendo a coesão,

melhorando a qualidade das decisões e tornando mais fácil alcançar os objetivos de interesse

comum. Participar significa estar presente ativamente no designar e no escolher das

alternativas e suas combinações, promovendo a “possibilidade de superação da justiça social”

(DONIAK, 2002, p. 46).

Gohn (2004) formulou quatro pressupostos da participação que, segundo ela, precisam

ser considerados:

a) Uma sociedade democrática só é possível via o caminho da participação dos

indivíduos e grupos sociais organizados;

b) Não se muda a sociedade apenas com a participação no plano local, micro, mas é a

partir do plano micro que se dá o processo de mudança e transformação na sociedade;

c) É no plano local, especialmente num dado território, que se concentram as energias e

forças sociais da comunidade, constituindo o poder local daquela região. O local gera

capital social quando gera autoconfiança nos indivíduos de uma localidade, para que

superem suas dificuldades. Constrói, junto com a solidariedade, coesão social, forças

emancipatórias, fontes para mudanças e transformação social;

d) É no território local onde se localizam as instituições importantes do cotidiano de vida

da população, como as escolas, os postos de saúde etc. Mas o poder local de uma

comunidade não existe a priori e precisa ser organizado, adensado em função de

objetivos que respeitem as culturas e diversidades locais, que criem laços de

pertencimento e identidade sociocultural e política.

Almeida (2014, p. 26) considera que a participação seria uma forma de integração dos

indivíduos, uma conquista e um processo. A participação comunitária numa situação de

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

64

desastres pode ampliar a informação e a comunicação local, comprometer os administradores

públicos e garantir uma resposta clara e direta às demandas de uma comunidade (UNISDR,

2012).

Quanto à participação da comunidade numa situação de desastre, percebe-se que “as

pessoas, ao se identificarem como passíveis de uma mesma ameaça, assumem atitudes

solidárias e de colaboração, quando percebem que a luta de cada um é a luta de todos”

(ALCÂNTARA; MORA, 2013, p. 216). Em situações como esta, o sentimento de fazer parte

da comunidade costuma ser grande. Segundo os autores, alguns depoimentos revelam que o

sentimento de fazer parte da comunidade é mais forte quando as dificuldades são maiores.

“Parece que há um potencial de união e solidariedade em consequência da necessidade de

sobrevivência” (ALCÂNTARA; MORA, 2013, p. 217).

3.2.4 Resiliência Comunitária

Diante da proposta da presente pesquisa se faz necessário entender como o termo

resiliência é compreendido, primeiramente, do ponto de vista das organizações e sistemas, e,

depois, do ponto de vista das comunidades. De acordo com Westrum in Hollnagel et al (2006,

p. 55), a resiliência envolve diferentes matérias abrangidas pela mesma palavra.

Hollnagel et al (2006) definem resiliência como sendo a habilidade dos sistemas de

prever e de se adaptar as falhas e surpresas que eventualmente possam surgir. Segundo Woods

in Hollnagel et al (2006), a resiliência pode ser entendida como sendo a capacidade de um

sistema para reconhecer e adaptar-se as perturbações inesperadas que possam por em causa o

seu modelo de competência, exigindo uma mudança de processo, estratégia e coordenação.

Wresthball in Hollnagel et al (2006, p. 275) considera que a resiliência tem a ver com

a capacidade de uma organização (sistema) de se manter ou se recuperar rapidamente para um

estado estável, permitindo-lhe continuar as operações durante e após um grande acidente ou

na presença de um estresse significativo e contínuo.

De acordo com a EIRD (2004, p. 18), a resiliência pode ser vista como a “capacidade

de um sistema, comunidade ou sociedade potencialmente expostos a riscos de se adaptar,

resistir ou mudar para atingir e manter um nível aceitável de funcionamento e estrutura”

(EIRD, 2004, p. 18). “Ela é determinada pelo grau em que o sistema social é capaz de se

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

65

organizar para aumentar a sua capacidade de aprender com desastres anteriores, a fim de

conseguir melhorar as futuras medidas de protecção e a redução do risco de desastres”.

No Brasil, o termo resiliência foi adaptado aos sistemas sociais e refere-se à habilidade

de superar as adversidades, o que não significa invulnerabilidade às crises, mas sim

capacidade de aprender com elas e de construir ferramentas para superá-las (CEPED/UFSC,

2012, p. 37). Para a UNISDR (2012, p. 6), a resiliência e a redução de riscos de desastres

devem fazer parte do desenho urbano e das estratégias para alcance de um mundo mais seguro

e sustentável. A resiliência também pode ser entendida como uma meta ideal posta aos

indivíduos, organizações e comunidades.

Uma pesquisa realizada por Stokols et al (2013) sobre a resiliência dos sistemas

Homem – Ambiente revelou que estes sistemas são caracterizados por transações que se

sobrepõem mutualmente, onde os seres humanos ajustam ou modificam o ambiente em que

vivem visando alcançar determinados objetivos. Com base nesse pensamento, sistemas

resilientes são aqueles em que os processos de adaptação (ajuste) e modificação existem

positiva e mutualmente apoiando as metas para a melhoria geral da coletividade, como um

todo (STOKOLS et al, 2013).

A perspectiva da ecologia social, descrita na pesquisa supracitada, considera para a

compreensão da resiliência, as operações recíprocas que ocorrem entre as pessoas nos seus

ambientes e como elas se comportam orientadas por aspectos intangíveis (sociais, éticos,

morais, econômicos, políticos) que criam significados e modificam comportamentos

(STOKOLS et al, 2013). Uma estratégia pra entender o nível de resiliência de um sistema

comunitário, por exemplo, seria identificar as circunstâncias em que essas operações

recíprocas acontecem e como influenciam os níveis de adapatação do grupo diante de

possiveis transformações e distúbios.

Dessa forma, entendendo o desastre como sendo uma grave perturbação num sistema

social (comunidade) é importante perceber o que se entende por resiliência comunitária e

como as organizações sociais podem estar se equipando para o desenvolvimnto de suas

habilidades visando recuperar-se mais rapidamente de uma situação de desastre.

A resiliência comunitária pode ser vista como um processo capaz de explicar as

respostas da comunidade às forças externas, tais como crises econômicas, desastres e outras

ameaças à sustentabilidade (KULIG et al, 2008, p. 76). Segundo Becker et al (2011, p. 2), a

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

66

resiliência comunitária corresponde a uma propriedade emergente determinada pela

capacidade da comunidade de antecipar, reconhecer, adaptar-se e aprender com variações,

mudanças, perturbações, rupturas e surpresas que possam causar danos humanos, materiais e

ambientais.

Partindo dessa definição, Becker et al (2011, p. 4) propõem que a comunidade deve ter

capacidades suficientes de agir conforme as “funções abstratas” de antecipação,

reconhecimento, adaptação e aprendizagem, que pode ainda ser especificado pelas funções

generalizadas de avaliação do risco, previsão, monitoramento, avaliação do impacto,

prevenção / mitigação, preparação, resposta, recuperação e avaliação. Conforme ilustra a

Figura 6, precisa haver dependência entre estas funções, para o fortalecimento da resiliência

comunitária.

Figura 6: Funções Abstratas e Generalizadas de Resiliência Comunitária (adaptado de BECKER et al, 2011, p.

4).

Tendo apresentado, neste capítulo, as abordagens teóricas e conceituais e as pesquisas

relacionados com o tema desta pesquisa, passaremos a apresentar, no capítulo 4, a seguir a

metodologia adotada no desenvolvimento desta pesquisa.

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

67

CAPÍTULO 4 – PERCURSO METODOLÓGICO

Neste capítulo, será apresentada a classificação da pesquisa, o local de realização, a

população e a amostra populacional definida.

4.1 Classificação da Pesquisa

Quantos aos seus objetivos, a presente pesquisa tem caráter exploratório, descritivo e

explicativo.

“A pesquisa exploratória tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o

problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses” (SILVEIRA;

CÓRDOVA in GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p. 35). De acordo com Santos (2004), a

busca pela familiaridade pode se dar pela prospecção de materiais que forneçam informações

ao pesquisador sobre a real importância do problema estudado, bem como o estágio dos

estudos e das informações disponíveis sobre o assunto da pesquisa e novas fontes.

Esta pesquisa procura compreender o desenvolvimento da resiliência comunitária, a

partir do registro e análise dos modos de participação e das ações de solidariedade e

cooperação praticadas pelos membros da comunidade do bairro de Mãe Luíza, Natal – RN,

antes, durante e após o desastre ocorrido em junho de 2014.

Como trata-se de um desastre recente, de um tema pouco explorado nas bibliografias

consultadas e ainda não foi encontrada nenhuma pesquisa com este tema, relacionada ao

referido bairro, a pesquisa exploratória é necessária para se conhecer melhor o perfil

socioeconômico da comunidade, o histórico de desastres, os danos decorrentes e o

comportamento da referida comunidade frente a estes acontecimentos.

De acordo com Gonsalves (2005, p. 65), a pesquisa descritiva tem como objetivo

escrever as características de um determinado objeto de estudo. “Dentre esse tipo de pesquisa

estão as que atualizam as características de um grupo social, nível de atendimento de um

sistema organizacional como também aquelas que pretendem descobrir a existência de

relações entre variáveis” (GONSALVES, 2005, p. 65). Desse modo, a presente pesquisa

descreve as relações existentes entre a participação, as ações de solidariedade e cooperação

desenvolvidas pelas vítimas do desastre estudado e a promoção da resiliência comunitária.

Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

68

A pesquisa explicativa tem como preocupação central identificar os fatores que

determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos (SILVEIRA; CÓRDOVA in

GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p. 35). Esse é o tipo de pesquisa que mais aprofunda o

conhecimento da realidade, porque explica a razão, o porquê das coisas (GIL, 2002, p. 42).

Sendo assim, a presente pesquisa classifica-se como explicativa, uma vez que pretende

compreender o que motiva a participação e as ações de solidariedade e cooperação entre os

membros de Mãe Luíza que foram afetados pelo desastre e como essas ações contribuem para

a promoção da resiliência comunitária.

No que diz respeito aos procedimentos de coleta de dados, a pesquisa pode ser

classificada como estudo de caso e pesquisa de campo.

Estudo de caso “é o tipo de pesquisa que privilegia um caso particular, uma unidade

significativa, considerada suficiente para a análise de um fenômeno” (GONSALVES, 2005, p.

67). Basicamente, o objeto de um estudo de caso pode ser qualquer fato/fenômeno/processo

individual, ou um dos seus aspectos. É muito comum a utilização de estudo de caso quando se

trata de reconhecer nele um padrão científico já delineado no qual possa ser enquadrado

(SANTOS, 2002, p. 30). A presente pesquisa é um estudo de caso porque está centrado na

situação de desastre vivenciada no bairro de Mãe Luíza.

O estudo ou pesquisa de campo constitui o modelo clássico de investigação no campo.

Tipicamente, focaliza uma comunidade, que não é necessariamente geográfica, já que pode

ser uma comunidade de trabalho, de estudo, de lazer ou voltada pra qualquer outra atividade

humana (GIL, 2002, p. 53). Também pode ser entendida como sendo o tipo de pesquisa que

“pretende buscar a informação diretamente com a população pesquisada”, exigindo do

“pesquisador contato mais direto” (GONSALVES, 2005, p. 67). Esta pesquisa configura-se

como sendo estudo de campo porque busca informações diretamente com os membros da

comunidade de Mãe Luíza, em suas casas ou nos espaços de reuniões, por exemplo.

No que concerne às fontes de coleta de dados, o trabalho é igualmente classificado

como sendo pesquisa de campo, além de pesquisa bibliográfica e documental. A pesquisa

bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente

de livros e artigos científicos (GIL, 2002, p. 44). Qualquer trabalho científico inicia-se com

uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o

assunto (SILVEIRA; CÓRDOVA in GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p. 37).

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

69

Esta pesquisa teve início em março de 2014 onde foram buscados materiais sobre os

riscos de desastres decorrentes de ameaças naturais no mundo, no Brasil e em Natal – RN,

assim como sobre a resiliência comunitária e a importância da participação da população e

das ações de solidariedade e de cooperação nesse contexto. A pesquisa bibliográfica se deu

por meio de busca de artigos científicos em bases de dados digitais como os Periódicos Capes,

Science Direct e Scopus, utilizando-se as palavras-chave “Solidariedade e Desastre”,

“Resiliência Comunitária e Desastre” e “Solidariedade e Resiliência”. O procedimento foi

repetido utilizando as mesmas palavras em inglês, com o objetivo de ampliar o contexto de

busca e encontrar mais trabalhos. Também foram utilizados dissertações, livros e manuais

sobre desastres e gerenciamento de riscos, oriundos do órgão de Proteção e Defesa Civil

nacional, e sobre os demais assuntos propostos na pesquisa, oriundos de bibliotecas públicas e

acervos de particulares.

A pesquisa documental diz respeito à consulta de materiais que não receberam ainda

um tratamento analítico, ou que ainda não podem ser reelaborados de acordo com os objetos

da pesquisa (GIL, 2002, p. 45). Além disso, a pesquisa documental pode ser considerada um

método não invasivo, que permite ao pesquisador ir além das perspectivas dos sujeitos da

pesquisa (FLICK, 2009, p. 234). Neste trabalho, a pesquisa documental se deu por meio da

análise dos seguintes materiais: Jornal Tribuna do Norte; Jornal e Diário do Natal; dados

referentes aos desastre solicitados e disponibilizados pela Secretaria Municipal de Trabalho e

Assistência Social – SEMTAS; atas de reuniões realizadas entre os membros da comunidade

(vítimas do desastre e outros moradores); atas de reuniões entre os membros da comunidade e

funcionários da prefeitura da Cidade do Natal, responsáveis pelo gerenciamento das situações

de desastre; a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil – PNPDEC; o Marco de Ações de

Hyogo – MAH; Marco de Sendai, entre outros.

Quanto à natureza dos dados, a pesquisa é qualitativa. Este tipo de pesquisa está

preocupada com os aspectos da realidade que não podem ser quantificados, ou seja, “está

preocupada com a compreensão, com a interpretação do fenômeno, considerando o

significado que os outros dão às suas práticas” (GONSALVES, 2005, p. 68). Entende-se,

dessa maneira, que a pesquisa qualitativa “trabalha com o universo de significados, motivos,

aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das

relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de

variáveis” (MINAYO in MINAYO et al, 2010, p. 21). Nesse caso, esta pesquisa é qualitativa

Page 70: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

70

porque está preocupada com a compreensão acerca das relações e ações de solidariedade e

cooperação desenvolvidas em Mãe Luíza, bem como com a participação e a contribuição

destes aspectos para o aumento da resiliência no bairro.

4.2 Local da Pesquisa

Esta pesquisa foi realizada no bairro de Mãe Luíza, situado na região administrativa

leste do município de Natal, capital do estado do Rio Grande do Norte. Conforme ilustra a

Figura 7, o bairro de Mãe Luíza faz fronteira com os bairros de Tirol, Pretrópolis e Areia

Preta – bairros habitados por populações com alto poder aquisitivo da cidade –, com o Oceano

Atlântico e com o Parque das Dunas. Essas características fazem do bairro uma região

bastante privilegiada e, por isso, cobiçada pelos industriais da construção civil e

empreendedores imobiliários.

FIGURA 7: Localização Geográfica do Bairro de Mãe Luíza, Natal – RN (https://www.google.com.br/maps)

4.3 População e Amostra da Pesquisa

A população desta pesquisa compreende todos os afetados pelo desastre ocorrido em

Mãe Luíza em junho de 2014, ou seja, as pessoas que tiveram suas casas destruídas,

danificadas ou interditadas em virtude do referido desastre e o secretário adjunto de defesa

civil do município de Natal, que atuou junto dos demais membros durante a fase de resposta

Page 71: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

71

ao desastre. Já a amostra da pesquisa é de conveniência e corresponde, principalmente, às

pessoas que tiveram suas casas totalmente destruídas pelo desastre ocorrido. São, em sua

maioria, residentes na Avenida Guanabara e que tiveram suas casas totalmente destruídas,

danificadas ou interditadas.

A Figura 8 ilustra o mapa geral de identificação por endereço dos imóveis afetados

pelo desastre de junho/2014 no bairro. Nele é possível identificar onde residia a população

afetada pelo desastre, que fará parte da presente pesquisa. De acordo com os dados fornecidos

pela Secretaria Municipal de Segurança Pública e Defesa Social – SEMDES, 187 casas foram

interditadas e 26 totalmente destruídas. Também fizeram parte desta pesquisa os demais

moradores que testemunharam em loco o desastre ocorrido no Bairro.

Page 72: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

72

FIGURA 8: Identificação dos Imóveis por Endereço das Residências Afetadas pelo Desastre Ocorrido em Mãe Luíza em Junho de 2014 (SEMDES, 2016)

Page 73: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

73

4.4 A Construção Social

A construção social é uma estratégia metodológica utilizada na Ergonomia para

envolver os sujeitos que têm, de alguma maneira, relação com o problema de pesquisa

formulado, com o intuito de contribuírem com o fornecimento de informações e com a

facilitação do desenvolvimento da pesquisa como um todo.

Segundo Vidal (2008, p. 69), a construção social é uma estrutura de ação, de natureza

participativa, técnica e gerencial, que busca o envolvimento da população estudada, de modo que

esta colabore fornecendo as informações fundamentais e validando o conhecimento produzido.

Basicamente, a construção social pressupõe a interação do pesquisador com vários grupos da

situação de pesquisa. Na verdade, constitui-se na forma pela qual as interações entre o

pesquisador e os grupos deverão ser encaminhadas.

Em Ergonomia, embrionariamente, o conceito e a operacionalidade da construção

social tiveram as empresas e as situações de trabalho como “palco” de inspiração, reflexão e

prática. Mais recentemente, este constructo teórico-metodológico tem sido aplicado, também,

em estudos e pesquisas de Ergonomia em comunidades e outros agrupamentos humanos, em

situações de desastre, de lazer, do cotidiano etc. Nesta pesquisa, a aplicação da construção

social se dará com a população envolvida na situação de desastre no bairro de Mãe Luíza, na

cidade de Natal.

Vidal (2008, p.69) recomenda que a construção social compreenda a interação com

diversos grupos, “de natureza e composição distintas para referenciar-se ao longo” da ação

ergonômica. Para efeito desta pesquisa foi desenvolvido um modelo de construção social

adaptado ao modelo desenvolvido por Vidal (2008, p. 70). Os grupos constituídos na

construção social desta pesquisa envolveram os membros da comunidade, agentes da

Secretaria Municipal de Proteção e Defesa Civil de Natal e pesquisadores da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, conforme ilustra o esquema apresentado na Figura 9.

Page 74: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

74

FIGURA 9: Esquema da Construção Social da Pesquisa (adaptado de VIDAL, 2008, p. 70).

4.4.1 Grupo de Ação Ergonômica – GAE

O Grupo de Ação Ergonômica – GAE – é formado pelas pessoas responsáveis pelo

desenvolvimento desta pesquisa e divide-se em Equipe Interna de ergonomia e em Equipe

Externa de Ergonomia. A Equipe Interna de Ergonomia diz respeito às pessoas da

comunidade interessadas em facilitar o desenvolvimento da pesquisa na comunidade. Ela é

composta pelos líderes comunitários surgidos em decorrência do desastre, do membro-líder

do Conselho Comunitário e de moradores que têm/tiveram atuação frequente e intensa diante

do desastre. A Equipe Externa de Ergonomia é composta pelos alunos de iniciação científica e

uma estudante de mestrado do Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Cabe salientar que a equipe externa,

juntamente com o Grupo de Acompanhamento, executam um projeto de pesquisa e extensão

denominado “Mãe Luíza (SEM) Desastres”, que engloba esta proposta de pesquisa, tendo

como locus o bairro de Mãe Luíza.

4.4.2 Grupo de Suporte – GS

O Grupo de Suporte – GS do presente estudo é composto pelas pessoas que detém o

poder de decisão à respeito das ações que envolvam a busca pela solução dos problemas

Page 75: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

75

gerados pelo desastre, assim como ações que visem apoiar e assistir a comunidade em

questão. Este grupo atua conjuntamente com o GAE, tendo este último que se reportar ao GS

para a aprovação e/ou execução de algumas ações. Nesse sentido, o GS é formado pelo:

Conselho Comunitário de Mãe Luíza; Coletivo de moradores afetados pelo desastre, e;

Secretaria Municipal de Segurança Pública e Defesa Social – SEMDES.

4.4.3 Grupo de Acompanhamento – GA

É composto por pessoas com autoridade técnica para tomar decisões durante o

desenvolvimento da pesquisa, que nesse caso, refere-se ao professor orientador desta

pesquisa.

4.4.4 Grupo de Foco – GF

O GF da presente pesquisa é composto pelos moradores de Mãe Luíza, que tiveram

suas casas totalmente destruídas, danificadas ou interditadas, líderes comunitários que

atuaram no desastre, agentes de proteção e defesa civil (SEMDES) que atuaram no desastre.

4.5 Detalhamento da Construção Social

4.5.1 Reuniões

O processo de construção social desta pesquisa teve início em 2014, quando foram

realizadas duas reuniões: a primeira ocorreu no dia 30/04/2014, no Auditório do Bloco 10 do

Centro de Tecnologia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e a segunda ocorreu

no dia 14/05/2014 no Parque da Cidade de Natal. As reuniões foram uma iniciativa de

professores, alunos do mestrado em engenharia de produção e alunos da iniciação científica,

membros do projeto de pesquisa e extensão “Mãe Luíza (SEM) Desastres”.

As duas reuniões aconteceram antes da ocorrência do desastre no bairro de Mãe Luíza,

ocorrido em 14 de junho de 2014, e tinham como objetivo mobilizar os agentes dos órgãos de

proteção e defesa civil municipal e estadual e das demais secretarias da Prefeitura da Cidade

de Natal, que lidam com desastres, para os riscos existentes no bairro de Mãe Luíza e sobre a

obrigatoriedade e necessidade da elaboração de um plano de contingência e de sua execução,

incluindo a realização de exercícios simulados com a população vulnerável.

Page 76: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

76

As Tabelas 5 e 6 trazem as informações sobre os participantes e assuntos discutidos

durante as referidas reuniões.

Page 77: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

77

TABELA 5: Síntese da Primeira Reunião Ocorrida no LAI (Arquivo do GREPE)

Reunião I: Antes da Ocorrência do Desastre

Data Local Presentes Assuntos Discutidos Deliberações

30/04/2015 Auditório do

LAI. Bloco 10 do

Núcleo de

Tecnologia da

Universidade

Federal Do Rio

Grande do Norte

– UFRN

Membros do projeto de pesquisa e

extensão "Mãe Luíza (SEM)

Desastres"; profissionais da Secretaria

Municipal de Saúde ( Programa de

Vigilância dos Desastres –

Vigidesastres); profissionais da

Secretaria Municipal de Proteção e

Defesa Civil; profissionais da Guarda

Ambiental de Natal; alunos da

Universidade Potiguar - UnP; pró-

reitor de Extensão da UFRN; alunos

das graduações em engenharia de

produção, psicologia e geografia e do

mestrado em engenharia de produção

da UFRN.

A existência de áreas de riscos de desastres

no município de Natal; A concentração dos

riscos no bairro de Mãe Luíza; A

importância da criação do NUDEC; A

urgência da criação do Plano de

Contingência do bairro de Mãe Luíza (plano

piloto); A realização de simulados em Mãe

Luíza para a garantia da eficácia do plano;

A importância da articulação da

comunidade acadêmica com a prefeitura e

os membros da sociedade civil para o

monitoramento dos riscos e garantia da

resiliência.

Ficou decidido que era preciso marcar nova reunião,

agora com a participação da Secretaria Estadual de

Proteção e Defesa civil do Rio Grande do Norte, para a

viabilização de um Plano de Contingência para a Cidade

do Natal com a realização de simulados no bairro de Mãe

Luíza. Ficou decidido que os membros do Projeto "Mãe

Luiza (SEM) Desastres" elaborariam propostas e

mostrariam na próxima reunião o que seria necessário

fazer para a criação do Plano de Contingência de Natal. A

reunião seguinte ficou sob a responsabilidade da

organização da Guarda Ambiental l e ficou agendada para

ser realizada no dia 14 de maio de 2015, no Parque da

Cidade.

Page 78: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

78

TABELA 6: Síntese da Segunda Reunião Ocorrida no Parque da Cidade (Arquivo do GREPE)

Reunião II: Antes da Ocorrência do Desastre

Data Local Presentes Assuntos Discutidos Deliberações

14/05/2014 Parque da

Cidade Membros do projeto de pesquisa e

extensão "Mãe Luíza (SEM)

Desastres"; profissionais da Secretaria

Municipal de Saúde; profissionais da

Secretaria Municipal de Proteção e

Defesa Civil; profissionais da Guarda

Municipal de Natal; Alunos da

Universidade Potiguar - UnP; membros

do Programa de Vigilância dos

Desastres - Vigidesastre; e assistentes

Sociais da Secretaria Municipal de

Trabalho e Assistência Social -

SEMTAS; Alunos do curso de

psicologia e geografia da UFRN,

funcionários da Petrobras.

Apresentação das propostas elaboradas

pelos membros do Projeto Mãe Luíza

(SEM) Desastres; Atualização do

mapeamento dos riscos existentes na

cidade; Negociação sobre a execução de

um plano de contingência pra Cidade e

não só pra o bairro de Mãe Luiza, como

um projeto piloto; o interesse do prefeito

da cidade pela elaboração do plano; os

problemas políticos e administrativos da

cidade que limitam as ações dos agentes

da defesa civil; a necessidade de

oficializar a ação para que os funcionários

da prefeitura possam participar da

elaboração e execução do Plano de

Contingência respaldados

institucionalmente.

Na segunda reunião ficou acordado que representantes do

projeto Mãe Luíza (SEM) Desastres e do órgão de

Proteção e Defesa Civil conversariam com o prefeito do

município de Natal sobre a importância da elaboração do

Plano de Contingência Municipal e da elaboração de

simulados, conforme institui a Lei nº 12.608 de 10 de

abril de 2012, no bairro de Mãe Luíza. A escolha pela

realização dos simulados em Mãe Luíza se deu devido à

existência de sérios riscos de deslizamento e formação de

cratera no bairro, ao histórico de desastres e ao

adensamento populacional . Esta reunião teria o objetivo

também de solicitar que o prefeito de Natal anunciasse no

Diário Oficial a autorização dos funcionários do órgão de

proteção e defesa civil e demais secretarias na execução

do que estava sendo proposto. A reunião, porém, não

chegou a acontecer, conforme prazo estabelecido de 28 de

maio de 2015.

OBS: este processo foi interrompido depois devido à

ocorrência do desastre no bairro de Mãe Luíza, em 14 de

junho, que mobilizou intensamente os funcionários da

prefeitura nas ações de resposta ao desastre e de

recuperação.

Page 79: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

79

Antes da ocorrência do desastre, a pesquisa estava centrada na demanda dos agentes

da SEMDES e na articulação com a reitora da UFRN, para marcar uma audiência com o

prefeito, visando a autorização e o apoio na elaboração do plano de contingência da cidade,

disponibilizando pessoal, estrutura e o recurso financeiro necessário para isto. Com a

impossibilidade de articulação com a reitora e, depois, com a ocorrência do referido desastre,

a primeira estratégia teve de ser interrompida, porque os agentes do sistema de riscos de

desastres se concentraram nas ações de resposta em Mãe Luíza.

A construção social, então, passou a tomar outra configuração, a partir das interações

com os grupos no próprio bairro de Mãe Luíza, cerne do desastre. Nesse caso, a equipe do

projeto Mãe Luíza (SEM) Desastres passou a acompanhar as reuniões que ocorreram na

comunidade (Igreja Batista, Escola Selva Lopes e na Residência de um Morador do Bairro)

entre os meses de junho de 2014 a dezembro de 2015, foram aproximadamente 40 reuniões

registradas, em média 2h cada. Todas elas foram filmadas para que, depois, fosse possível

recorrer às falas dos sujeitos e recuperar dados e informações fundamentais para a pesquisa.

Estas reuniões ocorreram, principalmente, logo após o desastre, duas vezes por

semana. Depois passaram a ocorrer uma vez por semana e, após seis meses, passaram a

ocorrer mais espaçadamente, influenciada por algum fato novo. O objetivo das reuniões

convocadas por lideranças era reunir a comunidade para discutir sobre as consequências

geradas pelo desastre e decidir sobre as pendências que seriam exigidas dos órgãos públicos.

A participação da equipe executora desta pesquisa nestas reuniões teve como objetivo

registrar os relatos, discussões e demandas dos membros da comunidade relativos às

consequências dos desastres, as estratégias de ação para exigir as providências a serem

tomadas pelas autoridade competentes, bem como registrar e analisar possíveis demandas de

pesquisa e extensão. Identificou-se que as ações de solidariedade e de cooperação realizadas

pelos moradores antes, durante e depois do desastre e a contribuição destas para o

fortalecimento da resiliência comunitária constituiu-se como sendo um problema de pesquisa

relevante.

Outros problemas de pesquisa foram identificados, como por exemplo: a questão da

disposição inadequada do lixo como agravante dos riscos de desastres existentes na

Page 80: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

80

comunidade; a importância da acessibilidade em situação de desastres; os custos envolvidos

com o gerenciamento dos riscos de desastres e suas consequências, e etc.

As demandas apresentadas pela comunidade nas reuniões foram referentes à

assistência social – auxílio-moradia, abrigo, mantimentos, roupas de cama, mesa e banho,

vestimentas e etc. – e sobre o restabelecimento de água e luz, obras de recuperação e

reconstrução da infraestrutura e habitação afetadas, transporte, segurança, assistência à saúde

etc. Além destas demandas, é importante destacar que as reuniões foram fundamentais porque

os membros da comunidade que participaram destes encontros puderam:

• Obter informações sobre a situação real em que se encontram e esclarecer informações

conflitantes;

• Obter orientação;

• Identificar e organizar suas demandas;

• Discutir sobre as estratégias que deviam adotar para que as demandas fossem

atendidas;

• Envolver e comprometer os líderes comunitários;

• Fazer-se representar diante das autoridades e os meios de comunicação;

• Estabelecer e firmar novas alianças;

• Refletir e aprender com suas próprias experiências;

• Monitorar as decisões e ações tomadas pelas autoridades, entre outros;

• Criar e desenvolver laços comunitários;

• Discutir e decidir coletivamente, entre outros.

Paralelamente às reuniões da comunidade realizadas em Mãe Luíza, depois do desastre

houveram várias tentativas de agendamento de reuniões entre os coordenadores do Projeto

Mãe Luíza (Sem) Desastres e o secretário da SEMDES, para viabilizar o Plano de

Contingência e o exercício simulado, de modo que em agosto de 2014 concretizou-se uma

reunião na sede da SEMDES, em que o referido secretário comprometeu-se em contatar, no

mês de outubro/2014, os coordenadores do projeto para tratar da viabilização da proposta

apresentada, o que não ocorreu.

Face ao exposto, e em razão da organização de um Seminário, que seria realizado no

final de outubro de 2014, para discutir o desastre de Mãe Luíza, denominado de “II SEM

Desastres-Seminário Multidisciplinar sobre desastres: Construindo Cidades Resilientes"

Page 81: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

81

(http://semdesastresufrn.blogspot.ca/2014/09/sobre-o-sem-desastres.html), foram convidados

para participar deste evento: o secretário da SEMDES, outras autoridades e profissionais de

outras secretarias e órgãos governamentais do município de Natal e do estado do Rio Grande

do Norte, envolvidas com o tema do desastre, representante da OAB, procuradores ambientais

do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte, representante da ONU, técnico do

órgão de proteção e defesa civil da cidade de Recife, pesquisadores e técnicos, peritos

envolvidos na elaboração do laudo técnico judicial referente ao desastre, alunos de graduação

e de pós-graduação de várias instituições de ensino e a comunidade de Mãe Luíza.

O Seminário (Figura 10) contou com a participação de aproximadamente 100 pessoas,

com forte frequência da população do bairro de Mãe Luíza, afetada pelo desastre, e teve como

objetivo discutir a atuação, eficácia e fragilidades dos órgãos públicos e da comunidade

afetada pelos desastres, no sentido de contribuir para o fortalecimento da resiliência dos

órgãos de Proteção e Defesa Civil da cidade de Natal e da comunidade frente aos riscos de

desastres.

Figura 10: Trabalho em Grupo Durante o II Sem Desastres dia 23 de outubro de 2014 (Acervo do GREPE,

2014).

Page 82: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

82

O evento também teve como estratégia deflagrar o comprometimento da SEMDES

com o processo de elaboração e execução do plano de contingência e do exercício simulado,

tendo este como foco o bairro de Mãe Luíza, como experiência piloto. Este acabou se

constituindo como uma estratégia de levantamento de dados paras as pesquisas em curso, uma

vez que estariam presentes, discutindo os temas relacionados ao desastre e, especificamente, o

desastre de Mãe Luíza os sujeitos anteriormente mencionados.

Para o ano de 2015 a frequência das reuniões na comunidade diminuiu, passando a ser

realizada apenas quando houvessem informações novas e problemas a serem resolvidos. Além

destas reuniões a equipe do presente projeto esteve em Mãe Luíza no mês de fevereiro de

2015 para apresentar a mídia social (página no Facebook) criada para a comunidade, por meio

do qual os moradores poderiam divulgar, para todos que tivessem acesso, os problemas

existentes, discutirem, se comunicarem e chamarem a atenção das autoridades responsáveis.

Neste dia os membros do projeto de pesquisa em questão entregam para a comunidade uma

página no Facebook (Figura 11), cuja gestão ficaria sob a responsabilidade da própria

comunidade.

FIGURA 11: Página do Facebook Referente à Comunidade de Mãe Luíza Afetada pelo Desastre (Acervo do

GREPE, 2015).

A equipe também esteve presente no protesto de aniversário de 1 ano da cratera

(Figuras 12), no dia 13 de junho de 2015. A ação foi uma iniciativa da própria comunidade

Page 83: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

83

visando chamar atenção das autoridades para a insatisfação das pessoas que tiveram suas

casas destruídas, pois as obras de reconstrução da via e da escadaria não tinham sido

concluídas, o auxílio moradia estava atrasado e não existia previsão para a reconstrução das

casas destrídas. O evento contou com a participação dos líderes comunitários, vereadores da

cidade do Natal, moradores de Mãe Luíza e jornalistas das emissoras de TV da cidade.

FIGURA 12: Protesto de Aniversário de Um Ano da Cratera (Acervo do GREPE, 2015)

A inauguração da obra de reconstrução da via e da escadaria (Figura 13) só veio

acontecer no dia 7 de dezembro de 2015, um ano e maio depois do desastre. O evento

organizado pela prefeitura contou com a participação do próprio prefeito, de vereadores,

secretários, moradores do bairro e membros do projeto Mãe Luiza (Sem) Desastres. Em

contrapartida, duas horas antes da inauguração a comunidade organizou uma manifestação

(Figura 14) onde puderam mostrar que, apesar da escadaria pronta, e não desconsiderando a

importância dessa conquista, os moradores estavam com três meses de auxílio moradia

atrasados e exigiam uma definição da prefeitura do Natal sobre onde, como e quando suas

casas iriam se reconstruídas.

Page 84: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

84

FIGURA 13: Inauguração da Escadaria de Mãe Luíza no Dia 7 de Dezembro de 2015 (Tribuna do Norte:

http://tribunadonorte.com.br)

FIGURA 14: Manifestação para Despertar a Atenção das Autoridades Sobre a Reconstrução das Casas e

Pagamento do Auxílio Moradia no dia 7 de Dezembro de 2015 (Acervo do GREPE, 2015).

Page 85: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

85

4.5.2 Audiências Públicas

Além das reuniões, a equipe executora desta pesquisa esteve presente em duas

audiências públicas. A primeira aconteceu no dia 30 de junho de 2014 na Câmara Municipal

de Natal (Figura 15) e contou com a participação de vereadores do município, autoridades e

representantes das secretarias municipais, estudantes universitários, a equipe do projeto Mãe

Luiza (Sem) Desastres, representantes e lideranças comunitárias do bairro de Mãe Luísa e de

outras regiões da cidade. O objetivo da audiência foi discutir as demandas da comunidade de

Mãe Luíza geradas em decorrência do desastre.

Na ocasião a comunidade distribuiu um documento intitulado “Carta de Mãe Luíza”

(ANEXO 1) e continha as seguintes reinvindicações:

O pagamento do aluguel social (Auxílio Moradia); o restabelecimento do

abastecimento da água pela CAERN;

A reavaliação para a desocupação da Escola Selva Lopes pela parte da Defesa Civil;

A realocação dos que estão abrigados nas escolas, tendo em vista a retomada do ano

letivo;

A fiscalização das construções irregulares, principalmente as que foram construídas

em muros de arrimos;

A revisão das estruturas dos muros de arrimo;

A revisão e manutenção das escadarias;

A resposta urgente ao problema da violência estreitamente ligado ao comércio das

drogas no bairro, que estavam aproveitando da situação para ameaçar e invadir

residências, comércios, abrigos e etc.

Page 86: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

86

FIGURA 15: Audiência Pública na Câmara Municipal de Natal no dia 30 de junho de 2014 (Acervo do GREPE,

2014).

Dentre os assuntos discutidos na audiência destacou-se a proposta de aprovação do

projeto referente ao auxílio moradia (Lei nº 6.473 de 10 de julho de 2014), correspondente ao

valor de um salário mínimo que seria pago mensalmente às famílias cadastradas pela

Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social – SEMTAS, que possuíssem renda de

até três salários mínimos. Os casos que não se encaixassem nestes critérios precisariam ser

analisados pela SEMTAS.

A segunda audiência pública (Figura 16) ocorreu no dia 11 de dezembro de 2015,

quase um ano e meio depois do desastre, na 45ª Promotoria de Justiça de Defesa do Meio

Ambiente de Natal localizada na sede do Ministério Público. Na ocasião, estavam presentes

os Promotores Márcio Luiz Diógenes e Gilka da Mata Dias, os representantes da Secretaria

Municipal de Obras Públicas e de Infraestrutura – SEMOV (antiga SEMOPI), da Secretaria

Municipal de Habitação, Regularização Fundiária e Projetos Estruturantes – SEHARPE, da

Companhia de Águas e Esgotos do estado do Rio Grande do Norte – CAERN, os moradores

da comunidade que tiveram suas casas totalmente destruídas pelo desastre e os professores

coordenadores do Projeto Mãe Luíza (Sem) Desastres da UFRN.

Page 87: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

87

FIGURA 16: Audiência Pública no Ministério Público de Natal (Acervo do GREPE, 2015).

O objetivo da audiência foi informar aos órgãos presentes as conclusões dos

promotores quanto à responsabilidade pelo desastre ocorrido no bairro em junho de 2014,

além de apontar as medidas que ainda deveriam ser tomadas por parte do município e da

CAERN e ouvir dos moradores presentes os problemas que ainda permanecem no local, em

virtude do desastre e considerando o fato do bairro ser conhecido como área de risco (PMRR,

2008).

Na ocasião, a SEMOV apresentou uma planta contendo o “Projeto Básico de

Drenagem de Águas Pluviais” para prevenir novo desmonte hidráulico na Avenida

Guanabara, Rua Atalaia e Avenida Gov. Silvio Pedrosa. Além disso, os representantes da

SEHARPE informaram que ainda existiam 73 casas afetadas pelo desastre em Mãe Luíza, das

quais 26 serão totalmente reconstruídas e 47 recuperadas.

A respeito disso, a comunidade apresentou o “Mapa das Casas Destruídas pelo

Desastre” (Apêndice 1) que foi elaborado pela representante dos moradores em conjunto com

os membros do Projeto Mãe Luíza (Sem) Desastres. O mapa colaborou com a interpretação

dos Promotores e demais participantes a respeito da localização das casas e das famílias que

tiveram as casas destruídas. No mapa constam 19 terrenos (pertencentes a 19 proprietários),

Page 88: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

88

alguns dos quais contendo mais de uma casa, onde residiam as famílias. No total, foram 26

famílias desabrigadas.

Diante do questionamento dos participantes da audiência sobre o fato de haver

processos administrativos individuais para a reconstrução ou recuperação das casas foi

avaliado por todos os presentes a necessidade de avaliar detalhadamente a situação

individualizada de cada imóvel e família atingido. Sendo assim, a promotoria definiu que a

SEHARPE ficou de encaminhar até o dia 10 de janeiro de 2016 as cópias dos processos

administrativos individualizados existentes na secretaria. O Ministério Público ficou

responsável por realizar a individualização dos casos para compreender a situação fática de

cada caso, indivíduo/família.

No mesmo dia os moradores informaram que a prefeitura estava atrasando, com

frequência, o pagamento do auxílio moradia para as pessoas que foram desabrigadas. A

respeito disto, os representantes da SEHARPE informaram que esse fator precisaria ser

tratado com o setor financeiro da secretaria. Os coordenadores do Projeto Mãe Luíza (Sem)

Desastres da UFRN aproveitaram para relatar os trabalhos desenvolvidos por este projeto,

juntamente com outras instituições e os próprios moradores, com o objetivo de contribuir para

a prevenção de desastres e melhoria da resiliência na cidade do Natal, em especial no bairro

de Mãe Luíza.

4.6 Instrução da Demanda

A Instrução da Demanda é uma etapa da Análise Ergonômica do Trabalho-AET que

objetiva tornar mais claras as finalidades do estudo a ser desenvolvido. Nessa etapa as

demandas a serem analisadas são melhores definidas. Para isso, o ergonomista deve, além de

considerar os problemas apresentados, “detectar a natureza dos outros problemas potenciais,

interrogando-se sobre o grau de importância daqueles que foram apontados, e reformular a

demanda inicial numa problemática de natureza ergonômica, centrada na atividade de

trabalho” (GUÉRIN et al, 2001, p. 89). “A instrução da demanda permite clarificar as

finalidades do estudo ergonômico, objeto de um contrato que vincule o praticante de

ergonomia à organização” (VIDAL, 2008, p. 36).

Page 89: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

89

A instrução da demanda desta pesquisa teve como base inicial a pesquisa exploratória

em fontes bibliográficas, para identificar possíveis problemas referentes à gestão dos riscos de

desastres e a sugestão apresentada pelo orientador desta pesquisa sobre possíveis problemas

que poderiam influenciar o nível de resiliência da gestão de riscos de desastres, em função da

existência (ou não) e da qualidade da participação e das ações de solidariedade e de

cooperação levado à cabo pela população em decorrência da ocorrência do desastre em uma

comunidade.

Posteriormente à ocorrência do desastre no bairro de Mãe Luíza, participando das

reuniões comunitárias que tratavam do desastre e das providências para reparação dos danos,

identificaram-se diversos problemas que sugeriam as respectivas demandas.

Dentre os diversos problemas identificados até então e recorrentes, escolheu-se como

demanda de pesquisa “identificar e analisar as ações de solidariedade realizadas pelos

membros da comunidade em decorrência do desastre no Bairro de Mãe Luíza e estabelecer a

relação que existe entre estas ações e a resiliência comunitária, bem como da resiliência

global do sistema de gestão de riscos de desastres no tocante ao referido desastre”. Trata-se,

portanto, de uma demanda ergonômica provocada (CARVALHO & SALDANHA, 2001), que

foi negociada com a comunidade afetada pelo desastre, através do “coletivo de moradores

afetados pelo desastre” de Mãe Luíza.

4.7 Trabalho de Campo: Estudo de Caso

O estudo de caso teve como objetivo identificar, com os moradores afetados pelo

desastre, as ações de solidariedade praticadas, recebidas ou testemunhadas por eles antes,

durante e depois do desastre, visando analisá-las e destacar as ações que poderiam ser

estimuladas pelos órgãos de gestão de riscos e desastres, exercitadas durante os exercícios

simulados de preparação para resposta a desastre e praticadas pela comunidade vulnerável a

desastres no dia a dia, no pré-desastre, durante o desastre e no pós-desastre.

O presente estudo de caso dividiu-se em três momentos. Em primeiro lugar foi

aplicado um questionário socioeconômico com as famílias que tiveram as casas totalmente

destruídas. Em segundo foram realizadas conversações individuais com os membros da

comunidade que tiveram as casas totalmente destruídas e danificadas e que praticaram, foram

beneficiados ou testemunharam ações de solidariedade antes, durante e depois do desastre.

Page 90: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

90

Por ultimo, foi aplicado um roteiro de conversação individual com o Secretário Adjunto de

Defesa Civil no município de Natal.

4.7.1Coleta de Dados e Instrumentos

a) Entrevista Individual – Perfil Socioeconômico

Consistiu na aplicação de um Questionário Socioeconômico (Apêndice 2) com 15

famílias que tiveram suas casas totalmente destruídas pelo desastre. A aplicação do

questionário ocorreu nas residências (alugadas, cedidas ou de familiares) dos próprios

entrevistados e objetivou identificar quem são estas famílias, qual o sexo, a idade, a

escolaridade e estado civil de todos os seus membros, bem como a ocupação ou atividade

remunerada que exercem e se apresentam limitações físicas ou metais.

O motivo pelo qual das 26 famílias que tiveram suas casas caídas só foram entrevistas

15 deve-se aos seguintes fatores: 7 famílias eram inquilinas e após o desastre se mudaram

para outras localidades não deixando novo endereço ou contanto na comunidade; 2 famílias

optaram por não participarem da pesquisa; 2 famílias não chegaram a ser entrevistadas por

causa do tempo exíguo.

b) Conversações Individuais com os Membros da Comunidade

Consistiu na aplicação de um Roteiro de Conversação Individual (Apêndice 3) com os

membros da comunidade que tiveram as casas totalmente destruídas e danificadas e que

praticaram, foram beneficiados ou testemunharam ações de solidariedade antes, durante e

depois do desastre. O objetivo da conversação foi o de identificar quais as ações de

solidariedade que foram realizadas, o que motivou estas ações, a percepção dos moradores

sobre a importância ou não destas ações, entre outros. Assim como a aplicação do

questionário socioeconômico (Apêndice 2) as conservações individuais ocorreram nas

residências (alugadas, cedidas ou de familiares) dos próprios entrevistados.

c) Conversação com o Secretário Adjunto de Defesa Civil de Natal

Consistiu na aplicação de um Roteiro Conversacional (Apêndice 4) com o Secretário

Adjunto de Defesa Civil do município de Natal. A conversação ocorreu na Secretaria

Page 91: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

91

Municipal de Segurança Pública e Defesa Social – SEMDES e teve como objetivo identificar

qual a opinião do Secretário Adjunto sobre as ações de Solidariedade realizadas pelos

moradores, se estas contribuem ou não para o trabalho da Defesa Civil e se existem projetos

na SEMDES que visam aproveitar as ações realizadas na comunidade em questão e na cidade

do Natal como um todo.

4.7.2 Tratamento de Dados

A partir do tratamento dos relatos provenientes das conversações individuais foram

identificadas e tipificadas (classificadas) as ações de solidariedade realizadas pela

comunidade, seguindo-se as etapas da gestão de riscos de desastre, tomando-se como base o

modelo proposto no Texto de Referência elaborado pela Defesa Civil do Brasil após a 2º

Conferência Nacional de Proteção e Defesa Civil (Brasil, 2013), já apresentado no capítulo 3

(item 3.2.1) desta dissertação. Este modelo de referência foi modificado, conforme o esquema

proposto (Figura 17) a seguir.

FIGURA 17: Esquematização Proposta das Etapas da Gestão dos Riscos de Desastre (adaptado de Brasil, 2013,

p. 16).

O esquema proposto está baseado na definição de cada etapa da gestão de riscos de

desastres conforme apresentado, também, no capítulo 3 (item 3.2.1) desta pesquisa e

considera, assim como retrata o texto de referência da defesa civil do Brasil, que a gestão dos

riscos de desastres está organizada dentro de uma linha do tempo que leva em consideração a

ocorrência do desastre. Diferentemente do que é definido pela EIRD (2004; 2009) e pelo texto

Page 92: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

92

de referência (Brasil, 2013) a esquematização proposta por esta pesquisa acredita que a gestão

dos riscos de desastres está organizada entre as etapas de prevenção, preparação, mobilização,

resposta/socorro e recuperação (restabelecimento e reconstrução).

Conforme apresenta o esquema, a mitigação deixa de ser entendida como uma etapa

da gestão de riscos de desastres e passa a ser considerada como sendo um conjunto de ações

mitigatórias presentes em todas as etapas, com exceção da etapa de prevenção. Isso ocorre

porque a etapa de prevenção objetiva a eliminação dos riscos. Sendo assim, quando não existe

a possibilidade de se eliminar todos os riscos, faz-se necessário executar as atividades

referentes às outras etapas, cujos objetivos estão concentrados, sobretudo, na redução dos

riscos e, consequentemente, dos impactos que um possível desastre pode causar.

Esta esquematização inspirou a elaboração das tabelas dispostas nos Apêndices 5 e 6

desta dissertação que serviram para a tabulação das ações de solidariedade realizadas antes,

durante e depois do desastre. A tabela disposta no Apêndice 5 foi usada com o intuito apenas

de “filtrar” os relatos mais importantes e que foram mais bem tabulados na Tabela

correspondente ao Apêndice 5, onde as ações de solidariedade realizadas ou testemunhadas

pelos moradores (coluna 3) foram tipificadas / classificadas (coluna 2).

Nesta mesma tabela foi tabulado o vínculo social entre as pessoas promovedoras das

ações de solidariedade e os favorecidos (coluna 4 ) e o percentual de cada tipo de vínculo

(coluna ), o sucesso das ações frente aos seus objetivos (coluna 6 ), o número de pessoas que

mencionaram cada uma das ações (coluna 7) – e seus respectivos percentuais (coluna 8). Já a

tabela correspondente ao Apêndice 7 desta pesquisa foi usada para o tratamento dos relatos

dos moradores referente aos outros tópicos discutidos durante as conversações individuais e

que serão apresentados no próximo capítulo.

O Apêndice 8 da pesquisa foi utilizado para o tratamento dos relatos resultantes da

conversação com o Secretário Adjunto de Defesa Civil do município.

4.7.3 Restituição e Validação (R&V)

Foram realizadas sessões de restituição e de validação junto aos membros da

comunidade, da seguinte forma:

Page 93: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

93

a) dos dados coletados (obtidos da aplicação dos questionários, conversações e sessões

coletivas e das observações das reuniões dos moradores) para a apreciação e validação por

parte dos sujeitos da pesquisa, mediante a realização de sessões coletivas (com os moradores)

e individual (com o Secretário Adjunto).

b) de proposições para a melhoria da resiliência comunitária, em termos de estímulo à

prática e fortalecimento sistemático de ações de solidariedade a serem levadas a cabo pelos

moradores dos bairros vulneráveis ao desastre e pelos órgãos de gestão de risco e desastre.

O momento da restituição e validação dentro do processo da Análise Ergonômica do

Trabalho representa o momento de devolução e confrontação dos dados coletados durante a

pesquisa, das análises realizadas e das proposições de melhoria junto aos sujeitos observados,

cabendo a estes atestarem “se os resultados obtidos correspondem à realidade” (VIDAL,

2008) e se e o que aprovam.

Nesta pesquisa, a validação e restituição se deu a partir da apresentação, aos sujeitos

de pesquisa, de slides com os registros: de algumas falas destes de pesquisa, sobre as ações de

solidariedade recebida, testemunhada e realizada; dos resultados dos dados sócio-

demográficos; das análises; e das proposições de melhoria da resiliência comunitária frente

aos riscos e desastres, a partir da potencialização das práticas de ações de solidariedade

pertinentes, nos bairros vulnerável a desastres.

4.8 Matriz de Materiais e Métodos da Pesquisa

A matriz de materiais e métodos, ilustrada no Quadro 7, a seguir, resume as atividades

desta pesquisa, levando em consideração a fonte ou local da pesquisa, objetivo de cada

atividade, a abordagem, os métodos e materiais utilizados e os participantes.

Page 94: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

94

TABELA 7: Matriz de Materiais e Métodos da Pesquisa.

Matriz de Materiais e Métodos da Pesquisa

ETAPA DA

PESQUISA FONTE OU

LOCAL DOS

DADOS OU DAS

INFORMAÇÕES

COLETADAS

OBJETIVO ABORDAGEM MÉTODO

APLICADO MATERIAIS

APLICADOS PARTICIPANTES ENQUADRAMENTO

LEGISLATIVO/NORMATIVO

Revisão

Bibliográfica

Artigos,

Científicos,

Livros.

Biblioteca,

Base de dados

da rede mundial

de

computadores.

Realizar uma

revisão da

literatura

sobre

participação,

ações de

solidariedad

e e

cooperação

praticadas

pelos

membros das

comunidades

afetadas por

desastres;

Desenvolver

o referencial

teórico.

Qualitativa Pesquisa

Bibliográfica

Bloco de

Anotações;

Caneta;

Computador

Pesquisadora _

Page 95: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

95

Pesquisa de

Campo: Coleta

dos Dados

- Questionário

Socioeconômico

;

- Conversações

Individuais.

Bairro de Mãe

Luíza

Levantar

dados e

informações

sobre o

desastre

ocorrido no

bairro de

Mãe Luíza e

identificar

quais as

ações

solidárias e

participativa

s

desenvolvida

s pelos

moradores

antes,

durante e

depois do

desastre.

Levantar

dados

socioeconôm

icos;

Qualitativa Métodos

Observacion

ais e

Interacionais

;

Filmadoras;

Câmera

Fotográfica;

Bloco de

Notas;

Caneta.

Apêndice 2,

3 e 4 desta

pesquisa.

Equipe do Projeto

Mãe Luíza (SEM)

Desastres; Morad

ores de Mãe

Luíza;

Funcionários do

Município de

Natal.

_

Page 96: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

96

Participação e

Registro das

Reuniões da

comunidade e de

agentes do

sistema local de

gestão dos riscos

de desastres

Parque da

Cidade; UFRN;

Mãe Luíza:

Escola, Igreja,

Casa de

Moradora

Registrar e

participar

das reuniões

desenvolvida

s pela

comunidade

Qualitativa Métodos

Observacion

ais e

Interacionais

;

Filmadoras;

Câmera

Fotográfica;

Bloco de

Notas;

Caneta.

Equipe do Projeto

Mãe Luíza (SEM)

Desastres e os

moradores de Mãe

Luíza _

Participação na

Audiência

Pública

Câmara

Municipal de

Natal

Registrar as

discussões e

deliberações

tomadas

pelos

vereadores

em virtude

do ocorrido

em Mãe

Luíza e das

demandas

apresentadas

pelos

moradores

Qualitativa Métodos

Observacion

ais;

Filmadoras;

Câmera

Fotográfica;

Bloco de

Notas;

Caneta.

Equipe do Projeto

Mãe Luíza (SEM)

Desastres, Morad

ores de Mãe Luíza,

Vereadores do

Município de

Natal, Jornalistas

da Imprensa

Local.

Lei nº 12.608/2012

Page 97: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

97

Organização,

realização e

participação no

II (SEM)

Desastres

UFRN Participar da

discussão a

respeito da

atuação,

eficácia e

fragilidades

dos órgãos

públicos e da

comunidade

afetada pelos

desastres, no

sentido de

contribuir

para o

fortalecimen

to da

resiliência

dos órgãos

de Proteção

e Defesa

Civil da

cidade de

Natal

Qualitativa Métodos

Observacion

ais e

Interacionais

;

Aparelho

Multimídia;

Filmadoras;

Computador

es; Câmeras

Fotográficas;

Bloco de

Notas;

Caneta.

Comunidade

Acadêmica:

Alunos e

Professores,

Funcionários da

SEMDES, SMS,

SEMTAS,

voluntários da

Cruz Vermelha,

Moradores de Mãe

Luíza e os

membros do

projeto Mãe Luíza

(SEM) Desastres

(Equipe

Organizadora do

Evento)

Lei nº 12.608/2012

Participação na

Audiência

Pública

Ministério

Público de

Natal

Registrar as

deliberações

e decisões

tomadas

pelos

promotores

de meio

ambiente em

virtude do

Qualitativa Métodos

Observacion

ais e

Interacionais

Câmera

Fotográfica,

Bloco de

Notas

Membros da

Comunidade que

foram afetados

pelo desastre,

Membros do

projeto Mãe Luíza

(sem) Desastres,

Promotores de

meio ambiente,

__

Page 98: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

98

ocorrido em

Mãe Luíza e

das

demandas

apresentadas

pelos

moradores

agentes da

SEHARPE e

SEMOV,

representantes da

CAERN.

Tratamento dos

Dados

GREPE Analisar os

dados

colhidos nos

questionário

s, nas

reuniões

comunitárias

, audiência

pública e

conversaçõe

s

individuais.

Qualitativa,

Quantitativa

Computador,

Programas

Estatísticos.

Equipe da

Pesquisa

_

Formulação de

Recomendações

_

Propor

recomendaç

ões que

possam

contribuir

para o

aumento da

resiliência

do bairro e

gestão

eficiente dos

riscos de

desastres

_ _ _ _ _

Page 99: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

99

Restituição e

Validação

Mãe Luíza Será feito

junto dos

moradores

no sentido

de reafirmar

os dados e

informações

colhidas na

fase de

coleta

_

Métodos

Interacionais

e

Observacion

ais

Filmadoras,

Câmera

Fotográfica,

Bloco de

Notas

Filmadoras,

Câmera

Fotográfica, Bloco

de Notas

_

Page 100: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

100

CAPÍTULO 5 – RESULTADOS E DISCUSSÕES

Este capítulo apresenta os resultados da pesquisa realizada no bairro de Mãe Luíza

após o desastre e está organizado visando discutir, inicialmente e de maneira geral, como se

deu a gestão dos riscos do desastre e quais foram as ações e estratégias assumidas pela

comunidade. Posteriormente, de maneira mais específica, serão apresentadas as análises do

levantamento socioeconômico realizado com 15 famílias e das conversações individuais

realizadas com 23 pessoas, a respeito das ações de solidariedade realizadas pelos moradores.

5.1 Perfil Socioeconômico das Famílias Afetadas pelo Desastre

Das 26 famílias que tiveram suas casas totalmente destruídas, 15 foram entrevistadas,

correspondendo ao total de 45 pessoas. Deste total (45 pessoas), 48,88% é do sexo feminino e

51,11% do sexo masculino, conforme é apresentado na Figura 18. No que se refere ao estado

civil constatou-se que 60% são solteiros, 31,11% são casados, 6,66% são viúvos e 2,22% são

divorciados (Figura 19).

FIGURA 18: Gênero Sexual dos Membros das Famílias que Tiveram as Casas Destruídas pelo Desastre

(FONTE: Pesquisa De Campo).

48,88% 51,11%

Feminino

Masculino

Page 101: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

101

FIGURA 19: Estado Civil dos Membros das Famílias que Tiveram as Casas Destruídas pelo Desastre (FONTE:

Pesquisa De Campo).

Quanto à faixa etária, 6,66% dos moradores possuem entre 0 a 4 anos. Índice que se

repete para os moradores entre 35 a 39 anos, 40 a 44 anos, 55 a 59 anos e 60 a 64 anos. Já as

pessoas entre 10 a 14 anos, 25 a 29 anos, 74 a 79 anos e 90 a 94 anos representaram o índice

de 4,44 %, cada. 8,88% das pessoas possuem entre 15 a 19 anos. 17,77% possuem entre 20 a

24 anos, representando a maioria da população entrevistada (Figura 20). 11,11% possuem

entre 45 a 49 anos. As pessoas entre 5 a 9 anos, 30 a 34 anos, 50 a 54 anos, 70 a 74 anos e 80

a 84 anos apresentaram o índice de 2,22%, cada. Das pessoas com maior vulnerabilidade, ou

seja, idosos, portadores de deficiência, crianças e adolescentes, que participaram da pesquisa,

8 são idosos entre 61 e 100 anos, mas apenas 3 disseram ter mobilidade reduzida; 1 pessoa é

cadeirante, e; 9 são crianças e adolescentes, sendo que 3 destes são crianças de colo.

60%

31,11%

2,22%

6,66%

Solteiro(a)

Casado(a)

Divorciado(a)

Viúvo(a)

Page 102: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

102

FIGURA 20: Faixa Etária dos Membros das Famílias que Tiveram as Casas Destruídas pelo Desastre (FONTE:

Pesquisa De Campo).

Com relação ao nível de escolaridade (Figura 21), 13,33% dos moradores são

analfabetos e 2,22% cursaram apenas a pré-escola. O mesmo índice foi verificado entre as

pessoas que possuem o ensino técnico subsequente. As pessoas que possuem o ensino

superior incompleto, o ensino médio incompleto e o ensino fundamental 1 completo

representaram valor equivalente a 4,44%, respectivamente. 15,55% possui o ensino

fundamental 2 incompleto, 20% possui o ensino médio e 22,22% o ensino fundamental 1

incompleto.

6,66%

2,22%

4,44%

8,88%

17,77%

4,44% 2,22%

6,66% 6,66%

11,11%

2,22%

6,66%

6,66%

2,22% 4,44%

2,22% 4,44% 0 - 4 anos5- 9 anos10 - 14 anos15 - 19 anos20 - 24 anos25 - 29 anos30 - 34 anos35 - 39 anos40 - 44 anos45 - 49 anos50 - 54anos55 - 59 anos60 - 64 anos65 - 69 anos70 - 74 anos75 - 79 anos80 - 84 anos85 - 89 anos90 - 94 anos95 - 99 anosmais de 100 anos

Page 103: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

103

FIGURA 21: Nível de Escolaridade dos Membros das Famílias que Tiveram as Casas Destruídas pelo Desastre

(FONTE: Pesquisa De Campo).

No que diz respeito a renda familiar mensal antes do desastre (Figura 22), verificou-se

que 66,66% recebiam entre 1 e 2 salários mínimos, 20% recebiam entre ½ e 1 salário mínimo

e 13,33% recebiam de 2 e 3 salários mínimos. Contudo, depois do desastre, 6,66% das

famílias passaram a não contar com renda mensal nenhuma, o que pode ser justificado pelo

fato que alguns moradores eram comerciantes e perderam suas mercadorias juntamente com a

casa durante o desastre no bairro. 33,33% das famílias passaram entre ½ e 1 salário mínimo,

53,33% recebem de 1 e 2 salários mínimos e 6,66% de 2 e 3 salários mínimos (Figura 23).

13,33% 2,22%

22,22%

4,44% 15,55%

11,11%

4,44%

20,00%

2,22% 4,44%

Analfabeto

Pré-escola

Ensino fundamental 1 incompleto

Ensino fundamental 1 completo

Ensino fundamental 2 incompleto

Ensino fundamental 2 completo

Ensino médio incompleto

Ensino médio completo

Ensino técnico subsequente

Superior incompleto

Page 104: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

104

FIGURA 22: Renda Mensal Familiar Antes da Ocorrência do Desastre (FONTE: Pesquisa De Campo).

FIGURA 23: Renda Mensal Familiar Depois da Ocorrência do Desastre (FONTE: Pesquisa De Campo).

Com relação à situação de moradia das famílias entrevistadas (Figura 2), sabe-se que,

antes do desastre, 73,33% moravam em casas próprias, 20% em casas alugadas e 6,66% em

casas cedidas. Depois do desastre, porém, foi para 60% o percentual das famílias que

passaram a residir em casas alugadas e 40% passaram a morar na casa de familiares (Figura

25).

20%

66,66%

13,33%

1/2 - 1 salário mínimo

1 -2 salários mínimos

2 - 3 salários mínimos

6,66%

33,33%

53,33%

6,66%

0 salário mínimo

1/2 - 1 salário mínimo

1 -2 salários mínimos

2 - 3 salários mínimos

Page 105: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

105

FIGURA 24: Situação das Residências Antes da Ocorrência do Desastre (FONTE: Pesquisa De Campo).

FIGURA 25: Situação das Residências Depois da Ocorrência do Desastre (FONTE: Pesquisa De Campo).

Observa-se a partir das análises do perfil socioeconômico das famílias afetadas pelo

desastre, que os moradores apresentam idades bem variadas, embora os jovens entre 20 e 24

representem a maioria dos afetados. O nível de escolaridade é razoavelmente baixo, bem

como a renda familiar mensal. Estes resultados concordam com o histórico do bairro, tido

como um dos mais vulneráveis socioeconomicamente da cidade do Natal.

73,33%

20,00%

6,66%

Própria

Alugada

Cedida

60,00%

40%

Alugada

Com parentes

Page 106: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

106

5.2 Evidências de Participação e Envolvimento dos Membros do Bairro de Mãe Luíza

Antes do Desastre: a Prevenção e a Mitigação dos Riscos de Desastres no Bairro.

5.2.1 Em 2011

A partir dos relatos dos moradores é possível observar que a comunidade de Mãe

Luíza tem, desde 2011, recorrido ao órgão de Proteção a Defesa Civil Municipal e a outros

órgãos do município, como a Secretaria Municipal de Obras Públicas e Infraestrutura –

SEMOV (antiga SEMOPI) e Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana – SEMOB,

para informar e solicitar providências a respeito dos riscos de desastres existentes no bairro.

Em um dos relatos o(a) morador(a) menciona que o secretário da Defesa Civil foi

informado sobre os riscos existentes no bairro, tendo prometido ir pessoalmente ao bairro

verificá-los, mas não cumpriu a promessa. O(a) morador(a) ainda acrescentou que os riscos

existentes no bairro foram mostrados ao funcionário da Secretaria Municipal de Obras e

Viação – SEMOV que, segundo o(a) morador(a), “não deu nenhuma atenção”, conforme

transcrição do seguinte relato:

Morador (a) 20: “[...] Desde de 2011 a gente já vinha alertando o pessoal da

Defesa Civil. Já estavam tudo sabendo e a gente já tinha alertado sobre isso,

já tinha alertado o secretário e ele ‘vou hoje’, ‘vou amanhã’, e não apareceu.

A SEMOPI (SEMOV) veio e eu mostrei pra tudim. Não deu uma mínima

atenção!!”.

5.2.2 Em 2014, Antes do Desastre de 14 de Junho

Em 2014 os problemas existentes na comunidade se agravaram. Os moradores

relataram que a escadaria (Figura 26) que eles usavam para acessar a praia de Areia Preta e o

ponto de ônibus, apresentava riscos há bastante tempo e veio a piorar com os vazamentos

provenientes dos rompimentos na tubulação de água limpa administrada pela Companhia de

Águas e Esgoto do Rio Grande do Norte – CAERN. Por esta razão, a população passou a

temer a utilização da escadaria que já apresentava rachaduras e riscos de desabamento,

conforme ilustra o seguinte relato:

Morador(a) 22: “[...] aí foi quando o período de chuva foi aumentano,

aumentano. É inclusive no dia que... dias antes da chuva apertar o…

começou lá o bueiro obstruído, aí começou a vazar, aí a parte da calçada lá

da passarela (Escadaria) arriar. Eu ainda cheguei, isolei lá com umas tábua.

Aí ligaro, o pessoal vinhero, só fizero fotografar e foro embora. Aí a coisa

agravando, aí a chuva começou, o período de chuva aumentou, aumentou, aí

Page 107: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

107

foi quando foi aquela coisa e quando eles quizero combater num pudero

mais que tudo num tinha mais controle... a situação”.

FIGURA 26: Escadaria de Mãe Luíza Antes do Desastre de Junho de 2014 – Antes do Desastre

(https://www.google.com.br/maps, 2012).

No mesmo ano as fortes chuvas agravaram ainda mais a situação. De acordo com os

moradores, no dia 5 de junho de 2014 a Defesa civil foi chamada ao bairro por causa de mais

rachaduras na escadaria e pela preocupação com a quantidade de água que passava por baixo

da Rua Guanabara (local do desastre) indo pela escadaria até a praia de Areia Preta. No dia 13

de junho a tubulação de água limpa veio a romper provocando o deslizamento de terra que fez

com que a parte superior da escadaria desabasse e provocou a formação de uma pequena

cratera na Rua Guanabara (Figura 27).

Page 108: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

108

FIGURA 27: Cratera Formada no Dia 13 de Junho na Rua Guanabara (Morador 5.1)

O deslizamento de terra ocasionado pelo rompimento da tubulação de água limpa

invadiu o asfalto de umas das principais vias de trânsito da cidade (Figura 28), soterrando

vários veículos que passavam pela via.

FIGURA 28: Foto da Avenida Governador Silvio Pedrosa no Dia 13 de junho de 2014 (Morador 5.1).

Page 109: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

109

5.2.3 O dia 14 de Junho de 2014: o Dia do Desastre

No dia 14 de junho a situação se intensificou bastante depois do rompimento da

tubulação de água servida e da pluvial. De acordo com os moradores, a parte da Rua

Guanabara que estava comprometida começou a cair por volta das 18h. A partir desse

momento, teve início o processo tardio de evacuação das pessoas, que saíram com a ajuda de

familiares e vizinhos e que imediatamente puderam assistir suas casas desabarem. As figuras

29 e 30 ilustram a Rua Guanabara antes e depois do desastre.

FIGURA 29: Rua Guanabara Antes do Desastre (https://www.google.com.br/maps, 2012).

FIGURA 30: Rua Guanabara Depois do Desastre (SUEST/RN, 2014).

Page 110: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

110

É importante destacar que, além das casas que ficavam situadas na Rua Guanabara,

também desabaram as casas localizadas no Beco do Curral, que ligava a Rua Guanabara à

Rua Atalaia. As Figuras 31 e 32 ilustram o Beco do Curral (como é chamado pelos

moradores) antes e depois do desastre.

FIGURA 31: Beco do Curral Antes do Desastre (https://www.google.com.br/maps, 2012).

Page 111: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

111

FIGURA 32: Beco do Curral e Rua Guanabara Depois do Desastre (Gabriel Azevedo, 2014).

Observa-se, a partir dos relatos dos moradores entrevistados, que os agentes de

Proteção e Defesa Civil passaram em algumas casas situadas na Rua Guanabara três dias

antes da ocorrência do desastre para alertar os moradores sobre a existência dos riscos de

desabamento. Contudo, o aviso de alerta ficou restrito às pessoas que moravam na frente da

escadaria. O mesmo acontecendo com relação à comunicação de evacuação das áreas de risco.

Com isso, uma parcela significativa das famílias que residiam na rua Guanabara e no beco do

curral e que tiveram suas casas totalmente destruídas não foi avisada sobre os riscos e sobre a

necessidade de saírem de suas casas imediatamente (ainda no dia 14 de junho).

Numa conversação com o Secretário Adjunto da Secretaria Municipal de Proteção e

Defesa Civil, ele justificou a falha na comunicação de alerta e de evacuação informando que a

Defesa Civil não imaginava que o desastre fosse acontecer e, ainda por cima, na proporção

que ocorreu, conforme ilustra o seguinte relato:

Secretário Adjunto: “Porque a gente achava que só ia vim ali né? Não

achava que ia ser aquilo né?! E, à medida que foi se agravando é que a gente

foi aumentando esse raio de ação”.

Os moradores falaram a respeito da atuação de outras Secretarias Municipais, como a

SEMOV, e do Governo do Estado durante e depois do desastre ocorrido no bairro.

Page 112: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

112

Morador (a) 2: “Rapaz eu não sei. Não sei dizer não sabe?! Eu sei que esses

(Defesa Civil) passaram avisando né?! Avisando que talvez aquilo dali

(cratera) pudesse subir mais pra cima né?!”.

Morador (a) 3: “Não, eu achei muito... muito fraca. [...] Em todos os níveis!!

Erraram muito... a prefeitura errou muito! SEMOPI (Atual SEMOV) não fez

nada pra evitar esse desastre [...]. A gente precisava chegar e perguntar o que

é que vai fazer aqui, e eles não fizeram nada que tava na copa né?! E não

queriam mexer... na... na via... na via costeira”.

Morador (a) 20: “[...] eles (Defesa Civil e outros agentes da prefeitura) não

estavam preparados de forma nenhuma! Eles não estavam preparados por

que... até porque tinha algumas pessoas que ignoravam as lideranças

(comunitárias), essas pessoas que tavam lá, né?! Ignorava a gente!! Não

queriam ouvir a opinião da gente”.

Morador (a) 9: “Mulher, eu senti falta assim... deles (Defesa Civil e outros

agentes da prefeitura) ser mais ágil. De dá prioridade, né?!”.

Morador (a) 22: “Depois do desastre a gente começô a procurar as

autoridade competente e batêmo nas porta pra vê o que era que ia dá. Sem

é… sem retorno algum. Cada secretaria que a gente ía empurrava a gente pá

ôta secretaria e ficava naquele jogo de… de vai pra lá que num é aqui que

resolve é nôto setor. Até quando a gente procurô, foi quando o prefeito vêi

aí, eu procurei conversar com ele, a gente marcou uma reunião [...]. Aí a

gente juntô um pequeno grupo de pessoas e foi pá prefeitura lá. Mas também

num teve, no momento num teve tanta atenção por parte dele não, porque

quando a gente dizia que o culpado era eles, eles dizia que o culpado era o

governo do Estado... que tava alegano que tinha sido a CAERN, né?! Que o

problema alí num era deles, aí foi quando a gente começô a butá pra frente

pra vê o pessoal da promotoria... começô a investigá e agora a pôco tempo,

né?! Saiu a sentença aí! Mas em momento algum a gente teve apoio nenhum

de...Prefeitura, nem de Governo de Estado. Em momento algum!!

Face à insuficiência do órgão municipal de Proteção e Defesa Civil e demais órgãos da

Prefeitura e do Governo do Estado no amparo das famílias afetadas pelo desastre, os membros

da comunidade precisaram agir por conta própria e ajudarem seus familiares e vizinhos nas

etapas referentes á gestão dos riscos de desastres. O próximo item tratará das ações de

solidariedade realizadas ou testemunhadas pelos membros da comunidade antes, durante e

depois do desastre que foram relatadas por eles durante as conversações individuais.

Page 113: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

113

5.3 Ações de Solidariedade Realizadas ou Testemunhadas Pelos Membros da

Comunidade de Mãe Luíza em Decorrência do Desastre Ocorrido no Bairro

.

Este item diz respeito aos resultados obtidos a partir das conversações realizadas

individualmente, com 22 membros do bairro de Mãe Luíza, afetados pelo desastre. Os

resultados são referente as ações de solidariedade realizadas ou testemunhadas por estas

pessoas, antes, durante e depois do desastre ocorrido em junho de 2014 no referido bairro.

Para efeito de resultado, consideraremos como 100% a totalidade das pessoas que

participaram das conversações individuais (22 moradores), conforme já explicado no capítulo

de metodologia.

As ações relatadas pelos moradores foram tipificadas levando em consideração os

conceitos definidos no capítulo 3 e organizadas de acordo com as etapas da gestão de riscos

de desastres proposta no capítulo anterior. Sendo assim, constatou-se, por meio das

conversações individuais, que das 22 (100%) pessoas entrevistadas nenhuma relatou ações de

solidariedade praticadas nas etapas de prevenção e preparação. 8,7% das pessoas relataram

ações de solidariedade realizadas ou testemunhadas na etapa de mobilização, 100% relataram

ações de solidariedade realizadas na etapa de resposta e nenhuma relatou ação de

solidariedade praticada ou testemunhada na etapa de recuperação.

Foram identificados 59 (100%) relatos referentes às ações de solidariedade que foram

realizadas ou testemunhadas pelos moradores. As ações relatadas como relacionadas às fases

de mobilização e resposta foram quantificadas levando em consideração a porcentagem de

vezes em que o tipo de ação praticada ou testemunhada foi relatada, a porcentagem por tipo

de vínculo social entre a pessoa que realizou a ação e a pessoa favorecida e se a ação relata foi

bem ou mal sucedida do ponto de vista dos próprios moradores.

Dentre os relatos identificados, 3,39% se referiram às ação de comunicação de alerta

na etapa de mobilização. As outras ações relatadas se referiram a ações de solidariedade que

ocorreram na etapa de resposta, sendo elas: comunicação de fuga (6,78%); fuga (1,69%);

resgate (6,78%); evacuação (6,78%); transporte (5,08%); abrigo (23,73%); doações (de água,

dinheiro, alimento, roupa, material de higiene, dentre outro) (22,03%); empréstimos (3,39%);

resgate de bens e materiais (13,56%); improvisos para o desvio da água da chuva (1,69%) e

apoio psicológico (5,08%) (Figura 33).

Page 114: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

114

FIGURA 33: Ações de Solidariedade Relatadas na Etapa de Mobilização e Resposta (Pesquisa de Campo).

Quanto ao tipo de vínculo social estabelecido entre o autor da ação de solidariedade e

o favorecido por cada ação, tem-se que 33,98% das ações ocorreram entre pessoas da mesma

família. Já 66,1% das ações relatadas ocorreram entre vizinhos e pessoas do mesmo bairro

(Figura 34). Além das ações de solidariedade listadas na Figura 33, houveram relatos sobre

ações de solidariedade realizadas por pessoas de outras comunidades, cidades e até de outros

estados do Brasil, no entanto, estas ações não foram consideradas, uma vez que não

constituem os objetivos desta pesquisa.

3,39%

6,78% 1,69%

6,78%

6,78%

5,08%

23,73%

22,03%

3,39%

13,56%

1,69%

5,08%

Comunicação de alerta

Comunicação de fuga

Fuga

Resgate

Evacuação

Transporte

Abrigo

Doações

Empréstimos

Resgate de bens materiais

Improvisos para o desvio da água da

chuva

Apoio psicológico

Page 115: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

115

Figura 34: Tipo de Vínculo Social Estabelecido entre os Atores das Ações de Solidariedade e as Pessoas

Favorecidas por Elas (Pesquisa De Campo).

Apesar de não terem sido relatadas ações de solidariedade realizadas na etapa de

recuperação, pode-se dizer que durante a pesquisa, mais precisamente durante a participação

nas reuniões realizadas na comunidade, algumas ações de solidariedade foram observadas

durante a realização desta etapa, embora não se tratassem apenas de ações propriamente de

recuperação, tais como: doação de alimento, doação de dinheiro, doação de passagens de

ônibus, pessoas que deram orientações de como seus vizinhos também afetados precisavam

agir diante de alguns problemas e outras que levaram estas pessoas ao local onde poderiam ser

atendidas. A Figura 35 ilustra dois moradores fazendo a manutenção da lona colocada pra

evitar a infiltração de água da chuva e para prevenir novos deslizamentos.

FIGURA 35: Moradores Agindo Solidariamente na Fase de Recuperação (Morador da Comunidade).

33,89%

66,10%

Familiar

Comunitário

Page 116: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

116

O tratamento dos dados coletados também considerou a opinião dos entrevistados

sobre o sucesso ou não das ações relatadas e, segundo as 22 pessoas entrevistadas (100%),

todas as ações de solidariedade obtiveram sucesso, já que o objetivo de todos foi garantir que

a pessoa ajudada não tivesse danos maiores. Há quem considere inclusive que o fato de o

desastre não ter ocasionado vítimas fatais deveu-se à união e atuação dos próprios moradores

na fase de resposta e, mais especificamente, no resgate e evacuação das pessoas de dentro

suas casas.

Morador (a) 4: “Era todo tempo eles (Defesa Civil) dizêno – ‘Num teve nem

uma vida’. Como se fosse mérito deles. Mas num foi! A minha família

mermo, tinha cadeirante, tinha idoso, mas só quem tirou, quem cuidou de

tirar era nós. Ele (Morador 14) disse que saiu com a cadeira de rodas... era

ele descendo e as escadaria acompanhando atrás, entendeu como é a

situação? E o aguaceiro que num parava e a chuva. E assim, eu acho assim,

que foi uma solidariedade da comunidade ter ajudado”.

Morador (a) 21: “[...] o objetivo era principalmente salvar a vida né?! A

gente fez isso muito bem! Acho que sem eles mesmo a gente teria

conseguido. Até porque como a gente é ali, embora o bairro seja conhecido

como muito violento... tal, mas aquele setor ali a gente é unido”.

Morador (a) 22: “É, não houve morte por que a gente é... a gente foi… a

gente fomos ágeis. A gente quando viu a situação se agravá... [...] Se num

fosse a.. os próprios moradores que tivesse corrêno para cima da coisa, a

coisa teria se agravado”.

Os moradores também foram perguntados sobre qual a compreensão que eles tinham

sobre o significado de solidariedade e sobre o que teria motivado as ações de solidariedade

realizadas ou testemunhadas por eles. Sobre o significado de solidariedade, os moradores

compreendem como sendo o seguinte:

Morador (a) 3: “é ajudar o próximo, é [...] ter piedade com as coisas que

podem ser resolvidas, é orientar as pessoas”.

Morador (a) 4:“Solidariedade é a gente não querer que aconteça com as

outras pessoas [...] aquilo que a gente não queria que acontecesse contra nós

também”.

Morador (a) 5: “Pra mim solidariedade é quando nós se dispomos a ajudar

aos outros né, independente de todas as coisas, é ser solidário, é participar da

dor do outro”.

Morador (a) 7: “Amor ao próximo! [...] Quando a pessoa ama a si mesmo,

ele ama ao outro, ao próximo. Aquilo que dói nele, dói no outro. Aquilo que

é bom pra ele, é bom para o outro. [...] Principalmente em questão (situação)

de emergência. Então, aí todas as coisas se acabam e o que vale é o amor ao

próximo, até mesmo arriscar a sua própria vida por isso”.

Page 117: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

117

Morador (a) 9: “Solidariedade pra mim é o pouco que você tem você saber

dividir. Não importa o quanto você tem, o tanto que você tem né?!”.

Morador (a) 13: “Rapaz, é você tá disposto a ajudar né e não ser influenciado

por ninguém. Você agir naquela hora... ser solidaria né?!”.

Morador(a) 21: “Solidariedade é ajudar. Tá sempre pronto pra ajudar,

sempre pronto né?!”.

De acordo com os moradores, as ações de solidariedade ocorrem espontaneamente e regidas

pelo sentimento de amor ao próximo e de compaixão para com o sofrimento do outro, acompanhado

pelo desejo de amenizar tal situação. No que diz respeito ao motivo pelo qual a pessoa teria

agido solidariamente, os moradores acreditam que o amor ao próximo é também o principal

motivo.

Morador(a) 2: “Acho que o amor! O amor que o pai tem pelo filho, e o filho

tem pela mãe, né?! [...] Eu acho que... naquele momento, aquele... aquele

negócio que deu (o desastre), ele (Morador 21) tinha que ficar mermo ativo,

né?! Tinha que sentir aquilo ali, porque ele (Morador 21) viu que realmente

o negócio ia a baixo, né?!”.

Morador(a) 4: “Meu amor, eu acho que foi o amor e a solidariedade.

Entendeu? Porque a gente assim, não mediu esforços de pensar e dizer –

‘Não, pode acontecer isso comigo ou uma casa cair por cima de mim’”.

Morador(a) 10: “Acho que é compaixão, né?! Amizade também, né?!”.

Morador(a) 12: “Amor, né?! Com certeza! Eu só pensei na minha família”.

Morador(a) 15: “O amor que eu tenho a minha mãe! Junto com ela, vixe...

faço qualquer coisa”.

Embora situações que causam perdas e sofrimento motivem as pessoas a agirem

espontaneamente e solidariamente no sentido de minimizar o sofrimento de outras, é

importante destacar que situações de alto risco como os desastres precisam que as pessoas

estejam conscientes dos possíveis impactos e preparadas para agir da maneira mais segura,

não arriscando a sua vida, nem a de seus familiares e vizinhos.

No que se refere ao caso de Mãe Luíza, os moradores disseram que, apesar da

existência dos riscos de desastres na comunidade, nenhum deles recebeu orientação ou

participou de capacitação promovida pelo órgão de Proteção e Defesa Civil municipal para

agir em situações desta natureza. Por consequência, os moradores agiram por conta própria,

sem a instrução ou conhecimento necessário para tal atividade.

Page 118: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

118

Morador (a) 4: “[...] foi só com a cara e a coragem e fé e Deus. Eu mermo

dizia – ‘Senhor, eu sei que eu tô com uma dor nas perna, mas o Senhor vai

me dá força [...]’”.

Morador (a) 6: “[...] foi ajuda espontânea [...]. Ninguém sabia de nada, se

alguém caísse não sei nem o que eles (Defesa Civil) faziam (risos)”.

Morador(a) 14: “eles (outros moradores) souberam se virar. Chegaram e com

a cara e a coragem, pegaram mesmo ( o cadeirante na cadeira de rodas) e

saíram levando. [...] Acho que não tinha (preparo) não, na hora do sufoco a

pessoa mete a cara mesmo e ajuda, do mesmo jeito eu faria se eu tivesse

numa situação boa, com certeza eu faria o mesmo”.

Alguns moradores falaram também sobre os fatores que dificultaram a realização das

ações de solidariedade já identificadas. Entre elas, o fato da energia ter sido cortada no

momento do desastre dificultou as ações de resgate e evacuação.

Morador(a) 4: “Dificuldade foi com a energia [...]. A gente tudo no escuro,

os postes caindo”.

Morador(a) 21: “A rapidez como aconteceu, [...], falta de energia, poste

caindo com energia elétrica, risco de choque, o buraco abrindo, aquela

correria”.

Ainda quanto às ações de solidariedade, tosos os moradores pesquisados informaram

que as ações realizadas ou testemunhadas por eles foram importantes e fundamentais no

resgate das vítimas, acolhimento e assistência.

Morador (a) 1: "Foi demais, porque eu não tinha nada. Só a roupa do corpo

e porque a mulher já me deu. Eu não consegui tirar nada (de dentro da casa

caída)”.

Morador (a) 2: Foi importante, né?! Porque abaixo de Deus, se não fosse

eles, né?!

Morador (a) 4: “A gente poderia ter feito mais, né?! Eu reconheço que a

gente poderia ter feito mais. Mas eu acho que foi importante, porque naquela

hora que a pessoa... que a pessoa tá precisando qualquer… Até um copo

d’água se você der vai ser de uma grande importância. Então, eu acho que

foi importante. Agora assim, eu achava que deveria tê tido mais ajuda dos

órgãos que são responsáveis”.

Morador (a) 9: “foi importante, porque se não fosse a ajuda do povo a gente

não tinha como fazer. Tinha perdido tudo!”.

Morador (a) 12: “Mãe Luiza todinha tê descido pra tirá as coisas de dentro

das casas foi muito bonito. Gente que você nunca viu. [...], a maioria das

coisas foram salvas devido àquelas pessoas que a gente nem conhece ter ido

lá e levado”.

Page 119: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

119

Morador (a) 13: Devido é... hoje eu ainda escuto comentário né de, de minha

sobrinha, a irmã dele, a minha filha [...]. Ela (Morador (a) 12) falou que

conversando sobre esse assunto ela se emociona, né?! E agradece [...] a

maneira que eu agi na hora, né?! Foi uma ação de imediato, uma coisa assim,

não tinha pra onde correr, né?! Porque pra lá (aponta na direção da cratera)

não dava pra ir [...]. Mas foi, sinceramente, pra mim... foi muito gratificante,

foi muito gratificante, eu ter podido naquela hora ali com a minha família,

sabe?! Assim... apoiar todo mundo assim”.

Morador (a) 14: “Porque se não fosse eles eu ainda tava... podia ter até

descido no buraco, né?!”.

Morador (a) 18: “Bom, pra mim é...eu acredito que foi né?! Eu trabalhei na

parte de salva-vida 22 anos e eu gostava muito de ajudar. [...] eu achei o

seguinte: que naquela hora eu tinha que fazer aquilo, né?! Porque eu vi que

ia acontecer mais acidente, então eu fazendo aquilo ali dava pra minimizar

os problema, né?!”.

Na opinião dos moradores pesquisados as pessoas aprendem a ser solidárias no

decorrer da vida, com a família, principalmente, com a igreja (religião), as escolas e a

comunidade em que vivem.

Morador (a) 1: “Aprende [...] ajudando as pessoa”.

Morador (a) 7: “Quando a pessoa nasce [...], o meio é que vai moldar essa

pessoa. Ninguém nasce sem juízo e nasce bom! Nasce com uma mente e um

coração. O que vai fazer o coração e mente dessa pessoa é o meio que ele

está, é a instrução que ele recebe. [...]. Então eu acho que a solidariedade é

pelo exemplo que tem em casa, é pelos pais, pela família e depois pelos os

vizinhos, e também pela a comunidade que tem [...]”.

Morador (a) 9: “[...] depende da criação dos pais, né? Depende da educação

que os pais dá aos filhos [...]”.

Morador (a) 14: “Porque vai devido o... é... vai devido a família, né?! Se a

família for solidária, com certeza a pessoa vai aprender a ser solidária né?!

Agora se não for, vai aprender a não ser, né?!”.

Morador(a) 21: “Com os pais, a religião e Deus”.

Perguntados sobre a concepção que eles tinham sobre o termo “resiliência

comunitária” e se as ações de solidariedade realizadas ou testemunhadas por eles poderiam

contribuir para o aumento da resiliência da comunidade frente aos riscos de desastres no

bairro. 86% dos moradores entrevistados responderam que nunca tinham ouvido falar no

Page 120: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

120

termo resiliência comunitária. 14% dos moradores já tinham ouvido falar no termo, mas não

sabiam o que significava.

Sendo assim, durante as conversações o termo resiliência comunitária foi explicado

aos moradores a partir do que foi verificado na pesquisa bibliográfica, de maneira que os

entrevistados pudessem entender que o termo está relacionado com a capacidade da

comunidade de antecipar, reconhecer, adaptar-se e aprender com variações, mudanças,

perturbações, rupturas e surpresas que possam causar danos humanos, materiais e ambientais.

A partir dessa explicação 85% dos moradores concordaram que as ações de solidariedade

realizadas pelos membros da comunidade contribuíram para aumentar a resiliência de Mãe

Luíza, uma vez que cada ajuda realizada ou recebida culminou no fortalecimento dos vínculos

sociais e minimizou os efeitos ou sofrimento provenientes do desastre. Os outros 15%

preferiram não se posicionar a respeito.

5.4 As Ações da SEMDES antes do Desastre e a Percepção do Secretário Adjunto

Sobre as Ações de Solidariedade Realizadas pelos Membros da Comunidade

Antes de discorrer sobre a percepção do Secretário com relação às ações de

solidariedade realizadas pela comunidade, será explanado a explicação do Secretário sobre

como se deu a atuação da SEMDES em Mãe Luíza diante dos riscos existentes no bairro e,

posteriormente, da ocorrência do desastre.

Segundo o Secretário, o atual quadro de funcionários da SEMDES tivera apenas um

mês de constituído quando aconteceu o desastre, motivo pelo qual esta secretaria, segundo

ele, não teria executado nenhuma medida preventiva ou capacitação no bairro.

5.4.1 Atuação da SEMDES

O Secretário explicou que quando começou a trabalhar na SEMDES tomou

conhecimento de um documento intitulado “Plano Municipal de Redução de Riscos do

Município de Natal – PMRR”, elaborado em 2008 pela Secretaria Municipal de Meio

Ambiente e Urbanismo – SEMURB, cujo objetivo foi o de fazer um mapeamento das áreas de

risco na cidade para, posteriormente, traçar os rumos do planejamento urbano, considerando

os níveis de criticidade, abrangendo os assentamentos localizados em encostas e/ou

susceptíveis a inundações, localizados em flancos dunares (laterais das dunas) e adjacências

Page 121: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

121

ou em outras áreas que se mostrem inadequadas para real e completa inserção social desses

assentamentos na cidade formal (PMRR, 2008).

Embora o PMRR inclua Mãe Luíza como área de risco e, mais precisamente, a

margem leste da Rua Guanabara (PMRR, 2008), local onde ocorreu o desastre, o Secretário

relatou que não tinha conhecimento de tal fato, afirmando que Mãe Luíza não era considerada

área de risco de desastre. Além disso, o Secretário afirmou que não executou nenhuma ação

de prevenção ou preparação no bairro e que a SEMDES ainda segue se orientando pelo

PMRR mesmo estando desatualizado. Não houve nenhum planejamento a respeito dos riscos

existentes em Natal depois da elaboração deste plano até de junho de 2014.

Secretário Adjunto: “[...] quando eu entrei eu me deparei com um

documento que existe na prefeitura que chama-se Plano Municipal de

Redução de Risco. O plano de redução de risco não entendia aquela área

como uma área de risco... aquela área lá [...]. Eu tenho algumas observações,

tenho alguns comentários sobre o plano de redução de risco que não é

interessante comentar agora, mas pra nós aquela área não era uma área de

risco, porque o estudo que eu tinha era esse, é esse, ainda é esse. E assim...

eu não tinha feito, eu não fiz nenhum trabalho (de prevenção ou preparação

na comunidade).O que eu soube é que existiu, já houve em uma gestão

passada um núcleo de defesa civil lá, mas eu não posso falar nada sobre ele

porque eu não tive nenhuma experiência, não deixaram nenhum documento

aqui, não tem nenhum registro, o que eu sei é que existiu um núcleo de

defesa civil lá”.

A partir dos relatos do Secretário e de alguns moradores do bairro, houve, de fato, uma

capacitação voltada para os moradores do bairro que culminou na criação de um Núcleo

Comunitário de Defesa Civil – NUDEC, porém, não é possível afirmar quando e onde

aconteceu, quais as estratégias que foram assumidas e quem foram os participantes. O

Secretário disse que não existem registros desta atividade na SEMDES. Da mesma forma, o

Conselheiro Comunitário de Mãe Luíza também afirmou que houve esta capacitação no

bairro, mas, assim como ocorre com a SEMDES, não existe registro e nem se sabe quem

foram os participantes e por quais ações ficaram responsáveis.

Quando perguntado se ele observou ações de solidariedade sendo realizadas pelos

membros da comunidade antes, durante e depois do desastre o Secretário comunicou que só

passou a ir pra comunidade três dias antes do ocorrido e que nesse período de preparação e

mobilização não observou nenhuma ação de solidariedade sendo realizada pelos moradores.

Page 122: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

122

Secretário Adjunto: “Nenhuma (ação de solidariedade). Não vi nada! [...] Eu

não percebi ajuda de morador não”.

5.4.2 Percepção do Secretário Adjunto Sobre as Ações de Solidariedade

Ocorridas

Quanto às ações de solidariedade realizadas na fase de resposta e de recuperação

(reabilitação e reconstrução) o Secretário foi enfático em dizer que não presenciou nenhuma

ação de solidariedade sendo realizada pelos moradores que pudesse ter ajudado as vítimas e

contribuído de alguma forma para o trabalho dos agentes do órgão de Proteção e Defesa Civil.

Secretário Adjunto: “Eu não consigo imaginar uma ajuda de morador [...].

Eu não percebi alguém pode ter percebido [...]. Pra falar a verdade [..] o

movimento comunitário atrapalhou!

Sobre a atuação solidária da comunidade durante o resgate e a evacuação das pessoas

do local do desastre, embora os membros da comunidade tenham relatado que foram retirados

de casa por parentes ou vizinhos que agiram solidariamente, o Secretário afirmou que quem

retirou os moradores de suas casas foram a própria Defesa Civil, com a ajuda da Polícia

Militar, da Secretaria municipal de Serviços Urbanos – SEMSUR, da Guarda Municipal, do

Exército, da Marinha, da SEMURB e da Cruz Vermelha.

Ainda sobre as ações de solidariedade realizadas pelos membros da comunidade

durante e após o desastre o Secretário afirmou que não viu nenhuma ação sendo realizada,

principalmente no que diz respeito à etapa de recuperação. Segundo o funcionário da

SEMDES os moradores não se ajudam e não são solidários uns com os outros, diferentemente

disso, ele afirma que existe muita desavença entre os membros da comunidade e conflitos

relacionados a interesses políticos.

Por outro lado, o Secretário Adjunto se contradiz, como é possível ver na fala a seguir,

quando revela que alguns membros da comunidade, principalmente os que tiveram as casas

totalmente destruídas, contribuíram para o trabalho da SEMDES na etapa de recuperação,

auxiliando na identificação do terreno e das famílias afetadas pelo desastre.

Secretário Adjunto: “Eles brigam entre eles, porque tem uns que são

candidato a vereador, então eles atuam de forma isolada. É um grupo de um

Page 123: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

123

vai prum lado, o outro vai pro outro lado. Eu não consigo sentir união!

Agora eu vou lhe dizer... quem termina se destacando não são os líderes

comunitários e sim pessoas isoladas. [...], são pessoas que terminam sendo...

é... que contribuíram muito pra a Defesa Civil entender, pra ajudar, e

auxiliou muito pra a Defesa Civil no sentido de identificar quais eram as

casas, porque não conhecíamos casa a casa, barraco a barraco”.

Secretário Adjunto: “[...] Aí, depois do desastre ele nos ajudaram a explicar

– ‘Pedro aqui morava uma família, a casa era assim, era assada, aqui era um

vizinho que morava’. Aí refizemos o desenho porque tínhamos um desenho

de acordo com o que tinha na Tributação (Secretaria de Tributação) que é a

área, só que muitas dessas áreas eram três quatro casas e aí pra não fazer

uma injustiça de dizer que aquilo era uma casa foi preciso eles recomporem

comigo como era aquele tipo de habitação, então essas pessoas terminaram

nos ajudando mais do que os próprios líderes comunitários que, em teoria,

deveria ser o aglutinador, o organizador, o que está à frente”.

A respeito do fato de não ter havido mortes provocadas pelo desastre, o Secretário

afirmou que isto foi resultado do trabalho conjunto entre os órgãos da Prefeitura, tendo a

Defesa Civil sido uma espécie de articulador e coordenador das ações.

Secretário Adjunto: “[...] na minha concepção, eu acho que o fato de não ter

havido nenhum tipo de morte foi um trabalho conjunto da prefeitura, a

defesa civil foi mais um articulador, foi mais um coordenador [...]. Eu

acredito que o sucesso de não ter nenhum acidente foi mais relacionado à

ação da polícia, SEMURB, Defesa Civil, a própria ação da SEMOB, [...] o

professor Pitágoras nos ajudou orientando os moradores lá, caso acontecesse

algo mais grave, então eu acredito que o sucesso foi o conjunto das ações”.

Quando perguntado sobre qual a concepção que ele tem sobre solidariedade o

Secretário explicou que entende por solidariedade a ação de ajudar um ao outro na medida do

possível e esclareceu que numa situação de desastre, ele sendo o gestor, não poderia agir com

solidariedade e que precisava fazer e cumprir com os deveres da instituição.

Secretário Adjunto: “Solidariedade é ajudar um ao outro na medida do

possível, pra também não se prejudicar, mas, como gestor, eu não posso ter

solidariedade, eu tenho que ter ação, eu não posso analisar sobre a ótica da

solidariedade, eu tenho que fazer o que a função manda”.

Considerando que o Secretário não observou ações de solidariedade sendo realizadas

pelos moradores da Mãe Luíza, mas que relatou ações participativas realizadas pelos

moradores da comunidade, foi perguntado se existe algum projeto da SEMDES que vise

Page 124: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

124

aproveitar as ações participativas e/ou de solidariedade realizadas pelas comunidades nas

etapas da gestão de riscos de desastres. Referente a esta pergunta, o Secretário respondeu que

não existem projetos baseados apenas nas ações de solidariedade, e sim projetos que visem

capacitar e preparar os membros das comunidades para situações adversas.

A SEMDES tem trabalhando na elaboração do plano municipal de contingência e na

criação dos NUDECs nas comunidades vulneráveis da cidade do Natal. Na visão do

Secretário, os NUDECs seriam um instrumento por meio do qual a Defesa Civil estaria em

todas as comunidades ao mesmo tempo, fazendo valer a participação da população na gestão

dos riscos de desastres, sendo esta participação extremamente importante para o sucesso das

ações da Defesa civil.

Secretário Adjunto: “Fantástico! Sem eles (NUDECs) é impossível a Defesa

Civil chegar em todos os cantos ao mesmo tempo”

Secretário Adjunto: “[...] Sem ela (participação da comunidade) num tem

chance. Eu não consigo vê uma gestão pública sem.. sem a participação da

sociedade”.

No que concerne à criação de um NUDEC no bairro de Mãe Luíza, o Secretário

adjunto explicou que, apesar do seu interesse, tem encontrado bastante dificuldade de

trabalhar na comunidade e afirma que pretende deixar a criação de um NUDEC no bairro para

um momento em que tudo esteja resolvido, uma vez que os encontros da SEMDES com os

moradores da comunidade visando à criação do NUDEC possam ser transformados em

espaços de discussão e de cobrança a respeito dos problemas causados pelo desastre ocorrido

em junho de 2014.

Page 125: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

125

CAPÍTULO 6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise dos relatos resultantes das conversações individuais com os moradores

pesquisados possibilitou evidenciar as ações de solidariedade realizadas ou testemunhadas

pelos moradores em virtude do desastre ocorrido no bairro e classificá-las de acordo com as

etapas da gestão de riscos de desastres. Percebeu-se que a motivação para a realização de tais

ações é o sentimento de amor ao próximo, independente do vinculo social estabelecido, além

do fato de que as pessoas se sensibilizam com as perdas e o sofrimento dos demais sujeitos

envolvidos, o que confirma a hipótese 1 desta pesquisa (“Numa situação de desastre, os

membros da comunidade atuam de maneira solidária porque se sensibilizam com as perdas e

sofrimento das pessoas envolvidas”).

A hipótese 2 (“Ações que vivenciem e experimentem a solidariedade entre os

indivíduos da comunidade, na situação de desastre vivenciada, contribuem para o aumento

da resiliência comunitária, bem como para a redução dos riscos e efeitos destes

acontecimentos”) também foi confirmada, haja visto que as ações de solidariedade

identificadas contribuíram para a reduzir os efeitos do desastre ocorrido no bairro e minimizar

os riscos de novos desastres. Além disso, constatou-se que certas ações de solidariedade

contribuíram para amenizar o sofrimento provocado pelo desastre, culminando no

fortalecimento dos vínculos e laços comunitários. A partir dessa constatação pode-se afirmar

que as ações de solidariedade realizadas pelos membros da comunidade contribuem para o

aumento da resiliência comunitária.

As hipóteses 3 (“As ações de solidariedade praticadas pelos moradores durante o

desastre pode reduzir os riscos associados ao desastre. No entanto, a falta de qualificação

adequada pode fazer com que os indivíduos que ajam solidariamente acabem agravando os

riscos e as consequências do desastre”) e 4 (“A falta de qualificação ou preparo suficiente

não interfere na ação solidária dos membros da comunidade durante as etapas da gestão de

riscos de desastres e, principalmente, na etapa de resposta”) também foram confirmadas ao

passo que, apesar das ações de solidariedade identificadas e praticadas ou testemunhadas

pelos sujeitos da pesquisa contribuírem para a redução dos riscos e efeitos do desastre, a falta

de qualificação adequada poderia ter agravado os riscos e as consequências do desastre. No

entanto, cientes desta possibilidade, em nenhuma das situações relatadas a ausência de

Page 126: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

126

preparo ou qualificação interferiu na realização das ações, principalmente, no que se refere à

etapa de resposta.

Os objetivos específicos da pesquisa foram de atendidos, à medida que foram

identificadas as ações realizadas pelos sujeitos da pesquisa, as razões pelas quais eles agiram

solidariamente, as dificuldades encontradas por eles durante a realização de tais ações e o

nível de preparo dos sujeitos, tendo sido verificado que não houve na comunidade nenhuma

capacitação que preparasse ou qualificasse os moradores para receber aquele desastre

específico.

Quanto às dificuldades e limitações da pesquisa tem-se o seguinte: a ausência de

estudos antecedentes, que relacionem as ações de solidariedade realizadas em situações de

desastres à resiliência comunitária, dificultou a construção do referencial teórico até certo

ponto, tendo em vista que foram encontradas muitas pesquisas relevantes, embora não tenham

feito a relação proposta por esta pesquisa. De certa maneira, pode-se acreditar que este é um

aspecto positivo que corrobora para a originalidade do trabalho.

Conclui-se, a partir do presente trabalho, que o despreparo e a negligência dos órgãos

municipais responsáveis pelo caso, somado à ausência de um plano de contingência da cidade

do Natal contribuíram para o agravamento dos riscos existentes em Mãe Luíza, o que acabou

resultando no desastre aqui estudado e fazendo com que a comunidade agisse por conta

própria em diversos momentos: antes, durante e depois do desastre.

A pesquisa também identificou a existência de conflitos entre a comunidade e os

agentes de Proteção e Defesa Civil do município, provocados pela não conformação dos

sujeitos afetados para com os erros e demora na solução dos problemas competentes à

SEMDES. Apesar disso, percebeu-se que a Defesa Civil se beneficiou das ações executadas

pela comunidade. Embora o Secretário Adjunto tenha negado, as ações de solidariedade

realizadas pelos moradores foram fundamentais para que o desastre não provocasse danos

humanos e materiais ainda maiores.

É fundamental que o órgão de Proteção e Defesa Civil se responsabilize pelo incentivo

da população vulnerável ao desastre a participa, se envolver e se comprometer co-

responsavelmente pela gestão dos riscos de desastres em todas as suas etapas. Também, é

fundamental que este órgão realize e execute os planejamentos e ações presentes na Lei nº

12.608/2012 em consonância com o Marco de Sendai (2015 – 2030), na perspectiva de

construir a cidade do Natal resiliente. Propõe-se, portanto, que a SEMDES: atualize o Plano

Municipal de Redução de Riscos municipal; elabore e execute o Plano de Contingência da

Page 127: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

127

cidade do Natal, contemplando todos os bairros; preparar regularmente e sistematicamente os

agentes de Proteção e Defesa Civil e dos demais órgãos, conjuntamente com os membros das

comunidades, através da prática de exercícios de simulados em cenários realistas; formar e

apoiar as ações dos NUDECs nos bairros vulneráveis a desastres.

Como trabalhos futuros, propõe-se: o estudo da importância da participação das

comunidades afetadas por desastres na gestão de riscos de desastres; como o órgão de

Proteção e Defesa Civil pode incentivar e aproveitar as ações participativas e de solidariedade

da comunidade para garantir a eliminação ou minimização dos riscos de desastres e,

consequentemente o fortalecimento da resiliência comunitária.

Page 128: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

128

Referências Bibliográficas

AGUIRRE, B. E.; WENGER, D.; GLASS, T. A et al. Organización Social de Búsqueda y Recate:

evidencias de la explosión de gas em Guadalajara. In: LAVELL, A. (Ed.) Al Norte del Rio Grande

Ciencias Sociales y Desastre; una perspectiva norteamericana. Colombia-La Red, Red de Estudios

Sociales, 1994

ALBUQUERQUE, FJB. A psicologia social dos desastres: existe um lugar para ela no Brasil?. In

ZANELLA, AV., et al., org. Psicologia e práticas sociais [online]. Rio de Janeiro: Centro Edelstein

de Pesquisas Sociais, 2008. pp. 221-228. ISBN: 978-85-99662-87-8. Available from SciELO Books

<http://books.scielo.org>.

ALMEIDA, Humberto Mariano. Participação e Representação Popular. Revista IMES. Jun – Dez,

2004.

ALCÂNTARA, Edinéa; MORA, Luis de La. Dádiva e Solidariedade na Base da Emergência da

Liderança nas Comunidades Populares. Revista de Estudos AntiUtilitarista e PósColoniais –

REALIS. Vol. 3, nº 1. Jan-Jun, 2013.

ARON, Raymond. As Etapas do Pensamento Sociológico. 5º ed – Martins Fontes (Ensino Superior),

São Paulo, 2000.

ATLAS Brasileiro de Desastres Naturais (1991 – 2010). CEPED / UFSC, Florianópilis, 2012.

ATLAS Brasileiro de Desastres Naturais – Rio Grande do Norte. (1991 – 2010). CEPED / UFSC,

Florianópilis, 2012.

BECKER, PER; ABRAHAMSSON, Marcus; TEHLER, Henrick. An Emergent Means to Assurgent

Ands: Community Resilience for Societal Safety and Sustainability. Lund University Centre for Risk

Assessment and Management (LUCRAM), 2011.

BIERHOFF, Hans W.; KUPPER, Beate. Social Psichology of Solidarity. In BAYERTZ, Kurt.

Philosophical Studies in Contemporary Culture. Solidarity. Kluwer academic Publishers. Vol. 5, The

Netherlands, 1999 (p. 134).

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF. Senado

Federal. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acessado em 25 de

maio de 2015.

BRASIL. SECRETARIA NACIONAL DE DEFESA CIVIL. Política Nacional de Defesa Civil.

Brasília: Diário Oficial da União, 1995.

BRASIL. Institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil – PNPDEC. LEI Nº 12.608.

Secretaria Nacional de Defesa Civil. Abril, 2012. Disponível em <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12608.htm> Acessado em 06 de

março de 2014.

BRASIL/MIN, 2015. Ministério da Integração Nacional. Disponível em:

http://www.integracao.gov.br/web/guest/sedec/apresentacao. Acessado em: 01/05/2015.

CARE. Formação de Núcleos Comunitários de Defesa Civil – NUDECs. 1º ed. Brasil, 2012.

Page 129: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

129

CARMO, Roberto Luiz. Urbanização e Desastres: Desafios para a Segurança Humana no Brasil.

Cap. 1 in CARMO, Roberto Luiz do. VALENCIO, Norma. Segurança Humana no Contexto dos

Desastres. São Carlos, RiMa Editora, 2014.

CARVALHO, R. J. M. de. ERGOPOLIS: an ergonomics approach applied to a city. Work 41

(2012) 6071-6078. ISSN: 1051-9815.

CARVALHO, R. J. M. de. Danos humanos por desastres, agravados pela ausência de

acessibilidade: uma contribuição para diminuir a vulnerabilidade maior de crianças e adolescentes,

pessoas idosas e pessoas com deficiência. Projeto de Extensão PJ623-2014. Natal:

DEP/PROEX/UFRN, 2014.

CEPED/UFSC. Capacitação Básica em Defesa Civil. Textos: Janaína Furtado; Marcos de Oliveira;

Maria Cristina Dantas; Pedro Paulo Souza; Regina Panceri. Florianópolis: CAD UFSC, 2012.

Chan, Emily Y. Y. Bottom-up Disaster Resilience. Nature Geoscience, Vol. 6. May 2013.

COMTE-SPONVILLE, André. Pequeno Tratado das Grandes Vitudes. WMF Martins Fontes. 2 ed.

São Paulo, 2009.

COX Jr., Louis Anthony. Community Resilience and Decision Theory Challenges for

Catastrophic Events. Risk Analysis, Vol. 32, No. 11, 2012.

CUTTER, Susan L. ASH, Kevin D. EMRICH, Christopher. The Geographies of Community

Disaster Resilience. Global Environmental Change 29 (2014) 65–77.

DARSES, Françoise; REUZEAU, Florence. Participação dos Usuários na Concepção dos Sistemas

e Dispositivos de Trabalho. Cap. 24, p. 343; In FALZON, Pierre. Ergonomia. Editora Blucher, 2007.

DINIZ, Marcio Augusto de Vasccelos. Estado Social e Princípios da Solidariedade. Revista de

Direitos e Garantias Fundamentais, nº 3, p 31 – 48, julho, 2008. Vitória – ES.

DONIAK, Fabio Augusto. Participação Comunitária no Processo de Desenvolvimento Local:

Estudo do caso do município de Rancho Queimado. Dissertação. Universidade Federal de Santa

Catarina – UFSC, Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Florianópolis, SC.

Agosto, 2002.

DURHHEIM, Émile (1858 – 1917). Da Divisão Social do Trabalho. Tradução: Eduardo Brandão. –

4º ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010. Biblioteca do Pensamento Moderno.

EIRD. Viver com o Risco: Informe Mundial Sobre Iniciativas para a Redução de

Desastres. Nações Unidas, 2004.

EIRD. Terminologia para a Redução do Risco de Desastre. Nações Unidas, 2009.

EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, 2015. Disponível em:

https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/3107185/artigo-gestao-de-riscos-e-incertezas---

base-para-um-futuro-sustentavel. Acessado em: 20/05/2015.

FAVERO, Eveline; DIESEL, Vivien. A Seca enquanto um Hazard e um Desastre: Uma Revisão

Teórica. Aletheia, 27 (1), p. 198 – 209, Jun / jul. 2008.

FLICK, U. Utilização dos Documentos como Dados. In: FLICK, U. Introdução à Pesquisa

Qualitativa. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. p. 230 – 237.

Page 130: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

130

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisas. 4 ed. São Paulo, Atlas, 2002.

GOHN, Maria Glória. Empoderamento e Participação da Comunidade em Políticas Sociais.

Revista Saúde e Sociedade, Vol. 13, n. 2, p. 20 – 31. Agosto, 2004.

GONSALVES, Elisa Pereira. Conversas sobre Iniciação a Pesquisa Científica. 4º ed. Campinas –

SP, Editora Alínea, 2005.

HENDRICK, Hal W.; KLEINER, Brian M. Macroergonomia: Uma Introdução aos Projetos de

Sistema de Trabalhos. [tradução Mario Cesar Vidal e José Roberto Mafra]. Rio de Janeiro. Ed Virtual

Científica, 2006.

KOMINO, Takeshi. Community Resilience: Why It Matters and What We Can Do. Global

Network of Civil. Society Organisations for Disaster Reduction, 2013. Disponível em:

<http://www.globalnetwork-dr.org/views-from-the-frontline/vfl-2013.html>. Acessado em 03 de abril de 2015.

KRUM, Fernanda Menna Barreto. O Impacto e as Estratégias de Coping de Indivíduos em

Comunidades Afetedas por Desastres Naturais. Dissertação. Universidade Federal do rio Grande do

Sul, Instituto de Psicologia, Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento, Março

de 2007.

KULING, Judith C.; EDGE, Dana S.; JOYCE, Brenda. Understanding Community Resiliency in

Rural Communities Through Multimethod Research. Journal of Rural and Community

Development, 2008.

LUCENA, Rejane. Manual de Formação dos NUDECs. Junho, 2005.

MAH. Marco de Ações de Hyogo. Estratégia Internacional para Redução de Desastres – EIRD.

Nações Unidas. Japão, 2005.

MINAYO, M. C. S. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 29. ed. Petrópolis, Rio de Janeiro:

Vozes, 2010. p. 79 – 108.

PNUD - Programa de las Naciones Unidas para el Desarrollo. Dirección de Prevención e Crisis y

de Recuperación. ONU,2004.

PRIOR, Tim. ROTH, Florian. Disaster, Resilience and Security in Global Cities. Journal of

Strategic Security, Volume 6. Number 2 (5), 2013

QUARANTELLI, E. L. Disaster Studies: An Analysis of the Social Historical Factores Affecting the

Development of Research in the Area. In International Journal of Mass Emergencies and Disasters, 5,

p. 310, November, 1987.

QUARANTELLI, E. L. Research Based for Evaluating Disaster Planing and Managing.

University of Delaware. Disaster Research Center, 1997.

QUARANTELLI, E.L. (1988b) Disaster studies: An analysis of the social historical factors affecting

the development of research in the area. International Journal of Mass Emergencies and Disasters, 5:

285-31

QUARANTELLI, E. L. Social Research for the Disasters of the 21ST Century: Theoretical,

Methodological and Empirical Issues and Their Professional Implementation; in PERRY, Ronald W;

QUARANTELLI, E. L. What is a Disaster: New Answers to Old Questions. International Research

Committee on Disasters, USA, 2005.

Page 131: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

131

RIBEIRO, Manuel João. Sociologia dos Desastres. Sociologia – Problemas e Práticas. Nº 18, 1995, p.

23 – 43.

RIBEIRO, Paulo Silvino. Émile Durkheim: os tipos de solidariedade social. Brasil Escola, 2015.

Disponível em: <http://www.brasilescola.com/sociologia/Emile-durkheim-os-tipos-solidariedade-

social.htm>. Acessado em 06 de maio de 2015.

SANTOS, Antônio Raimundo. Metodologia Científica: a construção do conhecimento. 6 ed.

DP&A. Rio de Janeiro, 2004.

Stokols, D., R. Perez Lejano, and J. Hipp. 2013. Enhancing the resilience of human–environment

systems: a social–ecological perspective. Ecology and Society 18(1): 7. http://dx.doi.org/10.5751/ES-

05301-180107.

SILVA, Jane Ciambele Souza; CARVALHO, Ricardo José Matos; PIMENTA, Alícia Fernanda da

Silva; CARVALHO, Paulo Victor Rodrigues. The Meeting of Disaster Victimis as a Space for

Developing Community Resilience. 6th International Conference on Applied Human Factors and

Ergonomics (AHFE 2015) and the Affiliated Conferences, AHFE 2015. USA, 2015. SILVA, Jane Ciambele Souza; CARVALHO, Ricardo José Matos; PIMENTA, Alícia Fernanda da

Silva; CARVALHO, Paulo Victor Rodrigues. Solidarity and Community Resilience in a Disaster

Situation: An Understanding of Communitarian Ergonomics. 19thTriennial Congress of the

International Ergonomics Association (IEA 2015), Melbourne – Austrália, 2015.

SILVA, Jane Ciambele Souza; CARVALHO, Ricardo José Matos; CARVALHO, Paulo Victor

Rodrigues. DISASTERS, COMMUNITY SPONTANEOUS ACTIONS, AND COMMUNITY

RESILIENCE. 6th REA Symposium, Lisboa, Portugal, 2015.

SILVEIRA, D. T.; CÓRDOVA, F. P. A pesquisa científica In: GERHARDT, T. E.; SILVEIRA, D. T.

(Orgs.). Métodos de pesquisa. Porto Alegre: UFRGS, 2009.

SOUZA, Patricia Carla de A; LOUREIRO, Carlos Frederico. Reflexões sobre os Desastres

Ambientais no Estado do Rio de Janeiro: Questões Socioambientais e Psicossociais. Revista VITAS

– Visões Transdisciplinares sobre Ambiente e Sociedade – www.uff.br/revistavitas ISSN 2238-1627,

Ano IV, Nº 8, setembro de 2014.

VIDAL, M. C. R.. Guia para análise ergonômica do trabalho na empresa: uma metodologia

realista, ordenada e sistemática. 2. ed. Rio de Janeiro: Virtual Científica, 2008.

UNISDR, 2007. Disponível em: <http://www.unisdr.org/we/inform/terminology>. Acessado em 20 de

maio de 2015.

UNISDR, 2015. The United Nations Office for Disaster Risk Reduction. Disponível em: <

http://www.unisdr.org/>. Acessado em abril de 2014.

UNISDR, Como Construir Cidades Mais Resilientes: Um Guia para Gestores Públicos Locais

(2005 – 2015). Genebra, November, 2012.

UNISDR, 2015: http: //www.unisdr.org/who-we-are/international-strategy-for-disaster-reduction.

WESTRUM, Ron. A Typology of Resilience Situations – Chapter 5 in HOLLNAGEL, Eric;

WOODS, David D. Resilience Engineering: Concepts and Precepts. ASHGATE, 2006.

Page 132: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

132

WOODS, David D. Essencial Characteristics of Resilience – Chapter 2 in HOLLNAGEL, Eric;

WOODS, David D. Resilience Engineering: Concepts and Precepts. ASHGATE, 2006.

WREATHALL, Jonh. Properties of Resilience Organizations: An Initial View – Chapter 17 in

HOLLNAGEL, Eric; WOODS, David D. Resilience Engineering: Concepts and Precepts. ASHGATE,

2006.

ZHAO, P.; CHAPMAN, R.; RANDAL, E.; HOWDEN-CHAPMAN, P. Understanding Resilient

Urban Futures: A Systemic Modelling Approach, pp. 3202-3223. New Zeland: Sustainability, 2013

ZOBEL, Christopher W. KHANSA, Lara. Characterizing Multi-event Disaster Resilience.

Computers & Operations Research 42 (2011) 83–94.

Page 133: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

133

APÊNDICES

Page 134: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

134

APÊNDICE 1: MAPA DAS CASAS DESTRUÍDAS PELO DESASTRE

Page 135: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

135

APÊNDICE 2: QUESTIONÁRIO DO PERFIL SOCIOECONÔMICO DAS FAMÍLIAS

AFETADAS PELO DESASTRE DE MÃE LUÍZA, NATAL – RN, QUE TIVERAM SUAS

CASAS DESTRUÍDAS E/OU INTERDITADAS.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO – PEP

GRUPO DE EXTENSÃO E PESQUISA EM ERGONOMIA – GREPE

Prezado (a) Morador (a),

Solicitamos, encarecidamente, sua importante colaboração em nos fornecer informações a

respeito do perfil socioeconômico da sua família. Não é preciso se identificar, a não ser que

autorize. A fidedignidade das suas respostas é fundamental para a validade e confiabilidade da

pesquisa. O interesse da pesquisa se dá pelo resultado final como um todo e não de forma

individualizada. Portanto, seu anonimato será resguardado, de modo que você não será

identificado (a) com as respostas fornecidas.

OBRIGADO PELA COLABORAÇÃO.

Data: ___/___/___. Aplicador: ___________________. Hora: Início __:__ h. Fim: __:__ h

Nome do Respondente (opcional): ____________________________________________.

Contato do respondente (celular/email):_________________________________________.

Page 136: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

136

Questionário do Perfil Socioeconômico das famílias afetadas pelo desastre de Mãe Luíza,

Natal – RN, que tiveram suas casas destruídas e/ou interditadas.

1. Quantas pessoas residiam no mesmo domicílio na época do desastre ? _______.

Informações complementares:_____________.

2. Quantas famílias residiam no mesmo domicílio na época do desastre ?

________________

3. Informações complementares:_____________.

4. Quantidade de Pessoas segundo a Idade, Sexo e Estado Civil, por família:

Família

(a, b, c, d, ...)

Nº de Pessoas Idade

(dias/meses/anos)

Sexo Estado Civil

5. Quantidade de Pessoas Segundo o Nível de escolaridade:

( )Analfabeto

( ) Pré-escola

( ) Ensino Fundamental 1 Incompleto

( ) Ensino Fundamental 1 Completo

( ) Ensino Fundamental 2 Incompleto

( ) Ensino Fundamental 2 Completo

( ) Ensino Médio Incompleto

( ) Ensino Médio Completo

Page 137: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

137

( ) Ensino Técnico Integrado

( ) Ensino Técnico Subsequente

( ) Superior Incompleto

( ) Superior Completo

( ) Pós-graduação

( ) Outro:_____________________________________________________________

6. Quantas pessoas na família trabalham ou exercem alguma atividade remunerada?

Qual a função ou atividade que cada um exerce?

7. Havia alguma pessoa com deficiência ou com alguma limitação motora ou intelectual

que residia ou se encontrava no domicílio no momento do aviso de abandono/fuga do

domicílio ou do desastre? Se sim, qual o tipo? Essa pessoa é autônoma/independente

ou não? Essa pessoa possuía cuidador (a)? O (a) cuidadora é profissional? Era

remunerado (a)? A pessoa possuía alguma tecnologia assistiva (bengala, cadeira de

roda, anda-já, aparelho de audição etc)? A tecnologia assistiva era de fabricação

artesanal ou industrial, improvisada ou projetada? Estava em boas condições de uso?

8. A família recebe/recebia algum auxilio ou benefício financeiro do Governo Federal,

Estadual ou Municipal? Desde quando ? Especificar (Bolsa Família; etc):

9. Qual era a renda total da família no dia que ocorreu o desastre?

( ) 1/2 – 1 Salário Mínimo ( ) 5 – 6 Salários Mínimos

( ) 1 – 2 Salários Mínimos ( ) 6 – 7 Salários Mínimos

( ) 2 – 3 Salários Mínimos ( ) 7 – 8 Salários Mínimos

( ) 3 – 4 Salários Mínimos ( ) 8 – 9 Salários Mínimos

( ) 4 – 5 Salários Mínimos ( ) 9 – 10 Salários Mínimos

( ) Mais de 10 Salários Mínimos

Informações complementares: ______________________________________________

10. Qual a renda total da família atualmente?

( ) 1/2 – 1 Salário Mínimo ( ) 5 – 6 Salários Mínimos

( ) 1 – 2 Salários Mínimos ( ) 6 – 7 Salários Mínimos

Page 138: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

138

( ) 2 – 3 Salários Mínimos ( ) 7 – 8 Salários Mínimos

( ) 3 – 4 Salários Mínimos ( ) 8 – 9 Salários Mínimos

( ) 4 – 5 Salários Mínimos ( ) 9 – 10 Salários Mínimos

( ) Mais de 10 Salários Mínimos

Informações complementares: ______________________________________________

11. Situação do domicílio onde a (s) família (s) residia (m) na época do desastre:

Próprio ( )

Alugado ( )

Cedido/emprestado ( )

12. O domicílio em que a (s) famílias residia (m) na época do desastre ficou:

( ) Totalmente destruído;

( ) Parcialmente afetado e não interditado;

( ) Parcialmente afetado e interditado.

Informações complementares: ________________________________________________

13. O domicílio afetado pelo desastre será:

( ) Reformado totalmente;

( ) Reformado parcialmente;

( ) Reconstruído totalmente, no mesmo local;

( ) Reconstruído totalmente, em outro local, no mesmo bairro;

( ) Reconstruído totalmente, em outro local, em outro bairro.

( ) Não sabe.

Informações complementares: ____________________________________________

Page 139: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

139

APÊNDICE 3: ROTEIRO DINÂMICO DE CONVERSAÇÃO A SER APLICADO COM OS

MORADORES

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO – PEP

GRUPO DE EXTENSÃO E PESQUISA EM ERGONOMIA – GREPE

I- INVESTIGAÇÃO SOBRE AÇOES DE SOLIDARIEDADE

1. Saber dos moradores afetados pelo desastre, quem deles ajudou ou foi ajudado por

outra pessoa, ou ouviu falar que alguém ajudou ou foi ajudado (quem foi a pessoa? é

morador do bairro? é vizinho ? qual o grau de parentesco entre ajudador-ajudado? qual

o laço? qual a qualidade do relacionamento?), para prevenir ou minimizar os riscos,

perdas, danos e sofrimentos do desastre nos momentos antes (dia, semana, mês,

ano), imediatamente antes (horas, minutos, segundos), durante, imediatamente

após (hora, dia seguinte ao do abandono da área de risco) e após (dias, mês, ano)

o desastre. Pedir para relatar e comentar como se deu a ajuda, as dificuldades e

facilidades encontradas e as respectivas razões/motivos (OBS: separar as ajudas

relatadas de acordo com os referidos momentos).

2. Identificar/Levantar quem se encontrava no domicílio afetado pelo desastre,

imediatamente antes e/ou durante o desastre. Procurar saber se havia pessoas mais

vulneráveis-PMVs (pessoa idosa, criança, adolescente, pessoa com deficiência) ou

alguma pessoa com dificuldade motora ou intelectual durante o momento de abandono

da área de risco e/ou do desastre. Relatar como se deu a retirada das pessoas como um

todo das casas em risco (quem ajudou/participou deste processo, as dificuldades

enfrentadas, as estratégias utilizadas, os equipamentos utilizados, a eficiência e

eficácia da operação etc).

Page 140: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

140

3. Procurar saber da/do respondente, e pedir para comentar, em que medida a ajuda dada

ou recebida (item 1 e 3), teve importância, necessidade, eficácia e satisfez as suas

expectativas.

4. Procurar saber o que levou (as razões, os motivos) as pessoas a ajudarem umas às

outras, em cada caso relatado?

5. Saber se as pessoas que praticaram a ajuda/ação tinha o conhecimento e

preparo/capacidade adequado (a) para realizá-la. Se sim, como adquiriu tal

conhecimento e preparo. Se não, o que a levou a ajudar/agir. Saber se esta ação foi

improvisada e solicitar que a descreva. Saber do (a) respondente se ele/ela acha que a

ação dele/dela poderia agravar a situação gerando algum dano material ou humano.

6. Saber se, em algum momento, alguém que estava prestando a ajuda não se encontrava

capaz de ajudar/agir, se ela/ele mesmo assim ajudou/agiu e saber como ela/ele reagiu

ou se sentiu diante desta percepção. Pedir para comentar.

7. Saber se a letargia, inoperância ou ineficiência dos órgãos/agentes públicos

responsáveis pela gestão de riscos e desastres a/o levou (a/o respondente) a realizar a

ajuda/ação e em que medida.

8. Saber se a/o respondente percebeu que alguém deixou de ajudar o outro quando era

necessário ou quando estava precisando e por que razão.

9. Pedir para que a/o respondente descreva alguma situação que presenciou ou ficou

sabendo em que seria necessário ter a participação e ação de algum profissional e não

houve.

10. Saber quais as ações/ajudas realizadas pelas pessoas leigas (comunidade, população

em geral) tiveram sucesso. Pedir para descrever a situação em questão e para explicar

as razões do sucesso.

11. Pedir para que o/a respondente sugira modalidades de medidas de

preparação/qualificação (cursos, treinamentos etc) necessárias para que as pessoas

leigas possam atuar em situações de risco e desastre.

12. Saber do/da respondente qual a percepção que ele/ela tem sobre o nível de

solidariedade e cooperação da comunidade antes, durante e depois do desastre.

13. Saber do/da respondente se as ações de solidariedade e de cooperação durante o

desastre podem melhorar a segurança da comunidade e minimizar os danos e em que

medida?

14. Pedir para que a/o respondente fale de que maneira pode-se melhorar o nível de

solidariedade e de cooperação da comunidade?

Page 141: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

141

15. Perguntar à/ao respondente de que maneira as pessoas podem

aprender/desenvolver/adquirir o comportamento solidário (se na escola, na família, na

igreja, na rua; se através de curso, treinamento etc).

16. Saber da/do respondente o que ela/ele entende sobre solidariedade e solicitar que

ela/ele dê exemplos de ações de solidariedade praticadas na vida.

17. Solicitar que mencionem quais as ações de solidariedade realizou ou que testemunhou

ou que soube que foram realizadas por outros por ocasião do desastre (antes, durante e

depois).

18. Solicitar que indique ações de solidariedade que a população do bairro e em geral

devem realizar antes, durante e após o desastre. E o que pode ser feito para que estas

ações sejam realizadas.

19. Testemunhar ações de solidariedade sendo realizadas te motiva a ser mais solidário?

Por quê?

II. INVESTIGAÇÃO SOBRE ORGANIZAÇÃO, PARTICIPAÇÃO E

ENVOLVIMENTO

1. Saber da percepção/entendimento que se tem sobre a importância da organização

comunitária para prevenir e resolver os danos dos desastres. Saber a percepção sobre

como se deu a organização comunitária em Mãe Luíza. Pedir para sugerir possíveis

maneira da comunidade se organizar para prevenir os desastres e resolver os danos

provocados.

2. Verificar se a/o respondente atribui alguma conquista da comunidade, com relação ao

desastre ocorrido, ao nível de organização e de participação dos membros da

comunidade nas reuniões comunitárias que ocorreram pós-desastre. Pedir para listar as

conquistas e comentar.

3. Pedir à/ao respondente que expresse e comente sobre as razões que levaram a

comunidade [em determinados momentos com baixo grau de participação de seus

membros e, em outros, com alto grau de participação] a estar reunida para discutir

seus problemas e a reivindicar suas demandas junto às autoridades depois do desastre.

Page 142: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

142

4. Pedir para a/o respondente indicar qual foi seu grau de participação e envolvimento e

dos demais membros da comunidade nos assuntos e ações relativos ao desastre, antes,

durante e após sua ocorrência.

5. Saber da/do respondente qual sua percepção (se positiva ou negativa) sobre as ações

das instituições governamentais e não-governamentais (Cruz Vermelha, Conselho

Comunitário, Igrejas, OAB, Universidade etc) antes, durante e depois do desastre.

Pedir para listar e comentar.

6. Pedir para a/o respondente indicar o que a comunidade deve fazer para melhorar o

nível de organização, participação e envolvimento dos membros da comunidade para

garantir as ações dos governos quanto à prevenção, preparação, mitigação e resposta

do desastre e recuperação e reconstrução da área afetada.

7. Pedir para a/o respondente indicar o que os poderes públicos devem fazer para garantir

a prevenção, a preparação, a mitigação e a resposta ao desastre, bem como a

recuperação e reconstrução da área afetada.

8. Saber o que a/respondente acha sobre a participação da comunidade em todas as fases

da gestão de riscos e desastre: prevenção, preparação, mitigação e resposta ao desastre,

bem como na recuperação e reconstrução da área afetada.

Page 143: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

143

APÊNDICE 4: ROTEIRO DINÂMICO DE CONVERSAÇÃO A SER APLICADO COM O

SECRETÁRIO ADJUNTO DA DEFESA CIVIL DE NATAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO – PEP

GRUPO DE EXTENSÃO E PESQUISA EM ERGONOMIA – GREPE

1 – Você observou ações participativas de solidariedade sendo realizadas por moradores da

comunidade antes, durante e depois do desastre? Se sim, quais foram as ações observadas?

2 – Qual a sua concepção a respeito destas ações (se foram observadas)?

3 – Essas ações contribuíram para o trabalho da Defesa Civil?

4 – O que você entende por solidariedade?

5 – Existe algum projeto da SEMDES que vise aproveitar e incorporar as ações realizadas

pelos moradores nas etapas da gestão de riscos de desastres?

6 – Existe ou já existiu alguma capacitação ou treinamento sobre gestão de riscos de desastres

voltado para a comunidade de Mãe Luíza?

7 – Qual a sua percepção a respeito dos riscos de desastres existentes em Natal e, mais

especificamente, em Mãe Luíza?

8 – O que a SEMDES tem feito para prevenir a ocorrência de desastres na cidade e reduzir os

riscos?

9 – Existe alguma previsão para a execução do plano de contingência da cidade do Natal? O

plano prever a realização de simulados? Se sim, onde?

10 – Qual a sua concepção a respeito da participação da comunidade nas ações referentes a

gestão dos riscos de desastres?

11 – Pra você o NUDEC é importante? Por quê?

12 – Existe previsão para a criação de um NUDEC em Mãe Luíza? Se sim, como a SEMDES

pretende trabalhar isso dentro da comunidade?

Page 144: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

144

APÊNDICE 5: TABELA PARA TRATAMENTO DE NÍVEL 1

TRATAMENTO DE NÍVEL 1: CONCERSAÇÃO INDIVIDUAL

ETAPA DA GESTÃO DE

RISCOS

RELATO DO MORADOR

PREVENÇÃO

PREPARAÇÃO

MOBILIZAÇÃO

RESPOSTA/SOCORRO

RECUPERAÇÃO

(Reabilitação / Reconstrução)

Page 145: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

145

APÊNDICE 6: TABELA PARA TRATAMENTO DE NÍVEL 2

Etapa da Gestão de

Riscos de Desastres

Tipo de Ação

de

Solidariedade

Realizada

Relatos dos

Moradores

Vínculo

entre

Cooperador

/ Cooperado

% do tipo de

vínculo entre

Cooperador

/ Cooperado

Bem

Sucedida/Mal

Sucedida

Nº de vezes

que a ação

realizada é

mencionada

%º de vezes

que a ação

realizada é

mencionada

Prevenção

Preparação

Mobilização

Resposta

Recuperação

Page 146: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

146

APÊNDICE 7: TABELA PARA TRATAMENTO DE NÍVEL 3

Tópico Relato

Conceito de Solidariedade

Motivo das ações

Sucesso das ações

Dificuldades percebidas

Sobre a importância das ações

Preparo do autor da ação

Se a ação poderia ter agravado a

situação

Nível de solidariedade da comunidade

A pessoa nasce solidária ou aprender

no decorrer da vida

Onde a pessoa aprende a ser solidária

Sugestão de cursos sobre solidariedade

Atuação da Defesa Civil

Prevenção e preparação na comunidade

Abordagem utilizada pela Defesa civil

Sobre não ter havido mortes

Percepção sobre a responsabilidade

pelo desastre

Consequências do desastre

O que faltou por parte da prefeitura

Reconstrução da escadaria e das casas

Atraso do Auxílio moradia

Percepção sobre o desastre

O que faltou da prefeitura

Atraso de aluguel

Page 147: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

147

APÊNDICE 8: TABELA PARA O TRATAMENTO DA CONVERSAÇÃO COM O

SECRETÁRIO ADJUNTO DA DEFESA CIVIL

Questão do Roteiro Resposta / Relato

1 – Você observou ações participativas de

solidariedade sendo realizadas por

moradores da comunidade antes, durante e

depois do desastre? Se sim, quais foram as

ações observadas?

2 – Qual a sua concepção a respeito destas

ações (se foram observadas)?

3 – Essas ações contribuíram para o

trabalho da Defesa Civil?

4 – O que você entende por solidariedade?

5 – Existe algum projeto da SEMDES que

vise aproveitar e incorporar as ações

realizadas pelos moradores nas etapas da

gestão de riscos de desastres?

6 – Existe ou já existiu alguma capacitação

ou treinamento sobre gestão de riscos de

desastres voltado para a comunidade de

Mãe Luíza?

7 – Qual a sua percepção a respeito dos

riscos de desastres existentes em Natal e,

mais especificamente, em Mãe Luíza?

8 – O que a SEMDES tem feito para

prevenir a ocorrência de desastres na cidade

e reduzir os riscos?

9 – Existe alguma previsão para a execução

do plano de contingência da cidade do

Natal? O plano prever a realização de

simulados? Se sim, onde?

10 – Qual a sua concepção a respeito da

participação da comunidade nas ações

referentes a gestão dos riscos de desastres?

11 – Pra você o NUDEC é importante? Por

quê?

12 – Existe previsão para a criação de um

NUDEC em Mãe Luíza? Se sim, como a

SEMDES pretende trabalhar isso dentro da

comunidade?

Page 148: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

148

ANEXOS

Page 149: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

149

ANEXO 1 – “Carta de Mãe Luíza”

Projeto de Extensão: Mãe Luíza (Sem)Desastres:

Fortalecimento e capacitação de comunidades e agentes locais para a redução de riscos

de desastres naturais.

Natal, 30 de junho de 2014.

Nota Informativa nº 01/2014

O Projeto “Mãe Luíza (Sem) Desastres” foi idealizado por professores dos Departamentos

de Engenharia de Produção, de Psicologia, de Enfermagem e de Políticas Públicas da UFRN,

e conta também com a participação dos alunos de mestrado e de graduação de vários cursos

da UFRN. Trata-se de um Projeto, que faz parte de um Programa de Extensão da UFRN, que

envolve vários Projetos de Extensão, num esforço coletivo da UFRN para contribuir com a

Redução dos Riscos de Desastres no Rio Grande do Norte, em parceria com as comunidades

vulneráveis e instituições que lidam com desastres naturais, decorrentes de chuvas,

alagamentos, deslizamentos de terra etc.

OBJETIVO GERAL

Contribuir com o fortalecimento, a capacitação e a resiliência da população e dos agentes da

proteção e defesa civil do Estado do Rio Grande do Norte, especificamente da cidade de

Natal, tendo como locus de ação a Comunidade de Mãe Luíza, visando a redução de riscos e

desastres naturais.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1. Identificar as principais demandas de capacitação e treinamento da comunidade

de Mãe Luíza para redução de riscos de desastres naturais;

2. Promover ações educativas para o envolvimento e a participação dos membros

da comunidade de Mãe Luíza nas ações de prevenção e respostas aos desastres,

especialmente voltadas para crianças e adolescentes, idosos e pessoas com

deficiência;

3. Estimular e apoiar a criação e consolidação do NUDEC-Núcleo Comunitário

de Defesa Civil de Mãe Luíza;

4. Estimular e apoiar a elaboração do Plano de Contingência de Proteção e Defesa

Civil, com especial atenção às escolas e centros de saúde da Comunidade;

Page 150: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

150

5. Elaborar material educativo relativo à redução de riscos de desastres;

6. Preparar e realizar exercícios simulados, conforme Plano de Contingência de

Proteção e Defesa Civil;

7. Estimular e realizar ações para a criação do CEPED-Centro Multidisciplinar de

Estudos e Pesquisas sobre Desastres do Rio Grande do Norte.

BREVE RELATO DO CENÁRIO DE DESASTRES EM MÃE LUÍZA

Na cidade de Natal-RN, nos dias 13 e 14 de março de 2014, a Defesa Civil registrou 20

ocorrências em função das fortes chuvas que impactaram algumas comunidades mais

vulneráveis, como Mãe Luíza, região onde está sendo desenvolvido este projeto.

‘A tendência é que a situação nessas áreas de encosta piore a cada novo dia de chuva’. Esta

foi a declaração, à época, do Diretor do Departamento de Defesa Civil de Natal, Cabo Jeoás

Santos. A população de Mãe Luíza, no entanto, há muito tempo vinha denunciando a

vulnerabilidade do Bairro e reivindicando providências às autoridades competentes, até

quando, o que parecia profecia do Cabo ou da Comunidade, aconteceu! Na verdade, o

desastre, que aconteceu 3 meses depois da declaração, no dia 14 de junho de 2014, já vinha se

produzindo ao longo do tempo, dada à falta de ações consistentes de prevenção e de

preparação do Bairro para as chuvas que estariam por vir e que ainda persistem.

Este desastre, mais uma vez vivido pela Comunidade de Mãe Luíza, provocado pelas chuvas

intensas e pela ausência ou tímida participação do poder público, trouxe, também desta vez,

danos materiais e danos humanos, desabrigando cerca de 171 pessoas, destruindo 37 casas,

colocando em risco iminente outras 109 casas, que foram interditadas pelo órgão de Proteção

e Defesa Civil Municipal.

Sem dúvida, o desastre traz sofrimento à população e gastos dos membros da comunidade e

do poder público durante as fases de resposta e recuperação, que poderiam ser evitados ou

minimizados com investimentos e ações em prevenção e preparação.

DIRETRIZES E POLÍTICAS PARA A REDUÇÃO DE RISCOS DE DESASTRES

Protocolo de Hyogo para Ação (2005-2015)

Page 151: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

151

O Protocolo de Hyogo para a Construção de Nações e Comunidades Resilientes frente aos

desastres, para o período de 20051005(UN/ISDR, 2007), estabelecido pelas Nações Unidas,

definiu 05 linhas de ações prioritárias para a redução dos riscos de desastres no planeta, quais

sejam:

1. Certificar-se de que a redução do risco de desastres é uma prioridade nacional e

local, e de que há uma forte base institucional para a implementação;

2. Identificar, avaliar e controlar os riscos de desastres e melhorar a comunicação

de alerta atecipado;

3. Utilizar os conhecimentos, a inovação e a educação para criar uma cultura de

segurança e deresiliência em todos os níveis; 4. Reduzir os fatores de risco

subjacentes;

5. Reforçar a preparação de desastres para uma resposta eficaz em todos os níveis.

Lei 12.608/2012 - instituiu a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil - PNPDEC

A Lei 12.608/2012 instituiu a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil - PNPDEC, que

dispõe sobre o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil - SINPDEC e o Conselho

Nacional de Proteção e Defesa Civil - CONPDEC, autoriza a criação de sistema de

informações e monitoramento de desastres e dá outras providências.

A PNPDEC abrange as ações de prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação

voltadas à proteção e defesa civil. A PNPDEC deve integrar-se às políticas de ordenamento

territorial, desenvolvimento urbano, saúde, meio ambiente, mudanças climáticas, gestão de

recursos hídricos, geologia, infraestrutura, educação, ciência e tecnologia e às demais políticas

setoriais, tendo em vista a promoção do desenvolvimento sustentável.

PROPOSIÇÕES Pela Elaboração e efetivação do Plano de Contingência

É urgente a elaboração e efetivação plena do plano de Contingência da cidade de Natal,

contemplando os bairros vulneráveis aos desastres, a exemplo de Mãe Luíza, inclusive,

prevendo e realizando exercícios simulados para o fortalecimento e preparação da população

frente aos desastres.

Pela estimulação de criação, efetivação, valorização e apoio aos NUDECs

Page 152: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

152

O desenvolvimento da resiliência comunitária frente aos desastres depende fundamentalmente

da participação e envolvimento qualificado da comunidade e da integração desta com o órgão

e agentes de proteção e defesa civil municipal. O Núcleo Comunitário e Defesa Civil-NUDEC

de Mãe Luíza e seus membros precisam ser resgatados, valorizados, reconhecidos e apoiados

pelo órgão de proteção e defesa civil municipal, para poderem contribuir ainda mais com a

melhoria da resiliência comunitária.

Pela criação e efetivação de um CEPED no RN

O que é o CEPED-RN? É o Centro Multidisciplinar de Estudos e Pesquisa sobre

Desastres no Rio Grande do Norte. Trata-se de uma iniciativa de profissionalização de

enfrentamento dos desastres no RN, com base científica, integrando as instituições envolvidas

com a temática do desastre. É fundamental que a Audiência Pública de hoje delibere sobre a

necessidade de criação do CEPED-RN. Este Centro deverá se instalar na UFRN, que congrega

diversos grupos de pesquisa e de extensão do RN no âmbito dos desastres, e deverá ser criado,

partir de um Acordo de Cooperação a ser estabelecido entre a Secretaria Nacional de Defesa

Civil do Ministério de Integração, a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil do Estado do Rio

Grande do Norte e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Prof. Dr. Ricardo José Matos de Carvalho – Departamento de Engenharia de Produção.

Prof. Dr. Pitágoras José Bindé – Departamento de Psicologia.

Profa. Dra. Isabelle Katherinne Fernandes Costa – Departamento de Enfermagem.

Profa. Dra. Katie Almondes – Departamento de Psicologia.

Prof. Dr. Fábio Fonseca Figueiredo – Departamento de Políticas Públicas.

(Coordenadores do Projeto)

==================================================================

=================================================================

Maiores informações: [email protected]; Telefones/emails: 9193.6196 /

[email protected] (Prof. Pitágoras/DEPSI); 9612.8180 / [email protected] (Prof.

Ricardo/DEP); 9900-2305 / [email protected] (Profa. Isabelle/DENFER); 9102 2273

/ [email protected] (Profa.

Katie/DEPSI); 9612.3370 / [email protected] (Prof. Fábio/DPP).

Page 153: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · Silva, Jane Ciambele Souza da. Solidariedade e fortalecimento da resiliência comunitária em situação de desastre: O caso

153

==================================================================

=================================================================